Instrução Secreta e Permanente Da Venda Suprema Ou Instrução Permanente Da Alta Vendita – 1819

February 2, 2019 | Author: Mateus Alexandre | Category: Pope, Italy, Catholic Church, Freemasonry, Clergy
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Alta Vendita...

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INSTRUÇÃO SECRETA E PERMANENTE DA VENDA SUPREMA OU INSTRUÇÃO PERMANENTE DA ALTA VENDITA  – 1819 Dado aos membros da Grande Loja Maçônica Carbonária Carbonária Italiana “Depois que nos estabelecemos como corpo de ação e que a

ordem começa a reinar no fundo da Loja mais afastada como no seio daquela mais próxima do centro, existe um pensamento que sempre preocupou profundamente os homens que aspiram à regeneração universal: é o pensamento da libertação da Itália, do qual deve sair, num dia determinado, a libertação do mundo inteiro, a República fraternal e a harmonia da humanidade. Esse pensamento não foi ainda compreendido por nossos irmãos de além Alpes. Eles acreditam que a Itália revolucionária não pode conspirar senão na sombra, distribuir algumas punhaladas em esbirros e traidores; e sofrer tranquilamente o jugo dos acontecimentos que se sucedem além dos montes para a Itália, mas sem a Itália. I tália. Esse erro já nos foi fatal por diversas vezes. Não se deve combatê-lo com frases, isto seria propagá-lo; mas é preciso matá-lo com fatos. Assim, em meio às preocupações que têm o privilégio de inquietar os mais vigorosos espíritos das nossas Lojas, uma existe que jamais devemos esquecer.” “O Papado tem exercido, em todos os tempos, uma ação

decisiva sobre os negócios da Itália. Pelos braços, pela voz, pela pena, pelo coração dos seus inúmeros bispos, padres, monges, religiosas e fiéis de todas as latitudes, o Papado encontra abnegações sempre prontas ao martírio e ao entusiasmo. Por toda a parte em que lhe apraza evocar essas abnegações, ele tem amigos que morrem, outros que se despojam por ele. É uma alavanca imensa, cujo inteiro poder somente alguns papas souberam apreciar (ainda que dele se tenham utilizado apenas numa certa medida). Hoje não se trata de reconstituir em nosso favor esse poder, cujo prestígio está momentaneamente enfraquecido; nosso objetivo final é o de Voltaire e o da Revolução Francesa, o aniquilamento para sempre do Catolicismo e mesmo da ideia cristã, que, a permanecer de pé sobre as ruínas de Roma, seria mais tarde sua p erpetuação. Mas, para alcançar com mais certeza esse objetivo e não arranjarmos voluntariamente reveses que adiam indefinidamente ou comprometem pelos

séculos o sucesso de uma boa causa, não se deve dar ouvidos a esses franceses fanfarrões, a esses alemães nebulosos, a esses ingleses tristes, que imaginam todos matar o Catolicismo ora com uma canção impura, ora com uma dedução ilógica, ora com um sarcasmo grosseiro, contrabandeado como o algodão da Grã-Bretanha. O Catolicismo tem a vida mais dura do que isso. Ele viu adversários mais implacáveis, mais terríveis, e se deu frequentemente ao maligno prazer de jogar água benta sobre a tumba dos mais raivosos. Deixemos, pois, nossos irmãos desses países se entregarem às i ntemperanças estéreis do seu zelo anticatólico, permitamos-lhes mesmo que caçoem das Nossas Senhoras e da nossa aparente devoção. Com esse passaporte podemos conspirar inteiramente à vontade e chegar pouco a pouco ao termo proposto.” “Pois o Papado é há dezesseis séculos, inerente à história da

Itália. A Itália não pode respirar, nem se mover sem a permissão do Pastor supremo. Com ele ela tem os cem braços de Briarée; sem ele, está condenada a uma impotência que causa piedade. Ela nada tem além de divisões a fomentar, ódios a explodir, hostilidades a ver surgir desde a primeira cadeia dos Alpes até ao último elo dos Apeninos. Não podemos querer tal estado de coisas; importa, pois, procurar um remédio para essa situação. O remédio está inteiramente encontrado. O Papa, quem quer que seja, jamais virá às Sociedades secretas; cabe às Sociedades secretas dar o primeiro passo em direção à Igreja, co m o objetivo de vencer os dois.” “O trabalho que iremos empreender não é obra nem de um dia,

nem de um mês, nem de um ano; podem durar vários anos, talvez um século; mas, nas nossas fileiras o soldado morre e o combate continua. ” “Não pretendemos ganhar os Papas para a nossa causa, fazê -

los neófitos dos nossos princípios, propagadores das nossas ideias. Seria um sonho ridículo; e seja como for que andem os acontecimentos, que cardeais ou prelados, por exemplo, entrem espontaneamente ou por surpresa numa parte dos nossos segredos, não seria isto motivo para desejar a ascensão deles à Sé de Pedro. Essa ascensão nos poria a perder. A simples ambição conduzi-los-ia à apostasia: as necessidades do poder forçá-los-iam a nos imolar. O que

devemos pedir, o que devemos procurar e alcançar, assim como os judeus esperam do Messias, é um papa segundo as nossas necessidades. Alexandre VI, com todos os seus crimes privados, não nos conviria, porque jamais errou nas matérias religiosas. Um Clemente XIV, ao contrário, seria o que nos convém da cabeça aos pés. Bórgia era um libertino, um verdadeiro sensualista do século XVIII perdido no século XV. Foi anatematizado, apesar dos seus vícios, por todos os vícios da filosofia e da incredulidade, e deve esse anátema ao vigor com que defendeu a Igreja. Ganganelli entregou-se de mãos e pés atados aos ministros dos Bourbons que lhe metiam medo, aos incrédulos que celebravam sua tolerância, e Ganganelli tornou-se um grande Papa. É mais ou menos nessas condições que precisaríamos de um, se ainda for possível. Com isto caminharemos mais seguramente ao assalto da Igreja do que com os panfletos dos nossos irmãos da França ou mesmo com o ouro da Inglaterra. Quereis saber a razão disso? É que para isso, para quebrar o rochedo sobre o qual Deus construiu sua Igreja, não mais temos necessidade de vinagre anibalino, não temos mais necessidade de pólvora para canhão, não temos mais necessidade nem mesmo dos nossos braços. Temos o dedo mindinho do sucessor de Pedro comprometido com a conspiração, e esse mindinho vale para essa cruzada por todos os Urbanos II e todos os São Bernardo da Cristandade.” “Não duvidamos de que che garemos a esse termo supremo

dos nossos esforços; mas quando e como? Ainda não se distingue o desconhecido. Contudo, como nada deve nos afastar do plano traçado, e como, ao contrário, tudo deve tender para ele, como se o sucesso devesse coroar, a partir do dia seguinte, a obra apenas esboçada, queremos, nesta instrução que permanecerá secreta para os simples iniciados, dar aos prepostos da Loja suprema conselhos que deverão inculcar na universalidade dos irmãos, sob a forma de ensino ou de memorando. Importa, sobretudo, e com uma discrição cujos motivos são transparentes, jamais deixar pressentir que estes conselhos constituem ordens emanadas da Loja. O Clero está diretamente posto em jogo nisso, para que possamos, nesta hora, permitir-nos brincar com ele como com um desses reizinhos ou principelhos sobre os quais basta-nos soprar para que desapareçam.”

“Pouca coisa há a fazer com os velhos cardeais ou com os

prelados cujo caráter é muito decidido. Devemos deixá-los incorrigíveis na escola de Gonsalvi, e buscar nos nossos entrepostos de popularidade ou de impopularidade as armas que tornará inútil ou ridículo o poder que eles têm nas mãos. Uma palavra habilmente inventada e que se tenha a arte de espalhar em certas famílias honestas escolhidas, para que daí desça para os cafés e dos cafés para a rua, uma palavra pode algumas vezes matar um homem. Se um prelado chega de Roma para exercer alguma função pública no fundo das províncias, conhecei, sobretudo seu caráter, seus antecedentes, suas qualidades, sobretudo seus defeitos. É ele desde logo um inimigo declarado? Um Albani, um Pallotta, um Bernetti, um Della Genga, um Rivarola? Envolveios com todas as armadilhas que puderdes estender sob seus passos; criai para ele uma dessas reputações que assustam as crianças e as velhas; pintai-o cruel e sanguinário; contai alguns traços de crueldade que possam ficar gravados na memória do povo. Quando os jornais estrangeiros recolherem esses nossos relatos, que embelezarão por seu turno (inevitavelmente por respeito à verdade), mostrai, ou melhor, fazei mostrar, através de algum respeitável imbecil, esses jornais em que estão relatados os nomes e os excessos arranjados dos personagens. Como a França e a Inglaterra, a Itália  jamais ficará sem essas penas que sabem se talhar nas mentiras úteis à boa causa. Com um jornal, cuja língua ele não compreende, mas no qual ele verá o nome do seu delegado ou do seu juiz, o povo não tem necessidade de outras provas. Ele está na infância do Liberalismo, ele acredita nos Liberais, assim como mais tarde acreditará em nós, nem sabemos bem porque. ” “Esmagai o inimigo, qualquer que ele seja, esmagai o poderoso

à força de maledicências ou de calúnias: mas, sobretudo esmagai-o no ovo. É preciso ir à juventude; é ela que precisamos seduzir, é ela que devemos arrastar, sem que o perceba, sob a bandeira das Sociedades Secretas. Para avançar a passos contados mas seguros nessa via perigosa, duas coisas são absolutamente necessárias. Deveis ter a aparência de serdes simples como as pombas, mas sereis prudentes como a serpente. Vossos pais, filhos, vossas próprias mulheres devem sempre ignorar o segredo que carregais em vosso seio, e se vos agradar, para melhor enganar o olho inquisitorial, ir

frequentemente à confissão, estais como de direito autorizados a guardar o mais absoluto silêncio sobre essas coisas. Sabeis que a menor revelação, o menor indício, que se deixa escapar no tribunal da penitência ou em outra parte pode acarretar grandes calamidades, e que o decreto de morte marca assim o revelador voluntário como o involuntário. ” -nos um Papa nas proporções exigidas, “Ora, pois, para garantir -nos trata-se inicialmente de moldar para ele uma geração digna do reino com qual sonhamos. Deixai de lado a velhice e a idade madura; ide à juventude e, se for possível, até à infância. Jamais tenhais para ela uma palavra de impiedade ou de impureza: Maxima debetur puero reverentia . Jamais esqueçais essas palavras do poeta, porque elas vos servirão como salvo-conduto contra os descomedimentos dos quais importa essencialmente se abster no interesse da causa. Para fazê-la frutificar no umbral de cada família, para vos conceder direito de asilo em cada lar, deveis apresentar-vos com todas as aparências do homem grave e moral. Uma vez estabelecida vossa reputação nos colégios, nos ginásios, nas universidades e nos seminários, uma vez que tiverdes captado a confiança dos professores e dos estudantes, fazei com que principalmente aqueles que se comprometem com a milícia clerical gostem de procurar vossas conversas. Nutri-lhes o espírito com o antigo esplendor da Roma Papal. Existe sempre no fundo do coração do italiano uma saudade da Roma republicana. Confundi habilmente essas duas lembranças. Excitai, acendei essas naturezas tão cheias de incandescência e de orgulho patriótico. Oferecei-lhes inicialmente, mas sempre em segredo, livros inofensivos, poesias esplendorosas de ênfase nacional, depois, pouco a pouco, conduzirão vossos discípulos ao grau de cozimento desejado. Quando em todos os pontos do Estado eclesiástico esse trabalho de todos os dias tiver disseminado nossas ideias como a luz, então podereis apreciar a sabedoria do conselho cuja iniciativa tomamos. ” “Os acontecimentos que, segundo nós, se precipitam depressa

demais, vão reclamar necessariamente, daqui a alguns meses, uma intervenção armada da Áustria. Há loucos que voluntariamente gostam de jogar os outros no meio dos perigos, e, no entanto são loucos que, em determinada hora, arrastam até os prudentes. A revolução que se premedita na Itália não

desaguará senão em infelicidades e proscrições. Nada está maduro, nem os homens, nem as coisas, e nada estará ainda durante muito tempo; mas dessas desditas podereis facilmente fazer soar uma nova corda no coração do clero  jovem. Será o ódio ao estrangeiro. Fazei com que o alemão seja ridículo e odioso antes mesmo da sua prevista entrada. À ideia da Supremacia Pontifícia misturai sempre a velha lembrança das guerras do Sacerdócio e do Império. Ressuscitai as paixões mal apagadas dos Guelfos e dos Gibelinos, e assim conseguireis com pouco trabalho uma reputação de bom católico e de puro patriota.” “Essa reputação permitirá o acesso das nossas doutrinas ao

seio do clero jovem, assim como ao fundo dos conventos. Em alguns anos esse clero jovem terá, pela força das coisas, invadido todas as funções; ele governará, administrará, julgará, formará o conselho do soberano, será chamado a escolher o Pontífice que deverá reinar, e esse Pontífice, como a maioria dos nossos contemporâneos, estará necessariamente mais ou menos imbuído dos princípios italianos e humanitários que iremos começar a pôr em circulação; é um pequeno grão de mostarda que confiamos à terra; mas o sol das justiças desenvolvê-lo-á até ao mais alto poder, e vereis um dia que rica colheita esse pequeno grão produzirá. ” “No caminho que traçamos para os nossos irmãos encontram -

se grandes obstáculos a vencer, dificuldades de mais de uma natureza a superar. Triunfaremos delas pela experiência e pela perspicácia; mas o objetivo é tão bonito, que importa abrir todas as velas ao vento para alcançá-lo. Quereis sublevar a Itália? Procurai o Papa cujo retrato acabamos de traçar. Quereis estabelecer o reino dos eleitos sobre o trono da prostituta da Babilônia? Que o Clero marche sob o vosso estandarte, crendo sempre marchar sob a bandeira das Chaves Apostólicas. Quereis fazer desaparecer o último vestígio dos tiranos e dos opressores? Estendei vossas redes como Simão Bar Jonas (Simão Pedro); estendei-as no fundo das sacristias, dos seminários e dos conventos, preferentemente ao fundo do mar: e se nada precipitardes, nós vos prometemos uma pesca mais miraculosa do que a dele. O pescador de peixes tornou-se pescador de homens; colocareis amigos nossos em torno da Cátedra apostólica. Tereis pregado uma revolução de tiara e capa, marchando com a

cruz e a bandeira, uma revolução que não terá necessidade de ser senão um pouquinho aguilhoada para pôr fogo nos quatro cantos do mundo. “ “Que cada ato da vossa vida tenda, pois, à descoberta dessa

pedra filosofal. Os alquimistas da Idade Média perderam o tempo e o ouro das suas vítimas na procura desse sonho. O das Sociedades secretas realizar-se-á pela mais simples das razões: ele está baseado nas paixões do homem. Não nos desencorajemos, pois, nem por causa de um malogro, nem por um revés, nem por uma derrota; preparemos nossas armas no silêncio das Lojas; assestemos todas as baterias, adulemos todas as paixões, assim as piores como as mais generosas, e tudo nos leva a crer que esse plano terá êxito um dia, além mesmo dos nossos mais impro váveis cálculos”.

FONTE: CRÉTINEAU-JOLY, Jacques Augustin Marie. L'Église romaine en face de la

Révolution, t. II. Henri Plon, Paris, 1859. (p.82-90). Disponível em: . me_2)_000000044.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2017. DELLASSUS, Mons. Henri. A Conjuração anticristã: O templo maçônico que quer se erguer sobre as ruínas da Igreja Católica. 2. ed. Rio de Janeiro: Castela Editorial, 2016. (p.589-593). OLIVEIRA, Vital Maria Gonçalves de, Bispo de Olinda. A Maçonaria e os

 jesuítas: Instrucção pastoral aos seus diocesanos do Bispo de Olinda . Rio de Janeiro: Typ. do Apostolo, 1875. (p.11-20). Disponível em: . . Acesso em: 20 nov. 2017.

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