FASCICULO-LINGUISTICA-1

April 8, 2019 | Author: Shirlei Alves | Category: Natural Language, Linguistics, Noam Chomsky, Communication, Ciência
Share Embed Donate


Short Description

Livro para cursos de EAD....

Description

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍ  UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ  COORDENAÇÃO DE D E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – COED

 Li  Linguística I 

LICENCIA LICENCIATURA TURA EM LET LETRAS RAS – ESPANHO ESPANHOL L

EDIÇÃO: EDIÇÃO: Equipe Multidisciplinar da UAB/UESPI –  Universidade Aberta do Brasil –  Universidade Estadual do Piauí 

Coordenadora EaD/UAB EaD/UAB:: Profa. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo Coordenador Adjunto: Adjunto: Prof. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Letras – Espanhol: Espanhol : Profa. Msc. Margareth Torres Torres de Alencar Coordenador Coordenado r de Tutoria Tutoria:: Prof. Esp. Omar Mario Albornoz Equipe Multidisciplinar: Multidisciplinar: Katiuscia Poliana Jamily de O. Damasceno Manuel Gonçalves das Silva Neto Prof. Msc. Orlando Maurício de Carvalho Berti Antônio José Pessoa Alencar

Professor Conteudista do Fascículo: Fascículo: Bárbara Olímpia Ramos de Melo Shirlei Marly Alves Revisão: Revisão: Profa. Msc. Silvana da Silva Ribeiro Diagramação: Diagramação: Prof. Msc. Orlando Berti Capa: Capa: Orlando Berti

UAB-UESPI Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), CCN, Sala da UAB, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002150. Telefone : (86) 3213-5471, 3213-7398 (ramal 294). http://ead.uespi.br E-mails : [email protected] [email protected] coordenacao. [email protected]

MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI

UAB – UNIVERSIDADE UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UESPI – UNIVERSIDADE UNIVERSIDADE ESTADUAL ESTADUAL DO PIAUÍ  COORDENAÇÃO GERAL EAD/UAB/UESPI CURSO DE LICENCIA LICENCIATURA TURA PLENA EM LETRAS – ESP ESPANHOL ANHOL

LINGUÍSTICA I

Bárbara Olímpia Ramos de Melo Shirlei Marly Alves

Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Vice-presidente da República José Alencar Gomes da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Secretário de Educação à Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação à Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí  José Wellington Barroso de Araújo Dias Vice-governador do Piauí  Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí  Prof. Antônio José Castelo Branco Medeiros Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí  Prof. Carlos Alberto Pereira da Silva Vice-reitor da UESPI Prof. Nouga Cardoso Batista Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG Prof. Manoel Jesus Memória Coordenadora da UAB-UESPI Prof. Bárbara Olímpia Ramos de Melo Coordenador Adjunto da UAB-UESPI Prof. Marivaldo de Oliveira Mendes Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Prof. Izânio Vasconcelos de Mesquita Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Prof. Francisca Lúcia de Lima Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Prof. Acelino Vieira de Oliveira Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Prof. Raimundo da Paz Sobrinho Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EAD Prof. Margareth Torres de Alencar Costa

SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...................................................................... 05 PLANO DA DISCIPLINA............................................................ 06 INTRODUÇÃO........................................................................... 08

UNIDADE I – LÍNGUA E LINGUAGEM: NATUREZA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES............................................................................ 09 1.1 COMUNICAÇÃO ANIMAL E LINGUAGEM HUMANA............. 1.2 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA.................. 1.2.1 Definições de língua.......................................................... 1.3 MODELOS DE COMUNICAÇÃO.......................................... 1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM................................................

11 18 24 28 30

UNIDADE II – LINGUÍSTICA: NATUREZA DOS ESTUDOS, HISTÓRIA E............................................... 37 2.1 LINGUÍSTICA: OBJETO E OBJETIVOS, HISTÓRICO DOS ESTUDOS, CORRENTES DE ESTUDOS.................................. 39 2.2 HISTÓRICO DOS ESTUDOS SOBRE A LINGUAGEM HUMANA.................................................................................... 52 2.3 CORRENTES DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS..................... 57 2.3.1 Estruturalismo................................................................... 57 2.3.2 Gerativismo...................................................................... 58 2.3.3 Funcionalismo.................................................................. 60 2.3.4 Sociolinguística................................................................ 62 2.3.5 Linguística Textual............................................................ 67 2.3.6 Análise do Discurso......................................................... 69 2.3.7 Linguística Histórica......................................................... 70

UNIDADE III – LINGUÍSTICA: PERSPECTIVAS DE ABORDAGEM DA LÍNGUA.......................................... 75 3.1 O PRESCRITIVISMO EM LINGUÍSTICA.............................. 77 3.2 O DESCRITIVISMO EM LINGUÍSTICA................................ 77 3.3 CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA........................................ 79

UNIDADE IV – A PESQUISA EM LINGUÍSTICA..................................................................... 83 ANEXOS................................................................................... 103

APRESENTAÇÃO O presente fascículo integra o material de apoio pedagógico desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI correspondente à disciplina Linguística I, que compõe a estrutura curricular do Curso de Licenciatura plena em Língua Espanhola, na modalidade de educação a distância (EAD). Este fascículo foi organizado e sistematizado com o objetivo de contribuir com os seus estudos e suas reflexões acerca da compreensão dos objetivos e da importância da Linguística como ciência. Nesse sentido, são apresentados aspectos ligados à comunicação humana e à linguagem que possibilita essa comunicação, mais especificamente a língua, a qual é composta de signos verbais, ou palavras, como são mais comumente conhecidas. Sendo a Linguística um campo de estudo que busca uma compreensão do que é e de como funciona a língua, e ainda sendo esta um objeto de natureza complexa, organizamos os conteúdos deste fascículo de modo que você possa ter uma visão ampla sobre as características da comunicação linguística (Unidade I) e, em seguida, sobre como a Linguística constrói seus estudos. Assim, na Unidade II, apresentam-se as definições, o objeto de estudo, os objetivos e um panorama histórico da Linguística, bem como diferentes modo de abordagem da língua. A Unidade III apresenta esclarecimentos acerca das diferenças entre estudos linguísticos e aqueles desenvolvidos pela Gramática Tradicional, enquanto, na última Unidade (IV), você terá uma visão sobre como se organizam trabalhos de pesquisa em Linguística e como contribuem para a ampliação dos conhecimentos na área. Para um melhor aproveitamento das informações e um aprendizado mais consistente, sugerem-se alguns passos, tais como atentar para os objetivos de cada unidade e fazer as atividades sugeridas no final de cada texto, ações que o ajudarão a sedimentar conhecimentos; valorizar e empenhar-se nos trabalhos de grupo tanto quanto nas reflexões individuais; compartilhar ideias; atentar para as referências bibliográficas e, se necessitar, recorrer a elas para aprofundar-se nos conteúdos abordados nas disciplinas de seu curso. Finalmente, procure ler, refletir, analisar criticamente cada ideia e/ou teoria aqui apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor. Bons estudos!

PLANO DA DISCIPLINA 1 EMENTA Estudo da comunicação humana e lingüística como ciência.

2 OBJETIVOS # Refletir sobre a linguagem com base em estudos relativos a sua natureza, características e funções; # Identificar as principais linhas de estudo da linguagem, suas perspectivas e estádios de desenvolvimento; # Conhecer a ciência da linguagem em seus diversos aspectos – objeto, objetivo, método, histórico, linhas de investigação, interfaces com outras áreas do conhecimento; # Compreender as diferentes formas de abordagem lingüística. # Distinguir atitudes prescritivas e descritivas em relação à língua. # Analisar trabalhos de pesquisa lingüística, reconhecendo objeto, objetivos, problematização, método, referencial teórico, resultados; # Subsidiar-se para desenvolver pesquisa em Lingüística.

3 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE I Língua e linguagem: natureza, características e funções. UNIDADE II Lingüística: objeto, objetivos, perspectivas de estudo. História dos estudos lingüísticos. Níveis de análise lingüística. UNIDADE III A prescrição e a descrição nos estudos da linguagem. Concepções de gramática. UNIDADE IV Pesquisa em Lingüística: objeto, objetivos, metodologias. Projeto de pesquisa.

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E AVALIAÇÃO Os procedimentos e metodologias a serem adotados nos encaminhamentos dos conteúdos e na avaliação de rendimentos do aluno deverão obedecer à orientação da Universidade Estadual do Piauí- UESPI, através da coordenação de educação a distânciaCEAD. As dúvidas e dificuldades no decorrer do processo de interação tutor-aluno serão mediadas pelos meios de comunicação disponíveis para tal finalidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AITCHISON, Jean. Introdução aos estudos lingüísticos. Publicações Europa-América. BARROS, Diana Luz Pessoa de. Estudos do discurso. In: FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingüística II. Princípios de Análise. São Paulo: Contexto, 2005. CARNEIRO, Marísia. Pistas e Travessias. Rio de Janeiro: EUERJ, 1999. CASTRO, Joselaine Sebem de. A pesquisa em Psicolingüística. Disponível em < www.pucrs.br/ .../pesquisa/pesquisa/artigo13> Acesso em: 01/11/2009. FARACO, Carlos Alberto. Lingüística Histórica : uma introdução ao estudo da história das  línguas. ed. ver. e ampl. São Paulo: Parábola, 2005.

FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à Lingüística I. Objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2006. LANGACKER, Ronald W. A linguagem e sua estrutura. Rio de Janeiro: Vozes, 1975. LYONS, John. Linguagem e Lingüística uma introdução. Trad. de Maria Winkler Averbug. Rio de Janeiro: LTC, 1981. MALMBERG, Bertil. A língua e o homem. Introdução aos problemas gerais da Lingüística. Rio de Janeiro: Nórdica, 1976. MARTELOTTA, Mário Eduardo. Manual de Lingüística. São Paulo: Contexto, 2009. MARTIN, Robert. Para entender a Lingüística. Trad. de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2003. MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. Introdução à lingüística 1 domínios e fronteiras. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. PERINI, Mário. Sofrendo a Gramática. São Paulo: Ática, 1997. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Lingüística Geral. São Paulo: Cultrix, 1996. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1 e 2 graus. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1997. WEEDWOOD, Bárbara. História Concisa da Lingüística. Trad. de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002. XAVIER, Antonio Carlos; CORTEZ, Suzana. Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias da linguística. 07

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO Definir Linguística como o estudo da língua nem sempre é tão esclarecedor como pode parecer. Isso porque pode dar a entender que o linguista estuda uma língua em particular, o que, embora não seja errado, tampouco dá uma idéia adequada do objeto de estudo dessa ciência. É preciso que se alcance uma compreensão do que realmente faz o linguista e como seu trabalho de cientista se direciona para a geração de conhecimentos que nos ajudam a entender, por exemplo, como se adquire uma língua e como esta se estrutura de modo a tornar-se funcional na vida humana. Como estudante de Letras, área que tem a linguagem humana como foco de interesse, é importante que você saiba como se constroem as informações que temos hoje acerca da língua – de modo geral - e ainda das línguas em particular (como o espanhol, por exemplo). Esse trabalho de reflexão e de investigação é desenvolvido por pessoas que se intitulam linguistas, os quais, em sua grande maioria, se iniciaram como estudante de Letras, fazendo graduação, especialização, mestrado, doutorado, pós-doutorado. Assim foram não só adquirindo conhecimentos, mas também usando-os para pesquisar e gerar mais conhecimentos acerca da linguagem humana. Aliás, na universidade, além do ensino, a pesquisa é uma atividade que deve fazer parte da rotina de trabalho acadêmico. Nesse sentido, mesmo cursando uma Licenciatura, cujo objetivo é primeiramente formar professores, também adquirirá habilidades para fazer pesquisa em Linguística e Literatura de língua espanhola. Nesse sentido, os estudos de Linguística são necessários para quem vai atuar no campo do ensino, já que, para o professor, é importante ter informações acerca do que é uma língua e de como funciona, pois, só assim terá subsídios para planejar ações de ensinoaprendizagem mais efetivas. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), documentos do Ministério da Educação que trazem orientações para o trabalho na escola, tomam seus fundamentos das ciências da linguagem. Face ao exposto, o estudante de Letras tem diante de si uma excelente oportunidade de se iniciar no modo científico de conhecer a linguagem humana – manifesta nas diversas línguas, alcançando uma compreensão que ultrapassa o senso comum, habilitando-se às tarefas em que esses conhecimentos se fazem necessários, incluindo ensinar línguas (materna ou estrangeira).

08

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

UNIDADE 1 LÍNGUA E LINGUAGEM: NATUREZA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES

09

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

OBJETIVO * REFLETIR SOBRE A LINGUAGEM COM BASE EM ESTUDOS RELATIVOS A SUA NATUREZA, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES.

CONTEÚDOS * ASPECTOS DA COMUNICAÇÃO ENTRE SERES HUMANOS E ENTRE ANIMAIS * CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA * FUNÇÕES DA LINGUAGEM

24 10 34

33

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1.1 COMUNICAÇÃO ANIMAL E LINGUAGEM HUMANA A admiração que a linguagem sempre exerceu sobre o homem está atrelada ao poder de não só nomear/  criar/transformar o universo real, mas também trocar experiências, falar sobre o que existiu, poderá vir a existir e até mesmo imaginar o que não precisa nem pode existir. O interesse pela linguagem manifesta-se de variadas formas: mitos, lendas, cantos, rituais ou trabalhos eruditos que buscam explicar essa capacidade humana.

MITOS E LENDAS SOBRE A LÍNGUA HUMANA Ao longo dos séculos se encontram relatos que se referem às primeiras palavras da criança, como também às indagações sobre as condições necessárias para falar. Conta-se, por exemplo, que o rei Psamético do Egito, no século VII A.C, determinou o confinamento de duas crianças desde o nascimento até a idade de dois anos sem qualquer convívio com outras pessoas, para que se observasse como falariam ou se falariam ou ainda que língua falariam no contexto de privação social. Além da crueldade envolvendo o episódio é preciso notar que a hipótese sustentada pelo rei era que, se essas crianças crescessem sem exposição à fala humana e viessem a falar, a primeira palavra emitida espontaneamente pertenceria à língua mais antiga do mundo. Passados dois anos de total isolamento as crianças emitiram uma seqüência fônica que teria sido interpretada como “bekos”, palavra do frígio, língua indo-européia desaparecida, do grupo anatólico, que era falada pelos frígios. Concluiu-se, então, que a língua dos frígios era a língua mais antiga do mundo. (fonte: www.comciencia.br/.../handler.php?section=8) 

11

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

A Torre de Babel, de acordo com o livro de Gênesis, foi uma torre enorme construída na cidade de Babilônia (hebraico: Babel, acadiano: Babilu)  , uma cidade cosmopolita, caracterizado por uma confusão de línguas, também chamado de “princípio” de Nimrod ‘s reino. De acordo com o relato bíblico, uma humanidade unida das gerações seguintes o Dilúvio, fala um único idioma e migrando do Oriente, participou da construção. O povo decidiu sua cidade deve ter uma torre tão grande que ele teria “o seu topo nos céus.” No entanto, a Torre de Babel não foi construído para a adoração e louvor a Deus, mas em vez dedicado à glória do homem, para “fazer um nome” para os construtores: “Então disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre com o seu topo nos céus, e façamonos um nome para nós mesmos, caso contrário seremos espalhados sobre a face de toda a terra. Alguns acreditam que um Deus vingativo e veja o que as pessoas estavam fazendo, desceu e confundiu suas línguas e as pessoas espalhadas por toda a terra. (fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Tower_of_Babel)

12

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Uma questão que sempre se coloca é a seguinte: só a espécie humana possui linguagem ou existe também comunicação entre os outros animais? Acerca dessa questão, alguns estudos foram desenvolvidos, sendo que um deles foi publicado na década de 1950, por Karl von Frisch, sobre a comunicação entre as abelhas.

Conforme os dados da pesquisa de von Frisch, a abelha comunica-se através de uma “dança” na colméia. Quando uma delas encontra flores com pólen, retorna imediatamente para sua colméia e começa a chamada “dança das abelhas”. Para indicar a posição das flores em relação à colméia, em relação ao Sol e a distância em que as flores com o pólen se encontram, o inseto realiza uma série de movimento curtos e rápidos, de acordo com a informação que quer passar às demais. Na medida em que suas colegas operárias percebem o movimento, elas “decodificam” as informações e descobrem imediatamente onde está a fonte de pólen. Os movimentos são variados, mostrando que há diferentes combinações entre eles, para indicar diferentes locações. Descobertas mais recentes sugerem que até mesmo informações sobre o tipo de flor e a qualidade do pólen são transmitidos nessa dança. Os diferentes tipos de dança apresentam-se como verdadeiras mensagens que anunciam a descoberta para a colméia: ao perceber o odor da obreira ou absorvendo o néctar que ela deglute, as abelhas se dão conta da natureza do alimento; ao observar a dança, as abelhas descobrem o local onde se encontra a fonte do alimento.

13

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Essa pesquisa apresenta uma importante revelação sobre o funcionamento de uma “linguagem” animal, o que permite, pelo confronto, avaliar a singularidade da linguagem humana. Embora seja bem preciso o sistema de comunicação das abelhas – ou de qualquer outro animal cuja forma de comunicação já tenha sido analisada – ele não constitui uma linguagem no sentido em que o termo é empregado quando se trata de linguagem humana, como se pretende demonstrar a seguir. As abelhas são capazes de:

(a)  compreender uma mensagem com muitos dados e de reter na memória informações sobre a posição e a distância; e (b) produzir uma mensagem simbolizando  – representando de maneira convencional  – esses dados por diversos comportamentos somáticos. Essas constatações evidenciam que esse sistema de comunicação cumpre as condições necessárias à existência de uma linguagem:

  há 

simbolismo, ou seja, capacidade de formular e interpretar um “signo” (qualquer elemento que represente algo de forma convencional);   há memória da experiência e aptidão para analisá-la, isto é a abelha que comunica “lembra” onde está a fonte do pólen, enquanto as receptoras conseguem “entender”, analisando a dança. 14

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Assim como a linguagem humana, esse sistema é válido no interior de uma comunidade e todos os seus membros são aptos a empregá-lo e compreendê-lo da mesma forma. No entanto, as diferenças entre o sistema de comunicação das abelhas e a linguagem humana são consideráveis, conforme a seguir:

(a)  a mensagem se traduz pela dança exclusivamente, sem intervenção de um “aparelho vocal”, condição essencial para a linguagem; (b) a mensagem da abelha não provoca uma resposta, mas apenas uma conduta, o que significa que não há diálogo entre elas. As respostas são sempre as mesmas, o que se diferencia da linguagem humana. (c)  a comunicação se refere a um dado objetivo, fruto da experiência. A abelha não constrói uma mensagem a partir de outra mensagem. A linguagem humana caracteriza-se por oferecer um substituto à experiência, apto a ser transmitido infinitamente no tempo e no espaço; (d) o conteúdo da mensagem é único - o alimento, sendo que a única variação possível refere-se à distância e à direção. O conteúdo da linguagem humana, por sua vez, é ilimitado; (e) a mensagem das abelhas não se deixa analisar, decompor em elementos menores. 15

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

É esse último aspecto a característica mais marcante que opõe a comunicação das abelhas à linguagem humana. Num enunciado lingüístico como “Quero água”, é possível identificar primeiramente dois elementos portadores de significado: quero e água. Articulandose os dois, tem-se o enunciado Quero água . Quero  e água  também se podem decompor, cada um em dois elementos portadores de significado: quer- (radical verbal) + -o  (desinência número-pessoal); águ - (radical nominal) + -a  (vogal temática nominal). Esses elementos são denominados morfemas. Prosseguindo a decomposição, podese chegar a elementos menores ainda. No enunciado “Quero água”, a menor unidade, os segmentos sonoros, denominados fonemas (/a/  , /g/, /u/, /a/), permitem distinguir significado, como se pode observar na substituição de (á) por (é) em água\égua. Essa decomposição de elementos comprova que as unidades são articuladas umas com as outras, o que é fundamental na linguagem humana, pois permite produzir uma infinidade de mensagens novas a partir de um número limitado de elementos sonoros distintivos. Percebe-se, assim, que a comunicação das abelhas não é uma linguagem propriamente dita, mas um código de sinais, como se pode observar pelas suas características: conteúdo fixo, mensagem invariável, relação a uma só situação, transmissão unilateral e enunciado indecomponível. O linguista Émile Benveniste chama a atenção, ainda, para o fato de essa forma de comunicação ter sido observada entre insetos que vivem em sociedade, o que comprova que esta é condição tanto para a linguagem humana como para os códigos dos animais.

16

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

As características apontadas acima podem ser sintetizadas no quadro 1, a seguir:

COMUNICAÇÃO ANIMAL

LINGUAGEM HUMANA

Não existe diálogo

O diálogo é sua base

A informação recebida não pode ser retransmitida, isto é, um animal não transmite a outro a informação recebida.

É transmitida entre os indivíduos e ainda de geração em geração.

A informação não pode ser alterada. Os sinais são fixos, e para cada informação há um tipo de sinal.

Uma mesma mensagem pode ser transmitida de diferentes formas. Ex.: “Estou com fome!” ou “Ainda não comi hoje!”

Os sinais não podem ser decompostos, ou seja, não podem ser compreendidos em pedaços menores nem retransmitidos. Não há articulação.

É articulada, isto é, juntamse unidades menores para formar unidades maiores: A-s banan-a-s caí-ra-m.

O que é comunicado só vale para o momento da comunicação.

O que se comunica pode se referir ao passado ou ao futuro

Quadro 1: Comunicação humana x linguagem animal

17

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1.2 CARACTERÍSTICAS DA LINGUAGEM HUMANA O termo linguagem tem uma acepção ampla e uma acepção estrita, já que tanto é usado para designar todas as formas humanas de utilizar símbolos para comunicar (a linguagem das cores, a linguagem dos gestos, os sinais de trânsito e outros códigos de comunicação) como para referir a uma forma particular de linguagem que é a língua, a qual se caracteriza pelo uso de símbolos verbais – vocais e articulados pelos seres humanos. Neste fascículo, ao usarmos o termo de linguagem daqui por diante, estaremos atentos ao seu emprego estrito, isto é, tomaremos linguagem como sinônimo de língua,  cujas características distintivas de outras formas de linguagem são as seguintes: Aitchison (1976) estabelece algumas características das línguas humanas, traçando também um paralelo com os códigos de comunicação animal:

1. Uso de sinais sonoros: também alguns animais, como pássaros, insetos, golfinhos, usam sons para se comunicar, mas só os seres humanos possuem um aparelho fonador (figura ), sendo capazes de produzir sons distintivos mínimos, como /a/ /f/ /z/ /ê/, os quais podem se juntar para formar inúmeras palavras.

Figura: Aparelho fonador Fonte: letratura.blogspot.com

18

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2. Arbitrariedade: você já se perguntou por que chamamos de vento   o ar que se movimenta? Não poderia se chamar ponzo  ou taroco ? A falta de uma explicação para a maioria dos nomes que têm as coisas é que indica que há uma relação arbitrária entre os sons dos signos e aquilo que significam. No caso dos animais, muitas vezes se percebe uma relação entre o sinal usado e a mensagem que é transmitida. Um animal que queira pôr de sobreaviso um seu opositor arqueará o corpo em posição de ataque, Na linguagem humana, as onomatopéias são exceção, pois trata-se de sons com que se imitam os sons da realidade, mas são muito reduzidas para invalidar a tese da arbitrariedade dos signos lingüísticos.

Você já parou para pensar de onde vêm os nomes das coisas? Por que computador chama computador? Por que temos de chamar a água que cai do céu de chuva? Marcelo fica muito cismado com esse problema e resolve que vai chamar as coisas do seu próprio modo. Assim, leite vira “suco de vaca”. Mas sua vida começa a ficar difícil quando ele inventa palavras novas para todas as coisas e ninguém mais entende o que ele fala! A autora de  Marcelo, Marmelo, Martelo  (1976) é Ruth Rocha, que escreveu mais de 50 livros para crianças. (verdadeabsoluta.net/loja/livros/marcelo-marme...)

19

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

3. A necessidade de aprendizagem: um gato ou um maçado, desde que nascem, já começam a emitir os sons que usarão em toda sua vida. Mesmo que fiquem isolados de seus semelhantes, ainda assim, miarão ou emitirão grunhidos. Já os bebês humanos dependem de ficar expostos a uma língua para, poderem, mais ou menos por volta dos dois anos de idade, começar a falar. Alguns casos raros de crianças que foram criadas por animais, longe do convívio humano comprovam que, mesmo tendo uma dotação genética para uma língua, precisamos de um estímulo externo, isto é, precisamos ouvir os outros para adquirir competência lingüística.

Fonte: www.fotosdahora.com.br/clipart/cliparts_image...

4. Dupla articulação: conforme exposto acima, a língua humana é articulada, isto é, estruturas maiores são formadas por estruturas de um segundo nível (frases - palavras – morfemas – fonemas). A primeira articulação é aquela em que se unem elementos significativos (palavras/morfemas), enquanto a segunda é a que ocorre entre fonemas, que formam as unidades da primeira articulação. 20

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

5. Diferimento: essa característica da língua significa que podemos falar de coisas que não estão presentes no contexto em que nos comunicamos. Assim, conversamos sobre nossa infância, sobre um incidente ocorrido no dia anterior, sobre sonhos, planos para o futuro. Isso é possível porque a linguagem nos permite imaginar, imagin ar, algo que não ocorre com a maioria dos animais, cuja comunicação requer que os elementos estejam presentes. É por isso que não se verá jamais um animal dando um u m “recado” a outro. Mesmo a abelha que dança para as outras, embora fazendo-as saber sobre o néctar em um lugar distante, só consegue passar essa mensagem, e mais nenhuma outra. Em comparação com a capacidade humana de se referir até ao que não existe, isso é quase nada em termos de diferimento.

Fonte: comunix.org/files/u1/mafalda1.jpg

21

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

6. Criatividade (ou produtividade): Um número muito reduzido de mensagens é o que pode produzir um animal durante toda sua vida. Os seres humanos, por seu turno, podem produzir novos enunciados sempre que quiserem. Uma pessoa pode, nas circunstâncias mais imprevistas, uma fase que nunca tenha sido aí enunciada e mesmo assim ser compreendida, como, por exemplo “Um elefante está voando pela sala!”. Claro que se pode pensar que esse falante está bêbado, ou delirando, o que significa que o enunciado foi compreendido. Cotidianamente, na hora do café, podemos dizer: Que café delicioso! Adorei Adorei esse café! Nunca tomei um café como esse! e tantas outras formas de elogiar a bebida, isto é, sobre a mesma coisa, temos enormes possibilidades de enunciados. Amanhã é meu níver. níver.

Amanhã é meu aniversário. aniversário.

Adoro refri. refri.

Adoro refrigerante. refrigerante.

animal! Ele é animal!

bom! Ele é muito bom!

causar. Ela gosta de causar.

Ela gosta de impressionar / criar confusão. confusão.

ficando. Estamos só ficando.

Estamos só nos relacionando sem compromisso. compromisso.

azarou. Ele me azarou.

22

acabou comigo. Ele acabou comigo.

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

7. Organização em sistema: Mesmo com a nossa criatividade lingüística, lingüí stica, não dizemos qualquer coisa de qualquer jeito. Por exemplo, não ouviremos jamais a palavras  jkrnte , em português nem em espanhol; tampouco uma sentença como Chovi meu antes nesse  caso tanto. Isso demonstra que a língua se organiza em sistemas (compostos de elementos e de regras para sua combinação) que cada falante domina muito mui to bem, produzindo apenas unidades permitidas por esses sistemas, inclusive quando cria uma palavra nova. Note que o termo imexível , pronunciado pela primeira vez por um ministro brasileiro brasileir o na década de 1980, é formado por um prefixo + radical + sufixo, seguindo as regras do sistema mórfico do português.

8. Dependência de estrutura: cada elemento da língua adquire sua identidade na relação que mantém com os demais. Sabemos, por exemplo que i-  é  é um prefixo quando aparece na estrutura de palavras como irreal  ou imóvel. Do mesmo modo, reconhecemos Aqueles  como sujeito em enunciados como Aqueles são meus  pais; ou como adjunto adnominal em Aqueles carros  foram multados. Desse modo, cada estrutura define a identidade de seus componentes, bem como o lugar que ocupará na cadeia estrutural.

LEITURA COMPLEMENTAR SLIDES INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS DA LÍNGUA 23

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1.2.1 Definições de linguagem (língua) O desenvolvimento dos estudos lingüísticos levou muitos estudiosos a proporem definições da linguagem, próximas em muitos pontos e diversas na ênfase atribuída a diferentes aspectos considerados centrais pelo seu autor. Neste item serão apresentadas duas propostas, a de Ferdinand de Saussure e a de Noam Chomsky, que pressupõem uma teoria geral da linguagem e da análise Lingüística. Saussure (1996) considerou a linguagem “heteróclita e multifacetada”, pois abrange vários domínios; é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica; pertence ao domínio individual e social. A linguagem envolve uma complexidade e uma diversidade de problemas que suscitam a análise de outras ciências, como a psicologia, a antropologia etc., além da investigação Lingüística, não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa ciência. Para esse fim, Saussure separa uma parte do todo linguagem, a língua um objeto unificado e suscetível de classificação. A língua é uma parte essencial da linguagem; é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. A língua é, pois, para Saussure “um sistema de signos” - um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo. É “a parte social da linguagem”, exterior ao indivíduo; não pode ser modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade.

24

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

O conjunto linguagem - língua contém ainda outro elemento, conforme Saussure: a fala, que é um ato individual; resulta das combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações. A distinção linguagem/língua/fala situa o objeto da Lingüística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua e outra que analisa a fala. As duas partes são inseparáveis, visto que são interdependentes: a língua é condição para se produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade, portanto, de duas Lingüísticas: a Lingüística da língua e a Lingüística da fala. Saussure focalizou em seu trabalho a Lingüística da língua, “produto social depositado no cérebro de cada um”, sistema supra-individual que a sociedade impõe ao falante. Para o mestre genebrino, “a Lingüística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma, e por si mesma”. Os seguidores dos princípios saussureanos esforçaram-se por explicar a língua por ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso e buscando determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações. A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos, em que cada elemento tem um valor funcional determinado. A teoria de análise lingüística que desenvolveram, herdeira das idéias de Saussure, foi denominada estruturalismo. Os princípios teórico-metodológicos dessa teoria ultrapassaram as fronteiras da Lingüística e a tomaram “ciência piloto” entre as demais ciências humanas, até o momento em que se tomou mais contundente a crítica ao caráter excessivamente formal e distante da realidade social da metodologia estruturalista desenvolvido pela Lingüística. Em meados do século XX, o norte-americano Noam Chomsky trouxe para os estudos lingüísticos uma nova onda de transformação. Chomsky propõe uma definição de linguagem de como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elemento.

25

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Essa definição abrange muito mais do que as línguas naturais, mas também todas as línguas naturais são, seja na forma falada, seja na escrita, linguagens, no sentido de sua definição, visto que toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de sinais gráficos que os representam, se for escrita); mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada sentença só pode ser representada como uma seqüência finita desses sons (ou letras). Cabe ao lingüista que descreve qualquer uma das línguas naturais determinar quais dessas seqüências finitas de elementos são sentenças, e quais não são, isto é, reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela língua. A análise das línguas naturais deve permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e específicas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser “conhecidas” da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e devem ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky, portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie, isto é, transmitida geneticamente e própria da espécie humana. Assim sendo, existem propriedades universais da linguagem, segundo Chomsky e os que compartilham de suas idéias. Esses pesquisadores dedicam-se à busca de tais propriedades, na tentativa de construir uma teoria geral da linguagem fundamentada nesses princípios. Essa teoria é conhecida como gerativismo.

26

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Assim como Saussure - que separa língua de fala, ou o que é lingüístico do que não é - Chomsky distingue competência de desempenho. A competência Lingüística é a porção do conhecimento do sistema lingüístico do falante que lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua; é um conjunto de regras que o falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição da linguagem aos dados lingüísticos que ouviu durante a infância. O desempenho corresponde ao comportamento lingüístico, que resulta não somente da competência Lingüística do falante, mas também de fatores não lingüísticos de ordem variada, como: convenções sociais, crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as atitudes do interlocutor etc., de um lado; e, de outro, o funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. O desempenho pressupõe a competência, ao passo que a competência não pressupõe desempenho. A tarefa do lingüista é descrever a competência, que é puramente Lingüística, subjacente ao desempenho. A língua - sistema lingüístico socializado - de Saussure aproxima a Lingüística da Sociologia ou da Psicologia Social; a competência - conhecimento lingüístico internalizado - aproxima a Lingüística da Psicologia Cognitiva ou da Biologia.

LEITURA COMPLEMENTAR SLIDES LÍNGUA OBJETO DA LINGUÍSTICA 27

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1.3 ‘MODELOS’ DE COMUNICAÇÃO Os primeiros modelos de comunicação têm uma ligação mais estrita com a teoria da comunicação. Esses modelos de comunicação eram bem simples, e desconsideravam aspectos relacionados à pragmática e/ou ao contexto, ligando o escritor ao leitor e passando pelo meio em linha reta. O modelo de Bloomfield (1935) é um exemplo disso:

LOCUTOR => DISCURSO => RESPOSTA DO OUVINTE Alguns anos depois, nos anos 50, alguns pesquisadores tentaram aplicar o modelo de C. F. Shanon para a teoria da informação, sendo desenvolvido inicialmente para aplicação de movimentos de sinais elétricos por fios e a possibilidade de codificação e descodificação por máquinas de um sistema binário.

28

O principal problema desse modelo foi o seu caráter mecanicista, ou seja, as propostas da teoria da informação praticamente não levam em consideração questões “extralingüísticas” ou do contexto sócio-histórico e cultural, além disso tem o fato de excluir a possibilidade de se obter várias interpretações de uma mesma origem — como, por exemplo, no caso de um mapa — e é um processo unidirecional, que não pode ser aplicado para a comunicação escrita. Alguns nos após a divulgação do modelo de Shanon, Bertil Malmberg (1969) e Roman Jakobson (1969), apresentam suas propostas. A preocupação de Jakobson e Malmberg é “completar” ou “ampliar” as propostas anteriores, para que pudesse ser usado para a comunicação verbal, o modelo de comunicação excessivamente simplificado da teoria da informação, da teoria da comunicação ou da cibernética, ou dele aproveitar apenas os elementos necessários

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ao exame da comunicação humana. “Caixas” são assim acrescentadas ou excluídas. Para Jakobson, na esteira dos estudos sobre a informação, há na comunicação um remetente que envia uma mensagem a um destinatário, e essa mensagem, para ser eficaz, requer um contexto (ou um “referente”) a que se refere, apreensível pelo remetente e pelo destinatário, um código, total ou parcialmente comum a ambos, e um contato, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica entre o remetente e o destinatário, que os capacitem a entrar e a permanece em comunicação. Bertil Malmberg e Roman Jakobson foram responsáveis pelo processo de reformulação do modelo de comunicação. Os autores ampliam o modelo com a representação do código, situando a atualização das unidades lingüísticas entre o código e o emissor; introduzem também a preocupação com a relação do emissor e elementos extralingüísticos. O modelo resultante dessa ampliação é um dos mais conhecido entre os estudiosos da linguagem na atualidade. Confira na figura 1, a seguir:

Quadro 2: Modelo do processo de comunicação, segundo Roman Jakobson.

Se as propostas de Jakobson ampliam o modelo da teoria da informação, sobretudo no que diz respeito aos códigos e subcódigos e à variação lingüística, sua contribuição mais conhecida e igualmente relevante para o estudo da comunicação está relacionada com a questão da variedade de funções da linguagem. Jakobson mostrou que a linguagem deve ser examinada em toda a variedade de suas funções, e não apenas em relação à função informativa (ou referencial ou denotativa ou cognitiva), que, por ser a função dominante em certo tipo de mensagem e por ser a que interessa ao teórico da informação, foi, muitas vezes, no século XX principalmente, considerada a única ou a mais importante.

29

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1.4 FUNÇÕES DA LINGUAGEM As funções da linguagem propostas por Jakobson partem da consideração do modelo de comunicação acima, focalizando cada um dos elementos presentes na comunicação. Assim, em qualquer processo comunicativo, alguns elementos assumem papel central e são mais focalizados do que os outros. A função da linguagem que ganha destaque é, por isso, aquela que melhor se adequa à centralidade de qualquer um dos itens constantes no processo comunicativo. O realce particular de cada um dos componentes do modelo comunicativo é feito a partir de uma das funções da linguagem, apresentadas nas figuras a seguir:

Figura 2: Esquema de comunicação

30

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Figura 3: Elementos da Comunicação/Funções da linguagem Fonte: www. jackbran.pro.br

A função referencial, ou informativa, é centrada no componente contextual da comunicação, focando o conteúdo da mensagem, ou seja, apresenta a informação a ser veiculada de modo objetivo e claro, sem fazer referência ao emissor ou destinatário. Esta função é a mais encontrada no discurso jornalístico e acadêmico.

JORNAL ESPANHOL NOTICIA PRIVATIZAÇÃO DE PARTES DA AMAZÔNIA O diário El Pais  afirma que o presidente Lula deu sinal verde para o início da privatização de parte da floresta brasileira. O jornal espanhol ressalta que Lula sempre foi contra as privatizações, assim como o PT, mas se rendeu aos problemas insolúveis relativos à preservação da Amazônia. Segundo o El  Pais , o objetivo do governo brasileiro é inibir o desmatamento com a chegada de empresas para a extração de madeira e outros produtos de forma sustentável. Uma área de 90 mil hectares de floresta amazônica em Rondônia seria a primeira a ser privatizada, já em 2008. (fonte: opiniaoenoticia.com.br/)

31

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

A função emotiva centra-se no emissor da mensagem. As estratégias lingüísticas encontradas nessa função destacam o remetente como parte do conteúdo veiculado, expressando, o caráter emocional e afetivo do enunciador. Os efeitos dessa função são a subjetividade e proximidade do sujeito que veicula a mensagem do conteúdo desta. Esta função predomina em textos que destacam o eu-lírico ou o próprio enunciador, como as poesias.

A função conativa procura organizar o texto de forma a que se imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Nas mensagens em que predomina essa função, buscase envolver o leitor com o conteúdo transmitido, levando-o a adotar este ou aquele comportamento. da linguagem focalizada o destinatário. Essa função é bastante utilizada quando agimos sobre o outro, dando conselhos, fazendo perguntas, pedidos e ordens. Outro uso bastante comum da função conativa é na linguagem da publicidade em que se procura convencer e persuadir o destinatário, produzindo nele comportamentos desejados.

Atinja suas metas comerciaisMultiplique cada dólar investido. Atingimos lucro máximo com o mínimo de investimento.

32

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

A função fática diz respeito ao fato de que usamos certos signos para chamar a atenção (ruídos como psiu, ahn, ei ), ocorrendo quando a mensagem se orienta sobre o canal de comunicação ou contato, buscando verificar e fortalecer sua eficiência. da linguagem centra-se na utilização do canal de contato entre emissor e destinatário. Os efeitos dessa função são a aproximação entre os interlocutores, produzindo interesses comuns, e efetivando a manutenção da interação. A função poética da linguagem se manifesta quando a mensagem é elaborada de forma inovadora e imprevista, utilizando combinações sonoras ou rítmicas, jogos de imagem ou de idéias. Essa função é capaz de despertar no leitor prazer estético e surpresa. A língua é utilizada para produzir mensagens que chamem à atenção o destinatário pela forma como são construídas, elaboradas. A publicidade, assim como a literatura, são formas de uso da língua em que se encontra com mais freqüência a aplicação dessa função.

33

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

A função metalingüística se caracteriza quando a linguagem se volta sobre si mesma, transformando-se em seu próprio referente. Geralmente o entendimento da metalingüística se define pelo fato de o código se tornar objeto da comunicação, possibilitando assim sua avaliação, sua adequação, e sua significação no processo comunicativo. A metalingüística é encontrada nos glossários e dicionários.

Pirâmide s.f. Monumento de base retangular e quatro faces triangulares, que formam uma ponta na extremidade superior. / Fig. Amontoamento de objetos em forma de pirâmide. / Apresentação de acrobacia em que umas pessoas se apóiam sobre outras, formando uma espécie de pirâmide. // Pirâmide das idades, representação gráfica das idades de um grupo humano (geralmente um estado), apresentando-se em abscissas negativas o número dos homens e em abscissas positivas o número das mulheres. // Anatomia. Pirâmide de Malpighi, elemento cônico que forma a substância medular do rim. // Matemática. Pirâmide regular, a que tem por base um polígono regular e cujo vértice se projeta ao centro desse polígono. (As faces de uma pirâmide regular são triângulos isósceles iguais.) (A área lateral de uma pirâmide regular tem por valor o semiproduto do perímetro de sua base por seu apótema. O volume de uma pirâmide é igual à terça parte do produto da superfície da base pela altura.)

34

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

É preciso esclarecer, porém, que as seis funções não se excluem - dificilmente temos, em uma mensagem, apenas uma dessas funções. Entretanto, é engano pensar que todas estejam presentes simultaneamente. O que pode ocorrer é o domínio de uma das funções; assim, temos mensagens predominantemente referenciais, predominantemente expressivas. As funções da linguagem, como descritas por Jakobson, pressupõem a concepção de que a língua tem como função maior e vital os processos de comunicação. Assim, cada uma das funções aqui descritas corresponde às opções do falante de destacar um aspecto da comunicação sobre o outro. No entanto, considerar que o papel da língua é apenas comunicar, é reduzi-la a um código que em nada difere de outros sistemas de comunicação até agora estudados. Além desses modelos baseados na teoria da informação, existem modelos de conversação que invertem as setas dos modelos acima. Criando um papel ativo para o receptor.

35

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADES  1. Analise as capas da revista Veja, a seguir, e comente a função da linguagem predominante em cada uma.

2. Por que se pode afirmar que no poema a seguir, há presença da função metalingüística?

36

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

UNIDADE 2 LINGUÍSTICA: NATUREZA DOS ESTUDOS, HISTÓRIA E CORRENTES DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS

09 37

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

OBJETIVOS * RECONHECER OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS, IDENTIFICANDO OBJETO, OBJETIVOS E CORRENTES DE ESTUDO. * INTEIRAR-SE DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM HUMANA, RECONHECENDO FILIAÇÕES ENTRE ELES. * DISTINGUIR, NAS DIFERENTES ABORDAGENS DA LÍNGUA, RECORTES E OBJETIVOS

CONTEÚDOS * OBJETO E OBJETIVOS DA LINGUÍSTICA * HISTÓRIA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM * CORRENTES DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS

24 10 38 34

33

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.1 LINGUÍSTICA: OBJETO, OBJETIVOS, PERSPECTIVAS DE ESTUDOS Neste tópico trataremos mais especificamente do objeto e dos objetivos dos estudos lingüísticos a fim de nos familiarizarmos ainda mais com aquilo de que se ocupam os lingüistas, estudiosos que buscam deslindar os “mistérios” dessa forma de linguagem que é de uso cotidiano – a língua, e ainda veremos que objetivos buscam alcançar com suas pesquisas. Esse estudo se justifica em razão de que, num curso de graduação em Letras, é importante que o estudante tome conhecimento das bases teóricas da disciplina que dão fundamentação aos estudos de língua, compreendendo qual seu objeto e a se propõem esses estudos. Começaremos comentando uma pesquisa feita junto a estudiosos brasileiros e, a partir daí, estenderemos nossas considerações com base em outras obras que abordam a questão.

2.1.1 OBJETO DA LINGUÍSTICA Na obra Conversas com lingüistas: virtudes e controvérsias  da linguística , Xavier e Cortez (2003) apresentam uma série de entrevistas com renomados lingüistas brasileiros, os quais foram questionados sobre definições de língua, caráter científico da Linguística, compromissos desta ciência com a educação e outros assuntos. Segundo os organizadores da obra, “As questões buscavam fazer os entrevistados sintetizarem em torno dos mesmos assuntos toda a sua experiência enquanto estudiosos da linguagem” (p. 10). Interessam-nos neste fascículo as respostas relativas às seguintes perguntas: Que é Linguística? e  Para que serve a Linguística?, das quais destacamos elementos que nos darão

39

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

base para melhor compreender o objeto e os objetivos dessa ciência:

ENTREVISTADOS

O QUE É LINGUÍSTICA?

Maria Bernardete Marques Abaurre

Campo de estudos que acomoda os mais variados temas a respeito de linguagem e línguas naturais.

Carlos Alberto Faraco

Ciência que tem como objeto a linguagem verbal ou as línguas naturais

Francisco Gomes de Matos

Ciência que se ocupa do processo linguagem em suas múltiplas representações, principalmente a linguagem escrita, a linguagem falada e que também se ocupa das origens, da estrutura e do funcionamento e dos efeitos do uso nos usuários.

Rodolfo Ilari

Entender como a língua funciona não é saber muitas línguas e também não consiste apenas em juntar informações sobre as mais variadas características de uma língua, mas é tentar ver como funciona.

Mary Kato

Ciência que estuda as línguas humanas ou línguas naturais.

Ingedore V. Koch

É a ciência da linguagem verbal. Estuda o sistema lingüístico e também a maneira como a língua é posta em prática no seio da sociedade.

Luís Antonio Marcuschi

É a investigação das formas, dos usos e das atividades lingüísticas.

Maria CecíliaMollica

Área de investigação de conhecimento que se ocupa de uma gama de questões relacionadas à origem, a natureza e a função da linguagem humana.

Quadro 3 : Definições de Linguística Fonte: Xavier; Cortez (2003) - adaptado

40

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Obs .: Veja, ao f inal Obs.: .: V eja, ao inal do f ascículo ascículo g r af  (ANEXOS), OS), f  biog (ANEX OS), f otos otos e uma bio af ia ia profissional dos linguistas citados no quadro.

Em todas as respostas dos lingüistas, um elemento comum se destaca: o foco dos estudos lingüísticos é a língua (= linguagem verbal) em seus mais variados aspectos: forma, estrutura, origem, função, usos. Observe que não se trata de uma língua em particular, mas sim do que é comum a toda e qualquer língua natural (em oposição às línguas criadas pelo homem (artificiais), como a do universo da informática). Obviamente que há lingüistas que se ocupam especificamente da descrição do português ou do espanhol ou de qualquer outra língua (moderna ou antiga). Trata-se, nesse caso, de uma especificação do trabalho do estudioso. Nesse ponto, já podemos constatar que existe uma Linguística Geral e estudos linguísticos específicos, também chamados de Linguística Descritiva. Veja a seguir uma notícia de jornal na qual se pode perceber pontos de vista de lingüistas sobre um determinado fenômeno muito comum em nosso país:

41

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Esta matéria foi publicada na edição de 23 de novembro de 1997 do jornal Folha de São  Paulo :

Leve dicionário na hora de ir às compras  Nesta época de compras, liquidação vira “sale” e as “stores”  vendem com 50% “off”. Levantamento mostra que 15%  das lojas e bares paulistanos são batizados com nomes em inglês Lúcia Martins 

Da Reportagem local A mãe up-to-date  vai neste X-mas  aproveitar uma sale  e conseguir 50% off  em uma toy shop  para comprar um presente para o baby . Se você tem dificuldades para entender a frase acima, desista de fazer compras neste Natal em São Paulo. Usar palavras, expressões ou traduzir nomes inteiros para o inglês é a nova tática para atrair os consumidores, principalmente nos bairros de classe média da cidade. Nos Jardins e na Vila Mariana (ambos na zona sudoeste), é quase impossível encontrar nomes de lojas, de marcas e de serviços em português. “How to get the best price ”, “Aceitamos cards ”, “Fazemos delivery ” são alguns exemplos encontrados nesses bairros. A “invasão” da língua pode ser medida pelo número de lojas com nomes em inglês. De cada 100 lojas de São Paulo, 15 têm alguma palavra ou estrutura do inglês no nome. Essa é uma estimativa da Federação das Câmaras e Dirigentes Lojistas, que fez um levantamento em 3.300 lojas. A explicação de Maurício Stainoff, presidente da federação, é a mesma dada por especialistas. “Inglês tem prestígio”. Os donos de bares também resolveram americanizar. O índice de nomes in english   é o mesmo das lojas. Levantamento da 42

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados mostra que cerca de 15% dos seus 300 associados também têm nomes em inglês. O grupo que estimula o turismo na cidade é chamado de SP Convention Bureau. Segundo o grupo, esse é um nome usado por outras capitais. A mais recente campanha do SP Convention Bureau é a “SP Wellcomes Visa”, para atrair clientes do cartão de crédito. Para a maior parte dos estudiosos da língua, o que ocorre na cidade é apenas reflexo da globalização. A prova disso é a demanda crescente de quem quer aprender a língua. Na cidade, há 3.000 cursos. Para alguns estudiosos do português, o fenômeno é “invasão”. Para outros, apenas um “empréstimo”. Ieda Maria Alves, professora-doutora de Filologia e Língua Portuguesa da USP, está organizando um dicionário de neologismos e levantou cerca de 3.500 palavras novas usadas pela imprensa. Desses, 10% são anglicismos. Entre os recordistas em uso, estão cult , black , talk show  (veja as 20 mais usadas nesta página). Para Ieda, os “empréstimos podem representar um fator de enriquecimento”. No Aurélio , os anglicismos são cerca de 400, menos da metade dos estrangeirismos. Já para Dino Preti, professor-doutor de linguística da PUC-SP, a “infiltração do inglês é absurda e deve ser controlada”. “Essa invasão é difícil de evitar. Acho que o caminho é o fortalecimento das escolas”. (fonte: www.novomilenio.inf.br/.../imagemp/19971123b.jpg

43

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Mas voltemos a nossa questão inicial:

Qual o objeto da Linguística? A resposta é então quase óbvia:

A língua em seus múltiplos aspectos. O fato de ser múltiplo torna esse objeto altamente complexo e, como mostra a história da Lingüística (neste fascículo), os estudos foram, nas suas diversas vertentes, enfocando aspectos diferentes: os gregos, por exemplo, se preocupavam com a eficácia dos discursos e estudavam a língua grega para verificar de que modo os arranjos lingüísticos poderiam fazê-los alcançar sucesso nas assembléias; já os lingüistas comparativistas, principalmente no decorrer do século XIX, buscavam nos elementos fônicos das línguas encontrar parentescos e filiações entre elas. Como se vê, diferentes objetivos geraram diferentes objetos: ora a língua é vista como discurso, ora como estrutura fônica (a isso é que denominamos objeto de estudo). Percebe-se, com esses dois exemplos, o quanto de riqueza há no objeto língua, o que gerou muitas subdivisões no terreno da ciência lingüística, conferindo-lhe na verdade o status de um conjunto de estudos sobre a linguagem humana. Para entendermos melhor as multifaces desse grande objeto de estudo que é a língua, reflitamos sobre o depoimento do professor Ataliba de Castilho quando de suas aulas de Linguística na universidade: Bom, eu quando dou aula na graduação, costumo dizer para os alunos: se você quer entender o que é lingüística e o que é o seu objeto, você precisa pensar um pouco na fábula dos três cegos apalpando o elefante. Cada um apalpava um pedaço e definia o animal por aquele pedaço. Então, o que pegava na perna, dizia assim: “o elefante é assim um cilindro muito duro, rígido, [...] parece que esse animal não se mexe é ocupa posição vertical no espaço”. O outro que mexia lá na tromba, naturalmente, discordava não só quanto à disposição no espaço, quanto à rigidez ao tato, tanto quanto à mobilidade. (XAVIER; CORTEZ, 2003, p. 55).

44

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Assim, como destaca a professora Mary Kato, a Linguística é, na verdade, uma grande área, um termo genérico para muitas subciências. Por exemplo, há lingüistas que estudam a gramática das línguas, enfocando o modo como os elementos se estruturam morficamente ou sintaticamente – os linguistas formais; outros se voltam para as relações entre as estruturas e as funções que elas desempenham na comunicação humana e como expressam os pontos de vistas dos falantes – são os linguistas funcionais; outros ainda se empenham no estudo dos textos – os linguistas de texto, havendo também estudiosos dos fenômenos do discurso, que têm como objeto de estudo o sujeito situado nos diversos discursos que se constroem com a língua. A esses se chamam analistas do discurso (XAVIER; CORTEZ, 2003) Há, portanto, muitas tendências na Linguística, sendo que uma delas é o estudo do chamado “núcleo duro” – fonologia, morfossintaxe e semântica. O lingüista americano Noam Chomsky, por sua vez, defende que o objeto de estudo da Linguística é o conhecimento depositado no cérebro humano que dá ao homem a capacidade de usar uma língua sem que lhe tenham ensinado. Outros, como Marcuschi, “acham que a Linguística pode ser mais ampla e envolve inclusive lingüística de texto, análise do discurso, análise da conversação, por exemplo. Isto é, envolve processos, atividades, e outras coisas mais.” (XAVIER; CORTEZ, 2003, p. 136). A figura a seguir ilustra esquematicamente como a Linguística constrói seu objeto de estudo.

Figura 1: Microlinguística e macrolinguística Fonte: Weedwood (2002, p. 11)

45

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Segundo Weedwood (2002), os termos microlinguística e macrolinguística, embora ainda não estejam bem estabelecidos, são usados para se referir, respectivamente a uma visão mais estrita da língua (ou núcleo duro, como já tornou comum dizer), restrita aos aspectos puramente lingüísticos, como fonemas, morfemas, sintagmas, elementos lexicais e referências vinculadas apenas aos elementos lingüísticos, enquanto a macrolinguística diz respeito a uma visão mais ampliada do escopo da lingüística, incluindo mecanismos psicológicos que se relacionam à produção e recepção da fala (domínio da psicolinguística), as mudanças pelas quais uma língua passa (linguística histórica), as variações lingüísticas vinculadas a elementos da sociedade, como classe, origem, grau de escolaridade (sociolinguística) e outros. Como enfatiza Weedwood (2002, p. 12), Às vezes a lingüística se encontra com a neurologia: inscrita no cérebro, a língua está sujeita a distúrbios (por exemplo, a afasia), extraordinariamente reveladores do seu funcionamento. Às vezes o lingüista tem de ser sociólogo, pois a língua é também, eminentemente um produto social – ou, ainda, psicólogo, pois a produção lingüística ativa todas as faculdades psíquicas (memorização, associação, organização do pensável...) que são do domínio privilegiado da psicologia.

Percebe-se, pois, que, embora seu objeto seja sempre a língua, a Linguística a estuda sob diversos ângulos. Sendo a língua muito complexa, para compreendê-la, são necessários vários modos de abordá-la, daí se geram os diferentes campos de estudos lingüísticos, conforme enfatiza Mollica (XAVIER; CORTEZ, 2003, p. 145), Nessa medida são inúmeros os seus domínios. Nós podemos imaginar seus domínios e outros que estão por vir. E aí, portanto, é amplo o diálogo com outras áreas do saber. [...] É uma área, vamos dizer assim, por si só naturalmente fragmentada, razão pela qual a própria definição vai conter uma dinamicidade muito grande.

É importante observar que, conforme ainda a figura 1 (acima), os sons da língua, fonemas, morfemas, sintagmas, léxico, estão no chamado núcleo duro, constituindo o que é estritamente lingüístico. Isso significa que tais elementos também fazem parte do

46

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

objeto de estudo de vertentes que se situam na órbita do núcleo. Assim o que diferencia psicolinguistas, sociolinguistas, neurolinguistas, analistas do discurso, lingüistas de textos, lingüistas históricos de lingüistas formais é o fato de que estes se atêm a estudar a língua em si mesma (como postulam a correntes formalistas), procurando descrevê-la em níveis de estruturação (organização fonológica, mórfica, sintática), enquanto aqueles levam em conta elementos extralinguísticos (psicológicos, sociais, históricos) para explicar o que é lingüístico. EXEMPLIFICANDO: · Um lingüista formal identifica os sufixos com carga semântica de diminutivo, estudando os seus contextos de ocorrência: –zinha pode ser encontrado em partezinha e pelezinha ; -ula  se verifica em partícula e película . Também observa que o segundo sufixo provoca uma mudança na vogal temática dos nomes (-ula faz com que –e mude para –i), isto é, o nível mórfico altera o nível fônico dos vocábulos. · Diante dessas mesmas ocorrências lingüísticas, o sociolinguista busca associar elementos com os contextos sociais de uso, observando que os sufixos apresentam diferentes graus de formalidade e que o segundo grupo normalmente é encontrado na fala de pessoas mais escolarizadas.

ATIVIDADE  COMPLEMENTAR  1. Leitura do artigo “O caráter imprescindivelmente parcial do objeto da lingüística”, de Bruna Carvalho Santa. Disponível em . Após a leitura do artigo, escreva um comentário sobre a parcialidade da definição saussuriana e da definição chomskyana da língua. Poste seu comentário no portfólio. 47

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.1.2 OBJETIVOS DA LINGUÍSTICA Em seus estudos sobre a linguagem humana (língua) o lingüista visa a atingir determinados objetivos – o que constitui a busca de respostas para as questões colocadas sobre o objeto língua, como já vimos, a partir de enfoques diferentes. Assim, passaremos agora a tratar de objetivos, isto é, do que a Linguística se propõe e que procedimentos adota para tal. Primeiramente, como já destacamos, na Linguística, como em outros campos, o conhecimento é restrito ao objeto e ao ponto de vista adotado pelos diversos grupos de lingüistas. Sem dúvida, a disciplina é empírica (faz parte da experiência de vida das pessoas). Assim, a língua preexiste ao estudioso: ele não a inventou, ela está diante dele para ser estudada. “O primeiro objetivo do lingüista, assim, é descrever o que a realidade lhe impõe” (MARTIN, 2003, p. 15). Lingüística é a ciência que estuda a linguagem. O termo foi empregado pela primeira vez em meados do século XIX, para distinguir as novas diretrizes  para o estudo da linguagem, em contraposição ao enfoque filológico mais tradicional. A filologia ocupa-se, principalmente, da evolução histórica das línguas, tal como se manifestam nos textos escritos e no contexto literário e cultural associado. A lingüística tende a dar prioridade à língua falada e à maneira como ela se manifesta em determinada época. Apresenta ainda uma tendência maior à universalização e aspira à construção de uma teoria geral da estrutura da linguagem que abarque todos os seus aspectos. O desenvolvimento, ao longo dos séculos, de várias hipóteses sobre a formação, evolução e funcionamento da linguagem criou a base para as pesquisas lingüísticas atuais.

Entretanto, a língua em si, em sua inteireza, não é acessível ao estudo, isso porque não há como ver e ouvir tudo o que compõe uma língua (como se deposita no cérebro, por exemplo), desse modo, o linguista, com os dados que observa (os elementos lingüísticos que analisa), tira conclusões, testa e daí constrói uma teoria sobre a língua, sua estrutura e funcionamento. A teoria corresponde a um conjunto de afirmações feitas acerca do que se estuda. Por exemplo, a teoria gerativa afirma que a língua é um conjunto de regras gramaticais de estrutura sintática depositada no cérebro dos falantes.

48

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Obviamente que os gerativistas não tinham como abrir a cabeça de alguém para ver a língua lá depositada, mas podiam verificar que as crianças, em um determinado período de sua vida, começam a falar sem precisar que alguém lhes ensine, bastando que estejam em contato com outros falantes. Também são elas capazes de produzir e compreender frases que nunca ouviram, isto é, o uso da língua não se dá por imitação, e sim por um mecanismo de geração de sequências lingüísticas. Com base nessas observações e raciocínios, construiu-se a teoria da aquisição inata da língua. A Linguística tem, pois, como um dos seus objetivos,  explicar como uma língua é aprendida ou gerada. Tem-se aí o que se denomina de Linguística Teórica, pois teoriza sobre a língua, sem particularizar nenhuma língua específica. A lingüística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas, usando suas particulares linguagens, conseguem realizar comunicação, quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade lingüística é adquirida pelas crianças. Outro objetivo que também se coloca aos estudos lingüísticos é o de descrever línguas naturais específicas, daí temos descrição do português brasileiro, descrição do espanhol da Idade Moderna etc. A esses estudos denominam-se Linguística Descritiva. Em razão de as línguas não serem estáticas, mudando em razão das necessidades dos falantes localizados em diferentes épocas, outro objetivo da Linguística é de caráter histórico. Esses estudos, por exemplo, tomam como objeto de estudo as mudanças que ocorreram na passagem de dialetização do latim até se formarem as chamadas línguas neolatinas, como o português, o espanhol, o italiano, o francês. O objetivo é buscar os mecanismos ou princípios que regem essas mudanças.

49

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Ainda quanto aos seus objetivos, existe a Linguística Aplicada, a qual se propõe a estudar as línguas com vistas a objetivos práticos, como melhorar o ensino-aprendizagem de língua materna ou de língua estrangeira, fazer planejamento lingüístico em nações marcadas pela pluralidade de línguas, decidindo-se, por exemplo, qual língua será considerada oficial, desenvolver trabalhos missionários em comunidades pouco conhecidas. A figura 1 (acima), em que se mostram as diversas correntes dos estudos linguísticos, verificamos que se diferenciam não só pelo objeto dos estudos, como também pelos objetivos que estabelecem para os estudos. Nesse sentido, a seguir (figura 2), apresenta-se uma síntese dessas diferenças entre duas dessas vertentes da Linguística:

Figura 2: Vertentes lingüísticas: objeto e objetivos Fonte: UESPI, 2009

Por fim, apresentamos, a partir do ponto de vista dos lingüistas entrevistados por Xavier e Cortez (2003), algumas considerações acerca da “utilidade da Linguística”. Ao serem postos diante da questão Para que serve a Linguística?, manifestaram o seguinte:

50

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

PARA QUE SERVE A LINGUÍSTICA? Contribuir para uma melhor compreensão de problemas da sociedade, por exemplo: preconceito lingüístico, aquisição da língua materna, ensino de língua. O trabalho científico tem uma utilidade em si mesmo, que é a geração de conhecimentos. Para ajudar os usuários a compreenderem a comunicação humana, a identificarem características do comunicar bem do comunicar para o bem. Serve para esclarecer, orientar usuários quanto à importância de construir uma identidade confiante, segura. Linguística é essa prática pela qual nós tentamos dar o manual de uma prática que funciona sem manual. Assim a Linguística tem servido muito para desfazer certos mitos sobre a aprendizagem de língua (materna e outras), ajudando a melhorar o ensino. Para fazer entender o que é língua. Assim, é preciso descrever línguas. É papel da Linguística explicar. Entender a língua é entender a interação humana, daí a importância de se ter amplos conhecimentos sobre a língua, e é isso que a Linguística propicia. Para nos fazer compreender de que forma nós interagimos, como chegamos a nos entender, como conseguimos construir e dar a entender este mundo que nós construímos, como a realidade é sentida e reproduzida para as pessoas.

LEITURA COMPLEMENTAR SLIDES “PARA ENTENDER A LINGUÍSTICA” 51

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.2 BREVE PERCURSO HISTÓRICO DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM HUMANA No século IV a.C. já se tem notícias dos primeiros estudos cujo foco é algum aspecto da linguagem. Inicialmente, foram razões religiosas que levaram os hindus a estudar sua língua, para que os textos sagrados reunidos não sofressem modificações no momento de ser proferidos. Mais tarde os gramáticos hindus, entre os quais Panini (século IV a.C.), dedicaram-se a descrever minuciosamente sua língua, produzindo modelos de análise que foram descobertos pelo Ocidente no final do século XVIII. Já os gregos preocuparam-se, principalmente, em definir as relações entre o conceito e a palavra que o designa, ou seja, tentavam responder à pergunta: haverá uma relação necessária entre a palavra e o seu significado? Platão discute muito bem essa questão no Crátilo. Platão também se deteve nos problemas fundamentais da linguagem. As questões levantadas em suas obras são cruciais, uma agenda à qual a tradição européia tem retornado, consciente ou inconscientemente, muitas e muitas vezes ao longo de seu desenvolvimento.  Aristóteles desenvolveu estudos noutra direção, tentando proceder a uma análise precisa da estrutura Lingüística, chegou a elaborar uma teoria da frase, a distinguir as partes do discurso e a enumerar as categorias gramaticais. Dentre os latinos, destaca-se Varrão que, assim como os gregos, dedicou-se à gramática, apresentando como uma arte e também como ciência. Os estudos de Varrão, como historiador e filósofo, conferem a seu trabalho um enforque muito diferente do das outras obras romanas sobre linguagem que chegaram até nós. Nas porções remanescentes do De língua latina, Varrão estabelece duas dicotomias problemáticas: o papel da natureza e da convenção na origem das palavras, e a questão da analogia e da anomalia na regulação do discurso. Tal como Platão, Varrão conclui que o significado original das palavras, imposto em concordância com a natureza, foi obscurecido em diversos casos pela passagem do tempo, e que a etimologia pode freqüentemente ajudar a recuperar o significado verdadeiro e original. Por etimologia Varrão entende um tipo de explicação semântica, em vez do tipo de explicação

52

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

primordialmente fonológica da etimologia histórica a que estamos habituados. Traça, também, uma importante distinção entre a natureza subjacente, original, da língua(gem) e o uso, e entre os usos descritivo e prescritivo da analogia. A importância maior dos estudos de Varrão reside na forma clara com que formulou e seguiu até o fim algumas das implicações da dicotomia significado-forma, um legado em que se baseariam gerações posteriores de gramáticos latinos. São pouquíssimas as gramáticas do período entre Varrão e Quintiliano (de 30 a.C. a 100 d.C.) que sobreviveram até nós, embora gramáticos do século I como Q. Rêmio Palemão, Valério Probo e Pansa tenham sido fartamente citados por autores posteriores. A educação romana sob o Império era destinada à formação de oradores. Na Idade Média, um pequeno grupo de eruditos em atividade na universidade de Paris entre 1250 e 1320, denominados modistas consideraram que a estrutura gramatical das línguas é una e universal, e que, em conseqüência, as regras da gramática são independentes das línguas em que se realizam. Perspectiva que guarda semelhanças com aquela que Chomsky séculos depois apresentou. Os modistas se baseavam na noção dos ‘modos de significação”, que fornecia um arcabouço para se descrever o processo de verbalização. Na concepção modista, o objeto do mundo real, externo ao entendimento humano, podia ser apreendido como um conceito pelo entendimento, e o conceito podia ser dado a conhecer por um signo falado, tornando-se dessa maneira um significado. A teoria sintática modista (que recentemente foi objeto de comparação com  a moderna teoria das valências] só pode ser avaliada adequadamente quando se sabe mais acerca de idéias não-modistas sobre sintaxe. Pode ser que os modistas tenham recebido o crédito de idéias que, na época, eram lugar-comum. Certamente, foi o sustentáculo cognitivo de sua teoria, a estrutura subjacente aos próprios modi significandi , que atraiu a crítica da posteridade, mais do que sua teoria propriamente sintática.

53

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Posteriormente, a tradução dos livros sagrados em numerosas línguas, no século XVI, foi um marco nos estudos sobre a linguagem. Também nesta época viajantes, comerciantes e diplomatas trazem de suas experiências no estrangeiro o conhecimento de línguas até então desconhecidas. Em 1502 surge o mais antigo dicionário poliglota, do italiano Ambrosio Calepino. Em 1660, a Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud, que foi modelo para grande número de gramáticas do século XVII, demonstra que a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento e que, portanto, os princípios de análise estabelecidos não se prendem a uma língua particular, mas servem a toda e qualquer língua. A própria origem dessa gramática espelha os elementos conflitantes em ação: o encontro da gramática particular com a filosofia. Enquanto escrevia livros didáticos de latim, grego, espanhol e italiano, Claude Lancelot observou a existência de aspectos comuns a estas e (supôs) a todas as outras línguas. A Gramática de Port Royal é a precursora reconhecida de uma longa série de gramáticas “gerais”, “filosóficas”, “universais” ou “especulativas”, cujos autores estavam preocupados em demonstrar a presença marcante dos princípios lógicos na linguagem, dissociados dos efeitos arbitrários do uso de qualquer língua particular. Na língua portuguesa A Gramática filosófica da língua portuguesa, de Jerônimo Soares Barbosa, escrita em 1803, mas só publicada em 1822, é a representante mais notável dos princípios da Gramática de Port-Royal. O conhecimento de um número maior de línguas vai provocar, no século XIX, o interesse pelas línguas vivas, pelo estudo comparativo dos falares, em detrimento de um raciocínio mais abstrato sobre a linguagem, diferentemente daquilo que foi enfocado no século anterior. É nesse período que se desenvolve um método histórico, instrumento importante para o florescimento das gramáticas comparadas e da Lingüística Histórica. O pensamento lingüístico contemporâneo, mesmo que em novas bases, formou-se a partir dos princípios metodológicos elaborados nessa época, que preconizavam a análise dos fatos observados.

54

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

O desenvolvimento do método comparativo, que resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam ser sistematicamente comparadas no tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, de modo a demonstrar que eram “genealogicamente” aparentadas. Assim como o francês, o italiano, o português, o romeno, o espanhol e as outras línguas românicas tinham se originado do latim, também o latim, o grego e o sânscrito, bem como as línguas célticas, germânicas e eslavas e várias outras línguas da Europa e da Ásia tinham se originado de alguma língua mais antiga, à qual é costume aplicar o nome de indo-europeu ou proto-indo-europeu. O fato de as línguas românicas descenderem do latim e assim constituírem uma “família” era coisa sabida havia séculos. Mas a existência da família lingüística indo-européia e a natureza de sua relação genealógica foi demonstrada pela primeira vez no século XIX pelos filólogos comparativistas. O estudo comparado das línguas vai evidenciar o fato de que as línguas se transformam com o tempo, independentemente da vontade dos homens, seguindo uma necessidade própria da língua e manifestando-se de forma regular. Franz Bopp é um dos estudiosos que se destaca nessa época. A publicação, em 1816, de sua obra sobre o sistema de conjugação do sânscrito, comparado ao grego, ao latim, ao persa e ao germânico é considerada o marco do surgimento da Lingüística Histórica. A descoberta de semelhanças entre essas línguas e grande parte das línguas européias vai evidenciar que existe entre elas uma relação de parentesco, que elas constituem, portanto, uma família, a indoeuropéia, cujos membros têm uma origem comum, o indo-europeu, ao qual se pode chegar por meio do método histórico-comparativo. O grande progresso na investigação do desenvolvimento histórico das línguas ocorrido no século XIX foi acompanhado por uma descoberta fundamental que veio a alterar, modernamente, o próprio objeto de análise dos estudos sobre a linguagem - língua literária - até então. Os estudiosos compreenderam melhor do que seus predecessores que as mudanças observadas nos textos escritos correspondentes aos diversos períodos que levaram, por exemplo, o latim a transformar-se, depois de alguns séculos, em português, espanhol, italiano, francês, poderiam ser explicadas por mudanças que teriam acontecido na língua falada

55

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

correspondente. A Lingüística moderna, embora também se ocupe da expressão escrita, considera a prioridade do estudo da língua falada como um de seus princípios fundamentais. É no início do século XX, com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure, professor da Universidade de Genebra, que a investigação sobre a linguagem - a Lingüística - passa a ser reconhecida como estudo científico. Em 1916, dois alunos de Saussure, a partir de anotações de aula, publicam o Curso de Lingüística geral, obra fundadora da nova ciência. Ao longo do século XX, também foram desenvolvidos estudos com base na analogia,que, tomada em seu sentido mais amplo, desempenha um papel muito mais importante no desenvolvimento das línguas do que simplesmente o de esporadicamente inibir aquilo que, do contrário, seria uma transformação completamente regular do sistema fonético de uma língua. Quando uma criança aprende a falar, tende a regularizar as formas anômalas, ou irregulares, por analogia com os padrões mais regulares e produtivos de formação na língua. Por exemplo, a criança tende a dizer “eu fazi” em vez de “fiz”, tal como diz “comi”, “abri”, “vendi” etc. O fato de a criança proceder assim é uma prova de que ela aprendeu ou está aprendendo as regularidades ou regras de sua língua. Ela prosseguirá seu aprendizado “desaprendendo” algumas das formas analógicas e substituindo-as pelas formas irregulares correntes na fala da geração anterior. Mas, em alguns casos, ela manterá uma forma analógica “nova”, e pode ser então que esta se torne a forma reconhecida e aceita pela comunidade de falantes. Antigamente, a Lingüística não era autônoma, submetia-se às exigências de outros estudos, como a lógica, a filosofia, a retórica, a história, ou a crítica literária. O século XX operou uma mudança central e total dessa atitude, que se expressa no caráter científico dos novos estudos lingüísticos, que estarão centrados na observação dos fatos de linguagem.

56

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.3 ABORDAGENS DA LÍNGUA Conforme você já deve ter percebi a LÍNGUA não é um objeto simples, já que em sua constituição e funcionamento há muitos fatores implicados: cognitivos, estruturais, formais, históricos, sociais. Desse modo, seria impossível dar conta de descrever e explicar um objeto tão complexo de forma adequado se não houvesse um enorme esforço por parte dos estudiosos, os quais acabam se especializando numa abordagem da língua que privilegia determinados fatores. Assim, se criaram as correntes de estudos lingüísticos, cada uma dando mais uma grande contribuição para que os conhecimentos sobre essa faculdade humana cada vez mais se enriqueça. A seguir apresentaremos uma síntese de algumas das principais correntes lingüísticas, seguidas de exemplos de trabalhos de pesquisa vinculados a tais abordagens, de modo a tornar mais claras as explicações:

2.3.1 ESTRUTURALISMO A tradição estruturalista, que tem base nos estudos de Ferdinand de Saussure, adota a definição de língua em oposição à fala, sendo a primeira o objeto da Linguística. Nessa perspectiva a língua é o sistema subjacente à atividade da fala, “mais concretamente, é o sistema invariante que pode ser abstraído das múltipas variações observáveis na fala” (MUSSALIM; BENTES, 2001, p. 23). Segundo essa ótica, a tarefa do linguista é descrever o sistema formal que é a língua, considerada em si mesma e por si mesma, o que em termos saussurianos significa afastar “tudo o que lhe seja estranho ao organismo, ao seu sistema.” (apud MUSSALIM; BENTES, 2001, p. 23). Conforme já citado antes, nesses estudos o objeto de estudo é o chamado “núcleo duro” da língua, isto é, a descrição dos sistemas fonológico, mórfico e sintático, estabelecendo suas características estruturais – elementos componentes e regras de combinação.

57

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

EXEMPLO DE TRABALHO DE ANÁLISE ESTRUTURALISTA

Este trabalho trata de um dos aspectos da língua espanhola, que, para brasileiros estudantes de espanhol e hispano-falantes estudantes de português, constitui um desafio, os heterotônicos. A maioria das palavras mantém em português e espanhol a mesma localização da sílaba tônica, conservando a posição que herdaram da língua de origem. Este grupo de palavras, entretanto, sofreu uma transposição do acento de intensidade nas duas línguas.Quando se observa que algo não soa bem na produção oral ou escrita de aprendizes, se supõe que aí estejam implicados conhecimentos das leis imanentes que regulam toda e qualquer língua. (biblioteca.universia.net/HTML) 

2.3.2 FUNCIONALISMO A teoria funcionalista concebe a língua como um instrumento de comunicação, e postula que esta não pode ser considerada como um objeto autônomo, mas uma estrutura submetida às pressões provenientes das situações comunicativas, que exercem grande influência sobre sua estrutura lingüística. Assim, o funcionalismo analisa a estrutura gramatical tendo como referência a situação comunicativa inteira: o propósito do ato de fala, seus participantes e seu contexto discursivo. Entendemos que a escolha entre as formas tu e você , em Santos, depende da configuração desses fatores conjugados. Não se pode compreender um fato lingüístico sem se levar em conta o sistema ao qual ele pertence. O estudo de uma língua exige que se leve rigorosamente em conta a variedade das funções lingüísticas e dos seus modos de realização no caso considerado. Uma abordagem funcionalista de uma língua natural sempre tem como objetivo o interesse de verificar como se obtém a comunicação com essa língua, ou como os usuários dessa língua dela se utilizam para se comunicar entre si de maneira eficiente. O que se põe sob análise, portanto, é a chamada competência comunicativa.

58

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Dessa forma, o funcionalismo leva em consideração na análise toda a situação comunicativa: o propósito do evento da fala, seus participantes e o contexto discursivo. Halliday (1974,1975, 1976, 1985) propõe uma teoria funcionalista sistêmica, e busca estabelecer relações entre todas as escolhas semanticamente relevantes feitas na língua como um todo, procurando chegar, assim, à resposta do porquê um falante escolhe determinados itens dentre os tantos disponíveis naquela língua para fazer o seu enunciado. O sistema provê todos os elementos necessários para que a língua possa ser utilizada em situações concretas de uso por falantes concretos, mas é também a partir dos fatores externos que o falante deverá proceder para determinar suas escolhas. Cada indivíduo faz parte de um grupo social e usa a língua em situações variadas para atingir diferentes objetivos. Essa abordagem da língua enfatiza, exemplo, a função das unidades linguísticas:no campo da fonologia, procura verificar o papel dos fonemas na demarcação das palavras e na expressividade; na área da sintaxe, o papel da estrutura da sentença no contexto. Os linguistas funcionalistas observaram, por exemplo, que os fonemas apresentam traços que os distinguem uns dos outros (/p/ é diferente de /b/, porque um é sonoro, enquanto o outro é surdo), e esses traços é que propiciam as distinções entre os signos linguísticos  – daí a diferença entre pata e bata ( função distintiva). Além da função distintiva, há também a função demarcadora e expressiva dos fonemas. Isso significa que esses elementos mínimos distribuem-se, nas diversas línguas, em posições que permitem aos falantes reconhecerem o início e o final de uma palavra, além de terem grande importância na força expressiva que os falantes imprimem a determinados segmentos as palavras. No campo sintático, os funcionalistas defendem que a ordem dos elementos é funcional, isto é, motivada por fatores discursivos. Por exemplo, observe as sentenças a) Eu já li esse livro. b) Esse livro eu já li.

59

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Segundo a abordagem funcional, essas duas sentenças não seriam empregadas nos mesmo contextos comunicativos, ou seja, embora se equivalham do ponto de vista semântico, têm funções pragmáticas diferentes (carregam diferentes intenções dos falantes). Outro fator a determinar a estrutura sentencial seria o fato de o elemento já ter sido mencionado anteriormente, como seria o caso da sentença b. Na perspectiva funcional, de acordo com Martelotta (ibidem, p. 162), A Linguística, portanto, tem de tratar de dois tipos de sistemas de regras: as regras semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas (responsáveis pela constituição das estruturas linguísticas), de outro lado, as regras pragmáticas (responsáveis pelos modelos de interação verbal em que as estruturas são usadas).

EXEMPLO DE TRABALHO DE ANÁLISE FUNCIONALISTA

O trabalho tem por objetivo descrever, sob uma perspectiva funcionalista da linguagem, a presença do modo subjuntivo nas orações subordinadas substantivas em entrevistas jornalísticas do espanhol e do português, e a relação entre modo subjuntivo e modalidade epistêmica nesses contextos.

2.3.3 SOCIOLINGÜÍSTICA A tradição de relacionar linguagem e sociedade, buscando vínculos entre língua, cultura e sociedade, fez parte da reflexão de diversos autores do século XX. Segundo Bright, citado por Mussalim e Bentes (ibidem, p. 28), a diversidade linguística é o objeto de estudo dos sociolinguistas. Essa diversidade está relacionada aos seguintes fatores: * identidade social do emissor e do falante – relevante, por exemplo, no estudo dos dialetos de classes sociais e das diferenças entre as falas feminina e masculina;

60

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

* identidade social do receptor ou ouvinte – relevante, por exemplo, no estudo das formas de tratamento, da baby talk (fala utilizada por adultos para se dirigirem aos bebês); * o contexto social – relevante, por exemplo, no estudo das diferenças entre a forma e a função dos estilos formal e informal, existentes na grande maioria das línguas; *o julgamento social distinto que os falantes fazem do próprio comportamento linguístico e sobre os dos outros, isto é, as atitudes linguísticas. Martellota explica que, diferentemente da tradição estruturalista, “A Sociolingüística normalmente tem como objeto a língua falada em situações naturais, espontâneas, em que, supostamente o falante se preocupa mais com o que dizer e menos com o como dizer (ibidem, p. 149). O ponto de partida do estudo é a comunidade linguística, um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que usam um conjunto de normas nos usos que fazem da língua. Nesse sentido, percebe-se que diversidade e variação são inerentes aos usos linguísticos, isso porque nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea, havendo sempre um conjunto de variedades (as variedades linguísticas) e, nesse aspecto, a Sociolinguística, diferentemente das abordagens estruturalistas, busca apreender a variação observada na fala como constitutiva do fenômeno linguístico. EXEMPLO DE TRABALHO DE ANÁLISE SOCIOLINGUISTICA

RESUMO – Este trabalho apresenta alguns dos resultados do levantamento fonético-fonológico das variedades de línguas usadas nas cidades de Sant’ana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguai). O estudo faz parte de um projeto maior que visava descrever parcialmente a fonologia do Português e do Espanhol falados nas duas cidades fronteiriças. Neste artigo serão apresentados os resultados da pesquisa referentes ao sistema consonantal de cada uma das variedades de língua. (Letras de Hoje. Porto Alegre, v. 42, n. 3, p. 169-177, setembro 2007)

61

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.3.4 GERATIVISMO O Gerativismo, ou gramática gerativa, teve início nos Estados Unidos, no final da década de 1950, a partir dos trabalhos de Noam Chomsky. Trata-se de uma abordagem da língua enquanto faculdade da mente humana, ou seja, algo que as pessoas já trazem inscrita em sua genética e que vai maturando à medida que o indivíduo é exposto a uma língua. Segundo Chomsky, “a capacidade humana de falar e entender uma língua [...] deve ser compreendida como resultado de um dispositivo inato, uma capacidade genética e, portanto, interna ao organismo humano [...]” (apud MARTELOTTA, 2009, p. 128). A linguística gerativa procura então verificar como a faculdade de linguagem funcional e como é possível a existência de tantas línguas diferentes se todos os seres humanos têm a mesma programação genética. Nesse sentido, os lingüistas gerativistas vem trabalhando em busca de explicações para essa aparente contradição. Nesse sentido, ao observar os fatos das línguas, um gerativista elabora perguntas de pesquisa, como as seguintes: * O que há de comum entre as línguas humanas e de que maneira diferem entre si? * Em que consiste o conhecimento que um indivíduo possui quando é capaz de falar e compreender uma língua? * Como o indivíduo adquire esse conhecimento? * De que maneira esse conhecimento é posto em uso pelo indivíduo? * Quais são as sustentações físicas presentes no cérebro/ mente que esse conhecimento recebe? (MARTELOTTA, ibidem) Em busca de responder a essas perguntas, o gerativismo propõe-se a analisar a linguagem de forma abstrata, afastando-se da abordagem estrutural e da sociolingüística, que analisam dados das línguas em particular. De acordo com Chomsky, a mente deve ser estudada assim como se estuda o corpo humano; cada parte do cérebro tem sua função, portanto, existe uma parte que é responsável pela

62

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

linguagem. Da mesma maneira como crescimento e as fases de desenvolvimento do corpo humano são determinadas geneticamente, algumas faculdades mentais da mente, como compreensão matemática, habilidade de identificar traços da personalidade dos indivíduos a partir de breves contatos, a habilidade de criar formas artísticas, também são determinadas geneticamente. (orientacaodepesquisa.blogspot.com/  .../o-gerativismo-de-chomsky-gramatica.html)

As noções de gramática interna são arrendatárias dos estudos gerativos, os quais adotam a noção de competência linguística (ou gramática internalizada) e desempenho (enunciados concretos produzidos pelos indivíduos). No exemplo seguinte, fica clara essa distinção:

No final da festa de aniversário do filho, dona Maria ia anunciar que estava na hora de cortar o bolo e disse o seguinte: “Vamos, gente, está na hora de bortar o colo!”. Em seguida ela mesma riu do que dissera e se corrigiu” (adaptado de Martelotta, ibidem, p. 139)

Verifica-se, nessa situação, que a gramática internalizada da falante a fez perceber que ela tinha infringido uma regra de estruturação fonológica, isto é, o desempenho lingüístico não estava de acordo com a norma da gramática da língua. Daí a imediata correção de dona Maria. Em todos esses elementos, percebe-se que há em comum uma relação entre a linguagem e os processos mentais. Nesse sentido, o interesse do estudioso é compreender de que modo a mente atua para que a linguagem “aconteça”, buscando responder a questões como: de que modo se dá aquisição da linguagem? Que mecanismos nos fazem compreender o que ouvimos? Como nossa memória se relaciona com os significados que atribuímos ao eu ouvimos? Que distúrbios podem afetar nossa capacidade de linguagem? O aprendizado de uma língua estr angeira se dá do mesmo modo que o da língua materna?

63

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Sintetizando:

A gramática gerativista retrata o conhecimento mentalizado que os falantes possuem da língua que é a competência lingüística. Esse conhecimento, mesmo que não seja usado, está guardado no cérebro. O uso que cada indivíduo faz desse conhecimento no dia-adia é chamado de desempenho, mas não recebe muita importância do gerativismo. Chomsky estabeleceu dois tipos de gramáticas dentro do gerativismo. Uma delas é a Gramática Universal (GU) que está presente em todas as línguas e remete-se ao estado zero da mente e é comum a qualquer pessoa. As propriedades semântica, sintática e fonológica são integrantes da gramática universal; um exemplo dessas propriedades são os elementos anafóricos: João mora em Curitiba. Ele veio para cá em 1999. Esses elementos se relacionam com elementos da outra fase. A outra é a Gramática Particular (GP) que se utiliza da gramática universal e também das características próprias de cada língua. Os elementos da língua fazem parte da GU, já a forma e ordem de como esses elementos são organizados. (fonte: orientacaodepesquisa.blogspot.com/.../o-gerativismo-dechomsky-gramatica.html)

Leia a seguir um relato de experiência sobre fenômenos que desafiam os lingüistas que trabalham com a aquisição da linguagem:

64

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Durante cinco meses estive de viagem aos Estados Unidos por um programa de intercâmbio. Lá, trabalhei num parque temático infantil. E como já é sabido de muitos, a Flórida é o estado americano que mais possui latinos, isto é, falantes de língua espanhola. As pessoas saem de seu país de origem e vão, ilegalmente para a Flórida, lá formam família, têm filhos, etc. Com esses acontecimentos, a criança, ao nascer nessas famílias, lida dentro de casas com a língua materna, no caso o espanhol (ou qualquer outro, citei o espanhol por serem maioria). Até os quatro anos de idade, é a única língua que a criança oficialmente conhece, até ir para a escola, onde terá de aprender o idioma do país que se encontra, no caso o inglês. No começo é um pouco complicado, mas como crianças têm mais facilidade de aprender uma nova língua por estarem em processo de aquisição de uma linguagem, logo aprendem o novo idioma. Onde trabalhei, muito me impressionou a quantidade de crianças que, com a idade mínima de quatro anos, já falavam fluentemente dois idiomas. Lembro-me de um dia estar dando as orientações do brinquedo as crianças em inglês, quando um amigo meu do Brasil me chamou, então com ele falei em português. Foi quando uma das crianças, com quatro anos de idade, se levanta e grita ao pai que está do lado de fora que eu também falava português. Fique impressionado, pois antes vi a criança conversando em inglês com os outros no brinquedo. Além disso, tive também meus amigos de trabalho, que eram essas criança já na fase crescida. Alguns deles falavam e escreviam nos dois idiomas perfeitamente. Mas uma colega me intrigou. Ela, até os quatro anos de idade falava apenas espanhol. Ao entrar na escola, adquiriu o inglês, e com o passar 65

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

do tempo, ela perdeu completamente sua língua materna, lembrando apenas palavras soltas, aleatórias. De acordo com o estudo de alguns linguistas, como Saussure, um individuo em determinado momento de sua vida, marca, como num interruptor, qual é a linguagem que adquiriu e ela permanece em sua mente. Mas vendo o caso dessa colega, percebi que isso pode ser controverso. A língua materna pode sim ser perdida ou, no caso do interruptor, desmarcada, ou seja, a comunicação verbal passa a ser limitada novamente. A Linguística nunca explicou casos como esse, o que acaba gerando muitas dúvidas em pesquisadores da língua. Claro que, como disse, são apenas especulações, nada comprovado. A língua ainda é de uma complexidade imensurável, e quando junta à mente humana, que é ainda mais complexa, gera temas de pesquisas infinitos. A língua é fantástica. ( fonte: www.webartigos.com/...psicolinguisticos/pagina1.html)

LEITURA COMPLEMENTAR SLIDES “A CAPACIDADE DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM”

66

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.3.5 LINGUÍSTICA TEXTUAL Hoje tomar o texto como unidade de estudo é fato comum, mas o termo linguística de texto só passou a fazer parte da área a partir da década de 1960, quando houve por parte dos estudiosos um esforço teórico, com perspectivas e métodos diferenciados de constituição de um outro campo (em oposição ao campo construído pela Linguística Estrutural), que procura ir além da frase, que procura reintroduzir, em seu escopo teórico, o sujeito e a situação de comunicação, excluídos das pesquisas sobre linguagem pelos postulados estruturalistas, que compreendem a língua como sistema e como código, com função puramente informativa. (BENTES, 2001, p. 245).

Verifica-se, na citação acima que estudar texto implica em ver a língua em seus usos, isso porque, sendo o texto a unidade de comunicação humana (já que não nos comunicamos com palavras soltas), segundo essa perspectiva, é fundamental incluir nas análises linguísticas a situação de comunicação e as características dos interlocutores. A linguística textual busca, então, estudar o texto, sendo que há, primeiramente uma necessidade de definir essa unidade. Um dos conceitos com que se opera atualmente é o de Fávero e Koch (apud MARTELOTTA, 2009, p. 193), as quais definem texto como “uma unidade linguística de sentido e de forma, falada ou escrita, de extensão variável, dotada de ‘textualidade’, ou seja, de um conjunto de propriedades que lhe conferem a condição de ser compreendido pela comunidade linguística como um texto”. Os linguistas de texto consideram assim como objeto de estudo a textualidade , buscando descrever as características que fazem com que reconheçamos os textos e ainda que conhecimentos ativamos para essa atividade. Assim, definem as propriedades textuais, com base em alguns fatores: pragmáticos  (ligados à situação de uso da língua), formais (relativos ao modo como se organizam as unidades linguísticas no tecido textual) e semânticos   (o sentido que o texto possibilita).

67

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Duas propriedades têm sido centrais nesses estudos: a coerência e a coesão textual. A primeira diz respeito à construção do sentido textual, seja na perspectiva da produção pelo locutor, seja na recepção do interlocutor, isto é, o modo como se produz o sentido quando se fala ou se escreve e como esse sentido é reconstruído durante a leitura ou a audição. A coesão “pode ser definida como um conjunto de estratégias de sequencialização responsável pelas ligações linguísticas relevantes entre os constituintes articuladores no texto” (ibidem, p. 195). Quanto a esse aspecto, o estudo procura verificar como conjunções, advérbios, substantivos, adjetivos, conjugações verbais se inter-relacionam no tecido textual, a fim de construir um todo que faça sentido. EXEMPLO DE TRABALHO DE ANÁLISE TEXTUAL

Este trabalho se baseia nos estudos da lingüística textual e na teoria dos gêneros discursivos e tem como finalidade a identificação dos procedimentos de coesão lexical que compõem o gênero discursivo “cartas de leitores”. O corpus é extraído do jornal espanhol “El País” e do brasileiro “Jornal do Brasil”. Por meio de comparações e análises investigamse semelhanças na estruturação dos elementos constituintes desse gênero na Língua Portuguesa e na Língua Espanhola. Dá-se ênfase nos elementos de reiteração lexical, reiteração lexical sinonímica e repetição do designado, pretende-se indicar a utilização das cartas de leitores como ferramenta nas aulas de Língua Portuguesa e Língua Espanhola. O uso das cartas nas aulas de línguas dar-se-á por propostas didáticas que englobem o ensino-aprendizagem da linguagem através do gênero discursivo “cartas de leitores”, no que se refere à sua estruturação e características, além do estudo dos mecanismos de coesão lexical mais utilizados nesse gênero. (www.unifoa.edu.br/portal_pesq/caderno/especiais/...2/curso_letras.pdf) 

68

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2.3.6 ANÁLISE DO DISCURSO A Análise do Discurso, mais especificamente da tradição francesa, que tem ampla penetração no Brasil mantém forte vinculação com os estudos históricos, sociológicos e psicanalíticos. Isso se explica porque o interesse dos analistas do discurso, é compreender como funciona a sociedade, que se manifesta nos diversos discursos. Nesse sentido, busca-se identificar as ideologias (políticas, econômicas, religiosas etc.) que se manifestam nos diversos textos que circulam, assim como “fazer uma leitura” do conjunto social, a partir daquilo que se diz, das escolhas lingüísticas, dos gêneros textuais. Tem-se como foco “a organização global do texto, examinando as relações entre a enunciação (circunstâncias dos diversos dizeres) e o discurso enunciado, bem como entre o discurso enunciado e os fatores sócio-históricos que o constroem.” (BARROS, 2005, p.187). Nessa perspectiva, estuda-se a organização linguística e discursiva do texto e ainda suas relações com a sociedade e a história. Estando inserido em um contexto socio-histórico, os sentidos do texto são contextualizados, relacionando-se aos demais sentidos de outros textos produzidos na mesma época e local. Dessa forma, o analista do discurso, ao analisar um texto, busca o seu sentido na relação entre esse texto e as condições em que ele foi produzido (o papel social do sujeito que toma a palavra, o lugar de onde ele fala, a sociedade a que pertence, a época em que viveu – incluindo fatores políticos, econômicos, religiosos). Vê-se, pois, que se trata de uma abordagem que requer conhecimentos de outras áreas, como a Sociologia, a História, já que o que se busca é uma compreensão sobre o modo como os sentidos se constroem e se reconstroem no interior das relações sociais.

69

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

EXEMPLO DE TRABALHO DE ANÁLISE DISCURSIVA

Este projeto situa-se no âmbito dos estudos da Análise do discurso de base enunciativa e direciona-se para a relação existente entre práticas discursivas e mundo do trabalho, tendo como objetivo específico a investigação do perfil de professor de língua espanhola construído discursivamente pelas provas de seleção de docentes para a rede pública municipal do Rio de Janeiro. A escolha do tema considera a necessidade de aprofundar estudos sobre o gênero prova de seleção de professores e de buscar uma maior compreensão acerca da construção discursiva de perfis de profissionais de ensino que a rede pública espera receber, em específico, docentes de língua espanhola. Nosso corpus está composto pelas provas de 1998 e 2001. ( www.filologia.org.br/.../analiselinguisticodiscur.htm)

2.3.7 LINGUISTICA HISTÓRICA Por que as línguas mudam? Como mudam? São essas as perguntas primárias e primeiras para as quais a linguística histórica busca resposta, desde que se constitui, com rigoroso método, a partir do século passado, mas certamente desde antes, como especulação em torno de problemas cruciais para a compreensão do fenômeno da linguagem humana, ou mesmo desde o mito de Babel, nos confins de nossa história. De acordo com Faraco (2005, p. 13) “a Linguística Histórica se propõe a estudar as mudanças que ocorrem nas línguas humanas no eixo do tempo.” Como as línguas não são estática, mas estão em movimento na fala das pessoas, embora as mudanças ocorram de forma muito lenta, por isso os falantes não percebem de imediato que a língua mudou. Isso fica bem mais evidente quando comparamos realizações lingüísticas do passado distante com o nosso presente.

70

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Nessa abordagem, por exemplo, o estudar a palavra ter, por exemplo, considera-se a sua etimologia, sua evolução fonética e os diversos significados e aplicações que vem tendo, de sua origem até a atualidade:

tenere > t er > teer > ter A Lingüística histórica caracteriza-se também pela busca da origem das línguas. Através do método histórico-comparativo, foi possível se estabelecer uma língua - mãe, o indo-europeu, que seria o tronco lingüístico ou protolíngua de um grupo de línguas da Europa e da Ásia. O mesmo método aplicado às línguas românicas possibilitou o estabelecimento da origem comum destas línguas em uma protolíngua denominada latim vulgar. EXEMPLO DE ESTUDO HISTÓRICO DA LÍNGUA

A MOTIVAÇÃO DAS PALAVRAS: SUA EVOLUÇÃO NA LÍNGUA PORTUGUESA Durante o processo de evolução, as palavras sofrem alterações que muitas vezes fazem com que seu sentido se distancie daquele que originariamente as gerou. Essas alterações semânticas podem ser observadas numa perspectiva diacrônica, pela sucessão de mudanças lingüísticas que se vão atualizando ao longo do tempo. Fatores socioculturais e até mesmo naturais determinam essas transformações, cujo agente é o próprio homem enquanto sujeito falante. Algumas dessas palavras são, pois, consideradas arbitrárias e opacas e não apresentam qualquer relação entre som e sentido; outras apresentam essa relação, sendo consideradas motivadas. Conceitos apresentados por estudiosos da língua como Saussure, Ullman, Herculano de Carvalho, dentre outros, foram utilizados para este breve estudo, no qual nos propomos a examinar os aspectos principais das evoluções etimológicas das palavras, considerando-as a partir de sua motivação fonética (onomatopéias), morfológica (derivação e composição) e semântica (metáforas e metonímias), observando sua variação no decurso do tempo e os processos de mudança pelos quais tiveram de passar até chegarem à sua forma atual. (FONTE: www.filologia.org.br/anais/.../civ09_2.htm) 

71

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADE I 

Fonte: www.overmundo.com.br

Assista ao filme “Ai, que vida” - dirigido pelo jornalista piauiense Cícero Filho e faça um levante algumas expressões típicas da fala dos habitantes do interior do Piauí. Caracterize os personagens em seus aspectos sociais (classe social, escolaridade, profissão, idade) e veja as relações como o modo como usam a língua. Releia o tópico sobre abordagem sociolinguística e se guie pelos elementos apontados como constitutivos do objeto de estudo dessa abordagem.

72

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADE II  RESPONDA AS QUESTÕES QUE SEGUEM 1. “Deixem no bosque uma criança ainda por educar e, supondo que possa manter-se lá, não aprenderá nem sequer a falar” (MALMBERG, 1970, p. 30). A que característica da linguagem humana se refere essa citação? 2. O que significa dizer que o objeto da Lingüística é sempre parcial? 3. As descobertas de Sir. William Jones, na Índia, impulsionaram uma corrente de estudos que viscejou no século XIX, denominada Gramática Comparativa ou Linguística Histórica. (1,5) a. O que foi descoberto pelo diplomata inglês? b. Que tipo de empreendimento de pesquisa foi realizado pelos gramáticos comparatistas? c. Tais estudos são de caráter diacrônico ou sincrônico? 4. Noam Chomsky critica os estruturalistas por se aterem a uma visão de língua enquanto estrutura, sem explicar como o ser humano adquire e usa uma língua (a competência lingüística). Para o autor, a criatividade é o fator responsável por aprendermos muito mesmo com exposição limitada a dados lingüísticos. O que significa criatividade nas postulações chomskyanas? (1,0) 5. O que levou Ferdinand de Saussure a excluir a fala dos estudos lingüísticos? 6. O chamado núcleo duro da Linguística só não contempla: ( ) morfemas ( ) sintagmas ( ) discursos ( ) fonemas ( ) significados 7. A Linguística contemporânea é marcada por interfaces com outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a Sociologia (Sociolinguística) ou a Psicologia (Psicolinguística). O que significa manter interfaces?

73

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADE III  Interprete a seguinte figura à luz dos postulados da Sociolinguística.

74

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

UNIDADE 3 LINGUÍSTICA: DESCRIÇÃO E NORMATIVISMO NOS ESTUDOS DA LÍNGUA

75 09 37

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

OBJETIVOS *DISCERNIR ATITUDES DESCRITIVISTA E PRESCRITIVISTA/NORMATIVISTA EM RELAÇÃO À LÍNGUA, RECONHECENDO A PRIMEIRA COMO PRÓPRIA DOS ESTUDOS LINGUÍSTICOS; * COMPREENDER AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA.

CONTEÚDOS * O PRESCRITIVISMO LINGUÍSTICO * O DESCRITIVISMO LINGUÍSTICO * CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA

24 10 76 38 34

33

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

3.1 PERSPECTIV PERSPECTIVA A DE ESTUDOS: A LINGUÍSTICA LINGUÍSTICA É DESCRITIV DESCRITIVA, A, NÃO PRESCRITIVA PRESCRITIVA “A Linguística é o estudo científico da linguagem humana” (MARTINET, s/d, p. 03). Essa perspectiva coloca o linguista na condição de quem busca conhecer de modo sistemático o seu objeto de estudo, observando-o e procurando construir conhecimentos sobre ele, sem a necessidade de quaisquer atitudes de aprovação ou desaprovação. A Linguística, nesse sentido, se propõe descobrir e registrar as regras segundo as quais se comportam os membros de uma comunidade lingüística, sem tentar impor outras regras, nem tampouco condenar um uso com privilégio de outro. Regra, linguisticamente entendida, diz respeito respeit o àquilo que é inerente aos hábitos lingüísticos lingüíst icos de uma comunidade (reveja o tópico Abordagem Sociolinguística – 2.3.3), 2.3.3) , isto é, ao modo como cotidianamente se expressam e o que isso revela do conhecimento que detém. Perante casos como Vende-se livros, haviam muitas pessoas na  rua, a pessoa que eu lhe falei dela está ali, percurar 

(correspondente a procurar), o lingüista contemporâneo ignora a indignação do gramático purista e também a louvação dos que dizem que em língua tudo vale e tudo deve ser ensinado. Ele não toma partido, mas sim, procura descrever descrever como tais construções se relacionam com a gramática da língua, lí ngua, compara-as com outras e até aponta aquelas que são alvo de atitudes discriminatórias (como o caso da forma verbal percurar ). ). Esse princípio descritivo dos objetivos da Linguística se opõe aos objetivos dos estudos gramaticais tradicionais, que, geralmente, têm um caráter normativo (prescritivo). Segundo Lyons Lyons (1981, p. 85), “O gramático acreditava que sua missão era formular padrões de correção e impor, se necessário, aos falantes da língua, tais normas de comportamento”. Quanto ao lingüista, sua tarefa enquanto pesquisador é fornecer uma visão o mais esclarecedora possível do seu objeto de estudo, incluindo aí as diversas variedades que se manifestam nos falares e que estão ligados a certas características dos falantes, como a classe social, a origem regional, o contato com a escola, a

77

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

idade etc. Não cabe, pois, preconceitos quanto às formas de uso da língua de pessoas analfabetas, pobres, provindas de regiões rurais ou longe dos centros de produção econômica. Os sociolinguistas, sociolinguistas, por exemplo, ao fazerem suas pesquisas, muitas vezes vão em busca justamente de pessoas pessoas que tenham esse esse perfil a fim de verificar as características características de determinadas determinadas variedades variedades lingüísticas em seu estado “puro”, isto é, não influenciadas pelos meios de comunicação ou pela escola.

ATIVIDADE  Assista site YouT YouTube, ube, à entrevista feita por alunos da UNB sobre o que os brasileiros pensam do uso que fazem do português. No endereço: Entrevistas na UnB - trabalho de lingüística.mht>

78

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

3.2 CONCEPÇÕES DE GRAMÁTICA  De acordo com Travaglia (1997), três acepções possui o termo gramática: 1) Gramática Normativa: manual contendo regras para o uso “correto e elegante’ da língua. É também chamada gramática normativa. Segundo Franchi (apud TRAVAGLIA, ibidem, p. 24), “gramática é o conjunto sistemático de normas para o bem falar e escrever , estabelecidas pelos especialistas, com base no uso consagrado pelos bons escritores”. Nesse caso, quando se diz que alguém sabe gramática, reconhece-se que essa pessoa conhece essas normas e as domina, usandoas em suas comunicações e também sabendo como tratar sobre elas. Geralmente os professores são tidos como sabedores de gramática. Para essa concepção de gramática, “a língua é só a variedade dita padrão ou culta e todas as outras formas de uso da língua são desvios, erros, degenerações [...]” (ibidem, p. 24). Assim, tem-se que é “errado” tudo o que não está dentro do padrão (que é considerada a única forma “certa”). Um exemplo seria a forma “Me dá um abraço!”, pois considera-se errado iniciar frases com pronome oblíquo átono. O certo seria então “Dáme um abraço!”, o que, certamente, soaria um tanto estranho numa conversa entre brasileiros. Como as normas usadas como modelo geralmente vêm de obras literárias clássicas, ignoram-se as características da oralidade. Essa atitude discriminatória em relação aos usos não cultos tem base em fatores que não são estritamente linguísticos, criando preconceitos de toda ordem, fazendo com que muitas pessoas analfabetas, de classe social pouco favorecida ou moradores das zonas rurais sejam vistos como inferiores porque não sabem “falar português culto”. É preciso ressaltar que a posição da ciência linguística é contrária a essa atitude preconceituosa.

79

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2) Gramática Descritiva: “diz respeito a um conjunto de regras que o cientista encontra nos dados que analisa [...].” (NEDER, 1992, p. 49 apud TRAVAGLIA, ibidem, p. 27). Tais regras são aquelas usadas pelos falantes nos usos que fazem da linguagem. Considera-se gramatical, portanto, tudo que atende às regras de funcionamento da língua de acordo com determinada variedade linguística. O estudioso, nesse sentido, pode estudar as gramáticas de todas as variedades, descrevendo suas estruturas e funcionalidade. O gramático descritivo é, pois, aquele que busca distinguir, nas expressões de uma língua, as categorias, as funções e relações que entram em sua construção, descrevendo com elas sua estrutura interna e avaliando sua gramaticalidade. Desse modo, nessa visão, não há lugar para preconceitos,  já que o critério é estritamente linguístico. Uma sentença como “Me dá um abraço!” não é considerada errada já que faz parte das normas de uso do português falado no Brasil.

3) Gramática Internalizada: é o conjunto de conhecimentos que permitem aos falantes de uma língua utilizá-la. Esse conceito de gramática adveio das postulações de Noam Chomsky acerca da competência linguística que todos adquirimos à medida que somos expostos a uma determinada língua. Nesse caso, saber gramática é saber falar uma língua, não dependendo de qualquer instrução escolar, já que as regras dos usos linguísticos se inscrevem nas mentes dos falantes. Nesse caso, “não há o erro linguístico, mas a inadequação da variedade linguística utilizada em uma determinada situação de interação comunicativa, por não atendimento das normas sociais de uso da língua” (TRAVAGLIA, ibidem, p. 29). Isso se observaria se alguém, em um velório, se dirigisse a um filho do morto e dissesse: “Então o velho bateu as botas?!”

80

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADE  1 Leia os poemas de Carlos Drummond de Andrade a seguir e responda às questões que seguem: a) SENHOR FEUDAL Se Pedro Segundo  Vier aqui  Com história  Eu boto ele na cadeia  (WWW.algumapoesia.com.br) · Que trecho do poema, seria considerado erro de português pela gramática normativa? Em que consistiria esse “erro”? b) VÍCIO NA FALA Para dizerem milho dizem mio  Para melhor dizem mio  Para pior pió  Para telha dizem teia  Para telhado dizem teiado  E vão fazendo telhados (www. secrel.com.br) · A que camada da população o poeta se refere ao descrever as falas? · Que alteração fonética se verifica nos exemplos citados pelo poeta? · De acordo com a visão da gramática descritiva, pode-se considerar errada essa forma de falar? Explique.

c) PRONOMINAIS  Dê-me um cigarro  Diz a gramática  Do professor e do aluno  E do mulato sabido  Mas o bom negro e o bom branco  Da Nação brasileira  Dizem todos os dias  Deixa disso camarada   Me dá um cigarro (www.secrel.com.br) · A que tipo de gramática, das classificadas nessa unidade, o poeta se refere? 81

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2 Leia o poema a seguir, também de Carlos Drummond da Andrade, e responda às questões que seguem.

Aula de português A linguagem na ponta da língua, tão fácil de falar e de entender. A linguagem na superfície estrelada de letras, sabe lá o que ela quer dizer? Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me. Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a prima. O português são dois; o outro, mistério. ANDRADE, Carlos Drummond de. Boitempo II. Rio de Janeiro: Record, 1999.

1. O poema apresenta três momentos na relação do eu poético com a língua. Caracterize esses momentos. 2. Que mudanças a ação do professor provocou no eu poético? 3. Por que o “outro português”, na visão do poeta é o mistério? 4. Já tratamos um pouco durante nossas aulas sobre as relações entre os objetivos dos estudos gramaticais tradicionais e os estudos lingüísticos. Estabeleça uma relação entre eles e o tema abordado pelo poeta. 5. Com base no que vem estudando sobre teoria da literatura, responda: O que torna o texto poético? 82

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

UNIDADE 4 A PESQUISA EM LINGUÍSTICA

83 09 37

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

OBJETIVOS * CONHECER OS OBJETIVOS E MÉTODOS DE PESQUISA EM LINGUÍSTICA. * COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DAS METODOLOGIAS E TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO EM LINGUÍSTICA.

CONTEÚDOS * DEFINIÇÃO DE PESQUISA * MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO

24 10 84 38 34

33

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

4.1 O QUE É PESQUISA? A fim de compreender melhor como se constroem conhecimentos em Linguística, iniciaremos definindo o que é pesquisa: Uma pesquisa é um processo de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa como atividade regular também pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um conhecimento. (www.coladaweb.com)

Um pesquisador é alguém que busca saber mais profundamente sobre a realidade em suas diversas manifestações. A língua também faz parte dos interesses dos estudiosos, que, como você já sabe, chamam-se lingüistas. Estes se distinguem por pesquisar tudo o que possa trazer esclarecimentos sobre língua, seja de forma geral, seja de forma específica, buscando investigar aspectos de línguas particulares. Desse modo, esses trabalhos vão tornando cada vez mais rico os saberes que já se construíram sobre a língua. Nesse sentido, por exemplo, uma pesquisa pode buscar descrever as estruturas de uma língua indígena ainda não estudada, ou o modo como as influências de outras línguas provocam mudanças numa língua nativa. Muitos outros interesses na área demonstram o quanto o conhecimento sobre língua desafia os pesquisadores: alguns buscam conhecer como o funcionamento da mente determina a aquisição de uma língua, outros buscam verificar de que modo uma dada comunidade utiliza uma língua, buscando correlações com as características dessa comunidade. São muitos os objetivos que se buscam atingir com as pesquisas.

85

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

4.2 O MÉTODO DE PESQUISA Mas para pesquisar não basta ter curiosidade e um objetivo a atingir. É preciso também adotar um método, que, no caso da ciência, chama-se método científico. O método científico pode ser definido como a maneira ou o conjunto de regras básicas empregadas em uma investigação científica com o intuito de obter resultados o mais confiáveis quanto for possível.

Observamos, com Santos (2009, p. 68) que como toda pesquisa é regida por, pelo menos, uma teoria científica. Há, então para cada teoria, deferentes procedimentos metodológicos que são os caminhos adequados a serem seguidos em busca de resultados mais fidedignos possíveis. “Portanto, a metodologia é um conjunto de regras que facilita a condução da pesquisa a fim de que os resultados alcançados sejam coerentes aos pressupostos teóricos”. A disciplina Metodologia Científica, que fez parte do bloco I deste curso, certamente, lhe deu informações valiosas sobre método científico, portanto, não nos estenderemos mais sobre esse assunto. Importante é que você compreenda de que modo o lingüista atua em suas pesquisas, já que também você, durante o curso e ao final dele, terá que também desenvolver trabalhos de investigação relativos à língua espanhola. Nesse sentido, a fim de se compreenderem os métodos de pesquisa adotados no campo da Linguística, necessário, primeiramente, é tomar conhecimento dos princípios teóricos, uma vez que não há metodologia sem os pressupostos de uma teoria. Como já explicado na UNIDADE II, há diferentes correntes de estudos lingüísticos, sendo que aí se criaram também os métodos de pesquisa que possibilitam encontrar as respostas para as indagações sobre a língua que cada corrente constrói. Os exemplos dados na UNIDADE II ilustram trabalhos de pesquisa em cada uma das correntes de estudos. Releia essa unidade. Analisemos o resumo de uma pesquisa sobre ensino de língua:

86

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

RESUMO O presente estudo faz parte do Programa de iniciação científica (PICPIBIC) e tem como objetivo geral apresentar um estudo acerca da inclusão da língua espanhola no sistema educacional da cidade de Uberaba-MG. Como objetivos específicos propõe-se a relatar como se dará a inclusão da língua espanhola na cidade de Uberaba-MG, investigar quais as mudanças culturais causadas pela implantação desse idioma no contexto educacional da cidade de Uberaba-MG e pesquisar a participação política nesse processo de inclusão. Justifica-se pelo interesse da pesquisadora no tema e por acreditar que no atual contexto esta pesquisa pode ser útil àqueles professores que queiram atuar no ensino desse idioma, já que a atitude do governo em incentivar a implantação desse idioma em nosso país fez com que as pessoas se interessassem mais pela língua, e consequentemente pela cultura latina e espanhola. As questões que norteiam esta pesquisa são: 1) Como se dará o processo de inclusão da língua espanhola no contexto educacional da cidade de Uberaba-MG? 2) Quais mudanças culturais causadas pela implantação desse idioma no contexto educacional da cidade de Uberaba-MG? 3) Qual a participação política nesse processo de inclusão? Inicialmente partiremos de um estudo bibliográfico e posteriormente realizaremos um estudo de campo em três escolas, sendo 02 (duas) escolas públicas e 01 (uma) particular do ensino médio e fundamental da cidade de Uberaba-MG. Para tanto, aplicaremos um questionário semi estruturado direcionado aos gestores diretores das escolas alvos da pesquisa, para que possamos ter uma dimensão dos efeitos da implantação desse idioma, posteriormente faremos uma análise apurada dos questionários, a fim de partirmos para nossas considerações finais acerca do tema abordado. (www.artigos.etc.br/a-inclusao-da-lingua-espanhola-no-sistema-  educacional-da-cidade-de-uberaba-mg-uma-visao-politica-e-  cultural.html) 

87

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

No exemplo da página anterior, destacamos alguns elementos que fazem parte de um projeto de pesquisa – tema, objetivos, justificativa, questões que se buscam responder e métodos de busca de dados. Com esse trabalho, o autor contribui com a área da Linguística Aplicada, isto é, traz mais conhecimentos sobre como se incorpora no campo do ensino de línguas a adoção de uma língua estrangeira e os impactos que isso causa. Percebe-se que o pesquisador, em busca de alcançar seus objetivos, elabora um projeto de pesquisa, no qual estabelece todo um plano de investigação que garantirá o sucesso do trabalho. O projeto é o guia do pesquisador, garantindo-lhe um trabalho que será reconhecido pela comunidade científica como válido para a área. O método escolhido inclui um estudo da bibliografia sobre ensino de espanhol, visita aos local onde se dá o fenômeno investigado (escolas), a construção de um instrumento de coleta de dados (o questionário), a participação de sujeitos envolvidos com o fenômeno (gestores das escolas). Ao planejar essas etapas, o pesquisador busca garantir o sucesso de sua investigação.

ATIVIDADE  Leia o artigo “Estudo da gramática da língua espanhola utilizando a educação a distância (EaD)”, no endereço www.letramagna.com/  estudoespanho_ead.pdf   , que apresenta mais um trabalho de  pesquisa acerca do ensino de espanhol. Em seguida, destaque: OBJETIVO DA PESQUISA  JUSTIFICATIVA QUESTÃO QUE SE BUSCA RESPONDER (PROBLEMA DE  PESQUISA)  MÉTODO DE PESQUISA

LEITURA COMPLEMENTAR TRABALHOS DE PESQUISA EM LINGUISTICA 88

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

1 INFLUÊNCIA DE ITENS LEXICAIS DO ESPANHOL NO PORTUGUÊS E SUA MANUTENÇÃO RELACIONADA À VARIÁVEL IDADE NA ZONA FRONTEIRIÇA RIO BRANCO/ JAGUARÃO Glauci Alves, Micheli Porto, Simone Floôr, Simone Peña 

Introdução: A proposta de pesquisa, intitulada “Influência de itens lexicais do Espanhol no Português e sua manutenção relacionada à variável idade na zona Fronteiriça Rio Branco/Jaguarão”, parte da perspectiva geo-sociolingüística, conjugando aspectos geográficos, sociais e lingüísticos, num trabalho de campo e quantitativo, traz a manutenção de itens lexicais do Espanhol pelos falantes de idades mais avançadas em decorrência de todo contato sócio cultural que foi mais intenso em determinado período e que hoje sofre outras interferências de outros meios socioculturais.  A partir disso levantamos as seguintes hipóteses a serem estudadas: - Os itens lexicais do espanhol aparecem e se mantém mais ativos na comunidade de falantes do português que possuem idade mais avançadas, tendo como base a análise de tempo aparente, o qual proporciona indícios de mudança em tempo real de vocábulos espanhóis dentro da LP; ·A zona de fronteira propicia o convívio de um bilingüismo onde a variável idade não interfere neste fenômeno lingüístico; · Existe a ocorrência de uma língua híbrida advinda da mescla do Espanhol com o Português.

89

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Justificativa: O presente estudo se justifica por percebemos que as fronteiras geográficas são espaço preenchidos de conteúdo social e cultural, o que de forma ampla abarcaria e multiplicaria as possibilidades dos falares dos indivíduos fronteiriços. Tais considerações são pautadas por ponderarmos que línguas em contato propiciam uma mescla de empréstimos lingüísticos que carregariam marcas ideologias especificas de suas comunidades oriundas e que essas marcas estariam mais arraigadas ao indivíduos de idade avançadas já que estes teriam uma maior inserção na comunidade vizinha (uruguaia) em termos culturais e acesso a bens de consumo , estes, portanto seriam mais propensos a manutenção de vocábulos do espanhol no seu falar cotidiano em detrimento das novas gerações.

Tema: A utilização de empréstimos da Língua Espanhola na Língua Portuguesa por falantes de uma zona de fronteira Jaguarão/Rio Branco e um maior ou menor uso destes empréstimos linguísticos relacionado à variável idade.

Delimitação do tema: A interferência de vocábulos do espanhol em falantes brasileiros residentes em região de fronteira – Brasil/Uruguai, considerando a variável idade como elemento intensificador da manutenção de empréstimos da Língua Espanhola na Língua materna (Português).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: · Observar a incidência de itens lexicais do vernáculo Espanhol no idioma Português em uma comunidade lingüística de fronteira; · Buscar subsídios através de instrumentos de pesquisa para verificar a ocorrência da manutenção de vocábulos do Espanhol na linguagem cotidiana dos falantes da Língua Portuguesa; · Verificar se a manutenção de léxicos espanhóis está relacionada à variável idade.

90

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

REVISÃO DE LITERATURA: A referida pesquisa busca observar a influência de itens lexicais do Espanhol no Português à luz dos estudos da teoria Sociolingüística, teoria que trata da relação entre língua e sociedade e que é definida por Alkmim como: (...) o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso. Seu ponto de partida é a comunidade lingüística , um conjunto de pessoas que interagem verbalmente e que compartilham um conjunto de normas com respeito aos usos lingüísticos. (ALKMIM, 2003, p. 31)

O que nos faz considerarmos também que se há todo um processo de interação no uso da língua com a sociedade, ao estudar qualquer comunidade lingüística, nos depararemos com a existência de diversidade ou de variação. Já que podemos conceber que toda comunidade pode ser caracteriza pelo emprego de diferentes modos de falar. Pode-se afirmar mesmo que nenhuma língua se apresenta como uma entidade homogênea. Isso significa dizer que qualquer língua é representada por um conjunto de variedades. (ALKMIM, 2003, p. 3233).”

Com isso também podemos conceber que a língua vive em uma constante dinâmica, estando em constante transformação. Dessa forma, ao apreendermos a língua como algo sujeito a interferências sociais, temos na fronteira Brasil/ Uruguai, mais especificamente Jaguarão/Rio Branco, duas comunidades lingüísticas, com características próprias que por coabitarem em um espaço geográfico fronteiriço, compartilham de empréstimos lingüísticos o que permite aos seus usuários toda uma adequação à situação de interlocução muito particular, sustentada pelo movimento migratório das populações e suas contínuas transgressões territoriais. A partir de tais considerações, nossas observações a respeito das influências lexicais do espanhol em jaguarenses

91

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

nativos buscaram como forma de análise lingüística compreender as dimensões geográficas e sociais do contínuo portuguêsespanhol. Elegemos um recorte sincrônico da variável social idade, dado a amplitude de temas que poderiam ser explorados, já que se considerarmos que em uma mesma comunidade lingüística extensa já é possível notar uma grande variação, onde estas variações podem dar-se na “forma de pronunciar os sons, nas construções sintáticas e no uso característico do  vocabulário ” (CAMACHO, 1989:31), numa região de fronteira,

as variáveis lingüísticas ultrapassariam até mesmo as fronteiras políticas. O que poderia de certa forma corroborar para a hipótese levantada da existência de uma língua híbrida que seria uma simbiose das duas línguas, o que de fato foi confirmado, porém cabendo salientar o não apagamento da língua materna ,haja visto , a não utilização de todos os itens lexicais provenientes do espanhol, selecionados na pesquisa.Tais conclusões são apontadas por APPEL E MUYSKEIN que nos diz que: A identidade sociocultural é em grande parte estabelecida e mantida pela linguagem. As pessoas que compõem um grupo social são responsáveis pelo crescimento e pelo fato da linguagem tornar-se uma característica que determina e diferencia o seu meio dos outros. (apud . Morais, pag. 8)

Assim, esta certa “apropriação” de léxicos entre ambas as línguas poderia ser considerada também, pela proximidade tipológica, já que ambas possuem um tronco comum, o latim. O que seria possível justificar nossas considerações pelas palavras de ALMEIDA FILHO (2001) a ordem canônica da oração nas duas línguas é altamente coincidente, a fonte maior do léxico é basicamente a mesma e as bases culturais onde essas são assentadas são compartilhada por ambas as comunidades .Ulsh (1971) estabelece que mais de 85% do vocabulário português tem cognatos em Espanhol.”

92

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

  Assim podemos apreciar que há uma influência do Espanhol no Português, mas como já dito anteriormente sem apagamento total das características próprias das respectivas comunidades de fala, aliado a essas considerações tomamos como delimitador de nossa hipóteses as palavras de Paiva e Duarte (2003, p. 14): O comportamento lingüístico de cada geração reflete um estágio da língua, com os grupos etários mais  jo ven s int rod uzi nd o no vas al ter na ntes qu e, gradativamente, substituirão aquelas que caracterizam o desempenho lingüístico dos falantes de faixas etárias mais avançadas.

A partir de tal consideração podemos compreender que a variável faixa etária torna-se de grande importância em estudos sociolingüísticos, pois a partir de uma análise em tempo aparente seria possível detectar indícios de mudança em tempo real, e que tal evento colaboraria de fato com a nossa hipótese de que haveria uma maior manutenção dos itens lexicais do Espanhol, por pessoas mais velhas já que estas teriam além de todo o contato fronteiriço ,um contato mais efetivo com a língua espanhola já que , o acesso aos bens culturais e até mesmo materiais dava -se de forma mais ampla e restrita através do contato direto com o Uruguai.

METODOLOGIA: Como ponto de partida para escolha dos sujeitos foi levado em consideração variável social extralingüística Idade, a naturalidade jaguarense e grau de escolaridade mínima alfabetizado. Os sujeitos da pesquisa foram constituídos por pessoas de distintas faixas etárias, sendo compostos por indivíduos de 12 a18 anos, de 30 a 40 anos e de 60 a 80 anos. O instrumento utilizado para coleta de dados se deu a partir da preparação de frases acompanhadas de imagens no lugar dos respectivos itens lexicais analisados, onde esses itens lexicais foram selecionados dentre de um leque de vocábulos entendidos como comuns ao repertório dos jaguarenses.

93

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Como principio básico para a pesquisa, estes vocábulos deveriam estar presentes dentro do idioma Espanhol e sendo utilizados como empréstimo lingüístico do país vizinho sem alteração de sua significação, em mesmo poderiam fazer parte do léxico do Português, sendo que os sujeitos deveriam nomear estes itens, o que comprovaria ou refutaria a hipótese do trabalho. A partir disto, foram aplicados 27 questionários que continham 9 imagens de itens lexicais para serem nomeados, sendo que para cada faixa etária escolhida foi solicitada a participação de 9 pessoas, a partir destes dados ,consideramos de suma relevância a apresentação da pesquisa na integra ,visto que existe ocorrência de itens lexicais diversos daqueles esperados onde nestas ocorrências surgiu o item lexical “enfermo” muito comum no idioma Espanhol.

CONCLUSÃO: O fenômeno deu-se com a comprovação parcial da hipótese da pesquisa onde percebemos que existe uma utilização de todos os itens previamente selecionados pelos indivíduos de faixa etária maior ( e aqui citamos especificamente o caso dos itens afeitar,campeira e amolado) mas parece–nos de suma importância -e vindo disto nosso entendimento de comprovação parcial - considerarmos que por nosso estudo estar pautado pela luz do estudos sociolingüístico e que “O objeto da sociolingüística  é a língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto  social, isto é, em situações reais de uso ” (ALKMIM, 2003, p. 31)

o fato de que vários itens lexicais oriundos do Espanhol estiveram presentes no repertório verbal de indivíduos com faixa etária de 30/40 e 12/18 ,desta forma, o uso do termo “manutenção” não seria muito apropriado já que, restringiria essa manutenção em um uso mais efetivo a faixa etária mais avançada ,o que de certa forma ,não poderia ser considerado tendo em vista o quadro de incidência,o qual demonstra que itens como sinaleira ,bolija e mate foram selecionados ao invés dos seus sinônimos respectivos,semáforo, chimarrão, bola de gude. Assim, ponderamos que por mais evidente que possa parecer que houve um contato de maior grau com o país vizinho

94

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

,com motivos especificados anteriormente (aceso a bens ,cultura,etc.) por indivíduos em épocas um pouco mais distantes ,este contato não pereceu ,tendo vista os eventos ocorridos na pesquisa ,o que nos leva a considerar que a fronteira possui uma latente interação e que tal interação de forma alguma feneceu,e tal interação seria o reflexo do resultado da nossa pesquisa. Dessa forma, nos apoiamos em Borstel (2007, p. 61), a qual diz que: Entende-se que o português brasileiro não é uma língua homogênea, pois neste cenário de línguas em e de contato, observa-se que as línguas existem e acontecem, realizam-se de fato, em situações culturais e lingüísticas em um determinado espaço e de um período sócio- histórico e cultural, através da interação dos falantes quando há a representação simbólica da língua e cultura do eu na vida cotidiana interagindo com o outro.

REFERÊNCIAS ALKIMIN, T. M. Sociolinguística. Parte I . In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.) Introdução à lingüística: domínios e fronteiras. 4.ed. São Paulo: Cortez. p.21-77. BORSTEL, Clarice Nadir Von. OS TRAÇOS (INTER)LINGÜÍSTICOS/CULTURAIS E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Revista Línguas & Letras, Vol. 8, ISSN: 1517-7238, No 14 , 1º sem. 2007. p. 51-66 CAMACHO, Roberto G. A variação lingüística. Em Subsídios à proposta curricular de língua portuguesa para o 1º e 2º graus. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação / SP, 1988. V.I. MORAIS, Caroline de. Bilingüismo: o preconceito da sociedade. Disponível em http://www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/  revistas/travessias/ed_002/linguagem/biliguismo.pdf. Acesso em: 31/05/09 PAIVA, Maria da Conceição de; DUARTE, Maria Eugenia Lamoglia (Orgs.).Mudança lingüística em tempo real. RJ: Contra Capa, 2003 ALMEIDA FILHO, José Carlos P. de (org.). Português para estrangeiros interface com o espanhol. 2. ed. São Paulo: Pontes, 2001. SCHLEE, A. G. . Uma terra só. São Paulo: Melhoramentos, 1984

95

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

2 A VARIAÇÃO DO /L/ PÓS-VOCÁLICO EVA MÁRCIA DE FREITAS CUNHA, LIDIANE MENDES MARTINS, ROGER COVALSKI GERALDO, VIVIANE DE FREITAS CUNHA

Introdução: Através de uma pesquisa feita com duas pessoas inseridas em contextos sociais parecidos, pretendemos mostrar o uso de duas variantes de um mesmo fonema; o /l/. e em que contextos essas variações podem ocorrer.

Justificativa: Buscaremos, através desta pesquisa, verificar se exmoradores do campo, ao virem morar na cidade, trazem consigo características fonológicas normalmente encontradas nos falantes da zona rural. Para que a pesquisa não ficasse muito extensa, nos fixamos apenas no uso do /l/, sendo assim, a pesquisa contou com perguntas cujas respostas já estavam norteadas para conterem o fonema /l/.

Tema: A variação do fonema /l/ pós-vocálico.

Objetivo: Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar a variação oral do fonema /l/ no final de sílabas e tentar identificar os possíveis motivos que levam o falante a tal variação.

Teoria: De acordo com Leda Bisol, o /l/ apresenta variabilidade no seu uso, que pode ser ocasionada por fatores extralingüísticos, geográficos e/ou sociais. Portanto, pode ser pronunciado como alveolar [l], velar[t] ou vocalizado[w]. Quando

96

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

em posição pré-vocálica, esse fonema realiza-se como alveolar [l], por exemplo, em lua, sala, etc. Estando em posição pósvocálica, realiza-se como velarizado [t] ou vocalizado [w], por exemplo, em alto, sol, etc. Dentro da Fonologia Tradicional, essas variantes são ditas livres e de aplicação imprevisível, sendo atribuídas a um indivíduo ou a um grupo social ou regional. Essa variação livre, a luz da proposta de Labov (1966,1969,1972), não é tão imprevisível como parece ser. Afinal, fatores lingüísticos e extralingüísticos podem privilegiar o uso de uma das formas, funcionando como condicionadores. (BISOL, 1996, p. 215)

Metodologia da pesquisa: A pesquisa consistiu, primeiramente, em uma entrevista para situar-nos no contexto social dos entrevistados. A seguir, foram apresentadas a eles imagens as quais em todas as respostas constava a fonema /l/, nosso objeto de análise. Por fim, foi proposto um questionário que induzia os informantes a responderem com palavras em que o fonema /l/ aparecesse. Como sujeitos de pesquisa temos: Informante 1 (E): Sexo masculino, 24 anos, escolaridade: ensino fundamental, natural de Jaguarão, morador da zona rural até os 15 anos, classe média. Informante 2 (M): Sexo feminino, 23 anos, escolaridade: ensino superior, natural de Jaguarão, moradora da zona rural até os 7 anos, classe média.

Conclusão: Pudemos observar que o informante 1 (E) utilizava o [l] lateral alveolar vozeado, enquanto o informante 2 (M) utilizava em suas palavras o [w] lateral alveolar vozeado velarizado. A partir disso, buscamos entender o porquê dessas diferenças, já que os dois se situam quase no mesmo contexto social, pois os dois nasceram e moraram parte de suas vidas na campanha e, ao virem para a cidade, o primeiro trouxe sua herança na fala e o segundo não.

97

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

O que achamos interessante, mas que, ao mesmo tempo, dificultou por um momento a nossa pesquisa foi quando perguntamos aos dois se os seus pais falavam com o [l], a resposta dos dois foi que não. Isso estaria de acordo para o segundo entrevistado, que não carrega marcas do dialeto rural, mas não estaria de acordo para o primeiro, já que este sim, carrega essas características. Então, nos perguntamos sobre o porquê de a variação ocorrer somente com o primeiro entrevistado. No decorrer da conversa, o informante 1 (E) nos diz que foi criado a maior parte da infância com a sua avó, e ela sim, falava com [l]. O interessante é que o informante 1 mesmo morando na cidade e sendo casado com uma pessoa que sempre viveu na zona urbana e que, portanto, não carrega esses traços, ainda conserva os traços da zona rural, como o [l] e o r retroflexo alveolar, ambos característicos da zona rural. Chegamos à conclusão de que, talvez, a resposta para nossa pergunta seja o contexto social em que essas duas pessoas vivem, ou seja, o primeiro continua inserido no meio social de antes, conservando os mesmos amigos, a tradição do campo etc.,  já o segundo se desligou completamente da campanha. A nosso ver, a escola não seria a causadora dessa tal variação, já que o primeiro, apesar de ter estudado até o ensino fundamental, sempre estudou na cidade, enquanto o segundo, mesmo tendo o ensino superior, cumpriu metade do ensino fundamental em uma escola da zona rural. Essas diferenças no modo de falar têm origem nas experiências que o aluno vivencia fora da escola, dentro de comunidades de fala, mais recentemente denominadas de redes de fala. (BORTONIRICARDO, 1985 apud FREITAS, 1996).

REFERÊNCIAS BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996. FREITAS, V. A. L.. A variação estilística de alunos de 4a. série em ambiente de contato dialetal, 1996. Dissertação (Mestrado em Lingüística) - Universidade de Brasília, 1996.

98

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ATIVIDADE  · Suponha que você quisesse desenvolver uma pesquisa sobre

o modo como os professores de língua espanhola estão trabalhando nas salas de aula do ensino fundamental em Teresina. · Agora proponha algumas possibilidades metodológicas:

a) Quem seriam os informantes da pesquisa? b) Você usaria que procedimentos para coletar dados? ( ) questionário ( ) entrevista ( ) observação em sala de aula c) Em que lugar (es) você coletaria os dados? · Quanto às bases teóricas para sua pesquisa, que tipo de obras

você selecionaria para se fundamentar? ·  Quanto

à justificativa da pesquisa, por que ela seria importante?

99

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

PARA CONCLUIR, LEIA A ENTREVISTA COM UM DOS GRANDES  LINGUÍSTAS BRASILEIROS, NA QUAL ELE INFORMA SOBRE UM IMPORTANTE EMPREENDIMENTO DE  PESQUISA QUE LIDEROU. Ataliba Teixeira de Castilho foi professor titular da USP (1996-2005), da Faculdade de Filosofia de Ciências e Letras de Marília (19611975), atualmente unidade da Unesp, e do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp (1975-1991). Na Universidade, organizou o Sistema de Bibliotecas e o Sistema de Arquivos. Foi professor visitante da Universidade do Texas. Presidiu a Área de Letras e Lingüística da Capes (1987-1990), a Associação Brasileira de Lingüística (1983-1985), a Associação de Lingüística e Filologia da América Latina (1999-2005) e foi membro do Comitê de Assessores em Letras e Lingüística do CNPq (1991-1993. Participou de programas de pós-doutoramento em universidades da Itália, Portugal, EUA e França. Coordenou os seguintes projetos de pesquisa: Projeto de Estudo da Norma Urbana Lingüística Culta da Cidade de São Paulo [Projeto NURC,  juntamente com Isaac Nicolau Salum (1969-1980) e Dino Preti (desde 1981)]; e o Projeto de Gramática do Português Falado [PGPF]. Atualmente coordena o Projeto de História do Português Brasileiro de São Paulo. É autor de 19 livros, entre os quais Subsídios à Proposta Curricular

100

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

de Língua Portuguesa para o 2. Grau (org.); A Linguagem Falada Culta na Cidade de São Paulo (org., com Dino Preti); A Linguagem Falada Culta na Cidade de São Paulo; Português Culto Falado no Brasil (org.); Gramática do Português Falado (org.); e Para a História do Português Brasileiro (org.). A Editora da Unicamp acaba de lançar o primeiro dos cinco volumes da coleção Gramática do Português Culto Falado no Brasil. Mais que consolidar pesquisas iniciadas ainda na década de 70 por 32 pesquisadores de 12 universidades brasileiras, a coleção traz a chancela do pioneirismo. Trata-se do primeiro trabalho do gênero a ser publicado nas Américas e no mundo romântico, de acordo com o professor e lingüista Ataliba Teixeira de Castilho, coordenador da coleção. Na opinião do professor, as novidades trazidas pela coleção vão “ricochetear na escola, lá na frente”. A mesma escola que, de resto, sempre foi um tema caro ao lingüista, conforme pode ser conferido nesta entrevista. Jornal da Unicamp – Como e quando foram iniciados os trabalhos acerca do livro que acabou de ser publicado? Ataliba Teixeira de Castilho - – A publicação do primeiro volume da Gramática do Português Culto Falado no Brasil representa a culminação de um esforço muito grande que teve início ainda na década de 70, através do Projeto da Norma Linguística Urbana Culta (Projeto NURC). O objetivo era fazer uma boa documentação e análise do português culto falado em cinco capitais brasileiras: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Originário do México, esse projeto teve uma dimensão hispano-americana, tendo sido introduzido no Brasil em 1969, dois anos depois de ter se iniciado na América Espanhola. Na verdade, ele viria a desenvolver-se melhor aqui do que em seu lugar de origem.

101

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

Foi então constituído um grupo com pesquisadores da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Havia um roteiro de entrevistas e nós procurávamos pessoas de formação universitária, de três faixas etárias, nascidas nas capitais sob estudo, e que tivessem cursado a universidade no local de origem. Só em São Paulo foram feitas 350 horas de gravações. Todo esse material, e ainda amostras das outras capitais, está guardado no Cedae (Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulálio”) do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. Está disponível para qualquer pessoa que queira consultá-lo. JU – As gravações duraram quanto tempo? Castilho – As entrevistas foram gravadas de 1978. De 1985 começamos a transcrever as fitas. Tratase de um processo muito penoso – cada hora de gravação consome em média 7 horas de trabalho. No nosso caso, havia a exigência de não omitir absolutamente nada do que tinha sido falado. Queríamos saber de fato como esse pessoal falava. Depois disso veio a publicação de amostras dessas transcrições – de 1990 saíram três volumes com as transcrições das entrevistas feitas em São Paulo, seguindo-se as demais capitais. A publicação dessas amostras fez com que explodisse por todo o país uma quantidade enorme de estudos sobre a oralidade, fenômeno que, por incrível que pareça, só virou objeto científico na Lingüística por causa de um acidente tecnológico que foi a invenção do gravador portátil. Por Jornal da Unicamp (fonte: http://www.aprendaki.com.br/ entrevista_ver.asp?id=11)

102

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

ANEXOS LINGUISTAS ENTREVISTADOS POR XAVIER E CORTEZ (2003) – BIOGRAFIA MARIA BERNARDETE MARQUES ABAURRE Possui graduação em Letras (Português/  Inglês) pela Universidade Federal do Espírito Santo (1969), mestrado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1973) e doutorado em Lingüística (PhD, Linguistics, State University of New York (1979). Atualmente é professora titular de Fonética e Fonologia da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística (Teoria Fonológica), atuando principalmente nos seguintes temas: fonologia do português, interface fonologia/sintaxe, prosódia, aquisição da linguagem escrita, paradigma indiciário e dados singulares.

CARLOS ALBERTO FARACO Possui graduação em LETRAS PORTUGUÊS/  INGLÊS pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1972), mestrado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1978) e doutorado em Linguistics - University of Salford (1982). Fez pósdoutorado em Lingüística na University of California (1995-96). É Professor Titular (aposentado) da Universidade Federal do Paraná. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Lingüística Aplicada, atuando principalmente nos seguintes temas: Bakhtin, discurso, dialogismo, ensino de português e lingüística. 103

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

FRANCISCOS GOMES DE MATOS É um professor e lingüista brasileiro, com ênfase em lingüística aplicada, atuando principalmente em lingüística aplicada, ensino de inglês, princípios da lingüística e material didático.Graduado em Letras (1956) e em Direito (1958) pela Universidade Federal de Pernambuco, obteve o título de mestre em Letras pela Universidade de Michigan em 1960 com a dissertação  Ensino de linguas no  Brasil  e, em 1973 o título de doutor em Lingüistica Aplicada ao Ensino de Línguas, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com a tese A influência de princípios da lingüística em manuais para professores de inglês.Fundador da Associação Brasileira de Lingüística, integrou sua primeira diretoria, como secretário, além de ter sido seu presidente no biênio 19811983. Atualmente é professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco, ministrando aulas na pós-graduação (mestrado e doutorado) as disciplinas Lingüística, Psicolingüística e Lingüística Aplicada, além de orientador na elaboração de resenhas, artigos, dissertações e teses.

104

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

RODOLFO ILARI Tem graduação em Letras Neolatinas Português e Francês pela Universidade de São Paulo (1967), mestrado em Lingüística - Université de Besançon (1971) e doutorado em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (1975). Fez parte do grupo que fundou o Departamento de Lingüística da Universidade Estadual de Campinas; vem atuando como colaborador voluntário (aposentado) nessa mesma universidade. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística, tendo trabalhado principalmente nos seguintes temas: lingüística românica, semântica, pragmática, aspecto verbal, ensino de língua materna. Publicou livros destinados ao ensino de graduação de lingüistica (particularmente lingüística românica, semântica e características do português brasileiro). Traduziu várias obras, entre as quais o Breviário de Estática de Benedetto Croce e o Dicionário de Lingüística de Trask. A partir de 2007 é titular de Português no Instituto de Espanhol, Português e Estudos Latinoamericanos da Universidade de Estocolmo. INGEDORE V. KOCH Possui graduação em Letras Português Literatura pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras Castro Alves (1974), graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade de São Paulo (1956), mestrado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1977) e doutorado em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1981). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística, atuando principalmente nos seguintes temas: lingüística textual, referenciação, argumentação, língua portuguesa e construção do sentido. 105

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

MARYKATO Possui graduação em Letras pela Universidade de São Paulo (1957), mestrado em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universidade de São Paulo (1969) e doutorado em Lingüística pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1972), pós-doutorado em Harvard, UCLA , USC e U. de Maryland. Atualmente é professor titular colaborador voluntário da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Sintaxe comparada, Linguìstica Histórica e Aquisição da Linguagem. Atua principalmente nos seguintes temas: sintaxe e discurso (tópico e foco), sintaxe e morfologia (pronomes fortes,fracos e nulos), construções-Q perguntas parciais, relativas e clivadas). Coordena atualmente o Projeto Romania Nova, com Francisco Ordoñez ( SUNY). Participa do projeto Temático da FAPESP “Sintaxe Gerativa do Português Brasileiro na Entrada do Século XXI: Minimalismo e Interfaces”, coordenado por Jairo Nunes. Orientou 26 teses de doutorado e 41 dissertações de mestrado.

LUIS ANTONIO MARCUSCHI Possui graduação em Philosophisches Seminar Departamento de Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1968) , doutorado em Letras pela Universitat Erlangen-Nurnberg (Friedrich-Alexander) (1976) e pós-doutorado pela Universitat Freiburg (Albert- Ludwigs) (1988) . Atualmente é professor titular da Universidade Federal de Pernambuco. Tem experiência na área de Lingüística , com ênfase em Teoria e Análise Lingüística. Atuando principalmente nos seguintes temas: Filosofia da Linguagem, Metodologia, Epistemologia, Lógica. 106

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

MARIA CECILIA MOLLICA Possui graduação em Licenciatura Em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1972), mestrado em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1977) e doutorado em Lingüística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1989). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Lingüística, com ênfase em Teoria e Análise Lingüística, atuando principalmente nos seguintes temas: linguística, variação e mudança, educação, alfabetização e educação de jovens e adultos.

107

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

108

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

AVALIAÇÃO DO FASCÍCULO Prezado(a) cursista: Visando melhorar a qualidade do material didático, gostaríamos que respondesse aos questionamentos abaixo, com presteza e discernimento. Após, entregue a seu tutor. Não sendo necessário assinar Unidade:___________________________________ Município:_______________________________  Disciplina:_______________________________________ Data:______________________________ 

1 – No que se refere a este material, à qualidade gráfica está visualmente clara e atraente ( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM 2 – Quanto ao conteúdo, está coerente, contextualizado à sua prática de estudos ( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM 3 – Quanto às atividades do material, estão relacionadas aos conteúdos estudados, e compreensíveis para possíveis respostas. ( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM 4 – Coloque abaixo suas sugestões para melhorar a qualidade deste e de outros materiais  ____________________________________________________________________________________________   __________________________________________________________________________   ___________________________________________________________________________   ____________________________________________________________________________   _____________________________________________________________________________   _____________________________________________________________________________   ___________________________________________________________________________  109

UESPI - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ - ENSINO A DISTÂNCIA

110

View more...

Comments

Copyright ©2017 KUPDF Inc.
SUPPORT KUPDF