Gil Vicente - Farsa de Inês Pereira

February 19, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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EXPLIKAMUS – Explicações Individuais FICHA DE APOIO AO ESTUDO PORTUGUÊS GIL VICENTE – FARSA DE INÊS PEREIRA

 

1. Gil Vicente: vida e obra    São incertas as informações sobre Gil Vicente;



  Terá nascido provavelmente em Guimarães;



  O ano de 1465 é apontado como sendo o do seu nascimento;



  Viveu em Lisboa e frequentava a corte;



  Nasce durante o reinado de D. Afonso V e percorre os reinados de D. João



II, D. Manuel e morre durante o reinado de D. João III;   Na primeira década do século XVI, era "mestre da balança" da Casa da Moeda de Lisboa;





  Em 1520, estava incumbido pelo rei D. Manuel I de escrever, organizar e  



 



 



 



 



ensaiar os autos para a corte; Casou duas vezes e teve várias atividades profissionais: o  Ourives (é-lhe atribuída a autoria da famosa Custódia de Belém); o  Escritor, encenador e ator. É justamente considerado o pai do teatro português; Produziu mais de quarenta peças de teatro, chegando a publicar em vida algumas delas; Colaborou no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende com algumas composições poéticas; Em 1562, o seu filho, Luís Vicente, publicou toda a sua obra com o título Compilaçam de todalas obras de Gil Vicente, a qual se reparte em cinco livros.

Principais temas vicentinos

Gil Vicente é considerado um poeta-dramaturgo. Dramaturgo por ser o criador do teatro e poeta porque toda a sua obra é escrita em verso. Nas suas obras critica a sociedade do seu tempo, pondo a descoberto muitos dos vícios e hábitos das várias classes sociais. Por isso se considera a sua obra um espelho, porque reflete fielmente a sociedade do século XVI. Criticava, nomeadamente: © EXPLIKAMUS   Todos os direitos reservados reservados   February / 2018 



 

 

  A justiça;



  O novo-rico;



  Os escudeiros;



  As alcoviteiras;



  A atuação do rei;



  O povo;



  A Igreja – por causa da vida desregrada, da imoralidade nos conventos,



do comércio de almas e pecados (bulas e indulgências).

Gil Vicente satirizava a sociedade sem atacar diretamente qualquer pessoa em particular. Na obra de Gil Vicente encontramos o princípio latino: “ ridendo castigat ca stigat mores” (“é a rir que se castigam os costumes”). costumes” ). Assim, Gil Vicente, provocando o riso no público, denuncia os erros de cada classe social, procurando que o mesmo público reflita sobre o seu riso.

Classificação da sua obra

Normalmente, o autor divide a sua obra em:   Comédias;



  Farsas;



  Moralidades.



Autor de transição

Vive entre a Idade Média e o começo , em Portugal, do Renascimento. A sua obra reflete valores sociais, religiosos e culturais muito diversificados. Gil Vicente tem mantido bastante da sua atualidade atualid ade uma vez que, dominado por um espírito reformador e satírico, observava a sociedade e o comportamento de típicos grupos humanos que ainda hoje persistem. Vejamos o que há em Gil Vicente de medieval e de clássico: A.  Características medievais: a.  Linguagem popular e arcaica;  

b. Linguagem individualizada – própria da categoria das personagens que falam;

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c.  d.  e.  f.  g.  h. 

Desleixo sintático; Versos predominantes de 7 sílabas; Exagero do espírito de cruzada; Relativa incultura que mostra ou aparenta; Ausência de problemas de natureza psicológica e de interiorização; interiorizaçã o; Ausência de indivíduos ou individualidades, com caráter e personalidade bem vincadas. Criação e personagens-tipo.

B.  Características clássicas: a.  Sátira irreverente, mas moralizadora; b.  Entusiasmo nacionalista; c.  Crítica alheia a superstições, em particular: i.  À questão das indulgências; ii.  À classe sacerdotal (a caça, a mancebia, o desleixo no cumprimento das suas obrigações).  

d. Compreensão dosépoca; problemas sociais, insurgindo-se contra a materialização da e.  Pelas referências mitológicas e clássicas; f.  Por algumas tentativas formais: a divisão em quadros; o prólogo em algumas peças.

Contexto sociocultural da Farsa Inês Pereira Representada em 1523, no Mosteiro de Tomar, a pedido de D. João III. A Farsa de Inês do Pereira é considerada a mais peçaque de cavalo Gil Vicente eé uma encenação provérbio: Mais vale asnocomplexa que me leve que me derrube.

Estrutura  A Farsa de Inês Pereira é uma das peças de Gil Vicente melhor estruturadas, uma das suas obras-primas, que podemos dividir em sete momentos: 1.  A vida de Inês Pereira em solteira, com sua mãe;   2. de Lianor para que case; 3.  Conselhos Apresentação de PêroVaz Marques;

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4.  5.  6.  7. 

Apresentação do Escudeiro; Vida de Inês, casada com o Escudeiro; Vida de Inês, viúva; Vida de Inês casada com Pêro Marques.

Nestes sete momentos podemos considerar três sequências principais: 1.  Corresponde aos três primeiros momentos (a apresentação e recusa do casamento com Pêro Marques): Inês solteira; 2.  Corresponde aos momentos 4 e 5 (a apresentação e o casamento falhado com o Escudeiro): Inês mal-maridada; 3.  Corresponde aos momentos 6 e 7 (o casamento com Pêro Marques): Inês quite e desforrada. Desta forma, na intriga encontramos a divisão clássica da ação:   Exposição - desejo de libertação de Inês através do casamento;



  Conflito  - proposta de Pero Marques, casamento com o Escudeiro e



casamento com Pero Marques;   Desenlace - concretização das aspirações de Inês.



Personagens Inês Pereira

A protagonista, Inês Pereira, é uma típica rapariga, leviana, ociosa, namoradeira, que passa o tempo todo diante do espelho, a se enfeitar, tendo em vista um casamento nobre. Através desta personagem, Gil Vicente critica as jovens burguesas, ambiciosas e insensatas.

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d e divertir-se, um   Primeira Inês (Inês solteira) – preguiçosa, alegre, amiga de



pouco leviana e opinosa. Não exige luxos nem riquezas. ri quezas. Quer um homem que lhe proporcione uma vida alegre, ainda que pobre e faminta;   Segunda Inês (Inês casada com o Escudeiro) – estranha as imposições de marido, mas está pronta a obedecer-lhe e ser-lhe fiel;   Terceira Inês (Inês casada com Pero Marques) – é o resultado de uma





transformação profunda provocada pelo comportamento desumano, desleal e cínico do Escudeiro. É uma mulher que já não acredita no amor nem nos homens. O seu desejo de vingança transforma Pêro Marques num superasno quase irreal. Torna-se materialista, calculista, vingativa. Esta personagem permite, pois, dividir a farsa em três momentos: 1.  Inês fantasiosa - mostra Inês, os seus desejos e ambições, e o momento em que é apresentada pela alcoviteira a Pero Marques. Esta parte retrata o quotidiano da protagonista e a situação da mulher na sociedade portuguesa da época, por meio das falas de Inês, da mãe e da alcoviteira Lianor Vaz; 2.  Inês mal-maridada - mostra as agruras do primeiro casamento de Inês. Nesta parte, o autor aborda o comércio casamenteiro, casa menteiro, por meio das figuras dos judeus comerciantes e do arranjo matrimonial-mercantil, e o despertar de Inês para a realidade, abandonando as fantasias alimentadas até então; 3.  Inês quite e desforrada - a protagonista casa-se pela segunda vez e trai o marido com um antigo admirador. Experiente e vivida, Inês tira todo o proveito possível da situação que vive.

Pêro Marques

É um camponês rústico, provinciano, bronco, ingénuo, trabalhador, mas honesto e com boas intenções. Com a sua estupidez não só é um ser feliz, mas espalha felicidade à sua volta. Representa na peça o papel de «asno» que leva a mulher às costas, de visita vi sita a um antigo pretendente. Através do seu trabalho conseguiu amealhar alguns bens. Proveniente do universo rural e desconhecedor das regras de convivência, cai no ridículo, não só pelo modo como se veste, mas também pela maneira de falar e agir (senta-se na cadeira ao contrário e de costas para Inês e sua mãe). É a personagem cómica da peça.

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Escudeiro, Brás da Mata

É uma figura muito importante na peça, que contrasta com Pêro Marques. É fácil concluir da elegância, da cultura, da astúcia e finura do Escudeiro em contraste com a simplicidade bronca, a ignorância e a inadaptação de Pêro Marques. É uma personagem que tem grande influência no desenrolar da intriga, pois o seu comportamento tirânico vai fazer com que Inês venha finalmente a aceitar Pêro Marques para se vingar das frustrações do primeiro casamento. O Escudeiro, pobre e cobarde, ostenta perante Inês qualidades que não tem. Antes de casar, apresenta-se como um grande senhor, rico, culto e bem falante. Depois de casar revela-se um tirano mesquinho que deixa a esposa à guarda do criado e parte para África com o objetivo de ser armado cavaleiro. O Escudeiro, candidato a cavaleiro em África, acaba por ser morto por um mouro pastor, quando fugia. O candidato a cavaleiro deserta do campo de batalha, morrendo às mãos de um pastor e não em combate, como seria normal.

Lianor Vaz

É ela a emissária de Pêro Marques, que traz a sua carta de apresentação a Inês, dotada de grande capacidade de persuasão, experiência e oportunidade no desempenho do seu papelo de comadre casamenteira. Faz também um pouco o papel de confidente e ajuda-nos a conhecer os sentimentos e intrenções de Inês e de Pêro. Lianor é uma figura de apreciável valor moral, com bons e subtis conhecimentos da sua «arte».

Mãe

Intimamente relacionada com Inês Pereira, a Mãe é uma personagem secundária que apresenta o contraponto da sua fantasia e ambição. Moderada, prudente e pragmática, a Mãe manifesta a sua descrença em relação ao casamento com o Escudeiro. Luta quanto pode pela felicidade da filha iludida. Extremamente compreensiva, acaba por aceitar corajosamente a derrota e animar o primeiro casamento da filha com uma pequena festa. Depois deste primeiro casamento, afasta-se discretamente para não tornar a aparecer, semdiscussões, censuras ou vinganças. Inês há de aprender à sua custa.

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 Judeus casamenteiros, casamenteiros, Latão e V Vidal idal

Enquanto Pêro Marques é apresentado a Inês por Lianor Vaz, uma comadre casamenteira de características populares, conhecida da mãe da protagonista, o Escudeiro chega à presença de Inês pela mão dos judeus casamenteiros, que são talvez as figuras psicologicamente mais bem tratadas da farsa. Não são imorais, mas amorais. bem os vaidosa defeitose leviana. do Escudeiro, também não ignoravam que Conheciam Inês era preguiçosa, Por isso iss omas zombam dos dois,  jogando com os seus defeitos. As suas palavras, proferidas umas atrás das outras, elogiam e depreciam ao mesmo tempo, revelando um pessimismo consciente sobre os homens. Têm externamente uma atitude bajuladora, mas na verdade as suas afirmações podem ser entendidas como críticas crític as severas e justas. Inteligentes e voluntariosos, adaptam-se a todas as atividades ativida des e vingam-se, de forma discreta, de séculos de perseguição. Na sua versatilidade estão mais próximos da alcoviteira típica do que Lianor Vaz. São, portanto, personagens psicologicamente muito bem caracterizadas: desonestos, falsos, argutos, materialistas e maquiavélicos. No fundo, são apenas uma personagem, constituindo o seu desdobramento em duas um fator cómico. Este desdobramento dá-se através dos seguintes processos:   repetição por um da frase inicialmente dita pelo outro, com alteração da



 



 



 



 



 



ordem dos elementos: «Este e eu/ Eu e este»; repetição por um das ideias enunciadas pelo outro: «não sabeis quão longe fomos/ corremos a iramá»; continuação por um da frase iniciada pelo outro: «Senhora fomos…/ que fomos que ias/ buscá-lo»; hesitação sobre quem há de falar: «agora falo/ ou falas tu?»; mandando-se calar um ao outro: «Leixa-me falar/ Já calo»; identificação de um com o outro: «tu e eu nam somos eu?».

Estas hesitações, interrupções e comentários desviam constantemente o discurso do seu fio condutor, criando suspense em quem está a ouvir. A organização do discurso, no sentido da criação de uma grande expectativa, predispõe Inês Pereira para a aceitação do pretendente, fascinada pelo exagero das saus qualidades, habilmente coincidentes com os seus ideais: falar e tanger bem, ser discreto e avisado.

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Essa aceitação e o casamento irão constituir o grande engano de Inês e serão o castigo da sua ambição desmedida.

O Moço

O Moçoparte, é cópia emaplebeu do Escudeiro. É uma queamo. contribui, grande para denúncia da duplicidade dopersonagem Escudeiro, seu É por em ele que sabemos a situação de penúria, os sentimentos e os planos do Escudeiro: é como que um confidente. Quando o Escudeiro parte para África, fica encarregado de vigiar Inês e fá-lo com tal rigor que, recebida a notícia do falecimento do marido, Inês despede-o de imediato.

Fernando e Luzia

São uma espécie de ideal de vida: simples, amigos, sem ambições, sem maldade. As suas palavras são de amizade e de esperança, mas as suas canções são de desencanto e morte.

Ermitão

O Ermitão é uma personagem secundária, perfeitamente dispensável dispensá vel no contexto da farsa. O eremita era uma pessoa de profundos sentimentos religiosos que vivia num ermo para se dedicar exclusivamente ao serviço de Deus e à salvação das almas. Porém, muitospor falsos se aproveitaram fé e da ingenuidade crentes, sendo, isso,eremitas falsos religiosos, parasitas da e mentirosos. Tudo leva a dos crer que o nosso Eremitão pertence a este tipo. A sátira de Gil Vicente atinge pois a sociedade e não a religião.

Relações entre as personagens

Na Farsa de Inês Pereira há uma intriga, isto é, a ação desenrola-se lentamente, vai-se tornando cada vez mais complexa devido a um adensamento das relações e da interdependência das personagens, terminando num desenlace:

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O espaço e o tempo A – O espaço: Na farsa espaço e tempo são secundarizados. No que se refere ao espaço, apercebemo-nos que a ação se desenrola em casa de Inês, com exceção do episódio final da visita do Ermitão, que se desenrola em espaço exterior.

B – O tempo: Por outro lado, só uma vez há referência concreta ao tempo, quando Inês recebe uma carta de Arzila anunciando anuncia ndo a morte do Escudeiro e o Moço lhe diz que o seu amo partira para África há três meses.   Passagem do tempo: a ascensão; o  Inês solteira / fantasiosa a queda; o  Inês malcasada   o Inês viúva aalibertação; vingança. o  Inês casada



  Tempo histórico: finais da Idade Média;



  Tempo

desencontro com o tempo cronológico (a passagem de três meses não é explicitamente percebida);   Desconhecimento e/ou desprezo da lei das três unidades  (unidade de espaço; unidade de tempo e unidade de ação).



narrativo:



A intenção do autor: a crítica Para além simples ailustração de um provérbio destinado esclarecer as dúvidas dosda detratores, Farsa de Inês Pereira é, sobretudo, umaavisão crítica de

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tipos e fenómenos da época. A crítica da sociedade do seu tempo é feita, nesta como noutras obras, com recurso à ironia, à criação de tipos e ao cómico. A – A ironia: Alguns exemplos: 

  no diálogo inicial entre Inês e a Mãe, especialmente quando esta se refere

à preguiça da filha;   na reação de Inês à carta de Pêro Marques trazida por Lianor Vaz;   em algumas falas dos judeus.   …







B – A criação de tipos:   Inês Pereira – o tipo de moça casadoira leviana que representa a ambição



sem escrúpulos, a ponto de pretender usar o casamento como trampolim para um salto na escala social;   a Mãe, pragmática, materialista, que quer ver a filha bem «arrumada», com um marido proprietário, que lhe garanta estabilidade económica, desprezando ideais de amor, sonhos ou caprichos;   a Alcoveita Lianor Vaz e os Judeus casamenteiros, que, cada qual à sua maneira, fazem de intermediários entre Inês e os pretendentes;   Pêro Marques, com a sua ingenuidade bronca, objeto da vingança de Inês enganada pelos Judeus e frustrada pelo falhanço do casamento com o seu ideal de marido.







Lançando mão de personagens que representavam estratos sociais (Escudeiro, Pêro Marques, judeus e alcoviteira) ou tendências na evolução da sociedade (Inês), Gil Vicente dá-nos um panorama crítico da sociedade do seu tempo. Na Farsa de Inês Pereira acontece ainda que, havendo uma personagem (o Ermitão), cujo procedimento aponta para uma crítica aos falsos frades e dos seus vícios, a crítica ao clero é feita de um modo indireto e contundente.

C – O cómico (Ridendo castigat mores) Os processos habituais do cómico estão amplamente representados na Farsa de Inês pereira e têm dois objetivos fundamentais:

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  o primeiro, e muito importante numa farsa, é provocar o riso através do



qual se «castigam» os vícios;   o segundo é a marcação do contraste nítido entre personagens e situações: si tuações: Pêro Marques e o Escudeiro; Lianor Vaz e os Judeus casamenteiros, por exemplo.



de caráter  (decorrendo da maneira de ser e da apresentação da C1 – Cómico própria personagem) surge praticamente ao longo de toda a peça, concretizado nas figuras de Pêro Marques (um lavrador provinciano e bronco, desconhecedor da cultura cortesã e ingénuo, nos contactos com Inês e a Mãe) e do Escudeiro pobre e cobarde, mas dissimulado, na elegância do seu discurso, na variedade das suas prendas (tocar e cantar) e na fanfarronice que apresenta.

C2 – Cómico de situação  (resulta das situações ridículas criadas pelo comportamento das personagens):   quando P~erro Marques se senta na cadeira ao contrário e de costas para



Inês e a Mãe;   na fala dos Judeus casamenteiros, que na sua sofregidão e calculismo para conseguirem casar Inês com o Escudeiro, se interrompem, repetem e atropelam constantemente.   no episódio final, quando Pêro Marques, descalço, transporta Inês às costas, e mais duas lousas que lhe agradam e, para cúmulo, porque o caminho era longo e a viagem monótona, ainda aceita cantar uma cantiga que o apelida de «marido cuco»: o  «Marido cuco me levades / E mais duas lousas» (vv. 1115 - 1116) o  «Bem sabedes vós marido / quanto vos amo / sempre fostes percebido / pera gano. / Carregado ides, noss’amo, / com duas





lousas.» (vv. 1125 - 1130). C3 – Cómico de linguagem:   quando Pêro Marques entra, com a sua linguagem recheada de termos e



expressões provincianas, dada a sua condição de rural, e sobretudo, com a sua pronúncia, que imediatamente o desdignifica e ridiculariza;   quando os Judeus casamenteiros produzem o seu discurso repetitivo e arrastado;   quando Inês se refere a Pêro Marques dizendo: «Ei-lo se vem penteado: será com algum ancinho?»;





  na ironia do Moço desmascarando a pelintrice do Escudeiro.



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D - A crítica:   A ânsia de libertação da mulher de condição burguesa, através do



casamento (Inês);   A ruína da baixa nobreza, decorrente da centralização das riquezas, provindas da expansão, na corte (Escudeiro);



 



Os velhos costumes morais de uma sociedade medieval e feudal, em vias de extinção (Pero Marques);   Degradação moral da conceção de família;   O êxodo dos campos, o desenvolvimento das cidades e a atração pela riqueza fácil.





A linguagem   As falas das diversas figuras desta farsa acentuam a rusticidade das



personagens e realçam a importância do saber popular;   A linguagem de cada personagem adequa-se ao seu estatuto social e nível etário;   A peça é bilingue;   A linguagem contribui para os efeitos de cómico.







Recursos expressivos    Comparação : Moça de vila será ela/com sinalzinho postiço, / e sarnosa



no toutiço, / como burra de Castela (vv. 498 - 501);   Interrogação retórica: ou sam algum caramujo / oue não sai senão à



porta? (vv. 32 - 33);   Ironia: Logo eu adivinhei / lá na missa onde eu estava, / como a minha Inês lavrava (vv. 39 -41);   Metáfora: Deos vos salve, fresca rosa, / e vos dê por minha esposa (vv. 543 - 544);   Metonímia  (uso de uma palavra no lugar de outra que tem com ela alguma proximidade de sentido): Não sei se me vá a el rei, / se me vá ao Cardeal (vv. 80 - 81).







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Considerações finais

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