Exegese de João 7_53-8_11 - A mulher pecadora

May 3, 2019 | Author: Evaldo Beranger | Category: Gospel Of Luke, Gospel Of Mark, Jesus, Gospel Of Matthew, Saint
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Uma pecadora em julgamento (João 7:53-8:11) Exegese

Trabalho apresentado por

Evaldo Beranger Na disciplina Escritos Joaninos

Prof. Isidoro Mazzarolo

Rio de Janeiro, Outubro de 2006

2

1. Delimitação do texto e algumas considerações sobre o contexto imediato

A perícope que vai de 7:53 a 8:11 trata da mulher adúltera que foi livre do apedrejamento através de uma palavra de Jesus que se tornou proverbial até os dias atuais. É considerada por todos os comentaristas consultados1 como uma interpolação2. Só isto já bastaria para delimitar o início e o fim da perícope, tendo em vista a análise manuscriptológica da seção. No entanto, cabe aqui uma observação de que a seção, que tem início, conforme a Bíblia de Jerusalém em 7:1 (A festa das tendas – A grande revelação messiânica, A grande Rejeição) tem a sua continuidade natural entre 7:52 e 8:11 quebrada pela interpolação da presente perícope. A seqüência, segunda a BJ 3, seria a seguinte: 7:1-24   – Jesus sobe a Jerusalém para a festa e ensina. 7:25-30  – Discussões do povo sobre a origem de Cristo. 7:31-36 - Jesus anuncia a sua próxima partida. 7:37-39 – Promessa da água viva. 7:40-52 - Novas discussões sobre a origem de Cristo 8:12-13 - Jesus, luz do mundo. 8:13 -29 - Discussão sobre o testemunho que Jesus dá de si mesmo... Como se vê, a perícope de 7:53-8:11 para a BJ é desajeitada no esquema proposto e na nota de rodapé se diz que ela tem um estilo sinótico e poderia ser atribuída a São Lucas, não podendo ser de São João. Bruce 4 é tão enfático no deslocamento desta perícope em relação ao contexto que trata dela em apêndice e não no decorrer do comentário, indo naturalmente de 7:52 para 8:12 sem solução de continuidade. Sua estrutura fica assim delineada: 7:1-10:39 – O Ministério em Jerusalém. 1. A Festa dos Tabernáculos (7:1-8:59). a) Jesus e seus irmãos (78:1-9). b) entusiasmo na festa (7:10-13). c) Jesus na Festa (7:14-8:59) 1. Moisés e Cristo (7:14-24) 2. As reivindicações messiânicas de Jesus (7:25-31). A água viva: continuação do debate messiânico (7:37-44) 5. Descrença em alto nível (7:45-52). 6. A luz do mundo (8:12-20). 7. “Eu sou” (8:21-30). 8. Os filhos de Abrão (8:31-59). Já Hendriksen5, embora considere que a evidencia textual para a presença desta perícope neste local em João seja muito fraca, argumenta que a inserção é apropriada. Para ele é uma controvérsia na mesma linha das controvérsias do capítulo anterior e uma preparação para a perícope seguinte, onde Jesus se 1

Vide Bibliografia Vide Critica Textual. 3 Bíblia de Jerusalém – Paulus. São Paulo, SP, SP, 2002 4 Bruce, F.F. F.F. João. Introdução Intr odução e Comentário. Mundo Cristão. São Paulo. SP, 1987 p.150-182 5 Hendriksen, William. João, Comentário do Novo Testamento. Editora Cultura Cristã. São paulo. SP, SP, 2004 . p. 365-368. 2

3

declara a luz do mundo, “lembremo-nos de que esta mulher estava caminhando em escuridão moral” 6. Considerando o texto como ele se encontra em nossas versões modernas, sem levar em conta a crítica textual, decisiva neste caso, ainda assim, nota-se a favor desta delimitação da perícope que há evidências internas que indicam o início e o fim da perícope. Assim, vejamos: 1. Mudança de espaço: 7:45-52, Perante os chefes dos sacerdotes e 7:53, Casa... Monte das Oliveiras... Outra vez no templo. 2. Mudança de personagens: 7:45-52, guardas, chefe dos sacerdotes, fariseus, Nicodemos 7:53 -8:11, Jesus, a multidão, os escribas e fariseus, a mulher. 3. Assuntos e temas diferentes: 7:45-52, Frustração em prender Jesus. 7:53 – 8:11, Armadilha para acusá-lo. 8:13-14, Jesus Luz do mundo. 4. Há claramente uma conclusão da controvérsia em 8:10-11 com ditos conclusivos de Jesus para a mulher. 5. Há uma mudança clara de tempo em 8:12 (Pa,lin ou=n) e de auditório  (auvtoi/j) contra 8:10 (o` VIhsou/j ei=pen auvth/ ) estabelecendo assim o fim da perícope em 8:11. Por isso, a delimitação da Perícope em 7:53 a 8:11 é claramente percebida, tanto pela evidência da crítica textual, como pela evidência da crítica interna.

6

Op. cit p. 367.

4

2. Texto grego, traduções 7 8 9 10 BGT , TL ARA e BJ .

e

Segmentação

do

texto:

João 7:53 - 8:11 BGT TL

E foram cada (um) para a casa [sua]

ARA

E cada um foi para sua casa.

BJ

E cada um voltou para sua casa

BGT

8:1

TL

Jesus, porém, foi para o monte das Olivieras

ARA

Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras.

BJ

Jesus foi para o monte das Oliveiras

BGT

2

TL

De madrugada, porém, de novo veio para o templo

ARA

2 De madrugada, voltou novamente para o templo,

BJ

Antes do nascer do sol, já se achava outra vez no templo

BGT TL

e todo o povo veio perante ele

ARA

e todo o povo ia ter com ele;

BJ

Todo o povo vinha a ele,

BGT TL

e, assentado, ensinava-os

ARA

e, assentado, os ensinava.

BJ

E, sentando-se, os ensinava

BGT

3

TL

3

ARA 7

Trazem, porém, os escribas e os fariseus (uma) mulher em adultério surpreendida 3

Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher

Uma combinação de UBS4/Nestle-Aland 27th Ed. Greek New Testament (BNT) e Rahlfs' LXX (LXT), Copyright © 1998-1999 BibleWorks, LLC. 8 Tradução literal. 9 Tradução João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil. 2ª Ed 1993 10 Bíblia de Jerusalém. Paulus. São Paulo. SP, 2004

5 surpreendida em adultério BJ

3

Os escribas e os fariseus trazem, então, uma mulher surpreendida em adultério

BGT TL

e colocando-a em meio

ARA

e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos,

BJ

e, colocando-a no meio

BGT

4

TL

4

dizem-lhe

ARA

4

disseram a Jesus:

BJ

4

dizem-lhe

BGT TL

Mestre,

ARA

Mestre,

BJ

Mestre,

BGT TL

esta a mulher foi surpreendida no ato do adultério

ARA

esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.

BJ

Esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério

BGT

5

TL

5

(E) na lei a nós Moisés mandou as tais apedrejar;

ARA

5

E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas;

BJ

5

Na Lei, Moisés nos ordena apedrejar tais mulheres

BGT TL

Tu, pois, que dizes?

ARA

tu, pois, que dizes?

BJ

Tu, pois, que dizes?

BGT

6

TL

6

Isto, porém, diziam, tentando-o

ARA

6

Isto diziam eles tentando-o,

BJ

6

Eles assim diziam para pô-lo à prova,

BGT TL

Para terem (de que) [o] acusar

ARA

para terem de que o acusar.

BJ

A fim de terem matéria para acusá-lo

BGT TL

mas Jesus para baixo inclinando-se com dedo escrevia (traçava) na terra

6 ARA

Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo.

BJ

Mas jesus, inclinando-se, escrevia no chão com o dedo

BGT

7

TL

7

como, porém, continuavam inquirindo-o

ARA

7

Como insistissem na pergunta,

BJ

7

Como persistissem em interrogá-lo

BGT TL

Levantou-se

ARA

Jesus se levantou

BJ

Ergueu-se

BGT TL

e disse-lhes

ARA

e lhes disse:

BJ

E lhes disse

BGT TL

o sem pecado de vós primeiro sobre ela atire pedra

ARA

Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.

BJ

Quem dentre vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra

BGT

8

TL

8

E, de novo inclinado, escrevia no chão.

ARA

8

E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.

BJ

8

Inclinando-se de novo, escrevia no chão.

BGT

9

TL

9

ARA

9

BJ

[mas] os que ouviram, saíram um a um, principiando com os anciãos

Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até aos últimos, 9,

Eles, porém, ouvindo isto, saíram um após outro, a começar pelos mais

velhos

BGT TL

E sendo deixado só e a mulher no meio estando

ARA

ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.

BJ

Ele ficou sozinho e a mulher permanecia só, no meio.

BGT

10

TL

10

Erguendo-se, porém, Jesus disse-lhe

7 ARA BJ

10

Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: 10

Então, erguendo-se, Jesus lhe disse:

BGT TL

Mulher, onde ele estão?

ARA

Mulher, onde estão aqueles teus acusadores?

BJ

Mulher, onde estão eles?

BGT TL

Ninguém te condenou?

ARA

Ninguém te condenou?

BJ

Ninguém te condenou?

BGT

11

TL

11

Ela [a], porém, disse: Ninguém, Senhor.

ARA

11

Respondeu ela: Ninguém, Senhor!

BJ

11

Disse ela: “Ninguém, Senhor”

BGT TL

Disse, então, Jesus:

ARA

Então, lhe disse Jesus:

BJ

Disse, então, Jesus:

BGT TL

Nem eu te condeno

ARA

Nem eu tampouco te condeno;

BJ

Nem eu te condeno

BGT TL

Vai e desde agora não mais peques.

ARA

vai e não peques mais.

BJ

Vai, e de agora em diante não peques mais

8

3. Crítica Textual 11.

7.53–8.11

A evidência em prol da origem não joanina da perícope sobre a adúltera é esmagadora. Está ausente de manuscritos antigos e diversos como î66, 75 a B L N T W X Y D Q Y 0141 0211 22 33 124 157 209 788 828 1230 1241 1242 1253 2193 et al . Os Códices A e C são defeituosos neste ponto, mas é altamente provável que nenhum deles contivesse a perícope, pois, uma medição cuidadosa mostra que não sobraria espaço suficiente, nas folhas perdidas, para incluir a seção, juntamente com o resto do texto. No Oriente, a passagem está ausente da forma mais antiga da versão siríaca (syrc, s e os melhores manuscritos de syr p), bem como das versões saídica e subacmímica e dos mais antigos manuscritos boáricos. Alguns manuscritos armênios e a antiga versão geórgica a omitem. No Ocidente, o trecho está ausente da versão gótica e de diversos manuscritos em latim Antigo (ita, l*, q). Nenhum pai da Igreja grega, antes de Eutímio Zigabeno (Século XII d.C.) comenta sobre a passagem; e Eutímio declara que as cópias exatas do Evangelho não a contém. Quando alguém adiciona a essa impressionante e diversificada lista de evidência externa a consideração que o estilo e o vocabulário da perícope difere notavelmente do resto do quarto evangelho (ver qualquer comentário crítico), e que interrompe a seqüência de 7:52 e 8:12 ss., o caso contra a autoria joanina dessa perícope parece conclusivo. Ao mesmo tempo, a narrativa tem todos os sinais de ser historicamente veraz. Obviamente é uma peça da Tradição oral que circulava em certas porções da Igreja ocidental, e que, subsequentemente, foi incorporada em vários manuscritos, em diversos lugares. A maioria dos copistas evidentemente pensou que interromperia menos a narrativa de João se fosse inserida após 7.52 (D E (F) G H K M U G P 28 700 892 et al ). Outros a situaram após 7.36 (ms. 225) ou após 7.44 (vários mss Geórgicos.) ou após 21.25 (1 565 1076 1570 1582 armmss) ou após Lucas 21.38 (¦13). Mui significativamente, em muitos dos testemunhos que contém a passagem, ela é marcada com asterísticos e obeli, indicando que, embora escribas incluíssem a narrativa, tinham consciência de que lhe faltavam credenciais. Algumas vezes, é dito que a perícope foi deliberadamente retirada do quarto evangelho, porque podia ser entendida a narrativa como uma espécie de indulgência para com o adultério. Mas, à parte da ausência de qualquer instância, em qualquer lugar, de excisão escribal de alguma passagem tão extensa, devida à prudência moral, essa teoria “não consegue explicar porque os três versículos preliminares (7:53; 8:1–2), tão importante e que aparentemente descrevem o tempo e o lugar onde os discursos do capítulo

11

METZGER, BRUCE M. Textual Commentary on the Greek New Testament (second edition), by Bruce M. Metzger. Copyright © 1994 by Deutsche Bibelgesellschaft (German Bible Society).

9

oitavo foram proferidos, teriam sido omitidos juntamente com o resto” (Hort, “Notes on Select Readings,” pp. 86 f.). Embora a comissão tenha se mostrado unânime na opinião de que a perícope não fazia parte original do quarto evangelho, em deferência à patente antiguidade da passagem, a maioria decidiu imprimi-la, dentro de colchetes duplos, em seu lugar tradicional, ou seja, após João 7:52. Já que o trrecho está ausente dos mais antigos e melhores manuscritos, que normalmente servem para identificar os tipos de texto, nem mesmo é fácil tomar uma decisão entre formas alternativas. Seja como for, deve-se compreender que os níveis de certeza ({A}), ({B}) estão dentro do arcabouço da decisão inicial relativa à passagem inteira 8.3  | {C} Alguns poucos testemunhos (D 1071) substituem pelo menos específico , talvez em antecipação ao final do v.11. 8.4

O comentário atinente ao motivo de submeter-se Jesus a teste, ocorre em alguns poucos testemunhos no v. 4; na maioria, no v. 6; e ainda outros, ou no v. 8 ou no v.11 8.6  . … {A} Alguns manuscritos omitem as primeiras nove palavras deste verso, preferindo introduzir a declaração ou após o v 4 (D 1071) ou após o v. 11(M). 8.7 … {A} Algumas testemunhas omitem como supérfluo, enquanto outros substituem pela frase preposicional . Para o comitê qualquer das leituras é aceitável. 8.8 {A} A fim de satisfazer à curiosidade piedosa concernente ao que Jesus escreveu no chão, após várias testemunhas (U P 73 331 364 700 782 mss 1592 arm ) adicionam as palavras (“os pecados de cada um deles”). {A} O texto básico da perícope é continuado a fim de ser ampliado mediante a adição de glosas explanatórias. O Textus Receptus acrescenta a declaração que os próprios acusadores da mulher foram “reprovados por sua consciência própria” ( ). 8.9 {A} A forma foi expandida mediante a adição de uma cláusula (de uma forma ou de outra), indicando que todos os acusadores da mulher se foram embora.. 8.10 {A} O texto foi elaborado através da adição (de uma forma ou de outra) de uma cláusula que se refere ao ato de Jesus olhar para a mulher. 8.10 {A} O Textus receptus, seguindo E F G K 1079 al, adiciona (“aqueles teus acusadores”). 8.9

10

4. Pré-texto e contexto literário.

4.1.O IV Evangelho, redação e autoria. A perícope em relação aos Evangelhos de João e Lucas.

Não pertence ao escopo do presente trabalho tratar das complexas questões concernentes às inúmeras teorias acerca da composição e autoria do chamado quarto evangelho. Um olhar superficial sobre os evangelhos pode nos levar a concluir, com a posição tradicional, que o IV Evangelho não deve ser contado entre os sinóticos por diferir estruturalmente e tematicamente dos mesmos. Segundo Kummel12, João se diferencia dos sinóticos, pelos aspectos puramente formais, em 3 sentidos: 1. O número de viagens a Jerusalém é diferente nos sinóticos e em João. 2. A estrutura cronológica e topográfica da atividade de Jesus nos Sinóticos e em João são diferentes. 3. A descrição da obra e ensinamento de Jesus segue linhas diferentes nos Sinóticos e em João. Segundo Mazzarolo13, no entanto, é preciso mudar a forma de análise e estudo dos evangelhos, no que diz respeito à divisão tradicional entre sinóticos e o IV Evangelho. Há claramente uma dependência entre os três primeiros, “Na verdade, os três primeiros evoluem um em relação ao outro”14. Mas as diferenças entre estes e João não indicam necessariamente que o autor desconheceu as fontes utilizadas. É preciso levar em consideração a intenção da obra, as necessidades da comunidade a quem a obra se dirige e a liberdade de incluir ou abandonar um texto ou fonte em virtude do objetivo do relato. “Os evangelhos sempre foram analisados pelo ângulo da estrutura. Assim, a estrutura de Marcos estava presente em Mateus e Lucas e por isso, estes foram chamados Sinóticos, e João ficava fora dessa “arquitetura”. Olhando mais detalhadamente nota-se que a forma teológica é mais importante que a “suposta arquitetura”. A teologia de Mateus está muito além daquela de Marcos. A mesma relação pode ser feita com Lucas ou João, em relação ao anterior. “É mister fazer uma nova leitura!” 15. É justamente na perspectiva de dependência de Lucas em João que a presente perícope ganha relevância. A Crítica textual nos informa que alguns manuscritos situam esta mesma perícope em Lucas, após 21:37,38 e antes de 22:1 que fornecem uma moldura apropriada para este episódio, já que o anterior nos relata que Jesus costumava ensinar no templo (ambiente e contexto da perícope) e que à noite ele ia para o Monte das Oliveiras (o que combina com a perícope) e a posterior nos diz que os principais sacerdotes e os escribas (personagens também presentes em João) procuram ocasião de como tirar a vida de Jesus ( o que dá um enquadramento perfeito para a perícope em tela). Seria a colocação desta perícope alternadamente nestes dois contextos um indício de que os copistas perceberam a semelhança e dependência entre João e Lucas? 12

Kümmel, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Edições Paulinas. São Paulo, SP, 1982 p. 253-254 13 Mazzarolo, Isidoro. Nem aqui, nem em Jerusalém. Rio de janeiro. Mazzarolo Editor, 2001. p 10-11. 14 Op. Cit. p.11 15 Op. Cit. p.13 com ref. a Mazzarolo, Isidoro. Lucas em João, uma nova leitura dos evangelhos. Porto Alegre, Mazzarolo, I. 2000

11

Mazzarolo16 encontra outro paralelo, associando a perícope de João com sua correspondente em Lucas 7:36-50. Ambas as perícopes, dentro da tradição judaica, têm o mesmo pré-texto, a saber: a) o tratamento dispensado pela lei à mulher dentro da visão farisaica, a partir de Esdras para frente (Esd 9:10). b) A forma interpretativa da lei e da profecia pelos fariseus, os quais não reconhecem Cristo. Em ambos os relatos há um contraste entre a atitude da mulher e do fariseu (ou escriba) diante de Cristo. Em ambos, Jesus é apresentado como Rabi e é tratado pelos seus opositores como tal, sendo que em ambos Jesus assume claramente a postura corporal e as atitudes sociais de um rabi. Em ambos, fala-se do perdão concedido. Por fim, em ambos os relatos a mulher não tem nome. Quanto à questão da autoria da perícope, não há, diante das conclusões da Crítica textual, como determiná-la, já que a própria autoria do Quarto Evangelho é objeto de tantas teorias diferentes17. No entanto a perícope de João tem características marcadamente Lucanas18 , pois a atitude de Jesus na perícope combina mais com os apoftemas sinóticos do que com os longos discursos e reflexões característicos de João. 4.2.Autenticidade da perícope.

Parece claro, diante do exposto que a perícope não pertencia originalmente ao IV Evangelho e que parece ter sido uma tradição independente que foi encaixada pelos copistas em vários lugares tanto no Evangelho de João como no de Lucas. 19 No entanto, o relato tem um sabor de autenticidade inegável, tanto que foi preservado como um autêntico relato condizente com a postura de Jesus em relação à mulher, aos fariseus e escribas. Sua ternura para com os pecadores e para com os menores. Uma postura não indulgente para com o pecado, mas uma atitude de acolhida em relação ao pecador. O ambiente judaico-palestinense está presente tanto na postura de Jesus ensinando como um rabi que se assenta com autoridade para ensinar 20. Enfim, embora de origem aparentemente lucana, esta passagem encaixa-se bem neste contexto de João e as raízes históricas deste relato parecem se encaixar no estilo, personalidade, missão e atitudes atribuídas a Jesus tanto nos sinóticos como no próprio evangelho de João.

16

Mazzarolo, Isidoro. Lucas em João, uma nova leitura dos evangelhos. Porto Alegre, Mazzarolo, I. 2000 p.177 ss 17 Para discussões acerca da autoria veja Vielhauer, Philipp. História da Literatura Cristã primitiva. Santo André. SP. Editora Academia Cristã Ltda, 2005 p. 481-488 et Kümmel, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Edições Paulinas. São Paulo, SP, 1982 p. 298-314. 18 Mazzarolo, Isidoro. Lucas em João, uma nova leitura dos evangelhos. Porto Alegre, Mazzarolo, I. 2000 p.181. 19 Kümmel, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Edições Paulinas. São Paulo, SP, 1982 p.262 et Läpple, Alfred. Bíblia, interpretação atualizada e Catequese. Vol. 4. São Paulo. SP. Edições Paulinas. P.176. 20 Mazzarolo, Isidoro. Lucas em João, uma nova leitura dos evangelhos. Porto Alegre, Mazzarolo, I. 2000 p.181

12

5. Exegese

5.1.Análise Morfológica e Lexicográfica dos termos principais. 7:53, 8:1

Verbo Indicativo aoristo passivo 3ª p plural de verbo indicativo aoristo passivo 3ª p. singular de Aparece 3 vezes nesta perícope: em 7:53, 8:1 e 811. 1) conduzir, transportar, transferir 1a) persistir na jornada iniciada, continuar a própria jornada 1b) partir desta vida 1c) seguir alguém, isto é, tornar-se seu adepto 1c1) achar o caminho ou ordenar a própria vida 8:2

Verbo Particípio Aoristo ativo nominativo masculino singular de 1) fazer sentar 1a) colocar, apontar, conferir um reino a alguém 2) intransitivamente 2a) sentar-se 2b) sentar 2b1) ter residência de alguém fixa 2b2) permanecer, assentar, estabelecer-se Neste texto tem o sentido de sentar com autoridade para ensinar. verbo indicativo imperfeito ativo 3ª p singular de 1) ensinar 1a) conversar com outros a fim de instruir-los, pronunciar discursos didáticos 1b) ser um professor 1c) desempenhar o ofício de professor, conduzir-se como um professor 2) ensinar alguém 2a) dar instrução 2b) instilar doutrina em alguém 2c) algo ensinado ou prescrito 2d) explicar ou expor algo 2f) ensinar algo a alguém 8:3

verbo indicativo presente ativo 3p plural de 1) guiar, conduzir 1a) conduzir segurando com as mãos, levando deste modo ao destino final: de um animal 1b) seguir acompanhando até um lugar

13

1c) comandar com a personalidade de alguém, nomear alguém como um ajudante 1d) conduzir, trazer 1e) levar para a corte de justiça, magistrado, etc. 2) guiar, conduzir 2a) conduzir, guiar, dirigir 2b) guiar através, conduzir para algo 2c) mover, impelir: pela força e influência da mente 3) passar um dia, guardar ou celebrar uma festa, etc. 4) ir, partir Substantivo dativo feminino singular de 1) adultério verbo particípio perfeito passivo acusativo feminino singular de aparece em 8:3 e 8:4. 1) obter, tornar próprio 1a) dominar ao ponto de incorporar como seu, obter, alcançar, tornar próprio, tomar para si mesmo, apropriar-se 1b) apoderar-se de, tomar posse de 1b1) de males que assolam surpresivamente, do último dia surpreendendo o perverso com destruição, de um demônio pronto para atormentar alguém 1b2) num bom sentido, de Cristo que pelo seu santo poder e influência apropria-se da mente e vontade humana, a fim de ajudá-la e governá-la 1c) detectar, capturar 1d) capturar com a mente 1d1) entender, perceber, aprender, compreender verbo particípio aoristo ativo nominativo masculino plural de 1) causar ou fazer ficar de pé, colocar, pôr, estabelecer 1a) ordenar ficar de pé, [levantar-se] 1a1) na presença de outros, no meio, diante de juízes, diante dos membros do Sinédrio; 1a2) colocar 1b) tornar firme, fixar, estabelecer 1b1) fazer uma pessoa ou algo manter o seu lugar 1b2) permanecer, ser mantido íntegro (de família, um reino), escapar em segurança 1b3) estabelecer algo, fazê-lo permanecer 1b31) segurar ou sustentar a autoridade ou a força de algo 1c) colocar ou pôr numa balança 1c1) pesar: dinheiro para alguém (porque antigamente, antes da introdução da moeda, era costume pesar os metais) 2) permanecer 2a) ficar de pé ou próximo 2a1) parar, permanecer tranqüilo, permanecer imóvel, permanecer firme 2a1a) da fundação de uma construção 2b) permanecer 2b1) continuar seguro e são, permanecer ileso, permanecer pronto ou preparado

14

2b2) ser de uma mente firme 2b3) de qualidade, alguém que não hesita, que não desiste 8:4

Substantivo vocativo masculino singular de 1) professor 2) no NT, alguém que ensina a respeito das coisas de Deus, e dos deveres do homem 1a) alguém que é qualificado para ensinar, ou que pensa desta maneira 1b) os mestres da religião judaica 1c) daqueles que pelo seu imenso poder como mestres atraem multidões, i.e., João Batista, Jesus 1d) pela sua autoridade, usado por Jesus para referir-se a si mesmo como aquele que mostrou aos homens o caminho da salvação 1e) dos apóstolos e de Paulo 1f) daqueles que, nas assembléias religiosas dos cristãos, encarregavam-se de ensinar, assistidos pelo Santo Espírito 1g) de falsos mestres entre os cristãos adjectivo normal dativo neutro singular de 1) no ato 2) pegar no ato do roubo 3) pegar no ato de perpetuar qualquer outro crime verbo particípio presente passivo nominativo feminino singular de 1) cometer adultério 1a) ser um adúltero 1b) cometer adultério com, ter relação ilícita com a mulher de outro 1c) da mulher: permitir adultério, ser devassa 1d) Uma expressão idiomática hebraica, a palavra é usada daqueles que, pela solicitação de uma mulher, são levados \ a idolatria, i.e., a comer de coisas sacrificadas a ídolos 8:5

verbo indicativo aoristo médio 3 p singular de 1) ordernar, mandar que seja feito, encarregar No texto, tem o sentido de um mandamento, uma ordem dada por Deus através de Moisés. adjetivo demonstrativo acusativo feminino plural de 1) como esse, desta espécie ou tipo. Parece indicar um profundo desprezo pela mulher. verbo infinitivo presente ativo de 1) matar por apedrejamento, apedrejar 2) atirar pedras em alguém 8:6

verbo particípio presente ativo nominativo masculino plural de

15

1) tentar para ver se algo pode ser feito 1a) tentar, esforçar-se 2) tentar, fazer uma experiência com, teste: com o propósito de apurar sua quantidade, ou o que ele pensa, ou como ele se comportará 2a) num bom sentido 2b) num mau sentido, testar alguém maliciosamente; pôr \a prova seus sentimentos ou julgamentos com astúcia 2c) tentar ou testar a fé de alguém, virtude, caráter, pela incitação ao pecado 2c1) instigar ao pecado, tentar 1c1a) das tentações do diabo 2d) o uso do AT 2d1) de Deus: infligir males sobre alguém a fim de provar seu caráter e a firmeza de sua fé 2d2) os homens tentam a Deus quando mostram desconfiança, como se quisessem testar se ele realmente é confiável 2d3) pela conduta ímpia ou má, testar a justiça e a paciência de Deus e desafiá-lo, como se tivesse que dar prova de sua perfeição. verbo infinitivo presente ativo de 1) acusar 1a) diante de um juiz: fazer uma acusação 1b) de uma acusação extra-judicial verbo particípio aoristo ativo nominativo masculino singular de 1) inclinar-se, curvar, curvar a cabeça verbo indicativo imperfeito ativo 3p singular de 1) escrever, com referência \a forma das letras 1a) delinear (ou formar) letras numa tabuleta, pergaminho, papel, ou outro material 2) escrever, com referência ao conteúdo do escrito 2a) expressar em caracteres escritos 2b) comprometer-se a escrever (coisas que não podem ser esquecidas), anotar, registrar 2c) usado em referência \aquelas coisas que estão escritas nos livros sagrados (do AT) 2d) escrever para alguém, i.e. dar informação ou instruções por escrito (em uma carta) 3) preencher com a escrita 4) esboçar através da escrita, compor 8:7

verbo indicativo aoristo ativo 3p singular de 1) levantar ou erguer-se 1a) o próprio corpo 1b) a própria alma 1b1) ser elevado ou exaltado adjective normal nominative masculine singular no degree from 1) sem pecado

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1a) de alguém que não tem pecado 1b) de alguém que não pode pecar verb imperative aorist active 3rd person singular from 1) lançar ou jogar uma coisa sem cuidar aonde ela cai 1a) espalhar, lançar, arremessar 1b) entregar ao cuidado de alguém não sabendo qual será o resultado 1c) de fluidos 1c1) verter, lançar aos rios 1c2) despejar 2) meter, inserir 8:10 e 8:11

verb indicative aorist active 3rd person singular from verb indicative present active 1st person singular from 1) emitir julgamento contra, julgar digno de punição 1a) condenar 1b) pelo bom exemplo, tornar a maldade de outro mais evidente e censurável verb imperative present active 2nd person singular from 1) não ter parte em 2) errar o alvo 3) errar, estar errado 4) errar ou desviar-se do caminho da retidão e honra, fazer ou andar no erro 5) desviar-se da lei de Deus, violar a lei de Deus, pecado

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5.2. Principais ensinamentos. Teologia 5.2.1. O interprete da Lei.

Jesus se apresenta neste texto como o Mestre por excelência. Não somente assume a postura de um Rabi, que segundo o costume e os textos do Evangelhos, se assenta 21 para ensinar como o fazem os mestres, está no templo, cercado de discípulos e é tratado pelos escribas e fariseus como tal, ainda que ironicamente. Além disto é solicitado a fazer uma interpretação da lei. Os próprios inimigos ao tratarem ironicamente Jesus como um intérprete autorizado da lei, armam para si mesmos uma armadilha fatal. Jesus se apresenta aqui como o interprete da lei e neste sentido há paralelo com outras passagens de Lucas e João tais como: Lc. 3:12; 7:40; 9:38; 10:25; 11:45; 12:13; 18:18; 19:39; 20:21, 28, 39; 21:7; Jo. 1:38; 8:4; 20:16. Ë interessante notar que Jesus não desautoriza a lei de Moisés, ele a confirma. Sua interpretação, no entanto não é farisaica. A atitude dos fariseus, embora parecesse ser zelosa para com a lei, na verdade era uma desculpa para burlá-la. Onde estava o homem com quem esta mulher estava adulterando? Seu julgamento é parcial e distorcido. Jesus, no entanto, aplica a lei por inteiro e a faz atingir os próprios acusadores que se sentem acusados pela própria consciência e não são capazes de levar adiante o seu intento. Ao ser convocado como interprete da lei, ele a interpreta e aplica, ao ser interpelado como juiz, ele julga e aplica a si mesmo uma prerrogativa que só a Deus pertence: Ele a absolve e não a condena, embora, ela fosse, de fato culpada. Aqui entra em cena, outro aspecto da atuação messiânica de Cristo: O messias tem status real e como tal, tem a prerrogativa de julgar. Jesus apresenta-se também como o novo Moisés, pois ele vem do monte das Oliveiras, como Moisés que subiu ao monte para receber de Deus a lei, ao chegar ao templo ele se assenta e assentado ensina, decide, julga e absolve. 5.2.2.A atitude de Jesus para com os pequeninos

A mulher aqui, como em Lucas 7:36 ss é uma representante de um grupo de pessoas por quem Jesus tem uma atenção muito especial. São os deixados de lado. Em João, como em Lucas, as mulheres, os estrangeiros, os que são abandonados à beira do tanque, os cegos e esquecidos são objeto especial da atenção do mestre, que veio buscar e salvar o perdido. 22 Em João, especialmente, as mulheres são inseridas no Ministério de Jesus e participam dele de uma maneira especial. Assim, uma mulher samaritana é a primeira dentre os samaritanos a beber da água viva que jorra para a vida eterna e se torna a primeira evangelista daquela região23. São as irmãs de Lázaro que merecem de Jesus um viagem perigosa, arriscando-se a ser morto pelos judeus, apenas para restaurar o irmão às irmãs Marta e Maria24. Uma mulher o unge e é a única dentre os discípulos que percebe o “segredo messiânico”, ungindo-o para a sua morte, que se aproximava, enquanto ele é servido por uma diaconiza 25, Marta. É Maria Madalena a primeira 21

Mateus 23:2 diz: Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. O termo grego é o mesmo. 22

Lucas 19:10 João 4. 24 João 11 25 kai. h` Ma,rqa dihko,nei (João 12:2) O termo servir é o mesmo usado para o ofício 23

diaconal. Levando-se em conta que o Evangelho de João dá evidências de ser tardio em

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testemunha da ressurreição e encarregada de “evangelizar” os outros discípulos com a declaração central do Evangelho26. Enfim, Jesus, nesta perícope, mostra um relacionamento restaurador da dignidade da mulher, diante dos preconceitos e atitudes do ambiente judeu palestinense onde a perícope é ambientada. Seria este um indício das características da comunidade a quem a perícope se dirige. Teríamos aí um indicativo do Sitz im leben da perícope. Aparentemente, sim. 5.2.3. Não julgamento, mas perdão

O evangelho de João repete a expressão: “eu a ninguém julgo” em duas ocasiões. Em 8:1527 ele se compara aos fariseus, contrastando-se com eles: “Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo.”, e em 12:47 28 “Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo.”. Neste contexto da teologia de João, a perícope da mulher adúltera é uma ilustração perfeita da missão à qual Jesus se propõe. Ele não veio para julgar, no sentido de condenar, mas para salvar! Ao ser confrontado como Juiz, ele, mesmo assim, não julgou. O texto diz: “Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.”29 Sua atitude é de perdão. E o perdão não destrói, restaura, dá vida! 30

sua composição, é bem possível que para os leitores de João, o termo esteja associado ao ofício diaconal. 26

João 20:17,18.

27 BGT

kata. th.n sa,rka kri,nete( evgw. ouv kri,nw ouvde,naÅ João 12:47 kai.  a, ev n ti,j mou av kou,sh| tw/n r`hma,twn kai. mh. fula, xh|( evgw. ouv kri,nw  auvto,n\ ouv ga.r h=lqon i[na kri,nw to.n ko,smon( avllV i[na sw,sw to.n ko,smonÅ 29 João 8:10-11 30 João 10:10. 28 BGT

João 8:15 u`mei/j

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6. Conclusão

Embora esta passagem seja claramente uma interpolação, tanto em João como em Lucas, no entanto, a perícope nos revela um Jesus inteiramente de acordo com o retrato pintado tanto por João, como por Lucas e também apresentado nos outros evangelhos. Sua atitude de mestre da lei contrasta com a atitude dos escribas e fariseus para quem a lei pode ser distorcida para servir aos seus propósitos. A atualidade desta perícope relaciona-se à atitude farisaica que ainda impera em nossas comunidades eclesiásticas e socais. O pecado do outro só me interessa à medida que eu posso me utilizar dele para os meus propósitos pessoais. Ressaltar o pecado alheio e expô-lo também serve para que o meu próprio pecado seja encoberto. O julgamento é parcial e interesseiro. Não interessa a  justiça ou o espírito da lei. A punição não visa a correção e sim a interesses escusos, inconfessáveis. Para dias assim, as palavras de Jesus, registradas nesta perícope são de um impacto e atualidade insuperáveis: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.”

Para todos aqueles que se candidatam ao cargo de fariseu, e: “...onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? ... Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.”

Para todos aqueles que são capazes de reconhecer os seus erros e querem viver uma nova vida com Cristo Jesus.

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7 .Bibliografia

Bruce, F.F. João. Introdução e Comentário. Mundo Cristão. São Paulo. SP, 1987 Hendriksen, William. João, Comentário do Novo Testamento. Editora Cultura Cristã. São paulo. SP, 2004 UBS4/Nestle-Aland 27th Ed. Greek New Testament (BNT) 19981999 BibleWorks, LLC. Bíblia Sagrada. Tradução João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil. 2ª Ed 1993 Bíblia de Jerusalém. Paulus. São Paulo. SP, 2004 METZGER, BRUCE M. Textual Commentary on the Greek New Testament (second edition), by Bruce M. Metzger. Copyright © 1994 by Deutsche Bibelgesellschaft (German Bible Society). Kümmel, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Edições Paulinas. São Paulo, SP, 1982 Mazzarolo, Isidoro. Nem aqui, nem em Jerusalém. Rio de janeiro. Mazzarolo Editor, 2001. Mazzarolo, Isidoro. Lucas em João, uma nova leitura dos evangelhos. Porto Alegre, Mazzarolo, I. 2000 Vielhauer, Philipp. História da Literatura Cristã primitiva. Santo André. SP. Editora Academia Cristã Ltda, 2005 p. 481-488 Läpple, Alfred. Bíblia, interpretação atualizada e Catequese. Vol. 4. São Paulo. SP. Edições Paulinas.

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