GILPIN cap3
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GILPIN, GILPIN, Robert. Robert. (2002), (2002), A economia política das Relações Internacionais . Tradução Sérgio Bath. Brasília: Editora UnB. Cap. 3 – A dinâmica da economia política internacional “Embora o sistema do mercado seja movido em grande parte pela sua própria dinâmica interior, o ritmo e a direção do movimento para a frente são afetados profundamente profundamente por fatores externos. (...) Entre as chamadas variáveis variáveis externas que afetam o funcionamento dos mercados estão a estrutura da sociedade, o contexto político nacional e internacional e a situação da teoria científica e do desenvolvimento tecnológico – todos esses limites e/ou oportunidades afetando os atores econômicos.” Pág. 85 “Contudo, por si mesmo o mercado influencia e transforma os fatores externos de um modo importante: dissolve as estruturas sociais, altera as relações políticas e estimula o progresso científico científico e tecnológico.” tecnológico.” Pág. 85 •
Teorias contemporâneas da economia política internacional
A teoria da economia dual
“(...) afirma que qualquer economia, economia, interna ou internacional, internacional, precisa ser analisada em termos de dois setores relativamente independentes: um setor moderno e progressista, caracterizado por um nível elevado de eficiência produtiva e integração econômica, econômica, e um setor tradicional, caracterizado por um modo de produção atrasado e por uma auto-suficiência local.” Pág 86 “A integração global dos mercados e das instituições é a conseqüência de um movimento movimento inexorável das forças econômicas econômicas para atingir níveis mais elevados de eficiência econômica e de interdependência global.” Pág 87 “Os progressos no transporte e nas comunicações, o desenvolvimento de instituições econômicas eficientes e a redução do custo intrínseco das transações (o custo dos atos de comércio) levaram ao deslocamento contínuo das economias tradicionais pelas economias modernas.” Pág 87 “O dualismo considera o fato de a economia mundial moderna ter se desenvolvido por meio da expansão global da produção destinada ao mercado, assim como pela incorporação incorporação de novas áreas à economia internacional internacional (...)” pág 87 “O setor moderno deslocou gradualmente o setor tradicional, tradicional, à medida que mais e mais sociedades se adaptavam à organização econômica baseada no mercado” pág. 87 “As forças primordiais que atuaram nesse processo foram econômicas, econômicas, organizacionais e tecnológicas; elas incluem a inovação em termos de produtos e técnica de produção, a abertura de novos mercados e de fontes de suprimento e novas maneiras de organizar e administrar administrar as atividades econômicas.” econômicas.” Pág. 87
“Esses desenvolvimentos reduziram os custos das transações econômicas e facilitaram assim a ampliação dos mercados individuais e sua integração na crescente interdependência econômica global.” Pág. 87. “O processo da evolução econômica é motivado pela competição no mercado e pelos mecanismos dos preços, os quais levam a níveis cada vez mais elevados de eficiência produtiva e maximização da riqueza. Os atores ineficientes são forçados a ajustar o seu comportamento e inovar, pois a alternativa é a extinção.” Pág 87 “Embora esse processo de modernização econômica possa ser afetado no curto prazo por eventos sociais e políticos, no longo prazo ele independe em grande parte dessas influências externas” pág 87 “Fundamentalmente, a criação do mundo moderno é conseqüência de fatores internos do mercado.” Pág 87 A teoria do Sistema mundial moderno
A teoria do Sistema Mundial Moderno tem origem nos escritos de autores como Immanuel Wallerstein, Paul Baran e André Gunder Frank. BARAN, Paul A. 1967. The Political Economy of Growth. Nova York: Monthly Review Press. FRANK, Andre Gunder. 1969. Capitalism and Underdevlopment in Latin America: Historyc Studies of Chile and Brazil. Rev. ed. Nova York: Monthly Review Press. WALLERSTEIN, Immanuel. 1974. the Modern World-System: Capitalist Agricultura and the Origins of the European World-Economy in the Sixteenth Century. Nova York: Academic Press.
A teoria destaca a existência de uma economia mundial moderna integrada. Integração caracterizada pelo centro e pela periferia, numa relação de influência mútua, porém díspar. A teoria do SMM identifica a existência de uma hierarquia dentro desta integração, sendo os Estados e classes sociais presentes no centro desenvolvidos pela exploração do subdesenvolvimento da periferia. O SMM é reconhecido por Wallerstein com tendo sido instaurado pela economia capitalista ocidental nos séculos XVI e XVII. “(...) a teoria do SMM admite um sistema econômico mundial já unificado, composto por uma hierarquia de Estados dominados por classes sociais, unidos por forças econômicas e produzindo o subdesenvolvimento em toda a periferia dependente.” Pág. 88. “A periferia é a fonte de riqueza do núcleo, o qual explora e canaliza em seu beneficio os recursos periféricos.” Pág. 89. “Os principais componentes dessa divisão internacional do trabalho são três camadas de Estados ordenados hierarquicamente e diferenciados pela posição que conseguiram obter para se na ordem do mercado: o núcleo, a semiperiferia e a periferia.” Pág. 91. “(...) ele extrai substancia econômica e transfere riqueza da periferia dependente para os centros imperiais. Os componentes do sistema, suas relações recíprocas e suas características internas sociais e de outra natureza são determinadas pelo sistema mais amplo.” Pág. 91.
O autor conceitua a diferenciação de Estados “hard” e Estados “soft” como tipos de agentes do SMM: “Os primeiros [hard] podem resistir às forças do mercado, canalizando-as em seu proveito. E conseguir, com isso, administrar eficazmente sua própria economia; os segundos são plásticos, ficam à mercê das forças externas do mercado e não conseguem controlar a sua economia.” Pág. 91. Gilpin destaca que o SMM influenciou a demanda, de países do Terceiro Mundo, por uma nova ordem econômica internacional. A teoria da Estabilidade hegemônica.
A teoria da estabilidade hegemônica, formulada inicialmente por Charles Kindleberger, explica a realidade econômica internacional através de um modelo de economia liberal mundial sob a liderança de uma potência hegemônica. Esta teoria se assemelha ao instrumento teórico de Arrighi, porém há algumas divergências. Esta teoria atrela o sucesso da economia internacional às estruturas afirmadas pelo poder hegemônico através de regimes internacionais, como regras e procedimentos, precisos e respeitados. “(...) a teoria está relacionada com a existência de uma economia internacional baseada mos preceitos do livre mercado, tais como a abertura e a nãodiscriminação.” Pág. 92. “O que ela afirma é que um tipo particular de ordem econômica internacional, a ordem liberal, não poderia florescer e alcançar seu pleno desenvolvimento sem a presença de um poder hegemônico.” Pág. 92. “No entanto, a simples existência de um poder hegemônico não basta para garantir o desenvolvimento de uma economia internacional liberal. É preciso também que a potência hegemônica tenha um compromisso com os valores do liberalismo ou, para usar a linguagem de John Ruggie, que seus objetivos sociais e a distribuição interna de poder se inclinem favoravelmente a uma ordem internacional liberal.” Pág. 93. “A potência hegemônica pode estimular, mas ao pode obrigar outros Estados poderosos a seguir as regras de uma economia mundial aberta. (...) três prérequisitos são necessários para a emergência e a expansão de um sistema internacional de mercado liberal – hegemonia, ideologia liberal e interesses comuns.” Há a necessidade, para uma hegemonia se estabelecer, de uma dominação ideológica, ou seja, há que haver convergência entre os valores praticados pela potencia e os demais atores do sistema. “Faz-se necessário um grau considerável de consenso ideológico (ou que os marxistas chamariam de “hegemonia ideológica”, seguindo o pensamento de Antonio Gramsci) para que a potência hegemônica tenha o necessário apoio dos outros Estados poderosos.” Pág. 93. Sendo que, a hegemonia perderá sua legitimidade e consequentemente declinará se os atores do sistema não mais e sentirem beneficiados com a liderança de tal Estado, ou se os cidadãos do Estado deslegitimarem a relação custo - beneficio da
manutenção hegemônica. Uma das divergências desta teoria com a proposta por Arrighi, é contemplada no não reconhecimento das hegemonias mercantis que precederam o imperialismo britânico. Sobre os valores da hegemonia norte-americana: “O Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foram instituídos pelos Estados Unidos e seus aliados, incorporando princípios liberais. Subsequentemente, a liderança norte-americana foi exercida na redução de barreiras comerciais. Durante esses períodos de preeminência britânica e norte-americana houve uma expansão global do mercado internacional e da interdependência economia global.” Pág. 94. O sistema depende da ação hegemonia para manter sua estabilidade, cabe ao líder usar sua influência e seu poder para garantir a viabilidade da economia mundial, garantindo a moeda forte, a estabilidade política necessária para o comércio. Conforme Kindleberger: “para que a economia mundial tenha estabilidade, precisa de um estabilizador, um país que se disponha a fornecer em mercado para bens de socorro, um fluxo constante de capital – quando não contracíclico – e um mecanismo de redesconto que ofereça liquidez quando o sistema monetário for congelado pelo pânico.” KINDLEBERGER, Charles P.1981. Dominance and Leadership in the International Economy: Exploitation, Public Goods, and Free Rides. International Studies Quaterly 25:242-254.
in Gilpin Pág. 95
“Embora os regimes internacionais liberais possam ser erodidos, há outros fatores que contribuem para manter o sistema: a força da inércia, a ausência de uma alternativa, o resíduo dos interesses comuns ou dos objetivos sociais entre as potências dominantes.” Pág. 99. “Nas últimas décadas do século XX a economia internacional enfrentava os perigos decorrentes do relativo declínio da hegemonia norte-americana. O problema da dívida internacional, o aumento do protecionismo comercial e outras dificuldades podiam desencadear uma crise da qual os Estados Unidos e seus parceiros econômicos facilmente poderiam perder o controle. E esse fracasso da administração de crises poderia uma vez mais derrubar, na escala mundial, a ordem econômica liberal.” Pág. 100. A potência hegemônica deve também administrar as taxas de câmbio, pois se não o fizer a economia se torna instável e o nacionalismo econômico destruiria as bases do livre comércio. No que tange ao declínio de uma ordem econômica, a estabilidade passa a ser abalada conforme o mercado transforma a economia internacional, mudando os fatores que garantiam poder à potência hegemônica, impedindo-a de se manter no poder. Obviamente, a transição, ou mesmo o declínio, não ocorrem subitamente, os processos que levam a uma mudança dessa natureza são longos e há resistência da potência e dos vários atores do sistema para a mudança. As observações de Gilpin relacionadas à estes processos refletem claramente a análise dos processos transitórios de hegemonia entre a liderança britânica e a norteamericana, bem como o declínio da última. A economia política da transformação estrutural
Neste ponto Robert Gilpin analisa os três instrumentos teóricos de compreensão da realidade da economia política internacional, expondo seus méritos e suas limitações explicativas, numa síntese teórica. Na sua concepção, não há como compreender a economia política internacional separando Estado e mercado: “Como já notamos, tanto o sistema de mercado como o Estado nacional são produtos da ciência moderna e das mudanças profundas ocorridas na consciência humana, na tecnologia produtiva e nas forças sociais.” Pág. 101. “A dinâmica da economia política precisa ser entendida em termos da interação do Estado com o mercado dentro do seu contexto histórico mais amplo.” Pág. 101. Sua abordagem incidirá sobre uma análise da estrutura da economia política internacional. Estrutura essa em constante relação com os agentes – Estado, mercado, multinacionais, tecnologia, etc. – e, portanto, transformando-se ao longo do tempo, sendo este um objeto explicativo da síntese teórica. Para Gilpin, a teoria da economia dual, de orientação liberal é bastante eficiente para explicar o surgimento e desenvolvimento do mercado internacional. “A teoria liberal da economia dual acentua corretamente o papel importante do auto-interesse e o desejo aparentemente universal de maximizar os ganhos como forças motoras da evolução da economia mundial. (...) A conseqüência dessa inclinação para o comércio é a erosão gradual dos costumes tradicionais e a eventual criação de uma economia moderna.”Pág. 101 A relevância das alterações nos níveis de preços e da força das demandas, bem como, o papel atribuído à tecnologia no crescimento e desenvolvimento do mercado internacional, são também destacados pelo autor como elementos positivos desta teoria. Entretanto, a incapacidade, ou negligência, desta teoria em lidar com os aspectos exógenos ao mercado e às forças puramente econômicas, constitui-se como o principal limite explicativo desta teoria, especialmente quando se objetiva explicar a dinâmica da economia política internacional. “A teoria econômica considera exógenos os contextos institucional, político e histórico dentro dos quais funciona o mecanismo dos preços (por exemplo, a distribuição de poder e dos direitos de propriedade, as ideologias predominantes e os fatores tecnológicos), e tende a ignorá-los.” Pág. 103. Assim sendo, esta teoria não possui instrumental analítico para compreender e explicar a estrutura do comércio internacional. No que tange à apreciação desta mesma estrutura, a teoria do Sistema Mundial Moderno, com sua perspectiva histórica do surgimento de uma estrutura centro periferia, ganha destaque nas palavras do autor: “O conjunto das idéias, da tecnologia e das forças sociais dentro de cada Estado e de cada mercado, cria limites e oportunidades para a conduta política e econômica. Com efeito, o Estado não poderia existir sem a ideologia do nacionalismo; nem o mercado poderia sobreviver sem o liberalismo. Essa teoria, no entanto, é prejudicada pelo seu determinismo econômico e pela concepção estática da economia política internacional.” Entretanto, a explicação do desenvolvimento da economia internacional peca por não relevar os mesmos aspectos já destacados na teoria da economia dual, enfatizando mais o papel dos Estados no desenvolvimento da economia. Peca também por considerar que após a constituição do SMM nos séculos XVI e XVII a estrutura não sofreu alterações substanciais.
O autor afirma sua característica de realista-político no campo das Relações Internacionais, ao afirmar que: “Em primeiro lugar, embora a estrutura econômica influencie de modo significativo a política dos Estados poderosos, ela também é influenciada por ele. Em segundo lugar, o nexo entre os Estados é primordialmente político e estratégico, e não econômico, e as relações políticas proporcionam o contexto das atividades econômicas.” Pág. 104. Critica ainda a conceituação de um sistema estático, apoiando-se sobre a evolução histórica do capitalismo pelo globo como prova irrefutável deste erro evidente. O autor ainda desenvolve uma tese contra a relação de desenvolvimento entre o SMM e seu núcleo (Norte) e periferia. “(...) esse sistema [SMM] foi uma conseqüência do desenvolvimento do Norte, e não a causa do seu desenvolvimento. O rápido desenvolvimento do núcleo e a sua demanda de alimentos e matérias-primas provocaram a integração da periferia ao sistema e o subseqüente crescimento das economias periféricas que se podiam beneficiar com isso. (...) O núcleo setentrional tem servido como um motor de crescimento para o Sul durante toda essa história. A economia mundial difunde a riqueza, em vez de concentrá-la.” Pág. 105. Sua perspectiva de que o Norte é o motor do desenvolvimento econômico do globo, uma vez que invadiram todos os redutos populacionais que pudessem ser transformados em mercado, é falha, e nesse ponto mais cabe o instrumental analítico do SMM, para explicar a vantagem gigantesca das economias desenvolvidas sobre as periféricas. Como podemos colocar em pé de igualdade comercial, em uma análise teórica que visa compreender a dinâmica estrutural da economia internacional, economias que produzem produtos de valores agregados completamente desiguais, e consomem os mesmos produtos essenciais? Aqui o autor, no mínimo, se esquece da relevância dos aspectos culturais e sociais sobre o padrão de produção e consumo globalizado pelas grandes economias ocidentais. Um recorte liberal da história e atualidade da economia mundial, feito de maneira enviesada e que não contempla nem minimamente as contribuições marxistas. Voltando à construção da perspectiva de Robert Gilpin, a teoria da estabilidade hegemônica surge com um ponto forte no caso mencionado acima, com seu enfoque do papel dos Estados nacionais e das relações políticas internacionais na organização e na condução da economia mundial. Mais uma vez expõe sua perspectiva da política internacional: “O Estado nacional moderno é antes de mais nada uma máquina de guerra, o produto das exigências da sobrevivência grupal nas condições de anarquia internacional. A segurança e os interesses políticos dos Estados são primordiais e determinam o contexto internacional dentro do qual as forças econômicas devem operar.” Pág. 106. Argumenta ainda que sem o ambiente político favorável ao liberalismo, construído e sustentado pela potência hegemônica, não poderia ter havido expansão e o sucesso do mercado internacional. Gilpin afirma que: “A política comercial é determinada primordialmente pelos interesses e pelas coalizões domésticas, ou pelo o que Ruggie chamou de “propósito social”, e as transformações econômicas principalmente pelas variáveis da economia. Assim, embora um sistema pluralista e não-hegemônico como o dos séculos XVII e XVIII obviamente facilitasse o crescimento de um mercado mundial, na ausência de uma
potencia hegemônica a competição mercantilista e as políticas nacionalistas tendiam a predominar.” Pág. 107. Gilpin entra agora no conceito de “bens coletivos”, afirmando que é muito difícil definir quais são os bens coletivos proporcionados pelo sistema liberal sob a liderança de um poder hegemônico, e seus efeitos, e aproveitamento por todos os atores presentes no sistema. Destaca o “dilema do prisioneiro”, segundo o qual, um ator irá barganhar não só coletivamente, mas também individualmente, na perseguição de seus interesses específicos. Outra crítica abordada é a de a potência hegemônica se utilizar de seu poder para efetuar dominação ideológica, social e política. Neste ponto Gilpin olha especificamente para a hegemonia norte-americana, e destaca além das críticas o posicionamento daqueles que reconhecem essa possibilidade. Arrighi lida com essa questão de maneira melhor. Ao se utilizar do conceito de hegemonia de Gramsci para justificar e legitimar a liderança hegemônica, faz subentender-se que o poder hegemônico não é altruísta, se apropria da situação de caos do sistema, e consequentemente demanda por ordem, e afirma valores essenciais e pertinentes a todos os Estados. A ordem por si só constitui-se como um “bem coletivo”. Gilpin, no entanto, reconhece que: “(...) a mim parece que os Estados Unidos têm sido mais motivados pelo auto-interesse esclarecido e por objetivos de segurança, assumindo responsabilidades de liderança, porque isso tem sido do seu interesse econômico, político e mesmo ideológico – pelos menos essa é a sua crença.” Pág. 109. Mais a frente destaca o ônus da liderança, e o desafio de afirmar-se ao custo de sua legitimidade, uma vez que o custo da manutenção do sistema é maior do que o normal, dado o advento dos “caronas”. Sendo assim, em contextos de depreciação do poder hegemônico, a potencia: “Pode tornar-se coercitiva e tentar melhorar sua posição mediante o emprego de tarifas ótimas, da manipulação da moeda e outras transferências nas relações econômicas.” Pág. 109. “Quando os Estados Unidos criaram o sistema de Bretton Woods, de taxas de câmbio fixas, implementaram o Plano Marshall e assumiram a liderança nas negociações do Gatt sobre a liberalização comercial, agiram movidos pelo autointeresse esclarecido.” Pág. 110. Para Gilpin, a teoria da estabilidade hegemônica complementa as teorias anteriores. Acrescentando a dimensão do Estado hegemônico, fornece o arcabouço interpretativo da constituição política da economia mundial liberal. Porém, possui defasagem em outros aspectos, como nos evidencia o autor, tratando especificamente da teoria: “E tem dado pouca importância às ideologias motivadoras e aos fatores domésticos, às forças sociais e aos desenvolvimentos tecnológicos, assim como ao próprio mercado, da determinação dos resultados.” Pág. 112. “Considero-a uma correção necessária à abordagem concentrada nos fatores econômicos das teorias da econômica dual e do Sistema Mundial Moderno. A teoria da estabilidade hegemônica estabelece as condições políticas para a existência de uma ordem internacional de cunho liberal e propõe a idéia de que o surgimento e o declínio de uma potência hegemônica são fatores importantes das mudanças estruturais.” Pág. 112. Os mecanismos da transformação estrutural
Neste item, o autor identifica o porquê das mudanças estruturais, bem como os principais mecanismos à elas subjacentes. Ao efetuar uma síntese teórica dos três modelos expostos, Gilpin, posiciona-se a favor de uma teoria da economia política capaz de compreender as dimensões sociais, políticas e ideológicas, inscritas em um processo hegemônico, que levaram ao desenvolvimento da economia mundial liberal dos dias de hoje, sem perder de vista as assimetrias entre centro – periferia e a apropriação da esfera econômica como instrumento de afirmação de poder no sistema internacional político, no qual o Estado ainda permanece como o ator principal. Sua concepção aponta para a essencialidade de uma potência hegemônica como fomentadora ideológica, e garantidora militar de uma organização econômica liberal entre as diversas economias nacionais. Os motivos que levam a potência a assumir os custos de tal empresa podem ser diversos, como apontam os teóricos da teoria da estabilidade hegemônica. “No mundo moderno, as estruturas da economia política internacional têm decorrido primordialmente das ações de sucessivos Estados nacionais hegemônicos. Essas economias centrais – a Grã-Bretanha no século XIX e os Estados Unidos da América no século XX – usaram seu poder militar e econômico para estabelecer economias de mercado internacionais de cunho liberal.” Pág. 113. A estrutura econômica resultante desta organização sob a égide de um Estado dominante difunde oportunidades em outras jurisdições nacionais, proporcionando oportunidades de crescimento e expansão de outras economias. Ainda teorizando, o autor afirma: “À medida que passa o tempo, mudanças no ambiente social, na distribuição do poder econômico e militar, e nos interesses dos atores econômicos, modificam os fundamentos da estrutura.” Ou seja, os diversos Estados que vão se inserindo nestas economias de mercado globais, por situarem-se em posições assimétricas de desenvolvimento econômico e político, buscam solapar a estrutura, de maneira que consigam extrair desses movimentos da estrutura benefícios para sua economia e sociedade. O crescimento desigual das economias se justifica na constatação de que toda economia se baseia em um núcleo desenvolvido, o qual se aproveita dos recursos da periferia (mão-de-obra, matéria prima e alimentos) em troca de serviços produtos e mercados. O núcleo tende com o decorrer de sua expansão geográfica, levar o capital e sua estrutura produtiva à periferia, em busca de diminuição de custos na mão-de-obra barata, novos mercados e matéria-prima. Entretanto, como destaca o autor, no nível internacional, a relação interdependente possui outras implicações: “No campo internacional, contudo, em que fronteiras políticas separam o núcleo da periferia, o processo de concentração e de difusão tem implicações políticas profundas: libera energias poderosas de nacionalismo econômico, a princípio na periferia, depois possivelmente no núcleo.” Pág. 115. A interação entre núcleo e periferia se caracteriza por dois aspectos principais: o núcleo possui economia mais desenvolvida técnica e tecnologicamente, enquanto a periferia possui as vantagens de seu subdesenvolvimento: mão-de-obra barata, instalações industriais mais novas, oportunidades de investimento em expansão. Tais fatores levam a uma vantagem do núcleo nos termos de comércio com a periferia: “A maior eficiência e, portanto, as taxas mais elevadas de lucro e de acumulação de capital são os motivos mais importantes do rápido crescimento econômico, da concentração de riqueza e de poder no núcleo.” Pág. 115.
Contudo, por causa do “(...) o aumento do custo do trabalho e o declínio do retorno marginal sobre o investimento, o núcleo começa a perder seu dinamismo e a vantagem competitiva. Simultaneamente, a indústria difunde-se do núcleo para a periferia por meio dos mecanismos do comércio, do investimento e da transferência de tecnologia. (...) o antigo núcleo é eventualmente superado pelos novos núcleos de industrialização situados na antiga periferia como centros dinâmicos do sistema.” Pág. 115 – 116. A expansão do sistema em direção às vantagens da periferia, leva à criação de uma tensão no sistema, caracterizada pelo agravamento das pressões protecionistas no interior do núcleo. Essa resposta sistêmica ameaça a estabilidade do sistema econômico liberal. Gilpin resume: “(...) durante a fase inicial de uma economia mundial interdependente, o efeito da polarização predomina sobre o efeito de difusão. Com o tempo, porém, em razão do aumento da eficiência na periferia e das crescentes “deseconomias” no núcleo, a difusão sobrepuja a polarização. (...) À medida que isso acontece, intensifica-se a competição ente economias periféricas ascendentes e economias do núcleo declinantes, o que ameaça a estabilidade do sistema econômico liberal.” Pág. 118. Inscrita na relação de interdependência núcleo – periferia está o crescimento heterogêneo dos vários setores de uma economia. Motivados, principalmente, pelo desenvolvimento tecnológico pontual, existem setores que crescem mais rápido e lucrativamente concentrando investimentos de capital, mão-de-obra em sua ascensão, e funcionando como pólo de desenvolvimento de uma economia. Esses setores, acabam, entretanto, por conhecer uma situação de declínio, sendo sua capacidade de atrair investimentos e geração de emprego diminuídas, em detrimento do privilégio de outros setores que agora afiguram-se como mais lucrativos. Dentro de uma única jurisdição nacional, o capital e a mão-de-obra circulam livremente. Contudo, na economia internacional, a transição dos mesmos fatores é bastante complexa e difícil de se concretizar sem a resistência dos Estados. Esta é a situação que implica na tensão existente entre liberalismo x protecionismo. Os setores de uma economia nacional, que possuíam proeminência econômica internacional, ao começarem a sofrer com o declínio dos investimentos buscam meios políticos para conservar sua posição. Estes movimentos de resistência causam uma verdadeira luta política entre grupos de interesse. Estas lutas podem localizar-se no âmbito doméstico dos Estados, ou, no caso dos grupos se apropriarem dos mecanismos institucionais de Política Externa, no âmbito externo com uma disputa entre Estados. É o nacionalismo econômico que ganha força nesta realidade. “Quando esse processo de mudança e ajuste econômico atravessa as fronteiras nacionais, (..), o desaparecimento das indústrias em declínio e a criação de novos setores dinâmicos têm efeitos políticos intensos.” Pág. 121. São estas características que compõe a dinâmica da economia política internacional, motivando os Estados a buscarem se alocar o mais próximo possível do lado inovador do “ciclo produtivo”. A respeito das variações do crescimento econômico no longo prazo, e da uniformidade dos movimentos de crise e crescimento geral da economia mundial, Gilpin traça uma breve, porém considerável, exposição das principais abordagens que lidam com a teorização do tema.
Como não poderia deixar de ser, cita Kondratieff, e seus ciclos, aproximadamente de 50 anos, de crescimento econômico subseqüente à um quadro de crise profunda. “O mundo teria experimentado vários ciclos de Kondratieff desde a Revolução Industrial do fim do século XVIII. Entre 1788 e 1815 teria havido uma fase de expansão, com preços crescentes, seguida por outra fase de contração, e pré;cós cadentes, entre 1815 e 1843. O per;iodo de 1843 a 1873 foi de expansão, mas depois da Grande Depressão de 1783 houve uma queda do crescimento e de pré;cós até 1897. Teve início, então, outro ciclo de expansão, o qual continuou até o colapso econômico da Grande Depressão. A recuperação, que começou no fim dos anos 1930 e na década de 1940, levou à expansão sem precedentes dos anos 1950 e 1960. A partir de 1973, a economia mundial tem-se caracterizado pela contração e, até a década de 1980, por preços crescentes.” Pág. 122. Entretanto mantém-se cético em relação a tais ciclos. Há poucos pontos para análise que permitam construir uma interpretação sólida a respeito da real regularidade desses ciclos: “(...) na ausência de um mecanismo identificável para explicar períodos sucessivos de expansão e contração, é de presumir que eles se devam a eventos irregulares; ou seja, o que parece uma característica ondulatória inerente e endógena ao processo de crescimento econômico na verdade tem por causa uma variedade de eventos exógenos, políticos e de outra natureza.” Pág. 122 – 123. A despeito de endossar ou não os ciclos, afirma que a flutuação de preços, apesar de ser um processo puramente da realidade econômica, causa efeitos de transformação política e social, muitas vezes relevantes e profundos, nas esferas nacional e internacional. “Em razão do nível elevado de interdependência econômica global e da vulnerabilidade das economias nacionais a mudanças na economia mundial, essas vicissitudes transmitem choques ao longo de todo o sistema, o que produz importantes deslocamentos políticos e econômicos.” Pág. 123. Ressalta a contribuição de Arthur Lewis, que propõe a periodização de períodos de crescimento extraordinário, bom e péssimo. Detém-se, com maior especificidade, sobre a relação entre os ciclos de extraordinária expansão e o desenvolvimento tecnológico. Nestes ciclos, localizados, ambos, no período do início das lideranças hegemônicas liberais, apresentam-se a difusão das inovações tecnológicas ligadas aos setores pioneiros do crescimento econômico mundial por várias economias nacionais, numa tentativa de se equiparar às nações mais avançadas. Este “gap” tecnológico, é possível graças a um período anterior de crise, no qual houve atraso do desenvolvimento, como se acumulasse um atraso que quando atualizado leva a um amplo desenvolvimento econômico. Outra característica é o fato destes ciclos coincidirem com um movimento pró livre comércio sob a orientação da potência hegemônica. Dessa maneira afirma: “Não há dúvida de que o crescimento econômico encoraja a expansão da interdependência, tanto quanto a interdependência promove o crescimento econômico ou mais ainda, a relação entre desenvolvimento e interdependência é obviamente cíclica.” Pág. 126. Nos períodos em que as taxas de crescimento declinam, há um fortalecimento das tendências protecionistas, as quais se motivam no nacionalismo econômico, de modo que:
“(...) a taxa global de crescimento declina até que surjam novos estímulos à economia e apareça uma nova liderança econômica. A era do crescimento econômico extraordinário, que terminou com o declínio da hegemonia britânica no fim do século XIX, só se renovou quando surgiram novas fontes de crescimento, no período da hegemonia norte-americana, na década de 1950.” Pág. 126. Dessas considerações, evidencia-se que, apesar de não podermos construir um modelo teórico que explique as coincidentes crises como ciclos advindos de variáveis específicas, há que se considerar que de fato existiram períodos de crise e crescimento mais e menos rápido alternados, de duração média de 50 anos. O que pode ser assegurado também é que as flutuações de preços advindas desses períodos de crescimento díspares provocam mudanças significativas no social e político, particularmente na produção e emprego - desemprego. Modificações que se fizeram sentir no globo inteiro, sendo transmitidas por meio da interdependência entre os mercados, abalando as economias nacionais e dificultando o livre comércio. O autor expõe alguns modelos explicativos teóricos que visam explicar a alternância de períodos de crescimento mais e menos rápidos. Destacam-se como portadores de elementos explicativos concernentes teorias que lidam com a relação dos efeitos das guerras na economia, efeito keynesiano; preços e relação oferta - demanda de produtos primários; e a relação entre inovações tecnológicas e capacidade de investimentos e expansão com a economia. Sobre esta última: “(...) os períodos de expansão são decorrentes da explosão de novas tecnologias revolucionárias e das oportunidades de investimento que varrem e transformam toda a economia mundial.” Pág. 129. Nas fases de diminuto crescimento: “Embora o crescimento se reduza, geralmente a renda real continua a subir, em virtude dos níveis mais elevados de produtividade alcançados no período precedente e dos aperfeiçoamentos tecnológicos marginais, os quais continuam. Nesse período menos ativo, o investimento declina, mas o progresso econômico geral persiste, embora em ritmo mais lento: o período que começou em 1973 é característico.” Pág. 129. Esta teoria formulada por Joseph Schumpeter, ajuda a explicar o desigual crescimento das economias nacionais, bem como a ascensão e declínio das potências hegemônicas. As inovações tecnológicas costumam se alocar em determinadas economias. Por exemplo: as máquinas a vapor têxteis na Grã-Bretanha durante a Revolução Industrial, e as ferrovias e mecanização da produção, no segundo período de expansão da mesma, na Grã-Bretanha, França e Alemanha. Dessa maneira, as inovações tecnológicas, especialmente as que garantem, ou monopólio, ou grande vantagem na exploração do mercado, constituem-se como oportunidades para a expansão econômica. Combinadas com o aproveitamento destas oportunidades, ou seja, os investimentos efetivos, que tornam eficientes o processo de exploração das vantagens, desenvolve-se um cenário de desenvolvimento econômico, o qual pode ser ampliado à margem do sistema até a saturação do processo. “A potência hegemônica inovadora transforma-se no centro da economia internacional e , como a economia mais eficiente e competitiva, tem um estímulo poderoso para encorajar e manter as regras de uma economia mundial aberta e liberal.” Pág. 130. Na economia internacional, quando a capacidade de inovação declina, ou setores industriais antes importantes são substituídos por outros, inicia-se um processo de
transição da liderança econômica entre as realidade nacionais; jurídica, social e politicamente distintas, porém interdependentes. Nesse momento, os países com os setores declinantes, ou mesmo os setores declinantes isolados dentro de um país, oferecem resistência à ordem econômica liberal, buscando através de medidas políticas se protegerem do declínio. “Durante algum tempo, o centro declinante (ou centros) do crescimento deixa de poder sustentar o momentum da economia mundial, e o novo centro ascendente ainda não tem condições de assumir essa responsabilidade, ou hesita em assumi-la. Os períodos de crescimento declinante parecem estar associados com a mudança de um para outro conjunto de setores industriais pioneiros e centros nacionais do desenvolvimento econômico, e com a transição entre potências hegemônicas.” Pág. 130. A respeito das variações do crescimento econômico no longo prazo, e da uniformidade dos movimentos de crise e crescimento geral da economia mundial, Gilpin traça uma breve, porém considerável, exposição das principais abordagens que lidam com a teorização do tema. Como não poderia deixar de ser, cita Kondratieff, e seus ciclos, aproximadamente de 50 anos, de crescimento econômico subseqüente à um quadro de crise profunda. “O mundo teria experimentado vários ciclos de Kondratieff desde a Revolução Industrial do fim do século XVIII. Entre 1788 e 1815 teria havido uma fase de expansão, com preços crescentes, seguida por outra fase de contração, e pré;cós cadentes, entre 1815 e 1843. O per;iodo de 1843 a 1873 foi de expansão, mas depois da Grande Depressão de 1783 houve uma queda do crescimento e de pré;cós até 1897. Teve início, então, outro ciclo de expansão, o qual continuou até o colapso econômico da Grande Depressão. A recuperação, que começou no fim dos anos 1930 e na década de 1940, levou à expansão sem precedentes dos anos 1950 e 1960. A partir de 1973, a economia mundial tem-se caracterizado pela contração e, até a década de 1980, por preços crescentes.” Pág. 122. Entretanto mantém-se cético em relação a tais ciclos. Há poucos pontos para análise que permitam construir uma interpretação sólida a respeito da real regularidade desses ciclos: “(...) na ausência de um mecanismo identificável para explicar períodos sucessivos de expansão e contração, é de presumir que eles se devam a eventos irregulares; ou seja, o que parece uma característica ondulatória inerente e endógena ao processo de crescimento econômico na verdade tem por causa uma variedade de eventos exógenos, políticos e de outra natureza.” Pág. 122 – 123. A despeito de endossar ou não os ciclos, afirma que a flutuação de preços, apesar de ser um processo puramente da realidade econômica, causa efeitos de transformação política e social, muitas vezes relevantes e profundos, nas esferas nacional e internacional. “Em razão do nível elevado de interdependência econômica global e da vulnerabilidade das economias nacionais a mudanças na economia mundial, essas vicissitudes transmitem choques ao longo de todo o sistema, o que produz importantes deslocamentos políticos e econômicos.” Pág. 123. Ressalta a contribuição de Arthur Lewis, que propõe a periodização de períodos de crescimento extraordinário, bom e péssimo. Detém-se, com maior especificidade, sobre a relação entre os ciclos de extraordinária expansão e o desenvolvimento tecnológico.
Nestes ciclos, localizados, ambos, no período do início das lideranças hegemônicas liberais, apresentam-se a difusão das inovações tecnológicas ligadas aos setores pioneiros do crescimento econômico mundial por várias economias nacionais, numa tentativa de se equiparar às nações mais avançadas. Este “gap” tecnológico, é possível graças a um período anterior de crise, no qual houve atraso do desenvolvimento, como se acumulasse um atraso que quando atualizado leva a um amplo desenvolvimento econômico. Outra característica é o fato destes ciclos coincidirem com um movimento pró livre comércio sob a orientação da potência hegemônica. Dessa maneira afirma: “Não há dúvida de que o crescimento econômico encoraja a expansão da interdependência, tanto quanto a interdependência promove o crescimento econômico ou mais ainda, a relação entre desenvolvimento e interdependência é obviamente cíclica.” Pág. 126. Nos períodos em que as taxas de crescimento declinam, há um fortalecimento das tendências protecionistas, as quais se motivam no nacionalismo econômico, de modo que: “(...) a taxa global de crescimento declina até que surjam novos estímulos à economia e apareça uma nova liderança econômica. A era do crescimento econômico extraordinário, que terminou com o declínio da hegemonia britânica no fim do século XIX, só se renovou quando surgiram novas fontes de crescimento, no período da hegemonia norte-americana, na década de 1950.” Pág. 126. Dessas considerações, evidencia-se que, apesar de não podermos construir um modelo teórico que explique as coincidentes crises como ciclos advindos de variáveis específicas, há que se considerar que de fato existiram períodos de crise e crescimento mais e menos rápido alternados, de duração média de 50 anos. O que pode ser assegurado também é que as flutuações de preços advindas desses períodos de crescimento díspares provocam mudanças significativas no social e político, particularmente na produção e emprego - desemprego. Modificações que se fizeram sentir no globo inteiro, sendo transmitidas por meio da interdependência entre os mercados, abalando as economias nacionais e dificultando o livre comércio. O autor expõe alguns modelos teóricos que visam explicar a alternância de períodos de crescimento mais e menos rápidos. Destacam-se, como portadores de elementos explicativos concernentes, teorias que lidam com: a relação dos efeitos das guerras na economia, efeito keynesiano; preços e relação oferta - demanda de produtos primários; a relação entre inovações tecnológicas e capacidade de investimentos com a expansão da economia. Sobre esta última: “(...) os períodos de expansão são decorrentes da explosão de novas tecnologias revolucionárias e das oportunidades de investimento que varrem e transformam toda a economia mundial.” Pág. 129. Tem como principais expoentes desta teoria são Knut Wickesell e Joseph Schumpeter, esta teoria argumenta que, nas fases de diminuto crescimento: “Embora o crescimento se reduza, geralmente a renda real continua a subir, em virtude dos níveis mais elevados de produtividade alcançados no período precedente e dos aperfeiçoamentos tecnológicos marginais, os quais continuam. Nesse período menos ativo, o investimento declina, mas o progresso econômico geral persiste, embora em ritmo mais lento: o período que começou em 1973 é característico.” Pág. 129. Os investimentos na difusão das inovações tecnológicas foram, portanto, responsáveis pelos crescimentos excepcionais da economia mundial capitalista, em fases de alargamento dos “centros” da economia mundial. As economias nas quais, se
desenvolvem as tecnologias, e que, dessa maneira, incorporam primeiro os benefícios delas, atingem proeminência na economia internacional, alocando-se mais próximas do centro. Os processos de crescimento mais lento da economia mundial, por sua vez, são caracterizados primeiro pela estagnação, ou exaustão de possibilidades de expansão advindos dessas tecnologias, aspecto agravado por condições especificas da economia em determinado momento, como altas nos preços de energia, alimentos e matéria prima. Ademais, são processos sustentados pelo crescimento de economias menores, periféricas, os chamados “aperfeiçoamentos tecnológicos marginais”. No que tange à manutenção da ordem econômica liberal por parte de uma potência hegemônica e os movimentos que ocorrem no sentido de transição desta hegemonia, mais uma vez, esta teoria se vale do desenvolvimento tecnológico como principal variante. Sendo assim, Gilpin expõe brevemente a proveniência tecnológica das nações que se sustentaram como centro da economia mundial, em diversos períodos, e afirma que: “Se continuar esse modelo de lideranças nacionais que crescem e declinam na inovação tecnológica, o Japão deverá ser o próximo locus da revolução tecnológica.” Pág. 130. A despeito do domínio japonês, esta teoria apresenta subsídios importantes para explicar o crescimento desigual e o declínio e ascensão de novas hegemonias. “A potência hegemônica inovadora transforma-se no centro da economia internacional e, como a economia mais eficiente e competitiva, tem um estímulo poderoso para encorajar e manter as regras de uma economia mundial aberta e liberal.” Pág. 130. Quando ocorrem transformações na competitividade de determinados setores, responsáveis pela condição da potência, esta tende a se retrair sob o protecionismo, os custos da manutenção da ordem tornam-se altos demais, e ela declina. No espaço de tempo entre o declínio e a possibilidade de uma nova potência assumir a economia mundial, é que se localizam os períodos de crescimento diminuto. Nas palavras de Gilpin: “Os períodos de crescimento declinante parecem estar associados com a mudança de um para outro conjunto de setores industriais pioneiros e centros nacionais do desenvolvimento econômico e com a transição entre potências hegemônicas” pág. 130. O autor crítica, a falta de embasamento satisfatório para explicar porque as inovações revolucionárias ocorrem de 50 em 50 anos, bem como a vinculação insatisfatória das inovações com as ondas de longa duração. Lidando com o que diz respeito às transições diz que: “No mundo real dos Estados nacionais, com suas fronteiras políticas, a transição de uma para outro centro de inovação e de desenvolvimento não é suave, mas, ao contrário, altamente conflitiva, pois os Estados e os setores econômicos em declínio resistem às forças da mudança tecnológica, e os Estados e os setores ascendentes procuram derrubar as barreiras comerciais e as de outra natureza.” Pág. 131. As mudanças estruturais ocorridas no comércio internacional, com o declínio de setores industriais nos países de economia central, e a ascensão de outras indústrias, baseadas em novas tecnologias são o principal causador da dinâmica da economia política internacional. Os processos de realocação de capital, tecnologia e mão-de-obra, mesmo em um contexto de interdependência e globalização é extremamente conflituoso, na medida em que aqueles que tem a perder, se refugiam nas práticas protecionistas de seus Estados, dificultando o movimento dinâmico esperado em uma economia liberal. Ao mesmo
tempo, o protecionismo mina a ideologia da ordem econômica, tornando mais custosa e trabalhosa a manutenção do sistema pela potência hegemônica. A estrutura de Estados-nação, portanto, implica, para a ordem econômica liberal, um empecilho, uma vez que, subjacente à esta organização política encontra-se uma ideologia nacionalista, motivadora da busca pela superação dos seus concorrentes no âmbito internacional. Aqui, nota-se a orientação realista do autor no campo da política internacional. Pois os Estados estão compreendidos em uma luta por poder político, e emancipação, conseguidos apenas com o crescimento da capacidade militar, intimamente atrelado ao desenvolvimento industrial. Dessa maneira, a política das economias periféricas é baseada na incorporação de tecnologias e técnicas de produção, objetivando o alcance do mesmo nível de desenvolvimento econômico, social e político observado no centro. Este artifício conduz a estrutura a uma situação de superprodução em setores chave da economia, diminuindo o comércio e a expansão econômica. Por outro lado, as difusões da tecnologia e da capacidade produtiva podem funcionar enquanto propulsoras da expansão das economias em desenvolvimento gerando aumento na demanda nestes mesmos países por produtos nacionais e importados. Neste sentido, são as condições específicas de cada conjuntura que determinarão se haverá ou não uma mudança profunda e se esta mudança será conflitiva ou minimamente tranqüila. O autor lista os seguintes fatores: “(...) a flexibilidade dos centros industriais mais antigos e sua capacidade de ajustamento às indústrias e às exportações mais avançadas; a natureza e a extensão do protecionismo; as taxas de crescimento econômico nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento.” Pág. 135. Para ocorrer uma mudança minimamente tranqüila há que se transferir no centro da economia, principalmente na potência hegemônica, um deslocamento dos fatores de produção dos setores declinantes da economia para os setores em ascensão. Contudo, a gama de atores econômicos é maior, e sua atuação e artifícios se tornaram eficientes, ao ponto de, os setores declinantes, dentro de uma determinada economia, ou economias nacionais sustentadas por um setor especifico, serem capazes de oferecer grande resistência, tumultuando o processo de transformação. “O crescimento do welfare state e da intervenção do governo na economia aumentou muito a capacidade dos interesses poderosos de resistir a pagar os custos do ajuste, e o papel do mercado como facilitador desses ajustes foi reduzido pela mudança ocorrida na balança de poder, com o afastamento do mercado na direção do Estado, do setor empresarial e da força de trabalho organizada.” Pág. 137. Conclusão
“Uma economia estável e expansiva requer a liderança política, mas o processo de crescimento tende a prejudicar essa liderança. Para que a estabilidade e o crescimento continuem, é preciso encontrar alguma nova base de liderança ou de cooperação internacional” pág. 137.
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