Introducao Da Sociedade Antiga de Morgan
April 20, 2017 | Author: Leskah01 | Category: N/A
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM ANTROPOLOGIA
Primeiro Exercício: resenha sobre “A Sociedade Antiga” de Lewis Henry Morgan.
Aluna: Emmanuelle Vieira de Melo Leite.
Recife, 2012
Lewis H. Morgan faz parte da escola antropológica conhecida pelo nome de “Evolucionismo”, mais especificamente à vertente clássica, cujo surgimento na antropologia se deu nos meados do séc. XIX. Constitui, junto a Edward Burnett Tylor e James George Frazer, um dos principais representantes dessa corrente do pensamento antropológico. Era formado em direito, mas decidiu dedicar-se no seu tempo livre a tecer contribuições para os estudos antropológicos. Fez pesquisas entre os iroqueses norte-americanos. No prefácio do texto o autor coloca que o avanço dos estudos arqueológicos cede as evidências necessárias para afirmar-se que “a história da raça humana é uma só – na fonte, na experiência, no progresso” (P. 44). Os evolucionistas costumavam juntar a esses descobrimentos os dados provenientes dos relatos de viagem. Nesse início do texto Morgan já dá o indício daquilo que irá elaborar durante todo o texto que é a discussão acerca dos sucessivos estágios pelos quais toda a humanidade necessariamente passa. Devido a esse aspecto o tipo de pensamento evolucionista que desenvolve está ligado a uma perspectiva unilinear e teleológica – o autor apontava um destino final, sobre o qual iremos comentar mais a respeito no decorrer desta resenha. Ao utilizar do método comparativo – que para os evolucionistas possui uma conotação diferente, envolvendo a ideia da possibilidade de dissecar culturas em partes e pegar cada uma delas para fazer comparações transculturais que englobavam toda a humanidade – elabora uma teoria para explicar as mudanças nas sociedades categorizando três grandes estágios. Esses estágios – ou períodos étnicos – seriam: 1º selvageria; 2º barbárie; e 3º civilização. A origem desses conceitos remonta à antiguidade grega, na qual os selvagens seriam aqueles povos que viviam quase na animalidade, os bárbaros possuam costumes e línguas diferentes das dos gregos, e o ápice da civilização eram as pólis gregas. A América seria, para Morgan, o local mais propício para realizar estudos dessa natureza por conter grupos humanos que convivem em um mesmo espaço físico, mas se enquadram em períodos étnicos diversos. A passagem de um estágio a outro se dá pela “acumulação de conhecimento experimental.” (P. 49). Dentro dela estaria a junção e melhoramento de técnicas, práticas e uso ou descobrimentos de objetos que possibilitariam essa transição. Podemos perceber aqui que o autor tem uma primazia pelo lado econômico da sociedade e pelos elementos envolvidos nos modos de produção. Morgan faz uma distinção entre duas linhas de investigação independentes: uma está ligada às invenções e descobertas, e outra às instituições primárias. A primeira
possui conexão mais ou menos direta com as linhas de progresso, já a segunda se desenvolveu a partir de poucos elementos primários existentes no pensamento humano que foram progredindo com o passar dos períodos étnicos. Nesse ponto ele elenca sete ideias e aspirações que ajudariam a analisar o desenvolvimento das sociedades em cada estágio: I. Subsistência; II. Governo; III. Linguagem; IV. Família; V. Religião; VI. Vida doméstica e arquitetura; VII. Propriedade. A partir desses elementos o autor elabora com mais detalhes os três estágios, já citados. Trata-se de um empreendimento classificatório no qual a ideia é de fazer inventário dos povos diversos é tida como uma obrigação dos antropólogos, principalmente dos norte-americanos, devido à preocupação salvacionista com a possibilidade dessas culturas desaparecerem com o passar do tempo tendo em vista o contato eminente com a civilização. O modelo explicativo – da diferença humana – trazido por Morgan pode ser entendido como um fornecimento de sentido ao levarmos em consideração o seu esforço de tecer explicações acerca da diversidade dos grupos humanos sem recorrer a argumentação religiosa. O autor aponta duas vantagens para o uso desse modelo. Uma delas seria que especialização dos períodos étnicos “possibilita tratar uma sociedade especifica de acordo com suas condições de avanço relativo, e toma-lo como um tema independente para estudo e discussão. (...) Outra vantagem de fixar períodos étnicos definidos é que isso possibilita orientar uma investigação especial para aquelas tribos e nações que oferecem a melhor exemplificação de cada status, a fim de tornar cada caso tanto um padrão quanto um elemento ilustrativo”. (P. 61). Para os antropólogos da época de Morgan o estudo de uma determinada cultura não era interessante, a pretensão era sempre de fazer trabalhos com amplitudes mais gerais, e o método criado por esse evolucionista possibilitaria pegar aspectos específicos de várias sociedades e elaborar comparações entre si. Morgan conclui com a ideia de que “ao estudar as condições de tribos e nações nesses diversos períodos étnicos, estamos lidando, substancialmente, com a própria historia antiga e com as antigas condições de nossos próprios remotos ancestrais” (P. 64), reforçando a sua ênfase no modelo evolucionista unilinear no qual o destino final era a civilização ocidental. Por fim, vale a pena comentar como os trabalhos de Morgan inspiraram outros pensadores das ciências sociais. A quarta parte desse livro que estamos comentando – “A Sociedade Antiga” – inspirou Marx e Engels na elaboração do conceito de
“propriedade privada”. Já seu trabalho pioneiro sobre parentesco foi a base usada por Lévi-Strauss para elaborar o estudo das “Estruturas Elementares do Parentesco”.
Referência Bibliográfica MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga – ou investigações sobre as linhas do progresso humano desde a selvageria, através da barbárie, até a civilização. In: CASTRO, Celso. Evolucionismo Cultural – textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
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