Fundamentos Epistemologicos Humberto Maturana e Toulmin
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Fundamentos Epistemologicos Humberto Maturana e Toulmin...
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FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DE HUMBERTO MATURANA E STEPHEN TOULMIN LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA MATEMÁTICA - UAB - UFMT
CUIABÁ , , 2010
Instituto de Ciências Exatas e da Terra Terra (ICET) Av. Fernando Correa da Costa, s/nº Campus Universitário Cuiabá, MT - CEP.: 78060-900 Tel.: T el.: (65) 3615-8737 3615-8737 www.fisica.ufmt.br/ead www .fisica.ufmt.br/ead
FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS DE HUMBERTO MATURANA E STEPHEN TOULMIN
AUTORES
Marco Antonio Moreira Instituto de Física / UFRGS
Iramaia Jorge Cabral de Paulo Instituto de Física / UFMT
COPYRIGHT
©
2010 UAB
CORPO EDITORIAL • • • •
D e n i s e V a r g a s C a r l o s r i n a l D i i r a m a i a J o r g e C a b r a l D e P a u l o m a r i a l u C i a C a V a l l i n e D e r
P r o J e t o g r á f i C o : P A U L O H . Z . A R R U D A / E D U A R D O H . Z . A R R U D A r e V i s ã o : D E N I S E VA R G A S seCretaria : NEUZA MARIA JORGE CABRAL
FICHA CATALOGRÁFICA
P331f
Paulo, Iramaia Jorge Cabral de.
Fundamentos Epistemológicos de Humberto Maturana e Stephen Toulmin./ Iramaia Jorge Cabral de Paulo; Marco Antônio Moreira. Cuiabá: UAB/UFMT, 2010. I.Epistemologia. 2.Humberto Maturana. 3.Stephen Toulmin. I. Moreira, Marco Antônio. II. Título. CDU 165: 5 ISBN: 978-85-61819-89-7
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO
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2.
A EPISTEMOLOGIA
DE
HUMBERTO MATURANA
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3.
A EPISTEMOLOGIA
DE
S T E P H E N TO U L M I N
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PA L A V R A F I N A L
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� |
IX
1 INTRODUÇÃO NOVAMENTE
JUNTOS , VAMOS REFLETIR. . .
E
pistemologia é o estudo do conhecimento, mas usualmente, refere-se ao conhecimento científico. Trata de compreender como esse conhecimento é construído (ou produzido) e quais as características que o legitimam como científico. Mas afinal o que é Ciência? O que faz a Ciência? Como avança/progride o conhecimento científico? São essas perguntas simples, porém de respostas complexas e subjetivas que alguns estudiosos procuram responder. Dedicam boa parte de seu tempo e energia tentando compreender e explicar nuances do conhecimento que o caracterizam como científico. Mas nós, professores, precisamos de algumas dessas respostas, enquanto profissionais legitimados para o ensino de Ciências? Acreditamos que a resposta é um sonoro sim. Contudo, boas respostas são construídas na medida em que compreendemos e apreendemos significados. É por isso que estamos juntos, para ajudá-los a construir respostas, que os satisfaçam, para que possam compreender significativamente seu objeto de conhecimento: as Ciências Naturais. Dessa compreensão depende a qualidade do conhecimento e do trabalho que será desen volvido junto a seus futuros alunos. Neste texto, apresentamos a vocês, dois importantes epistemólogos da contemporaneidade: Humberto Maturana e Stephen Toulmin, cujas epistemologias certamente ajudarão a encontrar as nossas próprias respostas para as questões acima. R EPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | CONSCIÊNCIA NO SÉCULO XVII. R OBERT F UDD BEWUSSTSEIN
1
Não podemos nos tornar professores apenas indo à faculdade, frequentando os bancos de uma sala de aula. Nos tornamos professores no ser, no fazer, no sentir. Fundamentalmente no fazer. O indivíduo se autoconstrói, se autofaz. O processo de construção é uma tarefa, um labor. Nossas respostas às demandas que a vida nos impõe não devem, na maioria das vezes, ser de mesma natureza daquilo que recebemos, pois há um processo dinâmico entre o ser, o antes, o aqui e agora e o depois, entre o vir a ser. Conscientes de que nossas atitudes podem criar novas realidades, o conhecimento é a chave para nortear nossas ações.
M I N O U L T N P H E E T S
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H UM B
ER TO M A TU R A N A
2 A EPISTEMOLOGIA DE HUMBERTO MATURANA
E
stamos no século XXI, caracterizado pelo enorme fluxo de produção e divulgação do conhecimento. Entretanto, há lugares no planeta onde o subdesenvolvimento humano é tão acentuado, que nos parece que o conhecimento ainda não chegou lá. Estamos falando de regiões onde a miséria humana predomina em seus mais diferentes aspectos: sociais, políticos, econômicos, morais e educacionais. O velho desconforto que o ser humano sente em lidar com diferenças ainda gera intolerância e todos os problemas que dela advêm. O conjunto das ideias e concepções de Humberto Maturana acerca da Biologia do Conhecer, muda definitivamente a nossa maneira de perceber e compreender o conhecimento científico, mas não só, pois também pode lançar luz sobre características do ser humano que são atropeladas pelo racionalismo crítico predominante no século passado por ignorar que o ser humano se constrói a partir de suas interações com o mundo, na linguagem e na emoção. Melhor, o ser humano se constitui do entrelaçamento emoção-razão na linguagem. Logo, relações humanas estabelecidas em bases de exclusão, obediência, preconceito são relações de negação de uma condição primeira, biológica e intrínseca à natureza humana – a amorosidade. Então adoecemos, criamos conflitos, não damos conta de nós mesmos, quiçá dos outros. A finalidade deste texto é a de descrever as ideias centrais da epistemologia de Maturana. Para aprofundamento nessa epistemologia é necessário recorrer à bibliografia indicada ao final, particularmente à obra Cognição, Ciência e Vida Cotidiana (MATURANA, 2001). Contudo, nossa proposta primeira é apresentar um pouco da sua vida e da obra até agora construída. HUMBERTO M ATURANA UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 3
BREVE
BIOGRAFIA DE
HUMBERTO ROMESÍN MATURANA
Nasceu na cidade de Santiago, no Chile, em 14 de setembro de 1928. Começou sua vida acadêmica estudando medicina na Universidade do Chile, em 1954 ingressou na University College of London onde estudou Anatomia e Neurofisiologia, graças ao apoio da Fundação Rockefeller. Em 1958 recebeu o título de doutor (Ph.D.) em Biologia na Universidade de Harvard. Em seguida fez pós-doutorado em neurofisiologia no M.I.T. onde registrou pela primeira vez, junto com o cientista Jerome Lettvin, a atividade de uma célula direcional de um órgão sensor. Por este trabalho, Maturana recebeu uma indicação para o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia. Em 1960 retornou para a Universidade do Chile, onde atua como professor do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências até os dias de hoje. Como biólogo, seu interesse se orienta para a compreensão do ser vivo e do funcionamento do sistema nervoso, e também para a extensão dessa compreensão ao âmbito social humano. Em 1990 recebeu o título Doutor Honoris Causa , pela Universidade Livre de Bruxelas e em 1994 recebeu o Prêmio Nacional de Ciências, no Chile, graças a seus traHUMBERTO M ATURANA - 2006 balhos de investigação no campo da percepção visual dos vertebrados e de suas reflexões sobre a teoria do conhecimento. A Biologia do Amar e do Conhecer subjaz a formação humana na linguagem, base da convivência humana que se fundamenta nas emoções. Fundou, em Santiago, o Instituto de Formação Matríztica, um espaço relacional que favorece a ampliação da compreensão de todos os domínios de existência humana, desenvolvendo estudos sobre a Biologia do Amar e do Conhecer, por meio de cursos, palestras e oficinas de conversações operacionais e reflexivas sobre a Matriz Biológica da Existência Humana.
D C U R IO SI D A
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www.matriztica.org INSTITUTO M ATRÍZTICO - L AS URBINAS87 OF. 16 - PROVIDENCIA - S ANTIAGO - F ONO: 2323588 F AX : 2331168 - E-MAIL: INFO@MATIZTICA .ORG 4 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
Suas principais obras são: De máquinas y seres vivos (1972); El árbol del conocimiento (1984); Emociones y Len guaje en Educación y Política (1990); El Sentido de lo Humano (1991); Desde la Biología a la Psicología (1993); La Realidad ¿Objetiva o Construida? (1996); Biología del Emocionar y Alba Emoting (1996); Objetividad: un argumento para obligar (1997); ransformación en la Convivencia (1999); Autopoiese e cognizione (2001); Cognição, Ciência e Vida Cotidiana (2001).
IDEIAS
C E N T R A I S DA
EPISTEMOLOGIA
DE
HUMBERTO MATURANA
A partir da noção de sistema, no âmbito da Biologia, Maturana se perguntou: Que classe de sistema é um ser vivo? Essa pergunta guiou suas reflexões teóricas e epistemológicas e o levou, juntamente com Francisco Varela, outro chileno com a mesma formação, ao conceito de autopoiese . A IMAGEM QUE PERMEIA O LIVRO “A ÁRVORE DO CONHECIMENTO”, RESSAL TA O CONCEITO DE QUE O CONTEXTO, AS CIRCUNSTÂNCIAS SÃO TÃO IMPOR TANTES QUE OS LIMITES DO INDIVÍDUO NÃO SÃO VISÍVEIS. UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 5
eoria da autopoiese , ou Biologia do Conhecer , é o nome dado ao conjunto das ideias de Maturana. Autopoiese é a explicação do vivo: É uma explicação do que é o viver e, ao mesmo tempo, uma explicação da fenomenologia observada no constante vir–a–ser dos seres vivos no domínio de sua existência. Enquanto uma reflexão sobre o conhecer, sobre o conhecimento, é uma epistemologia. Enquanto uma reflexão sobre nossa experiência com os outros na linguagem, é também uma reflexão sobre as relações humanas em geral, e sobre a linguagem e a cognição em particular (MAGRO e PAREDES, in MAURANA, 2001, p. 13).
Além da Biologia, Maturana interessou-se por filosofia, antropologia, anatomia, genética e cardiologia (estudou medicina durante quatro anos). Quer dizer, preparouse no âmbito biológico de maneira ampla e, como consequência, seu interesse fundamental tem permanecido centrado no humano. Em particular, seus estudos sobre o sistema nervoso e sobre os fenômenos da percepção, o levaram à conclusão de que não é o externo o que determina a experiência; o sistema nervoso funciona com correlações internas (MATURANA, 2001, p.24). Consequentemente, rejeita o “modo tradicional de abordar o ato cognitivo” que, segundo ele, tem sempre a ver com a indicação de algo externo ao sujeito. Ao invés de centrar-se em características materiais dos seres vivos ou de seus componentes, Maturana (e Varela) fixa(m) a atenção em sua organização e estrutura. A organização de alguma coisa é o conjunto de relações que devem existir ou que têm que ser satisfeitas para que essa coisa exista; refere-se às relações que definem a identidade de um sistema. A estrutura refere-se aos componentes, mais as relações entre eles, que constituem um sistema particular. Na organização não há referência a componentes: eles têm que satisfazer as relações da organização. A estrutura tem que satisfazer as relações da organização, mas esta não faz referência aos componentes. A estrutura sim. A organização é necessariamente uma invariante. Pode haver mudanças estruturais sem perda de organização. Qualquer mudança estrutural com perda de organização é uma desintegração. (op. cit., pp. 77-78). Portanto, há mudanças estruturais com conservação ou sem conservação de organização: a conservação ou não conservação é definida pelo critério de validação do observador. No caso dos seres vivos, há, então, uma organização que os define como classe. Maturana e Varela (segundo ROSAS e SEBASTIÁN, 2001, p. 59) propõem que o traço característico dos seres vivos é que, em sentido material, produzem a si mesmos de maneira constante e a isso chamam de organização autopoiética . Para eles, os seres vivos são sistemas autopoiéticos, ou seja, sistemas que continuamente especificam e produzem sua própria organização através da produção de seus próprios componentes, sob condições de contínua perturbação e compensação dessas perturbações (produção de componentes).
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A organização característica dos seres vivos é, então, a autopoiese, mas esta tem como produto a organização do sistema–ser–vivo em questão que produz sua própria organização. Trata-se, portanto, de uma definição recursiva da organização dos seres vivos: não se refere simplesmente da estrutura que explica uma fenomenologia própria, mas sim de uma estrutura que determina uma estrutura que determina uma estrutura que determina uma... que explica uma fenomenologia própria. (op. cit., p. 61). Esta definição situa-se completamente na rede de relações entre relações (entre relações...) que constitui a recursividade. Os sistemas autopoiéticos são autônomos (subordinam todas suas mudanças à conservação de sua própria organização), têm individualidade (mantendo invariante sua organização, conservam sua identidade) e não têm entradas nem saídas (mas podem ser perturbados por fatores externos e experimentar mudanças internas que compensam essas perturbações). (MATURANA e VARELA 1970/1994, apud ROSAS e SEBASTIÁN, 2001, p. 63). A célula é o exemplo paradigmático concreto de unidade autopoiética: seu metabolismo consiste de uma rede de interações que interconecta seus componentes moleculares e produz moléculas que formam parte da própria célula. O dinamismo próprio do processo de autopoiese implica uma permanente renovação dos componentes moleculares, ou seja, uma permanente mudança estrutural. A história das mudanças estruturais de uma unidade autopoiética particular é o que Maturana chama de ontogenia (op. cit., p. 64). Para Maturana, existe uma congruência estrutural mínima entre o ser vivo e o meio, da qual depende a existência do primeiro. Nessa congruência, uma perturbação do meio não contém em si mesma uma especificação de seus efeitos sobre o ser vivo, é este em sua estrutura que determina sua própria mudança frente a tal pertu rbação. Esta propriedade das unidades autopoiéticas chama-se determinismo estrutural (MATURA� NA e VARELA, 1984, apud ROSAS e SEBASTIÁN, 2001, p.65) O ser vivo é, assim, um sistema autopoiético determinado estruturalmente. A estrutura de cada ser vivo especifica quatro domínios (ibid.): •
•
•
•
domínio de mudanças de estado, i. e., mudanças estruturais sem mudar a organização, mantendo, então, a identidade de classe; domínio de mudanças destrutivas, i. e., mudanças desintegradoras, perdendo a organização desaparecendo como unidade de uma certa classe; domínio de interações perturbadoras, ou seja, interações que gerem mudanças de estado; domínio de interações destrutivas, i. e., aquelas que resultem em mudanças destruitivas.
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O ser vivo é, então, um sistema dinâmico (um sistema determinado estruturalmente) e, como tal, sua estrutura está constantemente mudando, o que, por sua vez, implica constante variação nesses domínios estruturais. O acoplamento estrutural entre duas ou mais unidades autopoiéticas de primeira ordem, mantendo a organização autopoiética, resulta em uma unidade autopoiética de segunda ordem e assim por diante. Para Maturana e Varela, um sistema autopoiético que implica a autopoiese das unidades autopoiéticas que o geraram é um sistema autopoiético de ordem superior (apud ROSAS e SEBASTIÁN, 2001, p. 68). Embora o objetivo deste texto seja o de descrever a epistemologia de Maturana, as referências feitas até aqui a aspectos de Biologia do Conhecer (teoria da autopoiese) são necessárias porque Maturana entende que para explicar o fenômeno do conhecer, é necessário explicar aquele ser no qual se materializa esse fenômeno, ou seja, é necessário explicar o conhecedor que nesse caso é o ser humano (op. cit., p. 75). Mas para explicá-lo é necessário definir um ponto de partida e este ponto é a experiência do observador.
AT I V I D A D E
As cenas abaixo, são do filme A Era do Gelo, destacando subsistemas terrestres. Elabore um exercício, relacionado a esta figura, onde o aluno possa expressar suas ideias acerca da teoria da autopoiese, acoplamento estrutural, ser-vivo e desintegração.
Atmosfera
Criosfera
Hidrosfera
Biosfera
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Geosfera
ILUSÃO
E
PERCEPÇÃO
Maturana chama atenção para o fato de que na experiência, a ilusão é indistinguível da percepção. Na vida cotidiana e na vida social, enfim, na experiência humana, não podemos distinguir entre a ilusão e o que chamamos cotidianamente de percepção (op. cit., p.26). Por exemplo, quando “sentimos” que nosso trem está partindo, mas na verdade estamos parados e o trem no trilho ao lado é que está em movimento. Consequentemente, não podemos distinguir, na experiência, entre verdade e erro: o erro é um comentário a posteriori sobre uma experiência que se viveu como válida. Se não foi vivida como válida, era uma mentira (MATURANA, 2001, p. 27).
IMPOSSIBILIDADE
DOS SERES VIVOS EM DISTINGUIR ENTRE VERDADE E
ERRO
Há uma condição inerente à nossa experiência humana: a impossibilidade ou incapacidade de distinguir o sentido das palavras como erro e verdade. Quando eu digo: “eu menti”, o que estou dizendo é: “no momento em que eu disse o que disse, sabia que isto não era válido”. Contudo, quando digo “eu errei”, o que estou dizendo é: “no momento em que disse o que disse, tinha motivos para pensar que o que dizia era válido”, ou melhor, não sabia que o que eu dizia não era válido; mas agora sei, tomando como referência outras experiências distintas daquela sob a qual fazia tal afirmação.
EXPLICAÇÕES
Como já foi dito, para explicar o conhecer, Maturana diz que é necessário explicar o conhecedor que é o ser humano e o caracteriza como um sistema autopoiético, um sistema que funciona com correlações internas produzindo sua própria organização através da produção de seus próprios componentes. Toma, então, como ponto de partida o observador observando, e o observar (ibid). Esse observador é qualquer um de nós. Quer dizer, a tarefa a qual se propõe é a de explicar o observador e o observar. Mas ele chama atenção que o explicar é uma operação distinta da experiência que se quer explicar. Ou seja, uma coisa é a experiência e outra é a explicação da experiência . Maturana dá o seguinte exemplo (op. cit., p. 28): você está dirigindo e, de repente, um carro que parece ter surgido do nada lhe ultrapassa; seu acompanhante se surpreende e você procura justificar um pouco a surpresa dizendo “certamente ele vinha muito rápido, ou estava no ponto cego do retrovisor”. Mas suas palavras são uma explicação da experiência. O fato é que, na experiência, o automóvel surgiu do nada. Dizer que estava no ponto cego ou que vinha muito rápido é uma explicação da experiência.
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O explicar é sempre uma reformulação da experiência que se explica. As explicações são sempre reformulações da experiência, mas nem toda reformulação da experiência é uma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita por um observador (op. cit., p. 29). O explicar e a explicação têm a ver com aquele que aceita a explicação. As explicações são reformulações da experiência aceitas por um observador (ibid.). No caso do ponto cego do retrovisor essa não seria uma explicação para o aparecimento súbito do carro se não fosse aceita pelo acompanhante. Por outro lado, a explicação se dá na linguagem. O discurso que explica algo dá-se na linguagem. Para Maturana, os seres humanos existem na linguagem. É esta nossa condição inicial (op. cit., p. 28): somos observadores no observar, no suceder do viver cotidiano na linguagem, na experiência na linguagem. Experiências que não estão na linguagem, não são. Não há modo de fazer referência a elas, nem sequer fazer referência ao fato de tê-las tido. O explicar se dá, então, na linguagem mas sua validade não depende do explicador mas sim de quem aceita a explicação. Assim, há tantos explicares diferentes quantos modos de aceitar reformulações da experiência (op.cit., p. 30). Há tantos explicares, tantos modos de explicar, como modos de aceitar as explicações que são reformulações da experiência. E isso é absolutamente cotidiano (ibid.). Segundo Maturana, a ciência, por exemplo, se define por um modo particular de explicar. Para ele, a ciência não tem a ver com a predição, com o futuro, com fazer coisas, mas sim com o explicar. Os cientistas são pessoas que têm prazer em explicar. O que define o cientista, em sua ação como cientista, é o modo de explicar e o critério de aceitação de explicações que usa (ibid.). Assim sendo, não tem sentido separar a ciência da vida cotidiana. Para Maturana, a ciência é uma glorificação da vida cotidiana, na qual os cientistas são pessoas que têm a paixão de explicar e que estão, cuidadosamente, sendo impecáveis em explicar somente de uma maneira, usando um só critério de validação de suas explicações... (op. cit., p. 31). D OI S
MODOS DE ACEITAR EXPLICAÇÕES ( REFORMULAÇÕES DA EXPERIÊNCIA)
Para Maturana, há dois modos fundamentais de aceitar reformulações da experiência (op. cit., pp. 32 e 33): No primeiro deles, o observador comporta-se como possuidor de certas habilidades cognitivas como se elas fossem constitutivas dele. Assume-se o observador e o observar como condições iniciais constitutivas. Consequentemente, a pessoa opera como se os elementos que usa no observar, no explicar, no escutar, existissem independentes dela mesma. Seres, objetos, ideias, diferentes modos de aceitar, existem independentemente do que a pessoa faz como observador. A existência é independente do observador . Este caminho explicativo é o que Maturana (p.32) chama de caminho da objetividade. Objetividade a seco, ou objetividade sem parênteses , como diz ele. Nesse 10 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
caminho, assume-se, explícita ou implicitamente, que é possível distinguir entre ilusão e percepção porque se admite referência a algo independente do observador. Percebese, vê-se, detecta-se com instrumentos; a razão permite dizer que isto é assim independentemente do observador. No segundo caminho, aceita-se a pergunta pelo observador, assume-se a biologia do conhecer e, nesse caso, tal independência não existe. Assume-se o fato de que o observador não pode distinguir entre ilusão e percepção. O fenômeno do conhecer tem que ser explicado sem a suposição de que é possível distinguir entre ilusão e percepção. O que está disponível para explicar o conhecer é o que o observador faz no observar, i. e., o que ele faz como observador. A existência depende, então, do observador e a isso Maturana (p.34) chama de objetividade entre parênteses . Como ser humano, como ser vivo, o observador não pode distinguir entre ilusão e percepção, logo, qualquer afirmação cognitiva sua é válida no contexto das coerências que a constituem como válida.
REALIDADE
No caminho explicativo da objetividade sem parênteses, há uma realidade independente do observador, à qual ele tem um acesso privilegiado que lhe serve para elaborar sua explicação e configurar afirmações cognitivas como petições de obediência (p. 36), ou seja “é assim”, “é independente de mim “ ou “de ti”, portanto, deve ser aceita. Porém, no outro caminho, o da objetividade entre parênteses, uma afirmação cognitiva é válida apenas no contexto das coerências que a constituem como válida. O observador não pode pretender um acesso privilegiado no explicar, pois, como ser humano, como ser vivo, não pode distinguir entre ilusão e percepção. (ibid.) Nesse caminho há muitas realidades. A realidade no caminho da objetividade entre parênteses é uma proposição explicativa. Ou seja, é sempre um argumento explicativo. Então, há tantas realidades – todas diferentes, mas igualmente legítimas – quantos domínios de coerências operacionais explicativas, quantos modos de reformular a experiência,quantos domínios cognitivos pudermos trazer à mão (p.38). Se há discordância entre o explicador e outra pessoa é porque essa outra pessoa está em um domínio de realidade diferente daquele do observador, porém igualmente legítimo. Isso significa que as distintas realidades que aparecem nesse caminho não são visões distintas da mesma realidade. Não! Há diferentes realidades, todas legítimas, o que para Maturana (p. 37), não é o mesmo que dizer que a realidade não existe. No caminho explicativo da objetividade sem parênteses o explicador não é responsável pela validade do que diz porque a realidade é independente dele. Portanto, a negação do outro é responsabilidade desse outro. O outro nega-se a si mesmo (p.38). Porém, no caminho explicativo da objetividade entre parênteses o outro pode estar em um domínio de realidade diferente daquele do explicador que é igualmente válido,
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ainda que não lhe agrade. O outro pode, então, ser negado não porque esteja equivocado mas porque está em um domínio de realidade que não agrada ao primeiro. Pode também haver aceitação e respeito ao domínio de realidade do outro. Respeito, não tolerância, porque esta implica negação do outro, enquanto o primeiro implica em se fazer responsável pelas emoções frente ao outro, sem negá-lo (p.39). EMOÇÕES
Emoções são disposições corporais dinâmicas que especificam os domínios de ações nos quais os animais, em geral, e os seres humanos, em particular, operam em um dado instante. (p.129). Maturana chama de ações tudo o que fazemos em qualquer domínio operacional que geramos em nosso discurso, por mais abstrato que ele possa parecer. Assim, pensar é agir no domínio do pensar, refletir é agir no domínio do refletir, falar é agir no domínio do falar, e assim por diante, e explicar cientificamente é agir no domínio do explicar científico (p. 128). Na vida cotidiana, nos movemos de um caminho explicativo para outro em uma dinâmica de emoções. Muitas vezes aceitamos e respeitamos o outro (estamos no caminho explicativo da objetividade entre parênteses), mas frequentemente queremos que o outro faça o que queremos, ou que aceite o que explicamos e, então, recorremos à razão, nos colocando no caminho da objetividade sem parênteses. Argumentamos que o outro tem que fazer o que queremos ou estar de acordo com o que dizemos porque é “racional e objetivo” (p. 39). Os cientistas, por outro lado, afirmam que suas emoções não participam na geração das explicações científicas, porque o critério de validação dessas explicações especifica de uma forma independente de seu emocionar quais as operações que devem efetuar como observadores-padrão para gerar tais explicações, e porque aprenderam a ser cuidadosos para não deixar suas preferências e desejos distorcerem-se e, com isso, invalidarem sua aplicação do critério de validação das explicações científicas. (p.145). Afirmam também que aprendem a reconhecer que quando isso acontece cometem um erro grave. Mas para Maturana, as emoções especificam a todo momento o domínio de ações no qual os cientistas operam ao gerarem suas perguntas. Quer dizer, as emoções não entram na validação das explicações científicas, mas o que é explicado surge através do seu emocionar explicando o que querem explicar, e o explicam cientificamente porque gostam de explicar dessa maneira (p. 147). Então, a ciência, como um domínio cognitivo, existe e se desenvolve como tal sempre expressando os interesses, desejos, ambições, aspirações e fantasias dos cientistas, apesar de suas alegações de objetividade e independência emocional (ibid.). Os cientistas, portanto, praticam a ciência como uma maneira de viver sob uma das numerosas emoções que constituem o ser humano em seu viver como ser humano emocional normal, ou seja, sob a paixão, emoção, desejo do explicar (p.150). 12 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
A objetividade e a universalidade da ciência são, para Maturana, afirmações morais. A afirmação de objetividade na prática da ciência é uma afirmação moral, porque significa o comprometimento do observador-padrão em não deixar seus desejos ou preferências distorcerem ou interferirem na sua aplicação do critério de validação das explicações científicas. Analogamente, a alegação de universalidade da ciência é uma alegação moral porque uma vez que a ciência, como domínio cognitivo, acontece na práxis de viver do observador-padrão como ser humano, todo ser humano pode, em princípio, operar como observador-padrão, isto é, aplicar, objetivamente, o critério de validação das explicações científicas, se assim o desejar. (p. 148). Ou seja, a universalidade da ciência não está em sua referência a um universo, mas está na configuração de uma comunidade humana que aceita o critério explicativo da ciência (p. 60). HUMBERTO M ATURANA
OBSERVADOR OBSERVANDO
ACONTECIMENTOS DA VIDA
PRÁXIS
EXPERIÊNCIA
DA VIDA
LINGUAGEM
EXPLICAÇÃO OBJETIVIDADE
(OBJETIVIDADE) EMOÇÃO
UMA REALIDADE UNIVERSO
MUITAS REALIDADES M ULTIVERSO REFORMULAÇÃO
UM MAPA CONCEITUAL ACERCA DO EXPLICAR NA PERSPECTIVA DE M ATURANA UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 13
CIÊNCIA
O cientista faz ciência como observador, explicando o que observa. Como observador é ser humano e este já encontra na situação de observador observando qua ndo começa a observar seu observar na sua tentativa de descrever e explicar o que quer explicar. Quer dizer, ele já se encontra na linguagem, fazendo distinções na linguagem quando começa a refletir na linguagem sobre o que faz para explicar o que quer explicar. Isso é cotidiano. O cientista já está na experiência de observar quando começa a observar o que quer observar para explicar o que quer explicar. Mas, se o cientista faz o que faz o observador cotidiano que vive no observar, o que caracteriza a ciência como domínio cognitivo e o cientista como cientista operando na paixão do explicar aquilo que deseja explicar? É a aceitabilidade de um critério particular de validação das explicações (científicas). As explicações científicas não se referem à verdade, mas configuram um domínio de verdade. A ciência é um domínio cognitivo válido para todos aqueles que aceitam o critério de validação das explicações científicas (p.57). Para Maturana, a ciência é, então, uma atividade humana, cotidiana. O que a define como um domínio explicativo particular é o critério de validação de explicações que os cientistas usam, e o que define o cientista como um tipo particular de pessoa sob a paixão do explicar é o uso do critério de validação de explicações que constitui a ciência como um domínio explicativo (p.134). O
C R I T É R I O D E V A L I D A Ç Ã O DA S E X P L I C A Ç Õ E S C I E N T Í F I C A S
São quatro as condições que devem satisfazer as explicações de um fenômeno (reformulações da experiência) para serem consideradas científicas, na perspectiva de Maturana (pp. 56, 57, 134, 135, 138, 139, 140): Ter o fenômeno a explicar , o qual é sempre apresentado como uma receita do que um observador deve fazer para ter a experiência que vai tratar como fenômeno a explicar. Fazer tal e tal coisa, ver isso e aquilo, medir assim e assim, controlar de tal maneira,... Ou seja, a primeira condição é a apresentação da experiência (o fenômeno) a ser explicada em termos daquilo que o observadorpadrão deve fazer em seu domínio de experiências para experienciá-la. Assim, é o que o observador tem como experiência que constitui o que se quer e xplicar, não o fenômeno. Aqueles que não podem satisfazer as condições que geram a experiência não têm lugar no espaço de atividades do cientista. 2. Ter a hipótese explicativa , que é sempre a proposição de um mecanismo que, posto a funcionar, gera o fenômeno a explicar como resultado deste funcionamento na experiência do observador. Em outras palavras, a reformulação da experiência (o fenômeno) a ser explicada, dada sob a forma de um mecanis1.
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mo gerativo que, se realizado por um observador padrão lhe permite ter em seu domínio de experiências, a experiência a ser explicada, tal como apresentada na primeira condição. 3. Satisfazer a dedução, a partir da operação do mecanismo gerativo proposto na segunda condição, assim, como de todas as coerências operacionais do âmbito de experiências do observador-padrão a ele vinculado, de outras experiências que um observador-padrão deveria ter através da aplicação daquelas coerências operacionais e das operações que deve realizar em seu domínio de experiências para tê-las. 4. A realização dessas experiências, ou seja, a experiência, por um obser vador padrão, das experiências (fenômenos) deduzidas na terceira condição através da realização, em seu domínio de experiências, das operações também deduzidas nessa condição. É apenas quando essas quatro condições são conjuntamente satisfeitas que uma explicação pode ser considerada científica. Isto é, quando isso acontece, o mecanismo gerativo proposto na segunda condição passa a ser uma explicação científica. Maturana chama à atenção que esse critério de validação das explicações científicas não requer à suposição de uma realidade independente – em nenhuma das condições se faz essa suposição. Ela pode ser feita, mas é supérflua para uma e xplicação ser científica. Os cientistas, segundo ele, procuram ser impecáveis em satisfazer essas quatro condições de uma maneira coerente, sem saltos de um domínio para outro, porque no momento em que isso acontecer e a dedução não for feita a partir das coerências operacionais, ela não serve (p. 57). Uma explicação é válida na comunidade de cientistas, enquanto observadorespadrão, se aceitam que o critério de validação das explicações científicas foi satisfeito (p. 136). Na vida cotidiana, o ser humano também explica, através de reformulações da experiência, e a maneira pela qual nós seres humanos validamos nossas ações na vida cotidiana, dentro de qualquer domínio operacional, envolve as mesmas coerências operacionais envolvidas no critério de validação das explicações científicas (p. 139). A diferença entre nossa operação na vida cotidiana como cientistas e como não –cientistas, depende de nossas diferentes emoções, de nossos diferentes desejos de consistência e impecabilidade em nossas ações e de nossos diferentes desejos de reflexão sobre o que fazemos (ibid.). Como cientistas estamos sob a paixão do explicar, e toda dúvida, toda pergunta, é sempre bem-vinda para nossa realização enquanto tal. Como não–cientistas, não somos cuidadosos, usamos sucessivamente muitos critérios diferentes de validação de nossas explicações, mudamos frequentemente de domínios fenomênicos em nosso discurso (p. 140).
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O que torna científica uma explicação ou uma teoria é o fato de ela ser validada pelo critério de validação das explicações científicas, não a quantificação ou a possibilidade de algumas predições (p. 142), ou a falseabilidade e verificabilidade: As noções de falseabilidade, verificabilidade ou confirmação, aplicarse-iam à validação do conhecimento científico apenas se este fosse um domínio cognitivo que revelasse, direta ou indiretamente, por denotação ou conotação, uma realidade transcendente independente do que o observador faz, e se a segunda condição do critério de validação das explicações científicas fosse um modelo dessa realidade transcendente, em vez de um mecanismo gerativo que faz surgir a experiência a ser explicada tal como é apresentada na primeira condição (p. 143).
Para Maturana, uma teoria é um sistema explicativo que correlaciona muitos fenômenos (experiência) de outra forma aparentemente não correlacionados. É um sistema proposto como um domínio de explicações coerentes, junto com alguns conceitos que definem a natureza de sua conectividade interna e a extensão de sua aplicabilidade gerativa (p. 163). Para ele, o objetivo de uma teoria científica é explicar, e não resguardar ou proteger qualquer princípio ou valor, ou obter qualquer resultado desejado (p. 166). Devido ao seu modo de constituição, as teorias científicas surgem intrinsecamente em um domínio aberto de reflexões sobre tudo, incluindo seus fundamentos, e são, operacionalmente, livres de qualquer dogmatismo (p. 167). (Teorias filosóficas, por outro lado, estariam comprometidas com a manutenção de princípios explicativos. Elas surgem no processo de gerar um sistema logicamente consistente e diretamente subordinado à conservação de algumas noções explicativas básicas, sob a forma de princípios ou valores; ibid.) A prática científica é, em princípio, libertadora. Finalmente, há que registrar que para Maturana, as noções de progresso, de responsabilidade social e ética não se aplicam à ciência como domínio cognitivo. Tais noções aplicam-se às ações humanas, não à ciência. A noção de progresso tem a ver com o que nós, seres humanos, consideramos melhor ou desejamos que aconteça na vida humana. A noção de responsabilidade social tem a ver com nossa consciência de querermos ou não as consequências de nossas ações. E a noção de ética tem a ver com nosso interesse pelas consequências de nossas ações na v ida de outros seres humanos (pp. 149-150). O conhecimento científico pode ser usado para qualquer propósito que possamos querer e aí entram, no fluir de nosso linguajar e emocionar, as noções de progresso, responsabilidade e ética.
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AS
EXPLICAÇÕES CIENTÍFICAS
“(...) vivemos uma cultura que valoriza a ciência e a tecnologia. Sou cientista e valorizo a ciência, mas quero dizer algo sobre a ciência para compreendermos o que valorizamos, e para que sejamos responsáveis aceitando ou não essa valoração. Comumente falamos de ciência e tecnologia como domínios de ex plicações e ações que fazem referência a uma realidade útil, permitindo predizer e controlar a natureza. Nos anos de 1987 e 1988, quando tivemos enchentes em Santiago, escutava o Ministro de Obras Públicas dizer que tudo estava sobre controle, ainda que o Rio Mapocho continuasse transbordando. Por que não dizia, simplesmente, “Estamos atuando em todos os pontos onde podemos atuar? Falamos de controle enquanto a vida cotidiana nos mostra que não controlamos nada. Guiados pela ideia de controle, somos cegos à nossa circunstância, porque nela buscamos a dominação que exclui o outro e o nega. Além disso, em nossa cultura ocidental, estamos imersos na idéia de que temos que controlar a natureza, porque cremos que o conhecimento permite o controle. Se o conhecimento leva a alguma parte, é ao entendimento, à compreensão, e isto leva a uma ação harmônica e ajustada com os outros e o meio. O que faz a ciência, então, se de fato não nos permite controle? A ciência – e a validade das explicações científicas – não se constitui nem se funda na referência a uma realidade independente que se possa controlar, mas na construção de um mundo de ações comensurável com o nosso viver”.
(MATURANA, H., Emoções e Linguagem na Educação e na Política , EdUFMG, Belo Horizonte, 1998)
F I N A L M E N T E . ..
Tentamos descrever as ideias centrais da epistemologia de Maturana. Para isso, tivemos que começar com a teoria da autopoiese, que é a explicação do ser vivo, pois o observador-padrão é um sistema vivo estruturalmente determinado e, enquanto tal, não tem como fazer, operacionalmente, uma distinção que se possa, de a lguma forma, afirmar ser a distinção de algo independente de seu fazer. Esse observador-padrão não pode distinguir, na experiência, entre ilusão e percepção. Mas pode gerar explicações da experiência que são reformulações da experiência. Toda explicação é uma reformulação da experiência aceita por outro, segundo algum critério de validação. As explicações científicas são reformulações da experiência aceitas pela comunidade científica com base em um critério claro de validação estabelecido por ela mesma. Cotidianamente também explicamos, mas nossos critérios de validação não são rigorosos, consensuados, únicos.
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Já vimos, em sua biografia introdutória, que Maturana é, ou foi, cientista na área da Biologia; fez seu doutorado em Biologia em Harvard e trabalhou no M.I.T., duas instituições mundialmente reconhecidas na pesquisa científica. Mas sua epistemologia é diferente da de outros cientistas, porque seu ponto de partida é o observador-padrão enquanto ser vivo. Quer dizer, o ponto de partida é distinto e dele decorre, inevitavelmente, uma epistemologia distinta. Se conseguimos descrevê-la, neste trabalho, sem grandes distorções, ou omissões, não se sabe , mas, como diria Maturana, foi feito na emoção, na paixão, de descrever. A seguir, apresentamos um diagrama conceitual 1, enfocando o progresso do conhecimento científico, para ajudá-lo (a) a refletir, compreender e relacionar as principais ideias ou construtos da epistemologia de Humberto Maturana. P�������� �� C����������� C���������
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N�� E����� ��� � ���������� 1 Diagramas conceituais e mapas conceituais são esquemas representacionais com sutís diferenças: nos mapas conceituais, conceitos aparecem em destaque nas células (ou formas), interligados por verbos conectores, já os diagramas conceituais, não trazem apenas conceitos em destaque, mas podem incluir pequenas proposições explicativas, entretanto a hierarquização de conceitos e idéias é uma característica de ambos. 18 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
AT I V I D A D E S
E��������� ��� H������� M������� http://www.humanitates.ucb.br/2/entrevista.htm Elabore um texto para o nível médio, onde se evidencie os seguintes conceitos: ser humano, mudanças culturais, desenvolvimento humano. Ainda sobre a entrevista: Como deveria ser, segundo o autor, a abordagem de um professor de ciências na educação infantil?
é incorporada nas
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UM DIAGRAMA CONCEITUAL PARA A EPISTEMOLOGIA DE M ATURANA
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N A WEB Texto: Concepções de Humberto Maturana sobre ciência e filosofia – Contribuições à formação de professores. http://www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/016e4.pdf No site abaixo, você pode baixar livremente algumas obras de Humberto Maturana, qual será sua primeira leitura? http://escoladeredes.ning.com/group/bibliotecahumbertomaturana
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3 A EPISTEMOLOGIA DE S T E P H E N TO U L M I N
E
“Eu celebro a vida de um homem que viveu a vida da mente em sua plenitude” Michael Ruse sobre Stephen oulmin, Philosopher, 1922-2009
ste texto tem como objetivo descrever resumidamente a epistemologia de Stephen Toulmin, tomando como referência, exclusivamente, sua obra “La comprensión humana – Volume 1: El uso colectivo y la evolución de los conceptos” (1977). Apesar de ser apenas uma obra, nela estão contidas todas as concepções epistemológicas toulminianas com implicações para o ensino de ciências e para a investigação nesse campo. Ainda assim, é uma obra muito extensa e densa, quase impossível de ser resumida em um texto de algumas páginas. Isso significa que neste texto seguramente existem omissões. Sem dúvida, para aprofundar-se na epistemologia de Toulmin é indispensável estudar sua obra original. UMA BREVE BIOGRAFIA Stephen Edelston Toulmin nasceu em 1922, em Londres. Graduado em Matemática e Física pelo King’s College. Serviu como oficial para o ministério inglês de produção aeronáutica, durante a Segunda Guerra Mundial, e em seguida, terminou seu doutorado em Filosofia na Universidade de Cambridge, em 1948. Em 1949, iniciou sua carreira em instituições acadêmicas, incluindo a Universidade de Oxford, a Uni versidade de Melbourne (Austrália), a Universidade de Leeds, a Universidade de Nova York, a Universidade de Columbia, a Universidade de Stanford, a Universidade Hebraica (Jerusalém), a Universidade de Londres, a Universidade de Brandeis, a Universidade da Califórnia e a Universidade do Sudeste da Califórnia, tendo lecionado Filosofia da Ciência. Em 1973 foi nomeado “Professor” em pensamento social e filosófico dentro do Comitê de Pensamento Social na Universidade de Chicago. Sua obra literária é vasta, mas para dar uma ideia citamos aqui mais alguns títulos, em geral publicados em inglês: Te Place of Reason in Ethics (1950); Te Uses of Argument (1958); Philosophy of Science (1953); Return to Reason (2001);Te Architecture of Matter(1962); Te Discovery of ime (1966); Cosmopolis: Te Hidden Agenda of Modernity (1990). Faleceu em 4 de dezembro de 2009 em Los Angeles, no hospital universitário USC University.
S TEPHEN TOULMIN UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 21
A LGUNS TÍTULOS DA OBRA LITERÁRIA DE TOULMIN.
ESTRUTURA
DO TEXTO
As ideias de Toulmin serão apresentadas, quase sempre com suas próprias pala vras, seguindo uma ordem que parece ser hierárquica em sua epistemologia, ou seja, conceitos (como instrumentos através dos quais se obtém e se expressa a compreensão humana), mudança conceitual (como evolução de populações conceituais), ciência (como empresa racional), disciplinas (como entidades históricas em evolução) e racionalidade (como distinta da logicidade). Ao final, essas ideias serão tentativamente integradas em um diagrama que terá o papel de conclusão. CONCEITOS
Para Toulmin, a chave da compreensão humana está nos conceitos. Segundo ele, em particular, para enfocar o elemento fundamental da compreensão humana devemos perguntar-nos (p.27): Quais são as habilidades ou tradições, as atividades, os procedimentos e os instrumentos da vida intelectual e da imaginação do homem – em uma palavra, os conceitos – através dos quais se obtém e se expressa tal compreensão humana? Esta questão pode ser enunciada em três partes (ibid): Suponha-se que consideremos, primeiro, nossas ideias correntes sobre a evolução histórica do conhecimento e compreensão humanas – quer dizer o desen volvimento dos conceitos – e, em segundo lugar, aquelas sobre o desenvolvimento de tal compreensão ao longo da vida dos indivíduos – isto é, a captação dos conceitos – que podemos aprender então acerca do valor dos conceitos, quer dizer, sobre os fundamentos em que repousa sua autoridade intelectual e os padrões pelos 22 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
quais deve ser julgada? Com respeito à primeira parte (desenvolvimento dos conceitos ), Toulmin considera os conceitos como integrando os agregados, sistemas ou populações conceituais que empregam coletivamente as “comunidades de usuários” dos conceitos. No que se refere à segunda parte (captação dos conceitos ), ele considera as habilidades e capacidades mediante as quais um indivíduo realiza sua captação pessoal dos conceitos, assim como os processos pelos quais se adquirem, se exercem e se perdem tais capacidades conceituais. Na terceira parte (valor dos conceitos ), sua argumentação volta-se para os temas subjacentes ao juízo e avaliação, e pergunta-se explicitamente que explicação geral da autoridade intelectual ou crítica racional é compatível com nossa imagem atual dos conceitos e da compreensão, coletiva e individual. Somente podemos compreender claramente a autoridade intelectual de nossos conceitos, se levarmos em conta os processos sócio-históricos pelos quais se desenvol vem dentro da vida de uma cultura ou de uma comunidade; porém, uma análise mais minuciosa de tal autoridade intelectual nos brinda os meios para elaborarmos ideias mais exatas desses mesmos processos (p. 41). Cada um de nós pensa por seus próprios pensamentos; porém os conceitos os compartilhamos com nossos semelhantes. De fato, do que cremos somos responsáveis como indivíduos, porém a linguagem em que se articulam nossas crenças é propriedade pública. Para compreender o que são os conceitos e que papel desempenham em nossa vida devemos considerar a relação central entre nossos pensamentos e crenças que são pessoais ou individuais, e nossa herança linguística e conceitual que é coletiva (p.49). Os conceitos que emprega um homem, os padrões de juízo racional que reconhece, como organiza sua vida e interpreta sua experiência, todas essas coisas dependem, ao que parece, não das características de uma “natureza humana” uni versal ou da evidência intuitiva de suas ideias básicas somente, senão também do momento em que nasceu e do lugar em que viveu (p.63). A crença de que o conhecimento humano deve ser governado por princípios fixos pode conservar certo atrativo como sonho filosófico, porém quando se trata de compreender e avaliar a base atual de nossas pretensões de conhecimentos, essa crença já não é de nenhuma valia. Com as palavras de Kierkegaard, os conceitos, como os indivíduos, têm sua história, e são tão incapazes como estes de resistir aos estragos do tempo (p. 65). Os conceitos científicos não formam sistemas axiomáticos, senão sistemas de “pressuposições”, e as relações lógicas entre pressuposições de diferentes níveis de generalidade não são relações de verdade, senão relações de significado (p. 81). Em ciências há certos conceitos fundamentais que são, por assim dizer, constitutivos das ciências dentro das quais são usados. Sem os conceitos de “raio de luz” e de “inércia”, por exemplo, a óptica e a dinâmica desapareceriam (p. 84). R ETRATO DE K IERKEGAARD EM 1840 F ONTE: W IKIPÉDIA UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 23
A análise do desenvolvimento conceitual na óptica de Toulmin centra-se nas relações “ecológicas” entre os conceitos coletivos dos homens e as situações cambiantes em que esses conceitos têm sido postos em prática (p. 106). Para fazer justiça à complexidade dos conceitos científicos, devemos distinguir três aspectos ou elementos no uso desses conceitos: 1. a linguagem; 2. as técnicas de representação; 3. os procedimentos de aplicação da ciência. Os dois primeiros elementos compreendem os aspectos “simbólicos” da explicação científica – isto é, a atividade científica que chamamos de “explicar” -, enquanto o terceiro compreende o reconhecimento de situações às quais são apropriadas essas ati vidades simbólicas. O elemento “linguístico” inclui os substantivos, os termos técnicos ou nomes de conceitos – e também as orações, sejam leis naturais ou generalizações diretas. A “técnica de representação”... não só compreende o uso de formalismos matemáticos, mas também a confecção de gráficos e diagramas, o estabelecimento de “árvores” taxonômicas e classificações, a elaboração de programas para computadores, etc... Sem dúvida, tais elementos simbólicos somente são um uso genuinamente explicativo na ciência quando se dispõe de procedimentos adequados de aplicação para identificar as ocasiões empíricas e os modos de sua aplicação (pp. 170-171). Em suma, todo o conceito científico tem três aspectos distintos (linguagem, representação e aplicação). As novidades conceituais propostas para fazer frente a problemas científicos, podem implicar mudanças em qualquer um desses aspectos ou em todos eles (p. 190). Uma vez que o propósito dos conceitos não é serem verdadeiros ou falsos, senão pertinentes e aplicáveis, correspondentemente, o propósito das inovações conceituais é serem “pertinentes” de modo mais exato, mais preciso e com maior detalhe, e “aplicáveis” com maior generalidade, mais extensamente ou mais incondicionalmente (p. 232). A compreensão coletiva se dá mediante êxitos intelectuais dos indivíduos; a compreensão do indivídual aplica conceitos tomados de um acervo comum ou modifica-os de maneira que representam melhoras potenciais desse acervo. Assim, o autorretrato epistêmico que devemos construir nessas indagações deve trazer antes de tudo dois pontos de vista distintos, em duas dimensões separadas – uma individual, outra coletiva (p. 52). As inovações conceituais de um físico individual, por exemplo, são julgadas em relação às ideias comuns que compartilha com seus colegas; e pensa criativamente quando dá sua contribuição para o aperfeiçoamento dessa física comum (p. 51). Adquirimos nosso domínio da linguagem e o pensamento conceitual no curso da educação e do desenvolvimento; e os conjuntos particulares de conceitos que aprendemos refletem formas de vida e de pensamento, compreensão e expressão, correntes em nossa sociedade... (contudo), nossa herança conceitual é recriada a cada nova geração mediante todos os processos de “enculturamento”, seja por imitação ou interação, seja 24 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
por instrução ou educação formal (p.53). Os conceitos são microinstituições enquanto as instituições são macroconceitos. Igualmente aos conceitos, as instituições encontram expressão condutual em constelações cambiantes de “procedimentos operativos padrões” (p. 355). MUDANÇA CONCEITUAL
Uma teoria adequada para a mudança conceitual deve responder à questão que nos legou Collingwood, ou seja, “Em que ocasiões e por quais processos e procedimentos um conjunto de conceitos coletivos – na ciência ou em outros campos – chega a deslocar outro?” (p. 131). O que necessitamos é uma explicação do desenvolvimento conceitual que possa dar conta das mudanças de certa profundidade, porém que explique a mudança gradual e a mudança drástica como resultados alternativos dos mesmos fatores que operam de diferentes maneiras. Em lugar de uma explicação revolucionária da mudança intelectual que se proponha a mostrar como “sistemas conceituais” inteiros sucedem uns aos outros, necessitamos construir uma explicação evolutiva que mostre como se transformam progressivamente as “populações conceituais” (p. 131). PO P U L A Ç Õ E S CO N C E I T U A I S
O enfoque toulminiano, mais histórico do que lógico, supõe que as disciplinas científicas contêm populações informais de conceitos logicamente independentes (p. 235). Como os membros de qualquer “população”, os conceitos conservam seus lugares na ciência somente reafirmando continuamente seu valor; e a fronteira entre conceitos vizinhos é um equilíbrio dinâmico, que pode ser alterado por qualquer mudança na balança do poder explicativo (p. 185). Em vez de especular sobre uma direção universal e irreversível do desenvolvimento conceitual, Toulmin argumenta que o processo de “variação e perpetuação seletiva” ajuda a explicar as transformações das populações conceituais e, deste modo, reformular questões sobre a racionalidade da mudança conceitual (p. 340). ... a adequação explicativa de nossos conceitos não se põe em dúvida nos problemas puramente empíricos nem nos puramente formais. Os problemas empíricos simplesmente nos incitam a estender a aplicação desses conceitos a novos casos; os problemas formais somente nos estimulam a reorganizar nosso simbolismo; porém ambos os tipos de problemas deixam basicamente imutáveis nossos procedimentos explicativos correntes. As questões conceituais, assim, contrastam em um aspecto decisivo em relação às questões de outros tipos (p. 195). A forma geral da pergunta que surge com respeito aos problemas conceituais é “é possível elaborar procedimentos alternativos para aplicar esses conceitos, com modificações adequadas, aos casos recalcitrantes?” (p. 195). A mudança conceitual em uma ciência pode ocorrer, efetivamente, somente se as inovações transitórias não morrem automaticamente com seus criadores... uma condição para a disponibilidade de genuínas mudanças conceituais é, portanto, a existência de adequados “foros” profissionais de discussão (p. 216). UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 25
Igualmente à evolução das espécies orgânicas, a mudança conceitual apresenta notáveis diferenças de ritmo: em algumas épocas, mudanças importantes seguem a outras rapidamente; em outras, podem passar séculos sem que se produzam desenvolvimentos significativos (p. 308). Em vez de especular a respeito de um caminho universal e irreversível do desenvolvimento conceitual, Toulmin trata meramente de mostrar como o processo de “variação e perpetuação seletiva” ajuda a explicar as transformações das populações conceituais e, dessa forma, a reformular, de maneira mais tratável, questões sobre a racionalidade da mudança conceitual (p. 340). A rapidez relativa da mudança conceitual nas disciplinas científicas, depende da existência de “foros de competição profissional” especializados e protegidos, e estes não têm nenhuma contrapartida óbvia no caso de nosso esquema conceitual cotidiano, de modo que existem boas razões prévias para esperar que os conceitos não especializados da vida cotidiana mudem muito mais lentamente do que os conceitos especializados das ciências da natureza profissionalizadas (p. 417). No caso da ciência, há que se reconhecer que os conceitos de uma disciplina científica estão relacionados mais fracamente do que tem sido suposto pelos filósofos. Em lugar de introduzi-los todos juntos e ao mesmo tempo, como um único sistema lógico, com um único fim científico, os diferentes conceitos e teorias são introduzidos em uma ciência independentemente, em momentos diferentes e com propósitos distintos. Se sobrevivem hoje, talvez seja porque ainda servem a suas funções intelectuais originais ou porque têm adquirido desde então outras funções distintas; e somos livres para substituir, modificar ou complementar esses conceitos independentemente, no futuro, segundo o exijam as legítimas circunstâncias científicas. Isto significa reconhecer que uma ciência compreende uma “população histórica” de conceitos e teorias logicamente independentes, cada um dos quais têm sua história, sua estrutura e suas implicações próprias (p. 139). DISCIPLINAS
Dentro de uma cultura e de uma época particular, as atividades intelectuais dos homens não formam uma gama contínua desordenada. Ao contrário, caem em “d isciplinas” mais ou menos bem definidas, caracterizadas cada uma delas por seu próprio corpo de conceitos, métodos e objetivos fundamentais... embora mutável, cada disciplina normalmente exibe uma continuidade reconhecível... por conseguinte, uma explicação evolutiva do desenvolvimento conceitual tem que explicar duas características diferentes: por um lado, a coerência e continuidade pela qual identificamos as d isciplinas como distintas e, por outro, as profundas mudanças a longo prazo pelas quais se transformam ou são superadas (p. 149). Em toda a disciplina viva sempre há novidades intelectuais que entram em discussão no conjunto corrente de ideias e técnicas, porém somente algumas poucas dessas novidades conquistam um lugar firme na disciplina e são transmitidas às gerações 26 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
seguintes. A contínua emergência de inovações intelectuais se equilibra, dessa forma, com o contínuo processo de seleção crítica. Algumas variantes conceituais são eleitas para sua incorporação e outras são descartadas ou ignoradas; porém, em circunstâncias adequadas, este mesmo processo pode explicar a contínua estabilidade de uma disciplina bem definida ou sua rápida transformação em algo novo e diferente... devem existir “foros de competência” adequados dentro dos quais as novidades intelectuais podem sobreviver durante um tempo suficiente para mostrar seus méritos ou defeitos, e onde também são criticadas e esquadrinhadas com suficiente severidade para manter a coerência da disciplina (p. 150). Uma análise evolutiva do desenvolvimento supõe um conjunto de noções independentes, que definem entre elas a “ecologia intelectual” de qualquer situação histórica e cultural particular (ibid.). As disciplinas científicas, como as espécies orgânicas, são “entidades históricas” em evolução e não “seres eternos” (ibid.). O elemento fundamental de uma disciplina coletiva é o reconhecimento de um objetivo ou ideal a respeito do qual existe suficiente acordo e em termos do qual é possível identificar os problemas comuns principais. Quando este objetivo é de caráter explicativo, a disciplina é científica (p. 369). Contempladas como “empresas racionais” em desenvolvimento histórico, dedicadas a melhorar nossos procedimentos educativos, e não como sequências de sistemas proposicionais logicamente estruturados, as disciplinas científicas estão obrigadas a sua própria transformação (p. 174). Em um campo científico que ainda não tenha alcançado a categoria de disciplina, o debate teórico pode, quando muito, centrar-se nos detalhes metodológicos reconhecidos do campo... enquanto uma disciplina permanece nessa condição incipiente e preliminar, não se pode estabelecer com autoridade nenhum conjunto acordado de conceitos fundamentais ou constelação de pressupostos básicos, nenhum paradigma... (p. 385). CIÊNCIA
Se adotamos uma visão suficientemente ampla de ciência, contemplamo-la não somente como uma empresa racional, senão também como uma empresa racional em desenvolvimento histórico (p. 230). Considerada como uma empresa humana total, uma ciência não é um compêndio de ideias e argumentos, somente, nem uma população de conceitos científicos, somente, nem um sistema de instruções e procedimentos, somente (p. 311)... O aspecto disciplinário (ou intelectual) e o profissional (ou humano) de uma ciência devem estar vinculados por estreitos laços, porém nenhum deles pode ser totalmente prioritário ou subordinado ao outro... uma ciência é, primeiro e antes de tudo, uma “empresa racional” integrada, e as características intelectuais e institucionais da ciência são complementares desta única empresa (p. 312).
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No nível dos conceitos, a busca de um critério de demarcação permanente é incompatível com o fato de que os objetivos intelectuais de nossas disciplinas estão sujeitos ao desenvolvimento histórico, junto com todas as teorias e conceitos específicos (p. 260)... a busca de um critério de demarcação permanente e universal entre as considerações “científicas” e as “não científicas” parece um esforço vazio (p. 262). A partir do momento em que um conjunto de conceitos adquire uma autoridade indiscutível em qualquer campo de investigação, essa disciplina já não se enfrenta com problemas “científicos” propriamente ditos e deixa de ser um campo de indagação científica (p. 197). Qualquer que seja o ponto no qual estudamos o processo de variação conceitual, encontramos fatores intrínsecos (ou intelectuais) e extrínsecos (ou sociais), que influenciam sobre o conjunto, como filtros que atuam independentemente. Os fatores sociais limitam as ocasiões e os incentivos para a inovação intelectual. As debilidades institucionais das disciplinas podem manifestar-se de várias formas. Os indícios mais típicos são as deficiências na comunicação e a má distr ibuição da autoridade (p. 392)... uma ciência imatura pode seguir sendo uma “disciplina difusa” ou “viável” por deficiências institucionais (ibid.). A criação de grupos de referência e periódicos autorizados desempenha um papel particularmente importante na maturação de uma disciplina (p. 394). O conteúdo de uma ciência se transmite de uma geração de cientistas para a seguinte por um processo de enculturamento. Este processo supõe uma aprendizagem, pela qual certas habilidades explicativas se transferem, com ou sem modificação, da geração mais velha para a mais jovem. Nesta aprendizagem, o núcleo da transmissão – o elemento primário que deve ser aprendido, provado, aplicado, criticado, modificado – é o repertório de técnicas, procedimentos e habilidades intelectuais e métodos de representação que se empregam para “dar explicações” de eventos e fenômenos no âmbito da ciência envolvida (p.168/169). Os indivíduos e as organizações exercem, de fato, um poder e uma influência tão reais no desenvolvimento da ciência como em qualquer outra esfera da vida humana. Em correspondência a isso, vale a pena lutar por papéis, cargos e posições de influência de uma profissão científica – e na realidade se luta por eles – tão decidida, metódica e até tortuosamente como em qualquer outra esfera (p. 273). Todos os membros acreditados de uma profissão científica podem ser iguais em teoria, porém alguns são “mais iguais” que outros (p. 270).
PERIÓDICOS
A própria razão de existir de muitas sociedades científicas reside principalmente nos periódicos que patrocinam, e somente secundariamente em suas reuniões formais. Em verdade, na prática, o diretor de um periódico influente atua por si mesmo como um filtro disciplinário, ao selecionar os artigos que merecem publicação no seu periódico... os periódicos científicos se encontram entre as mais poderosas “instituições” de uma ciência (p. 276). 28 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
As ciências do futuro, sem dúvida, terão novos porta-vozes, novos periódicos e novas sociedades; e estes só raramente substituirão seus predecessores por um abrupto coup, ou revolução (p. 277). A proliferação de periódicos pode superar as genuínas necessidades disciplinares, assim como o conservadorismo das organizações profissionais pode frear o apropriado desenvolvimento disciplinário (p. 304). Muito antes de ter possibilidades de ingressar na Academia Nacional, o jovem cientista deve afirmar suas credenciais profissionais ante os pares, como trabalhador “sólido”. Para tal fim, deve demonstrar publicamente não só que domina as normas críticas de uma disciplina, senão também que sua adesão a ela é total e absoluta, com um grau de exclusividade que em outros tempos se exigia às ordens monásticas (p. 281). RACIONALIDADE
Com efeito, foi sempre um erro identificar a racionalidade com a logicidade, isto é, supor que as ambições de toda atividade intelectual historicamente em evolução pudesse ser compreendida totalmente em termos dos sistemas proposicionais ou conceituais nos quais seu conteúdo intelectual pudesse ser expresso em uma ou outra época (p. 95). As questões da racionalidade concernem precisamente não às doutrinas intelectuais particulares que um homem – ou grupo profissional – adota em qualquer momento dado, senão às condições e à maneira em que está disposto a criticar e modificar essas doutrinas à medida que passa o tempo (ibid.). ...para o cientista natural, aderir irreversivelmente a um sistema particular de conceitos e teoremas é a antítese mesma de um procedimento racional e uma negação de seus próprios objetivos intelectuais (ibid.). No contexto intelectual, julgamos a racionalidade da conduta de um homem considerando não como se comporta habitualmente, senão em que medida modifica sua conduta em situações novas e desconhecidas, e pode arguir-se que a racionalidade das realizações intelectuais internas dos conceitos, e das crenças habituais de um homem, é a maneira em que modifica esta posição intelectual frente a experiências novas e imprevistas. CONCLUSÃO
Para Toulmin, os conceitos são elementos-chave para a compreensão humana, para a vida intelectual e a imaginação do homem. Sua epistemologia é essencialmente conceitual e evolutiva. Precisamente por isso, neste breve texto tentamos destacar conceitoschave dessa epistemologia, e dar-lhes significado, selecionando palavras, frases e paráUAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 29
grafos do próprio Toulmin dentro dos densos textos de sua obra La comprensión humana (1977). O diagrama epistemológico apresentado mais adiante é também uma tentativa de ajudar na captação de significados dos conceitos da epistemologia de Toulmin. Além disso, assim como no texto anterior, apresentamos um diagrama conceitual , enfocando o progresso do conhecimento científico, para ajudá-lo (a) a refletir, compreender e relacionar as principais ideias ou construtos da epistemologia de Stephen Toulmin. CONCEITOS
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Progresso do Conhecimento Científico 30 | Ciências Naturais e Matemática | UAB
submetidas a
conduz ao
LEITURAS
SUGERIDAS
PORLÁN A., R. y HARRES, J.B.S. (2002). A epistemologia evolucionista de Stephen Toulmin e o ensino de ciências. Caderno Brasileiro de Ensino de Física , 19 (nº especial): 70-83 STIPCICH, S. y TOLEDO, B. (2001). Una analogía estructural entre Toulmin y Vygotsky para desarrollar diseños curriculares. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 18 (1): 41-51
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DISCIPLINAS
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UM DIAGRAMA CONCEITUAL PARA A EPISTEMOLOGIA DE TOULMIN E VOLUÇÃO CONCEITUAL UAB| Ciências Naturais e Matemática | F���������� E�������������� | 31
DOMÍNIO METODOLÓGICO
DOMÍNIO CONCEITUAL
Q UESTÕES-BÁSICAS
F ILOSOFIAS: evolucionismo; racionalidade como distinta da realidade.
A SSERÇÃO DE VALOR : A epistemologia de Toulmin deixa claro o papel integrador e complementar dos conceitos e das instituições no desenvolvimento da ciência.
Como se alcança e se expressa a compreensão humana?
TEORIAS:
evoluem (assim como os conceitos e as disciplinas)
Como se dá a mudança conceitual?
A SSERÇÕESDECONHECIMENTO: a chave da compreensão humana está nos conceitos; a mudança conceitual é evolutiva, análoga à evolução das espécies orgânicas; as disciplinas científicas como as espécies orgânicas são entidades históricas em evolução, não seres eternos; são empresas racionais em desenvolvimento histórico; a ciência é, sobretudo, uma empresa racional que integra aspectos intelectuais e institucionais, de modo complementar; o conhecimento científico progride através da evolução dos conceitos, das teorias, das disciplinas e do fórum institucional, como empresas racionais em desenvolvimento. •
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PRINCÍPIOS: O que são disciplinas? O que é ciência? o conteúdo de uma ciência se transmite de uma geração de cientistas à seguinte por um processo de enculturação; a autoridade intelectual dos Como progride o conceitos só pode ser compreendida conhecimento científico? tendo em conta aspectos sóciohistóricos de seu desenvolvimento; há certos conceitos fundamentais que são constitutivos das disciplinas nas quais são usados; todo conceito científico tem três aspectos distinguíveis: linguagem, representação e aplicação interação os periódicos científicos situam-se entre as mais poderosas “instituições” de uma ciência; TRANSFORMAÇÕES : racionalidade não é o mesmo que logicidade. análise sócio-histórica de fatores intrínsecos (intelectuais) e extrínsecos (sociais) que atuam como filtros do CONCEITOS-CHAVE: desenvolvimento científico. conceito, mudança conceitual, disciplina, racionalidade, população de conceitos, R EGISTROS: enculturação, empresa racional, fórum institucional, herança conceitual, ecologia conceitual conhecimentos científicos produzidos pelo homem, ao longo do tempo, em contextos socioculturais; visões epistemológicas de outros filósofos da ciência; a teoria de Darwin. •
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OBJETO DE ESTUDO: a produção do conhecimento científico.
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PA L A V R A
FINAL
É
consensual que as teorias científicas são pedras angulares do conhecimento científico. Talvez não seja tão consensual quais as características que uma teoria pode ter para fazer parte do rol das consideradas científicas, ou quais os critérios para que uma teoria possa ser rechaçada ou refutada, ou ainda quais os mecanismos adotados por uma dada comunidade científica no processo de troca de teorias. É comum dizer-se que a ciência se desenvolveu, até este século, sobre os louros de um suposto “Método Científico”, com os seus passos hermeticamente estabelecidos: observações, experimentação para comprovação, formulações de leis e teorias. Assim tem sido e com essas características a ciência têm sido ensinada em nossas escolas para jovens aprendizes. Ao longo do cu rso de Licenciatura Plena em Ciências e Matemática, temos tentado analisar as diferentes (ou não tão diferentes) implicações que a epistemologia pode trazer para o ensino de ciências. O uso da imaginação, o “fazer ciência” como qualquer outra forma do conhecimento subjaz a inteligência humana impregnada de vivências, experimentações provenientes de suas relações com o mundo das mais diversas maneiras e, portanto, impregnada de ideologias. No entando, essa percepção do conhecimento científico não perpassa necessariamente pelo âmbito da sala de aula impregnando o ensino de ciências de concepções e verdades inquestionáveis por vezes muito distante da realidade do educando. Na prática, todas as metodologias científicas têm limitações superáveis ou não, mais ou menos adequadas a cada novo enfoque científico. Reconhecer e evidenciar um pluralismo metodológico na ciência é remeter à concepção de que o ensino também exige esse pluralismo na medida em que se transmite um conhecimento científico que não é estanque, ao contrário, é flexível, alterável, é como um organismo que tem vida e se modifica. Como ensinar sobre ele com rigidez metodológica? As novas teorias se mantêm, por algum tempo, apoiadas em hipóteses “ad-hoc”, até que desenvolvam e adquiram consistência. Galileu valeu-se desse recurso incorporando hipóteses que contradiziam a estável teoria aristotélica, através do seu poder de argumentação, da propaganda, da sensibilidade emocional e psicológica, proporcionando condições tais que a razão sobrepusesse os sentidos, mudando assim interpretações naturais e sensações vigentes na época, que se opunham à Teoria Copernicana. É assim que muitas ideias, conceitos, valores, sobrevivem graças à teimosia, aos erros e às paixões, mas o ensino de ciências é usualmente o ensino de ciências é impregnado de um hermetismo e de uma rigidez linear, desprovida, em geral, de demonstrações da influência do poder de persuasão e convencimento que coloca uma teoria científica em evidência, podemos citar aqui Eratóstenes (276?-195? a.C.) com a sua teoria de que a Terra não é o centro do Universo, e que não teve credibilidade em detrimento da Teoria Ptolomaica, que com o apoio da Igreja perdurou por séculos concebendo a Terra como o centro do Universo (Brennan, 1997).
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Na Idade Média, não havia influência emocional, psicológica e melhor propaganda do que a Igreja. É muito importante que o aprendiz conheça a história da ciência com suas nuances de aceitação ou rejeição de teorias científicas ao longo do tempo. Enfim, a ciência não deve ser ensinada com a característica de onipotência, com o status de a mais verdadeira das verdades e o mais elaborado e definitivo conhecimento. O papel de educadores e cientistas é difundir o conhecimento científico tal como realmente o sentimos: pluralista, impregnado de ideologias, constituído por leis, teorias e fatos que trazem a verdade de uma faceta da nossa realidade, por outro lado estimulante e criativa, e até mesmo não experimental e comprobatória em alguns casos, como a Teoria da Relatividade, ao ser concebida e hoje, a Teoria das Cordas. Enfim, a busca constante do ser humano, os seus questionamentos acerca da sua própria existência e preservação. Como disse-nos Paula, uma garota da 6ª série do ensino fundamental, com 12 anos: “Eu aprendo ciência para preservar a natureza, os seres vivos, o meio ambiente e os seres humanos e eu também...” Essa concepção precisa ser respeitada pelo ensino das ciências, precisa ser preservada na mente e no coração dos jovens aprendizes, de forma tal que eles saibam como opinar, como agir, como fazer ciência para preservação e desenvolvimento de condições de vida cada vez melhores.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES, R.M.R. (1996) - Em Debate: Cientificidade e Educação em Ciências - Centro de Ciências do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. BRENNAN, R. (1997) - Gigantes da Física - Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro - Edição de 1998. MATURANA, H. R. (2001). Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte, Editora UFMG. ROSAS, R. e SEBASTIÁN, C. (2001). Piaget, Vigotski y Maturana. Constructivismo a tres voces . Buenos Aires, Aique Grupo Editor. TOULMIN, S. (1977). La comprensión humana - Volumen 1: El uso colectivo y la evolución de los conceptos . Madrid, Alianza Editorial. 523p. Tradução do original Human understanding - Volume 1: the collective use and evolution of concepts . Princeton University Press, 1972. BIBLIOGRAFIA
ADICIONAL SUGERIDA
MATURANA, H. R. e VARELA, F. (2001). A árvore do conhecimento. As bases biológicas da com preensão humana . São Paulo, Palas Athena. MATURANA, H. R. (1995). La realidad ¿objetiva o construida? I Fundamentos biológicos de la realidad. Ed. Anthoropos/Universidad Iberoamericano/Iteso. México. MATURANA, H. R. (1996). La realidad ¿objetiva o construida? II Fundamentos biológicos del conocimiento. Ed. Anthoropos/Universidad Iberoamericana/Iteso. México. MATURANA, H. R. (2001). A ontologia da realidade . Belo Horizonte, Editora da UFMG. VARELA, H. (1998). Conocer . Ed. Gedisa. Barcelona.
NA INTERNET Texto: A epistemologia evolucionista de Stephen Toulmin e o ensino de Ciências. hp://www.inep.gov.br/pesquisa/bbe-online/det.asp?cod=55112&type=P
Texto: Esta nota no Twitter presta uma homenagem a Toulmin, vale a pena ler.
http://twitter.com/AFILOSOFIA/status/6718737085
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