FRAMPTON - Regionalismo Critico
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Regionalismo Crítico: arquitetura moderna e identidade cultural
Kenneth Frampton
Capítulo de livro Biblioteca de casa O autor introduz a ideia de uma tensão entre cultura local e civilização universal corroborando este pensamento através de uma citação de Paul Ricoeur. Assim, através de exemplos em países ditos “marginais”, ele constrói a hipótese de regionalismo crítico, uma categoria crítica que seria capaz “aglutinar” diversas
posturas de arquitetos que buscam uma identificação com a cultura do local onde atuam. FRAMPTON, K. Regionalismo Crítico: arquitetura moderna e identidade cultural. p. 381-397. In: FRAMPTON, K. História Crítica da Arquitetura Arquitetu ra Moderna (3ed.). Martins Fontes: São Paulo, 2003.
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Citação de Paul Ricouer: o fenômeno da universalização, embora sendo um progresso da humanidade, constitui ao mesmo tempo uma espécie de destruição do “núcleo criativo de grandes civilizações e de grandes culturas”, núcleo sobre o qual interpretamos a vida que ele denomina de “núcleo ético e mítico da humanidade”. A partir daí o conflito se instaura. Uma espécie de erosão é causada por essa civilização
mundial às custas dos recursos culturais: por toda parte encontramos filmes de má qualidade, máquinas de venda automáticas, as mesmas monstruosidades de plástico ou alumínio, a deformação da linguagem pela propaganda. Uma cultura de consumo em massa resulta num massivo nível subcultural. Para os países em subdesenvolvimento se apresenta o seguinte paradoxo: “por um lado, uma nação precisa
enraizar-se no solo de seu passado, forjar um espírito nacional. Por outro, visando participar da civilização moderna, torna-se necessário ao mesmo tempo integrar a racionalidade científica, técnica e política, algo que frequentemente exige o abandono puro e simples de todo um passado cultural. como tornar-se moderno e voltar às raízes? Como reviver uma civilização antiga e adormecida e participar da civilização universal? Ainda não ocorreu um diálogo autêntico.
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O termo regionalismo crítico não pretende denotar o vernáculo do modo como ele foi outrora, produzido espontaneamente pela interação de clima, cultura, mito e artesanato. O termo pretende identificar “escolas” regionais recentes, cujo objetivo tem sido refletir os limitados elementos constitutivos nos quais se basearam. Esse regionalismo tem certo consenso anticentrista – uma
aspiração por uma forma de independência cultural, econômica e política. 3
O conceito de cultura local ou nacional é uma proposição proposição paradoxal, não apenas pela óbvia óbvia antítese entre cultura de raiz e civilização universal mas porque todas as culturas parecem ter dependido para seu desenvolvimento de certa fertilização cruzada com outras culturas. As culturas regionais e nacionais precisam ser constituídas de manifestações localmente moduladas de uma “cultura mundial”. Ricouer
sugere que manter uma cultura autêntica no futuro dependerá da capacidade de gerar formas vitais de cultura regional enquanto é apropriada influências estrangeiras. 4
Exemplo de Jorn Utzon, igreja Bagsvaerd. Bagsvaerd. No subúrbio de Copenhague em 1976 é erguida a igreja Bagsvaerd, que utiliza elementos de concreto pré-fabricados de dimensões padronizadas combinados com abóbodas de concreto moldadas in-situ. O modo pelo qual tais técnicas são combinadas alude a uma série de valores dialogicamente opostos.
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Elementos modulares pré-fabricados estão de acordo com valores da civilização universal e representa a capacidade de aplicação normativa. A abóboda moldada in-situ é intervenção única num lugar único, proclamando valores da cultura idiossincrática. Interpreta-se como a oposição da racionalidade das técnicas normativas e a irracionalidade da estrutura simbólica.
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Outro diálogo ocorre ao passar do revestimento modular (e econômico) do exterior para a nada ideal estrutura em casca abobadada. Seria mais econômico fazê-la de treliça de aço, mas a escolha deliberada pela capacidade simbólica: a abóboda representa o sagrado na cultura ocidental. No entanto, não há
precedentes de uma seção desta proporção na cultura ocidental, somente no Pagode Chinês. 7
As alusões sutis e contrárias incorporadas nessa cobertura têm consequências mais profundas que a perversidade de reinterpretar uma forma oriental através da tecnologia ocidental. Por sua escala e sua iluminação superior, a presença de um espaço religioso impede uma leitura exclusivamente ocidental/oriental. A intenção que subjaz a esses procedimentos de desconstrução e re-síntese é, em primeiro lugar, revitalizar certas formas desvalorizadas por uma interpretação oriental de sua natureza essencial; em segundo lugar, indicar a secularização das instituições representadas por essas formas. Argumenta-se que esse é o melhor modo de representar uma igreja numa época secular, na qual a iconografia eclesiástica tradicional sempre corre o risco de cair no kitsch.
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Essa revitalização de elementos ocidentais com contornos orientais (e vice-versa) não esgota as maneiras pelas quais a igreja é modulada tempo-espacialmente. Utzon conferiu-lhe uma forma semelhante a um celeiro, como meio de dar expressão pública a uma instituição sagrada.
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Caso exemplar de um regionalismo anticentrista foi o movimento nacionalista catalão: Grupo R, em Barcelona, liderado Sostres e Bohigas, que se via obrigado a reviver valores racionalistas da GATEPAC (ala espanhola pré-guerra dos CIAM), mas estava consciente da responsabilidade política de evocar um regionalismo realista, acessível à população.
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Coderch foi um arquiteto barcelonês cuja carreira foi tipicamente regionalista, oscilando entre uma alvenaria mediterraneizada e moderna (edifício de apartamentos ISM) e a composição vanguardista, neoplástica e miesiana (casa Catasus).
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Ricardo Bofill Taller de Arquitectura adotava uma abordagem abertamente Gesamtkunstwerk no final da década de 60, migrando posteriormente para um romantismo kitsch. Walden 7: vazios de 12 andares, salas mal iluminadas, balcões minúsculos. “Em última análise, apesar da efêmera h omenagem a Gaudí, Walden 7 é uma arquitetura narcisista par excellance”.
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Ao contrário de Bofill, Alvaro Siza Vieira por ser tudo, menos fotogênica.
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Citação de Siza: “muitas obras minhas não foram publicadas, por não foram totalmente construídas, o u profundamente transformadas ou destruídas ”. “Cada desenho deve captar, com o máximo rigor, um
momento preciso da imagem palpitante, em todas as suas tonalidades, e quanto melhor se conseguir reconhecer essa qualidade palpitante da realidade, mais claro s erá seu desenho.” 14
Crítica sobre Siza: Hipersensibilidade de Siza torna sua obra mais estratificada e enraizada que as tendências ecléticas da Escola de Barcelona. Seus fragmentos são respostas ajustadas à paisagem urbana, campestre e marinha do Porto. Outros fatores importantes consistem em sua deferência para com os materiais locais, o artesanato e as sutilezas da luz local; uma deferência que é mantida sem cair no sentimentalismo de excluir a forma racional e a técnica moderna. Todos edifícios de Siza são acomodados delicadamente à topografia de seu lugar. Sua abordagem é claramente tátil e tectônica, mais que visual e gráfica.
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A obra de Raimund Abraham tem preocupações semelhantes às de Siza, uma vez que enfatizou a criação do lugar e os aspectos topográficos da forma construída. Projetos evocam uma imagem onírica mas insistem na inescapável materialidade da construção. Esta preocupação com a forma tectônica foi transposta para o projeto do Friedrischstadt Sul em 1981.
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Atitude igualmente tátil aparece na obra de Barragán. Sendo paisagista e arquitetura, ele semprebuscou um arquitetura sensual ligada à terra. Espaços fechados, estelas, fontes, córregos. Arquitetura erguida sobre rocha vulcânica e vegetação luxuriante que remete indiretamente à estancia mexicana.
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Citação de Barragán: lembranças de sua infância num Pueblo com casas de imensos beirais e com um sistema de abastecimento de água composto por aqueduto que cruzava toda cidade e oferecia água aos pátios das casas, onde haviam fontes. Nesses pátios criava-se galinhas e vacas misturas.
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O autor acredita que essa recordação foi influenciada pelo envolvimento que durante grande parte da vida Barragán teve com a arquitetura islâmica. E cita sua preocupação com à invasão da privacidade no mundo moderno
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Citação de Barragán: A vida cotidiana está se tornando muito pública, por isso os pátios deveriam ser fechados e não abertos ao olhar público. Os arquitetos esquecem-se da necessidade da meia-luz que os seres humanos têm, aquela que propicia tranquilidade. Mais ou menos metade do vidro utilizado em
edifícios precisam ser removidos. 20
Citação de Barragán: Antes da era das máquinas, mesmo nas cidades, o homem se encontrava com a Natureza. Agora mesmo quando deixa a cidade para comungar com ela fica selado dentro de seu automóvel. Um cartaz de publicidade é suficiente para sufocar a voz da Natureza. A natureza tornou-se um refugo da Natureza. E o homem um refugo do homem.
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Distanciamento da sintaxe do Estilo Internacional já aparece na sua primeira casa-estúdio, em 1947.
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O regionalismo aparece também em outras regiões das américas: no Brasil, década de 40, nas primeiras obras de Niemeyer e Redy; na Argentina, com Amancio Willians na casa-ponta em Mar del Plata e talvez, no Bando de Londre de Clorindo Testa; na Venezuela, na cidade universitária de Villanueva; na costa oeste dos EUA, primeiramente em Los Angeles, no início dos anos 20, na obra de Neutra, Schindler, Weber e Gill, e depois no sul da Califórnia com Harwell Harris. Harris foi um dos pioneiros no termo regionalismo, estabelecendo a diferenciação bem-sucedida entre regionalismo restrito e regionalismo liberado:
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Citação de Harris: ler toda citação
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Apesar da aparente liberdade de expressão, tal nível de regionalismo libertador é difícil de ser atingido na América do Norte. Dentro da atual proliferação de formas altamente individualizadas de expressão, apenas poucas firmas demonstram algum compromisso profundo com uma cultura americana enraizada. Exceção de Andrew Batey e Mark Mack na região de Napa valley, na California e Harry Wolf, com atividade restrita à Carolina do Norte.
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Cita descrição de Harris para o concurso de Fort Lauderdale, que está na mesma linha latitudinal de Tebas (o trono de Ra, deus do sol) e de Jaipur, na Índia, onde há o maior relógio de sol do mundo. Assim propuseram também a criação de um relógio de sol para a Plaza objeto do concurso.
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O arquiteto Gino Valle tem uma obra que pode ser considerada regional, tendo em vista que sua carreira sempre ficou centrada em Udine. Valle realizou uma das primeiras reinterpretações pós-guerra do vernáculo rural da Lombardia na Casa Quaglia.
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Para o autor é compreensível que após a segunda guerra mundial emergisse espontaneamente impulsos regionalistas, pois na Europa os vestígios de cidades-estado ainda são bastante vivos. Cita como exemplo: Ernst Gisel, em Zurique; Jorg Utzon, em Copenhague; Vittorio Gregotti, em Milão; Sverre Fehn, em Olso; Aris Kostantinidis, em Atenas; Carlos Scarpa, em Veneza.
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A Suiça sempre apresentou fortes tendências regionalistas em função de suas intricadas fronteiras da língua e sua estrutural em “cantões”. No entanto também sempre teve uma trad ição cosmopolita. Cita
alguns exemplos. 32
O regionalismo de Ticino, cantão da Suiça, tem sua origem no racionalismo italiano, muito expressivo na Suiça do pós-guerra. Alberto Sartoris foi extremamente importante. Ele fala: “a arquitetura rural com suas características essencialmente regionais está perfeitamente à vontade com o Racionalismo contemporâneo. De fato, ela encarna na prática todos os critérios funcionais sobre os quais os métodos de construção modernos estão essencialmente fundamentados.”
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Na década de 50, a prática ticiniana estava mais para Frank Lloyd Wright do que para os racionalistas italianos, como relatado por Tita Carloni: “ingenuamente, estabelecemos para nós mesmo o objetivo de
um Ticino orgânico, no qual os valores da cultura moderna deveriam interpenetrar-se de um modo natural com a tradição local.”
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Citação sobre o neo-racionalismo da década de 70. Um desafio de reavaliar, de forma crítica, toda a evolução do Modernismo, mais especificamente o das décadas de 20 e 30.
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Como sugere Carloni, a força da cultura provinciana reside em sua capacidade de condensar o potencial artístico e crítico da região ao mesmo tempo que assimila e reinterpreta as influências de fora. Sob esse ângulo é típica a obra de Mario Botta, discípulo de Carloni. Botta teve a felicidade de poder trabalhar para Le Corbusier e Kahn quando eles realizaram projetos para Veneza. Obviamente influenciado por ambos, acabou por apropriar-se da metodologia neo-racionalista italiana como se fosse sua, mantendo ao mesmo tempo, através de Scarpa, a capacidade incomum de enriquecimento artesanal da forma.
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Duas características de Scarpa: (1) sua preocupação constante com o que ele denomina “construir o lugar”, e (2) sua convicção de que a perda da cidade histórica só pode ser compensada pelas “cidades em miniatura” (um domínio microurbano, como compensação cultural para a evidente perda da vida cívica). A casa em Riva San Vitale é um reinterpretação tipológica das antigas “ricoli”, casas de campo
tradicionais em formato de torre, abundantes na região. 37
As casas de Botta funcionam como marcos na paisagem. Casa em Ligornetto, estabelece a fronteira onde a cidadezinha termina e o sistema rural começa. Frequentemente tratadas como bunkers/belvederes, se abrindo para vistas escolhidas. Ao invés de construir terraços no local, elas “constroem o local”, de acordo com a tese de Vittorio Gregotti. Formas primárias colocadas contra a topografia e o céu.
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Apesar desse gosto pelo doméstico (concomitantemente moderno e tradicional) seu aspecto mais crítico está nas obras públicas. 2 projetos realizados com Luigi Snozzi, 2 edifícios “viaduto”. (1) Centro Direzionale de Perugia, “uma cidade dentro de uma cidade”, um viaduto -megaestrutura que, se
construído, teria firmado sua presença na região urbana sem comprometer a cidade histórica ou fundirse ao caos suburbano dos arredores. (2) Estação de Zurique, onde uma ponta de muitos níveis serviria não somente para acomodar lojas, escritórios, restaurantes e estacionamentos, como também construiria um novo edifício principal; 39
Não é por acaso que Tadao Ando tem sua base de atuação em Osaka e não em Tóquio. Sua ideias estão muito próximas da ideia de Regionalismo Crítico. Ele percebe a tensão existente entre a modernização universal e a idiossincrasia da cultura de raízes;
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Citação de Ando: “Nascido e criado no Japão, é aqui que produzo minha obra arquitetônica. E suponho que seria possível afirmar que o método que escolhi consiste em aplicar o vocabulário e as técnicas desenvolvidos por um Modernismo aberto e universalista, num domínio fechado de estilos de vida individuais e diferenciação regional. Parece-me difícil, porém, tentar expressar as sensibilidades, os costumes, a consciência estética, a cultura diferenciada e as tradições sociais de uma determinada raça através de um vocabulário modernista aberto e internacionalista (...) ”
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“arquitetura moderna fechada” Ando, na visão de Frampton, quer dizer a criação literal de encraves
murados, em virtude dos quais o homem é capaz de recuperar e manter algum vestígio de sua intimidade anterior com a natureza e com a cultura; 42
Citação de Ando: Depois da 2ª Guerra, o Japão entrou num ritmo acelerado de crescimento. O hábito das pessoas mudaram. “Populações urbanas e suburb anas excessivamente densas tornaram impossível preservar um traço que, no passado, foi por demais característico da arquitetura residencial japonesa: o contato íntimo com a natureza e a abertura para o mundo natural. Aquilo a que me refiro quando uso os termos “arquitetura moderna fechada” é uma recuperação da unidade entre a casa e a natureza, algo que as moradias japonesas perderam ao longo do processo de modernização”.
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Em suas pequenas casas com quintal, Ando usa o concreto de modo a enfatizar a tensa homogeneidade de sua superfície, e não o seu peso. Para ele esse é o material mais apropriado “para realizar superfícies
criadas por raios de sol onde as paredes se tornam abstratas, são negadas, e se aproximam dos limites últimos do espaço. Sua realidade se perde, e só o espaço que encerram nos dá uma sensação de existência concreta”.
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Enquanto a importância fundamente da luz é enfatizada nos textos de Kahn e Le Corbusier, Tadao Ando vê o paradoxo da limpidez espacial que emerge da luz como algo particularmente inerente ao caráter japonês. Isso explicita o significado mais amplo que atribui ao conceito de modernidade fechada em sí:
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Citação de Ando: “Os espaços desse tipo são desprezados pelas atividades utilitárias do cotidiano e
raramente se dão a conhecer. Ainda assim, são capazes de estimular a lembrança de suas formas mais intrínsecas, estimulando novas descobertas. É esse o objetivo daquilo que chamo de "arquitetura moderna fechada". Esse tipo de arquitetura tende a alterar-se conforme a região na qual lança suas raízes, bem como a desenvolver-se de diversas maneiras especificas. Mesmo assim, ainda que fechada, estou convencido de que, enquanto metodologia. abre-se na direção da universalidade”. 46
O que Ando tem em mente é o desenvolvimento de uma arquitetura em que a tatilidade da obra transcende sua ordem geométrica.
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Citação de Ando: “ Com o tempo, a luz altera as expressões. Acredito que o material arquitetônico não
acaba na madeira e no concreto, que têm formas tangíveis, mas que os ultrapassa de modo a incluir a luz
e o vento que deleitam nossos sentidos. (...) Os detalhes existem como os elementos mais importantes para a expressão da identidade. (...) Para mim, portanto, o detalhe é um elemento que remata a composição física da arquitetura, mas, ao mesmo tempo, é um gerador de uma imagem de arquitetura. 48
Artigo de Tzonis e Lefaivre demonstram o papel ambíguo desempenhado pelos Schinkelschüler na construção de Atenas e na fundação do Estado grego:
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O regionalismo historicista na Grécia, em sua versão neoclássica, já tinha adversários antes do estado de bem-estar social. Na Grécia, o regionalismo historicista surgiu não só de uma guerra de libertação; emergiu a partir de interesses de desenvolver uma elite urbana separada do universo camponês e de seu “subdesenvolvimento” rural, e também criar um domínio da cidade sobre o campo. O regionalismo
histórico havia unido as pessoas, mas também as dividira. 50
Um movimento conscientemente regionalista surgiu na Grécia com as primeiras obras de Aris Konstantinidis. Nas obras públicas desse arquiteto há uma tensão entre a racionalidade universal da estrutura travejada de concreto armado e a tatilidade autóctone da pedra nativa e do bloco usado para calafetagem. Fala de outro projeto, um passeio público em um parque de Dimitris Pikionis:
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Citação de Tzonis
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Tzonis vê a obra de Antonakakis como uma combinação do caminho topográfico de Pikionis com o traçado universal de Konstantinidis, oposição dialética parece refletir, mais um vez, a cisão entre cultura e civilização assinalada por Ricoeur. “Talvez nenhuma obra expresse essa dualidade mais diretamente do
que seus apartamento da rua Benaki, construído em Atenas em 1975, uma estrutura em estratos na qual uma rota labiríntica, extraída do vernáculo das ilhas gregas, é entretecida na trama regular da estrutura de supor em concreto.”
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O regionalismo crítico é menos um estilo do que uma categoria crítica voltada para certas caracteríscas comuns, que nem sempre podem estar presentes no exemplos citados aqui. Essas características, ou melhor, essas atitudes, talvez possam ser sintetizadas da seguinte maneira:
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1) “O regionalismo crítico deve ser entendido como uma prática marginal que, embora crítica acerca da modernização, ainda assim se recusa a abandonar os aspectos emancipatórios e progressistas do legado arquitetônico moderno. Ao mesmo tempo, a natureza fragmentária e marginal do Regionalismo Crítico serve para distanciá-lo tanto da otimização normativa quanto da ingênua utopia dos primórdios do movimento moderno. Em contraste com a linha que vai de Haussmann a Le Corbusier, favorece a planta de pequena dimensão e não a de grandes dimensões.”
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2) “o Regionalismo Crítico manifesta -se como uma arquitetura conscientemente delimitada que, em vez de enfatizar a construção como um objeto independente, faz a ênfase incidir sobre o território a ser estabelecido pela est rutura erguida no lugar. Essa “forma do lugar” significa que o arquiteto deve reconhecer o limite físico de sua obra como uma espécie de limite temporal – o ponto no qual se interrompe o ato de construir.”
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3) “O regionalismo crítico favorece a realização da arquitetura como um fato
tectônico,
e não
como a redução do ambiente construído a uma série de episódios cenográficos desordenados.”
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4) “Pode-se afirmar que o Regionalismo Crítico é regional na medida em que invariavelmente enfatiza certos fatores específicos do lugar, que variam desde a topografia, vista como uma matriz tridimensional à qual a estrutura se amolda até o jogo variado da luz local que sobre ela incide. A luz é sempre entendida como o agente básico por intermédio do qual o volume e o valor tectônico da obra são revelados. Uma resposta articulada às condições climáticas é o corolário necessário a tal especificidade. O Regionalismo Crítico, portanto, opõe-se à tendência da “civilização universal” de privilegiar o uso e ar-condicionado, etc. Tende a tratar todas as aberturas como zonas delicadas de transição com capacidade de reagir às condições específicas impostas pelo lugar, pelo clima e pela luz.”
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5) “O Regionalismo Crítico enfatiza tanto o tát il quanto o visual. Tem consciência de que o ambiente pode ser vivenciado em outros termos, não somente através da visão. É sensível a percepções complementares como os níveis variáveis de iluminação, as sensações ambientais de calor, frio, umnidade e deslocamento do ar, bem como à diversidade dos aromas e sons produzidos por materiais diferentes em diferentes volumes, e até mesmo às sensações variadas induzidas pelos acabamentos de pisos, eu levam o corpo a passar por mudanças involuntárias
de postura, modo de andar, etc. Opõe-se à tendência, numa época dominadas pelos meios de comunicação, a substituir a experiência pela informação.”
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6) “Enquanto se opõe à simulação sentimental do vernáculo local, em certo momentos o Regionalismo Crítico vai inserir elementos vernáculos reinterpretados como episódios disjuntivos dentro do todo. Além do mais, irá às vezes buscar tais elementos em fontes estrangeiras. Em outras palavras, vai empenhar-se em cultivar uma cultura contemporânea voltada para o lugar sem tornar-se, por isso, excessivamente hermético, tanto no nível da referência formal quanto no da tecnologia. A esse respeito, tende à criação paradoxal de uma “cultura mundial” de bases regionalistas, quase como se isto fosse uma precondição para a conquista de uma forma relevante de prática contemporânea.”
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7) “O Regionalismo Crítico tende a florescer naqueles interstícios culturais que, de um modo ou de outro, são capazes de fugir ao cerco da investida otimizadora da civilização universal. Sua aparência sugere que a noção herdada do centro cultura dominante, cercado por satélites dependentes e dominados, representa, em última instância, um modelo inadequado para a avaliação do estado atual da arquitetura moderna.”
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