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WOLTON, Dominique. Internet e depois? Uma teoria crítica das novas mídias. Trad. Isabel Crossetti. Porto Alegre: Sulina – 2ª Edição, 2007. p. 9-61. Gustavo Luiz Ferreira Santos FICHAMENTO A abordagem deste trabalho procura resumir a ideia principal da obra e fichar citações que poderão ser importantes para o desenvolvimento do projeto de pesquisa proposto ao Programa de Pós-Graduação da UFPR. Considera-se que tal formato favorecerá mais os estudos, oposto ao formato de simples resenha com citações. Em síntese, Wolton busca nesta obra defender a reflexão sobre o estatuto comunicação, ao considerá-la parte essencial da democracia. O autor aponta que tal reflexão tem sido desprezada, em favor de um determinismo tecnológico, que coloca a performance da técnica à frente, em termos de importância, do processo comunicacional. Para isso o autor elenca uma série de pontos a serem observados para tal reflexão e contextualizando a atual conjuntura. No início Wolton apresenta sua noção de comunicação e a impossível separação deste conceito à teoria social. “De uma só vez a dimensão técnica da comunicação suplantou a dimensão humana e social, a tal ponto que muitos veem na sociedade de amanhã uma "sociedade da comunicação" quando seria resolvida a maior parte dos males da humanidade.” Pg. 9 “Todo o interesse da comunicação como objeto de pesquisa teórica reside na mescla de dois pontos de vista, valores e performances técnicas, ideal e capital, ao ponto que hoje, com a mundialização e o reino da Internet, não se tem claro qual lógica a move, a dos valores ou a dos negócios, dos ideais ou do comércio.” Pg. 9 “Eu diria que em uma sociedade onde a informação e a comunicação são onipresentes, o desafio não diz respeito à aproximação dos indivíduos e das coletividades, mas, ao contrário, à administração de suas diferenças; não à celebração de suas semelhanças, mas àquela muito mais complexa, à de suas alteridades.” Pg. 11. “Analisar os fenômenos da comunicação em suas dimensões técnica, cultural e social” Pg. 11. “Pois não é possível uma teoria da comunicação sem uma representação da sociedade: toda teoria da sociedade implica um modelo de comunicação em escala individual e coletiva.” Pg. 11.
Então se apresentam as questões fundamentais para se discutir as novas tecnologias e sua relação com a sociedade e os elementos decisivos para superar o determinismo tecnológico. “O mais frequente é que a história econômica, social e cultural dê um sentido à história da técnica, não o inverso.” Pg. 12. “A revolução tecnológica acarreta uma revolução do conteúdo da informação e da comunicação na mesma ordem que, por exemplo, aquela observada na passagem dos incunábulos à imprensa? A passagem de uma lógica da oferta a uma lógica da demanda muda radicalmente o estatuto da comunicação, quer dizer, a maneira com a qual os homens se comunicam entre si, assim como os modelos culturais e sociais da comunicação? Finalmente, a Net é "superior" à televisão? Esta questão com consequências sociais, culturais e evidentemente industriais consideráveis merece um exame sério. Mas para isso é necessária uma teoria da comunicação que não a reduza à análise das performances técnicas. Não sendo assim, há muito tempo que o livro como tecnologias de comunicação teria desaparecido ou, ao menos, perdido sua importância, uma vez que outras técnicas surgiram
depois. Em outras palavras, eu tento compreender por que a ideologia tecnológica envolveu com tanta eficácia a comunicação. Por que esta ideia ingênua segundo a qual a onipresença do computador e da televisão mudaria radicalmente as relações humanas e as relações sociais se impôs com tanta força e sedução? Por que presenciamos uma tal tecnologização da comunicação e da sociedade?” Pg. 12. “Não há conhecimento sem pensamento crítico, quer dizer, distanciamento e questionamento dos discursos e das técnicas.” Pg. 14. “Compreender o lugar e o papel da comunicação na sociedade significa analisar as relações entre as três características da comunicação: o sistema técnico, o modelo cultural dominante e o projeto que sustenta a organização econômica, técnica e jurídica do conjunto dé tecnologias de comunicação.” Pg. 15. “se as técnicas são claramente o que há de mais espetacular, o essencial não está nisso, nem nas performances sempre sedutoras, mas na compreensão dos laços, em maior ou menor grau, contraditórios entre sistema técnico, modelo cultural e projeto de organização da comunicação.” Pg. 15. “A inovação das novas tecnologias está relacionada com uma mudança cultural nos modelos individuais e coletivos? Existe, por ocasião desta nova geração técnica, um outro projeto de organização da comunicação e uma outra visão 'sobre o seu papel em uma sociedade aberta? Esta é a questão que é importante e não aquela da performance técnica.” Pg. 15. “Não há teoria da comunicação sem uma teoria implícita, ou explícita, da sociedade” Pg. 17. “A questão da Internet, então, não é tanto saber se todo o mundo a utilizará, nem de se surpreender com o que permite fazer, é principalmente compreender se existe uma ligação entre este sistema técnico e uma ruptura de modelo cultural e social da comunicação. A questão atual, caso se considere a Internet como símbolo das novas tecnologias, é saber se esta inovação vai ao encontro, ou não, de uma evolução substancial nos modelos culturais da comunicação e dos projetos sociais da comunicação.” Pg. 17.
O autor então argumenta a essencial ligação entre a comunicação e a democracia, em especial das mídias generalistas, apontando possíveis razões para as dificuldades na defesa de tal importância no âmbito da sociedade. “comunicação é um conceito do mesmo nível e da mesma importância no nosso sistema de valores ocidentais que os de liberdade e igualdade." Pg. 18. A comunicação “comporta sempre três características: um sistema técnico, um modelo cultural de relações individuais e sociais e um projeto de sociedade.” Pg. 18. “o interesse das teorias da comunicação para a compreensão das sociedades contemporâneas e a necessidade de defender a diferença fundamental entre comunicação normativa e funcional” Pg. 18. “A força das mídias generalistas é justamente de apoiar-se nas duas pontas da comunicação, a escala individual e a escala coletiva, enquanto que as novas tecnologias se situam principalmente na escala individual. Pg. 19. “A ruptura mais importante a ser feita hoje é de ordem teórica: inserir finalmente' a comunicação no âmbito das grandes questões políticas, sociais e culturais.” Pg. 22. “De nada serve se comunicar de um extremo a outro do mundo se uma visão do homem e da sociedade não orienta as proezas tecnológicas.” Pg. 22.
Mais uma vez o autor volta a explicitar sua abordagem na análise da comunicação, relacionando-os à questão da maioria, ou da massa, que para Wolton, é constantemente ignorada ou evitada. “A comunicação, em compensação, se ocupa de forma conjunta das três lógicas: do emissor; da mensagem e do receptor, assim como o descompasso existente entre elas.” E da “compreensão destas relações” Pg. 23. “A maioria, as massas, o povo, continuam sendo, como a comunicação, aliás, temas de grande importância sobre os quais os trabalhos teóricos são insuficientes.” Pg. 23. “não há mais teoria 'política sem teoria da comunicação e sem integração de uma problemática da grande maioria e das massas.” Pg. 24. “Pensar as novas tecnologias hoje somente é possível se deixarmos o terreno das opiniões, para situá-las em uma teoria geral da comunicação e das mídias”. Pg. 24. “Por princípio, as mídias do século XX estão inscritas na lógica da maioria. E se há, um símbolo da sociedade de hoje, este é realmente o tripé: sociedade de consumo, democracia de massa e mídias de massa.” Pg. 31. “Qual a relação entre as necessidades de comunicação dos homens e das sociedades e esta explosão de técnicas? Até onde os homens necessitam deste grau de comunicação? Comunicar o que, a quem? Qual a relação entre comunicação técnica e comunicação humana? Qual o interesse em ter cem canais pagos ou poder consultara biblioteca de Alexandria, ou a do Congresso Americano? Quais os custos e a que preço se faz esta revolução? Quais as desigualdades e relações de força que dela resultam? Que problemas as tecnologias de comunicação resolvem e que outros são criados?” Pg. 32. “Minha hipótese é simples: toda mudança técnica, ou estruturação de um novo mercado, não é uma ruptura na economia geral da comunicação, pois uma economia da comunicação em escala individual ou social é algo bem distinto de uma tecnologia. Se uma tecnologia de comunicação desempenha um papel essencial, é porque simboliza, ou catalisa, uma ruptura radical de ordem cultural ocorrendo simultaneamente na sociedade.” Pg. 34. “Em suma, se as tecnologias são o elemento mais visível da comunicação, o essencial é com certeza o modelo cultural que elas veiculam e o projeto relativo ao papel e à organização do sistema de comunicação de uma sociedade.” Pg. 35. “Em suma, os três séculos precedentes, que viram a luta pela liberdade individual, depois pela igualdade, são indissociáveis da problemática da comunicação.” Pg. 38. “A desconfiança permanente em relação às mídias de massa é tão desproporcional quanto a confiança absoluta em relação às novas tecnologias. Ambas traduzem os problemas nunca bem resolvidos da comunicação interpessoal e da desconfiança em relação a qualquer comunicação em grande escala.” Pg. 41.
Por fim são colocados os desafios e propostas para um pensamento sobre a comunicação que se encarregue de corrigir o contexto atacado pelo autor. “A oposição não é entre a "boa" comunicação humana e a “má" comunicação técnica”, mas “o problema essencial: a articulação da comunicação, enquanto valor, com a questão da maioria nas sociedades abertas.” Pg. 42. O autor defende a “idéia de utilidade pública” da comunicação ao observar a necessidade de regulamentação para a área. “Observa-se há uns quinze anos um constrangimento em relação à idéia de regras, de valores, de cotas, assim como a idéia de que um mercado próspero se infiltrou nas mentes, menos do público do que das elites. Para muitos deles, reclamar uma
política de conjunto para o audiovisual tem incontestavelmente um perfume de arcaísmo!” Pg. 49 “A hipótese é simples: o insuficiente valor concedido há muito tempo à comunicação no nosso panteão democrático – contrariamente ao que ocorre com os outros conceitos: liberdade, igualdade e fraternidade - explica em boa parte a desconfiança que persiste desde os anos cinqüenta, em relação às mídias de massa, e simetricamente o entusiasmo, um tanto quanto excessivo no que diz respeito às novas tecnologias, depois de uns vinte anos.” Pg. 50. “É preciso parar de colocar a carroça na frente dos bois, quer dizer, se emocionar ou se inquietar com as tecnologias, quer sejam as antigas ou as novas, ao invés de refletir primeiro sobre o estatuto da comunicação.” Pg. 50. “Ontem, a identidade estava no lado da ordem e da tradição, a comunicação no lado da abertura e da emancipação. Hoje, em uma sociedade aberta, o problema da identidade se coloca com acuidade, pois quanto mais há comunicação mais é preciso reforçar a identidade individual e coletiva.” Pg. 52. “É necessário então revalorizar a problemática da identidade e relembrar incessantemente que falar em identidade individual ou coletiva é remeter sempre à idéia de uma identidade dinâmica, conceito indispensável quando se quer entender alguma coisa sobre a modernidade.” Pg. 52. “A sexta razão é a dificuldade teórica em se vincular problemáticas muito antigas relativas aos modelos psicológicos, filosóficos, literários e à comunicação humana d;íssica, e à explosão da comunicação tecnológica em que as mudanças foram prodigiosamente rápidas em meio século.” Pg. 53. “Quanto mais a comunicação tem dificuldade em se impor como desafio científico e teórico, mais a ideologia da modernidade se impõe com força.” Pg. 53. “Quais as condições necessárias para que a comunicação, e não as tecnologias, linha limítrofe da modernidade, 'mantenha-se fiel a uma certa visão do homem e de sua emancipação?” Pg. 56.
O que parece ser claro nos capítulos analisados é uma defesa da reflexão sobre a comunicação como essência da sociedade democrática, reflexão esta, no sentido de estabelecer um estatuto que prevê sua função para além das performances técnicas e econômicas. Não se pode ignorar tal proposta, uma vez que, a própria visão sobre os rumos da sociedade de massa deve ser discutida e estabelecida para que se tenha o ponto de partida esta reflexão.
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