Gato Que Brincas Na Rua

October 2, 2017 | Author: Nuno Miguel Silva | Category: N/A
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Gato Que Brincas Na Rua...

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Gato que brincas na rua Como se fosse na cama, Invejo a sorte que é tua Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais Que regem pedras e gentes, Que tens instintos gerais E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim, Todos o nada que és é teu. Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu.

Janeiro 1931 In poesias de Fernando Pessoa, Edições Ática

Plano formal: Poema é constituído por 3 estrofes, quadras com rima cruzada, segundo esquema: abab,cdcd,efef. Ao longo de todo poema verifica-se a repetição de sons nasais através de ressonância “brincas”; “invejo”; “instintos”; “assim”; “mim”; “nem”; “regem”; “gentes”; “tens”; “sentes”; “sem”. Este recurso estilístico confere musicalidade ao texto realça o contexto que rodeia o gato. As frases são declarativas porque o sujeito poético não manifesta grande emoção.

Plano morfossintáctico: O tempo verbal predominante é presente indicativo, que exprime um pensamento e uma reflexão do sujeito poético. Mas com uma única excepção presente no 2ºverso da 1ºestrofe “como se fosse na cama” que é modo conjuntivo. Ao avistar o gato o sujeito poético relaciona as duas existências: a sua e a do gato. Predomina os nomes, havendo apenas 3 adjectivos que são: “gerais; fatais; feliz”. E estão ligados ao objecto observado. O gato é “ bom servo das leis fatais” porque tem “instintos gerais,” sendo por isso “feliz”. O sujeito poético para caracterizar o objecto do poema utiliza repetidamente frases subordinadas relativas. Em cada uma das estrofes há uma subordinada causal. Na 1ºestrofe o sujeito poético utiliza para justificar a inveja que sente, no 2º estrofe explica a causa do gato ser como é, na 3ºestrofe conclui apresentante a causa da felicidade do gato. As 3 orações mostram que o gato é feliz porque é inocente e inconsciente.

Plano semântico: A figura estilístico comparação serve para realçar ideia de que o gato estar na rua como se estivesse em casa numa situação de descontracção de que é símbolo a cama. Verifica-se a existência de repetição que se destina relevar conceitos como o de sorte, isto é, destino e do sentir que se opõe ao pensar do sujeito poético que diz: “conheço-me e não ser eu.” Também a repetição do verbo ser no 2º e 3º pessoa do plural reforçam a distinção e oposição entre sujeito poético e objecto do poema. Isotopia: o poema constrói-se em torno oposição sentir e pensar. Assim, o gato caracteriza-se pela sua inconsciência porque não pensa, logo, é feliz, enquanto o sujeito poético é consciente, pensa, logo, não se sente feliz.

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