Izabel Augusta A Família Como Caminho

October 13, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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- edição, atualizada I

% Passar por um processo terapêutico é uma experiência que faz diferença na vida de uma pessoa. M ais ainda quando toda a família passa junto! Depois de mais de 10 anos, vendo-nos retratados num livro, refle tindo sobre tudo omque aconteceu durante sessões, depois, a palavra ais forte que me vem éasgratid ão. e nesse tempo Gratidão à terapeuta, que conseguiu nos en volver na descoberta dos nossos padrões relacionais, nas aprendizagens e mudanças que fizemos. Gratidão a mim mesm a... pel pelaa coragem e persistência persistência que tive. No entanto, a maior e verdadeira gratidão tenho para com minha fam ília... pelo pelo amo r incondicional que foram descobrindo e desenvolvendo, pela humildade em recon hecer dificuldades e limites, pelo constante investimento em dar continuidade - d urante a terapia e depois dela - ao exercício de autoconsciência, de desprendimento das antigas verdades, de desejo de crescimento e de busca da felici dade e paz nas relações familiares. Obrigada! Izabel Augusta

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Izabel Augusta a família como caminho

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 Abordan  Abo rdando do os princípios básico básicoss da Terapi Terapiaa Relacional Sistêmica, Izabel Augusta - A Família  como Caminho relata o desenrolar das sessões e do processo de uma família que busca a terapia em função do uso de drogas pela filha caçula. Passo a passo, a autora vai justificando e explicando cada uma das suas intervenções nas sessões, bem como as tarefas e os encaminhamentos. Pelas colocações teóricas, técnicas e clínicas, este é um livro útil para os Terapeutas de Família, Terapeutas Terapeu tas Sistêmicos Sist êmicos e Terapeutas de outras áreas que se interessam pelo assunto. Em função da problemática da família (drogas, adoçã adoção, o, dependência / independência, independê ncia, entre outros), este livro livr o interes interessa sa a todo todos s que são ou vivem em família.  Acompanh  Acom panhar ar o re relat latoo da dass ses sessõe sõess levalevanos a entrar em contato com os temas ine  vitáveiss a respeito  vitávei respeito de re relaç laçõe ões, s, conflitos conflitos e alegrias de viver em família. As vitórias, reca  ídas  ídas,, difi dificu culd ldad ades es e desc descob ober erta tass de Izab Izabel el Au Augu gusta sta,, mesmo que diferentes nos conteúdos, remetem-nos ao nosso processo de crescimento e autonomia.

I z a b e l   A  u g u s t a    a fam fa m ilia ili a co como mo cami caminho nho

 

Solangee M aria Rosset Solang Rosset

 ÍZAB  ÍZ AB EL A  u g u s t a    a fam fa m ília íli a co como mo cam caminh inho o

2a edição

EDITOB#

S O L

Curitiba

2011

 

Copyright© 2011: Copyright©  2011: Editora Sol Design de capa e miolo / fotografias: Sílvio Ga briel Spannenber Spannenbergg  Ja n a ín a Sc ot ti Pi nt o Revisão de Língua Portuguesa: Eliane Mara Alves Chaves Impresso no Brasil Todos os direit direitos os reservados. Nenh uma parte desta edição edição pode ser utilizada ou reproduzida em qualquer meio ou forma, mecânico ou eletrônico, n em apro priada ou estocada em sistem a de bancos e dados, sem a expressa autorização da autora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP SP,, Brasil) Brasil) Rosset, Solange Maria Izabel Augusta: a família como caminho/Solange M aria Rosset. 2. ed. Curitiba: Editora Sói, 2011.189p. 14cm x 21cm isbn

  978-85-89484-12-1

1. Terapia de família. 2. Terapia relacional sistêmica. I. Título. CDD 616.89156

Todos os direitos desta edição são reservados à Editora Sol. R. Capitão Souza Franco 881, 881, cj. 142 - 80 730-420 - Curitiba - P R Telefone/fax: (41) (41) 3022.2969 3022.2969 -E -m ail: [email protected]   Site da autora:  w w w .s ro ss et .c om .b r

 Aos alunos, com quem, ensinando, aprendi muito, minha gratidão, por terem me ajudado a ter coragem e humildade para “mostrar a minha cara”.

 

Su m á r i o

 Apresentação, 9  Apresentação  Apresenta ção à segunda edição, 11 1 Os primeiros prime iros contatos, 13 2 Prim eira sessão, 21 3 Redefinições, 39 4 Contrato individual, 47 5 Circulação Circula ção do sintoma, 57 6 Circulação Circu lação dos acontecimentos, 75 7 Arv ore genealógica, genealógica, 81 8 A família famí lia biológica, 91 9 Entradas e saídas, 99 10 Dados de realidade, 111 11 Rituais na terapia de família, 121 12 Só para relatar, 125 13 Mudança Mudançass nos padrões familiare fam iliares, s, • 137 14 Final do processo com o terapeuta, 155 155 15 Seguimentos, 165 16 Como tudo surgiu, surgiu, 173 17 Atualizando, 181 Referências, 187

 

 A  p r e s e n t a ç ã o

M i n h a  i n t e n ç ã o  i n i c i a l  era estruturar um texto

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básico para os alunos dos cursos de Formação em Terapia Relacional Sistêmica. Aos poucos; ela foi mudando, e resolvi organizar um livro direcionado aos profissionais da Psicoterapia, mas também de leitura leitura viável para outras pessoas. Para relatar o caso, escolhi o atendimento desta família por facilitar a inserção dos aspectos teóricos e técnicos. Optei por manter o relato das sessões e acrescentar os comentários teóricos, técnicos e clínicos. Dessà forma, fica mais claro o que aconteceu, as minhas concepções teóricas/ técnicas e os aspectos pessoais relacionados com minha pos tura, minhas crenças e meus propósitos como terapeuta. Nos capítulos iniciais, senti a necessidade de ampliar mais os comentários, visto que, nos primeiros contatos, cada movimento é de vital importân cia para a definição do caminho a seguir, inclusive se haverá caminho em conjunto. Nos capítulos seguintes, quando o caso ;á está delineado e o processo está em em curso, os comentários foram se tornando menos necessários ou menores.  Após o relato do caso, caso, acrescentei o capítulo Como tudo  surgiu, o qual tem tem por objetivo salient salientar, ar, mais u ma vez, a importância do processo da pessoa do terapeuta na ideologia do seu trabalho e na sua possibilidade, ou não, de escolher

estratégias e caminhos profissionais.  

Esse relato contém o que é mais pessoal e específico na minha forma de ser e exercer a Psicoterapia. Desejo que todos - alunos, psicoter psicoterapeutas, apeutas, clien clientes, tes, pes pessoas soas - possam

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r e s e n t a ç ã o

 

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edição

fazer bom uso desse material. Curitiba, fevereir fever eiroo de 220001. 01.

Em 2001, o livro Izabel Augusta Augusta - a fa famí mília lia com comoo caminho foi caminho foi publicado publi cado pela Livra ria do Chain Editora. Durante 10 anos anos,, foi lido por inúmeras pessoas, que se encantaram com as dores e alegrias da personagem e sua família. Muitos fize ram bom uso das páginas escritas a partir da história e das peripécias de Izabel Augusta. No entanto, o uso mais difundido desse livro foi realizado realizado por terapeutas, de processos individuais e ou de processos familiares. Nos cursos de formação e pós-graduação em terapia familiar, ele tem servido como roteiro de estudos e pesquisas, auxiliando professores a desenvolver a capacidade capacidade terapêutica dos profissionais em desenvolvimento. desenvolvimento.  Assim,, é com gratidão e desejo d  Assim dee qu quee continue send sendoo útil que, nesse momento, apresento a segunda seg unda edição, revisada e atualizada, do Izabel Augusta - afa famí míliliaa com comoo cam caminho, inho, agora  agora na Editora Sol. Curitiba, feve fevereir reiroo de 20 2011. 11.

 

Os primeiros contatos

minha secretária ano tou o telefonema de uma pessoa, que se identificou identif icou como Débora e queria marcar uma consulta, indicada por um psiquia tra, cujo nome nome não revelou. A secretária esqueceu-se esqueceu -se de pergu perguntar ntar se a consulta era para ela mesma e qual o nome do psiquiatra. Como ela é orientada para perguntar para quem é a consulta e o C o m o   d e  p r a x e ,

nome de quem indicou - como sempre sempre faz - fiz o telefonema inicial com algumas hipó teses em mente.  Ao iniciar inicia r a conversa com Débora, conf confirme irmeii que hav havia ia certa confusão entre quem queria realmente a sessão e se deveria ser uma sessão individual ou familiar, pois ela queria marcar consulta para sua irmã Izabel Augusta, de 22 anos. Esclareci para ela minha forma de trabalhar e expliquei que a própria Izabel Augusta deveria me ligar, tendo em  vistaa que era uma pessoa adulta e que isso seria um modo  vist

de avaliar sua pertinência para a terapia.  

Dois dias di as depois, recebi um telefonema, o qual eu mesma atendi, o que não era comum. Era Izabel Augusta e, já nas primeiras palavras, pareceu-me alcoolizada, apesar de ser

de quem encaminhou, pergunta para quem é a consulta e qual o melhor horário horá rio pa para ra que eu retorne a ligação. Assim, tenho a intenção de passar para o cliente uma ideia clara clara de

somente 8h da manhã. Perguntei se ela estava bem, ao que ela respondeu que sim, apesar de não ter dormido e ter passado uma hora ouvindo críticas e xingamentos dos irmãos. Pareceu-me uma pessoa que percebia bem seus senti mentos e situações, petulante nas colocações, sempre na defensiva e com a resposta na ponta da língua.

como atuo e desenvolver, desde o início, um nível de perti nência que possibilite um trabal trabalho ho focado n naa mudan mudança ça dos padrões de comportamento do sistema que está procu procurando rando atendimento.1 Por ser o telefone o primeiro contato entre o terapeuta e a família, é fundamental que o profissional já comece a explicitar qual é a sua abordagem e a ideologia subjacente ao

 Ao pergun per guntartar-lhe lhe sobre o que estav estavaa acontecendo, ela disse que usava drogas mais ou menos pesadas, que tinha comportamentos não aceitos pela família e que todos a pres sionavam para que procurasse um tratamento. Também me contou que já tinha ido a mais ou menos 10 psicólo psicólogas gas e passado por dois internamentos.  Ao levant lev antar ar seu nível nív el de autonomia, para de defin finir ir se seria sessão individual individu al ou familiar, ela disse que tinha como pagar a sessão e fazia questão que fosse uma individual. Entre outras razões, porque queria romper definitivamente com a família. Relatou que seu pai morrera há 12 anos e sua mãe não queria mais se envolver com suas questões. Marcamos Marcam os a sessão para a semana seguinte seguinte.. D eixei claro que teria de me avisar se, porventura, não pudesse vir.

problema que lhe está sendo apresentado. O fato de não usar o telefone somente para a marcação da primeira entrevista, de forma passiva e automática, faz o interlocutor entender que existem princípios diferentes naquela terapia. Para que as definições ocorram, ocor ram, é de grande importância que a secretária que recebe o pedido seja bem orientada. Esse treinamento treina mento consiste não só nas regras básicas de aten dimento num consultório de Psicologia; acima de tudo, é necessário que ela seja treinada nas propostas sistêmicas básicas, além de compreender e aceitar a forma específica do trabalho. Isso Iss o é indispensáv indispensável el para que ela possa ter argu mentação convincente para os questionamentos dos clientes, tais como: Por que não pode marcar marca r o horário diretam diretamente? ente? Por que não pode informar o preço da sessão? Essas argumentações vão mostrando para o cliente que, antes de qualquer definição, vou conversar com ele pelo

Minha forma de trabalhar atualmente começa a se deli

near já no primeiro contato do cliente com meu consul tório. A secretária anota o nome de quem ligou, o nome

1

G RO RO IS IS MA MA N, N, M . Família, trama e terapia. São Paulo: Objetiva, 1991. p. 23.

 

telefone; só depois disso, alguma decisão será tomada ou alguma sessão será marcada. Também deve ficar claro que a definição de preço e for

informações e o trabalho futuro. Por isso, estabeleço estabeleço parâ metros sobre a forma a ser adotada. Isso significa que vou redefinindoo o que for necessário, para que o cliente compre redefinind

mas de pagamento já faz p arte dos encaminhamentos encaminhamentos tera pêuticos e acontecerá na primeira sessão sessão.. Se a secretária for bem treinada, poderei confiar nos dados que me passa, e eles ajudarão a começar a defin d efinir ir hipóteses sobre a situação situação.. Preciso contar com dados concretos, com a percepção que a secretária teve e também com os lapsos e esquecimentos que aconteceram. No atendimento que relato, o fato de a secretária ter se esquecido de perguntar para quem era a sessão dá uma mínima indicação indicação p ara levantar hipóteses hipóteses de que há algo de confuso no pedido. Outro dado que ajuda a levantar hipóteses é quem fez o encaminhamento. A pertinência do cliente para a terapia terapia depende em muito do tipo de encaminhamento realizado e do trabalho prévio que o encaminhador realizou. Nesse caso, o fato de não ter sido encaminhada por um profissio

enda e confie nas minhas propostas, assim como para que ele já comece a desenvolver comportamentos importantes para o trabalho, ou seja, responsabilidade pelo processo e pertinência para a mudança. O desenvolvimento da responsabilidade é fundamental, uma vez que é o primeiro primeir o passo par paraa que o cliente amplie a consciência do do seu funcionamento. A pertinência pertinên cia - compre

nal da mesma área, mas por um psiquiatra, cujo nome não foi revelado, foi f oi sinal que me levou ao primeiro telefonema com hipóteses de um quadro psiquiátrico, de envolvimento de família, de dificuldades do sistema em lidar diretamente com o que estava ocorrendo. O primeiro telefonema tem como função checar as hipóteses, colher novas informações e definir o que deverá ser realizado (se haverá uma primeira sessão, quem deve comparecer, quando vai ocorrer e qual o seu objetivo). Ao

endida como disponib ilidade e prontidão mudança  va i de defin finir ir o disponibilidade que, como e com quem vou vo para u desenv desaenvolve olverr otrabalho. No telefonema que fiz para Débora, ao perceber que a pessoa que havia feito o telefonema não era a interessada na terapia, cortei o encadeamento da queixa e das explicações, para poder redefinir redefin ir o encaminhamento nos meus termos e para não receber informações informaçõe s que me levariam ao contato com a cliente com pré-conceitos sobre seu funcionamento •e sua visão visã o da situação. Esse corte norma normalmente lmente é dif difícil ícil de fazer, pois fere, de alguma forma, forma , as regra s da boa educação e o senso comum de que um terapeuta deve ser cordato e receptivo. No entanto, é fundamental para o trabalho que se seguirá.2 O primeiro telefonema com Izabel Augusta seguiu as normas básicas para colher informações e pontos de vista

mesmo tempo, tenho a preocupação de estabelecer um ví vín n culo com quem telefona, de forma for ma a fa cilitar a coerência das

2

WH ITA K ER, K ; BU MBERRY, W .   Dançando com a família. São Paulo: Artes Médicas, 1990. p. 42.

 

do cliente, mapeando a sua estrutura de funcionamento,  já defi definind nindoo a fo form rmaa de trab trabalho alho e as regra s básicas - res  ponsabilidade, possibilidades de escolha -, bem como o

 Ao dar o pri prime me iro telefonema, telefone ma, já com as in informaç formações ões sobre o pedido, pedid o, sobre quem encaminhou en caminhou e sobre pe percepçõ rcepções es da secretária, estou alinhavando hipóteses. Assim, o pri

padrão de interação do sistema sistema terapêu terapêutico tico - relação direta e explícita com a terapeuta.3 Trabalhando assim, no pri meiro telefonema, já se esboça o “cenário” da futura relaç relação ão terapêutica.

meiro contato telefônico pode ser ma mais is rápido, mais objetivo, objetivo, mais direcionado ao funcionamento do cliente em questão e, portanto, mais eficaz. As hipóteses serão confirmadas, realinhadas ou descartadas, mas meu olhar certamente será

Como é raro eu mesma atender ao telefone, “anotei" o fato de estar tão “disponível” para essa cliente. Essa sensação ajuda-me a estar esta r mais consciente e cuidadosa com o que falo

mais eficiente.  As pergunt perg untas as do p rimeiro rim eiro contato serv servem em para avaliar o que está acontecendo e, principalmente, como, quando e

ou redefino no primeiro contato. Preciso estar em contato com a pessoa, mas a disponibilidade não pode me levar a fazer movimentos que são de responsabilidade do cliente, nem a facilitar um compromisso, sendo conivente com a dificuldade relacional do caso. caso.  A comp reensão reens ão de que o trabal tr abalho ho terapêu terapêutico tico inicia-se inicia-s e no prime iro contato, na primeira fala, é que me leva a rara mente atender ao telefone. O padrão de relação do sistema terapêutico começa a se desenhar na forma do primeiro intercâmbio. É tarefa e responsabilidade do terapeuta estar atento ao padrão que está sendo delineado; se ele é terapêu tico ou repetitivo do padrão de interação disfuncional. Se eu atender ao telefonema impulsivamente, ou sem planejamento, não saberei qual a atitude mais funcional, mais terapêutica, m ais indicada para aquela conversa.

com quem está acontecendo. O meu foco, durante todo o tempo, é ava liar a pertinência do pedido e do cliente.4 cliente.4 Um dos cuidados que sempre tenho é o de esclarecer quais são as regras a serem seguidas. Dependendo do caso, essas regras existem ou não. No entanto, quando existem, explicito quais são e o que acontecerá se não forem cum pridas. Por exemplo: se defino que é pertinente que devem estar todos da fa mília na primeira sessão, faç façoo a exigênci exigênciaa claramente no telefonema, citando todos os nomes do doss par ticipantes e salientando que a sessão deve ser desmarcada se alguém não puder comparecer. No caso de Izabel Augusta, explicitei que, se ela não viesse, deveria telefonar assumindo sua desistênci desistênciaa da terap terapia. ia.

3 ANDO LFI, M.; ANGELO, C. Tempo Tempo e mito em psic oterap ia familiar. São Paul Paulo: o: Artes Médicas, 1989. p. 25.

4

KESSELMAN, H. Psicoterapia breve. Madrid: Fundamentos, 1977. p. 33.

 

 A primeira se sess ssão ão

i  ■

I z a b e l  A u g u s t a  a p a r e c e u  para a primeira prim eira sessão 50 minutos minutos

antes da hora marcada. marcada. Por m mais ais u uma ma coincidência, eu estava disponível e, ao vê-ia, decidi iniciar logo o atendimento.  Ao observá-la, não pude de ixar de notar nota r as profundas olheiras, as roupas mal-arranjadas e o cabelo despenteado e sujo. Usava muitos anéis, em quase todos os dedos, mas a aparência deixou-se confusa em definir se eram joias ou bijuterias de pouco valor. Comecei a sessão, perguntando: “Que bons ventos a tra zem aqui?” Ela riu e disse que já lhe tinham prevenido que fe fe,,4 eu não não era era u uma ma ter terap apeu euta ta norm normal al.. Com Comoo poderia alguém normal fazer uma per gunta dessas a um paciente qu quee vem para uma consulta com essa aparência? Brinquei, dizendo que eu não tinha , “pacientes” e que era apenas “meio normal”. nor mal”. Disse a ela que minha minh a utopia era imaginar

que,, um dia, as pessoas procurariam que procura riam meu

 

consultório somente por algo bem bom. Ela riu, mas não engatou na brincadeira. Perguntei quem a tinha encaminhado. Izabel Augusta contou-me que, da primeira vez que lhe deram meu nome, havia sido um psiquiatra que participara com ela de um grupo para ex-pacientes de uma clínica em que esteve internada. Ela disse a ele que precisava de outro tipo de terapeuta, e ele falou de mim. Ela não soube dizer se o psiquiatra havia hav ia sido meu cliente cliente,, nem se estava no grupo na condição cond ição de ex-paciente ou de terapeuta. terapeuta.

fumo na sala de espera, se bem que não gosta de maconha. Quando decidiu por comparecer, decidiu também por vir de cara limpa, para depois lemb lembrar rar bem da terapeuta e das

No entanto, a família só havia decidido me procurar quando um psiquiatra de uma cidade vizinha à sua reco mendou uma terapeuta com compreensão e atuação fami liar. Ao ouvir o nome e lembrar que se tratava da mesma psicóloga, Izabel fez uma cena, dizendo que não vinha vin ha e que não acreditava acre ditava que mudanças pu pudessem dessem ocorrer na família. Repetiu todas as encenações que sabia fazer e que, sabia, podiam podi am enlouquecer sua irmã. Alé Além m disso, as cenas sempr sempree levavam Débora a fazer o que ela queria. Falou isso de um fôlego só, com ar de exibicionismo, mas ao mesmo tempo mapeando o que eu demonstraria achar disso.  Avaliei,, então, se el  Avaliei elaa estava ali de livre e espontânea von  tade e se tinha realmente escolhido vir me ver. Ela disse ter consciência de que acabaria morrendo se não parasse de se drogar, mas não acreditava que tivesse solução. Por outro

tipos de problemas. Desafiou-me a seriedade do seu caso, alertando-me alertandome para o risco decom overdose e de su suicíd icídio. io. Reagii com minhas redefinições usuais: mostrando firmeza Reag nas minhas crenças e propostas, não me deixando seduzir pela dificuldade do caso, não entrando numa briga estéril pelo poder e mostrando o que via do seu funcionamento, enquanto ela queria me cegar com os seus conteúdos. Encerreii nossa alegre batalha, dizendo que Encerre que era prazeros prazerosaa

lado, sempre que se aproximava do fundo do poço, alguém a forçava força va a procu procurar rar ajuda. Desde que marcou a se sessão ssão comigo,

para o seupassou caso, poderíamos o caminho a seguir.de Izabel a me contardefinir sua vida, com facilidade

coisas que ela dissesse. Portanto, veio porque quis.  Ao pergun perguntar tar a ela paia quê, tivemos nossa primeira batalha. Izabel Augusta guerreava com suas suas armas predile tas e usuais: ficava fica va ironicamente agressiva; desquali desqualificava ficava o meu trabalho; responsabilizava-me pela cura da sua doença, dizendo: “O terapeuta faz um juramento de ajudar a quem precisa”; dizia que eu era uma terapeuta que resolvia esses

a forma intensa, explícita e com garra, com a qual ela guer reava, mas parecia-me não ter sido muito útil até o mom momento, ento, tendo em vista que ela era uma mulher de 22 anos, que se apresentava muito feia, mal cuidada e que, apesar disso, ainda estava muito misturada com a família. Propus que me contasse um pouco do que estava acontecendo. Se eu achasse que poderia ajudar e sentisse que estava disponível

hav havia ia analisado todas as po possibilidades ssibilidades - desd desdee não aparecer, aparecer, avisando ou sem avisar, até vir drogada ou ficar puxando

expressão, mas como se fosse um folhetim. Aos poucos,

 

e a partir das minhas perguntas, fiquei conhecendo sua história. Começou contando dos seus sintomas: infância sem mui tos amigos, boa atuação escolar, com sintomas e doenças de criança. Começou a fumar muito cedo, mais ou menos aos 12 anos. Foi estudar numa cidade grande aos 14 anos, mas começou a ter insucessos na escola, a gazear aula e ficar bebendo em barzinhos. Começou a fumar maconha, mas não gostou. Em busca de outras sensações, começou a cheirar (cocaína). Aos 19 anos, usou drogas injetáveis pela primeira vez. Passou por muitas terapias, e nada adiantou. Só parou com drogas duas vezes, por ter sido internada, mas  voltou  volt ou logo logo qque ue sai saiu u do do intern internam ament ento. o.  Algumas  Algu mas co coloc locaçõ ações es deIza Izabe bell soa soavam vam co com mo se est estive ivess ssem em soltas, e eu não descobri logo como lidar com a sensação de confusão. Perguntei, então, sobre a história da família. Ela nasceu em uma cidade pequena do interior, em família com muitos bens. O pai herdara quase tudo que era do pai dele, porque sabia lidar com as coisas e com dinheiro. Um

Com um sorriso maroto, falou: “Acho que sei. Eu estou querendo confundir você, pois fiz uma aposta de que con seguiria passar uma sessão inteira sem lhe contar algumas coisas". Passou, então, a contar-me a história real, inicialmente com alguma alguma ironia. Ao Aoss poucos, porém, foi ficando séria, e a  voz, rou rouca. ca. No No final, o rrela elato to era era entr entrecort ecortado ado pe pelo lo choro choro.. Seus pais, Rubens e Vilma, tinham quatro filhos, três homens e uma mulher: Henrique, Daniel, Débora e Vitor. Rubens era um industrial que viajava muito e levava uma  vida bem indep independ endente ente,, enq enquan uanto to Vil Vilma ma ficava em casa, casa,

de seus irmãos, Henrique, ficara no lugar doirmã. pai (quando da sua morte); tinha mais dois irmãos e uma  A forma como como dava as as inf informa ormações ções er eraa rápid rápida, a, fech fechad ada, a, sem fazer e sem facilitar comentários. Fui me sentindo tonta, sem conseguir gravar as informações que me passava. Pedi que parasse; disse a ela o que estava acontecendo comigo. Perguntei se tinha alguma ideia do motivo que me fazia sentir assim, já que não é meu padrão básico de

bebê dormindo. comadre contou queeuma mulher tinha tido uma menina,Amas não podia criá-la estava procurando alguém que quisesse. Desde que viu o bebê pela primeira  vez, don donaa V Vand andaa pe penso nsou u na coma comadre dre Vilma. Vilma. Com 42 anos, Vilma aceitou ficar com a criança, para  ver o qu quee faria. Com o ppassar assar do dia, decid decidiu iu ado adotar tar o bbeb ebê. ê. Quando sua filha Débora e o filho caçula, Vítor, chegaram do clube, no início da noite, ela apresentou o bebê como “sua

funcionamento numa primeira sessão.

organizando as coisas etinha cuidando dos efilhos. Em 1974, Henrique 22 anos já era casado com Heloísa; Helo ísa; Daniel tinha ti nha 17 e estudava em outra cidade; Débora tinha 15 e Vítor, 10 anos. Numa tarde de setembro, ao voltar para casa de uma  visita,, sua mãe encontrou  visita encontrou uma comadre comadre do interior, interior, que disse ter lhe trazido um presente. Curiosa, a mãe descobriu a cesta que estava em cima da mesa e deparou-se com um

nova irmãzinha”. Assim, como tinha decidido adotá-la, já

tinha mandado vir tudo o que precisava para o bebê. Tinha

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25

 

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Vocêdecide o quefa fazer zer . A cho que você me sac sacane aneou. ou. I za zabe bel Augusta, não; não; I A , nã não; o; Bru B ru

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Dois dias depois, recebi um recado por fax  de IA, dizendo que os cinco irmãos viriam à sessão, que a vinda da mãe dependia da saúde dela no dia e que nenhum dos irmãos conseguiu definir quem da sua família viria. Ela estava preocupada com essa indefinição e, se eu tivesse alguma dúvida, entrasse em contato. No dia da sessão, foram chegando aos poucos. Estava marcada para 10 horas. Só cheguei 10 minutos antes, mas a secretária tinha ficado encarregada de anotar a ordem de chegada e os nomes.

me dizendo nome e de que era.próximos Eles ocuparam os lugares sem ao preocupação de ramo ficarem dos mem bros da sua família. Então, eu não podia saber quem era quem. Pedi para IA ir escrevendo os nomes no quadro, com cores diferentes para a família de cada irmão. Ela estava bem arrumada, penteada e maquiada, apesar de estar com olheiras profundas, e tinha sentado num banquinho pró ximo a mim.

 A primeira a chegar foi IA, 30 minutos na minutos aant ntes es. . Veio sozi nha. Tinha chegado de véspera e dormido cidade. Depois, chegaram Débora com Roberto, os filhos e a mãe. Tinham vindo em dois carros. Num, a família; no outro, a mãe com o motorista. Cheguei junto com Vítor, sua esposa Elisa, Daniel com o filho de 14 anos (a esposa não veio porque o filho de 12 anos teve febre).

Expliquei, então, que tinha sugerido uma sessão de famí lia porque a situação de IA era muito séria. Ou ela fazia, logo, uma profunda mudança no seu funcionamento, ou o tempo passaria e, quando nos déssemos conta, a mudança seria muito mais traumática, senão impossível. Disse-lhes que, da forma como trabalhava, compreendia que sempre que alguém apresentava um sintoma ou tinha dificuldades, era sinal de que a família como um todo estava evitando

Entrei na sala de atendimento e pedi que eles esperassem para entrarem quando Henrique chegasse. Ficaram na recepção e no corred corredor, or, conversando anima damente sobre assuntos gerais, a viagem, um programa de televisão. Pareciam todos à vontade, sem grandes receios.  A mãe estava nu numa ma cadeir cadeiraa de roda rodass e naò conversava conversava com ninguém.

fazer aprendizagens ou mudanças. Disse que tinha minhas hipóteses de que essa família tinha evitado lidar com algumas situações difíceis quando ocorreram e que, agora, poderiam aproveitar o momento para aprender e fazer algumas mudanças. A tarefa ta refa de m mudar udar sua história era e ra de IA, tendo em vista ser uma mulher mulher adulta. adulta. Eu trabalho trabal ho focando a decisão e responsabilidade da pessoa pessoa

começou apresentando a mãe; quando ela ia apresentar a família, pedi que, na ordem que quisessem, cada um fosse

Exatamente no horário, chegaram Henrique e Heloísa,

em escrever sua história, independente independente das dificuldades dificuldades que

com os filhos, Rebeca e Neto. Pedi que entrassem na sala e iniciei a sessão, apresen tando-me e pedindo que cada um se apresentasse. Débora

tenha tido quando criança ou adolescente. O convite para a família integrar-se no processo aconteceu porque acredito qu que, e, se houver mais pessoas envolvidas em refazer a história,

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será mais fácil para IA redefinir suas questões, passadas e atuais, e poder pensar num projeto de futuro. Também os convidei porque acredito que todos da família podem se beneficiar com essa possibilidade de mudança. Pedi, então, que cada um dissesse o que via, pensava ou sentia com relação a essa família. Henrique iniciou, dizendo qu que, e, com certeza, eles tinham algumas questões, mas eram as normais de toda família. Eles estavam ali para esclarecer sobre alguns comportamentos de IA. Expliquei, Expliquei , então, que eujá sabia das complicações d dee IA, seja por ela, seja por Débora. Na medida do possível, ele poderia me colocar novos tópicos, mas eu queria aproveitar aquele momento, em que grande parte da família estava presente, para par a saber a visã visãoo dos acontecimentos acontecimentos passados e atuais no ângulo de cada um. Débora disse sempre ter certo mal estar com relação à forma como IA foi adotada, mas que, após a sessão em que esteve com a irmã, tomou consciência da culpa e raiva que sempre teve em relação a ela. Perguntei se esses sentimentos também se referiam à mãe, e ela disse achar que sim, que nunca conseguira entender direito por que a mãe fizera isso, nem conseguira conversar direito com a mãe sobre o assunto.  A minha minha pergunt perguntaa e a colo coloca caçã çãoo d dee Débor Déboraa trouxera trouxeram m um mal-estar mal-es tar pa para ra todos. Eles olharam para a mãe qu que, e, sentada

 Aos poucos, todos foram se colocando e dizendo que ninguém compreendia a forma como a mãe resolvera fazer a adoção. Perguntei, então, como era a situação da família antes da adoção.  Vítor disse disse qque ue não sabia, sabia, pois eera ra pequ pequeno eno;; Daniel Daniel estu dava fora e não estava por dentro da situação; os netos disseram que nem tinham nascido. Então, Heloísa, sensi  vel  velmen mente te agitad agitada, a, falou que que achav achavaa um desperd desperdício ício virem até ali fazerem de conta que não sabiam de nada; apesar de nunca terem conversado abertamente sobre o assunto, todos sabiam que os os sogros estavam e stavam passando por uma u ma fase difícil no casamento, que a sogra estava muito raivosa com Henrique porque era confidente das histórias do pai e que não tinha aceitado o casamento de Henrique e Heloísa, nem a gravidez precoce. Disse, também, de como a sogra forçou Débora a assumir os cuidados cuidados com IA. Quando Vilma tele fonou para Heloísa para contar a notícia, disse-lhe: “Não é só você que vai ter bebê, também tenho meu troféu!” Heloísa falou rapidamente e, no final, rompeu em prantos. Rebeca mudou de lugar, sentou-se ao lado da mãe e começou a chorar também. Disse que achava bom pôr para pa ra fora essas coisas velhas. Contou que a avó nunca lhe dera bola e que ela e IA nunca conseguiram ser amigas, pois sempre tinha alguém colocando uma contra a outra - as empregadas, a

na cadeira de rodas, parecia não ouvir ouvi r o que diziam e olhava olhava

avó, o avô que a tratava como como princesa e passava esbarrando

pela janela, para fora for a da sala.

em IA como se ela não existisse.

o



 

Henrique olhou para mim e disse: “Então, doutora, parece que mexeu em vespeiro! Isso vai ajudar alguma coisa? Não

IA e Rebeca sentaram-se no chão ao lado da cadeira de  Vilma.

 vai servir ser vir de mais razão para a mocinha ali fazer mais besteiras?” Falei que esse era um dos riscos, mas que eu costumava tomar alguns cuidados. Expliquei que Heloísa e Rebeca tinham trazido um pouco dos sentimentos acumulados por mais de 20 anos e que eu acreditava que a melhor forma de lidar com mágoas, raivas, culpas e outros “bichos” &ra expressar logo l ogo depois que surgiam, assim limpando e rede

homens, apesar ser visível a sua não saíram dosOslugares. Disse quedegostaria que elesemoção, expressassem um pouco do que estavam sentindo, pois as mulheres tinham soltado um pouco da emoção, e eu não queria que eles saís sem da sessão com dor de cabeça. Neto pediu que eu expli casse a colocação e, quando entendeu que uma das hipóteses de dor de cabeça era a emoção de choro presa, brincou que ele entendia por que seu pai vivia com dor de cabeça.

finindo as situações. Entretanto, na maioria das vezes, nós não conseguimos fazer fa zer isso; então, essa emo emoção, ção, essa energia, fica envenenando por dentro. Um dos riscos das sessões de famíliaa é trazer famíli traze r tudo isso à tona e machucar to todos dos os envol  vidos. Isso, ao invés de ajudar, ajudar, pode criar novas mágoas mágoas,, raivas e culpas. Disse que tinha algumas propostas a fazer, fazer, mas antes pre cisava ver como a mãe dessa turma estava se sentindo com

Henrique só falou: “É... Parece que a senhora mexeu...” Daniel disse que deveria fazer uns 20 anos que não cho rava, o que gerou uma reação em todos, pois ninguém tinha percebido seu choro. Ele brincou, dizendo ser especialista em chorar de forma transparente.  Vítor diss dissee nã nãoo te terr ch chor orad ado, o, mas qu quee tev tevee vo vonta ntade de de sair sair da sala, de ir ao banheiro, de acabar com aquela choradeira. Roberto, por seu lado, falou que começou a lembrar de

tudo que estava sendo dito e acontecendo. Aproximei-me de Vilma e vi que ela esta estava va chorando de uma forma quase imperceptível. Segurei sua mão e acheguei-me a ela, de forma que sua cabeça ficou próxima do meu corpo. Ela começou a soluçar baixinho baixin ho e, aos poucos, poucos, foi aumentand aumentandoo o choro. IA aproximou-se, ao mesmo tempo em que Rebeca. Saí e deixei IA em meu lugar. Heloísa e Elisa também se

cenas de 20 e tantos anos atrás, de fatos acontecidos desde que ele estava em contato com essa família. Fernando disse que achou tudo esquisito; Marcelo, que achou legal; Neto disse que nunca imaginou ver uma cho radeira dessas. Expliquei, então, que existem muitos jeitos de lidar com

aproximaram; depois, Débora e Patrícia.  Após uns uns m minutos inutos,, Heloís Heloísa, a, Elis Elisaa e Patrícia Patrícia vvoltaram oltaram para seus lugares. Débora ficou em pé atrás da cadeira da mãe.

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emoção ou sentimentos trancados e antigos. Uma é trazer à tona, expressá-los. No entanto, eu propunha outra. Peguei minha caixa de recortes e brinquei que era minha caixa de mágica. Expliquei que cada um deles deveria, sem olhar, pegar uma figura de dentro da caixa. Essa figura

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simbolizaria as dificuldades e dores com relação à adoção de IA e tudo o mais que estivesse ligado a isso. Comecei,

envelope e dei-o para IA, passando a tarefa de enterrar o envelope o mais fundo possível, num local por onde nin

colocando a caixa perto que não deuentão, sinais de enten der o que eu havia ditodaoumãe, queria. Repeti, para ela, o que eu tinha proposto e disse que ela pensasse forte no que eu tinha dito e que eu tiraria uma figura por ela. Tirei a figura e pus no seu colo.  A caixa foi ppass assand ando, o, e cada cada um ttirou irou uma uma figura. figura. Pe Pedi di a todos que mostrassem o que tiraram, e todos riram e brincaram brinca ram com o que ia aparecendo. aparecendo. Algumas foram muito muito

guém da família passar. Fiz uma rodadacostumasse perguntando individualmente como esta  vam se se sentin sentindo do após após a sessão sessão e ssee tinham disponibilidade de voltar para, além de auxiliarem IA a desenrolar-se das suas dificuldades, aproveitar para aprender alguma coisa. Todos, com exceção de Vilma que estava novamente alheia ao que acontecia, disseram que estavam com uma sensação de alívio e que viriam mais uma vez.

impactantes: a que tirei para Vilma era uma mulher toda de preto, levando pela mão uma criança bem colorida. Na frente delas, um fogaréu. foga réu. A de Débora era uma m mulher ulher abra çada a um homem que a segurava pelos braços e três crian ças puxavam pelas pernas. A de Henrique era um homem grisalho de costas.  A de IA tinha duas duas mãos envolvendo envolvendo uma plan plantinh tinha. a. Heloísa tirou uma figura de uma uma mulher abrindo um umaa caixa

Encerrei a sessão, agradecendo a presença de todos. Marquei uma próxima sessão individual para IA e uma futura sessão para a família. Passada uma semana, recebi um telefonema de Débora, contando que a mãe tinha passado muito mal após a ses são. Já tinha melhorado e estava melhor que antes. Tinha pedidoo para vir pedid v ir falar com a psicólog psicóloga. a. Ela queria saber se era possível. Falei que sim, mas que, por estar fazendo

de onde saíam cobras e lagartos. As outras figuras ou eram abstratas ou não explicitavam nada. Expliquei que as figu ras seriam só um símbolo, não precisavam dizer nada em especial. Propus, então, que cada um fechasse os olhos, pegasse sua figura fig ura na n a mão e a apertasse, imaginando que toda a mágoa, mágoa,

um trabalho com a família, ela deveria avisar a todos do pedido da mãe e do meu aceite. Se, porventura, alguém não estivesse de acordo com a vinda de Vilma sozinha para uma sessão, eu não a atenderia, e seria marcada uma sessão com a família. Na véspera da sessão, Débora telefonou avisando que

dor, culpa e tristeza saíssem do seu campo energético e passassem, através das suas mãos, para a figura. Passados

a mãe havia caído, estava um pouco machucada e tinha entrado em alheamento novamente, sem dizer coisa com

de dois a três minutos, passei um envelope de papel, e cada um foi colocando dentro dele sua figura. Foi difícil pegar a figura de Vilma, pois ela continuava apertando. Lacrei o

coisa. Não viria à sessão; porém, dois dias antes, ela tinha escrito uma carta para mim, com a desculpa de que não queria esquecer nada do que desejava me falar. Débora

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conversou com os irmãos, e pensaram em mandar-me a carta. Dois dias depois, recebi a seguinte carta: Q uerida ueri da dou doutora, tora,  Atrevo-me  A trevo-mea ch cham amá-la á-la deque queri da, da, poi poi s a senh senhora orafoi apessoa ssoa  quemais meaj ajudou udou nesta vvii da.  A consu consulta lta que queeu tive co com m a senh senhora orafez lem lembrar-me brar-medeâores âores  e tri stezas que não nãogosto de re recordar. cordar. L embrei embrei da rai raiva va e mágoa mágoa  quesempre tive ti ve d do o meu m mari ari do. EEle le me com comprou prou do me meuu pa paii . O pai   deleti nha mu muii to dinheir di nheiro, o, eo me meuu pai devi devi a para eele le\ então, então, meu   sogropro propô pôss que queeu ou minha i rmã ca casas sasse seco com m ofi lho dele delee ele de desculpa sculpariri a a dív dívii da d do o me meuu pai. M i nha i rmã nã não o ac aceei tou tou,, pois  estava apaixonada apaix onada pelo pelo meu cunhado, e eu a ace ceii tei, tei , pois poi s achava  oR ubens mui muito to bon bonii to e eeuu gostava gostav a já dele; dele; achei que que,, se s eeleti nha  acei tado a p proposta, roposta, era porque elegostava de m mii m. EEle lef oi edu edu cadoe brincalhão bri ncalhão com comii go, e os os preparat preparatii vos do nnosso osso ccasame asamento nto   for am tra tranq nquilos; uilos;fomos para a Europa na lua-de lua-de-me -mel, eeu não não   ti nha nadapar para a mequeix queixar ar.. Por P orém ém,, assi mquecom começ eçam amos os no nossa ssa  vi da d do o dia a di dia a ele elenão d dava ava a mí míni nima ma ate atençã nção o para para mim, saía   soz  sozinho inho,, não não meinclu incluíí a na vida dele  for for a decasa. sa. A primeir primeira a vez  vez   queme que queii xei xei,, elef oi bem bem claro: ttii nha com comprado prado uma m mulher  ulher    prendad  pren dada a para para ser uma uma boado dona na decasa asa esaud saudável para para ser mãe  dos dos filhos fi lhos dele le.. A legr i a e diversão, ele nnão ãoprecisav precisava a demim para 

mundosabia que oR ube ubens ns ttii nha outras mulhe mulheres, res, mas eeuufazi faz i a  de conta conta que não sabia sabi a e nunca permi ti quealguém alg uém me ccon ontasse tasse.   A prend prendii a engolir eti rar pro prove veito ito dospe peq queno uenoss praze prazeres res davida vida..   Sóalgu algum mas veze vezes, s, de deii xei xei m minha inha raiva vi r à ton tona. Umavez, vez, quan uando  meu pai pai se q queix ueixou ou que eeuu era ffrr i a comele e nnão ão o visi tava d deepoi poi s  quemi minha nha mãe morr eu, eu ti ve um ataq ataque uedecho choro ro efal ei mui tas coi coi sas par para a ele ele,, da mágoa e rai raiva va que eeuu ti nha por eleter me  vendido. E le chamou um mé médi dico co e me der am uma iinjeção njeçãopara  dor dormi mirr ; ele não contou contou par para a ni ng nguém uém oqueeu d dii sse, e eeuu nunc nunca a  mais  fal fal ei com comele, le, a não não ser oestri tame tamentenecessá ssáririo. o. Outravez  vez    fo i qua quand ndo o eu estava stava grávi da dese seis is m meese sess do Ví tor e estava stavame   sentind  sentindo o muito bonita onita efeliz; eesta stava vasaind saindo o da casa casado me meuu sogro sogro   sócomo comoR ub ubeens, euma euma mu mulhe lherr veio veio fal ar com comeleedissequeagora agora  elenãopreci precisav sava a mais ffii car comigo, comigo, pois a ou outr tra, a, além d dee dar    prazer,r, ago  praze agora ra també também ia dar umfi lho para ele. le. Eu m mee assu ssuste stei e nem sei com como o ele mecolocou colocou nno o car carro, ro, me dei xou na por ta decasa  e saiu sai u sozi sozinho. nho. EEuu enlouque enlouqueci ci de rrai aiva va e, quan quando do ele ele vo voltou ltouhoras  de depois, pois, eu ti nha que quebrado brado um monte decoi coi sas dentro do qu quarto, arto,   sem  semfaz er muito barulho arulhopara para ascrianç crianças as não não acord acordare arem m. Elenão  me deixou deixou fal ar; ar ; quando quando eeuu insi i nsisti sti , ele di di sse q que uesem sempre pre titinh nha a sido  educ ducado ado e genti gentill com comii go, mas quese eeuu falas falasse se alg alguma uma ccoisa, oisa, ele  i a me ba bater. ter. E u ssabia abia as condições do nnosso osso casamento ento e não titinha nha  do q que uer eclamar. E u desmaiei de rai raiva va e ac acordei ordei no ho hospit spital, al, onde   fi quei quei 1155 dias se sem m com comeer ese sem m querer querer vive viver.r. SSó ó melhorei lhorei porqu porquee 

ter. Ass A ssii mf oi nossa vida; eu me conformei e, depoi poi s quecomece ecei  

me meus us fi lhos vi eram mevi si sitar tar e eu lem lembre breii -me d deeles. les. A outra outra vez    fo i na véspe véspera ra deme darem darem aI zab zabeel Augusta. O R ube ubens veio me 

a ter ter fi lhos, não foi  fo i tão tão rui m. Eu tinhaoc ocup upaç ação ãoodia to tod do, titinh nha a  dinhe di nheii ro para o que que q quisesse uisesse,, aprendi apr endi a dese desenvolver nvolver ati ativi vi dad dadees e ter amigas ami gas quemeajudavam aj udavam apass passar ar o tem tempo po emedistr dis trai air.r. Tod Todo o

dizer diz er q que ue i a vi ajar e fificari cari a for fora a vári os d dias; ias; eu brinqu brinqueei que  ele ia levar l evar a namor namorada ada jjunto, unto, e ele me d dii sse: ““N N ão, ela teve b beebê e eu eu não quero mai s saber dela”. Enlouque Enl ouqueci ci de novo, novo, de rai raiva va e

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humi lhação, e comec humi comecei ei a gri gr i ta tarr ; ele me segurou segur ou fo forr t e ediss disseeque  eu ti nha si do uma boa esposa esposa por todos aqueles aqueles anos e que que não   seria ago agora ra qu queeelei apermi permi ti r q que ueeu estragasse stragassea vida vi dadele le.. Er a    pa  para ra eu arranj ar algum alguma coisanova novaparafazer, ouquemsa sab beum  amante, aman te, que eu não era de j og ogar ar ffor or a, queele não queri queri a saber   de choros e gritos. Ele viajou e, no dia seguinte, eu estava ainda  meio tontacomtudoquandomeapareceram apar eceramcomaquelebebe bebezi nho.   M eupri prime meii ro pensam nsamentofo foii de dequ queeseria uma uma for ma deeu ter ter o  quefazer fa zer ; emseguida, pensei que que eela la podia podia sser er a fi lha doR ubens ubens  queele nãoqueri a e cuja mãe ti nha abandonado; abandonado; então, então, achei que   seria um uma a boa vingança vingança.. N unca me arrepe arr ependi ndi de ter ter ad adotad otado o a IA , poi poiss ela semp sempre refo foi i   uma graci gr acinha. nha. Quando ela começ eçou ou a dar problem pr oblema, a, pensei pensei que  era um casti castigo go para mim, mi m, por eu ter t er queri querido do mevi ngar doR ube ubens.   A lgumas lgumas ve veze zess em qu quee eu pensa pensava va que que ela era infeli infeliz, z, eeuu fi cava  culpada e, por i sso, não queri a vê-la tri t ri ste ou doe doente nte.. Nessas N essas veze vezes, s,  eu manda mandava va minha mi nha filha fi lha cuidar cui dar dela. dela. Q uando ela cai caiuu devez na vi da, eu fi quei desespe desesperada, rada, mas  en engoli goli ; agora, fi f i co dormi ndo a maior parte par te do tempo e não não sei  sei   di dirr ei eito to o que est stá á ac acontece ontecendo. ndo.  Ag  Agora, ora, te tennhose sent ntido idoqueelaestámais esp speeran rançços osa, a, ouserá será que  sou  sou eu queesto stouuespe speran rançços osa? a?Eu meac acos ostum tumei an anão ão ter ter esp speeran rança ça,,  a achar que as cois coisas as não tinham ti nhamsaí saída. da. Aquele di di a, no seuconsul consul tóri o, eu vi meupai e oR ubens lá, e eu eu pensei pensei queoúnico jeito j eito de 

E u vou ao seu consu consultóri ltóri o para contarcontar- lhe tudo tudo iisso sso e outras outras  tri stezas menores menores queeu titive vena minha mi nha vida, vi da, comos meu meuss fi lhos   homens hom ens que quenunca gostaram gostar amdemi mim. m. Depois Depoi s queeuf o r aí aí,, nunca  mais vou lembrar lembrar - medessas tri stezas enemfi car culpada culpada.. Si nto  comose fosse meconfe confessar; ssar; a se senh nhora ora vaipa passar ssar um uma apenitên penitência, cia,  e eu eu vouf i car ca r perdoada elilivre. vre. E u escrevi para não esque esquecer, cer, mas vou dei dei xar coma senhora senhora  essa carta carta para, para, talvez, dar para a i A  A ler. ler. A senh senhora ora decideoque   fazer.

O encontro com uma nova família sempre reedita minhas crenças como terapeuta de família. Acredito que dificul dades e problemas sempre existirão e que vir à terapia de família, principalmente quando o desencadeante da vinda foi um adulto sintomático, não vai resolver todas as ques tões. No entanto, tenho crença, fé e tempo de trabalho para ter certeza de que a experiência e a vivência emocional, compartilhadas no espaço da sessão de família, criam uma possibilidade de seus membros relacionarem-se consigo mesmos e com os outros, com novos e relevantes dados.29  Ao entender entender a família como um sistema, sistema, um círculo, em que cada um tem sua participação e responsabilidade, influenciando-se reciprocamente, independente da ida idade, de, o

 salvar aI A dessaco  salvar confu nfusão sãoera seeu perdo rdoasse asseesses dois hom homens  quefor fo r am tãor uins ui ns co com mi go. E u não lembro lembro seeupensei pensei isso ou   fo  foii a se senh nhora ora qu queemedisseisso qua uand ndo o eu vi o oss dois lá lá.. Quan Quando do  eu a ape pert rtei ei afi a fi g ur a na minha mi nha mão mão,, eu queri queri a m muit uito operdoar perdoar eles.  E fi que queii muito alivi alivi ad ada. a.

terapeuta fornece a ela maior ma ior movimentação e possibilidade de reorganização, saindo da noção de causa e efeito que 29 WHITAKER; BUMBERRY. Op. cit., p. 41.

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conduz a um pensamento linear e vertical, em que um é culpado ou carrasco, e o outro o inocente ou a vítima.30

ritu rituais ais terapêuticos terapê uticos331 e que possibili possi bilitam tam expressar essa essass emoções sem a necessidade de explicitá-las.32

Quando uma família vem para a terapia porque já sabe que tem dificuldades conjuntas e necessita de ajuda para superá-las, a primeira sessão do grupo concentra-se em definir com clareza o que está acontecendo, com quem, como, onde... A partir desses dados, definir também um objetivo e firmar um contrato de trabalho. No caso dessa família, não havia clareza ou compreensão de que a tarefa era conjunta. conjunta. Minh Minhaa escolha foi, então, realizar uma ses sessão são

Com essa intenção33, propus o trabalho com as figuras. Quando a família vem junta ao consultório, traz o desejo de parar com o que está doendo; porém, ao mesmo tempo, tem medo de abandonar os padrões conhecidos e lidar com o vazio ou com dor maior ou diferente. Este é um dos maiores desafios do terapeuta: trazer à tona os conflitos, ajudar a família a ver e lidar com as dificuldades, mas com compaixão.

para possibilitar uma vivência de situações ou emoções diferentes do usual. Isso facilitaria sua adesão às tarefas e a  vinda a outras outras ses sessõe sões. s.  A ocup ocupação ação dos espa espaços ços da sala, sala, a posição posição e os lugare lugaress das pessoas são outros dados de leitura e levantamento de hipóteses. Eles, por si só, podem não significar nada, mas são mais algumas peças que, em algum momento, podem ser definitivas para a leitura do quebra-cabeça de relações

O terapeuta precisa estar atento e aberto para levantar hipóteses, suportando a impossibilidade de enxergar todos os ângulos. Planejar uma sessão de família é um dos requi sitos para ser eficaz como terapeuta, mas a arte da terapia só acontece se for possível encaixar en caixar o inusita inusitado do na progra mação.34Uma intervenção do terapeuta, apesar de parecer definitiva ou conclusiva, não deixa de ser uma hipótese que será confirmada ou não com o desenrolar da terapia.

e funcionamentos.  A compreensão racional dos mecanismos de funcio funcio namento ajuda uma família a reorganizar-se; porém, nos processos familiares, sempre existe uma carga de emoção represada, muitas coisas não ditas e muitas mágoas resseca das que não são resolvidas só com o trabalho racional. Para

 A utilização do toque físico no cliente cliente pode ser um desencadeador de emoções e situações contidas e repre sadas. sada s. Sentir-se Senti r-se à vontade para fazê-lo pode trazer para a terapia novos recursos, novos potenciais de ação e emoção. Entretanto, sempre é importante ter clareza de 'para quê" fazê-lo, pois é responsabilidade do terapeuta lidar com essa

fazer circular circ ular sem o risco de trazer à tona emo emoções ções que vão desencadear novas e sérias crises após a sessão, criei uma série de técnicas que se aproximam da teoria básica dos 30 GROISMAN. Op. cit., p. 69.

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31* Sobre a Teoria dos Rituais Terapêuticos, ver fiituales terapêuticos y ritos en   famiUa , de E. IMBER-BLACK, J. ROBERTS e R. A. WHITING. 32 ANDOLFI; ANGELO. ANGELO. Op. cit., p. 96. 33 GROISMAN; LOBO; CAVOUR. Op. cit., p. 68 . 34 GROISMAN. Op. cit., p. 92.

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emoção de forma que o cliente possa fazer bom uso da expe riência, integrando-a com seu funcionamento, sua vida, suas dificuldades. É a diferença entre uma catarse catarse** desnecessária e um trabalho realmente terapêutico. Da mesma forma, tarefas irracionais ou sem sentido claro podem e devem ser usadas, desde que se compreenda que elas vão lidar com emoção, energia, inconsciente, e não com interpretações lineares e racionais. O uso dessas interven ções abre um espaço de flexibilização e criatividade, desde que não sejam prejudicadas pelo desejo de compreender questões que da sãotécnica. incompreensíveis. Isso tiraria o valor e a possibilidade  A técnica técnica qque ue use useii na sessão sessão (reti (retirad radaa d das as figuras figuras e traba traba lho com elas) tinha a intenção de marcar aquele momento relacional e emocional da família, qualificar as emoções  vividas,, sem esque  vividas esquecer cer ou pass passar ar por cim cima. a. Po Porém rém,, não não per mitir que uma catarse na sessão trouxesse mais dificuldad dificuldades es para os membros da família (por exemplo: saírem com a emoção à tona e desencadearem, fora da sessão, situações difíceis de controlar e que poderiam pôr a perder o movimento de vir à terapia). Portanto, o conteúdo das figuras tem pouco significado. O ato em si é que é importante. Um cuidado importante no atendimento de famílias é relacionado aos contatos extra-sessão com membros isola-

todos os membros devem ser consultados ou, pelo menos, informados do que está acontecendo. Qualquer descuido pode servir de álibi para um ou outro membro acionar as defesas e dificuldades da família em lidar com as questões familiares e colocar um final no processo familiar.

dos. Para que se faça qualquer mudança no encaminhamento, * Conforme a Teoria Psicodramáti ca, na Catarse de Integração, além da da descarga  de energia e de emoção, existe uma ligação entre 0 vivido na sessão e o padrão de   funcionamento e as mudanças do cliente rio dia a dia.

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 Jaí I©

Circulação Circu lação dos aconteciment acontecimentos os

N e s s a  s e s s ã o , c o n v e r s a m o s   e

ta?

analisamos todos os aconte cimentos dos três meses passados. IA estava muito envol  vida com a família, pois a mãe estava bastante bastante doente doente,, e eles tinham decidido que todas as noites um dos filhos ou netos dormiria com ela. Não era exatamente uma neces sidade, pois a família tinha enfermeiras que trabalhavam em turnos, mas a ideia havia surgido, e todos concordaram. IA não sabia quem deu a ideia, mas sabia que surgiu numa tarde em que se encontraram todos (o que era raro), para almoço em comemoração ao batizado de Ricardo, filho caçula de Vítor. Essa decisão fez com que todas as noites uma pessoa da 11inilia estivesse dormindo na casa. Como a mãe não precisava de atendimento, IA ficava

até altas horas conversando com a pes W   soa, diferente diferente a cada noite. Com isso, IA ficou acordada sempre até muito tarde. Em compensação, manteve conversas que nunca havia imaginado com determinadas determinadas pessoas. Conversaram sobre a vida, suas

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¡  .  

coisas e outras histórias menos importantes, mas muito agradáveis.

beber e sair em busca de cocaína, mas conseguiu se contro lar, sem saber como. Quando passou a mensagem, estava

Os familiares também anum tinham mais. Heloísa chamou-a para almoçar, diaprocurado em que Henrique não estava, e pediu desculpas pelo que havia dito na sessão. Tivera Tive ram m uma conversa de gente para gente, e não de adulta adulta para criança louca, como costumava ser. Elisa pediu para IA cuidar dos sobrinhos num final de semana em que via  jaram e as as criança criançass estav estavam am ap apen enas as com com a ba babá bá.. Henriq Henrique ue chamou-a ao escritório para fa falar lar de um dinheiro que que ela ia

assustada com 0 risco de recair na droga; por outro lado, queria me testar. Queria saber se eu não daria resposta, se eu não ficaria assustada com o risco de ela recair recai r de verdade e se eu reagiria diante da hipótese de perder um trabalho. Contou que a barra pesou mesmo no dia seguinte ao envio da mensagem. Amigos foram até sua casa levando droga, como costumavam fazer, e ela teve de decidir se cheirava ou não. Conseguiu resistir.

receber; isso era muito diferente, pois ele costumava mandar recados por Débora. IA disse não estar conseguindo pensar sobre todas essas coisas; desde a sessão de família, tinha a sensação de que sua cabeça estava cheia de ar. Não conseguia pensar pe nsar direito, fazer planos, não estava conseguindo acompanhar o que acontecia fora e o que acontecia dentro dela. Só sabia que, pela primeira vez em sua vida, tinha conseguido dormir

Contou, também, ter descoberto que sempre que tira a roupa e entra no chuveiro começa a pensar em droga, em como pode consegui-la, o que pode fumar ou beber. Isso sempre lhe passou despercebido, mas reparou que acontecia todos os dias. Ficou atenta com o que eu tinha lhe dito na primeira sessão, sobre o uso de droga ser apenas a ponta do iceberg. Eu havia lhe dito que precisava prestar atenção e descobrir o motivo e a intenção com que usava a droga -

uma noite inteira, um sono só, sem acordar. Isso tinha acon tecido após enterrar o envelope com as figuras. Na primeira noite, não conseguiu dormir, tevê muitos pesadelos e insô nia; a partir do dia seguinte, tem dormido como nunca, e isso faz com que acorde descansada e animada, mesmo quando ficava conversando até tarde.

drogar-se facilitava manter seu padrão infantil de fugir da realidade, das responsabilidades. Ela, de fato, começou a prestar atenção aos sentimentos que tinha na hora do desejo da droga. Começou a lembrar como se sentia sozinha e abando nada quando era pequena e tinha de tomar banho sozinha.

Retomei, então, o recado por e-maií sobre a iminência d dee recaída, enviado antes da sessão de família. IA contou que, realmente, pensou em procurar droga, que teve algumas noites de desespero, acordando com sentimentos muito intensos de medo, angústia, solidão. Teve muita vontade de

Não consegue se lembrar de ter alguém com ela na hora do banho. Deu-se conta de que sempre que fazia alguma coisa errada, mandavam-na tomar um bom banho. Combinamos, então, que ela ficaria atenta a esses sentimentos. Cada vez que eles aparecessem, sairia imediatamente do banho,

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escreveria tudo o que sentia e viesse à sua mente. Depois,  voltaria para terminar o banho banho e, em segu seguida ida,, queimaria queimaria o papel com os escritos. Ficaria cuidadosa com suas atitudes durante todo o dia. Conversamos, então, sobre a carta de sua mãe. Falei que era uma carta intensa e que eu não sabia o que fazer com ela, apesar de saber que poderíamos tirar dali um bom uso. Decidimos, por sugestão de IA, que colocaríamos o assunto na sessão de família. Izabel passou o resto da sessão relatando fatos de sua infância, quando se sentia sozinha e excluída, e como essas lembranças voltavam agora agor a quando estava mais perto das pessoas da família. Eram cenas corriqueiras do dia a dia, das quais tinha até esquecido, mas agora lembrava. Elas traziam-lhe o sentimento de ser desqualificada e não ser amada. Como exemplos, quando estava sentada no banco ao lado do fogão para se aquecer e Vítor disse-lh disse-lhee para sair, pois ele queria se aquecer; ele era homem e era da família (tinha em torno de cinco anos); quando, ao invés de pegar um só bolinho, pegou vários, e Daniel disse que, por mais que lhe dessem coisas e comida, ela sempre pareceria uma morta de fome (mais ou menos oito anos); quando ela e Rebeca foram fazer a Primeira Comunhão e ouviu Heloísa

legalmente, uma forma de IA não receber herança do mesmo tamanho que os outros. 9 ©© © ®

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Fazer uma prescrição de recaída e alertar para esse risco são estratégias sistêmicas muito diferentes. No entanto, ao usar qualquer uma delas, o terapeuta deve ficar atento ao efeito da prescrição e ao uso que o cliente pode fazer dela. São prescrições fortes, mas perdem totalmente o efeito se deixadas soltas. Explicar a existência e a inevitabilidade das recaídas é uma forma que só será adequadamente usada se for monitorada para tornar o cliente cada vez mais cons ciente e responsável por seu processo. No trabalho relacional sistêmico, os sintomas são com preendidos como formas de mapear os pontos que precisam ser reorganizados. Portanto, os sintomas são usados como rastreadores do processo e vão mostrar o funcionamento do cliente. Assim, qualquer sintoma é compreendido não no seu conteúdo, mas no significado sistêmico que tem. Quando digo que o uso de droga é só a ponta do iceberg, estou abrindo espaço para definir que não vou focar na drogadição, e sim no funcionamento do sistema. No atendimento a tendimento de famílias, esse é um dos ppontos ontos impor

dizendo para a costureira que caprichasse na roupa da sua filha, para que ela ficasse mais bonita que a da outra (dez

tantes que definirão se a terapia será reestruturante ou não. Quando o terapeuta consegue deixar deixa r isto claro - qu quee não não

quando Débora explicou para a mãe Roberto que que aanos); carregava sempre junto porque não tinhadeninguém se interessasse em cuidar dela (cinco anos); quando o pai morreu, e os filhos tiveram uma discussão sobre se existia,

importa o tipo do sintoma, qualquer sintoma aponta-, para a forma como as pessoasmas relacionam-se e funcionam e a família consegue compreender, abre-se a possibilidade

 

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Ijjj |jj|lpp -■V,de um processo terapêutico de mudanças efetivas, ou seja, mudança nos padrões de funcionamento. No trabalho com os clientes, procuro não fazer interpre tações dos conteúdos, mas marcar e levantar levant ar possibilidades das relações entre sintomas, funcionamento, sentimentos. Faço isso usando metáforas, analogias ou explicando dire tamente, assim como fiz com IA ao falar sobre uma das possíveis funções do uso de drogas. Entre as muitas tarefas de tornar-se adulto, o controle das compulsões de funcionamento funcionamento é talvez a mais difícil. A partir do momento em que IA relaciona a hora do banho com solidão e desejo de de drogar-se, instituo uma tarefa ritual para desenvolver sua capacidade capacidade de fica ficarr atenta às situações, situações, às emoções e, assim, poder controlar seus sentimentos e impulsos.

 Arvore gene genealó alógic gicaa

r<

E s s a   s e s s ã o   f o i   marcada no final

da primeira sessão com a

família. O primeiro objetivo era o de reunir o grupo e con tinuar o processo envolvendo a todos. No entanto, eu não sabia claramente claramente o que fazer. Preparei três possibilidades de trabalho e decidi que pediria pediri a aos presentes que escolhessem o caminho (trabalhar a partir das reações e emoções da carta da mãe, das questões concretas que estavam acontecendo ou construir uma Árvore Árv ore Genealógic Genealógica). a).  Vieram Henri Henrique, que, Heloísa Heloísa e Rebeca; Daniel, Angela, Marcelo e Diogo; Débora e Patrícia; Vítor e Elisa; IA. Começaram falando sobre o impacto da sessão de família sobre cada um, o que tinham refletido e o que tinha acon tecido. De um modo geral, tinham ficado fi cado emocionados com o ocorrido na sessão, mas não entendiam

direito seu significado. Henrique e Daniel dis seram que, que, por sua própria vontade, não viri viriam am mais, mas acabaram por ouvir ouvi r os argumentos das outras pessoas pessoas e ficaram curiosos para ver o que aconteceria. Débora e Heloísa foram firmes ao • dizer que ficaram com m medo edo do que poderia ser

8o  

desencadeado, mas tinham confiança e esperança de que todos poderiam se beneficiar com um trabalho conjunto.

19 anos, e ele com 25. Não incluíram os dados que vieram com a carta da mãe.

Todos foram unânimes em dizer que queriam a melhora de IA e que era a última vez em que que se envolviam em seus problemas.  Aprese  Apr esente nteii as três hipóte hipóteses ses de trabalh trabalho, o, e eles eles esc escolh olhera eram m fazer uma Arvore Genealógica da família. Fomos escrevendo os dados no quadro e uma maquete numa cartolina grande. Todos Todos trabalharam e trouxeram os dadoss que conheciam. Trataram dos dados dado dados objetivos - nas

O nascimento de cada um dos filhos foi relatado sucin tamente. Logo, passaram para o casamento de Henrique; aos dados sobre Heloísa; ao nascimento de Rebeca, Neto e Gabriela. Henrique e Heloísa eram namorados quando ele cursava o segundo ano de Administração de Empresas. Como engravidaram, ele parou a faculdade e foi trabalhar com o pai. Casaram em maio de 1974; ele com 21 anos, e ela com 17. Heloísa continuou estudando até terminar o

cimento, morte, profissão, prof issão, tipo ti po de relação - e do do que estava acontecendo no momento presente. Começaram, fazendo um relato das avós, Izabel (filha única de um italiano que veio para o Brasil e enriqueceu plantando café no estado de São Paulo) e Augusta (descen dente de portugueses e filha mais velha de um comerciante da cidade onde todos moravam). Falaram do casamento das duas. Izabel casou-se com Guerino, filho de italianos que morava no interior de São Paulo. Depois que se casaram,  vieram para ess essaa ccida idade de do interior interior de de Santa Catarin Catarina, a, onde onde Guerino começou com um curtume e, aos poucos, foi cons truindo outras empresas. Augusta casou-se com Antônio, empregado de seu pai. Quando casaram, montaram uma

Segundo Grau, dias antes de Rebeca nascer, em 17 de dezem bro de 1974. O nascimento de Neto, em março de 1979, foi planejado e muito festejado por ser homem. Gabriela veio sem ser esperada, em setembro de 1984. Depois, vieram o casamento de Daniel com Angela, os dados dela e o nascimento dos filhos Marcelo e Diogo. Casaram-se em maio de 1981; ele com 24 anos, e ela com 22. Ele tinha se formado no ano anterior, em Farmácia e Bioquímica, e ela tinha terminado a faculdade de Letras. Mudaram-se para a cidade da família dele, que montou um laboratório e uma farmácia. O nascimento de Marcelo, em novembro de 1983, e o de Diogo, em dezembro de 1985, não foram planejados, mas o casal estava querendo.

 A seguir, seguir, o casa casamen mento to de Débora e Robe Roberto, rto, e o nas nasci ci mento de Fernando e Patrícia. Eles casaram-se em setem bro de 1978, após cinco anos de namoro; ele com 22 anos, e ela com 19. Roberto acabara, em julho, a faculdade de Engenharia Civil e trabalhava numa construtora. Ela ter minara o Segundo Grau. Fernando nasceu em junho de 1980,

filial da loja do seu pai e separaram-se dele. Os filhos que tiveram foram só citados (Izabel e Guerino tiveram Rubens, Elvira e Matilde; Augusta e Antônio tiveram Armando, Célia, Vilma e Alcindo) e não incluídos na maquete. Registraram os dados concretos do casamento dos pais,  Vilmaa e Rubens, em 12 de maio de 1951  Vilm 1951.. Ela estava com

82  

e Patrícia, em junho de 19 1982 82.. Também não planejaram, mas estavam querendo. Seguiram com o casamento de Vítor e Elisa e com o nascimento de Vítor Júnior, Isabela e Ricardo. Casaram-se em dezembro de 1990; ele com 26 anos, e ela com 22. Ele é engenheiro agrônomo e tem uma uma granja. Ela também tinha acabado de se formar e, após o casamento, foi trabalhar com ele. O primeiro filho, Vítor Júnior, nasceu em fevereiro de 1993, apesar de quererem um filho desde o início. Isabela nasceu em dezembro de 1994, sem ser esperada, e Ricardo, em julho de 1996, também de surpresa. O casamento de Rebeca com Eduardo e o nascimento de Camila vieram a seguir. Casaram-se em junho de 1994; ele com 27 anos, e ela com 19. Moraram um ano em outra cidade, onde ele tinha consultório; quando ela engravidou de Camila,, mudaram-se para Camila pa ra a cidade da família dela, onde eele le

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montou um novo consultório. Rebeca terminou a faculdade de Pedagogia. Camila nasceu em-maio de 1995. O trabalho foi intenso, mas objetivo. Brincavam um pouco, mas estavam todos controlados. Quando termina mos, e perguntei como tinham se sentido fazendo essa ati  vidade,  vida de, Marcelo Marcelo diss dissee qque ue tinha acha achado do ccha hato to,, e Elisa disse disse que, se os outros estivessem presentes, talvez tivesse sido mais interessante, pois poderiam dizer o que sentiam com relação a pertencer àquela família etc. A sensação de todos era de que que ficou faltando algo. Que iriam embora e mbora sem levar algo forte, como aconteceu na primeira sessão. Sugeri - e eles aceitaram aceitaram - uma próxima sessão de família, na qual viriam todos que pudessem e trabalharíamos as entradas e saídas da família, num nível mais da emoção, e não do relato objetivo.

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Henrique Heloísa |

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Gabriela;.’

Daniel

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Marcelo

Diogo

 _ ___  l Camila

85

 

Encerrei a sessão, conversando sobre a carta da mãe. Eles, como não sabiam o que fazer com ela, resolveram fazer uma cópia para cada um dos filhos e, futuramente, decidiriam se fariam alguma coisa. Quadro i Nome

 Vi lm à Rubens Henrique Heloísa

- A f a m í l i a d e IA, e m j u n h o d e 1997

Parentesco

Nascimento

Idade

Escolaridade

Ocupação

mã e  jul.V  "1 9 3 2 64  2°  grau ........ do lar pai . nov. ■'1926 ■'1926 2o grau empresário* ” irmão ' jan. 1953 : 4 ^ . universitário** empresário*** cunhada fev. 1957 40  2°  grau empresária**** Daniel ..••• i rm rm ã o :, o u utt. 1957 40 3o grau farmacêutico  An gel a cunhada abr. 1959 38 3o grau empresária**** Débora irmã maio 1959 38 2ograu decoradora A  Roberto cunhado dez. 1955 4 1 3 ograu eng. civil *****  V íto r irmão ■ ago.; 19  64 33 3ograu eng. agrônomo Elisa cunhada fev. 1968 29 3 ograu eng. agrônomo IzabelÀugusta IzabelÀug usta ■set. ¡974 22 :i 2o grau grau • • Rebeca sobrinha dez. 1974 22 3o gra u professora Eduardosobrinho maio 1967 . 30 : 3o ggrr a u odoatólogo Neto sobrinho mar. 197 9 18 universitário** estudante Gabriela sobrinha set. 1984 13 1° grau estudante Marcelo Diogo Fernando  Vi tin ho Isabela Ricardo Camila

sobrinho sobrinho sobrinho sobrinho sobrinha sobrinho sobrinha

nov. dez.: dez. fev. dez.  juí. maio

1983 H  1985 12 1980 17 1993 4  ■■ 1994 2 1996 1 1995 2 •••  

 

1° grau estudante 1° grau estudante 2o grau ****** estudante  

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Qu a d r o  2

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O s   c a s a m e n t o s   n a   f a m í l i a   d e   IA 

Casamen to ' «

 V ilm a e R ube ns Henrique e Heloísa* Débora e Roberto**. Daniel e Angela  Ví to r e E lisa Rebeca e Eduardo

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. d ez ez. maio set. maio dez.  jun.

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1 9 5 1 ;

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1974 1978 1981 1990

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1994

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27 

* Casaram grávidos. ** Namoravam desde 1973. ■v í; í;}} efi @ ® ® ® ® ©

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Quando propus o trabalho com toda a família, não tinha um objetivo claramente definido no sentido de saber o que eles estavam precisando aprender. Então, defini as sessões a partir da certeza de que se eles vivessem experiências  juntos,, poderiam compartilhar  juntos compa rtilhar sentimentos sentimentos e vivências e ampliar o espaço de trocas e intimidade. Por essa razão, iniciei a sessão de família deixando para eles escolherem o caminho objetivo a seguir dentro das três possibilidades que tinha preparado. Citando Virginia Satir35, Quando se usa o modelo de crescimento, é preciso que se esteja disposto a ser mais experimentador e

* Trabalhava na empresa do pai. **  Estudante de Administração de Empresas.

*** Trabalha nas empresas que eram de Rubens. **** Heloísa e Angela são sócias, têm uma floricultura.  

espontâneo que a maioria dos terapeutas. A neces sidade de flexibilidade na técnica e na abordagem, incluindo-se incluindo -se contato particularmente direto e íntimo

***** g também empresário, tem uma construtora. *** *** pret preteIM eIMje prestar vestibular para Engenharia Civil. 35 SATIR, V. Terapia do grupo familiar. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.   p. 266.

87  

entre o paciente e o terapeuta, é considerada como ponto básico. A terapia de crescimento está baseada

 Vários terapeutas de famí família lia usam o recurso do Genetograma na compreensão e no trabalho. O que eu

na premissa de que é possível ensinar as pessoas a serem congruentes, a falarem direta e claramente e a comunicarem comunicare mseussentimentos, pensamentos pensamentos edesejos desejos acuradamente, a fim f im de serem capazes delidar comas coisas tal como elas são.

chamo de Árvore umrelações parenteque próximo do Genetograma, masGenealógica é mais focadoé nas a família apresenta ao realizar a tarefa, nos trabalhos futuros que pos sibilita, do que no trabalho efetivo com as outras gerações.39 Na coleta das das informações, o terapeuta tem uma representa ção gráfica da estrutura familiar e, sobretudo, dos diversos planos geracionais e das ligações significativas.40  Apesar de ter sido uma sessão calma, foi importante

Também acreditei que, independente da técnica e dos caminhos escolhidos, eu poderia “ver” o padrão de fun cionamento da família e, assim, realinhar os objetivos terapêuticos.36 O momento em que delego à família a escolha do cami nho é importante, pois estou qualificando sua participação e seu conhecimento da família, avaliando o seu compro metimento na tarefa. Porém, faço isso mantendo a direção na minha mão.37  Ao decid decidirem irem trabalh trabalhar ar ccom om a Árvore Gen Geneal ealógi ógica, ca, esco esco lheram apresentar dados estrutura familiar. Isso confirmame que existe umos desejo deda mostrar como funcionam, bem como de dar os dados históricos desencadeantes da situação atual.38Por outro lado, utilizando os dados da his tória da família, crio uma forte ligação com ela. Isso é um

para que eu os visse trabalhando juntos. Havia um nível de entrosamento entrosamento e respeito que me sinalizou uma estrutura e strutura de funcionamento sem muita agressão ou desqualificação. O “tom” foi afetivo afet ivo e de confiança confi ança.4 .41

requisito importante para a continuação da terapia.

36 AN DOLFI; ANGELO. Op. cit. p. 94. ANDOLFI, 1991. Op.cit, p. 67. GR0ISMAN.  Op. cit., p. 26. 37 ANDOLFI, 1991. Op. cit., p. 74. 38 ANDOLFI et al. Op. cit. p. 39.

39 C ARTER, B.; MCGOLDRICK, B. M. As mudanças no ciclo da vida familiar. São Paulo: Paulo: Artes Médicas, 1995. p. 144. 40 ANDOLFI, 1996. Op. cit., p. 37. 41 A NDOLFI; ANGELO. Op. cit, p. 27.

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 A família fam ília bioló biológi gica ca

IA c h e g o u   a  e s s a s e ss ss ã o c o m

um a aparência que lembrava

s u a a p r e s e n t aç aç ã o n a p r i m e i r a v e z q u e a v i : m a l v e s t id id a , o c a b e lo lo u m p o u c o p r e s o e o u t r o s o l to to , s e m p i n t u r a .

Logo na entrada, começou a contar que a última sessão de família foi desagradável para ela. Teve, em muitos momen tos, o desejo de sair da sala, um impulso de ser irônica ou maldosa com as pessoas. Só não agiu assim porque já está se acostumando, nesses momentos de mal-estar, a refletir e tentar emoção baixo dosaber impulso que tem.buscar No diaa da sessão,que elaestá nãopor conseguia qual era a emoção; só conseguia entrar em contato com o mal-estar, com uma sensa ção de não pertencer àquela confusão de

pessoas que falavam ao mesmo tempo e movimentavam-se sem parar. Tudo lhe desagradava.  Após a sessão, sessão, não conseguia mais dormir direito. direito. Tinha a sen sen-- j sação de que estava voltando a ser e a sentir-se como no início

 

da terapia; achava que estava diferente, mas sentia qu quee algo era muito parecido com o tempo em que usava drogas e

Pensando nisso, foi tomar banho. Ao tirar a roupa, lem brou-se de que, durante o mês, não tinha se repetido

outras coisas. Como não dormia direito à noite, passou a fazer confusão com os horários, dormir a manh manhãã toda, toda, faltar aos compromissos que assumia com familiares ou amigos e a sentir-se rejeitada, criticada e culpada. Tinha Tin ha a fantasia de estar suja e feia; precisava tomar banho várias vezes ao dia e lavar-se o tempo todo. Parecia que uma avalanche avalanche estava caindo em cima dela.  Além disso, disso, não não supor suportava tava o co conta ntato to com com a mãe ãe.. Olhar

o fato de, pensar em ir buscar droga na hora do banho. Imediatamente, teve um acesso de tosse, que acabou em  vômito.  vôm ito. Vomitou Vomitou por horas horas e horas. horas. Inicialm Inicialmente ente,, era um líquido escuro, quase preto, meio viscoso, que grudava no  vaso sanitário como se fosse cola. cola. Pediu ajuda ajuda para uma das empregadas, que se assustou e chamou a irmã, Débora. Ela, também assustada, chamou um médico. Quando ele chegou, o vômito já era mais claro e líquido, como se fosse

para ela desencadeava mal-estar. Quando a mãe estava mais consciente e tocava, mesmo levemente, em seu corpo, tinha o desejo de soltar-se, bater nela e sair correndo. Chegou a passar seis dias sem ver a mãe, mesmo estando o tempo todo em casa. Passou mal, muito mal. Não conseguia refletir sobre os sentimentos; só percebia o mal-estar. Fisicamente, perdeu peso, tinha náuseas o tempo todo, teve dois furúnculos. Depois de ler num livro o que significavam seus sintomas, conseguiu refletir sobre seus sentimentos. A leitura deu dicas do que poderia estar esta r acontecendo acontecendo.. T Tinha inha alguma al guma cons ciência de um sentimento de solidão, de raiva, de frio, mas nada muito concreto. Continuou sentindo as mesmas coisas,

coca-cola aguada. Ele medicou-a, mas o vômito não parou totalmente; só se tornou menos frequente.  Assim,  Ass im, ela pas passou sou a noite noite,, num sono sono intranquilo, intranquilo, inter rompido por jatos de vômito, que foi ficando cada vez mais claro e líquido, mas ainda em grande quantidade. Quase toda a família foi vê-la. Alguns conversaram com ela; ela; outros, ela só tem a sensação de que viu por ali. Quando amanheceu, Henrique perguntou se ela queria desistir de vir à sessão. Ela respondeu que viria de qualquer forma. O irmão, então, decidiu que ela viria num dos car ros dele, por ser grande, com motorista, e viria tomando soro, por recomendação do médico. Uma pessoa deveria

mas deixou de ficar desesperada. Ficou mexida qua quando ndo per cebeu que, desde a sessão, não tinha bebido, quase não tinha fumado (tinha náuseas quando acendia um cigarro) e nem uma vez tinha tido o impulso de ir buscar cocaína. Passou o mês nessa confusão, até que, na véspera, quando levantou e já eram 2 h da tarde, começou a organizar o que tinha acontecido no intervalo das sessões para contar-me.

acompanhá-la, acompanh á-la, e Ange Angela la prontificou-se. IA ainda vomitou vomitou duas vezes na viagem; agora, sentia-se melhor. Numa das vezes em que acordou durante a noite, para  vomitar,  vomita r, ouviu Débora conversand conversandoo com o médico. médico. Ela contava que, que, quando IA I A tinha ti nha 10 dias, passou a não aceitar a mamadeira e começou a vomitar preto. Ficou assim durante três dias. Perguntei Pergu ntei se ela já sabia disso, e ela respondeu que

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não, assim como não sabia de muitos outros fatos e detalhes do começo de sua vida. Perguntei, então, quais eram suas fantasias. Ela contou-me que, nos últimos dias, esteve pensando muito sobre isto, lembrando como eram suas fantasias e seus pensamentos sobre sua família real. Recordou que que,, ainda menina, pensava que sua família era especial, que ela tinha sido raptada e, quando menos esperasse, viriam buscá-la. Às vezes, nesse ponto, pensava que seria muito rica e poderosa e daria muitos presentes a todos que cuidaram dela. Outras vezes, pensava que seria muito rica e poderosa e iria se vingar de todos que cuidaram dela. Na adolescência, tinha certeza de que era filha do seu pai e de uma bailarina, que não a queria, pois estragaria sua carreira. A suposta mãe teria pensado em vendê-la para mandá-la ao exterior, mas seu pai salvou-a, mandando-a de presente para Vilma. Um pouco mais tarde, não pensava

e cansaço, expliquei-lhe que era só uma parte do trabalho. Ela deveria, deveri a, todos os dias, queimar uma das folhas de re revista, vista, tendo em mente que estava se libertando dessa confusão de emoções, intuições e fantasias ligadas à sua verdadeira família. Em seguida, apresentei uma caixa com fotos, figuras e desenhos de pessoas e propus que ela fosse tirando, sem olhar, uma figura para cada membro de sua família verda deira. Primeiro, ela diria quem era; era; depois, tiraria a figura, entregaria a mim sem olhar. Eu montaria sua Arvore Genealógica. Começou pela mãe, que disse chamar-se Dirce, e tirou uma foto de uma mulher jovem africana. Depois, o pai, José Hamilton, uma figura de um dançarino de tango. O irmão, Moisés, um desenho de Ali Babá; a irmã, Maria, uma figura de um casal de gêmeos, jogando bola bol a (quand (quandoo viu as figuras, disse que eram Maria e Mário). Depois, tirou um irmão da

muito no assunto. Nobem entanto, o fazia, as fantasias e a imaginação eram feias.quando Sua família verdadeira era sempre muito ruim, desclassificada; ela, sempre rejeitada e mal tratada. Todas as vezes, acabava com vontade de chorar, fumava, bebia e cheirava. Agora, não consegue distinguir

mãe,tiatioSuzana, José, uma de uma um eremita; e umapara irmãfesta do pai, umafigura foto de moça vestida e sentada dentro de um carro esporte. Disse, ainda, que queria tirar mais duas fotos. Uma, para cada avô ou avó, dependendo se saísse homem ou mulher, para o lado do pai;

o que é intuição, fantasia e dados de realidade. Sugeri fazermos um trabalho para limpar limp ar um pouco esse emaranhado. Disse que pensasse em todas essas situações e

outra para o lado da mãe. Tirou a foto de uma freira para a avó paterna, avó Margarida, e uma mulher tocando tocando harp harpaa para a avó materna, avó Matilde.

emoções, lhe dava umsentia número aleatório de de revista.enquanto Ela foi falando o que e amassando as folhas folhas, fazendo com elas uma só bola. Apesar da sensação de alívio

Ela olhou todas as fotos, e continuamos falando sobre as fantasias, sobre os seus sentimentos da infância, sobre os do momento atual. IA concluiu que o mais difícil não

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era ter sido ser adotada, mas sim ser rejeitada pelos irmãos, pais e outros parentes. Disse que sempre soube que não conseguiria ser igual a eles, mas desejava muito. Propus que fizesse um álbum com essas fotos e escrevesse uma história sobre sua família consanguínea, sem censura, só para brincar com as ideias. Se achasse que estava em condições e com desejo, fizesse uma pesquisa com as pessoas que conheciam dados da sua história, desde a comadre que a trouxe, até os irmãos, a mãe, os empregados.

 A apr apresen esentaç tação ão de IA, parec parecida ida com aqu aquela ela d dee quando quando chegou para a primeira prime ira sessão, deixou-me atentapara perce ber se o que estava acontecendo eram sintomas relacionados com o seu funcionamento disfuncional (o que chamo de sintomas de defesa), eram sinais de recaídas ou, ainda, eram sintomas que simbolizavam as dores e dificuldades em lidar com os seus conteúdos e sua história (o que chamo de sintomas de processo). Os sintomas físicos físi cos que os clientes apresentam durante a terapia são sempre importantes, pois podem dar uma pista a respeito dos aspectos, emoções ou funções com os quais

ser uma retomada dos sintomas e do funcionamento da infância ou, ainda, ser uma defesa para não ir adiante.  A técnica técnica de “bol “bolaa de folh folhas as de revista” é uma en entre tre as muitas que criei para lidar li dar com situações nas quais sei que é necessário qualificar as sensações e emoções desagradáveis; porém, como o significado racional é distante ou desconhe cid cido, o, é mais viável partir pa rtir ppara ara um trabalho irracional. De um modo geral, a confecção da bola de papel traz à tona energia e sentimentos que, que, muitas vezes, ajudam a enxergar o que está acontecendo ou possibilitam novos encaminha mentos. A proposta de queimar as folhas, no intervalo das sessões, segue a mesma ideia terapêutica. Costumo indicar para os clientes lerem liv livros ros que podem facilitar essas compreensões e, então, trabalho nas sessões o que for pertinente. No caso de IA, leu tudo que indiquei.’' Parecia não só compreender, mas também relacionar com suas situações. Todos clientes vivem asobre realidade de serem adota dos, e nãoostêm dadosque concretos sua verdadeira famí lia, apresentam dificuldades em lidar com suas fantasias sobre a família famíli a real e seus sentimentos desencadeados pela pelass fantasias e pela falta de dados. Trazer isso à tona pode ser

estamos mexendo.42 Também o fato de voltar a ter sintomas que não tinha desde a infância leva-nos a ficar atentos. Eles podem estar

sentido como um ato de traição à família adotiva. Procuro sempre apresentar aos clientes algumas alternativas para lidar com esse impasse.

 voltando  volt ando para "lim "limpar” par”vivê vivência nciass de de emoç emoçõe õess retid retidas, as, podem podem 42 MINDELL, A. O corpo onírico no s relacionam entos. São Pau Paulo: lo: Summus, Summus, 1199 991. 1.  p. 51.

* Para IA, recomendei a leitura de Ocorpo diz sua men te, de S. Keleman; A doença   como caminho, de T. Dethlefseu e R. Dahlke; Você pode curar sua vida, de L.   Hay; Corpomente, de K. Dychtwald.

 

96

 

 A construção de uma uma família “r “real eal fantasiad fantasiada” a”,, seja seja com recortes de figuras, com fotos, com modelagem, desenho ou outro método, facilita a conversa sobre o assunto e a liberação de culpas e outros sentimentos, possibilitando novos encaminhamentos encaminha mentos terapêuti terapêuticos.4 cos.433 Sugerir uma atividade ou tarefa é diferente de prescre  vê-la. A prescrição de uma tarefa pres pressupõe supõe um objetivo objetivo claro e uma razão dentro do que está sendo trabalhado naquele momento. A tarefa será checada, e o cliente terá a responsabilidade de realizá-la ou lidar com a situação. Ao sugerir uma atividade, não se define obrigatoriedade nem muita importância à execução, mas sim à compreensão da importância importâ ncia do ato. Mais iimportante mportante do que fazer a tarefa, tarefa, é saber que ela existe e é coerente. A decisão e a responsa bilidade de executá-la dependem da escolha do cliente e das circunstâncias que facilitarão ou não. Quando marquei a possibilidade de IA procurar dados reais sobre sua família  verdadeira,  verdad eira, tinha ess essaa conota conotação ção..

Entradas e saídas saídas

sessão

 d e 

Na sobresessão a Árvore Genealógica, combinado quefamília a próxima do grupo seria paraficou con  versarm  vers armos os ssob obre re as ent entrad radas as e saída saídass n naa família família,, e queviriam todos que pudessem. Vieram. Todos, com exceção da mãe. Chegaram todos juntos, 21 pessoas. Encontraram-se na portaria do prédio e subiram juntos. Haviam avisado na  véspera qu quee o número número seria seria grand grande, e, para para que que eu arruma arrumasse sse o espaço de forma viável. Eu havia preparado um material para facilitar a concre tização do trabalho. Depois de certa confusão até todos se acomodarem, Izabel disse que tinham combinado chegarem juntos para

dar um susto em mim, com tanta gente. Decidiram fazer uma ordem cronológica das entradas na família, marcando na parte superior da linha, e as saídas na parte inferior. Também deci

43 CA RTER; MCGOLDRICK. Op. cit,  p, 139.

dimos trabalhar trabalha r espacialmente, de forma que a '  pessoa que que entrava na família famíl ia ia até a linha ■*  e escrevia seu nome. Conversaríamos ^ e compartilharíamos o que viesse, e a ã %  jí

 

pessoa passaria para o espaço atrás da cartolina, na qual estavam escrevendo, definido como “espaço da família”. Henrique disse que, como ele era o primeiro dos ali pre sentes a fazer parte da família, começaria a brincadeira escrevendo o nome do pai e da mãe e a data do casamento 12 de dezembro de 1951; afinal, foram os primeiros a che gar à família. Henrique deu o tom da sessão; ao colocar o nome dos pais, falou um pouco sobre eles, sobre o que era oficial e, ao escrever a data do casamento, além dos dados formais, falou sobre o conteúdo da carta que a mãe escrevera após a primeira sessão de família. Encerrou meio brincando, dizendo: “Então, temos os dados oficiais e os dados emocionais”. Colocamos no espaço da família duas almofadas que representavam os pais. Henrique escreveu seu nome, o mês e o ano do seu nasci mento (janeiro ( janeiro de 1953 1953)) e passou pa para ra junto dos pais. Quand Quandoo se acomodou no chão, entre as duas almofadas, perguntou se podia colocar uma cadeira, já qu quee ficar no chão deixava-o deixava-o como um menininho e fazia lembrar coisas. Pedi que falasse sobre as coisas de que se lembrava. Entre emocion emocionado ado e irô irô

mãe faziam parte da vida e que se lembrava com mais força da maneira como brincava sempre sozinho, sem amigos e sem o irmão. Lembra-se de Henrique sempre como se ele já fosse adulto ou, pelo menos, fizesse parte daquele outro mundo. Falou sobre como tinha vontade de brincar com Débora, mas não o deixavam pegar nela, pois era um menino grandão, e ela, um bebê delicadinho. Depois, uma menina chorona. Débora escreveu seu nome, o mês e o ano de nascimento (maio de 1959) e já começou a falar. Disse que sempre se sen tiu a serviço da mãe, mãe, pois ela queria muito uma filha fi lha mu mulher. lher.  Acha que que a mãe mãe não não dava dava mais mais atenç atenção ão ao ao Daniel, Daniel, mas mas sim sim somente para ela, o que a deixava meio culpada e fazendo de tudo para agradá-lo, sem nunca conseguir, no entanto. Falou tudo rapidamente rapidamente e voltou para p ara a cadeira cadei ra onde estava sentada. Daniel saiu do espaço da família, pegou-a pela mão e disse que que tinha muito prazer em recebê-la na família. fa mília. Todos riram, uma vez que não tinham percebido percebi do o ato dela e também peto jeito afetivo e humorado de Daniel.  Vítor pass passou ou diret diretoo para o espa espaço ço da da família e com começo eçou u a falar. Todos gritaram para que ele primeiro escrevesse o

nico, falou do modo como sempre se sentiu especial sendo filho filh o dos dois - era muito bom - e com comoo foi triste quándo descobriu que a realidade não era tão maravilhosa. A cartá da mãe, expondo a verdade como ela viveu, não o machucou, pois já estava calejado. Daniel escreveu seu nome, o mês e o ano de nascimento (outubro de 1957) e passou para o espaço da família. Disse que sempre se sentiu bem, que as dificuldades do pai e da

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nome e o nascimento (agosto de 1964). Contou que se sentia o predileto da mãe e da irmã, achava-se lindinho, e que todos faziam suas vontades. Achava que foi muito mimado por todos. Lembrava-se que Henrique dizia que ele ia virar umHeloísa maricas, de tanta cuidando dele. entrou paramulher a família em maio de 1974, quando casou. Estava grávida, enjoando muito e envergonhada. /\ Tinha 17 anos, e Henrique, 21. Sentia que a sogra e o sogro

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culpavam-na por Henrique ter parado a faculdade e não

a avó. A experiência mais dolorosa da qual se lembra foi

conseguia ter uma conversa decente com qualquer um dos dois. Era, e é ainda, super grata ao Henrique, pois ele nunca confirmou confir mou isso e sempre a qualificou em todas as situ situaçõe ações. s. Estava começando a entender-se com a sogra, através das coisas que iam arrumando para o bebê e das conversas que estavam começando a ter; entretanto, isso tudo aca bou quando estava grávida de seis meses, e a sogra adotou IA. Foi muito difícil, pois sentiu que perdeu o' que tinha

quando Neto nasceu e alguém lhe disse que ela perderia o trono. Como ele era homem, não sobraria nada para ela ela.. Roberto escreveu o mês e o ano em que entrou para a família (setembro de 1978). Disse que se sentia parte da família desde o começo do namoro, em 1973, pois seus pais eram amigos e sempre conviveram. Ao começar a namorar, também começou a frequentar a casa e a envolver-se com os problemas. Quando IA chegou chegou,, ele assumiu algumas rotinas

conseguido. Sua filha Rebeca nasceu em dezembro de 1974, e a sogra passou a lhe dar as roupas que sobravam de IA. Não comprava nada especial para Rebeca e estava o tempo todo competindo com Heloísa, através das atividades e do desenvolvimento das dua duass meninas. IA escreveu seu nome e o mês e ano de nascimento (setem bro de 1974), com mais determinação do que se poderia espe rar. Disse que o relato de Vítor e de Heloísa confirmava o

com ela, pois queria sair com a namorada, e a sogra sempre tinha uma desculpa para obrigar Débora a cuidar do bebê. Porém, não se lembrava se isso o incomodava muito ou só um pouco. Mesmo depois de casados, era assim; só mudou após o nascimento nascimen to de Fernando, em junho de 1980 1980,, quand quandoo IA já tinha t inha quase seis anos. Neto escreveu o mês e o ano de nascimento (março de 1979)) e, ao escr 1979 escrever ever o nome, disse que sempre achou esquisito

que ela sempre sentiu. Riu, meio tristemente, e disse: “Não  vou falar muito muito porqu porquee tod todos os já sabem sabem por qu quee esta estamo moss aq aqui” ui”.. Concluiu, dizendo que ia passar para o espaço da família,

ser Neto. Todos que tem avô são netos, e ele era Neto com maiúscula. Na escola, chamavam-no de Rubens, e ele não sabia quem era, pois Rubens era o avô e neto eram todos

apesar de não saber se sentia que pertencesse a ele. Rebeca escreveu seu nome, mês e ano de nascimento (dezembro de 1974), passou para o espaço da família e disse que, apesar de saber sobre toda a história ligada à com petição com IA, sempre se sentiu como se fossem irmãs. Brincavam e brigavam sempre. Só na adolescência é que se separaram. Sempre sentiu que a avó não gostava dela e que o avô presenteava e mimava mais a ela, mas não sabe se era porque ele gostava muito dela ou era só para incomodar

os meninos que conhecia. Depois dos oito anos, acha que  virou Neto. Neto. Fernando escreveu o mês e o ano de nascimento (junho de 1980) 1980) e passou par paraa o espaço, dizendo que não tinha nada especial para falar.  Angela escreveu o mês mês e o ano do casam casament entoo (m (maio aio d dee 1981), disse que tinha 22 anos, tinha acabado a faculdade de Letras e pretendia fazer um curso no exterior. Namorava Daniel há três anos. Ele tinha se formado no ano anterior,

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em Farmácia e Bioquímica, e decidira vir para a cidade

sentia-se como fazendo parte da família há muitos anos.

dos uma seus farmácia pais a fime de montou laborató rio, deutrabalhar. a ela umEle ultimato: ouum casavam ou terminavam antes de ela viajar. Escolheu casar, mas teve muita dificuldade em adaptar-se à cidad cidadee e à família. Após o nascimento de Marcelo, em novembro de 1983, e de montar uma floricultura com Heloísa, passou a se sentir fazendo parte da cidade e da família. Patrícia escreveu o nome, o mês e o ano de nascimento

Queriam um filho logo, pois estava faltando um bebê na família. Porém, só engravidaram quase dois anos depois.  Vítor Júnior fez quest questão ão de escrever escrever seu no nome me e pediu pediu para a mãe escrever o mês e o ano de nascimento (fevereiro de 1993).  As mães mães das crian crianças ças pe peque quenas nas escreveram escreveram se seus us dado dados: s: Isabela (dezembro de 1994); Camila (maio de 1995); Ricardo (julho de 1996).

(junhoAde 1982), dizendo não se tinha más lembranças, só boas. única coisa ruimque de que lembrava eram as difi culdades com IA, que deixavam sua mãe triste.  Antess de  Ante de escre escrever ver seu no nome me,, o mês e o ano ano de de na nasci scime mento nto (novembro de 1983), Marcelo disse que só ficou sabendo que não foi planejado na sessão em que fizeram a Árvore Genealógica. No entanto, isso não o deixou m mal. al. Depois, foi  vendoo qu  vend quee a maior maioria ia de dele less nã nãoo foi plan planeja ejada da.. Gabrieladeescreveu nome,sem o mês e onada. ano de nascimento (setembro 1984) e opassou dizer Diogo escreveu o nome, o mês e o ano de nascimento

Passaram todos para o espaço da família e estavam anima ani ma díssimos, brincando. Conforme as pessoas foram passando, levaram cadeiras, banquetas, almofadas e agruparam-se formando uma “escultura familiar”.  Aproveite  Apro veiteii a sit situa uação ção,, ppedin edindo do que que cada cada um saísse saísse do seu lugar, sem desmanchar a escultura. Eu entrava no lugar de quem saía para que vissem de fora a imagem criada.  As falas falas sobr sobree o qque ue viam fora foram m se seme melha lhante ntes: s: um amo amon n toado de pessoas alegres, todos em contato, gente bonita.  Acrescent  Acresc entei ei o que que tam também bém est estava ava vend vendo: o: todos todos mui uito to jun juntos tos (apesar de sobrar espaço), sem uma separação rígida dos

(dezembro de 1985) e também passou sem falar nada. Elisa escreveu o mês e o ano do casamento (dezembro de 1990) e contou que conhecera Vítor no primeiro ano da faculdade e, desde o início do namoro, ele disse que que viriam viria m para a cidade dos pais e iriam juntos montar uma granja

ramos familiares, embora aqueles do mesmo ramo manti  vessem  vesse m alg algum um co conta ntato to fí físic sico. o. Quando perguntei se alguém gostaria de mudar as posi ções, os contatos ou a postura, eles foram unânimes em dizer que não.

modelo. Quando ele se formou e começou a trabalhar, ela  vinha qua quase se todo todoss os finais de se seman manaa e, alé além m de aj ajud udar ar  Vítor no trab trabalho alho,, partici participava pava de todos todos ooss acon acontec tecim imen entos tos da família. Quando se casaram - ela tinha 22 anos anos,, e ele 26 -,

Sugeri, então, que começássemos a trabalhar com as saí das. A reação foi de surpresa, pois tinham esquecido que a proposta era vermos as entradas e as saídas.

104

105

 

O único a deixar a família foi Rubens, quando morreu em 1984. A almofada que o representava estava embaixo de outras almofadas, com pessoas sentadas em cima e presa pelo pé de duas cadeiras. Depois de muita discussão, deci diram que não o tirariam. Concluíram que daria muito trabalho; se fossem lidar lid ar com a sua morte, retomariam dores e mágoas; nesse momento, não queriam isso.  Aceitei,  Acei tei, escrevi o nom nome, e, o mê mêss e o an anoo d dee falec falecimen imento to n noo espaço próprio e propus encerrarmos a sessão. Começaram a sair da escultura e a colocar as almofadas e cadeiras nos lugares do início sessão. Ficaram no espaço as duas almo fadas dos pais. Houve um momento de perplexidade, quebrado por Diogo, que agarrou a almofada que representava Rubens, fingindoo que estava chorando. Apertava e beijava a alm fingind almofada, ofada, dizendo: “Vovozinho, “Vovozi nho, que saudade, volte para par a cá”. As outras crianças entraram na brincadeira e foram fazendo coisas parecidas com as almofadas que representavam Rubens e  Vilma. Foi tudo tudo m muito uito ráp rápido ido;; então então,, passaram passaram a jogar para

Q u a d r o   3 - E n t r a d a s   e   s a í d a s   n a   f a m í l i a   d e   IA, e m   j u n h o   d e

1997

Entradas

-

M e m br o

 V il m a e R ub en s Henrique Daniel Débora  V ít or Heloísa Izabel Augusta Rebeca . Roberto Meto Fernando  A n ge la Patrícia Marcelo Gabriela Diogo Elisa  V it in h o Isabela Camila Ricardo

OdXUd' v

M

ê s /A n o

dez. ian. out. maio ago. maio set. dez. set. mar.  íun . maio  íu n. nov. set. dez. dez.  Víe v. dez. maio  jul

i 9 Si

Membro  

Rubens

-

Mês/Ano maio 1984 1984

19 “)3 1952_

1959 1964 1974 1974 1974

1978 1979 1980   '

¡981 . 1982 1983 1984 1985 1990 1993 1994

1995 1996

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cima as almofadas. Em seguida, jogaram as almofadas uns nos outros. Encerrei a brincadeira, dizendo que não era mais o avô e a avó, mas sim almofadas, com as quais poderiam brincar. Os adultos saíram da sala, e as crianças ainda fica ram alguns minutos jogando e brincando com todas as almofadas.

Seguindo minha ideia de que eles aprenderiam ao viven ciar, na sessão, situações relacionais relaci onais e emocionais diferentes das que estavam acostumados no dia a dia, as técnic técnicas as deve riam ser só pano de fundo. A “Linha de Vida” serve para representar represen tar graficamente gr aficamente a sequência temporal dos dos evento eventoss da vida de um indivíduo, casal, família ou grupo. Além dos objetivos específicos de cada caso, caso, facili facilita ta o reconhecimento reconhecimento

 

das sequências tempo x comportamentos, além de possibi

provocam, simultaneamente, associações, significados e

lita litar a visão encia a compreensão gráfica .4bilida 4 idade  Ar importâ im portância da dim dimens ensão ãotemporal tempor temporal al gráfica.4 é a possi possibil de de observar não só o espaço interativo da entrevista, mas tam bém o patrimônio interacional que as pessoas adquiriram com os anos, dando relevância aos elementos subjetivos do tempo vivido tanto de maneira individual, quanto social.  Além di diss sso, o, o trabalh trabalhoo con conjun junto to dos dos el elem emen ento toss da da fam família ília na sessão, reorganizando o tempo das relações, produz dados

comportamentos nodo contexto  Ao escolh escolher, er, além trabalh trabalhooterapêutico. gráfico gráfico,, us usar ar o espaço espaço para as marcações, eles acrescentaram outros aspectos à sessão, o que me possibilitou usar as imagens que surgiram dentro da técnica técnica de Escultura Familia Fam iliar.4 r.477 Quando Quan do o cliente define que não quer lidar com determi nado conteúdo ou tarefa (por exemplo, quando não quise ram lidar dramaticamente com as Saídas), aceito sua decisão.

subjetivos, ou seja, descrições do mundo experiencial das pessoas envolvidas, o que, muitas vezes, ocorre pouco no dia a dia.  Avaliar uma família nos seus ciclos ciclos temporais temporais propor ciona uma visão trigeracional, na medida em que as gerações avançam no tempo, em seu desenvolvimento do nascimento à morte. mor te.445 Escolhi essa técnica para faci facilitar litar o compartilhamento compartilhamento dos

Não faço ou interpretação interpret açãosedeessa querecusa seja uma defesa defes a ounenhuma resistência.leitura Paralelo a isso, avalio vai inviabilizar o prosseguimen prosseguimento to do trabalho. Se inviabilizar, explicito isso, e lidamos com esse impasse. Caso contrário, registro o dado sem maiores comentários. Quando trabalho com os clientes usando dramatizações ou trabalhos simbólicos, sou cuidadosa em definir e enqua drar os vários contextos, níveis e formas. Por essa razão,

 vários ângulos ângulos de co compr mpreen eensão são e emoç emoção, ão, e tam também bém por por que é uma técnica que possibilita uma grande variedade de

não permiti que as crianças continuassem jogando o "vovô" e defini que era novamente só uma almofada com a qual

seguimentos, dependen dependendo do das reações dos participantes.4 participantes. 46 O uso do espaço físico e do contato corporal entre os elementoss da família elemento famí lia amplia a vivênci vi vênciaa emocional da sessão, sessão, além de possibilitar um número maior de hipóteses e avalia ções. Contato físico, físi co, movimento, ação e presença de outros

poderiam brincar. Ninguém falou em marcar outra sessão de família, e eu não trouxe o assunto à tona. Preferi aguardar os aconte cimentos. Nos atendimentos de família em que a queixa é referente a um membro cronologicamente cr onologicamente adulto, costumo deixar solta a marcação da próxima consulta. Isso deixa

44 ANDOLFI, 1996. Op. cit., p. 19.

espaço para avaliações e encaminhamentos inusitados.

45 CARTER; MCGOLDRICK. Op. cit., p. 144. 46 GROISMAN. Op. cit, p. 41.

47 ANDOLFI, 1981. Op. cit., p. 122-125.

io 8  

Dados de realidade

IA e s t a v a   b o n i t a  , bem arrumada e animada. Disse que, nessa sessão, só queria falar, pois tinha muitas coisas para contar. Começou, dizendo que tinha se sentido muito feliz na última sessão. Desde que soube que  viriam todo todos, s, todinhos mesmo mesmo,, para a ses são, ficou primeiro p rimeiro chocad chocada; a; depois, depois, muito emocionada. Pensou que era /' “uma burra” burr a” por ficar fazendo fazendo sinto mas e bobagens para ver se elesprova  vam que que a amav amavam. am. Eles Eles só poderia poderiam m

amar. Se não amassem, não estariam todos disponíveis para vir à sessão. Teve também maus pensamentos, mas controlou, e não deu corda.  A sessão sessão foi “um barato”. barato”. O tempo tempo todo, sentiu-se como parte da família, com direito a dar palpite, a fazer comen tários, a corrigir dados que os outros davam. Quando acabou a sessão e todo esse mês, o sentimento mais forte que experimentou foi o de gratidão. A todos, mas

 

tinha uma sensação de gratidão à vida. Até ouviu algumas

tinha falado sobre isso e estava se lembrando de todas as

 vezes a mús música ica Gracias a la Vida, uma Vida, uma canção que sua mãe costumava ouvir quando era pequena. O mês foi cheio de coisas. Até um namorado arranjou. Nada muito importante, mas foi a primeira vez em que ficou com alguém de cara limpa, sem bebida ou droga. Foi esquisito, mas gostou. Não está querendo nada muito sério, inclusive porque ele é mais novo que ela, filho de um examigo de Henrique que agora é quase inimigo. Se o rapaz fosse muito interessante, ela até investiria, mas foi só uma boa experiência, experiênci a, e não vale o preço de desagradar seu irmão e criar mais confusões. Como não é nada sério, pensa em encerrar logo. Sua mãe melhorou bastante, tendo passado vários dias bem consciente; pode conversar e participar do que acon tecia. Porém, foi só sair sozinha da cama e caiu, fraturou o osso da canela e agora está engessada. Como está com muita dor, passa o tempo todo sob efeito de analgésicos e fica só dorminhocando.

fantasias que já teve sobre o assunto. Todos começaram a contar as histórias e fofocas que tinham ouvido contar sobre a adoção adoção de IA. Riram mu muito, ito, checando o que poderia ser verdade e o que era absurdo. As histórias eram variadas, desde que ela era filha de Débora, passando por ser filha de Vilma com outro homem, ser filha de Rubens com outra mulher, até ser filha de alguma empregada, com o Rubens ou outro pai. Depois, cada um começou a contar todas as fantasias que já tinha tido sobre a sua própria origem. origem. Algumas Al gumas histórias eram engraça engraçadas, das, outras impossíveis de serem verdade, algumas bem viáveis, apesar de serem todas irreais, uma vez que, com exceção dos seus próprios nascimentos, Rebeca e IA acompanha ram todos os outros. Elas lembravam-se de vários fatos  fatos  acontecidos. IA ficou espantada de como a história era a mesma, só mudavam alguns conteúdos. Pensou que, quando os filhos não são adotados, essas fantasias diluem-se com o passar

do tempo; no entanto, nos casos em que a adoção é real, as fantasias provavelmente não são checadas e mantêm-se por toda a vida. Falou isso para os sobrinhos e, juntos, conclu  íram que que era m muito uito bo bom m poder checar checar tu tudo, do, e não deix deixar ar coisas em baixo do tapete. Entretanto, o que ela tinha de mais chocante para contar-me é que tinha ido conversar com pessoas que poderiam saber sobre sua história verdadeira. A primeira pessoa que procurou foi Viridiana, empregada na sua casa quando foi adotada, onde permaneceu até ela ter seis anos. Ela tinha

Foi aniversário da mãe e, como ela estava bem, toda a família reuniu-se. Após o almoço, ela foi para o jardim de frente da casa, com Rebeca e a filhinha Camila, para apro  veitar o sol, sol, pois o dia esta estava va frio. frio. Aos pouc poucos, os, os sob sobrinh rinhos os foram chegando e ficaram conversando sem assunto certo. Num determinado momento, Diogo perguntou se era ver dade que ela era filha de uma lavadeira que trabalhava para eles. Uma empregada havia dito que ela se parecia com a lavadeira. Sem nenhuma dificuldade, começou a contar que não sabia de nada, mas que, na última sessão individual,

 

 í muito para contar sobre a sua infância; sobre a sua orig origem, em,

seria uma boa mãe para seu bebê. Dois dias depois, apa apareceu receu

só sabia o nome e onde morava a tal comadre que a trouxe.  As histórias eram as que que ela já sabia ou ou coisas coisas d doo dia a d dia ia que não lhe fizeram fizer am diferença. Porém, a ex-empregada disse disse ter certeza cert eza que IA não é filha de Rubens. Ela disse ter sabido sabido,, por intermédio do marido, motorista do patrão, que Rubens havia feito cirurgia para não ter mais filhos. Segundo ela, soube disso na época em que Vítor nasceu, e apareceu uma moça dizendo ter um filho de Rubens. Assim, ela não pode ria ser filha dele. Com o endereço da comadre Vanda, preparou-se para saber o que tinha para saber. Numa manhã, achou que já estava pronta e foi procur procurar ar o povoado onde fica o endere endereço. ço.  Ao chegar ao local indica indicado, do, soube que a comad comadre re havia morrido três anos antes, mas uma filha morava ali perto.  Ao apresentar-se, apresentar-se, a filha da da comadre comadre mostrou mostrou saber saber quem quem ela era. Ao ser perguntada sobre sua história, história, a moça d disse isse que a mãe sempre contava o fato. Sabia ainda mais porque, naquela época, tinha 12 anos e lembrava-se de algumas coi

com o bebê no colo, entregou-o entrego u-o a Vanda e deixou dei xou um papel com a data e a hora do nascimento, o nome que ela deveria receber, com o qual havia sido batizada em casa, pela par teira, e o nome da parteira. Agradeceu, disse que ia pegar o ônibus para encontrar o circo numa cidade vizinha, beijou a filha e foi embora, levando pela mão a outra menina e uma mala pequena.  Vandaa não pretendia  Vand pretendia ter mais mais filhos, mas mas ficou sem ter como dizer não para a moça; pegou o bebê, pensando em dar para outra pessoa. A primeira em quem pensou foi a comadre Vilma, a pessoa mais rica que conhecia e que poderia dar um bom futuro para a menina. Ajeitou o bebê bebê como pode e, no dia seguinte, levou-o para Vilma. Quando IA perguntou sobre o bilhete, ela disse que achava que a mãe o tinha entregado junto com o bebê. Ela não sabia o que estava escrito, além do que já tinha dito. IA disse que ouviu toda a história como se fosse real mente só uma historieta, sem maiores emoções ou senti

naquela época, tinha 12 anos e lembrava se de algumas coi sas. Sem titubear, contou o que sabia. IA passou a contar o resumo do que a mulher contara a ela.  A tal Vanda morava morava em frente frente a um umaa pe pensã nsão, o, num num lo local cal no interior da cidade. Numa tarde, foi procurada por uma moça grávida, que trazia uma meniria pela mão mão e disse-lhe disse-lhe que queria dar o bebê que ia nascer a qualquer momento. A moça morava num circo, já tinha uma filha e não poderia cuidar do bebê. Havia escolhido Vanda porque observou a forma que ela lidava com os filhos pequenos e achou que

114

mentos. Saiu e foi para casa, a mais ou menos 20 quilôme tros. Dirigiu sem pensar muito no assunto; outras questões banais vinham-lhe à mente. Quando chegou a sua casa, a empregada ofereceu-lhe comida, pois já tinha passado do horário horár io de almoço; ela, sem pensar, respondeu que que só queria queria um copo de leite. A empregada questionou, pois ela nunca, nem quando criança, gostara de leite. Ela não deu atenção; porém, ao tomar o primeiro gole, começou a ter náuseas, enjoos e a vomitar intensamente. Passou dois dias na cama.

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O vômito passou, mas sentia-se completamente fraca e só

uma coisa e nunca mais tocaria no assunto. Perguntou do

tinha desejo de dormir. NãoNo eraterceiro depressão coisa bem pare cida, era um tipo de torpor. dia, ou acordou e, à tarde, foi tentar conversar com a mãe. Ela parecia estar lúcida e escutou toda a história sem argumentar, com um ar de quem não queria mais saber ou falar sobre o assunto. IA disse que sentiu profunda compaixão pela mãe. Não aceitava a forma como ela fez todas as coisas na sua vida; porém, pela primeira primei ra vez, não sentia raiva, nem m mágoa ágoa.. Pel Pelaa

bilhete, e a mãe disse que a comadre tocou no assunto, mas não entregou nada. Não lembrava se ela que não quis ou a comadre desistiu de entregar. IA não ficou satisfeita com a resposta, mas decidiu não mexer mais no assunto. Só que, segundo ela, “seu incons ciente não decidiu o mesmo”. mesmo”. Acordava ttodas odas as noites com a sensação de que estivera sonhando algo relacionado ao bilhete, à sua verdadeira mãe e a coisas parecidas. Toda vez

primeira vez, não sentiu desejo de magoá-la ou impulsos de fazer coisas contra alguém. Beijou-a, sentou no no seu colo, colo, que sentiu duro e seco, mas bom, e ficou assim por alguns minutos, abraçada a ela. Durante esses minutos, sentiu uma paz profunda e um desejo de perdoar do fundo do coração a essa mulher que tinha feito o melhor que podia por ela. Quando saiu do colo, Vilma estava chorando. IA enxugou as lágrimas e disse que a amava. Ao falar, lembrou-se de

que acordava durante a noite, ou pela manhã, com essas sensações, sensaçõ es, vinha-lhe o impulso de rezar pela sua verdadeira mãe e por Vilma. Fez isso e sempre ficava em paz. Fazia mentalizações de luz e paz para as duas mulheres e sentia-se também em paz. Dois dias antes da sessão, a filha da tal comadre telefonou para IA dizendo que ficara com a questão na cabeça e lem brou que tinha umas tralhas de sua mãe na casa do irmão

que, quando criança, dizia muito que amava as pessoas da família. Mais ou menos aos 12 anos, num dia em que falou

mais velho. Sempre conversavam que precisavam olhar o que tinha e jogar fora; assim, foi lá, mexeu nas coisas da mãe

para sua mãe que a amava, um dos irmãos disse que ela só falava isso porque estava querendo alguma coisa. Ela recordou-se da dor que sentiu e da impotência em explicar que não era verdade. Nunca mais conseguiu dizer que amava alguém. Algumas vezes em que desejou dizer isso, não conseguiu. A garganta trancava, e ela começava a pensar se amava mesmo ou se estava querendo alguma coisa. A empregada trouxe o lanche. lanche. As duas lancharam em silê silêncio, ncio, mas era tranquilo. No final, IA disse que queria perguntar

e achou o bilhete. Se IA quisesse, estava com ela. No dia anterior à sessão, foi buscar. Pegou o bilhete, deu um dinheiro de presente para a mulher, colocou o papel dentro de um envelope, e assim estava. Não conseguiu ler. Pediu-me se podia ler agora, na sessão. Abriu o envelope e pediu que eu lesse antes e depois lhe desse. Era uma folha de papel amarelada, uma folha de caderno, ondee estava escrito com tinta azul, numa letra ond letr a bem redonda e legível:

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Es Esta ta meni menina na cham chama-se a-se Eli zab zabeete>nasceu di di a 25/9/74, às 1188  horas. horas. A partei ra fo foii a Dona Josefa, quemora a ao o la lado doda igreji ig reji  nha nha.. E la jjá á foi bati batizad zada a pe pela p partei arteira. ra.

Li as linhas e passei para IA. Ela leu e começou a chorar baixinho. Abracei-a, e ela disse que estava aliviada. Tinha tido medo de ler o papel e de lá estarem escritas coisas ruins ou que complicassem sua vida. Perguntei Pergunte i quais eram era m as suas fantasias, e ela disse não saber direito; porém, se tivesse nome e endereço dos pais, ela não ia descansar sem ir atrás. Se dissesse que ela era filha de Rubens, ficaria ainda mais infeliz. Assim, tinha a sensação de que a história acabava, como se, agora, ela realmente pudesse ir para frente. Perguntei o que ela pretendia fazer com o papel. Disse que tinha dois desejos: um, de mostrar para par a algumas pessoas da família; outro, de queimar ritualisticamente. Falei que poderíamos programar isso, mas que eu ficava querendo saber o que ela pensava e sentia com relação ao nome que

 Voltei a perguntar a ela se tinha alguma ideia sobre sobre o ritual de queimar a folha de papel. Ela contou-me que havia uma história histór ia na família fa mília de quando quando os irmãos i rmãos eram pequeno pequenos. s. Os pais faziam um luau na praia, no local para onde iam todos os anos, nas férias de verão. Era uma história que os irmãoss contavam irmão conta vam muitas vezes, e ela tinha ti nha uma sensaçã sensaçãoo de tristeza por não ter t er participado; sempre era relatado como como se tivesse acontecido num tempo em que todos eram felizes, antes de ela ter trâzido a infelicidade e a desavença para essa família. Ela pensou que poderiam fazer um fogo, e ela queimar o bilhete; talvez nas férias, não sabia bem como. Encerramos a sessão com a minha sugestão de que ela conversasse com alguns membros da família sobre a ideia. »  ©©©® ® ® ©® « ® ® « ® ® ® ® ®   ©©©® S «

Essa foi uma sessão na qual o mais importante era deixar que a cliente contasse o que havia acontecido. acontecido. Acredit Acreditei ei que que,, acompanhar seu relato, sem interpretações desnecessárias,

tinha no papel. IA disse que, desde a sessão em que eu perguntei se ela sabia seu verdadeiro nome, pensara muito sobre isso e fizera mil fantasias, escolhendo que nome gostaria de ter. Num dia, pensou que não fazia faz ia a menor diferença que nome era, pois a pessoa com aquele nome era filha de alguém que ela não nessas conhecia. Izabel Augusta era explicação, essa, dessa mas família e metida confusões. Aceitei sua mar quei que, talvez, ela tivesse de voltar a pensar nisso, se o assunto retornasse um dia; quisesse ou não, isso tinha algo a ver com ela.

era uma forma de respeito e qualificação das aprendizagens e dos movimentos próprios dela. Quando o cliente tem uma ideia fechada sobre um deter minado assunto (não importa o motivo, se não é imp importante ortante para ele naquele momento ou se está resistindo a lidar com o tema), não forço a entrada, mas marco que, mais cedo ou mais tarde, ele pode precisar mergulhar no assunto. Assim, não pressiono demais, mas não desqualifico a importância do assunto. Foi o que fiz quando IA não quis se aprofundar na questão dos dois nomes. Se fosse uma questão que pre cisava ser vista para facilitar a continuação do processo, a

u8  

estratégia seria outra. Passaria uma tarefa direta ou tarefas próximas que, aos poucos, trariam e facilitariam o assunto antes evitado.

Rituais na terapia terapia defam ília

D u a s s e m a n a s a p ó s a última sessão,

IA telefo-

nou- me, contando q ue conver s ar a com cada u m d o s i rrm m ã o s s o b r e o p a p e l q u e d e s c o b r i ra ra e s o b r e se se u d e s e j o d e p r o g r a m a r u m l u a u c o m t o d a a f a m í l i a . A r eação de todos foi boa, e resolveram faze r o luau nas próx i m a s f é ri ri a s . D e c i d i r a m , t a m b é m ,  J 

- • sessao - nao seria • sor ãà-  que a próxima de IA, mas viriam representan-

tes de todos os ramos familiares para conversar sobre o luau luau.. Aceitei a alteração, mas passei a tarefa de que cada um que viesse deveria conversar com os membros da sua família e trazer por escrito qual era o objetivo do evento a ser programado, o que cada um queria e esperava. Ela aproveitou para contar que tinha encerrado o ñamorico sem traumas.  Vieram à se sessã ssãoo Heloí Heloísa, sa, Dani Daniel, el, Patrícia Patrícia,, Vítor e Izabe Izabell  Augusta  Aug usta.. Iniciaram a ses sessão são,, falando falando sobre sobre co como mo aass coi coisas sas estavam diferentes na família, sobre como as mudanças

 

tinham afetado todos os relacionamentos. Eles estão con  versando mais sobre sobre as relações relações,, perderam um pouco do receio em abrir os sentimentos e as dificuldades. IA tinha conversado com cada um dos irmãos, anotado o que eles lembravam-se dos luaus da infância e trazido um esboço de programação, que incluía desde uma fogueira e comidas para serem feitas no local, até brincadeiras e  jogos..  jogos

minha presença para o que naisso sessão. Eles concordaram e disseram que tinha tinhamocorrido discutido e tinham decidido vir para firmar e confirmar o envolvimento da família no processo. processo. d ® ® © 9   ©  ® ©

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O trabalho com essa família foi repleto de rituais, muito mais do que o usual. Costumo prescrever rituais em vários

Propusdocomeçarmos a programação definindo objetivo evento. Cada um deles leudo as luau, informações queo tinha trazido por escrito, a respeito da conversa com seus familiares. Em síntese, o desejo de todos era relembrar uma boa fase de antigamente e viver viv er um momento momento de intimidade e descontração, simbolizando um novo tempo para a família como um todo. Definimos, então então,, que o luau tinha como objetivo ritua-

momentos do processo, dependendo do tema que está sendo desenvolvido. No entanto, além desses, aceito as propostas de rituais que surgem da própria próp ria famí família.4 lia.488  As pro propos postas tas qu quee eess ssaa família família trouxe trouxe ccom om relaç relação ão aoritual ritual do luau eram coerentes com o encaminhamento terapêutico de redefinição de identidade, de pertencimento e de final de fase.49 Evito fazer sessões desnecessárias, ou seja, tudo que a

lizar a real integração de IA a essa família, além de retomar retomar

família pode fazer sem a minha presença deve realizar

uma época de alegria e despreocupação. Seria realizado numa praia perto do local que usavam quando crianças. Cada um dos irmãos iria se responsabilizar por uma parte dos preparativos e, também, prepararia uma surpresa. Os filhos e esposos seriam convidados convidados.. Pré-definimos alguns rituais, em função dos objetivos: um para simbolizar o fim de uma fase difícil, outro para

sem vir à sessão. Isso reforça a autonomia dos membros da família, a coerência com a minha ideia de que eles são especialistas na família e de que mais importante do que uma bela sessão é um pequeno movimento concreto na  vida real. real. Quando Quando IA mudou mudou o pprevisto revisto para uma se sess ssão ão de família, fiquei em dúvida se isso era necessário; porém, ao invés de perguntar para quê era a sessão, aceitei a proposta.

selar a integração de todos à família e outro para simbolizar simbolizar a nova fase. Eles decidiram que queimariam a carta da mãe no ritual de encerramento da fase difícil. Foi uma sessão leve e bem humorada. Ao encerrar a ses são, falei da minha impressão de que eles não precisavam da

 A expli explicaç cação ão del deles es,, n noo fi final, nal, mo mostro strou-m u-mee qque ue foi impo importan rtante te ter aceitado a sessão. 48 CARTER; MCGOLDRICK. Op cit, p. 131. 49 Ibii., p. 139.

 

Sopara relatar

IA

TELEFONOU-ME, ANTECIPANDO a sessão

em duas semanas, em função de mudanças f a m i l iiaa r e s .

 Ao chegar chegar,, vinha carr carregada egada d dee pacotes pacotes e sacolas. Disse que havia preparado algumas coisas para a festa, mas gostaria que eu visse e ; desse palpites. Antes, porém, precisava me contar o que tinha acontecido. O luau programado para janeiro precisou ser antecipado

e seria no mês de novembro, aproveitando um feriado e um final de semana. Isso em função de que a filha de Débora, Patrícia, ia fazer intercâmbio nos EUA e viajaria antes do Natal. Ela havia decidido passar um mês na Espanha para aprimorar o espanhol e iria viajar já no final de dezemb dezembro. ro. Com a decisão de antecipar, os cinco irmãos passaram a se encontrar duas vezes na semana, só os cinco, para pre parar o que precisavam. Esses encontros desencadearam muitas coisas. coisas. Co Começara meçaram m com conversas, com lembranças, acusações e desculpas, choros e perdões. Algumas coisas com relação a IA, mas a maioria entre os quatro irmãos

 

mais velhos. Mágoas, desconfianças, ressentimentos vieram à tona. Coisas que nunca tinham sido explicitadas começa ram a ser faladas. Junto com os fatos, todos os sentimentos guardados por muitos anos. Basicamente, eram situações ligadas à desconfiança na forma de lidar com dinheiro, bens e heranças. Excesso de espaço ocupado por Henrique nos negócios da família. Pelo lado dele, a certeza de que todos só se interessam pelos lucros, e não querem saber, nem se envolver nas dificuldades. dificuldades. IA relatou que viveu sentimentos muito fortes de medo. Lembranças amedrontadoras da infância vieram à tona. Lembrou-se de muitas cenas antigas e, em todas, tinha muito medo que eles passassem para a concretização da agressão. A última lembrança que tinha dessas situações foi quando Vítor estava para decidir que faculdade faria, e o pai teve uma briga brig a com ele porque não tinham ti nham a mesma opinião. opinião.

Chorou muito após um desses encontros, quando se dis cutiu a participação de outros membros nas empresas fami liares. Diante da sugestão de IA trabalhar em algum lugar da empresa, Henrique respondeu com negativa. Justificou, afirmando que ela não sabia fazer nada, não entendia de nada e, a qualquer momento, poderia voltar a usar drogas. Ele jamais correria esse risco. IA segurou firme a emoção na hora, mas chorou muito antes de dormir. O sentimento mais forte era de impotência: não sua pertencia mesmo à família e não conseguiria, nunca, limpar imagem e superar as falhas. No dia seguinte, foi acordada com batidas na sua porta. Quando mandou entrar, assustou-se, pois era Henriqu Henrique. e. Ele sentou na beirada da cama e disse ter vindo vi ndo pe pedir dir desculp desculpas. as. Disse que tudo o que falou na noite anterior anter ior tinha um pingo de verdade, mas a maior parte tinha sido um ataque histé rico, porque se sentiu acuado frente às cobranças dos irmãos

O pai gritou grit ou muito, e ela teve tefísica. ve medo de que a discussão fosse transformada em agressão Disse a respeito do pânico que sentiu, ouvindo a discussão e os barulhos, sem saber se estavam socando um ao outro. Até hoje, não sabe o que realmente aconteceu. Depois disso, as pessoas da família não mais discutiam; preferiam evitar os confrontos. Não teve desejo, mas pensou em drogar-se. Agora, estava achando tudo muito interessante. Algumas mudanças con

em todos os sentidos. Quando eles sugeriram a participação de IA, defendeu-se de tudo atacando-a. Henrique disse-lhe que realmente acha que ela não entende de negócios e tem receio que ela volte a usar dro gas. Porém, nada disso tinha a intensidade que ele colocara na sua fala na noite anterior. Gostaria que ela desculpasse sua atitude e pudesse usar o que ele disse como estímulo e desafio para aprender e melhorar, e não como um empurrão

cretas passaram a ocorrer oco rrer na família. Depois da dass primeiras discussões com muito rancor, começaram a falar mais calma mente. As vezes, até com humor. Também estavam expres sando mais a afetividade, abraçando uns aos outros quando se encontravam, perguntando sobre a vida dos outros.

para baixo. Disse, ainda, que tinha passado a noite pen sando, e Heloísa tinha sugerido que ele pedisse desculpas, o que era muito raro nele. Sugerira, também, que fizessem uma reunião urgente, todos juntos, para clarear essas coisas. Ele estava pensando em marcar para aquela mesma noite

127  

e queria saber se ela concordava. IA nem teve tempo de

IA, então, então, preparou-se para a reunião. Preparou-se emo

recuper ar-se do sus recuperar-se susto. to. Henrique deu-lhe um beijo no rosto e saiu rápido. Uma hora depois, Heloísa ligou marcando para almo çarem juntas. No almoço, falou que Henrique estava pas sando por uma crise muito forte, pois essa história de terapia, mudanças muda nças e reuniões deixava-o muito inseguro. Ele sempre teve o jeito de funcionar que aprendeu com o pai, de ser controlador, dono da verdade, de manter tudo na sua mão.  A partir de de certo ponto, ponto, qque ue não sab sabee exat exatam ament entee qqua ual,l, pas sou a sentir-se diferente, inseguro mesmo. mesmo. Se essa era uma uma forma saudável de continuar vivendo, tinha receio de ficar diferente, e tudo ir à bancarrota, bancarrot a, embora reconhecesse que o jeito antigo não fazia mais sentido. O problema é que ele não tinha ainda um jeito novo, e não podia correr o risco de errar. Heloísa, por seu lado, achava que a situação da véspera

cionalmente, cionalm ente, energeticamente e objetivamente. objeti vamente. Propôs que o encontro fosse em sua casa (salientando sua casa e não casa da mãe!), encheu o lugar de flores, mandou preparar coisas para comerem; rezou, mentalizou, acendeu velas! Quando começaram a chegar, enrolou estes até estarem todos. Ela havia preparado a sala, colocando as cadeiras para que eles ficassem sentados de forma circular, com ela na ponta central. Iniciou a conversa, dizendo que a reunião tinha sido con  vocada  voca da por Henriqu Henrique, e, mas mas ela iria dirigi-la. dirigi-la. Falou de como como foi difícil a noite anterior, de como se sentiu desanimada, de como como estava pensando em desistir. Também falou sobre como foi surpreendida pelo movimento novo do Henrique ao procurá-ía. A partir do encontro matinal com ele, tomara algumas decisões. A primeira: essa família era sua, não importava como tinha entrado.

tinha sido a gota d água, pois ele não era mais um homem agressivo e prepotente. Ele não queria agredir e excluir IA, mas enxergava-se enxerga va-se num momento de crise, dizendo e fazend fazendoo coisas que não queria, o que não era mais o seu modo. A reunião de logo mais à noite poderia ser definitiva definit iva para deci dir que caminhos ele tomaria. Heloísa disse que Henrique estava com medo. Medo de não conseguir se mostrar e de fazer tudo como faria fa ria antigamente. Ela, então então,, sugerira sugeri ra que que ele fosse pedir desculpas. Isso deveria facilitar o encontro da noite, noite, pois achava que ele iria para par a a reunião já com um umaa experiência experiê ncia de ser diferente, tendo em vista vist a que ele sempre sempre tinha um argumento, e nunca se desculpava.

Desde os primeiros dias, era sua família, e ela não se sentia mais devedorapor estar ali. Seu grande medo sempre sempre fora assumir isso e alguém lhe provar que ela não perten cia a eles. Tudo o que fez foi por medo de ser diferente. Se agisse de outra forma, teria lutado para ocupar seu espaço, mas poderia perder e machucar-se. Isso a levaria a ser uma incapaz e drogadida. Por pior que fosse, seria uma dor já conhecida.  Apóss o encon  Apó encontro tro com com o Henri Henriqu que, e, havia decid decidido ido qu quee faz fazia ia parte da família. Mais que isso. Mostraria que fazia parte e que tinha um espaço, uma função na família. Retomaria os estudos e iria se preparar para ser alguém, dentro e fora

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da família. Finalmente, compreendera que isso só dependia dela. Os outros responderiam ao que ela fizesse. Sabia haver riscos de recaídas, mas levantaria e iria se esforçar. Sugeriu, pois, que cada um falasse dos seus medos pes soais e familiares nesse momento e decidissem coisas em comum. Henrique falou que estava em dúvida. Sua vida toda fora guiada por certezas, e agora não as tinha mais. Aprendeu a ser o chefe, a não vacilar e, agora, tinha medo de vacilar.  As críticas e reivindicaç reivindicações ões dos irmãos deram-lhe deram-lhe novos novos horizontes, mas ele não sabia mais como agir. Não sabia se queria e se podia abrir mão do poder e do controle. Não sabia se suportaria os irmãos dando palpite nas questões das empresas. Achava que preferia desistir de tudo, mas não achava justo abandonar as empresas que tinham sido sua vida até agora; considerava ter feito um bom trabalho

Daniel disse sempre ter considerado considerado Henrique prepot prepotente, ente, dono da verdade, ditador. Todas as vezes que o questionara sobre as empresas, empresas, inclusive na noite anterior, não foi porque quisesse saber das empresas ou quisesse trabalhar lá, mas para mostrar-lhe mostra r-lhe qu quee ele era vulnerável. Se quisesse, quisesse, poderia infernizar sua vida, exigindo explicações e prestações de contas. Em sua opinião, Henrique não tinha vínculos com a família. Tinha relações bancárias, de saldos, aplicações etc. A partir das reuniões e sessões da terapia, foi ficando inseguro, pois começou a ver um pedaço de Henrique que poderia ser diferente. No entanto, com esse Henrique, não sabia se relacionar. Preferia o ditador, pois com ess essee poderia continuar mantendo a relação de ironia e desqualificação, tendo a certeza de que seu dinheiro estava sendo bem cui dado e chegaria a suas mãos sempre no dia certo. Débora, por seu lado, disse que, muitas vezes, desejou

por eles todos.  Vítor disse que não pretendia se meter nas emp empresas resas;; tinha sua vida e sua profissão. O que gostaria era poder fazer perguntas sobre as empresas sem parecer que estava invadindo e sentir-se sentir -se escorraçado. Muitas vezes, tinha tinh a med medoo de perder os lucros ou o capital da empresa, pois aprendera a viver com esse dinheiro, que pretendia deixar para os seus filhos. No entanto, cada vez que tentava conversar,

trabalhar na empresa, desdepropôs, que seus filhos deixaram de ser crianças. cri anças. Porém, quando Henrique negou e não deu condições de discutir. Às vezes, pensava que, quando seus filhos fossem adultos, pediria para separar sua parte e deixaria que eles administrassem. Nunca deixou que seu marido assumisse alguma crítica perante Henrique, pois tinha medo de rompimentos. Assim, ela e sua família sem pre evita e vitaram ram se meter nas questões das empresas empresas e recebiam

Henrique fechava-se. Até pensou que ele estaria fazendo coisas erradas e, por p or isso, não queria ninguém se metendo. metendo. Seu medo era de que brigassem por causa das empresas e rompessem os outros outr os laços.

sua parte sem questionar. IA sugeriu que aquela fosse uma primeira reunião de autoajuda. Disse que cobrar e desconfiar era fácil, mas ela propunha que fizessem reuniões nas quais a agenda agenda fosse

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feita a parti par tirr das dificuldades de cada um e da possibilid possibilidade ade

» de Heloísa, Heloísa, uma balança (de (de madeira) com pesos nos

de ajudarem-se mutuamente. Que esse dia servisse de marco de início, e não de marco de dor e medo! Todos concordaram e passaram a decidir as coisas sobre as quais, na noite anterior, não tinham conseguido conversar. IA sentiu-se poderosa, capaz e curadora. Teve a sens sensação ação de que tinha interferido no destino. Passamos a ver o que ela estava preparando para o luau.

dois pratos, significando todo o trabalho que ela sem pre tivera para ser equilibrada e justa nas confusões que aconteceram;

IA disse que havia partido do princípio de que tinha sen timentos bons e ruins com relação a cada um dos irmãos e outros membros da família. Então, resolveu construir algo que simbolizasse o ruim ru im de cada relação e um presente presente para cada pessoa. Pensava em colocar na fogueira o que simbo lizava a dificuldade e, em seguida, dar o presentinho para cada um, dizendo o que simbolizava. O ruim era sempre algum sentimento desagradável ligado a alguma situação

» de Daniel, Daniel, um boneco tipo “bobo da corte” corte ” (de (de tecido), tecido), significando a forma como ela se sentia diante dele; » de Vítor, um tambor tambor de madeira, representando as perdas que ele teve com a yinda dela; » de Débora, uma bola com correntes pretas (de madeira e papel), representando a amarração que ela foi na vida da irmã desde que nasceu; » de Roberto, Roberto, Elisa e Angela, um cartaz com uma foto de IA e cada um deles no meio, com riscos de todas as cores por cima, simbolizando as dificuldades e confusões que  já criara; criara;

 vivida com a pessoa pessoa no pa passa ssado do.. O pres present entee simboliza simbolizaria ria o que deseja, do fundo do seu coração, para aquela pessoa. Foi mostrando, então, os objetos que seriam queimados e dizendo qual o presente que daria para cada pessoa. Os objetos para queimar seriam: » de Henrique, uma colagem de uma foto dele com o pai, colocada sobre uma foto dela com cara de drogada, sig nificando o que ela havia depositado em Henrique sobre suas dificuldades com o pai e os incômodos reais que dera aos dois;

» de Rebeca, uma colagem de fotos das duas, nas quais Rebeca está bem (bonita, sorrindo, bem vestida, numa pose boa) e IA mal (feia, descuidada, sem dentes, torta), simbolizando as dificuldades que as duas tiveram e que impediram que fossem amigas; » dos sobrinhos homens, homens, um barquinho barqu inho feito de cartolina, cartoli na, representando as dificuldades que tinham com ela; » das sobrinhas mulheres, mulheres, uma bonequinha bonequi nha feita na carto lina, também representando as dificuldades que tinham com ela;

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» tas: da filha da Rebeca, umadefolha de papel com palavras solciúme, dificuldade relação, inveja, carência, signi ficando os sentimentos que já tivera com relação a ela. Os presentes seriam: » para Henrique, um boné de de um time de futebol american americanoo e uma valise de mão de couro de camelo, simbolizando seu desejo de que ele pudesse viajar e divertir-se com o que gosta, além de trabalhar e sacrificar-se; » para par a Heloísa, um prato d dee parede egípcio que reflete a luz, iluminando o ambiente, para que ela receba todas as coisas boas que faz para os outros; » par paraa Daniel, um chaveiro chavei ro de ouro com um desenho em relevo, que mostra uma paisagem e uma ponte, signifi cando seu desejo de que possam vir a ter uma relação

» par paraa Elisa e Angela, Angela , um anel de ouro, simbolizando seu seu desejo de estar próxima; » para Rebeca, uma máscara das duas duas faces faces do teatro, rindo e séria, simbolizando o desejo de que pudessem estar próximas nos bons e maus momentos da vida; » para os sobrinhos homens, uma máquina fotográfica, simbolizando seu desejo de terem boas aventuras na  vida; » para as sobrinhas mulheres, um anel, simbolizando seu desejo de estar próxima; » par paraa a fil filha ha da Rebeca, um broche que que fora de de IA quando quando pequena, simbolizando seu desejo de ser importante na  vida da crian criança. ça. Cada objeto que IA mostrava era acompanhado de lem

mais próxima; » para Vítor, um porta-retratos porta-retrat os de cristal, com uma foto na qual ela estava num carrinho car rinho e ele a empurrava, com o desejo de poderem retomar a relação de amizade e brincadeiras que tinham na infância; » para Débora, um pêndulo pêndulo de de cristal faceta facetado, do, que brilha quando recebe luz, significando seu desejo de que ela tenha paz, despreocupação e alegria; » para Roberto, Roberto , um chaveiro de ouro com a inicial, inicial , simboli zando o quanto ele era e foi importante em sua relação;

branças e desejos. Chorou em alguns momentos, mas de forma tranquila. Esse seria seu ritual. Não tinha encontrado uma atividade-surpresa para fazer. Achava que seria só isso. Reavaliamos sua relação com cada um deles, o que cada presente simbolizaria, e avaliamos seu desejo de presentear também a mãe. Se sua mãe fosse ao luau, estaria preparada com um porta-retratos e uma montagem de fotos das duas  juntas..  juntas Disse que tinha pensado em colocar no fogo a folha de caderno que descobrira sobre sua origem, mas desistiu. Vai guardar guar dar para mostrar mostr ar para seus filhos. Talvez copie os dad dados os

 

em outro papel e jogue na fogueira, representando todas as dificuldades que foram ligadas a isso. Porém, quer guardar o papel verdadeiro. IA quis deixar marcada a próxima sessão para logo após o luau. No entanto, não foi possível em função de compro missos meus. «

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 Mudanças  Mudan ças nos nos padrõe padrõess familiares fam iliares

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Essa foi uma “sessão só para relatar”. rel atar”. É comum acontece acontece rem sessões assim, no andamento do processo, quando as mudanças estão instaladas, e a família (ou o cliente indivi dual) dua l) está est á envol envolvida vida em atividades e situações diretamente ligadas ao processo relacional e emocional, mas sociais, externas e concretas. Normalmente, isso é sinal de qu quee uma etapa do processo está chegando ao final. O fim desse relacionamento terapêutico (ou dessa fase do relacionamento terapêutico) está se aproximando. Essa

de IA, por e-mail, dois dias depois do luau. Dizia o seguinte: R e c e b i u m  r e c a d o  

Car a, queri queri da eprezada terapeuta, N ão sei se sea agr grade adeço ou secobro. cobro. Foi mui mui to i ntenso ntenso e  for for te  0 tal doluau. Quando Q uandof o r aí aí,, conto em em d detalhe etalhes,   po  pois is não não so souu da dass melho lhores respara escre screve ver.r.

compreensão não tira a importância das “sessões só para relatar”. É uma sessão na qual o terapeuta é testemunha das mudanças e da autonomia do cliente. Isso é vital para a separação e para a fixação dos novos comportamentos. O terapeuta funciona como reforçador dos novos padrões do cliente.

Foi para valer. valer. A té a mãe mãefoi , assim  como todos todos da famí li a. Começou como como  uma bri ncadeir ncadeira, a, como como sefos fosse se uma  ordem da terapeuta. terapeuta. Foi fi cando   sé  sériri o, fort e, mágico eacab acabou ouna  maior choradei ra. A os p pouc oucos, os,  as pessoas for am saindo,  ma mass os últi último moss fi caram j   naprai aaté0 nas ascer cer do sol. sol. Eu, écla claro, ro,f ui a últimaa sa sairir..  Ante  A ntess desa sairir,, fi z o outro utro ri tual, tual, d dee  gratidã  grati dão, o, ao so sol,l, à vi vida da,, àminh minha afamíl i a, a voc você, a mi m.

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 Agora,  A gora, poré porém, m, esto stouu mal N ão é nadafí si co, mas parecequeé noco corpo. rpo. N Não ão tenho von tade desai r da cam cama. a. P arece q que ue um rred edem emoi oinho nho vai mepegar pegar..   Socorro!  Soc orro! Achoqu queevoumorrer. Ou se  será rá qu queeéissoqu queeédepre pressã ssão?  o?   V ou tentar chor ar, poi s você m mee d dii sse quese a gente não vi ve a  tri steza ela vi ra de depre pressão ssão.. N ão q que uero ro de depri pri mir. Quero viv viveer. A i   querui m!   A pe pesar sar de estar m mal, al, ac acho ho melhor melhor d do o que qua quando ndo procurei   você. Es tarei aí na p próx róxii ma se sema mana. na.  Abraços,  Abraç os, grati dã dão, o, ra raiv iva, a, am amor. or. Tud Tudo opara voc você. I A ? Q ue uem m sou sou eeu?  u? 

Enviei uma resposta falando das dificuldades do processo, de como ela estava conseguindo sair do funcionamento antigo e da minha admiração pela sua coragem.

dor na perna. O médico não estava entendendo, pois a dor não passava com nada. Porém, ela achava que tinha tudo a  ver. Que Que era a última limpeza limpeza e pagam pagament entoo das su suas as dor dores es,, bobagens e coisas erradas que fez na vida. Depois disso, já poderia morrer e ir para o céu ou viver normalmente. Falou meio brincando, mas tinha um ar de séria decisão. Disse que muitas coisas tinham acontecido nessa semana, cul minando com uma escorregada na escada e a perna direita quebrada. Achava bom que Débora viesse para contar-me sobre as coisas e, em seguida, passaria uma mensagem por e-mail, dando sua versão dos fatos, para que, quando Débora chegasse, eu já soubesse alguma coisa. No final fina l da tarde, li sua mensagem. Terapeuta Ter apeuta do meu coração coração,,

Não recebi notícias até a véspera da sessão. Débora telefonou, pedindo que eu ligasse para falar f alar com ela e com IA em sua casa. Ao atender ao telefone, contou-me que IA tinha quebrado a perna no dia anterior e que o médico não queria que ela viajasse, inclusive porque estava sentindo muita dor. Débora, porém, queria aproveitar o horário marcado para vir. Perguntei sobre o motivo, e ela disse que queria conversar comigo sobre o luau e outras questões familiares. Achei viável, e ela passou o telefone para IA.  A voz estava estava fraca e meio enrola enrolada. da. Disse-m Disse-mee que que era por causa dos remédios que estava tomando para diminuir a

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Uma vez você explicou-me expli cou-me sobre sua teoria das rreecaídas. EEuu  achei legal, mas v i v er as recaídas de achei depois pois que voc vocêêj á tteem cceerta rt a  consciêncii a émuito barr a!  consciênc P ar ara a com começa eçar,r, só li hoj e sua respo r esposta sta ao meu meu e-mai e-maill de d deepo poii s  do luau. C ar aramba, amba, com como o eenlouqueci!  nlouqueci!  B em, vvam amos os aos aos fatos. Es Estava tava naque naquele le estado estado rrui ui m quando lhe escre escrevi vi , mas atéesqueci   qu quee tinha ti nha eescrit scrito, o, ef u i fi cando pior cad cada a hora quepa passava ssava.. Não N ão   se  seii eexpli xplica carr 0 que er er a, mas oqueeu senti a era um de desâni sânimo, mo, um   fundo depo poço ço,, umavon vontad tadeededormir enã não o mais ac acord ordar. ar. Fiquei  Fiquei   dois di as na cama, quase semcomer, comer, sem tomar banho eetc. tc.

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D ep epoi oiss de vários vári os dias (na ( na verdadenãose seii dire dir ei to a passagem passagem  do tempo) llii guei par para a um “ami “amigo go daqueles tempos”epedi que me  trouxesse tr ouxesse um pouco depó. Não N ão sei quanto quanto tem t empopassou, só lembro  queelechegou eestávamos estávamos preparando prepar ando a droga, quando quando Henri Henr i que  entr entrou ou no quarto. quarto. N ão lembro lembro direi di reito to o queacontec aconteceu eu (a organi org ani  zaçã  zação o quere relat lato o épor co cont nta a do qu queeoHenri qu queeco conto ntou-m u-meedepois).  I mediatament mediatamente, e, ele entendeu o que estava acontecen acontecendo, do, berrou, berr ou,   deu uns safanões no rapaz, tocou tocou para for a de casa, casa, voltoupara  o meu meu quarto quart o e teveuma cri cr i se (disso, ( disso, eu já j á me lembro, lembro, apavorada apavorada).).   E le berr ou tanto, bateu ej ogou tanta t anta coisa, coisa, ba batiti a-sepelas pelas paredes paredes  como com o sefo foss ssee um louco. louco. Tr ancou a porta port a à chave e di di sse quenão  i a mais sai s airr dali. Que nós nós dois éramos éramos loucos loucos emorre morr er í amos ali  ali   defo fome me e sede sede. Dep D epoi oiss de uma eterni dadegr grii tando, chorando e  jogando  jogand o co coisas, isas, eleca caii u no ch chão ão ao la lad do da mi nha nha ca cam ma efi cou  en encostado costado na cama chorando chorando baixi bai xi nho. A í pesso ssoas as ch cheegaram, garam,  bateram na porta, por ta, chamaram e nem ele ele nem eu eu rrespo esponde ndemos. mos. Só 

 pe  perdeu rdeu a cab cabeça. ça. Enlouq Enlouque uece ceuu epô pôss a loucura loucura para for a. Falou Falou  um tempão tempão dafr us ustr tr ação, ação , da desesper desesper ança, de com como o eu eu ti nha  enganado nganado dir direiti eiti nho. nho. Vocêpode pode imagi imag i nar 0 meu dese desespero? spero? Merg M ergul ulhei hei na dor dele,  e não não conse consegui guia a arti art i cular uma palavr palavra. a. E le fi cou quieto de novo novo e,e, depo poii s de um tempo, tempo, consegui consegui passar   a mão na cabeça dele, dele, que estav stava a na beir bei r ada da cama. Umaeternidade eterni dadedepo poii s, eleolhou olhoupara par ami m, echoramos choramosjuntos   Às durante muito tempo. vezes, forte; às vezes, suave; às vezes,   abraçados; às vezes, cada um na sua.  Já esta stava va an anoite oitece cend ndo, o, e aspesso ssoas as não nãoparavam paravamdecha chama marr e baterr na port bate porta. a. Q Quan uando do o ouvi uvi a voz daHeloísa, Heloí sa, suger s ugerii queH enri que  abrisse a porta para ela. Quando ela entrou, vi nos seus olhos 0   su  susto stopela ba bagun gunça ça qu quee estava stava no qua uarto. rto. No enta entant nto, o, ela sónos  abraçou echoramos os três juntos. j untos. E la dis disse se queachava achava que não não  era hora de conversa e de eexpli xpli caçõe cações, s, mas que nós prec precii sávamos 

quando quando oVí tor disse di sse que que iam arr ebentar ebentar a porta foi queeufal ei   que estava stav a tudo bem. PPassado assado um tem t empão pão,, H enri enr i que começo começouu a   falar. Disse queesta stava vamuito triste tri ste,, quenão nãosa sab bia oqu quee fazer.  fazer. Que ti nhapassadomaus momentos momentosdesdequecome começam çamos osa mexer com as coisas cois as dopassado eda eemo moção. ção. Que Q ue oluau ti t i nha trazi tr azido do devolta  uma alegr al egrii a, uma esper esper ança queelenão senti sentia a desde desdequeti nha  mai maiss ou menos 12 12 anos. anos. Que ti t i nha vi ndo me me ve ver,r, porque soube soube q que ue eu eestava stava decama. cama. PPeensava queera r esfr esfrii ado por causa do dof r i o 

tomar um banho banhoecomer alguma alg umacoisa; que ela levari levar i a Henri Henr i que   para casa casa,, eDébora Débora fi cari a com comigo. Os famili  famili aresfor foram am embora, ninguémfez mai mai s pergunta perguntas, s, e eu tomei ban banho, ho, comi e dormi . SSem empensamentos ntos,, ssem emsenti sentime mentos,    se  sem m le lem mbran rança ças, s, sseem tu tud do.  Acordeii noou  Acorde outro tro dia, com com aDébora Débora avisando-m avisando-meequ queeia sair e que 0 Henri  H enri queestava vindo vi ndopara conversar convers ar comi go. E u estava estava eesqu squii si sita. ta. Leve, magra, magr a, bonita, bonita, apesar apesar das olhei ras. 

da madrugada do luau. luau. Ti T i nha vi ndopara agradece ag radecerr- me; me; com  todass as minhas loucuras, eu tinha toda ti nha acab acabado adopor tr azer de volta volta  a esperança. esperança. Q ue avi da iinterna nterna dele era era diferente di ferente agora e que que,  quando entendeu que queeu continuava conti nuava usando droga, drog a, compree compr eendeu ndeu  que tudo tinha sido uma ilusão; ele tinha sido um idiota. Então,

 A rr umei umei -me com comale alegri gri a ecuida cuidado do.. Não esta stava vaente ntend ndeend ndo, o, mas  estava ótima. Es Esperei perei H enri que na sala e, quando quando eele le chegou, abraçamo-nos  e, ssem emsaber por que, que, caímo caí moss na ri r i sada, como a maiori maior i a das coisas coisas  queestãoacontecendo, acontecendo, sem lógi ca ou expli cação racional. raci onal.

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Conv ersamos, convers Conversamos, conversamo amos, s, convers conversam amos. os. Umas sete horas, horas,  comi ntervalos para i r ao b banh anheei ro, comer comer alguma alg uma coisa coisa e atender  atender   alg alguns uns telefonemas telefonemas indispe indi spensáve nsáveii s. Checamos as lembranças do dia anterior, falamos sobre as  coisas que ele disse diss e ef ez ez,, contei contei o queeu eestava stava senti s entindo ndo e oque  havia havi a feito. feit o. A gr adeci pe pela la chegada chegada dele, que me me tr trouxe ouxe ao mund mundo o  de novo. novo. Falamos, falamos, falamos. Contei para par a ele sobre sobre a teo teo r i a das rec r ecaí aídas, das, e co comb mbii namos namos que, que, quando quando eu eu senti r o b bii p que que 

Escolhia começar pelos últimos fatos. Entregou para mim uma carta de Henrique, esperou que eu lesse. A carta era a seguinte: seguinte:

anuncia a r ec ecaí aída, da, vou procuráprocurá-lo. lo. D epois de tudoquej á fi zemos, zemos,    precisamo  precisamoss no noss ajudar para nã não o despe desperdiçar rdiçar oesforço. sforço. N essa noite, noi te, as pessoas pessoas vi eram jant j antar ar conosco, conosco, e nós nós contam contamos os  o queti nha aconteci aconteci do, o que tínham tí nhamos os sentido senti do eo quetí nhamos nhamos  combii nado. comb Então, na manhã segui seguinte, nte, fu i descer descer a escad escadii nha de de  fr fr ente de ca casa sa para pegar oj ornal, escorr escorreeguei e quebre quebreii a perna. perna. D aí aí,, ffii m, cara te t erapeuta. rapeuta. Estou E stou de de molhoecommuita dor. dor.

rando cocaína cocaína para i njetar.  A pr i me meii ra coisa coisa que tive certeza certeza era de de que que ela mo morr rr eri a se injeetasse. inj tasse. I ssofo foii 0 queme moveu moveu a bater no rapaz e berr ar com com ela. Porém Por ém,, no momento seguinte, segui nte, f o i a mi mi nha lama que que vei vei o à  tona. D uas vertentes v ertentes de lembranças e senti sentime mentos, mas as dua duass  com a mesma mesmafr ust r ação e desesp desespeero. P or um lado, lado, a históri hi stóri a da  minha vida vi da,, meu meu pai herói, herói , minha mãefeli z e com como tudo tudo isso desmoronou quando, quando, no iní cio ci o daadole da adolescên scênci cia, a, fi quei sabendo 

Car a doutora, doutora, Es Estou tou enviando envi ando meu relato sobre0 queachei do luau, mas pre ciso cis o an antes tes dar-lhe dar- lhe alguns dados sobre sobre 0 queacontece acont eceuu estasemana, semana,  quando entr entr ei no quart quarto o daI A eela estava comum rapaz, r apaz, prepa

 A D ébo bora ra vai relatar relatar o qu queemais fo r necessá ssáriri o.  Abraços,  Abraço s, Izabel Izabel (a (ach cho o que que é assim quevou me cha chama marr .daq .daqui  ui    parafr freente!).

Débora entrou na sessão com u um m sorriso diferente diferente.. Não parecia a mulher séria, responsável e culpada das outras sessões. Marquei isso, e ela disse que era impossível ficar a mesma depois de tudo que tinha acontecido. Disse que tinha três assuntos: uma decisão que os irmãos tinham tomado antes do luau, o relato e as cartas dos irmãos sobre o luau, além de suas impressões sobre o que acontecera depois do luau.

desmoronou quando, quando, no iní cio ci o da adolescên adolescênci cia, a, fi quei sabendo osfat os r eais das sacana s acanagens gens do meu pai e da iinfeli nfeli cidade ci dade da  minha mi nha mãe. C Com omo o sofr sof r i e com como o consegui, consegui, magicamente magicamente,, enterr enterr ar   a dor e defenderdefender-se, se, sendo sendo um homem trabalhador, trabalhador, dinâmico,  duro, rígido. Fui 0 org  orgulho ulho do meu meu pai e a segurança segur ança da minha  mãe.. P assei a ser desinteressado mãe desint eressado edefendido defendi do com as pessoa pessoas. s. A   úni ca pessoa pessoa que sempre soubequem eu eu era er a no f undo un do é m mii nha  mulher. N ão sei como, mas sempre me m mostr ostrei ei para par a ela, com dore doress  ei mpotências. mpotências.  A outra le lemb mbranç rança a qu queemeveio veiofoi deI A pequ queenininha. Co Com mo,  ape apesar de demonstr monstr ar raiva, r aiva, fr i eza, i ronia, roni a, distan dist anciam ciameentopo por  r   ela epela si tuação, 0 pri meir mei r o pensamento pensamento que tive aovê-la pela pela   pri me meii ra vez vez fo foii de que que era mais mais uma uma q que ueeu teria que quecui cui da dar  r 

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eprot eger. Como vi vi o te tempo mpo todo todo comessa ambig uidade ui dade em  relação a ela. ela. P or um u m lado lado,, senti sentia-me a-me responsáve responsávell e comi mpulso mpulso  de cui dar (s (sem empre pre cui cuidei dei da part partee dela dela nas eempresas mpresas commais  i nteresse d do o queda p par arte te dos o outros! utros! ); ao m mesm esmo o tem tempo po,, comf r u s  tr traçã ação o pelas pelas b beesteiras que que ela fazi a e rai raiva, va, mui mui ta rai raiva. va. Q uando enlouque nlouqueci ci,, chor chorei, ei, que quebrei brei coisas e d dii sse tud tudo o o que  me vinha vi nha à cabeça. Par eceque d desanu esanuvi vi ou. FFii cou tudo nos seu seuss  devidos lugares. N ão sei o que que isso vai dar, mas a sen sensação sação é boa boa.. Espero E spero não   pe  perdê rdê-la. -la. Seeu co conse nseguir guir mante manterr essaclare clareza, za, creio creio que quevo vouufaz er   algumas mud mudanças ançasnami nhavi dapessoa pessoall enasem empresas. presas. TTen enho ho  ce certo rto rreece ceii o, ou m melh elhor, or, um gr grande ande re rece ceii o. A Heloísa sugeri u pe pedi dir r mo moss ssua ua ajuda aj uda para nós doi doiss lil i darmos comessas mud mudanças, anças, mas  eu acho que que não será necessár ssárii o. Um abraço, abraço, Henri H enrique que..

i de deii as edis discussõe cussões sobre oquefazer fa zer , ni ng nguém uém toma tomava va a decis cisão. ão.   Sósaíramdomara arasm smo o quand uando o a emprega mpregada datrouxeum macha achad do,  eVí tor avisouqu quee ia arr arreb eben entar tar aporta. A í , ouvir ama vo vozz deI A ,  dizen diz endo do q que ueestava tudo b bem em.. A ss ssii m, pass passar aram am m mai aiss umas duas  horas. Às ve veze zes, s, chamavam, e um do doss dois di zi a alg alguma uma ccoisa. oisa.  D em emorou orou mu muii to para H Heeloísa loí sa sser er lloc ocali alizada zada e, qua quando ndo cche hegou gou e  falou com comeles, les, H enri queabri abri u a porta. porta. Fi quei lápara aj udar IA . O qu quarto arto pare pareci cia a queum terrem terremoto oto  ti nhapassado passado.. N Não ão ti nha nada nno o lugar lugar,, até a ccama ama estava vi rada   pa  para ra outro utro lad lado. A co corti rti naestava stavarasga rasgada da,, eos dois ttii nham nhamsinais  desangue, sangue, pois caco cacoss de vi vidro dro da jjane anela la e d dos os vi dros deperf ume  quebradosvoaram voar amneles. E lespar pareci eciam amdoi doissloucosme mesmo, smo, aquele aqueless  defi lme de te terr rror. or. H enri que saiu amparadopela pela Heloí Heloísa sa epelo   fi lhoNeto Neto.. Eu pre precise ciseii d da a ajud ajuda a daemp mprega regada dapara para levar levar I A para para  a banhei ra e dar ban banho ho ne nela. la. N o dia seguinte, à noi noi te, con conversam versamos, os, todos todosj untos. N Nii ngu nguém ém 

Depois, Débora começou a contar. Ela relatou seu desespero quando a empregada telefonou-lhe, contando que Henrique chegara, batera no amigo de Izabel e que, no momento, estava no quarto, batendo nela. Q uando che cheguei guei à casa, j á estavam umas ci nco p pessoa essoass bate batend ndo o  na porta port a e cham chamando ando p pelos elos do doii s; de lá dedentro, dentro, só vinham vi nham urr urros os  e sons sons de ccois oisas as qu queb ebrando. rando. FFoi oi um hor horror ror ! Tod Todos os doladodefo forr a  começ com eçaram aram a gri tar, tar , e alguns a chorar. A ca casa sa éantig antiga, a, e aporta  mui mui to grossa. P ensaram ensaram em arr arromb ombar, ar, queb quebrar, rar, cham chamar ar um  cha chaveir veiro, o, chamar a políci polícia, a, chamar um p psi siquiatr quiatra, a, entr entrar ar pelo  telhado. O temp tempo o ia i a pa pass ssando, ando, e todos enlouquecend nlouquecendo; o; apes apesar ar de mil

entendedi direi reito to o que acontec aconteceu, eu, mas todo todoss sent sentem em q que ue coi coi sas  mudaram na alma das pessoas pessoas ap após ós oluau oluau.. A i nda estamo estamoss com a   sen  sensa saçã ção odeque  faz faz p pou ouco cotem tempo que queoterrem terremoto otopass assou ou.. Esta Estam mos  cansad cansados, os, assustado assustadoss e aten atentos tos par para a v ers e elepodevoltar. Quanto Quan to ao ao luau:fo i um eespe spetácu táculo. lo. M eu filho, fi lho, Fernando, ffez  ez   um relato da sequê sequênci ncia a dos dos fato fatoss concretos e eu tr trouxe ouxe para você ver. P rogr ama doLuau 14h - Confec Confecção ção d da afog uei ueirr a; 17 17hh - A rr umação umação das das coi coi sas emvolta volta dafoguei ra; 18h- A cende cenderr afogueir a;

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18h30 - E m volta d da afog uei ueirr a, cad cada a um d dos os irmão ir mãoss co conta nta  hist órias óri as d dos osluaus d da a i nfância; 19h30 19h30 - R it ual p para ara eence ncerr rr ar a fas e ruim;  20h - Surpre Surpresas; sas;  22h - R it ual para para anova novafase;  22h30 - Cantos e danças até o am amanhece anhecer . Relato

outr outros os dafamí fa mílili a) e nós nós sentam sentamos os tod todos os eem m volta, preparando as   comidas, comen comendo, do, e cadaum dos irirmãos, mãos, contand contando o sobre o oss vári os  luaus dai nfânci nfância. a. A Ape pesar sar da iinsi nsistênc stêncii a do do tio Vít Vítor, or, estou estouram ramos os  0 horári o, po poii s junto comas histór histórii as d dos os lua luaus, us, vi eram muitas  outras; histórias engraçadas das brincadeiras e sacanagens de quando eles eram pequenos. pequenos. N ós que não estáv estávam amos os presentes   pu  pude demo moss nos nos diverti r com com eles les conta ontand ndo. o.  M ais ou me menos nos às 20h, a I A prop propôs ôs 0 r rii tual p para ara enc encerrar  errar  

 A sl4h, fomospara para apraia con construi strui r afogueira. Tio Henri Henriqu quee  era o re r esponsá sponsável, vel, e nã não o deix deixou ou as cri anças pe peque quenas nas i rem junto;  então, en tão, fomos oshom homens enseo ossnetos netosmaior maiores. es. Foi mui mui tolega legal.l. Ti Tivem vemos os  quer econstr ui r vári v ári as veze vezess até quefi casse empé d dii reito reit o esem  ri sco dedespencar antes da hora.  A s mu mulhe lheres res fi caram eem m ca casa, sa, prep preparando arando as co com midas, q que ue  eram de responsabi responsabi li dad dadee da minha mãe(D ébora). bora). Ti o V í tor era o re respo sponsá nsável velpela pela organização organização.. E le titinha nhafei feito to 

a fase r ui m dafamí li a. Ela El a era a rreespo sponsá nsáve vell por coorde coordenar nar o oss  ri tuais. tuai s. (U m p pouc ouco o antes, antes, a avó tinha si dolevad levada a para casa casa.).) Foi   um ri tual pe pequ queeno, masfoi fo i for te. O Oss qua quatro tro i rmão rmãoss mais a I A    pegaram  pegaram juntos um uma a carta carta q que uea avó avó tinh ti nha a esc scriri tofa z te tem mpo e,   segurando  segu rando junto, ccad ada a um dizi a uma palavra palavra q que ue signi ficava  coi coi sas rrui ui ns queaconte acontece ceram ram nos últimos 30 anos na famíli a.  D ep epoi ois, s, j ogar ogaram am a ccarta arta na fog uei ueirr a e, e, enq enquanto uanto ela qu queei ma mava, va,  eles continuavam gr i tando as palavras. Fi cou tod todo o mundo mundo em 

um convi convite tepar para a cada m mem embro bro dafamí li a comoprog programa. rama. N o  di a, era dia, er a elequem coordenava coordenava oshor horár árii os e a aconte contecimen cimentos. tos. Per Perto to das 17h 17h,, todos todos nó nóss fomos par a a pr prai aia, a, levan levando do as ccom omii  das etodo todoss os o outr utros os materi materiai ais. s. T i nha cois coisa a qu queenão ac acaba abava va m mais ais..   A s com comii das das eram m milil hoverdepara ser assa assad do nas nas brasa rasas, s, carne carne  em espe espetiti nho nhoss para assar no fogo fogo,, fr ut as detod todos os o oss titipo pos, s, sucos  e ou outr tras as bebidas bebidas de a adu dultos ltos e ccriri anças, que queii j o para ser derr derr etido eti do  nofog o, outros que queii j os e p pães ães devári os ti pos, pos, e doc docees mi miúdo údoss de 

 silêncio depois disso  silêncio isso.. Um tem t empo de depois, tio ti oD ani el anunci anunciou ou a etapadas surpresas.  C omeçou omeçou com 0 tio Vítor, vestindo-se de mágico e fazendo um  mo monte ntedemá mági gi casbá bárbaras. rbaras. De D epoi poi s, tio ti oHenri queeetiti oDaniel D aniel toc toca a r am vi v i olão ecantar cantaram am co como mofaz fa z i am quando eram adole adolesce scente ntes. s.   M i nha mã mãeede deuu a cada cadaumdosi rmãos rmãos uma umafotografi a (uma (uma mon on tagem tag em,, mas pareci a deverdade), ondeapareci apareciam am 0 avô, a avó e os  cincofi lhos. P ara ence encerr r ar as surpresas, a IIA A que queii mouum ob objeto 

vári os tipo tipos. s. Mi M i nha avóqui qui s i r tam també bém. Fi Ficou cou nna a cade cadei ra pe perto rto   dafog uei ueira ra,, assisti nd ndo o tud tudo o qu queefazí amos.  As  A s 18h 18h,, tio H enri enri que ace acend ndeeu a fog fogueir ueira, a, tio Daniel fez um  discurso, dis curso, fal falando ando sobre osi gni fi cado daqu daquele eleaco aconte ntecime cimento nto (ele era o responsável r esponsável por expli car o que estava ac acontec ontecen endo dopar para a os

 pa  para ra cada cadaumdenós. nós. Ela dizia deque quem era, 0 que representava e 0  que ela quer querii a acaba acabar;r; de depois, pois, ela de deuu um presente para cada cada um um,,  dizen diz endo do 0 quequeri a que a acon contec tecesse essedali par a frent fr ente. e.  A I A co com meçou çou 0 r rii tual pa parr a os no novos vos tem tempos, pos, que eerr a um mo monte nte defog os de arti fí cio, ci o, queestavampreparados na p prai rai a semnós nós

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 sabermo  sabe rmos, s, eumas umas vare vareta tas, s, que quese ac aceende nde e deonde ondesae saem m estre streli li nha nhas, s, par para anósq que ueii marmos. marmos. Ti oDani Daniel el explicou explicou oq que uesi gni gnififi ca cava; va;  quando estavam queimando quei mando osfog ogos os e os os bastões, bastões, começ começamos amos a  cantar e dança dançar.r.  M i nha avóacord acordou ouco com mosfogos evo volto ltouupara apraia assisti assistir  r   oscantos edança danças.s.

Débora contou que cada um dos itens do programa foi seguido de mil outros aspectos. Falas, sentimentos, sensações. N ós acab acabam amos os fazendo uma gr ande roda em vo volta lta dafog uei ueirr a  e cantando cantando se sem m parar , por po r mai s de uma hora, toda todass as canti cantigas gas  deroda da nossa nossa inf infância ância e da da iinfânci nfânci a do doss no nossos ssosfi lhos. N ossa  mãe fo i jun junto to para a areia areia eassisti assistiua uaprime pri meii ra parte, parte, masfi cou 

Débora trouxe por escrito o relato de cada um dos dos irmãos, que era praticamente o mesmo: emoção, resgate de um bom sentimento,, esperança. sentimento Débora, então, passou para a outra questão: O terce t erceii ro assunto ér eferent eferentee auma con convers versa a quetivem ti vemos, os, os  qu quatro atro i rmãos mais ve velho lhos, s, uns dias ante antess do luau, sem aparti part i ci ci   pa  paçã ção o deI A. Está Estávam vamos conve conversan rsando dosobre sobrea confu confusão são que queestava stava   send  sendo o esses pre prepa parativos, rativos, d daí aí fomó fomóss para discut iscutirir,, e avali avaliar ar essa  coi coi sa cham chamada ada terapia defamí li a e conc concluí luímo moss que que,, assim assi m que   p  pa assa ssasse sseoluau, luau, ir íamos íamosence ncerr rr ar a terap terapia ia defamíli a, pois orisc ri sco o  era não nãopar parar ar nunca ma maii s detrazer tr azer porcari as à ton tona. a. Decidi mos   faz er uuma mafesta deNata Natal,l, ssó ó afamíli a, efechar o ano ano com com tudo tudo  o que tevedebome r ui m. SSegui eguindo ndo a cconversa, onversa, V í tor pedi pediuu-me me  ajuda para para comp comprar rar uma joia joi a para a mulher de dele le.. D i sse qu quee  queri a algo eespe special cial,, depresente deN atal, mas també também mp por orque que 

comf r i o e quis quis voltar par para a casa casa.. Quando eestávam stávamos can cantand tando o  e dançan dançando do na rroda oda,, ela voltou efi cou no noss assi sti stind ndo o a bri ncar. ncar.   Dep Depois ois fo i dormir. dormir. Foi muito bom, foi fo i mágico.  A minha comp compree reensã nsão o é deque, ue, na praia, nós nós limpa limpam mos as  dores emágoas, mágoas, e outr outros os senti sentime mentos queatr atrapalhavam, apalhavam, efi camos  todoss com a ssensaçã todo ensação o de estad estado o de gr graça. aça. N o entanto, também  bem be m desconfi sconfiados. ados. C Com om a loucur loucura a doH enri que ea conve convers rsa a do  di dia a segui nte, par parece ece q que ue juntamos o encantam encantamen ento to do luau com a dureza e as difi dif i culda culdade dess do dia a dia.

não ti nha tinha da dado do nad nada aopara qu quando ando ofialho lhfi lho o caçula nasce nasceu. I sso   tr ouxe à lem lembrança brança fato fa toela deque , a cad cada quenasci nascia, a,u.meu  pa  paii da dava va para minha mã mãeeuma uma supe superr joia, joi a, lind linda, a, gr grande andee cara. cara. É claro q que ue,, qua quando ndoI A sur surgi gi u, a mã mãee nã não o ganhou nada nada.. Então,  de decidi cidiram ramence encerr rr ar essesr i tuais terapê terapêuticosfami li ares usan usando do  as joias. Fi que queii deconve convers rsar ar com a m mãe ãe ; quando quandofalei fa lei , nãose seii se ela entend entendeu eu d dii reito, rei to, mas dis disse se q que ue nnós ós po podí díamos amosf az er oquequi qui  sésse  séssemos. Portan Portanto, to, já estácom combinad inado o que, na festa deNata Natal,l, cada cada  um denós vai gganhar anhar depresente da mãea joi j oia a que ela ganhou   qua quando ndo ofi lho nasceu nasceu,, e nós nós vam vamos, os, jjunto untos, s, comprar uma jjoi oiado ado  mesmopad padrão rão e dar para I A . Com iisso sso,, pretendemos ence encerr r ar a  históri a de de que queI A não não era era dafamíl i a.

 

Concordei com desejosobre de encerrar e conversaria comoIzabel isso. o processo da família

Há algum tempo, organizei uma Teoria das Recaídas para auxiliar os clientes a lidar com a situação paradoxal das melhoras e das pioras dentro do processo terapêutico. É   uma forma simples e concreta que uso para inserir inseri r a noção de recaídas de processo e a proposta de desenvolvimento da capacidade do cliente de gerir seus próprios controles das recaídas. Explico que as recaídas são: inevitáveis, desejá  ve is , ad m in is tr áv ei s, “pre ve ní ve is ” (passíveis de serem descobertas com antecedência e evitadas). São inevitáveis porque a natureza, a vida, é pulsátil, abre-fecha, começa-termina, sobe-d sobe-desce, esce, contrai-expande.

(como algo do processo, um item que faz parte, que é da evolução); » evitar evit ar olhar para trás (como se tivesse voltado voltado ao começo, começo, uma regressão sem saída) e para baixo (ver como incapa cidade, incompetência, má vontade, sem saída). São preveníveis, pois, após tomar consciência dos com portamentos e padrões, e treinar administrar as recaídas,  vão sendo sendo percebid percebidos os os sinais da recaída. recaída. Conforme Conforme se identificam os sinais, mudam-se coisas e situações, de forma a evitar ou retardar a recaída. Essa sessão foi a mais forte de todo o processo, para mim.  Até ago agora, ra, fico reve reverber rberand andoo ooss aacon contec tecim iment entos, os, os rela relato toss e os meus sentimentos. Isso traz à tona toda a complexidade de ser terapeuta de família; de como, às vezes, ao puxar um

E um movimento inevitável. Sempre vai haver uma recaída recaída,,

laço, desenredamos todo o novelo. Essa sensação e crença

uma volta ao estágio anterior. Nas aprendizagens, nos sin tomas, nos controles, em tudo. São desejáveis porque, através das recaídas, pode-se avaliar o processo e os progressos. Fica-se sabendo sabendo o que já está consolidado e o que merece mais cuidado, mais treino, mais esforço. São administráveis, pois é possível lidar de forma fun cional com elas. As formas de administrarem-se as recaídas são:

trazem o contato com meus mestres de terapia familiar que, com certeza, por terem vivido essas cenas, podem ensinar e falar delas com tanta verdade e poesia. Citando Minuchin50,

» saber dessa teorizaç teorização; ão; » ao perceber-se em recaída, olhar para frente (ver o caminho que se tem para fazer, o processo) e para cima

Quando os terapeutas de família começam a analisar esses padrões destrutivos de interação, parte do que fazemos é desenredar os indivíduos de suas reações automáticas entrelaçadas. Nós ose sua ajudamos a descobrir sua individualidade, individuali dade, seu poder responsabilidade. É paradoxal. par adoxal. Ao ajudar as pessoas a compreender compreender suas 50 MINUCHIN, S.; NICHOLS, M. P. A cura da família. São Paulo: Artes Médicas,   1995. p. 66.

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conexões, nós as capacitamos a assumir a responsabi lidade por suas escolhas e mudanças. Como uma das crenças fundamentais do meu trabalho, tenho que a terapia familiar deve também permitir que a família e seus membros reapropriem-se da capacidade de autodeterminação num contexto familiar mudado, no qual vão se redescobrir e serão ativadas potencialidades terapêuticas não expressas num primeiro tempo, dando um significado diferente aos sintomas: não como estigma, mas como sinal e oportunidade de crescimento.51  Apesar de trabalhar há anos com famílias, ainda fico mobilizada pela força de reorganização e de saúde que todas as famílias têm, como pela interdependência sistêmica.52 Esta é uma das grandes riquezas da terapia familiar: tratar ao mesmo tempo da individualidade e dos padrões relacio

processo é contínuo e eterno. Portanto, defino só os objetivos daquela fase. Quando eles são atingidos, a família encerra as sessões e vai lidar no dia a dia com o que aprendeu na tera pia ou definem-se novos objetivos por um novo tempo. No momento mom ento em que a família mostra-se preparada par paraa testar sua autonomia, independente do apoio do terapeuta, o pro cesso terapêutico move-se em direção a uma finalização.54  A relaçã relaçãoo que que ssee eesta stabe belec lecee ccom om o cl clien iente te deve deve se ser, r, acim acimaa de tudo, par a ele.55Essa é a responsabilidade responsabilida ea tarefa doterapêutica terapeuta. terapeuta. Apara interação do sistema terapêuticode (tera peuta x cliente) deve acrescentar funcionalidade ao padrão da família ou do indivíduo. Toda ação relacional do tera peuta, dentro ou fora da sessão, deve passar pelo crivo de ser útil para a aprendizagem do cliente. Algumas vezes, é útil para a aprendizagem do cliente que o afeto e a emoção do terapeuta sejam expressos na sua real intensidade. Quando

nais, ampliando as histórias individuais e mudando a pers pectiva da família. Quando os membros da família param de dar ênfase ao comportamento frustrante dos outros e começam a ver ve r a si mesmo mesmoss como interligados, descobrem descobrem novas opções de relacionamento.53  A questã questãoo de de encerrar encerrar a tera terapia pia de famí família lia foi bem ac acei eita ta por mim, tendo em vista que os objetivos de possibilitar novos modelos de interação tinham sido atingidos. Não tra balho com o conceito de alta, mas sim com a ideia de que o

isso ocorre,de é puro e encantamento. resposta mensagem Izabelprazer não foi uma conotação Apositiva dosà comportamentos, mas sim a expressão real do meu afeto e admiração pelo processo que ela estava fazendo. Compreender, aceitar e lidar com as recaídas do cliente são outros aspectos difíceis do trabalho sistêmico. Se o tera peuta assustar-se, desacreditar de si ou do cliente quando este recair, abrirá um buraco negro entre o que ele diz e o que acredita ou teme. Dessa forma, perde a possibilidade de fazer uso terapêutico desse episódio. Acima da técnica

51 A NDOLFI, 1991. Op. cit., p. 17. WHITAKER; BUMBERRY. Op. cit., p. 54. 52 MINUCHIN; NICHOLS. Op. cit., p. 267. 53 MINUCHIN, MINUCHIN, S. Famíl ia, f uncionamento s tiatam ento. São Pau Paulo: lo: Artes Artes Méd Médicas icas,, 1990. p. 23.

54 ANDOLFI et al. 1990. Op. cit., p. 78.  GROISMAN. Op. cit., p. 124. 55 ANDOLFI, 1991. Op. cit, p. 146.

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e da teoria,terapêuticas. o terapeuta tem que ter fé e crença nas suas propostas Quando penso ser hora de redefinir objetivos, definir novos ou encerrar essa etapa de terapia, retomo sempre o pensamento pensamen to de Virgi Virginia nia Satir’ Satir’6sobre 6sobre o assunto assunto.. Ela aborda aborda que o tratamento é completado quando:

Final do processo com 0 terapeuta

» os membros da família famíl ia podem completar transações, fazer verificações, perguntar; » podem interpretar interpr etar hostilidad hostilidade; e; » podem ver como eles próprios própri os se veem; » um membro pode dizer diz er ao outro como este está se manifestando; » um membro pode dizer ao outro o que que deseja, teme e

q u a t r o   m e s e s  , tive notícias de Izabel e da família através das suas mensagens por e-mail. Foram três mensagens mensagens antes de ela ir para a Espanha e seis durante os três meses que passou lá.

Por

10 / 12/1997 

espera que este faça; » podem discordar; » podem fazer escolh escolhas; as; » podem aprender através da da prática; » podem se lib libert ertar ar dos danosos danosos efeitos dos modelos do passado; » podem transmitir transmi tir uma mensagem mensagem clara, isto éé,, podem ser congruentes em seu comportamento, com um mínimo de diferença entre o sentimento e a comunicação, assim como um mínimo de mensagens veladas.

 A Débora Débora disse disse-me -meque quelheconto contouu queafamíli a  ^   está de decidi cidida da a nã não o faz er ma maii s terapia defamíl i a. E u estou d dee aco acordo. rdo. El Eles esfor fo r am por mi minha nha cau causa, sa, e eeuu   já estou stou nas nas mi nhas nhaspróp própriri as pe pernas. rnas. Sougrata a eles les e a você você. VVou ou diz dizer er iisso sso acadaum deles. Pr etendia di zer i sso lo logo goa  você, pe pessoalmente ssoalmente,, mas eestou stou comdi dififi culdades p par ara a i r atéaí por   cau causa sa da minha per perna na e d dos os p preparati reparativos vos para minha vi agem agem. N ós ttíí nha nhamo moss fala falado do vvagame agamente nte eem m faz er uma ava avaliliaç ação ão d dee tudo antes antes de eu vi ajar, aj ar, mas pensei quepoderi a lhe eescr screver ever oque eu vej vej o e, emfeverei fev erei r o, quand quando o eu voltar da Espanha, marco um uma a   sessã  sessão o, erea reavaliam valiamos os junta juntas. s. O que vocêacha?  Um abraço, Izabe I zabel.

  SATIR. Op. cit,  p. 256.

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15/ 12/1997  Tenho batido bati do a ccabe abeçapar a escr escrever ever a aval avalii açãodoprocesso' processo', e não não co consigo nsigo faz er algo inte inteliligí gíve vel.l.  Acho que quefoi muito bom, profund profundo o einte intere ressa ssant ntee. E u sou outra pessoa, mai maiss alegre, mai maiss re r espon sponsável, sável, ma maii s   segura,  segu ra, m mais, ais, ma mais, is, mais... (P are arece cebabaq abaquice uicefi car rep repeetindo  i sso!) N a verdade v erdade,, a gr grande ande mudança équenão eentr ntro o em deses ses  pe  pero. ro. Osprob proble lema mass co continu ntinuam am,, as as difi dificu culda ldade des também, mas mas eu  con consi sigo go acredit ar queexis existe te uma luz no fi m do tún túnel el (e nã não oéo tr trem em q que ue vem vindo vindo!! ) Todoss na famí l i a estão muda Todo udados. dos. N ão sei o queé deverdade e o queé cir cunstanci cunstancial, al, mas tod todos osfo forr am toca tocado doss pelas pelas sessões aí e  pelas “sessõe ssões" q que uefi ze zemos mos na vida. vida. Co Com mofamíl i a, a apre prend ndeemos  a fal ar dos dos senti sentime mentos e d das as dif difii culd culdade ades. N ão de deii xamo xamoss para  depois, de pois, pois sabemos mosquep pode odecomplicar. pli car. EEstamos stamosmais próxi mos 

 A mãe mãeestava stavamelhorzi lhorzi nha, nha, pa parec recii a entend ntendeer eparti parti cipar dos   fatos.  fato s. Fize Fizem mos as trocas trocas depre prese sente ntess com como ma mand nda a ofi gur gurii no, e estava tudo bem. Então, quand quando o tod todos osj á estavam que querr endo iirr com comer, er, a D Déb ébora ora  disse que tinham ti nham algo eespe special cial par a faz er. Come Começou çou co contand ntando o  das histór his tórii as das joi as que o pai dava par para a a mãe quand quando o cad cada a   fi lho nascia. nascia. Dep Depois, ois, dissequeos ir mãos ãos tinh ti nham amdecidido cidido,, ea mãe  estava deaco acordo, rdo, em repa repassar ssar par a cada cada fi lho as joi joias. as. Foi mu muii to  emcote ocionante, poi po i s aemãe f oiava falando faelando onome fi lho,  pa  paco tedepre prese sente nte abraç abraçava beij ava com comodo nun nunca ca aentregava vi fazer. o E u fi que queii mei o tri stonh stonha, a, po poii s sab sabii a que quenão não tinh ti nha a joia para  mim. Quando todos rece recebe beram ram e as joi as estavamcircul ci rculando andopara  todos todos verem( uma émais li ndae ri ca quea ou outr tra!) a!),, a D Déb ébora ora fal falou ou  que ainda não tinha acabado e disse que, como não tinha joia    pa  para ra mi m, os os quatro uatro i rmãos rmãos ti nham nhamdecididocomp comprar rar um uma a joia 

e honestos. Chega i sso, nãoé?  U m abraço, comcari nho, íízabe zabel.

 2  211 / 12/1997  Q uerida ueri da am amii ga terap terapeeuta, Foi para matar deeemo moçã ção oafe fest sta adeNatal! A D ébora bora disse-m disse-mee quevocêestava sabendo da dass propostas das joi joias. as. FFoi oi li ndo, ndo, li ndo, ndo,  lind li ndo. o. Nós N ós preparamos afest a para ontempor cau causa sa da vi viagem agemda  P atrí cia amanhã. amanhã. Er a uma fe fest sta a com comum um d deeNatal: mui mui ta co com mi da, da,  todoss mui todo muito to bonitos e mu muii tos presente presentes. s.

 sem  semelhante lhanteparapre presen sentea tearr- meeence encerr rr ar deuma uma vez vez por tod todas  as hhii stóri as denão se serr da famí li a. Quase d deesmaiei de su susto! sto! Os  qu quatro atro juntos j untos entregar entregaram-me. am-me. É um con conjj unto deouro branco  com com safir safiras, as, maravilhoso aravi lhoso.. São bri brinco ncos, s, anel, um ccolarzi olarzi nhoe a   pu  pulse lseii ra. Li nd ndo, o, delicad licado (ecaro aro!). !). Chorei Chor ei fei to uma louca louca!! Todo Todoss choramos (e tamb também émcom combina bina mos parar com essas choradei choradei ra conjuntas!). conjuntas!). Foi muito lega legal.l. A dore doreii . H oje oj e bem bem cedo, do, ffuu i par para a uma chácara da mãe aqui pe pert rt o e  enterr ente rr ei o álbu álbum mq que uef i z com a ass “fotos “fotos”” da minha famí famílili a ver dade dadeii ra. N em abri abri,, nem li as bo boba bagen genss que titinha nha inventa inventado do,, nem  vi asfotos. E nterr nter r ei tudo erezei um po pouco ucopor todos, eeles les enós. nós.   Acab  Aca bou. ou. Queotem tempo, águ água, a, terra, terra, sso ol de derretam rretamtod todas asconfu confusõe sões  dop passado assado(quebonito, bonito, par parece ecevocêfalando!) fal ando!) .

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V i ajarei aj arei no dia di a 29/12. 29/12. Tenho eestudado studadomui mui to para poder poder apro vei veitar tar melhor melhor o quevoufa z er lá. N ão tenhopensado pensado sobre sobre com como   se  será rá porquenã não o quero fi car mais mais ansiosa ansiosa.. D arei notícias, notíci as, Izabe Izabel.

02 / 01/1998 C heguei a Barcelona só no di di a 31, 31, após após uma vi agem che cheii a  de atrasos atr asos e confusões. confus ões. A casa eem m que que vou fi ca carr é legal, e o ca casal sal  depais é simpático. simpático. O s filhos fi lhos sãogentis. genti s. P orém... você você não vai  vai   acredi acre ditar tar no que acon acontec teceeu j á no pri me meii ro dia! À no noii te te,, o filho fi lho   con convi vi dou-me dou-mepar ai r comele numa numa festa na vi v i rada doan ano, o, e eu eufu i .   E r a esqui esqui sita, si ta, opessoal pessoal estranho estr anho e, depoi depoi s de um tempo, po, percebi o queera! Todo m mundo undo na festa fest a chei chei rava! L evei um tem t empinho pinho para 

17 / 01/1998 Estou Es tou adorando adorando.. T i ve uma convers conversa a com0 A lejandro, lejandr o, e com combinamo binamoss quefar ei   todoss os progr todo prog r amas para par a os quai quai s eleconvi convidar, dar, desde desde q que ue nãoseja seja   sócom com che cheir adore adores. s. Já sa saímo ímoss junto, e nã não o rolou rolou na nada da.. Acho que vou acabar ajudando aj udando esse moleq moleque ue.. E le tem t em21 anos, anos, mas parece que tem t em15. N o curso, estou mu muii to bem. bem. TTão ão bem bem queresolvi que voufa fazer  zer   um progra prog rama ma complem complementar entar de espanhol spanhol com comercial ercial,, turí sti co e empr empresari esari al. São dois meses meses de aulas aulas e estági estágios. os.  Só voltare voltarei,i, entã então, o, nofi nal de de março. arço.  Abraços,  Abraç os, I zabe zabel.

 sacarr (serápossível  saca possível a um uma a esp speecia cialista lista nã não o enxerg enxerg ar sua espe specia cia li dade dade?! ?!)) e quase quase eentr ntr ei em pânico. pânico. N ão ttii ve omíni mo impulso impulso  de chei chei rar. P edi um táxi t áxi e vo volte lteii par a casa. casa. Passei Passei a mei mei a-noite   se  senta ntada da num banc banco o dojar dim da da casa casa;; ofr i o eera ra muito muito intenso intenso,,  mas eu sentia-me senti a-me aquec aquecii da. Foi bom bom. N ãofor cei par afa fall ar co com mA lejandro (o fil ho) sobreo assun assunto, to,  nem sei sei se falar ei. Ti ve hoje mi mi nha pri me meii ra aula. Na avaliaç avali ação ão,, fu i muit uito o be bem  e vo vouufa z er o último últi mo nível do curso. curso. Es Estou tou mei mei o assustada, mas sobrevi sobrevivend vendo. o.  Abraços,  Abraç os, I zab zabeel.

01 / 02/1998 Está Es tá tudo be bem. m. À s vveezes, te t enho cri ses de saudade saudade;; às veze vezes, s,   pareceque  parece que sou sou daqu daqui,i, esto estouu em casa casa.. Ti ve alguns alguns prob problem lemas as com 0 pessoal  pessoal com quem eeuu estava morando; nada séri o, mas resolvi  resolvi    sair de delá. lá. Estoudivi dind dindo o umaparta apartam mentocom comum uma a russa euma  dinam di namarque arquesa. sa. P or sorte sort e, fal falamos amos espa espanho nhol!l! Está Est á lega legal,l, pois poi s esto estouu  aprendendo a convi convi ver sem cri cr i ar mu muii tos casos. casos. Estou Es tou encantada encantada com os eestági stági os e curso que estou estou fazendo.  Tenho viaj ado muito. uit o.  Abraços,  Abraç os, I zabe zabel.

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15/ 02/1998 Vocênão vai acr acred edii tar tar!! Ont Ontem emà noite, entr e conve convers rsas as e vinhos  nonosso nossoapart apartame amento, estávamo estávamossnósemai maissseis seispe pessoas, ssoas, ealguém   surgi u ccom om um livr livro o designifi si gnifi ca cado do deno nom mes. Eu fu i ver o sig nifi ni fi cado d do o meu nom nome, e, pen pensando sando que preci precisav sava a ver o dos d dois: ois:   I zabe zabell e Eli zabete zabete. P ara ssurpresa urpresa mi nha, desc descob obriri que que os os doi doi s têm o me mesmo smo sisigni gni fi cado! O Ouu melhor, melhor, I zabe zabell é deri deri vado deEli El i zab zabete ete,  quesi gni fi ca cconsagrada onsagrada aD eus. O quevocême diz disso?  E u ad adore oreii !   Abraços,  Abraç os, I zab zabel.

10  /  / 03/1998

 25/ 03/1998 Vou voltar para par a casa am amanhã. anhã. É o que queeu mais quero, mas não  qu queero. Foi ma maravi ravi lhoso lhoso,, aprend aprendii tudoquefaltav fal tava a para eu vi rar   umamulheradulta, ma mass estoulouc louca adesaud saudade adedami minha nhafamí famílili a,  da minha minh a cam cama, a, do ca calor lor..  M eu namo namoro ro continu continua; a; porém porém,, ape apesar demuito bom, não não acre acre dito quevá sobrevi sobreviver ver à dist distânc âncii a. Logo estarei estar ei aí comvocê.  Abraço  Abra ços, s, I zab zabel.

Na semana seguinte à sua volta, marcou uma sessão. Trouxe anotados todos os itens que queria me contar. Começou pela sua experiência de estar longe da família, como sentiu falta de todos e como sabia, a cada momento,

Es Estou tou apaix apaixonada! onada! EEle le é lilindo ndo,, espanh espanhol, ol, médi médico co eum m monte onte de ccois oisas as maravi maravilhosas, lhosas, mas o melhor é que ele acha queeu sou  li nda nda,, mar maravi avilhosa lhosa etc etc.. etc. eetc. tc. N ão lhe co contei, ntei, mas, nesse nessess dois meses meses ep epouco, ouco, namor namorei ei muito,   fi z tu tud do o que que tinha von vonta tade dedefazer, ma mass na nada da mefifisgava. sgava. Há  três dias, con conhe heci ci Jua Juan, n, na rrua. ua. E u tr trop opeecei cei , e ele segurou-me segurou-me.. D aí    pa  para ra conve conversarm rsarmos os enos nos apaixon apaixonarm armos, os, for am sódois minuto inutos. s. Es Estou tou encantad encantada!  a!   Abraços,  Abraç os, I zab zabel.

que estava completando suas aprendizagens pessoais. A insegurança, a solidão, as rejeições que viveu ensinaram-lhe a lidar de forma diferente com tudo isso. Foi difícil, mas muito rico. Seu namoro com Juan passou da fase de paixão absoluta para a fase de reconhecimento das diferenças e semelhanças e, agora, estava em suspenso. Foi pouco tempo para conhecerem-se, conhecerem-se, mas sabem qu quee têm muitas afinidades e algumas diferenças importantes.. Ele queria fazer planos e programas, mas ela não aceitou; então, decidiram ver no que dará. Têm se falado e escrito, e ela está com saudade, mas não tem previsão do que acontecerá.

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Contou sobre a festa de Natal. Sobre os detalhes das joias, da emoção. emoção. Tr Trouxe ouxe o seu presente para eu ver.  Avaliamos sua aprendizage aprendizagem m nesse tempo tempo e clare clareamo amoss o que ainda precisava aprender. Basicamente, ela tinha aprendido a assumir sua própria vida e seus riscos, sem ficar presa em opiniões, desejos e críticas dos outros. O que precisava ser feito, agora, era definir um projeto de futuro. Conforme ele fosse posto em prática, apareceriam as dificuldades que precisariam ser enfrentadas e as apren dizagens necessárias. Nesse momento, estava avaliando o que poderia fazer. Tinhaa uma possibilidade de trabalhar nas empresas, na área Tinh de exportação e importação, ou montar algo para ela, além de muitas outras hipóteses. Não conseguia ter uma ideia

andar lado a lado e desenvolver-se mediante um processo circular.  Acredito que que o proce processo sso de vida é contínu contínuoo e qu quee a fase fase de acompanhamento terapêutico é realmente só uma fase. Então, sempre que se encerra um processo de terapia (inde pendente se os objetivos foram alcançados ou não, se eu estou de acordo com a parada ou não, se fui eu quem sugeriu ou o cliente), avalio com o cliente quais as aprendizagens realizadas naquela fase, quais os ganhos e quais seriam as próximas aprendizagens e etapas do processo. Dessa forma, o cliente vai embora com dados sobre o caminho a seguir, e eu cumpro minha tarefa de acrescentar algo ao processo de quem me procurou profissionalmente.

clara do que lhe atraía mais. Encerramos essa etapa de terapia, combinando que ela marcaria uma sessão dentro de seis meses meses para avaliarmos o andamento.  ; > -.5 © -3 © © © ® ® © ® *

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O final de um processo terapêutico retoma a ideia de que a terapia possui os mesmos elementos de aprendiza gem que a vida oferece; entre eles, pertencer e separar-se, união e acomodação acomodação.5 .57Aprender 7Aprender a pertencer e a separar-se separar- se funcionalmente é uma das questões que acompanham o ser humano durante sua existência. União e separação parecem

57 ANDOLFI; ANGELO. Op. cit., p. 38-39.

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1

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Seguimentos

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•‘.'isà*.,

Em o u t u b r o  ,

r e c e bi 

Barcelona, 01/10/1998 C ara terapeuta,

uma carta de Izabel.

() ()

Tí nhamos combi combinado nado que que eu eu marcar mar carii a uma sessãonessemê mês, s,   para avali avali arm armos os oanda andam mento da mi nha vi vida da.. N ão vou ma marcar!  rcar!  

c) 1)  í )  í  )  )    í O 0  1 1   ) ■) O :J

Por Porque quenãovou vou!! BBriri ncadei ncadei ras à parte, minha vi v i dadeuuma super  super   mudada, e eu vou lhe relatar.  Apósa últimasess sessã ão, passe passeii m mais ais ou meno noss um mês curti curti nd ndo o as   pessoa ssoas etenta tentand ndo odesco descobrir brir alg algo oútil ebompara para fazer. P aralelo com isso, Jua J uann não me esquec esqueceu, eu,  nem eu a ele. Telefonávamos e escre víamos direto, e eu comecei a sentir    saudad  saud adee e pensar pensar na proposta proposta dele dele de  v i r para Bar celona celona e casarmo casarmos. s. ( N ão sei  sei   como como ele ele conti continuava nuava solt solteir eiro. o. EEle le é louco louco   pa  para ra casa casar!) r!) Tive muitas conve conversas rsascom com me meus us ir i r mãos emi minhas nhas cunhadas e aca aca bei decidi decidindo ndov i r ver o q que ue dari daria. a.

( .) :) ')

 )  

Est Estou ou em Barce Bar celona lona desdej unho. Estou E stou morando mor ando com com o Juan,  mas não quis qui s ai nda casar. N esses doi doi s meses meses epouco, pouco, estamos nos nos  conhecen conhe cendo. do. E le é uma pessoa interessante i nteressante e boa. boa. D amo-nos bem, bem,  e ele segur segur a as pontas nas minhas mi nhas recaídas (logo (l ogofa fala larr ei delas!),   mas não sei sei se quero quero mecasar. casar. N ão me afino afi no comafamí li a dele. dele.  El Eles es são são muit muito o tr tradici adici onais (i ( i magine magi nequenenhumadas mulheres mulheres -   mãe, mãe, duas irmãs i rmãs e uma uma sobri nha adulta adulta - tr trab abalha alhafo forr a, nem nem tem  profi  profissão ssão!)!),, e a mã mãee é muito depe depend ndeentedele le,, que queé o único único fi lho  homem. E le diz homem. di z que minhas di fi culdades culdades com com elas sãopor causa  dass di da dififi culdades culdades d da a minha históri hi stóri a devi da. da. (Conte ( Conteii tud tudo o para para  ele ee,, como elef ez um trei t reiname namento em Psi canáli canáli se na saída da   faculdade,  faculdad e, ad adora ora mean analisar!) alisar!) Por enq nqua uanto nto,, esto stouu co conse nseguindo guindo  manter mant er o que temos temos de bome não não ttomar omar uma deci decisão, são, mas sei que  nãoserá por mui mui to tempo tempo,, pois oJuan não émais cr i ança (tem32 

O JJuan uan ajudaaj uda-me me asuperar super ar e dep depoi oiss a pensar sobre oquedesen sen cadeou cade ou a cri se, o que eu eu estava senti senti ndo antes antes da cri se e outras outras  coisas coi sas que aprendi aprend i com você; ele apr aprendeu endeu isso isso comig comigo o e, quando  eu precis preciso, o, ele aci aci ona. No N o en entanto, tanto, para ser ho hone nesta, sta, gostari gost ari a qu quee essetipo ti podecois coisa anãoacontece acontecesse ssemais. mais . É claro queestábemmelho elhor;r;   cada dia di a quepassa, tenho mais controle contr ole emenos menos desespe desespero. ro. Então, Ent ão, é assim assi m queas coi coi sas estão. estão. D arei notícias notí cias quando quando casar ou quan quando do voltar voltar aoBrasi Br asil!  l!   Abraços,  Abraç os, I zab zabeel.

Em dezembro, recebi um presente de Natal. Na verdade, demorei em compreender. Recebi um embru lho com papel de presente e um pedaço de um objeto que

anos) anos) e deseja organi org anizar zar a vi vida da,, ter fifilhos lhos et etc. c. Estou trabalhando numa empresa brasileira que tem uma   fi li al a aqu quii e estou ad adoran orando do.. P or eenq nqua uanto nto,, esto estouu pa passan ssando do nas nas  vári vár i as áreas; porém, se eu eu f i ca carr na Espanh Es panha, a, assi ass i mqueconhece cer  r   tod todo ofunci onamento onamento dafi r ma, devo fi car na área dei mp mporta orta ção e exportação. Quanto às às reca r ecaíí das... (E (Elas las nunca acab acabam am?! ?!)) N unca mais usei   cocaíí na. IIsso coca sso mepar parece ece cois coisa a deoutr outra a encar encarnação, nação, de tão tão a anti ntigo go  e distan dist ante. te. Quando Q uandofalo fa lo em recaí recaídas, das, é mai maiss no jeit o deser, nas  emoçõe moções. À s vezes, fi co depri mida, mi da, com certeza certeza denãoser amada, amada,  denãopert encer. Tenho T enho vontadedemor morrr er, denãopensar. Penso  quee, se tenho qu tenhodinheiro, dinheir o, devi devi a fi car o di di a inte i nteii ro dormindo e viv viveer   de rendas. À s vezes, vezes, i sso tudo érápido; às vezes, dura dur a dias. Ti ve  alg algumas umas cr cr i ses de vômi vômi tos iinten ntensas sas e quedurar am vári vár i as horas. horas.

eu não entendi o que era. Quase joguei no lixo. Só não o fiz porque, na caixa, tinha uma etiqueta que reconheci ser de uma das empresas da família de Izabel. No dia seguinte, chegou outro embrulho, com um bilhete bilhete de Débora. D ra. Solan Solange ge Es Espe pero ro quenão tenha tenha jogadofo forr a a pri meir a peça. Estamos Estamos  lhe enviand nvi ando o um presente presente de deNatal, detod toda a afamíli famí li a. O pri mei mei ro  era doD ani aniel el (que resolveu mandar mandar sem nenhuma nenhuma palavr palavr a d dee exp explili cação cação- diss disseeele, para par aver v er sevocêérealmente realmenteboa boadedescobri descobrir r   o quenão édito). E st stee émeu, e seguirão segui rão outros. Um abraço, Débora.

 

Era uma cabeça. Nos dias que se seguiram, fui recebendo outras peças, só com um bilhete dizendo quem estava mandando. Foram u pedaços; dois de Daniel, três de Débora, quatro de Vítor e dois de Henrique. No 12opacote, 12opacote, havia hav ia um bilhete de Izab Izabel, el, com uma placa de metal com o nome da escultura e do escultor. Oi, Oi , Conti nuo na Espanh Espanha, a, mas nã não o resi resisti sti quand quando o me co contaram ntaram  0 queestav estavam am aprontando par para a vocêe di di sse quetambémqueri a   pa  parti rti cipar. Por isso isso,, fi z a placa placa e estebilhe ilhete te e enviei p para ara eles les  mandarem mandar em assi assim mq que ue te termi rmi nasse a p par arte te deles.

vermos como a Iz Izabe abel está. está. EEla la é outr outra a pesso pessoa a ou, com como o diz di z Pat Patrírí cia ci a  (que estápensando emvi r ar psi psicóloga!), cóloga!), “E la se ree reencontrou! ncontrou! "  Decidimo Decidi mos, s, então, ntão, mani festar nossa nossa gr grati ati dão co concretam ncretameente,  mas ti nha qu quee ser de uma  for for ma parec parecii dacom com0 quepassamosna   suamão. ão. As Assim, sim, pedimo dimosspara esseescu scultor ltor fazer  fa zer uuma maob obra ra rara.   Sã  São o peças ças que que se encaixam ncaixam e que que pode podem ser rea reagrupa grupada das, s, co com mo  0 don  dono o qui quiser ser e 0 humor permi permi ti r. N a verdad verdade, e, aca acabo bouu saindo  uma escultura escult ura quesão duas pessoas tocando-se, tocando-se, mas que 0 tipo  do contato contato muda de acordo como mudam as par partes tes das pessoas, pessoas,  as posiçõe posiçõess e os encaixes. ncai xes. Es Espe peramos ramos que ten tenha ha gostado gostado;; querí amos que experi me mentas ntasse se  um pouco pouco do seu própr próprii o veneno, mas sem ofendê-la. Pelo con trári tr ári o, é no nossa ssafor fo r ma deagr adece adecerr e di zer que co compre mpreen ende demos mos e  gos  gosta tam mos do se seuu trab trabalho. lho.

 M i l beij os emuito obri obri gad gada a por tud tudo, I za zab bel.

Feli Feli z Natal, sejafeli feliz!  z!  H enri que eD éb ébora, ora, em nom nomee detoda toda afamí li a.

Também havia uma carta, assinada por Débora e por Henrique, mas com o “tom” dele. Car Cara a doutora, doutora, N uma dasreuniões  famili famili ares quetive tivem mos(tem (temos tidovárias  de depois pois detê-laconhe conheci cido!) do!),, avali avaliam amos ososganhos easperdas detud tudo o  que queac acon ontec teceeuapart partii r deaDébo Débora ra terprocuradoterapi terapiafamil afamilii ar    por causa causa das das loucu loucuras ras daI za zab bel. Som Somos hone onestos stos em contar-lh ontar-lhee quea balança balançafi ca eq equi uilili brada: mu muii tas coisas me melhor lhoraram, aram, mas  mui mui tas coisas di fí ce ceii s aconte acontece ceram. ram. Todos  for for am toc tocados pelas expe xperiri ênci nci as e, comcerteza, rteza, apren apren dizagensimp i mportantesfor ortantesforamfe amfeii tas, mas masnos nossa sagrati gratidão dãoémai maior or ao

 Agradeci  Agrad eci o pre presen sente, te, co com m o seguin seguinte te bbilh ilhete: ete: Caros ami ami gos,  Souhone honesta em rela relatar tar que que 0 p presente resentesur surpreend preendeu-me eu-me,, i ntri ntr i   gou eencan ncantou tou!! N ofi nal, ache acheii que quea escu scultura lturade deve veriri a tero nom nome  de"Terap "TerapiaFamili Familiar" ar" !   A grade gradeço ço 0 presente e a oportuni opor tuni dade de cconhe onhecê-l cê-los os e tr traba aba lhar lh ar comvocês. Quero bri bri ndá-l ndá-los os co com muma cici taçã tação o sob sobre re terapi afami li ar que meencanta:

169  

“Ex Exii ste uma canção canção queprecisa preci sa s er cantada em em nossa cultura:   a canção canção dos ri tmos dos relacionam relaci onamen entos, tos, das pe pessoas enri queque-   ce cendo-se ndo-se e expandi expandindo-s ndo-see mutuame mutuamente. nte. O r uí do e o tumulto tumulto da  vi da ccoti oti diana, muitas muit as vezes, abafam o som das harmonias que  tor nampossível possí vel a vida vi da comp comparti arti lhada - as melod melodii as da mútua  acomodação acom odaçãoe apoio apoio que cimentam a interação i nteração humana. N ós nos  de detem temos os nas desi desi gualdades, gualdades, cri ando difi dif i culdades, culdades, e não presta mos mos atenção atenção aos aos padrões padrões que tornam possí possível vel a vida vi dafami li ar ar,, as  harmoni as quénão valorizamo harmoni valorizamos." s." (Salvador (Salvador M i nuchin eMi cha chael el  P. Ni cho chols. ls. A cura dafamí li a, p. 265)5 265)588. Um abraço, Solange.

do comportamento sintomático e dos comportamen c omportamentos tos saté lites que o emolduram. Se os sintomas si ntomas desapareceram, desapareceram, deve mos observar como se modificou a configuração relacional familiar e o espaço pessoal de cada um. Citando Andolfi59, Hoje, estamos mais interessados em avaliar Hoje, avali ar à distância as capacidades organizadoras e reorganizadoras da família que o ecomportamento de um de seus membros. Os sintomas sua evolução servem-nos como referen cial para enquadrar todo o processo de aprendizagem da família. Se essa recuperou a confiança em seus recursos internos e usou concretamente tais recur sos, superando o impasse que a trouxe para a terapia,

O seguimento dos casos possibilita certificar-me das mudanças ocorridas, mas sempre sabendo que os novos fatos do dia a dia dos clientes dão uma nova visão a tudo que aconteceu. Avaliar os resultados de uma terapia, atra  vés das notícias recebid recebidas as nas eentrevistas ntrevistas ou contat contatos os de seguimento, à distância, é indubitavelm indubitavelmente ente uma operação operação complexa, comple xa, seguidamente incompleta ou pouco precisa. Sé a terapia não é uma operação reparadora, de cura, dirigida simplesmente à resolução do sintoma, mas uma tentativa de modificar o mundo dos significados atribuídos a situações problemáticas, devemos verificar isso no segui mento. Isto é, se, e em que medida, mudou para a família e para seus membros individualmente o significado relacional

o impasse foi utilizado ut ilizado produtivamente; produti vamente; integrando-se integrando-se a novos elementos, transmuta-se tr ansmuta-se em oportunidade oportuni dade de crescimento: o grupo se converte num “laboratório relaciona l em potencial, no qual relacional qual se experimentam diferentes relacionamentos, funções e modos de ser. O seguimento inclui uma variedade de procedimentos como continuação sutil suti l de uma terapia. Durante um tempo, o terapeuta desempenhou uma função de regente de cena ■terapêutica. Com o final f inal dos encontros agendados, agendados, a família família transforma-se realmente em protagonista da terapia, e o dia a dia torna-se o tempo e o lugar de elaboração e verificação do aprendido no consultório consultóri o do terapeuta.60 terapeuta.60 A avaliação 59 ANDOLFI; ANGELO. Op. cit., p. 112.

58 M INUCHIN; NICHOLS. Op. cit., p. 265.

60 Ibid., p. 114.

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dos dados obtidos nos seguimentos efetuados à distância, com muitas famílias, evidenciam que as imagens criadas em sessão, e ali representadas por objetos metafóricos ou ações dramáticas, têm uma capacidade de persistência e reverberação altamente superior àquelas produzidas por comunicações e intercâmbios i ntercâmbios verbais.6 verbai s.61  Ao encer encerrar rar es esse se atend atendim imen ento to,, como como qu quan ando do encer encerro ro cada cada um dos casos, todas as dúvidas e certezas vieram à minha

Comoo tudo surg Com surgiu iu

cabeça. Ao avaliar os acontecimentos e as intervenções, mais uma vez tenho a certeza de ser somente um instru mento. Um instrumento para que a força de vida e de saúde das famílias famíl ias possa vi virr à tona.6263

 Ao

in ic ia r

  e s s e   trabalho,

decidi q ue com eçar ia fazendo o relato do andamento do ^ i s a s s s . ; . ..

caso e, depois, faria a comple-

m e n ta ta çã ç ã o d os o s a sp s p e ct c t ooss t éc é c n iicc o s e

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61 MINU CHIN, 1990. Op. cit, p. 114. Op.. cit , p. 264. 62 SATIR. Op 63 KEENEY, B. A improv isaçã o em psico tera pia. Cam pinas: Psy II, 1995. 1995. p. p. 143. 143.

Quando terminei a primeira etapa do trabalho, fiquei com a sensaçã sensaçãoo de que estava sem alm alma. a. A história histór ia era forte, intensa. Emocionava-me a cada vez que relia, mas faltava alguma coisa. Debati-me muito até descobrir o que era: a minha própria alma. Digo isso por acreditar que é a minha forma de ser que faz a diferença na maneira de ensinar e formar terapeutas. Se eu não tivesse nascido numa família paterna de italia nos, na qual fui a primeira mulher a nascer em três gerações; se não tivesse sido a “santa loucura“ do meu pai; se não tivesse sido a força do meu marido; se não tivesse sido a companhia profissional e pessoal da Tereza; se não tivesse tido a coragem de andar na solidão... não teria feito a síntese que agora relatei.

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Na família de origem de meu pai, só havia homens. Quando nasci, tive o privilégio de ser muito paparicada, com todas as joias e enfeites que tinham a possibilidade de me dar, e também tinha toda a liberdade que a companhia masculina podia proporcionar: campo de futebol (nunca para ser a jogadora, mas a chefe da torcida, com sombrinha e tudo que uma menina tinha de ter...), jogos de mocinho e bandido, passeios pelo mato e os outros programas tidos como “de meninos”. Desde que nasci, aprendi a qualificar e integrar as forças masculinas e femininas. Elas não briga  vam, mas organizavam, organizavam, desorganiz desorganizavam avam e inte integravam gravam-se. -se.  A forma de ser de meu pai, pai, pouc poucoo convenci convencional onal para a época, ensinou-me (desde quando fugi de casa, aos 18 meses)

alguns momentos; porém, também soube não dificultar, e sim apreciar meus voos independentes. Desde o começo, da universidade, Tereza Christina S. F. Brandão e eu fomos amigas, parceiras, co-criadoras. Muito do que está nesse relato tem a sua participação. Temos for mas opostas de funcionamento; porém, durante anos, fomos mútuas incentivadoras e pudemos usar o que cada uma tinha de melhor para auxiliar no crescimento da outra. Foi uma vida de estudo, trabalho, pesquisa, ajuda, desafios. Minhas crenças como terapeuta, minhas buscas e minhas descobertas têm como base a vivência com essas pessoas, somada à minha jornada profissional e à voz dos mestres. Minha forma de ser - ativa, desafiadora, insatisfeita

que regras existiam para ser cumpridas e que uma pessoa só deveria desafiá-las se tivesse cacife para isso. Guardo, ainda, muitas lembranças de sua forma explícita, realista e crua de ensinar as coisas da vida: “Você pode fazer qualquer coisa, desde que se responsabilize por resultados e consequências”; “Escolha enquanto tem autonomia para isso; depois, não adianta chorar com o álibi de que que foi enganada“. Certamente, isso tudo teria me deixado aterrorizada ou psicopática psicopática não fosse a lucidez de minha mãe. Em tudo, dizia ela, sempre existem aspectos positivos e negativos, e eu poderia apren der com os dois.  Aos 18 anos, anos, me meu u marido “casou-m “casou-mee com ele“. ele“. Aceitei Aceitei a ideia, não pensei muito e, hoje, tenho clareza de que sou também o resultado da sua força, firmeza e bondade, que soube me prender ao chão, como uma forte âncora, em

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com verdades absolutas, absolutas, explícita nas relações - determ determi i nou as escolhas profissionais. A primeira especialização foi em Psicodrama. A filosofia e a forma de ver o homem; a proposta da terapia como um espaço de ação e relação; os conceitos de espontaneidade e criatividade, aqui e agora, catarse de integração, Tele e Encontro; as teorias de desen  volvimento de Matriz de Iden Identidad tidadee e do Núcleo do Eu passaram a fazer parte da minha baga bagagem. gem. Depois, surgiu a Terapia Corporal. Corpora l. Encantei-me e incor porei a compreensão do ser humano como um campo ener gético, assim como a possibilidade de a terapia ser realmente atuante, sem dicotomizar a pessoa. Principalmente, incor porei a possibilidade real e concreta de fazer um traba lho preventivo. Introjetei, então, a teoria de Formação de Caráter, a leitura corporal e dos Tipos Básicos de Caráter, a compreensão energética.

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Então, surgiu a Terapia Sistêmica. O surgimento dos con con ceitos sistêmicos na minha vida vi da é indelevelmente marcado pela presença de Zélia Nascimento que, em 1980, introduziu-me nesse universo. Principalmente pela sua forma de ser e de ensinar, fez-me ver aspectos meus que tinham sido desqualificados até então, como “pouco terapêuticos”. Assim, a compreensão sistêmica e a permissão de ser firme, direta, humorada, explícita, perseverante e intuitiva abriram-me

Durante vários anos, construímos nossa forma de tra balhar seguindo os pressupostos Relacionais Sistêmicos, organizamos um Projeto de Residência Clínica e reorga nizamos os Cursos de Formação. Em 1993, acreditei que tinha acabado a fase de trabalhar em uma instituição e com formação de terapeutas. Estava cansada e sem ilusões. Passei a trabalhar sozinha, a degus tar a solidão profissional (após tantos anos de parceria e

a possibilidade de integrar tüdo o que eu era como pessoa ao que eu era como terapeuta.  A superv supervisão isão pro profiss fission ional al e o cont contat atoo am amigo de Fiorâ Fiorâng ngela ela Desidério também ta mbém me ajudaram a fazer outras integrações importantes no meu trabalho.

compartilhamentos) e a cunhar minha forma individual de trabalhar e de ver o trabalho terapêutico. Depois de três anos, acreditei estar pronta novamente para acompanhar terapeutas na sua formação relacional sistêmica. Revi o modelo, redefini objetivos e está em curso minha

Desde o início da minha fase de Terapeuta Sistêmica, eu já era, junto com Tereza, uma terapeuta sistêmica muito dife rente; nós trazíamos integrados outros modelos. Para clarear essa diferença, resolvemos dar um nome e, em 1989, batiza mos o novo modelo de Terapia Relacional Sistêmica. Sistêmica porque o enquadramento, a proposta terapêu tica, o trabalho focado e a leitura básica são realizados den tro desse enfoque; relacional porque integramos a proposta relacional do Psicodrama, propondo um trabalho focado na relação terapêutica paciente/terapeuta, na compreensão dos conteúdos conteúd os relacionais da situação real do paciente, na com preensão do homem como um ser em relação e nas Terapias Corporais, que permitem auxiliar o cliente a perceber e ter mais controle sobre seus traços de caráter, através do trabalho relacional na sessão terapêutica.

nova forma de trabalhar, exposta nesse relato.  A voz do doss mestres, mestres, através de livros, vídeos e da pre sença viva, norteia meu trabalho. Na minha atuação como terapeuta, podem ser identificadas a influência, a ideia e a “presença terapêutica” de Minuchin, Whitaker, Andolfi, Satir, Erickson e Keeney. Moreno, Reich e Lowen estão sempre nas entrelinhas. Além desses, tantos outros, cuja lista seria muito extensa para ser citada. No contato direto com os mestres, o treinamento que fiz com Maurizio Andolfi em Roma, em 1988, foi muito signifi cativo. O que aprendi com ele e com colegas de várias partes do mundo foi muito importante, assim como a vivência real da diferença, positiva e negativa, de ser uma terapeuta brasileira frente aos terapeutas dos países desenvolvidos. No entanto, o impacto mais forte foi interno, na avaliação do “para quê?”  A partir da dass dores dores e dificuldad dificuldades es vividas

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no período do curso, passei a rever e redimensionar meus objetivos, meu caminho profissional. Sei que essa experiên cia romana foi decisiva nas definições e mudanças mudanças de rota rotass profissionais e pessoais. Durante anos de contato com profissionais de todo o Brasil, em Congressos, Encontros e encontros, ligações e Associações profissionais, fui percebendo que minha essência profissional é clínica. que Sou uma clínica.arduamente, Felizmente, Felizmente, temos valiosos profissionais trabalham arduame nte, presenteando-nos com teorizações, estudos epistemológ epistemológicos, icos, conceituações, princípios. Graças a eles, posso fazer um trabalho clínico embasado e consistente. Devido a todas essas experiências, aprendizagens e

Lembrando Erickson64, “considero muito do que eu mesmo fiz como sendo apenas a aceleração das correntes de mudança já existentes no íntimo da pessoa ou da família tratadaa - as quais, tratad quais, entreta entretanto, nto, necessitam do toq toque ue ‘inespe rado’, ‘ilógico' e ‘súb ‘súbito’ ito’ para efetivar-se”. ef etivar-se”.

mudanças, meu trabalho chegou ao ano 2001 com identidade identidade e personalidade próprias. O foco central do meu trabalho clínico é ajudar o cliente a desenvolver consciência do seu funcionamento, a realizar aprendizagens e desencadear as mudanças necessárias. O foco mantém-se o mesmo, mas o objetivo vai se modificar em cada caso, em função do pedido, dos sintomas, das pessoas envolvidas, dos dados de realidade, do momento, da pertinência do cliente, entre outros elemento elementos. s. A forma de trabalh trabalhoo - sessões sessões individuais, de casal, família ou grupo; intervalo entre as sessões; tipos de tarefas e de encaminhamentos; sessões de reorganização sistêmica ou sessões processuais processuais - será sempre definida em função do objetivo.  Assim também também é o rrela elato to que que fiz: clínico clínico e intimista intimista,, rela rela cional e sistêmico, corajoso e receoso, pessoal e público.

64 ERICKSON, M. H. Apresentação. In: 'WATZLAWÍCK, P. et al.  Mudança. São  Paulo: Cultrix, 1977. p. 09.

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 Atualiz  Atua lizando ando V'  :'M  f í;

-

Izabel Augusta, Augusta, após encerrar o processo terapêutico, ocorreu por três vezes. Em 2000, ela enviou-me uma carta, em resposta ao meu pedido de autorização para editar o livro com os dados da M e u  c o n t a t o c o m

sua terapia comigo. C ara terap terapeeuta, E spero sper o que vocêesteja estej a bem. bem. W M «-   Então, vamos vamos vi rar livro, li vro, é? Dep Depois, ois, que quem m sa sabe be, umfi lme... Cl Claro aro queautori autori zo. Nosso traba trabalho lhofo i muito uit o  legal , , eacredit acredito o quevai ser i nteressantepara outr outros os  terapeutas e tamb t ambém ém para gente g ente com como o a gente. Conversei com algumas pessoas da família, e   ___ 

|Í todos estão de acordo. Os trechos em que você i maq maqui uia a nossa nossass i de denti nti dad dadees fi caram car am bem legai legai s, 

 po  poii s i mpe mpede qu quee a algum lgum conh conheecido re reco conhe nheça ça..  P ara nós, não muda o que vi vemos vemos e senti senti mos; mos;  r econhece econhecemo-nos mo-nos em cada cada part parte. e.

 

 Muito  M uito iinte nteressa ressante nte a escolh scolha a que que voc vocêêfez para o meu meu nom nomee.  Fi cou com a essência, sem me eexpor. xpor. (Se (S e bem bem queacho me meuu nome  melhor!)  Ache  A cheii mu muito ito inte interessa ressante nterever ca cada da sessã sessão o assim à distân distância. cia.   Mui tos aspe aspect ctos osme mexeram xeram novam novameenteco com mi go evão render render muita  reflexão.  M eu mari mari do (que (que não não é oqu quee apare aparece ceno noss último últimoss escri scri tosque que  lhe envi envi ei) leu echorou eem m alguns tr ech chos. os. Foi mui mui to fo forr te com com  parti  parti lharmo lharmoss as emoçõe oçõess que quea leit leit ura despertou rtou..  A partedoscapítulo capítuloss em que quevo você cêexplicaca cada dasessã sessão o, eassua suass  estr straté atégi gi as, fez- me senti sentirr esq esquisi uisi ta iini nicialmen cialmente, te, pensando nno o que que vocêpen pensava sava enquan enquanto tomeatend atendii a.D epois, i nteressou-mem muito uito 

Q uerida ueri da eeterna terna tterap erapeeuta, Est ou mui mui to nervosa, coisas aco acontec ntecen endo, do, e eu q queri ueri a fala falar  r   com você. Estou gr ávi da, feli z e de dese sespe sperada rada! !   Sabia  Sab ia quefaz 1100 anos anosquenão não nos nos vem vemos os?? Ai nda, nda, quand uando o esto stou  em cr cr i se, l em embro bro das sessõ sessõees, de você você efaço fa ço uma bri ncadeir a de   ser eu edeser voc você. As Assi sim m, se semp mpre re descu scub bro saída saídas. s. P orém, agora estoupir ando ando.. Ess Essa a gr avi de dez, z, de decidi cidi da rracionalme acionalmente, nte, pe pegou-me gou-me de ccalç alça a  curta! Tenh Tenho o relem relembrado brado m muit uit a coisa coisa rrui ui m vi vivi vi da na m mii nha  i nfânci a, mu muii tos fantas fantasmas mas eestão stãovi ndo àtona, tona, e estou ccom omdifi di fi  culdade desegur segurar. ar.

e acrescentou reflexões.

 M eu ma mariri do (ele (ele é bra brasileiro sileiro evive aq aqui ui de desd sdee19 19995, cca asam samos  em200 2005, 5, temos temos uma rrelação elaçãolegal, apesar de eleser mu muii to, muito,  muito r aci acional) onal) não conse consegue gue entende entenderr mu muii to be bem m aq aqui uilo lo qu quee

Falei quepode poderiri a vi rar um fifilme lme po porque rque,, conforme eu lilia a  os cap capíí tulos, i a enxerg enxergando ando as ce cenas. nas. A Achei chei que eerr a porque eu 

digo e sinto. Estou me senti sentindo ndo m muit uito o sozinha sozinha.. M i nha sogra é  quem medá uns colos de ve vezz em quand quando. o. Falando F alando na mi nha sogr sogra, a,  estourezando quemeufi lho lh o seja uma men menii na. LLembrei embrei de ccoisas oisas  que você vocêfalo fa louu ssobre obre o oss avós mít mítii cos" e ((com como não se seii nada do m meu eu   pa  pai)i),, se send ndo o me menina, nina, a avó míti ca se será rá m mii nha nha sogra queé muito 

ti nha vi vivi vi do a aqu quii lo, mas meu ma mariri do, quenãosab sabii a muit muito o sob sobre re oprocesso terapêuti co da m mii nhafa famí mí li a, també também m comentou que   parecia  pare cia oenre nredo do deumfi lme. lme. Que Quem m sab sabe, hein?!  hein?!  Es Estou tou anexando uma au autori tori zaçãofo forr mal, mal , ape apesar sar de voc vocêênão  ter pedido. pedido. M eu mari do, advo advogado gado(l) (l),, fez fe z pesq pesqui uisas sas e m montou ontou o oss  i ten tenss para fi f i car bompara voc vocêê epara mi mim. m.  A guardo o livr o pro pronto nto..  Abra  A braço çoss e, mai mai s uma vez, vez, m mii nhagratidão gratidão..

boapess pessoa. oa.  Será que quepode podemo moss fa zer se sessõ ssõees por te tele lefon fonee? N em que que se seja ja   sóuma uma... ... R espond esponda-me a-me ereze por mi m! 

I zabel.

Em 2008, recebi uma mensagem sua por email: *

Forma de lidar com as relações intergeracionais na Terapia Relacional Sistêmica.   Mais detalhes podem ser vistos no texto Compreensão Relacional Sistémica dos Mitos  Mitos  Familiares,  escrito pela autora em 1999 e não publicado.

 

Beij os desesp sespeerado rados, s, I zab zabeel. (Você não acredita! acredita! Escrevi Es crevi r api damente me damente meuu nomee, só d deepoi poi s, vi queti nha escri to IIA A!)

ele, apesar de me lembrar lembrarem em m mui uito to as consultas de anti anti gamen gamente, te,  ajudaram-me aj udaram-me a voltar aoprumo. Hoj Hoje, e,f u i á pri meir a sessão sessãocomuma te terape rapeuta. uta. Foi bem bem le legal. gal. 

Conversamos três vezes por telefone. Na primeira, ela falou muito das ansiedades, dos fantasmas. Na segunda, disse que ia procurar procu rar uma terapeuta lá, que tinha duas duas indi cações, e conversamos mais calmamente sobre seus senti mentos. No terceiro telefonema, disse que estava calma e não estava sentindo mais a necessidade de uma terapeuta. Discutimos algumas questões questões práticas sobre gravidez, parto e primeiros dias do bebê, e ela ficou de dar notícias. No final de 2010, quando eu estava estudando a pos sibilidade de reeditar o livro, ela enviou-me mais uma

 Acho quevai vai m mee ajud ajudar. ar. Entretanto, saindo de lá, tive vontade de escrever a você.   Q ueri ueri a contar tudo t udo que vivi vi vi,, pensei e sen sentiti desde desde q que ue a vi pela pela  últi ma vez; por porém, ém, ao ccome omeçar çar a escrever, ache acheii tudo m meio eio uma   gr  grand andee bobage obagem!  Então, resolvi escrever para contar que estarei substituindo  vocêna mi nha vvii da, sseja eja concretame concretamente, nte, como a antes, ntes, ou em pe pen n  samento, nto, nnos os anos anos em que que não não nos nos falam falamos; os; a agora, gora, te terei rei ou outra tra   p  peesso ssoa apara para dar-meos tranco trancoss deque queeu precisar. precisar.  Mais  M ais uma vez, ob obriri gada por tud tudo. o. Qua Quand ndo o eu eu fo r aí, vou 

mensagem. Oi, Dra.

visitá-la. Com sauda s audade de,, I zabel.

Es Estou tou novame novamente nte no olh olho o dofur fu r acão. ..  Achoque quevoc vocênão nãosab sabequemeu bebêéummenino nino,, Marco Marco,, eestá stá  comum ano esei seiss meses. Dep D epoi oiss das no nossas ssas conversas, acalme acalmeii -me e tive ti veuma gr grav avii dez be bem m tranquil tranquila; a; eleéuma ccrr i ança ad adorável. orável. H á três tr ês mese eses, s, meu m mari ari do morr morreu. eu. Teveum ac acii dente dentedecarr carro o  e morr morr eu na hhora. ora. N Nos os prime pri meii ros dias, ffii quei llúc úcii da ereso resolvi lvi todas  as que questões. D epois, porém, fu i fi cando numa an ansi sied edade ademuito  i ntensa e commedo medo deperder per der a cabeça. eça. A ci cima ma de tu tudo do,, eu tinha ti nha  uma pena pena mui muito to ggrr ande de0 meu filho fi lho crescer sempai (além d dee não ter avô mí mí ti co! A Aii nda me le lemb mbro ro disso...) di sso...) e coisas coisas dogêne gênero. ro.   Fi que queii mui mui to mal e ac acab abeei i ndo a umpsiqu psi quii atra. A s con consultas sultas co com m

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R  e f e r ê n c i a s

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Curitiba - PR 

Solange Maria fiosset é psicóloga e psicoterapeuta, desde 1975, e especialista em Terapia Psicodramática, Terapia Co rporal e Terapia Sistêmica. Seu trabalho com psicoterapia - de famílias, casais, indivíduos e grupos - é recomen recomendado dado e reconhecido nos cursos de especialização e pelos profissionais da área de Terapia Fam iliar e Terapia Sistê Sistêmica. mica. Ela é responsável pelo projeto de elaboração da Terapia  fielacional S istêmica e dedica-se, desde 1985, ao aprimoramento dessa abordagem abordagem terapêutica. terapêutica. Atua como docente em programas de póã-graduação em Terapia Familiar e Sistêmica, em workshops,  em cursos e palestras, bem como c onsultora, em todo território nacional.

Terapia fielacional Sistêmica é uma proposta te rapêutica de traba lho com as pessoas, as relações relações e os sistemas humanos, na qual, através de um processo

Individual, de Casal/Fam ília ou de Grupo, desenvol  ve m -se a c on sci ên cia , as apr end iza gen s e as m ud an  ças necessárias nos padrões de funcionamen to e de interação. Sua base teórica/clínica vem da Terapia dos Sistemas Familiares integrada a alguns aspec tos teóricos/técnicos da Terapia Psicodramática e da Terapia Corpora l. O foco da Terapia Relacional Sistêmica é o processo de autonomia, que engloba o pertencer/separar-se, o desenvolvimento da consci ência, das escolhas e responsabilidades, a mudança das pautas disfuncionais, permitindo um número maior e m ais rico de estratégias de funcionamento. funcionamento. Neste livro, inicialmente editado em 2001, com a segunda edição agora em 2011, a auto autora ra mostra as pe culiaridades do pensame nto relacional sistêmico nos atendimentos clínicos - individual e com famílias.

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