Os jovens com menos de 30 anos que fizeram – e fazem – a diferença no Brasil estão na capa da nova edição de FORBES Bras...
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forbes
editorial
coNSElho Editorial
Jovens e raras joias
antonio Camarotti, flávio rocha e Paulo Iász de morais Editor-chEfE José Vicente bernardo Editora ExEcutiva Gabriela arbex Editora dE artE ana Carolina Nunes rEpórtEr Leandro manzoni
sta edição de forbes traz para você uma joia. Na verdade, quase uma centena de joias sob a forma de pessoas jovens, dinâmicas, criativas, ousadas, divertidas, talentosas e preocupadas em fazer do planeta um lugar melhor. este ano, a tradicional lista UNDer 30 presta particular homenagem aos nossos heróis da olimpíada e da Paralimpíada, disputadas no rio de Janeiro em 2016. Nos esportes coletivos, bruninho foi eleito por nossa equipe e pelos consultores especialmente convidados o representante ideal da seleção brasileira de vôlei que brilhou nas quadras, assim como Gabriel Jesus mereceu a indicação em nome dos jogadores que trouxeram o inédito ouro olímpico no futebol. o fenômeno Daniel Dias, uma unanimidade, representa aqui a vitoriosa delegação paralímpica do brasil. foi uma honra, um prazer e um grande aprendizado participar da produção desta edição de UNDer 30. Conhecemos de perto novas e surpreendentes visões de mundo, novas estratégias de negócios, uma nova dimensão do que significa fazer a diferença. acompanhe os feitos de cada um deles, surpreenda-se, inspire-se… ou simplesmente desfrute dessas boas companhias. Leia também a reportagem sobre a carne brasileira que está dominando o mercado do oriente médio, seguindo as tradições e os rituais halal. No âmbito das relações internacionais, o embaixador da suíça no brasil fala sobre as iniciativas do país alpino para turbinar o turismo e o comércio entre os dois países neste cenário de incertezas pós-Trump e pós-brexit. outra aposta no brasil vem da emirates airlines, que anunciou para este mês o início das operações do descomunal airbus a380 na rota diária são Paulo-Dubai. Quase tanto quanto o destino, a aeronave é uma atração por si só. Lifestyle: conheça as melhores bebidas norte-americanas, as novidades da rede fasano, a jovem cabeça por trás do restaurante nova-iorquino Carbone e o conforto das novas instalações do W south beach, em miami. aprecie tudo isso sem a menor moderação. boa leitura! José Vicente Bernardo editor-chefe
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8 | forbes brasil março 2017
publiShEr/cEo
Antonio Camarotti
Editor dE mídiaS diGitaiS alexandre mercki articuliStaS Carla bolla, Carolina Perez, flávio rocha, Jairo Waisman, mario Garnero e Nelson Wilians colaboradorES Isabela barbosa (estagiária); andré ricci e mauro Proeza (tratamento de imagem); ariani Carneiro (editora de fotografia); Tomás arthuzzi, Diego Nata, ale santos, rodrigo Takeshi, renato rocha miranda, fernando Vivas, stefano martini e Thiago Gouveia (fotógrafos); estela silva, rebecca silva, ricardo Gomes e Lurdete ertel (texto) tradução Cesar sarkis Guludjian rEviSão renato bacci
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Impressão Plural Indústria Gráfica
março 2017 | ano Vi - nº 49
Editor-chEfE
Steve Forbes dirEtor ExEcutivo Lewis D’Vorkin revista Forbes Editor randall Lane Editor GEral Tom Post Editor ExEcutivo michael Noer dirEtor dE artE robert mansfield Forbes Digital Editor matt schifrin EditorES aSSiStENtES (NEGócioS, EmprESaS, tEcNoloGia & patrimôNio) bruce Upbin, Dan bigman e Tom Post vicE-prESidENtE dE dESENvolvimENto dE produto E vídEo andrea spiegel dirEtor ExEcutivo dE EStratéGia dE proGramação diGital Coates bateman produtor ExEcutivo frederick e. allen forbES áSia Tim W. ferguson valE do Silício Connie Guglielmo, Kashmir Hill e Kerry a. Dolan WaShiNGtoN Janet Novack SportSmoNEy michael K. ozanian EditorES Deborah markson-Katz, John Dobosz, Luisa Kroll, mark Decker opiNião John Tamny coNSElhEiro Editorial Kai falkenberg fuNdada Em 1917 b.C. forbes, editor-in-Chief (1917-54) malcolm s. forbes, editor-in-Chief (1954-90) James W. michaels, editor (1961-99) William baldwin, editor (1999-2010)
março 2017
36 under 30
Conheça os jovens mais influentes no Brasil
12 | SOBRE OS FATOS
medida arbitrária do governo prejudica indianos pOR Steve Forbes
LEADERBOARD
REpORTAgENS 32 | OS mAiS pODEROSOS DO mUNDO Presidente russo Vladimir Putin lidera lista de ForBES
36 | UNDER 30 BRASiL
16 | cAROS cOmO jOiAS
Conheça os lápis que têm preço de cinco dígitos
Conheça os jovens talentos que fizeram – e continuam fazendo – a diferença em suas áreas
17 | WiNNERS & LOSERS
76 | cARNE BRASiLEiRA NO iSLÃ
Nissan escolhe novo CEo para substituir Carlos Ghosn
18 | iATES BRASiLEiROS
Filial do grupo azimut-Benetti vai exportar iates com inovações criadas no Brasil
19 | FENÔmENO mUSicAL
Veja números do cantor Jason Derulo, um Under 30 de ForBES USa
Gigante BrF cria a oneFoods para consolidar sua operação no oriente médio
82 | SUA ViDA VALE pONTOS CEo da multiplus fala sobre a empresa e como funciona o programa de fidelidade
85 | VOcÊ jÁ FOi À SUÍÇA?
20 | gUiNNESS
Família cervejeira vende minicastelo na Irlanda
Embaixador suíço fala sobre os planos para ampliar laços turísticos e comerciais com o Brasil
REpORTAgENS
Companhia árabe traz o maior avião comercial do mundo para a rota São Paulo-Dubai
26 | OS pRÓXimOS pASSOS DO UBER
92 | TWiTTER SOB NOVO cOmANDO
88 | O gigANTE DA EmiRATES
Empresa de Travis Kalanick planeja ampliar seus serviços de olho nos carros autônomos
10 | forbes brasil março 2017
Fiamma Zarife assume a plataforma com a missão de aumentar o faturamento no Brasil
© capa e fotos dessa página tomas arthuzzi
edição 49 — ano Vi
©1
82
muLTIpLuS “85% dos usuários trocam os pontos acumulados por viagens”, diz CEO ©1
lifestyle 98 | DOses De ClAsse Conheça as melhores bebidas produzidas nos EUA
102 | fAsANO DOBRA ReDe
Grife de hospedagem e gastronomia planeja abrir novos hotéis no Brasil e nos EUA
106 | gAstRONOmiA em Ny o jovem talento por trás de restaurantes de sucesso
109 | W sOUtH BeACH As novas instalações do confortável hotel de Miami
114 | RetROsPeCtiVA
Em 1967, FoRBES previu o futuro da televisão
COlUNistAs 14 | Trump e o que nos espera POR Mario Garnero 21 | A história do Bradesco e seu criador POR Alex Ricciardi, em Nostalgia 22 | Jogo de compadres POR Flávio Rocha 24 | Os limites do poder POR Nelson Wilians 96 | Dos modos às taças POR Carla Bolla 109 | O Patek brasileiro por Jairo Waisman 112 | Cidades italianas para curtir no inverno por Carolina Perez
©1 diego nata e ale santos
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RELAÇÕES INTERNACIONAIS “A maioria dos brasileiros não sabia o que era a Suíça”, afirma embaixador ©1
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airbUs a380 “Brasil terá o maior e melhor avião do mundo”, diz diretor geral da Emirates
eRRAtA
No quadro da página 41 da edição 48, Times Square foi erroneamente identificada como avenida. No texto, o PIB correto de Nova York é de cerca de US$ 1,4 trilhão. o falecido senador Jonas Pinheiro (pág. 42) não foi do PP-MT, mas sim do PDS e do PFL (depois DEM) do Mato Grosso.
MARÇo 2017 forbes brasil | 11
steve forbes* // sobrE os fatos
a medida imoral e repugnante da Índia Em novEmbro, o govErno da Índia perpetrou um ato inédito que não apenas vem prejudicando a economia do país e ameaçando de penúria milhões de seus cidadãos já pobres, como também é de uma imoralidade a toda prova. Sem nenhum aviso, a Índia descartou abruptamente 85% de sua moeda. É isso mesmo: a maior parte do dinheiro do país deixou de ter curso legal. Surpresos, os cidadãos tiveram apenas algumas semanas para pegar seu dinheiro e levá-lo ao banco a fim de trocá-lo por cédulas novas. a confusão econômica foi ainda maior porque o governo não imprimiu uma quantidade suficiente de cédulas novas, com receio de que houvesse um vazamento do que estava para acontecer. além disso, as cédulas novas são diferentes das antigas no tamanho, o que cria enormes problemas nos caixas eletrônicos. Embora a Índia seja uma verdadeira locomotiva em tecnologia, centenas de milhões de seus habitantes vivem numa terrível pobreza. muitos trabalhadores estão abandonando as cidades para voltar a seus vilarejos porque um grande número de empresas está fechando. Incontáveis estabelecimentos estão tendo dificuldades com a folha de pagamento, já que não conseguem obter dinheiro. o mercado imobiliário afundou. a economia indiana baseia-se predominantemente no dinheiro vivo. ademais, grande parte dela é informal, devido ao excesso de regras e impostos. o aparato estatal é famoso pela burocracia, morosidade e corrupção, obrigando o povo a se virar por conta própria. a pesquisa Doing Business, realizada anualmente pelo Banco mundial, mede a dificuldade de abrir e gerir uma empresa em 190 nações, usando critérios como o que é necessário para constituir uma empresa legalmente e obter eletricidade e alvarás de construção. a Índia está entre os piores países do mundo nesses quesitos. Desde o breve programa de esterilização forçada nos anos 1970 – surto de eugenia ao estilo nazista que foi instituído para lidar com a “superpopulação” do país –, o governo não fazia algo tão imoral. Ele diz que a medida combaterá a corrupção e a sonegação de impostos ao supostamente revelar o dinheiro ilegal, enfra12 | forbes brasil março 2017
quecer os terroristas e os negócios criminosos e obrigar a Índia a aderir a um sistema de crédito digitalizado. Um lembrete: a natureza humana não mudou desde que começamos a perambular por este planeta. as pessoas sempre acharão maneiras de transgredir. os terroristas não têm intenção de abandonar suas maldades devido a uma mudança na moeda. Quanto à digitalização do dinheiro, ela acontecerá no seu devido tempo se os livres mercados forem permitidos. E o melhor remédio para a sonegação fiscal é um imposto único ou, pelo menos, um sistema tributário simples e de alíquotas baixas que faça com que a sonegação não valha o esforço. Quando é fácil fazer negócios de modo lícito, a maioria das pessoas faz exatamente isso. a Índia é o exemplo mais extremo e destrutivo da mania antidinheiro que assola governos e a profissão de economista atualmente. Há países que estão tomando medidas para banir as cédulas de valor alto, mencionando as justificativas apresentadas por Nova Délhi. mas não há dúvidas a respeito do que está por trás disso: o ataque à sua privacidade e o aumento do controle da sua vida pelo Estado. a nefasta ação da Índia ressalta outra imoralidade. o dinheiro representa o que as pessoas produzem no mundo real. Ele é uma reivindicação sobre produtos e serviços, assim como um ingresso está para uma cadeira num evento. o Estado não cria recursos; as pessoas, sim. o que a Índia fez foi cometer um enorme roubo de posses das pessoas sem nem sequer fingir o devido processo legal – medida chocante para um governo eleito democraticamente. (Esperam-se coisas do gênero de lugares como a Venezuela.) Não é de surpreender que o governo esteja minimizando o fato de que essa providência dará à Índia um ganho que talvez chegue a dezenas de bilhões de dólares. ao roubar posses, empobrecendo ainda mais seus cidadãos menos afortunados, solapando a confiança social e, assim, envenenando a política e prejudicando os investimentos futuros, a Índia lesou seu povo de forma imoral e desnecessária, ao mesmo tempo que deu um exemplo temeroso ao resto do mundo. *steve forbes é editor-chefe de forBES
Adquire sabedoria, pois, com ela, terás o entendimento
Está claro o que a Índia deve fazer para satisfazer seu desejo de se tornar uma potência mundial: reduzir a tributação da renda e das empresas e simplificar a estrutura tributária como um todo; tornar a rúpia tão forte quanto o franco suíço; eliminar regulamentos, de modo que uma empresa possa ser aberta sem custos e em poucos minutos; e passar uma tesoura gigantesca em todas as regras que fazem com que cada projeto de infraestrutura seja um empreendimento de 100 anos.
a União europeia sobreviverá?
a Itália está de saída da UE? a rejeição, pelos eleitores italianos, de um referendo realizado recentemente sobre uma suposta reforma governamental levou à queda do governo e suscitou esse questionamento. o apoio à saída é crescente, mas essa opção não é solução para os infortúnios da Itália. o problema do país – como o de outros membros da UE – é estrutural. os defeitos continuarão lá se a Itália sair. Seu sistema bancário está um caos; de uma forma ou de outra, serão necessários resgates financeiros. a dívida pública cresce em proporções gregas. as reformas internas – grandes cortes de impostos e simplificação radical de todo o sistema tributário, menor rigidez nas leis trabalhistas que tolhem o crescimento, menos regulamentos asfixiantes e um aparato estatal menos inchado – têm sido mínimas, motivo pelo qual o crescimento econômico é praticamente inexistente. a dissolução da UE – e a saída da Itália significaria exatamente isso – seria uma catástrofe geopolítica. Todos os demônios que estão contidos desde a Segunda Guerra mundial seriam soltos. Somando-se a isso a beligerância crescente da China no Pacífico, a situação seria feia demais de se imaginar.
Má gestão da dívida
Numa era de barbeiragens econômicas, um fato que recebeu pouca atenção foi a má gestão da dívida interna pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Como as taxas de juros estão anormalmente baixas – graças à sua supressão pelo Federal reserve –, seria de imaginar que o Tio Sam entraria com força na emissão de títulos de longo prazo para garantir custos ultrabaixos. Não faz muito tempo que um título do Tesouro de 30 anos costumava render mais de 7%, em vez do que vem pagando recentemente: menos de 3%. mas os gênios do Tesouro reduziram a duração média da dívida pública para cinco anos. Foi um recurso de curto prazo que diminuiu artificialmente o custo de financiamento da dívida e, assim, liberou mais dinheiro para programas internos perdulários. a medida foi típica do governo obama em todas as facetas de sua governança. (o exemplo mais chocante dessa miopia destrutiva foi a retirada precoce das forças norte-americanas do Iraque em 2011 para elevar as
chances de reeleição. Veja, américa – proclamou obama –, a guerra contra o terrorismo está terminando, e nós vencemos. mas a realidade é que nossa penosa vitória contra o terrorismo muçulmano no Iraque foi desperdiçada. No vácuo que se seguiu, surgiu o Estado Islâmico.) as taxas de juros estão subindo. Se a maior parte das propostas de Donald Trump nas áreas de impostos, saúde e regulamentação for concretizada, a economia dos Estados Unidos crescerá de verdade novamente; a procura de crédito aumentará, assim como o custo de obter acesso a ele. as despesas de Washington com juros darão um salto nos próximos anos. Por sorte, ainda há tempo para emitir quantidades significativas de títulos de longo prazo com custos historicamente baixos. aliás, nós deveríamos seguir o exemplo de outros países que emitiram dívida com vencimento bastante longo. o guru econômico Larry Kudlow recomenda que o Tio Sam leiloe títulos com vencimento de 100 anos. Se o méxico, a Irlanda e a Bélgica podem fazer isso – e fizeram –, nós também podemos. a Áustria emitiu um título de 70 anos, e a Grã-Bretanha fez uma série de emissões com vencimentos de 40 a 50 anos. após a posse de Donald Trump, o Tesouro deveria anunciar que, dentro dos próximos 15 meses, aproximadamente, o Tio Sam venderá mais de US$ 1 trilhão em títulos de um século. Esses títulos de vencimento distante venderiam? Haveria um corre-corre para comprá-los. Graças à desastrosa compra, pelo Fed, de muitos trilhões de dólares em títulos garantidos por hipotecas e títulos do governo dos EUa, há poucos títulos em mãos não governamentais. Tal escassez, combinada às taxas de juros baixíssimas, vem causando estragos nos fundos de pensão e nas seguradoras. Essas entidades e outras com passivos de longo prazo precisam desesperadamente de títulos seguros com taxas de juros “normais” para cumprir obrigações futuras. o novo governo também deveria impedir o Fed de comprar quaisquer desses títulos. além disso, ele deveria ser instruído a reduzir seu portfólio de mais de US$ 4 trilhões. Quando um título vence, o principal não deveria ser reinvestido; em vez disso, deveria fluir de volta aos mercados de crédito privados, onde pode ser posto para trabalhar produtivamente, de modo a expandir a economia. aliás, embora o afrouxamento monetário tenha se encerrado formalmente, nosso banco central, tão propenso a erros, vem ampliando a duração de seus títulos. o especialista em assuntos monetários David malpass enfatiza corretamente que o resultado final desse exercício perverso tem sido não só uma escassez de títulos, como também uma falta de crédito para empresas novas e pequenas. Em outras palavras, tanto o Tio Sam quanto o Fed vêm fazendo o oposto do que deveriam fazer: o governo federal encurta o vencimento de sua dívida, e o Fed alonga o vencimento de seu estoque de títulos. março 2017 forbes brasil | 13
mario garnero* // líderes do pensAmento
Trump e o que nos espera Ao se dissipAr o coro mundiAl dAs viúvAs dA grAnde cAndidAtA Hillary Clinton, batida em eleições democráticas, clareiam-se os primeiros lineamentos do governo de Donald Trump. realismo, pragmatismo e o bordão “Vamos fazer a américa grande novamente”. o mesmo bordão que espero que nossos governantes entoem neste Brasil, o maior exportador de propinas desde que o mundo existe. a queda da inflação de maneira espetacular está a nos mostrar uma verdade histórica. os ciclos de maiores crescimentos do PIB brasileiro se deram nos períodos de inflação baixa. Vamos à Selic de um só dígito – de preferência, rapidamente. Vamos à progressiva desindexação da engessada economia da qual somos vítimas. Vamos à desburocratização e à desregulamentação do infernal emaranhado em que nos enroscaram, empresas e indivíduos. Vamos às reformas na velocidade da luz pelo entendimento saudável entre o Executivo e um Congresso necessitado de restaurar sua imagem pública. Vamos além para que, voltando ao regime de concessão, possamos competir no mundo do petróleo até mesmo com o nacionalista méxico, hoje exemplo de avanço no concorrido mundo da exploração petrolífera. Nosso pré-sal quase virou água com açúcar; passemos agora a dar o passo gigante de tirá-lo das garras das ideologias para ajudar a melhorar estados e união falidos. Vamos, enfim, nos concentrar na restituição de lugares de trabalho tanto para uma juventude mais bem preparada como também para o restante da população – e isso em regime de urgência urgentíssima. E, a partir daí, começarmos a pensar em Trump. Ele reverá o Nafta e não aderirá à aliança atlântica, deixando-nos um espaço enorme para uma ação diplomática includente. Como começamos a ter o mercosul não mais a serviço dos bolivarianos-empreiteiros, devería14 | forbes brasil março 2017
mos negociar logo o waiver que permitirá a cada um de seus membros concluir acordos comerciais individuais. E o primeiro deve ser com os Estados Unidos, nosso principal sócio continental. Da política interna de Trump nossos empresários devem encontrar as brechas para criar empregos lá e, aqui, ampliar sua inserção internacional, na certeza de que a explosão dos cartéis de empreiteiros seja uma mensagem muito forte aos governos para abrirem mais a nossa economia interna e externamente, pois soma competição e impede a espúria união de setores que por tanto tempo tem dominado a economia produtiva do Brasil. Competição e abertura são oxigenadores de um processo ordenado de inserção internacional do Brasil, e do aumento da produtividade interna e do desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Trump, com os russos, turcos e iranianos, levará o Exército Islâmico ao aniquilamento. E forçará a China a rever seus conceitos em relação ao mar da China, ao Japão e à Coreia do Sul – de agora em diante, mais financeiramente, como os países da otan, responsáveis por seus gastos. Como o méxico terá disputas com os Estados Unidos, nosso país, que tem mais de US$ 80 bilhões investidos em território americano, 60 mil empregos lá criados e uma pauta comercial deficitária, tem tudo para avançar em uma agenda positiva. Um Trump pragmático e um Brasil sem ideologias podem e devem construir um magnífico cenário de entendimento e progresso mútuos. Lembro-me do início de ronald reagan e de um jantar privado com Bill Simon (empresário e político) em Palm Beach, na casa de Bill Casey, que tomaria posse em janeiro de 1980 como chefe da CIa. Casey delineou o plano de governo de reagan, chamado pelos europeus de cowboy iletrado. “Em oito anos, o presidente reagan liquidará a União Soviética sem dar um tiro. E em parceria com o papa.” assim aconteceu e reagan foi, posteriormente, reconhecido pelos europeus como o libertador das garras dos soviéticos. Um exemplo de como a primeira impressão nem sempre é a melhor. *mario Garnero é chairman do Grupo Garnero e presidente do Fórum das américas
O que acontece no mundo dos ricos e poderosos
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CaROs COmO JOias Estojo de lápis coloridos assinado por Karl Lagerfeld ou um “simples” lápis preto têm preços de cinco dígitos
18 | filial da azimut vai exportar iates fabricados no brasil 19 | os números do fenômeno musical jason derulo © getty images
LeaderBoard // Mercado
Caros CoMo Joias Fabricantes produzem lápis exclusivos com preços inimagináveis por Alex Ricciardi
Muito apreciados por artistas gráficos, os lápis de cor da Prismacolor costumam ter a fama de ser os mais caros do mercado, com estojos beirando r$ 1 mil. mas estão longe disso. o lápis mais caro do mundo pertence a uma coleção da Faber-Castell e custa mais de r$ 23 mil. o item vem com apontador e borracha integrados – os dois suportes feitos de ouro branco. o apontador levou uma coroa decorada com três diamantes, como símbolo do terceiro milênio. o lápis ganhou o nome de “Perfeito” pelo fabricante. a série tem uma versão mais barata, feita com cedro californiano artesanalmente nervurada adornada com uma tampa extensora banhada em platina. Está à venda no Brasil por r$ 1.099,90.
Também para a Faber-Castell, o estilista alemão Karl Lagerfeld colocou seu talento na confecção de um estojo de pintura. Charles Graf von Faber-Castell, que representa a nona geração da família dona da empresa, justifica: “Em vista da digitalização crescente, a necessidade de compensar a mente com atividades analógicas está aumentando. a tendência geral pela escrita à mão – que não é perfeita, mas é criativa – já era previsível há um bom tempo”, diz ele. Lagerfeld criou então a Karlbox, uma coleção de instrumentos e acessórios de desenho e pintura em uma caixa colecionável, com edição limitada – e preço de r$ 12 mil. Tanto o Lápis Perfeito quando a Karlbox estão à venda no Brasil. Lápis mais caro do mundo, com apontador e borracha integrados em suporte de ouro branco (ao lado) e estojo exclusivo Karlbox (abaixo)
16 | forbes brasil março 2017
bElA E bIlIonárIA
SejamoS HoneStoS
James Bond em ação a bordo do Regina no filme Operação Skyfall
Em lEIlão
Bond Voyage
SÓ SE VIVE DUAS VEZES. Então por que não navegar na embarcação de 184 pés que desempenhou um papel importante no filme 007 – Operação Skyfall, de 2012? a Engel & Völkers, corretora de iates de Hamburgo, na alemanha, está pedindo US$ 9,5 milhões pelo regina, que é decorado com mogno, mármore e ônix, acomoda uma dúzia dos seus companheiros mais aptos à navegação e tem espaço também para um jet ski – caso alguém precise realizar uma fuga rápida.
QUAIS UnICÓrnIoS se tornarão empresas de primeira linha no futuro? ForbES USA pesquisa junto aos principais capitalistas de risco do mundo para dar uma visão exclusiva das perspectivas dessas startups bilionárias no longo prazo. Quem está em alta é a Honest Company, empresa de bens de consumo fundada pela atriz Jessica Alba. os investidores parecem aceitar os relatórios do ano passado, que indicam que a companhia pode ser vendida por um valor próximo de sua avaliação atual (US$ 1,7 bi). ©
wInnErS ©
& loSErS
Hiroto saikawa
Ternium
Johannes roscheck
Daniel Dantas
braskem
PDG
noVo CEo DA nISSAn
SIDErÚrGICA ÍTAlo-ArGEnTInA
noVo PrESIDEnTE DA AUDI no brASIl
EmPrESárIo
PETroQUÍmICA
ConSTrUTorA
o executivo japonês substitui o brasileiro Carlos Ghosn, que vai ser o chairman empresa
Sob o comando de Daniel Novegil, a Ternium (do Grupo Techint) adquiriu a CSa por r$ 4,9 bi da Thyssenkrupp
o engenheiro austríaco volta ao país depois de ter sido CFo da unidade curitibana nos anos 1990
o banqueiro foi excluído do bloco de controle da Vale após renovação do acordo de acionistas
a empresa comandada por Fernando musa teve prejuízo de r$ 2,6 bi no 4T de 2016 após pagar multa da Lava Jato
a PDG, do recémempossado Vladimir ranevsky, entrou com pedido de recuperação judicial de r$ 6,2 bi
© GETTy ImAGES
março 2017 forbes brasil | 17
LeaderBoard // embarcações
iates Made in brazil Filial local do grupo italiano Azimut-Benetti vai exportar modelos de alto luxo para todo o planeta por Alex Ricciardi
Davide Breviglieri, CEO da Azimut no Brasil ©1
Iates de alto luxo para serem vendidos em todo o planeta. É esse o negócio da azimut Yachts do Brasil, filial local do grupo azimut-Benetti, que a partir da Itália projeta e vende embarcações destinadas a um grupo seleto de compradores. a empresa mantém um estaleiro no Brasil, e algumas inovações criadas localmente fazem grande sucesso mares afora. “Para o mercado brasileiro, passamos a oferecer um espaço gourmet integrado nas plataformas de popa nos modelos que produzimos. Isso inclui uma churrasqueira adicional que se integra à área de refeições. a inclusão fez tamanho sucesso que a marca passou a oferecer esse opcional dentro de sua gama mundial”, conta Davide Breviglieri, CEo da azimut no Brasil. animada, a filial brasileira decidiu apontar para o mercado internacional. “a azimut do Brasil estruturou-se para atender com excelência não só ao público brasileiro, mas também ao consumidor externo”, conta Breviglieri. “Hoje 18 | forbes brasil março 2017
modelos de iate produzidos aqui já fazem parte da gama mundial do grupo e são comercializados em várias partes do mundo. Há poucos meses, lançamos um modelo esportivo, o azimut Verve 40, projetado para atender inicialmente ao público americano. Temos 16 encomendas para os Estados Unidos, e abrimos a comercialização para o Brasil e outros mercados. Pretendemos reforçar ainda mais esse processo de expansão internacional nos próximos anos.” a unidade brasileira foi fundada em 2010. registrou em 2016 um crescimento de 15% em relação ao ano anterior. a meta para os próximos dois anos é praticamente dobrar a produção de iates. “Para 2017, vamos finalizar a construção de uma das maiores embarcações de alto luxo já feitas em território nacional: o azimut Grande 30 metri, um megaiate com cinco suítes, três pavimentos e flybridge (pavimento superior) com mais de 60 m2, com direito a jacuzzi e uma grande área de convivência e relaxamento”, descreve Breviglieri.
©1 acIonI cassanIga ©2 getty Images
UNDER 30
fenômeno americano Você acha que nunca ouviu uma música de Jason Derulo? Provavelmente está enganado. Ele vendeu 50 milhões de singles, teve 1 bilhão de faixas enviadas por streaming no Spotify e acumulou 2 bilhões de visualizações no YouTube com canções daquelas que grudam nos ouvidos, como Whatcha Say e Want to Want Me. Além disso, fatura US$ 232 mil a cada parada de sua turnê e é apenas um dos egressos da lista de “menores” de 30 anos de FORBES USA (turma de 2016) que lucram com o entretenimento.
©2
março 2017 forbes brasil | 19
LeaderBoard // OBSERVATÓRIO DO MERCADO
Quem dá mais? Quem dá mais? Vendido! Os itens alimentícios mais caros já leiloados
EM JANEIRO, o “rei do atum” do Japão, Kiyoshi Kimura, pagou mais de US$ 630 mil por um atum de 212 quilos no lendário leilão do mercado de peixe de Tsukiji, em Tóquio. mas esse não foi o maior valor despendido por Kimura, dono da rede de restaurantes Sushi Zanmai. Em 2013, ele gastou US$ 1,8 milhão com um atum-azul que pesava 10 quilos a mais. aqui vão algumas outras vendas recordistas de comestíveis incríveis – desde uma rara trufa italiana até missy, crème de la crème das vacas leiteiras.
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A propriedade dos Guinness em Dublin recebeu celebridades como Bono e está à venda
CAViAr
ATum-AZuL
US$ 18 milhões
US$ 1,8 milhão
Dezembro de 1976
Janeiro de 2013
VACA miSSY
TruFAS BrAnCAS
Novembro de 2009
US$ 330 mil
(175 toneladas)
(222 kg)
IMÓVEIS
Bono Dormiu Aqui Doze anos atrás, a família de cervejeiros Guinness abriu Luggala, sua verdejante propriedade de 2 mil hectares nos arredores de Dublin, oferecendo estadias de uma semana por € 20 mil (cerca de US$ 21.500). Agora, está vendendo o imóvel, inclusive a casa principal de sete dormitórios em forma de castelo, por US$ 30 milhões. Ao longo das décadas, o pintor Lucian Freud, a atriz Anjelica Huston e Bono, do U2, visitaram Luggala como hóspedes da família Guinness. “Um dos aspectos extraordinários de Luggala é que quase parece um lugar diferente a cada dia”, diz o atual dono, Garech Browne, herdeiro dos Guinness. Especialmente depois de algumas canecas de cerveja...
20 | forbes brasil março 2017
US$ 1,2 milhão
CHÁ ooLonG nArCiSSuS
(1,3 kg)
Novembro de 2010
FATiA DE BoLo
com 50 anos de idade (20 kg)
do casamento de Kate Middleton com o príncipe William com 3 anos de idade
US$ 154 mil
US$ 7.500
Novembro de 2013
Dezembro de 2014
© GETTy IMAGES
por Alex rICCIArdI //
nostAlgiA
braDesCo, o baNCo De aMaDor aGUiar Poucas casas bancárias foram tão marcadas por seu líder e fundador como a instituição de Osasco
o BrAdesCo foI fUNdAdo em mArílIA, No INterIor pAUlIstA, em 10 de março de 1943. o nome que hoje quase todo brasileiro conhece era uma abreviação de Banco Brasileiro de Descontos S.a. Seu líder, amador aguiar, era um trabalhador incansável – e um tanto excêntrico. Nascido em ribeirão Preto, também no interior de São Paulo, destacou-se por descobrir soluções simples para problemas complexos e desconcertantes. outra forte característica era sua indiferença pelos bens materiais e sua aversão ao exibicionismo. Sem ostentação, ele tornaria o Bradesco uma potência incontestável. ao contrário da tendência de mercado da época, que priorizava os grandes proprietários rurais, empresários e pessoas de posses, o Bradesco lidava com pequenos comerciantes, funcionários públicos e indivíduos de renda média. alterou a própria estrutura física das agências, colocando os gerentes na linha de frente, em contato direto com os correntistas. Foi um dos primeiros bancos a estimular o Amador Aguiar e a primeira agência, em Marília (foto ao lado)
uso de cheques. Em vez de devolver cheques preenchidos erroneamente, o banco chamava as pessoas para ensiná-las, pessoalmente, a usar o talão da forma correta. Em 1946, a matriz foi transferida para a capital paulista. Suas agências passaram a receber pagamento de contas de energia e declarações de Imposto de renda. Em 1953, iniciou a construção da nova sede em osasco (na Grande São Paulo), conhecida como Cidade de Deus, concluída seis anos depois. Em 1962, tornou-se a primeira empresa da américa Latina a adquirir um computador de grande porte, possibilitando o acesso a extratos diários pelos clientes, serviço inédito na época. Em 1968, implantou seu cartão de crédito, o primeiro do sistema bancário brasileiro. Na primeira década do século 21, o Bradesco reafirmou sua vocação para o varejo ao criar o Banco Postal. a iniciativa viabilizou o acesso a produtos financeiros em localidades desprovidas de serviços bancários.
TRÊS EPISÓDIOS DA HISTÓRIA DO BRADESCO Amador Aguiar trabalhou como contínuo e tipógrafo e parou de estudar cedo Em 2009, o Bradesco adquiriu o Banco Ibi, ligado à rede varejista holandesa C&A, em um negócio de R$ 1,4 bilhão Uma das máximas de Aguiar era: “Nunca empreste muito a poucos, e sim pouco a muitos”
março 2017 forbes brasil | 21
flávio rocha* // líDeres Do pensamento
Jogo de compadres Duas seleções entram em campo numa fase crucial Da copa Do munDo. Um empate satisfaz ambas. E os 90 minutos parecem uma encenação muito mal ajambrada de disputa. o esporte é ferido de morte, a paixão é desrespeitada e um jogo de compadres mancha duas camisas históricas. Não é necessário citar nomes. mas a descrição acima não foi rara na história do maior esporte do mundo. o problema é transportarmos esse mau exemplo ao mundo da economia e da política. a prática do chamego dos políticos aos empresários amigos torna-se mais do que um agrado ao compadre. Torna-se um sistema econômico anacrônico: o capitalismo de Estado. Uma boa definição sobre o tema foi dada pelo economista Paulo rabelo de Castro: “o Estado interfere para selecionar quem deve sonhar mais alto”. De volta ao exemplo do esporte, é como se o Estado fosse o doping do empresário e esse doping, além de não ser ilegal, é exclusivo de um competidor apenas. Das companhias das Índias, na Holanda, aos Estados fascista e nazista, esse tipo de economia amarrada e vitaminada por fomento estatal não é propriamente uma novidade. o mais recente ícone desse modelo é a Venezuela de Hugo Chávez e Nicolás maduro. Como bem lembrou o sociólogo Demétrio magnoli, esse tipo de capitalismo é muito elogiado por alguns empresários – poucos e escolhidos a dedo. “Eles têm bilhões de motivos para isso.” No Brasil, assistimos à ascensão e queda da política dos campeões nacionais. o dinheiro público foi uma verdadeira gasolina aditivada para a operadora oi, o grupo odebrecht e o castelo de areia de Eike Batista, que foi varrido pelas marolas da dura realidade. Isso sem falar das demais empreiteiras, com seus esquemas revelados pela operação Lava Jato. É uma questão sistêmica. Não basta afastar os maus elementos, prendê-los ou deixá-los em algum tipo de quarentena. a forma como o país é concebido, em suas excessivas regras, justamente para proteger os amigos do rei, acaba produzindo a podridão. É a velha história do presunto exposto e cheio de moscas. Se o Brasil pós-Lava Jato não tirar o presunto da sala, ficaremos eternamente espantando moscas. E essa operação 22 | forbes brasil março 2017
histórica para o Brasil será mais longeva que a série Sexta-feira 13. Teremos tantas ressurreições quanto Jason teve no cinema. Prender bandidos – políticos ou empresários – não resolve o problema por si só. o tamanho do Estado é um convite à corrupção. Quanto menor ele for, quanto menor sua “ajuda” nas disputas, mais competitivo é o mercado. mais pessoas participam da riqueza do país. Porque produzir riqueza leva ao desenvolvimento pleno de toda a nação, e não de um pequeno clube de amigos. Não adiantar ficar dizendo jocosamente que “todos são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros”.
Não basta afastar os maus elementos, prendê-los ou deixá-los em algum tipo de quarentena. A forma como o país é concebido, em suas excessivas regras, justamente para proteger os amigos do rei, acaba produzindo a podridão Nesse ponto é preciso diferenciar o empresário de conluio do empreendedor de mercado. o primeiro é uma deformação. É preciso, no Brasil, termos empresários de outra estirpe, com padrão moral e altivez. retomo outra frase de rabelo de Castro: “Precisamos empreender o inconformismo”. a saída da passividade deve contaminar todos os setores da sociedade. Com poucas e justas regras, a economia de mercado é a melhor forma de estabelecer justiça social, com verdadeira prosperidade para os trabalhadores, empresas e profissionais liberais. Eu sei, o mercado é muito mais importante para nossas vidas que um jogo de futebol, mesmo que a partida seja disputada numa Copa do mundo. No capitalismo, o campeonato pode ser muito mais justo e benéfico se as regras e as vantagens forem as mesmas para todos. assim, com méritos, teremos muito mais vencedores. *flávio rocha é presidente da riachuelo
Black Badge é a mais intensa expressão para aqueles que ousam ser exclusivos. Sua presença intensificada por uma estética ainda mais agressiva. Atrás do volante, a intensidade de pilotar é uma experiência sem igual.
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NELSON WILIANS* // lídereS do penSamento
os limites do Poder “Se quiSer pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.” Todos conhecemos essa frase de abraham Lincoln. o que o dito histórico mais evidencia, seguramente, é o fato de não ser comum vermos homens que, tendo prometido algo para chegar ao poder, colocam em rigorosa prática os compromissos assumidos. Nos EUa, dia após dia, temos testemunhado o presidente Donald Trump tomar medidas para trazer ao plano concreto a plataforma sobre a qual se elegeu. ainda que isso venha assustando muitos, é certo que não se pode alegar surpresa quando um estadista cumpre à risca os fundamentos que embasaram sua campanha. Curioso é que as afirmações de Trump passaram ao largo do que se tinha como estereótipo de promessas políticas: não foram feitas para agradar, não se balizaram pelo politicamente correto e não se dobraram, como costuma ocorrer em campanhas, para alcançar indivíduos de diferentes orientações ideológicas. Trump, ademais, era um antes de obter o poder e continua o mesmo depois de eleito. Surpreendente, aos que já o conheciam, que seu comportamento padrão tenha sido levado, sem retoques, para a campanha. analistas políticos ainda chegaram a cogitar que a fala do candidato fosse abrandar após sua vitória, mas o resultado tem sido outro. aquilo que, ao tempo dos embates eleitorais, os olhos do público interpretavam como um discurso forte – e tantas vezes condenável (mas o aceitavam em nome da imunidade dos palcos de campanha) – vem sendo sistematicamente transformado em programa de governo, e com isso avança a tendência crítica de atribuir ao novo presidente a pecha de antidemocrático. Essa inclinação dos governantes a demonstrações extremadas de poder, naturalmente, não é de hoje. Na já remota Inglaterra do século 17, foi precisamente tal sorte de movimento que levou o baluarte do liberalismo John Locke, em seu Ensaio Acerca do Entendimento Humano, a propor e desenhar limites ao absolutismo. o teórico defendia que os homens tinham direitos naturais, dentre tantos, à vida, à liberdade e à propriedade. a fim de dar garantia a essa premissa, os homens haviam criado governos; se esses governos, por sua vez, falhassem 24 | forbes brasil março 2017
em assegurar tais direitos fundamentais, mereceriam um freio. Dito em poucas palavras, haveria regras para todos, e a ninguém seria dado o poder absoluto. Há poucos dias, o governo Trump optou por desistir de seguir duelando na Justiça pela validade do decreto anti-imigração, objeto de enorme celeuma. Segundo se publicou, o Departamento de Justiça dos EUa abriu mão da batalha na Suprema Corte para retomar o decreto que proibia temporariamente a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. Trump assinara o decreto já nos primeiros dias de seu governo, vetando a entrada de imigrantes da Síria, Irã, Iraque, Líbia, Iêmen, Sudão e Somália, sob a justificativa de proteger os Estados Unidos da presença de “terroristas estrangeiros”. Não tardou, contudo, até que a comoção social se convertesse em posicionamento pelo Judiciário: a ordem executiva do presidente foi derrubada pela liminar concedida no dia 3 por um juiz de Seattle, decisão que foi referendada seis dias depois por uma decisão da Corte de apelações de São Francisco. a nação norte-americana – à qual se atribui o nascimento do controle de constitucionalidade, no emblemático julgamento marbury versus madison –, assim, enviou um célere recado ao chefe do Executivo por meio de seus juízes. Se, em campanha, as posições do candidato a presidente se dirigiam aos seus potenciais eleitores, agora seus atos sofrem escrutínio de todo o povo, sem distinção entre os simpatizantes ou opositores. Não nos parece que Trump seja do gênero de que falou Lincoln; até o momento, seus atos são coerentes com seu discurso, antes e depois do poder. o risco para o qual o país e o mundo deverão estar atentos é o de que, a pretexto de convergir palavras e atos, o recém-eleito estadista confunda autenticidade ideológica com poder ilimitado. Nesse sentido, pelo menos, a reação rápida do Judiciário americano ajuda a alertar o presidente de que o povo estará atento. os dias e meses por vir dirão se a lição terá servido para Trump perceber que não pode tudo, e que o respeito ao estado democrático de direito está para todos. Fica a dica. *Nelson Wilians é CEo do Nelson Wilians & advogados associados
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Travis Kalanick, o incansável motor do Uber
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A grAnde
CORRIDA do uber Travis Kalanick quer colocar sua empresa de US$ 68 bilhões no centro de toda a mobilidade humana
V
por Miguel Helft, Alan Ohnsman e Brian Solomon
estindo camisa polo cinza, calças de algodão cinza combinando e tênis pretos, Travis Kalanick se fecha numa sala de conferências, onde caminha como um técnico de basquete, alternando goles de café e porções de castanhas e frutas secas que ele pega num copinho de papel. Em volta da mesa, seis jovens apresentam ao cofundador e CEO do Uber os primeiros resultados de uma iniciativa crucial: uma nova versão do aplicativo, lançada três semanas antes. O que os usuários veem como simples ajustes no design tem impactos profundos nos downloads, no uso e nas classificações do app, nos tempos de chegada, nas taxas de retenção, nos tempos de carga, na distribuição de usuários que optam pelo UberPool em vez do UberX e em muitos outros aspectos. Esses impactos variam conforme o país e o tipo de telefone que o passageiro usa. É um supremo desafio de lógica. Por 80 minutos, Kalanick esquadrinha cada gráfico, questionando as premissas. “Isto pode ser uma questão de medida ou um problema real”, diz, apontando para um indicador que parece um mistério. Pega repetidamente seu iPhone para verificar ele mesmo como esses detalhes poderiam afetar os usuários reais, alternando entre
satisfação e leve aborrecimento. Em determinado momento, diz que, sem dados reais sobre um recurso específico, “a emoção vai dominar o dia”. Para ele, isso é muito ruim. Esse processo, um dos blocos construtivos fundamentais da máquina do Uber, é chamado de “jam session”. As jams determinam como os problemas são transformados em ideias, como as ideias são transformadas em produtos e como os produtos são analisados levando-se em conta seu impacto na obsessão predominante de Kalanick: a eficiência. As jams também são a maneira pela qual ele aborda quase todos os aspectos importantes da experiência do Uber. Aos 40 anos de idade (e número 64 na lista FORBES de Pessoas Mais Poderosas do Mundo – leia mais na pág. 34), ele é uma das figuras mais comentadas no Vale do Silício e tem sido descrito de diversas formas, a maioria nada lisonjeira. Implacável e antiético, gênio do mal e imprudente, babaca e cretino. Há um grão de verdade em todas essas descrições. Mas elas não abarcam aquele “algo especial”, o fator de unificação que explica como Kalanick levou o Uber a se tornar a startup mais rica da história, com avaliação de US$ 68 bilhões. Kalanick acredita que sua função é impelir o Uber para a frente através de uma série de obstáculos lógicos que devem ser suplantados interminavelmente. “Cada problema é
mobilidade // uber Taxistas de nova York em protesto contra a chegada do uber
Clube do bilhão Levantamento do Wall Street Journal em parceria com a Dow Jones conta, atualmente, 154 startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão. Conheça as Top 5 (em US$ bilhões)
uber
68
Origem americana Transporte privado
Xiaomi
46
Origem chinesa Produtos eletrônicos
didi ChuXing
Origem chinesa Transporte privado
33
airbnb
Origem americana Serviço de reserva de acomodações
PalanTir
Origem americana Tecnologia
30 20
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fascinante e tem suas próprias nuances. Você o resolve hoje, mas tenta resolver com uma arquitetura, construindo uma máquina para resolver problemas semelhantes depois”, diz Kalanick. “E aí você passa ao próximo.” Sempre há um próximo – e esses próximos vão ficando maiores. É isso que faz do Uber uma das empresas mais interessantes do mundo e explica por que Kalanick é capaz de levantar tanto dinheiro – US$ 16 bilhões em capital e dívida até agora – sem ter lucro nem uma IPo à vista. o modelo de negócios do Uber como um intermediário descomplicado (para transporte de passageiros, no caso) é tão poderoso que virou clichê. mais de cem startups foram descritas como “o Uber de alguma coisa”. Uma das poucas empresas do Vale do Silício que não estão tentando ser o Uber de algo é o próprio Uber. a comparação mais apropriada é com a amazon, que começou como sinônimo de venda de livros online e se metamorfoseou na megaloja de varejo da internet. Kalanick já não está interessado em apenas providenciar transporte para você: ele está posicionando o Uber no centro de toda a mobilidade. Se uma coisa se move, Kalanick quer participar dela. menos de sete anos depois do lançamento, o Uber já está reformulando o modo pelo qual as cidades pensam o transporte
público, os estacionamentos e os congestionamentos – e o que a geração do milênio pensa sobre ter um carro. E ele está só no começo. “o mercado de carros, o transporte terrestre do consumidor – você pode pensar em US$ 5 trilhões ou US$ 6 trilhões em nível mundial”, diz. Nos últimos dois anos, o Uber não só ampliou tremendamente suas ofertas de compartilhamento de viagens no mundo, como também entrou nos serviços de entrega, como o Eats (comida), o rush (qualquer coisa, com rapidez) e o Freight (fiquem de olho, transportadoras de longa distância). Brincou com façanhas de marketing como o Uber-Chopper (helicópteros), o UberSeaplane e o UberBoat, geralmente durante eventos específicos. Também está investindo a sério nos carros e caminhões autônomos e chegou a propor, à la Elon musk, um inverossímil projeto de carro voador. o Uber oferece um cardápio completo de opções de compartilhamento de viagens, como o X, o Pool, o Black, o Select e, em alguns países, o moto (motocicletas), gastando bilhões para subsidiar motoristas. Segundo os críticos, isso é parte de uma estratégia deliberada para tirar os rivais do mercado – e aumentar os preços à vontade depois disso. ForBES calcula que os prejuízos do Uber tenham chegado a US$ 2 bilhões em 2016, sobre recei-
forbes calcula que os prejuízos tenham chegado a us$ 2 bilhões
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© getty imageS
uber em tudo O modelo criado por Travis Kalanick vai além do mais conhecido transporte de passageiros em carros de motoristas "informais"; inclui helicópteros, aviões, barcos, caminhões e bicicletas envolvidos no leva e traz de pessoas e objetos
uber chopper (helicópteros)
Conhecido como UberCopter no Brasil, foi lançado em junho de 2016 em São Paulo, com preço mínimo promocional de R$ 66
uber eats
uber Freight
(delivery)
(transportes de longa distância)
Estabelece a integração entre restaurantes e motoboys cadastrados que fazem a entrega de comida no lugar onde o usuário indicar
Transporte de cargas, com o objetivo de desenvolver tecnologias de navegação para aplicação em caminhões autônomos
uber rush
uber seaplane
uber boat
A proposta é envolver motoristas, ciclistas, motoboys e até mesmo mensageiros a pé – o que importa é a rapidez do serviço
Durante a feira Art Basel em Miami Beach, em novembro, um hidroavião oferecia voos gratuitos aos visitantes, em ação de marketing da empresa
Foi lançado em 2015 em Istambul para fazer a travessia do Estreito de Bósforo, que liga o lado europeu ao lado asiático da cidade. A viagem custa cerca de US$ 19, mais caro que os barcos públicos que fazem o trajeto
(hidroavião)
(entrega rápida de qualquer coisa)
tas de US$ 5 bilhões. os lucros são secundários diante do domínio do mercado amanhã. “Quando eu financiei esta empresa pela primeira vez, não tinha ideia de que um dia estaria ouvindo teleconferências de investidores do setor automotivo”, diz o capitalista de risco Bill Gurley, da Benchmark, conselheiro e um dos primeiros investidores do Uber. “Há muita ansiedade em torno do que esta empresa pode fazer com um dos maiores setores do planeta.” Quando adolescente, Kalanick analisava o tráfego nas vias congestionadas do sul da Califórnia, tentando descobrir a faixa ideal para cada situação. Sua formação em ciência da computação na UCLa, apesar de ter desistido do curso, ajudou-o a aperfeiçoar sua mentalidade de resolução de problemas. ainda na faculdade, criou o Scour, mecanismo de busca multimídia e central de compartilhamento de arquivos – um fiasco. Em 2009, fundou o Uber com Garrett Camp, colega empreendedor que, pouco antes, tinha recomprado sua antiga empresa, a StumbleUpon. Ela girava em torno de um aplicativo denominado UberCab, que facilitava a reserva de um carro de luxo. Lançado em 2010, o serviço era pouco mais que um brinquedo para Kalanick e seus amigos se locomoverem por São Francisco. mas logo ele começou a entender como a matemática podia ajudar o
(barco)
Uber a revolucionar não só os serviços de limusines, como também o próprio transporte urbano. Se os preços caíssem, mais passageiros teriam interesse, o que atrairia mais motoristas à plataforma, o que por sua vez significaria que os tempos de espera diminuiriam, trazendo ainda mais passageiros e ajudando os motoristas a ganharem mais. Desde então, fazer o ajuste fino desse círculo virtuoso virou a obsessão de Kalanick. o resultado foi a mais rápida ascensão da história do Vale do Silício, à medida que o Uber ultrapassava gigantes como o Google e o Facebook, com a receita superando US$ 1 bilhão no segundo trimestre e uma força de trabalho de mais de 9 mil funcionários e 1,5 milhão de motoristas. o Uber lançou seu aplicativo – muitas vezes atropelando barreiras legislativas e a oposição barulhenta dos taxistas – em cerca de 450 cidades de mais de 70 países. Em um mês, 40 milhões de pessoas fazem uma viagem de Uber, e os motoristas percorrem em conjunto 1,9 bilhão de quilômetros – 35 vezes a distância entre a Terra e marte. a primazia da eficiência só aumentou com essa escala colossal. Kalanick, cujo patrimônio líquido ForBES estima em US$ 6,3 bilhões – ele diz que não vendeu nenhuma de suas ações do Uber –, administra tudo isso traduzindo cada com-
o patrimônio líquido de kalanick é de estimados us$ 6,3 bilhões
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mobilidade // uber a conquista do mundo O aplicativo se espalhou por mais de 70 países dos cinco continentes
américa do norte e central
ásia
Azerbaijão, bahrein, Jordânia, Malásia, Turquia, Hong Kong, emirados Árabes unidos, Israel, rússia, Cingapura, Tailândia, Sri Lanka, Coreia do Sul, China, Vietnã, Taiwan, Arábia Saudita, Filipinas, Paquistão, Macau, Líbano, Japão, Índia, Indonésia, Cazaquistão
Canadá, estados unidos, Guatemala, república Dominicana, Costa rica, México, Panamá
américa do sul
Argentina, bolívia, Chile, Peru, Colômbia, uruguai, brasil, Trinidad e Tobago
áfrica
egito, Gana, Quênia, Nigéria, Tanzânia, uganda, África do Sul, Catar, Marrocos
europa
Dinamarca, Hungria, França, Itália, reino unido, Noruega, Suécia, Alemanha, Países baixos, Lituânia, Finlândia, república Checa, Suíça, espanha, eslováquia, ucrânia, Irlanda, estônia, Polônia, bélgica, Croácia, Portugal, Áustria, Grécia, bielorrússia, romênia
ponente num problema a ser resolvido. alguns anos atrás, quando se convenceu de que o mapeamento era uma das tecnologias “existenciais” que o Uber precisava deter, contratou Brian mcClendon, funcionário do Google e um dos criadores do Google Earth. “Tudo nessa atividade depende de mapas”, diz mcClendon. os mapas são de fato essenciais para a iniciativa do Uber de desenvolver carros autônomos em dois anos. os lances mais célebres de Kalanick nessa área vieram em agosto do ano passado, quando ele anunciou que algumas viagens de Uber em Pittsburgh seriam feitas em carros autônomos (ainda há um motorista no volante para evitar contratempos e para efeito de conformidade com as leis) e que a empresa tinha desembolsado US$ 600 milhões para adquirir a otto, startup de veteranos do pioneiro grupo de veículos autônomos do Google que vem fazendo rápido progresso com caminhões. o que é possível para o Uber agora é praticamente ilimitado. a empresa detém uma reserva financeira sem precedentes, e ForBES acredita que o prejuízo da companhia já atingiu seu ponto máximo. Kalanick pode agora se concentrar em vencer em mercados cruciais, como os Estados Unidos, a Índia e o Brasil. a transição para os veículos autônomos é uma certeza,
não uma hipótese. os críticos dizem que o fato de o Uber não ter uma unidade especializada na fabricação de carros pode ser seu calcanhar de aquiles, à medida que montadoras como General motors (em parceria com o Lyft, concorrente do Uber), Ford e Tesla – e talvez outras empresas, como Google ou apple – ponham em ação, nos próximos anos, veículos autônomos feitos sob medida para serviços de compartilhamento de viagens. mas é provável que a autonomia plena ainda demore anos e, quando finalmente chegar, as montadoras que quiserem concorrer terão de fornecer grandes frotas para viabilizar os serviços sob demanda, ao passo que o Uber poderá introduzir os veículos autônomos de modo gradual. Essa é uma vantagem que pode perdurar, pois se prevê que os veículos tradicionais e os autônomos coexistam por anos. Em todo caso, quando os carros autônomos se tornarem realidade, o sistema operacional de mobilidade que Kalanick está desenvolvendo – aquela coordenação perfeita de bits e átomos – será mais crucial do que nunca. “Você tem de quantificar a humanidade, a ação humana no mundo físico”, diz Kalanick. É o tipo de problema frio, lindo e desafiador que mantém motivado o especialista em lógica do Uber.
agora ElE podE sE concEntrar Em mErcados cruciais, como o brasil
30 | forbes brasil março 2017
oceania
Nova Zelândia, Austrália
Founded in 1968
FORTY-SEVENTH PERSON OF THE YEAR AWARDS GALA DINNER HONORING
JOÃO DORIA FOUNDER
GRUPO DORIA AND
LIDE - GRUPO DE LÍDERES EMPRESARIAIS TUESDAY, MAY 16, 2017
AMERICAN MUSEUM OF NATURAL HISTORY, NEW YORK CITY FOR MORE INFORMATION CALL: (212) 751-4691 OR
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[email protected] PROCEEDS FROM THIS EVENT WILL GO TOWARD THE PERSON OF THE YEAR FELLOWSHIP PROGRAM IN ASSOCIATION WITH INSTITUTO LING, LEMANN FOUNDATION AND ODEBRECHT AWARD FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT.
I NNER C IRCLE
P LATINUM S PONSORS
G OLD S PONSORS
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S ILVER S PONSORS
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AS PESSOAS
MAIS POD Existem quase 7,4 bilhões de seres humanos no planeta Terra, mas estes homens e mulheres fazem o mundo girar. O ranking anual das Pessoas Mais Poderosas do Mundo identifica uma pessoa em cada 100 milhões cujas ações têm o maior significado. Levamos em consideração centenas de candidatos, analisando quatro aspectos principais: sobre quantas pessoas eles têm poder; quanto dinheiro controlam; se seu poder abrange uma variedade de regiões, setores da economia ou aspectos da vida; e em que medida usam ativamente o poder que detêm. Uma comissão de editores de FORBES USA realiza uma votação para chegar à lista definitiva. A deste ano chega num momento de mudanças rápidas e profundas e representa nossa melhor estimativa de quem será relevante em 2017.
1 VLADIMIR PUTIN (Presidente da Rússia) | 64 anos, Rússia De sua terra natal à Síria, passando pelas eleições presidenciais dos Estados Unidos, o líder russo consegue o que quer. E, agora que ele tem um potencial aliado no Salão Oval, sobraram poucos obstáculos a seu poder.
DONALD TRUMP (Presidente dos Estados Unidos) 70 anos, Estados Unidos
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O presidente tem uma aparente imunidade a escândalos, tem as duas câmaras do Congresso do seu lado, um patrimônio líquido pessoal na casa dos bilhões e um programa para “tornar a América grande de novo”.
DEROSAS DO MUNDO por David M. Ewalt e Noah Kirsch
PAPA FRANCISCO
BILL GATES
(Pontífice da Igreja Católica Romana) 80 anos, Cidade do Vaticano
(Presidente da Fundação BIll & Melinda Gates) 61 anos Estados Unidos
O líder espiritual de quase 1,3 bilhão de católicos não se esquiva de polêmicas. Este ano, confirmou a proibição de sacerdotes do sexo feminino e ofereceu perdão a mulheres que abortam.
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ANGELA MERKEL (Chanceler da Alemanha) 62 anos, Alemanha Após o Brexit, a chanceler alemã está mais importante do que nunca, embora vá enfrentar uma difícil reeleição em 2017. Depois da saída de Hillary Clinton, ela permanece a mulher mais poderosa do mundo.
XI JINPING
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(Secretário-geral do Partido Comunista da China) 63 anos, China Designado recentemente líder “central” do Partido Comunista, honra antes concedida a Deng Xiaoping e Mao Tsé-Tung, o presidente Xi tem mais controle do que nunca sobre a política chinesa.
© getty images
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A pessoa mais rica da Terra (patrimônio líquido de US$ 83 bilhões) também supervisiona a maior fundação filantrópica do planeta, que ajudou a eliminar a pólio de todos os países, exceto três, e pretende erradicar a malária até 2040.
LARRY PAGE (Cofundador e CEO da Alphabet) | 43 anos Estados Unidos
JANET YELLEN (Presidente do Federal Reserve) 70 anos, Estados Unidos A principal dirigente de banco central no mundo vem tomando cuidado para não criar instabilidade: embora seja presidente do Fed desde 2014, Yellen elevou a taxa de juros apenas uma vez. Outro ajuste pode ser feito em breve.
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A pesquisa que a Alphabet realiza em tantas áreas, da inteligência artificial à saúde, não é suficiente para Page: ele também está usando sua fortuna de US$ 37 bilhões para fazer investimentos ambiciosos que incluem, pelo que consta, startups de carros voadores.
8
RANKING // OS MAIS PODEROSOS DO MUNDO 9
LI KEQIANG (Primeiro-ministro da China) 61 anos, CHINA
THERESA MAY
NARENDRA MODI (Primeiro-ministro da Índia) 66 anos, Índia Há pouco tempo, o líder populista da Índia substituiu as duas cédulas de valor mais alto do país, numa tentativa de reduzir a lavagem de dinheiro e a corrupção, o que criou um frenesi generalizado para trocar as notas.
MARK ZUCKERBERG
10
(CEO do Facebook) 32 anos, Estados Unidos O Facebook foi acusado de disseminar notícias falsas durante a campanha eleitoral de 2016 nos EUA. Zuckerberg minimiza o fato, mas não pode negar o poder crescente do gigante das redes sociais como curador da mídia.
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MARIO DRAGHI (Presidente do Banco Central Europeu) 69 anos, Itália
Como presidente do Banco Central Europeu, “Super Mario” conduziu o órgão durante um período de taxas de juros negativas e esmaecimento da fé na unidade europeia, o que culminou com a aprovação do Brexit, em junho de 2016.
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(Primeiro-ministro de Israel) 67 anos, Israel
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ELON MUSK
(Primeira-ministra do Reino Unido) 60 anos, Reino Unido
(CEO da Spacex,Tesla e SolarCity) 45 anos, Estados Unidos
JEFF BEZOS 14
JEFFREY IMMELT
(CEO da Amazon) 52 anos, Estados Unidos
(CEO da GE) 60 anos, Estados Unidos
WARREN BUFFETT (CEO da Berkshire Hathaway) 86 anos, Estados Unidos
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SALMAN BIN ABDULAZIZ AL SAUD (Rei da Arábia Saudita) 80 anos, Arábia Saudita O monarca saudita enfrenta um panorama econômico instável, reforçado pelos preços baixos do petróleo e por uma guerra dispendiosa no Iêmen. No início de janeiro, seu regime executou 47 pessoas, inclusive um conhecido dissidente.
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FRANÇOIS HOLLANDE
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(Presidente da França) | 62 anos, França
REX TILLERSON (CEO da ExxonMobil) 64 anos, Estados Unidos
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CHRISTINE LAGARDE (Diretora-gerente do FMI) 60 anos, França
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LLOYD BLANKFEIN CARLOS SLIM HELU
11
BENJAMIN NETANYAHU
(Presidente do Conselho do Grupo Carso) 76 anos, México
(CEO do Goldman Sachs) 62 anos, Estados Unidos
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ALI HOSSEINI 18 KHAMENEI (Líder supremo do Irã) 77 anos, Irã
JAMIE DIMON 19 (CEO do JPMorgan Chase) 60 anos, Estados Unidos
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27
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LI KA-SHING (Presidente do Conselho da Hutchison Whampoa) 88 anos, Hong Kong
LARRY FINK
KHALIFA BIN ZAYED ALNAHYAN
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(Presidente dos Emirados Árabes Unidos) | 68 anos, Emirados Árabes Unidos
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(CEO da BlackRock) 64 anos, Estados Unidos
DOUG MCMILLON
RUPERT MURDOCH 35
(CEO do Walmart) 50 anos, Estados Unidos
JACK MA
(Presidente do Conselho da News Corp) | 85 anos, Estados Unidos
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(Presidente do Conselho do Alibaba) 52 anos, China
AKIO TOYODA (CEO da Toyota) | 60 anos, Japão
SERGEY BRIN
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JAY Y. LEE
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(Vice-presidente do Conselho da Samsung) 48 anos, Coreia do Sul
(Cofundador e presidente do Conselho da Alphabet) | 43 anos, Estados Unidos
Em 2016, a Samsung sofreu com o Galaxy Note 7, que explodia, e com o recall de lavadoras de roupas. Mesmo assim, as ações subiram 40%. Em fevereiro de 2017, foi preso acusado de corrupção.
CHARLES KOCH (CEO da Koch Industries) 81 anos, Estados Unidos O bilionário e megadoador de campanhas políticas não apoiou nenhum dos dois principais candidatos presidenciais em 2016, comparando essa escolha a optar entre “câncer e ataque cardíaco”.
36 ANTÓNIO GUTERRES (Secretário-geral das Nações Unidas) | 67 anos, Portugal O recém-empossado secretáriogeral já foi primeiro-ministro de Portugal e alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, experiência de que ele necessitará, se quiser ajudar a aliviar a crise dos imigrantes em curso na Europa.
64
SHINZO ABE (Primeiro-ministro do Japão) 62 anos, Japão
31 TIM COOK
32
(CEO da Apple) | 56 anos, Estados Unidos
© GEtty iMaGES
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TRAVIS KALANICK (CEO do Uber) 40 anos, Estados Unidos
MUKESH AMBANI (Presidente do Conselho da Reliance Industries) 59 anos, Índia
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Veja a lista completa, com 74 nomes, no site forbes.com.br
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Em diferentes lugares do país, em diferentes áreas de atuação, essas pessoas têm duas coisas em comum: primeiro, são jovens (têm no máximo 30 anos); segundo, eles fazem a diferença Para comPor esta lista, contamos com a ajuda de valiosos conselheiros, a quem agradecemos: Act10n, Andrea Chamma, Associação Brasileira de Startups, Bia Granja, Billboard, Caio Ribeiro, Camila von Holdefer, Cubo Coworking Itaú, Daniel Castro, Desenvolve São Paulo, Fátima Pissarra, Fernanda Gentil, Gloria Kalil, InovaBra, Isabela Boscov, João Armando Vannucci, João Marcelo Bôscoli, Juca Kfouri, Kyra Piscitelli, Lilian Pacce, PR Newswire, Rede Mulher Empreendedora, Rick Bonadio, Sérgio Xavier e Think Olga por Gabriela Arbex, Rebecca Silva, Ricardo Gomes e Leandro Manzoni coordenação editorial José Vicente Bernardo direção de arte Ana Carolina Nunes editora de fotografia Ariani Carneiro fotos Tomás Arthuzzi, Diego Nata, Ale Santos, Rodrigo Takeshi, Renato Rocha Miranda, Fernando Vivas, Stefano Martini e Thiago Gouveia
Esporte
Daniel Dias
Ele é uma máquina de bater recordes e acumular medalhas. Daniel de Faria Dias nasceu em 1988 em Campinas (SP) com limitações nos dois braços. Filho único, passou a infância em Camanducaia (mG). “Quando vi pela TV a Paralimpíada de 2004, descobri que existia esporte para pessoas como eu. Pensei: ‘Quem sabe um dia eu também não possa fazer isso?’.” Tinha 16 anos. Logo depois, seu pai assistiu a uma palestra de Steven Dubner, presidente da associação Desportiva para Deficientes (aDD). “Viemos a São Paulo para conhecer o esporte adaptado. Foi meu primeiro contato com aulas de natação.” a professora da aDD ficou espantada: em apenas oito aulas, Daniel aprendeu os quatro estilos da natação (borboleta, peito, costas e crawl). Ela sugeriu que ele se dedicasse ao esporte, e para isso a família mudou-se para Bragança, no interior paulista. Logo na primeira competição, em 2005, ao lado de paratletas experientes, os mesmos que via na TV, ganhou dois bronzes. “Costumo dizer que essa foi minha braçada inicial.” Em 2006, em seu primeiro mundial, ganhou duas medalhas de ouro e não parou mais. Em 2009, recebeu o troféu Laureus, o “oscar do esporte”, honra que divide com outros três brasileiros: Pelé, ronaldo Fenômeno e Bob Burnquist. Na rio 2016, Daniel ganhou quatro medalhas de ouro (nove no total). Tornou-se o nadador com o maior número de medalhas paralímpicas (24) da história.
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Apoio
Bruninho
Bruno mossa de rezende, 30 anos, não poderia ser outra coisa na vida. Filho do técnico e ex-jogador Bernardinho e de Vera mossa, musa da seleção brasileira nos anos 80, ele diz que começou a jogar vôlei “na barriga da mãe”. aos 14 anos, começou a levar o esporte a sério. aos 17, profissionalizou-se e rodou o mundo. Depois de duas grandes frustrações nas olimpíadas de 2008 e 2012, Bruninho (que se acha “baixinho” com seu 1,90 metro) alcançou a glória na rio 2016, vencendo a Itália na final. ao colocar a medalha de ouro no pescoço, superou os próprios pais. E ainda foi eleito o melhor levantador da competição. “representar meu país foi a coisa mais emblemática e emocionante que eu pude experimentar. ouvir o hino nacional quando a gente está no alto do pódio dá muito orgulho, é a coisa mais bacana que pode acontecer para um atleta”, diz. Carioca, ele conta que ganhar a medalha de ouro no maracanãzinho teve um sabor especial. “Foi como jogar no quintal de casa. Ter tantos amigos e familiares ao meu lado deixou a conquista ainda mais importante depois de tudo o que a gente passou. Eu vinha de duas medalhas de prata, e a redenção em casa foi o script perfeito.” Depois de três anos jogando na Itália, hoje ele defende o Sesi de São Paulo.
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março 2017 forbes brasil | 39
Esporte
Kahena Kunze Martine Grael & Para muita gente, o ouro inédito na vela feminina brasileira, conquistado por martine Grael, 26 anos, e Kahena Kunze, 25, foi, de longe, o resultado mais inesperado do país nos Jogos olímpicos do rio de Janeiro. Uma surpresa até para a própria martine. “Claro que eu sempre sonhei com uma alta performance no esporte, mas nunca imaginei uma medalha de ouro”, conta. o que poucos sabem, porém, é que a dupla construiu um caminho sólido até a competição, com títulos desde as categorias de base. ainda adolescentes, faturaram o mundial Júnior na classe 420. Em 2014, subiram de patamar com o título mundial no 49er FX em Santander, na Espanha. o auge acabaria por chegar em 2016. “Conseguimos chegar ao ‘Everest’ da modalidade. meu sonho está realizado”, diz Kahena, que garante a manutenção da parceria com martine por, pelo menos, mais um ciclo olímpico. “Quero disputar em outro país. Uma coisa é ganhar no Brasil. agora estamos mais visadas pelas adversárias, então teremos que mudar um pouco a nossa estratégia de treinamento.” as jovens campeãs olímpicas tentam fazer planos para o futuro. ambas começaram o curso de engenharia ambiental, precisaram parar em função do esporte, mas, garantem, pretendem concluí-lo. “Eu também gostaria de dar a volta ao mundo velejando. Competindo ou não. Espero, ainda, ajudar a difundir a vela para os mais jovens por meio de algum projeto social. mas não sei, por enquanto, como nem quando fazer”, confessa Kahena.
40 | forbes brasil março 2017
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Apoio
Rafaela Silva
Nada como um dia depois do outro. Em 2012, rafaela Silva foi desclassificada nos Jogos olímpicos de Londres nas oitavas de final, por causa de um golpe considerado irregular. Logo após a luta, foi vítima de injúrias raciais vindas das redes sociais. Pensou em abandonar o esporte, mas logo foi dissuadida da ideia, para sorte do esporte brasileiro. No rio, a peso leve venceu todas as suas adversárias, coroando uma campanha impecável diante da mongol Dorjsürengiin Sumiyaa.
Gabriel Jesus
Thiago Braz
Gabriel Jesus fez “barba, cabelo e bigode” em 2016. Pelo Palmeiras, venceu o Campeonato Brasileiro sendo o principal artilheiro do time. Com a camisa da seleção, foi ouro na olimpíada. E marcou cinco gols em seis jogos pelas Eliminatórias para a Copa do mundo. Por fim, teve sua venda para o manchester City confirmada por r$ 121 milhões.
até os Jogos do rio, Fabiana murer era a única esperança brasileira de um pódio no salto com vara. Era. Thiago Braz saltou 6,03 metros, bateu o superfavorito renaud Lavillenie, da França, e faturou um inédito ouro para o país.
Robson Conceição
Bruno Schmidt
Baiano de nascimento, robson começou a dar seus primeiros socos em Salvador, terra que também mostrou ao mundo acelino “Popó” Freitas. Depois de uma prata no Pan de 2011, atingiu seu ápice físico e técnico na olimpíada do rio. Na decisão pelo ouro, contra o francês Sofiane oumiha, venceu por unanimidade dos jurados.
Sobrinho de oscar Schmidt, Bruno foi testar seus predicados no esporte em outra praia. mais precisamente, no vôlei de praia. ao lado de alison, faturou nos Jogos do rio o único prêmio que lhes faltava: o ouro olímpico.
Izaquias Queiroz
Izaquias é um predestinado. afinal, o que esperar de um rapaz que nasceu em uma cidade chamada Ubaitaba, cujo significado em tupi-guarani é “cidade das canoas”? No seu debute em olimpíadas, o canoísta subiu ao pódio em três oportunidades, número que o deixa isoladamente como o maior medalhista do Brasil em uma única edição dos Jogos.
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Casemiro
Com Dunga ainda no comando da seleção, Casemiro cavou seu espaço como primeiro volante. apesar do fiasco na Copa américa Centenário, ele não comprometeu. No fantástico real madrid, deu a sustentação que faltava ao meio-campo. Titular incontestável de Zidane, foi um dos melhores jogadores do time no título da Liga dos Campeões 2015/2016. março 2017 forbes brasil | 41
Cinema, Televisão & Teatro
Caio Castro
ao vencer um concurso no programa Caldeirão do Huck, na TV Globo, em 2007, que lhe deu o direito de integrar o elenco da novela adolescente Malhação, Caio Castro não imaginava que sua ascensão fosse tão rápida. “Superou as expectativas”, afirma, ao relembrar sua trajetória. Hoje, aos 28 anos, coleciona participações e protagonismos em novelas de sucesso na emissora. Em 2012, Caio se deu o direito de tirar um ano sabático após cinco anos de trabalho ininterrupto. “Larguei contrato de longo prazo e bem remunerado para fazer um balanço”, conta, classificando a decisão como fundamental para uma guinada na carreira. Direcionou todo o foco para seu aperfeiçoamento. Dessa forma, obteve maior liberdade para escolher papéis que lhe rendessem mais sucesso. De quebra, ainda lançou um livro sobre esse período, com fotos e textos escritos durante as viagens que realizou. Caio está prestes a estrear Novo Mundo, novela de época na qual interpretará seu primeiro personagem histórico, o imperador dom Pedro I. “Estou encantado, é muito diferente das outras novelas”, diz. Também estará no cinema em 2017 interpretando Júlio no filme Travessia, com estreia em 23 de março. Para completar um ano intenso, prepara o lançamento de seu segundo livro, que vai divulgar fotos e relatos sobre uma viagem de carro da Califórnia a São Paulo. 42 | forbes brasil março 2017
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Apoio
Sophia Abrahão
Segundo a velha tradição, quando uma garota completa 15 anos, ela passa a ser vista como mulher pela sociedade. Enquanto algumas fazem festas animadíssimas e outras preferem viagens ao exterior, Sophia abrahão teve um presente inusitado: sua estreia na televisão, na novela Malhação. Hoje, dez anos depois do início, a atriz e cantora pretende surfar menos as ondas que a vida traz e analisar melhor cada oportunidade. “a palavra do ano é ‘planejamento’. Quero avaliar mais – 2016 foi meu melhor ano profissional e agora tenho maturidade para fazer escolhas.” a paulistana, que já passou pela record, onde fez parte da novela Rebelde – que lhe trouxe fama nacional –, agora trabalha na Globo. Na emissora, participou das novelas Amor à Vida, Alto Astral e A Lei do Amor. ao fazer uma análise da década de trabalho e do que já conquistou, a atriz acredita que ainda há muito pela frente. “Já consigo viver em paz. as incertezas da profissão passaram e vivo sem me preocupar muito com o amanhã.” Em 2017, Sophia tem projetos como apresentadora e aguarda respostas de testes para novos personagens na TV. Seu desejo profissional para o futuro? “Quero chegar a um ponto em que possa escolher papéis mais desafiadores, que me tirem da minha da minha zona de conforto.”
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Cinema, Televisão & Teatro
Bruno Gissoni, Rodrigo Simas Felipe Simas & Nascer em um ambiente artístico contribuiu para que Bruno, 30 anos, rodrigo, 25, e Felipe, 24, escolhessem a carreira na dramaturgia. “Tivemos apoio total”, diz Bruno, filho da produtora ana Paula Sang e enteado do ator Beto Simas, pai de rodrigo e Felipe. Era Beto quem levava os meninos, ainda crianças, para suas peças de teatro, como Péricles, o Príncipe do Tiro, marcada na memória do trio. “o cheiro do teatro ficou guardado em mim”, lembra rodrigo. Beto também os influenciou no esporte, já que é instrutor de capoeira. os três praticam a modalidade e a adotam como filosofia de vida. “Ela faz parte do nosso ser, seja no palco, seja no set de filmagem”, diz o caçula. Bruno e Felipe tentaram ser jogadores de futebol, mas o lado artístico falou mais alto. “o teatro chegou para preencher a desistência do sonho de ser atleta profissional”, afirma Bruno, enquanto Felipe reforça que uma atuação, em 2012, foi primordial para que abraçasse de vez a profissão. Já rodrigo decidiu pela carreira aos 15 anos. Com o inglês fluente devido aos quase dez anos que morou nos Estados Unidos com a família, o jovem chegou a fazer testes para participar da saga Crepúsculo. “Quero fazer personagens que me desafiem como ator”, diz, explicando que seu primeiro objetivo é aprimorar a atuação, e depois tentar a carreira internacional. Em 2016, rodrigo viajou pelo Brasil para encenar Dois Perdidos Numa Noite Suja, peça de Plínio marcos que estará em cartaz neste ano no rio e em São Paulo. Em paralelo, o irmão do meio estará no elenco da nova novela das 6 da Globo, Novo Mundo. Bruno começou 2017 com muita emoção: o mais jovem dos irmãos foi pai pela segunda vez. Sentimento que o primogênito Bruno vai experimentar em meados do ano. Ele também planeja produzir uma peça de sua autoria. 44 | forbes brasil março 2017
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Apoio
Nathalia Dill
Isabella Santoni
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Logo em seu primeiro papel de destaque na TV, na novela A Lei do Amor, Isabella Santoni arrebatou. Na pele de Letícia Bezerra, ela viveu, no início do folhetim, o sofrimento de uma portadora de leucemia. Por causa disso, precisou raspar a cabeça. antes, já havia mostrado o talento e a beleza em Malhação e Ligações Perigosas.
Fiuk
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a atriz foi bastante requisitada em 2016. Primeiro, fez rápida aparição em Êta Mundo Bom! como anastácia de Goytacases. Na sequência, viveu Branca Farto em Liberdade, Liberdade. Para fechar, multiplicou-se para encarnar as gêmeas Júlia e Lorena monteiro em Rock Story.
Jesuíta Barbosa
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Cantor, compositor e ator, encarou no fim de 2016 uma nova empreitada, dublando o filme Sing – Quem Canta Seus Males Espanta. Gravou ainda dois CDs, participou de Malhação e será o galã da próxima novela das 9, A Força do Querer.
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Não é de hoje que seu trabalho vem recebendo elogios. Cria do cinema pernambucano, Jesuíta Barbosa ganhou repercussão nacional em 2014 com a novela O Rebu. mas o melhor ainda estava por vir. Em 2016, interpretou o controverso Vicente menezes na ótima minissérie Justiça. Neste ano, engata dois papéis no cinema.
Juliana Paiva
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2016 foi um ano de consolidação para Juliana. muito graças a sua personagem Cassandra, uma aspirante a top model na novela Totalmente Demais. moda, aliás, é território mais do que conhecido para ela. Dos 9 aos 19 anos, desfilou Brasil afora e estampou diversas campanhas publicitárias. Em 2017, voltará aos holofotes em A Força do Querer. ©3
Gabriel Leone
a desenvoltura com que Gabriel Leone interpretou miguel de Sá ribeiro em Velho Chico foi um dos pontos altos da novela. Não à toa, venceu a categoria melhor ator no Prêmio Jovem Brasileiro. E este ano a agenda está lotada para esta revelação da teledramaturgia, com novela (Os Dias Eram Assim), filme (será o intérprete de roberto Carlos em Minha Fama de Mau) e teatro. ©1 estevam avellar ©2 globo ©3 cesar alves ©4 júlia rodrigues ©5 ricardo penna
Myra Ruiz
myra dava fortes indícios de que levaria uma vida de atleta, com suas aulas regulares de ginástica olímpica. até participar de um musical promovido por sua professora de balé. Seu destino já estava traçado. Entre os papéis de destaque estão a prostituta Saraghina em Nine – Um Musical Felliniano, a bruxa Elphaba em Wicked e maureen na versão brasileira de Rent, que ainda está em cartaz. março 2017 forbes brasil | 45
Influenciadores digitais
Rezendeevil Talvez você não o conheça. mas é quase certo que seus filhos, sobrinhos ou até netos sejam fanáticos por ele. Pedro afonso rezende Posso, ou rezendeevil, como é conhecido, é um dos maiores fenômenos do YouTube no Brasil. Seu canal tem quase 11 milhões de inscritos. o carro-chefe de sua produção é o jogo minecraft, o segundo game mais vendido do planeta. Pedro é uma espécie de comentarista interativo do game, em cima do qual cria histórias. Também produz pegadinhas, desafios e vídeos engraçados. “Comecei cinco anos atrás, aos 15 anos. Eu jogava muito videogame e, quando não conseguia passar de fase, procurava ajuda no YouTube”, conta. “Fiquei com vontade de fazer aquilo também e comecei a gravar os vídeos.” Logo chegou aos 350 mil seguidores. mas esse, na verdade, era seu segundo hobby. o primeiro era futebol – tanto que, a essa altura, saiu de Londrina, onde mora, e foi jogar futsal na Itália. “Tive alguns problemas lá, seis meses depois voltei e foquei no canal. aí cheguei a 1 milhão de inscritos e comecei a ter retorno financeiro.” Lembra que a primeira bolada foi de r$ 15 mil. Hoje, com uma equipe de 40 pessoas, também faz publicidade, teatro e livros – seus três títulos já venderam mais de 300 mil exemplares.
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Apoio
Thaynara OG a mãe a ouvia falando alto fechada no quarto e cismava: “Essa menina trouxe alguém para casa ou endoidou?” Um dia, andando pelas ruas de São Luís, no maranhão, onde mora, Thaynara (oliveira Gomes, vulgo oG) foi parada por fãs. a mãe entendeu menos ainda. “Como assim? Você está famosa?” a filha explicou: desde março de 2015 ela postava vídeos pelo Snapchat e já tinha uma legião de seguidores. “Fiz faculdade de direito, como todo mundo na família, e queria prestar concurso para a Defensoria Pública da União. minha rotina de estudos era muito pesada e solitária. meus amigos se mudaram de São Luís, terminei o namoro, eu ficava muito tempo com os livros. Então fazia os vídeos só para os amigos, para espairecer”, conta. Em outubro daquele ano, perdeu a vergonha e tornou o perfil público. Em fevereiro de 2016, a internet virou sua profissão – hoje é considerada a maior snapchater do país. até a mãe passou a participar. “mostro meu dia a dia de um jeito criativo e divertido.” Quase 2 milhões de pessoas acompanham Thaynara oG no Instagram e outros tantos no Snapchat. Hoje, aos 25 anos, ela desistiu do concurso e vive do que ganha nas redes sociais. Foi indicada para o Kids’ Choice awards (do canal Nickelodeon), maior premiação do gênero no mundo, como Personalidade Brasileira. ainda mora com os pais – “mas já tenho minha independência”.
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março 2017 forbes brasil | 47
Influenciadores digitais
Paola Antonini
o ano passado foi classificado como surpreendente pela modelo Paola antonini. a mineira de 22 anos tornou-se uma das principais influenciadoras nas redes sociais ao mostrar o seu dia a dia em fotos e vídeos. mas, diferente do que fazem as jovens de sua idade que se aventuram pelas mídias sociais, Paola deixa uma mensagem de inspiração em suas publicações: “a deficiência não define as pessoas e não é impeditiva”. Paola teve que amputar a perna esquerda após ser atropelada, no Natal de 2014, por uma motorista embriagada. Um acidente que levaria muita gente à tristeza e depressão foi revertido e encarado de outra maneira por ela. a bela jovem agradece por estar viva e usa as redes para demonstrar sua felicidade. a visibilidade fez com que fosse escolhida como musa da Paralimpíada. “Foi inesperado”, diz sobre a experiência no rio de Janeiro, onde acompanhou o evento de perto. Paola se emociona ao contar que pessoas com deficiência e com dificuldade de autoaceitação enviam-lhe mensagens dizendo que ela é uma fonte de inspiração. o trabalho como modelo reflete isso. Ela acredita que as grifes estão, cada vez mais, aceitando as diferenças e que ela é um dos ícones que marcam essa mudança na moda. Todas essas experiências vão ilustrar um livro – o próximo projeto de Paola. No longo prazo, seu desejo é criar uma oNG que auxilie crianças com deficiência e câncer, ampliando o trabalho voluntário que já realiza no grupo ombro amigo. 48 | forbes brasil março 2017
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Mica Rocha
Com mais de 500 mil seguidores no Instagram, a produtora mica rocha é um dos destaques das redes sociais. Desde os 23 anos, quando deixou de trabalhar diretamente com moda, ela produz vídeos sobre o universo feminino, abordando temas como autoestima, relacionamento e beleza. “a ideia é colocar a mulher em outra perspectiva”, diz. a atuação de mica, no entanto, vai além do mundo digital. a jovem já participou de programas de TV, sendo o mais conhecido deles o Pé na Bunda, produzido e apresentado por ela no Warner Channel. Nele, mica abordava, com bom humor, seu tema preferido: as relações humanas. outra incursão foi no mundo da literatura. É autora do #Manual da Fossa, um guia para as mulheres superarem de forma leve o fim do relacionamento. o sucesso de vendas do título garantiu uma coleção sobre o assunto editada pela Saraiva. o segundo livro, Manual do Amor Próprio, será lançado ainda em 2017. Em 2016, ela lançou sua primeira obra de ficção, Amor(Ex). ainda no ano passado, mica participou de peças publicitárias em que não apenas representou as marcas, mas também teve liberdade de roteirizar e estender a elas os assuntos com os quais lida em seus vídeos e livros. Em abril de 2017, voltará para as telinhas. Pretende criar um grupo de mulheres para debater relacionamentos tóxicos e começar a escrever roteiros para séries de TV e filmes.
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março 2017 forbes brasil | 49
Influenciadores digitais
Jout Jout
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Julia Tolezano, ou Jout Jout, 26 anos, é uma espécie de porta-voz das brasileiras entre 20 e 35 anos. No seu canal no YouTube, o Jout Jout Prazer, com mais de 1 milhão de assinantes, fala de cenas típicas do cotidiano feminino com sotaque carioca carregado e jeito escrachado.
Konrad Cunha Dantas É na sua produtora, a KondZilla, que Konrad Cunha Dantas, 28 anos, fortalece a cena do funk paulista. Ele já colocou no ar gente como mC Bin Laden e mC Guimê. Em seis anos, produziu mais de 250 clipes. No YouTube, seu canal já tem mais de 10 milhões de inscritos.
Apoio
Júlio Cocielo
a morte de um animal de estimação é, invariavelmente, dolorosa. mas, em alguns casos, pode inspirar. Fenômeno da internet brasileira, Júlio Cocielo, 23 anos, criou o Canal Canalha como válvula de escape para superar a perda do seu cachorrinho, em 2011. a “distração” deu certo. Cocielo é detentor do terceiro maior canal do YouTube no Brasil, com mais de 11,5 milhões de inscritos. Celebridade, ele é facilmente visto em programas de TV.
Whindersson Nunes É contando piadas do cotidiano e fazendo os outros rirem que Whindersson Nunes, de 22 anos, dominou a internet brasileira. o piauiense produz vídeos de humor no YouTube desde 2013, mas foi em 2016 que essa “brincadeira” ganhou proporções gigantescas. Desde outubro passado, ele é o brasileiro que acumula o maior número de inscritos em um único canal do site de vídeos: 17 milhões. No mundo, ele é o 34º do ranking.
Felipe Neto
Dá para afirmar com tranquilidade que Felipe Neto é um dos pioneiros no Brasil a aparecer no YouTube falando sobre assuntos aleatórios. No seu caso, críticas às celebridades. No ar desde 2010, Felipe, atualmente com 29 anos, foi o primeiro youtuber brasileiro a atingir a marca de 1 milhão de assinantes em seu canal. Hoje ele é também um homem de negócios, na condição de fundador da Paramaker, empresa que detém canais como IGN Brasil Network e Parafernalha.
Christian Figueiredo
Nem parece que Christian Figueiredo tem só 22 anos. o rapaz de Blumenau já tem dois canais no YouTube (Eu Fico Loko, com mais de 7 milhões de inscritos, e Christian Figueiredo, com pouco mais de 3 milhões), dois livros, dois filmes e várias campanhas publicitárias. Em 2016, apresentou o quadro Me Conta Lá no Quarto, no Fantástico, onde falava com bom humor sobre os dilemas da adolescência.
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Bianca Andrade Nascida e criada no Complexo da maré, comunidade no subúrbio do rio de Janeiro, Bianca andrade, 22 anos, teve o grande “estalo” da sua vida ao assistir a tutoriais de maquiagem no YouTube. Inspirada, formou-se em maquiagem e criou o Boca Rosa.
Música
Ludmilla
Às vésperas de completar 22 anos, a carioca Ludmilla oliveira da Silva já tem uma agenda digna de popstar. Que o diga 2016. a funkeira encarou uma média de 20 shows por mês no ano passado, gravou o seu segundo álbum, A Danada Sou Eu (Warner), participou de um número sem fim de eventos de divulgação e programas de televisão, mostrou samba no pé em ensaios e desfiles carnavalescos e ainda arrumou tempo para registrar ocorrência policial sobre ofensas raciais cometidas contra ela nas redes sociais. “Eu não tinha noção de aonde chegaria. Só queria cantar”, revela Lud, como é carinhosamente chamada, que até 2013 se apresentava sob a alcunha mC Beyoncé, uma homenagem à diva pop norte-americana, a segunda mulher da música em número de prêmios Grammy (22). Das coisas que o sucesso lhe proporcionou, diz que o mais importante foi ter condições de cumprir a promessa que fez para a mãe e para a avó. “Eu disse que ia cuidar delas. E é isso que estou fazendo atualmente.” o sucesso, não entanto, não a fez esquecer antigos e bons momentos. “Sinto falta de ficar no portão, à toa. De encontrar as amigas na barraca do x-tudo e fofocar”, lembra. mas volta para sua nova realidade imediatamente quando o assunto é o futuro. “Quero falar inglês e espanhol, ter uma carreira internacional.” 52 | forbes brasil março 2017
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Apoio
Alok
alok achkar Peres Petrillo, 25 anos, que apesar do nome indiano-libanês-espanholitaliano nasceu em Goiânia, é mundialmente conhecido como DJ alok. Sim, mundialmente – sua música Hear Me Now (em parceria com Bruno martini) já foi ouvida mais de 100 milhões de vezes no Spotify (num ritmo de 13 milhões de audições por semana). Isso fez dele um Top 30 global no maior serviço de streaming musical do planeta (na Billboard, a música chegou ao 20º lugar). No YouTube são outros 45 milhões de execuções. “acho que em 2016 consegui lançar muitas músicas que estavam prontas, por isso veio esse boom”, explica, com surpreendente humildade. “Frequento festas eletrônicas desde os 6 anos – meus pais também são DJs. Comecei a tocar profissionalmente aos 12 anos junto com meu irmão gêmeo, Bhaskar. Em 2010 parti para carreira solo”, conta. Hoje alok passa mais tempo fora do Brasil do que em sua casa, em São Paulo. Vai passar dois meses na China. “Lá eles não usam YouTube, Facebook, nada disso, só a rede social do governo. a referência que eles têm em música eletrônica é a revista DJ Mag, e eu aparecia como o 25º melhor. os que estavam na minha frente não quiseram se arriscar na Ásia. Eu fui e acabei ficando conhecido.” Tão conhecido que fechou um generoso contrato de 16 shows e ações publicitárias com a Budweiser em solo chinês.
© tomás arthuzzi
março 2017 forbes brasil | 53
Música
Zé Neto& Cristiano
Quem não conhece a balada sertaneja Seu Polícia ou é muito distraído ou não é deste planeta. a música foi a mais tocada nas rádios brasileiras no ano passado, segundo a Crowley Broadcast analysis, empresa especializada em gravação e monitoramento. as vozes que entoam o hit são da dupla Zé Neto & Cristiano, 27 e 28 anos, respectivamente, amigos de infância da zona rural de São José do rio Preto, interior de São Paulo. Em seis anos de carreira, os jovens já tinham colocado outras músicas nos rankings – como Eu Ligo pra Você e Eu Te Amo – mas não com tanto destaque. o clipe de Seu Polícia no YouTube registra quase 170 milhões de visualizações. “Eu jamais imaginei alcançar tudo isso”, confessa Cristiano. “achei o assédio um pouco assustador no começo, mas hoje o considero um termômetro do nosso trabalho.” Segundo ele, também assusta constatar que muitas coisas com as quais sonhou são, hoje, realidade. “Sempre fui aficionado por jogos eletrônicos. meu maior desejo era ter um supercomputador. Hoje eu consegui”, conta, mencionando também a coleção de mais de 20 action figures que mantém em casa. o bom momento na carreira artística viabilizou investimentos em áreas menos efêmeras, que assegurem algumas garantias no futuro. Cristiano aplicou em imóveis, enquanto Zé Neto manteve suas raízes e optou por cabeças de gado. resolvida a parte prática, os sonhos continuam. “Tive um tio que precisou ser tratado no Hospital do Câncer de Barretos, que é referência e recebe muita gente de outros estados. Gostaria de um dia construir um lugar que pudesse abrigar as famílias dos pacientes durante o período de tratamento”, revela Cristiano.
54 | forbes brasil março 2017
© diego nata e ale santos
Apoio
Karol Conka Anavitória Letras marcantes, voz e postura inconfundíveis. Karol Conka já indicava um futuro brilhante em 2011, quando foi eleita “aposta” do rap nacional no VmB. Desde então, são seis álbuns, prêmios e várias campanhas publicitárias.
Marília Mendonça a vida dessa goiana de 21 anos começou a mudar em 2015, graças a uma participação especial em duas canções da dupla sertaneja Henrique & Juliano. No ano seguinte, a cantora já era febre, com o lançamento do disco Marília Mendonça: Ao Vivo. Com quase 140 milhões de visualizações, o hit Infiel é a quarta canção brasileira mais assistida no YouTube. No fim de 2016, marília se lançou como modelo, ao posar para uma nova marca de lingerie.
Vintage Culture
ana Clara Caetano e Vitória Falcão. ou anavitória, sem espaço entre um nome e outro. a dupla de araguaína, Tocantins, precisou recorrer a um crowdfunding para gravar seu álbum de estreia em 2016, que contou com a produção de Tiago Iorc. Hoje, o canal das meninas – que classificam seu som como pop rural – no YouTube tem 200 mil inscritos e mais de 14 milhões de visualizações.
Vintage Culture (ou Lukas ruiz, para os íntimos), 23 anos, ocupa um lugar de destaque na cena eletrônica. Em 2012, ganhou notoriedade ao fazer uma versão para Blue Monday, clássico do New order. ocupa o 54º lugar na lista dos 100 melhores DJs da revista britânica DJ Mag.
Maiara & Maraisa
Irmãos formando duplas sertanejas é algo muito comum. Irmãos gêmeos, nem tanto. Irmãs gêmeas, menos ainda. Nascidas em São José dos Quatro marcos, no mato Grosso, maiara e maraisa, 29 anos, garantiram um lugar no ranking das músicas mais tocadas do Brasil com a canção 10%, lançada em 2015, sob a consultoria de Jorge, da dupla Jorge & mateus. No ano passado, chegaram ao topo das paradas com o álbum Ao Vivo em Goiânia.
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Maria Brasil
as redes sociais explicam parte do sucesso de um artista. É o caso de maria Brasil. Seu canal no YouTube tem mais de 30 mil inscritos; no Instagram, a barreira do 1 milhão está próxima de ser rompida. além de músicas autorais, maria não abre mão de um cover. No repertório, sucessos que vão de Hey Jude, dos Beatles, a Blank Space, de Taylor Swift.
©1 mauricio antonio ©2 Gabriel Quintão
Liniker
Liniker desafia o lugar-comum. De brincos, batom, colar ou turbante, arrebanha fãs por onde passa. Com a banda Caramelows, leva no nome a homenagem a um ex-jogador de futebol, o inglês Gary Lineker. Ideia do tio. Seu som é uma mistura de black music e soul. No YouTube, soma mais de 11 milhões de visualizações. até a pré-adolescência, Liniker evitava cantar porque sentia muita vergonha.
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março 2017 forbes brasil | 55
Literatura
Larissa Manoela
o nome de Larissa manoela, 16 anos, remete à personagem maria Joaquina, interpretada por ela no remake brasileiro da novela mexicana Carrossel, exibida pelo SBT. o sucesso da novela infantojuvenil impulsionou sua carreira de atriz, cantora, dubladora e modelo, transformando-a em uma das maiores estrelas teens do país. Em 2016, outro talento da menina foi apresentado ao público: o de escritora, com o lançamento de O Diário de Larissa Manoela. “Fiquei surpresa”, revela, ao comentar o sucesso. o livro é o segundo no ranking dos autores brasileiros mais vendidos do ano, com 179 mil exemplares. E esse é somente o início de sua carreira de escritora: ela já começou a preparar a segunda obra, uma continuação do trabalho de estreia. Larissa revelou que gosta de escrever desde criança, quando começou seu diário, aos 7 anos. Inicialmente foi contatada pelas editoras para escrever um livro de ficção ou sua biografia, mas optou por transformar seu diário em livro. “Foi uma forma de mostrar aos meus fãs como sou e que vivo situações semelhantes às que eles vivem.” a adolescente conta que se inspira em outras autoras jovens, como Thalita rebouças, Bruna Vieira e Paula Pimenta. E 2017 tem tudo para ser outro ano de realizações para Larissa, com a estreia de dois filmes nos quais será protagonista. Ela está ao lado de Ingrid Guimarães em Fala Sério, Mãe, adaptação do livro homônimo de Thalita rebouças. Também está prevista a estreia de Meus 15 Anos, baseado no livro de Luiza Trigo. 56 | forbes brasil março 2017
© rodrigo takeshi
Apoio
Sheyla Smaniotto
Logo em seu primeiro livro feito “para os outros”, Sheyla ganhou prêmios que muitos escritores de cabelos brancos e vasta obra ainda não alcançaram. Desesterro, lançado na virada de 2015 para 2016, chamou a atenção da crítica e garantiu a ela o Prêmio Biblioteca Nacional de Literatura, o Prêmio Sesc e o cobiçado Jabuti. “Eu escrevo desde sempre, por motivos diferentes. Na infância, com 3 ou 4 anos, era para brincar. Na adolescência, depois do divórcio dos meus pais, escrevia diários para criar universos paralelos – a realidade era sem graça”, conta. “Lembro que um dia eu pensei: ‘Quero ser escritora’. Era fim de ano, eu estava terminando meu terceiro romance (que eu escrevia só para mim, no máximo deixava um ou dois amigos muito próximos ler). Então decidi escrever para os outros. Comecei a escrever Desesterro durante o mestrado em teoria e história literária em Campinas.” Sheyla conta que seus pais não têm o hábito da leitura, mas sempre a apoiaram. “Eles me deram as melhores escolas que puderam.” Este ano, recebeu uma bolsa do Itaú Cultural para produzir seu segundo livro. “o que eu sinto quando escrevo eu não sinto com mais nada. as histórias abrem paredes que pareciam fechadas dentro de mim.”
© tomás arthuzzi
março 2017 forbes brasil | 57
Literatura
Victor Heringer
o trabalho de Victor Heringer, 29 anos, estava restrito a um pequeno grupo de autores, leitores e críticos literários. mas 2016 foi o ano em que seu público foi ampliado e seus livros “tiveram a oportunidade de encontrar seus leitores”. Seu último romance, O Amor dos Homens Avulsos, foi um dos destaques no mercado literário brasileiro. antes dele, Heringer já havia escrito o livro de poemas automatógrafo e o romance Glória, que lhe rendeu um Prêmio Jabuti em 2013. a juventude nunca foi um impeditivo para publicar suas obras, e o escritor revela que sempre contou com o apoio da família. “Eu não seria o que sou sem ela”, afirma, ao dizer que vive para a literatura – mesmo que não haja retorno financeiro. Heringer também é capaz de transcender a escrita e se aventurar em outras formas de arte, como fotografia, música e artes visuais. a versatilidade artística e intelectual já lhe proporcionou outras premiações, como no Festival do minuto, por uma obra em vídeo e alguns prêmios relacionados à escrita acadêmica. De Nova Friburgo (rJ), Heringer costuma viajar para buscar inspiração. o escritor conversou com ForBES durante uma viagem ao Peru, onde foi “coletar material” para seu novo livro. Sem adiantar detalhes, disse apenas que o novo romance ainda está tomando forma e que a narrativa se passará em diferentes países da américa Latina.
58 | forbes brasil março 2017
© Stefano Martini
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João Guilherme Ávila
Um artista multimídia. assim pode ser definido João Guilherme Ávila, de apenas 15 anos, que ataca em todas as frentes. Filho do cantor sertanejo Leonardo, João herdou do pai a vocação para soltar a voz no microfone. Ele já tem até um single lançado, intitulado Quem Sabe. João também faz as vezes de ator, tendo atuado em filmes e novela. No final de outubro passado, entrou de cabeça na literatura ao lançar João Sendo João – Meu Mundo, onde conta seus segredos e estripulias. o livro vendeu, até o momento, 45 mil exemplares.
Maisa Silva
o mundo do entretenimento deixou de ser um “bicho de sete cabeças” para maisa Silva. No ar desde os 3 anos de idade, ela já trabalhou com raul Gil e Silvio Santos, teve seu próprio programa na TV e até deu o ar da graça como youtuber. aos 14 anos, a ex-estrela mirim resolveu ir além. Em 2016, lançou dois livros: O Diário de Maisa e Sinceramente Maisa, que trazem sua ótica sobre os mais diversos assuntos que envolvem o público teen. Juntos, os dois já venderam 70 mil exemplares.
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Luisa Geisler
assim como o sonho de ser escritora bateu à porta ainda na infância, o sucesso chegou cedo para Luisa Geisler, 26 anos. Em 2010, aos 19, lançou sua primeira obra, Contos de Mentira, que surpreendeu ao faturar o Prêmio Sesc de Literatura – a mais jovem escritora a levar a melhor nessa disputa – e ficar entre os finalistas do Prêmio Jabuti. No ano seguinte, Luisa reapareceu com Quiçá, livro que a coloca na lista dos melhores escritores brasileiros com menos de 40 anos, elaborada pela revista inglesa Granta. Em 2014, lançou Luzes de Emergência se Acenderão Automaticamente. apesar da já vitoriosa carreira como escritora, Luisa largou a faculdade de letras para ingressar no curso de relações internacionais.
©1 marcelo nunes ©2 creativy studio
março 2017 forbes brasil | 59
Moda
Lolita Hannud
Definitivamente, Lolita Hannud nasceu para trabalhar com moda. as viagens ao lado da mãe, rosana Zurita, reconhecida confeccionista de malhas, deram a Lolita o conhecimento suficiente para lançar, aos 13 anos de idade, sua primeira linha de tricô, voltada para meninas de sua faixa etária. Início mais do que promissor. o talento com tecidos e o espírito empreendedor corriam nas veias. Lolita foi buscar nos Estados Unidos novos valores para agregar ao seu repertório. o “pulo do gato” foi dado em 2008, com a fundação da grife Lolitta, hoje referência em tricô no mercado de luxo brasileiro. “Tudo aconteceu naturalmente. É uma área que exige muita técnica, cuidado, e esse know-how da minha mãe me ajudou muito”, diz a empresária, do alto dos seus 29 anos. Como o sucesso não vem por acaso, Lolita trabalha – e muito. Segundo ela, são 24 horas dedicadas à grife. Tudo passa pelo seu crivo. “Nosso sucesso está apoiado em três pilares: qualidade dos produtos, modelagem impecável (feita sob medida para a mulher) e exclusividade na elaboração das peças.” Em 2016, Lolita tirou mais uma carta da manga. Em parceria com o irmão João Hannud criou o make You, ou, como ela gosta de chamar, o “Uber da beleza”. Trata-se de um aplicativo que entrega em domicílio profissionais gabaritados do ramo de maquiagem e penteados. o serviço varia de r$ 100 a r$ 400 em média , dependendo da complexidade do serviço solicitado. Entre as metas a curto e médio prazos, Lolita pontua o atendimento a diferentes públicos e o crescimento estruturado das vendas tipo exportação. 60 | forbes brasil março 2017
© tomás arthuzzi
Apoio
Vitorino Campos
Embora tenha apenas 29 anos, Vitorino já acumula mais de uma década de experiência. montou sua primeira loja aos 16 anos, formou-se em design de moda na Universidade de Salvador, criou uma marca homônima em 2008, passou a integrar o calendário oficial do São Paulo Fashion Week em 2012 e, em 2014, assumiu os desfiles da grife carioca animale depois de uma seleção da qual participaram até nomes internacionais. “Foi tudo muito natural. Não tive tempo de parar para pensar. as coisas foram simplesmente acontecendo”, conta o estilista, que foi criado entre o ateliê da tia e a fábrica de fardamentos da mãe em Feira de Santana, na Bahia. Um dos nomes mais promissores do cenário fashion nacional, Vitorino foi citado pela Vogue americana, em 2015, como um dos dois profissionais brasileiros nos quais todos deveriam estar de olho (a outra era Patricia Bonaldi), enquanto a associação Paulista dos Críticos de arte (aPCa) elegeu-o estilista do ano em 2016. reconhecimentos conquistados graças a muita dedicação. “É claro que abri mão de muitas coisas, principalmente quando era mais jovem. mas sempre pude contar com poucos e bons amigos, que deixavam de ir às baladas para me fazer companhia em casa”, lembra. mas Vitorino não está satisfeito. “Eu me vejo pesquisando cada vez mais sobre moda, em uma busca sem fim. Cada vez que atinjo um desafio, me empolgo automaticamente com um mais novo.”
© diego nata e ale santos
março 2017 forbes brasil | 61
Moda
Lilly Sarti
Já faz quase 11 anos que Lilly Sarti criou, junto com a irmã renata, sua própria grife, homônima, com coleções atemporais destinadas a mulheres de todas as idades. Foi um longo caminho que, segundo a jovem, hoje com 30 anos, superou todas as expectativas. “Eu acredito que tudo o que é feito com afinco e responsabilidade gera resultados positivos. mas confesso que foi muito além do que eu esperava”, diz. Quando a grife completou uma década de existência, Lilly achou que era hora de mudar algumas coisas. “Eu comecei a questionar o que existia além do negócio propriamente dito. Fizemos, então, uma reavaliação e abandonamos velhos hábitos. Conseguimos humanizar vários aspectos: nos aproximamos da nossa equipe de colaboradores e dos clientes. Estendemos a nossa essência para os nossos parceiros. Foram 12 meses de muita reflexão e de muito trabalho. mas foi uma verdadeira virada, um novo ciclo, e estou muito satisfeita”, conta. Com duas lojas próprias em São Paulo – e presença em mais de 70 multimarcas nacionais e internacionais de luxo – , a grife participa, desde 2014, do São Paulo Fashion Week, o principal evento de moda da américa Latina. No ano passado, ampliou sua atuação para os públicos masculino e infantil com o lançamento das linhas Sarti for men e Lilow.
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© tomás arthuzzi
Apoio
Sam Santos & André Boffano
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Em dois meses, andré e Sam assinaram a primeira coleção e ganharam o respaldo de roberta Damasceno, dona da multimarcas Dona Coisa, que encomendou nada menos que 90% da criação. Era o início de uma parceria bem-sucedida. Comemorando dois anos de modem, andré e Sam estampam a grife em 20 postos de venda em todo o Brasil. “Essa empresa nasceu de forma bastante planejada e desenhada para longo prazo”, diz Sam. “Seguimos sempre o DNa da marca, que é criar peças com excelência na qualidade, pensando durante todo o processo no desenvolvimento dos nossos produtos. a imagem e os códigos criados para a modem, desde sua primeira coleção, continuam a ser explorados e reinventados.” Como se não bastasse o sucesso com roupas, agora a dupla embarca no mundo das bolsas de luxo. “Desde jovens estamos atentos a todas as oportunidades de trabalho que aparecem.”
Thomaz Azulay & Patrick Doering a Blue man é coisa do passado para Thomaz azulay. Ex-diretor criativo da marca, Thomaz estabeleceu-se no mundo da moda com a sua The Paradise, criada em 2014 em parceria com o publicitário e amigo Patrick Doering. Diferentemente da Blue man, que focava no beachwear, a The Paradise trabalha com estamparia digital. as peças da marca têm edição limitada e são numeradas à mão. “Queremos continuar crescendo, principalmente no atacado. Em um ano e meio de marca, passamos dos 30 pontos de venda.” a The Paradise comercializa também acessórios dos mais diversos tipos e medidas, suvenires (case de iphone, almofada, lenços etc.), brincos e anéis.
Luisa Farani Publicitária de formação, Luisa decidiu se dedicar à moda em 2007. Depois de um tempo de estudos na London College of Fashion, na Inglaterra, voltou ao Brasil em 2009 e, cinco anos mais tarde, lançou a grife que leva seu próprio nome. Em sua loja virtual, ela faz questão de dizer para quem trabalha: “Faço roupas para mulheres que amam viajar, não vivem sem arte e prezam originalidade e qualidade na hora de se vestir”. Entre as ilustres personalidades que vestem Luisa Farani estão a cantora anitta, a atriz Letícia Sabatella e a primeira-dama marcela Temer.
©1 CASSIA TABATINI
março 2017 forbes brasil | 63
Negócios
Roberto Sirotsky
Ele é um dos herdeiros do Grupo rBS, conglomerado de mídia fundado nos anos 1950 em Porto alegre. “Tenho grande admiração pelo negócio da família, mas decidi ir para outro caminho”, conta roberto Sirotsky. Quando garoto, ele achou que seu futuro estava no tênis. “Cheguei a ser o número 1 do Brasil na categoria até 12 anos, ganhei até do Del Potro [tenista argentino que chegaria ao 4º lugar no ranking mundial].” Investiu nisso por alguns anos até perceber que, adulto, não teria grande futuro com a raquete. aos 21 anos, com amigos, abriu a 3yz para fazer sites. “o primeiro cliente era um pequeno hotel da cidade.” Com o tempo, ampliaram o leque e passaram a atender marcas gaúchas conhecidas nacionalmente. “Três anos atrás eu me mudei para São Paulo e começamos a crescer aqui também”, diz. Desde fevereiro de 2016, a britânica WPP, maior grupo de publicidade do mundo, entrou na sociedade. “Passamos a participar de processos maiores e a atender multinacionais. o faturamento deu um salto.” Também em 2016, ele venceu o prêmio Empresário de Comunicação do ano da associação riograndense de Propaganda, concorrendo, entre outros, com o próprio CEo da rBS mídias, de quem diz ser grande admirador. E o que espera para o futuro? Com convicção e sotaque gaúcho, responde, meio brincando, meio sério: “Quero ser presidente do Grêmio”.
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© tomás arthuzzi
Apoio
Vitor Paulino& Rafael Matos Vender aos investidores um propósito que impacta a sociedade não é algo trivial. É preciso análise e convencimento de que esse esforço vai trazer o retorno esperado. Essa é a fórmula que levou ao sucesso Vitor Paulino, 28 anos, e rafael menezes, 25. ambos trabalham na Tarpon Investimentos, fundo que controla a Somos Educação, maior grupo educacional do país. “Convencer as pessoas de que o negócio compensava foi um desafio”, lembra Vitor, diretor da empresa, sobre o processo de aquisição da Somos do Grupo abril. Sua participação na operação e a experiência anterior em outros fundos credenciaram-no para o conselho de administração. Vitor tornou-se uma das pessoas mais jovens a ocupar a posição em uma grande empresa brasileira. rafael, especialista em investimentos, trabalha com Vitor na gestão da Somos e na busca por novos recursos. Ele chegou a estudar medicina, mas desistiu. “Não senti a vocação, queria fazer carreira em algo que causasse um impacto maior na sociedade”, diz ele sobre a decisão de cursar administração. Hoje, o jovem garante ter tomado a decisão certa e diz que se sente realizado ao participar de uma empresa que oferece um produto que atinge mais de 1 milhão de estudantes. Vitor e rafael, em uníssono, garantem estar apenas no início. “Não caminhamos nem 5%. ainda há muito a conquistar.” Eles acreditam que aliar propósito e trabalho árduo pode levar a Somos a um crescimento sustentável e à realização de novos investimentos.
© tomás arthuzzi
março 2017 forbes brasil | 65
Negócios
Andres Andrade
Ele chegou ao Brasil em 2013, ainda um “garoto” de 26 anos, para sacudir o mercado de shopping centers. ao aceitar o cargo de diretor de novos negócios do grupo Gazit no Brasil, o equatoriano andres andrade disse adeus à sede da empresa em miami, onde trabalhava desde que se formou em finanças na Universidade da Flórida. Especialista em fusões e aquisições, aqui ele executou um plano de guerra em um raio de 7 quilômetros ao redor da sede da empresa, no bairro paulistano de Vila olímpia. “mapeamos todos os ativos e áreas nessa região, que julgamos ser a mais prestigiada e com o maior potencial de crescimento na américa Latina. Para nós, aqui é manhattan”, diz andres. Feito isso, começou o ataque. a Gazit investiu r$ 1,8 bilhão na aquisição parcial ou total dos lugares escolhidos – do luxuoso Cidade Jardim ao movimentado Shopping Light, no centro da cidade. Na Vila andrade, por exemplo, desativou um conhecido supermercado e construiu no lugar um shopping de 30 mil m2, o morumbi Town, inaugurado em outubro de 2016. “Nossa CEo e eu tiramos a Gazit de uma condição de relativa obscuridade, e hoje posso dizer que é a empresa do setor com maior presença em São Paulo. Colaboramos para que 2016 fosse o melhor ano da nossa história.” 66 | forbes brasil março 2017
© tomás arthuzzi
Apoio
Ricardo Politi
Fernando Cymrot Fernando, 30 anos, viu a oportunidade na queda do mercado de vendas de carros novos no Brasil. Em 2013, lançou a plataforma Canal da Peça. Basta dar o modelo e o ano do automóvel para iniciar o mapeamento de informações sobre fornecedores, disponibilidade em estoques, preços e entregas de peças. Em 2016, a startup cresceu 25% ao mês.
a busca por novos negócios e estudos do mercado britânico fizeram ricardo Politi criar, em 2014, o Broota Brasil, primeira plataforma do país a permitir que empreendedores captem recursos pela internet – o chamado equity crowdfunding (investimento coletivo). aos 29 anos, Politi aposta que esse tipo de operação aponta para uma nova tendência na maneira de empreender. “De um lado temos startups em busca de capital e, do outro, pessoas comuns que podem investir com apenas r$ 1 mil”, explica.
Pedro Bueno
Felipe Castellani, Henrique Castellani & Victor Santos Inovar, no cenário atual, é mais do que necessário. E foi exatamente isso que os sócios Henrique, 24 anos, Felipe e Victor Santos, ambos de 27, estão fazendo com a Liv Up, que atua no mercado de comidas congeladas. Para se distanciar da concorrência, a empresa recorre ao ultracongelamento dos alimentos, processo que mantém sabor, consistência e textura dos produtos. Em 2016, o negócio atingiu r$ 2,8 milhões de receita.
No início de 2016, Pedro Bueno conseguiu um feito inédito. ao assumir a presidência do Grupo Dasa, maior rede de laboratórios do Brasil, tornou-se, aos 25 anos, o executivo mais novo a ocupar um cargo desse nível numa empresa de capital aberto no país. o grupo – avaliado em r$ 3 bilhões na bolsa – era controlado por Edson de Godoy Bueno, pai de Pedro, até 14 de fevereiro, quando faleceu em decorrência de um ataque cardíaco.
Luca Cafici Vender carro pode ser menos estressante do que você imagina. Pelo menos é o que propõe Luca Cafici, 26 anos, com o seu InstaCarro. a startup desburocratiza o processo de venda de veículos, levando-o para mais de 400 lojas e concessionárias de todo o Brasil em, no máximo, uma hora.
Antonio Ermírio de Moraes Neto o jovem de 30 anos tem o empreendedorismo no DNa. Neto do empresário antônio Ermírio de moraes e herdeiro do Grupo Votorantim, aproveitou a expertise da família e a bagagem acumulada com os anos de estudos fora do Brasil para criar o Vox Capital, primeiro fundo brasileiro de capital para negócios sociais. março 2017 forbes brasil | 67
Ciência, Tecnologia & Educação
Camila Achutti
Ser a única menina em um curso de tecnologia na Universidade de São Paulo contribuiu para o desenvolvimento da mentalidade empreendedora em Camila, 25 anos. as dificuldades de inserção da mulher no setor levaram-na a criar um blog que promovia a igualdade de gênero na área. Depois de formada, partiu para um estágio no Google, no Vale do Silício. “minha cabeça mudou, e decidi trazer ao Brasil o que aprendi”, conta. Em 2015, fundou com o sócio Felipe Barreros a startup Ponte 21, consultoria de inovação que apresenta soluções de problemas identificados nas grandes empresas e que já atendeu Itaú, accenture e Leroy merlin. a dificuldade de encontrar mão de obra especializada levou a jovem a reunir seu conhecimento e formatá-lo em um curso. assim nasceu, em 2016, a masterTech, uma plataforma educacional que oferece cursos de tecnologia em oito semanas. o método promete reduzir o tempo de formação do profissional e sua entrada no mercado de trabalho. “Estudei quatro anos para começar, e muitas das coisas que aprendi nunca foram usadas”, diz. a plataforma se adequa também a profissionais sem conhecimento prévio em tecnologia. Cem pessoas foram atendidas em seus cursos imersivos e 20 mil assistiram a um dos cursos online, sendo 60% delas mulheres. os próximos passos de Camila passam pelo estímulo ao empreendedorismo tecnológico e pela formação de profissionais qualificados e sua oferta às grandes empresas. Dessa forma, ela acredita que pode contribuir para que o Brasil deixe a condição de exportador de commodities e passe a vender códigos de programação.
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© tomás arthuzzi
Apoio
Guilherme Junqueira
Com “comichão” para empreender, esse campo-grandense saiu do emprego na ambev e montou seu primeiro negócio aos 21 anos de idade. “Eu fazia guias comerciais de bairro. No primeiro ano, em 2010, fui bem. Faturei r$ 500 mil. o ano seguinte foi uma catástrofe, por falta de conhecimento em tecnologia e ingenuidade financeira. Fechei.” Para suprir a falta de know-how tecnológico, voltou a ser funcionário – em uma empresa de tecnologia. “Lá encontrei um ‘ser estranho’ chamado programador. Um deles virou sócio na minha empresa seguinte, de desenvolvimento de aplicativos mobile”, conta. “a gente formava profissionais de tecnologia com a cultura da inovação. Um rH comum não consegue atrair esse tipo de profissional. Isso e mais o fato de eu ter assumido uma posição na associação Brasileira de Startups, onde vi que o grande gargalo é atrair talentos prontos para o trabalho, me levaram a criar a Gama academy em março de 2016.” os cursos são gratuitos, mas os interessados (14 mil em 2016) passam por um vestibular para disputar as poucas vagas. a remuneração vem das empresas que pedem socorro. “Já formamos 300 talentos – e 70% deles estão empregados”, comemora. Em novembro, anjos investiram r$ 600 mil no negócio. o “gama” no nome da empresa, conta Guilherme, vem dos raios que transformaram o cientista Bruce Banner no Incrível Hulk. © tomás arthuzzi
março 2017 forbes brasil | 69
Ciência, Tecnologia & Educação
Miguel Andorffy
a vontade de ensinar foi despertada em miguel andorffy, 26 anos, logo após a entrada na faculdade de engenharia, em 2009. Com facilidade nas disciplinas que envolvem cálculo, o então estudante tornou-se professor em cursinhos pré-vestibulares de Porto alegre (rS) e ajudava colegas com dificuldades. Como uma coisa leva a outra, teve a ideia de disponibilizar as aulas na internet. “Poderia fazer algo divertido em sete minutos”, conta. No começo, os vídeos eram destinados apenas aos seus alunos, mas a audiência se espalhou. Dessa forma surgiu a plataforma de ensino online me Salva. Graças a ela, em 2012 andorffy foi o primeiro vencedor do Jovens Inspiradores, premiação da revista Veja e da Fundação Estudar. o prêmio foi uma bolsa de estudos para um curso sobre empreendedorismo na Universidade de Stanford (EUa). Em quatro anos, o me Salva atendeu a 28 milhões de estudantes, responsáveis por assistir a 142 milhões de aulas. a startup disponibiliza aulas preparatórias para o Enem e cursos de reforço a estudantes do ensino superior. o conteúdo é customizado, de acordo com o objetivo do aluno. o resultado é que o desempenho das pessoas que assistiram às aulas do me Salva ficou acima da média dos demais no último Enem. Em 2016, com o início da comercialização das aulas, a plataforma teve um faturamento de r$ 3 milhões. o objetivo para 2017 é oferecer aulas preparatórias também para concursos públicos. os valores não impressionam o professor, que garante não ter a intenção de vender o empreendimento a grupos privados ou mesmo ao mEC. “Estou satisfeito por promover uma mudança no mercado de ensino.”
70 | forbes brasil março 2017
© tomás arthuzzi
Apoio
Helena Simon Com experiência em marketing, a publicitária de 29 anos é cofundadora e uma das peças-chave da omnize, companhia que criou uma plataforma para ajudar a comunicação direta entre empresas e clientes por meio de múltiplos dispositivos, como chat e mensagem de voz. a ideia é democratizar esse tipo de serviço.
Joana Pasquali
Nayara Ruiz
motivada pelo episódio da adulteração do leite no rio Grande do Sul, Joana Pasquali, 18 anos, precisou de uma fita de filtro de café mergulhada em reagentes químicos e envolta em plástico transparente. Com essa simplicidade, tomava forma o Detectox, que identifica anomalias na composição do leite. Em razão da descoberta, Joana foi laureada com o Prêmio Jovem Cientista na categoria Ensino médio, iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Samantha Karpe & Letícia Camargo ainda no Ensino médio, as amigas Samantha, 22 anos, e Letícia, 23 anos, elaboraram o plano: criar um tipo de asfalto que fosse mais seguro, durável e bem mais em conta do que o convencional. até que em 2013 nasceu a liga de asfalto Poliway, obra da dupla, hoje cursando engenharia. Sua fórmula é composta por materiais descartáveis, dispensa o uso de piche e suporta cargas até cinco vezes mais pesadas do que o asfalto tradicional. ©1
Rodrigo Scotti
o envolvimento entre humanos e máquinas tem apresentado avanços consideráveis. mas ainda existe um ruído de comunicação entre as partes. É nesse meio-campo que entra a Nama, startup liderada por rodrigo Scotti, 30 anos. Seu trabalho é desenvolver tecnologias com base na inteligência artificial que solucionem problemas de comunicação internos e externos (com consumidores).
a jornalista chegou ao Bradesco em 2011, para cuidar da assessoria de imprensa. Três anos depois, ajudou a criar a área de rP Digital do banco. “Nosso papel é estabelecer conexões mais fortes com criadores de conteúdo digital para ampliar a voz da nossa marca nesse segmento”, diz ela, hoje com 28 anos. Em 2016, foi eleita pelo Youpix uma das 30 pessoas mais influentes do setor digital no país.
Nadia Ayad
aos 23 anos, ela é uma das garantias de que a ciência brasileira vai bem, obrigado. recém-formada em engenharia de materiais pelo ImE (Instituto militar de Engenharia) do rio de Janeiro, tem no currículo o primeiro lugar no desafio global patrocinado pela empresa sueca Sandvik. Nadia sugeriu a utilização do grafeno, material composto à base de carbono, em um dispositivo de filtragem e dessalinização para fornecer água potável de forma mais equilibrada para residências.
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março 2017 forbes brasil | 71
Social/Colaborativo
Lisiane Lemos
a criação de um elo entre o mundo corporativo e as questões de cidadania move a executiva de vendas Lisiane Lemos. Há quatro anos na microsoft, em São Paulo, a gaúcha de 27 anos divide seu tempo entre a carreira e sua militância em prol da igualdade racial. Ela participa do Blacks at microsoft no Brasil, política da companhia pela inclusão de pessoas negras na empresa, que promove a tecnologia como um instrumento de ascensão social. a luta de Lisiane pela igualdade não se restringe à empresa onde trabalha. Ela foi uma das fundadoras e é diretora da rede de Profissionais Negros, coletivo que busca conectar profissionais negros, empresas com políticas de diversidade e movimentos sociais. a ideia é ir além do sistema de cotas no ensino superior por meio da conexão entre empresas que adotam práticas de inclusão e que são desconhecidas dos jovens recémformados. além disso, Lisiane é também uma das líderes do mulheres do Brasil, organização da sociedade civil fundada pela empresária Luiza Trajano, proprietária do magazine Luiza. Ela participou da criação do Comitê de Igualdade racial do grupo. os próximos passos da jovem continuam tendo como foco o setor privado, já que praticamente não existem líderes que promovam a igualdade racial nas empresas. Em paralelo, uma especialização em tecnologia. Dessa forma, acredita Lisiane, ela poderá usar a própria carreira como exemplo de que é possível, para os jovens negros, conquistar oportunidades nas grandes empresas.
72 | forbes brasil março 2017
© tomás arthuzzi
Apoio
Marco Antonio Penha
Um projeto acadêmico que acabou se transformando em um projeto de vida. Foi assim que tudo começou para o aluno de ciências da computação marco antonio, hoje com 29 anos. Junto com um grupo de colegas universitários, ele buscava, em 2014, uma iniciativa que lhe permitisse empregar a tecnologia wearable (vestível) em algo que gerasse impacto na sociedade. muitos brainstorms depois, os jovens pernambucanos optaram por desenvolver um dispositivo que auxiliasse deficientes visuais – a disfunção afeta mais de 6,5 milhões de pessoas em todo o país (além disso, 92% das cidades brasileiras são inacessíveis ou não têm ruas adaptadas). “a primeira ideia era substituir a bengala, mas logo percebemos que não era disso que eles precisavam”, lembra marco. “Era necessário algo complementar, capaz de dar segurança à parte superior do corpo.” a solução foi o desenvolvimento de óculos equipados com sensores de ultrassom que identificam obstáculos, como orelhões e caçambas, e emitem vibrações em sinal de alerta. o produto, até então inédito em nível global, já ganhou sete protótipos, novas funcionalidades (agora é equipado com um GPS que mapeia e indica os obstáculos) e está sendo estruturado para chegar ao mercado em larga escala. Para isso, foi criada a startup PaW – Project annuit Walk. “Nossa motivação vem dos deficientes visuais. Nós nos envolvemos com eles ao longo de todo esse processo, e hoje minha meta é fazer com que os óculos sejam acessíveis a todos aqueles que precisarem deles.”
© thiago gouveia
março 2017 forbes brasil | 73
Social/Colaborativo
Laina Crisóstomo a advogada de 30 anos não imaginava que uma postagem de abril de 2016 nas redes sociais fosse capaz de criar tanta repercussão a ponto de levá-la a fundar um coletivo feminista. assim nasceu, em Salvador (Ba), o TamoJuntas, iniciativa de Laina com outras duas advogadas para prestar assessoria jurídica a mulheres de baixa renda em situação de violência. Em menos de um ano, o coletivo conquistou uma sede (doada), atende 12 mulheres por semana e cuida de, aproximadamente, 60 processos. a ajuda não fica restrita às questões jurídicas: a sororidade (união de mulheres que compartilham as mesmas ideias e propósitos) trouxe psicólogas e assistentes sociais para o grupo. Todas participam voluntariamente – com trabalho e dinheiro. Laina defende as minorias desde a faculdade, quando militou contra o machismo, o racismo, a homofobia e a discriminação religiosa em movimentos sociais. Iniciou a carreira no Terceiro Setor e, atualmente, exerce o direito como profissional liberal. o feminismo está também em suas atividades remuneradas, já que não aceita defender homens em processos contra mulheres. Ela explica que não faz sentido ser feminista e “desqualificar uma mulher para favorecer um homem nos tribunais”. as dificuldades do dia a dia não a impedem de sonhar com a expansão do coletivo: a ideia é levá-lo a todos os estados e transformá-lo em uma agência financiadora para outras advogadas atuarem na defesa das mulheres de baixa renda. 74 | forbes brasil março 2017
© fernando vivas
Apoio
Nina Valentini
Foi pensando que qualquer centavo investido pode fazer a diferença na vida de milhares de pessoas que a administradora Nina Valentini, 29 anos, tomou as rédeas do Instituto arredondar. Em operação desde 2014, a oscip (organização da Sociedade Civil de Interesse Público) estimula a captação de verbas de estabelecimentos comerciais para investimento em projetos e causas sociais dos mais diversos tipos. atualmente, o arredondar capta algo em torno de 10 mil doações diárias. a aptidão para o terceiro setor entrou cedo na vida de Nina: o pai coordenou o Hospital Cândido Ferreira, em Campinas (SP), e tratava pessoas em situação de pobreza, e a mãe, psicóloga, trabalhou por muitos anos no setor público, na área da infância e dos direitos humanos. Em novembro, Nina recebeu o Prêmio Folha Empreendedor Social. aficionada por cinema, a jovem ainda tem planos de lançar o documentário Entre Mundos, que retrata as benfeitorias do trabalho social em vários lugares do planeta.
Ralf Toenjes
Esse rapaz de 25 anos está à frente da oNG renovatio, que trouxe ao Brasil a pioneira iniciativa de produzir óculos de baixo custo para pessoas com baixo poder aquisitivo. resistente e de fácil montagem, o acessório criado por um professor alemão custa, por aqui, r$ 25. a cada peça vendida, outra é doada. Localizada na Vila Nova Esperança, em São Paulo, a oNG recruta e treina pessoas em condição de vulnerabilidade social para atuar na produção e atendimento.
Diogo Pascoal ao lado da irmã Candice, Diogo Pascoal, 30 anos, levantou a Kickante em 2013. Caracterizada como uma plataforma de crowdfunding, é considerada a maior da américa Latina em financiamento coletivo e tem arrecadação anual aproximada de r$ 30 milhões. atua em várias frentes: de companhias teatrais a startups.
Monique Evelle a militância de monique Evelle, 23 anos, a levou para além da pequena Nordeste de amaralina, em Salvador. Fundadora da rede Desabafo Social, que trabalha com educação e formação social, em especial para jovens negros, ela já estampou capas de revista, discursou no Brasil e no exterior e recebeu vários prêmios.
Lorrana Scarpioni Com apenas 23 anos, Lorrana recebeu a “bomba”: era uma das duas brasileiras mais inovadoras até os 35 anos segundo uma lista do mIT (massachusetts Institute of Technology). Tudo porque, em 2012, após assistir a dois documentários sobre economia, decidiu colocar no ar a plataforma Bliive, uma rede em que pessoas de todo o planeta oferecem seus talentos em troca de outros talentos, processo comumente chamado de “economia colaborativa”. No começo do projeto, Lorrana, atualmente com 25 anos, tocava tudo sozinha. Seis meses depois já tinha uma equipe multidisciplinar com cinco pessoas. Hoje a Bliive contabiliza mais de 15 mil usuários e atua em 55 países. março 2017 forbes brasil | 75
BRF alimenta o
iSlamiSmo Com a criação da OneFoods, em Dubai, gigante brasileira consolida-se como a maior companhia global de fornecimento de proteína animal para o mercado halal por Lurdete Ertel | foto Marcelo Min
Certificador halal em granja em São Paulo
alimentos são feitos conforme as regras do islamismo. Estima-se que esse tipo de produto já represente 25% da produção total da gigante brasileira. O avanço do conglomerado no segmento foi coroado em janeiro, quando deu a largada à OneFoods, subsidiária exclusivamente destinada à produção halal. Com sede em Dubai (Emirados Árabes) e 15 mil funcionários, a companhia já nasceu com operações em 40 países e detendo 45% do mercado de frango dos Emirados Árabes, Arábia Saudita, Kuwait, Catar e Omã. Seu logotipo traz a lua crescente, um símbolo do mundo muçulmano. Substituta da Sadia Halal (anunciada em julho de 2016), a nova gigante é abastecida pelas oito plantas no Brasil, além de uma fábrica na Malásia e outra em Abu Dhabi (Emirados Árabes). Todas têm produção conforme a Sharia, conjunto de leis islâmicas que de-
A BRF deixou de ser uma empresa exportadora de commodities e passou a processar alimentos localmente
odos os dias Alá é evocado nas linhas de produção de oito fábricas da BRF no Brasil. Nas plantas espalhadas nos estados do Paraná, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, a direção de Meca é um ingrediente no processo de produção da maior exportadora de carne de frango do mundo. É para a cidade sagrada dos muçulmanos que devem estar voltadas as linhas de abate das aves. Graças ao aprendizado de quatro décadas e a pesados investimentos nos últimos cinco anos, a BRF acaba de se consolidar como a maior companhia global de proteína animal para o mercado halal – em que o processamento e o consumo de
finem o que é permitido (“halal”). A fábrica de Abu Dhabi foi a primeira unidade construída pela BRF no exterior – todas as demais até então haviam sido adquiridas. Já no início de operações era a maior indústria do gênero da região. “A BRF tem um longo histórico de relacionamento com o Oriente Médio. Entretanto, nos últimos três anos, decidimos avançar na cadeia local. Isso significa que a BRF deixou de ser uma empresa exportadora de commodities e passou a processar alimentos localmente. Além disso, também avançamos no controle da cadeia de distribuição dos produtos, estabelecendo uma nova dinâmica de negócio, muito mais rentável e próxima do consumidor”, avalia Patricio Rohner, que assumiu o posto de CEO da OneFoods. Na inauguração da planta de Abu Dhabi, Abilio Diniz, presidente do conselho de administração da BRF, definiu a fábrica como um dos principais “alicerces do processo de internacionalização da companhia”. Após o início de operações em solo árabe, a BRF passou a produzir localmente, com temperos típicos da região. “Esse gesto nos aproximou ainda mais do público local”, festeja Rohner. Trampolim para a criação da OneFoods, a fábrica nos Emirados Árabes foi inaugurada em 2014, com 400 funcionários de 29 nacionalidades. Apenas um ano depois, a BRF anunciou sua expansão. A capacidade foi esticada de 72 mil toneladas anuais de alimentos para 100 mil toneladas em 2016 – uma antecipação de quatro anos no plano inicial.
mercado // carne halal os PriNCiPais MoViMeNTos Da brf No MerCaDo Halal 2012 (outubro)
1970
A Sadia, que em 2009 se fundiria com a Perdigão para criar a BrF, faz o embarque das primeiras aves congeladas para o Oriente Médio
2013 (novembro) lançamento da pedra fundamental da primeira fábrica de processados do grupo brasileiro no Oriente Médio. Foi a primeira construída pela BRF fora do Brasil
2014 (agosto) Acordo para a compra de 75% do capital da Alyasra Food Company, distribuidora de alimentos congelados do Kuwait. A empresa era parceira na distribuição de produtos da BRF. O valor do negócio foi da ordem de US$ 160 milhões
2015
(outubro) acordo de compra de parte do negócio de distribuição de congelados da Qatar National Import and Export, no valor de US$ 140 milhões
2016
(julho) Anunciada a Sadia Halal, subsidiária destinada a atender o mercado muçulmano
2016 (outubro) Aprovada a constituição de subsidiária no Egito
a Sadia é tão presente no oriente médio que muitos a veem como marca árabe
Anúncio da compra de 49% da Federal Foods, de Abu Dhabi, distribuidora de produtos Sadia no país havia mais de 20 anos. Produtos da BRF representavam 65% das receitas da Federal Foods na época do negócio
2014 (fevereiro) acordo para a compra de 40% do capital social da distribuidora Al Khan Foods (AKF), de Omã, por US$ 68,5 milhões. O restante das ações foi adquirido em 2016, por US$ 64 milhões
2014
(novembro) Inauguração da fábrica de abu Dhabi, maior unidade de alimentos processados da região. Começou com hambúrgueres, marinados, frios, pizzas e empanados, produzidos segundo os preceitos da lei islâmica
2015 (novembro) antecipação em quatro anos do plano de expansão da fábrica de abu Dhabi, de 72 mil toneladas anuais para 100 mil toneladas de alimentos em 2016
2017
(janeiro) Criação da OneFoods, com sede em Dubai (Emirados Árabes). Substitui a Sadia Halal. É abastecida por dez unidades – oito no Brasil, uma em Abu Dhabi e uma na Malásia
78 | forbes brasil março 2017
“a fábrica de abu Dhabi é uma de nossas grandes histórias de sucesso. a planta é referência em termos de integração da cadeia produtiva global e uma maneira de fazer dos Emirados Árabes um importante polo de exportação”, disse Pedro Faria, atual CEo da BrF, ao anunciar sua expansão, em 2015.
PRIMEIROS VOOS
Embora os movimentos da BrF no tabuleiro do oriente médio e do mercado halal tenham se intensificado nos últimos cinco anos, antes disso a região já era o destino de 32% das exportações do grupo. Essa importância foi engordada ao longo de quatro décadas, desde os primeiros embarques de frango congelado para a região, nos anos 1970, pela Sadia – a empresa que se fundiu com a Perdigão na criação da BrF em 2009. Naquela época, os países árabes entraram na mira das indústrias avícolas do Sul do Brasil, que começaram então a aprender o bê-á-bá da produção halal. Foi na trilha desse giro a meca que, a partir do fim da década de 1970, surgiram no país as primeiras certificadoras, como a pioneira Fambras (Federação das associações muçulmanas do Brasil), que participou dos primeiros embarques da Sadia e até hoje atende a BrF.
O Oriente Médio representa o segundo maior faturamento do grupo, depois do Brasil
“Graças a um esforço coletivo, o Brasil, que em meados dos anos 1970 não produzia um quilo de frango halal, tornou-se o maior exportador mundial”, lembra mohamed Hussein El Zoghbi, presidente da Fambras. a Fambras atende também a JBS, outro grande player no segmento – neste caso, de carne bovina. “Hoje, o halal brasileiro é um dos melhores e mais conceituados do mundo”, garante. Às associações muçulmanas certificadoras cabe a supervisão, fiscalização e aval do cumprimento das regras islâmicas no processo de produção. No caso da BrF, a Fambras tem um braço operacional dentro das fábricas do grupo, para recrutamento de funcionários muçulmanos ou convertidos ao islamismo, e para supervisão da execução de rituais como a degola das aves, em linhas de abate voltadas para meca, como manda a lei islâmica. “a BrF fez a lição de casa”, diz El Zoghbi.
MARCA QUASE ÁRABE
Grande parte do avanço da companhia brasileira no mercado halal veio no rastro da grande familiaridade dos árabes com a marca Sadia. No ano do início da construção da fábrica em abu Dhabi, em 2013, a Sadia já era top of mind na região, reconhecida por 92% dos consumidores do oriente médio, além de ser líder de market share. a BrF fez um estudo de dois anos com consumidores dos 22 países da região, a fim de identificar as cores e formas mais aceitas (e rejeitadas) em cada cultura, e o que o consumidor mais valorizava nos produtos. Entre o leque de marcas da empresa (Sadia, Perdix, Confidence e Hilal), a primeira despontou. “a Sadia é tão conhecida no oriente médio que muita gente da região a enxerga como uma marca árabe”, relata michel abdo alaby, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira. “Você encontra produtos da marca em qualquer supermercado, onde quer que vá. a Sadia tem grande identidade com o consumidor local.” a BrF não divulga dados isolados da produção halal, mas as estatísticas regionais dão uma pista das cifras ciscadas nesse mercado: o oriente médio (onde 97% da população é islâmica)
bÊ-á-bá Do Halal
“Halal” é um termo do Alcorão que significa lícito, e faz contraposição a “haram”, proibido. O que é halal e o que é haram está estabelecido na Sharia, conjunto de leis que regem a vida dos muçulmanos. Halal e haram valem tanto para o consumo como para comportamento, conduta e serviços. Para assegurar a conformidade com a Sharia, mercados muçulmanos exigem o certificado halal e o selo de garantia nas embalagens, conferido por associações islâmicas certificadoras.
os MaNDaMeNTos Da carNe
Para obter o selo halal, é preciso seguir regras estritas, que, no caso das carnes (de frango e bovina), vão da forma de abate dos animais até sua industrialização: • Os frigoríficos devem ter a área de abate ou os ganchos direcionados para Meca, para que no momento da morte os animais estejam com o peito voltado nessa direção. • O abate deve ser rápido, para que o animal tenha morte instantânea e sem sofrimento, sem a liberação de toxinas que contaminem a carne. • No momento do abate, deve ser feita uma oração a Alá (Deus). • Equipamentos e utensílios usados no abate são exclusivos para esse fim. • As aves devem ficar completamente sem sangue antes de serem escaldadas e levadas ao processamento. • O cumprimento das regras deve ser fiscalizado e avalizado por certificadoras islâmicas acreditadas por órgãos reguladores muçulmanos. Elas têm treinamento destinado à formação de mão de obra especializada para cumprir os rituais.
Patricio Rohner, CEO da OneFoods nos Emirados Árabes
março 2017 forbes brasil | 79
mercado // carne halal GiGaNTisMo
A dimensão da população muçulmana e do mercado halal a população islâmica
é estimada hoje em
1,8 bilhão
predominante em 49 países
de pessoas,
o país com maior número
da população mundial
INdoNÉSIa,
cerca de 24%
Ásia e Pacífico são a
região com maior
de muçulmanos é a com 209 milhões de islâmicos, ou
concentração
87% da população
1 bilhão
estima-se que o segmento
o maior mercado
17,4%
muçulmana no globo:
de pessoas mundial de frango Fontes: Pew research center e Fambras
o islamismo é a religião
halal é a Turquia, com
10%
do consumo global
halal irá representar do mercado mundial de alimentos até
2018, girando em torno de
US$ 1,62 trilhão
Projeta-se que, nos próximos 20 anos,
a religião islâmica no mundo vá crescer a uma taxa anual média de
1,5%, o dobro das religiões não islâmicas (0,7% ao ano)
Hoje, cerca de
1 milhão de argentinos são islâmicos
representa o segundo maior faturamento do grupo, depois do Brasil. a região respondeu por 22% da receita global no último balanço anual divulgado, de 2015. até o terceiro trimestre de 2016, a companhia havia embarcado mais de 700 mil toneladas de alimentos à região, gerando uma receita líquida operacional de aproximadamente r$ 4,7 bilhões. “Quando você pergunta qual é a marca de alimentos halal número um do oriente médio, a resposta é Sadia. Isso é um ativo fantástico, pois demonstra o quão próximos estamos dos consumidores e o quão seguros eles estão em relação à qualidade e à procedência dos nossos produtos”, orgulha-se Patricio rohner.
APETITE ACIMA DA MÉDIA
o mercado de alimentos halal é considerado um dos mais apetitosos do planeta, dada a dimensão da população muçulmana e seu perfil de crescimento econômico e demográfico – acima da média global. o número de islâmicos é estimado hoje em 1,8 bilhão – cerca de 200 milhões a mais do que em 2010. Pelas projeções do instituto Pew research Center, dos Estados Unidos, os seguidores de maomé devem chegar a 2,8 bilhões em 2050, nada menos que 30% da população mundial. Isso representará 2,8 bilhões de bocas para os alimentos halal, já que a religião é rigorosa no cumprimento dos preceitos da Sharia. “o mercado está no mundo muçulmano”, preconizou o então presidente-executivo da BrF, Claudio Galeazzi, ao anunciar a construção da fábrica em abu Dhabi, em 2013.
michel abdo alaby, presidente da câmara de comércio ÁrabeBrasileira (ao lado) e mohamed Hussein el Zoghbi, presidente da Fambras (acima)
80 | forbes brasil março 2017
© diego nata e ale santos
o mapa do islã
População muçulmana por região do mundo (% do total muçulmano) estimada em 2010 e 2030
2010
2030
Ásia-Pacífico euroPa 2,7% oriente médio/ norte da África américa 0,3%
62,1% 59,2%
19,9% 20,1%
0,5%
África subsaariana
15% 17,6% PoPulação mundial Em 2010: 1,61 bilhão Projeção para 2020: 2,19 bilhões
Fonte: Pew Research Center (O Futuro da População Muçulmana Global)
Segundo fontes do mercado, a BRF pretende levantar US$ 1,5 bilhão com a venda de 20% da companhia halal
“o halal é uma oportunidade única, é a categoria que mais cresce no mundo”, fez coro o CEo da BrF, Pedro Faria, em recente apresentação da empresa. o frango e seus processados têm particular potencial no mercado halal, porque a lei islâmica não permite comer carne de porco. ademais, aves são um alimento barato, e a produção interna é insuficiente para atender toda a demanda local.
PLATAFORMA DE SALTO
antes de criar a oneFoods, a BrF fez um rali de aquisições nos países muçulmanos nos últimos anos, sobretudo na área de distribuição de alimentos. muitas dessas empresas já eram tradicionais representantes dos produtos da companhia na região. a distribuição direta é uma tática para integrar toda a cadeia, reduzir os custos e evitar as oscilações de preços. o movimento mais recente para reforçar a musculatura da oneFoods foi a compra, em janeiro, da Banvit, maior produtora de aves e líder de mercado na Turquia, o maior consumidor de frango halal do mundo. “a Banvit é uma empresa completamente integrada, com instalações que vão do controle da ração ao processamento final do alimento. São cinco fábricas de ração, quatro incubatórios e cinco plantas produtivas. os ativos da Banvit serão incorporados à oneFoods”, explica o CEo da subsidiária.
“Entrar na Turquia claramente oferece um ajuste estratégico às ambições globais da BrF no mercado halal”, avaliaram os analistas de mercado Thiago Duarte e Vito Ferreira em relatório do BTG Pactual. a aquisição da Banvit, que coincidiu com o início de operações da oneFoods, intensificou os rumores em torno de um possível IPo da subsidiária. Segundo fontes do mercado, a BrF pretende levantar US$ 1,5 bilhão com a venda de 20% da companhia halal. Isso atribuiria à oneFoods um valor de mercado de US$ 7,5 bilhões. “o negócio (com a Banvit) ajuda a impulsionar o crescimento da empresa antes da cotação, o que também pode aumentar a valorização”, preveem os analistas do BTG. Se a operação de IPo, não confirmada ainda pela BrF, for consumada, o mercado espera, para breve, novos e ousados voos do grupo brasileiro no mundo islâmico. Sobretudo em países de outras regiões, como a Ásia, a África e países banhados pelo oceano Pacífico. Se depender do tamanho das asas, do apetite dos muçulmanos e da proteção de alá, esse voo vai longe. março 2017 forbes brasil | 81
A vida transformada
em pontos CEO da rede de fidelidade Multiplus diz que é possível viajar de graça todo ano sem mudar seus hábitos de consumo
O
por José Vicente Bernardo | fotos Diego Nata e Ale Santos
distrito planejado de Alphaville foi projetado para funcionar como uma minicidade (não tão míni, na verdade) dentro da cidade – no caso, Barueri, na Grande São Paulo. Tudo é simétrico, bem-cuidado, calculado, previsível e meio deserto, fantasmagórico. A sensação de “já passei por esta rua” e “já passei por este prédio” é constante. Para encontrar nosso entrevistado, subimos ao 17º andar de um desses edifícios um tanto sem alma. O elevador abre, andamos alguns passos e... quanta diferença! Gente jovem andando para lá e para cá, debatendo em salinhas circulares futuristas com paredes de acrílico, outros compenetrados diante de computadores, uns vendo TV em confortáveis poltronas ou comendo frutas e tomando café em salinhas panorâmicas. Muita cor, badulaques, frigobares e até máquina de fliperama decoram o imenso andar. O que parece um grande e animado evento é um dia normal na sede da Multiplus, rede de fidelidade que nasceu na TAM e que hoje tem vida própria sob o comando do engenheiro eletrônico carioca Roberto Medeiros, o único “ancião” engravatado que vemos em mais de uma hora de visita (ele tem 58 anos). “Só estou de gravata hoje porque tive reunião com parceiros. Normalmente venho de jeans e tênis”, justifica. Veja a seguir os principais trechos de nossa conversa com o CEO da Multiplus.
FORBES Brasil: Que perfil de profissional você procura ao contratar? Tem que ser tão jovem? ROBERTO MEdEiROS: Não necessariamen-
te. Buscamos pessoas que entendam o mundo digital e suas interações com as pessoas. Acontece que essa geração já nasceu com o smartphone na mão, conhece a fundo as redes sociais e as melhores formas de se comunicar com cada usuário. Uma boa parte deles lida com o aplicativo, o site, as peças promocionais. Outro grupo cuida do relacionamento com o cliente. Temos ainda o pessoal de finanças tradicional, de RH, jurídico e finalmente, mas não menos importante, o pessoal de operações e tecnologia, que tem a missão de implementar aquilo que o marketing pensou.
Como funciona uma rede de fidelidade?
Nossa empresa funciona assim: você se cadastra e ganha pontos com as atividades de seu cotidiano: supermercado, farmácia, viagens, táxi, academia, cartões de crédito, lojas virtuais... São 400 parceiros. Ninguém precisa mudar seus hábitos de consumo para ganhar pontos. Se você vai comprar um tênis da marca que você gosta, basta ver qual loja perto de você faz parte do programa. Nosso aplicativo dispõe de um geolocalizador que dá essas informações. Depois você pode trocar seus pontos por passagens aéreas, produtos, equipamentos e vários outros itens.
Roberto Medeiros na sede da empresa, em Alphaville
varejo // multiplus
Momento atípico na sede da Multiplus: gravata e silêncio
e como vocês monetizam?
os parceiros pagam um fixo por ponto. Estamos juntos no risco. Se o usuário não consumir com esses parceiros, eles perdem e eu perco. Nosso sistema então é ganha-ganha-ganha (ganhamos nós, ganham nossos parceiros e ganha o consumidor).
Quantas pessoas já aderiram?
desenvolvemos, conseguimos saber se o cliente é casado ou solteiro, se tem filhos, se tem pets, onde mora, que aeroporto usa, o que consome – e com base nisso fazemos as ofertas dirigidas para ele usar os pontos que acumulou da melhor forma. Nossa taxa de abertura de e-mails é de 50%. os varejistas não acreditam; quando eles têm 4% já comemoram. Eu digo a eles: pode testar!
Temos 16 milhões de participantes. Proporcionalmente, no entanto, estamos muito longe de países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, onde 40% ou mais da população aderiu a algum programa de fidelidade como o nosso. Então é um mercado enorme que temos a explorar, para mostrar nossas vantagens. ao mesmo tempo, temos obrigação de manter o cliente final, aqueles 16 milhões, satisfeito. É uma indústria muito jovem; somos os líderes, mas existem novos entrantes a todo momento. Por isso, do ponto de vista do cliente, somos incansáveis quanto ao que pode ser melhorado no que temos a oferecer e na comunicação com ele.
De onde vem a maior parte dos pontos?
De que maneira?
Temos alguns grandes acumuladores de pontos. Um deles viaja todo ano com a família para algum lugar do mundo – sem pagar nada em dinheiro. outro, um excelente desportista, todo ano esquia no Colorado (EUa) – tudo pago com pontos. É gente que, por sinal, costuma frequentar as páginas de ForBES (risos).
Nós nos aproximamos dos clientes por meio das mídias digitais – já fizemos testes na mídia tradicional, um filme maravilhoso na TV, e o ponteiro não mexeu. Então mandamos e-mails oferecendo um conteúdo relevante para cada um deles. Graças às métricas que
a maior fonte são os cartões de crédito.
e onde eles são mais usados?
as pessoas resgatam principalmente em passagens aéreas – 85% do total. É o grande objeto de desejo – viajar sem pagar nada e sem mudar seus costumes de consumo. Basta passar a comprar com cartão de crédito e acumular os pontos. Pelo aplicativo, com três cliques o participante transforma seus pontos em produtos ou em viagens.
Quem são seus maiores acumuladores?
85% dos usuários trocam os pontos acumulados por viagens
84 | forbes brasil março 2017
Você já foi à Suíça? não?
Então vá
Governo do país alpino intensifica esforços para promover o turismo e o comércio com o Brasil por José Vicente Bernardo | foto Diego Nata e Ale Santos
relações internacionais // suíça título desta matéria remete à música Você já Foi à Bahia, de Dorival Caymmi (1941), e ao desenho da Disney de mesmo nome lançado em 1945 como parte da política de aproximação dos EUa com o Brasil e o méxico. Na história, os “embaixadores” dessa política de boa vizinhança eram o Pato Donald, representando os americanos, o mexicano Panchito e Zé Carioca, papagaio malandro criado pelo estúdio especialmente para essa missão, embalada por muita música e Carnaval. Sete décadas depois, o cenário mudou. Hoje Donald é um sujeito de poucos amigos. resta-nos procurar novas amizades. Nesse contexto, o embaixador (de carne e osso) da Suíça no Brasil, andré regli, descreve os esforços que seu país vem fazendo para estreitar os laços entre os dois países. Copa do mundo, olimpíada e novamente o Carnaval foram usados como parte da estratégia de divulgar a Suíça aos brasileiros. Eles nos querem lá. E querem estar cada vez mais presentes aqui.
PARAÍSO
Considerada por muito tempo um paraíso fiscal, a Suíça passou a sofrer pressões para adotar regras mais transparentes em relação ao dinheiro que entrava e circulava no país. Passou também a tentar conciliar novas propostas de política tributária com a permanência de multinacionais acostumadas a impostos baixos, de modo a não perder arrecadação nem postos de trabalho, em caso de debandada. o embaixador regli minimiza: “muita gente não sabe, mas a maior
parte da economia suíça é a indústria, e não o sistema financeiro. Esse representa apenas 10% do total”. mas foi para falar principalmente sobre turismo que o embaixador recebeu ForBES no Consulado Geral da Suíça na avenida Paulista, em São Paulo. “o turismo ainda representa apenas 2,5% do nosso PIB, mas tem uma importância muito grande. Ele ajuda toda a economia, atrai pessoas que veem a beleza do país, que vão voltar ou divulgar o que viram. Daí podem resultar até relações econômicas”, analisa. Ele conta que ficou chocado com uma pesquisa feita em 2012 para medir o conhecimento que o brasileiro tinha sobre o país europeu: “56% das pessoas nem sabiam o que era Suíça. Então o governo decidiu fazer uma grande campanha aproveitando os grandes eventos que iam ser realizados aqui – a Copa do mundo e a olimpíada”. Na Copa (2014) e na olimpíada (2016), a infraestrutura montada por eles para acolher e entreter os visitantes fez sucesso. “Para 2015 estávamos procurando uma plataforma para chegar até a população. Uma das melhores é a novela da Globo. mas nas histórias, quando o sujeito tinha alguma riqueza ou pedras preciosas, para onde ele ia? Para a Suíça. E essa não era a imagem que queríamos mostrar”, afirma. “a segunda melhor plataforma era o Carnaval. Por isso entramos em contato com a Unidos da Tijuca”, continua o embaixador. “mandamos o comitê artístico da escola para a Suíça durante dez dias. a escola saiu com o tema Um Conto Marcado no Tempo – O Olhar Suíço de Clóvis Bornay. Imagine: 4 mil pessoas desfilando, 60 milhões de pessoas vendo pela TV… Ficamos em quarto lugar.” o governo suíço usou a copa do Mundo e a olimpíada como marketing
86 | forbes brasil março 2017
A Unidos da Tijuca falou da Suíça no Carnaval de 2015
o resultado dessas estratégias, um tanto populares para um destino considerado luxuoso e exclusivo, está em avaliação. “Vamos fazer uma nova pesquisa para ver se a imagem e o conhecimento que o brasileiro tem da Suíça melhoraram”, diz regli. “Na Copa, jogamos bem e ganhamos a simpatia dos torcedores brasileiros. Se tivéssemos ganhado da argentina, então, talvez nem precisássemos fazer toda essa campanha”, brinca.
MERCOSUL
Cena de Você já Foi à Bahia?
anos antes de Donald (o Trump) colocar em xeque acordos comerciais mundo afora, a Suíça, como membro da EFTa (European Free Trade association, que inclui Islândia, Liechtenstein e Noruega), já vinha intensificando sua aproximação com o mercosul. “No fim da presidência de Dilma rousseff, o Brasil viu que uma das maneiras de sair da crise é abrir os mercados. Quando macri chegou à presidência na argentina, começamos rapidamente os estudos e negociações para a criação de um tratado de livre comércio entre a EFTa e o mercosul”, conta o embaixador. Ele afirma que o empresário de seu país é fiel mesmo nos momentos de crise e diz que várias outras empresas suíças estão de olho no potencial do mercado brasileiro. Entre elas estão diversas fintechs (que oferecem serviços bancários a preços mais baixos que os dos bancos tradicionais) e as cleantechs (ligadas a sustentabilidade e meio ambiente).
CABEÇAS brasil-suíça em números O Brasil responde por
22%
Fonte: Swisscam Brasil (dados de 2015)
dos negócios suíços na América Latina
O Brasil é o
24º maior
parceiro comercial da Suíça
Na última década, o comércio entre os dois países cresceu
237%
Entre 2005 e 2015, as exportações brasileiras para a Suíça aumentaram em valor
360%
15.730 suíços
vivem no Brasil
19.751 brasileiros vivem na Suíça
“ao contrário de vocês, que têm tudo, lá só temos água e pedra. o que nos faz grandes são as cabeças. Isso vem de uma boa educação desde pequenos. Temos um sistema de educação inigualável. Investimos muito dinheiro (cerca de 6% do PIB) em ciência, tecnologia e educação.” o resultado disso é que de Zurique saem cerca de 50 ideias de startups por mês – um número grande demais para o mercado local e que por isso precisa migrar em busca de escala.
PROMESSA
a primeira vez que andré regli esteve no Brasil representando seu país foi entre 1997 e 2001. Ele era o “número 2” no organograma, responsável pelos assuntos de economia, ciência e tecnologia. “Já morei na Ásia, África, américa do Norte, Europa… e nunca tinha visto um povo tão acolhedor. Então já naquela época eu falei: ‘Um dia vou voltar como embaixador’. Demorei quase 15 anos, mas felizmente realizei esse desejo.” agora o desejo do embaixador é que Brasil e Suíça sejam os melhores amigos do mundo. Como Donald (o pato) e Zé Carioca foram um dia nas telas do cinema. março 2017 forbes brasil | 87
Stephane Perard, "comandante" da Emirates no Brasil
EmIRAtES tRAZ
gigante AO BRASIL A partir deste mês, o voo diário São Paulo-Dubai passa a ser feito com o Airbus A380, maior avião comercial do mundo. "Ele terá vida longa aqui", diz o CEO da companhia por José Vicente Bernardo foto Diego Nata e Ale Santos
N
ariz para o alto, motores em potência máxima, flaps acionados. Enquanto companhias aéreas ao redor do mundo quebram a cabeça para se manter no ar, a Emirates parece estar em constante decolagem, comemorando crescimento ano após ano (chegou a ser acusada por rivais americanas de receber subsídios do governo dos Emirados Árabes para chegar a esses resultados – ela nega). No Brasil desde 2007, achou que era hora de dar um upgrade na viagem São Paulo-Dubai, que sai diariamente do Aeroporto Internacional de Guarulhos. A partir de 26 de março, entra em operação nessa rota o impressionante Airbus A380, com seus dois andares, 73 metros de comprimento, 24 metros de altura e capacidade para 491 passageiros divididos em três classes – são 14 suítes na primeira classe (R$ 55 mil, ida e volta), 76 assentos na classe executiva (de R$ 17 mil a R$ 27 mil, conforme a data da reserva) e 401 na classe econômica (de R$ 4 mil a R$ 6 mil). Lances ousados como esse em épocas de crise costumam provocar frio na barriga, o mesmo que muitos sentem na hora da decolagem. O francês Stephane Perard, 45, diretor geral da Emirates no Brasil desde 2014, diz não estar preocupado. “A Emirates opera em uma malha que vai além de São Paulo-Dubai. O tráfego entre Japão, China e Brasil é muito grande e vai ajudar a sustentar essa operação”, diz. Isso porque o aeroporto de Dubai é um hub internacional, ponto de parada para os brasileiros que têm esses países (e vários outros naquela região) como destino final
turismo // emirates
Lounge bar do A380 (à esq.) e o aeroporto de Dubai, moderno e luxuoso como tudo na cidade
– só o a380 tem mais de 40 destinos a partir de Dubai. Entre eles, os que têm atraído cada vez mais turistas brasileiros são maldivas (“muito procuradas por casais em lua de mel”), Tailândia, Seychelles (“um turismo mais ecológico”) e maurício (“onde dá para praticar kitesurfe, mergulho, montanhismo”). aproveitando o fato de Dubai ter se tornado o hub com o maior tráfego de passageiros do mundo (mais de 70 milhões de pessoas por ano), a estratégia da companhia é vender o conceito de duas viagens em uma. ao voltar de seu destino final, o viajante tem o direito de ficar até quatro dias na cidade.
PARCERIA
além do programa de milhas Smiles, a Emirates finalizou uma parceria de código compartilhado com a Gol. “Quem mora em qualquer capital do Brasil e quer ir a Dubai, vem a São Paulo ou ao rio (de onde também partem voos para lá) em um avião da Gol como se fosse uma única viagem. o passageiro faz o check in na sua capital e não precisa se preocupar com malas, com nada, até chegar a Dubai”, diz o diretor geral. “Sua experiência fica mais simples, mais confortável.” Perard acredita que, por tudo isso, o a380 terá vida longa no Brasil, e fala da aeronave com o mesmo entusiasmo que dedica a Dubai, onde morou por vários anos. “É uma aeronave excepcional, muito silenciosa, provavelmente a mais agradável do mundo. Na primeira classe são 14 suítes privadas com spa. No segundo andar há um lounge bar onde os passageiros da primeira classe e da executiva podem provar champanhe e 90 | forbes brasil março 2017
númERos nAs AltuRAs
Dos 67.493 colaboradores da Emirates no mundo,
121
898 são brasileiros
pilotos
da Emirates
são brasileiros
em 2014, a Emirates investiu Us$ 1,5 bi em patrocínios, incluindo F-1, tênis e futebol
o faturamento foi de Us$ 25 bilhões em 2015
a companhia voa para
154 destinos em 83 países Em 2015, o lucro foi de Us$ 2,2 bi, 50% maior que no período anterior
Seus 92 airbus a380 transportaram mais de 65 milhões de passageiros desde 2008
Por ser um país muçulmano, existem regras em relação a bebidas alcoólicas, que são difíceis de encontrar (mas é possível tomar sua cerveja no hotel)
com facilidade (mas dá para tomar sua cervejinha no hotel). Eles comem bastante arroz e carneiro. o que talvez o brasileiro estranhe é uma espécie de moqueca baiana que eles fazem com temperos fortes, de influência indiana.” moqueca baiana? Por que ele fez essa comparação? Porque morou em Salvador de 1998 a 2000, onde trabalhava no setor de hotelaria, e onde conheceu sua esposa e mãe de suas filhas, de 8 e 11 anos, nascidas em abu Dhabi e Londres, respectivamente. “Sempre tive um carinho muito grande pelo Brasil.” Interior da além de comer, diz ele, há muito mais suíte da o que fazer em Dubai. “a cidade oferece primeira classe opções para todos os orçamentos, para todos os níveis sociais. Você encontra hotéis de duas a sete estrelas e atrações como parques vinhos de várias regiões do mundo. além disso, temos temáticos – em setembro de 2016 foi inaugurado o wi-fi (dá para ficar conectado durante as 15 horas do maior parque de diversões indoor do mundo – e lugares voo) e um entertainment system que é considerado o focados em cultura, em compras, em esportes. Tem até melhor da indústria, com 2.600 canais (blockbusters, safári.” Perard garante que, considerando infraestrutuséries de TV inteiras, jogos e mais de 60 canais para ra, segurança, conforto e atrações, o custo-benefício de crianças)”, descreve. Há tripulantes brasileiros em Dubai é muito mais vantajoso que o de São Paulo, por todos os voos e cardápios em português. exemplo, a despeito da impressão de ostentação que a cidade árabe transmite. “E você não pensa em voltar para lá?”, pergunto. Por falar em cardápio, perguntamos que cuidados os bra“Saí da França 20 anos atrás, fui a vários lugares e hoje sileiros devem ter com a comida dos Emirados Árabes. estou aqui. Vamos ver aonde o destino me leva.” De “É um país muçulmano, então existem algumas regras preferência, é fácil concluir, a bordo de um a380. em relação a bebidas alcoólicas, que não são encontradas
MOQUECA
março 2017 forbes brasil | 91
O desafiO dO
Pássaro azul Fiamma Zarife assume o comando do Twitter no Brasil com a missão de aumentar o faturamento do quinto maior mercado da empresa por Estela Silva | foto Diego Nata e Ale Santos exemplo veio de casa. Além do pai, a mãe também trabalhava, era professora, e a pequena Fiamma passeava com sua bolsa pelas ruas como se fosse uma executiva. Não demoraria muito até a brincadeira de criança tornar-se realidade. A niteroiense Fiamma Zarife, formada em comunicação e marketing, foi promovida a diretora geral do Twitter Brasil há dois meses, com a missão de aumentar o faturamento do quinto maior mercado da empresa do passarinho branco. Considerando o momento de inflexão vivido pelo aplicativo, que está em seu 11º ano de vida, será um desafio e tanto – em meados de fevereiro, por exemplo, o Weibo, conhecido como “twitter chinês”, superou o original americano em valor de mercado (US$ 11,3 bilhões contra US$ 11,1 bilhões). Para quem gosta de grandes brigas, no entanto, dirigir uma empresa de tecnologia nesse contexto é o melhor dos mundos. “Meu marido diz que já sou workaholic. Fazendo o que eu gosto, então, é pior ainda!”, brinca Fiamma. Antes de alcançar esse cargo, ela atuou como executiva das áreas de inovação da Oi, da Claro e da Samsung, criando e lançando aplicativos de música, de vídeo, de jogos – tudo com muita velocidade para sair na frente dos concorrentes. Para reerguer o Twitter, rapidez será fundamental. A geração milênio não espera: devora cada novidade e a descarta ao menor sinal de fraqueza. Esse dinamismo também está na vida de Fiamma. Acorda às 6h da manhã, ajuda os filhos de 13 e 6 anos a se arrumarem para a escola e, depois de colocá-los no transporte escolar, começa sua rotina. Faz ginástica e vai trabalhar. “People oriented”, como se define, gere um time de 100 funcionários. Encerra o expediente entre 19h30 e 20h para
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Fiamma: "acostumada a trabalhar com velocidade"
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tecnologia // twitter estar com os filhos à noite – e volta a trabalhar às 22h. “É o horário em que sou mais produtiva, quando me concentro em apresentações e atividades mais estratégicas”, diz. no twitter, não é surpresa que uma a empresa não revela os númulher comande a quinta maior meros locais, mas a crise e a operação da plataforma no mundo. queda das verbas publicitárias, o porcentual de mulheres na especula-se, afetaram as operaliderança da empresa saltou de ções no Brasil (globalmente, o 22%, em 2015, para 30%, em 2016, faturamento de 2016 chegou a superando a meta estabelecida de US$ 2,5 bilhões, um crescimen25% – embora o número de to de 14% sobre 2015). colaboradores homens e mulheres Para o líder de marketing diseja equivalente. chama atenção gital da mZ Group (consultoria também a decisão de igualar a de negócios, reputação e valor) licença-maternidade à licençano Brasil, Samuel Leite, apesar -paternidade – pais e mães têm da crise o Twitter conservou direito a cinco meses de afastamensua relevância, mantendo-se to. a iniciativa é válida ainda para como o melhor instrumento casos de adoção. esses benefícios para repercussão de fatos ao fazem parte das ações da empresa vivo. “o Twitter vem se aproxivoltadas à igualdade de gênero. mando das outras plataformas para tornar a experiência do usuário mais confortável, mas o imediatismo é seu diferencial”, diz Leite. Ele afirma Em pouco tempo, os concorrentes surgiram. Faceque, embora tenha menos usuários que o Facebook e o book messenger, Whatsapp, Telegram e Snapchat Instagram, os do Twitter são fiéis pelo “valor emociochegaram para dividir o espaço das redes sociais. ao nal” que têm com a plataforma. Twitter resta se reinventar. E o Brasil é parte importante desse esforço. “além da publicidade das marcas, estamos trabaQUAL É O FUTURO lhando para oferecer consultoria estratégica às agêna tendência das redes sociais, apregoam os especialiscias e empresas anunciantes. Como o mundo digital tas, está na postagem de vídeos. “É um pilar extremaestá conquistando mais verbas de marketing, temos a mente forte. Já que o vídeo imita a vida, a atração é oportunidade de oferecer formatos inovadores dentro muito grande”, analisa Fiamma. Por isso, a empresa do timing certo”, acredita Fiamma. lançou o Periscope, em 2015, e o serviço Vine, que foi E qual seria esse formato inovador? Parcerias com descontinuado no ano passado. Como se tratava mais programas de televisão, por exemplo. Segundo a exede um editor para fazer vídeos em looping de 6 seguncutiva, o Twitter aumenta a audiência da TV em até dos, o Vine não decolou. mas o Periscope se mantém 13%, já que 69% dos telespectadores o utilizam, em firme e, em 2016, contava com mais de 10 milhões de seus smartphones, enquanto assistem aos programas. contas e somava mais de 110 anos em tempo de vídeos Um exemplo bem-sucedido foi o masterChef, que assistidos por dia. surgiu inicialmente com uma parceria para trocas de os usuários do Twitter são seis vezes mais propenconteúdo até evoluir para a publicidade das marcas sos a compartilhar e a recomendar conteúdo em vídeo patrocinadoras. The Voice e do que usuários de qualquer o Prêmio multishow também outro formato. são exemplos de audiência Quando o Twitter surgiu, expandida pelo Twitter. em julho de 2006, não havia o importante nesse jogo é nada igual. Com textos de 140 estar no lugar certo na hora caracteres, qualquer um pocerta. Na Copa do mundo de deria se comunicar de forma 2014, a Coca-Cola postou no rápida com o mundo e enviar microblog a imagem de uma mensagens para qualquer garrafa do refrigerante tralugar em tempo real.
Mulheres e hoMens eMpoderados
O Twitter aumenta a audiência em até 13%, já que 69% dos telespectadores tuítam diante da TV
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Recepção e sala de reunião (acima, à dir.) do escritório do Twitter em São Paulo
As redes sociAis pelo mundo (em milhões de usuários ativos) Facebook
1.870
Facebook Messenger
1.000
Weibo
297
Twitter
319
Skype
300
©1
LinkedIn
106
300
1.000
Whatsapp
600
Snapchat
Instagram
150
Pinterest
rAio x do twitter Fontes: statista.com e Twitter
319 milhões de usuários ativos mensais
82% dos usuários ativos usam dispositivos móveis
teve mais de 200 milhões
de transmissões ao vivo,
via Periscope, desde março de 2015
©1 getty images
está disponível
em mais de
40 idiomas
zendo um canudo com um nó – uma metá- o presidente dos fora solidária ao nó na garganta do torce- euA, donald trump, é um heavy user dor brasileiro diante do placar de 7 a 1 do twitter contra a alemanha. a Gol Linhas aéreas, que já mantinha atendimento ao cliente pelo Twitter, recentemente inovou ao possibilitar o check-in por essa rede social. Para desenvolver ações estratégicas como essas junto às marcas, o Twitter criou a Niche, plataforma pela qual influenciadores digitais são convidados a criar conteúdos pertinentes às companhias anunciantes. a equipe da Niche cria a ação proposta pelos influenciadores digitais junto a agências e anunciantes. Há especialistas em música, em cozinha... Todo tipo de habilidade é considerado bem-vindo. “Somos o hub de inovação dentro do Twitter. muitos testes são feitos no nosso mercado para servir de referência mundial, e estamos sempre pensando em como tirar proveito do que está acontecendo agora”, diz Fiamma. março 2017 forbes brasil | 95
CARLA BOLLA* // GASTRONOMIA
Dos moDos às taças TãO ANTIGA quANTO OS pRópRIOS ReSTAuRANTeS, ReGISTROS hISTóRIcOS demonstram que a etiqueta à mesa já era uma preocupação de egípcios e romanos, pois assim era possível diferenciar os nobres dos escravos. No entanto, segundo historiadores, muitos dos hábitos hoje utilizados são de origem judaica. Um dos grandes protagonistas por sua difusão foi Luís XIV, o rei Sol. Posteriormente, ganhou força na renascença, também por ser um sinal divisor entre nobres e burgueses. até mesmo Leonardo da Vinci, artista renascentista e inventor do guardanapo, chegou a escrever um manual de boas práticas à mesa para os Sforza, uma família de governantes muito importante da época. De volta ao século 21, a etiqueta à mesa é mais do que um conjunto de regras, e deve ser usada para promover uma boa imagem, além, é claro, de facilitar o serviço. muitos já conhecem os modos básicos utilizados à mesa – por exemplo, mastigar de boca fechada, utilizar o guardanapo apenas para limpar lábios e dedos e não usar seu próprio talher para servir outras pessoas. mas algo que ainda causa certa confusão durante os almoços e jantares formais é a disposição dos talheres, pratos e taças na mesa, e quando cada um deles deve ser utilizado. atualmente, duas vertentes da etiqueta à mesa são as mais adotadas: a americana e a europeia. Na americana, o garfo é usado na mão direita e a faca descansa no prato. Quando necessário, troca-se o garfo para a mão esquerda e a faca para a direita, mas não se pode usar a faca para empurrar a comida. Por ser mais informal, é aconselhada para servir um grande número de pessoas, pois os pratos e talheres ficam dispostos em uma única mesa para que cada indivíduo pegue seu talher. Na etiqueta europeia, por sua vez, o garfo fica na na mão esquerda e a faca, na direita, podendo-se utilizar a faca para empurrar a comida na parte inferior do garfo. Nesse estilo, cada lugar na mesa tem seu conjunto de talheres, pratos e taças, e será sobre ele que exemplificaremos as características e utilização dos objetos à mesa. 96 | forbes brasil março 2017
Na mesa europeia, o prato para o pão e a faca para a manteiga ficam no canto superior esquerdo, o guardanapo no canto inferior esquerdo, os garfos à direita do guardanapo, os pratos ao centro, as facas e a colher ao lado direito dos pratos, as taças para bebida no canto superior direito e os talheres para sobremesa acima do prato. ao se sentar à mesa, a primeira coisa a ser observada é o uso do guardanapo, que deve ser colocado gentilmente aberto no colo. ao se levantar, deve-se deixá-lo na própria cadeira no primeiro caso e na mesa, ao lado do prato, no segundo. No quesito talheres existem três formatos de garfo e faca e quatro de colher. o garfo maior, que fica mais próximo do prato, serve para a refeição principal; o médio, que fica ao lado do garfo da refeição, serve para pratos com peixes, pois possui dentes que facilitam a separação de espinhas; e o menor, de sobremesa, fica acima do prato, servindo para os doces. as facas seguem modelo semelhante, trocando apenas de lado. Já as colheres variam apenas de tamanho. Na mesa europeia encontramos apenas a colher de sopa (grande) e a de sobremesa (média), mas ainda temos mais duas menores para chá e café. Quanto aos pratos, os modelos são diversificados e variam conforme a comida que está sendo servida. o prato de pão não é muito utilizado no Brasil, mas costuma acompanhar as refeições principais. o prato raso é utilizado para as refeições principais. o prato fundo, também chamado de prato para sopa, como o próprio nome diz, serve para caldos. o prato de sobremesa, um pouco maior que o prato de pão, é utilizado para os doces. E, por último, há o prato para pasta, que possui uma aba grande e costuma ser fundo. Para finalizar, dentre os vários tipos de taças, três são mais comuns três: uma para o vinho branco, outra para o tinto e outra para água. Na mesa elas ficam dispostas em ordem decrescente, da esquerda para direita, sendo a primeira para água, a segunda para vinho tinto e a terceira para vinho branco.
*Carla bolla é restauratrice do La Tambouille, em São Paulo
Hotel Fasano em Punta del Este (Uruguai)
102 PARA O ALTO
Rede Fasano dobra sua rede e chega aos Estados Unidos
106 | o jovem talento por trás da cena gastronômica de nova york 109 | as novas instalações do delicioso w south beach em miami
Americanos até a última gota Os barris de carvalho norteamericano são o segredo dos uísques escoceses, irlandeses e japoneses. Embora o Kentucky seja merecidamente respeitado por seu bourbon, os provenientes de outros estados (entre os quais o Stranahan’s do Colorado, o High West de Utah e o WhistlePig de Vermont) também são dignos de um brinde
CloCk ToweR 10 mirtilos 20 mL de suco de limão-siciliano espremido na hora 20 mL de calda de semente de papoula 60 mL de bourbon Amasse os mirtilos na coqueteleira, acrescente todos os ingredientes líquidos, bata com gelo e despeje numa taça ou copo de coquetel. Rale noz-moscada fresca por cima. Todas as receitas de coquetéis são de Jillian Vose, do Dead Rabbit Grocery and Grog
Da esquerda para a direita: elijah Craig Small Batch Bourbon, Stranahan’s Diamond Peak whiskey, Clyde May’s Straight Bourbon, High west whiskey, whistlepig The Boss Hog. Revestimento de parede Paisley da Stark. Superfície de madeira cortesia de The Hudson Company
AS BEBIDAS MAIS DELICIOSAS DOS EUA Prove as melhores bebidas cem por cento americanas, entre uísques, gins com sabor, tequilas envelhecidas e muito mais
Man-OF-war 1 toque de bitters aromáticos (Angostura ou Bitter Truth) 1 colher de chá de calda de açúcar demerara 15 mL de curaçao seco 45 mL de tequila añejo com infusão de chá Earl Grey
O ponto de virada Em todos os melhores destilados, a idade é importante. Quanto mais você entende de tequila, mais velha ela fica. Depois da prata, da ouro e da reposado, há a añejo, que envelhece de um a três anos em barris de carvalho. E, como o próprio nome diz, a extra añejo é envelhecida por mais de três anos – a espera vale muito a pena
Bata todos os ingredientes com gelo num copo de 500 mL ou recipiente grande de vidro. Entorne o drinque sobre gelo num copo OldFashioned, passando por um coador. Esprema os óleos de uma casca de laranja e descarte a casca
Da esquerda para a direita: Casa Noble Alta Belleza, Pasote añejo, Don Julio Real, Código 1530 añejo, El Mayor extra añejo. Revestimento de parede Décor Collection da Stark. Superfície de madeira cortesia de The Hudson Company
Conhaque do futuro OriginaL sin 45 mL de conhaque 20 mL de suco de limão-siciliano 15 mL de calda de mel (1 parte de água, 1 parte de mel) Misture todos os ingredientes numa coqueteleira, despeje numa flauta de champanhe, complete com champanhe e sirva
Da esquerda para a direita: Hennessy Master Blender’s Selection no 1, Martell Blue Swift, D’ussé VSOP Cognac, L’essence de Courvoisier. Revestimento de parede Sensational Skins da Stark. Superfície de madeira cortesia de The Hudson Company
Enquanto uma nova geração descobre o brandy mais famoso do mundo, o conhaque vem passando por uma remodelação. É claro que você ainda pode degustar garrafas de destilados raros que custam milhares de dólares, mas o conhaque já foi uma bebida popular – e é a base original de alguns coquetéis clássicos, como o mint julep. As novas expressões do conhaque ainda evocam o esplendor do Velho Mundo, mas são voltadas a quem aprecia um bom bourbon ou uísque. Pode-se dizer que ele destila a modernidade
lifestyle // bebidas
Elevando o nível Para criar o melhor bar do mundo, Sean Muldoon e Jack McGarry, do Dead Rabbit, recorreram à história irlandesa e norte-americana e deram a ela um toque nova-iorquino Fotos das bebidas por David Arky Foto desta página por Franco Vogt
C
diretor de estilo Joseph Deacetis
assistente de estilo Juan Benson
omo surgiu o Dead rabbit Grocery and Grog de Nova York? Localizado no centro da cidade e eleito o melhor Bar do mundo na premiação Drinks International de 2016, ele foi fundado por Sean muldoon e Jack mcGarry, nascidos em Belfast. Eles queriam criar um bar que combinasse o lounge de coquetéis onde tinham trabalhado com o pub onde haviam bebido. “Então procuramos um momento da história de Nova York em que os coquetéis e a cultura irlandesa se encontravam”, recorda muldoon, de 45 anos, “e criamos uma história para unir as duas coisas.” o resultado é um aconchegante bar de três andares situado no Distrito Financeiro e inspirado em John morrissey, líder dos Dead rabbits, gangue irlandesa-americana da década de 1850. Estruturado como uma clássica taverna norte-americana e decorado como um tradicional pub irlandês, o Dead rabbit inclui um bar propriamente dito, um salão com mesas e a occasional room para eventos, tudo repleto de fotos antigas, recordações esportivas e até alguns suvenires da Guerra Civil americana. “No Dead rabbit, a ideia é contestar o status quo do que um bar irlandês pode e não pode ser e trazer isso para o século 21”, diz mcGarry, de 27 anos. o estabelecimento – que conta com
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a maior coleção de uísques irlandeses dos Estados Unidos – cria um novo cardápio de coquetéis, elaborado pela diretora de bebidas Jillian Vose, a cada seis meses. (Sua primeira coleção de receitas, The Dead Rabbit Drinks Manual, foi eleita o melhor Livro de Bartending e Coquetéis no festival Tales of the Cocktail de 2016.) o BlackTail, segundo estabelecimento da dupla em Nova York, foi inaugurado em meados do ano passado. Ele explora a maneira pela qual os norte-americanos influenciaram a cena de bartending cubana durante a Lei Seca. recebe o espírito de Ernest Hemingway durante seu período em Havana e tem como herói o uísque com soda. “Nós o abrimos para mostrar a nós mesmos que podíamos fazer algo diferente”, comenta mcGarry. Com relação ao que vem pela frente, “vamos voltar a fazer o que fazemos melhor – será, sem dúvida, um bar de inspiração irlandesa”. — Kristin Tablang
ANNiE MoorE 15 mL de calda de canela 20 mL de Campari Champanhe rosado Monte num cálice de vinho ou copo de highball sobre gelo triturado. Dê uma leve mexida. Esprema os óleos de uma casca de toranja e descarte a casca
Beba rosa
Da esquerda para a direita: Dom Pérignon Rosé Vintage 2004, Taittinger Comtes de Champagne Rosé 2006, Pol Roger Brut Rosé Vintage 2008, Dom Ruinart Rosé 2002, Bollinger La Grande Année Rosé 2004. Papel de parede Feuille da Farrow & Ball. Superfície de madeira cortesia de The Hudson Company
James Bond pode ser mais lembrado por seus martínis com vodca, mas no romance Goldfinger ele degusta champanhe rosado. Não deixe a cor enganá-lo: os melhores champanhes rosados não são doces; são brut (secos). E, como contêm mais uvas pinot noir e pinot meunier, essas garrafas se garantem numa lauta refeição de festa de fim de ano. Além disso, por que não ver 2017 através de uma lente cor-de-rosa?
Aprimorando o gim Diferentemente de sua prima transparente, a vodca, o gim é valorizado pelo sabor que tem. Por isso, além do tradicional gosto de zimbro, os destiladores costumam acrescentar uma verdadeira horta de vegetais ou um toque cítrico. E, para quem quer levar seus coquetéis de gim ao próximo patamar, existe o gim envelhecido em barris, que fica em contato com o carvalho por meses, às vezes por anos. O resultado é um gim com aparência de vinho branco ou mesmo de uísque e com sabor de... Bem, experimente!
Exit StrAtEgy 1 toque de Boker’s Bitters 7 mL de licor Yellow Chartreuse 15 mL de xerez fino 20 mL de vermute Dolin Blanc 45 mL de ESP Noho Gin Bata todos os ingredientes num copo de 500 mL e despeje num copo Nick & Nora. Esprema os óleos de uma casca de limão-siciliano e descarte a casca
Malfy Gin Con Limone, ESP Noho Gin, St. George Dry Rye Gin, Four Pillars Barrel-Aged Gin. Papel de parede Enigma da Farrow & Ball. Superfície de madeira cortesia de The Hudson Company
março 2017 forbes brasil | 101
Fasano faz check in nos EUA É alta temporada de obras na rede de hotéis, que vai abrir quatro unidades no Brasil e uma em Miami por Lurdete Ertel
Locanda Fasano, em Punta del Este: upgrade recéminaugurado
epois de inaugurar, no fim de 2016, a Locanda Fasano, nova edificação com dez suítes no empreendimento do grupo em Punta del Este, no Uruguai, a grife de hospedagem e gastronomia está tocando projetos de cinco novos hotéis – entre eles, a primeira unidade da bandeira em solo americano. Estão em andamento unidades em Angra dos Reis (RJ), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG), Trancoso (BA) e Miami (EUA), com inaugurações previstas – nessa ordem – entre o segundo semestre deste ano e meados de 2019. Com esses projetos, a rede vai dobrar de tamanho (hoje são quatro operações) e ingressar no reluzente mercado de hotelaria dos Estados Unidos. “Traz muito orgulho ver aonde a marca Fasano chegou e saber que em pouco tempo estaremos no mercado americano”, festeja Rogério Fasano, quarta
geração da família fundadora do grupo criado a partir de uma brasserie no centro de São Paulo em 1902.
LOCALIZAÇÃO VIP
Dos cinco novos hotéis, três vão ocupar endereços emblemáticos. A começar por Angra dos Reis (RJ), o primeiro a ser inaugurado, no segundo semestre deste ano: o empreendimento fará parte do Frad.E, condomínio de luxo que a incorporadora Polo Real Estate está implantando na costa verde entre o Rio de Janeiro e São Paulo, na área do ex-Hotel do Frade, o primeiro resort do Brasil. O hotel do Fasano ocupará a edificação central do complexo e terá 54 suítes, todas com vista para o mar de Angra dos Reis, além de dois restaurantes. Um deles, instalado ao lado da piscina privativa do hotel, vai estrear uma nova bandeira do grupo conhecido pela gastronomia italiana, que será especializada em pratos como carpaccio, ceviches e frutos do mar crus.
LifestyLe // fasano ANGRA DOS REIS (Rio de Janeiro) • Localização: complexo frad.e (área do ex-resort Hotel do frade) • Número de unidades: 54 suítes • Adicionais: dois restaurantes do grupo Fasano, boulevard com 23 lojas, vilas com 145 residências e campo de golfe • Previsão de abertura: segundo semestre 2017 • Projeto: Thiago Bernardes • Parceiro: Polo Real estate
BELO HORIZONTE (Minas Gerais) • Localização: Rua São Paulo, Bairro de Lourdes • Número de unidades: 78 apartamentos • Adicionais: restaurante Gero • Previsão de abertura: primeiro semestre 2018 • Projeto: Thiago Bernardes • Parceiro: Incorporadora Concreto
SALVADOR (Bahia)
• Localização: antiga sede do jornal A Tarde, em frente à Praça Castro Alves • Número de unidades: 70 suítes • Adicionais: restaurante Gero • Previsão de abertura: primeiro semestre 2018 • Projeto: Isay Weinfeld • Parceiro: Prima Empreendimentos
TRANCOSO (Bahia)
MIAMI (Estados Unidos)
• Localização: Miami Beach, antiga área do Shore Club • Número de unidades: 85 apartamentos • Adicionais: 67 unidades residenciais • Previsão de abertura: 2019 • Projeto: Isay Weinfeld • Parceiro: HFZ Capital Group
104 | forbes brasil março 2017
• Localização: praia de itapororoca • Número de unidades: 40 bangalôs • Adicionais: 23 villas e 19 estâncias residenciais, beach club com restaurante do grupo Fasano • Previsão de abertura: 2019 • Projeto: Isay Weinfeld • Parceiro: Bahia Beach
© as imagens desta página são mock ups digitais dos projetos
UPGRADE Do CHARME URUGUAIo Primeiro endereço da bandeira Fasano fora do Brasil, o hotel de La Barra, em Punta del Este (Uruguai), acaba de ser reaberto, depois de ganhar um upgrade. No fim de 2016, o grupo inaugurou no empreendimento um novo edifício com dez suítes e apartamentos que marcou a reformulação do complexo Las Piedras, inaugurado em 2010, então com 32 bangalôs. Batizado de Locanda, o prédio foi construído na parte mais alta da antiga estância de 490 hectares com ve-
getação preservada. A edificação foi conectada com o restaurante Fasano que já operava no local. O hotel divide a área esparramada entre o campo e o mar com as propriedades exclusivas do condomínio Las Piedras Villas & Estancias, empreendimento internacional que resultou de uma parceria do Fasano com a JHSF. Os bangalôs também foram reformados e parte deles transformados em resi-
“o hotel é bem pé na areia, tanto que o restaurante que idealizo chama-se Crudo: com muitas opções cruas do mar no menu. É um conceito de restaurante que ainda não fizemos”, antecipa rogério Fasano. outro empreendimento com localização antológica é o de Salvador (Ba), que marca o ingresso da bandeira no mercado do Nordeste. Na capital baiana, o Fasano vai se hospedar no antigo prédio do jornal A Tarde, em frente à Praça Castro alves. Inaugurado em 1930, o edifício histórico em estilo neoclássico, com sete andares e vista para a Baía de Todos os Santos, foi arrematado em 2007 pela Prima Empreendimentos Inovadores, que está restaurando o prédio para receber o Fasano. o hotel de 70 suítes deverá levar para Salvador um restaurante Gero, que, pelo projeto de Isay Weinfeld, poderá ocupar parte da área na qual funcionou no passado o tradicional Cine Glória, depois Cine Tamoio.
CHEGADA AOS EUA
Igualmente icônico é o endereço do primeiro hotel da grife nos Estados Unidos. o Fasano miami será instalado no terreno do famoso Shore Club, na Collins avenue, em miami Beach. À frente do projeto está a investidora imobiliária HFZ Capital Group, que escalou a bandeira brasileira para operar o novo hotel com 85 quartos. a abertura está prevista para 2019. “Há um tempo procurávamos um endereço em miami”, conta Fasano. “Considero um passo natural para uma Rogério Fasano, marca ítalo-brasiquarta geração da leira como a nossa família fundadora se estabelecer nos do grupo
dências, com opção de acesso aos serviços de hotelaria – conceito idêntico ao empreendimento do Fasano e JHSF na Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP). Atualmente com hotéis em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Feliz (SP), além do Uruguai, a rede Fasano também opera 15 restaurantes.
Estados Unidos; uma parte bem considerável da nossa clientela visita miami todos os anos. E acredito que contribuiremos muito com o mercado hoteleiro da cidade ao levarmos uma assinatura e um conceito de hotel que ainda não existe lá”, justifica.
DNA ESPALHADO
antes disso, o grupo vai chegar também a Belo Horizonte (mG) e Trancoso (Ba). o Fasano da capital mineira deve abrir seu check in no primeiro semestre de 2018, em prédio novo erguido no bairro de Lourdes pela Concreta, investidora do empreendimento. Projetado pelo arquiteto Thiago Bernardes, o hotel de 78 apartamentos abrigará um restaurante Gero e deve ser o primeiro endereço de alto luxo na cidade. Em Trancoso (Ba), os confortos do Fasano vão ancorar em meio a uma área de mata nativa de aproximadamente 300 hectares à beira-mar na paradisíaca praia de Itapororoca. além do hotel com 40 bangalôs, o projeto assinado por Isay Weinfeld terá 23 villas residenciais e 19 estâncias – ali, os proprietários poderão usufruir os serviços do Fasano. Com início de obras previsto para este mês, o empreendimento tem na retaguarda a incorporadora Bahia Beach, fundada em 2004 por empresários suecos e focada em projetos de alto padrão na costa brasileira. apenas a primeira fase está avaliada em r$ 130 milhões. apesar das peculiaridades de cada projeto, a fornada de hotéis terá em comum o já famoso requinte e excelência da grife que reinventou a hotelaria de luxo do Brasil ao abrir seu primeiro projeto nos Jardins, em São Paulo, em 2003. “Todas as novas aberturas vão manter nosso DNa, ou seja, terão a qualidade e o serviço pelos quais o Fasano é reconhecido”, assegura o empresário. março 2017 forbes brasil | 105
Jeff e a realização de seu sonho: o restaurante Carbone
Um ex-Under 30 comanda a cena gastronômica de NY Jeff Zalaznick fala sobre sua trajetória e revela os planos para o futuro do Major Food Group por Antonio Camarotti
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m pedido que recebo com frequência é o daquele amigo ou conhecido perguntando qual é o “restaurante do momento” em Nova York. Novidades à parte, já faz algum tempo que alguns nomes aparecem sempre na minha lista – geralmente no topo dela – como meus locais favoritos na cidade, aqueles que não só indico como frequento assiduamente. Por isso quis conhecer um dos nomes por trás de alguns dos mais badalados restaurantes da disputadíssima cena gourmet nova-iorquina: o jovem restaurateur Jeff Zalaznick, de 33 anos, um dos cofundadores e cogestores por trás do Major Food Group, empresa que comanda hotspots como Santina, Parm, Dirty French, ZZ’S Clam Bar e Carbone. Era uma ensolarada e “temperada” manhã de inverno em Manhattan quando fui ao encontro de Jeff, no Carbone – para mim, o melhor restaurante italiano de NYC. Chegando lá, fui informado que Mr. Zalaznick iria me receber no ZZ’s Clam Bar, quase um speakeasy que só atende sob reserva. Foi no diminuto salão do ZZ’s, de apenas dez lugares, que conheci um pouco da história desse jovem empreendedor de sucesso, merecidamente agraciado como um dos FORBES Under 30 nos EUA quando tinha 28 anos. Garrafas de água mineral e vários copos estavam a nossa espera sobre uma mesa de tampo de mármore. Apesar de já tê-lo visto antes em fotos, não imaginava que meu entrevistado fosse tão alto. Eu, com 1,93 m de altura, senti-me pequeno ao lado daquele simpático jovem, que chegou usando óculos de grau, jeans, tênis Adidas da linha especial Yeezy Boost do rapper Kanye West e na mão um smartphone BlackBerry (não sou o único!).
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Depois das apresentações e de identificarmos alguns amigos em comum, eu quis logo saber como uma pessoa que começou a vida profissional trabalhando num banco de investimentos tinha se tornado sócio de restaurantes tão conceituados, nos quais uma reserva pode demorar meses.
AMOR PELA COMIDA
“Em minha vida inteira sempre fui apaixonado por comida. Fiz aulas de culinária quando estava na high school e já cozinhava. Era o que eu amava fazer.” Mas, ao se formar pela Cornell University, Jeff não sabia que caminho seguir. E foi trabalhar no banco JP Morgan. “Eles eram os que pagavam melhor”, lembra, rindo. “Além disso, eles te ensinam muita coisa. Eu adorava isso – eles ensinavam habilidades que me ajudariam muito como empreendedor... e ainda me pagavam por isso!” Logo ele aprendeu outra importante lição: “Percebi que, se eu quisesse ser feliz – esqueça dinheiro –, eu tinha que ser excelente. E para ser excelente em alguma coisa você tem que seguir sua paixão. O que eu amava era ler no Wall Street Journal sobre hotéis e restaurantes”. Depois de dois anos, ele largou um promissor emprego num dos maiores bancos de investimento do mundo e foi trabalhar como gerente de relacionamento do recém-inaugurado Mandarin Oriental Hotel, no Columbus Circle em Manhattan. O cargo que Jeff ocupava era cuidar dos hóspedes vips, de sua alimentação até o serviço de camareiras. Faltava mais “comida” em sua vida. Um ano depois, investiu na construção de dois websites sobre gastronomia. Também não demorou a perceber que não queria apenas escrever sobre bons restaurantes. Queria ser dono de um deles.
Rich Torrisi, Mario Carbone e Jeff: encontro de sucesso
O ENCONTRO
A união com os chefs Rich Torrisi e Mario Carbone aconteceu de forma natural: “Eles tinham acabado de abrir o restaurante Torrisi Italian Specialties, onde faziam comida italiana clássica. Eu fui lá para comer e os conheci. Um dia, saí com Mario e falei sobre o restaurante que eu gostaria de criar. Nós percebemos muitas semelhanças – éramos jovens e naturais de Nova York – e nossos objetivos também eram os mesmos. Quando nos associamos, foi um verdadeiro encontro”. Desse encontro nasceram, em apenas cinco anos, 12 restaurantes – que serão 18 até o fim deste ano. O Carbone foi a segunda marca criada pelo grupo
LifestyLe // gastronomia em nY
Interior do Carbone; à direita, o Four Seasons em foto de 1959
(a primeira foi o Parm), inaugurado em 2013 no mesmo ponto que abrigou o lendário rocco. “Quando começamos a levantar dinheiro para fazer o Carbone, ninguém sabia quem nós éramos. mas nossas apresentações aos investidores se pareciam com o material que eles costumam receber de um banco, por exemplo. outros restaurantes, às vezes, mandavam só desenhos feitos num pedaço de papel”, lembra Jeff, reafirmando que aqueles anos no JP foram determinantes para seu sucesso na nova carreira. No Carbone eles preparam a típica culinária italiana americana, definida por Jeff como “comidas que as pessoas já viram antes, mas que nunca foram tão gostosas”. (Posso atestar que essa afirmação não é conversa de vendedor. a comida é muito saborosa. Não à toa, o lugar é frequentado por celebridades – na mesma noite, dividi o ambiente com astros do pop mundial, como os cantores Justin Bieber e Weeknd). o sucesso é tanto que o Carbone cruzou as pontes e túneis da ilha de manhattan e já conta com filiais em Hong Kong e Las Vegas. o próximo grande passo do grupo, conta-me Jeff, é a licença do espaço do Seagram Building, ocupado por mais de 50 anos pelo icônico restaurante Four Seasons – considerado por muitos a mais importante “power table” de NYC. “Foram muitas reuniões
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com aby rosen (dono do imóvel) até a decisão. Temos muitos pontos em comum, como a paixão por história e por Nova York, e approaches parecidos quando se trata de negócios.” Serão três novos restaurantes: o The Grill, especializado em carnes e com atmosfera mais clássica; o The Pool, que aposta em frutos do mar; e um terceiro, que ainda está em desenvolvimento e que terá culinária “asiática e inovadora, como uma brasserie japonesa”. Jeff aproveita meu ombro amigo para “chorar” um pouco ao falar sobre as dificuldades de empreender em manhattan. reclama do valor dos aluguéis e do alto custo dos funcionários. mas logo se reanima: “adoramos criar conceitos e ter lugares que contem histórias diferentes. Gostamos de trabalhar com pessoas com quem temos afinidade. Não importa o lugar, mas sim a parceria”. E emenda, para minha particular alegria: “Dependendo de como as coisas fluírem, pode até ser no Brasil”. antes de sair para tirar uma foto em frente ao luminoso do Carbone, perguntei o que ele acha das cozinhas que seguem a moda de servir comidas em forma de espuma e reduções. a resposta foi rápida e mais do que bem-vinda: “a regra número 1 de todos os restaurantes do major Food Group é: no foam! (sem espuma!)”. Ufa… já sei que continuarei saboreando comida de qualidade e de verdade quando for a Nova York.
O próximo passo do Major Food Group é ocupar o espaço do icônico Four Seasons no Seagram Building
108 | forbes brasil março 2017
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luxo //
jairo waisman*
o Patek PhiliPPe brasileiro
No fim do século XIX, ter um Patek Philippe no país era declaradamente um símbolo de status. Enquanto os mercados europeus passavam por crises, a américa Latina se tornava o novo Eldorado. Em 1870, as terras do outro lado do atlântico eram tão atrativas para a relojoaria quanto o mercado asiático é para os dias atuais. Para conquistar a elite da capital brasileira na época, a relojoaria fechou parceria com a Gondolo & Labouriau, uma respeitável distribuidora do rio de Janeiro. a Patek não só conquistou o mercado local com criações exclusivas como também estabeleceu na cidade carioca a Gondolo Gang, um clube para os apaixonados por relógios da grife. o grêmio era composto por 180 entusiastas prontos para adquirir um raro relógio de bolso.
Parceria da Patek com a gondolo & Labouriau conquistou a elite brasileira
jogada de mestres
Visionários, o relojoeiro carioca Carlos Gondolo e seu sócio, Paulo Labouriau, conceberam um engenhoso sistema de vendas que parcelava a compra do The Classic Gondolo, que custava 790 francos suíços. O método consistia no pagamento de US$ 10 por semana em 79 vezes. No fim, você adquiria seu relógio e participava de um divertido jogo de loteria, no qual era sorteado o célebre Chronometro Gondolo – o calibre especialmente criado para a Gondolo nunca mais usado em nenhum outro Patek Philippe. O desejado relógio fez tanto sucesso que depois foi fabricado com diferentes materiais. As caixas de ouro amarelo, prata ou prata niello (de cor negra) receberam mostradores divididos em 12 ou 24 horas. Uma estratégia certeira da qual todos saíram felizes: os empresários brasileiros venderam, em apenas um ano, 180 peças Patek Philippe. A relojoaria suíça conseguiu manter *Jairo Waisman é diretor executivo da Joalheria Frattina
suas vendas em alta, mesmo em tempos de vacas magras, enquanto o mundo estava em guerra. E os apaixonados por relógios desfilavam com suas aquisições pelas ruas da capital. Para que se tenha ideia, até 1927, a Gondolo & Labouriau já vendia cerca de um terço da produção anual de relógios Patek Philippe. Os modelos eram tão queridos na capital do Brasil que “Patek” se tornou um sinônimo para “relógio”, ou seja, na época você não comprava um relógio, mas sim um Patek. Bons tempos, aqueles! março 2017 forbes brasil | 109
A nova suíte E-WOW Ocean Escape
Paraíso
suspenso W South Beach reforma suítes e supera o que já era quase perfeito
A
competição no mundo dos negócios é bastante feroz, mas ela parece ser ainda mais dura quando se trata de hotelaria. Ser “o” hotel do momento não é uma tarefa fácil; manter-se no topo é um desafio ainda maior. O crescimento acelerado de Miami – e de sua irmã, Miami Beach – intensificou a acirrada disputa entre os hotéis que servem de endereço para globetrotters que fazem do sul da Flórida seu playground durante o ano inteiro. Desde que o W South Beach Hotel foi construído, ele figura como um dos endereços top para hospedagem e diversão na cidade – lá reside um consi-
por Antonio Camarotti
em Miami
derável número de brasileiros que compraram unidades de condo-hotel. Passados alguns anos desde sua inauguração, é chegado aquele ciclo pelo qual todo hotel passa de renovação e aprimoramento de suas dependências. Não que no W South Beach isso não tenha sido feito antes, mas em menor escala (o lobby de hoje é bem diferente – e mais moderno – do que era um ano atrás). Agora o hotel começou a reformar todas as suítes e apartamentos do resort. Pelo que vi e vivi lá, com relação a uma dessas novas suítes é bom a concorrência começar a perder o sono, porque (para deixar as coisas num linguajar mais popular) “os caras botaram pra quebrar”… literalmente.
Banheira de imersão na E-WOW Penthouse
A vista para o mar azul-turquesa é uma das atrações do WSB
A reforma de cada suíte custou US$ 1,4 milhão
nos mais de 200 metros quadrados com direito a três amplos quartos com banheiro, sala de estar e jantar, home theater e uma grande e bem equipada cozinha. Parecia, mesmo, que eu estava em minha própria casa. A designer Ana Busta, do Studio Busta, ambientou a suíte de forma moderna e “artística”. Ela foi a responsável também pela outra nova e exclusiva suíte do WSB, a E-WOW Penthouse, que, como o nome diz, traz todo o conforto e o luxo da sua “irmã” Ocean Escape acrescidos de um generoso terraço privativo e uma piscina particular. A tecnologia – algo que valorizo muito em minhas hospedagens mundo afora – é de ponta. A automação na suíte é total: a TV Bang & Olufsen é controlada por um iPad e o toalete “inteligente” da japonesa Toto assusta os menos avisados com o abre e fecha autônomo das tampas e assentos. A banheira de imersão japonesa, com janela panorâmica e a linda vista para o mar azul-turquesa, é mais um item que reforça o máximo conforto da suíte. Desfrutanto tudo isso, vejo que faz sentido o valor investido na reforma desse paraíso suspenso: algo na casa de US$ 1,4 milhão por suíte. Não pude ficar lá para sempre, como imaginei por alguns instantes. Mas a vontade, depois dos maravilhosos dias que passei ali, é de voltar correndo para o WSB.
A decoração é moderna e clean, os espaços são amplos, o conforto é total e a vista é maravilhosa. Difícil é querer sair de lá Já me hospedei várias vezes no W e posso listar os pontos positivos da propriedade. Um deles é, logo ao chegar, respirar seu clima alegre e festivo. O segundo é tomar café da manhã no The Dutch com direito a um dos mais saborosos waffles que eu já comi na vida. O terceiro: a beleza do mar, da praia e da área da piscina. Outro ponto positivíssimo: ter o querido Mr. Chow colado no lobby para deleite de nossos conterrâneos, que lotam o local todas as noites para saborear os famosos chicken satay e o delicioso pato à Pequim. E, para finalizar o dia, quem ainda tiver energia pode se jogar na pista de dança da Wall. Todos esses ingredientes ainda estão lá e bastariam para seduzir qualquer visitante. Mas, quando pisei na nova suíte E-WOW Ocean Escape, na hora pensei: não quero mais ir embora daqui. Fui “recepcionado” por uma sala clean muito bem decorada, com móveis dispostos num layout que cria espaços amplos, mas não menos aconchegantes, e de fácil circulação. Conforto e espaço é o que não falta
Espaços amplos, de fácil circulação
carolina perez* // viagens
CiDaDes italiaNas Para Curtir No iNverNo Quatro das cidades Que mais amo durante o inverno estão na
Itália. Em roma, milão, Veneza e Firenze, o clima frio promove a sofisticação e a elegância. É uma época deliciosa para viajar, quando as multidões desaparecem e lojas, restaurantes, galerias e museus ficam mais tranquilos e convidativos. De novembro a março, a dolce vita é mais exclusiva e oferece programas bacanérrimos, como os festivais de ópera e a gastronomia, que guarda receitas superespeciais para os meses mais frios.
Hotel Helvetia & Bristol: quartos com atmosfera de residência privada
Hotel Helvetia & bristol (Firenze, Itália)
Um gracioso palazzo, a passos do Duomo de Brunelleschi e das boutiques da Via Tornabuoni. o Helvetia & Bristol é como uma pequena joia no coração da cidade histórica e encanta pela elegância clássica italiana. Cada quarto é decorado de maneira única, com bom gosto impecável e a atmosfera de uma residência privada. Destaque para a Hostaria Bibendum e sua delicada gastronomia toscana. Não perca no descolado bairro de oltrarno, o bar e restaurante Gurdulù, um dos novos trends de Firenze; a autêntica Trattoria Sostanza (Il Troia), um dos melhores lugares para a famosa bistecca fiorentina; uma dica superinsider é a visita a orsanmichele, um celeiro medieval transformado em igreja durante a renascença. Às segundas-feiras, o primeiro andar abre para o público e oferece uma das vistas mais incríveis da cidade.
Hotel De russie (Roma, Itália)
Poucos hotéis no mundo misturam presente e passado com tanta harmonia e beleza como o De russie. No centro da Cidade Eterna, em frente à 112 | forbes brasil março 2017
Hotel De Russie: uma das mais lindas propriedades de Roma
*Carolina Perez é fundadora da Duco Italia Travel Summit (feira de viagens de alto padrão). Foi sócia da Teresa Perez Tours e fundadora da Travelweek São Paulo
Gritti Palace: renovação multimilionária
Piazza del Popolo e a alguns minutos de caminhada do Spanish Steps, a propriedade membro da rocco Forte Collection está entre as mais lindas de roma, cercada por um jardim muito especial. Cada apartamento foi individualmente decorado pela designer olga Polizzi e pelo arquiteto Tommaso Ziffer. o Spa De russie é um must! Não perca o tradicional restaurante Pierluigi, para comer peixes maravilhosos, e a Salumeria roscioli, para apreciar a simplicidade da gastronomia tradicional romana. Para as crianças, a dica neste inverno é a mosaic School for Kids, onde os pequenos aprendem a fazer seus próprios mosaicos. Visite a galeria de arte contemporânea maXXI.
Park Hyatt (Milão, Itália)
Uma das mais incríveis propriedades da coleção Park Hyatt em todo o mundo reflete a personalidade milanesa em cada detalhe. Em frente à Galleria Vittorio Emanuele e a passos do magnífico Duomo, o hotel mistura clássico e contemporâneo com muito estilo e elementos de design em todos os ambientes. além do lobby com a cúpula de vidro de 9 metros de altura e do spa da marca Sisley, o grande destaque é o restaurante VUN, do chefe andrea aprea – verdadeiro gênio da arte culinária. Imperdível e inesquecível. Não perca restaurante Lume, novo hotspot gastronômico de milão; Trattoria Trombetta,
Park Hyatt: personalidade milanesa em cada detalhe
simples e informal, comida maravilhosa; Ceresio 7, um supertrend. a Pinacoteca di Brera e a Pinacoteca ambrosiana são sempre musts para quem ama arte – e no inverno as filas somem!
Gritti Palace (Veneza, Itália)
Verdadeiro esplendor veneziano, a propriedade à beira do Grand Canale, de frente para a Basilica Santa maria della Salute, nunca esteve tão espetacular. Do piso original da entrada às luminárias de murano feitas à mão e tetos de madeira entalhada, séculos de glamour reluzem como novos depois de uma recente renovação multimilionária. Enquanto as suítes Gritti Signature mostram o rico passado do hotel em mobiliário, afrescos e obras de arte, outros ambientes apresentam um toque contemporâneo, com muito estilo. Não perca o estrelado ristorante Quadri, na Piazza San marco, e antiche Carampane, para as especialidades tradicionais venezianas. as crianças adoram a visita a murano para ver os artesãos trabalhando com o vidro – a grande diversão é assistir à confecção do bichinho preferido. as dicas de arte são o Ca rezzonico, museu do século 17 com uma grande coleção de pinturas do artista veneziano Pietro Longhi, e a galeria Peggy Guggenheim. março 2017 forbes brasil | 113
retrospectiva //
março de 1967: em sintonia com o futuro
sinaL Dos teMpos
Do Espaço siDEral
Comidas liofilizadas, hemodiálise e até os tênis modernos, tudo isso se deve à corrida espacial dos anos 1960. FORBES enfatizou algo mais prosaico: uma tinta que a Nasa desenvolveu e que era capaz de suportar as temperaturas extremas das viagens espaciais. O pigmento milagroso viria a servir de base para patentes de empresas como Ford e Kawasaki Steel
“Muito eM breve, as pessoas não vão mais falar umas com as outras. Estarão ocupadas assistindo à TV”, previu o artista rube Goldberg, vencedor do Prêmio Pulitzer. aos 83 anos, Goldberg deixou a aposentadoria de lado para ilustrar uma capa de ForBES sobre o setor de eletrônicos para entretenimento doméstico, que se expandia rapidamente. os gastos dos consumidores com produtos como televisores e aparelhos de som tinham dobrado em cinco anos, chegando a US$ 5 bilhões (US$ 36 bilhões em valores de 2016), e a matéria de Kenneth Schwartz esboçava um futuro ilustrado pelo desenho de Goldberg. Schwartz apresentou uma série de previsões inteligentes, inclusive o advento dos gravadores de vídeo em cores, das telas grandes e da TV a cabo e via satélite. Também previu com exatidão filmes, compras e informações sob demanda, basicamente antevendo os televisores inteligentes 45 anos antes de eles se tornarem algo corriqueiro. a previsão de Schwartz só tinha um pequeno erro: dizia que a TV por assinatura não ultrapassaria a TV financiada por comerciais. avanço rápiDo
o Vício Da Vigilância 1967: Malcolm Forbes conclamou os leitores a apoiar a recomendação do presidente Lyndon Johnson no sentido de tornar ilegal a bisbilhotagem eletrônica por parte do governo, exceto em casos envolvendo a segurança nacional – e, mesmo nestes, somente sob rigorosa supervisão 2013: em junho, Edward Snowden, que prestava serviços para a Agência Nacional de Segurança, expôs a ampla vigilância eletrônica feita pelo governo dos Estados Unidos em conluio com importantes empresas de tecnologia; Snowden acabou sendo obrigado a pedir asilo político à Rússia
114 | forbes brasil março 2017
propaGanDa inCrÍveL
pEchincha sobrE Trilhos A Pullman alardeava que você poderia alugar essa locomotiva de carga de 100 toneladas por uma diária inferior a US$ 7 – “menos do que o aluguel de um carro por um dia!”