Fichamento GONZALES, Lelia. RACISMO E SEXISSMO NA CULTURA BRASILEIRA

December 3, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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FICHAMENTO

TEXTO (1)GONZALEZ,

Lé Lélia lia.. Rac Racism ismoo e sex sexism ismoo na cultur culturaa brasil brasileir eiraa.  In: Revista Ciência Ciênciass Sociais hoje. ANPOCS, 1984, (p. 223-244). TESE CENTRAL

A busca de respostas para explicar a identificação do dominado com o denominador  problemática já analisada por Franz Fanon, porém a autora se debruça sobre o caso  brasileiro.

 A AUTORA

Lélia Gonzalez nasceu em 1º de fevereiro de 1935, em Minas Gerais, filha do negro ferroviário Accacio Serafim d’ Almeida e de Orcinda Serafim d’ Almeida Lélia de Almeida González. Era a penúltima de 18 irmãos. Com a mãe indígena, que era doméstica, recebeu as  primeiras lições de independência. Mudou-se com a família em 1942 para o Rio de Janeiro, acompanhando o irmão Jaime, jogador de futebol do Flamengo. No Rio de Janeiro, cidade que amava, seu primeiro emprego foi de babá .Não raro se identificava como carioca, foi torcedora incondicional do Flamengo. Graduou-se em história e filosofia, exercendo a função de professora da rede pública. Posteriormente, concluiu o mestrado em comunicação social. Doutorou-se em antropologia  política /social, em São Paulo (SP), e dedicou-se às pesquisas sobre a temática de gênero e etnia. etn ia. Pro Profes fessor soraa uni unive versi rsitár tária, ia, lecion lecionava ava Cultur Culturaa Brasil Brasileir eiraa na Pontif Pontifíci íciaa Univer Universid sidade ade Católica do Rio de Janeiro (PUC – Rio). Seu último cargo na instituição foi de chefe do departamento de Sociologia e Política. Viúva de Luiz Carlos González, enfrentou o preconceito por parte da família branca do marido mar ido.. Atr Atravé avéss do ca cando ndombl mblé, é, da psi psica canál nálise ise e da cultur culturaa afro-b afro-bras rasile ileira ira assumi assumiuu sua condição de mulher e negra. Lélia se destacou pela importante participação que teve no Movimento Negro Unificado (MNU), do qual foi uma das fundadoras. Em 07 de julho de 1978 em ato público oficializou a entidade em nível nacional. Para ela,o advento do MNU “consistiu no mais importante salto qualitativo nas lutas da comunidade brasileira na década de 70.” Ativista incansável, militou também em diversas organizações, com o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga, do qual foi uma das fundadoras. Em Salvador fez-se presente na fundação do Olodum. Sua importante atuação em

 

defesa da mulher negra rendeu a Lélia à indicação para membro do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). Atuou no órgão de 1985 a 1989. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT) e disputou vaga na Câmara Federal,em 1982, alcançando a primeira supl suplên ênci cia. a. Fo Foii cand candid idat ataa à de depu puta tada da fede federa rall em 19 1982 82.. Em 19 1986 86,, es esta tava va no Pa Part rtid idoo Democrático Trabalhista (PDT), por onde se candidatou como deputada estadual, também conquistando a suplência.  Nos últimos anos, estudava o que ela chamava “negros da diáspora”, dando origem ao conc concei eito to de amefricanidade  Escreveu Festas populares no Brasil, premiado na Feira de  Frankfurt , Lugar de negro, em coautoria com Carlos Hasenbalg, duas teses de pós-graduação, pós-graduação, além alé m de divers diversos os art artigo igoss para para rev revist istas as cientí científic ficas as e obr obras as coleti coletivas vas.. Fal Falec eceu eu vítima vítima de  problemas cardíacos cardíacos no Rio de Janeiro no dia 1100 julho de 1994 1994..

“(...)o que se dominador”.(p.224)

percebe

é

a

identificação

do

dominado

com

o

Esta questão principal leva a outras, como: …o porquê dessa identificação. Ou seja, que foi que ocorreu, para que o mito da democracia racial rac ial ten tenha ha tid tidoo tan tanta ta ace aceita itação ção e div divulg ulgaç ação? ão? Quais Quais foram foram os proce processo ssoss que teriam teriam determinado sua construção? Que é que ele oculta, para além do que mostra? Como a mulher  negra é situada no seu discurso? (p. 224) “Trata-se das noções de mulata, doméstica e mãe preta”.(p.224) “o fato é que, enquanto mulher negra, sentimos a necessidade de aprofundar nessa reflexão, ao invés de continuarmos na reprodução e repetição de modelos que nos eram oferecidos pelo esforço de investigação das ciências sociais.”(p.225) O texto fascina pela lucidez e a contundência com que Lélia Gonzalez lança-se sobre essas análises, as questões que levanta, as ocultações que denuncia. Também, a apresentação de elementos da africanidade na cultura brasileira são pontos fortes do texto. Apreende-se nele seu ativismo negro, coerente e comprometido com a busca das raízes da perpetuação do racismo e da violência racista; sua trajetória de descoberta de si e dos incômodos que atingem às mulheres negras, em muito larga medida. Sua própria proposição interpretativa -“O lugar  em que nos situamos determinará nossa interpretação sobre o duplo fenômeno do racismo e do sexismo.” (224)- é uma demarcação de seu devir. “ Na medida em que nós negros estamos na lata de lixo da sociedade brasileira, pois assim determina a lógica da dominação, caberia indagar via psicanálise”.(p.225) psicanálise”.(p.225)

 

Este e um texto que, apesar de ser apresentado no meio acadêmico e de desenvolver desenvolver uma linha de raciocínio lógico, é escrito de forma fluida e com uma linguagem que subverte os cânones  para esse universo universo formal. “Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (infans, é aquele que não tem fala  própria, é a criança que se fala na terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos nossa própria fala”(p.225). “ A primeira coisa que a gente percebe, nesse papo de racismo é que todo mundo acha que é natural. Que negro tem mais é que viver na miséria. Por que? Ora, porque ele tem uma qualidade que não estão com nada: irresponsabilidade, incapacida incapacidade de intelectual, criancice, etc e tal.”(p.225) Seu suporte epistemológico, ou seja, os referenciais r eferenciais teóricos que utiliza, são da psicanálise de Fr Freu eudd e La Laca can. n. Ao mesm mesmoo temp tempoo qu quee ap apre rese sent ntaa el elem emen ento toss da cu cult ltur uraa br bras asil ilei eira ra,, especificamente ligados à africanidade e à vida da mulher negra, procede a análises desses elemen ele mentos tos tanto tanto por mei meioo de um umaa lóg lógica ica arg argume umenta ntativ tiva, a, co como mo de moment momentos os de livre livre associação, ao modo “Por isso a gente vai trabalhar com duas noções que ajudarão a sacar o que a gente pretende caracterizar. A gente tá falando de consciência e memória”.(p.226) Para Gonzalez, o mito da democracia racial seria uma estratégia  pari passu como a ideologia do bra branqu nquea eamen mento to e ter teria ia seu sen sentid tidoo no que denomi denomina na “sinto “sintomá mátic ticaa ne neuro urose se cultur cultural al  brasileira”, que nega o racismo e busca ocultá-lo. Desse recalque transbordam manifestações daquilo que não pode ser ocultado: a africanidade presente nas exaltações de simbolismos do Brasil, assim como na violência cotidiana contra todos e todas não brancos. “E logo pinta a pergunta. Como pode? Que inversão é essa? Que subversão é essa? A dialética do senhor e do escravo dá pra explicar o barato”.(p.239) “(...) De repente, a gente deixa de ser marginal pra se transformar no símbolo da alegria, da descontração, descontraçã o, do encanto especial do povo dessa terra chamada Brasil.”(p.239) “Na verdade, para além de outras razões, reagem dessa forma justamente porque a gente pôs o dedo na ferida deles, a gente diz que o rei tá pelado. E o corpo do rei é preto e o rei é Escravo.”(p.239) “ Quando se diz que o português inventou a mulata, isso nos remete exatamente ao fato de ele ter instituído a raça negra como como objeto a; e mulata é crioula, ou se seja, ja, negra nascida no Brasil, Brasil, não importando as construções baseadas nos diferentes tons de pele. Isso aí te mais a ver com as explicações do saber constituído do que com o conhecimento”.(p.2 conhecimento”.(p.240) 40) “É também no carnaval que se tem a exaltação do mito da democracia racial, exatamente  porque nesse curto período de manifestaçã manifestaçãoo do seu reinado o Senhor-Escravo Senhor-Escravo mostra que ele sim sim, , tra transa nsa cria e con conhec hece a de democ mocrac racia ia0) rac racial ial.(. .(...) ..) fican ficando do em seu lugar as ilusõe ilusõess que a consciência para sie mesma.”(p.24 mesma.”(p.240)

 

“Ao ca carac racter teriza izarr da fun função ção da esc escrav ravaa no sis sistem temaa produt produtivo ivo (prest (prestaç ação ão e serviç serviços) os) da sociedade escravocrata, Heleieth Saffioti mostra sua articulação com prestação de serviços sexuais”.(p.230) “Não adia adianta nta serem ‘educadas’ ‘educadas’ ou estarem ‘bem vestid vestidas’ as’ (afinal, ‘boa aparência aparência’, ’, como vemos o anúncios de emprego é uma categoria ‘branca’, unicamente atribuível a ‘brancas’ ou ‘clarinhas’).(p.230) “ Mas é justamente aquela negra anônima, habitante da periferia, nas baixadas da vida, quem sofre mais tragicamente os efeitos da terrível culpabilidade branca. Exatamente porque é ela que sobrevive na base da prestação de serviços, segurando a barra familiar praticamente sozinha. Isto porque seu homem, seus irmãos e seus filhos são objeto de perseguição policial sistemática(esquadrões da morte, ‘mãos brancas estão aí matando negros à vontade; observese que são os negros jovens, com menos de trinta anos.”(p.231) “(...) Quem responde pra gente é um banco muito importante (pois é cientista social, uai) chamado Caio Prado Júnior. Num livro chamado Formação do Brasil Contemporâneo(1976), ele diz uma porção de coisa interessantes sobre a escravidão: Realmente a escravidão, nas duas funções que exercerá na sociedade colonial, fator trabalho e fator sexual, não determinará senão relações elementares a muito simples(...) A outra função do escravo, oueantes da mulhernão escrava, instrumento de satisfação das necessidades necessida des sexuais de seus senhores dominadores, tem um efeito menos elementar.”(p.231 elementar.”(p.231) ) (...) mas que se atente para os hospícios, as prisões, e as favelas, como lugares privilegiados da culpabilidade enquanto dominação e repressão.”(p.2 repressão.”(p.240) 40) “Nome do Pai? “Se a batalha discursiva em termos de cultura brasileira, foi ganha pelo negro, que terá ocorrido com aquele que segundo os cálculos deles, ocuparias o lugar do senhor?” (p.241)

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