Fichamento sobre Peter Gay - O Século de Schnitzler-A Formação Da Cultura de Classe Média 1815-1914

March 16, 2018 | Author: Pepe | Category: Bourgeoisie, Middle Class, Birth Control, Politics, Victorian Era
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Fichamento sobre Peter Gay - O Século de Schnitzler-A Formação Da Cultura de Classe Média 1815-1914...

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O século de Schnitzler: a formação da cultura de classe média 1815-1914 Peter Gay By vivifsilva | Studymode.com

Resenha: “O século de Schnitzler: a formação da cultura de classe média 1815-1914 Cap. 1: Burguesia(s) Fazendo uso do diário de Arthur Schnitzler, um judeu frequentador “da boa sociedade de classe média judia, isto é, as suas próprias”, morador de Leopoldstat, em Viena, Peter Gay busca fornecer uma panorâmica sobre o modo de vida burguês. Primeiramente, tende a mostrar as excursões – feitas por Schnitzler – entre as camadas inferiores e superiores, mostrando uma realidade social mais ampla. Para só então, afirmar que isso constitui uma característica importante da vida urbana do séc. XIX: “a numerosa, diversificada e profundamente dividida burguesia vitoriana” (termo vitoriano = civilização ocidental). Deste modo, Peter Gay nos leva a contemplar uma sociedade dividida não só em nobreza, burguesia, povo e plebe, mas também, com necessidade de subcategorias, já que os conflitos internos eram constantes. Na burguesia isso se dava de maneira mais intensa, principalmente por questões econômicas, mas também por agendas religiosas, convicções intelectuais, competição social e o devido lugar das mulheres na sociedade. (Exemplos dados pelo autor: tarifas, distribuição de favores do governo, apoio estatal a escolas, traçado de redes ferroviárias) “A profundidade de tais cismas nos leva a duvidar de que sequer fosse possível definir a burguesia como entidade.” Entretanto, como não é possível estudar caso a caso, todos os indivíduos do período, torna-se inconcebível não pensar em generalizações. Nos principais Estados europeus era possível encontrar designações para parcelas diferentes da burguesia (vide pág. 28), contudo, percebe-se uma fluidez social, principalmente no que se refere a alcançar um patamar de nobreza com a consenção de títulos. Segundo Peter Gay, “entre os profissionais liberais, burgueses talentosos – pintores, professores eminentes, naturalistas – fizeram carreira e fora das hierarquias econômicas familiares, atingindo posições de prestígio que rivalizavam com as dos ricos. Agradecida, a sociedade os cumulou de medalhas, proporcionou-lhes acesso a círculos privilegiados, convidou-os a casar-se no seio da pequena nobreza e deu-lhes sepulturas em santuários nacionais. Chegou mesmo a conferir títulos de nobreza a alguns deles.” Tal fato estende-se também para uma falange de advogados, médicos, burocratas de nível médio, banqueiros =, comerciantes e industriais. Entretanto, não é sempre que um burguês almeja chegar à nobreza. Para muitos, pertencer às classes médias era motivo de orgulho, tanto é que Alfred Krupp (fabricante de munições do Imp. Germânico) afirma que “preferia ser o primeiro entre

os industriais a ser o último entre os nobres”. Assim sendo, é preciso levar em consideração que parte da camada superior da burguesia buscava sua entrada na aristocracia, os pequeno-burgueses empobrecidos, lutavam para não serem integrados à massa plebéia, mas havia também aqueles que se contentavam e orgulhavam-se de sua condição de burguês. “Oque dificulta ainda mais qualquer tentativa de definir a burguesia do séc. XIX é o fato de que ela possuía uma história.” Esta, quase sempre, fundava-se em expectativas de riqueza, fama, prestígio e ascensão social. Não são poucos os relatos de indivíduos que, antes miseráveis, tornaram-se ricos em poucas décadas. Em relação a isto, os EUA tinham um papel crucial. Visto como uma terra de possibilidades ilimitadas, “o gigante convidativo e virtualmente lendário, (...) que suscitava sonhos de fácil sucesso e aos desesperados europeus ou aos suficientemente atrevidos para abandonar o continente.” O sucesso, porém, era incerto. Muitos foram os recém-chegados que acumularam fortuna, crescendo com a expansão a oeste e ao sul, ao mesmo tempo em que grande foi o nº de indivíduos que “permaneceram atolados no Novo Mundo”. Apesar da escada para a ascensão possuir “degraus quebrados”, a literatura deste tipo de caso de enriquecimento à curto prazo, dentre a burguesia vitoriana, alcançou grandes marcas de venda, passando a ser o principal sustento dos editores. “Uma característica que distinguia os grupos burgueses do séc. XIX entre si era a forma habitual, embora não imutável, pela qual viam as autoridades que os governavam. Obviamente, quanto menos vigiados fossem os detentores de poder, mais subservientes seriam seus súditos de classe média, menos capazes de iniciativas não apenas na política, mas nas artes, literatura ou educação.” Pensando nisso, Peter Gay dá dois exemplos de cidades, mostrando sua relação com autoridades públicas: uma de forma vigorosa, já a outra, inerte. Em Manchester, centro progressista da indústria têxtil, no qual a burguesia representava o extremo da vitalidade. A edificação – a partir de capital privado – de museus, prefeitura, bibliotecas, universidades, etc, leva esta burguesia à classificação de vigorosa. Ao contrário do que ocorre em Manchester, Munique, era considerado o caso de maior inércia, mostrando a dependência dos burgueses na era vitoriana. “Manchester e Munique do séc. XIX eram os casos extremos. A maior parte das capitais culturais da época – Viena, Paris, Londres e Berlin – a partir de 1860, eram tipos mistos de cidades, que juntavam fontes públicas e privadas, de inspiração e recursos financeiros, competindo entre si, pressões vindas de cima e que geralmente prevaleciam.” Num estudo da política do passado, a busca do poder sob regras específicas torna-se falha. Faz-se necessário, ao revelar as classes sociais em ação, uma análise das expectativas e ansiedades da época. Os mais ativos entre os burgueses vitorianos tinham de enfrentar arbitrariedades por parte da realeza, reivindicações dos aristocratas, interferência do clero e hábitos culturais sedimentados pelo tempo. Mesmo assim, a busca do poder político obcecava os ativistas de classe média em todas as sociedades ocidentais. Os burgueses obedientes e indiferentes não podiam senão sonhar com o poder, e freqüentemente nem mesmo isso,

contentando-se embatalhar pela sobrevivência e em evitar disputas com os potentados locais. Os burgueses italianos constituíam um modelo de passividade antes e após a unificação em 1870, no qual as elites que dirigiam o “país” raramente eram questionadas. Nesse sentido, as transformações ocorridas não foram implementadas por essa classe, mas foram aproveitados por ela. No caso de burguesias que tentaram ou obtiveram o controle político do Estado, a massa popular era usada como arma ou vítima para tal fim. A ampliação do direito do voto foi um .importante trunfo na busca do controle político e da paz social. Na França, por exemplo, a Revolução Francesa em 1789 concedeu o domínio do poder político e econômico à burguesia, levando à uma “era industrial e burguesa”. Tocqueville, em suas memórias, prestou relutante tributo à burguesia: “em 1830, o triunfo da classe média foi definitivo e tão completo que todo o poder político, todos os privilégios, todas as prerrogativas, o governo como um todo, se viram encerrados, pode-se dizer empilhados, nos limites estreitos dessa única classe”. A modificação drástica da mentalidade francesa foi inevitável e as características da classe média passaram a ser dominantes, segundo Tocqueville. Marx possuía a mesma visão deste e completou dizendo que Napoleão III, mesmo sendo bastante autoritário não conseguiu impedir que a burguesia controlasse o meio político. A ampliação do número de pessoas com o direito ao voto não passou então de mais uma maneira de dominação e manipulação política, numa sociedade em que as decisões importantes eram tomadas nos bastidores e o povo nem sabia do ocorrido, o voto por si só, então, representava um modo de movimentar as engrenagens do poder. Os debates políticos também contribuíam para realçar as divisões internas, visto que as divergências ideológicas geravam uma disputa entre burgueses liberais e democratas onde a extensão do direito ao voto era o principal foco de discussões. O medo de um absolutismo monárquico ou de um controle do poder por uma só pessoa fazia com que os democratas desejassem o aumento do número de eleitores, enquanto o medo desta expansão fazia com que os liberais quisessem conter o processo. Peter gay, neste momento, chama a atenção para a interpretação preconceituosa que se faz da burguesia vitoriana na política que reduz os seres humanos que compõem essa classe a simples máquinas de fazer dinheiro. Os interesses eram mais que meramente econômicos. Burgueses idealistas pretendiam abolir a escravidão, desautorizar o trabalho infantil, introduzir o divórcio e conceder direitos de cidadania a membros de minorias religiosas. A discussão política não era praticada por todos os burgueses em todos os países. Schnitzler e seus amigos achavam que não era preciso dar muita atenção à política e só passaram a fazê-lo quando a perseguição a grupos étnicos passou a ocorrer na Áustria – diante do fato de muitos serem judeus. Nesse sentido, na França, os interesses da burguesia tornaram-se secundários com a instalação do voto censitário; a Grã-Bretanha não estava nas mãos dos burgueses, mas nas da aristocracia proprietária de terras; no Império Austro-Húngaro a burguesia liberal não se mostrava interessada no controle político. As esperanças de obter um

lugar ao sol junto aos fazedores de políticos estavam firmemente presentes nas mentes dos burgueses politicamente apaixonados. A partir do início do século XIX, o mapa político dos países ocidentais era como um tabuleiro de xadrez, que continha desde monarcas governando sem constituição até reis que negociavam com seus parlamentos; desde repúblicas com sistema presidencial à repúblicas em que os parlamentos preponderavam. O modelo piramidal difundido no sistema educacional é prático, desde que este seja concebido de maneira elástica. Com o passar das décadas, os segmentos medianos e superiores da burguesia aumentaram em número, riqueza e significação política, enquanto os inferiores cresceram somente em número. A pequena burguesia não estava entre aqueles que obtiveram benefícios com as mudanças no Estado, contudo seus integrantes lutavam bravamente para que lhes sobrasse algo depois de comprar a comida e pagar o aluguel. Numa situação em que seus filhos tinham que trabalhar para aumentar a renda familiar, o medo de serem classificados como plebeus fazia com que a preocupação em manter “modos burgueses formais”, incutindo-lhes padrões éticos da burguesia, aumentasse cada vez mais. A necessidade de negar que fazia parte do proletariado fornecia uma identidade a essa classe, mesmo que esta repousasse, em grande parte, em negativos. A busca pela manutenção de certas condutas fez com que os burgueses vivessem numa vida regida por regras. O fato de controlarem “seus instintos e suas paixões débeis” fazia com que se diferenciassem dos rudes camponeses ou operários, bem como dos auto-permissivos aristocratas, mesmo que lamente ter tal postura no século XIX. As maneiras que os burgueses encontraram para se segregar da massa proletária eram muitas, tais como: o voto, moradia em bairros privilegiados, escolas separadas, roupas, comida, sotaque, gastos, etc. O medo de uma sublevação popular levava-os a fazer algumas alianças com a aristocracia, mesmo que esta possuísse ideais e objetivos diversos. O medo que se instaurou na Revolução Francesa ainda era muito presente. A burguesia atraía muitos críticos, pintores e romancistas, dramaturgos e críticos literários, políticos radicais, jornalistas de opiniões avançadas, sendo os aristocratas irritados com as insurgências da classe média os seus principais críticos, ao mostrar ao mundo que a burguesia do século XIX era hipócrita, materialista, vulgar e incapaz de generosidade e amor. Os defensores da burguesia ficam atrás. Se Marx e Engels foram capazes de elogiar tal classe por suas ações de urbanização e mudanças da mentalidade do campo para urbana, seria fácil haver esperanças para sua reputação. Portanto, burguesia ou burguesias? A espantosa diversidade das aspirações políticas da classe média do século XIX, suas atitudes diante da autoridade, para não falar das diferenças no desenvolvimento das ordens medianas em muitos países, justificam o uso do plural. Ao mesmo tempo, entretanto, em sua evolução ao longo das décadas, essa tapeçaria histórica revela certos padrões, um conjunto de opiniões e atitudes que cruzou fronteiras nacionais e uniu classes sociais. Esses padrões permitiram que os burgueses se reconhecessem uns aos outros mediante certos sinais inconfundíveis. Sem dúvida, Tocqueville e Marx, além de outros estudiosos contemporâneos das

sociedades, deram pouca importância às distinções entre burgueses. Porém, mesmo reconhecendo, e até admirando, as coloridas e mutáveis cenas da vida da classe média. A autonomia individual era a característica principal da ideologia burguesa. A aristocracia era mal vista pela burguesia, pois os seus integrantes eram vistos como pessoas que não mereciam seus privilégios, pois não haviam feito nenhum esforço para isso. O simples ato de nascer era suficiente para obter status, visto que os privilégios eram hereditários, sendo fonte de crítica burguesa. O burguês era o novo herói: pacífico, tolerante e secular, prefere a prudência e os lucros à glória e desdenha dos aristocratas por transformarem “em fetiche o assassinato organizado a que chamavam de guerra”. O novo herói era simples, pensava em negócios e em sua família. Dizia-se pai/marido devotado, sócio honesto, moderado em política e no consumo de vinho, bem como amigo dos prazeres pouco dispendiosos. É deste modo – apesar de todas as imperfeições – que a família se torna o ícone adorado pelas classes médias. A felicidade doméstica era o lema que perdurava no leito conjugal. Cap. 2: Lar, agridoce lar Uma família feliz composta por pais e filhos se tronou um marco, mais do que isso, uma ideologia burguesa. Certas catástrofes internas do clã que acrescentassem uma avó viúva ou um primo órfão eram aceitas. A autoridade paterna era muito forte, por exemplo, o pai de Schnitzler queria que ele fosse médico e assim ele o foi, mesmo que a arte lhe chamasse muita atenção chegando a escrever inúmeras peças. Uma diferença entre o burguês do século XIX e dos séculos anteriores era que os do século XIX, devido à sua boa condição financeira, possuíam mais tempo para poder dedicar maior atenção aos filhos. Os suficientemente ricos possuíam babás e, posteriormente, governantas para ajudar na educação familiar. Segundo a cultura burguesa, a família devia ser considerada o motivo principal da busca do sucesso material. Portanto, os burgueses convenciam-se de que ganhar dinheiro, fazer discursos, escrever artigos, disputar eleições ou apresentar-se em concertos eram atividades a que se entregavam a fim de ganhar o pão de cada dia, devido à responsabilidade de proporcionar à esposa e filhos uma vida tão tranqüila e próspera quanto possível. O papel feminino nesta sociedade gerava discussões. Equiparadas a menores, criminosos e idiotas e onde a legislação era quase que totalmente voltada para os homens, as questões femininas e o movimento feminista crescia gradativamente levando a debates políticos sobre o assunto. Somente os pobres iam para os hospitais, que eram sinônimos de morte nessa época. Os partos e todas as doenças eram feitos e tratados em casa, nesse sentido, a morte das mães era muito comum durante o parto. A vida sexual deveria ser feliz e satisfatória, mas esta poderia implicar num grande número de filhos. A teoria de Malthus só veio a acrescentar num debate que gerava muitos conflitos com a Igreja: o controle de natalidade. De acordo com os clérigos, era uma interferência na natureza, sendo algo ruim, mas este argumento não

era levado adiante quando se mostrava que o cultivo e as indústrias também interferiam na natureza, no processo natural. A depressão econômica que assolou a maior parte da Europa, entre meados da década de 1870 e o início de 1890, fez com que a economia transformasse a agenda doméstica, inclusive quanto ao número de filhos. Esse controle de natalidade não era uma invenção recente, mas foi nesse século que produziu consequências a longo prazo para a família de classe média. A busca por métodos contraceptivos era muito grande, gerando discussões entre as pessoas de camadas sociais mais altas. As ligas de defesa da decência surgidas em todos os países industrializados na segunda metade do século constituíram forte elemento contrário. Fundadas devido a uma reação de pânico à maior liberalidade no debate travado entre as pessoas respeitáveis em torno das maneiras de prevenir a gravidez, essas ligas confiscaram literalmente toneladas de publicações sobre o controle de natalidade e abriram processos judiciais que resultavam em sua eliminação. Alguns desses métodos eram: a utilização de “cundums”, do coitus interruptus, abstinência e calendário. Depois foram surgindo geléias vaginais, duchas ou pessários, mas com o desenvolvimento da indústria se tornou possível a fabricação em massa de preservativos de borracha. Outra mudança da perspectiva familiar foi em relação aos casamentos, que antes eram tratados como transações comerciais e depois o amor romântico passou a ser importante na escolha do parceiro. Na Inglaterra havia uma devoção geral à vida doméstica; já na França, o casamento costumava ser um ponto final, um último recurso. Os EUA e a Inglaterra foram os primeiros a aceitar essa mudança, enquanto a França continuou no ramo das negociações embora existissem viajantes franceses que admirassem a liberdade de outros países. A medida que a mulher ia ganhando espaço no meio de trabalho, na universidade e melhorando o seu status jurídico, o casamento por amor ia se tornando regra. Para essas famílias, o agridoce lar tinha mais doçura do que amargor. É claro que nem todas as famílias vitorianas de classe média eram bem sucedidas, mas o sucesso que obtinham constitui merecido reparo às gerações seguintes, inclusive a nossa. Envio para o Scribd.

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