Historia e Memoria: imigração italiana no Sul do Estado do Espírito Santo, Victor Salaroli (Et All)

May 8, 2019 | Author: Victor S. S. do Nascimento | Category: Slavery, Atlantic Slave Trade, Brazil, Europe, Italy
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História e Memória A trajetória do imigrante italiano na Região Sul do Espírito Santo

Organizadores Mellina de Fátima Neres de Sousa Curty | Prisciliana Costa Ventura | Mateus Augusto Almeida Martins | Victor Silva Salaroli do Nascimento

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Organizadores Mellina de Fátima Neres de Sousa Curty Prisciliana Costa Ventura Mateus Augusto Almeida Martins Victor Silva Salaroli do Nascimento Pesquisa: Amanda Pesquisa: Ama nda Cae Caetan tano o de de Oli Olivei veira, ra, Ana Car Caroli olina na Silva va Vi Vimer mercat cati,i, Ana Lu Luiza iza La Lauri urindo ndo Camp Campos, os, Dav Davii Mar Marian iano o Vian Viana a Corr Corrêa êa,, Hele Helen n Gome Gomess do do Nas Nascim cimen ento, to, Maínna Miranda de Azevedo, Mariana Carvalho Muniz, Mateus Augusto Almeida Martins, Mellina de Fátima Neres de Sousa Curty, Prisciliana Costa Ventura, Rafaela Bernardes Moreira, Richard Prata de Oliveira, Thayla Oliveira Santos e Victor Silva Salaroli do Nascimento. Entrevistadores:  Helen Gomes do Nascimento, Maínna Miranda de Azevedo, Mellina de Fátima Neres de Sousa Curty e Prisciliana Costa Ventura. Transcrições: Amand Transcrições: Ama nda a Cae Caetan tano o de de Olivei veira, ra, Ana Car Carol olina ina Si Silva lva Vi Vimer mercat cati,i, An Ana a Luiz Luiza a Lau Laurin rindo do Cam Campo pos, s, Helen en Gom Gomes es do Nas Nascim cimen ento, to, Maí Maínn nna a Mira Mirand nda a de de  Azeved  Aze vedo, o, Mar Maria iana na Car Carval valho ho Mun Muniz, iz, Raf Rafae aela la Ber Berna narde rdess Mor Moreir eira, a, Th Thayl ayla Olivei veira ra Sa Santo ntoss e Victor ctor Sil Silva va Salaroli aroli do Nas Nascim cimen ento. to. Participação de ex-alunas que contribuíram de forma signicativa para o desenvolvimento do projeto: Bruna Gaspar da Silva, Izabella Obolari Peixoto Seraphini, Jocimara de Oliveira Silva, Larissa Cazadine Bebber, Maria Eduarda Soares Ferreira e Rayane Braga Osto.

 A trajetória do imigrante imig rante italian italiano o na região sul do Espírito Santo

Vila Velha, 2017 3

Conselho Editorial

Gilberto Medeiros  Andressa Zoi Nathanailidis Flávio Marcelo Pereira Flávio Borgneth Guilherme de Souza Medeiros Tarso Brennand Vitor Cei Santos

Comitê Cientíco

Coordenador  Vitor Cei Santos Universidade Federal de Rondônia (UNIR)  Andressa Zoi Nathanailidis Universidade Vila Velha (UVV)  André Tessaro Pelinser Universidade de Caxias do Sul (UCS) David G. Borges Universidade Federal do Piauí (UFPI) Paulo Edgar R. Resende Universidade Vila Velha (UVV) Sérgio da Fonseca Amaral Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) 4

© 2018 É livre a utilização, duplicação, reprodução e distribuição desta edição, no todo ou em parte, por todo aquele que desejar, bastando citar a fonte. Comercialização proibida.

Diagramação: Tarso Brennand Capa: Tarso Brennand e Giba Edição: Gilberto Medeiros

Fale com a Praia Editora facebook/praiaeditora praiaeditora.com.br  email: [email protected] twitter: @praiaeditora

Ficha Catalográca

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CARTA DO EDITOR

Com o recente reconhecimento de que o Espírito Santo é o primeiro Estado brasileiro a receber imigrantes italianos, ganhou força a linha de estudos históricos que apuram as experiências das primeiras gerações que aqui aportaram, a bordo do navio Rivadávia, em 31 de maio de 1875, para construir uma nova vida longe da Itália. Para colaborar com a investigação acerca da participação latina na construção do povo brasileiro, a Praia Editora prepara novos lançamentos de autores que tornaram seu o ofício de estudar a História. Foi o que zeram os autores deste História e Memória: a tra  jetória do imigrante italiano na Região Sul do Espírito Santo.  A partir de sua pesquisa e de entrevistas, os autores nos contam histórias que ajudam a compreender também um pouco de nós mesmos, tal é a participação dos descendentes de italianos em nossas vidas, inuenciando nossa cultura e cos tumes. Nosso décimo livro chega a você por meio do modelo de distribuição adotado pela Praia Editora, que é baseado no conceito simbolizado pela hashtag #DownloadLivre. Não cobramos pelo download de cópias de nossos e-books. Por isso, utilizamos “livre” em vez de “grátis”, pois o conceito vai além de abrir mão do dinheiro como forma de pagamento: também não exigimos cadastro e não chupamos dados e metadados enquanto o leitor baixa da internet cópias dos livros de nosso catálogo. Juntos, os demais lançamentos da Praia Editora ultrapassaram 50 mil downloads livres. Todos os livros estão disponíveis no blog da editora, que pode ser acessado em www.praiaeditora.blogspot.com.br. E que venham novos autores e novos leitores! Gilberto Medeiros, Editor  6

 APRESENTAÇÃO

Como fruto da pesquisa realizada pelos membros do Programa de Iniciação Cientíca Júnior História e memória coletiva nos municípios de Alegre e Guaçuí: o resgate da cultura italiana pela nova geração de estudantes alegrenses fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo que apresentamos a você, caro leitor capixaba, um pouco de nossa história local. Por sabermos que em nosso Estado houve a criação de diversas colônias de imigrantes italianos e que, devido a esse fato, o Estado do Espírito Santo foi e continua sendo um lugar muito importante de preservação da cultura italiana é que, a partir desse projeto de pesquisa buscamos trazer à luz aspectos sobre a imigração italiana na região sul capixaba, tendo como enfoque de nosso estudo as cidades de Alegre e Guaçuí. Na investigação acerca dos italianos que se instalaram em nossa região, suas trajetórias e cultura, realizamos entrevistas com seus descentes para que, a partir de seus relatos pudéssemos preencher algumas lacunas acerca da nossa história, bem como pudéssemos tentar reconstruir a partir das memórias individuais, uma memória coletiva. Desse modo, é com grande satisfação que nós, membros do Programa de Iniciação Cientíca Júnior apresentamos como resultado de nosso projeto aspectos da nossa história local, cujo interesse e valorização pela cultura e pelo povo italiano foram nossos pilares ao longo deste estudo.

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INTRODUÇÃO

 Antess de começ  Ante começar ar a leitu leitura ra dest deste e livre livreto to,, lhes lhes fa faze zemo moss a seguinte pergunta, prezado leitor: Para que serve a memória? Sabemos que foi uma pergunta retórica, pois não estaremos ao seu lado quando você estiver lendo. Mas de qualquer forma, esperamos que ao se deparar com essa pergunta você, nosso caro leitor, possa reetir um pouco sobre essa indagação. Falamos isso, porque é muito comum ouvirmos e lermos a partir dos diversos meios de comunicação que “o brasileiro não tem memória” ou “o brasileiro tem memória curta”. E é com base nesse ponto que tentaremos explicar o porquê de fazermos sempre uso de nossa memória de forma consciente e reexiva. No ano de 2015, ao conversar com um colega de trabalho sobre história local, falamos a respeito da signicativa presença de descendentes de imigrantes italianos na região e foi, a partir dessa conversa que resolvi me inscrever para o Programa de Iniciação Cientíca Jr. fomentado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES), cuja valorização e incentivo à pesquisa são extremamente signicativos para o trabalho cientíco, mas especialmente para que aquele aluno/a de ensino fundamental e médio da rede pública possa exercer também sua cidadania ao trabalhar em equipe, ao lidar com o diferente, com o desconhecido e se solidarizar. Desse modo, ao perceber que de fato, sempre temos um conhecido ou amigo cujo sobrenome é italiano, pude identicar como nossa região é permeada por esses descendentes e foi, a partir daí, que resolvi criar um projeto com intuito de conhecer um pouco mais sobre esse povo cuja presença se faz tão importante em nosso Estado e em nossa região. Um outro aspecto interessante e que instigou nossa pesquisa ao longo de nosso projeto, foi que, mesmo ao constatarmos que as cidades de Alegre e Guaçuí não foram criadas com objetivo de serem colônias para esses imigrantes italianos, entretanto, sua presença se fez e faz notória, conferindo traços de seu povo em nossa localidade.

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Por tratarmos de um projeto de história é que se torna imprescindível o desenvolvimento da memória, visto que, nós, membros deste projeto acreditamos que história e memória devem andar de mãos dadas e que, ambas são de suma relevância para compreendermos nosso passado, mas especialmente nosso presente. Nesse sentido, ao investigarmos sobre um tema que tem como foco o estudo referente ao imigrante italiano e seus descendentes (e que estes podem ser meus vizinhos ou seus), que descortinamos uma série de questões que nos sãos caras para o conhecimento da história nacional, mas especialmente para a nossa história local, uma vez que visamos o resgate da memória desses descendentes. Dessa forma, ressaltamos que, a tentativa de construirmos uma história local, especialmente dos Municípios de Alegre e Guaçuí, não foi uma tarefa fácil, mas que, a partir do levantamento de fontes cartoriais, de jornais e especialmente através das entrevistas feitas com esses descendentes é que podemos trazer à luz aspectos interessantes de nossa história e para tanto, ao longo deste trabalho buscamos enfatizar alguns temas cuja compreensão se fazem necessário. Assim, serão discutidos aspectos sobre: escravidão, o contexto europeu e o processo de imigração, a imigração local e a importância da relação entre história e memória Dessa maneira, após dois anos de pesquisa no qual o trabalho em equipe foi fundamental, gostaríamos mais uma vez de agradecer o incentivo e parceria do Instituto Histórico e Geográco de  Alegre egre,, a bo boa a von vonta tade de e gen gentitileza leza de no noss ssos os en entr trev evis ista tado dos, s, po pois is pa para ra nós, representam os agentes que nos possibilitaram a construção de nossa história, bem como agradecemos imensamente as instituições envolvidas na realização deste estudo: a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Aristeu Aguiar (Instituição em que nossos alunos cursam o ensino fundamental e médio), a Faculdade de Filosoa, Ciências e Letras de Alegre, ao Cartório Márcio Valory de Alegre, ao Memorial (colocar nome), à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo por incentivar e proporcionar a realização deste trabalho e por m, agradecemos aos membros deste projeto: àqueles que participaram e não puderam continuar, mas especialmente agradecemos a cada um dos membros de nossa equipe que permitiram a nalização desta pesquisa, pois sem vocês, sem a perseverança, sem o trabalho em grupo nada disso seria possível. 9

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SUMÁRIO

CARTA DO EDITOR  APRESENTAÇÃO INTRODUÇÃO 1 CATIVEIRO E LIBERDADE: A ESCRAVIDÃO E A SUBSTITUIÇÃO DA MÃO-DE-OBRA ESCRAVA PARA O TRABALHO LIVRE 2 DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO: O CONTEXTO EUROPEU E A IMIGRA ÇÃO ITALIANA PARA O BRASIL 3 IMIGRAÇÃO NO ESPÍRITO SAN TO: UM DESTAQUE PARA A REGIÃO SU L – ALEGRE E GUAÇU Í 4 HISTÓRIA COTIDIANAS

E

MEMÓRIA:

CONSTRUÇÕES

5 REFERÊNCIAS

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1.

CATIVEIRO E LIBERD ADE: A ESCRAVIDÃO E A SUBSTITUIÇÃO DA MÃO-DE-OBRA ESCRAVA PARA O TRABALHO LIVRE 1

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esse modo, a análise de Ricardo Salles acerca da escravidão torna-se bastante reveladora quando nos questionamos sobre aquela instituição: “a escravidão era considerada como uma peça necessária, ao mesmo tempo, incômoda e isolada da sociedade imperial. Algo como uma caixa de gordura em uma casa: até que apresente problemas, é ela parte da qual frequentemente nos esquecemos (SALLES, 2013, p. 115)”. Assim, tomamos como ponto de partida a frase de Salles, pois de fato, a escravidão era algo tido como um “mal necessário”, mas que, devido às pressões externas e a uma série de questões internas, a instituição escravista viu seus pilares se desmoronando especialmente a partir da segunda metade do século XIX. Como já dito, o governo nacional sofreu diversas pressões externas, especialmente feitas por parte da Inglaterra desde o início do século XIX, quando este país fez com que o Estado Brasileiro assinasse diversos tratados que visavam gradativamente a abolição da escravatura. Desse modo, devido às interferências externas, o monarca brasileiro negociou e concordou em realizar tais tratados que almejavam o m do tráco negreiro entre os anos de 1810 a 1826, não sem antes relutar (CONRAD, 1978, p. 31).  A evidência de que esses tratados não eram postos em prática por conta do governo brasileiro foi que em 1831 foi criada a Lei Feijó, cujo propósito era que “todos escravos, que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos de fora, cam 1 Este tópico referente à escravidão é um desdobramento da dissertação de Mellina de Fátima Neres de Sousa Curty intitulada: O movimento emancipacionista na perspectiva das elites políticas na Província do Espírito Santo, 1869-1888, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2014.

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livre”2. Porém, apesar de todo o controle, vigilância e da lei recémcriada, não houve a diminuição do tráco transatlântico. Pelo contrário, houve uma escravização de africanos em massa, especialmente entre os anos de 1835 a 1850, cujo período acabou sendo denominado como uma “segunda escravidão” (MARQUESE , 2013, p.56). Em consequência dessa questão, ou seja, pelo não cumprimento efetivo da lei de 1831, o governo brasileiro continuou sofrendo diversas pressões que culminaram com mais uma elaboração de lei: a Eusébio de Queiroz que, pretendia a repressão do tráco de africanos no Império, estabelecendo que:

 A embarcações brasileiras encontradas em qualquer parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, ancoradouros, ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu bordo escravos, cuja importação é proibida pela Lei de sete de Novembro de mil oitocentos e trinta e um, ou havendo-os desembarcado, serão apreendidas pelas Autoridades, ou pelos Navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de escravos. 3

 A aprovação dessa lei nos revela que, pelo menos um dos sustentáculos da instituição escravista, que era o tráco negreiro, acabou por ruir. Mas, a abolição do tráco não necessariamente signicava acabar de vez com a escravidão brasileira naquele momento. E como nos é sabido, o cativeiro teve vida por mais trinta e oito anos após a lei Eusébio de Queiroz, para que assim, houvesse a abolição total com a Lei Áurea. Como consequência imediata da lei do m do tráco, políticos e fazendeiros se preocupavam cada vez mais com o problema da 2 Essa lei fazia algumas exceções como por exemplo em relação ao escravo que fugisse, dentre outras. Coleção Leis do Império do Brasil de 1871, Rio de Janeiro. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_  sn/1824-1899/lei-37659-7-novembro-1831-564776-publicacaooriginal-88704pl.html. Acessado em 4 de outubro de 2017. Coleção Leis do Império do Brasil de 1871, Rio de Janeiro. 3 Disponível em: http://www.camara.leg.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/ Legislacao/Legimp-36_23.pdf#page=6. Acessado em: 4 de outubro de 2017

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questão servil no Brasil. Ao buscarem remediar tal problemática, algumas saídas para que se substituísse a mão-de-obra escrava para o trabalho livre foram apontadas sem que houvesse grandes prejuízos para a economia brasileira, embora, ao longo da década de 1860, a grande lavoura já apresentava sinais de crise no que tangia à mão-deobra cativa. Nesse sentido, como forma de se reparar esse problema, uma das propostas levantadas foi a vinda de imigrantes cujo papel seria não apenas trabalhar na lavoura, mas colonizar e também embranquecer o país (no caso dos europeus). Como já dito, a vinda de imigrantes foi uma medida em que muitos latifundiários e políticos concordavam. Todavia, um dos grandes problemas a ser resolvido era: que tipo de imigrante trazer para o Brasil? Nesse aspecto, também foram sugeridas diversas nacionalidades, como: os estadunidenses, os chins (asiáticos) e indianos. Como já ressaltamos, o problema servil na grande lavoura apresentava sinais de crise na década de 1860 e foi, especialmente no ano de 1866 que o Governo Imperial e os Estados Unidos celebraram o transporte de imigrantes dos EUA para o Brasil (SILVA, 1986, p. 25) como possibilidade de solução para o trabalho livre. E, essa parceria entre o governo brasileiro com o governo norte americano foi executada sob a chea de Quintino Bocaiúva quando este era agente de imigração do país. Porém, essa parceria não ocorreu sem que o governo estadunidense 4 tivesse as devidas respostas acerca das condições em que seus compatriotas seriam submetidos em solo brasileiro e mesmo com essa colaboração entre ambos países, o problema de mão-de-obra permanecia evidente, o que fez com que o Império brasileiro deslocasse o olhar para imigração europeia, especialmente. Nesse sentido, em relação a esse tipo de imigração, o Governo Imperial Brasileiro almejava uma política de criação de núcleos de coloniais cujo intuito era o enriquecimento e civilização através da fundação de comunidades independentes, com acesso às terras e mercados, mas que, na realidade, a 4 Em 1867 foi enviado um manuscrito dos Estados Unidos da  América aos Presidentes de província do Império Brasileiro pelo agente Quintino Bocaiúva. Nesse manuscrito, o governo dos Estados Unidos buscava esclarecer as condições em que seus cidadãos seriam submetidos ao chegarem em terras brasileiras. Ver esse documento em: SILVA, Eduardo (Org.). Ideias Políticas de Quintino Bocaiúva. Cronologia, introdução, notas bibliográcas e textos selecionados. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986.

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criação dessas comunidades não prosperaram, pois a organização econômica e social do Brasil excluía esse desenvolvimento por se basear no sistema de latifúndios (CONRAD, 1978, p. 48). Além disso, a vinda desses imigrantes não modicaria apenas uma estrutura escravista consolidada, mas também transformaria algo profundamente complexo, como as relações entre trabalhador e latifundiário. E, nesse sentido, o imigrante europeu não se sujeitaria às relações de trabalho análogas às da escravidão. Desse modo, como resultado dessa questão, “a imigração também não constituiu uma solução para o problema da mão-de-obra até que a crise do nal da década de 1880 forçou os fazendeiros a tomarem medidas de emergência para aumentar o uxo dos europeus para as fazendas produtoras de café (CONRAD, 1978, p. 49)”. Como percebemos, a discussão em torno da escravidão e da substituição do trabalho escravo para o livre foi algo que permeou os ditames políticos e econômicos da época, o que provocou intensos debates por políticos e por latifundiários. Além disso, outro fator que contribuirá de forma decisiva para que de fato se encontrasse uma solução para tamanho problema foi a promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871. Esta lei efetivada em 28 de setembro daquele ano tornava livre todos os lhos de escravas nascidos a partir daquela data. Ou seja, esse foi o golpe derradeiro apontando que, a partir de 1871, não nasceriam mais escravos no Brasil. Assim, a efetivação da lei do Ventre Livre posteriormente criada à lei Eusébio de Queiroz deixava claro que, o m da escravidão estaria próximo, dado que, já não era permitido o tráco transatlântico de escravos e que a partir de 1871, os lhos de escrava nasceriam livres. Entretanto, apesar da lei de 1871, a instituição escravista não teve e não teria seus dias contados de imediato, pois a lei do Ventre Livre, apesar de conferir a liberdade do recém-nascido, era permeada por ambiguidades. Estas cavam evidenciadas pois, a referida lei possibilitava que o escravo adquirisse uma reserva em dinheiro mediante suas economias obtidas por seu trabalho, mas desde que houvesse consentimento do senhor. Além dessa questão, a lei ainda permitia que, o senhor poderia optar por receber uma indenização do Estado quando essa criança completasse oito anos de idade, se isentando de qualquer responsabilidade, ou poderia escolher fazer uso do serviço dessa criança até que esta completasse vinte e um anos de idade. 5 Coleção Leis do Império do Brasil de 1871, Rio de Janeiro. Disponível 5 em: http://www.camara.leg.br/internet/infdoc/conteudo/colecoes/legislacao/ legimpcd-06/leis1871/pdf17.pdf#page=6. Acessado em: 4 de outubro de 2017.

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Como já dito, apesar da nova lei começar a minar o edifício da instituição escravista libertando os lhos das escravas, esses senhores poderiam se utilizar da mão-de-obra dessas crianças até os vinte e um anos, ou seja, em tese, o sistema escravista estaria assegurado pelo menos até o ano de 1892. Mas como já apontado, questões externas e especialmente internas zeram com que a escravidão fosse extinta em 1888. E, apesar dos políticos da época tentarem adiar o m do cativeiro, cava cada vez mais evidente a necessidade de se substituir o trabalho escravo para o trabalho livre, tendo como solução mais ecaz a imigração. No que tange a essa questão, foi realizado no ano de 1878 o Congresso Agrícola no Rio de Janeiro cujo intento era propor medidas que acalmassem a inquietação por parte dos políticos e latifundiários frente à lavoura. Nesse sentido, o então Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, senhor João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu (chefe do partido Liberal e presidente do Clube da Reforma) convocou lavradores nacionais para compor o debate realizado pelo Congresso Agrícola do Rio de Janeiro. Desse modo, a conguração dos latifundiários convocados por província foi:  Assinaram o livro de Inscreveram-se sem presença do Congresso assinalar o livro

Total

ES MG SP

5 57 66

2 18 34

7 75 100

RJ Município Neutro Sem informação

141

59

200

7

4

11

2

4

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⃰  Dados retirados da introdução José Murilo de Carvalho In: RIO DE JANEIRO, Anais do Congresso Agrícola, 1878. Edição fac-similar. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1988.

Dentre as diversas temáticas abordadas (crédito, instrução, força de trabalho) a principal era referente à substituição do trabalho escravo para o livre e como já dito, foi levantada a possibilidade de 17

se fazer uso do trabalho asiático nas lavouras. Entretanto, a maneira de se proceder a essa substituição, causava discordâncias entre os proprietários de terras. A maioria acreditava que a importação de asiáticos poderia ser solução provisória, mas, vários atacavam a medida, baseados em preconceitos raciais até mais fortes do que contra africanos, pois diziam que aqueles eram corrompidos pelo ópio (CARVALHO, 1988, p. vii).  Acerca desse problema, cava evidente que a maior urgência era adquirir um novo tipo de mão-de-obra para a lavoura que já sofria consequências devido à escassez de trabalhadores. Assim, o lavrador Sr. José Cesário de Miranda Monteiro de Barros (de Cachoeiro de Itapemirim) representando a Província do Espírito Santo, pediu a palavra alegando que:

a primeira necessidade real é a de braços, porque o fornecimento de capitais, por si só, não salvaria a lavoura da crise que ela atravessa e que terá de perdurar nestes próximos anos. O fornecimento de capitais em abundância, a juro barato e a largo prazo, poderia dar lugar ao abuso do crédito e daí provir ruína maior, senão total, da grande maioria dos lavradores do país. 6

Nesse sentido, aquele lavrador pediu novamente a palavra e apresentou um projeto almejando:

Que a primeira necessidade da lavoura é a aquisição de trabalhadores livres mediante salários módicos, e de trabalhadores que se habituem ao nosso clima, e ao sistema de cultura extensiva, que em geral e por muitos anos [será] quase a única do Brasil; para cujo m de modo algum se poderá contar por enquanto com os europeus, devendo6

Anais do Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, 1878, p. 130.

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se antes preferir, como um meio de transição entre o trabalho servil e o de todo livre, a aquisição de trabalhadores de outros povos de raça ou civilização inferior à nossa própria. 7

Tal projeto nos aponta a urgência em se resolver a questão do braço trabalhador, não conferindo tanta importância para o tipo de nacionalidade, desde que os empregados recebessem baixo salário e se acostumassem ao nosso clima. Para além disso, o citado lavrador do Espírito Santo ainda advertia que infelizmente não poderíamos contar com os imigrantes europeus naquele momento. Em contrapartida, outro lavrador representante de São Mateus, região norte da Província do espírito Santo, o senhor Francisco Antonio da Motta alegava que em relação a mão-de-obra de chinesa, se fazia contrário à colonização de chins ao Brasil. 8 Como já ressaltado, o tipo de mão-de-obra a ser empregada dividiu opiniões entre latifundiários e políticos. Todavia, o que se sabia era que deveria ser feita uma mudança do tipo de trabalhador utilizado na grande lavoura e que tal medida deveria ser urgente, pois como já exposto, as leis progressivas para o m da escravidão evidenciavam que o m estava próximo e que a grande preocupação residia em fatores econômicos, para que assim, a lavoura não sofresse profundos abalos.  A vista disso, especialmente por questões internas, a escravidão estava perdendo sua força e particularmente ao longo da década de 1870 o movimento imigrantista se fez presente não apenas a nível nacional, mas a nível local, como por exemplo, na Província do Espírito Santo. Porém, esse movimento vai se fazer singularmente mais forte ao longo da década de 1880 quando não apenas o movimento abolicionista nacional e local ganhará mais força, mas também quando associações de imigração se zeram mais presentes no Brasil e no Espírito Santo. Desse modo, os deputados da citada Província parabenizaram no ano de 1884 a instauração da Sociedade Central de Imigração, congratulando-a pelos esforços que 7 8

Anais do Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, 1878, p. 130. Anais do Congresso Agrícola do Rio de Janeiro, 1878, p. 192.

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estavam sendo empregados para o estabelecimento de europeus no Brasil. Assim, declarou que a “[...] Assembleia espera na atual sessão tomar medidas que auxiliem os elevados e patrióticos intuitos daquela benemérita associação, am de que sejam convenientemente recebidos os imigrantes[...].” 9 Paralelo ao incentivo à vinda de imigrantes europeus, o movimento abolicionista se fazia cada vez mais presente e mais forte. Não apenas no âmbito nacional, mas em âmbito local. Diversos  jornais da capital da Província do Espírito Santo evidenciavam que a escravidão chegaria ao m em breve, uma vez que, em 1884, a Província do Ceará havia abolido a escravidão quatro anos antes da promulgação da Lei Áurea e além disso, mais uma lei foi assinada em 1885 cujo objetivo era a libertação de escravos a partir de sessenta anos de idade. Nesse sentido, tal lei, embora possa ser considerada injusta, visto que, libertava uma pessoa que já dispendeu praticamente toda sua força e vigor durante os anos de cativeiro, sacramentou o m da instituição escravista, pois essa nova norma fez parte de um corpo legal que minou as possíveis formas de se manter a escravidão no Brasil por muito tempo. Dessa forma, o contexto nacional a partir da criação dessas leis emancipacionistas graduais juntamente com o recrudescimento do movimento abolicionista e a partir da criação de sociedades de imigração zeram com que, ao longo da década de 1870, mas especialmente durante a década de 1880, diversos grupos de libertação, inclusive os próprios senhores de escravos contribuíssem para a alforria de escravos. Tanto que, a partir do início de 1888, alguns senhores de escravos das localidades do sul do Espírito Santo, especialmente de São Miguel do Veado (Guaçuí) buscaram se antecipar e alforriaram seus escravos incondicionalmente (MARTINS, 2002, p. 219).  Assim, o senhor Francisco Ourique de Aguiar, fazendeiro na Freguesia de São Miguel do Veado “declarou libertos sem condição alguma a todos os seus escravos em número muito superior a cem (100) tendo anteriormente conferido muitas cartas de liberdade a 9 1884.

Anais da Assembleia Legislativa da Província do Espírito Santo,

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outros seus escravizados que não fazem parte deste grupo”. 10 Ainda sobre a libertação de escravos na Freguesia do Veado, foi publicada uma matéria em abril de 1888 no jornal O Cachoeirano na qual foram congratulados “dois distintos cavalheiros”, os senhores Francisco Ourique de Aguiar, “que só ele libertou perto de duzentos escravos” e o senhor José Domingos Viana, ex escrivão daquela freguesia por terem libertado seus cativos. Desse modo, o autor da matéria ressaltou parabenizou os referidos senhores da seguinte forma: “Louvores, mil louvores aos habitantes da freguesia do Veado. Vai pois a freguesia do Veado ser a primeira na Província do Estpírito Santo a [eigná] o diadema da redenção dos cativos”. 11  A partir de tal situação, cava evidente que o término de uma instituição que perdurou no Brasil por quase quatro séculos chegaria ao m em breve e que após um longo período de escravidão, permeado por contradições e injustiças que em maio de 1888 o jugo do cativeiro foi extirpado no Brasil mediante a assinatura da Lei Áurea e que, mais uma vez, após mais de cem anos de sua promulgação nos questionamos em relação à sua ecácia devido aos resquícios da escravidão que infelizmente ainda se fazem presentes em nossa sociedade.

10 11

O Cachoeirano, Abril de 1888, Edição 000015, p. 2. O Cachoeirano, Abril de 1888, Edição 00016, p. 2.

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2.

DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO: O CONTEX TO EUROPEU E A IMIGRAÇÃ O ITALIANA PARA O BRASIL

 A

partir da segunda metade do século XIX, países como a  Alemanha, a França e a Áustria haviam se unido à Bélgica e a Inglaterra no conjunto de nações industrializadas (HOBSBAWM, 1988, pp. 7-8). Em consequência disso, a jovem Itália, nalmente unicada em 1860, passou por um processo de desestruturação socioeconômica e tornou-se uma espécie de periferia destes países (RÉMOND, 1997, pp. 151-154). De acordo com o historiador inglês Eric Hobsbawm (1979, p. 203), movimentos populacionais e industrialização andam juntos, já que o desenvolvimento econômico moderno do mundo pede mudanças substanciais junto aos povos e, por outro lado, facilita tais articulações tornando-os tecnicamente baratos e mais simples através de comunicações novas e melhores, assim como evidentemente permite ao planeta manter uma população bem maior. Nesse contexto de industrialização, o contingente de seres humanos que seguiram da Europa para outros continentes, entre os séculos XIX e início do XX, foi responsável por uma das mudanças mais drásticas de todos os tempos: aumento dos habitantes das Américas de cerca de 30 a quase 160 milhões entre 1800 e 1900 (RÉMOND, 1997, p. 95). Na visão do historiador Sérgio P. de Paula (2013, p. 34), a emigração massiva aliviou a pressão social interna na Europa e, de certa forma, resolveu uma crise antes que ela se tornasse uma revolução. Nesse sentido, o impacto das transformações políticas e socioeconômicas deteriorou rapidamente a vida rural, levando à subnutrição e tornando uma grande parcela da população mais susceptível as doenças. Dessa forma, Celso Furtado (2008, p. 187) arma, por exemplo, que “(...) a pressão sobre à terra, do excedente de população agrícola, fez crescer a intranquilidade social”. Assim, as ações do governo imperial brasileiro para alavancar a imigração e aliciar imigrantes, só obtiveram sucesso graças às transformações ocorridas no Velho Mundo. Nesse contexto, o centro capitalista europeu demandava dos continentes americanos uma produção agrícola cada vez maior para 23



Eu nasci em Alegre. Pelo que eles contavam (meus familiares), eles embarcaram em Gênova na Itália.

Os navios eram a vapor e as viagens eram complicadas. Foi uma viagem bem lenta e eles vieram para o Porto do Rio de Janeiro, outros pelo Porto de Santos em São Paulo, e de lá tinham uns agentes que ficavam negociando a ida dessas famílias para o interior do país para desenvolver a agricultura, mesmo porque era um período que tinha acabado a escravidão no país, quando aconteceu essa grande leva de imigrantes, não só italianos, como de outras raças também.”

Vicente de Paula Albani



Albani, por exemplo, italiano que termina com ‘i’ ou com ‘e’

é plural, ou seja, s ignifica que eu

sou dos Albanes, filho de Albanes. Albani poderia ser da Albania ou poderiam ser povos que atravessaram o canal e foram para a Itália, povos vindos de outras regiões, não sei te dizer ao certo.”



Eu cheguei a fazer no papel do j eito que estou te falando aqui, mas não fiz dentro

da técnica, mesmo porque fiz apenas dentro dos documentos aqui no Brasil, em Alegre, que foram as certidões de casamento e óbito deles, e eu consegui chegar apenas até meus bisavós. Tenho um fato que meu pai contava que quando eles vieram da Itália, eles embarcaram no Porto de Gênova. O agente prometeu que quando eles chegassem aqui

saciar a fome das populações expulsas do processo de racionalização dos campos, e para fornecer matérias-primas a serem trabalhadas em sua indústria (HOBSBAWM, 1988, p. 50). De acordo com o sociólogo italiano Renzo Grosselli (2008, pp. 41-42), demandava também a lógica capitalista, novos espaços para onde expedir a mão de obra excedente, que ameaçava tornar-se a origem de deagrações revolucionárias, como acontecera em 1848, durante a Primavera dos Povos, e em 1870, na Comuna de Paris. E o círculo se fechava cada vez mais: aquela mesma gente, expulsa da Europa, constituiria, mais tarde, um mercado de escape para a exuberante produção industrial europeia (HOBSBAWM, 1979, p. 150).

no Brasil, eles encontrariam todos no mesmo porto e separou eles em navios diferentes. Só que quando chegou aqui, eles não se encontraram porque, uns desceram no Porto de Santos e outros no Rio e naquela épo ca não havia comunicação fácil e acabou que eles nunca mais se encontraram. ” Vicente de Paula Albani

  Dentro do campo acadêmico, durante a primeira metade do século XX, operou-se uma teoria reducionista para tentar explicar o fenômeno migratório maciço do século XIX e de parte do XX na Europa (BOURDÉ; MARTIN, 1990, p. 158). De modo geral, a emigração se explicaria, de acordo com esses estudos, a partir da relação entre população e recursos, tanto na Europa como na Itália. Para René Rémond (1997, pp. 152-153), realmente existe um nexo direto entre crescimento demográco e emigração: entre 1815 e 1914, por exemplo, a população da Europa praticamente dobrou. Em 1800, ela era calculada em 187 milhões; em 1900, ultrapassa os 400 milhões, tendo aumentado de 214 milhões numa centena de anos. No entanto, alerta o historiador francês, dados demográcos mais acurados indicam uma correlação e não uma relação de causa e efeito entre os dois fenômenos. Em outras palavras, tais cifras não exprimem senão uma parte do fenômeno.  Acerca dessa questão, geralmente as migrações produzem importantes transformações na estrutura demográca, social, econômica e cultural das regiões interligadas pelo movimento. Assim, o século XIX, sobretudo na sua segunda metade, caracterizou-se por uma transferência de grandes contingentes populacionais entre regiões cujos contextos apresentavam muitas diferenças quanto ao estágio de desenvolvimento e à evolução demográca. Destarte, por um lado, a Europa passava por uma fase de excedente de mão de obra, de novas relações sobre a utilização da terra, dos serviços e das ofertas de emprego, principalmente daqueles pouco especializados. Por outro lado, o continente americano buscava meios de atrair 24

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recursos humanos para povoar os imensos vazios demográcos e produzir riquezas (DE PAULA, 2013, p. 34).  A esta altura, insere-se uma nova questão, que distingue este processo tanto no tempo quanto no espaço: o novo sistema de produção capitalista, que simplesmente revolucionou as relações sociais e econômicas consolidadas há séculos. Para Grosselli (2008, p. 43), este sistema introduziu, no equilíbrio entre homem, sociedade e território, germes que o desarticulavam. Desse modo, surgiam novas necessidades, novos ideais, um novo modo de viver e de relacionarse com a sociedade, a natureza e a divindade. Nesse sentido, mutatis mutandis 12, o século XIX foi uma gigantesca máquina para elevar os homens do campo. A maioria deles foi para as cidades, ou, a qualquer preço, para fora do ambiente tradicional rural, em busca do melhor caminho que pudessem encontrar em mundos estranhos, assustadores, mas sobretudo promissores, onde se dizia que o pavimento das cidades era feito de ouro, embora alguns emigrantes não encontrassem mais que algum cobre (HOBSBAWM, 1979, p. 205). Para Hobsbawm (1979, p. 212), o capitalismo industrial produziu duas novas formas de viagens de prazer: “(...) turismo e viagens de verão para a burguesia, e pequenas excursões mecanizadas para as massas”. Ambas eram os resultados diretos da aplicação do vapor no transporte, já que pela primeira vez na história, viagens regulares e seguras eram possíveis para grandes quantidades de pessoas e bagagem, e por qualquer terreno ou mar. O grosso da emigração europeia, portanto, será constituído principalmente de camponeses sem terra, de operários sem trabalho, de burgueses arruinados.  As grandes levas de emigração coincidem com as crises econômicas que atingem a Europa: os países que contribuem mais substancialmente para esse movimento de emigração são os mais atingidos pela falta de trabalho e pela miséria (RÉMOND, 1997, p. 153). 12 Feitas as mudanças necessárias ou convenientes; mudando o que deve ser mudado; com as substituições necessárias. Disponível em: www. denitions.com/mutatis-mutandis. Acesso em: 22 de outubro de 2017.

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Uma nova cultura avançava juntamente com um novo modo de produção, e agonizavam a cultura camponesa e aquele mundo feudal que havia sido denitivamente abatido pela revolução industrial inglesa, no campo econômico, e pela Revolução Francesa, no campo político-ideológico (HOBSBAWM, 1988, pp. 3-4). Em virtude disso, cerca de 8 milhões de pessoas, principalmente espanhóis, italianos e alemães dirigiram-se para a América do Sul (GROSSELLI, 2008, p. 43). Na Itália, por exemplo, mesmo na zona rural, penetraram os germes do “novo”, e não poderia ser de outra forma:  Apesar de seu isolamento, também devido a uma conformação particular do território, e de seu r ígido conservadorismo, a comunidade camponesa italiana apercebeu-se do que estava mudando. Iluminismo, progressismo, liberalismo, socialismo: direitos do homem, igualdade, nação, indivíduo; conceitos e teorias que os alcançaram através de  jornais, que o camponês naturalmente não lia, mas que seus intelectuais, ou seja, seus sacerdotes, liam e em boa parte combatiam (GROSSELLI, 2008, pp. 42-43). Mesmo sem a violência de uma revolução, o impacto destas novas ideias e tensões sobre aquele mundo, já cansado, era decisivo.  A Igreja, portanto, que combatia com veemência o liberalismo e o socialismo, não podia ao mesmo tempo ignorar as novidades que se haviam inserido no mundo. Não podia ngir que não existiam e, em sua reação, devia absorver alguns de seus conteúdos, adaptando-os aos interesses da Igreja (MANTOUX, 1989, pp. 62-65). Entretanto, não foram os intelectuais orgânicos 13 da classe camponesa italiana, isto é, os padres e os sacerdotes, os únicos a serem envolvidos neste processo de mutação. Os próprios camponeses entraram em contato com o novo mundo: 13 Para Antonio Gramsci, “(...) os intelectuais orgânicos servem aos interesses das classes subalternas de uma função central nos processos e lutas de formação de uma contra hegemonia contrária aos interesses do capital e dos seus intelectuais tradicionais e orgânicos” (DURIGUETTO, Maria. A questão dos Intelectuais em Gramsci . Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 118, p. 265-293, abr./jun. 2014. p. 267).

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Todos aqueles, que cada vez mais, tinham que emigrar, seguindo os trabalhos das ferrovias ou levando consigo o conhecimento de sua prossão, entraram em contato com um mundo no qual as hierarquias sociais eram profundamente diferentes daquelas a que estavam habituados: a nobreza tornava-se menos importante, os padres não eram mais senhores incontestes das consciências, e o relacionamento entre o homem e a sociedade, e mesmo a divindade, era menos fatalista (GROSSELLI, 2008, p. 44).

 As vidas da grande massa de homens e mulheres estavam se transformando, tanto nas cidades quanto nos campos europeus. Por meio do dinheiro, comprava-se e vendia-se de tudo, das mercadorias à dignidade de seus semelhantes. A força de trabalho, sobretudo, podia ser comprada e vendida, assim como a terra. Esta última, tornou-se uma mercadoria, enquanto para a sociedade camponesa era o fator produtivo que, juntamente com o trabalho, permitia a reprodução da espécie: no entanto, as relações capitalistas, invadiram os campos italianos, acrescentando-lhes numerosos vetores (GROSSELLI, 2008, pp. 44-45). Por outro lado, o Brasil entrava em uma fase de acelerada mutação, que determinou variações substanciais de suas estruturas políticas, econômicas e sociais (PRADO JR., 2012, p. 160). Para a historiadora brasileira Ana Luiza Martins (1999, p. 20), é exatamente a partir da segunda metade do século XIX que o Brasil conheceu uma transformação de importância histórica, desta vez no campo econômico: ndava a hegemonia econômica do açúcar, que durara três séculos e que zera do Nordeste, sobretudo a Bahia, o coração econômico do país. O preço do produto caiu vertiginosamente e, um dos fatores que nos possibilita a compreensão de tal situação foi que, na Europa, se generalizou a produção do açúcar de beterraba, enquanto os Estados Unidos, aumentaram sua produção nos Estados do Sul. Juntamente a esses fatores, sobretudo armou-se a economia açucareira de Cuba, que substituiria o Brasil como principal produtora 28

(PRADO JR., 2012, p.185). Na clássica interpretação do historiador Fernando Novais (1989, p. 106), o processo de desenvolvimento do capitalismo europeu estabeleceu no decorrer dos séculos XVIII e início do XIX, rígidos espaços de manobra para as economias periféricas que constituíam, na prática, parte integrante da economia reprodutiva europeia, cujas técnicas e capitais eram aplicados para nelas desenvolver, de modo permanente, um uxo de bens destinados ao mercado europeu.  Assim, e em consonância com as ideias de Novais, Sérgio Buarque de Holanda (1985, p. 195) assevera que, com a queda dos preços do açúcar, que teve início já nas primeiras décadas do século XIX, a economia brasileira perdeu sua única possibilidade de acúmulo, que residia exatamente na exportação deste produto. E, foi a esta altura, como bem argumentou Prado Jr. (2012, p.114), que surgiu a oportunidade de converter a agricultura do país em outra produção, que continuaria até os nossos dias como uma das principais fontes de renda brasileira: o café. Dessa forma, a nova produção não representou apenas a salvação de uma economia que, já em meados do século XIX, parecia não ter possibilidades de desenvolvimento, mas permitiu o surgimento de um novo processo de acúmulo de capital, o qual teria nanciado a modernização das estruturas econômicas mais elementares (PRADO JR., 2012, p. 185). Ao mesmo tempo, a produção cafeeira aliviou as penosas condições nanceiras do Estado desde o momento em que este determinou um imposto scal sobre as exportações; permitiu ainda, povoar o território com mão de obra europeia, que encontrou trabalho nas fazendas e nas pequenas propriedades onde se cultivava o café, e nanciou em grande parte este processo de imigração que mudaria a face da sociedade brasileira ( FRANCO, 2016, p. 52). Com isso, no momento em que o país começava a romper os mais estreitos e dolorosos vínculos coloniais, tendo alcançado sua independência política e dado início à formação de uma classe dirigente ligada aos interesses nacionais, viu-se na contingência de resolver um problema que, em parte, era consequência do fato de ser periferia do centro capitalista: o problema da abolição da escravatura, que em termos denitivos, ocorreu somente em 1888 (CARVALHO, 29

30

2002, p. 45). No entanto, não se objetiva aqui esclarecer se a abolição da escravatura foi ou não o marco da separação da história do Brasil pré-capitalista completamente inserido no sistema de produção capitalista. Enm, o que realmente é de nosso interesse é: aonde encontrar a mão de obra a ser usada no cultivo do café, uma vez que os escravos, liberados pela lei, tendiam a fugir das fazendas e do trabalho considerado sinônimo de escravidão? Este quesito também é de difícil solução. Entre os historiadores, inclusive, há quem arme que havia no Brasil uma enorme disponibilidade de mão de obra quase desocupada, e que se não fosse a falta de visão dos governantes brasileiros, tal contingente poderia ter sido utilizado nas fazendas, ou poderia ter sido transformado em classe de pequenos proprietários de terras (FAUSTO, 1995, p. 136-137). De qualquer maneira, (...) o fenômeno da imigração completou um ciclo iniciado na aurora do século XIX e que mudou radicalmente a sionomia do Brasil. Livre da escravatura, iniciara então um rápido processo de mudança de suas estruturas econômicas e sociais, começando a investir parte do capital acumulado para atrair mão de obra europeia – fato que por si mudou radicalmente a face da sociedade civil e da cultura brasileira (GROSSELLI, 2008, p. 108-109).

Não há números exatos da quantidade de imigrantes europeus no Brasil. As quantidades citadas pelos pesquisadores são aproximadas ou se referem aos dados que se conseguiram levantar em tais pesquisas, obviamente, inferiores aos reais (PAULA, 2013, p. 36). No entanto, no que se refere aos imigrantes italianos, segundo a pesquisadora Maria Thereza Schorer Petrone (1998, p. 51), estimase o número de imigrantes italianos no Brasil em torno de 1.485.000 e, no Espírito Santo, estima-se em cerca de 35 mil. Fato curioso é que, examinando bem os fatos, a maior migração de povos da história produziu surpreendentemente raras agitações contra estrangeiros entre os trabalhadores, mesmo nos Estados Unidos e, praticamente 31

nenhuma, como na Argentina e no Brasil (GROSSELLI, 2008, p. 356358).  A partir da segunda metade do século XIX, muitos países americanos e da Oceania deram início a um bombardeio publicitário na Europa, buscando atrair colonos para suas terras virgens e artesãos para suas cidades. No caso do Brasil a propaganda não foi muito honesta, sobretudo em território italiano: “(...) formava a ideia da facilidade de acesso à propriedade de terra e, assim, maior possibilidade de ascensão do trabalhador à condição de proprietário” (PAULA, 2013, p. 41-42). De qualquer maneira, uma vez em território brasileiro, a realidade era outra para o imigrante italiano, É impossível denir o sentimento de uma pessoa que, acostumada à vida na cidade ou nos campos, ou simplesmente a terrenos cultivados onde os olhos passeiam por longos trechos, vê-se sepultada por árvores gigantescas, sem uma casa, sem um trecho de terreno que mostre vestígios de cultura humana. Por toda parte a mesma monotonia de selva, que impede que se veja um pouco a conguração do lugar em que se encontra, causa tristeza, acrescida de gritos estranhos jamais ouvidos, e que não se sabe se são de animais pacícos ou ferozes; tudo contribui para abater um espírito que não seja dos mais corajosos (GANARINI, 1880, p. 27, apud GROSSELLI, 2008, p. 309). É neste quadro que se i nsere a história da emigração italiana para o Brasil. A partir do terceiro quarto do século XIX, os termos do problema econômico brasileiro haviam mudado substancialmente. Surgira o produto que permitiria ao país reintegrar-se nas correntes de expansão do comércio mundial: concluída sua fase de gestação, a economia cafeeira achava-se em condições de autonanciar a sua extraordinária expansão sucessiva. Além disso, haviam se formado os quadros da nova classe dirigente que iria orquestrar a grande expansão da cultura do cafeeira: a classe dos grandes barões do café. Restava resolver, porém, o problema da mão de obra: e uma das possíveis soluções para se tentar resolver foi o imigrante europeu – e entre eles, principalmente, o italiano. 32

3.

IMIGRAÇ ÃO NO ESPÍRITO SANTO: UM DESTAQUE PARA A REGIÃO SUL – ALEGRE E GUAÇUÍ



Vieram para o Brasil justamente para suprir a mão de obra escrava. Foi no ano de 1880, daí

pra frente, quando estava acabando a escravidão em

O

s primeiros imigrantes italianos começaram a chegar ao Brasil ainda na década de 1840. No entanto, foi entre os anos de 1870 e 1910 que houve o maior uxo de italianos para o território brasileiro, principalmente para as regiões sul e sudeste do país. O Brasil era visto como uma terra nova, repleta de oportunidades. E que, devido aos problemas referentes à mão-de-obra enfrentados pelos italianos, que especialmente dessa forma o governo brasileiro fez diversas campanhas na Itália com intuito de atrair esses italianos para o trabalho na lavoura brasileira. Dessa forma, chegaram ao Brasil imigrantes de todas as r egiões da Itália, cuja preponderância se referem às regiões do Norte e que juntas forneceram 92% dos imigrantes, enquanto as regiões do centro contribuíram com 6% e as do Sul, com 2% dos italianos (LAZZARI, 2014, p. 67). E assim, mediante àquele contexto histórico juntamente com os dados citados, podemos dizer que o Espírito Santo, por exemplo, abriga ainda hoje uma das maiores colônias italianas no Brasil (PAULA, 2013, p. 43). No que tange à vinda dos italianos, esses imigrantes foram atraídos para terras capixabas am de ocuparem inicialmente a região das serras e ao chegarem em solo espírito-santense depararam-se com outra realidade muito diferente da anunciada, cuja infraestrutura econômica e governamental eram signicativamente precárias e incapazes de assegurar-lhes condições básicas de vida e trabalho. Entretanto, apesar dessa realidade hostil, grande parte desses imigrantes conseguiram adquirir lotes nas áreas de colonização (PAULA, 2013, p. 63).

1888, minha família veio mais ou menos 1892. Eles não sabiam nem para onde estavam indo, alguns pegaram novos navios e vieram, foi o que aconteceu com minha família, pegaram um navio no Rio de Janeiro e vieram para o Porto de Benavente e outros para o Porto de Itapemirim, perto de Marataízes.”



Havia um porto muito grande ali com muito movimento, ali eles desembarcaram e foram

obrigados a fazer quarentena, para saber se não

tinham nenhuma doença, porque naquela época não tinham vacinas e nem remédios, então eles tinham que ficar lá por obser vação durante 40 dias, para daí serem designados para as fazendas. Enquanto ficava a negociação dos agentes com os fazendeiros. “ Vicente de Paula Albani



O meu pai quando veio para o Rio de Janeiro, veio a chamado de um tio dele, ele veio e

ficou no Rio, fez diversas coisas, mas depois ele foi chamado para trabalhar em Carangola para ser assim, chefe de uma concessionária chamada “Pistono”, então ele foi chamado para ser chefia. E le foi chefe dessa concessionária de fabricação de peças. Então

Como já dito, a partir da metade do século XIX o Brasil recebeu signicativa quantidade de imigrantes italianos, o que contribuiu para que houvesse expressivas mudanças sociais e econômicas em terras capixabas. Sendo assim, o início dessa nova “colonização” se deu a partir do contexto delicado em que a Europa estava vivendo naquele período e, devido a tais circunstâncias, esses italianos buscavam reconstruir ou muitas vezes construir uma vida 33

ele trabalhava em vários fornos, p ara fabricar peças, essas coisas, e lá conheceu a mamãe, e se casaram lá em C arangola. E para aqui para Guaçuí, eu vim quando eu tinha 5 anos. Carolina Palumbo Faria



Naquela época já existia até propina, os agentes recebiam para enviar os escravos para outros

lugares, inclusive, aqui no Espírito Santo houve uma grande revolta na região de Aracruz, lugar que recebeu a primeira vinda de imigrantes no estado. Um agente prometeu ‘mundos e fundos’ para os italianos, e quando eles chegaram não era nada daquilo que eles haviam falado. Os imigrantes se rebelaram contra o agente, houve até intervenção do governo, acabaram levando os italianos revoltos para o sul do Brasil. Eles se encon-

nova numa possível “Canaã” (CAVATI, 1973, p. 24). Desse modo, sabemos que essa política imigrantista se deu a partir de duas vias: as iniciativas particulares, bem como as iniciativas organizadas pelo governo brasileiro cuja propaganda em solo italiano se fez vigorosa, pois, ao buscar-se tentar solucionar o problema da mãode-obra, paralelamente a essa questão, o governo também almejava o embranquecimento da população. Nesse sentido, de acordo com Cellin: a Política de imigração, implantada como solução ao colapso do trabalho escravo resultou para determinadas províncias do país, uma larga oferta de trabalho capaz de atender a expansão da cafeicultura [...] além dos empreendimentos ociais, houve iniciativas particulares, na contratação de mão-de-obra estrangeira (CELLIN, 2000, p.72).

tram hoje no Rio Grande do Sul e são bem sucedidos.”



A minha família veio nessas

levas. Saíram do Porto do RJ, vieram para Cachoeiro de Itapemirim, depois para região de Muqui e posteriormente Alegre e Guaçuí, e se estabeleceram aqui nesta região. Os homens foram trabalhar nas construções das estradas de ferro. Os túneis de Alegre, a maioria foi feita por mão de obra de imigrantes, inclusive, de italianos, e trabalharam também nas l avouras de café. Neste meio tempo começaram a derrubar matas para poder plantar o café e niss o foram conseguindo dinheiro, e comprar as terras que eles trabalharam.” Vicente de Paula Albani

Em relação à possibilidade de se adquirir um lote, depois de dois anos em posse da terra, o colono poderia considerar-se quase proprietário do terreno e útil produtor. Desse modo, o governo enviava ainda uma designação do lote da terra, mas, para se obter a terra, o dono só poderia cultivar se submetesse às obrigações relativas à compra do terreno. Por conseguinte, a possibilidade de acesso à propriedade fundiária foi um dos principais aspectos das migrações transoceânicas no século XIX, uma vez que, no im igrante havia certo fascínio pela possibilidade de vir a ser proprietário. Nesse sentido, a propaganda de migração para o Brasil na Europa, sobretudo na Itália na segunda metade do Oitocentos, rmava a ideia da facilidade de acesso à propriedade de terra e, assim, maior possibilidade de ascensão do trabalhador à condição de proprietário (PAULA, 2013, p. 41). Em virtude dessa questão, no ano de 1875 o uxo de imigrantes em direção ao Espírito Santo aumentou cada vez mais. Dessa forma, grande parte desses italianos ao saírem de Gênova dirigiam-se diretamente ao porto de Vitória ou ao do Rio de Janeiro e nesses pontos, os imigrantes tomavam os navios brasileiros que conduziam aos vários portos do Espírito Santo ou seguiam de trem para as colônias do sul do Espírito Santo (CELLIN, 2000, p. 56). 34

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Diferente dos imigrantes italianos que foram para São Paulo, eles se dedicaram a indústria, mesmo

por que, a Revolução Industrial estava bem adiantada. São Paulo também foi um grande produtor de café, seguido de Minas Gerais e Espírito Santo. Aqui então eles foram se expandindo com muitas dificuldades, muitos morriam com picadas de cobras, outros por decepção de não ser o Brasil que eles esperavam. Eu por exemplo tenho uma bisavó que morreu por tristeza, porque ela ficou totalmente decepcionada com o que ela encontrou aqui, e não tinha dinheiro para

 volt ar e sentia muita falta dos pare ntes que ficaram lá, além da vida na Itália ser melhor do que aqui no Brasil. Ela veio atrás de um grande amor, que era meu

 Acerca da chegada desses imigrantes, de acordo com Rocha (1984) o grande uxo da entrada de italianos no estado do Espírito Santo entre o período de 1847 a 1891, soma-se um montante de 38.700 italianos. Todavia, mesmo com esse número signicativo, acredita-se que tenham entrado bem mais imigrantes no Estado, pois muitos eram casos de clandestinidade e também havia os que aportavam enganados em terras capixabas, sendo que estariam destinados a outras regiões (GROSSELLI, 2013, p. 98). Em relação ao aspecto quantitativo, o número de estrangeiros em 1900 era oito vezes maior que em 1872 e no Espírito Santo os italianos dividiam o espaço com portugueses e alemães. Em 1920, os italianos compreendiam 67% dos estrangeiros e eram 2,25% no conjunto da população italiana no Brasil. Para um Estado que ainda hoje está entre os menores do Brasil, tudo isso é bastante signicativo (PAULA, 2013, p. 46).

bisavô, mas chegando aqui não s e adaptou. Muitos

Segundo Nagar:

 vieram para o p aís sem passaportes, esc ondidos

[...] os imigrantes italianos que chegavam a Vitória em meados do século XIX, se “hospedavam” em uma espécie de Galpão, onde podiam requerer um lote de terreno para colonizar, optar por ser meeiros ou ser diaristas. Ao desembarcarem em terras capixabas e passarem meses abrigados nesses “albergues”, os imigrantes italianos, devido à péssima qualidade dos alimentos, desenvolvem a febre gástrica e outras doenças. Isso, no entanto, era só o começo, e à medida que adentravam o território capixaba rumo ao interior, a situação do imigrante e de seus desentendes só pioraria (NAGAR, 1995, p.45).

na terceira classe, como clandestinos.” Vicente de Paula Albani



Claro! Ele era mecânico, então ele trabalhava lá em consertar os aviões

daquela época, era mecânico oficial de lá, eu não sei se ele era tenente, não sei, não sei dizer. Aí naquela época sem empregos... foi chamado por um tio do Rio de Janeiro, e diz ele que trabalhou até em lavar pratos. Até ser chamado por Italianos que trabalhavam lá em Carangola, e tinha essa oficina ‘Pistono’, de altos fornos, então ele veio pra ser chefe dessa oficina. E ele nasceu em 1894, meu pai é de 1894, ele é do século XIX. E ele veio para o Brasil depois da Guerra. Ele deveria ter uns 22 anos.” Carolina Palumbo Faria

Como já exposto anteriormente, além das Colônias Ociais, que eram colônias patrocinadas pelo governo para que pudessem trabalhar, - cujos locais onde se concentravam o maior número de italianos-, havia também as colônias particulares que foram criadas a partir de iniciativas de grandes fazendeiros qual intuito era a obtenção de mão-de-obra barata e eciente. E por m, havia as colônias que 36

eram de iniciativa dos próprios imigrantes que compravam terras para se xarem e se desenvolverem. Segundo o governo do Estado, entre os anos que ndam o século XIX e dão início ao século XX, em cada divisão territorial dedicada aos imigrantes devia existir uma comissão formada por um engenheiro diretor, um médico, ajudantes, escrivão e um número suciente de agrimensores (GROSSELLI, 2013, p. 235). Tudo isso seria para assessorar adequadamente os recém-chegados. Mas, de acordo com o sociólogo italiano Grosselli (2013), a realidade se apresentou amarga para os imigrantes: na verdade, nessas comissões, se muito, havia apenas uma ou duas pessoas. A alimentação era quase sempre de má qualidade e a indicação de terrenos eram desenvolvidos com muita lentidão.  Apesar dessas condições em que os italianos eram expostos, ainda assim, somente no ano de 1895 ingressaram no Espírito Santo cerca de 4.575 imigrantes.. Nesse mesmo ano, no entanto, a imigração italiana para o Espírito Santo fora proibida, devido ao relatório do cônsul Carlo Nagar, o qual apontava vários problemas enfrentados pelos imigrantes nesse Estado, tais como: deciência dos meios de transporte entre a capital e os núcleos coloniais; condições precárias de alojamento nos barracões existentes nas sedes dos núcleos; demora na obtenção do lote e imprecisão nas demarcações; isolamento dos migrantes; escassez, carestia e má qualidade dos gêneros alimentícios no interior do Estado; deciência na assistência médica, escolar e religiosa: demora nos pagamentos e substituição do dinheiro por bônus (NAGAR, 1895, p. 35).  Apesar dessas questões, como bem sintetiza a historiadora Petrone (1982): Uma das maiores contribuições do imigrante para a sociedade capixaba foi ter demonstrado a viabilidade da pequena propriedade, o que lhe deu um papel signicativo nesta mesma sociedade. No sul do Espírito Santo, graças ao retalhamento de fazendas ou terras devolutas, a pequena propriedade de imigrantes mudou completamente (PETRONE, 1982, p. 53). 37



Ficamos um ano e pouco, ele foi fazer tratamento lá, então a doença estabi-

lizou e teve um problema na s étima vértebra, e ficou uma paralisia na perna esquerda. Então ele não pode mais trabalhar em altos fornos, aí teve que aprender outra profissão, pois não podia mais trabalhar em altos fornos, por isso que ele aprendeu com meu avô que morava lá em Carangola. Ficamos um ano lá na Itália, ou quase dois anos. Aí viemos para Carangola e depois ele veio passear em Guaçuí, gostou daqui e ele resolveu mudar para cá, com aquela coragem...”



Porque o vovô, ele trabalhava com... não lembro como se chama, mas era de tomar

conta de pessoas estrangeiras, de cartas, documentos... eu não lembro o nome de como se chama isso. Quem escreveu para a Itália foi o pai de mamãe para saber a situação, isto é, s e ele podia cas ar. Porque naquela época não podia, tinha que saber direitinho quem era a pessoa.”

“ 

Ele não veio para trabalhar nas lavouras de café, veio para a profissão dele mesmo. Ele já era engenheiro mecânico formado.”  Carolina Palumbo Faria

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 Além do relato de Nagar, para compreendermos melhor a vinda do imigrante italiano para o Espírito Santo, especialmente para a região sul da Província, analisamos o jornal O Cachoeirano. Este  jornal teve sua primeira edição no ano de 1877 e foi fundado por um comerciante chamado Luiz de Loyola e Silva, que morava na região do Itapemirim, lho de um capitão chamado Ignácio de Loyola e Silva, foi um dos primeiros habitantes de Cachoeiro (SANTOS, 2013). Sobre a vinda desses imigrantes e sobre as difíceis condições em que muitos deles enfrentaram, podemos perceber que o jornal O Cachoeirano, no ano de 1888 em uma matéria com título Interesses da Imigração diz o seguinte: O governo deve mirar-se em semelhante espelho e verá o esplendor da proteção que costuma prestar quando a promessa deveria ser cumprida. Os imigrantes ultimamente chegados cariam sem agasalho e alimento se não fosse a dedicação do cidadão B. Andréa. No nosso último número nenhuma intenção tivemos de censurar a comissão nomeada pela Sociedade de Imigração EspíritoSantense para agir aqui no município, visto como esta comissão nunca recebeu instruções [...] (O CACHOEIRANO, 1888, p.2)14. Percebemos que a notícia acima conrma as diculdades vivenciadas pelos imigrantes que chegavam na Província, assim como também vemos que, da mesma forma que há uma denúncia sobre a forma como os imigrantes estavam sendo tratados, o jornal diz que é uma atitude digna trazer os imigrantes para as freguesias do sul da Província do Espírito Santo. E no que tange ao perl desse imigrante, a maior parte dos que vieram para a região sul do estado era agricultor, em sua maioria analfabetos, mas também a maior parte dos imigrantes que vieram para o sul do Estado eram agricultores, em sua maioria analfabetos, mas também, existiam famílias de classe operária, revolucionários anarquista e prossionais especializados (BISSOLI, 1979, p.48). 14 Trecho retirado do jornal O Cachoeirano, do dia 24 de Junho de 1888 na página 2, edição número 26.

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Como exposto acima, o Cachoeirano no dia 24 de junho, parabenizava os senhores Francisco Gomes de Azevedo, Manoel Olegario de Carvalho e Luiz Geraldo de Carvalho, residentes em fazendas na freguesia do Veado e do Alegre, por agasalhar esses imigrantes da forma devida e na mesma página em que a referida matéria foi publicada, podemos identicar outra publicação sob o título Imigrantes, na qual relata: “É digno de ser imitado esse procedimento” (O CACHOEIRANO, 1888, p.2). Dessa forma, os italianos se xaram na região e se desenvolveram de modo tão expressivo ao passo que, ainda hoje temos pessoas que são descentes desses primeiros imigrantes na região. Desse modo, as matérias acima nos revelam alguns aspectos referentes à imigração italiana no sul do Espírito Santo e, por se tratar de uma região interiorana e distante da capital e do porto, a vinda desses imigrantes para Alegre deu-se particularmente pelo transporte ferroviário, uma vez que, especialmente no início do século XX havia trilhos de importantes acessos, sendo este o principal meio para que esses italianos chegassem ao município de Alegre.  Apesar de algumas diculdades e certos desenganos, os  jornais noticiavam que o Brasil era o Novo Canaã, e se limitaram a apreciar somente aspectos positivos sem dar importância aos fatos reais desta denominação, segundo Cavati (1973). Ainda de acordo com o autor, as cidades do sul do estado tiveram signicativo uxo de imigração, na qual há menção de Alegre e cidades ao redor (CAVATI, 1973, p. 126). No seguinte mapa, podemos perceber a imigração italiana na região  Alegre e Guaçuí.

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41

Figura 1 – Imigração Europeia no Espírito Santo

Fonte: Lorenzini (2007) No que se refere à essa colonização italiana, em Alegre não houve Colônias Ociais. Dessa forma, foi a partir da iniciativa de proprietários de terra local que parte expressiva desses imigrantes se instalaram nas fazendas de café, ou seja, esses imigrantes foram destinados a trabalhar na agricultura cafeeira, especialmente. Nesse sentido, esses italianos que almejavam um emprego e se xar na terra buscaram se aperfeiçoar em sua formação, demonstrando assim, interesse e preocupação pelo aperfeiçoamento prossional (MORAES, 1981, p.72). Por outro lado, apesar dessa busca por melhores condições de trabalho, as condições de vida em linhas gerais eram penosas. 42

Tal situação pode ser comprovada devido à baixa qualidade do saneamento básico e a escassez de médicos em Alegre, haja vista que, cerca de vinte imigrantes morreram devido às febres que atacaram todo o Estado, naquela conjuntura. Isso pode ser constatado através de alguns dados estatísticos que elaboramos tendo como base uma amostra de 19 certidões de óbito (de 10 imigrantes italianos e 9 descendentes diretos), no período entre o nal do século XIX e as primeiras décadas do século XX. 15 A péssima situação social, como comprova a tabela abaixo, nos revela inclusive que grande parte dessas mortes era classicada apenas como “morte natural”, devido muitas vezes à incapacidade de diagnosticar a causa do óbito: Tabela 1 – Causas de morte de imigrantes italianos CAUSA DA MORTE MORTE NATURAL CÓLERA FEBRE VARÍOLA

% 49% 23% 18% 10%

Fonte: Cartório Márcio Valory. Certidões de Óbito. Tal situação também foi denunciada no relatório de Nagar (1995), quando este revelou que no Sul do Estado as febres perniciosas nos meses quentes, bem como a febre amarela dizimavam populações de uma forma assustadora:  Além disto tudo sobressaem, infelizmente, o clima e as febres endémicas. Mais abaixo da região do Rio Doce, predominam as febres de impaludismo; em Vitória, a febre amarela e o beribéri; e no Sul as febres perniciosas, e nos meses quentes, também a febre amarela (NAGAR, 1995, p. 56). 15  As certidões de óbito encontradas ultrapassam o número de cem amostragens para o período analisado. Entretanto, para corroborarmos com a situação precária evidenciada por Carlo Nagar em seu relatório sobre a imigração para o Espírito Santo, buscamos escolher as certidões de óbito cujas mortes são especialmente acarretadas pela ausência de condições sanitárias básicas à uma população.

43

44

Não à toa, por conta dessa denúncia que nesse mesmo ano de 1895 a imigração italiana para o Espírito Santo fora proibida, devido a relatos como este registrados pelo cônsul italiano. Desse modo, no Sul do Espírito Santo, a situação não fugiu do geral: a região não possuía saneamento básico, sistema de saúde adequado, nem segurança e educação. Os imigrantes tiveram de lutar e se unir ao povo da região para superar as adversidades impostas pelo meio e, assim, sobreviver nesses tempos hostis, de diculdades e superação. Mas, apesar das diculdades, depois de 30 anos no sul do Estado, encontrava-se imigrantes que já gozavam de propriedades. Mas também muitos imigrantes que perderam suas vidas. Nesse sentido, o impacto demográco no Espírito Santo é notável entre 1872 e 1920, uma vez que quintuplicou o número de mortes por doenças (PAULA, 2013, p. 45).  Apesar das difíceis condições sociais enfrentadas por esses imigrantes, podemos perceber como eles foram sendo integrados pela sociedade em  Alegre. Assim, no jornal O Alegrense pudemos encontrar informações que caracterizava o período entre 1915 até meados de 1936 e dessa maneira, a partir de publicações no jornal observamos que os imigrantes italianos algumas vezes eram noticiados no referido periódico, tendo seus nomes publicados especialmente no que se referia ao pagamento e arrecadações de impostos ao governo, bem como eram ofertados empregos para esses imigrantes, além de noticiarem ações do dia a dia da população. O Alegrense como dito, fazia publicações referentes ao cotidiano daquela sociedade. Tanto que, no ano de 1935, na edição de número 573 é listado diversos italianos, sobre o lançamento de impostos de veículos, cujos sobrenomes eram: Fetti, Ogioni, Seraphim, Provetti, dentre outros; assim como em listas de recolhimento de taxas sanitárias e domiciliares. Dessa forma, podemos armar que tais indivíduos eram italianos ou seus descendentes, uma vez que ao utilizarmos o livro a Base de Dados da Imigração podemos identicar suas origens. No que tange a chegada dos italianos em Guaçuí, em virtude desse processo de imigração, percebemos que houve um grande avanço urbano na região, iniciando-se dessa forma o assentamento das primeiras casas comerciais. Desse modo, naquele momento, a Freguesia de São Miguel acolheu muitos trabalhadores e, com eles, muitos italianos, imigrantes que chegaram e se estabeleceram. Na oportunidade, muitos deles se 45

xaram na cidade, pois, de acordo com Teodoro (2014):  As primeiras familias italianas, que foram para Guaçuí, chegaram em 1896 procedentes de Minas Gerais e São Paulo, um vez que não houve imigração organizada para o município. Dentre essas famílias, podemos citar: Achucatti,  Albani, Albertini, Bazani, Bollari, Bolleli, Cabalini, Campgnolle, Capucho, Caroni, Cassago, Cazati, dentre outros (TEODORO, 2014, p.102). Desta forma, vieram com estes imigrantes, tradições e hábitos que ainda nos inuenciam atualmente, uma vez que, os italianos que aqui chegaram contribuíram com o processo de construção da nossa sociedade, formando famílias e disseminando seus costumes, história e sua cultura. Nesse sentido, importa ressaltar o resgate dessas trajetórias e deixar vívido em nossas memórias a nossa própria história e que esta foi construída conjuntamente com a história do povo italiano e de seus descendentes em nossa região.  Assim, após todas as pesquisas em institutos e entrevistas, pudemos perceber que houve inuência da imigração italiana na região de Alegre e Guaçuí, e, portanto, ainda hoje vemos algumas famílias que deixam presente no seu dia a dia as marcas da cultura italiana. Pois, através de seus relatos, algumas famílias mantem alguns costumes e tradições que foram passados de geração e geração. E, portanto, mantem viva a história do seu povo que vieram para o sul da Província do Espírito Santo.

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4.

HISTÓRIA E MEMÓRIA: CONSTRUÇÕES COTIDIANAS

“ Quem construiu a Tebas de sete portas?

Tenho um irmão, sobrinhos e cunhados que trabalham no Rotary Club. Também tenho um sobrinho que mora em Domingos Martins que é envolvido com a cultura italiana e alemã daquele lugar. Aqui a gente

Nos livros estão nomes de reis.

 já par ticipou do ciclo italiano que tin ha liga ção com

 Arrastaram eles os blocos de pedra?

o ciclo italiano de Castelo, t inha cursos de idiomas

E a Babilônia várias vezes destruída. Quem a reconstruiu tantas vezes?

de italiano. Um curso de 2 anos que a prova era em Vitória, e recebíamos um certificado de proficiên-

Em que casas da Lima dourada moravam os construtores?

cia na língua italiana. O curso era ministrado por sociedades e hoje não existe mais em

Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China fcou pronta?

Alegre. Embora eu tenha feito o curso,

 A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.

não consegui me formar. Este curso

Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares?

 vis ava pres erv ar a cultu ra, a língu a, as músicas, havia até mesmo missas

BRECHT 1898 - 1956

celebradas em italiano.”

O

que é História? Quem são seus agentes? De quantas maneiras diferentes ela pode ser redigida? E anal, quem pode escrever a História? Questões como essas podem permear o raciocínio do leitor mais atento e criar alguma desconança quando se tem em mãos uma obra que valorize a oralidade através da memória local. Para começo de conversa torna-se necessário ser elucidado o sentido do termo História, elaborado e aprimorado com os construtores do projeto intitulado “História e Memória coletiva nos Municípios de Alegre e Guaçuí: o resgate da cultura italiana pela nova geração de estudantes alegrenses” am de maior aproximação entre nosso objeto de estudo e o método utilizado na construção do presente trabalho. Na obra Apologia da História ou Ofício do Historiador escrita por Marc Bloch durante a Segunda Guerra Mundial e publicada posteriormente por Lucien Febvre, o autor defende ser a História uma busca e, logo, escolha. Nega que seu objeto de estudo seja unicamente o passado documentado armando, para tanto, que tal noção é absurda. Diz-nos ser a Ciência dos Homens no tempo. 47



A tradição maior que a gente preserva é quanto a religião, o catolicismo, principalmente a noite de natal, aquela tradição de fazer a ceia, a semana santa, são mais tradições religiosas”. Vicente de Paula Albani



Minha infância foi aqui em Alegre e foi

É este homem em seu tempo que nosso estudo procurou escavar e contemplar por meio da oralidade devidamente embasada em argumentação teórica (BLOCH, 2012, p. 165).

com direito a tudo que uma criança de in-

terior tem direito. Todas aquelas brincadeiras do interior, uma casa com muita gente, muita criança, só alegria. Conhecia apenas uma avó, os outros já haviam morrido quando eu nasci. Essa avó viveu até os 102 anos. Meus avós morreram novos para época. Tem uma dança chamada Tarantela, é uma dança pulando, é como se eles estivessem matando as tarântulas. Vicente de Paula Albani

Fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre na década de 1920 do século XX, a Escola dos Annales apresentou ao Ocidente uma nova forma de se compreender e se escrever a História. Nova porque contrariou aos ditames do positivismo, às suas regras rígidas na investigação de documentos e possibilitou uma outra abordagem acerca da escrita da História: colocar o homem como centro do estudo, suas relações sociais, suas interações com o meio, sua forma de agir e de pensar de acordo com a era a qual pertence (BOURDÉ; MARTIN,1990, p. 121-123). Ferrenho crítico ao historicismo vigente à época, em sua obra Bloch (2012, p.49) defendia “(...) uma história mais ampliada e mais aprofundada” e, portanto, não enxergava na mera transposição de documentos a única alternativa para se chegar à Ciência da História que fosse acessível tanto a doutos quanto aos estudantes. Além disso, considerava que o verdadeiro historiador seria aquele capaz de dialogar de forma clara tanto com o primeiro quanto com o segundo grupo. Não à toa, no capítulo introdutório da obra citada, é relatado o diálogo de Bloch com o seu lho, que lhe indaga: “(...) papai, então para que serve a história?” ( BLOCH, 2012, p. 43). Indagação esta que serve de suporte ao pensamento desenvolvido pelos Annales.  Ao criticar a mera narrativa documental, também Le Goff, no prefácio da obra em discussão (BLOCH, 2012, p. 43-44) arma que o historiador não pode ser um ser ocioso, um burocrata da história, mas deve ser um andarilho el a seu dever de exploração e aventura. Trazendo isso para o presente projeto: foi o desejo de exploração a principal peça motivacional do trabalho que levou adolescentes estudantes dos anos nais do ensino fundamental e primeiro ano do ensino médio à investigação do processo de imigração de europeus no estado do Espírito Santo, particularmente no interior deste. Nesse sentido, Le Goff (1990, p. 180) argumenta que a “História consiste na escolha e construção de um objeto. Operação que pode se dar a partir da evocação de lembranças (...)”, e dessa forma, ao invocar a importância do trabalho com história local através 48

49



O tempo sempre traz modificações. A

da oralidade, a historiadora Circe Maria Fernandes Bittencourt em consonância com as ideias de Le Goff, acrescenta:

sociedade aqui ficou muito dispersa. A

cidade foi crescendo, as pessoas foram em-

 A história local geralmente se liga à história do cotidiano ao fazer das pessoas comuns participantes de uma história aparentemente desprovida de importância e estabelecer relações entre os grupos sociais de condições diversas que participaram de entrecruzamento de histórias, tanto no presente quanto no passado (BITTENCOURT, 2008, p. 168)

bora, muitos morreram e muitas coisas se perderam da nossa cultura. A gente tenta resgatar alguma coisa, preservar a cultura. “



A tecnologia veio para facilitar muita coisa, mas também ela fez com que muitas outras coisas

ficassem no esquecimento, por exemplo, o contato pessoal, o convívio diário com as pessoas, o indi-

 vidu alismo ficou muito acentuado, iss o é uma característica deste novo século. Os jovens p erderam o interesse pela história e tendo uma leitura do passado podemos compreender com mais clareza muitas coisas do nosso presente. “



Tenho saudades das festas e desfiles escolares que tinha aqui em Alegre, dos bailes,

dos passeios pelas ruas, das pessoas poderem sentar nas praças e conversar. Do restaurante Casa Velha até a Praça do Pico de Bandeira, a rua

Estudos acerca da oralidade começaram a ser utilizados no Brasil a partir da década de 1970 e sobre seu signicado a historiadora Regiane Silva Penna, em sua obra Fontes Orais e Historiograa: avanços e perspectivas (2005), esclarece ser a história oral um tipo de metodologia utilizada na pesquisa que consiste na realização de entrevistas gravadas com pessoas de uma comunidade local que podem dar testemunho a respeito de acontecimentos, culturas, modos de vida ou quaisquer outros aspectos que envolvam a história contemporânea. Não por acaso, este tipo de técnica passou a ser utilizada a partir da década de 1950, com a invenção do gravador nos Estados Unidos, Europa e México, alcançando proporções signicativas desde então. É bastante utilizada, sobretudo na área de Ciências Humanas, entre historiadores, antropólogos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros.

ficava interditada para esses encontros, todo sábado e todo domingo, era como se fosse uma rua de lazer. A gente não pode ser muito saudosista, mas os valores que preservamos antes fazem falta, como respeitos aos pais, professores, hierarquia. Hoje os pais não colocam limites nos filhos. A minha educação foi muito rígida e a dos meus pais deve ter sido mais rígida ainda.” Vicente de Paula Albani

O trabalho com Memórias, respeitando o método à sua utilização, que no caso do presente estudo contou também com documentação especíca, é de suma importância pois permite conhecer e reconhecer outros agentes construtores da história: o homem comum. Assim, a memória é capaz não somente de recordar, mas de refazer e unir, abrindo possibilidades de se entrelaçar o passado ao presente (LE GOFF, 1990, p. 188).  Ao levantarmos as innitas memórias dos municípios de  Alegre e Guaçuí, Espírito Santo, foram investigadas quais as histórias a respeito do processo imigratório iniciado no Brasil do século XIX que 50

se escondiam ali e que não se encontravam em livros ou materiais ociais utilizados no cotidiano da comunidade, sobretudo no dia a dia dos estudantes. Anal, como bem destaca Le Goff (1990, p. 398-400), a lembrança é uma considerável fonte histórica e buscamos utilizá-la para envolver e familiarizar os estudantes dos anos nais do ensino fundamental de escolas públicas da rede estadual do estado do Espírito Santo com a construção da História expressa pela oralidade. À vista disso, a valorização da história local através do processo de investigação das inúmeras memórias permite a reformulação na leitura e compreensão dos processos históricos já que através dela é possível vericar transformações ocorridas no meio, realizadas por gente comum e assim ultrapassa-se os limites da ideia de que o cotidiano é repleto e permeado pela alienação (BITTENCOURT, 2006, p. 168). Ainda de acordo com Bittencourt (2008, p. 136) a história local normalmente se liga à do cotidiano por fazer das pessoas comuns participantes de uma história supostamente destituída de importância, podendo estabelecer assim relações entre grupos sociais de condições diversas que participaram de entrecruzamento de histórias, tanto no presente quanto no passado. No que tange à utilização da memória à escrita da história, Benjamin (1987, p. 227) esclarece não ser aquela um instrumento para a exploração do passado: mas sim, o meio. Nesse sentido, é onde se deu a vivência, tal como o solo é o meio sutil no qual as antigas cidades estão soterradas. Dessa forma o autor conclui que, para se aproximar do próprio passado, o homem deve agir como escavador desta memória. Desse modo, para Le Goff (1990, p. 368), “(...) o estudo da memória social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história, relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em transbordamento”. Sinaliza assim o autor, para o importante papel da memoração nas comunidades sem escrita e arma que ela está inserida nas grandes questões das sociedades, desenvolvidas ou não, sendo elemento constitutivo da identidade social ou coletiva: à utilização das memórias ao mesmo tempo em que estabelece a divisão destas entre individual e coletiva, sinalizando 51

“ 

Nós nunca tivemos placa do relojoeiro

Palumbo. Só um relógio. Só que depois

que meu pai morreu minha mãe achou que tinha que tirar o relógio por que a meninada era muito sem vergonha, batia no relógio e ele era um relógio artesanal, aí a mamãe mandou tirar. O pessoal sentiu muita falta do relógio, muita falta mesmo, na época da Segunda Guerra Mundial eles quiseram quebrar o relógio. Teve uma certa implicância sabe, então foi muito chato, meu pai foi chamado na delegacia e tudo, mas não teve problema porque não tinha nada a temer. Tem pessoas que ainda lembram dele, pessoas mais jovens, ele gostava muito de ler esses livretos de detetives, a garotada vinha trocar com ele direto, tem lá até hoje os livros  guardados lá em casa, sabe, cada conto bom.” 

para a importância da última no trato das Ciências Humanas. Na visão da historiadora Olga Rodrigues de Moraes von Simson (2003, p. 14), as diversicadas memórias avivam a existência da memória individual, que guardada pelo indivíduo, se refere às suas próprias vivências e experiências, mas que contém também aspectos da memória do grupo social onde ele se formou, isto é, onde esse indivíduo foi socializado. Ou seja, memória é a capacidade humana de reter fatos e experiências do passado e retransmiti-los às novas gerações através de diferentes suportes empíricos (voz, música, imagem, textos etc.). Nesse sentido a autora esclarece que:

Existe uma memória individual que é aquela guardada por um indivíduo e se refere às suas próprias vivências e experiências, mas que contém também aspectos da memória do grupo social onde ele se fomou, isto é, no qual esse indivíduo foi socializado. Há também aquilo que denominamos de memória coletiva, que é aquela formada pelos fatos e aspectos julgados relevantes pelos grupos dominantes e que são guardados como memória ocial da sociedade mais ampla (SIMSON, 2003, p. 14).

Também Maurice Halbwachs (1990, p. 23-25), estipula diferenças entre conceitos de memória individual e memória coletiva, que podem ser estabelecidas como a primeira, compreendida como um processo psicológico básico, e a segunda como a memória social, ou, em outras palavras, como um processo de construção grupal. De certa forma, de acordo com o autor, nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só nós vimos: “(...) é porque, em realidade, nunca estamos sós. Não é necessário que outros homens estejam lá, que se distinguam materialmente de nós: porque temos sempre conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem (HALBWACHS, 1990, p. 26). 52

Quanto à utilização da memória coletiva na didática, na compreensão e na construção historiográfica, a obra intitulada Ensino de História: Fundamentos e Métodos, de Circe Maria Fernandes Bittencourt (2006, p. 170), reafirma a importância do uso das recordações coletivas quanto à valorização da história local, oferece caminhos para esta atividade e estipula diferenças entre memória coletiva e história. Aclara ser a primeira uma relação gregária da comunidade com seu passado, e, portanto, carregada de seleções, eliminações e omissões, permeada por variações de acordo com a idade, sexo, ocupação, origem, etc., de seus agentes. Em contrapartida, afirma que o papel da História, em seu relacionamento simbiótico com a memória, se volta ao trabalho com a acumulação das memórias, reordenação do tempo, metodologias para recomposição de seus dados, além de confrontar memórias individuais e coletivas com outros documentos. Por outro lado, Jacques Le Goff (1990, pp. 90-91) aler ta-nos para o perigo da utilização da memória coletiva na manutenção do poder de grupos dominantes em detrimento de grupos dominados.  As estr uturas do poder de uma soci edade compreen dem o po der das categorias sociais e dos grupos dominantes ao deixarem, voluntariamente ou não, testemunhos suscetíveis de orientar a história num ou noutro sentido; o poder sobre a memória futura, o poder de perpetuação deve ser reconhecido e desmontado pelo historiador.

“ 

Sim, ele se dava muito bem com o Padre Miguel. Ele que fez o anel

do Padre, anel do Monsenhor. O anel que o Padre Miguel tem..., aliás, tinha, porque está no museu... foi uma pedra linda, e tem um outro também, o Padre Macário, foi meu pai que fez o anel dele também. Então ele fazia essas joias. Mas a especialização era fazer relógios, consertar peças e depois que foi vindo as outras coisas, vai fazendo as misturas de ouro, porque antigamente vendia-se muito, tipo coroa de dente, mas fina que tem, misturava com prata, com cobre em determinadas quantidades para fazer um ouro mais baixo e fino  para trabalhar com joias.” 

“ 

Nossa senhora, éramos muito bem acolhidos, nunca fomos

rejeitados por ninguém. A gente sempre era convidado para as melhores festas da cidade, em carnavais, em bailes, e tudo mais, o pessoal nos tratava muito bem!  Carolina Palumbo Faria

Nenhum documento é inocente. Deve ser analisado. Todo o documento é um monumento que deve ser desestruturado, desmontado. O historiador não deve ser apenas capaz de discernir o que é “falso”, avaliar a credibilidade do documento, mas também saber desmisticá-lo. Os documentos só passam a ser fontes históricas depois de estarem sujeitos a tratamentos destinados a transformar a sua função de mentira em conssão de verdade (LE GOFF, 1990, p. 91-92).

53

Nesse sentido, para se evitar interpretações errôneas ou que privilegiassem determinados grupos em detrimento de outros, a metodologia utilizada na elaboração deste trabalho contou ao longo do processo com análises documental e bibliográca e, principalmente, com o cuidado na utilização das memórias recolhidas para que não fossem analisados temas da vida cotidiana de forma isolada dos contextos históricos. Sobre a utilização de documentos com crianças e adolescentes em fase escolar, Bittencourt enfatiza o cuidado do prossional de história quanto ao trato entre documentos e estudantes:

Os documentos tornam-se importantes como um investimento ao mesmo tempo afetivo e intelectual no processo de aprendizagem, mas seu uso será equivocado caso se pretenda que o aluno se torne um pequeno historiador, uma vez que para o historiador, os documentos têm outra nalidade que não pode ser confundida com a situação de ensino de História. Para eles, os documentos são a fonte principal de seu ofício, a matériaprima por intermédio da qual escrevem a história (BITTENCOURT, 2006, p. 329).

 Após processo de seleção, denido referencial teórico a ser esmerado com os estudantes da Escola de Ensino Fundamental Médio Aristeu  Aguiar do município de Alegre, estes ingressaram no processo de releitura da imigração de italianos nos municípios escolhidos para a realização do projeto. Não se pretendeu durante o percurso, que contou com aulas expositivas, análise documental, principalmente de  jornais de época, discussões e entrevistas; a criação de pequenos historiadores, mas buscou-se o contato do estudante com sua própria história através da valorização das lembranças dos moradores locais colhidas em conversas com estes. Sendo assim, o objeto de estudo contemplou a memória e a suas construções cotidianas dando relevo à oralidade dos cidadãos alegrenses e guaçuíenses.

54

A partir das memórias recolhidas e sua análise concluise este estudo onde é possível a percepção acerca da signicativa inuência da cultura italiana ainda presente nos municípios de Alegre e Guaçuí, ambos no Sul do estado capixaba. Tal inuxo pode ser observado nos costumes religiosos, na culinária marcada pelas lembranças de quitutes e almoços de domingo, no saudosismo dos membros mais velhos, e de certo, também nos mais jovens, quanto aos sempre numerosos encontros de família, na forma de viver e agir marcadas normalmente por princípios morais bastante rígidos.  A relevância do trabalho, entretanto, não se encontra apenas na transposição de entrevistas e relatos colhidos em campo, mas principalmente nos elos formados a partir da memória entre passado e presente vividos. Ao concluir este projeto e suas discussões, retomase ao questionamento do parágrafo introdutório do capítulo que fecha todo o processo de construção dessas histórias, podendo-se armar que sendo a História a Ciência dos Homens no Tempo, são eles seus reais construtores.

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