Filosofia - 3º Teste 11º Ano
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Filosofia 11º Ano
Tópicos Abordados: - Estrutura do acto de conhecer: - O conhecimento; - Relações do conhecimento e sua complexidade;
- Análise comparativa de teorias explicativas do conhecimento: - Natureza ou essência do conhecimento: - Realismo; - Idealismo; - Origem ou fonte do conhecimento: - Empirismo; - Racionalismo (uma abordagem mais intensiva); - Apriorismo;
Estrutura do acto de conhecer Desde sempre os seres humanos querem conhecer e necessitam de conhecer; Aristóteles disse até “O homem deseja por natureza conhecer.”. E é natural que desejemos conhecer, porque sem o conhecimento não conseguiríamos fazer nada: andar, escrever, ler... Tudo isto são conhecimentos que aprendemos ao longo do tempo. O ramo da filosofia que estuda o conhecimento designa-se por epistemologia, que vem do grego e significa a “teoria do conhecimento”. Muitos de nós pensamos que conhecemos, no entanto temos apenas opiniões. Temos então que esclarecer dois conceitos muito diferentes, o de opinião e o de conhecimento. Enquanto que uma opinião é algo subjectivo, o conhecimento deve ser objectivo; mas a principal diferença é esta: não é possível conhecer falsidades, mas é possível ter opiniões falsa, ou seja, se pensamos que conhecemos algo, mas esse algo é falso, então não conhecemos, temos apenas uma opinião. E isto é muito importante, na medida em que se queremos saber todos os aspectos do conhecimento devemos começar por categorizar estes dois grupos, o das opiniões e o do conhecimento, de forma a que não nos estejamos a debruçar sobre algo que na verdade não tem o propósito que desejávamos. Mas porque é que precisamos de uma teoria do conhecimento? Como é que a vamos defender e contestar? O que há de especial nas investigações filosóficas do conhecimento? Estas são todas perguntas pertinentes, mas antes de chegarmos à sua resposta devemos primeiro analisar detalhadamente os problemas que se colocam na área do conhecimento.
Problemas: - Problema Analítico - consiste em saber o que é o conceito de “conhecimento” - ex.: “O que é o conhecimento?” - Problema da Demarcação - consiste na demarcação dos limites do conhecimento; - Problema da demarcação Interna - os limites (categorizarão) internos da esfera do conhecimento; - ex.: “Há fronteiras internas ao conhecimento?” (ex.: distinção a priori/a posteriori; ciências humanas/ciências naturais) - Problema da demarcação Externa - os limites externos da esfera do conhecimento (cognoscível/incognoscível); - ex.: “O que é que podemos conhecer?” - Problema do Método - existe apenas um método para chegar ao conhecimento;
- Perspectiva da “unidade” - “Só existe uma forma de adquirir conhecimentos?”; - Perspectiva do “desenvolvimento” - “Podemos melhorar as formas de investigação?” - Perspectiva da “razão” ou “racionalidade” - “Existe um método de investigação que seja claramente racional?” - Problema do cepticismo - “Será que é possível conhecer?” - ex.: “Se as pessoas não podem justificar as suas opiniões, então não há conhecimento.” - Problema do valor - consiste em saber o valor do conhecimento; - ex.: “Será que interessa conhecer?” Estes são vários problemas no âmbito do conhecimento, mas podemos ainda distinguir vários tipos de conhecimentos.
Tipos de conhecimento: - Aptidões (Saber-fazer) - ex.: Eu sei andar de bicicleta. - Por contacto - ex.: Eu sei que Paris é a capital de França porque fui lá no Verão; - Preposicional - ex.: Eu vi no atlas que Paris é a capital de França. O tipo de conhecimento mais relevante para análise será sem dúvida o preposicional porque é o que nós usamos a maioria das vezes (neste conhecimento temos preposições verdadeiras). Um exemplo deste tipo de conhecimento é o conhecimento matemático.
Análise comparativa de teorias explicativas do conhecimento Agora que já analisaste algumas características do conhecimento em si, vamos introduzir as teorias do conhecimento. Visto que o conhecimento é um ramo muito extenso, surgiram três categorias que tentam dar resposta aos problemas do(a): - Natureza ou essência do conhecimento; - Origem ou fonte de conhecimento; - Possibilidade, limites e valor do conhecimento. Vamos começar pela abordagem da natureza ou essência do conhecimento.
Existem duas teorias que pretendem responder a este problema: - Realismo - que diz que o sujeito (aquele que conhece) e o objecto (aquilo que pretende ser conhecido) estabelecem uma conexão directa, sendo a percepção do sujeito correspondente ao objecto em si. Existem ainda dois tipos de realismo: - Realismo ingénuo - o objecto apreendido pelo sujeito é exactamente igual ao objecto em si; - Realismo crítico - o objecto tem semelhanças, mas algumas diferenças, embora estas não sejam muito significativas. - Idealismo - que diz que o sujeito e o objecto não estabelecem uma conexão directa, sendo impossível ao sujeito conhecer o objecto em si, consegue apenas conhecer a ideia (representação turva do objecto através de uma “cortina”). Existem também dois tipos de idealismo: - Idealismo imaterialista - de Berkeley (filósofo do século XVII e XVIII) diz que uma coisa só existe se for percepcionada, logo o sujeito produz as ideias, que na verdade não correspondem a nada e não passam de ideias; - Idealismo fenomenista - de Kant, que faz a distinção entre fenómeno (o que nós conhecemos, a realidade conhecida pelo sujeito) e númeno (o objecto em si, independentemente do sujeito), dizendo que apenas conseguimos conhecer o fenómeno e nunca o númeno, devido aos filtros naturais que temos, o entendimento (razão) e sensibilidade (emoção), o que torna o númeno incognoscível. Quanto à origem ou fonte do conhecimento, existem três teorias explelicativas:
- Empirismo - que diz que inicialmente a nossa mente é uma “tábua rasa”, mas durante a nossa vida vamos “escrevendo” ideias nessa tábua, que ao fim de algum tempo deixa de ser rasa. Tudo isto ocorre através dos sentidos, da emoção;
- Racionalismo - baseia-se na razão; o seu principal defensor foi Renée Descartes; - Apriorismo - tenta conciliar as outras duas teorias de uma forma viável; Vamos analisar com mais detalhe o racionalismo.
Racionalismo O racionalismo foi muito defendido por Renée Descartes (filósofo e matemático do século XVI que revolucionou o pensamento filosófico), e por isso vamos analisar o racionalismo cartesiano.
Descartes colocou-se a si mesmo a pergunta: “Temos maneira de saber se sabemos alguma coisa?”. Os cépticos diziam que não. Este grupo defendia que não era possível conhecer, e para isso diziam que se as nossas crenças não estavam justificadas, não havia conhecimento; as nossas crenças não estão justificadas, logo não há conhecimento. Colocando na forma de um argumento: - Todas as nossas crenças são justificadas por outras crenças; - Se todas as nossas crenças são justificadas por outras crenças, há uma regressão infinita de crenças; - Se há uma regressão infinita, então as nossas crenças não estão justificadas; - Se estas não estão justificadas, então não há conhecimento, - Logo, não há conhecimento. O argumento é válido, no entanto será sólido? E cogente? Para abalarmos este argumento teremos que nos concentrarmos em verificar as premissas. A primeira parece ser a mais problemática. Então não existe nada que seja absolutamente certo? Este foi o caminho de Descartes. Propõe-se assim a Dúvida Cartesiana. Ele começa a duvidar de tudo até tentar encontrar algo que não possa duvidar. Esta dúvida diz-se metódica, porque é um método para encontrar o conhecimento; hiperbólica, porque duvida exageradamente de tudo; e sistemática, porque tanto os sentidos como a razão nos enganam. No entanto Descartes, ao invés do céptico (que duvida de tudo e fica na dúvida) tenta sair da dúvida, realizando assim o Percurso ou Itinerário Cartesiano. Faz então uma experiência mental, a experiência do Génio Maligno. Imaginemos a existência de um génio maligno que controla tudo o que fazemos, todas as nossas acções são guiadas por ele, ele que nos está sempre a enganar. Por esta razão devemos duvidar de tudo. No entanto Descartes ultrapassou a dúvida. Ele sabia que duvidava de tudo, e que por isso tinha uma certeza: que duvidava de tudo. E para duvidar necessitava de conseguir pensar, da mesma forma que para ser enganado necessitava de existir (não se pode enganar uma coisa de não existe). Formulou então o cógito, “Penso, logo existo”, que seria a primeira causa de todas, impossibilitando a regressão infinita. Mas Descartes leva mais longe o seu pensamento, tentando provar a existência de Deus. Ele diz que não era perfeito, porque duvidava e enganava-se. Ele não era perfeito, mas sabia o que era perfeição. Ora a ideia de perfeição só pode ter vindo de ele mesmo, do mundo exterior ou posta em mim. De ele não veio (ele não era perfeito; e o imperfeito não pode criar o perfeito); do mundo também não veio, porque no mundo ele é o ser mais perfeito e mesmo assim não é perfeito, logo só pode ter sido posta nele, por um ser perfeito, Deus.
Deus é um ser absolutamente perfeito, e este tem que existir, porque se não não seria totalmente perfeito. A existência é uma perfeição, logo Deus existe. Descartes dá ainda mais um salto. Se Deus existe e é perfeito, então é bom; e se é bom, não quer que estejamos enganados (porque se não não seria bom); logo tudo o que conhecemos é verdadeiro. Logo o mundo existe. Deus é o alicerce do mundo.
No entanto a teoria cartesiana recebeu algumas críticas, em especial a denominada Círculo Cartesiano. Esta crítica diz que a teoria de Descartes é uma falácia, e uma falácia circular. Se a justificação para a presença de ideias claras e distintas é Deus; e a justificação para Deus são as ideias claras e distintas que temos, então este argumento é circular e falacioso.
Ideias claras e distintas
Deus
Observa o esquema para compreenderes melhor a teoria cartesiana.
Descartes
tem que ser possível conhecer, se não nada faz sentido
O argumento céptico tem que estar errado
“Como podemos ter a certeza de algo?” propõe Descartes
Dúvida Cartesiana
Dúvida hiperbólica de modo a encontrar algo que é certo
Génio Maligno
A experiência mental do génio maligno leva a crer que, se duvida é porque pensa, logo existe.
Cógito
“Penso, logo existo.”
Deus
Se eu sei o que é perfeição, mas não o sou nem nada à minha volta é, então esta tem que ter sido imposta por Deus.
Mundo
Se Deus existe, ele não quer que estejamos enganados, logo
O que pensamos está correcto Se Deus é perfeito tem que existir. Ele é perfeito, logo tem que existir. O mundo existe.
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