Guia Da Escandinavia Medieval

December 18, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Johnni Langer (Ed.)

Guia da Escandinávia Medieval Fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens

Seleção de 44 ensaios publicados no blog do Núcleo Nú cleo de Estudos Vikings V ikings e Escandinavos entre 2012 e 2021.

João Pessoa, março de 2021

 

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

Copyright © 2021  2021 – Johnni Langer  As responsabilidades responsabilidades sobre textos e imagens são da respe respectiva ctiva autoria dos trabalhos trabalhos.. Editoração/capa: Editoração/ capa: Johnni Langer Ilustração de capa: https://www.fr https://www.freeimages.com eeimages.com 3 

D 478 Guia da Escandinávia Medieval: Medieval:  fontes, temas, métodos, pós-graduações, pós-graduações, bibliografias e viagens. viagens. / Johnni Langer. Langer. – João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021. 561 p. ISBN: 978-65-00-19726-6 (CBL) 1. História Medieval. 2. Escandinávia da Era Viking. 3. Cultura nórdica. 4. Mitologia e símbolos nórdicos. I. Título. CDU: 94(36). 

O grupo interinstituc interinstitucional ional NEVE (criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger   (Dinamarca),  (Dinamarca),  Lofotr Viking Museum   (Noruega), The Northern Northern Wo Women men ´ s Art Collaborative   (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group   (Universidade de Alcalá) e no Brasil, da  ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR -UFPB. -UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: [email protected] Contato:  [email protected] Blog do Blog  do NEVE:  NEVE: http://neve2012.blogsp http://neve2012.blogspot.com/ ot.com/ dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/52919 spelhogrupo/52919 NEVE no diretório de grupos de pesquisa do CNPQ do CNPQ:: dgp.cnpq.br/dgp/e Scandia Journal of Medieval Norse Studies: Studies: https://per https://periodicos.ufpb.br/in iodicos.ufpb.br/index.php/scand dex.php/scandia ia Academia.Edu:: NEVE no Academia.Edu https://ufpb.academia.edu/NEVEN%C3%9ACL https://ufpb.a cademia.edu/NEVEN%C3%9ACLEODEESTUDOSVIKI EODEESTUDOSVIKINGSEESCANDINAVO NGSEESCANDINAVOSS NEVE no Youtube Youtube:: https://www https://www.youtube.com/c/NEVEN%C3%BA .youtube.com/c/NEVEN%C3%BAcleodeEstudos cleodeEstudosVikingseEscandina VikingseEscandinavos vos Podcast do NEVE: https://pod https://podtail.com/pt-BR/pod tail.com/pt-BR/podcast/nevecast cast/nevecast// Facebook:: https://ww https://www.facebook.com/nu w.facebook.com/nucleodeestudo cleodeestudosvikingseescandi svikingseescandinavos navos NEVE no Facebook

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

SUMÁRIO:   Apresentação..........................  Apresentação............. ............................ .............................. ............................. ............................. .............................. .................................07 ..................07

Guia 1: Orientações para estudos

Como escolher um tema e fonte em pesquisa escandinavística....................... escandinavística.......................................08 ................08 Como cursar mestrado em estudos nórdicos no B Brasil rasil e exterior................................... exterior...................................16 16 Traduções e esoterismo na Mitologia Nórdica: Nór dica: alguns cuidados....................................29 cuidados....................................29

Guia 2: Fontes Prim árias

Guia de fontes históricas, historiográficas e semi-históricas da Escandinávia Medieval........................... Medieval.............. .............................. ................................ ........................... ............................ ............................... ............................. .........................32 ...........32 Uma introdução às fontes da Mitologia Nórdica.................................. Nórdica............................................... ............................38 ...............38 Ritos nórdicos pré-cristãos: p ré-cristãos: guia de fontes e bibliografia............................ bibliografia............................................. .....................62 ....62 Introdução ao estudo das runas r unas e pedras rúnicas: guia visual...................... visual.......................................... ....................74 74 Como pesquisar pedras rúnicas pela internet............................... internet.............................................. ............................ ....................100 .......100

Guia 3: Símbolos e runas

Símbolos mágicos nórdicos: guia visual e histórico.............................. histórico........................................... ...........................109 ..............109 Símbolos Vikings e umbandistas: cópia cóp ia ou coincidência?............ coincidência?........................... .............................. ...................148 ....148 Sete erros históricos sobre runas e magia rúnica................. rúnica................................ .................................... .............................158 ........158 Os dez melhores livros sobre sobr e runas e magia rúnica................................ rúnica............................................... .........................177 ..........177



 

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Guia 4: M ito e folcl folclore ore

Calendários e festivais f estivais sazonais entre nórdicos e celtas....................................... celtas................................................185 .........185 O Ragnarok é pagão ou cristão?.............. cr istão?............................. .............................. .............................. ............................ ..........................193 .............193 Um vulcão cristianizou a Islândia?........................... Islândia?............................................ ....................................... ..................................... ...............201 201 Mistérios de d e pedra: p edra: os labirintos Sámi................ Sámi................................ ............................... .............................. ............................ .............209 209 Os seres espirituais na Religião Nórdica antiga............ antiga........................... .............................. .................................216 ..................216 O Bode Bod e de Natal na Tradição Escandinava....................................... Escandinava........................................................... ............................237 ........237  A rocha da bruxa: um conto folclórico islandês.................. islandês................................. ..................................... ............................246 ......246  A Mitologia Nórdica em Gods of War........................... War.......................................... .............................. ............................. ..................250 ....250  A bruxa nórdica de Gods of War........................... War.......................................... .............................. .............................. ........................... ............272 272 Representações da feiticeira nórdica nos quadrinhos de Thorgal...............................279 Thorgal...............................279

Guia 5: H istória e usos do passado

História, anacronismos e ficção na série Vikings......................... Vikings........................................ ............................ ..................286 .....286 Os Vikings em Santa Catarina............................ Catarina............................................... .................................. .............................. ..........................312 ...........312 Quando os Vikings foram cavaleiros medievais!............................................. medievais!...........................................................316 ..............316 O pintor alemão que popularizou Wagner e os Vikings................................. Vikings...............................................329 ..............329 Vikings, supremacistas e símbolos nórdicos.................................. nórdicos................................................. ............................. .................337 ...337 17 de Maio: o dia d ia nacional da Noruega......................................... Noruega.............................................................. .................................351 ............351

Guia 6: Métodos e experimentos

Living History: uma nova forma de ensinar e pesquisar História.......................... História................................372 ......372



 

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Reconstrucionismo histórico e Arqueologia experimental da Era Er a Viking.................378 Entre tranças e nós: os adornos capilares femininos na Era Viking...........................393 Viking...........................393 Cinco erros sobre sob re alimentação e bebidas b ebidas da Era Viking......................... Viking.............................................401 ....................401 Dieta Viking: o emagrecimento que veio do frio............................... frio.............................................. ..........................409 ...........409 Reconstituindo uma receita de peixe da Era Viking........................ Viking....................................... ...........................413 ............413 Recriando a cerâmica da Era Viking: uma atividade em Arqueologia experimental........................... experimental............ .............................. .............................. ............................. ............................. .............................. ..............................417 ...............417

Guia 7: Temas T emas nórdicos na recepção artística

Os dez melhores filmes sobre Vikings segundo o NEVE................ NEVE............................... ............................420 .............420 Dez romances sobre Vikings............ Vikings........................... .............................. .............................. .............................. .................................432 ..................432 Dez canções de rock com temática nórdica.............................. nórdica............................................. ............................. .....................440 .......440 Os Vikings nos quadrinhos: uma revisão histórica................................. histórica............................................. ......................451 ..........451

Guia 8: Viagens e estudos

Visitando festivais e mercados Vikings na Dinamarca........................................ Dinamarca................................................ ........ 457 Guia da Dinamarca Viking: sítios, museus e festivais................................. festivais..................................................468 .................468 Mitos nórdicos na Dinamarca: guia iconográfico....................... iconográfico...................................... ............................. ...................501 .....501 Guia da Suécia Viking (região da Escânia): sítios, museus e dicas.............................520 Guia da Alemanha Viking: museus e centros experimentais............................ experimentais......................................543 ..........543



 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

APRESENTAÇÃO Criado em outubro de 2012 com o intuito de divulgar de maneira simples e objetiva – mas sem perder de vista o rigor e o espírito científico que deve nortear toda pesquisa em qualquer área do conhecimento – o blog do NEVE reuniu em todo esse tempo um  volumoso conjunto de ensaios que está agora sendo publicado em um formato mais acessível e prático.



Os ensaios que estão apresentados neste “ compêndio ”   foram escritos pelos membros do NEVE e colaboradores externos, para divulgarem as suas pesquisas fora fo ra dos muros da universidade e possibilitando o aceso pela internet. Estes ensaios são acessíveis aos alunos do ensino médio e universitário e a todo um público interessad interessadoo que não está relacionado ao mundo acadêmico, mas que busca conhecimento no que diz respeito aos estudos escandinavos em língua portuguesa. Nesta coletânea o leitor encontrará vários guias de viagens e museus, informações sobre bibliografias especializadas, cursos de pós-graduação, temas, fontes e metodologias de ensino e pesquisa, mostrando como a Escandinavística no Brasil está sendo realizada por profissionais comprometidos com a cientificidade e rigor na escolha de fontes e bibliografias, mas sempre aliados à divulgação, para que todo esse conhecimento alcance um número maior de pessoas. Para o NEVE a construção do conhecimento dos estudos nórdicos deve ser sempre acessível, auxiliando assim os mais diversos públicos, permitindo que estes não se satisfaçam e se iludam com a indústria do entretenimento, como também não se intimidem diante de estudos “ hermeticamente fechados” fechados ”   feitos somente para alguns eleitos. Ao partilhar o conhecimento, o NEVE busca mostrar que a Escandinavística é uma área aberta para todos os interesses e gostos go stos e parafraseando o pprofessor rofessor João Lupi (UFSC), todo esse conhecimento também nos pertence, pois ele é humano e portanto, nosso patrimônio! Boas leituras e pesquisas. Luciana de Campos

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.



COMO ESCOLHER UM TEMA E FONTE EM PESQUISA ESCANDINAVÍSTICA  ESCANDINAVÍSTICA   Johnni Langer Uma das questões que mais aflige os graduandos brasileiros é a escolha de um tema para a sua pesquisa, seja em trabalhos de conclusão de curso ou em projeto para mestrado. Não é fácil de responder essa problemática, pois temos que levar em conta muitas vezes: a área de pesquisa; a instituição; o orientador – e suas respectivas pesquisas, temas e linhas de investigação em programa de pós graduação. Nem sempre o tema que o graduando tem interesse necessariamente pode ser considerado relevante para o seu orientador ou instituição e, muitas vezes, o discente é levado a caminhos que não são necessariamente suas preferências pessoais. O presente texto é apenas uma pequena colaboração e não pode ser considerado absoluto. Já fornecemos um pequeno texto sobre a questão do mestrado em Escandinavística no Brasil (Como cursar mestrado em estudos nórdicos no Brasil e exterior) e exterior)  e o nosso principal referencial a ser adotado aqui é a produção historiográfica brasileira sobre estudos nórdicos, do qual já realizamos um levantamento neste artigo:   Contestação de uma historiografia dos estudos nórdicos brasileiros (entre as artigo: páginas 504 e 506).  Ao final do texto, incluímos um levantamento online de algumas das principais fontes históricas, literárias e mitológicas para o tema da Escandinávia Medieval.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

1.

Escolhendo a fonte:    A fonte primária é o mais importante em qualquer pesquisa. Ela deve ser definida antes do recorte temático ou depois, dependendo da situação. Como em língua portuguesa existem poucas fontes traduzidas, o interessado deve necessariamente ler

espanhol ou inglês, pela facilidade no acesso em material online ou impresso. Lembramos que uma mesma fonte pode ter referencias teórico-metodológicos diferenciadas, por exemplo, uma saga islandesa pode ser abordada tanto por historiadores quanto por pesquisadores da área de Letras, entre outras. - Sagas islandesas : um dos materiais preferidos dos pesquisadores, por conter material prosaico e de mais fácil leitura. Recomendamos aos pesquisadores iniciais escolherem uma saga para análise dentro de um tema e critério (tanto para TCC quanto mestrado), ao invés de escolher um tema e empregar várias sagas ao mesmo tempo (o que exige mais experiência e conhecimento). Algumas sagas, como a Saga dos Volsungos e a Saga de Njall o queimado, foram temas de dezenas de trabalhos no Brasil, devido ao fato de terem sido traduzidas, então a originalidade de qualquer nova pesquisa fica muito mais difícil com elas –   não é impossível, mas o pesquisador deve ter novas abordagens ou referenciais inovadores. Outras que também já receberam algum tipo de análise foram a Saga de Hervör e a Saga dos Ynglingos. As possibilidades são imensas, mas para novas pesquisas p esquisas recomendamos especialmente a Saga de Bosi, Saga Eyrbyggja, Saga de Egil, Saga de Laxdœla e grande parte p arte da Heimskringla (descontando a Ynglinga saga). O tema de pesquisa nas sagas islandesas : diversos aspectos ainda foram poucos debatidos no Brasil e América Latina. Por exemplo, na área de Letras, ainda não temos absolutamente nenhum tipo de publicação que aprofunde as discussões teóricoconceituais do que seja uma saga. Esse conceito pode ser aplicado para a ficção regionalista moderna do país? (como vem sendo feito em várias dissertações nacionais). Saga pode ser generalizado para qualquer tipo de literatura épica da Antiguidade ou medievo? Também estudos que realizem comparações entre a literatura europeia e escandinava do medievo são praticamente pr aticamente inexistentes – impedindo o avanço dos estudos de literatura nórdica, ao contrário com a área de literatura medieval que é bem consolidada no país.



 

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Na área de História existem alguns debates sobre o uso das sagas islandesas – elas contém elementos históricos antigos ou são apenas produtos discursivos da Idade Média Central e Tardia sobre a Era Viking? O debate em línguas estrangeiras é amplo e o interessado deve acompanhar também algumas produções da área de Letras sobre o tema (especialmente em inglês). No Brasil ainda existem poucos estudos sobre alguns temas em sagas especificas – o papel das mulheres; o discurso (ou práticas antigas?) sobre a magia e os ritos pagãos; festas; calendários e sazonalidade; tradições populares; diversos aspectos do cotidiano (como alimentação), entre outros. - Crônicas medievais    A Gesta Hammarbugensis de Adão de Bremen e a Gesta Danorum de Saxo Gramaticus são as crônicas medievais nórdicas que receberam mais pesquisas no Brasil, mas ainda sim, elas ainda podem fornecer parâmetros p arâmetros para novos olhares, especialmente sobre historiografia medieval, política, discursos de identidade, etc. Outras crônicas são quase desconhecidas no país, como a Crônica Sueca, Morkinskinna, Crônica de Roskilde, Crônica de Lejre, Crônica da Zelândia Antiga, Gesta Cnutonis, Crônica de Erick (Erikskrönikan), são fontes excelentes para a pesquisa em História Política (um referencial pouco abordado pela Escandinavística brasileira) e muitas questões envolvendo Mito, História e Genealogia, hagiografia, cristianização, requerendo por parte do pesquisador leituras aprofundadas em Medievística. Obras renascentistas, como a História dos Povos Nórdicos, de Olaus Magnus, são preciosas para se entender a Idade Média Tardia e são fartas de referências sobre folclore, paganismo, magia, estereótipos sobre fronteiras, etc. Semelhante às crônicas, os códigos jurídicos do medievo nórdico praticamente foram ignorados pela produção brasileira, como a Leis de Gulathing, Gutalagen (lei da Gotlândia), Grágás (leis do ganso cinzento), Járnsíða, Jónsbók, entre outras, sendo fontes importantes para diversos aspectos da sociedade, como normas sociais, família, parentesco, cotidiano, comércio, crenças, propriedade, etc., temas comuns tanto para o referencial da História Social quanto q uanto Cultural.

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 Algumas das principais crônicas para o estudo da Escandinávia Medieval foram analisadas no Dicionário de História e Cultura da Era Viking  (Editora Hedra, 2017, consultar verbete remissivo “Fontes primárias” primárias”). - As Eddas    Alguma das principais fontes investigadas pela Escandinavística brasileira, brasileira, a Edda Poética e a Edda em Prosa, precisam passar por novos referenciais analíticos, temáticos e em consonância com a produção internacional. Um das melhores abordagens que recomendamos atualmente é a cosmologia, especialmente a desenvolvida pelos arqueólogos dinamarqueses, do qual já nos ocupamos em um artigo: A artigo:  A Arqueologia da Religião Nórdica na Era Viking (pp. 16-21). Outro tipo de abordagem sobre Mitologia Nórdica que ainda é precária no Brasil é a iconográfica, especialmente aplicada a objetos da cultura material (monumentos e objetos móveis) e refletida em conjunto com as fontes literárias. Também o estudo de simbolismo em monumentos e temas da Mitologia Nórdica ainda vem sendo empregado de forma muito limitada. Também existem possibilidades de novas aplicações do debate da Mitografia, em consonância com a Medievística e a Historiografia Medieval. - Poesia escáldica e Eddica Minora Tanto de um ponto de vista literário quanto de conteúdos históricos, mitológico e religioso, a poesia escáldica e poemas éddicos édd icos de fora do Codex Regius ainda são repletos de possibilidades investigativas. Estudos comparativos, linguísticos e codicológicos também ainda foram pouco empregados no Brasil. 2.

O referencial da bibliografia secundária:  

Uma ótima maneira de obter um tema para pesquisa é conhecer com profundidade a bibliografia secundária de uma área, como os estudos de Mitologia ou Literários, principalmente após escolher a fonte primária. A preferência são os grandes manuais sistematizadores, como Old Norse Icelandic Literature and Culture (Rory McTurk), Old

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Norse Icelandic Literature (Clover e Lindow) ou The Viking World (Stefan Brink) O debate com o orientador e com grupos de pesquisa (como o do NEVE do  NEVE no facebook), facebook), também podem colaborar para o pesquisador amadurecer melhor o seu recorte temático. Outras questões, como metodologia, referencial teórico e problemáticas, deve surgir naturalmente, com a leitura, experiência e profundidade prof undidade de conhecimento no tema e na orientação. Finalizamos o texto com algumas sugestões mais objetivas de temas para pesquisa (agradeço à profa. Luciana de Campos pelo auxílio na área de Letras e também utilizamos os conteúdos do curso de extensão Teorias extensão  Teorias e Métodos da Escandinavística) Escandinavística),, seguido de um levantamento online de fontes históricas, literárias e mitológicas sobre a Escandinávia Medieval. ÁREA/EIXO

TEMAS   TEMAS

FONTES   FONTES

TEORIA/METODOLOGIA   TEORIA/METODOLOGIA

TEMÁTICO  TEMÁTICO  História

Indumentária:

Sagas islandesas,

História Cultural

Letras  Antropologia  Antropolo gia

 vestuário masculino e

crônicas, cultura material,

 Antropologia Cultural Literatura comparada

feminino, moda

iconografia.

História

Religião e poder

Sagas islandesas,

História Política,

Ciências das Religiões

no mundo précristão e cristão medieval

crônicas, cultura material, fontes rúnicas

 Antropologia  Antropolo gia política

História

Festas, banquetes,

Sagas islandesas,

História da Alimentação

Ciências das Religiões

alimentação e poder, alimentação e religião

Eddas, crônicas, cultura material

História Política História Cultural das Religiões

História

Cultura política

Sagas islandesas,

História política

Reinos nórdicos  Aspectos legais e  jurídicos

Eddas, crônicas, cultura material

 Antropologia  Antropolo gia social

Letras Ciências das

Sobrenatural, monstros,

Sagas islandesas, Eddas, crônicas,

Folclorística História Cultural das

Religiões

fantástico, folclore

Religiões

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História

cultura material,

Literatura Comparada

fontes rúnicas Ciências das

Rito e

Sagas islandesas,

História Cultural das

Religiões

espacialidade

Eddas, crônicas,

Religiões

História

Mito, rito e paisagem

cultura material, fontes rúnicas

Ecocrítica Teorias do rito

arqueológica

 Arqueologia das das Religiões

Ciências das

Mitologia e

Sagas islandesas,

História Cultural das

Religiões História

folclore celeste

Eddas, crônicas, material folclórico

Religiões Etnoastronomia

pós medieval Ciências das

Cosmologia e visão

Sagas islandesas,

História Cultural das

Religiões História

de mundo

Eddas

Religiões Etnoastronomia

Ciências das Religiões História

Bruxas, bruxaria, feitiçaria, magia, discurso contra

Sagas islandesas, Eddas, crônicas, iconografia,

História Cultural das Religiões

práticas mágicas, discurso obre o

grimórios medievais e renascentis renascentistas, tas,

paganismo, demonologia

fontes rúnicas

Crenças religiosas,  variação e circulação de

Sagas islandesas, Eddas, crônicas, iconografia, fontes

crenças,

rúnicas

Ciências das Religiões História

Mitologia Comparada Estudos comparados  Arqueologia das das Religiões

performance ritual Ciências das Religiões História

Simbolismo, ritos e crenças intereligiosas

Sagas islandesas, Eddas, fontes mitológicas e

(contato entre escandinavos e não

mitográficas euroasiáticas

História Comparada História Cultural das Religiões

escandinavos) Ciências das

 A mitologia como como

Eddas

História Cultural

Religiões História

suporte para os estudos de Religião

Sagas lendárias Folclore

 Arqueologia pós-processual pós-processual Teoria Queer

Nórdica Antiga:

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ideologia/fronteiras culturais Ciências das

Transmissão e

Eddas

Mitologia Comparada

Religiões

recepção dos mitos

Sagas lendárias

Folclorística

História História

nórdicos Identidade social Etnicidade

Folclore Sagas islandesas, crônicas, Eddas

Teoria da recepção História cultural Estudos pós-coloniais e decoloniais

 A representação representação do outro/alteridade

Sagas islandesas, crônicas, Eddas

História Comparada História Cultural

História Letras

Estudos culturais Teoria das representações sociais História

Gênero

Sagas islandesas,

História cultural

Letras

História das Mulheres

Eddas, crônicas

Teorias de gênero História das Mulheres

Letras

Construção da personagem literária

Sagas lendárias (Fornaldarsögur)

Teoria da Literatura

Letras

A questão do espaço e do tempo

Sagas de família (Íslendingasögur)

Teoria da Literatura

dentro da construção da narrativa Letras

A questão do narrador

Sagas islandesas em geral

Teoria da Literatura

Letras

A relação entre o oral e o escrito,

Poesia éddica e escáldica

Teorias da oralidade e performance

Magia e fantástico, personagens e

Sagas islandesas e Literatura

Literatura Comparada

paisagens

 Arturiana

Recepção de temas

Literatura pós-

Estética da recepção

nórdicos (História,

medieval

Ciências da Cultura

performance e escrita Letras

Letras

Mitologia)

Pós-Colonialismo.

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História

Recepção de temas  Arte, ópera, cinema, nórdicos (História, Mitologia)

teatro, música, internet, jogos, quadrinhos,

História Cultural Ensino de História

televisão 15 

 

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COMO CURSAR MESTRADO EM ESTUDOS NÓRDICOS NO BRASIL E EXTERIOR Johnni Langer Com a popularidade da temática nórdica no Brasil, vem crescendo a procura por orientações e pesquisas a nível de pós-graduação em Escandinavística. Esse pequeno guia visa fornecer alguns parâmetros para os interessados, sendo constituído de duas partes: primeiramente fornecemos algumas dicas para a elaboração de um projeto na área, depois algumas indicações de programas e orientações no Brasil e exterior. O PROJETO EM ESCANDINAVÍSTICA  ESCANDINAVÍSTICA  Como em qualquer projeto para mestrado em Ciências Humanas, a pesquisa deve envolver alguns elementos básicos e imprescindíveis: problemas investigativos, hipóteses, teoria e metodologia. Uma síntese ideal da estrutura pode ser vislumbrada neste site neste site da UFJF e de forma mais detalhada e técnica neste outro site. outro site. A  A abordagem e seleção das fontes primárias vai variar conforme a área de pós-graduação pretendida, mas ela é sempre um ponto fundamental em qualquer pesquisa envolvendo Escandinavística. É necessária uma atenção especial no uso de traduções e nas seleções da bibliografia secundária (como foi alertado em:  em: Traduções e esoterismo na Mitologia Nórdica: alguns cuidados , ensaio a seguir neste livro). Outra questão que o pesquisador deve estar atento é a adequação dos objetivos e metodologias da pesquisa com relação à linha de pesquisa

 

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do programa pretendido – fundamental para o sucesso na seleção. Isso é geralmente obtido quando o interessado mantém um contato prévio com o orientador almejado do programa, antecipadamente ao processo seletivo. A questão teórica e metodológica é igualmente muito importante. O grupo NEVE pretende futuramente publicar uma obra derivada de um curso de extensão ministrado na UFPB: Teorias e métodos da Escandinavística , mas por enquanto existem alguns estudos neste sentido (Teorias e métodos para o estudo da Mitologia Nórdica  e  A A religião nórdica antiga: conceitos e métodos de pesquisa ). A originalidade da pesquisa valoriza qualquer pretensão a uma seleção e o candidato pode investigar os temas das dissertações e teses escandinavísticas  já defendidas no Brasil, a exemplo desta tabela das defesas até 2018:

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Fonte: Contestação Fonte:  Contestação de uma historiografia dos estudos nórdicos brasileiros, p. 504 a 506. O candidato também deve evitar temas/títulos muito genéricos e vagos para os projetos, como o tradicional “ Cristianização da Escandinávia” Escandinávia ” , recorrente em várias seleções pelo país. Seja para a área de História, Letras, Ciências das Religiões ou afins, a especificidade do objeto, espacialidade e temporalidade é fundamental. Uma investigação em fonte literária também precisa ser bem demarcada, como em “ As

 

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influências da Mitologia Nórdica na obra Silmarrilion de Tolkien ”, por exemplo, e no projeto, a delimitação torna-se mais precisa com o uso de objetivos secundários (uma média de 4 a 5). Maiores definições do objeto de pesquisa, das fontes a serem utilizadas, da bibliografia secundária/analítica, das metodologias e instrumentos de pesquisa devem ser definidos antecipadamente com o orientador do programa almejado e refinado posteriormente, com a entrada no programa e o cursar das disciplinas teóricas que poderão ser ofertadas. O NEVE possui um arquivo onlin onlinee de dissertações e teses defendidas na área, que podem ser consultadas ser consultadas aqui. PROGRAMAS DE PÓS GRADUAÇÕES NO BRASIL  BRASIL  Nosso país não possui um programa de pós-graduação (lato (lato sensu ou ou stricto  stricto sensu ) específico em estudos nórdicos. Também a maioria dos programas pro gramas não possui disciplinas regulares em Escandinavística (com exceção da UFPB). O interessado deve inscrever-se na seleção de alguma área específica em Ciências Humanas, com um projeto pr ojeto de pesquisa envolvendo algum tema da Escandinávistica. Muitos programas de pós graduação do Brasil já contemplaram dissertações e teses na área, como podemos observar neste gráfico reconstituindo as defesas por estado e por p or instituição:

Fonte: Contestação Fonte:  Contestação de uma historiografia dos estudos nórdicos brasileiros, p. 508.

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 A seguir indicamos alguns professores integrantes de programas de pós-graduação como possíveis orientadores de projetos de pesquisa para mestrado e doutorado - o critério desta inclusão foram pesquisadores que já orientaram ou atualmente orientam temas relacionados com Escandinavística Medieval ou recepção de temas nórdicos após o medievo. 20 

Área de Ciências das Religiões  Religiões  Trata-se de uma das áreas com maior crescimento em pesquisas relacionadas com Escandinavística no país, seja em eventos, publicações e redes de pesquisa. A maior parte das dissertações nesta área envolveu Mitologia Nórdica.

Johnni Langer  (Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiõesda Universidade Federal da Paraíba; Paraíba; Linha de pesquisa: História das Religiões; temas de interesse: Mitologia Nórdica; Paganismo nórdico pré-cristão; rituais e crenças da Escandinávia Medieval; Magia, feitiçaria e bruxaria na Europa Setentrional; Recepção e ressignificação da Mitologia Nórdica nas artes modernas; neopaganismo nórdico; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes). Pesquisador com vários artigos, livros e orientações na área.

 

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Área de Letras  Letras   Apesar de ser uma das áreas pioneiras no Brasil em dissertações na Escandinavística, é uma das que tem menos publicações e pesquisas na atualidade, carecendo muito de novas investigações. A grande maioria das dissertações e teses envolveu o tema da Mitologia Nórdica e sagas islandesas. 21 

 Álvaro Alfredo Alfredo Bragança Júnior (Programa de Pós-Graduação em Letras Clássicas daUniversidade Federal do Rio de Janeiro; linha Janeiro;  linha de pesquisa: Estudos Interdisciplinares da Antiguidade Clássica; temas de interesse: Aspectos culturais do mundo clássico e medieval; Mundo germanófono na Antiguidade e na Idade Média; Paganismo e Cristianismo germânico; e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected]; Lattes) Lattes).. O pesquisador foi um dos criadores do grupo de pesquisa pioneiro na Nova Escandinavística brasileira, o Brathair, no final dos anos 1990.

Karin Voloboeuf  (Programa   de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/ campus campus Araraquara; Linha de pesquisa: História Literária e Crítica; temas de

 

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interesse e orientação: Fantástico, romantismo, contos de fadas; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes). Pioneira em orientação da área, com a primeira dissertação de mestrado defendida no Brasil sobre o tema da Mitologia Nórdica, Nór dica, em 2006.

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 Aparecido Donizeti Rossi  (Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da UNESP/campusAraraquara; Linha de pesquisa: História Literária e Crítica; Temas de UNESP/campusAraraquara; Linha interesse: Mitologia nórdica e Literatura Anglo-Saxônica; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes).

Área de História  História   A área de História Medieval é uma das principais envolvendo as pesquisas de Escandinavística, tendo como figura inicial o historiador Ciro Flamarion Cardoso (para o início da Nova Escandinavística Brasileira a partir de 1997) e a posterior consolidação da Medievística em geral nos anos 2000. A grande maioria das dissertações e teses envolveram a temática do processo de cristianização, política e sociedade no mundo nórdico medieval.

 

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Mário Jorge da Mota Bastos  (Programa de Pós-graduação em História da UniversidadeFederal Fluminense; Setor temático de História Medieval; área Medieval;  área de atuação: História Medieval/Religião e Cultura na Alta Idade Média/Poder e sociedade na Alta Idade Média; e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected]; Lattes). Lattes). Pesquisador experiente na orientação de temas escandinavísticos.

Fátima Regina Fernandes  (Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federaldo Paraná; Linha Paraná; Linha de Pesquisa: Cultura e Poder; T Temas emas de interesse dentro deste recorte: relações de poder entre as populações nórdicas medievais e as populações autóctones, aculturações, interações culturais da tradição nórdica e latina; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes). Pesquisadora pioneira em orientação na área, com o primeiro mestrado brasileiro em História com o tema da Escandinávia Medieval, em 2008.

 

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Edmar Checon De Freitas  (Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Fluminense; Setor temático de História Medieval;  Medieval;  temas de interesse: paganismo e cristianismo; migrações germânicas; etnicidade e etnogênese; hagiografia medieval; e-mail: [email protected]; e-mail: [email protected]; Lattes) Lattes)..

Leandro Duarte Rust (Programa de Estudos Medievais –   Universidade de Brasília; em Brasília;  em processo de credenciamento no PPGH-UNB; temas de interesse: Vikings e Eclesiologia Latina, História da Violência, Fronteiras Medievais; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes).

 

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Solange Ramos de Andrade (Programa de Pós Graduação em História pela UniversidadeEstadual de Maringá: Linha Maringá: Linha de pesquisa: História, cultura e narrativas; email: [email protected]; mail:  [email protected]; Lattes). Lattes).

MESTRADOS EM ESTUDOS NÓRDICOS NO EXTERIOR  EXTERIOR  Islândia   Islândia Uma das opções mais interessantes para quem busca opções de educação a nível de pós-graduação no exterior, encontrará na Escandinávia alguns programas dignos de atenção. Especialmente a Universidade da Islândia (Háskóli Íslands) tem oferecido nos últimos anos algumas opções que agregam uma rede de colaboradores internacionais e a oportunidade de estudos em instituições parceiras, além do contato direto com pesquisadores renomados, sejam pelas atividades cotidianos organizados pelo instituto  Árni Magnússon, ou pelas conferências internacionais que usualmente acontecem no campus. Apesar do custo de vida elevado e da burocracia demasiada dificultosa com os documentos imigratórios, a Islândia é uma boa opção como porta de entrada no mundo acadêmico escandinavo.

 

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O centro de Humanidades, em parceria com o instituto Árni Magnússon, oferece duas opções de mestrado, o VMN o VMN - Viking & Medieval Norse SStudies, tudies, e  e o MIS -Medieval Icelandic Studies. A Studies. A primeiro tem a duração de dois anos e os alunos possuem a opção de um intercâmbio de seis meses na Noruega, pela Universidade de Oslo, ou na Dinamarca, pelas universidades de Aarhus ou Copenhagen (esta última é destino exclusivo aos alunos que se dedicam aos estudos de manuscritos islandeses, já que a estadia se dá no instituto Arnamagnæan) e as oportunidades de trabalho são vastas, tendo em vista que os alunos terão oportunidades de estudar paleografia, inscrições rúnicas, folclore, arqueologia, além de outros campos acadêmicos relevantes aos estudos em escandinavística. A segunda opção tem a duração de um ano e os alunos realizam todo o ciclo de estudos entre a Universidade da Islândia e o instituto Árni Magnússon.  Apesar dos programas terem sido planejados com a finalidade de explorar o máximo de interdisciplinaridade possível, é inegável que há um maior privilégio aos estudos de linguística e na manipulação de manuscritos. Ambos os programas são conhecidos pelo seu currículo em Nórdico Antigo e em paleografia (são disciplinas obrigatórias, junto a uma disciplina em História Nórdica), além do convívio com especialistas do instituto Árni Magnússon que mantém e conserva uma das maiores coleções de manuscritos medievais referentes ao mundo nórdico medieval da Europa.

 

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Novas disciplinas optativas são ofertadas mediante à disposição dos pesquisadores de doutorado e pós-doutorado nas instituições islandesas. O centro de Ciências Sociais, por sua vez, mantém um programa de mestrado chamado   Old Nordic Religion and Beliefs,  chamado Beliefs,   com um currículo mais enxuto e voltado unicamente para os estudos em religiosidades escandinavas antigas. Os alunos possuem a opção de intercambiar seu currículo curr ículo com disciplinas dos programas qque ue funcionam em Humanidades (e vice-versa), mas possuem uma exigência maior na hora de produzir a dissertação final (quase o dobro de créditos ofertados). Como os alunos de ambos os centros são encorajados a frequentar disciplinas em conjunto, o ambiente é de plena troca de experiências e de engajamento nas atividades acadêmicas, incluindo viagens ao interior da Islândia e visitações a museus e sítios históricos. Outros mestrados em estudos nórdicos na Europa:  Europa:   Universidade de Oslo  Oslo  Mestrado em Estudos Vikings e Medievais Curso de dois anos, ministrado em inglês. Universidade de Nottingham  Nottingham  Mestrado em Estudos Vikings e Anglo-saxões Curso especializado em runologia, literatura e linguagem nórdica medieval.

Universidade de Aberdeen  Aberdeen  Mestrado em Estudos Escandinavos Mestrado interdisciplinar, especializado em História, linguagem, literatura, cultura e sociedade nórdica do medievo.

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BIBLIOGRAFIA:  BIBLIOGRAFIA:  LANGER, Johnni.  Johnni.  Contestação de uma historiografia dos estudos nórdicos brasileiros: Resenha de "Um ensaio historiográfico sobre a Escandinavística brasileira", de Lukas Grzybowski e Renan Marques Birro. Scandia Journal of Medieval Norse Studies n. 2, 2019, p. 495-542. LANGER, Johnni.  Johnni. Algumas  Algumas reflexões teóricas e historiográficas sobre o paganismo paganismo nórdico. In: MARANHÃO, Eduardo Meinberg de Albuquerque; SÁEZ, Oscar Calavia (Orgs.). História, Gênero e Religião: Violências e direitos Humanos (Vol. 2). Florianópolis: ABHR/ Fogo Editorial, 2018, p. 161-178. LANGER, Johnni. Teorias e métodos para o estudo da Mitologia Nórdica, REVER (PUC-SP) 18(1), 2018, pp. 235-270, ISSN: 1677-1222, Qualis Capes A2 em Estudos de Religião. LANGER, Johnni.  Johnni.  Estudos Nórdicos Medievais: alguns apontamentos historiográficos. Roda da Fortuna: Revista Eletrônica sobre Antiguidade e Medievo 6(1), 2017, Dossiê: Estudos Nórdicos Medievais, pp. 9-24. Qualis B2 em História, ISSN: 2014-7430. LANGER, Johnni.  Johnni. Uma breve historiografia dos estudos brasileiros de religião nórdica medieval HORIZONTE 14(43), 2016, Qualis Capes A1 em Religião, ISSN: 2175-5841 2175 -5841

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TRADUÇÕES E ESOTERISMO NA MITOLOGIA NÓRDICA: ALGUNS CUIDADOS   CUIDADOS Johnni Langer O Brasil tem avançado largamente na área dos estudos nórdicos. A cada dia percebemos a inclusão de novos pesquisadores e temas de pesquisa entre as universidades, o surgimento de eventos, publicações e atividades que auxiliam o crescimento da Escandinavística. Porém, isso não significa que a área não tenha diversos problemas e questões, uma delas é o acesso às fontes f ontes e bibliografia, ainda extremamente carentes em língua portuguesa. Isso acaba levando diversas pessoas à consultar traduções disponíveis na internet, sem maiores cuidados, e a também o acesso a obras de caráter duvidoso. O objetivo deste pequeno ensaio é discutir esse problema, apontando algumas alternativas viáveis aos interessados. Infelizmente o nosso país não possui as traduções completas da Edda Poética  e  e em Prosa . Apesar de já existirem traduções acadêmicas de alguns poemas éddicos em português (Hávamál, Vǫluspá  , Grímnismál, Baldrs Draumar, Þrymskviða ), muitos estudantes acabam recorrendo a trabalhos disponíveis na internet sem qualquer tipo de metodologia e vinculados à sites desprovidos de qualificação científica (em páginas e portais neopagãos, esotéricos ou de popularização). Alguns destes trabalhos aparentam ou são caracterizados como tendo sido traduzidos diretamente dos textos em islandês

 

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antigo, mas na realidade são traduções do inglês e espanhol. Em alguns eventos acadêmicos, trabalhos de conclusão de curso e até mesmo em dissertações de mestrado, estão sendo utilizados estes textos. Eles apresentam o problema de não terem recebido nenhum tipo de teoria, metodologia e instrumentos das traduções, além de algum tipo de parecer ou avaliação (visto que não foram publicados em periódicos) e contém uma forte carga confessional, visto que foram realizados por adeptos de movimentos neopagãos, diletantes ou entusiastas, o que pode comprometer o resultado final das traduções e por consequência, a qualidade das pesquisas em que eles forem utilizados e citados.  A Edda em Prosa  está  está atualmente sendo utilizada como tema em um mestrado em estudos de tradução no Brasil e logo estará disponível online. O cuidado com as fontes primárias é necessário a todo pesquisador da Mitologia Nórdica, provindo de qualquer área das Ciências Humanas. Caso ele não domine a leitura do inglês –   primordial aos estudos nórdicos –   recomendamos o acesso às excelentes traduções excelentes  traduções hispânicas de Luis Lerate, tanto Lerate,  tanto para as duas Eddas  quanto  quanto para  várias poesias escáldicas. Com a dedicação e o estudo, o pesquisador iniciante pode consultar textos mais sofisticados com o avanço de suas leituras, como os de Ursula Dronke ao inglês. Outro problema é a recorrente citação de uma autora esotérica, Mirella Faur (especialmente o seu livro Mistérios Nórdicos ). ). Sua obra apresenta fartos problemas interpretativos e tendenciosos, invalidando o seu uso como referencial analítico ou como bibliografia secundária. É inconcebível que algumas recentes dissertações de mestrado estão utilizando amplamente a sua obra, no tocante aos estudos de Mitologia Nórdica. Já apresentamos anteriormente algumas análises críticas sobre seus livros (Runas e magia ). Mais recentemente tem surgido outros autores da mesma tendência, como Rejanilton Lopes (no livro Simbologia nórdica ou nas dezenas de títulos sobre runas e runologia). Elas são obras legítimas de um ponto de vista da crença, do mesmo modo que qualquer tipo de manifestação religiosa ou esotérica, mas não possuem uma estrutura que as ratifique enquanto análise cientifica da Mitologia Nórdica (e muitas vezes nem foram criadas com essa intenção) e seu uso na academia de maneira geral. O jovem pesquisador acadêmico deve ter consciência das limitações do campo em nosso país e procurar estar inserido em redes de intercâmbio (como o grupo NEVE no

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facebook), permitindo a troca de ideias, bibliografias, discussões metodológicas e apoio. facebook), Muitas vezes isolado e sem contato com outros pesquisadores, o iniciante pode acabar comprometendo a qualidade de sua pesquisa –   por simples desconhecimento bibliográfico (como os apontados) - acessando sem maiores cuidados qualquer tipo de texto ou publicação pela internet. 31 

 

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GUIA DE FONTES HISTÓRICAS, HISTORIOGRÁFICAS E SEMI-HISTÓRICAS DA ESCANDINÁVIA MEDIEVAL Johnni Langer Esclarecimento : para acessar os links de cada fonte sublinhada, consultar o artigo original no blog do NEVE (http://neve2012.blogspot.com/2020/02/como-escolher-umtema-e-fonte-em.html)  ANKSAR. Vita Anskarii auctore Rimerto  (fonte  (fonte germânica em latim, descrição de aspectos da sociedade nórdica durante a Era Viking) Tradução ao inglês  ARI, o sábio. Íslendingabók (fonte em islandês) Edição em inglês

BREMEN, Adão de. Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum  (descrição  (descrição do paganismo nórdico, fonte germânica em latim) Edição em latim Edição em inglês: tradução de F.J. Tschan. History of the Archbishops of Hamburg-Bremen , 2002. DUDO. Gesta Normannorum  (fonte  (fonte normanda) Edição em latim Edição em inglês ETELVARDO. Chronicom Æthelweardi  (fonte  (fonte anglo-saxã em latim) Edição em inglês FLODOARDI. Annales  FLODOARDI.  Annales  (fonte  (fonte em latim) Edição em latim

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FONTES ÁRABES MEDIEVAIS Edição em inglês: Ibn Fadlan and the Land of Darkness : Arab Travellers in the Far North (Penguin, 2012). Descrições de Fadlan e outros viajantes árabes no medievo sobre nórdicos. Tradução do relato de Ibn Fadlan aoportuguês 33 

GRAMATICUS, Saxo. Gesta Danorum (fonte escandinava em latim, uma das mais importantes do medievo) Texto em latim Texto em inglês: tradução de Oliver Elton,1905. Edição em espanhol: Historia Danesa , libros i-IX, tradução de Santiago Ibánêz Lluch, 2013. JORDANES. Getica (De Getarum (Gothorum ) Origine et Rebus Gestis) Edição em latim Tradução parcial ao português JUMIÈGES, William of. Gesta of. Gesta Normannorum Ducum (fonte normanda em latim) Edição em inglês: The Gesta Normannorum Ducum of William of Jumièges , Orderic Vitalis and Robert of Torigni, Clarendon Press, Oxford, Oxfor d, 1995, tradução de Elisabeth M. C. Van Houts. LAMGEBEK, J. Scriptores rerum Danicarum medii aevi  (coletânea   (coletânea oitocentista de fontes medievais escandinavas) Edição em latim MAGNUS, Olaus. Historia de gentibus septentrionalibus (fonte sueca em latim) Edição em latim Edição em inglês: A inglês: A Description of the Northern Peoples , 1998, tradução de P.G. Foote. MERSEBURG, Thietmar of. Merseburgensis Episcopi Chronicon (fonte germânia em latim)

 

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Edição em latim Edição em inglês: WARNER, David A. (Trad.). Ottonian Germany: The Chronicon of Thietmar of Merseburg , Manchester UP, 2001 PORPHYROGENITUS, Constantine. De Administrando Imperio  (fonte  (fonte grega) Edição bilíngue em grego e francês 34 

RIMBERT. Vita Rimberti (fonte germânica em latim) Edição em inglês THEODORICUS. Historia de antiquitate regum Norwagiensium   (fonte escndinava em latim) Edição em inglês WIDUKIND. Res gestae saxonicae sive annalium libri três  (fonte  (fonte germânica em latim) Edição em latim Edição em inglês: BACHRACH, Bernard S. & BACHRACH, David S. (Trad.). Deeds of the Saxons , Catholic University Press, 2014.

Fontes anônimas:    Ágrip (af Noregskonunga sogum)  (fonte  (fonte em nórdico antigo) Texto em nórdico antigo

 Annála Ríoghachta Éireann  (fonte  (fonte irlandesa) Edição em inglês  Annales Bertiani  (fonte  (fonte do período carolíngio) Edição em francês

 

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 Annales Cambriae  (fonte  (fonte galesa em latim) Edição em latim Edição em inglês  Annales Fuldenses  (fonte  (fonte carolíngia em latim) Edição em latim e francês (parcial)  Annales regni Francorum  (fonte  (fonte carolíngia em latim) Edição em latim Crônica anglo-saxã  (fonte  (fonte em anglo-saxão) Edição em anglo-saxão Edição em inglês Edição em inglês (parcial) Encomium Emmae Reginae   (Gesta (Gesta Cnutonis Regis ) (fonte normanda em latim) Edição em latim Erikskrönikan  (fonte  (fonte em sueco antigo) Edição em sueco Edição em inglês: The Chronicle of Duke Erik: A Verse Epic from Medieval Sweden, 2012, tradução de Erik Carlquist, Peter C. Hogg, Eva Österberg Flateyjarbók (fonte em islandês antigo) Edição em islandês, inglês e dinamarquês Grágás  (fonte  (fonte em islandês antigo) Edição em inglês: Laws of Early Iceland: Gragas I, 2007, tradução de Andrew Dennis e Peter Foote. Gutasagan  (fonte  (fonte em gútnico antigo)

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Edição em gútnico antigo Edição em inglês Historia Norwegiæ  (fonte  (fonte norueguesa em latim) Edição em inglês Konugs Skuggsjá  (fonte  (fonte em norueguês antigo) Edição em inglês Landnámabók  (fonte  (fonte em islandês antigo) Edição em islandês Edição em inglês Liber Historiae Francorum  (Gesta  (Gesta Francorum ) (Fonte carolíngia) Edição em inglês: The Rise of the Carolingians and the Liber historiae Francorum, Oxford: Clarendon Press, 1987, tradução de Richard Arthur Gerberding. Morkinskinna  (fonte  (fonte em islandês antigo) Edição em islandês Edição em inglês: Morkinskinna: The Earliest Icelandic Chronicle of the Norwegian Kings (1030-1157). Ithaca: Cornell University Press, 2000, tradução de Theodore Murdock  Andersson, e Kari Ellen Gade. Norges gamle Love Indtil (fonte em islandês) Edição em islandês Povest´ Vremennykb   (Narrativa (Narrativa dos anos passados , fonte russa medieval) Edição em inglês Edição em espanhol: "Relato "Relato de los Años pasados ".". Néstor. Edición, traducción, prólogo y notas de Ángel Luis Encinas Moral. Colección "Libros de los Malos Tiempos", nº 85, Miraguano Ediciones, Madrid, 2004. Edição integral em português

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Recueil des Actes des ducs de Normandie  (fonte  (fonte normanda) Edição em francês: Recueil des actes des ducs de Normandie de 911 à 1066, Paris: 1066, Paris: Caron, 1961, tradução de Lucien Musset. Västgötalagen  (Fonte  (Fonte sueca em latim) Edição em sueco 37 

 

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UMA INTRODUÇÃO ÀS FONTES DA MITOLOGIA NÓRDICA  NÓRDICA   Johnni Langer Desde muitos séculos as narrativas dos deuses e deusas nórdicas vem fascinando fa scinando o mundo ocidental, seja em manifestações artísticas, ou então em narrativas literárias. Mesmo o Brasil já possuía certo interesse nesta temática, visto o envolvimento de alguns acadêmicos do Império e da primeira república com as deidades nórdicas, a exemplo do naturalista João Barbosa Rodigues e sua busca pelos “filhos de Odin” Odin” na Amazônia. Na década de 1950 o escritor paulista Owen Mussolin, mais conhecido como Esopinho, já escrevia obras de popularização sobre Mitologia Nórdica. Mais recentemente, o sucesso do Dicionário de Mitologia Nórdica , publicado pela editora Hedra, demonstra a imensa atração que o público ainda mantém em conhecer mais profundamente o universo que envolve as narrativas míticas da Escandinávia. O presente estudo mantém a continuidade de um processo de pesquisas nacionais que teve início no final dos anos 1990 e se prolongou pela década de 2000. Inicialmente elas foram influenciadas essencialmente pela academia francesa, em particular pela obra de Régis Boyer. Posteriormente, tivemos toda uma série de eventos, publicações e criações de grupos de pesquisas que vem fortalecendo e consolidando cada vez mais os estudos nórdicos no Brasil. Assim, grande parte de nossas próprias pesquisas mantém uma forte influência francesa, mas ao mesmo tempo, mantemos um constante diálogo com o que se produz entre os escandinavistas europeus e norte-americanos.

 

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Em se tratando de um estudo est udo sobre mitologia, obviamente, temos que definir o que é mito. Uma tarefa nada fácil, visto que existem dezenas de definições, de conceitos e perspectivas teóricas. De nossa parte, somos inclinados a não tomar parte de um referencial fenomenológico. Ou seja, não compartilhamos da visão de que existe uma essência humana universal, atemporal, que constitui a base de todos os mitos em todos os lugares e épocas. Em nossa concepção, os mitos devem ser percebidos em um referencial histórico e ao mesmo tempo, cultural. Neste sentido, os mitos são narrativas (orais, literárias ou visuais), acerca de deuses, heróis, monstros, sobre a origem do mundo ou de elementos da natureza. São estruturas de sentido, porque tem a função de explicar o mundo dos homens, dos deuses e do d o cosmos. Podem ter conotação religiosa ou alguma ligação com o “sagrado sagrado””, mas não necessariamente. Como diz Jens Peter Schjødt (2008, pp. 64-72), mitos contém referências sobre as coisas e os seres, são dramatizações, enquanto os rituais são ferramentas de comunicação com o outro mundo (o mito explica, o rito obtém). Essas narrativas são utilizadas em rituais ou pela esfera religiosa, sem perder suas características ou serem independentes. O corpus: o acesso aos mitos nórdicos é realizado essencialmente por três tipos de fontes –  as literárias , compreendendo uma série de manuscritos escritos e preservados durante a Idade Média; as iconográficas , um conjunto de imagens, esculturas, pinturas, referentes aos deuses germano-escandinavos, datados do período das migrações ao fim do medievo; as arqueológicas , monumentos e inscrições aludindo aos mitos e ritos nórdicos. Somente as duas últimas foram fo ram elaboradas durante a Era Viking, criando toda uma série de questões metodológicas para o tratamento das fontes literárias medievais. Para alguns pesquisadores, a memória dos rituais r ituais pré-cristãos foi rapidamente esquecida com a cristianização, enquanto que as narrativas mitológicas ainda eram preservadas no momento do registro escrito (Schjødt, 2008, p. 87).

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Detalhe do Codex Regius, poema Hávamál.  Hávamál.  1.

A Edda Poética  

 A mais importante e tradicional fonte para o estudo da Mitologia Nórdica, possui material diferenciado em forma, conteúdo e idade. Essencialmente composto pelo manuscrito conhecido como Codex Regius (Ggs 2365 4to, Gammel kongelig samling )),, com essa denominação porque fazia parte do tesouro da Biblioteca Real de Copenhagen até os anos 1970, quando então foi f oi devolvido para a Islândia. Este manuscrito foi redigido em um pergaminho (medindo 19 por 13 centímetros e com 45 folhas, faltando 8 folhas conhecidas como “ a grande lacuna ” ), escrito na segunda metade do século XIII e contendo 29 poemas, dez tratando de temas mitológicos e 19 com material heroico germânico e escandinavo dos tempos antigos (Gunnell, 2007, p. p . 82). Outros manuscritos que cont contém ém mater material ial éddico éddico são são o AM 748, 748, 4 º , o Hauksbók (Codex n. 544), o Flateyjarbók (Codex n. 1005), o Codex Wormianus  (AM 242 fol.) e o Codex Regius  da  da Edda em Prosa (Codex n. 2367). O termo “poema éddico” éddico” se refere a poema anônimos que tratam de mitos ou do mundo heroico nas terras nórdicas utilizando as métricas ljóðaháttr , fornyrðislag  ou  ou málaháttr . A origem dos poemas é controversa, segundo alguns seriam de datas e locais diferentes. O manuscrito Codex Regius  contém  contém material antigo com raízes pagãs, mas existe controvérsia sobre este material ser de origem oral ou ter t er sido influenciado pelo cristianismo. Enquanto alguns escandinavistas consagrados alegam que os poemas éddicos contém mitos verdadeiros (Lindow, 2005, p. 28) outros questionam seu caráter de fonte primária para o estudo dos mitos do período pagão (Abram, 2011, p. 20). Sabemos muito pouco sobre as origens ou a história original tanto do manuscrito Codex Regius  quanto  quanto do AM 748 4to. O Codex Regius  foi  foi escrito em 1270 e

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acabou sendo possuído por Brynjólfur Sveinsson em 1643. Inclusive foi este bispo islandês que denominou a coleção de Edda , pela proximidade de conteúdo com os poemas preservados na obra homônima de Snorri Sturluson (Gunnell, 2007, p. 83). Quanto ao AM 748 4to, deve ter sido escrito entre 1300 a 1325 (Dronke, 1997, p. xi).  A forma dos poemas éddicos éddicos é variável. Enquanto alguns alguns poemas foram realizados na forma de baladas, outros são poemas em forma de perguntas e respostas. Devido ao conteúdo e temas de seus cantos, a Edda Maior  é   é dividida em duas partes ou seções muito diferenciadas. A primeira parte ocupam os poemas mitológicos e a segunda as façanhas dos heróis da tradição germano-escandinava. A organização do Codex Regius  é  é lógica, mas não completamente harmônica e não existem evidências de que os poemas circulavam antes deste códice (Abram, 2011, p. 18). Os poemas inseridos nos manuscritos possuem características em comum com a poesia escáldica: conteúdo mitológico; concepções éticas; sabedoria heroica do Norte antigo; todas foram compostas em um estilo simples e como as baladas e canções folclóricas são anônimas e objetivas, nenhuma traindo os sentimentos ou atitudes dos seus autores. Essa unidade numa aparente diversidade não deixa dúvidas que o coletor anônimo que reuniu todas as baladas e fragmentos de poemas que viviam em sua memória já estava comprometido com a sua escrita (Hollander, 2008, p. xv). Mas as diferenças entre a poesia éddica e escáldica também existem, pois enquanto a primeira forma de poesia é considerada uma fonte mais importante para se estudar a mitologia, a escáldica é superior em questões religiosas (Lindow, 2005, p. 32). O Codex Regius  é   é iniciado pela majestosa Vǫluspá  (A profecia da profetisa), a mais completa fonte nórdica antiga sobre as concepções do mundo, suas origens e destino e o primeiro poema que possui Odin como figura central, apresentando temáticas gnômicas, mitológicos e conhecimento mágico. Os três poemas seguintes são principalmente didáticos (Hávamál, (Hávamál, Vafþrúðnismál, Grímnismál ), ), lidando com as visões do supremo deus Odin; um poema envolve o deus da fertilidade Freyr (Skírnismál  ( Skírnismál ); ); cinco poemas tratam predominantemente do deus Thor (Hárbarðsljóð, ( Hárbarðsljóð, Hymiskviða, Lokasenna, Þrymskviða e Alvíssmál ). Outros poemas geralmente incluídos nas edições modernas da Edda Poética  não   não fazem parte do Codex Regius (como (como Baldrs  Baldrs draumar, Rígsþula, Hyndluljóð e Gróttasöngr ) e são todos provenientes de códices do século XIII e com conteúdos mitológicos. Rígsþula  é incompleto, narra como a sociedade foi

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formada em classes e recebeu a instituição da realeza; Baldrs draumar  relata  relata as profecias da morte de Balder por meio da interação entre Odin e uma profetisa morta; Hyndluljóð  comenta   comenta sobre a genealogia do herói humano Ottar, que precisa conhecer a sua linhagem para reivindicar a sua herança; Gróttasöngr, poema relatando duas gigantas que são forçadas a trabalhar tr abalhar por Frodi – um semilendário rei dinamarquês, cujo reinado é destruído por esses maus tratos. De maneira geral, os pesquisadores argumentam que não existem evidências de que os poemas datem de antes do século VIII, mas neste caso, as preocupações linguísticas se dividem em dois grupos: os que acreditam que o mais importante é o conteúdo dos poemas (Preben Sørensen, Jens Schjødt), enquanto para outro grupo o mais relevante é a forma. A questão básica se o Codex Regius  reflete   reflete a composição original dos poemas é altamente polêmica, pois a tradição trad ição nórdica oral variava de época e de local para local. Também a mistura de memória mem ória a improvisação refletia a forma for ma dos poemas, fazendo com que o material sobrevivesse sob revivesse com alterações – apesar de expressões e fórmulas sobreviverem intactas. Os poemas mitológicos foram compostos por autores cristãos, mas possuem raízes em um período bem anterior à cristianização, esta efetuada entre os anos 999 a 1000. Estes poemas p oemas são uma imagem genuína da verdadeira natureza do paganismo nórdico antigo (Gunnell, 2007, p. 93, 94).  A Edda Poética  contém  contém poemas datados de épocas bem diferenciadas e de locais externos à Islândia, especialmente a Escandinávia continental, mas também de regiões como as ilhas britânicas ou de localidades com influências célticas. As influências cristãs também aparecem em alguns poemas, como a relação entre o Hávamál  e  e a Disticha Catonis , ou a Vǫluspá  e a Prophetia a Prophetia Sibyllae magae.  magae. 

Tabela 1: 1: Edda Poética –  manuscritos,  manuscritos, datação, forma, narrativa (Gunnell, 2007, p. 97; Abram, 2011, p. 17). Poema  

Fonte   Fonte

Datação   Datação

Tipo   Tipo

Protagonista   Protagonista

Vǫluspá  

 Antigo (?)

Monólogo

Odin

 A profecia da da adivinha

Codex Regius  / Hauksbók  Hauksbók  

Hávamál  

Codex Regius  

Antigo

Monólogo

Odin

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Os ditos de Hár Vafþrúðnismál   Os ditos de Vaftrúdnir Grímnismál  

Codex Regius  

Antigo

Diálogo

Odin

Codex Regius  

Antigo

Monólogo

Odin

Os ditos de Grímnr Skírnismál   Os ditos de Skírnir

Codex Regius  /AM 748 4to

 Antigo

Diálogo

Freyr

Hárbarðsljóð   O canto de Hárbard

Codex Regius  / AM 748 4to

 Antigo

Diálogo

Odin/Thor

Hymiskviða   O cantar de Hýmir Lokasenna   Os escárnios de Loki

Codex Regius/    AM 748 4to Codex Regius  

Recente

Narrativadiscurso Diálogo

Thor

Þrymskviða   O cantar de Trym

Codex Regius  

Antigo

Narrativadiscurso

Thor

Völundarkviða   O cantar de Volund  Alvíssmál   Os ditos de Alvis

Codex Regius  

Antigo

Nenhum

Codex Regius  

Recente

Narrativadiscurso Diálogo

Helgakviða Hundingsbana I   O cantar primeiro de Helgi o matador de Húnding

Codex Regius  

Recente

Narrativadiscurso

Helgi

Helgakviða Hjörvarðssona Hjörvarðssonar r   Cantar de Helgi o filho de Hiórvard Helgakviða Hundingsbana II   O cantar segundo de Helgi o matador de Húnding Grípisspá    A profecia de de Grípir

Codex Regius  

Antigo

Diálogo (Narrativa)

Helgi

Codex Regius  

Antigo

Diálogo (Narrativa)

Helgi

Codex Regius  

Recente

Narrativadiscurso

Grípir

Reginsmál   Os ditos de Regin

Codex Regius  / Flateryjarbók  Flateryjarbók  

 Antigo

Diálogo

Regin

Fáfnismál   Os ditos de Fáfnir

Codex Regius  

Antigo

Diálogo

Fáfnir

Sigrdrífumál   Os ditos de Sigrdrifa

Codex Regius  

Antigo

Monólogo discursivo

Sigrdrífa

Antigo

Loki/Thor

Thor

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Brot af Sigurðarkviðu   Fragmento do cantar de Sigurd Guðrúnarkviðaa I   Guðrúnarkvið  A primeira canção canção de Guthr Guthrun un Sigurðarkviða hin skamma   O cantar breve de Sigurd

Codex Regius  

Antigo

Narrativadiscurso

Brýnhildr

Codex Regius  

Recente

Narrativa-

Gudrun

Codex Regius  

Recente

discurso Narrativadiscurso/ Monólogo discursivo

Brynhildr 44 

Helreið Brynhildar    A viagem a Hel de de Brýnhildr

Codex Regius  

Recente

Monólogo discursivo

Brynhildr

Guðrúnarkviða II (in forna)   Guðrúnarkviða Cantar segundo de Guthrun

Codex Regius  

Recente (?)

Gudrun

Guðrúnarkviða III  

Codex Regius  

Recente

Monólogo/ Monólogo discursivo Narrativa-

Cantar terceiro de Guthrun Oddrúnargrátr   O lamento de Oddrun

Codex Regius  

Recente

 Atlakviða    A canção de Atli

Codex Regius  

Antigo

Narrativadiscurso

Nenhum

 Atlamál in groenlezko  groenlezko   Os ditos groelandeses de  Atli Guðrúnarhvöt   O lamento de Gudrun

Codex Regius  

Recente

Narrativadiscurso

Nenhum

Codex Regius  

Recente

Monólogo discursivo

Gudrun

Hamðismál   Os ditos de hámdir

Codex Regius  

Antigo

Narrativadiscurso

Nenhum

Baldrs draumar   Os sonhos de Baldr  

 AM 748 4to

Antigo (?)

Nenhum

Rígsþula    A canção de Rig  

Codex Wormianus  

Antigo

Diálogo/ Narrativadiscurso Narrativa (?)

Hyndluljóð    A canção de Hyndla

Flateryjarbók  

Recente

Monólogo discursivo

Freyja/Hyndla

Gróttasöngr    A canção de Grotti

Codex Regius   da da Edda em

 Antigo

Narrativadiscurso

Fenia/Menia

Prosa  

discurso Monólogo discursivo

Gudrun Oddrun

Rígr

 

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Edições modernas: Em islandês antigo as melhores edições são os dois volumes de Eddukvæði (Reykjavík: Hið íslenzka fornrítafélag, 2014), organizados por Kristjánsson e Ólason, ambos baseados no Codex Regius . No primeiro volume, foram incluídos os poemas mitológicos, precedido por uma longa análise de Vésteinn Ólason e uma explicação do termo Edda . No segundo volume, foram reunidos os poemas heroicos. Traduções:  Em português port uguês até o momento foram traduzidos somente alguns poemas éddicos. O Hávamál  foi publicado na revista Mirabilia  n. 17 (2013). O Grímnismál  foi traduzido por Pablo Miranda e publicado na revista Roda da Fortuna  3(2),  3(2), 2014. O mesmo pesquisador finalizou a tradução completa da Vǫluspá  do nórdico antigo para o português e será publicada pelo periódico  periódico  Scandia: Journal of Medieval Norse Studies .  No Dicionário de Mitologia Nórdica   (São Paulo: Hedra, 2015) foram incluídos alguns poemas éddicos do Codex Regius, como como Þrymskviða   Þrymskviða   (tradução de Yuri Fabri Venâncio), Rúnatal (tradução de Theo Borba Moosburger), fragmento do Grímnismál  (tradução  (tradução de Pablo Gomes de Miranda) e outros classificados dentro do conceito de Eddica Minora : Darraðarljóð  (tradução de Yuri Fabri Venâncio) e Buslubæn (tradução de Johnni langer). Uma boa opção para quem não domina as línguas escandinavas são as traduções ao espanhol: Textos mitológicos de las Eddas  (Madrid:   (Madrid: Miraguano, 2013) de Enrique Bernardez (somente excertos); Edda Mayor  (Madrid:  (Madrid: Alianza, 2016) de Luis Lerate de Castro, a melhor opção em língua hispânica. Também em outras línguas neolatinas temos interessantes edições. Em francês, existe a famosa tradução de Régis Boyer (L´  ( L´  Edda Poétique , Paris: Fayard, 1992) e em italiano Il canzoniere eddico  (Milano:  (Milano: Garzanti, 2009), de P. Scardigli e M. Meli. Em inglês ocorre grande quantidade de boas traduções acadêmicas. Uma das melhores, com uma grande quantidade de notas, comentários às traduções e comparações morfológicas entre os manuscritos é a edição de Ursula Dronke (The ( The Poetic Edda , 3 volumes, Oxford: Clarendon Press, 1969-2011), mas infelizmente incompleta devido ao seu falecimento. Outras edições consagradas são as de Lee Hollander e Henry Adams Bellows. A nova edição revista de Carolyne Larrington ( The Poetic Edda , Oxford, 2014) vem sendo uma das mais utilizadas entre os escandinavistas contemporâneos.

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Manuscrito ÍB 299 4to, contendo uma versão da Edda Menor, Islândia, século XVIII.   XVIII. 2.

A Edda em Prosa  

Manuscritos : A Edda em Prosa , também denominada de Edda Menor  ou  ou Edda de Snorri , é uma obra supostamente escrita pelo intelectual islandês Snorri Sturluson (1179(1179 1241) em 1220. Seu nome aparece em somente um dos quatro manuscritos principais da obra, juntamente com o nome Edda : o manuscrito DG 11 ou Codex Upsaliensis  (U),  (U), c. 1300-1325. Ela também circulou anonimamente no medievo em outros manuscritos: o GKS 2367 4º ou Codex Regius  (R),  (R), c. 1300-1350 e AM 242 fol ou Codex Wormiamus  (W),  (W), c. 1350. Nestes quatro manuscritos a obra apresenta variações e textos diferentes entre si, o que leva alguns pesquisadores a questionarem o conceito de “texto original” original” na qual todas as edições modernas se baseiam (Boulhosa, 2004, p. 13-14). 13 -14). Outro manuscritos são o Codex Trajectinus  (T 1374), 13 74), redigido em 1600 e em estado completo; e os fragmentários AM 748 4º (c. 1300-1325); 13 00-1325); AM 757 a 4º; AM 748 II 4to (c. 1400) e AM 756 4º (c. 1400-1500). Conteúdo : A Edda em Prosa  é  é um manual com técnicas de composição da poesia escandinava. A maioria dos pesquisadores o concebe com um caráter pedagógico, p edagógico, com a intenção de preservar a memória das antigas artes poéticas, ameaçadas por novas

 

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tendências literárias. A Edda em Prosa  possui quatro seções: Prólogo, Gylfaginning , Skáldskaparmál   ee Háttatál . O Prólogo apresenta elementos sobre o criador e o mundo natural, com diversos elementos bíblicos e cristãos, somados e a um referencial fortemente evemerista. Por exemplo, ao tratar de Tróia e seus descendentes, que teriam migrado para a Escandinávia, fundado dinastias e depois sendo considerados deuses pelos habitantes da região. Alguns acadêmicos concebiam o Prólogo como um texto apócrifo, não pertencendo ao “texto original”” da obra de Snorri, algo que vem sendo revisto e contestado. O Gylfagging  (O original  (O engano de Gylfi) possui trechos intercalados com humor e ironia, sendo um diálogo entre o rei Gylfi e os deuses nórdicos sobre vários temas, incluindo criação e destino do cosmos.  Apresenta uma visão centro-medieval dos mitos nórdicos, com ampla influência influência clássica e bíblica e em alguns momentos, hibridizada com o referencial pré-cristão. O Skáldskaparmál  (Dicção  (Dicção poética) é a seção mais longa, um diálogo entre Bragi e Aegir recenseando os sinônimos e metáforas da poesia nórdica (heiti ( heiti e kenningar ), ), ambos originados da Mitologia Nórdica. O Háttatál (lista de métricas) é composto por 102 estrofes na forma de elogios ao rei Hákon e ao jarl Skúli, redigidas com várias métricas diferentes e está ausente da maioria das edições da Edda em Prosa   devido ao seu conteúdo extremamente técnico e intrincado. Modelos e fontes : A obra de Snorri não tem precedente literário nem na Escandinávia e nem na Europa. Em termos de poesia nativa, somente a Irlanda tem casos semelhantes, visto que a maioria dos escritores europeus escrevia em língua nativa (Faulkes, 2005, xx). O caso do Gylfaginning   é ainda mais peculiar, visto que escritos mitográficos não eram comuns no medievo. Na área germano-escandinava, a sistematização de Snorri é a mais completa e interessante que foi preservada relativa aos mitos e lendas, sendo também considerada lucida, coesa, linear (Lindow, 2005, p. 36). A tradição escandinava em compor poemas de instruções mitológicas como diálogos ou monólogos também pode ser vista em Vafþrúðnismál, Grímnismál e Baldrs draumar. Muitas das narrativas de Gylfaginning   foram baseadas na Edda Poética em confluência com esquemas bíblicos ou da poesia escáldica (esta segunda mais influente em Skáldskaparmál ). ). Mas nem tudo que está contido na Edda em Prosa   pode ser considerado como material antigo (tanto oral quanto escrito). Como um intelectual,

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Snorri interpretou a Mitologia Nórdica enquanto um antiquário mas não como religioso r eligioso (Faulkes, 2005, xxi). Interpretações : As duas principais interpretações contemporâneas da obra de Snorri seguem em caminhos diferenciados. A primeira, enfatiza que a Edda em Prosa  é  é uma adaptação dos mitos nórdicos com o mundo cristão, mas que é possível utilizá-la como fonte para a Mitologia Nórdica. Isso é referendado pelo fato de que muitos elementos em Snorri são confirmados por outras fontes, como a poesia éddica, escáldica e imagens preservadas em monumentos. Apesar da influência de seu contexto, a Edda   contém uma estrutura pagã, aos pesquisadores resta encontrar os modos e metodologias para o seu estudo (Schjødt, 2008, pp. 97-100).  A segunda enfatiza a hibridização e a influência do cristianismo centro centro-medieval -medieval em sua obra, criando uma nova mitologia baseada na tradição e parcialmente nas atitudes e crenças cristãs do período (uma meta-mitologia do norte), a exemplo da distinção moral entre pagãos que vão para Hel ou para o salão de Odin após a morte.  Assim, os mitos preservados por Snorri não pertencem originalmente à “ verdadeira  verdadeira””  Mitologia Nórdica (Abram, 2011, pp. 211-221). Edições:  A  A V iiking king Society Web Publications disponibiliza os melhores recursos para o estudo da Edda em Prosa , realizados por Anthony Faulkes. Em primeiro lugar, seis estudos sobre a obra de Snorri Sturluson, além de análises sobre os manuscritos (Skáldskaparmál 1 e 2, 1998); a versão do Codex Regius  (Edda   (Edda : Prologue and Gylfaginning, 2005); a versão do Codex Regius  traduzida   traduzida ao inglês com as suas quatro seções (Edda  (Edda , Everyman, 1987); a versão do manuscrito de Uppsala em nórdico antigo e em inglês (The (The Uppsala Edda : DG 11 4to, 2012). A quarta seção, Háttatal , também recebeu uma edição do nórdico antigo (com amplas notas explicativas, glossário e discussões codicológicas) de Anthony Faulkes (Edda: ( Edda: Háttatal , Clarendon Press, 1991).  A mesma seção, seção, ausente da maioria das edições contemporâneas, já havia sido traduzida ao inglês em 1974 por Abbie Hartzel Martin (University of North Carolina at Chapel Hill). Uma edição muito popular em inglês é a de d e Jesse Byock ((The The Prose Edda , Penguin, 2005), mas sem o detalhamento e o tratamento documental das traduções de Faulkes. Traduções: Em língua portuguesa foi realizada a edição de Marcelo Magalhães Lima  (Edda em Prosa . Rio de janeiro: Numen, 1997). Trata-se de uma péssima Lima p éssima tradução do inglês ao português, com ausências de trechos prosaicos e poéticos e traduções

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totalmente equivocadas. Não recomendado para iniciantes, popularização ou pesquisas acadêmicas. Em 2014 Artur Avelar realizou r ealizou outra tradução do inglês ao português ((Edda Edda em Prosa: Gylfaginning e Skáldskaparmál , eBook Kindle, Barbudânia), muito mais cuidadosa do que a edição de Marcelo Lima, mas sem um tratamento acadêmico mais refinado. O prólogo da Edda em Prosa   foi traduzido ao português na edição 12 edição  12 do boletim Notícias Asgardianas (2017) (2017) , , feita por Maria Adele Cipolla e Lorenzo Sterza. A pesquisadora Thais Gomes Trindade teve seu projeto (Uma ( Uma tradução comentada da Edda de Snorri ) aprovado para o mestrado em tradução na USP (entrada em 2018), relativo à tradução do Prólogo e Gylfaginning  do  do islandês antigo ao português moderno. mod erno. Em línguas neolatinas temos várias boas opções de traduções diretas do nórdico antigo. No espanhol existe a versão de Jorge Luis Borges, mas somente para a segunda parte: La alucinacion de Gylfi  (Madrid:   (Madrid: Alianza, 1984), enquanto que a edição de Luis Leraste de Castro traz as três primeiras seções (Edda Menor , Madrid: Alianza, 2016), do mesmo modo que a francesa de François-Xavier Dillman (L´Edda  ( L´Edda , Paris: Gallimard, 1991) e a italiana de Giana Chiesa Isnardi (Edda (Edda di Snorri , Milano: Tea, 2003). Todas as traduções da Edda em Prosa  para línguas neolatinas omitiram a segunda parte do Skáldskaparmál  (que inclui catálogos de sinônimos poéticos) e o Háttatál por completo, do mesmo modo que a edição em inglês de Jesse Byock (The ( The Prose Edda , Penguin, 2005). Ao espanhol, a primeira seção do Háttatal do Háttatal foi traduzida inteiramente,  junto a uma sinopse das estrofes 9 a 102, no no livro Poesía antiguo-nórdica , de Luis Lerate (Alianza Tres, 1993).

3.

Poesia escáldica 

Conceito : Trata-se de um gênero poético criado individualmente pelos poetas da Era Viking (skáld  (skáld , escaldo), composto não somente na Islândia, mas também na Noruega.

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 A poesia era associado associado com Odin e o mito do roubo do hidromel, associado eestreitamente streitamente a arte poética com a Mitologia Nórdica. Muitos poemas descrevem os deuses bem antes da conversão, com especial ênfase em Thor, mas apenas a penas em seu aspecto de combate aos gigantes (sem nenhuma referência a promotor de fertilidade, por exemplo). As narrativas escáldicas não são religiosas, mesmo em seu uso como metáforas mitológicas e da relação entre kenningar e mito (Lindow, 2005, p. 27), tendo como temas bravas proezas, conflitos de honra, sortes trágicas, relações amorosas, elementos didáticos e burlescos, mito e magia, cuja ação é exposta de modo direto e simples, mas ao mesmo tempo sendo um refinado produto artístico. Algumas obras poéticas foram baseadas em imagens heroicas e míticas pintadas em escudos pendurados nos salões reais (Lerate, 1993, 1993 , pp. 9-18). Interpretações : Além de qualquer associação mítica, a poesia escáldica era uma mercadoria na Escandinávia Medieval, usada para conferir ou destruir a honra e como consequência, considerada um poderoso agente no dinamismo político e social da época. Príncipes podiam recompensar os elogios poéticos com navios com ouro, assim como um mau poeta podia perder a cabeça (Whaley, 2007, p. 480). A maior característica da poesia escáldica, descontando sua métrica, é o seu uso de d e kenning – uma construção perifrásica e metafórica. Ao utilizar kenningar de mitos, a audiência do poeta deveria ter um bom conhecimento das narrativas em geral, pois elas não eram um bom meio de se ter aprendizado sobre mitologia. Apesar das dificuldades de se analisar a poesia escáldica, ela é importante para se compreender como os mitos foram modificados com o tempo, sendo uma das poucas evidências diretas do período pagão (Abram, 2011, p. 16). Edições : O pesquisador Ernest Albin Koch realizou uma grande coletânea da poesia escáldica em nórdico antigo, Den norsk-isländska skaldediktningen (dois volumes, Lund, 1946 e 1949). Porém a mais completa sistematização do tema é  The skaldic Project  contando com acesso a poesia rúnica, textos em nórdico antigo, manuscritos, escaldos, editores, bibliografia e vários mecanismos de busca. A editora Brepols prevê a publicação de oito volumes do projeto, sob a organização geral de Margaret Clunies Ross,  já contando com várias edições (Poetry (Poetry from treatises on poetics , com as seções poéticas do Skáldskaparmál , Háttatal e Háttallykill ; Poetry in Fornaldarsǫgur , com os poemas inseridos nas sagas lendária; Poetry from the King´s sagas , com os poemas das sagas reais).

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Traduções : em inglês as traduções mais populares são de Lee Hollander, com  várias edições e reedições (Old (Old Norse Poems   ee The Skalds: A Selection of Their Poems )).. Em espanhol uma boa coletânea de poesia escáldica com conteúdo mitológico foi traduzida por Luis Lerate (Poesía ( Poesía antiguo-nórdica: antologia siglos IX-XII , Alianza Tres, 1993), com destaque para Ynglingatal , Haraldskvæði , Hákonarmál  e  e Þórsdrápa . No português até o momento temos somente um poema escáldico traduzido diretamente do nórdico antigo, Þórsdrápa (Canção de elogio ao deus Þórr) , Þórr) , realizado por Yuri Fabri Venâncio, integrante do livro online  online Desvendando os viking: estudos de cultura nórdica medieval  (2016).

Detalhe da Igreja de Hylestad, Noruega, séc. XII, contendo cena da Mitologia Nórdica.   Nórdica.

4.

As sagas lendárias 

Conceito : As fornaldarsögur  (sagas lendárias) são um subgênero ddas as sagas islandesas, caracterizadas por serem anônimas e tendo como escopo narrativas envolvendo heróis num universo lendário e mítico. As 25 sagas lendárias possuem relação direta com a tradição éddica e com a tradição germânica antiga, como Beowulf   e a Canção dos Nibelungos . Trata-se de um gênero híbrido entre o mundo heroico, o mito, o folclore e o romance r omance continental, realizadas essencialmente para entretenimento, mas

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também associadas ao aprendizado aristocrático no contexto do século XII. Não possui  valor histórico como as sagas de família (Tulinius, (Tulinius, 2007, pp. 447-461). Interpretações : Alguns pesquisadores identificam três tipos de paganismo nas sagas lendárias: a nomeação direta dos deuses e as formas de práticas rituais; os remanescentes menos transparentes da tradição mitológica; o uso inconsciente de elementos que provavelmente tiveram alguns elementos dos antigos ritos pagãos (Schjødt, 2008, p. 102). Para outros, entretanto, o paralelo entre o conteúdo das sagas lendárias e as tradições antigas dos mitos e ritos nórdicos nem sempre pode ser estabelecido (ou sequer existe) e deve ser comparado a outros tipos de literatura fantástica (Abram, 2011, p. 24). Edições: A Edições:  A quantidade de edições em nórdico antigo das sagas lendárias é muito  vasta, mas pode ser rastreada em detalhes pelo portal Stories for all time: The Icelandic fornaldarsögur  (http://www.fasnl.ku.dk), mantido pela Universidade de Copenhage. Nele também é possível consultar os diferentes manuscritos medievais, todas as traduções disponíveis em várias línguas por cada saga, além de bibliografias especializadas. Traduções : Para o inglês, uma excelente ferramenta de busca das traduções disponíveis é o site  site An  An Index to the CompleteFornaldarsögur Norðurlanda in English Translation .  Na França uma grande quantidade de sagas recebeu inúmeras edições e traduções desde o final do século XIX, mas destacamos essencialmente as traduções de Régis Boyer: Saga des Völsungar ; Saga de Hervöret duroi Heiðrekr ; Saga de Hrólfr kraki ; Saga de Gautrekr ; Saga de Saga d ’ Oddr aux Flèches ; Saga de Ketillle Saumon ; Saga de Sturlaugr l ’ ’ Industrieux  Industrieux . Em italiano algumas sagas lendárias foram traduzidas, como La saga di Hervor  (Unipress,  (Unipress, 1993), La 1993), La saga dei Volsunghi  (Edizioni  (Edizioni dell'Orso, 1993), e La saga di Bósi  (Carocci,  (Carocci, 2008). Na Espanha todas as sagas lendárias foram traduzidas, com destaque para Saga de los Volsungos  (Editorial Gredos, 1998); Saga de Ragnar Calças Peludas  (Tilde,  (Tilde, 1998); Sagas islandesas  (Madrid, 2003); Sagas islandesas de los tiempos antigos  (Miraguano, 2007); Saga de Fridthjóf el Valiente y otras sagas islandesas  (Miraguano,   (Miraguano, 2009); Saga de Yngvarel Viajero y otras sagas legendarias de

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Islandia  (Miraguano, 2011); Saga de Hervör  (Miraguano, 2008); Saga de Bósi (Miraguano, 2014).  A única única saga lendária lendária tra traduzida duzida em nossa língua vernacular até o momento foi Saga dos Volsungos  (São  (São Paulo: Hedra, 2009), com tradução do nórdico antigo ao português de Theo Borba Moosburger. Trata-se de uma bela edição, com uma detalhada introdução analítica, excelentes notas de rodapé e um resumo narrativo em seu desfecho. Destacamos ainda uma importante fonte literária para o estudo dos mitos nórdicos, mas que pertence ao subgênero das sagas reais, a Ynglinga saga , tradicionalmente também creditada a Snorri Sturluson. Incluída na primeira parte do Heimskringla, descreve a história da dinastia dos Ynglingos e a chegada dos deuses na Escandinávia, como Freyr. A perspectiva evemerista lembra muito o Prólogo da Edda em Prosa . Nesta fonte surge a mais famosa descrição dos berserkir, além de comentários sobre Odin, Freyja e outras divindades. Em inglês esta saga está disponível na primeira parte do livro Heimskringla (The Saga of the Ynglings), traduzido por Lee Hollander (University of Texas, 2009). Em espanhol existe a excelente edição La saga de los Ynglingos , de Santiago Ibañez Lluch (Miraguano, 2012), com uma extensa introdução analisando o contexto social e histórico da saga, os o s manuscritos e os detalhes técnicos da tradução.

Deus Tyr na bracteata de Trollhättan, suécia, período das migrações.  migrações.  

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Fontes iconográficas

Esclarecimento : para acessar os links de cada site sublinhado, consultar o artigo original no blog do NEVE (http://neve2012.blogspot.com/2018/11/uma-introducao-asfontes-da-mitologia.html) Corpus : A cultura material proveniente da Escandinávia antes, durante e depois da Era Viking fornece elementos imprescindíveis para o estudo das crenças deste período, mas nem todas possuem valor para o estudo dos mitos. Nem todas contam algum tipo de estória, sendo apenas meios de informações não narrativas. Os tipos mais comuns de fontes iconográficas utilizadas pelos pesquisadores para o estudo da Mitologia Nórdica são: petróglifos da Idade do Bronze; bracteatas do período das migrações germânicas; estatuetas, pingentes e objetos decorativos decor ativos da Era Viking; estelas rúnicas e pintadas da Era Viking; plaquetas votivas; monumentos nórdicos e cruzes da área anglo-saxã; tapeçarias da Era Viking e do período medieval. Petróglifos da Idade do Bronze : diversas pinturas e gravuras (petróglifos) realizados na Escandinávia durante o período do Bronze, sendo grupo mais importante as pinturas rupestres de Tanum, Bohuslän (sul da Suécia), datadas de 1.800 a 400 a. C. Diversos mitólogos (como Régis Boyer e Hilda Davidson) acreditavam que algumas destas representações poderiam remeter a divindades nórdicas (como Odin e Thor) muito antes da chegadas dos povos germânicos ao local, uma hipótese bem polêmica e contestada. Não há como relacionar diretamente as cenas da arte rupestre com todas as fontes medievais da mitologia germano-escandinava, mas algumas pesquisas indicam que certos elementos, como questões cosmológicas, parecem estar extremamente inseridas nestas imagens. A jornada do Sol, representações de árvores e animais cósmicos, símbolos solares, pássaros, armas, embarcações e cogumelos, símbolos e formas geométricas não figurativas contém diversas conexões com narrativas preservadas muito tempos depois ou então, com elementos da mitologia indo-européia (Kristiansen, 2010, pp. 93-115). O site  site Underslös Museum  fornece uma extensa galeria de fotografias sobre os principais painéis de diversos sítios rupestres escandinavos, além de estudos analíticos e arquivos de imagens por temas (motivos) dos conjuntos.

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Bracteatas : Constituem em tipos de medalhões ou moedas de ouro utilizadas como ornamentos durante o período das migrações germânicas (ver verbete Bracteatas no Dicionário de História e Cultura da Era Viking , São Paulo, Hedra, 2017). Diversos acadêmicos estão convencidos que muitas imagens destes objetos trazem alusões a divindades como Odin e seu cavalo (também junto a símbolos como suásticas, lanças e formas não figurativas), Tyr tendo a sua mão devorada, Freyr, Balder sendo morto por Höðr, etc. O site  site  Arild Arild Hauges Runer  fornece um ótimo índice tipológico e fotográfico destas fontes. Estelas rúnicas e pintadas da Era Viking : Existem centenas de objetos e monumentos nórdicos contendo imagens associadas direta ou indiretamente aos mitos. Nem sempre estas imagens possuem conexão com o conteúdo das inscrições rúnicas dos monumentos. As cenas mais comuns nas estelas rúnicas são as que se relacionam com o ciclo nibelungiano, especialmente a morte de Fáfnir por Sigurd. Uma excelente tipologia analítica destes monumentos é disponível no livro The Viking-Age Rune-Stones , de Birgit Sawyer (Oxford, 2003), inclusive com descrições de imagens por monumentos (p. 233). Outra importante publicação contendo extensas imagens de monumentos, objetos, painéis e bracteatas com conteúdos mitológicos é Anthologie é Anthologie Runique , de Alain Marez (Les Beles Lettres, 2007). A tese de doutorado de Marjolein Stern (Runestone ( Runestone images and visual communication in Viking Age Scandinavia, Universidade Scandinavia,  Universidade de Nottingham, 2013) não traz fotografias, mas contém uma tabela infográfica com a relação de quase todas as estelas rúnicas da Era Viking que contém imagens, inclusive com descrição detalhada de cada uma (incluindo temas mitológicos), ou seja, um instrumento imprescindível aos pesquisadores. O site  site Runor  contém uma ampla variedade de fotografias de monumentos rúnicos, bem como  como   Arild Arild Hauges Runer .  Os monumentos mais importantes para o estudo da Mitologia Nórdica são as estelas da ilha de Gotland, Suécia, contendo diversas cenas importantes, como a pesca da serpente do mundo, a entrada ao Valhalla, cenas de batalhas, valquírias, Odin, entre outras. O livro Stones, ships and symbols (Gidlunds, 1988; tradução em francês: Les  pierres gravées de Gotland  Got land , Michel de Maule, 2007) de Erik Nylén e Jan Lamm contém uma das melhores tipologias e recenseamento dos monumentos, com ampla quantidade de imagens e análises. Destacamos ainda o estudo em português  português As  As estelas da ilha

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deGotland e as fontes iconográficas da mitologia viking  com uma proposta de classificação tipológica deste material. Hogbacks, monumentos e cruzes da Inglaterra : Uma série de monumentos nórdicos foram realizados durante o período de ocupação da Inglaterra anglo-saxônica, alguns ainda em um contexto pagão e outros já hibridizados com o cristianismo. Alguns destes objetos tratam do mundo odínico e seus símbolos (como os hogbacks), mas mesmo cruzes cristãs contém cenas mitológicas (a pesca da serpente do mundo por Thor, a morte de Odin, cenas do Ragnarok, entre outras). Para imagens destas fontes, consultar os livros Viking Age Sculpture in Northern England  (Collins   (Collins Archaeology, 1980) e Early medieval stone monuments  (Boydell, 2015). O site site  The corpus of Anglo Saxon StoneEsculptures  possui um amplo arquivo fotográfico separado por regiões e monumentos. Um estudo em português sobre o tema é  é A  A morte de Odin? As representações doRagnarök na arte das Ilhas Britânicas .  Tapeçarias nórdicas : Um excelente material para estudo de diversos cenas e motivos míticos são uma série de tapeçarias feitas para decorações em parede da Era Viking e período medieval. Para informações detalhadas de cada uma, consultar os  verbetes Tapeçaria de Bayeux, Oseberg, Överhogdal e Skog, incluídos no Dicionário de História e Cultura da Era Viking (São Paulo, Hedra, 2017). Para boas imagens destas fontes, consultar o  o Jamtli museum , Kulturhistoriskmuseum  e Statens historiska museum .  6.

Instrumentos de pesquisa: 

Recursos linguísticos : É recomendável aos estudantes e pesquisadores o estudo do idioma vernacular dos manuscritos, algo indispensável com o avanço individual de cada pesquisa. Em espanhol, um excelente manual introdutório é Antiguo é Antiguo islandês: islandês: Historia y lengua , de Maria Pilar Fernández Álvarez (Madrid: Ediciones Clásicas, 1999). Além de um detalhado panorama histórico, a autora fornece diversos elementos fonéticos, morfológicos e sintáticos da língua. Recentemente foi publicado o manual Viking Language , em dois volumes (Jules William Press, 2013) de Jesse Byock. Também existem excepcionais obras de consulta e referência, como A como A Concise Dictionary of Old Icelandic  (Geir  (Geir Zoega), An Zoega), An Icelandic-English Icelandic-English Dictionary (Cleasby & Vigfússon), A Vigfússon), A New Introduction to Old Norse (Michael Barnes), An Barnes), An elementary grammar of the Old

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Norse  (George Bayldon) e English-Old Norse Dictionary  (Ross Arthur). A  Viking Society Web Publications  mantém excelentes ferramentas básicas em seu site, como uma introdução às fontes, gramática e um glossário. Também existem cursos introdutórios online mantidos por universidades, como a do Texas do  Texas ou independentes (Old Norse for Beginners ). Um formidável sistema de referência é a ferramenta online online  Dictionary of Old Norse Prose , mantida pela Universidade de Copenhagen. Recursos bibliográficos: Os melhores referenciais bibliográficos, conceituais e analíticos básicos para os estudantes de Mitologia Nórdica foram incluídos na obra Old Norse-Icelandic Literature , 2005, de Clover e Lindow. No primeiro estudo (Mythology and Mythography), o pesquisador John Lindow fornece uma densa e magistral análise mitográfica dos estudos sobre a área nórdica, conciliando num mesmo texto tanto as críticas detalhadas das inúmeras fontes literárias como de suas diferentes interpretações e análises. Em outro capítulo deste livro (Eddic poetry), Joseph Harris detalha diversas interpretações codicológicas dos manuscritos da poesia éddica, as tendências literárias de interpretações, as métricas e seus estilos, questões de datações e origem dos poemas, a teoria oral e suas aplicações no mundo nórdico e por último (mas não menos importante), uma vasta e detalhada bibliografia final separada por tema e conteúdo, além de indicações bibliográficas para cada fonte primária.  Algumas das mais elegantes e paradigmáticas coletâneas de estudos sobre a Mitologia Nórdica foram editadas por Paul Acker e Carolyne Larrington (The ( The Poetic Edda: essay on Old Norse Mythology , 2002 e Revisiting the Poetic Edda: Essays on Old Norse Heroic Legend , 2011). A primeira tem pelo menos quatro estudos indispensáveis para todos os pesquisadores: a escritora Svava Jakobsdóttir realiza uma brilhante análise análise do hidromel da poesia; Joseph Harris examina o tema das maldições na poesia éddica; Preben Sørensen realiza o mais famoso estudo sobre a pesca da serpente do mundo pelo deus Thor; Thomas Hill analisa o poema Rígstula . No segundo livro, outros estudos são igualmente importantes, como a análise do dragão nórdico nas artes, por Paul Acker, bem como Judy Quin analisando o Gróttasöngr , entre outros.

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Em língua portuguesa o melhor recurso bibliográfico é o Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos , publicado pela editora Hedra em 2005. Contando com a participação de 22 pesquisadores nacionais e estrangeiros, 210 verbetes e mais de quarenta ilustrações. O dicionário detalha amplamente os mais variados deuses, deusas, narrativas, localidades, fontes primárias, temas, símbolos, sagas, apresentando em cada  verbete específico indicações bibliográficas extremamente atualizadas. atualizadas. Recursos da internet : alguns sites (a exemplo do  do Germanic Mythology , fornecem ampla variedade de documentos para pesquisa, de obras analíticas desde o século XVIII até os nossos dias (Scholarship), dicionários e ferramentas linguísticas (Reference Works), narrativas e imagens artísticas (Retelling & illustration galleries).  galleries).  The norse mythology blog  é outro local com arquivos e seções interessantes. Em língua portuguesa o melhor recurso online é o site do NEVE (Núcleode Estudos Vikings e Escandinavos )  com acesso a diversos livros, artigos, eventos, dissertações e teses, periódicos e ensaios sobre Mitologia Nórdica. 7.

Conclusão: a pesquisa de Mitologia Nórdica no Brasil  

Fornecemos ao longo deste artigo os principais instrumentos bibliográficos para o estudo das fontes da Mitologia Nórdica, principalmente aos estudantes de graduação e pósgraduação em Ciências Humanas e mais especialmente, aos estudantes de Ciências das

 

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Religiões. Com o tempo, os interessados podem iniciar seus projetos de pesquisa na Escandinavística. Não é fácil escolher um bom tema para pesquisa, mas isso não significa que é impossível. Para o iniciante nos estudos nórdicos, pode parecer muito complicado eleger um assunto que seja original, uma abordagem inédita ou uma problemática que poucos tenham analisado, mas com a experiência, as leituras e o avanço nas pesquisas, o estudante vai perceber que existem ainda muitas possibilidades de investigação. Uma sugestão é na medida em que for lendo as fontes da Mitologia Nórdica, escolhendo algum método de análise e lendo as bibliografias secundárias, entre em contato com os escandinavistas do NEVE e troque informações ou solicite auxílio nesta ocasião. O intercâmbio em muitos casos pode auxiliar muito a escolha de temas e abordagens, especialmente dentro da academia brasileira e suas diversas possibilidades, especialmente nas Ciências das Religiões, História e Letras. Quase tão importante quanto escolher uma fonte, um recorte espaço temporal e uma perspectiva teórica, é definir um método de pesquisa. Geralmente os estudantes brasileiros de mitologia acabam convergindo para algum autor da fenomenologia, visto que é a vertente mais traduzida até hoje em língua portuguesa. Mas existem outras opções, mais interessantes e coerentes, como o estruturalismo e pós-estruturalismo, a Escola de Paris, a Nova Mitologia Comparada, a História das Religiões Italiana, entre outras. Mas acima de tudo deve-se manter a perseverança. A Escandinavística no Brasil ainda é um campo não consolidado e muitos professores universitários ainda percebem com desconfiança qualquer interesse no estudo dos mitos nórdicos. Neste sentido, o melhor campo de pesquisa e atuação é o das Ciências das Religiões, com diversos cursos de graduação e pós graduação em nosso país. Pesquise o que goste, mas também seja ponderado e não abandone suas metas. No fim, o resultado pode ser alcançado. Não existem cursos de pós graduação com foco ou ênfase objetiva nos estudos de Mitologia Nórdica, ao menos no Brasil. A possibilidade é ingressar em algum mestrado ou doutorado acadêmico em áreas genéricas como História, Ciências Sociais ou Letras –  mas principalmente Ciências das Religiões - e ter o projeto de pesquisa voltado para o estudo de alguma narrativa mítica da d a área escandinava. A maior dificuldade é encontrar

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algum professor cadastrado em algum programa que tenha interesse em orientar esse tema, visto que grande parte dos medievalistas tem outros temas de pesquisa. Mas a melhor opção atualmente em nosso país são os o s programas de pós graduação em Ciências das Religiões, como os cursos de São Paulo (PUC-SP) e Minas Gerais (UFJF) e em várias v árias cidades e capitais do país. O curso com mais pesquisas defendidas e em andamento sobre Mitologia Nórdica a nível de mestrado e doutorado é o  o  Programa de Pós Graduação em Ciênciasdas Religiões da Universidade Federal da Paraíba.  Paraíba.  Referências B ibliográfi ibliográficas: cas: 

 ABRAM, Christopher. Myths of the pagan North : the gods of the norsemen. London: Continuum, 2011. BOULHOSA, Patricia Pires. A *mitologia escandinava de Georges Dumézil: uma reflexão sobre método e improbabilidade. Brathair  6(2),  6(2), 2006, pp. 3-31. DRONKE, Ursula. The manuscripts. The Poetic Edda . Oxford: Clarendon Press, 1997, pp. xi-xii. FAULKES, Anthony. Introduction. Edda : Prologue and Gylfaginning. London: Viking Society for Northern Research, 2005. GUNNELL, Terry. Eddic poetry. In: McTURK, Rory (org.). A (org.). A companion to Old N Norse orse Icelandic Literature and culture . London: Blackwell Publishing, 2007, pp. 82-100. HOLLANDER, Lee M. General introduction. The Poetic Edda . Austin: University of Texas, 2008, pp. x-xxix. KRISTIANSEN, Kristian. Rock art and religion. In: FREDELL, A. & KRISTIANSEN, Kristian (Eds.). Representations and communications : creating and archaeological matrix of late prehistoric rock art. London: Oxbow Books, Book s, 2010, pp. 93115.   115. LANGER, Johnni (Ed.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015.

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LANGER, Johnni. Teorias e métodos para o estudo da Mitologia Nórdica. Rever 18, 2018. LERATE, Luis. Poesía antiguo-nórdica . Madrid: Alianza Editorial, 1993. LINDOW, John. Norse mythology : a guide to the gods, heroes, rituals, and beliefs. Oxford: Oxford University Press, 2005. SCHJØDT, Jens Peter. Initiation between two worlds : structure and symbolism in prechristian scandinavian religion. Odense: The University Press of Southern Denmark, 2008. TULINIUS, Torfi. Saga as a myth: the Family sagas and social reality in 13th-century Iceland. In: BARNES, Geraldine & ROSS, Margaret Clunie (eds.). Old Norse Myths, Literature and Society  (Proceedings  (Proceedings of the 11th 11t h International Saga Conference). Sydney: Centre for Medieval Studies, 2000, pp. 526-539. 526 -539. WHALEY, Diana. Skaldi poetry. In: MCTURK, Rory (Ed.). A (Ed.).  A companion to Old Norse-Icelandic Literature and culture . London: Blackwell, 2007, pp. 479-502.

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Dísablót , 1885, August Malmström

RITOS NÓRDICOS PRÉ-CRISTÃOS: GUIA DE FONTES E BIBLIOGRAFIA  BIBLIOGRAFIA  Johnni Langer  As expressões religiosas que antecedem o cristianismo na na Escandinávia constituem um grande interesse popular a acadêmico até nossos dias. A finalidade deste pequeno texto é conceder algumas indicações básicas de fontes primárias e documentais sobre os cultos/ritos da(s) religião nórdica pré-cristãs, não sendo um levantamento completo. A grande maioria dessas fontes não está disponível em português (quando existir, indicamos). De forma geral não relatamos fontes mitológicas ou míticas, estas consideradas integrantes da dimensão “teórica teórica”” da religião (Hock, 2010, p. 145, tratamos das fontes das  fontes da Mitologia Nórdica em outra publicação) publicação),, mas sim elencamos as indicações das expressões “ práticas ” , relacionadas aos rituais, aos templos, às celebrações comunitárias e privadas. A variabilidades das fontes documentais é muito grande e a grande maioria foi produzida após a cristianização, sendo as discussões sobre a historicidade, confiabilidade e interpretações de cada documento particular a cada contexto. Após a indicações dos conjuntos temáticos de fontes, elencamos algumas

 

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críticas documentais que podem auxiliar na interpretação dos conteúdos. A maioria das fontes indicadas pertence à Escandinávia Medieval e algumas à Antiguidade germânica e/ou de origem não escandinava. Grande parte das descrições são puramente superficiais e sintéticas e algumas com poucos detalhes. O estudo dos ritos nórdicos pré-cristãos deve envolver vários tipos de metodologias, como os estudos comparados, imprescindíveis para um tema tão fragmentado. 63 

Esclarecimento : para acessar os links de cada fonte sublinhada, consultar o artigo original no blog do NEVE (http://neve2012.blogspot.com/2020/08/ritos-nordicos-precristaos-guia-de.html) Ritual de nascimento:  nascimento:  Rígsþula  34 Helgakviða Hundingsbana  1-8 Discussão e crítica documental : Schjødt, 2008, pp. 328-330.

Ritual de morte e funeral:  funeral:  Risala , Ibn Fadlan, séc. IX. Tradução ao português: FA ḌLAN, A ḥmad Ibn. Viagem ao Volga . Tradução: Pedro Martins Criado. São Paulo: Carambaia, 2018.  2018.  Resenha crítica   Gísla saga  cap. 14 e 17 Discussão e crítica documental:   Schjødt, 2008, pp. 335-351; Price, 2012, pp. 13-46; Davidson, 2001, pp. 134-13; Dubois, 2006, pp. 75-76.

Rituais de iniciação guerreira  guerreira  Fornaldorsögur (em especial a   Hrólfs Hrólfs saga kraka  cap. 50),

 

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Germânia de Tácito, cap. 31, traduzido 31, traduzido ao português Böðvars þáttr bjarka  cap. 22 e 33 Ynglinga saga  cap.  cap. 3 Discussão e crítica documental:  Schjødt,  Schjødt, 2008, pp. 352-355; Schjødt, 2011, 269-298 64 

Ritual da irmandade de sangue:  sangue:   Gísla saga Súrssonar  cap. 6 Fóstbræðra saga  cap. 2 Þorsteins saga Vikingssonar  cap. 21 Gesta Danorum  I, vi, 7 Discussão e crítica documental:  Schjødt,  Schjødt, 2008, pp. 355-372.

Ritos públicos e comunais  comunais  Hákonar saga in góða  cap. 14, 16  Adão de Bremen,  Bremen, Gesta hammaburgensis Eclesiae Pontificum  4: 26-30 Guta saga , apêndice Ynglinga saga  cap. 8, 18 Gylfaginnng cap. 37 Fornmanna Sögur VI, 99

 

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Egils saga cap. 56 Landnámabók  H, 268 Eyrbyggja saga  cap. 2, 4 Viga-Glúms saga cap. 44 65 

Kjalnesinga saga  cap. 2 Vida de São Columbano Discussão e crítica documental: Hultgård, 2008, pp. 215-217; Dubois, 2006, pp. 75-76; Davidson, 2001, pp. 89-98; Davidson, 1988, pp. 36-68.

Rituais mágicos e proféticos  proféticos  Seiðr/varðlokur: Eiríks saga rauða, tradução em português: em Três sagas islandesas . Curitiba: UFPR, 2007. Tradução de Théo Borba Moosburger.  12; Ragnarsdrápa  15; 15;  Sturlubók  145; 145;   Ágrip Ágrip af Seidr:  Lausavísa 6; Hákonarkviða  12;  Nóregskonugasögum 20;  20; Hyndluljóð  33;  33; Harald Saga Híns Hárfagra  36; 36;  Orms þáttr Stórólssonar  6;  6; Laxdœla saga  37; 76;  76; Gísla saga Súrssonar  18; 18;  Vatnsdæla saga  10, 12, 26; Brennu-Njáls saga  30  30 (Tradução ao português); português); Örvar-odds saga  239; 239;  Hrólfs saga kraka  3, 48; Ectors saga  6;   6; Historia Norwegie ; Diplomatarium Islandicum  I, 240-4, II, 223, 604; Outras práticas mágicas, proféticas e/ou feitiçaria: Grettir saga  cap. 79, 81 Egill saga  cap. 57 Brennu-Njáls saga  cap.  cap. 123 Tradução 123 Tradução ao português

 

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Bjarnar saga Hítdælakappa cap. 17 Óláfs saga Tryggvasonar  cap. 57 Knýtlingasaga  cap. 101 Fornsvenska legendariet 66 

Norges Gamle Love  I, 19, 182, 265, 350 Den ældre Eidsvathing-christenret  1.24, 45 Discussão e crítica documental: DuBois, 1999, 121-138; Langer, 2010, 177-202; Boyer, 1986, pp. 1432-192; DuBois, 2006, pp.76-77; Mitchell, 2011, pp. 41-174; Tooley, 2009, pp. 82-200; Cosmini, 2012, pp. 335-359.

Ritos a Odin  Odin  Ynglinga  cap. 9 Eyrbyggja Saga  cap. 4, 44 Völuspá , tradução ao português Hávamál , tradução ao português Gautreks saga cap. 7 Gesta Danorum   Discussão e crítica documental: Davidson, 2001, pp. 98-101; Lassen, 2006, pp. 280-284.

Ritos ao deus Thor  Thor 

 

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 Adão de Bremen, Historia Hammarbungensis Ecclesiae IV, 27 Flateryjarbók I, 268/320 Landnámabók  H, 184 Eyrbyggja saga  cap. 4, 10 67 

Orkneyinga saga Discussão e crítica documental: Davidson, 2001, pp. 101-103; Sonne, 2013, pp. 139-184;  Alves, 2019.

Ritos a Freyr  Freyr  Hrafnkels saga Freysgoða , traduzido ao português em Três sagas islandesas . Curitiba: UFPR, 2007. Tradução de Théo Borba Moosburger. Óláfs saga Tryggvasonar  I, 277, 322, 323/430, 467 Landnámabók  S. 179 Vǫlsa þáttr  

Haralds saga Hárfagra  cap. 15 Discussão e crítica documental: Orton, 2007, pp. 303-305; Davidson, 2001, pp. 103-106; Langer, 2013, pp. 104-125; Dubois, 2006, pp. 76

Ritos sazonais/estações  sazonais/estações  Discussão e crítica documental: Boyer, 2001, pp. 141-142

 

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Culto aos mortos  mortos  Ynglinga saga  cap. 10 Óláfs saga Helga  II, 6 Hálfdanar saga Brönufóstra  cap. 9 68 

Víga-Glúms saga  cap. 26 Óláfs saga Tryggvasonar  I, 174, 206 Sturlunga saga  cap. 136 Discussão e crítica documental: Davidson, 2001, pp. 122-126.

Ritos e religiosidade popular  popular   Austrfararvísur ,  Grágás 1, 38 Íslendingabók   Kormáks saga Discussão e crítica documental: Raudvere, 2012, pp. 235-237; Cosmini, 2012, pp. pp . 335-360.

Álfablót   Álfablót Kormáks saga  cap. 22 Ynglinga saga  cap. 44, 48, 49

 

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Discussão e crítica documental: Langer, 2015, pp. 23-24; Simek, 2007, pp. 7-8.

Dísablót   Dísablót Hervarar saga ok Heiðreks   69 

Víga-Glúms saga  cap. 6 Egils saga cap. 44 Ynglinga saga  cap. 33 Discussão e crítica documental: Simek, 2007, pp. 60-61.

Objetos ritualísticos e sítios rituais  rituais  Documentação arqueológica e iconográfica Discussão e crítica: Simek, 1993, pp. 54-55; Gräslund, 2012, pp. p p. 249-256; Carlie, 2006, pp. 206-211; Larsson, 2007, pp. 11-25.

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DAS RUNAS E PEDRAS RÚNICAS: GUIA VISUAL Leandro Vilar  A proposta desse texto foi de apresentar alguns aspectos a spectos centrais sobre as pedras rúnicas ou estelas rúnicas, monumentos memorialistas erguidos na Escandinávia entre os séculos V ao XII. Os quais em geral apresentavam homenagens para pessoas vivas ou falecidas. Tal prática vivenciou um considerável aumento especificamente no território sueco, entre os séculos XI e XII.

Introdução: o alfabeto   Para entender porquerúnico  as pedras rúnicas eram chamadas como tais, se faz necessário saber o que seria a palavra rúnico, o qual advém da palavra runa, termo utilizado desde o século XVI, para se referir a um tipo de alfabeto de origem europeia, originado por volta do século II ou III d.C. em território germânico. No caso, a origem das runas não é precisa, sabe-se que os vestígios mais antigos foram achados em inscrições localizadas no que hoje é o sul da Alemanha e sul da Suíça, territórios ocupados por povos germânicos e celtas, e sob dominação romana já no século II d.C. (PAGE, 1999). De qualquer forma, o emprego desse alfabeto foi utilizado por diferentes povos germânicos e celtas, não sabendo-se exatamente quais desses povos que foi responsável

 

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pela criação desse alfabeto, o qual apresenta inspiração no alfabeto latino e talvez também no alfabeto grego. Alain Marez (2007) comentou que no século XIX e começo do XX, runólogos e filólogos realizaram pesquisas na tentativa de identificar a origem das runas. Uns defendiam que elas seriam de origem naturalmente germânica, inclusive com a possibilidade de conter elementos indo-europeus. Os que defendiam essa hipótese eram adeptos do nacionalismo pan-germanista do XIX, o qual influenciou as artes e as ciências. Por outro lado, havia runólogos que defendiam a hipótese grega para a origem das runas, como o linguista sueco Otto von Friesen (1870-1942). Outra vertente de hipótese sugeria uma origem baseada no alfabeto latino, como defendia o linguista norueguês Carl J. S. Marstrande (1883-1965). Atualmente a hipótese latina é a mais aceita no meio da runologia.  A palavra runa e rúnico advém do inglês antigo run, a qu qual al foi latin latinizada izada para rune. Todavia, sua aplicação, segundo Raymond Page (1999), somente passou a ser usada no século XVI, quando surgem os primeiros estudiosos interessados em traduzir as inscrições rúnicas. Algumas obras importantes sobre os estudos rúnicos, citadas por Page, são: Runer, seu Danica Literatura Antiquissima (1636), Danicorum Monumetorum Libri Sex (1646) e Specimen Lexici Runici (1650), as quais deram origem a Runologia, ciência linguística que consiste num campo de estudo filológico, cujo principal objetivo é estudar a língua rúnica. Apesar que atualmente runologia também esteja associado com o estudo dos usos e aplicações das runas, não apenas pelo viés filológico e semântico, mas também para se conhecer seus usos históricos, sociais, culturais, etc. Pela condição do alfabeto rúnico ter variado ao longo da História, atualmente os runólogos costumam trabalhar com três variações básicas desse alfabeto, as quais são chamadas de futhark, em referência as primeiras letras que o formam. No entanto, o termo futhark não é originário do medievo, mas consiste num termo criado pelos runólogos para se referir a este alfabeto. O futhark sofreu variações ao longo de séculos, porém, esteve ativo entre os séculos II ao XV, especialmente nos territórios que hoje compreendem a Alemanha, norte da França, Suíça, Holanda, Bélgica, Áustria, Ucrânia, Dinamarca, Noruega, Suécia, Islândia e Inglaterra. Neste caso, sublinha-se que nestes países foram for am adotadas diferentes  versões do alfabeto rúnico. (VENÂNCIO, 2018). Os quais quais basicamente possuem quatro modelos:

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O Antigo Futhark ou Futhark germânico (II-IX), de origem germânica, foi usado em território germânico e escandinavo. Era formado por 24 letras (ou runas) e foi difundido da Suíça até a Suécia. A grafia das runas mudou com o tempo e acabou originando variações principais: origem e outragermânico de origem escandinava.duas Todavia, encontram-se no uma séculodeVIII, umaanglo-saxã for ma de futhark forma já com 21 runas, a qual viria originar a versão escandinava no mesmo século. 76 

Imagem 1: O futhark germânico teve como modelo de inspiração o alfabeto latino, como se nota essa comparação vista na imagem.  A variação anglo-saxã, desenvolvida pelos saxões e frísios, foi levada durante as migrações dos saxões para a Bretanha, passando a ser adotada ao lado do alfabeto latino introduzido pelos missionários cristãos. Devido a essa longeva convivência entre os dois alfabetos, o futhorc como passou a ser conhecido, acabou adotando novas runas, passando a possuir 28 runas, mas alguns modelos mais tardios desse alfabeto, datados dos séculos IX e X, apresentavam até 34 runas.

 

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Imagem 2: Versão do futhorc com 34 runas.

O Novo Futhark ou Futhark escandinavo (IX-XII), usado principalmente em território escandinavo, sendo uma variação do futhark germânico, é um caso atípico, segundo dito por Marez (2007), pela condição de que ao invés de ter mantido o número de 24 runas ou tê-lo ampliado, como ocorreu com o futhorc, f uthorc, a versão escandinava reduziu a quantidade de letras para 16. No entanto, além dessa redução na quantidade de letras, surgiu também variações gráficas como a versão de Rök, surgida no século IX, na Noruega e Suécia, a qual alterava a grafia das runas 8 a 16. A outra versão foi a de Hälsingland, oriunda na Suécia, no século XI, a qual alterava a grafia de todo o alfabeto, simplificando as runas.

 

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Imagem 3: As três variações do futhark escandinavo.

Os três alfabetos possuem algumas variações na quantidade de letras, grafia e pronúncia. Tendo sido utilizados ao mesmo tempo em locais distintos, e até interagindo um com o outro, já que se apresentavam como variações fonéticas das línguas pelos quais foram adotados. Entre essas línguas estavam o rúnico, gótico, antigo frísio, antigo altoalemão, antigo2018). baixo-alemão, anglo-saxão (ou inglês antigo), nórdico antigo, etc. (VENÂNCIO, Embora com o fim da Era Viking o uso do futhorc e do futhark escandinavo tenha diminuído, isso não significou que a utilização desse alfabeto teve fim, escritores da Baixa Idade Média (XI-XV) fizeram novos usos para as runas, no que resultou na origem do futhark medieval, surgido no século XII e usado até o XV. Esse novo alfabeto possuía 22 a 23 letras e era baseado no alfabeto latino. Sua origem é escandinava, tratando-se de uma adaptação do futhark escandinavo. A adoção de mais letras devia-se ao fato de que os países nórdicos agora cristianizados, passavam a fazer parte da Europa cristã, na qual o latim era a língua erudita. No entanto, os eruditos er uditos escandinavos não abandonaram sua

 

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língua de vez e criaram uma versão nova do antigo alfabeto rúnico. O qual foi usado para redigir manuscritos. (KNIRK, 2016).

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Imagem 4: O Codex Runicus (XIII), contendo as Leis da Escânia.

 Alguns usos para as runas:    Apresentado essas informações sobre o alfabeto rúnico, não foi de nosso intuito aprofundar tal discussão, por se tratar de um debate filológico. Assim, prosseguiremos para os usos atribuídos as runas. Pela condição de se tratar de um alfabeto, evidentemente que seu uso central era a escrita, todavia, o intuito dessa escrita, ou melhor, seu conteúdo e motivo, eram variados. As runas foram utilizadas em distintos suportes: madeira, metal, osso, pedra, pergaminho, etc. sendo encontradas em objetos diversos como espadas, escudos, elmos, broches, amuletos, joias, pentes, facas, utensílios, objetos votivos, etc. além de terem sido gravadas em monumentos como as pedras rrúnicas, únicas, terem sido gravadas em móveis, navios, barcos, paredes, rochas, etc. O uso dado as runas inclusive variavam de acordo com o suporte material que ela se encontrava. (SAWYER, 2006).  As runas foram usadas em geral para formar frases curtas, curtas, associadas com o intu intuito ito de informar que determinado objeto pertencia a alguém, ou frases para se pedir boa sorte ou proteção, homenagear alguém vivo, homenagear alguém morto, fazer encantamento ou feitiço, fazer maldições, informar sobre determinado feito realizado por alguém (batalha, conquista ou viagem são os temas mais comuns). Alguns objetos pessoais continham inscrições com o nome de seus donos, ou com encantamentos mágicos. Já as

 

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runas inscritas em embarcações pediam proteção para a mesma. As pedras rúnicas por sua vez traziam homenagens aos vivos ou aos mortos, ou faziam menções a acontecimentos políticos ou militares, em geral, associados a reis ou chefes. (MAREZ, 2007).Marez (2007) também comentou que a tradição de usar as runas para prestar homenagem aos vivos e aos mortos é antiga e remonta séculos antes do auge da proliferação das pedras rúnicas no século XI. Marez cita que nos séculos V e VII, durante a Dinastia Merovíngia (c. 450-751), a qual reinou sobre os atuais territórios da França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Áustria e Suíça, encontrou-se amuletos chamados de bracteados, os quais alguns, continham inscrições rúnicas dedicando tais amuletos a memória de entes familiares, vivos ou mortos. Marez também salientou que durante a Era Viking a quantidade de inscrições rúnicas de teor memorialista foi algo visto por todo t odo aquele período, encontrando-se relatos memorialistas não apenas na Escandinávia, E scandinávia, mas em outros territórios ocupados pelos nórdicos.

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Imagem 5: Bracteado G 205, encontrado na Suécia e datado do século V, contendo a ” ,  talvez uma referência a Wodan. O objeto também traz uma suástica, inscrição “  Alu ”  símbolo sagrado para os germânicos. Quanto ao uso mágico das runas, esse uso foi observado como assinalado por MacLeod e Mees (2006), os quais apontaram que se encontram inscrições rúnicas contendo encantamentos para se pedir proteção contra má sorte, doenças, perigos, inimigos, acidentes; feitiços se pedindo cura, boa sorte, proteção, amor, fertilidade, etc. com direito que tais inscrições poderiam aparecer em objetos ou outros suportes. As runas também teriam sido usadas para se prever o futuro ou a sorte de d e alguém. Inclusive na mitologia nórdica, sua origem é associada com o deus Odin, divindade relacionada com a sabedoria e os mortos. Embora que atualmente o uso mágico das runas esteja ligado mais a reinterpretações esotéricas e ocultistas, que em alguns casos, usam as runas para fins de adivinhação. Os autores MacLeod e Mess alertam para não achar que as práticas mágicas que hoje fazem uso das d as runas, sejam as mesmas ou parecidas com as que eram feitas no medievo. Runas também foram usadas para a escrita de textos mais longos, como poemas e até crônicas ou outros tipos de relatos. Marez (2007) fala do uso das runas em textos sobre jurisprudência como o Codex Runicus citado acima, o qual consiste em um caso de um documento escrito com o alfabeto rúnico medieval. Outro exemplo do emprego das runas na escrita é citado por Raymond Page (2014), ao abordar abor dar o chamado poema rúnico irlandês, um tipo de poesia utilizada para se fazer homenagens ou dirigir palavras corteses. Page assinala que há outros estilos de poesia, usando runas.  As pedras rúnicas: uma breve definição   Uma pedra rúnica ou estela rúnica consiste em um monumento de pedra, erguido na Idade Média, pelos povos de origem escandinava, entre os séculos V e XII, sendo qque ue muitas dessas pedras foram erguidas no final da Era Viking, no século XI. Após esse período a prática cultural de erguer essas pedras decaiu e foi abandonada. Todavia, o que define uma pedra rúnica não é apenas seu contexto histórico, assinalado acima, mas também a questão de ela trazer runas inscritas em sua superfície. No caso, algumas

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pedras rúnicas poderiam possuir apenas inscrições, enquanto outras traziam inscrições e imagens. Algo que veremos adiante. É preciso sublinhar essa característica da presença de escrita, pois os nórdicos também de outro de figure estela,stone). no caso, as pedras gravadas ou pedras pintadas faziam (pictureuso stone, imagetipo stone, Monumentos que coexistiram no mesmo período das pedras rúnicas, entre os séculos IV ao XI, embora muitos desses ficaram restritos a ilha de Gotland, importante polo rural e comercial do Mar Báltico. A condição de Gotland conter muitas das estelas gravadas levou alguns estudiosos a chamalas de “pedras gotlandesas” gotlandesas” (Gotland stones). No caso dessas estelas gravadas, elas não trazem textos, apenas imagens, as quais retratam pessoas, animais, embarcações, objetos, armas, símbolos, etc. Os mitólogos, historiadores e arqueólogos tendem a interpretar essas cenas como referências ao cotidiano, batalhas, sacrifícios e narrativas mitológicas.

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Imagem 6: A Hammars I, Gotland, Suécia, é o exemplo mais conhecido de pedra  gravada.  A localização das pedras rúnicas   Sabendo do que se trata uma pedra rúnica, vejamos onde elas se localizam e a quantidade que se conhece desses monumentos, para depois, vermos quais eram seus usos e características mais detalhadas. Em 2006 eram estimadas a existência de mais de 3 mil estelas rúnicas, sendo que 90% desse total, estava localizado na Escandinávia (Suécia, Dinamarca e Noruega). Os outros 10% foram encontrados na Inglaterra, Irlanda, ilha de Man, Escócia, etc. Na Islândia não há estelas rúnicas. A maior parte das estelas foram erguidas entre ooss séculos X e XI, na Suécia, o que representa 89% do total de pedras identificadas. (MARJOSTEIN, 2013).  As estelas rúnicas mais antigas foram encontradas na Dinamarca, apesar de pedras gravadas já fossem erguidas em Gotland, por volta do século IV d.C. As pedras encontradas na Dinamarca, faziam uso do Antigo Futhark, até o século IX, quando se passou a adotar o Novo Futhark. (SAWYER, 2006).  A Dinamarca Dinamarca possui possui cerca cerca de 250 estelas rúnicas encontradas, sendo que que a N Noruega, oruega, possui pelo menos 50 estelas detectadas. Já a Suécia concentra cerca de 2.500 estelas, sendo que 1.200, apenas no atual distrito de Uppland. A grande quantidade desses monumentos em território sueco é normalmente atribuída por causa de um grande fluxo de riquezas produzidos no reino, especialmente nas províncias em torno tor no do lago Mälaren,  via aquática que conectava o interior do país com o mar Báltico. Nessa região destacouse cidades como Birka, Sigtuna e Uppsala. A prosperidade local teria favorecido a concentração desses monumentos, já que eram trabalhos dispendiosos, e inacessíveis para algumas camadas sociais menos abastadas. (PRICE, 2015).

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Imagem 7: Mapa da Escandinávia apresentando a localização das d as principais pedras rúnicas. No arquipélago bretão, as pedras rúnicas começaram a ser erguidas no século IX e continuaram até o X, marcando o período períod o das invasões e colonização nórdica na região. (PAGE, 1999). A ocupação ou colonização dinamarquesa e norueguesa de parte da Bretanha, ocorreu durante a Era Viking, período de grande expansão dos povos nórdicos, nórd icos, que coincide com uma expansão do poder político e econômico de monarcas, nobres, ricos fazendeiros e comerciantes que aproveitaram as expedições, invasões, saques, guerras e colonização desse período. (PRICE, 2015). Os usos das pedras rúnicas   Em geral as pedras rúnicas apresentam um uso memorialista, seja para enaltecer os feitos de alguém vivo, ou em homenagem póstuma, a alguém que morreu. A maior parte das homenagens eram concedidas a homens, por seus familiares (esposas e filhos), f ilhos), mas há casos de mulheres que receberam homenagem, especialmente mães, esposas e

 

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filhas. Os principais homenageados eram maridos e pais, depois vinham os filhos. (SAWYER, 2006). Na Suécia a partir do século X, mas especialmente no XI, observouse em algumas províncias o aumento de homenagens femininas. Algo ainda não claramente compreendido. (MAREZ, 2007).  Algumas pedras rúnicas apresentam elementos cristãos, cr istãos, fosse pelo uso da cruz ou por menções a Deus e Nossa Senhora. Alguns arqueólogos e historiadores interpretam isso como reflexo do crescimento do cristianismo nestes países, já que menções a Odin, Thor, Freyr, Freyja não eram usuais nas pedras rúnicas, r únicas, embora fossem encontradas em outros suportes, como amuletos e outros tipos de objetos, os quais estavam associados a fatores de culto, proteção ou magia. No século XI e XII, na Suécia, é comum encontrar as frases “ Deus guarde sua alma””, “Deus e a mãe de Deus guardem sua alma” alma alma”, como referência a condição do morto homenageado fosse cristão. Algo que era reflexo também pela acentuada cristianização desse país, naquele período. (ZILMER, 2011).

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Imagem 8: Fotografia da pedra Gs 11 Järvsta, Suécia, século XI. A inscrição contém um epitáfio cristão. Ler-se: “ Thjóðgeirr Thjóðgeirr e Guðleifr e Karl, todos esses irmãos ergueram essa  pedra em memória de Thjóðmundr, seu pai. Que Deus e a mãe de Deus guardem sua alma. E o filho de Ásmundr Kári marcou as runas ””  . Depois das menções a Deus e a Virgem Maria, encontram-se em pedras suecas e dinamarquesas, menções menos comuns, citando São Miguel, São Bartolomeu e Jesus Cristo. Nestes casos as citações normalmente se referiam a essas divindades e santos no intuito de pedir sua proteção ou ajudar a alma a chegar ao Paraíso. Porém, há casos de algumas pedras rúnicas que fazem menções a Thor, o mais popular dos deuses nórdicos, o qual era convocado para abençoar as runas e o morto. mor to. (MAREZ, 2007).

Imagem 9: Fotografia da pedra de Glavendrup (DR 209), Dinamarca, século X. Nessa  pedra a inscrição faz menção ao deus Thor, a um sacerdote e até uma maldição para quem danificar a pedra. Vejamos o que está escrito: “ Ragnhildr Ragnhildr colocou esta pedra em memória de Alli, o Pálido, sacerdote do santuário, honrado thegn do séquito. Os filhos

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de Alli fizeram este monumento em memória de seu pai, e sua esposa, em memória de seu marido. E Sóti esculpiu essas runas em memória do seu senhor. Thor abençoe estas runas. Seja amaldiçoado aquele que danificar essa pedra ou a arrastá-la (para ficar) em memória de outra.  outra.   Apesar da quantidade de cruzes encontradas em pedras rúnicas, não significa que necessariamente o morto fosse cristão ou tivesse abandonado totalmente fé nos antigos deuses. “ Ter símbolos cristãos em uma pedra rúnica não quer dizer que ela seja um monumento exclusivamente cristão, tampouco a existência apenas de símbolos pagãos representa exclusividade dessa origem. Pedras como a Sö 112, localizada na Suécia, apresentam uma cruz junto a uma máscara odínica, ou ainda a famosa Sö 101, também na Suécia, que traz cenas da saga lendária de Sigurd junto a inscrições rúnicas que ofertam a construção de uma ponte à alma de alguém. A máscara odínica e a representação de Sigurd são importantes símbolos do paganismo nórdico, assim como a cruz e preocupação pela alma de alguém são elementos trazidos pelo cristianismo ” . (OLIVEIRA, 2014, p. 48). No tocante ao uso dessas pedras para fator memorialista, Stern Marjolein (2013) comenta que a localização de algumas estelas, era escolhida no intuito de torna-las  visíveis. Por isso optar-se ergue-las à beira de estradas, campos, cemitérios e terrenos de igreja. Locais onde tais pedras poderiam ser visualidades pela comunidade. Pois como se tratavam de memoriais ou cenotáfios, se fazia necessário que o nome do homenageado fosse reconhecido na comunidade ou na região, daí fazer uso destes lugares onde havia um fluxo recorrente de pessoas, para que elas pudessem avistar o monumento. E também se faz necessário sublinhar que nem todo mundo conseguiria ler as inscrições, porém, poderiam identificar pelas imagens e a localização, que determinada pedra pertencia a certa pessoa.  Algumas estelas rúnicas se encontram em terrenos terr enos de igrejas, ou foram relocadas para lá. Um dos motivos se deve que o morto homenageado era cristão. Embora haja casos de pedras rúnicas que foram colocadas dentro de igrejas ou usadas na construção dessas. (SAWYER, 2006).  As pedras rúnicas representavam sinal de status social elevado, pois eram monumentos caros. Inclusive alguns são citados como tendo participado de expedições

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em outras nações, tendo retornado com triunfo ou perecido na jornada. Um dos casos mais conhecidos dessas expedições, foi a viagem de Ingvar, o Viajado até o Mar Cáspio, na Ásia. O relato dessa viagem em parte part e é descrito na Saga de Ingvar, o Viajado (Yngvars saga vidförla). Ele no século XI liderou uma expedição para o leste europeu até o Mar Negro, de onde seguiu até o Mar Cáspio, já em território muçulmano. Na saga, aquela região é chamada de “ Terra dos Sarracenos ” . No entanto, alguns membros dessa expedição receberam pedras rúnicas. No caso, Marez (2007) comenta a existência de pelo menos 26 pedras dedicadas a membros dessa expedição.

Imagem 10: A Pedra de d e Gripsholm (Sö 179), Suécia, século XI. Nessa estela diz que Tula mandou erigir essa pedra em memória de seu filho Haroldo, o qual participou da expedição de Ingvar, mas faleceu em viagem, na terra dos Sarracenos. Outro exemplo com teor histórico e memorialista dado as pedras rúnicas é o caso das Pedras de Jelling. Situadas no terreno da Igreja de Jelling, na Dinamarca, essas pedras datadas do século X, foram erguidas por dois reis, pai e filho. A pedra menor que

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é a DR 41 Jelling 1, foi erguida pelo rei Gorm, o Velho a sua esposa Thyra, e ao reino que governavam, a Dinamarca. Já a segunda pedra, que é maior e apresenta uma imagem de Cristo crucificado, na parte de trás, foi erguida pelo filho de Gorm e Thyra, Haroldo Dente Azul, que governou de 958 a 986. Na pedra DR 42 Jelling 2, o rei Haroldo mandou escrever que dedicava aquela pedra aos seus pais, e também dizia que durante seu reinado ele governava a Dinamarca, conquistou a Noruega e converteu seu povo ao cristianismo. Historicamente são dados reais. O que revela o uso político dessa pedra, como forma do rei promover algumas de suas façanhas.

Imagem 11: As duas Pedras de Jelling, Dinamarca, século X. Um outro exemplo do uso histórico e memorialista dessas estelas, está associado com as campanhas militares do rei Canuto, o Grande, o qual foi rei da Dinamarca, Noruega e Inglaterra, tendo governado estes países entre 1018 a 1035. No caso dos relatos rúnicos contidos nas pedras, esses em geral remetem-se ao período das campanhas empreendidas por Canuto para se apossar do reino da Inglaterra. Marez (2007) assinala que quatro pedras rúnicas importantes mencionam os conflitos promovidos pelo rei Canuto, o Grande. Essas pedras são: Yttergärd, Landeryd, Väsby e Galte. Apesar de haver outras 26 pedras que compõe o “grupo inglês” inglês”, que faz referência a conquista da Inglaterra pelo rei Canuto.

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Imagem 12: A pedra U 194, Suécia, S uécia, século XI. A inscrição diz que Ali ergueu essa pedra em memória de si. Por sua vez, ele aceitou servir o rei Canuto na Inglaterra. Entretanto, há exemplos de pedras rúnicas que contém referencias mitológicas. Por mais que tenham prestado homenagem a alguém ou algum acontecimento, ela traz imagens associadas com mitos. Temos dois casos nos quais as pedras fazem menção ao mito de Sigurd o Matador de Fafnir, onde o herói confronta o dragão Fafnir. Algo visto nas estelas Gs 9, U 1163, U 1175, Sö 101, entre outras. Outro mito citado é o da pescaria da Serpente do Mundo, onde o deus Thor tentou pescar Jormungand. Esse mito é representado na pedra rúnica U 1161, conhecida como Pedra Pedr a de Altuna.

 

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Imagem 13: Detalhe da Pedra de Altuna, com a imagem realçada de Thor pescando Jormungand. Como se criava uma pedra rúnica   Os dados sobre como era a feitura dessas pedras são praticamente inexistentes. O que se dispõe são hipóteses de técnicas que seriam adotadas na época. Mas como o trabalho de se fazer uma pedra rúnica não era algo que requeresse um conhecimento matemático ou de engenharia para tal, isso facilita deduzir como tais monumentos eram feitos. Em primeiro lugar muitas das pedras rúnicas eram blocos talhados ou as vezes polidos, para ganhar uma superfície plana, e facilitar seu transporte. A parte mais difícil era talhar-se as runas, e no caso das pedras que possuíam imagens, fazer tais desenhos, os quais geralmente são de animais, mas há casos de pedras que trazem pessoas, monstros e símbolos solares, cruzes, suásticas, etc. O artesão responsável por essas pedras era chamado de mestre das runas (runemaster) ou runográfo (runecarver). No caso, tratava-se de um artesão letrado, um diferencial importante em uma sociedade majoritariamente analfabeta. Sendo assim,

 

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raros eram os artesãos que sabiam ler e escrever, o que tornava seu ofício algo mais exclusivo e caro. Alain Marez (2007) considerava o mestre das runas não apenas o artesão que fazia pedras rúnicas, mas qualquer artesão que soubesse talhar runas, o que incluía escrever runas em joias, objetos e outras superfícies. Para Marez os metres das runas além do conhecimento artífice em esculpir, gravar, talhar, ourivesaria, metalurgia, etc. também teriam conhecimento mágico, para escrever encantamentos, feitiços e maldições. Apesar que haja a possibilidade de praticantes de magia que não eram mestres das runas, mas que soubessem fazer uso desse alfabeto. Por outro lado, estudiosos como James Graham-Campbell (2006), consideram que o termo mestre das runas seja melhor aplicado para os artesãos que faziam as pedras rúnicas. Mas e quanto a feitura dessas pedras? Nós não dispomos de quanto tempo levaria para uma estela dessa ser feita e o custo envolvido. Experimento arqueológicos feitos na Escandinávia, onde arqueólogos e outros estudiosos aplicam as técnicas da época, que basicamente se resumem a usar um martelo e cinzeis, mostram que a depender do tamanho da pedra e das figuras nelas contidas, o trabalho poderia levar semanas ou meses. Muitos mestres das runas conhecidos viveram na Suécia no século XI. Pelo fato de algumas dessas pedras terem sido assinadas por um ou dois artesãos, conseguiu-se identificar o nome de vários deles, dentre um dos mais conhecidos estava Asmund Kareson, especialista no estilo Urnes, o qual teria vivido em algum lugar na província de Uppland ou nas províncias vizinhas. Asmund é autor de mais de vinte pedras rúnicas, a maioria encontrada em Uppland, mas algumas em Gästrikland. A grande quantidade de trabalho de sua autoria, sugere que tenha sido um artesão renomado e conhecido em seu tempo. (FUGLESANG, 1998).  Apesar da identificação de alguns alguns desses mestres das runas, runas, Hen Henrik rik Willi Williams ams (2014, p. 18), assinala que algumas dúvidas ainda se mantém: “havia um padrão sobre quem era responsável pela inscrição rúnica (ou quais partes) e pelas partes ornamentais? Por que há apenas algumas certas inscrições assinadas, essas assinaturas sempre indicam quem realmente fez o trabalho? Haviam “ escolas escolas””   de artistas com mestres e pupilos? A ortografia do runógrafo era influenciada pelo dialeto, região, colegas co legas ou clientes dele ou dela””? dela

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 As perguntas lançadas por Williams já alguns anos, ainda são um campo pouco explorado nos estudos runológos. Procurar entender como funcionava o serviço desses runográfos e mestres das runas e sua repercussão na sociedade. O Projeto Rundata: a catalogação das runas   Pela condição de existir mais de 3 mil pedras rúnicas, foi necessário um catálogo para poder identificar todos esses monumentos. Para isso surgiu o Projeto Rundata (Runic-text Data Base). Projeto de catalogação das pedras rúnicas e das inscrições rúnicas, iniciado na Universidade de Uppsala, Suécia, no ano de 1986. O projeto foi iniciado pelo Departamento de Linguística, posteriormente ganhando apoio e colaboração do Departamento de Arqueologia e do Departamento de História. A catalogação inicialmente em língua sueca, identifica por letras e números a localização das pedras, seutenha registro, e atéem estilo. Embora sidodatação concebido 1986, o projeto sofreu com problemas para se estabilizar e prosseguir com suas atividades. Apenas na década de 1990 19 90 recebeu verbas e suporte para poder exercer sua pesquisa e catalogação. Desde 2008 o site do Rundata  vem sendo atualizado, já registrando mais de 6.500 inscrições rúnicas, sendo que quase metade disso, oriunda de pedras rúnicas. No caso, o Rundata cataloga as pedras baseando-se nos seguintes elementos de identificação: Código de área: assinala através de uma letra ou letras, uma abreviação para identificar a província sueca, país ou outra localidade que a pedra foi encontrada. Código numérico: identifica a posição na classificação regional. Há casos de pedras que as inscrições indicam o ano de sua descoberta. Código linguístico: identifica o tipo de alfabeto rúnico, se ele foi f oi escrito no futhark germânico, no futhorc ou no futhark nórdico. Nome do local: no intuito de precisar melhor a localização da pedra, pode-se pôr o nome local (estrada, distrito, bairro, rua, igreja, cemitério, etc.). Isso facilita quando a região possuí muitas pedras próximas da outra. Período: datações aproximadas, usando-se o recorte r ecorte temporal de séculos, que varia do V ao XII. Se utiliza também como marco de datação, antes de Jelling e depois de Jelling, tomando o reinado de Haroldo Dente Azul como marco. Já outro marco de datação é antes da Era Viking e durante a Era Vking.

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Estilo: Proposto por Anne-Sofie Gräslund é normalmente aplicado as pedras suecas do século XI, as quais apresentam um estilo serpentiforme bem difundido. Nesse tipo de catalogação, a autora utiliza como marcos referenciais o formato da cabeça, cauda, entrelaçamento e patas das serpentes e lindworns (dragão serpentiforme com duas patas). 94 

Imagem 14: Catálogo de Gräslund quanto a identificação do estilo artístico das pedras rúnicas suecas. Outra forma de identificar o estilo artístico dessas d essas pedras é através da “arte viking” viking”. Essa arte é dividida em sete estilos, os quais apresentam variações estéticas, simbólicas e de padrão ao longo de 300 anos. Os estilos coexistiram ao mesmo tempo que outros, representando variações regionais. Pedras gravadas e pedras rúnicas com imagens podem ter sua datação identificada a partir da análise do estilo artístico das imagens retratadas nelas. (WILSON; KLINDT-JENSEN, 1966).

 

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Gräslund (2006) observa que a maior parte das pedras rúnicas suecas e dinamarquesas correspondem aos estilos Ringerike e Urnes. Dentro do estilo Urnes, Gräslund Gr äslund observou  variações secundárias. Pelo fato desses estilos serem referentes principalmente a Era Viking, significa que as pedras rúnicas anteriores a esse período, não podem ser catalogadas por esses estilos.  Além do estilo artístico e dos detalhes de alguns animais e símbolos, é possível identificar as pedras por seu formato, layout, tipo de runas adotado, posicionamento da escrita, tamanho das pedras, se os monumentos eram pedras trabalhadas ou pedras “ cruas ” , ou local onde foi erguido, etc. consistam em informações que ajudem o pesquisador a identificar o contexto desses monumentos. Inclusive podendo haver mais de um estilo em uso no mesmo período e lugar. (OLIVEIRA, 2014).

Imagem 15: Tabela apresentando a datação aproximada de duração dos estilos da arte viking. A maioria das pedras rúnicas foram erguidas dentro dos estilos Mammen, Ringerike e Urnes. O acesso ao Projeto Rundata pode ser realizado no próprio site do projeto ou através de outros sites que apresentam catálogos de pedras rúnicas, um deles é o Runic Dictionary, concebido pelo prof. Dr. Tarrin Wills, do Departamento de Linguística da Universidade de Copenhague. O site do dicionário está online desde 2008. No site encontra-se o registro de estelas rúnicas e inscrições rúnicas, tendo sido catalogado mais de 5 mil exemplares. Ele apresenta dados da catalogação das estelas, mapa com sua localização via satélite, algumas imagens da mesma, tradução de suas inscrições, um léxico de nórdico antigo, além de links para documentos, dicionários e outros sites. O

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projeto do professor Wills foi incorporado no Nottingham Rune Dictionary, estando  vinculado ao Rundata. Feito esses comentários, vamos mostrar alguns exemplos de como procede a catalogação das runas. 96 

Imagem 16: Aqui temos a fotografia da pedra Sö 65 Djulefors. No caso, Sö é abreviação  para Södermanland (província sueca), 65 é seu número de catálogo, Djulefors é sua localização. No entanto, ao analisar a foto da pedra, podemos observar a partir do seu estilo que se trata de uma pedra do estilo Ringerike, datada do começo do século XI.

 

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Imagem 17: Gravura da pedra rúnica Br Olsen 189 Ballaugh MM 106. Trata-se de uma  pedra localizada na Bretanha (Br), identificada identificada por Olsen, numerada como 189, mas por estar na Ilha de Man (MM), recebe um código extra, o 106. Nota-se por seu formato de cruz, como esse tipo de monumento foi adaptado aos costumes dos cristãos anglo-  saxãos.

 A importância das pedras rúnicas como fontes históricas    As pedras rúnicas servem tanto tanto de fonte escrita quanto de fonte visual. No tocante ao nível da escrita, apesar de seus textos serem curtos, e em geral, de caráter memorialista ou de epitáfio, ainda assim, existem elementos singulares que permitem conhecer alguns aspectos históricos da Era Viking. Temos pedras que mencionam lugares visitados pelos nórdicos: Inglaterra, Irlanda, Frísia, Normandia, Novgrod, Kiev, Lombardia, Império Bizantino (chamada de Greikland – terra dos gregos), Canato de Khazar (chamado de Sarstland – terra dos sarracenos). Tais evidências corroboram a expansão viking, além de mostrar evidências que sustentam que o comércio medieval não era a nível local, como

 

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se sugerira no passado. Estamos falando de mercadores que percorriam o continente, passando por várias terras, criando rotas comerciais transcontinentais. Por outro lado, há pedras que fazem menções a governos e governantes, como as pedras dos reis dinamarqueses Gorm, o Velho e seu filho Haroldo Dente Azul. Ou as pedras que citam homens que lutaram por Canuto, o Grande. Essas estelas também podem fornecer informações religiosas sobre a cristianização da Dinamarca, Noruega e Suécia, observando uma maior quantidade de estelas com elementos cristãos, o que seja reflexo da acentuação dessa religião naqueles reinos. A pedra de Jelling 2 é um caso excelente nesse quesito político e religioso, pois temos Haroldo Dente Azul declarando ser rei da Dinamarca e da Noruega, inclusive encontramos menções a esses dois países já no século X, além de que o monarca também dizia que foi responsável por cristianizar seu povo. Lembrando que a Dinamarca foi o primeiro território nórdico a receber missionários e a declarar parte da cristandade. Como fonte visual, fazer as imagens e símbolos contidos também são objetos de estudo para se conhecer os estilos, arte, simbolismo, signos, imaginário e crenças daqueles povos. O desenvolvimento artístico das pedras rúnicas mostra não apenas o surgimento de novos estilos próprios, mas também a adoção de elementos artísticos de outros povos, como os germânicos e os anglo-saxões. A adoção de símbolos como cruzes e suásticas, também são informações para se compreender elementos religiosos daquelas culturas. A grande localidade dessas pedras em determinadas regiões, nos fornecem evidências para a concentração de riqueza, artesãos e artistas, além de gostos culturais, pois como comentado anteriormente, apesar dessas pedras datarem desde o século V, foi no século XI que houve um grande desenvolvimento delas, e no século seguinte, isso entrou em declínio e tal prática funerária e memorialista foi abandonada. Referências Bibliográficas: Boletim Notícias Asgardianas , n. 7, dossiê Runas e Runologia, 2014, p. 43-48.  43-48.   FLUGESANG, Signe Horn. Swedish Runestones of the Eleventh Century: Ornament and Dating. In: NOWAK, Sean; DÜWEL, Klaus (eds.). Runeninschriften als Quellen

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interdisziplinärer Forschung Unauthenticated . Berlin/New York: Walter de Gruyter, 1998. p. 197-218. GRAHAM-CAMPBELL, James. Os Vikings . Barcelona: Editora Folio, 2006. (Coleção civilizações do passado). GRÄSLUND, Anne-Sofie. Dating the Swedish Viking-Age rune stones on stylistic grounds. In: STOKLUND, Marie [et. Al] (eds.). Runes and their Secret . Studys in Runology. Copenhagen: Museum Tusculanum Press, 2006. KNIRK, James E. Runes e Runic inscriptions: introduction. In: PULSIANO, Phillip; WOLF, Kirsten (eds.). Medieval Scandinavia : An Encyclopedia. New York: Routledge, 2016, p. 545-552. MACLEOD, Mindy; MEES, Bernard. Runic amulets and magic objects. Woodbridge: objects. Woodbridge: Boydell Press, 2006. MAREZ, Alain. Anthologie Runique . Paris: Les Belles Lettres, 2007. (Classiques du Nord). Alain. Anthologie PAGE, Raymond I. An I. An Introduction English Runes . London: Boydell e Brewer Ltd, 1999. PRICE, T. Douglas. Ancient Douglas. Ancient Scandinavia . Oxford: Oxford University Press, 2015. SAWYER, Birgit. Viking-Age Rune-Stones . Oxford: Oxford University Press, 2006. VENÂNCIO, Yuri Fabri. Inscrições rúnicas. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2018, p. 415-423. WILSON, David M; KLINDT-JENSEN, Ole. Viking Art . New York: Cornell University Press, 1966. ZILMER, Kristel. Crosses on rune-stones: functions and interpretations. Current Swedish Archaeology , vol. 19, 2011, p. 87-112. Referência on-line:  on-line: Runic dictionary  

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COMO PESQUISAR PEDRAS RÚNICAS PELA INTERNET Leandro Vilar Introdução   Introdução Esse pequeno texto consiste num material de auxílio para os interessados em querer trabalhar com as pedras rúnicas, mas não sabem como ter acesso a esse material arqueológico, e também como utilizá-lo para estudar a Era Viking e outros períodos da Escandinávia da Alta Idade Média (V-X). Na Escandinávia da Alta Idade Média, dois tipos de monumentos de pedra predominaram naquele território: as pedras gravadas (Picture stones), as quais possuem apenas imagens (pessoas, animais, objetos, lugares, armas, embarcações, etc.), estando restritas a ilha de Gotland (atualmente território sueco) e as pedras rúnicas (Runestones). Como a proposta desse texto é abordar o segundo tipo ddee monumento, foquei apenas em dissertar um pouco a respeito dele. Uma pedra rúnica ou estela rúnica, consiste num monumento erguido entre os séculos V ao XII, na Suécia, Dinamarca e Noruega, mas estando presente também na Inglaterra, Ilha de Man, Estônia e Rússia. Todavia, 80% desses monumentos

 

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concentram-se em território sueco, sendo datados principalmente do século XI, o qual representa o final da Era Viking. (ver imagem 1)  As pedras rúnicas inicialmente eram pequenas e continham apenas runas do  Antigo Futhark (um dos alfabetos rúnicos de origem germânica). Por volta do século X, pedras rúnicas contendo imagens de pessoas, animais, símbolos e ornamentos, tornaramse mais comuns. Além de passarem a usar o Novo Futhark, uma variação escandinava do alfabeto rúnico, possuindo menos letras, variações gráficas e fonéticas. Esse novo alfabeto predominou na produção desses monumentos até o século XII. No entanto, qual teria sido a função delas? As pedras rúnicas essencialmente são monumentos memorialistas e comemorativos, trazendo textos curtos, os quais destacam algum tipo de homenagem para uma pessoa específica. A maioria dos homenageados são homens, mas há casos de mulheres terem sido homenageadas. E nesse ponto, as homenagens eram prestadas para pessoas vivas, ou para se celebrar algum acontecimento, mas em muitos casos, principalmente no século XI, as homenagens eram de caráter póstumo, sendo dedicadas a pessoas que haviam falecido. Esses textos também eram curtos e expressavam informações diversas como nomes, descendentes, antepassados, local de falecimento ou de moradia, causa da morte, algum feito, acontecimento, uma oração (principalmente de tom cristão), etc.  Agora sabendo um pouco o que são as pedras rúnicas e seus usos no passado, como elas podem servir de fonte de estudo?  As pedras rúnicas não são apenas fontes arqueológicas, mas também são fontes escritas e iconológicas, o que revela três possibilidades distintas para o mesmo tipo de monumento, permitindo estudá-lo pelo âmbito da Arqueologia, História, Runologia (estudo das runas), Iconografia, Simbologia, etc. O conteúdo escrito permite uma série de possibilidades como estudos sobre localidades, territórios estrangeiros visitados (pois (p ois algumas informam sobre homens que faleceram em campanhas ou expedições), nomes próprios, relações familiares, usos da memória, recordação dos mortos, usos religiosos, acontecimentos históricos (ex: governo

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do rei Haroldo I da Dinamarca, as guerras do rei Canuto, o Grande, a expedição de Ingvar, o Viajante), etc.  A nível iconológico é possível estudar os simbolismos presentes nestes monumentos e sua correlação com a arte, art e, cultura, sociedade e religião do período. Nesse ponto, pode-se analisar os motivos ornamentais, os animais, pessoas, plantas, signos, etc. E há casos de algumas pedras rúnicas fazerem referências a mitos, como o de Sigurd lutando contra o dragão Fafnir, ou o do deus Thor pescando a serpente Jormungand. Estando diante dessas possibilidades que podem ser realizadas tendo as pedras rúnicas como fontes de pesquisa, agora falarei de como poder ter acesso a esse material sem precisar ter que viajar até o lugar. Nem sempre o pesquisador possui recursos e possibilidade para viajar até o local onde se encontram suas fontes, principalmente quando falamos em áreas como a  Arqueologia, História e Antropologia. O pesquisador que tem interesse em estudar algo de um país distante, mas não possui condições de viajar para p ara lá, isso para algumas pessoas se torna frustrante a ponto de fazê-las desistir de sua pesquisa. No entanto, graças a iniciativa de universidades, institutos, academias, grupos de pesquisas e estudiosos, acervos digitais foram criados. E no caso das pedras rúnicas existem vários sites que apresentam catálogos c atálogos desses monumentos, o que ajuda bastante na hora de poder estudá-los, sem requerer a necessidade de ter que viajar a campo.  Alguns sites são mais simples, possuindo acervos pequenos e poucas informações, sendo organizados ou mantidos por voluntários, estudiosos independentes, estudantes ou até mesmo curiosos no tema. Mas para esse texto optamos em abordar dois sites profissionais, e citar um terceiro que serve para complemento. Rundata   Rundata Nomeado Scandinavian Runic-text Data Base ou em sueco Samnordisk runtextdatabas, consiste numa base de dados online e de acesso livre, a qual reúne informações sobre pedras rúnicas e inscrições rúnicas, contendo milhares de fontes.

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 Anualmente a base de dados é atualizada com as descobertas. Consistindo num num catálogo bastante preciso. O projeto do Rundata como é mais conhecido, foi iniciado em 1986 pelo Departamento de Línguas Escandinavas da Universidade de Uppsala, na Suécia. Inicialmente de uso interno, tornou-se público anos depois. A url de acesso é https://rundata.info/. O site atualmente está totalmente disponível em língua inglesa, já que originalmente era apenas em sueco. No site do Rundata é possível ter acesso a um acervo com mais de 6.700 mil itens.  A interface do site não é de uso uso difícil, apresentando um um mapa no lado direito direito com a localização das fontes, incluindo a quantidade por localidade. Ao centro temos as informações sobre o item escolhido, através de uma janela com barra de rolagem, a qual contém seu código de entrada (ou de catalogação), transcrição das runas, tradução para o inglês, informações complementares, e fotografias (embora nem todo item possua fotografia disponível). Ao lado esquerdo existe uma lista com barra de rolagem, que apresenta cada item do acervo, organizado pelo código geográfico (sigla da província ou país) e em sequência númerica. (ver imagem 2)

Imagem 2: página do site Rundata.  Rundata. 

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O site também permite usar a barra de pesquisa, onde insere-se o código de entrada referente a item a ser procurado. Pode-se também pesquisá-lo pelo mapa. O site também disponibiliza um link para referências bibliográficas, mas essas se encontram em sueco. Runic Dictionary  Dictionary   A interface desse dicionário rúnico foi desenvolvida pelo professor Tarrin Wills, e está online desde 2008. Tendo sido incorporada ao Nottingham Rune Dictionary. O site do Runic Dictionary está disponível na url: https://skaldic.abdn.ac.uk/db.php?if=runic&table=database&view=runic. Como o nome salienta, o site atua não apenas como uma base de dados contendo pedras rúnicas e inscrições, mas também outros tipos de informações de teor linguístico, pois disponibiliza um dicionário rúnico, onde pode-se inserir palavras em nórdico antigo, e procurar por seus significados, pois a interface do site permite cruzar dados com alguns dicionários de nórdico antigo. (ver imagem 3)

Imagem 3: página inicial do Runic Dictionary.  Dictionary. 

No entanto, no que diz respeito as pedras rúnicas, para se ter acesso ao catálogo, basta clicar na aba ”regions regions””, a qual mostrará a localização geográfica pela sigla e o nome do país ou território, e ao lado do nome haverá uma numeração identificando a quantidade de itens por localidade. Do lado direito da tela aparece uma lista específica, contendo todos os itens disponíveis daquela localização, ordenado em ordem númerica e nome da localidade onde foi encontrado. (ver imagem 4)

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Imagem 4: página do catálogo de pedras rúnicas do Runic Dictionary.

 Ao se clicar em um deles, abrirá uma nova janela com as informações da pedra rúnica dentro de uma tabela no lado esquerdo, mostrando código cód igo de entrada, localização, coordenadas, transcrição das runas, tradução para o inglês, periodização e outras informações. No lado direito encontra-se o mapa com a localização e coordenadas no monumento. E abaixo, ficam as fotografias, quando disponíveis. No entanto, a maioria dos itens do Runic Dictionary não possuem imagens, e algumas são de baixa qualidade, o que requer conferir as fotografias ou ilustrações a partir de outros sites. (ver imagem 5)

Imagem 5: página da pedra rúnica Jelling 2 no Runic Dictionary.  Dictionary. 

Runeindskrifter   Runeindskrifter

 

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É um site mais simples, cujo título significa “ Inscrições Rúnicas” Rúnicas ” , podendo ser acessado pela url: https://www.schleugerhard.com/. Diferente do Rundata e do Runic Dictionary os quais possuem mais informações, o Runeindskrifter embora possua um catálogo com milhares de itens, ele não traz informações sobre periodização, localização exata, entre outros informes. Além disso, a tradução das runas é feita para o dinamarquês, não o inglês. 106 

Entretanto, o destacamos aqui pelo fato de ele possuir imagens que as vezes não são encontradas no Rundata e no Runic Dictionary, o que torna esse site um complemento de pesquisa, sendo recomendado usá-lo como suporte para os outros sites mencionados.  A interface do site é bem simples. No lado esquerdo há uma lista de localidades, e no lado direito encontram-se as imagens, ordenadas numericamente por região. (ver imagem 6).

Imagem 6: página do Runeindskrifter  

Considerações   Considerações Os três sites apresentados aqui consistem em base de dados, embora que o Runic Dictionary também disponibilize o serviço de dicionário. No entanto, tais sites não servem necessariamente para estudar o que são pedras rúnicas, já que o objetivo deles é apresentar catálogos contendo informações básicas sobre elas e algumas imagens.

 

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Sendo assim, eles não possuem seções próprias para abordar as funções, origens, usos e estilos desses monumentos. Para se ter acesso a isso, deve-se recorrer a livros e artigos especializados. Recordando que nem sempre um livro sobre runas, vá abordar pedras rúnicas. Além disso, existe pouco material em língua portuguesa referente as pedras rúnicas. Sendo assim, abaixo segue uma bibliografia básica sobre esses monumentos. Referências básicas:  básicas:   ANDRÉN, Anders. Re-reading embodied texts –   an interpretation of rune-stones. Current Swedish Archaeology, vol. 8, p. 7-32, 2000. GRÄSLUND, Anne-Sofie. Dating the Swedish Viking-Age rune stones on stylistic grounds. In: STOKLUND, Marie [et. Al] (eds.). Runes and their Secret. Studys in Runology. Copenhagen: Museum Museum Tusculanum Press, 2006, p. 117 117-139. -139. GRÄSLUND, Anne-Sofie. The Late Viking Age Runestones of Västergötland: On Ornamentation and Chronology, Lund Archaeological Review, Review, v. 20, p. 39-53, 20 2014. 14. JANSSON, Sven B. F. Runes in Sweden. Translation by Peter Foote. 2. ed. Värnamo: Gidlunds/Royal Academy of Letters, History and Antiquities, 1987. OLIVEIRA, Leandro Vilar. A guardiã dos mortos: um estudo do simbolismo religioso da serpente em monumentos da Era Viking (sécs. VIII-XI). Tese (Doutorado em Ciências das Religiões), Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões, Universidade Federal da Paraíba, 2020. (consultar o capítulo 4) OLIVEIRA, Ricardo Wagner Menezes de. As religiosidades vikings em monumentos de pedra. Notícias Asgardianas, n. 8, p. 43-52, 2014. OLIVEIRA, Ricardo Wagner Menezes de. Feras petrificadas: o simbolismo religioso dos animais na Era Viking. Dissertação (Mestrado em Ciências das Religiões), Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.

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PAGE, Raymond. Runes and Runic Inscriptions. London: Boydell Press, 1999. SAWYER, Birgit. The Viking-age rune-stones: custom and commemoration in early medieval Scandinavia. Oxford: Oxford University Press, 2000. RUNDATA. Disponível em: https://rundata.info/. 108 

RUNEINDSKRIFTER. Disponível em: https://www.schleugerhard.com/. https://www.schleugerhard.com/. RUNIC Dictionary. Disponível https://skaldic.abdn.ac.uk/db.php?if=runic&table=database&view=runic.

em:

THOMPSON, Clairbone W. Studies in Runography. Austin: University of Texas Press, 2016. ZILMER, Kristel. Crosses on rune-stones: functions and interpretations. Current Swedish Archaeology, vol. 19, p. 87-112, 2011.

 

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SÍMBOLOS MÁGICOS NÓRDICOS: GUIA VISUAL E HISTÓRICO Johnni Langer

Índice de símbolos: 1. símbolos: 1. Suástica e triskelion; 2. Triquetra e Valknut; 3. Espiral e labirinto; 4. Nó quadrifólico; 5. Pentagrama; 6. Cruz Troll; 7. Cruz élfica; 8. Vegvísir e ægishjálmr. Introdução  Introdução  O uso de símbolos para práticas mágicas variadas é atestado desde a Antiguidade, mas ainda verificamos a sua extrema abundância nos dias de hoje. A finalidade deste ensaio é possibilitar ao público de língua portuguesa o acesso a um mostruário mostr uário parcial da imensa riqueza visual e histórica de símbolos mágicos e religiosos utilizados na área escandinava. A mesmo tempo, aproveitamos para corrigir vários equívocos sobre o tema, abundantes em livros e na internet. Nosso levantamento possui alguns critérios: incluímos apenas símbolos mágicos com morfologia geométrica não figurativa e que foram utilizados na Antiguidade e Medievo, alguns com continuidade após a cristianização, também sendo utilizados no folclore e tradição popular moderna.  Atualizamos algumas considerações já realizadas em nosso anterior estudo acadêmico (Langer, 2010) mas com várias adições e correções. Com o intuito de apontar interpretações equivocadas, mas não confundir o leitor, separamos as formas de referência em dois tipos: livros e sites com teor esotérico,

 

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neopagão e jornalístico são descritos com autoria e título completo no texto; obras acadêmicas e científicas são referenciadas no texto como sobrenome da autoria, data e paginação – sendo a bibliografia completa descrita ao final do ensaio. O estudo dos símbolos é uma área complexa e que requer alguns cuidados. Primeiro, evitamos generalizações, referenciais diacrônicos e universalistas em excesso. Símbolos extremamente difundidos na área euro-asiática (como a suástica) necessariamente não tem os mesmos significados, variando conforme o contexto histórico, geográfico, social e cultural: “ O símbolo é sempre proteiforme, polivante, ambíguo (...) no mundo dos símbolos, tudo tudo é cultural e deve ser estudado em relação à sociedade que dele faz uso (...) nada funciona fora do contexto” contexto ” (Pastoreau, 2002, p. 495, 505, 507). Outra questão é o conceito de magia. Aqui empregamos noções relacionadas ao caráter pragmático dos simbolismos, onde magia envolve uma série de recursos materiais para o controle do sobrenatural e a natureza, também empregando mitos e tradições orais; diversas práticas, rituais e simbolismos para tentar t entar encontrar em contato com poderes invisíveis, para conhecer o futuro ou influenciar eventos (Mitchell, 2015, p. 59). E neste sentido, a magia medieval não pode ser entendida enquanto oposta à religião, tanto erudita quanto popular (Jolly, 1996, p. 18), 18) , mesclando-se e hibridizando-se com as tradições religiosas.  Algumas considerações gerais também são necessárias. Primeiro, a de que não sabemos o nome original da maioria dos símbolos antigos, sendo utilizadas designações genéricas, posteriores à Era Viking ou de outros recortes históricos e geográficos. Em segundo, estudoinvestigações dos símboloscientíficas. nórdicos ainda precário na presentes academia,na sendo objeto de opoucas Para éo muito caso de símbolos Era Viking, estamos preparando um material acadêmico mais detalhado e analítico, a ser publicado futuramente. Neste pequeno ensaio, concederemos apenas algumas considerações sistematizadoras de base diacrônica, enfatizando um recorte da  Antiguidade à modernidade. 1.

Suástica e Triskelion  Triskelion   A suástica suástica é um símbolo complexo, existindo existindo em várias culturas culturas euroasiática euroasiáticass desde a Antiguidade. No mundo germânico antigo ela aparece especialmente entre as bracteatas: pingentes feito de ouro ou prata que foram encontrados em tumbas no

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período de migrações e merovíngio. Elas possuem um caráter mágico-religioso e geralmente contém motivos relacionados com o mundo do d o guerreiro. Várias imagens de bracteatas contém performances de guerreiros dançando ou então representações do deus Wotan e seus animais auxiliares. O êxtase e a dança ritual parecem estar particularmente relacionadas com o símbolo da suástica, que em algumas bracteatas possui pequenas arestas em suas extremidades, sugerindo movimento e êxtase (Franceschi, 2005, p. 55). Em várias v árias inscrições rúnicas da Antiguidade, a suástica aparece como um símbolo de sorte e proteção ou então como instrumento para aumento do poder mágico do amuleto, possuindo uma funcionalidade semelhante às palavras de encantamento (MacLeod & Mees, 2006, p. 21, 74, 86, 94).

Imagem 2: Bracteata Djupbrunns I, Suécia (SHM 4877), séc. V-VI. Fonte. V-VI.  Fonte.  A imagem apresenta uma figura masculina (geralmente identificada a Wotan), onde seu cabelo se transforma em pássaro, com um cavalo logo abaixo, portanto chifres (talvez parte de antigo ritual). A suástica está logo abaixo.

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Durante a Era Viking a suástica continua particularmente associada com os sítios e contextos monumentais do deus Odin. Ela E la aparece relacionada com Ygdrasill em várias tapeçarias suecas, mas também a outros símbolos, como o triskelion de cornos (Snoldelev, DR 248). Apesar de muitos autores, representações artísticas e obras popularizarem o deus Thor vinculado à suástica, não existe nenhum contexto iconográfico ou material que comprove isso. Essa associação parece ter sido criada no final do medievo, mas durante o período Viking não existem evidências iconográficas deste vínculo.

Imagem 3: Suástica e triskelion de Snoldelev (DR 248), séc. IX, original e reconstituição gráfica, Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague. Foto de Johnni Langer/NEVE, 2018. Trata-se da representação mais famosa de uma suástica na Era Viking. O triskelion feito de cornos relaciona o conjunto imagético ao deus Odin (remete ao mito do hidromel).

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Imagem 4 e 5: DR 337 (Valleberga, Lundagård, Lund/Escânia, Suécia), séc. XI, erguida em memória de Manni e Sveini. Uma das inscrições cita a cidade de Londres, porém o detalhe mais interessante é a suástica esculpida no meio de uma cruz latina. Foto de Johnni Langer/NEVE (julho de 2019). A suástica possui extremidade curvas, gerando uma ideia de movimento circular interno. Aqui o Sol pode ter sido relacionado r elacionado a Cristo? Na área irlandesa medieval, o simbolismo solar em suásticas foi reinterpretado dentro da noção cristã de ressureição (Rynne, 1990, p. 3-18).

 

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Imagem 6: Pedra rúnica do aeroporto de Arlanda, Séc. XI (L2013:3081 Runristning), descoberta em 1990. É relacionada às expedições de Ingvar. Foto de Munir Lutfe  Ayoub/NEVE (2019). A cruz com suástica é inserida dentro do padrão tradicional de entrelaçados com serpentes, típica da área sueca. O simbolismo das serpentes em pedras rúnicas da Suécia foi tema de uma recente tese de doutorado no Brasil: Oliveira, 2020.  A maior quantidade de suásticas em pedras rúnicas surge em um contexto cristão, cr istão, ao final da Era Viking. Geralmente ela foi esculpida no centro de uma grande cruz e seu significado ainda não é conhecido neste caso. Pesquisando sobre o significado de suásticas na área das ilhas britânicas na Idade Média Central, Rynne (1990, p. 3-18) conclui que ela possuía um significado relacionado com a ressureição, retomando valores solares antigos e as conectando ao contexto dos valores cristãos. Esse referencial talvez possa ser adotado no contexto escandinavo em novas pesquisas, especialmente em representações de suásticas em cruzes e igrejas.

 

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Imagem 7 e 8: Escultura de rosto humano e pássaros, Santa Maria, Great Canfield (Essex, Inglaterra), séc. XII. Foto de Susan Tsugami/NEVE (2019). A escultura é tradicionalmente interpretada como sendo Odin e seus dois corvos, ao lado de um conjunto de cinco suásticas (foto abaixo), mas também como dois pombos alimentando a face de Cristo. As suásticas seriam signos de boa sorte sor te (Wilson, s.d., p. 12).

 

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Imagem 9 e 10: A 10: A pedra do Sol, séc. IX-X, Igreja de Govan Old Parish, Escócia. FFotos otos de Susan Tsugami/NEVE (2019) e Barbara Keeling (2010). A suástica do monumento possui seus terminais com cabeças de serpentes e é interpretada como sendo um símbolo

 

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da redenção humana (Ritchie, 2011, p. 14). Esta suástica é muito semelhante a representações de triskelions com terminais em forma de animais, comuns na Escandinávia antiga, como na estela de Smiss, Gotland.

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Imagem 11: Triskelion, estela de Smiss, Museu de Gotland, Suécia, séc. V-VI. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019. O tiskelion aqui possui terminais em forma de javali, águia e serpente, animais relacionados ao deus Odin. A figura abaixo, muito polêmica, geralmente é interpretada como um ser feminino e segura em suas mãos duas serpentes. Recentemente a cena foi relacionada ao parto e o simbolismo da serpente-dragão na transição de mundos (durante o nascimento da criança) (Mitchell, 2019, p. 125-126.

 

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Imagem 12: Þórshmar, Manuscrito Huld  (ÍB  (ÍB 383 4to), 24v, 1860. Fonte. 1860.  Fonte.

Nos tempos modernos a suástica foi associada ao martelo de Thor (MacLeod & Mees, 2006, p. 252). Este instrumento continuou a ter um papel importante em comunidades rurais suecas na modernidade. Um martelo utilizado em confrarias possui  vários caracteres gravados em sua cabeça (semelhantes a marcas de propriedade), incluindo uma suástica. Não sabemos se existe alguma continuidade folclórica entre este símbolo e o martelo pagão ou se possui alguma similaridade com a área islandesa. Em todo caso, este objeto demonstra a perpetuação do símbolo na vida cotidiana dos escandinavos.

 

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Imagem 13: Fattigklubba , martelo de madeira utilizada em confrarias rurais na Suécia, século XVIII. Fonte: Mejborg, 1889, p.16.

Imagem 14: Sinais mágicos encontrados em um livro de nascimentos e batismos de Ytterlännäs, 1680. A suástica é o terceiro sinal marcado da direita para a esquerda. Fonte da imagem: Wijk, 2020.  A suástica nórdica também continua nos tempos modernos com usos diferentes. Em 1680, um padre da igreja de Ytterlännäs (Ångermanland, Suécia), anotou vários símbolos em um livro de registro de nascimentos e batismos. Entre letras romanas, quadrados e sinais variados, ocorre uma suástica - aqui ela teria funções repulsivas, de afastar o mal das crianças, segundo alguns historiadores (Wijk, 2020). Marcas antigas eram utilizadas como substitutos de assinaturas na Suécia e as vezes elas misturavam

 

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runas e símbolos antigos, mas também proviam de letras da liturgia e tradição bíblica, com o sentido de afastar o mal. E a suástica muitas vezes estava incluída.  Algumas tapeçarias modernas usaram a suástica talvez como um ornamento tradicional, sem maiores vinculações mágicas ou religiosas, como em um manto de 1874 sueco, constante do acervo do Nordiska Museet (Mejborg, 1889, p. 14). Nesta mesma instituição, porém, existem duas pranchas de madeira para dobrar roupas, r oupas, do Setecentos, que possuem inscrições de vários signos, sigilos, desenhos e marcações, mar cações, possivelmente de caráter mágico ou protetor, incluindo vários tipos de suásticas. Suásticas também eram gravadas em portas de casas suecas como sinais profiláticos (Mejborg, 1889, p. 15).

Imagem 15: Dobrador de roupa, Igreja de Djura (Dalarna, Suécia); dobrador de roupa, Leksand (Dalarna, Suécia). Ambos os objetos são do acervo do Nordiska Museet e datados entre 1600 e 1700. Fonte das imagens: Mejborg, 1889, p. 13. 2.

Triquetra e Valknut  Valknut  Existem vários símbolos nórdicos denominados de valknutar (termo do norueguês moderno) com a forma entrelaçada entre si. Nesta categoria, entram tanto as formas conhecidas como triquetra e nó quadrifólico quanto o pentagrama (especialmente em ornamentações medievais) e o valknut “clássico clássico”” (constante nas estelas gotlandesas da Era viking). Para aumentar ainda mais a confusão, também tanto a triquetra quanto o  valknut são identificados ao único símbolo nórdico registrado na literatura medieval (Boyer, 1986, p. 114), o Hrungnis hjarta  (coração   (coração de Hrungnir, Skáldskaparmál 7). Em

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nossas pesquisas, temos diferenciado todos estes símbolos, especialmente para a Era Viking.

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Imagem 16: Triquetra, runestone de Sanda I (G 181), séc. X-XI, Museu de Gotland, Suécia. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019. O símbolo aparece junto ao que se acredita ser uma figuração do deus Odin, segurando uma lança (Gungnir ?).  A triquetra é uma forma for ma geométrica cujos terminais entrelaçam-se a partir de um centro em comum, projetando suas extremidades em três pontos diferentes. Em nossa opinião, é o principal candidato a ser o símbolo descrito por Snorri Sturluson ( Hrungnis hjarta ). ). Já o valknut são três triângulos que se encaixam entre si, mas ao contrário da triquetra, não formam uma figura única e possuem seis pontas, não se encaixando na descrição de Snorri.

 

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Imagem 17: Triquetra, runestone U 937, séc. XI, parte do conjunto das pedras rúnicas de Funbo, atualmente situada no jardim da Universidade de Uppsala, Suécia. Fonte Suécia.  Fonte da imagem.   É a representação mais famosa de uma triquetra durante a Era Viking, imagem. possuindo traços uniformes e bem definidos. Tanto a triquetra quanto o valknut foram associados ao deus Odin na Era Viking. Mas enquanto a triquetra é mais antiga e sobreviveu muito mais tempo na Europa (extremamente comum nas regiões celtas), o valknut é quantitativamente encontrado quase que exclusivamente na ilha de Gotland e somente entre os séculos VIII ao X. Em objetos móveis (como pentes, bastões, moedas, pingentes) e sem o contexto de figurações e iconografias mais complexas, é muito difícil de tentar entender o significado da triquetra e do valknut nos tempos pré-cristãos e saber se possuíam algum sentido mágico (talvez também fossem apenas motivos de decoração nestes materiais móveis). Em monumentos, porém, a sua relação com mito e ritual é bem definida, a exemplo das estelas gotlandesas de Hammars I (valknut, acima de um sacrifício) e Sanda S anda I (triquetra,

 

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ao lado de Odin recebendo um morto). A triquetra também foi adotada como símbolo da trindade no medievo nórdico (MacLeod & Mees, 2006, p. 128; Historiska, 2020).

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Imagem 18: Detalhe da cena sacrificial, estela de Stora Hammars I, séc. IX-X, Museu aberto de Bunge, Gotland, Suécia. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019. É talvez a representação mais famosa de um valknut, totalmente inserido dentro de um contexto ritual e religioso – cercado de pássaros, sacrifício e guerreiros armados, uma situação objetivamente relacionada ao deus Odin. Equívocos contemporâneos : “ Valknutr (...) expressa pela lei evolutiva do nascer/ser/desaparecer, rumo a um novo começo” começo ”   (Mistérios nórdicos , Mirella Faur, 2007, p. 410). O conceito de evolução na religiosidade e espiritualidade é moderno, derivado do evolucionismo oitocentista, sem qualquer tipo de evidência na Era Viking. “ Valknut (...) era utilizado como amuleto de proteção ”   (Símbolos Vikings, Educacional.com ). ). Não existem evidências objetivas do uso do valknut como amuleto na Era Viking.

 

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3.

Espiral e labirinto  labirinto  Na Idade do Bronze Nórdica o espiral era conectado ao culto solar e a guerra, com

a carruagem, embarcações e ao movimento do Sol. Na Idade do Ferro, o Sol passa a ser personificado e figurado, diminuindo as abstrações e elementos não figurativos (Wang, 2017, p. 6, 10). 124 

Imagem 19: Estela de Väskinde, séc. V-VI, Museu de Gotland, Suécia. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019. A espiral no período Vendel era geralmente representada associada a figuras de animais, mais comumente serpentes, mas também a seres humanos em cavalos.  A maioria das representações repr esentações simbólicas em formato for mato espiralado da Escandinávia apareceram durante os períodos das migrações e Vendel, especialmente na ilha de Gotland. A grande parte dos especialistas a conectam ao culto solar. O súbito desaparecimento de suas representações neste local é visto por alguns pesquisadores

 

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como indício de catástrofes climáticas (535-536 d.C., relacionadas ao mito do Fimbulwinter, advinda das consequências climáticas do vulcanismo, como perda das colheitas, fome, frio, abandono das vilas, etc). As imagens de discos solares e espirais solares em movimento (conectadas ao culto do Sol) das estelas pintadas da ilha de Gotland do século V e VI d.C. diminuem dos monumentos da ilha após o século VI e cederam lugar a imagens de heróis e deuses da Mitologia Nórdica, muito comuns no posterior período Viking. Após um período de grandes erupções vulcânicas, a  visibilidade do Sol é interrompida por meses e até mesmo por anos (Price; Gräslund, 2012, pp. 428-443).

Imagem 20: Detalhe da estela Stenkyrka Lillbjärs III (G 268), Gotland, Suécia, séc. IX, atualmente parte do acervo do Historiska Museet, Estocolmo. Foto de Munir Lutfe  Ayoub/NEVE, 2019. Uma das representações figurativas mais complexas realizadas durante a Era Viking, possuindo três símbolos geométricos (valknut, triskelion e espiral), um cavaleiro e uma valquíria portando um corno. O tema de escudos com espirais também foi representado em pingentes de valquírias: Wickham Market (Suffolk, (S uffolk, séc. IX, Museu Colchester); Vrejlev (séc. IX, Museu Nacional da Dinamarca); Tissø séc. IX, Museu Nacional da Dinamarca).

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 Apesar de ter diminuído muito na iconografia do período Viking, a espiral ainda ocupa posição em alguns monumentos. Em Lillbjärs, um cavaleiro porta um escudo com uma espiral, ao lado de um valknut e um triskelion de cornos e em sua frente, uma  valquíria o recepcionando. Aqui o sentido solar solar talvez não seja tão importante, mas pode ser que neste caso, simbolismos solares foram transferidos a Odin – pois o contexto da cena é totalmente odinista. A espiral seria assim uma proteção ao guerreiro? Em amuletos encontrados em tumbas femininas de Birka, onde observamos a representação central de uma espiral, arqueólogos identificam este objeto como sendo uma representação de escudo – neste caso, o objeto teria sido utilizado para proteção mágica individual (Gräslund, 2005, p. 385). Snorri Sturluson menciona que escudos eram denominados de “ Sol no navio” navio ” . Vários elementos da literatura e mitologia nórdica indicam que escudos eram vistos como símbolos do Sol (a exemplo do kenning  para  para escudo: skipsól, Wang, 2017, p. 14, 25). Talvez tenha ocorrido uma continuidade na  vinculação do astro rei com espirais e escudos, mas na iconografia foram transferidos para contextos odinistas.

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Imagem 21: Amuleto 21: Amuleto em forma de escudo com suástica espiralada, tumba fem feminina inina de Birka (Bj 954), Era Viking (Gräslund, 2005, p. 385).

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Imagem 22: Labirinto da igreja de Fröjel, Gotland, Suécia, séc. XIV. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019. A ilha da Gotlândia possui mais de 500 labirintos de pedra criados na Idade Média.

 

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Imagem 23: Labirinto (trojaborgar  (trojaborgar ) em Maria kirkko (Igreja de Santa Maria), Turku, Finlândia, séc. XV. Foto de Vitor Menini/NEVE (2019). Uma forma diferenciada de espiral que ocorria na Escandinávia eram os labirintos Sámi. Geralmente eram estruturas de pedra, seguindo uma tendência circular, em formato oval ou em forma de ferradura de cavalo. A função destes locais é controversa, mas geralmente são atribuídas relações com rituais e práticas mágicas (Sampaio, 2017). Também são encontradas pinturas, esculturas e ornamentações de labirintos de estilo Sámi em dezenas de igrejas da Escandinávia Medieval. Os labirintos que ocorrem nas igrejas nórdicas não seguem o padrão europeu, conhecido como modelo de Chartres (comum em pinturas e pavimentações). Em vez disso, são frequentemente encontrados os trojaborgar. Pesquisas efetuadas nas igrejas medievais de Gevninge, Båstad e Östra Karup indicam que elas possivelmente foram utilizadas como símbolos apotropaicos, protegendo o portão e a abertura para o coro da igreja. No momento em que estes labirintos foram perdendo espaço nas igrejas, eles

 

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continuaram a existir no ambiente costeiro como protetores da pesca e caça até pouco tempo (Swärd, 2012 p. 40). Equívocos contemporâneos : “ Espiral: o movimento cíclico da introversão e extroversão, involução e evolução” evolução”  (Mistérios nórdicos , Mirella Faur, 2007, p. 410). A extroversão e introversão são conceitos modernos, derivados da Psicologia e Psicanálise, enquanto a evolução é um produto do Oitocentos. Nenhuma delas pode ser aplicada ao medievo nórdico. 4. Nó quadrifólico - Símbolo de Hablingbo (Tetragrama, Nó de Salomão, St. Hanskors, Bandknutar, Tristramsknoten)  Tristramsknoten)  Um enigmático símbolo que está pintado na estela Hablingbo Havor II (SHM 21879), datada entre os séculos V ao VII d.C. Não existem estudos que comprovem exatamente qual o significado deste símbolo neste monumento. Uma publicação, analisando o motivo de serpentes logo abaixo ao quadrifólio do monumento, relaciona as imagens com relação a simbolismo marinhos no mundo nórdico, onde a figura do dragão estaria vinculada a proteção de viagens e das embarcações (Pearl, 2014, p. 149). O nó quadrifólico também aparece na arte germânica do período Vendel em outros materiais, como bracteatas (IK 297, Lyngby, Dinamarca), o que sugere um simbolismo mágico em amuletos de uso pessoal, mas com significado ainda indefinido.

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Imagem 24: Estela Hablingbo Havor II (SHM 21879), séc. V-VII d.C., Museu de Gotland, Suécia. Foto de Munir Lutfe Ayoub/NEVE, 2019.

Imagem 25: Fragmento da tapeçaria de Oseberg, Suécia, séc. IX d.C., reconstituição de Mary Storm (1939-1940). Fonte (1939-1940). Fonte da imagem. O nó quadrifólico foi representado ao lado

 

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de suásticas. Ambos os símbolos parecem p arecem estar relacionados ao contexto fúnebre da cena. Um nó quadrifólico isolado foi representado ao lado de uma figura masculina portando um elmo com cornos e espada na mão. Durante a Era Viking este símbolo permaneceu com co m esparsas aparições, a exemplo da tapeçaria de Oseberg (datada do século IX d.C.). Várias representações foram realizadas de forma isolada e em outras, ele aparece ao lado de suásticas, sugerindo um significado próximo ou relacionado ao contexto fúnebre do conjunto. Em todo caso, é possível que ele também tivesse vínculo com os rituais a Odin (sem maiores evidências) ou então a rituais de morte (mais provável).

Imagem 26: Nós quadrifólicos na pia batismal de arenito da Igreja de d e Näs, Västergötland, Suécia, 1200 d.C. Fonte da imagem: Höök, 2015, p. 33. Os símbolos integram-se a um conjunto de esculturas de nós que perfazem quase toda a superfície do objeto, dando um sentido estético ao significado de proteção.

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 Após a cristianização escandinava, seu uso foi relacionado a João Batista e denominado de Sankt Hanskors na Suécia. Era esculpido es culpido em pias batismais como objeto de proteção contra os males que poderiam afligir a criança antes do batismo, considerada ainda pagã. Os pais queriam proteção, ao mesmo tempo que buscavam que o filho pudesse adentrar aos céus no futuro. As cordas e os nós do símbolo possuíam o significado de amarração e controle (Höök, 2015, p. 33). Nos calendários medievais suecos, o dia de João Batista (24 de junho) era marcado com este símbolo. Também era gravado em portas para impedir a entrada de forças malignas e infortúnios para os seus habitantes (Cronsioe, 2010). Os ornamentos pagãos em forma de nós foram transformados em símbolos pela arte românica, tornando-se instrumentos de proteção contra o mal (Ullén & Ljungstedt, 2003, p. 34), mas ao mesmo tempo, são também decorativos (Historiska, 2020).

Imagem 27: Triquetra, Nó quadrifólico e bandknutar, Pia batismal, Igreja de Remmarlöv (Escânia, Suécia), 1200 d.C., Fonte d.C., Fonte da imagem.

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 As pias batismais são excelentes fontes iconográficas para o estudo do simbolismo animal e sua associação com bestiários medievais, hagiografia, narrativas bíblicas, história da Escandinávia, etc. Elas apresentam farto simbolismo geométrico, figuras animais e humanas, cenas históricas e cotidianas, possuindo extensa morfologia e  variações. Na Escandinávia, Escandinávia, elas apresentam muitas vezes conjugadas a runas, imag imagens ens e símbolos do paganismo (como em Norum, Suécia). Essa ambiguidade religiosa possuía contextos políticos e sociais, refletidos na arte monumental (Boyer, 1987, p. 61). 5.

Pentagrama (hekselås, marekross, tussestjerne)  tussestjerne)  O pentagrama não é um símbolo presente p resente na Escandinávia antes da cristianização. De origem oriental, ele se torna comum após o século XII, tanto com a posterior popularização dos grimórios, quanto pela presença do folclore mágico popular, presente em diversas igrejas sob a forma de grafites e marcas. Estas tanto podem significar expressões de agradecimento (embarcações), quanto marcas de proteção contra o mal (especialmente formas circulares) (Heath, 2014). O pentagrama foi utilizado para afastar o diabo, as bruxas e os demônios (hekselås  ( hekselås ) e identificado a Maria (Marekross  (Marekross ) nas Igrejas medievais suecas (Källström, 2017, p. 6). Nos registros rurais, ele foi denominado de trollfot , markors , älvkors , häxlås  (Historiska,   (Historiska, 2020). O símbolo também foi utilizado na Escandinávia medieval para identificação da posse de objetos, contra roubos, marcas de gado e conjuração do mal, sendo associado aos gigantes (trolltegn  ( trolltegn , tussestjerne ) (Boyer, 1986, p. 115). Outra utilização do pentagrama na Escandinávia medieval foi em marcas de tijolos na construção das igrejas, especificando associações dos pedreiros a corporações, mas ao mesmo tempo, também utilizados como símbolos da proteção popular contra os males, como na catedral de Turku (Stenlund, 2017, p. 479-486). 479-48 6).

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Imagem 28 e 29: Pentagrama da igreja de Ala, Gotlândia, Suécia, séc. XII (Fonte: Källström, 2017, p. 5); Símbolos encontrados na Catedral de Turku, Finlândia (séc. XIV).  As marcas abaixo do pentagrama simbolizam as chaves de São Pedro (Stenlund, 2017, p. 482). No medievo nórdico o pentagrama possuía dois tipos de representações: uma tradicional, com a forma da estrela de Salomão na posição normal ou invertida (a associação desta inversão com o diabo foi produzida na modernidade), geralmente gravada na forma de grafites nas paredes de Igrejas e casas. Outra, mais elaborada e artística, esculpida entrelaçada com um círculo central, seguia a tradição de esculturas em forma de nós de períodos mais antigos e quase sempre inseridas em pias batismais.

 

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Imagem 30: Fonte batismal, Igreja de Ekeby (Escânia, Suécia), 1200 d.C., Fonte d.C., Fonte da imagem. O pentagrama é integrado a um círculo central e encontra-se ao lado de relevos de nós ornamentais.  Após o medievo, a popularidade do símbolo tem continuidade. continuidade. Parteiras da Suécia do Setecentos utilizavam pentagramas para proteção de crianças; elas também eram colocadas em portas de casas, estábulos, camas, berços, esculpidas com faca na madeira ou pintadas com giz ou cera vermelha (Hendriks, 2016, p. 2).

 

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Imagem 31: Pentagrama, pia batismal, Igreja de Fulltofta (Escânia, Suécia), séc. XII. Fonte XII.  Fonte da imagem. imagem. Esta  Esta bela representação r epresentação de pentragrama filia-se à antiga tradição de símbolos entrelaçados em nós, presentes especialmente em triquetas e valknutes. 6.

Cruz Troll (Trollkors)  No medievo cristão existia a visão de que uma criança recém nascida era “pagã pagã”” e que corria o risco de ser levada pelo diabo – um verdadeiro risco de vida. Havia o medo de que um feiticeiro substituísse a criança antes do batismo, o que gerava a necessidade do uso de vários objetos mágicos para proteção da criança. Estes também seriam usados para conceder uma boa vida futura para o pequeno cristão. Essas crenças e práticas perduraram do medievo até o século XIX na Suécia (Höök, 2015, p. 13). A grande maioria das proteções mágicas era direcionada para os trolls e feiticeiras – que poderiam substituir os filhos. O recém-nascido (“ ( “pagão pagão””) era vigiado de perto, o fogo nas lareiras devia queimar constantemente para afugentar os poderes do mal, objetos de ferro e livros sagrados eram colocados no berço. Na casa do recém-nascido ainda não batizado, todas as janelas e portas deviam ficar permanentemente fechadas e nenhum estranho podia entrar (Höök, 2015, pp. 13-15).

 

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Imagem 32: Cruz Troll   (Trollkors), Brogården, Suécia, sem datação, provavelmente século XIX. Fonte XIX. Fonte da imagem.  imagem.  Esta representação de cuz geralmente era era esculpida em portas, janelas e locais próximos a caminhos.  As cruzes troll eram amuletos com uma cruz latina incisa ou ainda, marcas de cruzes realizadas em portas, janelas e objetos móveis, realizadas com a intenção de proteger contra malefícios. Sua origem provém do folclore escandinavo moderno. Estas marcas também são inseridas em potes ou recipientes para proteger alimentos (Ålenius, 1943, p. 91).

Imagem 33: Pingente “Futhark troll cross” cross”, vendido no Brasil pelo site  site  Philip Mead  como  como sendo “antigo amuleto dos povos escandinavos” escandinavos” 

 

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Na década de 1990 o artesão sueco Kari Erlands inventou um novo símbolo com o nome de Trollkors , utilizando a runa Othala  (Odal)   (Odal) do Futhark antigo (Frej, 2016). O símbolo se propagou pela internet e transforma-se equivocadamente num suposto “objeto da Era Viking” Viking”, propagado mesmo no Brasil: “ Acreditavam -se que a Cruz de troll tinha o poder de afastar os trolls e elfos dos povos vikings” vikings” (Símbolos  (Símbolos nórdicos e seus significados , Elizangela Assis, internet). O verbete Asatru da Wikipedia em português, inseriu a cruz troll como sendo um pingente do folclore sueco (ao lado de uma imagem do Valknut e Mjollnir), o que também é um erro. Equívocos contemporâneos : “ Cruz Troll (...) usado por los primeiros pueblos escandinavos como uma protecion contra los trolls tr olls y elfos” elfos” (Símbolos  (Símbolos de poder nórdicos ))..  A cruz troll é uma invenção moderna (em sua forma rúnica) e a folclórica é muito posterior ao cristianismo ser introduzido na Escandinávia.

7.

Cruz élfica (ellakors, ellakors, älvkors)  älvkors)   Amuletos criados para prevenir doenças entre as crianças, geralmente feitos de prata e utilizados na Dinamarca e Suécia do século XVI até o século XIX (Höök, 2015, p. 19). Os elfos eram considerados originadores de vários tipos de doenças, como erupções cutâneas, doenças de pele até mau hálito. Para ser eficiente, a cruz ou amuleto deveria ser de prata e carregada junto ao corpo e dentro da roupa, sem ser visível externamente. Podia também ser utilizada por adultos doentes. Não podia ser vendida e era alojada junto ao túmulo do seu usuário, quando este morria (Höök, 2015, p. 20).

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Imagem 34: Cruz élfica (Ellakors), pingente de prata, Västergötlands Museum, Suécia. Sem datação, provavelmente depois do século XVIII. Fonte XVIII.  Fonte da imagem. 8.

Vegvísir e ægishjálmr  ægishjálmr  Dois símbolos mágicos que surgem nos tempos modernos, não sendo conhecidos durante a Era Viking. O Vegvísir foi um signo mágico utilizado para p ara encontrar o caminho e devido ao seu formato semelhante a uma rosa dos ventos, foi f oi comparado a uma bússola (Zarrillo, (Zarr illo, 2018, p. 29). O Ægishjálmur foi citado primeiramente no Fáfnismál 16, 17 e 19 (Codex Regius da Edda Poética ). ). Neste poema éddico, o símbolo traria tr aria vitória a seu possuidor (segundo o dragão Fáfnir), e no mesmo poema, alude-se a pertencer ao tesouro de Sigurðr, de onde se deduz que estaria gravado em um elmo. Ao mesmo tempo, essa descrição de um objeto mágico na cabeça de Fáfnir tem relação com uma tr tradição adição européia que remonta aos gregos e que sobreviveu até o fim da Idade Média: de uma pedra que os dragões possuíam em suas cabeças (snakestone ou dracontite), utilizada para fins curativos; e por outro lado, com o olhar mortífero que este tipo de monstro teria (o “olhar de fogo” fogo”). Em algumas sagas islandesas, como Sverris saga   38, o símbolo também é citado como proteção nas batalhas.

 

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Imagem 35: Ægishjálmur no manuscrito GKS 2367 4to, página 14r (Codex Regius da Edda em Prosa ), ), séc. XIV. Segundo o pesquisador Kári Pálsson (comentário na internet), trata-se de um acréscimo posterior ao manuscrito, pela diferença de cor e textura, possivelmente realizado no século XVI. Segundo os pesquisadores Teresa Dröfn Dr öfn Freysdóttir Njarðvík e Rune Hjarnø Rasmussen (comentários na internet), o desenho foi realizado ao lado do texto de Snorri – na cena onde o deus Thor enfrenta a serpente do mundo. Ainda não existem estudos publicados sobre este tema. Foto de Rune Hjarnø Rasmussen (Universidade de Uppsala, internet, 2019).

 

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Imagem 36: Possivelmente Ægishjálmur notrata-se manuscrito AM inserção 756 4to, 10v, séc. XVposterior (transcrição da Edda em Prosa). de uma imagética à escrita do manuscrito, talvez no século XVI, ainda sem estudos. Os desenhos foram realizados na parte inferior da página. Fonte página. Fonte

Para o pesquisador alemão Rudolf Simek (2007, p. 2) as características terríveis do Ægishjálmur foram originadas do classicismo, derivados do grego aigis (como o escudo de Zeus e a capa de Pallas Atenas). A palavra grega aigis pode ter se tornado elmo do terror na etimologia folclórica como resultado da similaridade fonética com o nórdico œgr, terrível. E apesar da derivação etimológica, Ægishjálmur não teria relação com o gigante marinho Ægir. Alguns especialistas traduzem Ægishjálmur como leme do pavor ou de Æegir, devido ao seu formato nos grimórios, um círculo formado de oito braços em forma de tridentes, tr identes, assemelhando-se ao leme de roda das embarcações. O problema é que esse tipo de instrumento náutico só foi conhecido na Escandinávia a partir do século XIII: os vikings utilizavam um remo transversal como leme. Como Æegir era uma divindade relacionada ao mar, talvez os eruditos nórdicos do final do medievo tenham fundido a este folclore o tridente de Netuno, explicando a sua morfologia (ou mesmo o tridente do demônio, utilizado no imaginário cristão). Segundo Macleod e Mees (2006,

 

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p. 252), o Ægishjálmur foi uma forma cruzada e adaptada do símbolo tvímadr, presente no calendário rúnico do século XIII.

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Imagem 37: Ægishjálmur, Manuscrito Huld  (ÍB  (ÍB 383 4to), 25v, 1860. Fonte. 1860.  Fonte.

 

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Imagem 38: Vegvísir, Manuscrito Huld  (ÍB  (ÍB 383 4to), 26v, 1860, 1860, Fonte.

Recentemente encontramos uma referência de um vaso cerâmico encontrado em Hedeby na década de 1970, apresentando suásticas e uma figura muito semelhante ao Ægishjálmur. Portanto, graficamente este símbolo já era conhe conhecido cido durante a Era Viking, mas talvez com significados diferentes do registrado pela literatura medieval e depois pelos grimórios islandeses. A cena inclui cinco cervídeos, junto a três suásticas e o dito símbolo cruciforme, logo acima de um dos cervos. Referência da imagem: Hahn, K-D. 1973: Ein GefaB mit Tierfries aus Haithabu. Berichte iiber die Ausgrabungen in Haithabu . Bericht 6. Das archaologische Fundmaterial Il. Neumtinster.

 

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Equívocos contemporâneos:  em  em vários sites, canais do youtube, livros e revistas é generalizado que o vegvísir foi uma bússola viking : “ Era utilizada pelos vikings para diversas viagens como um guia para que o caminho não fosse perdido ”   (Símbolos nórdicos , Dicionário de Símbolos). Em primeiro lugar, este símbolo é bem posterior à Era Viking. Em segundo, os nórdicos da Era Viking não conheciam a bússola e nem o timão (leme redondo) para navegação. Foi somente a partir do século XIII que a Europa começou a utilizar um eixo magnetizado inserido em uma rosa dos ventos (a bússola como conhecemos e não apenas um ponteiro/imã) (Hernández, 2020).

*Nota  *Nota  Este ensaio faz parte da pesquisa Simbolismo pesquisa Simbolismo religioso nórdico em monumentos da Era Viking e na Europa Medieval(Lattes/PPGCR-UFPB). Vários resultados desta pesquisa já foram apresentados em eventos acadêmicos: Conferência: A religião dos  vikings: novas perspectivas, III Feira Medieval e VI Simpósio de História, Cultura e Política. da PUC-PR , 2019; Conferência: La religion nórdica en la Era Vikinga, Universidad Complutense de Madrid , 2018; Conferência: As relações culturais entre Escandinávia e Eurásia na Era Viking, I Simpósio Nacional de Estudos Medievais

 

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da UFSJ , 2018; Palestra: Animais, suásticas e símbolos celestes na Escandinávia (séc. VXI d.C.), V Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos , 2017.  Agradecimentos:   Helena Bure Wijk, Eirik Westcoat, Susan Tsugami (NEVE), Vitor Menini (NEVE), Victor Hugo Sampaio (NEVE), Munir Lutfe Ayoub (NEVE), Pablo Gomes de Miranda (NEVE) e Leandro Vilar Oliveira (NEVE). Referências bibliográficas:    ÅLENIUS, Nils Olof. Skyddet för födan. Årsboken födan. Årsboken Uppland , 1943, pp. 86-91. BOYER, Régis. Régis. Le Christ des barbares : le monde mordique (IX-XIII siècle). Paris: Les Éditions du Cerf, 1987. BOYER, Régis. Le monde du double : la magia chez les anciens Scandinaves. Paris: L´ Ile Verte, 1986. CASELLI, Andrea. Amuletos e talismãs. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História das Religiões na Antiguidade e Medievo . Rio de Janeiro: Vozes, no prelo. CHAPPLE, Robert M.  M. Swastikas from the Oseberg Ship Burial, Norway & T Time ime Travelling Nazis. Robert Chapple Archaeologist , 2017. COIMBRA, Fernando. Symbols for protection in war among European societies (1000 BC - 1000 AD). Late Prehistory and Protohistory : Bronze Age and Iron Age. Proceedings of the XVII UISPP World Congress, Burgos, Spain. Oxford: Archaeopress Publishing Ltd, 2016, pp. 15-26. CRONSIOE, Igor. Riksantikvarieämbetets Igor. Riksantikvarieämbetets symbol. Viavinga , 2010. FRANCESCHI, Gérad et al. Men, gods and masks in Nordic Iron Age art . Koln: Verlag der Buchhandlung, 2005. FREJ, Prinz.  Prinz.  “ Cock-and-Bullcient Cock-and-Bullcient””   the art of inventing folklore. The Principality of Lorenzburg , 2016. GRÄSLUND, Anne-Sofie. Symbolik för lycka och skydd: vikingatida amuletthängen och deras rituella kontext. In: Fra funn til samfunn : Jernalderstudier tilegnet Bergljot Solberg på 70-årsdagen, Universitetet i Bergen, 2005, pp. 377-392. HEATH, Neil. Mysteries Neil. Mysteries of medieval graffiti in England's churches. BBC News , 2014. HENDRIKS, Cor. De pad en de heks, Rob Scholte Museum , 2016, pp. 1-10.

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SÍMBOLOS VIKINGS E UMBANDISTAS: CÓPIA OU COINCIDÊNCIA?  COINCIDÊNCIA?   Johnni Langer Há alguns anos circulam pela internet algumas indagações sobre a semelhança entre símbolos mágicos utilizados pelos vikings e os pontos riscados da Umbanda e suas possíveis conexões ou influências mútuas. Em parte isso se deve à crescente popularidade dos nórdicos pela mídia televisiva, mas também pela imensa difusão de tatuagens no mundo pop, como o símbolo de um vegvisir usado pela cantora islandesa Björk em um dos braços ou pelas bandas de viking metal. Vamos esclarecer alguns pontos sobre a área nórdica e em seguida algumas considerações sobre a Umbanda, para em seguida realizarmos algumas conclusões sobre o assunto.

 

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 A cantora Björk e sua tatuagem de vegvisir  

Tatuagens com ægishjálmur   Símbolos vikings e renascentistas: 

 

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Em primeiro lugar, ocorre uma certa confusão com o termo viking. Os grafismos simbólicos considerados hoje em dia como vikings foram retiradas de obras islandesas escritas durante o século XVI e XVII, muito depois da Era Viking. Alguns destes símbolos realmente são nativos, conhecidos durante o período das migrações germânicas até o final do século XI, como a suástica (também utilizada por diversos outros povos euroasiáticos e relacionada tanto a Odin quanto a Thor, vide o estudo:  estudo:  Símbolos mágicos nórdicos: guia visual e histórico )  e o Hrungnisjarta  a partir do século VIII. Nas fontes medievais, a palavra viking surge relacionada a uma atividade temporária, geralmente náutica e predatória e em alguns casos possui certa identidade cultural, mas no imaginário contemporâneo ela acaba sendo sinônimo de nórdico em geral (Langer, 2018). Neste caso, a aplicação do termo viking aos símbolos islandeses é equivocada. Os símbolos mágicos que nos interessam dos grimórios islandeses (grande manuais de práticas mágicas) são especialmente o vegvisír  (um  (um símbolo mágico utilizado para as pessoas encontrarem o caminho durante tempestades ou períodos nublados) e o ægishjálmur  (utilizado  (utilizado para proteção e feitiçaria). Somente esse último foi registrado anteriormente pela literatura durante o período medieval, mas não se conhecem imagens preservadas dele antes do século XVI. Diversos pesquisadores questionam se ele realmente teria sido utilizado pelos guerreiros em seus elmos durante a Era Viking (750 a 1100 d.C.), sendo mais visto como uma figura puramente literária e mitológica (Foster, 2017). Neste sentido, não há como comprovar ou sequer referendar o uso da expressão símbolos vikings a esses dois grafismos dos grimórios.

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Ægishjálmur, Galdrakver, Lbs. 143 8vo, Islândia, 1670.  1670.  O mais antigo dos grimórios islandeses foi o Galdrabók, datado de 1600, contendo diversos encantamentos e invocações a entidades cristãs, demônios e deuses nórdicos. O material rúnico contido neste manuscrito é percebido como uma expressão nórdica tardia de tradições mágicas mediterrânicas. Muitos símbolos são variações latinas de cruzes e de runas (Macleod e Mees, 2006).

 

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O Ægishjálmur  foi  foi citado primeiramente no Fáfnismál 16, 17 e 19 (Codex Regius da Edda Poética). Neste poema éddico, o símbolo traria vitória a seu possuidor (segundo o dragão Fáfnir), e no mesmo poema, alude-se a pertencer ao tesouro de Sigurðr, de onde se deduz que estaria gravado em um elmo. Ao mesmo tempo, essa descrição de um objeto mágico na cabeça de Fáfnir tem relação com uma tr tradição adição européia que remonta aos gregos e que sobreviveu até o fim da Idade Média: de uma pedra que os dragões possuíam em suas cabeças (snakestone ou dracontite), utilizada para fins curativos; e por outro lado, com o olhar mortífero que este tipo de monstro teria (o “olhar de fogo” fogo”). Em algumas sagas islandesas, como Sverris saga   38, o símbolo também é citado como proteção nas batalhas.

Vegvísir, manuscrito Huld, p. 60, Geir Vigfússon, Islândia, 1860.  1860.  Para o pesquisador alemão Rudolf Simek (2007, p. 2) as características terríveis do Ægishjálmur foram originadas do classicismo, derivados do grego aigis   (como o

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escudo de Zeus e a capa de Pallas Atenas). A palavra grega aigis  pode   pode ter se tornado elmo do terror na etimologia folclórica como resultado da similaridade fonética com o nórdico œgr , terrível. E apesar da derivação etimológica, Ægishjálmur não teria relação com o gigante marinho Ægir.  Alguns especialistas traduzem Ægishjálmur como leme do pavor ou de Æegir, devido ao seu formato nos grimórios, um círculo formado de oito braços em forma de tridentes, assemelhando-se ao leme de roda das embarcações. O problema é que esse tipo de instrumento náutico só foi conhecido na Escandinávia a partir do século XIII: os  vikings utilizavam um remo transversal como leme. Como Æegir era uma divindade relacionada ao mar, talvez os eruditos nórdicos do final do medievo tenham fundido a este folclore o tridente de Netuno, explicando a sua morfologia (ou mesmo o tridente do demônio, utilizado no imaginário cristão). De qualquer maneira, não há imagens deste símbolo anterior ao século XV, e não temos como provar que existiu entre os vikings. Segundo Macleod e Mees (2006, p. 252), o Ægishjálmur foi uma forma cruzada e adaptada do símbolo tvímadr , presente no calendário rúnico do século XIII. Sintetizando, a morfologia conhecida do Ægishjálmur possivelmente foi originada de uma confluência tardo medieval entre tradições clássicas e cristãs (o tridente), aplicada a caracteres não alfabéticos (o tvímadr ), ), não tendo relação direta com a tradição rúnica antiga. Os símbolos de Exu:  

 A Umbanda possui diversas manifestações visuais sagradas conhecidas como pontos riscados, em especial o da Pomba gira Menina . Um círculo (considerado o universo da perfeição); um tridente (associado a Exu), hexagrama e triângulos entrelaçados - estes sendo associados a rituais (Sampaio e Gnerre, 2012). Segundo Solera (2014, p. 31), os sinais e símbolos umbandistas correspondem a várias tradições advindas de religiosidades e diferenciadas historicamente, como o Espiritismo, judaísmo, cristianismo e etnias indígenas e africanas.

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O símbolo do tridente do Exu na Umbanda é uma apropriação derivada do sincretismo religioso moderno, não tendo uma origem puramente africana (Sodré, 2009, p. 5). O Exu é uma entidade Iorubá  relacionada   relacionada com a fertilidade, cujos simbolismos mais conhecidos são um porte fálico, cabaças e búzios. A Umbanda possui suas origens a partir de 1908, derivada essencialmente de diversas tradições brasileiras, indígenas e africanas. Devido a fortes perseguições e associações do Exu com a figura do diabo  judaico-cristão, os adeptos da Umbanda (em uma forma de resistência cultural) passaram a adotar os simbolismos típicos da tradição medieval relacionada a Satã: este orixá passa a ser representado repr esentado de cor vermelha, com chifres e tridente (a exemplo do Exu das sete encruzilhadas e Exu caveira). O tridente, deste modo, foi um símbolo derivado do imaginário judaico-cristão sobre a figura de d e Exu, mas que recebeu outros significados adaptados, como os diversos caminhos que o orixá percorre e domina (Sodré, 2009, p. 9 e 12).

Ponto riscado Pomba Gira Menina; Ponto riscado Exu tranca gira. Fonte:  http://umbandapaijoaodeangola.com.br/pontos-riscados-exu.php Não existem pesquisas mais detalhadas ou profundas sobre sobr e a iconografia simbólica afro-brasileira. De nossa parte, realizamos alguns levantamentos historiográficos para detectar possíveis origens coloniais dos símbolos com tridente na religiosidade popular brasileira, mas não conseguimos nenhum resultado. Analisando Souza (1986) e Calainho (2008), percebemos que os símbolos adotados por escravos brasileiros durante o período colonial são influenciados pela forma de cruzes latinas, Sol, estrelas, serpentes, caveiras

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e flores, mas não existe nenhuma referência a tridentes ou qualquer similitude com os ponto riscado de Exu antes do século XIX, reforçando sua origem contemporânea. Conclusão:  

De um ponto de vista histórico, os símbolos islandeses e os pontos riscados dedicados a Exu não possuem pos suem qualquer tipo de conexão, influência ou aproximação. Suas similitudes são apenas frutos de uma coincidência morfológica. mor fológica. Ambos parecem ter sido influenciados pelo imaginário cristão, que ressignificou tradições nativas de práticas mágicas com o referencial do tridente. Outras tradições religiosas que possuem símbolos circulares com terminais tridentiformes, como a ashtánga yantra  da   da tradição shivaista, também foram relacionados ao Ægishjálmur –   mas do mesmo modo alguns pesquisadores vem descartando essa similitude, considerando uma simples coincidência (Foster, 2017). Explicações para as similitudes entre símbolos de culturas afastadas no tempo e no espaço são populares hoje em dia, geralmente apelando para referenciais como “ emanações do inconsciente coletivo” coletivo ”   ou produtos arquetípicos, mas não passam de especulações sem bases mais rigorosas de investigação. O medievalista francês Michel Pastoreau conclama para o perigo de anacronismo constante que ronda o historiador quando estuda o simbolismo e a fragilidade da d a análise universalista: “O que às vezes leva –   erradamente –   a crer na existência de uma simbólica transcultural, apoiada em arquétipos (...) no mundo dos símbolos, tudo é cultural e deve ser estudado em relação à sociedade que dele faz uso, em determinado momento de sua história e em um contexto preciso””. (Pastoreau, 2002, p. 507). preciso Comparações apressadas utilizando apenas a morfologia, sem um contexto histórico e social mais rigoroso, podem criar conclusões fantasiosas como as que relacionam conexões transcontinentais entre os povos pré-colombianos e os do Velho Mundo – utilizando simplesmente a coincidência do formato das pirâmides que existem entre ambos. Os símbolos mágicos constituem um terreno terr eno ainda repleto de possibilidades para pesquisas futuras, mas os referenciais generalistas e universalistas devem ser evitados pelas próximas gerações de pesquisadores.

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Imagens: jogo de runas contemporâneo (esquerda, alto); detalhe da inscrição Imagens: jogo de Rök  de Rök  (Ög  (Ög 136), Suécia (esquerda, abaixo); pedra rúnica de Funbo (U 937), Suécia (centro); runomancia (direita, alto); pingente contemporâneo com a runa Algiz (direita, abaixo). Fonte das imagens: internet. SETE ERROS HISTÓRICOS SOBRE RUNAS E MAGIA RÚNICA Johnni Langer  As runas fascinam o homem moderno. Desde que o professor Otto Lindenbrock, na cidade de Hamburgo, deparou-se com inscrições rúnicas escritas por Arne Saknussemm e deu início a sua majestosa aventura (Viagem ( Viagem ao centro da Terra , Júlio Verne, 1864) a arte ocidental retoma a todo instante o universo rúnico. Tolkien também fez uso delas a partir de 1937 e os anos 1970, com o  boom   místico da Nova Era, retomaram elas com um intenso fervor. Atualmente encontramos runas em todo canto: na música, na televisão, no cinema, em eventos esotéricos, na mídia e na internet. Elas povoam nossos imaginários, mas ao mesmo tempo, possuem uma relação com o passado nórdico, muitas vezes repleto de fantasias e equívocos. Nossa intenção neste pequeno ensaio é desmistificar alguns aspectos ditos históricos na interpretação das runas presentes em autores modernos. Não estamos realizando nenhum ataque pessoal a nenhuma forma de crença ou misticismo –   toda forma de saber é válida e lícita nos tempos atuais, não importando o seu conteúdo ou intenções. A função do historiador é tentar entender as formas com que um determinado conteúdo é recebido, rressignificado essignificado

e interpretado no mundo contemporâneo, mas ao mesmo tempo, compreender como

 

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esse tema também foi entendido efetivamente no passado (antigo ou medieval). Muitas  vezes, ideias religiosas atuais se baseiam em uma uma ancestralidade ou uma origem que não existiu – o discurso mítico moderno inventa tradições  baseadas   baseadas na História, tanto para criar uma legitimidade quanto impor valores e normas de comportamento no presente (Hobsbawm, 1997, p. 9-10). Com isso, ao analisarmos alguns aspectos que tenham relação com crenças pessoais nos dias de hoje, não estamos promovendo pro movendo nenhum ataque ou discriminação religiosa e sim, procuramos sim, procuramos entender entender porque elas existem existem e qual os seus significados sociai ss.. Para separar melhor a bibliografia para o leitor, os títulos de fontes  primárias  (obras esotéricas, religiosas, r eligiosas, místicas, neopagãs, mágicas, espiritualistas,  jornalísticas ou de popularização) são detalhados detalhados no corpus  do  do texto, enquanto as fontes secundárias  (obras   (obras acadêmicas para referenciais analíticos e críticos) são citadas como autor, data, paginação no corpus  e   e detalhadas no final do ensaio. Nosso referencial de investigação e análise é baseado nestas fontes secundárias, adotando principalmente duas metodologias: o modelo de tradições inventadas (Hobsbawm, 1997) e a teoria da recepção nórdica (Ross, 2018).

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Imagem 1: 1: capa da edição original do livro Das Geheimnis der Runen  (O   (O segredo das runas), de Guido von List, 1908. List foi um dos responsáveis pela popularização do neopaganismo nórdico e a interpretação mágica das runas germânicas antigas. O desenho do livro inclui 18 runas (selecionadas do futhark  anglo-saxônico de 31 caracteres) e incluída uma suástica central, um símbolo antigo e medieval presente na recepção de intelectuais de línguas germânicas desde a segunda metade do século XIX, interpretada equivocadamente como um símbolo do deus Thor. 1. As runas são inscrições mágicas    A ideia mais comum no imaginário de grande parte das pessoas é que toda rruna una seja algo mágico, ou seja, as inscrições rúnicas são míticas em si mesmas. Isso se deve basicamente a obras de popularização sobre o tema, fundindo as inscrições históricas com conteúdo da Edda Poética , como no primeiro livro publicado no Brasil sobre a temática nórdica: “Os sagrados caracteres dotados de prodigioso poder” poder ” (Dicionário  (Dicionário de Mitologia Nórdica , Esopinho, s.d., p. 92, possivelmente publicado nos anos 1960). Mais recentemente, autores estrangeiros e nacionais perpetuam essa visão: “são um sistema que detém e transmite os poderes essenciais da natureza e seu uso tem como objetivo trazer equilíbrio e harmonia à vida” vida” (Runas   ( Runas , Catherine J. Duane e Orla Duane, 1997); “Las runas son caracteres mágicos, combinados según reglas tradicionales, tradicionales, com um fin pantacular”” ( Amuletos, pantacular  ( Amuletos, talismanes y pantáculos , Jean Rivière, 1974, p. 323). A popular escritora esotérica Mirela Faur também referenda essa concepção: “ A maioria das inscrições tinha finalidades mágicas e visava atrair a sorte, afastar o mal ” (Ragnarök   ( Ragnarök : o crepúsculo dos deuses , 2011, Mirella Faur, p. 72). Na realidade, de um ponto de vista puramente quantitativo, a grande maioria do conteúdo dos textos rúnicos da Era Viking (cerca de 3.000 inscrições) não tem relação direta com religião, mito ou magia, abordando questões puramente comemorativas, literárias, funerárias e laudatórias (Williams, 2008, p. 285-286). Sobre isso comentam também dois grandes especialistas em magia rúnica: “In fact surprisingly few of the practices associated with runic writing seem to be inherently magical” magical ”   (MacLeod & Mees, 2006, p. 9). Quando abordam temas religiosos, muitas inscrições rúnicas da Era Viking são cristãs e algumas poucas relacionados com magia e paganismo (geralmente encantamentos e invocações para

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Thor: Sawyer, 2003, p. 125-18), encantamentos de cura (MacLeod ( MacLeod & Mees, 2006, pp. 116162) e maldições (Langer, 2014, pp. 36-42). 36 -42).  A própria distribuição dos alfabetos rúnicos na Antiguidade é refletida pelos autores místico-esotéricos como tendo sido propagado devido ao seu caráter supostamente sobrenatural: “O uso das runas com fins divinatórios e lançamentos de sortes facilitou a sua difusão. Teutões, Címbrios, Suábios, e sobretudo Érulos, estes últimos peritos em escrita rúnica, e adivinhação simultaneamente, contribuíram largamente para a formação de uma estável tradição rúnica” rúnica ”   ( A mitologia dos povos  germânicos , Maria Lucília F. Meleiro, 1994, p. 72). Na verdade, a distribuição das runas na Antiguidade europeia foi relacionada ao seu uso como instrumento de comunicação gráfica, adaptando e evoluindo conforme as diferentes linguagens adotadas pelos povos germânicos (Marez, 2007, p. 11). Do mesmo modo, a origem das runas é concebida como tendo motivações puramente mágicas: “ As runas surgiram da fusão entre esta antiga escrita mágica de magos e sacerdotes com um sistema fonético derivado dos etruscos da Itália””   ( As ciências secretas de Hitler , Nigel Pennick, 1994, p. 50), porém, os atuais Itália runologistas estão mais propensos a pensar em uma influência grega, latina e do norte da Itália (etrusca) na formação de um sistema de registro gráfico, originalmente utilizado para comunicação, registro e criação de signos ideográficos (Marez, 2007, pp. 25-27). Outra tendência muito comum nos escritores contemporâneos sobre runas é utilizar algum conceito advindo do simbolismo e da teoria psico-analítica de Jung para referendar algum aspecto sobrenatural ou místico delas: “ As runas representam arquétipos atemporais e sutis, que servem como portais mágicos de percepção sutil e expansão da consciência humana” humana”  (Ragnarök: o crepúsculo dos deuses , 2011, Mirella Faur, p. 73). “ Ao lançador de runas (...) suscetível de despertar os poderes latentes de percepção sensorial dos símbolos arquetipais, inscritos no inconsciente coletivo” coletivo ”   ( A mitologia dos povos germânicos , Maria Lucília F. Meleiro, 1994, p. 71). Em um artigo publicado na revista Rever , realizamos uma crítica sobre as teorias de base fenomenológicas aplicadas ao mundo nórdico, na qual o inconsciente coletivo e arquétipos se inserem: de forma resumida, elas não tem nenhuma base científica de demonstração, são universalistas e essencialistas, desprovidas de contexto histórico e social (Langer, 2018, p. 238-240).

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Imagem 2: 2: Pintura de Carl Emil Doepler, o jovem, baseado no relato de Tácito. Ilustração inserida na obra Walhall: Die Götterwelt der Germanen , de Wilhelm Ranisch, 1905. O pintor modificou o relato contido na Germânia e introduziu uma criança e uma mulher, tornando a cena muito mais familiar e tradicional (dentro dos moldes de uma sociedade alemã deste período, a mulher é totalmente passiva e submissa ao comando e decisões masculinas). Assim como os religiosos e místicos, os artistas ressignificam o passado histórico, adequando os conteúdos antigos aos propósitos do d o presente. presente. Fonte  Fonte da imagem. 2. As runas foram utilizadas como oráculos   Sem dúvida o aspecto mais popular das runas nos dias de hoje: o oracular. E também o mais desprovido de historicidade. Não há absolutamente nenhuma evidência histórica ou arqueológica de que runas foram utilizadas como instrumento de adivinhação ou oráculo na Era Viking. Para referendar este tipo de uso, geralmente os praticantes da runomancia citam o famoso trecho da Germânia   de Tácito (98 d.C.), obviamente bem anterior ao período citado: “(...) cortam uma vergôntea retirada de uma árvore frutífera em pequenos ramos e estes, diferenciados por certos caracteres, eles

 

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espalham a esmo e fortuitamente sobre um tecido branco (..) apanha um a um dos pequenos ramos por três vezes. Feito isso, ele os interpreta segundo o sinal gravado neles anteriormente”” (Andrade, 2011, p. 19). Segundo alguns especialistas, esta descrição de anteriormente Tácito aplicada aos oráculos rúnicos é problemática, porque antecede a existência histórica do sistema de escrita germânico em pelo menos dois séculos, tornando muito duvidoso de que fossem runas os ditos sinais (caracteres) utilizados no oráculo (Davis, 2012, p. 2-3). O uso contemporâneo dos sistemas divinatórios rúnicos teve popularidade a partir da publicação do livro de Ralph Blum em 1987 ((The The Book of Runes ), ), apesar dele nunca ter afirmado qualquer historicidade sobre seus métodos. Mas a partir deste livro, toda uma geração de pessoas vem utilizando métodos divinatórios sem qualquer tipo de questionamento sobre a antiguidade deste sistema (mesmo entre grupos neopagãos). Uma evidência contundente da origem moderna do oráculo rúnico é a runa branca (25ª. runa: denominada de Wyrd ou runa de Odin) introduzida por Blum: “is the final nail in the coffin to any ´traditionalist´” ´traditionalist´” (Davis,  (Davis, 2012, p. 4). A variação do tipo de sistema rúnico utilizado também nunca foi explicada: por que manter alguns alfabetos e caracteres e eliminar outros? Isso não quer dizer que as pessoas não podem utilizar e acreditar nos sistemas divinatórios – isso faz parte da crença e da liberdade dos indivíduos. Mas quem pensa estar utilizando um sistema antigo dos povos germano-escandinavos está simplesmente equivocado. Esse tipo de conduta por parte dos ocultistas em estabelecer uma suposta antiguidade para suas práticas é muito recorrente, com o intuito de conseguir maior credibilidade e aceitação em sua comunidade ou para um público maior (Davis, 2012, p. 4, 5). Os métodos de leitura (ou tiragem) das runas são também especulativos, produtos da imaginação ou então, retirados de outras fontes não relacionadas com a Antiguidade ou Medievo. Um dos meios mais utilizados é a aproximação com o Tarot, sistema de cartas originado de várias partes da Europa e produzida como oráculo durante o Setecentos, sem relação direta com as runas, entretanto para os adeptos ddaa runomancia: “Ligada a noções de segredo e de mistério, a runa pode, portanto, comparar-se ao arcano do tarot  (...)  (...) É preciso também lembrar que o sentido de uma runa é diferente quando estiver invertida” invertida”  (O futuro pelas runas , Liliane Decker, 1997, p. 17, 115). Esta última frase refere-se ao método do Tarot de analisar o simbolismo da carta pela sua posição.

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Outra aproximação com a tradição do tarot é a posse totalmente individual do objeto:

 

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“Essas runas agora são pessoais e não devem ser usadas, sob qualquer pretexto, ppor or outra pessoa que não seja você” você” ( (Runas  Runas , Catherine Duane e Orla Duane, 1997, p. 19). Vários métodos de leitura são definidos por Faur: círculo tríplice representando as nornas; entrelaçamento de triângulos (valknut); nove mundos da Yggdrasil ((Mistérios Mistérios nórdicos , Mirella Faur, 2007, pp. 311-314), ou seja, métodos desenvolvidos a partir da mitologia nórdica, também sem nenhuma base histórica. A mesma autora menciona também o método da “cruz rúnica” rúnica” (Ibidem, p. 319), que nada mais é do que uma adaptação do tradicional método da “cruz celta” celta” usada no tarot (O (O tarô mitológico , Juliet SharmanBurke e Liz Greene, 1991, p. 228). Alguns escritores pagãos questionam o uso oracular das runas e sua associação com o Tarot e defendem estas como sendo um sistema divinatório, onde se realizaria perguntas ao divino e ele lhe responderia. Entretanto, acaba sendo do mesmo modo um método de adivinhar o futuro pelas runas, onde se invocam entidades e retiram-se algumas runas de um invólucro, respondendo a uma pergunta: “ Qual o destino do nosso país, Óðinn, o senhor das runar? ”   (Runas e a espiritualidade nórdica,  nórdica,  Programa Enigmas , 11/12/2018). Assim, esta alternativa não possui qualquer tipo de historicidade, do mesmo modo que as aludidas anteriormente.  As interpretações das runas são variáveis. Alguns apontam o Poema Rúnico anglo-  saxão  para  para compreensão compr eensão do significado material e espiritual das runas (Runas  (Runas , Catherine Duane e Orla Duane, 1997, p. 22). Em sua tradução acadêmica deste poema referido (além dos poemas rúnicos islandês  rúnicos islandês , norueguês   e Abecedarium e Abecedarium nordmannicum ), ), Elton Medeiros afirma que as interpretações modernas dos significados das letras rúnicas apresentam resquícios do romantismo oitocentista e dos impulsos esotéricos dos anos 1940 a 1970, necessitando de muito senso crítico e cautela ao se lidar com o tema (Medeiros, 2015, p. 13). Outra grande influência interpretativa nas obras tanto de neopagãos quanto escritores esotéricos são as publicações do norte-americano Stephen Flowers (pseudônimos: Edred Thorsson e Darban-i-Den). Flowers obteve doutorado em línguas germânicas em 1984 com o estudo Runes and Magic , muito criticado pelos acadêmicos (classificado como especulativo por MacLeod & Mees, 2006, p. 2). Faur cita nove obras de Edred Thorsson ao longo de seu livro Mistérios nórdicos , enquanto Paxson cita três livros, além do endereço e informações da Rune Gild, escola esotérico-pagã de Thorsson ( Asatrú: ( Asatrú: um guia essencial para o paganismo nórdico , Diane Paxson, 2009, p.

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200, 203). A Rune Gild  (fundada em 1980) é tanto classificada como uma escola

 

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esotérica quanto paganista e tradicionalista radical. Ela foi originada pela herança de ímpetos românticos sobre o paganismo vigentes no final do século XIX (fascinação pela natureza e ideias de nação e raça), por uma reação esotérica de René Guénon questionando a modernidade, como também por ideias do satanismo da Igreja de Satã de Anton LaVey e o Templo de Set (Flowers fez parte de ambas). Assim, como em outras facetas do esoterismo, a Rune Gild se baseia em uma mistura de diferentes correntes (Granholm, 2010, pp. 95-115).  A interpretação oracular das runas ainda prepondera nos meios mais recentes. Mesmo livros supostamente com conteúdo mais “ histórico ”   sobre o tema, são acompanhados com runas de brinde. Eventos místico-esotéricos como a I Conferência Brasileira de Runas   (Hotel Estância Pilar, Ribeirão Pires, SP, 2017), além de trazer  vários aspectos oraculares, oraculares, também apresentou outras tendências mescladas mescladas ao in interesse teresse por runas, como o stadhgaldr (que comentaremos no ponto 7), runas e aromaterapia, runas e consciência, runas e xamanismo, além de aspectos de história da runologia (Johanes Bureus e as Nobres Runas )).. A utilização de aspectos históricos ou titulações acadêmicas é uma tendência nos meios esotéricos atuais. No livro Mistérios nórdicos  (Mirella  (Mirella Faur, 2007) a identificação da autora, logo abaixo de uma foto ao lado de uma runestone europeia (orelha direita do livro), foi caracterizada como “ com extensa formação científica e esotérica” esotérica”. Vários integrantes do evento acima mencionado, identificam-se como graduados ou pós-graduados em História, ao mesmo tempo em que se proclamam como bruxas, wiccanas, terapeutas holistas, runemal, runólogo e/ou asatru: são elementos para legitimação de ideias, aceitação mais ampla da sociedade (e talvez mesmo na academia) ou validação de um legado supostamente baseado no passado histórico, mas que na realidade se tratam de tradições inventadas. Um recente estudo inseriu a atual tradição rúnica oracular não em um passado histórico antigo ou medieval, mas em um tipo de revival  gótico  gótico atrelado ao romantismo (final do Setecentos aos irmãos Grimm e Wagner até as ressignificações das runas pelos nazistas e por Tolkien). O discurso de antiguidade entre seus praticantes deriva de ideologias presentes nas modernas apropriações da cultura popular (do qual se inserem os neopagãos e derivados culturais da Nova Era). Estudando especificamente o período formativo dos guias oraculares rúnicos em inglês – anos 1980 e 1990 – até autores mais

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recentes, a pesquisa demonstra a extrema variabilidade de métodos e interpretações

 

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existentes em língua inglesa sobre o tema. Estes guias pretendem ajudar o leitor a operacionalizar forças ocultas e sobrenaturais que as ficções góticas representavam de forma literária, não sendo uma mera curiosidade histórica, mas elementos constantes na cultura popular (Mountfort, 2015, pp. 16-32). Para concluir esta seção, retiramos uma frase de um site neopagão: “But ‘Modern Modern’’  does not have to mean ‘ Fake Fake’’ ! ”   (Cyrus the Strong,  Strong,   The problem with most" Runic Divination" books and "experts",  "experts", Real Runic Magic , 2014-2016). O objetivo deste texto não é desmerecer ou desqualificar qualquer forma de crença (cujos resultados podem ser reais ou imaginários, a critério dos crédulos). Vários neopagãos e esoteristas tem consciência de que certas tradições foram inventadas no mundo contemporâneo ou são produtos de seus próprios referenciais individuais (vide o site acima citado), o que não invalida as práticas em si (de um ponto de vista da liberdade religiosa). A função do historiador não é julgar ou discriminar, mas auxiliar na compreensão social do presente e do passado .

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Imagem 3: 3: Odin e as runas , pintura anônima contemporânea, fonte contemporânea, fonte da imagem. O auto sacrifício de Odin segundo o Hávamál , mas inserindo as runas dentro de uma típica visão oracular moderna. A indumentária e os detalhes corporais lembram a figura de Cristo na arte cristã. A arte refletindo o cruzamento entre os valores atuais e os do passado. 167 

3. As runas das Sagas e Eddas provém da Era Viking   Uma grande parte do conhecimento esotérico, místico e neopagão sobre runas provém de leituras sobre as sagas islandesas e os poemas éddicos – dentro do referencial romântico de que todas as informações da literatura medieval são transposições objetivas advindas da Era Viking. Muitas pesquisas epigráficas mais recentemente, estudando as inscrições rúnicas anteriores à cristianização e comparando-as com o material literário, demonstram um panorama diferente: as runas destes textos são produto da percepção social e da experiência de sua própria época. Elas possuem um eco da tradição rúnica antiga, evidentemente. Temas (como referências a elfos) e métricas existentes nas inscrições também foram preservadas pela literatura. Um bastão de runas de Trondheim (A 142) é muito semelhante ao discurso de Egill Skallagrímsson contra os escultores incompetentes de runas. O problema que esse tipo de correspondência é dificilmente encontrado entre as fontes epigráficas e literárias, tornando o bastão de Trondheim uma peça única. Um caso famoso são as 36 runas inseridas na Bósa saga ok Herrauðs  (Saga  (Saga de Bosi e Herraud , Herraud , c. 1300):

Imagem 4: 4: MacLeod, 2000, p. 254. É um exemplo de runas mágicas que não encontram suporte nas inscrições rúnicas “reais reais””, pois são monogramas que foram adicionados para ilustrar a narrativa presente no texto e demonstram que grande parte do conhecimento rúnico antigo já havia se

perdido. Possivelmente a narrativa original da Saga de Bosi  não  não continha runas ligadas

 

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(bind-runes) ou galdrastafir  ou galdrastafir  (MacLeod,  (MacLeod, 2000, pp. 253-255). Outros episódios rúnicos de sagas islandesas (como na Saga de Egil ) são artificiais e adaptados de motivos literários estrangeiros e descrevem situações romantizadas de feitiçaria rúnica. Nem nas fontes epigráficas e nem nas sagas islandesas ocorria ocor ria qualquer alusão a manipulação mágica de runas ligadas para fins ocultos (MacLeod, 2000, pp. 252-263). 2 52-263). Quanto aos poemas éddicos, o processo é o mesmo. De maneira geral, os poetas cristãos e escribas que estão por trás do processo de transmissão e registro da poesia éddica, não conheciam a escrita rúnica e nem a aliteração, sendo muitas vezes fantasias literárias. Mas o material não é todo igual: algumas passagens refletem mais a antiga prática rúnica do que outras. A famosa descrição de Sigrdrifa comentando sobre runas não é toda fabulosa, mas tem muito mais paralelos com o uso de runas na época da narrativa. As runas de Odin no Hávamál  tem   tem alguma relação com a métrica do canto rúnico de Ribe e a tradição sobre este deus. Apesar de grande quantidade de fontes literárias em inglês e nórdico antigo mencionarem runas escritas em espadas para fins mágicos, existem poucas espadas medievais com runas gravadas. No geral, os poemas éddicos informam o referencial contemporâneo (em relação ao texto literário) sobre o material rúnico (MacLeod & Mees, 2006, pp. 233-253).

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Imagem 5: Inscrição de Maughold Stone  (MAUGH/2),   (MAUGH/2), Ilha de Man, séc. XII d. C. Na parte superior, inscrições rúnicas e na parte inferior, inscrição oghâmica. Fonte oghâmica.  Fonte da imagem. 4. O ogham é uma escrita rúnica   Desde o Setecentos existe uma confusão linguística, cultural e mitológica entre celtas, germanos e nórdicos. Uma das que ainda persiste p ersiste é a de que a escrita ogâmica das populações das ilhas britânicas seria uma forma de alfabeto rúnico: “ ao lado de sua origem germânica, acredita-se que as runas estejam ligadas à escrita Ogham (...) Como no Futhark rúnico, as runas do escrito de Ogham possuem qualidades mágicas e misteriosas e eram usadas em escritos de feitiços e amuletos” amuletos ” (Runas   (Runas , Catherine Duane e Orla Duane, 1997, pp. 50-51); “ Ainda que os druidas dr uidas irlandeses tivessem seu próprio alfabeto –   o ogham –   eles também utilizavam os sistemas rúnicos, em especial o dinamarquês, o sueco e as runas marcadas com pontos” pontos ”   (Mistérios nórdicos , Mirella Faur, 2007, p. 23); “Las Runas Celtas y su Significado” Significado ”  (Símbolos Celtas ). ). Apesar de

alguns estudos apontarem a influência das runas e da escrita grega na formação inicial

 

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do Ogham, a maioria dos epigrafistas consideram o latim o modelo principal, resultado do contato das populações britânicas com monumentos romanos (Santos, 2016, pp. 3550). As inscrições oghâmicas não foram utilizadas para magia ou adivinhação (como quer a dupla Duane) ou também, os druidas não utilizaram runas germânicas (como quer Mirella Faur). Os nórdicos e a escrita rúnica penetraram nas ilhas britânicas após o total t otal desaparecimentos dos antigos druidas. Existem algumas poucas inscrições rúnicas que coexistem com a escrita oghâmica no mesmo monumento, mas possivelmente foram realizadas em épocas diferentes e por autores diferentes, todas posteriores ao século VIII d. C. (vide a imagem 5, inscrição de Maughold Stone , realizada por um sacerdote cristão,  The Ogham Stones of the Isleof Man ). Ou então inscrições rúnicas e oghâmicas cristão, esculpidas pela mesma pessoa, como na inscrição de Killaloe , Irlanda, séc. XI d.C. (Irish  Archaeology ).  Ainda sobre a escrita oghâmica, persistem equívocos: “(...) o Ogham não é um alfabeto de uso prático; não era usado para escrever contos ou notas. Sua utilização, ao que tudo indica, restringia-se às práticas rituais e aos oráculos” oráculos ”  (O livro da Mitologia Celta , Claudio Crow Quintino, 2002, p. 88). A escrita oghâmica durante o irlandês arcaico (até o século VI d.C.) consistia majoritariamente majoritar iamente em registros onomásticos; após o período de cristianização, ela torna-se eminentemente funerária. Na literatura irlandesa medieval, ao contrário, ela “ surge nos textos lendários, é sempre com fins mágicos (...) Sob outra forma, a escrita está ausente (...) a escrita é uma aplicação prática da magia e os textos dependem do deus Ogmio” Ogmio” (Roux & Guyonvarc´h, 1999, p. 131).  Aqui pode ter ocorrido uma confusão entre os registros epigráficos antigos e as representações literárias medievais, o que pode ter contribuído para a criação de oghamos oraculares mais recentemente (Ogham: (Ogham: o oráculo dos Druidas , Osvaldo R. Feres, 2018), e de modo muito semelhante aos rúnicos, não tem nenhuma base histórica.

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Imagem 6: Mosaico 6: Mosaico com Sol Negro , 1934, castelo de Wewelsburg, Büren, Alemanha,

5. O Sol Negro é de origem nórdica antiga   Há vários anos recebemos continuamente a indagação, de várias partes do Brasil, se o Schwarze Sonne  (Sol   (Sol Negro) provém do medievo ou é uma invenção moderna. A resposta é sim para esta última, trata-se de um símbolo criado no século XX: um círculo solar formado por 12 runas Sig , dispostas radialmente, criado em 1934 pelos membros da SS de Heinrich Himmler. O local era uma escola para os membros da organização estudarem a herança germânica e a religião nórdica antiga e também local para celebrações e cultos esotérico-religiosos. Himmler considerava o castelo o centro do mundo germânico (Goodrick-Clarke, 2004, p. 190-191).

 

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Imagem 7: 7: tatuagem rúnica, foto anônima da internet. Fonte internet. Fonte da imagem 6. Tatuagens rúnicas   Existem poucas evidências de que os nórdicos da Era Viking utilizaram tatuagens ou qualquer tipo de pinturas ou marcações corporais. O cinema e a televisão popularizaram a ideia de tatuagens entre guerreiros nórdicos. Um estudo relacionou a presença de tatuagens rúnicas na atualidade como um reflexo de orientações, espiritualidade e tendências provindas da Nova Era e no Neopaganismo. Especialmente as relações com Odin são destacadas nas tatuagens, reforçando a associação das runas como mágicas. Sentimentos nacionalistas e/ou extremismos políticos também foram detectados. No geral, as tatuagens rúnicas são formas de expressões de identidade social e de pertencimento a determinados grupos ou comunidades bem amplas de aficionados e interessados no mundo nórdico medieval, muito mais do que reconstituições históricas (Bennett & Wilkins, 2019, pp. 1-14).

 

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Imagem 8: 8: quadro das posturas meditativas do sistema Stadhgaldr  sistema  Stadhgaldr  (yoga  (yoga rúnica). Fonte rúnica). Fonte da imagem

7. Yoga rúnica   Mais amplamente difundida no Brasil há poucos anos, o sistema Stadhgaldr foi criado na Alemanha da década de 1930. Em 1920 Friedrich Marby desenvolveu um sistema chamado de Runengymnastik , que foi aperfeiçoado mais tarde para a denominação de Runenyoga  e   e depois Stadhgaldr . A suposta base histórica para esses tipos de posturas corporais no mundo nórdico, seriam provenientes dos desenhos contidos no chifre de Gallehus “em que encontramos relevos em forma de d e runas e figuras antropomórficas em posições semelhantes às runas ”   ( As moradas secretas de Odin, Valquíria Valhalladur, 2007, p. 19). O seu uso na atualidade é vinculado à espiritualidade e crenças mágicas: “(...) divulgada pelas obras de Edred Thorsson (...) é um sistema de magia que se utiliza de posturas, gestos e sons para projetar pr ojetar a energia das runas e causar efeitos mágicos sobre o vitki (Mistérios (Mistérios nórdicos , Mirella Faur, 2007, p. 399).

 

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Imagem 9: 9: Cópia dos chifres de Gallehus encontrados na Dinamarca. Museu Nacional da Dinamarca, Copenhague. Fonte Copenhague. Fonte da imagem Os chifres de Gallehus são dois objetos encontrados na Dinamarca no Setecentos e Oitocentos, do qual só restam cópias na atualidade (foram criminosamente fundidos em 1802). Os especialistas nunca chegaram a um consenso sobre a interpretação dos desenhos, que são figuras humanas, antropomórficas, animais e vários símbolos geométricos não figurativos. Alguns desenhos tem correspondência com representações gráficas encontrada na Escandinávia da Era Viking (como uma mulher portando corno de bebidas) ou Idade do Ferro (um guerreiro chifrudo semelhante ao caldeirão de Gundestrup, constante do acervo do Museu Nacional da Dinamarca), outras são únicas (serpentes sendo atacadas por outras serpentes?). O contexto ritualístico dos objetos é considerado quase certo, mas outras interpretações são puramente especulativas (as figurações formam um alfabeto; interpretações arqueoastronômicas) ou parcialmente corretas (interpretações baseadas na Mitologia Nórdica) (Nielsen, 2016, pp. 209-213). Não existe absolutamente nenhuma evidência de que as figuras humanas presentes nos dois caldeirões de Gallehus remetam a posições corporais realizadas por humanos na  Antiguidade escandinava, seja imitando as runas ou para realização de qualquer tipo de magia, prática religiosa ou misticismo.

 

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Nota: * Este ensaio faz parte da pesquisa Simbolismo religioso nórdico em monumentos da Era Viking e na Europa Medieval  (Lattes/PPGCR-UFPB).  (Lattes/PPGCR-UFPB).

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

MACLEOD, Mindy. Bandrúnir in Icelandic Sagas, In: BARNES, Geraldine & ROSS, Margaret Clunies (Org.). Old Norse Myths, Literature and Society . Proceedings of the 11th International Saga Conference 2-7 July 2000, University of Sydney, 2000, pp. 252263. MAREZ, Alain. Anthologie Alain. Anthologie runique . Paris: Les Belles Lettres, 2007. MEDEIROS, Elton. “ RÁÐNA STAFI, MJǪK STÓRA STAFI, MJǪK STINNA STAFI””: TRADUÇÃO COMENTADA DOS POEMAS RÚNICOS ANGLO-SAXÃO, STAFI ISLANDÊS, NORUEGUÊS E DO ABECEDARIUM NORDMANNICUM. Medievalis , Vol. 4, N. 1, 2015, pp. 1-31. MOUNTFORT, Paul. Runecasting: Runic Guidebooks as Gothic Literature and the Other Gothic Revival. Aeternum: Revival. Aeternum: The Journal of Contemporary Gothic Studies, Volume Studies,  Volume 2, Issue 2, 2015, pp. 16-32. 16 -32. NIELSEN, Poul Otto. National Museum of Denmark : Danish Prehistory. Copenhagen: The National Museum, 2016. ROSS, Margaret Clunies, “Reception studies” studies”, In: Jürg Glauser et al., Handbook of Pre-  Modern Nordic Memory Studies . Berlin: Walter de Gruyter GmbH, 2018, pp. 361-369. ROUX, Françoise Le & GUYONVARC´H, Christian.J. A Christian.J. A civilização celta . Lisboa: Publicações Europa-América, 1999. SANTOS, Dominique. As Ogham Stones: fontes para o estudo da Hibernia e da Britannia romana (e pós-romana). Romanitas  – Revista de Estudos Grecolatinos, n. 8, 2016, pp. 35-50. SAWYER, Birgit. The Viking-Age Rune-stones : custom and commemoration in early medieval Scandinavia. Oxford: Oxford University Press, 2003. WILLIAMS, Henrik. Runes. In: BRINK, Stefan (Ed.). The Viking World . London: Routledge, 2008, pp. 281-290. WILLIAMS, Henrik. Reasons for runes. In: HOUSTON, Stephen D (Ed.). The first writing : script invention as History and Process. Cambridge: Cambridge University Press, 2004, pp. 262-273.

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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OS DEZ MELHORES LIVROS SOBRE RUNAS E MAGIA NÓRDICA Johnni Langer

Um dos temas mais populares envolvendo os antigos nórdicos é a respeito do uso mágico das runas, seja para previsões do futuro ou para autoconhecimento. Em muitas lojas esotéricas ou então pela internet, o tema é amplamente difundido, mas ainda repleto de dúvidas, fantasias e anacronismos históricos. Neste pequeno guia, elencamos algumas das principais obras acadêmicas sobre o tema (em inglês e francês), mas além disso, também fornecemos ao final, um levantamento do que foi publicado em português até o momento (especificamente em produções científicas), esperando que ele possa fornecer novos parâmetros para que a temática avance mais em nosso país, gerando novas pesquisas e publicações.

LIVROS SOBRE RUNAS E MAGIA NÓRDICA (INGLÊS E FRANCÊS)

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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1.  1.  Runes Runes,, de Raymond Ian Page. London: British Museum, 1987. Um dos melhores manuais introdutórios ao universo das runas, passando pelos problemas da área, ao estudo das primeiras inscrições até o advento da Era Viking, incluindo a polêmica das runas norte-americanas.

2.  2.  Anthologie runique, runique, de Alain Marez. Paris: Belles Lettres, 2007.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

Extensa sistematização das fontes rúnicas, abrangendo as mais importantes inscrições rúnicas da antiguidade germânica até os poemas rúnicos medievais. Imprescindível instrumento para a pesquisa da runologia. O livro inclui uma história dos estudos rúnicos e elementos básicos de interpretação.

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3.  3.  Runes and Their Secrets: Studies in Runology, Runology , organizado por Marie Stoklund e outros. Museum Tusculanum Press, 2006. Extensa coletânea de estudos, abrangendo investigações semióticas, runas na Irlanda, datações das runas suecas, interações entre escrita latina e runas, runas em numismática, estudos tipológicos, runas e cristianismo, entre outros.

 

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4.  4. Runic amulets and magic objects, objects, de Mindy MacLeod e Bernard Mees. London: Boydel Press, 2006. O mais importante estudo sobre as conexões entre runas e magia. Os autores além de analisarem fontes literárias, também dedicam grande parte do livro para o estudo de objetos móveis, especialmente relacionados com cura e encantamentos.

5.  5.  Le monde du double: la magie chez les anciens scandinaves, scandinaves , de Régis Boyer. Paris: Berg International, 1986.

 

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Considerado por muitos especialistas como a melhor obra de d e Régis Boyer, o maior escandinavista francês de todos os tempos. Boyer dedica-se a investigar os conceitos de hugr, hamr e fylgja, além da problemática do xamanismo sámi. Estuda as práticas mágicas ofensivas, protetora e divinatórias, além da relação entre divindades e magia. O melhor capítulo é o que envolve os ritos mágicos, especialmente o niðr, o blót e o seiðr. 181 

6.  6.  The Viking Way: Religion and War in Late Iron Age Scandinavia, Scandinavia , de Neil Price. Oxbow Books, 2007. (segunda edição: 2019). Um dos mais paradigmáticos estudos sobre magia nórdica nórd ica antiga, concentrando-se essencialmente em uma perspectiva da arqueologia cognitiva. Price dedica-se a compreender as relações entre o seiðr e o mundo bélico nórdico especialmente pela cultura material, além de suas relações com o xamanismo ártico e as práticas do Noaidevuohta.

 

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7.  7.  Les magiciens dans l'Islande ancienne: études sur la représentation de la magie islandaise et de ses agents dans les sources littéraires norroises, norroises , de François-Xavier Dillmann. Uppsala: Acta Academiae, 2006. Extenso estudo sobre a magia nórdica antiga, especialmente utilizando as sagas islandesas, derivado de tese de doutorado do autor.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

8.  8. (Magic) Staffs in the Viking Age, Age, de Leszek Gardela. G ardela. Viena: Verlag Fassbaender, 2016. Estudo sobre a utilização de bastões mágicos no mundo nórdico, especialmente utilizando fontes literárias e arqueológicas.

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9.  9. Witchcraft and Magic in the Nordic Middle Ages, Ages, de Stephen Mitchell. Philadelphia/Oxford: University of Pennsylvania Press, 2011. O mais importante estudo sobre feitiçaria e bruxaria nórdica medieval. para uma detalhada resenha em português sobre este livro, clique aqui: https://www.academia.edu/2177798

 

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10.  Nine Worlds of Seid Magic: Ecstasy and Neo-Shamanism in North-European 10.  Paganism , de Jenny Blain. London: Routledge, 2002. Um dos mais importantes estudos acadêmicos sobre a magia no neopaganismo nórdico. Para uma resenha em português sobre esta obra, consulte obra,  consulte a resenha publicada na revista Brathair:  Brathair: https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/631 https://ppg.revistas.uema.br/index.php/brathair/article/view/631

 

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Fotografia do monólito frontal do sítio neolítico de Newgrange, Irlanda, com a foto do sol  penetrando na câmara interior do mesmo monumento, durante durante o solstício. Fenômenos astronômicos foram importantes para a determinação de calendários entre todos os o s povos europeus pré-cristãos.  pré-cristãos. 

CALENDÁRIOS E FESTIVAIS SAZONAIS ENTRE CELTAS E NÓRDICOS   NÓRDICOS Susan Sanae Tsugami Festivais sazonais aconteciam em momentos específicos do ano, relacionados ao movimento do sol e acontecimentos astronômicos como solstícios e equinócios. Os fenômenos celestes eram extremamente relevantes na vida dos povos Europeus da  Antiguidade. Langer Langer (2017) compreende que, para os povos neolíticos, neolíticos, germanos, celtas, eslavos e habitantes do Mediterrâneo pré-clássico, o céu propiciava não só a regulamentação do calendário, como também que os movimentos do Sol e da Lua orientavam a sazonalidade agrícola.

 

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Os povos celtas, germanos e escandinavos, segundo Davidson (1988), possuíam rituais regulares e organizados, para renovar a comunicação com o mundo sobrenatural, sobr enatural, ou seja, era um aspecto importante para o entendimento desses povos e para a manutenção da interação com o Outro Mundo. As datas festivas, assim, incluíam algumas práticas como, por exemplo, consagração de cerveja ou hidromel (bebida produzida a partir da fermentação do mel), dedicado aos deuses de maior importância, assim como a realização de sacrifícios de animais relacionados às divindades. Era costume oferendar saques coletados nas batalhas, animais sagrados, parte da colheita e demais alimentos e objetos para as deidades como forma de agradecimento. Outras práticas ritualísticas também poderiam ser realizadas nessas épocas, como os rituais de sacrifícios, em ocasiões especiais, a exemplo da chegada a algum lugar sagrado, da mudança para uma nova moradia, da vitória nas batalhas, da abertura de assembleia ou da morte de reis. Os rituais são representações simbólicas, são momentos por meio dos quais os seres humanos e as divindades podem se encontrar e, portanto, são elementos imprescindíveis para que o processo de comunicação entre os dois mundos obtenha sua eficácia. Além disso, os rituais devem, necessariamente, se referir ao universo semântico que se conhece através dos mitos. O ritual está relacionado aos fenômenos de comunicação, se diferindo dos mitos,

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entendido como parte de uma outra categoria, já que se trata de uma ferramenta para entrar em contato com o Outro Mundo. Uma hipótese a partir da qual chegamos a tal

 

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afirmação é a de que, provavelmente, o rito tenha precedido o mito, sendo este último compreendido com a funcionalidade de explicar, ritualizar e obter, uma vez que a comunicação que o ritual procura estabelecer inclui, sempre, uma tentativa de manipular os atores do Outro Mundo; os seres humanos precisam da intercessão desses seres/deidades para obter alguma coisa, vitória na batalha, bom tempo, boa colheita e o conhecimento do Outro Mundo. (SCHJØDT, 2008, p. 69). Os festivais, então, para Davidson (1988), (1988) , eram momentos ritualísticos e já estavam sendo realizados desde antes do uso formal de calendários. Ainda assim, a autora afirma que os celtas da Gália elaboraram um calendário, chamado de “The Coligny Calendar ”, com datação que remete à idade do bronze (achado na França em 1897); retrata cinco anos solares de doze meses, com dois meses adicionais para adaptar o ano lunar  juntamente com o solar.

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(The Coligny Calendar – calendário celta lunisolar da Idade do Bronze, retirado de: http://www.bbc.co.uk/guides/ztg87hv) de:  http://www.bbc.co.uk/guides/ztg87hv)    Antes do uso do calendário, a autora explica que os festivais eram momentos importantes para os guerreiros, fazendeiros, caçadores, pescadores pescador es e pastores. Os Celtas e Germanos usavam a orientação do “meio ano” ano” como unidade básica do tempo. Na Islândia, essa referência era o verão e o inverno; cada uma dessas temporadas possuíam

 

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 vinte e seis semanas de duração, e o início de cada uma era marcado por um banquete e um ritual religioso, contudo, a passagem do tempo era contada por invernos e noites. No decorrer do ano solar, os Celtas tinham três festivais significativos, Samain , Beltaine   ee Lugnasad . Um quarto festival Imbolc , para os autores Le Roux e Guyonvarc’ Guyonvarc’ h (1999), não é considerado de importância muito significativa, pois há poucos documentos nos quais seu nome aparece.  A primeira data festiva é o 1º 1 º de novembro, conhecido como Samain/Samhain e os autores explicam que esta data especificamente é a festa mais mai s importante para os celtas. Marcava o começo do inverno e do ano, ao mesmo tempo era uma recapitulação do verão. Segundo Davison (1988) Samain , provavelmente, significa “o fim do verão” verão”, nessa época, ocorriam sacrifícios de animais que não resistiriam ao inverno. Esse festival era considerado como um período de perigo já que representava o limiar entre as estações, o Outro Mundo estava aberto e os mortos poderiam se encontrar com os vivos; diziam que era o começo do “The Adventures of Nera ”: o monte das fadas de Erin estava sempre aberto em Samain/Samhain . Outro festival importante era o Beltane/Beltaine/Beltine  ou  ou C ’ ’ etshamain  etshamain  data  data das grandes assembleias druídicas, celebrado em 1º de maio no começo do verão. Powell (1995) explica que essa data tinha como principal característica a importância que se dava ao fogo, sendo grandes fogueiras acesas nessa festa. Mesmo após a consolidação do

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cristianismo, continuaram as práticas de acender fogueiras e vários outros ritos para a fertilidade, com a finalidade de se obter boa colheita e proteção. Havia, também, mais

 

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dois outros festivais: um realizado em 1º de fevereiro (Imbolg  (Imbolg ), ), e outro, em 1º primeiro de agosto (Lughnasad  (Lughnasad ). ). O Imbolg/Imbolc, Imbolg/Imbolc, também  também é considerado uma festa importante, porém há poucos documentos nos quais seu nome aparece. Festejado em fevereiro, estava associado à deusa Brigantia , conhecida popularmente, após a consolidação cristã, como Sta. Brigit ou Santa Brígida. Brígida. S eu eu nome indica uma conexão com ordenhar, mas também possui uma associação forte com a purificação. Em agosto, o Lughnasad/Lugsnasad , possuía uma significação relativa às colheitas e, em períodos pré-cristãos, estava conectado ao deus celta Lug . (DAVIDSON, 1988, p. 39). Sobre os festivais sazonais nórdicos e germânicos, ainda a mesma autora esclarece que o inverno, para os germanos, começava no que chamaríamos de outono, com o “winter nights ”, em outubro, na Islândia, possivelmente entre os dias 11 e 18, porém, devido a dificuldades e às limitações das fontes, não se sabe uma data exata para a celebração dessa festividade. Em abril, celebrava-se o equivalente ao verão como sumarmál , provavelmente entre os dias 9 à 15 de abril. Na Era Viking, essa era a época para pedir boa sorte nas invasões e expedições, após o período de recolhimento do inverno. Havia, também, o midwinter , conhecido como Yule   (Jól ), ), que, depois, com o advento do cristianismo, passou a ser ressignificado como o Natal e foi uma data extremamente difundida como

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cristã, até os dias atuais. O Yule   (Jól ) era o momento em que o solstício de inverno acontecia, quando pouco se podia fazer em ambientes externos, devido ao frio rigoroso.

 

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Tácito (2010), em sua obra Germânia , descreve que os germanos possuíam uma compreensão diferente em relação à sazonalidade. Para eles, o ano se dividia em menos estações: o inverno, a primavera e o verão. O outono, assim, era uma estação desconhecida para a realidade deles. Um ponto semelhante à descrição de Tacitus, em relação à obra de Snorri Sturluson, é que, na Ynglinga Saga  (capítulo  (capítulo 8), o autor menciona três principais festas na Escandinávia, antes da conversão cristã: uma, no começo do inverno, quando haviam muitos sacrifícios; uma, para o meio-inverno, para o crescimento das plantações, e uma, para o verão, para sucesso e vitória nas expedições. Óðinn estabelece a sucessão blóts , no Norte. Para o inverno (ou seja, no outono), deve ser realizado um blót   para a prosperidade; no midwinter  (meio  (meio do inverno), um para o crescimento do solo; no verão, um terceiro, que seria o blót  da   da vitória. Assim sendo, há uma conexão com o ritmo do ano: a cerimônia de outono ocorreria após a última safra, e os animais abatidos seriam aqueles que não deveriam sobreviver ao inverno. O blót  do   do meio do inverno ocorreria depois que as noites mais longas acabassem e, então, seria celebrado o renascimento da terra. A cerimônia de verão, se fosse de vitória, coincidiria com a partida de navios em  viagens de invasão (e, mais mundanas, mundanas, viagens comerciais). (LINDOW, 2001, p. 35). REFERÊNCIAS: DAVIDSON, Hilda Roderick Ellis. Myths and symbols in pagan Europe: early

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Scandinavian and Celtic religions . Syracuse University Press, 1988

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

LANGER, Johnni. Calendário e Contagem do Tempo. Tempo . In : LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017, p.125-131. LE ROUX, Fançoise; GUYONVARC'H, Christian-J.; SOARES, Fernanda.  A civilização Celta . Portugal: Publicação Europa-América,1999. 192 

LINDOW, John. Norse Mythology : A Guide to Gods, Heroes, Rituals, and Beliefs. Oxford University Press, 2001. POWELL, T. G. E. The Celts . London: Thames and Hudson Ltd, 1995. SCHJØDT, Jens Peter. Peter. Initiation between two worlds : Structure and symbolism in preChristian Scandinavian religion. Syddansk Universitetsforlag, 2008. STURLUSSON, Snorri. La saga de los Ynglingos . Miraguano Ediciones, 2012. TACITUS. Agricola TACITUS.  Agricola and Germania . Penguin UK, 2010.

 

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Far away and long ago , 192, desenho do húngaro William Andrew Pogany com base nos lobos Hati e Sköll perseguindo a Lua e o Sol antes do Ragnarök.

O RAGNARÖK É PAGÃO OU CRISTÃO? Johnni Langer Um dos temas mais polêmicos envolvendo a Mitologia Nórdica Nór dica são os referentes à narrativa do Ragnarök. No Brasil, muitos entusiastas e pesquisadores vem levando em conta uma dicotomia no que se refere ao tema: alguns o consideram de origem totalmente pagã e outros um relato criado pelos cristãos para denegrir ou melhor converter os escandinavos. Nossa principal idéia aqui é apresentar um referencial intermediário: o seu relato literário, na realidade, foi um híbrido entre os dois mundos.  Afinal, o que foi o Ragnarök? Trata-se de uma série de acontecimentos a serem propagados no futuro (portanto, escatológicos), de caráter catastrófico e de transformação do universo, dos deuses e dos humanos. A palavra vem sendo traduzida mais coerentemente como “destino dos deuses” deuses” e suas principais fontes primárias são o poema éddico Völuspá  e  e a Edda em Prosa  de  de Snorri. Tradicionalmente desde o século XIX as narrativas do Ragnarök vinham sendo

interpretadas como testemunho antigos sobre os mitos nórdicos, mas a partir das

 

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pesquisas de Sophus Bugge, os relatos começaram a ser considerados como tendo sido influenciados por referenciais cristãos, após a sua preservação por escrito. O principal problema com relação ao Ragnarök é que ele não é encontrado nas fontes literárias e históricas antes do século X d.C. Ele não é citado, sequer mencionado, no período germânico antigo. Nossas pesquisas, contudo, vem apontando que alguns elementos podem ser identificados pela iconografia. Em algumas bracteatas do século V, tanto da Escandinávia quanto da Alemanha, identificamos algumas cenas que tem relação com as narrativas escatológica produzidas no medievo.

O mito de Balder sendo morto, talvez tenha sido reproduzido nas bracteata de Zagórzyn (Kalisz), tipo B, Alemanha, Museu Stuttgart, séc. V-VI; e de Fakse, Dinamarca, séc. V-VI (figuras 1 e 2). Três figuras aparecem nas imagens, talvez Loki, Hoder e Balder, sendo a figura do meio trespassada por um dardo. Mas as imagens mais importantes são referentes à figura do lobo. Este animal como inimigo dos deuses surge em duas bracteatas do século V-VI: Trolhattan, Suécia, séc. V-VI; e Skrydstrup (figuras 3 e 4). Na primeira, uma figura masculina é atacada em sua mão por um canídeo (Tyr e Fenrir?) Na segunda, uma figura masculina possui um elmo com formato fo rmato e pássaro, outro pássaro está ao lado, com um cervídeo e uma serpente na base. Pelas suas costas, uma figura canídea o ataca, com feições ferozes. Sem sombra de dúvida trata-se tr ata-se de Wotan, já sendo associado com o lobo inimigo.

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Mas porque o Ragnarök não aparece nas fontes literárias desta época? Talvez porque não fosse importante. Várias pesquisas arqueológicas estão apontando que catástrofes climáticas (desencadeadas por uma ruppção vulcânica) ocorreram na Escandinávia durante o século VI, ocasionando grande g rande incidência de abandono de vilas, fome e crises sociais (Price, 2015). É neste contexto que poderia ter sido formada a imagem do Fimbulvetr , o período de três invernos que antecede ao Ragnarök na literatura medieval – uma imagem de desolação e crise ambiental. Também durante o século VI que as imagens do disco do Sol e de espirais nas estelas da ilha de Gotland desaparecem, dando lugar à imagens heróicas e figurativas. Uma recente análise da pedra de Rök (800 d.C., Suécia), afirma que o texto alude a morte de um filho com um contexto significativo de eventos escatológicos, uma batalha final contra os poderes cosmológicos destrutivos e uma memória de crise climática (Holmberg, 2018-2019, p. 138). Também neste contexto, é de ressaltar que a Völuspá str. 40 ("rauðum dreyra; svört  verða sólskin; um sumur eptir/ névoa vermelha, escuro será o sol; que brilhará no verão, tradução nossa) alude a um acontecimento prévio ao Ragnarök, que é típico de um céu diurno após uma erupção vulcânica - o sol fica obsurecido, cinza ou avermelhado durante meses, devido à presença de resíduos na atmosfera.

 

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Figura 5: pingente em forma de lobo devorando um globo, Dublin, séc. IX-X d.C. d.C.   Em nossas pesquisas de etnoastronomia, identificamos que o aglomerado das Hiades (constelação de Touro) era conhecido na Escandinávia pré-cristã como a mandíbula do Lobo (Ulf's Keptr, citado no manuscrito Gks 1812, seção referente a informações celestes do período pagão) e descobrimos que ele esteve associado no céu com vários eclipses totais do Sol, Lua e passagens de cometa (conjunções astronômicas  visíveis a olho nú) a partir do século VIII – estes fenômenos tem larga tradição de terem sido associados pelas povos europeus antigos à catástrofes e acontecimentos maléficos.  Assim, em um período que vai do século VIII ao X d.C., o céu noturno também passa a ser associado com acontecimentos malignos e a figura do lobo (Langer, 2018, pp. 1-20). Como este animal já era vinculado com os deuses (como vimos nas bacteatas), a representação de um canídeo atacando corpos celestes toma uma forma mais objetiva no imaginário. Um recente estudo do escandinavista italiano Andrea Maraschi reforça os estudos sobre o Fimbulvetr como experiências pessoais associadas com visões apocalípticas, fixando uma memória sobre o antigo acontecimento na tradição oral. Este autor ainda reforça que a tradição do lobo nórdico como representação de catástrofes

 

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pode ter sido devida à associação entre eventos celestes sinistros e a constelação da mandíbula do lobo (Maraschi, 2019, p. 35):

É durante o século X que encontramos uma farta quantidade de imagens provindas de áreas nórdicas, todas relacionando o lobo com objetos circulares. A mais contundente é a de um contexto totalmente pagão, de Dublin da Era Viking, onde um pingente representa um lobo em feições ferozes, curvado e devorando uma espécie de globo (figura 5). Também os hogbacks ingleses de Tyningham e Ovingham 1C apresentam esculturas de canídeos atacando globos (Langer, 2012) (figuras 6 e 7).

Figura 6: relevos no hogback de Ovingham 1C: em um lado, dois lobos segurando um  globo, de outro lado, somente um lobo com globo. Inglaterra, Inglaterra, séc. X. X.  

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Figura 7: Lobo perseguindo um globo entre duas figuras masculina (uma delas porta um grande corno). Hogback de Tyninghame, Inglaterra, séc. X. X.  

 Apesar da poesia escáldica não apresentar diretamente material relativo ao Ragnarök, ela confirma essa tradição mais antiga do lobo como inimigo dos deuses, como em um trecho do Eiríksmál 7 “Hvi namt þu hann sigri þa er þer þotti hann sniallr vera þvi at ovist er at vita sagðe Oðenn ser ulfr enn hausve a siot goða.” goða. ” (Então, por que privas ele da vitória, quando você mesmo pensou sê-lo bravo? Não prevejo o que deveria para saber, diz Óðinn, entretanto, o lobo cinza olha sombriamente para a morada dos deuses, tradução de Pablo Gomes de Miranda). Eiríksmál é um poema escáldico anônimo, composto sob o patrocínio da rainha Gunnhildr konungamóðir para homenagear o seu marido, Eiríkr blóðøx, morto em 954 d.C. Também o poema Hákonarmál , século X, confirma a concepção do lobo relacionado a eventos escatológicos, estrofe 20 (Mun

óbundinn á ýta sjǫt Fenrisulfr fara/ Solto de suas amarras, suas  amarras, Fenrir o lobo, andará pelo mundo, tradução nossa).

 

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Então, de maneira objetiva, as informações iconográficas e etnoastronômicas nos levam a considerar que as cenas da morte de Balder, de Odin sendo atacado por um lobo e dos astros serem devorados pelo mesmo animal ( vargǫld , a Era do lobo), já existiam anteriormente ao ano mil. Somando-se à então recente erupção do vulcão Eldgjá na Islândia do ano 940 d. C. (Oppenhelmer, 2018), os pavores coletivos devem ter ficado ainda mais acirrados. E todos eles devem ter sido incorporadas incorp oradas em uma narrativa que se somava aos crescentes medos escatológicos provenientes da Inglaterra do século X: é a narrativa da Völuspá, que pode se tratar de d e um híbrido entre tradições orais cristã e pagãs (Abram, 2011, p. 165), todas incorporadas pelo paganismo tardio, antes deste desaparecer totalmente (Cardoso, 2006, p. 36). Era um período onde pagãos e cristãos conviviam plenamente, de forma ampla e circular. Então, antes de desaparecer com a cristianização, o próprio paganismo incorporou elementos cristãos em sua cosmovisão e concepção escatológica (interpretatio Norrœna ). ). Neste caso, o poema Völuspá é originalmente um produto literário híbrido e não como se pensava na academia de tempos atrás - que o relato pagão teria sido preservado por escrito em tempos cristãos e sua escrita alterada pelo modo de ver do escriba, já cristianizado.

Mas com relação à Edda em Prosa , de Snorri Sturluson, o conteúdo híbrido sobre o Ragnarök da Völuspá é inserido em uma grande sistematização uniforme dos mitos antigos e se torna ainda mais um produto de seu tempo (Abram, 2011, p. 208), conectando o velho mundo com o novo – especialmente na volta de Balder de Hel e com o casal de humanos sobrevivente. A própria produção da Edda em Prosa  foi   foi devida à existência de uma cultura cristã na região, mas também o seu conteúdo sobre paganismo foi filtrado pela nova religião (Sêmedo & Fernandes, 2017, p. 212). Bibliografia:  

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 ABRAM, Christopher. Myths of the pagan North . London: Continnum, 2011.

 

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CARDOSO, Ciro Flamarion. Aspectos da cosmogonia e das cosmografias escandinavas. Brathair 6 (2), 2006, pp. 32-48. HOLMBERG, Per et al. The Rök Runestone and the End of the World. Futhark  9-10  9-10 (2018-2019), pp. 1-38. LANGER, Johnni. Um vulcão cristianizou a Islândia? Blog do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos , 30 de março de 2018. LANGER, Johnni. The Wolf's Jaw: an Astronomical Interpretation of Ragnarök,  ARCHAEOASTRONOMY AND ANCIENT ANCIENT TECHNOLOGIES 6(1), 2018, pp. 1-20. LANGER, Johnni. A morte de Odin? As representações do Ragnarök na arte das Ilhas Britânicas (séc. X). MEDIEVALISTA 11, 2012. LANGER, Johnni. Völuspá. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015, pp. 555-558. MARASCHI, Andrea. Learning from the Past to Understand the Present: 536 AD and its Consequences for Man and the Landscape from a Catastrophist Perspective. Ceræ :  An Australasian Journal of Medieval Medieval and Early Modern Studies, 6, 2019, pp. 23-44. OPPENHELMER, Clive et al. The Eldgjá eruption: timing, long-range impacts and influence on the Christianisation of Iceland. Climatic Changes 3/4(147), 2018. PRICE, Neil; GRASLUND, Bo. Excavating the Fimbulwinter? Archaeology, Geomythology and the Climate Event(s) of AD 536. In: Past Vulnerability : Volcanic Eruptions and Human Vulnerability in Traditional Societies Past and Present, ed. Felix Riede, 2015, pp. 109– 109–32. SÊMEDO, Rafael & FERNANDES, Isabela. The Context of Christianity and the Process of Composition of the Prose Edda. Roda da Fortuna  6(1),  6(1), 2017, pp. 197-214.

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UM VULCÃO CRISTIANIZOU A ISLÂNDIA?  ISLÂNDIA? 

Johnni Langer Recentemente alguns sites brasileiros vem divulgando a publicação de um estudo na revista  revista Climatic Changes (The Eldgjá eruption) (Mega-erupção vulcânica na Islândia foi tão brutal que "destruiu" os deuses nórdicos; Erupção apocalíptica convenceu os  vikings a adotarem o cristianismo), cristianismo), nos levando a escrever alguns breves comentários sobre o tema. O estudo considera uma série de vestígios geológicos que atestam a violenta

erupção de um vulcão (Eldgjá) na Islândia do ano 940 d.C., causando muitos impactos climáticos que afetaram profundamente a sociedade islandesa desta época e em períodos

 

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posteriores. Mas não somente isso. Os autores alegam que o fim dos deuses narrado no poema Vǫluspá  foi influenciado diretamente por este fenômeno, estimulando a cristianização da região no ano mil (Oppenhelmer 2018 2018). ).  A pesquisa é extremamente interessante e certamente proporcionará ainda ainda muitos debates e novas perspectivas. Ao nosso ver, ela também é problemática por vários pontos: 1. Não contextualiza o foco de sua pesquisa com relação a outros estudos anteriores sobre  vulcanismo e mitos nórdicos; nórdicos; 2. Não aprofunda m maiores aiores análise sobre Mitologia Nórdica e especialmente, não contextualiza o poema éddico Vǫluspá , o tratando como um simples documento da cristianização islandesa – o que ele de fato não é, pois trata-se de um poema com forte conteúdo pagão e certos elementos cristãos hibridizados, o que é bem diferente; 3. Não há nenhuma ligação objetiva entre cristianização e vulcanismo nas crônicas e sagas islandesas islandesas do medievo.

Fotografia da fissura vulcânica de Eldgjá, Islândia.  Islândia. 

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Os estudos sobre a possível relação entre fenômenos da natureza (sejam eles catastróficos ou simplesmente fenômenos sazonais e constantes da paisagem física) e os antigos mitos não são novidade na academia. Desde o século XIX tivemos inúmeros teóricos desta vertente, mas eles logo foram muito criticados devido a seu excessivo determinismo naturalista e físico na interpretação da mitologia. Foi somente a partir p artir dos anos 1980 que uma série de pesquisas em diversas disciplinas (como Astronomia, Geologia, Geografia, Arqueologia, Física, etc) originaram novas interpretações para as narrativas míticas antigas e medievais, incluindo a Bíblia – as denominadas Geomitologia,  Astronomia de impacto, Arqueología catastrófica, entre outras. Deixando de lado aqui os inúmeros estudos sobre a antiga observação do céu diurno e noturno (seja com o movimento do Sol, Lua, planetas e estrelas) e a interferência da paisagem física (o simbolismo de certos mitos como reflexos da espacialidade de uma região), temos as interpretações de que certos mitos foram causados por acontecimentos não sazonais e de natureza extremamente catastrófica ou de forte impacto psicológico e social. Aqui dois fenômenos são muito semelhantes por seus efeitos no clima: impactos de asteórides/cometas e asteórides/cometas e erupções vulcânicas (os vulcânicas (os eclipses totais do Sol também são impressionantes do ponto de vista sócio-histórico, mas não geram efeitos físicos diretos em nosso planeta). São estes dois fenômenos que estão recebendo a maior quantidade de pesquisas nos últimos tempos, congregando especialistas de diversas áreas. No caso dos vulcões, vários acadêmicos já consolidaram a possibilidade p ossibilidade de que um dos mitos mais antigos e conhecidos do Ocidente, a Atlântida, tenha sido elaborado como consequência da erupção do vulcão Santorini próximo a Creta, causando maremotos, mudanças climáticas e o grande responsável indireto pelo fim da civilização minóica.  Algumas pesquisa vem apontando que outras narrativas míticas da Idade do Bronze podem ter sido influenciadas por este grande cataclisma (Buckland 1997).

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Um dos trabalhos mais conhecidos envolvendo mitos nórdicos e vulcanismo foi a tese de doutorado de Mathias de Mathias Nordvig (2014) (2014),, envolvendo as narrativas de criação do mundo e do hidromel da poesia. A principal perspectiva de Nordvig é a da existência de uma memória narrativa eco-mítica, considerando a paisagem essencialmente um elemento cultural e não natural. Com a repercussão da tese, Nordvig ampliou suas perspectivas para o relato do Ragnarok, que segundo ele poderia conter indícios de crateras, erupções, etc. A idéia também recebeu críticas, como a de Jens Peter Schjødt, segundo o qual os vulcões deveriam ser mencionados objetivamente nos mitos, a exemplo dos terremotos, e não apenas evocados simbolicamente ou de forma figurada (Abildlund 2014).. 2014)

Estela gotlandesa de Hablingo (séc. V-V d.C.), com uma imagem de espiral solar em movimento.  movimento. 

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Mas a pesquisa mais consistente efetivamente entre Ragnarok e vulcanismo foi a empreendida por Bro Gräslund e Neil Price em 2012. Partindo do estudo de fenômenos metereológicos extremos do anos 535-536 535-53 6 d.C. (atribuidos pela maioria dos especialistas a atividade vulcânica no Ocidente), os dois pesquisadores concluem que a imagem do Fimbulwinter  (grande   (grande inverno, o prelúdio do Ragnarok) teria sido criada durante o período das migrações, advinda das consequências climáticas do vulcanismo, como perda das colheitas, fome, frio, abandono das vilas, etc. Aqui os autores utilizam o referencial de que grande parte do conteúdo do poema Vǫluspá  teria sido elaborado antes do período Viking e teria relação direta com estes acontecimentos (Price, 2012, p. 437). Uma das conclusões mais interessantes deste estudo é a de que as imagens de discos solares e espirais solares em movimento (conectadas ao culto do Sol) das estelas pintadas da ilha de Gotland do século V e VI d.C., desaparecem dos monumentos da ilha após o século VI e cederam lugar a imagens de heróis e deuses da Mitologia Nórdica, muito comuns no posterior período Viking. Após um período de grandes erupções vulcânicas, a visibilidade do Sol é interrompida por meses e até mesmo por anos. Os autores citam  várias fontes européias deste período que mencionam o fato do Sol estar encoberto ou escurecido num período de até 18 meses. Assim, a série de eventos climáticos catastróficos não somente teria modificado e arruinado ar ruinado a economia rural e a população, mas também alterado as idéias religiosas desta época. O vulcanismo também aparece nas pesquisas do arqueólogo Kevin Smith (Universidade de Brown). Em pesquisas na caverna islandesa de Surtshellir , originada de lava vulcânica, foram encontrados vestígios de fortificação, ossos de animais domésticos e fragmentos de objetos como cruzes, indicando atividades humanas neste local desde o século X. Uma das teorias propostas é de que o local tenha sido utilizado para cultos pagãos (o Landnámabók cita que Thorvald Hollow foi para a caverna de Surt recitar poemas que ele havia escrito sobre o gigante que morava neste local) relacionados a Surt ou cultos para apoiar Freyr, deus da fertilidade e opositor de Surt (Smith,

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2005; Patel, 2017). 2017). Assim, ao contrário da pesquisa de Oppenhelmer, existem indícios da

 

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ligação entre vulcanismo e paganismo sobrevivendo até o início da cristianização e não sendo necessariamente um elemento primordial para a ideia do fim dos deuses.

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Entrada da caverna de Surtshellir, Islândia.  Islândia.  Como percebemos até aqui, uma série de fenômenos anteriores à Era Viking pode ter colaborado para a formação das imagens vulcânicas e do Ragnarok presentes no poema Vǫluspá , muito antes do vulcão Eldgjá ter explodido em 940 d.C. Além disso, em nossas próprias pesquisas, constatamos outros fenômenos que também podem ter colaborado para a popularização do Ragnarok muito antes do ano mil: eclipses totais do Sol e Lua e passagens de grandes cometas durante os século VIII, IX e início do X (visíveis na Escandinávia). Todos estes astros estiveram associados à figura do lobo, central na narrativa do Ragnarok: o Varlgod , a Era do Lobo (Langer, 2018, p. 15). 15).

 

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Equipe de explorador no interior da caverna Surtshellir, Islândia, examinando um  possível local para cultos.  cultos.  Deste modo, podemos concluir que o artigo publicado na revista Climatic Changes   é muito importante, mas possui limitações. Não cita e nem contextualiza pesquisas anteriores (Price, Smith, Nordvig, Patel, Taggart) Patel,  Taggart)   que poderiam ampliar a questão dos temas vulcânicos presentes no poema Vǫluspá. Também pesquisas mais recentes sobre os mitos nórdicos presentes nas bracteatas do período das migrações (também não citadas no referido trabalho) podem levar à conexões para um melhor entendimento sobre a formação do Ragnarok a partir do século VI. No geral, as pesquisas apontam para uma lenta construção da narrativa do Ragnarok desde o período das migrações (e não um produto acabado beirando o ano mil), que foi influenciado diretamente pela observação de fenômenos astronômicos (Langer, 2018) 2018)   e pelas consequências de erupções vulcânicas tanto da Islândia quanto de outras regiões do mundo, levando a mudanças drásticas da religiosidade da ilha no fim do período das migrações (Price, 2012, 2013). Alguns ritos relacionados ao vulcanismo ainda geram dúvidas, mas pesquisadores apontam conexões entre Surt e Freyr ainda no século X, apontando relações diretas entre vulcanismo e paganismo (Smith, 2005). 2005). Novos estudos deverão aprofundar as relações entre os registros literários medievais e os vestígios geológicos e arqueológicos, nos apontando maiores conexões entre Mito Nórdico e Natureza.

 

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Referências B ibliográfi ibliográficas: cas:

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Labirinto de Nauvo, Finlândia. MISTÉRIOS DE PEDRA: OS LABIRINTOS SÁMI  SÁMI  Victor Hugo Sampaio Os labirintos Sámi são um tipo muito específico de estrutura cuja ocorrência se dá em praticamente toda a área denominada Sápmi . Esse nome é usado para designar d esignar toda a região onde os povos Sámi habitaram, abrangendo geograficamente parte dos atuais territórios da Noruega, Rússia, Suécia e Finlândia. Tal região também já foi conhecida por Lapland , algo como “Terra dos Lapões” Lapões”, outro nome utilizado para se referir ao povo de etnia Sámi.

 

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Figura 1: A região chamada Sápmi, onde habitavam vários povos da etnia Sámi. Fonte: https://www.offthemap.travel/wp-content/uploads/2016/12/Sapmi-Lapland-   Annotated.png    Antes de prosseguir abordando a questão dos labirintos, é in interessante teressante dizer algumas poucas palavras sobre os povos Sámi. Eles também são chamados de Lapões, apesar do termo ter cunho pejorativo e estar relacionado a um etnocentrismo, consolidado sobretudo por volta do ano de 1673 por Johannes Schefferus, que via os nórdicos como superiores e civilizados. Ao contrário de seus vizinhos nórdicos, os Sámi não eram um povo de origem indo-européia: basicamente, eles seriam povos indígenas que habitavam a área Ártica do norte da Europa, sendo nativos da região. Sobre a questão de sua origem, os Sámi são considerados originários da família fino-úgrica, como os finlandeses e estonianos, embora haja diferenças genéticas entre eles.  As principais atividades desses povos eram a pesca, a caça de animais - tan tanto to para alimentação, quanto para extração e comercialização de suas peles -, e principalmente o pastoreio de renas, animal de importância máxima para os Sámi. Eram também adeptos da prática do nomadismo.

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Figura 2: Família Sámi, mãe com seus dois filhos. Revista National Geographic, v.31, pág. 556.  556. 

Partindo para a questão específica dos labirintos, é interessante começar ressaltando alguns aspectos de sua morfologia. Esses labirintos não eram construídos com paredes ou outras estruturas intransponíveis erguidas: eram feitas escavações superficiais no chão e, em seguida, eram depositadas pedras grandes, geralmente arredondadas, em cima das linhas que haviam sido escavadas. Sua forma era relativamente padronizada, seguindo geralmente uma tendência circular ou então com pequenas variações, como por exemplo em formato oval ou em forma de ferradura de cavalo. Se vistos de cima, os labirintos Sámi apresentavam seus contornos em um desenho que lembra muito o cérebro humano representado de maneira bidimensional. Devido a essas particularidades em seu desenho, formato e composição por meio de pedras, por vezes pode ser difícil identificar a ocorrência de um labirinto Sámi genuíno. Inclusive, já que eles são feitos por pedras posicionadas no chão, deve-se tomar cuidado para não tomar certas paisagens naturais por labirintos: por vezes, o arranjo natural e ocasional de pedras em certos locais específicos pode dar a falsa impressão de que se trata de uma modificação intencional por parte do homem.  Apesar desse desse tipo de monumen monumento to Sámi ser chamado chamado de labirinto, vale a pena ressaltar que ele difere do típico conceito ocidental o cidental atribuído a essa palavra. Ao contrário dos exemplos trazidos pela mitologia greco-romana, nos labirintos Sámi não existem falsos caminhos e nem becos sem saída: no lugar disso, possuem uma única entrada, muito bem definida, seguida por vários círculos concêntricos que levam invariavelmente ao centro da construção.

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Figura 3: Desenho representando a estrutura de um labirinto Sámi. Fonte: OLSEN, Bjornar, Stone labyrinth in Arctic Norway.  Norway.   A ocorrência ocorrência dessas estruturas é observada por todo território Escandinavo, Escandinavo, mais precisamente em todas as regiões da área denominada Sápmi , conforme explicado anteriormente. Contudo, as regiões onde mais são encontrados esses labirintos são as dos atuais territórios da Finlândia e Suécia, o que não é de modo algum uma surpresa, visto a forte presença de povos Sámi nessas duas áreas. Contudo, ocorrências menos numerosas são observadas também na Carélia e na Noruega, especialmente em Finnmark , nome dado a uma área Ártica e costal da Noruega que faz fronteira com a Finlândia e a Rússia, e que antes da colonização norueguesa era habitada originalmente pelos Sámi. Grande parte desses labirintos são encontrados em regiões litorâneas e costais, ou então próximos a grandes lagos – às vezes até mesmo em pequenas ilhas -, o que levanta a hipótese de que haja uma relação entre eles e a água (Olsen, 1996). Alguns deles são encontrados em áreas florestais e de caça. Há certos critérios que foram empregados para que se descobrisse se esses labirintos eram de fato autoria dos Sámi. Um deles surgiu por meio da observação de que grande parte dessas estruturas são

encontradas em áreas conhecidas por serem regiões de d e pastoreio de renas, uma atividade extremamente típica e caracterizante desses povos. Outro fator extremamente relevante

 

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é que frequentemente esses labirintos encontram-se juntos ou muito próximos a sítios de inumação reconhecidamente Sámi, evidenciando não somente a questão da autoria, mas também uma relação entre essas estruturas e ritos funerários (Broadbent & Edvinger, 2007; Broadbent, 2010).

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Figura 4: Foto de um labirinto Sámi encontrado na região de Finnmark. Fonte:  http://arkitekturguide.uit.no/details.php?image_id=1465&template=big  http://arkitekturguide.uit.no/details.php?image_id=1465&template=big  

É curioso notar que a existência desses labirintos não havia sido relatada até a chegada da Idade Moderna, por mais que estudos e exames arqueológicos apontem que as datas de sua construção propriamente dita encontram-se sempre entre os anos de 1200 a 1700 d.C. Um dos principais divulgadores dos labirintos Sámi foi o norueguês Ernst Manker. Em meio a suas muitas expedições realizadas por volta dos anos de 19431956, patrocinado pelo Museu Nórdico de Estocolmo, Manker teve contato e tornou-se familiarizado com uma série de sítios sagrados, principalmente na região montanhosa da Suécia. Ele colhia informações sobre esses monumentos diretamente com moradores locais, e então, muitas das vezes – mas nem sempre -, ia até o suposto local verificar as informações que havia recebido (Broadbent & Edvinger, 2007). Ernst Manker

posteriormente reuniu todas essas informações e as publicou, no ano de 1957, em um livro intitulado Lapparnas heliga ställen , ou seja, Sítios sagrados lapões .

 

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Nos relatos trazidos pelo norueguês, algumas dessas estruturas eram diferentes entre si na questão de morfologia, mas traziam algo em comum: além da predominância do formato circular, todas estavam conectadas com relatos de sacrifícios sendo realizados dentro de seu espaço. Algumas teorias teor ias interpretativas que vinculam até hoje a respeito da utilização desses espaços têm sua origem nesses relatos. Muitos pesquisadores creem que os Sámi obviamente atribuíam poderes mágicos e sagrados a esses labirintos, o que os levava então a praticar, nesse espaço, sacrifícios ritualizados. Estes eram uma espécie de oferenda destinada às divindades, que visava trazer, para os Sámi, êxito nas atividades de caça e pesca, o controle da maré e clima favorável; ou então em situações de morte, doença, gravidez e nascimento (Broadbent & Edvinger, 2007). Uma teoria interessante a esse respeito da utilização sagrada desses labirintos é a de Bjornar Olsen (1996). Segundo ele, esses labirintos serviriam como metáfora física para um rito de passagem muito específico: o da transição da vida para a morte. Similar a outros ritos de passagem o momento do morrer também é uma situação em que as fronteiras entre um estado social e outro são rompidas e transformadas. Portanto, quando um membro da comunidade morria, o xamã conduziria esse ritual, entrando sozinho no labirinto –   expressando a separação, tanto simbólica quanto social, entre o indivíduo recémfalecido e sua vida -. Ao adentrar o labirinto, o xamã demarcaria a separação entre o morto e sua vida/função social. A cerimônia, então, terminaria com o xamã saindo do labirinto e manifestando essa incorporação, agora plena, do indivíduo falecido nesse outro estado, que seria o da morte. Pode-se indagar por quê necessariamente a estrutura de um labirinto para a prática desse ritual. Não poderia qualquer estrutura cumprir essa função? A religiosidade Sámi, forte e essencialmente xamânica (Abercromby, 1898; Rydving, 1993), concebia a passagem para a morte como uma jornada estreita, tortuosa, difícil e longa, que deveria ser percorrida pelo falecido. Por isso a representação dessa jornada em

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formato de um labirinto concêntrico, caminhado por um xamã: enquanto alguém que conhece esse caminho, já o percorreu diversas vezes e voltou, ele seria uma figura auxiliar

 

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e porta-voz do falecido, ajudando-o a cumprir essa transição. Desse modo, somente o  xamã pode incorporar a alma do indivíduo morto e transportá-la para sua nova moradia (Olsen, 1996). Conforme pôde-se observar, os labirintos Sámi ainda despertam controvérsias e muitas incertezas ainda giram ao seu redor. Afinal, são monumentos tão curiosos quanto enigmáticos, e seus significados ainda estão por ser desvendados. Inclusive, o número de estudos e menções a esses labirintos no meio acadêmico, até mesmo no exterior, são ainda tímidos. Referências   Referências  ABERCROMBY, John. The Pre- and Proto-Historic Finns . Londres: Strand, 1898. BROADBENT, Noel. Lapps and Labyrinths: Saami Prehistory, Colonization and Cultural Resilience . Washington: Smithsonian Institution Scholarly Press, 2010. BROADBENT, Noel; EDVINGER, Britta.  Britta. Acta Borealia: A Nordic Journal of Circumpolar Societies , 23:1, p. 24-55, 2007. RYDVING, Hakan. The End of Drum-Time: Religious Change Among the Lule Saami, 1670S-1740S. Historia Religionum , n.12, 1993. OLSEN, Bjornar. Stone Labyrinth in Arctic Norway. Caerdroia , n.27, p. 24-27, 1996. 

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 Älvalek  (“  (“Elfos dançantes” dançantes”), August Malmström, 1866.  

OS SERES ESPIRITUAIS NA RELIGIÃO NÓRDICA ANTIGA

Leandro Vilar Introdução:   Introdução: Na Religião Nórdica Antiga havia uma variedade de seres sobrenaturais que não eram os deuses ou os gigantes, mas que estavam relacionados r elacionados com a natureza e o âmbito doméstico, atuando como protetores e proporcionadores de fertilidade, fecundidade e prosperidade. Por se tratar de uma religião pautada numa sociedade predominantemente agrícola e pecuária, percebe-se o destaque na crença em espíritos que asseguravam o sucesso nas colheitas, o crescimento dos rebanhos, a segurança da

fazenda e da família.

 

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Esses espíritos englobavam seres os quais se manifestavam na forma humana ou na forma de animais, não sendo um termo utilizado como sinônimo de alma. IInclusive nclusive vários autores comentam a dificuldade de se estudar esses espíritos, pois alguns deles possuem funções bem parecidas, a ponto de d e ter suscitado dúvidas quanto a sua identidade: seriam espíritos diferentes? Ou os mesmos espíritos, mas com nomes diferentes? Sendo essa  variação de nome, oriunda do d o regionalismo ou da época? Apesar dessas perguntas não possuírem respostas definitivas, os estudiosos perceberam alguns aspectos centrais nestes seres: alguns apareciam como mulheres, homens e outros em forma de animais, cujo gênero não era identificado. Esses espíritos eram somente visíveis em sonhos, visões, presságios ou por pessoas que possuíam alguma sensibilidade mágica ou espiritual. Esses seres viviam principalmente na natureza, habitando montanhas, cavernas, cachoeiras, florestas, etc. mas alguns moravam no lar. O presente texto consistiu numa pesquisa bibliográfica no intuito de definir alguns desses espíritos, comentando acerca de seus nomes, funções e aspectos. Algumas fontes literárias onde se pode consultar informações sobre esses espíritos, foram mencionadas. O estudo desenvolveu-se a partir da história das religiões, procurando trabalhar com a ideia de espíritos auxiliadores, proposta pelo historiador Angelo Brelich. As imagens apresentadas são meramente ilustrativas, não havendo representações de época desses seres. Para entender a existência dessa diversidade de seres sobrenaturais encontrados em algumas religiões, como a Religião Nórdica Antiga, mencionamos um comentário do historiador Angelo Brelich (1979, p. 43-44) a respeito da crença em seres sobrenaturais. O autor comentava que concebia esses seres divididos em duas categorias: 1. A primeira refere-se aos deuses, os quais se manifestariam de várias formas, sendo visíveis, invisíveis, antropomorfos, zoomorfos ou híbridos, os quais estariam associados com vários aspectos da natureza, da vida, da sociedade e da cultura. 2.

A segunda era mais abstrata e vasta, incluindo uma diversidade de seres

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sobrenaturais como espíritos, entidades, monstros, heróis, criaturas fantásticas etc.

 

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Mas o que torna essa segunda categoria diferente da primeira para Brelich, é que nela estavam inseridos os seres associados com as necessidades ou expectativas cotidianas de proteção, alimentação, provimento, saúde, segurança, fertilidade, fecundidade. Brelich destacava que embora houvesse deuses que também estariam associados a essas necessidades, ainda assim, as pessoas queriam alguém mais próximo, e esses espíritos, animais, entidades e heróis viviam entre a humanidade, compartilhando de sua realidade, mesmo que os deuses eventualmente em algumas narrativas estivessem entre os homens, não era igual. A respeito disso, Brelich assinalava de forma mais específica, a crença em espíritos tutelares, comentando sobre seu vínculo com a residência, a terra, a propriedade rural, a família e sua herança. Tais características concediam a esses seres sobrenaturais uma percepção íntima entre eles e a pessoa (BRELICH, 1979, p. 48-50). Nesse ponto, acreditar em espíritos tutelares, segundo Brelich, vinha da necessidade do ser humano de ter alguém a quem recorrer par auxiliá-lo em sua vida de forma mais próxima. Os deuses eram solicitados sim, mas dependendo da religião, eles eram seres ocupados com suas vidas e afazeres, por outro lado, os espíritos tutelares tinham funções exclusivamente ligada aos seus familiares e protegidos, existindo praticamente para atendê-los e guardá-los. Diante desse comentário de Brelich, notamos que o caso das serpentes do lar ou serpentes-domésticas, insere-se nessa necessidade das pessoas de possuírem alguma forma mágica, religiosa, divina, sobrenatural a quem recorrer. Entretanto, acreditar que a residência pudesse ser guardada por um espírito guardião na forma de serpente não foi algo exclusivo dos escandinavos medievais. Os vættir e landvættir: os espíritos da natureza  natureza   A princípio começaremos pelas nomenclaturas, que nem sempre são fáceis de serem usadas. Os antigos nórdicos usavam o termo vættir para se referir aos espíritos no geral, o que poderia incluir seres que para nosso senso não seriam considerados espíritos, como elfos e anões. Além da condição que alguns estudiosos não consideram que as dísir e as

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fylgjur fossem vættir. A outra categoria ou subcategoria, eram os landvættir, os espíritos associados com a terra, sendo esses habitantes de rochas, cavernas, colinas, estando

 

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associados com a fertilidade da terra e intuitos de proteção. (TURVILLE-PETRE, 1964; DAVIDSON, 1968). Tentar catalogar qual espírito pertenceria a um dos dois grupos não é tarefa fácil, pois elfos e anões aparecem inseridos nas duas categorias, dependendo do autor que escreveu a respeito. Entretanto, os estudiosos tentam sublinhar algumas possíveis  variações. O historiador Rudolf Keyser (1854, p. 192), um dos primeiros a dar atenção a essa crença nos espíritos protetores e da natureza, considerava que os vættir e os landvættir tivessem função de proteção, mas essa função estaria associada com o local e a região, diferente das dísir e as fylgjur que seriam espíritos que protegeriam individualmente as pessoas ou famílias. Keyser também assinalava que o conceito de landvættir, foi visto principalmente entre os islandeses e noruegueses. Ele comenta o caso da Lei Ulfjot de cerca de 930, que solicitava que as figuras de proa com cabeça de dragão ou serpente, fossem removidas ou cobertas, antes dos navios atracarem na Islândia, para que aquelas figuras não assustassem os landvættir. Outros autores comentam esse curioso exemplo, assinalando que a crença nesses espíritos da natureza fosse bem importante entre os islandeses, a ponto de terem criado uma lei para não os assustá-los. Os landvættir segundo consta nas sagas islandesas, estavam associados com a natureza, habitando colinas, montanhas, rios, rochas, concedendo proteção e fertilidade. Eles poderiam assumir forma humana, de gigantes e até a forma de animais. Eram conhecidos como seres tímidos, por isso dificilmente eram vistos, porém, alguns apareciam aos humanos. A história de Bjorn, o Bode conta que ele foi ajudado por um landvættir, nas atividades de caça e pesca; a ajuda foi tão boa, que o rebanho de cabras de Bjorn, cresceu. O fora da lei Grettir, o Forte, em sua jornada conheceu um estranho que disse que sua filha estava gravemente doente, mas ela foi curada por um misterioso homem que vivia numa caverna. O estranho disse à Grettir que achava que aquele homem na caverna fosse um landvættir. (TURVILLE-PETRE, 1964, p. 232).

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Outros estudiosos assinalam algumas interpretações diferentes para entender os  vættir e landvættir. Peter Munch (1926, p. 42) comentou que nos relatos escritos, existem as expressões holla vættir (bom espírito) e meinvaettir (mau espírito). Munch não deixa

 

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claro se trataria de uma influência cristã, essa noção entre bons e maus espíritos, já que ele comentou que com o avanço do cristianismo na Islândia e Noruega, os missionários e padres passaram a combater o culto a esses espíritos, os quais até receberiam oferendas em forma de comida. Os clérigos consideram essas criaturas como sendo demônios. Embora que Jan de Vries (1970, p. 260-261) assinalou que os vættir e landvættir se fossem ofendidos, poderiam causar danos aos humanos, suspendendo sua proteção e bênçãos, ou negando ajuda. O que poderia suscitar o uso da expressão meinvaettir. Não obstante, Munch (1926, p. 43) sugeriu uma dicotomia pouco usual, apontando que os holla vættir estavam associados aos deuses e elfos luminosos, quanto os meinvættir estavam associados aos gigantes, anões e elfos sombrios. Nota-se Nota -se na referência aos elfos, que ele usa a classificação apresentada por Snorri Sturluson, na Edda em Prosa, em dividir os elfos entre seres benignos associados com a luz, e seres malignos, associados com as trevas. John MacCulloch (1930, p. 228-230) foi mais cauteloso ao falar desses espíritos. Para ele os vættir eram espíritos da natureza, diferente de outros seres como elfos, anões e fadas. Os vættir habitariam locais da natureza como florestas, cachoeiras e árvores, recebiam oferendas, geralmente em forma de alimento, e poderiam assumir distintas formas. Estavam ligados com a fertilidade, prosperidade e proteção. Ele comentou que esses espíritos eram confundidos com os elfos, por tais seres também estarem ligados com a natureza e a fertilidade, e poderiam estar associados com o culto aos ancestrais. Keyser (1854, p. 189-190) comentou que os vættir também eram confundidos com os elfos e as dísir, porém, os vættir estariam associados com os mortos, mo rtos, diferente dos elfos e as dísir. Embora ambos os autores não expliquem satisfatoriamente o porquê o culto aos ancestrais estaria ligado com esses espíritos. MacCulloch (1930, p. 229) assinalava que a palavra vættir possuía mais de um sentido, como visto nos relatos literários, mas em geral associada com a ideia de um espírito protetor, mas que também poderia agir de forma perversa. Ele comentava que

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havia histórias que mostravam vættir agindo de forma má, o que assinalava uma dificuldade de definir com clareza a identidade desses espíritos sempre como seres benignos. Essa visão negativa existiria segundo ele, durante o período pagão, e foi

 

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apropriada pelos cristãos, a fim de demonizar a crença nesses seres. MacCulloch (1930, p. 231-232) salientava que a crença nos vættir não esteve limitada apenas a Islândia e a Noruega, mas foi vista na Dinamarca, na Suécia e nas Ilhas Faroe. Ele também comentava que essa crença perdurou mesmo com a cristianização desses territórios, perpetuando-se no folclore escandinavo, pois seres como os Nisse(1), eram criaturas inspiradas nos vættir. 221 

Hilda Davidson (1968, 1993) pouco falou nos vættir, dando mais atenção aos landvættir. Para a autora, esses seres seriam espíritos da natureza que viveriam em montanhas, colinas, rios, campos, florestas, árvores, rochas, entre outros lugares. Lembrariam os espíritos guardiães vistos entre outros povos, como no caso dos anglosaxões com suas histórias sobre os Cucullati, também chamados de “os encapuzados” encapuzados”, devido a usarem capas e capuzes. Esses seres estavam associados com a fertilidade, prosperidade e proteção e viveriam na natureza. Inclusive outros seres encontrados na Escócia e Irlanda também possuíam semelhanças com os landvættir nórdicos. Ela assinalava a capacidade de eles assumirem outras formas e de ajudarem as pessoas, porém, põem em dúvida se estariam associados com o culto aos mortos, como sugerido por Keyser (1854) e MacCulloch (1930).  Apresentado essas características centrais sobre esses dois tipos de espíritos, as  vezes considerados como categorias de seres espirituais, comentaremos a seguir sobre as dísir, as fylgjur, as hamingjur e os elfos, para depois falarmos especificamente do caso das serpentes como espíritos guardiões. Com exceção dos elfos, os demais espíritos mencionados possuem em comum o fato de serem referidos na maioria das vezes, como sendo do gênero feminino, apesar que as fylgjur poderiam assumir outras formas. As Dísir: espíritos da fertilidade  fertilidade   As dísir (dís no singular) são misteriosos espíritos femininos, associados com a fertilidade e a proteção, e segundo alguns autores, estariam associados com os deuses Vanes devido a esse referencial da fertilidade. Para Keyser (1854, p.175-184), as dísir

seriam deusas menores, de nomes desconhecidos, mas que estariam associadas com a natureza, os campos e a proteção do lar. As dísir receberiam culto através de banquetes

 

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e sacrifícios (disáblot), em lugares privados ou públicos, como forma de simbolizar a prosperidade a elas atribuída. Para Keyser, K eyser, o culto a essas deusas estava m mais ais ligado com o bem-estar da família do que com ritos agrários. Ainda assim, ele sugeriu que era um culto bem difundido em algumas regiões da Escandinávia, devido a toponímia top onímia apresentar o nome dís, o que sugeriria se tratar de locais onde essas ddeusas eusas eram cultuadas. Inclusive ele comentava que a condição dessas deusas ou espíritos, terem a forma feminina, era representação da condição do papel da mulher na sociedade escandinava como guardiã do lar. Dentro desse grupo de deusas estariam as hamingjur e as fylgjur, que seriam manifestações específicas das atribuições dessas divindades menores. Turville-Petre (1964, p. 221-224) comentava que as dísir eram espíritos femininos que recebiam culto, esse chamado de dísablot, que ocorria na época do inverno, nas chamadas “noites de inverno” inverno”. O culto envolvia o consumo de bebidas, e era realizado principalmente dentro do lar. Mas alguns relatos sugerem um culto externo, no qual envolveria sacrifícios em um altar, algo comentado na Saga de Hervor, na Saga de Egil Skallagrimsson, na Saga de Vigá-Glums, entre outros relatos. Esse culto as dísir seria feito para invocar a proteção desses espíritos femininos para assegurar o bem-estar da família, durante os meses frios do inverno. Apesar que as dísir também fossem mencionadas em outras épocas do ano, e até aparecessem em sonhos, como presságio. O que as faz serem confundidas com as fylgjur, que também são ditas aparecerem em sonhos. Nesse caso, Turville-Petre (1964, p. 225-227) sugeriu que a palavra dís pode ter sido uma invenção de poetas para se referir a fylgja. Por outro lado, ele sugeriu que caso não fosse uma invenção poética, a palavra dís poderia ser um termo regional de algum local da Escandinávia para se referir a fylgja, pois Turville-Petre como Keyser, assinalava que a distinção de funções das dísir para as fylgjur é quase nenhuma, pois as diferenças existentes se encontram na condição que não há menções as fylgjur recebendo culto e que essas se transformariam em animais, algo não visto com co m as dísir que se apresentariam em forma humana.

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Figura 1: Dísabló t,t, August Malmström, c. 1860.

Peter Munch (1926, p. 33) comentava que as dísir seriam um grupo de deusas associadas com a morte ou com a terra, representando a proteção das famílias e lares, e estando associada com ritos geralmente celebrados durante o inverno, no intuito de invocar a proteção e prosperidade para aqueles tempos difíceis. O disáblot era realizado nos lares ou ao ar livre, em locais demarcados com altares (dísarsal) ou outros indicadores. As dísir estariam associadas com presságios (spádís = dís vidente), e estavam associadas com os Vanes (vanedís = dís dos Vanes). Munch destacava o culto a essas deusas na Suécia, na região de Uppsala e vizinhanças. Keyser (1854, p. 185) falava que vestígios do culto as disir, era observado também na Noruega, Islândia e nas ilhas Orkney. Hans-Peter Naumann (2016, p. 624) corrobora a fala de Keyser, apontando menções ao culto das dísir em vários lugares, mas chamando a atenção para que na Suécia e Noruega, foram encontrados locais chamados Disâsen, Diseberg, Disevid e Disathing, o que sugere uma ligação dessas localidades com o culto a esses espíritos. Nauman também sublinha que o disáblot no lar, seria feito especificamente para se pedir a proteção prot eção daquela família, mas o culto público deveria ser celebrado para pedir a proteção e bem-estar da comunidade, pois ele destaca que nas

sagas, há menções de reis participando do disáblot. Assinalando que na cultura nórdica os reis tinham um papel religioso também, o que incluía presidir e dirigir rituais e

 

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representar a proteção do reino, incluindo ser culpado por problemas como falta de chuva, pragas e inverno rigoroso. John Lindow (2001, p. 95-97) comenta que identificar as dísir seja algo difícil. Ele salienta que a palavra dís poderia significar dama, o que abriria uma vasta margem de interpretações, permitindo incluir deusas e outros espíritos no contexto. Diante disso, ele assinala a questão de Freyja ser chamada de Vanadís (dís dos Vanes, ou seria a dama dos Vanes?). Lindow também comenta que as valquírias são comparadas as dísir dís ir nos poemas  Atlamal e no no Gudrúnarkvida, Gudrúnarkvida, sendo sendo conhecidas como as dísir de Odin. Seriam as “damas de Odin” Odin”? Por sua vez, na Edda em Prosa, Lindow diz que a giganta Skadi era chamada de “dís dos esquis” esquis”, pois a giganta usava esquis para p ara se locomover nas montanhas nevadas.  As Nornas, que eram as deusas do destino, também estavam associadas associadas com as dísir, pois algumas dessas, supostamente através de sonhos, apresentariam presságios. Diante desses exemplos, John Lindow sugere que a palavra dís pode ter tido seu sentido alterado com o tempo, deixando de ser uma palavra comum para se referir a “ dama dama”” , para passar a ser usada no sentido de referir-se a divindades femininas de identidade indefinida, por isso haver narrativas que as dísir se assemelham as valquírias quando surgem no leito de morte da pessoa, ou aparecem como espíritos que podem atrapalhar, fazendo a pessoa se ferir, como no caso da fylgja-adversária. As fylgjur: espíritos protetores  protetores  Se os autores supracitados comentam que havia semelhanças entre as dísir e as fylgjur, vejamos que semelhanças eram essas. Enquanto a palavra dís é sugerida significar dama, a palavra fylgja é traduzida como “aquela que segue” segue”  ou “acompanhante acompanhante””. Tal condição se deve pelo fato de que a crença nesses espíritos protetores, dizia que cada ser humano possuiria uma fylgja particular, que acompanharia a pessoa do nascimento até a morte. Tal condição lembra a ideia de anjo da guarda no catolicismo, ou a ideia de daemon entre os gregos antigos, ou de espírito animal pessoal, visto entre alguns povos de características xamânicas.

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 A fylgja era geralmente descrita como tendo a forma de uma jovem mulher, sendo ela invisível para seu protegido. Com exceção de pessoas dotadas de dons mágicos ou espirituais que conseguiriam ver esses espíritos, a maior parte da população não as via.  As fylgjur poderiam aparecer em sonhos, sendo chamadas de draumkona (mulher do sonho), ou poderiam aparecer através de visões ou na eminência da morte de seu protegido, características compartilhadas pelas dísir, segundo alguns relatos. As crenças diziam que quando uma pessoa via sua fylgja, significava que estava em perigo ou próximo de morrer. Assim, ver a própria fylgja era presságio de mau agouro. (TURVILLE-PETRE, 1964, p. 227-229).  Além de cada pessoa ter sua própria fylgja, havia fylgjur que protegiam famílias inteiras, sendo essas chamadas de aettarfylgja ou kynfylgja. Segundo o relato de algumas sagas, essas fylgjur de família, passavam de geração em geração, pois quando uma pessoa morria, a fylgja dela ia embora com essa pessoa, mas a fylgja de família permanecia, enquanto a família continuasse a existir. Devido a essa aproximação especifica com a família, esse tipo de fylgja seja confundida com o papel das dísir, como comentado anteriormente. (RAUDVERE, 2008, p. 239). Entretanto, a grande diferença entre as fylgjur e as dísir se devem a dois fatores: o primeiro, pelo fato das fylgjur poderem assumir a forma de animais, o segundo, pela condição das fylgjur não receberem culto. Keyser (1854, p. 187-189) comentou que em  várias sagas há menções da presença das fylgjur em forma animal, geralmente aparecendo em sonhos para alertar sobre perigos ou a proximidade da morte do protegido. A forma animal variava nessas narrativas. Keyser apontou ter identificado fylgjur na forma de urso, raposa, lobo, touro e águia. Para o autor, esses animais teriam um valor simbólico no contexto da narrativa, algo que deveria ser analisado para entender essas visões. Keyser também comentou que a manifestação animal das fylgjur poderia não apenas alertar o protegido sobre ameaças, mas elas poderiam alertar os familiares. Ele cita o caso do poema éddico Atlamal (Cantar de Atli), no qual, Kotsbera sonhou com sua fylgja em forma de águia, mas o espírito anunciava que o perigo não

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seria com ela, mas com seu marido Hogni.

 

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Chantepie de la Saussaye (1902, p. 297) comentava que as fylgjur assumissem a forma de vários animais como lobos, ursos, corvos, águias, cisnes, pombos, abelhas, moscas e de cobras. Tal condição era reflexo do que ele considerava ser uma forte influência animista e xamânica na Religião Nórdica Antiga. Por tal condição, havia o que ele denominava de “fauna espiritual” espiritual”, ou seja, os diferentes tipos de animais pelos quais as fylgjur poderiam se transformar. 226 

John MacCulloch (1930, p. 234-235) dizia que q ue nas sagas e poemas era mais comum as fylgjur aparecerem em forma animal, sendo essa forma chamada de dýrfylgja ou por outros nomes. Essa forma animal, segundo MacCulloch, não apenas teria um caráter simbólico associado com a interpretação dos sonhos, algo comentado décadas antes por Keyser (1854), mas poderia ser a personificação do caráter ou condição social da pessoa. Sobre isso, Keyser dizia que que em geral as histórias que narravam a presença de fylgjur na forma de urso, lobo, touro e águia, referiam-se a chefes ou o u guerreiros, sendo que esses animais possuem relação com tais aspectos. A águia personifica nobreza e autoridade, o touro expressa bravura e força, ursos e lobos também representam força, coragem, autoridade, imponência. Sendo essas características prezadas na sociedade nórdica para um chefe e guerreiro. Else Mundal (1993, p. 624) comenta que esses animais podem ser encontrados nas seguintes sagas: forma de urso e de touro (Saga de Njáls, cap. 23, na Saga dos Ljósvetninga, nos caps. 11 e 16, e na Saga de Vápnfirðinga, no cap. 13 13). ). Além desses dois animais, os quais Mundal diz serem mais comuns, a autora observou outras espécies como: raposa (Porsteins saga Vikingssonar, cap. 12), bode (Saga de Njáls, cap. 41), leão (Hrólfs saga Gautrekssonar, caps. 7 e 12) e leopardo (Spgubrot, (Spgubrot , cap. 2). Mundal assinala a referência de animais como o leão e o leopardo, criaturas inexistentes na Escandinávia, provavelmente trata-se de narrativas tardias, influenciadas por elementos simbólicos do sul do continente, o que explicaria a presença desses dois animais estranhos a fauna nórdica. Ainda assim, o leão e o leopardo seguiriam o simbolismo associado com nobreza, imponência, autoridade, virtude, força e coragem, algo que encontra respaldo para

chefes e guerreiros. Para Mundal, a fylgja em forma feminina teria pensamentos próprios,

 

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independente da consciência de seu protegido. Porém, a fylgja-animal seria uma manifestação espiritual do seu protegido. Else Mundal (1993, p. 625) também destacou a complexidade de compreender as fylgjur devido aos vários termos usadas para se referir a esses espíritos. Dentre essas  variações de nome, a autora assinalou: assinalou: mannflygja (fylgja do homem ou fylgja pessoal), a forma feminina era chamada também de ófridarfylgjur (fylgjur-agitadas) e óvinarfylgjur (fylgjur-adversárias), sendo esses dois exemplos referentes as histórias onde fylgjur atacaram os inimigos de seus protegidos, a fim de protegê-los. As fylgjur de família eram chamadas de aettarfylgja e kynfylgja. As que apareciam em sonhos eram nomeadas de draumkona. As que pressagiavam a morte eram nomeadas de dauðafylgja. As que apresentavam vidência eram chamadas de spádís, o que as fazia ser confundidas com as dísir. Para Mundal os diferentes nomes das fylgjur pudessem ser reflexo de variações regionais, ou invenções dos poetas e escritores. Além disso, a autora considerava que as dísir poderiam ser outro nome para as fylgjur, embora ela não tivesse certeza disso. As hamingjur: espíritos da sorte  sorte  Entretanto, quanto as hamingjur (hamingja no singular), espíritos femininos da boa sorte, para Mundal não seriam outros tipos de espíritos, mas outro nome para se referir às fylgjur. Keyser (1854), MacCulloch (1930) e Turville-Petre (1964) seguiam a mesma opinião de Mundal, ao dizer que a hamingja seria outro nome para a fylgja. Já Peter Munch (1926, p. 302) considerava a hamingja diferente da fylgja, a primeira estaria associada com a sorte e a segunda com a proteção. Rudolf Simek (1993, p. 129) segue o posicionamento de Munch, ao dizer que a hamingja seria a personificação da boa sorte e inclusive poderia ser passada de d e um indivíduo ao outro, pois na concepção escandinava, a sorte seria um espírito que acompanharia a pessoa. Apesar que não se saiba exatamente como essa troca poderia ser feita. De qualquer forma, Simek salienta que a fylgja não era transferida, exceto a fylgja de família. No entanto, as hamingjur poderia ser confundida com as nornas, por essas serem espíritos do destino e também

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associadas em alguns casos com a sorte.

 

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Os elfos: seres com distintas identidades  identidades  Quanto aos elfos (álfar) esses também possuem problemas de interpretação e identificação. Enquanto o cinema, desenhos, ilustrações, quadrinhos e videogames perpetuaram a imagem de elfos sendo seres pequenos como gnomos e duendes, ou ora tendo a aparência humana, tendo um porte esbelto e nobre, possuindo cabelos longos, olhos claros e orelhas pontudas, os elfos na mitologia e folclore escandinavo não tinham sua aparência definida.  Alaric Hall (2007, p. 54-55) comenta que a palavra nórdica álfar (elfo), possui paralelo etimológico com a palavra em inglês antigo, ælf. Ambas as palavras remontam ao proto-germânico alboz, que possui paralelo com o albus, no latim, que significa bbranco. ranco. Por essa etimologia, Hall sublinha que Snorri possa tê-la usada para criar suas duas raças de elfos, designando entre elfos claros e escuros. O autor também salientou que no contexto nórdico os elfos parecem pertencer apenas ao gênero masculino (2), como os anões, pois nos mitos nórdicos não há menções a anãs. No entanto, na mitologia anglosaxã havia elfos (ælf) e elfas (ælfen). A condição dos elfos nórdicos serem apenas masculinos já os diferenciaria das dísir, fylgjur e hamingjur, por serem essas representadas essencialmente como mulheres.  Além dessa distinção, Hall sugere que a palavra elfo no contexto nórdico pudesse ter distintas interpretações. Para ele, na Edda Poética, os elfos poderiam ser algum tipo de divindade menor, cujos nomes se perderam na tradição oral, ou até mesmo uma referência aos Vanes, o que os colocaria próximos aos ritos de fertilidade e prosperidade prosper idade desses deuses, o que por sua vez, justificaria o álfablot (sacrifício aos elfos). Por outro lado, na Edda em Prosa, os elfos surgem como duas raças distintas, habitando dois mundos diferentes, mas sem importância nos mitos. Já nas sagas, os elfos são representados como espíritos da natureza, cujas funções os confundem com as dísir e os  vættir. Sendo que eles também recebem oferendas para proporcionar fertilidade e proteção, e estariam associados com o culto aos mortos. Na poesia escáldica a palavra

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elfo aparece como substantivo usado para metáforas (kenningar) ou para apelidos masculinos.

 

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John Lindow (2001, p. 110) aponta ap onta que em alguns poemas éddicos como o Völuspá e o Lokasenna, os elfos são mencionados como estando em companhia dos deuses. Porém, eles não possuem sua aparência definida, e tampouco tem nomes próprios citados, diferente dos anões, os quais possuem vários nomes mencionados no Völuspá. E nesse quesito, Lindow comenta que no poema Völundarkvida, o herói Volund é visitado por um elfo chamado Dain, porém, Dain é um nome associado a anões. 229 

Figura 2: Ängsälvor  2: Ängsälvor  (“  (“Elfos do campo” campo”), Nils Brommér, 1850. 

Na Edda Poética não é dito onde os elfos habitariam propriamente, porém, na Edda em Prosa, Snorri menciona que havia duas raças de elfos, os elfos luminosos (ljósalfar) e os elfos sombrios (svartálfar) ou elfos escuros (dökkálfar). Os elfos luminosos viveriam em Álfheim (Terra dos Elfos) e os elfos sombrios moravam em

Svartalfheim (Terra dos Elfos sombrios). O nome dos elfos sombrios ou escuros se daria segundo algumas interpretações, devido a eles viverem no subterrâneo ou longe da luz do sol. (LINDOW, 2001, p. 110).

 

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Embora Snorri Sturluson tenha apresentado essa variação entre os elfos, ela não influencia no relato mitológico e não é perceptível ter influenciado outros mitos e narrativas, pois os elfos não são referidos por essa diferença. Porém, os elfos eventualmente eram confundidos com os anões, o que se sugere que os svartálfar possam po ssam ter surgido dessa confusão, pois os anões costumavam habitar cavernas, eram ferreiros, artífices e conheciam magia, características associadas aos elfos. No entanto, a principal diferença entre os elfos e os anões, era que os elfos recebiam culto, o chamado álfablot. Lindow (2001, 53-54) cita o relato de um poeta islandês chamado Sighvatr Thórdason, que visitou a província de Västergötland na Suécia, no ano de 1017 ou 1018, o qual relatou ter testemunhado um culto aos elfos, sendo realizado numa casa. É importante salientar que naquele ano, a Suécia já estava em boa parte influenciada pelo cristianismo, ainda assim, práticas pagãs continuavam a ser realizadas. Esse culto aos elfos é mencionado em outras narrativas, embora com poucos detalhes de como ocorria. ocor ria.  Ármann Jakobsson (2015, p. 215-216) destaca que os elfos são retratados de formas distintas nas Eddas e nas sagas. O autor comenta que nas sagas lendárias os elfos estão associados com a magia, nas sagas de reis eles estão associados com alguns monarcas, inclusive envolvendo culto aos mortos, nas Eddas eles são citados brevemente e sem importância na narrativa. Jakobsson salienta que os elfos também estavam associados com os anões, pois temos anões chamados de Álfr, Vindálfr e Gandálf. Isso gerava confusão entre os dois seres. O autor diz que a classificação de elfos luminosos e elfos sombrios pode ter sido inventada por Sturluson. Para Jakobsson (2015, p. 216-217), os elfos poderiam ser uma categoria de seres espirituais, não uma raça, ou seria outro nome para se referir a espíritos da natureza, pois em algumas sagas, os elfos são associados com florestas, flor estas, montanhas e cavernas, o que os aproxima dos vættir e landvættir, e tal condição foi mantida no folclore nórdico. Por exemplo, em regiões da Noruega e Suécia, os elfos são chamados de “ povo oculto” oculto ”  (huldufolk). O autor salienta que muito do imaginário sobre sobr e os elfos foi desenvolvido nos

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séculos XVIII e XIX, com os contos de fadas, criando c riando distintas imagens para esses seres, as quais não correspondiam a percepção que os nórdicos da Era Viking e da Baixa Idade Média, teriam deles.

 

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Jenni Bergman (2011, p. 10-12) apontou várias informações sobre essas criaturas.  A autora salienta que os elfos eram criaturas associadas com a natureza, encontrando respaldo em outros espíritos da d a mitologia e religião nórdica, além de encontrar respaldo em outros seres vistos nas culturas dos germânicos, anglo-saxões, escoceses e irlandeses.  A autora salienta que no século XIX, Jacob Grimm em seus estudos folclóricos, sugeriu a hipótese que os elfos seriam antigos genii locus, espíritos guardiões de determinados lugares, o que faria sentido, já que os elfos recebiam culto e oferendas. Não obstante, Grimm salientava que a divisão sugerida por Snorri sobre elfos luminosos e elfos sombrios, poderia estar influenciada por referenciais cristãos, baseadas em anjos e demônios, associando os elfos luminosos com o bem e os elfos sombrios com o mal e os mortos. Bergman (2011, p. 12-14) destaca que além da comparação e confusão dos elfos com os anões, ela sublinha o caso de que os elfos poderiam estar associados com os mortos, como os draugr (mortos-vivos). Os elfos sombrios que eram descritos habitando o subterrâneo e teriam a pele escura, talvez pudesse ser referência aos mortos? Além disso, Bergman sublinha que na literatura anglo-saxã, os termos relacionados a elfos eram bem mais variados no que na literatura escandinava. No caso anglo-saxão, havia relatos de elfos vivendo em diferentes locais da natureza, que os fazia lembrar as ninfas da mitologia grega, ou os próprios vaettir da mitologia nórdica. Ela também sublinha exemplos de pessoas adotarem a palavra elfo para formar nomes próprios, pois os elfos eram associados com inteligência e beleza. E havia histórias de elfos travessos. Sobre o álfablot, Turville-Petre (1964, p. 230-231) assinalou algumas dúvidas. Ele comentou que na Saga de Kórmak, a feiticeira Thordís recomenda que Thorvard, o qual havia sido derrotado e ferido em um duelo contra Kórmak, para que pudesse se curar rapidamente e ter mais sorte na próxima luta, deveria roubar um dos bois de seu inimigo, levar o animal até uma colina onde viviam os elfos, e sacrificar o animal ali, oferecendo seu sangue e carne a aqueles espíritos, para que eles lhe dessem saúde e proteção.

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 Algo parecido é mencionado na Kristni saga (Saga da Conversão dos Islandeses), onde um bispo inglês, de nome Frederik, para converter a família do guerreiro islandês, Thorvaldr Koðrasson, o qual já havia se batizado, o bispo destruiu uma rocha, onde

 

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habitaria um ser chamado de ármaðr, que concedia proteção e bênçãos para a família e as terras daquele local. O pai de Thorvaldr somente aceitou se converter ao cristianismo, cr istianismo, depois o bispo Frederik o ármaðr. Para Turville-Petre p. 231) essa históriaque do ármaðr, lembra o expulsou elfo da Saga de Kórmak, embora que os(1964, landvættir fossem seres bem parecidos com as funções dos elfos. Mas se esses dois casos suscitam dúvidas. Turville-Petre (1964, p. 231) salienta que o álfablot também fosse em algumas regiões, celebrado durante o inverno, o que o confunde com o dísablot. Além disso, o autor comenta os casos de reis que possuíam seus nomes ligados aos elfos, e recebiam culto. Os reis Volund, o Elfo, Olavo Geirstađálfar e Álfr estavam associados ao culto dos elfos. O rei Olavo após a morte recebeu o epíteto de Geirstaðaálfar (Elfo de Geirstaða), e passou receber oferendas em seu túmulo, onde a população pedia por boas colheitas e proteção. Uma filha do rei Álfr, que diziam viver no leste da Noruega, realizava o dísablot num local chamado Álfhildr, sendo esse local associado aos elfos. Por tais comentários os elfos se confundem com outros vaettir e os anões, além de estarem associados com a natureza, ritos de proteção e talvez fertilidade, o que os fazia estarem conectados com os deuses Vanes. Além disso, sua ligação a reis que recebiam culto, sugere uma possível associação com o culto aos antepassados, apesar que isso sejam conjecturas embasadas em relatos curtos, contidos nas sagas, pois nas Eddas, a função, identidade e importância dos elfos não são revelados. As nornas: os espíritos do destino  destino   Assim como ocorre com os elfos, as fontes literárias apresentam diferentes interpretações para estes seres, e o mesmo é válido para as Nornas. Na Edda em Prosa, Snorri Sturluson escreveu que as Nornas seriam três irmãs chamadas Urd, Verdandi e Skuld, e elas seriam as deusas do destino. E elas viveriam viver iam próximo ao poço Urdarbrunnr, diante de uma das três grandes raízes da Yggdrasil. Entretanto, em outras passagens

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dessa Edda, Snorri diz que haveria outras nornas, as quais ele não as nomeou, e essas estariam associadas tanto ao destino bom, quanto ao destino ruim. A ideia de que haveria mais de três nornas já era considerada em outros poemas na Edda poética, os quais

 

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necessariamente não limitavam tais tais seres em número de três. (MUNDAL, 1993, p. 625626). Simek (1993, p. 236-237) considera que haveria pelo menos duas versões conhecidas sobre as nornas: a versão de que haveria várias delas, e a versão da Edda em Prosa, onde também diz que existiriam outras, mas apenas três são destacadas. Para ele, esse foco que Snorri deu a Urd, Verdandi e Skuld, poderia ser uma influência da crença romana nas Parcas, e a crença grega nas Moiras, onde ambos os casos tínhamos três irmãs associadas com o destino. Simek também comenta que os nomes das normas Urd (passado), Verdandi (presente) e Skuld (futuro), necessariamente não teriam essa conexão temporal, podendo inclusive ser uma invenção mais tardia, pois ele sublinha que a palavra verdandi é uma variação do mesmo verbo que origina urd. E neste caso, ele assinala que o nome da norna Urd é citado desde o século X, sendo o mais antigo conhecido. No fim, ele reconhece que tais seres estariam associados com o destino e a sorte, mas também com a ideia de julgamento (dómr) e veredito (kvidr).

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Figura 3: Die Nornen Urd, Werdanda, Skuld, unter der Welteiche Yggdrasil (As Nornas Urd, Verdandi, Skuld, sob a árvore Yggdrasil), Ludwig Burger, 1882.

Lindow (2001, p. 243-244) trata as nornas não como deusas, assim como mencionado por Snorri, mas as concebe como espíritos femininos associados com o destino e o nascimento. Ele cita o poema Fafnismál, onde há uma menção as nornas como sendo espíritos que vão receber as crianças assim quando nascem, então ditam a elas seus destinos. Neste caso, o dragão Fafnir diz a Sigurd, que haveria nornas a serviço os deuses, dos anões e dos elfos, apesar que não se sabe ao certo o que isso quisesse dizer. Lindown cita outras fontes que também apontam que haveria várias nornas e não apenas três delas. Provavelmente trata-se de uma versão do mito ou uma edição de Snorri ou de outro autor, e concebê-las na Edda em Prosa como sendo três t rês irmãs principais. Langer (2015, p. 338-339) também defende que as nornas seriam espíritos femininos associados com o destino, e a boa e má sorte. As nornas ditariam os acontecimentos da humanidade, pelo menos é o que sugere alguns poemas e sagas. Entretanto, por ser material mitológico e até mesmo escrito após a Era Viking, a nível de crença religiosa, não se sabe exatamente como os nórdicos concebiam sua relação com as nornas, pois nem sempre a literatura expressa a realidade. Langer também comenta que em determinados momentos as nornas foram confundidas com as valquírias, pois essas ditavam o destino final, se o guerreiro iria para o Valhala ou não. Além disso, o nome Skuld também é referido como sendo o nome de uma valquíria. Notas:   Notas: 1. O nisse é descrito como uma pequena criatura parecida com um gnomo ou duende. Ele também lembra o brownie escocês, o kobold germânico e o kaboutermanekken holandês. Os nisse são espíritos protetores que podem habitar uma residência específica ou vivem na natureza, em torno das casas e fazendas. Também estão associados com festejos natalinos. Nisse é a palavra mais utilizada na Noruega e Dinamarca. Já na Suécia, adota-se a palavra tomte. (THORPE, 1851a).

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2. Hall (2007, p. 28) comenta que em fontes islandesas mais tardias do final da Idade Média, surge a palavra álfkona (elfa). Possivelmente uma influência inglesa,

 

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pois na língua inglesa existia uma palavra feminina par elfo. Todavia, essa palavra par parece ece ter sido pouco usual mesmo no folclore escandinavo.

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Julbocken , John Bauer (1912)

O BODE DE NATAL NA TRADIÇÃO FOLCLÓRICA ESCANDINAVA  ESCANDINAVA 

Pablo Gomes de Miranda

Em 2014, na ocasião do II Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos & I Ciclo de Pesquisas Medievais, o primeiro ocorrido na Universidade Federal da Paraíba –  UFPB (o I Colóquio aconteceu na Universidade Fluminense –   UFF), apresentei a comunicação “ Mito e Xamanismo: a caçada selvagem nas baladas de Helgi Hundingsbani”” onde argumentei que a tradição de narrativas míticas onde encontramos Hundingsbani conexões com os relatos da Caçada Selvagem na Escandinávia, ela que ocorre sempre

em torno do Natal, pode estar associada a elementos de drama nos poemas éddicos e em alguns contos e sagas islandesas.

 

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Durante a apresentação foram exibidas fotografias do início do século XX de pessoas vestidas com peles de Bodes e cabeças articuladas a fim de imitar o animal durante umamuito procissão queDinamarca) aconteceriaonde de granja granjae na Noruega (a tradição também foi forte na o Bodeem dançaria deveria ser bem cuidado pelos anfitriões ou correriam o risco de ter a casa bagunçada por aquele animal. Ainda mais, nas prospecções feitas na Noruega e Suécia, encontramos uma divisão muito clara entre as representações dos Bodes, marcados pela atuação através da figura mascarada, e as representações das Cabras, enquanto máscaras articuladas erguidas sobre um mastro.  Ambos deveriam ser recebidos pelas comunidades, que alimentariam o animal e lhe satisfaria. Quanto a rápida menção feita no evento, assim escrevi: “ O uso de elementos caprinos na Þorleifs þáttur jarlskálds  em   em muito nos lembra as máscaras e disfarces utilizadas nos festejos de Natal comuns a diversas localidades da Escandinávia (entre as variantes das vestimentas estão Julebukk , Julbock , Julget  etc)  etc) e com registros muito recentes” recentes” (MIRANDA, 2014, p. 21).  Acontece que essa comunicação representou o início de minhas pesquisas para a tese a qual me dedico no momento, de maneira que há uma pesquisa em andamento e o que escrevemos aqui é apenas um apanhado geral e elementos curiosos sobre o tema. Antes de ir adiante, preciso fazer duas observações. Primeiro, Pr imeiro, o número de costumes relativos ao Natal na Escandinávia é muito grande para abordamos em um post como esse, o folclore é dinâmico, adota novos significados, absorve elementos de diversos contatos com outras culturas e vai se modificando. Muitos folcloristas tentaram pesquisar possíveis origens britânicas ou continentais desses costumes e, apesar da semelhança com alguns elementos folclóricos, como o galês Mari Lwyd  (que   (que foi na verdade registrado pela primeira vez somente no século XIX), tais comparações são puramente teoréticas. Segundo, apesar de ser quase irresistível traçar paralelos com passagens de fontes bem anteriores ao mundo contemporâneo, irei me abster de fazê-lo, atividade planejada para um artigo cientifico posterior. Estaremos deixando de lado figuras mais

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conhecidas como a Grýla, popular nas ilhas do Atlântico Norte, e as suas raízes dramáticas presentes em danças como Vikivaki , Kerlingaleikur  etc,   etc, que revelam uma miríade de personagens como Haa-þóra, Gunnhildur gríðarsterki, Þórhildur, entre

 

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outras menções do folclore escandinavos ilhéu em favor de um mosaico de tradições da Escandinávia continental. Dessa maneira, podemos localizar as performances de visitas do período natalino entre os escandinavos continentais nas seguintes atividades: O festival de Lucia na Suécia e Noruega, entre os dias doze e treze de dezembro; o Staffansreid , também encontrado na Finlândia entre os dias vinte e cinco e vinte e seis de dezembro; Stjärnspel   ee Trettondagsspel , no fim de dezembro e início de janeiro respectivamente; e o “bota fora” fora” do Yule por São Canuto, entre sete e treze de janeiro, além do nosso Bode de Natal Julebukk  ou  ou Julegeit  logo  logo após o natal. Como lembra Terry Gunnell (GUNNELL, 1995, p. 95) Quatro dessas manifestações possuem uma carga cristã muito aparente (em sua superfície), com associações a Santa Lúcia (ou Santa Luzia) e São Estefano (Staffan, Stephanus), com o martírio de São Canuto e na encenação da visita dos Três Reis Magos em Stjärnspel  e  e em Trettondagsspel , onde carregam consigo uma estrela. É facilmente apontado, nesses festejos, a influência da cultura medieval continental sobre a Escandinávia sob uma rasa suposição de que costumes cristãos chegaram até as áreas mais urbanizadas da Europa setentrional se opondo, ou, até mesmo, se apropriando de antigas comemorações pagãs dos rincões rurais (uma visão não dificilmente romântica), mas quando se aventura a investigar com um pouco mais de profundidade, depara-se facilmente com algumas curiosidades, a exemplo do festival de Lucia (também Lussi e Lusse) e a imagem da garotinha com uma coroa de velas cantando “Santa Lúcia” Lúcia”!

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Figura 1: 1: Isolda Langer com coroa de velas (João Pessoa, 2013), arquivo pessoal da professora Luciana de Campos.

Entretanto o uso contínuo do nome “Lusse Longa Noite” Noite” (Lusse  (Lusse Långnatt ) sugere que o festejo esteja associado com o solstício de inverno, fixado no calendário  juliano como o dia treze de dezembro por volta do século século XIV na Escandinávia Escandinávia.. Inclusive a tradição de Lucia na Noruega ocidental (e em alguns lugares da Suécia), como continua Terry Gunnel (1995, pp. 98-99), raramente é apresentada na forma da jovem donzela em branco, mas como uma Troll que visita as granjas na noite de treze de dezembro, acompanhada de um grupo de espíritos malignos (Lussiferd  ( Lussiferd ). ). A velha Troll na Gotlândia Ocidental, Värend e Dalarna, por exemplo, é descrita como coberta por palha, peles de cabra e capa vermelha, com uma aparência que lembra muito o nosso Bode de Natal, mas também o Halm-Staffan do festival de São Estefano. E stefano. É fácil se perder na discussão. Mas o que quero fazer o leitor entender, é que

as diferentes tradições folclóricas de festejo natalino na Escandinávia continental possuem camadas complexas de interações culturais muito além de uma oposição entre “tradições cristãs” cristãs” e “tradições pagãs” pagãs”. Vamos voltar aos nossos Bodes e Cabras. Quando

 

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falamos em Julebukk, estamos nos referindo a uma abundância de representações que podem vir na forma da atuação em disfarce no natal (ligados tanto a máscara quanto ao espírito do animal), mas também a certas figuras de palha feitas à mão, talvez as representações mais famosas hoje. O registro mais antigo de menção direta ao Bode de Natal é de um raageit , uma cabeça de Bode em um mastro, na Noruega em 1646, onde o Julebukk é descrito como uma pessoa disfarçada com um cobertor. No século posterior, em 1781, começam a aparecer registros de Bodes e Cabras de Natal se casando e assustando crianças. Um registro de 1750 fala que alguém disfarçado de Bode chegou a quase matar uma mulher de susto. O Bode poderia ser interpretado e apresentado de diversas maneiras: 1) coberto com peles e em quatro patas; 2) curvado com o apoio de uma bengala e a cabeça articulada; 3) alguém usando apenas uma máscara, que poderia ser articulada e com dentes de ferro, a fim de fazer barulho quando as peças batessem uma na outra; 4) em pares, o Bode e a Cabra de Natal (Julebukk e Julegeit); etc. Outros animais também assumiram, regionalmente, o papel do Bode, ainda que, segundo a prospecção de Christine Eike (2007, p. 72-73) também se chamavam Julebukk: a) pássaros em Troms; b) ursos em Setesdal e em Røldal, que também eram chamados de Drykkjebassan  ou  ou Fydlebasser   (Ursos Bebedores e Ursos Bêbados); c) Porcos em Oppland; d) barulho, Cavalo, em um único registro de uma máscara articulada com mandíbulas que faziam também em Oppland. Apesar do costume estar sendo retomado com certo vigor hoje, na segunda metade do século XX, o termo Julebukk  começou a ser usado de forma geral para encontro de pessoas mascaradas, geralmente festas e bailes. A fabricação manual de máscaras decaiu em razão do surgimento das máscaras de plástico manufaturadas, e a figura do Bode foi sendo cada vez mais trocada pela de Papai Noel. Seja como for, como despedida deixamos alguns testemunhos da Suécia do

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início do século XX, recolhidos em arquivo por Eva Knuts, sobre a atuação do Bode de Natal durante o Natal, sinalizo aqui três situações diferentes a fim de melhor ilustrar a diversidade de situações e maneiras em que o personagem interagia com as pessoas. No

 

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primeiro caso o Bode atua no mesmo papel do Papai Noel (contrariando a norma, pois o Bode sempre deve ser agradado com comida ou dinheiro), entregando presentes a uma família rica, sendo o Bode algum serviçal da casa. No segundo caso, um grupo de garotos se juntam para conseguir dinheiro, e a indumentária do Bode é descrita em minúcias. No terceiro caso, o bode anima uma festa entre amigos. “O Julbock   nunca nunca veio à minha vizinhança, ao menos não como algo de casa em casa. Mas nas famílias mais abastadas, e especialmente na alta sociedade, não era difícil para um dos homens ou um dos servos se disfarçar como um Bode. Se os chifres do Bode não estivessem disponíveis, d isponíveis, eram usados grandes chifres de carneiro no lugar, e as vezes a pele desse animal também. Como regra, havia uma garota ou uma esposa habilidosa que ficava responsável pela roupa. Vestido assim e de quatro, o Bode ia de membro em membro da família, carregado de presentes de Natal, de modo que eles poderiam facilmente se soltar quando sacudidos. Após um monte de barulho e confusão, de pancadas na porta, o Bode vinha até o salão. Era uma boa festa e do tipo que era aproveitada pelos mais jovens e pelos mais velhos” velhos ”  “O Natal era o período do Julbocken como nós chamamos. Um grupo de  jovens iam de casa em casa, um deles disfarçado de Bode. Curvado ao meio e com uma bengala para lhe ajudar, algum tipo de capa ou coberta deveria ser jogada sobre as suas costas. O disfarce deveria ser finalizado com a cabeça estufada de um Bode com chifres e uma barba cobrindo uma bolsa debaixo do queixo. A pessoa disfarçada andaria por aí com sua bengala e puxaria uma corda para fazer a boca do Bode abrir. Um lenço feito para parecer uma língua seria então puxada para fora e o Bode berraria: - Baaaa, dinheiro na minha barba! E todo o grupo sairia da festa com o dinheiro coletado” coletado ”. “Essas festas acabam sendo muito divertidas. Quando estávamos no auge da dança, alguém aparecia todo vestido e bancava o palhaço. Normalmente alguém aparecia vestido como Julbock , coberto com a pele de Bode e chifres na cabeça. O Bode podia vir também com um pequeno sino amarrado entre as pernas para tornar a coisa mais engraçada e fazer as garotas corarem. O Bode então percorria a sala, empurrando

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e atropelando as pessoas que encontrava. As pessoas poderiam ainda se disfarçar com trapos e escurecer a face com fuligem” fuligem” (KNUTS, 2007, pp. 129 – 132).

 

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Figura 2: 2: Julegeit exposto no Fredrikstad Museums. Retirado do site http://arkiv.ostfoldmuseene.no/stikkord/fredrikstad-museum/ site  http://arkiv.ostfoldmuseene.no/stikkord/fredrikstad-museum/ visitado  visitado em 23 de dezembro de 2017

 

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Figura 3: 3: Foto retrato de 1917 de Julebukk. Retirado site  http://mylittlenorway.com/wp-content/uploads/2008/12/go-julebukksite http://mylittlenorway.com/wp-content/uploads/2008/12/go-julebukk-

do

1917.png visitado 1917.png  visitado em 23 de dezembro de 2017. “Ele não foi antes que ele tivesse alguns dos deliciosos pratos de natal como porco, salsichas, queijos ou bolos, nozes e maçãs ”  ” . 

Figura 4: Cartão 4: Cartão desenhado por Benjamin Dahlerup sob instruções de M. Kramer Kr amer Petersen, século XX. Retirado do site  http://www.kb.dk/da/nb/fag/dafos/Dagligliv.dk/Temaer/Top_eller_bund/Indsigt/ site http://www.kb.dk/da/nb/fag/dafos/Dagligliv.dk/Temaer/Top_eller_bund/Indsigt/Do Do kumenter/Helte_for_og_nu/index visitado kumenter/Helte_for_og_nu/index  visitado em 23 de dezembro de 2017.

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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Figura 5: 5: Reconstituição de um Bode de Natal. Retirado do Blog  http://blog.dengamleby.dk/julehistorier/tag/rumlepotte/, Blog http://blog.dengamleby.dk/julehistorier/tag/rumlepotte/,   visitado em 23 de dezembro de 2017. Referências:   Referências: EIKE, Christine. Masks and Mumming Traditions in Norway: a survey. In: GUNNEL, Terry. Masks and Mumming in the Nordic Area. Area . Uppsala: Kungl. Gustav Adolfs  Akademien för svensk folkkultur, 2007, pp. 47-106. Scandinavia . Cambridge: D. S. Brewer, GUNNELL, Terry. The Origins of Drama in Scandinavia. 1995. KNUTS, Eva. Masks and Mumming Traditions in Sweden: a survey. In: GUNNEL, Area . Uppsala: Kungl. Gustav Adolfs Terry. Masks and Mumming in the Nordic Area.  Akademien för svensk folkkultur, 2007, pp. 107-188. MIRANDA, Pablo Gomes de. Mito e Xamanismo: a caçada selvagem nas baladas de Helgi Hundingsbani. In: Notícias Asgardianas (Nova Série), Série), n. 8, João Pessoa: PB/NEVE, 2014, pp. 19-26.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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Instalação do  do Museu de Bruxaria e Feitiçaria da Islândia 

 A ROCHA DA BRUXA : UM CONTO FOLCLÓRICO ISLANDÊS Johnni Langer  A Islândia é uma região muito rica em narrativas orais e folclóricas, sendo grande parte delas referente a seres mágicos e fantásticos. Apresentamos a seguir uma adaptação de um conto islandês recolhido por Jón Árnason, baseada na tradução de González (2008). Nela percebemos muitos elementos que já existiam na imaginação nórdica antes do cristianismo, como a transformação de seres ctônicos em rocha pela exposição ao Sol (como o anão citado no Alvíssmál  no  Alvíssmál ); ); a prática de maldições proferidas por personagens femininos (a exemplo da Buslubœn ). ). Outros motivos literários, por sua  vez, penetraram na Escandinávia Escandinávia por via continental, continental, a partir do século século XIII d. C., com a onda do diabolismo e da bruxaria enquanto imagem estereotipada. A exemplo de várias sagas islandesas, a proximidade da noite do Natal (Jól) é um momento em que o fantástico emerge, ou então, seres sobrenaturais contatam os humanos. No conto, percebemos o tema da bruxa e do Troll fundidos em seres que devoram cristãos, que

ameaçam a normalidade da sociedade e as regras da comunidade. Mas ao mesmo tempo, estes seres fantásticos definem o espaço selvagem ou da natureza – eles nomeiam e ao mesmo tempo se fundem com co m cavernas, gelo, montanhas. Para o folclore, as bruxas ainda

 

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são figuras poderosas e a maior prova de sua longevidade são as narrativas preservadas pela literatura.

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Na cidade de Kirkjubaer, pertencente à região de Hroarstunga, Islândia, existe um curioso penhasco chamado Skersl. Em seu interior existe uma cova em que muito tempo atrás viveu um Troll e sua esposa, uma bruxa. Seu nome era Thorir, mas o nome dela não foi preservado. Todo ano eles utilizavam a magia para atrair até eles tanto o presbítero de Kirkjubaer quanto o sacerdote, logo tanto um como o outro desapareceram e nunca mais se soube deles, até que um presbítero chamado Eirikur chegou à Igreja e protegeu a si mesmo e aos fiéis com suas orações, fazendo com que todos os esforços dos Trolls fosse em vão.  Assim seguiram as coisas até que no dia da Véspera de Natal, a medida em que a noite avançava, a bruxa se deu conta de que não teria nenhuma possibilidade de capturar nem ao presbítero nem o sacerdote, de maneira que renunciou ao seu propósito e comentou ao seu marido: “Tenho intentado enfeitiçar ao presbítero e ao cura com todas as minhas forças,

porém não tenho conseguido, pois cada vez que lanço meu feitiço sinto como se um hálito quente vem a mim e abrasa todos os meus ossos, pelo que tenho que parar. Por isso você terá que procurar comida, pois não temos nada para comer nesta cova” cova ”.

 

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O gigante disse que não queria, mas finalmente sua mulher o convenceu. Saiu da cova e se dirigiu até o largo das montanhas que atualmente se chamam em sua honra cordilheira de Thorir e finalmente chegou a um lago que desde então também se conhece como o lago de Thorir. Ali com um tremendo golpe fez um buraco no gelo e lançou sua  vara; deste modo pode capturar muitos e grandes peixes através desta vara no gelo. Estava nevando com intensidade. Quando ele pensou que já havia pescado muitos peixes, quis levantar-se para ir embora, porém a nevasca o havia pego no chão e não pode ficar de pé. Tentou por muito tempo, lutou com ousadia, porém em vão, e ali permaneceu no local até que acabou morrendo.  A bruxa começou a pensar p ensar que seu marido tardava tard ava muito e foi enraivecendo cada  vez mais. Saiu correndo da cova pelo mesmo caminho que o gigante, ssobre obre a cordilheira, até que finalmente o encontrou sem vida sobre o gelo. Durante muito tempo tentou levantá-lo do gelo e quando viu que não havia nenhuma possibilidade, pegou a corda com peixes e a lançou acima do gigante enquanto recitava: “Por estas palavras que digo e esta maldição que eu lanço, desde agora em diante nenhum peixe será pescado neste lago” lago”  E estas palavras se converteram em realidade, pois a partir deste momento não se pode pescar absolutamente nada neste lago.  A bruxa retornava cabisbaixa para sua cova, porém em plena caminhada pela montanha duas coisas sucederam simultaneamente: viu sair o sol pelo leste e escutou o som dos sinos de uma Igreja. Ambas as coisas, como já sabemos, são fatais para os Trolls. Instantaneamente, se converteu em uma rocha, além da cordilheira, e desde então esse local se chama a Rocha da Bruxa .

Referências: 

GONZÁLEZ, Edorta. La roca de la bruja (Islândia). In: Leyendas y cuentos vikingos .

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Madrid: Miraguano Ediciones, 2008, pp. 203-204. LANGER, Johnni. Alvissmál. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015, pp. 27-28.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

LANGER, Johnni. Bruxaria nórdica. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015, pp. 83-85. 83 -85.

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A MITOLOGIA NÓRDICA EM GOD OF WAR Um guia básico para desvendar a jornada de Kratos pelos Nove Reinos Leandro Vilar

Lançado em 20 de maio de d e 2018, o mais recente jogo jog o da aclamada franquia de ação e aventura da Sony/Playstation, ganha sua oitava edição, trazendo uma história totalmente nova, e dessa vez não abordando mais os mitos gregos, mas pela primeira vez na franquia God of War, temos a mitologia nórdica presente. A qual chega de forma imponente com os gráficos da mais recente geração de consoles de videogames, no Playstation 4. Sendo assim, a proposta desse texto foi comentar como os mitos nórdicos foram adaptados para a série God of War, e de antemão alerta-se que no texto a seguir, haverá vários spoilers sobre os jogos. Prossiga a leitura sob esse alerta.

 Arte de capa de God of War (2018).  (2018). 

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

Introdução: O Fantasma de Esparta Embora a série seja famosa e já tenha completado mais de dez anos, muitas pessoas que não jogam videogames ou até os jogam, não possuem conhecimento sobre a trama abordada em God of War. Logo, para situar os leitores que desconhecem maiores informações a respeito, decidimos escrever essa breve introdução apresentando os aspectos e personagens principais dessa trama que une raiva, rancor, ódio, vingança, tragédia, sangue e morte, que se tornou um épico grego do século XXI. Publicado em 2005, o primeiro jogo da franquia, também intitulado God of War, foi lançado para o Playstation 2. Na época o jogo foi recebido com algumas expectativas, pois o entãogrega. Projeto Dark Odysseyumprometia uma jornada de fúriae efurioso, ação noenfrentando universo da mitologia Apresentando protagonista rude, bravo monstros e deuses gregos, em grandes batalhas, num estilo de combate frenético do hack and slash. Assim o público gamer era apresentado ao poderoso guerreiro Kratos, conhecido pelo epíteto de o Fantasma de Esparta.  A história de God of War foi trabalhada ao longo dos sete jogos da franquia, o que resulta que várias informações sobre o passado de Kratos somente foram revelados a medida que novos jogos foram lançados, o que inclui o fato de que dois deles tratamse de prequelas, ou seja, histórias que antecedem o primeiro jogo da franquia. Na tabela abaixo pode-se consultar o ano de publicação dos jogos, os quais foram listados de acordo com a cronologia que seguem no enredo. Título Ano de publicação Mídia  Ascension 2013 PS3 Chains of Olympus 2008 PSP God of War 2005 PS2 Ghost of Sparta 2010 PSP Betrayal 2007 IOS God of War 2 2007 PS2

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God of War 3 2010 PS3 God of War 2018 PS4 Fonte: feita pelo autor.

 

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Nessa tabela observa-se que o acréscimo de jogos derivados contribuíram para expandir a franquia, mas também para tapar lacunas deixadas na trama, pois no jogo de 2005 é dito que Kratos já era o Fantasma de Esparta há vários anos, e embora seja apresentado os motivos que levaram a ele receber tal epíteto e ganhar seus poderes, outras informações somente aparecem nos jogos que servem de prequela. De qualquer forma, a história resumida diz que Kratos era um bravo e promissor capitão espartano que em certa batalha contra bárbaros que invadiram o território espartano, Kratos liderou o exército contra eles, porém, apesar de sua competência e bravura, ele se viu diante da morte. O Rei Bárbaro estava para matá-lo, nesse momento Kratos roga a Ares, o deus da guerra, que se o ajudasse a vencer aquela batalha, sua alma seria a ele. Ares propostadee armou espartano coma correntes as Lâminasnosdobraços Caos (Bladedada of Chaos), duasaceitou espadasa gêmeas, lâminasocurta e presas de Kratos. Com essas novas e poderosas armas, Kratos conseguiu matar o Rei Bárbaro, e posteriormente massacrar o exército inimigo. Confiante que com aquelas armas divinas ele seria imbatível, Kratos não imaginava que sua dívida seria cobrada. Assim Ares o obrigou a lutar por ele, espalhando uma carnificina pela Grécia. Até que após algum tempo servindo ao impetuoso deus da guerra,  Ares decidiu confrontar sua irmã, a deusa Atena, então ele enviou Kratos para invadir uma vila onde a deusa era cultuada. Durante o massacre, Kratos cegado pela raiva e o frenesi da batalha, não percebeu que duas mulheres que ali se encontravam eram sua primeira esposa, chamada Lysandra, a qual estava em companhia da filha do casal, a pequena Calliope. Passado o frenesi da fúria Kratos se deu conta que havia cometido um terrível engano e crime. Havia matado sua mulher e filha. A única sobrevivente do massacre cometido pelo espartano, a qual era uma velha anciã, amaldiçoou Kratos, cobrindo seu corpo com as cinzas de sua esposa e filha. Assim, o espartano adquire uma coloração branca e pálida, que lhe rende o epíteto de Fantasma de Esparta. Aquela pintura permanente que ele carrega em seu corpo é um lembrete de sua tragédia e erro, em ter

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se deixado levar pela fúria. Mas além desse fatídico episódio que marca o início da tragédia de Kratos, essas lembranças tornam-se pesadelos que o acompanha por dez anos. Mas nesse tempo,

 

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Kratos teve alguns problemas para resolver. No primeiro jogo isso não é contado, dandod andose um salto para dez anos depois, mostrando um Kratos amargurado e assombrado por seu crime, o qual inclusive decide cometer suicídio, mas Atena lhe poupa a vida e diz que há um jeito de ele pôr fim a tal tormento. Caso ele mate Ares, ela poria fim ao sofrimento dele, sem ter que morrer para isso. Kratos fica em dúvida em aceitar tal oferta, pois alega que os deuses são imortais, mas Atena diz que existem formas de se remover a imortalidade dos deuses. Posteriormente Kratos em sua missão de descobrir um meio para remover a imortalidade de Ares, descobre que o deus da guerra foi o responsável por enganá-lo, levando-o a matar sua esposa e filha, pois o intuito era cortar os laços de afeição e amor, transformando-o Kratos num ser apático, num monstro sem sentimentos. Imbuído com essaconsegue dose extramatar de ódio, Kr atos Kratos tornarecompensa, sua caçada a Atena Ares em algo pessoal. jogo ele o deus, e como o torna o novo No deusfinal da do guerra, mesmo que isso não tenha sido bem recebido pelos outros deuses. Durante o tempo que foi o deus da guerra, Kratos aproveitou para usar seus poderes para resolver problemas pendentes sobre seu passado, como encontrar sua mãe Calisto e o seu irmão Deimos, o qual foi sequestrado por Ares há muitos anos. Mas concluída essas aventuras enquanto era o deus da guerra, o fato de ter matado novos deuses e ofendido a outros, levou o Senhor do Olimpo, Zeus a tramar a morte de Kratos, algo narrado em God of War 2 (2007). Assim Zeus remove a imortalidade e poderes de Kratos e o assassina. Antes de morrer, o Fantasma de Esparta jura vingança. Enquanto sua alma descia para o reino de Hades, Gaia, a deusa da terra ter ra intercede por Kratos e lhe propõe um acordo. Se ele ajudar ela a libertar os Titãs da prisão do Tártaro, ela dirá como ele poderá chegar ao topo do Olimpo para confrontar Zeus. Seguindo o ditado “o inimigo do meu inimigo é o meu amigo amigo””, Kratos se alia a Gaia e os Titãs para conseguir levar a cabo sua vingança. Todavia, ela não é concluída neste jogo e continua em God of War 3 (2010). No terceiro jogo principal da franquia, Kratos descobre finalmente quem é o seu pai, vindo a saber que suas habilidades não eram apenas presentes dos deuses, mas se

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devia ao seu sangue semidivino, pois ele era um semideus. Apesar de descobrir quem era seu pai, isso não o impede de matar mais deuses, titãs, monstros e destruir a ordem do Olimpo, lançando a Grécia no caos. Inclusive o final do jogo foi controverso na época,

 

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pois não se sabia ao certo se ele teria morrido ou não. Apenas sete anos depois quando foi anunciado o novo jogo da franquia, foi revelado que o espartano estava vivo e havia fugido da Grécia, indo para Midgard. Concluída essa introdução sobre a trama dos jogos anteriores, os tópicos a seguir abordam elementos da mitologia nórdica e da trama do novo jogo, tecendo comparações, comentários e explicações. De antemão sublinha-se que o novo jogo se passa anos depois do anterior, apesar de não ser revelando quanto tempo exatamente transcorreu desde a Queda do Olimpo. God of War (2018): sinopse

novo jogoe da série o acompanhado qual se passa vários depois, nosum deparamos com um KratosNo mais velho barbudo, de seuanos segundo filho, menino chamado  Atreus. Ambos na ocasião o casião estão de luto, pois Faye, mãe de Atreus e segunda esposa de Kratos, faleceu recentemente. Embora a causa da morte não seja revelada. r evelada. Nesse jogo a trama não gira por motivos de ódio e vingança com nos outros jogos. Kratos inclusive oculta o seu passado do filho, ao mesmo tempo em que tentou esquecê-lo também, apesar de ainda sofrer com pesadelos e tenta controlar sua raiva. Mas se por um lado o motivo da vingança esteja ausente da trama do jogo, os assuntos de família ainda continuam presentes. O último pedido de Faye, em seu leito de morte, era que o marido e o filho  jogassem suas cinzas do alto da montanha mais alta dos Nove Reinos. Assim, pai e filho decidem atender o pedido final de Faye e partem numa jornada por Midgard. Porém, a medida que avançam eles se deparam com problemas. Um estranho e tatuado homem ataca-os ainda em casa. Somente com o desenrolar do jogo passa a se saber a identidade desse homem e qual seu interesse. Mas antes disso Kratos teme pelo filho, pois o Estranho diz saber quem ele é e fala que Kratos não era bem-vindo em Midgard. Odin o observava.

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Mas a medida que a trama se desenrola, Kratos e Atreus se deparam com outros personagens, com suas histórias e problemas, e assim, pai e filho decidem ajudá-los, como também tornam-se alvo da ira de alguns deuses a medida que vão descobrindo mais a respeito sobre eles e alguns mistérios que rondam a presença da Serpente do Mundo,

 

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Jormungand, o desaparecimento dos Gigantes, o sumiço do deus Tyr, a prisão de Mimir, o ataque dos Elfos Sombrios a Alfheim, o banimento de Freyja, etc. No caso, o novo jogo se destaca não apenas pela abordagem a mitologia nórdica, mas pela reformulação e renascimento da série. O sistema de combate foi alterado, a movimentação de Kratos também mudou, algumas características dos jogos anteriores como os quick events e os sex games foram removidos. Inclusive em God of War não há mais nudez como havia nos jogos anteriores. Por outro lado, a relação de pai e filho é o foco da trama. Atreus não apenas acompanha seu pai para cumprir sua promessa feita a mãe, mas ele também é personagem central na trama. Suas habilidades com o arco e flecha, e a capacidade de ler a escrita rúnica são bastante importantes, pois no caso da escrita, Kratos diz que não sabe ler aquele alfabeto, tornando Atreus peça-chave para desvendar as histórias da narrativa. Os Nove Reinos   Em God of War somos apresentados a história dos Nove Reinos. No caso, Kratos  vive com seu filho em um bosque de Midgard. Porém, ao longo da sua aventura, pai e filho acabam por percorrer outros dos d os reinos. Por sua vez, Atreus diz ao pai que os Nove Reinos se chamam Midgard, Asgard, Vanaheim, Jotunheim, Alfheim, Svartfalheim, Muspelheim, Niflheim e Helheim, os quais eram conectados pela gigantesca árvore Yggdrasil e a ponte Bifrost. Embora a ideia de Nove Reinos ou Nove Mundos seja bem difundida na cultura pop, a mitologia nórdica em si não define com clareza quais seriam estes reinos. Assim para conhecermos mais a respeito desses reinos e outras referências mitológicas, recorremos as principais fontes da mitologia nórdica, as quais são as Eddas, manuscritos datados do século XIII, redigidos na Islândia. A primeira nomeada de Edda Poética é uma compilação de poemas de tradição oral, os quais teriam sido escritos entre os séculos X e XIII, totalizando 36 poemas. Por sua vez, a Edda em Prosa, cuja autoria é atribuída ao poeta islandês Snorri

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Sturluson (1178 1241), consiste numa síntese de vários mitos, os o s quais foram organizados por Sturluson para fins didáticos e poéticos. Sobre esses mundos os manuscritos nos dizem o seguinte:  Asgard: a terra dos Aesir. É a morada dos principais deuses. Ora é situado no norte do ⦁

 

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mundo, além do mar, mas ora é dito ficar no céu. Segundo o poema Grimnísmál e a Edda em Prosa, em Asgard haveriam doze suntuosos salões, onde viveriam os pr principais incipais deuses. Sendo o mais famoso desses salões, Valhala, o lar de Odin.  Midgard: chamada de a terra do meio, pois ficaria situada ao centro do mundo, segundo a geografia mitológica. Era o lar da humanidade, apesar de seres como deuses, anões, gigantes, elfos, etc. frequentassem aquele reino.  Vanaheim: a terra dos Vanir, os quais consistem na segunda mais importante família dos deuses. As Eddas praticamente nada comentam sobre esse lugar, onde nasceram os deuses Njörd, Freyr e Freyja.  Alfheim: a terra dos elfos. No caso há um problema de definição. Na Edda Poética, no poema Grimnísmál é dito que Alfheim é o nome do salão do deus Freyr, o qual fica ⦁





situado em Asgard. Por sua vez, na Edda em Prosa, Snorri diz que Alfheim é o lar dos elfos luminosos (ljósalfar). No caso do jogo God of War optou-se pela segunda versão, retratando o local com a morada dos elfos.  Svartalfheim: a terra dos elfos sombrios (svartálfr). A Edda PPoética oética não menciona essa terra como um dos Nove Mundos. Sendo na Edda em Prosa que esse lugar é mencionado, como sendo a morada da outra raça de elfos. Embora Snorri diga que havia duas raças élficas, ele não comenta suas características ou fornece mais informações a respeito. No  jogo, Mimir diz que Svartalfheim era considerada a terra dos anões e não dos elfos sombrios, sendo esse local chamado de Nidavelir pelos anões. O nome Nidavelir é citado na Edda Poética, mas não consta na Edda em Prosa. Embora não se tenha certeza se tratem do mesmo lugar, no jogo Mimir diz que são o mesmo reino, pois os deuses se equivocaram ao confundir os elfos sombrios com os anões.   Jotunheim: a terra dos gigantes. A região é mencionada nas duas Eddas, mas suas fronteiras não são claramente definidas. As vezes é referida como estando além do mar de Midgard, sendo uma região montanhosa. Em outros o utros momentos diz que seria separada por um rio.  Muspelheim: a terra do fogo. No poema Völuspá, na Edda Poética é dito se tratar do ⦁





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reino de fogo governado pelo gigante Surtr. Na Edda em Prosa tal informação é repetida, porém, Snorri diz que Muspelheim era um dos mundos primordiais ao lado de Niflheim.   Niflheim: a terra da neblina. Descrito como um local de gelo, neve e neblina. É designado por Snorri como um dos mundos primordiais e o lar dos gigantes de gelo. ⦁

 

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Niflheim não é mencionado na Edda Poética, embora cite-se Niflhel que possivelmente seja um sinônimo para este, apesar de que Snorri tratava de um local diferente. ⦁

 Helheim: o submundo. É mencionado em ambas as Eddas como uma terra fria e gelada, governada pela deusa Hel. Local para onde iriam parte das almas após a morte. Na Edda Poética não explica com clareza porque as almas iriam para Helheim, porém, na Edda em Prosa, Snorri diz que aqueles que morreram de velhice ou doença iriam para este mundo. No caso do jogo God of War é dito que além dos falecidos por doença e velhice, os criminosos também eram enviados para Helheim. Possivelmente tal aspecto seja uma referência a Náströnd, local da morte situado no submundo, o qual estaria ou não associado com Helheim. Em Náströnd, alguns criminosos eram castigados em veneno de serpente.

No que se refere a Yggdrasil e a Bifrost temos algumas alterações. No jogo é dito que o deus Tyr construiu uma câmara de viagens, em cujo centro há uma grande árvore, uma alegoria a Yggdrasil. Ali usando-se runas mágicas e a chave Bifrost, pode-se abrir os caminhos que conectam aos Nove Mundos. A Câmara de Tyr de forma engenhosa, aglutina a noção de árvore cósmica da Yggdrasil e transforma a ponte arco-íris Bifrost, numa chave de portal.

Os deuses   Na mitologia nórdica existem duas principais famílias ou clãs de deuses, os Aesires e os Vanires, os quais travaram uma grande guerra no passado pela disputa do poder. Essa guerra é mencionada no jogo, embora seja narrada de forma diferente. Adiante comentaremos a respeito. No caso dos deuses nórdicos, esses eram seres mortais, diferente dos deuses gregos que eram imortais, os quais Kratos teve que buscar meios para remover a imortalidade desses. Porém, no caso nórdico isso não é necessário, embora não signifique que torne a tarefa mais fácil. Ao longo do jogo Kratos e Atreus combatem alguns deuses nórdicos. Por motivo de maiores spoilers, não citaremos quem

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sejam. Embora os Aesires sejam designados como divindades associadas ao poder, a nobreza, a guerra, e os Vanires estejam associados com a fertilidade, a agricultura, a fecundidade, a natureza, isso não deve ser tomado como uma divisão definitiva. Odin

 

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também está associado com a magia seiđr. O deus Freyr possui ligação com a guerra. Freyja está associada com os mortos e Thor é uma divindade associada com os camponeses e a agricultura, devido à chuva. Mas além dessas duas famílias existem outros deuses que não se encaixam nesses clãs, não sendo informado a sua origem. Enquanto a mitologia grega preza por uma genealogia extensa e bem elaborada, isso não ocorre com a mitologia nórdica. Vários deuses não possuem suas origens, genitores e descendências definidos. Por exemplo, o  jogo menciona as Nornas, três irmãs chamadas Urd, Verdandi e Skuld são as deusas do destino. No jogo elas enfeitiçaram arcas que guardam tesouros preciosos. Porém, não se sabe a origem dessas deusas. Embora Embor a que no jogo tivemos algumas genealogias e relações familiares alteradas. Uma delas é a condição de que Freyja ser a ex ex-esposa -esposa de Odin. Nos mitos o deus sempre foi casado com Frigga. Porém, as outras alterações por se tratar de grandes spoilers, preferimos não abordar a respeito, para não estragar a história do jogo. jo go. No caso do jogo pouco se informa sobre os Vanires, sendo o foco dado a Freyja, a qual é chamada de Rainha dos Vanires. Quanto ao seu pai Njörd, ele é apenas mencionado brevemente. Por sua vez, seu irmão gêmeo Freyr não é citado. Um dado curioso já que ele tinha uma função religiosa tão importante quanto a irmã, e até mais significativa do que a do pai. Por sua vez, os Aesires citados são Odin, Thor, Balder e outros. Na trama do jogo os o s Aesires são considerados guerreiros formidáveis e cruéis. Odin é descrito como um tirano ambicioso e sem escrúpulos. Thor é descrito várias vezes como um assassino sanguinário e Balder é um guerreiro agressivo. Enquanto os Vanires são mencionados como divindades mais pacíficas e vítimas da cólera dos Aesires. Mas algo interessante na trama de God of War é o papel dado a Tyr. Na mitologia Tyr é o deus da guerra, tal dado é informado no jogo, porém, nos mitos Tyr é uma divindade pouco expressiva, estando principalmente associado com sua coragem em confrontar o lobo gigante Fenrir, o que lhe rendeu perder uma das mãos. Mas no jogo Tyr é descrito como sendo um deus bondoso e sábio, adorado pelos

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humanos, anões, elfos e gigantes, algo que atiçou a inveja de Odin. Por motivos não revelados, Tyr sumiu, sendo dado como morto, mor to, mas antes de partir ele deixou pistas para alguns segredos, os quais estavam associados com a fuga dos Gigantes de Midgard. O

 

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interessante é que no jogo Tyr tem um papel mais importante e de destaque do que na mitologia. Os gigantes (jötnar)   Na mitologia nórdica como mencionado nas duas Eddas, os gigantes consistem em uma das mais poderosas raças de seres daquele d aquele universo mitológico, possuindo poderes, habilidades e conhecimentos equiparáveis ou superiores aos dos deuses, além do fato de haver deuses que tiveram filhos com gigantas, como no caso de Odin que engravidou a giganta Jörd ou Fjögyrn, que é a mãe de Thor. Inclusive essa informação é mencionada no jogo. Os gigantes necessariamente não são classificados nos mitos como sendo gigantes da montanha, do gelo e do fogo, tal visão se deveu mais a uma interpretação da cultura pop. Apesar de em alguns poemas haver menções aos gigantes de gelo, parece se tratar de um termo comum a toda tod a a raça deles, mas isso não implica que fossem feitos de gelo. Inclusive as Eddas não confirmam que o “povo de Muspelheim” Muspelheim” fossem gigantes de fogo. O único gigante ali mencionado é Surtr, que também não é descrito sendo uma criatura flamejante como visto em desenhos e jogos. Os gigantes na mitologia estão entre as raças ancestrais, sendo que o primeiro ser a ter se originado no universo, foi o gigante Ymir, do qual de seu corpo nasceram os demais gigantes. Sobre a história de Ymir comentaremos adiante. Mas embora os mitos tendem a mostrar os gigantes como seres cruéis, tolos, arrogantes, verdadeiros monstros que causam problemas aos deuses e homens, e por isso Thor os mata, há gigantes pacíficos e sábios. No jogo os gigantes são descritos como tendo vivido em Midgard há muitos séculos, porém, a fúria de Thor os levou a beira da extinção, então eles fugiram, retornando para Jotunheim. Onde se esconderam. Inclusive no jogo não deixa claro se haveriam gigantes em Niflheim e Muspelheim. Um fato curioso citado por Atreus em dado momento do jogo, é quando Kratos indaga o filho a respeito de algumas cavernas. Atreus havia dito que aquelas cavernas

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foram o lar de gigantes, mas Kratos acha isso estranho, pois eram pequenas para serem lugares habitados por gigantes. Então Atreus responde dizendo que necessariamente os gigantes não seriam grandes. O nome deles se devia a condição de serem uma raça, e não pelo seu tamanho. Embora o garoto garo to diga que havia gigantes realmente enormes. Tal fato

 

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é curioso, pois nas Eddas não é dito que os gigantes fossem grandes. E tão pouco os anões são descritos como seres baixos. Os anões (dvergar)   Como dito anteriormente as fontes mitológicas informam que necessariamente os anões não teriam baixa estatura. Assim como no caso dos gigantes, os anões são considerados baixos por convenções culturais e ressignificações ao longo lon go da história. De qualquer forma, os mitos informam que eles seriam uma das raças primordiais, tendo surgido após a criação do mundo, e antecedendo a origem da d a humanidade. Os anões são descritos como habitantes de minas, cavernas, e exímios artífices e ferreiros. Em God of War os anões estão presentes nas pessoas dos dois irmãos ferreiros Brok e Sindri. Os quais na ocasião estão brigados e não se falam. Os dois irmãos são baixos e usam armaduras fantasiosas, além de serem bem diferentes em questão de humor. Brok é rude apesar de não ser uma má pessoa. Por sua vez, Sindri é medroso e não gosta de sujeira e coisas nojentas. Os dois anões ajudam Kratos lhe propondo missões, oferecendo recompensas, informações e ajuda, além de serem o alívio cômico da narrativa ao lado do Mimir.

Brok e Sindri como retratados no jogo.

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No poema Völuspá, na Edda Poética encontramos uma lista de nome dos anões, alguns repetidos na Edda em Prosa. Mas embora vários de seus nomes sejam citados, os anões pouco aparecem nas narrativas mitológicas. No caso de Brok e Sindri é dito que eles eram famosos porque criaram o Mjölnir, o martelo de Thor. Na mitologia de fato,

 

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isso realmente ocorreu, embora Sindri também seja conhecido pelo nome Eitri, além de que Sindri também é o nome de um salão. Mas além dos dois irmãos outros anões são citados no jogo como Fafnir, que ficou conhecido por ter sido amaldiçoado e transformado num dragão. É bastante famoso na mitologia nórdica por ser um dragão que guarda um tesouro, tendo sido morto pelo herói Sigurd. O outro anão mencionado é Motsógnir, um dos primeiros anões a serem cr criados. iados. Nada mais se sabe a respeito dele. No jogo ele é descrito como um Rei Louco que no passado massacrou seu povo devido aos seus atos insanos. Outro anão é Andvari, conhecido por ter sido tentado por um anel dourado, história que inspirou a ópera O  Anel dos Nibelungos de Richard Wagner e influenciou o escritor britânico J. R. R. Tolkien a criar a história dos Anéis do Poder. Elfos (Álfar)   Embora os elfos tenham ficado bem conhecidos através da literatura, filmes, jogos de videogame, RPG, desenhos, etc. nos mitos nórdicos os elfos praticamente não aparecem. São citados singelamente, não possuem nomes próprios revelados. Apesar que na religião nórdica antiga houvessem ritos feitos aos elfos, que eram considerados espíritos das florestas. Na Edda em Prosa, Snorri diz que haveriam duas raças de elfos, os ljósalfar (elfos luminosos) e os svartálfr (elfos sombrios). Apesar dessa divisão, Snorri nada mais informa sobre os elfos. Não sabemos porque haveria duas raças deles. No caso do jogo é mostrado que os elfos estão em guerra por muitos séculos. Mimir diz que as duas raças lutam para controlar a Luz de Alfheim, uma energia antiga e poderosa. Os elfos luminosos são representados usando longas vestes brancas e com os rostos cobertos. Eles lembram fantasmas. São descritos como seres pacíficos. pacíficos . Por sua vez, os elfos sombrios tem a pele cinza, usam armadura e possuem asas de insetos. O visual deles ficou estranho. Nas Eddas os elfos são mencionados m encionados de forma coletiva, não por nomes individuais. Nem se quer há a distinção se seriam apenas masculinos ou femininos. Além disso, a

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postura dos elfos frente aos humanos é indeterminada, parecem ser criaturas neutras, apesar que em algumas sagas os elfos podem aparecer como seres amigáveis, mas em outras narrativas são criaturas maléficas. Os elfos também são confundidos com os anões, algo que o Mimir menciona no jogo. jog o. Inclusive, Volunder que é um dos poucos elfos que

 

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se

conhece

seu

nome

próprio,

é

dito

ser

um

exímio

ferreiro.

Valquírias (Valkyrjar)    As valquírias são bastantes conhecidas devido as suas representações na ópera  wagneriana, em histórias em quadrinhos, quadrinhos, jogos de videogame, videogame, etc. São sempre lembradas como exímias guerreiras que habitam Valhala, e que trajam armaduras com elmos com asas ou chifres. Todavia essa imagem delas é algo desenvolvido pelo Romantismo alemão do século XIX. Se popularizando através da propaganda e vestuário das óperas  wagnerianas. Tal fato é tão marcante que isso influenciou a cultura pop no século XX e XXI. Mesmo em God of War as valquírias são representadas usando armaduras, máscaras, elmos com chifres, penas ou asas. Mas com o acréscimo de terem anjas angelicais. Na mitologia as valquírias são citadas brevemente em alguns poemas, sendo referidas como as responsáveis por po r levar as almas dos guerreiros valorosos para Valhala ou Folkvang, o salão de Freyja, segundo informa Snorri Sturluson. O próprio nome  valquíria significa “ aquela que escolhe os mortos” mortos ” . No entanto, essa não era a única função das valquírias. Os mitos contidos nas Eddas, em alguns poemas, além de representações iconográficas, nos mostram valquírias trajando vestidos, desarmadas e servindo hidromel aos guerreiros que chegam a Valhala. É dito que elas seriam servas de Odin, exercendo atividades domésticas em seu salão e cuidando dos guerreiros que para lá foram. Mas em outras histórias, como a de Brunilda, vemos valquírias guerreiras, mas convivendo entre os humanos. Inclusive Brunilda seja a mais famosa das valquírias, devido a sua história de amor com o herói Sigurd, o Matador de Dragão. Em God of War as valquírias são representadas essencialmente como guerreiras, sendo oponentes velozes e fortes. Todavia, elas não possuem papel significativo na trama, sendo adversárias opcionais. Mimir informa que por motivos que ele desconhece, Odin

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traiu as valquírias e as baniu de Valhala, isso gerou problemas em Helheim, pois sem as  valquírias para conduzir parte dos mortos a Valhala, Valhala, eles estão lotando o salão salão de Hel, e a deusa dos mortos não estava gostando disso, permitindo que alguns desses voltassem

 

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para

Midgard.

Mimir   Mimir é um misterioso deus de origem desconhecida. É citado nas duas Eddas e na Yngligatal Saga. É descrito como um deus de grande sabedoria que teria morrido durante a Guerra dos Aesires e Vanires. Mas devido ao seu conhecimento, Odin lhe cortou a cabeça e a reviveu. r eviveu. Assim, ele poderia conversar com Mimir. Na Edda em Prosa P rosa a cabeça de Mimir ficava diante de um poço, chamado Poço de Mimir (Mimirsbrunn), situado sob uma das três grandes raízes da Yggdrasil, onde diziam que quem bebesse daquelas águas ganharia o dom da sabedoria. Odin em uma ocasião bebeu das águas daquele poço.  Apesar de ser lembrado como um deus sábio e conselheiro, nos mitos Mimir tem pouca importância e é mencionado poucas vezes. No jogo ele foi capturado e aprisionado por Odin no topo de uma montanha. Odin o manteve vivo para que Mimir lhe revelasse segredos. Kratos e Atreus o ajudam a escapar. Um dado curioso sobre Mimir no jogo é que ele tem um olho só, pois diz que Odin roubou o outro. Segundo os mitos, Odin arrancou um de seus olhos e o atirou no Mimirsbrunn como oferenda para conseguir sabedoria. No caso do jogo, ele não arrancou o próprio olho, mas arrancou o de Mimir.  Além dessa característica de ser caolho, Mimir também tem chifres. Enquanto as  valquírias usam elmos com chifres, os cornos de Mimir são naturais. Um dado estranho  já que nos mitos não há divindades chifrudas, mas Mimir diz que veio de uma terra distante. Ele diz que teria tido contato com gigantes, elfos, anões e fadas. Sendo que as fadas não existem na mitologia nórdica. Mas além de chifres, uma última característica peculiar p eculiar que ele tem, diz respeito a ser um tagarela. Mimir é responsável por guiar Kratos e Atreus, além de fornecer informações sobre a trama do jogo e sobre os mitos. Porém, algo estranho em seu personagem não é nem tanto a presença de chifres, mas a condição de ele usar gírias contemporâneas. E essas gírias ainda ficam mais esquisitas nas traduções. Apesar que

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além de Mimir, os anões Brok e Sindri as vezes também usam gírias contemporâneas. Trolls e Ogros  

 

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Na mitologia nórdica encontramos em alguns poemas e na Edda em Prosa a palavra troll, a qual em alguns casos é usada como sinônimo para gigante (jötun). Porém, em outros casos o troll é referido como sendo uma criatura monstruosa, traiçoeira e cruel, não sendo um ser igual aos gigantes, pois esses não eram descritos como tendo aparência repugnante. 264 

 Arte conceitual de Kratos, Atreus e um um troll. No folclore escandinavo os trolls se popularizaram como seres grandes, sendo rudes, cruéis, tolos e feios. Em alguns casos os trolls são confundidos com os ogros. Sendo que os ogros não são oriundos da mitologia nórdica ou de seu folclore, sendo encontrados no folclore francês, germânico, britânico, italiano, etc. Os ogros normalmente são descritos como criaturas grandes ou pequenas, feias, astutas, traiçoeiras, malvadas, etc. Em God of War, trolls e ogros são criaturas distintas e não possuem relação com os gigantes. Os trolls ainda conseguem falar, sendo seres grandes, fortes for tes e brutos. Por sua  vez, os ogros são menores, também são fortes e brutos, mas não apresentam a capacidade da fala. Os mortos  

Vários dos inimigos enfrentados por Kratos e Atreus em sua jornada pelos Nove Reinos, são mortos-vivos, os quais no jogo são divididos em duas classes: os draugar (mortos-vivos) e os helívagos (hellwalkers). Na prática ambos são mortos-vivos, mas por motivos de criação de personagens, a produção decidiu dividi-los em dois tipos. No caso,

 

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não é a primeira vez que Kratos enfrenta mortos-vivos, nos outros jogos da série ele já os enfrentou em várias ocasiões. Um dado curioso é que os helívagos fisicamente lembram os Caminhantes Brancos do seriado Game of Thrones. Na mitologia nórdica os mortos são principalmente referidos no contexto do Ragnarök, como narrado no poema Völuspá (Visão da Adivinha) na Edda Poética, e no final do Gylfaginning (Alucinação de Gylfi) na Edda em Prosa. É dito que durante o Ragnarök, Loki irá liderar os mortos de Helheim, e Odin liderará os mortos de Valhala, chamados de Einherjar. Porém esses mortos mor tos não são zumbis, mas as almas dos guerreiros que deixaram os mundos da morte para tal confronto.  Além desse caso em específico envolvendo o retorno dos mortos de Helheim e Valhala, outras passagens das Eddas falam de Odin ressuscitando profetizas (völvas), encontros com fantasmas, sonhos com pessoas que morreram, mas fora das Eddas, já nas Sagas (outro importante corpus literário) se encontram narrativas sobre draugar, descritos as vezes como um fantasma ou um zumbi, o qual guarda túmulos e cemitérios. No caso de ser um morto-vivo, o draugr diferente do zumbi, que normalmente conhecemos, ele não perde a consciência e sabe usar armas. Em God of War os draugar não estão necessariamente ligados a túmulos e cemitérios, podendo aparecer em vários lugares. Por sua vez, os helivagos seriam os mortos que retornaram de Helheim, pois os draugar são mortos que ficaram preso em Midgard. No entanto, existem outros monstros no jogo que não existem na mitologia e folclore nórdicos, tendo sido acrescentados para aumentar a quantidade de inimigos.  A Serpente do Mundo   Em um dos trailers de God of War fomos apresentados a enorme Serpente do Mundo chamada Jormungand. Criatura de escamas brancas que emerge das águas diante de Kratos e Atreus. No jogo Jormungand tem um papel bem secundário, apesar de ser  visível a maior parte do tempo enquanto se navega pelo Lago dos Nove, a região central de Midgard, segundo a geografia criado para o jogo. No caso, a colossal serpente não é

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inimiga de Kratos e Atreus, ele indiretamente os ajuda. Mimir diz que é enigmático a presença daquele monstro, pois até então ele vivia nas profundezas do oceano, mas por algum motivo desconhecido a serpente se mudou para o Lago dos Nove.

 

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Kratos, Atreus e Jormungand. Na mitologia Jormungand é um dos três filhos de Loki e Angrboda, sendo irmão do lobo Fenrir e da deusa Hel. Jormungad foi banido por Odin a ter que habitar as profundezas do oceano, tendo crescido tanto ao ponto de conseguir morder a própria cauda. Tal fato se deve, pois para p ara os nórdicos o mundo seria cir circular cular e plano. Além dessa condição, os mitos contam que a grande serpente é inimiga mortal do deus Thor. Existem duas histórias bem conhecidas a respeito. A primeira diz respeito ao mito da pescaria, narrado nas duas Eddas e em alguns poemas, o qual conta que em certa ocasião Thor tentou pescar Jormungand, a fim de matá-lo. A outra o utra história é narrada nas duas Eddas, a qual conta que durante o Ragnarök, Thor e Jormungand lutarão mortalmente e ambos acabarão morrendo. Cultura Viking   Embora o foco do jogo seja os mitos nórdicos, alguns aspectos da cultura viking aparecem ao longo da narrativa. Por exemplo, o fato de Kratos ter como arma principal um machado e escudo, armamentos comuns usados pelos vikings. O uso do alfabeto rúnico trata-se também de algo bem utilizado no jogo. O alfabeto rúnico surgiu em local desconhecido e por volta dos séculos II ou III d.C, sendo de origem germânica. Povos germânicos, celtas, eslavos e escandinavos o adotaram nos séculos seguintes, fazendo

suas alterações. Sendo assim, as runas usadas pelos vikings não eram iguais a usadas por tribos germanas do século V. No caso do jogo, Atreus ler e escreve runas, inclusive ele pronuncia palavras em nórdico antigo, a língua falada pelos vikings. Além das runas,

 

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nota-se também motivos da arte viking presentes em painéis p ainéis que contam alguns mitos, e na ornamentação de determinados lugares. Outros elementos da cultura viking presente em God of War são os hacksilver, os hogbacks e as pedras rúnicas. Os hacksilver (lingotes de prata) tratavam-se de lascas de prata usadas como dinheiro. Os vikings por muito tempo não cunharam moedas, e somente alguns reis dinamarqueses e suecos fizeram isso por alguns anos. Assim, o comércio era feito na troca de mercadorias ou no peso da prata e do ouro. Logo, os comerciantes vikings usavam balanças e pesos para pesar o hacksilver e calcular o seu  valor monetário. No jogo, o hacksilver é o dinheiro com o qual q ual Kratos paga aos anões Brok e Sindri para fazer melhorias em suas armas e armadura, ou comprar armaduras e outros itens. No caso dos hogbacks esses consistem co nsistem em monumentos fúnebres de origem vviking, iking, mas exclusivos na Inglaterra. Os vikings permaneceram na Inglaterra por mais de um século, lá eles desenvolveram os hogbacks. Em God of War os hogbacks não são monumentos fúnebres, mas arcas, onde Kratos coleta tesouros. Quanto Q uanto as pedras rúnicas essas consistiram em monumentos de pedra, usados para intenções memorialistas e de cenotáfio (em lembrança dos mortos). No jogo as pedras praticamente passam despercebidas. Mas em Midgard pode-se ver alguns túmulos onde se notam elas. No caso do jogo as pedras rúnicas não trazem imagens, apenas escrita. Outra referência a cultura viking mencionada no jogo consiste no uso da magia seiđr. God of War alguns que envolvem vivos usam essa antigaEm e poderosa magia. Uminimigos desses inimigos são asbruxas, bruxas mortos chamasede Regressantes (Revenant), as quais quais usaram seiđr para retornarem do mundo dos mortos, mais poderosas. Um dado curioso é que essas bruxas se vestem de forma bizarra, usando uma máscara com o crânio de um cervo, carneiro ou alce, como também se cobrem com pele desses animais. Sabemos que as praticantes de seiđr (seidrkona) usavam capas de pele de animal, luvas feitas de pelo de gato, mas se desconhece se fariam uso de máscaras e chifres. Embora que no norte da Escandinávia no território dos povos Sámi, saibamos

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que seus xamãs fizessem uso de peles e chifres de renas e alces. Será que os designers do  jogo se valeram de tal característica para conceber o visual das Regressantes? No jogo do jogo o seiđr é usado essencialmente para se atacar e causar dano, como se fosse “magia negra” negra”. No caso dos dos costumes e crenças nórdicos, o seiđr era um dos tipos

 

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de magias usados pelos vikings. Nas Eddas, poemas e sagas nota-se um uso diversificado para o seiđr. Ele era usado para intuitos de adivinhação, conceder boa ou má sorte, poderia ser usado para proteger o causar dano, manipular o clima (chuva, ventos, tempestade, nevasca). A prática do seiđr estava mais associada as mulheres, e os homens que o praticavam eram socialmente mal vistos, embora se tenha relatos mitológicos que sugere que Odin o praticava, e até reis vikings reais teriam participado de ritos de seiđr.  seiđr.   268 

Outras referências mitológicas   O jogo está recheado de menções a mitologia nórdica, assinalar todas aqui demandaria um texto bem mais extenso, ainda assim, optamos em comentar algumas dessas referências que dizem respeito as narrativas contadas nos painéis, as histórias narradas por Mimir e o nome de itens e equipamentos que carregam referências a personagens míticos. Uma das missões secundárias realizada por Kratos e Atreus chama-se Além do Mito, a qual trata de se localizar painéis pintados pelos gigantes que contam a história de alguns mitos importantes. Ao todo são 11 1 1 painéis espalhados por alguns mundos. Nestes painéis temos as seguintes referências:  Sköll e Hati: tratam-se de dois lobos gigantes, geralmente ditos como sendo filhos de



Fenrir. As aenormes bestas perseguem os deuses e Mani pelos céus. Sköll tenta abocanhar deusa Sól, e Hati fazer o mesmo com Sól Mani. Essa perseguição é contínua, ocorrendo todos os dias e todas as noites. Somente no Ragnarök os dois conseguirão matar os deuses. Essas informações são contadas por Atreus e complementadas por Mimir.  Hrungnir: um poderoso gigante que confrontou Thor. O mito dele faz parte de uma narrativa maior, sendo que detalhes dessa narrativa são deixados de fora no jogo, mas ainda assim, é dito que ele possuía po ssuía um coração de pedra, era ingênuo e muito poderoso. ⦁

Thor lhe quebrou a cabeça e uma lasca de pedra ficou cravada na cabeça do deus do trovão. Mas para completar, o gigante desabou sobre Thor, e esse não conseguiu erguêlo. Assim seus filhos Modi e Magni o ajudaram a se libertar.  Skadi: uma valente giganta conhecida por usar esquis e arco e flecha, pois seria uma ⦁

 

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caçadora. Seu pai era Tjazi que se envolveu em alguns problemas ao se aliar com Loki. Skadi após a morte do pai, buscou vingança, mas mudou de ideia após os deuses lhe oferecerem uma compensação: um casamento como acordo de paz. Skadi acabou casando-se com Njörd, o deus dos mares.  Ymir: o gigante primordial, nascido do calor e do frio de Niflheim e Muspelheim. Ele  vivia em companhia de sua vaca Audumla, Audumla, a qual se se alimen alimentava tava do sal qu quee lambi lambiaa do gelo.  Audumla descongelou Buri, o primeiro deus. Por sua vez, Ymir em certa ocasião enquanto estava dormindo, gerou sem querer a raça dos gigantes, os quais uns brotaram do suor de suas axilas e outros nasceram do cruzamento de suas pernas. Buri casou-se com uma giganta e tiveram um filho chamado Bor, Bor , o pai de Odin. No jo jogo go Mimir diz que Ymir era um gigante bondoso, mas foi morto traiçoeiramente por Odin e seus irmãos. ⦁

De fato, no mito narra sem informar ao certo os motivos do assassinato.  Surtr: o gigante de fogo que governa Muspelheim. Os mitos não informam sobre a origem de Surtr, e pouco comentam a respeito dele. Apenas sabe-se que ele possui uma espada flamejante e a usará durante o Ragnarök para queimar os mundos.   Thrym: um gigante que conseguiu conseguiu a proeza de roubar o martelo de Thor. No jogo a narrativa é encurtada sem explorar mais detalhes, apenas informa que Thor teve que buscar ajuda para reaver seu martelo, tendo que se disfarçar de noiva, pois Thyrm disse que devolveria o Mjölnir caso Freyja fosse lhe dado em casamento. Como a deusa se recusou e outros deuses foram a favor da recusa, Heimdall e Loki sugeriram Thor ir ⦁



disfarçado. Etodos assim ele o os fez. No final do mito, o deus do trovão recupera seucasamento. martelo e mata gigantes presentes no  Jormungand: a gigantesca serpente que habita o oceano. Já comentado anteriormente.  Bergelmir: um gigante descendente direto da linhagem de Ymir. Quase nada se sabe sobre ele, mas foi um dos sobreviventes do Dilúvio. No jogo é dito que Bergelmir foi um rei gigante e teve muitos filhos.  Gróa: uma giganta praticante de seiđr. Na Edda em Prosa é contado que após o término da batalha contra Hrungnir, Thor que estava com uma lasca de pedra na cabeça, decidiu ⦁





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buscar ajuda, então soube de uma poderosa po derosa feiticeira que poderia resolver seu problema. No caminho até a casa de Gróa, ele se deparou com o gigante Aurvandil. Ambos acabaram se desentendendo e Thor o matou. mato u. Posteriormente ele chegou a casa de Gró Gróa. a.  A giganta decidiu ajudá-lo, mas quando q uando soube que Thor matou Aurvandil que era seu

 

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marido, ela se recusou a retirar o fragmento da testa de Thor. No jogo tal história não é narrada, mas foi alterada, dizendo que Gróa era uma vidente e Odin a perseguiu e a aprisionou para conseguir seus conhecimentos. Ele depois a matou.  Thamur: gigante construtor muito habilidoso. Personagem inventado para o jogo. Ele não existe na mitologia.  Starkadr: poderoso gigante guerreiro com oito braços. Personagem inventado para o  jogo. Ele não existe na mitologia. ⦁



Outras referências mitológicas citadas no jogo estão: os corvos de Odin, Munin e Hugin; a condição de Odin ter se enforcado por nove dias e nove noites na Yggdrasil para conseguir o conhecimento das runas, daí ele ser chamado de o “Deus Enforcado” Enforcado ”; a ligação de Freyja com as Valquírias; A mãe de Thor; a criação do martelo Mjölnir; os filhos de Thor a invulnerabilidade de Balder; o inverno Fimbulvinter a Guerra dos  Aesires e Vanires, conflito pouco comentado nos mitos, logo não se sabe exatamente porque começou, mas terminou num acordo de paz entre Odin e Njörd, embora que no  jogo é dito que o acordo foi feito entre Odin e Freyja, os quais quais se casaram. Como dito anteriormente existem alguns equipamentos e itens que trazem o nome de personagens mitológicos. Por exemplo, o talismã de Tanngjostr, que se trata de um dos bodes de Thor. Ou a magia Bor e Bestla, referências aos pais de Odin. O ouro de  Aegir que é coletado nas águas de Midgard, alude ao ao gigante Aegir, que era casado com Rán, dos mares. Entretanto, machadoque de não Kratos que consiste em suanórdica. principal arma deusa neste jogo, é chamado Leviatã,omonstro é oriundo da mitologia

Bibliografia:   Bibliografia: Fontes primárias:

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 ANÔNIMO. The Poetic Edda. Edda. Translated by Carolyne Larrington. Revised edition. Oxford: Oxford University Press, 2014.

 

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STURLUSON, Snorri. The Uppsala Edda. Edda. Edited with introduction and notes by Heimir Pálsson. Translated by Anthony Faulkes. London: Viking Society for Northern Research/University College London, 2012. Referências secundárias: Playstation, ano 19, n. 235, setembro 2017,  ANÔNIMO. Especial: God of War. Revista Playstation, p. 12-34. Europa . São Paulo: Madras, 2004. DAVIDSON, Hilda R. E. Deuses e mitos no norte da Europa. LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e cultura da Era Viking. Viking . São Paulo: Hedra, 2018. ritos. São LANGER, Johnni (org.). Dicionário de mitologia nórdica: símbolos, mitos e ritos. Paulo: Hedra, 2015. LINDOW, John. Norse Mythology: Mythology: A guide to the gods, heroes, rituals, and beliefs. New York: Oxford University Press, 2001. SIMEK, Rudolf. Dictionary of Northern Mythology. Mythology. Translated by Angela Hall. 4a reimpressão [2007]. Cambridge: D. S. Brewer, 1993 . 

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A BRUXA NÓRDICA DE GOD OF WAR  WAR 

Thais Gomes Trindade  A apropriação e ressignificação de mitos não é algo novo. Atualizações sempre ocorreram e continuam a ocorrer. Com a diversa gama artística e criativa que temos contato na atualidade, assim como a acessibilidade de textos míticos e mitológicos, essa prática de ressignificação se acentua. Tem-se como exemplo a série de jogos do estúdio Santa Monica, intitulada God of War, lançada em 2005 para o Playstation 2, que em seus primeiros jogos se apropriou da mitologia grega para desenvolver a história de seu protagonista, Kratos. Agora em seu oitavo jogo, quarto entre os maiores da série, o God of War lançado em abril desse ano foi responsável por trazer seu protagonista à esfera mítica nórdica acompanhado de seu filho Atreus e das cinzas de sua esposa, as quais deve levar à mais alta montanha dos nove mundos. Logo nos primeiros minutos de jogo, o espartano e seu filho conhecem a “bruxa bruxa””  da floresta, assim chamada por Atreus ao vê-la tentar utilizar magia – “You You’’re a witch!” witch!”  (“Você é uma bruxa!” bruxa!”). Tal encontro se origina da flechada de Atreus, que é orientado

por seu pai a atirar em um animal com o intuito de praticar tal habilidade, nisso acerta um javali. Este é “amigo amigo”” da “bruxa bruxa”” da floresta, que logo se apresenta e tenta socorrelo, “he’ he’s my friend” friend” ( (““ele é meu amigo” amigo”).

 

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Comum à Mitologia Nórdica, a figura do javali aparece na Edda poética , em Hyndluliod   (A canção de Hyndla), em que a deusa Freya disfarça seu protegido, Ottar, como seu javali, “Battle-hog Battle-hog”” (Song  (Song of Hyndla , 7.4). Dentro da Mitologia Nórdica, essa deusa costuma ser representada acompanhada de gatos ou de seu javali em suas  viagens. Nesse evento, o disfarça para poder trazê-lo consigo a Jötunheim, em que procura a gigante Hyndla, de quem busca obter informações da genealogia de Ottar. Porém, para que este não seja notado por Hyndla, o traz como seu “ javali  javali””. Nota-se que há uma relação de proximidade entre a deusa e o animal, bem como entre a bruxa e o  javali em God of War. Nesse evento ainda, Freya busca favorecer Ottar contra Anganty Angantyr, r, protegido por Odin, tendo-se uma rivalidade entre ambos nesse contexto. Enquanto tenta salvar seu amigo javali por magia, a personagem feminina de God of War profere a Kratos uma promessa “I promise you, he’ he’s safe” safe” (“  (“Eu te prometo, ele está seguro” seguro”). Nota-se em seu discurso uma tentativa de estabelecimento de trégua e confiança, afabilidade. Da Mitologia Nórdica tem-se em Freya o maior símbolo de afabilidade em oração, sendo considerada a mais acessível entre os deuses a se orar, segundo a Edda em prosa   (Gylfaginning  (Gylfaginning ) – embora sua especialidade seja em questões amorosas. No evento em que a personagem feminina dessa série diz a Kratos “I know you’ you’ re a god” god” (“  (“Eu sei que você é um deus” deus”), ela explicita ao protagonista saber não apenas da origem dele, mas de Atreus também, expressando seu conhecimento prévio, sabedoria do assunto. Essa vidente possibilidade de conhecimento é associada entre os deuses nórdicos à deusa Frigg na Lokasenna , poema em que Freya aconselha a Loki tomar cuidado com suas profanas explanações uma vez que Frigg saberia do destino de todos,  ’ s Quarrel, 29). Se do início a caracterização da embora não o predizesse (Loki  ( Loki  ’  personagem de God of War é aproximada a Freya, aqui isso é feito em relação aos poderes de Frigg pela atualização da figura feminina como detentora do conhecimento, “sábia sábia””. Porém, vale notar que a magia praticada pela bruxa, muito a aproxima de Freya,

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que embora não apareça praticando magia nas referências de mitologia nórdica, é vista como mágica uma vez que ensinou aos Æsir a magia seidr . Essa referência é derivada da Ynglinga Saga  de Snorri Sturluson e da Völuspa , da Edda poética , conforme indicações de John Lindow (2001:265), que pouco nos explica sobre a magia em si, apenas

 

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referindo a ela como muito relacionada a práticas femininas, embora também seja praticada por homens, como Odin. Enrique Bernárdez faz referência à mesma magia, em Los mitos germánicos , em que explica como o seidr  estaria  estaria relacionado a uma ideia de sexo e morte (2002:175, 177). Entretanto, tem-se ainda mais referências a tal magia, que são trazidas por Johnni Langer no verbete “seidr seidr”” do Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos . Langer explica que o seidr , além de associado a mulheres, associa-se à clarividência, à cura de doenças e, por alguns, ao canto, também tendo usos maléficos em utilização para insultos e ofensas. Assim como, Lindow (2001:265), Langer se refere a uma característica  xamânica da magia (2015:451). Nas situações de God of War supracitadas, temos o uso da magia seidr , pela bruxa, à cura do d o javali e uma latente clarividência quanto à or origem igem e ao espírito tanto de Kratos quanto de Atreus, o que aproxima essa característica de  vidência e sabedoria da bruxa tanto a Frigg como a Freya. Freya. Os diálogos e interações de Kratos e Atreus com a bruxa de God of War vão abrindo espaço não apenas a conhecê-la, mas também ao entendimento da adoção e atualização da Mitologia Nórdica dentro desse texto. Sua constituição é intrinsicamente hesitante, ao que cada pausa dá ao espectador impressão de que ela sabe mais do que proclama superficialmente. Nisso lembra a Frigg. Exemplos de seus momentos hesitantes são: “Whatever you’ you’re hiding, you cannot protect him forever” forever ” (hesitation) (“ (“Seja lá o que estiver escondendo, você não pode protegê-lo para sempre” sempre ” (hesitação)) e “This mark will hide you from (hesitation) those who might make your journey (hesitation)… (hesitation) …  difficult”” (Essa marca irá escondê-lo (hesitação) daqueles que podem tornar sua jornada difficult (hesitação)... difícil” difícil” – em que é dado ao espectador especta dor como ela traz em seu discurso pesar e conhecimento por experiência pessoal, concomitante a uma retração à explicitação da  verdade, pausa à evidência de quem dificultaria o caminho. caminho. Do evento em que comenta sobre a natureza pouco aberta dos deuses de Asgard, a personagem feminina emenda sua frase com “Trust me, I know” know” (“  (“ Acredite, eu sei” sei”), mais uma vez se revelando ao mesmo tempo em que se esconde, moldando-se como sábia,

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detentora do conhecimento seja por saber do que não lhe é dito, como a origem de Kratos, com uma espécie de vidência, como nesse caso, seja por experiência pessoal.

 

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Na Mitologia Nórdica há dois grupos de divindade, os Vanir e os Æsir, os quais se deram trégua pela troca de membros. Porém, não há relatos de abertura a personagens de origem externa, na verdade, percebe-se uma contínua manutenção de fronteiras e afastamento de outras figuras, a exemplo da construção das muralhas de Asgard e no afastamento contínuo de gigantes, sendo Loki uma exceção. Essa E ssa pouca possibilidade de intercâmbio entre terras na Mitologia Nórdica, uma vez que cada mundo é constituído de personagens que ali se mantêm, também é reiterada no jogo.  Ao reportar a Kratos que os “deuses desse reino não gostam de pessoas de fora” fora ”  – “The gods of these realms don’ don’t take kindly to outsiders” outsiders” –, caracteriza os Æsir como divindades “puristas puristas””, porém, além disso, abre espaço à noção de sua origem, que não seria de lá, mas de outro reino, muito lembrando a Freya, deusa Vanir. Essas referências dos parágrafos anteriores, que preveem uma relação entre a bruxa e as duas principais deusas nórdicas, não ficam apenas em espera de confirmação, pois elas encontram certeza após a reanimação da cabeça de Mimir, dada pela fala de Mimir, então repetida por Atreus: “ Freya! The goddess, Freya?” Freya? ”   ( “ Freya! A deusa Freya?””). Ela então explica que havia sido líder dos Vanir um dia – “Leader of the Vanir Freya? once, yes… yes… but no longer” longer” ( (““Líder dos Vanir um dia, sim... mas não mais” mais”). Então relata a Atreus que os Vanir apresentavam ameaça aos Æsir até o casamento entre Freya e Odin lhes trazer paz - “The Vanir were the greatest threat to the Æsir until our marriage brokered Peace” Peace ”   ( “ Os Vanir eram a maior ameaça aos Æsir até nosso casamento estabelecer paz” paz”). Nota-se, porém, que na Mitologia Nórdica, não é um laço entre Freya e Odin que traz paz aos Vanir e Æsir, mas a troca de outras deidades. Além disso, Freya é casada com Odr, viajante, o qual tenta encontrar utilizando nomes diversos entre desconhecidos, e Frigg  Frigg com Odin. Essa deusa, caracterizada por diversos nomes por sua constante  viagem em busca de Odr é aproveitada no jogo, em que é conhecida por dois nomes: Freya, de sua origem Vanir, e Frigg, dado a ela por Odin à relação aos Æsir como meio de diminui-la.

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Segundo Mimir e suas pequenas historietas contadas entre loads de telas, Odin chamaria a Freya de Frigg por significar “beloved beloved””, “amada amada””, porém, ao passar do tempo, se aproveitaria desse apelido para apagar aos olhos de todos os feitos da grande “Freya Freya””,

 

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atribuindo toda ação sua posterior ao casamento a Frigg, o que diminuía sua influência entre a população. Essa associação de Frigg e Freya a uma única divindade não é única ao jogo, sendo defendida por Enrique Bernárdez no que diz respeito à Mitologia Nórdica, que coloca na relação Frigg, Freya e Iörd uma tríade de deusa nórdica. Frigg seria uma representação de deusa mãe e esposa, enquanto Freya seria deusa associada à fertilidade e à sexualidade e Iörd à função de mãe-terra. Embora não se encontre nas mitologias germânicas referências ao nome Freya, muito se encontra ao nome Frigg. Ainda assim, Bernárdez propõe o argumento de que Frigg e Freya possam ter constituído uma divindade única e una no início da mitologia e ainda que não se encontrem registros ao nome além da esfera literária escandinava, sabe-se que muitas “ funções funções””   divinas são comuns às diversas mitologias, como a tríade que propõe (2002:159-160). Bernárdez também interpreta os Vanir, por consequência, Freya, como deusa campesina, referência de fertilidade, vida e preocupação com uso da magia à conservação dessas funções sociais em oposição aos Æsir, que seriam representativos de aristocratas dados à guerra, à poesia e ao governo, ao que em God of War temos Freya banida a um ambiente campestre pelo governante poder opositor de Odin (2002:187). Em outro evento, em que Atreus sofre em luta interna contra sua origem dêitica, Freya indica a Kratos ter um filho, “Did I tell you I have a son too?” too?” (“  ( “Eu te disse que também tenho um filho?” filho?”. Da Mitologia Nórdica Freya é referida como mãe de Hnoss e Gersemi, embora a referência a Gersemi seja feita apenas em Skaldskaparmal  na  na Edda em prosa , enquanto Hnoss é comentada em Gylfaginning . Nesse ponto nota-se um maior distanciamento da divindade Freya segundo as fontes nórdicas e uma atualização de Freya/Frigg que serve aos intentos da narrativa do jogo: ao comentar que ao nascimento de seu filho, as runas previram sua morte e que então soube que tudo faria para protegelo, temos a aproximação das personagens do jogo a Baldr e Frigg – “ At his his bbirth, irth, the runes foretold a needless death” death” (...) “I knew right then that I would do anything to protect p rotect him him””  (“No seu nascimento as runas previram sua desnecessária morte” morte ” (...) “Eu soube logo

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que faria qualquer coisa para protege-lo” protege-lo”). Tanto na Edda em prosa  quanto  quanto na Edda poética  Frigg  Frigg é caracterizada como mãe de Baldr. Este, já adulto, sonha com sua própria morte, ao que temos o poema Baldrs Draumar . Na  Na  Edda de Snorri   seu sonho é dividido com os Æsir que, em conselho,

 

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decidem proteger a Baldr. Com esse fim, Frigg recebe de todas as coisas promessa de não causar mal a Baldr, com exceção de um visco, que lhe pareceu inofensivo. À parte das discussões sobre essa imagem, vale notar que no jogo a premonição não é dada através do sonho de um Baldr adulto, mas através das runas. Se na Mitologia Nórdica isso leva Frigg a pedir o juramento de todas as coisas em proteção a seu filho, em God of War é a magia de Freya/Frigg que o condena a “não sentir nada” nada”, desse modo lhe protegendo. Essa condenação à inércia de sensações é tamanha que ao ter sua mão perfurada pelo visco, sente-se extasiado. Deixando-se à parte sua raiva, pouco comum à caracterização mitológica de Baldr, Freya/Frigg faz de tudo para lhe proteger, intervindo na luta entre Kratos e Baldr continuamente. Para chegar até ele, também, utiliza um poder que é comum a Freya na Mitologia Nórdica: transformação em pássaro. Em Thrymskvida , Thor pede emprestado de Freya sua “camisa de asas” asas” (“  (“feather-shirt feather-shirt””), atributo que lhe permite se transformar em pássaro e voar (Thrym  ( Thrym ’ ’ s poem , 3.3). Tal atribuição da deusa é resgatada em God of War, em que se transforma em ave de rapina no momento em que necessita da mesma habilidade.  Assim a identidade da “bruxa bruxa”” da floresta vai se desvendando em God of War e com sua constituição como personagem os espectadores ganham uma visita à mitologia e à sua atualização nas personas de Frigg e Freya, que ganham novo significado e ao mesmo tempo permitem o despertar do interesse pelas origens míticas. A reunião dessas duas figuras femininas permite ao público conhecer seus poderes, como a prática de magia seidr   e o conhecimento do destino dos homens; criar uma rede complexa de relações entre outras personagens, como Baldr e esta; resgatar seus símbolos e elementos, como o javali e a “camisa de penas” penas”; em certos pontos traduzindo em imagem propostas teóricas defendidas por Bernárdez, como a possibilidade de Frigg e Freya terem sido derivadas de uma única deusa. Embora o jogo não informe detalhadamente sobre esses fatos da mitologia, uma vez que não é seu dever, no intento cuidadoso de entreter acabar por abrir brechas à curiosidade pelas fontes míticas e suas relações com essa elaborada obra de atualização e ressignificação.

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Referências   Referências

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

BARLOG, Cory (Dir.); WANG, Elizabeth Dahm et al. (Prod.). God of War . SIE Santa Monica Studio, 2018, PlayStation 4. BERNÁRDEZ, Enrique. Los mitos germánicos . Madri: Alianza Editorial, 2002. LANGER, Johnni. Seidr. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos. São ritos.  São Paulo: Hedra, 2015. p. 451-453. LARRINGTON, Carolyne (Trad.). The Poetic Edda . Oxford: 2014. LINDOW, John. Seid. In: LINDOW, John. Norse mythology: a guide to the gods, heroes, rituals and beliefs . Oxford: Oxford University Press, 2001. p. 265. STURLUSON, Snorri. Edda. Tradução de FAULKES, Anthony. London: Everymen, 1995.

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REPRESENTAÇÕES DA FEITICEIRA NÓRDICA NOS QUADRINHOS DE THORGAL Hendrik Lúcio Oliveira Van Dingenen

Objetivo no presente artigo analisar algumas representações r epresentações da mulher nórdica da Era Viking presentes no quadrinho europeu. Para alcançar esse entendimento realizo a comparação histórica entre aspectos da Era Viking relativos à mulher e sua representação como feiticeira em Thorgal, personagem criado em 1977 pelo belga Jean  van Hamme e o polonês polonês Grzgorz Rosinski, Rosinski, atualmente atualmente publicado pela Editora Lombard. Lombard. Trata-se de análise da primeira edição de Thorgal, intitulado "A Feiticeira Traída". Para discutir o tema da mulher e seu papel na sociedade, van Hamme nos informa, em entrevista no Youtube, que buscou na "mitologia viking" por uma "identidade comum" aos "povos do Norte" europeu (GÉRARD, 2018). A pertinência dessa abordagem foi observada pelo Prof. Dr. Johnni Langer na obra do compositor alemão Richard Wagner, 1813-1883, onde o sincretismo de mitologias "do Norte" é base para

"uma reinterpretação mítica de um passado imemorial, servindo aos anseios de uma coletividade que lutava para conseguir uma unidade tanto política quanto cultural" (LANGER, 2001). Em Thorgal, esse "mínimo denominador mitológico comum" é utilizado por van Hamme para discutir as possibilidades da mulher na sociedade

 

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moderna, dentro do contexto de censura e repressão polonês (GÉRARD, 2018), onde os quadrinhos eram produzidos apenas para humor e propaganda (BORODO, 2014).

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Capa da edição brasileira da hq Thorgal "A feiticeira traída", publicada pela editora VHD na dédcada de 1980.  1980.  

Tema popular, a figura do viking nos quadrinhos franco-belgas segue o ideal clássico para o bárbaro –   bruto, cruel, pagão, utilizando capacetes com chifres (LANGER, 2002) e era tão recorrente que Rosinski, com medo de saturação de mercado, convence van Hamme a não utilizar a figura de Ragnar Lothbrok, o mítico rei viking,

como inspiração para seu personagem principal. Porém van Hamme não quis deixar de fazer seu cenário em um contexto "viking" e acabou buscando na deidade nórdica mais popular (Thor) a inspiração para Thorgal (GÉRARD, 2002), pensado como uma espécie

 

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de rei iluminado que conduziria seu povo "bruto e cruel", os "vikings" (GÉRARD, 2018). Em edições posteriores, esse ideal monárquico é abandonado e Thorgal passa a ser retratado como um pacifista em busca de uma vida rural ideal com sua companheira e filhos, mas que por uma razão ou outra, encontra-se em diversas aventuras por um mundo repleto de mágica e fantasia. O caso é que Thorgal deixa de ser o rei messiânico e passa a ser o homem moderno em busca de seu lugar no mundo. Inicialmente, vemos Thorgal sentenciado à morte pelo chefe viking Gandalf-olouco, por sua pretensão em casar-se com Aaricia, filha de Gandalf. O escaldo Thorgal, artista sem prestígio ou status social, parece mais associado com a representação do bardo celta conforme a popular figura de Cacofonix, imortalizada em Asterix (1959). Porém, aponta o professor Langer em seu Dicionário de Mitologia Nórdica  (2015),   (2015), o escaldo possuía uma função social de prestígio na cultura nórdica, pois era o historiador e transmissor dos atributos escandinavos, como coragem, bravura e ousadia. Dono de boa memória e conhecedor das tradições, o escaldo relatava para a comunidade os poemas, os contos, o folclore e as narrativas mítico-históricas do seu povo e, claro, de seus chefes (LANGER, 2015).

Cena do quadrinho "A feiticeira traída" com os personagens Thorgal e Slive.  Slive.  

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Escaldo desgraçado, Thorgal é salvo pela feiticeira Slive, acompanhada de um lobo, que informa o herói que precisará dele para se vingar de Gandalf por mantê-la prisioneira para forçar um casamento, sempre recusado. Para tal, Thorgal deve roubar os Anéis de Freyr, que subjugarão Galdalf. Anéis e lobo representam objetos mágicos e animal totêmico, e compõem elementos da feiticeira nórdica enquanto "seidr", uma praticante de determinadas mágicas rurais que existiram na Era Viking, caracterizadas pelo uso de objetos mágicos e animais protetores (LANGER, 2015). "Seidr" significa laço, corda, cinturão, símbolos relacionados ao controle (LANGER, ( LANGER, 2015). Mas qual a relação possível entre a mulher nórdica da Era Viking e a seidr em Thorgal? Qual a relação, na Era Viking, entre rito (mito) e poder feminino? f eminino?

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 A feiticeira Slive  

 

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O "poder", na feiticeira de Thorgal, parece ser, em primeira instância, derivar de sua condição "mágica" (LANGER, 2015), de sua capacidade de utilizar seus conhecimentos para manipular, controlar, seu entorno e as pessoas. Porém sua recusa em casar-se com Gandalf indica condição de igualdade política em relação ao seu pretendente que não pode ser relacionada à sua condição de feiticeira, cujas práticas eram restritas ao uso popular e rural na sociedade nórdica. A recusa a traz mais perto da figura do "gydja", termo sem equivalência portuguesa que indica a responsabilidade ritualística pertinente ao rei ou chefe local (LANGER, 2015). De fato, em determinado momento da trama, a personagem revela ser uma poderosa e rica "rainha da ilha dos mares gelados", combinando as duas características da personagem e invertendo, com os anéis, o papel masculino e feminino do casamento forçado. Para entender as possibilidades de poder da mulher na sociedade da Era Viking, patriarcal, recorro a tese de mestrado de Cristina Spatacean (2006) que - citando estudos nas Sagas da Família, narrativas medievais sobre o mundo nórdico da Era Viking informa que, embora alijada das decisões políticas e judiciais, a mulher nórdica detinha direito à propriedade e ao divórcio e viúvas podiam chegar a posições de autoridade (SPATACEAN, 2006). Langer nos confirma, dizendo que, "ao contrário das outras regiões europeias da época, as mulheres vikings gozavam de ampla liberdade. Podiam possuir terras, bens materiais, cuidar do cultivo das d as fazendas e comerciar. Eram elas que negociavam com os mercadores visitantes, no momento em que os maridos estivessem em expedições ou em guerra" (LANGER, 2001). Spatacean informa que, embora marginalizadas do processo político e judicial, as mulheres tinham autoridade reconhecida para julgar a honra do homem, valor importante na cultura nórdica, o que conferia à mulher poder sobre a estrutura patriarcal (SPATACEAN, 2006), e cita como evidência de prestígio feminino o aumento do

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número e tamanho de túmulos dedicados a mulheres entre os séculos VII e XIX, "sugerindo que mais mulheres ganharam status  mais alto a medida que as áreas ár eas cresceram em população" (SPATACEAN, 2006).

 

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Segundo Spatacean, a mulher nórdica era responsável por importantes cultos no ciclo ritualístico nórdico, como os da fertilidade, onde a autora menciona o "álfá-blot", sacrifício aos elfos de participação exclusiva de mulheres; a mulher nórdica também estava responsável pela relação com os espíritos da terra, protetores das localidades. Por fim, era também responsável por rituais de nascimento e, possivelmente, de morte (SPATACEAN, 2006). Concluo observando que a "Feiticeira Traída" retrata a figura da mulher nórdica –  e moderna, conforme pretendia van Hamme - enquanto ator social com possibilidades de ascensão ao poder político, exclusivo do homem. Tal é possível via atuação em áreas como comércio, gestão de propriedade e práticas relacionadas ao controle mágico (feitiçaria), bem como pela prerrogativa de testemunho da honra do homem, execução de ritos de fertilidade e nascimento. Essas possibilidades culturais de realização pessoal impactariam nas relações de gênero na sociedade patriarcal nórdica, possibilitando à mulher alcançar em determinadas situações um status  social  social próximo ao do homem.

Referências bibliográficas:  bibliográficas:  CAMPOS, Luciana de. Mulheres. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. Viking. São Paulo: Hedra, pp. 513-517. BORODO, Michal. The Sorceress Betrayed:  Betrayed:   Comics crossing cultures and changing accuracy standards. Uniwersytet Kazimierza Wielkiego. Księgarnia Akademicka, Polônia: 2014. Thorgal . mai. GERARD, Charles. Jean Van Hamme raconte le grand parcours de Thorgal. 2018. Disponível em: . Acesso

284 

em: mai. 31. LANGER, Johnni. Vikings nos quadrinhos. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. Viking . São Paulo: Hedra, 2018, pp. 775-782.

 

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LANGER, Johnni (org.). Dicionário de Mitologia Nórdica: Nórdica: símbolos, mitos e ritos. Ed. Hedra. São Paulo, 2015. p. 166-167. História . LANGER, Johnni. Os Vikings e o Estereótipo do Bárbaro no Ensino de História. Revista História & Ensino, Londrina, v. 8, p. 85-98, out. 2002. LANGER, Johnni; SANTOS, Sérgio Ferreira dos. Fúria Odínica: Odínica: a criação da imagem História, Belo Horizonte, nº 25, p. 214-230, jul. 2001. oitocentista sobre os vikings. Vária História, SPATACEAN, Cristina. Women in the Viking Age: Age: death, life after death and burial customs. Tese apresentada ao Centro de Estudos Viking e Medievais da Universidade de Oslo. Oslo: 2006.

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Figura 1: Arte promocional da quarta temporada, apresentando os personagens principais na época: Ragnar, Lagertha, Rollo, Bjorn, Floki e Aslaug. 

HISTÓRIA, ANACRONISMOS E FICÇÃO NA SÉRIE VIKINGS Leandro Vilar Oliveira  Após sete anos de produção, seis temporadas e 89 episódios, a série Vikings criada e produzida por Michael Hirst e distribuída pelo History Channel , chegou ao fim, passando por altos e baixos, encerrando a aventura de Ragnar Lothbrok e seus filhos em meio a mistura de acontecimentos históricos, lendas e anacronismos.    A série apesar de não ter ganho prêmios de destaque ou ter tido uma altíssima audiência, ainda assim, conseguiu cativar o público com sua trama. Algo que inclusive nos primeiros anos

gerou a noção incorreta de que se tratava de uma narrativa baseada em fatos históricos. Essencialmente Vikings é um drama histórico, que consiste numa trama baseada em acontecimentos ou personagens reais os quais são utilizados para se criar uma narrativa. 

 

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Embora a série baseia-se em fatos históricos, ela está recheada de anacronismos, deliberadamente adotados para a construção do enredo e seu desenvolvimento. Além disso, em determinados momentos, Hirst introduziu elementos sobrenaturais na trama, como aparições de Odin, o avistamento de Jormungand, a aparição de uma valquíria, Ragnar sonhando com Valhala, assim como, paralelos entre Floki e Loki.  Sendo assim, o presente texto é uma resenha crítica de toda a série, com o objetivo de abordar os aspectos históricos e culturais desta produção televisiva, destacando os anacronismos, estereótipos e elementos ficcionais. Não adentrando a comentar sobre atuações e partes específicas do enredo.  1. 

Introdução 

Séries sobre vikings não são novas, embora sejam produções pouco conhecidas, como Tales of Vikings  (1959-1960),  (1959-1960), sendo um seriado em preto e branco e produzido por Kirk Douglas. Outras produções consistem em desenhos animados ou séries cômicas envolvendo os  vikings como a minisérie britânica There ’ ’s  a Viking in my bed  (2001)   (2001) e a série sueca Hem Till Midgard  (2003-2004).  (2003-2004).  Em geral, os vikings estiveram mais presentes no cinema e na literatura. Todavia, no começo da década de 2010, o roteirista e showrunner  e  showrunner  Michael   Michael Hirst que é conhecido por seus dramas históricos como os filmes sobre a rainha Elizabeth I e a série The Tudors  (2007-2010),  (2007-2010), teve a ideia de escrever sobre so bre os vikings, especialmente sobre as invasões nórdicas à Inglaterra.  O canal History Channel  apresentou  apresentou interesse no projeto e em 2012 a produção teve início na Irlanda. Originalmente planejada como minissérie, condição essa que a primeira temporada possui nove episódios e termina com Ragnar Lothbrok tornando-se jarl, a temporada que estreou e streou em 2013, fez relativo sucesso na época e o History Channel   e demais estúdios produtores, decidiram dar seguimento a essa história.    A trama de Vikings é inspir inspirada ada nas narrativas sobre o lendário rei Ragnar Lothbrok, o qual as diferentes obras que narram sua vida, apresentam informações divergentes, ora apontando

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Ragnar como rei da Noruega, da Dinamarca ou da Suécia, tendo tido três esposas, vários filhos e realizados outras façanhas, as quais ficaram de fora do seriado. Apesar dessas variações, Michael Hirst disse em algumas entrevistas que se baseou principalmente nas versões contidas

 

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no Gesta Danorum  (séc.  (séc. XII), na Saga de Ragnar Lothbrok  (séc.  (séc. XIII) e na Saga dos Filhos de Ragnar  (séc.  (séc. XIII).  Entretanto, o autor à medida que ia escrevendo as demais temporadas disse que a série não era apenas sobre Ragnar, sua família e amigos, mas também procurou apresentar os descobrimentos e conquistas empreendidos pelos vikings. Algo apresentado a partir da terceira temporada e continuado até o final. Do qual falaremos neste texto.   Mas além desse foco sobre expedições, a série também deu bastante atenção as batalhas, pois afinal, os vikings ainda hoje são conhecidos como um povo bélico. Fato esse que em todas as temporadas há conflitos, sendo que a partir da terceira temporada, as batalhas se tornaram maiores. Mas não necessariamente foram conflitos históricos, dos quais comentamos adiante. 2. 

Sinopse das temporadas 

Para facilitar a compreensão dos temas históricos e anacronismos que serão comentados adiante, neste tópico foi apresentado uma sinopse de cada temporada, destacando os acontecimentos centrais.  Temporada 1 (2013): 1 (2013): inicia-se apresentado Ragnar, Lagertha, Rollo, Floki, Bjorn B jorn e outros personagens que vivem em Kattegat, no sul da Noruega. A temporada foca no início das incursões vikings à Inglaterra, inclusive dando destaque a pilhagem do Mosteiro de Lindisfarne, onde Ragnar conhece o monge Athelstan (George Blagden), personagem importante nas primeiras Byrne).  temporadas. Depois segue as desavenças entre Ragnar e o jarl Haraldson (Gabriel Temporada 2 (2014): 2 (2014): a narrativa salta alguns anos, já mostrando Ragnar casado com a princesa Aslaug (Alyssa Sutherland), tendo novos filhos: Ubbe, Sigurd, Ivar e Hvirstek. Lagertha e Bjorn retornam para Kattegat, e Rollo começa a tramar contra o irmão. Neste ponto o foco continua sendo os ataques aos reinos anglo-saxões, já apresentando reis históricos como Egberto de Wessex (Linus Roache) e Aella da Nortúmbria (Ivan Kaye). À medida que a fama de Ragnar cresce, isso atraí novos inimigos, incluindo o rei Horik da Dinamarca (Donal Logue). 

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Temporada 3 (2015): 3 (2015): a terceira temporada muda o foco da narrativa, deixando os anglosaxões e centrando-se agora no Império Carolíngio na França. Tendo como destaque o cerco à Paris e a ascensão de Ragnar como rei de Kattegat.  Temporada 4 (2016-2017): 4 (2016-2017): a quarta temporada se apresenta como um divisor, encerrando a fase 1 e iniciando a fase 2 da série. A primeira parte dá continuidade aos planos de Ragnar, agora apoiado por novos aliados como Haroldo Cabelo Belo (Peter Franzén), para empreender novo ataque à Paris. Mas com o fracasso do segundo cerco, Ragnar abandona o trono e some.  Anos depois ele retorna velho e moribundo, reencontrando seus filhos com Aslaug que agora estão adolescentes. Bjorn realiza sua viagem ao Mediterrâneo. A temporada termina com a morte de Ragnar Lothbrok.  Temporada 5 (2018-2019): 5 (2018-2019): a temporada inicia-se com a vingança dos Ragnarson, que teria dado origem a invasão do Grande Exército Pagão. A primeira parte centra-se no desenrolar desse conflito vingativo. A segunda parte já apresenta os confrontos dos Ragnarson e as ambições de cada um. Floki inicia a colonização da Islândia.  Temporada 6  6  (2019-2020): a primeira parte continua as disputas entre Bjorn, Ivar e Haroldo Cabelo Belo pela Noruega, como também apresenta a despedida de Lagertha. No entanto, a novidade está no novo núcleo dramático, os rus de Kiev, apresentando o conflito dos príncipes Oleg (Danila Kozlovsky) e Dir (Lenn Kudrjawizki), os quais disputam a guarda do  jovem príncipe Igor (Oran Glynn O'Donovan), herdeiro do trono. Entretanto, Ivar incentiva Oleg a invadir a Noruega, acreditando que poderia assim reassumir o trono de Kattegat. A segunda parte conclui o núcleo dos rus, e divide-se em acompanhar a jornada de Ubbe para descobrir novas terras, e a escolha de Ivar, Hvristek e Haroldo de invadir Wessex.   3. 

Acontecimentos históricos e anacronismos 

Como dito no início da resenha, alguns dos fãs passaram a defender que Vikings era uma série histórica, retratando inclusive acontecimentos históricos de forma fidedigna. No entanto, isso é um equivoco comum que normalmente o público que consome essas produções

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cinematográficas, televisivas, literárias e digitais possuem. Tais pessoas consideram que somente som ente pela condição de uma produção ser baseada em fatos históricos, isso lhe forneceria um “atestado atestado””  de que quase tudo apresentado naquela narrativa, realmente ocorreu. 

 

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Produções de dramas históricos ou romances históricos no caso da literatura, seguem a prática da verossimilhança, ou seja, conceder elementos eleme ntos narrativos que transmitam a ideia de que aquele enredo, poderia ter acontecido daquela forma. Que os personagens históricos ali retratados teriam aquelas atitudes. E essa prática é antiga na literatura e no cinema. E no caso de produções sobre temática medieval, existe o termo medievalidade, que é usado para se referir ao imaginário contemporâneo que se possui da ideia de como seria a Idade Média.   A medievalidade dependendo da forma como é utilizada nas produções artísticas e midiáticas, pode seguir um caminho mais voltado para a verossimilhança, como o caso do livro Devoradores de mortos  (1976)   (1976) do Michael Crichton, em que o escritor baseado no relato de Ahmed ibn Fadlan – do qual abordaremos adiante –, inventou uma narrativa de aventura,  vendo o livro como se fosse uma “tradução de viagem real” real”. Por outro lado, há vários casos em que a medievalidade segue uma tendência mais voltada para o fantástico, retratando grandes castelos, cavaleiros de armaduras brilhantes, feiticeiros, bruxas, magia, monstros, ou adotar o estereótipo de “idade das trevas” trevas”.  Macedo e Mongelli (2009) assinalam que as produções cinematográficas sobre a Idade Média, devam ser consideradas antes de tudo como produtos de entretenimento. Neste aspecto, os autores citam Marc Ferro, o qual assinalava que um filme histórico não é a representação do passado em si, mas a forma como interpretamos o passado.  Com isso, a série Vikings apresenta essa característica de medievalidade, condição essa que ela adota estereótipos dos quais comentaremos alguns adiante, utiliza-se de anacronismos, e até mesmo inseres elementos fantásticos como a aparição de monstros e de divindades, mesmo que sejam casos pontuais.  E a respeito dos anacronismos, o seriado ficou notável por mesclar fatos históricos ocorridos nos séculos VIII, IX e X. Ou seja, Hirst aglutinou de forma engenhosa e com bastante liberdade criativa, três séculos de história, retratando seus acontecimentos num período de 3040 anos durante o século IX, época em que a trama da série se passa. 

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 A respeito dos fatos históricos apresentados, estes seguem três condições: personagens, batalhas e viagens.  3.1  Personagens históricos 

 

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No caso dos personagens que existiram, estes foram retratados principalmente na figura dos monarcas e governantes, dividindo-os nos núcleos anglo-saxão, franco, escandinavo e eslavo.  Entretanto, a série foca-se principalmente nos monarcas anglo-saxões como Egberto de Wessex (770-839), Etevulfo (795-859) e Alfredo, o Grande (849-899). Além deles citamos Aella II da Nortúmbria (?-867), o qual pouco se sabe sobre seu reinado e nada sobre sua vida. E Judith de Flandres (844-870), primeira esposa de Etevulfo, que na série possui papel importante na temporada 3. Outros nobres anglo-saxões que existiram também são citados, mas possuem participação menor na trama.  Por sua vez, no núcleo franco, temos o rei Carlos, o Simples (879-929). Aqui acrescenta-se fo i retratado como Conde Odo, ignorando inclusive o fato o rei Odo  Odo (c. 852-898), que no seriado foi de que ele governou antes de Carlos, o Simples. Destaca-se também a princesa Gisla (Morgane Polanski), que se torna esposa de Rollo (c. 860-932), que na série tornou-se o irmão de Ragnar Lothbrok, embora que historicamente ele tenha sido o primeiro conde da Normandia, algo retratado na quarta temporada.  Do núcleo dos rus temos os príncipes Oleg de Kiev (c. 845-912) e Igor I (c. 877/888-945), os quais aparecem na sexta s exta temporada, a qual aborda a disputa de poder po der de Oleg com seus irmãos, para manter sua autoridade sobre o jovem príncipe Igor, que era o herdeiro de fato do trono de Kiev. Nessa temporada, Oleg é retratado como um homem ambicioso, manipulador e megalomaníaco. No entanto, sublinha-se que os personagens deste núcleo são os que apresentam mais diferenças com suas contrapartes históricas, já que o enredo do seriado alterou vários aspectos desse conflito.  Já no núcleo escandinavo, na segunda temporada apareceu o rei Horik da Dinamarca.  Aqui temos um problema. Houve dois monarcas com este nome, e o da série mescla a história deles dois. O segundo personagem histórico deste núcleo é o rei Haraldo Cabelo Belo (c. 850943), o qual teve sua história totalmente alterada no seriado. Já os outros reis noruegueses que participam da eleição do único rei geral, os jarlar dinamarqueses e o rei Olavo da Suécia, são personagens fictícios. 

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 Apresentado os principais personagens históricos históricos que aparecem na série Vikings, embora haja outros com menor destaque, comentaremos um pouco sobre as batalhas, outro tema recorrente do seriado. 

 

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3.2  As batalhas:  Primeiro é preciso salientar que muitas das batalhas retratadas na série são ficcionais, mesmo que algumas citem localidades, como conflitos ocorridos na Inglaterra e na Noruega, no entanto, somente algumas destas batalhas realmente foram inspiradas em acontecimentos históricos, como segue a lista abaixo.  Ataque ao mosteiro de Lindisfarne (793): Lindisfarne (793): é retratado no começo da primeira temporada e é usada pela historiografia britânica como marco para o início da Era Viking. Não há descrições desse conflito, apenas informa-se que os vikings invadiram, saquearam, mataram os monges e incendiaram o local. Algo que pode ser lido nas Crônicas Anglo-saxãs  (Chronicle  (Chronicle Anglo-saxon). Na série o saque a Lindisfarne é a primeira vitória de Ragnar, marcando o início da sua s ua fama.  Cercos à Paris (845, Paris (845, 856-857, 888): historicamente há registros de três principais ataques realizados a capital carolíngia. No seriado tais acontecimentos são retratados nas temporadas 3 e 4. No entanto, Michael Hirst baseou-se nestes três cercos para criar sua própria versão. Por exemplo, no cerco de 845 diz que Ragnar teria participado dele, porém, Bjorn teria participado do cerco de 856-857. Além disso, dois jarl que aparecem no seriado, se riado, Sigurd e Gorm, participaram do cerco de 888, o qual inclusive foi neste que o personagem Conde Odo vivenciou. Por sua vez, o rei Carlos, o Simples que aparece na série, era criança durante o terceiro cerco. No entanto, a escolha pelo monarca se deve a condição que foi ele quem ofereceu um acordo para Rollo se tornar seu aliado, lhe concedendo o título de conde. Algo retratado na série. s érie. 

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Figura 3: Cena da terceira temporada mostrando o cerco viking na cidade de Paris. Historicamente a capital francesa não teria essa grande catedral de pedra e proeminentes fortificações no século IX. 

Início da invasão do Grande Exército Pagão  Pagão   (866): a invasão foi o estopim para um período de doze anos de conflitos até que o Danelaw fosse formalizado. Na série apresenta-se apenas o início deste conflito, onde os Ragnarson e seus aliados invadem a Ânglia Oriental para dar início a vingança pela morte de Ragnar Lothbrok. Tal informação é citada nas crônicas e sagas sobre o personagem, mas historicamente não se sabe os motivos por essa grande empreitada. Além disso, outras batalhas que são retratadas na quinta temporada, são fictícias, apesar de ser informado que fariam parte dos conflitos iniciados da invasão.  Captura de York (867): York (867): a tomada desta cidade esteve ligada as campanhas do Grande Exército Pagão. No seriado isso é mostrado com a derrota do rei Aella II e depois com Ivar (Alex Høgh Andersen) disputando o controle da cidade com Haroldo Cabelo Belo e outros chefes. Historicamente não se sabe detalhes sobre como essa cidade foi conquistada, mas York se tornou um importante polo manufatureiro e centro comercial com ercial sob domínio nórdico, tornando-se capital de um novo reino. No entanto, tais ta is aspectos não aparecem no seriado.   3.3  Expedições: 

Expedição de Bjorn e Halfdan (859-860): Halfdan (859-860): poucas crônicas mencionam este est e relato, havendo dúvidas se o Bjorn mencionado seria Bjorn Flanco de Ferro ou outra pessoa. As informações a respeito são escassas e mencionam me ncionam ataques a Al-Andalus (região espanhola sob domínio mouro), além de possíveis ataques ao sul da França e noroeste da Itália. No seriado mostra-se a expedição

 

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na quarta temporada, atacando uma cidade não identificada, em Al-Andalus e depois Bjorn e os demais viajam até Creta, ficando à mercê do emir Zidete e depois viajam para o norte da África, como parte de uma comitiva do emir. Aqui observa-se que vários aspectos dessa expedição foram inventados para o seriado.  Descoberta da Islândia  Islândia  (c. 860-870): não se sabe exatamente quando a Islândia foi descoberta, mas data de 874 relatos de colonos ali já vivendo. v ivendo. No seriado é creditado a Floki essa descoberta e o início da colonização. No Landnámabók  (livro  (livro sobre a colonização islandesa), é informado que a ilha teria tido três descobridores, sendo um deles Floki Vilgerdarson. Entretanto, não se sabe se tais descobridores realmente existiram e quando realizaram suas descobertas. No caso da série, o personagem de Floki é inspirado em Vilgerdarson.   Descoberta da Groenlândia (c. Groenlândia (c. 985): 985): historicamente é creditado a Eric, o Vermelho a descoberta desta ilha e o início de sua colonização, algo ocorrido por volta de 985. Embora haja margem para que Eric tenha se baseado em relatos de outros navegadores para poder chegar à Groenlândia, a série Vikings tira proveito disso. No seriado um misterioso homem chamado Othere (Ray Stevenson), que já foi guerreiro e virou missionário cristão, diz que avistou terras no oeste, algo que atiça a curiosidade de Ubbe (Jordan Patrick Smith). E eeste ste decide ir atrás deste lugar. Entretanto, a expedição se perde e acaba encontrando por acaso a Groenlândia, dando início a sua colonização que se mostra problemática devido à falta de alimentos, água e recursos. Embora que numa tomada aérea mostre cabanas e casas já erguidas após algumas semanas, o que contradiz a ideia de inviabilidade de assentamento naquele lugar. Isso é retratado na parte 2 da sexta temporada.  Descoberta de Vinland (c. Vinland (c. 1000): Nas últimas décadas do século X, navegadores partindo da Groenlândia relataram terem avistado terras a oeste da ilha. Esses lugares foram chamados de Helluland, Markland e por fim Vinland. No caso de Vinland é creditado a Leif Ericsson, o filho mais velho de Eric, o Vermelho, a descoberta daquela terra e o início de um assentamento ali estabelecido por volta do ano 1000. No entanto, no seriado isso tudo é ignorado. Novamente Ubbe e sua expedição que estava perdida, chega por acaso a costa canadense. O personagem de Othere diz que aquele lugar era a terra verdejante que ele tinha avistado anteriormente. Assim,

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Othere torna-se um dos navegadores que “descobriram descobriram”” aquele “novo mundo” mundo”. Nesta parte da série, apresentada nos últimos episódios da sexta temporada, temos os vikings em contato com os indígenas (skraelings  (skraelings ))..

 

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Figura 4: Cena da sexta temporada, apresentan apresentando do os vikings cercados por indígenas na América do Norte.  

4. 

Estereótipos e ficção 

Em algumas entrevistas para as primeiras temporadas, Michael Hirst disse que quando escreveu Vikings quis retratar a cultura e sociedade deles de forma historicamente mais precisa, evitando reproduzir estereótipos clássicos que existem desde o século XIX. De fato, a primeira temporada contou com a consultoria do arqueólogo Neil Price.   a primeira temporada apresenta ao vestuário, armamento, casas,  Apesar objetos edisso, cultura material. Embora Price tenhaproblemas fornecido quanto consultoria, a produção da série seguiu com sua liberdade criativa, alterando elementos para encaixá-los melhor numa estética mais adequada para o entretenimento. Na edição 10 do Notícias Asgardianas , há algumas análises a respeito. O link está no final do texto.  a)  Vestuário e aparência  Embora alguns fãs citem a série como referência para se fazer roupas, acessórios e

habitações, é preciso ter cautela ao fazer essa recomendação. Nem tudo que foi mostrado realmente é preciso mesmo. Vikings é um seriado voltado para o entretenimento. Neste caso, realmente não se ver elmos com chifres, crânios como taças, pessoas usando roupas de origem greco-romana, ou todo homem sendo barbudo. Mas embora o seriado

 

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conseguiu evitar estes estereótipos, ele adotou outros, como estilos de corte de cabelo inexistentes, uso de tranças nagô e não de origem nórdica, uso de tatuagens, algo inclusive que gera dúvidas. Historicamente pouco se sabe sobre as tatuagens e não há imagens de como elas seriam. Logo, as tatuagens vistas no seriado são todas ficcionais. Além disso, não sabe se todas as pessoas usavam tatuagens ou havia restrições para isso.  296 

Figura 5: O ator Peter Franzén com o visual de Haroldo Cabelo Belo. Na série o personagem é marcado  por suas tatuagens tatuagens no ro rosto. sto. 

 Além das tatuagens chama atenção também o uso de ddelineadores elineadores para os olhos e pin pinturas turas faciais. A presença dos delineadores é mais comum em personagens pers onagens como Floki, ou nas mulheres como Lagertha, Torvi, Astrid, entre outras guerreiras. O que passa a falsa ideia de que seria algo real da época. Além desse delineador, em alguns episódios temos homens e mulheres usando pintura facial com cores branca, vermelha, preta e até azul, como se fossem pinturas religiosas

ou militares. Sabe-se que alguns povos germânicos e celtas faziam uso de pinturas marciais, mas entre os vikings isso não era prática comum.   A vestimenta nem sempre é algo preciso. Em geral os vikings ao guerrear, usavam cota de malha, gibões e túnicas acolchoadas. Mas na série em alguns momentos vemos eles usando

 

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armaduras com placas de metal, couro endurecido, armaduras com cota de malha e no caso das mulheres, elas aparecem usando roupas justas, delineando suas formas, algo visto principalmente com Lagertha e Torvi (Georgia Hirst), as guerreiras de maior destaque na produção.

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Figura 6: A atriz Katheryn Winnick, vestida como Lagertha. Nota-se o uso de uma armaura estilizada e fictícia. 

 Além desse vestuário bélico impreciso, em algumas temporadas em que havia episódios durante o inverno, via-se homens e mulheres usando trajes comuns, como se não estivesse fazendo frio. Isso era mais comum com as mulheres, as quais os vestidos que usavam dentro de casa, eram o mesmo que usavam na rua. Além disso, temos cenas de homens sem camisa ou usando roupas de períodos quentes, durante os meses de frio.   O figurino dos anglo-saxões, francos e rus também não está isento de anacronismos e alterações deliberadas para efeitos estéticos. Por exemplo, a corte carolíngia apresenta uma pompa somente vista a partir do século XII, o que inclui o castelo cast elo onde vive o imperador Carlos, Simples. Sendo que no século IX, não havia castelos como aquele. Já a corte dos rus, também apresenta trajes bastante belos e luxuosos, de estilos não comuns a época. 

 

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Figura 7: O ator Danila Kozlovsky como o príncipe Oleg. Embora seu traje seja visualmente belo, mas para o século IX, os nobres rus usavam vestes de padrão liso e com mais cores. A adoção deste visual é proposital para apresentar a corte de Kiev como luxuosa. 

b)  Práticas religiosas  Outra condição em que estereótipos são bem fortes, além do visual dos personagens, se encontra em suas práticas religiosas. A chamada Religião Nórdica Antiga não possuía dogmas e doutrinas, e as menções aos seus ritos, crenças e práticas são sucintas não havendo muitos detalhes de como sacrifícios, cerimônias, ritos, consagrações, etc. eram realizados.   Entretanto, no seriado duas coisas chamam atenção: o visual sombrio dos sacerdotes, retratados como carecas e usando uma pesada maquiagem branca e preta, trajando longas túnicas; algo inspirado em filmes antigos sobre vikings e outros povos “bárbaros bárbaros””. Este visual aparece na primeira temporada e é mantido pelo restante da série. E essa maquiagem também foi compartilhada por outros personagens como Lagertha, Aslaug, Torvi e Ivar, os quais em algumas cerimônias aparecem com os rostos maquiados ou até lambujados com sangue. 

 

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Figura 8: O personagens Ivar, Sem-Ossos (Alex Hogh Andersen) e Freydis (Alicia Agneson) durante uma cerimônia na quinta temporada, onde Ivar é reconhecido como um deus. Além do visual sombrio do casal, nota-se que os sacerdotes atrás deles, trazem maquiagem similar. 

Já a segunda característica está presente no uso recorrente e excessivo excess ivo de sangue nos ritos. Em diferentes ritos, vemos sacerdotes usando sangue para benzer ou os personagens bebendo sangue, algo que invoca o estereótipo do viking bárbaro. E isso é tão marcante na série, que até mesmo em cerimônias de coroação, casamento, aliança e festivais, aparece o uso de sangue sa ngue como se fosse elemento comum, o que historicamente não era. Embora os vikings praticassem sacrifício s acrifício de animais e até de humanos, não significa que em todos seus ritos e cerimônias houvesse sangue. 

 

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Figura 9: Cena da terceira temporada, mostrando Lagertha passando sangue em seu queixo e garganta, durante o sacrifício de uma vaca. Atrás dela nota-se uma estátua de alguma divindade, com a face salpicada com sangue. 

Um terceiro aspecto diz respeito ao Vidente (John Kavanagh), o qual aparece em todas as temporadas. Ele é bastante lembrado por sua aparência sombria, com sua pele pálida, lábios roxos, ser cego e ter um rosto deformado. Nas sa sagas gas e Eddas geralmente a vidência era realizada por mulheres, as advinhas (völva  ( völva ). ). Todavia, para a série escolheu-se colocar um homem, e concedendo a ele o estereótipo de ser uma pessoa misteriosa e sinistra. Condição essa também baseada em produções cinematográficas, as quais costumam associar a adivinhação com a bruxaria ou a “magia negra” negra”. Na primeira temporada e segunda temporadas destaca-se o templo de Gamla Uppsala. O qual se conhece menções pontuais sobre ele, sendo uma das mais famosas, famos as, descritas pelo clérigo  Adam de Br Bremen, emen, que nunca visitou o lugar. Legando um relato impreciso e influenciado por outros referenciais. Apesar disso, na série a produção tomou alguns elementos da descrição de  Adam para retratar este templo, como a presença das es estátuas tátuas de Odin, Thor e Freyr, mesa de sacrifício, altares, árvores em volta com animais e pessoas enforcadas. E acrescentando-se algumas liberdades criativas para se pensar como seria o rito de sacrifício humano, que é retratado no seriado. Embora não haja descrições detalhadas sobre isso, sabe-se sabe-s e que os sacrifícios humanos poderiam em alguns casos serem voluntários, onde alguém se oferecia para o bem da comunidade.  Um quinto aspecto a ser tratado é quanto ao Cristianismo. Ao longo da série percebemos o embate dos vikings em adotar a nova fé ou manter-se fiel aos seus deuses. Em muitos casos a série tende a mostrar uma grande resistência a conversão e trata-la como se fosse algo apenas estrangeiro, onde os nórdicos somente tinham contato com essa religião ao visitarem a Inglaterra ou a França. Somente na temporada seis, há menção de que a Dinamarca estava sendo cristianizada. 

300 

De fato, a Dinamarca foi o primeiro reino nórdico a declarar o cristianismo como religião oficial. Todavia, missionários já frequentavam a Noruega e Suécia no século IX, período no qual a narrativa de Vikings, ocorre. Porém, por escolha de roteiro, este missionarismo foi removido destes territórios, dando a impressão de que o cristianismo não tivesse ainda chegado nestas terras. 

 

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Outro aspecto a ser mencionado, diz respeito ao Anjo da Morte (Karen Conell), sacerdotisa que aparece na sexta temporada, que é incumbida de sacrificar uma donzela de escudo para acompanhar sua mestra Lagertha. A ideia por trás dessa sacerdotisa sinistra e do sacrifício foi retirada diretamente do relato de Ahmed ibn Fadlan, que relatou no século X, ter encontrado vikings na região do Volga (hoje sul da Rússia), na ocasião ele testemunho o funeral de um chefe.  301 

Figura 10: A atriz Karen Conell caraterizad caraterizadaa como o Anjo da Morte, na sexta temporada da série.  

No caso, Hirst pegou vários elementos desse relato para criar sua versão sobre um sacrifício humano. Mas embora ele tenha se baseado numa fonte fo nte histórica, é preciso ter cautela, pois Ahmed desconhecia as práticas funerárias nórdicas, inclusive as considerando bárbaras e desrespeitosas. O próprio termo “anjo da morte” morte” foi dado por ele. Além disso, no seriado, a sacerdotisa visualmente lembra o aspecto de uma bruxa, novamente um estereótipo associado aos sacerdotes nórdicos e até de outros povos europeus, pois séries que retratam celtas e germânicos, tendem a seguir esse estereótipo também.   c) 

Ser viking 

 A partir da terceira temporada começou a se tornar mais habitual que os escandinavos se referissem como sendo vikings. Naquela época a palavra viking era usada para se referir a ocupação de pirataria, onde os homens se lançavam ao mar em busca de locais para serem saqueados. O problema é que não se sabe se s e o uso desse termo era e ra regular ou havia prerrogativas para ser usado. 

 

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Na série o termo viking é usado em alguns contextos como “povo povo””, no entanto, os anglosaxões se referiam a eles normalmente como daneses. daneses . Já os francos os chamavam de normandos. Os eslavos e bizantinos se s e referiam a eles como rus ou varegues. O emprego da palavra viking no sentido de povo é uma prática posterior.   Outro aspecto é que tanto homens quanto mulheres na série dizem ser vikings, aqui no sentido de serem guerreiros. No entanto, nem todo guerreiro necessariamente seria um viking,  já que eles não estariam indo praticar ações de pirataria. pirataria. Além disso, a palavra é até usada como elogio por alguns personagens. Por conotar uma espécie de “classe classe””. 

d)  Donzelas do escudo  Este é um tema que gera polêmica também. As donzelas de escudo (skjaldmö  (skjaldmö ) geralmente são citadas em sagas, mas não aparecendo em grupos, geralmente atuam sozinhas como Lagertha, Hervor e Brunilda. São menções breves sobre estas guerreiras, as quais dispomos. Além disso, salienta-se que o fato de serem donzelas, significava que eram virgens e solteiras. A própria Lagertha quando se casa com Ragnar, como relatado no Gesta Danorum , deixa de ser uma donzela de escudo. 

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Figura 11: Lagertha e suas donzelas do escudo em cena da quarta temporada. 

Todavia, na série, Hirst e a produção transformaram essas mulheres que aparecem em sagas, como sendo uma prática comum. Já na segunda temporada observa-se Lagertha acompanhada de sua guarda formada apenas por mulheres, algo que se torna recorrente nas

 

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temporadas seguintes. Isso levou a falsa ideia de que realmente haveria tropas femininas, embora que historicamente não haja comprovação disso. E até as crônicas históricas, escritas por anglosaxões e francos, também nada relatam a respeito de haver mulheres no campo de batalha.  e)  Bigamia  Na temporada 6, Bjorn e Haroldo Cabelo Belo casam-se com duas esposas e isso é aceito como hábito comum na trama da série. Historicamente não seria assim, pois a bigamia e poligamia eram ilegais entre os nórdicos. Um homem ou mulher poderia manter amantes, mas  jamais poderiam ter t er mais de um cônjuge. Logo, a série tomou liberdade em criar ess essaa condição que favorece uma subtrama dessa temporada, onde mostra-se a disputa de poder de uma das esposas contra a outra.  f) 

Rainhas governando sozinhas 

Na série temos o caso de Aslaug, Lagertha e Ingrid como governantes viúvas, as quais inclusive se negam a casar-se novamente para não terem que dividir o trono com seus novos maridos. E no caso de Aslaug, essa até mesmo negou-se passar o trono para um dos filhos, mesmo que pudesse agir como corregente. Já Lagertha cogitou oferecer o trono a Bjorn, mas este não estava interessado em governar no início.   Na História não se conhece relatos de que alguma rainha tenha feito isso nos reinos nórdicos, já que a política era um campo predominantemente masculino, e a sucessão real nem sempre era hereditária, havendo casos de complôs para se derrubar monarcas e assumir o trono.  Por tal viés, dificilmente mulheres governariam reinos sozinhas, pois elas seriam derrubadas imediatamente. Além disso, haja vista que as rainhas e esposas de jarl poderiam até ter tido algum grau de autoridade, mas respaldado por seus maridos ou filhos, não por elas mesmo.  O que se observa na série é uma escolha de empoderamento feminino para a construção

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do enredo. Em que personagens como Lagertha, Aslaug, Ingrid, mas também Astrid, Gisla, Judith e Freydis, todas são retratadas com algum grau de influência, manipulação e controle sobre seus maridos, filhos ou na sociedade. Algo recorrente ao longo da série.   g)  Homossexualismo 

 

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Esse é um tema pouco abordado na série, basicamente o único caso explícito mesmo foi a relação de Lagertha com Astrid (Josefin Asplund), cujo relacionamento ocorre entre as temporadas 4 e 5. Astrid que é uma das donzelas de escudo sob comando de Lagertha, apaixonase por sua senhora e ambas mantém um relacionamento público.   Historicamente isso dificilmente teria ocorrido, pois o homossexualismo entre os vikings era tabu. Nas sagas e Eddas , a homossexualidade era tratada como deboche. Inclusive fator de menosprezo. O próprio Loki ofende Odin e Bragi, fazendo insinuações sobre s obre sua masculinidade, pois Odin praticava seidr escondido, magia associada apenas as mulheres, e Bragi era considerado afeminado e covarde como uma mulher.   Homens que praticassem seidr também era algo mal visto. Já em leis posteriores a Era Viking, havia leis que proibiam comportamentos desviantes, em que homens não poderiam agir de forma afeminada e mulheres m ulheres não deveriam agir como homens. Sendo ass assim, im, naquela época e contexto, um homossexual e bissexual, teria que manter oculto sua orientação sexual para não sofrer represálias da sociedade, diferente do seriado, onde uma rainha mantém publicamente seu relacionamento com uma amante.  h)  Os Rus  Se os anacronismos entre os anglo-saxões e francos podem até passar despercebidos para espectadores menos familiarizado com aquelas culturas, não é o mesmo caso que ocorre com os rus. Mesmo o espectador que conheça pouco a respeito, notará certas estranhezas. A começar pelo fato que as cidades de Kiev e Novgorod aaparecem parecem na maioria das vezes durante um inverno pesado, um estereótipo associado com a Rússia. E o interessante que enquanto neva forte nestas cidades, nas cenas ocorridas na Noruega, no mesmo período, nem aparece neve. Um relapso da produção.  Os soldados do príncipe Oleg, usam trajes orientais, que lembram vestes dos tártaros e

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mongóis. Diferente da cota de malha, gibão e elmos de ferro. Sobre isso, tais guerreiros usariam trajes de forma bem parecida com outros eslavos, germânicos, nórdicos e francos.  

 

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Figura 12: Embora lembrem guerreiros mongóis ou tártaros, este é o visual dos guerreiros rus na série Vikings . 

Outro marco bem caricato desse núcleo, diz respeito ao passeio de balão que Ivar e Oleg realizam. A cena bastante exagerada serve de incremento para mostrar a megalomania do personagem de Oleg. Se os monarcas anglo-saxões e franco foram apresentados de forma mais comedida, o príncipe rus é o oposto disso. Ele é exagerado, temperamental, sarcástico.   Enquanto a cidade de Kiev é apresentada como uma urbe maior, densamente construída, povoada e cercada por muralhas, a cidade de Novgorod é retratada como uma vila, algo impreciso, pois Novgorod era uma importante cidade no norte europeu, tendo sido tão grande quanto a própria Kiev.  Outro aspecto a ser destacado deste núcleo da sexta temporada é o fervor religioso. Na História, Kiev somente se tornou cristã no final do século X, pois as tentativas anteriores não surtiram efeito imediato. Porém, na série, Oleg e os habitantes da cidade são bastante católicos, inclusive tem uma cena que um bispo vestido de Jesus Cristo, carrega uma cruz, enquanto se dirige a cidade para celebrar a Páscoa. E a população se ajoelha e começa orar para recebê-lo. Nem nos núcleos anglo-saxão e franco, os quais eram povos cristianizados a mais tempo, essa devoção é notada.  i) 

O sobrenome Lothbrok 

Em Vikings, a palavra Lothbrok ou Loðbrok é utilizada como sobrenome, condição essa que desde a primeira temporada há momentos que Rollo é chamado Rollo Lothbrok. Posteriormente, vemos isso com Bjorn e seus irmãos, que também são referidos como “os Lothbrok””.  Lothbrok

 

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No entanto há dois problemas quanto a isso: primeiro, Lothbrok é um epíteto, o qual significa “calças peludas” peludas”. De acordo com a narrativa encontrada no Gesta Danorum , Ragnar ganhou esse epíteto por ter lutado contra uma serpente gigante, como parte do desafio para poder se casar com Thora Borgarhjortr, que era filha de um rei. Para poder enfrentar a serpente s erpente que além de grande era venenosa, Ragnar usou calças peludas, as quais lhe protegeram as pernas das picadas do animal, permitindo que ele pudesse matá-lo. Por tal façanha, o epíteto lhe foi concedido e é retomado nas sagas e crônicas, as quais nem sempre explicam o motivo deste nome.  Segundo, os sobrenomes nórdicos até hoje normalmente são patronímicos, em que se utiliza o nome do pai somado aos a os sufixos son, sen, dóttir e daugther. Sendo assim, os sobrenomes de Bjorn, Ivar, Ubbe, Hvirstek e Sigurd deveria ser Ragnarson. Logo, na série, Michael Hirst tomou a liberdade literária de empregar Lothbrok como um nome de família.  j) Ritos fúnebres   Ao longo das temporadas encontramos representações de diferentes práticas funerárias, algumas precisas e outras alteradas para o drama. Na primeira temporada temos alguns guerreiros sepultados numa cova coletiva, com suas armas e escudos, e até acompanhado da cabeça de um cavalo. Em termos arqueológicos, túmulos assim foram achados. Além disso, a primeira temporada também retrata a prática da cremação, algo que realmente era realizado pelos nórdicos.  Entretanto, temos o caso do clássico navio pegando fogo, algo marcante no cinema, embora não se saiba se era uma prática tão comum, devido à falta de vestígios arqueológicos e relatos históricos. Apesar de que Ahmed ibn Fadlan descreveu uma cremação num navio. Na série, o uso dessa prática funerária é visto entre alguns poucos personagens, geralmente chefes ou governantes, como Aslaug e Lagertha.  Outra prática funerária interessante é o sepultamento de Helga (Maude Hirst), a esposa de Floki, que ocorre na quarta temporada. Nesta cena mostra-se a preocupação do marido ao cavar um túmulo, arrumar o corpo da esposa e sepultá-la com seus pertences, como um pente e

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uma faca. Nos túmulos escavados, realmente era hábito dos nórdicos inumarem seus mortos com seus pertences pessoais ou presentes. Quanto mais rico fosse a pessoa, maior quantidade de objetos haveria no túmulo, e até mesmo a inclusão de móveis, um barco, carroça, animais e escravos sacrificados. 

 

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O quarto exemplo funerário diz respeito ao uso de uma tumba. Os vikings fizeram uso de tumbas, que geralmente são montículos de terra e pedra, erguidos sobre os túmulos. Embora há casos de tumbas escavadas, que permitem entrar dentro dela, para se deixar oferendas aos mortos, além fazer orações. Na série, na sexta temporada, optou-se pela tumba construída, que permite o acesso interno. No entanto, a produção tomou suas liberdades criativas.   A tumba de Bjorn que é apresentada na sexta temporada, possuí uma forma abobadada, o personagem foi empalhado junto ao seu cavalo, prática inexistente na época, além de que no teto da tumba há pinturas retratando ele, o pai e outros guerreiros. Todavia, as tumbas nórdicas não possuíam pinturas, pois eram construções simples. Além disso, a tumba mostrada no seriado, possui desenhos que não condizem com o estilo da arte viking. Apesar dessas mudanças para a série, ainda assim, a trama apresenta uma prática realizada pelos vikings, o culto a memória dos mortos.

Figura 13: A tumba de Bjorn Flanco de Ferro na sexta temporada. Observa-se que ele e seu cavalo foram empalhados e as pinturas no teto, são de estilo fictício, não correspond correspondendo endo aos estilos da Era Viking.  

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j) 

O berserkr 

 

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Na quarta temporada, Bjorn Flanco de Ferro, enquanto retirou-se para reflexão na floresta, é confrontado em dois episódios por um urso. No entanto, não se tratava de um animal comum, mas de um berserkr transformado. Na série dois inimigos de Bjorn contratam um mercenário que é berserkr, o qual não tem nome, e este é enviado para assinar o primogênito de Ragnar. No entanto, após derrotar o urso, Bjorn descobre que ele era um berserkr. O personagem inclusive chama atenção também pela condição de praticamente não falar, e em dados momentos grunhir, como se fosse um brutamontes estereotipado.  Historicamente existem poucos relatos sobre os bersekir, os quais geralmente aparecem em sagas que mesclam acontecimentos reais e fictícios. Tais guerreiros são lembrados por serem possuídos por um furor animal, que os tornavam bastante furiosos e perigosos. Em diferentes narrativas os berserkir as vezes são tratados como párias, homens agressivos, descontrolados e perigosos, pois em algumas histórias estes guerreiros em um ataque de fúria, mataram parentes ou aliados. 

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Figura 14: O ator Robert Follin caracterizado como o berserkr na quarta temporada. 

 

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Embora a figura do bersekr seja hoje em dia considerada mais como uma invenção literária, pelo menos no quesito de seu visual, como um homem usando pele de urso, lutando com pouca roupa ou nu, e mordendo seu escudo, as sagas não relatam que tais guerreiros se transformassem em ursos, embora que a Saga de Hrolf Kraki , cite um berserkr  chamado Böđvar Bjarki o qual controla um urso e envia este para a batalha. Provavelmente a partir deste relato, Hirst teve a ideia para o seriado, na luta de Bjorn e o urso.   Considerações finais   Apesar das imprecisões hist históricas, óricas, anacronismos, decisões questionáveis no roteir roteiro, o, a série Vikings é um marco da teledramaturgia recente, pois graças a ela a temática viking se po popularizou pularizou bastante na televisão, pois antes disso não havia seriados do tipo, sendo televisionados. Mesmo as produções britânicas e suecas dos anos 1990 e 2000, eram praticamente desconhecidas fora de seus países. Dessa forma, Vikings  conseguiu  conseguiu atrair um público interessado na temática, abrindo caminho para outras séries como a adaptação das Crônicas Saxônicas , em Last Kingdom  (2015 (2015presente) e a série de comédia Vikingane  (2016-2020).  (2016-2020).  Mesmo que alguns leitores possam indagar que a influência foi pouca, pois somente duas séries sobre vikings surgiram desde 2013, o que não seria evidência para a popularidade do tema, porém, basta conferir as produções cinematográficas, onde se verá que entre 2013 e 2019, houve  vários filmes lançados sobre so bre esta temática, onde vários vá rios apresentam influências da série Vikings. No site do IMDb (Internet Movie Database) D atabase) uma rápida pesquisa pelo título contendo a palavra  viking, apresentará uma lista com várias produções a respeito.   Aqui destaca-se que Vikings Vikings influenciou influenciou não apenas a disputa por esse nicho temático, mas influenciou o vestuário, aparência, ambientação e tramas das produções cinematográficas, como também produções nas histórias em quadrinhos e nos videogames, como no caso do jogo  Assasssin’’s Creed: Valhalla (2020), o qual apresenta influências estéticas da série, visto no uso  Assasssin de tatuagens, vestimenta, presença de mulheres guerreiras, estilos de corte de cabelo, barba e tranças. 

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Sublinha-se também que devido a popularidade da série Vikings, em 2019, Michael Hirst anunciou uma nova série a respeito, intitulada Vikings: Valhalla, a qual se passará no século XI, abordando personagens históricos como Leif Ericson, Canuto, o Grande, Olavo II da Noruega, entre outros. O que mostra que mesmo após sete anos, o tema ainda não se esgotou e possui um público interessado por novas narrativas. 

 

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Bibliografia:  Fontes primárias:   ANGLO-saxon Chronicle. Chronicle. Translation Rev. James Ingram. London: Everyman Press Edition, 1912.  Volga. Tradução de Pedro Martins Criado. São Paulo: FADLAN, Ahmed ibn. Viagem ao Volga. Carambaia, 2018.  Danes, books I-IX. Edited by Hilda Ellis Davidson; GRAMMATICUS, Saxo. The history of Danes, translated by Peter Fisher. Woodbridge: D. S. Brewer, 1979.  KRAKÚMAL.. Disponível aqui.  KRAKÚMAL RAGNARS saga Lodbrokar. Lodbrokar. Translated by Chris Van Dyke. Colorado: Cascadian Publishing, 2003.  THE SAGA of Ragnar Lodbrok and his Sons. Sons. Disponível aqui. 

Fontes secundárias:   BELTRÁN, Laia San José. Análisis histórico de la serie vikingos de History Channel. In: MORENO, Manuel Espinar; DELGADO, Alberto Robles; SANTISTABAN, José Abellan (coords.). Los Vikingos en la Historia, Historia , 2. II Jornada de Cultura Vikinga. Granada: Universidad de Granada, 2015, p. 25-72.  Vikings. London: The Penguin Books, 1995.  HAYWOOD, John. Historical Atlas of Vikings. HEATH, Ian. The Vikings. Vikings. Illustrated by Angus McBride. M cBride. London: Osprey, 1985.  HOLMAN, Katherine. Historical dictionary of the vikings. vikings . Lanham: Scarecrow Press Inc, 2003. 

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KACANI, Ryan Hall. Ragnar Lothbrok and the semi-legendary history of Denmark. Denmark . Tesis (Undergraduate program in History) - Faculty of the School of Arts and Sciences of Brandeis University, 2015.  KEYNES, Simon. The Vikings in England, c. 790-1016. In: SAWYER, Peter (ed.). The Oxford Illustrated History of the Vikings. Vikings. New York: Oxford University Press, 1997. p. 48-82. 

 

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LANGER, Johnni (org.). Dicionário de história e cultura da Era Viking. Viking . São Paulo: Hedra, 2018.  Cinema. São Paulo: MACEDO, José Rivair; MONGELLI, Lênia Márcia. A Idade Média no Cinema.  Ateliê Editorial, 2009.  MCTURK, Rory. Studies in Ragnar s Saga Lodbrokar. Lodbrokar. Oxford: Society for the Study of Medieval Languages and Literature. 1991.  

NOTÍCIAS Asgardianas, Asgardianas, n. 10. Dossiê: Série Vikings. 2015.  OLIVEIRA, Leandro Vilar. O barco dos mortos: um estudo do rito de cremação dos  vikings. Caminhos Caminhos,, Goiânia, v. 18, n. 1, p. 202-219, jan./abr. 2020.  OLIVEIRA, Leandro Vilar; SILVA, Monicy Araujo. A fúria berserkr: a relação entre violência e religião no contexto da Religião Nórdica Antiga. Sacrilegens Sacrilegens,, Juiz de Fora, v. 17, n. 1, p. 276301, jan./jun 2020.  PUCHALSKA, Joanna Katarzyna. Vikings Television Series: When History and Myth Culture , Nr 15, v. 3, p. 89-105, 2015.  Intermingle. The Polish Journal of the Arts and Culture, WILLIAMS, Howard. Death’ Death’s Drama: mortuary practice in Vikings season 1-4. In: WILLS-EVE, Death. Sheffield: Equinox, 2019, p. 155– 155–182.  B; OSBORNE, J (eds.). The Public Archaeology of Death. WOLF, Kristen; MULLER-VOLLMER, Tristan. The Vikings: Vikings: facts and fictions. Santa Barbara:  ABC-Clio, 2018.

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OS VIKINGS EM SANTA CATARINA Johnni Langer Durante o século XIX a crença na suposta presença de navegadores nórdicos em terras brasileiras antes de Cabral era um consenso entre os acadêmicos. Mas um fato pouco conhecido na atualidade é a teoria de que eles estiveram no litoral catarinense, no qual recuperamos alguns elementos neste breve ensaio. Tudo teve início com narrativas sobre supostas inscrições que teriam sido encontradas na Ilha do Arvoredo, SC (ao noroeste de Florianópolis), durante o início do Oitocentos. Nesta época circulavam estórias sobre supostos “ Letreiros Letreiros”” , como eram conhecidas as manifestações visuais dos antigos indígenas (conhecidas em nossos dias como petróglifos ou gravuras rupestres). Embebidos em idéias eurocêntricas, tanto os moradores locais quanto os intelectuais da região não acreditavam que essas esculturas geométricas teriam sido realizadas pelos antigos habitantes da região, mas seriam  vestígios de povos "mais avançados" perdidos na bruma bruma dos tempos – no caso, navegantes europeus antes de Colombo e Cabral.

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Reprodução de "Inscrições do rochedo dos Arvoredos", de Jean-Baptiste Debret, 1834.   1834. Mergulhado neste referencial, o viajante e artista Jean-Baptiste Debret percorreu esta região e realizou um registro dos petróglifos indígenas da Ilha do Arvoredo,

 

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posteriormente inserido em sua obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil  (1834).  (1834). Nela, percebemos claramente que ele concede um referencial civilizatório aos vestígios, tomados como “inscrições inscrições””. No início do Oitocentos, diversos estudos deram fama ao referencial da epigrafia arqueológica – os hieróglifos egípcios foram traduzidos em 1822 por Champollion, lançando um modismo intelectual da busca por antigas e misteriosas escritas perdidas pelo mundo todo. E além disso, o caráter “ monumental monumental””   era algo recorrentemente buscado, tendo o painel da Ilha do Arvoredo todos estes elementos: era inóspito, localizado no mar, afastado das grandes cidades da época. Em 1839 os historiadores do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro  (IHGB)  (IHGB) iniciaram seus estudos na famosa Pedra da Gávea, RJ, que também supostamente conteria uma inscrição misteriosa. O bibliotecário e mineralogista do gabinete imperial, Rochus Schuch, enviou uma cópia das inscrições da Gávea, alegando que as mesas eram “ runas runas”” , portanto, teriam sido esculpidas pelos navegantes nórdicos durante a Idade Média. Schuch foi influenciado pelas publicações do escandinavista Carl Rafn, que em seu livro Antiquitates livro Antiquitates Americanae  (1837)  (1837) afirmava que os vikings estiveram na América do Norte (especialmente na região da Nova Inglaterra), tendo como base uma série de inscrições em rochedos. Os arqueólogos modernos confirmam que também se tratavam de gravuras esculpidas pelos indígenas locais, assim como os da Ilha do Arvoredo, mas para os referenciais da época eram provas concretas da passagem de navegadores europeus. Os acadêmicos do IHGB tomaram muito entusiasmo pelos escritos de Carl Rafn, tanto que acabaram traduzindo alguns de seus artigos na Revista do Instituto . Também o paleontólogo e correspondente do IHGB, Peter Lund, de origem dinamarquesa e que estava pesquisando em Minas Gerais durante essa época, acreditava que os nórdicos haviam visitado o litoral brasileiro durante o medievo. No final de 1839, o IHGB recebe uma carta de Florianópolis, aludindo às ditas

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inscrições da Ilha do Arvoredo, que poderiam ser de origem escandinava, confirmando as hipóteses dos pesquisadores cariocas. Imediatamente um sócio corresponde do Instituto, Falcão da Frota, é enviado para pesquisar o dito “letreiro letreiro””, o que acaba não acontecendo.

 

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Painel dos "Letreiros", Ilha do Arvoredo, SC.  SC.  Com o porvir dos anos 1840, as pesquisas arqueológicas do IHGB concentram-se na busca da cidade perdida da Bahia (hoje sabemos que foi uma localidade imaginária). E após a década de 1850, a hipótese viking acaba sendo transferida para o espaço amazônico, uma região ainda mais misteriosa e inacessível que nosso litoral. As ditas inscrições da Gávea acabaram caindo no ostracismo intelectual após o final do império (a geologia moderna confirma que são produtos de erosão) e os petróglifos da Ilha do  Arvoredo são hoje buscados pelos turistas e arqueólogos. Quanto a sua ligação com os  vikings, foi curta mas instigante, demonstrando que por diversas vezes a academia procurou criar uma origem gloriosa para a nação brasileira, afastando-se do seu  verdadeiro passado material. Mas pela p ela internet é possível verificar que a miragem dos  vikings no Brasil e América do Sul não é totalmente morta, sendo ainda buscada pelos diletantes e pesquisadores amadores. O sonho nunca termina, apenas transfere sua residência... Bibliografia: 

LANGER, Johnni. Os vikings no Brasil. Habitus  1   1 (Instituto Goiano de Pré-História e

 Antropologia), 2003, pp. 75-102. LANGER, Johnni. Vikings, cultura e região: o mito arqueológico nórdico dos Estados Unidos. Olho da História  n.  n. 18, 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/1858786 em: https://www.academia.edu/1858786

 

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LANGER, Johnni. Vikings na selva. Revista de História , 2012. Disponível em:  http://www.revistadehistoria.com.br/secao/quadrinhos/vikings-na-selva em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/quadrinhos/vikings-na-selva

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QUANDO OS VIKINGS FORAM CAVALEIROS MEDIEVAIS Johnni Langer Na história dos nórdicos na recepção artística moderna, um dos momentos mais interessantes é a sua associação com a cavalaria medieval, um fenômeno cultural que ocorreu durante o início do século XIX. Dentro do referencial em que a arte elaborou suas representações (num sentido militar: profissionais da cavalaria pesada; num sentido nobiliário: estritamente aristocrática e nobre), todo medievalista sabe que a cavalaria medieval possuem conotações associadas ao período que vai do século XII ao XV, tendo a França como epicentro sócio-cultural. Mas então, como teria surgido esse imaginário artístico

moderno? Em primeiro lugar temos que perceber que os artistas visuais e os escritores modernos não tinham contato com uma visão histórica da cavalaria medieval, ao contrário, eles consumiam obras medievais onde foram elaboradas as idealizações,

 

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fantasias e ideologias sobre a cavalaria. Especialmente as obras arturianas eram as preferidas, um mundo onde os cavaleiros medievais, acima de tudo, eram perfeitos modelos de virtude e comportamento, de paixão e aventura – é o que o historiador Jean Flori denomina de “mito da cavalaria” cavalaria” (2002, p. 196): a literatura medieval em língua  vulgar celebra e transforma a cavalaria em mitos, onde os personagens são heróis iideais, deais,  valentes, sábios, intrépidos, virtuosos. Um ideal cavaleiresco, profano e aambíguo mbíguo (p. 197). No contexto da segunda metade do século XVIII, a origem da retomada europeia da literatura medieval, os artistas buscavam b uscavam elementos para fugir ao Neoclassicismo que imperava nas artes em geral, mas também buscavam escapar do racionalismo iluminista que se impunha no momento. Logo, o período pré-romântico viu nascer um movimento que vai incendiar os intelectuais europeus. Ele vai buscar nos antigos mitos, epopeias e folclore, elementos que possam fornecer temas para uma arte contestadora do racionalismo (o sublime e a melancolia, que vão ser alguns dos temas preferidos do posterior Romantismo) e para fortalecer uma identidade nacional, que busca suas origens. Paralelamente temos alguns movimentos literários que caminham numa direção semelhante a esse movimento estético referido, como o Sturm und Drang na Alemanha.

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E em 1762 o poema Ossian  de  de James Macpherson torna-se uma febre na Europa, levando cada país a procurar suas próprias tradições mítico-folclóricas em particular, mas elevando o passado celta a um patamar absoluto – muitas obras posteriores vão confundir germânicos antigos com Celtas e nórdicos, seja na literatura ou nas artes visuais. Por

 

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exemplo, até final do século XIX os druidas serão o referencial estético de sacerdotes para todos estes povos antigos da Europa. A própria noção de “Norte Norte”” aqui precisa ser matizada – não se trata somente da Escandinávia, mas de todo o norte europeu que se mescla indiferentemente a um passado Celta e Germânico, tanto historicamente quanto linguisticamente. As fronteiras não são bem demarcadas, originando as “ confusões confusões””  deste período. Em 1755 inicia-se na Dinamarca o denominado Revival Nórdico (ou Renascimento Nórdico ) que vai ser muito influente na França e nos países de línguas germânicas em geral. As Sagas  e  e as Eddas passam a ser traduzidas, estudadas e recebem novas versões, mas mãos de jovens escritores empolgados. Mas como representar os antigos deuses e deusas? Como representar visualmente os antigos nórdicos? Não se conheciam nesta época as fontes visuais antigas e o estudo da cultura material do medievo era muito precário. Então, os pintores e escultores apelavam para a sua imaginação e os recursos que dispunham neste momento – e a cavalaria medieval filtrada pela literatura era uma excelente opção.  Acompanhar todos os estereótipos criados em torno dos nórdicos e suas conexões é complexo. Elaboramos uma tabela com dez estereótipos positivos e negativos sobre os

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 vikings (a ser publicada na próxima edição da revista  revista Scandia :   A invenção romântica do Viking”” ), que vão do medievo até o século XX, destacando os seguintes elementos: Viking  Aventura, Comportamento, Sociedade, Equipamentos, Guerra, Nacionalismo, Origem nacional, Abdução, Mulher nórdica, Ambiente e Comportamento. O que nos interessa

 

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diretamente aquí, a construção do Viking como um cavaleiro medieval, tem relação como o último elemento: o comportamento. O estereótipo primeiramente teve inicio na França: “Tout ce que nous appelons esprit chevaleresque, nous le devons aux Scandinaves” Scandinaves ”   (Cherade-Montbron, 1801, p. 266).* Em 1825 o escritor sueco Esaias Tégner publicava a sua versão de Frithiof  , onde 266).* o herói protagonista possui diversos elementos de um cavaleiro medieval. No mesmo ano, na França criou-se a idéia de que foi no Norte europeu que teria nascido a cavalaria: “Ce qui prouve d ´ une manière incontestable que la chevalerie est est venue du Nord ” . (Lerebours, 1825, p. 176). A partir daí, varios outros intelectuais franceses continuaram a defender essa noção: “Oi aime à reconnaître que l´esprit de galanterie des Européens modernes est un héritage des Scandinaves, et que l´odinisme a été le berceau de la chevalerie” chevalerie ” (SaintGenies, 1824, p. XII) “Il faut savoir que la Scandinavie, d´où sont sortis les Normands, est le véritable berceau de la chevalerie” chevalerie” (Hagberg, 1835, p. 245). “L´Europe Méridionale et occidentale n´avait pas l´esprit de chevalerie avant l´ invasion gothique et germanique” germanique” (Gräber, 1838, p. 85).

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Desta maneira, o nórdico/normando torna-se não somente um herói do romantismo, mas também um modelo de virtude e bom comportamento dos tempos passados: “ On a pu voir qu´il y avait dans les moeurs scandinaves, toutes rudes et

 

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barbares qu´ elles étaient, étaient, quelque ch chose ose de chevaleresque; chevaleresque; pour l ´ exaltation de la bravoure, l´avidité de la glorie, la fraternité des armes, l´amour du beau sexe, le goût de la poésie héroique, enfin pour toutes les passions fortes, ils étaient chevaliers chevaliers””. (Depping, 1826, p. 367) Mesmo para os leitores de sagas islandesas, essas características cavalheirescas parecem dominar as antigas ações dos nórdicos, onde o espírito de galenteria estaría atrelado aos valores de conduta, fraternidade, respeito pelas mulheres e o apreço pelo  Até mesmo o duelo (hólmganga ) é visto a partir de uma nostalgia combate honroso.** honroso.** Até de uma Idade Média dos torneios. Nem mesmo o famoso filósofo e poeta, Arthur de Gobineau, escapou a essa irressistivel visão: “(…) Rollon et sa bande hardie (… (…) De marins qu´ils étaient devinrent chevaliers” chevaliers” (Gobineau, 1838, p. 165). Não se trata aqui de interpretações fiéis aos textos medievais med ievais nórdicos, claro, mas de filtragens que iam de encontro à recepção daquele momento. E nada poderia exemplificar melhor do que as artes visuais. Nesse caso, tudo começou em 1826.

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Frithiof dreper to troll på havet  (Frithiof  (Frithiof matando dois trolls no mar), pintura de Carl Peter Lehmann, 1826, óleo sobre tela, 86 x 115 cm, acervo do KODE (Museu de  Artes de Bergen, Noruega). 321 

Quase tudo nesta pintura de Carl Lehmann é fantástico. Não se conheciam muito bem as embarcações nórdicas, por isso o barco de Frithiof mantém quatro mastros e velas latinas e a proa contém uma especie de esporão. O herói está de armadura completa –  apesar dos cavaleiros medievais começarem a utilizar armaduras completas somente a partir do século XIV (e seu uso foi extensivo até o século XVII) - o imaginario artístico generalizou sua utilização para todo o medievo. Frithiof se mantém altivo e viril na proa da embarcação, destacando seu papel de herói e guerreiro.

 

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Ilustrações de Hugo Hamilton, Teckningar ur Skandinaviens Äldre Historia . Stockholm: Gjöthström & Magnusson, 1830. Nestas duas imagens de Hugo Hamilton representando o mundo nórdico da Era Viking, percebemos o uso da espada longa tardo medieval e a armadura completa. Mas um detalhe salta aos olhos: o segundo cavaleiro porta um elmo com asas, que posteriormente vai tornar-se uma imagem icônica associada aos Vikings (os chifres surgem apenas depois de 1890), no qual elaboramos três teorias de origem iconográfica paralelas ou consecutivas (a serem detalhadas no estudo: “Barbarian warriors, romantic heroes: the visual invention of the Vikings through Western art, 1831-1910” 1831-1910”).

 

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Ilusrações de Johan Holmbergsson para a quinta edição da Frithiof saga , de Esaias Tégner. Stockholm: Tryckt Hos PA Norstedt & Soner, 1831. Nas ilustrações de Johan Holmbergsson percebemos a elaboração visual definitiva do nórdico como cavaleiro medieval: ele se destaca pelo porte de uma armadura majestosa e brilhante: na primeira imagem, ele dialoga com um guerreiro e na segunda, com uma donzela. O seu elmo alado o destaca como líder e somente Frithiof porta-o como equipamento. Ele se impõe pelos gestos e comportamentos: honrado, nobre,  valente. Ele não se destaca somente por ser um audacioso guerreiro, mas de ser um homem que tem amor pelas damas e suas virtudes na corte (como os cavaleiros corteses no medievo, Flori, 2005, p. 158-163).  A partir dos anos 1830 as representações visuais dos Vikings na Europa abandonam paulatinamente o referencial do cavaleiro medieval, permanecendo apenas o elmo com asas. As vestimentas e os equipamentos tornam-se cada vez mais nórdicos. Mas do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, essa representação vai sobreviver até o século vinte. Em 1832 foi descoberto nos EUA um esqueleto junto a uma suposta armadura, inaugurando o mito nórdico naquele país (detalhes foram abordados em nosso estudo

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anterior: Langer, 2012). 2012). Alguns anos depois, em 1841, o escritor Henry Wadsworth Longfellow publicou o poema “The Skeleton in Armor ”, influenciado pela descoberta. Neste poema, foi mencionado pela primeira vez o termo Viking no continente

 

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amerricano, mas as primeiras imagens associando essa narrativa com a idealização da cavalaria medieval ocorreram somente em 1856.

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Ilustração de John Gilbert para a edição inglesa do poema po ema The Skeleton in Armour , de Longfellow. Londres: George Routledge & Co., 1856. Na imagem de John Gilbert percebemos a arte vitoriana em seu esplendor: O esqueleto dentro da armadura permanece de pé, p é, impassível e olhando e apontando a sua mão para o espectador, onde um manto e uma longa espada criam uma atmosfera misteriosa e romântica.

 

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 Alice M.A. Baumgartner, The Skeleton in Armour , aquarela, 1870-1890, coleção particular. No final do Oitocentos, a artista norte-americana Alice Baumgartner recria a imagen de John Gilbert, dando vida ao personagem de Longfellow. Vários outros ilustradores, já no século XX, vão prosseguir com a representação do Viking como um cavaleiro medieval, mas também os escritores, a exemplo de Louis de Saint-Pierre: “Le chevalier – cette réincarnation chrétienne du Viking” Viking” (Saint-Pierre, 1949, p. 9). Os Vikings ainda são extremamente interessantes tanto para os escandinavistas quanto para os medievalistas e historiadores da arte perceberem que o tema da recepção ***   Esperamos que no futuro outros é repleto de possibilidades investigativas. investigativas.*** pesquisadores abordem esse tema da fusão entre o Viking e o cavaleiro medieval, tanto

na literatura quanto na arte e mídia em geral.

 

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*Nota Nota:: comprovando a recepção do ideal cavaleresco medieval na França nesta mesma época, Napoleão Bonaparte criou em 1802 a Legião da Honra (Le Goff, 2009, p. 124). **Nota: O historiador Dominique Barthélemy comenta que a literatura cavaleiresca em francês do século XII poderia ter sido uma forma de canalizar e moralizar a brutalidade da cavalaria “real real””  (2010, p. 460). Questionamos: a recepção francesa no inicio do Oitocentos – ao fundir a imagem do cavaleiro medieval com a do Viking/Normando – não estaría também tentando “civilizar civilizar””  ou “moralizar moralizar”” a anterior imagem barbárica e brutal dos nórdicos, comum entre alguns escritores no final do Setecentos? ***Nota:: O quadrinho Príncipe Valente  de ***Nota  de Hall Foster (1937) pode conter alguns dos últimos ecos destas fusão: na narrativa, o personagem principal é descendente de Vikings da Noruega e se torna um dos cavaleiros do rei Arthur em Camelot (em plena  Alta Idade Média). Agradecimentos:: Agradecimentos Kesia Eidesen (KODE Art Museums and Composer Homes), pelo envio de informações. Luciana de Campos (NEVE) por esclarecer algumas dúvidas sobre a língua

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francesa.

 

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Bibliografía:   Bibliografía: Fontes primárias:   GOBINEAU, Arthur de. Manfrédine , 1838 (poema inacabado). In: AMBRI, Paola Berselli. Poemi inediti di Arthur de Gobineau . Firenze: Lee S. Olschki, 1965. HAGBERG, Charles-Auguste. Mémoires de la littérature en Suède. Journal de l'Institut historique , tome troisième, deuxième année, Paris, 1835, pp. 240-247. 240 -247. CHERADE-MONTBRON, Joseph. Les Scandinaves : poème traduit du swéo-gothique; suivi d'observations sur les moeurs et la religion r eligion des anciens peuples de l'Europe barbare. Paris: An IX, 1801. DEPING, D.P. Histoire des expéditions maritimes des Normands, et de leur établissement en France au dixième siècle . París: Didier, 1826. GRÄBER DE HEMSÖ, J. La Scandinavie vengée de l´accusation d´avoir produit les  peuples barbares qui détruisirent l´Empire de Rome . Lyon: J.B. Kindelem, 1822. LEREBOURS, Pierre Victor. Harald ou les Scandinaves . Paris: Barba, 1825. MARMIER, Xavier. Langue et littérature islandaises : Histoire de l'Islande depuis sa découverte jusqu'à nos jours. Paris: A. Bertrand, 1838.

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SAINT-GENES, L. de. Balder, fils d'Odin : poëme scandinave en six chants; suivi de notes sur l'histoire, la religion et les moeurs des nations celtiques. Paris: L'Editeur, 1824. SAINT-PIERRE, L. de. Rollon devant l´Histoire . Paris: Peyronnet, 1949.

 

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Fontes secundárias:   BARTHÉLEMY, Dominique. A Dominique. A cavalaria : da Germânia antiga à França do século XII. Campins: Editora da Unicamp, 2010. BOYER, Régis. Les Vikings : idées reçues. Paris: Le Cavalier Bleu, 2002. BOYER, Régis. Le mythe viking dans les letres françaises . Paris: Editions du Porte Glaive, 1986.

FLORI, Jean. A Jean.  A cavalaria : a origen dos nobres guerreiros da Idade Média. São Paulo: Madras, 2005. FLORI, Jean. Cavalaria. In: LE GOFF & SCHMITT (Org.). Dicionário temático do Ocidente Medieval . São Paulo: Edusc, 2002, pp. 185-200. LANGER, Johnni. Vikings,cultura e região: o mito arqueológico nórdico dos Estados Unidos, OLHO DAHISTÓRIA (UFBA) N. 18, 2012. LE GOFF, Jacques. Heróis Jacques. Heróis e maravilhas da Idade Média . Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

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Ferdinand Leeke, A Leeke, A valquíria , pintura em óleo, s.d.

O PINTOR ALEMÃO QUE POPULARIZOU WAGNER E OS VIKINGS Johnni Langer Hoje, dia 7 de abril de 2020, completam-se 161 anos do nascimento de Ferdinand Leeke,, o genial pintor responsável por popularizar as óperas de Richard Wagner, além Leeke de executar várias obras que também disseminaram muito o imaginário sobre a mitologia germânica e os Vikings.

Leeke nasceu em Burg (Magdeburgo) em 1859 e morreu em Nurembergue em 1937. Estudou na Academia de Belas Artes de Munique. Em 1889-1898 ele foi comissionado por Siegfried Wagner (filho do famoso compositor) para realizar dez pinturas sobre o  Anel do Nibelungo . As obras foram reproduzidas pelo então

 

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revolucionário processo de reprodução fotográfica fo tográfica de Franz Hanfstaengel, gerando uma grande popularidade destas imagens até o início do século XX. Lembramos que os libretos de óperas durante o Oitocentos não continham imagens, algo que só veio a ocorrer (no caso wagneriano) com o ilustrador Arthur Rackham em 1910 191 0 (na Inglaterra). Leeke se torna o artista alemão mais famoso vinculado à representações visuais do ciclo nibelungiano, levando em 2016 o Museu Richard Wagner (Bayreuth, Alemanha, a “meca meca”” dos wagnerianos) a realizar uma grande exposição sobre suas obras.  Além das óperas wagnerianas, as pinturas pinturas de Leeke tiveram como tema a Mitologia Germânica, o folclore e a História da Alemanha, a literatura arturiana, a Mitologia clássica, temas e mitos medievais, o cotidiano e a vida dos germanos antigos e também cenas relacionadas aos Vikings. Primeiramente, comentaremos de forma breve algumas obras envolvendo o Anel do Nibelungo e depois suas telas com temática nórdica.

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Wotan e Brunhilde , 1889 a 1898;

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Siegfried e Fafnir , 1889 a 1898;

Valquírias , 1889 a 1898.

 

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 As pinturas de Leeke reproduzem um visual criado primeiramente por Carl Emil Doepler ainda nas primeiras apresentações das d as óperas de Wagner do ciclo nibelungiano, nos anos 1870: elmos com grandes asas laterais, escudos de metal, placas de armadura e detalhes anelares (influenciados pelas descobertas de objetos da Idade do Bronze, mesclados fantasiosamente com o período da Idade do Ferro). Tanto os elmos com asas (surgidos na arte escandinava em 1830) quanto o elmo com chifres (surgido na arte alemão em 1852) sugeriam uma liderança de alguns heróis germano-escandinavos (como Frithiof ou Arminius) quanto do poder de deuses (como Tyr). Mas na obra wagneriana, eles são genericamente incorporados aos deuses e valquírias. O tema das guerreiras ocupa uma posição central na obra de Leeke: ele executou várias pinturas de Wotan  junto a Brunhilde, com fortes cores e intensa intensa tragicidade romântica. Outro tema também muito retratado por este artista é Siegfried, geralmente opondo-se ao dragão, com  vestimentas grosseiras e em ambiente primitivo (uma ideia geralmente associada aos germanos antigos), expressando o poder ancestral dos tempos passados.

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Uma invasão viking, 1908 (pintura a óleo).  A pintura pintura mais mais famosa de Leeke Leeke retratando retratando vikings. A eexemplo xemplo de diversas iimagens magens depois dos anos 1880, a embarcação nórdica possui detalhes bem fidedignos, devido à descoberta do navio Gokstad em 1880 e de Oseberg em 1903. Os nórdicos aqui foram representados nas formas clássicas dos estereótipos relacionados aos Vikings no Oitocentos (em sua forma negativa): piratas predadores, queimando, roubando e estuprando. O detalhe da abdução/estupro é o mais relevante: três mulheres são capturadas e uma delas aparece em primeiro plano. O estereótipo fantasioso do estupro (ver Langer, 2017a) foi popularizado anteriormente na arte pelo francês Évariste Vital Luminais em seu famoso quadro Pirates Normandes   (1894). Outro detalhe muito

interessante de observar neste quadro é a ausência de asas ou chifres laterais nos elmos (algo que Leeke havia inserido em suas pinturas nibelungianas). Neste caso, o pintor preferiu seguir a tendência dos pintores escandinavos em geral, que dos anos 1850 a 1900

 

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seguiram esta tendência de elmos sem protuberâncias, ficando para os pintores ingleses e norte-americanos a continuidade do famoso estereótipo dos chifres.

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Vikings saqueando , 1911. Nesta pintura, menos conhecida e reproduzida que a anterior, Leeke retorna ao tema dos nórdicos saqueando e abduzindo mulheres – novamente, com cabelos escuros e vestimentas brancas, destacando-as na tela. Também a embarcação volta a ser um dos elementos principais da pintura.

 

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Germanos bebendo debaixo de um carvalho , 1920.

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Germanos (Vikings?) jogando dados , 1925. Ferdinand Leek também realizou várias pinturas retratando cenas cotidianas dos antigos germanos, especialmente bebendo cornos de hidromel (ou cerveja) abaixo de carvalhos. Como em suas representações de Siegfried, os germanos são retratados com  vestimentas grosseiras e peles animais –   sugerindo uma idéia de primitivismo, mas também, de um povo festivo e idílico – sugerindo uma conexão com os tempos modernos da Alemanha. Uma curiosidade é que esta última pintura, em sites alemães especializados em arte, ela tanto é denominada como sendo de germanos (Germanen beim Würfelspiel) quando de Vikings (Ein Wikinger Spiel). Não conseguimos saber qual realmente é o título original, mas em todo caso indica que a tela pode ter sofrido alguma

influência do pangermanismo oitocentista –   onde as fronteiras culturais entre os germanos antigos e os Vikings eram muito tênues, sobrevivente na época em que a

 

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pintura foi realizada ou após a morte de Leeke, pelos sites especializados. Um tema para futuros pesquisadores em recepção nórdica na arte. Bibliografia:   CÓRDOBA, Daniel Salinas. Vikings nas artes plásticas. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017. LANGER, Johnni. Estupro. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017a. LANGER, Johnni. Viking. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017b.

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Manifestaçãoo "Unite the Right" de 2017, cidade de Charlottesville, Virgínia, Estados Unidos   Manifestaçã

VIKINGS, SUPREMACISTAS E SÍMBOLOS NÓRDICOS

Pablo Gomes de Miranda Susan Tsugami

Na terça-feira do dia 6 de janeiro de 2021, o mundo teve a oportunidade de assistir à invasão do Capitólio, em Washington, Estados Unidos, por apoiadores do expresidente norte-americano Donald Trump em reação aos resultados das eleições que

deram vitória ao candidato Democrata Joe Biden. Convocados a se manifestar pelas redes sociais, compareceram e invadiram o complexo uma massa heterogênea de apoiadores que em comum, além da crença de que o processo eleitoral havia, de alguma maneira, sido viciado, entregando a vitória ao candidato errado, a crença em um conjunto co njunto

 

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de teorias conspiracionistas formada em fóruns de internet e que hoje são conhecidas como QAnon. Entre os indivíduos que invadiram o Capitólio dos Estados Unidos, e que tiveram as suas imagens veiculadas, seja pelos veículos de imprensa presentes, seja pelos próprios própr ios participantes, ao menos um se destacou internacionalmente pelo conjunto de  vestimentas, ornamentos e símbolos ostentados: utilizando um cocar Sioux e com a bandeira americana pintada na face, Jake Angeli, pseudônimo de Jacob Anthony Angeli Chansey, partidário conspiratório QAnon, logo chamou a atenção, com a sua imagem estampando as matérias de diversos meios de comunicação que no ato ainda gravavam a invasão, ou a própria turba que veiculava suas imagens nas redes sociais. No Brasil, a pecha de viking foi reproduzida pelos portais de notícias que se dedicaram a comentar o episódio da invasão do Capitólio, ou por quem buscasse esclarecer a estranha figura do conspiracionista QAnon. A BBC Brasil lançou uma matéria com o título ‘Tribalismo Masculino’ Masculino’: a seita violenta ligada ao ‘ viking’  viking’ em invasão ao Congresso dos EUA, no dia 7 de janeiro; a ISTO É relatou a prisão de Jake na matéria com título em letras garrafais “ Apoiador de Trump que Invadiu Capitólio Fantasiado Fantasiado de Viking é Preso” Preso”; em uma coluna para o Época, encontramos os comentários com o título

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 As Ideias Extravagantes do Viking do Capitólio, no dia 13 de janeiro. Claro, esses são exemplos rápidos e de modo algum nada exaustivos, mas são exemplos de como um traje que nada há de viking acabou ainda assim sendo veiculado como parte da identidade desse invasor.

 

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É necessário lembrar que alguns laboratórios de estudos medievais no Brasil, principalmente aqueles preocupados com a recepção do medievo, realizaram suas análises e comentários em torno dessa figura, justamente pelo termo viking e aproveitando a onda de apropriações do imaginário medieval por indivíduos que se posicionam no espectro político à direita ou extrema direita, como foi o caso picaresco de um vídeo produzido pelo instituto “Lux Brasil” Brasil” onde um tosco cavaleiro templário convoca os correligionários do atual presidente a se manifestar.  A crítica é pertinente, mas Jake Angeli representa um fenômeno abrangente, abr angente, que é a do cerceamento também de símbolos religiosos considerados primitivos. Após suas próprias entrevistas, os veículos de imprensa o tratam como Xamã (ou o Xamã de

QAnon), seja pelo seu cocar Sioux, seja pelo alegado consumo de substâncias psicotrópicas, ou supostos poderes místicos. Contudo, é inegável que as suas tatuagens façam referência a elementos da mitologia escandinava. Que tatuagens são essas? Jake  Angeli traz no torso um um Valknut, Valknut, uma representação da Yggdrasill e o que parece ser um um

 

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Mjöllnir. O que cada uma dessas tatuagens representa dentro do que sabemos da simbologia escandinava pré-cristã? O Valknut, ou o nó dos mortos, é uma denominação moderna para os três triângulos unidos possui uma ligação com o cosmos e com o destino dos homens, um símbolo muito provavelmente ligado ao culto odínico e cuja forma também era encontrada em diversos contextos materiais, incluindo o nós em cabelos de mulheres, em ornamentos de pedra e amuletos pessoais: Segundo alguns pesquisadores, o significado desta imagem religiosa seria o de ligamento ou conexão entre as deidades, o cosmos e o destino humano, de modo semelhante ao Herfjoturr, a paralisia de guerra - um tipo de magia onde o guerreiro por influência de Odin, não poderia se mexer durante a batalha. Assim, o valknut simbolizaria o destino inevitável que existe entre o deus supremo e cada indivíduo: “um símbolo do poder que o deus tem de atar e desatar” desatar ” (LANGER, 2015b, p. 538).  A Yggdrasill, logo abaixo, é também um símbolo de extrema importância para as narrativas míticas escandinavas, representando uma árvore que conecta todos os mundos, e é um elemento presente em cultos ao redor do templo de Uppsala, como descrito por  Adão de Bremen, na Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Pontificum, sendo também

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descrita em fontes islandesas medievais, como um fundamental pilar cósmico:

 

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O Freixo-mundo se encontra somente em fontes literárias islandesas, porém tem origem em um material mais antigo, além da Islândia (a ilha não tem freixos, o que faz supor que não foi uma criação local). Tem sido conectada ao culto arbóreo antigo pelos escandinavos, como aparece na descrição da árvore ao redor do templo de Uppsala de  Adam de Bremen (em sua Gesta Hammaburgensis Ecclesiae Ecclesiae Pontificum, IV, 1073-1076). Na dita árvore se ofereciam como sacrifício as pessoas que eram executadas por enforcamento. Além disso, as decorações das paredes da igreja de Sogne, na Noruega, tem sido interpretadas como representações de Yggdrasill sendo comida por Níðhöggr e serpentes. Ilustrações similares se encontram no manuscrito AM 738 4to de 1680. (POILVEZ, 2015, p. 568). Por sua vez, o que parece ser um Mjöllnir, ou o martelo do deus Thor, um pouco mais estilizado, também aparece tatuado no corpo de Jake Angeli. O Mjöllnir é talvez um dos símbolos religiosos mais antigos da Escandinávia e que possui diversas variações regionais, sendo utilizado principalmente em ritos guerreiros ou como pingentes pessoais: “ O martelo deve ter sido uma variação do machado, símbolo do raio na Escandinávia. Várias representações rupestres do Neolítico e idade do Bronze mostram

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guerreiros portando machados cerimoniais. Não há registros de martelos sendo utilizados em batalhas durante a Era Viking, o que nos leva a acreditar que as achas continuaram a ser conectadas ao culto de Thor - exemplo é a famosa Lâmina de Mamen decorada com um rosto barbudo - e pingentes de machado ao lado de pequenos martelos

 

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(como no colar votivo de Birka). Na estatueta islandesa de Akureyri, datada do ano mil, uma figura masculina segura um machado, cujo cabo se funde na sua barba, demonstrando não somente que a barba e o martelo eram símbolos fálicos, mas que o culto a Thor pode ter ligação com sacerdotes barbudos ou a barba como elemento fundamental da masculinidade. Outras conexões relacionam Thor com o xamanismo, os ferreiros e os cultos de guerreiros, como em Horagales, na área lapônica, cujos tambor tambores es mostravam uma figura masculina com um martelo ou suástica, altamente relacionado aos cultos xamânicos. Desta maneira, não há como desvincular o mjöllnir de ser tanto um objeto heróico, como mágico e protetor” protetor ” ( LANGER, 2015a, pp. 302 e 303)  Apesar das discussões sobre esse conjunto simbólico revelarem uma profunda conexão espiritual e ritualística, consoante com as narrativas míticas entre os escandinavos, é preciso questionar até que ponto figuras como Jake Angeli realmente traça alguma reflexão sobre esses valores. Os desenhos dessas tatuagens são facilmente encontrados em uma pesquisa rápida utilizando instrumentos de busca na internet e podem ter sido escolhidas apenas por representar superficialmente um ideal de espiritualidade primitiva como uma alternativa de despertar religioso. Em qual momento isso pode ter sido captado por um viés político extremista? A relação entre Paganismo

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Contemporâneo e grupos supremacistas tem sido uma temática demasiadamente discutida nos estudos acadêmicos sobre Paganismo Contemporâneo, em especial, as  vertentes nórdicas, a exemplo do Odinismo, Wotanismo, Ásatrú, Forn Seidr.

 

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Diversos autores, como Stefanie S tefanie Von Schnurbein, Jeffrey Kaplan, Mattias Gardell, dentre outros, trazem, em suas pesquisas, olhares que proporcionam uma compreensão panorâmica a respeito da complexidade que se manifesta na relação entre o Paganismo Nórdico Contemporâneo e as ideias supremacistas. Torna-se importante ressaltar que a comunidade Pagã Contemporânea, em âmbito global, também expressa suas opiniões a respeito do assunto. Para muitos grupos, ideias racistas e supremacistas não fazem parte do contexto religioso, concluindo que os grupos supremacistas se apropriam dos símbolos e mitos pagãos de forma distorcida, com a intenção de justificarem seus discursos. No entanto, apesar de inúmeros grupos ou praticantes solitários se manifestarem

contra as ideias supremacistas, os adeptos estão sujeitos a refletir e a manifestar suas próprias interpretações religiosas e suas posições políticas. Kaplan (2016) compreende que, com as intenções de aproximação e reconstrução cultural daquilo que os grupos  julgam como a forma mais substancial de vivenciar as tradições religiosas – a exemplo

 

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das tradições nórdicas – , suas ideais muitas vezes se convergem e se consubstanciam enquanto compreensões radicais, como ocorre com muitos grupos Odinistas e outros tantos grupos que se identificam com ideologias supremacistas. Diante de discursos romantizados e imaginários a respeito dos povos nórdicos, muitos grupos supremacistas demonstram orgulho sincero pelo patrimônio cultural e étnico dos povos germânicos e nórdicos, entretanto, manifestam suas crenças de modo a construir uma linha muito tênue que separa o orgulho étnico do misticismo racial. No contexto estadunidense, a relação do Paganismo Contemporâneo com as ideias supremacistas emergiu e se fortaleceu durante a década de 90. Gardell (2003) explica que o “paganismo racista” racista” ganhou espaço e chamou atenção da nova geração, geraçã o, tornandose, na época, uma tendência em grupos radicais. Diversos símbolos esotéricos, assim como os símbolos nórdicos, runas, imagens dos deuses e deusas, são utilizados e mencionados como forma de manifestação dessas ideologias, podendo ser encontrados em blogs, redes sociais e letras de música relacionadas ao white-power. Com o objetivo de criar e recriar suas concepções sobre etnia e interpretações históricas, os grupos supremacistas utilizam-se do paganismo, do misticismo e do esoterismo. No entanto, as ideias e interpretações realizadas pelos grupos, de forma consciente ou não, possuem

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influências do Romantismo Nacionalista. Em sua pesquisa, Schnurbein (2016) constatou que os discursos apresentados pelos grupos Pagãos Nórdicos Contemporâneos com ideias supremacistas possuem influências de ideias oriundas de Johann Gottfried von Herder (1744-1803), um dos fundadores do

 

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nacionalismo germânico. O filósofo argumentou que a nacionalidade era um produto dos fatores climáticos, geográficos e linguísticos. Com isso, surgiram interpretações da existência de uma “cultura orgânica” orgânica”, ideias que são frequentemente utilizadas como  justificativas para justificar as concepções ideológicas de muitos grupos que possuem ideias extremistas. Essas influências podem ser encontradas nas concepções religiosas e/ou ideológicas de muitos grupos ao redor do mundo. Ainda que haja diferenças entre os países, proporcionadas pelas suas peculiaridades e por seus contextos, a pesquisa realizada por Tsugami (2019) constatou que alguns vieses problemáticos relacionados às ideias supremacistas também foram identificadas no cenário brasileiro, no qual se observam, por exemplo, ideias sobre “raça raça””, ancestralidade e justificativas do sentido de pertencimento cultural. Os processos de identificação com a cultura nórdica muitas vezes são apresentados de forma confusa; acredita-se que um dos fatores que influenciam esse processo está no fato de que, diante do mundo globalizado, as ideias sobre pertencimento cultural se tornam um fenômeno cada vez mais complexo e paradoxal. Segundo Gardell (2003), isso ocorre, porque o mundo contemporâneo permite facilidades de acesso a outras culturas, através do turismo ou o uso da internet, o que viabiliza, cada vez mais, que as pessoas se

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identifiquem e se sintam pertencentes a outros lugares e outras culturas. Gardell (2003) ressalta que, diante da globalização, as compreensões com preensões sobre “nação nação””  passaram a ser definidas por meio de um processo imaginário, assim, as interpretações sobre uma “nação imaginada” imaginada”  produzem novas interpretações sobre a mitologia e as

 

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sociedades antigas, trazendo, para esse imaginário, compreensões de um tempo lendário que não era “contaminado contaminado”” pelos males do mundo moderno. Com isso, as respectivas concepções imaginárias sobre os povos “ arianos arianos””   e os discursos de “ pureza pureza”” , para Gardell (2003), transcendem as delimitações nacionais. Nesse contexto, as facilidades de acesso a informações, à música, a histórias de heróis, a teorias da conspiração, a táticas militantes, a religiões, e mitologias proporcionam, às pessoas, possibilidades de identificação enquanto pertencentes, por descendência, aos “ arianos arianos”” , justificando, assim, um senso de pertencimento.  Apesar das associações do Paganismo Nórdico Contemporâneo com discursos racistas e supremacistas ser um fator que constantemente tenta ser desconstruído por muitos grupos e praticantes, trata-se de uma tarefa complexa e árdua. Parte dessa associação, segundo Schnurbein (2016), ocorre devido ao fato de grupos relacionados a supremacia branca se utilizarem de símbolos da mitologia nórdica, já que muitos desses símbolos foram utilizadas e associadas durante anos para representar as ideologias do Movimento Nacional Socialista, como ocorreu com a swastika, com as runas, dentre outros. Ademais, muitos grupos supremacistas utilizam a justificativa de que suas ideias políticas estão relacionadas a crença de uma “religião ancestral” ancestral”, cultuada por povos de

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“raça branca” branca”, além de se considerarem enquanto sujeitos que possuem relação direta com os povos germânicos.

 

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Em último caso também é necessário considerar a produção do Xamã dentro do imaginário ocidental sobre essa figura, principalmente como parte da fascinação iluminista durante o século XVIII, diante do conceito do Nobre Selvagem e no interesse cada vez maior dos europeus pela prática esotérica, e do fascínio com um passado distante, romântico, próprio ao século XIX, como nos lembra ZNAMENSKI, 2007. Se por um lado o Iluminismo, diante dos relatos de viajantes, olhou para esses xamãs que surgiam nos confins do mundo com um sentido de estranhamento, por outro não deixaram de tecer pesadas críticas, os chamando de charlatões, uma situação que só iria mudar com a chegada do século XX e a produção de novas atitudes espirituais em torno dessas figuras. O Ocidente, contudo, produziu relatos sobre o xamanismo desde muito cedo: os relatos na França circulam entre 1632 e 1637, como Lettres édifiantes et curieuses entre 1702 e 1773, no mesmo período em que também são divulgados na Inglaterra. Flaherty (1992) nos alerta para o crescimento na busca por terapias alternativas xamânicas durante todo o século XIX, onde se rejeitam os costumes indígenas, ainda dentro da perspectiva do selvagem (ou como o nobre selvagem), mas tenta-se salvaguardar os usos medicinais de suas práticas, dentro da ótica do exótico.  A ideia ocidental sobre sobr e o Xamanismo é moldada a partir das várias experiências

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europeias sobre culturas alheias. Como nos alerta a pesquisadora, são discursos modernos que traçam perfis a partir de “areias movediças” movediças” sobre o que outrora havia sido observado ou escrito, ignorando a palavra daqueles indivíduos que estavam inseridos nas culturas onde o Xamã, de fato, existiam. No final das contas, restou a

 

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imagem do Xamã QAnon, adornado de símbolos diversos, sem respeitar ou conviver qualquer uma das culturas das quais pegou de rapto esses elementos. Mais preocupante do que suas tatuagens vikings, deveria ser a figura do extremista que utiliza um Cocar Sioux e se diz Xamã, como se representasse a coletividade de crenças desse povo, mas aí são linhas de discussões para outros especialistas, os quais estamos sempre dispostos a ouvir e ler. Notas:   Notas: 1 https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55582226 acesso no dia 20 de janeiro de 2021. 2

https://istoe.com.br/apoiador-de-trump-que-invadiu-capitolio-fantasiado-de-

 viking-e-preso/ acesso no dia 20 de janeiro de 2021. 3

https://epoca.globo.com/jeronimo-teixeira/coluna-as-ideias-extravagantes-do-

 viking-do-capitolio-24836214 acesso no dia 20 de janeiro de 2021. Referências bibliográficas:  bibliográficas:  GARDELL, Mattias. Gods of the Blood: Blood: The Pagan Revival and White Separatism. United States: Duke University Press, 2003.

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FLAHERTY, Gloria. Shamanism and The Eighteenth Century. Century. Nova Jersey: Princenton University Press, 1992.

 

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KAPLAN, Jeffrey. Radical Religion and Violence: Theory Violence: Theory and case studies. London: Routledge, 2016. LANGER, Johnni. Martelo de Thor (Mjöllnir). In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de Mitologia Nórdica - Símbolos, Mitos e Ritos. Ritos. São Paulo: Hedra, 2015a, pp. 301-304. 349 

LANGER, Johnni. Valknut (Triquetra, Coração de Hrungnir), In: LANGER, Johnni Ritos . São Paulo: Hedra, (org.). Dicionário de Mitologia Nórdica - Símbolos, Mitos e Ritos. 2015b, pp. 537 e 538. MIRANDA, Pablo Gomes de Miranda. Xamanismo euroasiático. In: LANGER, Johnni Medievo. Petrópolis: (Org.). Dicionário de História das Religiões na Antiguidade e Medievo. Editora Vozes, 2020, pp. 559-563. POILVEZ, Marion. Yggdrasill. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de Mitologia Nórdica - Símbolos, Mitos e Ritos. Ritos. São Paulo: Hedra, 2015, pp. 567 e 568. 5 68. PORTO, Maria Emília M.; MIRANDA, Pablo Gomes de. Discutindo o Xamanismo no Mito e na Literatura Escandinava: uma breve revisão historiográfica. Revista Brasileira De História Das Religiões, 8 Religiões, 8 (23), 2015, pp 73-86. TSUGAMI, Susan. Paganismo. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História das

Religiões na Antiguidade e Medievo. Medievo . Petrópolis: Editora Vozes, 2020, p. 452-455. TSUGAMI, Susan. Deus para mim é Odin: O Paganismo Nórdico Contemporâneo no Brasil. (Dissertação de Mestrado em Ciências das Religiões). Universidade Federal da

 

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Paraíba,

2019.

Disponível

em:

https://repositorio.ufpb.br/jspui/handle/123456789/18407?locale=pt_BR Revival: Transformations of Germanic VON SCHNURBEIN, Stefanie. Norse Revival: Neopaganism. Boston: Brill, 2016. 350 

ZNAMENSKI, A. A. The Beauty of the Primitive  Primitive  - shamanism and the western imagination. Nova York: Oxford University Press, 2007.

 

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Figura 1: Pessoas chegando para a festa pública do 17 1 7 de maio em Oslo, 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora. 17 DE MAIO: O DIA NACIONAL DA NORUEGA

 Andréa Caselli É primavera e tudo está florido: os acostamentos das estradas, os túmulos nos cemitérios, as praças e as frentes das casas que, além de muitas flores, exibem uma ou mais bandeiras hasteadas. Na madrugada em que não anoiteceu, é possível ouvir instrumentos musicais sendo afinados. Neste momento, poucos são os que dormem e os

motivos para isso são muitos: a noite que não chegou porque o lindo sol não se pôs, o barulho dos últimos ensaios dos músicos em suas casas, as zelosas mulheres que preparam os perfumados cafés da manhã compostos por champagne e bolos decorados, as crianças ansiosas por tudo o que viverão v iverão em algumas horas. Finalmente o sol chega no

 

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meio do céu e aos poucos as ruas vão sendo preenchidas por pessoas vestidas em suas melhores roupas, que lotam as paradas de trens, as avenidas, as calçadas e as barracas de comida. Uma multidão envolvida em aromas, cores, música e sorrisos.  A celebração do Dia da Constituição Norueguesa envolve ritos, símbolos, emblemas e diversos costumes tradicionais que - muito além de caracterizarem o sentimento nacionalista - envolvem também o folclore e a diversidade cultural dos processos de migração. Em idioma norueguês, o Grunnlovsdag Grunnlovsdag (Dia da Constituição), também é conhecido como Nasjonaldag (Dia Nacional) ou Syttende Mai (17 de Maio). No ano de 2019, participei do feriado e pude realizar uma pesquisa de campo através da  vivência, que consistiu em uma observação participativa, sem questionários ou entrevistas, mas inserindo uma análise do comportamento dos envolvidos em seu ambiente real. Também foi realizada a coleta de dados referente ao evento e a interpretação deles. Trata-se de uma comemoração nacionalista? Sim, mas o clima não-militarista e alegre aliado ao lugar especial das crianças torna a festa muito pouco polêmica atualmente. Um costume recente deste dia é que as pessoas vão às ruas apenas para comer uma enorme quantidade de sorvete e cachorro-quente, desfilar nas praças e

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avenidas com trajes folclóricos, participar de brincadeiras nas escolas locais e dançar em festas particulares à noite. Todavia, o devir histórico do 17 de maio apresenta conflitos étnicos e políticos que contribuíram para a tranquilidade coletiva nas comemorações mais recentes...

 

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Como em outras celebrações nacionais, há o ritual como prática de um comportamento realizado de maneiras definidas. O hábito repetitivo, festivo e sazonal; tendo funções em práticas culturais estabelecias. Envolve ação e performance dos participantes. Para compreender um rito nacional como o 17 de maio, há de compreender que rituais e seus elementos são conservadores em sua essência, com mudanças lentas que, quando acontecem, a transição se desenvolve em uma comunicação que parte do núcleo do grupo para gradativamente atingir larga escala (Cf.  Anderson, 1991). Nesse sentido, o rito do dia nacional oferece uma abordagem para entender a cultura. A contribuição social do ritual e a sua compreensão comp reensão subjetiva podem ser encontrados nos níveis micro e macro, tendo significados individuais ou coletivos. Não é apenas um ato, mas também contém significado tanto para seus participantes quanto para seus espectadores.

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Figura 02: Estandarte de escola no desfile infantil do 17 de maio em Oslo, 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

 A democracia exige fronteiras e estas, por sua vez, precisam do Estado-nação. Quaisquer modos pelos quais as pessoas definam a própria identidade em relação ao lugar a que pertencem têm um papel a desempenhar na consolidação do sentido de nacionalidade. Compreendendo o nacionalismo como o pertencimento comunitário de lealdade e compromisso, não se pode esquecer que ele é compartilhado entre concidadãos para sustentar o estado de direito e as formas consensuais de política (Cf. Scruton, 2015). O comprometimento com o território, a história e os costumes nacionais levam a rituais que vinculam os vizinhos a um senso comum de lar, de lealdade compartilhada. O 17 de maio pode ser entendido também como um ritual de afirmação que diz respeito às tradições valorizadas que os noruegueses querem preservar. Uma história vermelha, azul e branca  branca   A primeira constituição constituição norueguesa foi assinada em 17 de maio de 1814. Após esse dia, a Noruega deixou então de fazer parte da Dinamarca – mas ainda estava unida à

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Suécia, da qual se livrou apenas no séc. XX através de muitos acordos e perdas de territórios. A Noruega contemporânea é caracterizada por um nível elevado de bemestar, igualdade de género e estabilidade económica. Como nação, as raízes da Noruega remontam ao século IX. O país conquistou a independência da Suécia em 1905 e desde

 

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então tem sido uma monarquia constitucional. A Constituição Norueguesa de 1814 é a segunda constituição escrita mais antiga do mundo que ainda está em uso. Seguindo a história do 17 de maio, vê-se que a tradição da festa está em constante evolução: No começo, foram homens de camadas mais altas da sociedade elaboraram as propostas de independência e também da comemoração dela. No final do século XIX, o resto dos civis – incluindo as mulheres - entraram e as crianças receberam seus próprios desfiles. A participação das mulheres nas lideranças do evento foi marcada por anos de conflito entre partidos políticos. Porém tais divergências e proibições em relação à participação feminina foram amenizadas após a II Guerra Mundial, tanto porque a população masculina estava reduzida em toda a Europa, quanto porque após um longo período de ocupação nazista em terras norueguesas, todos os habitantes estavam ansiosos por poder celebrar novamente os seus símbolos nacionais como antes da Guerra, e não ao modo Nacional-socialismo. Nos últimos anos, anos, os imigrantes viram sua marca no desfile nacional. O desfile público absorveu o desenvolvimento da sociedade e a passagem dele pela história pode ser interpretada como uma personificação simbólica do desenvolvimento da nação. Mas isso não apenas aumentou a evolução passiva, nem foi uma revolução (Brit Marie Hovland; Olaf Aagedal, 2001, p. 27-53).

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Figura 03: Banda de escola tocando em frente ao Storting (prédio do Parlamento de Oslo), no 17 de maio de 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Durante o séc. XX, a imigração foi um tema de constante conflito e aprendizado constantemente refletido no dia nacional, que é também um momento de expressão política. Quando o Dia da Constituição foi declarado feriado oficial em 1947 na Noruega, o objetivo era que o desfile das crianças incluísse todas as crianças que frequentavam escolas norueguesas. Esse debate atingiu o auge em 1983, depois que a Escola Sagene sofreu ameaças raciais por incluir os imigrantes de segunda geração no desfile. A escolha

da paquistanesa Rubina Rana, integrante do Partido Trabalhista, como líder do comitê de 17 de maio em Oslo, em 1999, contribuiu para simbolizar a participação dos imigrantes em um âmbito formalmente político (Høie, 2010, p. 07). Desde 2008, houve alguma

 

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controvérsia sobre a inclusão de outras bandeiras b andeiras nacionais na celebração. Esses aspectos ilustram que o debate é histórico e atual.  A Noruega Nor uega tem atualmente 14% de sua população pop ulação constituída por imigrantes. A Noruega também tem várias minorias nacionais e, como resultado da globalização, tornou-se um país mais multicultural. Desde meados de 1990, o número de imigrantes dobrou no país, que passou a receber levas de trabalhadores da África, do Leste Europeu e da América Latina. A Somália está no topo do ranking de pedidos de asilo, seguido pelo Afeganistão, Eritréia, Irã e Iraque Ir aque (Site da Embaixada Real da Noruega em Brasíllia, 2019). Os refugiados recebem apoio financeiro, treinamento profissional, orientação cultural e aulas de norueguês para sua inserção no mercado de trabalho. O mesmo não acontece com os imigrantes, que sob circunstâncias especiais recebem apenas as aulas de norueguês. Contudo, parece que as condições de vida compensam diante do que seus países de origem oferecem.

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Figura 04: Norueguesas muçulmanas de famílias imigrantes participam do desfile público escolar no 17 de maio de 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Os noruegueses passam por um processo de adaptação devido a tantas pessoas de diferentes etnias e religiões participando do seu cotidiano, o que gera tanto reações de hospitalidade e acolhimento, como reações xenofóbicas. Tudo vem mudando depressa e o receio de que a “invasão invasão”” de novas culturas traga problemas prob lemas à paz cotidiana está sendo usada politicamente, como acontece em outros ambiente e sociedades. Pelas leis eleitorais da Noruega, somente cidadãos noruegueses podem votar para o Parlamento,

mas em pleitos locais todos os residentes legais têm direito a participar. Na festa pública do dia 17 de maio, imigrantes e refugiados que habitam o país participam da festa com seus trajes religiosos, a exemplo dos muçulmanos, e também com co m os bunads, o traje folclórico norueguês. Muitas crianças muçulmanas participam do

 

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desfile das escolas com trajes muçulmanos, principalmente meninas que usam véu na cabeça. Os noruegueses são tolerantes e incentivam a liberdade de expressão para todos os participantes da festa, inclusive os turistas, estes que fazem questão de comprar um exemplar da bandeira norueguesa para aumentar o sentimento de participação no evento. Percebe-se aqui um grande exemplo de cooperação internacional como espaço de desenvolvimento não só da administração pública, mas também do planejamento econômico que afeta a disseminação de conhecimentos científicos, tecnológicos e culturais. A celebração não incita, mas apresenta o ambiente propício à reflexão sobre identidades entre cidadãos nativos, cidadãos imigrantes, turistas e instituições. A cooperação internacional é um entre os muitos elementos que compõem o processo de imaginação da nação e administração das convivências entre etnias na Noruega, nos últimos 50 anos. Já o desenvolvimento da cooperação norueguesa junto ao povo Sàmi desempenhou uma atividade estratégica quando colocou em diálogo as agendas internas do país relativas aos povos indígenas, aos imigrantes e aos refugiados políticos, e suas agendas externas, combinando as temáticas do desenvolvimento e dos direitos humanos de um modo bastante peculiar (Cf. Hoffmann, 2008). As condições históricas específicas

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da Noruega como um país sem passado colonialista, tendo sido ela própria subordinada politicamente e com a população população Sàmi, que obteve status de povo indígena na década de 1970; tiveram consequências importantes para a atuação do país sobre a construção

 

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dos mecanismos internacionais de reconhecimento e defesa dos direitos humanos e, portanto, para a afirmação de identidades étnicas dentro de outros países.  A cooperação cooper ação internacional de tradição tr adição humanitária norueguesa junto aos povos po vos nativos mostrou-se um terreno fértil para a observação de fenômenos simultâneos de formação o Estado e construção da nação, associando-se, como vimos analisando ao longo dos capítulos anteriores, às lutas políticas dos Sàmi para adquirir um estatuto próprio dentro do Estado norueguês, à expansão missionária dentro e fora da Noruega, e ao processo imigratório de refugiados no país. Sendo assim, o sucesso da missão internacional é comprovado em desfiles e festas públicas do 17 de maio, quando celebram todos os grupos étnicos, sem distinção, o dia nacional.

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Figura 05: Família norueguesa participa da celebração pública com os trajes folclóricos, bunads, ao lado de turistas. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

 

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Os modernistas ou construtivistas enfatizam que símbolo, ritual e mitos são construídos por uma elite, enquanto os etnicistas acrescentam maior ênfase na continuidade do período pré-nacional e para ele era nacional moderna. O 17 de maio apresenta expressões da imaginação histórica manifestadas no contexto de orgulho nacional contemporâneo que evoluiu a partir do nacionalismo oitocentista discutido por Stephen Bann (1994, p. 20) acerca das invenções da história na Europa a partir do séc. XIX. A história, como uma presença que emerge a partir de uma infinidade de campos (pintura, literatura, museus, música, etc.), edifica um modelo integrado de representação histórica. Nesta trajetória, revelou-se tanto a fertilidade imaginativa quanto o investimento crescente de instituições, grupos e indivíduos na manutenção das tradições. t radições. Os símbolos e a celebração do 17 de maio foram constituídos em representações de longa durabilidade com preceitos e formatos etnocêntricos, explícitos ou não, revistos e atenuados com o tempo. Em outras palavras, neste artigo busco acompanhar os meandros da invenção de uma tradição nacional, compreendendo-a não como uma espécie de falsa consciência, destinada a servir a propósitos estritamente funcionais ou ideológicos; mas como expressão de um imaginário, ele mesmo histórico. Nesse sentido, é importante analisar a

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questão apontada pelo historiador Stephen Bann, que não considera apropriada a ideia de que a história, tal como defendem Hobsbawn e Ranger, desmistifica as tradições, incorporando uma espécie de falsa consciência. Em sua opinião, a história seria o modo pelo qual uma cultura lida com seu próprio passado. Dessa forma, a compreensão

 

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histórica é uma empreitada cultural vital e a imaginação histórica uma importante faculdade humana que deveria enfatizar o fazer e não a busca de uma narrativa distorcida  já que qualquer narrativa é uma invenção retórica e a invenção invenção de histórias seria a parte mais importante da autocompreensão e da autocriação humana (Bann, 1994, p.23). Nos dias atuais, o 17 de maio norueguês se destaca como a celebração nacional escandinava com a mais ampla participação popular. O simbolismo e o rritual itual dessa janela de exibição pode, portanto, ser uma realização da discussão da relação r elação entre as tradições dos países destinatários, envolvendo os valores e estratégias dos imigrantes no processo de integração. Os últimos dias nacionais mostram que através do conflito simbólico nacional, o desfile de tem mudado constantemente o segmento das pessoas participantes.  A entrada do imigrante é a mais recente expansão de símbolo. Os imigrantes agora são destacados como o símbolo de uma época em que a nação norueguesa é democrática e inclusiva.

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

Figura 06: Ao fim do desfile público, as famílias se confraternizam comendo cachorro-quente e sorvete (as comidas típicas deste dia) nas calçadas de Oslo Fonte:  Arquivo pessoal da autora. No que diz respeito à bandeira b andeira da Noruega, o empresário e membro membr o da Assembléia Constitucional, Fredrik Meltzer, projetou, em 1821, a bandeira moderna da Noruega para substituir as bandeiras dinamarquesas e suecas modificadas em uso. Ele escolheu usar uma cruz nórdica para refletir os laços estreitos da Noruega com a Suécia e a Dinamarca; elegendo as cores vermelho, branco e azul para simbolizar os ideais liberais associados a países ocidentais democráticos. Foi a bandeira que venceu uma votação da  Assembleia, dentre vários modelos desenhados desenhados por outros políticos. Porém, nos períodos de expansionistas medievais, o território norueguês foi representado, vez por outra, por estandartes de reis e guerreiros com os seguintes símbolos: serpente; leão dourado e coroado com machado de prata; corvo (Store Norske Leksikon, Leksikon, 2020) O símbolo do lleão eão teve mais prestígio e permanece na contemporaneidade como componente da bandeira real que é constituída de fundo vermelho com o leão dourado e coroado ao centro, em posição de perfil direcionado para a esquerda, em posição ereta, segurando o machado de prata.

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A tradição dos bunads  bunads   A ocasião do 17 de maio é um pretexto para as pessoas exibirem seus bunads, os trajes tradicionais e folclóricos da Noruega que são usados em danças folclóricas ou grandes festas, como o Dia Nacional, casamentos, batismos, crismas e Natal. Existem

 

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centenas de variações desses trajes, com cores e estilos que indicam as origens ancestrais daqueles que os vestem. Tradicionalmente, cada bordado determina as características caracter ísticas de um ramo familiar ancestral, que atualmente é reconhecido e preservado pelas regiões dos municípios. Os designs variam enormemente entre as regiões. Uma função principal do bunad de uma pessoa é servir como reconhecimento público e homenagem à sua erança norueguesa em geral e à sua cidade ou região da Noruega em particular. Contudo, existem bunads a serem vendidos em lojas com bordados bord ados de efeito estético apenas.

Figura 07: Detalhes de bunad de uma professora participante do desfile público, com bordados e peças em prata. pr ata. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

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 A preparação para o grande ddia ia já começa meses antes, com ensaios das d as bandas que irão participar da marcha, com a (s) festa (s) que marcarão este dia, e claro, o bunad, que é o traje tradicional norueguês, deve ser tirado do armário para ser finalmente usado. Existe bunad para homem e para mulher, são feitos geralmente de lã e eles variam de modelo de acordo com a região do país. O feminino é um vestido longo levemente rodado,

 

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relativamente simples, mas que varia bastante entre cores e bordados, mas todos têm alguma aplicação de metal, quase sempre de prata. Os bunads atuais não apresentam a estética camponesa de séculos passados, mas recebem inspiração desta. O traje que é  vestido no 17 de maio tem criação no início do séc. XX, por entusiastas do folclore nacional. (Fossnes, 1993)  A prata é o metal mais usado no país devido ao grande comércio Sàmi de prata p rata e suas técnicas de joalheria. joalheria. Ele é não raro feito pela mãe, e dado à filha ssempre empre na 1ª comunhão dela, na religião luterana, que durante alguns séculos foi a religião oficial do país. Para os meninos, o uso do bunad varia bastante. Um bunad atualmente comprado em loja custa muito caro, devido à sua manufatura: em média 20.000 NOK (coroa norueguesa), ou 8.000 reais.

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Figuras 08 e 09: Dois exemplos de adornos de cabeça diferentes para os bunads. Cada um representa regiões diferentes da Noruega. Fonte: Arquivo pessoal da autora. Considerações sobre a observação de campo  campo  Foi estudada uma amostra representativa da festa da independência norueguesa, na cidade de Oslo, uma vez que a totalidade do evento não pôde ser abordada pelo fato de ser uma celebração nacional que acontece em todas as cidades do país ao mesmo tempo. Uma observação direta, mas também participativa, pois participei da festa e consumi os mesmos elementos culturais que os celebrantes como alimentos, bebidas, músicas e ambiente. Em relação à diversidade religiosa bastante perceptível no evento, me baseio na fala de Silas Gerriero que expressa a importância para a antropologia da religião dos significados subjacentes aos sistemas de crenças religiosas e a preocupação com os hábitos, práticas e costumes desses mesmos grupos advindos desses sistemas (Guerriero, 2013, p. 06). Sendo assim, foi possível observar a interação, o diálogo e a preocupação de manter harmoniosamente a liberdade de expressão em uma sociedade marcada por múltiplas crenças (a exemplo do islamismo, do luteranismo, do catolicismo e das d as diversas

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formas de paganismo existentes atualmente na Noruega) que q ue convivem entre si. E, mais do que isso, foi possível presenciar a forma como a sociedade norueguesa quer ser percebida pelo mundo através de sua auto exposição na sua celebração nacionalista, envolvendo seu modo de lidar com as religiões.

 

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Figura 10: Vista do desfile na principal avenida de Oslo, a Karl Johans, em 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora.  A justaposição da base constitucional e do processo popularmente mobilizado pode ser a principal explicação para a inclusão e, portanto, o poder atualizador da paisagem de símbolos nacionais noruegueses que faltam a muitos outros o utros rituais nacionais. Querer que a celebração de 17 de maio sobreviva é querer mantê-la como significativa e motivadora de amplos sentidos que podem ser constantemente transformados, caso necessário. É uma data que vai de acordo com seu tempo e mantém vínculo com os relacionamentos deste. É o dia das crianças que desfilam e aprendem a importância da tradição e de honrar a própria cultura, mas também é o dia dos adultos que percebem suas próprias falhas inseridas nesta mesma tradução e buscam melhorá-la, ansiando bem-

estar e boa convivência. O 17 de maio, como parte da experiência de infância dos noruegueses, agitando bandeiras, andando em trens, comendo salsichas e sorvetes, vestidos em suas melhores roupas, juntando-se aos brinquedos à festa do pátio da escola, faz parte da socialização.

 

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É uma experiência recorrente que reflete algo duradouro em um mundo turbulento. O ritual reflete as mudanças na própria vida. Como uma criança pequena nos ombros do pai sob o raro e precioso sol primaveril, uma criança em idade escolar no desfile marcial da escola como um músico de banda, como um russ  (estudante   (estudante que está terminando o ensino médio), poderá haver uma interrupção no engajamento ativo até que o cidadão tenha seus próprios filhos nos ombros. E todas as fases são imortalizadas em fotos ou  vídeos. As memórias particulares são tecidas em uma memória coletiva que a maioria dos noruegueses compartilha. Os russ  têm   têm desfiles próprios, com ônibus, vans e sistemas de som sofisticados e barulhentos. É costume que durante o dia as pessoas peçam a eles o russekort , o cartão de visita contendo informações pessoais e algumas piadas; pois a saída da escola para esses jovens significa a inserção direta no mercado de trabalho, visto que na Noruega não há a cultura da formação universitária como preparação para exercer uma profissão. Os usos e costumes noruegueses incentivam a dignidade do trabalho remunerado desde muito cedo na vida dos cidadãos e grande parte dos russ  dos  russ  já   já exercem alguma profissão antes da formatura.

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 A população de imigrantes da cidade está muito presente. Crianças de origem asiática e africana compõem um elemento grande e visível no desfile infantil, imigrantes adultos ficam ao longo da rota do desfile na avenida K Karl arl Johan e no palácio real, sendo que as famílias imigrantes também participam dos eventos do pátio da escola. Organizar desfiles infantis e atribuir às escolas a responsabilidade de recrutá-los e organizá-los

 

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garante a continuidade do evento de maneira engenhosa. Primeiro, geração após geração é introduzida na parte formalizada do ritual. Muitos começam no jardim de infância. Todos os momentos do desfile, cantando, tocando e acenando com bandeiras e abas, provocadas pelas crianças tão pequenas, faz parte da socialização norueguesa. É também o que se poderia chamar, na antropologia, de nacionalização de vida emocional. Como grande parte disso se torna experiências incorporadas desde a primeira infância, os alunos noruegueses recebem um conjunto de referências que podem ser ressuscitadas posteriormente.

Figura 11: Um dos principais edifícios da avenida Karl Johans, decorado para o 17 de maio, em 2019. Fonte: Arquivo pessoal da autora.

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 A celebração do dia 17 de maio, como ritual nacional, é relativamente flexível, atraente e capaz de abrigar uma grande parte da população. Tem a ver com o modelo organizacional. Não é dirigido de cima, mas sim governado pela sociedade civil. Isso

 

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confere ao ritual legitimidade e flexibilidade - uma grande sensibilidade à mudança interior. Ao mesmo tempo, é resistente à pressão externa. Quando as crianças de famílias imigrantes são deliberadamente colocados em primeiro lugar nos desfiles escolares, isso tem a ver com a realidade da escola ou da comunidade escolar. Quando uma escola mostra uma composição multicultural de estudantes, tem a opção de liquidar participação ou incluir os filhos de imigrantes. Somente assim a comunidade interna da escola pode ser preservada. Há que se perceber que uma celebração de independência acabou por se transformar em uma festa multicultural que envolve emigrantes e imigrantes. De emigrantes nos países em que o 17 de maio é comemorado por noruegueses e seus descendentes. De imigrantes, na Noruega, por indivíduos que foram acolhidos e asilados no país. Seria a globalização do nacionalismo? Referências bibliográficas bibliográficas   ANDERSON, Benedict. Benedict. Imagined Communities : reflections of the rigins and Sspread of nationalism. London: Verso, 1991. BANN, Stephen.  As invenções da história : ensaios sobre a representação do passado. Tradução de Flávia Villas-Boas. São Paulo: UNESP, 1994.

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BREKKE, J.P.; AARSET, M.F. Why Norway?   Understanding Asylum Destinations. Oslo: Institute for Social Research, 2009. FOSNESS, Heidi. Bunads noruegueses e trajes folclóricos Sami . Oslo: Cappelen, 1993

 

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GUERRIERO, Silas. Antropologia da Religião. In: PASSOS, João Décio. USARSKI, Frank. Compêndio de Ciências da Religião. São Religião. São Paulo: Paulinas, Paulus, 2013, p. 243-256. 243 -256. HOFFMANN, Maria Barroso. Fronteiras étnicas, fronteiras de Estado e imaginação da nação: um estudo sobre a cooperação internacional norueguesa junto aos povos indígenas.   2008. 344 p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Universidade indígenas. Federal do Rio de Janeiro , 2008.

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HOVLAND, Brit Marie; AAGEDAL, Olaf. Nasjonaldagsfeiring i fleirkulturelle demokrati . København: Nordisk Ministerråd, 2001. HØIE, Siri. Everyone is Norwegian on the Seventeenth of May: The Celebration of May 17th in Seattle 1945-2009 . 2010. 131 p. Dissertação (Mestrado em História) –  Universidade de Oslo, 2010. SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Rio de Janeiro: Record, 2015. P. 63-68. Site da Embaixada Real da Noruega em Brasília: < https://www.norway.no/pt/brasil/>  Acessado em 09 de junho de 2019. Store

Norske

Leksikon,

norges

Acessado em 10 de maio de 2020.

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 Atividade do grupo  grupo Torvik , especializado em Living History da Era Viking  Viking 

LIVING HISTORY: HISTORY: UMA NOVA FORMA DE ENSINAR HISTÓRIA  HISTÓRIA 

Johnni Langer

Uma nova forma de divulgar, ensinar e pesquisar História vem sendo aplicada ainda de forma tímida em nosso país, mas aos poucos começa a ganhar mais adeptos: a prática do Living History (História Viva). Nascida na Europa, essa série de atividades está sendo desenvolvida por museus, institutos de pesquisa em História, escolas, universidades e também de forma ampla por diletantes e apaixonados pela História em geral, seja em festivais reconstrucionistas ou encontros casuais e culturais.  A ação do Living History  tanto  tanto pode ser uma reconstituição de alguma atividade,

uma cena ou acontecimento histórico específico, como a reprodução de costumes e práticas antigas. Procura-se recriar as vestimentas, o comportamento, os hábitos, a materialidade e o contexto social do período em questão. Em vários parques temáticos históricos dos Estados Unidos e Europa, os visitantes são interagidos com equipes especializadas nesta técnica, produzindo um melhor resultado na experiência de  visitação.

 

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Pic-Nic Vitoriano de São Paulo em 2015, Parque do Ibirapuera  Ibirapuera  

Não apenas a História regional e local é reconstituída. Na Alemanha, desde os anos 1970 grupos de Living History   reconstituem, reconstituem, por exemplo, a vida dos indígenas norteamericanos. Do lado oposto, nos Estados Unidos várias v árias equipes reencenam episódios da  vida medieval, do mundo romano ou da Antiguidade oriental. oriental. Uma das mais impressionantes ações de Living History   dos último tempos foi efetuada na área de um shopping da Holanda, a respeito de um quadro de Rembrandt - o museu nacional da Holanda (Rijksmuseum ) estava com pouca visitação e resolver inovar. Música, ação e reconstituição: o resultado é impressionante, confiram no vídeo (Onze ( Onze

helden zijn terug!  Nossos  Nossos heróis estão de volta!): No Brasil a TV Escola produziu uma série de alta qualidade, utilizando a técnica do Living History : Retrovisor .  O jornalista Paulo Markun entrevista de forma fictícia diversas personalidades de nossa História, todos caracterizados: Anita Garibaldi, Monteiro Lobato, Frei Caneca, Euclides da Cunha, entre outros. Particularmente, o episódio de Anita Garibaldi, graças em parte à interpretação da atriz, possui um alto

 

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impacto emotivo nos telespectadores, demonstrando que o conhecimento da História não é apenas puramente intelectual - podemos utilizar a emoção para uma melhor interação dos alunos e do público em geral com nossas noções de identidade, de passado, memória e patrimônio. Outros exemplos brasileiros de aplicação do Living History  são as diversas atividades da  da Sociedade História Destherrense , envolvida especialmente na recriação de cenas de Florianópolis oitocentista, além da oferta de cursos e oficinas envolvendo a técnica e abertas ao público em geral.

 Ação de Living History efetuada pela Sociedade Histórica Destherrense Destherrense

O tipo de prática do Living History  mais   mais comum no Brasil são as reproduções de combates e lutas medievais, tanto da Era Viking quanto do período feudal em geral, efetuadas

pelas

dezenas de

equipes reconstrucionistas,

a

exemplo

dos

grupos  Hednir  e Vestanspjǫr Viking Reenactment .  Futuramente, realizaremos uma grupos

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extensa e detalhada matéria sobre os grupos reconstrucionistas nórdicos em atuação no Brasil. Outras técnicas do Living History  aplicadas  aplicadas ao medievo ainda são pouco realizadas r ealizadas em nosso país, como ações biográficas, reproduções de cenas literárias, reconstituições de episódios e acontecimentos históricos, apresentações de dramatizações, entre outras.

 

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 A poucos dias de ministrar uma oficina de Living History aplicada à Escandinávia Medieval em dois eventos na UFPB, a professora Luciana de Campos concedeu uma pequena entrevista, onde desenvolve algumas noções sobre o tema:

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” ??   O que é “ living living history ” 

Luciana de Campos - O living history ou, na tradução literal “história viva” viva” é uma atividade que incorpora ferramentas históricas, com vestuário adequado à época que se está reconstituindo, objetos cotidianos como pratos, talheres e em alguns casos até a alimentação. As atividades consistem em uma apresentação interativa –   com os componentes do grupo reconstrucionista e o público que assiste à ação - e pretende proporcionar aos dar observadores e participantes uma sensação de “ volta no tempo” tempo”. A

“história viva” viva” em muitos casos, incorpora, uma encenação histórica, como, por exemplo, batalhas da Guerra da Secessão ou da Idade Média, uma ferraria nórdica, banquetes renascentistas e pic-nics da era vitorianas. A história viva pode e deve ser utilizada como mais uma ferramenta educacional para se compreender a História nos seus mais diversos aspectos seja da vida cotidiana, da cultura material, das crenças e dos diversos relacionamentos interpessoais. Ela pode e deve ser utilizada em escolas, museus, locais históricos para apresentar aos alunos e também ao público em geral que a História e toda

 

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a cultura material que a compõe - e aqui podemos citar novamente as roupas, os passatempos, a comida e o artesanato, - possuíram um sentido específico na vida cotidiana de um determinado período da história. Quais as suas finalidades e quais as suas aplicações para o ensino, pesquisa e extensão?   Luciana de Campos - Em tempos cibernéticos onde fazer com que os alunos –  desde a pré-escola até a pós-graduação pó s-graduação – se mantenham atentos e interessados nas aulas tem se tornado um grande desafio. Os museus parecem ter saído do gosto e muitos professores e alunos acabam tendo uma visão errônea desses locais os confundindo com um mero depósito de velharias quando os museus tem que ser vistos como espaços educacionais e culturais fundamentais! As ações de living history nesses locais tem se tornado mais frequentes o que torna a relação ensino-aprendizagem mais dinâmica, desafiadora e instigante! Além de ser muito mais atrativa! Basta conferir a ação que o Museu Rijksmuseum fez para promover a visitação v isitação utilizando o quadro “Ronda Noturna” Noturna”  de Rembrant. Para o ensino o LV ajuda não só no aprendizado de História mas envolve a Geografia, a Antropolgia, a Física, a Química e a Matemática pois os cálculos eram essenciais para a confecção das roupas, a compra de mantimentos. Enfim o LV possui uma aplicação multidisciplinar! Nessa questão do ensino já está envolvida a extensão pois os museus os marcos históricos de cada cidade com as ações do LV transformam-se em salas de aula onde todos aprendem de uma maneira diferente e divertida mostrando que a aprendizagem precisa extrapolar os muros da escola! No que diz respeito à pesquisa o LV proporciona um campo excelente para a pesquisa: pois para a realização da ação é preciso muita pesquisa para a confecção das roupas, da utilização dos objetos, da elaboração dos pratos que poderão ser consumidos. A pesquisa portando é a melhor

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aliada do LV e lhe confere legitimidade. Quais são as atividades de recriação do Living History nos Estados Unidos e na Europa ? Luciana de Campos - Nos Estados Unidos há grupos que se dedicam a reconstituir batalhas da Guerra da Secessão e também as batalhas travadas contra os ingleses durante a guerra de independência. Mas também há grupos dedicados exclusivamente as

 

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conquista do oeste com recriações de cidades, os o s saloons, os duelos e há também aqueles que de dedicam a reconstituir a vida na época da colonização na Nova Inglaterra. Já na Europa os grupos estão muito focados na Idade Média - veja o sucesso que feiras medievais fazem em muitos países como a França e a Alemanha. A Escandinávia possui  vários festivais e feiras dedicadas exclusivamente à cultura nórdica recriando inclusive povoados que existiram na Suécia e em Gotland por exemplo. Como o Living History pode auxiliar na divulgação dos estudos nórdicos no Brasil?   Luciana de Campos - As ações de LV estão crescendo no Brasil, felizmente e muitas delas dedicam-se justamente as recriações e reconstituições nórdicas. A grande maioria ainda é feita por pessoas não ligadas ao meio acadêmico o qque ue é bom pois mostra que há interesse do público e que há pessoas dedicadas à pesquisa. Por outro lado já começa a despontar um interesse de acadêmicos pelo LV e finalmente começam a enxergá-lo como algo que precisa ser visto com seriedade pois ele envolve muita pesquisa feita com seriedade e rigor. A única ressalva que faço é a falta de comunicação e um estreitamento maior entre esses dois grupos, pois poi s parece existir um fosse entre eles e uma certa relutância em uma aproximação. E isso é muito ruim para ambos! Os acadêmicos que apoiam e enxergam no LV uma ferramenta utilíssima para o ensino-aprendizado de História tem muito a contribuir com o grupo dos entusiastas assim como esse grupo tem muito a colaborar com a sua experiência e com as suas pesquisas. Acredito que futuramente possa realmente existir essa colaboração e parceria e que nenhum dos dois grupos mantenha mais essa postura de domínio de território pois o conhecimento deve ser compartilhado cada vez mais!

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RECONSTRUCIONISMO HISTÓRICO E ARQUEOLOGIA EXPERIMENTAL DA ERA VIKING Enrico Dalmas Baggio Di Gregorio

O trabalho visa desenvolver o elo existente entre a reconstrução histórica e a arqueologia experimental, ressaltando como a primeira possui diversas características as quais se enquadram nos métodos utilizados pelos arqueólogos. Para fundamentar esta ligação, serão desenvolvidos os métodos e trabalhos destes pesquisadores e os materiais dos grupos de reconstrução, com ênfase nos estudos realizados e os métodos empregados na reconstrução por estes mesmos grupos, afim de representar determinadas épocas com o máximo de fidelidade. A pesquisa foca na atuação conjunta entre essas duas áreas nos estudos que dizem respeito à Era Viking, onde esta atuação tem se expressado de maneira mais ativa e frutífera.

Introdução   Introdução  A reconstrução histórica é uma prática educativa de recriação de diversos aspectos de determinado período ou evento, como por exemplo a Era Viking ou a Batalha de Waterloo, e deve envolver a reprodução da indumentário, armamentos e  vocabulário. Esta atividade se trata da retomada das características relativas ao grupo social e à época escolhida pelo reconstrucionista, geralmente se tratando de d e uma prática

 

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coletiva. Existem centenas de grupos de reconstrução distribuídos pelo mundo, que cumprem a tarefa de reconstruir estes diversos aspectos das civilizações passadas, buscando informações sobre o modo de vida, tecidos e modelos usados nas vestes e técnicas de combate, por exemplo. O principal foco da reconstrução histórica é a verossimilhança com o período representado. Considerando este objetivo, é necessário um estudo aprofundado e, não raras vezes, a nível acadêmico acerca de diversas características, especialmente, acerca da cultura material do século ou ano que será reconstruído. A arqueologia, como principal fonte de cultura material, contribui de maneira científica ao desenvolvimento desta atividade educativa, na busca pelo máximo de autenticidade em sua prática. Além disso, uma das bases da reconstrução histórica é o uso de fontes primárias, com ênfase aos documentos antigos, muitos deles também descobertos e/ou decifrados por métodos utilizados

por

arqueólogos,

a

título

de

exemplo,

a

paleografia.

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 Atividade de Arqueologia experimental do Neolítico, Centro experimental de Lejre, Dinamarca. Fotografia de Luciana de Campos, julho de 2018.

 

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Entretanto, a ligação da reconstrução histórica com a arqueologia ultrapassa o uso dos achados arqueológicos e análise de materiais feitos pelos arqueólogos. A recriação possui laços atados com um campo da arqueologia em principal: a arqueologia experimental. Este método da arqueologia surge como uma forma de entender melhor a produção de artefatos cotidianos de civilizações passadas. A produção de materiais líticos, por exemplo, por meio da lascação, percussão ou pressão é muito utilizada afim de melhor compreender o meio utilizado pelos grupos pré-históricos nas produções de suas próprias ferramentas. Sobre a produção destes materiais, o professor Bruce Bradley explica: “ Então, quanto mais aprendermos como as pessoas faziam uso de seus instrumentos de pedra melhor compreendemos o passado” passado” (CORDEIRO, 2015). O mesmo caminho é seguido por muitos reconstrucionistas. Como exemplos específicos, podem ser citados a fabricação de um machado dinamarquês do século IX, pelos meios de produção utilizados neste mesmo século, ou a produção de um vestuário norueguês do século XI, por meios de tecelagem desta determinada época, práticas não raras de se encontrar no cenário da reconstrução histórica. Esses produtores almejam tanto a produção de um artefato com o máximo de semelhança a uma ferramenta original da época estipulada, quanto uma compreensão cada vez mais ampla em relação aos modos de produção antigos.

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Oficina de tecelagem escandinava, Centro experimental de Lejre, Dinamarca, Fotografia de Johnni Langer, julho de 2018.

 A arqueologia experimental e a reconstrução histórica assemelham-se também no sentido de ambas possuírem o intuito de reviverem algumas características de civilizações ou grupos sociais do passado. As práticas utilizadas pelos reconstrucionistas, na procura de reproduzir aspectos da vida de um grupo social específico, envolvem o uso das ferramentas as quais aquela população detinha em um dado momento, os meios de produção para estas ferramentas, os costumes culinários e os meios para cozinhá-los e os lugares para dormir, por exemplo. As vestimentas costuradas por máquinas de tear, o uso de espadas e machados e o uso de fogueiras ou fornalhas são comuns de se encontrar em meio à esta atividade. Parte dessas características também são desenvolvidas pelos arqueólogos que praticam pr aticam a arqueologia

experimental, que experimentam o uso de uma ferramenta lítica ou até mesmo noites de sono em cabanas feitas de troncos e peles de animais. São justamente estas semelhanças entre a arqueologia experimental e a reconstrução histórica que serão desenvolvidas neste artigo, focando nas pesquisas e reconstruções da Era Viking.

 

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Arqueologia experimental e reconstrução histórica: diferenças e semelhanças das atividades   atividades  Antes de qualquer desenvolvimento das semelhanças da arqueologia experimental e da reconstrução histórica, relacionando características desta segunda como métodos da primeira, é necessário ressaltar o caráter da arqueologia como disciplina acadêmica. A ciência arqueológica, desde o final do século XIX e início do XX, travou duras lutas por seu reconhecimento como ciência e como disciplina. Os arqueólogos utilizam teorias, hipóteses e materiais de eficácia comprovada para validar seus estudos. Portanto é necessário afirmar, que por meio deste artigo, não se procura comparar a reconstrução histórica com uma ciência fundamentada, que há mais de um século, luta por seus avanços no meio acadêmico e científico. Mesmo quando caracteriza-se a reconstrução histórica como uma atividade séria e aprofundada em estudos científicos, não é possível compará-la com a arqueologia no geral. Reitera-se aqui, que intuito no presente artigo é comparar certas características da reconstrução histórica com métodos da arqueologia experimental, explanando o caráter importante desta primeira atividade como prática educativa fundada em estudos aprofundados e suas diversas semelhanças com o campo da arqueologia citado anteriormente.

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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Vila viking, Centro experimental de Lejre, Dinamarca, fotografia de Luciana de Campos, julho de 2018.  A arqueologia experimental surge durante a década de 1960, no florescer da  Arqueologia Processual, também conhecida como Nova Arqueologia. Nas décadas anteriores, a ciência arqueológica estava engendrada na agenda política das grandes potências, os estudos desta ciência eram focados, principalmente, em discussões sobre etnia e raça e os países que possuíam capacidade de investir na ciência, mesmo no cenário da Segunda Guerra Mundial. Utilizavam-na afim de justificar a suposta grandiosidade de sua cultura acima das culturas das diversas nações. É na década de 1960 que estas discussões se deterioram deteri oram em meio ao surgimento do Processualismo. Esta corrente da arqueologia nasce com forte influência do positivismo, manifestando-se com o intuito de provar a arqueologia como ciência. Novos métodos surgem dentro das discussões arqueológicas, assim como novas hipóteses. Dentro destas novas hipóteses, surgem questionamentos sobre os artefatos encontrados em meios às escavações. “Como o artefato X ou Y foi produzido?” produzido?”, “qual

era a função deste objeto?” objeto?”. Foi por meio destas questões que a arqueologia experimental se desenvolveu. Para responder a primeira pergunta, os arqueólogos buscavam produzir artefatos semelhantes aos encontrados com materiais que, segundo os estudos, estaria disponível na época e local remetente ao espaço em que o artefato foi encontrado. Para responder a segunda,

 

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a réplica era testada em cima das hipóteses sobre a função do vestígio original, afim de comprová-las ou não. Sobre isso, o doutor Metin I. Eren explica (2009, p.26): In order for an experimental analysis to be valid and applicable archaeologically, it must be actualistic. This requires replicated artifacts to be produced as closely as possible to those found in the archaeological record. Experimental and experiential practice with the procedures and techniques necessary for accurate artifact replication not only requires students to memorize what a particular artifact or artifact trait looks like (e.g. a lithic flake with a lipped platform), platf orm), but also why it appears the way it does[...].

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Vilas da Idade do Bronze e do Ferro, centro experimental de Lejre, Dinamarca, fotografias de Johnni Langer, julho de 2018 . 

 

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Pode-se considerar, então, a arqueologia experimental como um meio científico da arqueologia, com o objetivo de obter melhor compreensão acerca da produção de artefatos e de seu uso. Estes procedimentos demarcam uma semelhança marcante da reconstrução histórica com a arqueologia experimental. Dentro desta primeira, como já falado anteriormente, procura-se atingir o máximo de autenticidade. Não raro os equipamentos utilizados pelos reconstrucionistas são produzidos por materiais que, de acordo com estudos, estaria disponível para o grupo social reconstruído na época escolhida.  Além disso, um assunto exaustivamente estudado dentro do reconstrucionismo histórico, são as táticas de combate, principalmente da Idade Média. Este estudo sofre grande influência do HEMA (Historical European Martial Arts), também conhecido como AMHE (Artes Marciais Históricas Europeias), um sistema de luta que, baseado principalmente em fontes primárias literárias ou iconográficas, busca recriar os sistemas de luta europeus que desapareceram ou se modificaram ao decorrer dos séculos.  As táticas de combate utilizadas no reconstrucionismo, além de utilizarem de equipamentos verossimilhantes aos da realidade do grupo social reconstruído, são estudadas e desenvolvidas para também atingirem o nível de autenticidade pretendida. Manuais e tratados de combate, quando existentes, são estudados em busca de fundamentos teóricos para os sistemas técnicos das lutas. Os reconstrucionistas buscam responder dentro de sua propria atividade as duas questões principais da arqueologia experimental: desenvolvem os equipamentos com

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base no questionamento sobre os métodos utilizados e, por meio dos artefatos reconstruídos (além de outras fontes), procuram aprofundar-se na forma como eram operados. Diferentes tipos de armamentos, como espadas, machados, escudos ou lanças tem sua anatomia examinada para sejam descobertas as funções de cada parte do objeto.

 

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Os combates são, na verdade, uma área de grande combinação entre a arqueologia experimental e a reconstrução histórica. Diversos arqueólogos também desenvolvem suas pesquisas em cima dos combates, como é o caso do ar arqueólogo queólogo Rolf F. Warming, em seu artigo Round Shields and Body Techniques: Experimental  Archaeology with a Viking age round shield reconstruction (WARMING, Rolf Fabricius, 2014), o qual desenvolve técnicas de combate com o uso de um escudo da Era Viking, tendo como base a arqueologia experimental. Além dessas pesquisas servirem para o desenvolvimento da reconstrução histórica na busca pela autenticidade. Na bbusca usca incessante pela verossimilhança que existe entre os reconstrucionstas, alguns utilizam-se de métodos científicos para atingir os métodos mais adequados de luta e, por meio desta descoberta e pela análise de fontes científicas, encontrar quais táticas eram mais provavelmente utilizadas dentro dos conflitos. Dentro do contexto de reconstrução histórica e arqueologia experimental da Era Viking, as semelhanças se aprofundam. Ainda inserido no campo do combate, os armamentos e armaduras representam um assunto importante tanto para os reconstrucionistas, quanto para os arqueólogos. Uma das semelhanças marcantes, é o uso da tipologia Petersen por ambos os grupos. Dentro do reconstrucionismo, ferreiros buscam recriar espadas, machados e lanças da Era Viking, assim como elmos e cotas de malhas. É o caso de Vinícius Ferreira Arruda, fundador do site reenactmentbr r eenactmentbr e ferreiro profissional na ferraria Hjörvarðr, focado em réplicas da alta Idade Média. Assim como na arqueologia, equipes de pesquisadores coordenam pesquisas em cima de artefatos desta Era, desde os mais simples aos mais complexos, como é o caso das espadas Ulfberth.

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 As espadas Ulfberth fazem parte de um conjunto desses d esses armamentos ar mamentos que q ue foram encontrados principalmente na Noruega e na Suíça. A lâminas dos exemplares encontrados leva a inscrição +Vlfberth+. Entretanto, o que chamou mais atenção dos arqueólogos foi a qualidade do equipamento. A qualidade do aço era muito superior ao aço medieval, além de possuir uma quantidade de carbono acima do normal em relação ao padrão das espadas medievais. No documentário “Secrets of the Viking Swords” Swords”, o

 

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ferreiro Richard Furrer, com o auxílio de pesquisadores, reconstitui uma réplica de uma das espadas Ulfberth encontradas. O grupo Combat Archaeology está trabalhando em um projeto semelhante, intitulado “The Ulfberth Project: Reconstructing a Viking Age Sword””. Sword É possível ver também um trabalho semelhante empreendido por reconstrucionistas históricos e arqueólogos em relação às embarcações vikings. As embarcações colaboraram muito para o sucesso da civilização viking; Foram um dos principais motivos da fama desta civilização, tanto t anto na história quanto posteriormente, na mídia. Até hoje os barcos da Era Er a Viking são valorizados como potentes veículos marinhos, principalmente para sua época, o que demonstrava um avanço tecnológico na cultura escandinava deste período em relação às outras quando se trata deste d este assunto. Os barcos  vikings eram divididos em duas categorias: embarcações de carga e navios de guerra. As primeiras possuíam uma capacidade capacidade maior para viag viagem em em mar aberto, sendo utilizadas para o deslocamento de mercadorias e de maior peso que as segundas. Os navios de guerra eram “ voltados para as comitivas reais, geralmente longos e leves, com pouca capacidade de carga e desenvolvidos para a navegação de cabotagem ”  (MIRANDA, 2018, paginação irregular). Os arqueólogos começaram o trabalho de arqueologia experimental em cima dos barcos da Era Viking, principalmente após 1962, quando a pesquisa arqueológica feita acerca de cinco embarcações vikings encontradas na região de Skuldelev, na Dinamarca, foi concluída. A descoberta da presença da primeira embarcação encontrada ocorreu em 1924, quando os arqueólogos descobriram uma quilha e avisaram ao Museu da

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Dinamarca. Sobre as embarcações, Munir Lutfe Ayoub explica (AYOUB, 2018, paginação irregular): O bloqueio resultante do naufrágio das embarcações e de um preenchimento de pedras – que se situava aproximadamente no no ponto intermediário da profundidade de 40 km do Fjord, que corta a ilha de Zealand em direção norte-sul –   , é considerado estratégia de bloqueios de embarcações inimigas que poderiam tentar atacar a cidade de

 

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Roskilde. Tal estratégia teve sua primeira fase de desenvolvimento entre os anos 1070 e 1090, com o naufrágio do Skuldelev 1 (grande cargueiro), no Skuldelev 3 (pequeno cargueiro) e do Skuldelev 5 (embarcação de guerra de médio porte). A segunda parte, que seria desenvolvida entre os anos 1100 e 1140 – com o objetivo de reforçar o bloqueio , foi

realizada

pelo

naufrágio

de

uma

grande

embarcação de guerra (que, inicialmente, foi confundida com duas embarcações e, por esse motivo, denominada Skuldelev 2/4) e pelo Skuldelev Sk uldelev 6, um pequeno cargueiro […]. Ele continua, então, sobre a pesquisa arqueólogica feita em cima das embarcações: O trabalho arqueológico teve início em 1957, quando iniciou um ponto de compreensão da área, que contou até mesmo com mergulhos estratégicos nas partes em que a água se fazia mais profunda. O trabalho incluía mapear a extensão da localidade coberta pelas pedras e, finalmente, remove-las [… […].

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Marcelo Casariego, grupo Haglaz (RJ)  Após a finalização das pesquisas sobre as embarcações, os arqueólogos se engajaram na arqueologia experimental em cima da fascinante descoberta. Em 1983, os pesquisadores envolvidos construíram uma embarcação denominada Saga Siglar,

 

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baseada na Skuldelev 1. Já em 1982, foi construída a Roar Ege, desta vez, inspirada na Skuldelev 3. Esta segunda embarcação pode ser encontrada nos dias de hoje aportada próxima ao Museu de Barcos Viking, enquanto a primeira naufragou em 1992. Como já foi dito, a recriação de embarcações da Era Viking também ocorre dentro da reconstrução histórica. Em muito se assemelham à arqueologia experimental os métodos utilizados pelos grupos praticantes de reconstrução, os quais buscam uma maneira efetiva e autêntica de atingir os resultados esperados. Em 2013, reconstrucionistas australianos participaram da recriação de um navio Viking, junto de pesquisadores do Australian National Maritime Museum, afim de participar da abertura da exposição “ Vikings –   Beyond the legend” legend ”   no Museu Histórico de Estocolmo. O trabalho dos reconstrucionistas junto aos funcionários do museu explicita uma proximidade dos métodos usados pelos pesquisadores e pelos reconstrucionistas, além do interesse conjunto de ambos.  A comida se trata de outro exemplo em que o reconstrucionismo e a arqueologia medieval se encontram. Em entrevista com o Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, o doutor Daniel Serra, estudioso da culinária medieval, principalmente da Era Viking, explica seu trabalho com co m a arqueologia experimental e a culinária. Para ele, “a comida serve como um veículo de expressão cultural e social” social ”. Nesta mesma entrevista, Daniel Serra cita que começou a “ recriar sabores e pratos para os propósitos de  Arqueologia Experimental, bem como a Era Viking e com grupos de reconstrucionismo também””. também Conclusões finais  finais 

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O artigo trilhou um caminho entre a arqueologia experimental e a reconstrução histórica, principalmente em cima da Era Viking, buscando comparar características e métodos dos reconstrucionistas com os dos arqueólogos. Além disso, ressalta-se no presente trabalho os frutíferos resultados provenientes das recentes atuações conjuntas dos praticantes da reconstrução histórica e dos arqueólogos que trabalham no ramo da arqueologia experimental.

 

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Foi fundamentado o conceito de reconstrução histórica e de arqueologia experimental por meio de estudos em cima de bibliografias sobre ambas as atividades. O mesmo caminho foi seguido para justificar as afirmações sobre a Era Viking. As semelhanças entre o reconstrucionismo e a arqueologia experimental tornaram-se claras por meio de exemplos de atividades parecidas dos dois campos, da atuação conjunta de reconstrucionistas e arqueólogos e por meio de citações de d e pesquisadores que ressaltam a participação dos grupos de reconstrução nos projetos de arqueologia experimental. Nota-se, então, o quão importante é o envolvimento dos reconstrucionistas comprometidos com a atenticidade com a arqueologia experimental, como afirma a doutora Luciana de Campos em sua matéria “Recriando a cerâmica da Era Viking: uma atividade em arqueologia experimental” experimental”: Este

experimento

mostra

que

atividades

como

a

Arqueologia

experimental pode fazer parte de uma nova proposta de Educação museológica, onde a teoria e a prática estão aliadas e concede espaço e visibilidade aos recconstrucionistas sérios e comprometidos que trabalham para que a pesquisa científica desenvolvida em laboratórios e universidades extrapolem seus muros e se tornem, cada dia mais presentes no cotidiano de todos. É necessário ressaltar que os interesses de arqueólogos podem, por vezes, ir de encontro aos dos artesãos que trabalham no reconstrucionismo histórico. Os arqueólogos buscam métodos de recriação e uma réplica autêntica que irá servir ao desenvolvimento de seus experimentos. Já os reconstrucionistas, que praticam os ofícios de recriação de artefatos, vão buscar nas culturas materiais uma fonte de inspiração para

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sua atividade, procurando desenvolvê-la com o máximo de verossimilhança. Entretanto, até o momento os interesses divergentes não tem se mostrado um obstáculo para o andamento destas atuações em conjunto. Alguns grupos já estão buscando ampliar esta inteiração entre os reconstrucionistas, arqueólogos praticantes ou não da arqueologia experimental, museólogos e outras categorias. Um exemplo disto é a “ Reconference Reconference”” , uma conferência interdisciplinar organizada pelo grupo Hands on

 

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History que possui como tópico o reconstrucionismo histórico e living history. O grupo conclama todas as categorias anteriormente citadas neste parágrafo para estarem presentes no evento, além de jornalistas, cinegrafistas e professores universitários. Iniciativas como essas são de suma importância para o avanço do potencial presente nesta integração. Por fim, vê-se, então, a necessidade de se incentivar cada vez mais estas atuações. É notável que esta ligação entre a arqueologia experimental e o reconstrucionismo histórico apresenta um grande potencial, como foi f oi comprovado, além dos exemplos mostrados no artigo, mas também no projeto do Centro de Arqueologia Experimental da Universidade de Copenhagen explicado pela doutora Luciana de Campos em sua matéria citada acima.

Referências bibliográficas  bibliográficas   AYOUB, Munir Lutfe. Lutfe. Roskilde. In: LANGER, LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e   Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra. Edição eBook. 2018. CAMPOS, Luciana de. Recriando a cerâmica da Era Viking: uma atividade em arqueologia experimental. 2018. experimental. 2018. CORDEIRO, Silvio Luiz (dir.);  Arqueologia Experimental    - técnicas de produção de artefatos líticos. Museu Imaginário, 2015, 9m. EREN, Metin I. Experimental archaeology as a pillar of archaeological educatio nn. . 

391 

Nicolay

107,

p.25-32.

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MIRANDA, Pablo Gomes Miranda de. Embarcações. In: LANGER, LANGER, Johnn Johnnii (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra. Edição eBook. 2018. SERRA, Danial. Entrevista concedida a James Wiener. Tradução parcial feita pelo grupo Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos. Comida da Era Viking: entrevista com o novo colaborador estrangeiro do NEVE.  NEVE.  2016.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

WARMING, Rolf Fabricius; Round Shields and Body Techniques: Experimental  Archaeology with a Viking Viking Age Round Shield Reconstruction . 2014. PDF. 392 

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

ENTRE TRANÇAS E NÓS: OS ADORNOS CAPILARES FEMININOS NA ERA VIKING Luciana de Campos

Os cabelos sempre foram um dos adornos mais importantes usados pelas mulheres desde a Pré-História. Podiam ser utilizados para simplesmente enfeitar-se ou seduzirem, ou arrumá-los para agradar aos deuses e, assim protegerem-se contra possíveis infortúnios e também demonstrarem o seu status social. Uma mulher que apresentasse farta cabeleira, bem arrumada era mais do que um simples acessório de beleza, e pode apresentar-nos maiores possibilidades de análise do seu uso e não apenas restringir-se à habilidade manual para a composição de tranças e nós, pois, essas tramas capilares são reveladoras de posições sociais, de estado civil e também de serviço religioso e de utilização mágica. Os cabelos longos utilizados tanto por homens como por mulheres – desde a Mesopotâmia até o mundo contemporâneo - sempre estiveram ligados à virilidade, a força e também a liberdade (Rouche, 2009, p. 441). A literatura, as artes plásticas, o cinema e, mais recentemente os jogos de RPG e eletrônicos sempre apresentaram os guerreiros mais fortes e as mulheres mais belas com vastas e espessas cabeleiras, as madeixas femininas muitas vezes caiam até a altura da cintura e havia aquelas mais longas ainda. A arte Pré-Rafaelita sempre apresentou as suas mulheres que na maioria das d as vezes eram personagens da mitologia e do folclore nórdicos com cabelos muito longos

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geralmente soltos para reforçar o seu caráter de sedução e também mostrar que os cabelos muito longos constituíam um padrão de beleza da Era Viking. Essas representações das longas cabeleiras tanto masculinas como femininas que sobreviveram so breviveram ao longo do tempo nas artes e também no imaginário popular, foram preservadas em pingentes, em múmias e na iconografia são fundamentais para entendermos como as tramas capilares femininas foram importantes meios de demonstração de condição social e também de práticas mágico-religiosas.

 

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Os cabelos femininos bem compridos eram deixados soltos pelas mulheres solteiras, não havendo a necessidade de ocultá-los sob os lenços ou toucas que evidenciavam o seu matrimônio (ROUCHE, 2009, p. 441,442), como mostram as imagens das figuras 3 e 4 de uma mulher da Era Viking que trança seus cabelos e depois faz um nó triplo (o Valknut ou nó dos mortos) com elas e envolve toda a cabeça com uma espécie de touca.

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Figura 1: Ilustração contemporânea do uso de lenços ou tocas por mulheres da Er Eraa Viking, fonte: http://www.vikinganswerlady.com/hairstyl.shtml acesso em 27/02/2013 às 09:51. Figura 2: Ilustração contemporânea de tranças da Era Viking. Fonte: http://www.pinterest.com/pin/172333123214286860/ Acesso em 27/02/2013 às 09:54.  Adornados com longas tranças presas com fitas tecidas com linho lã específicas para prender os cabelos ou finas tiras de couro eram também presos por nós, principalmente o nó triplo, o valknut (Langer, 2010, p. 13) ou nó dos mortos que, e podemos supor que esses nós capilares não tinham somente um efeito estético, eram também utilizados como simbolismos mágicos. As tranças podiam ser presas em forma de coque no alto da cabeça ou à altura da nuca, ou, então envolvendo toda a cabeça como uma coroa ou, então, presas umas as outras e atadas com o nó triplo e, depois envolvidas com um lenço. Já o nó triplo no alto da cabeça que deixava cair em cascata o restante dos cabelos é um penteado muito comum em pingentes da Era Viking representando as  valquírias.  As imagens imagens 1 e 2 abaixo mostram dois diferentes tipos de tranças e nós usados pelas mulheres na Era Viking: na primeira, as tranças são atadas por fitas ao redor da cabeça proporcionando um efeito estético que lembra uma coroa e, na outra ilustração (figura 2) há outra trança, também atada à nuca e cai pelas costas dando a impressão que estão emaranhadas por nós. A imagem 3 é a representação gravada em estela gotlandesa de uma valquíria segurando um corno de hidromel e pode-se pod e-se perceber de maneira evidente o nó triplo em seus cabelos.

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Figura 3: Imagem de valquíria da Era Viking, portando um tradicional nó odínico, Gotland, séculos VIII-IX. Fonte: Museu Histórico de Estocolmo. Figura 4: Pingente de Valquíria de Funen, Dinamarca, circa 800. Apresenta o mesmo nó que a figura anterior, mas em detalhes tridimensionais. Fonte: Jesch, 2014.

Nesses pingentes (figura 4) ou baixo relevos em pedra que representam as  valquírias, essas mulheres aparecem de perfil segurando um corno de bebida e estão algumas vezes em trajes femininos muito comuns em toda a Era Viking: vestidos com sobrecapa adornados por colares de contas e presos com fivelas de metal que quanto mais coloridos e trabalhados eram tantos as fivelas como os colares demonstravam a maior riqueza e visibilidade social de suas usuárias. Esses pingentes que representam as  valquíras as colocam sempre em posição de atendentes, e o que evidencia que essas

 

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mulheres podem ser reconhecidas como valquírias é justamente pela presença do nó triplo do alto da cabeça e o corno de hidromel que seguram e o mesmo está pronto para ser entregue aos guerreiros que chegam ao Valhala. Mas também atentamos ao fato de que em pingentes, as emissárias de Odin geralmente portam equipamentos bélicos, como podemos constatar na figura 4, apresentando o mesmo nó capilar da figura 3. Como essas representações de adornos capilares ainda é um campo pouco explorado tanto por pesquisadores nacionais como por estrangeiros e, portanto a bibliografia é praticamente inexistente, esse campo de estudo está relacionado diretamente ao estudo do corpo e suas repres representações. entações. Infelizmente esse tipo de pesquisa ainda consta apenas como curiosidade sobre a vida cotidiana das mulheres nórdicas da Alta Idade Média e muito há a ser estudado, pois essas representações são fundamentais para compreendermos a dinâmica de funcionamento de determinadas grupos sociais e tanto a roupa, como os acessórios, como por exemplo, as tranças e os nós são peças-chave para esse estudo. Há algumas pesquisas disponíveis muito genéricas sobre a história do cabelo seus adereços e, principalmente o seu uso não só como um simples adorno, mas, como um símbolo de poder e de visibilidade social. Recentes estudos como os da arqueóloga britânica Marianne Moen que escreveu a dissertação “ The gendered landscape” landscape ”   onde aborda questões pouco exploradas de gênero levanta muitas hipóteses que devem ser levadas em conta quando estudamos não somente a mulher na Era Viking, mas tudo o que q ue cerca o mundo feminino na época como  vestimentas, acessórios, utensílios domésticos e, principalmente um cuidado especial quando são utilizadas fontes literárias para essa análise. A arqueóloga ressalta que a

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partir do século XIX quando a Era Viking e, consequentemente a construção de um ideal de mulher viking passou a ter uma importância significativa para a composição e consolidação de uma identidade escandinava isso se deu sob a forte influência dos rígidos ideais vitorianos de conhecimento, moral, beleza e, principalmente comportamento. Durante a Era Vitoriana foram feitas muitas descobertas arqueológicas e durante esse processo estabeleceram-se rígidas normas de como deveriam ser apresentadas e representadas principalmente para o grande público que consumia via imprensa as

 

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notícias dessas descobertas, os modelos femininos vigentes das sociedades que estavam sendo estudadas a partir dos achados arqueológicos. Os modelos de beleza vitorianos pregavam o recato: a mulher devia estar presa aos sufocantes espartilhos e, mesmo sem habilidade praticar cotidianamente o que, no mundo contemporâneo as mulheres fazem por prazer: thing lacing que é a habilidade de trançar com certa rapidez as fitas que prendem o espartilho e, claro manter presa e de preferência com muito recato com tranças, fitas e alfinetes a vasta cabeleira que podia ser mostrada apenas para o esposo na meia luz dos aposentos. Esses modelos estéticos femininos que como já foi dito anteriormente ganhou força principalmente a Escola Pré-Rafaelita é praticamente o modelo vigente até hoje: no imaginário, a mulher viking sempre é representada com os longos cabelos presos com espessas tranças. Não há como pensarmos nelas sem os seus longos cabelos. A arte nas suas mais variadas formas já impregnou o nosso imaginário com esse modelo, mas um “ corpo do pântano ” , o “ corpo de Elling ”   achado recentemente na Dinamarca, apresentou conservado o corpo corp o e principalmente o cabelo de uma mulher, possivelmente pertencente a aristocracia, que apresenta um penteado com nós e tranças muito elaborado o que reforça a hipótese de que mais do que simples adorno natural os ccabelos abelos serviam para serem trabalhados e assim demonstrarem a visibilidade das mulheres na sociedade nórdica. As tranças do corpo feminino de Elling são importantes para compreendermos como esses penteados foram importantes não



para

a demonstração de poder dessas mulheres uma vez que seus cabelos eram trançados por outras mulheres, provavelmente suas servas ou até escravas e que cabelos muito

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elaborados com variados tipos de tranças e nós eram um privilégio das mulheres da aristocracia.

 

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Figura

4:

Cabeça

da

Mulher

de

Elling.

Fonte:

http://www.tollundman.dk/ellingkvinden.asp. http://www.tollundman .dk/ellingkvinden.asp. Acesso em 27/02/2013 às 10:00.

Figura 5: reconstituição contemporânea das tranças da Mulher de Elling. Fonte: http://www.tollundman.dk/ellingkvinden.asp. http://www.tollundman .dk/ellingkvinden.asp. Acesso em 27/02/2013 às 10:01.

Bem como as mulheres mesopotâmicas, egípcias, gregas, romanas e até mesmo as vitorianas, somente as mais abastadas podiam contar com servas para pentearem e, por assim dizer “esculpirem esculpirem”” seus cabelos de forma muito elaborada que além de realçarem a sua beleza eram um demonstrativo da sua alta posição. Pensando nas mulheres escandinavas que viviam em grandes propriedades que abrigavam um número considerável de trabalhadores aos seus serviços e onde ela detinha um poder que não pode ser visto como limitado à esfera privada, pois elas possuíam o controle das

 

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chaves não só da casa mas das despensas que durante os invernos rigorosos abasteciam as mesas de todos, portanto cabelos femininos artisticamente trançados eram uma grande demonstração de poder e de prestígio dentro da comunidade. O estudo dos adornos capilares femininos na Era Viking ainda está dando os seus primeiros passos, portanto é necessário muito mais estudos e uma pesquisa multidisciplinar onde a Arqueologia, a Literatura, a ourivesaria, e a iconografia estudadas em conjunto possam fornecer os dados necessários para investigarmos em profundidade e com muito mais rigor e propriedade o muito que os nós, as tramas e as tranças têm a nos dizer. É necessário pesquisas mais profundas, pois há pesquisadores interessados e mais ainda, há um grande numero de jovens estudantes que sentem-se motivados para estudar esse tipo de comportamento cotidiano, porém é necessário quem não se trave o conhecimento e que as práticas corriqueiras do cotidiano sejam vistas como fundamentais para o estudo assim como os documentos escritos.

Referências: 

DAVIDSON, Hilda Ellis. Myths and symbols in pagan Europe: early Scandinavi Scandinavian an and celtic religions. Syracuse: Syracuse University Press, 1988. JESCH, Judith. Viking women, warriors, and valkyries. British Museum Blog, 2014. JOCHENS, Jenny. Women in Old Norse Society. London: Cornell University Press, 1998. 1998 . LANGER, Johnni. Símbolos Religiosos dos Vikings: guia iconográfico. In: História,

400 

Imagem e Narrativa 11, outubro de 2010, p. 13. MOEN, Marianne. The gendered landscape: a discussion on gender, status and power expressed in the Viking Age mortuary landscape. Master dissertation, Oslo University, 2010. ROUCHE, Michel. Do Império Romano ao Ano Mil. In: ARIÈS, Philippe e DUBY, Georges. História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 441.

 

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CINCO ERROS SOBRE ALIMENTAÇÃO NA ERA VIKING O que os nórdicos antigos realmente realmente comiam e bebiam?  

Luciana de Campos

Os hábitos alimentares –   que envolvem desde o cultivo de vegetais, criação de animais, o processamento destes até chegar à mesa – sempre despertaram a curiosidade e o paladar. Conhecer os alimentos bem como o seu modo de preparo é atualmente uma das grandes curiosidades que leva desde jornalistas e até o mais renomado especialista a buscar as informações mais precisas e, também, aventurar-se a “reconstituir reconstituir”” os pratos apreciados pelos povos do passado.  A Arqueologia Experimental da Alimentação em alguns centros de pesquisa

como, por exemplo a UCD School of Archaeology's Centre for Experimental  Archaeology and Material Culture , no campus da University College Dublin, Irlanda, que além de outras pesquisas trabalha com a reconstituição da alimentação nórdica antiga. Contamos hoje com a publicação de livros especializados como o An o An Early Meal , de Daniel Serra, totalmente dedicado à alimentação na Era Viking. Mas, mesmo com os experimentos, a publicação de artigos científicos e de popularização, ainda restam muitas dúvidas pois a mídia, o cinema e a literatura de fantasia muitas vezes

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

fazem “adaptações adaptações”” um tanto quanto errôneas e aí vemos preparações de pratos que não existiam em determinadas épocas.

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1.

”  na O uso do “  Apple bacon ”   na Era Viking  

Um prato que nos últimos tempos ganhou destaque nos eventos reconstrucionistas tanto nacionais como internacionais foi o æbleflæsk  -  - conhecido também como “apple bacon””, que nada mais é do que carne de porco defumada e salgada refogada com maçãs bacon ácidas e, em algumas variações também pode levar cebolas e alho-poró. Esse prato tem a sua origem nas zonas rurais dinamarquesas do século XVIII. Durante os rigorosos

invernos os camponeses não podiam de maneira alguma abandonar seus afazeres, precisando de muitas calorias para trabalhar e suportar o frio. A solução? Fazer uma refeição deliciosa e quente misturando dois ingredientes que eram abundantes no inverno: maçãs e bacon! Esse prato tornou-se popular em toda a Dinamarca e foram acrescentados ingredientes conforme o paladar de quem o consumia. Se em uma região havia muitas cebolas, elas eram incorporadas, se havia muito alho-poró era ele que se mesclava à carne de porco e às maçãs. No século XIX muitos camponeses migraram para as cidades em busca de uma vida melhor e na bagagem trouxeram essa receita e a

 

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popularizaram. Esse prato ainda hoje é muito consumido principalmente no inverno e é uma presença constantes nas mesas no almoço do dia de Natal. Portanto os nórdicos da Era Viking não eram apreciadores dessa iguaria, pois viveram alguns séculos antes dela ser inventada!

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2.  2. 

“  Arroz com amêndoas ”  ”  

Um prato doce que é típico das festas natalinas em toda a Escandinávia e que leva canela, açúcar, amêndoas, leite e arroz em sua preparação e que começou a se popularizar no século XIX! Portanto, os nórdicos da Era Viking não consumiam esse tipo de alimento, mas, infelizmente esse prato aparece no menu de muitos restaurantes

que querem servir a “autêntica comida viking” viking”, tanto aqui no Brasil como no exterior. Um erro doce, mas ainda assim um erro!

 

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3.  3. 

O hidromel era a bebida mais consumida entre os vikings!  

Essa frase foi publicada em uma recente reportagem em site e revista brasileira br asileira e é um outro equívoco. Em festivais, feiras, mercados e banquetes, tanto os nacionais como os estrangeiros, o hidromel é presença obrigatória! ob rigatória! Existem os mais variados sabores sabor es que misturam frutas e ervas bem como méis de diferentes d iferentes floradas, armazenados em barris e envelhecidos. Há hidromel para todos os gostos! Mas é preciso lembrar que essa bebida na Era Viking era cara e destinada somente aos mais ricos e em ocasiões especiais como

a comemoração das vitórias em batalha, a celebração de alianças entre famílias ou chefes guerreiros. A Edda Poética  descreve  descreve como Odin, depois de passar três dias d ias deliciando-se com a bebida e os beijos b eijos e carícias de Gunnlod, metamorfoseou-se em águia ro roubando ubando o precioso licor da beldade para levá-lo para os outros deuses. As gotas que caíram do bico da águia sobre a cabeça de alguns afortunados lhes concedeu a dádiva de escreverem a boa poesia. Já o que saiu pela cloaca, deu origem aos péssimos poetas. O hidromel possuía um caráter sagrado e, aliado a sua difícil produção, tornou-se uma bebida

 

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atribuída às divindades e aos seus eleitos. O hidromel não era abundante na Era Viking como outra bebida, a cerveja.  A cerveja pode ser definida grosseiramente grosseiramente como um fermentado rápido de cereais e ervas com uma baixa graduação alcoólica para ser consumida no cotidiano substituindo assim, o consumo de água pura que poderia transmitir doenças. O consumo de cerveja –  fosse ela elaborada com os mais diversos cereais ou mesmo ervas ou raízes – era uma maneira de hidratar-se sem adoecer, daí a explicação para o seu consumo por todas as pessoas, dos mais novos aos mais velhos, dos mais abastados aos mais pobres. Do aristocrata ao servo todos consumiam cerveja no dia-a-dia: para acompanhar as refeições, para saciar a sede depois de lavrar o campo, durante o tempo que durava colheita ou nos barcos, enquanto se faziam as viagens. A cerveja foi, portanto, a bebida mais consumida na Era Viking . Uma outra bebida também muito consumida que visava aproveitar as frutas, principalmente peras e maçãs, que não serviam mais para o consumo era a sidra   que que nada mais é do quem fermentado do suco dessas frutas. Muitas vezes a sidra era consumida aquecida principalmente durante o inverno.

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4.  4. 

 A canela era usada usada pelos nórdicos da Era Viking  

Um outro item que também merece destaque no que diz respeito à alimentação é o uso da canela. Essa especiaria não era consumida pelos nórdicos antigos! A canela passou a fazer parte da dieta escandinava somente a partir do século XVI quando o

 

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comércio de especiarias do Oriente já estava definitivamente consolidado em toda a Europa. E, foi entre os séculos XVII e XVIII que surgiu uma receita que até hoje é presença obrigatória tanto no café da manhã como nos lanches da tarde: o kanelsnegl (em dinamarquês, kanelbulle em sueco, em norueguês skillingsboller, korvapuusti e em finlandês). Trata-se de um pãozinho não muito doce que leva farinha, açúcar, manteiga e, claro muita canela em sua preparação e é muito apreciado por pessoas de todas a idades e é delicioso!Uma dica: os melhores kanelsnegl da Dinamarca são feitos em uma confeitaria que funciona no mesmo local desde o final do século XIX em Lejre e, os segundos melhores são feitos em Ribe, em uma padaria que funciona desde o século XVIII. A receita do kanelsnegl tem forte influência da culinária alemã e adentrou os receituários escandinavos entrealguns os séculos XVII e XVIII, portanto é uma receita um da Idade Moderna.Recentemente reconstrucionistas dinamarqueses divulgaram  vídeo com a receita do kanelsnegl como sendo uma comida da Era Viking. Alguns especialistas fizeram uma correção imediata, solicitando a retirada do material online bem como uma retração que foi imediatamente feita desfazendo assim possíveis equívocos.

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5. Os vikings só consumiam carne assada   Os filmes e as séries de TV imortalizaram a imagens dos nórdicos da Era Viking como ávidos comedores de carnes assadas. A imagem do porco no espeto girando sobre brasas é clássica! Mas as carnes – de aves, bovina, suína, ovina e caprina – eram mais consumidas em ocasiões especiais, como as celebrações e banquetes esporádicos, por exemplo. As refeições cotidianas continham uma quantidade muito grande de vegetais –  legumes, verduras e frutas -, cereais e peixes secos. A carne quando era consumida no cotidiano era em forma de ensopado sempre misturada com uma grande quantidade de  vegetais. O consumo de carne existia mas não era cotidiano, pois os animais tinham mais  valor vivos não só pelos produtos que ofereciam –   leite leite e lã –  mas também pelo seu trabalho como animais de tração. *** Quando nos dedicamos a reconstituição de um prato, seja ela integrando um estudo de arqueologia experimental da alimentação ou para ser servido em um evento reconstrucionista é preciso ter o cuidado de pesquisar muito bem os ingredientes e o seu consumo na época e, acima de tudo saber que se está elaborando uma receita antiga com ingredientes contemporâneos e que muitas vezes o sabor, cor, textura pode se assemelhar ao prato original mas que será bem diferente daquele devido a uma série de fatores que interferem diretamente na composição do alimento. Bibliografia:   Bibliografia: BLACK, Maggie. The medieval cookbook . London: The British Museum Press, 2015.

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CAMPOS, Luciana de. Comendo com os vikings, uma viagem gastronômica. Scandia gastronômica.  Scandia Journal of Medieval Norse Studies 1, 2018, pp. 236-242. CAMPOS, Luciana de. Um banquete para Heimdallr: uma análise da alimentação viking na Rígsþula, HISTÓRIA, IMAGEM E NARRATIVAS  12,  12, 2011. 2011.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

CAMPOS, Luciana de.Da suposta noiva que comia demais: uma proposta de análise da alimentação na Trymskvida. Roda da Fortuna  2017/1.   2017/1.  CAMPOS, Luciana. A sacralidade que vem das taças: o uso de bebidas no Mito e na Literatura Nórdica Medieval. Revista Brasileira de História das Religiões  n.  n. 23, 2015.  2015.  CAMPOS, Luciana de & LANGER, J. Brindandoo aos deuses: representações de bebidas na Era Viking, no cinema e quadrinhos. Revista de História Comparada  n.  n. 6, 2012.   2012. CAMPOS, Luciana de. Alimentação. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017, pp. 30-34. CAMPOS, Luciana de. Cerveja. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017, pp. 140-142. CAMPOS, Luciana de. Hidromel. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017, pp. 376-378. KRASNA-KORYCINSKA, Malgorzata. Viking and Slavic cuisine . Szczevin: Triglav, 2011. NIELSEN, Peter. Food of the Vikings : Vikingernes mad. Copenhagen: Koustrop & Co, 2017. TUNBERG, Hanna & SERRA, Daniel. An Daniel. An early meal : a Viking Age cookbook & Culinary odyssey. ChronoCopia Publishing, 2013.

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A DIETA VIKING: O EMAGRECIMENTO QUE VEIO DO FRIO Luciana de Campos

 As revistas brasileiras especializadas em dietas ganharam nos últimos meses uma “nova nova”” dieta que vem conquistando espaço e visibilidade e também novos adeptos: a dieta viking. Com esse sugestivo nome as revistas estão montando cardápios com cinco refeições diárias garantindo sucesso na eliminação do excesso de peso. A proposta da dieta viking que se encontra nas mais diversas revistas de dietas de emagrecimento e exercícios físicos –  das mais sofisticadas até as mais populares – é uma adaptação da alimentação contemporânea da Escandinávia.

 Apresentando um cardápio rico em peixes, frutas vermelhas, legumes, azeite de oliva e frutas secas a dieta promete além de eliminar os tão indesejados quilos a mais, prolongar a vida, combater a manifestação manifestação do diabetes tipo 2, pressão alta, melhorar o

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sono, a memorização, e principalmente não engordar novamente! O mais interessante em todas as matérias publicadas são as adaptações feitas para a dieta viking se adequar ao paladar e ao orçamento brasileiro, já que peixes como o salmão e o arenque são as fontes de proteínas principais na dieta comum da Escandinávia. E scandinávia. Por aqui esses peixes são caros e não são encontrados facilmente em todos os supermercados. Além do peixe há também as frutas como os mirtilos, as amoras e framboesas negras, facilmente encontradas frescas em toda a Escandinávia, já, por aqui só as encontramos congeladas

 

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e, muitas vezes os preços são altos o que inviabiliza o seu consumo diário como recomendam os cardápios apresentados nas matérias das revistas. No decorrer da matéria observa-se ob serva-se que vegetais como cenouras, abacate, brócolis, arroz integral, batatas e agrião tem o seu consumo recomendado mostrando todos os benefícios que estes alimentos proporcionavam aos “ vikings  vikings””. A maioria desses vegetais não eram sequer conhecidos na Era Viking, pois são originários da Ásia e da América do Sul. O que realmente chama a atenção no decorrer da leitura da matéria -onde são consultados especialistas em nutrição e dietética bem como médicos - é que todos, sem exceção explicam que é graças a dieta viking que os escandinavos têm uma das melhores qualidades de vida do mundo! Uma consulta a algumas obras que analisam a vida cotidiana e privilegiam a alimentação na Era Viking, como por exemplo A vida cotidiana dos vikings  de Régis Boyer, nos mostram que durante os gelados meses de inverno a alimentação era muito pobre em vegetais: as carnes salgadas, a cerveja e algumas oleaginosas compunham praticamente todo o cardápio. Os alimentos frescos incluindo os vegetais (espinafres, beterrabas, nabos selvagens e urtigas) e as frutas mirtilos, mirt ilos, framboesas vermelhas e negras, amoras, peras e maçãs e os cereais centeio, aveia, cevada e trigo eram amplamente consumidos a partir do início do degelo da Primavera e o seu consumo era estendido por todo o Verão o que também acontecia com as carnes car nes de peixe. O que não era processado –defumado ou salgado – para o Inverno era consumido fresco. Também consumiam o leite e seus derivados: a manteiga, e o queijo além do skir (espécie de queijo fresco cremoso que até hoje é feito em casa e muito consumido em toda a Escandinávia). A alimentação era bem variada e, portanto balanceada para os padrões da época onde a

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abundância de alimentos dependia exclusivamente do clima e a fome era uma sombra constante na vida de todas as comunidades.

 

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 A “dieta viking” viking” que vemos hoje estampadas nas revistas de emagrecimento pouco tem a ver com a dieta dos d os escandinavos medievais, principalmente no que diz respeito às adaptações no cardápio diário e também as quantidades: vale ressaltar que os líderes eram admirados pela sua coragem, bravura, habilidades marciais, mas também pelos excessos à mesa: comer e beber grandes quantidades era um sinal de virilidade, força e liderança! Em tempos de comedimentos à mesa, de dietas que prometem uma vida longa e com o corpo perfeito nem os vikings permaneceram ilesos: ganharam também notoriedade por “ comerem bem ”   e legarem à posteridade uma dieta altamente recomendável. Realmente, os vikings estão na moda!  

Bibliografia: 

CAMPOS, Luciana de. Mitos alimentares nórdicos. In: LANGER, Johnni 313-31 7. (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015, pp. 313-317. CAMPOS, Luciana. A alimentação na Escandinávia da Era Viking. Notícias  Asgardianas  n.  n. 2, 2012. Disponível 2012. Disponível aqui.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

CAMPOS, Luciana de. Um banquete para Heimdall: uma análise da alimentação viking na Rígstula, História, imagem e narrativas  12,  12, 2011. Disponível 2011. Disponível aqui. CAMPOS, Luciana de. Brindando aos deuses: representações de bebidas na Era Viking. Revista de História Comparada  6,  6, 2012. Disponível 2012. Disponível aqui. 412 

 

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RECONSTITUINDO UMA RECEITA DE PEIXE DA ERA VIKING

Luciana de Campos O grupo NEVE realizou mais uma experiência de reconstituição da alimentação nórdica da Era Viking. O experimento foi realizado pela professora Dra. Luciana de Campos. Ela utilizou uma técnica mista de assar com defumação, obtida de reconstituições realizados em Birka, Suécia. S uécia. Para substituir o peixe encontrado comumente na Escandinávia (salmão, truta, bacalhau, arenque) foi utilizado vermelho (no Brasil pode-se também usar namorado, dourado, anchova, tainha ou cavala).

 

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Para temperar o peixe, foram usados limão siciliano, cebola roxa (pode usar também chalota), alecrim, salsa e coentro fresco.

Corta-se a cabeça e o rabo do peixe e abre-se ele pela metade, inserindo os

condimentos.

 

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O peixe é pregado em uma tábua, utilizando pequenos cravos de madeira, fechado com os temperos por dentro.

 A tábua com o peixe é colocada próxima de uma fogueira, apoiada com pedras. ped ras. É necessário virar a tábua após esta estar com as pontas queimadas, aproximadamente após meia hora no fogo.

 

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Para acompanhar o peixe, foram assados pães feitos de farinha, aveia, sal, mel e cominho (padrão utilizado na Escandinávia da Era Viking). Esta não era uma refeição cotidiana, mas utilizada especialmente em dias festivos e consumida preferencialmente durante o verão escandinavo - época onde se poderia obter com mais facilidade as ervas para condimentos. Para saber mais sobre a alimentação nórdica na Era Viking , consulte a resenha do livro de Daniel Serra: https://periodicos.ufpb.br/index.php/scandia/article/view/43169 Serra: https://periodicos.ufpb.br/index.php/scandia/article/view/43169

 

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RECRIANDO A CERÂMICA DA ERA VIKING: UMA ATIVIDADE EM ARQUEOLOGIA EXPERIMENTAL Luciana de Campos

Nos últimos vinte anos foi crescente o número de pesquisadores que se dedicaram a desenvolver atividades em diversos centros de estudos que envolvem a Arqueologia experimental. Essas ligados atividades muitascentro vezes de contam comenvolvem-se a colaboração leigos que, mesmo não estando a nenhum pesquisa nosde experimentos graças ao contato estreito com os pesquisadores, leituras de publicações e estudos da área, proporcionando assim uma interatividade onde todos os envolvidos são beneficiados.

Em Dublin (Irlanda), no campus da University College Dublin há a o Centro de  Arqueologia Experimental e Cultura Material da Escola de Arqueologia que que se dedica à pesquisa experimental tanto no ensino de graduação como de pós-graduação. pó s-graduação. No espaço do campus universitário são reconstituídos não só elementos da cultura material da Idade do Bronze e do Ferro (incluindo a Era Viking) tais como copos, pontas de lanças, mas também casas, utensílios agrícolas e até pequenos campos arados. O espaço é dirigido pelo PhD Aidan O’ O’Sullivan e conta com a colaboração de outros pesquisadores como a

 

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Dra. Aoife Daly (Universidade de Copenhagen, Dinamarca), uma das maiores referências mundiais em dendrocronologia.  Além de contar com a colaboração de pesquisadores renomados, o Centro de  Arqueologia Experimental da UCD mantém parceiras com o grupo recriacionista escandinavo “ Hands on History” History ”   e um dos seus integrantes é um mestre egresso do programa de pós-graduação em Arqueologia experimental.Incentivando a parceira entre pesquisadores e entusiastas o Centro procura mostrar como a Aqueologia experimental é uma ferramenta útil para o processo pr ocesso ensino-aprendizado de crianças e jovens em idade escolar e, também é importante para a divulgação das pesquisas, abrindo suas portas para todos os interessados, mostrando que o conhecimento é para todos, sem distinções como infelizmente ainda podemos observar em alguns centros de pesquisas do Brasil, que se fecham para os interessados interessados mas que não possuem vínculos vínculos ou títulos acadêmicos. Uma experiência com a Arqueologia experimental que se concentrou na reconstituição de potes e utensílios da Era Viking foi realizada no início de junho em uma propriedade em Nuanda, no estado de Nova York e foi conduzida por arqueólogos experimentais amadores que contando com a sua experiência, anos de estudo e o apoio de pesquisadores conseguiram com sucesso, reconstituir peças cerâmicas da Era Viking. Utilizando materiais semelhantes aos que eram usados na Era Viking, como madeira, palha e estrume, Andrea Glass, Thorsol Solinauga, e Gail Hop Hopee Kellog trabalharam durantes alguns dias confeccionando as peças em argila, pratos, copos e terrinas e, depois aplicaram resina vegetal em casa uma antes de leva-las para a queima. Para o forno que abrigaria as peças, foi aberta uma cova que foi forrada com madeira e selada com argila para reter ainda mais o calor. calor . No “leito leito”” da cova foi espalhado o carvão

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e o estrume e, logo depois foi colocada a lenha e as peças foram cuidadosamente cheias com palha e madeira e foram justapostas e, depois cobertas com mais madeira a fim de que o calor do fogo queimasse cada peça por todos os lados. O fogo era constantemente alimentado para que a temperatura se mantivesse a mesma por muitas horas a fim de que todas as peças fossem cozidas. O processo de queima levou mais de doze horas e, assim que o fogo deixou de ser alimentado as brasas foram esfriadas naturalmente e foram mais dois dias para isso pois se a temperatura fosse baixada com qualquer tipo de resfriamento artificial as peças se quebrariam.

 

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Um vídeo de vinte e cinco minutos foi feito sobre essa experiência bem sucedida de reconstituição de cerâmica da Era Viking mostrando que leigos quando estão em parceria séria e comprometida com acadêmicos igualmente sérios conseguem reproduzir os mais variados artefatos, utilizando técnicas e materiais que são semelhantes àqueles utilizados na Era Viking. Este experimento mostra que atividades como a Arqueologia experimental pode fazer parte de uma nova proposta de Educação museológica, onde a teoria e a prática estão aliadas e concede espaço e visibilidade aos recconstrucionistas sérios e comprometidos que trabalham para que a pesquisa científica desenvolvida em laboratórios e universidades extrapolem seus muros e se tornem, cada dia mais presentes no cotidiano de todos.

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OS MELHORES FILMES SOBRE VIKINGS SEGUNDO O NEVE Johnni Langer Os vikings fazem parte da história do cinema desde o seu início, ocupando atenção de Hollywood quanto da Europa. Realizar uma lista de melhores filmes são é uma tarefa muito fácil, devido à grande quantidade de produções. Inquirindo os membros do NEVE, obtivemos listagens que incluem não apenas produções reconstituindo a Era Viking, mas também de períodos posteriores poster iores e mesmo do final do medievo na Escandinávia, além de outras que mesclam ficção científica e fantasia. O resultado muitas vezes é bem pessoal. Os comentários a seguir foram realizados pelo professor Johnni Langer e as listas

pessoais seguem posteriormente, divididas por cada membro.

 

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O 13º. Guerreiro  

(The 13th Warrior ), ), produção norte-americana de 1999, dirigido por John McTiernan, baseado no romance Os devoradores de mortos, de Michael Crichton. Sinopse: Um aventureiro árabe, ao fugir de problemas em sua cidade, envolve-se numa aventura no mundo nórdico da Era Viking, confrontando seres fantásticos chamados de Wendols. Comentário: O filme funde elementos históricos com fantásticos, assim como o livro de Crichton, que é uma mistura do relato árabe de Ibn Fadlan com o épico anglosaxão Beowulf. Apesar de apresentar diversos erros de reconstituição histórica, nos

equipamentos bélicos, na sociedade, vestimentas, habitações, etc, o filme foi o mais  votado pelos escandinavistas pelo fato de ter uma narrativa envolvente, uma ação  vigorosa e uma atuação memorável de seus atores, muitos de origem nórdica (Dennis Storhøi, Sven Wollter, Turid Balke, Maria Bonnevie, entre outros). Particularmente, o filme estreitou no Brasil durante o início das novas pesquisas acadêmicas sobre Escandinávia (em 1999), o que confere também um apreço especial a ele pelos pesquisadores.

 

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Vikings, os conquistadores  

(The vikings ), ), produção norte-americana de 1958, dirigido por po r Richard Fleischer. Sinopse: Dois irmãos de origem escandinava, separados no nascimento, disputam o amor pela mesma mulher – uma princesa inglesa, iniciando uma disputa que torna-se o clímax da narrativa. Comentário: o mais famoso e importante filme com temática nórdica da história do cinema. Influenciou diretamente a moda viking cinematográfica até os anos 1970, 19 70, mas ainda tendo influências estéticas mesmo em nossos dias. Faz parte da onda épica dos

anos 1950, tendo a frente do elenco nomes importantes deste estilo, como Kirk Douglas – memorável no papel de Einar, assim como o ator Ernest Bornigne no papel de Ragnar –   popularizando a imagem irreverente e aventureira do viking no imaginário contemporâneo. Apesar de ter auxiliado a desconstrução de diversos estereótipos sobre os escandinavos medievais – como a ausência de elmos chifrudos e a barbárie selvagem, além de uma das primeiras produções que reconstituem as vilas e as embarcações da Escandinávia (todos com assessoria de historiadores nativos desta região), o filme também contém diversos problemas historiográficos e outros erros de interpretação do

 

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passado (como o uso de bússolas magnéticas; a falta de calças em alguns personagens masculinos; a mistura de tempos históricos, como a mescla do período feudal e castelos com Alta Idade Média, etc). Ainda assim, possui cenas memoráveis e uma narrativa empolgante, típicas do cinema clássico.

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3.  

Os legendários vikings  

(The long ships ), ), produção norte-americana de 1964, dirigido por Jack Cardiff. Baseado no famoso romance Röde Orm  escrito   escrito por Frank G. Bengtsson em 1941, mas

influenciado esteticamente por Vikings, os conquistadores. Sinopse: Um jovem líder viking envolve-se na busca por um lendário sino de ouro, do mesmo modo que um príncipe mouro. Comentário: O filme é uma das poucas produções que teve como tema o encontro dos nórdicos com as populações islâmicas da África, mas também contém elementos fantasiosos. O ponto mais positivo do filme é a atuação do excepcional ator Sidney Poitier, no papel de Aly Mansuh.

 

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4.  

As aventuras de Erik o viking  

(Erik, the viking ), ), produção norte-americana de 1989, dirigida por Terry Jones, baseado em seu próprio livro homônimo. Sinopse: Um viking de nome Erik, após assassinar acidentalmente uma mulher,

parte em busca dos deuses nórdicos. Comentário: A mais famosa comédia sobre o tema. Consegue manter o ritmo divertido do início ao final, trazendo diversas paródias e muita irreverência ao tratar especialmente da mitologia e religiosidade nórdica. As cenas em que o sacerdote cristão não vê a mesma realidade que os pagãos p agãos (por não acreditar nelas) é um dos pontos fortes do filme.

 

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5.  

O último rei 

(Birkebeinerne ), ), produção norueguesa, 2016, dirigida por Nils Gaup. Comentário: Excelente produção fílmica norueguesa, reproduz alguns momentos da guerra civil norueguesa após a Era Er a Viking (séculos XII-XIII d.C.). Gaup é especialista em filmes históricos retratando cenas de batalhas nórdicas em neve, como "Fugindo da morte", original: Ofelas, 1987, produção enfocando a região da Lapônia do ano mil. Entre os personagens principais da produção O último rei, está o ator Kristofer Hivju

(que interpreta o personagem Tormund Giantsbane, da série Game of Thrones). A principal trama do filme é a fuga de um bebê bastardo (futuro rei Hakon IV), conduzido por dois homens, um tema icônico na cultura norueguesa (em 1869 o pintor Knud Bergslien realizou a famosa pintura "Birkebeinerne på Ski over Fjeldet med Kongsbarnet"). Se as questões políticas e sociais não são tão aprofundadas no filme, a narrativa é muito bem conduzida e as cenas de ação são excelentes. O filme possui reconstituições de batalha muito superiores a outras produções escandinavas reproduzindo o medievo, como a islandesa "O desafio de um guerreiro" (The Viking Sagas, 1995). O reinado de Hakon IV é um dos mais famosos da Noruega medieval

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

(durou quase 50 anos). Sob seu mecenato cultural algumas das grandes produções literárias do medievo nórdico foram produzidas, como a Volsunga saga e a versão norrena de Tristão e Isolda. O título do filme, Birkebeinerne, se refere a um grupo militar-político da Noruega, criado entre os anos 1174 a 1218, originalmente criado contra o rei Magnus V da Noruega. 426 

6.  

A lenda de Grendel  

(Beowulf & Grendel )),, produção islandesa/francesa/canadense islandesa/francesa/canadense de 2005, dirigida por Sturla Gunnarsson. Sinopse: O rei da Dinamarca mata um grande troll, mas deixa escapar seu filho, que depois retorna (já crescido), em busca de vingança. Comentário: Uma das várias adaptações cinematográficas do épico anglo-saxão Beowulf, com personagens escandinavos. As filmagens na Islândia, a direção e diversos atores escandinavos conferem uma atmosfera extremamente condizente com a

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

ambientação do relato, apesar de modificar muito a sua narrativa original. Um dos poucos filmes sobre nórdicos medievais em que todos estão caracterizados corretamente com equipamento militar da época (cotas de malhas e elmos). Destaque para a representação da feiticeira e suas práticas mágicas. É considerado por vários escandinavistas como a melhor adaptação do épico britânico. 427 

7.  

À sombra do corvo  

(Í skugga hrafnsins ), ), produção islandesa de 1988, dirigida por Hrafn Gunnlaugsson. Sinopse: O personagem Trausti volta para a Islândia e se envolve com uma briga familiar, devido a um cadáver de baleia. Sua mãe é ferida e ele acaba se envolvendo amorosamente com Isold. Comentário: Segundo filme da trilogia “ viking  viking”” do diretor Gunnlaugsson, baseado na narrativa de Tristão e Isolda, mas também mesclando diversas sagas islandesas.

 

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Considerado pela crítica um dos melhores filmes abordando a questão da cristianização na Escandinávia. O diretor também utiliza de diversos elementos simbólicos relacionados com a cultura islandesa ao longo do filme, como o véu branco e o corvo negro.

428 

8.  

Em nome do Sol 

(Stara basn: kiedy slonce bylo bogiem ), ), produção polonesa de 2003, dirigida por Jerzy Hoffman. sinopse: No século 9 d.C., os poloneses são atacados por incursões vikings. Comentário: Interessante filme polonês sobre o período da Alta Idade Média, mesclando elementos históricos com fantasia e sobrenatural. Os vikings aparecem de

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

forma estereotipada, com exceção do personagem arqueiro. As cenas de ação e o roteiro em geral são razoáveis. Destaque para as cenas religiosas e as práticas mágicas.

429 

9.  

O desafio de um guerreiro  

(The viking sagas ), ), produção norte-americana de 1995, direção de Michael Chapman.

Sinopse: Na Islândia da Era Viking, o jovem Kjartan inicia uma jornada para vingar a morte de seu pai. Comentário: Produção de baixo orçamento, com roteiro envolvente e personagens p ersonagens cativantes. As cenas de ação e batalhas são muito fracas, mas as relações familiares, os conflitos e as disputas de poder são bem condizentes com os relatos das sagas islandesas, o que confere um grande atrativo ao filme.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

430 

10 .  O senhor da guerra  

(The war lord ), ), produção norte-americana de 1965, dirigido por Franklin J. Schaffner Sinopse: O nobre Chrysagon recebe terras na Normandia, assolada frequentemente por ataques frísios. Ele se envolve com uma camponesa e reclama o direito de jus primae noctis, o que acaba originado conflitos com a população local. Comentário: Apesar de não ser diretamente um filme sobre nórdicos, os frísios são

retratados como vikings pagãos, inclusive portando martelos do deus Thor. O filme é magistral, tendo como protagonista um dos maiores atores épicos de todos os tempos, Charlton Heston.

Bibliografia:  

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

HARTY, Kevin (Ed.). The vikings on fílm . Essas on depictions of the Nordic Middle  Ages. North Carolina: McFaland McFaland & Company, 2011. LANGER, Johnni. Fé, exotismo e macabro: algumas considerações sobre a Religião Nórdica Antiga no cinema. Ciências da Religião  13(2),  13(2), 2015. Disponível 2015. Disponível aqui.

431 

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

432 

DEZ ROMANCES SOBRE OS VIKINGS Johnni Langer

Desde que surgiu como gênero literário durante o século XIX, o romance histórico, especialmente o ambientado na idade Média, se tornou uma constante no gosto dos leitores ávidos de reviver o passado. Em especial, ainda neste século, surgiram as narrativas que utilizavam o ambiente, os personagens, a época e o cotidiano nórdico durante a Era Viking, geralmente influenciados pelas sagas islandesas. Mas com a diferença de geralmente retratarem o medievo dentro da visão romântica sobre os

 vikings, algo que permeia nosso imaginário até hoje. A bibliografia em torno deste tema é muito longa, motivo que selecionamos apenas alguns clássicos e alguns destaques mais recentes, além dos poucos títulos disponíveis em língua portuguesa.

 

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Capa de edição moderna do romance Eric Brighteyes; ilustração de Lancelot Speed da edição original de 1890.  1890. 

1. The Saga of Eric Brighteyes B righteyes 

O escritor britânico Henry Rider Haggard, autor dos célebres romances As minas do rei Salomão (1885) e Ela (1886), clássicos do gênero aventura e mistério, também se enveredou pela literatura de temática nórdica. Seu livro The Saga of Eric Brighteyes, publicado em 1890, é o primeiro romance cujo tema é centrado em aventuras da Era Viking. Haggard foi influenciado pelas traduções ao inglês das sagas islandesas,

realizadas pelo pré-rafaelita William Morris. No livro, Eric Thorgrimursson (apelidado “ olhos brilhantes” brilhantes ” ), esforça-se para conseguir a união com Gudrid, mas seu pai, o sacerdote Asmund, se opõe ao casamento. Com as intrigas da meia irmã de Grudrid e de de uma feiticeira que se apaixona por Eric, o romance é repleto de batalhas e traições, bem ao gosto do público vitoriano.

 

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434 

Capa de edição moderna do romance; cartaz do filme The viking, inspirado no romance  

2. The thrall of Leif the Lucky, a story of Viking days  

Em 1902 a escritora Ottilie A. Liljencrantz publicou um dos romances mais influentes nos Estados Unidos, baseado nas sagas do Atlântico Norte e influenciado pelas ideologia da presença nórdica na Nova Inglaterra, incluindo a torre de Newport. Mais tarde, o cinema iria adaptar o livro com o filme The viking (1928), conservando a mescla do referencial cristão, do papel civilizatório do imigrante e da valentia do povo escandinavo, mas destacando essencialmente o “culto culto”” norte-americano em torno da figura de Leik Erikson.

 

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435 

Capa da edição original do romance; cartaz do filme The long ships, baseado no romance.   romance. 3. Röde Orm Serpente vermelha)  

Talvez o mais famoso romance moderno sobre os vikings, traduzido para 23 línguas e adaptado para o cinema em 1964 com o título The long ships. Escrito pelo sueco Frans G. Bengtsson e publicado em 1941, o livro conta a história do viking ruivo chamado de Röde Orm, em suas intrigas pela Escandinávia, Península Ibérica, Rússia e Inglaterra. Röde é sequestrado por um grupo de piratas e vendido para os muçulmanos, onde tornase mercenário e depois saqueador nas ilhas britânicas. O livro mescla aventura com cenas de humor e drama psicológico.

 

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4. Gerpla: The happy warrior  

Em 1952 o islandês Halldór Kiljan Laxness, prêmio Nobel de d e literatura, puplicou o romance Gerpla, enfocando a Era Viking. O livro de Laxness utiliza as Eddas, diversas sagas sag as islandesas (especialmente Fóstbrœðra saga), para descrever a vida de dois meio irmãos, Thormod e Thorgeir. Ao contrário de Frans G. Bengtsson e dos romances predecessores, Laxness ironiza e satiriza a Era Viking, especialmente o ideal de herói, simpatizando com ideais socialistas. Os vikings do romance são brutos, pequenos, grotesco, cruéis: Santo Olavo, um dos personagens mais importantes da narrativa, é caracterizado como um grande torturador.

5. The Greenlanders  

436 

Escrito por Jane Smiley em 1988. Dramatização ficcional dos últimos anos do assentamento nórdico na Groelândia medieval. A narrativa foca na vida de Asgeir Gunnarsson, sua filha Margret e seu neto Gunnar. Ao invés de grandes aventuras e batalhas épicas, Jane Smiley leva o leitor a um mundo de agricultores, sacerdotes e legisladores, de caçadas, festas e longas disputas. Jane Smilley é doutora em estudos nórdicos pela Universidade de Iowa (onde é atualmente professora) e escreveu o prefácio do livro The sagas of ícelanders: a selection (Penguin, (P enguin, 1997).

 

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6. Eiriksdottir: Eiriksdottir: A Tale of Dreams and Lu ck: A Novel.  

Em 1994 a escritora Joan Clark escreveu Eiriksdottir, outro romance baseado nas sagas do Atlântico Norte, centrado na vida da personagem Freydís Eiríksdóttir, criança bastarda de Eiríkr, o vermelho, e meia-irmã a Leifr Eiríksson e uma das mais marcantes personalidades femininas da literatura nórdica medieval.

7. O ú ltimo reino: crônicas saxônicas 

 

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O primeiro volume da série crônicas Saxônicas, do escritor britânico Bernard Cornwell (2004). O livro conta a estória de um personagem nórdico na Inglaterra anglosaxônica e foi adaptado recentemente para a televisão. Para uma resenha mais detalhada deste volume, clique volume, clique aqui.

438 

8. Devoradores de mortos  

Livro escrito pelo norte-americano Michael Crichton em 1976 e adaptado ao cinema em 1999 (O 13º. Guerreiro). O escritor funde as narrativas de Beowulf e a crônica do viajante árabe Ibnd fadlan, criando uma narrativa envolvente e cativante sobre o mundo nórdico da Era Viking, mas se aproximando muito mais da fantasia medieval do que do romance histórico.

 

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9. La saga de Yago  

Um dos mais conhecidos romances do pesquisador e escritor espanhol Manuel Velasco Laguna e publicado em 1999. Na Galícia, o personagem Yago é capturado por invasores vikings e com o tempo torna-se tor na-se também um membro das expedições marítimas,  vivendo diversas aventuras pelo mundo nórdico. 439 

10. Angus: o primeiro guerreiro  

Primeiro livro do escritor brasileiro Orlando Paes (2003), contando a história do clã escocês MacLachlan durante a Era Viking. O livro é repleto de estereótipos, clichês, anacronismos e fantasias que comprometem a qualidade da narrativa. Para uma resenha mais detalhada deste livro, clique livro, clique aqui

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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DEZ CANÇÕES DE ROCK COM TEMÁTICA NÓRDICA Johnni Langer Pablo Gomes de Miranda Os mundo nórdico medieval fascina o Ocidente desde o século XVIII. Com a redescoberta das Sagas islandesas e das Eddas  das  Eddas , diversos artistas trataram de representar este fascinante e complexo universo, das artes visuais até a literatura. Mas a música não ficou de fora, sendo produzidas desde então, diversas peças de óperas e sinfonias e dos quais a mais famosa é certamente A certamente A cavalgada das valquírias (Walkürenritt ) ) de Richard Wagner. Com o surgimento do rock no século XX, o interesse pela História e mais especificamente, pela Idade Média, aos poucos foi tomando conta de muitas letras. Neste pequeno ensaio, não vamos realizar um levantamento completo de todas as músicas

derivadas de conceitos nórdicos, apenas algumas que julgamos as mais importantes ou então, definidas por critérios pessoais. Os subgêneros conhecidos como Viking Metal   ee Folk metal   de temática nórdica ou pagã certamente produziram dezenas de músicas neste sentido, desde os anos 1990. Os textos e a seleção de músicas do 1 ao 6 são de autoria de Johnni Langer; de 7 a 10, de Pablo Gomes de Miranda.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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1. Immigrant song  - - Led Zeppelin (1970) Zeppelin (1970)

 A primeira música do terceiro álbum do Led foi escrita durante uma turnê da banda pela Islândia em 1970. Ela teria sido composta como uma homenagem ao explorado Leif Ericsson, mas a única menção nórdica direta na letra é Valhalla. Uma das frases da música ficou muito famosa (The hammer of the gods) a ponto de ser o nome da biografia oficial do grupo. O refrão da música (Valhalla) foi na época considerada um plágio do início da música Ride the sky , da banda alemã Lucifer´s Friend. Immigrant song  voltou   voltou a ter certa popularidade ao fazer parte do filme Thor: Ragnarok  em  em 2017. Em 2012 o ator e roqueiro Jack Black, ao afirmar que o Led era a maior banda de todos

os tempos em uma palestra no Kennedy Center, também reiterou que essa composição seria sobre "os Vikings fazendo amor", o que foi confirmado depois por Helgason, 2017, p. 133-152. Outras composições setentistas também envolveram temáticas nórdicas, mas não fizeram o sucesso desta composição do Led, como Viking , de Peter Hammill (1971) e Cold Wind to Valhalla , de Jethro Tull (1975).

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

442 

2. Invaders - Iron Maiden (1982) Maiden (1982) Uma das primeiras bandas da segunda geração do Heavy Metal a incluir algo relacionado com os vikings, certamente por influência do vocalista Bruce Dickinson, graduado em História. A letra segue uma tradição britânica que nasceu com o romantismo oitocentista, onde os nórdicos são vistos como invasores que pilham, estupram e matam sem piedade e apela para uma defesa gloriosa dos saxões. Uma dose de nacionalismo, também visto em outros momentos da banda.

 

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3. I Am A Viking   -- Yngwie J. Malmsteen s Rising Force (1985)  

Um dos mais geniais e criativos guitarristas da década de 1980, o sueco Yngwie J. Malmsteen criou uma composição antológica sobre os antigos nórdicos. Malmsteen foi um dos pioneiros do metal neoclássico e teve influência de Ritchie Blackmore e vários compositores clássicos. A letra da musica é muito simples, mas as suas tonalidades são  vibrantes e recordam muito os grandes épicos do Rainbow.

 

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4. Odin ’ ’ s Court/Valhalla   -- Black Sabbath (1990) Sabbath (1990) Uma das mais influentes bandas do heavy Metal, em sua formação dos anos 1990 com o vocalista Tony Martin, que escreveu as letras do disco mais interessante desta formação, Tyr , do qual se destacam Odin ’ ’ s Court/Valhalla. Certamente o disco não possui a grandeza dos trabalhos com Ozzy e Dio, mas certamente cer tamente é um trabalho honesto e à altura do melhor metal produzido nos anos 1990. A arte da capa influenciou a criação do logo da banda Týr , das ilhas Faroé. Outras bandas clássicas do Heavy Metal a criarem uma composição deste mesmo tema foi Judas Priest, com Halls of Valhalla em 2014 e de forma pioneira, Manowar em 1983 (Gates ( Gates of Valhalla ))..

Manowar (2007)  (2007) 5. Sleipnir   -- Manowar

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Uma das mais populares bandas do rock pesado, p esado, o Manowar possui várias composições de temática nórdica desde o seu início, sendo muito difícil escolher uma em especial. Em 2007 lançou o disco conceitual Gods of War , certamente um dos melhores deste gênero. Só a arte de capa que segue uma linha tradicional da banda, referente ao "barbarismo" com toques clichês e um tanto kitsch , sem maiores alusões ao mundo nórdico histórico ou mitológico.

 

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6. Sons of Odin   -- Saxon Saxon (2018)  (2018) Uma composição recente e maravilhosa de um dos pilares mundiais do Heavy Metal. A banda tradicionalmente realiza uma composição épico-histórica em seus álbuns e desta vez criou uma música sobre os nórdicos, mas muito diferente da outra banda britânica comentada, o Iron Maiden. Aqui os escandinavos são vistos em um sentido glorioso e positivo, por certo, mas também dentro de uma concepção historiográfica mais atualizada: eles são marinheiros, guerreiros, fazendeiros, artesãos e colonizadores. Até mesmo a estrela Polar é mencionada.

7. A 7. A Fine Day to Die   -- Bathory Bathory (1988)  (1988)

 

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É difícil estabelecer alguma indicação de músicas com temática nórdica sem mencionar a banda sueca Bathory. Essa banda que lançou ao menos uma dúzia de álbuns extremamente sólidos teve iniciou à cena do Black Metal com letras marcadas pelo anticristianismo e ocultismo. O álbum Hammerheart, lançado em 1990, carimba de vez a banda no que se pode chamar de “Viking Metal” Metal”, com músicas como Baptised in Fire and Ice, Home of Once Brave e a magnífica One Rode to Asa Bay. Contudo, inegavelmente a passagem para essa fase com um assinalamento na mitologia e história escandinava seria feito no álbum anterior, Blood Fire Death, lançada em 1988, cuja música de abertura Odens Ride Over Nordland já nos apresenta tais aspirações, definitivamente escolhemos A Fine Day to Die pelos seus elementos musicais, pela a atmosfera criada na letra e pelo final mais que épico. Curiosamente ambos os álbuns Blood Fire Death e Hammerheart trazem no encarte duas telas com temática cara ao romantismo escandinavo: a tela “ Åsgårdsreien  Åsgårdsreien””, pintada em 1872 pelo norueguês Peter Nicolai Arbo, representa a versão romantizada do século XIX de um fenômeno folclórico comum em áreas germânicas chamada de Caçada Selvagem e a tela “ The Funeral of a Viking” Viking” de Frank Bernard Dicksee encapsula o momento em que um chefe  viking tem o seu navio colocado em chamas e sendo empurrado ao mar, novamente uma cena favorita do romantismo escandinavo. Um estudo em português sobre a recepção de temas relacionados aos vikings nesta banda foi realizada por Silva e Albuquerque (2016) bem como um estudo sobre a pintura de Peter Arbo (Miranda, 2017).

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8. Ballad of the Swords   -- Einherjer Einherjer (1996)  (1996) Os noruegueses do Einherjer não são necessariamente desconhecidos dos metaleiros que curtem o som com temática viking, e o álbum de 1996, Dragons of the North, figura entre um dos mais populares. Contudo, em 2016 o álbum em questão foi regravado e a faixa de título Ballad of the Swords recebeu também um videoclipe animado, onde um homem narra a passagem após a sua morte e de todos os elementos esperados de um guerreiro que se despede da vida. A música é lenta e com uma letra fortíssima, sinto que a pena ser citada nessa lista para os que ainda não conhecem co nhecem esse formidável grupo.

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9. 793   -- Enslaved Enslaved (1997)  (1997) Não há muitas palavras que consigam definir o Enslaved. Muitos a conhecem por uma das suas músicas, Havenless, figurar em um documentário musical (Metal: A Headbanger ’ s Journey, 2007). Para além disso, Enslaved é uma das bandas mais prolíficas e talentosas a produzir um som que delineia os rumos de uma ambientação nórdica na música escandinava. Cada álbum é uma obra prima com elementos próprios, marcados pela inovação e originalidade da banda (Nem sempre sempr e executados com êxito, é  verdade, vide o fraco álbum Blodhemn de 1998). Prova maior do talento criativo da

 

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banda (e de seus membros, claro) é o trabalho de Ivar Bjørnson com Einar Selvik, resultando no álbum Skuggsjá, lançado em 2016. Amo particularmente os álbuns Frost, RIITIIR e Ethica Odini Axioma, onde essa pluralidade é melhor exposta. Contudo, o álbum Eld, de 1996 é pouquíssimo celebrado, injustamente, então decidi sugerir a faixa 793, um ode de 16 minutos com uma letra extremamente marcante e ritmos que conseguem demonstrar uma composição bastante multifacetada. Enslaved tem muitas músicas bacanas, até hoje os músicos da banda se dedicam a vários projetos, incluindo auxiliar o Einar Selvik. 793 é uma música com uma melodia muito bonita e uma letra maravilhosa (esmagar os crânios dos cristãos, vencer sobre Midgard, destruir a horda branca, não iremos morrer porque lutamos), é super romântica mas sensacional!

10. Gleipnir   -- Skálmöld (2012)

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 A Islândia possui uma cena de d e metal bastante vívida apesar do tamanho da ilha, contando com bandas bastante sólidas atuando no Black e Death Metal. Outros gêneros, parece, não caíram no gosto nacional, mas definitivamente essa banda de Heavy Metal é a mais famosa da ilha. Apesar de não ser a minha preferida, me cativou bastante pelos shows nos quais tive a oportunidade de comparecer. Definitivamente esses islandeses decidiram fazer belos álbuns carregados pelas passagens das sagas islandesas e da mitologia nórdica. Cada um dos seus álbuns é temático e em especial os filhos de Loki aparecem em Börn Loka, lançado em 2012. O videoclipe de Gleipnir, apesar de confuso

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

(afinal, é parte de uma história narrada por todo o álbum) é um dos mais bonitos que já  vi sendo produzidos por um grupo de d e metal que se dedica a temática, onde o cenário da Islândia é explorado amplamente! Os leitores definitivamente não se arrependerão de dar uma chance ao Skálmöld (há no YouTube um concerto deles com a Orquestra Nacional da Islândia que é um primor). Bibliografia:   Bibliografia: CASTRO, Dannyel Teles de. Heathenismo, arte arte e cultura popular: o caso caso do Pagan Metal, Notícias Asgardianas n. 11, 2016, dossiê: os mitos nórdicos nas artes, p. 83-94. FERNANDES, José Lucas Cordeiro. A sabedoria perdida: uma análise da imagética de Dauði Baldrs do Burzum, Notícias Asgardianas n. 11, 2016, dossiê: os mitos nórdicos nas artes, p. 95-105. FERNANDES, José Lucas Cordeiro. Vikings na música. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2018, pp, 739745. FERREIRA, Gleizer et alli. Jovens utópicos: A apropriação da cultura e do passado nórdico no Romantismo alemão e no folk metal escandinavo. Igualitária  7,  7, 2016. HELGASSON, Jón Karl. Odin: from Wagner to Viking Metal. Echoes of Valhalla : the afterlife of the Eddas and Sagas. London: Reaktion Books, 2017, pp. 133-154.

449 

MIRANDA, Pablo Gomes de. A caçada selvagem de Asgaard: nacionalismo e mito na Noruega do século XIX. Roda da Fortuna, 2017. SILVA, Daniele; ALBUQUERQUE, Maurício. Para uma recepção do medievo: a temática viking no Heavy Metal, Revista de História Comparada 10(1), 2016, pp. 230261. TEIXEIRA, João Paulo Garcia. Seguindo a canção com o martelo na mão: Thor e suas representações no Heavy Metal. Anais Metal. Anais do II Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos , 8 a 10 de outubro de 2014, UFPB, pp. 63-70.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

YAMAMOTO, André; ISAIA, Arthur O martelo, o Prego e a Cruz: mitologia nórdica, o heavy metal e o cristianismo. Brathair 10(1), 2010, pp. 26-40.

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LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

OS VIKINGS NOS QUADRINHOS: UMA REVISÃO HISTÓRICA H ISTÓRICA

Johnni Langer Os vikings estão na moda: na tv, no cinema, na literatura e na internet. O sucesso da figura do aventureiro nórdico também t ambém aparece na nona arte, mas não é uma novidade, pois desde os seus primórdios as histórias em quadrinhos o elegeram como um de seus principais paradigmas temáticos. A seguir concedemos algumas das principais obras quadrinísticas que se dedicaram ao tema, dando ênfase as publicadas em língua portuguesa. Não é uma listagem completa de toda a produção até nossos dias.

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1. Príncipe Valente.  Valente.  Um dos grandes clássicos da nona arte: desenho belíssimo, sequências formidáveis e uma narrativa envolvente, criada pelo genial Hal Foster em 1937. A série funde História Medieval com fantasia, deste modo, personagens reais circulam entre seres fantásticos, paisagens fidedignas se mesclam a seres como dragões e outras criaturas. Ao mesmo tempo em que são os heróis (na ( na figura do protagonista), também são vilões – foi uma das principais propulsionadoras do estereótipo do guerreiro viking: com seus chifres e equipamentos imaginários, beberrão, irreverente e intrépido. A fusão de personagens e

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

datas em um mesmo e anacrônico período também acabou sendo um modelo para o cinema até os anos 1960: no início da alta Idade Média, vikings encontram-se com o rei  Artur em uma sociedade totalmente feudalizada. Recebeu várias versões ao cinema, sendo a mais famosa a de 1954. O quadrinho foi tema de uma dissertação de mestrado em História Comparada pela UFRJ: Entre luzes e trevas: o Príncipe Valente e as representações políticas e civilizacionais nos quadrinhos , de autoria de Carlos Manoel de Hollanda Cavalcanti.

2. Asterix e os normandos.  normandos.  Um dos quadrinhos franceses mais famosos, o gaulês Asterix recebeu a visita dos nórdicos em 1967, no álbum Asterix álbum Asterix et les Normans , com várias traduções brasileiras. Como em grande parte da coleção, o humor, a ironia e o cômico histórico fazem parte desta narrativa, mas também não faltam os estereótipos, presentes especialmente na

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figura do viking portador de grande quantidade de crânios (para beber, para uso em amuletos, etc). Recebeu uma adaptação cinematográfica em 2006, de grande sucesso. A principal novidade do filme em relação ao quadrinho original foi a inclusão de uma personagem feminina, Abba.

 

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3. Os vikings (coleção A descoberta do mundo).  mundo).  Integrante de uma famosa coleção francesa de 1981 (com nomes de peso como Hugo Pratt, Guido Crepax, Sergio Toppi, Enrique Sió, Sergio Toppi, entre outros). O álbum e a coleção como um todo, se diferencia pelo seu forte caráter histórico, uma espécie de História Universal aos moldes da historiografia dos Annales em forma de quadrinho. O álbum sobre vikings possuí duas narrativas: a primeira, Drakkars a leste, reconstituí a trajetória dos nórdicos no mundo eslavo, com o maravilhoso traço de Eduardo Coelho e argumento de Jean Ollivier. A segunda, Os reis do mar, de José Bielsa e Jacques Bastian, descreve as expedições nórdicas no Atlântico Norte, baseada especialmente nas sagas islandesas. O ponto alto desta segunda historieta fica para a narrativa de Freydís Eiríksdóttir em Vinland, em uma de suas melhores reconstituições  visuais até nossos dias.

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4. Thorgal  Thorgal  Sensacional série criada em 1977 pela dupla francesa Rosinski e Van Hamme, fundindo História Medieval com fantasia aos moldes do universo de Howard Carter e algumas pitadas de ficção científica. O traço é muito colorido e as narrativas envolventes, com personagens admiráveis e belas sequências. No Brasil foram publicados os quatro primeiros álbuns (A feiticeira traída; Os três anciões do país d´Aran; A galera negra; A ilha dos mares gelados, todos pela VHD). A série atualmente conta com 34 álbuns, sendo o 35o. programado para ser lançado no final do presente ano.

 

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5. Tex: A ilha misteriosa.  misteriosa.   Curiosa produção dos quadrinhos italianos (fumetti), publicada originalmente em 1980, com o mais famoso personagem Tex. A premissa remete ao filme A filme A ilha do topo do mundo (produção Disney de 1974), onde um grupo de caubóis encontra uma comunidade nórdica da Era Viking isolada e vivendo incólume como no medievo, em pleno século XIX. O resultado é um tanto grotesco, onde os vikings são representados como bárbaros primitivos e supersticiosos. Essa idéia de uma “cápsula do tempo” tempo” fez muito sucesso na ficção televisiva e quadrinistica, resultando em outros encontros espetaculares entre nórdicos e culturas e temporalidades diversificadas: Tarzan e os vikings (animação para a tv, 1976); a terceira versão de Jonny Quest (episódio: Alligators and Okeechobee Vikings, de 1996).

 

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6. Desbravadores  Desbravadores  Quadrinho de 2006 criado por Laeta Kalogridis e Christopher Shy, com uma bela arte sequencial, cores escuras e fortes e boas sequências de ação. A narrativa gira em torno do encontro entre os indígenas norte-americanos e os nórdicos, estes últimos vistos de forma negativa e esterotipada. O filme homônimo de 2007 conseguiu piorar  visualmente ainda mais os vikings no imaginário coletivo, sendo estes muito mais seres surgidos do mais profundo inferno cristão do que colonos e exploradores do Novo Mundo...

7. Vinland Saga  Saga  Série de mangá japonês criado por Makoto Yukimura em 2005. As narrativas giram em torno da colonização nórdica no Atlântico Norte, mas com resultados r esultados pouco precisos. Equipamentos, cotidiano, contexto histórico e outros detalhes são superficiais ou fantasiosos. De um ponto de vista artístico, a obra também é muito inferior a outros

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quadrinhos japoneses de teor histórico, como a série Lobo Solitário , de Koike e Gojima.

 

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8. Northlanders (Nórdicos)  (Nórdicos)  Excelente série norte-americana criada por Brian Wood em 2007, com diversos ilustradores e várias narrativas. Para uma visão histórica detalhada da coleção traduzida no Brasil, ver a resenha inserida no boletim Notícias Asgardianas  n.   n. 1, páginas 15-19. Em especial, a história “Donzelas de escudo ” recebeu um artigo analítico pela revista Roda da Fortuna (Guerreiras (Guerreiras na Era Viking? ). ).

9. Hagar  Hagar  Um dos quadrinhos cômicos mais famosos de todos os tempos, criado por Dik Browne em 1973. Mais do que reconstituir os nórdicos da Era Viking, a série ironiza o estilo de vida e a sociedade norte-americana, com resultados formidáveis e fazendo muito sucesso até nossos dias. A série recebeu uma dissertação de mestrado m estrado em História pela PUC-SP: O humor e a crítica em Hagar , de Fabio Antonio Costa (clique aqui) aqui)..

 

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VISITANDO FESTIVAIS E MERCADOS VIKINGS NA DINAMARCA Luciana de Campos O Verão dinamarquês é marcado por uma explosão de cores, odores e sons sem igual. As flores, são todas belas, sejam as cultivadas nos jardins dos parques e casas ou, as selvagens, que nascem no meio dos trigais; o zunido das abelhas que sobrevoam as delicadas pétalas atraídas pelo doce perfume e, claro, os corvos constituem um cenário perfeito para que tendas sejam erguidas, mulheres possam usar seus vestidos de linho e ficarem descalças enquanto sovam pão, crianças brincam com seus cães e, os homens, conversam e trabalham nas forjas e carpintarias tudo sob o calor do Sol que aquece a terra que permaneceu meses sob o comando do Inverno.

Nessa paisagem convidativa, aos demorados passeios pelas alamedas de olmos centenários são constantes por todo território danês, d anês, e os mercados e festivais vikings são muitos e oferecem aos visitantes uma amostra do cotidiano dos comerciantes nórdicos antigos.  A nossa primeira visita visita a um mercado vikin vikingg foi em Frederikssund, Frederikssund, à tarde quando saímos de uma jornada pelos jardins e palácio de Frederiksborg que, mesmo sendo construções do século XVII, já nos permitiu entrar no clima de uma pequena viagem no tempo!

 

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Entrada da feira de Frederikssund   O mercado de Frederiksund é pequeno e quando chegamos no sábado à tarde não foi cobrado ingresso, pois esse era o último dia do festival e algumas barracas já estavam fechando. Quando adentramos ao mercado a sensação é indescritível: todos os participantes das crianças de colo até os idosos, todos estão caracterizados! Alguns usam roupas simples e um pouco desgastadas, pois além de estarem vendendo os produtos estão, muitas vezes também os produzindo, como no caso dos carpinteiros, ferreiros e

das mulheres que cozinham e tingem a lã. A sensação é de realmente estar em um local fora do nosso tempo, todos nos recebem com alegria e já demonstram a gratidão pelo interesse nas histórias que tem para contar e por olharem seus produtos.

 

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Detalhe da feira de Frederikssund   O local onde o mercado é instalado é bem arborizado e os carvalhos oferecem sombra e um clima acolhedor que protege os visitantes do calor e do Sol e convida a ficar sob seus galhos apreciando o movimento. No local há também estábulos pois são oferecidos aos visitantes passeios a cavalo, além de outras edificações de madeira, reproduções de casas da Era Viking. Além disso, há um totem onde está gravado em um tronco o rosto de Odin e pudemos observar como algumas pessoas faziam libações com hidromel e depositavam flores ali. Confesso que não verti hidromel e nem coloquei flores mas deixei por lá um ramo de brotos de carvalho!  As barracas que estavam espalhadas pelo terreno ofereciam diversos produtos, hdiromel, joias, roupas, sapatos, réplicas de armas em madeira e metal e produtos para fiação e tecelagem. Passamos por todas as barracas e nos demoramos naquelas que ofereciam joias pois o nosso foco era adquirir um par de broches ovais. As peças eram

belíssimas, réplicas perfeitas em prata e bronze que custavam uma média de 300 a 400 coroas dinamarquesas, (algo entre 150 a 250 reais). Os broches ovais eram peças bem trabalhadas com um acabamento impecável. Difícil dizer qual era o mais bonito!

 

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 Área para espetáculos em Frederikssund   Os materiais para fiação e tecelagem também estavam à venda: pás de cardar, fusos manuais, agulhas e uma grande variedade de fios crus e tingidos bem como a lã lavada pronta para ser cardada, fiada e, depois, tecida. Havia também linho e lã tecidos manualmente e vendidos por metro. Não me atrevi a perguntar o preço, me contentei em tocá-los e sentir como eram macios. Compramos uma meada de lã pura tingida com folhas de urtiga. Um tom de verde musgo maravilhoso que será apresentada em forma de bordado no VI CEVE. Mas, o ponto alto de nossa visita foi em uma barraca de joias. Os donos eram um casal com mais de setenta anos que estavam acompanhados de sua cachorra velhinha e surda que dormia ali, em uma pequena cama. Ambos muitos simpáticos, ela principalmente que, quando perguntou de onde éramos, e, ao ouvir “Brazil Brazil””, abriu um sorriso e começou a falar espanhol pois havia morado por mais de dez anos na Argentina

com a família. Visivelmente feliz ela nos mostrou tudo com muito entusiasmo: os broches, os pingentes, os martelinhos de Thor, anéis, braceletes e, claro a joia mais preciosa que havia ali: - pelo menos para mim era –   um pequeno pingente representando uma  valquíria segurando um corno de hidromel.

 

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 A senhora segurava o pingente na palma de sua mão e dizia em um espanhol carregado de sotaque danês: “  – És muy hermosa! La representación más emblemática de la valquíria!” valquíria!” Aqueles olhos azuis brilhantes em contraste com os cabelos brancos nos cativaram e hoje a valquíria está aqui em casa! Nos contou que havia morado na Suécia com o marido norueguês e que conseguia ler, sem nenhuma dificuldade sueco e norueguês e que para ela, a maior diferença estava na fala e não na escrita. A voz serena e a simpatia me emocionou muito e, não resisti e tirei uma foto ao lado dessa bela e doce

mulher nórdica. Além de sairmos felizes com o nosso pingente e uma meada de lã, aprendemos algo sobre as línguas escandinavas modernas. E, claro não deu em hipótese alguma para segurar as lágrimas! Só sentimos falta de barracas que ofereciam comida. As opções eram basicamente nozes e avelãs carameladas e cachorro quente dinamarquês. Não havia nesse mercado nenhuma opção de comida da Era Viking, com exceção é, claro do hidromel que tomamos: suave, com um teor alcóolico médio mas muito saboroso e com diversas  variações nos seus componentes: flores, frutas, ervas e raízes. O hidromel estava muito bom mas, a comida deixou uma grande lacuna!

 

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O segundo mercado viking que visitamos foi o instalado ao redor da fortaleza de Trelleborg, local onde também é encenada a reconstituição da batalha homônima e que é por si só um espetáculo à parte: emocionante, vibrante e realista! Mas essa, assim como o percurso a pé para se chegar até a fortaleza é uma outra história que será contata no devido tempo. Antes de nos aproximarmos do acampamento ao redor da fortaleza, pudemos ver o mar de barracas que estava a nossa espera: todos aqueles toldos brancos e marrons se destacavam na paisagem e, se não fosse a ppresença resença das inúmeras hélices das usina eólicas a impressão era de estarmos, de novo em Trelleborg do século X.

Entrada do mercado de Trelleborg    A entrada para o mercado é feita pelo museu que abre suas portas às 10 da manhã, manhã, mas como o nosso percurso foi diferente: entramos pelos fundos da fortaleza e tivemos acesso à ela e ao mercado, quando os comerciantes e suas famílias ainda estavam

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tomando seu desjejum e se preparando para a abertura mais tarde. Achamos estranho os olhares curiosos de todos que deviam se perguntar : “ – De onde surgiram esses quatro?” quatro? ”. Tivemos a fortaleza só para nós e um breve passeio pelo mercado também!

 

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 Ao caminhar pelo mercado tive uma sensação de incômodo: aquele local não combinava com calça legging, blusa bordada e tênis! Enquanto não fui ao toalete do museu colocar meu traje não sosseguei mas, ao vesti-lo me senti mais uma mulher escandinava que anda descalça em um dia de Verão por entre as barracas e, nunca me senti tão bem, mesclada aquela população que não falava a minha língua, mas eu aprendi rápido a sorrir em danês! O número de barracas e produtos era muito maior do que o mercado de Frederikssund, bem como o número de pessoas que estavam ali não só pelo mercado mas também pela encenação da batalha. Percorremos todas as barracas: sapateiros, carpinteiros, armeiros, tecelãs, e vendedoras de joias, camisetas, vestidos, tecidos, lãs e dessa vez havia também utensílios como baldes e barris de madeira e, claro, batedores de manteiga que eram grandes demais e desanimei de comprar um (ainda bem que Lejre estaria novamente no nosso caminho!), além de muito hidromel.

 

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 A nacionalidade dos mercadores era variada: russos, noruegueses, suecos, suecos, alemães além dos próprios dinamarqueses. Todos muitos simpáticos e sempre acompanhados de seus animais de estimação. Um dos broches foi comprado de uma russa que vendia joias e estava lá com sua família acompanhados de um pequeno cão e de um filhote de gato preto que dormia em um cesto e ficava preso em uma coleira com uma guia comprida para não se perder! Havia também uma família que comercializava tecido e o seu cãozinho tinha uma casinha viking com e uma placa com seu nome: Frodo! A presença dos animais é uma constante nesse mercado mostrando como os escandinavos tem apreço e verdadeira amizade por seus animais, algo que precisamos urgentemente desenvolver. Foi nessa barraca da família russa que, depois de percorremos todo o mercado e compramos o broche de três pontas em bronze, com motivos de Birka gravados. Também conhecemos o artista e a sua esposa que desenhou as camisetas

estampadas com a máscara de Aarhus que adquirimos no Museu Moesgård, em Aarhus. Ficaram felizes ao ver que as camisetas eram vestidas por pessoas que conheciam o desenho e que se interessavam pelo seu trabalho. Encontramos também em uma barraca onde uma mulher estava tecendo, um livro de comida eslava e nórdica da Era Viking. Uma bela surpresa e, claro aquisição também. Além de todos os produtos havia barracas que vendiam livros, romances contemporâneos ambientados na Era Viking bem como alguns de popularização. Produtos variados para todos os gostos e bolsos!

 

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Experimentamos um hidromel de frutas vermelhas (mirtilo, groselha, amora e framboesa) que, no Verão estão em todos os lugares e podem ser compradas nos mercados, feiras, bancas de frutas e também podem ser degustadas gratuitamente nas estradas e nos parques e são muito doces! Esse hidromel possuía um buquet delicado e era delicioso lembrando o sabor de um bom vinho tinto amadeirado e frutado. Havia muitas barracas vendendo hidromel mas não havia nenhuma vendendo ale. Creio que hidromel seja mais vendável pois a qualidade das cervejas, mesmo as industrializadas é indiscutivelmente boa. Mas, assim como em Frederiksborg o ponto baixíssimo do mercado de Trelleborg foi a comida... Havia uma única barraca que oferecia comida e, mesmo assim, não era necessariamente comida da Era Viking. Havia um porco inteiro sendo assado em um braseiro e alguns espetos com frangos inteiros que só seriam comercializados depois da encenação da batalha ou seja, depois das 14 horas. Mas, naquele momento estava sendo

oferecido cachorro quente dinamarquês com salsicha e pão artesanais com molho de mostarda. Apesar dos componentes do sanduíche serem frescos e muito bem feitos e estarem saborosos, ainda não era a comida que esperávamos encontrar.

 

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Para nossa surpresa, havia também uma outra barraca mas fora da área do mercado bem próxima ao museu que oferecia sanduíches de carne de porco assada com molho de cebolas e mostarda. O pão estava delicioso recém assado dava para sentir o sabor do centeio e o doce da cebola caramelizada no seu próprio próp rio açúcar. Observamos que muitos mercadores e mercadoras estavam comendo ali ou, então, no café do museu que oferecia saladas, sanduíches e sorvetes. Muitos visitantes como é típico dos dinamarqueses trouxeram suas marmitas com deliciosos smørrebrøds e, claro suas Carlsbergs! Fomos esperando encontrar a típica comida viking em ambos os mercados: skyr, peixes assados e ensopados, carne de porco salgada servida com molho de cerveja sobre pão de centeio, conserva de nabos e rabanetes ou, então, carne de javali com trigo e alho. Mas não havia nada disso, d isso, apenas sanduíches comuns sem muita variedade. Acreditamos que apesar de publicações sobre alimentação alimentação como a obra de Serra e Tunberg, a autêntica comida da Era Viking ainda não seja uma presença constante nos mercados

dinamarqueses, por razões que desconhecemos. A comida poderia pod eria ser um atrativo a mais, pois seria vendida por um preço acessível, muitas vezes até mais em conta do que os sanduiches oferecidos e seriam servidas em pratos e potes de madeira e cerâmica oferecendo aos visitantes uma experiência única de, realmente comer como os nórdicos antigos comiam.  A visita a esses dois locais nos proporcionou propor cionou uma pequena amostra de que como funcionam esses mercados e feiras e que, mesmo que nada se compre, e que nada se coma, só o fato de poder andar com um vestido escandinavo com todos os acessórios pisando sob o solo que um dia bebeu do sangue de homens e mulheres que feneceram em

 

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Trelleborg, é uma experiência singular e nos faz sentir pelo menos um pouco do que sentiram aqueles que singraram os mares trazendo ouro, seda e açafrão que enfeitavam as mulheres e adocicavam o hidromel!

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GUIA DA DINAMARCA VIKING: SÍTIOS, MUSEUS E FESTIVAIS

Johnni Langer

 A Dinamarca é um dos melhores países para se conhecer o passado viking. Neste ensaio apresentamos alguns dos principais sítios arqueológicos, centros experimentais, museus e festivais relacionados com a temática, do qual conhecemos em visitação em  julho de 2018, apresentando também uma bibliografia ao final do texto e dica dicass de viagem. O período mais recomendado para a visitação ao país é entre junho a agosto, devido às inúmeras atividades promovidas pelos centros e museus, museus, além das datas dos festivais festivais e

mercados vikings. Em outras épocas as instituições (tanto museus quanto centros experimentais) ficam fechadas devido ao inverno e o acesso aos sítios arqueológicos também fica bem limitado. O calendário das atividades pode ser consultado nos sites referenciados em cada seção. Muitos sítios da região da Zelândia podem ser acessados por ônibus, trem, carro e bicicleta (estes dois últimos são locados em Copenhague).

O guia privilegia os aspectos materiais e históricos da Era Viking. Para o conhecimento do acervo e patrimônio dinamarquês relacionado com a Mitologia Nórdica, consulte o ensaio  ensaio Mitos nórdicos na Dinamarca: guia iconográfico . 

 

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A.  A.  ZELÂNDIA: ZELÂNDIA:   1.

Copenhague :

O principal acervo da Era Viking na capital dinamarquesa concentra-se no  no Museu Nacional da Dinamarca (entrada paga). Para uma visita à todas as seções deste grandioso museu, é necessário ao menos um dia inteiro, mas somente a seção nórdica medieval é possível de ser conhecida em torno de d e uma hora e meia a duas horas. Neste acervo pode pode-se contemplar pedras rúnicas, joias e joalherias, armamentos (espadas, lanças, cotas de malha), peças do cotidiano. O museu congrega exibições permanentes de formato tradicional, com exposição de peças originais e reconstituições contemporâneas, mas também apresentando inovações como a reprodução parcial de uma habitação da Era  viking –   com detalhes da iluminação e arquitetura. O grande destaque é o salão das pedras rúnicas – da qual a mais importante sem sombra de dúvida é a de Snoldelev  (DR  (DR 248), com as gravações de uma roda solar da Idade do Bronze, uma suástica e um triskelion de cornos, estes dois últimos da Era Viking.

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Salão das pedras rúnicas do Museu Nacional. Fotos do autor.  autor.    Atualmente fechado para visitação (mas previsto para reabrir em 2019), outra instituição, o  o Museu de Copenhague  (a poucos metros do Museu Nacional), vai contemplar o resultado das escavações arqueológicas no metrô da cidade que remontam aos seus primórdios no século XI, ou seja, no final da Era Viking. Algumas destas descobertas incluem diversos corpos de homens, mulheres e crianças, além de objetos como pentes de ossos, metais e contas de colares.

 

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Seção da Era Viking do Museu Nacional. Fotos do autor.  autor.   2.

Museu Nacional de História  (Castelo de Frederiksborg, Hillerød, entrada

paga)  Apesar de não conter material original da Era Viking, pois concentra-se na história de Copenhague do Renascimento até o século XX, vale a visitação pela exposição de uma réplica da pedra de Jelling, além de exemplares setecentistas da Edda  Menor de Snorri e pinturas históricas retratando os vikings como tema principal.

Fotografia de exemplar da Edda de Snorri e pintura de temática viking, Museu de Frederiksborg. Fotos do autor.  autor.  No mesmo condado (Frederiksborg), no município de Frederikssund, localiza-se uma vila uma  vila viking, com viking, com a reprodução de várias habitações nórdicas da Era Viking – também

 

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neste local, durante o mês de julho, ocorrem várias encenações teatrais e dramatizações históricas e mitológicas (durante a noite, todos com atores voluntários, destaque para a encenação da tragédia Hagbard e Signe ), ), além de um mercado e festivais temáticos (entrada paga). Segundo o guia da Politikens Forlag, as ações de reconstituições neste local já remontam a sessenta anos. Também em julho ocorre em Frederikssund um mercado medieval de forma independente. Se for planejada uma viagem neste mês, pode-se conciliar a visitação nestas três áreas: o museu do Castelo de Frederiksborg, o festival da vila viking e o mercado medieval de Frederikssund.

Vila viking de Frederikssund, foto do autor.  autor.   A vila viking também realiza atividades em abril abr il e um mercado durante o festival das luzes em dezembro. O site do mercado viking dispõe das diversas atividades,

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incluindo passeios a cavalos para crianças (que se encerram as 16 horas da tarde) e atividades de artesanato. A distância a carro de Copenhague a Frederikssund leva cerca de 44 minutos e de trem 1 hora (saindo da estação central, c entral, com várias opções de horários).

 

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Mercado viking de Frederikssund, foto do autor.  autor.  

Também muito próximo de Frederikssund (15 minutos de carro e 40 minutos de trem) é possível visitar o castelo de Jægerspris, de Jægerspris, que  que contém em seu jardim três pedras rúnicas originais da Era Viking, muito bem preservadas (com acesso livre e gratuito ao parque), incluindo Flemløse e sua famosa inscrição: “Esta pedra foi feita em memória memór ia de Roulv, chefe do povo Næs” Næs ” . As pedras foram transportadas ao local no Oitocentos porque o rei Frederico VII era amante da Arqueologia.

Pedras rúnicas do castelo de Jægerspris. Fonte Jægerspris. Fonte da foto. foto.  

 

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3.  3.  Museu Kroppedal (Taastrup, entrada grátis) Situado a 20 km de Copenhague (20 m de carro, 47 m de trem), o museu reúne acervo de História da Astronomia e Arqueologia. Em relação a material nórdico medieval, exibe objetos (especialmente encontrados em sepulturas) e o documentário “ Rural Vikings ” . Em 2018 iniciou uma exposição temporária sobre os vikings. A 200 metros do museu, existem demarcações em madeira de antigas habitações de uma vila medieval, além de reconstituições de estradas e de uma ponte p onte da Era Viking (construída originalmente por Harald Dente Azul, com 100 metros) – estas últimas realizadas em 2017.

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Esqueleto da Era Viking. Museu Kroppedal. Fonte Kroppedal. Fonte da foto.  foto. 

 A 6 minutos de carro e 18 minutos a pé de distância do museu de Kroppedal, localiza-se a vila a vila viking de Alberslund, mantida Alberslund, mantida por 130 voluntários. O local possui várias

 

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reconstituições de habitações e o cotidiano da Era Viking (como a criação de animais, estábulos e estrutura de fazenda), além de manter cursos e oficinas para adultos e atividades para crianças. As atividades concentram-se por todo o verão escandinavo.

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Vila viking de Alberslund. Fonte Alberslund. Fonte da foto.  foto. 

4.  4.  Pedra rúnica de Kallerup (DR 250,  250, Hedehusene, acesso livre)  A mais antiga pedra rúnica da Dinamarca, descoberta em 1827 e datada do século 700-800 d.C., ainda com runas do alfabeto Futhark antigo. Está localizada no jardim

da igreja da igreja de Ansgar no município de Hedehusene (a 12 minutos de carro e 40 minutos de trem do Museu de Kroppedal; 29 minutos de carro car ro e 32 minutos de trem de Copenhague).

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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Pedra rúnica de Kallerup (DR 250). Fonte 250).  Fonte da foto.  foto.  5.

Museu Køge  (Køge, entrada paga).

O museu possui uma seção sobre a Era Viking contendo objetos de vidro, vidro , cerâmica, ossos e outros objetos do cotidiano. cot idiano. O destaque fica por conta de pilares originais de uma casa do líder da comunidade de Toftegård recuperada arqueologicamente. O museu

localiza-se a 38 minutos de carro e 48 minutos de trem de Copenhague.

 

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Museu Køge, foto do autor.

6.

Fortaleza de Borrering  (Vallø  (Vallø Borgring, Køge, acesso pago).

Fortaleza circular com 121 metros de diâmetro, originalmente com uma muralha de 10 metros de altura e disposta em paliçada mas sem sinais de fosso. Localiza-se bem próxima do museu de Køge (8 minutos de carro), mas é bem menos impressionante que as fortalezas dinamarquesas de Fyrkat e Trelleborg.

Fortaleza de Borrering. F oonte nte da foto. foto.  

 

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7.

Museu Bornholm (Rønne, ilha de Bornholm, entrada paga).

 Apesar de sua localização desprivilegiada (situado abaixo abaixo da Suécia, no ma marr Báltico Báltico,, com a Polônia ao sul) o museu possui um acervo formidável de joias e objetos preciosos da Era Viking. Na ilha também é possível visitar a fortaleza viking de Gamleborg,  vestígios de uma cidadela viking, além de castelos e diversas construções medievais. A ilha também é um dos locais com maior concentração de pedras rúnicas da Dinamarca, com cerca de 40 monumentos identificados. Um identificados.  Um mapa com a localização de algumas destas pedras é disponível online. A pedra rúnica mais importante de todas é a de Brogård, localizada em Svalhøjvej, próxima de Simblegårdsvej com o texto: “ Svenger erigiu esta pedra em honra de seu pai Toste e seu irmão Alvkaj e sua mãe e sua irmã” irmã”. 8.

Museu do Navio Viking de Roskilde  (Roskilde, entrada paga)

O mais importante museu com acervo viking de toda a Zelândia. Além das maravilhosas embarcações originais em exposição (de vários tamanhos e formatos), recuperadas no fiorde após as investigações e resgate arqueológico dos anos 1970, o museu dispõe de vários objetos reconstituídos (como teares), armamentos e uma interessante exposição interativa, onde os visitantes podem vestir roupas nórdicas da Era Viking e posar para fotografias em embarcações. Fora do museu existe um centro experimental onde é possível vislumbrar atividades de marcenaria e a construção de

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diversos tipos de embarcações, além de participar de oficinas especializadas durante o período do verão. Imperdível é o passeio no Báltico em embarcação reconstituída dos tempos vikings, com a possibilidade de aprender um pouco sobre navegação nórdica e inclusive remar e controlar a vela principal. A atividade é paga e dura cerca de uma hora e é necessário realizar reserva antecipada logo que o museu abre (as 10h da manhã), pois logo o local fica repleto de turistas e o espaço das embarcações é limitado a poucas pessoas (12 por barco). Antes da experiência, monitores especializados realizam uma instrução prévia aos participantes, com conteúdo tanto sobre segurança quanto de história da navegação e cultura nórdica. A atividade de navegação é disponível ao público em geral de maio a setembro.

 

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Museu do navio viking. Fonte viking. Fonte da foto.  foto.   A 14 minutos a pé de distância do Vikingeskibs Museet , é possível visitar outra instituição. o Museu o Museu da cidade de Roskilde,  Roskilde,   que conta com exposições temporárias e interativas sobre a Era Viking, incluindo a exibição de joias e diversos objetos recuperados na escavação do sítio de Gerdrup, Vindinge e Kirke Hyllinge. Um dos pontos altos é a exibição dos remanescentes da sepultura feminina A505 de TrekronerGrydehøj, considerada de uma antiga völva.

 

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Navegando no Báltico em barco viking, Roskilde. Fotos de Isolda Langer.  Langer.   9.

Museu de Lejre  (Lejre, entrada paga)

Lejre constitui uma das visitas obrigatórias para a região da Zelândia aos interessados no passado viking. O museu de Lejre, apesar de pequeno, é especializado na temática nórdica medieval, apresentando uma exposição permanente bem moderna e interativa, conciliando a exposição de objetos com conteúdo didático. A seção reconstituindo o interior de uma habitação da Era Viking é uma experiência formidável e única. Mas sem nenhuma dúvida o âmago da visitação é o pequeno e maravilhoso pingente de Odin, recuperado na região, que conta com a exposição do objeto original e

um vídeo interativo para que o visitante possa perceber todos os detalhes deste importante artefato. A visitação inclui três seções básicas, divididas entre uma introdução às fontes arqueológicas e históricas sobre a dinastia Scylding; a segunda um grande mapa digital com os monumentos e escavações da região; a terceira são os tesouros arqueológicos do museu.

 

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Museu de Lejre, fotos do autor.  autor.    A poucos metros do museu, é possível visitar visitar os montículos funerários funerários de Hyldehøj, Ravnshøj e Grydehøj, conectados à legendária dinastia Scylding. Mas o mais impressionante sítio arqueológico do local é o alinhamento pétreo em formato de embarcação (Skibssætning  (Skibssætning , em português: barcos de pedra), dos quais sobrevivem apenas 28 pedras, mas ainda constituem o maior conjunto de toda a Zelândia (9 (900 metros de extensão e 20 m de largura). Estes monumentos funerários foram erigidos em torno

 

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do ano 900 d.C. e ainda restam 55 sepulturas originais. O alinhamento é acessado por meio de uma trilha a partir do museu, do qual se situa a uns 10 minutos a pé.

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Pedras funerárias de Lejre, foto do autor.  autor.    A partir p artir do Museu de Lejre (1,7 ( 1,7 km de distância), é possível ir em linha reta até o Centro Experimental de Lejre (Sagnlandet  (Sagnlandet , Terra das lendas, entrada paga). Existem ônibus especiais que saem diretamente de Copenhague até este local, um dos melhores centros experimentais de toda a Dinamarca. O local oferece diversas reconstituições da  vida cotidiana em vários períodos da d a História do país, como o Neolítico, Idade do ferro e a Era Viking, por meio de pesquisadores e monitores devidamente caracterizados e realizando atividades manuais como confecção de artefatos, alimentos, equipamentos,

etc. No local é possível realizar oficinas e cursos especializados como cerâmica, tecelagem, metalurgia, lutas, equitação, metalurgia, arco e flecha. No mês de julho ocorre um grande mercado viking. Uma das principais áreas do centro é o famoso pântano sacrificial com os restos de cavalos e auroques, reconstituindo alguns dos principais rituais efetuados na região durante os tempos pré-cristãos. Uma atividade imperdível no local é o passeio de canoa (feita de um único tronco de árvore) em uma lagoa, mas também é possível ferramentas manuais.participar da fabricação de alimentos e até mesmo o uso de

 

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Vila da Idade do Ferro, Centro Experimental de Lejre, fotos do autor.  autor.   Para os amantes da Arqueologia, um local imperdível próximo de Lejre é o

monumento megalítico de  de Øm jættestue , uma sepultura de corredor do Neolítico muito bem preservada (com aproximadamente 3.000 anos). A câmara funerária central possui 7 metros e é possível p ossível ficar de pé em seu interior. Uma experiência inesquecível. O acesso é realizado descendo na estação de Estação de Lejre e percorrendo a pé a partir da confeitaria Lejre Bageri V e a comunidade do local (logo aparecem placas patrimoniais indicativas do sítio Øm jættestue ). ). Não seguir o trajeto fornecido pelo Google maps , que é muito mais longo e complicado. De carro, do Museu de Lejre via Klostergårdsvej até este sítio, o trajeto dura 7 minutos.

 

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Entrada do túmulo neolítico de Øm jættestue, foto do autor.  autor.   10. Museu de Trelleborg  (Slagelse, entrada grátis, exceto durante o festival de  julho) O museu é pequeno e possui poucos materiais originais, com algumas exposições didáticas sobre o cotidiano cot idiano e a história da Dinamarca da Era Viking. Ao lado do museu, foi reconstituída uma casa comunal (casa longa, salão real), construída em 1942.

Objetos da Era Viking do Museu de Trelleborg. Foto do autor.  autor.  

 

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 Atividade interativa do Museu de Trelleborg e cena do mercado viking. Fotos do autor   Mas a grande atração do local são os vestígios de Trelleborg, a mais bem preservada fortaleza circular da Dinamarca da Era Viking. Ela foi erigida em 980 durante o reinado de Harald Dente Azul. Em seu interior existem as demarcações de 16 edificações em formato de embarcação. O local é o único em que foram encontrados vestígios de ataque. Trata-se de um dos mais formidáveis sítios arqueológicos da Era Viking.

Entrada da fortaleza de Trelleborg. Foto do autor.  autor.  

 

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O salão real de Trelleborg. Foto do autor.  autor.  

 Anualmente, durante a segunda metade de julho é realizado o maior festival e mercado viking da Dinamarca (para mais detalhes, leia: NEVE leia: NEVE visita festivais vikings na Dinamarca),, reunindo centenas de pesquisadores e entusiastas, com a venda de diversos Dinamarca) objetos, além de oficinas, cursos e dezenas de atividades para par a o público. O ponto alto é a impressionante reconstituição da batalha de Trelleborg, efetuada por cerca de 200 pessoas caracterizadas, dentro e fora da fortaleza.

Cena da reconstituição da batalha de Trelleborg. foto do autor.  autor.  

 

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11. Centro Viking de Fugledegård  (St.  (St. Fuglede, entrada paga) O centro é especializado na pesquisa e reconstituição de atividades religiosas da Era Viking, incluindo atividades para crianças. Os rituais são baseados nas pesquisas efetuadas em torno do lago Tissø durante os anos 1970 e 1990, do qual se descobriram  vários objetos com sentido simbólico e religioso, incluindo pingentes de figuras femininas. É possível realizar uma trilha na região, chamada “In the footsteps of the Vikings ”, com cerca de 3.5km, explorando os locais onde foram encontrados objetos, revelando informações sobre a vida na Era Viking. No começo de outubro é realizado um mercado viking na área (Tissø Vikingemarked), Vikingemarked ), sempre aberto por uma reconstituição de um sacrifício a Tyr no lago.

B.  B.  FUNEN FUNEN   1.

Museu Viking de Ladby (Kerteminde, entrada paga).

Museu especializado em objetos recuperados em barcos funerários, além da reconstituição dos próprios enterros e exibição do navio original. Destaque para objetos

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como âncoras. Durante o verão, réplicas de embarcações ficam ancoradas no fiorde.  Ao lado do museu, fica o montículo do único vestígio de sepultamento por embarcação da Dinamarca viking, datado de 925 d.C. 2.

Memorial de Glavendrup (Glavendrup, acesso livre)

Um impressionante alinhamento de pedras em formato de navio (com 60 metros de comprimento), com uma pedra rúnica em seu fim (DR 209), contendo o famoso trecho de uma maldição, prejudicando quem mover ou danificar a pedra.

 

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Memorial de Glavndrup, fonte Glavndrup, fonte da foto.  foto.  3. Museu 3. Museu Møntergården (entrada paga). Um museu local dedicado à História cultural da região, não sendo especializado em Era Viking, mas com uma seção especial que vale a visitação. Possui muitos art artefatos efatos encontrados na escavação da sepultura de Rosenlund. Um dos pontos altos da exposição permanente sobre vikings é a exibição de uma espada do tipo Ulfberht

 

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Museu Møntergården, fotos do autor. C. C.   JUTLÂNDIA JUTLÂNDIA  

1.  1.  Museu de Jelling  (Jelling, entrada grátis). Maravilhosa experiência museológica, com diversas exposições interativas, unindo a exibição de artefatos originais da Era Viking com a mais moderna moder na tecnologia.  Ao lado do museu fica a área monumental, com dois d ois montículos funerários rreais: eais: o maior, com 60 metros de diâmetro e originalmente ladeado por 356 pedras em formato

de embarcação. Provavelmente o local onde o rei Gorm foi f oi enterrado entre 958-959.  As principais atrações do local são as pedras rúnicas. A menores foi feita pelo rei r ei Gorm em memória de sua esposa Thyra. Na maior, o rei Harald Dente-Azul declara suas conquistas e a proclamação do cristianismo para os Danes por volta de 965 d. C. A arte das pedras rúnicas foi realizada no estilo Mammen e foi declarada patrimônio da humanidade pela Unesco em 1994. As pedras recebem atualmente uma proteção com  vidro.

 

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 As pedras de Jelling. Fotos do autor.  autor. 

Montículo real de Jelling. foto do autor.  autor. 

2.

Festival viking de Jels  (Rødding, entrada paga)

 

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Desde 1977 é realizado nesta região um festival, reunindo diversas dramatizações com temas sobre amor, guerra, assassinatos e reconciliações da Era Viking. No mesmo local são realizadas grandes refeições e brindes com bebidas, além de uma grande feira com venda de objetos, cerâmica, joalheria, etc. O festival é realizado nas duas primeiras semanas de julho. 491 

3.

Museu viking de Ribe  (Ribe, entrada paga)

Museu com diversos conteúdos relacionados aos nórdicos medievais, com exibição de objetos, maquetes e reconstituições. As exposições enfatizam a vida da cidade de Ribe durante o seu auge comercial. Também várias atividades para crianças envolvem mitologia nórdica, além da exibição de pedras rúnicas resgatadas durante a construção da catedral em 1850.

 

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Museu Viking de Ribe, fotos do autor.

 A seis minutos de carro (via Haulundvej) do Museu, fica o Ribe Viking Centre (entrada paga), dedicado à arqueologia experimental da Era Viking, com a reprodução de várias casas longas, ferrarias, oficinas e vários aspectos da vida cotidiana, incluindo passeios a cavalo. O local se dedica a cursos e oficinas para crianças e adultos durante o ano inteiro. Entre abril e maio é realizado um mercado internacional.

Centro Viking de Ribe, foto do autor.

 

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4.

Bork Viking harbour  (Hemmet, entrada paga)

Reprodução de vila Viking, com diversas atividades ao público durante todo o ano, incluindo passeis em embarcações e uso de reproduções de vestimentas originais. Em agosto ocorre o mercado viking.

5.

Momu –  Museu  Museu Moesgaard  (Aarhus, entrada paga).

Um dos maiores e mais impressionantes museus dinamarqueses, com uma grande exposição permanente dedicada à Era Viking, incluindo diversas pedras rúnicas, artefatos e as famosas pedra de Loki e a máscara de Aarhus. Na área externa é possível  visitar a reconstituição reconstituição de um pequeno pequeno santuário nórdico pré-cristão. O centro centro da cidade de Aarhus possui várias linhas de ônibus com destino final ao museu. Em julho ocorre o mercado viking de Moesgaard.  Moesgaard. 

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Pedras rúnicas do Museu de Moesgaard. Fotos do autor.  autor.  

 Armamento viking do Museu de Moesgaard. Foto do autor  

 

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Santuário nórdico pré-cristão de Aarhus. Foto do autor.  autor.   No centro da cidade de Aarhus, ao lado da catedral, funciona um pequeno museu pequeno  museu  viking, organizado  viking,  organizado pelo Momu, com a exposição de vários artefatos e peças originais, além de algumas reproduções. Também próximo dali é possível visitar a igreja medieval de Vejlby, de Vejlby,   com afrescos representando diabos auxiliando na confecção feminina da manteiga. Ambos valem muita a visitação.

Museu viking de Aarhus, foto do autor.  autor.  6.

Centro Viking de Fyrkat (Hobro, entrada paga)

 

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Centro experimental dedicado à reprodução da vida dos fazendeiros e guerreiros nórdicos em torno do ano 980. As reconstituições foram baseadas nas escavações de Vorbasse. Em maio e junho o grupo teatral Fyrkatspiller  executa  executa diversas encenações no local. Perto dali (21 minutos a pé e 4 minutos de carro) o Museu o  Museu Hobro expõe diversos objetos recuperados durante as escavações da fortaleza de Fyrkat, além de joias e  vestuários.  A fortaleza de Fyrkat, situada a 1 km do centro viking de Fyrkat, é uma das mais famosas da Dinamarca. Foi construído para demonstrar o poder de Harald dente Azul.  Além das habitações dos guerreiros, Fyrkat originalmente também possuía ferreiros, artesãos, estábulos e lojas em seu interior.

7.

Museu Lindhølm Hoje  (Nørresundby, entrada paga).

O museu é um pequeno vislumbre da vida cotidiana nórdica, congregando algumas peças originais com interatividade em 3D.

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Museu Lindhølm Hoje, foto do autor  

 

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 Ao lado do museu, ficam dispostas as 589 sepulturas demarcadas com pedras, algumas com formato bem definido de embarcações. É o sítio megalítico nórdico mais impressionante de toda a Dinamarca.

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Cemitério de  Lindhølm  Lindhølm Hoje. Fotos do autor.  autor. 

 

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D. DICAS DE PLANEJAMENTO E VIAGEM

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Principais sítios arqueológicos, museus e centros experimentais vikings da Dinamarca.   Dinamarca.  A viagem deve ser planejada visando a quantidade de locais e o tempo disponível para visitação. Recomendamos o início da viagem pela Zelândia, partindo e voltando para Copenhague, visto que todos os locais podem ser visitados em um dia - a saída pode ser bem cedo por trem ou carro e o retorno pela noite (a maioria dos museus e centros abre a partir das 10h da manhã). Passeios por bicicleta (alugadas na capital) são recomendados preferencialmente para as regiões de Frederikssund, Roskilde e Køge,

cujo trajetos são possíveis de serem efetuados em até duas horas. O site  site Rejseplanen  fornece horários, trajetos, conexões e preços de vários tipos de transportes para todas as localidades da Dinamarca (opções em dinamarquês, inglês e alemão). Os bilhetes de trem podem ser adquiridos no momento da viagem na estação central de Copenhague ou por suas estações secundárias. Já para as viagens a Funen e a Jutlândia são necessários mais de um dia, precisando de paradas em hotéis, hostels ou camping. Também para a compra de passagens de trem na área da Julândia via Copenhague é recomendado a compra antecipada de bilhetes. Na maioria dos trens dinamarqueses não é necessário a entrega dos bilhetes, mas em algumas linhas

 

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(especialmente as mais longas) ocorre fiscalização. Obviamente incentivamos a honestidade e precaução por parte dos brasileiros (a multa por viajar sem bilhetes é em torno de 700 coroas co roas dinamarquesas). Nas estações pequenas do interior não existe venda de bilhetes por dinheiro, somente em máquinas automáticas - recomenda-se sempre o uso de cartões de crédito internacionais na viagem. Para os deslocamentos na região da Jutlândia, recomendamos o pernoite em grandes (e maravilhosas) cidades como Aarhus,  Aalborg e Esbjerg e a partir delas desloca-se para as pequenas cidades com seus museus e sítios. Em Funen a melhor opção é Odense.

 principais rotas da Dinamarca viking  

Referências bibliográficas:  

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LANGER, Johnni (Ed.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Paulo: Hedra, 2017. LAURING, Palle. A Palle. A history of Denmark . Copenhagen: Host & Son, 2015. OLDTIDENS ANSIGT: faces of the past. Køpenhavn: Jysk Arkaeologisk Selskab, 1990. THE GREATEST VIKING EXPERIENCES IN DENMARK: GUIDE. Made by Vikings. VisitKerteminde/Haven ved Havet, 2018. VIKINGERNES AROS. Aarhus: Moesgård Museum, 2005.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

VIKINGS IN DENMARK: A travel guide. Køpenhavn: Politikens Forlag, 2018. WILLIAMS, Gareth et al (Ed.). Viking . Køpenhavn: Nationalmuseet, s.d. Site:   Destination Viking: the legacy of the Vikings.  Vikings.   500 

 

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MITOS NÓRDICOS NA DINAMARCA: D INAMARCA: GUIA ICONOGRÁFICO ICONOGRÁFICO   Johnni Langer  A Dinamarca é um dos países escandinavos com um dos maiores acervos sobre a antiguidade nórdica e alguns dos mais interessantes materiais sobre Mitologia Nórdica.  A seguir repassamos algumas destas fontes, separadas por região e cidade.

1.  1.  JUTLÂNDIA JUTLÂNDIA  

 

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Thor pescando a serpente do mundo . Pedra pintada da  da  Igreja de Hørdum, Hørdum,   Koldby (Thorvej 25A, Snedsted, 20km ao sul da cidade de Thisted), norte da Jutlândia. Descoberta em 1954 durante a restauração da igreja, trata-se da imagem mais antiga de uma das mais populares iconografias sobre o deus Thor, datada entre os séculos VIII e IX d.C. A igreja data de 1170 e fontes antigas descrevem que originalmente o local era

dedicado ao culto de Odin e Thor.

 

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Pedra de Snaptum , Museu Moesgaard (Moesgaard (Moesgaard Allé 15, Aarhus), Jutlândia. Descoberta em 1950 e datada do ano mil, acredita-se que tenha sido originalmente uma pedra de lareira. O bocal de um fole seria inserido no buraco da frente da pedra. O ar soprado faria com que as chamas saíssem pelo topo. A imagem representa um ser masculino com a sua boca costurada – algo associado nas fontes com o deus Loki e este estava relacionado ao fogo. É a principal atração da seção viking do museu, dispondo inclusive de bancada frontal para poder contemplar a peça com mais atenção.

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 As três nornas . Escultura contemporânea (autoria desconhecida) realizada para o Centro Viking de Ribe  (Lustrupvej 4, Ribe, Dinamarca), representando Urðr, Verðandi e Skuld. 2.  2.  ZELÂNDIA ZELÂNDIA  

 

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504 

Pingente de Lejre , Lejre Museum (Orehojvej 4B, Lejre) Uma das mais impressionantes descobertas arqueológicas nórdicas das últimas décadas. Trata-se de um pequeno mas importante amuleto, contendo o deus Odin sentado em seu trono, tendo ao lado quatro animais, dois corvos e dois lobos. É a principal atração do museu, que dispõe de recentes tecnologias visuais para detalhar todos os ângulos e detalhes do objeto.

 

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Pedra rúnica de Snoldelev  (DR 248),  248), Museu Nacional da Dinamarca (Ny Vestergade 10, Prinsens Palæ DK-1471, Copenhague). Pedra rúnica datada do século IX, contendo a representação de uma suástica e um símbolo com três cornos entrelaçados –  este último pode estar associado ao mito em que o deus Kvasir é morto pelos anões Fjalarr e Galarr e seu sangue é disposto em três vasilhames e depois misturado para

fabricar o hidromel. Ambos os símbolos estão associados diretamente com o deus Odin. No fundo da suástica, quase imperceptível, está gravada outro símbolo mais antigo, uma roda solar.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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Carro solar de Trundholm , Museu Nacional da Dinamarca Dinamarca (Ny Vestergade 10, Prinsens Palæ DK-1471, Copenhague). Objeto encontrado em um pântano em 1902, sendo um artefato da Idade do Bronze, datado de 1400 a.C. Representa um cavalo puxando uma carroça com um disco solar, um antecessor do d o cavalo Skinfaxi da mitologia nórdica. A sala onde está exposto possui efeitos de d e claro e escuro, imitando o dia e a noite, acompanhado de uma projeção automática com uma animação reconstituindo a cosmologia germano-escandinava.

Pingentes de valquírias . Museu Nacional da Dinamarca (Ny Vestergade 10, Prinsens Palæ DK-1471, Copenhague). Dois pingentes de valquírias, um representando duas mulheres armadas e ao lado de um cavalo, enquanto outro pingente apresenta a

 

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 versão domesticada: uma mulher mulher vestindo vestindo longas vestes e protando hidromel em su suaa mão.  Ao lado esquerdo, um conjunto de três imagens masculinas, possivelmente representando deidades ou seres sobrenaturais.

507 

 Audumla e Ymir , pintura de Nicolai Abraham Abildgaard (1777), Museu (1777),  Museu Nacional de Artes da Dinamarca (Sølvgade 48-50, Copenhague). Copenhague). Uma das mais icônicas e representativas obras de arte do ocidente a representar mitos nórdicos. Representa a

 

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 vaca primordial alimentando o gigante Ymir, enquanto Búri surge do gelo logo atrás. A tela é bem pequena, mas possui um grande destaque na exposição, devido ao seu conteúdo temático.

508 

O festin de Aegir  (Ægirs Gjæstebud, de Constantin Hansen (1861). Museu (1861). Museu Nacional de Artes da Dinamarca (Sølvgade 48-50, Copenhague). Famosa pintura retratando o banquete do Lokasenna, tendo o deus Thor como principal elemento

 

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figurativo, ao centro do quadro, portando seu martelo, enquanto Loki surge em primeiro plano.

509 

Friso do Ragnarok , Hermann Ernest Freund (1825-1827), Museu (1825-1827), Museu Nacional de  Artes da Dinamarca (Sølvgade 48-50, Copenhague). Uma das mais grandiosas esculturas sobre Mitologia Nórdica, originalmente composta por Freund para o palácio Christiansborg, mas foi destruído parcialmente por um incêndio em 1884. Partes do friso são expostos no Statens Museum for Kunst.

 A morte de Balder , Christoffer Wilhelm Eckersberg (1817),  (1817),  Real Academia Dinamarquesa de Artes (Philip de Langes Allé 10, Copenhague). Uma icônica pintura, altamente influenciada pelo nacionalismo dinamarquês. Atualmente não encontra-se exposta, sendo parte do acervo da Academia Dinamarquesa Real de Belas Artes (Det Kongelige Danske Kunstakademis) em Copenhague.

 

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Gefion  (1882), Lorenz Frølich, Frederiksborg Slot, Dinamarca. Pequena mas

impressionante pintura a óleo da deusa Gefion. Ao contrário da escultura de Bundsgaard, a deusa possui uma ramo de bétula (assim como vários dos pequenos acompanhantes), uma planta sagrada para os povos do norte da Europa.

 

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511 

Fonte de Gefion  (Gefionspringvandet, Churchillparken 1263, Copenhague). Esculpida por Anders Bundgaard em 1908, a fonte foi encomendada pela fundação Carlsberg. A escultura representa a deusa Gefion, associada coma criação mítica da ilha da Zelândia e cuja narrativa foi preservada pelo poema escáldico Ragnarsdrápa  e  e pela Ynglinga saga  de Snorri Sturluson. A escultura representa a deusa de modo extremamente soberbo e poderoso, conduzindo quatro touros vigorosos. A indumentária da deusa foi influenciada pelas descobertas arqueológicas oitocentistas, como o detalhe da sua tiara, de modelo da Idade do Bronze, cujos vários exemplares estão expostos no Museu Nacional da Dinamarca. A fonte localiza-se bem próxima da d a estátua da pequena sereia, a principal atração turística de d e Copenhague.

 

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Valquiria , escultura de Stephan Sinding, Churchillparken/Kastellet (Gl. Hovedvagt, Kastellet 1, 2100, Copenhague). Estátua executada em Paris em 1908, baseada num desenho de 1872. Uma pequena versão em bronze está em exibição na Ny Carlsberg Glyptotek, também em Copenhague.

 A batalha de Thor contra os gigantes , Ny Carlsberg Bryghus (Gamle (Gamle Carlsberg Vej 111799, Copenhague) Escultura de Carl Johan Bonnesen para a cervejaria Carlsberg, realizada em 1901. Trata-se de uma majestosa obra, apresentado o deus Thor em uma  vigorosa posição de batalha contra os gigantes. A escultura foi influenciada pela pintura Thor de M. Winge (1872) e apresenta o filho de Odin como uma divindade solar e ariana, dentro dos critérios oitocentistas. Seguindo também essas tendências artísticas,

 

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Bonnesen inseriu grandes suásticas nas rodas e pequenas na parte superior da biga (no quadro de Winge este símbolo está no cinto da deidade).

513 

Odin , escultura de Hermann Ernest Freund (1829),  (1829), Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague). Copenhague). O primeiro artista dinamarquês a esculpir obras sobre mitologia nórdica, todas inspiradas na estética classicista.

 

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Thor , escultura de Hermann Ernest Freund (1828-29),  (1828-29), Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague).

514 

Loki , escultura de Hermann Ernest Freund (1822).  (1822).  Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague).

Valquíria , escultura de Herman Wilhelm Bissen (1858).  (1858).  Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague).

 

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515 

Idunna , escultura de Herman Wilhelm Bissen (1858). Ny (1858).  Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes (Dantes Plads 7, Copenhague).

 

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516 

Brunhilde , escultura de Herman Wilhelm Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague).

Bissen

(1857).  Ny (1857). 

Carlsberg

 

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Ingeborg , escultura de Herman Wilhelm Bissen (1857). Ny (1857). Ny Carlsberg Glyptotek (Dantes Plads 7, Copenhague). 3.  3.  FIÔNIA FIÔNIA  

 

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 A batalha b atalha de Thor contra os gigantes  (Thors   (Thors kamp med Jætterne), outra estátua do escultor Carl Johan Bonnesen, realizada em 1918. A escultura foi encomendada por Harald Plum e vendida para a fábrica Hastrup, onde localiza-se atualmente (Næsbyvej 20, Odense). Ao contrário de sua obra da cervejaria cer vejaria Calsberg, esta estátua não apresenta elmo germânico nem capa, sendo muito mais dentro dos padrões estéticos neoclássicos: tanto o deus quanto os gigantes foram representados nus, com formas extremamente musculosas e vigorosas.

518 

 

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Thor med Midgårdsormen  (Thor  (Thor e a serpente do mundo). Maravilhosa escultura de bronze da artista dinamarquesa Anne Marie Carl-Nielsen, realizada em 1887 para um concurso público de fontes. Ela retrata com muito vigor o confronto do deus contra a serpente do mundo, ainda muito influenciada pelo neoclassicismo. Ela também realizou uma versão menor da mesma cena e ambas as esculturas estão atualmente no  no  Odense Bys Museer  (Overgade 48, 5000 Odense, Dinamarca). 519 

O poço de Ymir  (Ymerbrønden), de Kai Nielsen (1913), (1913), Faaborg  Faaborg Museum (Groennegade 75, Faaborg). Ao contrário de Abildgaard, a obra de Nielsen apresenta um Ymir muito mais contemporâneo: aqui o gigante possui um corpo maior do que a vaca primordial, primor dial, mas a sua posição é de submissão, ficando deitado com a cabeça totalmente abaixo do animal. Bibliografia: 

BOYER, Régis. Héros et dieux du Nord : guide iconographique. Paris: Flammarion, 1997. Danish Prehistory . Copenhagen: National Museum of Denmark, 2016. Follow the vikings : highlights of the viking world. Uppsala: Almqvist, 1996. HANSEN, Jakob. Copenhaga . León: Editorial Evergráfica, 1998. LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica . São Paulo: Hedra, 2015. LAURING, Palle. A Palle. A History of Denmark . Copenhagen: Host, 2016. Vikings in Denmark : a travel guide. Kobenhavn: Politikens Forlag, 2018. Vikingernes Aros . Aarhus: Moesgard Museum, 2005.

 

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WILIAMS, Gareth et al (Org.). Viking . Kobenhavn: Nationalmuseet, 2013.

520 

GUIA DA SUÉCIA VIKING (REGIÃO DA ESCÂNIA)

Johnni Langer  A Escânia (em sueco: Skåne , pronúncia: sko-ne) é uma província da região da Gotalândia, nodo sulgermânico da Suécia."*skadan  O nome",",tem a mesma origem que Escandináviasituada (proveio " *skadan  perigo: Langer, 2017,etimológica p. 227). É uma

região que foi originalmente povoada e administrada por dinamarqueses, desde a Era Viking, sendo controlada pelos suecos a partir do século XVII (Alves, 2017, p. 173). Até hoje o local possui muitas influências e relações com a Dinamarca, devido a sua proximidade. A região pode ser acessada por Estocolmo (uma média de 5 a 4 horas de Estocolmo a Trelleborg por trem ou uma hora de avião) ou Copenhague (uma hora de trem até Trelleborg e 50 minutos para Lund). Informações de conexões, horários e trajetos podem ser consultados com segurança pelo  pelo Google Maps .  Questões gerais de acesso e outras dicas podem se obtidas no  no  Guia da Dinamarca Viking . 

 

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Centro de Informação turística de Trelleborg.  Trelleborg.   As melhores épocas para visitação vão de junho a agosto, quando são realizados festivais medievais ou atividades variadas relacionados com a Era E ra Viking (em Trelleborg e Höllviken, especialmente). Para outros períodos, é necessário consultar o site de cada instituição. Todas as cidades da Escânia possuem excelente estrutura turística, restaurantes, hotéis e acomodações populares (incluindo Airbnb  (incluindo  Airbnb ). ). Praticamente todos os

habitantes da região falam inglês e são extremamente gentis, qualquer informação é muito fácil de ser obtida. Logo ao lado das estações de trem, tanto na cidade de Lund quanto na de Trelleborg, existem centrais de atendimento aos turistas, com amplo auxílio a qualquer questão prática. Em especial, na de Trelleborg o atendimento é realizado por mulheres caracterizadas com vestimentas da Era Viking. O visitante interessado neste tema, já se sente em casa!

 

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Mapa da Escânia : as duas principais cidades com interesse Viking, Lund Viking,  Lund e Trelleborg , são acessadas pela maior cidade da região, Malmö   - via Copenhague (trem, ônibus ou carro), ou então pelo norte, via Estocolmo (avião, ônibus, trem e carro). LUND   LUND Lund é uma cidade fundada no século XI, mas escavações arqueológicas já

detectaram vestígios de ocupação ainda em 990 99 0 d.C., sendo parte do reino dinamarquês. No medievo central, ela chegou a ser o centro religioso, político, econômico e cultural de toda a Escandinávia. Ainda hoje ela é um grande polo científico e universitário, sendo conhecida como “ A cidade das ideias” ideias”. 1.  

Museu Histórico da Universidade de Lund:

Entrada paga. Museu especializado em História e Arqueologia, com exposições permanentes que  vão da Pré-História ao século XIX, destacando a história regional r egional e da Escandinávia. A seção da Era Viking é moderna e bem interativa, com iluminações e projeções de cenas

 

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históricas, muito atraente ao público de diversas idades. O principal destaque da exposição é a seção “Vísendakona ” (profetisa), destacando objetos originais e amuletos relacionados com magia, adivinhação e religiosidade. É possível adquirir gratuitamente no local o opúsculo Barbaricum , um belo guia ilustrado com 95 páginas (em sueco e inglês) sobre os principais objetos da cultura material nórdica, recuperados na região da Escânia (em especial em Uppåkra  - - pronúncia: upokra) e exibidos neste local. 523 

Espada da Era Viking, MHUL  

Exposição "A profetisa", MHUL  

 

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Máscara da Era Viking, MHUL   2.  

Museu Kulturen:

Entrada paga. Imenso complexo museológico, constituído por um edifício principal, onde é apresentada a seção da Era Viking, sendo o restante um diversificado mostruário ao ar livre de várias épocas da história sueca, incluindo o renascimento e o século XIX. Logo na entrada são exibidas várias pedras rúnicas. Na exposição, são contempladas diversas reconstituições, bem como peças originais do vestuário, joias, cotidiano, religiosidade, comércio e armamentos. O ponto alto da visitação são os blocos remanescentes do monumento de Hunnestad (atualmente destruído), descrito e ilustrado pelo p elo antiquarista

Ole Worm no livro Monumenta Danica  (1643).   (1643). A pedra sobrevivente mais famosa é a que representa a giganta Hyrrokkin (DR 284), descrita por Snorri na Edda Poética , montada em um lobo e portando serpentes, no momento do funeral do deus Balder. Outra seção muito importante é a imensa coleção de placas de madeira contendo calendários rúnicos, uma das maiores de toda a Escandinávia.

 

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Pedras rúnicas da Era Viking, com destaque para a DR 280 em primeiro plano, Kulturen.   Kulturen.

Estátua do deus Freyr, baseada em pingente original da Era Viking, Kulturen  

 

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DR 284, com representação de Hyrrokkin, Kulturen  

Mostruário de objetos e ossos com inscrições rúnicas, incluindo pentes, Kulturen  

 

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Mostruário de joias e broches da Era Viking, Kulturen  

Exposição e oficina de tecelagem sámi, Kulturen, Lund  

 

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Oficina de tecelagem sámi, Kulturen, Lund  

Oficina de tecelagem sámi, Kulturen, Lund  

3.  

Biblioteca da Universidade de Lund:

Entrada gratuita e acesso público. Maravilhosa biblioteca da Universidade (que foi fundada em 1666), com um edifício coberto de heras. Logo em seu hall de entrada, localiza-se a imensa pedra rúnica de Lund 1 (DR 314), com quatro metros de altura, contendo imagens de lobos e máscaras.  A sua inscrição alude a uma pessoa de nome Þorgísl, que erigiu a pedra em memória de

 

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seus dois irmãos Ólafr e Óttarr, proprietários de terras. A biblioteca possui um excelente acervo de livros relacionados com a Era Viking e a Escandinávia Medieval, que podem ser consultados no local.

529 

Biblioteca da Universidade de Lund  

DR 314, Biblioteca da Universidade de Lund  

 

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530 

 Acervo escandinavístico, Biblioteca da Universidade de Lund  Lund   4.   Colina das pedras rúnicas, situado em uma praça defronte à Universidade de

Lund (Lundagård  (Lundagård ). ). Acesso público e gratuito. Trata-se de um conjunto de vários blocos contendo inscrições rúnicas da Era Viking (seis no total), com destaque para a ocorrência

de suásticas em cruzes, datada do século XI. Eles foram doados à Universidade de Lund em 1868, provindas de várias regiões da Suécia.  Alguns destes memoriais pétreos aludem aludem à morte de exploradores no mar (como a U 349, em memória de Eysteinn e solicitando a Deus que guarde a sua alma) e a DR 330 homenageando Tosti e Gunnarr, famosos por suas "empreitadas vikings".

 

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531 

Direita: Gårdstånga 2, erigida em memória de Bjorn.  Bjorn.  

DR 337 (Valleberga), erguida em memória de Manni e Sveini. Uma das inscrições cita a cidade de Londres, porém o detalhe mais interessante é a suástica esculpida no meio de uma cruz latina.  latina.  5.  

Catedral de Lund: 

 

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Entrada gratuita. Maravilhosa igreja construída no século XI, uma das mais belas de toda a Escandinávia. Além de um estupendo relógio astronômico do século XV, o local contém inscrições rúnicas do século XII esculpidas em um dos pilares internos próximos da entrada, além de uma escultura do gigante Finn , situada na cripta. Vale a visitação. 532 

 

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533 

Inscrição rúnica da Catedral de Lund  

Gigante Finn, Cripta da Catedral de Lund   UPPÅKRA   UPPÅKRA 6.  

Centro arqueológico de Uppåkra: 

 

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Entrada gratuita. Centro de pesquisas. O local não tem material expositivo ou museu, mas é altamente recomendado para quem tem interesse em cultura material e Arqueologia. Próximo ao café, existe uma reconstituição em escala do templo de Uppåkra – a única edificação religiosa especializada de toda a Era Viking. O local também possui uma sala de exibição de um documentário com algumas peças recuperadas (áudio somente em sueco). É possível conhecer os locais originais das descobertas, com uma visita guiada. guiada.  O local pode ser acessado facilmente por ônibus partindo do centro de Lund (5 km) ou Malmö, com uma média de trinta minutos até o local.

534 

Fotografia externa e interna de reconstituição do templo de Uppåkra  

 

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535 

Laboratório e local de processamento de dados, Uppåkra  

Local original do templo de Uppåkra  

TRELLEBORG   7.  

Fortaleza de Trelleborg:

Entrada paga.

 

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Reconstituição parcial da fortaleza anelar de Trelleborg, uma impressionante experiência especialmente aos interessados em história militar. O local também possui um museu, um assentamento viking e uma reprodução de habitação medieval, onde são realizadas atividades de Living History , feiras, festivais e oficinas. O museu é pequeno mas com exposições muito interessantes, com destaque para uma exibição interativa em 3D da fortaleza de Trelleborg. Mas ainda mais interessante são as oficinas disponíveis no assentamento viking, especialmente as reproduções de alimentos em fogueiras e o jardim, um dos mais completos e bem reproduzidos.

Entrada da fortaleza de Trelleborg  

536 

Parte interna da fortaleza de Trelleborg  

 

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537 

Exposição de cotidiano viking, museu da fortaleza de Trelleborg  

Reconstituição de vestuário feminino da Era Viking, MFT  

 

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538 

Reconstituição de pedra rúnica, habitação e jardim da Era Viking em Trelleborg  

Reconstituição de poço e fogueira da Era Viking, com acampamento reconstrucionista ao fundo.  fundo. 

 

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539 

Jardim com ervas medicinais, leguminosas e hortaliças da Era Viking em Trelleborg.  Trelleborg.  8.  

Museu de Trelleborg:  

Entrada paga. Museu histórico situado no centro da cidade de Trelleborg. A seção da Era Viking é pequena, mas muito dinâmica e com recursos bem modernos. Destaque para as reproduções de vestimentas nórdicas.

 

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Boneco com vestimenta nórdica, Museu de Trelleborg  

Reconstituição de produtos alimentares, Museu de Trelleborg.  Trelleborg. 

 

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HÖLLVIKEN   9. Foteviken Museum: 

Entrada paga. Museu ao ar livre, reconstituindo uma cidade da Era E ra Viking com técnicas de living history  e   e arqueologia experimental. Possui reconstituições de habitações, ferraria, vila militar, tecelagem, jardinagem e técnicas de navegação (incluindo uma reprodução de embarcação, operacional). Durante várias épocas do ano realiza r ealiza mercados, feiras, cursos e oficinas para o grande público.

541 

 Atividade no Foteviken Museum   Bibliografia: 

 ALVES, Victor Hugo Sampaio. Dinamarca da Era Viking. In: LANGER, Johnni (Ed.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Pauo: Hedra, 2017, p. 173179. CARLSON, Dan & OWEN, Olwyn. Follow the vikings:  highlights  highlights of the Viking World. Uppsala: Cultural Commite of the Council of Europe, 1996.

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

LANGER, Johnni.Era Escandinávia. LANGER, (Ed.). Dicionário Cultura da Viking . In:São Pauo:Johnni Hedra, 2017, p.de História 226-229.e MAREZ, Alain. Anthologie Alain. Anthologie runique . Paris: Belles Letres, 2007. MENINI, Victor Bianconi. Suécia da Era Viking. In: LANGER, Johnni (Ed.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking . São Pauo: Hedra, 2017, p. 654660. ROSENGREN, Jerry. Barbaricum . Lund: Lunds Universitets Historiska Museum, s.d.Searching Scandinavia: Vikings in Sweden. Trelleborgen : a museum of living history. Trelleborg Kommun, s.d. Uppåkra en Järnåldersstad : an Iron Age town. Uppåkr Arkeologiska Center, s.d.

542 

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

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GUIA DA ALEMANHA VIKING: Museus, centros experimentais e dicas de visitação   visitação Johnni Langer  A Alemanha é uma ótima ót ima opção para os interessados em conhecer mais sobre o passado nórdico da Era Viking e a cultura germânica antiga. Apesar de não possuir tantas opções em acervos e sítios arqueológicos como na Escandinávia, certamente suas atrações não podem passar em branco em uma visita ao país. Neste pequeno guia também incluímos temas relacionados com recepção artística dos mitos nórdicos e os

germanos antigo medievais.  A maioria das atividades nos centros experimentais e museus funcionam praticamente pelo ano todo, mas concentram-se especialmente na época de d e verão, entre  junho e agosto. BERLIN   BERLIN Ilha dos museus (Museumsinsel): conjunto de cinco museus situados na mesma área. Os que possuem acervo relacionado com a temática são o Alte o  Alte Nationalgalerie  e  e o Neues Museum . É possível conseguir ingressos para todos os museus da ilha por um preço unificado, mas somente para visitação no mesmo dia. Devido ao enorme acervo de cada um, é recomendável visitar somente estes dois citados e mais o Pergamonmuseum (obviamente, selecionando as exposições e acervos).

 

LANGER, Johnni (Ed.). Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós-graduações, bibliografias e viagens. João Pessoa: Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 2021, 561 p.

Neues Museum , entrada paga.

Construído em 1841, possui grande quantidade de obras artísticas e objetos da cultura material da Antiguidade oriental e mediterrânica. O objeto mais conhecido do museu é a estátua da rainha Nefertiti, mas a principal exposição da nossa temática é um circuito permanente sobre a Era Viking (piso 3, seção “ Iron Age” Age ” ), com dezenas de objetos bélicos (espadas, projéteis, escudos), pingentes, jóias, objetos da vida cotidiana, etc. Os mostruários são bem modernos e possuem opção de legendas em inglês. Os objetos mais importantes são exemplares da famosa espada Ulfberht, com inscrições na lâmina. Neste piso também se encontra o famoso “ chapéu de ouro de Berlin” Berlin ” , um artefato religioso da Idade do Bronze germânica, ornado com temas astronômicos e marcações de calendários. Também muito importante é o piso 2, com uma seção sobre o período das migrações germânicas. Uma opção também imperdível é o salão de Odin (“Odin, Urnen, Beutekunst” Beutekunst”), situado no piso 1, 1 , antes da coleção da Tróia de Schliemann. Trata-se de uma impressionante série de pinturas murais retratando os mais diversos temas da Mitologia Nórdica, destacando-se as pinturas de Odin, Thor e Freyja. Elas foram executadas em 1843 por Friedrich August Stüler e são um belo exemplo da arte romântica nacionalista e da recepção de temas nórdicos medievais no mundo contemporâneo.

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Broche germânico do período de migrações, suástica com ornamentos animai s

 

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Espadas Ulfberht

Mostruário de fivelas e objetos germânicos de cavalaria  

 

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Lurs escandinavos da Idade do Bronze  

Chapéu de ouro de Berlim, Idade do Bronze  

 

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Mostruário de espadas e objetos da Era Viking  

Machados, projéteis e espadas da Era Viking  

 

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Pinturas do salão de Odin   Alte N ationalgaleri ationalgalerie, e,  entrada paga.

 A Antiga Galeria Nacional foi projetada em 1866 por Friedrich August Stüler e possui centenas de pinturas, destacando-se a obra de Caspar David Friedrich. Fr iedrich. Em nossa temática, sobressaem-se o salão com uma série de 28 maravilhosos afrescos sobe o ciclo Nibelungiano executados por Ernst Ewald em 1875. A pintura mais impressionante é o lamento de Kriemhilde pela morte de Siegfried. Nesta temática, a pintura do acervo mais

 

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importante é Hagen versenkt den Nibelungenhort    de Peter conhecer Corneliusoutra (1859). Para no os amantes do ciclo nibelungiano, próximo de Berlim é de possível atração: formidável novo palácio de Potsdam, parque Sanssouci em Brandenburgo, existe uma série de afrescos realizados por Carl Wilhelm Kolbe, Karl Lombeck e Ossowski em 1940 que valem a visitação. 549 

Siegfried e Hagen  

Siegfried e Kriemhield  

 

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Pinturas do teto  

Entrada para as pinturas do ciclo nibelungiano  

Museumsdorf Düppel,  Düppel, entrada paga.

Funciona somente aos sábados, domingos e feriados. Possui um pequeno museu logo na entrada do parque, expondo painéis elucidativos do tema das visitações. Impressionante centro experimental, dedicado à vida cotidiana do medievo germânico. Arquitetura reproduzindo uma aldeia medieval, com diversos aspectos materiais como tecelagem, agricultura, domesticação de animais e artesanato. Para presenciar atividades de Living History  no   no local, é necessário consultar previamente o calendário de atividades, disponível no site.

 

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Expositor do museu  

Entrada da vila medieval  

Reconstituição de casa medieval  

 

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Reconstituição de interior de casa medieval  

Reconstituição de fogueira medieval  

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Reconstituição de jardim medieval   BRANDENBURGO   BRANDENBURGO Archäeologisches Landesmuseum Brandenburg,  Brandenburg,  entrada paga.

 

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Museu dedicado à Paleontologia e Arqueologia, com uma seção sobre o a Idade Média, contendo objetos dos germanos antigos. Não é permitido fotografar essa seção.

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Vista do museu  

Mostruário de objetos germânicos medievais   HANNOVER   HANNOVER Landesmuseum Landesmuse um Hannover, entrada paga.

Museu dedicado à Paleontologia, História e Arqueologia. Em 2019 possuía uma grande e moderna exposição temporária sobre os saxões, com objetos e materiais provindos de várias partes da Europa. Não foi permitida a fotografia da exposição. O destaque permanente do museu fica para uma das mais impressionantes estátuas do deus Odin, realizada em 1888 por Friedrich Wilhelm Engelhard, situada na praça de fundo do museu. Este mesmo escultor realizou em 1857 uma impressionante série de

 

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relevos da Mitologia Nórdica, conhecidos como “ Edda frieze” frieze ” , situado no portal de entrada do palácio Marienburg (Schlosse Marienburg), também em Hannover.

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Entrada do museu  

Estátua de Odin   SCHLESWIG-HOLSTEIN   SCHLESWIG-HOLSTEIN Esta cidade fica situada a 381 km de Berlim (cerca de 5 horas de ônibus, 4 horas de carro e 3h de trem), sendo acessada via Hamburgo. Outra possibilidade de acesso é via Dinamarca, seguindo pela Jutlândia e passando por Ribe, da qual dista 2 a 3 horas de trem. Lembrando que esta cidade é também um dos principais pontos para os interessados em Era Viking (veja  (veja Guia da DinamarcaViking ).

 

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Museum für Archäologie Schloss Gottorf , entrada paga.

Museu arqueológico, com uma grande quantidade de objetos e acervo relacionado aos germanos antigos e medievais. O principal destaque é a embarcação Nydam, encontrada em um pântano de Sundeved (Dinamarca), datada da Era do ferro germânica, exposta ao lado do prédio principal do museu (Gottorf Castle). Trata-se da embarcação nórdica mais antiga recuperada até o presente momento (320 d.C.) –   a maioria dos objetos encontrados no sítio da embarcação, estão expostos no museu (como machados e escudos). Nydam podia levar até 30 homens e seu estado de conservação é muito impressionante. O museu também expõe permanentemente corpos encontrados em pântanos dinamarqueses da Idade do Ferro – os detalhes de cabelos, unhas e peles preservadas são admiráveis.

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Barco Nydam  

Múmia de corpo do pântano dinamarquês  

 

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Mostruário de equipamentos bélicos dinamarqueses  d inamarqueses   Wikinger Museum H aithabu aithabu , entrada paga.

Um dos mais importantes museus especializados em Era Viking do mundo. O prédio principal do museu contém os mais variados artefatos e objetos nórdicos, recuperados em escavações na região desde 1864. 18 64. Os mostruários e expositores são muito modernos e interativos, contendo áudios e textos muito informativos e sintéticos, fornecendo vários aspectos da história e do cotidiano escandinavo para todas as idades e público em geral. Os principais destaques da exposição são várias pedras rúnicas e pequenos objetos de cunho religioso, mas muito importantes – como pingentes do trono de Odin, valquírias e martelos de Thor feitos de âmbar e metal. Próximo ao museu, existe uma área experimental, com diversas habitações e reproduções da vida cotidiana da Era

Viking, onde são realizados em várias épocas do ano mercados e feiras internacionais. Também no museu, ao longo do ano, estão disponíveis vários cursos, oficinas e treinamentos para interessados na área, cuja programação e horários estão disponíveis e atualizados no site da instituição.

 

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Pedra rúnica com efeitos de luzes  

Pedra rúnica  

 

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Reconstituição de vestuário feminino da Era Er a Viking  

Espada da Era Viking  

Esquerda para direita: Pingentes de valquíria, trono de Odin, martelos de Thor de âmbar e metal  

 

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Broches da Era Viking  

Reconstituição de habitações da Era Viking  

Reconstituição de fogueira interna em habitação nórdica  

 

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Interior de habitação com reconstituição de objetos para tecelagem  

Reconstituição de jardim da Era Viking  

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