História Da Maçonaria Para Aprendizes Período Operativo Pela GLSC
Short Description
Download História Da Maçonaria Para Aprendizes Período Operativo Pela GLSC...
Description
GRANDE LOJA DE SANTA CATARINA R E A A ∴
∴
∴
∴
HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARA APRENDIZ-MAÇOM PERÍODOS OPERATIVO, DE TRANSIÇÃO E ESPECULATIVO 2006
- Apresentação ................................................................ ................................................................
5
- Primeira Parte – Maçonaria Operativa - Introdução Geral ....................................................... .......................................................
7
- Os Mistérios Antigos .................................................. ..................................................
9
- Do Antigo ao Moderno ou do Passado ao Presente ......
10
- Os Colégios Romanos de Artífices ..............................
10
- Corporações de Construtores .....................................
13
- A Fraternidade de Construtores ou Pedreiros Livres da Europa Continental - Na Alemanha ......................................................... .........................................................
15
- Na França .............................................................. ..............................................................
18
- Na Itália ................................................................. .................................................................
19
- Enfim... A Questão da Gênese da Instituição Maçônica.
19
- Conclusões ............................................................... ...............................................................
23
- Apêndice I ................................................................ ................................................................
26
- Apêndice II .................................................... ............................................................... ...........
27
- Apêndice III ............................................................. .............................................................
27
- Apêndice IV .............................................................. ..............................................................
28
- Apêndice V ............................................................... ...............................................................
28
- Apêndice IV – As “Old Charges” ....................….....…… ....................….....……
30
- Segunda Parte – Período de Transição da Maçonaria Operativa para Especulativa - Breve introdução ...................................................... ......................................................
36
- A Transição .............................................................. ..............................................................
36
- Terceira Parte - O Alvorecer da Maçonaria Especulativa ....................... 41 - James Anderson ........................................................ ........................................................ 43 - Jean-Théophille Désaguilliers ………………………………….. ………………………………….. 44 - André-Michel de Ramsay ……………………………….......... ……………………………….......... - As Constituições Maçônicas – Esclarecimento............... 47 - A Constituição de Anderson (1723) ............................ 48 - As Constituições de 1762 e 1786 ............................... 52 - Bibliografia ................................................................... ...................................................................
53
45
APRESENTAÇÃO
Irmão Aprendiz:
As páginas que seguem estão destinadas à transmissão de conhecimento relacionado à história universal da Maçonaria, estando a história brasileira e a catarinense de nossa Instituição reservadas, respectivamente, aos Graus de Companheiro e Mestre. Ao descrever a universalidade da história maçônica, deixamos de observar as regras metodológicas que norteiam a História como Ciência Social, daí porque desapareceram as preocupações com o detalhamento e interligação dos fatos, a mais ou menos apurada cronologia deles, o rigorismo na identificação dos personagens que deles foram os causadores ou participaram direta ou indiretamente, e assim por diante. Isto porque, dentro da filosofia instrucional reinante em nossa Jurisdição, não existe a preocupação de converter o Aprendiz, nem o Companheiro nem o Mestre, num autêntico e completo historiador da Ordem Maçônica, desde as origens aos nossos dias, mas sim em informá-los minimamente, de molde a que se munam de uma base cultural generalizada a respeito de nossa história. Precisamente por essa razão é que, na textualidade a seguir desenvolvida, ficamos limitados aos fatos que nos pareceram como mais marcantes, aos personagens e às datas havidas, também ao nosso entender, como indispensáveis e correlacionadas a tais fatos. Por isso mesmo é que o Irmão notará que a descrição se reveste de um estilo “romanceado”, “panorâmico”, em vez daquele que deveria ser essencialmente técnico, quando trata de narrar a história dos povos e das civilizações. Por óbvio, se o Irmão quiser mergulhar mais profunda e percucientemente nas origens institucionais da Maçonaria – que estão distantes de ser claras, precisas e objetivas –, haverá de dirigir sua pesquisa para as alentadas e sérias obras históricas vertidas nas línguas inglesa e francesa, principalmente. Sempre que o Irmão, na leitura do texto, encontrar a remissão a uma nota de rodapé, é de toda conveniência que a examine, mesmo porque ela poderá estar se referindo a um detalhamento que foi havido como conveniente para constar à parte do que está sendo descrito e para não interromper a linha de raciocínio; ou então, remetendo a um a pêndice que está localizado após o encerramento da primeira parte deste fascículo isolado. Na verdade, cada “apêndice” representa um “plus”, um acréscimo ilustrativo, porém de alto interesse cultural, isto porque ele não apenas se conota como também, de certo modo, adjetiva certo fato ou certo personagem, ou certo lugar particularmente relevante para a história maçônica. Daí, a importância destacável de que seja lido.
PRIMEIRA PARTE MAÇONARIA OPERATIVA INTRODUÇÃO GERAL A verdadeira história da Maçonaria tem, na sua conformação, particularidades, fatos e circunstâncias que, de um modo geral, afetam também a história de qualquer povo ou nação. Tem, assim, a sua era propriamente histórica – isto é, documentada –, mas também a proto-histórica, baseada em documentação muito frágil e incompleta, e a pré-histórica ou não documentada, alicerçada fortemente em tra-
dições orais passadas de geração a geração. No seu período histórico, a Maçonaria pode ser investigada através de várias associações antecedentes, mas entre si semelhantes em estrutura e organização, relacionadas a épocas comparativamente remotas. Sua conexão com essas associações pode ser racionalmente estabelecida através de documentos autênticos e por outras evidências que nenhum historiador poderia rejeitar. Para o período pré-histórico – aquele que está ligado aos mistérios do mundo pagão e aos velhos sacerdotes de Elêusis, da Samotrácia ou da Síria – seja dito com toda a honestidade que a Maçonaria, na sua feição atual, não existia naqueles dias de tão distante passado. Havia, sim, somente uma ciência peculiar ligada àqueles Mistérios que iria ser aproveitada posteriormente no conhecido simbolismo maçônico, ciência aquela que também fez o papel de “sangue arterial” de outras antigas e modernas instituições, permitindo que elas pudessem chegar a uma certa identidade espiritual, conquanto dessemelhadas nas formas como se estruturam. Buscando o germe da Maçonaria naqueles dias pré-históricos, ainda que não guiados por documentos e narrativas escritas ou orais despidas de confiabilidade, mesmo assim ir-se-ão encontrar ideias e opiniões fósseis embalsa-
madas daqueles antigos intelectuais, precisamente como se revelam na Maçonaria moderna e que, assim como as conchas e peixes fósseis da remota formação física da Terra, mostram, por sua semelhança com as espécies vivas, a conexão gradual do passado com o presente. Todas as instituições humanas passam por grandes e numerosas variações; os diferentes aspectos sob os quais elas aparecem e os princípios pelos quais são governadas ficam na dependência do progresso da civilização e da natureza protecionista que lhes dispensam os governos, além dos hábitos, costumes e opiniões peculiares aos membros da sociedade. Antes que a aprendizagem tivesse avançado e quando a arte de imprimir era desconhecida, as descobertas nas Artes e Ciências não devem ter sido conhecidas senão de uns poucos indivíduos. A procura da Ciência era assunto secundário, e as questões filosóficas constituíam-se em prerrogativa exclusiva da classe sacerdotal. A agricultura era o grande objetivo da vida. Mas a Arquitetura, na ordem natural das coisas, logo cresceu como uma ciência, devida que foi à habilidade manual dos homens. O triunfo da mente sobre a matéria foi o grande mérito dos primeiros arquitetos, que foram também os primeiros filósofos naturais. Não há exagero na afirmação de que eles mesmos formaram-se no interior de uma associação em desenvolvimento e numa época muito recuada; seus monumentos arquitetônicos, precedendo os próprios registros autênticos da História, ainda no presente se exibem aos nossos olhos; e a tradição nos conta que essa união entre os homens de ciência era um pouco mais diferente daquela que une os Maçons da atualidade. As Artes e as Ciências eram cultivadas no Egito e nos países adjacentes, na Ásia, enquanto todas as outras nações permaneciam envolvidas pela ignorância. Astronomia, Geometria e Arquitetura foram as Ciências que ocuparam os primeiros lugares entre as demais. A Maçonaria não somente apresenta a aparência de uma ciência especulativa1 baseada numa arte operativa, mas também e muito significativamente mostra-se como a expressão simbólica de uma ideia religiosa . Num outro nível de palavras, usa-se na Maçonaria, como verdadeiro símbolo e alegoria que é, importante lição sobre a eternidade da vida, ensinada como lenda e sem a preocupação de ser falsa ou verdadeira a sua narrativa. Mas, por qual razão ou motivo surgiu essa lenda? Tiveram todos os outros povos da Antiguidade e suas instituições essa lenda? A evidência leva a responder positivamente. Na verdade, não a mesma lenda, nem o mesmo personagem como seu herói; não nos mesmos detalhes, mas sim uma lenda com o mesmo espírito e o mesmo propósito; uma lenda de caráter funerário celebrando a morte e a ressurreição, solenizada em lamentações e terminando em alegria. Não se poderá compreender corretamente a história dos povos da antiguidade, menos ainda suas teologias, filosofia, ciência e moral, sem o conhecimento de suas sociedades. Algumas das mais elevadas ideias, aquelas que se têm como as maiores e mais significativas para o progresso humano, nasceram entre os símbolos místicos.
OS MISTÉRIOS ANTIGOS Dentre os mais importantes Mistérios Antigos, salientam-se os seguintes: os hebreus ou hebraicos, na Palestina; o de Osíris, no Egito; o de Adônis ou adonisíacos, na Síria; o de Mitra ou mitraicos, na Pérsia (hoje Irã); os cabíricos, na Trácia2; os druidas ou druídicos entre os celtas, na Grã-Bretanha e na França; os escandinavos, entre os góticos; e os de Dioniso ou dionisíacos, de Elêusis ou eleusinos, e os de Orpheu ou órficos, na Grécia. Cada um dos deuses pagãos tinha, junto ao público, o tributo de um culto secreto ao qual ninguém era admitido, exceto aqueles que haviam sido selecionados através de cerimônias preparatórias, chamadas “iniciação”. Esse culto secreto era denominado “mistérios”. Era comum, tanto entre os gregos como entre os povos bárbaros, praticar suas cerimônias religiosas com a realização de um festival, o qual, algumas vezes era celebrado em público, e noutras, em privacidade altamente secreta. O primeiro dos Sobre todos esses mistérios o Irmão Aprendiz, mais tarde Companheiro e Mestre, em outros fascículos isolados será devidamente informado, dentro dos limites desses respectivos Graus.
DO ANTIGO AO MODERNO OU DO PASSADO AO PRESENTE Em passando deste breve esboço da condição da Fraternidade naquilo que se pode propriamente denominar como “história antiga”, empenha-se agora em traçar seu progresso desde aqueles tempos até os dias atuais da arquitetura moderna e do cultivo das artes e ciências, em tal ordem cronológica geral que permita a mais superficial e concisa possível história dos fatos, baseada em documentos substanciais e nos principais monumentos erguidos ao longo dessa história pela Fraternidade Operativa ou o que se convencionou chamar Maçonaria Operativa.
OS COLÉGIOS ROMANOS DE ARTÍFICES Esses colégios foram criados no ano 716 antes da Era Cristã. Eram compostos de homens versados em todas as artes e habilidades necessárias para a execução da arquitetura civil, religiosa, naval e hidráulica, possuindo suas próprias leis e ideias, leis que eram baseadas naquelas dos artífices de DIONISO, cujos mistérios haviam se espalhado entre os principais povos do Oriente. NUMA POMPÍLIO3, o grande legislador e segundo rei de Roma, ao fundar esses colégios tornou-os ao mesmo tempo sociedades civis e religiosas com o privilégio exclusivo de construir templos e edifícios, sendo que as leis gerais determinavam as suas relações com o Estado romano e com o corpo sacerdotal. À testa desses colégios estavam os Mestres, Supervisores ou Administradores, Fiscais, Tesoureiros, Guarda-Selos, Arquitetos e Secretários, e entre eles, um sacerdote. Os operários eram divididos em três classes: Seniores ou Chefes de Obras, os Oficiais ou Artífices assalariados e os Aprendizes; realizavam reuniões secretas; o pagamento dos salários era mensal, constituindo-se um fundo comum que era acumulado para a manutenção ou auxílio aos membros pobres ou que haviam sido desligados do Colégio; por meio do voto oral é que selecionavam os candidatos à admissão, realizando um cerimonial secreto iniciatório, durante o qual usavam simbolicamente dos instrumentos da arte de construir. Nenhum colégio podia ser constituído com menos de três membros. Nesse particular, as atuais Lojas Maçônicas se assemelham àqueles colégios. Com o avanço do Império Romano também aumentou o número desses colégios e de seus membros, ao mesmo tempo em que igualmente os privilégios foram grandemente ampliados, vindo a tornar-se, assim, elemento importante para o corpo político do Império. Desde o começo do Império os romanos se destacaram pelo espírito colonizador, que se cristalizou através das legiões guerreiras. A cada Legião fazia-se acompanhar um colégio ou corporação de Artífices que já era organizado com a própria Legião, em Roma, e com ela seguia em todas as campanhas militares. Quando vencedores, tais artífices permaneciam na terra conquistada não apenas para plantar as sementes da civilização romana e ensinar os princípios e regras das suas artes, como também e fundamentalmente reconstruir tudo quanto havia sido destruído pelos legionários. Os operários colegiados erguiam fortificações para as legiões em tempos de guerra e também em tempos de paz, e quando permaneciam inativas, construíam templos e residências domiciliares. Quando as Gálias Cisalpina e Transalpina (hoje França) foram invadidas pelos exércitos romanos entre os anos 58 e 51 a.C., e assim também a Inglaterra nos anos 55 e 54 a.C., as legiões levaram consigo tais colégios de artífices. Uma delas, na Ilha Britânica, sob o comando de JÚLIO CESAR, avançou até os limites setentrionais do país, estabeleceu uma colônia e, para defender-se, construiu No começo do século II d.C. (anos 101/200), já se entrevendo a abertura dos caminhos que desembocariam mais tarde na queda da República Romana, todos os colégios de artífices perderam seus antigos privilégios. Mas no ano 286, CARASIUS ou “CARAUSIO”, conhecido como “Conde da Costa Saxônica” e “Almirante dos Mares do Norte”, acolheu a súplica dos bretões, porque vítimas das depredações dos piratas saxões e francos, para que assumisse a soberania de sua Ilha (a Inglaterra). Uma expedição naval bem sucedida contra aqueles piratas deu a ele a posse daquele país, proclamando-se ele mesmo o seu Imperador. A fim de conciliar o Colégio Romano de Artífices, então exercendo uma imensa influência naquelas terras, esse soberano restaurou os antigos privilégios, o que levou a que ditos artífices, desde aquela época, passassem a ser chamados “privilegiados” ou “pedreiros-livres” (em inglês, “freemasons”) para distingui-los daqueles outros operários que não eram assim reconhecidos. Em 294 CARASIUS foi assassinado por ALLECTUS ou “ALECTO”, seu Primeiro Ministro e amigo confidente, que manteve por três anos a usurpação do domínio, quando o poder de Roma, através do Imperador CONSTÂNCIO I, pôs fim a essa soberania independente da Inglaterra para englobá-la no próprio Império Romano, então recém-dividido pela Tetrarquia com a nomeação dos Césares sob dois Augustos. A invasão das principais hordas bárbaras setentrionais de ALARICO, rei dos Visigodos, e CUNDERICO, rei dos Vândalos, na Itália e a partir do ano 401 d.C., obrigou a que os exércitos romanos se pusessem na defensiva e em seu próprio território, na tentativa de manter a integridade imperial. A Inglaterra acabou sendo abandonada no ano 420 d.C., e os nativos – principalmente os celtas, os colonos romanos e os colégios de artífices que haviam permanecido com eles – foram abandonados à própria sorte a partir do ano 428, ante a conquista iniciada pelos anglos e saxões. Bem antecipadamente a esses fatos, entretanto, o cristianismo havia surgido, não apenas nas Ilhas Britânicas mas também sobre toda a Europa Continental, e as influências da nova fé não demoraram em se fazer sentir nos colégios, em cuja história a fase seguinte é o registro do crescendo da vida e das doutrinas cristãs.
CORPORAÇÕES DE CONSTRUTORES Tão logo os colonos e os nativos das Ilhas Britânicas foram abandonados, começaram a dirigir-lhes a vida, primeiramente os seus vizinhos celtas da antiga Escócia (“Picts”), ainda selvagens, e, na sequência, os saxões como
piratas marítimos, tanto nas montanhas de Gales quanto nas ilhas do mar da Irlanda. Os artífices que haviam sido convertidos ao cristianismo e aqueles que permaneceram quando as Legiões romanas deixaram o país, associaram-se entre si. Como tivessem perdido seu elo com a instituição-mãe em Roma, converteram-se simplesmente em “Corporações de Construtores”, mantendo a organização nos mesmos moldes com que sempre haviam trabalhado tão proveitosamente, inclusive conservando o nome de “pedreiros-livres” 5. Subsequentemente, já no terceiro quartel do século V (anos 401/500), cerca do ano 457 d.C., quando toda a Inglaterra restou dominada pelos invasores saxões, os ingleses, liderados por monges e padres, acompanhados também pelos Artífices, fugiram para a Irlanda e Escócia, cujos países haviam sido civilizados e convertidos à fé cristã e seus habitantes instruídos na arte de construir. Quando se examina a expansão do cristianismo nos países bárbaros ou pagãos e a conversão de seus habitantes à nova fé, percebe-se prontamente a propagação da arte de construir pelas corporações de arquitetos, como sucessores imediatos dos colégios legionários romanos, e naqueles mesmos lugares onde estes últimos estiveram durante a ocupação do solo inglês. Primeiramente, as igrejas; depois, catedrais e monastérios requeridos pela nova religião. Foi assim que a arquitetura eclesiástica rapidamente irradiou seus efeitos para o desenvolvimento também da construção civil. Naquela época, todo o conhecimento religioso e todo o arcabouço arquitetural da parte setentrional da Europa estavam concentrados nas regiões remotas da Irlanda e da Escócia; por isso, os missionários haviam retornado à Inglaterra objetivando a conversão dos saxões conquistadores, até então pagãos. Da Inglaterra aqueles enérgicos missionários, acompanhados pelos piedosos arquitetos, passaram para a Europa Continental, onde desenvolveram profícuo trabalho para a conversão das nações escandinavas, introduzindo na Alemanha, Suécia e Noruega – e identicamente na Irlanda – as bênçãos do cristianismo com os refinamentos de uma vida civilizada. A religião provocou a contestação entre o cristianismo original britânico e o poder papal, mas após anos de controvérsia acabaram finalmente os bispos ingleses submetidos ao Papa. Tão logo a autoridade papal firmou-se em toda a Europa, a hierarquia católica romana assegurou-se dos serviços das Corporações de Construtores, que, sob o patrocínio do Papa e dos bispados, foram por toda parte empregados como “pedreiros-livres volantes” ou “viajantes” (porque se deslocavam de um para outro lugar) na construção de edifícios eclesiásticos e suntuosos. A partir daí ir-seão encontrar essas Corporações exercendo sua arte em todos os países; em todos os lugares se revelando pela identificação de seus desenhos e traçados, que foram controlados por regras universalmente aceitas, mostrando em cada momento e em cada obra as características de uma corporação ou guilda de profissionais da Arquitetura. Na Inglaterra as Fraternidades de Construtores ou Pedreiros-Livres estiveram sujeitas a muitas adversidades, desde as repetidas invasões de escoceses, irlandeses, dinamarqueses e saxões – que impediam seus trabalhos e ainda os forçavam a manter suas vidas de acordo com o suposto mais antigo Manuscrito então existente6 - até o ano 926, quando se reuniram em assembleia geral na cidade de YORK e foram delineadas as estruturas que governariam a arquitetura inglesa pelos seguintes 800 anos. Naquele Manuscrito foi encontrada uma lenda, que a Maçonaria atual aceita como parcela de sua história autêntica. Essa lenda veio a ser apresentada pelo Dr. JAMES ANDERSON no seu primeiro “Livro das Constituições”, de 1723, posteriormente aceito e publicado por WILLIAM PRESTON, e que continha as seguintes palavras: “Edward, o Velho, faleceu em 924 e foi sucedido por ATHELSTANE 7 , seu filho, que indicou seu irmão, EDWIN, para Chefe dos Pedreiros. Esse príncipe obteve uma carta-régia de ATHELSTANE conferindo-lhe poderes para representá-lo anualmente na confraternização em YORK. Nessa cidade foi fundada em 926 a Primeira Grande Loja da Inglaterra, que foi presidida por EDWIN, como Grão-Mestre. Aqui muitos antigos escritos foram redigidos em grego, latim e outras línguas, dos quais se diz que foram extraídas as Constituições da Loja Inglesa”. É esse código de leis que teria sido adotado naquela Assembleia em 926 e que se teria tornado a base sobre a qual foram moldadas todas as subsequentes Constituições Maçônicas. A convocação dessa Assembleia prova que os pedreiros-livres (“freemasons”) estiveram em atividade no reino inglês, o que, de fato, é também provado pelos registros das construções que realizaram naquele período tão antigo, traduzidas pelas catedrais, abadias e castelos. Data-se, portanto, a Assembleia de York, como corpo nacional, a primeira conhecida e reconhecida organização da Confraria de Pedreiros ou Grande Loja, na Inglaterra. Após aquela Assembleia Geral, a Fraternidade experimentou, como nos outros países, seus períodos de prosperidade e decadência. Por longo tempo a Assembleia de York exerceu a jurisdição maçônica sobre toda a Inglaterra; mas em 1567 os Maçons do sul da Ilha elegeram “SIR” THOMAS GRESHAM, notável comerciante, seu Grão-Mestre, que foi sucedido por CHARLES HOWARD, Conde de Effingham, e depois por GEORGE HASTINGS, Conde de Huntingdon; e ambos posteriormente sucedidos em 1607 por INIGO JONES8, que incutiu nas Lojas inglesas a vocação para a espiritualidade. Estes os homens que, sem serem arquitetos ou pedreiros, mas dotados de avantajada cultura e posição social, foram admitidos como membros da Confraria sob a designação de “aceitos”, o que veio a dar origem à atual expressão “Maçons Livres e Aceitos” .
A FRATERNIDADE DE CONSTRUTORES OU PEDREIROS-LIVRES DA EUROPA CONTINENTAL NA ALEMANHA: É universalmente admitido que nos recuados tempos do cristianismo somente o clero era o patrocinador das artes e ciências. Isso se deveu ao fato de que todo o conhecimento estava quase exclusivamente confinado aos eclesiásticos. Poucos dos leigos podiam ler e escrever; até mesmo os reis punham o sinal da cruz no lugar de suas assinaturas, tanto nas cartas régias quanto em outros documentos que emitiam, e ao tempo de CARLOS MAGNO, no século VIII (anos 701/800) e até meados do século XII (anos 1101/1200), todo o conhecimento e prática da arquitetura, pintura e escultura estavam confiadas exclusivamente aos monges; os bispos superintendiam pessoalmente o levantamento de igrejas e catedrais em suas dioceses porque, não apenas os princípios e regras mas também a prática da arte de construir eram guardados dentro das paredes dos mosteiros, e assim, completamente desconhecidos dos leigos. Muitos dos fundadores das ordens monásticas pagavam uma taxa específica aos monges para que pudessem devotar-se à arquitetura e às construções eclesiásticas. Na Alemanha foi o monge inglês Winfrid, mais tarde canonizado como “SÃO BONIFÁCIO”, que organizou uma classe especial de monges para a prática da construção, sob o nome de “Operarii” ou “Corporação de Operários”, e “Magistri Operum” ou “Mestre de Obras”. Os trabalhos e deveres desses monges eram fracionados sob o mesmo sistema ou organização, como a dos Colégios Romanos de Artífices. Alguns desenhavam o plano da construção; outros eram pintores e escultores; mas também havia aqueles que eram talhadores de pedra, então chamados “cæmentarii” (do latim ‘cæmentum’ = pedra natural tirada do rochedo, ainda não esquadriada ), que executavam os trabalhos práticos da construção. Nos grandes edifícios para os quais eram necessários muitos operários, também os leigos foram empregados sob a direção dos monges. Entre esses leigos utilizados nos monastérios como assistentes e operários, muitos eram possuidores de uma inteligência superior. A constante e íntima associação deles com os monges na prossecução do mesmo desígnio acabou conduzindo a este resultado: ao longo do tempo, gradual e quase inconscientemente, os monges comunicaram-lhes a arte, segredos, princípios e regras da arquitetura. Então, através de graus, o conhecimento das Artes e Ciências saiu da posse exclusiva desses monges-construtores para espalhar-se pelo mundo a fora, enquanto que os arquitetos-leigos, afastando-se das fraternidades eclesiásticas, organizaram as suas próprias irmandades ou confrarias. Essas irmandades independentes começaram, a partir de então, a ser convocadas, sempre que um edifício importante devesse ser levantado, e não raras vezes suplantavam inteiramente os seus mestres-monges na perfeição da arte de construir. Mas agora uma nova classificação havia tomado lugar Os mais inteligentes dos operários leigos – aqueles que haviam recebido os segredos passados pelos monges – foram distinguidos como ARQUITETOS, e assim, diferenciados dos OPERÁRIOS ORDINÁRIOS ou PEDREIROS COMUNS. Estes últimos conheciam somente o uso da colher de pedreiro (“trolha”) e da argamassa, ao passo que os primeiros se ocupavam do TRAÇADO DOS PLANOS para a construção. Essa nova Fraternidade de artistas de escol logo conquistou grande estima, adquirindo muitos privilégios e franquias das autoridades locais e em favor das quais exerciam a profissão de artífice. Os lugares onde celebravam suas Assembleias eram chamados “LOJAS” (em alemão, “hutten” ou “logen”), tomando seus membros o nome de PEDREIROS-LIVRES ou “Franco-Maçons”. Seu patrono era SÃO JOÃO BATISTA, honrado por eles como o mediador entre o antigo e o novo concílios, e ainda por ser o primeiro mártir da religião cristã. Tal foi o começo da Irmandade de Pedreiros (Maçons) na Alemanha. O mais importante evento no cultivo e desenvolvimento da arte maçônica no continente europeu foi aquele que aconteceu na cidade de Estrasburgo, quando ERWIN von STEINBACH, o arquiteto da Catedral daquela cidade, convocou grande número de Mestres construtores fora da Alemanha, Inglaterra e Itália, e no ano 1275 estabeleceu um código de regulamentos, organizando a Fraternidade de Pedreiros-Livres ao modo daquela que, 350 anos antes, havia sido adotada pelos pedreiros ingleses na cidade de York. Três graus de operários foram reconhecidos: Mestres, Companheiros e Aprendizes. Foram criadas palavras, sinais e toques como modos de reconhecimento que deviam ser usados pelos membros da Fraternidade, uma parte dos quais foi tomada emprestada dos pedreiros ingleses. Finalmente, inventaram-se as cerimônias de Iniciação, revestidas de caráter simbólico e ocultadas sob o profundo simbolismo vertido nas doutrinas filosóficas, religião e arquitetura. As Lojas foram então criadas em muitas cidades da Alemanha, todas elas confraternizando entre si. Muitas personalidades eminentes foram nelas admitidas, especialmente eclesiásticos que não eram Maçons Operativos, mas que a essas Lojas emprestavam seu patronato e proteção, procedimento que, mais tarde, veio a ser adotado pelas Fraternidades Inglesas. Formou-se uma GRANDE LOJA em Estrasburgo, vindo a ser eleito como seu Grão-Mestre aquele mesmo Arquiteto, ERWIN von STEINBACH. Essas Fraternidades tornaram-se prontamente muito populares. Muitos dos
potentados europeus concederam a elas consideráveis poderes de jurisdição, de modo a capacitá-las a preservar o mais rígido sistema nos assuntos pertinentes à construção e que lhes facilitaria congregar operários, sempre e em qualquer pormenor que devesse ser exigido. As “Ordenanças de Torgau”, de 1462, atestam que os mestres haviam se reunido em Estrasburgo no ano de 1459 para o envio de suas Constituições às Lojas do Norte e do Leste da Alemanha porque, embora estivessem sujeitos àquela Grande Loja, nela não se encontravam representados. Essas Constituições de 1459 renovaram e revisaram os antigos usos e costumes, criando então os Estatutos da Confraria, nos quais foram embutidos o Regulamento dos Oradores e Obreiros e o Regulamento dos Aprendizes. Essas Fraternidades continuaram a existir sem interrupção até 1707, quando um decreto da Dieta Imperial de Ratisbona dissolveu a conexão das Lojas da Alemanha com a Grande Loja de Estrasburgo porque essa cidade, em 1687, havia passado ao domínio da França. Perdida essa Grande Loja, as que lhe eram subordinadas começaram rapidamente a decair. Em 1731, por um edito imperial de CARLOS I, foram dissolvidas quase todas as Lojas na Alemanha, cuja restauração só veio a ocorrer no século XVIII (anos 1701/1800), através da Fraternidade inglesa.
NA FRANÇA: No começo do século X (anos 901/1000), havia sido fundada na França uma Fraternidade de Arquitetos, similar à da Fraternidade Germânica. Originária dos mosteiros e dos leigos empregados pelo monastério de arquitetos, a conexão entre os Pedreiros da França e os dos Colégios Romanos de Artífices foi mais íntima e direta do que com aquela dos alemães, isto por causa da mais antiga e geral ocupação das duas Gálias Cisalpina e Transalpina (antigos nomes das partes meridional e setentrional do que hoje é a França) pelas Legiões romanas; mas as agremiações francesas não diferiam materialmente das germânicas. Protegidas por papas e príncipes, os pedreiros estavam comprometidos sob o patronato eclesiástico na construção de edifícios religiosos. O centro da Fraternidade francesa situava-se em COMO, uma cidade da Lombardia, de onde se disseminaram as Lojas por todo o reino e que passaram de região em região, de cidade a cidade sob o nome de “Pedreiros-Livres Volantes”. No princípio do século XVI (anos 1501/1600), tendo cessado a necessidade de uso da Fraternidade para a construção adicional de edifícios religiosos, ela começou a declinar, e, finalmente, em 1539, foi dissolvida por um edito de FRANCISCO I, rei da França, e assim deixou de existir como sistema organizado, pelo menos até o seu ressurgimento no século XVIII (anos 1701/1800), também através da Fraternidade inglesa.
NA ITÁLIA: Na Itália a Associação de Arquitetos nunca deixou inteiramente de existir, como pode ser facilmente verificado através dos inúmeros edifícios levantados à época do domínio dos ostrogodos e dos lombardos; mas um grande número dessas ligou-se com as Fraternidades francesas em Como, agora sob o nome de “Mestres Comacinos”, que acabou sendo empregado generalizadamente para significar a superioridade das obras que esses artífices realizavam. A partir de então essas Associações foram perdidas de vista.
ENFIM... A QUESTÃO DA GÊNESE DA INSTITUIÇÃO MAÇÔNICA Foi e é muito discutida e controvertida essa questão de situar a origem mais real e verdadeira da Instituição, quer quanto à época, quer quanto ao lugar de seu berço. Quanto à época, é pura perda de tempo querer vê-la nascida dos Mistérios Antigos, ou na era salomônica, ou na Ordem dos Templários, ou na dos Rosa-cruzes, etc., como deve ter restado bem claro na exposição até aqui feita. Todos os documentos autênticos disponíveis, todas as evidências, todas as induções e deduções possíveis dos fatos e personagens inter-relacionados levam à Idade Média – em data absolutamente desconhecida – como sendo a real e verdadeira época de seu nascimento. Quanto ao lugar onde esse fato teria acontecido, os historiadores se mostram bastante divergentes, insistindo uns em que a Instituição Maçônica se originou dos Canteiros Ingleses; outros, da Confraria de Talhadores de Pedra da Alemanha (“Steinmetzen”); outros ainda, das Corporações de Ofício da França. Enfim e em resumo, essa questão pode ser posta nesta interrogação: A Maçonaria nasceu na Inglaterra e irradiou-se posteriormente para o Continente Europeu, ou, inversamente, nesse Continente teve sua origem e daí partiu para as Ilhas Britânicas? Atente-se para o fato de que em qualquer das Corporações Medievais de Construtores, fossem as Continentais, fossem as inglesas, pontificavam as figuras do Mestre, do Companheiro e do Aprendiz, mesmo porque entre elas exis-
tia uma espécie de “denominador comum” quanto à exigência de certos requisitos, como, por exemplo, a admissão de candidatos através da obediência a um certo cerimonial, a posse de um conjunto de sinais secretos destinados ao reconhecimento dos membros entre si, a existência de um ritual rigidamente seguido, o mútuo auxílio, o emprego de um certo simbolismo destinado à instrução moral e, sobretudo, a vedação absoluta de comunicação aos estranhos à Confraria dos segredos da técnica e da arte de construir. Ao ver de LIONEL VIBERT 9, “quando os verdadeiros historiadores pesquisavam cientificamente a gênese maçônica, uma constatação pôde ser feita: A Arte surgiu na Inglaterra, como uma Confraria de Operários qualificados na construção com pedras, possuidores de determinados ‘segredos’ neste ofício, identificando-se entre si por sinais, toques e palavras. Pura perda de tempo procurar nossas origens, pelo menos históricas, no Egito, Grécia, etc.” Em que pese aquele “denominador comum” entre as Confrarias Inglesas e as Continentais quanto à admissão de candidatos através de uma celebração solenizada, vale a pena destacar que entre elas, entretanto, não havia uniformidade procedimental para essa celebração. Assim, nos Canteiros Ingleses o ritual consistia na apresentação do candidato à Corporação através de um padrinho, que se convertia em seu instrutor. No dia aprazado para a recepção do neófito, este era conduzido ao local da solenidade e levado até o Mestre, quando então eram abertos os trabalhos. Nesse momento, o padrinho ordenava que o seu afilhado se despisse das roupas, armas e joias que portasse. Ficava com o peito esquerdo desnudado e se lhe aplicava uma venda nos olhos, quando então era guiado até à porta de acesso ao local da celebração e onde aplicava três batidas, sendo-lhe então franqueada a entrada. Um outro Mestre de Ofício em seguida conduzia o candidato até o Mestre que estava dirigindo os trabalhos, e este ordenava que ele se ajoelhasse, passando a orar a Deus. Em seguida o neófito realizava três viagens dentro do recinto, após as quais era colocado na parte ocidental e de onde dava três passos na direção do Mestre dos trabalhos, em cuja mesa se encontravam três grandes velas. E aí, então, estendia a mão direita e jurava10 pelas Leis e Regulamentos da Corporação não só obedecê-las estritamente, como também guardar absoluto silêncio sobre tudo aquilo que lhe fosse transmitido no exercício do ofício da construção. O Mestre, após, entregava a ele o avental de trabalho e transmitia a palavra de passe e o sinal (“toque”) de reconhecimento. Este detalhamento, somado a outros e comparado com os rituais da Maçonaria atual, reforçam ainda mais a convicção da origem inglesa da Instituição. No que concerne aos “Steinmetzen” da Alemanha, os seus Estatutos e Regulamentos datam de 1275, outorgados por Erwin von Steinbach. Mas já foi dito aqui que, “naquela época, todo o conhecimento religioso e todo o arcabouço arquitetural da parte setentrional da Europa estavam concentrados nas regiões remotas da Irlanda e da Escócia; por isso, os missionários haviam retornado à Inglaterra objetivando a conversão dos saxões conquistadores, até então pagãos. Da Inglaterra aqueles enérgicos missionários, acom panhados pelos piedosos arquitetos, passaram para a Europa Continental, onde desenvolveram um profícuo trabalho para a conversão das nações escandinavas, introduzindo na Alemanha , Suécia e Noruega – e identicamente na Irlanda – as bênçãos do cristianismo com os refinamentos de uma vida civilizada” , e que “na Alemanha foi o monge inglês Winfrid, mais tarde canonizado como “SÃO BONIFÁCIO”, que organizou uma classe especial de monges para a prática da construção , sob o nome de “Operarii” ou “Corporação de Operários”, e “Magistri Operum” ou “Mestre de Obras”. Este último fato aconteceu precisamente no ano 716 da Era Cristã. Portanto, mesmo que se admita esta data tão recuada como o início da atividade operária na arte da construção na Alemanha, não poderá ela ser vista como a origem, o nascedouro, o berço da Instituição Maçônica, eis que essa mesma atividade já preexistia nas Ilhas Britânicas e de lá é que partiu para aquele país continental. Por fim, no que respeita à França, sabe-se que anteriormente a 1268 já existiam corporações de ofício, mas foi nas proximidades daquele ano que Étienne Boileau, Preboste dos Negócios de Paris, fez editar o seu “Livro dos Ofícios”, no qual estava inscrito todo o acervo estatutário de todas as corporações existentes no território francês, salientando-se nesse “vademécum” que os ajudantes dos pedreiros, estucadores e misturadores não poderiam ter acesso aos segredos desses ofícios 11. Mas essa regra já constava, bem antecedentemente, nos Canteiros Ingleses; de conseguinte, não teria sido na França que haveria de encontrar-se o berço da Instituição Maçônica, impondo-se, portanto, a conclusão de que ela, realmente, teve o seu começo na Inglaterra, malgrado existam outras respeitáveis e eruditas opiniões divergentes de autores e historiadores maçônicos de primeira água. Dando resposta à indagação antes posta, fica, então, a convicção plena de que a nossa Instituição efetivamente irradiou-se da Ilha Inglesa para a Europa Continental.
CONCLUSÕES 1. A Maçonaria apresenta-se sob dois diferentes aspectos: Primeiro, como Instituição secreta distinguida por ritual peculiar; e segundo, como Instituição que possui uma filosofia sobre a qual se assenta e que propõe passá-la a seus adeptos. 2. O elemento ritualístico da Maçonaria é aquele que descreve a devida execução dos rituais e cerimônias da Ordem. Pertence inteiramente à mais íntima organização da Instituição, ou à maneira pela qual seus serviços deverão ser conduzidos, e interessa ou é importante apenas para seus próprios membros.
13. O elemento filosófico da Maçonaria é da máxima importância. Essa Fraternidade, como deve ser sempre assim chamada, distinguiu-se de todas as outras associações pela posse que tem de certos símbolos, mitos, e acima deles todos, de uma “Lenda de Ouro” 12, mas aqueles e esta dirigidos à purificação do coração, à elevação do espírito e ao desenvolvimento da grande doutrina da imortalidade da alma ou eternidade da vida. 4. Mas... de onde vieram esses símbolos, mitos e lendas? Quem os inventou? Como e por que foram eles preservados? Volvendo aos mais recuados dias da história passada, encontrar-se-á um sacerdócio sobre os bancos do Nilo, milhares de anos antes de o cristianismo lançar suas luzes à humanidade, ensinando a existência de uma vida futura através de símbolos e lendas que transmitiam a lição por uma forma toda particular e específica. E agora, após milhares de anos que se passaram, encontra-se o mesmo método simbólico e legendário de instrução do mesmo propósito preservado no relicário secreto de uma Instituição moderna, mas comparável àquele antiqüíssimo corpo sacerdotal. 5. E entre esses dois extremos de um distante passado e de uma atualidade, ir-se-á encontrar um período intermediário ocupado por associações similares, sucedendo-se umas às outras de tempos em tempos e se espraiando sobre diferentes países; mas todas comprometidas através da mesma instrução simbólica, com substancialmente os mesmos símbolos e a mesma história mítica. Durante esse período interveniente encontram-se aquelas corporações de construtores da Idade Média – vindas dos Colégios
Romanos de Artífices, como na Inglaterra, na Alemanha, na Fran ça, na Itália, da irmandade monasterial de monges – devotadas principalmente à construção de edifícios religiosos, fossem igrejas, abadias ou catedrais. 6. Tais corporações compunham-se fundamentalmente de arquitetos e operários habilidosos, guiados pelos mais elevados princípios e regras de sua arte. Estavam na posse dos mais importantes segredos profissionais e eram movidos por profundos sentimentos de devoção religiosa. 7. Subsequentemente, no princípio do século XVIII (anos 1701/1800), despojaram-se do elemento operativo da Instituição maçônica para assumir caráter inteiramente especulativo, tornando-se assim os Maçons dos dias atuais – “livres e aceitos”. 8. As melhores e mais atuais autoridades no campo da historiografia maçônica avançam a teoria de que “a Franco-maçonaria é a sucessora, com certeza, das Corporações de Construtores da Idade Média, e através delas, com menos certeza mas com grande probabilidade, dos Colégios Romanos de Artífices” (também chamados e conhecidos pelo seu nome em latim – Collegia Fabrorum). 9. Pode ter sido meramente acidental sua ligação com o Templo de Salomão 13, a título de ser este o seu lugar de nascimento, pois não passa de um relato meramente arbitrário de seu(s) inventor(es), e presta-se, portanto, somente a um sentido alegórico 14 . 10. Como Irmandade composta de Mestres, Companheiros e Aprendizes simbólicos, derivou-se a Ordem Maçônica de uma Associação de Mestres, Companheiros e Aprendizes operativos – os primeiros, construtores de “templos espirituais”, como foram, os segundos, construtores dos “templos materiais”; porém, como uma associação reservada sem ser necessariamente secreta, contendo dentro de si a expressão simbólica (“Lenda de Ouro”) de uma ideia religiosa (a eternidade da vida ou imortalidade da alma), então ela, sem derivação alguma, se põe de intimidade com todos os antigos Mistérios, os quais, com idêntico sigilo, forneceram a mesma expressão simbólica para a mesma ideia religiosa. 11. Esses Mistérios não foram a origem, o berço da Maçonaria – quer a Operativa, quer a Especulativa –, e somente por uma forçada ANALOGIA15 é que poderão ser assim admitidos. Em todos os lugares onde foram celebrados os ritos místicos das antigas religiões, sempre se encontrará a mesma lição sobre a eternidade da vida, sempre ensinada através de uma lenda e inculcada pela representação de uma morte imaginária e a ressurreição de um acariciado ser, quer seja ele objeto de avaliação como um herói, quer de devoção como se fosse um deus . E é somente essa lenda que conecta a Maçonaria Especulativa aos antigos Mistérios do Egito, da Grécia, da Pérsia e aos de outros tantos países. 12. Não há dúvida de que todos os Mistérios tinham uma origem comum, como dúvida também não há de que a Maçonaria com sua lenda, seu sistema simbólico de instrução e a lição pela qual tal ensinamento se direciona, direta ou indiretamente, fez derivá-los daquela mesma origem. E, se se quiser respeitar os axiomas da ciência histórica, deverá dizer-se que o seu corpo foi extraído das Confrarias de Construtores da Idade Média, porém o seu espírito está ligado a uma era muitíssimo mais recuada. 13. A analogia das lendas dos Antigos Mistérios e daquelas da Maçonaria atual deve ser aparente, e os melhores historiadores de hoje em dia, mesmo sem evidência documental, vêem o Templo de Jerusalém e as tradições maçônicas apenas interligadas como uma parcela da grande alegoria da Maçonaria. 14. A organização maçônica tem sido modelada numa forma estritamente associada com os eventos e características do Templo Salomônico, de modo que agora uma boa parte do simbolismo da Ordem repousa sobre, ou é derivado, da “Casa do Senhor”, em Jerusalém. Tão estreitamente ligadas são essas duas associações, que a tentativa para separá-las entre si seria fatal para a continuidade da Instituição. Cada Loja é e deverá continuar sendo símbolo do Templo de Salomão; cada Mestre em seu Trono, um representante da sabedoria daquele Rei; e cada Maçom a personificação do operário hebreu na construção daquele edifício religioso.
APÊNDICE I Tradicionalmente, a fundação de Roma ocorreu no ano 754, antes da Era Cristã, e até o ano 510 a.C. o seu sistema de governo foi o da realeza. Nesse período de quase dois séculos e meio, Roma teve sete reis: RÔMULO, NUMA POMPÍLIO, TULO HOSTÍLIO, ANCO MÁRCIO, TARQUÍNIO “O PRISCO”, SÉRVIO TÚLIO e TARQUÍNIO “O SOBERBO”. O primeiro desses reis é que deu causa à lenda da fundação de Roma, que se narra assim: “A Ascânio ou Julo sucedeu Sílvio, nome que se tornou comum aos seus sucessores. O antepenúltimo destes, Proca, legou o reino a Numitor, seu filho mais velho. Mas Amúlio, irmão de Numitor, expulsa-o e ocupa o poder. Numitor tinha filhos e uma filha chamada Réia Sílvia; para privá-lo de descendência, Amúlio manda matar os sobrinhos e nomeia a sobrinha como sacerdotiza de Vesta, condenando-a assim à virgindade perpétua. Apesar disso, Réia Sílvia deu à luz dois filhos gêmeos, RÔMULO e REMO , atribuindo a paternidade ao deus Marte, que a teria violado. Amúlio, exasperado, manda encarcerar a vestal e lançar os gêmeos ao rio Tibre, que então transbordava. Os encarregados da ordem real, condoídos da sorte das crianças, colocam-nas em um berço flutuante que abandonam às águas do rio. Refluindo estas, o berço pousa sobre uma figueira, à entrada da caverna Lupercal, onde os dois gêmeos são amamentados por uma loba, que ali acorrera atraída por seus vagidos. O pastor Fáustulo, encontrando os recém-nascidos, condu-los para casa e os entrega, para serem criados, à sua mulher Aça Larência, que, segundo outra tradição, era uma meretriz conhecida entre os pastores pelo nome de Loba. Sendo Rômulo já adulto, foi-lhe revelada a sua origem: imediatamente arma uma expedição e marcha contra Alba, onde mata Amúlio e restitui o reino ao avô Numitor” (cfe. VARRÃO, em “De lingua Latina”, VI, n. 23). Vale a pena, para estudos, a comparação dessa lenda com a da salvação do Moisés bíblico. Quanto a NUMA POMPÍLIO, segundo rei de Roma, também se conta que tinha colóquios amorosos num bosque sagrado com a ninfa Egéria, de quem recebia instruções. Foi o fundador de instituições religiosas e corporações de operários.
APÊNDICE II YORK é a capital de Yorkshire, na confluência dos rios Ouse e Foss, e é uma das mais antigas e mais interessantes cidades da Inglaterra. É cercada por muros, com ruas geralmente estreitas e casas antiquadas. Sua catedral, construída entre os séculos XI (anos 1001/1100) e XIV (anos 1301/1400), é uma das mais refinadas espécies da arquitetura gótica em todo o mundo. Está construída em forma de “cruz”. Ao tempo dos romanos, York era a sede do governo geral para toda a então chamada “província bretã”; foi nela que Constantino, o Grande, viu-se proclamado imperador. No período em que foi dominada por escoceses e dinamarqueses ofereceu uma feroz resistência ao rei Guilherme, o Conquistador, que, após vencê-la, arrasou-a até os alicerces. Só parcialmente foi reconstruída, vindo a ser vítima de incêndio em 1137. É a cidade de York sempre celebrada por sua tradicional ligação com a Maçonaria naquele reinado inglês. Nenhum tópico na história da Maçonaria tem chamado tanto a atenção dos modernos escritores maçônicos ou dado motivo a tanta discussão como este relacionado à existência da Ordem no século X (anos 901/1000) naquela cidade, notadamente quando é encarada como o lugar proeminente onde a Corporação realizou uma Assembleia em 926 para formular e adotar uma Constituição. Como afirma A.G. MACKEY, “Durante todo o último e a maior parte do atual século, a Fraternidade em geral tem aceito todas essas afirmações como partes genuínas da história autêntica”.
APÊNDICE III ATHELSTANE, também grafado como “Athelstan”, foi um possível rei anglo-saxão que reinou na Inglater-
ra, tendo nascido em data incerta, mas nas cercanias do ano 895 da Era Cristã. Era filho natural de EDWARD, “o Velho”, e neto de ELFRED, “o Grande”. Começou a reinar em 925 d.C. e foi o primeiro soberano de toda a Inglaterra. Quando da morte de SIGTRIC, rei da Northumbria, Athelstane anexou aquele país ao seu reino inglês. Contra ele formou-se uma aliança militar constituída por galeses, escoceses e celtas da Escócia, vencendo-os na Batalha de Brunemburg, no ano 937. Reinou sobre quase toda a Ilha inglesa, exceto a Escócia e o País de Gales. Promoveu a educação e a civilização do povo, sendo reputado um dos mais sábios entre os reis anglo-saxões. Faleceu em 27 de outubro de 940, não deixando descendentes, pelo que foi sucedido na pessoa de seu irmão EDWIN ou EDMUND.
APÊNDICE IV INIGO JONES foi um dos mais festejados dos arquitetos ingleses, pelo que também é conhecido como o “Vitrúvio da Inglaterra”. Nasceu em Londres, aos 15 de julho de 1573 e faleceu em 21 de junho de 1652, com 79 anos de
idade. Foi o arquiteto sucessivamente de três reis – Jaime I, Carlos I e Carlos II –, e durante sua longa carreira superintendeu a construção de muitos e dos mais magníficos edifícios públicos e privados da Inglaterra, entre os quais a famosa catedral de São Paulo. Foi eleito Grão-Mestre em 1607, sob o reinado de Jaime I. Durante sua administração maçônica vários homens eruditos foram iniciados (“aceitos”) na Ordem, levando a que esta fosse consideravelmente aumentada em face dessa reputação. Estabeleceram em seu Grão-Mestrado as comunicações da Fraternidade, observando-se também com regularidade as festas anuais da Instituição.
APÊNDICE V 16 HENRI FELIX MARCY, referindo-se à expressão “franco-maçom” como significando “pedreiro-livre”, explica que “os franco-maçons são homens livres; seu nome o indica, a faculdade que têm de se deslocar de uma cidade para outra o prova e no lugar onde se estabelecem são isentos das obrigações e regulamentos que o ofício impõe a seus membros: são ‘horsains’ , estrangeiros que, como tais, não podem pertencer a uma corporação”. RENÉ GUENON acrescenta: “De fato, não havia antigamente outra distinção além da de ‘pedreiros-livres’, que eram homens de ofício, que assim se chamavam por causa das isenções que tinham sido concedidas pelos soberanos e suas corporações e, sem dúvida também (deveríamos talvez mesmo dizer antes de tudo), porque a condição do homem livre por nascimento era uma das qualificações requeridas para ser admitido à iniciação”. Contraditando GUENON, argumenta BERNARD JONES que a palavra “franco- maçom” “jamais significou ‘pedreiro-livre’”, pois “essa expressão nunca implicou a ideia de um pedreiro emancipado da servidão feudal. Temse aventado que os franco-maçons eram originariamente pedreiros-livres libertados pela Igreja, então todo-poderosa, do controle ao qual estava sujeito o ‘comum dos construtores’. Esses operários teriam sido reservados para a construção dos mosteiros e das igrejas, com exceção dos grandes castelos e de outros monumentos urbanos. Está provado que esses homens trabalhavam indiferentemente nas catedrais rurais e nos castelos urbanos. Não há certeza da existência de nenhuma associação de pedreiros neste país ( a Inglaterra ). Havia algumas associações religiosas de pedreiros, mas só conhecemos uma confraria poderosa, que não se enquadrava tecnicamente numa confraria: a comunidade dos pedreiros de Londres, com uma jurisdição muito limitada. Essa organização não apareceu senão no século XIII ou no século XIV”. KNOOP e JONES se reportam aos Estatutos Ingleses de 1351, quando falam de “free mason ou mestre pedreiro de par livre”, para esclarecer que “a palavra ‘free’ se traduz por ‘livre’ ou ‘franco’, no sentido de isenção. Mas, em termos de ofício, esse mesmo adjetivo ligado à palavra ‘stone’ (pedra) significa ‘pedra mole’, arenosa, que se presta facilmente como o grés, por exemplo, ao talho e à escultura, ao contrário da ‘roughstone’ ou ‘pedra dura’” . O mesmo BERNARD JONES volta a esclarecer que na Inglaterra e a partir do século XII havia a distinção entre ‘pedreirolivre’ e ‘mão-de-obra’. O ‘pedreiro-livre’ “tinha um conhecimento mais aprofundado de seu material e uma ciência da geometria do ofício” e que “alguns estatutos arcaicos e outras fontes fazem alusão ao ‘pedreiro de pedra mole’ , arrematando que “uma classe de pedreiros se desenvolveu, os quais, no decurso dos séculos XIII e XIV, foram conhecidos sob o nome de ‘pedreiros de pedra mole’. Já por volta de 1600, pedreiros que trabalhavam a pedra para o Colégio Wadham, de Oxford, eram assim denominados”. JEAN GIMPEL, relacionando-se à França, sustenta igual opinião, levando a que JEAN PALOU assim conclua: “Havia, portanto, uma diferenciação ao mesmo tempo social e qualificativa entre os pedreiros. À qualidade do ofício corresponde a qualidade do material empregado. Ao talhador de pedras, ao talhador de imagens na pe dra de grão mole corresponde o nome de ‘pedreiro-livre’ (freestone mason). Aquele que desbasta a pedra bruta na pedreira, longe do canteiro da igreja, é o ‘rough mason’ (pedreiro rude)” ; então, arremata com as palavras do mesmo JEAN GIMPEL: “A palavra ‘pedreiro-livre’ se refere evidentemente à qualidade da pedra e não a qualquer isenção de que se teriam beneficiado os construtores de catedrais. Quando foi introduzida na França a Franco-Maçonaria especulativa, traduziu-se naturalmente a expressão ‘free mason’ por ‘francmaçon’ (pedreiro-livre), expressão que a Idade Média jamais havia conhecido”, entendimento este compartilhado por PIERRE DU COLOMBIER, quando afirma também que “Na França... a expressão ‘Franco-Maçom’ era quase desconhecida durante toda a Idade Média” . Por fim, ainda o mesmo JEAN PALOU põe o fecho nessa tormentosa questão semântica com estas expressões: “Esta definição do Franco-Maçom nos parece a única justificável. Além disso, é sobejamente demonstrada pelo manuscrito maçônico inglês de 1693, que se encontra na posse da Loja York n. 293, que põe a qualidade de Pedreiro à de ‘Rough Mason’ ou Pedreiro Rude, mostrando que existe um segredo ‘técnico’ e por isso mesmo iniciático, que o primeiro não deve revelar ao segundo: ‘Além do mais, nenhum pedreiro pode mostrar alguma forma, esquadro ou régua, a um pedreiro rude (Rough Mason)’. Estes segredos eram também, sem dúvida, de uma outra ordem profissional, em relação com a iniciação tradicional no ofício de construtor”.
APÊNDICE VI AS “OLD CHARGES” Traduzidas como “Velhos Deveres”, “Antigas Obrigações”, “Velhas Instruções”, ou mesmo “Velhos Manuscritos”, eram “regras de civilidade, de como se comportar à mesa quando se é convidado à casa de alguém, de como
se comportar em relação ao mestre, com relação à mulher do mestre, da filha do mestre, das pessoas que o cercam” 17 , sendo uma espécie de ‘codificação’ destinada a melhorar o grau de civilidade dos Maçons Operativos da Idade Media, e assim, levá-los a se diferenciarem mais evolutivamente da massa popular na qual estavam inseridos. A esse respeito, pelo inegável acerto das afirmações, merecem ser destacadas as palavras do Irmão AMBRÓSIO PETERS18 expressando que, “embora oficialmente identificado como um poema sobre conduta moral, na verdade é um dos muitos manuais de comportamento social que circulavam quando as guildas dos Masons’ atingiram o seu auge, nos séculos XIII e XIV. Esses manuais de comportamento foram originados por um processo histórico anterior. Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa toda ficou à mercê das invasões bárbaras. Os cidadãos abandonaram as cidades e se refugiaram no interior das florestas e em distantes terras rurais. A Europa Ocidental inteira voltou à barbárie, e a civilização europeia ocidental deixou de existir nesse período que vai de cerca do século V ao século X. No século X, com o arrefecimento das invasões bárbaras, a civilização começou a se reerguer. Estabelecidas as primeiras bases da vida em nova sociedade, a organização social, o comércio e a indústria começaram a se reestruturar no decorrer do século XI, e isto levou ao estabelecimento de comportamentos sociais mais rígidos, estereotipados e adequados à normalização dos relacionamentos entre as pessoas nas cidades que cresciam. Começaram a se definir os modos e modos de proceder na vida em sociedade. Isto levou à elaboração de muitos manuais de etiqueta durante a Idade Média”. Mas, em verdade, todos os Velhos Manuscritos destacam-se por abarcar dois elementos fundamentais: o primeiro refere-se a uma descrição aparentemente lendária da origem e desenvolvimento da arte da construção, mas também da Maçonaria enquanto vista como Confraria organizada. Uma descrição, por evidente, muitíssimo mais decalcada na tradição oral do que em documentação autêntica. O segundo, como se verá mais a seguir, conformado por uma sequência instrucional traduzida em “artigos” e “pontos” destinados a Mestres e Aprendizes da arte de construir em suas recíprocas relações. Tem-se assinalado que essas Antigas Instruções tinham duplo objetivo: primeiro, emprestavam regularidade a um grupo de pedreiros agrupados numa confraria da profissão e que em seu nome estivessem agindo; segundo, serviam como advertência aos Aprendizes que eram admitidos na confraria, pois eram lidas durante o cerimonial de ingresso para que se inteirassem, a um só tempo, não apenas da história da arte que abraçavam, como também das regras, dos regulamentos, das obrigações morais e de bom comportamento que doravante estavam obrigados a respeitar e praticar19. Situam-se esses “Velhos Manuscritos” na Baixa Idade Média20 e, supostamente, o mais antigo de todos eles é o sempre lembrado Manuscrito Regius , também conhecido pelos nomes de “Poema Regius” e “Poema de Haliwell” , que alguns autores datam nas cercanias de 1390, enquanto outros, afirmando tratar-se de uma compilação de textos reunidos ao longo de 57 anos, o localizam entre 1388 e 1445. É composto de 33 folhas de pergaminho e se encontra no Museu Britânico, em Londres. Na verdade, essas Velhas Instruções que foram escritas naquela época medieval representam o conjunto de textos mais antigos da Maçonaria Operativa; por isso mesmo, são, com as devidas reservas, sempre respeitadas por todos os historiadores maçons. Mesmo assim, “são todas elas, mais ou menos, de um modelo básico, tendo sido, na maioria, copiadas umas das outras, à proporção que novos exemplares se faziam necessários. E, no entanto, são quase todas diferentes, em alguns detalhes, algumas mais do que outras, deixando ver em quase todos os casos a mão do copista, ou por inadvertência ou de propósito; ou por má interpretação ou pela inclusão de algum material coligido talvez de uma tradição local ou tirado de seu próprio saber ou imaginação. (...) E, em certos casos, verificou-se que determinada versão era, não uma cópia completa e mais ou menos exata de uma única versão anterior, mas uma compilação de duas ou mais” 21. Há autores que limitam o número de versões das “Old Charges” a 87 22, conservadas na Grã-Bretanha. Outros 23 chegam a 125 “sob a guarda das Lojas e outros organismos maçônicos, em algumas bibliotecas públicas e museus e como propriedade de particulares na América e nas Ilhas Britânicas”. A título meramente ilustrativo, mais voltado para a informação do que para uma análise extensa e percuciente desse grande número e diversidade de conteúdo nos Velhos Manuscritos, salientam-se apenas três: esse já citado Manuscrito Regius , mais o Manuscrito Cook, com datação estimada entre 1400 e 1410, segundo uns, e 1410 e 1420, segundo outros, e o Manuscrito Watson, também com datação incerta, mas certeiramente localizada no século XV (anos 1401/1500). O primeiro – o Regius – divide-se em duas partes principais (embora contenha mais outras três): uma composta de 15 “artigos” destinados aos Mestres, e a outra, de 15 “pontos” endereçados aos Aprendizes, dos quais é particularmente destacável o “terceiro ponto”: “Os conselhos de seu mestre devem ser guardados e não revelados, assim como os conselhos de seus companheiros. Voluntariamente não revela a ninguém o que se passa na Loja, nem o que ouve, nem o que vê fazer. Não diz a ninguém, onde quer que vá, os conselhos da sala e os conselhos da câmara. Guarda-os com a maior honra, temeroso de que os revelando se torne culpável e, com a sua falta, seja motivo de opróbrio para o ofício” 24. Também está escrito no “Regius” que “a Maçonaria foi introduzida na Inglaterra no tempo do rei Athelstan. Esse príncipe foi um grande construtor de casas e de templos, por conseguinte um devotado protetor dos pedreiros e propagador zeloso de sua arte. Após longos esforços, foi-lhe dado constituir um conselho composto de personagens de elevada posição e sabedoria, que redigiram em quinze artigos e quinze pontos os estatutos maçônicos” 25.
O segundo, o “Manuscrito Cook” (tem esse nome porque o seu editor, em 1861, chamava-se Mathew Cook), que igualmente se encontra no Museu Britânico, embora seja posterior ao Manuscrito Régius, tem seu texto copiado de um original que “é realmente mais velho, segundo os entendidos, que o do ‘Regius’ 26 . Também narra esse papel desempenhado por Athelstan, malgrado se sinta que a fonte descritiva possa estar no “Regius”, apenas com os acréscimos assim referidos: “... em seguida reinou Athelstan. Seu filho mais jovem se interessava pela Geometria e se deu conta de que a arte do pedreiro nada mais fazia do que aplicá-la. Tornou-se também mestre em Geometria e deu testemunho de sua afeição aos pedreiros. Filiou-se à sua corporação, obteve-lhes uma constituição real, regulou seus salários e deu-lhes estatutos que ainda estão em uso na Inglaterra e em outros lugares” 27 . Maçonicamente importante é o fato de que, de todas as Velhas Instruções, o Manuscrito Cook é o que, pela primeira vez, fornece uma curta história do Templo do Rei Salomão, abordável mais apropriadamente no Grau de Mestre. O terceiro, o “Manuscrito Watson”, que pertence à biblioteca da Grande Loja Provincial de West Yorkshire, na Inglaterra, também faz idêntica descrição, nestes termos: “As Constituições acabaram por se perder no meio das dificuldades ocasionadas pelas guerras da época, até o reinado de Athelstan. Esse príncipe gostava também dos pedreiros e confirma a Constituição que Santo Albano havia outrora obtido para eles. Seu filho mais novo, Edwin, a prendeu a Geometria e a arte de pedreiro. Deu prova da maior benevolência para com os pedreiros e lhes obteve de seu pai uma nova constituição que lhes dava mais liberdade do que no passado. Presidiu a Assembleia Geral que se reuniu em York, convidou-os a reunir os antigos arquivos da corporação, dos quais foi feita uma nova Constituição. Foi a partir dessa época que a arte de pedreiro foi realmente fundada e confirmada na Inglaterra” 28 . Contudo, há aqui uma passagem que se põe de contradição com outras, relacionada à questão de Edwin ter sido “filho” ou “irmão” de Athelstan, pois este, ao morrer, segundo alguns historiadores, não havia deixado descendência. Todavia, é essa relação de parentesco um tema polêmico, até hoje não definido com precisão e que, na realidade, é despido de relevância para a história da Maçonaria, tanto no Período Operativo quanto no Especulativo. Estas, as “Old Charges” que mais de perto interessam e tocam ao Grau de Aprendiz.
SEGUNDA PARTE PERÍODO DE TRANSIÇÃO DA MAÇONARIA OPERATIVA PARA A ESPECULATIVA BREVE INTRODUÇÃO Costuma-se fixar como “Período Intermediário da Maçonaria” aquele lapso de tempo que se projeta do fim da Idade Média até 1717, quando se fundiram quatro Lojas Inglesas para dar nascimento à Grande Loja de Londres. O Período Medieval é historicamente definido como a Era em que os fatos sociais, políticos e religiosos (estes, de triste memória) aconteceram entre o princípio do século V e meados do século XV, ou seja, entre o primeiro quartel dos anos 400 d.C até o segundo ou terceiro quartel dos anos 1400. É também conhecido como “Os Mil Anos Negros da Humanidade” devido à barbárie resultante da Inquisição Religiosa. Portanto, o Período Intermédio ou Período de Transição da Maçonaria é aquele que se estende, mais ou menos, entre o termo médio do século XV e (precisamente) o dia 24 de junho de 1717, data em que se fundiram aquelas quatro Lojas londrinas; portanto, um período que durou aproximadamente entre 270 e 300 anos.
A TRANSIÇÃO É fato incontroverso que a Maçonaria Operativa, já em seu ocaso lá pelos idos dos anos 1400, recepcionou em seu seio pessoas que não pertenciam ao quadro de pedreiros de ofício, às quais era dado o nome de “maçons aceitos” 29 . Por falta de documentação autêntica, não há possibilidade de que se venham a saber, com certeza, as causas ou motivos pelos quais houve essa aceitação não iniciática de profanos naquele estágio da Maçonaria Operativa30. Para uns, a causa estaria no desencadeamento da perseguição religiosa sobre certas corporações, como foi a dos Templários, que se dispersaram após 1314 com a morte de seu Grão-Mestre, Jacques de Molay, a dos Rosa-cruzes, e outras tantas. Nesse enfoque, a Maçonaria Operativa teria desempenhado um papel de “abrigo protetor” dessas pessoas perseguidas, uma vez que a Instituição gozava de privilégios consideráveis no universo nobiliárquico e eclesiástico da época. Para outros, mesmo não negando o ingresso de Membros daquelas corporações acossadas e flageladas, a admissão dos “aceitos” não estaria sob o pretexto de abrigá-los ou protegê-los, mas, bem inversamente, diante do notório enfraquecimento que a Maçonaria Operativa vinha sendo passiva, impunha-se que se visse protegida por eles, já que
eram pessoas de grandes posses, culturalmente avantajados, respeitáveis e portadores de inegável prestígio, não apenas no mundo sócio-político como também no religioso reinantes. Seja como for, qualquer dessas duas posições relativamente opiniosas revela-se carente, como já dito, de uma comprovação autêntica, historicamente valiosa, muito embora seja fato incontestável que nesse Período Intermediário ingressou nas Lojas da Maçonaria Operativa inglesa expressivo contingente de latifundiários, clérigos, nobres da Corte, eruditos, professores, médicos, naturalistas, arqueólogos, como também de místicos, ocultistas, esotéricos, hermetistas, cabalistas, geomânticos, alquímicos e astrólogos, que passaram a ser conhecidos como “especulativos” 31 , tornando-se “Membros Honorários” em contraposição aos Mestres de Ofício ou Pedreiros-Livres (“freemasons”). A aceitação formal e tradicionalmente verbalizada localiza-se na Loja de Edimburgo, na Escócia, quando, em 18 de junho de 1600, o profano JOHN BOSWELL tornou-se “maçom aceito” 32. Em 20 de maio de 1641, na cidade de Newcastle, Inglaterra, veio a ingressar na Ordem nada menos do que “Sir” ROBERT MORAY, que, se não era adepto, não deixava de revelar sua simpatia pela filosofia Rosacruz, à semelhança de outros eruditos da época. Cinco anos mais tarde, em 16 de outubro de 1646, veio a ingressar na Maçonaria Operativa em transição o inglês ELIAS ASHMOLE 33, erudito em cujo acervo cultural se contavam os títulos de arqueólogo, físico, astrólogo, historiador e Rosacruz, vindo a tornar-se uma figura polêmica entre os historiadores da Maçonaria, pois, enquanto uns minimizam, outros chegam a exacerbar a participação dele nas atividades maçônicas de então. Em seu “diário” ele próprio afirma 34 o ingresso, em 10 de maio de 1682, de outras figuras proeminentes ligadas à aristocracia inglesa, dizendo textualmente: “Por volta das 5 horas da tarde, recebo uma convocação para me apresentar a uma Loja que deve reunir-se no dia seguinte em Mason’s Hall, em Londres. Consequentemente compareci à reunião e, por volta do meio-dia, foram admitidos na Fraternidade dos Maçons: Sir William Wilson, Cavaleiro, o Capitão Richard Bortwick, M. Will Woodman, M. Wim-Grey, M. Samuel Taylor e M. William Wise. Eu era o Decano dos Companheiros presentes (pois já faz trinta anos que fui admitido). Estavam presentes ao meu lado os Companheiros a seguir relacionados: M. Thomas Wise, Mestre da Companhia dos Maçons para o ano corrente, M. Thomas Shorthose, M. William Hamon, M. John Thompson e M. William Stanton. Fomos todos almoçar na taverna da Meia Lua em Cheapside, reunidos num banquete solene, cujas despesas correram por conta dos novos Maçons aceitos” . É interessante notar que toda essa casta de “aceitos” na Maçonaria Operativa, então já nos últimos cenários de seu ocaso, ao ser nela admitida não o era no grau de Aprendiz, mas já no de “Fellow”, isto é, “Companheiro”. Observa-se que vários dos nomes citados por ASHMOLE estão precedidos pela letra “M”, que não é abreviação de nome algum, mas sim do título de “Mestre”. aí é de perguntar-se: como poderia um “Mestre” ser aceito como “Companheiro”? É o próprio Jean Palou, apoiado em René Guénon 35, quem explica ao dizer: “É evidente que os Mestres do Ofício que acabam de ser iniciados na Loja de Ashmole – estamos no século XVII – traziam um título corporativo provavelmente comprado a peso de ouro e por mais perfeitos pedreiros corporados que fossem, não tinham ainda recebido a iniciação que fazia deles verdadeiros ‘operativos’. Esta confusão entre ‘operatismo’ e ‘corporatismo’ é muito frequente entre os historiadores maçons” . Uma outra questão extremamente polêmica ligada a ELIAS ASHMOLE é a que lhe é imputada como introdutor da corrente Rosa Cruz na Maçonaria, já que ele era adepto daquela filosofia. Para a corrente ligada a essa tese, a inclusão de um certo grau iniciático na Maçonaria e até mesmo a sua denominação – o Grau 18 “Cavaleiro Rosa Cruz” – centram-se na filosofia Rosa Cruz36. A corrente oposta nega o interrelacionamento entre os Rosa Cruzes e a Maçonaria, a começar pela ausência de prova histórica concreta nesse sentido, e ainda porque o fato de ELIAS ASHMOLE ter sido Rosa Cruz quando ingressou na Maçonaria, não quer dizer que esta se tivesse deixado dominar pelos ensinamentos daquela filosofia, a ponto de se confundirem entre si essas duas Instituições. Jean Palou, inspirado em René Guénon e H.F. Marcy 37, enfatiza a distinção entre “rosa cruz” e “rosacrucianismo” ao explicar que no princípio do século XVII (anos 1600) surgiu a lenda de “Christian Rosenkreutz”38, nascida da Fraternidade dos Rosa Cruzes, e que, graças a ela, surgiram proclamações na Alemanha, em Paris e Londres, respectivamente em 1614, 1623 e 1628, de cunho um tanto esotéricas, relativamente misteriosas e suspeitas39, emanadas daqueles que se intitulavam “rosa cruzes”, quando, na verdade, eram personagens “rosacrucianos”. Isto porque (transcrevendo do René Guénon): “o termo Rosa Cruz é... a designação de um grau efetivo iniciático... a perfeição do estado humano, pois o próprio símbolo da Rosa Cruz 40 representa, pelos dois elementos de que é composto, a reintegração do ser no centro desse estado e a plena expansão de suas possibilidades individuais a partir desse centro; marca, portanto, com exatidão, a restauração do ‘estado primordial’ ou, o que vem a ser a mesma coisa, , o acabamento da iniciação nos ‘pequenos mistérios’. Já o “rosacrucianismo”, composto pelos “rosacrucianos”, caracteriza-se pela propagação das chamadas “ciências secretas”, entre elas a Alquimia, a Astrologia, o Hermetismo, o Ocultismo, tudo isto com a sua natural carga de misticismo.
TERCEIRA PARTE O ALVORECER DA MAÇONARIA ESPECULATIVA No passar do tempo e evolução dos fatos, houve um momento em que, na Inglaterra, havia dois Grão-Mestres com títulos diferentes: um, o Grão-Mestre do Norte com o título de “Grão-Mestre de Toda a Inglaterra”, ao passo que o outro do Sul era denominado simplesmente “Grão-Mestre da Inglaterra”. Logo no começo do século XVIII (anos 1700), a Maçonaria do Sul da Inglaterra havia entrado em decadência. Os distúrbios da revolução que acabaram colocando no trono, em 1689, o Rei Guilherme III, e a subsequente veemência dos sentimentos políticos impuseram à Ordem Maçônica um golpe fatal no seu progresso. Sir CHRISTOPHER WREN, por muito tempo Mestre-Construtor e Grão-Mestre no reinado da rainha Ana (1702-1714), havia envelhecido, tornando-se doente e inativo, quando então as Assembleias gerais da Grande Loja deixaram de existir. Em 1715 havia quatro Lojas no Sul da Inglaterra e todas trabalhando na cidade de Londres. Essas Lojas, dese josas de revigorar a prosperidade da Ordem, tomaram a deliberação de se unir sob um novo Grão-Mestrado, revivendo os festejos anuais que haviam deixado de acontecer. Encontraram-se na “Taverna da Macieira” e aí constituíram-se formalmente numa “Grande Loja” pro tempore 41. Mantiveram-se firmes na manutenção da Assembleia e do banquete anuais, passando a eleger entre eles mesmos um Grão-Mestre. Foi assim que, em 24 de junho de 1717 – dia em que se homenageia “São João Batista” –, instalaram-se a Assembleia e o Banquete Festivo, sendo naquela proposto e eleito ANTHONY SAYER como Grão-Mestre. Elaborou-se, na seqüência, um Estatuto que alterou inteiramente os objetivos da Instituição Maçônica. E foi aí que a Maçonaria, a partir daquele instante, converteu-se de Operativa em completamente Especulativa em seu caráter. Deixou de erguer templos materiais para devotar-se ao soerguimento de templos espirituais. Manteve as ferramentas e os termos técnicos da arte de construir tais como existiram na instituição original operativa, coligando-os ao simbolismo religioso que eles comunicavam. Tornaram-se aqueles Maçons os atualmente chamados “Maçons Livres” (‘freemasons’), estabelecendo um imperecível fundamento que a Sublime Instituição exibe a toda a Humanidade e, como jamais visto, o mais maravilhoso sistema de simbolismo moral e religioso. As Grandes Lojas de York e de Londres conservaram entre si uma notável relação de fraternidade e intercambiaram seus reconhecimentos até 1725; a partir daí, cresceram as dissensões, notadamente quando a questão territorial passou dos limites, causando recíprocos protestos, vindo a cessar em 1735 todas as relações fraternais entre essas duas Grandes Lojas. Desde aquela época os Maçons de York consideravam seus interesses distintos daqueles dos Maçons subordinados à Grande Loja de Londres. Três anos após, em 1738, várias Lojas insatisfeitas com a conduta da Grande Loja da Inglaterra, dela se separaram, passando a não reconhecer as sessões que não tivessem sido autorizadas com a finalidade de iniciação. Aproveitando-se da brecha entre as Grandes Lojas de York e de Londres, assumiram os Maçons da primeira o título de “Maçons de York”. Sobrepondo-se à determinação da Grande Loja de Londres para porem em estrita execução as leis que se opunham à secessão, isto é, ao cisma que as levou à separação entre si, ainda aqueles Maçons posteriormente vieram a se separar da jurisdição londrina para assumir a denominação de “Maçons Antigos de York”. Anunciaram que os antigos “landmarks” passaram a ser exclusivamente preservados por eles, declarando que as Lojas regulares haviam adotado novos planos bem como sancionado inovações que os levavam a adotar o nome de “Maçons Modernos”. Em 1739 estabeleceram uma nova “Grande Loja dos Maçons Antigos de York”, e perseverando nas medidas que haviam adotado, mantiveram as festas e comunicações tradicionalmente anuais. Logo em seguida foram reconhecidos pela Maçonaria da Escócia e da Irlanda, sendo encorajados e fomentados por muitas pessoas ligadas à nobreza da Corte. As duas Grandes Lojas continuaram a existir em recíproca oposição, estendendo seus cismas a outros países, especialmente na América, até o ano de 1813, quando, sob o Grão-Mestrado do Duque de Sussex, relacionado aos “Maçons Modernos”, e seu irmão, o Duque de Kent, relacionado aos “Maçons Antigos”, uniram-se finalmente sob o nome de GRANDE LOJA UNIDA DA INGLATERRA. Note-se, entretanto, que a “Grande Loja de Toda a Inglaterra”, em York (localizada no Norte desse País), continuou trabalhando até 1792, vindo a partir daí a entrar em declínio até aquela união em 1813. Tal é a história resumida da Franco-Maçonaria na Inglaterra, como narrada por todos os escritores maçons nos últimos dois séculos. Espalhou-se em outros países com mais ou menos atividade através da instrumentalidade da Grande Loja da Inglaterra, que se tornou, na verdade, a “Loja-Mãe do Mundo”. Sob o modelo inglês vieram a surgir crescentemente as Lojas em outros países: na França, a partir de 1727; na Holanda, em 1731; na Alemanha, em 1733; e na Itália, em 1735. Na América a Franco-Maçonaria foi instalada em Boston, Estado de Massachusetts, em 1733.
JAMES ANDERSON, JÉAN-THÉOPHILLE DÉSAGUILLIERS ANDRÉ-MICHEL DE RAMSAY Esses três personagens conviveram na mesma época em que desabrochava o Período Especulativo da Maçonaria e para ele deram as melhores de suas contribuições, universalmente reconhecidas pelos autores maçônicos. JAMES ANDERSON nasceu em Aberdeen, na Escócia, em 1684, vindo a falecer em 1739. Nunca se chegou a saber quando foi iniciado na Maçonaria, embora o fosse, vindo a tocar a ele a responsabilidade de organizar a Maçonaria Especulativa. Era formado pela Universidade da própria cidade onde nasceu, tendo sido pastor protestante. Foi o autor do “Livro das Constituições” Maçônicas, publicada sua primeira edição em 1723 e a segunda em 1738, quase que completamente Especulativa em seu caráter. Deixou de erguer templos materiais para devotar-se ao soerguimento de templos espirituais. Manteve as ferramentas e os termos técnicos da arte de construir tais como existiram na instituição original operativa, coligando-os ao simbolismo religioso que eles comunicavam. Tornaram-se aqueles Maçons os atualmente chamados “Maçons Livres” (‘freemasons’), estabelecendo um imperecível fundamento que a Sublime Instituição exibe a toda a Humanidade e, como jamais visto, o mais maravilhoso sistema de simbolismo moral e religioso. As Grandes Lojas de York e de Londres conservaram entre si uma notável relação de fraternidade e intercambiaram seus reconhecimentos até 1725; a partir daí, cresceram as dissensões, notadamente quando a questão territorial passou dos limites, causando recíprocos protestos, vindo a cessar em 1735 todas as relações fraternais entre essas duas Grandes Lojas. Desde aquela época os Maçons de York consideravam seus interesses distintos daqueles dos Maçons subordinados à Grande Loja de Londres. Três anos após, em 1738, várias Lojas insatisfeitas com a conduta da Grande Loja da Inglaterra, dela se separaram, passando a não reconhecer as sessões que não tivessem sido autorizadas com a finalidade de iniciação. Aproveitando-se da brecha entre as Grandes Lojas de York e de Londres, assumiram os Maçons da primeira o título de “Maçons de York”. Sobrepondo-se à determinação da Grande Loja de Londres inteiramente reformulada. Todas as demais edições foram posteriores à sua morte e ocorreram em 1756, 1767 e 1784. Para essas “Constituições” dedicou-se integralmente ao estudo das “Old Charges” (“Velhas Instruções” ou “Velhos Manuscritos”, ou ainda, “Antigas Obrigações”). A celebridade do Livro das Constituições em sua primeira edição advém da redação emprestada ao texto de um artigo, onde é afirmado: “Com relação a Deus e à religião. Um maçom é obrigado por sua condição a obedecer à Lei Moral e, se compreende bem a Arte, não será jamais ateu estúpido nem libertino irreligioso. Mas, embora nos tempos antigos os maçons fossem obrigados em cada país a ser da religião, qualquer que ela fosse, desse país ou dessa nação, hoje é considerado mais conveniente limitar-se a essa religião sobre a qual todos os homens estão de acordo, deixando a cada um suas próprias opiniões, isto é, de ser homens de bem e leais, ou homens honrados e probos, quaisquer que sejam as denominações ou confissões que ajudem a distingui-los, em razão do que a Maçonaria torna-se o Centro de União e o Meio de travar uma amizade sincera entre pessoas que de outra forma permaneceriam eternamente estranhas”. Na edição de 1738 ANDERSON dá a esse texto uma redação mais curta, porém com alterações e acréscimos que têm dado margem a sérias discussões entre os autores maçônicos. Afirmava ele: “Um maçom é obrigado por sua condição a observar a Lei Moral, como um verdadeiro noaquita, e se compreende bem o Ofício, não será jamais ateu estúpido, nem libertino irreligioso, nem agirá contra a sua consciência, pois todos estão de acordo sobre os três grandes artigos de Noé, para preservar o cimento da Loja”. JEAN-THÉOPHILLE DÉSAGUILLIERS, de vida maçônica muito oculta, parecendo que desempenhou papel importante na constituição da Ordem Maçônica logo no início de seu Período Especulativo. Nasceu em 1683 na cidade de Rochelle (França), vindo a falecer em 1744. Refugiado na Inglaterra com seus pais, estudou em Oxford e chegou a ser professor de Filosofia Experimental naquela mesma Universidade. Também ensinou em Westminster, onde conheceu o matemático Isaac Newton. Viajando pela Holanda, conheceu e manteve relações também com outro notável matemático, Hyghens. Ao longo de sua vida prestou relevantes serviços na área das Ciências. Foi ele quem, em 1719, iniciou na Maçonaria o Príncipe de Gales, de quem foi capelão, como também chegou a ser Grão-Mestre da Ordem. Foi um dos homens mais instruídos e mais célebres daquela época e a ele se deve a propagação da Maçonaria Especulativa, embora não ficasse indene às críticas, notadamente de René Guenon, que lhe imputava e a James Anderson a responsabilidade pela desfiguração da Maçonaria ao sair do plano “operativo” para entrar no “especulativo”, quando redigiram a Constituição de 1723. ANDRÉ-MICHEL DE RAMSAY nasceu em 1686, em Ayr (França), vindo a falecer em 1743, em SaintGermain-em-Laye. Embora fosse um literato fecundo, sua vida profana não é muito bem conhecida e, menos ainda, sua vida maçônica, eis que seu ingresso na Maçonaria também não tem data até hoje conhecida, sabendo-se apenas que esse fato ocorreu antes de 1728. Foi o renovador da Maçonaria Francesa e também propagador da corrente maçô-
nica chamada “Escocismo”. O regente da França Jacques II o fez “Cavaleiro de São Lázaro” e, em 1730, concedeu-lhe o título de “Baronete da Escócia”. Ainda nesse mesmo ano foi-lhe concedido o título de “Doutor” pela Universidade de Oxford (Londres), apesar de ser católico confesso, e por isso ligado à Casa dos Stuarts, reis católicos ingleses. Como dito, seus passos na trajetória maçônica são quase desconhecidos, e a maioria das afirmações a esse respeito provém dos que o criticavam, como também daqueles que o admiravam; porém, umas e outras despidas de documentação suficiente para respaldá-las. Apesar dessa escassez de dados maçônicos a seu respeito, é incontestável o fato de ter sido ele o autor de um documento que é considerado importantíssimo para a história da Franco-Maçonaria, qual seja, o seu famoso “Discurso pronunciado por ocasião da recepção dos franco-maçons, pelo Sr. de R., Grande Orador da Ordem” , peça essa que tem sido objeto, até hoje, das mais avantajadas críticas, muitas das quais não podem ser discutidas no grau de Aprendiz. Contudo, é valida para a devida reflexão e comparação com a atual filosofia maçônica a transcrição de um trecho 42 desse longo “Discurso de Ramsay”, como é comumente chamado e que só foi publicado em 1741: “O mundo todo não passa de uma grande república, da qual cada nação é uma família e cada indivíduo, um filho. É para fazer renascer e expandir essas máximas essenciais tomadas à natureza do Homem, que nossa Sociedade (a Franco-Maçonaria) foi de início estabelecida. Queremos reunir todos os homens de espírito esclarecido, de costumes morigerados e de humor agradável, não só pelo amor às belas artes, mas também e ainda pelos grandes princípios da virtude, da ciência e da religião, onde o interesse da Confraria se converte no interesse de todo o gênero humano, onde todas as nações podem colher conhecimentos sólidos e onde os súditos de todos os reinos podem a prender a se amar mutuamente, sem renunciar à sua pátria. Nossos antepassados, os cruzados, reunidos de todas as partes da cristandade na Terra Santa quiseram reunir assim, numa só Confraria, os indivíduos de todas as nações. Que gratidão se deve a esses homens superiores, que, sem interesse secundário, sem mesmo escutar a vontade natural de dominar, imaginaram um estabelecimento cujo único objetivo é a união dos espíritos e dos corações, para tornálos melhores e formar, no correr dos tempos, uma nação, toda espiritual, em que, sem prejuízo dos diversos deveres que exige a diferença de Estados, criar-se-á um povo novo, que, composto de várias nações, as cimentará de um certo modo pelo vínculo da virtude e da ciência” .
A menção de Ramsay aos cruzados como “antepassados” dos Maçons não corresponde à verdade histórica. Essa referência foi devida ao fato de que ele era protegido e amigo do Príncipe de Bouillon, em cuja família genealógica se encontrava Godofredo de Bouillon, que comandou a Primeira Cruzada em 1096 e nela foi o vencedor, pelo que recebeu o título de “Defensor do Santo Sepulcro”. Quiçá, como homenagem e admiração aos feitos heróicos da Casa dos Bouillon, fez retroagir e coligar os primórdios da Ordem Maçônica àqueles Cruzados – os “Cavaleiros de São João de Jerusalém”, como foram inicialmente cognominados. Uma outra questão, muito polêmica, está ligada aos graus maçônicos, que uns afirmam terem sido inspirados por Ramsay – e por isso cognominado “o pai espiritual dos Graus Superiores, embora não tenha ele próprio concebido e nem proposto grau superior aos três graus simbólicos da Maçonaria azul” 43 – ao passo que outros negam esse feito, mormente pelo fato da inexistência de comprovação autêntica a tal respeito.
AS CONSTITUIÇÕES MAÇÔNICAS ESCLARECIMENTO NECESSÁRIO Em Maçonaria, quando se fala de “Constituição” (no singular), está-se referindo àquele conjunto de regras, de normas superiores a que ficam sujeitos todos os Maçons em todas as Lojas de uma jurisdição integrante de Potência Maçônica. Mencionando-se, por exemplo, “Constituição da Grande Loja de Santa Catarina”, afirma-se a existência de uma codificação de regras e normas fundamentais que, na GRANDE LOJA do Brasil (Potência), fica sujeita à jurisdição de SANTA CATARINA (Estado Federado), através de cada uma de suas Lojas filiadas, e em cada Loja os Maçons que constituem os seus Membros. No entanto, quando se fala de “Constituições” (no plural), já não mais se identifica a Potência Maçônica, nem suas eventuais jurisdições, nem suas Lojas, mas sim a universalidade dos Maçons a que elas estão destinadas. Isto porque as Constituições não estarão traçando regras e normas superiores para serem obedecidas por esta ou aquela Potência, esta ou aquela jurisdição, esta ou aquela Loja, isoladamente consideradas, mas sim por todas as Potências, em todas as suas jurisdições, em todas as suas Lojas e por todos os Maçons. É neste último sentido que se fala das “Constituições de 1723”, mais conhecidas como “Constituições de Anderson”, “Constituições Escocesas de 1762” e “Constituições Escocesas de 1786”, porque em todas elas estão grafadas, rígida e dogmaticamente, as leis, as normas gerais e supremas, as tradições, todas absolutamente invioláveis e de cumprimento fidelíssimo – ressalvadas as ligeiras adequações que se fizeram necessárias e decorrentes da evolução nos vários campos do relacionamento humano, enfaticamente o político, e ainda os próprios usos e costumes, que são variáveis entre as nações – porque todas elas norteiam a Ordem Maçônica em sua abrangência mundial.
Nessas três Constituições Maçônicas, antes da textualidade normativa propriamente dita, consta o que se chama de “preâmbulo” (como também acontece com as constituições profanas). Como tal, o “preâmbulo” não deixa de ser uma “introdução” onde está consignado o espírito que anima o conteúdo constitucional, que mostra e justifica a sua razão de ser, identifica os seus propósitos mais generalizados e assenta, através de postulados, toda a sua ideologia. Anote-se, entretanto, uma profunda e marcante diferença entre uma qualquer constituição profana e as Constituições Maçônicas: A profana é a Lei ou Norma Fundamental, a Lei Magna que dá origem a todo ordenamento jurídico de um país, ou seja, é a fonte única de todas as leis. Nenhuma lei ou norma, por mais especial e relevante que seja, estará acima da Constituição e nem mesmo paralela a ela. Assim não acontece com as Constituições Maçônicas, quer nos Graus Simbólicos, quer nos Graus Filosóficos, como chamados em sentido lato. Elas não estão no topo do ordenamento maçônico e sim sujeitas a uma hierarquia de normas que lhes antecedem em importância. Vale dizer, em primeiro lugar e acima de tudo, se encontram, na Maçonaria Simbólica, os LANDMARKS; em seguida e subjacentes a eles, as OLD CHARGES (“Velhas Instruções” ou “Antigas Obrigações”); depois, as CONSTITUIÇÕES DE 1723 ou “Livro das Constituições” de Anderson; sob estas, as CONSTITUIÇÕES DAS POTÊNCIAS MAÇÔNICAS (Constituições singulares); subordinadas a estas, vêm os REGULAMENTOS GERAIS; por fim, em caráter particularizado, os REGIMENTOS DAS LOJAS. Na Maçonaria dos Graus Superiores do Rito Escocês Antigo e Aceito a ordem hierárquica decrescente é esta: LANDMARKS, OLD CHARGES, CONSTITUIÇÕES DE 1723, CONSTITUIÇÕES DE 1786, CONSTITUIÇÕES DE 1762 (no que não tiverem sido revogadas pelas de 1786), ESTATUTOS DO SUPREMO CONSELHO DO GRAU 33 e REGULAMENTOS GERAIS.
A CONSTITUIÇÃO DE ANDERSON (1723) Em verdade, não se trata de uma “Constituição”, no sentido apertado do termo, mas sim de uma compilação das mais antigas tradições, usos e costumes da Maçonaria Operativa, trabalho esse que o pastor James Anderson realizou em face da solicitação que lhe fez, à época, o Grão-Mestre GEORGES PAYNE. Tanto assim é que, abrindo o capítulo único “As Obrigações de um Pedreiro-Livre” , refere que elas foram “extraídas dos antigos Registros e das Lojas de Além-Mar e daquelas da Inglaterra, Escócia e Irlanda, e para uso das Lojas em Londres” . Seja como for, também a tradição maçônica pós-1723 sempre a teve e viu como “Constituição” e assim é referida entre os historiadores da Ordem. É composta por sete Títulos Gerais, dos quais o último se desdobra em seis subtítulos. Esses Títulos Gerais versam as matérias sobre: (a) “Deus e a Religião”, (b) o “Magistrado Civil supremo e subordinado”, (c) as Lojas, (d) os Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes, (e) condução das Lojas em atividade, (f) e comportamento. Dentro deste último Título, são versadas as seguintes matérias quanto: (1) à Loja enquanto constituída, (2) após a Loja fechada e com os Irmãos ainda presentes, (3) ao encontro entre Irmãos sem estranhos, mas fora da Loja, (4) à presença de estranhos não-Maçons, (5) ao lar e à vizinhança, e (6) ao respeito a Irmãos estranhos. Sobre “Deus e a Religião” já foram transcritos aqui, nos traços biográficos de Anderson, os respectivos textos nas edições de 1723 e 1738. Quanto ao “Magistrado Civil, Supremo e Subordinado”, refere principalmente que os Maçons são súditos pacíficos do Poder Civil, seja onde for que se encontrem, e não se envolverão em nenhum movimento político, como complôs e conspiração, que perturbe a paz e o bem-estar da nação. Em relação às Lojas, afirma que nestas se caracteriza o lugar onde os Maçons se reúnem e trabalham, estando todos sujeitos aos respectivos regimentos internos e aos Regulamentos Gerais44, finalizando por afirmar que “as pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e de bons princípios, nascidos livres, de idade madura e discretos, não mulher, não escravo, nem imorais ou escandalosos, mas de boa reputação” . A respeito “Dos Mestres, Vigilantes, Companheiros e Aprendizes” assinala que “toda promoção entre os Maçons será baseada no seu real valor e mérito pessoal, pois assim serão os Lordes melhor servidos, os Irmãos não serão envergonhados, nem a Arte Real menosprezada. Dessa forma, nem o Mestre nem os Vigilantes são escolhidos pela idade, mas sim por seus méritos. ( ... ) e sendo feito um Irmão e depois Companheiro no devido tempo, deve descender de ancestrais honrados, e após ter cumprido o interstício dos anos, como a tradição do país dita; então, devidamente qualificado, poderá ter a honra de se tornar Vigilante, e então Mestre de Loja, Grande Vigilante, até chegar a Grão-Mestre de todas as Lojas de acordo com seus méritos. Nenhum Irmão pode se tornar Vigilante antes de ter sido um Companheiro, nem Mestre antes de ter sido Vigilante, nem Grande Vigilante antes de ter sido Mestre de Loja e nem Grão- Mestre, a não ser que tenha sido Companheiro antes de sua eleição. ( ... ) Estes administradores e governadores, supremos e subordinados, dessa antiga Loja, devem ser obedecidos em seus respectivos cargos por todos os Irmãos, de acordo com as antigas Obrigações e Regulamentos, com toda humildade, reverência, amor e alegria”. Relativamente à “Condução das Lojas quando em atividade”, registrou-se que “( ... ) o mais hábil dos Artesãos-Companheiros deverá ser escolhido ou apontado como Mestre, ou Supervisor do Trabalho do Senhor; que deverá ser chamado Mestre por aqueles que trabalham sob sua supervisão. Os Artesãos devem evitar qualquer linguagem
ofensiva, e não dirigirem-se uns aos outros por nomes que não sejam Irmão ou Companheiro, e conduzirem-se cortesmente dentro ou fora da Loja ( ... ) não devendo dar melhor paga a qualquer Irmão ou Aprendiz sem que este o mereça. ( ... ) Ninguém deve mostrar inveja pela prosperidade de um Irmão, nem suplantá-lo ou desviá-lo de seu trabalho, mesmo se for capaz de realizá-lo... ( ... ) Nenhum trabalhador deve ser empregado em trabalho não próprio da Maçonaria, nem Maçons-Livres devem trabalhar com aqueles que não o são sem necessidade urgente, nem devem ensinar a trabalhadores e Maçons não-admitidos da mesma forma como deveriam ensinar um Irmão ou Artesão”. Por fim, sobre o “Comportamento”, estabeleceu-se que “não se deverão constituir comitês particulares, ou conversações paralelas sem permissão do Mestre, nem falar inoportuna ou inconveniente, nem interromper o Mestre, Vigilantes ou qualquer outro Irmão que esteja falando com o Mestre, nem se comportar jocosa ou zombeteiramente enquanto a Loja estiver envolvida com o que é sério e solene, nem usar de linguagem imprópria na presença de quem quer que seja, mas deve prestar a devida reverência ao seu Mestre e Vigilantes e Companheiros. Se qualquer queixa vier à tona, o Irmão considerado culpado deverá aceitar a sentença e determinação da Loja, a não ser que apele à Grande Loja, que é próprio e competente juiz de toda e qualquer controvérsia, à qual os Irmãos devem se dirigir... ( ... ). Facultou-se o regozijo “com inocente alegria, tratando uns aos outros de acordo com suas habilidades, mas evitando todos os excessos, ou compelindo qualquer Irmão a comer ou beber além de sua inclinação, ou impedindo-o de prosseguir quando suas obrigações assim o chamarem, ou realizando ou dizendo o que quer que seja ofensivo, ou o que quer que possa evitar uma conversa franca e livre, pois isso poderia quebrar nossa harmonia e frustrar nossos louváveis esforços. Portanto, quaisquer pendências ou querelas acerca de religião, cidadania ou política não devem ser conduzidas para dentro das portas das Lojas; porque ... como Maçons ... também somos de todas as nações, línguas, famílias e idiomas, e somos contra qualquer política que não contribua para o bem-estar da Loja, nem nunca contribuirá. Esta Obrigação tem sido estritamente prescrita e observada; ... Quando os Irmãos se encontram sem estranhos, mas não na Loja, se saudarão uns aos outros de maneira cortês... porque todos os Maçons são iguais, Irmãos, ainda que a Maçonaria não usurpe a honra do homem antes de sua Iniciação, ou sequer acrescente algo a esta, especialmente se tenha merecido respeito pela Fraternidade, e que deve honrar aquele que é merecedor, e evitar comportamento impróprio. Na presença de estranhos não-Maçons, deverão ser cautelosos com as palavras e o comportamento, que o mais perspicaz estranho não seja capaz de descobrir ou perceber o que não deve ser revelado... No lar e na vizinhança deverá agir como convém a um esposo e um homem de moral; particularmente não deixar a família, amigos ou vizinhos saberem a respeito dos interesses da Loja, etc. ( ... ) evitar a gula ou embriaguez, e que suas famílias não sejam negligenciadas ou injuriadas... Com respeito a Irmãos desconhecidos, deverão cautelosamente examiná-los com o método que a prudência lhes apontar, e que vós não sejais iludidos por um ignorante embusteiro, a quem vós devereis rejeitar com desprezo e escárnio, e devereis cuidar de não passar a este nenhuma alusão a respeito de conhecimento. Mas se vós descobrirdes que este é um verdadeiro e genuíno Irmão, devereis respeitá-lo de acordo, e se este necessitar de ajuda, devereis aliviá-lo como podeis, ou então dizer-lhe como poderá ser aliviado... Mas não sereis obrigado a fazê-lo além de vossas habilidades e somente dar preferência a um pobre Irmão, que é um nobre e verdadeiro homem, antes de quaisquer outras pessoas pobres nas mesmas circunstâncias”.
AS CONSTITUIÇÕES DE 1762 E 1786 São duas Constituições que foram elaboradas para vigorar em todo o Mundo Maçônico, mas não se ocupam dos Graus Simbólicos e sim dos Graus Superiores. As primeiras, de 1762, foram elaboradas em Bordeaux, na França; as segundas, de 1786, em Berlim, sob o marcante entusiasmo do Imperador Frederico II, 45 que as aprovou. Tratam elas – notadamente a de 1786 – da autoridade do Soberano Grande Inspetor Geral, da formação e composição de um Supremo Conselho e de um Apêndice onde estão estabelecidos e descritos o Estandarte, o Selo, a Medalha da Ordem e as Insígnias distintivas. Por se referirem essas duas Constituições a matérias completamente dessemelhantes daquelas versadas na Maçonaria Simbólica, deixa-se de passar aos Irmãos Aprendizes outras informações históricas mais detalhadas, mesmo porque, na ascensão aos Graus Superiores, terão eles a oportunidade de mergulhar larga e profundamente nesses aspectos históricos da Instituição Maçônica, e, em particular, dessas duas importantíssimas Constituições.
BIBLIOGRAFIA 1. Jean PALOU – “A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática”, Editora Pensamento, São Paulo. 2. Ambrósio PETERS – “O Manuscrito Régio e o Livro das Constituições”, Editora Maçônica “A trolha” Ltda., Londrina, PR. 3. Eleutério Nicolau da CONCEIÇÃO – “Maçonaria – Raízes Históricas e Filosóficas”, Ed. Madras, São Paulo. tugal.
4.
Paul NAUDON – “A Franco-Maçonaria”, Publicações Europa-América, Lisboa, Por-
5. John R. BENNETT – “Origin of Freemasonry and Knight Templar”, ed. Kessinger Publishing, Kila, USA. NOTAS: 1
Maçonaria Especulativa pode ser abreviadamente definida como a aplicação científica e a consagração religiosa de regras e princípios, a linguagem, os utensílios e materiais da Maçonaria Operativa, destinados à veneração do GADU, à purificação do coração (“moral”) e à inculcação dos dogmas de uma filosofia religiosa (a eternidade da vida). 2
Região da Europa oriental, atualmente dividida entre a Grécia, Turquia e Bulgária.
3
Vide Apêndice I.
4
Vide Apêndice II.
5
Vide Apêndice V.
6
O ‘Manuscrito Regius’, de que se ocupará o Apêndice VI.
7
Vide Apêndice III.
8
Vide Apêndice IV.
9
NICOLA ASLAN, “Grande Diccionario Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia”.
10
Os termos do juramento eram estes: “Juro por Deus e São João, pelo esquadro e pelo compasso, submeter-me ao juízo de todos, trabalhar sob as ordens do meu Mestre na honorável Loja, desde segunda-feira de manhã até sábado, guardar as Leis, sob pena de que me seja arrancada a língua sob o queixo e ser enterrado sob as ondas, num lugar desconhecido por todo e qualquer homem” , segundo KNOOP-JONES em “The Genesis of Freemasons”, apud Frederico Guilherme Costa – “Maçonaria: Um Estudo da sua História”, ed. Trolha. A “Loja” mencionada no juramento era “ a casa de madeira ou de pedra onde os operários trabalhavam ao abrigo das intempéries e podia conter de 12 a 20 talhadores de pedra ”, segundo Du Colombier, citado por J.Palou, ob.cit. 11
Cfe. JEAN PALOU, “A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática”, ed. Pensamento.
12
Somente dada a conhecer no Grau de Mestre-Maçom.
13
Vide o Apêndice VI.
14
Vide “A Ciência Simbólica”, pág. 12.
15
Vide 5a Instrução, Complemento II, págs. 31 a 35.
16
Citações reproduzidas, inclusive as pessoais, por JEAN PALOU, ob. cit. nota 10.
17
Segundo MARIUS LEPAGE, em “Le Symbolisme”, ed. 1961, citado por JEAN PALOU em “A FrancoMaçonaria Simbólica e Iniciática”.
18
“O Manuscrito Régio e o Livro das Constituições”, pág. 76, ed. “A Trolha”, 1 a ed., 1997.
19
Cfe. ALEX HORNE, “O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica”.
20
Costuma-se dividir, arbitrariamente, a Idade Média ou Período Medieval, em três estágios e com estas denominações: 1. Alta Idade Média, dos anos 400 aos 800; 2. Idade Média Intermediária, dos anos 900 a 1200; e 3. Baixa Idade Média, dos anos 1300 aos fins do Século XV (anos 1401/1500). Existem outros critérios. 21
Cfe. ALEX HORNE, “O Templo do Rei Salomão na Tradição Maçônica”, pág. 62, Ed. Pensamento.
22
Cfe. Jean Palou, na obra citada na nota anterior.
23
Alex Horne, ob. cit. , nota 20.
24
J.Gimpel, apud Jean Palou, ob. cit. nota 10.
25
De acordo com o Supremo Conselho da França em seu Boletim n. 137, apud J. Palou, ob. cit.
26
Cfe. Alex Horne, ob. cit. nota 20.
27
Idem, nota supra.
28
Ibidem, nota 20.
29
Assim chamados porque não eram “iniciados” nos segredos da arte de talhar a pedra bruta e das construções religiosas ou palacianas. 30
Vejam-se, a esse respeito, as corretas observações de nosso Ir Eleutério Nicolau da Conceição em sua monografia “Maçonaria – Raízes Históricas e Filosóficas”, ed. Madras, 1998, págs. 36/37. ∴
31
No sentido de “especular” [do latim ‘speculare’] Examinar com atenção; averiguar minuciosamente; observar; indagar; pesquisar. Informar-se minuciosamente de algo. M editar, raciocinar, refletir, considerar. 32
Cfe. Jean Palou, “A Franco-Maçonaria Simbólica e Iniciática”, ed. Pensamento, pág. 44, citando Lionel Vibert.
33
Para traços biográficos desse personagem, vejam-se autor e obra citados na nota 30, págs. 75/76.
34
Cfe. Jean Palou, ob. cit., apoiado em Henri Félix Marcy - “Essai sur l’origine de la Franc Maçonnerie et l’Histoire du Grand Orient en France” (Ensaio sobre a origem da Franco-Maçonaria e a História do Grande Oriente na França). 35
Ob. cit., pág. 45, nota (9): “Aperçus sur l’initiation”, Paris, 1953 (Ensaio sobre a Iniciação).
36
Em face de tratar-se de “História da Maçonaria” para o Grau de Aprendiz, não é possível o alargamento da tese dessa corrente do pensamento maçônico. 37 38
Obs. cits. nas notas 34 e 35.
Singela, mas correta e muito bem exposta por nosso Ir Eleutério Nicolau da Conceição em sua monografia já citada na nota 30. ∴
39
Propunham a supressão do papa, a expansão do anglicanismo e a conversão dos judeus e turcos ao cristianismo.
40
Uma cruz tendo uma rosa no centro formado pelos braços ou hastes.
41
As quatro Lojas londrinas costumavam reunir-se, cada uma, em Tavernas que tinham os nomes de “Ganso Grelhado”, situada na Praça da Catedral de São Paulo e da qual foi Mestre-Construtor o seu Grão Mestre Inigo Jones (veja-se Apêndice IV); “Coroa”, localizada na Avenida Parker e próxima à Avenida Drury; “Macieira”, na Charles Street, em Covent Garden; e “Caneca de Vinho”, situada na Channel-Row, em Westminster. 42
Extraído por Jean Palou de H.F. Marcy na ob.cit. aqui, em nota 34.
43
R. Le Forestier, “L’Ocultisme et la Franc Maçonnerie écossaise”, transcr. de J. Palou, ob. cit.
44
Esses “Regulamentos Gerais” foram os compilados em 36 artigos pelo Grão-Mestre Georges Payne, em 1720, e aprovados em 24 de junho de 1721 pela Loja ‘Stationer’s Hall’, de Londres. 45
Em cujo preâmbulo, como títulos do monarca, constam assim: “Nós, Frederico, pela Graça de Deus, Rei da Prús sia, Margrave de Brandenburg, etc., etc., etc.; Soberano Grande Protetor, Grande Comendador, Grão-Mestre Universal e Con servador da Muito Antiga e Venerável Sociedade dos Antigos Maçons Livres Associados, ou Ordem Real e Militar da Franco Maçonaria”.
View more...
Comments