Gravidez: Fase Desenvolvimento Psicológico da mulher
Short Description
Síntese teórica sobre a Gravidez como fase de desenvolvimento psicológico da mulher mas também do futuro pai...
Description
Celeste Duque
2004-2005
Gravidez & Maternidade A Gravidez transcende o momento da concepção tal como a Maternidade transcende o momento do parto. Mais do que acontecimentos com diferentes durações temporais, a Gravidez e a Maternidade são processos. Do ponto de vista psicológico são processos dinâmicos de construção e desenvolvimento.
Gravidez & Maternidade [cont.]
O facto de uma mulher estar grávida não assegura automaticamente que ela se consiga adaptar à fundamental necessidade de realização das tarefas maternas.
Gravidez & Maternidade [cont.]
Gravidez & Maternidade são realidades distintas, tanto em termos orgânicos como em termos psicológicos. E, inclusive, podem não ser coincidentes.
Gravidez & Maternidade [cont.]
A Maternidade implica que, mais do que desejar ter um filho, se deseje, acima de tudo, ser mãe.
Gravidez & Maternidade [cont.]
Quando se verifica a existência de um projecto adaptativo de maternidade, a Gravidez transforma-se numa época que permite a preparação psicológica da mulher para ser mãe.
Gravidez & Maternidade [cont.]
Permite então: Ensaiar os papéis e tarefas maternas, em termos cognitivos (crenças, informação); Iniciar o processo de reestruturação de relações afectivas para incluir o novo membro (no grupo familiar);
Gravidez & Maternidade [cont.]
Incorporar a nova presença (filho) como uma identidade própria, separada de si mesma; Aprender a aceitá-lo e amá-lo como pessoa única, com necessidades, desejos e vida própria.
Gravidez & Maternidade [cont.]
E isto, apesar de, num primeiro momento, e dada a enorme imaturidade física deste novo ser, obrigar a uma relação de grande dependência do adulto, por questões de sobrevivência.
Índice 1. Maternidade como fase de desenvolvimento psicológico O conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico Gravidez como situação de crise no ciclo vital da mulher
Gravidez Importância das equipes multidisciplinares: O Psicólogo deve captar as nuances emocionais e as suas manifestações ao nível intra e interpessoal, e ajudar o obstetra, e os enfermeiros a aprofundar a sua compreensão do funcionamento dinâmico da grávida como um todo
Gravidez
[cont.]
A revolução tecnológica da obstetrícia permite a realização de uma assistência pré e perinatal cada vez mais sofisticada, reduzindo, ao mínimo os riscos maternos e do feto.
Gravidez
[cont.]
A revolução tecnológica da obstetrícia encerra, no entanto, um grave erro: resultou numa profunda dissociação entre os aspectos somáticos e emocionais no atendimento clínico, cuja rotina convencional, tanto na gestação quanto no parto e no puerpério imediato, raramente satisfaz as necessidades
Gravidez
[cont.]
Durante a gravidez iniciamse: a formação do vínculo materno-filial e a reestruturação da rede de comunicação da família: Ponto de partida de um novo equilíbrio dinâmico na unidade familiar.
Gravidez
[cont.]
É sem dúvida um momento que merece a confluência de esforços de prevenção por parte dos obstetras, enfermeiros e psicólogos que resulte num atendimento mais global e satisfatório para a saúde física e emocional da mulher e do seu filho.
Maternidade A maternidade é um momento existencial fundamental no ciclo de vital feminino. Pode proporcionar à mulher a oportunidade de atingir novos níveis de integração e de crescimento (desenvolvimento) da personalidade.
Perspectivas Psicológicas Contributos da Psicanálise Esta corrente teórica é, ainda hoje, considerada a mais importante pois fornece uma explicação clínica muito completa de como se dá o desenvolvimento da personalidade, embora seja motivo de acérrimas críticas, dada a grande importância
Perspectivas Psicológicas [cont.] Contributos da Psicologia do Desenvolvimento A tendência da Psicologia do Desenvolvimento na qual se inserem autores como Caplan (1967), Erikson (1959), Bibring (1961) é a de conceber o desenvolvimento psicológico como um continuum que se prolonga para lá da adolescência, marcado por vários períodos de crise, que representam verdadeiros pontos decisivos no crescimento emocional e que determinam, de algum modo, o estado
Perspectivas Psicológicas [cont.] Contributos da Psicologia do Desenvolvimento O que equivale a afirmar que psicologicamente o indivíduo não cessa de crescer, logo, há sempre a possibilidade de fazer reestruturações, modificações e reintegrações da personalidade.
Ciclo vital da mulher Podem considerar-se três grandes momentos ou períodos críticos, no ciclo vital da mulher, que se constituem em verdadeiras fases do desenvolvimento da personalidade e que têm alguns pontos em comum: Adolescência Gravidez
Ciclo vital da mulher [cont.]
Estes três períodos têm em comum o facto de serem: Períodos de tensão biologicamente determinada; Caracterizados por mudanças metabólicas complexas; Serem um estado temporário de equilíbrio instável.
Ciclo vital da mulher [cont.]
Um estado temporário de equilíbrio instável: que decorre da perspectiva das grandes mudanças envolvidas nos aspectos de: papel social, necessidade de novas adaptações, reajustamentos interpessoais e intra psíquicos e
Conceito de Crise Conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico: G. Caplan (1963), considera que crise pode ser definida como um período temporário de desorganização do funcionamento de um sistema aberto, precipitado por circunstâncias que transitoriamente ultrapassam as capacidades do sistema para
Conceito de Crise
[cont.]
Conceito de situação de crise, no desenvolvimento psicológico: Rapoport (1965), considera que crise pode ser definida de uma forma muito simples, como uma perturbação temporária de um estado de equilíbrio.
Conceito de Crise
[cont.]
O termo crise, foi inicialmente utilizado por Caplan e Lindemann para designar as reacções de uum indivíduo a eventos traumáticos, tais como morte súbita de uma pessoa amada, o nascimento de um fulho prematuro, desemprego inesperado, etc. (crises imprevisíveis).
Conceito de Crise
[cont.]
O mesmo termo foi empregue por Eric Erikson para designar as várias etapas do desenvolvimento psicológico normal, tais como: puberdade, casamento, gravidez, menopausa (crises previsíveis).
Conceito de Crise
[cont.]
Assim, o termo crise tanto pode ser utilizado para utilizado quando nos referimos aos períodos de transição inesperados como aos inerentes ao próprio desenvolvimento.
Conceito de Crise
[cont.]
Uma crise pode ser impulsionada por mudanças Internas: crises normais do desenvolvi desenvolvimento, mento, doenças ou traumas;
ou Externas: perda ou ameaça de perda de uma fonte de segurança e satisfação; acumular de tensões que ameaçam romper o equilíbrio funcional dos mecanismos adaptativos do ego.
Conceito de Crise
[cont.]
Crise implica sempre um enfraquecimento temporário da estrutura básica do Ego, de tal modo que o indivíduo não consegue utilizar os seus métodos habituais de resolução de problemas e, como tal, requerem a mobilização de mecanismos adaptativos do Ego no sentido de procurar novas respostas
Conceito de Crise
[cont.]
A estratégia utilizada pelos indivíduos para ultrapassarem as suas crises “existenciais” podem ser saudável ou doentia: levando o sujeito a experimentar uma “melhoria” (novo nível de integração e maturidade da personalidade personalidade) ) ou a “piorar” (maior grau de desintegração, de desorganização, desorganizaç ão, e
Conceito de Crise
[cont.]
Os momentos ou períodos de crise são, precisamente por isso, ao mesmo tempo, momentos de oportunidade e de perigo, são verdadeiras encruzilhadas em termos de saúde mental.
Conceito de Crise
[cont.]
O sujeito em crise tem tendência a, mais facilmente, aceitar a ajuda que lhe é oferecida. Por estar num período temporário de equilíbrio instável, em busca de novas soluções, isso significa que a pessoa fica mais sensível, e
Conceito de Crise
[cont.]
Regra geral é mais fácil ajudar alguém em crise do que alguém que se encontra em períodos de equilíbrio estável, quando os mecanismo de defesa e de adaptação se encontram mais fortemente estruturados, o que origina uma maior hesitação para enfrentar a mudança. Já uma pessoa em crise, não tem escolha, não lhe resta outra alternativa que não seja a de aceitar a ajuda e efectuar as mudanças
Conceito de Crise
[cont.]
Caplan e a sua equipa (1964) chegou à conclusão, a partir das suas experiências clínicas em “intervenção na crise” que: É possível ajudar qualquer pessoa a superar uma crise satisfatoriamente, independentemente das
Gravidez como Situação de Crise A Gravidez possui diversas características de uma situação de crise, que se insere num processo normal de desenvolvimento. Envolve: Necessidade de reestruturação e reajustamento ao nível de várias dimensões: À semelhança do que sucede na puberdade, verifica-se uma mudança de identidade E um nova definição de papéis (a mulher passa a ver-se e a ser vista de uma forma totalmente
Gravidez como Situação de Crise [cont.]
Caso de primípara A grávida passa do papel de esposa (ou companheira) ao papel de mãe.
Caso multípara Também neste caso se verifica uma certa mudança de papel: Ser mãe de um filho não é o mesmo que ser mãe de dois ou mais filhos... O que se verifica é que a vinda de mais um filho obriga à alteração da composição da rede de intercomunicação familiar.
Paternidade como Situação de Crise [cont.]
Obviamente que o processo de mudança de identidade e de papel se verifica igualmente ao nível do marido. Também a paternidade deve ser considerada como uma situação crítica ao nível do desenvolvimento emocional do homem.
Redefinição de Papéis A mulher pode ter desempenhado para além do papel de esposa, até então, o papel de “mãe” ou “filha” do marido. Quando espera o seu próprio filho tem que se adaptar a este novo papel – ser mãe do daquela criança.
Redefinição de Papéis [cont.]
Esta nova definição de papéis faz, não raras vezes, reavivar antigos conflitos de relacionamento.
Redefinição de Papéis [cont.]
A mulher ou o marido podem: Querer ser melhores pais que os seus progenitores Ser incapazes de competirem com eles Encarar o bebé como um irmão mais novo e, como tal, rivalizam pelo afecto do pai ou da mãe; Competir entre si pelo afecto do bebé, etc...
Factores socioeconómicos A complexidade das alterações provocadas pela chegada de um bebé não se resumem às variáveis psicológicas e bioquímicas. Há ainda a considerar as mudanças ao nível dos factores socioeconómicos. socioeconómicos .
Factores socioeconómicos [cont.]
Vive-se numa sociedade materialista em que a mulher contribui com o seu salário para o rendimento do agregado familiar; Habitualmente trabalha fora; E cultiva interesse diversos: profissionais, estudo, carreira, sociais, culturais,
Factores socioeconómicos [cont.]
O facto de esperar um filho acarreta consequências a curto, médio e longo prazo. Privações reais sejam afectivas ou económicas: Aumentam a tensão; Intensificam a regressão e a ambivalência.
Factores socioeconómicos [cont.]
A preocupação com o futuro: Aumenta as necessidades da grávida e intensificam a frustração o que origina, como consequência, sentimentos de raiva e ressentimento que a impedem de encontrar gratificação na gravidez.
Novos Níveis de Integração Outra característica: Representa uma possibilidade de atingir novos níveis de: Integração, Maturidade, e Expansão
da personalidade – tanto na mulher como no homem. Ou de adoptar uma solução patológica que predominará ao nível da relação mãe-bebé.
Relação Mãe-Bebé Relação mãe-bebé saudável: Implica, em termos gerais, perceber e satisfazer, adequadamente, as necessidades do bebé; O bebé é encarado como um ser separado e não simbioticamente confundido com a mãe.
Relação Mãe-Bebé
[cont.]
Relação materno-filial patológica ou doentia: A mãe é incapaz de perceber e, consequentemente, de satisfazer, adequadamente, as necessidades do bebé; O bebé simbioticamente confundido com a mãe (mãe e bebé são uma só e mesma pessoa).
Relação Mãe-Bebé
[cont.]
Relação mãe-bebé patológica ou doentia caracteriza-se, ainda, pela expectativa que: o bebé preencha certas necessidades neuróticas da mãe como, por exemplo: evitar a solidão; satisfazer-lhe a carência de afecto; Fazê-la sentir-se útil.
Relação Mãe-Bebé
[cont.]
Ou então: o bebé representa, simbolicamente, uma parte doente da mãe; esta é, frequentemente, a dinâmica subjacente às: incessantes idas aos médicos com o pedido de descobrir “o que há de errado com o bebé ”, quando este é perfeitamente saudável.
Casamento & Gravidez A gravidez pode: levar a maiores níveis de integração e aprofundamento no relacionamento do casal;
Mas, por outro
lado, pode:
romper uma estrutura frágil e neuroticamente equilibrada. equilibrada.
Casamento & Gravidez [cont.]
A mulher que: Quer excluir o marido da sua vida; Não conseguiu ultrapassar a fase da dependência infantil em relação à sua própria mãe; Se sente inferior pelo facto de ser mulher; mulher ;
a gravidez pode constituir uma ameaça: ao casamento casamento; ; ou
Casamento & Gravidez [cont.]
Para o homem que: Sente intensos ciúmes do filho que vai nascer, assim como sentiu em relação aos irmãos mais novos; Inveja o sucesso profissional ou pessoal (em termos familiares ou sociais) da mulher, mulher , etc...
Gravidez como Regressão Onde predominam As características orais Hipersonia; Voracidade; Protecção.
que indicam uma identificação básica da grávida em relação ao feto.
Gravidez como Regressão [cont.]
Esta identificação regressiva atingiria o seu clímax, segundo Otto Rank (1929), no próprio processo de parto, altura em que a parturiente revive o trauma do seu próprio nascimento. nascimento .
Gravidez como Regressão [cont.]
Aqui a regressão não é forçosamente um processo patológico. patológico . Pelo contrário, pode fazer parte do próprio movimento do processo de desenvolvimento. desenvolvimento.
Gravidez como Regressão [cont.]
Anna Freud (1965) concebe o desenvolvimento como um jogo de regressões temporárias A patologia caracteriza-se por regressões permanentes. permanentes.
e progressões, utilizando o modelo da espiral
Gravidez como Regressão [cont.]
Este modelo está igualmente implícito na teoria de crise: Para atingir um novo nível de organização da personalidade – progressão; progressão ; É preciso passar por um período de relativa desorganização – regressão regressão. .
Gravidez como Crise
[cont.]
Situar o período gravídico como situação de crise, obviamente não quer dizer que O período crítico termine com o parto; Grande parte das mudanças maturacionais ocorrem pósparto.
Gravidez como Crise
[cont.]
O puerpério deve ser considerado como: A continuação da situação crítica. Implica novas mudanças: Fisiológicas Consolidação Consolidaçã o da relação mãebebé
E grandes modificações: Das rotinas
Sistema Familiar De enfatizar que o nascimento de um filho é uma experiência familiar. familiar . Para se prestar uma assistência pré-natal efectiva é necessário não só apoiar a “mulher grávida” mas sim a “família grávida”.
Sistema Familiar
[cont.]
Pode-se considerar que o sistema familiar, como um todo, se compõe de diversos subsistemas que interagem continuamente entre si.
Sistema Familiar
[cont.]
Howells (1972) considera a família como um “organismo completo que possui uma unidade própria. Tal como o indivíduo, também a família é: um sistema organizado, com uma estrutura peculiar, canais de comunicação e
Sistema Familiar
[cont.]
Qualquer evento que ocorre com uma das partes deste sistema atinge todo o sistema. Logo, a gravidez é uma experiência que pertence à família como um todo.
Sistema Familiar
[cont.]
Mesmo numa família composta de pai, mãe e um filho os subsistemas nunca representam uma díade verdadeira, uma vez que, desde o momento em que se toma conhecimento conhecimen to da gravidez e até às primeiras semanas após o parto, quando a interacção entre mãe-bebé é extremamente próxima, o marido-pai participa activamente activamente, , formando verdadeiramente uma tríade familiar.
Sistema Familiar
[cont.]
Por exemplo: O homem vai reagir às necessidades de maior protecção e cuidado que a mulher precisa Vai assumir um papel protector e Vivencia com ela os temores e as ansiedades referentes referentes ao parto e ao puerpério Reparte com ela a tarefa de cuidar do bebé, Experiencia com ela as expectativas e fantasias em relação ao bebé e, Ao mesmo tempo que elabora dentro de
Sistema Familiar
[cont.]
Esta primeira tríade familiar continua a manter-se estavelmente, na medida em que existe só um filho. Com a vinda de cada novo filho toda a composição da rede de intercomunicação da família se transforma, à medida que se acrescentam novos subsistemas que actuam dinamicamente entre
Sistema Familiar
[cont.]
É de lamentar que a maioria dos trabalhos de investigação sobre os aspectos psicológicos do ciclo gravídico-puerperal se foquem basicamente: nas modificações da mulher e dedicam pouca atenção à paternidade, como situação crítica e à inter-influência do casal
nas respectivas formas de vivenciar a gravidez.
Sistema Familiar
[cont.]
As reacções (atitudes e comportamentos) do homem em relação à mulher grávida influencia largamente a sua aceitação ou rejeição da gravidez tal como a forma como vai vivenciar todo um conjunto de outras modificações (e.g., alterações do esquema
Sistema Familiar
[cont.]
As atitudes da mulher, em relação ao marido, também vão influenciar a o homem, nomeadamente: Encorajando-o a participar ao Encorajando-o máximo durante e após a gravidez. Contribui fortemente para atenuar ou intensificar os sentimentos de abandono, ciúmes
Sistema Familiar
[cont.]
Nunca será demais enfatizar as interacções de toda a unidade familiar na medida em que cada membro desta unidade sofre transformações significativas sob o impacto da gravidez.
View more...
Comments