Fernando Pessoa - Pobre velha música
October 14, 2017 | Author: Carla Dias | Category: N/A
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Fernando Pessoa - Pobre velha música O poema "Pobre velha música" é um poema ortónimo de Fernando Pessoa, sem data, mas publicado na Revista Athena em Dezembro de 1924. Como em muitos outros poemas ortónimos (escritos em seu próprio nome), Pessoa usa a temática da sua infância, em contraposição com o presente, considerando sempre a infância como um "período dourado" da sua vida, que já não vai regressar. Neste caso é a "pobre velha música" que simboliza esse período. Sabemos aliás que a mãe de Pessoa tocava piano, e há mesmo um poema extremamente tocante que fala explicitamente da sua mãe a tocar: http://arquivopessoa.net/textos/89. Mas passemos à análise do poema propriamente dito: Pobre velha música! Não sei porque agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Inicialmente Pessoa introduz-nos ao tema do poema, lembrando a "velha música", provavelmente tocada pela sua mãe na sua infância, talvez ainda antes de sair de Lisboa para Durban. A lembrança, embora seja talvez de um período feliz, traz-lhe uma grande tristeza, porque está associada a uma idade perdida, que nunca mais regressará. O início do poema traduz também o uso de duas figuras de estilo, personificação e hipérbole (a "pobre e velha música"). A parte final do poema parece conter uma anástrofe: troca da ordem das palavras, quando normalmente se diria "o meu olhar parado enche-se de lágrimas". Recordo outro ouvir-te. Não sei se te ouvi Nessa minha infância Que me lembra em ti. Pessoa, ao recordar, no entanto, sente uma estranheza comum. O facto é que é ele que sente, mas quem na realidade sentiu verdadeiramente o sentido da música foi ele mas numa outra idade. A lembrança é como se fosse uma experiência em segunda mão, que só pode ser estranha à verdade do que se sente. O "outro" era ele enquanto criança, e ele recorda-se dele próprio enquanto criança a ouvir a música. Há aqui, mesmo que de maneira menos óbvia, uma antítese entre passado e presente. Com que ânsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Fui-o outrora agora. Pessoa deseja o regresso ao passado, mas sabe esse regresso impossível. Mas simultaneamente ele tem consciencia que mesmo que conseguisse regressar não conseguiria ser feliz agora. O seu desejo projecta-se num plano temporal impossível de realizar: ele ser criança então, mas adulto agora, ao mesmo tempo. O paradoxo é explicíto quando ele diz: "fui-o outrora agora
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