Fiz Parte Desse Show - Cazuza - Livro - Ana Maria Costa

November 25, 2016 | Author: axtrovix | Category: N/A
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O testemunho de uma enfermeira cristã que acompanhou o cantor Cazuza no palco do drama de seu sofrimento e morte,...

Description

Revisão: H.D.Silva Diagramação: A.PS. Iustração & Capa: Luciana Marinho Impressão e acabamento: Ed.Betãnia.

Dados Internacionais

de Catalogação

PERFIL DAAUTORA

na Publicação

(CIP)

COSTA. Ana Maria da. Fiz parte desse ·'Show'·. Ana Maria da Costa Curitiba· ADSANTOS EDITORA. 1999. .

Si/e: wv.w.adsantos.com.br e-mail.pedidoséa>adsantos.com.br

Ana Maria da Costa, enfermeira graduada pela Faculdade de Enfermagem Luíza de Marillac (RJ), Bacharel em Educação ReÍigiosa pelo Instituto Batista de Educação Religiosa (RJ), membro da Primeira Igreja Batista no Andaraí (RJ), formada no curso de Clínica Pastoral (Capelania) pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, tendo como professor o Dr. Jack Young. Realizou estágio no Hospital Batista em Fortaleza (Ceará) entre outros ... Supervisora de turma de Técnico de Enfermagem do Colégio Bezerra de Araújo no Hospital Cardoso Fontes (RJ). Missionária efetiva pela Junta de Missões Mundiais junto ao Centro Médico Batista em Assunção (Paraguai), onde começou trabalho em início de outubro de 1995, trabalhando também no interior do Paraguai; levando o Evangelho de Jesus às pessoas carentes. Atuando também com o trabalho social há três anos.

AGRADECDVIENTOS

Agradeço pela concretização desta obra, inicialmente aos meus pais, por terem me trazido ao mundo e incentivado o meu crescimento intelectual; Aos meus queridos irmãos e sobrinhos; À amiga Maria da Penha Souza Paixão, pela ajuda e incentivo; À minha querida Primeira Igreja Batista no Andaraí; Ao pastor Marcos Stíer Calixto e Silvana Leoni Calixto, pelo incentivo e estimável ajuda prestada. Este trabalho é o resultado de uma experiência de um ano e três meses acompanhando o cantor e compositor Cazuza no período de sua enfermidade, e que veio a falecer em 07/07/90 vítima da AIDS. Para a honra e glória do nosso Deus, resolvi escrever este testemunho vivo relatando os momentos difíceis que passei. Essa trajetória, embora difícil, valeu

muito para o meu crescimento espiritual e exercício de minha fé, porque foi enfrentada com os olhos espirituais e discernimento. Tenho certeza que o será para você também, leitor. A autora aborda situações concretas. Analisando-as você terá um grande auxílio para enfrentar estas e outras situações. Enfermeira Ana Maria da Costa, for--~~...---....----;----:~::;--;;;-------;-----mada pela Faculdade de Enfermagem LUlza de Marillac (RJ), professora de Saúde Pública. Bacharel em Educação Religiosa com habilitação em Missões pelo IBER - Instituto Batista de Educação Religiosa - RJ. Missionária pela Junta de Missões Mundiais. Atuando no Paraguai já há três anos como Missionária Enfermeira e Capelã Jiospitalar, atuando como Capelã Transc~ltural no Hospital Barrio Obrero (Paragual).

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PREFÁCIO

Foi com muita satisfação que recebi de Ana Maria a grata incumbência e o privilégio honroso de escrever o prefácio do seu livro. Tive o privilégio de conhecê-Ia em nosso primeiro ano de IBER (Instituto Batista de Educação Religiosa), onde fizemos o curso de Bacharel em Educação Religiosa. Nossa amizade foi sendo cultivada a cada dia, desde então tenho acompanhado seu tra~ balho e a dedicação com a qual ela o tem desempenhado no decorrer dos anos. A autora é uma profissional distinta, que tem abraçado grandes causas, dand~-se aos outros com sinceridade, amor e dedIcação. Louvo ao meu Senhor, que a inspirou a compartilhar com outras pessoas sua grande experiência profissional e espiritual vivida com o cantor e compositor Cazuza, tornando-se sua amiga de cabeceira, apresentando-lhe Jesus Cristo sem nenhum constrangi-

mento, dando-lhe exemplo de vida e amando-o incondicionalmente durante um ano e três meses. Aninha realmente fez parte desse "show", e tem falado em muitas Igrejas e a muitos estudantes, e neste livro está determinada a ajudá-Ia a ter convicções de fé, atender ao chamado do Mestre, tornando-se uma influência positiva de Deus para os seus amIgos. Este livro é rico pelo relato de uma experiência viva e foi preparado para ajudá10 a pensar realisticamente acerca de como viver sua vida da maneira que Deus gostaria que você vivesse. Reitero a minha gratidão, rogando ao Senhor da Seara que continue abençoando ricamente a vida da Aninha e o seu ministério com os pacientes que têm o vírus HIV

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SUMAmO

INTRDDUÇÃO

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O INÍCIO DE UMA JORNADA

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TENHO ESPERANÇA. FIZ O QUE PUDE 51 DOIS MESES APÓS SUA MORTE

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INTRODUÇAO

em que ele tentou. Lutou até o fim, desafiou meio mundo, mas a doença o venceu. A AIDS fez mais uma vítima famosa. Levou Cazuza. Um fenômeno da música brasileira, um cantor e compositor que fazia a gente pensar. Não era um simples "fazedor" de música, mas um pensador que retratava de maneira ousada e arrojada as suas idéias, filosofia e ideais. Era inconformado com os menos favorecidos, fazia denúncias e protestava muito usando suas músicas e poesias como armas. Cazuza foi, mas a sua obra continuará. As gravadoras fizeram álbuns especiais que estão fazendo de Cazuza uma eterna lembrança. Particularmente, eu admirava as músicas de Cazuza. E acho uma pena ele ter morrido tão cedo. Sinto que ele poderia estar entre nós hoje, se tivesse escolhido um outro tipo de vida. No entanto, o grande compositor, cantor e poeta teve sua escolha de-

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mocrática de vida. O mundo inteiro lamenta e chora a sua partida. Ele não morreu, continua vivo através de músicas que revelam a inquietação desta geração. Na sua busca, Cazuza incomodou muita gente. Disse tudo o que tinha direito .. Mas também sabia ouvir a Palavra de Deus, Hoje, para honra e glória do nosso Deus, resolvi escrever sobre a experiência vivida durante um ano e três meses acompanhando o Cazuza no Rio de Janeiro, São Paulo e Estados Unidos. Neste livro relato um testemunho vivo do meu-trãbalho com o Cazuza.

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O INICIO DE UMA JORNADA - RIo DE JANEIRO ezessetede março de 1989. Lembrome claramente, era uma tarde linda de domingo. Acabara de chegar da EBD e culto da manhã quando o telefone tocou. Era Ilda, uma amiga de trabalho que me ligara para saber se eu podia ficar uma noite com um paciente na Clínica São Vicente. Disse-lhe que sim, e às 18:30 já estava a caminho da clínica. Lá chegando, Ilda me revelou que~ paciente com o qual eu iria ficar era portador do vírus HIV e se tratava Cazuza. Perguntou-me se eu tinha algum preconcêlto (pois naquela época a pesquisa sobre o virus HIV estava ainda em fase inicial e o esclarecimento sobre a doença era' PõUco, o que fazia com que até pessoas da área de saúde tivessem receio de trabalhar ~

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com esses pacientes), disse-lhe que não, eno tão ela pediu-me que fosse ao quarto 207. Caminhei segura até o paciente, pois não seria a primeira vez que iria trabalhar com um portador do HIV Logo que cheguei à porta, uma senhora bastante educada veio me receber. - Boa noite. Você é a enfermeira que irá ficar com o paciente? - Sou eu mesma. - Meu nome é Lucinha Araújo. Sou a mãe do paciente. Pode entrar, ele já está te esperando (no quarto além do Cazuza encontravam-se alguns amigos dele. A apresentação foi amigável, já cheguei brincando, pois ele estava bem queimado de praia e perguntei-lhe como podia ter aquela cor se sua mãe era bastante branca). - Puxei a meu pai, ele é negro (faloume sério, dias depois quando conheci seu João Araújo, vi que a música "Exagerado" fazia jus a Cazuza. Seu João Araújo era simplesmente moreno). Mas voltando ao assunto principal desta primeira parte, que é a apresentação. Horas após, seus amigos foram embora. Cazuza levantou-se da cama e foi para uma mesinha onde, muito agitado, fumava

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muito e escrevia a letra de "Cobaias de Deus", música do LP (Burguesia), seu último trabalho em vida. Sentado em uma cadeira um pouco distante, eu lia um livro e, de vez em quando, observava aquela agitação. Em certo momento ele parou de escrever e bastante explosivo gritou comigo. - Por que está me olhando? É bom você ficar sabendo que não gosto que ninguém me observe quando estou trabalhando! Respondi-lhe a altura: - Não grite comigo! Se você sabe que estou te olhando é porque você também está me olhando. Com o barulho da conversa dona Lucinha Araújo que dormia na sala ao lado entrou assustada no quarto. - O que está acontecendo? - Nada mãe, só que ela está me olhando e eu não gosto de trabalhar com ninguém me olhando. - Porque você não vai dormir meu filho, já são 01: 10 da manhã. Já calmo. - Tá, eu vou escrever mais um pouco depois eu deito (após ela retirar-se do quarto fui atrás dela e expliquei-lhe o ocorrido).

- Desculpe-me dona Lucinha Araújo, mas foi necessário responder à altura para que haja respeito, pois fiquei sabendo que ele é um paciente bastante rebelde e não deixa ãs enfermeiras cuidarem dele; se eu demons=•trar fraqueza, ele jamais deixará que eu o medique como a doença pede. - Não, tudo bem, não há do que você pedir desculpas, foi bom você agir assim, pois houve uma enfermeira que tinha medo dele, daí ele tomou conta da situação, jog;va o termômetro para cima, não deixava aferir a pressão e jamais tomava o comprimido na hora certa. Acredito que você dará certo. Quando voltei para o quarto já o encontrei dormindo. Na manhã seguinte ele levantou como se nada tivesse acontecido, foi ao banheiro, lavou o rosto e veio tomar o café. Nesse momento desci ao refeitório. Após também tomar o meu café, subi para .i.espedir-me e qual foi a minha su'rpresa vê10 tomar a minha mão, alisá-Ia e pedir qm voltasse no dIa seguinte, pois gostara mUlto do meu trabalho. Cna eu dentro de mim que r após aquel~ente e pela fama de implicância com as enfermeiras q~e tinha, que jamais voltaria a ficar com ele, porém, já na

porta escutei-o falar c~m a m~e: . _ Ah mãe! GosteI, essa e das mInhas! Vou levá-Ia para casa. Vou precisar mesmo de uma enfermeira para me acompanhar. Na noite de terça-feira quando voltei à clínica São Vicente, encontrei-o bastante disposto e já com promessa de alta hospitalar. Conversamos muito e no meio da conversa ele me perguntou se eu aceitaria continuar a ser sua enfermeira particular, assim que ele deixasse a clínica. - Se você quer, eu aceito. - Talvez amanhã você nem precise vir à clínica, já pode ir direto lá para casa, minha mãe depois lhe passará o endereço. - Eu vou passar o endereço Cazuza, mas é bom a Ana ligar para confirmar se você realmente teve alta. - É mesmo Ana, você liga antes. - Está certo, eu ligo para cá. - Cazuza eu havia esquecido de lhe contar: seu médico achou por bem você mudar de apartamento pelo fato de ser duplex e as paredes serem de vidro, daí eu consegui um apartamento no Leblon, aqui perto. Amanhã iremos vê-lo, se você gostar faremos a mudança.

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Sentindo-me já à vontade com ele, eu Quando Cazuza teve alta nós já fomos começava a preparar-me para o momento em direto para esse apartamento que ficava na meu Deus dana a oportunidade do amor Rua Visconde de Albuquerque. Uma noite de Jesus. Foi numa tar- ficava eu e na outra Dona Dulce (enfermeira ~ansfonnador (iê(feãbril que Deus me concedeu essa prique dividia os plantões comigo). . meira oportunidade. Após o almoço, Cazuza Dulce era uma pessoa maravilhosa, já me chamou para irmos à gravadora Polygram quase chegando à casa dos cinqüenta, o que na Barra da Tijuca, onde ele estava gravanfazia nutrir por Cazuza um tratamento quase do o LP "Burguesia". Assim que lá chegamatemo, o que o fez muitas vezes reclamar mOSeu começei a notar que ele estava com comigo do serviço dela. Apesar de ser único muita febre. Pedi que desse um tempo e defilho, criado no meio da classe média alta e pois entrasse no estúdio, porém respondeusaber de todas as regras que a boa etiqueta me que não podia parar. Certa altura faltou pede, Cazuza era uma pessoa muito simples energia elétrica e os músicos saíram todos e vivia bem com todas as classes. Certa vez, para lanchar ficando apenas nós dois no esconversando comigo, disse-me: "Ana, eu sou túdio, ele veio e deitou num sofá que os mesmo é do asfalto", e realmente eu pude músicos improvisaram especialmente para comprovar ISSO. ele; mediquei-o e após a febre ter passado Com o passar de um mês, a Dulce reele abriu os olhos e me disse: solveu não acompanhá-Io mais e no lugar - A energia não voltou. Acho melhor dela entrou a Márcia que, de cara, ele apeliirmos embora. . dou de Ed Morta, devido a semelhança com - Também acho, está ficando tarde. o cantor. - E aí, você está gostando das músia tem o foi assando e cada dia crescas? cia mais a amizade entre eu e azuza, e, com - Estou sim, as letras são profundas . a nossa amizade crescendo, pude admirar ca- Você já conhecia o meu trabalho an•.racterísticas dele, principalmente sua independência, que era um ponto muito marcante.

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- Sabia que você existia, que era do Barão Vermelho, mas nunca parei para observar o seu trabalho. - Por favor, me pegue um copo d' água. - ...(Após tomar a água). Você é tão calma, eu não. Sou agitadíssimo! Você sabia que eu fumei o meu primeiro cigarro de maconha com 12 anos? (saiu nas revistas Contigo, Amiga e Veja). - Sério? - Eu estudava no Colégio Santo Inácio em Botafogo, era colégio de padre, aí já dá para imaginar. Eles eram super rígidos, mas isso que era o barato da coisa. Sei que também não era o único a aprontar, existiam uns quinze que odiavam os estudos, iam para o colégio só para deixar os padres de cabelo em pé (ficou olhando para o teto). Eu sempre fui muito maluco desde quando fazia o ginásio. Minha mãe tinha um fusquinha o qual ela deixava eu dirigir, meu pai vendo a minha loucura pelo carro me fez uma proposta. Caso eu passasse no vestibular ele me daria um carro. Estudei feito um bom garoto. No dia anterior ao vestibular fui para a farra e cheguei em casa às quatro da manhã no maior porre e tinha que estar às seis em pé; re-

sultado: minha mãe me levou arrastado para o local da prova, porém para surpresa dela eu fui aprovado, ganhei meu carro, assisti uma semana de aula e nunca mais coloquei os meus pés lá. - Que loucura! - É, realmente eu sempre fui muito louco, eu sempre gostei de me sentir solto, dono da minha vida; um dos meus maiores prazeres era ficar nos bares do baixo Leblon até que todos fechassem as portas ... Morei na Califórni a, cidade muito promíscua onde as garotas e garotos de programa te abordam a cada segundo nas ruas, já fui preso junto com o Barão ... uma vez por porte de maconha. Você sabia que eu sou bissexual? Pois sou. Sempre andei a 1000 p/h. Eu tenho consciência porque peguei AIDS, essa maldita doença sem volta ... eu estou falando muito, e você? Me fale sobre você. - Eu não tenho muita coisa a falar. Eu estudo, faço seminário, gosto muito da minha profissão e quando estou de folga, o que é raro, gosto muito de um teatro ou um cinema... gosto muito de trabalhar com gente. - Dá para ver. Você sabe ouvir. São raras as pessoas que sabem ouvir, por exem-

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pIo: eu tenho um bando de amigos, mas nun· ca neriIíum deles parou para me ouvir com;.JLõCê está fâzendo agora. ~ - É verdade, eu gosto muito de ouvir. Inclusive eu tive um paciente com essa doença. - Pode falar AIDS. Que mania que as pessoas têm de ficar falando "essa doença". - Pois é, eu cuidava desse paciente com AIDS e também gostava muito de ouví-Io. - (Silêncio na sala) ... Pois é Ana, resumindo, nessa corrida toda, eu me esbarrei com a AIDS. Como te falei estou ciente de que eu vacilei, eu sou um pecador, um gran- ' de pecaâor. - Realmente você é um pecador como você próprio está dizendo, mas isso não importa. Existe uma pessoa que te ama muito. - Uma não, várias, meu pai, minha mãe, você, meus amigos ... - Não são dessas pessoas que eu estou falando! Estou falando de alguém superior a todos nós. Essa pessoa é Jesus. Ele abomina o pecado, mas ama o pecador, Ele ama as pessoas como elas são, não é necessário uma mudança primeiro; essa mudança acontece a partir do verdadeiro convívio com Ele. Je-

sus te ama muito e eu também. _ Ah! Quer dizer que você é crente ... Eu não gostava de pessoas crentes, sabe porquê? . - Não faço ldela. - Porque elas se julgam melhores que os outros. Um certo crente entrou em minha casa e disse-me que eu era um maconheiro perdido; que eu precisava mudar de vida para Deus me amar. - Agora você vem e me fala diferente desse mesmo Deus. - Parece um paradoxo, mas é verdade. Por pior que seja o pecado, Jesus ama o pecador. ~- Então é verdade, os crentes me amam mesmo! Você vai ver quando chegarmos em_ Easa, vou te mostrar um monte de fitas, dis.E,.ose Bíblias que eles me mandaram. Só . .liíblia são umas quinze. \ - Realmente eles te amam, ainda mais agora que você declarou a sua situação à imprensa, todos eles estão orando por você e eu também estou orando muito por você. - Desculpe-me, mas preciso interromper a conversa de vocês por uns minutos. - Fique à vontade. o'

- Cazuza, como a energia não chegou ainda, resolvemos marcar outro dia para dar continuidade à gravação. Só falta a sua opinião. - Por mim tudo bem. Vamos embora Ana. Depois daquele dia surgiu uma nova fase em nosso relacionamento, ele me mostrou as Bíblias que ganhara e ficou fácil estudarmos juntos. Ele mesmo separou uma Bíblia e colocou iiã cabeceira de sua cama. Eu com~ - sentir-me fortalecida a falarãCada oportunidade do amor de Cristo, principalmente pelas cartas que eu e ele recebíamos com mensagens bíblicas e dizendo que estavam orando por ele e pelo trabalho que eu estava realizando, eram cartas de todo Brasil que chegavam todos os dias e tenho certeza que foram as orações desses irmãos que me . tentaram em muItas sÜuaçQes diflcels qúé --------------'-----~:.-----' passei em companhia de Cazuza. Uma des~s situaçõ~conteceu no mês de abril, num dos plantões de Márcia. Cazuza concedeu uma entrevista a uma jornalista da revista Veja a qual falou do seu último trabalho e da

sus::-

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sua convivência com o vírus do HIV Fora uma das raras entrevistas que ele concedera nO seu período da doença, entrevista essa que gerou um grande problema. No dia 26 de abril, data em que a revista contendo a reportagem chegou nas bancas, estávamos em Petrópolis no sítio dos seuS pais, além de nós havia ainda alguns amigos íntimos dele como Bineco e o Zeca. Era uma tarde de domingo, estávamos comendo um churrasco e Cazuza estava muito bem, ria e brincava o tempo todo até que estacionou o carro do pai dele e de dentro saiu Fernanda (secretária do Cazuza) com a edição 1077 da revista Veja, na qual trazia a foto do Cazuza e o título "Cazuza - Uma vítima da AIDS agoniza em praça pública". '--:--...--------..---..,.,.-------,,....-:;Após pegar a reVIsta das mâos de Fernanda e ler o título da reportagem ~trou para o quarto e minutos após, chorava muito e ninguém entendia nada, pois Cazuza não era de :..seaerxar abat~~ por nada que a imprensa publicasse a seu respeito, mas eu já percebia que a causa era o conteúdo da reportagem que fora bastante cruel. Logo apareceu a febre que aumentava a cada minuto, então resolvi descer com ele

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para o Rio, pois a situação estava se agraaS ciladas que Satanás iria investir sobre a vando e ali no sítio não tínhamos aparelhos minha vida e não foram poucas as vezes que necessários para socorrê-Io. O colocamos ele tentou prejudicar o meu relacionamento dentro do carro e descemos a serra e cada com Cazuza a ponto de colocar desânimo "'" vez mais a situação se agravava. Em deterem m1Ill. minado momento, ele perdeu o sentido.>pa-.... -N o auge do sucesso do LP "O tempo ralisou todo o corpo. A caseira que nos acomnão pára", Cazuza completava 32 anos de lJaruíava começou a chorar. Falei com ela idade e quis dar uma festa em seu apartaque orasse a Deus" pois ele é o único que mento, na qual foi bastante gente do meio ~'pode reverter esse quadro clínicQ. Pedi a;--- artístico. À certa altura da festa, o ambiente Bineco que parasse o carro e lhe apliquei não me deixava à vontade. Deixei a sala e uma injeção. Esta injeção fez com que seus fui para o quarto onde peguei um livro e rins voltassem a funcionar e o paciente comecei a folhear. Minutos após entrou retomou suas funções. Ao chegannos na clíCazuza com um copo de whisky me pedindo nica São Vicente fomos logo para a emerum comprimido de AZT para tomar, pois sua gência e minutos após a injeção fez efeito e medicação era de seis em seis horas e já ele retomou a si já brincando. estava passando do horário. - Gente! O que aconteceu comigo deve - Não Cazuza, você não pode tomar o ter sido grave, pois olhe para o Bineco, de remédio com a bebida. preto ficou vermelho. - Eu tomo com o que eu quiser. Pega o Sorrimos todos aliviados, me afastei do AZT! quarto e~i .a Deus por mais uma vitó- Eu não vou fazer isso. Ou o remédio ria. No dia seguinte toda edição da revista ou a bebida. "i'õ'rarecolhida das bancas. - Você não manda na minha vida. Você Desde o momento que aceitara o conjá conviveu comigo o bastante para saber vite para estar acompanhando Cazuza, estaque eu odeio que me dêem ordem. va ciente que junto aceitara enfrentar todas - Eu não estou lhe dando ordens, estou

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lhe proibindo de fazer uma loucura e tem mais, pode ser o presidente da república, se estiver sob os meus cuidados vai ter que receber a minha medicação. - Se exploda com sua medicação. Virei as costas e voltei a folhear o livro. Ele ficou calado por algum tempo. Após, sentou-se e pediu que eu jogasse o copo com whisky e tudo pela janela do apartamento, pois não iria mais beber e queria tomar o remédio. - Você deve estar querendo que eu vá presa, nem o whisky eu posso jogar, mas vou abrir uma exceção para você. - Você está chateada comigo Aninha? - Só um pouco. - Este pouco não vai fazer você ir embora, ou vai? - Não meu garotinho (era assim que às vezes eu o chamava). - Ainda bem. Começamos a sorrir e o clima pesado que havia surgido logo desapareceu. No fundo, essas desavenças, quando vistas aos olhos espirituais e enfrentadas com discemimento, só serviram para aumentar nossa amizade. Muitas vezes, até fora do meu plantão, Cazuza

me

ligava para passar o fim de semana em petrópolis com ele me chamando "para pegar um frio" como costumava falar. Eu já não o via como um paciente e sim como um grande amigo e tenho certeza que era recíproco. Ele gostava muito da minha presença e isso me deixava à vontade. Certo sábado, quando estava de plantão, o Gilberto Gil ligou para convidá-Io para a festa de aniversário da Flora Gil sua esposa. Logo ele me chamou para acompanhá-Io. Como eu estava de tênis e jeans, pedi-lhe emprestado o motorista e o carro para buscar em minha casa roupas adequadas. Ele lamentou. - Puxa se o Gilberto tivesse ligado antes, nós poderíamos ter saído e eu lhe comprava algumas roupas numa dessas boutiques aí de Ipanema. Você não precisa ir para sua casa, minha mãe pode ajudá-Ia. A princípio fiquei constrangi da, mas dona Lucinha Araújo que estava presente me disse: - Isso! Vamos lhe fazer a vontade. Vamos lá no meu guarda roupa e escolha a roupa e o sapato que quiser. Não teve jeito, fui à festa com as rou-

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pas dela, assim que me viu pronta foi logo dizendo: - Ana, você está linda, parece uma rainha! A rainha do Mississipi. Em Jeremias 33:3 diz: "Clama a mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei coisas gran..... des e firmes ue não sabes". Esse foi o me~ versículo base em certo período que passei com ele, que foi quando alguns amigos o chamaram para freqüentar uma seita denominada Santo Daime. Ele concordou e sempre ía às reuniões da seita e isso me deixava triste, pois além de o estar evangelizando, ele voltava fisicamente mal, sem contar o lado espmtual que só regredia. Comecei a orar muito para que Deus não o deixasse ser enganado por Satanás. Certa noite, quando cheguei para o meu plantão, não o encontrei. Quem veio atender a porta foi a Márcia que estava bastante nervosa. - Cadê o nosso paciente? - Saiu desde cedo e não quis que eu fosse com ele, pois iria com os amigos para o tal de Santo Daime. - Novamente essa seita? - O robl m é ue uando ele vai essa seita, volta para casa péssimo, com di-

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arréia, dor de cabeça, febre, sem contar com õCfifde raiz que é só ele tomar e começar a passar mal. _ O certo seria ele parar de freqüentar essas reuniões. - Mas quem vai convencê-l o disso, ~ próprios pais dele são con~ra ele fre ,üentar essa seiill. No fun o acredito que ate ele; o ~oblema da insistência é a vontade de ser curado. Assim que terminamos o assunto ele chegou bastante mal, sudorese intensa e bastante febril. Demos-lhe um banho, administramos analgésico e logo ele adormeceu. Assim que Márcia foi para casa, li. uns tre:chos da Bíblia e pedi a Deus para que falasseão coração do Cazuza mostrando-lhe que 'à seita Santo Daime não era o caminho certo e que o fizesse desistir de freqüentá-Ia. Acabei minha oração e fiquei sentada ao lado dele. De madrugada ele acordou já disposto. - A Iracema (empregada) já está dormindo? - Claro Cazuza, já são duas e cinco da manhã. - Você sabe fazer mingau?

- Sim! - Mas, não é aquele de mamadeira não', eu quero aquele de maisena, mas bem duri~ nho com canela em pó por cima. - Eu sei sim, aguarde uns minutos que vou na cozinha fazer. - Ah! Faz dois, um para mim e outro para você. No momento em que tomávamos o mingau colocamos um filme no vídeo e enquanto assistíamos conversávamos sobre vários assuntos e aos poucos levei a conversa para a seita do Santo Daime. - Hoje você não dorme mais, quase oito horas dormindo. - Como no meu natural. - Seu natural? Não entendi! - É fácil. Conhece essa música? "Pro dia nascer feliz, pro dia nascer feliz. O mundo inteiro acordar e a gente dormir, dormir". Por isso é que eu e o Fernanda gostamos dessa música, que é a nossa cara. - Concordo contigo, mas deixe eu aferir sua temperatura pois ontem quando você chegou estava bastante mal. - É verdade? - É sim, toda vez que você volta do

Daime chega péssimo, com febre, diarréia, sudorese ... Olha, vou ser sincera contigo ... sou sua amiga e só quero o seu bem e não concordo nada com suas idas às reuniões do Daime, pois isso está prejudicando a sua saúde, pois todo o cuidado que temos com a sua saúde aqui, você perde nessas reuniões pois vem com diarréia e sudorese fortíssima e você não pode perder líquido, ao contrário você tem é que ingerir, senão daqui a pouco vamos ter que lhe internar para tomar soro. _ É, você está com a razão Ana. Se eu quero viver, eu não posso correr atrás de algo que só me prejudica. O pessoal vai ficar aborrecido comigo, mas eu vou dizerlhes que não irei mais; me faça um favor, pegue aqueles vidros cheios
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