Haiti e Seu Processo de Independência PDF

April 10, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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HAITI E SEU PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA   Robson Luis Nicolay 1 

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 Neste artigo pretendemos pretendemos apresentar apresentar uma breve ssíntese íntese do proces processo so de independência independência do Haiti como a raiz histórica dos graves problemas sociais e econômicos que assolam este país até hoje, sendo considerado o país mais pobre da América, afinal, em seus duzentos anos de história, sua política sempre foi instável e carregada de conturbações.  Note-se que somente a Bolívia sofre sofreuu mais golpes de Estado em sua existência do qque ue o Haiti.

PALAVRAS-CHAVE: Haiti * Independ Independência ência * Revolução * História da América * Século XIX

ABSTRACT: In this article we present a brief summary of the process of Haiti's independence as the historical root of serious social and economic problems that plague this country today and is considered the poorest country of America, after all, in its hundred years of history, its policy has always been unstable and full of unrest. Note that only Bolivia has more coups in its existence than Haiti. KEY-WORDS: Haiti * Independ Independence ence * Revolution * American History * 19th Century

* * * “No início do século XIX, o Haiti era a colônia mais produtiva das Américas e a  primeira a conquistar a Independência nacional, em 1804” 2 –   –  afirma  afirma Jacob Gorender, que questiona: “como explicar então que não tenha tido uma trajetória progressista, mas,

ao contrário, se tornasse o país mais pobre do continente, talvez um dos mais pobres do mundo? ” 3. A pergunta de Gorender é bastante pertinente e, para tentar lançar alguma luz sobre este assunto, faz-se necessária uma recapitulação histórica do processo de independência independên cia do Haiti. La Hispaniola, como Cristóvão Colombo chamou primeiramente a ilha de São Domingos, atualmente repartida entre a República Dominicana e o Haiti, foi, por assim dizer, o “berço da América”. Ali se fundaram igrejas, conventos, escolas e

universidades. universidades . Acomo cidadea principal de S. Domingos, ilha, conservou séculos sua importância da zona capital do Mardadas Caraíbas, até adurante rápida três ascensão de

 

Havana e Caracas no século XVIII.  Na ordem econômica, econômica, a colônia colônia não teve org organização anização efica eficaz, z, dadas as restrições que sofriam as indústrias, a agricultura e o comércio. A desordem dos começos da conquista levou ao extermínio da população nativa dos indígenas arauacos. Militarmente a ilha não estava bem defendida, e desde muito cedo sofreu ataques de ingleses e de franceses. A Espanha, buscando reforçar o controle da área que q ue considerava importante, determinou em 1603 a supressão das povoações do Norte e, com isso, i sso, abriu a porta à invasão dos franceses que se estabeleceram no nordeste e pouco a pouco foram ocupando toda a zona ocidental. Em 1697, a Espanha concordou em reconhecer a ocupação francesa e, em meados do século XVIII a França já a tinha convertido na mais rica e florescente de suas colônias (Saint-Domingue). “A partir daí, o empreendimento dos colonizadores foi a cana -deaçúcar produzida pelas mãos dos es cravos” 4. Alguns anos antes da revolta que conduziria a ilha il ha ao seu violento e conturbado  processo de independência, a produção ddee açúcar ating atingia ia o seu ápice ápice,, chegando a exportar mais de sessenta mil toneladas t oneladas anuais deste produto que se traduzia num símbolo de opulência e riqueza para a época. Esse crescimento, contudo, não se dava sem o incremento da mão-de-obra escrava, que constituía a base da força produtiva das  plantations açucareiras. açucareiras. Em meados do século XVIII, segundo Milani, importava-se cerca de dez mil escravos anualmente. Já no último quartel setecentista este número chegava aos quarenta mil. Estes negros quando sobreviviam aos duros rigores da viagem desde a África, eram escravizados, enviados às plantations onde eram submetidos aos mais degradantes tratamentos. Conforme Milani: Os negros cavavam valas para o plantio das mudas, cuidavam dos brotos, zelavam pelo crescimento, faziam a colheita e toda a fabricação do açúcar. (...) A manutenção da escravidão pelos donos de engenho se baseava em castigos brutais e tinha um nível de  perseguição implacável. (...) Mutilava Mutilavam-lhes m-lhes membros, orelhas orelhas e genitais; fazia faziam-nos m-nos comer excrementos; amarravam-lhes grilhões e blocos de madeira; prendiam-nos a  postes fincados fincados no chão. A tortura sistemática originava originava,, não sem razão, razão, uma sede de 5 vingança . Contudo, em 1788, com o advento de Carlos IV ao trono e o início da Revolução Francesa em 1789, tudo se alterou rapidamente: a declaração da Assembléia Nacional, em Paris, repercutiu na colônia de Saint-Domingue, pois “a Declaração dos Direitos do Homem, expressa nessa Revolução, coincidia com velhas reivindicações que, ao longo de quase três séculos, vinham fazendo no continente americano os súditos sem direitos” 6

. A elite crioula dos povos sob dependência colonial na América Ibérica recebeu com

grande interesse os ideais de “igualdade, liberdade e fraternidade” da Revolução

Francesa. Afinal, conforme Heráclio Bonilla, estas palavras poderiam conter em seu  bojo todo o conjunto conjunto de reivindica reivindicações ções e agraves agraves das colônias para com a Espanha. Espanha. Porém, “uma coisa era pedir igualdade e liberdade frente frent e à Espanha, mas, para serem

consequentes tinham que ao mesmo tempo, reconhecer que eram iguais aos índios e consequentes deviam permitir a liberdade da população subordinada subordinada....” 7. Para Zea, a declaração de igualdade deveria valer val er para todos, “independente da cor da 8  pele, sangue, religião e cultura” . Assim, “foi na América que toda essa diversidade 9 marcou encontro, razão pela qual os direitos se concretizar, não levante de  permanecer uma simples abstração” . Dessadeviam forma, deu-se, então, opara primeiro

 

escravos contra os senhores coloniais não convencidos da nova doutrina, e com ele se iniciam as perturbações que duraram quinze anos. Com a declaração de guerra entre a Espanha e a França em 1793, o governador de São Domingos, Joaquim Garcia Moreno, iniciou hostilidades contra Saint-Domingue, Saint- Domingue, conforme afirma Pedro Henríquez Ureña, com o contraditório apoio dos ingleses e dos franceses devotados à monarquia e inimigos da república; além dos escravos insurgentes capitaneados capitaneados por Biassou e Jean Fraçois, entre cujos subalternos se encontrava o futuro iniciador da independência do Haiti, Toussaint Louverture 10.  Na realidade, desde antes da guerra os espa espanhóis nhóis de S. Doming Domingos os intervinham nas lutas internas da colônia francesa, estimulando a insurreição. Como vimos, no caso do Haiti, os colonos reivindicavam liberdade e igualdade, mas, como eram minoria,  precisavam do respaldo da po população pulação neg negra ra para que este estess princípios fossem vigentes. vigentes. “O problema foi que, no curso da mobilização, os escravos negros não somente

acabaram com a dominação metropolitana francesa, como liquidaram aqueles que até há 11  pouco eram seus incômodos aliados...” . A situação tornara-se bastante confusa, pois grande parte do território t erritório estava em  poder de espanhóis, espanhóis, de ing ingleses, leses, de france franceses ses monarquistas e de escrav escravos os insurrectos. Além disso, a República Francesa manteve a posse de cidades importantes e um território considerável. Os grupos aliados obtiveram muitos triunfos, t riunfos, mas, em maio de 1794, Toussaint Louverture, tendo alcançado grande prestígio, abandonou-os em favor da República Francesa, cujos delegados tinham, por fim, decretado a abolição da escravatura colônia.café, No anil, entanto, o processo fora assim tãoosimples. “Além dena produzir cacau, al godãonão algodão e outros gêneros, Haiti produzia sobretudo o açúcar, em condições mais competitivas do que as outras colônias da época.  Nessa produção, produção, empenhav empenhavam-se am-se meio milhão ddee escravos, escravos, a maioria africanos, na 12  proporção de dois terços” . Ora, havia quase meio milhão de escravos trabalhando nos engenhos e nas plantations, dominados por uma população branca de não mais que trinta mil indivíduos entre proprietários e auxiliares. Havia ainda, não devemos deixar de mencionar, um pequeno número de mulatos livres, mas submetidos a vários tipos de extorsão. A descrição que Gorender faz do tratamento tr atamento dado aos negros escravizados  parece bastante bastante oportuna: O tratamento dado pelos escravistas aos seus servidores era terrivelmente cruel. A par do trabalho, que esgotava rapidamente as energias, pesavam sobre os escravos a alimentação escassa, escassa, a moradia sórdida e a inexistência de assistência médica. A labuta diária se processava durante longas jornadas, sob acionamento frequente do açoite dos feitores. Qualquer expressão recalcitrante era logo duramente castigada. Os mais indisciplinados sofriam o castigo de serem enterrados de pé, apenas com a cabeça de fora. Assim imobilizados, acabavam acabavam mortos depois de sofrer a horrível tortura de ter o rosto lentamente devorado pelos insetos e abutres 13. A independência dos Estados Unidos e a eclosão da Revolução Francesa trouxeram à tona os ideais libertários da elite crioula, mas, conforme Zea, nem a França nem os Estados Unidos se interessaram por uma luta que seguia sua próprias bandeiras libertárias e anticoloniais. Estes apenas “observavam e meditavam a respeito da

oportunidade de ocupar o vazio de poder que o colonialismo ibérico deixaria na América” 14. Afinal de contas, “uma coisa era o que diziam os europeus e norte americanos sobre a igualdade entre os homens e outra era a atitude que mostravam 15

quando essesjádireitos eram levantados contra interesses particulares” . “O bom os homens sãoseus iguais pela razão ou bom senso. Descartes dizia que todos

 

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 , o que os torna diversos é o uso da razão. Portanto, não basta ter engenho, o principal é aplicá-lo bem. Dessa forma, fica claro o sentido que para os europeus tinham dos direitos do homem. De acordo com Zea:

senso, ou razão, é naturalmente igual em todos os homens”

Afirma-se a igualdade de todos os homens pela razão ou bom senso. Igualdade que deve ser protegida pela lei. Mas também fica a afirmação que será ponto de partida para uma nova forma de discriminação: a capacidade que os homens têm para fazer bom uso da razão. Os novos grupos sociais, na Europa, alcançam assim sua legitimação. A suposta aristocracia de sangue, ou por vontade divina, acabou. É o início de uma nova sociedade, de um novo sistema que afirma a igualdade de todos os homens e os direitos que esta igualdade implica 17. Estava claro, portanto, que os povos dominados desta parte da América somente  poderiam tornar concretos concretos seus direitos direitos lutando por eles. eles. Assim, em 1791 1791 iniciara-se a rebelião dos “jacobinos negros”, nas palavras de C.R.L. James. Com uma população de

30.826 habitantes brancos no Haiti, medidas bárbaras eram tomadas para manter um  população de de meio milhão de eescravos, scravos, neg negros ros libertos e mulatos em servidão sob controle. A revolta dos negros adotou os mesmos métodos que seus antigos senhores lhes havia ensinado em dois séculos de servidão, e, conforme James, “buscavam sua salvação no caminho mais óbvio, a destruição do que eles sabiam que era a causa de 18

seus sofrimentos” olhos focados na necessidad necessidadee de construir nova sociedade no Caribe,. Com Jamesosexplica o que o comportamento dos brancos,uma assim como dos negros foi o resultado da escravidão, que criou uma sociedade repleta de  brutalidade, degradação degradação humana humana,, cismas e co contradições. ntradições. A rebelião não possuía uma liderança clara e a situação na ilha tornava-se caótica. É então que surge Toussaint Bréda, mais tarde conhecido como Toussaint L'Ouverture, sobre quem nos conta Gorender: Toussaint era filho de um chefe tribal africano transferido como escravo para São Domingos. Ali, comprou-o um senhor dotado de alguma benevolência, que percebeu as qualidades intelectuais do novo escravo. (...) O mesmo senhor percebeu que o filho não era menos dotado do que o pai e lhe conferiu certos privilégios, no contexto da condição de escravo. Pierre Baptiste, um velho negro instruído i nstruído que morava na fazenda, alfabetizou o jovem e lhe ensinou a ler e a falar o francês culto (em vez do degradado francês crioulo coloquial). Transmitiu-lhe princípios de geometria e desenho e ensinoulhe rudimentos de latim 19. Antes dele, é claro, também haviam colônias de escravos fugitivos, semelhante semelhantess aos quilombos brasileiros e sempre ocorriam pequenas revoltas na ilha. Certa vez, por exemplo, um escravo chamado Mackandal tentou acabar com o domínio dos brancos envenenando envenenan do a água utilizada nas suas casas. Contudo, ao embriagar-se, falou demais e o denunciaram; prenderam-no e o queimaram vivo. Os rumos da guerra na ilha mudaram radicalmente, pois quando Toussaint passou  para o lado dos dos franceses re republicanos, publicanos, arra arrastou stou consigo ggrandes randes massas, massas, reconquistandoo para a R reconquistand República epública boa parte do território e perseguindo os espanhóis até além da sua fronteira. Então, por fim, tendo-se acordado a paz na Europa entre as duas nações combatentes, combatentes, em 22 de julho de 1795 adotou-se pelo Tratado de Basiléia a cessão da colônia espanhola de S. Domingos à França, cujo domínio sobre SaintDomingue já era quase nulo. Toussaint converteu-se assim no poder dominante na colônia. O governo francês,

 

temendo-o, animou o chefe haitiano do Sul, André Rigaud, a fazer-lhe oposição, mas Toussaint conseguiu derrotá-lo em 1800. Empreendeu então e rea1izou, em nome da França, a ocupação de S. Domingos, de onde não se haviam retirado as autoridades espanholas. Em 9 de maio votou-se uma constituição para a ilha e no dia 1º de julho de 1801 foi declarada autônoma toda a ilha, mas ainda formando parte da nação francesa. Outros ex-escravos, companheiros companheiros de L'Ouverture também se destacaram na luta pela emancipaçãoo da colônia, tais como Dessalines, Henri Christophe, Maurepas, Pétion e emancipaçã Moïse, um jovem sobrinho adotivo de Toussaint. Apesar de a tradição intelectual ter demonizado a revolução haitiana como a mais evidente e clara confirmação da barbárie do povo negro, James descreve que os escravos no Haiti desenvolveram a sua própria visão sobre o que tinha acontecido na França. Parecia óbvio para eles que “os escravos e scravos brancos na França tinham se levantado e matado os seus mestres e estavam agora colhendo os frutos da terra” 20. Seria assim

que os escravos teriam entendido o espírito da liberdade, igualdade e fraternidade, que mobilizou as massas parisienses, utilizando esta convicção para converterem-se na ala mais violenta da luta pela autonomia da ilha. Por conta disso é que “seus efeitos e seus radicalismos chegam a ser profundamente temidos em cada urna das regiões da América Colonial Espanhola” 21.  Num repente, aqueles aqueles escravos escravos de diversas origens geográfic geográficas, as, étnicas, sociais e culturais tão duramente oprimidos se viram de posse de um Estado ao qual não haviam sido preparados para gerir. Deveriam constituir seu próprios sistemas e estruturas econômicas, econômicas legais, políticas e sociais. Assim, Toussaint optou li linhas nhas deaação que trariam,, conforme Gorender, “funestas consequências” parapor el eseguir ele próprio e para colônia. Em primeiro lugar, Toussaint desavisadamente decidiu manter colônia como uma grande produtora de açúcar, afinal, esta era uma atividade ati vidade econômica altamente lucrativa. Contudo, para se manter a larga l arga produção o líder negro acabou estabelecendo o trabalho compulsório: “os ex-escravos já eram homens livres do ponto de vista formal, mas estavam forçados a continuar a cultivar a cana e a produzir açúcar nas mesmas condições exaustivas de antes” 22 , enquanto os brancos proprietários eram mantidos como encarregados da produção. Conforme Frank Moya Pons: Toussaint procedió a la reorganización de la colonia y a la restauración de su anterior  prosperidad económica. económica. Mantuvo el sistema de plantación; plantación; devo devolvió lvió las propiedades propiedades a sus legítimos dueños; obligó a los ex esclavos a volver a sus trabajos habituales bajo el  pretexto de suprimir la vagancia vagancia 23. Moïse, o próprio sobrinho de Toussaint, descontente com a manutenção das condições de exploração, organizou e chefiou um revolta contra seu tio, sendo, contudo, derrotado e morto por fuzilamento sem sequer direito a um julgamento. Este episódio somado à reclusão dos trabalhadores nas fazendas, a imposição do trabalho compulsório e a associação associação com os proprietários brancos enfraqueceram imensamente a autoridade de L'Ouverture, que vinha mantendo contatos comerciais com os Estados Unidos que lhe forneciam armas e alimentos em troca dos produtos coloniais. Além disso, desde que Napoleão fora eleito primeiro cônsul do governo parisiense, Toussaint procurou insistentemente ganhar sua confiança, sem perceber a mudança de rumos que a Revolução Francesa tomara. Enquanto isso, Napoleão preparava sua reação, já que Saint-Domingue constituía um elemento fundamental para a expansão do Império Francês nas Américas. Em 1801, Bonaparte enviou à o general Leclerc, seu cunhado, no comando de

 

dezenas de milhares de soldados para retomar o controle da colônia. Apesar de ter sido surpreendido e ter sofrido sofri do algumas derrotas iniciais, Toussaint consegu conseguiu iu reorganizar as suas tropas e contra-atacou com grande êxito. Iniciou-se uma guerra sem trégua, na qual se destacou o papel desempenhado por Dessalines, um dos líderes negros, ex-escravo e analfabeto, mas de elevada ferocidade e proeminência militar. A violência contra civis, mulheres e crianças era enorme em ambos as lados. Por fim, L'Ouverture buscando um acordo de paz permitiu-se ser preso e levado à França. Lá, no entanto, veio a falecer no cárcere, devido aos rigores com que foi tratado. t ratado. A esse respeito, inclusive, Milani cita Afonso Teixeira Filho: A revolta iniciada por Toussaint L’Ouverture visava assegurar aos habitantes da colônia

os mesmos direitos que os da metrópole. Era uma luta pela igualdade, e essa luta sempre foi um equívoco dos movimentos negros. Jacques Dessalines, aliado de Toussaint, não  pensava em em igualdade. Sabia que a liberdade liberdade de sua gen gente te só estaria assegurada assegurada se 24 lutasse pelo poder . Dessalines, então, assumiu sem descanso a liderança do movimento de emancipação e luta contra o agora acuado exército francês que, “além das perdas em combate, sofria

 baixas numerosas numerosas em conseq conseqüência üência de ddoenças oenças tropicais e, principalmente, da da febre amarela. (...) O próprio Leclerc veio a falecer, em 1802, vítima da febre amarela” 25. Morto Leclerc, sucedeu-o Rochambeau, o excedeucombatia nos métodos de rrepressão. epressão. Pétion e Clervaux se sublevaram se unidos que a Dessalines, a barbaria com  barbaria: a luta tinha agora como propósito propósito o extermínio do doss brancos. Ro Rochambeau, chambeau, vencido, retirou-se em novembro de 1803. Em 1º de janeiro de 1804, Dessalines finalmente conseguiu fazer a definitiva declaração de independência da colônia de Saint-Domingue sob o seu nome indígena de Haiti. Conforme Ureña, com a perda da rica colônia a França também perdia seu papel influente no Novo-Mundo. Dessalines foi nomeado Governador Vitalício e em outubro de 1804, tornou-se imperador, a semelhança de Napoleão Bonaparte. Conforme Gorender, “mercadores de Filadélfia o presentearam com uma coroa e um manto imperial trazidos de Londres” 26.  No entanto, o país país não era mais do que uma ime imensa nsa ruína. Não re restava stava aos neg negros ros emancipados outra coisa senão algumas cidades e aldeias e solo fértil, mas sem capitais.  Nas palavras de Ureña: O Haiti teria de atravessar uma época difícil, até perigosa, para uma população que só conhecia da civilização o trabalho forçado, da liberdade a licença, da independênc independência ia as guerras intestinas, das relações internacionais os instintos selvagens do ódio, da vingança e de uma desconfiança absoluta. A vida pública seria difícil e os governos inseguros 27. A primeira constituição do Haiti, publicada em 20 de maio de 1805, endossou o  poder de Jean Jean Jacques Dessalines, que passou a usa usarr o título de Jacque Jacquess I. É, inclusive inclusive,,  bastante oportuno oportuno que se faç façam am algumas ob observações servações qua quanto nto ao conteúdo conteúdo desta 28 constituição . O texto constitucional inicia evocando o “Ser Supremo”, não mais o deus católico, católi co, mas a força su periora que rege o Vudu, diante da qual qual “todos os mortais são iguais e

que tem derramado tantas espécies de criaturas diferentes sobre a superfície da terra com a finalidade de manifestar a sua glória e poder na diversidade das suas obras”. Isto

 porque agora os haitianos busc buscavam avam firmar-se cultura culturalmente, lmente, rejeitando aass antigas estruturas que lhes eram impostas (inclusive a antiga religião dos brancos) para poderem

 

constituir seu próprio ideário e sua própria nação. O regime instituído era a monarquia, e nos moldes herdados do absolutismo, e pessoa do imperador era considerada “sagrada e inviolável”, contudo, o título e o cargo seriam

eletivos e não hereditários. Além disso, a própria constituição ditava a sua revisão após a morte de Jacques I. A escravidão foi definitivamente abolida e, conforme o artigo segundo do referido texto constitucional, os haitianos seriam “irmãos entre si e iguais aos olhos da lei”.

Contudo, o status de cidadão somente era concedido àqueles que possuíssem  propriedade, sendo sendo inclusive “suspenso pelo efeito de falências e fracassos”, conforme o oitavo artigo. É interessante observar que a constituição proibia a existência de brancos no Haiti, independentemente da sua nação, “para nunca mais porem os pés neste território, com o um mestre ou senhorio e virem a adquirir propriedades”. Como solução para o impasse

que isto poderia gerar, o décimo quarto artigo declara que não deve haver sensação de cor entre os membros da mesma família cujo chefe e pai é o Estado, e que, portanto os haitianos deveriam ser conhecidos somente pelo nome genérico de negro, não importando seu tom de pele. Por esta constituição também notamos o forte elemento de militarização do nascente Estado haitiano, descrito como “um todo indivisível, distribuído em seis divisões militares”. Cada uma dessas divisões deveria ser independente uma das outras, sendo

governada por um chefe militar que responderia diretamente ao imperador. Aliás, oCayemites, caráter imperial do Haiti se dava por suas possessões das ilhasDominicana, de Turtle, Gonave, Île à Vache, Saone, e, principalmente, a República invadida e anexada em fevereiro de 1805. Conforme Moya Pons, durante a ocupação de Toussaint em Santo Domingo, os brancos proprietários preferiram apoiar as forças francesas que Napoleão havia enviado para reimplantar o regime escravista a serem governados pelos chefes militares negros de Saint-Domingue. Contudo, com a  proclamação da independência do Haiti, “Dessalines y su estado mayor se prepararon

 para castigar a los enemigos de la re revolución volución en la parte parte española y para expulsar a los franceses que se habían concentrado en Santo Domingo” 29. Segundo Ureña, a invasão haitiana foi avassaladora, passando a cutelo populações civis, saqueando e incendiando. Na verdade, nada muito diferente do tratamento recebido pelos escravos durante os anos de exploração, nem muito diverso dos ideais i deais  jacobinos da Revolução na França. Nes Nesta ta sequência, a situação da ilha tornou-se  paradoxal, pois o território onde se falava francês ficara livre do domínio da F França, rança, enquanto o território onde só se falava espanhol acabara nas mãos dos franceses. Dessalines morreu assassinado em meio a conturbaçõe conturbaçõess políticas em 1806. Sobreveio, assim, a guerra civil na qual Alexandre Pétion estabeleceu-se no Sul da república, com a capital na antiga Cap-Français, agora Cap. Haitiano, enquanto Henry Christophe assumia o controle da parte norte da ilha. Em dezembro de 1806 a Assembléia Constitucional de Port-au-Prince votara uma constituição republicana 30, do tipo da francesa de 1795; Esta carta continha artigos que classificavam como haitianos os descendentes descendentes de africanos ou de índios, permitindo a qualquer africano ou índio, ou a seus descende descendentes, ntes, naturalizar-se haitiano e mantinha a declaração da regência de Dessalines de que nenhum branco, qualquer que seja sua nação, poderia pôr o pé no território haitiano a título de senhor ou proprietário. Esta constituição não foi aceita por Christophe, chefe do norte que fez votar outra mais de acordo com os seus propósitos, mas vigorou no sul até que, em junho de 1816, Pétion a substituiu por uma nova, que se manteve 1843. Com a morte de Pétion, sucedeu-o Jeanaté Pierre Royèr na presidência vitalícia, de

 

acordo com a nova Constituição de 1818. Christophe suicidou-se em outubro de 1820, e então o norte e o sul uniram-se sob a forma republicana r epublicana com a capital definitiva em Port-au-Prince, Boyer ficou como chefe único e invadiu São Domingos. Procurou também estimular o cultivo da terra pela promulgação do Código Rural de 1826; atraiu a imigração de negros dos Estados-Unidos e ainda obteve do rei de França em 1828 o reconhecimento reconhecimen to da independênc independência ia mediante o pagamento de uma indenização de sessenta milhões de francos. A indenização devida constituiu-se uma pesada carga para o Haiti, que se reconstruía  penosamente.  penosamen te. Assim, o Haiti procu procurava rava explorar São Domingos taxando taxando pesadamente pesadamente sua população para conseguir saldar a dívida que dilacerava os cofres públicos do país unificado, de forma que o lado ocidental tentava obrigar a parte oriental ori ental a pagar pelo ocidente. Este foi o principal fator desencadeador desencadeador da independência da futura República Dominicana. Em março de 1843 Boyer foi derrubado pelo movimento reformista. Os ex-escravos  já se encontravam encontravam definitivamente livres do trabalho compulsório compulsório da produção produção açucareira. De acordo com Gorender: Sob as presidências de Pétion e Boyer, passaram a se dedicar à tradição herdada da África, ou seja, à agricultura de subsistência. O Haiti saiu do mercado mundial do açúcar e eliminou a possibilidade de progredir em direção a um nível econômico superior. De colônia mais produtiva das Américas passou a país independente 31

 pauperizado e fora de um intercâm intercâmbio bio favorável na eeconomia conomia internacional internacional . O temor de que os eventos do Haiti se propagassem nas demais colônias na América fez com que a Espanha tentasse invadir a ilha constantemente, buscando buscando reafirmar-se como metrópole colonizadora. Além do que, de acordo com Gorender, as dificuldades dif iculdades do Haiti não se deram apenas pela predominância da agricultura de subsistência e à ausência de perspectivas econômicas mais elevadas, mas deveram-se, sobretudo, ao isolamento que lhe foi imposto. Os Estados Unidos, primeiro parceiro comercial do Haiti, foi também a primeira potência a decretar um embargo econômico contra este  país. Bloqueio este este que durou ccinquenta inquenta ano anos, s, sendo mantido, inc inclusive, lusive, pelas nações nações latino-americanas recém-emancipadas: recém-emancipadas: Quando exilado, Simon Bolívar encontrou abrigo no Haiti, onde recebeu de Pétion  proteção, ajuda financeira, dinhe dinheiro, iro, armas e até um umaa prensa tipográfica. tipográfica. No entanto, Simon Bolívar excluiu o Haiti dos países latino-americanos convidados à Conferência do Panamá, em 1826. O isolamento i solamento internacional acentuou acentuou o atraso e agravou as dificuldades históricas, após uma das mais heróicas lutas emancipadoras do hemisfério ocidental 32. Por tudo isso, notamos poucas diferenças na estrutura sócio-política do Haiti desde o século XIX até o século XX. Em 1844, após doze anos de luta, l uta, a República Dominicana conseguiu expulsar expulsar os haitianos de seu te território. rritório. Sobrevieram dissensões dissensões no Haiti, com uma nova ameaça de separação entre o norte e o sul. Depois de sucessivos governos governos curtos e efêmeros e repetidos golpes e deposições, Soulouque assumiu assumiu o poder e  proclamou-se imperador imperador como Fautino Fautino I em 1849. Este último monarca haitiano foi deposto pelo movimento republicano que elegeu Fabre Geffard como presidente em 1859. Contudo, o maior medo presente na sociedade haitiana era de que a política republicana caísse nas mãos de uma elite mulata que acreditasse que o sistema escravista ainda fosse viável e buscasse por meio do escravismo estabelecer-se estabelecer-se como oligarquia. De acordo com Frank Moya Pons, após a

 

queda de Geffard em 1867, o Haiti atravessou mais alguns anos de guerra civil. Sob o governo de Nissage Saget entre 1870 e 1874 voltou a haver certa estabilidade, mas as elites econômicas e o exército continuavam a exercer pressões políticas, enquanto a luta entre negros e mulatos seguia sem trégua. tr égua. Em meio a todas as dificuldades, o país cresceu em população, refez sua agricultura e constituiu alguma indús indústria. tria. Contudo, as recorrentes lutas internas, internas, os embargos econômicos, a dívida com a França e todo o seu histórico “épico e trágico”, como

descreve C. R. L. James, corroboraram para a pauperizaçã pauperizaçãoo do país e sofrimento de um  povo que depois depois de ser arra arrancado ncado de su suas as origens, explorad exploradoo e torturado recebeu recebeu a missão de constituir uma nação sem nenhuma base estrutural, social ou cultural.

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VII –  Independência  Independência e Organização Constitucional. 3 ed. São Paulo: W. M. Jackson, 1954. ZEA, Leopoldo. Os Direitos Humanos nas Américas. In: A revolução Francesa e seu Impacto na América Latina / COGGIOLA, Osvaldo (org.). São Paulo: Nova Stella, 1990.  NOTAS 1. Graduando em História pela Universidade Católica de Petrópolis  –  UCP  UCP e editor da revista Veredas da História (). (). 2. GORENDER, Jacob. O épico e o trágico na história do Haiti. Revista de Estudos Avançados –  ano  ano 18, nº. 50, janeiro/abril, j aneiro/abril, 2004. USP, p. 295. 3. Idem 4. MILANI, Aloísio. Revolução Negra. Revista História Viva –  edição  edição 51 –  janeiro  janeiro 2008. Disponível na Internet: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/re http://www2.uol.com.br/historiav iva/reportagens/revolucao_negra volucao_negra.html .html (último acesso em 28/08/09) 5. Idem 6. ZEA, Leopoldo. Os Direitos Humanos nas Américas. In: A revolução Francesa e seu Impacto na América Latina / COGGIOLA, Osvaldo (org.). São Paulo: Nova Stella, 1990, p. 159. 7. BONILLA, Heráclio. O Impacto da Revolução Francesa nos Movimentos de Independência Independê ncia da América Latina. In: A revolução Francesa e seu Impacto na América Latina / COGGIOLA, Osvaldo (org.). São Paulo: Nova Stella, 1990, p. 152. 8. ZEA, Leopoldo. Op. cit., p. 159 9. Idem 10. UREÑA, Pedro Henríquez. A Emancipaçã Emancipaçãoo e o Primeiro Período de Vida Independente Independe nte da Ilha de São Domingos. In: LEVENE, Ricardo (or (org.). g.). História das Américas –  vol.  vol. VII –   Independência Independência e Organização Constitucional. 3 ed. São Paulo: W. M. Jackson, 1954, p. 379. 11. BONILLA, Heráclio. Op. cit., p. 152. 12. GORENDER, Jacob. Op. Cit., p. 295. 13. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 297. 14. ZEA, Leopoldo. Op. cit., p. 160. 15. Idem. 16. DESCARTES, René. O D Discurso iscurso do Mé Método. todo. Tra Trad.: d.: E Enrico nrico Corvisieri. UFSC, UFSC, 2007. Disponível na internet: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/discurso.pdf http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/discurso.pdf 17. ZEA, Leopoldo. Op. cit., p. 160. 18. “they were seeking their salvation in the most obvious way, the destruction of what they knew was the cause of their sufferings”. suff erings”. (JAMES, Cyril Lionel Robert. The

Black Jacobins. New York: Vintage Books,1963) 19. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 297 20. “the white slaves in France had risen, ri sen, and killed their masters and were now enjoying the fruits of the earth”.   (JAMES, Cyril Cyril Lionel Rob Robert. ert. Op. cit.) 21. BONILLA, Heráclio. Op. cit., p. 153. 22. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 299. 23. PONS, Frank Moya.LaLatina. Independencia Independenc Haití y Santo Domingo. BETHEL, Leslie. História de América Vol. 5: iaLadeIndependência. Barcelo Barcelona: na:In: Editorial

 

Crítica, 1991, p. 128. 24. TEIXEIRA FILHO, Afonso. Apud: MILANI, Aloísio; op. cit. 25. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 300. 26. Idem. 27. UREÑA, Pedro Henríquez. Op. cit., p. 396. 28. JANVIER, Louis Joseph. Les Constitutions d'Haiti (1801-1885). Vol.I. Port-auPrince: Éditions Fardin, 1977, pp. 30-41. 29. PONS, Frank Moya. Op. cit., p. 131. 30. JANVIER, Louis Joseph. Op. cit., pp. 43-47. 31. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 300. 32. GORENDER, Jacob. Op. cit., p. 301.

 NICOLAY, Robson Robson Luis. Haiti e seu processo de independência. independência. Revista Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 5, Nº19, Rio, 2010 [ISSN 1981-3384]

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