Introdução appadurai
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Introdução: Introdu ção: Mercadorias e a Política de Valor Arjj u n Ap Ar Appad padur ur ai In: A Vida Social das Coisas: Coisas: As Mercadorias sob uma Perspectiva Perspectiva Cultural. Niterói: Eduff, 2009 Arjun Appadu Appadurai rai é um antropó antropólogo logo indiano que inicia a introdu introdução ção de seu livro propondo trabalhar com dois objetivos: 1 – apresentar e contextualizar os artigos que compõem o livro e 2 – propor uma nova perspectiva sobre a circulação de mercadorias na vida social. Inicia com a proposta de trabalhar o conceito de troca econômica, afirmando que o que cria o vinculo entra a troca e o valor é a politica e propondo elaborar este argumento em seu ensaio para justificar sua tese t ese de que as mercadorias, assim como as pessoas, têm uma vida social. A primeir primeira a definiçã definição o de mercado mercadoria ria que Appadu Appadurai rai faz menção menção,, afirman afirmando do ser provisoriamente, é a de que mercadorias são objetos de valor econômico. Para elaborar essa afirmação ele parte dos estudos de Georg Simmel, que acredita que o valor jamais é uma propriedade inerente aos objetos, mas um julgamento que sujeitos fazem sobre ele. Para Simmel, o valor econômico é gerado através da troca de sacrifícios, que consiste não apenas em trocar valores mas na troca de valores. Ainda segundo Simmel, o objeto econôm econômico ico não tem um valor absoluto, sendo a demanda a responsável por conferir valor ao objeto. Appadurai critica Appadurai critica a tendênc tendência ia do senso comum ocidenta ocidentall de opor os os termos termos palavras palavras e coisas. Ele busca refletir que em muitas sociedades históricas as coisas não estão separadas da capacidade das pessoas de agir e do poder das palavras de comunicar. As “coisas” possuem significados que estão inscritos em suas formas, seus usos e suas trajetórias e são através dessas trajetórias que podemos interpretar as transações e os os cálculos humanos que dão vida as coisas. Nesse momento ele propõe separar as coisas sob o ponto de vista teórico , que as aborda sob o ponto de vista das significações, e do metodológico que englobam seu contexto humano social.
Para Appadurai, mercadorias e coisas em geral são a substância da cultura material que une arqueólogos a antropólogos culturais de diversas linhas. Analisar as coisas sob a perspectiva das mercadorias constitui um ponto de partida de grande utilidade para o interesse na cultura material. Todavia o trabalho com as mercadorias não são interesses apenas dos antropólogos, mas também de estudiosos da história econômica, social e da arte
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Após essa introdução, appadurai pretende discorrer sobre cada um dos ensaios de sua obra, afirmando que o mesmo não pretende discorrer exaustivamente das relações da cultura com as mercadorias. As cinco seções que compõem o seu trabalho, dedicam-se a trabalhar os seguintes objetivos: 1 – “O espírito da mercadoria” que irá trabalhar as mercadorias e desvincula-las da ideia de que as mesmas são monopólios das economias industriais modernas. 2 – “Rotas e desvios” visa discutir as estratégias que fazem da criação de valor um processo mediado pela política. 3 – “Desejo e demanda” usa de modelos de longo e curto prazo para demonstrar que o consumo está sujeito ao controle social. 4 – “Conhecimento e mercadorias” propõe demonstrar que as políticas de valor são, muitas vezes, políticas de conhecimento. 5 – Conclusão: retomar a discussão de que a política atua como mediadora entre troca e valor.
O ESPÍRITO DA MERCADORIA Neste momento Appadurai procura tratar sobre a definição de mercadoria partindo de dois pressupostos, um atribuído a Marx que teoriza que a mercadoria é um produto destinado a troca e outra teoria que ele considera menos purista, de que as mercadorias são bens destinados a troca, independentemente da forma de troca. Desde o inicio, o autor deixa claro que trabalhará de forma crítica a concepção marxista de mercadoria, sugerindo que pretende sugerir que mercadorias são coisas que se diferem de objetos, bens e que existem em uma enorme quantidade de sociedades. Na maioria dos estudos contemporâneos as mercadorias são um tipo especial de bens manufaturados que se associam somente aos modos de produção capitalista, ou seja, só podem ser encontradas no capitalismo. Mas para o autor esta é apenas parte da ideia de mercadoria concebida por Marx. Para Appadurai a discussão mais elaborada sobre mercadoria está presente na primeira parte do primeiro livro de O capital, de Marx, que seguiu uma complexa série de distinções entre produtos e mercadorias, sendo difícil distinguir o aspecto lógico do aspecto histórico nessa argumentação. Segundo o autor, Marx ainda estava preso a dois apriorismos de meados do século XIX, o primeiro de que só se poderia observar a economia com referência as
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problemáticas de produção e uma segunda que considerava o movimento em direção a produção de mercadorias como evolutivo, unidirecional e histórico. Ao trabalhar com a ideia de que uma mercadoria é qualquer coisa destinada a troca, ele abre caminho para se pesar em dois tipos de troca que fazem contraste com a troca de mercadorias. O primeiro é a permuta, ou troca direta, sendo uma troca mutua de objetos sem alusão a dinheiro e que existe em uma grande variedade de sociedades. Chapman, teórico trazido para discutir a ideia de troca e mercadorias com Marx, adota uma visão restritiva do papel do dinheiro na circulação de mercadorias. Sendo assim, na permuta o dinheiro não desempenha qualquer papel, ou um papel muito indireto. A desconstrução o etnocentrismo nas abordagens sobre a mercadoria, passa primeiro pela descolonização da própria mercadoria em relação ao capitalismo, reconhecendo a existência de objetos com valores econômicos em outras sociedades. Noutro sentido, é chamar atenção para o fato de que a própria construção do capitalismo não pode ser compreendida somente em termos de contribuições europeias ou a partir de um viés econômico de inovações tecnológicas, produção e consumo a despeito de outras complexidades (e intercâmbios) culturais e políticas também presentes.
E o segundo tipo de troca trabalhado por Appadurai é a troca de presentes, que traz a partir dos estudos de Bordieu, a ideia de que a troca de presentes não deixa de obedecer ao calculo econômico, caracterizando a troca de mercadorias de um modo comparativo e processual, deixando de lado a distinção entre mercadorias e outros tipos de coisas e trabalhando a situação mercantil delas. A situação mercantil, para Appadurai, pode ser dividida em três fases: a primeira, é a fase mercantil na vida social em que as coisas entram e saem do estado de mercadoria e esses movimentos podem ser rápidos ou lentos, repetitivos ou terminais. A segunda fase é a candidatura do estado das coisas que determinam a possibilidade de troca das coisas em qualquer contexto social e histórico em particular. E a terceira fase é o contexto mercantil que estabelece o vinculo entre a candidatura de uma coisa ao estado de mercadoria e a fase mercantil de sua carreira, sendo que a variedade de contextos permitem a criação de um vinculo entre o ambiente social da mercadoria e seu estado simbólico e temporal. Desta forma, o autor sustenta que as coisas possuem uma história social, uma trajetória, uma biografia social que pode atravessar diferentes regimes de valor. Os objetos, as coisas, não são mudos. Se é certo que não há inerência de valor nas coisas, por outro lado, quando compreendidos em seus processos de circulação, observamos a historia acumulada em suas trajetórias, sendo possível, a partir deles, depreender seus contextos sociais.
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Com isso, appadurai afirma que a mercantilização consiste na complexa interseção de fatores temporais, culturais e sociais, alterando a partir dai a definição que ele propõe trabalhar do termo mercadoria, que passa a empregar o sentido de mercadoria como referência a coisas. Todavia, ele ressalta que todos os esforços em definir as mercadorias estão condenados à esterilidade se não elucidarem mercadorias como coisas em movimento, sendo esta a proposta de seu ensaio seguinte.
ROTAS E DESVIOS Propõe abordar o fluxo de mercadorias como um acordo que oscila entre rotas socialmente reguladas e desvios competitivamente motivados. Sendo assim, ele inicia recordando Igor Kopytoff e sua consideração de mercadorias como algo que possui histórias de vida. Proposta do teórico sobre mercantilização é considerada por Appadurai uma das virtudes de seu trabalho, por ser um modelo genérico e processual de mercantilização no qual os objetos podem transitar dentro e fora do estado de mercadoria. Deste modo, Appadurai ressalta a tese de Kopytoff de que a mercadoria é uma fase na vida de algumas coisas. A partir disso ele passa a trabalhar a mercantilização das coisas através do contexto de rotas e desvios, usando para isso o ensaio de Nancy Munn e seu sistema Kula. O Kula, como ele cita na página 33, “é o exemplo mais bem documentado de um sistema de troca translocal não ocidental, pré-industrial e não monetizado. ” Sendo um sistema regional em que os principais objetos trocados são de dois tipos: colares e braceletes ornamentados. Esses mesmos objetos adquirem valor a partir do momento em que os homens que os trocam ganham e perdem reputação ao adquiri los. Já o termo Keda (que significa via, rota) é o termo usado para descrever o percurso desses objetos de um lugar pro outro e sua concepção mais abstrata faz referência a keda como uma rota no qual os objetos refletem situações de parcerias e conflitos sociais. Appadurai afirma que o sistema kula não é uma troca reciproca simples, pois a mesma está baseada na reputação, nome ou fama para garanti-la. As relações entre rotas e desvios são cruciais para as politicas de valor no sistema kula, que visam os melhores ganhos, ou o que o autor chama de torneios de valor. Esses torneios de valor se afastam da vida econômica e assumem uma disputa de status, de poder e corresponde a um processo de transmutação de valores. Com isso, o kula faz referência a uma atividade complexa de fabricar objetos de valor que não podem ser mercantilizadas por ninguém.
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Para discutir concepção de valor, o autor faz uso dos estudos de William Davenport sobre a produção de objetos destinados ao uso ritual nas ilhas Salomão Orientais e o fato de que o que os torna desmercantilizados é uma complexa concepção de valor e uma biografia ritual especifica, caindo num movimento restrito de objetos que não recebem um preço. Tais mercadorias encaixadas são semelhantes aos objetos de valor primitivos, sendo que o desvio de mercadorias para fora das rotas especificadas é sempre um sinal de criatividade ou crise. As crises de dividem em duas partes: as econômicas, onde uma família pode se desfazer de objetos que fazem parte da herança familiar, ou através da guerra e pilhagem, sendo o roubo, mesmo que condenado, uma forma mais simples de desvio de mercadorias de suas rotas predeterminadas. Outra forma de desvio de mercadorias de suas rotas são as chamadas artes turísticas, no qual objetos produzidos em pequenas comunidades, para usos estéticos, cerimoniais ou em suntuários, são levados dali e transformados em algo cultural, econômica e socialmente pelos gostos. . Tal desvio não é apenas um instrumento de desmercantilização do objeto, mas também a intensificação dessa mercantilização pelo aumento de valor que resulta desse desvio. No processo de troca, não apenas as rotas oficiais são importantes, mas também os desvios construídos. As rotas socialmente aceitas estabelecem quais são as coisas mercantilizadas, bem como protege outras mais desse processo. Os desvios, por sua vez, concorrem com aquelas “políticas de enclave” e, através de “rotas clandestinas”, comercializam aquilo que “oficialmente” não era permitido. Desta maneira, provoca tensões com o sistema hegemônico e pode vir a provocar mudanças no mesmo. Há, nesse sentido, uma mercantilização por desvio que não pode ser desconsiderada – cujos valores só podem ser compreendidos se relacionados às rotas das quais foram desviados. Portanto, rotas, desvios e novas rotas das mercadorias representam esse processo de compreender a trajetória das coisas em sua interpenetração com aspectos políticos, sociais e morais de cada sociedade. Entretanto, para Appadurai esses desvios só possuem significados se relacionados as rotas de que saíram, sendo que os desvios são com frequência frutos de desejos irregulares e demandas recentes e é nesse momento que o autor propõe trabalhar, em uma próxima seção a problemática do desejo e da demanda.
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