FICHAMENTO Introdução à teoria do currículo - Tomaz Tadeu da Silva

August 29, 2018 | Author: Caio Antônio | Category: Sociology, Learning, Knowledge, Economics, State (Polity)
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FICHAMENTO: SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

CAP. 1 - INTRODUÇÃO I. 1. Teorias do currículo: o que é isto? P. 11: Antes de mais nada, o que é teoria? Teoria "descobre" o real. "Teoria é uma representação, uma imagem, um reflexo, um signo de uma realidade que - cronologicamente, entologicamente a procede. Dessa forma, "[...] uma teoria do currículo começaria por supor que existe 'lá fora', esperando para ser descoberta, descrita e explicada, uma coisa chamada 'currículo'. O currículo seria um objeto que precederia a teoria, a qual só entraria em cena para descobri-lo, descrevê-lo, explicá-lo". P. 11/12: Críticas a essa noção de "teoria" -> Ao teorizar sobre algo (mesmo que sendo algo anterior, já antes debatido), não estaríamos também criando esse algo? P. 12: teoria x discurso "Uma teoria supostamente descobre e descreve um objeto que tem uma existência independente relativamente à teoria. Um discurso, em troca, produz seu próprio objeto: a existência do objeto é inseparável da trama linguística que supostamente o descreve". "Um discurso sobre o currículo, mesmo que pretenda apenas descrevê-lo 'tal como ele realmente é', o que efetivamente faz é produzir uma noção particular do currículo". -> Primeira aparição do currículo como um objeto de estudo e pesquisa: Estados Unidos, década de 1920

Bobbit (1918, The curriculum): "o currículo é visto como um processo de racionalização de resultados educacionais, cuidadosa e rigorosamente especificados e medidos" [...] "os estudantes devem ser processados como um produto fabril". Currículo, pois, seria "a especificação precisa de objetivos, procedimentos e métodos para a obtenção de resultados que possam ser precisamente mensurados". P. 13: "Apesar dessas advertências, a utilização da palavra 'teoria' está muito amplamente difundida para poder ser simplesmente abandonada. Em vez de simplesmente abandoná-la, parece suficiente adotar uma compreensão da noção de 'teoria' que nos mantenha atentos ao seu papel ativo [não como teoria que somente descobre, descreve algo exterior] na constituição daquilo que ela supostamente descreve" P. 14: DEFINIÇÃO DE CURRÍCULO? Como estamos trabalhando 'teoria' atrelada a seus efeitos discursivos, não há como se buscar uma definição última de currículo. "Uma definição que não nos revela o que é, essencialmente, o currículo: uma definição nos revela o que uma determinada teoria pensa o que o currículo é".

As teorias do currículo vão tentar descrever o que é currículo PARA ELAS. Elas não vão necessariamente questionar a construção do currículo, porque algumas delas inclusive tomam o currículo como algo natural. Talvez você esteja pensando nas teorias pós-críticas/críticas que criticavam a forma das tradicionais. Mas a gente nao pode afirmar que as teorias questionam. O que elas fazem é descrever o que é o currículo. Cada teoria descreve o currículo como sendo o que ela busca, o que ela considera relevante.

-> Quais questões a teoria do currículo busca responder?

* Qual conhecimento deve ser ensinado? "De forma mais sintética, a questão central é: o quê?" Para responder, as diversas teorias podem se valer de discussões sobre a natureza humana, sobre a natureza da aprendizagem ou sobre a natureza do conhecimento, da cultura e da sociedade. P. 14/15: Ao final, devem se voltar "à uma questão básica: o que eles devem saber? Qual conhecimento ou saber é considerado importante ou válido ou essencial para merecer ser considerado parte do currículo?" P. 15: Essa pergunta nos faz pensar que as teorias do currículo estão engajadas no desenvolvimento de critérios de seleção que justifiquem a presença de determinado conhecimento como parte do currículo. CURRÍCULO SEMPRE COMO RESULTADO DE UMA SELEÇÃO (após essa seleção, as teorias do currículo "buscam justificar que 'esses conhecimentos' e não 'aqueles' devem ser selecionados". * Essa pergunta "o quê?" nunca está separada de outra, que é "o que eles ou elas devem ser?" (essa segunda pergunta talvez seja até anterior à primeira, já que pode direcionar o "o quê"). INDIVÍDUOS -> "um currículo busca precisamente modificar as pessoas que vão 'seguir' aquele currículo. "as teorias do currículo deduzem o tipo de conhecimento considerado importante justamente a partir de descrições sobre o tipo de pessoas que elas consideram ideal". * IDENTIDADE - SUBJETIVIDADE "o

conhecimento

que

constitui

o

currículo

está

inextrincavelmente,

centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: na nossa identidade, na nossa subjetividade". (perspectiva pós-estruturalistas) P. 16: PODER

-> "Selecionar é uma operação de poder. Privilegias um tipo de conhecimento é uma operação de poder. Deslocar, entre as múltiplas possibilidades, uma identidade ou uma subjetividade como sendo a ideal é uma operação de poder". "As teorias do currículo estão ativamente envolvidas na atividade de garantir o consenso, de obter hegemonia".

TEORIAS TRADICIONAIS  "pretendem ser teorias neutras, científicas, desinteressadas". Tomam "o quê?", como óbvio (inquestionável), preocupando-se em responder outra questão: "como?". como -> questões técnicas.

TEORIAS CRÍTICAS/PÓS CRÍTICAS nenhuma teoria pode ser neutra, científica ou desinteressada; está, por outro lado, implicada em relações de poder. Questionam o "o quê?", o "por quê?" Por que esse conhecimento e não outro? Por que privilegiar um determinado tipo de identidade e subjetividade e não outro?

TEORIAS

TEORIAS CRÍTICAS

TRADICIONAIS

PÓS-

CRÍTICAS

Conceitos pedagógicos

TEORIAS

Conceitos de ideologia Conceito de discurso de e poder

ensino e aprendizagem Ensino

Ideologia

Identidade,

alteridade,

diferença  Aprendizagem

Reprodução cultural e Subjetividade social

 Avaliação

Poder

Significação e discurso

Metodologia

Classe social

Saber-poder

Didática

Capitalismo

Organização

Relações

Representação sociais

de Cultura

produção Planejamento

Conscientização

Gênero,

raça,

etnia,

sexualidade Eficiência

Emancipação

e Multiculturalismo

libertação Objetivos

Currículo oculto Resistência

CAP. 2 - DAS TEORIAS TRADICIONAIS ÀS TEORIAS CRÍTICAS II. 1. Nascem os "estudos sobre currículo": as teorias tradicionais P. 22: "Foram talvez as condições associadas com a institucionalização da educação de massas que permitiram que o campo de estudo do currículo surgisse, nos Estados Unidos, como um campo profissional especializado. Estão entre essas condições: a formação de uma burocracia estatal encarregada dos negócios ligados à educação; o estabelecimento da educação como um objeto próprio de estudo científico; a extensão

da educação

escolarizada em níveis cada vez mais altos a segmentos cada vez mais maiores da população; as preocupações com a manutenção de uma identid ade nacional, como resultado das sucessivas ondas de imigração, o processo de crescente industrialização e urbanização". * BOBBIT: 1918: "The Curriculum" ("marco no estabelecimento do currículo como um campo especializado de estudo"). -> momento crucal na educação dos EUA; -> "diferentes forças econômicas, políticas e sociais procuravam moldar os objetivos e a forma da educação de massas de acordo com suas diferentes e particulares visões".

-> QUESTÕES RELEVANTES NESSE PERÍODO: * formar o trabalhador ou proporcionar uma formação acadêmica? * habilidades básicas de ler, escrever x disciplinas humanísticas x disciplinas científicas x habilidades práticas para o campo profissional? * ajustas os jovens à sociedade existente ou prepará-los para transformá-la? P. 23: BOBBIT -> escola como um empresa comercial ou industrial *Preocupação com a economia: palavra-chave: EFICÁCIA *Assim como uma empresa, "Bobbit queria que o sistema educacional fosse capaz de especificar precisamente que resultados pretendia obter, que pudesse estabelecer métodos para obtê-los de forma precisa e formas de mensuração que permitissem saber com que precisão se eles foram realmente alcançados". * Os objetivos do sistema educacional deveriam estar voltados para uma análise das "habilidade necessárias para exercer com eficiência as ocupações profissionais da vida adulta". DEWEY -> Ao contrário de Bobbit, estava mais interessado na democracia, em detrimento da economia. -> Levava em consideração, no planejamento curricular, os interesses e as experiências das crianças e jovens. -> Bobbit foi muito mais influente que Dewey. P. 23/24: BOBBIT -> não há necessidade de se perguntar o porquê da

educação, já está claro (Vida profissional adulta) P. 24: "Numa perspectiva que considera as finalidades da educação estão dadas pelas exigências profissionais da vida adulta, o currículo se resume a uma questão de desenvolvimento, a uma questão técnica. DESENVOLVIMENTO CURRICULAR -> a partir do trabalho burocrático de seleção das habilidades mais relevantes. "[...] de acordo com Bobbitt: 'a educação, tal como a usina de fabricação de aço, é um processo de moldagem'."

P. 24/25: -> RALPH TYLER (1949) consolida o modelo de currículo proposto por Bobbitt, currículo esse estabelecido em torno da ideia de organização e desenvolvimento. (ler 25 para mais informações) P. 25: Que objetivos educacionais a escola deve procurar atingir? -> Tyler indica três fontes para se buscar os objetivos da educação: I. sobre os próprios aprendizes II. estudos sobre a vida contemporânea fora da educação III. sugestões dos especialistas das diferentes disciplinas. Esses três gerariam muitíssimos objetivos, talvez até contraditórios. Por isso, propõe passar os objetivos por 2 filtros: 1. Filosofia social e educacional com a qual a escola está comprometida. 2. Psicologia da Aprendizagem. P. 27: "Os modelos mais tradicionais de currículo, tanto os técnicos quanto os progressistas de base psicológica só iriam ser definitivamente contestados, nos Estados Unidos, a partir dos anos 70, com o chamado movimento de 'reconceptualização do currículo' ".

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