GENTILI, Pablo & ALENCAR, Chico. Educar na esperança em tempos de desencanto. 3ª edição, Petrópolis, Vozes, 2003. 142 p. 21 x 13,5 cm

June 25, 2019 | Author: Elisângela Duarte Barbosa | Category: Cidadania, Realidade, Democracia, Sociologia, Política
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Educar na Esperança em Tempos de Desencanto (Resenha)

GENTILI, Pablo & ALENCAR, Chico. Educar na esperança em tempos de desencanto. 3ª edição, Petrópolis, Vozes, 2003. 142 p. 21 x 13,5 cm. Doutor em educação pela Universidade de Buenos Aires, o argentino Pablo Gentili também  pesquisador e professor de pós-graduação em Educação da universidade do estado do Rio de Janeiro, assina diversos livros: A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma educacional do neoliberalismo; Pedagogia da exclusão; Globalização excludente; A cidadania negada e Universidades na penumbra. Parlamentar com diversos mandatos pelo PT-RJ, Chico Alencar, carioca, é professor de Prática de História na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre em educação e autor de divers diversos os livros livros (Histó (História ria da socied sociedade ade brasil brasileir eira; a; Miltop Miltopéia éia;; Direit Direitos os mais mais humano humanos; s; BR-50 BR-500 0 e Cânticos das criaturas: ecologia e juventude do mundo), Chico Alencar juntamente com Pablo Gentili vem oferecer ao público leitor mais uma obra. Educar na esperança em tempos de desencanto cristaliza a fé dos autores na educação através dos indivíduos (seria melhor dizer cidadãos?) que a compõem: educadores e educandos; apesar das, cada vez mais evidentes, exclusões, desumanizações e compreensão limitada das palavras cidadania, moralidade, democracia. A obra é estruturada em quatro capítulos (dois por cada autor), além de uma apresentação, escrita conjuntamente, e um epílogo assinado pelo auto-intitulado subcomandante Marcos, essa parte final com tradução de Ezequiel R. dos Santos. A apresentação aborda graves problemas mundiais, que têm, pela constância, configurado-se em tendência: a globalização e tecnologias excludentes, o desemprego, a saúde (ou falta dela), a velhice desamparada e como tais aspectos relacionam-se ao desencanto com o sistema e com as reformas que, de uma forma ou outra, atingem a educação. Alude-se ainda, nesta primeira parte, à síndrome da desistência ou Burnout, doença que atinge os trabalhadores da educação angustiados com as cruciais questões que se impõem: “Qual o sentido da atividade docente?”, o que é possível fazer  cotidianamente? Qual a função da escola? Educar para a competitividade do mundo produtivo-capitalista? Educar para rápida e boa inserção no mercado trabalhista? As múltiplas e desencontradas respostas que podem ser dadas às questões acima são analisadas pelos autores com lucidez e discernimento, no que pode soar como um convite à resistência por partes dos educadores. Pablo Gentili aborda primeiramente a exclusão e em seguida questões referentes à formação da cidadania. Gentili fala em três tipos de exclusão: a que exclui exterminando, a que exclui confinando o indivíduo e por último, e não menos perniciosa, a que segrega incluindo ao atribuir determinado status a certos grupos de indivíduos. Essa exclusão silenciosa, porém visível, aparece de forma gritante na educação educação pública em nosso nosso país e possibilita possibilita que se ofereça ofereça educação educação para todos sem riscos para os

grupos dominantes uma vez que educação para todos não significa educação de qualidade para todos.O autor faz-se contundente ao criticar a infrequência com que as situações de exclusões em nosso país causam indignação e questiona quanto a educação tem contribuído para essa nulidade de espanto. Pablo Gentili apresenta cidadania em duas perspectivas: como condição legal e como atividade desejável. Como condição legal fala-se em cidadania civil (liberdade de expressão, pensamento e religião), cidadania política (participação), cidadania social (direitos sociais e econômicos: educação,  bem-estar, saúde, trabalho). Educar no âmbito da cidadania como condição legal limitar-se-ia, portanto a transmitir os direitos reconhecidos, o que não se coaduna com a idéia de educação na perspectiva da educação como atividade desejável, onde educar ultrapassa o simples reconhecimento dos direitos  para alcançar a realização dos atributos que definem cidadania. O autor destaca a coerência que devem ter as ações pedagógicas com os princípios que sustentam a educação cidadã: “A moralidade democrática não pode se fundamentar em procedimentos autoritários”. Complementa com a observação de que a prática do professor, talvez mais que o conteúdo em si, é instrumento de ensino. Chico Alencar discorre sobre a realidade brasileira nos âmbitos social, educacional e cultural apresentando fatos históricos e dados estatísticos, por vezes, permeados de citações literárias; nem por  isso a abordagem do autor deixa de ter profundidade reflexiva ao conduzir o leitor pela alarmante realidade da evasão e repetência, do superlotamento das salas, do analfabetismo, do acesso à leitura, museus, teatros e cinemas... Chico Alencar destaca os “marcos fundamentais na educação de cinco séculos no Brasil”, a saber: Latifúndio (controle do saber por poucos); Monocultura (compartimentalização, reducionismo); Escravidão (autoritarismo elitista); Patriarcalismo (machismo sexista); Dependência externa (cultura importada de modelos eurocentrado ou americanizado). Marcos esses que, segundo o autor, ainda têm lugar em nas modernas salas de aulas do país onde a realidade vivida e a realidade ensinada guardam distâncias tão grandes uma da outra que o aluno não reconhece a primeira na segunda. Alencar destaca a compreensão da realidade, o querer transformar essa realidade e a crença nos grupos e classes como sujeitos da história como saberes básicos do educador humanista, este sendo o educador que estimula, luta e constrói: humaniza. Educar na esperança em tempos de desencanto é uma obra cuja leitura fluente não prejudica o desenvolvimento do assunto proposto. Não chega a ser uma obra revolucionária dentro da educação, mas nem por isso, medíocre. Correndo o risco de parecer piegas, ouso descreve-la, talvez, como um  bálsamo - por apontar a esperança quando é mais fácil ver o desencanto. Ao propor a combinação da “militância concreta com a reflexão acadêmica” (ação-reflexãoação), a obra mostra uma certa sintonia com idéias correntes no meio pedagogico. A obra pode, assim, mostrar-se relevante para os trabalhadores em educação de diversas áreas.

Se por vezes o texto aproxima-se do discurso político, não poderia ser diferente: educação, não nos enganemos, é questão amplamente política.

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