John Walker - A Igreja Do Século XX -A História Que Não Foi Contada (Incompleto).

April 22, 2018 | Author: mazinhorodriguess | Category: Pentecostalism, Spiritual Gift, Baptism, Prayer, Religious Behaviour And Experience
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John

Walker

& Outros

A Igreja do Século XX

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A História Que Não Foi Contada

A Igreja do Século XX A História Q m ■ N õq Foi Contada

Ao longo da história, a igreja experimentou sucessivas ondas de despertamento. No século XX, movimentos como o Carismático, Chuva Serôdia, Discipulado, Paiavra da Fé, entre tantos, fazem parte da fascinante história recente da igreja. Compreender e identiflcar tais movimentos requer estudo profundo e sério. Este livro tem como objetivo mostrar os acertos e erros, apontando novos caminhos à igreja atual.

Por outro lado, as grandes ondas de despertamento são sinais claros de que a igreja de Cristo está sendo preparada para um avivamento sem precedentes e para a volta gloriosa de Jesus. A igreja do século X X - A história que não foi contada é um livro imparcial, equilibrado e comprometido com a verdadeira história da igreja. Um livro que trará fogo ao seu coração, desafia ndo-o a orar pela vinda desta última e grande onda.

0 Movimento Palavra da Fé é de Deus ou não? Por que e como cresceu a maior igreja do mundo? Quais os resultados, para a igreja, do Movimento do Discipulado? Você sabe o que é o Movimento Chuva Serôdia, de 1948? Que recado Deus quer dar à igreja contemporânea com a queda dos tetevangelistas?

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A morte de um gigante! Hoje, quinta-feira 26 de Julho de 2014 às 22hl6min morreu o digitalizador Mazinho Rodrigues quando digitalizava seu último livro. Seu scanner(coração) começou a falhar aos poucos e aproximadamente às 20h32min deu seu último ''suspiro". Sua dedicação e esforço em compartilhar livros teológicos para a edificação do povo de Deus é conhecido por ''muitos". A pergunta que fazemos é: Porque homens desse tipo morrem? A resposta está no comentário de Matthew Henry falando sobre a morte de Moisés - {Os servos de Deus devem morrer poro que possom desconsor de seus esforços, receber o suo recompenso, e dor lugor o outros. Quondo os servos de Deus sdo levodos, e já ndo mois devem servi-lo no terro, võo poro servi-lo melhor, poro servi-lo dio e noite no seu templo}. Comentário Bíblico Matthew Henry - Antigo testamento Pentateuco. Pg.682.

É claro que Matthew Henry estava falando de morte física e eu no sentido figurado. 0 certo é que não digitalizo mais, motivos: consciência, financeiros, cansado, outras prioridades... outros. Agradeço a todos por tudo.

Att: Mazinho Rodrigues!

John

W alker & O utros

A Igreja do Século X X

A História Que Não Foi Contada

Copyright © 1996, por Worship Produções. Publicado originalmente por Worship Produções. Republicado por Editora Atos Ltda Belo Horizonte — Fevereiro dc 2002. Todos os direitos reservados. Diagrawafão:

Edilson Ferreira Capa: Next Noveau Todos os direitos em Hngua portuguesa reservados à Editora Atos Ltda. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocópias, etc - sem a devida permissão dos editores, podendo ser usada apenas para citações breves. Publicado com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela E D IT O R A ATOS I/TDA. Caixa Postal 402 30161-970 - Belo Horizonte, M(. Telefone: 0800-315580 www.editoraatos.com.br

INDICE PREFACIO........................................................................... 5 1

- SITUAÇÃO ESPIRITUAL NO FINAL DO SÉCULO X IX ......... 7

2

- 0 MOVIMENTO PENTECOSTAL......................................... 15

3

- AS GRANDES CAMPANHAS DE C U R A ............................... 33

4

- 0 MOVIMENTO CHUVA SERÔDIA...................................... 43

5

- 0 MOVIMENTO CARISMÁTICO.......................................... 67

6

- 0

MOVIMENTO CARISMÁTICO CATÓLICO...................... 81

7

- 0 PODER DO ESPÍRITO SANTO ENTRE OS JO VEN S...... 95

8

- 0 MOVIMENTO DE DISCIPULADO NA ARG ENTINA....... 109

9

- 0 MOVIMENTO DE DISCIPULADO NOS E U A ................. 125

10

- A Q U E D AD O STELE VAN G ELISTAS............................... 139

11

- 0 AVIVAMENTO NA C H IN A.............................................. 147

12

- A CONTRIBUIÇÃO CHINESA PARA A REFORMA DA IG R E J A ................................................. 183

13

- 0 MOVIMENTO PALAVRA DA F É .................................... 195

14

- A MAIOR IGREJA DO M U N D O ....................................... 209

15

- 0 MOVIMENTO DE RESTAURAÇÃO NA IN G L A T E R R A ....... ................................................... 235

16

- A RESSURREIÇÃO DE UM PR O FE TA ................................259

17

- A ÚLTIMA O N D A ................................................................ 269 BIBLIOGRAFIA.................................................................. 299

Prefácio

REFORMA E AVIVAMENTO

A

inspiração para se fazer este livro surgiu com um curso minis trado por Harold Walker num seminário para obreiros em agos­ to de 1989, em Jundiaí, São Paulo. Não tem o propósito de ser

uma história exaustiva da igreja no século X X e sim de ressaltar algu

dos acontecimentos marcantes no processo da restauração da igreja

neste século. Cremos que o conhecimento daquilo que Deus já fez na história recente da igreja é imprescindível para se obter luna visão profé­ tica daquilo que ele ainda fará nos próximos anos. Apesar de ser um assunto muito importante para as reflexões de todos aqueles que desejam enfrentar esta virada do século de uma for­ ma sóbria e apercebida, não existem livros disponíveis que abranjam o tema de forma global. Há apenas a história de uma ou outra igreja ou de um movimento isolado. A constatação da carência desse tipo de materi­ al e o sentimento da urgência de tê-lo para a formação de uma visão profética na igreja nos motivaram a elaborar e publicar esse livro. Existe uma forte tendência na natureza humana de ir a extremos e de agir motivado por preconceitos. É sempre mais fácil chegar a um con­ senso sobre o que Deus fez no passado distante do que concordar sobre o que ele fez no passado recente. As pessoas tendem a tachar certos movi­ mentos de heréticos sem ao menos conhecê-los. Por outro lado, muitos são ingênuos a ponto de engolir por inteiro certas doutrinas e práticas no­ vas quando deveriam julgar tudo e reter apenas o que é bom. 0 nosso desejo ao apresentar esse livro à igreja brasileira é con­ tribuir de alguma forma para o seu amadurecimento, levando-a a uma compreensão equilibrada de todo o cenário espiritual produzido pelos tremendos acontecimentos deste século. Gostaríamos de ver pastores, líderes, obreiros e leigos estudando e discutindo esses assuntos, dei-

Algreja do SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

xaiido de lado seus preconceitos e ampliando seus horizontes para ver o plano global de Deus. Por um lado, precisamos reconhecer a preciosi­ dade da obra de Deus em segmentos da igreja que, por serem tão dife­ rentes de nós, temos descartado sem o devido conhecimento e apreço. Por outro lado, precisamos ser “vacinados” contra novidades pernicio­ sas através de conhecer os efeitos nefastos que idéias e doutrinas seme­ lhantes já produziram na história da igreja. 0 estudo dos diversos movimentos que surgiram no século XX ten­ de a produzir duas reações: Um senso de admiração diante das repetidas e poderosas visitações do Espírito Santo e um senso de perplexidade di­ ante das grandes divergências e aparente desarmonia entre os diversos segmentos do corpo de Cristo. No meio de toda a confusão humana, po­ rém, 0 Espírito de Deus está trabalhando para uma fmalidade específica— a restauração da igreja para ser a noiva imaculada de Cristo na sua segunda vinda. À medida que o leitor estuda a restauração da igreja no século XX queremos chamar a sua atenção para a existência de dois temas distintos mas inter-relacionados: avivamento e reforma. Deus não quer apenas re­ novar

0 mover do seu Espírito na igreja. Ele deseja também restaurar a

revelação clara e pura da sua Palavra, produzindo assim mudanças radi­ cais na nossa fé e em nossas estruturas. Dessa forma, unindo uma estrutu­ ra reformada com o poder do Espírito derramado, ele pretende formar uma casa adequada para sua habitação permanente. Esta obra é fruto de trabalho em equipe. Os capítulos de 1 a 8,10 e 11 foram escritos por Elenir Eller Cordeiro e os capítulos 9 e de 12 a 16 foram escritos por John Walker em inglês e traduzidos por Elenir. Ambos usaram como fonte de pesquisa vários livros e revistas inglesas e americanas e incluíram no texto muitos trechos dos mesmos. 0 capí­ tulo 17 foi transcrito por Ruth Walker a partir de duas mensagens gra­ vadas de Bob Mumford e traduzido e adaptado por Christopher Walker. John e Harold Walker supervisionaram o projeto. Sérgio Abrahão fez uma revisão e a última revisão do português foi feita por Rubens Castilho. Desejamos que suas meditações sobre esses assuntos sejam ilu­ minadas pelo Espírito Santo a ponto de levá-lo a ter uma visão e uma expectativa mais claras daquilo que Deus ainda fará nos anos vindouros para consumar a restauração da sua igreja. - H arold W alker

Capítulo 1

SITUAÇÃO ESPIRITUAL NO f in a l

DO SÉCULO XIX

ntes de focalizarmos diretamente o primeiro mover de Deus do

A

século XX, seria proveitosa uma breve descrição da situação es­ piritual e das expectativas no final do século XIX, para levantar­

mos um pano de fundo do Movimento Pentecostal ocorrido logo no início do século XX. A situação das igrejas em geral era de apostasia e frieza. 0 Protestantismo Americano era rico, culto e influente, mas, com exce­ ção de uns poucos grupos conservadores, seu estado espiritual era de decadência. Im peravam o liberalism o, o form alism o, o mundanismo,

0 profissionalism o ministerial, a consciência de classes, a

ausência de experiência com Deus etc. Instituições teológicas e aca­ dêmicas que haviam sido levantadas para preservar a fé tinham se tornado o berço do Darwinism o e do cepticismo à inspiração da Bíblia. 0 nascimento físico, ao invés do nascimento espiritual, se tornou a base para pertencer a uma igreja, a ponto de os termos “nascer de novo” ou “conversão repentina” terem se tornados arcai­ cos. 0 conhecimento das doutrinas substituiu a experiência pessoal com Deus. “Separação do mundo” tornou-se um termo tão em desu­ so no vocabulário cristão que para os protestantes em geral isto só tinha um significado — morte física! Os pregadores pioneiros que recebiam com fervor o “chamado de Deus” para pregar o evangelho foram substituídos por homens que consideravam o m inistério uma

A Igreja do Sécub X X -A História que Não Foi Contada

profissão e que se orgulhavam de sua posição. Denom inações que em outros tempos foram conhecidas como “igrejas dos pobres” gradativamente se tornaram foram conhecidas como “igrejas dos pobres” gradativamente se tornaram a ehte da sociedade. Porém, paralelamente a essa apostasia e frieza espiritual, havia também alguns sinais de avivamento indicando que nem todos haviam se ajoelhado diante de Baal. Um chamado para arrependimento, oração e intercessão estava soando e um texto muito usado nos últimos anos do século XIX era Jeremias 33:3: “Clama a mim, e responder-te-ei, e anun­ ciar-te-ei coisas grandes e ocultas que não sabes.” Outro sinal era a bus­ ca e pesquisa das Escrituras resumidas na pergunta: “Que dizem as Escrituras sobre isto?” Convenções bíblicas especiais eram realizadas e ministros e missionários se reuniam para estudar a Palavra, a fim de averiguar o pensamento de Deus para o fim da Era da Igreja.' Havia também uma expectativa pela “Chuva Serôdia” . Esse era um tópico enfatizado nas conferências bíblicas baseado na promessa de Deus em Joel de derramar seu Espírito nos últimos dias. Uma boa explanação desta expectativa pode ser encontrada no seguinte trecho de um famoso comentário bíblico a respeito de Tiago 5:7: “0 recebimento das primeiras e últimas chuvas não deve ser en­ tendido como

0 objeto de sua esperança (do lavrador), mas a colheita

para a qual essas chuvas são preliminares e necessárias. As primeiras chuvas caem no tempo da semeadura, aproximadamente em novembro ou dezembro; as úlümas chuvas caem aproximadamente em março ou abril para amadurecer o grão para a colheita. A chuva serôdia que pre­ cederá a colheita espiritual que está por vir será provavelmente outra efusão do Espírito Santo como a do Pentecoste.” ^ Pastores, professores de institutos bíblicos e líderes de igrejas exortavam a todos “para pedir chuva no tempo da chuva serôdia” (Zc 10:1). Ensinava-se que o Dia de Pentecoste não exaurira o cumprimento da pro­ fecia de Joel, pois uma parte das profecias consiste de referências óbvias a eventos ligados à vinda do Senhor. Conseqüentemente, com a expectativa universal da iminente volta do Senhor, havia uma ávida antecipação pelos “tempos de refrigério da presença do Senhor” (At 3:19). ‘

Situação Espiritual no Final do SécubXIX

O CONCEITO DO BATISMO NO ESPÍRITO No processo de restauração da igreja, os dias de Lutero trouxe­ ram à luz a verdade da justificação pela fé. Alguns séculos mais tarde surgiu John Wesley pregando a santificação pela obra do Espírito San­ to. Mais tarde esta experiência ficou sendo conhecida como “segunda obra da graça” ou “batismo no Espírito” . Porém, no fmal do século XIX surgiu um entendimento do batismo no Espírito como sendo um reves­ timento de poder para evangelizar o mundo (At 1:8). Eles criam e ensi­ navam que se o mundo estava para ser alcançado para Cristo, este reves­ timento de poder era uma necessidade vital e que o mesmo Deus que agiu e supriu as necessidades durante a era apostólica, ansiava por re­ vestir todos os crentes. Mas um grupo de cristãos que identificava o batismo no Espírito com a “segunda obra da graça” começou a entender que há diferença entre “santidade” e “poder”. Por isso, elaboraram uma “terceira obra da graça” que seria o “Batismo no Fogo” para alcançar este poder para evangelizar. 0 importante em tudo isso foi que, ao se estabelecer a natureza do batismo no Espírito Santo, como um revesti­ mento de poder após a conversão, fez-se uma preparação para o grande mover de Deus que viria no início do século XX.

ARESTAURAÇÂO DO SOBRENATURAL 0 M ovim ento Pentecostal não foi o inventor do elemento miraculoso nem do ensinamento bíblico sobre milagres. É verdade que através dos séculos poucos ousaram crer que era vontade de Deus curar os doentes. Mas foi perto do fim do século XIX que a visão bíblica sobre cura divina foi apresentada de forma sistemática. Entre os precursores neste campo estão A. J. Gordon, A. B. Simpson (fundador da Aliança Cristã e Missionária), Andrew Murray e John Alexander Dowie, um no­ tável defensor de cura divina estabelecido em Illinois — alguns de seus seguidores se tornaram os primeiros líderes pentecostais.' São muitos os relatos de curas extraordinárias antes do século XX: Por exemplo, uma cura notável aconteceu com Mary Reynolds, de Indianápolis, em 1872. Após sete anos de tratamentos especializa­ dos e à beira da morte, ela foi incentivada a crer em sua cura baseada em Tiago 5:16. Numa manhã um homem de Deus orou especificamente

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

por ela, ungindo-a com óleo em nome do Senhor. Ele deixou a casa sem ver nenhuma aparente mudança, a não ser uma profunda paz e certeza que invadiram o coração da mulher. Às três horas da tarde, de repente onda após onda de glória inundou sua alma e um poder como eletricidade enviou vibrações para as partes mais remotas de seu cor­ po. Ela saltou sobre seus pés completamente curada. Toda doença e enfermidade desapareceram. 0 Espírito encheu completamente seu ser. A enfermeira ficou atordoada ao vê-la sair de seu quarto num ímpeto e se juntar a vários vizinhos que estavam ali para verificar seu estado de saúde. Ela se colocou de joelhos diante deles e derramouse numa torrente de ações de graças a Deus. Logo veio a hora do jantar e ela foi para a mesa e comeu uma refeição normal, a prim eira depois de sete anos. Ela estava com 35 anos quando foi curada e de­ pois disto viveu mais quarenta anos. Como resultado de sua cura e testemunho muitos foram salvos, inclusive seu esposo e filhos. Suas duas filhas mais velhas foram servir a Deus na China. ^ Outro exemplo foi a cura de John Easton, em 1900, na missão de Dowie em Toronto, Canadá. Ele tinha as costas quebradas e por seis anos vivera numa m oldura de gesso com um equipamento em seus ombros, no qual se penduravam pesos. Dorm ia num vagão em que durante o dia vendia pequenas mercadorias. À noite dirigia seu cavalo e o vagão para um galpão onde morava com sua esposa e filhos. Suas pernas eram tão insensíveis que uma agulha podia ser espetada na sua carne sem causar reação de dor. Seus calcanhares eram repu­ xados fazendo com que os pés fossem uma continuação das pernas, impossibilitando-o totalmente de andar. * Todas as sextas-feiras à noite, durante mais de um ano, foram realizadas reuniões de orações para ele com instruções de salvação e cura. No dia de sua cura Easton recebeu a certeza de que seria curado e pediu que sua esposa providenciasse roupas e sapatos para e le .' Houve um sentimento de expectativa desde o início da reunião até o momento em que o líder, com a ajuda de outros, serrou a moldura. Sob a ordem “Em nome de Jesus”, John Easton sentou-se! Seus pés e pernas pairaram sobre os lados do vagão como dois sacos. Numa segunda or­ dem, ele caiu sobre seus pés, que se tomaram imediatamente normais. Ele 10

Situação Espiritual no Final do SécubXIX

pegou 0 líder em seus braços e depois virou-se para abraçar sua esposa. Ao ouvirem o som de regozijo, os vizinhos e depois os jomaüstas começa­ ram a chegar. Toda a noite andou e louvou ao Senhor até que pela manhá a carne tenra de seus “novos” pés estava coberta de bolhas. ‘

FALANDO EM OUTRAS LÍNGUAS Estas duas curas são apenas exemplos de muitos milagres ocorridos neste período. Com o avivamento de cura veio o interesse por outros sinais e dons mencionados no Novo Testamento. Os filhos de Deus começaram a crer na restauração dos dons como um todo. Isto também foi verdade em relação ao falar em outras línguas. Apesar do mover do Espírito com lín­ guas e dons só ter rompido no início do século XX com o Movimento Pentecostal, houve experiências singulares de falar em outras línguas antes desse movimento. R. B. Swan, um pastor em Providence, Rhode Island, descreveu num panfleto um derramamento do Espírito perto da sua cidade: “No ano de 1874 para 1875, enquanto estávamos buscando ao Senhor, juntaram-se a nós vários que tinham recebido o batismo no Espírito e o dom de línguas alguns anos antes disto, e eles foram uma boa ajuda para nós. Em 1875, nosso Senhor começou a derramar seu Espírito sobre nós; minha esposa e eu, com alguns outros, começamos a proferir umas poucas palavras numa ‘língua desconhecida’.” ‘ Marie Woodworth-Etter, cujo ministério viria a tornar-se uma bênção para o inexperiente Movimento Pentecostal, entrou para o minis­ tério em 1876 na Igreja dos Irmãos Unidos. Ela testificou: “Quase desde o início do meu ministério alguns falaram em lín­ guas estranhas. Mas eu não entendia isto, e como eu era a única líder não tive muito tempo para investigar e explicar isto; mas eu sabia que era de Deus.” ' Um derramamento do Espírito na Igreja Missionária Sueca, em Minnesota, ocorreu durante o ministério de John Thompson: “Esse avivamento espiritual começou em 1892 e continuou por muitos anos. Houve muitas curas notáveis, e muitas vezes, enquanto o Pastor Thompson estava pregando, o poder de Deus caía e pessoas se prostravam no chão e falavam em outras línguas como o Espírito con­

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A Igreja do SéculoXX-A História que Não Foi Contada

cedia que falassem. Uma irmã em particular, Augusta Johnson, recebeu um poderoso batismo no Espírito Santo, falou em outras línguas, profe­ tizou e teve muitas visões maravilhosas. 0 Senhor deu a ela um chama­ do defmido para África, onde ela trabalhou por mais de trinta anos. Não somente era Moorehead foi o Espírito derramado naqueles dias, mas também em Lake Eunice, Evansville e Torkenskjold.” ^ 0 Pastor C. M. Hanson de Dalton, Minnesota, testificou: “Em 1895, enquanto realizava reuniões e pregações do evangelho completo, uma pessoa rompeu toda resistência e falou em línguas como em Atos 2:4. Dois anos mais tarde eu orei por outra pessoa pelo batis­ mo no Espírito Santo. Pouco tempo depois, o Espírito veio sobre ela e ela saltou, gritou, louvou a Deus, cantou, profetizou e falou em outras línguas. Dois anos depois disto, fui levado a estar sozinho com o Se­ nhor. De repente, como um vento poderoso e impetuoso, a atmosfera espiritual foi clareada e todo o meu interior iluminado. 0 sangue expiador de Cristo, justificando-me diante de Deus, tornou claras todas as coi­ sas. 0 Espírito Santo, então, como uma pessoa, tomou posse de seu templo, falando em outras línguas, enquanto eu via a mim mesmo como um ouvinte e instrumento na mão do Todo-Poderoso.” '

A HISTÓRIA DA FAMÍLIASHAKARIAN Surpreendente é a história dos ascendentes do armênio Demos Shakarian Junior, fundador da Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno, que relata a manifestação de línguas e dons no século XIX na Velha Rússia e Armênia: “Em 1855, um garoto russo de onze anos de idade que vivia na Armênia recebeu uma visitação sobrenatural e maravilhosa. Por sete dias e sete noites ele esteve sob o poder de Deus escrevendo profecias sobre coisas vindouras. Embora fosse analfabeto, escreveu com boa letra e de­ senhou figuras, mapas e gráficos. Ele profetizou que a paz seria tirada da terra e que Armênia seria devastada pelos turcos e os cristãos armênios seriam massacrados, a menos que fossem para uma terra do outro lado do oceano, a qual as figuras, mapas e gráficos mostraram ser a América. Deus prometeu abençoar e fazer prosperar todo aquele que atentasse para seu aviso e fosse para o país onde seriam livres da perseguição.” ^

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Situação Espintual no Final do Século XIX

A profecia ficou guardada por décadas esperando seu cumpri­ mento. Quando o derramamento Pentecostal chegou na Armênia, um dos primeiros a receber o batismo no Espírito foi a família de Demos Shakarian Senior, Presbiteriano. Ele tinha cinco filhas e naqueles dias considerava-se uma vergonha uma mulher não dar à luz um filho. Mas em 1891 sua esposa, como Sara, recebeu uma profecia de que dentro de um ano daria à luz um menino. Isto se cumpriu em 25 de maio de 1892 e deram-lhe o nome de Isaac. Quando Isaac tinha 7 anos, um grupo de cristãos Pentecostais Russos veio à vila Kara Kala para ter comunhão com os Pentecostais Armênios. Como falava com fluência o russo. Demos Shakarian foi es­ colhido para acom odar os cristãos russos em várias casas da vila e também cedeu seu lar para reuniões à noite por uma semana. Como preparativos para receber os visitantes, ele saiu para selecionar entre seu gado o m elhor novilho para ser oferecido ao Senhor. Apesar de saber pelas Escrituras que deveria escolher um animal sem defeito, escolheu um que era o mais gordo mas só com um olho. Ele o matou, decepou rapidamente sua cabeça e, por não ter tempo de enterrá-la, colocou-a num saco e o escondeu no canto de um celeiro debaixo de uma grande pilha de trigo em grãos. Depois preparou a carne. Aquela noite, como era de costume, Demos e toda sua família foram para frente e se ajoelharam para receber a bênção de um dos líderes russos enquanto um dos profetas permanecia ao seu lado. De­ pois desta bênção, a carne ofertada deveria ser abençoada e então viria a festa e a noite de adoração. De repente, sem dizer uma palavra, o profeta cruzou a sala e saiu. 0 líder não quis continuar sem a presença do profeta e pediu que cantassem um hino até que ele voltasse. ^ Quando o profeta voltou, trouxe o saco que estava escondido e o abriu em frente da família Shakarian ajoelhada, revelando a cabeça do novilho com o olho defeituoso. Ele disse que o Senhor lhe revelara tudo enquanto se preparavam para pedir a bênção de Deus sobre a família e sua oferenda.^ Demos Shakarian confessou que errara e pediu perdão. Isto Uie foi concedido pela congregação em nome do Senhor. Tão impressivo foi este

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A Igreja do Século XX -A História que Não Foi Contada

incidente que não somente os Shakarians, mas também as outras famílias armênias e russas determinaram que daquele dia em diante ofereceriam a Deus somente o serviço e a oferta que Deus exigisse deles, mesmo que pudesse parecer na época que um substituto, como no caso do novilho defeituoso que era o mais gordo, servisse melhor para o propósito. ^

.

Passaram-se quarenta e cinco anos desde que a profecia fora re­ cebida pelo garoto que agora estava com 56 anos. Aparentemente, quase já podia ser considerado um falso profeta, mas depois de todos esses anos 0 Senhor o instruiu para avisar os armênios que chegara o tempo de deixarem o país! A palavra se espalhou rapidamente entre os armênios e, em 1900, sob a zombaria de muitos, o êxodo de famílias armênias e também de famüias russas começou rumo à América. A família Shakarian chegou a Nova Iorque em 1905 e se estabeleceu em Los Angeles com suas cinco filhas e o filho Isaac, agora com treze anos. A última família saiu em 1912 e dois anos depois veio a Primeira Guerra Mundial, e num ataque violento os turcos invadiram a Armênia e varreram a vila de Kara Kala do mapa, matando todos os habitantes. ^ Quase imediatamente após a chegada dos Shakarians a Los Angeles,

0 derramamento do Espírito começou na Rua Azusa, em 1906. Demos, seu cunhado e outro armênio se aproximaram da Rua Azusa e qual não foi sua surpresa ao ouvir sons de gritos e cânticos no Espírito semelhantes aos que estavam acostumados a ouvir na Armênia e na igreja estabelecida por eles em Los Angeles na casa de Demos Shakarian. Ao alcançarem o galpão que se transformara numa Missão — descobriram vários falando em línguas. Eles voltaram para casa com notícias emocionantes— o mes­ mo Deus que tinha movido na igreja primitva em Jerusalém, na Armênia e na Rússia, estava começando a mover na América. ® Então,

0 derramamento do Espírito ocorrido na Rússia e na

Armênia no final do século X IX com manifestações de línguas e dons, precedeu ao derramamento Pentecostal no início do século XX, Quando Demos Shakarian Senior faleceu em 1908, seu filho Isaac estava com dezesseis anos. Em 1913, já casado, a esposa de Isaac deu à luz a Demos Shakarian Junior, que se tornou o fundador no início dos anos 50 da famosa Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno.

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O MOVIMENTO PENTECOSTAL

0

avivamento Pentecostal do século XX não começou num galpão, mas numa mansão! Ao estilo de um castelo inglês, essa cons­ trução de pedra vermelha e branca possuía dois domos, imia cú­

pula atrás e um observatório elevado alcançado por escadas espiralad

Em outubro de 1900 Charles Parham alugou essa “Mansão de Pedra”, como era conhecida, em Topeka, Kansas, para estabelecer uma escola bíblica chamada Betei. Cerca de 40 estudantes (alguns Já tinham cursado outros institutos bíbhcos) ingressaram na escola para seu primeiro e único ano atraídos pelo seguinte propósito — descobrir o pod er que os capacitaria a en fren ta r o desafio do nouo século. Era uma escola de fé nenhuma taxa era cobrada para moradia e alimentação. Eles confiaram em Deus para cada necessidade “e tinham tudo em comum”. A idéia completa era um período de treinamento intensivo na Palavra, oração e evangelismo. Esperava-se que Deus faria uma “obra repentina” em seus corações que os tornaria testemunhas eficazes de Cristo até os confins da terra. De acordo com as palavras de Parham, todos aqueles que “quisessem se entregar ao m inistério da Palavra e oração” estavam livres para participar. Foi estabelecida uma ‘Torre de Oração” numa das cúpulas para os estudantes manterem um período de oração de três horas, cada um. Alguns passavam noites inteiras em intercessão na torre. ‘ 0 método de estudo era escolher um assunto, pesquisar e estu­ dar todas as citações bíblicas sobre ele e apresentá-lo para a classe em form a de sabatina oral, orando para que a unção do Espírito estivesse sobre a mensagem trazendo convicção. Parham também ensinava atra­ vés de palestras.

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Algrejado SéculoXX-AHistóriaqueNãoFoi Contada

Até dezembro de 1900 eles já tinham estudado sobre arrependi­ mento, conversão, consagração, santificação, cura e a iminente vinda do Senhor No dia 25 de dezembro. Charles Parham iria se ausentar por alguns dias, tendo deixado a seguinte instrução para eles: “Nós nos de­ paramos em nossos estudos com um problema. E sobre o segundo capí­ tulo de Atos?... Tendo ouvido tantas entidades religiosas diferentes rei­ vindicarem diferentes provas como a evidência do recebimento do ba­ tismo pentecostal, eu quero que vocês alunos estudem dihgentemente qual é a evidência bíblica do batismo no Espírito, para que possamos apresentar ao mundo alguma coisa incontestável que corresponda de forma absoluta com a Palavra.” Três dias depois, ao apresentarem o resultado de seus trabalhos, todos os alunos tinham a mesma história — em bora diferentes coisas tivessem ocorrido quando a bênção pentecostal caiu, a prova irrefutável em cada ocasião era que eles fala­ vam em outras línguas. Então línguas eram a evidência ou sinal do batis­ mo no Espírito nos tempos apostólicos. Foi esta descoberta que fez com que surgisse o Movimento Pentecostal do Século X X .' No prim eiro dia de janeiro de 1901 (considerado por algumas autoridades como o primeiro dia do século XX) os alunos estavam orando e uma estudante de 18 anos, Agnes N. Ozman, resolveu fazer um pedi­ do. Eis

0 seu testemunho:

“Nós estudávamos a BíbUa durante o dia e fazíamos muitos tra­ balhos no centro da cidade à noite... Oração era oferecida noite e dia continuamente num cenáculo especial separado como uma torre de ora­ ção. Tive muitas horas abençoadas de oração nesse cenáculo durante as vigílias da noite... Como alguns outros, eu pensava que tinha recebido o batismo no Espírito Santo num tempo de consagração, mas, quando aprendi que o Espírito Santo estava para ser derramado em maior ple­ nitude, meu coração tornou-se faminto pelo Consolador prometido, e comecei a clamar por um revestimento de poder do alto. Às vezes, ansi­ ava mais pela vinda do Espírito Santo do que por minha comida diária. À noite tinha um desejo maior por ele do que por dorm ir...' “Durante o prim eiro dia de 1901, a presença de Deus estava co­ nosco de maneira marcante, levando os corações a esperar nele para coisas maiores. 0 espírito de oração estava sobre nós à noite. Eram 16

0 Movimento Pentecostal

quase onze horas quando senti em meu coração desejo de pedir que mãos fossem impostas sobre mim para que eu pudesse receber o dom do Espírito Santo. Logo que as mãos foram colocadas sobre minha cabeça, o Espírito Santo caiu sobre mim e comecei a falar em línguas, glorificando a Deus. Falei várias línguas. Era como se rios de água viva fluíssem de meu interior.” ' Parham também testificou sobre a experiência de Ozman: “Impus minhas mãos sobre ela e orei. Mal tinha pronunciado três dúzias de frases quando uma glória desceu sobre ela, uma auréola pare­ cia envolver sua cabeça e rosto, e ela começou a falar em língua chinesa e ficou impossibilitada de falar em inglês por três dias.”“* As aulas foram suspensas e toda a escola esperou diante de Deus. Durante a segunda noite, Ozman recebeu a língua boêmia confirmada por um tcheco que estava presente, e em poucos dias Parham e a maio­ ria dos outros estudantes receberam a experiência pentecostal. Um após outro começou a falar em línguas e alguns receberam o dom de interpretação. Por cinco anos Parham e seu grupo de estudantes viaja­ ram através dos estados do sudoeste americano proclamando o evange­ lho da “Fé Apostólica”, como ele chamava seu movimento, mas recusouse a encorajar todo e qualquer tipo de organização eclesiástica. Apesar de terem provocado vários avivamentos locais, Parham e seus estudan­ tes não conseguiram captar o interesse da nação para o novo batismo autenticado pelas línguas. Na verdade, o fogo só começou a se alastrar em 1906 com os acontecimentos da RuaAzusa, em Los Angeles. Em 1905 Parham mudou-se para Houston, Texas, onde formou outra escola bíblica. Foi lá que recebeu como aluno William J. Seymour, um negro, cego de um olho e humilde. Apesar do preconceito racial do Sul, Seymour participou da escola e aprendeu sobre a “evidência ini­ cial” do batismo no Espírito. Pregava sobre isto em outras igrejas, mas ele mesmo ainda não tinha recebido o batismo no Espírito com línguas. Seymour foi convidado por uma senhora que o ouvira pregar no Texas para pregar em Los Angeles numa igreja de negros Holiness, e assim se tornou um dos instrumentos de Deus para fazer explodir um dos mais importantes avivamentos da história da igreja. 17

A Igreja do SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

Seu primeiro sermão baseado em Atos 2:4 deixou a pastora furi­ osa com a implicação de que desde que ela não falara em línguas como os primeiros discípulos, ela ainda não recebera a plenitude do Espírito. Na sua segunda noite de pregação Seymour encontrou a porta da igreja fechada por ordem da pastora que não queria ouvir mais sua mensa­ gem. Sendo assim, ele e mais sete pessoas se reuniram num lar para buscar o Senhor, e naquela noite de 9 de abril de 1906 todos foram batizados no Espírito e falaram em línguas — menos Seymour. Os gri­ tos eram tão fervorosos — e tão altos — que uma multidão se juntou do lado de fora indagando: “0 que significa isto?” Logo foi propagado pela cidade que Deus estava derramando seu Espírito. Pessoas brancas se juntaram às pessoas de cor e também foram cheias do Espírito. No dia 12 de abril o próprio Seymour teria sua experiência pentecostal com línguas.

O INÍCIO DAM1S5À0 AZUSA Frank Bartleman era um evangelista Holiness que recebera notí­ cias do avivamento em Gales ocorrido em 1904 e desde então dedicou sua vida para orar e publicar literatura conclamando outros a orar e buscar avivamento para Los Angeles. Ele entrou em contato com Seymour, que, por falta de espaço, alugara um velho galpão na Rua Azusa e então o fogo se alastrou. Ele se tornou a pessoa chave para espalhar as notícias do avivamento através de folhetos e publicações. A seguir (até a página 16), temos a descrição impressionante do início do avivamento nas palavras do próprio Bartleman, extraída do seu livro “A História do Avivamento Azusa”: ^ Depois de um período de oração, o Senhor me mostrou que deveria voltarpara a reunião que havia sido transferida da Rua Bonnie Brae para a RuaAzusa,312.Haviamalugadoumavelhacasademadeiraqueforaantes uma igreja metodista, no centro da cidade, e que durante muito tempo não Jora usadapara reuniões. Tomara-se um depósito de madeira velha e cimen­ to, mas agora limparamasujeira e o entulho suficiente para colocar umas tábuas no meio, em cima de barris velhos. Destaforma, dava lugarpara cerca de trintapessoas, se me lembro corretamente. Sentavam-seformando um quadrado olhando unspara os outros. 18

o Movimento Pentecostal

Senti tremenda pressão interior para ir à reunião daquela noite. Era minhaprimeiravisitaàMissáoAzusa.MamãeWheaton, que estava vivendo conosco naquela época, iria conosco. Ela andava tão devagar que eu mal conseguia esperá-la. Chegamos láflnabnente e encontrei cerca de doze irmãos, algunsbrancosea^unsnegros.OirmãoSeymourestavaládirigindo. A “arca do Senhor" começou a se nwver vagarosamente, mas comfirme­ za emAzusa. Noprincípio era carregada nos ombros desacerdotes indicados por ele mesmo. Não tínhamos nenhuma “carroça nova” naqueles diaspara agradar as multidões mistas e carnais. Tínhamos de combater contra Sata­ nás, masa“arca”nãoerapwoadaporbois(bestasignorantes). Ossacerdotes estavam “uivospara Deus”, através de muitapreparação e oração. 0 discer­ nimento não eraperfeito, e o inimigo tirou algum proveito disto, e trouxe algumas críticas ao trabalho, mas os irmãos logo aprenderam a “apartar o precioso do vil”. Tbdas asforças do infemo estavam combinadas contra nós noprincípio. Nemtudoerabênção.Na realidade, a luta/oi terrível Satanásprocurava espíritos imperfeitos, como sempre, para destruir o trabalho, se possível. Mas ofogo não podia ser apagado. Irmãosfortes haviam se reunido com a cyuda do Senhor. Aospoucos levantou-se uma onda de vitória. Mas tudo isto veio de umpequeno começo, umapequenina chama Preguei uma mensagem na minhaprimeira reunião emAzusa. Dois irmãosjalaram em línguas. Muitas bênçãospareciam acompanharestas mani­ festações. Em breve muitosjá sabiam que o Senhor estava operando na Rua Azusa e pessoas de todas as classes começaram a vir às reuniões. Muitos estavam apenas curiosos e não acreditavam, mas outros tinhamfome da presença de Deus. Osjomais começaram a ridicularizar e a debochar das reuniões, oferecendo-nos desta maneta muitapubUddadegratuita. Isto trouxe os multidões. 0 Diabo superou-se asi mesmo outra vez. Perseguições exter­ nas nuncajazem mal à obra. Tínhamos de nospreocupar mais com os espí­ ritos maUgnos que trabalhavam dentro da obra.Méespíriías e hipnotizadores vieram investigar o quefazíamos e tentar nos influenciar. Apareceram então todos os descontentes religiosos e charlatães procurando um lugarpara trabalhar. Estes é que nos causavam mais temor, porquanto constituem sem­ pre perigo para todos os trabalhos que estão sendo iniciados, e não encontramguarida noutros lugares. Estasitiiação lançou tal medo sobre muitas pessoasqueJoiquaseinsuperáveleimpediumuitoaaçãodoEspírito. Várias temiam buscar a Deusporpensar que o Diabopoderia pegá-las.

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

Descobrimos logo no início que, quando tentávamos segurar a arca (1 Cr 13:9), 0 Senhorparavade trabalhar. Não ousáuamos chamar rnuiíoaaíenção dopovo para o que o maligno tentava realizar, pois o resultado seria medo. Só podíamos orar. Então Deus deu-nos a vitória. Havia a presença de Deus coriosco através da oração; nóspodíamos contar com ela Os líderes tinham uma experiência bastante limitada, e a grande maravilha é que o trabalho tenha sobrevivido contra seuspoderosos adversários. Mas era de Deus. E era este 0 segredo.

EXPERIÊNCIAS COM O ESPÍRITO EM AZUSA Nosprimeiros dias daMissãoAzusa, tanto o céu como o infemopareciam ter chegado à cidade. Os homens estavam a ponto de estourar e havia uma poderosa convicção sobreopovoem geral Aspessoasparedam cairaospedaçosaténarua,semnenhumaprovocaçáo.Haviacomoqueumacercaemvolta daMissãoAzusaJeitapeloEspírito. Quando opovo aatravessava, adoisou tês quarteirões de distância, era tomadopela corwicção dos seuspecados. 0 trabalho era cada vez mais claro eforte em Azusa. Deus operavapoderosamente. Parecia que todos tinham de ir aAzusa. Havia rrüssionários vindos daÁfrica, índia e ilhas oceânicas. Pregadores e obreiros atravessavam o conti­ nente, e vinham de ilhas distantes, motivadospor uma atração irresistíixlpor LosAngeles. “Coryregaiosmeussantos” (Sl50:l-7). Haviam sido chamados para assistirao Pentecoste, embora não soubessem Era o chamado de Deus. Reuniões independentes, embnasemissões, começaramafediarporfaltade gente.SeusmembrosestcwamtodosemAzusaOúmãoeimnãGarrfecharam oauditório“SarçaArdente”evieramaAzusaparaserembatizadosnoEspírito,elogoforamparaaíndiaespalharachama Houve muitaperseguição, principalmenteporparte da imprensa Escre­ viam coisas incríveis, mas isso sófazia com que mais gente viesse. Muitos deram ao movimento seis meses de vida. Em pouco tempo havia reuniões noite e dia sem interrupção. Todas as noites a casa estava lotada. Todo o prédio em cima e embaixo havia sido esvaziado e estava sendo utilizado. Havia muito mais brancos do que pessoas de corjreqüentando as reurúões. Asegregaçãoracialjoiapagadapebsanguede Jesus. A S . Worrell tradutor do Novo Testamento, declarou que o trabalho deAzusa havia redescoberto o sangue de Jesus para a igreja naquela época. Dava-se grande ênjase ao sangue como elementopwficador. Colocavam-sepadrões morais elevados para quem queria ter uma vida limpa.

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Ocmriordivino se manifestcaxL maravilhosamente nestas reuniões. Não se permitia nem sequer umapalavra indelicada contra os inimigos ou outras igrejas. A mensagem era o amor de Deus. Era como se o primeiro amor da igrejaprimitiva houvesse retomado. 0 batisnw, corra o recebíamos noprin­ cípio, nãopermitia quepensássenKS,falássemos ou ouvíssemos o mal con­ tra qualquer criatura. 0 Espírito era muito sensível como umapomba delica­ da. Apomba não temfeL Sabíamos imediatamente quando magoávamos o Espírito através de um pensamento ou de umapalavra. Parecíamos viver num mar depuro amor divino. 0 Senhor lutavapor nós naqueles dias. Nós nos submetíamos ao seujulgamento em todos os assuntos, nunca buscando defender0 nosso trabalhoouanossapessoa Vivíarmsemsuamaravilhosa e realpresençcL E nada contrário ao seupuro Espírito erapermitido. Ofabo era separado do realpelo Espírito de Deus. A própria palavra de Deus era que resolvia todos os assuntos. 0 coração dopovo, tanto em ação como em motivação, era descoberto até o cerne mais profundo. Não era nenhuma brincadeira tomar-se membro do grupo. “Ninguém ousava qjuntarse a eles ” (At 5:13) a não ser que levasse as coisas a sério, e quisesse ir até ofim. Naquele tempo, para receber o batismo era necessário passarpela morte epor um processo de purificação. Tínhamos uma sala especial em cimapara aqueles que buscavam com mais ardor o batismo embora muitos fossem batizados também em plena reunião. Muitas vezes eram batizados enquanto estavam sentados. Naparede da sala especial estava escrito: “É proibidofalar alto; sussurre apenas. "Não sabíamos nada a respeito de “con­ quistarpelo barulho" naquela época' OE^Mooperavaprçfijndamente. Umapessoainquietaouquefalassesem pensar era logo repreendidapeb Espírito. Estávamosem terrasanta. Estaatmosfera era insuportávelpara os camais. Geralmentepassavam bem bnge daquela sala a não ser quejá houvessem sido subjugados e esvaziadospeb Espírito. Só iampara lá os que verdadeiramente buscavamaDeus, os que estavam sérios com ele. Este não era um lugarpara manifestações emotivas nem para desmaios ou dar vazão asentimentos negativos. Os homens não gritavamnaqueleiempo.EksbuscavamamisericórdiadoSenhor,diantedoseu tono.Suaatitudeeraadequemtiravaossapatosporestaremterrasanta.

AAÇÃO DO ESPÍRITO NAMÚSICA Sexta-feira, 15 dejunho, emAzusa, o Espírito derramou o coro celestial dentro de minha alma Encontrei-me, de repente, unindo-me aos demais que

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A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

Já haviam recebido este dom sobrenatural Era uma manifestação espontâ­ nea e de tal arrebatamento que nenhuma língua hunmruipoderia descrever No início esta manifestação era maravilhosamentepura epoderosa. Temíanws reproduzi-la, como também com as línguas estranhas. Hoje em dia, muitosparecem não ter nenhum constrangimento de imitar todos os dons. É por isso que elesperderamgrandeparte do seupoder einfluêru:ia Ninguém podia compreender esse dom de cânticos espirituais além daqueles através dos quais se manifestcwa. Era realmente um novo cântico no Espírito. Quan­ do 0 ouvi pela primeira vez numa reunião, um grande desejo entrou em minha alma de recebê-lo. Achava que expressaria muito bem todos os meus sentimentos reprimidos. Eu ainda nãojalara em línguas. A nova canção, no entanto, me conquistou. Era um dom de Deus de alto nível e apareceu erúre nós logo que começou o trabalho em Azusa. Ninguém haviapregado sobre isso. OSenhorohaviaden-amadosoberanamenteJuntocomoderramamento do “restante do azeite”, o batismo no Espírito da chuva serôdia. Manifes­ tava-se à medida que o Espínto impulsionava aspessoas que tinham o dom, individualmente ou em grupo. Às vezes era sem palavras, outras vezes em línguas. 0 efeito sobre opovo era maravilhoso. Havia uma atmo^era celestial como se ospróprios anjos estivessempresentes e houvessem se unido a nós. ProvavelnKnte isto ocorria mesmo. Pareciafazer cessar toda crítica e oposi­ ção, e era difícil até para os ímpios negá-lo ou rídicularizá-b. Alguns condenam esses cânticos novos sem palavras. Mas nãojoi o som dado antes da linguagem? E não há inteligência sem linguagem? Quem compôs aprimeira música? Temos sempre de seguir acomposição de algum homem que veio antes de nós? Somospor demais adoradores da tradição. 0 Jcúaremlínguasnãoestáde acordo com a sabedoria ou com o conhecimento humano. Epor que não um dom de cânticos espirituais? Defato, estes são um desafio aos cânticos religiosos de ritmo moderno que usamos hoje. E provavelmente/oram dados com estepropósito. Entretanto alguns dos ve­ lhos hinos são muito bons de cantar também, e não devem ser desprezados. Alguém disse que cada novo avivamento traz sua própria hinologia. E isto realmente aconteceu conosco. Noprincípio, emAzusa, não tínhamos instivmentos musicais. Na reoMade, não sentimos necessidade deles. Não havia lugarpara eks em nosso louvor. Tudo era espontâneo. Não cantávamos nem com hinários. Todos os hinos antigos eram cantados de memória vivificadospelo Espírito de Deus. “Veio 0 Consolador” eraprovavelmente o mais cantado. Cantávamos com

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corações cheios dessa experiência nova e poderosa. Oh, como o poder de Deus nos enchia e nos comovia! Os hinos sobre o "sangue” também eram muitopopulares. “A vida está no sangue. ”As experiências do Sinai, Calvário e Pentecoste todas tinham seus lugares certos no trabalho deAzusa. Contu­ do, as novas canções eram totalmente diferentes, pois não eram de composiçãohumana, enãopodíamserjalsiflcadascomsucesso. Ocorvonãopode innitarapombcL Mais tardecomeçaramadesprezarestedomquandooespíritohumano se impôs outra vez. Colocaram-no parafora com o uso do hinário e hinos selecionadospelos líderes. Era como assassinar o Espírito eisto entrístecia muito a alguns de nós; porém a corrente contrária eraforte demais. Os hinários hoje em dia são em grandeparte uma produção comercial e não perderíamos muito se não os tivéssemos. Os velhos hinos são violadospelas mudanças, e procuram produzir novos estilos todos os anospara que haja mais lucro. Há muito pouco espírito de adoração neles. Mexem com ospés, mas não com os corações dos homens! Os cânticos espirituais dados por Deus, no intio, eramsen^elhantesaumaharpaeólicaporsuaespontaneidade e doçura Na realidade, era o próprio sopro de Deus tocando nas cordas dos corações humanos ou nas cordas vocais humanas. As notas eram mara­ vilhosamente doces tanto no volume como naduração.Eramàs vezes impos­ síveis humanamente. Era o cantar no Espírito.

AUDERANÇADAS REUNIÕES EMAZUSA 0 irmão Seymourfoi aceito como o líder nominoL Mas não haviapapa ou hiercvquia. Éramos todos irmãos. Não tínhamosprogramas humanos. 0 Se­ nhor mesmo liderava Não havia uma classe sacerdotal, nem ações sacerdo­ tais. Estas coisassurgiram depois, à medida que o movimento apostatou. No princípio não tínhamos nem plataforma, nem púlpito. Todos estavam no mesmo nível Os ministros eram servos na verdadeira concepção dapalavra Não homenageavam os homenspelo que tinham a mais de recursos ou de instrução, maspelos dons que Deus lhes dera Ele colocava os membros no lugar certo do seu corpo. J^ora “coisa espantosa e horrenda se andafazendo na terra; osprofetasprofetizamfalscmiente e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; eéoque deseja o meupovo. Porém quefareis quando estas coisas chegarem ao seufim?” (Jr 5;30,31). 0 irmão Seymourgeralmentefioavasentado atrás de duas caixas vazias, umaemdmadaoutra Usualnieníemantinhaacabeçadentrodeumadelas,

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A Igreja do Séailo X X -A História que Não Foi Contada

durante o culto, em oração. Não havia orgulho aqui. Os cultos eram quase que contínuos. Almas sequiosas podiam ser encontradas sob o poder de Deus quase a qualquer hora, dediaoude noite. Nunca o local estavafechado ou vazio. 0 povo vinha encontrar-se com Deus. Ele estava ali. Por isso a reuniãoeracontínuaenãocareciadeliderançahumanaApresençadeDeus tomava-se mais e mais maravilhosa. Naquele velhoprédio de teto baixo e piso descoberto Deusfazia empedaços homens e mulheresfortes e tomava aJuntá-los outra vez para sua glória. Era um form idável processo de desmontagem e revisão geral. 0 orgulho e a auto-qfumação, a auto-importância e a auto-estima, não podiam sobreviver alt 0 ego religioso pregava rapidamente seupróprio sermão de enterro. Nenhum assunto oupregação era anundado de oníemõo e nenhumpre­ gador especial haviapara essa hora. Ninguém sabia o que iria acontecer e nemoqueDeusfaria. Tudo era espontâneo, comandadopelo Espírito. Que­ ríamos ouvir Deus através de quem elefalasse. Nãofazíamos acepção de pessoas. Os ricos e cultos eram iguais aospobres e ignorantes, e era muito mais diftcilpara aqueles morrerem. Só reconhecíamos aDeus. Todos eram yuais.Nenhumacamepodiagbriar-senasuapresença,eelenãopodiausar quem tivesse opiniões próprias. Eram reuniões do Espírito Santo, guiadas pelo Senhor. 0 avivamento tinha de começar num ambiente humildepara que 0 elemento egoísta e humano não entrasse. Todos caíam aseus pés com humildade. Todosseassemelhavametinhamtudoemcomum, nestesentido pelo menos. 0 teto era baixo epor isso aspessoas altas deviam dobrar-se. Ao chegaremaAzusajá tinhamse humilhado, e estavampreparadas para as bênçãos. Aforragemesiavapreparadaparaovelhas, nãoparagirqfas. Todos podiamalcançá-la Fbmos libertos ali mesmo das hierarquias eclesiásticas e dosseus abusos. QueríannosDeus. Quandochegávamosàreunião, evitávarnosornáxinTopossívelcumprimentareconversarunscomosoutros. Queríamosprimetochegara Deus. Colocávamosacabeçaembaixodealgumlxmcoemoraçãoeentrávamos em contato com os homens só no Espirito; não os conhedamos mais na came.Asreuniõescomeçavamespontaneamentecomtestemunhos, buvore adoração. Ostestemunhosnuncaeramapressadospebagitaçãodohomem. Não tínhamos umprogramapreestabekcido que tinha de ser empurrado de qualquermaneircuNossotempopertenciaaDeus.Tínhanvosverdadeirostestemunhos v íik ío s diretamente de corações vibrantes com as experiências. Se nãofor assim, quanto menoresforemos testemunhos melhor é. Umadúziade

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pessoas, àsvezes, estavamdepé tremendosobopoderdeDeus. Nãoprecisávamosqwimlídernosindicasseoquejazer,mastambémnãohaviadesordem Estávamos absowidosemDeus nas reuniões, através da oração. Nossas mentes estavam voltadas exclusiixtmeníeparaele, e todos lhe obedeciam com mansidãoehumildade.Emhonranospreferíamosunsaosoutros (Rm 12:10). OSenhorpodiairromperatravésdequaiquerwn. Orávamosporissooontinuamente. Alguémflnalmenteficcwa de pé, ungido com a mensagem. Todos reconheciam isso epermitiam que acontecesse. Podia ser uma criança, um homem ou uma mulher. Podia ser do banco de trás ou do dafrente. Nãofazia diferença.Regozyávamo-nosnaobradoSenhor.Ninguémqueriaaparecer. Só pensávamos em obedecer ao Senhor. Na verdade, havia uma tal atmosfera dtvinaquesóumtobsecolocariadepésemverdadeiraunção.Emesmoassim não duraria muib. As reuniões eram controladaspeb Espírito diretamente do trono da graça Verdadeiramenteforam dias maravilhosos. Eu muitas vezes disse quepreferiria viverseis meses naqueb época do que cinqüenta anos de umavidanormaLMasDeusaindaéomesmohqje.Sónóséque mudamos. Alguém podia estarfalando. Repentinamente, o Espírito caía sobre toda a congregação. Deus mesmofazia os apebs. Homens caíampor toda a casa comomortosnumabatalhaoucorriamaoaltaremmassabuscandoaDeus. Acenamuitasvezesparedaumafbrestacheiadeárvorescaídas. Umacena assim não podia ser imitada. Não me lembro de ter visto um apelo sequer naqueles dias. Deus mesmo os chamava E opregador sabia quandoparar. Quando Deusfalava todos obedecíamos. Parecia algo temerário impedir a operação do Espírito ou entristecê-lo. 0 local todo estava cheio de orações. Deus estava no seu santo templo. Ahumanidade cabiaficar em silêncb. A glória do Shekinah* estava ali. Aliás alguns diziam ter visto a glória do Senhor envolvendo oprédb durante a noüe. Eu não duvido. Mcdsde uma vez porei quando me aproximava deste local e oreipedindoforças antes de ousar continuar. A presença do Senhor era muito real.

DEUS TRATA COM ACARNEPELO BATISMO Homenspresunçosos às vezes apareciam em nosso meb. Especialmente pregadores que tentavam espalharsuaspróprias idéias e auto-promover-se.

‘Palavra hebraica que significa “habitação de Deus", e foi usada por alguns escritores para referir-se à manifestação sensível da presença de Deus no tabernáculo e no templo, geralmentenumanuvem:Êx40:34; lRs8:10,ll;2Cr5:14;>^ 15:8. 25

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Seus esforços, porém, duravam pouco. Ficavam semfôlego. Suas mentes vagavam, seus cérebros pareciam girar. Tudoficava escuro diante de seus olhos. Não podiam continuar. Nunca vi ninguém que tivesse tido sucesso naqueles dias;pois estavam lutando contra opróprio Deus. Ninguémprecisava interrompê-los. Simplesmente orávamos e o Espírito Santofazia o resto. Queríamos que o Espírito controlasse tudo. Ele os confundia logo. Eram carregadosparafora mortos, espiritualmentefalando. Geralmente se humi­ lhavam até 0 pó, passandopelo mesmo processo porque passáramos. Em outraspalavras, eramesvaziadosdesimesmos;depoisseviamcomtodasas suasfraquezas, e com humildade de criança confessavam tudo; Deus os pegavaentãoetran^ormavaospoderosamenteatravésdobatismonoEspírito. “Ovelhohomemmorria”comtodoseuorgulho, arrogânciae boas obras. No meu caso, passei a não me suportar. Supliquei a Deus que colocasse uma cortina ente mim e meupassado, de talforma que apagasse até mesmo as minhas derradeiras ações. 0 Senhor me ordenou que esquecesse cada boa ação como se nunca tivesse ocorrido, assim quefosse realizada; e quepros­ seguisse adiante como se nunca tivessefetío nadapara elepara que minhas boas obras não se tomassem uma armadilha voltada contra mim mesmo. Víamos coisas maravilhosas naqueles dias. Até homens muito bons che­ garam a desprezar-se quando se viam na luz mais clara de Deus. Osprega­ dores é que custavam a se entregar. Tinham muito para entregar à morte. Tantafama e boas obras! Quando, entretanto, Deusfmalizava sua obra neles, com alegria viravam umapágina e começavam outro capitulo. Portan­ to, havia uma razãopara eles lutarem tanto. A morte não é uma experiência agradável e os homensfortes custam a morrer 0 irmão AnselPost, umpregador batista, estavasentadonumacadeira no meio da sala numa reunião à noite. De repente veio sobre ele o Espírito. Deu um salto e começou a louvar a Deus em línguas e a correr de um lado para o outro, abraçando todos os irmãos quepôde. Estava cheio do amor de Deus. Mais tardefoipara o Egito como missionário.

CAPACTERÍSTICAS DO AVIVAMENTO: IMPERFEIÇÃO, OPOSIÇÃO EDOMÍN10 DO ESPÍRITO Escreviem “WayofFaith”, emprtmeiro de agosto de 1906; “OPentecoste chegouaLos Angeles, aJerusalémamericana. Todaseita, credo e doutrina debaixo do céu são encontrados em Los Angeles, assim como todas as na­ ções são representadas a li Muitas vezesfui tentado a duvidar que minhas

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forças resistissem até oJinaL 0 peso da oração tem sido muito grande. Mas desde aprimavera de 1905, quarulo tive aprimeira visão e recebi ofardopara sustentar emoraçâo, nunca tive dúvidaquanto ao resultadofinaL Os homens em todos os lugares estão com suas almasperturbadas e o avivamento com seusfenômenos sobrenaturais éo assunto do dia Grande oposição também se manifesta Osjomaissão muito venenosos, injustos e inverídicos nosseus pronunciamentos. Ospseudosistemas religiosos também estão lutandofortemente, mas a ‘saraiva varrerá o refúgio da mentira’ (Is 28:17). Seus escon­ derijos estão sendo descobertos. Um riachopurificador estápassandopelo meio da cidade. APcüavra de Deusprevalece. ‘Todasasfcúsasreligiõesdebaixodocéuencontram-serepresentadasaquL AnãoseravelhaJerusalémnãohánadaigualnomundo. (Ficadoladoopæto do mwido com condições naturais muito semelhantes.) Todas as naipes são representadascomoemJerusalémMíiharesvindosdetodaparíedopaísede muitoslugaresdomundo, mandadosporDeuspcmestarnoF^ntecosíes, levarão ofogo ao redor do mundo. 0 zeb missbnárb está atingindo sua temperatura máxima Os dons do E^íríto estão sendo derramados, aarmaduradaigreja restaurada Verdadeimmenteestarnosnosdiasdarestauração,os‘últimosdias'; sãodiasmaravilhosos, diasgbríosos, masdiashorríveisparaosquecontinuam resistindo. São dias deprivilégb, responsabilidade eperigo. “Os demônios estão sendo expulsos, os doentes curados, muitos abenço­ ados com salvação, restaurados e batizados com o Espirito Santo e poder. Heróis estão sendo desenvolvidos, osfracos sefortalecendo no Senhor Os corações humanos estão sendo revistos como por uma vela acesa. É uma época de grandepeneiração não só de ações, como de motivos interiores secretos. Ncudapode escapar aos olhos do Senhor que a tudoperscrutam. Jesus está sendo levantado, o ‘sangue’ magn^icado, e o Espírito Santo ho­ menageado mais uma vez. Muitopoderparaprostar aspessoas se manfes­ ta É esta aprincipal causa de resistênciaporparte daqueles que se recusam a obedecer. 0 trabalho é para valer Deus está conosco com grande autenti­ cidade. Não ousamos pensar em ninharias. Homensfortesficam durante horasprosti-adossob o poder de Deus, cortados como grama 0 avivamento será mundialsem dúvida ”

O FUTURO DESTEAVIVAMENTO EscreviparaoutroJomalreligbso o seguinte, em 1906: ‘^ itoscom am alclitainaeckdidade,prosseguirnospciradmacomarnaiord^ícukiade, lutando

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Algreja do SéculoXX-AHistóna que Não Foi Contada

pela restauração dagbriosa luz epoderda igreja, antes derramados com tanía abundância, mas agora há muttoperdidos. Temos estadopor tanto tempo na escuridão da descrença causadapela queda da igreja, que nossa tendência é resistir à luz, pois nossos olhos estãofracos. A igreja caiu tanto que, quando Lutero tentou restaurar a verdade daJustiJbaçãopelafé, a igreja de seu tempo resistiuelutaucontraelacomosejosseapiorheresia;algunspagaramporisso com suaspróprias vidas. Ocorreu o mesmo na época de Wesley. Mas agora temosaprópriarestauroçãodaexperiêndadoPerüecostecomaschujvasserôdias, umarestauração dopoder, edemaiorglória, afimde acabar aobraquefoi inidada Seremoselevadosaonívelprimttivodaigrejaparaterminarmososeu trabalho, partiruio doponto onde nossos antecessorespararam quando ojracasso os conquistou, erapidamentecumprindoaídtimagrandecomissãopara abrírocaminhoparaavoltadeCristo. “Devemos interromperosséculosdejracassosdaigrejaeabnga, sombria idade escura, e apressando o tempo, ser totatnente restaurados aopoder, à vitóriaeàgbriaprimitivos.Procuremossair, pehgraçadeDeus,deumcristianismo corrupto, retrógrado e espúrb. Assinagogas de uma yrga orgulhosae hipócriíaestãovoltadascontranósparadesacrediíar-nos.Osmercenárioscbmampornosso sangue. Os escribas eosfariseus, os sumo sacerdotes, osprincipais das sinagogas estão todos contra nós e contra Cristo. “LosAngeles parece ser o lugar e esta a ocasião, nopkmo de Deus, para a restauração da igreja ao seu liujar,favor epoderprimitivos. Chegou a hora da completa restauração da igreja. Deusfalou com seus servos em todas as partes do mundo, e todas as nações, como antigamente, vieram para o Pentecoste, para depois sair e levar as boas novas de salvação. A base de operaçãopara o último Pentecoste mudou-se da antiga Jerusalémpara Los Angeles. Por todaparte Deus tem criado umforte anseiopor essa experiên­ cia OPaísdeGalesfoidesignadoapenascomooberçoparaestarestauraçãonumdial do poder de Deus.”

O FOGO SEESPALHA A partir de Azusa o fogo do avivamento espalhou-se por todo Estados Unidos. Através de toda a nação centenas de congregações in­ dependentes eram formadas da noite para o dia, providenciando a base para o que se tornaria mais tarde as Igrejas A ssem bléias de Deus. A A lia n ça C ristã e M issionária, uma obra Uderada na época pelo seu fundador A. B. Simpson, que estabelecia institutos bíblicos e 28

o Movimento Pentecostal

enviava m issionários para vários lugares do mundo, também foi grandemente atingida pelo avivamento. Eles criam que a igreja estava prestes a receber a chuva serôdia, e quando ouviram sobre o derrama­ mento do Espírito em Los Angeles ficaram alegres mas cautelosos, pois não estavam interessados em fanatismo. A partir de maio de 1907 houve extraordinárias visitações do Espírito em seus acampamentos e convenções. Seus estudantes, minis­ tros e missionários eram inundados pelo Espírito com manifestações de línguas e sinais. Numa dessas reuniões um jovem estudante, David McDowell, estava tão cheio do fogo do Espírito que ficou com as mãos erguidas por mais de uma hora louvando ao Senhor. Quando ele as abaixou, inesperadamente caíram sobre as cabeças das esposas de dois líderes da A liança que instantaneamente romperam em línguas! Mas quando descobriu que o novo movimento ensinava que o batismo no Espírito era sempre acompanhado de línguas, Simpson to­ mou uma posição que fez com que o fogo apagasse e uma divisão ocor­ resse dentro da A liança M issionária. Ele publicou um manifesto decla­ rando firmemente que renunciava à doutrina de que todos deveriam falar em línguas e que estas eram apenas uma das evidências do batismo no Espírito. Com esta posição, que se tornou conhecida como a “posi­ ção da A lia nça”, eles perderam muitos homens proeminentes na socie­ dade e em algumas cidades congregações inteiras passaram para o lado do Movimento Pentecostal. A Aíiança M issionária poderia ter equili­ brado

0 Movimento Pentecostal e evitado numerosos erros, mas, ao

rejeitá-lo, falhou em acompanhar o mover de restauração do século XX. Conta-se que nos últimos dias de sua vida Simpson teria dito a McDowell: “David, eu fiz o que pensei ser melhor, mas receio que tenha falhado.” Muitos missionários vieram de vários continentes para experi­ mentar 0 seu próprio pentecoste e levar o avivamento para seus países. Outros foram influenciados por grupos de outros lugares dos Estados Unidos que tinham tido contato com Azusa. Por exemplo, dois imigran­ tes suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, participaram em Chicago de uma reunião de oração com alguns amigos cheios do Espírito. Lá rece­ beram uma profecia de que seriam enviados para algum lugar no mimdo chamado Pará. Após pesquisarem e descobrirem que se tratava de um 29

A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

estado do Brasil, foram enviados miraculosamente para cá em 1910, onde fundaram a Ig reja A ssem bléia de D eus, quatro anos antes das Igrejas A ssem bléias de Deus dos Estados Unidos serem organizadas. Thomas Ball Barratt, um ministro metodista na Noruega, ficou conhecido como o “apóstolo do pentecoste” para a Europa. Em viagem aos Estados Unidos, na cidade de Nova Iorque, ouviu sobre o avivamento Azusa e pensou que teria de ir a Los Angeles para receber o batismo. Enquanto esperava para viajar, decidiu buscar a experiência, orando até 12 horas por dia, e recebeu o batismo no Espírito ali mesmo em Nova Iorque, em outubro de 1906. “Fui inundado de luz e de tal poder que comecei a gritar o mais alto que podia numa língua estrangeira. Devo ter falado sete ou oito línguas, baseado nos vários sons e modos de falar usados... o momento mais maravilhoso foi quando explodi num lindo solo barítono, usando uma das linguagens mais puras e deleitosas que já ouvira.”'^ Em dezembro de 1906 Barratt retornou a Oslo, Noruega, onde alugou um ginásio com 2.000 lugares para realizar as primeiras reuni­ ões pentecostais da Europa. “Pessoas de todas as denominações estão sendo impelidas para as reuniões. Muitos têm recebido o seu pentecoste e estão falando em línguas... Pessoas que têm participado das reuniões estão levando o fogo com eles para as cidades ao redor. Em pouco tempo, Barratt se estabeleceu como o profeta do pentecostalismo europeu. Visitando-o e recebendo seu próprio batismo no Espírito estiveram pastores da Suécia, Inglaterra e Alemanha.“*

DECLÍN10 ECRISTALIZAÇÃO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL Já no primeiro ano o avivamento demonstrou sinais de declínio. Em agosto de 1906 Seymour escreveu a Parham para que viesse ajudálo a discernir algumas manifestações estranhas que estavam acontecen­ do. Parham não teve orientação para ir imediatamente e quando esteve presente não foi bem aceito. Separaram-se e o mesmo aconteceu com Seymour e Bartleman. Bartleman era totalmente contra a organização e institucionalização do movimento e quando Seymour mandou escrever 30

0 Movimento Pentecostal

na parede do prédio da RuaAzusa “Missão Fé Apostólica”, ele se reti­ rou e em agosto de 1906 abriu outra obra também famosa, “Rua Eighth com Maple” (assim designada como ponto de referência) cuja profundi­ dade e poder se igualaram a Azusa. A ênfase do Movimento Pentecostal eram línguas como evidência do batismo no Espírito e poder para pregar o evangelho para o mundo intei­ ro, pois criam na iminente volta de Jesus. Por isso desde o início os Hderes não viam necessidade de formar qualquer organização eclesiástica, pois eles mesmos já haviam se desiludido e sido perseguidos pelas deno­ minações que rejeitaram o mover do Espírito. Mas com o passar dos anos

0 movimento entrou em perigo de caos com muitas divisões sobre doutri­ nas (e até heresias) e desonestidade fmanceira. A solução bíblica para es­ tabelecer ordem e purificar o movimento seriam apóstolos e profetas, mas como não tinham esses lundamentos foi quase inevitável a sua organização. Isso aconteceu em 1914 com uma chamada geral (debaixo de muitos pro­ testos) para realizar uma grande convenção em Hot Springs, Arkansas, que reuniu de 200 a 300 líderes de 20 estados dos Estados Unidos e de vários lugares do mundo. Ali o Movimento Pentecostal se organizou com

0 nome de Igrejas Assem bléias de Deus. Uma grande polêmica que abalou as recém-organizadas Igrejas Assembléias de Deus foi gerada pela doutrina da unicidade da Divindade. Esta doutrina surgiu em 1913 com a revelação de um homem sobre o nome de Jesus, e seus defensores pregavam que o verdadeiro batismo de­ veria ser em nome de Jesus somente e não da Trindade, e os que não fos­ sem assim batizados deveriam ser rebatizados. 0 resultado desta doutri­ na foi a negação da existência da Trindade e quando o Conselho Geral, após muitos debates e discussões, condenou esta doutrma, um quarto dos 585 ministros das Assem bléias de Deus deixou a igreja em 1916. Durante os anos 20 e 30, apesar do esfriamento do Movimento Pentecostal, Deus continuou a operar e ministérios poderosos foram levantados. Entre eles estão Aimee Semple MacPherson (fundadora da Ig reja do E vangelho Q uadrangular), Smith W i^lesw orth (o “Apóstolo da Fé” ) e Charles Price (um conhecido pastor tradicional convertido numa campanha de Aimee Semple MacPherson que se tornou um famo­ so pregador pentecostal com um ministério profético e de cura). 31

Capítulo

3

AS GRANDES CAMPANHAS DE CURA

s grandes campanhas de cura, juntamente com o movimento Chu va Serôdia, que será tratado no próximo capítulo, ocorreram no

' ' etade do século após a Segunda Guerra Mundial e na mesma /A Vn época da formação do Estado de Israel. Apesar de terem começado no mesmo período (46-48) foram movimentos distintos, mas com certa ligação. Foi uma campanha de Branham no Canadá que despertou al­ guns irmãos canadenses a buscarem o avivamento que surgiu com o nome de “Chuva Serôdia”. William Branham nasceu num lar pobre a 6 de abril de 1909, em Kentucky. Seu pai era um lenhador que passava longos períodos fora de casa trabalhando. Uma dessas ocasiões foi no inverno de 1909, quando a mãe e filho (com seis meses de vida) escaparam de morrer congelados durante uma terrível tempestade. Sem comida e sem calor teriam su­ cumbido se Deus providencialmente não despertasse um vizinho para ir até lá. Diante da falta de sinal de vida, arrombou a cabana e encontrou mãe e filho enrolados em roupas de cama famintos e quase congelados. Branham teve sua primeira experiência com Deus aos sete anos de idade. Contrariado por não ter podido ir pescar com seus amigos, estava carregando água para sua mãe e, ao parar debaixo de uma árvore para descansar, ouviu de repente um som de um vento soprando as folhas da árvore. “Eu sabia que não estava soprando em nenhum outro lugar. Afastei-me alguns passos e notei que num certo lugar mais ou 33

Algrejado SéculoXX-AHistóriaqueNãoFoi Contada

menos do tamanho de um barril, o vento parecia estar soprando através das folhas da árvore. Então veio uma voz dizendo: ‘Nunca beba, fume, ou contamine seu corpo de maneira alguma, pois eu tenho uma obra para você fazer quando ficar mais velho’.” Muitas outras vezes ele iria ouvir esse som impelindo-o a se separar para Deus. ® Passaram-se anos, seu irmão e pai faleceram. Com 21 anos estava trabalhando numa companhia quando foi envenenado com gás. Seu esta­ do de saúde estava cada vez mais precário, quando os médicos decidi­ ram hospitalizá-lo para operar uma possível apendicite. No quarto do hospital sentiu a morte sobre si, e mesmo nunca tendo fumado, bebido ou tido quaisquer maus hábitos, sabia que não estava pronto para se encontrar com Deus. “Começou a ficar escuro no quarto e eu me senti numa grande floresta. Eu podia ouvir o vento soprando através das folhas... 0 vento chegou mais perto, mais e mais alto. As folhas sussur­ ravam e de repente eu parti. Parecia então que eu voltava a ser novamen­ te um garotinho de pés descalços, lá naquele caminho debaixo da mes­ ma árvore. Ouvi aquela mesma voz que disse: ‘Nunca beba ou fume’. Mas desta vez a voz dizia: ‘Eu chamei você e você não foi.’ As palavras se repetiram três vezes. Então eu disse: ‘Senhor, se é você, deixe-me voltar novamente para a terra e eu pregarei seu evangelho dos eirados, ruas e esquinas. Eu falarei a todo mundo sobre isto’!” ® Quando voltou a si o próprio médico viu que ele tinha se encon­ trado com Deus e fora curado. Depois disto começou a buscar a Deus e, numa noite, tentava orar num barracão atrás da casa quando, de repen­ te, uma luz chegou e formou uma cruz. Uma voz lhe falou numa lingua­ gem que não podia entender e foi-se. Ele se sentiu transformado e des­ de aquele dia sabia que teria de sair e pregar o evangelho. Tornou-se um pregador aos 24 anos de idade e sua igreja prospe­ rou. Nessa época, já casado, conheceu um grupo pentecostal em Michigan, onde ouviu sobre o batismo no Espírito. Inesperadamente, pregou nes­ sa conferência e recebeu muitos convites para fazer pregações em outras cidades. Mas, ao acatar conselhos de parentes e amigos, adiou por 5 anos 0 chamado de Deus para sair pela fé pregando o evangelho e muitas tragédias aconteceram em sua vida. A unção de Deus que estava sobre ele

0 deixou, sua igreja desmoronou e, finalmente, sua esposa e filha 34

As Grandes ChmpíM^has de Cura

morreram tragicamente numa enchente do rio Ohio, em 1937. Entrou em desespero, mas naquela noite Deus o visitou em sonho e ele recebeu força e graça para prosseguir. Foi em maio de 1946 (já casado novamente), quando trabalhava como guarda-florestal, que William Branham recebeu a extraordinária visita angélica que delineou todo o seu ministério de cura que estava para vir. Inquietado por outra manifestação sobrenatural de Deus, reti­ rou-se a uma cabana para orar e ler a Bíbha. Suplicava a Deus que o perdoasse por ter negligenciado seu chamado e que falasse com ele novamente. Uma luz se espalhou pela cabana e ele viu uma grande estre­ la como uma bola de fogo derramando luz sobre o chão. Aterrorizado, ouviu passos e, vindo em sua direção através da luz, os pés de um homem. “Ele tinha um rosto hso, sem barba, cabelos pretos até os om­ bros, uma compleição mais para escura, um semblante muito agradável. Chegando mais perto seus olhos fixaram os meus. Vendo quão aterrori­ zado eu estava, ele começou a falar: ‘Não temas. Fui enviado da presença de Deus Todo-Poderoso para lhe dizer que sua vida peculiar e seus caminhos mal-entendidos têm sido para indicar que Deus tem enviado você para levar um dom de cura divina para as pessoas do mundo. Se você for sincero e levar as pessoas a crer em você, nada resistirá diante de sua oração, nem mesmo câncer’.” Dois sinais lhe foram dados pelo anjo para seu ministério de cura: ® 1° - Com sua mão esquerda discerniria ou detectaria doenças das pessoas. ® 2° - Ele leria pensamentos e fatos da vida passada das pessoas. Ao dar-lhe este dom, o anjo acrescentou: “Os pensamentos dos homens falam mais alto no céu do que suas palavras na terra.” ® Logo após a visitação do anjo (nesta época ele m orava em Jeffersonville, Indiana) Branham foi chamado para ir a St. Louis, Missouri, orar por uma criança, filha de um pastor, que estava há três meses confinada na cama, só pele e ossos, desenganada pelos médicos. Após várias horas de oração, Branham recebeu orientação específica de Deus sobre sua cura, que foi muito propagada na cidade. Por causa desta cura, ele realizou naquela cidade, em junho de 1946, a primeira de suas numerosas campanhas de curas. Pregando com humildade e 35

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

simplicidade (sem fazer grande publicidade), em pouco tempo sua fama se espalhou e ele ia de cidade em cidade armando sua tenda, onde milhares de pessoas vinham ouvi-lo pregar e receber cura. Notáveis milagres ocorreram. Curou cegos, surdos, mudos, paralíticos e até res­ suscitou mortos. Muitas vezes o anjo chegava às reuniões para ministrar através dele às multidões e muitas vezes tinha visões detalhadas de curas que ocorri­ am exatamente como Deus lhe mostrara. Ele tinha tanta compaixão pelas pessoas que permanecia até de madrugada orando pelos enfermos. Pesso­ as que trabalharam junto com ele e viram a operação dos dois sinais dados pelo anjo, disseram que eram perfeitos como nenhum outro exerci­ do por um ser humano. Ele falava detalhes da vida de desconhecidos (nome, endereço, fatos passados, doenças etc). Certa vez, numa campanha em Houston, um fotógrafo profissional tirou uma foto de Branham e ao revelá-la ficou surpreso com o que viu: sobre a cabeça de Branham havia uma auréola sobrenatural de luz. Maravilhado, o fotógrafo informou Branham sobre a foto e este não se mostrou surpreso pois coisas seme­ lhantes a essa haviam acontecido em seu ministério. Uma foto como esta tem sido publicada nos livros sobre William Branham.

DESVIOS DEBMNHAMESEUSSEGUIDORES Embora fosse poderosamente usado por Deus para introduzir um dos maiores moveres do Espírito Santo na história da igreja, temos de declarar com tristeza que nos últimos anos de seu ministério Branham começou a fazer reivindicações exaltadas e absurdas a respeito de sua posição pessoal na economia divina dos eventos dos finais dos tempos. Ele arrumou um plano de sete épocas na história da igreja (baseado nas sete igrejas de Apocalipse 2 e 3), onde cada época tinha um mensageiro especial. 0 prim eiro mensageiro foi o apóstolo Paulo. Entre os mensa­ geiros posteriores estão Lutero e Wesley. E ao chegarmos à sétima e última época somos informados por Branham que ele mesmo é o men­ sageiro que introduzirá a segunda vinda de Cristo. Assim como João Batista veio no espírito de Elias para anunciar a primeira vinda, do mesmo m odo William Branham seria o profeta do século X X que, no Espírito de Elias (Ml 4:5), anunciaria a segunda vinda de Cristo. Ele chegou a predizer que o fim do tempo ocorreria em 1977. 36

As Grcuules Campanhas de Cura

Certamente Deus não aprovou tais exaltadas e tolas reivindica­ ções, e 0 tirou de cena em 1965 através de um acidente de carro apenas vinte anos após o início do seu ministério. Depois de sua morte, surgiu uma seita que a princípio afirmava que ele ressuscitaria dos mortos, e como isto não aconteceu, continuaram a idolatrá-lo como o profeta do século XX, colocando suas palavras no mesmo nível da Bíblia.

OUTROS PROEMINENTES MIN ISTÉRIOS Nos anos 40 e 50, poderosos ministérios de cura foram levanta­ dos, muitos deles influenciados pelo ministério de William Branham. Um deles foi T. L. Osborn. Em 1947 ele assistiu a algumas reuniões de Branham em Portland, Oregon e o viu libertar uma menina surda-muda de um espírito maligno. Osbom diz ter ouvido naquele momento milha­ res de vozes dizendo-lhe que podia fazer o mesmo. Naquela época ele era um pastor das Assem bléias de Deus, em Portland, e por um certo período entregou a igreja aos cuidados de sua esposa para se dedicar à oração e jejum. Foi então que Deus falou com ele que, assim como levan­ tara Smith W i^lesworth, Aimee Semple McPherson e Charles Price, poderia levantá-lo e usá-lo em sua geração. Com a ajuda de Gordon Lindsay ele se lançou a um ministério independente de evangelismo e cura. Porém, é interessante notar que o ministério de Osborn causou mais impacto fora dos Estados Unidos. Ele realizou poderosas cruza­ das em vários países da América Latina, África, Ásia e Europa. Em alguns países ocorreram ajuntamentos de mais de 100.000 pessoas e os milagres eram tidos como sensacionais. As curas simplesmente come­ çaram a espocar no meio da multidão, pois era-lhe impossível impor as mãos sobre todos. Alguns países foram abalados com suas cruzadas e numa campanha singular foram curados 125 surdos-mudos, 90 cegos e centenas de outras libertações ocorreram. Outro proeminente ministério de cura deste período foi Oral Roberts. Foi convertido e curado aos 17 anos e se tornou um pregador “Pentecostal Holiness” desde 1935 até 1946. Fteqüentou a Universidade Phillips e ensinou no Colégio Bíblico SouÜiwestern. Em 1947, enquanto jejuava, orava e ha os Evangelhos de joelhos, recebeu uma revelação de 37

Algreja do Século XX-AHistória que Não Foi Cbnínda

que Deus é bom e quer curar a todos, e sentiu-se chamado para levar o poder de cura de Deus à sua geração. Resignou ao seu pastorado e mudou-se para Tulsa, Oklahoma onde começou seu ministério independente de cura. Sobre suas campa­ nhas, Wilham Branham declarou que “a autoridade de Roberts sobre demônios, doença e pecado era a coisa mais maravilhosa que ele já tinha visto na obra de Deus”. ^ Oral Roberts testificou sentir uma manifestação da presença de Deus em sua mão direita que seria um ponto de contato entre o crente e

0 poder de cura de Deus. Ele publicou sua própria revista, “Healing Waters” , que mais tarde recebeu o nome de “Abundant Life”. Foi um dos primeiros a utilizar a televisão para pregar o evangelho. Em 1966 fun­ dou uma universidade cristã com várias faculdades que alcançou muito prestígio, inclusive no meio secular, e que introduziu a mensagem pentecostal no meio acadêmico. Outro homem importante nos anos 40 e 50 foi Gordon Lindsay que foi usado para coordenar e equilibrar o movimento de cura. Publi­ cou uma revista muito famosa, “The Voice o f Healing”, que serviu para propagar e dar coesão ao movimento. Em um número editado em 1952 a revista trouxe estampada na capa as fotos de 20 ministérios de cura atuantes na época. Paralelo a esses dois movimentos, de cura e Chuva Serôdia, hou­ ve um poderoso avivamento nas ilhas Hébridas, na Escócia, e outro na Coréia, onde mais de 4.000 pessoas se reuniam para orar às cinco ho­ ras da manhã.

BlLLyCRAHAM Apesar de não exercer ministério de cura, Billy Graham se desta­ ca no século X X como o maior evangelista de todos os tempos. Por vários anos fora um jovem evangelista comum mas durante uma confe­ rência em 1949 num acampamento nas montanhas perto de Los Angeles, Califórnia (da qual ele era um dos preletores), teve uma experiência que mudou sua vida e ministério. Naqueles dias passava por um conflito interior muito grande devido a um comentário de um colega de ministé­ rio que lhe dissera que sua visão das Escrituras era muito estreita e que 38

AsGrandesCampanhasdeCura

isto acabaria prejudicando seu ministério. Conforme consta em sua bi­ ografia, uma noite, caminhando e orando pela floresta, ele teve a seguin­ te experiência:® Depois dojantar, em vez de assistir à reunião, ele se retirou para seu alojamento e leu novamente as passagens bíblicas quefalam sobre sua autoridade. Ele lembrou que alguém dissera que osprofetas usaramfrases como “veio apalavra do Senhor”, ou “assim diz o Senhor” mais de 2.000 vezes. Ele meditou sobre a atitude de Cristo que cunnpnu a lei e osprofetas: “Ele amavaas Escrituras, citando-as constantemente, enuncaemnenhuma ocasião insinuou quepudessem ser erradas”. Billy saiupeb mato, vagando e orando enquanto subiao monte: “Senhor, quefarei? Que direção darei à minha vida?”Ele sabia que chegara a um ponto de crise. Ele sabia que só o intelecto não poderia resolver o problema de autoridade. Ele teria de ir além do intelecto. Meditou sobre afé constan­ temente exercida na vida diária. Ele não sabia como um trem ou um avião ou umcarrofimcbnava, masandavaneks.ElenãosabíacomouTnavacamarrom podia comer grama e dar leite branco, mas ele bebia leite. Será que somente nas coisas espirituais estafé não dava certo? “Então eu voltei, peguei minha Bíblia e saípara a luz do luar... Arrumei um toco e coloquei a Bíblia no toco, qjoelhei-me e disse: ‘Ó Deus, eu não posso provar certas coisas, não posso responder algumas perguntas que meus colegas estãofazendo, mas eu aceito este livropetafé como a Palavra deDeus.” Ele permaneceu orandoperto do toco inconsciente do mundo ao redor, seusolhosestavamúmidos... “TiveumtremendosensodapresençadeDeus. Tive grandepaz de que a decisão que tomara era certa. ” Depois desta experiência Billy Graham nunca mais tentou expli­ car a Bíblia. Começou a proclamar simplesmente “A Bíblia diz...” e mul­ tidões foram convertidas. Sua primeira grande campanha em Los Angeles, considerada o início de seu ministério às multidões, estava planejada para durar três semanas e foi estendida para dois meses (25 de setem­ bro a 25 de novembro de 1949). 0 impacto causado pela conversão de algumas celebridades de Hollywood e o interesse dos meios de comuni­ cação atraíram multidões de mais de 6.000 pessoas diariamente. Esta campanha o tornou uma celebridade nacional, abrindo espa­ ço para futuras campanhas e por mais de 40 anos Billy Graham tem 39

A Igreja do Sécub X X -A História que Não Foi Contada

viajado por todo o mundo, sendo a pessoa que tem pregado para o maior número de pessoas até hoje. Numa cruzada marcante realizada em Seul, Coréia do Sul, em junho de 1973, estima-se que mais de 3,2 milhões de pessoas assistiram as cinco reuniões de campanha. Calculase que na última reunião havia 1,1 milhão de participantes. Foi provavel­ mente 0 maior ajuntamento de pessoas na história da igreja.

CO NCLUSÃO Acabamos de relatar uma época de sinais e milagres que rara­ mente acontece na história. De fato este irrompimento do sobrenatural ocorreu apenas quatro vezes na história: no tempo de Moisés e Josué, no tempo de Elias e Eliseu, no tempo de Jesus e dos apóstolos e agora no século XX, quando todos os milagres relatados na Bíblia acontece­ ram. Como vimos, no fmal da década de 40 e no decorrer da década de 50, houve ministérios de sinais e milagres numa escala nunca vista an­ tes. 0 cego viu,

0 aleijado andou, o surdo ouviu e mortos foram ressus­

citados. Através desses vasos muitas vezes imperfeitos o poder de Deus foi manifesto ao ponto de nações serem sacudidas por seu poder. Porém, a um desses renomados evangelistas de cura o Senhor te­ ria dito audivelmente no fim de sua vida: “Tudo que você construiu é apenas madeira, palha e feno” (1 Co 3:10-15). E assim o movimento de cura não produziu os permanentes “ouro, prata e pedras preciosas”. Ele preencheu o vácuo que o declínio do Pentecostaüsmo institucional criara, mas no meio de demonstrações miraculosas havia muitas vezes duvido­ sas práticas fmanceiras e morais, lutas por poder, egoísmo e arrogância humanos, independência, rivalidade e dissensão. Como aconteceu com Sansão, o poder de Deus foi inegavelmente evidente, mas também é inegá­ vel que 0 caráter de Deus esteve muitas vezes lamentavelmente em falta. ® David Edwin Harrel Jr., em seu livro “Tudo é Possível”, comenta sobre essa época: “Gordon Lindsay, que continuou a crer que o aviva­ mento era um grande mover de Deus, manifestou-se mais e mais contra a ambição pessoal e as manobras para obter posição entre os evangelistas. Em 1962, ele admitiu que muitos evangelistas adotavam métodos ques­ tionáveis e condenou aqueles que continuamente enfatizavam temas mui­ to sensacionalistas. 0 evangelista David Nunn recorda que Lindsay falou 40

As Grandes Campanhas de Cura

com ele particularmente: ‘0 dia do evangelista acabou.’ Muitos dos m i­ nistros declinaram, de acordo com Lindsay, ‘em grande parte por falta de humildade e por causa de uma tendência a auto-exaltação’. Ele se entristeceu com a ênfase crescente sobre dinheiro. 0 público, Lindsay creu, tinha toda razão para crer que o avivamento era ‘falso’; conduta não ética de alguns dos evangelistas tinha se tornado im i sério obstáculo para a mensagem carismática. Lindsay mais tarde concluiu que mesmo no auge do avivamento, muitos dos evangelistas ‘não tinham prevalecido em oração, não tinham tocado em Deus para seu ministério, simples­ mente levantaram sua bandeira’. No fmal dos anos 50 ele estava profun­ damente aborrecido e desencorajado.”® No início dos anos 60 os avivamentos de cura obviamente tinham em grande parte esgotado seus recursos. Uma por uma, idolatradas personalidades de cura foram tiradas de cena por morte prematura; outros simplesmente declinaram em relativa obscuridade. Alguns pou­ cos têm sobrevivido até os dias atuais. ® 0 Brasil também foi bastante afetado por esse mover de cura, e homens como Manoel de Melo, Davi Miranda e Doriel de Oliveira levan­ taram fortes movimentos de cura. Mais recentemente temos tido o con­ troverso “Bispo” Macedo e sua Ig reja z Universal do R ein o de Deus. Todos eles têm atuado nas camadas sociais mais baixas e preocupado a Ig reja C a tólica com a conversão de milhares de seus adeptos. Em geral muita confusão e mistura têm ocorrido nos movimen­ tos de cura devido à ênfase exagerada nos dons do Espírito Santo sem

0 equilíbrio da Palavra. No livro de Atos o Espírito Santo foi derrama­ do sobre a palavra que Jesus deixara e isto produziu uma igreja glorio­ sa com sinais e milagres, mas com equilíbrio. Hoje estamos num pro­ cesso inverso do tempo de Atos. Temos tido muito derramamento do Espírito Santo, mas precisamos da restauração da palavra apostóhca para formar imia estrutm-a onde sinais e milagres ocorrerão em harmo­ nia com a palavra, evitando assim erros e extremos do passado. Portanto, em lugar de rejeitar os sinais e milagres devido aos excessos que têm havido, devemos entender que no contexto da Palavra com

0 Espírito eles são importantes para mostrar às nações que Jesus

está vivo e vai voltar. 41

Capítulo

4

O MOVIMENTO CH UVA SERÔDIA

R

alph Mahoney, fundador da WORLD MAP (uma organização que dá assistência a missionários em todo o mundo e pubhca a re­

vista ATOS), tem afirmado que há três sinais significativos que precedem um novo mover de Deus: a) algum evento histórico na nação de Israel;

b) um evento espiritual paralelo na igreja; c) a remoção de líderes do mover anterior com levantamento de novos líderes. ^ Esses sinais se aplicam ao mover de 1948, que ficou conhecido como Chuva Serôdia. Foi um mover paralelo a um grande acontecimen­ to histórico — a formação do Estado de Israel em 1948. Tanto a Chuva Serôdia como as grandes campanhas de cura (que ocorreram no mesmo período, mas eram distintas entre si) aconteceram dentro do ambiente pentecostal (quase a totalidade dos novos Hderes era de pastores das Assem bléias de D eus), ambos foram rejeitados pela maioria das gran­ des denominações pentecostais e ambos influenciaram em parte o de­ senvolvimento do Movimento Carismático dos anos 60 e 70. 0 Movimento Chuva Serôdia se assemelhou ao Movimento Pente­ costal do início do século XX em seu zelo pelo sobrenatural, em sua expec­ tativa da Iminente volta de Jesus Cristo, em seu repúdio pela organização religiosa formal, e em seu entusiasmo pela presença de Deus, a qual, sen­ tia-se, estava para ser manifestada no derramamento da chuva serôdia do Espírito de Deus, da qual as primeiras poucas gotas já estavam começando a cair em preparação para a volta imediata de Cristo. 43

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

0 cenário que antecedeu a este mover de Deus foi a preocupação, trauma e conseqüência da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e um forte anseio dentro do meio pentecostal por uma nova visitação de Deus. Era uma época de considerável sequidão espiritual e, de acordo com Gari Brumback, “a profundidade de adoração e a operação dos dons do Espírito, tão em evidência nas décadas anteriores, não eram tão proe­ minentes nos anos 30 e 40”. ' Outro ministro, Reg Layzell, descreveu este período da seguinte maneira: “Nos corações de todos aqueles famintos de Deus havia um cla­ mor por uma nova visitação. Os que estavam no ministério, como tam­ bém os que estavam nos bancos, sentiam uma fome profunda e ardente por mais do céu. Havia um reconhecimento da parte de muitos no m i­ nistério e também daqueles em posições oficiais desta necessidade... Numa discussão com um pastor-superintendente de um distrito, foi fei­ ta esta declaração: ‘Nosso povo precisa de uma nova visitação de Deus e sem isto não temos futuro...’ Antes de Deus nos visitar havia uma sequidão geral na terra e isto foi reconhecido.”

GEORGE HAVl^lN Em 1935, enquanto este período de sequidão espiritual estava apenas começando, um pastor das Assem bléias Pentecostais do Cana­ dá, em Star City, Canadá, chamado George Havrtin, que viria a se tornar uma figura chave nas origens do Movimento Chuva Serôdia, fundou um instituto bíblico (que para variar se chamava Betei), freqüentado por oito estudantes naquele ano. Em 1937 o instituto mudou-se para Saskatoon, e em 1942, se tornou propriedade

Assem bléias Pente­

costais do Canadá para que fosse legalizado e reconhecido como uma Escola B íb lica das Assem bléias Pentecostais. Por causa de sua manei­ ra independente de agir, Hawtin entrou em crise com a organização e, em 1947, teve de renunciar à sua posição de diretor da escola, mudan­ do-se naquele mesmo ano para outra cidade do Canadá, North Battleford, onde as cenas iniciais do avivamento se desenrolaram. Haw^ln e outro membro da direção da escola, PG. Hunt, se junta­ ram ao ex-pastor da Ig reja do E vangelho Q uadrangular, Herrick Holt,

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0 Movimento Chuva Serôdia

que tinha um trabalho independente já estabelecido chamado “Orfanato e Escolas Sharon”. Para que o empreendimento se auto-sustentasse, Holt comprara uma fazenda a 16 quilômetros da cidade. Foi depois desta compra que Herrick Holt convidara George Hawtin e P G. Hunt para se estabelecerem em North Battleford. Setenta estudantes deixaram o Ins­ tituto Bíblico Betei para se tomarem parte do trabalho do Sharon. Müford Kirkpatrick, cunhado de Hawtin, e Ern Hawtin, irmão de Hawtin, logo se juntaram ao ministério Sharon em North Battleford. Quando Hawtin se mudou para ali. Holt havia recebido uma vivificação dos versículos 18 e 19 de Isaías 43 e estava fazendo campanhas de pregação sobre a “coisa nova” que Deus estava para fazer na terra. ^ Pouco tempo depois que George Hawtin e P G. Hunt se juntaram a Herrick Holt, vários irmãos de North Battleford assistiram a uma campanha de Wüliam Branham, em Vancouver, e ficaram extremamente impressionados com as manifestações sobrenaturais nas reuniões. Um editorial apareceu na edição de 1 de janeiro de 1948 do “The Sharon Star”, um periódico publicado pelos irmãos de North Battleford, descre­ vendo a campanha de Branham em Vancouver: Estáse tomando bemconheddoqueoRev. Branham temoájmsobrenatural de cura Nunca em minha vida vi coisa igualaqueeuviem Vancouver. AsreuniõesJoramreaUzadasr}oE>âiíbitionGarden, umprédiocomcapacidade talvezpara quatro a cinco milpessoas. Houve muito poucapropaganda sobre as reuniões— apenas unspoucos cartazes aqui e acolá dando a hora e local das reuniões. A primeira reunião e todas a seguir estavam btndas até àsportas, e amenos que se chegasse cedoparaareunião da tarde, nãohavia esperança nenhuma de entrar à noite. ...Seus sermões têm efeito de inspirar/é em seus ouvintes... Eu vi os surdos recuperaremsua audição. Eu ouvi os mudosfalarem.. Eu vi um bócio desaparecer. Eu vipessoas doentes se levantarem de seus leitos... Que eu saiba náoviumapessoaquenãofossecuradaquandoirmáoBranhamtirou

0 tempo para orar especificamentepor ela Eu retomei daquelas reuniões compreendendo como nunca antes que os verdadeiros dons do Espirito são muito maispoderosos do que qualquer outra coisaque temos imaginado emnossos mais espetaculares sonhos... Tbdosos grandesderramamenÈosdopassadotiveramsuasverdadesprindpais.Averda-

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de de LuterofoiJustifíccupopela Fé. A de Weslegfoi Santificação... 0 derrama­ mento Pentecostal restaurou o Batismo no Espírito Sanb ao seu devido lugar. Mas opró>dmogrande derramamentovaiser marcadopor todas essas verda­ des e ainda de uma tal demonstração dos nove dons do Espírito que o mundo, nemrnesnTOonTundoapostoIkx),Jarnaistestemiinhouantes. Este avivamento será curto e será o último antes do arrebatamento da igreja Estas declarações, feitas quase um mês e meio antes do avivamento começar, mostram a expectativa dos irmãos de North Battleford naqueles dias. Devemos levar em consideração que nem tudo se cumpriu como foi predito. Esse avivamento não foi o último e nem houve tal impacto no mundo com a demonstração dos dons do Espírito, mas não podemos ne­ gar que, mesmo após 40 anos, ainda é possível sentir os efeitos e resulta­ dos deste mover em nossos dias. Sobre isso falaremos mais tarde. Alguns Pontos de Influência Temos a seguir alguns fatores que influenciaram os irmãos de North Battleford: 1) Im posição de m ãos. A imposição de mãos se tornaria mais tarde um importante ponto de controvérsia entre as denominações pen­ tecostais estabelecidas e os participantes do avivamento de 1948. Antes de 1947, era quase uma heresia, entre os pentecostais, afirmar que não eram necessários períodos de busca e espera para receber o Espírito Santo. Porém, de acordo com James Watt (que esteve com os irmãos de North Battleford de 1945 a 1949) um livro escrito por um episcopal, J. E. Stiles, “0 Dom do Espírito Santo” , influenciou os irmãos Hawtin em North Battleford a afirmar que o Espírito Santo era um dom. Se alguém tivesse realmente se arrependido e crido no Senhor Jesus, tudo que ele tinha de fazer era receber a imposição de mãos de um irmão e assim receberia o Espírito Santo sem demora. 2) Form a de governo local. Outra influência foi o modelo de gover­ no da igreja usado pelas Assem bíéias de Deus Independentes suecas, que foi adotado e usado pelos irmãos de North Battleford. Este grupo de assem bléias locais era mais uma comunhão de igrejas do que uma denominação, e consideravam o governo da igreja local como a autorida­ de máxima da igreja... A influência do modelo de governo das Assem bléi­ as de Deus Independentes sobre o ‘Orfanato e Escolas Sharon’ pode ser 46

0 Movimento ChumSerôdia

vista em alguns artigos que apareceram no periódico T h e Sharon Star”. Os números de janeiro e fevereiro de 1948 trouxeram artigos de A. W. Ras­ m ussen, um p a stor das A s s e m b lé ia s d e D e u s In d e p e n d e n te s , intitulados “Ordem Bíblica ou Não Bíblica da Igreja”, estabelecendo prin­ cípios de governo na igreja. Rasmussen escreveu o seguinte: ^ No início do “Pentecoste”nós morríamos de medo de “denominacionalisnw”enunjcadeixamosdelevantarnossavozparaprockunarquenãoéramos uma denominação, mas um movimento. 0 que acontece hoje? 0 “Pentecoste" estádivididoemmuitosgruposdederu)nmacionalismo. Temtomado o cami­ nho de todo avivamento espiritual anterior Parece que cada avivamento produz suaprópriaaposlasicL.. A igreja não é uma organização nem uma ordemfraternal construída pelo homenv a igreja é um organismo vivo. É o corpo de Cristo do qual ele é

0 cabeça. Isto é um mistério oculto ao homem natural e à mente carnal. As coisas de Deus não podem ser discernidas pela mente natural, elas são discernidas espiritualmente... Tenho examinado diligentemente as Escrituraspara ver se há qualquer organização instituídapelos apóstolos além e acima da igreja locai Nãofui capaz de achar isto. Por outro lado, a ordem da igreja local é claramente ensinada. Por exemplo: a primeira igreja do Novo Testamentofoi instituída em Jerusalém com um número de membros e elespor sua vez tiverampresbíteros e diáconos para supervisionar o rebanho. Os apóstolos seguiram este padrão ao estabelecerem igrejas em todo lugar por toda a era da igreja apostólica. Somente os santos realmente nascidos de novo e batizados se tomaram membros da igreja, verAt2:41; 5:13,38. A simplicidade da forma de governo usado pelas A ssem bléias de Deus Independentes agradou mais aos irmãos de North Battleford, especialmente porque isto lhes pareceu mais afinado com o padrão bí­ blico do que as formas centralizadas de governo da igreja. 3)

0 livro “Poder A tôm ico com Deus Através de Jejum e O ração

Este livro, escrito por Franklin Hall, providenciou informações detalha­ das sobre métodos e benefícios do jejum. Franklin Hall saiu da Igreja M etodista e viajou como evangelista independente durante a Grande De­ pressão e a Segunda Guerra Mundial. A influência de Hall sobre os ir­ mãos de North Battleford foi inegável. Ern Hawtin escreveu o seguinte: ^ 47

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A verdade dojejumfoi um dos grandes/atores que contribuíram para o avivamento. Um ano antes disto lemos o livro de Franklin Hall, intitulado “Poder Atômico com Deus Através de Jejum e Oração”. Imediatamente começamos apraticar ojejum Antes não tínhamos entendido sobre a possi­ bilidade dejejuar grandesperíodos. 0 avivamento nunca teriasido possível sem a restauração desta grande verdade através de nosso irmão HalL De acordo com George Hawtin, “alguns jejuaram por três dias; alguns por sete dias; alguns jejuaram por dez dias; alguns por duas semanas; algims por três semanas; alguns jejuaram por trinta dias; e um homem jejuou por quarenta dias”.

O ROMPERDO AVIVAM EN TO A Escola Bíblica Sharon iniciou-se em 21 de outubro de 1947. De acordo com “The Sharon Star” (maio de 1948), em novembro de 1947 cerca de vinte e cinco estudantes foram batizados no Espírito Santo. Então seguiu-se um longo período de oração e jejum. George Hawtin escreveu o seguinte: Foi nos dias 12 e 13 defevereiro de 1948 que a grande restauração começou. Aqueles que estavam presentes nas salas de aula das Escolas Sharon naquela manhã inesquecível tinham dedicado meses emjejum e oração. Desde a abertura da escola na segunda parte de outubro até a grande visitação do Espírito, emfevereiro, nãopossopensaremumdia(com possível exceção de Natal eAno Novo) sem que alguém ou um grupo estives­ sejejuando e orando. Dia após dia, semana após semcma, as aulas eram suspensas, e os estudos interrompidos à medida que um grande peso de oração e súplica vinha sobre nós. Em nossos corações sabíamos que Deus estava parafazer uma coisa nova na igreja, mas não podíamos explicar exatamente o que era Umaspoucasprofecias de encorajamento nosforam dadas, impelindo-nos a buscar ajace do Senhor. As vezes tentávamos estu­ dar, mas nãopodíamosprosseguir; o desejo de orar era bem mcdor. As aulas, todavia, eramsemvidaeaoração sempre dijicíL No dia 11 de fevereiro de 1948 uma profecia foi dada por uma das jovens da Escola Bíblica, dizendo “que nós estávamos na beiradinha de um grande avivamento, e tudo que tínhamos a fazer era abrir a porta e entrar”. Depois que ela deu a profecia, George Hawtin se levantou e

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orou, “suplicando a Deus e falando que ele nos tinha informado que estávamos na beiradinha de um grande avivamento, e tudo que tínhamos que fazer era entrar pela porta — mas eu (George Havi^tin) disse, ‘Pai, nós não sabemos onde está a porta — nem sabemos como entrar por ela’.” Ele continuou orando, pedindo ao Senhor para lhes mostrar o que teriam que fazer. ^ 0 dia seguinte, 12 de fevereiro de 1948, foi descrito por Ern Hawtin da seguinte maneira: Trêsprédios... compunhamo “OrfanatoeEscokisSharorí’noseuintio, no outonodel947. Cercade 70estudaniessereuriiramparaestudaraPalavrade Deus, orarejejuar.Depoisdetrêsmeses, dereperÉeoavivamentocomeçouem nossamaiorscdadeaulaondetodoocorpodeestudantesestavareunidopara exercíciosdevocionais. Umjovemcontou-meque, quando tinhacincoanosde idade, Deus lhe deu uma visão daquela saia de aula Tudo nela era idêntico. Ele vvuDeus movendo de uma maneira que ele nãopodia entender. ... NuncaesquecereiamanháquandoDeus moveuem nosso meio nesta estranhaenovamaneiraAIgunsestudantesestavamsobopoderdeDeusno chão, outrosestaüamcgoeJhadosemadoraçãoelouvordiantedeDeus.Aunção se intens^ou até que o temor de Deus estava sobre todos. 0 Senhor disse a um dos irmãos: “Vá e imponha as mãos sobre certo estudante e orepor ele”. Enquantoeleestavaemdúvidaeemconteniplação, umadasirmãsqueesüvera scb opoderdeDeusJoi ao irmão dizendo as mesmaspalavras, e nomeando 0 mesmo estudantepeb qualele deveria orar. Ele obedeceu e uma revelação Joi dadasobre a vida eJuturo ministérb do estudante. Depois disto uma bnga profeciafoi dada (por Em Hawtin) com detalhes minuciosos sobre agrande coisa que Deus estavaparajazer. ..Até opresente dia ( I de agosto de 1949) possolembraraessêndadaprqfeda,etentareirepettralgumascoisascomo foramditas: “Essessão os últimos dias, meupovo.AvindadoSenhorestápróximaeeu movereinomebdosmeusescolhidos. OsdonsdoEspíritoserãorestauradosna minha igreja Se vocês meobedeceremeuimediatameníeos restaurarei Mas, 6 meupovo, seja reverente diante de mim como nunca antes. Tire os sapatos deseuspésporqueolugaremqueestãoésanto.Sevocêsnãoreverendarem 0 Senhor e a sua casa o Senhor requererá isto de suas mãos. Nãojalem levia­ namente das coisas que estouparafazer, poiso Senhoros considerará culpa­ dos. Não tagarelemsobre essascoisas. Não esaevamcaríaspamseus amigos nKdschegadossobreanovamaneíradoSenhoragir, pois eles não entenderão.

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SevocêsdesobedeceremaoSenhornessascoisas, tomemcuidadoparaque seus dias não sejam contados em tristeza e vão cedopara a sepultura Vocês têm me obedecido e eu restaurarei meus dons. Indicarei de tempo em tempo aqueles que estãoprontí^para receber os dons de meu Espírito. Eles serão recebidosporprofecia e imposição de mãos dopresbitério. ” Imediatamenteapósestaprojecia,umairmãrecebeuumarevelaçãodos nomes de cirvx> estudantes que estavamprontospara receber oração. Mãos foram impostas sobre elespeb presbitério. Esteprocedimentofoi bem hesi­ tante e imperfeito naquela manhã, mas depois de dois dias examinando a PalavradeDeusparaversetínhamosbasebíblica, grande unidadeprevale­ ceu e 0 Senhor veio em maiorpoder egbria dia após dia. Logo uma manifes­ tação visíveldos donsfoi concedida à medida que candidatos recebiam ora­ ção e muitos, como resultado, começaram a ser curados, à medida que dons de curaforam dados. Diaapósdiaagbriae poder de Deus vieramentre nós. Grande arrepen­ dimento, humildade,jejum e oraçãopredominarem sobre todos. George Hawtin em seu relato confirma a profecia dada por seu irmão:^ Todos os estudantes estavamqjoelhadosnasaladeaula Emprofetizou peb Espírito de Deuspor cerca de meia hora Durante aprqfeda ele chamou todaaescolaàsantidade, àgrandereverênciadlantedeDeus...íhtãohouve um aviso de que não devíamos mencionar o que estava acontecendo em cartas, porque aspessoas não entenderiam.. Essaspalavrasforam dadas peb Espírito de Deus: “Nesta época eu restaurarei os nove dons do Espírito para minha igreja, e eles serão restauradosporprofecia, com a imposição de mãos dopresbitério”. Durante opróximo dia, 13 defevereiro, nós examina­ mos a Palavra de Deuspraticamente o dia todopara ver se essas coisas que tinhamsido profetizadas estavamde acordo comaPalavra... NodiaM de fevereiro— nuncapoderei descrever as coisas que aconteceram naquele dia Parecia que todo o céu expbdiasobre nossas abnas, e o alto céu abaixava-se para nossaudar. Opoder e a glória de Deusforam indescritíveis.

U M A ANÁLISE Como pode ser visto na profecia de Ern Hawtin, segundo a qual “os dons do Espírito serão restaurados na minha igreja”, houvera prati­ camente um cessar da operação dos dons do Espírito que tinham se

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o Movimento Chuva Serôdia

tornado tão difundidos com o advento do pentecostaüsmo na virada do século. Esta falta foi reconhecida por pentecostais de todo tipo e por todo 0 mundo de língua inglesa daquela época. Foi esta necessidade que trouxe notoriedade aos eventos de North Battleford no início de 1948. Porque os irmãos de North Battleford tiveram sucesso em transmitir dons especiais por imposição de suas mãos, pessoas vieram de todo lugar para que eles, também, pudessem participar dos dons espirituais que por tanto tempo oravam e ansiavam. ^ A necessidade de os irmãos de North Battleford diligentemente examinarem a Palavra de Deus por dois dias depois da profecia para veri­ ficar se tinham base bíblica, surgiu por eles (como também todo o pentecostalismo) estarem condicionados a pensar serem necessários períodos de busca e espera para receber o dom do Espírito Santo. A imposição de mãos para aquele propósito não fora praticada por várias décadas, e por alguma razão, viera a ser vista como herética pela m aioria dos grupos pentecostais. Por causa do perigo de desentendimento em relação ao uso da imposição de mãos, não é de admirar que todas as pessoas fossem exortadas a não tagarelarem sobre o que tinha acontecido. 0 uso do termo “o presbitério” no contexto da profecia merece um pouco mais de atenção. 1 Tim óteo 4:14 diz: “Não negligencieis o dom que há em ti, o qual te foi dado por profecia, com a imposição de mãos do presbitério.” 0 presbitério neste caso consistia de líderes de uma determinada igreja local. Porém, no caso dos irmãos de North Battleford, parece que, à medida que eles ministraram em outros luga­ res além do contexto de sua própria localidade, começaram a referir a si mesmos como “o presbitério”, em vez de aos líderes da localidade específica que estavam visitando. Numa folha intitulada “Uma Análise Histórica do Desenvolvimento dos Dois Conceitos de ‘Presbitério’”, James Watt (associado aos irmãos de North Battleford de 1945 a 1949) escreveu: “Eu mesmo tenho sido solicitado a submeter-me a um presbitério de sete homens viajantes... ‘Presbitério’ no início deste m over significava os professores do ‘Orfa­ nato e Escolas Sharori com um pastor local de North BatÜeford. Quan­ do este grupo viajava para outras cidades, eles reservavam a palavra ‘presbitério’ para si mesmos, permitindo a alguns pastores locais de 51

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também participarem.” Ao avaliar o procedimento dos irmãos de North Battleford sobre isto, James Watt escreveu que “o papel do presbitério itinerante como iniciado por North BatÜeford não é o ideal de Deus, nem é o padrão bíblico. Um único verso na Bíblia se refere a um presbi­ tério no Novo Testamento (1 Tm 4:14), e isto não se refere necessaria­ mente a um presbitério itinerante indo para uma igreja local. Antes, isto se refere aos irmãos de uma igreja local que foram ordenados por Paulo e Barnabé como presbíteros” (At 14:23).

AREPERCUSSÃODOAVIVAM ENTO Em obediência à exortação de não mencionar em cartas o que tinha acontecido, a edição de 1 de março de 1948 de “The Sharon Star” não trouxe nem uma palavra sobre os eventos das duas semanas anteri­ ores. Porém, a edição de 1 de abril de 1948 trouxe um editorial sobre “0 Avivamento em Sharon”: Durante as últimas seis semanas temos nos regozijado com urrui grande visita/^ do Espírito de Deus. Alguns de nós estiveram orandopor vinte anos para que os nove dons do Espíritofossem restaurados na igreja 0 espírito de JeJum e oração tem estado sobre toda a escola durante todo o inverno. Final­ mente 0 grande ‘rompimento’veio e os dons espirituais começaram a operar entrenós...Oavivamentoestáseespalhandoportodaaprovíncia.. Osdons espirituais estão definitivamente sendo restaurados na igreja Uma nova era está raiando. Talvez a edição de abril de 1948 de “The Sharon Star” tenha exercido grande influência para atrair pessoas para as reuniões da Festa Anual de Pentecoste de 30 de março a 4 de abril. A prim eira página trouxe manchetes descrevendo “Dois Milagres Modernos” de cura na Escola BíbUca Sharon, 0 número anterior (março de 1948) declarou que a circulação alcançara quase 5.000, incluindo pessoas de todo Esta­ dos Unidos e Canadá, como também da Inglaterra. A vasta representa­ ção geográfica de seus leitores sem dúvida criou um grande interesse nas reuniões do acampamento. Pessoas de diversos lugares visitaram Sharon durante as reuniões da Festa de Pentecoste. Müford Kirkpatrick escreveu: “Nunca vimos tal variedade de carros e placas antes, vindos de muitas províncias do Canadá e de muitos estados além fronteira.

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Pessoas viajaram por muitos quilômetros.” George Hawtin descreveu as reuniões da seguinte maneira: ^ Depois desses meses de oração e espera em Deus, tudo estavaprepara­ do para a Festa de Pentecoste. Pessoasfamintas de encontrar com Deus tinham vindo de várias centenas de quilômetos, e Deus as encontrou. Uma Jovempossessa de espírito malignofoi libertada em resposta à oração dafé; dois dias depois elafoi curada e, no mesmo dia,fo i cheia do E^irito Santo. Fbi maravilhoso demais versuaface brilhando com a glória de Deus... Estamos relutantes em publicar ou mesmo dizer as notícias que se se­ guemporque sabemos que muitaspessoas não crêem nisto. Sem dúvida, é verdade que Deus está definitivamente restaurando os dons na igreja e os nove dons do Espírito estão em operação entre nós, kmto na Escola Bíblica como durante aFestadePentecoste. Muitos comentários mórbidos esarcás­ ticos têm sidofeitos a respeito do que Deus estáfazendo aqui, mas perma­ nece ofato de que os doentes estão sendo curados, os demônios estão sendo expulsos, santos estão sendo edificados, pecadores estão sendo convertidos e nós não temos tido tempo nem espaço para argumentar com os que não crêem. ‘‘PodealgumacoisaboavirdeNazaré?”VenhaeveJcL Um pastor de uma cidade do Canadá escreveu uma carta aos irmãos de North Battleford dizendo que depois de sua volta da Festa de Pentecoste “a prim eira reunião... com sua igreja foi maravilhosa; a pró­ xima foi gloriosa, e a próxima mais gloriosa e assim por diante” . Parte desta carta apareceu no “The Sharon Star”, e no mês seguinte outro pastor da região escreveu: Notei no editorial um parágrafofalando de um pastor de Ontário que conta sobre suas reuniões depois de assistir à Festa de Pentecoste. Acontece que sou um pastor colega no mesmo distrito e posso testificar tudo que ele afirma e mais ainda. Sua igreja tem se tomado um centro na região para aqueles que querem as coisas mais profundas de Deus e vários dons do Espírito estão operando nas reuniões empeifeita harmonia, principalmente osdonsdecuraeprofecia Muitoscoraçõesfamintos estãojejuandoeorando porumdenamamentopoderoso. Outro ajuntamento importante para espalhar o avivamento foi o Acampamento Sharon em julho de 1948 que reuniu milhares de pessoas de todo 0 continente. A li receberam ensinamentos sobre a unidade do 53

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corpo de (Cristo, os ministérios fundamentais, os dons do Espírito e o governo da igreja local.

0 acampamento foi precedido por uma semana

de jejum que foi bem freqüentada. Pessoas vieram dos quatro cantos do Canadá. As novas do avivamento e do derramamento dos dons espü-ituais tinham se espalhado por toda parte. James Watt afirmou que “vinte estados dos Estados Unidos tinham grande número de representantes lá em julho, porque eles ouviram que Deus estava derramando seu Espí­ rito.” Eis um relato das reuniões por G. Hawtin: DiaapósdiaaPcüavrafoiensinadaeentãoossinaisseguiamseuensinamento. Pela manhã, à tarde e à noitepessoas/oramprostradas sob o poder de Deus e cheias do Espírito Santo... Nós tínhamos oradopela volta dos dias em que pessoas seriam cheias do Espírito imediatamente quando mãos fossem impostas sobre elas, como aconteceu em Samaria e Éfeso. Foi gran­ de nossa alegría quando uma noite duas senhoras se levantaram diante de toda a multidão e receberam o Espírito dessaforma. Quando mãosforam colocadas sobre elas, uma caiu sob opoder de Deus e a outra começou afalar em línguas. A alegría da multidão em ver e ouvir isso dificilmente pode ser imaginada Era como retroceder dois mií anos na históría da igreja Embora as antigas reuniões de busca ainda estivessem muito em evidên­ cia Deuspoderosamente usouo ministério de imposição de mãos. Aqueles que receberam esse ministérioforam especiabnente usadospor Deus de talforma quebuscadoresaônicosque tinhamesperadoquinze, vinte anosforamcheios do Espírito... Longasfilas de doentes receberam ministraçãopor aqueles que tinham recebido o dom de cura Depois daprimeira reunião de cura uma senhoratestifkouque, quandooraramporela umrimqueosmédicosdisseram ter-se deslocadopara afrente do seu abdômen retomou à suaposição correta Váriosfatoresforammaisevidentesduranteoaccimpamento. Emprimeiro lugar, o amor e desejopelapalavra de Deus. Pessoas se sentaram literal­ mente por horas para ouvir o ensinamento bíblico... Às vezes não havia nenhum buvor, outras vezes nenhumapregação, mas apresença de Deus e a manifestação dos dons do seu Espínto proporcionaram-nos aquilo que nossos corações tinham ansiado. Foi nesse encontro que George Warnock, ex-secretário de Ern Baxter, foi impressionado pela referência de um dos preletores, James Watt, de que a terceira das grandes festas de Israel, a Festa dos Tabernáculos, ainda não fora cumprida. Ele meditou, estudou, minis­ trou sobre isso e mais tarde escreveu o livro “A Festa dos Tabernáculos”

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que foi publicado em 1951 pela Editora Sharon e que se tornou a mais famosa publicação do movimento. Os irmãos de North Battleford viajaram para muitos lugares do Canadá e dos Estados Unidos levando o fogo do avivamento e, assim, muitos outros centros importantes se levantaram. Entre eles podemos ci­ tar: Vancouver, Canadá, com Reg Layzell, e Detroit, Michigan, com a pas­ tora Myrtle D. Beall, da famosa igreja Bethesda Missionary Temple (pes­ soas de muitos lugares foram até lá receber confirmação de seu chamado e ministério). Outros centros importantes se estabeleceram em Portland, Oregon, com Thomas Wyatt; em Lima, Nova lorque, com Ivan Spencer, diretor do Instituto B M c o Elim; em Los Angeles, Califórnia, com A. Earl Lee etc. Em sua maioria essas igrejas tiveram de se desligar das denomi­ nações pentecostais e se tomaram independentes e autônomas. Muitas se tomaram igrejas-mãe para numerosas outras igrejas. Nenhuma denomina­ ção, porém, se levantou do Movimento Chuva Serôdia.

SOBREONOME^^CHUVASERÒDIA^ 0 nome “Chuva Serôdia” foi dado ao avivamento em virtude da expectativa e profecia de alguns irmãos de que o Senhor derramaria a chuva serôdia antes da volta de Jesus. Myrtle D. Beall, de Detroit, che­ gou a declarar fervorosamente em 1949: “Está aqui, amigos. A chuva serôdia está aqui. É verdade que ainda não Irrompeu em sua plenitude, mas a chuva serôdia está aqui.” É interessante notar que no início o Movimento Pentecostal também ficou conhecido como Movimento Chu­ va Serôdia pelo mesmo motivo. As pessoas concluíram que o derrama­ mento do Espírito naquela época seria o último mover do Espírito de Deus que introduziria a vinda de Cristo. Mas George Hawtin fez decla­ rações veementes contra tais afirmações: ^ Há algumassemanasfoi-me cpreseniada uma Usta de quase cem “Igre­ jas da Chuva Serôdia”. Eu não sei de onde veio a Usta, embora meu nome estivesse nela... isto éjuiKktmentalrnente e basicamentee escriturísticamenie ERRADO. Se você é membro da seita da “Chuva Serôdia”, você é tão separa­ tista esectarista como se vocêfosse membro da seita Pentecostal ou Apos­ tólica,oaBatista, ouMetodistaetc... Que hipocrisia é esta de condenar outrosporque eles são Pentecostais, Presbiterianos, Batistas, Metodistas, Quadranguktres e milhares deoutas rarrújkxições,e depois nos autodenorrmarmos “Chuva Serôdia.’?... Nãohave55

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rá seitas ou denominações, mas os lavados no sangue de Jesus de todas as raçaselínguasserãobatizadosporumEspíritoniimcorpo, e este corpo será aigreja, eestaigrejaseráanoiva, eestanoivaseráaNova Jerusalém. Ele também afirmou:^ ...Estou certo de que o avivamento dos últimos 40 anos (avivamento pentecostal) e em particular o grande mover do Espirito rws últimos dois anos são apenas asprimeiras gotas do derramamento da chuva serôdia que estáparavir.Euqflrmo, apesar de íodaaconversasobrechuvaserôdia que ela ainda não chegou. E sejá chegou,foi somente numa medida muito, muito limitada Então, George Hawtin e os outros irmãos de North Battleford se posicionaram fortemente contra qualquer tipo de rótulo ou de denominacionalismo. E de fato nenhuma denominação surgiu do Movimento Chuva Serôdia. 0 que não foi o caso do Movimento Pentecostal do início do século, que também se posicionou contra o denominacionalismo, mas não tão fortemente, e no fim se organizou como as Assembléias de Deus e outras denominações pentecostais. Aliás, o Movimento Pentecostal é um exemplo típico e famoso na história da igreja de um movimento que gradativamente se desenvolveu em direção ao mesmo tipo de deno­ minacionalismo, contra o qual ele, como um movimento de reforma, se levantara no início. E da mesma form a que foi perseguido pelas deno­ minações estabelecidas daquela época, ele se levantou para perseguir o Movimento Chuva Serôdia. Desde o início da história da igreja isto está sempre se repetindo — aquele que fora o último mover de Deus se levanta contra o mover atual de Deus.

CORO CELESTIAL Em outubro de 1948 os irmãos Hawtin e outros líderes de North Battleford foram convidados a pregar numa convenção das Igrejas As­ sem bléias de Deus Independentes, em Edmonton, Canadá. Um dos acontecimentos marcantes desse encontro foi o coro celestial que já havia acontecido no início do século. James Watt, um dos preletores, pregou sobre isto influenciado pela leitura de um livro da pastoraevangelista Marie B. Woodworth-Etter, que descrevia tal manifestação em suas reuniões. Eis um trecho do livro descrevendo uma reunião em Long Hill, Connecticut, em 1913:^ 56

0 Movimento Chuva Serôdia

...Derepentecaiusobremeuouvido—poisosoni é estanho dizer, todo ele parecia se derramar em meu ouvido direito— uma canção da mais maravilhosadescrição. Nãoparedademaneiraalgumacomvozes humanas, mas parecia com os tons de algum instrumento musical maravilhoso, tais como ouvidos humanos nunca ouviram antes. Começou do lado direito da audiência, eondulavadeláparatodaacompanhiadesantosbaíizados, num volume de sons semelhantes em suas subidas e descidas, em suas ondula­ ções e quedas, em seus crescendos e decrescendos, às ondas do oceano quando são agitadaspelaforça maravilhosa queproduz as marés. Talcombinaçãodeíons, talperfeitaharmoniadesons, talmelodiamusical, meus ouvidos nunca ouviram antes, e nunca espero ouvir novamente neste mundo sob qualquer outra circunstância, nem mesmo vindo da mais perfeita orquestra musical que a engenhosidade humanapossaproduzir, apesar de que todos esses sons/oramproduzidos por uma companhia de pessoas que tinham sejuntado de todo o continente da América do Norte, a maioria das quais nunca tinham visto um ao outro. Fbi-nospemútidoouviraquelagloriosaccuiçãoduasou trêsvezesaodia. Tbdodiaenqucmioestivelá,eàmedidaqueossantosentravammaise,maisno EspíritoenapresençadeDeus,ovolumeepoderdaquelamúsícaiacrescendo até que muitas vezes rebentava como umperfeito bramido que quasefazia tremer nossa respiração, assim como quando alguémpermanece ao lado de umpoderoso órgão quando as notas mais graves estão sendo tocadas. Naquele dia James Watt pregou sobre o assunto e exortou o povo a esperar diante de Deus pela restauração disto. Ele declarou também que algumas das antífonas ainda entoadas naigreja Católica eram cópias da­ quelas originalmente cantadas no Espírito. Terminada a pregação, estan­ do para se sentar, ele mesmo rompeu em canção profética. Imediatamente o espírito de profecia veio sobre outros na congregação que cantaram pro­ feticamente e depois toda a congregação se juntou a eles com antífonas espirituais de louvor. Desde aquele dia em Edmonton os irmãos de North Battleford enfatizaram o cantar no Espírito nas reuniões e falaram sobre

0 coro celesüá que se tomou freqüente naqueles anos. Eis uma descrição de Hawtin sobre uma destas manifestações em Hibbüig, Minnesota: ’ “Logo na primeira noite em Hibbing... nós ouvimos o mesmo coro celestial que tínhamos ouvido pela prim eira vez em Edmonton. Começou com um som grave muito semelhante ao das gaitas de fole, mas logo rompeu poderosamente até que prevaleceram os tons de um

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

grande órgão de tubos, aumentando o volume para subir e descer em perfeita unissonância e harmonia. Aleluia! “ James Watt também descreveu o coro celestial em Edmonton: “A melodia do próprio céu encheu toda a igreja. Era como um poderoso órgão, com belos acordes crescentes, entremeados por solos, porém em perfeita harmonia. Todos que ouviram isto a alguns quartei­ rões de distância disseram que isto tocou áreas de seu ser que nenhum poder na terra tocara antes. “Curas especiais foram operadas: surdos ouviram, cegos viram, cânceres foram curados, e corpos doentes se fizeram sãos. Pecadores foram salvos, e o sangue precioso de Jesus beneficiou a todos.” Outra descrição de George Hawtin: “Nós ouvimos rumores vagos sobre o então chamado ‘coro celestial’ associado com o derramamento do Espírito que ocorrera na virada do século e ansiávamos por ouvi-lo. Mas ao ouvi-lo devemos confessar que ele supera totalmente não somente a descrição mas em grande parte tanto a apreciação como o entendimento... Uma profunda percepção do espírito de adoração e música sempre permeia as reuni­ ões como um prelúdio para o coro... A coisa mais evidente sobre isto é a surpreendente e complicada profundidade de harmonia... A pouca distância soa como um coro mestre acompanhado por uma orquestra sinfônica inigualável. Parece difícil acreditar que tal som possa ser re­ produzido por cordas vocais humanas. Há tanta perfeição de ordem e ritmo à medida que acordes poderosos se elevam e ressoam que alguém é forçado a admitir que há um maestro invisível.” Vemos assim que o coro celestial, ocorrido no início do século no Movimento Pentecostal, voltou a acontecer na metade do século com

0 Movimento Chuva Serôdia. Isto deve criar um anseio em nós para que no mover destes últimos dias os anjos desçam para entoar junto conos­ co esta música celestial. Deus quer que esperemos nele para ouvir a música dos anjos, a canção da criação, o louvor que há eternamente ao redor do seu trono. Nós e a criação precisamos de uma cura profunda. Esse som celestial cantado juntamente com os anjos vai curar nossa alma e consertar as discordâncias do nosso ser. Ainda há de se ouvir no meio do povo de Deus uma expressão de música que nos comoverá e nos desafiará além de nossas emoções naturais. Esta música não con­ 58

OMouimentoChiwaSerôdia

sistirá de belos hinos sobre nossas doutrinas ou idéias. Ao contrário, ela nos elevará e nos colocará na presença do Rei dos reis.

CONTROVÉRS IAS ECONFLITOS Foram vários os motivos de controvérsia entre os participantes do Movimento Chuva Serôdia e as denominações pentecostais estabelecidas, especialmente as Assembléias de Deus. Os motivos de controvérsia mais destacados foram o recebimento do Espírito Santo e a transmissão de dons e ministérios por imposição de mãos e a crença na existência de apóstolos e profetas nos dias de hoje, Uma das primeiras indicações de controvérsia sobre apóstolos e profetas apareceu na edição de junho de 1948 de “The Sharon Star”, De acordo com George Hawtin: “Quando alguém começa a falar sobre apóstolos e profetas estarem na igreja em nossos dias, os pobres santos são chocados quase até à mor­ te, Eles levantam suas mãos em santo terror e gritam: ‘Heresia! Heresia!’, Agora MINHA BÍBLIA DIZ: ‘DEUS PÔS NA IGREJA, PRIMEIRAMENTE APÓSTOLOS, EM SEGUNDO LUGAR PROFETAS, EM TERCEIRO MES­ TRES, depois operadores de milagres, dons de curar etc.”’ (1 Co 12:28).^ Também apareceu nesta mesma edição uma declaração de que “nenhuma igreja exerce ou tem qualquer direito de exercer autoridade ou jurisdição sobre outra igreja, sobre seus pastores ou membros”. Isto ele disse combatendo a forma de governo centralizada da maioria das denominações pentecostais existentes. Teria sido útil se esta declaração de Hawtin tivesse sido aplicada aos excessos que mais tarde acontece­ ram com

0 presbitério itinerante de North Battleford, do qual ele fazia

parte e que exerceu autoridade sobre pessoas através de profecia diretiva quando viajava para outras cidades. ’’ Como foi dito por James Watt, esse entendimento dos irmãos de North Battleford sobre o termo “presbitério” não foi correto desde o início. Biblicamente, presbitério é a liderança plural de cada igreja (or­ denada pelos ministérios fundamentais de apóstolos e profetas) e não um grupo Itinerante de homens com ministério extralocal. Para fazer parte de um presbitério o apóstolo deve estar morando na localidade e assim exercer influência no governo da igreja. No caso dos irmãos de North Battleford, teria sido mais correto usar o termo “equipe apostóli­ ca” ao invés de “presbitério”, mas talvez tenham agido assim por receio de se declararem abertamente “apóstolos e profetas” naqueles dias. Por

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A Igreja do Século XX-AHistóriaque Não Foi Contada

outro lado, pela maneira como exerceram autoridade sobre outras loca­ lidades e pela força com que defenderam a existência de apóstolos e profetas hoje, ao ponto de gerar tanta controvérsia com as Assembléias de Deus (que por sua vez não crêem que apóstolos e profetas são os fundamentos da igreja), é praticamente evidente que eles se considera­ vam como tais. É isto que mostra a seguinte declaração de George Hawtin: “Temos imposto nossas mãos sobre certos homens que têm rece­ bido de Deus esses ministérios (de apóstolos e profetas), os quais têm sido confirmados por profecia e imposição de mãos. (A seguir alguns nomes e seus endereços são citados.) Temos imposto nossas mãos so­ bre esses homens e reconhecido seu ministério apostóhco. Ficaríamos muito gratos a todos os que estão desejosos de ver o avivamento come­ çando em suas cidades se entrarem em contato conosco, para que pos­ samos recomendar um homem que tem entendimento dos fundamentos deste grande derramamento da chuva serôdia. Infelizmente, agora e como sempre houve, há OPORTUNISTAS circulando entre o povo sem um entendimento verdadeiro do avivamento, e zelando apenas por seus pró­ prios interesses. Rogamos, portanto, que você indague diretamente a nós se certos homens são ou não reconhecidos por nós.” ^ Essa posição dos irmãos de North Battleford, colocando-se como os guardiães do avivamento, gerou conflitos com outros centros de avi­ vamento que não aceitaram este tipo de exclusivismo e sectarismo. Cari Brumback observou em sua “História das Assem bléias de D eus” que no início deste movimento “uma vibração de esperança pul­ sou entre milhares de corações; um novo derramamento do Espírito estava caindo sobre a terra seca e estéril! Tragicamente, certos elemen­ tos começaram a aparecer na ‘Nova Ordem’ que criaram dúvidas e desi­ lusões em muitos corações sinceros”. '■ Em 1949 0 Concího Geral das Assem bléias de Deus declarou o seguinte sobre o novo mover: “Desaprovamos estas práticas e ensinos ex­ tremistas que, não tendo base bíblica, servem apenas para quebrar a co­ munhão da fé igualmente preciosa e tendem a confimdir e causar divisão entre os membros do corpo de Cristo, e seja, portanto, conhecido que este 23° ConcíUo Geral desaprova a chamada ‘Nova Ordem da Chuva Serôdia’.”® Através deste ato de conservadorismo, as Assembléias de Deus fecharam suas portas a este novo derramamento do Espírito e à posteri­ or restauração do corpo de Cristo que viria neste século. Também, ao

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0 Movimento Chuva Serôdki

isolar desta forma este novo movimento, elas apenas contribuíram para sua rápida degeneração através de erros e desequilíbrios. ® Devemos acrescentar, porém, que o próprio Hawtin confessou depois seu exclusivismo e sectarismo: Nunca poderei esquecer aglória, o temor, a reverência, a santidade e o poderquevieramànossasaladeaulaenquantoesperávamosemDeusnaquele glorioso 13 dejevereiro de 1948, quando Deus começou ajazer uma nova coisa que estava destinada a abalarpor um tempo o sistema eclesiástico de todaaAméricci..Àmedidaquefaçoumaretrospectivaagora, tristementeposso veroomcJarezaqueograndeeabençxidomoverdeDeusnãocompleiaradois anos quando o espírito de sectarismo começou a mostarsua cabeça horrenda..Éverdadequenegawosvociferantenientequetínhamosnostomadouma seita.. Não haveria comunhão com ninguém que estivessefora dos limites de nosso sempre restrito círcub. Éramos a verdadeira igrejcu Éramos os eleitos. Permanecêramosnosfundamentosetodososoutroshamenspermaneciamem areia movediça. Nenhum homempoderia e^ulsar um demônio sem que ek nos seguisse. Nenhum ensinamento teria vedorse nãofosse originado de nós. ÉraTnosaspessoasrnaisespiritucdsdomundo.íríamosreinarnoreinoemesmo agoraestávamoscomeçandoareinar.TínhamososdonsdoEspírito, eseríamos os “manda-chuvas” na tribulação... Mas não sabíamos que, como os efésios, tínhamosperdidonossoprimeiroamor,edeveríamosnosarrependere praücarasprimeirasobrasnovamente. Nunca cessarei de agradecer a Deus por ter sido vomitado do ventre desta baleia também pois nunca sabemos até queponto temos chegado até que possamos visualizar Babel à distância. Nesta hora, e somente nesta hora nossocoraçãodágraçasaDeuspelalibertaçãodemaisoutradasJilhas meretrizesdeBabilônia.

DUAS HERESIAS DO MOVIMENTO CHUVASERÒDIA I. GRAÇA E LIBERDADE Como dissemos, houve muitos erros e ensinos extremistas no Movimento Chuva Serôdia. Falaremos agora rapidamente sobre duas heresias principais. A prim eira se chama “Graça e Liberdade”, que se­ ria melhor expressada como “ Graça e Libertinagem”, pois resultou em Imoralidade e pecado — graça barata. Esta doutrina surgiu por dois motivos. Primeiro, fo i uma forte reação contra o legalismo das Assem ­ bléias de Deus e de outras denominações pentecostais. 0 segundo mo61

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

tivo foi que enfatizaram tanto os dons e a “palavra viva” transmitida por profecia, que acabaram desvalorizando a Bíblia e entrando em exaltação. Devemos salientar que uma grande falha do Movimento Chuva Serô­ dia foi a supervalorização dos dons e a absoluta falta de ênfase na cruz e quebrantamento. Dons do Espírito fora do contexto da cruz dão lugar à atuação de outros espíritos e à libertinagem e pecado. Esta doutrina de graça e liberdade (liberdade da carne e não do Espírito) levou para mundanismo e imoralidade, e até deu origem ao “casamento espiritual”, isto é, se você é casado e tem um melhor entrosamento espiritual com outra mulher, pode se divorciar e casar com esta mulher, pois sua primeira escolha não foi espiritualmente correta. Uma declaração feita por um ministro das As­ sembléias deDeus do Canadá, em outubro de 1948, expressa multo bem

0 perigo de enfatizar os dons fora do contexto da cruz: “A história da igreja demonstra que, se qualquer grupo de cris­ tãos rejeita o ensinamento correto do enchimento do Espírito e suas operações, certamente esterilidade virá como resultado. Por outro lado, se houver uma ênfase exagerada no Espírito e nos dons do Espírito em detrimento da pessoa de Jesus e de sua obra consumada no Calvário, e jusliíicação pela fé e mais nada, o resultado será dedínio, emocionalismo desequilibrado e fanatismo. Se a revelação da cruz e graça de Deus dada ao apóstolo Paulo é deixada de lado, mais cedo ou mais tarde o inimigo entrará em cena.” Portanto, podemos concluir que santificação não vem através de legaüsmo e nem graça produz libertinagem. 0 derramamento do Espírito é baseado na obra da cruz e este espírito é um espírito de santidade. A graça de Jesus Cristo não produz liberdade da carne, mas o fruto do Es­ pírito Santo. “Porque a graça de Deus se manifestou... ensinando-nos, para que, renunciando à impiedade e às paixões mundanas, vivamos no presente mundo sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperan­ ça e o aparecimento da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Je­ sus, que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda iniqüidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras” (Tito 12:11-14).

2.

M AN IFESTAÇÀO DOS FILHOS DE DEUS

A principal heresia do Movimento Chuva Serôdia e a mais conhe­ cida se chama “Manifestação dos Filhos de Deus”. Baseados na profecia 62

OMovimentoChiwaSerôdia

de Joel, criam que a chuva temporã fora o derramamento do Espírito ocorrido na igreja de Atos e que a chuva serôdia consistia de três fases. A prim eira fase acontecera no derramamento pentecostal do início do século XX. A segunda fase seria o derramamento do Espírito daqueles dias quando os nove dons do Espírito, os cinco ministérios de Efésios 4, a adoração e louvor no Espírito e uma igreja gloriosa estavam sendo restaurados no meio do povo de Deus. Mas, com base em profecias e em Romanos 8:19-23, criam que uma companhia de pessoas seria aperfeiçoada em preparação para um terceiro derramamento (a terceira fase), através do qual alcançariam a plenitude, a medida da estatura de Cristo para verdadeiramente destronar Satanás, expulsando-o dos lugares celestiais, amarrando-o e trazendo libertação e vida para todas as famílias da terra. Esta terceira grande obra do Espírito traria à luz os filhos manifestos ou maduros que alcançariam a redenção de seus corpos— Hvres de maldição, pecado, carnalidade, doença e m or­ te. ®Diziam mais, que assim como existem dois corpos no casamento — do homem e da mulher— no sentido espiritual existiam o corpo da noiva. (a igreja) e o corpo de Jesus (os filhos manifestos).

0 grande problema desta doutrina é que essa adoção ou manifes­ tação descrita em Romanos 8 só acontecerá na vinda de Cristo, quando receberemos a redenção ou glorificação do nosso corpo, e nunca antes. Outro problema é que no final essa companhia de vencedores se torna­ ria uma elite separada da igreja, cuja ação tão poderosa e abrangente quase dispensaria a volta de Jesus. Então o resultado prático da doutri­ na da manifestação dos fllhos de Deus foi uma supervalorização do reino e uma desvalorização da igreja e da própria vinda de Cristo. Fica­ ram tão empolgados com a manifestação dos filhos de Deus que deixa­ ram de lado a igreja e anteciparam o reino. É verdade que tanto o derramamento do início do século como o derramamento do meio do século fazem parte da chuva serôdia prom e­ tida para os últimos dias. E cremos que mais ondas do Espírito virão para levantar a igreja gloriosa que brilhará no meio das trevas e dificul­ dades, e que trará a vinda de Jesus que introduzirá o reino de Deus na terra, no milênio.

63

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

FRUTOS DO MOVIMENTO CHUVASERÒDIA I. VERDADES RESTAURADAS Apesar dos erros e desvios do Movimento Chuva Serôdia não podemos negar que ele nos deixou como legado um rico depósito de verdades que foram restauradas na igreja no século XX. De fato o aspec­ to “reforma” na restauração da igreja no século X X foi introduzido pelo Movimento Chuva Serôdia, pois o Movimento Pentecostal que restaurou

0 batismo no Espírito Santo com línguas representa mais o aspecto “avivamento”. Entre as verdades que foram restauradas podemos citar: (1) os cinco ministérios de Efésios 4, apóstolos, profetas, evangelistas, pasto­ res e mestres, sendo enfatizada a existência de apóstolos e profetas hoje, os quais são os fundamentos da igreja; (2) o corpo de Cristo, um organismo vivo e não uma organização; (3) a igreja gloriosa, antes da vinda de Cristo a igreja será restaurada para ser pura e sem defeitos; (4) os nove dons do Espírito, que eram recebidos pela (5) imposição de mãos, pela qual se recebia o batismo no Espírito Santo sem necessida­ de de demora e pela qual os dons e ministérios eram confirmados; ( 6 ) adoração no Espírito e cânticos proféticos; e finalmente (7) o entendi­ mento da Festa dos Tabernáculos. Há três festas na Bíblia que são figu­ ras da obra de Cristo e que precisam ser cumpridas antes de sua volta. A primeira é Páscoa, que representa nossa salvação, e a segunda é Pentecoste, que rep resenta o batism o no E spírito. A terceira. Tabernáculos, é um maior e último mover do Espírito que aperfeiçoará a igreja e formará o corpo de Cristo — o batismo no corpo (1 Co 12:13). Hoje estas verdades são amplamente aceitas por aqueles que crê­ em na restauração da igreja, mas muitos não sabem que o entendimento delas só surgiu com o Movimento Chuva Serôdia e muitos até rejeitam o movimento como algo herético. Por outro lado, o processo de integração e incorporação destas verdades na vida da igreja precisa ser mais de­ senvolvido para que haja uma verdadeira reforma.

z. RAMIFICAÇÕES - NEGATIVAS EPOSITIVAS Dois tipos de ramificações resultaram do Movimento Chuva Se­ rôdia. Do lado negativo temos aqueles que, por falta de equilíbrio, en­ traram em erros e heresias. 0 exemplo mais forte é John Robert Stevens, 64

0 Movimento Chuva Serôdia

de Los Angeles, Califórnia, que na década de 70 dava cobertura para cerca de 100 igrejas do “Caminhar”. Durante uma visita a Tacoma, Wa­ shington, em 1950, Stevens recebeu a imposição de mãos de Winston I. Nunes, um pastor de Toronto, Ontário, que se tornou um proeminente líder da Chuva Serôdia no Canadá. Naquela época, Stevens era um pastor das Assembléias de Deus, mas seu envolvimento com as cren­ ças e práticas da Chuva Serôdia provocou sua eventual separação das Assem bléias de Deus. Ele tinha dons excepcionais, especialmente a palavra de conhecimento, mas entrou em exaltação e tomou-se exclusivista. Como muitos líderes da Chuva Serôdia, considerava-se o precursor de uma nova era e autodenominou-se “apóstolo do reino”, pois a era da igreja terminara e a era do reino chegara com a “palavra viva”. A influência desta ala da Chuva Serôdia no Brasil foi grande na década de 70. Aconteceu através de Harold Williams, cunhado de Stevens e ex-missionário da Igreja Quadrangular no Brasil, e de Adiei Almeida de Oliveira, um ex-pastor da Quadrangular, advogado e tradutor. Adiei trouxe ao Brasil Bill Britton, de Springfield, Missouri, e vários outros homens, além de traduzir a hteratura de Bill Britton. No início, isto teve um impacto muito proveitoso para a igreja no Brasil, pois muitas das verdades mencionadas acima, que foram restau­ radas pela Chuva Serôdia, foram divulgadas no Brasil pela primeira vez. 0 ministério de Bill Britton, que tinha enriquecido a muitos nos EUA, abrindo seus olhos para a existência de algo além do Pentecoste, a “Festa dos Tabernáculos”, e para muitas outras verdades preciosas da Palavra, agora passou a ser conhecido pela igreja brasileira. Os encon­ tros anuais organizados por Adiei em Ribeirão Preto e denominados “Festas de Tabernáculos” foram no final da década de 60 e durante a década de 70 importantes ajuntamentos desta nova visão. Mas grande polêmica surgiu quando Adiei publicou literatura de Bill Britton e Stevens que continha doutrinas controversas. Muitos que ünham ligação com ele começaram a se desligar e Adiei tornou-se mais e mais fixado em Stevens. Só Stevens tinha a “palavra viva” que introdu­ ziria

0 reino. Desse modo houve uma desvalorização da Bíblia e uma

valorização da “palavra viva” transmitida por Stevens, resultando em imoralidade e pecado no movimento. 0 próprio Stevens divorciou-se de sua esposa e casou-se com sua secretária. Ele faleceu em 1983 de 65

A Igreja do SéculoXX-A História que Não Foi Contada

câncer. Bill Britton, mesmo defendendo algumas heresias como a mani­ festação dos filhos de Deus, era menos extremista que Stevens e moral­ mente equilibrado. Ele faleceu em 1985. Se por um lado existiu um segmento da Chuva Serôdia que en­ trou em desequilíbrio e heresia, por outro lado houve igrejas e organi­ zações paraeclesiásticas que foram positivamente influenciadas por esta visitação. Fazem parte desta ramificação positiva as chamadas Igrejas do Avivamento na costa oeste dos Estados Unidos; Bethesda Temple, em Detroit; Elim Fellowship de Igrejas, em Lima, Nova Iorque; World M.A.R (Plano de Assistência Missionária Mundial), de Ralph Mahoney, na Califórnia; e a famosa Bible Temple, pastoreada por Dick Iverson, em Portland, Oregon, que tem enfatizado imposição de mãos, adoração no Espírito e cânticos proféticos, profecias e liderança plural. Todas elas são igrejas e organizações dinâmicas e respeitáveis que preservaram os ensinamentos da Chuva Serôdia e enfatizaram equilíbrio, mas que infelizmente não prosseguiram adiante — institucionalizaram as dou­ trinas da Chuva Serôdia e se cristalizaram.

3. CONCLUSÃO Qual deve ser, então, nossa atitude em relação ao Movimento Chuva Serôdia? Como vimos, alguns preservaram as verdades restauradas mas estacionaram naquele ponto. Outros têm rejeitado totalmente 0 movimen­ to, jo g a n d o fo r a to d a s as re s ta u ra çõ e s, p o r causa dos e rro s e desequilíbrios. Estes também não têm como prosseguir, pois como acon­ tece com os Pentecostais e Carismáticos, só sabem enfatizar 0 aspecto “avi­ vamento”, desejando mais derramamentos do Espírito; mas para quê? A atitude correta seria rejeitar a parte herética do movimento e reconhecer as trem endas verdades que foram restauradas na igreja. D evem os incorporar

0 legado que nos foi deixado e prosseguir além, aprendendo

com a reforma e crendo para receber mais avivamento. Houve avivamento no começo do século e houve avivamento no meio do século (com início de reforma) e haverá mais avivamento e mais reforma no final do século para formar 0 corpo de Cristo, a igreja gloriosa, que receberá a volta de Jesus.

66

Capítulo

5

O MOVIMENTO CARISMÁTICO

V

imos que os pentecostais clássicos do início do século XX não criam, a princípio, em denominacionalismo. Eles criam que o derramamento do Espírito na época era para unir a igreja e pro­

mover uma evangelização mundial, tendo em vista a iminente volta d

Jesus Cristo. Mas, em pouco tempo, eles se organizaram como denomi­ nação para proteger o movimento de heresias e confusão. Assim surgi­ ram as Assembléias de Deus e outras denominações pentecostais com suas escolas e institutos bíblicos para treinar seus líderes e defender suas doutrinas básicas. Com

0 novo derramamento do Espírito na metade do século, os

participantes deste movimento, conhecido como “Chuva Serôdia” , se le­ vantaram mais fortemente ainda contra o denominacionalismo. De fato, eles tiveram grande sucesso em não formar outra denominação, contudo entraram em muitas heresias e desequilíbrios. Eles foram tão longe em suas “revelações” que muitos historiadores da igreja do século XX, como Vinson Synan, nem o mencionam, como se fosse algo totalmente falso. Já 0 Movimento Carismático dos anos 60 e 70, considerado pelos seus participantes a “segunda onda” do Espírito, caracterizou-se pela va­ lorização e fortalecimento das denominações. Eles nem cogitaram de sair delas, antes queriam o mover do Espírito infiltrando nas principais deno­ minações e, assim, ter uma igreja renovada pelo Espírito, No início eles se autodenominaram neo-pentecostais para diferir dos pentecostais clás­ sicos m ais baru lh en tos, m as d e p o is ficara m co n h ecid os com o carismáticos. 0

Movimento Carismático pode ser considerado a mais extensa

difundida manifestação do Espírito, o cumprimento mais completo até 67

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Cbntada

hoje da profecia de Joel. Atingiu as mais antigas denominações tradici­ onais e depois, de modo espetacular, apropria Jgre/a Católica em 1967

— 0 mesmo ano da tomada de Jerusalém por Israel. Porém, ao visualizar a história da igreja do século X X podemos notar claramente que, en­ quanto

0 Movimento Chuva Serôdia representa mais o aspecto “Refor­

ma” (pois grandes verdades da Palavra foram restauradas naquela épo­ ca),

0 Movimento Carismático representa o aspecto “Avivamento”, pois

foi uma extensão da visitação do Espírito iniciada no começo do século, só que dentro das denominações. Mais recentemente, nos anos 80 surgiram alguns líderes falando de uma “terceira onda” do Espírito que sucederia as primeiras duas, o Movimento Pentecostal Clássico e o Movimento Carismático. Um forte promulgador desta terceira onda é Peter Wagner, professor do Seminá­ rio Teológico Fuller, em Pasadena, Califórnia, que fala em línguas mas se recusa a ser chamado de pentecostal ou carismático. A “terceira onda” seria uma obra sobrenatural do Espírito nas principais denominações tradicionais levando as pessoas a exercer os dons do Espírito, mas sem aceitar rótulos, sem se tornarem carismáticos ou pentecostais. Há dois motivos básicos para esta posição. Primeiro, os defensores da “terceira onda” não querem trocar sua teologia evangélica por uma duvidosa teo­ logia pentecostal. Em segundo lugar, querem apenas integrar os dons do Espírito como uma prática normal da vida da igreja. Então, enquanto os pentecostais saíram das denominações exis­ tentes na época e formaram uma nova igreja e uma nova teologia, os carismáticos não saíram mas formaram um novo movimento dentro de qualquer denominação. Os carismáticos se tornaram um departamento dentro da igreja. Já os promulgadores da “terceira onda” não querem sair nem ser um departamento, mas querem permear toda a Igreja com a normalidade da prática dos dons do Espírito. Para um melhor entendimento do Movimento Carismático vamos tratá-lo em vários aspectos: 1

° - ASSOCIAÇÃO D E HOMENS DE NEGÓCIOS DO EVANGELH

PLENO. A “Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno” foi fundada por Demos Shakarian, um homem de negócios pentecostal de origem armênia, em 1952, com a ajuda de Oral Roberts. Tinha como 68

0 Movimento Carismático

propósito alcançar homens de negócios com o evangelho que incluía batismo no Espírito. Daí o nome “Evangelho Pleno”. Essa organização exerceu importante papel na disseminação da experiência pentecostal entre milhares de pessoas de igrejas tradicio­ nais, que talvez nunca tivessem interesse em assistir às reuniões de imia igreja pentecostal. Até então, a experiência pentecostal tinha se difundi­ do principalmente no meio de pessoas simples, de classe média para baixo, mas com sua técnica de organizar banquetes para homens de negócios, onde um convidado cheio do Espírito dava seu testemunho, pessoas ricas e influentes foram também cheias do Espírito. Walter Hollenweger, autor da obra “Os Pentecostais”, declarou que esta organi­ zação contribuiu muito para a propagação das idéias pentecostais pelo mundo, apesar do “ensinamento incompreensível de que a pessoa que é cheia do Espírito terá mais sucesso nos negócios, fará melhores trato­ res e automóveis que seus competidores,viverá numa casa mais confor­ tável e, se for jogador de futebol, marcará mais gols do que uma pessoa que não é convertida ou não é batizada no Espírito”. * 2° - DAVID D U PLESSIS. David du Plessis era natural da África do Sul, convertido numa igreja pentecostal chamada Missão F é Apostólica (fundada por John G. Lake, que teve ligações com a Missão da RuaAzusa, em Los Angeles). Teve contato com o fam oso evangelista Smith Wi^esworth, que profetizou sobre ele em 1936 sobre a obra mundial que Deus faria através de sua vida. A seguir, temos um resumo da sua experi­ ência relatada pelo próprio du Plessis, extraído do livreto “Perdão” : Em 1936, como secretário geral da Missão Fé Apostólica na África do SulJUi responsávelpor convidar o evangelista Smith Wigglesworth, da Ingla­ terra, para vir ao nossopaís. Nossos espíritos combinaram imediatamente e eu 0acompanhei o máximo possível como seu intérprete. Destaforma,Jicamos conhecendo um ao outro intimamerúe. Nojinal da sua estadia elejicou em minha casa durante uns quinze dias afim de ministrar naquela região. Certo dia [corforme minha esposa me contouposteríormente), ek entrou naco2inhaàsseishorasdannanhâedissesimplesmente:“OndeestáoDauid?” Eu tinha o costume de leoantar-me às cinco horas e, portanto, nesta hora euJá estava no meu escritório. Então ela lhe disse: “Irmão Wigglesworth, ele JáJoipara o escritório. ”

69

A Igreja do Século XX-AHistóriaque Não Fbi Contada

Eu estava sentado na minha escrívaninha, lendo a correspondência que acabara de chegar, quando de repente a porta se abriu de uma vez! Sem nenhumsinaldeoviso, sembaterantes, aportasimplesmentejoiaberta. E

0 irmão Wigglesuxirthentroucomoquemestácom umapressadesesperada Olhandopara mim com uma expressão um tantoferoz, ele disse: “Saia daí! Venha aquiparafora!” Levantei-me de detrás da escrivaninha e andei para onde ele estava Ele colocou a mão sobre meu ombro, empurrou-me para aparede, olhou direta­ mente nos meus olhos e disse: “Deus disse que você tem permanecido o bastante em Jerusalém! Ele vai enviá-lo aos corfins da terra Ele vai operar através de você e permitir que vocêpresencie o maior mover do Espírito na história da igreja!”E assim ele continuouprofetizando: “Assim diz o Senhor: Hei de vivificar os cadáveres. Através das igrejas tradicionais virá um aviva­ mento que transtornará o mundo inteiro. ” Bem, eu não acreditava em nada disso. Estas eram as “coisas novas” (Is 48:6). Eu nãopodia compreender eperguntei a mim mesmo: “0 que aconte­ ceu com 0 velho?” (Ele tinha setenta e tcmtos arws nessa época) “Eu quisera ter vinte anos a menos”, ele me disse, “para que eupudesse ver 0 início do seu cumprimento. Mas quando começar, eu não estarei mais aqui Portanto, não sepreocupe. Erjquartío eu estiver vivo, nada vai aconte­ cer. Só depois que eu morrer. ” Em seguida ele curvou a cabeça e orou pedindo ao Senhor para me abençoar. Depois saiu efechou aporta. Fldsentar-me.Estavacori/usoeperplexo. Eudisse: “Senhor,sejaqualfor

0 significado de tudo isto, aceito a advertência. Tu não mefalaste nada a respeito de todas estas coisas. Eu nuncapensei que as igrejasfossem recu­ perar-se dasuamorte!” E então ouvi alguém batendo suavemente àporta “Entre!”eu disse. A porta se abriu e quem entroufoi o irmão Wigglesworth. “Bomdia irmãoDavid Comovocêestánestamanhã?” “Muito bem”, respondi, “mas terrivelmente corfuso. ” Ele perguntow “Por quê?" “Você não sabe que esteve aqui hápoucos minutos? Você nem me cum­ primentou, e entregou-me uma mensagem que me abcdou. ” “Ah, sim”, ele respondeu. “Eu não cumprimentei ninguém hoje de manhã Você não sabe o que aconteceu ao profeta que cumprimentou as pessoas peb caminho?”

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0 Movimento Ckwismático

“Ele entrou em problemas sérios”, eu disse. “E eu não tinha nenhuma intenção de entrar em problema!” Ele aceitava a Palavra literalmente! Nunca conheci um homem que encontrasseaverdadenaPalavradeuma maneira tão literal! (lRsl3; Lc 10:4). ‘Agora”, ele disse, “Já enteguei a mensagem e podemos conversar. Não cumprimentei sua esposa e não cumprimentei você. Eu tinha de entregar a mensagem Às quatro horas da manhã tive uma visão. Vi coisas tão extraor­ dinárias que eu mesmo tenho dificuldadepara crer! Depois Deusfcdou comi­ go para levantar-me e contar a visão a você. E você estará vivo quando tudo isto acontecer!” E aí ele deu maiores detalhes. Mas isto não ajudou, porque estava tudo errado. Meu passado, minhaformaçáo, nossa maneira de pregar, de crer, nossas tradições tudo era diferente! Era o oposto daquilo que ele estava dizendo. Eu disse: “Bem, irmão Wigglesworth, eu não sei o que você acha que devoJazer Vou lembrar daquilo que você disse, mas não vou agir até que o Senhorfcde comigo. Não me importa quem é oprofeta que trouxe a palavra, eucreio que o Senhor vaifalar comigo ecor^vmarapalauranomeucoração.” “Ótimo", ele respondeu. “Lembre-se, porém, de que Deus me disse que a condição é você permanecerfiel e humilde. Não é difícil lembrar-se disto. Apenas duas coisas: Fidelidade e humildade. Fidelidadepara ouvir e humil­ dade quando ele abençoar ” E então me perguntou: “Vocêfica erijoado quando viaja de navio?" “Eu nunca vüyei no mar”, respondi “E de avião?" “Eu também nunca vicyei de avião. ” Ele disse: “Então venha aqui!” Mais um vez empurrou-me contra a parede e orou. E eu dou graças a Deuspor aquela oração! Ele disse: “Senhor, tu me mostraste que estejovem vai viajar mais que outraspessoas. JVooé bom adoecer em casa, mas épior adoecerbngedecasa.Porfavor, riãopemitasqueehjcmaisadoeçaquando estiver uiqjando a teu serviço. ” A profecia e visão de Wigglesworth permaneceram sem cumpri­ mento por 10 anos, mas pouco antes de sua morte ele disse a David du Plessis; “Meu irmão David, não recebi mais nada do Senhor sobre o assunto. Mas tenho certeza absoluta do cumprimento daquilo que ele revelou na África do Sul, e que você é o homem que será usado,” 71

A Igrejado SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

Em 1948 du Plessis ficou prostrado num hospital por causa de imi desastre de seu carro com lun trem, e Deus começou a falar com ele; “Chegou a hora para se cumprir a profecia dada a você por Smith Wigglesuxyrth. É hora de começar. Quero que você vá aos líderes do Conselho Mundial de Igrejas. ” Respondiemtomde argumento: “Senhor, mas o queposso dizer àquelas igrejas mortas?" “Eu ressuscito os mortos!”A resposta veio com unnasiniplicidade chocante. “Mas, Senhor, elessãonossosinimigos!”Euestavaquasechoramingando. “Sim, mas eujá lhe disse que deve amar seus inimigos.” IgnorandoaverdadedasEscriturasemminhaJrustração, continueiargumentando. “Comoposso amarpessoas assim?Não concordo nem comsuas doutrinas nem com suaspráticas. ” “Bem", 0 Senhor respondeufirmemente no meu interior, “você terá de perdoá-los." “Meu Senhor” — agora estava choramingando de verdade— “como possoperdoá-los se nãopossoJustificá-los?” “Eu nunca lhe dei autoridade paraJustificarpessoa alguma. Eu lhe dei autoridade apenas para perdocw. Ese perdoá-los, você vai amá-los. Eseos amar, você vai quererperdoar. Agora pode escolher. ” AconversaestavaterminadaMasabaíalhatinhaapenasiniciado. Uma pequena luz tinha raiado, suficientepara mostrar-me quão pouco eu conhe­ cia a respeito do perdão aos olhos do Senhor. Nos dias vindouros eu teria de bitar com o Senhor, aprender, sofrer as dores internas de uma genuína revo­ lução. Um novo rei teria de dominar aquelaparte da minha vida Enquanto eu meditam ali, durante a noite, com as luzes apagadas, vi o tamanho do meu erro. Eu estava esperando que Jesus me usasse como um pentecostal para abalar as igrejas. Pensava quepoderiaforçar aspessoas a entenderem a verdade, dizendo-lhes onde estavam erradas e sacudindo-as emJusta indignação. Mas o Senhor disse que este não é o caminho. “0 avivamento viráse vocêperdoar. Se você lutar— não acontecerá nada!" Então a revelação básica que Deus deu a du Plessis foi perdão aos tradicionais e suas práticas. Seu prim eiro contato ecumênico foi em 1951 com John A. Mackay, presidente do Seminário Teológico de Princeton, que se mostrou muito amável e interessado no Movimento Pentecostal. Poucos dias depois, pela primeira vez, um pentecostal en­

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OMovimenín Carismático

trou no escritório central do Conselho Mundial de Igrejas em Nova lorque, na 5^ Avenida, e foi bem recebido. Em 1952 participou do Conselho Missionário Internacional realizado na Alemanha, onde pôde comparti­ lhar sua experiência pentecostal. Foi ali que foi chamado pela primeira vez “Senhor Pentecoste”. Em 1954 participou da Segunda Assembléia do Conselho Mundi­ al de Igrejas como representante das Igrejas Pentecostais, o que causou muitas críticas por parte de líderes pentecostais que haviam denuncia­ do

0 Conselho Mundial como a principal força da igreja apóstata dos

últimos dias. Em 1956, falando a um grupo de líderes ecumênicos, entregou uma das suas mais famosas mensagens. Comparando a verda­ de do evangelho a um bife, ele declarou que as igrejas tradicionais ti­ nham a verdade “congelada” enquanto os pentecostais tinham a mesma verdade “no fogo”. Explicou que os apóstolos “tinham uma experiência e nenhuma doutrina”, enquanto a maioria das igrejas modernas “tinham doutrina sem nenhuma experiência”. Esta mensagem ressoou pelo mun­ do, depois desse encontro." Naquela época vários pastores e ministros tradicionais recebe­ ram línguas e outros dons e foram aconselhados por du Plessis a “per­ manecer em suas igrejas e florescer onde foram plantados”. Seis anos antes do advento da renovação carismática católica, du Plessis fez seu prim eiro contato com líderes católicos. Quando de sua participação no Conselho Mundial de Igrejas em Nova Delhi foi convida­ do a visitar o Vaticano para explicar o pentecostalismo a vários teólogos e historiadores que estavam fazendo um estudo detalhado do movimen­ to. No caminho de volta da índia encontrou-se no Vaticano com o Carde­ al Bea, chefe da Secretaria para a Promoção da Unidade Cristã, a quem disse: “Tudo o que quero dizer é isto: Torne a Bíblia disponível a todo catóUco no mundo em sua própria língua. Se os catóUcos lerem a Bí­ blia,

0 Espírito Santo vivrficará o livro, e isto transformará suas vidas.

E com catóhcos transformados haverá renovação d a igreja”. Sobre o batismo no Espírito ele disse: “Não, isto não vem por sucessão apostó­ lica — embora traga o sucesso apostólico. Você tem que receber isto do Senhor Jesns. Ele é o único batizador no Espírito”. Quando este diálogo foi reportado ao Papa João XXIII, ele allrmcu serem as palavras de du Plessis “uma revelação de Deus” à qual oscatóli73

A Igreja do Século XX-AHistóriaque Não Fbi Contada

cos “deveriam atentar”. Se o envolvimento de du Plessis com líderes tra­ dicionais já causava críticas e rejeição dos líderes pentecostais, a visita ao Vaticano causou íliror. As Assembléias de Deus americanas, às quais ele transferira sua ordenação em 1955, revogaram suas credenciais de minis­ tro,

0 que significou para ele não ter qualquer elo oficial com qualquer

grupo pentecostal. Mesmo assim prosseguiu com determinação.'' Embora desprezado pelos pentecostais, líderes das igrejas tradi­ cionais e católicos romanos continuaram a cercá-lo. Em 1964 foi convi­ dado pelo Cardeal Bea para ser o único observador pentecostal do Vaticano II. Nesta histórica assembléia de cardeais du Plessis ofereceu perdão aos católicos e viu esperança para renovação. Somente dois anos depois do término do Vaticano 11, a renovação carismática começou en­ tre católicos romanos em Pittsburgh, Pensilvãnia. " Du Plessis dirigiu a equipe pentecostal nos diálogos entre católi­ cos e pentecostais de 1972 a 1982. Ele também participou da Conferên­ cia Carismática Católica em Roma, em 1976, quando ouviu o Papa Paulo VI pronunciar suas bênçãos sobre a renovação carismática. Du Plessis exerceu um papel profético e tornou-se a figura-chave para lançar o fogo do movimento carismático nas igrejas tradicionais. Seu trabalho como presidente da equipe pentecostal nos diálogos entre pente­ costais e católicos romanos e como principal preletor em centenas de en­ contros carismáticos-pentecostais ao redor do mundo confirmaram-lhe o título não oficial de “Senhor Pentecoste”. Em 1974 um grupo de repórteres da revista “Tim e” nomearam du Plessis como um dos onze “principais teólogos do século XX”. Também, por seu trabalho no diálogo e outras con­ tribuições ao Movimento Carismático Católico, ele recebeu do Papa João Paulo 11a medalha de ouro “Benemerente” por excelente “serviço a toda Cristandade”. É a mais alta honra que um Papa pode conferir, e du Plessis foi 0 primeiro protestante a recebê-la. Em 1979 seu ministério foi genero­ samente reconhecido pelos pentecostais quando as Assembléias de Deus restauraram totalmente seus papéis de ordenação. ^ Embora seu trabalho às vezes tenha causado controvérsias, du Plessis é sem dúvida uma das mais importantes figuras pentecostais na história. Ele faleceu em 2 de fevereiro de 1987, cinco dias antes de completar 82 anos. 74

0 Movtmenb Carismático

3° - DENNIS BENNETT. Dennis Bennett tornou-se vim precursor do m ovim ento carism ático (tam bém cham ado M ovim ento NeoPentecostal) na América. No fmal da década de 50 Padre Bennett era reitor da elegante e moderna Paróquia Episcopal de São Marcos em Van Nuys, Califórnia. Graduado na Universidade de Chicago e na Escola de Divindade de Chicago, era a personificação do clero sofisticado, res­ peitável e levemente mundano da sua igreja. Por volta de 1959 São Marcos crescera ao ponto de incluir 2.600 membros e uma equipe de quatro ministros, quando ele ouviu sobre o batismo no Espírito através de um colega clérigo episcopal. Depois de observar alguns leigos em sua igreja que exibiam um alto grau de compromisso e espiritualidade, Bennett começou a buscar respostas sobre suas experiências pentecostais. Depois de uma verda­ deira investigação, ele se tornou convencido da realidade do batismo no Espírito, embora tendesse a ver o falar em línguas como algo quase desnecessário. Porém, ansiava por uma realidade mais profunda em sua experiência cristã. A medida que estudou o assunto, ficou surpreso em ver tantas referências ao Espírito Santo no Novo Testamento, no “Livro de Oração Comum” , nos escritos dos Pais da igreja primitiva, nos livros-textos de teologia, nos livros de história da igreja, “e até mesmo nos hinários”. * No início de 1959, Bennett finalmente começou a buscar o batis­ mo no Espírito com a ajuda de um colega sacerdote episcopal e de um jovem casal da igreja que já tinha recebido a experiência através de um outro casal das Assem bléias de Deus. Numa reunião de oração no lar do casal, mãos foram impostas sobre Bennett enquanto seus amigos oravam por ele. Eis um trecho de sua experiência extraída de seu livro “Nine o’clock in the Morning” : Hauia quatropessoaspresentes: eu, um amigo que era sacerdote episco­ pal em nossa diocese, e John e Joan (ocasal quejá recebera o batismo). Nós estávamos sentados na sola de estar do casal nossos hospedeiros na escrivardnliadebaixodaJcinela,eunuirKicadeirasuper-€Stqfadadooutroladoda salaeo outroclérigoàminhadireita..EueslavaconscientBdemimmesmo, e deterrrúnadoanãoperderrrmha dignidade! 75

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

“0 que eufaço?”Perguntei a eles novamente. “Peça a Jesuspara batizá-b no Espírito Santo”, disse John. “Nósorarenvos com você, e você apenas orará e louvará ao Senhor. ” Eu disse: ‘Agora lembrem-se, eu quero estaproximidade a Deus que vocês têm, só isso; eu não estou interessado emfalarem línguas!” “Bem, disseram eles, tudo o que podemos dizer a você sobre isto éque vemjunto com opacote!” John atravessou a sala e impôs as mãos primeiro em minha cabeça, e depois na de meu amigo. Ele começou a orar, muito calmamente, e eu reco­ nheci.. que ele estavafalandoumalínguaqueeunão entendia, efalando-a comjluência. Ele não estava nem um pouco agitado sobre isto. Então ele orou em inglês, pedinck) a Jesus para me batizar no Espírito. Comecei a orar, como ele me disse, e orei muito calmamente também Eu não tinhaintençãodejicarnemumpoucoexcitado!Estavasimplesmenteseguindo instruções. Acho que devo ter orado altopor uns vinte minutos —peb menos isto pareceu um longo tempo — e estavapara desistir quando algo muito estranho aconteceu. Minha língua topeçou, assim como quando você está tentando recitar um trocadilho e eu comecei afalar numa nova língua! Na mesma hora reconheci várias coisas: primeiro, não era alguma espé­ cie de truque ou compulsãopsicológica Não havia nada de compulsivo nisto. Eu estavapermitindo estas novaspalavras virem aos meus lábios e estava Jalando-as de minhaprópria vontade, sem de qualquerforma serforçado a fazer isso. Eu não estava “arrebatado”em nenhum sentido do mundo, mas estava totalmente em possessão de meujuízo eforça de vontade. Eufalei a nova língua porque era interessantefalar uma língua que eu nunca tinha aprendido, apesar de não saber o que estavafalando... Em segundo lugar, era uma língua recd, não algum tipo de conversa de nenê. E h tinhagramática e sintaxe; tinha irflexão e expressão— e era até bonita! Em pouco tempo, vários membros da paróquia também recebe­ ram a mesma experiência. Em sua alegria e contentamento começaram a usar expressões típicas pentecostais como “Louvado seja o Senhor” e “Aleluia” no escritório da igreja e na casa paroquial. A medida que a notícia se espalhou entre os membros da igreja sobre a nova e estranha experiência do pastor, alguns membros do conselho paroquial começa­ ram a acusá-lo de fanático.^ A fim de acalmar falsos rumores e responder às perguntas que estavam circulando na congregação, Bennett logo sentiu que era neces­ 76

0 Movimento Carismático

sário falar à sua igreja sobre sua experiência de falar em outras línguas. Assim, em 3 de abril de 1960, ele compartilhou seu testemunho nos três cultos matinais de sua igreja. A reação na primeira reunião foi “aberta e afável”, de acordo com Bennett, mas na segunda reunião “a coisa explodiu”. Ultrajado, o pároco auxiliar arrancou suas vestimentas, atirou-as no altar e saiu pisando duro e gritando: “Não posso mais trabalhar com este homem” . Então, depois que a reunião terminou, do lado de fora, aqueles que tinham se decidido a se livrar do movimento do Espírito Santo começaram a dis­ cursar eloqüentemente aos paroquianos que chegavam e partiam. Um homem ficou em pé numa cadeira gritando: “Fora com esses malditos faladores de línguas”.^ Depois que alguns membros reclamaram que “nós somos episco­ pais e não um bando de ignorantes fanáticos”, o tesoureiro do conselho paroquial convidou Bennett a resignar. Em vez de causar mais desar­ monia na congregação, o meigo e amável reitor prontamente renunciou à sua paróquia. Logo depois o bispo enviou um sacerdote temporário para São Marcos armado de uma carta inflexível para os oficiais da paróquia proibindo qualquer outra manifestação em línguas.^ 0 tumulto na paróquia São Marcos causou uma sensação na im ­ prensa nacional, à medida que a história foi captada pelas principais estações de rádio e televisão. A revista “Tim e” publicou que “agora glossolalia parece estar de volta nas igrejas dos Estados Unidos — não somente nas desinibidas seitas pentecostais mas até mesmo entre epis­ copais, que têm sido denominados ‘God’s frozen people’ (o povo gelado de Deus) trocadilho em inglês com ‘G od’s chosen people’ (o povo esco­ lhido de Deus)” . “Newsv^feek” publicou que para conservadores episco­ pais da paróquia de São Marcos “houve perplexidade, ira e até mesmo uma pitada de inveja” embora alguns sentissem que “tudo isto foi uma espécie de vergonhoso vodu”. Porém, Bennett e aproximadamente seten­ ta de seus paroquianos estavam dispostos a pagar um preço alto por sua nova experiência pentecostal — o de serem banidos de sua igreja. '* Bermett foi então convidado a assumir algreJaEpiscopal de São Lucas, uma pequena paróquia na cidade interiorana de Seattle, Washing­ ton. Seu novo e amável bispo ofereceu-se para apoiá-lo, até m esmo em 77

Algreja do SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

suas práticas pentecostais, levando em consideração que de qualquer maneira a igreja estava prestes a fechar. Livre agora para promover suas experiências sem qualquer impedimento oficial, Bennett logo converteu sua igreja num centro do neo-pentecostalismo para o Noroeste dos Es­ tados Unidos. Em lugar de fechar, o bispo viu a igreja de São Lucas crescer para se tornar a maior paróquia da denominação em toda a área. Em pouco tempo, Bennett estava ministrando para perto de 2.000 pessoas por semana. Por mais de vinte anos, uma média de vinte pesso­ as foram batizadas no Espírito toda semana na igreja. ^ 0 caso Dennis Bennett foi somente a parte mais visível de um processo que vinha sendo calmamente desenvolvido por anos. De fato, por volta de 1960, praticamente toda denominação já tinha muitos “pen­ tecostais secretos” que tinham recebido a experiência, mas permanece­ ram quietos por medo de desagradar os oficiais da igreja.

0 incidente

em Van Nuys trouxe à luz a situação. Vários meses depois que Bennett renunciou à paróquia de São Marcos, a “Igreja Viva” , um jornal episco­ pal, trouxe

0 seguinte editorial a respeito de glossolalia na igreja:^

“Falar em línguas não é mais um fenômeno de alguma seita esqui­ sita do outro lado da rua. Está em nosso meio e está sendo praticado por clérigos e leigos que têm estatura e boa reputação na igreja. Sua aplicação em larga escala abalaria nosso senso estético e alguns de nos­ sos mais fortemente entrincheirados preconceitos. Mas nós sabemos que somos membros de uma igreja que definitivamente precisa ser aba­ lada — se Deus escolheu esta época para dinamitar o que o Bispo Sterling, de Montana, chamou de ‘respeitabilidade episcopal’, nós não conhece­ mos uma explosão mais assustadoramente eficaz.” Durante a maior parte dos anos 60, o pentecostalismo começou a aparecer nos mais inesperados lugares e entre as mais inesperadas pesso­ as. Um irrompimento de glossolalia na Universidade de Yale em 1963 foi profético em relação ao que ocorreria nos campi de faculdades de toda a nação no fmal da década. Os então chamados “glossayalies” (mistura de glossolalia comyalies, designação dada aos estudantes da Universidade) eram muito diferentes dos estereótipos “roladores no chão”. Entre os vin­ te estudantes da Universidade de Yale que causaram uma leve sensação no campus estavam cinco que pertenciam à sociedade de honra, Phi Beta 78

0 Movimento Carismátto

Kappa (formada pelos estudantes que obtinham as melhores notas), que por coincidência eram episcopais, luteranos, presbiterianos e metodistas.

0 preletor que levou esses estudantes a falar em línguas não era nem mes­ mo um pregador pentecostal, mas um pastor da Igreja Reformada Holan­ desa de Mt. Vernon, Nova lorque, Harald Bredeson. A revista “Tim e” pubhcou a seguinte reportagem sobre os pente­ costais de Yale: “Eles não caem em nenhum ataque ou transe místico, em vez disso, observadores relatam que eles parecem totalmente em con­ trole, à medida que murmuram ou cantarolam frases que às vezes soam como hebraico, às vezes como sueco rude.” Então, 0 tumulto causado em volta da experiência de Dermis Bennett serviu para propagar ainda mais o Movimento Carismático e romper a vergonha de todos os tradicionais que já possuíam a experiência. A rea­ ção da maioria dos líderes das igrejas em relação ao movimento foi de prudência e paciência. Foram poucos os que forçaram a nova onda de pentecostais a sair de suas igrejas como acontecera no início do século. Um dos motivos de não serem tão perseguidos foi o fato de serem menos emocionais e mais ordeiros. Mesmo assim alguns se declararam fortemente contra o movimento. Por outro lado, milhares de pessoas, tanto clérigos como leigos, sentiram que o avivamento pentecostal era a melhor esperança para a igreja.'* Uma década depois da experiência de Bennett estima-se que 10% dos clérigos e 1 .000.000 de leigos das igrejas tradicionais tinham rece­ bido

0 batismo no Espírito Santo e permanecido em suas igrejas. De

fato, é quase impossível que tenha havido uma denominação sequer da Cristandade que não fosse atingida pelo Movimento Carismático, Come­ çando com os ep iscopais o fogo se alastrou en tre lu teranos, presbiterianos, batistas, metodistas, menonitas etc. e por fim atingiu a Igreja Católica. Muitos dos pentecostais clássicos mais antigos flcaram desnorte­ ados com esse desenvolvimento e não puderam entender por que seus irmãos carismáticos pareciam haver escapado do sofrimento e perse­ guição que os pioneiros pentecostais do início sofreram. Porém , houve um sentimento geral de alegria e gratidão por outros estarem finalmente gozando a realidade da plenitude do Espírito. ^ 79

Capítulo 6

O MOVIMENTO CARISMÁTICO CATÓLICO

C

Movimento Carismático Católico encaixa-se perfeitamente no prin cípio de Ralph Mahoney de que um novo mover de Deus está ligado a algum evento histórico na nação de Israel. 0 derrama­

mento do Espírito sobre os católicos aconteceu no mesmo ano da tom

da de Jerusalém — 1967. Foi chamado pelo Cardeal Suenens de “a surpresa do Espírito Santo”. Na década de 60 a Igreja Católica estava passando por uma fase de falência e decadência. Milhares de sacerdotes, monges e freiras aban­ donaram suas vocações e retornaram à vida secular.

0 sistema de es­

colas paroquiais católicas romanas, que foi o orgulho da igreja ameri­ cana, começou a fechar suas portas, atingindo a média de uma escola fechada por semana.

0 número de seminários alcançou declínio seme­

lhante.

VATICANO U Vários fatores e contribuições foram chaves para preparar o ce­ nário para o mover do Espírito Santo na Igreja Católica. Um deles aconteceu em 1962, quando o Papa João XXIII causou mn reboliço no mundo religioso ao convocar o prim eiro concilio depois de quase um século, chamado Vaticano II. Nunca houve um concilio mais intimamen­ te ligado aos “ventos do Espírito” que estavam soprando na igreja. De acordo com o Papa João XXIIl, o propósito do concilio era “abrir as

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

janelas para que a igreja pudesse respirar ar fresco”. Dois m il e qui­ nhentos bispos de todas as partes do mundo se reuniram em Roma e falaram abertamente de uma “nova reforma” dentro da igreja — incluin­ do até “reformulação de doutrinas”. Nunca tal linguagem fora usada na igreja desde os dias de Martinho Lutero. ^ 0 Papa João também falou profeticamente sobre o concílio, refe­ rindo-se a ele como “um novo Pentecoste”, e pedindo a todo católico do mundo que orasse diariamente durante os três anos de duração das as­ sembléias do concílio para que “Deus renove suas maravilhas em nossos dias através de um novo Pentecoste”. Poderia ele imaginar que essa oração seria cumprida depois de um ano do encerramento do concílio? ^ Um dos quatro presidentes do concílio foi o Primaz da Bélgica, Cardeal Suenens, que ficou conhecido como um dos prelados “liberais” que exigiu mudança e renovação na igreja.

0 único hder pentecostal

clássico presente foi David du Plessis, que compareceu como “observa­ dor” oficial. Tanto ele como Suenens estavam destinados a exercer pa­ péis importantes na renovação carismática católica. ^ À medida que o Vaticano II avançava, muitos documentos refleti­ am uma ênfase ao Espírito Santo e à natureza carismática da igreja. Liderando o movimento para enfatizar a pessoa e a obra do Espírito Santo estavam os bispos do Chile. Esta nação havia experimentado um poderoso movimento pentecostal desde 1909 e isto talvez tenha influenci­ ado os prelados chilenos. Ao todo o Espírito Santo foi mencionado 258 vezes nos documentos do concflio. Quando a velha questão da cessação dos dons veio à tona, o con­ cflio pendeu totalmente para o lado da manifestação nos dias de hoje de todos os dons do Espírito. 0 problema foi levantado depois da pri­ meira leitura da Constituição sobre a Igreja, na qual se afirmava que o Senhor reparte seus dons “particularmente a cada um como quer (1 Co 12:11), e ele distribui dons especiais entre os fiéis de todo nível” . Ainda declarava que os dons carismáticos foram “largamente difundi­ dos” e são “para serem recebidos com ações de graça e consolação, pois eles são muitíssimo apropriados e úteis para as necessidades da igreja”. ^

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0 Movimento Carismático Católico

Durante as discussões depois desta leitura, o Cardeal da Itália, Ruffini di Palermo, protestou fortemente contra a atuação dos dons do Espírito hoje dizendo que eram “extremamente raros e quase excepcio­ nais”. Muitos dos bispos imediatamente discordaram desta declaração que representava a visão tradicional da igreja. Em favor desses bispos,

0 Cardeal Suenens deu a clássica réplica que mais tarde se tornou uma “Carta Magna” para os carismáticos da igreja: ^ “Este documento fala muito pouco sobre os ‘carismas’ dos fiéis; isto pode causar a impressão de que nós estamos tratando aqui com um fenômeno meramente periférico e acidental à vida da igreja. Mas é che­ gada a hora de expor mais explícita e completamente a importância vital desses carismas para a formação do Corpo Místico. Devemos a qual­ quer custo evitar dar a impressão de que a estrutura hierárquica da Igreja é um aparato administrativo sem nenhuma ligação íntima com os dons carismáticos do Espírito Santo que estão difundidos por toda a igreja. ^ “Para o apóstolo Paulo, a igreja de Cristo não aparece como algu­ ma organização administrativa, mas como um conjunto orgânico e vivo de dons, carismas e serviços. 0 Espírito Santo é dado a todos os cris­ tãos, e a cada um em particular; e ele por sua vez dá a cada um e a todos ‘diferentes dons segundo agraça que nos foi dada’ (Rm 12:6).” * A réplica de Suenens prevaleceu sobre a visão tradicionalista e o alicerce estava lançado para a aprovação da renovação carismática que viria apenas três anos mais tarde. 0 Vaticano II terminou em 1965 com um programa revolucionário que levou anos para ser totalmente implantado nas igrejas catóUcas ao redor do mundo. A mudança mais impressionante exigiu a realização da missa nas línguas dos povos em lugar do latim. Exigiu-se também que os sacerdotes ficassem de frente para a congregação durante a mis­ sa. Os hinos deveriam ser cantados pela congregação, ao invés de serem entoados somente pelos sacerdotes e corais. As Escrituras seriam lidas tanto pelos leigos como também pelo clero. Os católicos foram encora­ jados a orar com outros cristãos, embora a participação mútua da mesa do Senhor ainda fosse proibida. A informal “missa popular” foi permiti­

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A Igreja do Século XX~A História que Não Fbi Contada

da. As freiras tiveram permissão para abandonar seus hábitos tradicio­ nais por vestes convencionais. '* Por causa dessas mudanças, que na verdade pareceram revoluci­ onárias demais para os tradicionalistas, a igreja se tornou menos “es­ tranha” para os protestantes, especialmente quando católicos começa­ ram a cantar o “hino-tema da Reforma” , “Castelo Forte” , de Martinho Lutero. Pela primeira vez, sacerdotes católicos começaram a participar de reuniões protestantes e protestantes foram convidados a falar em reuniões catóUcas. Uma nova era ecumênica começou em 1960 com o estabelecimento da Secretaria para Unidade Cristã em Roma, que ime­ diatamente iniciou diálogos com igrejas protestantes. 0 fato de João XXIII ter chamado os protestantes de “irmãos separados” abriu cami­ nho para im i respeito e apreciação mútuos que tornaram possível o diá­ logo ecumênico. * Geralmente o Espírito move “onde ele quer” , e os teólogos ten­ tam explicar os fatos depois. Desta vez, os teólogos expUcaram e aprova­ ram a renovação carismática antes de ela acontecer. Esta é uma daque­ las raras vezes na história em que os teólogos estiveram à frente dos profetas. Portanto, antes que o “novo Pentecoste” profetizado por João XXIII acontecesse na Igreja Católica, foram tomadas medidas no concího para assegurar que tal Pentecoste fosse aceito quando ocorresse. *

O MOVIMENTO DE CURSILHO 0 Movimento de Cursilho foi outro fator que contribuiu para pre­ parar 0 terreno para a Renovação Carismática Católica. Foi iniciado em 1949 na Espanha como uma tentativa de renovar a fé dos católicos atra­ vés de um retiro de três dias chamado “cursilho” (mini-curso). Foi rea­ lizado pela prim eira vez pelo Bispo Juan Hervas, na Espanha, e espa­ lhou-se pela América Latina na década de 50, chegando finalmente aos Estados Unidos através dos hispânicos do Sudeste.^

0 cursilho consiste de cinco “meditações” e cinco lições sobre doutrina cristã ministradas por sacerdotes e leigos para membros da igreja que desejam aprofundar sua fé. Sessões de discussões mostram

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0 Movimento Carismático Católico

como fazer aplicações práticas das dez preleções.

0 número de partici­

pantes é em geral de aproximadamente 40 pessoas, o que contribni para que as sessões sejam estimuladas com um espírito de jovialidade inclu­ indo músicas e esquetes.“*

0 efeito do cursilho foi evangelizar católicos que tinham sido “sacramentados”, mas que não tinham um entendimento mais profundo do que significava ser um cristão. Muitos dos primeiros pentecostais católicos não somente tinham freqüentado cursilhos, mas eram líderes no movimento.^

UMASURPRESADO ESPÍRITO SANTO 0 Movimento Católico Pentecostal começou em Pittsburgh, Pensilvãnia, Estados Unidos, na Universidade de Duquesne, tão apro­ priadamente dirigida pela fundação “Padres do Espírito Santo”. Em 1966, dois professores leigos de teologia da Universidade de Duquesne, Ralph Kiefer e Bill Storey, começaram uma busca espiritual que os le­ vou a 1er “A Cruz e o Punhal”, de David Wilkerson, e “Eles Falam em Outras Línguas” , de John Sherrill. Depois de lerem esses livros, os dois homens começaram a procurar alguém na região de Pittsburgh que tivesse recebido o batismo no Espírito Santo com acompanhamen­ to de línguas. Com o tempo e com a ajuda de um sacerdote episcopal num grupo de oração hderado por presbiterianos, Kiefer e Storey fo­ ram batizados no Espírito e falaram em línguas que nunca tinham apren­ dido.^ Esses dois professores cheios do Espírito planejaram então um retiro de fim de semana para vários amigos, a flm de buscarem um derramamento do Espírito Santo na Igreja Católica. Cerca de vinte professores, estudantes formados e suas esposas reuniram-se durante

0 fim de semana de 17 a 19 de fevereiro de 1967, em Pittsburgh, para a primeira reunião de oração pentecostal católica na história. Os parti­ cipantes foram solicitados a 1er os primeiros quatro capítulos de Atos e

0 hvro “A Cruz e o Punhal” .As reuniões se realizaram numa grande casa de retiro conhecida como “A Arca e a Pomba”. Com o passar do tempo, este encontro foi apelidado de “o fim de semana de Duquesne”.'*

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A Igreja do Século XX-AHistóriaque Não Fbi Contada

0 Espírito Santo pairou sobre “A Arca e a Pomba” durante aquele fim de semana fantástico. Depois de um estudo intensivo do livro de Atos e de um dia devotado à oração e estudo, muitos dos participantes estavam ansiosos para buscar o batismo no Espírito Santo. Mas uma festa de aniversário de lun dos padres estava programada para o sábado à noite. À medida que a festa começou, um senso de convicção e expec­ tativa permeou o ambiente. Logo, um estudante após outro escapuliu da festa e subiu as escadas da capela para orar.^ Coisas estranhas começaram a acontecer àqueles jovens, à medi­ da que começaram a buscar do Senhor a plenitude pentecostal. Um estudante chamado David Mangan entrou na sala e foi de repente lança­ do por terra pelo Espírito. Ele relatou a seguinte experiência: ^ “Gritei 0 mais forte que já gritara em minha vida, mas não derra­ mei uma lágrima. De repente, Jesus Cristo era tão real e tão presente que eu podia senti-lo ao redor. Fui dominado por tal sentimento de amor que não posso descrevê-lo.” ^ Mais tarde todo o grupo abandonou a festa lá embaixo e reuniu-se na capela para a primeira reunião de oração pentecostal totalmente cató­ lica. Patrícia Gallagher descreveu a reunião neste novo “cenáculo” : ^ “Naquela noite o Senhor levou todo o grupo para a capela. Ora­ ções emanavam de mim para que outros viessem a conhecê-lo também. Minha antiga timidez para orar em voz alta foi-se completamente, à me­ dida que 0 Espírito Santo falava através de mim. Os professores então impuseram as mãos sobre alguns dos estudantes, mas a maioria de nós recebeu o “Batismo no Espírito” enquanto estávamos ajoelhados diante do bendito sacramento em oração. Alguns de nós começaram a falar em línguas, outros receberam dons de discernimento, profecia e sabedo­ ria. Mas o dom mais importante foi o fruto do amor que uniu toda a comunidade. No Espírito do Senhor nós achamos uma unidade pela qual tentáramos há muito tempo alcançar por nossa força.” ^ À medida que esses buscadores católicos oraram até alcançar o Pentecoste, muitas coisas semelhantes aos pentecostais clássicos come­ çaram a ocorrer Alguns riam incontrolavelmente “no Espírito” , enquan­ to um jovem rolava pelo chão em êxtase. Gritar louvores ao Senhor,

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0 Movimento Carismático Católico

chorar e falar em línguas caracterizaram este início do movimento na Ig reja Católica. Não é à-toa que foram chamados de “Católicos Pente­ costais” pelo público e imprensa quando as notícias sobre os estranhos eventos em Pittsburgh se espalharam. ^ 0 fogo que foi aceso na Universidade de Duquesne logo se alastrou pela Universidade de Notre Dame em South Bend, Indiana. Este rompi­ mento veio depois da carta de Ralph Kiefer, que incitou o interesse de vários líderes entre os estudantes e professores que também estavam inte­ ressados na renovação espiritual da igreja. Depois de alguma investigação e cepticismo inicial, mais ou menos nove estudantes se reuniram no apar­ tamento de Bert Ghezzi e foram batizados no Espírito Santo. ^ Porém, eles não manifestaram nenhum dom espiritual evidente. Para solicitar ajuda, contataram Ray Bullard, um membro das Assem ­ bléias de Deus e presidente da Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno em South Bend. Ghezzi descreve como este grupo de intelectuais católicos recebeu o dom de línguas: * “Fomos à casa de Ray na semana seguinte e nos reunimos em seu porão com onze ministros pentecostais de toda Indiana, acompa­ nhados de suas esposas. Eles passaram a noite tentando persuadir-nos de que se tivéssemos sido batizados no Espírito teríamos falado em línguas. Nós os deixamos cientes de que estávamos abertos para falar em línguas, mas ficamos firmes em nossa convicção de que já fôramos batizados no Espírito porque podíamos ver isto em nossas vidas. 0 problema ficou resolvido porque nós estávamos querendo falar em lín­ guas desde que isto não fosse visto como uma necessidade teológica para ser batizado no Espírito. A certa altura, dissemos que estávamos dispostos a fazer uma experiência, e um homem exphcou-nos as impli­ cações disto. Bem tarde naquela noite, passando da meia-noite, lá em­ baixo naquele porão, os irmãos nos alinharam em um lado do cômo­ do e os ministros se colocaram do outro lado. Então começaram a orar em línguas e a caminhar em nossa direção com as mãos estendi­ das. Antes de eles nos alcançarem, muitos de nós começaram a falar e cantar em línguas.”

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A Igreja do Século XX-AHistória que Não Fbi Contada

Depois de ficarem um tempo orando em línguas, Ghezzi diz que os amigos pentecostais perguntaram a eles quando deixariam a Igreja Católica e se juntariam a uma igreja pentecostal. “Realmente a pergunta nos deixou um pouco chocados. Nossa res­ posta foi que não deixaríamos a Igreja Católica, pois o fato de sermos batizados no Espírito estava totalmente compatível com nossa crença na Igreja Católica. Asseguramos aos nossos amigos que tínhamos um gran­ de respeito por eles e que teríamos comunhão com eles, mas que perma­ neceríamos na igreja Católica. * “Penso que é significativo o fato de que aqueles entre nós que foram batizados no Espírito Santo naquela época nunca pensaram em abandonar a Igreja Católica Rom ana. * “Nossos amigos pentecostais tinham visto católicos se juntarem a igrejas pentecostais quando foram batizados no Espírito. Mas porque não fizemos isto, a renovação carismática católica se tornou possível.”“* Os eventos de Duquesne foram agora repetidos em Notre Dame — a capital intelectual do catolicismo americano. Os jornais dos campi logo começaram a publicar as inacreditáveis notícias do que estava acon­ tecendo ali. Apesar de serem considerados por alguns como “fanáticos” e “extremistas” , os novos pentecostais de Notre Dame incluíam vários respeitáveis professores de teologia e destacados estudantes que se tor­ naram líderes nacionais do movimento. A maioria deles estava na faixa dos vinte anos. Sob sua hábil e inspirada orientação, o pentecostalismo alastrou-se como fogo entre catóhcos nos Estados Unidos e posterior­ mente ao redor do mundo. 0 crescimento inicial do movimento foi espantoso. Novos gru­ pos de oração se espalharam diariamente por toda a nação. Uma rede de comunicações revelou uma enorme aceitação do movimento, tanto entre clérigos como entre leigos. Em pouco tempo, o movimento pentecostal católico foi reconhecido como o movimento de maior cres­ cimento na igreja. Este crescimento foi dramatizado através das con­ ferências internacionais realizadas anualmente em South Bend depois de 1967. A assistência às conferências tendeu a tripUcar a cada ano por vários anos. ^

0 Movimento Carismático CatóUco

Por volta de 1974, o movimento abandonou o termo “pentecostal” por outro mais neutro, “carismático”, para não ser confundido com os pentecostais mais antigos. Durante aquele ano, calcula-se que o núme­ ro de grupos de oração na América tenha sido de 1.800 e no mundo todo de 2.400. 0 número de participantes ao redor do mundo foi estimado em 350.000. Entre esses calcula-se que 2.000 sacerdotes se juntaram ao movimento. Duas chaves para o rápido desenvolvimento do pentecostalismo na Igreja Católica foram a cuidadosa atenção teo­ lógica devotada a ele desde o início e a positiva mas cautelosa atitude dos bispos. Em seu “Relatório do Comitê sobre a Doutrina”, em 1969, os bispos concluíram que “teologicamente o movimento tem razões legítimas para existir. Tem uma forte base bíblica” . Também observa­ ções indicaram que os participantes “experimentaram progresso em sua vida espiritual”, foram “atraídos para 1erem as Escrituras” , e de­ senvolveram “um entendimento mais profundo de sua fé”. No fim do relatório, os bispos declararam: “É a conclusão do Comitê sobre a Doutrina que o movimento não deve neste ponto ser inibido, mas per­ m itido a desenvolver-se”. E como se desenvolveu! Por volta de 1975, a “chuva serôdiá’ alcançara a própria Roma. Numa conferência internacional realizada numa tenda sobre as antigas catacumbas, mais de

10.000 carismáticos

católicos se reuniram para expressar seu testemunho no próprio domí­ nio do papado. Na festa de Pentecoste, em 1975, esses fiéis cheios do Espírito fizeram parte de uma multidão de 25.000 pessoas que lotaram a Catedral de São Pedro para ouvir o Papa Paulo VI. Perto do final do culto, os pentecostais começaram a “cantar no Espírito”. No fim, o orga­ nista e 0 coral se uniram no cântico improvisado do “Octeto Aleluia”, a antífona internacional do movimento. '* Na segunda-feira do Pentecoste, a primeira missa especificamente carismática foi celebrada na Catedral de São Pedro pelo Cardeal Suenens. Jovens líderes carismáticos americanos de Ann Arbor, Michigan, entre­ garam profecias do alto do altar da basílica. Cânticos jubilosos e ungi­ dos encheram a igreja. Em sua mensagem para os carismáticos no fim da missa, o Papa Paulo disse profeticamente: ^

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

“Como entáo poderia esta ‘renovação espiritual’ não ser uma opor­ tunidade para a igreja e para o mundo? E como, neste caso, poderia alguém não usar todos os meios para assegurar que isto permaneça assim?... Isto deve rejuvenescer o mundo, devolver a ele uma espiritua­ lidade, uma alma, um pensamento religioso. Isto deve reabrir seus lábi­ os selados para orar e abrir suas bocas para cantar, jubilar, entoar hi­ nos e testemunhar. Será muito vantajoso para nossos tempos, para nos­ sos irmãos, que haja uma geração, asua geração de jovens, que procla­ me ao mundo a grandeza do Deus do Pentecoste...” * As águas da chuva serôdia estavam verdadeiramente caindo em Roma!

A

CON FERÊN CIA DE 1ntada

americano, Woodrow Wilson; mas em lugar disso, o território foi dado ao Japão que o capturara dos alemães durante a guerra. Isto produziu profundo ressentimento e grande reação política. Para muitos chineses a fé na democracia e no Ocidente estava abalada, e muitos se voltaram para a Rússia e a Revolução Bolchevista como uma solução para os problemas da China. 0 marxismo se tornou a grande exportação russa para a China, e agentes foram treinados em Moscou para incitar a revo­ lução e form ar células comunistas. Como resultado desta atividade, o Partido Comunista Chinês foi formado em 1921. Duas forças lutavam agora na China os nacionalistas e os comu­ nistas. Localizados naquela época no sudeste da China, os comunistas, diante da superioridade do exército nacionalista, decidiram fazer uma retirada estratégica para as montanhas do noroeste. Isto envolveu um percurso de 6.000 milhas atravessando 18 cadeias de montanhas e 24 rios. A viagem durou de 1934 a 1936 e, através desta incrível jornada, conhecida como a Longa Marcha, as forças comunistas, constantemente atacadas pelos nacionalistas, foram grandemente reduzidas em núme­ ros através de doenças e mortes. Também foi durante esta marcha que a posição de Mao Tsé-tung como líder dos comunistas foi consolidada. Até hoje, os chineses consideram a Longa Marcha como um dos m o­ mentos mais admiráveis da sua história. Ela inspirou muitos jovens chineses a se juntarem ao partido comunista. A vitória final dos comunistas sobre as forças nacionalistas em 1949 foi um notável acontecimento. Talvez a maior razão tenha sido o fato de os comunistas terem uma visão, uma causa e um ideal pelos quais sentiram que valia a pena lutar e morrer. Sua excitação e fé nesta visão os faziam buscar “converter” outros para sua causa.

OMOVERDEDEUS EAREVOLUÇÀO CULTURAL A China é basicamente uma nação camponesa ligada à tradição, especialmente a do Confucionismo. Havia um forte elo entre governante e súdito, pai e filho, marido e esposa. Em bora Mao se propusesse a melhorar a sorte dos camponeses, ele sentiu que esses laços, junto com os laços da religião, capitalismo e autocracia, eram os maiores obstácu­ los para estabelecer uma nova sociedade marxista, e assim decidiu des­ truí-los. Para isso conclamou sua famosa Revolução Cultural em 1966,

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OAvivarnento na China

que acabou se tornando um dos fatores mais importantes para o mover de Deus na Chtaa. Por não confiar no exército nem no partido, Mao convocou um mi­ lhão de jovens, os chamados Guardas Vermelhos, e os comissionou para viajar através da nação destruindo velhos conceitos, costumes e hábitos, esmagando tudo o que suspeitassem estar tomando um rumo capitalista. A revolução tornou-se praticamente um “quebra-quebra” . Casas foram saqueadas, velhos foram abusados, pessoas inocentes condenadas. Os jo v e n s G u ardas V erm elh os eram , m u itas vezes, tota lm en te indisciplinados. É dito que um milhão de bebês ile^timos nasceram du­ rante este período. Obras de arte de valor incalculável foram destruídas. Embora a Revolução Cultural fosse o período mais difícil para os cristãos chineses, desde a tomada comunista em 1949, a igreja da China esteve sob perseguição. Os comunistas tornaram bem claro que o novo regime não queria nada com missionários e, no início de 1952, todos eles, exceto os católicos romanos, tinham deixado o país. Muitos líde­ res cristãos chineses que não concordaram em apoiar a igreja oficial controlada pelo Movimento Patriótico de TrípUce Autonomia (programa do governo para controlar a igreja que pregava governo, sustento e dis­ seminação autônomos), foram para a prisão (entre eles Watchman Nee). Mas, sem dúvida, a pior fase veio com a Revolução Cultural, es­ pecialmente quando os jovens Guardas Vermelhos estiveram no contro­ le ( 1966-69). Porém, todo o processo durou 10 anos, presidido no final pela “ Gangue dos Quatro”. No final, todas as igrejas, até mesmo as que estavam sob a autoridade do Movimento de Tríplice Autonomia e todos os outros prédios religiosos (os tem plos e lugares sagrados do Confucionismo e Budismo), foram fechados e até destruídos. No meio desta revolução, Jiang Qing, esposa de Mao e líder da “Gangue dos Quatro”, declarou: “0 Cristianismo na China foi colocado num museu. Não existem mais cristãos na China.” Wang Mingdao, líder na época da maior igreja em Pequim, fora constantemente uma pedra no sapato dos comunistas. No início, as au­ toridades tinham dificuldade em achar uma acusação contra ele. Ele se recusara a freqüentar um seminário, por sentir que era dominado pelos missionários, e nunca fora ordenado ou sustentado financeiramente pelos missionários estrangeiros. Como Watchman Nee, ele multas vezes criti­

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A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

cava os métodos dos missionários ocidentais. Sua única formação para

0 ministério viera do Espírito Santo. Como um homem de Deus, os comunistas não podiam achar falta nele. Talvez Wang tenha pregado para mais chineses do que qualquer outro homem. Sua igreja estava sempre lotada e muitas vezes havia mil ou mais pessoas do lado de fora para ouvir a palavra que era transmiti­ da por alto-falantes. No dia do seu julgamento, toda sua congregação foi forçada a assistir. Ele foi acusado de ser contra o governo, contra o Movimento Patriótico de Tríplice Autonomia, e de pregar mensagens erradas. Ura quarto dos cristãos e outros presentes, por causa da pres­ são da igreja oficial, pediu a sentença de morte. Não foi dada a ele nenhuma oportunidade de se defender, mas tão forte era o sentimento público em seu favor que as autoridades foram forçadas a libertá-lo. Mais tarde, ele foi novamente levado a julgamento. Embora nunca falasse contra o regime, Wang criticou destemidamente os clérigos de te­ ologia liberal e os que participavam do Movimento de Tríplice Autonomia, aos quais ele acusou de trair a Cristo. Ele recebeu uma sentença de 15 anos de prisão e imediatamente foi submetido ao processo de reeducação co­ munista. Dois turnos de “experts” policiais trabalharam com ele dia e noite. Depois de treze meses de tortura mental, ele cedeu e assinou uma confis­ são, que teve de ler publicamente para uma grande audiência. Sua capitula­ ção virou manchete nas páginas de todos os jornais: “Eu sou um criminoso anti-revolucionário. Estou grato ao governo por perdoar-me e salvar-me das profundezas do pecado...”, e assim por diante. Poucos dias depois da sua libertação, ele foi visto caminhando para baixo e para cima nas ruas de Pequim gritando: “Eu sou um Judas, eu traí meu Senhor.” Na verdade, sua confissão não envolvera uma negação de Cristo. Poucos dias depois, quando o equilíbrio de sua mente foi restaura­ do, ele foi com sua esposa para as autoridades governamentais e retirou sua confissão. “Prendam-me se quiserem”, ele disse, “mas não trairei meu Senhor.” Imediatamente ele foi enviado de volta para a prisão junto com sua esposa e lá este corajoso homem de Deus permaneceu vinte e dois anos de sua vida, sendo libertado somente em 1980 com 80 anos de idade. Experiências desse tipo se repeüram muitas vezes na história da igreja da China Vermelha. Muitas histórias nunca foram contadas. Os santos que sofreram não eram todos líderes e muitos nomes nunca vira-

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OAuivamerÉonaChina

ram manchetes. Através da longa noite escura, eles nunca vacilaram em sua lealdade a Cristo. Em Julho de 1976, Mao Tsé-tung, o homem que fora idolatrado e cujos pensamentos do Llvrinho Vermelho se tornaram a bíblia do povo chinês, morreu, deixando uma nação desanimada e desiludida. Eis as palavras de um jovem escritas num dos jornais chineses: “A palavra ‘amanhã’ tem sido uma palavra de grande fascínio para mim. Quando eu estava na escola primária, o ‘Grande Salto Para Frente’ (política lançada por Mao para industrializar o país rapidamente) era o sonho do amanhã; nós viveríamos felizes em prosperidade. Mas o que conseguimos? Desastres! “Depois veio a Revolução Cultural: o amanhã significava total li­ beração e que nós conquistaríamos o mundo. 0 que conseguimos? De­ sastre! Agora os jovens da China podem apenas aprender esta lição: Não espere muito! Não seja otimista! Não pense no amanhã!”

LIMPANDO OTERRENO Após esta longa noite escura, quando os controles foram relaxa-. dos e as restrições suspensas, cristãos de Hong Kong e outros lugares examinaram ansiosamente através da Cortina de Bambu para ver se algo sobrevivera. Eles ficaram pasmados com o que começou a emergir da poeira e entulho da Revolução Cultural. Não havia dúvida sobre o fato de a fé cristã ter sobrevivido ou não. Ela estava bem e com saúde, e explodindo com nova vida para todos os lados. Do outro lado do mun­ do começou-se a ouvir sobre “milhões vindo para Cristo”, de comunida­ des inteiras se tornando cristãs. Compreensivelmente isto foi saudado com incredulidade em muitos lugares: “Isto não pode ser verdade — não na China Comunista!” Mas as reportagens começaram a ser confirma­ das por muitas testemunhas e organizações. Durante aqueles anos de escuridão Deus estivera silenciosamente, porém poderosamente, em ação, purificando seu povo e limpando o terreno para um novo plantio do qual ele mesmo se encarregara. A Chi­ na não era um solo virgem esperando pela primeira aradura e semeadu­ ra. Mais de cem anos de atividade missionária se passaram e a situação era confusa e misturada. Deus usou a Revolução Comunista para reali­ zar uma espécie de operação de limpeza. Em primeiro lugar, a tomada

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A Igreja do SéculoXX-AHistória que Não R>i Contada

comunista significou a remoção de todos os missionários da China. Não que eles tenham falhado em sua tarefa, pois sem a semeadura do passa­ do não haveria a colheita do presente, mas era necessário agora que eles partissem para outras esferas. Dessa form a a próxima fase da obra de Deus poderia ser cumprida. Deus também usou os comunistas na China para acabar com as estruturas denominacionais do Ocidente. Isto aconteceu porque eles as consideravam ferramentas do imperialismo. A Ig reja C a tólica , com sua subserviência a Roma, foi substituída pela Associação Patriótica Ca­ tólica, liderada por marxistas e totalmente independente do Vaticano. Ela foi um equivalente católico ao movimento protestante de Tríplice Autonomia. Apesar da mistura que havia no Cristianismo antes do comunis­ mo, certamente Deus preservou tudo o que era de fato obra do Espíri­ to.

0 ouro, a prata, e as pedras preciosas encontraram seu lugar no

novo edifício que Deus estava erigindo, mas muito da madeira, palha e feno foi queimado na conflagração marxista. Como os três hebreus na fornalha flamejante de Nabucodonosor, a única coisa que as igrejas perderam foram suas ataduras, e no meio das chamas elas encontra­ ram Deus. A obra purificadora não foi simplesmente de efeito corporativo; foi também inevitavelmente individual e pessoal. A tomada comunista colocou cada discípulo professo de Cristo à prova. Todo crente seria testado a respeito da realidade de sua fé. As impurezas seriam retira­ das da mistura derretida. “Cristãos de arroz” rapidamente desaparece­ riam de cena. Materialmente não teriam nada a ganhar e muito para perder com uma profissão de fé. Em tais circunstâncias, quem iria que­ rer ser um cristão só de nome? Um trabalho de preparação foi também efetuado através de toda a sociedade chinesa. Sem dúvida, o comunismo fez m uito pela China, mesmo do ponto de vista cristão. A unificação da escrita numa língua chinesa uniform e e m oderna facilitaria grandemente a rápida evangelização da nação, assim como aconteceu com a língua grega no tempo do Novo Testamento. 0 comunismo tem libertado os chineses da resistência inata para deixar as tradições paralisadoras, e tem grandem ente libertado a nação — pelo menos a geração m ais nova

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OA)iixxmento na China

— das influências prejudiciais do Budismo e da adoração de ances­ trais. Outra grande conquista dos comunistas tem sido a construção de estradas e o suprimento de transporte e comunicação. Isto pode ser comparado aos romanos construindo suas estradas através do Império, que prepararam o caminho para a propagação do evangelho no primeiro século. Desta forma agora o evangelista na China pode transmitir sua mensagem de lugar em lugar, de uma maneira que era impossível na China pré-comunista. A Revolução Cultural foi uma ferida auto-infligida que deixou uma cicatriz profunda na vida da nação. As pessoas adoraram Mao como Deus e agora ele caíra como Dagom, com o rosto em terra diante da arca, sem cabeça ou mãos. Os heróis de ontem se tomaram os vilões de hoje e o povo ficou confuso e inseguro. Muitos dos trabalhadores urbanos perderam sua oportunidade de progredir através de uma melhor educação, uma perda grave para a maioria dos chineses, deixando-os deprimidos e desiludi­ dos. Alguém resumiu a situação pós-Mao nas seguintes palavras: “Os co­ rações de um bilhão de chineses estão buscando algo que os satisfaça” —

0 “algo” que o comunismo não providenciou. Esta é uma razão por que milhões estão correspondendo às boas novas de Jesus.

IGREjA FALSA E IGREj A VERDADEIRA Há dois tipos de igrejas na China — a igreja oficial, controlada pelo governo com aparente liberdade religiosa, e as igrejas caseiras independentes onde tem ocorrido o avivamento. A igreja oficial tem seus lugares de culto nos prédios reabertos para reuniões com permis­ são do Departamento de T^suntos Religiosos. Ela opera sob a vigilância do Movimento de Tríplice Autonomia apesar de gozar certa indepen­ dência. Embora tenha liberdade para apontar seus próprios pregadores e manejar suas finanças, seus líderes devem freqüentar as aulas de dou­ trinação do Movimento de Tríplice Autonomia para estarem a par das diretrizes do Partido. Já as Igrejas caseiras, que têm experimentado esse crescimento tão fenomenal, consideram as restrições impostas pelo Movimento de Tríplice Autonomia totalmente inaceitáveis. Tom e como exemplo esses “Dez Mandamentos” divulgados no início dos anos 80 pelo Movimento numa província da China:

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Algreja do SéculoXX-A História que Não Foi Contada

1. Náoorganizeumaigrejasemaprovaçãodogovemo. 2. Somente clérigos apontados pelo govemo poderão batizar as pessoas. 3. Não mantenha contatos com organizações religiosas do estrangeiro nem compre livros estrangeiros. 4. Não imprima ou reproduzaBiblias e outros livros religiosos sem permis­ são. 5. Não viaje de ddade em ddade para propagar religião. 6. Mantenhaareligiãopara você mesmo. 7. Não ore todo dia. Ore só aos domingos. 8. Não transmita pensamentos religiosospara menores de 18 anos de ida­ de. 9. Não cante canções relyiosas para menores de 18 anos de idade. 10. Nãosolicitecontribuiçõesparapromover religião, aumentando as cargas dos crentes.

Talvez o que esteja acontecendo na China seja uma prefiguração do que ocorrerá em todo o mundo antes do final dos tempos — uma igreja verdadeira e uma igreja falsa, diferenciadas pela atitude de cora­ ção para com o senhorio de Cristo. 0 livro do Apocalipse nos mostra estas duas igrejas em sua expressão final: a noiva “adereçada para seu noivo” , e a meretriz “embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus”. Porque haverá muitos verdadeiros filhos de Deus achados com a meretriz, assim como há no Movimento de Tríplice Autonomia na China, uma voz soará do céu antes do julga­ mento: “Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas.”

AlGREjACASElRA A igreja na China, como a igreja do Novo Testamento, tem de­ monstrado que possuir prédios para se reunir não é essencial para um crescimento rápido. Algumas, especialmente nas áreas rurais onde é possível haver grandes congregações, possuem seus próprios prédios, mas a maioria é, literalmente, de igrejas caseiras. Igrejas caseiras na China não são um desenvolvimento recente. Tornaram-se luna característica distinta do Cristianismo chdnês durante os primeiros anos do governo comunista. Não surgiram de um m ovi­ mento de reforma que rejeitou os edifícios tradicionais em favor de um retomo à simpHcidade neotestamentária. Nenhum propagandista de igre­

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0 Avivamento na China

jas caseiras viajou pelo país para espalhar a visão. Antes, as igrejas caseiras surgiram por causa de pressão e perseguição. Nasceram por necessidade. Eram a melhor, e na maioria dos casos, a única maneira de se reunir. Porém, por trás das circunstâncias exteriores, havia uma estratégia do Espírito Santo, armando o cenário para o tremendo cres­ cimento que haveria de vir. Se por um lado esta estrutura simples adotada pelos crentes chi­ neses estava totalmente de acordo com o Novo Testamento, por outro lado possuía características chinesas bem distintas. Já vimos que um forte laço familiar é uma característica nacional e todos os esforços dos comunistas para destruir isto falharam. Quando as pressões sobre a família cristã se tornaram grandes, foi natural que o lar se tornasse um lugar de refúgio onde membros da família pudessem ainda cultuar, orar, 1er as Escrituras e encorajar um ao outro. Alguns observadores chineses vêem três fases no movimento da igreja caseira. A prim eira fase ocorreu durante os anos 50 como um resultado direto da política comunista, e em particular por causa das atividades do Movimento de Tríplice Autonomia contra líderes cristãos e suas igrejas. Quem não estivesse disposto a se reunir com as igrejas da Tríplice Autonomia não tinha outra alternativa a não ser se reimir em suas próprias casas. A segunda fase veio com a Revolução Cultural em 1966, quando até mesmo as igrejas da Tríplice Autonomia foram fechadas. Quem ain­ da quisesse cultuar a Deus não tinha outro lugar a não ser o lar. Depois veio o relaxamento das restrições na era pós-Mao e jun­ to com isto uma explosão do movimento da igreja caseira. Isto foi o início da terceira fase. Começou antes que as igrejas da Tríplice Auto­ nomia fossem reabertas, contrariando a reivindicação dos hderes da Tríplice Autonomia de que eles são responsáveis pelo ressurgimento do Cristianismo na China. Muitos dos que haviam deixado as igrejas da Tríplice Autonomia quando foram fechadas, retornaram quando foram reabertas, mas a grande m aioria não o fez nem se filiou à orga­ nização. Eis 0 testemunho de Arthur WalHs sobre uma reunião em numa igrej a caseira quando esteve na China:

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A Igreja do Séaúo X X -A História que Não Fhi Contada

Nós despedimos o táxi e descerrwspor um caminho bem comprido e estreito, semelhante a uma ruela. Felizmente não havia luzes na rua. As lojas e apartamentos térreosprovidenciavam luz suficientepara enxergar­ mos nosso caminho até que chegamos a uma entrada sem nenhumaplaca Um estreito vão de escadas de madeira nos levou ao segundo andar do prédio. As escadas abrigavam aspessoas que não cabiam na reunião, a qual Já estava em andamento. Ali estavam cristãos chineses, comBíblias e cader­ nos à mão, ouvindo uma voz que vinha do altofalante. Subindo outro vão de escadas chegamos a um andar apinhado de pessoas de todas as classes. Haviaprofissionais e estudantes misturados com operários em seus maca­ cões, todos sentados em bancos simples de madeira. Fbmos conduzidospara os únicos lugares vazios quepodíamos ver. Eles tinham sidoprovavelmente reservadospara nós, visto que os líderes sabiam que viríamos. Nós nos encontramos apoucos metros dopregador, cuja men­ sagem era transmitidapor toda a casa. Eu tinha lido sobre igrejas caseiras na China com duzentos ou maispessoas e muitas vezes questionara como caberia este número de pessoas numa casaparticular. Aqui estava eu, bem num lugar assim. Contei mais de 150pessoas somente naquele andar e, mesmoassim, nãopodiaveraqueksqueestavamcomprimidosemsaletase cubículos. Nesta igrga caseta havia quatro reuniões regulares todasemana: uma para adoração, umapara oração, umapara compartilhar, e o estudo bíblico no meiodasemana, ao qual estávamos assistindo. 0 líder da igreja caseira que estavapregando quando chegamos, cüémde um sorriso de boas vindas, pareceu estar totalmente desligado de nossapresença Aspessoas também pareciam estar maispreocupadas com a mensagem do que com a presença de visitantes estrangeiros. Houve umapausa napregação, uma cançãofoi anunciada, e o povo começou a acompanhar a música que saíapelo sistema de altojalante. Depois o ensinamento bíblico continuou. O líder da igreja caseira, que eu diría ter cerca de 50 anos, transmitia a palavracom entusiasmo e autoridade. Suafacebrilhavaenquanto ele minis­ trava, mas só depois entendi o porquê. Nosso guia chinês explicou que ele era um homem de Deus muito corajoso, que passara muitos anos naprisão por causa de suafé. Ele era altamente respeitado por outros líderes de igrejas caseiras naárea. Ao indagarmos, descobrimosquehauiacercadeõOO outras igrejas caseiras nesta grande cidade. Por causa do risco— nãopara os visitantes estrangeiros, maspara seus hospedeiros—permanecemos ali somente uma hora, e então saímosfurtimmente para a escuridão da rua. Senti que tinha por apenas uns poucos minutos entrado naspáginas do Novo Testamento.

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0 Avivamento na China

De acordo com uma estimativa recente, mais de metade da popu­ lação da China (um bilhão de habitantes), tem menos de 20 anos de idade. Não deve nos surpreender, portanto, o fato de as igrejas caseiras terem um número predominante de pessoas na faixa dos vinte e trinta anos. Algims desses jovens são ex-Guardas Vermelhos. Outros são sim­ plesmente vítimas do vácuo político deixado pela Revolução Cultural. São pessoas desiludidas com as atividades políticas do Partido e por suas promessas não cumpridas. Outras estão amarguradas porque fo­ ram forçadas a sacrificar uma educação superior pela causa da Revolu­ ção. De repente, esses jovens desiludidos se viram confrontados por um espírito revolucionário de outro tipo. Eles encontraram cristãos comprometidos que têm sido purificados em vez de amargurados pelo sofrimento, que têm uma alegria e um otimismo santo e que testemu­ nham sem temor sobre um outro rei e um outro reino. Milhares têm achado este apelo irresistível e comunidades inteiras se voltam para Cristo, incluindo até oficiais do Partido. Desde que 80% da nação vive em áreas rurais, é ali que se encon­ tra a maioria dos crentes chineses. Assim eles têm a vantagem de esca-. par da pressão exercida nas cidades pelo Movimento de Tríphce Auto­ nomia para que os cristãos abandonem as igrejas caseiras e participem de uma igreja oficial. As igrejas caseiras têm uma forte orientação bíblica. Desde que se convertem os crentes novos têm uma fome muito grande pelas Es­ crituras. A deficiência de Bíblias, ao invés de diminuir, tem aguçado esta fome. Muitas vezes, num grupo, o único possuidor de uma Bíblia arranca páginas que distribuídas ao redor — demonstrando mais uma vez

0 espírito comunitário — são então laboriosamente copiadas à mão.

Relatos de uma única Bíblia entre centenas de crentes são comuns nas áreas rurais. Como a maioria dos orientais, os chineses têm uma me­ mória prodigiosa. Passagens enormes, até mesmo livros inteiros, são memorizados. Conta-se de um cristão que sabia todo o Novo Testa­ mento de cor Algumas das maiores igrejas caseiras são lideradas por pastores idosos que foram libertados depois de passarem vinte ou mais anos na prisão. Esses heróis da fé que passaram pelo fogo têm realizado uma grande obra de ensinar novos convertidos e pastorear o rebanho.

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As igrejas em geral não são centralizadas no pastor ou no ser­ mão. Os chineses têm redescoberto o sacerdócio de todos os crentes. Na maioria das vezes, o líder dá uma breve mensagem da Bíblia, e então as pessoas presentes compartilham o que acharam na passagem. Em alguns grupos, na semana anterior à reunião todos copiam a passagem relevante e já vêm para a reunião com um pensamento preparado. Numa região montanhosa de uma das províncias costeiras há uma vila com uma população de 10.000 pessoas. Um terço dos habitantes é formado de crentes. Eles começaram a se reunir abertamente em 1976, e agora há quinze locais de reunião com uma freqüência média de

200

pessoas em cada local. As reuniões são geralmente à noite, das 7 às 11 horas, consistindo de cânticos, testemunhos, súphcas e ensino bíblico de um dos dez ou mais pregadores que viajam de reunião em reunião. Suas mensagens duram uma hora ou mais. Os novos convertidos são ensinados a evangelizar e muitas vezes se vêem em problemas por causa disto. Mas isto, em vez de enfraquecer sua fé, os faz mais fortes e efetivos.

0 trabalho prmcipal é feito pelos novos

convertidos que estão ainda na faixa dos vinte anos. Quando eles alcançam a casa dos trinta são vistos como pessoas realmente experimentadas. Os líderes cristãos das igrejas caseiras têm desenvolvido tanto equipes de instrução como equipes de evangelismo. Nas sessões de trei­ namento dos obreiros os novos cristãos são ensinados a pregar. Quan­ do os hderes os julgam capazes, eles são comissionados e depois se juntam à equipe de evangelismo. Em muitas dessas vilas o único desejo nos corações dos crentes é pregar e construir igrejas. Seu trabalho de agricultura é feito simplesmente para garantir sustento, mas a maioria do tempo deles é dedicada ao trabalho do Senhor, À medida que esses camponeses buscam o reino de Deus em prim eiro lugar, eles vêem que “todas essas coisas” — as necessidades da vida — lhes são acrescentadas. 0 Senhor abençoa suas plantações abundantemente. Enquanto outras plantações sofrem com a seca, as deles prosperam; enquanto outras plantações são prejudicadas por fortes chu­ vas, nas deles o sol brilha! 0 evangelismo é feito à noite ou fora da época de plantio. Desde 1982 0 governo tem devolvido aos mdivíduos grande parte da terra que fora cultivada por comunas. A partir do momento em que a terra está

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0 Avivamento na China

convenientemente cultivada, eles estão livres para fazer outras coisas. Esposas e crianças ajudam na aradura da terra para possibilitar que seus homens saiam pregando. Na época da colheita eles ajudam xmi ao outro, e depois voltam para seu trabalho evangelístico. Uma característica notável do movimento de igrejas caseiras na China é a forma como Deus usa os idosos que agora estão livres depois de anos na prisão. Muitos estão aposentados e assim estão livres para viajar sem precisar ganhar seu sustento. Eles são a coluna dorsal da liderança das igrejas caseiras. Pastores de idade avançada experimen­ tam uma alegria sem limite à medida que ensinam e pregam novamente e vêem a correspondência dos jovens ao seu ministério. Um pastor de 99 anos retornou à sua vila no sul da China, e uma igreja de 700 mem­ bros surgiu lá em apenas três semanas!

PREPARADOS PARA50FRER Watchman Nee ministrou sobre este assunto antes que as autori­ dades comunistas o encerrassem naprisão por vinte anos. Deus o esta­ va preparando, à medida que ele preparava o rebanho para o que viria. Ele enfatizou fortemente que temos que ter uma mente preparada para sofrer. “Há muito sofrimento que podemos evitar se quisermos: mas se queremos ser úteis na obra do Senhor, é fundamental que façamos uma escolha deliberada do caminho de sofrimento por causa do Senhor A não ser que tenhamos uma disposição para sofrer por ele, a obra que realizamos será de qualidade bem superficial... A questão não é o quan­ to de sofrimento talvez sejamos chamados a enfrentar, mas nossa atitu­ de em relação a isto. Sofrimento pode não ser sua porção diária, mas você deve estar preparado para sofrer.” A igreja na China conclama: “Preparem suas mentes para sofrer!” Se você espera até ouvir o sibilo das balas ou o estrondo dos explosi­ vos, você tem esperado muito. Não espere o sofrimento ou a persegui­ ção surpreender você. Agora é o tempo de entrar em treinamento. Eis 0 testemunho de uma irmã que passou 24 anos na prisão: Ela estava orando quando as autoridades chegaram para prendêla. Ela não ficou surpresa pois o Senhor já preparara seu coração. De fato, no momento em que a prenderam, o Espírito Santo veio e a encheu

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Algreja do SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

com uma alegria incontrolável. Enquanto o carro no qual estava sendo transportada rodava aos solavancos pela estrada, ela transbordava de alegria e cantava por todo o caminho. As autoridades naturalmente a imaginaram mentalmente desequilibrada. Enquanto estava sendo registrada na prisão, ela teve bastante tem­ po para testemunhar a um dos oficiais. Tão poderoso e ungido foi seu testemunho que imediatamente e ali mesmo ele aceitou a Cristo. En­ quanto ele a registrava, ela lhe disse: “Hoje não é o dia em que vim para me registrar, e de fato eu nunca serei prisioneira aqui — Cristo estará constantemente comigo. Estou livre. Este é o dia em que você registrou sua residência no reino de Deus.” Algum tempo depois, todos os companheiros receberam um en­ velope contendo a duração de suas sentenças. Quando os outros compa­ nheiros perguntaram a ela de quanto tempo era sua sentença ela respon­ deu: “Eu não sei. Guardei o edito sem olhar”. “Por quê?” eles perguntaram. “Você não quer saber quantos anos de prisão terá?” “Não importa,” ela replicou, “Sejam dez ou cem anos, cada dia vai ser um dia com meu Senhor.” Numa prisão eles estavam desumanamente apertados — dez pri­ sioneiros para um pequenino cubículo. Não tinham permissão para con­ versar um com

0 outro ou cochilar durante o dia. Um guarda periodica­

mente examinava o cômodo através de uma abertura de vidro na porta. Muitos caíam doentes, outros perdiam suas mentes. Um prisioneiro lhe sussurrou: “Podemos ver que sua fé religiosa realmente lhe dá força.” Um dia o guarda irrompeu na cela gritando: “Pare de sorrir.” “Eu não estou sorrindo” , ela replicou. “Está sim” , gritou o guarda. Quando ele saiu, os outros prisioneiros disseram: “Seus olhos estão sempre sorrindo e sua face brilha com alegria, mesmo quando você não está sorrindo.” A maioria de seus companheiros de prisão não era cristã, isto é, não era até que ela levou muitos deles ao Senhor. A questão do sofrimento por Cristo é o grande teste para ver onde

0 coração de um crente realmente está. Se as coisas celestiais

realmente têm cativado o seu coração, se as coisas terrestres têm desva­

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OAvnxmienlo na China

necido à luz das realidades eternas, então sua atitude em relação ao sofrimento muda radicalmente. Além de produzir um efeito purificador e maturador na igreja, parece que o sofrimento, de uma maneira inexplicãvel, libera o poder de Deus às vezes de forma eletrizante. 0 princípio da cruz em ação numa vida rendida pode romper oposição, amolecer o coração endure­ cido e abrir uma mente totalmente fechada para a luz da verdade. Isto tem sido demonstrado continuamente na China. Uma carta escrita em 1982, vinda da província de Henan, fala de dez jovens que, depois de orarem intensamente, saíram para pregar. Enquanto proclamavam o evangelho com lágrimas, transeuntes paravam para ouvir, adivinhadores (dos quais há muitos na China) quebranta­ vam-se e choravam, e trabalhadores vindos das fábricas a caminho de casa esqueciam sua fome e paravam para ouvir,pois o poder de Deus estava presente. A grande multidão não os deixava parar, embora eles estivessem cansados. Então vieram os oficiais do Departamento de Se­ gurança Pública, que amarraram os jovens pregadores, arrastaram-nos dali e bateram neles até ficaram inconscientes. No grupo havia uma garota de apenas 14 anos de idade. Depois de apanhar desta forma, ela recobrou-se e continuou a testemunhar e todo tipo de pessoa se quebrantou, se arrependeu e creu em Jesus. Algo parecido aconteceu com quatro rapazes do grupo. Eles foram forçados a se ajoelharem por três dias sem comida ou água. Mesmo quando esta­ vam sendo batidos até o sangue fluir, eles continuaram orando, cantan­ do e louvando ao Senhor, até que mesmo seus torturadores se converte­ ram e creram no evangelho. Eles poderiam ter olhado bem nos olhos dos oficiais e ousadamente declarado: “Em nós opera a morte, mas em vós opera a vida.” Eis outro testemunho relatado por David Wang: “Marta tinha 18 anos, era jovem tanto em idade como em experi­ ência cristã, quando eu a encontrei pela primeira vez na China Central. Convertera-se através de nosso programa de rádio. Ela se correspondia conosco em Hong Kong e nós a alimentávamos espiritualmente. Dois anos mais tarde tive a oportunidade de encontrar estajovem chinesa novamente. Estava trabalhando numa fábrica, mas insistiu que a deixás­ semos fazer alguma coisa para o Senhor. Não queria dinheiro ou uma

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

bicicleta. 0 que ela queria é ser regularmente suprida com Bíblias para que pudesse distribuí-las para as províncias mais remotas da China. “Marta nunca esteve em nossa folha de pagamento. Mas de tem­ pos em tempos ajudávamos a cobrir suas despesas de viagens. Ela esta­ va viajando e ministrando, olhando para Deus para suprir suas necessi­ dades. Lembro-me de uma vez em que a encontrei na cidade de Xian, em 1981. Nós combináramos de nos encontrarmos às 9 da noite, mas ela só apareceu à 1 da madrugada. Estivera entregando Bíblias numa vila próxima quando os líderes da comuna local descobriram o que ela estava fazendo. Bateram nela, roubaram-na e atiraram-na numa estrada deserta. Foi somente por um milagre que conseguiu pegar uma carona para nosso lugar de encontro. “Mesmo na escuridão do parque notei que algo estava errado com Marta. Sua cabeça estava inchada como uma bola de basquete. “‘Qual é 0 problema?’, eu perguntei. ‘Eles fizeram isto com você?’ ‘“Oh não’, ela disse. ‘Tenho tido este problema por quase dois meses agora.’ Então ela arregaçou as pernas de sua calça para me m os­ trar suas pernas cobertas com feridas e picadas de mosquitos. ‘Eu acho que é algum tipo de veneno no sangue.’ Enquanto ela viajava para as partes mais remotas do país, muitas vezes dorm ira em cabanas deser­ tas e templos abandonados. Ela estava sendo literalmente ‘comida’ por bichos e mosquitos. ‘“Amanhã temos que ir a um médico,’ eu insisti com ela. ‘“Não, não,’ ela disse. ‘Tenho de pegar um trem amanhã cedo para a Mongólia Interior Onde estão as Bíblias?’ Sua única preocupação era levar as Bíblias para a Mongólia Interior. “Dois anos mais tarde, em agosto de 1983, de repente perdemos

0 contato com Marta. Por muito tempo não tivemos notícias dela nem sobre ela. Era época da ‘Campanha Anti-Crime’ na China. Muitos foram presos e executados por toda a China. Nós ficamos bem preocupados com Marta. “Mais tarde recebemos uma carta dela através de seus amigos. De fato não era uma carta, mas apenas um pedaço de papel. Ela fora presa e acusada de distribuir ‘materiais supersticiosos’ na República do Povo da China. 0 papelzinho dizia: ‘Eu não sei qual será minha pena, mas por favor’ — citando as palavras de Paulo — ‘ore por mim para que me seja dada a

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OAvivamento na China

palavra, no abrir de minha boca para com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias.’ Algumas semanas mais tarde, recebemos notícias de que Marta com 24 anos de ida­ de partira para estar ‘com Cristo’. Ela fora executada.”

O PA Ç Â O D IN Â M IC A Os chineses têm um ditado: “Muita oração — muito poder! Pouca oração pouco poder! Nenhuma oração — nenhmn poder!” Sem dúvida a pressão da perseguição tem aprofundado e intensificado a vida de oração da igreja chinesa. Foi um processo lento que começou depois do terrível período de 1966-69 da Revolução Cultural. Uns poucos servos de Deus, movidos pela desolação espiritual que enfrentavam, começa­ ram a orar por avivamento. Eles insistiram com outros para lançar fora seus temores e fazer o mesmo. Esses pequenos grupos secretos de ora­ ção resultaram nas igrejas caseiras cheias do Espírito. Destituídos de líderes “ordenados”, líderes “leigos” se levantaram para tomar seus lugares. 0 Espírito de Deus estava movendo por toda a China, e igrejas caseiras surgiram em cada cidade e em incontáveis vilarejos. A nova igreja chinesa, mais uma vez, surgiu em função de oração. Numa cidade costeira, em 1967, o reinicio de reuniões pequenas trouxe um tempo de intensa oposição e perseguição. Por um período de três meses as igrejas foram convocadas por seus pastores para se engajar em oração e jejum. Crentes estavam sendo humilhados, torturados e ameaçados. Muitos morreram na prisão, enquanto outros foram mortos ou mutilados por surras bárbaras. Então, em 1978, uma obra poderosa do Espírito Santo trouxe milhares para Cristo. Conta-se que numa cida­ de, 50.000 cristãos se reúnem em 600 lares, constituindo um cristão para cada oito pessoas, ou 12,5 por cento da população. Uma senhora cristã retornou do estrangeiro para sua vila natal, em 1974, temerosa do que ela poderia encontrar. Ela encontrou oito crentes jubilosos com uma fé forte e pura. Os que tinham sido enviados para a prisão tinham testemunhado para outros prisioneiros. Oração e jejum eram atividades normais da vida, e Deus estava demonstrando seu poder para curar, confundindo o cepticismo dos incrédulos. Em algumas comunidades os cristãos se reúnem todos os dias para orar por seu país. Os que têm tido o privilégio de se reunir com eles.

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falam do espírito de urgência que caracteriza suas orações. Alguém que tem investigado o crescimento das igrejas caseiras descreve a “vida disci­ plinada de oração” dos crentes como sua característica principal. Não há nada de egocentrismo em sua forma de orar. Sua vida de oração engloba

0 mundo. Numa das cidades mais importantes da China, um grupo se re­ úne todo sábado das 9 horas da manhã até às 3 da tarde para um tempo de oração e jejum . Nesta ocasião, seu principal pedido é que as escolas bíblicas e seminários do Ocidente permaneçam fiéis à Palavra de Deus. David Wang, criado em Xangai, numa visita recente à China com um co-obreiro, visitou uma senhora que acabara de ser hbertada depois de 23 anos na prisão. Eles levaram para ela comida, remédios, roupas, dinheiro, e é claro, uma Bíblia. “Aquela mulher era uma santa” , relembra David. Antes de partirem, ela pediu para orar com as visitas. Muito calmamente ela começou a orar. Eles sentiram como se os “íons e as moléculas da atmosfera fossem de repente carregados”. Parecia que podiam “sentir as vibrações da presença de Deus”. “Embora ela orasse tão mansamente, toda ela estava transpirando. Fomos imergidos numa atmosfera de graça, comunhão e intercessão em batalha espiritual. Ela estava lembrando Deus de suas promessas e se comprometendo a obe­ decer a sua Palavra.” Atemorizados, eles deixaram o quarto de seu pe­ queno barracão como se tivessem estado na entrada do céu. Sem dúvida, aqui no Ocidente estamos vendo Deus mover pelo seu Espírito. Muitos de nós temos nos acostumado a assistir a celebra­ ções e convenções que podem ser descritas como “carismáticas”. Geral­ mente, a atmosfera tem sido boa, a adoração viva, e os dons do Espírito evidentes. A pregação da palavra tem sido abençoada e até ungda. Conver­ sões, curas e libertações têm sido testemunhadas. Mas toda a operação tem sido grandemente centralizada no homem, nas necessidades e nos resultados. Temos olhado para o carisma do pregador para “atirar as redes” e produzir resultados, com a ajuda dos conselheiros. A medida de bênção pode variar, mas a maneira da operação do Espírito tem se tornado previsível. Nós quase sabemos de antemão o que vai acontecer e agora temos uma geração de crentes sem expectativa de algo mais. Será que o elemento vital que está faltando não é esta Presença aterradora, cativante, enternecedora e esmagadora, este elemento indefinível que transforma uma reunião centi-alizada no homem numa

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OAvivamento na China

reunião centralizada em Deus? Esta presença transforma o mundano em sublime, o esperado em espontâneo e imprevisível. Pode liberar o povo de Deus para entrar em rapsódias de louvor, nas quais eles sentem como se juntassem aos corais angélicos. Ou pode fazê-los prostrar suas faces num süêncio atemorizador na presença da sua Majestade. Preocu­ pação com resultados ficará então longe de seus pensamentos. Todos estarão totalmente envolvidos com Deus. Será suficiente saber que aquele que é “poderoso em majestade, terrível em louvores, operando mila­ gres” tem tomado o controle. Por que tão raramente experimentamos isto? Não é por que co­ nhecemos tão pouco sobre o tipo de oração descrito neste capítulo? Os líderes simplesmente não têm tempo. Eles estão muito ocupados com suas agendas e seus programas. E o povo, que segue o exemplo dos líderes, está da mesma form a envolvido numa roda viva de atividades. Ninguém tem tempo para este tipo de oração. Se queremos ainda conhecer a presença do Deus de majestade e poder, devemos ajustar nosso modo de pensar e descobrir quais são realmente nossas prioridades. 0 Espírito Santo quer nos conduzir para a oração dinâmica, mas antes que isto possa acontecer devemos permi­ tir que ele destrua nossa auto-satisfação com aquilo que estamos atual­ mente procurando. A base para tal redescoberta de Deus é um descon­ tentamento santo e um coração faminto.

FOMElNTtNSA A um jovem refugiado da China que se convertera dois anos antes foi perguntado se possuía Bíblia. “Não”, respondeu ele. “Um Novo Testamento?” “Não.” “Você não tinha nenhuma literatura cristã quando era um novo convertido?” “Sim. Uma senhora idosa que era cristã arrancou uma página do seu livro de devoções diárias e deu para m im .” Eis a primeira razão para a fome intensa dos crentes chineses pela Palavra de Deus— a grande falta de Bíblias e literatura cristã. É estranho

0 fato de não valorizarmos muito as coisas preciosas que temos, até que 167

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nos vemos privados delas. Aqui no Ocidente temos uma superabundância de Bíblias, muitos de nós têm duas ou três, além de todo tipo imaginável de literatura cristã. Até que ponto realmente valorizamos tudo isto? Outro fator por trás desta fome é o mover poderoso do Espírito Santo. Fome por Deus é uma característica de avivamento, e onde hou­ ver fome por Deus haverá fome pela sua Palavra. Em muitos lugares da China as Bíblias são escassas e preciosas demais para serem levadas para as reuniões cristãs. Uma batida do governo no local de reuniões é sempre lun perigo, desta form a tudo que se leva para a reunião é cader­ nos, nos quais as Escrituras são copiadas. Um pregador foi convidado para passar o dia numa pequena cidade realizando reuniões. De manhãzinha, o prédio estava abarrotado com 600 pessoas, com outros amontoados do lado de fora. Eles estavam dispostos a sofrer o clima extremamente frio para ouvir a mensagem do Senhor Antes que 0 pregador chegasse, eles cantaram hinos a fmi de preparar seus cora­ ções para receber a Palavra de Deus. 0 pregador pregou três vezes e os cristãos sentaram-se e ouviram desde manhã cedo até tarde da noite. Ainda assim não queriam se dispersar. Eles puxaram a manga do pregador e disseram: “Nunca ouvimos imia pregação tão boa.” Eles estavam extraordi­ nariamente famintos por ouvir a exposição da verdade da Bíbha. Um pregador itinerante contou como, quando perguntado sobre qual seria seu assunto, ele respondeu, “Sobre Jesus Cristo no livro de Mateus.” “Oh” , eles replicaram, “ele vai pregar o livro de Mateus. 0 livro todo é sobre Jesus Cristo!” Eles o fizeram manter sua palavra. Trinta e sete horas depois ele terminou uma exposição versículo por versículo da vida de Jesus no livro de Mateus. Um camponês foi convertido em 1962 através da leitura de uma Bíblia que uma senhora cristã idosa lhe emprestara. Com o passar do tempo ela deu a Bíblia a ele, temendo que os Guardas Vermelhos da Revolução Cultural pudessem achá-la e queimá-la. À medida que os cren­ tes cresciam em número, o camponês viu que ensinar era tão importante quanto evangelizar. Com somente imias poucas Bíblias na vüa toda, como as pessoas seriam ensinadas? Ele foi dirigido a compüar um Manual Bíblico por tópicos que lhe custou sete anos de trabalho. Levou tanto tempo porque cada vez que sua esposa não convertida achava o livro, ela

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OADimmento na China

0 despedaçava ou queimava. Além desta dificuldade, o único tempo que tinha para escrever era entre o fim do seu dia de trabalho e o pôr do sol, pois eles não tinham eletricidade na cidadezinha. Depois de terminado, o livro foi mimeografado pelos crentes e

10.000 cópias foram distribu­

ídas em dez municípios daquela província. Um pregador itinerante de Xangai visitou uma vila na província de Henan. Ele era desconhecido lá. Alguns da vila o levaram para suas casas, deixando-o num quarto com Escrituras coladas em todas as paredes. Eles queriam compartilhar o evangelho com ele. Quando descobriram que ele era um cristáo. Imediatamente lhe pediram para pregar. Levaramno para um cômodo onde outro pregador estava concluindo sua mensa­ gem para 400 ou mais pessoas. A congregação estava transbordando pelo quintal. Ele tomou a palavra e pregou das 9 horas da manhã até 11 horas da noite. Então os crentes lhe pediram para passar a noite na casa de uma senhora idosa e pregar novamente no próximo dia. Ele foi despertado no meio da noite e deram a ele um desjejum completo às 4 da manhã. Então o levaram apressadamente para outra reunião, que deveria começar às

6 horas. Para satisfazer sua grande

fome pela Palavra de Deus sem prejudicar a produção, os crentes mui­ tas vezes se reúnem horas antes do trabalho, e depois novamente horas após 0 trabalho. David Wang conta de uma visita que ele fez a uma região remota no noroeste da China, onde pregou por cerca de três horas para 70 jovens. Seu tema era “A Oração do Pai-Nosso” . Os ouvintes estavam sentados no chão ou encostados na parede do pequeno barracão de adobe. Eles não estavam apenas ouvindo, estavam anotando cada pala­ vra; e estavam chorando. Quando David terminou, o líder da igreja caseira deu a ele um pouco de chá, dizendo: “Depois de tomar o chá, você pode pregar para nós novamente.” Isto foi depois de três horas de pregação ininterrupta! Ele tomou o chá e depois pregou por outras quatro ou cinco horas. Durante todo o tempo os jovens estavam tomando notas e exclamando, “Amém! Amém!” Finalmente, totalmente exausto, ele se sentou. “Agora vamos cantar”, disse o líder. David ficou chocado quando ouviu as palavras do cântico: “Não ouça sermões! Não ouça sermões! Não ouviremos sermões...”

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Que tipo de resposta era aquela para dois sermões com duração de 7 ou 8 horas? Então veio a verdadeira resposta quando cantaram de coração e alma, apertando seus punhos: “Viveremos os sermões! Vive­ remos os sermões!” Ele partiu dali sabendo que eles realmente fariam isto. A oração fervorosa e o apetite insaciável pela Palavra de Deus que temos visto, simplesmente nos mostram que os crentes chineses estão famintos por Deus famintos de uma form a que raramente vemos na igreja em geral. Sua disposição para abraçar a cruz e sofrer, sua deter­ minação para testemunhar, sua avidez e fervor em oração, seu amor para a comunhão dos santos, seu anseio por mais e mais da Palavra de Deus, sua correspondência de todo o coração a esta palavra tudo fala de um coração responsivo a Deus. Aqui no Ocidente temos a mesma Bíblia, o mesmo acesso a Deus em oração, a mesma— ou mais— oportunidade para comunhão, o mesmo Espírito Santo. Por que então não vemos esta mesma fome? Não é porque temos tanta coisa para tirar nosso apetite espiritual? Quer estejamos en­ volvidos no meio evangélico, ou de renovação, ou pentecostal, ou de res­ tauração, a situação em geral é a mesma. A igreja tem sido invadida por uma influência que “não é de Deus, mas do mimdo” ( I J o 2:16) e a maioria de nós está inconsciente de que temos sido afetados por isto. Os cristãos hoje, sejam evangélicos, carismáticos ou de “restau­ ração” precisam ser crucificados para o mundo, e o mundo crucificado para eles. Eles estão provando o mundo, e assim têm perdido sua fome para Deus. A igreja chinesa, em contraste, ensina a cruz, abraça a cruz, morre para o mundo, vive no céu — com os pés firmes na terra— e tem uma fome insaciável de Deus.

Q U A N D O 0 SO BRENATU RALSETO RNANATU RAL Um obreiro cristão, que está constantemente saindo e entrando da China, falou comigo em Hong Kong: “Os cristãos da China não consi­ deram curas e milagres coisas incomuns. Para eles o sobrenatural tem se tornado natural.” Apesar da atitude oficial de encarar curas e müagres como meras superstições, o poder de cura de Deus tem constantemente irrom pido nas fileiras dos membros do Partido. Um correspondente especial de

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Hong Kong recorda-se de encontrar “vários membros do Partido” en­ quanto viajava pela China, “alguns até ocupando posições bem altas, que tinham se tornado cristãos” . Havia um oficial em Xangai cuja filha fora curada de leucemia em resposta a oração. Isto levou o pai ao conheci­ mento de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Ele está agora testemu­ nhando a respeito de Jesus, embora tenha perdido sua alta posição e fosse designado para o cargo de zelador. Numa vila na província de Shaanxi, os cristãos estavam no meio de um tempo de oração quando o chefe da brigada de produção e outros irromperam contra eles. “Vocês estão proibidos de crer em Jesus e proibidos de orar”, ele gritou. Muitos que estavam ajoelhados ergueram os olhos alarmados, mas poucos minutos depois foi a vez dos intrusos barulhentos ficarem alarmados ao olharem para seu chefe. Seu pescoço e boca começaram a inchar terrivelmente e ele estava ofegante. “Você deve se arrepender e crer em Cristo” , disseram os cristãos. 0 homem consentiu, começou a orar, e imediatamente o inchaço diminuiu e ele começou a louvar a Deus em voz alta. Desta forma, o chefe de produção transformou-se de um perseguidor de cristãos em dedicado discípulo de Cristo. Agora ele testemunha aonde quer que vai e já tem levado muitas pessoas a Cristo. A igreja não só foi protegida, mas também pôde expandir seu ministério. Palavras proféticas de aviso têm sido dadas a cristãos em tempos de perigo. Trezentos pastores de diferentes cidades estavam reunidos para um encontro de três dias. As autoridades descobriram e enviaram a polícia secreta para investigar. Enquanto os pastores estavam orando, a palavra do Senhor veio a um deles: “A situação aqui é muito perigosa. A polícia está vindo para prender vocês.” Um por um os pastores se dispersaram por caminhos diferentes. Assim que o último se fora, a polícia chegou e cercou o prédio. Eles esperaram a saída dos pastores para que pudessem prendê-los. Finalmente eles se tornaram impacientes e estavam prontos para arre­ bentar a porta. Para surpresa deles, ela estava entreaberta e a sala vazia. 0 líder exclamou mais admirado do que irado: “Esses cristãos são diferentes. Eles sabem exatamente o que estamos fazendo”. É notável a form a com o o ministério dos anjos tem sido usado para servir ao corpo de Cristo na China. Anjos têm sido usados não

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somente para libertação e proteção, mas até mesmo em milagres de cm^a. Talvez porque a situação na China seja de muitas maneiras seme­ lhante aos tempos do Novo Testamento, as visitações angélicas não são algo incomum lá. Durante a Revolução Cultural um pastor no extremo norte da China foi sentenciado à execução pública pelo pelotão de fogo, porque se recusara a parar de pregar o evangelho. Enquanto o pelotão se prepara­ va, perguntaram a ele se tinha um último pedido. Ele respondeu que gostaria de cantar uma música. Por ser uma execução pública, a permis­ são lhe foi concedida. Ele cantou com uma voz poderosa, e à medida que cantava o céu começou a iluminar-se com o esplendor da glória de Deus. Todas as pessoas que estavam reunidas ao redor, ouviram o que soou como milhares de vozes cantando junto com o pastor. Abaladas com o incidente, as autoridades decidiram adiar a execu­ ção, enquanto um telegrama urgente foi enviado para Pequim pedindo conselho. Por causa de seu teor, o telegrama rapidamente encontrou seu caminho através da hierarquia burocrática até chegar ao primelro-ministro Chou En-lai. Informado do assimto em detalhes, ele comunicou de volta: “Realmente este homem não é um homem comum. Libertem-no e não

0 aborreçam mais.” 0 pastor foi rapidamente liberado para fazer o

que quisesse e ele imediatamente começou a pregar. Ao que se sabe ele ainda está fazendo isto hoje. Eis uma parte da música que ele cantou: “Senhor, eu te am o! M eu coração anseia p o r ti. Por tua causa abandono tudo o mais, M esm o riqueza e ja m a .” Um jovem cristão foi enviado para trabalhar numa comuna na ilha de Hainan, que ficava a centenas de milhas de sua cidade natal. Por causa do seu isolamento, sua fé esfriou. Uma noite quando estava dor­ mindo no dormitório com seus companheiros de trabalho, um tufão veio sobre a ilha. Tais tempestades, que produzem ventos de até 150 km por hora, são comuns lá. No meio da tempestade, o rapaz ficou assusta­ do com alguém chamando seu nome do lado de fora do dormitório. Ele sentou-se na cama, mas estava relutante em ir por causa do perigo. Finalmente, a voz tornou-se tão insistente que ele foi. Naquele momento

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o prédio desmoronou por trás dele. Vários m orreram e todos ficaram feridos. Como resultado desta experiência, o jovem adquiriu uma ousa­ dia para testemunhar que nunca tivera antes. Mais de 200 pessoas vie­ ram a Cristo nos 18 meses seguintes. Um obreiro cristáo falou de tun garoto que foi com a avó para o campo. Ele morreu ao ser atropelado por uma carroça superlotada. A avó estava aterrorizada e enterrou o garoto ela mesma. Com medo de contar à sua filha o que aconteceu, ela disse que ele se perdera pelas ruas. A família aflita estava jantando quando o pequeno garoto entrou na casa. Ele explicou que um homem vestido de branco o desenterrara do chão, tirara a sujeira da sua roupa e face, e disse que voltasse para casa. Da província de Zhejiang, famosa pelo grande número de cris­ tãos, vem esta história de uma aldeã que tinha um tumor no cérebro. Por nove anos ela tentara encontrar cura, gastando todo seu dinheiro em vão. Então perdeu toda sua esperança e resignou-se a morrer. Um dia, estando deitada em sua cama sozinha na casa, ela viu três pessoas de roupas brancas entrando no quarto. Uma delas lhe per­ guntou: “Você quer ser curada?” Um pouco surpresa ela replicou: “Você é um médico? Sim, eu quero ser curada.”

0 homem de branco aproximou-se e afagou sua cabeça no lugar onde estava o tum or Ela sentiu um fluido saindo de sua cabeça e uma protuberância sendo removida.

0 homem então pareceu fechar a abertu­

ra com uns poucos e rápidos movimentos dos dedos. Ela sentiu alívio imediato. Ela então perguntou: “Qual é o seu nome, doutor?” ‘Jesus”, 0 homem de branco respondeu. “Você pode me achar na cidadezinha mais próxima.” Então ele desapareceu. Quando a família retornou à noite, ela contou-lhes sobre o médi­ co que dera a ela tratamento gratuito. Eles não prestaram atenção a ela, pensando que estivesse delirando. Mas ela íicou mais forte a cada dia; seu tumor no cérebro se fora. Então ela foi à cidadezinha vizinha para encontrar o médico que a curara, a fim de agradecer-lhe. “Há por aqui um médico chamado Jesus?” A mulher a quem ela se dirigiu era uma cristá, que pensou por um segundo, e então decidiu levar a Inquiridora para sua casa onde os cristãos se reuniam para orar. Ela contou a história. Os cristãos não se surpreenderam ao ouvir sobre

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

sua cura, pois isto era comum na China rural. Mas ela ficou atemorizada quando eles lhe contaram quem era Jesus. Eles pregaram arrependi­ mento e salvação e ela foi para casa com Jesus em seu coração. Pouco tempo depois toda sua família veio a Cristo. Seu testemunho se espa­ lhou rapidamente pela vila, e muitos creram em Jesus. Por várias gerações a família do Dr. Wang vivera numa casa de dois andares. Apesar de suas apreensões na época da Revolução Comu­ nista, ele trabalhou duro para servir ao povo. Quando a Revolução Cul­ tural irrompeu, o velho D r Wang, formado em medicina no Ocidente e conhecido como cristão, foi um dos primeiros alvos da perseguição. Pouco se sabe o que fizeram com ele, pois ele nunca falou sobre seus sofrimentos; mas o Dr. Wang não podia mais andar. Ficou confinado à sua cama num quarto no andar superior, aos cuidados da família. Uma noite, enquanto a nora do Dr. Wang estava deitada acordada, incapaz de dormir, ela ouviu o rangido do grande portão de madeira se abrindo no pátio. Levantando-se, correu para a estreita varanda a tempo de ver uma figura vestida de branco entrando na casa. Ela desceu as escadas para investigar, mas ninguém estava lá, exceto membros da fa­ mília profundamente adormecidos. Enquanto isso, no pequeno quarto no andar superior, o D r Wang ressonava em seu sono. Uma luz fulgente brilhou sobre ele; seus olhos se abriram para uma visão do Senhor Jesus em pé ao lado da cama. “Filho”, ele ouviu Jesus dizer, “levanta-te e anda.” “Eu não posso andar”, ele replicou com surpresa. Então Jesus estendeu as mãos para ele e o levantou. “Você crê em m im ?”, Jesus perguntou. “Sim, Senhor, eu creio”, ele respondeu. “Se crês em mim” , Jesus disse, “levanta-te e anda.” Sem hesitar o velho homem obedeceu. Levantou-se de sua cama e começou a andar. Depois começou a rir alto com alegria, e parecia que

0 Senhor ria com ele. Eram duas e meia da madrugada. A risada des­ pertou seu sobrinho que dormia no mesmo quarto. Ele pensou que seu tio enlouquecera e correu para apoiá-lo para que não caísse. Em outro quarto, o filho mais velho do Dr. Wang foi despertado pela agitação. Pulou da cama e íicou chocado ao ver o pai em pé perto da cama, rindo. Ele também pensou que o velho homem enlouquecera. Estava para

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OAvivamento na China

agarrá-lo quando seu pal disse com firmeza: ‘T ire suas mãos de mim! Eu náo estou doido. 0 Senhor Jesus veio neste quarto! Ele me curou!” Com estas palavras ele desceu a íngreme escada para o primeiro andar, virou-se e sorriu para sua fartiflia aterrorizada. Então ele começou a subir novamen­ te os degraus com passos vigorosos. Quando chegou lá em cima, a alegria da família não teve limites. A excitação deles despertou todos na casa. Notícias tão boas não poderiam esperar até o amanhecer. A famí­ lia toda marchou para a casa do segundo filho numa outra rua. “Olhe! Vovô está andando!”, gritou o filho mais novo, enquanto um por um dos membros da família se juntavam ao excitado grupo. Rindo e regozijan­ do-se, eles deram graças ao Senhor juntos. 0 Dr. Wang queria prosseguir para o local de reunião dos cren­ tes, mas seus filhos o convenceram a esperar pelo amanhecer. De m a­ nhãzinha a família foi ao atônito pastor e depois a outros parentes. Eles encontraram a sobrinha do Dr. Wang, que estava a caminho do serviço. Ela arregalou os olhos e ficou de boca aberta ao vê-lo caminhando. Ao ouvir 0 que aconteceu, ela começou a louvar ao Senhor dizendo: “Bendi­ to seja Deus! Ele é tão maravilhoso!” No domingo seguinte, a casa onde os crentes se reuniam estava lotada. Pessoas ficaram no jardim olhando através das janelas. Outros encheram os corredores. Todos os olhos estavam sobre o Dr. Wang que ia de quarto em quarto cumprimentando os cristãos. 0 Dr. Wang agora viaja por todo lado com sua bicicleta, falando a todos que o ouvem sobre o poder de Jesus. Pessoas não somente o estão ouvindo, mas estão invocando o nome do Senhor e sendo salvas. Muitos desejarão saber se estas igrejas caseiras independentes da China são “carismáticas” . Isto depende de como você entende o ter­ mo. Se você está perguntando: “Esses cristãos são abertos para o enchi­ mento e os dons do Espírito Santo? Eles esperam Deus fazer hoje o que ele fez nos tempos da Bíblia? Eles encaram essas coisas como normais quando elas ocorrem?” , a resposta com certeza seria “sim” para todas essas perguntas. No que se refere à cura, há certamente mais fé entre as igrejas caseiras da China, do que há na maioria dos crentes do Ocidente que se autodenominam “pentecostais” ou “carismáticos”. Se você, porém, está perguntando: “Há ensino claro sobre o ba­ tismo no Espírito Santo e os dons espirituais? Há verdadeira liberdade

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

no louvor e adoração? Eles praticam o dom de línguas, de interpretação de línguas e de profecia em suas reuniões?”, a resposta em grande parte seria “não”. É claro que estou generalizando, e haverá muitas exceções para essas respostas. Os cristãos chineses quase universalmente aceitam o fato que Deus cura hoje. Eles crêem na validade dos dons e das manifestações do Espí­ rito e estão abertos para eles; mas há provavelmente pouca ênfase sobre “procurar com zelo os dons espirituais” (I Co 14:1), como Paulo nos exorta a fazer, e pouco ensino bíblico sobre o seu exercício certo na igreja. 0 que Deus quer dizer-nos através deste aspecto do seu trabalho na China? Numa nação que é em grande parte Uvre da influência do Ocidente, e onde não há nenhum “lobby” forte a favor ou contra manifestações sobre­ naturais, Deus está todavia movendo espontaneamente desta maneira. Outra lição é a abertma dos crentes chineses e a simpUcidade de sua fé. É verdade que eles têm tido pouco ensinamento. Pela misericór­ dia de Deus, não há ninguém ao redor deles alertando-os de que “essas coisas” são “só para a época do Cristianismo primitivo” e que “Deus não opera mais assim hoje”, e que, portanto, qualquer uma destas manifesta­ ções é “falsa”. Nós precisamos sair de nossa posição de negativismo ou neutra­ lidade, se a temos adotado. Precisamos começar a clamar ao Senhor, como a igreja primitiva fez, e como a igreja na China está fazendo agora, pedindo que ele estenda sua mão para curar e que sinais e maravilhas possam seguir-se.

N O TÍC IA S D A lG R E jA N A C H lN A E M i9 9 4 o QUE 05 CRISTÃOS CHINESES ENSINARAMÁ UMA DELEGAÇÃO DO CONGRESSO NORTE-AMERICANO A seguir reproduzimos um artigo da revista Christianity Jbday, de maio de 1994,^ que traz notícias mais recentes do avivamento na China. Nos últimos meses de 1993, as autoridades chinesas emBeijing intensiJicaram seus tradicionais e^orços contra apropagação “não-autorizada”do Cristianismo na China comunista, Novas leisforampromulgadas no sentido de refrear a atividade “subversiva”de missionários estrangeiros e de igrgas casetas “secretas”dopaís. Emjaneirode 1994, KarenFeaver, umaassistente do congressistaFrank Wo^, do Estado de Virgínia (EUA), participou de uma 176

0 Avivamento na China

delegação americana a Beijing. Embora a viagem tivesse caráter político, Feaver viu-se atraídapeb aspecto espiritual. Aqui elafaz considerações sobre a coragem e ardor de uma igreja sobperseguição. três senhoras chinesas estavam esperando calmamente, com suas faces serenas escondendo a magnitude de seus testemunhos, quandoentramos na sala. Elas tinham percorrido um longo caminho desde seus lares, arriscando-se a serpresas ou coisapior, somentepara se encontrar com a delegação do Congresso dos Estados Unidos. Mas, apesar de tudo, vieram 0 que elas disseram deveriaser um estimulante tônicopara os cristãos ameri­ canos, que perderam o contato com opoder e a visão da igrejaperseguida. Depois de nos certificarmos de que as cortinas estavamfechadas para evitar os olhares espreitadores do serviço de segurança chinês, nossa tradu­ tora convidou as três senhoras a apresentar suas histórias. Durante três horas, nossa delegação de ameríainosprivilegiados, chefadapeb congres­ sista Chris Smith, de Nova Jersey, e que incluía membros da Solidariedade Cristã Internacional, ouviu como um novo capítulo deAtos está sendo escrito por toda aChina. Embora aspiores perseguições da igreja tenham acontecido durante a Revolução Cultural dos anos 60 e 70, a igreja subterrânea ainda enfrenta implacávelperseguição em nível locaL 0 govemo chinês agora está dizendo que há real liberdade religiosa na China eque ninguém épreso por causa da fé. Porém, nasprovíncias, os crentes são multados, aprisionados e tortura­ dos; as leis locais ainda proíbem reuniões da igreja não-ojicial, proíbem ensinar os menores de 18 anos a respeito de Cristo, viajar para divulgar o evangelho, ouvirprogramas radiofônicos de outrospaíses, receber materiais religiosos serh a aprovação estatal, bem comojejuar e orarpara cura. A mais idosa das três senhorasfalou de uma experiência recente, tendo saído haviapouco tempo de suasegwidaprisáo. Durante seus 110 dias em cativeiro, elafoipendurada de cabeçapara baixo e açoitada comfos elétri­ cos. Outras mulherespresas com elaforam ai^ítadas com arame da cintura para baixo. Seu crime: reunião com um evangelista de Hong Kong. Como os mártires da igreja apostólica, ela disse que a presença de Deus era tão palpávelduranteatorturaque,narealidade, elase sentia alegre. “Por causa dessasqfllções,amamosaindamaisasalmasdaClma”,disseela “eoramos poraquelesque estavam nos torturando.” Apesar de sua provação, eb. sorria várias vezes enquantofalava. Eujá oLwi a respeito da extraordináriafalta de ressentimento eiúre os que sofrem na China. Seu testemunho conflnvou esta brandura de espírito. ‘As leis locais são contra a Palavra de Deus", explicou uma das senhoras maisnovas, “portanto, nósasignoramosetemosvicyadoemgruposde 10a 177

A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

20pessoasparaproclamaroemngeIhodescleoconveçodosanos80.Aúmca forma de a igreja sobreviver épor meio da evangelização. ” Os congressistas normalmentenãotomamnotapcvasimesmos, masChrisSmithempunhou sua canetapara registrarpessoalmente o grito de batalha dos cristãos chine­ ses: “Estamos prontos para pregar o evangelho, prontos para serpresos, e prontos para morrerpor amor de Jesus. ” “Aorvdequerquevarnos,siriaisernaravílhasacon\panhcmir}ossasinriãse irmãos”, aaescentaramelas.DurantesuamissãoàProvínciadeSichuan, elas afirmaram ter visto multes milagres: cegos que viam, surdos que ouviam Elas contaramcomo, diu-cuÉeunvireuniãoondeninguémqueríaaernoEvangelho, umapessoaqueestavaaleijadabaviaTOanosleuantou-seeandou. Duas histórias chamaram mais minha atenção. As senhorasfalaram de umagentedasegurançapública, tipoSaubdeTarso, queestavadispostoa encontrar e perseguir os crentes clandestinos. Em 1993 sua esposa cristã ficou tão doente que não podiafalar nem andar. Afamília gastou 80.000 iuanes (cerca de dez mil reais) procurando curá-la Os crentes locais decidi­ ram mostrar ao agente seu espírito de perdão eforam orarpor sua esposa Elafoi curada miraculosamente e seu marido entregou sua vida ao Senhor. Ele lhes disse, ‘Agora sei que vocês, cristãos, são realmente boas pessoas. Antes eu sempre perseguia os cristãos, mas agora eu os avisarei quando o governo quiser causar-lhes danos. ” “Deus usouseus milagrespara nosprote­ ger”, umadassenhorasacrescentoucalmamente. Outro testemunho girou em tomo de um irmão que apresentava a sim­ ples mensagem de arrependimento eféa uma multidão que ouvia o evange­ lhopela primeira vez. Uma visão de Jesus caminhando ente eles e, depois, sofrendo na cruz, careceu a todos os que estavam ali. Quando o preletor falou que Jesus tinha se levantado dentre os mortos, a visão mostrou Jesus subindo “gloriosamente ao céu”. Dicmte dessa visão, mnitas pessoas entregaramsuasvidasaoSenhor. Os únicos pedidos de oração que as senhoras nosfizeramforam para mais Bíblias e liberdade. A necessidade de Bíblias é dramática devido ao espantoso crescimento da igreja chinesa Disseram que o contrabando de Bíbliascontinuasendonecessârio,umavezqueosregulamentosdogovemo impedem sua distribuição aos crentes subterrâneos. A yreja na China conta entre 30e80 milhões de crentes, e está crescen­ do depressa 0 líder de uma igreja caseira rdatou a grandefome espiritual entre osJovens que participaram dos eventos da Praça Tiananmen. Um Jovem empresário cristão corüou-nos que levou 70por cento de seus operá­ rios a Cristo em questão de meses, senhorasfalaram de 40.000 que se entregaramaCristoduraníeumúnicomêsem 1993.

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0 Avivamento na China

Ekistambémnospediramqueorâssernœpor liberdade naChina, demodo quepossam viajar abertamenteparapregar o evangelhopor todo o país, na Amérícae,depois, “portodoocaminhodevoUaaJerusalémporatermmara tareja!'. 0 reavivamento atual na Chinapode bem ser o maior da história da igreja até agora, de acordo com o sinólogo eJornalista David Aikman, da revista “Time” Enquanto ainda estou às voltas com todas as lições que a igreja chinesapode nos ensinar, acho que as seguintes diferenças são espe­ cialmente instrutívas: Primeiro, creio que há umapalavra de advertênciapara nós na natureza apolítica da igreja subterrânea chinescL Eles oram comfervorpebs líderes, porémmantêmumacautelosaindependência. Somosprivilegiadosporvivermosnurnadenwcraciaparticipcitím mas, tendotrabcúhadonapolíticanoríeamericana durcmte quase uma década, tenho visto nãopoucos crentes ven­ derem seu direito de cristão por um prato de guisado terreno. Devemos perguntar-nos continuamente: Nossoprinnetro alvo é mudar nosso govemo ou ver vidas dentro ejora do govemo mudadaspara Cristo? A segunda diferença é o enfoque da igreja chinesa sobre a centralidade do evangelho e sobre a obediência da Grande Comissão. Enquanto ouvia o relato daquelas irmãs, nãopude evitar depensar nos intermináveis debates sobre temas periféricos, tais como a validade dos dons carismáticos, os papéis das mulheres na igreja, e assbnpor diante. Paraessas três senhoras, a realidade dopoder miraculoso de Deusfoi a única explicaçãopara asobrevivência e crescimento da igreja na China. E ofalar das maravilhas de Deus não era certamente limitado pelo sexo. A terceira diferença é a maisforte—ao menospara mim Quando as três senhoras nos deixaram, perguntei à nossa tradutora se elasprecisavam de alguma ajudafmanceira Ela me olhou pensativamente e disse, “Oh, elas precisam ..e nãoprecisam. ”Eu sabia o que ela queria dizer. Até a igreja dos Estados Unidos, a mais rica do mundo, sempreparece estar ela mesma sem recursos suficientes; entretanto, a igreja chinesa está muito ocupada em cumpriraGrandeComissãoparapercebersuapobreza. Fhríamos bem em considerar osJulgamentos contrastantes da igreja em J^xxxilipse3e7.Etestêmressoadoemmeucoraçãodesdeminhavoltaefalacb intensamente sobre o nosso Cristicuiismo de hoje e apureza quevina igreja chinesa. ÀigrejaemLaodicéia disse Deus, “Conheço as tuas obras, quenemés friorvemquente. ..Jissim, porque és momo, e nem és quente nemfrio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes, ‘Estou rico e abastado, e não preciso de coisa alguma', e nem sobes que tu és irÿéliz, sim, miserável

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro rejinadopeloJogo para te enriqueceres, vestiduras brancaspara te vestires, afim de que não seja mcmifestaavergonhadatiia nudez” (Ap 3:15-18). Com referência à visão do apóstob João dos que se vestiam de vestidu­ ras brancas, adorando diante do trono de Deus,foi-lhe dito: “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaramsuas vestiduras, easaluejaramno sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no tono estenderá sobre eles o seu tabernáculo. Jamais terãofome, nunca mais terão sede... pois o Cordeiro que se encontra no meio do tono os apascenta­ rá... E Deus lhes ervcugará dos olhos toda a lágrima” (Ap 7:14-17). Sentei-me aospés dos crentes da China, os quais estão sendoprepara­ dos agora mesmopara receber aquelas vestiduras brancas que adornarão os santos. Comparando-me com seus vistosos ornatos, eume senti espiritual­ mente nua.

CO NCLU SÃO A última fase da história da hmnanidade antes da volta de Cristo será uma época quando, de acordo com a própria profecia de Jesus, “Este evangelho do reino será pregado por todo o mundo, para testemu­ nho a todas as nações. Então virá o flm” (Mt 24:14). Com a frase “este evangelho do reino”, Jesus estava identificando o evangelho de sinais e maravilhas que ele e seus discípulos haviam pregado como sendo a mensagem que precederia o final dos tempos (Mt 10:7,8). Curas e mila­ gres serão uma característica da última fase da pregação do evangelho, assim como na primeira fase o foram. Seria possível encontrar hoje em algum lugar do mundo uma igreja tão preparada para esta tarefa mundi­ al como a igreja na China? Jonathan Chao, do Centro de Pesquisa da Igreja Chinesa, disse: “Depois de dez anos estudando a China e de cinco anos pesquisando a igreja na China, cheguei à conclusão que dentro de 15 a 20 anos a China se tornará o maior campo de colheita na história da humanidade.” A igreja na China tem ainda que descobrir plenamente sua identida­ de em Deus e compreender seu chamado e destino. Será que a China se tornará o “maior cam po de colheita” ou a “maior base de colheita” para alcançar um mundo perdido e em sofrimento? Um pouco antes de sua morte, em 1973, Timothy Dzao, um dos grandes pastores-evangeUstas da China, pediu que fosse transmitida esta mensagem às igrejas do Ocidente: 180

OAvivamento na China

“Creio que é chegada a época de a igreja chinesa pregar o evange­ lho no Ocidente. Primeiramente, porque devemos reconhecer nosso dé­ bito aos missionários que trouxeram o evangelho para a China; em se­ gundo lugar, porque Deus tem dado a nós chineses uma habilidade ím ­ par para entender as Escrituras, que foram escritas num contexto orien­ tal. Creio que Deus quer que nós chineses abençoemos o Ocidente e alcancemos muitos para Cristo.” Uma palavra profética? A cruz tem sempre ocupado um grande espaço no pensamento e experiência da igreja na China, mas nunca tanto quanto nos últimos trin­ ta e cinco anos. Engolfados num rio de sofrimento, os cristãos chineses não têm recuado diante do impacto das águas, mas, como seu mestre, por causa da alegria que lhes está proposta, têm suportado a cruz e não têm feito caso da ignomínia. Estará próximo o tempo em que o Senhor removerá todo obstáculo, satânico e humano, e dará a seus servos um ministério mundial? Será que este rio de sofrimento fluirá para o mun­ do em expectativa como um rio de bênção? Tem havido muita publicidade sobre o número reduzido de Bí­ blias e literatura cristã na China. Porém, há uma necessidade ainda maior, a necessidade de liderança. A igreja do primeiro século cresceu e flo­ resceu sem uma grande disponibilidade de Escrituras, mas isto não poderia ter acontecido sem liderança. Paulo nos lembra (E f 4:11), que os ministérios de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres são dons do Cristo que subiu às alturas para o seu corpo. A China tem tido hom ens de calibre apostólico no passado, como o pastor Hsi e Watchman Nee, que foram verdadeiros fundadores de igrejas. Mas hoje, mais do que nunca, apóstolos se fazem necessá­ rios para formar e estruturar a igreja chinesa para o futuro. Há também uma necessidade de profetas, homens com visão e discernimento pro­ fético, que ajudarão a guiar a igreja através dos dias difíceis que virão. Deus Já tem levantado evangelistas, pastores e mestres, mas mais ainda são necessários. Um pastor idoso fez a seguinte observação: “Antes que os comimistas viessem, eu me lembro que os pastores buscavam as ovelhas. Mas agora por toda a China é o rebanho que está buscando pasto­ res!” Quando Deus finalmente levantar a Cortina de Bambu, liberando seus dedicados emissários a unir seus esforços com os cristãos do inundo livre para a colheita final, será que eles nos encontrarão prontos 181

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

e dispostos a pagar o preço? Náo, a náo ser que haja uma mudança significativa. Muitos cristãos chineses estão desiludidos com o Cristia­ nismo que encontram no Ocidente. Não tanto por causa da prosperi­ dade, como por causa da atitude em relação a isto e da preocupação com coisas materiais. Um ex-missionário disse: “Eles freqüentemente expressam um forte desapontamento com a superficialidade da igreja.” Na China, os crentes sabem que estão engajados numa guerra espiritual (E f 6:10-13). Mas quando chegam no Ocidente, percebem que as pessoas não parecem estar conscientes de que existe uma guerra! Não que a batalha no Ocidente seja mais fácil do que na China. É apenas diferente. Na China, Satanás percorre a terra como um leão rugidor, buscando a quem possa tragar. Não há como ser uma testemunha de Cristo sem confrontá-lo. Ou você lhe resiste pela fé e ele foge, ou você cede a ele por causa do medo e é neutralizado. No Ocidente, Satanás age como uma serpente astuta. Ele atrai, seduz e engana. Tudo acontece antes mesmo que você perceba que ele se infiltrou em nossas fileiras. Devagar, quase imperceptivelmente, nosso amor vai esfriando. Preocu­ pação com coisas substitui a paixão por Cristo. 0 testemunho de nossos lábios se torna uma exceção em vez de uma regra. 0 comunismo na China desúniu a igreja acomodada e o resultado foi um dos maiores avivamentos do século XX. Aqui no Brasil não temos o comunismo, mas temos, sem dúvida, uma igreja acomodada. Haverá espe­ rança, então, para um avivamento no Brasil? Cremos que há, mas somente na base de reforma. Cremos que o plano de Deus para o Brasil na década de 90 é restaurar a palavra profética que separará a igreja acomodada daqueles que vão dedicar tudo para o Senhor Jesus Cristo e seu reüio. Como João Batista pregou arrependimento para a igreja judaica acomodada antes da primeira vinda de Cristo, hoje também, antes da segunda vinda, haverá um ministério profético pregando arrependimento para a igreja gentia. Uma grande separação e reforma devem acontecer Com os novos odres no lugar, Deus transformará a água da palavra em vinho de avivamento. “Eis que faço uma coisa nova; agora está saindo à luz: porventura não a percebeis? Eis que porei um caminho (reforma) no deserto e rios (avivamento) no ermo” (Is 43:19).

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Capítulo 12

A CONTRIB UIÇÂO CH IN ESA PARA A REFORMA DA 1GRE)A

A® A:

ssim como o mais poderoso e abrangente avivamento do século

X X ocorreu na China, uma das tentativas mais importantes de eform a no século X X também começou na China. Enquanto o

avivamento na China ocorreu durante os anos 80 como resultado dire­ to da destruição das igrejas tradicionais pelos comunistas, a reform a da igreja na China começou no início dos anos 20 e foi extinta no início dos anos 50 através da subida do regime comunista. Porém, este movimento de “recuperação” do Cristianismo bíblico, embora destruído na China continental, foi levado para a ilha de Formosa, onde prosperou. Dois nomes estão ligados a esta tentativa de reforma do Cristia­ nismo no século XX; Watchman Nee e Witness Lee. Nee começou o m o­ vimento e

0 liderou por trinta anos, de sua base em Xangai, até ser

preso pelos comunistas. Embora tenha tido muitas oportunidades para deixar a China, ele decidiu não “desertar dos irm ãos”. Em 1949 ele comissionou Witness Lee, seu colega na obra por 20 anos, a ir para a China livre e continuar a obra. Lee mudou-se para Los Angeles, Califórnia, em 1962, onde esta­ beleceu uma base americana para a disseminação mundial do movimen­ to. Está ativo hoje e com quase 90 anos de idade, e a obra se espalhou para todos os continentes. Watchman Nee, em contraste, permaneceu 20 anos na prisão e morreu com

68 anos de idade, logo depois de sua

libertação. 183

A Igreja do SéciúoXX-A História que Não Foi Contada

ESTILOS DIFERENTES N O M IN ISTÉRIO D A PALAVRA Tanto Nee como Lee podem certamente ser considerados dois dos mais capazes expositores da Palavra de Deus do século XX. Seus ensinamentos bíblicos são de uma clareza cristalina e contêm algumas das mais importantes compreensões e revelações da Palavra de Deus na história da igreja. É interessante notar como Watchman Nee e Witness Lee diferem um do outro tanto em sua maneira de estudar a Palavra de Deus quanto no funcionamento do dom de mestre de cada um. Porém, apesar de tão diferentes, ambos são extraordinários dons à igreja e são a base da rica contribuição à restauração da palavra viva que este movimento de refor­ ma trouxe a toda a igreja de nossa geração. Watchman Nee tinha a prática de submergir-se constantemente nas Escrituras, lendo o Novo Testamento uma vez ao mês e a Bíblia toda várias vezes ao ano. Seu dom peculiar de mestre se manifestava na capa­ cidade de descobrir e apresentar o pensamento central de Deus contido em sua palavra escrita de uma tal maneira que isto se tornava uma pala­ vra viva à igreja. Seu método não consistia em elaborar doutrinas em si,mas em descobrir a essência do pensamento de Deus, a sua palavra interior, o espírito de sua palavra contida em toda a Escritura. Este método singular de exposição da Palavra de Deus foi uma tremenda contribuição para a restauração do ministério de mestre. Não é nosso propósito aqui apresentar um resumo dos ensina­ mentos de Watchman Nee, mas vale salientar que para ele a cruz era algo central. Eis duas passagens, um testemunho e um ensinamento, que expressam esta mensagem da cruz em dois aspectos enfatizados por Watchman Nee: Lembro-medeumamanhã— comopoderiajamaisesquecê-la!— estava sentado no andar de cima lendo Romanos e cheguei àspalavras “sabendo isto, quefoi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecadoseJadestmído,e não seruamos o pecado como escravos". Sabendo isto! Como poderia eu sabê-lo? Orei: “Senhor, abre-me os olhos!” E, então, num instante, vi. Antes estivera lendo 1 Coríntios 1:30: “Mas vós sois dele, emCristoJesus.”Volteiaestapassagemeli-adenow. “Oqualserwstomou da parte de Deus”; em outraspalavras: “Ofato de estar em Cristo Jesus é

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A Contribuição ChinesaParaaReformadalgreJa

obra de DeusrErasurpreendente! Então, se Cristo morreu, e esse é umfato, e se Deus me colocou nele, então devo ter morrido também. De imediato vi minha unidade com Cristo: que eu estava nele, e que quando ele morreu, eu morri. Minha morte para o pecado era assunto do passado e não dofuturo. Era umfato divino que começava a ser-me compreensível. Arrebatado de alegria, saltei da cadeira e desci correndo as escadas até chegar aoJovem que trabalhava na cozinha. “Irmão”, disse, agarrando-o pelas mãos, “sabe que eu morri?”Devo admitir que elepareciaperplexo. “Que é que você quer dizer com isto?”, exclamou; então prossegui: “Você não sabe que Cristo morreu? Não sabe que morri com ele? Não sabe que minha morte é umfato não menos verdadeiro do que este?” Oh, era tão real para mim! Sentia-me como que gritando minha descobertapelas ruas deXangai Daquele dia até hoje nunca, por um momento sequer, duvidei do caráter decisivo das pala­ vras: “EstoucrucificadocomCrísto; logo,Jánãosoueuquemvive, masCristo viveemmim.”^ Ouvimosfalarfreqüentemente acerca da cruz. Talvez estejamos por demaisfamiliarizado com o termo. Mas o que é a cruz, afinal de contas? Quando realmente compreendermos a cruz, veremos que significa o que­ brantamento do homem exterior. A cruz reduz o homem exterior à morte; rachaacascahumanaeaabre.Acruzdevequebrartudoquantopertenceao nosso homemexterior— nossasopiniões, nossos modos, nossahabilidade, nosso amor-próprio, nosso tudo. Tão logo nosso homem exterior é destruído, nosso espírito pode sairfacilmenteparafora. Ninguém é mais belo do que alguém que está quebrantado! A teimosia e o amor-próprio cedem lugar à beleza na pessoa quefoi quebrantadapor Deus. ® 0 dom de mestre de Witness Lee funcionou de maneira diferente que 0 de Watchman Nee. Talvez pudéssemos chamar isto de “o contraste entre o método dedutivo e o método indutivo”. Em vez de pesquisar toda a Escritura para achar o pensamento central de Deus, Lee parece ter recebido uma revelação especial de Cristo com o realidade, como vida, como tudo. A partir disto, ele percorre toda a Escritura para amplificar, alargar e enriquecer este princípio de todas as formas e maneiras possíveis. Se, por um lado, este método apresenta limitações na objetivida­ de da compreensão da Palavra de Deus e, às vezes, falha na exegese de algumas passagens, por outro lado na comunicação da revelação das 185

A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

implicações temporais e eternas da encarnação de Deus em Jesus, o estilo de Witness Lee é incomparável. Com frases curtas, vocabulário simples e original e muita repetição, Lee faz com que as verdades da encarnação se tornem vivas, reais e práticas para os seus ouvintes. Ele tem feito estudos minuciosos de muitos livros da Bíblia e intitula-os de “Estudos-Vida”. Sua visão de Cristo nos diversos tipos de sacrifícios descritos no livro de Levítico traz muita luz e revelação para estes tre­ chos da Palavra que aparentam ser tão áridos e sem sentido para nós hoje. Eis alguns trechos que mostram o belo estilo de Witness Lee como mestre da Palavra: Nunca devemos nos esquecer que Jesus deu doispassos maravilhosos para se tornar alguma coisa. 0 primeiro passofo i a Palavra se tomando carne. Ele era Deus, mas ele se tomou carne. Isto era Jesus. Não era mais simplesmente Deus, mas Deus mais humanidade. Era Deus se tomando cameparaque pudesse ser nossoRedeníor como o Cordeiro de Deus. Então na ressurreição, o Senhor Jesus como o último Adão se tomou algo mais. Agora ele deu outro passo. Ele se tomou o Espírito vivificante (literalmente,

0 Espirito doador de vida). Seuprimeiro passo o tomou nosso Redentor. Seu segundopasso o tomou nosso doador de vida, Parase tomar nosso Redentor ele teve que se tomar came. Para se tomar doador de vida ele teve que se tomarEspíríto. A came épara a redenção, e o Espírito é para vivpicação. De fato, é umapena que a maioria dos cristãos nunca tenha ouvido que Cristose tomou Espírito vivificante. Antes, alguns cristãos consideram isto uma heresia.Masoqueelespodemfazercom 1Coríntios I5:45b, quefalaclaramente que 0 último Adão se tomouEspírito vivificante? Primeiramente, seu objetivo era redimir; agora, no segundopasso, seu objetivo era vivificar. Depois que estamos redimidos precisamos do supri­ mento de vida, a vivificação, e Cristo como o Espírito vivificante residente em nós é que nos supre de vida. No passado nunca ouvimos que hoje Cristo é o Espírito vivificante. Seformosfazer um estudo bíblico, devemos estudar sobre Cristo como o Espírito vivificante. Cristo como o Espírito viv^icante habita dentro de nós, nos transmitindo vida em todo o tempo. Outro versíado importante é 1 Coríntios 6:17: “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele”. Não somos somente um com o Senlwr, somos um espírito com o Senhor. Hoje o Senhor é o Espírito vivificante, e nós 186

A Contribuição Chinesa Para a Reforma da Igreja

temos um espírito humano críadoporDeus com opropósito específico de nos apossarmos de Cristo como o Espírito vivificante dentro de nós. Agora esses dois espíritos se tomaram um Isto é maravilhoso! Nosso espírito é um com o Senhor, porque, como Espírito vivificante, eJe habita em nosso espírito. Mas

0 Senhor em nosso espírito não é como uma gota de óleo naáguaque nunca se mistura. Ele se mistura conosco em nosso espírito como o chá se mistura comaágua

QUATRO ESTÁGIOS No princípio era a Palavra e a Palavra era Deus. Este é oprimeto estágio. A Palavra se tomando camepara ser o Redentor é o segundo estágio. Depois

0 Redentor, através da morte e ressurreição, tomou-se o Espírito vivificante para ser o espírito residente em nós, e este é o terceiro estágio. Finalmente, a partir do Espírito residente em nós, o novo homem éformado tomando-se

0 Corpo-Cristo. Este é o quarto estágio. Louvado seja Deuspor agora estar­ mos no quarto estágio! Osjudeus estão no primeiro estágio. Todos eles crêem emumsó Deus. Os cristãosjundamentalistas estão no segundo está­ gio, e estão umpouco meUior que osJudeusporque crêem em Deus e tam­ bém em Cristo, o Redentor. Alguns cristãos estão no terceiro estágioporque compreendem que Cristo não somente morreu por eles, mas também vive dentro deles como sua vida. Esses são os cristãos melhorados. Mas buvado seja 0 Senhor que isto não é ofim. Temos que entrar no quarto estágio, o Corpo-Cristo. Efésios 4:13-16 nosfcda que devemos chegar à medida da estatura da plenitude de Cristo. Este é o novo homem, a própria vida da igreja, o lugar onde não mais seremos como meninos agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina. Mesmo a melhor doutrina pode ser um vento que nos afasta da Cabeça e do corpo. Mas sepermane­ cermos na Cabeça, cresceremos nele em todas as coisas. Então, a partir dele, todo o corpo será bem ajustado e consolidado, pelo auxílio de toda Junta, segundo ajusta cooperação de cada parte, efetuando seu próprio aumento para edificação de si mesmo em amor. Esta é a experiência no processo do Corpo-Cristo. Portanto, na vida da igreja não estamos apenas gozando Deus, o Redentor, e o Espírito residente em nós, mas também o Corpo-Cristo. Sempre que nos reunimos, algo de Cristo sai de nós para todos. Somos assimo Corpo-Cristo, o Cristo coletivo, compartilhando Cris­ to uns com os outros.

187

A Igreja do Século X X -A História que Não Fbi Contada

A5 LIMITAÇÕES DO M O VIM ENTO Watchman Nee fez sérias tentativas de criar relacionamento com líderes do Movimento dos Irmãos na Inglaterra, viajando duas vezes para lá nos anos 30. Alguns de seus princípios básicos foram derivados deste movimento de restauração. Mas nenhum relacionamento substan­ cial ou duradouro resultou desses esforços. Se não houve intercâmbio com outras partes da igreja, não foi por causa de uma atitude fechada na parte de Nee. Infelizmente, porém, não podemos afirmar a mesma coisa a res­ peito de Witness Lee. Depois que estabeleceu a obra no Ocidente, ele manteve a posição firme de que seu movimento é a única “recuperação” verdadeira da igreja, e que a doutrina do movimento é a única interpre­ tação verdadeira das Escrituras. Podemos citar duas outras sérias limitações desta tentativa de reforma: 1. Pode haver somente uma igreja verdadeira de Jesus Cristo em cada cidade e esta igreja deve ser estabelecida pelo movimento;

2.

Embora este movimento afirme sua crença nos dons do Espírito Santo, na prática eles são desencorajados, quando não proibidos. 0 Movimen­ to Pentecostal é considerado totalmente falso. Mas, ao dizer estas coisas, gostaríamos de deixar claro que con­ sideramos a contribuição desta “recuperação” chinesa do século XX de enorme valor para a plena restauração da igreja. Nós nunca devemos cometer o erro de jogar fora o bebê junto com a água suja. Devemos agradecer a Deus continuamente pelas vidas de Watchman Nee e Witness Lee e pelo seu fervoroso amor ao Senhor Jesus e sua total dedicação à causa da restauração da igreja.

VITÓ RIA ATRAVÉS DE DERROTA N A VIDADE W A T C H M A N NEE Talvez o ato mais edificante do Espírito Santo na história deste movimento tenha sido a decisão de Watchman Nee de não desertar dos irmãos, e sim, permanecer na China e compartilhar o sofrimento deles. No último capítulo de seu livro mais famoso, “A Vida Cristã Normal” , ele fala sobre o assunto de “desperdício” . Verdadeiramente, Watchman 188

A Contribuição ChinesaPara aReJorma da Igreja

Nee praücou este ensinamento, e verdadeiramente o Espírito Santo con­ firmou em sua vida as palavras de Jesus em João 12:24: “Se o grão de trigo caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto.” Tão logo Nee voluntariamente terminou seu ministério da Pala­ vra, ao ficar na China e conseqüentemente indo para a prisão, o Espírito Santo levou os seus muitos e maravilhosos ensinamentos a serem reuni­ dos, editados, traduzidos, publicados e distribuídos em todo o mundo. A principal obra de Nee não foram os 30 anos de ministério na China, mas foi 0 período desde sua prisão até hoje (quase 40 anos), durante o qual por todo o mundo seus estudos sobre a Palavra de Deus têm sido publicados. Milhares de cristãos, e até mesmo de igrejas, em muitas nações, têm sido enriquecidos e edificados em sua fé em Jesus Cristo. De fato, a semente que caiu no chão produziu muito fruto.

AS ÊNFASES DO M OVIM ENTO No início desta reforma, eles decidiram que havia três coisas certas: 1. 0 próprio Senhor Jesus; 2. 0 evangelho; 3. As Escrituras. Uma coisa estava errada: 0 Cristianismo. Tlido que no Cristianismo não conferia com a Palavra de Deus, eles rejeitaram. Eles estudaram a histó­ ria da igreja e biografias de grandes homens e mulheres de Deus e extraíram o que era bom de tudo isto. Buscaram uma “recuperação” totalmente inclusiva: Cristo e a igreja, o cabeça e o corpo. Cristo é tudo para nós. Ele precisa de uma expressão real na terra, isto é, o seu corpo. 0 eterno propósito de Deus é ver seu Filho ampHado, engrande­ cido, manifestado através de um grupo de crentes nesta terra. Não de­ vemos buscar nada par a nós mesmos, mas tudo para Cristo e seu corpo. Depois de um dia inteiro de jejum e oração no dia de ano novo em 1943, Atos 2 se cumpriu neste grupo, quando tanto os dons do Espírito como a vida em comunidade vieram à luz. Milagres e profecias estavam em operação. Oitocentas pessoas entregaram todas as suas pos­ ses para a igreja. Dois grupos foram enviados, um de 30 famílias, o outro de 70 famílias; um para a Manchúria, o outro para perto da Mongólia Interior. Todos os oitocentos cristãos estavam prontos para ser envia­ dos em grupos a diferentes partes da China, para viver e evangelizar.

189

Algrejado SéculoXX-AHistóriaqueNãoFoi Contada

Mas os japoneses, que ocupavam a China naquela época, impediram tudo isso. Apesar desta verdadeira manifestação dos dons do Espírito, pos­ teriormente

0 movimento assumiu uma posição oficial de “neutralida­

de” em relação aos dons do Espírito, e na prática houve desencorajamento, e até rejeição, aos dons por causa dos “excessos” do Movimento Pentecostal. No lugar do funcionamento dos dons nas reuniões surgi­ ram os costumes de “invocar o nome de Jesus” e “orar — ler a Palavra”. As ênfases do movimento são as seguintes: 1. Vidainterior— conheceraDeuscomonossavida,experimentaracruze a ressurreição. 2

Verdade—sabereestudarasEscrituras.OEspíritoSantocomovidaeas Escrituras como verdade.

3. Serviço— na igreja sacerdócio universal, ministério do corpo. Todos devemservirejiincionarnaigre/a 4. Evangelismo —fazer de tudo e irpara todo lugarpara pregar o evange­ lho — em equipes de viagens, reuniões públicas, visitação nos lares, pregação napraça etc. Eles têm quatro tipos de reuniões baseadas em Atos 2:42: 1. Doutrina; 2. Comunhão; 3. Partir do pão; 4. Oração. 0 sistema de evangelismo nos anos iniciais era que todas as igrejas (do movimento) deveriam cooperar para a realização de grandes reuniões evangeUsticas, nas quais não era dado destaque a nenhum pregador. Depois os convertidos eram levados a uma assembléia local para se tornarem dis­ cípulos. As igrejas se multiplicaram através de evangelismo pessoal e de migrações de famílias e grupos. Parece que o principal método de expansão nos últimos anos, pelo menos aqui no Brasil, tem sido através da disseminação ativa de literatura. Funciona desta maneira: Witness Lee continua a ministrar a palavra em Los Angeles. Através de videocassete, sua palavra é transmi­ tida aqui no Brasil. A seguir, cada uma de suas mensagens é traduzida e seu esboço é publicado em forma de livretos. Depois um processo in­ tenso é iniciado em cada igreja para estudar e reestudar a mensagem em vários tipos de reunião. Finalmente, além de ser transformado em livretos,

0 resumo das mensagens é publicado num pequeno jornal (co­ 190

A Contribuição ChinesaPara aReforma dalgreja

nhecido no Brasil como “Árvore da Vida”), largamente distribuído por todos os meios possíveis: pelo correio, nas praças, em reuniões públi­ cas e em viagens especiais de equipes por todas as partes da nação. Periodicamente, equipes realizam um programa especial de visitação a cada assinante, encorajando-o a participar na vida da igreja local.

e n s in a m e n t o s so br e a

IGREjA

Witness Lee ensina que o mistério de Deus é Cristo. 0 mistério de Cristo é a igreja, seu corpo. Cristo é a manifestação de Deus. A igreja é a expressão de Cristo. Deus está em Cristo. Cristo está na igreja. Sem a igreja ninguém pode entender Cristo. Ela é a expressão de Cristo. A igreja é a encarnação de Cristo, assim como Cristo é a encarnação de Deus. A posição do movimento, então, é que a plena restauração da igreja não virá através do derramamento do Espírito (avivamento), mas pela “vida real do corpo de Cristo” (reforma). Watchman Nee, tendo desenvolvido seus princípios sobre a natu­ reza e a estrutura da igreja através do seu estudo das Escrituras e da história da igreja, e através da experiência prática de estabelecer igre­ jas, explanou-os em dois seminários em 1937. Esses ensinamentos fo­ ram elaborados e publicados em form a de livro em 1938 na língua chi­ nesa e na língua inglesa em 1939. Em 1962 o livro foi condensado e reeditado em inglês como “A Vida Normal da Igreja Cristã” . A primeira edição em português surgiu em 1973.®° Eis um trecho deste tratado intitulado: “Os Apóstolos e as Igrejas”: Com referàicia à Igrejauniversal, primeiro Deus lhe deu existência e daí paraJrente estabeleceuapóstolospara ministrar-lhe (I Co 12:28), mas no que se refere às igrejas locais, aordemfoiaocontrárío.Adesignaçãodosapóstobs precedeu ajvndação de igrejas locais. Primeiro nosso Senhor comissionou os dozeapóstobs, edepoisdissoalgrejaemJerusalémpassouaexistir OEspírito Santoprímeirochamoudoisapóstolos— PaubeBamabé—paraaobro, edaí pordianterrudtasigreJasviercmaexistiremdiferenteslugares.Éclaro,pois, que oministério aposíólicopreceieaexisíência das igrejas locais, por conse­ guinte é óbvü) que o trabalho dos apóstolos nãopertence às igrejas locais. ComoJáobsenxunos, oE^íriloSantodisse: “Separai-me c^oraaBamabé eaPauIoparaaobraaqueos tenho chamado”. Oquesesegimàseporação

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A Igreja do SéculoXX-AHistória que Não Foi Contada

dos apóstolos (conhecido gercdrnerdecorrio suas cairípcinhas missionárias), o Espírito Santo se refere como sendo “a obra”. “A obra” era o objetivo do chamado do Espírito, e tudo o que Paulo e seus companheiros realizaram postenormente, e tudo o que estavasob responsabilidade delesfoi incluído nesta única expressão: “a obra”. (Neste livro, a expressão “a obra” é empre­ gada num sentido específico e se relaciona a tudo quanto está incluído nos e^orços missionários dos apóstolos.) Devemos diferenciar claramente entre a obra e as igrejas. São duas coisas totalmente distintas nas Escrituras, e devemos evitar corfímdi-las, do contrário cometeremos sérios enganos e a realização dos propósitos de Deus seráfrustada. Não é comfreqüência que se usa a palavra “obra” no sentido espec^ko em que é empregada aqui, e o resultado é que nãopresta­ mos atenção aofato. Mas o Espírito usou a expressão numaforma inclusiva para abranger tudo quanto se relaciona aopropósito do chamado apostólico. Visto que a obra dos apóstolos épregar o evangelho eJiindar igrejas, e não assumir a responsabilidade nas igrejasjá estabelecidas, seu oficio não é da igreja Na vontade de Deus, “a igreja”e “aobra”seguemduas linhasdistintas. A obrapertence aos apóstolos, enquanto as igrejaspertencem aos crentes locais. Os apóstolossão responsáveispela obra em qualquer lugar e a igreja é responsãvelpor todos osJilhosdeDeus numa localidade. Como membros do Corpo, 03apóstolosse reúnem, paraedilicaçãonTÚtua,comtodososseuscolaboradores na localidade, mas como membros ministrantes do Corpo, seu ministério espeqfíoofaz deles um grupo de obreiros áparte da igreja, É errada dapartedosapóstolosainterferêndanosassuníosdaigre/ámaséigualmente errado a igreja interferir nos assuntos da obra dos apóstolos. Os apóstolos administam a obra; ospresbíteros administam a igreja 0 motivo por que Deus chamou apóstolos e lhes corjflou a obra é porque ele desejava preservar o caráter local da igreja. Se qualquer igreja exerce controle sobre aobraemouta localidade, de imediato ela se toma extalocal e por issoperde sua característica específica de igreja A responsabilidade da obra em dferentes lugares é coriflada aos apóstolos, ciga esfera de ação se estendepara além da localidade. A responsabilidade da igreja é confiada aos presbíteros, cuja esfera de trabalho está corfinada à localidade. Um presbítero efésio é ur.i presbítero em Éfeso, mas ele deixa de sê-lo quando vaíaFilipos, e vice-versa. 0 presbiterato limita-se à localidade. Quando Paulo esteve em Mileto, ele desejou ver os membros respresentativos da igreja em Éfeso, e assim mandou vir presbíteros efésios, mas não houve pedido ao apóstob efésb, peb simples motivo de que não havia nenhum. Os 192

ylConírifauíçãoChinesaParaaKe/ònmda/gre/a

apóstolospertencem a diferentes lugares e não a um lugar apenas, enquanto

0 raio de ação dos presbíteros é estritamente local, razão por que não assuniemresponsabüidadeqficialalémdo k^aremque vivem. Sempreque a igreja tenta controlar a obra elaperde seu caráter local. Sempre que um apóstok) tenta controlar uma igreja ele perde seu caráter extralocal. Um dos maiores obstáculos para a restauração da igreja é o sis­ tema humano e não bíbhco de denominações. Isto significa a organiza­ ção de muitas igrejas debaixo de uma doutrina e uma sede. Isto é para evitar anarquia e heresia. De fato, há problemas sérios com cristãos independentes e igrejas independentes, e eles devem ser corrigidos. Mas denominacionalismo é uma solução humana. 0 resultado é teologia humana e governo humano no que deveria ser uma instituição divina, o corpo de Cristo. A solução de Deus está revelada nas Escrituras, e é apóstolos. Como Watchman Nee ressalta no mesmo livro citado acima, p. 22, os apóstolos “são comissionados especialmente por Deus para fundar igrejas através da pregação do evangelho, para trazer revelação de Deus para seu povo, para tomar decisões em assuntos pertinentes à doutrina e ao governo, para ediíicar os santos e para distribuir os dons...” Se houvesse uma distinção clara entre a obra e as igrejas, entre apóstolos e presbíteros, não haveria possibihdade de se formar uma rede humana de igrejas, e sim a tremenda oportunidade de ter comu­ nhão no Espírito Santo entre os ministérios da obra (E f 4:11) e das igrejas. Desta forma, com base na unidade do Espírito (E f 4:3), o corpo de Cristo poderia crescer na unidade da fé (E f 4:13) e uma igreja glori­ osa seria preparada para a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo.

C O NCLU SÃO A “recuperação” da igreja, que começou na China através do m i­ nistério de Watchman Nee, chegou ao Ocidente através do ministério de Witness Lee. A ênfase do movimento no Ocidente, incluindo o Brasil, tem sido tão forte na doutrma de que só pode haver uma igreja de Jesus Cristo em cada cidade, que o movimento passou a ser conhecido como “a igreja local”. Costuma-se dizer que o problema básico de qualquer m ovim en to surge quando ele pára de m ovim entar — isto é, quando cessa de fluir no Espírito e estaciona em um dogma. 193

A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

0 peso deste livro sobre a restauração da igreja no século X X se expressa na seguinte afirmação: Para que esta restauração ocorra é ne­ cessário haver um equüíbrio entre reforma e avivamento. Quando a “re­ cuperação” chinesa veio para o Ocidente, por que começou a ser chama­ da de “a igreja local”? Porque era um movimento de reforma que pre­ cisava de um mover contínuo do Espírito Santo (avivamento) para sal­ var 0 movimento de se tornar um monumento. Todas as denominações começam como um movimento e terminam como um monumento. A Palavra de Deus só pode ser cumprida através do Espírito Santo. Jesus disse: “0 espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as pala­ vras que eu vos tenho dito são espírito e são vida” (Jo 6:63). “Nele (o Verbo) estava a vida, e a vida era a luz dos homens”( Jo 1:4). 0 próprio Watchman Nee, fundador deste movimento de refor­ ma, alertou sobre o perigo de se estacionar em uma doutrina e não manter o fluir e a comunhão do Espírito Santo. Vamos concluir com estas eloqüentes palavras sobre a verdadeira base da igreja local extra­ ídas do livro de Watchman Nee, “What Shall This Man Do?” (“O Que Este Homem Fará?”) Não é meu desejo rotular o Cristianismo denominacional de errado. Tãosomente afirmo mais uma vez que, para o corpo de Cristo se tomar uma eficaz expressão local a base de comunhão deve ser uma base verdadeira. E esta base é um relacionamento vivo dos menÉ>ros com o seu Senhor e uma submissão voluntária a ele como cabeça. Não estou defendendo aqueles que farãoumanovaseikide algo quepode ser chamado de “localísmo”— isto é, a demarcação rigorosa das igrejas através de localidades. Este tipo de coisa pode acontecerfacilmente. Se o que estamos praticando hoje em vida se toma amanhã um simples método, de talforma que através de suaspróprias características alguns quepertencem a Cristo são excluídos disto, que Deus tenha misericórdia de nós e destrua este método! Pois todos aqueles em quem o Senhor, o Espírito, tem liberdade, esses são nossos e nós somos deles. Omeudesejoéd^ender somente aqueles que verão ohomemcelestial eque depois em suas vidas e comunhão seguirão aquilo que viram! Cristo é

0 cabeça do corpo— não o cabeça de outros “corpos”ou unidades de religião. 0 envolvimento no corpo espiritual de Cristo é quepm a o compromisso do cabeça conosco, seus membros— istoe somente isto.

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Capítu 0 13

O MOVIMENTO PALAVRADAFÉ uando analisamos a história da restauração da igreja no século ' XX, encontramos um movimento que merece atenção— tantopor

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causa de sua ainda crescente popularidade como pela grande

cori&ovérsia que está produzindo. É conhecido como “0 Movimento da Fé” ou “A Palavra da Fé” . Há aqui mn enigma que periodicamente ocorre na história da igreja, onde o fundador é um grande e consagrado ho­ mem de Deus ao mesmo tempo que alguns dos seus seguidores se engajam em práticas questionáveis e promulgam doutrinas em desacordo com as Escrituras. Não é nosso propósito fazer um Julgamento deste movimen­ to mas, sim, estimular nossos corações a descobrir se isto é resultado de alguma falha básica na doutrina original ou se é somente mais im i exemplo da tendência constante do homem carnal de perverter algo bom e sadio em algo egoísta e enganoso. Desta forma, esperamos crescer em discernimento tanto dos propósitos de Deus na restauração da igreja como das táticas do inimigo para frustrar isto. Nossa premissa básica neste hvro é que Jesus Cristo voltará para uma igreja gloriosa (E f 5:27); que, embora a igreja tenha entrado em declínio após a época dos apóstolos, o propósito de Deus é restaurá-la através de avivamento e reform a (At 3:19-21). Satanás sempre irá ope­ rar para impedir esta restauração, porque Jesus Cristo veio para des­ truir as obras do Diabo ( I J o 3:8), e a igreja como o seu corpo partici­ pará desta destruição. Como o apóstolo Paulo diz: “0 Deus de paz em breve esmagará a Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm 16:20). 0 pro­

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A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

cesso da restauração da igreja tem se acelerado no século XX, e cremos que no flm haverá uma separação entre a igreja verdadeira (Ap 12:1) e a igreja falsa (Ap 17:3-5). Porém, esta separação será uma obra exclusiva do Espírito Santo, que determinará como e quando isto ocorrerá. Tal­ vez 0 dom do Espírito Santo mais necessário hoje seja o dom de discernir espíritos (1 Co 12:10). “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rm 8:14). Veja também Rm 8:5.

AVID AEM INISTÉRIO D EKENNETH H A G IN Tendo dito tudo isto como preparação, queremos agora examinar a vida e ministério do fundador deste movimento e, em seguida, verifi­ car

0 que está acontecendo entre alguns dos ministérios influenciados

por este movimento, para que desse modo possamos crescer em discer­ nimento e saber como participar corretamente da restauração da igreja em nossa geração. A vida e ministério de Kenneth Hagin, o “pai do Movimento da Fé” , só pode ser descrita com superlativos. Salvo e curado com a idade de 17 anos, ele prega continuamente há 61 anos e nunca flcou doente mn só dia em todos esses anos, nem consultou médico ou tomou remédio. Seus dois filhos foram salvos e cheios do Espírito Santo em tenra idade e ambos servem ativamente ao Senhor hoje. Em seu prim eiro ano de pregação ele gastou quatro pares de sapato, percorrendo a pé estradas empoeiradas da roça, contando às pessoas que Deus queria salvar suas almas, curar seus corpos e prospe­ rar suas finanças. Após 58 anos ainda está pregando esta mensagem. Cursos bíblicos por correspondência são enviados por todo o mundo para 7.000 estudantes; mais de 3 milhões de livros são vendidos anual­ mente; cerca de 40 milhões já foram impressos; cerca de 40.000 fitas são enviadas mensalmente; a revista “A Palavra de Fé” é distribuída para uma lista de assinantes de 300.000 pessoas. Diariamente o programa de rádio conhecido como “0 Seminário da Fé no A r” é transmitido através de 227 estações de rádio. A cada ano entre 15.000 e 20.000 pessoas se inscrevem para o acampamento anual. No Centro Rhema de Treinamen­ to Bíblico, 1.800 estudantes aprendem a usar sua fé no ministério. A Associação Ministerial Rhema Internacional foi fundada em 1985 por Kenneth Hagin Jr. Formada por 1.500 graduados do Centro Rhema de 196

OMoviinentoPakwradaFé

Treinamento Bíblico, a associação ministerial representa 750 congrega­ ções dentro e fora dos Estados Unidos. Além de suas próprias organi­ zações, Hagin tem influenciado muitos outros proeminentes e bem-suce­ didos pastores e televangelistas que também enfatizam a mensagem da fé. Muitos consideram o Movimento da Fé como a ala carismática que mais cresce atualmente. Hagin é uma espécie de anômalo nos círculos carismáticos. De fala suave e sem pretensão, ele evita publicidade. Parece não ter inclina­ ção para construir um império ou erigir monumentos para seu ego. Veste-se de form a conservadora e seu escritório não possui nenhuma antiguidade ou objeto artístico valioso. Ele ensina no Centro Rhema de Treinamento Bíblico e na Escola de Oração e Cura. É acessível tanto aos estudantes como à equipe e fi^eqüentemente faz suas refeições no refeitó­ rio dos empregados. Voltemos agora ao início para descobrir como este formidável ministério mundial começou. A fé inextinguível de Hagin no poder da fé tem raízes profundas em sua experiência. Ele nasceu prematuro em 20 de agosto de 1917 em McKinney, Texas. 0 médico que fez o parto declarou-o morto e passou a cuidar apenas da mãe dele. Mas Hagin não morreu. Ele confundiu os médicos que Uie concederam uma expectativa de vida de menos de imia semana. Porém, ele tinha um defeito congênito no coração e quando fez 16 anos de idade já estava totalmente confinado à cama. Mais uma vez, os médicos declararam-no nm caso sem esperan­ ça. Sua condição piorou progressivamente até ficar totahnente paralisa­ do. Ele ficava ora consciente, ora inconsciente, e algumas vezes chegou a permanecer inconsciente por até três semanas. Durante esta época, num de seus períodos de consciência, ele passou por uma poderosa experiência de conversão. Ele descreveu sua experiência do seguinte modo em seu livro “Creio em Visões”®^ No início dcquela noite meu coraçãoparou de bater e o homem espiritual que uiue em meu corpo partiu. Eu descia mais e mais, até desaparecerem todas as luzes da terra. Quanto mais eu descia, mais escuroficam, até que tudo era escuridão. Não podia ver minha mão mesmo se estivesse nafrente dos meus olhos. Quanto mais eu descia, mais quente e sufocanteficava. 197

Algrejado SéculoIX-AHistórkiqueNáoFoi Contada

Finalmente, pude ver, miíto abaixo de mim, as luzes ricocheteando nas paredes das cavernas dos coidenados. Eram produzidas pelas chamas do inferno. Uma gigantesca boa defogo com unna crista branca puxou-me, ataindo-nieconwumírnãataiumnietaL Chegando aofundo do abismo, tomei-me consciente da presença de algum tipo de espírito ao meulado. Eu não havia olhadopara eleporque não conseguia tirar meus olhos djfogo do irifemo, mas quandofiz uma pausa, aquela criatura colocou sua não em meu braçopara me escoltar. Naquele mesmo momerto uma vozfalou lá de longe, muito acima da escuridão, acima da terra e óos céus. Era a voz de Deus. Quando elefalou sua voz reverberoupor toda a^-egiãodos condenados, abalando-a como uma folha ao vento efazendo aquéa criatura soltar a sua mão do meu braço. Não me virei, mas um poder invisuel me puxou, e me afastei dofogo. Comecei a subir até chegar ao topo do abismo e ver ahizda terra. Desci maisduasvezesao irfemo. Qjandocomeceiadescerpelaterceiravez, meu espírito clamou e literalmente gritei: “Deus, eupertenço à igreja. Fui batizadonaágua”Espereiporsuaresposta,masnãoveionenhuma -ouvisomente 0 ecoar de minhaprópria mz como que zombando de mim. Quando saípela terceirauez daquele abismo, meu espírito começou a orar. Minha voz exteriorizou c oração. Orei tão alto que os vizinhospodiam me ouvir Pessoas começarama virpara minha casapara ver o que acontece­ ra, poismeouviram orando. ...Quando comecei a clamar a Deus, minha oração era que ele tivesse misericórdia de mim, um pecador, e que perdoasse meus pecados e me purificasse de toda injustiça Eu aceitei-o, confessei e recebi-o como meu Salvador. Senti-me tão marajilhosamente bem, que parecia que um peso violento tivesse rolado de sobre meu peito. Porém, a salvação de Hagin não afetou imediatamente sua condi­ ção física. Ele continuou conlnado à cama, mas agora em seus momen­ tos conscientes começou a ler a Bíblia. Um dia ele leu Marcos 11:24: “Por isso vos digo que tudo qaanto em oração pedirdes, crede que rece­ bestes, e será assim convosco.” Uma faísca de esperaiça acendeu-se em seu espírito. Ele m edi­ tou naquele versículo por maitos meses até que um dia o Espírito tor­ nou-o real para ele. Ele começou a crer e confessar quej á havia recebi­ do a cura. 198

0 Movimento Palavrada Fé

Naquela tarde, ele ergueu-se da cama pela primeira vez em 16 meses e agarrando-se aos móveis conseguiu caminhar pelo quarto uma vez. Na próxima manhá fez a mesma coisa. Naquela noite ele pediu a sua mãe que lhe trouxesse algumas roupas, pois iria levantar-se para ir à mesa do café no dia seguinte. Na terceira manhã, ele levantou-se, vestiuse, caminhou até a cozinha, e Juntou-se à família ao redor da mesa. E nimca mais ficou confmado à cama. Dois dias depois, no segundo sábado de agosto de 1934, ele ca­ minhou para a praça do fórum. Abrindo caminho entre a multidão que viera ao centro para fazer suas compras semanais, ele permaneceu em pé na esquina e louvou a Deus, com lágrimas descendo por suas faces. “Eu peguei meu Novo Testamento, que estava comigo...” disse ele. “Eu tinha Udo a Escritura que diz: ‘Ponde tudo à prova. Retende o que é bom .’ Eu tinha provado a passagem de Marcos 11:24, e aprendi a amar e a experimentá-la como algo real em minha vida. Eu sabia que a Palavra de Deus era verdadeira. Era possível ‘ter tudo o que pedirm os’ através de realmente crer na Palavra de Deus” Ao contrário das acusações de alguns críücos, Hagin diz que não se opõe à ciência médica e não critica aqueles que procuram os médi­ cos. Porém, ele próprio mantém sua posição de fé pessoal e aparente­ mente continua a gozar de perfeita saúde aos 79 anos de idade. Hagin começou seu ministério como um jovem pastor batista. Por causa de sua fé em cura divina começou a ter contato com crentes pentecostais. Estes pregavam sobre cura divina, mas também pregavam sobre batismo no Espírito Santo e falar em línguas. A princípio Hagin estava um pouco ressabiado com o dom de línguas, mas um estudo cuidadoso das Escrituras o convenceu de que isto ainda era uma experiência válida e, em abril de 1937, foi batizado no Espírito Santo na casa de um pastor pentecostal. Ele falou em línguas por uma hora e meia. D epois disso pastoreou pequenas igrejas pentecostais e depois viajou extensivamente no campo evangelísüco. Segundo suas estimati­ vas, já viajou mais de um milhão de milhas de carro por todo os Esta­ dos Unidos e Canadá, sempre vivendo pela fé. Em bora pregasse quase exclusivamente em igrejas dâs Assembléias de Deus nos anos 50, ele também se juntou ao grupo de mais de cem evangelistas de cura divina que trabalharam com “A Voz da Cura”, de Gordon Lindsay (ver capítulo 199

AlgreJadoSécubXX-AHistónaqueNãoFbiContada

3). Nos anos 60 ele começou a ministrar nas reimiões da Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno (Adhonep) e em outros grupos que desejavam saber mais sobre o Espírito Santo. Em 1962 Hagin for­ mou sua própria associação evangelística. Ele serviu nas Assembléias de Deus por 27 anos. A fome por ensinamento e estudos bíblicos carismáticos produ­ ziu uma avalanche de fitas e livros de Hagin baseados em seus ensina­ mentos. Hagin logo se tornou um proeminente mestre para os crentes carismáticos em todas as denominações. No início, Hagin dirigiu seu ministério de sua própria casa, em Garland, Texas. À medida que seu ministério se expandiu, porém, preci­ sava de mais espaço para sua equipe cada vez maior. Em 1966mudou-se para Tulsa, Oklahoma, onde comprou o velho edifício de T. L. Osborn. Finalmente estabeleceu um grande campus nos subúrbios de Tülsa para seu Centro de Treinamento Bíblico e para todos os outros departamentos de seu ministério mundial de ensino através de rádio, fitas e literatura. Mas não é o seu ministério de ensino o fator principal que atrai pessoas para suas reuniões, e sim o seu ministério de cura. Hagin diz que Jesus lhe apareceu pessoalmente e o comissionou para curar os doentes. Eis como ele relata o encontro:®^ Então 0 Senhor medisse: “Estendasuasmãos”. 0 Senhor estendeusuas próprias mãos diante de si e olhei para elas. Ele colocou o dedo de sua mão direita napalma da minha mão direita e depois na minha mão esquerda. No momento em quefez isto, minhas mãos começaram a arder como se uma brasa defogofora colocada nelas. Então Jesus ordenou que me ajoelhasse diante dele. Quando me ajoeIheielecolocousuasmãossobreminhacabeça, dizendo que ele me chamara e me dera uma unção especial para nmistrar aos doentes. Depois ele me instruiu para que, quando orasse e colocasse as mãos sobre os doentes, eu colocasse uma mão emcada lado do corpo. Se eusentisse umjogopulando deumamãoparaoutra, umespíritomauoudemônioestampresentenaquele corpo causando a aflição. Eu deveria expeli-lo no nome do Senhor e o demônio ou demônios sairiam. Se ofogo, ou unção, em minha mão não pulasse de uma mãopara outra, seria somente um caso de cura Eu deveria orar pela pessoa no nome dele e, se ela cresse e aceitasse a cura, a unção deixaria minhas mãos e iriapara seu corpo, expulsando a doença e trazendo

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OMovimentoPalavradaFé

cura. Quando ofogo, ou unção, deixasse minhas mãos efossepara o corpo da pessoa, eusaberiaqueelaestavacurada. Hagin toma muito cuidado para ministrar somente quando rece­ be a unção. Apesar de crer que qualquer pessoa pode receber a cura através de reivindicar as promessas da Bíblia e sempre concordar com os outros em oração, ele não impõe as mãos em alguém a menos que saiba que a unção está agindo. Embora Hagin diga que em todos os anos de seu ministério nun­ ca orou por alguém que tivesse fé para receber a cura sem que fosse curado, ele não se considera principalmente um ministro de cura. Ele defme seu ministério em prim eiro lugar como de um profeta e, em segundo, como de um mestre. Nos últimos anos, seguidamente ele cha­ mou seus seguidores para se arrependerem, para abandonarem estilos de vida mundanos e “leviandades” , para mergulharem mais profunda­ mente na vida do Espírito, desmamando a si mesmos de leite para digerir a carne da Palavra. Em 1987, Hagin recebeu a seguinte palavra profética: 0 próximo grande derramamento espiritual que Deus quer tazer sobre a terra exigirá que o homem abandone seus próprios planos, propósitos e práticaspara entrar na verdadeira oração aDeus. 0 corpo de Cristo está nas águas rasas de um novo início da manifestação da glória de Deus na terra, masessanovaondadasbênçãosdeDeussópodeocorrerquandoocorpode Cristo deixar de substituir o verdadeiro mover do Espírito de Deus pelas manifestações camais e mundanas. Mas, em última análise, a palavra específica que caracteriza o ministério de Hagin é a palavra "fé” . Hagin diz que em 1950 o Senhor lhe falou: "Vá e ensine a/é ao meu povo. Ensinei-lhe a fé através da minha Palavra e da experiência. Agora vá e ensine ao meu povo o que lhe ensi­ nei. Vá e ensine a fé ao meu povo.” Em 1963 o Senhor lhe deu mais orientação, dizendo que a mensagem da fé era a mensagem da hora, e que precisava ser levada para o mundo inteiro. 0 movimento carismáti­ co caracterizou-se pelo fenômeno de pessoas denominacionais recebe­ rem

0 batismo no Espírito Santo. Hagin crê que o movimento da fé foi a

fase seguinte da obra do Espírito no corpo de Cristo.

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A Igreja do SéaúoXX-AHistória que Não Fbi Contada

Hagin gostaria que seu ministério fosse conhecido como um m o­ vimento da “Palavra de Deus” , em vez de “movimento da fé”. Acima de tudo, ele quer que os cristãos se tornem mais “conscientes da Palavra”. Porém,

0 movimento parece ser mais conhecido como “A Palavra da Fé”.

Esta expressão vem de Romanos 10:8: “A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração: isto é, a palavra da fé, que pregamos.” 0 versículo 10 diz: “Pois é com o coração que se crê para a justiça e com a boca se faz confissão para a salvação.” Aqui encontramos a base do movimento ‘A Palavra da Fé”, e aqui encontramos a base da controvérsia que se levantou em torno do movimento. Kenneth Hagin e seus seguidores afirmam que podemos tomar qualquer versículo da Bíblia, crer nele em nossos corações e confessálo com nossas bocas e, desta forma, receber o que o versículo promete. A ênfase do movimento tem sido principalmente o ensinamento de que todos os crentes podem ser libertos de pobreza e doença através desse método. Os opositores deste ensinamento chamam-no de “teologia da fórmula de fé” e declaram que esta doutrina afirma que a declaração verbal com fé de um objetivo almejado obriga Deus a concretizar aquele objetivo. Dizem que no cerne da teologia está a suposição de que Deus é obrigado a se comportar de uma maneira específica diante de uma or­ dem, em lugar de ser o Soberano do Universo. Além disso, a teologia da “fórmula de fé” é acusada de ser um desvio da ortodoxia evangélica, e que tem sido influenciada pelos pensamentos de seitas metapsíquicas (como por exemplo, a Ciência Cristã) que enfatizam “o domínio da men­ te sobre a matéria”. Em outras palavras, o Espírito Santo nem sempre pode estar operando, mas em alguns casos o poder oculto da mente é que produziu a cura ou a prosperidade.

FALHAS DOUTRINÁRIAS Depois de examinar o testemunho e ministério de Kenneth Hagin, só podemos concluir que ele é um dos grandes homens de Deus do século XX. A fim de entender a forte controvérsia que este movimento tem gerado, examinaremos agora mais de perto a doutrina do m ovi­ mento da fé e então, a seguir, os resultados desta doutrina em deter­ minados ministérios que a defendem. Desta maneira poderemos exer­ citar melhor nossas faculdades para discernir tanto o bem como o mal

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o Movimento Palavra daFé

e prosseguir para a perfeição, isto é, a plena restauração da igreja (Hb 5:14; 6:1). Kenneth Hagin Jr., que é o administrador geral dos diversos minis­ térios de seu pai, descreve a doutrina básica do movimento da seguinte maneira: “A mensagem da fé inclui ensinamentos, como consultar as Es­ crituras para ver o que Deus tem a dizer sobre qualquer situação, e então confessar, ou apropriar-se, das suas promessas para aquela necessidade. Ensina que a cura divina está na expiação. Conclama os cristãos a reco­ nhecerem que são a justiça de Deus em Cristo. Defende que ser redünido da pobreza faz parte das bênçãos da obediência que Deus promete para seu povo (Dt 28:1-14), e que os crentes gentios podem reivindicar as bên­ çãos de Abraão porque são os filhos da fé (G13)” 0 prim eiro livro de Kenneth Hagin, pai, chamado “Redimido da Pobreza, da Doença e da Morte Espiritual”, pubücado em 1960, confir­ ma esta posição doutrinária básica. A escritura chave é Gálatas 3:13, 14,29: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.” Hagin faz uma exegese surpreendente desta passagem. Em sínte­ se,

0 que ele diz é o seguinte: “Nós somos de Cristo; portanto, somos a

semente de Abraão. Se somos a semente de Abraão, então somos her­ deiros de todas as promessas que foram feitas a Abraão. E estamos livres de todas as maldições da lei.” Cita então Deuteronômio 28, que enumera as bênçãos e maldições sobre aqueles que obedecem ou deso­ bedecem à lei e sintetiza as maldições como sendo pobreza, doença e morte espiritual, e as bênçãos como sendo prosperidade, saúde e vida espiritual. Depois conclui que o crente, por ser filho de Abraão pela fé, pode reivindicar prosperidade, saúde e vida espiritual. Ele não faz ne­ nhuma referência à obra do Espírito Santo. Consideramos que há um grande erro nesta exegese, que talvez seja a abertura principal usada pelo inimigo para produzir certos exces­ sos de doutrina e prática no movimento da fé, e que são as causas desta controvérsia feroz, 0 erro crucial é a interpretação de Gálatas 3:14: 203

A Igreja do Século X X -A História que Não Foi Contada

“Que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido.” Cremos que a bên­ ção de Abraão que nós gentios recebemos através de Jesus Cristo não são riquezas m ateriais, mas o Espírito Santo. Cremos que é uma per­ versão perigosa e perniciosa dos ensinamentos de Jesus Cristo e dos apóstolos dizer que na Nova Aliança podemos reivindicar as bênçãos materiais daqueles que obedeciam à lei. Em Jesus Cristo não temos bênção nem maldição. Temos o Espírito Santo! “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus” (Rm 8:14). Através do Espírito devemos ser conformados à imagem de Cristo. Atra­ vés do Espírito obedeceremos às palavras de Jesus: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim esse a salvará” (Lc 9:23-24; í?m 8:13). “Somos ...co-herdeiros com Cristo: se com ele sofrermos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Jesus disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus... Mas ai de vós que sois ricos! porque Já recebestes a vossa consolação” (Lc 6:20,24). 0 apóstolo Paulo disse: “...tendo, po­ rém, alim ento e vestuário, estaremos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação e em laço e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e na perdição (I Tm 6:8-9). Ver também Mateus 6:19-34. Quando Deus prometeu a Abraão que “em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3), ele estava falando do Espírito Santo que nós, os gentios, receberíamos através de Jesus Cristo. Este é o signifi­ cado de Gálatas 3:14. Através do Espírito Santo não buscaremos rique­ za, ou qualquer outra coisa para nós mesmos, além das necessidades básicas da vida, mas buscaremos o reino de Deus. Cremos que é “um outro evangelho” que encoraja o povo de Deus a buscar riqueza e a viver em luxo, enquanto milhões nem mesmo têm o necessário para viver Apesar de Kenneth Hagin ser um homem humilde com um estilo de vida simples, alguns ministérios que levam esta mensagem que é da vontade de Deus ser rico, têm assumido um escandaloso estilo de vida luxuosa,

0 qual se tornou em grande tropeço ao evangelho de Jesus

Cristo. Cremos que Hagin é um consagrado homem de Deus, mas uma 204

OMovimentoPcüauradaFé

falha grave em sua doutrma básica tem produzido escândalos e contro­ vérsias. Só podemos concluir que “um inimigo tem feito isso” (Mt 13:28). Apesar de Hagin nunca ter tido esta intenção, o inimigo confundiu-o na palavra a flm de produzir prejuízo à causa de Cristo e à restauração da igreja. Que possamos aprender através dessas coisas e não ser ignoran­ tes de suas maquinações (2 Co 2:11 ). t v r - c c cr^c c TivnrT) r XAr>c Agora trataremos sobre os ensinamentos e práticas de certos nistérios que foram influenciados pela teologia do movimento da, uma forma que consideramos negativa. Não citaremos nom^ nosso propósito não é concentrar-nos nas personalidadesjáà^sc^^rincípios. Não é nossa preocupação fomentar uma p o lê m ifà ^ q n ^ pessoas ou contra um movimento, mas corrigir o curso ^sÇ^m ^h,o para refor­ ma e avivamento. As palavras do profeta Isaías c it a d E Í^ ^ ^ c a s 3:4-6 foram usa­ das para descrever o m in istério^ofiettcad ei:^

Batista, que prepa­

rou 0 caminho para a p r im e ir ^ ^ a ^ ^ o S e n h o r Jesus Cristo. Cremos que haverá uma p rep a ra çã op ro fé^ a para a segunda vinda do Senhor (Ml 4:5). 0 propósito d e s t ó ^ o sobre a restauração da igreja é contri­ buir para a fo r m a ^ flfe ^ œ ^

“Preparai o caminho do Senhor,

endireitai aç)Si^áíw O Tas. Todo vale se encherá, e se abaixará todo monte e ou èffiü í^^ue é tortuoso se endireitará e os caminhos escabro­ sos s e , ^ ^ ^ ^ ; e toda carne verá a salvação de Deus.” com os fatores negativos do movimento da fé estamos acentrando na questão de prosperidade, porque a consideramos üs séria aberração do evangelho verdadeiro. Um ministro do movi­ mento disse que seu próposito principal é enfatizar as “leis da prosperi­ dade” para o corpo de Cristo. Quando alguém lhe disse: “Jesus era p o ­ bre, e viveu muito bem” , ele respondeu: “Isto é ridículo, Seria impossí­ vel para Jesus ser pohre! Por todo o Velho Testamento Deus prometeu bênçãos materiais para qualquer um que andasse perfeita e corretamen­ te diante dele. Se Deus tivesse falhado em abençoar Jesus financeira­ mente, ele teria quebrado sua própria palavra. 0 ministério de Jesus foi extremamente próspero! Ele tinha tanto dinheiro entrando e saindo que teve que apontar um tesoureiro. Esta era a função de Judas.” 205

A Igreja do Século XX-AHistóriaque Não Foi Contada

Em outra ocasião, ele disse: “Ele vestirá a você melhor do que ves­ tiu Salomão se você tiver fé suficiente para o permitir.” Alguém replicou: “Oh, não seria isto um pouco extravagante?” Ele respondeu: “Sim, seria. Mas oUie, é assim que Deus é, e ele tem condições para isto.” Este ministro cita 0 texto de Mateus 6:28,29, mas não é preciso muito discernimento para perceber que sua interpretação é totalmente contrária ao que Jesus estava ensinando. Outro ministro envia fitas para os membros de seu “Sucess in Life Club” (Clube de Sucesso na Vida). Um dos tópicos é “Como Predi­ zer seu Futuro” através de aprender a focalizar aquilo que está verda­ deiramente disponível e que já foi prometido na Palavra de Deus. Este homem uma vez disse a um banqueiro: “Eu sou bem-sucedido e tenho sucesso em tudo o que faço.” 0 banqueiro lhe deu o empréstimo. Este ministro disse numa entrevista: “Não posso abrir uma Bí­ blia sem lê-la. Quando a leio, vejo sonhos se formando. Eu creio que o sonho de Deus é tão grande que podemos sonhar nossos maiores so­ nhos nele. E há muito campo. Não podemos ultrapassar a Deus. Seu sonho é tão grande, que ele lhe dá campo livre para sonhar.” Em sua série de fitas chamada “Oriente sua vida através do so­ nho em seu coração”, este ministro tem a audácia, para não dizer blas­ fêmia, de dizer que a Escritura em Mateus 6:21 que diz: “Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”, pode também ser entendida como: “Onde estiver o teu coração, aí estará também o teu tesouro.” Ele diz que isto é um conceito simples que consiste em crer que Deus coloca coisas em nossos corações que indicam as áreas onde ele quer nos abençoar. Se uma pessoa gosta de lidar com negócios im o­ biliários, por exemplo, ou qualquer outro tipo de trabalho, então isto significa que Deus quer que ele prospere naquela área. Tudo isto soa como o evangelho de Jesus Cristo ou como os ensinamentos da Nova Era? Na revista “Charisma” de fevereiro de 1992 houve uma reporta­ gem a respeito de um documentário na televisão sobre um proeminente ministro do movimento da fé. Ele foi retratado como um charlatão que usa os fundos do ministério para sustentar um extravagante estilo de vida caracterizado por carros caros, um condomínio de férias na Flórida e uma mansão multimilionária na Califórnia. 0 documentário mostrou 206

0 Movimento Palavrada Fé

0 jornalista recuperando pedidos de oração num grande recipiente de lixo atrás de um banco, sugerindo que as cartas e pedidos de oração são descartadas depois que as doações são removidas e depositadas. Dizem que este ministério, chamado “Palavra da Fé” , arrecada $80.000.000 de dólares por ano. Em seu programa diário de TV, o ministro regularmente pede “votos” financeiros para serem enviados ao seu ministério. Os telespectadores são encorajados a enviar seus testemimhos de cura junto com o pagamento de seus votos. Num programa ele disse: “Quero que você faça um voto de mil dólares pela fé. Ah, eu sei que provavelmente você não tem mil dólares, mas faça mn voto neste valor.” As acusações dos críticos são que tais apelos pressionam os telespectadores a enviar doações com as quais não podem arcar, em favor de recompensas materiais que o ministro não pode garantir. Em outro programa, o ministro disse que ele próprio se separa­ ra da correria e agitação da vida da cidade, assim como Jesus se reti­ rou e foi para a montanha orar. Mas o repórter da televisão mostrou que Jesus não o fez como o evangelista, voando de primeira classe para uma estação luxuosa de esqui, hospedando-se num quarto caro e levando junto uma televisão. Este ministro diz à sua igreja: “Seu pastor está saudável e prós­ pero, e não se envergonha disto.” Ele prega irnia mensagem de prosperi­ dade e, por isso, diz que deve vivê-la em sua própria vida. Que contraste com Pedro e João, que beberam os ensinamentos e participaram do estilo de vida de Jesus Cristo por três anos! Quando o coxo no portão do templo pediu esmola: “Pedro, com João, fitando os olhos nele disse: Olha para nós. E ele os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas

0 que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno,

anda” (At 3:4-6). Vamos ouvir as palavras do próprio Jesus sobre o assunto de prosperidade: “À m edida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeh de­ mônios; de graça recebestes, de graça dai. Não vos provereis de ouro, aem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o

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o scanner quebrou aqui.

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