March 29, 2017 | Author: Fernando Liguori | Category: N/A
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Colegiado da Luz Hermética Fundado a Serviço da A∴A∴
CORRENTE93 INFORMATIVO
No. 02
An V2, in 0° , in 0° An. CXII da Era Thelêmica ________________________________________________________________________________________________________
Conteúdo Editorial O Sagrado Anjo Guardião A Meditação & o Sagrado Anjo Guardião Notícias da Linha de Frente Colegiado da Luz Hermética
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Editorial Care Frateres et Sorores, Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
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em vindo a edição No. 7 do Jornal CORRENTE 93. Esse é um projeto do Outer College Brasil, linha da A∴A∴ transmitida por Frater ON120 e Colegiado da Luz Hermética através da SETh, órgão oficial de divulgação dos trabalhos desses dois Colegiados Thelêmicos. Como tem sido tradição no Jornal CORRENTE 93, o editorial tem sido um espaço para compartilhar informações sobre nossa linha de transmissão e responder algumas indagações nos enviadas. Com relação a experiência conhecida como Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, algumas dúvidas foram enviadas e as linhas que se seguem pretendem explorar o tema. Parece que de todas as crenças místicas da Tradição Ocidental de Mistérios, nenhuma capturou mais a imaginação de magistas modernos que a ideia judaico-cristã por trás do termo Sagrado Anjo Guardião. Não poderia ser diferente com os thelemitas, pois o Sagrado Anjo Guardião é a imagem iconográfica central de sua doutrina. No entanto, por conta do conteúdo judaico-cristão que cada um de nós traz, temos a tendência equivocada que ver o arquétipo do Sagrado Anjo Guardião em Thelema através das lentes socioculturais que nos alimenta e nos programa desde a infância. Superar essa programação, portanto, é uma das primeiras metas do Adepto iniciado no Grau de Amante. Para compreendermos o arquétipo do Sagrado Anjo Guardião, precisamos trazê-lo à luz do Novo Aeon. Assim como ocorreu com a palavra daimon, o significado da palavra anjo vem se modificando ao longo da história, pois sua ideia tem sido assimilada por inúmeras culturas religiosas do Planeta. O que foi originalmente um conceito abstrato que serviu de objeto de estudo de filósofos e acadêmicos no passado, hoje se tornou um conceito distorcido muito bem estabelecido. Uma das referências mais antigas do termo aparecei no livro do Êxodo, 23:20, onde Deus diz a humanidade: Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado.
Mas veja, a palavra utilizada no Velho Testamento não é anjo, mas malak, que significa mensageiro de Deus. Embora poucos tenham conhecimento disso, a palavra anjo vem do sânscrito angiras. O responsável por exportar essa palavra da Índia foi o intercâmbio cultural com os persas, que transformaram a palavra em augaros, que possui a mesma tradução, mensageiro. Posteriormente, os sábios gnósticos introduziram essa palavra na cultura helênica da Grécia, onde ela se tornou aggelos. Quando o conceito ou ideia de Mensageiro de Deus chegou em Roma, traduziu-se como angelus no latim, do qual a palavra moderna anjo derivou-se. De acordo com a mitologia judaica mais antiga, Deus colocou Mensageiros ou Vigias individuais sobre a humanidade para nos guiar. Estes eram, tão estranho quanto possa parecer, classificados sob a direção de Satã. Na verdade, foi uma concepção gnóstica antiga de que Lúcifer ou Satã é o Sagrado Anjo Guardião do Planeta Terra, como Crowley sustenta em LIBER ABA:
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Esta serpente, SATÃ, não é o inimigo do Homem, mas AQUELE que fez DEUSES de nossa raça, conhecendo o Bem e o Mal; ele comandou «Conhece-te a Ti mesmo!» e ensinou a Iniciação. Ele é o «Diabo» no Livro de Thoth, e seu emblema é BAPHOMET, o Andrógino que é o hieróglifo da perfeição secreta.
Dessa forma, contrário a opinião de muitos thelemitas, o termo Sagrado Anjo Guardião como uma ideia de mensageiro de Deus não foi primeiro explorado por McGregor Mathers (18541918) a partir de sua tradução de O LIVRO DA MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIN, O MAGO, um livro que Crowley e outros citam como a fonte literária de onde o termo se originou. No entanto, quase todas as sociedades secretas e organizações espirituais do período vitoriano e outras mais modernas, inspiradas nessas escolas arcanas do passado, adotaram a ideia de Sagrado Anjo Guardião como Eu Superior. O próprio Crowley admitiu que ele mesmo foi vítima dessa tolice. A interpretação corrente é que a comunicação com o Sagrado Anjo Guardião ocorre quando o Adepto alcança a iniciação de Tiphereth na Árvore da Vida. No entanto, é nosso daimon pessoal que tem nos guiado desde o nascimento, sussurrando em nossos ouvidos a percepção do Eu Superior ou Verdadeira Vontade. Já no fim de sua vida Crowley conseguiu discernir que o Sagrado Anjo Guardião e o Eu Superior não eram os mesmos. Em MAGICK WITHOUT TEARS ele escreveu: Ele não é [o Sagrado Anjo Guardião], deixe-me dizer com ênfase, uma mera abstração de si mesmo, e é por isso que tenho insistido antes fortemente que o termo Eu Superior implica uma heresia condenável e uma ilusão perigosa. E se assim não fosse, não haveria nenhum ponto em A MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIN, O MAGO. [...] Mas lembre-se disso, acima de tudo, eles são objetivos, não subjetivos, ou eu não deveria desperdiçar a boa Magia com eles.
A questão aqui é: não podemos confundir nosso daimon pessoal, aquele que nos dirige ocultamente através da vida, com o Sagrado Anjo Guardião. Crowley chegou a percepção que o Sagrado Anjo Guardião não poderia descer abaixo do Abismo sem ser corrompido pela dualidade, mas na intenção de nos orientar e conduzir ele projeta aquilo que Carl Jung (18751901) chamou de anjo psicótico e os gregos chamaram de daimon pessoal ou espírito guardião. Tecnicamente, não podemos dizer que existe algum anjo além do Abismo. Todos esses arquétipos estão abaixo do Abismo. No entanto, aqui estou enfatizando àquele Ente Presença de que somos verdadeiramente. No entanto, isso tem sido um problema entre os thelemitas, pois é um senso comum de que o Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião ocorre em Tiphereth. Mas isso é falta de estudo. Uma das instruções que Crowley deixou para A∴A∴ que trata do Sagrado Anjo Guardião é o LIBER VIII, uma referência ao oitavo Aethyr no A VISÃO & A VOZ, conhecido como LIBER 418. O LIBER VIII tem sido utilizado como Um Ritual Apropriado para Invocação do Augoeides, quer dizer, um ritual destinado a invocação do Sagrado Anjo Guardião. É no oitavo Aethyr, portanto, que o thelemita irá obter o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, entretanto, o oitavo Aethyr está além do Abismo. Quer dizer, essa experiência mística não ocorre na esfera de Tiphereth na Árvore da Vida como suposto no Velho Aeon. Eu chamo a atenção do leitor para meu artigo publicado em O OLHO DE HOOR (Vol I, No. 1), intitulado THELEMA: UMA NOVA & AMARGA VERDADE. Nesse artigo eu escrevi: Abiegnus, a Montanha dos Adeptos no Novo Aeon, é identificada com Zion, a Montanha Sagrada de Deus na Cidade das Pirâmides sob a Noite de Pã. [...] Por essa razão, LIBER CHETH VEL VALLUM ABIEGNI é o título de LIBER CLXI, pois Vallum Abiegni significa A Parede de Abiegnus. Esta é a instrução que contém o segredo do Santo Graal e pertence aos
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Mistérios do Mestre do Templo. Abiegnus não mais significa no presente Aeon de Hórus à tumba do Cristo ressurreto, mas a tumba dos Santos que derramaram a última gota de sangue no Cálice de Babalon, pois somente aqueles que pintaram a semente negra poderão plantar a Rosa; somente aqueles que beberam das águas da Morte poderão regar a Rosa e somente aqueles que foram consumidos pelo Fogo da vida poderão prover o sol que alimenta a Rosa de Tiphereth. A semente desta Rosa está oculta além da grande parede de Abiegnus na Cripta dos Santos na Cidade das Pirâmides.
Em Tiphereth, dessa maneira, existe a consecução com o Eu Superior ou o que os qabalistas têm identificado como A Cabeça do Ruach. Para compreender o Sagrado Anjo Guardião na totalidade que ele verdadeiramente é, o thelemita deve se ater as divisões da alma humana na Árvore da Vida: o nephesh, a alma animalesca (Malkuth-Yesod). O ruach, a mente organizada que se divide em Inferior (Adepto Externo) e Superior (Adepto Interno), que envolve o complexo Hod-Netzach-Tiphereth-Geburah-Chesed. A terceira parte da alma, sendo ela Três-em-Um, é neschamah (Binah), chiah (Chokmah) e yechidah (Kether). A primeira lição que a alma deve aprender tem sido chamada de A Visão do Sagrado Anjo Guardião, que ocorre em Malkuth. A segunda lição ou estágio de aprendizagem da alma ocorre em Tiphereth, onde o Candidato obtém A Orientação do Sagrado Anjo Guardião. O estágio final se dá além do Abismo onde o Candidato experimenta o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Pelo termo A Orientação do Sagrado Anjo Guardião eu me refiro a construção ou organização do ruach para que ele possa se tornar um veículo do Ente Presença além do Abismo. Bom estudo! Amor é a lei, amor sob vontade. Frater ON120 6°=5⌷ A∴A∴ Imperator
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O Sagrado Anjo Guardião Soror Ilyarum, 300 Jeanine Medeiros Supervisão e Introdução Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
O
termo anjo guardião ou anjo da guarda é bem antigo. Através dele, o catolicismo ajudou a espalhar a crença de que cada pessoa, desde o nascimento, possui um guardião espiritual que lhe acompanha por toda a vida. O termo Sagrado Anjo Guardião na tradição thelêmica tem sido atribuído ao respeitado grimório medieval conhecido como A MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIN, O MAGO. Como falei no editorial, o limiar dessa experiência espiritual na A∴A∴ é conhecido como Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. Superficialmente, os iniciantes na Tradição de Thelema entendem essa experiência na forma de um diálogo interno e, de fato, nos primeiros estágios da iniciação tal diálogo – ou conversação – é fundamental para o crescimento interior, na medida em que se é possível estar confortável com a ideia de sermos guiados com sabedoria e amor por um guardião espiritual que nos transmite inúmeros conhecimentos. Mas esse diálogo que ocorre na forma de um despertar interior não descreve a experiência e nem mesmo no nome dela.1 O termo Conhecimento & Conversação indica uma intimidade profunda. E embora seja a experiência de um estado altamente lúcido de consciência, ela possui muitas características sensoriais e psicológicas da união sexual mais profunda com o Absoluto. No entanto, a natureza da experiência é de cunho pessoal e geralmente impossível de ser traduzida em palavras e segundo a Sabedoria dos Adeptos, trata-se do evento mais importante na vida de um iniciado. Perguntando a meu Superior na Ordem sobre a experiência de Tiphereth, ele disse: Não se trata de onanismo, mas de intercurso. Nas tradições rasacrucianas, essa experiência é simbolizada pela Rosa Cruz: não é a rosa ou a cruz que representam essa união divina com o Sagrado Anjo Guardião, mas a rosa sobre a cruz e em O LIVRO DA LEI, a referência ao Adepto que conquistou essa união é o título de Amante. Os qabalistas velaram essa experiência espiritual na palavra sod, que significa segredo. Estas três letras estão associadas aos Atus de Tahuti: Arte, uma figura angélica que corresponde a Sagitário, O Hierofante, o revelador dos mistérios e A Imperatriz, que é Vênus. O Anjo é tanto Professor quanto Amante. Trata-se, portanto, de uma experiência profundamente pessoal de união com o Absoluto. Quando o Estudante é admitido como Probacionista da A∴A∴, ele recebe O LIVRO DO CORAÇÃO CINGIDO COM A SERPENTE, que trata das relações do Aspirante com seu Sagrado Anjo Interessante notar que a palavra conhecimento e conversação têm conotações sexuais. Na BÍBLIA, Adão conheceu Eva, uma referência à união sexual. No Sec. XVI, a palavra conversação foi conectada ao conceito de adultério na união matrimonial, na época o termo utilizado sendo conversação criminal. 1
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Guardião2 e sobre o qual é aconselhado decorar um capítulo inteiro. Ao Probacionista recém-admitido, a linguagem de OS LIVROS SAGRADOS DE THELEMA pode ser obscura e uma das primeiras duvidas naturalmente é: o que exatamente é o Sagrado Anjo Guardião? Seria algum tipo de anjo ou entidade protetora? Ou seria algum tipo de projeção psicológica de nossas esperanças e aspirações, mas que expressa um aspecto profundo e inexprimível de nós mesmos, como Yechidah3 por exemplo? Para o Prabacionista, ou melhor, para o estágio de Probacionista, isso realmente não importa. No sistema da A∴A∴, a primeira experiência com o Sagrado Anjo Guardião ocorre no Grau de Neófito, quando ele experimenta a Visão do Sagrado Anjo Guardião. Até que essa experiência ocorra, qualquer relação estabelecida com o Anjo não pode ser assimilada e compreendida, tanto pela falta de conhecimento quanto pela falta de experiência e maturidade espiritual. Até como Neófito trata-se de uma experiência difícil de digerir. Mas não podemos generalizar, embora esse seja o curso natural. No entanto, a Visão do Sagrado Anjo Guardião não está associada a visões ou estados de transe. Trata-se da transformação do Nephesh4 de um estado errante, dissipado e ocioso em uma condição de atenção plena e unidirecionada a Palavra – ou Vontade – do Sagrado Anjo Guardião. Isso é reconhecido por um pleno estado de presença onde a mente do Neófito se encontra completamente clara e lúcida no presente, sem divagações. É a L.V.X.5 do Anjo se fazendo presente como um estado ou nível de consciência atento e alerta. Como Probacionista não importa se o Anjo é uma entidade fora de si mesmo. De todo modo, qualquer que seja a experiência, ela continuará íntima e intransmissível. A sensação de separatividade ou desconexão no início da jornada é comum a todos. É normal que o Probacionista se sinta separado ou desconectado de seu Anjo, seja lá qual for a forma. Sendo natural essa experiência dualista, o Pobacionista deve aspirar o Sagrado Anjo Guardião de qualquer maneira, seja como um encontro com uma parte não reconhecida de si mesmo ou um nível novo de compreensão. Crowley costumava dizer que essa é a mais sublime experiência da carreira iniciática. Ele dizia que um relance de momento nessa experiência é mais real que todos os acontecimentos da vida. O Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião ocorre em Bhiah, onde se encerra toda e qualquer noção de separação. Esta é a experiência que a A∴A∴ quer trazer a toda humanidade. Trata-se do próximo passo na evolução humana. Mesmo após a recepção de O LIVRO DA LEI, Crowley continuou buscando o propósito de sua vida. Ele havia proclamado ser o Príncipe e Apóstolo do Espaço Infinito e possuía a plena convicção de que tinha que ensinar a humanidade. Em suas próprias palavras, a resposta veio como um relâmpago dos céus.6 Essa resposta era ensinar o Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. No Aeon de Osiris, o ordálio central da iniciação estava conectado ao simbolismo da morte catastrófica, o sepultamento e a ressurreição. No Aeon de Horus, o aspecto central da iniciação é a Boda Alquímica, a união do Adepto com o Sagrado Anjo Guardião. Da mesma maneira, o Aeon de Horus trouxe profundas modificações na fórmula de iniciação do Adepto Menor. Abiegnus, a Montanha dos Adeptos, não se encontra mais simbolicamente situada em Tiphereth, mas em Binah. A Parede de Abiegnus «Vallvm Abiegni», agora se encontra de frente ao Abismo, onde passagem é garantida apenas pelos cinquenta portões de Binah, cada um sendo o Portão da Morte. 2 3
Aleister Crowley, THE EQUINOX, Vol. I, No. 10, 1913. A Unidade. O aspecto mais elevado da alma humana. O Absoluto.
4 Literalmente, alento. Mas a
palavra é usada para denotar a alma ou os aspectos mais densos da alma como os instintos e emoções. Às vezes chamado de Alma Animal. 5 Fórmula mágica central do Aeon de Osiris. É o nome latino para luz e se refere à luz da cruz. Veja o artigo THELEMA: UMA NOVA & AMARGA VERDADE. 6
Aleister Crowley, THE CONFESSIONS OF ALEISTER CROWLEY, p. 516. 7
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O Sagrado Anjo Guardião é como o Anjo da Morte. É a união com o Anjo que inicia o processo de preparação para o terríveo Ordálio do Abismo. Esta União Sagrada é, para aqueles que aspira a A∴A∴, a Coroa do Colégio Externo e uma Vida que, aos olhos do profano, é a Morte. É o primeiro passo em direção a Montanha de Zion.7 Pois Tu foste submetido aos Quatro: Cinco, você encontrará, porém Sete está solitário e distante.8 Frater ON120 Fernando Liguori
Eu incluo a instrução Angélica referida.9 Você notará que não existe nenhuma referência aberta a Convocação dos Espíritos.10 Mas algo do tipo é necessário, por alguma estranha lei. Tão breve tenha o Adepto obtido o Conhecimento e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, deve seguir em frente e encarar todas as legiões das Profundezas. Isso parece uma lei universal; na Operação Superior que você aspira, aquela que fará de você um homem chamado Mestre do Templo, notará que na medida em que o Adepto toma seu acento na escuridão inominável e indistinguível de N.O.X.,11 deverá ele cruzar o Abismo distante e se confrontar com o Senhor dos Príncipes das Abominações. 12
A
citação acima, de uma carta escrita e enviada por Crowley a Frank Bennett – conhecido como Frater Progradior – por volta de 1910 faz referência a Operação de Abramelin. Ao ler a primeira edição do THE EQUINOX (1909), Frank Bennett procurou as instruções de Crowley para executar a Operação Abramelin. Essa operação mágica é ensinada em O LIVRO DA MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIN, O MAGO, traduzida para o inglês de uma versão em francês por S.L. MacGregor Mathers (1854-1918) em 1898. O termo Sagrado Anjo Guardião vem dessa obra, especificamente a tradução de Mathers, onde encontramos: O Conhecimento de e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. O livro contém instruções em como se preparar e executar a Operação Abramelin com a finalidade – após a consecução com o Anjo – de convocar e comandar os espíritos malignos ou demônios contidos em uma série de quadraturas mágicas. A operação completa leva seis
A Sagrada Cidade de Deus em Binah, a Cidade das Pirâmides. Zion soma 156, o número de Babalon. Aleister Crowley, A VISÃO & A VOZ, 30° Aethyr. Clube dos Autores. As Forças Cegas dos Quatro Elementos ata os pés do não-iniciado. A consecução da iniciação em Tiphereth é a Coroa dos Quatro Elementos que provê ao Adepto a força necessária e o poder para superar a inércia da encarnação. Até Chesed, a viagem é longa e requer devoção da mais elevada ordem, além de outro conjunto de disciplinas. Nessa passagem existe um mistério acerca da palavra solitário que se conecta a iniciação do Adepto Exempto. 9 O manuscrito do até então não publicado LIBER 418: A VISÃO & A VOZ. 10 Crowley se refere a um estágio no desenvolvimento mágico onde, tendo recebido instruções de seu Sagrado Anjo Guardião, o magista deve conjurar e restringir os espíritos malignos. No LIVRO DA MAGIA SAGRADA DE ABRAMELIN, O MAGO, tais instruções encontram-se no Capítulo 14: Concernente a Convocação dos Espíritos. 11 N.O.X. aqui é uma referência a Noite de Pã. Crowley ensinava que após o Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, o aspirante deve cruzar o grande Abismo, governado pelo demônio Choronzon. Se neste momento crucial o magista conseguir sacrificar completamente o seu ego, conseguirá evitar a força de Choronzon sendo regenerado como um Bebê no útero de Babalon, esperando seu nascimento na escuridão da Noite de Pã. Veja o «Comentário (A)» em o «Sabbath do Bode» no LIVRO DAS MENTIRAS, Capítulo 1. 12 Aleister Crowley em carta enviada a Frank Bennett (1868-1930) em 2 de dezembro de 1910 e.v. 7 8
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meses, do preparo a execução.13 O aspirante ao ritual e a consecução espiritual é aconselhado, de maneira alguma, tentar convocar os demônios antes de obter sucesso no Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, no perigo de se ver subjulgado pelas forças infernais. Quando iniciamos a jornada no Caminho de Thelema, é muito normal e natural a dúvida aparecer: O que é o Sagrado Anjo Guardião? Como é o Sagrado Anjo Guardião? Bem, é impossível definir quem ou o que é exatamente o Sagrado Anjo Guardião. Quem quer que assim o faça é uma fraude! Aquelas pessoas que declaram de pulmões cheios sentenças como meu anjo disse, meu anjo me ensinou etc., da mesma maneira, estão enganando ou estão sendo enganadas. O Conhecimento e a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião imediatamente provoca a Experiência do Silencio. Trata-se de uma experiência profunda e sagrada velada na imagem da Rosa Cruz. Apenas quem passa pela experiência sabe o que ela significa. Tentar traduzi-la na linguagem da dualidade é velar ainda mais o Mistério, pois não existem palavras ou conceitos que possam definir o que exatamente é a experiência. Seria mais fácil definir o que o Anjo não é do que tentar processá-lo em rótulos ou conceitos. Em todo caso, o termo Sagrado Anjo Guardião é usado para denotar uma Entidade Transpessoal14 que atua como o Verdadeiro Guia do aspirante. Às vezes chamado de Eu Superior ou Gênio Pessoal. Popularmente, Anjo Guardião. Nenhuns desses termos são corretos ou satisfatórios. Conceitos similares são encontrados em outras filosofias. No Oriente temos o ātma do Vedānta e o puruṣa do Sāṃkhya. O Sagrado Anjo Guardião é um Arquétipo encontrado em muitos cultos e doutrinas ao redor do mundo. No entanto, qualquer classificação, seja onde for, falha em transmitir a Verdade por trás da experiência. LIBER LXI VEL CAUSAE, uma lição preliminar da A∴A∴, descreve como Frater Perdurabo (Aleister Crowley), por ordem de seu superior, Frater D.D.S. (George Cecil Jones – 18731960), estabeleceu a terminologia utilizada na Ordem: Assim, por ordem de D.D.S., P. preparou todas as coisas por sua ciência e sabedoria arcanas, escolhendo apenas aqueles símbolos que fossem comuns a todos os sistemas e rigorosamente rejeitando todos os nomes e palavras que supostamente implicassem em qualquer teoria religiosa ou metafísica. Descobriu-se que fazer isso por completo era impossível, já que toda língua tem uma história, e o uso (por exemplo) da palavra «espírito» implica na Filosofia Escolástica e nas teorias Hindu e Taoísta concernentes à respiração do homem. Então, era difícil evitar a implicação de alguma tendência ao usarem-se as palavras «ordem», «círculo», «capítulo», «sociedade», «irmandade», ou qualquer outra para designar o corpo de iniciados. Deliberadamente, então, ele tomou refúgio na indefinição. Não para velar a verdade ao Neófito, mas para adverti-lo contra valorizar o que não é essencial. Ouvindo o Candidato, então, o nome de um Deus, que ele não assuma precipitadamente que se refere a qualquer Deus conhecido, que não o Deus que somente ele mesmo conhece. Ou falando o ritual em termos (embora vagos) que pareçam implicar em filosofia Egípcia, Taoista, Budista, Indiana, Persa, Grega, Judaica, Cristã ou Mulçumana, que ele reflita que isto é um defeito da linguagem; a limitação literária e não o preconceito espiritual do homem P. Nós procuramos revelar o Arcanum; nós apenas o profanamos. 15
Na versão de Crowley para execução deste ritual na Abadia de Thelema, um período de três meses era requerido. Veja os diários mágicos de Jane Wolfe (1875-1958) e Frank Bennett. Veja LIBER SAMEKH. 14 Transpessoal significa além do pessoal. Quer dizer, completamente distinto do complexo ego-personalidade do Adepto. 15 LIBER LXI, 22-24. 13
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A Verdade transcende a razão. Dessa forma, a razão não pode defini-la. LIBER 418 informa que nossa falsidade é um pouco mais falsa do que a nossa verdade, mas mesmo por meio dessa verdade, poderemos todos nós alcançar a Verdade com «V» maiúsculo.16 Crowley passou grande parte de sua carreira iniciática tentando compreender a natureza do Sagrado Anjo Guardião e, através dessa compreensão, tentou ensiná-la. Nessa busca, seus escritos apontam especulações obscuras e às vezes uma clareza prístina e lúcida. No período em que esteve na Abadia de Thelema (1920-1923), ele começou a escrever sobre a relação existente entre Hoor-paar-Kraat e o Sagrado Anjo Guardião como a alma anã, a entidade secreta ou o instinto sexual: Hoor-Paar-Kraat ou Harpocrates, o Bebê no ovo Azul, não é meramente o Deus do Silêncio num senso convencional. Ele representa o Eu Superior, o Sagrado Anjo Guardião. A Conexão é como o simbolismo do Anão da Mitologia. Ele contém tudo em Si mesmo, mas é imanifesto.17
Frank Bennett, no período em que esteve com Crowley na Abadia de Thelema foi solapado por uma epifania ao receber de Crowley instruções sobre o Sagrado Anjo Guardião. Nessa ocasião, Crowley lhe ensinou que a iniciação trata-se de um processo em que o estrato subconsciente da mente torna-se consciente. Ele disse a Bennett que o subconsciente, para todos os efeitos e propósitos, é o Sagrado Anjo Guardião. Ele ainda acrescentou que o instinto/impulso sexual é de primordial importância ao subconsciente, pois os órgãos sexuais são em essência um símbolo físico de Deus no homem e o mais próximo que temos do Sagrado Anjo Guardião. A supressão dos impulsos sexuais é, portanto, é a supressão do Sagrado Anjo Guardião.18 Eu usei o termo epifania para denotar aquele estado de clareza e lucidez alcançado após uma sutil compreensão do Mistério. Isso está em concordância com a experiência vivida por Bennett e reflete minha posição pessoal acerca do processo de consecução com o Anjo. Após receber este ensinamento, Benneth foi arrebatado por uma compreensão clara de seu processo iniciático. Na época, ele passava por profundas repressões sexuais, nutrindo um forte sentimento de culpa por querer dar vazão a seus impulsos mais íntimos. A experiência, segundo Crowley, foi tão reveladora que Bennett se tornou outra pessoa. Ele se libertou dos grilhões sexuais que lhe assombraram durante um longo período de tempo e não apenas se tornou IX° O.T.O., mas atingiu o Grau de Adeptus Major (6°=5⌷) A∴A∴. Contra à Luz é o nome desse processo, dessa iniciação.19 É a LVX ou clareza da consciência inundando a escuridão do inconsciente, quer dizer, trazer o inconsciente à luz da consciência. Não se trata de um evento ou o contato com alguma entidade fora de nós mesmos, Veja LIBER 418: A VISÃO & A VOZ, 17° Aethyr. Veja também o artigo A RAZÃO & OS CÃES DO PORQUE de Fernando Liguori. 17 OS COMENTÁRIOS DO AL, I:7. 18 Veja PROGRADIOR & THE BEAST, de Keith Richmond. Veja também THE CONFESSIONS OF ALEISTER CROWLEY (pp. 885886), por Aleister Crowley. De todo modo, hoje o termo subconsciente é considerado inadequado, pois denota algo que está abaixo da consciência. O mais correto, segundo a psicologia moderna, é inconsciente. Nós estamos conscientes de algo ou não estamos, nesse caso, estamos inconscientes. 19 No presente contexto é importante definir o que é iniciação. Tradicionalmente, o termo iniciação denota progresso espiritual. Sinônimos existem aos montes: Grande Obra, Iluminação, Caminho etc. Sobre o tema Crowley escreveu em uma carta endereçada a Wilfred T. Smith (1885-1957) em 1934: O Mestre Therion avisa a todos os Aspirantes que buscam a Sabedoria Sagrada e a Magia da Luz que a iniciação não pode ser comprada ou até mesmo conferida; ela deve ser conquistada por esforço pessoal. Essa passagem nos leva a inferir: i. a iniciação só pode ser conquistada por esforço pessoal; ii. a verdadeira iniciação sempre ocorre na forma de experiência direta do mistério; iii. a iniciação jamais pode ser conferida por terceiros, seja na forma de palavras de passe, símbolos, rituais ou qualquer outra coisa. Neste último ponto, um professor somente pode nos ajudar apontando uma direção, nos auxiliando a evitar armadilhas. Como ensinado em LIBER LXI: Embora ninguém possa comunicar o conhecimento ou o poder para realizar isto que nós podemos chamar a Grande Obra, é, todavia, possível que os iniciados guiem outros. Todo homem deve superar seus próprios obstáculos, expor suas próprias ilusões. Porém, outros podem 16
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mas a aquisição de clareza e compreensão sobre os profundos estratos da mente inconsciente. Sem essa clareza, essa lucidez prístina que se manifesta no dia-a-dia, é impossível realizar com proficiência qualquer incursão qliphótica. Trata-se portanto, de um nível de consciência, na minha própria experiência. A instrução Angélica enviada a Frank Bennett é conhecida como LIBER VIII e trata-se de uma invocação adequada ao Sagrado Anjo Guardião. Eu reproduzo abaixo: 000. A Luz é vinda da Escuridão e a Escuridão é feita de Luz. É então a luz casada com luz, e a criança de seu amor é a outra escuridão, onde habitam os que perderam o nome e forma. Consequentemente eu acendi o que não pode ser compreendido, e no Livro da Lei eu escrevi os segredos da verdade que são como uma estrela e uma serpente e uma espada. 00. E a ele que entende finalmente entrego os segredos de verdade em tal sábio que a menor das pequenas crianças da luz possa correr aos joelhos da mãe e ser portado a fazer entender. 0. E assim será feito por quem queira alcançar o mistério do conhecimento e a conversação do seu Sagrado Anjo Guardião: 1. Primeiro deixe-o preparar uma câmara na qual as paredes e o teto sejam brancas e o piso coberto com um tapete quadriculado de preto e branco com a borda das cores azul e dourado. 2. E, se estiver numa cidade, a sala não deverá possuir janelas, estando no campo, a janela será no teto. Ou, se possível for, o templo deverá ser preparado para a realização do ritual de passagem através do Tuat. 3. No teto pendurará uma lâmpada, de é um vidro vermelho, para queimar o óleo de oliva. E essa lâmpada será limpa e preparada após a oração do poente e, abaixo dela, haverá um altar cúbico e a altura será metade ou o dobro da largura. 4. E sobre o altar estará um incensário, semi-hesférico, apoiado em três pernas feitas de prata e dentro uma semi-esfera de cobre e no topo, uma grade de prata doirada e em seguida deverá ele queimar um incenso feito de quatro partes de olibano e duas partes de liquidambar uma parte de babosa ou cedro ou de sândalo. E isto é o suficiente. 5. E ele também deixará preparado em um frasco de cristal no altar, óleo santo, consagrado de mirra e canela e galanga. 6. E mesmo sendo de grau mais elevado do que o de Probacionista, o robe de um deverá usar, pois a estrela de fogo mostra Ra-Hoor-Khuit abertamente sobre seu peito e, secretamente, o triângulo azul descendente é Nuit e o vermelho ascendente é Hadit. E eu sou o dourado Tau entre suas bodas. Também, se for de sua escolha, poderá usar um roupão fechado de seda de tiro, púrpura e verde um manto sem mangas, de luminoso azul, coberto com cequins dourados, e escarlate. 7. E ele fará uma baqueta de madeira de amêndoa ou castanha tirada por suas próprias mãos ao alvorecer do Equinócio ou ao Solstício ou no dia de Corpus Christi ou em um dos dias de festa indicados no Livro da Lei. 8. E ele gravará com a própria mão sobre a prata doirada a Sagrada Mesa de Sete Partes ou a Sagrada Mesa de Doze Partes ou algum dispositivo pessoal. E deverá ser enquadrado em um círculo e o círculo será alado e ele irá prendê-lo sobre a sua testa por uma tira de seda azul. 9. Além disso, ele usará um filete de louro ou rosa ou hera ou arruda e, diariamente, após oração de amanhecer, irá queima-lo no fogo do incensário. 10. Agora rezará três vezes por dia, sobre o por do sol, e na meia-noite, e no nascer do sol. E se puder, rezará igualmente quatro vezes entre o nascer do sol e o por do sol. ajudá-lo a fazer ambos, e eles podem torná-lo completamente apto a evitar muitos dos falsos caminhos que não levam a lugar algum, os quais tentam os pés cansados do peregrino não iniciado. Eles podem, além disso, assegurar que ele seja devidamente provado e testado, pois há muitos que pensam ser Mestres, os quais sequer começaram a trilhar o Caminho do Serviço, que para lá conduz. Em um comentário sobre O LIVRO DA LEI (I:8), Crowley diz: A Grande Obra, portanto, consiste principalmente na solução de complexos. Sobre o tema iniciação, veja o Artigo A INICIAÇÃO NO AEON DE HORUS, por Fernando Liguori. 11 Sociedade de Estudos Thelêmicos
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11. A prece deverá ser realizada no espaço de uma hora pelo menos e ele procurará aumentar o tempo e inflamar-se orando. E assim ele deve invocar o seu Sagrado Anjo Guardião no período de onze semanas e orar sete vezes por dia durante a última das onze semanas. 12. E durante todo esse tempo ele fará uma invocação tão satisfatória, com tanta sabedoria e compreensão quanto possam ser dados pela Coroa, devendo escrevê-la em letras doiradas em cima do altar. 13. O topo do altar será de madeira branca, bem polida, e no centro colocará um triângulo de carvalho, pintado na cor escarlate e sobre este triângulo, as três pernas do incensário devem ficar. 14. Além disso, ele escreverá sua invocação em uma folha de puro pergaminho branco, com tinta Indiana, e ele a iluminará de acordo com sua imaginação e fantasias que serão fornecidos pela beleza. 15. E no primeiro dia da décima segunda semana ele entrará na câmara ao amanhecer e fará sua prece, tendo antes queimado o conjuro feito sobre a folha no fogo da lâmpada. 16. Então, por graça da sua oração, deverá a câmara ser preenchida com luz insuportável para esplendor e um perfume intolerável para doçura. E seu Sagrado Anjo Guardião aparecerá para ele, sim, o seu Sagrado Anjo Guardião aparecerá para ele de forma que penetrará nos Mistério de Santidade. 17. E todos os dias ele permanecerá no prazer do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. 18. E durante os três dias seguintes permanecerá no templo do nascer ao pôr-do-sol e obedecerá as determinações que seu Anjo lhe passar e sofrerá dessas coisas que a ele são designadas. 19. E por dez dias irá se retirar como dito a ele pela completividade da comunhão, para que possa harmonizar o mundo que está dentro com o mundo que está fora. 20. E ao final dos noventa e um dias deverá ele retornar ao mundo e lá realizar a obra para a qual o Anjo o terá designado. 21. E mais do que isto não é necessário dizer, pois seu Anjo pedirá amavelmente e mostrará de que maneira ele poderá estar mais completamente comprometido. E até que ele consiga encontrar esse Mestre não há mais nada de que necessite, enquanto continuar no conhecimento e conversação do Anjo, para que adentre, afinal, na Cidade das Pirâmides. 22. Lo! Dois e Vinte são os caminhos da árvore, mas uma é a serpente da sabedoria; dez são as emanações inefáveis, mas uma é a espada flamejante. Observe! Há um fim a vida e morte, um fim ao empurrão adiante e a retirada da respiração. Sim, a Casa do Pai é um túmulo poderoso, e nele enterrou tudo de que sabeis. 20
No verão de 2005 eu passava por um transtorno espiritual muito grande. Durante várias noites e dias sofri com uma terrível dor de cabeça. Minhas entradas no diário mágico, naquele período, sempre começavam com a sentença: «a dor de cabeça não passa». Médico nenhum dava jeito no problema que parecia se agravar cada vez mais. Pelos registros no meu diário mágico as dores começaram no dia 27 de dezembro e terminaram no dia 15 de janeiro. Foram dias de inferno. Mas quando tudo passou e pensei estar mais aliviada comecei a sentir uma dor ainda maior, um sofrimento infernal por estar encarnada no mundo. Quando relatei a meu superior direto, Frater ON120, o dilema em que me encontrava através de um e-mail de 6 de janeiro, ele me respondeu:
THE EQUINOX, IV:1. Esse foi o ritual enviado a Frank Bennett na carta de 2 de dezembro de 1910, não o ritual que ele executou na Abadia de Thelema, que foi o Ritual Samekh. 20
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Tudo o que escreveu, me parece, tem ligação direta com o trabalho na Ordem Externa, 21 que pode ser descrito como o Homem vs o Mundo. O mundo parece uma força a ser superada, uma força carregada de sofrimento, desapontamento, fadiga de todos os tipos, estresse e ansiedade. Isso resume o Grau do Homem da Terra, a Visão do Sofrimento.
Um dos maiores obstáculos à iniciação é a identificação com o «mundo dos profanos» ou a imagem fatal da natureza. Para clarear o tema que introduzi no início, Éliphas Lévi descreveu a alma humana como uma «luz velada» composta de Neshamah «intuição»,22 Ruach «razão» e Nephesh «paixões».23 Em sua interpretação da doutrina do Tzelem «imagem», Lévi24 diz que o véu da alma é a «casca» da imagem. Essa imagem é dupla e reflete o «anjo bom» ou Sagrado Anjo Guardião e o «anjo mal» ou Persona Malígna. No jargão da Qabalah, o anjo bom é identificado com Michael e o anjo mal com Samael. A «casca», quer dizer, os Qliphoth, são refletidos tanto no Nephesh como no Ruach.25 A tarefa do Neófito é, portanto, não tornarse vítima do efeito magnético da Persona Malígna, Sombra ou os traços negativos da personalidade. A Persona Malígna manifesta ou refletida no Nephesh é a imagem fatal da natureza, que Lévi diz inundar o Nephesh com seus atributos desequilibrados. Todavia, o Ruach pode interferir nesse processo, inundando o Nephesh também com seus atributos e a inspiração proveniente de Neshamah, trocando as imagens: a Persona Malígna pelo Sagrado Anjo Guardião. Todavia, o Neófito na A∴A∴ é encorajado a ignorar ambas as imagens no seu processo de iniciação, pois em Malkuth elas não passam de detritos fantasmagóricos, na medida em que o Ruach não tem os meios para distinguir entre elas, uma vez que uma possui elementos da outra, quer dizer, uma casa de espelhos que refletem verdades e mentiras. Meu superior na Ordem sempre insiste que os LIVROS SAGRADOS DE THELEMA revelam a sabedoria mais sutil do Sagrado Anjo Guardião. No LIBER LVX, o Sagrado Anjo Guardião chama a si mesmo de «a Imagem de uma Imagem».26 É por isso que o Espelho Mágico é atribuído à letra hebraica Qoph, a Lua e aos fantasmas dos Qliphoth. No processo da iniciação, a identificação com a imagem fatal da natureza ou o mundo dos profanos produz – cedo ou tarde – um fenômeno conhecido como noite escura da alma. A natureza desse processo difere de iniciado para iniciado, dependendo de seu caráter intelectual e emocional. Mas a imagem comum do processo é um período de tristeza profunda, dificuldades de todos os tipos, prostração, indignação, revolta e desespero. As práticas espirituais tornam-se penosas e a simples ideia de persistência nelas torna-se aborrecedora ao extremo. A jornada espiritual que deveria ser uma aventura de bem-aventurança e regozijo se torna o julgo da escravidão. A fonte de inspiração que antes jorrava abundantemente seca e o resultado é uma experiência de inatividade árida e a depressão. A luz que antes iluminava o túnel escuro se apaga e o que sobra é escuridão. No Solstício de Verão de 2005 eu engajei na execução diária de LIBER SAMEKH de acordo com as instruções de meu superior na Ordem. As práticas incluíam a execução de Aqui, uma referência direta aos primeiros Graus da A∴A∴, mas relacionados a Malkuth, correspondendo ao Nephesh ou Alma Animal e a letra He «h» final de hvhy «IHVH». 22 Que ele descreveu como «espírito puro» ou «aspiração elevada». 23 Também identificado como «mediador plástico». 24 Lévi descreve a doutrina do Tzelem como «uma esfinge que propõe o enigma da vida». 25 O Ruach «espírito» ou «alento». Um aspecto da Alma Humana ou a faculdade do intelecto. 26 LIBER LXV, I:8. 21
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rituais thelêmicos como o RITUAL DA ESTRELA DE SANGUE,27 o RITUAL SAFIRA ESTRELA,28 O RITUAL DA MARCA DA BESTA,29 Liber Samekh, āsana, prāṇāyāma e dhāraṇā.30 Segue um extrato de meu diário da época: 27 de dezembro 5:00: Acordei com uma terrível dor de cabeça. 5:00-5:30: Acordei. Higiene pessoal (banho frio-quente), jala-neti,31 língua,32 água com limão.33 5:30-6:30: Rubi [Estrela], Safira [Estrela], Reguli e Samekh. Formigamento intenso na nuca e [na região do] sahasrāra-cakra no Samekh. 6:30-7:30: Āsana, prāṇāyāma e dhāraṇā: 6:30-7:00: Sūrya [Namaskā]34 6 ciclos (10 minutos) e Kāya [Sthairyam]35 em svās36 (20 minutos). 7:00-7:15: N[āḍī] Śo[ddhana].37 7-15-7:30: Dh[āraṇā]: pañcatattva - pṛthivī.38 Durante Kāya foi impossível tirar minha atenção da região da cabeça, que latejava muito. Pelo menos não pensei em mais nada. Mas durante o prāṇāyā senti um alívio confortante. Dh[āraṇā] foi impossível, a cabeça latejava muito. Fortes arrepios na nuca e tremor nas penas no Samekh. 7:30: Voltei a dormir. 9:10: Café da manhã: Pão integral com mel e suco de limão sem açúcar. 9:30: Estudo dos COMENTÁRIOS DO AL de M[estre] T[herion]. 12:00: Samekh e prāṇāyāma: 12:00-12:25: Tudo no Templo Astral. 12:25-13:00: Prāṇāyāma: N[āḍī] Śo[ddhana]. Formigamento intenso na nuca e novamente. Muita dor na cabeça. 13:15: Almoço: Arroz integral, lentilhas, legumes cozidos sem sal. Suco de limão sem açúcar. 14:00: Dormi após o almoço. 15:10. Leitura dos COMENTÁRIOS DO AL e L[ivros] S[agrados] [de Thelema]. 18:00: Samekh e prāṇāyāma: 18:00-18:22: Tudo no Templo Astral. 18:25-19:00: Prāṇāyāma: N[āḍī] Śo[ddhana]. Formigamento. Dor de cabeça. 19:15: Jantar: Caldo de mandioca. Pouquíssimo tempero. 20:00: Ajeitei o quarto. Acabei de arrumar o altar no centro da sala. Ficou bom. Consegui tirar bastante coisas e o espaço ficou amplo. LIBER XXV. LIBER XXXVI. 29 LIBER V. 30 Respectivamente, postura, prática respiratória e concentração pura. 31 Limpeza nasal com água e sal. 32 Um procedimento de purificação yogī conhecido como jihva-dhauti. Trata-se da retirada de toxinas da língua. 33 Solução que purifica o organismo: água morna, uma pitada de sal e meio limão espremido. 34 Saudação ao Sol, como é mais conhecida. Trata-se da execução de doze posturas de yoga encadeadas com a respiração em um fluxo contínuo, rítmico e constante. 35 Literalmente, firmeza corporal. A prática envolve a consciência total na estabilidade e serenidade de todas as partes do corpo. Por sua vez, a técnica também traz a estabilidade da consciência, o que é necessário e essencial para qualquer sessão de meditação. 36 Svāstikāsana, postura clássica de meditação no yoga. 37 Técnica respiratória «prāṇa-nigraha» de purificação e equilíbrio energético dos canais de energia «nāḍīs». 38 Técnica de concentração nos tattvas. Neste caso, pṛthvī = terra. Nesta técnica, especificamente, a concentração é feita sobre o corpo físico, cujo elemento é terra-matéria, onde a estrutura do átomo é dissecada completamente através de uma visualização concentrada conduzida. 27 28
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22:00: Samekh, prāṇāyāma e dhāraṇā: 22:00-22:28: Tudo no Templo Astral. Formigamento intenso. A sensação da nuca pegando fogo. 22:30-23:00: N[āḍī] Śo[ddhana]. 23-00-23:20: Dh[āraṇā]: pañcatattva - pṛthivī. Dor de cabeça bem mais amena. Apenas pontadas. Vem e vai. 23:45: Fim do dia. Cama.
As anotações sobre esse período de prática dedicado a realização do RITUAL SAMEKH se iniciam no dia 21 de dezembro, Solstício de Verão e terminam no dia 28 de fevereiro. Segundo as orientações tradicionais, o RITUAL SAMEKH leva onze meses do preparo a execução e LIBER VIII noventa e um dias. Eu tinha a minha disposição o período de férias da faculdade e a oportunidade de estar sozinha no apartamento devido à viagem de meus parentes. Eu havia passado um mês treinando o ritual, pois sua correta execução é no corpo de luz. Durante o período de retiro e prática eu o executava fisicamente apenas pela manhã e as outras duas vezes no dia em meu Templo Astral. No dia 28 de fevereiro eu executei a Grande Operação. Meu isolamento era quase que completo. Como não possuía nenhum ajudante, às vezes tinha de sair para comprar alimentos. Mas isso não me atrapalhava. Embora no início as dores de cabeça fossem quase infernais e no final minha vontade pela vida já havia desaparecido, quando saia conseguia manter um estado de harmonia na mente bem estável. Na última semana, contudo, me isolei completamente para a realização do ritual final. O principal propósito do Ritual é estabelecer a relação do ser subconsciente com o Anjo de tal forma que o Adepto fique cônscio de que seu Anjo é a Unidade que expressa a soma dos Elementos daquele Ser; de que sua consciência normal contém inimigos estranhos introduzidos pelos acidentes do seu meio ambiente e que seu Conhecimento e Conversação do Seu Sagrado Anjo Guardião destrói todas as dúvidas e ilusões, confere todas as bênçãos, ensina toda a Verdade e contém todos os deleites. Mas é importante que o Adepto não permaneça na mera realização inexpressiva da sua ruptura, mas se esforça por fazer com que a relação se submeta a análise; por expressá-la em termos racionais, desta forma iluminando sua mente e coração de uma maneira tão superior ao entusiasmo do fanático quanto à música de Beethoven é superior aos tambores de guerra da África Ocidental.39 Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio. Também tu estás além das estabilidades do Ser e da Consciência e do Êxtase; pois eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio. Também tu discorrerás sobre estas coisas para o homem que as escreveu, e ele compartilhará delas como um sacramento; pois eu que sou tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no vazio.40
Na genuína experiência com o Sagrado Anjo Guardião, até mesmo em sua forma mais rudimentar, como ocorre ao Neófito, um abismo colossal se abre entre o Homem e Deus. Esse abismo é tão vasto que os sentidos ficam atordoados que se tornam inúteis à utilização do Amado. Isso ocorre porque a psique possui uma tendência bipolar. O encontro com o Divino estremece as profundezas da personalidade humana. Assim, a experiência inicial da Visão do Sagrado Anjo Guardião pode constelar seu oposto, a Sombra. Dependendo da natureza e caráter do aspirante, essa experiência pode ser intensificada.
39 40
LIBER SAMEKH, comentário da Seção G. LIBER LXV, V:23-25. 15
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Ah! mensageiro do Bem Amado, que a Tua sombra esteja sobre mim! Teu nome é Morte, pode ser, ou Vergonha, ou Amor. Então se tu me trazes notícias sobre o Bem Amado, eu não perguntarei o teu nome.41
Os Irmãos da A∴A∴ consideram a noite escura da alma como uma Graça, não uma maldição, pois se trata de um processo de purificação interior, «uma purgação da alma», como diz meu Superior na Ordem. Todos os místicos do passado concordam que este é um estágio necessário no caminho espiritual. Na Alquimia, este processo corresponde a uma grande parte do trabalho alquímico conhecido como Nigredo.42 Em um nível psicológico, o Nigredo é o encontro com a Sombra, os aspectos negativos da personalidade. Na linguagem da A∴A∴ esse é o período onde Osíris, o Deus Negro, confronta seu reflexo no espelho mágico. Todos nós temos de enfrentar os aspectos mais obscuros de nós mesmos antes de executar a Grande Operação e transmutar o chumbo da personalidade no ouro do espírito. A execução desse processo é a Iniciação do Sol da Meia Noite43 que Crowley associou ao Atu XVIII, A Lua. Foi um período de muito entendimento e cura espiritual, fundamental a minhas experiências com o Tarot das Sombras e incursões qliphóticas. O esguicho de estrelas jorra da cabeça do Símbolo de Vontade, e espalha-se pelo céu em galáxias brilhantes. Esta dispersão destrói a concentração do Adepto, cuja mente não pode dominar uma tal multiplicidade de majestade; em via de regra, ele simplesmente desde atordoado à normalidade, para não recordar de sua experiência senão uma repetição o fortifica para realizar a natureza da sua consecução; e ser sensitivo à sua Santa presença e persuasão. Mas pode ocorrer, especialmente após repetido sucesso, que o Adepto não seja mais arremessado de volta à sua mortalidade pela explosão do jorro de Estrelas; mas seja identificado com um Leão-Serpente particular, continuando cônscio deste até que este ache seu lugar apropriado no espaço, quando então seu ente ache seu lugar apropriado no espaço, quando então seu ente secreto floresce como uma verdade, a qual o Adepto pode levar de volta à terra consigo. O Adepto deveria ter percebido que seu Ato de União com o Anjo implica na morte de sua mente antiga, salvo quando ao que os elementos inconscientes dele preservam da memória dela quando a absorvem, e na morte desses elementos inconscientes mesmo. Mas a morte destes é antes um progresso avente para renovação de vida através de amor. Então o Adepto, pela consciente compreensão desses elementos, tanto de cada um deles em separado quanto em conjunto, torna-se o «Anjo» de seu Anjo, tal como Hermes é a Palavra de Zeus, cuja voz própria é Trovão. 44
Amor é a lei, amor sob vontade.
41
LIBER LXV, II:33-34.
42 O trabalho alquímico é dividido em três partes: Nigredo «enegrecimento», Albedo «branqueamento» e Rubedo
«vermelhidão». Estas três fases do trabalho alquímico correspondem às três Ordens da A∴A∴: G.D., R.R. et. A.C. e S.S. 43 Não confundir aqui com os Portais de Binah e a tarefa do Bebe no Abismo. Aqui estamos lidando com os mistérios da Ordem Externa. 44 LIBER SAMEKH, comentários da Seção G e Gg. 16 Sociedade de Estudos Thelêmicos
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A Meditação & o Sagrado Anjo Guardião Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.
M
uito poderia ser dito acerca do Yogasūtra, mas isso vai além de nossas intenções nesse capítulo de nossa jornada. Após essa breve introdução a obra que inaugurou a escola do yoga, nossa intenção aqui é chamar sua atenção para alguns termos fundamentais que poderão fazer-lhe compreender o yoga e o melhor, poderão lhe auxiliar a colocar a prática do yoga, quer dizer, a meditação, em ação. Esses termos são: yoga, puruṣa, prakṛti, citta e vṛtti. Por yoga nós compreendemos união, mas um tipo distinto de união, mais sutil ou espiritual. A raiz da palavra, yeug, significa juntar, unir ou até laçar. Mas o que pretende se unir? Crowley gostava de utilizar a expressão unir o sujeito ao objeto ou unir os opostos, uma referência a cessação da consciência de dualidade. Os autores modernos de yoga mais inclinados a prática mística consideram que se trata de uma união com o Sagrado em nós, quando a consciência egóica individual se dissolve na consciência do Absoluto. De toda maneira, o rótulo para essa experiência mística não importa, pois a experiência pessoal é a única capaz de dotar-lhe com o conhecimento de que precisa sobre o tema. Portanto, a prática é um requisito fundamental no processo. Patañjali diz que a prática do yoga é como um pássaro que precisa de duas asas para voar. Uma delas é a disciplina, a repetição. A outra é o desapego ao resultado da prática e O LIVRO DA LEI já diz: Pela vontade pura, desaliviado de propósito, livre do desejo de resultado, é cada caminho perfeito.45 Por definição, yoga é prática, não filosofia. De certa maneira, yoga como união se relaciona com a palavra religião, da raiz religare, tratando-se, portanto, de uma conexão espiritual mais profunda que no misticismo thelêmico chamamos de Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. O puruṣa é o que os thelemitas compreendem por Sagrado Anjo Guardião, que é o mesmo ātman dos vedāntins ou o Śiva da cultura tântrica. A Unidade ou Centro de Luz, o âmago mais profundo de cada um de nós, intocado pela dualidade, que envolve os mistérios da prakṛti. A prakṛti, por outro lado, representa a Natureza como a conhecemos. O corpo físico, por exemplo, é parte da prakṛti, embora a maioria de nós goste de pensar que somos o corpo, os pensamentos, o prāṇa, as aflições e emoções, os medos etc. No entanto, tudo isso, absolutamente tudo isso, faz parte da prakṛti, salvo o puruṣa ou Sagrado Anjo Guardião. Dessa maneira, o puruṣa tem sido considerado àquele-que-vê e a prakṛti àquilo-que-é-visto, O puruṣa é a Consciênia Eterna, o Não-Nascido que somente observa ou testemunha a Natureza e todas as experiências derivadas dela. Outra analogia para esses termos é que o puruṣa é considerado o Espírito enquanto que a prakṛti é considerada a Matéria. No misticismo thelêmico, puruṣa é Hadit, o Centro e prakṛti é Nuit, a Circunferência. Nesse entendimento, o que nós somos verdadeiramente é a Consciência Eterna do puruṣa, não tudo o que está ao nosso redor e as experiências derivadas de nossa interação com a Natureza. Mas a maneira mais descomplicada de entender isso, caso você seja um iniciante no yoga e deseja praticálo, é que existe você e existe o resto que não é você. O seu entendimento acerca de si mesmo muda com o tempo, não se preocupe.
45
LIBER AL, I:44. 17
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Outra palavra importante em nossa jornada por esse capítulo é citta, um termo sânscrito que têm sido traduzido como mente em toda sua estrutura e funções. De forma mais precisa, as memórias. Mas uma vez que citta tem sido usada para indicar o construto material total da mente, muitos autores têm traduzido a palavra por consciência, como uma substância. Os alquimistas concordam com os yogīs que a mente é formada por um construto material que eles chamam de Mercúrio – um símbolo astrológico da mente – ou nossa água. A mente flui, se movimenta, se ramifica, se bifurca, se contorna, envolve, enreda etc., da mesma maneira que a água. Por conta dessa característica, citta tem sido convenientemente traduzida como corrente em movimento. Por sua vez o movimento da mente tem sido associado ao sêmen ejaculado. Os budistas dizem que o sêmen é a mente em movimento. A contenção seminal, brahmacarya, como compreendida em algumas tradições yogīs de inclinação mais ascética é, portanto, fundamental para estabilização da mente. Os vṛttis, finalmente, são as atividades na estrutura material da mente, formas e estados que citta assume como pensamentos, emoções, impulsos, reações e atitudes. Literalmente, vṛtti é turbilhão. São os turbilhões que assolam a nossa mente todo instante e refletem como um espelho a verdadeira natureza dela. Patañjali enumera cinco vṛttis fundamentais que são os responsáveis por todos os citta-vṛttis ou modificações que sugem na substância mental.46 Todos os nossos penamentos, palavras, emoções, sonhos, símbolos etc. são vṛttis. Arquétipos abstratos através dos quais os símbolos emergem. Esse é o conteúdo fundamental da psique e a forma primordial adotada pela consciência. Patañjali define a prática do yoga da seguinte maneira: yoga citta vṛtti-nirodha, quer dizer, yoga é o controle das flutuações da consciência. Algumas traduções interessantes são: yoga é a restrição dos turbilhões da mente ou yoga é o aquietamento das ondas mentais. Ele continua: Então o Observador [o puruṣa] se estabelece em sua própria natureza. Caso contrário, ele [o puruṣa] considera a atividade [os vṛttis] da mente como sua forma. Ou seja, para se conquistar àquela união ou Conhecimento & Conversação com o Sagrado Anjo Guardião, nós temos de controlar os turbilhões de nossa mente. Nós temos de controlar a estrutura material da mente, a substância mental, evitando que ela tome a forma dos vṛttis através de pensamentos, emoções, imagens etc. Precisamos aquietar esses turbilhões mentais aprendendo a como desenvolver um estado de consciência onde eles não existam. Esse estado é a própria visão do puruṣa, intocado pelas atividades da mente. Esse é o estado da Verdadeira Vontade. A prática do yoga, assim, vagarosamente descortina este estado eterno no processo da meditação, até que finalmente desperte o Gênio. Baseando-me na definição de Patañjali, eu desenvolvi uma de minhas muitas definições acerca da magia: Magia é a Ciência e a Arte de causar Mudança na Mente «citta» para que ela assuma uma forma «vṛtti» de acordo com a Vontade. Amor é a lei, amor sob vontade. Esse texto foi retirado da Lição 3.1: O Yoga de Aleister Crowley do Curso de Misticismo Thelêmico. O curso Misticismo Thelêmico: Meditação em Teoria & Prática é uma jornada através do sistema mágico e místico da A∴A∴ com foco na harmonização das funções da mente e o unidirecionamento de suas energias através da prática meditativa segundo as interpretações e ensinamentos de Aleister Crowley. O curso é um extenso comentário acerca de dois significantes trabalhos de Crowley: Oito Lições em Yoga e Misticismo (Livro Quatro, Parte I), que serão publicados na íntegra nas lições do curso. Este curso ainda contém vídeo-aulas explicativas que você poderá acessar diretamente no You Tube.
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Veja O OLHO DE HOOR, Vol. I, No. 1 para um estudo destes vṛttis detalhadamente. 18
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Notícias da Linha de Frente Curso de Meditação O curso de meditação da SETh ainda está com as inscrições abertas. Sua participação no curso requer algumas condições: 1. Caso você seja aluno direto de Frater ON120 na A∴A∴, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 2. Caso você seja membro do Colegiado da Luz Hermética, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 3. Caso você tenha adquirido as obras de Frater ON120, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 4. Caso você não se enquadre nas três condições acima, será necessário pagar uma taxa de R$93 para participar do curso. Para fazer seu cadastro ou para se inscrever como ouvinte no curso, entre em contato com o editor do Corrente 93. Robes de qualidade A Sociedade de Estudos Thelêmicos disponibiliza robes de qualidade para os Irmãos da A∴A∴, Ordo Templi Orientis e outras organizações thelêmicas.
Robe do Probacionista R$280. Robe do Neófito: R$230. Robe do Zelator: R$230.
Robes com características distintas podem ser encomendados. Entre em contato com o editor do Corrente 93 e faça um orçamento sem compromisso. Os robes são em alta qualidade, de brim e bordados bem detalhados.
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A Lança & o Graal A magia sexual de Aleister Crowley opera através de duas forças conhecidas como Caos e Babalon. Caos é a Força ou Energia Criadora Paterna primordial representada pelo Falo no homem. Ele é idendificado ao astro Sol como o Senhor na Missa Gnóstica. Babalon é a Força ou Energia Materna geratrix primordial representada pelos símbolos do Útero, a Vulva, a Mulher e a Terra. No sistema thelêmico de magia sexual, a Mulher é o veículo que nutre a Palavra do Genitor com seu Poder Gerador. Através da União de Caos e Babalon, nasce a Criança Mágica Baphomet. Nós estamos entrando no Equinócio de Primavera de 2016 e.v. O ano 2012 e.v. foi muito importante para muitos iniciados, pois marcou o início de uma reificação na Terra das forças espirituais do Novo Aeon. No entanto, o resgate espiritual dessas forças dentro de cada um de nós depende da aplicação de certas chaves ou fórmulas mágicas. Uma dessas fórmulas, conhecida como Corrente Ofidiana, tem sido considerada das mais eficazes no estabelecimento das forças do Novo Aeon na consciência humana. O livro A Lança & o Graal cumpre o objetivo de agregar em uma só publicação os textos acerca do sistema de magia sexual proposto por Aleister Crowley previamente publicados nas edições do Jornal Corrente 93 da Sociedade de Estudos Thelêmicos. Para adquirir seu exemplar, clique aqui. Curso Cakra Sadhana Entre os Ocultistas nos últimos cinquenta anos tem havido uma tentativa em estabelecer uma equivalência entre as Sephiroth da Árvore da Vida e os cakras da cultura tântrica. Se a Árvore da Vida contém tudo em nosso Universo, tanto acima quanto abaixo, deve haver algum lugar nela que os represente. Uma vez que tenha se aceitado que existe uma equivalência entre as Sephiroth e os cakras, logo nasce a indagação acerca da relação entre os vinte e dois Caminhos – os Atus de Tahuti – e as Sephiroth ou zonas de poder. Estes Caminhos, entretanto, foram relacionados às nāḍīs dos ensinamentos tântricos. Nāḍī é um termo sânscrito que significa torrente ou fluxo, quer dizer, aquilo que flui livremente. Este é o nome dado aos canais por onde circula o prāṇa ou energia vital. Eles conectam os cakras e levam energia as diversas partes do corpo psíquico e sua contraparte física. Os cakras são casas de energia e literalmente a palavra significa roda. No entanto, toda a doutrina do Tantra acerca da estrutura psíquica «cakras, nāḍīs, kuṇḍalinī» e a maneira correta de manipulá-la envolve o conceito de Śakti, a Deusa. Śakti é uma palavra sânscrita que significa poder, mas para todos os efeitos, em estado potencial. Existe uma parábola nos tantras que diz que no Infinito, antes da criação, a Deusa dividiu-se em dois estados conhecidos como Mente e Corpo. A essência da Deusa repousa eternamente no 20 Sociedade de Estudos Thelêmicos
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ājñā-cakra, de onde ela começa a se projetar para baixo, vibrando «spandana» em direção a terra na busca por seu Corpo. Nesse processo, a Śakti cria diferentes estados de realização, os cakras, começando pelo viśuddhi, atribuído ao Espírito, o anāhata, atribuído ao Elemento Ar, o maṇipūra, atribuído ao Elemento Fogo, o swādhisṭhāna, atribuído ao Elemento Água e o mūlādhāra, atribuído ao Elemento Terra. Ao fazer de sua morada o mūlādhāra-cakra, o processo de criação se encerra e a Śakti se recolhe em sono profundo. É neste estado que ela é conhecida como kuṇḍalinī-śakti. Uma possível tradução desse termo que se enquadra na descrição do tema é poder recolhido e na Tradição Esotérica Ocidental ela é identificada apenas pelo nome de Serpente de Fogo ou Fogo Serpentino. Quando aprendemos a manipular essa força em nosso interior, fazendo-a acordar de seu sono no fosso da terra, é o momento de aprendermos com ela em um processo de ascensão a fim de redescobrirmos o paraíso perdido. Este trabalho consiste em erguê-la do mūlādhāra-cakra aos cakras superiores através de um sistemático programa de treinamento. Nos dias de Aleister Crowley (1875-1947) muito pouco material sobre o tema cakras havia sido traduzido do sânscrito para o inglês. Fora as especulações teosóficas, pouquíssimos ocultistas no Ocidente produziram material de peso realmente relevante. Por anos a maior fonte de pesquisas sobre os cakras utilizada pelos ocultistas da Tradição Ocidental foi o livro Os Chakras de W.C. Leadbeater (1854-1934), considerado um grande clarividente. No entanto, seu livro tem muito pouco ou quase nada a oferecer quando comparado aos próprios śāstras do tantrismo ou obras de mestres tântricos de calibre como Swāmi Satyānanda Saraswatī, fundador da Bihar School of Yoga, a organização mais tradicional da Índia em ensino superior de Yoga e Tantra. Por volta de 1920, o autor mais celebrado sobre Tantra no Ocidente foi Sir John Woodroffe (1865-1936). Ele foi o responsável por apresentar ao Ocidente, através de inúmeras traduções e material próprio o profundo, vasto e rico oceano de conhecimento contido nos tantras, principalmente a Tradição Kaula e suas práticas obscuras de despertar da kuṇḍalinī-śakti e a manipulação dos cakras. Mas por incrível que pareça, Crowley parece ter dado pouca atenção à obra de Woodroffe, seja por despeito ou falta de conhecimento. Mas existe um problema ao tentar estabelecer uma equivalência entre a doutrina dos cakras contida nos tantras e a Árvore da Vida. Inúmeras interpretações equivocadas foram difundidas amplamente pela Sociedade Teosófica e a Ordem Hermética da Aurora Dourada, estabelecendo um desserviço a Tradição Esotérica Ocidental. Um exame acurado sobre as teorias estabelecidas por essas organizações revela verdadeiras anomalias e uma falta de compreensão absurda sobre os cakras. Nos dias de hoje existe muito material a disposição, no entanto, a grande maioria dos livros escritos no Ocidente sobre o tema cakras ainda continua perpetuando as desinformações disseminadas por essas duas organizações. Por outro lado, o Oriente vem produzindo material seguro nessa área e as escrituras que nos dias de Crowley quase eram impossíveis de serem encontradas, agora abundam em traduções, o que nos permite ter um vislumbre mais amplo do assunto. Portanto, eu sempre aconselho aos meus alunos da A∴A∴ a procurarem a fonte original desses estudos, ou seja, os śāstras do tantrismo. Ao elaborar o sistema de iniciação da A∴A∴, Aleister Crowley se debruçou amplamente sobre o Yoga, produzindo pérolas do misticismo thelêmico nas instruções da Ordem. No entanto, parece que ele deu pouca atenção à doutrina dos cakras, deixando a cargo da Ordo Templi Orientis, O.T.O., a produção do material necessário à instrução dos membros. Os primeiros Graus da O.T.O. operam enfaticamente com os ṣaṭ-cakras, mas infelizmente até os dias de hoje estamos a espera que a Ordem nos apresente instruções precisas sobre como manipular e direcionar as energias dos cakras. Até lá, ofereço esse pequeno opúsculo de meditação a comunidade de thelemitas do Brasil.
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Os Mistérios de Babalon têm sido guardados a Sete Chaves, pois Sete são suas Chaves ou as Chaves de seu Palácio. Das divindades que configuram no panteão thelêmico, Babalon é a mais arredia: não é mencionada em O Livro da Lei; embora ali se fale da sacerdotisa como sendo a Mulher Escarlate. Babalon é um aspecto particular de Nuit. O verso 22 do primeiro capítulo d’O Livro da Lei nos fala que no futuro o Profeta conheceria o nome secreto de Nuit. Este nome secreto é a pronúncia correta de Babalon que ele recebeu enquanto trabalhava com o 12° Aethyr. Antes disto, ele utilizava a forma bíblica Babylon. Babalon soma 156 e para Crowley esta numeração representa a copulação ou samādhi constante com toda a coisa vivente. Ele ainda A considerava como sendo equivalente (e não mero complemento) ao deus Pã e essa não é uma ideia isolada; ela também registra presença nos escritos de Parsons. O termo Mulher Escarlate é encontrado em O Livro das Revelações ou Apocalipse: a mulher vestida com púrpura e escarlate, e adornada de ouro [...] tinha na mão um cálice cheio de abominações; são as impurezas de sua prostituição (Apocalipse – Capítulo 17). Essa menção à Mulher Escarlate levou Crowley ao nome de Babilônia, que ele retificou para Babalon (o Portal do Sol), conforme lemos no parágrafo em epígrafe. Em complemento a essa inter-relação, no Capítulo 49 de O Livro das Mentiras, Crowley descreve quais seriam as Sete Cabeças da Besta sobre a prostituta estaria montada: Sete são as cabeças da Besta sobre a qual Ela monta. A cabeça de um Anjo; a cabeça de um Santo; a cabeça de um Poeta; a cabeça de uma Mulher Adúltera; a cabeça de um Homem de Valor; a cabeça de um Sátiro e a cabeça de um Leão-Serpente.
Para os thelemitas, de um modo geral, Babalon configura uma energia de cunho sexual e de caráter mágico. Babalon é um Arcano Arcanorum muito profundo que o próprio Crowley, no 11° Capítulo de Magick, diz que os mistérios Dela só seriam transmitidos particularmente a seus diletos pupilos. Ela sempre foi conhecida, embora por outros nomes: Grande Mãe, Diana, Ishtar, Kālī, Lilith, Inana, Deméter, Ísis, Afrodite e Hécate; mas independentemente do nome que A chamarmos, ela sempre será a expressão livre e irrestrita de nossa própria natureza sexualmágica. Babalon em O Livro de Thoth, Atu XI: Luxúria, é a abundante Fonte de Vida do Universo. Este arcano corresponde ao caminho entre Chesed e Geburah, fonte das energias da Corrente 93, insinuando uma das faces do Novo Aeon que é a capacidade de trazer à tona instintos primitivos para serem incorporados, de forma consciente, à nossa estrutura psíquica. Conforme O Livro de Thoth ressalta: Existe nesta carta uma embriaguez ou êxtase – a Volúpia, que é outro nome que se dá a esse arcano.
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Um dos Arcanos que envolve Babalon é sua força libertadora do cárcere sexual predominante no Velho Aeon. Nas palavras de Crowley: A Mulher Escarlate, a Grande Puta, basicamente representa um conceito feminino: o conceito de liberdade sexual e de ação e poder da mulher, oprimida no Aeon de Osíris e soberana do Aeon de Ísis. A característica de liberdade não é feminista e sim de igualdade ao homem. Isto é muito importante e deve ser compreendido sem que reste quaisquer dúvidas. A mulher tem os mesmos direitos dos homens, mesmo em relação ao sexo. Eu venho insistindo na similaridade entre a tradição de Thelema e o Tantra. O Culto de Śakti-Babalon na fórmula da Mulher Escarlate ilustra o fato. Embora o Tantra seja muitas vezes confundido com sexo no Ocidente, a fórmula da Mulher Escarlate não tem apenas conotações sexuais – embora elas existam, como demonstrado acima. Antes – assim como na cultura tântrica – a fórmula se refere a uma atitude diferente em relação ao mundo, a vida, ao dia-a-dia. Tradicionalmente, a Mulher Escarlate é ilustrada na forma de uma prostituta que simbolicamente permite tudo e todos em si mesma. A contraimagem da Mulher Escarlate é a mulher casta que se fecha e não permite nenhum tipo de contato íntimo com nada ao seu redor. Nos Comentário d’O Livro da Lei (III:55), Crowley observa que O inimigo é esse fechamento em relação as coisas. Fechar a Porta é uma prevenção quanto a Operação da Mudança, i.e. o Amor [...]. Este «fechamento» é hediondo, a imagem da morte. É o oposto do Ir, que é Deus. Como a imagem da Operação de Mudança, a prostituta abraça a tudo e todos sem distinção, na medida em que a mulher casta é a imagem da estagnação e separação entre todas as coisas. Nesse caminho, a mulher casta também é a imagem do ego que se recusa a ceder sua suposta realeza clamando ser o Rei da Montanha. O Rei da Montanha é o que nós chamamos de Sagrado Anjo Guardião e o ego, seu ministro no mundo, embora ele pense ser o próprio Rei. Da mesma maneira que a mulher casta se fecha para não ter relações íntimas com os outros, o ego se fecha em si mesmo para não ceder lugar ao verdadeiro Rei, o Sagrado Anjo Guardião. A fórmula da Mulher Escarlate ou o Culto de Śakti-babalon é a fórmula tântrica, quer dizer, aceitar o mundo como ele é, sem recusar nada, crescendo a partir da assimilação de todas as coisas. No Velho Aeon a mulher casta era exaltada, pois a castidade era tida como uma virtude. No Novo Aeon a prostituta é exaltada em virtude, pois ela é um símbolo de crescimento e mudança. É o apego ao Velho Aeon que macula sua imagem, associando sensualidade e promiscuidade a uma atitude pecaminosa. No Livro das Mentiras (cap. 4), Crowley diz: [...] é um conselho para aceitar todas as impressões, é a fórmula da Mulher Escarlate; mas não se deve permitir dominar-se por impressão alguma, apenas frutificar-se; como o artista que, vendo um objeto, não o reverencia, mas produz uma obra-prima a partir dele. Este processo é mostrado como um aspecto da Grande Obra. Em Liber A’ash (28) é dito: Todas as coisas são sagradas a mim. E no Comentário Djeridensis (I:51) Crowley observa: Eu insisto para que você tome cuidado com o orgulho de espírito, do pensamento a respeito de qualquer coisa como sendo pecaminosa ou impura. Faça com que todas as coisa lhe sirvam na sua Magia [causando mudança em conformidade com sua Vontade] como armas. Portanto, o Culto de Śakti-babalon é a fórmula do abraço ao mundo, aceitando tudo sem distinção de impuro ou profano. Os Eremitas de Thelema não desistem ou se afastam do mundo ou vêm as coisas como mundanas ou não-espirituais. Ao contrario, cada Thelemita se encontra imerso no Céu, como uma Estrela entre as Estrelas. No AL vel Legis (II:24) encontramos: Eis aí! estes são graves mistérios. Pois existem, além disso, meus amigos que são eremitas. Atualmente não pense encontrá-los na floresta ou sobre a montanha; mas em camas de púrpura, acariciados por suntuosas bestas de mulheres com grossos membros, e fogo e luz em seus olhos, e volumes de cabelos flamejantes sobre eles; lá vós devereis encontrá-los. Vós devereis vê-los no governo, em exércitos vitoriosos, em todo
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modo o prazer; e deverão estar neles um prazer um milhão de vezes maior do que isto. Acautelai-vos a fim de que algum não force um outro; Rei contra Rei! Amai-vos uns aos outros com corações ardentes; sobre os homens submissos, desprezai-os na feroz luxúria de vosso orgulho, no dia de vossa cólera.» No Novo Aeon não consideramos o Mundo como uma prisão ou um vale de lágrimas, mas um Templo onde o sacramento da Vida pode ser promulgado; o corpo não é considerado corrupto e impuro, mas um Ornamento puro para expressão da Energia; o sexo não é considerado pecaminoso, mas um misterioso canal de poder e a imagem da natureza extasiante de todas as Experiências de Vida, Amor, Luz e Liberdade. Existência é puro prazer (AL II:9). Devido ao estilo de vida tóxico da atual civilização globalizada, tem sido cada vez mais difícil para as mulheres terem acesso a vox-babalonis, o empoderamento da Śakti-Babalon. Aliado a isso, o sistema thelêmico têm dado pouca ou quase nenhuma atenção aos Mistérios de Babalon. Esse projeto, Śakti-Babalon: Magia Tāntrika Thelêmica, é uma tentativa de corrigir essa ponta solta. No Colegiado da Luz Hermética, cada associada a partir do Grau de Neófito empreende um sādhanā que culmina no Grau de Filósofo. Trata-se da construção do Templum-Babalonis. Nesse processo, a subida na Árvore da Vida pelas mulheres é distinta da subida dos homens, que têm de construir o Santuário da Besta. Neste curso, Frater ON120 e sua Mulher Escarlate, Soror Miah, apresentam alguns dos Mistérios de Babalon contidos no Templum-Babalonis. A intenção neste curso é oferecer um programa através do qual cada mulher possa invocar o poder da Deusa Babalon e entroná-la no Palácio da Alma. Colegiado da Luz Hermética O Colegiado da Luz Hermética é a Ordem Externa da SETh, Sociedade de Estudos Thelêmicos. Representa o Seis primeiros Graus da Ordem. A SETh foi estabelecida a Serviço da A∴A∴, constituindo um Colegiado Iniciático formulado para prover treinamento aos Candidatos que aspiram Iniciação na A∴A∴. O trabalho é individual, mas é dada a opção de trabalho coletivo e a formação de Grupos de Estudo, Santuários e Templos. HOMEMDATERRA Colegiado da Luz Hermética
Probacionista 0°=0⌷ O Probacionista é qualquer pessoa adulta, livre, acima de 21 anos que tenha concordado em executar uma prática espiritual diária e sistemática pelo período de um ano, mantendo um diário mágico detalhado sobre a prática. Os Sinais do Probacionista são os de Hórus e Hoor-paarKraat. O Probacionista se encontra no Umbral da Ordem e após um ano de período probatório ele pode requerer admissão ao Primeiro Grau de Neófito. Sendo admitido, ele assina o Juramento.
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Neófito 1°=10 O Neófito é um Iniciado do Primeiro Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau representa Malkuth na Árvore da Vida e o Elemento Terra. O Sinal de Neófito é o Sinal da Besta ou Baphomet. Currículo do Neófito: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Formulação, construção e consagração do Pantáculo da Terra. Ritual Maior do Pentagrama da Terra. Assunção de forma divina da deidade egípcia da Terra. Ritual da Saída do Umbral. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito da Terra. Pathworking: Caminho 32 (Tav). Scrying no Aethyrs 30 (TEX).
Zelador 2°=9⌷ O Zelador é um Iniciado do Segundo Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corresponde a Yesod na Árvore da Vida e o Elemento Ar. O Sinal de Zelador é o Sinal de LilithAstaroth. Currículo do Zelador: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
Formulação, construção e consagração da Adaga do Ar. Ritual Maior do Pentagrama do Ar. Assunção de forma divina da deidade egípcia do Ar. Ritual do Khu Perfeito. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito do Ar. Pathworking: Caminho 31 (Shin) e 30 (Resh). Scrying nos Aethyrs 29 (RII) e 28 (BAG).
Prático 3°=8⌷ O Prático é um Iniciado do Terceiro Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corresponde Hod na Árvore da Vida e o Elemento Água. O Sinal do Prático é o Sinal de Ísis a Mãe das Estrelas. Currículo do Prático: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Formulação, construção e consagração do Cálice da Água. Ritual Maior do Pentagrama da Água. Assunção de forma divina da deidade egípcia da Água. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito da Água. Pathworking: Caminho 29 (Qoph), 28 (Tzaddi) e 27 (pé). Scrying nos Aethyrs 27 (ZAA) e 26 (DES).
Filósofo 4°=7⌷ O Filósofo é um Iniciado do Quarto Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau equivale Netzach na Árvore da Vida e o Elemento Fogo. O Sinal de Filósofo é o Sinal de Tifon. 25 Sociedade de Estudos Thelêmicos
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Currículo do Filósofo: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Devoção a alguma deidade - iṣtā-devatā (bhakti-yoga). Formulação, construção e consagração da Baqueta do Fogo. Ritual Maior do Pentagrama do Fogo. Assunção de forma divina da deidade egípcia do Fogo. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito do Fogo. Scrying nos Aethyr 25 (UTI).
Dominus Liminis (Senhor do Umbral) O Dominus Liminis é um Iniciado do Quinto Grau do Colegiado da Luz Hermética que está no período probatório para entrar na Segunda Ordem R.R. et A.C. Este Grau corresponde ao Caminho de Pé na Árvore da Vida, conhecido na Ordem como O Portal. O Sinal do Dominus Liminis é o Sinal da Caveira de Ossos Cruzados. Currículo do Dominus Liminis: 1. 2. 3. 4. 5. 6.
Formulação, construção e consagração de um talismã planetário. Ritual Supremo de Invocação do Pentagrama. Ascensão nos planos da Estrela que regula o Sol (signo ascendente). Ritual Enochiano do Elixir da Vida Pathworking: Caminho 26 (Ayin), 25 (Samekh) e 24 (Nun). Scrying no Aethyrs 24 (NIA).
Admissão ao Colegiado da Luz Hermética. Caso tenha interesse em participar da Ordem, envie uma carta em PDF seguindo as instruções: 1. 2. 3.
Faça um breve relato sobre sua busca espiritual. Estudos, práticas e a relevância desse processo na magia e no ocultismo. Faça uma lista de vinte livros que já estudou na área da magia e ocultismo em geral; cite os mais relevantes em sua iniciação e faça uma breve resenha do livro mais importante para você. Na carta, coloque todos os seus dados: endereço (físico e eletrônico), data de nascimento, afiliação, profissão, telefone e anexe uma cópia de seu CPF, RG e comprovante de residência.
Toda a comunicação da Ordem se dá através de documentos em PDF via e-mail e por correio convencional. Após o envio de sua aplicação de afiliação, a Ordem irá notificá-lo em cinco ou dez dias, após a avaliação de seu pedido. Se ele atender os nossos requisitos, você será admitido ao período probatório, devendo manter uma prática espiritual sistemática por um período de um ano, com entradas diárias no diário mágico. Sua aplicação de afiliação pode ser enviada por e-mail, em PDF. Caso queira enviar carta via correios, escreva para:
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a Secretária, Av. Barão do Rio Branco, 3652/14, Passos Juiz de Fora – MG 36025 020
[email protected]
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