Hegel

May 1, 2019 | Author: Márcio Rodrigues | Category: Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Dialectic, Human Nature, Thought, Truth
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Hegel  –  Filósofo

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

* Stuttgart,Alemanha – 1770 d.C + Berlim,Alemanha – 1831 d.C Filósofo e ideólogo alemão nascido em Stuttgart, Württemberg, um dos mais influentes da filosofia alemã e considerado o último últ imo dos grandes criadores de sistemas filosóficos dos tempos modernos, o pensamento Hegeliano, cuja obra serviu de base para a maior   parte das tendências tendências filosóficas e ideológicas posteriores, posteriores, como o marxismo, o existencialismo e a fenomenologia. fenomenologia. Filho de um funcionário público entrou para a Universidade de Tübingen (1788), onde se dedicou ao estudo de teologia e de literatura e filosofia gregas e fez amizade com o  poeta Friedrich Hölderlin Hölderlin e o filósofo Friedrich Friedrich Schelling este, este, junto com Hegel, Hegel, se tornaria uma das maiores figuras do idealismo alemão no início do século XIX. Após o curso, deu aulas como professor particular, viveu depois em Berna, na Suíça. Fixou-se em Frankfurt (1796), onde Hölderlin lhe conseguira um lugar de preceptor e, depois (1801), tornou-se livre-docente na Universidade de Jena, passando a estudar o idealismo de Johann Gottlieb Fichte e de Schelling, o que originou sua publicação Differenz des Fichte’schen und Schelling’schen Systems der Philosophie (1801) e foi

nomeado professor-visitante (1805). Na Universidade deu início ao desenvolvimento dos conceitos que viria a aprofundar na Fenomenologia do espírito (1808) e sistematizar  na Ciência da lógica (1812), duas monumentais obras do pensamento ocidental.

Com a ocupação da cidade e o fechamento da universidade pelas tropas de Napoleão, Hegel foi para Bamberg trabalhar como editor. Mais tarde passou a ocupar a cátedra de filosofia da Universidade de Heildelberg. Fascinado pelas obras de Spinoza e Kant, Hegel é considerado por muitos o maior  representante do idealismo alemão do século XIX, e teve impacto profundo no materialismo histórico de Karl Marx e em toda filosofia do século XX. Em Berlim publicou seu mais importante trabalho de filosofia política, Elementos da filosofia do direito (1821), marcando profundamente o pensamento político europeu durante todo o século XIX e XX. Assumiu a direção de um jornal, o Bamberger Zeitung, mas depois de um ano foi forçado a partir por causas das guerras napoleônicas, voltando à filosofia, como reitor  do Aegidiengymnasium, em Nuremberg. Casou-se (1811) com Marie von Tucher e começou a trabalhar em sua obra Science of  Logic (1812-1816). Com ela teve dois filhos, sendo que o mais velho tornou-se um excelente historiador. O sucesso desse trabalho deu-lhe um contrato como professor pela Universidade de Heidelberg (1816-1818) que deixou para substituir Fichte na Universidade de Berlim (1818), onde lecionou pelo resto da vida, tornando seus cursos uma referência em todas as partes da Europa. Também escreveu sobre psicologia, direito, história, artes e religião e, depois de sua morte, vítima de uma epidemia de cólera, foram publicadas várias coletâneas de aulas sobre religião, estética e história da filosofia, e morreu em Berlim. Entre suas publicações citam-se Phänomenologie des Geistes (1807), os dois tomos de Wissenschaft der logik (1812/1816), Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften in Grundrisse (1817) e Grundlinien der Philosophie des Rechts (1821). Frases

O homem não é mais do que a série dos seus atos. A necessidade, a natureza e a história não são mais do que instrumentos da revelação do Espírito. A necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem a tomar  consciência do mundo interior e exterior e a lazer um objeto no qual se reconheça a si  próprio.  Nada existe de grandioso sem paixão. Grandeza, entidade variável, mas que, apesar da sua variação, continua sempre a ser a mesma.  Nada de grande se realizou no mundo sem paixão. Pensamento de Hegel

Rubem Queiroz Cobra - Site Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia A filosofia de Hegel é a tentativa de considerar todo o universo como um todo sistemático. O sistema é baseado na fé. Na religião cristã, Deus foi revelado como verdade e como espírito. Como espírito, o homem pode receber esta revelação. Na religião a verdade está oculta na imagem; mas na filosofia o véu se rasga, de modo que o homem pode conhecer o infinito e ver todas as coisas em Deus.

O sistema de Hegel é assim um monismo espiritual mas um monismo no qual a diferenciação é essencial. Somente através da experiência pode a identidade do  pensamento e o objeto do pensamento serem alcançados, uma identidade na qual o  pensar alcança a inteligibilidade progressiva que é seu objetivo. Assim, a verdade é conhecida somente porque o erro foi experimentado e a verdade triunfou; e Deus é infinito apenas porque ele assumiu os limitações de finitude e triunfou sobre elas. Similarmente, a queda do homem era necessária se ele devia atingir a bondade moral. O espírito, incluindo o Espírito infinito, conhece a si mesmo como espírito somente por  contraste com a natureza. O sistema de Hegel é monista pelo fato de ter um tema único: o que faz o universo inteligível é vê-lo como o eterno processo cíclico pelo qual o Espírito Absoluto vem a conhecer a si próprio como espírito (1) através de seu próprio pensamento; (2) através da natureza; e (3) através dos espíritos finitos e suas auto-expressões na história e sua auto-descoberta, na arte, na religião, e na filosofia, como Um com o próprio Espírito Absoluto. O compêndio do sistema de Hegel, a “Enciclopédia das Ciê ncias Filosóficas”, é

dividida em três partes: Lógica, Natureza e Espírito. O método de exposição é dialético. Acontece com freqüência que em uma discussão, duas pessoas que a princípio apresentam pontos de vista diametralmente opostos depois concordam em rejeitar suas visões parciais próprias, e aceitar uma visão nova e mais ampla que faz justiça à substância de cada uma das precedentes. Hegel acreditava que o pensamento sempre  procede deste modo: começa por lançar uma tese positiva que é negada imediatamente  pela sua antítese; então um pensamento seguinte produz a síntese. Mas esta síntese, por  sua vez, gera outra antítese, e o mesmo processo continua uma vez mais. O processo, no entanto, é circular: ao final, o pensamento alcança uma síntese que é igual ao ponto de  partida, exceto pelo fato de que tudo que estava implícito ali foi agora tornado explícito, tudo que estava oculto no ponto inicial foi revelado. Assim o pensamento propriamente, como processo, tem a negatividade como um de seus momentos constituintes, e o finito é, como a auto-manifestação de Deus, parte e  parcela do infinito mesmo. O sistema de Hegel dá conta desse processo dialético em três fases: O sistema começa dando conta do pensamento de Deus “antes da criação da natureza e do espírito finito”, isto é, com as categorias ou formas puras de pensamento, que são a

estrutura de toda vida física e intelectual. Todo o tempo, Hegel está lidando com essencialidades puras, com o espírito pensando sua própria essência; e estas são ligadas  juntas em um processo dialético que avança do abstrato para o concreto. Se um homem tenta pensar a noção de um ser puro (a mais abstrata categoria de todas), ele encontra que ela é apenas o vazio, isto é, nada. No entanto, o nada “é”. A noção de

ser puro e a noção de nada são opostas; e no entanto cada uma, quando alguém tenta  pensá-la, passa imediatamente para a outra. Mas o caminho para sair dessa contradição é de imediato rejeitar ambas as noções separadamente e afirmá-las juntas, isto é, afirmar  a noção do vir a ser, uma vez que o que ambas vem a ser é e não é ao mesmo tempo. O processo dialético avança através de categoria de crescente complexidade e culmina com a idéia absoluta, ou com o espírito como objetivo para si mesmo. Lógica:

Natureza:

A natureza é o oposto do espírito. As categorias estudadas na Lógica eram todas internamente relacionadas umas às outras; elas nascem umas das outras. A natureza, no entanto, é uma esfera de relações externas. Partes do espaço e momentos do tempo excluem-se uns aos outros; e tudo na natureza está em espaço e tempo e assim é finito. Mas a natureza é criada pelo espírito e traz a marca de seu criador. As categorias aparecem nela como sua estrutura essencial e é tarefa da filosofia da natureza detectar  essa estrut ura e sua dialética; mas a natureza, como o reino da “externalidade”, não pode ser racional seqüencialmente, de modo que a racionalidade prefigurada nela torna-se gradualmente explícita quando o homem aparece. No homem a natureza alcança a autoconsciência. Espírito:

Aqui Hegel segue o desenvolvimento do espírito humano através do subconsciente, consciente e vontade racional. Depois, através das instituições humanas e da história da humanidade como a incorporação e objetivação da vontade; e finalmente para a arte, a religião e filosofia, na qual finalmente o homem conhece a si mesmo como espírito, como Um com Deus e possuído da verdade absoluta. Assim, está então aberto para ele  pensar sua própria essência, isto é, os pensamentos expostos na Lógica. Ele finalmente voltou ao ponto de partida do sistema, mas no roteiro fez explícito tudo que estava implícito nele e descobriu que “nada senão o espírit o é, e espírito é pura atividade”.

 Nos trabalhos políticos e históricos de Hegel, o espírito humano objetiva a si próprio no seu esforço para encontrar um objeto idêntico a si mesmo. A Filosofia do Direito cai em três divisões principais. A primeira trata da lei e dos direitos como tais: pessoas (isto é, o homem como homem, muito independentemente de seu caráter individual) são o sujeito dos direitos, e o que é requerido delas é meramente obediência, não importa que motivos de obediência possam ser. O Direito assim é um abstrato universal e portando faz justiça somente ao elemento universal na vontade humana. O indivíduo, no entanto, não pode ser satisfeito a menos que o ato que ele faz concorde não meramente com a lei mas também com suas próprias convicções conscientes. Assim, o problema no mundo moderno é construir uma ordem política e social que satisfaça os anseios de ambos. E assim também, nenhuma ordem política pode satisfazer  os anseios da razão a menos que seja organizada de modo a evitar, por uma parte, a centralização que faria os homens escravos ou ignorar a consciência e, por outra parte, um antinomianismo (argumentação que se desenvolve por meio de antinomias: as  proposições mutuamente excludentes) que iria permitir a liberdade de convicção para qualquer indivíduo (liberalismo) e assim produzir uma licenciosidade que faria impossível a ordem política e social. O Estado que alcançasse essa síntese, haveria de apoiar-se na família e na culpa. Seria talvez uma forma de monarquia limitada, com governo parlamentarista, julgamento por  um júri, e tolerância para judeus e dissidentes, e seria diferente de qualquer estado existente nos dias de Hegel.  Na Filosofia da História Hegel pressupôs que a historia da humanidade é um processo através do qual a humanidade tem feito progresso espiritual e moral e avançado seu auto-conhecimento. A história tem um propósito e cabe ao filósofo descobrir qual é.

Alguns historiadores encontraram sua chave na operação das leis naturais de vários tipos. A atitude de Hegel, no entanto, apoiou-se na fé de que a história é a representação do propósito de Deus e que o homem tinha agora avançado longe bastante para descobrir o que esse propósito era: ele é a gradual realização da liberdade humana. O primeiro passo era fazer uma transição da vida selvagem para um estado de ordem e lei é a revolução. Em muitos pontos o pensamento de Hegel serviu aos fundamentos do marxismo, e um deles é sua concepção de que os Estados têm que ser encontrados por  força e violência pois não há outro caminho para fazer o homem curvar-se à Lei antes dele ter avançado mentalmente tão longe suficiente para aceitar a racionalidade da vida ordenada. Alguns homens aceitarão as leis e se tornarão livres, enquanto outros  permanecerão escravos. No mundo moderno o homem passou a crer que todos os homens, como espíritos, são livres em essência, e sua tarefa é, assim, criar instituições sob as quais eles serão livres de fato. Texto sobre Hegel

Fonte: Mundo Filosófico Dialética Hegeliana: A Contradição é o Motor do Pensamento Para o senso comum, a oposição entre verdadeiro e falso é algo de fixo; habitualmente ele espera que se aprove ou se rejeite em bloco um sistema filosófico existente; e, numa explicação sobre tal sistema, ele só admite uma ou outra dessas atitudes. Não concebe a diferença entre os sistemas filosóficos como o desenvolvimento progressivo da verdade;  para ele, diversidade significa unicamente contradição. O broto desaparece na eclosão da flor e poder-se-ia dizer que aquele é refutado por esta; do mesmo modo, o fruto declara que a flor é uma falsa existência da planta e a substitui enquanto verdade da  planta. Essas formas não só se distinguem, mas se suplantam como incompatíveis. No entanto, sua natureza cambiante faz delas momentos da unidade orgânica em que não só não estão em conflito mas onde tanto um quanto outro é necessário; e essa igual necessidade faz a vida do conjunto. Mas comumente não é assim que se compreende a contradição entre sistemas filosóficos; e, ademais, o espírito que apreende a contradição habitualmente não sabe liberá-la ou conservá-la livre de sua unilateralidade, e reconhecer na forma, do que parece se combater e se contradizer, momentos mutuamente necessários. O Absoluto Por Fim Não é Senão Aquilo Que Ele é na Realidade

A vida e o reconhecimento divinos podem, então, se se quiser, ser definidos como um  jogo de amor para consigo mesmo; essa idéia cai no nível da edificação e mesmo da insipidez, se lhe retirarmos a seriedade, a dor, a paciência e o trabalho do negativo. Essa vida, em-si, é a serena igualdade e a unidade consigo que nada têm a fazer com o seroutro e a alienação, nem com a superação dessa alienação. Mas esse em-si é universalidade abstrata caso negligenciemos sua natureza de ser para-si e, por isso, o movimento espontâneo da forma. É inexato crer, ao declarar a forma como igual à essência, que o conhecimento possa se satisfazer com o em-si ou a intuição absoluta da  primeira dispensam o acabamento da primeira e o desenvolvimento da segunda. Precisamente porque a forma é tão essencial à essência quanto a essência a si própria, não se deve apreendê-la ou exprimi-la apenas como essência, isto é, como substância

imediata ou pura intuição de si do divino, mas também como forma e em toda riqueza da forma desenvolvida. Só então é que ela é concebida e exprimida como atual. A verdade é o todo. Mas o todo não é senão a essência que se conclui por seu desenvolvimento. Há que dizer do absoluto que ele é essencialmente resultado, que ele não é senão por fim o que ele é em verdade, e é nisto precisamente que consiste sua natureza de ser sujeito atual ou Devir de si. O Senhor e o Escravo

Buscar a morte do outro implica em arriscar a própria vida. Por conseguinte, a luta entre duas consciências de si é determinada do seguinte modo: elas se experimentam a elas  próprias e entre si por meio de uma luta de morte. Não podem evitar essa luta, pois são forçadas a elevar ao nível da verdade sua certeza de si, sua certeza de existir para si; cada uma deve experimentar essa certeza em si mesma e na outra. Só arriscando a  própria vida é que se conquista a liberdade. Só assim é que alguém se assegura de que a natureza da consciência de si não é o ser puro, não é a forma imediata de sua manifestação, não é sua imersão no oceano da vida. Essa luta prova que nada existe na consciência que não seja perecível para ela, prova que ela, portanto, não é senão puro ser para-si. O indivíduo que não arriscou sua vida pode certamente ser reconhecido como pessoa, mas não atingiu a verdade desse reconhecimento como consciência de si independente. (¹) O senhor é a consciência que é por si mesma, mas essa consciência, aqui, está além de seu puro conceito: ela é consciência para-si que é mediada consigo mesma por uma outra consciência (²), notadamente por uma consciência cuja natureza implica no fato de ela estar unida a um ser independente ou às coisas em geral. O senhor está em relação com esses dois momentos: com a coisa enquanto tal, objeto do apetite, e com a consciência cujo caráter essencial é a coisa externa. Uma vez que o senhor (a), enquanto conceito da consciência de si, é relação imediata do ser para-si, mas (b) é simultaneamente mediação, em outras palavras, um ser para-si que só o é por meio do outro, ele se relaciona (a) imediatamente com os dois e (b) imediatamente com cada um  por intermédio do outro. O senhor tem, com o escravo, uma relação mediata em virtude da existência independente, pois é precisamente a ela que o escravo está preso, ela é sua cadeia e da qual não pode se desprender na luta, o que o levou a mostrar-se dependente, posto que  possuía sua independência numa coisa externa. Quanto ao senhor, ele é a potência que domina esse ser externo, pois provou na luta que o considera como puramente negativo; uma vez que ele domina esse ser e que esse ser domina o escravo, o senhor também o domina. Desse modo o senhor se relaciona com a coisa por mediação do escravo; este último, enquanto consciência de si, relaciona-se negativamente com a coisa e a ultrapassa; mas ao mesmo tempo a coisa é para ele independente e o escravo não pode,  por meio de sua negação, chegar a suprimi-la; ele só faz trabalhar. Em compensação, para o senhor, graças a essa mediação, a relação imediata torna-se a  pura negação da coisa ou o seu gozo; aquilo que o apetite não conseguiu, ele o consegue; domina a coisa e se satisfaz na fruição. O apetite não chega a isso por causa da independência da coisa; mas o senhor, ao colocar o escravo contra ela e si próprio, só entra em contato com o aspecto dependente da coisa, fruindo-a puramente; deixa o aspecto independente da coisa para o escravo que a trabalha. (³)

(¹) Este difícil texto

de é característico do método hegeliano. Ele inspirou amplamente as análises de nossos contemporâneos sobre as relações do eu com o outro. Na luta de duas consciências, Hegel examina simultaneamente a relação de dois “eu” e a relação de cada eu com sua própria vida. O “senhor”, aquele que é vitorioso no combate, aceitou

arriscar a vida. Por conseguinte, ele é mais do que ela, por sua coragem colocou-se acima dos objetos comuns da necessidade e da existência empírica. O vencido, aquele que se rendeu, tem medo de perder a vida. Por conseguinte, ele é, de início, escravo da vida e de seus objetos empíricos. Torna-se tembém escravo do senhor que o conserva (servus = conservado) a fim de ler em seu olhar temeroso e submisso o reflexo de sua vitória, a fim de se fazer reconhecer como consciência. (²) Hegel quer dizer que o senhor não é senhor “em -si”, mas por meio de uma mediação,

isto é, uma relação. O senhor se define por sua relação com o escravo (e por sua relação com os objetos que depende, ela própria, da relação com o escravo). No ponto de  partida, o senhor domina os objetos da necessidade, posto que no campo de batalha ele se mostrou corajoso, superior à sua vida, portanto, aos objetos das necessidades. Secundariamente, o senhor domina os objetos por mediação do escravo que trabalha, isto é, que transforma os objetos materiais em objetos de consumo e de fruição para o senhor. (³) Graças ao trabalho do escravo, a relação do senhor com a coisa é uma relação de

simples gozo que equivale à negação da coisa. Pensamos nos versos de Valéry: Como o fruto se funde em fruição Como em delícias ele muda sua ausência  Numa boca em que sua forma se extingue. Concepção Dialética da História da Filosofia Em suas lições sobre a história da filosofia, Hegel assinalava que a noção de História da Filosofia “envolve uma contradição interna”. Com efeito, “a fil osofia quer conhecer o

imperecível, o eterno, seu fim é a verdade. Mas a história conta o que foi numa época e que desapareceu em outra, substituído por outra coisa”. Se a verdade é eterna, “ela não  penetra na esfera do que passa e não tem história”. Entretanto, a filosofia encontra-se

toda nos sistemas dos filósofos. A idéia geral de filosofia permanece abstrata se não se confunde com os diversos sistemas dos filósofos no decurso da história, assim como a noção geral de fruto só se explicita quando efetivamente se trata de “cerejas, ameixas ou uvas”. Na realidade, cada filosofia corresponde a um momento da história, a uma etapa na conquista do espírito absoluto. Cada filosofia é “o espírit o da época existente como espírito que se pensa”. Ela surge “no devido momento, nenhuma ultrapassou seu tempo” (¹). As filosofias sucessivas não se refutam, mas as novas filosofias mostram as

anteriores como verdades parciais passíveis de serem integradas numa síntese mais ampla que se elabora com o tempo. A história da filosofia oferece momentos  privilegiados ou, como diz Hegel, “nós” em que vêm se reconciliar dialeticamente os contraditórios. A filosofia de Platão, por exemplo, é a síntese do imóvel ser parmenídico com a mobilidade heracliteana.  Nesse sentido, citaremos um excerto das lições sobre a História da Filosofia: A razão é una e essa racionalidade una, um sistema e, por isso, a evolução das determinações do pensamento é igualmente racional. Os princípios gerais surgem segundo a necessidade da noção fundamental. A posição dos precedentes é determinada

 pelo que se segue. O princípio de uma filosofia passa, na seguinte, para a categoria de um momento. Não se refuta uma filosofia, apenas sua posição é que é refutada. As folhas, de início, são o modo de existência mais elevado da planta, depois é o botão e o cálice que, em seguida, se transformam em envoltório a serviço do fruto; é assim que o  primeiro elemento é colocado numa categoria inferior pelo seguinte. As filosofias são as formas do Uno. Um estudo mais avançado mostrar-nos-á como  progridem seus princípios, de maneira que o seguinte é uma nova determinação do  precedente…

O estoicismo faz do pensamento um princípio, mas o epicurismo proclama vedadeiro o  princípio diretamente oposto: o sentimento, o prazer para um, portanto, é o geral e para outro o particular, o individual: para o primeiro, é o homem pensante; para o segundo, o homem sensível. Somente sua reunião constitui a totalidade da noção e o homem, aliás, compõe-se dos dois elementos, do geral e do particular, do pensamento e da sensibilidade. Sua união é a verdade. Mas ambas se manifestam, uma após outra, opondo-se. O ceticismo é o princípio negativo que se eleva contra os dois precedentes; ele afasta o caráter exclusivo de um e outro, mas engana-se quando acredita os ter  eliminado, pois ambos são necessários. Desse modo, a essência da história da filosofia consiste em que princípios exclusivos transformam-se em momentos, em elementos concretos e se conservam, por assim dizer, num nó; o princípio das concepções subseqüentes é superior ou, o que dá no mesmo, mais profundo… A história de Platão não é um ecletismo, mas uma reunião das filosofias precedentes que então formam um todo vivo, uma união em uma viva unidade do pensamento…

É importante, antes de tudo, conhecer os princípios dos sistemas filosóficos e em seguida reconhecer cada um deles como necessário; sendo necessário, ele se apresenta em sua época como superior. Se se for mais adiante, a determinação precedente torna-se apenas um ingrediente da nova, ela é assumida sem ser rejeitada. Desse modo, todos os  princípios são conservados. Assim, o Uno, a unidade, é o fundamento de tudo; aquilo que se desenvolve na razão progride na unidade dessa razão…

Conhecer verdadeiramente um sistema é tê-lo justificado em-si. Limitar-se a refutar  uma filosofia é não compreendê-la; é preciso ver a verdade que ela contém. Nada mais fácil do que criticar, do que ver em alguma parte o caráter negativo; isto é sobretudo gosto característico dos jovens, mas se só se vê a negação, ignora-se o conteúdo que, ele sim, é afirmativo; supera-se-o sem que se encontre no interior. A dificuldade consiste em ver o que os sistemas filosóficos contêm de verdadeiro; só quando são justificados em si próprios é que se pode falar de seu limites, de suas deficiências. (¹) Encontramos essa idéia em Marx, num contexto materialista: “Os filósofos não  brotam da terra como cogumelos, eles são os frutos de seu tempo, de seu povo, cujas forças mais sutis e mais ocultas se traduzem em idéias filosóficas. O mesmo espírito fabrica as teorias filosóficas na mente dos filósofos e constrói as estradas de ferro com as mãos dos operários. A filosofia não é exterior ao mundo”.

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