Escritor Criativo

May 3, 2017 | Author: Jean Ponchiroli | Category: N/A
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Ensaio sobre a criatividade aplicada no ofício da escrita. Escritor Criativo...

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O ESCRITOR CRIATIVO 7 Exercícios para trabalhar sua criatividade Giselle Jacques

Academia do Escritor 2014 www.academiadoescritor.com

Giselle Jacques

O Escritor Criativo 7 Exercícios para trabalhar sua criatividade

Introdução Seja muito bem-vindo, escritor! Venho compartilhar com você alguns exercícios bastante simples, mas extremamente eficazes quando o assunto é melhorar a criatividade. Um dos jeitos mais eficientes de trabalhar nossa porção criativa, para nós escritores, é “brincar” com a nossa principal ferramenta: a palavra. www.academiadoescritor.com.br

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Eu espero que você aproveite esse conteúdo e divirta-se enquanto trabalha. Tanto quanto eu gostei de produzi-lo para você!

A Palavra Palavra, segundo o dicionário, é um termo, um vocábulo, uma expressão. É a manifestação, verbal ou escrita, formada por um grupo de fonemas com um significado. Fonema é a menor unidade sonora de uma língua. Palavra também é definida como um conjunto de letras e sons articulados que expressam ideias e são representados por uma grafia. Palavras agrupadas formam as frases. Palavra vem do latim “Parabola”, que deriva do grego “Parabolé”. A palavra é ainda uma unidade linguística com a função de representar partes do pensamento. Existem ainda diversas definições e especificações linguísticas, morfológicas, semânticas... Para nós, escritores, entretanto, o significado da Palavra é muito mais romântico. A Palavra é nosso instrumento de www.academiadoescritor.com.br

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arte, nosso objeto de adoração e culto, nossa maneira de criar e tocar o mundo. Somos palavra escrita desde que nascemos e ganhamos um nome que nos define e identifica. A primeira palavra do bebê é motivo de comemoração. Expressar-nos em palavras é primordial. Seja essa palavra dita, grafada, desenhada, em braile ou libras. Tudo ao nosso redor tem nome e esses nomes são palavras. Somos, da mesma maneira, construídos e referenciados através da nossa compreensão das palavras em torno. A linguagem humana é o dom evolutivo mais utilizado, aprofundado e modificado. Criamos palavras todos os dias. E as possibilidades de criação nesse campo são infinitas. Usamos e abusamos dos referenciais mentais que acompanham cada palavra que proferimos ou escrevemos. Se eu disser MESA, você pensa automaticamente em uma mesa. Se eu disser BRILHANTE, você pode entender como um diamante, uma superfície lustrada, a luz refletindo no metal, etc. Mas, ainda pode entender BRILHANTE como maravilhoso, estupendo, inteligente. www.academiadoescritor.com.br

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É nessa ressignificação que apoiamos nossa criatividade. Juntamos letras e palavras para dar sentido, para modificar sentido, para estruturar e desestruturar frases, ideias, conceitos. A palavra é nossa ferramenta! Uma ferramenta tão maleável, que nos permite brincar com sua composição. Permite que retiremos palavras de outras palavras, que troquemos uma letra e tenhamos nova definição. A seguir, sete maneiras de brincar com as palavras e liberar sua inventividade.

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Desmanchando palavras Esse exercício foi mostrado amplamente no romance/filme O Código Da Vinci, de Dan Brown. O personagem Robert Langdon descobre as primeiras mensagens codificadas através de palavras escondidas em textos aparentemente sem significado para a trama. Como o personagem do famoso livro faz isso? Desmanchando palavras e reorganizando as letras até obter a mensagem secreta. Você já tentou extrair palavras de “dentro” de outra? Esse exercício pode ser divertido e é um ótimo treino de vocabulário. Por exemplo, a palavra PERGAMINHO pode esconder nela as palavras: Pega, Grêmio, Gamo, Pago, Goma, Gênio, Perna, Pano, etc. Quanto mais palavras você encontra, melhor é seu vocabulário de base.

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Anagrama O termo vem do grego “ana” (repetir, voltar) + “graphein” (escrever). Ou seja, reescrever! Anagrama é rearranjar as letras de uma palavra (ou várias) para obter palavras novas. Aqui não escolhemos as letras que formam a nova palavra. Usamos todas as letras! O mais famoso Anagrama da literatura brasileira surgiu quando José de Alencar lançou mão da palavra AMÉRICA para criar IRACEMA (que, além de batizar o romance, acabou por converter-se em referencial de prenome real). Na verdade, Iracema nunca foi um nome indígena, muito menos significa “a virgem dos lábios de mel”. Três exemplos de anagramas: Do nome OMAR, temos: ROMA = AMOR = MORA Do nome SELMA, temos: LESMA = MALES = SELAM Da palavra SELVA, temos: VELAS = SALVE = VALES www.academiadoescritor.com.br

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Pangrama Outra forma de treinar vocabulário e alcance de síntese é o Pangrama. O prefixo “pan” vem do grego pan, que quer dizer todo, toda, tudo. Trata-se de uma frase elaborada na qual se utilizam todas as letras do alfabeto. Quanto menos letras na frase, mais “perfeito” é considerado o Pangrama. Essa forma de desconstrução ainda oferece possibilidades criativas, já que a frase final precisa fazer sentido a quem lê. Alguns exemplo são: “Um pequeno jabuti xereta viu dez cegonhas felizes.” “Gazeta publica hoje no jornal uma breve nota de faxina na quermesse.”

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Acróstico Acróstico vem do grego akróstichon (akros = ponta + stíchos = verso). São formações, poéticas ou não, nas quais a primeira letra de cada linha forma (ou parte de) uma palavra distinta na vertical. As linhas ou versos podem ser frases, parágrafos, palavras. O interessante é partir da sentença vertical e usá-la como proposta oculta, por vezes, como título. O texto em si pode ter os elementos da poesia (rima e métrica), pode ser composto de frases soltas, ou mesmo de palavras sem significado conjunto. Todavia, a maioria dos acrósticos traz em si um sentido mais lírico. Vou usar meu próprio nome para um exemplo simples de acróstico: Giram as folhas Instáveis ao vento Sem rumo certo. Elementais Leves como a brisa Levam essas folhas à Eternidade www.academiadoescritor.com.br

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Vogal oculta Na língua portuguesa, a letra mais facilmente repetida é a vogal E. Repetimos essa letra sem nos darmos conta dela. Pequenos elementos de ligação dentro das frases nos passam despercebidos. Atentar para cada letra escrita em cada palavra do texto exige mais do que paciência. O exercício treina atenção, percepção e contexto. A seguir, temos dois exemplos de miniconto ocultando a vogal E: “João não foi à aula. Havia ficado gripado, coitado. Ana Maria faltou no dito dia, pois fora visitar sua tia. Rita não foi vista no ginásio. Jonas cabulou a aula por causa da bola. Dona Mirta, usando o guarda-pó tal normalista, optou por ignorar a chamada. Largou o giz, dando por finalizada a labuta.” “Angustiado, andava nas ruas paulistanas. O rosto não ocultava a dor ali fincada há anos, a amada partira dando lugar à assombração noturna da solidão. Assim, caminhava, vagava por labirintos, mas só via humanos apinhados. Um vazio!” www.academiadoescritor.com.br

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Consoante oculta Da mesma forma que acontece com a vogal oculta, não ficamos contando quantas vezes repetimos uma letra ao escrevermos um texto. Facilmente deixamos de lado letras pouco usadas, como o X ou o J. Mas, é muito difícil que nos livremos deliberadamente de consoantes como, por exemplo, o D. A dinâmica da escrita – e mais ainda da percepção fragmentada da leitura – faz com que não percebamos letra por letra do texto, e sim o sentido geral da palavra ou frase. Por isso, elementos de ligação de frases (como de, do, e, as, em) são escritos sem intenção pelo autor. Por isso, esse exercício trabalha criatividade e atenção ao texto. Requer esforço dobrado do autor para não cometer deslizes e acrescentar um “de” se estiver ocultando a consoante D. A seguir, um exemplo de miniconto suprimindo a consoante B:

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“Desde muito jovens viviam grudados, um ao outro. Era amorzinho para lá, queridinha para cá e inúmeras promessas de amor. Cartinhas apaixonadas eram trocados, às quantas, na sala de aula às escondidas do professor. O cinema aos domingos era certo, e não se furtavam a toques inocentes no coreto da pracinha, ou amassos quentes atrás do muro da casa dela. A mocidade era vivida com intensa paixão. Os pais, numa mistura de aprovação e preocupação, afligiam-se pelo mesmo motivo: casamento. O velho falava em desfecho rápido, já a mãe do rapaz, viúva, queixava-se da amarração precoce do filho. – Esse menino vive encangado com aquela sirigaita. Ainda cheira a mijo e já arrota compromisso sério. De-e-e-us... me livre!!! – alardeava a senhora. Os jovens pouco se importavam e iam tocando o namoro entre juras eternas e idas secretas ao vestiário do campinho. Anos depois, ela casou-se com o atual prefeito da cidadezinha e tem vida noturna como socialite. Ele? Ah! Ele continua indo ao campinho, matar saudades.”

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Palavras aleatórias Uma ótima técnica de criação é escolher palavras aleatórias de títulos ou manchetes de periódicos (jornais ou revistas) e reorganizá-las até que adquiram um conceito novo. É um exercício tão proveitoso para a criatividade que muitas histórias podem nascer dele. As palavras aleatórias organizadas em um novo contexto são mesmo capazes de gerar o mote ideal para aquele conto ou até para o romance que você estava procurando. Pode parecer brincadeira de criança, mas lembre-se que as crianças são os seres humanos mais imaginativos de todos! Um exemplo de reorganização de palavras soltas: Palavras:

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“Dia sim, dia não, pensava em matar a família toda. Durante anos cultivou a ideia fixa. Vezes por atropelamento, vezes por corda ou tiro. Até no dia do casamento do irmão mais velho quis despejar arsênico no bolo. Seria uma morte sensual aquela, cheia de fraques e meias de seda. A noiva apaixonada choraria enquanto a feliz farsa familiar acabava em vômitos e contorções. E ele riria com gosto, numa espécie sarcástica de desabafo antes da volta pra casa. Mas, o momento passara e ele nem tinha levado veneno...”

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Concluindo Essas sete formas de “brincar com as palavras” são poderosas ferramentas para se trabalhar com a criatividade. Não as subestime. Utilize esses recursos sempre que quiser expandir horizontes, aprimorar ideias. Toda vez que damos trabalho “extra” a nossa mente, ela nos corresponde. Exercitando o cérebro, nos tornamos mais dinâmicos, mais eloquentes, mais inventivos. E o melhor de tudo, cada vez mais aptos a criar! Lembre-se: Criatividade é a capacidade mental de resolver problemas de forma rápida e original.

Meu beijo pra você! Giselle Jacques

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