Fronteiras da Tradição - Olavo de Carvalho_0002

February 6, 2017 | Author: zehdico | Category: N/A
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IRÍllITEIRAS IIA TRADICAÍ|

ffi uovr sTELLA

$S uovr 5TELLé

FRONTEIRAS DATRADIÇÃO

OLAVO DE CARVALHO

coleção elxo

ffi novn sTELLÍt

Crpo: Carlos Roberto Zibel

Costa

Índice

Revisão: Rogério Carlos castaldo de Oliveira Conposição: Cilberto Francisco de Liúa Arte Final: Dorâ Pratt e Bduardo coúes

Prefác

io

1

l. Fronteirâs da Tradição 2. A tradição, as ciências tradicionais l!

I

Edição

CopyriAht

by

r986

Olavo d€ Carvalho

Coleção Bixo

Org-

3l

4- o valor do iotelecto

43

5. À decadêocúe o fiú,

49

coÊsiderações

55

I{ota§

são Paulo TeI:881-5771

SP

Ol3lO

segundo âs doutritras

hindus

7. xoralidade ser

llova Stella Editorial Ltda. Av. Pêülista,2448

t7

3- seitas e teligiães

ó-

Tom Cenz

9

Deus?

71

85

PRAÊÁCrO

Com exceção do ârtigo rrMoralidsde sem Deus?rr, publicado no Jortral da Târde, em 27 de fevereiro de 1982, os trebâlhos reunidos neste volume foram todos escritos em 1985, e tôm todos â mesma finêIidade que ele: ajudar o leitor a disringuir entre os ensinamentos tradicionais t isto é, provenientes dâs Srandes religiões reveladas e ortodoxas) e as suas fa1s i ficaçõe s contêmporâneas. o título explica-se assim pelo nosso intuito de demarcar, de estabelecer um muro divisório entre o que é a Tradição, e o q"e é, de outro lado, o caos e

as "trevas exteriores".

De modo geral, essa distinção é simples. Todos os estudiosos de religiôes comparâdâs do mundo, com quase oenhuma exceção, utilizam o termo "Tradição" como sinôniÍno de sâEâthana Dhâma, de Lei Pereúis' de Sophia Perennis, de Al-Eiknât el-illahiys -- Para designar o número de princípios mecaÍÍsicos que é comuú a todas as grándes religiões do mundo, bem como a transmissão ininterrupta desses princÍpios por meio dos ritos, normas, leis e hierarquias, tenporais e espirituâis, dessas nesmas religiões. Do ponto de vista prático, o crirério de reconhecimento á igualmente simples: considera-se "tradicional", em principio e como regra gerâI, toda doutrinâ ou prática que seja ãceita como ortodoxe e revelada por quâ1quer dessas religiões -- e, inversanente, considêra-se "não-tÍadiciona1", ou, em certos casos extremos, "antitradicional", a qualquer ensinanento ou prãtica q"e não seja ortodoxa por nenhuma delas. Como corolário dessa definiçào, Podemos conPreendêr que. de um ládo, a mistura ou tusão de dourrina" e-p.áti."" de várias reLigiões num amá[gama ae

pretensões 'runiversalistasi' não é ortodoxo para nenhuma delâs, ê portanto só pode ser dito "tradicionâl" no mpsno sentido em que umâ (aÍicarurá. párá sêr câricatura, deve ter alguma longínqua sêmelhança com a reãlidade. o respeito à forna exterior e à integridade de cada ortodoxia é uma exigência sine qua non da verdâdeira universalidadê tradicionâ1. Por outro lado, a "prova dos noverr de quâlquer princípio universal e autênticamente tradicional á

justanente a sua possibilidade de ser transposto nos termos, moldes, parâmetros e símbolos de todas e de cada uma das grandes religiões, sen ferir a ortodoxia de nenhuúa e ner Duito nenos as leis da lógica. E esta êxigência --- que constitui a pedra-de-toque para distinguir o joio do trigo -- é tão difícil e rara de atender, que se identifica mesmo àquilo que na tradição cristã se denomina o "dom das 1ínguas", ou a capacidade dê falâr a cada um segundo a linguagen que the é própria, o que evidentenente está nos aütÍpodas de uÍn sarapatel "universalista" e demagóSico ao gosto dos psêudo gurus en geraL O terno, portanto, evidenteínentê não designa, nen pode designar, nenhuma organização, sociedádê secretaJ escola iniciática ou seita em pãrticular, mas, justamente ao contrário, aquilo que é o mais i1iÍnitado e universaL que se possa conceber. De quâlquer modo, se á distinçào em si mesma é ráciI de estabelecer, muitas pessoas parpceú encontrár dificuldade em aplicá-la aos muitos casos concretos e parciculares que vão surgindo, neste cada vez ÍÍãis colorido supermercado da pseudo-espiritualidade contenporânea, motivo pelo qual podem cair em erros trágicos, mesmo estando informadas do que seja e do que não seja, en princípio, Tradição.

I Eronteirâs

Quer rrêstá" tra Tradição Para que não sê confunda a Tradigão com qualquer tipo de I'organização", 'rescolarr, "corrente de opinião" ou coisa assim, nen, poÍ outro lado, se inagine que ela sejâ apenas um vago "espíritou ou "estiIo", é preciso fazer desde Iogo algumas observações: A Lei exotérica é o "fimite exteriorl da Tradição. Quem ten unâ retigião e reconhece os seus manàamentos, cumprindo-os seja ao nível do "mínirno IegaIÍ, seja acima, conforme suas eapacidades, já está na Tradição. Quen não tem uma religião, quem não está submetido voluntariamente a uma Lei revelada, não está em Tradição nenhuma, ainda que álegue Perteocer a tal ou qual "organizaçãorr e ainda que tal organização se al irme até mesmo, com denÊnc iâl Pretensào, "o Dirptório Central do Cosmos". PoÍ outro rado, é necessário distioguir entre o conceito amplo de rrTradição" e o conceito mais resrrito de "viá espirituat". Assir como u, país nào se esgota na linha.dâs suas fronteiras exteriores, mâs tem uÍn território interior, por sua vez dividido por êm

regiões, províncias, cida-

1986

*Tóp ic os

Olâvo de Carvalho

8

tradição*

I

fronteiras inteÍras

São PauIo, fevereiro de

da

uma conferância pronunciada eú 2 de 1985 na Editora AstrocieÍtia, do Rio de

de

de

9

des, etc. , igualmênte a Tradição, dentro dâs suas fronteiras, tem muitos territórios distintos, corn fÍonteiras ora mais, ora nenos clarámente delimitadas -- conforme a Tradição de que se trâte --, e que vão desde as regiôes áui" .*terior"s até as mais interiores. A região nais exterior é o cumprinento puro e sinplês àa n".*u social ditada pela Lei (o quê inclui a execução pelo menos dos gestos exteriores que compõem os ritos obrigátórios); a náis interior é a realização -- teórica e efetiva -- do sentido último e universal dessá Lei. a qual patenrPia, átravés do homem que aringe essá realização, sua identidade com a constituição mesrna do real e com a Normâ que estatui e rege o Cosnos. (Claro que pessoas que não atingiran a pleoa realização esPirituáI podem -- e devem -- possuir algun vislumbre dessa identidâde entie a Lei revelada e a estruturã do real, e também é claro que a ausência de quâlquer Pre§sentinento nessê sentido seriá una marca de profunda irreligiosidade; nas, ântes de Percorrer uma viâ espiriLual, ninguéÍn Eem essá consciencia exceto em modo irteórico'' e "virtual".) Para o honem primitivo, que desconhecia as limiráções que o processo dê individuaç;o veio a imPor sobre á inteligência hunana nás geráções subsequPntes, não havia necessidade de uma Lei revelada e escrita, Porque eles tinham a compreensão iÍnediata e intuitiva da Lei nstural, que é por si rnesma a prineira das revelações, e da quál as Leis r€veladas posteriores nào são, po. assi. aizer. senão versões simplificadas. o "limite êxterior" da Tradição coincidia então con os limites dâ natuÍeza, ou dito de ourro modo, com os limites intrínsecos da possibilidade huíâna em geral. À progressiva degradação da

intetigância

humana,

criando hiatos e dissonâncias enrre a mente subjetiva e a verdade objêtiva, criou a necessidãde de comPensaçôes períodicas, constituídas pelas sucessivâs Leis reveladâs. Estes fixavam limites exteriores, mais restritos que os da simples lei oâtural, e por isto nesmo nais fáceis de apreender e cumprir. O t0

cumprimento destâs

leis favorecia o

homem

de duâs

um resumo símbolo, dss Leis nâturáis, e' assim sua obediéncie e estudo podia restaurarr ao Longo do teÍnpo, a intuição originária dâs leis naturai; (que por suâ vez, sendo um simbolo das qualidades divinas, levavam o homem ao conhêcimento -- ou melhor: recordâçào -- de Deus) i câso nào houvesse! para este ou aquele indivíduo, a ocasiào de completar essa restauração interior, o cumprimento da norma legaL pelo menos o mantinha dentro dos limites de comunidâde, podendo Portanto beneficiar-se, apos a morte, das prerrogativas originárias readquiridas Delos membros mais cápazes, dâs quais eles Participa,a. a títuIo de herança coletiva. A Primeirá dua" persPect ivas é a que conduz à chamada à""rr. ".,tào "libertaÇào", e constitui o esoterism. A segundá conauz aó que as reLigôes denominan a "salvação da alma após â morte" e constitui o exoteri§úoDeste modo, Percebe-se que as Leis reveladas constitueÍÍ manifestação da }lisericórdia, destinadas s conpensar a perda da intuição direta das l-eis

.r.i;.r" , pr ime i ro. e por isto

que e tas cons r i tu íâD

É ,rrna curiosâ

aberrâção



nossâ época que

justamente âs pessoâs meis insensíveis às Ieis natuiais seja. âs que se ProcláÍnam mais "superiores" ã toda Lei reveládá, quando na verdade sào ás que mais necess itaÍn de1a.

*** Àssin, se quem está mrma reLigião já está na um Trâdição, quegt dentro dessa Trádiçào, encontre rrmâis carninÁo espiritual -- um esolerismo -- está dentro", e quen chesue à s,pre.a realização-está "no centro" dessa Tradição, o qual coincide então com o centro da Tradição universal e primordial. chegar ao ésot..i"ro sem um exoterismo é tão impossíiet quanto chegar ao centro de u' pais sem o"."tr.. ,. suas Ironteiras e Percorrer seu terri róiio. s" afguét desligado de um exocerisno tem por

a felicidade de contâctar um mestre espirirual autênLico, a primeirâ coisa que psLe vai fazer é mándá- Io sprender.e.práticár o exoterismo: geráI do sufismo que um firme - E um prrncrpro eftbasamento no exoterismo é inaispensávef pi"_ parâçao acaso

no.caminho esotérico; e, na rariqatr "o.oOarqá_ vr... r rodos os noviços eram obrigados a decorar Guia dos Eleoentos Essenciáis do Conhecirento Reli_o gioso (nr - famoso carecisno islâmico Tbn.rAshir, como meio de assegurar qr" ". "".;."t,-;" p""..í;; -; Ínrnrmo necessario

de instruçào retigiosa',.( t)

que essa coincidência só existe

nais

em

pârte

a

na

rmagrnaçao,

ê

lguma.

A única maneira de reencontrar Deus é recuperar o senso do sagrado, que é . do maravilhoso, q"e é o senso de eternidade e ".""" imutabilidade .acirnâ dê toda moviÍnentação mental e cósmicâ. os ritos e a arte sâcra roÍnpem a trivialidade, mas não para abrir para o âbismo do nada, e sim para introduzir, nos intervalos de fluxo cósnico, pontos cintilantes que recordâm a inutabilidade do suprâcósmico. Esses pontos são como os rubis de un relógio, que articulâm o lnovimento sem psrticipar dele.

2

Os Perigos da

Trivial

3

idade

Tradição e Tradiçães

indiÍerença e a Lrivialidade __ que dào a rô_ . A. nrca do "sentimenro do mundo,' na socieiade moderna -- levarn a só poder conceber Deus coÍro o ,,totalmente ourror' (o sanz andere de Rudolf ott"l. p.i", iis"ài_ vido Lodo senso do sagrádo, e ausente Loda marca de sácrâtidade na vida coLidiana, Deus só podê ser imâ_ grnado como o áusentej o esLranho, e,n úLrima tancra o esquisiro e o absurdo. Esra á a origemins_ do ápelo sedutor que as seitas monsrruosâs exercem so_ bre a a-lma cansada e gastâ dos .ont".porã_ neos. .Na medida em que se opõe"os"o" à rriviat idade e à opressrvrdáde plana e rasâ da indi Ferença, introdu_ nela um corte que abre pâra uma verricálidade -zindo ':bissáI".o hpdiondo_pode pássar por uma iEágo Dei. §o - que orlvlamenre e uma iúagem consrituída de pri_ vaçao e carência -- privaçào de senrido, ."rên";à a. reál rdáde e poder criador -- ê porLanro uÍna imagem invertlda, Iireralnenre,,satânicai'. nfa tira aa tiil vialidáde pará tevar áo nada, que é.,"i".;;r;;;_ têl das I lusoes. O nádâ p o absoluto só rên umâ coi_ sa eú conum: é que sào iguatmente i";,"gi";rã;".-l lmaginaçáo e o rrlugár geométrico', aa cãincidência êntre o nada e o Absoluro, o que é o Ínesmo qup dizer 12

Existe uma Tradição Prinordial, universal e eterna, que e o deposito da sabedoria revelada. Existe ê manifestação hunana e terrestre dessa Trâdição, e portanto uma organização tradicional que a representa. Bxiste um centro geográfico que é a 1ocalização dessa organização em algum ponto da Terra, egl cada

ciclo

temporal.

é inquestionáver. Xâs: as tradições em particular, historicarnente existentes, não provêm desse ponto dâ Terra, e sim diretamente de Deus, que é a Origern delas e da Tradição Prinordial igualmente. À1iás as tradições não são outra coisa senão a mesma Tradição primordial ressurgida em novas formas, porém em câdâ câso igualmente -- e novâmente -- íntegra e originária. Considerada isoladamente das suas formas históricas, que são as tradições, a Tradição Primordial não se natrifesta historicanente, pela simples razão de que ela não é una ( Láis uma) tradição, que apenâs estivesse acime das demais tradições, e sim é o Lolde das tradições, o padrão da sua tradicionâlidade, e elas, êo contrário, são as suas manifestações históricas, forjadas segundo €sse molde. Tudo isso

t3

O rêcurso às "idéias", ,,formas,, ou "arquét ipos" platônicos pode dar coota desta questão. À "triangularidadei'não se manifesrâ senão aLrâvés de rriângulos concretos e particulares; mas o conceito (ou o esqueÍa mental) de triângulo, que não é em si mesmo nen rriângularidade nem triânguIo, represênta, ná mente, a triangularidade. Todos os triângulos que o homêm faz são forjados no molde do conceito de rriângulo, sem que se possa dizer que ele os produza, ou que provenham dele. Por esta analogia, o homem Lem no seu intelecLo o arquétipo dá Lriangularidáde. oa sua mente o conceiro de rriânguIo, ná sua mào a habilidade de desenhar triângulos; e o intelecto representa aqui o Logos divino, a mente, a Tradição prinordiã1 e a mão, as rradições em parricular. Se a Tradição primordial se manifestasse exteriormente, eIa só poderia Íazê-lo sob á forma de ,'mais uma'r rradição, âssim como só é possíve1 dese_ nhar "um" triângulo e não "o" triânsul; em si mesmo, embora "cadar' triánguto sejá novamenLe, e a seu modo, ',o" triângulo. EIa nunca poderia manitesLar-se sob a forma de uma r'supra-rradição', uoíversa1, por_ que o universo em si nesmo não tem forma, exceto as formas, particuLares que o representamr porque toda Íorma e part icular por definiçào. A "rnani fesracão,l da rradiçào PrimordiaL, com umá forma própr ia e - independente das demais, é urn contra-senso puro e simptes, que vai contra rodâs as condições de espaço, rêmpo e numero que definem o ,,nosso mundorr, e porEanLo essá rnaniÍestação nào ocorr"rá anres do táruino deste mundo. o quat por suá vêz deverá ser precedido justamenre pela "Crânde paródiai'de Tradição prinordial, q.e será o Reino do Anticristo.

portanto, a única ,,fornâ,, sob a qual é possível enconrrár â rrsdição PrimordiaL é a forma das rradições historicanente existentes. Quem quer que se

apresente como porta-voz da Tradição prinordial sem ser por intermédio dessas tradiçàes, já está encenando a parodiá.

14

4

Àntirradição e paródiâ Quando se fala de "organizações anritradicionais", é preciso resguardar-se de imaginar que elas

conbatam a Tradição. Elas não combatem: elas copiam. Não produzem uma refutaçào. produzem um ,imuLairo e Quanto aos representantes da Trâdição, as organizacões antitradicionais só os combatern na medida en que e1ês âmeaçam denunciar o simulacro e frustar a paróaia, mas não na medida em que se limitem a expor dados de conhecimênto tradicionais, de que aIiás elas n€cessitam para com eles co.por'seu sim.Iacro, motivo pelo qual seu combarÊ a tais representantes é dúbio e entrecorrado de cortesias e adula-

ções. Para isto, freqentênente essas organizações e seus comandados 5e prestám á seÍviços mênores em rávor da Tradiçào, e inctusive à divulgáção de parcelãs reêis de conhecimenros rradicionais, de cujo prestígio e fraseologia procuram assim se ap.op.iai. Ao copiar, a anticradição não desfigura a Tradição enquanto ral -- que é imutávet e inatingível sob todos os aspectos aparência perante um grupo humano deterninado, o quat fica enrão impossibilitâdo de chegar à rradição verdadeira enquaoto não se livrar das malhas seduroras e grudentas de um sinulacro quê pode ser inrpirámenLe vero"sirnil. mesmo para pessoas inÍormádas. (o que aIiás sisnifica que ninguém se livra dos simuraáros por suas próprias forças e sen a ajuda dâ traaição nàsna, assim como se distingue o ouro fatso rão-sonente pela comparação com o verdãdeiro.

)

_ A verossimilhança dos simulacros aumenta, poremj nâ proporça que, aprox imando-se o Lermino do presenLe ci( 1o. á Tradi\ào dá a púbtico

parcelas cada vez Ínaiores do seu resouro de conhecimentos. Estes tanto podem servir de flárcos indicativos para levar as pêssoâs à rradição, quánto de ,,mâtéria prima" pará novas falsiri(aaõês e eneodos. Uma t5

sinples migalha de conhecimentos tradicionais, arirada ao solo, borbulhante de ferrilidade, da confusão contemporânea, dá para produzir uma variedade imensa de pseudo-ensinamêntos e pseudo-esco1as, que rebaixam esses conhecimentos en qualidade (engrossândo-os e Iiteralizando naterielisricamente o seu sentido ao nesmo tempo em que procuran der ares de coisá sublime e esotérica a baflalidades e conrrasensos) € os nultiplicám en quentidade de reproduções, vêndendo, aos curiosos, "conhecimentos secretosrr que eles poderiam adquirir petá sinples leiturâ dê livros de domínio púb1ico. Por exemplo, dezenâs de organizações que hoje se dizem provenientes de um nisterioso "centrorr iniciático dâ Ásia Central não são mais do que Íindustrializaçõesri de dados extraídos de rrês livros tradicionais: Xission de lrInde (1910), de Sâinr-yves drAlveydre; Bêstas, Eorêns e Deuses (1924), de Ferdinand Ossendowski, e sobretudo Le Roi du Honde (1927,, de René cuénon. Isto não impede que em determinados casos sucêda o coltrário, isto é, que tendo dererminadâs pessoas pas9ado por organizações tradicionâis e retirado delâs áIguns fragÍnentos "comercializáveis,,, tais organizações decidam publicar a explicação integrat que permita reincorporar essas parcelss num quadro coerente, de modo a evitar novas confusões. Mas tais explicações, por sua vez, pôem en circulação novos dados, que se prestarão a novas falsificações, e assim por diante, o que torna cada vez mais dificil, parâ quen não está escorado denrro de una religião ortodo).a e tradicional, distinguir os caninhos fa1sos e os verdadeiros.

II A tradição, as ciências tradicionais e o islar* l

Tradição e Àntitradição A abordagem do conceito -- e dâ realidade -- dâ Tradição pode começar pela tomada de consciência do mistério da intetigência humana. Nossa humanidade atual está tão derrotada e deprimida, rão decaídr e eimbotaaa, que a naravi Ihâ desse mistério Bera mente

À inteligência é ao mesmo tempo mistério da subjetividade e certeza de um conhecimento objetivo. Ela escâpá à contradição entre o I'eu. e o ihundori, ela não está propriamente "dentro" nem propriamente "fora" de nós; se seu lugar de aparição é a .ente subjetiva, por outro lado seu alcance, enquanto sede

un conhecimento objetivo, vai muito além dos limites do rimentalrr; por e)(emplo, podêÍnos conceber pela inteligência o infinito, que não podêÍnos "representarii mertâImente de nâneira âIgumã. A inteligência rraparece" na âImâ, mas não "está" na aLma; ela "vê" o mundo e portanto não "está" no mundo. Ela dá fornra, sentido e unidade às nossas percepções do mundo objetivo e subjetivo, e assi, é transcendente de

* Resumos de três conferências pron'Jnc iadas na Editora Àstrocientiâ, do Rio de Jâneiro, em 5, 6 e 1 de

setembro de 1985. À exposição abranseu muitos desenvô1wimêntos oreis que não são reproduzidos aqui. t6

17

 inte l igênc ia não se ident i f i.ã .ôh dâs funçõe s íntelectivas -- rmâglnaçao I

nenh,,má

raciocínio, sensibilidâde, etc. -- que a expressam; e1a é a vida ê o sentido dessas des, mas não se confunde com elas. Por causa do caráter transcendente dâ inteligência, o hômem sente-se só no oão tendo com quêm compárar-se ou dialogar. "niverso, O tcnàmeno recpnrp da chamadã 'rplanetarização da cutturâ" fez con quê a consciência desse caráter transcendênte. único e solitário dâ nos'a espécie tendessê a êmêrCir, lor(asse a passâgem exigindo um reconhecimento claro. No fundo, rodo o interesse aruêi pêlos rpnómpnos da psiq"e é busca da inteligência; apenas â humani"manão conseguiu ainda acertar o alvo, ê dade atuál ainda confunde a intelisência com as funções lntelectivas. Poucas pessoas têm a condição parâ o pleno reconhecimento da inteligênciâ e para a plena realização das consequôncias que esse reconhecirnento inplica. i'ías estas poucas pessoas "representamr', por assim dizer a humaoidade, e se e1âs assumirem a inteligência isto bastãrá parâ que a humanidade reencontre, mais dia, menos diá, seu caminho.

Trânscendendo a todos os fenômenos do universo, a inteligência não ten "causa" nêm "orisem" em parre alguÍnã. EIâ parece surgir de forâ, de cimâ, desde o oceano infinito da Possibilidade, que envolvê o mundo como o oceano envolve os continêntês. Como o espaço e o tempo são apenas formas assumidas pela inteligôncia, é inútir procurar paÍa a intêtigênciâ uma origem no êspaço ou no tempo. Elâ tem origem nâ PossibiLidade. no TnliniLo. q,,e é sempre presentê em todâ parte, inaltÊráveI e inesgotáve1. À orisem da inteligência é agora. O Íevigoranento perióaico do contato entre a inteligência e o infinito, que é a s"a origen, denomina-se revelação, quando desse contãto surgen um rito e uma norna destinadâ a possibilitar esse contato para un grânde número de pessoas; denonina-se intuição íntelectuâl quando ocorre para un individuo em parti(ular. A revelação fornêce os meios para

l8

que os indivíauos atinjam, quando qualificados parâ isso, a intuição intelectual Para os que nao tem o ên'ináes.a quaIitj,a,.áo. êlâ fornô.ê mento para que se aproxrmem o guanto possíveI desse limitêl me5no que "ssá aproximaçio " ia apera' 'Lmbóli(â. e ind;rêra, arravÉs da parL;'ipa\ào das pês5oas na conunidade rcli8io'â. Plá servê para rlar à' suas vida' o carátêr de rrancl r, io'z árraves do qual o sentido da existência se .orna suficiêntemenie pró"imo mesmo dos atos mais simPtes da vida cotidiana, como se observa em qualquêr civilizaçao tradicional.

Não há nem religião nem esoterismo de espécie alguma sêm uma revelação. A revelação origina ao mesmo tenPo as Eecnlcas p discipl inas que ronduz.n à int riçào. t"is q,rà conduze, à viv, n.iaçào 'imbóti'á ê indiretd dô "enlido. A eqrâc duds in.Lán ias dá se o nome dp esoter ismo e exoterismo, respectivamente. A possibitidade pernânente de efêtivar uma dessas duas fornâs de vida espiritual denomina-se Tradição. Toda tradição remonta a uma revelação. A revelação pode vir sob a forma de uma pessoa ou Mensageiro, como Cristo ou Buda, ou sob a forma de um texto, como Os Vedâs, a Torah ou o CorãoCada Íradição é ,-r. corpo intesral e integro de ritos e normas, Àue resiaem nos "pontos de junção" entre a inteligência e o infinito. Esse corPo nao pode ser desmenúrado- Cáda Tradição ó um todo conpleto e auto-suficiente. Pode-se compaÍa-las, mas não fundí-ras. Tambén não se Pode separar esoterismo e exote_ rismo, porque eles sào a vida e o (orpo. resPecrivarêntê - de uma Tradicão. éaaa rraoi,.ào É con't it,íaa de rrês elernentos inpre sc ind íve is : Doutrina sobrê o infinito, sobre o Absoluto e o qrre é nelativo.

a)

Umâ

19

que

b) Um corpo de Bitos que ajudam o homem a incorPorâr a verdâde da doutrina na sua formâ de exis_ tência, de modo â harmonizar o conhecioento e c) sácra)

Um corpo de SíDbolos (por exempto, nâ árLe quê ájudám á menre a chegâr à incelecção das

verdades veículadas pela Doutrina e corporiiicadas pelos ritos. Às chanadas ciências tradiciooais, como a alquimia, a asrrologia, ben como as artes sacras, -- árquireturá, pinrurá, erc. -- farem pa.te ao.or: po de s;mbolos de uma rradiçào. A astrotogiâ, Lat como a conhecemos hoje, tem origem na Tradição hetê_ nica -- alexandrina --, mâs seu sinbolismo, por sua universalidade, foi bêÍn assinilaao. pero àsàterismo cristão e muçuLmano, de nodo que seu àstuao é u. Uo.

rn.trumento auxiliar pára rso dessas tradrçoes.

un Lve

quem

deseje penerrár

no

Àpenas é preciso advertir que existe também uma pseudo-cradi(ào. ou,ária, pspudo-rrádiçàÊs. podêmos rêconnêcp-tas tacr tmenLe pelo tá(o dê que dispensám todo exotêr-ismo e se pretenden superiores a todãs as religiões, às quais, no enranto! etas imitan e das quais roubam etemenros simbóticos e rituais. Face ã estas conrraÍa5ões, geraLmênte gro(esLas, caracrerizádas pela áusen.iê LordI de belezá e de ;nLeliqibi_ Iidade, é preciso saber que o próp,;o .en"o estãrjco de cada pp.,soa á un guia seguro pará o joio "epárar do trigo. Más, se querem reatmente seguir uma viã de conhec i men Lo espiricuãt por inregrar-se numa religião ortodoxa. Aruatmenre pode-se seguir

um

a) cr i st ianismo ortodoxo; b) budismo (fujam de quem prometâ

exoterisno

bud

c) judaísmo d) Islan.

is ta )

2

As ciôncias tradicionais ê a astrologia espirituâl

Muitás das ciências tradicionais -- como a a"trologia particularmente -- só chegaram até nós em

uma fôrnâ fragmentária. Apesar da inconrestáve1 validade destâ ciência, as lacunas no edificio que a conpõe abrern nargen a incongruências e contradíções, e, assim, flenhuma das tentativas atuais de formular uina teoria âstrolósica de Daniel Verney, Raymond Abellio. Arnold Keyserling ê tanros ourros

isenta de defeitos que a ror.nam inaceitáve1 desde uÍn ponto de vista lógico. No rnÍnimo, rodas dão uma impressão gerâ1 de incomplecude e deformidade, que é incompátive1 com una ciência toda constiruida de haÍmonia, e na quâl PIâtão ênxergava o retráto mesmo da inteligência divina estanpado oos cé"s. --é

A razão dêssá incompletude, no entanto, nào reside na falta de informações, pois os elemenros que nos chegaram da âstrologia he1ônica, babilônica, chinesa ê inclusive eeípcia, são mais do que suficientes Para Podernos reconstituir na sua quase totalidáde o corpo dessa ciência tal como era conhecidâ e praticada na antiguidade. E, ademais, nem cabe fslar de reconstituição, pois este termo só se aplica a ciâncias extintas, ou em desuso durante muito têmpo, o quê não é o caso da astrologia, ao menos no Oriente, pois êla continuâ a ser praticada ininterruptamente na Índia e nos pâÍses islâmicos, em rnordês rigorosãmente tradicionâis em ambos os casos, e ao mÊnos no que diz respeito à astrologia hindu os textos, trâduzidos em ingfês, são

Oc

abundantes no

idente.

O que nos falta na astrolosia não é informação, uma compreensão verdadeirâ do intuito e do lugar dessa ciência. sabemos muito sobrê â suá consistência interna, mês ignoramos o seu contorno, o seu

é

lugar no sistema das ciências espirituais tradicio-

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nais, e ignoramo" isLo peta simples rázào dê que, nao possuindo mais umá Lrâdiçào viva p comptera, des.onhe. emos roLaimpn(e a ex;sránL ia -- quanto máis a ronsistênria -- desse sisremá. Se as ciências aruais organizam-sê segundo as conveniências de uma técnica ãestinaaa ao -aomínio mâterial do mundo ( incluindo-se nisto as técnicas psicológicas e de dornínio poritico), o sistema tradicional das ciências tem no sêu topo, e como critério hierárquico único e exctusivo, o conceiro p á meta da realização espiritual. tsto queÍ dizer que o que diferencia as ciências umas das outras é. "."t. sistema. a manêira diÍêrÊnre de ênÍocarem o probtemá da realização espiriruat, e que aquilo que âs dispõe hierarquicanente á a sua naior ou menor proxirniaade dessa mêtâ. Em outros termos: una ciência é tida como superior na medida ern que é mais direto o conhecimento de Deus que ela oferece, e como inferior. na mêdida êm quê esse.onhecimenro É mais indireto, "imbóti.o e alusivo. por êxêmplo, a ciência dos ritos é superior a uma ciência po,qu" o rito, ao menos ", útri,a insráncia,",i".ár,a u" conr,."isa cimento direto de Deus, âo passo que o conhecímento da naturêza também leva a Deus, mas por inrermédio

do simbolismo, e de uma naneira inteiramente teórica e viÍtual. Por ourro ládo, uma ciência puramente intelecEual e teórica dâ narureza. como a astrotôgia. é superior a uma ciencia p,;i;.u operáriva " porque a como a arquiretura ou a arte dâ Suerra, primeira está mais próxima da atirude de com;.e;nsão pura e contenpLativaj que é mais aparentaaa ao conhecimento de Deus na mística. Dentro desse sisrema, a única prática quê intere§sâ e ã pratica espiritual que conduza ao pleno conhecimênto da verdade e à reatização eferiva do dever inerente ao estado humânô. O que faLta para uma compreensão da astrologia ê. portanto um conhecimento das suas rêlaçôes com a mÍstica, isto é, com a técnica da rearizaião espirituáL Pojs a .asLrotôgia. quâisquer que sejam suas âpr Lcaçoes prát rcas no campo da pura ur i I idade máte_ 22

riát (e as apticações psicológicas e psicorerapóuricas devem ser incluidás nesra caLegoriâ ranto quánro as ápIicaçôes econômicas ou sociais), á uma ciência de índole teórica, e como rat não teÍn justificação em sí mesmâ, e sim somente nâs âplicações e extensoes que possá ter no campo da reatização espiritua1. Notê-se que, eÍn todas as civilizações que pos'ti.

s"íra. uma astrolosia, ela serviu """.apreço prineiro lugar, como se vê atiás"".p'é pelo "alto que os grandes místicos como Ibn ,Araby, ptatã;, Sohravardi e tantos outros t inham pêta âstrotogiâ espiritual, parâ1e1amênte a um desprezo ou pelo menos a umâ _indiferênça para com as aplicações divinátoriás, nedicas, etc., a quê essa ciÂncia dava em

Ora, somente para dar uma idéia tongínqua do que possa ser essa aplicação espiritual da astrologia, podenos reco.rer à correspondência tradicional entre planetas, funçôes cogoitivas e ptanos de realidade.

Na astrologia rradicional, ral cono se vê por êxenplo em Ibn 'Araby, nas rambén em muitos autores tradicionais ocidentais, cada planêta reprêsênta um! função cognitiva -- em têrmos escotásticos, uma ,'faculdâdê da alma" -- e por outro tádo um ptdno ou nrvel dô cosmôs. A cosmologia,rrêdicionát, da quáI a asrrotogia . e um resuno slmbolrco, ênxerga o cosnos como um sistema de planos, ou de esferas concêntricas, cuja correta percepção (no sentido puramenre intetêcruê1, interior, da palavra percepção) depênde do grau de concentração, dê santidade e de penetração intetectual de cada qual. crosso nodo, os três principais planos são os do espírito, da alma ê aa corporàlidade. O prineiro contén o segundo, que conrém o terceiro. Há nuitas divisões internediárias. pârat€Iamente, a alma hunana tambérn é composta dê esferas (alma intelectiva, alma volirivã, etc. ), âbarcadas umas pe las outras.

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Â

cada uma dessas esfeÍas, simultanêâmênte do macrocosmo e do microcosmo, corresponde uma esfeÍa ou órbita pLaneEária. No esquema p.ânerário, o ásrro máic imporránre -- o So1 -- corresponde, no microcosÍro hunaoo, à

fâculdade de inEuiçao, ou inteligôncia, e ôo nacrocosmo ele representa o Logôs, ou Inteligônciâ Divina. Os demais astros reprêsentam, no homem, fâculdades subsidiárias que, como vimos oa conferência anter ior, dependem da inteligência e a ve icu lan ou

Na sinbólica trâdicional, as viagens celesEes, como a de Dantê na Divina Corédia, simbolizam realizaçôes espirituais, e a trãvessia de câdá esferã planetária simboliza, de un Iâdo, a ascensão a um cósmico de mãior universâIidade, e. de outro. "íve1 á abcorçao d" mâis umá ráculdádp cognitíva ná inruição ou inteligência. Esta âbsorção faz con qu€ â faculdâde em questão perca seu rãnço subjetivo e condicionado e, identificando-se a intelieôocia que e tonte, passe a veicular â verdade de naneira mais fiel e direta. E evidente, pôrtanto, qu€r ô simbolisno dê cada esfera planetária só pode ser correEâmente conpreendido dêntro do processo de real izâção espiritual de cada quãt, e ná medida dessa realização. Em outros terrnos: so compreendonos ou âbarcamôs ãquêlas esferas que já tcnhamos atravessado, ao menos virtualmente, o que depeLrde dâ nossa possibilidâde -ou vocação -- de reatização espirítuaI. o esEudo da astrologiâ, que ên si mesmo é muito útiI para essa finalidâdê, ficâ portanto truncâdo ê insat isfatório ênquanto eIa não for cumprida, ao nenos em certa nedida mínima. Neste sentido, a astrologia é propriânênte uma ciência dita esotárica, na medida em que implica uma realização espirituãI.

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encerrar, e vottando âo assunto de ontem, é prec;so advertir que os ritos exotéricos são parte integrante dessê processo de realizaçao Somente Para

e'piritr-ral, ao Ponto de que em grandê Pártê dos cá_ são a base mesma sobre a quál incidira o "r." """ e até mesno uma êventual iniciâdoutrina da ensino portanto, absolutamente indispensásão, Eles ç;.. l.âsos dos na toraLidáde ve is, No que diz respeito ao efeito dos ritos exoteÍicos, um efeito que eles podem e devem ter é justamente o de abrir acesso a un conhec iÍnento esotérico' só que a maior pãrte dos fiéjs não se lembra dê pedii exatamente isso a Deus -- limitando-se a pedir solução ae males humanos corri-queiros e deixando para pedir conhecimenros esoréricos ao primeiro pseudo-Buru ou pseudo-shàikh que áPare\á. sem que 'rt." oã"... utilizar-se do poder efetivo do meio ."g,r.t " normá1. estabelecido por Dêus 'esmo. que é â DrÊce. E. no entanLo, a Promessá de DPus é clâra e .orene: "satei. e vos abrirào a Portai pedi. ê vos daao." E Deus é o Firnê, o Manten€dor, o sufi"..á 3

olslaoeoSufisúo 0 ingre sso no Islam não se faz, como em outrâs religiões, por um rito de agregação, mas Por uÍna s inpLe s declarâção oúUti.a, nu qual o novo nuçulmano ates ta sua crença nos dois princípios de base que const i tuem

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