Ficha de Leitura Antropologia - Stoler
October 5, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Race and the Education of Desire: Foucault’s “History of Sexuality” and the Colonial Order of Things by Ann Laura Stoler, Durham: Duke University Press, 1995.
Ficha de Leitura/ ANP 41 Isadora Diehl, José Pérez, Mayane Bueno, Willian Guimarães Autora: Ann Laura Stoler é professora de antropologia e história na “The New School Scho ol for Social Research” em Nova York, ela é especialista em estudos pós-coloniais e as obras do Michel
Foucault.
Chapter 1: Colonial Studies and the History of Sexuality Segundo Stoler, as teorizações de Michel Foucault vêm sendo amplamente exploradas nos diferentes estudos coloniais, em especial a partir das teorizações propostas por Edward Said. Indo para além da ênfase discursiva foucaultiana, esses estudiosos buscaram compreender as práticas concretas, como as vulnerabilidades inerentes, dos sujeitos que resistiram a autoridade europeia. Os princípios foucaultiano foram utilizados em diferentes estudos etnográficos engajados mais na produção de um desenho do aparato conceitual dessas realidades, do que na análise histórica ao modelo do que Foucault propôs (STOLER, 1995, p. 1-2). Essa espécie de paixão pelas estratégias gerais Foucaultianas aparece em muitos dos trabalhos do autor como a História da Sexualidade. Nessa obra, Foucault desvela a tese de que se a sexualidade era reprimida, porque existia uma certa explosão discursiva sobre ela? Na leitura de Stoller, a sexualidade é um resultado de um instrumento do desenho do poder para Foucault. O autor problematiza a incessante busca pela verdade do sexo, como também os efeitos que isso produz. Configura-se um continuum discursivo voltado a autodisciplina dos sujeitos, como forma de estabelecer uma identidade burguesa enraizada na política sexual do lar. No centro dessa questão, emerge o biopoder, uma tecnologia política que tornou a vida um instrumento calculável e fez do conhecimento um agente de transformação da vida (STOLER, 1995, p. 2-3). Apesar da relação entre sexo e poder ser bem compreendida nos estudos coloniais, Stoller ressalta que ainda há questões a serem exploradas. Há o que autora identifica como outro "projeto vitoriano" que envolve o controle discursivo das práticas sexuais do colonizadores e colonizados sob a lógica da governança imperial. Logo, a obra de Stoller busca analisar as problematizações de d e Foucault numa configuração conf iguração colonial, evidenciando um campo imperialista no qual a sexualidade burguesa do século XIX se assenta numa linguagem política e racial específica. Para a autora, as diferentes pesquisas coloniais não se propuseram a desafiar a cronologia proposta por Foucault, nem “os mapas genealógicos” propostos por ele (STOLER,
1995,
p. 3-4). Na escrita desta obra, Stoller busca evidenciar o contexto de produção da teorização de Foucault na História da Sexualidade vol. 1, apontando como pensamento racial operou a produção da identidade burguesa num ambiente colonial. Para Stoller, os estudos coloniais vêm contribuindo para o rompimento da visão de uma história europeia unívoca e apartada do
“outro”. Stoller propõe reconfigurar o campo proposto por Foucault, questionando se a “verdade” do sexo, vem, de fato pelos modelos confessionais propostos pelo autor, ou se esta foi
reformulada
a partir das verdades sobre a raça (STOLER, 1995, p. 5-6). Além dos quatro objetos de conhecimento elencados por Foucault (a criança masturbadora, a mulher histérica, o casal malthusiano e o adulto perverso), Stoler problematiza a ausência de uma quinta: o selvagem, o primitivo, o colonizado, em seu contraponto racialmente erótico. Este operava como contraponto para sociedade burguesa, mostrando o que poderia ocorrer caso declinassem moralmente. (STOLER, 1995, p. 6). A releitura de Stoller sobre a História da Sexualidade repousa em dois pontos centrais: 1) uma aproximação da obra por diferentes locais que vislumbrem as diferentes rupturas estratégicas nos sujeitos colonizados num terreno racializado determinado, o qual conecta a tecnologia do sexo na colônia e na metrópole; 2) a emergência das identidades burguesas e coloniais e de como os discursos sexuais serviram para delimitar as fronteiras interiores das comunidades nacionais. Stoler propõe que as configurações raciais não eram periféricas à constituição do “eu” no século XIX , e por isso contesta a perspectiva de Fou cault de que o racismo estaria ancorado nas tecnologias europeias do sexo. A autora propõe, pelo contrário, que o racismo é um dos aspectos formativos da modernidade e está profundamente enraizado no liberalismo burguês Stoller identifica esses discursos de subjetivação como marcadores raciais de branquitude e daquilo que se entendia como significa ser um Europeu verdadeiro. Raça e sexualidade compartilharam um certo campo de emergência da ordem burguesa no século XIX, no qual o pensamento racial produz uma certa taxonomia de exclusão. (STOLER, 1995, p. 7-9) O objetivo principal de Stoler é compreender como o trabalho de Foucalt acrescenta ao entendimento da colonização europeia e as produções de categorias de governo dos sujeitos. A autora elege três vias centrais para produzir essa problematização: 1) a cronologia eleita por Foucault do nascimento do racismo no fim do século XIX; 2) a existência de uma gramática racial implícita que sobrescreve os regimes sexuais e culturais da burguesia em diferentes maneiras daquelas que Foucault previu; 3) a ampliação das dicotomias que atravessam a relação colonizador/colonizado para uma gama de relações mais amplas que vem sendo estudadas nos estudos
Seguindo
coloniais
o
contemporâneos
Império
na
(STOLER,
História
1995,
da
p.
10-13)
Sexualidade.
Segundo Stoler, os estudos sobre a governança imperial pouco se voltaram a periodicidade histórica, na qual as tecnologias do sexo se desenvolveram. Numa tentativa de ampliar a hipótese repressiva de Foucault, Stoler evidência determinadas produções discursivas elencadas por Foucault que confinam a implantação da sexualidade à metrópole. Diante dessa perspectiva, os estudos coloniais questionam os processos de subjetivação que permearam a burguesia do século XIX, evidenciando determinados constructos imperiais e suas produções em sujeitos desejantes. Stoller ressalta uma certa perspectiva etnocêntrica adotada por Foucault, pela qual o autor restringe sua genealogia do século XIX numa perspectiva auto referencial europeia.
Nutrida de um impulso foucaultiano. Stoler se propõe a questionar outros desejos excluídos da análise de Foucault que permitem compreender uma distribuição imperialista dos processos de subjetivação dos sujeitos. Pelo viés da biopolítica, a autora propõe uma genealogia da identidade burguesa que vise recolocar essa produção num mapa imperial mais amplo (STOLER, 1995, p. 13-16). Por fim, Stoler resume rapidamente o que irá tratar em cada capítulo. No capítulo 2, irá abordar qual é o espaço do racismo na História da Sexualidade vol 1. Já no capítulo 3, analisará as aulas dadas por Foucault em 1976 com o intuito de repensar o racismo na produção da História da Sexualidade vol 1. No capítulo 4, irá questionar a visão não racializada das tecnologias da sexualidade na produção de um “eu burguês”. No capítulo 5, Stoler irá se voltar por outro prisma na questão da masturbação infantil, evidenciando uma variação colonial centrada nas mulheres servas e mães nativas. No Capítulo 6, a autora irá analisar como a História da Sexualidade vol. 1 e as palestras sobre raça lecionadas por Foucault podem ser localizadas em projetos maiores do autor e quais contribuições ta tais is problematizações podem ofertar of ertar aos estudos coloniais contemporâneos (STOLER, 1995, p. 17-18).
Chapter 2: Placing Race in the History of Sexuality Stoler acredita que Foucoult deva ser estudado pelos estudos coloniais devido a sua ausência nesta temática [ achei um pouco confuso isso]. Este silêncio silêncio a respeito da relação de Foucault com o racismo não se justifica, pois as duas últimas seções de A História da Sexualidade lidam diretamente com a interseção entre sexualidade, degeneração e racismo no surgimento do estado "biopolítico". Para a autora há referencias ao racismo na História da Sexualidade, que pretendia inicialmente compor-se de 6 volumes ( do qual o volume 1 seria apenas um esquema), o último deste seria dedicado a “população e raça” (p.21-22). Delineia o quadro intelectual dos anos 1970, para colocar que Foucault não estava entre os pensadores que tinham como preocupação central o racismo. A crítica foucautiana é dirigida contra as análises marxistas e freudianas da sociedade e, contra a noção repressiva de poder inerente a eles. Sua crítica foi pensada mais especificamente contra Wilhelm Reich e Herbert Marcuse, criticando sua visão do sexo como libertação da repressão capitalista. capitalista. Foucault propõem que o poder provocou uma proliferação dos discursos sobre sexualidade, aumentando seus efeitos, e não o contrário. Para Foucault o discurso da sexualidade, ao se articular, acaba por incorporar uma lógica racista, logo, vê o racismo como consequência dos discursos. discur sos. (p.22) A autora levanta algumas hipóteses para explicar o silêncio de Foucault com relação a questão do racismo: uma delas seria a ausência de políticas de raça na Europa dos anos 70. Só nos anos 80 é que iria emergir o “novo racismo” trazendo a pauta à política (p.24). Outra hipótese é de uma mudança brusca em sua trajetória, a questão do racismo que apareceu brevemente no ano de 1976, desaparece nos anos seguintes. (p.24-25). Stoler aponta para a discrepância entre a História da Sexualidade e as palestras sobre racismo. No livro há a ligação
entre racismo e tecnologias da sexualidade, nas palestras é o biopoder que o explica- não aparecendo a relação entre ordem burguesa e racismo (p. 25). D i scur scursos sos d de e se sexu xuali alid dad ade e e r ac acii sm smo o na hi histó stórr i a d da a se sexu xuali alid dad ade e
Enquanto as referências ao racismo aparecem com moderação ao longo do Volume I de História da Sexualidade, Stoler aponta que o racismo moderno é fundamental para o projeto de Foucault. O racismo é mencionado em uma discussão sobre as primeiras tecnologias do sexo que surgiram no século XVIII em torno da economia política da população, regulando os modos de conduta sexual pelos quais as populações poderiam ser expandidas e controladas. Nesta época ele é apresentado como algo que ainda não apareceu. A cronologia colonial é diferente da proposta por Foucault. A autora apresenta uma série de exemplos que mostram como existiam distinções de cor nas diferentes colônias, porém ressalta que há um debate historiográfico sobre o fato de estes racismos emergentes serem distintos da manifestação biologizada que se apresentará no século XIX. De qualquer forma, os historiadores localizam mais cedo do que Foucault o surgimento do racismo, por volta de 1800. (p.27-28). Stoler investiga o porquê desta cronologia: Primeiramente, aponta que o colonialismo não era preocupação de Foucault, que o via como subproduto do estado interno de guerra permanente na Europa. Além disso, sua preocup preocupação ação era com o racismo de Estado, não com suas formas populares. Ainda, sua visão de racismo era interna, centrada no nazismo. (p.28-29). Retoma a ideia de que o racismo aparece em Foucault embutidos nos discursos sobre sexualidade e aponta um único trecho em que há uma referência explicita sobre o racismo em diferentes momentos históricos e variedades. Stoler destaca que aquele é o único trecho que o racismo aparece como precedendo a classe burguesa, mas permanece interno a Europa e derivado da elite (p.29) Autora estabelece um debate entre Benedict Anderson e Foucault (p.30). Aponta que a obra de Foucault apresenta de maneira vaga o racismo como uma derivação da “família” aristocrática. No século XIX as tecnologias do sexo teriam mobilizado mais amplamente as questões em torno da raça, tendo a teoria da degeneração como seu âmago (p.30). O conjunto legislativo e teórico da teoria da degeneração teria assegurado a relação entre o racismo e a sexualidade Stoler assinala que outros pesquisadores apontaram isso para o Império, mas em Foucault ele não é mencionado, sendo evocado o nazismo como exemplo para este autor. (p. 31). A autora se alinha a perspectiva de Daniel Pick de que o discurso da degeneração era fruto do mesmo da “desordem interna” e não de empoderamento burguês como sugeriu Foucault
(p.32) B i op opod ode er , Sexuali xu alida dad de e R aç aça a
No último capítu lo de História da Sexualidade aparece o “biopoder” dando os contornos mais violentos ao racismo. Ele em si não produz o racismo e sim o gerenciamento calculado da vida, que une os dois polos do biopoder anteriormente separados. Um deles é a disciplina do
indivíduo e o outro o controle sobre a vida das espécies ( biopolítica da população). Ao mesmo tempo, ocorre a união entre duas tecnologias distintas de poder: a dos corpos individuais e a outra da regulação total do processos biológicos dos seres humanos. (p. 32-33) Stoler aponta que os trabalhos anteriores de Foucault já exploravam a normalização do poder, mas é na História da Sexualidade que ela se torna algo mais amplo. Para Foucault a criação do inimigo interno e do indivíduo perigoso explicam o racismo dos estados modernos.
(p. 34). O autor liga o racismo e as tecnologias da sexualidade diretamente ao biopoder, sem vincular explicitamente o racismo e a sexualidade uns aos outros. Seu relacionamento é mediado pelo que ele chamaria mais tarde, "uma espécie de estatização do biológico", um estado biopolítico em que o sexo era um "alvo" instrumental e o racismo um efeito ef eito (p. 35) I mp mplantaçõ lantaçõe es de A Aliliança ança,, D esdo sdobr bram ame entos de Sexuali ualida dade de e Raça R aça
A ascensão do biopoder é marcada pela distinção entre o dispositivo de aliança e o desdobramento da sexualidade e o poder simbólico do sangue e a análise da sexualidade. Para ele até o século XVIII a vida social era regulada pela aliança, em que o controle das práticas sociais se dava nas relações matrimoniais e nos códigos de conduta legais e religiosos. Para Stoler, Foucault não é claro em demonstrar porque este sistema teria entrado em colapso, mas insinua uma relação com o declínio do absolutismo e ascensão do liberalismo e da ordem burguesa. Neste momento o racismo não teria ainda aparecido. Com a explosão discursiva em torno da sexualidade nos séculos XVIII e XIX, ele identifica uma divisão entre as leis do matrimônio e as regras da sexualidade. (p.37) Surgiu uma tecnologia totalmente nova do sexo, expandida pela pedagogia, medicina e demografia, tornando o sexo s exo uma preocupação do Estado (p.39). A autora concorda que no contexto colonial existiu este padrão proposto por Foucault, mas questiona a datação, propondo que em alguns lugares ela aparece mais cedo e em outros mais tarde(p.39). Ressalta que o sexo se tornou uma questão entre o aparelho administrativos e os colonos europeus quase cem anos antes do proposto em História da Sexualidade. Demonstra então que as preocupação das Cia das Índias Orientais na gestão das questões sexuais, que apareciam muitas vezes como “defesa da sociedade”, aparecem muito antes da cronologia foucaltiana. (p.40) Stoler observa que a distinção de Foucault entre implantações de aliança e sexualidade fazem algum sentido quando aplicadas à sociedade colonial das Índias Orientais Holandesas. Demonstra que houve, no século XIX, um ataque a cultura mestiça, buscando consolidar mais claramente os limites do ser holandês nos domínios coloniais. Se antes as alianças matrimoniais com as nativas eram encorajadas, a nova gestão da sexualidade vai buscar garantir uma identidade nacional holandesa baseada mais explicitamente na moralidade burguesa (incorporada pelos funcionários públicos da burocracia colonial). A formalização das categorias raciais foi contingenciada ao sexo. Recusou-se cada vez mais as crianças mestiças. Mas a aliança ressurgiu na forma de uma endogamia branca, buscando apagar as conexões mestiças.(p.43-44) Porém a autora desvia do argumento de Foucault, demonstrando que os regimes coloniais nunca se basearam apenas na aliança, sendo as relações de concubinato um dos pilares da
política colonizadora. Os desdobramentos de aliança e sexualidade faziam parte da ordem colonial das coisas, em alguns momentos convergindo e em outros competindo (p. 45-46). No século X XIX IX a mestiçagem era ponto crucial do debate político e social, uma fonte f onte ddee ameaça ao prestígio branco, o resultado da degeneração européia e decadência moral. Essas preocupações com o hibridismo racial necessitavam de políticas cada vez mais voltadas para o íntimo. Stoler discorda da proposição de Foucault de que a lei lei colonial era um ator marginal nas construções de diferenças (p. 46-47). A autora propõem que o caso holandês não desacredita as afirmações de Foucault tanto quanto as transforma. Sugere, em primeiro lugar, que a tensão entre os desdobramentos da aliança e da sexualidade como princípios organizacionais distintos do poder pode confundir-se quando a questão do racismo é colocada centralmente. Cita o trabalho de Jan Mohamed que aponta que sexualidade racializada na escravidão dos EUA não estava além da lei, mas constituída por ela. Depois, propõem que em contextos coloniais como as Índias, os discursos sobre os desejos libidinais foram invariavelmente moldados pela forma como esses desejos eram vistos em relação às suas consequências reprodutivas. (p.47-48) R aça aça,, Se S exuali ualid dad ade e e o Sangu Sangue e da B urg ur guesi uesia a
O tratamento do racismo em Foucault é focado na mudança, ocorrida nos séculos XVIII e XIX, de um simbolismo de sangue para uma analítica da sexualidade. Para Foucault, nas sociedades em que os sistemas de aliança, descendência e morte eram dominantes, o sangue era uma "realidade com função simbólica". Na sociedade moderna "os mecanismos do poder estão localizados em outro lugar", dirigidos ao corpo, à vida, ao que o leva a proliferar, ao que reforça a espécie, sua energia, sua capacidade de dominar ou sua capacidade de ser usado. Stoler concorda com Foucault quando este propõem que na segunda metade do século XIX o racismo (estatista e biologizado) usou a temática do sangue para estabelecer toda uma política/discurso de contaminação, pureza racial, degeneração (p.49-50). Mas a autora discorda da genealogia europeia proposta por Foucault para o reaparecimento do “simbolismo do sangue” no século XIX. Para ela a “origem” do racismo pode
ser encontrada na preocupação aristocrática com a legitimidade (como propõem Foucault) mas precisa ser localizada igualmente na política imperial de exclusão. Exemplifica isto demonstrando que indivíduos de sangue misturado eram vistos como inimigos internos , capazes de transgredir as fronteiras do Estado-nação. A ciência e a medicina podem ter alimentado o ressurgimento das crenças no sangue, mas também o discurso nacionalista em que uma teoria popular de contaminação baseada em contágios culturais, não biológicos, distinguia membros verdadeiros do corpo político daqueles que não eram. Essas teorias populares da raça foram derivadas de como o império foi experimentado na Europa. Eles foram disseminados através de uma lógica imperial em que as hibrididades culturais eram vistas como subversivas e a subversão era contagiante.(p.51-52). Foucault propõem que houve uma transição do sangue (distinção aristocrática) para o sexo (distinção burguesa). Neste sentido, raça é um dos temas pelos quais a sexualidade passa a
ser discutida, tendo o racismo como consequência. Stoler se opõem a esta ordem das coisas, para ela a formação dos corpos burguesas é constituída racial e relacionalmente (p.53).
Chapter 3: Toward a Genealogy of Racisms: The 1976 Lectures at the College de France ● In this chapter, Stoler presents a critical analysis of “race” within the 11 lectures Foucault
gave at the College de France during the Winter of 1976 ○ 5 of the lectures focused on the changing discourse around race from the 17th to the 20th C ● Stoler aims to connect the points made about “race” during the lectures with those from The History of Sexuality, to better situate the concept of race within Foucault’s thinking – and and see how it is applicable to postcolonial studies. ○ “Racism is not based on the confrontation of o f alien races, but on the bifurcation within Eur ope’s ope’s social fabric.” Pp. 60 ● Foucault’s main argument: emergence of biopower inscribed modern racism (which he coined “state racism”) within the mechanism of the normalizing state ○ State racism is only presented in his last lecture on March 17th, and is the modern
form of racism which led to the Holocaust and other massacres.
○ “State racism is not an effect but a tactic in the internal fission of society into binary oppositions, a means of creating ‘biologicalized’ internal enemies, against whom society must defend itself.” Pp. 59 ○ Not interested in universal theory, rather he reflects on o n historiography and the
writing of history as political acts and their potential as a political weapon ● “Grid of intelligibility” is not the discourse of sexuality, but rather an emergent discourse on the “war of the race” ● Methodological issues with the lectures: ○ Never meant to be published and were never all published ○ Very few people are aware of their existence and have written a bout them ○ Since they are lectures, Foucault does not explicitly cite many authors ○ Stoler is relying on recording of the lectures ○ Race is NOT his primary objective. He cares about power, race, and their
inscription with the modern normalizing state ○ Focus is on race and racism within Europe, not the colonial world (Stoler adds her expertise on the Dutch East Indies to expand this point) ● “Subjugated Knowledges: On the Discourse of Sovereigns and the War of Race” ○ January 7, 1976 ■ Foucault begins lecture by analyzing “Subjugated knowledges” and
how to fit them into our understanding of recent/historical political processes ■ Argues politics is “war continued by other means”
○ January 21, 1976 ■ Begins by criticizing the concept of “sovereignty” and argues that war
changed in nature since Middle Ages, from private bloody wars ■ Dialogues on English bourgeois and French nobility and their use of “social war” since 17th century, one were race is increasingly biological and where class struggle is introduced ■ “Biological-social racism” created an upper - and lower- race ■ Foucault is not interested in the changing meaning of race, but rather the discourses of power that are articulated through race. “Racism
in its 19C elaboration is not consolidated in in biological biological science, but more directly in the biologizing power of the normalizing state.” Pp.68 ■ There is NO scapegoat theory of race. Race is woven into the social body, and constantly appears in many different differ ent forms as part of a permanent social war ● “The War of Races as a Contre-Histoire” ○ January 28th, 1977 ■ Race can be used for a variety of political projects, from the English in the 17thC, to French aristocrats, to Soviet revolutionaries ● Race has not always been forged by those in power, it can also be a counter-narrative of resistance ■ “Racism is literally revolutionary discourse put in reverse.” Pp. 71 ● In other words European historical knowledge is an instrument of permanent war ■ Modern Racism comes from birth of singular discourse on race, and a racial discourse directed against the state to one organized by it. Pp.71 ● Foucault is interested in an underlying racial grammar with different political meanings, not a racial theory ● One discourse is not replaced by another, rather one is superimposed on the other
● Racial discourses are constantly changing and evolving ● Discourses of class and revolution are not opposed to the one of
social war, rather it is constituted by it ● “The Politics of Historical Knowledge” ○ Norman conquest of Saxon England, for fo r example, can be used as a racial
narrative of conqueror that must be expelled ■ You had two races within a society that created a binary, which precedes discourse on war of races r aces ■ This is later woven to justify European conquest of the Americas
■ Interesting because here Foucault seems to posit that the
colonial experience was not only dictated by modern European racism, but that it was a two-way street, which he calls “return effect” ■ 17th C saw emergence of nobility using a new discourse on historical knowledge in order to keep their power ● They needed to create the “subject” and connect it to the “nation.” Created by nobility – NOT NOT bourgeoisie
● Enlightenment then is NOT battle between intellect and ignorance – but but rather between who could make truth-
claims about society ● French revolution is a battle over the nation, social class, and race (cites Boulainvilliers) ● The bourgeoisie appropriates itself of nationalist discourse from the nobility and makes it into “condition of survival” creating both
external and internal enemies ● Historical knowledge is used to create racialized discourses that give rise to state racism ● “On Biopower, Normalization, and the Birth of State Racism” ○ Final lecture is very interesting, says Stoler ■ Foucault dialogues directly with History of Sexuality ■ Directly dialogues with 19th and 20th C state racism ■ Discusses biopolitics and biopower, defined as “power organized around the management of life.” Pp. 81 ○ In mid-18th C new technologies arise that address NOT only the individual boy;
but also the species and global mass. These technologies techno logies are globalizing and regularizing. ○ The State gains the ability to tell individuals “how to live” in its capacity to control the social body, and “protect the race” and population. ■ Medicine and peripheral/deviant sexualities become important tropes in
the advancement of this project
○ State thus becomes “normalizing” meaning it can use an excess of biopower to
take away life, while justifying its actions as being in the name of life (which eventually leads to genocides) ■ “The more you kill [and] let die, the more you will live.” Pp. 84 ■ Racism becomes mechanism of state power ■ Only passing reference to colonialism, he is interested in internal use of
racism by the state to purge undesirables ■ This type of racism in possible in every state: fascist, capitalist, or socialist (which is not received well by the socialists in the audience)
● “Bourgeois Racism, Empire and Biopower in Light of the Lectures ○ Foucault presents the use of discourses around history to advance political
Projects, then traces emergence of modern state racism and its connections to power, nationalism, citizenship, and war ○ These lectures help to better conceptualize the final chapter of History of Sexuality ○ Stoler critiques Foucault’s analysis for lacking a discussion on: the
connection between this normalizing bourgeois project and greater colonial contexts, mixed-race people within Europe, and being mute on gender
Chapter 4: Cultivating Bourgeois Bodies and Racial Selves A partir da obra de Foucault, A história da sexualidade, e sua análise sobre o racismo moderno expresso na história da sexualidade, no poder normalizador e nas tecnologias do Estado biopolotico. Ann Laura Stoler (1995) (1995),, enfatiza a necessidade necess idade de retomar o discurso em torno do conceito de raça do século XIX, bem como suas categorias taxonômicas não mais como um resultado da ordem burguesa, mas como constitutiva desta. Para isso, Stoler (1995) mantêm o foco em dois grandes problemas: como nós podemos usar Foucault para pensar numa gama específica de estudos coloniais, e por sua vez, o que estes contextos coloniais nos dão para repensar como a cultura da burguesia Europeia contou as distinções de sua sexualidade. Ainda, coloca em xeque a genealogia do discurso racial Foucaultiano reexaminando a História da sexualidade e suas implicações para entender o trabalho de raça e o lugar do império na construção do mundo Europeu burguês. (1995) Dois grandes temas aparecem como pontos de encadeamento das ideias de Foucault. O primeiro, diz respeito ao racismo como parte do estado e indispensável defesa da sociedade contra si mesma. E segundo, o discurso em torno da guerra social dentro das fronteiras do século XVIII, na Europa. A partir das ideias de Foucault, o poder tático do século XIX, mudou da disciplina para a “tecnologia de segurança”, e o Biopoder trouxe outras formas de go vernar a população para novas formas de governo de si mesmo. E suas intervenções aumentaram e legitimaram éticas de conduta, geradas na organização de “como viver” (1995, p. 96 -97). Assim o gerenciamento das atividades no âmbito doméstico, a criação dos filhos, arranjos sexuais da Europa colonial foram baseadas na noção de “defesa da sociedade” e de um futuro “seguro” da
população europeia. OBJETIVO DE STOLER (1995): Stoler (1995) busca compreender as incertezas e as fronteiras da afirmação dos corpos burgueses. A preocupação da autora consiste em saber os “(...) jeitos em que o discurso racial é reverberado entre a metrópole e a colônia para assegurar as tênues distinções da regra burguesa. “Como dentro do ‘manejo da vida burguesa’, as distinções da classe média foram feitas não somente em contraste com uma base europeia de classe trabalhadora, mas através de uma noção de civilidade racializada que trouxe a convergência colonial e conflito entre classe e associação
racial. Meu ponto não é a hegemonia imperial dos sistemas de controle, mas as suas vulnerabilidades”.(p.97) Como ela faz a crítica? ● Relação entre biopoder burguês e taxonomias coloniais traçam discursos sobre a moralidade e a sexualidade através do império e do estabelecimento de suas fronteiras dos estados- nações europeus. ●
“Eu trato a sexualidade burguesa e sexualidade racializada não como coisas distintas, mas como constructos dependentes num campo unificado”. (p.97)
Repensando o Colonialismo como um Projeto Burguês ● Centralidade do uso das categorias “colonizador”, “colonizado” pela antropologia do colonialismo como dadas, ao invés de construções que precisam ser explicadas. ● Pesquisadores centraram-se mais nos relatos de colonizadores sobre as sociedades indígenas colonizadas, do que na própria identidade dos europeus dentro das colônias e a problemática em torno da “brancura.” (p.99) ● Nós como estudantes de países colonizados estamos tentando desmantelar a noção do colonialismo como um projeto unificador da burguesia. (p.99) E estamos preocupadas em saber também sobre as sensibilidades burguesas codificadas pela raça e como competência cultural e “adequação” frequentemente
substituíram o critério racial para definir o acesso aos privilégios dentro dos empreendimentos imperiais”.(p.99) ● “Colonialismo não foi um projeto seguro da burguesia. Não foi somente sobre a
importação das sensibilidades da classe média para as colônias, mas sobre a produção dela”. (p.99) ● A missão filantrópica para as colônias definiram não só uma classe burguesa, mas “ As distinções definidoras da sexualidade foram jogadas, não somente, contra
uma imoral classe trabalhadora europeia e outro nativo, mas contra aqueles que destituíram os brancos dentro da colônias e em
dubio contraste par uma
população duvidosa de origem de sangue misto.” (1995, p.100)
QUESTIONAMENTOS: ·
Se a “brancura” foi um armamento para a sociedade burguesa, então nós
precisamos investigar a natureza desta relação contingente entre uma Europa racial e ansiedades de classe dentro das colônias e cultivos burgueses de si na Inglaterra, Holanda e França.” (p.100)
Oximoros coloniais: Sobre Civilidade burguesa e Categorias Raciais ●
Contexto europeu do século XIX: Holanda, França e Inglaterra pertenciam a “aristocracia burguesa”, viam seus privilégios e lucros serem concedidos
racialmente. “É impossível falar de uma ordem burguesa europeia, que era não racialmente problemática nos eu inicio.” (1995, p. 102) ● A entrada para a classe média considerava que os empreendimentos coloniais fossem assegurados por empreendimentos burgueses. Logo, a associação a uma identidade europeia formava-se racialmente pela distinção e definição dos “europeus fictícios”, europeus intelectuais e aqueles que tinha origem racial mista. Descritos por Homi Bhabhas “brancos, mas não completamente”. (1995, p.102)
“Se o colonialismo foi de fato um projeto de nivelamento de classe que produziu um claro consenso sobre a superioridade europeia – europeia – uma uma narrativa consoladora que romances, jornais e documentos oficiais foram para ensaiar, ainda somos deixados para explicar a difusa ansiedade sobre a degeneração nas colônias, o policiamento insistente dos europeus que se encontram em classe média, o vasto compêndio de manuais de saúde e problemas de saúde, ruína e até morte, se certas prescrições morais e modos de conduta não foram cumpridos.” (1995, p.102) ● Questionamento: “Se aqueles que fizeram estas comunidades europeias de fato virem-se virem-se como parte de classe dominante, se assim, em que base?” A
●
participação na aristocracia burguesa, era er a racializada, mas determinada pelo
sentimento de classe média prescrições morais . Ser “alguém”, mais m ais do que ser
branco era ter poses, riqueza, riquez a, capacidade de comandar outro homem. ( Eric Erichh Hobsbawm’s” ● Um exemplo dessa produção de nivelamento e estratificação “Alguns agricultores teriam se visto como classe, mas outros não. Alguém pode caracterizar eles mesmos como tendo ‘poder e influencia’ sobre a população nativa, mas não sobre outros Europeus.” (1995, p.103). p.103). O que faz do europeu, um europeu?: boa família, “faces brancas,, que não nascidos nas Indias, todos Holandeses, Inglês, Francês, Alemão... mesmo Norte Americanos” (1995, p.104) ●
Nas comunidades da Indonesia definidas como co mo Duth East Indies não haviam classes baixas. Segundo Ritter (1856)[1], para a categoria “Europeus” também
incluía uma confusa população definida de pobres brancos, soldados sulbaternos, cleros menores, crianças abandonadas de homens europeus e mulheres Asiáticas, também criolos Europeus cujas circunstâncias econômicas e sociais fizeram deles amarras para as civilidades metropolitanas burguesas frequentemente atenuadas como a melhor.” (1995, p.105) ● Há uma identidade europeia associada a moralidade da classe burguesa, cuja moralidade se sustenta na associação racial, no acesso a educação e a casa. “Ser Europeu era para ser auto-evidente, mas era também uma qualidade que somente os qualificados era equipados para definir.” (1995, p.105) A miscigenação dos soldados brancos europeus com a população das ● colônias Indies, implicou numa reestruturação da defesa de regras Holandesas
mais especificas. Os brancos europeus foram tidos como “degenerados brancos” e destituídos dos valores Holandeses”, “ não sabiam como viver n o modo Holandes”. (1995, p.106)
Quais os efeitos do mal comportamento dos europeus brancos para a construção de normas da classe média europeia? A “degradação moral” da inland Kinderen, produziu narrativas sobre vigilância ●
materna e a criação dos filhos. Vejamos: “Prometeu novas iniciativas institucionais e politicas governamentais, que fizeram nascer uma dependente superioridade racial sobre a classe média, respectivamente, para a população europeia inteira. Fez a competência linguística em Holandês Holandês o marco cultural “adequado” para as normas da classe média europeia. Implicitamente vinculou a qualidade do sentimento material e cuidado parental a afiliação racial e nacionalidade”. (1995, p.106-7) p.106-7) (criou-se o sentimento de pertencimento, mas também de banimento de quem quer que não seguisse as premissas da burguesia europeia) ● Logo as colônias Dutch East indies se tornaram um problema, pois se tratava de “brancos indigentes indigentes seus progenitores de sangue misto, homens europeus de
sangue misto e suas mulheres nativas cujos estilos de vida indicavam nem sempre uma falha para viver dentro da civilidade burguesa mas algumas vezes uma total rejeição deles”. (1995, p.107) ●
As colônias Indies começaram a reclamar seus direitos como “ cidadãos do mundo”: “ A missão civilizatória do século XIX foi um impulso burguês
direcionado não somente no colonizado como frequentemente assumido, mas nos recalcitrantes e ambíguos participantes na cultura imperial em casa e no exterior”.
(1995, p.109) ● Os motivos que fizeram a burguesia investir suas forças nas necessidades dos Indies estava atrelada a uma retorica racial, cuja “população das aldeias europeias” estava a mercê de “ um discurso sobre contaminação nativa mas
sobre a educação do desejo burguês, sobre alienação da afetividades dentro das casas e das mais impassível família colonial”(1995, p.109). ● “programas para cultivar o coração... constituem um novo e mais efetivo método de policiamento” aqueles que foram incorporam “o tr triunfo iunfo da cultural da classe média”. (Nancy Armstrong, Apud Stoler, 1995, p.109) ● Análise a partir de Foucault: 1. Auto-disciplina é um risco par ao corpo político; 2. prescrição médica e cuidado moral do adulto e da criança cr iança requer r equer uma proteção do jeito de ser europeu; 3. Não se trata da repressão do sexo, mas dos corpos (vigor, longevidade, progenitude, descendentes, distribuição de prazeres, discursos, verdades e poderes. (1995) ● “A repressão foi uma forma de reafirmação da classe burguesa, não burguesa, não da exploração da classe trabalhadora. “ Aqui sexualidade é sobre a afirmação
da classe média, não da exploração da classe trabalhadora; o termo “escravizado” é usado somente dentro do seu sentido metafórico.” (1995, p.111) ● Discurso da proteção e do cuidado com o corpo para evitar a contaminação oriunda da exploração sexual e da relação dos homens europeus e das mulheres nativas. Noção de higiene e cuidado nas casas holandesas, guias de limpeza de casa, manuais médicos, jornais pedagógicos reiterando o ccuidado uidado e o perigo de produzir uma cultura hibrida na europa. ( limpeza e higiene contrarias a impureza e a noção de contaminação, imbuídos de uma retorica racial) Novas demandas por mão de obra dentro os nativos, fez emergir uma classe ● de trabalhadores qualificados, diferenciando-se dos nativos. Estaria uma nova classe burguesa emergindo sob uma regra Holandesa nas inlandsche Kinderen? ●
“O discurso biopolitico marca perigos internos e excessos dentro da politica
Holandesa, fraqueza biológica liga-se dentro do seu rank e não externo, contaminações nativas.” ● O jeito europeu não é somente uma classe especifica, mas codificado pelo gênero: “Um homem poderia viver com ou casar com uma mulher asiática
sem necessariamente perder seu staus, mas isto não é verdade para a mulher europeia que poderia fazer uma escolha similar de viver ou casar-se com um não- europeu. (...) Promiscuidade sexual ou repressão não são características abstratas atribuídas a qualquer pessoa que exibe estes comportamentos, mas geralmente como interpretações post-hoc contingentes sobre classe racializada e categorias de gênero para as quais indivíduos foram nomeados. (...) ‘sexualidade produtiva’ definia a moralidade que era aceitável, o que melhoraria a raça.” raça.” (1995, p.115) Inseguranças burguesas, Eus raciais e a “Impassível” Nação Holandesa Holandesa ●
A tentativa de definir o cidadão Holandês produziu inseguranças do ponto de vista da construção da Nação. O impasse era entre uma identidade holandesa produzida em “casa” e fora, o que estava em jogo eram “as essências características da nação Holandesa” (1995, p.117) visto que havia crianças de
sangue misto, soldados, e criolos nascidos na colônia. ● “Nós temos uma ampla evidência das representações raciais r aciais ambíguas servidas para definir os parâmetros das comunidades Holandesas dentro de um importante jeito. Outros racializados de sangue misto e de origem crioula e as moralidades sexuais suspeitas, ostentações de estilos de vida, e afiliações culturais hibridas atribuídas a eles foram produtivas de um discurso sobre quem era apropriado para a regra. Mas este trânsito nas representações
mudadas podem ter refletido profundas preocupações ainda; não somente as
vulnerabilidades da hegemonia Holandesa dentro das colônias, mas incertezas sobre o que constituiu as distinções de inclusão da cultura burguesa nos Países baixos, onde o próprio termo “burgerlik” poderia ambiguamente se referir aquilo que era exclusivamente da classe média e que o qual era muito mais mais inclusivamente identificado com o “cívico”, “o civil”, “o cidadão”. (1995, p.120) ●
Os eus racializados pela ideia Holandesa de ser reiterava a forma impassível de ser Holandês através da noção de cidadania. Por mais que não haja uma representação de pessoa atrelada a um elemento democrático, a noção de cidadania, se referia, no entanto: “ categoricamente excluídos: as mulheres,
menores, loucos, mendigos, prisioneiros, os desonrados, todas as pessoas que não tinha o total uso da liberdade, da mente e de suas posses. (p.120-121)
Discursos de Raça/ Linguagens de Classe ● Há um repertório de discursos raciais e metáforas imperiais, as quais são utilizadas para descrever as distinções de classe na Europa. Não somente para isso, mas produzir preconceitos. Esse discurso racial de classe será fomentado pela imagens imperiais dos colonizados Americanos, Africanos e Asiáticos como selvagens erotizados e bárbaros. ● Há a construção de uma noção de hierarquia das raças construídas sob o discurso de classe, religioso, biológico, visual-verbal; “burguesia como uma outra espécie” Erich Hobsbawm ● Raça surge como uma estratégia politica, enfatiza as diferenças entre classe e cultura burguesa naturalizando a herança de características referentes a fraqueza ou a força de grupos sociais. Ex: Londres: não só negros, mas pobres brancos são “uma raça separada”; ( Discurso da raça era imanente com a linguagem de classe) ● Raça e gênero associados a figura feminina, mulher , prostituta do
● ● ● ● ●
século XIX, como uma “ primitiva relíquia do período anterior de evolução”. (p.128) “(...) corpos burgueses foram ambos raça e classe-específicos, classe-específicos, baseados nas distinções de qualidade qualidade de um tipo humano” (p.128) Império construiu a imagem de masculinidade sobre a virilidade, sentimento patriota “a força do meu sangue é a força da minha raça.” (Henry Daguerches) George Harrys sobre a masculinidade “ Um homem permanec e homem até que ele permaneça sobre o olhar atento de uma mulher de sua raça”. (p.129) São as categorias sociais que criam distinções entre discriminações raciais e de classe. Por isso, o discurso da raça emerge fora da concepção binária do corpo, é parte da defesa da sociedade contra si mesma (...) o racismo emerge não
como uma reação ideológica tratada por princípios universais do estado moderno liberal, mas como uma ficção fundacional fundacional dentro disto.” (1995, p.130)
●
Sexualidade, Raça, e as Politicas de Exclusão Burguesas Imperialismo figurou dentro de uma política burguesa do liberalismo liberalismo e do nacionalismo noções universalistas de “natureza humana” e “liberdade individual”. Esses princípios universais foram usados para construir as politicas
raciais. ● Cidadania como uma politica nacional, e as mulheres não como cidadãs, mas como “ aquelas que assegurariam o casamento, a moralidade sexual, a família provida de fundações fundações naturais da vida social”. (1995, p.132) ● Na Era do imperialismo temos sujeitos e cidadãos convertidos sobre politicas sexuais de raça. Implicações nas crianças nascidas de pais europeus e mães asiáticas e a mudança que a educação poderia produzir neles. ● Discurso racial e sexual foi produzido não pela sociedade burguesa em si, mas como forma de distinção das colônias e de construção de uma nação. Por isso, a disciplina dos corpos em relação a um tipo de cidadão que se queria. “os corpos foram feitos e os sujeitos formados”(1995, p.136) corpos “As tecnologias da sexualidade produziram específicos jeitos de ● destacar o sentimento disciplinado tanto quanto de uma sexualidade normalizada na governança de si mesmo.” (1995, p.136) ● O que é preciso fazer? “Primeiro é necessário identificar onde os desafetos foram produzidos, onde os instintos iinfantis nfantis foram educados, quão cedo, e por quem. É necessário distinguir aquelas contaminações do meio social daqueles que reproduziram-na no intimo confinamento de suas casas” (1995, p.136).
[1] Ver
W. L. Ritter. De Europeanen in Nederlandshe Indie (Leyden: Sythoff, 1856) 30.
Chapter 7: Epilogue Stoler buscou em seu trabalho realizar uma apreciação de como compreensão foucaultiano de biopoder organizou a maneira que este autor viu o relacionamento entre o discurso da sexualidade e da raça no contexto da burguesia européia e sua ordem imperial. Enquanto Foucault considerou que o discurso da sexualidade entalhou o racismo como uma tática em sua produção, a análise sobre o racismo em si foi menos explícita. Stoller identifica
parte do problema como a eleição de Foucault de uma história da burguesa do século XIX organizada em torno de uma ficção de uma liberação sexual após 1918. A consequência é a produção de uma análise genealógica do racismo que não reverberou na sociedade europeia (STOLER, 1995, p. 196). Stoler volta seu olhar a epistemologia francesa pós-segunda guerra e como esse momento configurou o pensamento de Foucault de determinadas formas específicas. O referencial central para compreensão do racismo ainda era o holocausto e o estado nazista, não o discurso decolonial que figurava na Europa e nos EUA. A autora compreende que há necessidade de explorar as relações entre o biopoder, os racismos de estado e o capitalismo. Em Foucault, a análise da emergência do discurso da raça se efetiva, não por um discurso de dominação, mas como uma “contre-histoire” (STOLER, 1995, p. 197).
Parte desse esforço foi empreendido por Stoller na escrita dessa obra foi rever, pelo prisma da governança imperial, a maneira de compreender a genealogia foucaultiana reposicionando a compreensão da raça na história do presente.. Stoller sugere olhar para o trabalho de Foucault sobre a sexualidade a raça como uma forma de repensar os estudos coloniais, de uma maneira crítica e politizada. Para a autora, o colonialismo serviu como uma metáfora para uma gama extensa de dominações que acaba por colapsar determinadas hierarquias específicas de tempo e espaço em algo único (STOLER, 1995, p. 196-198). Produzir um binarismo, entre o colonizador e o colonizado, apaga os diferentes borramentos que qu e essas categorias evocam num campo complexo e multifacetado. Utilizar de um essencialismo estratégico apaga a força política dessa contestação. Para Stoller, deve-se nutrir-se de uma problematização foucaultiana para questionar como os discursos polivalentes sobre raça e seus efeitos pode ser visto como um processo complexo de ruptura e recuperação. Questionar como essas práticas discursivas e não discursivas, historicamente determinados, rompem os diferentes regimes de verdade sobre os corpos racializados e transforma socioeconomicamente e politicamente as políticas de raça. Se os discursos sobre o racismo ganham força através de mobilidades polivalentes, pelo alcance dos projetos conservadores e progressistas, os estudantes do colonialismo e do racismo tem uma tarefa assustadora (STOLER, 1995, p. 199-200) Stoler exemplifica os efeitos dos discursos polivalentes da raça, ao citar o racismo atrelado a pobreza. Alguém que se autoproclama racista pode aferir que "Negros são pobres porque são negros", referindo a negritude como sinal de inferioridade desses sujeitos. Anti-
racistas podem aferir a mesma sentença, afirmando que negros são pobres porque são rotulados como negros sem considerar a raça como parte desse problema. Da mesma forma, a sentença "negros são pobres porque eles/nós são negros" pode remeter a uma história a priori de racismo que tornou objetivamente essa população diferente e portanto relacionada à pobreza. Stoler reconhece que pode-se afirmar que a linguagem é polissêmica, mas que se é necessário olhar para os sentidos essencialistas que esses es ses enunciados produzem (STOLER, (STO LER, 1995, p. 200-201) Stoler refere-se a outro exemplo baseado em uma pesquisa realizada em 1995 pela French National Consultative Commission on the Right of Man, na qual 69% dos sujeitos
consideraram a si mesmos racistas, contra 31% que declararam não ser. Stoler questiona se não poderia se pensar uma produção do sujeito como francês na manifestação ou na aproximação deste com uma identificação racista. Na mesma pesquisa, 85% dos sujeitos declaram-se simpáticos aos Sul europeus e 65% aos judeus. Do outro lado, 47% declararam ser menos simpáticos aos Maghrébins e 49% aos homossexuais. Além de questionar o fato de homossexual configurar uma categoria numa pesquisa sobre racismo, Stoller questiona a ausência de repercussão nos grandes jornais com exceção do jornal conservador Le Figaro. Contudo, os jornais Libération e Le Monde publicaram outra pesquisa organizada por dois anos pelo National Institue for Demographic Study sobre a assimilação entre os imigrantes na França. A publicação
no Le Monde afirma que o estudo cobre apenas duas categorias, francês e imigrantes, sem distinguir culturalmente as origens e etnias dentro desses grupos (STOLER, 1995, p. 201-203). Stoler questiona as diferentes posições de esquerda, direita e centro adotada por esses jornais com o intuito de pro problematizar blematizar os efeitos qu quee o discurso sobre o rracismo acismo produz pro duz sobre a produção do conhecimento. Dizer que os discursos de racismo são polivalentes não significa esperar que estes continuam assim, produzindo os mesmos eixos de poder. Subverter tais discursos não envolve apenas identificar a ambiguidade que produzem. Cabe problematizar quais são os conhecimentos que nutrem essas lógicas (STOLER, 1995, p. 202-203).
A jóia indiscreta e a epistemologia do sexo e da raça Stoller resgata a metáfora das Jóias Indiscretas, utilizada por Foucault na obra História da Sexualidade, para evidenciar o absurdo dos diferentes emblemas que a sociedade ocidental carrega, como o falar sobre o sexo. Trata-se de uma novela extraordinárias, na qual a genitália
feminina revela os segredos e verdades da sociedade. Para Foucault, essa novela representa o absurdo da nossa sociedade que é a necessidade de carregar diferentes emblemas, como o falar contínuo sobre o sexo (STOLER, 1995, p. 203-204). Periodizar o racismo é problemático porque o racismo não se trata apenas de raça, afirma Stoler. O racismo é parte da consolidação dos projetos da burguesia, marcando a formação dos estados nacionais e o cultivo de identidades sobre aquilo que Stuart Hall chamou de estruturas de dominação (STOLER, 1995, p. 204). Stoler frisa a importância de compreender a relação que o racismo estabelece com a produção de conhecimento, especialmente quanto aos princípios epistemológicos que visam o acesso à realidade. Se a verdade do sujeito reside nas profundezas do desejo sexual e a raça foi construída para diferenciar quem tem esses desejos, os conhecimentos produzidos para descrever o self burguês num contexto imperial europeu deve conceber coordenadas de inteligibilidade que compreenda ambos (STOLER, 1995, p. 204-205) É entre a palpabilidade e a inteligibilidade que o discurso sobre a raça escapa. Stoler afirma a existência de certos laços invisíveis e verdades secretas por trás do nacionalismo. Invocadas como conhecimento de senso comum, essas verdades secretas são raramente identificadas, mas porque estão escondidas que elas podem ser explicitadas e enumeradas pela expertise médica, psicológica e pedagógica. Stoler rastreia a maneira que Foucault propõe olhar o racismo de Estado. Se o racismo é uma parte crucial das estratégias biopolíticas de normalização do Estado, como Foucault aponta, então não há contexto histórico mais relevante de ser examinado do que rápido incremento que a configuração colonial estatal se deu. (STOLER, 1995, p. 206) Se o self burguês europeu e a defesa de uma sociedade colonizadora colidem e convergem, Stoller afirma que devemos voltar nossa problematização não apenas aos direitos que são compartilhados pelas pessoas brancas, mas também a microfísica de sua produção – o porquê a gestão da sexualidade se tornam crucial para estes. (STOLER, 1995, p. 206). Essa concepção burguesa do século XIX permite compreender os parâmetros os quais se deu a formulação de uma biopolítica da raça. "Biopoder pode ter sido uma forma de poder burguesa única, mas é também uma inerentemente imperial também" (STOLER, 1995, p. 207) Em uma entrevista em 1976, Foucault foi criticado por ter meticulosamente descrito o contexto histórico, mas ter sido desleixado quanto às variáveis geográficas e da população ao
qual se deu suas análises. Foucault assume a direção que o material que utilizou acabou lhe dando, reforçando a proposta de que é necessário sim que o espaço seja precisamente determinado, especialmente no que diz respeito aos processos que ali circulam coletivamente. Para isso, é necessário seguir uma direção diferente daquela que Foucault havia proposto. Stoler afirma ser necessário reconhecer que o que se configura como europeu sofreu um processo político imperial de modificação anteriormente. Há um campo maior de dominações contingentes que podem ser rastreadas numa perspectiva da genealogia da exclusão. Independente de certas limitações dos estudos de Foucault, Stoler afirma que cabe reconhecer, pela “reflexão insolente”, o que ele alcançou com suas problematizações (STOLER, 1995, p.
207-208
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