ESPORTE, MULHER E MÍDIA: Análise do espaço e tratamento dado ao futebol feminino nos portais Globo.com, Estadão e UOL, em dois períodos distintos, setembro de 2007 e agosto de 2009.

January 23, 2019 | Author: Lorena | Category: Journalism, Association Football, Internet, Olympic Games, Brazil
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Daniela Stein Mineiro

ESPORTE, MULHER E MÍDIA: Análise do espaço e tratamento dado ao futebol feminino nos portais Globo.com,  Estadão e UOL, em dois períodos distintos, setembro de 2007 e agosto de 2009.

Belo Horizonte Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) 2010

Daniela Stein Mineiro

ESPORTE, MULHER E MÍDIA: Análise do espaço e tratamento dado ao futebol feminino nos portais Globo.com,  Estadão e UOL, em dois períodos distintos, setembro de 2007 e agosto de 2009.

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, do Departamento de Ciência da Comunicação do Centro Universitário de Belo Horizonte, UNI-BH, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Jornalismo. Orientador: Murilo Gontijo

Belo Horizonte Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) 2010

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................. .................................................................... ............................................. .............................................. ........................... .... 03 1 A HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL....................... BRASIL .............................................. .............................................. ....................... 05 1.1 Crises enfrentadas enfrentadas pelo futebol até virar paixão nacional ................................................. ................................................. 05 1.2 Mulher e esporte ............................................................... ...................................................................................... .............................................. .......................... ... 08 1.3 Futebol feminino no Brasil ............................................... ...................................................................... .............................................. .......................... ... 12 2 JORNALISMO ESPORTIVO NA WEB ............................................ ................................................................... .............................. ....... 16 2.1 O que é notícia e o trabalho do jornalista .................................................... .......................................................................... ...................... 16 2.2 Jornalismo feito para web ............................................. .................................................................... .............................................. .............................. ....... 20 2.3 Jornalismo esportivo .......................................... ................................................................. ............................................. ......................................... ................... 23 3 UM OLHAR EMPÍRICO SOBRE O FUTEBOL FEMININO...................................... ...................................... 27 3.1 Objetos, recorte temporal e justificativa justificativa ................................... .......................................................... ......................................... .................. 27 27 3.2 Análise das matérias coletadas coletadas ............................................. .................................................................... ............................................. ...................... 29 3.3 A ‘Magic Marta’ ................................................... .......................................................................... .............................................. ...................................... ............... 34 3.4 Copa do Mundo de Futebol Feminino x Masculino ........................................... .......................................................... ............... 35 3.5 Agosto de 2009 ..................................................... ............................................................................ .............................................. ...................................... ............... 37 CONCLUSÃO ............................................ ................................................................... .............................................. ............................................. .............................. ........ 42 REFERÊNCIAS............................................ ................................................................... .............................................. .............................................. ........................... .... 44 ANEXOS............................................. .................................................................... .............................................. .............................................. ...................................... ............... 45 Anexo 1 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................45 Anexo 2 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................46 Anexo 3 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................47 Anexo 4 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................48 Anexo 5 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................49 Anexo 6 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................50 Anexo 7 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................51 Anexo 8 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................52 Anexo 9 ......................................... ................................................................ ............................................. ............................................. .............................................. .......................53 Anexo 10 ....................................... .............................................................. ............................................. ............................................. .............................................. .......................54

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INTRODUÇÃO A cobertura do futebol feminino na mídia digital brasileira cumpre critérios específicos de noticiabilidade. Há momentos de grande destaque do esporte e outros em que quase não há cobertura. Essa mudança de cenário deriva em grande medida dos critérios de noticiabilidade e valores-notícia aplicados ao futebol feminino. Para chegar a essas conclusões, foi necessário estudar, no primeiro capítulo desta monografia, a história do futebol, desde sua criação, em 1863, até os dias de hoje. No mesmo capítulo, foi analisado analisado o espaço da mulher no esporte, conquistado conquistado com muita luta. Depois de conseguir se inserir na sociedade e se tornar independente financeiramente, a mulher ainda não podia   participar de esporte algum. O motivo, segundo os críticos, era o risco de prejudicar as funções reprodutoras. Foi depois de muita luta e insistentes tentativas que a mulher  conseguiu, na segunda metade do século XX, realizar um evento esportivo exclusivamente feminino. Já inserida no meio esportivo, a mulher brigava para poder disputar os esportes de contato físico. O futebol feminino, por exemplo, teve seus primeiros registros no Brasil em 1965. Ainda no primeiro capítulo desta monografia, é discutida a trajetória desse esporte no país, que, apesar de já ser paixão da sociedade, excluía a mulher, que ainda buscava sua afirmação entre as quatro linhas. A crise enfrentada pelo esporte, causada pela falta de profissionalização dos dirigentes dos clubes, também é abordada. Atualmente, apesar de o futebol não estar mais em crise, ainda sofre com o amadorismo dos comandantes das agremiações. O segundo capítulo aborda a história da internet, desde o surgimento, em 1969, até sua  popularização. No Brasil, a internet começou a ser instalada em 1992 e, quatro anos depois, quase 100 mil internautas já se encontravam conectados. Atualmente, apesar do grande crescimento de usuários, há quem diga que a internet ainda não está 100% solidificada. Outro assunto analisado no segundo capítulo desta monografia são os critérios de noticiabilidade usados no dia-a-dia de um veículo de comunicação. Ocorrem infinitos acontecimentos, mas apenas alguns deles viram notícias. O motivo é que os órgãos de

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informação seguem alguns valores-notícia para identificar se o fato é digno ou não de virar  notícia. Ainda neste capítulo, é discutido como é feito o jornalismo para web, que segue seu próprio modelo. O texto na internet,  por exemplo, é diferente do impresso, ou da televisão e do rádio. Além disso, é analisada a trajetória do jornalismo esportivo no Brasil, que antes sofria  preconceito  preconceito e hoje é uma das editorias mais valorizadas. O terceiro capítulo faz uma análise da cobertura do futebol feminino nos portais Globo.com ,  Estadão e Uol . Em

um primeiro momento, há uma análise quantitativa das matérias coletadas

durante os meses de setembro de 2007 e agosto de 2009. Em seguida, há uma comparação da cobertura de cada site especificamente, destacando sempre algumas notícias de maior  interesse.

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1 A HISTÓRIA DO FUTEBOL NO BRASIL 1.1 Crises enfrentadas pelo futebol até virar paixão nacional 

O futebol surgiu, oficialmente, no ano de 1863, na Inglaterra. Aos poucos, tornou-se uma diversão para a população que aproveitava as folgas de sábado para jogar. Os melhores  jogadores eram, então, convidados para disputar partidas oficiais.  No Brasil, o futebol surgiu apenas em 1894, em São Paulo. A primeira competição, chamada liga paulista, aconteceu em 1902. Segundo Helal (1997, p. 25), “[...] o futebol no Brasil pode ser visto como um poderoso instrumento de integração social”. Porém, a falta de profissionalismo dos administradores fez com que o futebol entrasse em crise em meados da década de 1970. O problema é que os jogadores já eram considerados   profissionais, enquanto os dirigentes ainda eram amadores. Helal (1997) explica que existe um dilema brasileiro que também é encontrado no futebol. Tudo se baseia em dois domínios fundamentais: o moderno e o tradicional. No futebol, Helal define o moderno como “[...] a exigência de um alto grau de profissionalização e comercialização, que objetiva lucrar com o espetáculo futebolístico.” (1997, p. 33). Já o tradicional é “[...] uma administração baseada na  paixão, no relacionamento pessoal, troca de favores e na proibição da profissionalização dos dirigentes.” dirigentes.” (1997, p. 33). Conhecidos os dois conceitos, percebe-se que a crise no Brasil começou porque os dirigentes dos clubes ainda seguiam o modelo tradicional, não se enquadrando ao moderno, que exige a  profissionalização. A crise no futebol brasileiro é explicada pelo modelo “tradicional” de organização do futebol, baseado no amadorismo dos dirigentes e na política de troca de favores entre clubes e federações. Este modelo é o responsável pela desorganização dos campeonatos, gerando  jogos deficitários que acabam contribuindo para a emigração dos craques para o exterior  (HELAL, 1997, p. 33).

A emigração dos craques, que começou a partir dos anos 1930, tendo um segundo momento de pico por volta de 1980 e 1990, contribui, mesmo que não completamente, para que o  brasileiro perca a imagem do ídolo, do herói. Segundo Helal (1997, p. 121), “um fenômeno de massa não consegue se sustentar por muito tempo sem a presença de heróis [...]. São eles que

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levam as pessoas a se identificarem com aquele evento”. Com isso, houve uma queda brusca de público, afetando as finanças dos clubes. O torcedor não se sentia mais estimulado em ir ao estádio. Os jogadores, por sua vez, se sentiam cada vez mais atraídos pelos altos salários pagos pelos clubes europeus e não pensavam duas vezes antes de aceitar uma proposta. Como as finanças dos times brasileiros estavam comprometidas, os dirigentes não conseguiam segurar um ‘ídolo’ por muito tempo. Começou então a virar uma bola de neve. Jogadores iam para o exterior, o público parava de ir ao estádio, o clube ficava com as finanças comprometidas e mais jogadores emigravam. Com isso, outros problemas começaram a surgir. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) era, e ainda é, a responsável pela organização dos campeonatos no Brasil. Porém, clubes sem expressão tinham o mesmo poder que os grandes clubes, o que acabou gerando intensa revolta. Além disso, dois clubes – um considerado grande e outro pequeno – se enfrentavam em partidas que não geravam interesse do torcedor. Mais um motivo para desestimulá-lo a ir  ao estádio. Tentando solucionar, ou pelo menos minimizar o problema, em 1987, treze grandes clubes  brasileiros se uniram para lutar por melhorias junto à CBF. Era o chamado Clube dos 13. “Na época, algumas pessoas chegaram a afirmar que a ‘revolução brasileira’ começaria com aquele movimento ou que este seria o primeiro passo para mudar ‘tudo de errado’ no país.” (HELAL, 1997, p. p. 87). No mesmo ano, o Clube Clube dos 13 e a CBF chegaram chegaram a um acordo acordo e o campeonato do ano seguinte seria promovido por ambas as instituições, sendo benéfico para os dois lados. Porém, o resultado da competição gerou nova revolta. O Clube dos 13 perdeu  poder e a CBF voltou a organizar, sozinha, os campeonatos. O segundo momento de pico da emigração dos jogadores para o exterior foi após a Copa do Mundo de 1982. Depois da competição, mais jogadores se mudaram para a Europa, trazendo à tona, novamente, a obrigação da modernização dos dirigentes. O chamado “futebol-empresa” ainda era o ideal almejado por todos. Os administradores precisavam ser profissionalizados o mais rápido possível.

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Diversas mudanças foram feitas para tentar reorganizar o futebol, mas nenhuma delas conseguiu solucionar o problema. A introdução de publicidade nas camisas de times de futebol em 1983, o início das transmissões ao vivo dos jogos a partir de 1987, a contratação de gerentes profissionais nos departamentos de futebol de alguns grandes clubes do país e a parceria com empresas foram algumas destas modificações que ocorreram na última década, com o intuito de solucionar os problemas vigentes no âmbito da organização deste esporte no país (HELAL, 1997, p. 120).

  No entanto, o futebol brasileiro ainda sobrevive no chamado modelo “tradicional”. Assim, segundo Helal (1997, p. 123), “[...] os problemas enfrentados pelo futebol estão intimamente relacionados com a forma como este esporte é organizado no país”. Como dito anteriormente, as competições nacionais são todas organizadas pela CBF, não tendo influência nem  participação dos clubes. Ainda hoje o futebol brasileiro continua sofrendo com o amadorismo de seus dirigentes, apesar de já vermos clubes levando o profissionalismo mais a sério, como é o caso do Internacional e do São Paulo. De acordo com Helal (1997, p. 125), “o segredo para a ‘ressurreição’ do futebol [...], está em promover a ‘modernização’ administrativa e preservar  certos elementos ‘tradicionais’ do espetáculo, como a presença de ídolos e o estilo ‘lúdico’ de  jogo”. Vemos, nos dias de hoje, diversos ídolos retornando do futebol europeu para fazerem, novamente, novamente, história em clubes brasileiros. O primeiro a voltar foi Ronaldo Nazário, conhecido como ‘Fenômeno’, que chegou ao Corinthians em 2009 e ajudou o clube a ser campeão da Copa do Brasil. No mesmo ano, Adriano, chamado pela imprensa de ‘Imperador’, voltou ao Flamengo e conquistou o título de campeão brasileiro com a camisa Rubro-Negra. Em 2010, foi a vez do lateral-esquerdo campeão mundial em 2002, Roberto Carlos, chegar ao Corinthians, e do atacante da seleção brasileira, Robinho, voltar ao Santos, clube que o revelou. Mesmo que o jogador tenha por trás um objetivo pessoal, que é ganhar visibilidade e, quem sabe, ser convocado para a Copa do Mundo, o torcedor se sente mais motivado em ver o time  jogar e os estádios ficam cada vez mais cheios. Prova disso foi a apresentação de Robinho no Santos, que lotou a Vila Belmiro. O jogador teve uma recepção de gala. Quanto ao interesse

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do próprio atleta, dos que retornaram ao Brasil, apenas Robinho foi convocado por Dunga  para disputar a Copa do Mundo. Adriano, Ronaldo e Roberto Carlos ficaram fora da lista do treinador. O Imperador, inclusive, após passar um ano no Flamengo, anunciou, no final de maio, seu retorno à Itália. Os atletas também retornam ao Brasil depois de passarem um tempo jogando no exterior por  outros motivos. Já com a vida financeira garantida, procuram conforto pessoal e preferem ficar ao lado da família. O clube que os traz de volta também tem interesse na negociação, uma vez que ter um ‘ídolo’ no time passa confiança ao torcedor. Com a apoio da torcida, a equipe se sente mais estimulada a conquistar títulos. 1.2 Mulher e esporte

Embora a mulher esteja presente nas disputas esportivas, o esporte é visto, em muitas modalidades, como exclusividade do sexo masculino. A mulher, por sua vez, tem como função ser dona de casa, boa esposa e boa mãe. Na época do pré-capitalismo, a mulher era completamente submissa ao homem. Mulher solteira não tinha reconhecimento nenhum  perante a sociedade. Segundo Saffioti (1976, p. 33), “a felicidade pessoal da mulher, tal como era então entendida, incluía necessariamente o casamento. Através dele é que se consolidava sua posição social e se garantia sua estabilidade ou prosperidade econômica”. A mulher só entrava no mercado de trabalho através de seu marido. Com o surgimento do capitalismo, a mulher começou a lutar por sua independência econômica. Porém, para isso, tinha uma jornada de trabalho maior e o salário era mais baixo que o dos homens. Sem contar que a mulher ainda era responsável pelos afazeres domésticos. Após a Revolução Industrial, com o surgimento das máquinas, o trabalho braçal foi se tornando cada vez mais inútil. Assim, mulheres e crianças, que dispunham de força física reduzida e ganhavam menos, tinham mais chance no mercado de trabalho. A mulher  começou, então, a depender mais apenas de si para arrumar um emprego. As mudanças provocadas pelo desenvolvimento social, tanto nas sociedades modernas, quanto urbanas e industrializadas, fizeram a mulher se dedicar mais a outros interesses

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 pessoais e não apenas à maternidade. Dessa forma, as energias femininas não estavam mais focadas apenas na reprodução, mesmo que ainda desempenhasse importante papel em casa e na família.  No esporte, a mulher ainda era vista como coadjuvante. Muitos diziam que elas não podiam  praticar nenhum tipo de esporte, pois poderia prejudicar suas funções reprodutoras. Às mulheres não se recomendava correr nem fazer atividade física alguma, como e xercícios e esportes, até a década de 50 do século passado. O senso comum era que os esportes e   particularmente suas consequências, como a melhor definição muscular, o aumento da capacidade de respiração e a diminuição da gordura corporal, afastavam a mulher de seu destino ‘natural’ - casamento e procriação (ALONSO, 2003, p. 37).

Segundo Mourão (2003), as discussões relacionadas à proibição da participação da mulher no esporte duraram até a década de 1980, quando uma equipe feminina de luta usou nomes masculinos para se inscrever em um campeonato na América do Sul e foram, inclusive, campeãs do torneio. Antes disso, por volta dos anos 1920, as mulheres começaram a reivindicar seu espaço na sociedade. Segundo Moura (2002), como não aceitavam mais ser excluídas de grande parte das decisões sociais, políticas e econômicas, elas buscavam ter os mesmos direitos que o homem. Foi depois de muita luta que a mulher de elite acabou conseguindo participar de grandes eventos sociais e esportivos da época. “No entanto, o papel destinado à mulher  esportiva era ditado pelas normas sociais, restringindo o espaço corporal e definindo a estética a ser seguida pela esportista que até então era a ‘nova mulher’ dos tempos modernos.” (MOURA, 2002, p. 135). Vários eventos isolados, promovidos durante os anos 1920 e 1930, ajudaram a mudar a imagem da mulher como seres frágeis e passivos, permitindo que ela conquistasse novo espaço social. Na segunda metade do século XX, por exemplo, aconteceu, na cidade do Rio de Janeiro, um evento exclusivamente feminino, os Jogos da Primavera. Idealizado pelo   jornalista Mário Filho, o evento contribuiu para o processo de emancipação da mulher   brasileira no esporte. Além de quebrar o mito do sexo frágil, as mulheres conseguiram alterar outros tabus. Em 1980, por exemplo, a jogadora de vôlei Isabel atuou grávida até os cinco meses de gestação,

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  provando que gravidez não é doença. É nesse momento, segundo Mourão (2003), que se verifica uma ampliação no número de mulheres praticando esportes de alto rendimento no Brasil. Porém, a sociedade aceitava melhor a mulher que praticava esportes tidos como femininos, ou seja, aqueles sem muito contato físico, que mantêm o corpo dentro de um padrão estético aceitável e com instrumentos de fácil manuseio. Era o caso do tênis, por exemplo. Em 1950, Maria Esther Bueno, tenista brasileira, começou a se dedicar ao esporte e fez história no Brasil e no mundo. Em 20 anos de carreira, a atleta ganhou mais de 590 títulos internacionais. Isso prova que a sociedade aceitava a inclusão da mulher no esporte, mas aqueles sem muito contato físico, que não colocavam em risco sua capacidade reprodutora. Maria Esther Bueno sofreu um grave contusão no braço direito em 1967, quando sua carreira  praticamente terminou. Três anos depois ela voltou a jogar, mas não obteve mais o mesmo sucesso. Com isso, foi convidada para ser comentarista de canais esportivos. Com seus inúmeros títulos, além de ter sido eleita duas vezes consecutivas – 1959 e 1960 – como a melhor do mundo, a atleta é considerada a mais destacada tenista brasileira de todos os tempos.  Na contramão de Maria Esther Bueno, as mulheres que desafiavam a sociedade e praticavam esportes vistos como masculinos, como é o caso do futebol, do handebol e do basquete, corriam o risco de serem vistas como homossexuais. “O uso de expressões como ‘mulhermacho’, ‘não-feminina’ e ‘lésbica/sapatão’ serve como percepções sociais para justificar a  presença feminina no esporte de alto rendimento e as manifestações da sexualidade que são marginalizadas” marginalizadas” (SIMÕES, 2003, p. 10). Mesmo sofrendo certo preconceito, a mulher não desanimou e continuou lutando para obter  mais espaço no meio esportivo. Tendo a participação vetada nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 1896, quatro anos depois, nas Olimpíadas de Paris, dezenove atletas conseguiram competir em dois esportes: tênis e golfe. Entretanto, segundo Macedo e Simões (2003), foi apenas em 1925 que a mulher teve a participação aprovada nas Olimpíadas, ainda que com limitações em provas e modalidades.

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Porém, ainda assim não tinha grande participação. Nas Olimpíadas de 1932, por exemplo, a delegação delegação brasileira contou com a participação participação de 83 homens e apenas uma mulher. Em 1992, a situação ficou um pouco menos crítica. Cinquenta e duas brasileiras disputaram os Jogos Olímpicos, acompanhadas de 146 homens. Ainda assim, a participação das mulheres em comparação com os homens estava longe da igualdade.  Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, foi notório o crescimento da participação das mulheres. Havia 3.700 atletas femininas, no geral, participando de 26 esportes e 37 modalidades. De acordo com Macedo e Simões (2003), observou-se um aumento de equipes de esportes coletivos, além da inclusão do vôlei de praia e do futebol de campo. As brasileiras saíram com o maior número de medalhas conquistadas até então. Foram duas no vôlei de praia – ouro e  prata –, uma no vôlei de quadra – bronze – e uma no basquete – prata. Para Macedo e Simões (2003, p. 211), “é nesse ponto que o esporte feminino surge como um fenômeno social crescente, que vem conquistando cada vez mais espaço e se aproxima do masculino”. Mas, ainda assim, a mulher não conseguiu ter o mesmo espaço no esporte que o homem e apenas uma minoria das brasileiras participa de atividades esportivas. A maioria das que optam por disputar competições, busca no esporte uma oportunidade de realização tanto educativa, quanto econômica e emocional. Segundo Simões (2003, p. 21), “[...] as mulheres fazem das competições seu meio de vida e obtêm com isso sucesso, satisfação e emancipação financeira”. Já consolidadas no meio esportivo e tendo a participação aceita em todas as competições, inclusive com uma Copa do Mundo de Futebol exclusiva as mulheres, elas ainda não recebem dos meios de comunicação tanto destaque como o dado às competições masculinas. Para Simões (2003, p. 8), “[...] as imagens veiculadas por televisões, jornais e revistas ainda são moldadas por valores masculinos”. Outro problema enfrentado por equipes femininas é a falta de incentivo e patrocínio, o que não acontece com os homens. Nos dias de hoje, por exemplo, é quase impossível ver um grande time de futebol sem um patrocínio estampado na camisa. É um fator desmotivante, mas que não tira a vontade e determinação da mulher de lutar por aquilo que é seu de direito, ter igualdade social.

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[...] as mulheres, por meio de seu esforço individual, foram construindo sua trajetória de sucesso, mostrando sua aptidão e determinação – e fizeram história em quase todas as modalidades esportivas. Estão descobrindo seus próprios caminhos, mesmo enfrentando resistências e as tensões próprias de um espaço que não são reservado a elas: o campo esportivo (MOURÃO, 2003, p. 152).

Reconhecidas e aprovadas no cenário esportivo, depois de quebrar diversas barreiras e derrubar vários mitos, outro desafio para a mulher é acabar com o preconceito em relação ao futebol, esporte de paixão nacional, visto como exclusivo aos homens. Afinal, como muitos costumam dizer, ‘futebol é coisa para macho’. 1.3 Futebol feminino no Brasil 

Para compreender o espaço que a mulher tem no futebol é preciso, antes de qualquer coisa, discutir as relações de gênero. Segundo Moura (2002), a sociedade obriga as pessoas a se comportarem de determinada maneira em função do seu sexo. E este comportamento começa quando criança. Espera-se que um menino, por exemplo, ganhe como presente uma bola de futebol. Por outro lado, que a menina ganhe uma boneca. “Com isso, vai se determinando uma ideologia sexista, distinguindo ‘brinquedo de menino’ e ‘brinquedo de menina’” (MOURA, 2002, p.139). Além de já ser orientada sobre a maneira que deve agir perante a sociedade, a mulher só passa a ter contato com a prática futebolística quando chega à puberdade. Diferentemente do menino, que, antes mesmo de entrar na escola, já tem contato direto com a bola. Os primeiros registros sobre a prática do futebol feminino no Brasil datam de 1965. Leonardos (1997) conta que, ainda que de forma pouco organizada, um grupo de mulheres da Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, se uniu e promoveu um jogo no campo que, até em então, era exclusivo aos homens. O evento chamou a atenção da população e fez um sucesso enorme. Poucas semanas depois do jogo, foi fundando o primeiro time de futebol feminino brasileiro. Canarinhos F.C. foi o nome escolhido, uma vez que o uniforme era amarelo, com alguns detalhes em verde. O problema na época, segundo Leonardos (1997), era que não tinha nenhum outro time para competir com o Canarinhos. A solução encontrada foi dividir a equipe, de forma que ficasse equilibrado, e fazer o jogo entre elas. A divisão acontecia

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sempre no vestiário e o time nunca era o mesmo. A única exceção ficava por conta das estrelas Norma Célia e Aninha. Sempre ficava uma para cada lado, equilibrando a força dos dois times. Em meados de 1966, chegou a notícia de que outras equipes estavam sendo formadas. Algumas no próprio Rio de Janeiro e outras em Leopoldina (MG) e Campinas (SP). “[...] era indício de que a ‘frutinha’ começava a crescer.” (LEONARDOS, 1997, p.10). Porém, o Canarinhos não teve muito tempo de vida. Segundo Leonardos (1997, p. 10), “por  não ter uma estrutura clubística mais pretensiosa, o Canarinhos [...] encerrou seu destino deixando viva uma história de quebra de preconceitos, abrindo horizontes até então só explorados pelo homem”. A mulher havia conseguido, enfim, se inserir no meio esportivo. Porém, o homem ainda não aceitava que ela participasse de esportes quer eram vistos, na época, como exclusivos ao sexo masculino. Era o caso dos esportes de muito contato físico, como o futebol, basquete, futebol americano, rugby, entre outros. “Os esportes de contato, que eram áreas exclusivas dos homens, estavam ligados totalmente ao ideal masculino, arrogante e fisicamente forte, contrapondo-se ao feminino, representado como tímido, frágil e dependente.” (MOURA, 2002, p. 137). Com isso, o homem usava estes esportes, mais exclusivamente o futebol, para provar sua masculinidade. Neste caso, a mulher desempenhava um papel secundário. Ela era fundamental fundamental para a realização do esporte, porém como coadjuvante. Moura (2002, p. 140) cita como exemplo “[...] a mãe que lava os uniformes, a irmã que limpa as chuteiras, a namorada que prepara e serve as bebidas etc”.   Nas últimas duas décadas, a mulher ganhou grandes dimensões no meio futebolístico. Na Europa, por exemplo, de acordo com Moura (2002), está cada vez mais intensa a prática de mulheres no futebol. A consolidação de ligas organizadas europeias femininas de futebol, bem como o aumento do interesse pela mídia de eventos, torneios e pelo campeonato mundial de futebol feminino tornou-se evidente, solidificando, assim, a afirmação de que o papel reservado para a mulher no cenário futebolístico está presente de maneira inevitável como dimensão lúdicoesportiva e como uma oportunidade de mercado (MOURA, 2002, p. 140 e 141).

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Porém, ao contrário dos países europeus, o futebol feminino no Brasil ainda busca sua afirmação. De acordo com o autor, há pouco espaço para a modalidade em território   brasileiro. Apenas na década de 1970 o futebol feminino passou a ser amparado pela Confederação Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Já com times profissionais formados e lutando por  maior visibilidade, a seleção brasileira recebeu o apoio da CBF nos Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais de Futebol Feminino. Enquanto no Brasil a mulher ainda busca sua afirmação entre as quatro linhas, nos Estados Unidos o futebol é visto como área reservada feminina. Segundo Moura (2002), a diferença está nos movimentos feministas que, nos EUA, andaram e ainda andam a passos largos. “[...] diferentemente de países como o Brasil, nos Estados Unidos e na Europa houve movimentos de mulheres no sentido de desmistificar a ideia da fraqueza feminina para a prática de atividades atividades físico-desportivas [...].” (MOURA, 2002, p. 142).   Nas universidades americanas, por exemplo, o futebol feminino está completamente solidificado. A aceitação perante o público jovem foi tão alta que chegou a chamar a atenção da mídia americana. Com diversos times profissionais formados e disputando campeonatos internos, a seleção americana se fortaleceu e foi campeã dos Jogos Olímpicos de 1996 e da Copa do Mundo de 1999.   No Brasil, mesmo buscando seu espaço entre as quatro linhas, atualmente, existem escolas espalhadas por todo o país onde acontece, com muita naturalidade, a prática do futebol feminino. Segundo Leonardos (1997), o melhor é que a aluna pode escolher, sem nenhuma forma de preconceito, qual o esporte que ela vai praticar. Além disso, equipes de futebol   profissional do país estão começando a levar o futebol feminino cada vez mais a sério e formando times com espírito de competição. No ano de 2009, por exemplo, o Santos Futebol Clube contratou, por três meses, duas grandes jogadoras da seleção brasileira, Marta e Cristiane, para disputar a Copa do Brasil e a primeira Taça Libertadores de Futebol Feminino. O time acabou sendo campeão e as atletas, assim como as competições, ganharam visibilidade na mídia. Além disso, a participação da seleção brasileira de futebol feminino nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, ajudou o esporte a se tornar mais visível e acabar, de vez, com qualquer 

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obstáculo que impedia a mulher de jogar futebol. Segundo Leonardos (1997), as federações estaduais de futebol começaram até a promover campeonatos, sendo alguns, inclusive, com transmissão via televisão. Em 2006, aconteceu no país a primeira edição da Copa do Brasil  para mulheres. Já em 2009, a Conmebol organizou a primeira Copa Libertadores de Futebol Feminino, que contou com a participação de dez países, entre eles, o Brasil. Com essa  pequena de mudança de cenário, de acordo com o autor, a expressão de que ‘futebol é coisa   para macho’ não tem mais fundamento e chega a ser até repreendida pelas pessoas mais entendidas sobre o assunto.

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2 JORNALISMO ESPORTIVO NA WEB 2.1 O que é notícia e o trabalho do jornalista

 No nosso dia-a-dia, nos deparamos com milhões de acontecimentos, mas apenas alguns deles viram notícia. Para um fato ganhar visibilidade nos meios de comunicação, precisa se enquadrar em critérios de noticiabilidade. Quanto mais imprevisível for um acontecimento, ou mais raro e trágico, mais chances ele tem de se tornar notícia e integrar o discurso jornalístico. Para Wolf (1985, p. 191), “[...] a noticiabilidade noticiabilidade corresponde corresponde ao conjunto de critérios [...] com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de escolher, cotidianamente, de entre um número imprevisível e indefinido de fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias”. Os não estudiosos do jornalismo avaliam que os jornalistas estão interessados em mortes e tragédias. Não que a suposição esteja errada, mas o excesso, a falha, a improbabilidade e a inversão também constam na lista de fatores que podem levar um acontecimento a ganhar  destaque e virar notícia.  Na redação, chegam milhares de informações por dia. Quem decide se o assunto é digno de virar notícia é o  gatekeeper , ou selecionador. Para isso, ele conhece bem a linha editorial do veículo e já sabe o que um acontecimento precisa ter para se tornar notícia ou ser deixado de lado. No processo de seleção, pesam mais as normas da empresa. Mas, mesmo assim, vários fatores são levados em consideração na hora de tomar a decisão. O assunto precisa ter valornotícia. De acordo com Traquina (2005), os valores-notícia estão presentes tanto na hora de selecionar  a notícia, como no momento de elaborá-la, ou seja, durante todo o processo de produção. Uma vez que os valores-notícia são, em sua maioria, universais, além de rotinizar o processo de seleção, agilizam e facilitam a decisão. São vários os valores-notícia que devem ser levados em consideração na hora de escolher a notícia. Porém, alguns deles têm maior importância e merecem ser destacados. Em primeiro lugar, o acontecimento precisa ser notável, excepcional e desconhecido.

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A proximidade do acontecimento com o local de circulação da informação é um valor-notícia importante. Quanto mais próximo geograficamente ocorrer o fato, maior o interesse da   população. E, como a lógica, não só jornalística, como da sociedade atual, é capitalista, ou seja, visa sempre ao lucro, os meios de comunicação – rádio, televisão, internet, revista e  jornal – estão interessados na informação que vai atrair o maior número de espectadores. Para isso, buscam assuntos de interesse geral e que despertem atenção. A relevância da notícia é outro valor-notícia importante. Quanto mais pessoas o assunto atingir, mais chance tem de se tornar notícia. O fato precisa ser interessante para muita gente, de forma que gere curiosidade e faça com que as pessoas ‘consumam’ a notícia. Não adianta escolher um assunto que não interessa a muita gente, porque o veículo de comunicação quer  vender seu produto para vastos públicos. Outro valor-notícia que merece destaque, segundo Wolf (1985), é o grau e o nível de hierarquia dos indivíduos envolvidos no acontecimento. Quanto mais poderosa for a pessoa ou mais famosa, mais chance o fato tem de virar notícia. Por já serem pessoas que a   população conhece, as notícias geram mais interesse. Vemos, no nosso dia-a-dia, atores, cantores e políticos, por exemplo, que são vigiados 24 horas por dia. Cada passo que eles dão fora da rotina, a mídia logo noticia. A quantidade de pessoas envolvidas no acontecimento também é um valor-notícia importante. Um exemplo desagradável é em caso de acidente, que ganha maior importância na mídia se tiver muita gente morta e/ou ferida. Uma tragédia que mata milhões de pessoas tem mais destaque na mídia que um acidente de carro que deixa dois mortos. O alto número de envolvidos no acidente gera comoção da população, que se sente mais atraída pela notícia. Para Wolf (1985), os jornalistas prezam histórias incomuns. Por outro lado, acontecem fatos isolados que acabam virando ‘novela’ na mídia. Um ótimo exemplo é o caso da menina Isabela Nardoni, assassinada pelo pai e pela madrasta. Mesmo sendo um caso com apenas uma morte, ganhou destaque enorme na mídia, revoltou e comoveu grande parte da  população. A inversão de papeis; o insólito, a falha e o excesso ou escassez também são valores-notícia que merecem ser destacados. Traquina (2005) brinca que se um cachorro morder o homem, o

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acontecimento não vai virar notícia, mas se o homem morder o cachorro, com certeza o fato vai ter destaque na mídia. Depois de já ter resolvido se determinado assunto vai virar notícia, existem os valores-notícia de construção, que ativam a seleção de informações a serem incluídas na elaboração da notícia. Segundo Traquina (2005), existem seis valores-notícia de construção: a simplificação, a amplificação, a relevância, a personalização, a dramatização e a consonância. A simplificação significa tornar a notícia simples, de fácil entendimento. O espectador está interessado nas notícias de fácil compreensão, em que a informação é passada e ele não  precisa buscar mais dados sobre aquele fato para entender o significado da notícia.  Na amplificação, quanto mais exagerado for o acontecimento, mais chance a notícia tem de ser percebida. Para isso, os veículos de comunicação trabalham no sentido de transformar um acontecimento comum em algo inesperado, que desperte a atenção da população. A relevância está ligada ao sentido da notícia. A informação tem que ser dada de modo que o acontecimento se torne relevante para o maior número de pessoas. A personalização diz respeito à valorização das pessoas envolvidas no fato. “Inúmeros estudos sobre o discurso jornalístico apontam para a importância da personalização como estratégia para agarrar o leitor porque as pessoas se interessam por outras pessoas” (TRAQUINA, 2005, p. 92). Como visto anteriormente, quanto mais famosa ou poderosa for  uma pessoa, mais chances a notícia tem de ser percebida.   Na dramatização, o jornalista busca tornar o acontecimento o mais dramático possível, focando sempre no lado emocional. No caso de uma adolescente morta, por exemplo, a forma de tornar a notícia dramática, é entrevistar a mãe da menina que, aos prantos, vai contar os sonhos da filha, o quanto ela era uma boa pessoa, entre outras coisas. Quanto mais emotiva for a notícia, mais pessoas ela vai atingir. E, por último, na consonância, os veículos de comunicação buscam ligar o acontecimento a uma outra notícia veiculada anteriormente, aumentando o interesse do público. Se a notícia anterior tiver gerado curiosidade, o jornalista vai encontrar um outro assunto semelhante e vai

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citar o primeiro fato, de forma que a população se sinta atraída pela notícia por já ter  ‘consumido’ e gostado do outro assunto. Além de todos esses fatores já citados, o jornalista ainda precisa lidar com a hora do fechamento do jornal. Com isso, ele trabalha sempre sob pressão, pois além de veicular  sempre notícias atuais, uma vez que é isso o que interessa a população, ainda tem uma hora certa para fechar a notícia. Em um jornal impresso, por exemplo, que circula no dia seguinte, a notícia tem que estar pronta, no máximo até às 21 horas, dependendo da empresa. Obviamente, há dias em que determinada notícia vai ter que ser fechada mais tarde que o normal, como em dia de jogo de futebol que termina quase às 23 horas. Mas, mesmo nessas exceções, o jornalista também tem uma hora certa para entregar todo o material a ser   publicado. Além disso, como em todas as empresas, no jornalismo também existe a concorrência. O   jornalista pretende dar a notícia sozinho, ou seja, dar o furo de reportagem, ser o único a veicular determinado assunto. Mas, por causa da concorrência, acontece também o contrário. Com medo de que seu concorrente dê a notícia e ele não, acontece de o jornalista selecionar a notícia, mesmo que não seja tão importante, e o concorrente não. Com isso, acaba publicando a informação que considera importante em relação ao concorrente, e não visando aos interesses públicos. Visto isso, percebe-se que, para a notícia se tornar pública, ou seja, ser veiculada nos meios de comunicação, comunicação, o jornalista precisa seguir várias v árias etapas, a começar pelo processo de seleção do acontecimento. Em seguida, para essa notícia ser apresentada, ela tem que se enquadrar no  padrão do meio de comunicação e precisa de espaço para ser encaixada, uma vez que a pauta  jornalística pressupõe ampla cobertura, com destaque para todas as editorias. É preciso conter, em um mesmo veículo de informação, notícias sobre a cidade, o país, esportes, cultura, entre outros. Quanto ao papel do profissional do jornalismo na sociedade, segundo Traquina (2005, p. 62), “o jornalista é um espelho que reflete a realidade”. É um mediador entre o acontecimento e o  público.

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2.2 Jornalismo feito para web

Para fazer um estudo sobre o jornalismo na era digital, é preciso, antes de tudo, voltar no tempo e entender a história da internet. Segundo Ferrari (2003), a internet foi criada em 1969,  pela   Advanced Research Projects Agency, como uma maneira de proteger os Estados Unidos de possíveis ataques de outros países. Quase 20 anos depois, muitos computadores já se encontravam conectados à internet, principalmente os acadêmicos. Porém, no Brasil, foi apenas em 1992 que a internet começou a ser instalada nas principais universidades. Apesar  disso, o preço dos computadores não era muito acessível e poucas pessoas tinham condição de comprar para ter em casa. Com a queda dos preços dos computadores e com o surgimento de portais gratuitos, em 2000, o número de internautas no Brasil aumentou muito. Segundo Ferrari (2003), o termo “portal” significa “porta de entrada” e começou a ser usado em 1997. “Os portais tentam atrair e manter a atenção do internauta ao apresentar, na página inicial, chamada para conteúdos díspares, de várias áreas e de várias origens.” (FERRARI, 2003, p. 30). O que mais chama atenção em um portal é o conteúdo jornalístico. Para o internauta ser ouvido e interagir com o conteúdo do portal, ele pode comentar as matérias, entrar em salas de bate-papo ou até mesmo responder pesquisas de opinião. Em meados dos anos 1990, todas as atenções estavam voltadas para a internet. Em 2000,  sites de diversos assuntos começaram a surgir e tiraram jornalistas de redações já consolidadas. Os   profissionais mais qualificados eram os primeiros a deixar os cargos. O motivo, de acordo com Coelho (2003), eram os altos salários oferecidos pela internet. Porém, em 2001, diversos  sites

acabaram falindo. Com isso, jornalistas que haviam deixado o cargo nas redações foram

substituídos por outros mais baratos e acabaram ficando desempregados. Uma das principais diferenças entre o jornalismo on-line e o impresso é a velocidade da informação. Na internet, a atualização acontece quase em tempo real. Os jornalistas da web  precisam, portanto, ficar atentos o tempo inteiro, porque, além de quererem dar a informação  primeiro que seu concorrente, precisam se preocupar com a qualidade e veracidade da notícia.   Não adianta publicar a notícia primeiro, se a informação estiver errada ou incompleta. É  preciso verificar antes e só divulgar quando houver certeza quanto à correção dos fatos. Caso contrário, perde-se credibilidade. credibilidade.

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Outro fator que diferencia o jornalismo on-line do impresso é que na internet é possível  publicar vídeos, áudio e ilustrações animadas e não apenas textos, fotos e gráficos, como no impresso. A internet possibilita a integração das mídias. Para isso, o jornalista da web precisa, a todo momento, pensar em elementos que exemplifiquem ou complementem aquilo que ele está querendo dizer. “[...] procurar palavras para certas imagens, recursos de áudio e vídeo   para frases, dados que poderão virar recursos interativos e assim por diante.” (FERRARI, 2003, p. 48). A ordem da leitura na internet também deve ser levada em consideração, uma vez que não  precisa ser, necessariamente, linear. Segundo Ferrari (2003), o leitor da web não lê a notícia desde o começo, passando pelo meio, até o fim, e sim, na ordem que ele achar mais conveniente. Portanto, significa que o leitor escolhe aquilo que vai ler de acordo com seus hábitos e preferências. Isso porque os textos na internet contam com uma ferramenta chamada hiperlink ,

que funciona como uma ligação para uma outra página na internet, por exemplo,

com mais informações sobre o assunto da matéria. Determinada palavra, ou conjunto de  palavras, é destacada e, caso o leitor precise de mais informações sobre aquele assunto, clica em cima da seleção e uma nova página abre-se. O leitor que achar que não precisa de mais informação, não precisa abrir a outra página. Os hiperlinks funcionam também como forma de deixar o texto mais curto. Para não precisar  contar um fato que já foi relatado anteriormente, o jornalista apenas o cita e coloca um hiperlink  no

texto. O leitor que abrir aquela notícia sem ter lido as anteriores, pode clicar nas

 palavras selecionadas e as matérias explicando o assunto vão ser abertas. Pelo fato de o leitor poder escolher a forma e a ordem em que vai ler a notícia, os jornalistas  precisam tomar cuidado para não fazer textos de difícil entendimento e muito grandes, o que, na maioria das vezes, acaba desanimando o internauta de continuar navegando naquela  página. O leitor de web procura matérias pequenas e simples de ler. Portanto, os textos para internet devem conter frases curtas e na voz na passiva, precisam girar em torno de uma um a única ideia e as sentenças devem ser precisas e simples. “[...] Informar não mais de maneira linear, com começo, meio e fim da notícia, mas sim construir matérias múltiplas sobre o mesmo assunto.” (FERRARI, 2003, p. 52). Para isso, existe a ferramenta que foi explicada anteriormente, o hiperlink .

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Outro conceito importante que não pode ser esquecido no jornalismo on-line é a construção do lead . O leitor precisa saber, assim que começa a ler, as principais informações daquela notícia, para que ele fique preso a ela e continue a lê-la até o final. Caso as informações não estejam claras e sucintas, o leitor dificilmente lerá toda a matéria. Portanto, é fundamental que as principais informações da notícia estejam no primeiro parágrafo. Uma outra característica da internet, assim como de todos os outros veículos de comunicação, é a forma como aparecem as notícias: sempre da mais para a menos importante. As notícias mais relevantes são sempre exibidas na página principal do portal e, aquelas que merecem maior destaque, estão acompanhadas de fotos, no alto da página e com a fonte da letra maior. Abaixo delas, ficam as notícias menos importantes, muitas vezes sem foto e com fonte menor. Segundo Ferrari (2003), isso é quase uma regra, pelo fato de o leitor não ficar muito tempo lendo as chamadas da página principal. Ele entra no portal, passa o olho pelas notícias em destaque e lê apenas aquelas que lhe interessam. Portanto, as mais importantes precisam estar  destacadas. Ainda de acordo com Ferrari (2003, p. 112), mesmo que o número de internautas tenha crescido assustadoramente nos últimos anos – em 1996 eram menos de 100 mil usuários e, em 2003, mais de 14 milhões de pessoas conectadas –, a internet ainda não está plenamente consolidada no Brasil. A Internet ainda está em gestação, a caminho de uma linguagem própria. Não podemos encará-la apenas como uma mídia que surgiu para viabilizar a convergência entre rádio,   jornal e televisão. A Internet é outra coisa, uma outra verdade e consequentemente uma outra mídia, muito ligada à tecnologia e com particularidades únicas. Ainda estamos, metaforicamente, saindo da caverna (FERRARI, 2003, p. 45).

De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope Media 1 no final de 2009, 25 milhões de pessoas   já estão conectadas à internet no Brasil. Houve um aumento de 10% em relação ao ano de 2008. Segundo a pesquisa, o uso de celulares contribuiu muito para esse crescimento, uma vez que 66% dos entrevistados afirmaram que acessam a web por meio de aparelhos móveis.

1

http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=5&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=cal

db&comp=Noticias&docid=65E4719616081DB5832576A9004314E0, db&comp=Noticias&docid=65E4719616081DB5 832576A9004314E0, acessado em 28 de fevereiro de 2010.

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Já uma pesquisa realizada pelo Ibope Nielsen Online 2, divulgada em março de 2010, mostra que o número total de usuários ativos da internet brasileira, em janeiro de 2010, chegou a 36,9 milhões no trabalho e nas residências, o que significa um aumento de 0,8% em relação ao mês anterior. Se for levado em conta o acesso em qualquer ambiente - escola, lanhouse, trabalho,  biblioteca e outros – o número passa para 66,3 milhões de pessoas, conforme os dados do terceiro semestre de 2009. Um ponto positivo da internet é que o internauta tem à sua disposição informações 24 horas  por dia e sete dias por semana. Ou seja, sempre que ele entrar em um portal, o conteúdo vai estar atualizado. Outro benefício é que grande parte das necessidades do homem pode ser  resolvida com uma busca na internet, devido à grande abrangência de serviços oferecidos. Por  esse fator, o internauta não se satisfaz com pouco, ele busca sempre mais do que lhe foi apresentado. apresentado. Segundo Ferrari (2003, p. 47), “diversas pesquisas pesquisas apontam que o púbico on-line tende a ser mais ativo do que o de veículos impressos e mesmo do que um espectador de TV, optando por buscar mais informações em vez de aceitar passivamente o que lhe é apresentado”. Como ponto negativo, Ferrari (2003) cita exemplos de coberturas irresponsáveis em que o   jornalista, com pressa de publicar a matéria, acaba não checando as informações e veicula dados errados. Uma vez publicada, a notícia já pode ser vista por todos os internautas. É   possível mudar as informações, mas o portal acaba perdendo credibilidade. Além disso, segundo a autora, talvez com excesso de zelo, a internet é inimiga da literatura. Isto porque, na web, as palavras são abreviadas. Você é vc; também é tb; não é n; nada é nd; e assim por  diante. 2.3 Jornalismo esportivo

O primeiro jogo oficial disputado pela Seleção Brasileira foi em 1914. Mas, foi apenas no começo da década de 1940 que o futebol conquistou a paixão dos brasileiros e ganhou destaque cada vez maior na mídia em geral. Veículos de comunicação começaram a se

2

http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=0&proj=PortalIBOPE&pub=T&db=cald  b,  b, acessado em 30 de março de 2010.

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dedicar ao esporte ainda na década de 1910. O jornal  Fanfulla, de acordo com Coelho (2003), era um desses veículos. A  Fanfulla era um dos poucos jornais que faziam cobertura esportiva. Por conta disso, é, até hoje, fonte de consulta de arquivos publicados na época. Isso porque, naquele tempo, ainda não existia o que, hoje, é chamado de jornalismo esportivo. Nas redações, tanto de antigamente quanto dos dias atuais, segundo o autor, a editoria de esportes sofre certo   preconceito. “[...] havia sempre alguém disposto a cortar uma linha a mais dedicada ao esporte.” (COELHO, 2003, p. 9).  No início do século XX, jogos de grandes times foram ganhando destaque nos veículos de comunicação. Em 1923, com a conquista do Vasco da Gama na Segunda Divisão, o futebol conseguiu a popularização que tanto buscava. Foi a partir daí que, em 1930, surgiu o primeiro diário dedicado exclusivamente ao esporte no país. Era o   Jornal dos Sports, lançado no Rio de Janeiro. Porém, como o preconceito ainda era grande em relação à editoria de esportes – dizia-se que só as pessoas de menor poder aquisitivo se interessavam por notícias de esporte – revista e  jornais foram surgindo e, ao mesmo tempo, desaparecendo. Segundo Coelho (2003, p. 10), “só no fim da década de 1960, os grandes cadernos de esportes tomaram conta dos jornais”. Porém, gastar papel para fazer relatos esportivos, durante muito tempo, não foi prioridade dos veículos. Com isso, ao mesmo tempo em que os cadernos de esporte começaram a surgir, eles iam perdendo espaço e acabavam sendo desfeitos. A primeira revista esportiva que conseguiu se sustentar, no Brasil, surgiu apenas nos anos 1970. Coelho (2003) faz um levantamento dos principais motivos que levam um jornalista a optar    por trabalhar com a cobertura esportiva. Segundo o autor, o sonho começa ainda quando criança. Coelho cita como exemplo um garoto de 12 anos que gosta de esporte. Interessado no assunto, ele fica, a todo momento, atento aos acontecimentos esportivos. “[...] o garoto tem tempo de sobra e [...] dedica-se a ele em tempo integral. Ouve todos os programas, assiste a tudo o que a TV apresenta, lê todo o noticiário dos jornais, acompanha tudo pela internet.” (COELHO, 2003, p. 29).

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Segundo o autor, é nessa faixa etária que começa a passar pela cabeça a vontade de virar   jornalista esportivo. esportivo. Um diferencial, segundo Coelho (2003), de um jornalista de esporte e um de outra editoria é a paixão pelo que faz. Uma paixão que vem desde criança. Pelo fato de o sonho começar na infância, a mulher acaba não tendo muito espaço nas redações esportivas. Como argumentado anteriormente, o comportamento que se deve ter quanto ao sexo começa ainda quando criança. Espera-se de um menino que seu brinquedo preferido seja uma bola, enquanto da menina seja uma boneca. Quando acontece ao contrário, a criança é vista com maus olhos pela sociedade. Até o início da década de 1970, era quase impossível ver mulheres trabalhando na editoria de esportes. Hoje em dia, de acordo com Coelho (2003), a situação mudou um pouco. A mulher  conseguiu encontrar seu espaço no esporte, mas, ainda assim, sofre certo preconceito. “[...] É sempre visto como algo curioso uma mulher que parece entender de esportes.” (COELHO, 2003, p. 35).  Nos dias de hoje, segundo o autor, as redações de esporte do Brasil têm cerca de 10% de mulheres. No entanto, quando uma jornalista do sexo feminino é encaminhada para uma editoria de esportes, na maioria das vezes, vai trabalhar com esporte amador. “É mais fácil demonstrar conhecimento sobre vôlei, basquete e tênis do que sobre futebol e automobilismo. Territórios onde o machismo ainda impera.” (COELHO, 2003, p. 35). Porém, existem aquelas que conseguem ingressar e trabalhar diretamente com futebol, além de se dedicar aos outros esportes. O jornalismo esportivo funciona também como porta de entrada no mercado para os recémformados. Se conseguirem se firmar na empresa, podem ir se aprimorando e passar para as áreas ‘nobres’ do jornalismo. Ou, em alguns casos, acabam gostando e decidem ficar na editoria de esportes. A dificuldade, entretanto, é fazer com que os jornalistas entendam que o  jornalismo esportivo precisa ser diferenciado das demais editorias. Afinal, o Brasil é o país do futebol, do esporte. As notícias de esporte são, na grande maioria, as que atraem mais atenção do leitor ou espectador. Coelho (2003) faz uma comparação entre o jornalismo esportivo e o de outras editorias. Segundo o autor, o jornalista de esporte é mal remunerado, um dos primeiros a ser mandado

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embora em caso de corte na empresa, é pouco prestigiado e conhecido como ‘palpiteiro’. Por  outro lado, faz o que gosta e é feliz na profissão.

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3 UM OLHAR EMPÍRICO SOBRE O FUTEBOL FEMININO 3.1 Objetos, recorte temporal e justificativa

Este trabalho apresenta-se como uma reflexão sobre o espaço do futebol feminino na mídia digital brasileira. O Brasil é conhecido, mundialmente, como o país do futebol. Diariamente são publicadas, na mídia em geral, diversas matérias sobre o esporte. Para a realização desta  pesquisa, o foco é a visibilidade e o tratamento dado apenas ao futebol feminino. Foram estabelecidos como objetos as matérias publicadas nos portais Globo.com3, Estadão4 e Uol 5 em dois períodos distintos. O primeiro é setembro de

2007, durante a realização da Copa

do Mundo de Futebol Feminino. O segundo período é agosto de 2009, quando não ocorre nenhum evento de futebol para mulheres no Brasil. O recorte temporal em dois períodos distintos tem como objetivo contrastar quais são os momentos de visibilidade do futebol feminino na mídia digital brasileira. Para isso, foi escolhida uma época em que as atletas estavam disputando um grande evento, que é a Copa do Mundo, e outra em que não aconteceu nenhuma competição de futebol feminino no mundo. Em agosto de 2009, entretanto, a brasileira Marta, eleita quatro vezes consecutivas como melhor jogadora do mundo, estava em destaque, pois o Santos Futebol Clube a contratou, por três meses, para disputar a Copa do Brasil e a primeira Copa Libertadores de Futebol Feminino. A atleta foi emprestada pelo   Los Angeles Sol  durante o recesso de temporada nos Estados Unidos. A Copa do Brasil para mulheres existe desde 2006. Em 2009, ano em que Marta foi contratada pelo Santos, a competição ocorreu entre os dias 24 de setembro e 1º de dezembro e contou com a participação de 32 equipes de todas as regiões do país. A distribuição dos times que participaram do campeonato seguiu o critério do Ranking Nacional das Federações (RNF). As equipes representantes de Minas Gerais foram Atlético e Iguaçu. O Santos foi campeão e o Botucatu ficou com a vice-liderança.

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www.globoesporte.com www.estadao.com.br  5 www.uol.com.br/esportes 4

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A Copa Libertadores de Futebol Feminino teve sua primeira edição em 2009. Realizada pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a competição contou com a  participação de dez países, todos membros da Conmebol. O Santos, que havia ganho a Copa do Brasil em 2008, foi o representante do Brasil. O campeonato aconteceu entre os dias 3 e 18 de outubro, nas cidades de Santos, São Paulo e Guarujá. A equipe brasileira ficou com a taça de campeã e a Universidad Autônoma terminou em segundo lugar. O primeiro objeto de pesquisa é o portal Globo.com, que pertence às Organizações Globo, da família Marinho e foi lançado no ano 2000. Ele abriga os conteúdos do jornal O Globo e do G1,

que é o portal de notícias da Globo. Ao acessar o site, existem outros portais

independentes. Há no portal três subdivisões: notícias, entretenimento e esportes. Neste trabalho, o site utilizado é o Globoesporte.com , que possui conteúdo exclusivo. Além de fazer  cobertura ao vivo dos principais eventos esportivos do Brasil e do mundo, o portal disponibiliza vídeos e galerias de fotos com os melhores momentos do esporte. O Estadão é um portal do Grupo Estado. Ele surgiu em março de 2000, através da fusão dos  sites

da Agência Estado, do O Estado de S. Paulo e do Jornal da Tarde. Além de ser possível

acessar o jornal O Estado de S. Paulo pelo portal, o site também possui conteúdo exclusivo. Existe uma equipe apenas para trabalhar no portal do  Estadão, sendo independente do grupo que produz o jornal e da agência. São publicadas, diariamente, matérias de diferentes editorias, entre elas a de esportes, que é utilizada nesta pesquisa. Assim como o portal Globoesporte.com ,

o  Estadão também faz a cobertura dos principais eventos esportivos do

mundo. O portal UOL (Universo Online) foi criado em 1996 pela empresa Folha da Manhã, que edita o jornal  Folha de S. Paulo . O conteúdo do Uol  vai desde notícias, esportes e entretenimento, até serviços e produtos voltados às necessidades do público da web. A editoria utilizada para a realização deste projeto será a de esportes. Assim como o portal Globoesporte.com e Estadão , o Uol  também cobre, em tempo real, os grandes acontecimentos esportivos do mundo e tem investido na cobertura em vídeo. Ao propor uma busca histórica e analítica por informações sobre o contexto do futebol feminino no Brasil, desde sua implantação até os dias de hoje, este estudo passa a ser 

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relevante para o campo da Comunicação Social e para a prática dos profissionais de comunicação, mais especificamente ao jornalista esportivo. Sabe-se que o Brasil é conhecido, mundialmente, como o país do futebol. Ao fazer uma busca de referenciais teóricos sobre o jornalismo esportivo, encontram-se, na grande maioria, textos voltados apenas ao futebol. Porém, em alguns deles, o futebol feminino sequer é citado. Além disso, apesar de o esporte ser bem visível na mídia, as reflexões teóricas sobre o tema ainda são deficientes. Para a formação profissional do jornalista é interessante estudar o contexto histórico do futebol e do jornalismo esportivo, por ser um campo com diversas possibilidades abertas. O esporte, em geral, está sempre presente na vida do brasileiro. Além disso, diversos campos serão abertos com o novo ciclo que o Brasil irá passar. Em 2014 o país vai receber a Copa do Mundo de Futebol e em 2016 as Olimpíadas, no Rio de Janeiro. A pesquisa foca-se na mídia digital brasileira, por ser um meio que também abre campos. Além de permitir a integração das mídias, em que um único assunto pode ter, ao mesmo tempo, texto escrito, imagem, vídeo, animação e outros, a internet possibilita maior  visibilidade a assuntos pouco abordados por outros veículos. Como precisa se manter  atualizada 24 horas por dia, durante sete dias por semana, assuntos não muito importantes acabam tendo destaque na internet. Este trabalho propõe ressaltar a necessidade de compreensão do espaço da mulher no futebol e o tratamento e visibilidade dado pela mídia digital brasileira ao futebol feminino. A  principal hipótese de pesquisa é que o futebol feminino só tem destaque na mídia quando há um grande evento por trás. Por isso, a necessidade de analisar a cobertura em dois períodos distintos, sendo um deles durante a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2007 e, o outro, fora de temporada. 3.2 Análise das matérias coletadas

Para a realização dessa análise, foram coletadas 288 matérias jornalísticas, sendo 269 durante o mês de setembro de 2007, período de realização da Copa do Mundo de Futebol Feminino, e outras 19 em agosto de 2009, mês em que a jogadora Marta foi contratada pelo Santos

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Futebol Clube, por três meses, para disputar a Copa do Brasil e a primeira Copa Libertadores de Futebol Feminino. Como o objetivo deste trabalho é contrastar os momentos de visibilidade do futebol feminino, foi feito um recorte temporal em um momento de pico do esporte, setembro de 2007, e outro de menor destaque, agosto de 2009. Apesar do alto número de matérias coletadas em setembro de 2007, a maioria delas aborda apenas a situação da seleção brasileira na competição, não dando destaque às outras seleções. Das 269 notícias coletadas, 163 têm como ideia principal os jogos das atletas do Brasil, enquanto apenas 50 destacam informações dos outros países. Foram encontradas também 19 galerias de fotos, um vídeo, 19 matérias sobre o evento, destacando, por exemplo, mudança de data de jogos e 17 notícias sobre a situação do futebol feminino no Brasil, conforme quadro abaixo.

Copa do Mundo – 

Globo.com – 200

Estadão – 29

Uol – 40 registros

Setembro/2007

registros

registros

Galeria de fotos

10

3

6

Vídeo

1

0

0

Matérias sobre a

130

18

17

14

2

3

31

6

13

14

0

1

seleção Brasileira Matérias sobre a Copa Matérias sobre outras seleções Futebol Feminino

Quanto à cobertura de cada portal, o Globo.com foi o que deu mais destaque à Copa do Mundo de Futebol Feminino. Enquanto publicou 200 matérias durante a realização do evento, os outros dois  sites –  Uol  e  Estadão – publicaram apenas 40 e 29 notícias, respectivamente. Foi criada uma página exclusiva para a Copa (ver anexo 1), destacando as principais

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informações do dia, galerias de fotos do evento, a tabela da competição e uma enquete sobre a  participação da seleção brasileira. O portal Globo.com também se diferencia dos outros dois portais, pois foi o único a utilizar o recurso de vídeo. Em 28 de setembro, um dia após a seleção derrotar os Estados Unidos nas semifinais semifinais e avançar à final, o portal criou uma página e publicou sete trechos de vídeos sobre a trajetória de Marta no futebol (ver anexo 2). Além disso, foi o  site que mais explorou a integração das mídias, publicando 10 galerias de fotos de treinos e das atletas do Brasil e algumas de outros países. Nas matérias com resultados de jogos da seleção brasileira, há diversos vídeos com os principais lances das partidas. Enquanto publicou 130 matérias sobre as atletas brasileiras, o Globo.com deu outras 31 notícias da situação das outras seleções. É um número elevado, se comparado com o Uol  e  Estadão,

que publicaram 13 e seis notícias, respectivamente. Porém, na maioria das vezes, as

matérias abordavam apenas as seleções que estavam na chave das brasileiras ou que  possivelmente poderiam enfrentar o Brasil na fase seguinte. É o critério de noticiabilidade de relevância. O portal partiu do pressuposto de que informações de jogos de seleções isoladas não interessariam ao público brasileiro, focando apenas aquelas equipes que as atletas   brasileiras poderiam enfrentar. É o caso da matéria ‘Alemanha vence e espera Brasil ou Estados Unidos’, publicada no dia 26 de setembro (ver anexo 3). A seleção alemã derrotou a  Noruega, nas semifinais, e já estava garantida na final, aguardando apenas a confirmação do adversário, que sairia no jogo entre Brasil e Estados Unidos. Outro fator explorado pelo Globo.com é que todas as matérias publicadas possuem fotos com legenda e uma seção, ao lado da notícia, com links para outras informações importantes e relacionadas ao assunto. Além disso, o texto das matérias é, na maioria das vezes, curto e bem explicativo, uma característica importante dos textos da internet. O leitor da web  procura matérias pequenas e simples de ler. Um dia que merece destaque na cobertura do Globo.com é 27 de setembro, data em que a seleção brasileira venceu os Estados Unidos e avançou à final do mundial. Foram publicadas 21 matérias apenas nesse dia. Isso porque, nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, o Brasil  perdeu o título, na prorrogação, exatamente para as americanas que, a partir daí, se tornaram algozes das brasileiras. Porém, na Copa do Mundo, as canarinhas foram superiores, venceram

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 por 4 a 0 e comemoraram a vitória como se fosse o título da competição. Foi a primeira vez na história que o Brasil venceu os Estados Unidos em jogos oficiais. O fato de ter feito uma cobertura mais completa que os outros portais, talvez, se deva à  presença de um enviado especial na China. O jornalista Thiago Lavinas foi deslocado ao local de realização da Copa do Mundo especialmente para fazer a cobertura do evento. Praticamente Praticamente todas as matérias sobre a seleção brasileira e os jogos das outras seleções foram escritas por ele. Algumas outras notícias, com fatos curiosos, por exemplo, foram redigidas da redação em São Paulo.  No geral, percebe-se que o Globo.com, além de se importar com a quantidade de matérias   publicadas, preocupou-se também com a qualidade e veracidade das informações. Foi feita uma cobertura mais aprofundada, atendendo aos interesses do internauta. Mesmo que o futebol feminino não tenha tanto apelo como valor-notícia, durante a Copa do Mundo, o esporte teve grande destaque no Globo.com . O portal Uol  também criou uma página exclusiva para o evento (ver anexo 4). Além de destacar as principais informações da competição, disponibilizou a tabela de jogos, o resultado das partidas do dia, as chaves de cada seleção, o regulamento, fotos dos estádios onde os jogos estavam sendo disputados e um link  chamando para as notícias e galerias de foto da Copa. O Uol publicou 15 notícias sobre a seleção brasileira e mais 13 sobre jogos de outras seleções. Isso mostra que o  site não estava interessado em informar ao leitor apenas a situação das atletas do Brasil, mas fazer uma cobertura geral da Copa. Além disso, assim como no Globo.com ,

em todas as matérias divulgadas no Uol  há uma seção com links chamando para

outras matérias, destacando sempre uma notícia feita apenas com informações da competição. O Uol , ao contrário do Globo.com, não enviou nenhum jornalista à China, fazendo todas as notícias da Copa da redação em São Paulo. Algumas vezes, o  site optou por recorrer às agências de notícias para manter o conteúdo atualizado. Quanto aos textos das matérias, eles também se enquadram no padrão da internet, que explora textos bem explicativos, curtos e de fácil entendimento. Uma outra característica da web e que deixa as matérias mais atrativas

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  para o internauta, são as fotos com legendas, que foram usadas em quase todas as notícias  publicadas no Uol. Uma matéria cadastrada no portal, no dia 20 de setembro, merece ser comentada (ver anexo 5). Com o título ‘Com gol no fim, Brasil bate Dinamarca e passa às quartas em 1º’, a notícia é um ótimo exemplo de que o  site se preocupou em seguir os padrões exigidos pela internet. Além de explorar o texto de fácil entendimento, contando os melhores momentos da partida,  publicou três fotos do jogo com legendas bem explicativas. Na mesma notícia, na seção ‘saiba mais’, há links   para quatro outras matérias sobre a Copa, um para galeria de fotos e um chamando o internauta para votar na enquete sobre o maior rival do Brasil nos últimos tempos. O portal  Estadão foi o que deu menos destaque à Copa do Mundo. Diferentemente do Globo.com

e do Uol , não foi criada nenhuma página exclusiva ao evento. As notícias sobre a

competição entravam junto com as informações do futebol do dia, não tendo muita visibilidade. Foram publicadas 29 matérias durante a realização da Copa, sendo 18 sobre os jogos da seleção brasileira e apenas seis de outras equipes, o que mostra que o portal não estava interessado na competição em geral, mas na situação das atletas brasileiras. Outros doze registros foram encontrados, sendo seis galerias de fotos, três matérias sobre a competição e outras três sobre a situação do futebol feminino em geral. A cobertura do  Estadão também peca ao não disponibilizar, nas matérias, links para outras notícias da competição. Em poucas matérias essa ferramenta é utilizada. Quanto ao texto, a maioria é curto e objetivo. Além disso, o portal também utiliza fotos com legenda nas notícias. Outro ponto negativo da cobertura do  Estadão é que o portal fez muito uso de matérias de agência. Até mesmo notícia da seleção brasileira, como a do dia 12 de setembro, em que as atletas brasileiras venceram as neozelandesas, foi retirada da agência de notícias  Reuters. Isso mostra que o  Estadão não estava tão interessado em fazer a cobertura da Copa, uma vez que não disponibilizou jornalista nem para fazer as matérias dos jogos da seleção brasileira.

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Depois de feita uma breve análise da cobertura de cada portal durante o mês de setembro de 2007, percebe-se que o Globo.com foi o que mais se preocupou em deixar o internauta informado. Além do grande número de matérias publicadas, deslocou um jornalista à China apenas para fazer a cobertura da Copa do Mundo. Foi um investimento investimento do portal que, no final, o diferenciou dos demais. O retorno que o Globo.com teve com o destaque que deu à competição feminina, provavelmente, foi muito bom para o  site. Como manteve o conteúdo sempre atualizado e diferenciado dos demais, que se preocuparam em fazer apenas a cobertura da seleção brasileira, o internauta que estivesse no Brasil, querendo saber notícias da Copa, muito possivelmente optaria pelo Globo.com. Os portais Uol  e  Estadão se basearam no princípio de que o futebol feminino não agrega importantes valores-notícia e, por isso, se preocuparam em fazer uma cobertura ‘básica’ da Copa do Mundo, apenas com informações essenciais sobre a seleção brasileira. O Globo.com ,   por sua vez, entendeu que a competição em si era um importante valor-notícia e fez uma cobertura mais aprofundada e mais completa. 3.3 A ‘Magic Marta’ 

Um fator interessante e que deve ser levado em consideração é que boa parte das matérias tem como foco a jogadora Marta. Eleita a melhor atleta da Copa do Mundo e artilheira da competição, Marta foi o grande nome do campeonato. No total, os três portais –  Globo.com ,  Estadão

e Uol  – escreveram, juntos, 46 notícias a respeito da jogadora, que foi do céu ao

inferno em quatro dias. Idolatrada na vitória brasileira em cima das americanas, a Federação Internacional de Futebol Associado, FIFA, chegou a publicar, em sua página principal, uma matéria a chamando de ‘Magic Marta’, em alusão ao ex-jogador de basquete ‘ Magic Johnson’ , que encantou o mundo ao lado de Michael Jordan . Isso porque, nas semifinais do mundial contra os Estados Unidos, a atleta foi impecável. Além de marcar dois dos quatro gols da goleada, ela comandou o time na vitória. Marta chegou a arrancar elogios até mesmo do ex-técnico e ex-jogador da seleção  brasileiro, Zagallo. Porém, quatro dias depois, a atleta perdeu um pênalti na final contra a Alemanha, quando o   placar ainda estava 1 a 0 para as alemãs, e viu o sonho do título do mundial ficar mais

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distante. O Brasil acabou sendo derrotado por 2 a 0 e a FIFA voltou a falar de Marta. Desta vez, porém, a chamando de vilã e a culpando pela derrota brasileira. “Marta se transformou na mais improvável vilã do Mundial em Xangai” era o que dizia uma nota publicada no  site da organização. A imagem criada em torno de Marta, eleita quatro vezes consecutivas como a melhor   jogadora de futebol do mundo, fez com que ela se tornasse um ícone do futebol feminino, não só brasileiro como mundial. Dessa forma, os veículos de comunicação se interessaram mais  por notícia a respeito dela que de outra jogadora, que não tem tanta história no futebol. É um valor-notícia relevante na hora de escolher se um fato deve ou não virar notícia, pois, quanto mais famosa for a pessoa, no caso a Marta, mais interesse a população tem por aquele assunto. Por ser uma atleta já conhecida por muita gente, as notícias sobre ela geram mais impacto na sociedade. 3.4 Copa do Mundo de Futebol Feminino x Masculino

Depois de feita a análise quantitativa das matérias publicadas durante a Copa do Mundo de Futebol Feminino, percebe-se percebe-se que o evento teve grande destaque na mídia, principalmente principalmente no  portal Globo.com. Porém, a cobertura ainda deixa a desejar se comparada ao destaque que tem a Copa do Mundo de Futebol Masculino. Ambas as competições são realizadas pela FIFA e acontecem de quatro em quatro anos. O campeonato masculino teve sua primeira edição em 1930, no Uruguai e o feminino foi realizado apenas 61 anos depois, em 1991. Enquanto a edição para homens conta com 32  países participantes, a edição para mulheres tem apenas 16, sendo quatro chaves de quatro, a metade da masculina, que são oito grupos de quatro. Tamanha importância tem a Copa masculina, antes mesmo de começar a edição de 2010, já se sabe onde vai ser a de 2014 – Brasil – e já estão até querendo resolver onde será a de 2018. Já a feminina será em 2011, na Alemanha – campeã em 2007 –, e ainda não tem lugar para a realização da Copa de 2015. Ainda não se sabe nem quantos países vão participar, pois a FIFA está querendo aumentar o número de seleções participantes de 16 para 24, mas não tem nada resolvido.

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A principal diferença entre as duas competições está no destaque que cada uma recebe. A Copa do Mundo de Futebol Masculino é o campeonato esportivo mais assistido em todo o mundo. Muito antes de começar, já tem uma cobertura enorme. Estamos em ano de Copa e o que mais se fala é isso. Como ficou a lista dos 23 atletas convocados pelo técnico Dunga, quem deveria entrar na lista e quem deveria sair, quem serão os titulares, etc. A expectativa   pelo começo da competição toma conta da população e, assim que acaba uma edição, já se começa a falar na próxima. Já a Copa do Mundo de Futebol Feminino, competição mais importante no futebol internacional para mulheres, sequer é comentada. A próxima edição será em 2011 e nem se ouve falar nisso. Durante a Copa de 2007, o Mundial só passou a ter destaque nos três portais que estão sendo analisados dois dias antes de começar, quando houve a abertura da competição. Além de não ter cobertura dos meios de comunicação, o futebol feminino também sofre com a falta de patrocínio, o que não acontece no masculino. Em 2007, ano em que as brasileiras foram vice-campeãs mundiais, as atletas subiram no pódio com cartazes cobrando incentivo ao esporte. Outra diferença entre as duas competições é a cobertura das eliminatórias. Enquanto no masculino demora mais de dois anos e todos os jogos da seleção brasileira são transmitidos, as eliminatórias femininas para a Copa de 2011 vão acontecer em setembro e outubro deste ano e poucas pessoas sabem disso. No mundial masculino a população para tudo para assistir  aos jogos, mas as partidas do feminino sequer têm audiência. Dia de final da Copa masculina é considerado quase que um feriado, em que as ruas ficam vazias e há modificação da rotina de quase toda a população. Algumas pessoas chegam a se ausentar do trabalho para assistir  aos jogos. Além disso, não só as partidas da seleção brasileira masculina, como os jogos dos outros países, também são transmitidos para toda a população, o que não acontece no feminino. Como reflexo da falta de incentivo, enquanto no masculino o Brasil é o país que mais alcançou títulos mundiais – cinco vezes: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002 – e é a única seleção que participou de todas as edições, no feminino a melhor campanha foi em 2007, quando ficou em segundo lugar. Apesar de ter boas atletas, inclusive a melhor do mundo, Marta, a seleção brasileira feminina não tem apoio, ficando prejudicada pela falta de treino em relação à seleção masculina.

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3.5 Agosto de 2009

Em agosto de 2009, a maioria das 19 matérias coletadas tem como foco a contratação da  jogadora brasileira Marta. O Santos Futebol Clube anunciou, no dia 1º de agosto, que a atleta, eleita quatro vezes consecutivas como a melhor do mundo, iria disputar a Copa do Brasil e a  primeira Copa Libertadores de Futebol Feminino vestindo a camisa do clube. Como explicado anteriormente, Marta foi emprestada pelo  Los Angeles Sol  por  por três meses, período de recesso de temporada nos Estados Unidos. Oito notícias centram-se na confirmação da contratação, que já estava sendo especulada pela imprensa há algum tempo. Além das matérias sobre Marta, três também falam de outra contratação do Santos. Desta vez, da atacante da seleção brasileira Cristiane, considerada a terceira melhor jogadora do mundo. Assim como Marta, Cristiane também foi emprestada por  seu clube –  Chicado Red Star –  por três meses apenas para disputar as duas competições pelo Santos. Foram coletadas outras oito notícias, sendo três sobre a situação do futebol feminino no Brasil, destacando, por exemplo, uma matéria em que o esporte está mudando a vida de algumas garotas no Maranhão, uma galeria de fotos, além de quatro vídeos, dos quais um é sobre Marta e outro sobre Cristiane, conforme quadro abaixo.

Agosto/2009

Globo.com – 11

Estadão – 4

Uol – 4 registros

registros

registros

Vídeo

4

0

0

Galeria de Fotos

0

1

0

Contratação

4

2

2

Futebol feminino

2

0

1

Contratação

1

1

1

Marta

Cristiane Anunciada como reforço no dia primeiro de agosto, Marta só foi apresentada no Santos em 10 de setembro, período que acabou tendo mais matérias sobre o futebol feminino. Houve a contratação da atleta, saíram notícias sobre o acontecimento, mas uma avaliação posterior 

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mostrou que em setembro o assunto teve mais destaque. Porém, foi escolhido o mês de agosto, porque no dia 24 de setembro começou a Copa do Brasil de Futebol Feminino e, para alcançar o objetivo desta pesquisa, foi preciso fazer um recorte temporal em dois períodos distintos, sendo um de alta e outro de baixa cobertura jornalística. O portal Globo.com, assim como em setembro de 2009, foi o que apresentou mais notícias sobre o futebol feminino. Foram coletadas onze matérias, sendo quatro sobre a contratação de Marta, uma a respeito da chegada de Cristiane, duas sobre o futebol feminino no Brasil e quatro vídeos, sendo que dois falam das atletas contratadas pelo Santos. Duas matérias publicadas no Globo.com merecem ser destacadas. A primeira delas, do dia 2 de agosto, é sobre Marta (ver anexo 6). Pela primeira vez na história do futebol feminino no Brasil, um clube conseguiu trazer uma atleta com apoio de patrocinadores. No masculino isso acontece frequentemente, mas no feminino foi um acontecimento histórico. O Santos fechou  parcerias com algumas empresas para bancar o salário de Marta e preparou até uma linha de  produtos licenciados voltados para o público feminino e infantil. A segunda matéria é do dia 25 de agosto (ver anexo 7). Devido à falta de incentivo do futebol feminino, quatro atletas da seleção francesa resolveram posar nuas para uma campanha   publicitária, que tinha como objetivo divulgar o esporte entre os torcedores. Em entrevista após a campanha, uma das ‘modelos’ chegou a dizer que a Federação Francesa não as apoia e, fazendo uma comparação com os homens, disse que eles vivem em outro planeta. Situação semelhante à das atletas brasileiras, que chegaram a subir no pódio na final da Copa do Mundo com cartazes cobrando incentivo do país. Mesmo não sendo uma cobertura muito ampla, a Globo.com mostrou que está explorando   bastante a integração das mídias. Além dos quatro vídeos publicados, todas as matérias  possuem fotos com legendas e uma seção, abaixo do texto, com links para outras notícias do esporte. Os textos das notícias seguem o padrão utilizado na internet, sendo todos curtos e  bem explicativos. A matéria ‘Peixe contrata mais uma estrela para o time feminino da Libertadores: Cristiane’,   publicada no dia 14 de agosto, é um ótimo exemplo para ilustrar as características do Globo.com

(ver anexo 8). Em apenas três parágrafos, o repórter que redigiu a matéria

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conseguiu abordar diferentes temas. Ele contou sobre a contratação de Cristiane, ao mesmo tempo em que lembrou aos leitores que Marta já havia sido contratada, e que ambas iriam disputar a Copa do Brasil e a Taça Libertadores pelo Santos. Além disso, ele fez um levantamento, embora pequeno, do currículo de Cristiane. Ela tem 24 anos, é atacante, joga no Chicago Red Star  e

foi apenas emprestada, até o final do ano, ao time alvinegro. O repórter 

ainda elogiou a jogadora, falando que é uma contratação de peso e mostrando que ela é a terceira melhor do mundo e é atacante da seleção brasileira. Na seção ‘saiba mais’, há uma matéria sobre a contratação de Marta, para aqueles leitores que não sabiam que ela havia sido contratada; O portal Uol , assim como o  Estadão, publicou apenas quatro matérias sobre o futebol feminino no mês de agosto de 2009, sendo duas sobre Marta, uma a respeito de Cristiane e a outra é um reflexo da contratação das jogadoras, que acabou fazendo com que o Santos arrumasse patrocinador patrocinador para o time. O Uol , diferentemente do Globo.com, parece não se preocupar muito com a convergência midiática. Não foi encontrado nenhum vídeo a respeito do futebol feminino e apenas duas das quatro matérias possuem foto. Por outro lado, buscou fazer textos pequenos e simples, seguindo o padrão da internet.  Na matéria ‘Santos contrata Marta para atuar com a camisa 10 de Pelé’, publicada no dia 1º de agosto, é possível notar algumas das principais características abordadas pelo Uol (ver anexo 9). Apesar de ser um texto grande, com sete parágrafos, é de fácil entendimento e simples de ler. Não há palavras complicadas e o texto segue uma mesma linha do início ao fim. No   primeiro parágrafo, há a confirmação de que Marta havia sido contratada. No decorrer da notícia, há informações da atleta, como idade, posição em que atua, títulos conquistados, além declarações de companheiros otimistas com a chegada de Marta. Além disso, há uma foto da atleta, com legenda resumindo a principal informação da matéria “Marta chegará à Vila por  empréstimo de três meses para a disputa da Libertadores’. Na seção ‘saiba mais’, há outras três notícias sobre o futebol masculino, mas nenhuma sobre o feminino. Talvez, porque, não tinha nenhuma outra informação do futebol para mulheres no momento. Já no  Estadão , dos quatro registros encontrados, três são sobre Marta, sendo que um é da contratação do Santos, um a respeito do time dela nos Estados Unidos e o outro é uma foto da

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atleta em um jogo de baseball , em que ela fez o arremesso inicial da partida. O outro registro do portal é sobre a contratação de Cristiane. Das três matérias encontradas no  site – não contando a galeria de fotos –, duas possuem imagem com legenda explicativa. Porém, assim como no Uol , não foi encontrado nenhum vídeo sobre o futebol feminino, o que mostra que o  site não se preocupou em fazer a integração das mídias. Os textos são como devem ser para internet, curtos e de fácil entendimento. É o caso do texto da matéria ‘Santos contrata Cristiane para jogar ao lado de Marta’, publicada em 14 de agosto (ver anexo 10). Em apenas treze linhas, toda a informação da contratação da jogadora foi passada para o leitor. Porém, o  site peca na legenda da foto, que não se refere à notícia veiculada, apenas relata quem são as atletas da imagem publicada. A legenda, ‘Cristiane e Marta comemoram gol do Brasil durante os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008’ sequer comenta a contratação de Cristiane, ou que ela e Marta iriam formar  dupla também nos Santos, principais informações da matéria. Uma característica importante do  Estadão e que merece ser destacada é que as três notícias   publicadas no site foram retiradas da  Agência Estado. Isso mostra que o portal fez o uso da estrutura organizacional para abastecer o conteúdo, uma vez que a   Agência Estado é da mesma empresa que o portal  Estadão. Porém, se analisarmos por outro lado, mostra que o futebol feminino não tem mesmo nenhum valor-notícia para o portal. O  Estadão optou por  usar as matérias da agência que disponibilizar um jornalista para fazê-las. Nem mesmo a notícia da contratação de Marta, que virou um acontecimento nacional, foi escrita por um   jornalista do portal. A impressão que passa para o internauta é que o  site tinha coisas mais importantes para se preocupar e não queria ‘perder tempo’ com informações sobre o futebol feminino. Depois de feita a análise da cobertura de cada portal durante o mês de agosto de 2009,   percebe-se que, assim como setembro de 2007, o portal Globo.com foi o que fez uma cobertura mais ampla do futebol feminino. Os  sites Uol  e o  Estadão publicaram juntos (oito), menos matérias que o Globo.com publicou sozinho (onze). Outro ponto importante observado após a análise é que, mesmo com um grande acontecimento para o futebol feminino no Brasil, os três portais estudados não deram tanto destaque ao esporte. Houve a contratação de Marta e Cristiane, os  sites noticiaram, mas não

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houve quase nenhuma repercussão. Para os portais, era valor-notícia valor-notícia apenas a confirmação confirmação da informação de que as atletas haviam sido contratadas. A repercussão das contratações não virou notícia.

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CONCLUSÃO O estudo sobre o destaque do futebol feminino na mídia digital brasileira permite demonstrar  que a cobertura ao esporte em questão ainda está em fase inicial, restringindo-se apenas a grandes eventos, como a Copa do Mundo de futebol para mulheres. Nos outros períodos, em que não ocorre nenhum grande acontecimento, o futebol feminino não tem muito destaque nos veículos de comunicação. O fato de o futebol feminino, ao contrário do masculino, não ter muita cobertura dos meios de informação se deve ao fato de ele não conseguir agregar quantidade relevante de valornotícia, sobretudo no quesito interesse. Como foi abordado anteriormente por Traquina (2005), para se tornar notícia, um acontecimento precisa causar impacto na sociedade, o que não acontece ainda com as informações sofre o futebol feminino. Porém, há casos em que o fato é relevante para a população e acaba virando notícia, como ocorreu na contratação das atletas Marta e Cristiane. Elas são conhecidas mundialmente e o anúncio de que se tornariam reforço do Santos foi abordado nos três portais analisados. Diante desse cenário, percebe-se que o futebol feminino acaba ficando sem uma cobertura mais ampla. Apesar de o futebol ser a paixão de muitos brasileiros, ainda é um esporte em que, mesmo que a mulher tenha quebrado barreiras e se inserido no meio, há certo domínio do homem. Prova disso é que milhares de notícias sobre o futebol masculino são veiculadas diariamente, enquanto o feminino não recebe tanto destaque. Isso mostra que a sociedade demanda notícias sobre o futebol, mas não está interessada em informações sobre a modalidade feminina. É importante ressaltar que os veículos de comunicação trabalham em função da demanda da sociedade, que acaba influenciando a pauta jornalística. Como a lógica jornalística é capitalista, os veículos de comunicação estão interessados no lucro. Para isso, buscam informações que vão atrair o maior número de consumidores  possível. O futebol feminino, como não tem demanda da sociedade, ou seja, é um assunto que interessa apenas a uma pequena parte da população, recebe uma cobertura mais restrita. Já o futebol masculino, masculino, que é de grande interesse da sociedade, tem enorme destaque nos meios de comunicação. Se antigamente gastar papel para escrever notícias sobre esporte era visto como um desperdício, atualmente, a editoria esportiva, se não for a mais, é uma das que mais atraem a atenção do consumidor.

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Durante o mês de setembro de 2007, o que mais chamou atenção e que deve ser levado em consideração é que grande parte das matérias coletadas tinha como foco a jogadora Marta,   principal atleta da seleção brasileira. Isso mostra que o jornalismo, não só o esportivo, depende de personalidades. Durante a Copa, Marta se tornou uma ‘atriz no palco’, atraindo  para si grande parte da cobertura dos portais. Como abordado anteriormente, de acordo com Wolf (1985), o grau e nível de hierarquia dos indivíduos envolvidos no acontecimento são um importante valor-notícia. O mesmo acontece em agosto de 2009. Mesmo com o pequeno número de matérias coletadas, coletadas, a maioria – treze notícias de dezenove selecionadas – tem como principal fato gerador as atletas Marta e Cristiane. Isso mostra, mais uma vez, que o futebol feminino só tem destaque nos veículos de comunicação durante os grandes eventos. Neste caso, as jogadoras estavam sendo contratadas para a disputa de duas importantes competições do futebol feminino, a Copa do Brasil e a primeira Copa Libertadores para mulheres.

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ANEXOS Anexo 1

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Anexo 2

47

Anexo 3

48

Anexo 4

49

Anexo 5

50

Anexo 6

51

Anexo 7

52

Anexo 8

53

Anexo 9

54

Anexo 10

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