João Miguel de Rachel de Queiroz

October 13, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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O crime como decorrência de impulso momentâneo João Miguel é um romance social, com um penetrante aprofundamento da análise psicológica. A autora conta uma estória sobre a prisão de um caboclo sertanejo que assassinou um homem, após uma discussão no bar onde bebiam. Sem motivo aparente João Miguel comete o crime cortando o homem com uma faca. Nem mesmo o próprio personagem formulou a consciência do ato que praticou. Desta forma também não alimentou qualquer sentimento de culpa, seu ato impulsivo, num instante cego, exprime o aflorar de elementos presentes só em seus ascendentes remotos, revivendo atos de seus primários. E isto pode ocorrer em um instante passageiro, como no caso de João Miguel, ou por períodos longos, como nas manifestações múltiplas do cangaço. No plano do subconsciente e sob determinado condicionamento social, o impulso assassino sobrepuja por instantes o sentimento de humanidade passiva e submissa do caboclo sertanejo. “Sabemos que, frequentemente, os estados emocionais têm efeitos

perturbadores na realização de nossos objetivos. É sabido também, que alguns

psicólogos afirmam que o efeito da emoção é sempre negativo e perturbador. Segundo sua maneira de pensar, os processos racionais são necessariamente perturbados sempre que ocorre emoção, e essa perturbação é sempre prejudicial para a busca dos objetos. Outros psicólogos não têm uma opinião tão sombria quanto ao valor das emoções. Embora também admitam que as emoções frequentemente perturbam os processos racionais, indicam seu valor na ativação do organismo.”

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Quando João vai a julgamento, sua defesa alega a privação de sentidos e de inteligência provocadas pela embriaguez. Além da embriaguez, a cólera que surgiu no personagem na hora da discussão. Esta perturbação emocional levou João Miguel a cometer o crime sem um motivo específico. E não só ele, mas outros personagens, companheiros de cadeia. Cada um com seu motivo, também cometeram assassinato. Podemos citar o Coronel Nonato que num impulso matou Dr. Barretinho com no peito, após terem se encontrado na rua se “pegaram numa conversa alta” . 2 Também Maria

Elói, uma mulher sofredora, que abandonada pelo marido lutava com unhas e dentes para criar os dois filhos. Feriu a navalhadas com intenção de matar, a mulher que tomara seu marido, pois a mesma a provocara dizendo-lhe desaforos. 1 KRECH, pág. 305 2 QUEIROZ, pág. 60 3 QUEIROZ, pág. 48

 

Zé Milagreiro deu duas furadas de faca em alguém “mode um negocio de roçado” 3. Filó –  a

presa que cozinhava para os presos estava ali porque após uma

bebedeira, discutiu com um homem e por uma questão deu-lhe uma navalhada no pescoço. Da mesma forma que João Miguel matou sem um motivo concreto. Há uma mistura de fatalismo, de acaso neste romance que monstra a solidão humana, pois apesar de formarem um agrupamento que mantinha o sentido e os hábitos da vida cotidiana em liberdade, encontravam-se por vezes em estado de angústia e abandono. Essas sensações as sentidas principalmente por João Miguel que é o principal ângulo de observação da autora. É destacável a linguagem da romancista, pela riqueza psicológica da frase, notadamente no diálogo. Considerado no ponto de vista regionalista, apresenta acentuadas características peculiares ao linguajar caboclo ou próprio de massa sertaneja. Referência bibliográfica

QUEIROZ, RACHEL.  João Miguel. 6ª ed. , Rio de Janeiro, Livraria José Olimpio Editora. KRECH, David; CRUTCHFIELD, Richard; tradução de Dante Moreira Leite e Miriam L. Moreira Leite. Elementos de Psicologia 6ª ed., São Paulo, Ed. Pioneira, 1980. 

1 KRECH, pág. 305 2 QUEIROZ, pág. 60 3 QUEIROZ, pág. 48

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