Enciclopédia - Estudos de Teologia - VoL 02

October 19, 2018 | Author: James | Category: Book Of Genesis, Moses, Isaac, Flood Myth, Bible
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Enciclopédia...

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ENCICLOPÉDIA ESTUDOS DE TEOLOGIA AS P R I N C I P A I S D O U T R I N A S C R I S T Ã S C OM EXPLANAÇÃO DETALHADA E OBJETIVIDADE lí Á

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ENCICLOPÉDIA ESTUDOS DE TEOLOGIA

VOLUME II

ENCICLOPÉDIA ESTUDOS DE TEOLOGIA AS PRINCIPAIS DOUTRINAS CRISTÃS COM EXPLANAÇÃO DETALHADA E OBJETIVIDADE

\ C I I IC IC

v-/ C uritiba

2013

Copyright © 2013 por Editora Semeie Ltda. Categoria: Teologia / Bíblia / Igreja / Religião / Educação Registro ISBN: 9

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1o Edição 2013

Diretor Geral: William A. Santos Editor Geral: Jamierson Oliveira Assessoria editorial: www.sotexto.com Revisores: João Lira e Charlotte Mendez Diagramador: Valdinei Gomes Consultores: Waldo E. Newton, Dilma Camargo, William Santos, Jamierson Oliveira, Márcio Falcão. Autores: Uma obra resultado de coletividade - ISETE - Instituto Semeie de Educação Teológica

Publicado originalmente no Brasil por: EDITORA SEMEIE Rua Presidente Olegário Maciel, 1555 Araxá, MG - Cep 38183-186 Site: www.editorasemeie.com.br E-mail: [email protected]

P r e f á c io d a o b r a “Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno. E isto faremos, se Deus o permitir” (Hb 6.1-3) Embora não seja uma preocupação dos autores bíblicos provar a existência de Deus, o ser humano, por si só, já possui uma percepção de Deus. Paulo diz, a respeito dos gentios: “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21). E, aqui, está a maior lição que podemos aprender do estudo de Deus, ou do estudo teológico: conhecer o Senhor, para poder glorificá-lo. Não estudamos para sermos os melhores. Não estudamos para vencermos debates doutrinários! O próprio Deus nos capacitou de razão, para que fôssemos capazes de sondá-lo e conhecê-lo! Inclusive, o próprio Deus se automanifesta por meio da natureza, do evangelho e da Pessoa bendita de Jesus Cristo. Tudo isso como se o Senhor mesmo insistisse em nosso contato com Ele: “Os céus declaram a glória de Deus e o

firmamento anuncia a obra das suas mãos” (SI 9.1). Isto é, a história (a preservação do povo de Israel) e a personalidade do ser humano. Mas, sempre haverá alguém se recusando a glorificá-lo. O Salmo 14.1 afirma o seguinte: “Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem”. Os cristãos, porém, não podem se conformar apenas com um conhecimento mediano, superficial. Como no texto acima, de Hebreus 6.1-3, somos desafiados a ir um passo além, a mergulharmos mais fundo, a escavarmos mais e mais, até gritarmos como o grande apóstolo dos gentios: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33,34) Nesta obra, amado leitor e aluno, você é convidado a dar esse passo mais largo, a mergulhar nessas águas mais profundas! Estude-a com um espírito reverente, com um coração humilde e como se tivesse pedindo: “Fala, Senhor, que o teu servo ouve”. Tenha sempre uma Bíblia em mão. Leia todas as referências. Os editores e os colaborares deste compêndio têm a firme convicção de que, fazendo assim, você será grandemente abençoado, terá sua vida edificada e estará mais bem capacitado para o ministério e a missão de compartilhar o evangelho com os pecadores! Deus seja louvado!

—Jamierson Oliveira Editor-geral

A p r e se n t a ç ã o g e r a l O objetivo desta obra é apresentar, ao estudioso da Bíblia, um acervo teológico com ênfase principal na exegese. E n c ic lo p é d ia E st u d o s

de

T eo lo g ia abrange vários temas

importantes e contemporâneos. Sua temática abrange assuntos da teologia sistemática e acadêmica. Apresenta ao leitor uma visão panorâmica sobre as divisões da teologia tais como: Teologia natural

Restrita aos fatos a respeito de Deus, que se revelou no Universo ao nosso redor. Teologia bíblica

Restrita à revelação bíblica de Deus. Sua única fonte é a Bíblia, independente de qualquer sistema filosófico ou idéias. Teologia dogmática

Refere-se aos elementos da verdade teológica, pois são absolutamente certo. Teologia prática

Função real da verdade na vida das pessoas. Certas crenças e doutrinas são consideradas verdadeiras se tão-somente funcionarem na vida de pessoas reais.

Teologia própria

É o estudo da pessoa de Deus, além de suas obras.Trata-se da existência de Deus e, também, da capacidade de as pessoas para conhecê-lo, de seus vários atributos e da natureza da Trindade. São, aproximadamente, quarenta matérias, apresentadas de forma objetiva, de fácil leitura e compreensão. Em verdade, são assuntos estudados diariamente nas melhores faculdades e seminários de teologia do Brasil e do mundo. Para os leitores primários, “leigos”, ou seja, aqueles que não tiveram a oportunidade, ainda, de frequentar as salas de aula de um seminário bíblico ou de uma faculdade, ou, até mesmo, nunca tiveram contato com obras teológicas, E n c i c l o p é d ia

E st u d o s

de

T eo lo g ia é perfeita. Sua apresenta-

ção dos temas e abordagem dos assuntos hão de despertar nos leitores a busca pelo conhecimento mais profundo da Palavra de Deus. Aos estudantes de teologia, professores, pastores em geral, esta obra veio para agregar e reforçar um profundo conhecimento sobre Deus e seu reino. Queremos que, no final, o leitor, seja leigo ou intelectual, esteja disposto e encorajado a colocar em prática tudo aquilo que leu e aprendeu. Se conseguirmos alcançar esse propósito, seremos gratos a Deus e ficaremos felizes, porque este trabalho, de fato, não terá sido em vão!

— William A. Santos Diretor-geral Editora Semeie

O PENTATEUCO C apítulo 1

Título Autor

25 26

C apítulo 2

Teoria documentária da alta crítica

29

C apítulo 3

Gênesis Evidência arqueológicas

35 49

C apítulo 4

Êxodo

51

C apí tulo 5

Levítico

69

C apítulo 6

Números

79

C apítulo 7

Deuteronômio

93

Historia de Israel Introdução

107

Capítulo 1 As origens ‫ס‬

111

C apítulo

2

A formação da nação

113

C apí tulo 3

O governo teocrático

117

C apí tulo 4

O período da monarquia

119

C apítulo 5

A divisão do reino

123

C apítulo 6

O período do cativeiro babilônico

125

C apítulo 7

O retorno do exílio

129

C apítulo 8

O período intertestamentário

131

C apítulo 9

Transformações religiosas

141

C apítulo 1o

Período neotestamentário

143

C apítulo 11

0 cerco e a queda de Jerusalém

151

C apítulo 12

Período histórico

155

História da igreja Introdução

................ 175

C apítulo 1

A Igreja nos planos de Deus

177

C apítulo 2

A Igreja apostólica (30 d. C — 90 d.C.)

181

C apítulo 3

A expansão da Igreja

193

C apítulo 4

As perseguições imperiais

197

C apítulo 5

Os pais da Igreja

211

C apítulo 6

0 aparecimento das seitas

225

C apítulo 7

A Igreja imperial

239

C apítulo 8

A Igreja medieval

243

C apítulo 9

Crescimento do poder maometano

247

C apitulo 10

As Cruzadas

249

C apítulo 11

A Reforma religiosa

253

C apítulo 12

A contrarreforma católica

265

Arqueologia bíblica Introdução

273

C apítulo 1

Funções da arqueologia bíblica

277

C apítulo 2

História da arqueologia bíblica

281

C apítulo 3

Datação dos achados arqueológicos

289

C apítulo 4

Fatos relevantes sobre a arqueologia e a bíblia

297

Hermenêutica bíblica Introdução

313

C apítulo 1

Origem da hermenêutica

317

C apítulo 2

Diferença entre hermenêutica e exegese

319

C apítulo 3

Histórico da hermenêutica cristã

321

C apítulo 4

A possibilidade de Compreedermos as Escrituras

325

C apítulo 5

Regras fundamentais para interpretar as Escrituras

327

C apítulo 6

Figuras de linguagem

357

Exegese bíblica Introdução

3»5

C apítulo 1

Definição do termo

387

C apítulo 2

Métodos de interpretação

389

C apítulo 3

Porque a interpretação bíblica é importante

399

C apítulo 4

Os problemas da interpretação bíblica

403

C apí tulo 5

Correlação entre hermenêutica, exegese e eisegese

411

C apí tulo 6

Crítica textual

415

C apítulo 7

Tipos de alterações efetuadas pelos copistas

423

C apítulo 8

Critérios para a avaliação das variantes

427

R e l ig iõ e s c o m p a r a d a s Introdução

435

C apítulo 1

Cristianismo bíblico

437

C apítulo 2

Islamismo

443

C apítulo 3

Fé Bahaí

447

C apítulo 4

Budismo

451

C apítulo 5

Hinduísmo

455

C apítulo 6

Judaísmo

459

C apítulo ‫ך‬

Mormonismo

463

C apítulo 8

Testemunhas de Jeová

467

C apítulo 9

Adventistas do sétimo dia

471

C apítulo 10

Espiritismo

475

C apítulo 11

Legião da boa vontade (LBY)

479

C apítulo 12

Igreja Local de Witness Lee

483

C apítulo 13

Xova Era

487

C apítulo 14

Hare krishna C apí tulo 15

Meditação Transcendental C apítulo 16

Igreja da Unificação C apí tulo 17

Igreja Voz da Verdade

APOLOGETICA g e r a l Introdução

515

C apítulo 1

Definição dos termos

519

C apítulo 2

Principais seitas dos dias de Jesus

525

C apítulo 3

Por que estudar as falsas doutrinas?

531

C apítulo 4

Aspectos históricos

535

C apítulo 5

Características doutrinárias de uma seita

545

C apítulo 6

A evangelização dos adeptos das seitas

573

Seitas proféticas Introdução C apítulo 1

Testemunha de Jeová C apítulo 2

Mormonismo

Seitas Secretas Introdução

615

C apitulo 1

Maçonaria

617

C apítulo 2

Ordem Rosacruz

633

Seitas espíritas e afros Introdução C apí tulo 1

Escravos, índios e negros C apítulo 2

As origens do Candomblé, da Umbanda e da Quimbanda C apítulo 3

Espiritismo kardecista C apí tulo 4

Espiritismo no Brasil C apítulo 5

Doutrina espírita

Seitas orientais C apí tulo 1

Hare Krishna

705

C apítulo 2

Igreja Messiânica Mundial

715

C apí tulo 3

Moonismo

725

SEITAS UNICISTAS Introdução

745

C apítulo 1

Histórico do unicismo

747

C apítulo 2

Igreja Local de Witness Lee

751

C apítulo 3

Tabernáculo da Fé

761

C apítulo 1

Período pré-socrático

783

C apítulo 2

O nascimento da filosofia ocidental

791

C apítulo 3

Escola Milésia

801

C apítulo 4

Heráclito, de Éfeso

807

C apítulo 5

Escola Eleática

811

C apí tulo 6

Metafísica

821

C apítulo 7

Os atomistas

823

C apí tulo 8

Sofistas

835

O Pe n t a t e u c o

C a p ít u l o l

TÍTULO

O termo “pentateuco” deriva do grego pentateuchos (penta = cinco e teuchos = volumes ou livros), e é aplicado aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, usando seus nomes greco-latinos. Na tradição judaica, esses livros são conhecidos pela sua primeira palavra: “No principio” (bereshit), etc. Juntos, eles constituem a lei (no hebraico: torá, que, originalmente, significa “ensino”). Os judeus atribuem àTorá maior autoridade e santidade que ao restante das Escrituras. Nesses cinco primeiros livros, encontramos um perfil histórico, desde a criação do mundo e da humanidade até os discursos de Moisés, nas planícies de Moabe, onde ocorreu a morte e sepultamento de Moisés (Dt 34). O Pentateuco pode ser resumido da seguinte forma: história primeva (Gn 1 1 1 ‫ ;)־‬período patriarcal (Gn 12-36); história de José (Gn 37-50); libertação do Egito e jornada ao Sinai (Êx 1 1 8 ‫ ;)־‬entrega das leis no Sinai (Ex 19; Nm 10); jornada do Sinai a Moabe (Nm 10-36); três discursos de Moisés nas planícies de Moabe, com apêndices (Dt 1-34).

ENCI CLOPÉDI A

AUTOR Por quase dois milênios, o Pentateuco foi atribuído a Moisés, tanto pela tradição judaica quanto pela cristã. Embora questões importantes sobre a autoria tenham surgido ao longo do caminho, isto não aconteceu até o século 18, data em que a questão foi levantada por alguns opositores das Escrituras. O Pentateuco dá evidências interna de que Moisés foi o escritor de tal compêndio. Há seis passagens nele que deciaram especificamente a autoria de Moisés: “Então, disse o S e n h o r a Moisés: Escreve isto para memória num livro e

relata-o aos ouvidos de Josué: que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus” (Ex 17.14). “E Moisés escreveu todas as palavras do S e n h o r , e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel; e enviou certos jovens dos filhos de Israel, os quais ofereceram holocaustos e sacrificaram ao S e n h o r sacrifícios pacíficos de bezerros. E Moisés tomou a metade do sangue e o pôs em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar. E tomou o livro do concerto e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o S e n h o r tem falado faremos e obedeceremos. Então, tomou Moisés aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do concerto que o S e n h o r tem feito convosco sobre todas estas palavras” (Êx 24.4-8).

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

“Disse mais o S e n h o r a Moisés: Escreve estas palavras; porque, conforme o teor destas palavras, tenho feito concerto contigo e com Israel” (Ex 34.27). “Estas são as jornadas dos filhos de Israel, que saíram da terra do Egito, segundo os seus exércitos, pela mão de Moisés e Arão. E escreveu Moisés as suas saídas, segundo as suas jornadas, conforme o mandado do S e n h o r ; e estas são as suas jornadas, segundo as suas saídas” (Nm 33.1,2). “E Moisés escreveu esta lei, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca do concerto do S e n h o r , e a todos os anciãos de Israel [...] E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavras desta lei num livro, até de todo as acabar, deu ordem Moisés aos levitas que levavam a arca do concerto do S e n h o r , dizendo: Tomai este livro da lei e ponde-o ao lado da arca do concerto do S e n h o r , vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti” (Dt 31.9,24-26). “Assim, Moisés escreveu este cântico naquele dia e o ensinou aos filhos de Israel” (Dt 31.22). Outros livros do Antigo Testamento citam-no como obra de Moisés (Js 1.7,8; 23.6; lR s 2.3; 2Rs 14:6; Ed 3.2; 6.18; Ne 8.1; Dn 9.11-13). Os escritores do Novo Testamento estão de pleno acordo com os autores do Antigo Testamento quanto à autoria mosaica. Não deixaram dúvidas aos seus ouvintes de que foi Moisés quem escrevera os primeiros livros das Escrituras. Eles falam dos cinco livros em geral como “a lei de Moisés” (At 13.39; 15.5; Hb 10.28). Para eles, “ler Moisés” equivale a ler o Pentateuco: “E até hoje, quando é

E s t u d o s de T e o l o g i a

27

En c i c l o p é d i a

lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” (2C0 3.15). Finalmente, as palavras do próprio Senhor Jesus dão testemunho de que Moisés foi o autor destes livros: “Porque, se vós crésseis em Moisés, crerieis em mim; porque de mim escreveu ele” (Jo 5.46; Mt 8.4; 19.8; Mc 7.10; Lc 16.31; 24.27,44). Moisés, mais do que qualquer outro homem, tinha preparo e experiência para escrever o Pentateuco. Considerando-se que foi criado no palácio dos faraós, “foi instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras” (At 7.22). Foi testemunha ocular dos acontecimentos do Êxodo e da peregrinação no deserto. Mantinha a mais íntima comunhão com Deus e recebia revelações especiais. Como hebreu, Moisés tinha acesso às genealogias e às tradições orais e escritas de seu povo, e, durante os longos anos da peregrinação de Israel, teve o tempo necessário para meditar e escrever. E, sobretudo, possuía notáveis dons e gênio extraordinário, o que testemunham em seu papel como líder, legislador e profeta.

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E s t u d o s de T e o l o g i a

C a p ít u l o 2

TEORIA DOCUMENTÁRIA DA ALTA CRÍTICA

Há dois séculos, eruditos de tendência racionalista puseram em dúvida a paternidade mosaica do Pentateuco. Criaram a “teoria documentária da alta crítica”, segundo a qual os primeiros cinco livros da Bíblia são uma compilação de documentos redigidos, em sua maior parte, no período de Esdras (444 a.C.)■ No entender desses autores, o documento mais antigo que se encontra no Pentateuco data do tempo de Salomão. Julgam que Deuteronômio é uma “fraude piedosa” escrita pelos sacerdotes no reinado de Josias, tendo como finalidade promover um avivamento, e que Gênesis consiste mormente em lendas nacionais de Israel. Muitos estudiosos conservadores acham provável que Moisés, ao escrever o livro do Gênesis, tenha empregado genealogias e tradições escritas (Moisés menciona, especificamente, “o Livro das gerações de Adão”, em Gênesis 5.1). Provavelmente, essas valiosas memórias foram transmitidas de uma geração para outra desde tempos remotos. Não nos cause estranheza que Deus possa ter guiado Moisés a incorporar tais documentos em seus escritos. Também, é notável haver alguns acréscimos e retoques in-

significantes de palavras arcaicas, feitos à obra original de Moisés. E universalmente reconhecido que o relato da morte de Moisés (Dt 34) foi escrito por outra pessoa (0 Talmude, livro dos rabinos, o atribui a Josué). Gênesis 36.31 indica que havia rei em Israel, algo que não existia na época de Moisés. Em Gênesis 14.14, chama-se “D a ’ a antiga cidade de “Laís”, nome que lhe foi dado depois da conquista. Pode-se atribuir isto às notas esclarecedoras, ou às mudanças de nomes geográficos arcaicos, introduzidas para tornar mais claro o relato. Provavelmente, foram agregados pelos copistas das Escrituras, ou por algum personagem (como o profeta Samuel). Não obstante, estes retoques não seriam de grande importância nem afetariam a integridade do texto. Assim, pois, são contundentes tanto a evidência interna como a externa de que Moisés escreveu o Pentateuco. Muitos trechos contêm frases, nomes e costumes do Egito, indicativos de que o autor tinha conhecimento pessoal de sua cultura e de sua geografia, algo que dificilmente teria outro escritor em Canaã, vários séculos depois de Moisés. Por exemplo, consideremos os nomes egípcios: Potifar, “dom do deus do sol”; Ra; Zafenate-Paneá, “Deus fala”; “ele vive”; Asenate, “pertencente à deusa Neit”; e Om: antigo nome de Heliópolis (Gn 37.36; 41.45,50). Notemos, também, que o autor menciona até os vasos de madeira e os de pedra que os egípcios usavam para guardar a água que tiravam do rio Nilo. O célebre arqueólogo W. F. Albright diz que no Êxodo se encontram, em forma correta, tantos detalhes arcaicos que seria insustentável atribuí-los a invenções posteriores.

VOLUME 2

Também, pelas referências feitas com relação a certos materiais do tabernáculo, deduzimos que o autor conhecia a península do Sinai. Por exemplo, as peles de texugos se referem, segundo certos eruditos, às peles de um animal da região do mar Vermelho; a “onicha”, usada como ingrediente do incenso (Ex 30.34), era da concha de um caracol da mesma região. Evidentemente, as passagens foram escritas por alguém que conhecia a rota da peregrinação de Israel e não por um escritor no cativeiro babilônico, ou na restauração, séculos depois. Do mesmo modo, os conservadores mostram que o Deuteronômio foi escrito no período de Moisés. O ponto de referência do autor do livro é o de uma pessoa que ainda não entrou em Canaã. A forma em que está escrito é a dos tratados entre os senhores e os seus vassalos do Oriente Médio, no segundo milênio antes de Cristo. Por isso, estranhamos que a alta crítica tenha dado como data desses livros setecentos ou mil anos depois. A arqueologia também confirma que muitos dos acontecimentos do livro de Gênesis são realmente históricos. Por exemplo, os pormenores da tomada de Sodoma, descrita no capítulo 14, coincidem com assombrosa exatidão com o que os arqueólogos descobriram. Nisto se incluem: os nomes dos quatro reis, o movimento dos povos e a rota que os invasores tomaram, chamada “caminho real”. Depois do ano 1200 a.C, a condição da região mudou radicalmente, e essa rota das caravanas deixou de ser utilizada. O arqueólogo Albright de-

E s t u d o s de T e o l o g i a

31

En c i c l o p é d i a

clarou que alguns detalhes do capítulo 14 nos levam de volta à idade do bronze (período médio, entre 2100 e 1560 a. C.). Não é muito provável que um escritor que vivesse séculos depois conhecesse tais detalhes. Além do mais, nas ruínas de Mari (sobre o rio Eufrates) e de Nuzi (sobre um afluente do rio Tigre) foram encontradas tábuas de argila da época dos patriarcas. Nelas, se descrevem leis e costumes, tais como as que permitiam que o homem sem filhos desse sua herança a um escravo (Gn 15.3) e uma mulher estéril entregasse sua criada ao seu marido para suscitar descendência (Gn 16.2). Do mesmo modo, as tábuas contêm nomes equivalentes ou semelhantes aos de Abraão, Naor (Nacor), Benjamim e muitos outros. Por isso, tais provas refutam a teoria da alta crítica de que o livro do Gênesis é uma coletânea de mitos e lendas do primeiro milênio antes de Cristo. A arqueologia demonstra, cada vez mais, que o Pentateuco apresenta detalhes históricos exatos, e que foi escrito na época de Moisés. Há razão, ainda, para se duvidar que o grande líder do Exodo foi seu autor?

Ambiente em que o Pentateuco foi escrito Quando Abraão chegou à Palestina, esta já era uma ponte importante entre os centros culturais e políticos daquela época. Ao Norte, achava-se o império hitita; ao Sudoeste, o Egito; ao Oriente e ao Sul, Babilônia; e, ao Nordeste, o im-

32

estudos

de

Teologia

VOLUME 2

pério assírio. Ou seja, os israelitas estavam localizados em um ponto estratégico e não isolado geograficamente das grandes civilizações. A maioria dos historiadores acha que a planície de Sinar, situada entre os rios Eufrates e Tigre, foi o berço da primeira civilização importante, chamada Suméria. No ano 2800 a.C., os sumérios já haviam edificado cidades florescentes e organizado o governo em cidades-estados; também haviam utilizado metais e aperfeiçoado um sistema de escrita chamada cuneiforme. Quase ao mesmo tempo, desenvolvia-se, no Egito, uma civilização brilhante. E provável que quando Abraão se dirigiu para o Egito, tenha visto pirâmides que já contavam mais de quinhentos anos. A região onde se desenvolveu a primeira civilização é chamada “fértil crescente” (pela forma do território que abrange). Estende-se de forma semicircular entre o Golfo Pérsico e o mar Mediterrâneo até o Sul da Palestina. O território é regado constantemente por chuvas e rios caudalosos, como o Eufrates, o Tigre, o Nilo e o Orontes, o que possibilita uma agricultura produtiva. No interior desta região está o deserto da Arábia, onde há escassas chuvas e pouca população. Ali, no fértil crescente, surgiram os grandes impérios dos amorreus, dos babilônios, dos assírios e dos persas. O mais importante para nós, todavia, é que ali habitou o povo escolhido de Deus e ali nasceu o Salvador do mundo. Toda a região compreendida entre os rios Eufrates e Tigre chama-se Mesopotâmia (meso\ “entre”; potamos‫׳‬. “rio”).

E s t u d o s de T e o l o g i a

33

En c i c l o p é d i a

No princípio, denominava-se “Caldeia” à planície de Sinar, desde a cidade de Babilônia, ao Sul, até o Golfo Pérsico; mas, posteriormente, o termo “Caldeia” passou a designar toda a região da Mesopotâmia (a mesma área chamava-se, também, Babilônia). Abrangia muito do território do atual Iraque, e era, pro*

vavelmente, o local do jardim do Eden e da torre de Babel. O território da Palestina é relativamente pequeno. Desde Dã até Berseba, pontos extremos no Norte e no Sul, respectivamente, a uma distância de apenas 250 quilômetros. O território tem, desde o mar Mediterrâneo até o mar Morto, 90 quilômetros de largura; e o lago de Genesaré (mar da Galileia) dista, aproximadamente, 50 quilômetros do mar Mediterrâneo. A área total de Canaã equivale, em tamanho, à sétima parte do Uruguai ou a um terço do Panamá. Contudo, nesta porção tão pequena do globo terrestre, Deus revelou-se ao povo israelita, e ali o Verbo eterno habitou entre os homens e realizou a redenção da raça humana.

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E s t u d o s de T e o l o g i a

C a p ít u l o 3 GÊNESIS

Gênesis é o primeiro livro do Pentateuco e seu nome vem da Septuaginta (LXX) — “Versão dos Setenta”, antiga versão grega. Significa “princípio”, “origem” ou “nascimento”, pois relata o princípio de todas as coisas - o germe de todas as formas de vida e de todas as instituições e relações humanas. Tem sido chamado de “viveiro ou sementeiro da Bíblia”, porque nele estão as sementes de todas as grandes doutrinas. Encontramos a origem do mundo, do planeta, do homem, do casamento, do pecado, do governo humano, de diversos povos, dos diferentes idiomas e, principalmente, do povo de Israel. Nele, está registrada a primeira mensagem de redenção (3.15), depois de o homem ter pecado e caído nas trevas. As primeiras alianças de Deus com os homens surgem nesse livro, como a aliança de Deus com Adão, com Noé e com Abraão. Apresenta fatos que têm influenciado bilhões de pessoas durante milhares de anos, como a queda, o dilúvio, a torre de Babel, a intriga entre judeus e árabes, o papel distintivo de Israel e a destruição de Sodoma e Gomorra. Gênesis é um dos livros mais citados no Novo Testamento, servindo de base para todo o restante das Escrituras Sagradas.

Alguns temas mal voltam a aparecer até que sejam tratados e interpretados no Novo Testamento. “O livro do Apocalipse, em particular, narra o cumprimento dos grandes temas iniciados no Gênesis. A antiga serpente’, que engana todo mundo’, está derrotada; cai babel [Babilônia] e os redimidos levados de novo ao paraíso têm acesso à arvore da vida”.1 Deus é Deus e preocupa-se unicamente com os seres humanos. Ele coloca, à disposição da humanidade, um grande plano de benefício revelado no chamado de Abraão, demonstrando, com isso, a maravilha do seu infinito e redentor amor.

Esboço de Gênesis O começo da humanidade

(1.1 - 11 .32) a) A criação do mundo (1.1 - 2.3). b) O lugar do homem no mundo (2.4 - 25). c) A entrada do pecado e a queda resultante (3.1 - 4.26). d) As raças antediluvianas e os patriarcas: Adão a Noé (5 .1 -3 2 ). e) A pecaminosidade do mundo expurgada pelo dilúvio (6.1-9.29). f) A posteridade de Noé e as raças primitivas do Oriente Próximo (10.1 - 11.32).

VOLUME

2

A vida de Abraão

(12A

25AS)

-

a) A chamada de Abraão e sua aceitação da aliança pela fé (12.1-14.24). b) Renovação e confirmação da aliança (15.1-17.27). c) Ló é poupado de Sodoma (18.1-19.38). d) Abraão e Abimeleque (20.1-18). e) Nascimento e casamento de Isaque, o filho da promessa (21.1-24.67). f) A posteridade de Abraão (25.1-18). A vida de Isaque e suafam ília

(25A 9 26.35) -

a) Nascimento de Esaú e Jacó (25.19 - 28). b) Esaú vende a primogenitura a Jacó (25.29 - 34). c) Isaque e Abimeleque II (26.1 - 16). d) A disputa em Berseba (26.17 - 33). e) Os casamentos de Esaú (26.34,35). A vida de Jacó

(27A - 3 7 A) a) Jacó no lar paterno (27.1 - 46). b) Exílio e viagem de Jacó (28.1 - 22). c) Jacó com Labão na Síria (29.1 - 33.15). d) Jacó volta à terra da promissão (33.16 -35.20). e) A posteridade de Jacó e Esaú (35.21 -37.1).

E s t u d o s de T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

A vida de José

(37.2 - 50.26) a) José como menino (37.2 - 36). b) Judá e Tamar (38.1 - 30). c) José promovido no Egito (39.1 - 41.57). d) José e seus irmãos (42.1 - 45.15). e) José recebe Jacó no Egito (45.16 - 47.26). f ) Últimos dias de Jacó e suas profecias finais (47.27 50.14). g) José garante a seus irmãos o seu perdão completo (50.15 -2 6 ).

Aspectos teológicos O livro fornece inúmeras respostas para os questionamentos da mente humana. Ele confirma doutrinas fundamentais da fé cristã, como, por exemplo: o Universo como resultado da ação de Deus a partir do nada — ex-nihilo — (Gn 1.1); o Espírito Santo presente no processo da criação do mundo (Gn 1.2); a criação do homem à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26); o homem como um ser especial, superior às demais criaturas (Gn 1.28); a pluralidade divina (Gn 1.26); a vinda de um redentor por meio da própria raça humana (Gn 3.15); a queda do homem pela sua desobediência (Gn 3); o sofrimento e a morte como consequência do pecado (Gn 3.17-19); a transmissão do pecado para toda a raça humana por Adão (Gn 5.3); e a aliança de Deus com Abraão (Gn 15 e 17), estabelecendo a primazia de Israel.

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Es t u d o s

de

T eologia

VOLUME 2

A pluralidade da divindade (Gn 1.26), sua soberania sobre toda a terra (Gnl4.19), sua providência (Gn 22.14) e sua função como juiz (Gn 18.25), já estava aqui estabelecida. Teríamos uma lacuna instransponível sem esta obra mosaica. Diversas doutrinas do Novo Testamento vão procurar, em Gênesis, sua base, como, por exemplo, o novo nascimento (2Co 4.6); a justificação pela fé (Rm 4.3); a eleição divina (Rm 9.11,12); o juízo divino (Jd 7); e a importância da fé (Hb 11.4-12). Quando Jesus foi procurar a base ética para o casamento, não o fez na lei mosaica, mas, sim, na narrativa de Gênesis 2. Gênesis é, também, o livro que Jesus vai recorrer para pintar o quadro dos tempos finais por ocasião de seu retorno (Lc 17.26-37). Dos dezesseis heróis da fé enumerados em Hebreus 11, pelo menos oito são personagens do livro de Gênesis. O peso teológico do livro se torna ainda maior quando a questão das alianças é posta em pauta. Muitos apontam Gênesis 12.1 como o início da nossa história da salvação. O plano de Deus começa a ser executado quando Ele faz uma aliança direta com Abraão e a sua descendência. A partir deste pacto, Deus começa a desenvolver um relacionamento irrevogável com Abraão e seus descendentes com implicações salvíficas universais (Rm 11.28,29). O desenvolvimento histórico dos descendentes de Abraão está estreitamente ligado com a execução do plano divino, desde a revelação de sua palavra (Rm 3.2), a entrega da lei, das promessas e demais alianças (Rm 9.4), até o surgimento do Messias (Rm). ESTUDOS DE TEOLOGI A

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En c i c l o p é d i a

Aspectos tipológicos Também neste aspecto, a riqueza de Gênesis se sobressai, apesar das grandes porções de Exodo e Levítico ilustrarem verdades espirituais de forma tipológica. Diversos personagem e situações encontradas no livro vão ter o seu cumprimento em Jesus e na vida revelada no Novo Testamento. Mesmo se tratando de personagens históricos, mas que viveram situações reais, essas pessoas e fatos ilustram verdades espirituais futuras, reveladas na morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Alguns desses tipos foram reconhecidos pelos escritores do Novo Testamento. Outros, apesar de sua clara indicação tipológica apontando para Jesus e o evangelho, não são referidos diretamente. Podemos até dizer que este conteúdo seja inesgotável porque novas compreensões são percebidas à medida que estudamos o livro. A começar por Adão, que se torna uma ilustração de Cristo, que é chamado de “segundo Adão” ou “Adão celestial”, sendo colocado, também, em contraste com Cristo e sua obra (Rm 5; ICo 15). Temos Noé e a arca como representando a salvação de Deus na atual dispensação da graça (lPe).Temos Melquisedeque, um personagem que só aparece em uma curta narrativa e cujo significado espiritual é de uma profundidade ímpar, tornando-se o tema central da epístola aos Hebreus (Gn 14; SI 110; Hb 4-8).Temos Ismael e Agar simbolizando a antiga

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VOLUME 2

aliança em contraste com a nova (Gn 16, 21; G1 3). Temos Abraão sacrificando seu filho Isaque, um claro tipo do Pai sacrificando seu único Filho, que o escritor de Hebreus consegue relacionar tão magistralmente (Gn 22). Temos Isaque como o noivo aguardando ansioso o momento de encontrar a noiva que estava sendo preparada (Gn 26; 2Co 11.2). Temos José rejeitado pelos seus irmãos que, em figura, o lançam na cova e, futuramente, o reencontram (Gn 37). Essas são apenas algumas notas sobre o valor tipológico desse primeiro livro da Bíblia. Os detalhes são de uma riqueza espiritual enorme, a tal ponto que fica difícil compreender certas colocações do Novo Testamento sem uma *

leitura atenta do livro de Gênesis. E possível perceber que todas estas situações que apontam para valores espirituais futuros não são fruto de mentes criativas, capazes de encontrar similaridades nos textos bíblicos. Foram colocas por Deus no intuito de gravar a sua verdade para a humanidade desde esta obra inicial.

Aspectos apologéticos Embora muitos tenham buscado negar o sentido literal dos capítulos iniciais de Gênesis, nós vemos que tanto Jesus como os apóstolos colocam todas as narrativas como verdadeiros acontecimentos e não como mera representação ou simbolismo. A teologia modernista, influenciada pelo cientismo do século 19, tentou reinterpretar ou mesmo ignorar

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En c i c l o p é d i a

completamente muitas narrativas do livro, pois julgavam que estariam em desacordo com o conhecimento científico. Mas ele permanece como um livro fundamental para o entendimento de toda teologia. Uma má interpretação pode alterar drasticamente os fundamentos da fé cristã e, por isso, não deve ser tratado com negligência. Os capítulos 1 a 3, principalmente, requerem uma forte análise apologética, visto que muitas seitas e movimentos heréticos fazem interpretações e inferências distorcidas dessas passagens. Entre essas distorções, podemos citar: a tradução de Gênesis 1.2 na Tradução do Novo Mundo (a Bíblia das Testemunhas de Jeová), referindo-se ao Espírito Santo como “força ativa de Deus”; os ufólatras interpretam o nome de Deus, Elohim, como se referindo aos extraterrestres, devido à pluralidade por ele expressada; os mórmons veem na “imagem e semelhança” uma referência ao aspecto físico de Deus; os adventistas usam o descanso de Deus, no sétimo dia, como argumento para a guarda do sábado; outros grupos interpretam o primeiro pecado como o conhecimento sexual e a serpente como sendo o órgão sexual masculino; os mórmons também defendem a queda como algo positivo para a humanidade, sem a qual a divindade não seria alcançada, etc. Pelo fato deste texto ser um dos mais expressivos e conhecidos da literatura universal sobre a origem do homem, sofre ataques e interpretações erradas diversas. O trabalho apoiogético em torno destes capítulos não tem fim, uma vez que estarão na base do desenvolvimento da doutrina da salvação.

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VOLIJME 2

Aspectos históricos A história é um livro que começou a ser escrito pelo meio, conforme disse o historiador e filósofo Will Durant. Os historiadores se debatem com vestígios humanos uma vez que se recusam a aceitar a simples narrativa deste livro. Todavia, é ele o único escrito inspirado e revelado que fala um pouco desses primeiros passos do homem sobre a terra. Ao abordarmos Gênesis como um livro que contém a história da humanidade de fato, é preciso aceitar certas limitações. Na verdade, se excluirmos a parte que começa com o chamado de Abraão (capítulo 12) até o final, nos resta apenas onze capítulos que expõe algo como 2000 anos de história, embora tal conta não seja precisa. O que temos nestes capítulos são pequenas pinceladas, narrativas microscópicas diante de tanta coisa ocorrida nesse período. Mas, nem por isso, perdem a sua importância como narrativa histórica. Tudo ali descrito, embora resumido, aconteceu de fato. Os personagens e eventos não podem ser relegados à categoria de lenda ou mero símbolo. Só podem ser aceitos como acontecimentos reais da história humana naqueles primórdios. Do contrário, todo o restante desmorona, uma vez que o plano divino se desenrola sobre ela. Adão, por exemplo, foi uma pessoa real que, juntamente com sua esposa, Eva, deu origem à toda a raça humana. Paulo confirmou isto diante dos filósofos gregos no Areópago de Atenas, dizendo: “E de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra...” (At 17.26). Eno-

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En c i c l o p é d i a

que foi identificado como o sétimo depois de Adão (Jd 14), o que situa sua existência como algo real. De igual monta, o dilúvio é um fato histórico, como atestam inúmeras histórias similares à de Gênesis entre diversos povos, inclusive aborígenes da América. Quando ouvimos a palavra “dilúvio”, pensamos quase imediatamente na Bíblia e na história da arca de Noé. Essa história maravilhosa do Antigo Testamento viajou com o cristianismo através do mundo. Nos povos de todas as raças, existem diferentes tradições de uma inundação imensa e catastrófica. Os gregos contavam a lenda do dilúvio de Deucalião. Já muito antes de Colombo, corriam, entre os primitivos habitantes do continente americano, numerosas histórias a respeito de uma grande inundação. Na Austrália, na índia, na Polinésia, no Tibete, em Caxemira e na Lituânia há histórias de uma grande inundação que vêm sendo transmitidas de geração a geração até os nossos dias. Serão todas lendas, mitos ou produtos da imaginação? Ou simplesmente um fato histórico que sofreu alterações conforme foi sendo contado pelos descendentes que sobreviveram do dilúvio? A chamada Tábua das Nações, no capítulo 10, é de uma precisão impressionante. Apesar da dificuldade em identificar cada povo, a maioria deles é bem clara. As fontes utilizadas por Moisés, provavelmente, remontam do tempo da torre de Babel, quando ainda era possível identificar o destino dos descendentes de Noé. Da mesma sorte, a existência da torre de Babel e sua cc nstrução, como sendo a causa da diversidade de línguas r o 44

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mundo, só é desconsiderada pelos estudiosos porque se recusam a reconhecer a ação divina na história. Eles, também, não possuem nenhuma explicação razoável e definitiva para este problema. Inclusive, o linguista Hans Joachim Storig, em seu famoso livro A aventura das línguas (Melhoramentos, 2003), após ter feito uma longa viagem através do mundo dos idiomas, termina por narrar a história bíblica da torre de Babel como a origem da diversidade linguística. Talvez, possamos dizer que as genealogias sejam o elo mais forte para testificar os fatos de Gênesis.Todos os personagens bíblicos se ligam por meio desses fatos, que funcionam como uma espécie de certidão de nascimento, indicando a origem de cada pessoa. Logo, toda a história posterior de Israel vai ser conectada ao primeiro homem e seus descendentes por essas listas genealógicas.

Aspectos arqueológicos Certos arqueólogos encontraram dois selos antigos perto de Nínive representativos de uma cena que sugere a história da tentação. No centro, há uma árvore; à direita, um homem; à esquerda, uma mulher; e, atrás, uma serpente erguida, em atitude de falar-lhe. Embora não tenham encontrado nenhum texto babilônico que descreva a tentação, acredita-se indicar que a raça ainda se lembrava da tentação no Éden. Diferentes epopeias da criação, escritas sobre tabuinhas de barro, foram encontradas nas ruínas de Babilônia, Nínive,

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En c i c l o p é d i a

Nipur e Assur. Contêm certas semelhanças com o relato do livro de Gênesis. São sete tabuinhas que descrevem um “abismo” de águas; contam que, no quarto dia, foram ordenadas as estrelas; e que o homem foi feito de barro. Mas, há grandes diferenças entre essas epopeias e o relato do livro de Gênesis. Os expoentes da alta crítica apresentaram a teoria de que a história primitiva do Gênesis, talvez, tivesse tido sua origem nessas epopeias. Não obstante, os relatos das tabuinhas são grosseiramente politeístas e muito absurdos. Por exemplo, o relato babilônico narra que a mãe dos deuses, Tiamate (o “abismo das águas”), foi morta por seu filho, Marduque. Depois, ele dividiu em duas partes seu cadáver e empregou uma metade para formar a terra e a outra, para cobrir os céus. A existência das epopeias da criação, de nenhum modo, comprova que o livro de Gênesis esteja baseado nas tradições mesopotâmicas; antes, ressaltam a inspiração do relato do Gênesis, já que está livre de idéias absurdas e indignas de serem cridas. Henry Halley sugere que se pode tomar a semelhança entre os relatos pagãos e o relato bíblico como evidência de que “algumas das idéias do Gênesis foram gravadas na memória dos primeiros habitantes da terra, e as diferentes raças humanas, ao apartarem-se da linhagem escolhida de Deus e cairem na idolatria, herdaram e transmitiram relíquias de verdades antigas que entreteceram em suas culturas nacionais”.2 Ao longo dos anos, muitas críticas têm sido levantadas quanto à confiabilidade histórica da Bíblia. Esses criticismos

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são, usualmente, baseados na falta de evidência de fontes externas que confirmem o registro bíblico. E, sendo a Bíblia um livro religioso, muitos eruditos tomam a posição de que ela é parcial e não é confiável, a menos que haja evidência externa confirmando-a. Em outras palavras, a Bíblia é culpada até que ela seja provada inocente, e a falta de evidências externas coloca o registro bíblico em dúvida. Esse padrão é extremamente diferente do aplicado a outros documentos antigos, mesmo que muitos deles, se não a maioria, contêm um elemento religioso. Eles são considerados acurados, a menos que a evidência demonstre o contrário. Embora não seja possível verificar cada incidente descrito na Bíblia, as descobertas arqueológicas, feitas desde a metade do século 18, têm demonstrado a confiabilidade e plausibilidade da narrativa bíblica, conforme podemos demonstrar com alguns exemplos. Vejamos: A descoberta do arquivo de Ebla no norte da Síria nos anos 70 tem mostrado que os escritos bíblicos concernentes aos patriarcas são de todo viáveis. Documentos escritos em tabletes de argila, de, aproximadamente, 2300 a.C., mostram que os nomes pessoais e de lugares mencionados nos registros históricos sobre os patriarcas são genuínos. O nome “Canaã” estava em uso em Ebla — um nome que críticos já afirmaram não ser utilizado naquela época e, portanto, incorretamente empregado nos primeiros capítulos da Bíblia. A palavra tehom (“abismo”), usada em Gênesis 1.2, era considerada uma palavra recente, demonstrando que a história da criação fora escrita

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ENCI CLOPÉDI A

bem mais tarde do que o afirmado tradicionalmente. Tehom, entretanto, era parte do vocabulário usado em Ebla, cerca de oitocentos anos antes de Moisés. Costumes antigos, refletidos nas histórias dos patriarcas, também foram descritos em tabletes de argila encontrados em Nuzi e Mari. O evento bíblico mais documentado é o dilúvio universal, descrito em Gênesis 6-9. Diversos documentos babilônicos foram descobertos e descrevem o mesmo dilúvio. A lista de reis sumérios, por exemplo, indica que todos eles reinaram por longos anos. E, então, veio uma grande inundação e, após este acontecimento, os reis sumérios reinaram por períodos bem menores. Esse é o mesmo padrão de acontecimento encontrado na Bíblia. Os homens tinham uma maior longevidade antes do dilúvio e menor após o mesmo. 0 11° tablete do Épico de Gilgamesh descreve uma arca, animais levados até a arca, pássaros sendo soltos durante a grande inundação, a arca repousando sobre uma montanha e um sacrifício oferecido após a arca estar parada. Os tabletes de argila sumérios registram a confusão de línguas assim como se observa no histórico bíblico da torre de Babel (Gn 11.1-9). “Existiu uma era de ouro em que toda a humanidade falava a mesma língua. As línguas foram, então, confundidas pelo deus Enki, “senhor da sabedoria”. Os babilônios têm registros similares onde os deuses destruíram a torre do templo e dispersaram-nos e tornaram suas línguas estranhas”.

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EVIDÊNCIA ARQUEOLÓGICAS Siquém

“Escavações foram empenhadas em Siquém, primeiro pelas expedições austríaco e alemãs, em 1913 e 1914; posteriormente, no período de 1926 a 1934, sob a responsabilidade de vários arqueólogos; e, por fim, por uma expedição americana, no período de 1956 a 1972 [...] A escavação na área sagrada revelou uma fortaleza na qual havia um santuário e um templo dedicado a El-berith, o deus do concerto’. “Este templo foi destruído por Abimeleque, filho do juiz Gideão (Jz 9) e nos proporcionou uma data confiável acerca do período teocrático. Recentemente, nas proximidades do monte Ebal (Dt 27.13), foi encontrada uma estrutura que sugere identificar um altar israelita. Datado do 13° ou 12° século a.C., o altar pode ser considerado contemporâneo de Josué, indicando a possibilidade de ter sido construído pelo próprio líder hebreu, conforme é descrito em Deuteronômio 27 e 28”.3 Tum ba dos p a tria rc a s

A Bíblia relata que Sara, Abraão, Isaque, Rebeca, Lia e Jacó foram enterrados em Hebrom, numa caverna denominada a cova do Campo de Macpela, adquirida por Abraão (Gn 23). Segundo a tradição, essa caverna está localizada abaixo de Haram el-Khalil (que significa: “recinto sagrado do amigo do Deus único misericordioso”) em Hebrom, e é,

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atualmente, uma mesquita muçulmana. Algumas referências, datadas do período helênico (século 2° d.C), atestam que este é o local autêntico de sepultamento dos patriarcas. A caverna foi explorada pelos agostinianos, em 1119, ficando declarado que os ossos dos patriarcas foram descobertos nessa data.

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C a p ít u l o 4

ÊXODO

Tal como Gênesis, é um título que não tem origem hebraica, mas grega. A Septuaginta o chama de livro de Exodos, que significa “saída, partida” - um título apropriado para a descrição da saída do povo escolhido da terra onde sofreu a escravidão total durante gerações. Esta redenção do Egito foi realizada por intervenção divina, portanto, milagrosa, exigindo da parte dos israelitas apenas fé na eficácia do sangue derramado (12.1-3). Como no Novo Testamento, a redenção tem o propósito de tornar possível a comunhão entre as pessoas remidas de Deus. Depois da realização da redenção do Egito, foi dada a lei, seguida pela revelação de grandes verdades do culto aceitável a Deus quando prestado no tabernáculo, com os seus sacrifícios concomitantes e o sacerdócio assistente. No Exodo, Deus, até então ligado ao povo israelita apenas por sua aliança com Abraão (Gn 12.2), atrai-os, agora, para si, nacionalmente, pela redenção, coloca-os sob a aliança mosaica (19.5) e habita no meio deles na nuvem de glória. Gálatas, explica o relacionamento da lei com a aliança abraâmica.

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Por meio dos inúmeros mandamentos, Deus ensinou a Israel suas justas exigências. A experiência convenceu Israel do seu pecado; e a provisão do sacerdócio e os sacrifícios (cheios de tipos preciosos de Cristo) ofereceram a um povo culpado um meio de obter perdão, purificação e restauração da comunhão e adoração.

Esboço de Êxodo O treinamento do homem de Deus para a tarefa de Deus

(1.1 - 4 .31) a)

O passado de Moisés; a perseguição tirânica (1.1- 22).

b) c)

Sua adoção e instrução, os primeiros 40 anos (2.1- 14). Seu caráter disciplinado, os segundos 40 anos (2.15 - 25).

d) Sua vocação da parte de Deus, em Horebe (3.1- 4.31). A graça triunfante: opovo de Deus libertado da escravidão

(5 .1 - 18 .27) a) O triunfo de Deus sobre a potência mundial, pelas dez pragas (5.1 - 11.10). b) Seis tipos da salvação (12.1 - 18.27). c) A Páscoa: símbolo e apropriação do Calvário (12.1 13.22). d) Travessia do mar Vermelho: o mergulho pela fé: batismo (14.1-15.27). e) Maná dos céus: pão da vida (16.1- 36).

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f) A rocha fendida: a água da vida (17.1 - 7). g) Refidim: antegozo da vitória sobre o mundo (17.8-16). h) Nomeação dos anciãos: organização da comunidade religiosa (18.1 - 27). O selo da santidade

(19 .1 - 31 .18) a)

A promessa da aliança: absoluta submissão à vontade de Deus revelada, como “nação santa, propriedade peculiar de Deus” (19.1 - 25).

b) Princípios básicos de uma vida santificada, segundo a aliança: o decálogo (20.1-26). c)

A vida santa na sua conduta para com os outros (21.1 -23.33).

d) A vida santa no culto e na comunhão com Deus, a tipologia do sacerdócio, do sacrifício e dos móveis do tabernáculo (24.1 - 31.18). Ofracasso da carne e 0 arrependimento pelo pecado

(32.1 - 33 .23) a)

Rebelião, apostasia, idolatria: quebra da comunhão com Deus (32.1 - 35).

b) Arrependimento, castigo e a intercessão de Moisés, o mediador (33.1 - 23).

Es t u d o s de T e o l o g i a

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A provisão divinapelopecado: 0perdão contínuopelo sacrifício

(34.1 - 40.38) a) Reafirmação da aliança da graça e a advertência divina contra a idolatria (34.1- 35). b) Meios para evitar a apostasia: o sábado e o tabernáculo (35.1- 19). c) A congregação promete obedecer ao plano divino (35.20-39.43). d) Formas de culto que Deus santifica e aceita (40.1 - 38).

Aspectos teológicos E de grande relevância, para a história da salvação, a teofania do capítulo 3 de Exodo, onde o próprio Deus se manifesta a Moisés em uma sarça ardente. Teofania é uma palavra grega usada no meio teológico que significa: “a manifestação da glória de Deus diante dos homens”. Este episódio se torna importante devido ao conteúdo teológico nele envolvido. Primeiro, temos a identificação de Deus. Ao perguntar seu nome, a resposta de Deus a Moisés foi: “Eu Sou o que Sou”. Um conceito de divindade muito diferente do usual entre os povos. Deus é quem Ele é e pronto. E quase impossível informar, pela linguagem, quem é Aquele que é o único portador de existência própria. Eu Sou o

que

Sou.

Este livro apresenta aspectos teológicos e morais de uma enorme importância para Israel e para o mundo. O monoteísmo nele expresso tornou-se marca exclusiva de Israel, bem

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como a proibição do uso de imagens. Os mandamentos relacionados à ordem moral da sociedade têm um valor inquestionável para a vida humana, protegendo a propriedade privada, o respeito filial, a integridade matrimonial, a integridade da vida humana e a verdade nos relacionamentos. O simples fato de possuir uma legislação própria foi um passo essencial na história e formação da nação de Israel. Até então, eles eram apenas um povo. Agora, um povo com sua própria Legislação. Logo, acrescentariam a estes dois elementos um território geograficamente delimitado, tornando-se, assim, uma nação de fato e de direito. A libertação do Egito, apor meio dos milagres e sinais realizados por Moisés, estabelecia a descendência de Abraão como a nação prometida e estabelece sua aliança por intermédio do Cordeiro Pascal.

Aspectos tipológicos A palavra de Deus a Moisés trouxe esta ordem: “Este mesmo mês vos será o princípio dos meses; este vos será o primeiro dos meses” (Ex 12.2). O calendário comum continua o seu curso. Mas, quem se identifica com Deus começa uma nova contagem de tempo. Por isso, Jesus disse a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.7b). Nesta nova contagem de vida, cada um devia tomar um cordeiro para sua casa (v. 3). O sangue do cordeiro era posto nos umbrais e vergas de cada casa. À meia-noite, viria o castigo pela morte dos primogênitos de cada família (v. 12,13,29). Onde houvesse o

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En c i c l o p é d i a

sangue na porta, o primogênito permanecería vivo. O sangue era sinal de obediência a Deus e de que um substituto morreu em lugar do primogênito. O sangue de Jesus é um refúgio para quem obedece ao evangelho. A carne do cordeiro era assada no fogo (Ex 12.8). O Salvador, para realizar a sua missão, teve de ser tentado, perseguido e maltratado pelos homens. O cordeiro era comido com pães asmos (sinceridade de acordo com lC o 5.8) e ervas amargas (Ex 12.8 — simbolizando arrependimento). Tinham de estar com os trajes completos, prontos para viajar (Ex 12.11). O crente tem de estar pronto, esperando a hora de partir para a eternidade. Isto se expressa pela palavra “vigiai” (Mc 13.37b). João mostra Jesus como antítipo da Páscoa, aplicando a frase: “Nenhum osso será quebrado” (Ex 12.46$; Jo 19.36$), já o apóstolo Paulo, iluminado pelo Espírito Santo, entendeu claramente a obra salvífica de Cristo e declarou: “Porque Cristo, nossa páscoa” (lC o 5.7$). Simbolismo no livro de êxodo

O simbolismo do tabernáculo, cuja descrição se encontra no livro de Exodo, é uma rica fonte de simbolismo espiritual. Na verdade, é uma fonte inesgotável. Durante séculos, milhares de cristãos têm extraído dessa construção inúmeras lições para suas vidas. Por isso, vale a pena estendermos um pouco o assunto. Em comparação com os templos pagãos, a tenda da congre-

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estudos

de

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gação era muito pequena. Não foi projetada para que o povo israelita se reunisse em seu interior para adorar a Deus, mas com o fim de que seus representantes, os sacerdotes, oficiassem como mediadores. Evidentemente, cada objeto e sua localização tinham grande valor simbólico. O escritor da carta aos Hebreus mostra o simbolismo do tabernáculo e do sacerdócio da antiga aliança dizendo que são “sombra das coisas celestiais” (8.5). Não nos convém sermos dogmáticos ao interpretar os pormenores, mas devemos buscar, na medida do possível, a interpretação neotestamentária. Nota-se certo simbolismo cercado de devida importância patente no tabernáculo. Vejamos:

a)

A presença de Deus. Para os israelitas, o lugar santíssi-

mo e, em especial, o propiciatório, que representava a imediata presença de Deus. Ali, se manifestava a shekina (em hebreu “habitar”), a glória de Deus, que representava sua própria presença. As figuras dos querubins, com as asas estendidas para cima, e o rosto de cada um voltado para o rosto do outro, representavam reverência e culto a Deus. A arca continha as duas tábuas da lei, um vaso com maná e, mais tarde, se incluiu a vara de Aarão. Todos esses objetos lembravam a Israel o concerto e o amor de Deus. As tábuas da lei simbolizavam a santidade de Deus e a pecaminosidade do homem. Também, lembrava aos hebreus que não se pode adorar a Deus em verdade sem se dispor a cumprir sua vontade revelada. O véu, que separava o lugar santíssimo do lugar santo e excluía todos os homens, com exceção do sumo sacerdote, acentuava que Deus é inacessível ao homem pecador. Somente por via do mediador

E s t u d o s de T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

nomeado por Deus e do sacrifício do inocente o homem podia aproximar-se de Deus. Para o crente de hoje, estas coisas servem de “alegoria para o tempo presente” (Hb 9.9), onde Jesus Cristo, nosso sumo sacerdote, entrou de uma vez para sempre com seu próprio sangue, para fazer propiciação por nossos pecados e expiá-los. E interessante notar a relação que existe entre o “propiciatório” e as palavras do apóstolo quando disse, referindo-se a Cristo: “ao qual Deus propôs para propiciação” (Rm 3.25). Pela obra de Cristo no Calvário, “o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo” (Mt 27.51). Este símbolo, da separação entre Deus e os homens, foi entretecido por nossos pecados. Agora, está rasgado e os crentes têm acesso à presença de Deus (Hb 10.19,20; 4.14-16; Rm 5.1,2).

b)

A aproximação de Deus. Os móveis colocados no pátio

do tabernáculo mostravam como o homem pode aproximar-se de Deus e restaurar a comunhão com Ele. O primeiro passo para que o homem possa aproximar-se de Deus está simbolizado pelo altar dos holocaustos, ou seja, a expiação. Sua mensagem é: “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22). Por conseguinte, sem remissão de pecados não há comunhão com Deus. A remissão foi efetuada no Calvário, onde Cristo se sacrificou por nossas rebeliões. Assim como o homem perseguido podia agarrar-se aos chifres do altar para escapar do vingador ofendido, o pecador pode agarrar-se, simbolicamente, à cruz e, mediante a fé, encontrar abrigo seguro para a sua alma. As pessoas que

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VOLUME

2

depositam sua fé em Cristo têm um altar (Hb 13.10) e são reconciliadas com Deus mediante a cruz (2C0 5.18-21), tendo, desse modo, acesso ao Pai (Rm 5.2). E preciso lembrar, também, que o altar de cobre era o lugar de completa dedicação a Deus, pois se ofereciam os sacrifícios de holocausto que simbolizavam inteira consagração. Os que são perdoados e reconciliados devem seguir os passos daquele que se ofereceu em completa submissão à vontade divina. O segundo passo para aproximar-se de Deus e preparar-se para ministrar as coisas sagradas, que são, simbolicamente, representadas pela pia de cobre. Ali, os sacerdotes se lavavam antes de oficiar as coisas sagradas. Demonstra que é necessário purificar-se para servir a Deus: “A santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). O crente se limpa “com a lavagem da água, pela palavra” (E f 5.26) e pela “regeneração” e “renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5).

c)

O culto aceitável a Deus. Os móveis do lugar santo in-

dicavam como a nação sacerdotal podia prestar culto a Deus e servi-lo de uma torma aceitável. Alguns estudiosos da Bíblia pensam que, na obra de Cristo, encontra-se o simbolismo desses móveis: o altar do incenso representa Cristo, o intercessor; a mesa dos pães representa Cristo, o pão da vida; e o castiçal, a Cristo, a Luz do mundo. Apesar da bênção resultante destas interpretações tradicionais, convém-nos buscar o simbolismo dos móveis considerando, primeiro, a ideia que eles transmitiam aos israelitas e, a seguir, o que o Novo Testamento indica no tocante a eles. Dado que os que

Es t i d o s

de

T eologia

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En c i c l o p é d i a

oficiavam, no lugar santo, eram os sacerdotes comuns, simbolizando os crentes (lPe 2.9; Ape 1.6), é lógico considerar que o uso dos móveis do lugar santo prefigurava o culto e o serviço dos cristãos. O altar do incenso estava no centro; ensina-nos que uma vida de oração é imprescindível para agradar a Deus, já que o incenso simbolizava a oração, o louvor e a intercessão do povo de Deus, tanto no Antigo Testamento como no Novo (SI 141.2; Lc 1.10; Ap 5.8; 8.3). Assim como o perfume do fumo que o incenso desprendia subia ao céu, os louvores, as rogativas e as intercessões também sobem ao Senhor como cheiro agradável. Duas vezes por dia, acendia-se o incenso sobre o altar e, provavelmente, ardia durante o dia todo. Isto ensina que os filhos de Deus devem ser constantes na oração. Acendia-se o incenso com o fogo do altar dos holocaustos, o que nos leva a notar que a oração aceitável ao Senhor se relaciona com a expiação do pecado e a consagração do crente. Também, se destaca a importância do fogo para consumir o incenso. Se o incenso não ardia, não havia cheiro agradável. Igualmente, o crente necessita do fogo do Espírito Santo para que faça arder o incenso da devoção (E f 6.18). Orações frias não sobem ao trono da graça. Finalmente, observemos que o sumo sacerdote espargia sangue sobre os cantos do altar. O incenso, uma vez por ano, demonstrando que, embora o culto humano seja imperfeito (Rm 8.26,27), somos “agradáveis a Ele no Amado”, por seu sangue expiador e sua intercessão perpétua (E f 1.6,7; Rm 8.34; Hb 9.25).

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

Ao entrar no lugar santo, encontrava-se à direita, a mesa dos pães da proposição. A frase “pães da proposição” significa literalmente “pães do rosto”, e, em algumas versões da Bíblia, se traduz “pão da presença”, pois o pão era colocado continuamente na presença de Deus. Os doze pães colocados na mesa representavam uma oferta de gratidão a Deus da parte das doze tribos, pois o pão era, ao mesmo tempo, uma dádiva de Deus e fruto dos esforços humanos. Por isso, o povo reconhecia que havia recebido seu sustento de Deus e, ao mesmo tempo, consagrava a Ele os frutos de seu trabalho. Portanto, a mesa dos pães refere-se, também, à mordomia dos bens materiais. O terceiro móvel no lugar santo era o castiçal de ouro, que simbolizava

0

povo de Deus, Israel. Ensinava que Israel

devia ser “luz dos gentios” (Is 49.6; 60.1-3; Rm 2.19), dando testemunho ao mundo por meio de uma vida santa e da mensagem proclamada do Senhor. O apóstolo João utiliza a figura do castiçal: representa as sete igrejas da Asia com os sete castiçais (Ap 1.12-20), portanto, o castiçal prefigura a Igreja de Jesus Cristo. Assim como o tronco do castiçal unia os sete braços e suas lâmpadas, assim também Jesus Cristo está no meio de suas igrejas e as une. Embora as igrejas locais sejam muitas, constituem uma só Igreja em Cristo. Também, Jesus disse aos seus seguidores: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.14). Era necessário encher o castiçal com azeite puro de oliveira, a fim de que ardesse e iluminasse ao seu redor. O profeta Zacarias empregou a figura do castiçal com abundante azeite

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En c i c l o p é d i a

para representar Israel. Interpretou o símbolo do azeite com estas palavras: “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). O azeite é, pois, símbolo do Espírito Santo. Se o crente não tem a presença e o poder do Espírito em sua vida, não será uma boa testemunha. Todos os dias, um sacerdote trazia azeite fresco para o castiçal, de modo que a luz ardesse desde a tarde até o amanhecer (Ex 27.20,21). Do mesmo modo, o crente necessita receber, todos os dias, o azeite do Espírito Santo (SI 92.10), para que sua luz brilhe diante dos que andam na escuridão espiritual.

d)

O Filho de Deus. A ideia central do tabernáculo era que Deus habitava entre seu povo; sua plena realização encontra-se na encarnação de Cristo: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (literalmente, “fez tabernáculo entre nós” — Jo 1.14). Daí, que se chama Emanuel: “Deus conosco” (Mt 1.23). Em nossos dias, a presença de Deus se manifesta na Igreja por meio do Espírito Santo, que habita nos crentes (E f 2.21,22). Em Cristo, se cumpriram muitas das cerimônias do tabernáculo: a manifestação da glória divina, a expiação, a reconciliação do homem com Deus e a presença de Deus entre seu povo

redimido. As sombras e figuras já passaram, mas a realidade permanece na pessoa e obra de Jesus Cristo.

Aspectos apologéticos Algumas seitas insistem na guarda da lei e, para isso, fun-

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VOLUME 2

damentam seus ensinos no livro de Êxodo. Vejamos alguns exemplos que julgamos ser importantes. Os sabatistas (aqueles que guardam o sábado) reclamam que, pelo fato de Deus ter escrito os dez mandamentos em tábuas de pedras, isso implica em reconhecer que esses mandamentos são mais importantes que os demais mandamentos. Dividem a lei em duas partes: a primeira, a que denominam “lei moral”, abrangendo apenas aos dez mandamentos. A segunda, de “lei cerimonial”, envolvendo todo o Pentateuco, ou os cinco livros escritos por Moisés e colocados ao lado da arca. Esta última - afirmam: “foi abolida”. Os dez mandamentos continuam em vigor. O aluno pode observar que não se encontram na Bíblia as expressões “lei moral” e “lei cerimonial”. Nos dez mandamentos, há um preceito cerimonial, justamente o quarto mandamento — a guarda do sábado. Como poderia ser um mandamento moral, se, acerca do qual, Jesus afirmou que poderia ser violado dentro do templo e o sacerdote violador ficava sem culpa? (Alt 12.5) Ademais, no livro da lei, tido como lei cerimonial, encontram-se preceitos morais, quando os sabatistas os têm como inteiramente cerimoniais e abolidos. Os dois maiores mandamentos — assim classificados por Jesus — estão fora dos dez mandamentos. O primeiro: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mt 22.37), está em Deuteronômio 6.5, livro escrito por Moisés e integran-

estudos

de t e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

te do livro da lei. Segundo os sabatistas, este mandamento está abolido por fazer parte da lei de Moisés. O segundo mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, se encontra em Levítico 19.18, também escrito por Moisés e posto ao lado da arca. Os dois maiores mandamentos não estão inseridos nos dez mandamentos, mas Jesus os colocou como maiores. Que contradição fazem os sabatistas, desejando anular as palavras de Jesus!

Aspectos históricos Os acontecimentos narrados nesse livro são mais do que meras reflexões religiosas. Ele não apresenta, primeiro, uma reflexão, ainda que elevada, sobre a divindade, antes, fala sobre um Deus que entrou e participou da história de um povo. Quando se diz que a fé bíblica é uma fé histórica é pelo fato de seus fundamentos estarem relacionados aos atos realizados por Deus em algum lugar e em algum momento da história humana. Independente das discrepâncias que podem ocorrer entre as opiniões da história profana e a sagrada, a verdade é que Deus tirou um povo do Egito, a grande potência econômica, cultural e militar da época. Esse evento era cumprimento de uma aliança feita, aproximadamente, quatrocentos anos antes com Abraão, a quem Deus tirara de Ur dos Caldeus (Gn 15.13).

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

Aspectos arqueológicos A arqueologia tem descoberto fortes indícios da confiabilidade dos relatos encontrados no livro de Êxodo. Vejamos: Hebreus no Egito

Os críticos da Bíblia dizem não haver nenhum vestígio do cativeiro egípcio. Não é verdade. Uma ilustração gravada nas rochas de uma caverna no Sul do Egito, por volta de 1450 a.C., mostra soldados de pele escura supervisionando o trabalho de homens de pele mais clara, vestidos de tangas de Unho. A obra foi feita por ordem de um vizir (espécie de um ministro) do Faraó Thutmoses, que, acreditam alguns estudiosos, teria sido o soberano do Egito à época de Moisés. Sobre este assunto, escreveu um pesquisador: “E evidente a relação que a figura faz dos egípcios, de pele mais escura, com os hebreus, mais claros”.4 Outra descoberta que remete ao suposto cativeiro egípcio é o túmulo de Amose, comandante do exército de Faraó. Nas paredes da tumba, numa vila nos arredores de Luxor, os arqueólogos encontraram inscrições que falam da família e das conquistas do general egípcio. Depois de relatar suas vitórias sobre exércitos inimigos, Amose inseriu uma lista de alguns dos seus escravos. A maior parte deles tinha nomes tipicamente hebreus, como Mara, Miriam e Putiel.

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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En c i c l o p é d i a

A s p r a g a s do E gito

Até algumas das pragas que Deus teria derramado sobre o Egito, para forçar Faraó a libertar os hebreus, já foram trazidas à luz pela arqueologia. O papiro de Ipuwer (sacerdote egípcio), é um registro pessoal de suas preces ao deus Hórus. No texto escrito em demótico (o egípcio cursivo - e datado de cerca 1350 a.C.), Ipuwer reclama: “O rio transformou-se em sangue e nossos animais estão morrendo. As plantações não produzem. A escuridão cobriu a terra”. Essas pragas são umas das dez que, segundo o livro do Exodo, Deus lançou sobre o Egito. A descoberta mudou o posicionamento de muitos estudiosos que se referiam às pragas como pura ficção. Muitos deles passaram a acreditar que as pragas fizeram parte de uma grande catástrofe ambiental, que teria devastado a região do rio Nilo naquela época. Outra descoberta especial marcou a história da arqueologia bíblica e pode até posicionar Moisés e o livro de Exodo na linha do tempo. Em 1896, nas proximidades de Tebas, no Egito, foi encontrada uma “Esteia” (uma placa de pedra) do Faraó Merneptah, datada de 1220 a.C. A peça traz uma lista das vitórias de Merneptah sobre povos inimigos. Israel é um desses povos. E a mais antiga referência não bíblica a Israel já encontrada. Entre outras citações, o texto diz: ‘Ά Líbia está devastada, Israel está aniquilado e suas sementes não mais germinarão”. Os sinais utilizados na inscrição sugerem Israel como pessoa ou povo e não como lugar, como defendem alguns estudiosos.

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

VOLUME 2

O código de H am u rabi

Esse Código, criado por volta de 1700 a.C., é um dos mais antigos conjuntos de leis jamais encontrados, e um dos exemplos mais bem preservados deste tipo de documento da antiga Mesopotâmia. Algumas partes da Torá são similares a certas seções do código de Hamurabi, e, devido a isso, alguns especialistas sugerem que os hebreus tenham derivado sua lei deste. No entanto, o livro Documents from Old Testament Times [Documentos da época do Velho Testamento\ diz: “Não existe fun-

damento algum para se assumir qualquer empréstimo pelos hebreus dos babilônicos. Mesmo se os dois conjuntos de leis diferem pouco na prosa, eles diferem muito no espírito‫ ״‬. Vejamos uma breve comparação dos textos:

Pena de morte para roubo de templo Roubo punido por compensaou propriedade estatal, ou por aceitaçâo à vítim a (Êx 2 2 .1 9 ‫)־‬. ção de bens roubados (Seção 6). "Você não é obrigado a M orte por ajudar um escravo a devolver um escravo ao seu fugir ou abrigar um escravo fodono se ele foge do dono ragido (Seção 15,16). para vo cê " (Dt 23.15). "Pais não devem ser condeS e uma casa mal construída causa a nados à morte por conta dos morte de um filho do dono da casa, filhos, e os filhos não devem então, 0 filho do construtor será

ser condenados à morte por

condenado à morte (Seção 230). conta dos pais" (Dt 24.16).

ESTUDOS DE TEOLOGI A

67

En c i c l o p é d i a

M ero exílio por incesto: Se um senhor ‫״‬ , A . , (homem de certa importância) teve relações com sua filha, ele deverá

Pena de morte por inCeSt°

abandonar a cidade‫( ״‬Seção 154). Distinção de classes em julgamento: Severas penas para pessoas que

Você não deve tratar 0 inferior

prejudicam outras de classe superior.

com parcialidade e não deve

Penas médias por prejuízo aos membros

preferir 0 superior (Lv 19.15).

de ciasse inferior (Seção 196-205).

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

C a p ít u l o 5

LEVITICO

Levítico é dedicado à adoração a Deus pelo povo resgatado, como se vê pela frequente ocorrência das palavras relacionadas com santidade e sacrifício. Na Bíblia hebraica, esse livro é chamado pela sua primeira palavra de Wayyiqra, que significa “e Ele chamou”. O título Levítico foi extraído da Septuaginta Levitikon. O nome é apropriado, pois ele servia como manual litúrgico do sacerdote levítico e, ao mesmo tempo, ensinava aos israelitas a necessidade de uma santidade inabalável em cada aspecto de suas vidas. E um livro que contém, em sua totalidade, leis e instruções. O vocabulário do sacrifício permeia o livro; as palavras “sacerdote”, “sacrifício”, “sangue” e “oferta” ocorrem com muita frequência; e qodesh, traduzido para “santidade” ou “santo”, aparece mais de 150 vezes. Observe, também, a repetida ordem, que diz: “Sede santos, porque eu sou santo” (11.44,45; 19.2; 20.7,26).

ENCI CLOPÉDI A

Esboço de Levitico A lei dos sacrifícios (1.1 - 7.38)

a) O holocausto (1.1 - 17). b) As ofertas de manjares (2.1 - 16). c) Os sacrifícios pacíficos (3.1 - 17). d) O sacrifício pelos pecados por ignorância (4.1 - 5.13). e) O sacrifício pelo sacrilégio (5.14 - 6.7). f) O holocausto contínuo e as ofertas dos sacerdotes (6 .8 -2 3 ). g) A disposição das vítimas, na oferta pelo pecado. Na oferta pela culpa e na oferta pacífica (6.24 - 7.27). h) A oferta movida e a oferta levantada (7.28 - 38). A consagração dos sacerdotes (8.1 - 10 .20)

a) A consagração de Arão e dos seus filhos (8.1 - 36). b) Arão como sumo sacerdote ( 9 .1 2 4 ‫)־‬. c) Julgamento contra Nadabe e Abiu, por causa da sua desobediência (10.1 - 20). Separação das coisas impuras

(11.1 - 15 .33) a) Comidas puras e impuras (11.1 - 47). b) Purificação das mães depois de darem à luz (12.1 - 8). c) Regulamentos no que diz respeito à lepra (13.1 14.57). d) A purificação dos corrimentos corporais (15.1 - 33). 70

Es t u d o s

de

teologia

VOLUME 2

O dia da expiação (16.1 —34). 0 lugar do sacrifício e a inviolabilidade do sangue (17.1-16). A santidade prática: leis contra a imundícia, a impureza e a idolatria (18.1 - 20.27). A Santidade e os deveres dos sacerdotes (21.1 - 22.33). As santas convocações: sábado, Páscoa, pães asmos, Pentecostes, trombetas, expiação, tabernáculos (23.1 -4 4 ). Símbolos da consagração; penalidades pela profanação (24.1 - 2 3 ) . O ano de descanso e 0 ano dojubileu (25.1- 55). As bem-aventuranças da obediência, as maldições da desobediência (26.1-46). 0 pagamento de votos e dízimos (27.1 - 34).

Aspectos teológicos Assim como Exodo tem por tema a comunhão que Deus oferece ao seu povo mediante sua presença no tabernáculo, Levítico apresenta as leis pelas quais Israel haveria de manter essa comunhão. O Senhor queria ensinar ao seu povo, os hebreus, a santificar-se. A palavra santificação significa “apartar-se do mal e dedicar-se ao serviço de Deus”. E condição necessária para se desfrutar da comunhão com Deus. As leis e as instituições de Levítico faziam os israelitas tomarem consciência de sua pecaminosidade e de sua necessidade de receber a misericórdia divina; ao mesmo tempo, 0 sistema de sacrifícios ensinava-lhes que o próprio Deus provia o meio

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En c i c l o p é d i a

de expiar seus pecados e de santificar sua vida. Deus é Santo e, para se aproximar dele, tem que ser santo também. Israel deve ser diferente das outras nações e, por isso, separar-se de seus costumes. O pensamento-chave era: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 11.44, 45; 19.2). A palavra “santo” aparece setenta e três vezes no livro. O tabernáculo e seus móveis eram santos, santos os sacerdotes, santas as suas vestimentas, santas as ofertas, santas as festas, e tudo era santo para que Israel fosse santo. O apóstolo Paulo sintetiza este princípio e o aplica aos cristãos: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (ICo 10.31). A santidade de Deus impõe leis concernentes às ofertas, ao alimento, à purificação, à castidade, às festividades e a outras cerimônias. Somente por seus mediadores os sacerdotes e o povo pecaminoso poderíam aproximar-se do Deus santo. Tudo isto ensinou aos hebreus que o pecado é que afasta o homem de Deus. Que Deus exige a santidade e que só o sangue espargido sobre o altar pode expiar a culpa. De modo que Levítico fala de santidade, mas, ao mesmo tempo, fala da graça, ou seja, da possibilidade de obter perdão por meio de sacrifícios. Algumas vezes, o livro de Levítico tem sido encarado como uma obra de difícil compreensão; entretanto, de acordo com a tradição primitiva, foi o primeiro livro a ser ensinado para as crianças na educação judaica. Ele lida com o caráter e a vontade de Deus, especialmente em assuntos de

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

VOLUME 2

santidade, que os sábios judeus consideravam de importância primária. Eles sentiram que, antes de proceder a outros textos bíblicos, as crianças deveriam, acima de qualquer coisa, ser educadas sobre a santidade de Deus e a responsabilidade de cada indivíduo para viver uma vida santa. A santidade é uma palavra-chave em Levítico, descrevendo a santidade da presença divina.

Aspectos tipológicos A tipologia de Jesus em Levítico está relacionada com as cinco ofertas no dia da expiação e com as festas do capítulo 23. Propriamente no capítulo 23, a parte mais interessante é a oferta das primícias. As cinco ofertas são descritas nos capítulos 1 a 7 e explicam tudo que foi realizado no Calvário. Formam um todo, mas podem ser estudadas separadamente, assim será dada maior atenção aos pormenores. Vejamos: Fatos a respeito das cinco ofertas

1. Foram ordenadas ainda que fossem voluntárias. 2. Todas, exceto a de manjares, tinham sangue. 3. Todas, exceto a de manjares, eram expiatórias. 4. O sangue derramado era um sacrifício, a entrega de uma vida. As cinco ofertas em ordem

1. O holocausto, com sangue (1.1-17; 6.8-13).

E s t u d o s de T e o l o g i a

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ENCI CLOPÉDI A

2. A oferta de manjares, sem sangue (2.1-16; 6.14-23). 3. A oferta pacífica, com sangue ( 3 . 1 1 9 . 5

;7.11-34 ;17

8; 22.21-25). 4. A oferta pelo pecado, com sangue (4.1-35; 6.24-30). 5. A oferta pela culpa, com sangue (5.14-19; 7.1-17). O significado das ofertas

1.

Holocausto, consagração pessoal.

2. 3.

Manjares, consagração dos bens. Pacífica, comunhão com Deus.

4.

De pecado, perdão.

5.

De culpa, restituição.

Oferta de holocausto (L v 1.1-17; 6.8-13; 7.8)

Era diferente das outras quatro, porque, nela, a carne da vítima era toda queimada. De forma tipológica, representa a consagração pessoal. Um exemplo se acha nas igrejas da Macedônia, que “não somente fizeram como nós esperávamos, mas a si mesmos se deram ao Senhor, e, depois, a nós, pela vontade de Deus” (2Co 8.5). E a consagração completa do próprio “ser”, para a obra de Deus. Este tipo de oferta tipifica a obediência perfeita de Cristo, pois Jesus fez tudo conforme a vontade do Pai (Lc 22.42; Jo 4.34; 5.30; 6.38; Hb 10.7).

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VOLUME 2

A oferta de manjares (L v 2.1-16; 6.14-23; S116)

E diferente das outras quatro em cinco pontos: a) Não era uma vida. b) Não tinha sangue. c) Não recebia imposição de mãos. d) Não havia substituição. e) Não era pelo pecado. A oferta pacífica (Lv 3.1-17; 7.11-34; S185)

Diferente de todas as outras, porque, nela, o ofertante comia uma parte. Na de holocausto, tudo era queimado para Deus, porém, nesta, o sacerdote tirava uma parte para ele e seus filhos. Assim sendo, esta oferta representa a oferta pacífica — a comunhão com Deus. Nesta oferta, podia ser trazido para sacrifício: a) Um novilho ou novilha (3.1-5). b) Um cordeiro (3.6-11); uma cabra (3.12-16). Jesus Cristo cumpriu o sentido da oferta pacífica “porque ele é a nossa paz” (E f 2.14«). E “por ele é feito a paz pelo seu sangue” (Cl 1.20«). A oferta pelo pecado (L v 4.1-35; 5.1-13; 6.24-30; S122;2C0 5.21)

As ofertas de sangue têm duas classes: cheiro suave e res­

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En c i c l o p é d i a

tituição. Holocausto e oferta pacífica são tipos de ofertas que exalam cheiro suave para Deus. As ofertas pelo pecado e de culpa não são, porque são oferecidas quando há alguma ofensa contra a santidade de Deus. A oferta pacífica lembra a comunhão com Deus e, ao mesmo tempo, a comunhão de uns com os outros, porém, quanto à alma, só terá paz quando Cristo tomar o lugar do pecador. Vejamos alguns contrastes entre a oferta de pecado e a oferta de culpa: o pecado aqui significa impureza, fraqueza, condição. A culpa é um ato, uma dívida. O pecado é a natureza má, o erro. O pecado torna o pecador rejeitado por Deus pelo o que é. A culpa, pelo o que ele faz. Por meio do profeta Isaías, Deus diz: “Sois menos do que nada e a vossa obra é menos do que nada” (Is 41.24). Menos do que nada é quantidade negativa, como o exemplo de quem tem dívidas e não tem cobertura para estas dívidas, suas finanças são menos do que nada. A oferta de culpa (Lv 5.14-16; 6.7; 7.1-7; Sl 69)

A oferta de culpa apresenta o primeiro aspecto da obra de Cristo na cruz. Vem ao encontro do medo do pecador, que diz, ansioso: “Como me salvarei das consequências de meu pecado?”. Cada pecado é uma ofensa à majestade do céu, uma falta contra o governo santo de Deus. Mesmo que seja contra o homem, é primeiro contra Deus. Davi pecou contra Uriis, mas diz: “Contra ti somente pequei” (Sl 51.4«). 76

E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

Aspectos apologéticos A Igreja Católica instituiu o jubileu tirando o exemplo do texto bíblico em apreço. No jubileu, se proclamam as indulgências que podem ser plenárias ou parciais. Entretanto, não existe identidade entre o jubileu católico e o jubileu bíblico. A indulgência é a segunda galinha de ovos de ouro do catolicismo, sendo a primeira, 0 purgatório. As duas instituições são meios para arrecadar dinheiro dos devotos católicos. Tanto por uma como por outra cerimônia, entendem os católicos, obter situação melhor diante de Deus pelo cancelamento de pecados. Pelas indulgências, o cancelamento dos pecados dos vivos, enquanto que, pelo purgatório, o cancelamento dos pecados dos mortos, mediante os sufrágios das missas. E o chamado pecado de “simonia”, denominação tirada de Simão, o mago, que ofereceu dinheiro a Pedro para conseguir dele o dom da imposição das mãos para recebimento do batismo com o Espírito Santo. Mas, ao agir dessa forma, foi repelido por Pedro (At 8.18-23).

Aspectos históricos Levítico, por seu caráter de manual didático, destinado a orientar o trabalho sacerdotal dos descendentes de Levi,possui poucas narrativas de acontecimentos. Podemos chamá-lo de um “livro parado”, no sentido de que foi escrito não para contar história, mas, sim, para definir ações. Foi escrito

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En c i c l o p é d i a

por Moisés durante o período no Sinai, ou pouco depois. De qualquer forma, as informações históricas são insuficientes para fornecer qualquer data precisa.

78

estudos

de t e o l o g i a

C a p ít u l o 6

NÚMEROS

O título do livro em português remonta à designação arithmoi, que lhe foi conferida nas antigas traduções gregas.

Esta palavra que, em grego, significa “números”, foi aparentemente escolhido em referência aos censos dos capítulos 1 e 26 antes de Israel entrar em Canaã. Seu nome na Bíblia hebraica é tomado das palavras do primeiro versículo: bêmidbar, “no deserto”, que se harmoniza com o ambiente descrito

no livro. A maior parte de Números relata os anos da peregrinação, desde o momento em que Israel partiu do Sinai até que, com uma nova geração, chegou ao rio Jordão. Salvos do Egito, possuidores da lei, conduzidos por Moisés, olhando diariamente para o tabernáculo e, sobrenaturalmente, guiados pela “nuvem” e pela “coluna de fogo”, os israelitas deveríam ter marchado triunfantemente na perfeita vontade de Deus, mas, em vez disso, falharam repetidamente, como esse livro registra. Assim como em Israel cada pessoa tinha o seu lugar e a tarefa definitivamente designados para o bem-estar de toda

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a nação, também na Igreja cada membro do Corpo de Cristo tem seu lugar particular e sua função definida “para a edificação do corpo de Cristo” (ICo 12; E f 4.1-16). O livro de Números mostra a convicção sacerdotal de que a grande bênção que Deus derrama sobre o seu povo é o próprio fato de que, mesmo sendo Santo, o Senhor habita entre aqueles que são seus servos, seu povo.

Esboço de Números Preparação p a ra a viagem do Sinai ( 1.1 -

10 . 10 )

a) Censo do exército e distribuição das posições da marcha (1.1 -2.34). b) A enumeração dos levitas e a descrição dos seus deveres (3.1 - 4.49). c) A impureza é excluída do acampamento: leis da lepra; restituição por danos causados; julgamentos de mulheres acusadas de adultério (5 .1 -3 1 ). d) Nazireu (tipificando a vida dedicada): a bênção (6.1 - 27). e) Tesouros dedicados ao tabérnaculo pelas doze tribos (7.1-8.9). f) Os levitas santificados e instalados no seu ofício (8 .1 - 2 6 ). g) Observância da primeira páscoa anual (9.1 - 14). h) Seguindo a coluna de nuvens; os sinais das trombetas (9.15 - 10.10).

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D e Sinai até Cades-Barneia (10.11 -14.45)

a) Primeira etapa da viagem: começa a marcha (10.11 36). b) Primeira e segunda queixas em Taberá e Quibrote-Hataavá (as codornizes); setenta anciãos profetizam (11.1-35). c) Julgamento contra Arão e Miriã, por causa de terem se rebelado contra Moisés; Miriã é curada da lepra (12.1 - 16). d) A grande rebelião em Cades, depois do relatório dos dez espias (13.1 - 14.45). D e Cades-Barneia até as planícies de Moabe (15.1 -21.35)

a) Leis de ofertas de manjares e ofertas pelo pecado; a morte é castigo pela blasfêmia e pela violação do sábado; as orlas das vestes (15.1 - 41). b) A rebelião de Coré e a validez do sacerdócio arônico (16.1 - 17.13). c) O relacionamento entre sacerdotes e levitas; sua única propriedade em Canaã serão as ofertas e os dízimos (18.1-32). d) A água de purificação pela impureza (19.1 - 22). e) A morte de Miriã; a rocha ferida pela segunda vez; Edom proíbe a passagem; a morte de Arão (20.1 - 29).

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f) A sétima murmuração do povo e a serpente de bronze; a chegada a Moabe (21.1-20). g) As primeiras conquistas permanentes: a derrota de Siom e de Ogue (21.21-35). O encontro com os moabitas e Balaão

(22.1 - 25.18) a) Balaque contrata os serviços de Balaão (22.1 - 25.18). b) A tríplice bênção de Balaão, predizendo o triunfo de Israel (23.1 - 24.25). c) O pecado de Baal-Peor (25.1 - 18). Preparativos para a entrada em Canaã

(26.1-36.13) a) Planos para a conquista e a divisão da terra (26.1 27.23). b) Leis sobre sacrifícios e votos (28.1 - 30.16). c) A vingança contra os midianitas (31.1 - 54). d) A Transjordânia é distribuída entre Rúben, Gade e Manassés (32.1 - 42). e) Resumo das viagens do Egito até Moabe (33.1 -5 6 ). f) Planos para a divisão de Canaã (34.1 - 36.13)

Aspectos teológicos Números é uma demonstração histórica de como o Senhor lida com o seu povo. Esta demonstração é feita de diversos modos. Vejamos:

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a) O Senhor havia feito aliança com o seu povo e sempre se encontrava em seu meio, guiando-os, cuidando deles e protegendo-os. Apesar das queixas, da falta de fé e da ingratidão de Israel, Deus supria suas necessidades e os protegia de seus inimigos. O Senhor, em sua infinita misericórdia, proporcionou-lhes um grande líder e os salvou de todas as suas aflições.

b) Deus utilizou as experiências do deserto para disciplinar seu povo e desenvolver-lhe o caráter. Apesar de todos os benefícios com que o Senhor cumulava ao povo de Israel, eles se encontravam continuamente envoltos em desesperadas crises porque não queriam sujeitar-se a uma vida de jubilosa obediência à sua vontade. Deus disciplinava-os com o propósito de livrá-los de um espírito insensato de rebelião e orgulho. Era a disciplina de um pai amoroso.

c) Deus demonstrou que nada podia frustrar seus propósitos nem anular sua aliança com os patriarcas. Nem a infidelidade, nem os ataques das nações hostis, nem os estratagemas de um profeta assalariado puderam impedir a realização do plano de Deus. Israel entraria na terra prometida.

d) Para o crente, o livro de Números tem grande significado. A semelhança dos israelitas, o crente saiu do Egito, a terra de servidão e opressão, renasceu pelo sacrifício do Cordeiro e se encaminha para o cumprimento das promessas de Deus. Alas, tem de passar como peregri-

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no pelo deserto deste mundo antes de entrar na terra prometida (lPe 2.11; Hb 11.8-16). Pode aprender muito estudando os fracassos dos israelitas, as leis de santidade e a bondade de Deus narrados em Números. Apesar de conter a promulgação de muitas leis e a aplicação de outras, o foco de Números recai muito mais nos acontecimentos do que em seu aspecto didático. Deus é revelado muito mais pelo que Ele faz do que pelo que Ele fala.

Aspectos tipológicos Alguns tipos são encontrados em Números. Vejamos: A serpente de m etal (Nm 21.4-9)

O lugar em que estavam os israelitas no deserto devia ser perto do golfo de Aqaba, onde, ainda hoje, há serpentes e escorpiões que atacam quem passa por lá. Naquele tempo, como castigo da murmuração, Deus mesmo mandou serpentes em maior quantidade. Quando murmuravam, vieram serpentes atormentar e matar muita gente. Quando confessaram o pecado, Moisés orou por eles e Deus mandou o livramento, o remédio (v. 7-9). Sempre que o pecador confessa o seu pecado, recebe a graça de Deus, como está escrito: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar” (ljo 1.9«). Quando o filho pródigo disse: “Pai, pequei contra o céu e perante ti” (Lc 15.21«), foi recebido com festa pelo pai. O publicano da parábola não tinha relatório bom para apre­

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sentar a Deus, apenas disse: “O Deus, tem misericórdia de mim, pecador” (Lc 18.13$). Voltou para casa justificado. O malfeitor, que morreu ao lado de Jesus, reconheceu que, pelos seus feitos, só merecia o castigo da cruz. Depois de fazer esta confissão, apelou para Jesus, dizendo: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23.42$). Ouviu a resposta: “Hoje estarás comigo no paraíso” (v. 43$). No momento em que o povo de Israel disse: “Havemos pecado [...] contra o Senhor e contra ti...” (v. 7a), Deus enviou sua providência; Moisés recebeu ordem de Deus para fazer uma serpente de metal e colocá-la numa haste. Quem olhasse para a serpente ficaria curado, seria livre do veneno fatal. Colocada num mastro elevado, poderia ser vista de qualquer parte do acampamento. Seria livre da morte quem a olhasse, em obediência ao Senhor que tinha poder para curar. Em seu encontro com Nicodemos, Jesus declarou: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14,15). Toda a humanidade foi atingida pela serpente que levou Adão e Eva a pecar contra Deus, porém, todo aquele que olhar para Jesus, pela fé, recebe a vida. Aquele que foi levantado na cruz, fazendo-se pecado por nós, é o único que pode nos livrar da condenação do pecado. O profeta Isaías anteviu este dia e proclamou: “Olhai para mim, e sereis salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” (45.22).

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No tempo dos reis, Ezequias, fazendo reformas religiosas e corrigindo os costumes, mandou destruir aquela serpente de metal, porque o povo estava prestando culto a ela (2Rs 18.4). Não tinha valor espiritual, foi só sinal para uma época, um tipo do Filho de Deus crucificado. O florescim ento da va ra deA rã o (N m 7)

Outro tipo se encontra em Números 17, que fala da ressurreição do Senhor Jesus, é o florescimento da vara de Arão. As doze varas foram depositadas diante do Senhor. Todas estavam mortas, sem vida; e, quando o sol se levantou, acontecera um milagre maravilhoso: uma das varas, na qual estava escrito o nome de Arão, ficara cheia de vida. Brotos, flores e frutos tinham aparecido. A vara de Arão foi mostrada ao povo, o milagre foi atestado por muitas testemunhas. Da mesma forma, em Atos dos Apóstolos encontramos o Senhor “depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus” (1.3). E mais, em Atos: “A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos” (10.40,41). Deus fez a vara de Arão brotar, para comprovar que ele era o escolhido de Deus, e Jesus Cristo, nosso Senhor “mediante

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o Espírito de santidade, foi declarado Filho de Deus com poder, pela sua ressurreição dentre os mortos” (Rm 1.4). Depois de a vara de Arão ter sido mostrada ao povo, foi

guardada na presença do Senhor; da mesma forma, Jesus “foi visto durante muitos dias por aqueles que subiram com ele da Galileia a Jerusalém”, e, depois, “se assentou à direita da majestade nas alturas”.

Aspectos apologéticos Os católicos romanos se apoiam neste livro para funda-

mentar sua doutrina de adoração a imagens de escultura. Justificam-se declarando que Deus mandou Moisés fazer uma

serpente de metal para ser adorada. Entretanto, quando se analisa o que realmente as Escrituras dizem, o que se verifica é que a defesa católica não se sustenta. A Bíblia não declara que a imagem da serpente foi levantada para ser adorada. Eles apenas olhavam para a serpente sobre a haste: “E disse o S e n h o r a Moisés: Faze uma serpente ardente e põe-na sobre

uma haste; e será que viverá todo mordido que olhar para ela.

E Moisés fez uma serpente de metal e pô-la sobre uma haste; e era que, mordendo alguma serpente a alguém, olhava para a serpente de metal e ficava vivo” (Nm 21.8,9). Não havia aqui qualquer espécie de culto incluído. Posteriormente, quando o povo fez da imagem da serpen-

te objeto de adoração com o título de Neustã (deusa de metal), o ídolo foi destruído pelo rei Ezequias (2Rs 18.4), como uma prova de que o uso de imagens para o culto foi definiti­

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vamente proibido por Deus, mesmo que esta imagem, em algum momento, tenha sido esculpida por orientação divina. Jesus se referiu a este fato, dizendo: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14,15), demonstrando que aquele fato foi apenas um símbolo, para que o povo pudesse olhar e ser curado.

Aspectos históricos O título do livro, em hebraico, é bastante sugestivo. Bedmidhbar (“no deserto”) reflete melhor o caráter do livro, pois relata a história das peregrinações de Israel desde o Sinai até a chegada à margem esquerda do rio Jordão. Abarca um espaço de quase trinta e nove anos e forma um elo histórico entre os livros de Êxodo e Josué. Números é uma miscelânea de vários acontecimentos: aspectos históricos da peregrinação de Israel no deserto; leis para Israel, de caráter permanente; e regras transitórias válidas para os hebreus até que chegassem a Canaã. A história e as leis são misturadas em partes aproximadamente iguais em extensão. As exigências das situações vividas davam origem às novas leis. Considera-se que Números está enfocado para os aspectos de serviço e conduta. Myer Pearlman observa: “Em Êxodo, vimos Israel redimido; em Levítico, vimos Israel em adoração; e, agora, em Números, vemos Israel servindo”.3 Em

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outras palavras, nos livros de Êxodo e Levítico, encontramos a teoria dada por Deus. Em Números, vemos Israel aprendendo-as. Diferente de Levítico, ou mesmo de Êxodo, Números é bastante dinâmico. De todos os livros que enfocam o período

de Israel no deserto, este é, sem dúvida, o mais abrangente historicamente. Narra a extensa peregrinação e descreve os inúmeros incidentes ocorridos com o povo. As diversas manifestações de rebeldia, como no caso das codornizes, no capítulo 11, a rebeldia de Miriã e Arão, no capítulo 12, e a rebelião de Coré, Data e Abirão, no capítulo 16. Ao todo, foram sete manifestações de murmuração encontrada entre o povo. Além disso, temos a narrativa de Cades-Barneia, um mar-

co divisor nessa fase. A investigação e o relatório dos espias, nos capítulos 13 e 14, vão mostrar como estava o coração do povo. A história de Balaque e Balaão, nos capítulos 22 a 25, é repleta de ensinos morais e espirituais, traduzindo a importância de Israel entre as nações de uma forma peculiar e revelando muitos aspectos do caráter de Deus. Números aborda, também, a questão do sucessor de Moi-

sés, um ponto de extrema importância para o empreendímento divino. Todo o plano poderia falhar, agora que Moisés chegava aos cento e vinte anos, e necessitava de alguém à altura que o substituísse naquela missão. Havia chegado para Moisés o momento de morrer. Quando feriu a penha duas

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vezes ao invés de falar, foi-lhe retirado o direito de entrar na terra prometida. Moisés submeteu-se ao juízo de Deus e escolheu seu substituto para fazer o povo herdar a promessa. Moisés não procurou instalar um de seus filhos, Gérson ou Eliezer. Não confiava em seu próprio raciocínio para estudar a situação e escolher um homem, mas pediu a direção de Deus. Pediu que Deus pusesse “um homem que saia diante deles, e que entre diante deles”, uma expressão hebraica que se aplicava a um homem capaz de começar e terminar, com êxito, as tarefas que empreendesse. Deus designou Josué, “homem em quem há o espírito”. Fazia muito tempo que Josué havia estado com Moisés, ajudando-o como seu braço direito. Agora, assumiu sua responsabilidade. Por que era necessário que Eliezer confirmasse a eleição do novo líder Josué? Isto foi ordenado para dissipar toda e qualquer dúvida de que a eleição vinha de Deus. Moisés honrou a Josué e reconheceu, em público, que ele era o dirigente escolhído por Deus.

Aspectos arqueológicos Jerico (Tell al-Sultan) é uma das mais antigas cidades do mundo (datando da idade da pedra), segundo a arqueóloga Kathleen Kenyon, que a estudou em 1953. Desde as primeiras pesquisas arqueológicas, no início do século 20, surgiram evidências conclusivas de muralhas derrubadas. Há um único ponto onde ainda existe uma ruína da imponente muralha dupla (datada da idade do bronze): uma

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torre de mais de oito metros de altura (a parte superior já não existe), que se encontra na parte Noroeste (a mais alta) da muralha de Tell al-Sultan. Os arqueólogos Ernst Sellin e Carl Watzinger, que escavaram Jerico entre 1907 e 1909, encontraram os fundamentos da muralha dupla, a parte mais antiga (sólidos alicerces de dois metros de espessura) envolvendo a mais recente (aproximadamente, quatro metros de espessura), ambas da idade do bronze. As duas partes da muralha eram separadas por um espaço de, aproximadamente, cinco metros. Como a cidade era pequena, casas foram construídas nesse espaço entre as partes da muralha. Eram visíveis na escavação grossas camadas de cinzas e os escombros das habitações da muralha. John Garstang, escavando Jerico (1929-1936), concluiu que a cidade foi destruída por volta de 1400 a.C. Durante a escavação, a evidência de que a muralha tinha caído de dentro para fora deixou Garstang tão impressionado que ele fez com que o relatório da pesquisa fosse assinado por dois outros membros da equipe, além dele mesmo. Garstang trouxe à luz grandes quantidades de madeira que não foram queimadas sob toneladas de tijolos, depósitos de grãos que não foram saqueados, pedras esmiuçadas e evidências de que tetos de casas desabaram sobre os utensílios domésticos, mas, também, de tijolos enegrecidos, cinzas e madeiras carbonizadas, indicando que as casas, ao longo da muralha dupla, foram queimadas até o alicerce. Pode-se afirmar, com certeza, que, após a queda da muralha, a cidade foi incendiada pelos israe­

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litas (Js 6.24), que não se apropriaram de despojos (Js 6.18), o que se encontra em exata harmonia com o relato bíblico.

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DEUTERONÔMIO

Deuteronômio é o quinto e último livro do Pentateuco ou a “quinta parte da Torá”. Seu título, como os demais livros de autoria mosaica, chegou até nós por meio da Septuaginta (LXX), onde deuteronomion, “segunda lei”, foi retirado. Na tradição judaica, o título é simplesmente “palavras" (debarim), conforme aparece no primeiro verso de abertura. Esse livro começa com uma revisão da história de Israel, depois desenvolve algumas das leis básicas dos livros precedentes e conclui com uma série de profecias, estendendo-se pela história de Israel até o seu retorno final à Palestina. O livro consiste, principalmente, dos discursos finais de Moisés, feitos nas planícies de Moabe, do lado oposto da Palestina, um pouco antes de sua morte. E mencionado muitas vezes no Novo Testamento e foi citado por Cristo mais do que qualquer outro livro do Antigo Testamento (Mt 19.18; Mc 10.3; Jo 1.17; 5.46; At 3.22; Rm 10.5; ICos 9.9). Deuteronômio pode ser sumarizado como: um Deus, um povo, um santuário. Israel é o povo santo (7.6; 14.2) que expressa sua fidelidade ao Deus único. A proximidade de Deus se encontra in­

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timamente relacionada com sua presença no acampamento, ou melhor, agora na terra, o que o representava acessível em graça e misericórdia, apenas quando a nação obedecia aos seus mandamentos. O último capítulo sobre a morte de Moisés é um apêndice escrito mais tarde por Josué, Eleazar ou Samuel.

Esboço de Deuteronômio O primeiro discurso: revista histórica (1.1 - 4.43) a) A orientação graciosa de Deus, de Horebe até Moabe (1.1 - 3.29). b) A nova geração é admoestada a guardar a lei (4.1 - 40). c) Escolha das cidades de refúgio da Transjordânia (4.41 -4 3 ). O segundo discurso: leis pelas quais Israel deve viver (4.44 - 26.19) a) Mandamentos básicos (4.44 - 11.32). ■ Prefácio: as circunstâncias históricas (4.44 - 49). • O decálogo e o amor a Deus, que devem ser ensinados à posteridade (5.1 - 6.25). • A firme obediência e a lembrança constante e grata da maneira de Deus tratar com o seu povo (7.1 - 11.32). b) Estatutos para o culto e para uma vida santificada (12.1 - 16.22).

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• O culto genuíno e salvaguardas necessárias contra a idolatria (12.1 - 13.8). • Regras tratando de alimentos, dos sábados e dos dias de festa (14.1 16.22 ‫)־‬. c) Julgamentos: o tratamento de ofensas específicas (17.1 -26.19). • Morte pela idolatria; o procedimento do apelo; as responsabilidades de um rei (17.1 - 20). ■ As penalidades pela bruxaria e pela falsa profecia; o verdadeiro profeta (18.1 - 22). ■ Cidades de refugio por homicídios acidentais; penalidades pela fraude e pelo perjúrio (19.1 - 21). ■ Regras para as batalhas e os cercos (20.1 - 20). • Cuidado pelos mortos; esposas cativas; as heranças e a disciplina da família; a remoção do cadáver da forca (21.1-23). • Propriedades perdidas; proíbe-se o travestir; proibida a mistura de sementes ou de diversos animais (22.1 -

22) • Leis do casamento, castidade, cuidados corporais, limpeza (22.13 - 24.5). • Leis de justiça econômica e social (24.6 - 25.19). ‫ ־‬Leis de mordomia, de ofertas e de dízimos (26.1 - 19). O terceiro discurso: advertência epredição (27 .1 - 30 .20 .

a) A lei deve ser lavrada em inscrições e suas sanções citadas no monte Ebal (27.1-26). ESTUDOS DE T EOLOGIA

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b) Condições para a bênção e para o castigo da nação — predição de futuros julgamentos contra Israel (28.1 -

68). c) Os benefícios recebidos de Deus sendo relembrados, passados em revista; exortações à fidelidade (29.1 30.20). A lei escrita entregue aos cuidados dos líderes de Israel (3 1 .1 -3 0 ) O cântico de Moisés: a responsabilidade de Israel perante a aliança (32.1-43) A última recomendação e a despedida (32.44 - 33.29)

a) A última exortação de Moisés (32.44 - 47). b) Moisés é advertido da morte que se aproxima (32.48 -5 2 ). c) A bênção final de Moisés sobre Israel, tribo por tribo (33.1 -2 9 ). A morte de Moisés e seu obituário (3 4 .1 -1 2 )

Aspectos teológicos Podemos resumir o conteúdo teológico deste livro focando

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os temas encontrados nos discursos proferidos por Moisés. O primeiro discurso, iniciado na referência 1.6 e concluído na referência 4.43, foca, principalmente, os atos de Deus. Era importante que a nova geração, que era infante quando ocorreu, tivesse uma compreensão das ações de Deus em seu favor. Relembrar os atos de Deus era crucial naquele momento. O segundo discurso, de 4.44 a 26.19, está ligado ao próprio nome do livro. Deuteronômio significa “segunda lei”, não no sentido de outra, mas de repetição da primeira. Também, era importante não somente relembrar os atos de Deus, mas recordar suas leis, que precisavam ser guardadas com zelo. Também, outros aspectos que haviam ficado fora dos textos legais, anteriormente, precisavam ser desenvolvidos. Por fim, o último grupo de sermões estava ligado à ideia de aliança. Esta aliança ligava Israel a Deus de tal forma que todos os atos do primeiro teriam suas consequências. Não era um povo qualquer com um Deus qualquer que estava ali, mas, sim, um povo peculiar escolhido pelo Deus verdadeiro. Esta relação implicava em bênçãos e em maldições resultantes do comportamento da nação.

Aspectos tipológicos Moisés foi o primeiro a profetizar a vinda do Messias, um Profeta como o próprio Moisés (18.15). Notadamente, Moisés é a única pessoa com quem Jesus se comparou, dizendo: “Porque, se vós crésseis em Moisés, crerieis em mim, porque de mim escreveu ele. Mas, se não credes nos seus escritos,

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como crereis nas minhas palavras?” (Jo 5.46,47). Os tipos e sombras do Antigo Testamento foram cumpridos no Novo Testamento. Hebreus consiste, quase que inteiramente, em referências ao Antigo Testamento: Cristo como a realidade, revela ser melhor do que as sombras, melhor do que Moisés, do que Josué, do que Abraão, do que Arão, do que o primeiro tabernáculo, do que os sacrifícios levíticos, do que a totalidade de nuvem de testemunhas na galeria dos quadros da fé e, finalmente, seu sangue revela ser melhor do que o sangue de Abel.

Aspectos apologéticos Os espíritas justificam a prática da mediunidade ou evocação de mortos dizendo que Moisés ordenou a proibição da prática porque não queria que o povo de Israel copiasse o exemplo de práticas dos cananeus por motivos patrióticos. Entretanto, Deus proibiu a consulta aos mortos e outras práticas esotéricas porque, realmente, a prática de mediunidade possibilitava a comunicação com espíritos demoníacos (Is 8.19,20; 1C0 10.20,21). O islamismo interpreta algumas profecias deste livro com a pessoa de Maomé. Entretanto, o Novo Testamento deixa claro que as profecias desse livro se relacionam com a pessoa de Jesus, dado que o texto fala que esse profeta seria tirado dentre os filhos de Israel. Certa ocasião, durante seu ministério, Jesus afirmou aos judeus, dizendo: “Se crésseis em Moisés, crerieis em mim, porque de mim escreveu ele” (Jo 5.46).

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Aspectos históricos P o d e ria m o s c h a m a r o liv ro d e D e u te r o n ô m io d e “S e rm õ e s d a fro n te ir a ”. M o is é s tin h a , e n tã o , c e n to e v in te a n o s, e a te rr a p r o m e tid a e sta v a à su a fre n te . E le tiro u os isra e lita s d a e sc ra v id ã o n o E g ito e os g u io u p e lo d e s e rto p a r a re c e b e r a lei de D e u s n o m o n te S in a i. P o r c a u sa d a d e s o b e d iê n c ia d e Is ra e l e m se re c u sa r a e n tr a r n a te rr a d e C a n a ã , os isra e lita s p e ra m b u la r a m se m d e s tin o n o d e s e rto p o r m u ito s a n o s. A g o ra se a c h a v a m a c a m p a d o s n a fro n te ir a o rie n ta l d e C a n a ã , n o vale d e fro n te d e B e te -P e o r, n a re g iã o m o n ta n h o s a d e M o a b e , d e v ista p a ra J e ric o e p a ra a p la n íc ie d o J o rd ã o . Q u a n d o os isra e lita s se p re p a ra v a m p a ra e n tr a r n a te rr a p ro m e tid a , d e p a ra ra m - s e c o m u m m o m e n to c ru c ia l e m su a h is tó ria — n o v o s in im ig o s , n o v as te n ta ç õ e s e n o v a lid e ra n ç a . M o is é s r e u n iu o g ru p o p a r a le m b rá - lo s d a fid e lid a d e d o S e n h o r e p a ra e n c o ra já -lo s a se re m fiéis e o b e d ie n te s ao seu D e u s q u a n d o p o s s u ís s e m a te r r a p ro m e tid a . E n tr e os p r o p ó sito s d esses se rm õ e s, e stav a m :

a)

P re p a ra r o p o v o p a ra a c o n q u is ta d e C a n a ã . D e u s h a via sid o fiel e m d a r a Is ra e l v itó ria a p ó s v itó ria so b re seus in im ig o s . A p re s e n ç a e o p o d e r d e D e u s e ra m a g a r a n tia d e q u e E le lh e s e n tre g a ria a te rra . M o is é s a n im a -o s re p e tin d o , in ú m e ra s v ezes, a frase: “E n tr a i e p o s s u í a te rr a ”, e a d ic io n a o u tra s ta n to , d iz e n d o : “A te rr a q u e o S e n h o r, te u D e u s , te d e u ”.

b)

A p re s e n ta r os p re c e ito s d a lei e m te rm o s p rá tic o s e esp iritu a is p a ra serem ap licad o s à n o v a v id a e m C a n a ã .

e s t u d o s

de

T

e o l o g i a

99

En c ic l o p é d i a

c)

D a r a Isra e l in stru ç õ e s e ad v e rtên cias q u a n to aos d e ta lh es d a c o n q u ista , aos re q u isito s d os fu tu ro s reis, co m o d is tin g u ir e n tre p ro fe ta s v erd ad eiro s e p ro fe ta s falsos, as b ê n ç ã o s q u e a o b e d iê n c ia tra z e os m alefícios d a d e so b ed iên c ia .

d)

E s tim u la r le a ld a d e ao S e n h o r e à su a lei. P o d e -s e d iz e r q u e o e n s in o d e D e u te r o n ô m io é a ex p o siçã o d o g ra n d e m a n d a m e n to , q u e d iz: “A m a rá s , p o is o S e n h o r, te u D e u s , d e to d o o te u c o ra ç ã o , e d e to d a a tu a alm a, e d e to d o o te u p o d e r ” ( D t 6 .5 ).

Aspectos arqueológicos H á cerca d e 5 5 0 0 a n o s, a e s ta tu ra h u m a n a e ra s o b re m o d o elev ad a. H a v ia h o m e n s n a M e s o p o tâ m ia cu ja e s ta tu ra u ltra p assav a a q u a tro m e tro s . E r a m os p rim e iro s g ig a n te s c h a m a d o s p e la B íb lia d e n efilin s. N o s fin ais d o s a n o s 5 0 , d u r a n te a c o n s tru ç ã o d e u m a estr a d a e m H o m s , n o v ale d o E u fr a te s , S u d e s te d a T u rq u ia , re g iã o p ró x im a d e o n d e v iv eu N o é a p ó s o d ilú v io , fo ra m e n c o n tra d a s v árias tu m b a s d e g ig a n te s . E la s tin h a m q u a tro m e tro s d e c o m p r im e n to e, d e n tr o d e d u a s d elas, e sta v a m ossos d a coxa (fê m u r h u m a n o ) m e d in d o ce rca d e 12 0 c e n tím e tro s d e c o m p rim e n to . C a lc u la -s e q u e esse h u m a n o tin h a u m a altu r a d e 4 ,5 m e tro s e p és d e 53 c e n tím e tro s . O u tr o s g ru p o s d e g ig a n te s , c h a m a d o s d e a n a q u in s e re fa in s (o u e m in s ), se in s ta la ra m n a P a le s tin a , e n tre o m a r

10Ü

E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME

2

M o r t o e a faix a d e G a z a . O s isra e lita s m a ta r a m to d o s os g ig a n te s d e ssa re g iã o , s o b ra n d o a p e n a s o re i O g u e (n a re g iã o N o r te d a a tu a l J o rd â n ia ) e a lg u n s q u e fo ra m p a ra a faix a d e G a z a (re g iã o e n tre o m a r M e d ite r r â n e o e a c id a d e d e G a z a ).

E

s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

101

En c i c l o p é d i a

Referências D O C K E R Y , D a v id S. M anual bíblico Vida Nova. S ão P a u lo : E d iç õ e s V id a N o v a , 2 0 0 1 . D O C K E R Y , D a v id . M anual bíblico. S ão P a u lo : E d ito r a V id a N o v a , 2 0 0 1 . E c le s ia s te s / R e i S a lo m ã o B e n D a v id . S ão P a u lo : E d ito r a M a a y a n o t, 1 9 9 8 D is p o s iç ã o d o h o m e m m o d e rn o . 4 a ed . R io d e Ja n e iro : C P A D , 1999. E L L I S E N , S ta n le y A . Conheça melhor 0 Antigo Testamento. S ão P a u lo : E d ito r a V id a , 1 9 9 9 . H A L L E Y , H e n r y H a m p to n . Manual bíblico de Halley. São Paulo: E d ito ra V ida, 2001. H I L L , A n d r e w E ; W A L T O N , J. H . Panorama do Antigo

Testamento. S ão P a u lo : E d ito r a V id a , 2 0 0 6 . H O F F , P a u l. O Pentateuco. S ão P a u lo : E d ito r a V id a , 1993 __________ . Os livros históricos. S ão P a u lo : E d ito r a V id a , 1996. H O U S E , P au l. Teologia do Antigo Testamento. S ão P au lo : V id a , 2 0 0 6 . J O S E F O , F láv io . História dos hebreus. R io d e Ja n e iro : CPA D . M A L A N G A , E lia n a M a la n g a . A Bíblia hebraica como obra

aberta‫׳‬, u m a p ro p o s ta in te rd is c ip lin a r p a ra u m a se m io lo g ia b íb lic a . S ão P a u lo : H u m a n ita s , 2 0 0 5 . M A L T A , Is m a r V ie ira . Caminhando pela Bíblia. S ão P a u lo: E d ito r a M e n s a g e m p a ra T o d o s . s.d. 102

E s t u d o s de t e o l o g i a

VOLUME 2

P E A R L M A N , M y er .Através da Bíblia livropor livro. São P au 10: E d ito ra V ida, 1996.

__________. Salmos·, o ra n d o co m os filhos d e Israel. R io de Jan eiro : C P A D , 1996. __________. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. S ão P au lo : E d ito ra V id a , 1999. P F E I F F E R , C h a rle s F. e H A R R I S O N , E v e r e tt F. Co-

mentário bíblico Moody. S ão P au lo : I B R , V ol. 3 ,1 9 9 5 . P H I L L I P S , J o h n . Explorando as Escrituras: u m a v isão g e ra l d e to d o s os livros d a B íb lia. 2 a ed . R io d e J a n e iro : C P A D , 2005.

S H E D D , R u ssel. 0 novo comentário da Bíblia. E d ito r a V id a N o v a , 1 9 9 7 . S O A R E S , E s e q u ia s . Visão panorâmica do Antigo Testamen-

to‫׳‬, a fo rm a ç ã o , in sp ira ç ã o , c â n o n e c o n te ú d o d e seus livros. R io d e Ja n e iro , 2 0 0 3 . W A L T O N J o h n . O Antigo Testamento em quadros. São Paulo: E d ito ra V ida, 2001.

ESTUDOS DE TEOLOGI A

103

H —‫! *׳‬.— * - ■‫ י‬- * -

i s t ó r i a

d e

I

s r a e l

VOLUME 2

I

n t r o d u ç ã o

H á trê s d e n o m in a ç õ e s d ife re n te s p a ra a d e s c e n d ê n c ia d e A b ra ã o . V ejam o s

Hebreus, p ro v a v e lm e n te p o r A b ra ã o ser d e s c e n d e n te d e É b e r ( G n 1 1 .1 4 -1 7 ).

Israelitas, re la tiv o a Isra e l, n o m e re c e b id o p e lo p a tria rc a Jac ó , ap ó s o seu e n c o n tro c o m D e u s n o v a u d e J a b o q u e ( G n 3 2 .2 7 ,2 8 ). E , p o r ú ltim o , judeu, re la tiv o à tr ib o d e J u d á , u m d o s d o z e filh o s d e Ja c ó , ao q u a l fo i p r o m e tid o o c e tro d o re in o ( G n 4 9 .1 0 ). S e n d o assim , n ã o h á q u a lq u e r d ife re n ç a n a d e sig n a ç ã o desse p o v o . O a p ó s to lo P a u lo u s o u p a ra si as trê s d e n o m in aç õ es. V eja m o s os te x to s d e F ilip e n s e s 3 .4 , R o m a n o s 11 .1 e I C o r ín tio s 9 .2 0 . E sse fo i o p o v o e sp e cial d e D e u s , c o m o q u a l o S e n h o r fiz e ra u m p a c to p o r m e io d e A b ra ã o ( G n 15 e 1 7 ), p a ra lh e d a r a te rr a d e C a n a ã e a b e n ç o a r, p o r esse p o v o , to d o s os h a b ita n te s d a te rr a ( G n 1 2 .1 -3 ). O p ro p ó s ito d e ssa e le iç ã o fo i u sa r Isra e l c o m o u m c a n a l p a ra e s p a lh a r su a salv ação p o r to d o s os c a n to s d a te rra . A s S a g ra d a s E s c ritu ra s fo ra m , p r im e iro, c o n fia d a s a eles (R m 3 .2 ). A eles, p rim e iro , c o u b e a a d o ç ã o de filh o s, as m a n ife s ta ç õ e s d a g ló ria d e D e u s , as a lia n ç a s, a

ESTUDOS DE TEOLOGI A

107

En c i c l o p é d i a

lei d iv in a , o c u lto e as p ro m e ssa s (R m 9 .4 ). T a m b é m , co u b e a eles a ta re fa d e ser o p o v o d o M e ssia s, o U n g id o (R m 9.5 ). T u d o isso os to r n a c o n s ta n te o b je to d a p re o c u p a ç ã o d e D e u s e m to d a a B íb lia , to r n a n d o o b rig a tó rio e s tu d a r e e n te n d e r o p la n o d e D e u s p a ra esse p o v o . P o d e m o s re s u m ir a q u e s tã o te o ló g ic a re fe re n te aos ju d e u s e m u m a p e rg u n ta : “H á , a in d a , a lg u m p ro p ó s ito d e D e u s , esp ecífico p a ra esse p o v o , ap ó s o s u rg im e n to d a Ig re ja c ristã o u eles se rv ira m a p e n a s a té o in íc io d e s ta era, n ã o h a v e n d o m ais sig n ific a d o p a ra su a e x istê n c ia c o m o n a ç ã o ? ”. A lg u n s a firm a m q u e a n a ç ã o d e Isra e l tev e u m p a p e l p ro v isó rio c o m o in s tr u m e n to d o s p ro p ó s ito s d e D e u s . E esse p a p e l te r m in o u c o m a v in d a d o M e ssia s. A o re je ita r Je su s, Is ra e l te ria , d e fin itiv a m e n te , p e rd id o q u a lq u e r ex c lu siv id ad e d ia n te d e D e u s . A m e n o s q u e eles se c o n v e rta m e se in te g re m à Ig re ja , n ã o h á n e n h u m a o u tra p e rsp e c tiv a d e n tr o d o p la n o d e D e u s . P a ra esses, a Ig re ja seria a g o ra o “Isra e l d e D e u s ”. P o r isso, as p ro m e ssa s n o A n tig o T e s ta m e n to d irig id a s a esse p o v o n ã o são lite ra is. S ão , g e ra lm e n te , e sp iritu a liz a d a s . N ã o ex iste, n o fu tu ro , a lg u m p riv ilé g io , a lg u m a d is tin ç ã o e m re la ç ã o aos d e m a is. O s ju d e u s p a s s a ra m a ser ig u ais a to d o s os p o v o s d a te rra . D o o u tro lad o , estã o aq u e le s q u e o lh a m p a ra a a lia n ç a d e D e u s c o m Isra e l c o m o alg o in c o n d ic io n a l. E m b o r a , q u a n to ao e v a n g e lh o , eles sejam in im ig o s , re c e b e m u m a m o r d istin to d o P ai d e v id o à a lia n ç a c o m os p a tria rc a s (R m 1 1 .2 8 ).

108

estudos

de t e o l o g i a

VOLUME 2

Is to se to r n a r á e v id e n te n o fu tu ro . Q u a n d o a Ig re ja fo r tira d a d a te rra , Isra e l re a s s u m irá seu p a p e l e, d u r a n te o m ilê n io , te rá u m a p o siç ã o d is tin ta . E ssa v isão te o ló g ic a p o sitiv a q u a n to aos ju d eu s fo i re a lç a d a p r in c ip a lm e n te p e la re sta u ra ç ã o d a n a ç ã o de Isra e l n a P a le stin a . S e u re to r n o à te r r a e a re c o n s tru ç ã o d a m e sm a , a p e sa r d e to d o s os d ese jo s c o n trá rio s , o b rig a ra m a te o lo g ia a re a liz a r u m a re v isão d e seus c o n c e ito s.

E s t u d o s de T e o l o g i a

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Capítulo l AS ORIGENS

A s o rig e n s m ais re m o ta s d o p o v o h e b r e u (isra e lita ) a in d a são d e s c o n h e c id a s . A B íb lia S a g ra d a c o n tin u a se n d o a p r in cip al fo n te p a ra os e s tu d o s d esse po v o . A s o rig e n s c o m e ç a ra m c o m iV braão, ch e fe d e u m a trib o d e p a s to re s s e m in ô m a d e s q u e, a c o n s e lh a d o p o r D e u s , d e ix o u a c id a d e d e U r d o s C a ld e u s, n a M e s o p o tâ m ia , p ró x im a às m a rg e n s d o rio E u fra te s , d irig in d o -s e p a ra H a r ã e, d e p o is, fo i-s e e sta b e le c e n d o n a te r ra de C a n a ã , c o sta o rie n ta l d o M e d ite r r â n e o (a tu a l Isra e l). A M e s o p o t â m i a f o i b e r ç o d e h ttp ://w w w .a ir to n jo .c o m / h is to r ia 0 5 a .h tm c iv iliz a ç õ e s a n t i q u í s s im a s e i m p o r t a n t e s , c o m o o s s u m é r io s , o s a c á d io s , o s a s s ír io s e o s b a b i l ô n io s . O s s u m é r io s c o n s t r u í r a m a s u a c iv iliz a ç ã o n a B a ix a M e s o p o t â m i a , e n t r e o s a n o s 2 8 0 0 e 2 3 7 0 a .C ., m a is o u m e n o s . A s e s c a v a ç õ e s f e ita s e m U r u k r e v e la r a m o u s o d a e s c r ita c u n e if o r m e (s in a is e m f o r m a d e c u n h a ) d e s d e o in íc io d o 3° m ilê n io . O s s u m é r io s i n v e n t a r a m a e s c r ita . A b r a ã o , a o c o n t r á r i o d e s e u p a i e, t a m b é m , d e m u i to s d e s u a é p o c a , a c r e d ita v a n u m ú n i c o D e u s , C r i a d o r d o m u n d o , in v is ív e l, e q u e lh e h a v ia f e ito u m c h a m a d o e s p e c ia l. C o m o r e c o m p e n s a à o b e d i ê n c ia e p o r s u a fé ,

ENCI CLOPÉDI A

A b r a ã o r e c e b e u d e D e u s a p r o m e s s a d e q u e a s u a f a m ília s e r ia a o r i g e m d e u m p o v o d e s t i n a d o a p o s s u ir a t e r r a d e C a n a ã , o n d e , s e g u n d o a B íb lia , m a n a v a l e ite e m e l.

112

E s t u d o s de T e o l o g i a

Capítulo 2 A FORMAÇÃO DA NAÇÃO

E sse p e r ío d o vai d e sd e a c h a m a d a d e A b ra ã o , e m 2 0 0 2 a .C ., até o seu e s ta b e le c im e n to n a te rra d e C a n a ã , p o r v o lta de 1 5 0 0 a .C . D u r a n te esse p e río d o , n ã o p o d e m o s d iz e r q u e h a v ia u m a n a ç ã o n o s e n tid o ex a to d o te rm o . P a ra q u e h a ja u m a n a ç ã o , são n e c e ssá rio s p e lo m e n o s trê s e le m e n to s : u m p o v o c o m u m a c u ltu ra ú n ic a , leis q u e o r e g u la m e n te m e u m te r r itó r io p ró p rio . E sse s e le m e n to s fo ra m -s e u n in d o n o d e c o rre r d esse p e r ío d o até c o m p le ta r-s e . N ã o p o d e m o s d iz e r q u e A b ra ã o , Is a q u e e Ja c ó fo rm a ra m u m a n aç ão . E le s a p e n a s e s ta b e le c e ra m o p e río d o p a tria rc a l n o p ro c e sso fo rm a tiv o d a n aç ão . O s trê s p rim e iro s c h e fe s (líd eres) d o p o v o is ra e lita fo ra m : A b ra ã o , Is a q u e e Jacó . E sse s trê s h o m e n s n ã o p a ssa v a m d e b e d u ín o s n o d e se rto , in d o d e u m lu g a r p a ra o u tro . M e s m o os d o z e filh o s Jac ó , e m b o ra tiv e sse m se m u ltip lic a d o , n ã o p a ssa v a m d e u m g r u p o a m ais n a q u e le e m a r a n h a d o d e p o v o s q u e era a P a le s tin a d a q u e la ép o c a . O p o v o só fo i se m u ltip lic a r e su rg ir, d e fo rm a m ais n u m e ro s a , n o E g ito . A li, su a c u ltu ra e c o s tu m e s fo ra m se n d o d e fin id o s. A o fin al d e q u a tro c e n to s a n o s, era u m p o v o

En c i c l o p é d i a

n u m e ro s o , m as n ã o u m a n ação . O s e g u n d o p asso só seria d a d o ap ó s su a lib e rta ç ã o p o r M o isé s. O s h e b re u s v iv e ra m p a c ific a m e n te n o E g ito p o r g eraçõ es. M a s , u m F a ra ó se in q u ie to u , d e v id o ao a u m e n to p o p u la c io n a l d o s isra e lita s e, e n tã o , d e c id e to r n á - lo s e sc ra\ros e, p o r c o n ta d isso , m a n d a m a ta r to d o s os m e n in o s re c é m -n a s c id o s . O r a , n e ssa é p o c a , n a sc e , n u m a fa m ília isra e lita , o p e q u e n o M o is é s . P a ra salv á-lo , su a m ã e o a c o m o d o u n u m a p e q u e n a ce sta d e p a p iro e o e s c o n d e u e n tre os ca n iç o s d o rio N ilo . O b e b ê fo i re c o lh id o p e la filh a d o F a ra ó e e d u c a d o n a c o rte . A o se to r n a r a d u lto , M o is é s fica re v o lta d o c o m a m is é ria do seu p o v o e se iso la n o d e s e rto d o S in a i. A li, D e u s se revela a ele e lh e fa z u m a d u p la p ro m e ssa : lib e rta rá os isra e lita s d a e sc ra v id ã o e lh e d a rá o p aís d e C a n a ã . M o is é s te m , a p a r tir d e e n tã o , u m a m issã o g ra n d io sa : g u ia r o p o v o d e Isra e l até a te rr a p r o m e tid a e tr a n s m itir aos h o m e n s a m e n s a g e m s de D e u s c o n tid a n o s d e z m a n d a m e n to s . M o is é s , e n tã o , v o lto u ao E g ito , p a ra j u n to d o F ara ó , e lh e p e d iu q u e d eix asse os escravos isra e lita s p a r tir e m p a ra sua te rra , p o rq u e e ra o rd e m d e D e u s . D ia n te d a re c u sa d o F a ra ó , D e u s c a stig a o E g ito c o m d e z te rrív e is p ra g a s, n a rra d a s n a B íb lia . F in a lm e n te , F a ra ó ced e e o p o v o d e Is ra e l p a r te livre. É o êx o d o , is to é, a sa íd a d o E g ito . M o is é s c o n d u z iu os h e b re u s p e lo d e s e rto d o S in a i. E aq u i q u e se in ic ia u m a n o v a fase p a ra esse p o v o , q u a n d o re c e b e r ia m a lei. N ã o a p e n a s o d e c á lo g o , q u e se to r n o u p a d rã o m u n d ia l, m a s, ta m b é m , to d a u m a leg isla ç ã o q u e d e ta lh a v a o

114

E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

d e c á lo g o , b e m c o m o o u tra s in s tru ç õ e s q u e re g u la m e n ta v a m a v id a re lig io sa e civil. M e s m o q u e o p e río d o n o d e s e rto p a r e ça u m a p e r d a d e te m p o , fo i ele q u e m p o s s ib ilito u a e x istê n c ia d e u m c ó d ig o q u e g a r a n tir ía p a ra s e m p re a e x istê n c ia d e Is ra el c o m o n aç ão . E s s a lei, d e c e rta fo rm a , to r n o u - s e su a p á tria . Jo su é , su c e sso r d e M o is é s , a ju d o u a c o n s o lid a r Isra e l. L id e ro u a to m a d a d a te rra , g u e r re a n d o e c o n q u is ta n d o b o a p a r te d ela. A g o ra , os isra e lita s e ra u m p o v o c o m c u ltu ra p ró p ria , leis p ró p ria s e e m sua p r ó p ria te rra . D e p o is q u e sa íra m d o E g ito , os h e b re u s a tra v e ssa ra m o m a r V e rm e lh o e p a ssa ra m q u a r e n ta a n o s e rra n d o p e lo d e se rto d a L íb ia e p e lo d e s e rto d a A rá b ia , a té q u e, fin a lm e n te , c h e g a ra m às fro n te ira s d a te rra p ro m e tid a (a tu a lm e n te , o E s ta d o d e Isra e l). C o m a m o rte d e M o is é s , D e u s c o n v o c o u J o s u é c o m o seu sucessor. E J o su é , p o r sua vez, la n ç a u m a g u e rra c o n tra os c a n a n e u s e v en ce seus a d v e rsá rio s p ró x im o s. O p a ís d o s ca n a n e u s to r n a - s e , e n tã o , o p aís d e Isra el.

E s t u d o s de T e o l o g i a

115

Capítulo 3

0 GOVERNO TEOCRÂTICO

E sse p e río d o vai d e sd e a to m a d a d a te rr a p o r J o s u é a té o e s ta b e le c im e n to d a m o n a rq u ia c o m S au l. E o p e r ío d o d e sc rito p r in c ip a lm e n te n o liv ro d e J u iz e s , e m b o ra , d u r a n te o te m p o d e M o is é s e Jo su é , p o s s a m o s d iz e r q u e eles e x e rc e ra m u m g o v e rn o te o c rá tic o . C h a m a m o s d e te o c rá tic o p o rq u e n ã o h a v ia u m g o v e rn o d e fin id o . N ã o h a \ i a u m h o m e m esp ecífico q u e p u d e s s e ser c h a m a d o d e líd er. O g o v e rn o d e M o is é s ta m b é m fo i te o c rá tico. T o d a v ia , c o m o v im o s, n ã o h a v ia u m a n ação . O s ju iz e s fo ra m h o m e n s e m u lh e re s u n g id o s e m ocasiões especiais e q u e serv iam c o m o a u to rid a d e , a q u e m o p o v o re co rria nas d ificu ld ad es. E sse p e río d o d u ro u , a p ro x im a d a m e n te , 4 3 0 anos. O s g o v e rn a n te s a p o n ta d o s n o livro d e Ju iz e s fo ra m : O tn ie l, d e J u d á , q u e liv ro u Isra el d o s reis d a M e s o p o tâ m ia ; E u d e , q u e ex p u lso u os m o a b ita s e os a m o n ita s; D é b o r a e B a ra q u e, c o n tra os ca n an eu s; G id e ã o , q u e ex p u lso u os m id ia n ita s; T o la e Ja ir; Je fté , q u e su b ju g o u os a m o n ita s; Ib sã , E lo m , A b d o n ; e S an são , g ra n d e p e rs e g u id o r d o s filisteu s. P e río d o esse q u e fo i c a ra c te riz a d o p e lo cao s, c a d a u m fa z e n d o o q u e b e m e n te n d ia ( J z 2 E 2 5 ) . A fa lta d e u m g o v e r-

En c i c l o p é d i a

n o c e n tra l, fo rte e d e fin id o fe z c o m q u e as tra n sg re ssõ e s se m u ltip lic a s s e m . A v id a m o ra l e re lig io sa d a n a ç ã o e ra u m a d e rro c a d a só. O c u lto a B a a l e a A s ta ro te e ra a tra tiv o p e la sua s e n su a lid a d e . O s ju iz e s tin h a m u m c a m p o d e a tu a ç ã o m u ito re s trito , g e o g rá fic a e p o litic a m e n te . O s c a p ítu lo s fin ais d o liv ro d e ju iz e s c o n ta m a h is tó ria d e u m c rim e h e d io n d o e d a c o n s e q u e n te g u e rra civil, q u e serv iu p a ra ilu s tra r o p e río d o .

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

Capítulo 4 0 PERÍODO DA MONARQUIA

N ã o d e m o ro u m u ito te m p o p a ra o p o v o re iv in d ic a r u m rei p a ra si. Q u e r ia m ser c o m o as n a ç õ e s v iz in h a s , q u e tin h a m u m a a u to rid a d e q u e os reg ia. S a m u e l, o ú ltim o e m a io r d e to d o s os ju iz e s , é lev ad o p o r D e u s a u n g ir S au l, b e n ja m ita , c o m o m o n a rc a d e Israel. E sse p e río d o , d e n o m in a d o d e m o n á rq u ic o , a b ra n g e o re in a d o d o s trê s p rim e iro s m o n a rc a s: S au l, D a v i e S a lo m ã o , d e sd e 1 0 4 0 a .C . até 9 2 0 a .C . F o i o p e r ío d o á u re o d e Isra el. D u r a n te esse te m p o , Isra e l a in d a era u m a ú n ic a n a ç ã o , u n id a , e n tr e ta n to , essa c o n d iç ã o n ã o d u ra ria m u ito te m p o . E sse foi u m te m p o d e c o n so lid a ç ã o , q u e tro u x e a Is ra e l o

status d e n aç ão . A s c o n q u is ta s a n te rio re s g a n h a ra m , ag o ra, u m a fo rm a d e fin id a , e os lim ite s g e o g rá fic o s fo ra m e x p a n d id o s, a lc a n ç a n d o seus m a io re s lim ite s d e m o g rá fic o s, p o ré m , sem a in d a a lc a n ç a r as d im e n s õ e s p ro m e tid a s a A b ra ã o . A p e s a r d a d e s o b e d iê n c ia d e S a u l e d o d e c lín io d e S a io m ã o n o s seus ú ltim o s a n o s, o c u lto ao ú n ic o D e u s fo i to ta lm e n te re sta b e le c id o e a situ a ç ã o re lig io sa c a ó tic a d o te m p o d o s ju iz e s te rm in o u .

En c i c l o p é d i a

Saul F o i o p rim e iro re i d e Isra e l. C o m e ç o u a o rg a n iz a r e a so lid ific a r a n aç ão . E le e seu filh o , J ô n a ta s , g u e rre a ra m c o n tra os d iv erso s p o v o s q u e a in d a n ã o h a v ia m sid o d o m in a d o s e os d e rro ta ra m . M a s , S a u l c o m e te u d o is e rro s d ecisiv o s. O p rim e iro fo i n a g u e rra c o n tra os a m a le q u ita s . A o rd e m de D e u s e ra p a ra e x te rm in á -lo s c o m p le ta m e n te sem n a d a d e ixar. T o d a v ia , S a u l d e s o b e d e c e u e n ã o m a to u A g a g u e , rei d os a m a le q u ita s , b e m c o m o m u ito s a n im a is ( l S m 1 5 .9 ). P o r isso, fo i r e p re e n d id o p o r S a m u e l. N a s e g u n d a v ez, S a m u e l estav a d e m o r a n d o e m v ir sacrificar. E n tã o , ele to m o u p a ra si o ofício sa c e rd o ta l, q u e n ã o lh e era p e r m itid o , e fe z o sacrifício . D e s ta fe ita , a re p re e n s ã o d e S a m u e l fo i m a is d u ra e ele p ro fe riu a s e n te n ç a so b re S a u l d e q u e D e u s já o h a v ia re je ita d o e esc o lh id o o u tro rei e m seu lu g ar. S u a h is tó ria e stá n a rra d a em to d o o liv ro d e 1 S a m u e l.

Davi D a v i su ce d eu S au l ap ó s sua m o rte . J á h av ia c o n q u ista d o g ra n d e re sp e ito após te r d e rro ta d o G o lia s e se d e sta c a d o co m o ch efe m ilitar. M a s , o c iú m e d e S au l o b rig o u -o a fu g ir p a ra o d e se rto d e N o b e , até a m o rte d e S aul, q u a n d o , e n tão , foi u n g id o rei p elo p o v o d e J u d á e, d ep o is, p o r Israel. D a v i sitio u e to m o u Je ru sa lé m , b a lu a rte d o s je b u se u s, a m p lia n d o -a e fa z e n d o d ela a cap ital.

S u b ju g o u as n açõ es ao

red o r, e s te n d e n d o seus d o m ín io s n o s lim ite s p ro m e tid o s a

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estudos

de

Teologia

V O Lυ Μ E 2

A b ra ã o ( G n 1 5 .1 8 ). T ro u x e o ta b e rn á c u lo p a ra a cid ad e , ju n ta m e n te c o m a arca d a a lia n ç a e os d e m a is u te n sílio s. A p ó s te r c o m e tid o a d u lté rio c o m a m u lh e r d e U ria s, teve d e e n fre n ta r a sed ição d e seu filho, A b salão . D a v i m o rre u e m id a d e av an çad a, ap ó s re in a r q u a re n ta an o s e m eio , se n d o sete a n o s e m e io e m H e b r o m e tr in ta e três e m Je ru sa lé m . C o m o era c a n to r, d e ix o u m u ito s salm o s d e v o cio n ais, q u e v ie ra m a ser u m a d as m ais a m a d a s lite ra tu ra s d o m undo. F o i su c e d id o p o r S alo m ão , filh o q u e tiv era c o m B e te -S e b a .

Salomão S a lo m ã o n ã o e ra o h e rd e iro n a tu ra l d e D a v i, o q u e fe z c o m q u e su a p o sse fo sse re c h e a d a d e in trig a s e in im iz a d e s . A s s im , lo g o ap ó s ser c o ro a d o , S a lo m ã o e lim in o u d ra s tic a m e n te to d o s os seus in im ig o s . M a n d o u m a ta r seu irm ã o , A d o n ia s , o g e n e ra l Jo a b e e d e s te rro u o su m o sa c e rd o te A b ia ta r. P e d iu s a b e d o ria a D e u s , q u e n ã o s o m e n te lh e c o n c e d e u o d ese jo d e seu c o ra ç ã o c o m o ta m b é m riq u e z a s. S e g u n d o as E s c ritu ra s , S a lo m ã o p o s s u ía u m a im e n s a e d is p e n d io s a c o rte .

*

E - n o s re la ta d o q u e seus g a sto s e ra m d e “t r in ta co ro s d e flo r de fa rin h a (1 c o ro eq u iv a le a 4 5 0 litro s ) e se sse n ta co ro s d e fa rin h a ; d e z b o is cev ad o s, v in te b o is d e p a s to e c e m c a rn e iro s, a lé m d o s v e a d o s, d as g a z e la s, d o s co rço s e d as aves c e v a d a s” ( l R s 4 .2 2 ). P o r m e io d e a lia n ç a s d e c a s a m e n to c o m filh as d o s re in o s ao d e rre d o r, to r n o u Isra e l u m re in o p ró s p e ro e re sp e ita d o .

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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C o n s tr u iu o te m p lo d e J e ru s a lé m , q u e p o d e ser a p o n ta d o c o m o u m a d as m a ra v ilh a s d o m u n d o a n tig o . D e ix o u - n o s u m g ra n d e n ú m e ro d e p ro v é rb io s, d o s q u ais m u ito s d e s a p a re c e ra m , ju n ta m e n te c o m seus c â n tic o s; p o ré m , te m o s a in d a alg u n s d eles n o liv ro d e P ro v é rb io s. T e m o s , ta m b é m , p re se rv a d o seu re la c io n a m e n to c o m a s u n a m ita e o liv ro q u e, p ro v a v e lm e n te , fo i e sc rito n o fin al de sua v id a: E c le sia ste s. A s a b e d o ria d e S a lo m ã o n ã o o is e n to u de p e c a r c o n tra o seu D e u s , suas m u lh e re s lh e p e rv e rte ra m o c o ra ç ã o e ele c e d e u e c o n s tru iu te m p lo s id ó la tra s , a lé m de c o lo c a r im a g e n s d e e sc u ltu ra s e m fre n te ao te m p lo . A c o n se q u ê n c ia d esse p e c a d o fo i a d iv isão d o re in o q u e, a té e n tã o , a in d a era u n id o .

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estudos

de t e o l o g i a

Capítulo 5

A DIVISÃO DO REINO

A p ó s a m o rte d e S a lo m ã o , o c o rre u o in ev itáv el: o re in o foi d iv id id o . D e z trib o s d o N o r te s e p a ra ra m -s e d as d u a s trib o s d o S ul. O N o r te , c o m d e z trib o s , d e n o m in o u - s e Isra e l, te n d o c o m o c a p ita l S a m a ria , e o seu p rim e iro rei fo i Je ro b o â o . O S u l fico u c o n h e c id o c o m o J u d á , cu ja c a p ita l e ra J e ru s a lé m , e tev e c o m o g o v e rn a n te R o b o ã o , filh o d e S alo m ão . C o m o e stá re g is tra d o n as S a g ra d a s E s c ritu ra s , o re in o d o N o r te , m u ito ced o , a p o s ta to u d o S e n h o r, p a s s a n d o a se rv ir a B aal e o u tro s d e u se s, se n d o c o m p le ta m e n te d o m in a d o p e la id o la tria . S o b o g o v e rn o d e A c a b e , filh o d e O n r i, o c u lto a

Yahweh fo i p r a tic a m e n te a b o lid o d o p a ís, p r in c ip a lm e n te d e v id o às in stig a ç õ e s d e su a m u lh e r, J e z a b e l. F o i n esse p e río d o q u e su rg iu o p ro fe ta E lia s, o q u a l ta m b é m f u n d o u escolas d e p ro fe ta s e d e ix o u E lis e u c o m o seu su cessor. A las, Isra e l n u n c a se e m e n d o u d e seus m a u s c a m in h o s . P o r ta n to , era in e v itá v e l a sua d e stru iç ã o . F o i o q u e o c o rre u e m 72 2 a .C ., q u a n d o a A ssíria , sob o g o v e rn o d e S a lm a n e s e r V, ce rc o u S a m a ria e re tiro u o p o v o d a te rra , le v a n d o -o s p a ra 0 exílio (2 R s 17).

O re in o d o S u l, e m b o ra a lg u m a s vezes te n h a fa lh a d o e se

En c i c l o p é d i a

d e sv ia d o d a lei, p o r c a u sa d a im p ie d a d e d e a lg u n s d e seus m o n a rc a s, su b sistiu , e m m e io às m u ita s g u e rra s, p o r m ais te m p o . P o r o ca siã o d o a ta q u e d e S e n a q u e rib e c o n tra J e ru s a lé m , J u d á fo i p o u p a d a d e v id o à fid e lid a d e e à fé d o rei E z e q u ia s (2 R s 18). M e s m o assim , n ã o ta rd a ria h a v e r n o v as a p o sta sia s d e n tro d as p o rta s d e J u d á , c o m o fo i o caso d o rei M a n a ss é s . P o r fim , e n tã o , J u d á so fre a ta q u e s d o rei d a B a b ilô n ia , n a p e sso a d e N a b u c o d o n o s o r, p o r v o lta d e 6 0 5 a .C ., q u a n d o le v o u c a tiv a u m a p a r te d a p o p u la ç ã o , e n tre os q u a is se e n c o n tra v a o p ro fe ta D a n ie l. P o s te rio rm e n te , p o r v o lta d e 5 9 6 a .C ., ele in v a d e n o v a m e n te a te rr a d e J u d á e lev a m a is u m a p a r te d e seus h a b ita n te s , e n tre os q u ais se e n c o n tra v a o p ro fe ta E z e q u ie l. P o r fim , e m 5 8 6 a .C ., ele ata c a J e ru s a lé m c o m u m a fú ria in d o m á v e l e a d e s tró i, d e v a s ta n d o tu d o o q u e vê p e la fre n te até se d e p a ra r c o m o s u n tu o s o te m p lo , q u e n ã o é p o u p a d o , se n d o to ta lm e n te d e s tru íd o . O s o b je to s sa g ra d o s d o te m p lo são le v a d o s p a ra a B a b ilô n ia , ju n ta m e n te c o m seus h a b ita n te s , o n d e p e r m a n e c e r a m d u r a n te s e te n ta an o s.

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E s t u d o s de t e o l o g i a

Capítulo 6 0 PERÍODO DO CATIVEIRO BABILÔNICO

E m b o r a te n h a sid o d e a p e n a s s e te n ta an o s (d e 6 0 7 a 5 3 8 a .C ., a p ro x im a d a m e n te ), esse p e río d o fo i d e te r m in a n te p a ra a h is tó ria e o c a rá te r d e Isra el. P o r v o lta d o a n o 6 0 5 a .C ., N a b u c o d o n o s o r, re i d o im p é rio b a b ilô n ic o , a ta c a J e ru s a lé m e leva cativ o s alg u n s h a b ita n te s d e J u d á p a ra a B a b ilô n ia . E n tr e eles, D a n ie l e seus am ig o s. E m 5 8 6 a .C ., N a b u c o d o n o s o r to r n a a ta c a r J u d á , s itia n d o J e ru s a lé m , d e s tru in d o o te m p lo e le v a n d o e m b o ra os vasos sa g ra d o s, ju n ta m e n te c o m a p o p u la ç ã o d a te rra . N e s s e p e r ío d o d e exílio, su rg e m p ro fe ta s c o m o D a n ie l e E z e q u ie l. E n q u a n to isso, e m J e ru s a lé m , J e re m ia s ta m b é m c o n tin u a ex e rc e n d o seu m in is té rio p ro fé tic o . O c a tiv e iro e s tá b a s e a d o n a le i d o d e s c a n s o d a te r r a , c o n f o r m e p r e d is s e o p r o f e ta J e r e m ia s ( J r 2 5 .1 1 ) . P e la le i, os ju d e u s d e v e r ía m d e ix a r a te r r a e m d e s c a n s o a c a d a s e te a n o s . T o d a v ia , p a s s a r a m - s e 4 9 0 a n o s e eles n ã o o b e d e c e r a m . C o m o c o n s e q u ê n c ia , os s e te n ta a n o s f o r a m u m a m a n e ir a d e im p o r esse d e s c a n s o . E m 5 3 9 a .C ., D a n ie l c o m p re e n d e u , p e la le itu ra d o liv ro

Enciclopédia

d o p ro fe ta J e re m ia s , q u e o te m p o d o c a tiv e iro estav a c h e g a n d o ao fim . E n tã o , ele p a sso u a b u s c a r D e u s e m o ra ç ã o , q u e lh e re v elo u os e v e n to s fu tu ro s q u e e sta v a m p o r vir. A s s im , D a n ie l escreve suas rev elaçõ es e m u m livro, o n d e fa lo u so b re a q u e d a d e B a b ilô n ia e d o s im p é rio s q u e a in d a iria m surgir. E tu d o isso, c o n fo rm e h a v ia p re d ito 0 serv o de D e u s , se c u m p re lite ra lm e n te . C o n t a o h is to r ia d o r H e r ó d o to q u e eles e sta v a m e m g ra n d e fe sta , se g u ro s, p o is os m u ro s d a c id a d e e ra m in e x p u g n á veis. C iro , rei d o s p e rsa s, u sa, e n tã o , d e u m a rtifíc io e d esv ia as ág u as d o rio E u fra te s p a ra u m la g o artificial. C o m isso, fo i p o ssív el e n tr a r n a c id a d e p o r b aix o d o s m u ro s , c o m á g u a p e lo s jo e lh o s . O s p e rsa s j á se e n c o n tra v a m n a B a b ilô n ia e B e lsa z a r seq u e r tin h a re c e b id o a n o tíc ia . C iro , e n tã o , d eix a D a r io em seu lu gar. E m to r n o d o a n o 5 3 8 a .C ., C iro , rei d a P é rsia , e o n o v o s o b e ra n o d o O r ie n te P ró x im o , a u to riz a o re to r n o d e Z o r o b a b e l p a ra a re c o n s tru ç ã o d o te m p lo . S u a p o lític a re lig io sa, d ife re n te d a d o s b a b ilô n io s e d o s assírio s, e ra m a is p acífica, p e r m itin d o a c a d a p o v o c o n tin u a r a d o ra n d o os seus d eu se s, p e lo q u e ele m e s m o a ju d o u a fin a n c ia r a re c o n s tru ç ã o d o te m p lo d e J e ru s a lé m . O liv ro d e E s te r re p re s e n ta u m p a rê n te s e n a h is tó ria d e Isra e l. N ã o o c o rre d e n tro d o s lim ite s g e o g rá fic o s d a n ação , m as n o exílio, a p a r tir d a c a p ita l d o im p é rio p e rsa , S u sã. O rei A ssu e ro , c o n h e c id o n a h is tó ria c o m o X e rx e s, re in o u d e 4 8 5

126

estudos

de

Teologia

VOLUME 2

a 4 6 5 a .C ., e, d e n tr o d esse p e río d o q u e se in se re , q u e fo ra m e sc rito s o liv ro e a h is tó ria d e E ste r. O liv ro d e E s te r fo i e sc rito p a ra c o n ta r a o rig e m d a fe sta d o P u r im e m o s tra r c o m o os ju d e u s fo ra m salvos, n e ssa é p o ca, d e se re m c o m p le ta m e n te d e s tru íd o s p e la s m a q u in a ç õ e s de H a m ã . F o i a p rim e ira te n ta tiv a d e g e n o c íd io ju d a ic o .

ESTUDOS DE TEOLOGI A

12

Capítulo 7 0 RETORNO DO EXÍLIO

E sse p e río d o é a b ra n g id o p e lo s livros d e E s d ra s , N e e m ia s e E s te r, e m b o ra a h is tó ria de E s te r te n h a se p a ssa d o fo ra d a P a le stin a . S o b o d o m ín io d e Z o ro b a b e l, 4 2 .3 6 0 ju d e u s re to r n a m a J e ru s a lé m , p o r v o lta d e 5 3 6 a .C ., p a ra re c o n s tru ir 0 te m p lo . A p o lític a re lig io sa de C iro e ra b a s ta n te b ra n d a ,

p e r m itin d o q u e c a d a p o v o a d o ra sse seus p ró p rio s d e u se s. E le m e s m o in c e n tiv o u e fin a n c io u o r e to r n o d o p o v o p a ra Isra e l e a re c o n s tru ç ã o d o

te m p lo . T o d a v ia , d e v id a às o p o siç õ e s,

0 tra b a lh o é in te r r o m p id o e a o b ra só v o lta a ser re a liz a d a

m u ito s an o s d e p o is, e m 5 2 0 a .C ., q u a n d o os p ro fe ta s A g e u e Z a c a ria s c o m e ç a m a a n im a r o povo. E m 4 5 8 a .C ., c h e g a a J e ru s a lé m o sa c e rd o te E s d ra s , c o m m ais 1 .7 5 5 ju d e u s. E sse sa c e rd o te z e lo so e in s tru íd o te rá e n o rm e p a p e l n a h is tó ria ju d a ic a . E s tá d ia n te d e u m a n a ç ã o q u e b r a n ta d a , q u e v iu os e feito s te rrív e is d e su a id o la tria e, p o r ta n to , e stã o p ro n to s p a ra re c e b e r fo rte in s tru ç ã o das E s c ritu ra s. E m 4 4 5 a .C ., J e ru s a lé m re ceb e n o v o re fo rç o e s p iritu a l c o m a c h e g a d a d e N e e m ia s , q u e re c o n s tru irá os m u ro s d a cid a d e e re s ta u ra rá suas p o rta s . O m u ro é re e d ific a d o e c o m e ç a

En c i c l o p é d i a

u m g ra n d e a v iv a m e n to n o m e io d o p o v o . P ro v a v e lm e n te , o m in is té r io d o p ro fe ta M a la q u ia s o c o rre u n esses d ia s, d u ra n te a sa íd a d e N e e m ia s p a ra a P érsia. M a is ta rd e , e m 4 3 2 a .C ., N e e m ia s r e to r n a à P é rsia , d e fin itiv a m e n te .

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Es t u d o s de T e o l o g i a

Capítulo 8 0período intertestamentário

D u ra n te esse p erío d o , Israel esteve, p rim eiro , sob o d o m ín io persa; depois, sob o d o m ín io grego; e, p o r fim , sob o ju lg o ro m a no. A p ó s M a la q u ia s, n ão h o u v e m ais m an ifestaçõ es p ro féticas ou livros in sp irad o s. L ivros co m o os d e I e I I M a c a b e u s, p o r exem plo, q u e tra ta m desse p erío d o , e m b o ra lidos e rev eren ciados, so m e n te fo ra m aceitos c o m o can ô n ico s p o r u m a parcela m in o ritá ria de ju d eu s e cristãos. P a ra facilitar esse estu d o , falarem os dos persas, d ep o is dos gregos e, p o r fim , d os ro m an o s.

Período persa Vai d e 5 3 9 até, a p ro x im a d a m e n te , 3 3 3 a .C ., q u a n d o A le x a n d re , o G r a n d e , e n tro u e m J e ru s a lé m e fo i re c e b id o p e lo su m o sa c e rd o te J a d o , c o m o e sc rev eu F lá v io Jo se fo . A p o lític a re lig io sa p e rsa era to ta lm e n te d ife re n te d e seus a n te c e sso re s. S eus m o n a rc a s re sp e ita v a m os d e u se s d o s p o v o s c o n q u is ta d o s. A lé m d isso , C iro , ap ó s c o n q u is ta r B a b ilô n ia , p e r m itiu q u e os d e s te rra d o s v o lta sse m às suas te rra s , c o n ta n to q u e lh e p a g a sse m trib u to s . F o i assim q u e os ju d e u s re to r n a r a m a j e ru s a lé m e re c o n s tru íra m a c id a d e e o te m p lo .

En c ic l o p é d i a

C iro d ev o lv eu , ta m b é m , to d o s os vasos sa g ra d o s q u e h a v ia m sid o lev ad o s p o r N a b u c o d o n o s o r p a ra a B a b ilô n ia . C o m o re su lta d o d isso , h á u m a g ra n d e c o n so lid a ç ã o d o ju d a ísm o p o r essa ép o c a. O c a tiv e iro c u ro u os ju d e u s d a id o la tria , d e fin itiv a m e n te . S o b a lid e ra n ç a d e E s d ra s , o e s tu d o d a lei e d o s p ro fe ta s foi in s titu íd o n o s lu g a re s esp ecífico s c h a m a d o s sin a g o g a s. N o g e ra l, fo i u m p e r ío d o c a lm o p a r a os ju d e u s , ex ceto p o r c e rta s d is p u ta s in te rn a s p e lo c a rg o d e s u m o sa c e rd o te .

Período grego In ic io u -s e , e fe tiv a m e n te , c o m a to m a d a d a G ré c ia p o r F ilip e d a M a c e d ô n ia , q u e d e r ro ta A te n a s e E s p a r ta , u n ific a n d o as c id a d e s g re g a s d e b a ix o d e seu g o v e rn o . D o is an o s d e p o is d e c o n s o lid a r a G ré c ia , F ilip e m o rre e seu filh o a ssu m e a lid e ra n ç a . A le x a n d re fo i u m e s p lê n d id o g u e rre iro , c o n q u is ta n d o to d a s as re g iõ e s p o r o n d e passav a. A le x a n d re , o G r a n d e , e n tr o u e m J e ru s a lé m p o r v o lta d o a n o 3 3 3 a .C . A o c e rc a r a c id a d e d e T ir o , A le x a n d re so lic ito u a a ju d a d o s ju d e u s , q u e se re c u s a ra m , p o r te re m u m a a lia n ç a c o m os p e rsa s e se re m fiéis a essa a lian ça . A p ó s d e s tru ir a c id a d e d e T ir o , A le x a n d re m a rc h o u fu rio so c o n tr a a c id a d e d e J e ru s a lé m . E n tr e ta n to , fo i re c e b id o c o m flores p e lo s sac e rd o te s. E s s e fa to h is tó ric o p o d e ser e n c o n tr a d o n as c rô n ic a s d o h is to r ia d o r ju d e u F lá v io Jo se fo , q u e diz: “Q u a n d o esse ilu s tre c o n q u is ta d o r [A le x a n d re ] to m o u

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ESTUDOS DE T EOLOGIA

VOLUME 2

essa ú ltim a c id a d e [G a z a ], a v a n ç o u p a ra J e ru s a lé m e o su m o sa c e rd o te J a d o , q u e b e m c o n h e c ia a su a c ó le ra c o n tra ele, v e n d o -s e c o m to d o o p o v o e m tã o g ra n d e p e rig o , re c o rre u a D e u s , o rd e n o u o ra ç õ e s p ú b lic a s p a ra im p lo r a r o seu a u x ílio e o fe re c e u -lh e sacrifício s. D e u s a p a re c e u -lh e e m s o n h o s n a n o ite s e g u in te e d is s e -lh e q u e fizesse e s p a lh a r flo res p e la c id a d e , m a n d a r a b rir to d a s as p o rta s e ir re v e stid o d e seu s h á b ito s p o n tific ia is c o m to d o s os s a n tific a d o re s ta m b é m assim re v e stid o s e to d o s os d e m a is v e stid o s d e b ra n c o ao e n c o n tro de A le x a n d re , sem n a d a te m e r d o so b e ra n o , p o rq u e ele os p ro te g e ria [...] “O s fe n íc io s e os c a ld e u s, q u e e sta v a m n o e x é rc ito d e A le x a n d re , n ã o d u v id a v a m q u e, n a c ó le ra e m q u e ele se ac h av a c o n tra os ju d e u s , ele lh e s p e r m itir ia s a q u e a r J e ru s a lé m . M a s , a c o n te c e u ju s ta m e n te o c o n trá rio , p o is o so b e ra n o a p e n a s v iu a q u e la g ra n d e m u ltid ã o d e h o m e n s v e stid o s d e b ra n c o , os sac rific a d o re s re v e stid o s d e seus p a r a m e n to s d e lin h o e o su m o sa c e rd o te , c o m seu éfo d e, de c o r az u l, a d o r n a d o d e o u ro e a tia ra so b re a c a b e ç a , c o m u m a lâ m in a d e o u ro , n a q u a l estav a e sc rito o n o m e d e D e u s , a p r o x im o u -s e s o z in h o d ele, a d o ro u aq u e le a u g u s to n o m e e s a u d o u o s u m o sa c e rd o te , a q u e m n in g u é m h a v ia sa u d a d o . “E n tã o , os ju d e u s se re u n ir a m ao

r e d o r d e A le x a n d re e

e le v a ra m a v o z, p a ra d e s e ja r-lh e to d a so rte d e fe lic id a d e e p ro s p e rid a d e . M a s , os reis d a S íria e os o u tro s g ra n d e s q u e o a c o m p a n h a v a m fic a ra m su rp re so s, d e ta l e s p a n to q u e ju lg a ra m q u e ele h a v ia p e r d id o o ju íz o . P a rm e n io , q u e g o z a v a

E s t u d o s de T e o l o g i a

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E \ C I C LΟ Γ E D I Λ

d e g ra n d e p re stíg io , p e r g u n to u - lh e c o m o ele, q u e era a d o ra d o e m to d o o m u n d o , a d o ra v a o su m o sa c e rd o te d o s ju d eu s. N ã o é a ele, re s p o n d e u A le x a n d re , q u e eu a d o ro , m as é a D e u s , a q u e m ele é o m in is tro , p o is q u a n d o eu a in d a estav a n a M a c e d ô n ia e im a g in a \ra c o m o p o d e ria c o n q u is ta r a Á sia, E le m e a p a re c e u e m s o n h o c o m essas m e sm a s ro u p a s e m e e x o rto u a n a d a te m e r, d is s e -m e q u e p assasse c o ra jo s a m e n te o e s tre ito d o H e le s p o n to e g a r a n tiu - m e q u e e sta ria à fre n te d o m e u e x é rc ito e m e fa ria c o n q u is ta r o im p é rio d o s p ersas. E is p o rq u e , ja m a is te n d o v is to a lg u é m re v e stid o c o m tra je s s e m e lh a n te s aos c o m q u e ele m e a p a re c e u e m so n h o , n ão p o sso d u v id a r d e q u e n ã o te n h a sid o p o r o rd e m d e D e u s q u e e m p re e n d í e sta g u e rra e assim v e n c e re i D a r io , d e s tru ire i o im p é rio d o s p e rsa s e to d a s as coisas s u c e d e r-s e -ã o c o n fo rm e 0 m e u desejo. “A le x a n d re , d e p o is d e assim te r re s p o n d id o a P a rm e n io , a b ra ç o u o s u m o sa c e rd o te e os o u tro s sa c rific a d o re s, c a m in h o u , d e p o is, n o m e io d eles até J e ru s a lé m , su b iu ao te m p lo , o fe re c e u sacrifício s a D e u s d a m a n e ira c o m o o s u m o sac erd o te lh e d isse ra q u e d ev ia fazer. “O soberano p ontífice m o stro u -lh e, em seguida, o livro de D an iel, n o qual estava escrito que u m p rín cip e grego d estru iría o im p ério dos persas e d isse-lhe q u e não duvidava de que era ele de q u em a profecia fazia m enção. A lex an d re ficou m u ito c o n te n te ”.1 M a s , c o m a m o rte d e A le x a n d re , e m 3 2 3 a .C ., o im p é rio g re g o , q u e , e n tã o , a b ra n g ia a G ré c ia , o E g ito e to d o o O r ie n te 1 História dos hebreus. CPAD: Rio de janeiro.

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ESTUDOS

DE

livro XI.

TEOLOGIA

VOLUME 2

P ró x im o , fo i d iv id id o e n tre q u a tro d e seus p rin c ip a is g e n e rais. A P to lo m e u , c o u b e o E g ito , fu n d a n d o , assim , a d in a s tia P to le m a id a . A re g iã o d a S íria, q u e a b ra n g ia Isra e l, fico u sob o d o m ín io d e S eleu co , in ic ia n d o a d in a s tia d o s S elê u c id a s. P to lo m e u s e S e lê u c id a s v ão re a liz a r in ú m e ra s g u e rra s p a ra o b te re m o d o m ín io so b re to d a a q u e la re g iã o , c o m e fe ito s d e v a sta d o re s so b re os ju d e u s . P o d e ria m o s su b d iv id ir, a in d a , esse p e r ío d o e m trê s p a rte s. V ejam os:

Período egípcio F o i o p e río d o m ais lo n g o d essa ép o c a. P o r m e io d e sev era lu ta , o E g ito e a J u d e ia c a íra m n as m ã o s d o s p to lo m e u s . O p rim e iro c o n q u is ta d o r foi c h a m a d o d e P to lo m e u S o te r; isto é, S alv ad o r, q u e ta m b é m foi o p rim e iro d a d in a stia . O s ju d e u s se re c u sa ra m ser fiéis a esse d o m in a d o r, o q u e o lev o u a a ta c a r J e ru s a lé m e le v a r c e m m il ju d e u s p re so s. A p e sar de te r sid o severo c o m a n a ç ã o ju d a ic a , a lg u m te m p o d e p o is, to r n o u - s e am ig áv el. S eu sucessor, P to lo m e u F ila d e lfo , fo i m ais a m ig á v e l a in d a . E m seu te m p o , os ju d e u s fo ra m so lic ita d o s a tr a d u z ir suas E s c ritu ra s p a ra o g re g o , d a n d o ao m u n d o a fa m o sa v ersão c h a m a d a de S e p tu a g in ta (L X X ), e sc rita p o r 72 sáb io s ju d e u s em s e te n ta dias. O te rc e iro rei d a d in a s tia p to le m a ic a ta m b é m fo i fa v o rá vel à n aç ão d e Isra e l e, p o r isso, os ju d e u s p ro s p e r a ra m c o m o n u n c a n a q u e le im p é rio . C id a d e s c o m o A le x a n d ria to r n a r a m -

Es t u d o s

de

Teologia

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En

ciclopédia

-se g ra n d e s c e n tro s d e c u ltu ra ju d a ic a e os ju d e u s c o n s titu íra m ce rca d e u m te rç o d a cid ad e . O q u a r to rei, P to lo m e u F ilo p a tro , p o ré m , d e v id o às g u e rra s c o n tra A n tío c o , o G r a n d e , d a S íria, fo i h o s til aos ju d e u s . S e u p rin c ip a l ag rav o fo i te n ta r e n tr a r n o S a n to d os S a n to s. E n tã o , p e r d e u a d is p u ta e o rei d a S íria a p o s s o u -s e d a P a le stin a .

Período sírio A a d m in is tra ç ã o d o s selêu c id a s fo i, n a m a io ria d as v ezes, n o c iv a p a ra os ju d e u s e, e m a lg u n s caso s, h o u v e s a n g re n ta p e rse g u iç ã o a eles. F o i n essa é p o c a q u e a P a le s tin a foi d iv id id a e m c in c o p ro v ín c ia s: J u d e ia , S a m a ria , G a lile ia , P e re ia e T ra c o n ite s . T a n to A n tío c o , o G r a n d e , q u a n to o seu su cesso r, S e le u co F ilo p a tr o fo ra m m u ito c ru é is, e m b o ra alg u n s ju d e u s te n h a m p e r m a n e c id o c o m c e rta s lib e rd a d e s p a ra a d m in is tr a r suas p ró p ria s leis. T o d a v ia , c o m a sc e n sã o d e A n tío c o E p if â n io ( 1 7 5 -1 6 4 a .C .), u m re in a d o d e te r r o r so b rev e io so b re os ju d e u s e, p o r c o n ta d isso , A n tío c o E p ifâ n io fico u c o n h e c id o c o m o o a n tic ris to d o A n tig o T e s ta m e n to . P o r esse te m p o , s u rg ira m os h e le n is ta s , g ru p o q u e q u e ria m im p la n ta r a c u ltu ra g re g a e n tre os ju d e u s . O s n a c io n a lista s o rto d o x o s se o p u s e ra m , in ic ia n d o -s e , c o m isso, c o n te n d a s e assa ssin a to s. P o r fim , A n tío c o u tiliz o u essa d is p u ta p a ra d e sc a rre g a r o se u fu ro r so b re eles, fa z e n d o u m a g ra n d e d ev a sta ç ã o n a te rra , e m 1 7 0 a .C .

O c a s iã o e m q u e J e ru s a lé m foi

sa q u e a d a , os m u ro s d e rru b a d o s , o te m p lo p ro fa n a d o e o p o v o

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E s t u d o s de t e o l o g i a

VOL U Μ E 2

s u b m e tid o às m ais te rrív e is c ru e ld a d e s. H o u v e m a ssa c re s e esc rav id õ es. A re lig iã o ju d a ic a fo i p ro ib id a . O p a g a n is m o foi im p o s to à fo rça. U m a p e sso a fo i e n c a rre g a d a d e p r o fa n a r o te m p lo de J e ru s a lé m , d e d ic a n d o - o ao d e u s J ú p ite r O lím p io . T o d a s as c ó p ias d a lei e n c o n tra d a s fo ra m q u e im a d a s o u d e fo rm a d a s c o m fig u ra s id ó la tra s . S eu s p r o p rie tá rio s fo ra m assa ssin a d o s. M u ito s ju d e u s a p o s ta ta r a m e p e rs e g u ira m seus c o m p a trio ta s . E m 168 a .C ., A n tío c o o rd e n o u q u e u m a p o rc a fo sse o fe re c id a so b re o a lta r d e sacrifício s e, a seg u ir, m a n d o u e rg u e r u m a e s tá tu a a J ú p ite r n o lu g a r d o altar. N e sse p e río d o , o c o rre o fa m o so m a rtírio d o s sete irm ã o s ju n ta m e n te c o m su a m ãe, p o r se re c u sa re m a c o m e r c a rn e d e p o rco .

Período macabeu O m o v im e n to d e re sis tê n c ia tev e in íc io p e la in s tr u m e n ta lid a d e d e u m sa c e rd o te id o so , c h a m a d o M a ta tia s , e d e s e n v o lv e u -se c o m seu filh o , J u d a s , m a is ta rd e c h a m a d o J u d a s M a c a b e u , n o m e d e riv a d o d o te rm o h e b ra ic o q u e sig n ifica “m a rte lo ”. E sse fo i u m p o d e ro s o m o v im e n to d e re sis tê n c ia se m p a ra le lo e n tre o p o v o ju d e u . A b ra v u ra e a fé d esses h o m e n s os fiz e ra m lu ta r até a m o rte c o n tra o e x te rm ín io d e su a cre n ç a . R e fú g ia d o s n as m o n ta n h a s , in ic ia ra m seus a ta q u e s c o n tra as tro p a s d o ex é rcito selêu c id a . J u d a s d e se n v o lv e u u m a p o d e ro s a e s tra té g ia d e g u e rrilh a s e seu e x é rcito cresceu m u ito . C o m b a te u os ex é rcito s in v aso re s,

ESTUDOS DE TEOLOGI A

137

En c i c l o p é d i a

so b re ssa in d o n as b a ta lh a s . V árias te n ta tiv a s d o in im ig o de v e n c ê -lo s fo ra m fru s tra d a s . E m 25 d e d e z e m b ro , J e ru s a lé m fo i r e to m a d a e o te m p lo , re s ta u ra d o (e sta é a o rig e m d a F e sta d e D e d ic a ç ã o ). E m b o r a A n tío c o te n h a p la n e ja d o se v in g a r, os rev eses p e los q u a is p a sso u d e ix a r a m -n o e x tre m a m e n te d o e n te . C o n ta -se q u e ele m o rre u n u m e sta d o d e c o m p le ta lo u c u ra . P a ra os ju d e u s , ele é a a b o m in a ç ã o d a d e so la ç ã o d e s c rita p elo p ro fe ta D a n ie l. C o m su a m o rte , seu filh o , L ísia s, v o lto u c o m u m ex é rcito d e 1 2 0 m il h o m e n s p a ra a ta c a r J e ru s a lé m . J u d a s e seu ex é rc ito fo ra m sitia d o s n a c id a d e s a n ta e tiv e ra m q u e se re n d e r. Q u a n d o tu d o p a re c ia p e rd id o , u m a re v o lta n a s re g iõ e s d a S íria o b rig o u L ísia s a b u s c a r p a z c o m os ju d e u s e re sta b e le c e r su a relig ião . C o m to d o s os a lto s e b aix o s d o g o v e rn o M a c a b e u so b re a J u d e ia , o p o d e r p e r m a n e c e u e m suas m ã o s ate o a n o 63 a .C ., q u a n d o a re g iã o p a sso u a ser u m a p ro v ín c ia ro m a n a .

Período romano N o a n o 63 a .C ., P o m p e u e n tra e m J e ru s a lé m , ap ó s u m cerco d e trê s m eses, fa z e n d o d a P a le s tin a u m a d as p ro v ín c ia s ro m a n a s . N a o casião , m o rre ra m , a p ro x im a d a m e n te , d o z e m il ju d e u s , o u seja, q u a n d o d a to m a d a d a c id a d e , q u e fo i facilita d a p e lo fa to d e os ju d e u s se re c u sa re m a g u e rre a r e m d ia d e sáb a d o . T a n to é q u e n e m m e s m o a e n tra d a d o s ex é rcito s ro m a n o s os im p e d ira m d e c o n tin u a r sac rifican d o .

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ESTUDOS DE T EOLOGI A

VOLUME

2

A p ó s a p o s s a r-s e d o tro n o de R o m a , J ú lio C é s a r n o m e ia A n típ a te r p r o c u ra d o r d a J u d e ia (4 7 a .C .)· E m 3 7 a .C ., H e r o des to m a J e ru s a lé m , m a ta A n tíg o n o M a c a b e u , q u e h a v ia sid o c o lo c a d o n o lu g a r d e A n típ a te r p e lo s p a rta s , e a p o d e ra -s e d o tro n o . N o a n o 19 a .C ., ap ó s h a v e r c o n s tru íd o s e n o rm e s o b ra s n a J u d e ia , H e r o d e s reso lv e fa z e r u m a g ra n d e re fo rm a n o te m p lo d e J e ru s a lé m , q u e d u ro u q u a r e n ta e seis a n o s, c o n fo rm e d e c la ra m as E s c ritu ra s (J o 2 .2 0 ). E sse fo i o te m p lo q u e Je su s c o n h e c e u , n o q u a l e n tro u , e so b re o q u a l ele la n ç o u su a p ro fe c ia d e d e stru iç ã o .

E s t u d o s de T e o l o g i a

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Capítulo 9 TRANSFORMAÇÕES RELIGIOSAS

O c â n o n d as E s c ritu ra s fo i c o n c lu íd o e os ju d e u s se a c h a v a m , ag o ra, e m p o sse d e u m a co le ç ã o d e liv ro s sa g ra d o s, os q u ais lh e s p e r m itir ia m c ria r u m a id e n tid a d e n a c io n a l in d e s tru tív e l. A lei p a sso u a ser e s tu d a d a e g u a rd a d a z e lo s a m e n te . A g o ra , sim , eles a g ia m c o m o u m p o v o se p a ra d o , q u e se g u a r d av a d a c o rru p ç ã o ao seu re d o r. O p e sa d o ju g o d o ex ílio fe z c o m q u e v a lo riz a sse m suas tra d iç õ e s e su a relig ião . F o i n esse p e r ío d o q u e a sin a g o g a lo c a l g a n h o u e n o rm e im p o rtâ n c ia . N e la , as S a n ta s E s c ritu ra s e ra m lid as e e x p o sta s, de a c o rd o c o m a in te rp re ta ç ã o e tra d u ç ã o d o s e sc rib a s, q u e fo ra m to r n a n d o - s e m a is e m ais im p o r ta n te s . A o la d o d a lei e sc rita , os ju d e u s ta m b é m h a v ia m p re se rv a d o a lei o ra l, tã o c ritic a d a p o r Je su s, p o rq u e seus c o n te m p o râ n e o s d a v a m m ais v a lo r à tra d iç ã o d o q u e à p r ó p r ia P a la v ra d e D e u s ( M t 15). O u tr o m o v im e n to q u e n esse p e r ío d o c resceu e to r n o u - s e e x c e ssiv a m e n te fo rte fo i a fé n a v in d a d o M e ssia s. M a is u m a vez, sob o ju lg o e s tra n g e iro , Isra e l o lh a v a p a ra o h o r iz o n te a g u a rd a n d o a v in d a d o P ro m e tid o . In ú m e r a s in te rp re ta ç õ e s so b re E le fo ra m d e se n v o lv id a s c o m b ase n as E s c ritu ra s . O P ro m e tid o e ra a e s p e ra n ç a d e Isra el.

En c i c l o p é d i a

A lé m d o s e sc rib as, h a v ia o u tro s d o is g ru p o s in flu e n te s n essa ép o ca: os fa rise u s e os sa d u c e u s.

O p rim e iro era u m

g ru p o e x tre m a m e n te ríg id o n a o b se rv a ç ã o d a lei. O n o m e “fa ris e u ” d e riv a d o g re g o farisaios e d o h e b ra ic o perushim, q u e sig n ifica, lite ra lm e n te : “se p a ra d o s o u s e p a ra d o re s ”, e p o d e ser e n te n d id a c o m o “in té rp re te s o u c o m e n ta d o r e s ”; isto é, a q u e les q u e d is tin g u e m , se p a ra m e e x p õ e m a lei. E sse s, b u sc a v a m o b e d e c e r à le tra d a lei. P ro v a v e lm e n te , seu n a s c im e n to se d e u c o m o u m a re ação c o n tra a p o litiz a ç ã o d o sa c e rd ó c io ju d a ic o , q u e se to r n a r a u m c a rg o c o b iç a d o , o b je to d e d is p u ta s p o líticas. C re s c e ra m a p o n to d e to r n a r - s e u m a d as m a is p o d e ro sa s seitas d a ép o c a , c o m o p ro v a su a in flu ê n c ia q u a n to à c ru c ificação d e Jesu s. O s sa d u c e u s, p o r su a v ez, tê m seu títu lo p ro v a v e lm e n te d o s filh o s d e Z a d o q u e , q u e re tiv e ra m o s u m o sa c e rd ó c io a p a r tir d e D a v i (2 S m 8 .1 7 ) o u d e u m Z a d o q u e , q u e viveu, a p ro x im a d a m e n te , n o a n o 2 5 0 a .C . O u , a in d a , d a p a la v ra h e b ra ic a q u e sig n ific a “ju s to ”, n ã o se n d o fácil d e te r m in a r isso c o m e x a tid ã o . T a m b é m , e ra m z e lo so s n a g u a r d a d a lei, p o ré m , tin h a m u m a visão b a s ta n te d ife re n te d a d o s fa riseu s. S ó c o n sid e ra v a o P e n ta te u c o c o m o P a la v ra d e D e u s e e ra m cé tico s q u a n to a c e rto s e n sin o s, c o m o , p o r e x e m p lo s, an jo s e e sp írito s. T i n h a m b a s ta n te p ro e m in ê n c ia n o S in é d rio e to r n a r a m -s e fo rte o p o s ito re s d e Jesu s.

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E s t u d o s de T e o l o g i a

Capítulo 10 PERÍODO NEOTESTAMENTÃRIO

E sse p e r ío d o fo i b a s ta n te a g ita d o . S o b o g o v e rn o d e R o m a , a P a le s tin a to r n o u - s e p a lc o d e d iv ersas re v o lta s e m o v im e n to s m e ssiâ n ic o s q u e a lm e ja v a m a lib e rta ç ã o . A J u d e ia fo i, p o r c a u sa d isso , a n e x a d a à p ro v ín c ia d a S íria e g o v e rn a d a p o r u m p r o c u ra d o r ro m a n o , e n q u a n to as d e m a is te tra r q u ia s p e r m a n e c e ra m n a m ã o d o s “H e r o d e s ”. D iv e rso s m a ssa c re s tiv e ra m lu g a r e in ú m e ro s g ru p o s in s tig a ra m o p o v o a p e g a r e m a rm a s c o n tra R o m a , até q u e , p o r fim , e s to u ro u a g u e rra q u e c u lm in a ria c o m a d e s tru iç ã o d e J e ru s a lé m e d o te m p lo . P e río d o esse q u e n o s fo i m in u c io s a m e n te d e s c rito p o r u m h is to r ia d o r ju d e u c h a m a d o F lá v io Jo se fo , q u e lu to u n a g u e rra d e 66 d .C ., s e n d o c a p tu r a d o p e lo e x é rc ito r o m a n o e lev ad o a R o m a , o n d e escrev eu , d e fo rm a p o r m e n o r iz a d a , a h is tó ria d o s ju d e u s e so b re essa g u e rra q u e ele p re s e n c io u p e s s o a lm e n te . E m seus e sc rito s, te m o s u m a m p lo p a n o r a m a q u e n o s d á o p a n o d e fu n d o d o N o v o T e s ta m e n to . V ejam o s.

A dinastia herodiana H e r o d e s , o G r a n d e , e ra id u m e u , p o v o d o S u l d a J u d e ia

ENCI CLOPÉDI A

c o n v e rtid o ao ju d a ís m o n o te m p o d e M a c a b e u s e, p o r isso m e sm o , seg u ia o ju d a ís m o a p e n a s n o m in a lm e n te . E m 3 7 a .C . ,H e r o d e s , c o m a a ju d a d o s ro m a n o s , d e r ru b a A n tíg o n o , a lia d o d o s p a rto s , e p a ssa a g o v e rn a r a P a le s tin a , d a n d o in íc io a u m a d in a s tia q u e g o v e rn a rá a re g iã o a té a q u e d a d e J e ru s a lé m , isto é, p o r m ais d e c e m an o s. O seu g o v e rn o fo i m a rc a d o p o r in ú m e ra s in trig a s fa m ília res, p o r in s tig a ç ã o d e su a irm ã , S a lo m é . N ã o fo ra m p o u c a s as vezes q u e ele te v e a su a v id a a m e a ç a d a p e lo s p ró p rio s filh o s, A le x a n d re e A ris tó b u lo , se n d o q u e , p o r fim , m a n d o u m a tá -lo s, b e m c o m o a p r ó p ria m u lh e r, M a r ia n a , a q u e m am av a m u ito , m as q u e se v iu a c u sa d a d e te n ta r e n v e n e n á -lo . M a n d o u , ta m b é m , m a ta r A ris tó b u lo , irm ã o d e M a r ia n a , q u e tin h a d e z e sse te a n o s q u a n d o ele c o lo c o u n a p o siç ã o d e su m o sa c e rd o te , b e m c o m o o avô d e M a r ia n a , q u e , n a é p o c a , tin h a o ite n ta an o s. F e z g ra n d e s o b ra s p ú b lic a s; e n tre elas, u m a n fite a tro , e m b e le z o u o te m p lo d e J e ru s a lé m e c o n s tru iu a c id a d e d e C e s a re ia , e m h o n r a a A u g u s to . T o d a v ia , a m a io ria d as suas o b ra s d e s tin a v a -s e ao b e n e fíc io d o s g re g o s, v isto q u e os ju d e u s a b o m in a v a m os jo g o s d e s p o rtiv o s e o u tro s c o s tu m e s h e lê n ic o s. E ssa s o b ra s, ta m b é m , g e ra ra m e n o rm e crise e c o n ô m ic a . N o fin al d e su a v id a, o re m o rso p elo s crim es p e rp e tra d o s c o n tra a p ró p ria fa m ília o lev o u q u ase à lo u c u ra . O m e d o de ser e n v e n e n a d o e p e rd e r a co ro a o afligia d ia e n o ite . F o i essa lo u c u ra q u e o lev o u a assassin ar as cria n ças de B e lé m e ao redor, q u a n d o o u v iu falar d e u m rei q u e h av ia n asc id o p a ra g o v e rn a r

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

sobre os ju d e u s . A p ó s ta n ta s cru e ld a d e s, su a m o rte fo i d e u m s o frim e n to atro z . A ssim c o n ta Jo se fo so b re seus ú ltim o s dias: “D e u s q u e ria q u e H e r o d e s so fresse o c a stig o d e su a im p ie d a d e ; su a d o e n ç a ag ra v a v a -se c a d a v e z m ais. U m a fe b re le n ta , q u e n ã o tra n s p a re c ia e x te rio rm e n te , q u e im a v a -o e o d ev o ra v a p o r d e n tro ; ele tin h a u m a fo m e tã o v io le n ta q u e n a d a e ra c a p a z d e sa c iá -lo ; seus in te s tin o s e sta v a m c h e io s d e ú lceras; v io le n ta s có licas f a z ia m -n o so fre r d o re s h o rrív e is; seus p és e sta v a m in c h a d o s e lív id o s, suas v irilh a s ta m b é m , as p a rte s d o c o rp o q u e se e s c o n d e m c o m m a io r c u id a d o e s ta v a m tã o c o rro m p id a s q u e já e ra m d e v o ra d a s p o r v e rm e s; seus n e rv o s e sta v a m fro u x o s e ele re sp ira v a c o m d ific u ld a d e e seu h á lito era tã o m a u q u e n in g u é m o q u e ria p e rto . T o d o s os q u e c o n sid e ra v a m c o m p ie d a d e o e s ta d o d esse in fe liz p rín c ip e esta v a m d is p o s to s a a d m itir q u e tu d o a q u ilo e ra c a stig o visível de D e u s , p a ra p u n i- lo p e la sua c ru e ld a d e ”.2 H e r o d e s m o rre u n o a n o 4 o u 5 a .C ., e seu filh o , A rq u e la u , p assa a g o v e rn a r e m seu lu g a r n a J u d e ia . N a o casião , H e r o d e s A n tip a s se to r n a g o v e rn a d o r d a te tr a r q u ia d a G a lile ia e d a P e re ia , e F ilip e fica c o m o te tra r c a d a I tu re ia e d e T ra c o n ite s . A rq u e la u só re in o u d e z a n o s c o m o e tn a rc a d a J u d e ia . S u a c ru e ld a d e le v o u os ju d e u s a p ro te s ta r e m d ia n te d e A u g u s to ( M t 2 .2 2 ). E n tã o , ele fo i d e s titu íd o e a J u d e ia , in c o rp o r a d a à S íria e g o v e rn a d a p o r p ro c u ra d o re s , e n tre os q u ais, P ô n c io P ila to s , q u e se to r n a p r o c u ra d o r n o a n o 2 6 d .C ., so b q u e m fo i m o rto Jesu s. 2

H /s t ir a ; aos

a>\-/ts.

Livro X \ II. CPAD: Rio de janeiro. 2(HJl

E s t u d o s de T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

H e r o d e s A n tip a s , q u e g o v e rn o u a G a lile ia e a P e re ia , d iv o rc io u -s e d e su a le g ítim a e sp o sa , filh a d o rei A re ta s , g o v e rn a d o r d o s á rab es n a b a te a n o s , p a ra c a sa r-se c o m H e r o d ia s ,

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Es t u d o s d e T e o l o g i a

VOLUME 2

m u lh e r d o seu irm ã o F ilip e . E sse p e c a d o p e s o u -lh e im e n s a m e n te , p o is, p o r isso, foi re p re e n d id o p o r J o ã o B a tis ta . S u a m u lh e r 0 in d u z iu a d iv erso s erro s, in c lu siv e ao d e m a n d a r m a ta r Jo ã o . E é ju s ta m e n te esse H e r o d e s q u e Je su s c h a m a d e ra p o sa (M c 8 .1 5 ). E n tr e os a n o s 41 e 4 4 d .C ., a J u d e ia v o lta a ser g o v e rn a d a p o r u m d o s H e r o d e s . P o r ser a m ig o d e C a líg u la , q u a n d o este se to r n a im p e ra d o r, eleva H e r o d e s A g rip a , n e to d e H e r o d e s , o G r a n d e , ao ca rg o d e rei d a J u d e ia . F o i ele q u e m m a n d o u m a ta r T ia g o , irm ã o d o a p ó s to lo Jo ã o , e q u e m m a n d o u ta m b é m p r e n d e r a P e d ro , o q u a l foi m ila g ro s a m e n te lib e rto (A t 12). P o r fim , d e v id o à su a so b e rb a , fo i fe rid o p o r u m a n jo e m o rre u c o m id o d e b ic h o s.

Revoltas judaicas V ários fo ra m os m o v im e n to s in te rn o s q u e v ia m n o ju lgo ro m a n o u m a o p re ssã o q u e p re c isa v a ser d e s tru íd a . P elo m e n o s trê s d e ste s e stã o d e s c rito s n o N o v o T e s ta m e n to , e a eles se re fere , ta m b é m , Jo se fo . T e u d a s e J u d a s (A t 5 .3 6 ,3 7 ) e, a in d a , u m e g íp c io (A t 2 1 .3 8 ) a g ita ra m esse p e río d o . J o se fo n o s in fo rm a q u e esse J u d a s era d a c id a d e d e G a m ala, q u e, se n d o a ju d a d o p o r u m fa rise u d e n o m e S a d o q u e , in c ito u o p o v o a se re b elar, d iz e n d o q u e a fin a lid a d e d o c e n so re a liz a d o p e lo Im p é r io R o m a n o e ra e sc ra v iz á -lo s. O p o v o , im p re s s io n a d o , re b e lo u -s e e h o u v e la tro c ín io , sa q u e s e assassin a to s p o r to d o s os lad o s.

E s t u d o s de T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

T e u d a s e ra u m m a g o q u e p e rs u a d iu o p o v o a s e g u i-lo até o J o rd ã o , d iz e n d o q u e era p ro fe ta e q u e d e te r ia o cu rso d o rio c o m a p e n a s u m a p a la v ra . P o r m e io d isso , lev o u o p o v o à re b eliã o . M a s , p o r fim , o p o v o foi d isp e rso e T e u d a s tev e sua c a b e ç a c o rta d a e lev ad a p a ra J e ru s a lé m . Q u a n to ao e g íp c io re fe rid o n o liv ro d e A to s 2 1 .3 8 , era m ais u m d esses falso s p ro fe ta s q u e ilu d e seus o u v in te s c o m p alav ras d o ces. E sse h o m e m , q u e se d e n o m in a v a p ro fe ta , c o n s e g u iu c h a m a r a a te n ç ã o d e seus o u v in te s s im p le s m e n te p o rq u e d iz ia q u e , d e p o is d e p ro fe rir a lg u m a s p alav ras, os m u ro s d e J e ru s a lé m c a iria m p o r te rra . Q u a n d o o p ro c u ra d o r F élix so u b e d isso , fo i a ta c á -lo c o m g ra n d e n ú m e ro d e so ld a d o s. C e rc a d e q u a tro c e n ta s p esso a s q u e o se g u ia fo i m o r ta e d u z e n to s fo ra m fe ito s p ris io n e iro s , m as o e g íp c io e sc a p o u . T a m b é m , e m o u tra o casião , P ô n c io P ila to s in tr o d u z iu n a c id a d e leg iõ es ro m a n a s q u e tra z ia m e m suas b a n d e ira s a im a g e m d o im p e ra d o r. O s ju d e u s p ro te s ta r a m ta n to q u e P ila to s e n v io u u m p e lo tã o d e so ld a d o s, a m e a ç a n d o m a tá -lo s se n ão p a ra s s e m d e in c o m o d á -lo . M a s os ju d e u s d o b ra ra m os seus jo e lh o s e e x p u se ra m suas g a rg a n ta s , m o s tra n d o q u e m o rre ria m d e b o m g ra d o p e la su a fé. M e d ia n te isso, o g o v e rn a d o r a d m iro u -s e e m a n d o u re tira r os e s ta n d a rte s . T a m b é m , d u r a n te o re in a d o d o lo u c o im p e r a d o r C a líg u la , fo i o rd e n a d o q u e , d e n tro d o te m p lo d e J e ru s a lé m se c o lo c a sse u m a e s tá tu a d o im p e ra d o r q u e, a g o ra , se d iz ia ser u m d eu s e q u e ria q u e to d o s o a d o ra sse m . O s ju d e u s m a n d a r a m u m a d e le g a ç ã o a R o m a , c h e fia d a p e lo c é le b re filó so fo ju d e u F ilo ,

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

VOLUME

2

d e A le x a n d ria , m as C a líg u la se q u e r os re c e b e u e o rd e n o u ao c o m a n d a n te P e trô n io q u e co lo casse a im a g e m n o te m p lo , n e m q u e, p a ra isso, tiv esse d e m a ssa c ra r os ju d e u s . M u ito s d eles m o rre ra m , m as fiz e ra m d e seus c o rp o s u m a b a rre ira h u m a n a , p e lo q u e P e trô n io d e sistiu d ia n te d e ta l firm e z a . A o sab e r d isto , C a líg u la m a n d o u q u e ele se m a ta sse . T o d a v ia , a n te s d e a c a rta ch e g ar, C a líg u la já estav a m o r to e P e trô n io foi salvo.

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

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C a p ít u l o 11

0 CERCO E A QUEDA DE JERUSALÉM

C a d a v ez m ais, os ju d e u s elev av am suas v o ze s c o n tra a o d ia d a R o m a . A o p a r tid o d o s z e lo te s, a flu ía m fa n á tic o s e re b e ld e s q u e re c la m a v a m d o d o m ín io e stra n g e iro . O s ab u so s d o s p ro c u ra d o re s ro m a n o s to rn a v a m a situ a ç ã o a in d a m ais d e lic a d a . O m o v im e n to ia -se ra d ic a liz a n d o . Q u a n d o o p r o c u ra d o r F lo ro ex ig iu d o is ta le n to s d e o u ro d o te s o u ro d o te m pio , n o a n o 66 d .C ., a re v o lta e s to u ro u . A g u a rn iç ã o ro m a n a foi a ta c a d a e J e ru s a lé m caiu n a m ã o d o s re b e ld e s. P o r c o n ta desse fato , irro m p e u a re b e liã o p o r to d o o p aís. N a G a lile ia , a re v o lta foi a b a fa d a , m as, n a J u d e ia , a g u e rra a in d a p ro s s e g u iu e in ú m e ro s ju d e u s se re fu g ia ra m e m J e ru s a lé m , q u e j á se e n c o n tra v a lo ta d a , d e v id o à fe sta d a P ásco a . E m m e io a e sta c a m p a n h a , m o rre o im p e ra d o r N e ro . V esp a sia n o , q u e e n tã o ch efiav a a g u e rra c o n tra os ju d e u s , é c h a m a d o a R o m a e, p o r isso, d eix a o cerco d e J e ru s a lé m p o r c o n ta d e seu filh o , T ito . O s ju d e u s, a p e sa r d a fo m e a q u e e sta v a m su je ito s, re c u sa v a m -se a se re n d e r. P o r d iv ersas v ezes, T i t o o fe re c e u -lh e s p ro p o s ta s d e p az . N e m m e s m o a in te rm e d ia ç ã o d e Jo se fo , q u e m ais ta rd e seria o céleb re h is to r ia d o r d essa g u e rra , seria su fic ie n te p a ra le v á -lo s à razão .

En c i c l o p é d i a

M u ito s ju d e u s te n ta v a m e sc a p a r d u ra n te a n o ite e, u m a v e z a p a n h a d o s , e ra m c ru c ific a d o s p e lo s ro m a n o s . T a n to s fo ra m c ru c ific a d o s q u e to d a a flo re sta q u e h a v ia ao re d o r d e J e ru s a lé m fo i d e v a sta d a . E s p a lh o u - s e ta m b é m e n tre os so ld a d o s ro m a n o s q u e os ju d e u s e n g o lia m o u ro q u a n d o fu g ia m , n a e s p e ra n ç a d e re c u p e rá -lo d e p o is. D e v id o a isso, os fu g itiv o s, q u a n d o a p a n h a d o s , tin h a m o v e n tre a b e rto , a in d a vivos, p e los so ld a d o s. Q u a n d o T i t o so u b e o q u e estav a a c o n te c e n d o , p u n iu os acu sad o s. O e sp e c tro d a fo m e a p o d e ro u -s e d a c id a d e p o v o a d a . A m o r te fa zia u m a c o lh e ita te rrív e l. A â n sia d e c o m e r fosse o q u e fosse n ã o c o n h e c ia m a is lim ite s , m a ta v a q u a lq u e r o u tro s e n tim e n to h u m a n o . A fo m e , c a d a v e z m ais in s u p o rtá v e l, a n iq u ila v a fa m ílias in te ira s . O s te rra ç o s e sta v a m c h e io s d e m u lh e re s e c ria n ças d e sfa le c id a s, as ru a s ju n c a d a s d e v e lh o s m o rto s . C ria n ç a s e jo v e n s c a m b a le a n te s a n d a v a m c o m o fa n ta s m a s p e la c id a d e , até q u e c a ía m . T ã o e sg o ta d o s e sta v a m q u e n ã o p o d ia m e n te r ra r n in g u é m e c a ía m so b re os m o rto s ao q u e re r e n te rrá -lo s . A m is é ria e a fo m e a lc a n ç a ra m ta l p a ta m a r q u e a sim p le s su g e stã o d e q u a lq u e r co isa c o m e stív e l e ra u m fo rte m o tiv o d e lu ta e n tre eles p a ra se a p o d e ra re m d a co isa q u e p o d e ría ser c o m id a . M e lh o re s a m ig o s lu ta v a m e n tre si, a rra n c a v a m u n s aos o u tro s as co isas m ais m iseráv e is. N in g u é m a c re d ita v a q u e os m o r ib u n d o s n ã o tiv e sse m a lg u m a lim e n to . O s la d rõ e s se a tira v a m aos q u e ja z ia m n as ú ltim a s e re v is ta v a m -lh e s as ro u p a s. E sse s la d rõ e s a n d a v a m d e u m la d o p a ra o u tro , b a te n ­

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Es t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

d o às p o rta s d as casas c o m o é b rio s. E m seu d e se sp e ro , b a tia m d u a s o u trê s v ez es n o m e s m o d ia e m u m a m e s m a casa. M u ito s c h e g a ra m a ro e r seu c in tu rã o e sa p a to s, e a té m e s m o o c o u ro d o s casaco s. O u tr o s ta n to s c o m ia m a té fe n o v e lh o e ta lo s de ervas. M u ito s p e r c o rria m as ru a s e m b u s c a d e a lim e n to s . C e r to d ia, d e u m a casa saía u m c h e iro m u ito f o r te d e c a rn e assad a. D ia n te d isso , a q u e le s h o m e n s p e n e tr a r a m , im e d ia ta m e n te , n a h a b ita ç ã o e se d e p a ra ra m c o m M a r ia , filh a d e u m a n o b re fa m ília , e x tra o rd in a ria m e n te ric a , d a J o r d â n ia O r ie n ta l. M a r ia h a v ia p e re g rin a d o a J e ru s a lé m p o r o c a siã o d a P ásco a . O s fa m in to s , e n tã o , a m e a ç a ra m ‫ ־‬n a d e m o r te se n ã o lh e s e n tre g a sse o assad o . P e rtu rb a d a , a m u lh e r e s te n d e u -lh e s o q u e p e d ia m , e eles v ira m , p e trific a d o s , q u e e ra u m re c é m -n a s c id o m e io d e v o ra d o - o p ró p rio filh o d e M a ria . A n o tíc ia tra n s p ô s os m u ro s e T ito , q u a n d o so u b e , ju r o u q u e aq u ele c rim e n ã o fica ria im p u n e . C o n s e g u ira m , p o r fim , p e n e tr a r n a c id a d e . T i t o p e d iu , to d o o te m p o , q u e o te m p lo fo sse p o u p a d o , d e v id o à su a s u n tu o s id a d e . M a s , e m m e io aos d u ro s c o m b a te s , u m so ld a d o a p a n h o u u m a to c h a e a tiro u p a ra d e n tr o d o sa n tu á rio . C h e io de m a te ria is in fla m á v e is, o fo g o lo g o se a la s tro u , e m b o ra o g e n e ra l te n ta s s e im p e d ir as c h a m a s , j á n ã o e ra p o ssív el: a tu d o c o n s u m ira m . E os so ld a d o s, im p u ls io n a d o s p e lo d ese jo d e saq u e , n a d a fiz e ra m p a ra im p e d ir isso. C o m o h a v ia rev estim e n to d e o u ro p o r to d a a p a rte , os so ld a d o s d e r ru b a ra m tijo lo p o r tijo lo , p a ra se a p o d e ra re m d o o u ro .

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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En c i c l o p é d i a

S e g u n d o in fo rm a ç õ e s d o h is to r ia d o r T á c ito , h a v ia n a cid a d e 6 0 0 m il p esso as. F lá v io J o se fo re g is tra q u e só p o r u m a p o r ta d a c id a d e fo ra m re tira d o s , n o esp a ço d e trê s m eses, c e n to e q u in z e m il e o ito c e n to s cad áv ere s d e ju d e u s . N o v e n ta e sete m il fo ra m fe ito s p risio n e iro s. N o a n o 71 d . C . , T i t o m o s tra v a a g ló ria d e su a v itó ria so b re os ju d e u s , fa z e n d o u m im e n s o d esfile triu n fa l. O c a n d e la b ro d e sete b ra ç o s (o M e n o r á ) e a m e sa d o s p ães d a p ro p o siç ã o fo ra m c o n d u z id o s a R o m a e re p re s e n ta d o s n o A rc o d e T ito , o q u a l ele e rig iu p a r a c o m e m o ra r e sta c a m p a n h a . C o m e ç a , a ssim , o m a io r p e r ío d o d a d iá s p o ra ju d a ic a , q u e só e n c o n tr a ria seu fim q u a se d o is m il a n o s d e p o is.

O M emora sendo carregado pelos soldados de Tito

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E s t u d o s de t e o l o g i a

VOLUME

2

C a p ít u l o 12

PERÍODO HISTÓRICO

E s te é o m a io r p e r ío d o d a d isp e rsã o d e Isra e l. D u r a n te ce rca d e 1 9 0 0 a n o s, os isra e lita s fic a ra m e s p a lh a d o s p e lo m u n d o , v a g a n d o e n tre as n a ç õ e s, v ítim a s d e p e rse g u iç ã o e a ssa ssin a to , te n d o c o m o ú n ic o elo d e lig a ç ã o a e s p e ra n ç a d e u m d ia r e to r n a r à te r r a d e Israel. P o r d iv ersas v ezes, fo ra m ex p u lso s d e n a ç õ e s o n d e v iv iam h á te m p o s . O u tr a s v ezes, fo ra m c r u e lm e n te assa ssin a d o s. S e m c o n ta r as vezes e m q u e fo ra m o b rig a d o s a ac eita r, p e la fo rç a d a e sp a d a , u m a re lig iã o q u e n ã o e ra a su a. A s s im , s o b re v iv e ra m esses h e ró is p o r c a u sa d e su a fé.

A revolta de Bar Kochba Q u a n d o A d r ia n o a s s u m iu o tr o n o , e m 1 1 7 d . C . , p r o m e te u a o s j u d e u s lib e r d a d e e to le r â n c ia re lig io s a . M a is d o q u e isso , g a r a n t iu q u e lh e s d a r ia p e r m is s ã o p a r a r e c o n s tr u ir J e r u s a lé m e r e s ta u r a r o s s e rv iç o s re lig io s o s n o te m p lo . M a s , e m p o u c o te m p o , A d r ia n o p r o v o u q u e su a s p r o m e s s a s h a v ia m s id o a p e n a s p a la v r a s v a z ia s , m u d a n d o , d e m a n e ir a d r a m á tic a , s u a p o lític a e m re la ç ã o a o s ju d e u s ,

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DE

TEOLOGIA

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E

n c i c l o p é d i a

c a u s a n d o g r a n d e r e v o lta n o s h a b ita n te s d e J e r u s a lé m e re dondeza. E s s a re v o lta a u m e n to u m a is a in d a q u a n d o esse im p e ra d o r, q u e re n d o le v a r a v a n te su a p o lític a d e to r n a r h o m o g ê n e a a c u ltu ra ro m a n a , tra n s f o r m o u J e ru s a lé m e m u m a v e rd a d e ira c id a d e ro m a n a , d e n o m in a n d o - a Aelia Gapitolina, o q u e c a u so u e n o r m e a g ita ç ã o , e o fa m o s o ra b in o A k iv a te n to u c o n te r as m assas. E n tã o , u m d e s c e n d e n te d a lin h a g e m d e D a v i, c h a m a d o S im ã o b a r K o z e b a , to r n a - s e líd e r d a re b eliã o . S u a lin h a g e m c o la b o ra v a p a ra q u e ele p u d e s s e ser c o n s id e ra d o o M e ssia s. A té m e s m o o sáb io ra b in o A k iv a o se g u iu e m u d o u o n o m e d e le p a ra B a r K o c h b a , o u seja, “F ilh o d a e stre la ”. N a p rim e ira fase d a re b e liã o , J e ru s a lé m fo i to m a d a p e lo s ju d e u s e os sac rifício s, re sta b e le c id o s, a in d a q u e se m o te m p io . O p ró p rio S in é d rio fo i re o rg a n iz a d o , m e s m o q u e p o r p o u c o te m p o . N o v a m e n te , e ra h a s te a d a a b a n d e ir a d a in d e p e n d ê n c ia ju d a ic a . E m 135 d .C ., n a c id a d e d e B e ta r, p ró x im o a J e ru s a lé m , o n d e se e n c o n tra v a o q u a r te l- g e n e ra l d e B a r K o c h b a , h a v ia fo c o s d e re b eliã o . A d ria n o , s a b e n d o d isso , e n v io u v á ria s tr o p as a té o lo c a l p a ra c o n te r a a g ita ç ã o , m a s o q u e re a lm e n te o c o rre u fo i a e x te rm in a ç ã o e m m a ssa d e h o m e n s , m u lh e re s e c ria n ç a s - q u e lu ta v a m c o n tra as d e te rm in a ç õ e s d o im p e ra d o r, p r o ib in d o - o s d e se g u ir os p re c e ito s b á sic o s d o ju d a ís m o . A c id a d e c a iu a p ó s trê s a n o s e m e io d e cerco . B a r K o c h b a estav a e n tre os m o rto s . R a b in o A k iv a e seus d isc íp u lo s fo ra m

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

m a rtiriz a d o s . E s s a se ria a ú ltim a d as te n ta tiv a s d e in d e p e n d ê n c ia d o s ju d e u s d u r a n te m u ito s sécu lo s.

Novos centros da diáspora O s ju d e u s tin h a m , a g o ra , d e e n c o n tr a r n o v o s te rr itó rio s p a ra q u e p u d e s s e m se e sta b e le c e r e p ro s s e g u ir c o m su a ex istê n c ia . C e rc a d e 4 0 0 m il ju d e u s p e r m a n e c e r a m e m c o m u n id a d e s e sp a lh a d a s p e la G a lile ia , a m a io ria n as c id a d e s d e T ib e ría d e s e T z ip o ri, e x is tin d o m e n o re s e m S h a fra m e B e t S h e a rim . M a s , n esse p e r ío d o in ic ia l, fo ra m p riv a d o s d e su a m á x im a ex p ressão , p e lo fa to d e te re m sid o p ro ib id o s d e ex e rce r m u ito s a sp e c to s d e su a relig ião , c o m o , p o r e x e m p lo , a c irc u n c isã o , a g u a rd a d o sá b a d o , a o rd e n a ç ã o ra b ín ic a e /o u q u a lq u e r o u tr a o b s e rv â n c ia d a lei. O su c e sso r d e A d ria n o , A n to n in o P io (1 3 8 -1 6 1 ) , to d a v ia , fo i m a is H beral, o q u e p o s s ib ilito u aos ju d e u s u m re n a s c im e n to . O e s tu d o p a sso u a ser c o n s id e ra d o a e ssê n c ia d a so b re v iv ê n c ia n a c io n a l p a ra u m p o v o ao q u a l fa lta v a m as c o n d içõ es n o rm a is d e id e n tid a d e co letiv a. D u r a n te u m b o m te m p o , a G a lile ia te v e o c e tro d a lid e ra n ç a e s p iritu a l p a r a a c o m u n id a d e ju d a ic a . N e la , v iv e ra m h o m e n s d e g ra n d e c a p a c id a d e , c o m o , p o r e x e m p lo , S h im o n b e n Io k h a i, Io ssi b e m H a la f ta e os ra b in o s N a ta n e I o k h a n a n b a r N a p a k h a . T o d a v ia , o m a is fa m o s o fo i o ra b i M e ir, q u e p ro n u n c ia v a e escrev ia o liv ro d e E s te r d e cor, sem e r ra r u m a ú n ic a le tra . E r a fa m o s o p e la s su as fá b u la s, e d e le se d izia: “A q u e le q u e to c a o b a s tã o d e M e ir se to r n a sá b io ”.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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ENCICLOPÉDIA

D e p o is , h o u v e u m d e s lo c a m e n to p a ra a B a b ilô n ia e a S íria , o n d e g ra n d e s c o m u n id a d e s ju d a ic a s se e sta b e le c e ra m . E m b o r a o p o v o a m e n to ju d a ic o te n h a se in ic ia d o ali d e sd e a é p o c a d e N a b u c o d o n o s o r, o c re s c im e n to d o c ris tia n is m o re tiro u c a d a v e z m a is o d e s lo c a m e n to d o c e n tro d e in flu ê n c ia d e J e ru s a lé m p a r a a B a b ilô n ia , o n d e h a v ia c id a d e s q u a se q u e c o m p le ta m e n te ju d a ic a . A q u i, fo i p ro d u z id o o fa m o s o T a lm u d e b a b ilô n ic o , m u ito m a is c o m p le to q u e o p a le s tin o , p o is su a fo rm a ç ã o le v o u q u a se d e z sécu lo s p a ra ser e sc rita . T r a ta -s e d e to d a u m a co le ç ã o d e le n d a s , p o e m a s , c o n to s , aleg o ria s, in te rp re ta ç õ e s , reflex õ es é tic a s e re m in is c ê n c ia s h is tó ric a s re la c io n a d a s c o m as E s c ritu ra s . A lé m d e ssa fo rte c o m u n id a d e , e x istia m m u ita s o u tra s n o N o r te d a E u r o p a , o n d e os ju d e u s fo ra m c h a m a d o s d e a sq u e n az is. M a s , o fa to d e o c ris tia n is m o to r n a r - s e re lig iã o oficial e te r d o m in a d o to d a a E u r o p a fe z c o m q u e a situ a ç ã o d essas c o m u n id a d e s se to rn a s s e c a d a v e z m a is in se g u ra . M u ita s m e d id a s re stritiv a s fo ra m p ro m u lg a d a s , p ro ib in d o os ju d e u s de se c a sa re m c o m c ristã o s, te re m escrav o s c ristã o s e c o n s tru íre m n o v as sin a g o g a s.

A era islâmica E n q u a n to isso, os ju d e u s q u e v iv ia m n a E u r o p a v ira m as n a ç õ e s se to r n a r e m c a tó lic a s e p a s s a re m a a d o ta r u m a p o lític a a n tis s e m ita . N a E s p a n h a , os c o n c ílio s e c le siá stic o s d e T o le d o e x ig ia m a a p lic a ç ã o d as leis a n tiju d a ic a s . N a F ra n ç a , d u r a n te a d in a s tia d o s m e ro v ín g io s , e x ig iu -se o b a tis m o o u

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2

a e x p u lsã o d o s ju d e u s , e m 6 2 9 , o q u e le v o u m u ito s a u m a co n v e rsã o n o m in a l. C o m to d a s essas p re ssõ e s, o n ú m e ro d e ju d e u s d e c a iu e m to d a a re g iã o d o I m p é r io R o m a n o . D o s trê s m ilh õ e s d e ju d e u s q u e e x istia m n o te m p o d o s e g u n d o te m p io , e ste n ú m e ro c a iu p a ra m e n o s d e m e io m ilh ã o n o in íc io d o séc u lo 7°. P o r esse te m p o , a situ a ç ã o n a c o m u n id a d e d a B a b ilô n ia foi m e lh o r d o q u e n as re g iõ e s d a E u ro p a . A d in a s tia S a ssa n id a fo i m a is b r a n d a , c o m ra ra s ex ceçõ es. A s s im se n d o , os ju d e u s c o n s tru íra m , n e ssa c id a d e , o m a io r re se rv a tó rio d e fo rç a e sp iritu a l e física ju d a ic a . O a n o 6 2 2 d .C . m a r c a o in íc io d o c a le n d á r io m u ç u lm a n o , q u a n d o M a o m é fo g e d e M e c a p a r a M e d i n a . E n tra v a , e n tã o , n o m u n d o M e d i t e r r â n e o e n o O r i e n t e M é d io u m a n o v a e ra , d o m in a d a p e lo s s e g u id o r e s d o A lc o r ã o , liv ro s a g ra d o d o s m u ç u lm a n o s . E m M e d i n a , a p o s iç ã o d e M a o m é , n o q u e ta n g e ao s á ra b e s , e s ta v a a s s e g u r a d a . M a s e n c o n tr o u in e s p e r a d a r e s is tê n c ia p o r p a r te d o s ju d e u s . P o r c a u s a d a s e m e lh a n ç a d a n o v a r e lig iã o c o m o j u d a í s m o , M a o m é e s p e ra v a c o n ta r c o m a s im p a tia d o s ju d e u s á r a b e s , a c r e d ita n d o q u e e le s a b r a ç a r ia m , s e m h e s ita ç ã o , o ju d a ís m o . T o d a v ia , ele d e ix o u d e r e c o n h e c e r d o is f a to r e s . P r im e ir o , o a lto g r a u d e c o n s c iê n c ia c u ltu r a l e h is tó r ic a q u e e x is tia e n tr e o s j u d e u s d a A r á b ia e q u e e ra , e m b o a p a r te , re s p o n s á v e l p e lo d e s d é m e m re la ç ã o a e s te p r e te n s o p r o f e ta e se u s d is c íp u lo s g ro s s e iro s e ile tr a d o s . S e g u n d o , a d e s ta c a d a p o s iç ã o p o lític a e s o c ia l d o s ju d e u s á r a b e s , q u e

e s t u d o s

d e

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n c i c l o p é d i a

to r n a v a d e s n e c e s s á r io p a r a eles t o m a r e m c o n s id e r a ç ã o a co n v e rsã o c o m o m e io d e p ro g re d ir so c ia lm e n te . D e q u a lq u e r m o d o , e n fu re c id o p o r su a o p o siç ã o e in v ejo so d e se u êx ito fin a n c e iro , M a o m é c o n c e b e u u m ó d io ao s ju d e u s q u e , e m a n o s s u b s e q u e n te s te ria c o n se q u ê n c ia s g rav es p a r a os d e s c e n d e n te s d e A b ra ã o . M a s , n o g e ra l, a situ a ç ã o d o s ju d e u s fo i p o sitiv a . M a o m é m o rre u e m 6 3 2 e, sob a d o m in a ç ã o m u ç u lm a n a , os ju d e u s in g re s s a ra m n u m n o v o p e r ío d o d e e x p a n sã o física e in te le c tu a l. E m c o n tra s te c o m o z o r o a s tris m o e o c ris tia n is m o , q u e so fre ra m g ra n d e d e c a d ê n c ia , os ju d e u s n ã o só c o n se rv a ra m su a c re n ç a a n c e s tra l c o m o ta m b é m g a n h a r a m u m a n o v a fo rça n o s p a íse s d a c o n q u is ta m u ç u lm a n a . N a s re g iõ e s d a B a b ilô n ia e d a P a le s tin a , os ju d e u s flo re sc e ra m c o m o n u n c a , b e m c o m o n as c o m u n id a d e s ju d a ic a s d a S íria e d o E g ito e n a re g iã o a O e s te , p ró x im o ao lo c a l d a a n tig a c id a d e d e C a rta g o . E x istia m ce rtas re striç õ es so frid as p elo s ju d e u s , co m o , p o r ex em p lo , a p ro ib iç ã o d e c o n s tru ir sin ag o g as, u m im p o s to esp ec ia l p a g o s o m e n te p elo s n ã o m u ç u lm a n o s, a p ro ib iç ã o d e a n d a r a cavalo e p o rta r a rm a s, d e ca sar c o m m u ç u lm a n o s e a co n v ersão só era p e r m itid a d e u m a fé m u ç u lm a n a p a ra o Islã. M a s , essas im p o siç õ e s ra ra m e n te e ra m ap licad as n a ín te g ra . O s ju d e u s n ã o e ra m o b rig a d o s a viver e m g u e to s e p o d ia m m a n te r suas p ró p ria s in stitu iç õ e s c o m u n itá ria s. A ssim , os tr ib u n a is ju d a ic o s ex erciam p o d e r ju d ic iá rio c o m p le to so b re a co m u n id a d e e n ã o era n ecessário re c o rre r aos trib u n a is árabes.

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A s c o m u n id a d e s ju d a ic a s , n a m a io r p a r te d a s v ez es, p u d e ra m fu n c io n a r c o m re la tiv a a u to n o m ia n a ex ecu ção d e seus n e g ó c io s in te rn o s . M e s m o as leis re la tiv as a co res esp eciais, p elas q u a is os tra je s d e in fiéis d e v e ría m d is tin g u ir- s e d o s tr a je s d o s m u ç u lm a n o s , e ra m fr e q u e n te m e n te ig n o ra d a s , e m b o ra, e m o u tro s caso s, fo sse m n ã o só a p lic a d a s, m a s lev ad a s a e x tre m o s a b su rd o s. U m califa fa tím id a , p o r e x e m p lo , o rd e n o u aos ju d e u s u s a re m b o la s d e d o is q u ilo s e m v o lta d o p e sc o ç o , e m c o m e m o ra ção à c a b e ç a d e b e z e rro q u e seus a n c e stra is h a v ia m a d o ra d o . O u t r a p re sc riç ã o d iz ia q u e c a d a ju d e u d e v e ria u s a r u m d istin tiv o a m a re lo e m seu c h a p é u e p e n d u r a r n o p e sc o ç o u m a m o e d a d e p ra ta . L e g isla ç ã o a lg u m a , p o ré m , p o d ia im p e d ir c e rto g ra u d e c o n fra te rn iz a ç ã o . E isso, p rin c ip a lm e n te , n a s c a m a d a s m ais altas d a so c ie d a d e . O s ju d e u s g a lg a ra m altas p o siç õ e s n a área d as fin a n ç a s, m e d ic in a e e ru d iç ã o . O re s p e ito á ra b e p e la p e ríc ia ju d a ic a s o b re p u n h a -s e , m u ita s v ez es, às b a rre ira s leg ais e sociais. N o S u l d a E s p a n h a , fo i c o n s titu íd o u m g ra n d e re in o m u ç u lm a n o , o n d e eles fo ra m c h a m a d o s d e m o u ro s . A c id a d e de C o d o v a to r n o u - s e u m g ra n d e c e n tro c u ltu ra l, o n d e h a v ia u m a b ib lio te c a c o m ce rca 4 0 0 m il m a n u s c rito s . O e s c la re c im e n to c u ltu ra l d a E s p a n h a m u ç u lm a n a ia d e m ã o s d a d a s c o m a to le râ n c ia p o lític a . D u r a n t e o re in a d o d e A b b - e l- R a h m a n I I I , m u ito s ju d e u s a lc a n ç a ra m u m a p o siç ã o de d e s ta q u e n a a d m in is tra ç ã o . E n tr e eles, s a lie n to u -s e H a s -

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d a i ib n S h a p u t (9 1 5 -9 7 0 ) , q u e , d e m é d ic o d a c o rte , a sc e n d e u à p o siç ã o d e p rin c ip a l c o n s e lh e iro d o califa e m q u e stõ e s fin a n c e ira s e d ip lo m á tic a s . F o i c o m o ra b i M o s h ê B e n M a im o n (1 1 3 5 -1 2 0 4 ), c o n h e c íd o c o m o R a m b a m , q u e o p e río d o m u ç u lm a n o a tin g e o ápice. F o i p e la o b ra d e M a im ô n id e s q u e o p e n s a m e n to d o h e b ra ís m o p ó s-b íb lic o a lc a n ç o u o m u n d o n ã o ju d e u . F o i u m ilu stre m éd ico , d a c o rte d a fa m ília re al d e S alad in o . E screv eu o b ras m éd icas e d e c iên c ia n a tu ra l (a stro n o m ia , m a te m á tic a e física). A p e s a r d e su a d e b ilid a d e física, to m o u p a r te e m a ssu n to s seculares ju d a ic o s e c o m u n id a d e s ju d a ic a s d e to d o o m u n d o m e d ite rrâ n e o fre q u e n te m e n te re c o rria a ele p a ra q u e stõ e s de lei e é tic a ju d a ic a , b e m c o m o p a ra p ro b le m a s d e cren ça. T ã o g e n e ra liz a d a e ra a su a fa m a e tã o re v e re n c ia d a a su a le m b ra n ç a , q u e, ap ó s a su a m o rte , fo i h o m e n a g e a d o c o m a frase: “D e M o isés a M o isé s, n ã o su rg iu n in g u é m c o m o M o is é s ”. D o is séculos após a m o rte d e M a im ô n id e s, h o u v e u m a fren é tic a e a rb itrá ria p o lítica d e d iscrim in ação p o r p a rte d o s árabes co m relação aos ju d e u s e a q u a lq u e r g ru p o n ão m u çu lm an o . E ra m cu lp ad o s p o r to d o s os reveses q u e a tin g ira m os árabes, fe rin d o seu o rg u lh o e au to co n fian ça. C h e g a v a ao fim o p e río d o áureo das relações árabes ju d aicas e, c o n se q u e n te m e n te , d a p ró p ria civilização árabe estab elecid a n a P e n ín su la Ib érica.

Os judeus na Europa até 1492 O s ju d e u s f u n c io n a ra m c o m o u m a classe m e d ia n e ira e n tre a E u r o p a c ris tã e o m u n d o m u ç u lm a n o . O p rin c ip a l m o ti-

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vo fo i su a fa c ilid a d e e m c o m u n ic a r-s e c o m c o m u n id a d e s n o m u n d o in te iro m e d ia n te o h e b ra ic o . T o r n a r a m - s e , ta m b é m , g ra n d e s c o m e rc ia n te s . M a s , o se u p rin c ip a l d e s ta q u e , e m q u e s e m p re fo ra m d ifa m a d o s , fo i a d o e m p ré s tim o d e d in h e iro . C o m o as leis m u ç u lm a n a s e a Ig re ja C a tó lic a c ritic a v a m a u s u ra , le g a ra m e sta á re a aos in fiéis. A s s im , os ju d e u s o b tiv e ra m u m q u a se m o n o p ó lio . C o m o p a s s a r d o te m p o , reis e im p e ra d o re s ta m b é m fic a ra m v ita lm e n te in te re s s a d o s n o c o m é rc io m o n e tá r io ju d a ic o . A p a r tir d o s sécu lo s 10 e 11, c o m e ç a m a e x istir p ro v a s d e c o m u n id a d e s ju d a ic a s f irm e m e n te e sta b e le c id a s e m to d a s as c id a d e s im p o r ta n te s d a F ra n ç a e d a A le m a n h a . D e p o is d isso , a h a b ita ç ã o é c o n tín u a . A té o fin a l d o sécu lo 11, a re la ção e n tre ju d e u s e n ã o ju d e u s fo i re la tiv a m e n te tra n q u ila e a m is to sa . D iv e rsa s c o m u n id a d e s d e se n v o lv e ra m u m a flo re sc e n te v id a in te le c tu a l e s u s te n ta ra m a c a d e m ia s ta lm ú d ic a s . D e p o is , n o s séc u lo s 12 e 13, q u a n d o os E s ta d o s n a c io n a lis ta s c o m e ç a ra m a e v o lu ir n a A le m a n h a (sob F re d e ric o I I ) e n a F ra n ç a (so b F ilip e A u g u s to ), os ju d e u s , m a is u m a v ez, fo ra m v ítim a s d as in to le râ n c ia s d o m u n d o m e d ie v a l. O s ju d e u s , q u e a b rira m o c a m in h o p a ra o c o m é rc io n a tiv o e p a r a a in d ú s tria , p o d ia m ser d is p e n s a d o s . F ic a ra m n a m ã o d a Ig re ja C a tó lic a , q u e , c o n s ta n te m e n te , p re s s io n a v a m -n o s p a ra a co n v e rsão . N a s G r ã - B r e ta n h a , o d e c lín io d a c o m u n id a d e ju d a ic a fo i tã o rá p id o q u a n to a su a ascen são . F o ra m c h a m a d o s ao seu p a ís p o r c a u sa d e u m a u r g e n te n e c e ssid a d e e c o n ô m ic a - o d e s e n v o lv im e n to d o m e rc a d o m o n e tá rio . F o ra m tr a n s f o r ­

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m a d o s n u m a classe d e u s u rá rio s reais, cu ja p rin c ip a l fu n ç ã o e ra fo rn e c e r c ré d ito p a ra e m p r e e n d im e n to s ta n to p o lític o s q u a n to e c o n ô m ic o s. M a s , a p a r tir d o fin a l d o sécu lo 1 1 , a a titu d e d o s o c id e n ta is p a ra c o m os isra e lita s m u d o u r e p e n tin a m e n te . A s c ru z a d a s g e ra ra m in to le râ n c ia n o s c ristã o s. E o fa to d e os ju d e u s re c u sa re m v e e m e n te m e n te o b a tis m o , a g ra v o u e sta situ a ç ã o . E p o ssív el q u e, c o m o p a s s a r d o te m p o , m o tiv o s e c o n ô m ic o s p a ssa sse m a m o tiv a r esse a n tis s e m itis m o , u m a v e z q u e os j u d e u s e ra m os c a p ita lista s d a E u ro p a . A s u p e rs tiç ã o e a su g e stã o d as m assas to r n a r a m - s e d o is fa to re s im p o r ta n te s p a ra a p ro p a g a n d a a n tis s e m ita . A c u s a v a m os ju d e u s d e p r o fa n a r a h ó s tia . E m 1 1 7 9 e e m 1 2 1 5 , o C o n c ilio d e L a tr ã o e m itiu m e d id a s d is c rim in a tó ria s c o n tra eles. Is o la d o s e m c e rta s áreas, assim fo i a b e rto o c a m in h o p a ra os fu tu ro s g u e to s. E d u a r d o , rei d a In g la te r ra , p a ra re so lv e r o p ro b le m a , exp u ls o u os ju d e u s d e se u re in o , e m 1 2 9 0 . O s fra n c e se s se g u ira m o e x e m p lo d o s in g le se s e F ilip e , o B elo , e m su a av id ez, o c u p o u - s e d o s ju d e u s . E m 1 3 0 6 , to d o s os ju d e u s d a F ra n ç a fo ra m p re so s e p o s to s n a fro n te ira , te n d o os seus b e n s c o n fisca d o s. D e z a n o s d e p o is, p e r m itiu q u e eles v o lta sse m , m a s, e m 1 3 2 1 , c o m e ç o u a c irc u la r u m te rrív e l b o a to d e q u e os le p ro sos, p o r in s tig a ç ã o d o s ju d e u s , te ria m c o n ta m in a d o as fo n te s d e á g u a d o re in o . C o m isso, a p o d e ro u -s e d o p o v o u m a v e rd a d e ira h is te ria . M a ta r a m - s e , n e s ta o casião , a p e n a s le p ro so s, m a s os b o a to s p ro s s e g u ira m . Q u a n d o e s to u ro u a p e s te n e ­

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g ra n a E u r o p a , n ã o h o u v e d ú v id a d e q u e os ju d e u s fo ra m os c u lp a d o s. D ia n te d isso , o p o v o ex ig iu o sa n g u e ju d a ic o . E m E s tra s b u rg o , ce rca d e d o is m il ju d e u s fo ra m e n c u rra la d o s n o b a irro q u e lh e s estav a re se rv a d o e q u e im a d o s vivos. E m m u ita s c id a d e s, h o u v e c h a c in a s s e m e lh a n te s . M u ita s v ez es, fo ra m to r tu r a d o s e, p a ra p o r fim ao s o frim e n to , c o n fe ssa v a m -se c u lp a d o s. O u tr a s v ezes, s u ic id a v a m -s e j u n t o c o m to d a a fa m ília . T a m b é m , n a A le m a n h a , o a n tis s e m itis m o im p ô s p ro ib iç õ e s te rrív e is so b re eles, a té o p o n to d e te re m d e se re tira r. N a E s p a n h a , p o r e sse p e r ío d o , s u r g e m os m a r r a n o s j u d e u s , c o n v e r tid o s à f o r ç a ao c a to lic is m o . T a m b é m , e r a m c h a m a d o s d e c r is tã o s n o v o s , p a r a d if e r e n c ia r d o s d e m a is c r is tã o s . F o i a p r im e ir a v e z n a h i s t ó r i a q u e os ju d e u s se s u je ita r a m a is to , p r o v a v e lm e n te p o r q u e s u a c o n d iç ã o n a P e n ín s u la I b é r ic a , a té e n tã o , e r a b a s t a n t e p r ó s p e r a . C o m o te m p o , p a s s a r a m a s e r a c u s a d o s d e e s ta r e m p r a tic a n d o o ju d a ís m o o c u lta m e n te e, p o r c o n ta d is s o , f o r a m p e r s e g u id o s p e la I n q u is iç ã o . T a m b é m , a q u i, o p r in c ip a l m o tiv o p a s s a a s e r e c o n ô m ic o , u m a v e z q u e F e r n a n d o d e A r a g ã o b u s c a v a f u n d o s p a r a s u a g u e r r a c o n tr a os m o u r o s . P o r fim , e m 1 4 9 2 , os ju d e u s fo ra m d e fin itiv a m e n te expulsos d a E s p a n h a . A lg u n s p e rm a n e c e ra m e m P o rtu g a l em tro c a d e p a g a m e n to . A las, e m 1 4 9 6 , d. M a n u e l I, d esejo so d e ca sar co m a filh a d e F e rn a n d o , Isab el, só o b tev e o c o n s e n tim e n to c o m a c o n d iç ã o d e q u e livrasse o seu país d o s ju d e u s . E assim fez. E x p u ls o d essas te rra s , os ju d e u s e m ig ra ra m p a ra o N o r te d a Á fric a , R o m a , V e n e z a e o u tra s áreas d a Itá lia , P o lô n ia e

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T u rq u ia (fo i n essas d u a s ú ltim a s áreas q u e eles m a is flo re sc e ra m ). A p ó s a G u e r r a d o s T r in ta A n o s , fo i-lh e s p e r m itid o e m ig ra re m p a r a a H o la n d a , I n g la te r r a e N o v o M u n d o . N a H o la n d a , e ra m d o n o s d e , a p ro x im a d a m e n te , 2 5 % d o c a p ita l A

d a C o m p a n h ia d as ín d ia s O rie n ta is .

A aurora da emancipação A p a r tir d o sécu lo 17, o s ju d e u s c o m e ç a m u m a lu ta p e la a sc e n sã o e c o n ô m ic a e p o r a c e ita ç ã o e m face d o s p o v o s e u ro p e u s. E m m u ito s p a íse s, fo ra m fe ito s esfo rço s p a r a q u e os ju d e u s p u d e s s e m re c e b e r o títu lo d e c id a d ã o s e se rv ir o E s ta d o liv re m e n te . C h r is tia n W ilh e lm v o n D o h m , e sc rito r, d ip lo m a ta , a ris to c ra ta e p u b lic is ta h o la n d ê s , tu d o fe z n o se n tid o d a e m a n c ip a ç ã o d o s ju d e u s . A F ra n ç a c h e g o u a o fe re c e r u m p rê m io p a ra o m e lh o r e n sa io so b re o te m a : “H á m e io s d e to r n a r os ju d e u s m a is fe lize s e m a is ú te is n a F ra n ç a ? ”. A m e lh o r re s p o s ta v eio d e u m clérig o , m e m b ro d a A s s e m b lé ia N a c io n a l e q u e se m o s tro u u m d o s m a is a rd o ro so s d e fe n so re s e p r o m o to re s d o d ire ito d o s ju d e u s fra n c e se s. N a p o le ã o ta m b é m fo i c o n f ro n ta d o c o m a q u e s tã o ju d a ic a , re c e b e n d o m u ita s re c la m a ç õ e s d o s fra n c e se s c o m re la ç ã o a isso. M a s , q u a n d o a c h a v a m q u e ele to m a ria m e d id a s p re ju d iciais, o q u e ele fe z fo i re s ta b e le c e r o S in é d rio , c o m o ó rg ã o d e g o v e rn o n o s a s su n to s d o s ju d e u s . D e s s a fo rm a , a b rig a p o r d ire ito s ig u a is p ro s s e g u iu e m to d a a E u ro p a . O s ju d e u s j á n ã o q u e ria m ser v isto s c o m o u m p o v o à p a r te . Q u e r ia m assim ila ç ã o , q u e ria m in te g ra ç ã o ,

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q u e ria m a p e n a s fa z e r p a r te d o p a ís n o q u a l re sid ia m . Is to lev o u m u ito s a se a fa s ta re m d o ju d a ís m o c o m o re lig iã o e se in te g ra r e m c o m o c id a d ã o s e m seu s re sp e c tiv o s p aíses.

Antissemitismo e migrações N o sécu lo 19, o a n tis s e m itis m o a s s u m iu u m a n o v a fo rm a . A p o ia v a -s e e m te o ria s ra c ista s e fo i u s a d o c o m o in s tr u m e n to d e p o d e r p e lo s p a r tid o s p o lític o s. A d e s c o n fia n ç a re lig io sa e m re la ção aos ju d e u s n ã o e ra, sem d ú v id a , u m fe n ô m e n o n o v o . O s ju d e u s h a v ia m sid o p e rse g u id o s atra v és d o s te m p o s. A s su p e rstiç õ e s re lig io sa s flo re sc e ra m n a Id a d e M é d ia , te m p o e m q u e n ã o e sta v a m e m d e sa c o rd o c o m o e s p írito d a é p o c a . M a s q u e p e rsis tis s e m n o sécu lo 19, n u m a e ra d e id éias m o d e rn a s , p ro g re sso s c ie n tífic o s, in d u s tria liz a ç ã o , m o v im e n to s d e lib e rta ç ã o n a c io n a l, isso n ã o e ra, d ia n te d as c irc u n s tâ n cias, d e se esp erar. A m a is p e r s is te n te d essas s u p e rs tiç õ e s era a c a lú n ia d o sa n g u e , u m a v e lh a m istific a ç ã o s e g u n d o a q u a l os ju d e u s e ra m assassin o s ritu a is , q u e re c o lh ia m o sa n g u e d e c ristã o s p a ra a fa b ric a ç ã o d o matzot, o p ã o d a P á sc o a . N a d a p o d ia a p a g a r d a m e n te d o s c a m p o n e s e s ig n o ra n te s essa im a g e m d o ju d e u c o m o u m b e b e d o r d e san g u e . E m fe v ereiro d e 1 8 4 0 , u m sa c e rd o te c a tó lic o , d e p o siç ã o elev a d a, d e s a p a re c e u e a c u lp a fo i d e lib e ra d a m e n te c o lo c a d a n o s ju d e u s . E s s a e ra a situ a ç ã o d o s ju d e u s .

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O protocolo dos sábios de Sião E m 1 8 9 4 , N ic o la u I I to r n o u - s e o czar. F o i p e rs u a d id o p e lo s q u e o ro d e a v a m q u e seus m a io re s in im ig o s e ra m os sú d ito s ju d e u s . O p rin c ip a l in s tr u m e n to u sa d o p a ra a p r o p a g a ç ã o d e ssa id e ia fo i o p ro to c o lo d o s sáb io s d e S ião , u m a fa lsificação p re p a ra d a p a ra o e s c la re c im e n to d o czar. O s p ro to c o lo s fo ra m fa b ric a d o s n o e s c ritó rio p a ris ie n s e d a p o líc ia ru s s a e n tre 1 9 0 1 e 1 9 0 5 . N e sse s a n o s, fo ra m d iv u lg a d o s ao p ú b lic o e a p re s e n ta d o s ao czar. C o m o esse n ã o a c re d ito u n a su a a u te n tic id a d e , p a re c e te re m sid o te m p o r a r ia m e n te p o s to s d e lad o . S o m e n te d e p o is d e 1 9 1 9 q u e c ó p ias d o s m e sm o s tiv e ra m circ u la ç ã o a m p la , e s p e c ia lm e n te n a E u r o p a O c id e n ta l. O s p ro to c o lo s p r e te n d ia m d e m o n s tra r, p e lo s su p o sto s re la tó rio s d e u m C o n g re s s o J u d a ic o I n te r n a c io n a l, q u e h a v ia u m m u ito d ifu n d id o m o v im e n to ju d a ic o in te rn a c io n a l p a ra d e s tru ir o rg a n iz a ç õ e s cristãs e x iste n te s e s u b s titu í-la s p e la d o m in a ç ã o ju d a ic a m u n d ia l. N ã o e ra a R e v o lu ç ã o R u ssa u m a p ro v a d is to , u m a v e z q u e T ro ts k y e B e la K u n e ra m ju d e u s ? O s p ro to c o lo s fo ra m tra d u z id o s n a m a io ria d as lín g u a s e u ro p e ia s e, ta m b é m , e m ja p o n ê s e árab e. E m 1 9 2 1 , o jo r n a l Times , d e L o n d r e s , d e s m a s c a ro u os p ro to c o lo s c o m o u m a r e m a ta d a falsificação , b a s e a d a e m c la m o ro sa s m e n tira s . M a s já era ta rd e d e m a is. M u ito s q u e s e n tia m n e c e ssid a d e d e a c re d ita r n eles o d ifu n d ira m e ele fo i u s a d o p o r to d o o sécu lo 2 0 c o m o u m a a rm a c o n tr a os ju d e u s .

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antigo. 6 a ed . R io d e J a n e iro : J U E R P , 1 9 9 5 . M I L L A R D , A la n . Descobertas dos tempos bíblicos. S ão P a u 10: V id a , 1 9 9 9 . M O N E Y , N e tta K e m p de. Geografia bíblica. 1 0 a ed . S ão P a u lo : V id a , 1 9 9 9 . N A L B A N D I A N , G a r o e S A R A G O S A , A le s s a n d ra . A

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V E L T M A N , H e n r iq u e . A história dosjudeus no Rio de Ja-

neiro. S ão P a u lo : E d ito r a E x p re ssã o e C u ltu r a , 1 9 9 8 .

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H is t ó r ia d a Ig r e ja

De Cristo até a Reforma Protestante

VOLUME

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In t r o d u ç ã o

C o m e ç a m o s d i z e n d o q u e é im p o s s ív e l a p r o d u ç ã o d e u m liv ro d e t a l h a d o s o b re a h i s t ó r i a d a I g r e ja . N ã o i m p o r t a q u a n t a s p á g in a s s e ja m e s c r ita s , p a r e c e s e m p r e q u e a h i s t ó r i a se e s te n d e a lé m d e la s . P o r m a is d e d ic a d o q u e se ja o a u to r , a r e a lid a d e é q u e a c a b a o m i t i n d o a lg u m a c o is a , e s q u e c e n d o o u tr a s e a s s im p o r d ia n te . D i a n t e d e s s a p e r s p e c tiv a , n e s ta d i s c ip lin a p r o c u r a r e m o s a p e n a s f o r n e c e r u m a v is ã o p a n o r â m ic a d a h i s t ó r i a d a I g r e ja e d o s e u e n t r o s a m e n t o c o m a h i s t ó r i a d o m u n d o . N ã o se t r a t a , p o r é m , d e u m m a n u a l d e h i s t ó r i a e c le s iá s tic a . A n o s s a in te n ç ã o é a p r e s e n ta r , d e f o r m a a b re v ia d a , os p r in c ip a is e v e n to s , d u r a n te a c a m in h a d a d a I g r e ja d e n o s s o S e n h o r , a té c h e g a r à R e f o r m a P r o te s ta n te . A I g r e ja p a s s o u p o r s é c u lo s d e p e r s e g u iç ã o , q u a n d o in ú m e r o s m á r tir e s d e m o n s tr a r a m s u a fé, e n tr e g a n d o su a s v id a s , p e la c a u s a d o m e s tre . Je su s h a v ia d ito q u e “se o g rã o d e trig o , c a in d o n a te rra , n ã o m o rre r, fica ele só; m a s, se m o rre r, d á m u ito f r u to ” (J o 1 2 .2 4 ). E s ta d iv in a p a la v ra a p lic a -s e p e r f e ita m e n te aos p r im ó rd io s d a h is tó ria d o c ris tia n is m o . O s trê s p rim e iro s sé c u los d e su a h is tó r ia fo ra m a é p o c a d a s e m e a d u ra . E a s e m e n te c a iu p o r te rr a e m o rre u . P o r m a is d e d u z e n to s a n o s, a Ig re ja

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v iveu sob a o p re ssã o d o Im p é r io R o m a n o . E s c o n d id a n a te r ra, o p rim id a , m a rtiriz a d a . F o ra m n a d a m a is n a d a m e n o s d o q u e trê s sécu lo s d e lu ta r e n h id a e n tre o p o lite ís m o d o m in a n te n o m u n d o e o m o n o te ís m o d e tra d iç ã o ju d a ic a q u e o c ris tia n is m o v in h a afirm ar. A h is tó r ia d a Ig re ja é, p o is, u m a s s u n to d e e n o r m e re le v â n c ia p a ra o c ristã o q u e d e se ja e s ta r in fo rm a d o so b re su a h e r a n ç a e s p iritu a l p a ra im ita r os b o n s e x e m p lo s d o p a ssa d o e e v ita r os e rro s q u e a ig re ja , f r e q u e n te m e n te , te m c o m e tid o ao lo n g o d e su a ex istê n c ia . P a u lo n o s le m b ra e m , l C o r í n ti o s 1 0 .6 ,1 1 , q u e os e v e n to s d o p a ssa d o d e v e m n o s a ju d a r a e v ita r o m al e buscar o bem . O c o n h e c im e n to d o s fa to s q u e m a rc a ra m a so b rev iv ê n cia d a Ig re ja é d e s u m a im p o r tâ n c ia p a ra to d o a q u e le q u e d ese ja e n te n d e r c o m o se d e u a fu n d a ç ã o e a c o n fig u ra ç ã o d e to d o o a rc a b o u ç o te o ló g ic o e e c le sio ló g ic o , q u e seria , a p a r tir d aí, a c ris ta n d a d e , e tev e, p o r o b je tiv o , a a tu a liz a ç ã o e m su a p ró p ria v id a , q u e n ó s d e n o m in a m o s c ris tia n is m o .

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A IGREJA NOS PLANOS DE DEUS

N ã o é n a d a fácil fa la r so b re a o rig e m d a Ig re ja , p o ré m , p o d e m o s re fle tir so b re d o is m o m e n to s d is tin to s : o d o p ro je to e d a e x e cu ção d ela. N a p r im e ir a fase, p o d e m o s d iz e r q u e a Ig re ja se m p re e x istiu n o e te r n o p ro p ó s ito d e D e u s . E la já ex istia a n te s d a fu n d a ç ã o d o m u n d o , p o is e sta v a d e te r m in a d a p o r E le d e sd e a e te rn id a d e . N a s e g u n d a fase, a Ig re ja , q u e a n te s era d e s c o n h e c id a d o s h o m e n s , to r n o u - s e m a n ife s ta e m C ris to . E la , q u e e ra u m p ro je to d e D e u s , n a p le n itu d e d o s te m p o s , p o r m e io d o m in is té r io te rr e n o d e Je su s C ris to , v eio a ser c o n h e c id a . P o r tu d o o q u e fe z e e n s in o u , C r is to é m ais o f u n d a m e n to q u e o fu n d a d o r d a Ig re ja . I s to fica e v id e n te p e lo u so d o te m p o fu tu ro q u e e stá m e n c io n a d o e m M a te u s 1 6 .1 8 , q u e d iz: “T a m b é m e u te d ig o q u e tu és P e d ro , e so b re e sta p e d r a e d ific a re i a m in h a ig re ja , e as p o rta s d o in fe r n o n ã o p re v a le c e rã o c o n tra ela”. E m u m a o rd e m ló g ic a , e v id e n c ia d a p e la s E s c ritu ra s , sem d im in u ir as p esso a s d a T rin d a d e , p o d e m o s d iz e r q u e: D e u s P a i é o C r ia d o r e A r q u ite to d a Ig re ja , Je su s C r is to a m a te ria liz o u e o E s p ír ito S a n to a ed ifica. P a u lo , ao escrev er aos efésio s, d isse q u e: “C r is to a m o u a Ig re ja e a si m e s m o se e n ­

ENCICLOPÉDIA

tre g o u p o r ela, p a ra s a n tific á -la , p u rific a n d o -a c o m a la v a g e m d a á g u a , p e la p a la v ra , p a ra a p r e s e n tá -la a si m e s m o Ig re ja g lo rio sa , sem m á c u la , n e m ru g a , n e m co isa s e m e lh a n te , m as s a n ta e irre p re e n sív e l” (5 .2 5 -2 7 ). C o m e sta e o u tra s d e c la ra ç õ e s b íb lic a s, to r n a - s e c la ro q u e D e u s p la n e jo u a Ig re ja , C r is to d e u su a v id a p o r ela, seu C o r p o , e o E s p ír ito S a n to foi e n v ia d o p a ra lh e d a r p o d e r, a fim d e c u m p rir su a m issã o d e te s te m u n h a r d e C r is to e m to d a a p a r te d a te rra (J o 1 4 .1 6 ,1 7 ; A t 1 .8 ) e c h a m a r p e c a d o re s p a ra a c o m u n h ã o n e s ta n o v a so c ie d a d e q u e E le e stá e d ific a n d o , g u ia n d o e p re s e rv a n d o p a ra a e te rn id a d e . S e ja q u a l fo r a d a ta q u e v ie rm o s a e s ta b e le c e r p a ra o n a s c im e n to d a n o v a asso ciação , seja n a o ca siã o d a g ra n d e co n fissã o d e P e d ro , e m C e s a re ia d e F ilip e , o u n a n o ite d a re ssu rre iç ã o d o S e n h o r, h á p o u c a s d ú v id a s d e q u e , d e p o is d o P e n te c o s te s , os d o z e e sta v a m c o n s c ie n te s d e su a m issã o c o m o p ro p a g a d o re s d o ev a n g e lh o . A Ig re ja in ic io u su a h is tó ria c o m u m n ú m e ro re d u z id o d e p e sso a s. E n tr e ta n to , o E s p ír ito S a n to e x e rc e u g ra n d e in flu ê n c ia n a fu n d a ç ã o d a m e sm a . Is to estav a d e a c o rd o c o m a p ro m e s s a d e Je su s C ris to , q u a n d o , n a s ú ltim a s se m a n a s d e su a v id a , p ro m e te u e n v ia r “o u tro C o n s o la d o r ” q u e lid e ra ria a Ig re ja a p ó s su a ascen são . J u d e u s d e to d a s as p a rte s d o m u n d o e sta v a m p re se n te s e m J e ru s a lé m p a ra p a r tic ip a r d a F e s ta d e P e n te c o s te s , q u a n d o , n a m e s m a o ca siã o , os d isc íp u lo s fo ra m c h e io s d o E s p ír ito S a n to , e v e n to q u e se to r n o u u m m a rc o d iv iso r n a v id a d o s p rim e iro s se g u id o re s d e C r is to ( A t 2 .5 -1 1 ). A m a n ife s ta ç ã o

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s o b re n a tu ra l d o p o d e r d iv in o n o fa la r e m lín g u a s, c la ra m e n te e v id e n c ia v a u m a n o v a e ta p a p a ra a Ig re ja . T o d o s os m e m b ro s d a re c é m - f o r m a d a Ig re ja e ra m ju d e u s , n e n h u m d o s seus m e m b ro s , b e m c o m o n e n h u m d o s in te g ra n te s d a c o m p a n h ia a p o stó lic a , a p rin c íp io , ac eita v a q u e a lg u m g e n tio fo sse a d m itid o c o m o m e m b ro d a Ig re ja . Q u a n d o isso a c o n te c ia , o g e n tio te ria q u e se to r n a r ju d e u p a ra , d e p o is, ser a c e ito n o círcu lo c ristã o . E sse fa to p e r d u ro u a té q u e D e u s le v a n to u P a u lo p a ra c o rrig ir ta l a titu d e , d e ix a n d o p a te n te a ig u a ld a d e e n tre to d o s os serv o s d e Je su s C ris to .

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A IGREJA APOSTÓLICA [30D.C — 90D.C.J A Ig re ja d o p rim e iro sécu lo e ra fo rm a d a p o r u m p e q u e n o g ru p o d e c ristã o s. P rim e iro , re u n id o s e m J e ru s a lé m . P o s te r io r m e n te , e s p a lh a d o s p o r d ife re n te s re g iõ e s d o v a sto I m p é rio R o m a n o . T ra ta v a -s e d e se g u id o re s d ire to s d e Je su s, se n d o eles: “S im ã o , c h a m a d o P e d ro , e A n d r é , seu irm ã o ; T ia g o , filh o de Z e b e d e u , e Jo ã o , se u irm ã o ; F ilip e e B a rto lo m e u ; T o m é e M a te u s , o p u b lic a n o ; T ia g o , filh o d e A lfe u , e L e b e u , a p e lid a d o T a d e u ; S im ã o , o Z e lo te , e J u d a s Is c a rio te s ” ( M t 1 0 .2 -4 ). C o m a p re g a ç ã o d o s a p ó sto lo s, a Ig re ja fo i se m u ltip lic a n do. E n tr e ta n to , su a g ra n d e m a io ria e ra d e p esso a s h u m ild e s , se n d o a lg u n s escrav o s, e m b o ra h o u v e sse c ristã o s d a classe m a is a lta , e s p e c ia lm e n te n a Ig re ja d e R o m a .5 O p e r ío d o a p o stó lic o a b ra n g e o esp a ç o d e te m p o d e sd e o d ia de P e n te c o s te s a té a m o r te d o ú ltim o a p ó sto lo , Jo ã o , p o r v o lta d e 9 0 d .C . Is to sig n ific a c e rc a d e 6 0 a n o s e m q u e a Ig re ja se d e se n v o lv e u , te n d o a su p e rv isã o d ire ta o u in d ire ta d e a lg u m a p ó sto lo . D e a c o rd o c o m a lg u n s h is to ria d o re s , p o d e m o s se g u ir os p asso s d o s p rim e iro s a p ó sto lo s. V ejam o s:

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n c i c l o p é d i a

Pedro V is to q u e o a p ó s to lo P a u lo fa z re fe rê n c ia a P e d ro e m l C o r í n ti o s 1 .1 2 ; 3 .2 2 , h a v e n d o , in clu siv e, u m p a r tid o q u e se id e n tific a v a c o m ele, n ã o se p o d e n e g a r se u tra b a lh o n e sta c id a d e e, p ro v a v e lm e n te , u m tra b a lh o d e m o ra d o . P o d e -s e p re su m ir, a in d a , d e l C o r í n ti o s 9 .5 , q u e ele estev e ali c o m a su a fa m ília . O h is to r ia d o r E u s é b io d e C e sa re ia , e m su a o b ra

História eclesiástica, c o n firm a essa in fo rm a ç ã o .6 E s t e m e s m o h i s t o r i a d o r fa la d o m i n is t é r io d e P e d r o e m A n t i o q u i a d a S ír ia , c id a d e d e e x tr e m a i m p o r t â n c i a p a r a a h i s t ó r i a d o c r is tia n is m o . N e la , h o u v e g r a n d e s n o m e s d a I g r e ja , e n t r e e le s , I n á c io , a p o n t a d o c o m o s u c e s s o r d e P e d r o n a q u e la c id a d e . H á c o n tr o v é r s ia s s o b re u m t r a b a lh o d e P e d r o n a re g iã o d a M e s o p o t â m i a , b a s e a d o n a c ita ç ã o d e l P e d r o 5 .1 3 . A lg u n s c r e e m q u e s e ja u m a r e f e r ê n c ia l i te r a l , o u tr o s , p o r é m , q u e se t r a t a d e u m a r e f e r ê n c ia s im b ó lic a à c id a d e d e R o m a . D e q u a lq u e r f o r m a , p e r m a n e c e a p o s s ib ilid a d e . T o d a v ia , h á o u tr o c a m p o m is s io n á r io o n d e as e v id ê n c ia s d o tr a b a lh o d e P e d r o p a r e c e m s e r p l e n a m e n te r e c o n h e c íd a s - a re g iã o d a G r ã - B r e t a n h a (o u I n g la te r r a ) . S a b e m o s q u e o I m p é r io R o m a n o h a v ia c o n q u is ta d o p e lo m e n o s m e ta d e d a ilh a . M u i t o s são o s p e s q u is a d o r e s q u e r e c o n h e c e m u m m in is té r io e fe tiv o d o a p ó s to lo n e s ta re g iã o . P o r f im , h á g r a n d e e v id ê n c ia h i s t ó r i c a d e q u e e le t e r ia m o r r i d o e m R o m a , p o r o r d e m d o i m p e r a d o r N e r o , q u e t e r i a c o lo c a d o f o g o n a c id a d e p a r a t e r a g ló r ia d e

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

r e c o n s t r u í - l a a s e g u ir. J o g o u a c u lp a d o i n c ê n d i o s o b r e os c r is tã o s , i n i c i a n d o u m c r u e l p e r ío d o d e p e r s e g u iç ã o q u e le v o u m u ito s ao m a r t í r i o . P o r e s ta o c a s iã o , t e r i a m a n d a d o m a t a r P e d r o , m a is p r e c is a m e n te e m 6 7 d .C . e P a u lo , e m 6 8 d .C . D e v id o à c id a d a n ia r o m a n a , P a u lo f o i d e c a p i ta d o , e n q u a n t o P e d r o fo i c r u c if ic a d o . C o n t a - s e q u e P e d r o p e d iu p a r a s e r c r u c if ic a d o d e c a b e ç a p a r a b a ix o , p o is n ã o se ju lg a v a d ig n o d e m o r r e r c o m o o s e u S e n h o r .

João J o ã o fo i o ú ltim o d o s a p ó s to lo s a m o rre r e o ú n ic o q u e m o rre u d e m o rte n a tu ra l. H á a m p la lite r a tu r a so b re ele p o s te rio r ao p e r ío d o a p o stó lic o . A m a is fo rte in fo rm a ç ã o so b re o seu tra b a lh o fo i q u e ele te ria h a b ita d o e m E fe so . E m b o r a e x ista m c o n te s ta ç õ e s à in fo rm a ç ã o d e q u e ele te ria h a b ita d o ali c o m h l a r i a , m ã e d e Je su s, su a p re s e n ç a n e ssa c id a d e n ã o é q u e s tio n a d a . P a re c e b a s ta n te e v id e n te , a té m e s m o p e lo m a te ria l b íb lic o , q u e ele te n h a h a b ita d o d e fa rto ali. C o m o v e m o s e m A to s 1 9 .1 -4 , P a u lo e n c o n tr o u e m E fe s o d isc íp u lo s d e J o ã o B a tis ta , o q u e m o s tra u m a fo rte in flu ê n c ia d e J o ã o B a tis ta n a reg ião . Q u a n d o J o ã o e sc rev eu seu e v a n g e lh o , e n f a tiz o u b a s ta n te a d is tin ç ã o e n tre J o ã o e o M e s s ia s , d e u m a f o rm a m a is in c isiva d o q u e a fe ita p e lo s d e m a is e v a n g e lh o s. Is to d e m o n s tr a a n e c e ssid a d e d e e sc la re c e r o a s s u n to p e r a n te os se g u id o re s d e J o ã o B a tis ta q u e , ta lv e z , o tiv e sse m c o m o o M e ssia s. P a re c e b a s ta n te p lau sív el seu tra b a lh o e m to d a a q u e la r e ­

ESTUDOS

DE

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n c i c l o p é d i a

gião. E m 81 d .C ., o a p ó s to lo te ria sid o ex ilad o n a I lh a de P a tm o s p e lo im p e r a d o r D o m ic ia n o . A in te n ç ã o e ra q u e ele m o rre sse , u m a v e z q u e a ilh a e ra in fe s ta d a d e s e rp e n te s v e n e n o sa s. M a s ele n ã o p e re c e u e a in d a r e to r n o u a E fe s o p a ra esc rev er se u e v a n g e lh o e o A p o c a lip se . A in d a seg u n d o a trad ição , ele te ria m o rrid o d e m o rte n a tu ra l e sep u ltad o n a p ró p ria cid ad e d e E feso, co m m ais de 90 anos.

Bartolomeu H á d u a s tra d iç õ e s re fe re n te s ao tra b a lh o m is s io n á rio d e B a rto lo m e u . U m a d iz q u e ele te ria fe ito seu tra b a lh o n a Á s ia M e n o r. A o u tr a a firm a q u e ele ta m b é m fo i p a ra a re g iã o d o *

O r ie n te , m a is p re c is a m e n te p a ra a ín d ia . P a n te n o , u m m is s io n á rio e n v ia d o p a ra a q u e la re g iã o e m c e rta é p o c a , d e s c o b riu q u e B a rto lo m e u j á h a v ia e s ta d o lá e d e ix a d o u m e v a n g e lh o , c o n fo rm e M a te u s , e s c rito e m h e b ra ic o . T a m b é m , os a r m ê n io s p o s s u e m u m a tra d iç ã o d a p re s e n ç a d e B a rto lo m e u e m suas te rra s. S e g u n d o a lg u m a s tra d iç õ e s , ele te ria sid o c ru c ific a d o p o r u m re i a r m ê n io q u e , d e p o is, m a n d o u d e c a p itá -lo .

Mateus E s te d isc íp u lo , q u e n o s d e ix o u u m a b r ilh a n te n a rra tiv a d a v id a d e C ris to , fo i m is s io n á rio n as re g iõ e s d o E g ito e d a E t i ó p ia . E m b o r a u m a m in o ria a firm e q u e ele m o rre u d e v elh ice, a m a io r p a r te d a tra d iç ã o o c o lo c a p e re c e n d o fe rid o p o r la n ç a o u e sp a d a n essas re g iõ e s.

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Simão, o zelote E s te h u m ild e d isc íp u lo d e C ris to d e riv o u seu s o b re n o m e p ro v a v e lm e n te d e seu e n v o lv im e n to c o m a se ita d o s z e lo te s, g ru p o e x tre m is ta q u e d e se ja v a se in s u rg ir m ilita r m e n te c o n tra R o m a . E r a u m n o m e m u ito c o m u m n o s te m p o s d o N o v o T e s ta m e n to . S e g u n d o a tra d iç ã o , ele ta m b é m te ria fe ito su a o b ra m is s io n á ria n as ilh as b ritâ n ic a s . A lé m d isso , te ria id o a o u tra s re g iõ e s d is ta n te s , p rin c ip a lm e n te d o N o r te d a Á fric a , co m o , p o r e x e m p lo , E g ito , C ire n a ic a , M a u r itâ n ia e L íb ia . T e r ia m o rrid o n a In g la te r ra , p o r o rd e m d o p r o c u ra d o r r o m a n o , e m b o ra a lg u m a s tra d iç õ e s n a rre m u m tra b a lh o p o s te r io r n a M e s o p o tâ m ia , se n d o d u v id o sa e sta a firm a tiv a .

Tomé A riq u e z a d e tra d iç õ e s so b re a v id a e o b ra d e T o m é é m u ito g ra n d e . E le é o a p ó s to lo d o q u a l e x iste m m a is in fo rm a ç õ e s h is tó ric a s . E n tr e as re g iõ e s p o r ele v isita d a s, c o n s ta m , n a tr a d ição , B a b ilô n ia , P é rsia , M é d ia e C h in a . M a s , seu tra b a lh o /·

m a is ex p ressiv o fo i re a liz a d o n a ín d ia . A s s im se e n c o n tr a *

e sc rito e m O ensino dos apóstolos: “A ín d ia e to d a s as re g iõ e s a ela p e r te n c e n te s , assim c o m o su as a d ja c ê n c ia s a té o m ais d is ta n te m a r, re c e b e ra m a o rd e n a ç ã o a p o s tó lic a d e T o m é , q u e se to r n o u o g u ia e o H der d a ig re ja ali e sta b e le c id a , n a q u a l ele m e s m o m in is tr o u ”.

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n c i c l o p é d i a

E m b o r a sejam m u ita s as tra d iç õ e s so b re su a m o rte , h á v á rio s p o n to s e m c o m u m e n tre elas. E p o ssív el q u e ele te n h a p e re c id o n o S u l d a ín d ia , s e n d o a ssa ssin a d o p e lo s sa c e rd o te s b râ m a n e s , q u e in v ejav am seu su cesso c o m a n o v a d o u tr in a q u e ele e sta v a p ro c la m a n d o .

André O L e s te E u r o p e u fo i o lu g a r o n d e este d isc íp u lo d o S e n h o r te ria e x e rc id o a o rd e m m is s io n á ria . U m a d as m a is fo rte s tra d iç õ e s , e n d o ssa d a s p e lo h is to r ia d o r E u s é b io , d iz re sp e ito ao S u l d a R ú ssia , e s p e c ia lm e n te as re g iõ e s o u tro ra c o n h e c id as c o m o C ítia e P a rtia , p ró x im a s ao m a r N e g ro . O u tr o s lu g a re s e m q u e ele te ria tra b a lh a d o s e ria m B iz â n c io , n a T rá c ia , ✓ E p iro s , n o P e lo p o n e s o , e ta m b é m n a B itín ia . A tra d iç ã o d iz q u e seu m a r tír io te ria o c o rrid o n a G ré c ia . C o m o c u rio sid a d e , ele te ria p e re c id o e m u m a c ru z e m fo rm a d e “X ”, q u e g a n h o u , p o r isso, o n o m e d e c ru z d e S a n to A n d ré .

Filipe E s te a p ó sto lo , a lg u m a s v ezes, te m sid o c o n f u n d id o c o m F ilip e , o e v a n g e lista , q u e fo i c o lo c a d o c o m o d iá c o n o e se to r n o u u m p e rs o n a g e m d e d e s ta q u e n o liv ro d e A to s (6 .5 ; 8 .5 4 0 ; 2 1 .8 ,9 ). S e g u n d o a tra d iç ã o , ele te ria tra b a lh o n a re g iã o d a F rig ia , te n d o , a n te s , p re g a d o n a C ítia , re g iã o d o m a r N e g ro . T e ria , a in d a , fe ito tra b a lh o s m is s io n á rio s n a G á lia (u m a

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VOLUME

2

re g iã o d a a tu a l F ra n ç a ) e e m A te n a s , n a G ré c ia , o n d e e n tro u e m c o n flito c o m os filó so fo s q u e ali a b u n d a v a m . M o r r e u c o m o m á r tir n a Á s ia M e n o r.

Judas Tadeu H á p o u c a in fo rm a ç ã o a re sp e ito d e s te a p ó sto lo . M e s m o n o s e v a n g e lh o s, su a fig u ra p e rm a n e c e m u ito o b sc u ra . H á c o n ex õ e s q u e lig a m seu tra b a lh o m is s io n á rio c o m a Ig re ja a rm ê n ia , m as tr a ta - s e a p e n a s d e esp e cu lação . A lg u n s h is to ria d o re s a firm a m q u e ele te ria m o r r id o e m te n r a id a d e .

Tiago, filho de Zebedeu E s te T ia g o e ra o irm ã o d e Jo ã o . G e r a lm e n te , ele é c h a m a d o d e T ia g o , o M a io r, p a ra d is tin g u i- lo d e T ia g o , filh o d e A lc e u , q u e re c e b e u o títu lo d e T ia g o , o M e n o r. S u a c a rre ira fo i b a s ta n te c u rta . F o i m o r to p o r H e r o d e s ( A t 1 2 .2 ).

Tiago, filho de Alfeu T a m b é m n ã o h á m u ito m a te ria l so b re e ste a p ó s to lo , c h a m a d o d e T ia g o , o M e n o r. O q u e se p o d e d iz e r é q u e se fala m u ito n as tra d iç õ e s d e u m a s e m e lh a n ç a e n tre ele e o S e n h o r ✓ Je su s C ris to . E c o m u m , ta m b é m n as tra d iç õ e s , c o n f u n d i- lo c o m T ia g o , irm ã o d o S e n h o r. A s tra d iç õ e s a p o n ta m u m a s e m e lh a n ç a m u ito g ra n d e e n ­

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En c i c l o p é d i a

tre o seu m a rtírio e o d o irm ã o d o S e n h o r. T e ria sid o jo g a d o d e c im a d o te m p lo e a p e d re ja d o e m se g u id a . M a s , p o d e tr a ta r - s e d e m e ra c o n fu sã o c o m T ia g o , o ju s to , irm ã o d o S en h o r.

Matias F o i o s u b s titu to d e J u d a s Is c a rio te s , o tra id o r. D a p o u c a tra d iç ã o q u e re sto u , ele te ria fe ito su a o b ra m is s io n á ria n a re g iã o d a A rm ê n ia . T a m b é m , te ria sid o m a rtiriz a d o p o r m ão s ju d a ic a s , e m J e ru s a lé m , a p ó s r e to r n a r d e u m a c a m p a n h a n a M a c e d ô n ia , e n tre os a n o s ó l d . C , e 6 4 d .C .

Paulo P a u lo fo i u m h o m e m d e g ra n d e e s ta tu ra m o ra l, in te le c tu a l e e sp iritu a l. E r a c id a d ã o d e T a rso , n a C ilíc ia , re g iã o d a Á sia M e n o r (a tu a l T u rq u ia ), e d u c a d o p o r G a m a lie l, u m d o s g ra n des m e s tre s d o ju d a ís m o ( A t 2 2 .3 ). D e s s a fo rm a , a d q u iriu u m a d u p la fo rm a ç ã o : g e n tia e ju d a ic a . T a rs o e ra u m c e n tro c u ltu ra l g re g o e J e ru s a lé m , u m c e n tro c u ltu ra l ju d a ic o . Isso o c a p a c ito u ao m in is té r io d e a p ó sto lo aos g e n tio s q u e lh e fo i c o n fia d o . P o r m e io d ele, o e v a n g e lh o to r n o u - s e c o m p re e n sív e l ao m u n d o de c u ltu ra g re g a n a q u e la é p o c a . E b o m le m b ra r q u e os ju d e u s tin h a m u m a c u ltu ra c o m p le ta m e n te d is tin ta d o m u n d o ao seu re d o r. P o r su a p ró p ria n a tu re z a , o ju d a ís m o e ra fe c h a d o e m si m e s m o e, q u a n d o a lg u é m q u e ria se rv ir ao

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

D e u s d e Isra e l, ele tin h a q u e se to r n a r u m p ro s é lito ; isto é, ju d e u c o n v e rtid o ao ju d a ís m o . N o c o n ju n to d as e p ísto la s p a u lin a s , tre z e , ao to ta l (a a u to ria p a u lin a d e H e b r e u s é q u e s tio n a d a ), e n c o n tr a m o s u m a a m p la ex p o siçã o d o e v a n g e lh o n o s a sp e c to s te o ló g ic o , ético , m o ra l e e sp iritu a l. A Ig re ja te m u m a e n o r m e d ív id a p a ra c o m este g ig a n te d a fé. A p ó s d o is m il a n o s, a fo rç a d e seus e sc rito s a in d a c o n tin u a o r ie n ta n d o v id as e m o ld a n d o o p e n s a m e n to d a Ig re ja. A lé m d e seu tra b a lh o c o m o p e n sa d o r, su a o b ra m is s io n á ria m e re c e d e sta q u e . A liá s, ele é o ú n ic o q u e te v e seu tra b a lh o re g is tra d o n o liv ro d e A to s . N e le , te m o s d e sc rita s trê s v ia g e n s m issio n á ria s e m ais u m a v ia g e m a R o m a c o m o p ris io n e iro d o Im p é rio . T o d a s essas v ia g e n s e x p a n d ira m o c ris tia n is m o m u ito a lém d as te rra s d a J u d e ia . A p rim e ira v ia g e m d e P a u lo te v e in íc io e m A n tio q u ia d a S íria. E m se g u id a , d irig iu -s e p a ra a ilh a d e C h ip re . D e p o is , foi p a ra a re g iã o d a Á s ia M e n o r (T u rq u ia ). N e s s a p rim e ira v ia g e m , P a u lo fo i au x ilia d o p o r B a rn a b é . S e u m é to d o p e r m a n e c e u se m p re o m e sm o , o b e d e c e n d o à o rd e m “p rim e iro d o ju d e u ” (R m 1 .1 6 ). E le ia p a ra a sin a g o g a , q u e , n a o ca siã o , estav a e s p a lh a d a p o r to d a a re g iã o d o I m p é r io R o m a n o , b u s c a n d o c o n v e n cer os ju d e u s q u e Je su s e ra o M e ssia s. A p ó s a re c u sa d esses, ele se v o ltav a p a ra os g e n tio s . D e s s a fo rm a , as ig rejas ia m -s e f o rm a n d o c o m u m m is to d e ju d e u s e n ã o ju d e u s . P a u lo p e r c o rre u d iv ersas c id a d e s p la n ta n d o ig rejas, a té q u e re to r n o u .

E s t u d o s de T e o l o g i a

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Enciclopédia

A p ó s o C o n c ilio d e J e ru s a lé m , P a u lo in ic io u su a s e g u n d a v ia g e m , d e s ta v ez a c o m p a n h a d o p o r S ilas. V is ito u as c id a d es n a s q u ais h a v ia d e ix a d o ig re ja , c o m u n ic a n d o o p a re c e r d o c o n c ilio c o m re sp e ito aos g e n tio s . F o i n e ssa o ca siã o qu e eles fo ra m c o n d u z id o s p e lo E s p ír ito S a n to p a r a a re g iã o da E u ro p a . N a c id a d e d e F ilip o s , s u rg ira m os p rim e iro c o n v e rtid o s . A p a r tir d aí, o tra b a lh o c o n tin u a ria p o r o u tra s c id a d e s e u ro p e ia s, c o m o T e ssa lô n ic a , B e re ia , A te n a s e C o r in to . E sse a c o n te c im e n to seria d e e x tre m a im p o rtâ n c ia , u m a v e z q u e o c ris tia n is m o c ria ria p ro fu n d a s ra íz e s n esse C o n tin e n te , p a ra , d e p o is, se e s p a lh a r p e lo m u n d o in te iro . P a u lo , e n tã o , r e to r n o u p a ra J e ru s a lé m e, d e p o is, foi p a ra A n tio q u ia . E m su a te r c e ir a v ia g e m m is s io n á r ia , P a u lo d e te v e - s e n a g r a n d e c id a d e d e E fe s o , p o r u m a n o e m e io . V in h a m m u ito s d e t o d a a A s ia p a r a a q u e la c id a d e e e ra m in s tr u íd o s n o e v a n g e lh o . F o i u m tr a b a lh o m u ito p r o v e ito s o , q u e p e r m itiu a m u ito s o u v ire m a P a la v ra d e D e u s . D a li, ele v is ito u , n o v a m e n te , a E u r o p a , m a is p r e c is a m e n te a G r é c ia . D e p o is , ele r e to r n a , p a s s a n d o p o r M i l e t o (Á s ia M e n o r ) a té c h e g a r a J e r u s a lé m , o n d e é p re so . S u a v ia g e m a R o m a n ã o fo i c o m o as a n te rio re s . D e s ta vez, ele fo i c o m o p ris io n e iro . M a s tev e a o p o r tu n id a d e d e p re g a r aos n a tiv o s d e M a lta , d e v id o ao n a u frá g io d o n av io . U m a vez e m R o m a , tev e a o p o r tu n id a d e d e fica r e m u m a casa a lu g a d a à su a c u sta . N e s s a o casião , re a liz o u u m b o m tra b a lh o e v a n g e lístic o n a c a p ita l d o Im p é rio . G e r a lm e n te , se crê q u e o a p ó sto lo fo i so lto p o r e sta o casião , p o is sua s e g u n d a e p ís to la a

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Es t u d o s

de

Teologia

VOLUΜ E 2

T im ó te o , a ú ltim a a ser e sc rita , fala d e v ia g e n s, n ã o n a rra d a s, à Ilíria e E s p a n h a . O q u e in d ic a n o v as v ia g e n s m issio n á ria s p o s te rio re s . E s te é u m re su m o d o tra b a lh o m issio n á rio d a Ig re ja, q u e n os d á u m a id eia d a a m p litu d e a d q u irid a p e lo ev an g elh o . M e s m o q u e n ão te n h a m o s d e ta lh e s d o tra b a lh o d o s d e m a is a p ó sto lo s, já é possível te r u m a id e ia d a ex p a n são d o cristian ism o . E esse p rim e iro sécu lo d e s e m e a d u ra fo i b a s ta n te eficaz.

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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C a p ít u l o 3

A EXPANSÃO DA IGREJA

O c re s c im e n to d a Ig re ja foi rá p id o . O u tr o s e ra m ac rescíd o s d ia ria m e n te ao n ú m e ro d o s três m il a té c h e g a re m lo g o a cin co m il: “M u ito s , p o ré m , d o s q u e o u v ira m a p a la v ra crera m , e c h e g o u o n ú m e ro d esses h o m e n s a q u a se c in c o m il” (A t 4 .4 ). H á m e n ç ã o d e m u ltid õ e s se in te g r a n d o à Ig re ja: Έ a m u ltid ã o d o s q u e c ria m n o S e n h o r, ta n to h o m e n s c o m o m u lh e re s , crescia c a d a v e z m a is ” ( A t 5 .1 4 ). N e m m e s m o os sa c e rd o te s fic a ra m im u n e s ao c o n tá g io d a n o v a fé: “E crescia a p a la v ra d e D e u s , e e m J e ru s a lé m se m u ltip lic a v a m u ito o n ú m e ro d o s d isc íp u lo s, e g ra n d e p a r te d o s sa c e rd o te s o b e d e cia à fé ” ( A t 6 .7 ). E sse c re s c im e n to tã o rá p id o n ã o se fe z se m a o p o siç ã o d a p a r te d e ju d e u s. A s a u to rid a d e s e c le siá stic a s lo g o p e rc e b e ra m q u e o c ris tia n is m o re p re s e n ta v a u m a a m e a ç a a suas p re rro g a tivas c o m o in té rp re te s e sa c e rd o te s d a lei; p o r isso, re u n ira m suas fo rças p a ra c o m b a te r o c ris tia n is m o . A p e rse g u iç ã o in ic io u -se , p rim e iro , p o r m e io d e u m o rg a n is m o p o lític o - e c le siástico , 0 S in é d rio , q u e, c o m p e rm issã o d o I m p é r io R o m a n o , su p e rv isio n a v a a v id a civil e re lig io sa d o E s ta d o . P e d ro e J o ã o

En c i c l o p é d i a

tiv e ra m de c o m p a re c e r p e r a n te esse eg ré g io ó rg ã o d u a s \ rezes, e fo ra m p ro ib id o s d e p re g a r o e v a n g e lh o , m as eles se re c u sa ra m a c u m p rir a o rd e m . M a is ta rd e , a p e rse g u iç ã o to m o u c u n h o m ais p o lític o . H e r o d e s m a to u T ia g o e p re n d e u P e d ro (A t 12) n essa fase d e p e rse g u iç ã o . D a í p o r d ia n te , a p e rs e g u ição te m se g u id o esse p a d rã o e c le siá stic o o u p o lític o . T a l p e rse g u iç ã o d e u ao c ris tia n is m o seu p rim e iro m á rtir, E stê v ã o , q u e tin h a sid o u m d o s m a is d e s ta c a d o s d o s sete h o m e n s e sc o lh id o s p a ra a d m in is tr a r os fu n d o s de c a rid a d e n a ig reja d e J e ru s a lé m . T e s te m u n h o s falsos, q u e n ã o p o d ia m re sis tir ao e s p írito e à ló g ic a c o m q u e ele fa lo u , o b rig a r a m - n o a c o m p a re c e r d ia n te d o S in é d rio . A p ó s u m e m o c io n a n te d isc u rso , e m q u e d e n u n c io u líd e re s ju d a ic o s p o r sua re jeição d e C ris to , fo i re tira d o e a p e d re ja d o até a m o rte . S u a m o rte , c o m o p rim e iro m á r tir d a fé c ristã , fo i u m fa to r im p o r ta n te n a d iv u lg a ç ã o e c re s c im e n to d o c ristia n ism o . S a u lo , d e p o is P a u lo , g u a rd o u a c a p a d a q u e le s q u e a p e d re ja ra m E stê v ã o . A p e rse g u iç ã o q u e se seg u iu foi m ais d u ra e a c a b o u se n d o o m e io u sa d o p e la ig re ja n a s c e n te p a ra q u e sua m e n s a g e m fosse le v a d a a o u tra s p a rte s d o m u n d o ( A t 8 .4 ). O c ris tia n is m o p rim itiv o p ro m o v e u u m a g ra n d e m u d a n ça so cial em c e rta s re g iõ e s. A ig reja d e J e ru s a lé m in s is tiu n a ig u a ld a d e e s p iritu a l d o s sexos e d e u m u ita im p o r tâ n c ia às m u lh e re s n a ig reja. A lid e ra n ç a d e D o rc a s , n a p ro m o ç ã o d o tra b a lh o de c a rid a d e , fo i re g is tra d a p o r L u c a s ( A t 9 .3 6 ). A c ria ção d e u m g ru p o d e h o m e n s p a ra to m a r c o n ta das

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Es t u d o s

de

T eologia

VOLUME

2

n e c e ssid a d e s fo i o u tro a c o n te c im e n to d e re le v â n c ia so cial o c o rrid o n o s p rim e iro s an o s d o n a s c im e n to d a Ig re ja . A ca rid a d e d e v e ria ser a d m in is tr a d a p o r u m c o rp o o rg a n iz a d o , os p re c u rso re s d o s d iá c o n o s. C o m isso, os a p ó sto lo s fic a ra m c o m p le ta m e n te livres p a ra o ex ercício d e su a lid e ra n ç a e sp iritu a l. A n e c e ssid a d e , d e v id o ao rá p id o c re s c im e n to e, p o s s iv e lm e n te , à im ita ç ã o d as p rá tic a s d a sin a g o g a ju d a ic a , lev o u à m u ltip lic a ç ã o d e o fício s e oficiais b e m ce d o n a h is tó ria d a Ig re ja . .A lgum te m p o d e p o is, os p re sb íte ro s (a n cião s) p a ssa ra m a in te g ra r o c o rp o de o ficiais, fin a lm e n te fo rm a d o de a p ó sto lo s, p re sb íte ro s e d iá c o n o s , q u e d iv id ia m a re s p o n s a b ilid a d e de lid e ra r a ig reja d e J e ru s a lé m . A n a tu re z a d a p re g a ç ã o d o s líd e re s d e ssa Ig re ja p rim itiv a d e s p o n ta lo g o n o re la to d o s u rg im e n to d o c ris tia n is m o . O se rm ã o de P e d ro é o p rim e iro d isc u rso d e u m a p ó s to lo re g is tra d o n as E s c ritu ra s ( A t 2 .1 4 - 3 6 ) . P o r m e io d esse se rm ã o , P e d ro a p e lo u aos p ro fe ta s d o A n tig o T e s ta m e n to q u e h a v ia m p r é - a n u n c ia d o o M e s s ia s so fre d o r. E n tã o , p ro p ô s q u e C ris to era esse M e s s ia s , p o rq u e E le h av ia sid o le v a n ta d o d e n tr e os m o rto s p o r D e u s , c o m o d isse ra m os p ro fe ta s. P o r ta n to , so m e n te E le era c a p a z d e tra z e r a salvação p a ra aq u e le s q u e o a c e ita sse m p e la fé. O C ris to c ru c ific a d o e re ssu rre c to e ra o c o n te ú d o de sua p re g a ç ã o , ta n to a ju d e u s c o m o a g e n tio s (J o 5 .2 2 ,2 7 ; A t 1 0 .4 2 ; 1 7 .3 1 ). A ig re ja ju d a ic a e m J e ru s a lé m , cu ja h is tó ria fo i d e sc rita , lo g o p e rd e u seu lu g a r d e líd e r d o c ris tia n is m o p a ra o u tra s ig rejas. A d ec isã o to m a d a n o C o n c ilio e m J e ru s a lé m , d e q u e

Es t u d o s

de

T eologia

195

En c i c l o p é d i a

os g e n tio s n ã o e ra m o b rig a d o s a o b e d e c e r à lei, a b riu o cam in h o p a ra a e m a n c ip a ç ã o e s p iritu a l d as ig rejas g e n tílic a s d o c o n tro le ju d a ic o . D u r a n te o cerco d e J e ru s a lé m , n o an o 7 0 , p o r T ito , os m e m b ro s d a ig reja fo ra m fo rç a d o s a fu g ir p a ra P ela, d o o u tro la d o d o J o rd ã o . D e p o is d a d e s tru iç ã o d o te m p lo e d a fu g a d a ig reja ju d a ic a , J e ru s a lé m d e ix o u d e ser v ista c o m o o c e n tro d o c ris tia n is m o . A lid e ra n ç a e s p iritu a l d a Ig re ja c ristã se c e n tra liz o u , e n tã o , e m o u tra s c id a d e s, esp e c ia lm e n te e m A n tio q u ia . E isso e v ito u o p e rig o d e q u e o c ris tia n is m o ja m a is se lib e rta sse d o s q u a d ro s d o ju d a ís m o .

196

E s t u d o s de t e o l o g i a

C a p ít u l o 4

AS PERSEGUIÇÕES IMPERIAIS O c ris tia n is m o e ra c o n s id e ra d o u m a a m e a ç a à so c ie d a d e ro m a n a , afin al, os c ristã o s e ra m c o n tra a g a n â n c ia , a esc rav id ã o e, p rin c ip a lm e n te , a a d o ra ç ã o p re s ta d a ao im p e ra d o r. Isso fe z c o m q u e a Ig re ja fo sse p e rs e g u id a p o r m a is d e d u z e n to s an o s. M ilh a re s d e c ristã o s p a g a ra m u m alto p re ç o p o r su a fé o u sad a . S u rp re e n d e n te é o fa to d e se c o n s ta ta r q u e , d u r a n te esse p e río d o , a lg u n s d o s m e lh o re s im p e ra d o re s fo ra m m a is ativ o s n a p e rse g u iç ã o ao c ris tia n is m o , ao p a sso q u e os c o n s id e ra d o s p io re s, e ra m b ra n d o s n a o p o siç ã o , o u , e n tã o , s e q u e r p e rs e g u ia m a Ig re ja . A s p e rse g u iç õ e s aos se g u id o re s d e C r is to c o m e ç a ra m c o m o im p e ra d o r N e r o e p e r d u ro u a té o a n o 3 1 3 d .C ., q u a n d o C o n s ta n tin o , o p rim e iro im p e r a d o r ro m a n o , c o n v e rtid o ao c ris tia n is m o , fe z ce ssa r to d o s os p ro p ó s ito s d e d e s tru ir a Ig re ja. C o m o n ã o b a sta sse o a ta q u e e x te rn o , n esse m e io te m p o su rg ira m g ru p o s h e ré tic o s , q u e in tr o d u z ir a m d o u trin a s estra n h a s aos e n sin o s d o N o v o T e s ta m e n to , p rin c ip a lm e n te n a c id a d e d e C o lo sso s. O a p ó sto lo P a u lo , sem d e m o ra , esc rev eu

E \ C I C LO P É D I Λ

aos fiéis n e ssa c id a d e , d iz e n d o : “C u id a d o q u e n in g u é m vos v e n h a a e n r e d a r co m su a filo so fia e vãs su tile z a s, c o n fo rm e a tra d iç ã o d o s h o m e n s , c o n fo rm e os r u d im e n to s d o m u n d o e n ã o s e g u n d o C ris to ; p o rq u a n to , n ele, h a b ita , c o rp o ra lm e n te , to d a a p le n itu d e d a d iv in d a d e ” (C l 2 .8 ,9 ). O g n o s tic is m o , c o m seus d iv erso s siste m a s filo só fico s, su rg iu d u r a n te o sécu lo 2 , n a S íria, E g ito e Á s ia λΙεηοΓ. O s e b io n ita s e os n a z a re n o s p re g a v a m a v o lta d o c ris tia n is m o aos m o ld e s ju d a ic o s ; os g n ó s tic o s p ro c u ra v a m re d u z i-lo aos m o ld e s p a g ã o s; os e b io n ita s re je ita v a m as c a rta s d e P a u lo , ta c h a n d o - o d e im p o s to r; os g n o s tic is ta s re je ita v a m to d o o A n tig o T e s ta m e n to e, ta m b é m , o N o v o T e s ta m e n to , c o m exceção d as c a rta s d e P au lo .

Os motivos das perseguições A s ca u sas q u e d e s e n c a d e a ra m as p e rse g u iç õ e s, q u e p e rd u ra ra m p o r m a is d e d o is sécu lo s, fo ra m as m ais v a ria d a s. A sab er:

R eligio sa O p a g a n is m o ro m a n o tin h a seus a lta re s, íd o lo s, rito s e p rá tic a s q u e o p o v o p o d ia ver, e n q u a n to os cristã o s n ão tin h a m íd o lo s e re je ita v a m q u a lq u e r fo rm a o u o b je to de a d o ração . O c u lto era e s p iritu a l. S u as o ra ç õ e s n ã o e ra m d irig id a s a n e n h u m o b je to visível. A a d o ra ç ã o aos íd o lo s e s ta \ra e n tre la ç a d a c o m to d o s os a s­

198

Es t u d o s

de

T eologia

VO LU Μ E 2

p e c to s d a v id a. A s im a g e n s e ra m e n c o n tra d a s e m to d o s os lares e, nas c e rim ô n ia s cívicas, e ra m o fe re c id a s lib a ç õ e s aos d eu se s. O s c ristã o s n ã o p a rtic ip a v a m d essas fo rm a s d e a d o ração . P o r essa ra zão , e ra m c o n s id e ra d o s a n tisso c ia is, a te u s e a b o rre c e d o re s d e seus c o m p a n h e iro s . C o m a re p u ta ç ã o tã o d esfa v o ráv e l p o r p a r te d o p o v o e m g e ra l, a p e n a s u m p a sso os se p a ra v a d a p e rse g u iç ã o . O u t r o fa to r p r e p o n d e r a n te era a a d o ra ç ã o ao im p e ra d o r, c o n s id e ra d a c o m o p ro v a d e le a ld a d e . H a v ia e stá tu a s d o s im p e ra d o re s re in a n te s n o s lu g a re s m ais visíveis p a ra o p o v o ad o rar. O s c ristã o s, é claro , n ã o p a rtic ip a v a m d essas fo rm a s de a d o ra ç ã o , re c u s a n d o -s e a p re s ta r ta l ato.

Política E n q u a n to a Ig re ja era v ista c o m o u m a fa cção d o ju d a ís m o p elas a u to rid a d e s , ela so fre u p o u c o . M a s , q u a n d o o c ris tia n is m o foi d is tin g u id o d o ju d a ís m o , p a s s o u a re c e b e r a in te rd iç ã o d o Im p é r io R o m a n o , q u e n ã o a d m itia n e n h u m riv al à o b e d iê n c ia p o r p a r te d e seus s ú d ito s. O c ris tia n is m o , e m seu rá p id o c re s c im e n to , p re sta v a le a ld a d e m o ra l e e s p iritu a l a C ris to . Q u a n d o a e sc o lh a e n tre a le a ld a d e e C é s a r tin h a d e ser fe ita , o im p e ra d o r era c o lo c a d o e m s e g u n d o p lan o .

Social O c ris tia n is m o c o n sid e ra v a to d o s os h o m e n s ig u ais e, c o n s e q u e n te m e n te , g a n h o u s im p a tiz a n te s das c a m a d a s m ais

Es t u d o s de t e o l o g i a

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E N C I C LΟ Γ É D 1A

p o b re s, e s p e c ia lm e n te os escravos. T e m e n d o a in flu ê n c ia d o c ris tia n is m o n a so c ie d a d e , a classe d o m in a n te ro m a n a e sp a lh a v a d ifa m a ç õ e s d a re lig iã o cristã. N a q u e le te m p o , a so c ie d a d e ro m a n a e ra c o n tro la d a p elas g ra n d e s fa m ília s d e a ris to c ra ta s (n o b re s), d o n a s d o s m a io re s e m e lh o re s p e d a ç o s d e te rra s. O s m e m b ro s das fa m ília s ricas e n o b re s e ra m c h a m a d o s d e “p a tríc io s ”. A s d ec isõ e s m ais im p o r ta n te s d as c id a d e s ro m a n a s e ra m to m a d a s p o r u m a a sse m b lé ia fo rm a d a a p e n a s p o r p a tríc io s , q u e se to r n o u co n h e c id a c o m o S e n a d o . H a v ia , ta m b é m , os p le b e u s, c o m p o s to s d e tra b a lh a d o re s , m a s eles q u a se n ã o p o s s u ía m te rra s. O s p le b e u s n ã o p o d ia m p a r tic ip a r d as a sse m b lé ia s d o s p a tríc io s , e m b o ra p o ssu ísse m a lg u n s d ire ito s p o lític o s. E , p o r fim , h a via os escrav o s, q u e n ã o p o s s u ía m n e n h u m d ire ito . Q u a n d o a lg u m d esses se c o n v e rtia ao c ris tia n is m o , n ão h a v ia q u a lq u e r d is tin ç ã o e n tre eles, p o r isso fo ra m c o n s id e ra d o s “n iv e la d o re s d a s o c ie d a d e ”, p o r ta n to , a n a rq u is ta s , p e r tu rb a d o r e s d a o rd e m social.

Os principais perseguidores da Igreja D e p o is d a m o r te d e Je su s, a Ig re ja e n f r e n to u u m p e río d o d e s e m e a d u ra , c o m o h a v ia d ito o M e s tre : “N a v e rd a d e , n a v e rd a d e v os d ig o q u e , se o g rão d e trig o , c a in d o n a te rra , n ã o m o rre r, fica ele só; m as, se m o rre r, d á m u ito f r u to ” (J o 1 2 .2 4 ). A s e m e n te c a iu p o r te rr a e m o rre u . P o r m ais d e d u z e n to s an o s, a Ig re ja viveu sob a o p ressão do Im p é r io R o m a n o . N o d e c o rre r desses d o is séculos, q u a tro d in astias o c u p a ra m su ce ssiv a m e n te o p o d e r em R o m a . A saber: 200

Es t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME 2

Jú lio -C la u d ia n a (3 1 a .C .— 6 8 d .C .) D e p o is d e v e n c e r M a rc o A n tô n io e E m ílio L é p id o , O t á vio se a u to p ro c la m o u im p e ra d o r. A p a r tir d e ste m o m e n to , esse p e río d o d a h is tó ria r o m a n a p a sso u a ser d e n o m in a d o p e lo s h is to ria d o re s d e “im p é rio ”. E n tã o , ag o ra, o p o d e r seria c o n c e n tra d o e m u m a ú n ic a m ã o : a d o im p e ra d o r, p o rq u e era ele q u e m c o m a n d a v a os ex é rcito s e a m a r in h a , in d ic a v a os se n a d o re s e os o u tro s m a g is tra d o s e criav a as leis e c o n tro la v a os c id a d ã o s, se n d o , p o r ta n to , a m a io r a u to rid a d e re lig io sa d a ép o c a , re c e b e n d o , e m 2 7 d .C ., o títu lo d e Augusto (“c o n s a g ra d o ”, “d iv in o ”). N in g u é m p o d ia re a liz a r u m c u lto re lig io so sem sua a u to riz a ç ã o . O im p e r a d o r n o m e a v a as p e sso a s p a ra os carg o s d e c o n fia n ç a , c o m o , p o r e x e m p lo , o c a rg o d e p re fe ito d e u m a c id a d e o u d e g o v e r n a d o r (c h a m a d o ta m b é m d e p ro c ô n s u lj d e u m a p ro v ín c ia . A n te s d e m o rre r, A u g u s to , p re v e n d o u m a p o ssív e l a n a rq u ia , in s titu iu a c o n tin u id a d e d in á s tic a q u e , e m b o ra fosse d isfa rç a d a , p e r m itiu q u e q u a tro m e m b ro s d a fa m ília d e J ú lio - C la u d ia n a o c u p a sse m o c o m a n d o d o im p é rio d e p o is dele. T ib é r io (1 4 -3 7 d .C .) c h e g o u ao p o d e r p o r d e te rm in a ç ã o d e A u g u s to ; C a líg u la (3 7 -4 1 d .C .) o c o n s e g u iu p o r p ro p o s ta d o p re fe ito p re to ria n o ; C lá u d io (4 1 -5 4 d .C .) , p o r im p o s iç ã o d a g u a rd a p re to ria n a ; e N e ro (5 4 -6 8 d .C .) p e la v o n ta d e d e sua m ã e , A g rip in a , m u lh e r de C lá u d io , q u e ta m b é m tev e o ap o io d a g u a rd a p re to ria n a . D u r a n te a a d m in is tra ç ã o J ú lio - C la u d ia n a o c o rre ra m v á ­

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En c i c l o p é d i a

rio s c o n flito s c o m o s e n a d o ro m a n o . Je su s n a sc e u n a é p o c a d o im p e r a d o r A u g u s to , se n d o c ru c ific a d o n o g o v e rn o d o im p e r a d o r T ib é r io . N o te m p o d e N e ro , c o m e ç a ra m a a c o n te c e r as p rim e ira s g ra n d e s p e rse g u iç õ e s aos cristã o s.

Nero ( 5 4 6 8 ‫ ־‬d .C .) M u ito j á fo i e sc rito so b re o im p e ra d o r N e ro , so b re sua fa m a d e cru el. M a s , c o m re la ç ã o ao c ris tia n is m o , são in te re s sa n te s d o is re g istro s h istó ric o s: o d e T á c ito e o d e E u s é b io d e C e sa re ia . O p rim e iro d e ix o u re g is tra d o , e m seu liv ro Anais , os s e g u in te s fato s: “A s s im , N e ro , p a ra d e sv ia r as su sp e ita s, p ro c u ro u a c h a r c u lp a d o s e c a s tig o u c o m as p e n a s m ais h o rro ro s a s c e rto s h o m e n s q u e , já d a n te s o d ia d o s p o r seus c rim e s, o v u lg a c h a m a v a cristã o s. O a u to r d esse n o m e fo i C ris to , q u e, n o g o v e rn o de T ib é r io , fo i c o n d e n a d o ao ú ltim o su p líc io p e lo p ro c u ra d o r P ô n c io P ila to s . A su a p e rn ic io s a su p e rstiç ã o , q u e até ali tin h a e s ta d o re p rim id a , to rn a v a a ap a recer, n ã o só p o r to d a a J u d e ia , o rig e m d e ste m a l, m as até e m R o m a [...] E m p rim e iro lu g ar, p r e n d e r a m os q u e se c o n fe ssa v a m c ristã o s, e, d e p o is, p e la s d e n ú n c ia s d esses, u m a m u ltid ã o in u m e rá v e l, os q u ais to d o s n ã o fo ra m c o n v e n c id o s d e h a v e re m tid o p a r te n o in c ê n d io , m a s d e se re m in im ig o s d o g ê n e ro h u m a n o . O su p líc io d esses m iseráv e is fo i, a in d a , a c o m p a n h a d o de in s u lto s , p o rq u e o u os c o b ria m c o m p eles d e a n im a is fe ro zes p a ra se re m d e v o ra d o s p e lo s cães, o u fo ra m c ru c ific a d o s, o u

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

VOLUME 2

os q u e im a ra m d e n o ite , p a ra se rv ire m c o m o d e a rc h o te s e to c h a s ao p ú b lic o . N e ro o fe re c e u seus ja rd in s p a ra este e sp e tá c u lo ” (L iv ro X V , 4 4 ). J á E u s é b io d e C e s a re ia a trib u i a ele o m a rtírio d e P a u lo e P e d ro : “D e s s a m a n e ira , a c la m a n d o -s e p u b lic a m e n te c o m o o p rin c ip a l in im ig o d e D e u s , N e r o fo i c o n d u z id o , e m su a fú ria , a a ssa ssin a r os a p ó s to lo s ”. R e la ta -s e , p o r ta n to , q u e P a u lo foi d e c a p ita d o e m R o m a e q u e P e d ro fo i c ru c ific a d o e m seu g o v e rn o (História eclesiástica, L iv ro I I , 2 5 ). S o b re a tu m b a d o s d o is a p ó sto lo s, fo ra m e d ific a d a s, n o te m p o d e C o n s ta n tin o , d u a s b asílicas. N e s s a é p o c a , in ú m e ro s c ristã o s fo ra m a p ris io n a d o s . P ró x im o ao V atica n o , o n d e h o je se elev a a m o n u m e n ta l B asílic a de S ão P e d ro , e rg u ia -s e , o u tro ra , o circo d e N e ro , e m m e io aos ja rd in s im p e ria is . N e ro ex p ô s os c ristã o s aos m a is cru éis su p lício s: cru cificaçã o , c a ç a d a d e a n im a is , to c h a s vivas q u e ilu m in a v a m o e sp e tá c u lo n o tu r n o . N ã o sa b e m o s o n ú m e ro ex a to d e m á rtire s , p o ré m , T á c ito a firm a q u e “fo i u m a m u ltid ã o in g e n te ”.

Os Flávios A p ó s a m o rte d e N e ro , e m 6 8 d .C ., in ic io u -s e o g o v e rn o d o s F láv io s. S o b o c o m a n d o d e V e sp a sia n o e T i t o , os c ristã o s v iv e ra m d ias tra n q u ilo s . A p e n a s D o m ic ia n o (8 1 -9 6 d .C .) , n o fim d a v id a, m u d o u d e p o lític a . N ã o se sabe p o rq u e ele p e rs e g u iu os cristã o s n o fin al d e seu re in a d o , m a s, p ro v a v e lm e n te , d e v id o ao seu re sp e ito às tra d iç õ e s ro m a n a s . S u p õ e -s e q u e a

E s t u d o s de T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

p e rse g u iç ã o se o rig in o u p o rq u e os ju d e u s n ã o q u e ria m e n v ia r a R o m a o d íz im o a n te s p a g o a J e ru s a lé m . C o m o a in d a n ão estav a b e m d e fin id a a d ife re n ç a e n tre c ris tia n is m o e ju d a ísm o , os c ristã o s ta m b é m s o fre ra m as c o n se q u ê n c ia s. E n tr e os m á rtire s d a é p o c a , e n u m e r a -s e T i t o F lá v io C ie m e n te , p r im o d o im p e ra d o r, e su a e sp o sa , F lá v ia D o m itila . C o n d e n a d o so b re a acu sação d e a te ís m o (n e g a ç ã o d o cu lto aos íd o lo s) e d e c o s tu m e s ju d a ic o s (p rá tic a d a v id a c ristã ), foi d u r a n te essa p e rse g u iç ã o q u e J o ã o fo i ex ilad o p a ra a ilh a d e P a tm o s (A p 1.9). P o r v o lta d o a n o 95 d .C ., a p e rse g u iç ã o d im in u iu e fo i re p r im id a p e lo m e s m o im p e ra d o r. N o a n o se g u in te , D o m ic ia n o m o rre u a ssa ssin a d o . N e r v a seu su c e sso r p o r d o is a n o s, d e ix o u e m p a z os c ristã o s, p ro ib in d o q u a lq u e r v io lê n c ia c o n tra eles. A s p e rse g u iç õ e s cristãs d o sécu lo 1° a b ra n g e ra m , p o is, u m to ta l d e o ito a n o s, n o m á x im o : q u a tro an o s sob N e ro e q u a tro so b D o m ic ia n o .

Antoninos O séc u lo 2° estev e sob o g o v e rn o d o s c h a m a d o s A n to n in o s: T ra ja n o , A d ria n o , A n to n in o P io , M a rc o A u ré lio e C ô m o d o . E s te fo i u m d o s p e río d o s m ais p ró s p e ro s d o Im p é r io R o m a n o , d e v id o à e sta b ilid a d e p o lític a , q u e fa v o re c e u o a u m e n to e a e x p a n sã o d as a tiv id a d e s p ro d u tiv a s e c o m e rc ia is, in c lu siv e c u ltu ra l, d o im p é rio . N e n h u m d eles se m a n ife s to u d e c la ra d a m e n te c o n tra os c ristã o s. E n tr e ta n to , p e rd u ra v a u m a o rd e m q u e p ro ib ia a p ro p a g a ç ã o d o c ristia n ism o .

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E s t u d o s de T e o l o g 1a

VOLUME 2

E n tr e os d o c u m e n to s m ais im p o r ta n te s d e ssa é p o c a , e n c o n tra -s e a c o n s u lta d e P lín io , o jo v e m , g o v e rn a d o r d a B itín ia, ao im p e r a d o r T ra ja n o so b re o tr a ta m e n to d is p e n s a d o aos cristã o s. P lín io ex ig ia q u e os c ristã o s a c e n d e s s e m in c e n s o ao im p e r a d o r e q u e m a ld isse sse m a C r is to e, caso re c u sa sse m , e ra m c o n d e n a d o s à m o r te p o r d e s o b e d iê n c ia . A re s p o s ta d o im p e ra d o r foi: “E le s n ã o d e v e m ser p e rse g u id o s , m a s se su rg ire m d e n ú n c ia s p ro c e d e n te s , a p liq u e -s e o c a stig o , c o m a ressalv a de q u e , se a lg u é m n e g a ser c ristã o e, m e d ia n te a a d o ra ç ã o d o s d e u se s, d e m o n s tr a n ã o o ser a tu a lm e n te , d ev e ser p e r d o a d o e m re c o m p e n s a d e su a e m e n d a , p o r m ais q u e o a c u se m su sp e ita s relativ as ao p a s s a d o ”.' E n tr e os m á rtire s m ais im p o r ta n te s d o sécu lo , m e re c e m a te n ç ã o In á c io d e A n tio q u ia , P o lic a rp o d e E s m ir n a , J u s tin o e os m á rtire s d e L ião .

Severos C o m a m o rte d o im p e r a d o r C ô m o d o , a sc e n d e ao p o d e r a d in a s tia S evera: S é tim o S ev ero (1 9 3 -2 1 1 d .C .) , C a ra c a la ( 2 1 1 -2 1 7 d .C .) , H e lio g á b a lo ( 2 1 8 -2 2 2 d .C .) e S ev ero A le x a n d re (2 2 2 -2 3 5 d .C .) . A p a r tir d esse m o m e n to , o im p é rio ro m a n o c o m e ç o u a ser a m e a ç a d o in te r n a m e n te p e la c o r ru p ção e, n a s fro n te ira s , p e lo s c o n fro n to s m ilita re s. A h e g e m o n ia de R o m a n ã o e ra m ais c o m o a n te s , p a ira v a n o a r u m r u m o r d e d e c a d ê n c ia . C o m a s u b id a d e S é tim o S ev ero ao tr o n o im p e ria l, re in ic ia ria a p e rse g u iç ã o aos cristã o s. N a p rim e ira m e ta d e d o

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C IC LΟ Γ É D IΛ

sécu lo 3°, as p e rse g u iç õ e s o r ie n ta r a m - s e c o n tra d e te r m in a d a classe d e pessoas. E m 2 0 1 , o im p e ra d o r p ro m u lg o u u m d ec reto e m q u e p ro ib ia , sob severas p e n a s, a co n v ersão ao ju d aísm o . N o a n o se g u in te , foi a v ez d o c ristia n ism o . A p e rse g u iç ã o tev e o rig e m em sua p o lític a religiosa. S u a in te n ç ã o era u n ir to d a s as religiões sob u m ú n ic o cu lto - o cu lto ao d e u s Sol, d e m o d o q u e fo rtalecesse a u n id a d e tã o n ecessária ao Im p é rio R o m a n o . C o m esta a titu d e , se d e fro n to u n ão só c o m os ju d e u s , m as ta m b é m c o m os cristão s, q u e se recu sav am a ta l ato. P a ra q u e sua o rd e m fosse o b e d e c id a , in s titu iu p e n a de m o rte p a ra q u e m se co n v ertesse ao cristian ism o . N o m e sm o an o e m q u e foi p ro m u lg a d a tal o rd e m , Irin e u foi m a rtiriz a d o , c o m o ta m b é m u m a c ristã d e n o m e F elicid ad e, c o m su a escrava P e rp é tu a . N o s ú ltim o s an o s d e seu g o v ern o , os cristão s g o z a v a m d e relativ a p az , q u e p e rd u ro u p o r u m p e río d o d e q u a re n ta anos, se n d o in te rro m p id a c o m a ascen são d e M a x im in o T rácio.

Perseguições gerais O s a n o s s e g u in te s fo ra m c a ra c te riz a d o s p o r u m a p ro fu n d a crise in s titu c io n a l, social. E n tr e os im p e ra d o re s q u e s u b ira m ao p o d e r, d ev e ser le m b ra d o o n o m e d e D é c io . E s te m o n a rc a c e le b riz o u -s e p r in c ip a lm e n te c o m o p e r s e g u id o r d o s cristão s. I n a u g u r a - s e , c o m ele, u m a n o v a fase: as p e rse g u iç õ e s g erais. E m 2 4 9 d .C ., o u in íc io s d o a n o s e g u in te , d e c re to u u m e d ito o n d e to d o s seus sú d ito s d e v e ría m , p o r m e io d e u m ato so len e, sa c rific a r aos d eu se s. F u n c io n á rio s p ú b lic o s re g is tra ­

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ria m , e m lista s o ficiais, o n o m e d as fa m ília s d o s sa c rific a n te s. D e s ta fo rm a , ele te ria e m se u p o d e r o n ú m e ro e x a to d e p e s soas q u e lh e e ra m su jeitas. D ifíc il c o n ju n tu ra p a ra os c ristã o s: re n e g a r a fé p o r a to id o lá tric o o u e x p o r-se a c ru é is p e n a s. N o v a m e n te , a Ig re ja seria c o lo c a d a à p ro v a . N a s g ra n d e s c id a d e s, c o m o A le x a n d ria , C a rta g o , E s m ir n a e R o m a , m u ito s re n e g a ra m su a fé. T o d a v ia , e n o r m e m u ltid ã o d e fiéis, d e a m b o s os sexos e d e to d a s as id a d e s, d e u , c o m seu sa n g u e , te s te m u n h o d a p ró p ria fé. T ã o te rrív e l p e rse g u iç ã o fo i d e b re v e te m p o , d im in u in d o n a p rim a v e ra d e 2 5 1 d .C . V a le ria n o ( 2 5 3 -2 6 0 d .C .) , su c e sso r d e D é c io , n o in ic io d e seu g o v e rn o , fo i fa v o ráv el aos c ristã o s, p e r s e g u in d o - o s n o s ú ltim o s a n o s. E u s é b io d e C e s a re ia re g is tro u o re la to q u e D io n ís io fe z so b re esses d o is ú ltim o s m o n a rc a s: “M a s , n e m G a lo c o m p re e n d e u a p e rv e rs id a d e d e D é c io , n e m p r e n u n c io u o q u e h a v ia d e s tru íd o , a n te s , tro p e ç o u n a m e s m a p e d ra c o lo c a d a d ia n te d e seu s o lh o s. P o is, q u a n d o se u re in a d o , av a n çav a c o m p ro s p e rid a d e , e seu s n e g ó c io s s u c e d ia m -s e d e a c o rd o c o m seus d ese jo s, p e rs e g u iu aq u e le s h o m e n s s a n to s q u e in te rc e d ia m c o m D e u s p o r su a p a z e s e g u ra n ç a ”.8 O b is p o C ip r ia n o m o rre u d e c a p ito e m C a rta g o . N a s e g u n d a m e ta d e d o séc u lo 3°, re g is tra m -s e , p o is, d u a s g ra n d e s p e rse g u iç õ e s g e ra is, d e c u r ta d u ra ç ã o : a d e D é c io , p o u c o m a is d e u m an o , e a d e V a le ria n o , c e rc a d e trê s an o s. E m 2 8 4 d .C ., su b iu ao tr o n o im p e ria l D io c le c ia n o . D u r a n te o seu g o v e rn o , v ária s fo ra m as re fo rm a s re a liz a d a s, p e r ­

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m itin d o a so b re v iv ê n c ia d o im p é rio ao lo n g o d e u m século. E le d e c id iu q u e o im p e r a d o r n ã o d e v ia m o ra r e m R o m a , m as se e sta b e le c e r o m ais p e r to p o ssív el d a s fro n te ira s . M u d o u c o m p le ta m e n te a f o rm a d e g o v e rn o , p o is e n te n d ia q u e u m a ú n ic a p e sso a n ã o e ra su fic ie n te p a ra a te n d e r a to d a s as c o m p lex as n e c e ssid a d e s d o im p é rio . A s s im , in s titu iu a te tra rq u ia , u m s is te m a d e g o v e rn o q u e p re v ia a d iv isão d e p o d e r e n tre A u g u s to s - ele m e s m o e M a x im in ia n o - a ju d a d o s p o r d o is C é sa re s q u e , n o caso d e m o rte o u a b d ic a ç ã o d o s do is im p e ra d o re s , a s s u m iría m o p o d e r e n o m e a r ia m d o is o u tro s C é sa re s. In flu e n c ia d o p o r G a lé rio , D io c le c ia n o in ic io u a ú ltim a e m a is s a n g re n ta p e rse g u iç ã o c o n tra o c ristia n ism o . E m 3 0 3 d . C ., p u b lic o u u m a série d e e d ito s d e te r m in a n d o q u e to d o s os e x e m p la re s d a B íb lia fo sse m q u e im a d o s , os te m p lo s fo ssem d e s tru íd o s a lé m d e ex ig ir q u e seus s ú d ito s q u e im a s s e m in c e n s o à su a im a g e m . A q u e le s q u e n ã o o b e d e c e sse m , ficaria m sem a c id a d a n ia ro m a n a e, c o n s e q u e n te m e n te , sem a p ro te ç ã o d a lei. E m alguns lugares, os cristãos e ram en cerrad o s nos tem p lo s e, dep o is, ateav am fogo, co m to d o s os m e m b ro s n o seu interio r. C o n s ta q u e o im p e ra d o r D io c le c ia n o erig iu u m m o n u m e n to co m esta inscrição: “E m h o n ra ao e x te rm ín io d a su p erstição cristã”. E m 3 0 5 d .C ., D io c le c ia n o re tiro u -s e à v id a p a r tic u la r e in d u z iu M a x im in ia n o a fa z e r o m e sm o . O s d o is C é sa re s (G a lé rio e C o n s tâ n c io ), a s s u m ira m o p o d e r, d e fla g ra n d o

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u m a lu ta a c irra d a e n tre os d o is a s p ira n te s a C é sa r, m a s q u e n ã o c h e g a ra m a ser: M a x ê n c io e C o n s ta n tin o . C o n s ta n tin o v e n c e u M a x ê n c io n o c a m p o d e b a ta lh a , e m 3 1 2 d .C . N e sse m e s m o an o , C o n s ta n tin o , às p o rta s d e R o m a e so b re a P o n te M ílv io , p ro c la m o u su a d e v o ç ã o à c ru z , o sím b o lo c ristã o . N o a n o se g u in te , m ais p re c is a m e n te e m 3 1 3 d .C ., fo i p ro m u lg a d o o E d ito d e M ilã o , q u e e n c e rra v a , p a ra se m p re , o c a p ítu lo d as p e rse g u iç õ e s im p e ria is e c o n c e d ia aos c ristã o s to ta l lib e rd a d e d e ad o ra ç ã o . P ró x im o d o C o lis e u d e R o m a , c o n te m p la -s e , a in d a h o je , o arco d e C o n s ta n tin o , e rig id o e m c o m e m o ra ç ã o à v itó ria . “P o r in s p ira ç ã o d a d iv in d a d e ”, re a liz o u -s e o e v e n to — re c o rd a a g ra n d e in sc riç ã o q u e e n c a b e ç a o m o n u m e n to . C o n s ta n tin o n ã o e s c o n d e u suas p re d ile ç õ e s p a r a c o m a n o v a relig ião . P o r su a o rd e m e c o m seu au x ílio , fo i c o n s tru íd a a p rin c ip a l b a sílic a ro m a n a : a d e S ão P e d ro , n o V atica n o .

Es t u d o s

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Teologia

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C a p ít u l o 5

OS PAIS DA IGREJA

O p e río d o q u e c o m u m e n te é c h a m a d o d e p ó s -a p o s tó lic o é de in te n s o d e s e n v o lv im e n to d o p e n s a m e n to c ristã o . O tr a b a lh o e in flu ê n c ia d esse m e io m ilê n io g a r a n tir a m a u n id a d e d a Ig re ja n o s sécu lo s se g u in te s. O s a n tig o s e sc rito re s c ristã o s d o s p rim e iro s sécu lo s e suas o b ra s c o n h e c id a s e ra m c o n s id e ra d o s p e la tra d iç ã o c o m o te s te m u n h o p a r tic u la r a u to riz a d o d a fé, d a í se re m c h a m a d o s d e os “p ais d a Ig re ja ”. E r a m h o m e n s q u e , d e v id o ao z e lo e a m o r q u e tin h a m p e la Ig re ja , n ã o m e d ia m esfo rço s p a ra d e f e n d e r a fé q u e fo ra d a d a aos fiéis. A s s im se n d o , p o d e m o s d iz e r q u e os “p ais d a Ig re ja ” fo ra m aq u e le s q u e fo rja ra m , c o n s tru íra m e d e f e n d e ra m a fé, a d isc ip lin a , a d o u tr in a e os c o s tu m e s d a Ig re ja , d e c id in d o , assim , os seus ru m o s . S eu s e sc rito s to r n a ra m fo n te s d e d iscu ssão , d e in s p ira ç ã o e d e re fe rê n c ia s ao lo n g o de to d a a tra d iç ã o p o ste rio r. P a ra fa c ilita r a c o m p re e n s ã o d o e s tu d a n te , d iv id ire m o s os “p ais d a Ig re ja ” e m trê s g ra n d e s g ru p o s: os p ais a p o stó lic o s, os a p o lo g ista s e os p o le m is ta s . T o d a v ia , d e v e m o s le v a r e m c o n ta q u e m u ito s d eles p o d e m se e n q u a d ra r e m m a is d e u m d esses g ru p o s , d e v id o à v a sta lite r a tu r a q u e p ro d u z ir a m p a ra a e d ific a ç ã o e d efesa d o c ristia n ism o .

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n c i c l o p é d i a

Pais apostólicos “P ais a p o s tó lic o s ” é o títu lo u tiliz a d o p a ra d e sc re v e r os esc rito re s o rto d o x o s d a Ig re ja p rim itiv a q u e , d e a lg u m a m a n e ira , tiv e ra m c o n ta to c o m os a p ó sto lo s. P e rte n c e à c h a m a d a “e ra s u b a p o s tó lic a ”, 9 esses e sc rito s d a ta m , g e ra lm e n te , d o p rim e iro e s e g u n d o sécu lo s, se n d o c a rta s q u e se rv ia m d e in s tru ç ã o e e x o rta ç ã o . A s s e m e lh a m - s e b a s ta n te , e m c o n te ú d o e fo rm a , às c a rta s a p o stó lic a s; seus a u to re s b u sc a v a m m o s tra r aos seus d e s tin a tá rio s a im p o r tâ n c ia d a salvação m a n ife s ta d a e m C r is to e, ta m b é m , fo rta le c e r-lh e s a e s p e ra n ç a d a v o lta de C ris to , e m m e io a u m a g e ra ç ã o q u e estav a c e rc a d a d e fa lsos e v a n g e lh o s e a ta q u e s d e c é tic o s p a g ã o s. N ã o h á , e n tre os e s tu d io s o s , u m a c o n c o rd â n c ia q u a n to aos “p ais a p o s tó lic o s ”. P rim e iro , fo ra m e n u m e ra d o s B a rn a b é , C le m e n te d e R o m a , In á c io , P o lic a rp o e H e r m a s . M a is ta rd e , fo i a c re sc e n ta d o P a p ia s e a C a r ta a D io g n e to e D id a q u ê . P a ra o e s tu d o o ra p ro p o s to , fa re m o s m e n ç ã o a p e n a s d e esc rito re s q u e e fe tiv a o u p ro v a v e lm e n te e stiv e ra m e m c o n ta to , m a is o u m e n o s d ire to , c o m os a p ó sto lo s.

C lem en te de R o m a

(30 — 100 d.C.)

F o i u m a p e s s o a m u ito re c o n h e c id a n a A n tig u id a d e , de g r a n d e a u to r id a d e , m a s p o u c o s a b e m o s so b re a su a v id a e a to s , salv o su a c a rta aos c o r ín tio s , “q u e a Ig re ja siría c a c o n to u e n tr e as S a g ra d a s E s c r itu r a s , s e n d o in s e rid a , ta m b é m , n o C o d e x A le x a n d r in u s d a B íb lia ”.10

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M u ita s são as in fo rm a ç õ e s so b re C le m e n te d e R o m a , d e s d e le n d á r ia s até te s te m u n h o s fid e d ig n o s . D e a c o rd o c o m u m ro m a n c e siría c o , C le m e n te te r ia v a g u e a d o o m u n d o e m b u s c a d a v e rd a d e , q u a n d o e n c o n tr o u P e d ro e se t o r n o u seu d is c íp u lo . A s p s e u d o c le m e n tin a s id e n tif ic o u C le m e n te c o m o c ô n s u l T i t o F lá v io C le m e n te , p a r e n te d o im p e r a d o r D o m ic ia n o , e x e c u ta d o e m 9 5 - 9 6 , p o r p ro fe s s a r a fé c ris tã . O r í g e n e s e E u s é b io d e C e s a r e ia o id e n tif ic a r a m c o m o s e n d o a q u e le c o la b o r a d o r q u e o a p ó s to lo P a u lo c ita e m su a c a rta aos F ilip e n s e s : “E p e ç o - te ta m b é m a ti, m e u v e rd a d e iro c o m p a n h e ir o , q u e a ju d e s essas m u lh e re s q u e tr a b a lh a r a m c o m ig o n o e v a n g e lh o , e c o m C le m e n te , e c o m os o u tro s c o o p e ra d o re s , cu jo s n o m e s e stã o n o liv ro d a v id a ” (4 .3 ). I r in e u d e L iã o , p o r su a v ez, e sc re v e u q u e C le m e n te te ria sid o o te rc e iro su c e sso r d e P e d ro n o e p is c o p a d o d e R o m a , e q u e c o n h e c e ra p e s s o a lm e n te o a p ó s to lo P e d ro . T e r tu lia n o a c re d ita q u e C le m e n te te r ia sid o c o n s a g ra d o p e lo p r ó p r io a p ó s to lo P e d r o .11 C le m e n te e sc re v e u u m a c a r ta aos c o r ín tio s , c o n h e c id a c o m o P r im e ir a E p ís to la d e S ão C le m e n te , d a ta d a p o r v o lta d o a n o 9 5 , c ita d a n a c a rta d e P o lic a rp o . N e s s e d o c u m e n to , e n c o n tr a m - s e d a d o s so b re o d e s e n v o lv im e n to d o c â n o n d o N o v o T e s ta m e n to , p rá tic a s litú rg ic a s e e c le s iá s tic a s d a I g r e ja p r im itiv a e m u ito m a is. T a l c a r ta p o s s u ía ta m a n h a s e m e lh a n ç a c o m a c a rta d o a p ó s to lo P a u lo ao s c o r ín tio s , q u e “a lg u n s c ris tã o s d o sé c u lo 2°, n o E g ito , c o n s id e r a v a m - n a p a r te d as E s c r itu r a s , a ssim c o m o m u ito s p a is a p o s tó lic o s ”.12

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In ácio d e A n tio q u ia

C I C LΟ Γ E ‫ ט‬I Λ

(35-107 d.C.)

D e a c o rd o c o m E u s é b io d e C e sa re ia , In á c io foi “o s e g u n d o a o b te r a su cessão d e P e d ro n o e p isc o p a d o de A n tio q u ia ”. 3 A n tio q u ia era u m a c id a d e m u ito im p o r ta n te d o Im p é r io R o m a n o n a S íria, a lém d e ser u m a c id a d e im p o r ta n tís s im a p a ra os c ristã o s. F o i ali q u e , p e la p rim e ira v ez, fo ra m c h a m a d o s d e c ristã o s, e fo i a p a r tir d ali q u e P a u lo in ic io u as p rim e iras v ia g e n s m issio n á ria s ( A t 1 1 .2 6 ). P o u c a s in fo rm a ç õ e s e x iste m so b re su a fa m ília e fo rm a ç ã o , se ele e ra d e fa m ília c ristã o u c o n v e rtid o . T u d o q u a n to sa b e m o s so b re su a v id a se e n c o n tr a e m suas sete c a rta s, esc rita s a c a m in h o d e R o m a , a p a r tir d a S íria, p e la Á s ia M e n o r , ru m o ao m a rtírio . O s títu lo s in d ic a m os lu g are s p a ra o n d e essas c a rta s fo ra m e n d e re ç a d a s , a sab er: aos efésio s, aos m a g n é s ia n o s, aos ro m a n o s , aos tra lia n o s , aos fila d e lfia n o s, aos e s m irn e a n o s e u m a a P o lic a rp o , jo v e m b is p o d e E s m ir n a .14 In á c io é o p rim e iro e s c rito r a a p r e s e n ta r c la ra m e n te o p a d rã o tríp lic e d e m in is té rio : u m b is p o n u m a ig reja c o m seus p re sb íte ro s e d iá c o n o s A O p ô s - s e às h e re sia s g n ó stic a s. S u a p re o c u p a ç ã o p rin c ip a l era c o m a u n id a d e d a Ig re ja . F o i m a rtiriz a d o e m R o m a , d u r a n te o re in a d o d e T ra ja n o ( 9 8 -1 1 7 d .C .).

P a p ia s

(60 a 140 d.C.)

P o u q u íss im a s in fo rm a ç õ e s se tê m a re s p e ito d ele, salvo o q u e esc rev eu E u s é b io e Irin e u . S e g u n d o os te s te m u n h o s q u e se tê m , e ra b is p o d e H ie r á p o lis , n a F rig ia , a tu a l P a m b u k c a l-

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VOLUME 2

lesi tu rc a . F o i c o n te m p o râ n e o d e In á c io d e A n tio q u ia e d e P o lic a rp o d e E s m irn a . E sc re v e u u m a co le ç ã o d e c in c o liv ro s, in titu la d a Logíon kuriakon ecsegéseis (.Exegese das palavras do

Senhor). F o i p o r in te r m é d io d e P a p ia s, re g is tra d a s p o r E u s é b io , q u e n o s c h e g a ra m as in fo rm a ç õ e s so b re os e v a n g e lh o s d e M a r cos e M a te u s . S o b re M a rc o s , d isse ele q u e “fo i in té r p r e te d e P e d ro , p ô s p o r e sc rito , a in d a q u e n ã o c o m o rd e m , o q u a n to re c o rd a v a do q u e o S e n h o r h av ia d ito e fe ito ”.16 S o b re M a te u s , n o s d iz q u e “o rd e n o u as se n te n ç a s e m lín g u a h e b ra ic a , m as ca d a u m as tra d u z ia c o m o m e lh o r p o d ia ”.17 S o b re a v e ra c id a d e h is tó ric a d o te s te m u n h o d e P a p ia s, a tu a lm e n te , p e sa so b re suas a firm a ç õ e s sérias c rític a s, p rin c ip a lm e n te p o rq u e a c rític a lite rá ria d a B íb lia d e m o n s tr o u q u e os e v a n g e lh o s são e sc rito s b a s e a d o s e m tra d iç õ e s o ra is e n ã o e m p r o d u to d a m e m ó ria .

P olicarpo

(69-155 d.C.?)

N a d a sa b e m o s d e su a in fâ n c ia , su a fo rm a ç ã o , su a fa m ília . D e a c o rd o c o m I rin e u , P o lic a rp o fo i d isc íp u lo d o a p ó sto lo Jo ã o . C o m a m o rte d e Jo ã o , fin d a -s e a classe d e líd e re s c ristã o s p rim itiv o s c h a m a d o s a p ó sto lo s. P o lic a rp o fo ra in s tru íd o n a fé p o r J o ã o e, p o r ta n to , era c o n s id e ra d o u m v ín c u lo vivo c o m os d isc íp u lo s d e Je su s e os a p ó sto lo s. S o b re seu c o n ta to c o m os a p ó sto lo s, esc rev eu E u s é b io , u s a n d o as p alav ras d e Irin e u : “N ã o s o m e n te fo i in s tru íd o p e lo s a p ó sto lo s e co n v iv eu c o m m u ito s q u e h a v ia m v isto o

ESTUDOS DE TEOLOGI A

215

En c i c l o p é d i a

S e n h o r, m as ta m b é m fo i in s titu íd o b is p o d a À s ia p e lo s a p ó sto lo s, n a ig reja d e E s m irn a . N ó s , in clu siv e, o v im o s e m n o ssa id a d e ju v e n il. J á q u e v iv eu a n o s e m o rre u m u ito v elh o , d e p o is d e d a r g lo rio so e e s p lê n d id o te s te m u n h o . S e m p re e n s in o u o q u e h a v ia a p r e n d id o d o s a p ó s to lo s , q u e é ta m b é m o q u e a ig re ja tr a n s m ite ...”.18 N ã o é p o r m e n o s q u e , d as sete c a rta s às sete Ig re ja s do A p o c a lip s e , a d e E s m ir n a é a ú n ic a n ã o re c rim in a d a p o r alg u m a falta: “E ao an jo d a ig reja q u e e stá em E s m ir n a , esc reve: Is to d iz o P rim e iro e o U ltim o , q u e fo i m o r to e reviveu: E u sei as tu a s o b ra s, e trib u la ç ã o , e p o b re z a (m as tu és rico ), e a b la s fê m ia d o s q u e se d iz e m ju d e u s e n ã o o são, m as são a sin a g o g a d e S a ta n á s. N a d a te m a s das co isas q u e h á s d e p a d e cer. E is q u e o d ia b o la n ç a rá alg u n s d e vós n a p risã o , p a ra q u e sejais te n ta d o s ; e te re is u m a trib u la ç ã o d e d e z d ias. Sê fiel até a m o rte , e d a r - te - e i a c o ro a d a v id a ” (A p 2 . 8 1 0 ‫) ־‬. R e la c io n a d a s a P o lic a rp o , e x iste m d u as o b ra s das q u ais p o d e m o s r e c o n s tru ir su a p e rso n a lid a d e : a c a rta aos F ilip e n ses, n a q u a l re v ela to d a a su a a lm a , to d o o seu c o ra ç ã o e to d a su a c o m p re e n s ã o p a ra c o m os fraco s; e, talv ez, a m ais c o n h e cid a, o M a r tír io d e P o lic a rp o , o n d e se e n c o n tr a re g is tra d o as fa m o síssim a s d e fe sa d e P o lic a rp o e m p ro l d e C ris to : “O ite n ta e seis an o s h á q u e sirv o a C ris to . C r is to n u n c a m e fe z m al. C o m o b la s fe m a ria c o n tra m e u R e i e S a lv a d o r? ”.19 T u d o in d ic a q u e P o lic a rp o c o n h e c ia alg u n s p e rso n a g e n s ilu s tre d e su a é p o c a , c o m o In á c io , I rin e u , A n ic e to d e R o m a e M a rc iã o , o q u a l re sistiu su a d o u tr in a , c h a m a n d o - lh e d e “p r im o g ê n ito d e S a ta n á s ”.

216

e s t u d o s

d e

t e o l o c i a

VOLUME 2

F o i m a rtiriz a d o n o a n o 155 d .C ., c o m 86 a n o s d e id a d e , e m u m d o m in g o .

Apologistas N o d ec u rso d a h is tó ria d a teo lo g ia, a filosofia te m tid o u m re la c io n a m e n to d e a m o r e ó d io c o m o c ristia n ism o e a te o lo g ia cristã. A te o lo g ia foi p ro fu n d a m e n te in flu e n c ia d a p ela filosofia, e sp e c ia lm e n te a filosofia g re g a (h e le n ística). U m d os m ais in flu e n te s pais d a Ig reja, T e rtu lia n o , fico u p a sm a d o ao c o n s ta ta r q u e alg u n s d e seus c o n te m p o râ n e o s fa z ia m u so d a filosofia g reg a, c o m o o p la to n is m o e o esto icism o , p a ra ex p licar as idéias cristãs. P o r esse m o tiv o , u m a d e suas frases to rn o u -s e celebre até os dias d e h oje: “O q u e A te n a s e Je ru sa lé m tê m a d iz e r u m a à o u tra ? Q u e c o n c o rd â n c ia existe e n tre a A c a d e m ia [P la tô n ic a ] e a Igreja? E e n tre h ereg es e cristão s?”. 20 D e s d e aq u eles te m p o s , u m a fe n d a d iv id e os p e n s a d o re s cristã o s, alg u n s c o n s id e ra m a filo so fia u m a serv a d a te o lo g ia , v e n d o a ta re fa d a filo so fia c o m o se n d o a fo rm u la ç ã o d e a rg u m e n ta ç ã o p a ra a d e fe sa d o c ris tia n is m o . O u tr o s tê m c o n sid e ra d o a filo so fia c o m o se n d o a f e rra m e n ta d o d ia b o , c o m o T e r tu lia n o , p o r ex em p lo . O p e n s a m e n to d e T e r tu lia n o fo i m in o ritá rio . A m a io ria b u sc a v a d e m o n s tr a r se m e lh a n ç a s e n tre a m e n s a g e m e c o sm o v isã o c ristã e 0 q u e h a v ia d e m e lh o r n a filo so fia g re g a , a p o n to d e c o n s id e ra r o c ris tia n is m o a “v e rd a d e ira filo so fia”. E , p o r c o n ta d isso , b u sca v a d e m o n s tr a r su a s u p e rio rid a d e , c o m o filosofia, ao p e n s a m e n to h e le n ístic o . E m b o r a essa id e ia fo sse

Es t u d o s

de

T eologia

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E

n c i c l o p é d i a

e sc a n d a lo sa p a ra T e r tu lia n o e p a ra o u tro s p e n s a d o re s cristã o s p rim itiv o s , fo i a m p la m e n te a c e ita e m g ra n d e s c e n tro s d ifu sores d o c ris tia n is m o , c o m o A le x a n d ria e R o m a , d o is c e n tro s c u ltu ra is m a is p ro e m in e n te s d o im p é rio . D e s s a fo rm a , n o s sécu lo s 2° e 3°, te re m o s d u a s classes de p ais a p o lo g ista s: os q u e d e f e n d e ra m o c ris tia n is m o à lu z d a filo so fia g re g a e os q u e re je ita v a m a filosofia. P o r ta n to , os a p o lo g ista s fo ra m aq u e le s q u e e m p re g a ra m suas h a b ilid a d e s in te le c tu a is e lite rá ria s e m d e fe sa d o c ris tia n is m o . A s s im

c o m o n o s p a is a p o stó lic o s n ã o h á c o n c o rd â n -

cia u n iv e rsa l a re s p e ito d o g ru p o d e a p o lo g ista s, as listas de a p o lo g ista s ta m b é m v a ria m e b o a p a r te d a d iv e rsid a d e su rg e d as te n ta tiv a s d e in c lu ir o u e x c lu ir o a u to r d a o b ra a n ô n im a

Epístola a Diogneto. G e r a lm e n te , esses g ru p o s se s itu a m n o s e g u n d o século, e os m ais p ro e m in e n te s e n tre eles fo ra m :

J u stin o , 0 m á r tir

(f 165 d.C.)

N a s c e u e m F lá v ia N e á p o lis (h o je, N a b lu s ), a a n tig a S iq u é m , n a P a le s tin a . F ilh o d e p ais p a g ã o s, e m su a in fâ n c ia e n tro u e m c o n ta to c o m u m m e stre estó ico , p a s s a n d o , lo g o a p ó s, p a ra u m p e r ip a té tic o e, fin a lm e n te , a u m p ita g ó ric o , to r n a n d o - s e u m d e v o to aos in te re sse s in te le c tu a is , p o r ta n to , u m “filó so fo ”. Q u a n d o c o n h e c e u o c ris tia n is m o , p ro v á v e lm e n te e m E fe so , disse: “E s ta é a ú n ic a filo so fia re a lm e n te co n fiáv el e ú til q u e eu e n c o n tr e i” (D iá lo g o 8). D e p o is d e sua c o n v e rsão , p e r e g rin o u a té R o m a , o n d e f u n d o u u m a escola. E le m e re c e a re p u ta ç ã o d e ser o a p o lo g is ta m ais im p o r ­

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s t u d o s

d e

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e o l o g

:

λ

VOLUME 2

ta n te d o sécu lo 2° d .C . p o r su a c ria tiv id a d e e id éias a re sp e ito d e C ris to c o m o o L o g o s e o c ris tia n is m o c o m o a filo so fia v e rd a d e ira . E u s é b io d e C e s a re ia c o n ta - n o s q u e J u s tin o e sc rev eu u m g ra n d e n ú m e ro d e o b ra s , 21 m a s só trê s são ac eita s c o m o g e n u ín a s: Primeira apologia, Segunda apologia e o Diálogo com

Trifão , o ju d e u . S u a Primeira apologia é d irig id a ao im p e ra d o r A n to n in o P io , q u e re in o u d e 1 3 8 a 161 d .C ., aos seus filh o s, L u c iu s e M a rc o A u ré lio , e a to d o o s e n a d o ro m a n o . A Se-

gnnda apologia é d irig id a a A n to n in o V ero. A m b a s as c a rta s fo ra m esc rita s p a ra c o n te s ta r a p e rse g u iç ã o c o n tra os cristão s. N o Diálogo co?n Trifão, J u s tin o ex p lica d e q u e m o d o a g ra ç a d iv in a o lev o u à d o u tr in a d a fé. J u s tin o fo i d e c a p ita d o e m R o m a , ju n to c o m seis o u tro s cristão s.

T e rtu lia n o

(160- 220 d.C.)

Q u in tu s S e p tim iu s F lo re n s T e r tu llia n u s n a sc e u e m C a r tag o , u m d o s p rin c ip a is c e n tro s c u ltu ra is d o I m p é r io R o m a n o . F ilh o d e u m c e n tu riã o p ro c o n s u la r ro m a n o , re c e b e u e s m e ra d a e d u c a ç ã o , p rin c ip a lm e n te ju r íd ic a e re tó ric a . A o s v in te a n o s, seg u iu p a ra R o m a , o n d e a m p lio u su a fo rm a ç ã o . C o n h e c e d o r d o g re g o e d o la tim , e ra a d v o g a d o n o tá v e l, le c io n a n d o o ra tó ria em R o m a , o n d e se c o n v e rte u ao c ris tia n is m o. R e g re sso u a C a rta g o p o r v o lta d o a n o 19 5 , d e d ic a n d o -s e ao e s tu d o das E s c ritu ra s , d a lite ra tu ra c ristã e p ro fa n a e d os tra ta d o s g n ó stic o s. In ic io u , e n tã o , u m a p ro d u tiv a a tiv id a d e

estudos

de

T eologia

219

En c i c l o p é d i a

lite rá ria v o lta d a p a ra a c o n so lid a ç ã o d a Ig re ja n o N o r te d a Á fric a . T e r tu lia n o fo i o p rin c ip a l a p o lo g is ta d a Ig re ja o c id e n ta l e o p rim e iro te ó lo g o c ristã o a escrev er e m la tim . C o n tr ib u iu , c o m seus e sc rito s, p a ra fix ar o léx ico e a d o u tr in a d o c ristia n is m o o c id e n ta l. S u as c o n trib u iç õ e s d e m a io r im p o rtâ n c ia fo ra m suas d iscu ssõ es so b re a T r in d a d e e a e n c a rn a ç ã o d o L o g o s . T a n to q u a n to I rin e u , ele c o n sid e ra v a o g n o s tic is m o o p io r in im ig o d o c ris tia n is m o . P a ra c o m b a tê -lo , esc rev eu d u as im p o r ta n te s o b ra s: Adversus Marcionem [Contra Marcião\ e

Depraescriptione Haereticorum [Prescrição contra os hereges]. E sc re v e u , a in d a , v á rio s tra ta d o s : Contra Hemógenes [Ad-

versus Hermogenem], Contra Práxeas [Adversus Praxean]. S o b re q u e stõ e s p rá tic a s e m o ra is, p u b lic o u os se g u in te s tex to s:

De Monogamia \Sobre monogamia], De exhortatione castitatis [Sobre exortação da cCastidaáe\ , De patentia \Sobre a paciência\, D epaenitentia [Sobre a Penitência], De cultu feminarum [Sobre 0 vestir das mulheres], e n tre o u tro s .22 T a m a n h a fo ra su a in flu ê n c ia , q u e “seus e sc rito s c o n trib u íra m , j u n ta m e n te c o m a V etu s L a tin a e a V u lg a ta , c o m m a io r c a b e d a l p a ra a fo rm a ç ã o d o la tim c ristã o d a A n tig u id a d e ”. 23

H ip ó lito

(160-236 d.C.)

P o u c o se sab e so b re su a v id a. E n tr e ta n to , fo i u m e sc rito r c o m p le x o e fe c u n d o . F o i d isc íp u lo d e I rin e u , se g u in d o , c o m o m e s m o v ig o r q u e seu m e s tre , o c o m b a te aos g n ó s ticos. E u s é b io o fe re c e u m a lista c o m alg u n s d e seus esc rito s:

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V O L U M E

2

“D o H e x a e m e ro n , D a s o b ra s Sobre 0 Hexaemeron,A Marcião,

Dos cânticos, Sobre partes de Ezequiel, D a Páscoa, Contra todas as heresias'D H ip ó lito n ã o c o n c o rd a v a c o m a p o siç ã o te o ló g ic a d o p a p a C a lis to , a c u s a n d o -o d e sa b e lia n ista . R e c e b e u a p o io d e u m a facção d a Ig re ja , to r n a n d o - s e u m a e sp é cie d e a n tip a p a . E m 2 3 5 d .C ., d u r a n te a p e rse g u iç ã o le v a n ta d a p o r M a x im in o , H ip ó lito e P o n c ia n o fo ra m ex ilad o s p a ra a ilh a d e S a rd e n h a , o n d e v ie ra m a falecer. N o e p is c o p a d o d e F a b ia n o , e m 2 5 0 d .C ., seus ossos fo ra m tra z id o s p a ra R o m a , o n d e re c e b e ra m h o m e n a g e n s c o m o m á rtire s .

Polemistas D if e r e n te m e n te d o s a p o lo g ista s d o s e g u n d o sécu lo , q u e p r o c u ra ra m fa z e r u m a e x p la n a ç ã o e u m a ju s tific a ç ã o ra c io n a l d o c ris tia n is m o p a ra as a u to rid a d e s , os p o le m is ta s e m p e n h a r a m - s e p o r r e s p o n d e r ao d esafio d o s falso s e n s in o s d o s h e ré tic o s , c o n d e n a n d o , c o m v e e m ê n c ia , su as d o u tr in a s e seus m e stre s. A p e s a r d e a m a io ria v iv e ra m n o O r ie n te , os g ra n d e s p o le m is ta s v ie ra m d o O c id e n te . O s p ais d esse g ru p o n ã o m e d ira m e sfo rço s p a ra d e f e n d e r a fé c ristã das falsas d o u trin a s su rg id a s fo ra e d e n tro d a Ig re ja . G e r a lm e n te , e stã o s itu a d o s n o te rc e iro sécu lo , e os m ais d e sta c a d o s e n tre eles fo ra m :

I r in e u

(130- 202 d.C.) ✓

N a tu r a l d a A s ia M e n o r , p ro v a v e lm e n te d e E s m ir n a , o n d e fo i d isc íp u lo d e P o lic a rp o d e E s m ir n a , c o m q u e m a p re n d e u

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

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E N C IC LΟ Γ E D IΛ

as tra d iç õ e s d o a p ó s to lo Jo ã o , d isc íp u lo d e Je su s. E m 170 d .C ., c o m o p re sb íte ro , e sta b e le c e u -s e n a G á lia (F ra n ç a ), n a c id a d e d e L iã o , ju n to ao vale d o R ó d a n o , o n d e to r n o u - s e n o táv el d e fe n s o r d a fé cristã. E m 1 7 7 d .C ., o im p e ra d o r M a rc o A u ré lio in ic io u terrív el p e rse g u iç ã o aos cristão s d a Á sia M e n o r, e sp e c ia lm e n te àqueles q u e h a b ita v a m o vale d o R ó d a n o . F o ra m m o rto s c e n te n a s de leigos e p re sb íte ro s, ju n ta m e n te c o m o b isp o d a q u e la região. Irin e u e sc a p o u d a m o rte d u ra n te este a ta q u e c o n tra os cristão s d a G á lia p o rq u e h av ia sid o e n v iad o a R o m a , a E m d e c o n te sta r as h eresias q u e d e lá c h e g a v a m ao seu c o n h e c im e n to . Q u a n d o re to rn o u d e lá, foi eleito p e lo p o v o b isp o d e L ião. I r in e u foi a u to r d e d iv erso s liv ro s, p o ré m , s o m e n te d u as o b ra s, a tu a lm e n te , são c o n h e c id a s: Adversus haereses \_Contra

as heresias\ e Epideixis tou apostolokou kerygmatos [Demonstração ou exposição da pregação apostólica]. A p rim e ira é e sse n c ia lm e n te te o ló g ic a e a se g u n d a , c risto ló g ic a e so te rio ló g ic a . E n q u a n to n o Adversus haereses a ê n fa se re cai so b re a d o u tr in a d e D e u s cria d o r, e m Demonstração o e n fo q u e se fa z d e sd e a e c o n o m ia d a salvação.

C ip ria n o

(210-258 d.C.)

T h a sc iu s C e c iliu s C y p ria n u s era d e fa m ília n o b re e in flu e n te de C a rta g o . C o n v e r te u - s e ao c ris tia n is m o em 2 4 6 d .C ., se n d o , p o s te r io r m e n te , e le ito b is p o e m su a c id a d e n a ta l, p o r v o lta d o a n o 2 4 9 d .C . E x e rc e u u m m in is té r io p a s to ra l in flu e n te , p ro d u z in d o v á rio s e sc rito s a n te s d e ser p e rse g u id o

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V O L U M E

2

e d e c a p ita d o n o s d ias d o im p e r a d o r V ale rian o . A s p rin c ip a is o b ra s d e C ip r ia n o são: Tratado sobre a unida-

de da Igreja [De ecclesiae unitate\ e Dos caídos [De lapsis\,a m b a s e sc rita e m 2 5 1 d .C . e e n v ia d a s aos c o n fe sso re s ro m a n o s d a fé. D e p o is , c o m p õ e m a lista , os s e g u in te s te x to s: De habitu

virginum (2 4 9 d .C .) , De mortalitate (2 5 2 o u m a is ta rd e ), De opere et eleemosynis (2 5 2 d .C .) e a c o le ç ã o d e c a rta s. A lg u m a s d e suas o b ra s são rev isõ es d o s e sc rito d e T e r tu lia n o , a q u e m C ip r ia n o c h a m a v a d e m e s tre .25

O ríg en es

(185254‫ ־‬d.C.)

O ríg e n e s fo i o m a io r d o s in té rp re te s a le g ó ric o s e m a is p ro líficos d a a n tig u id a d e c ristã . A m a io r p a r te d as in fo rm a ç õ e s so b re a v id a d e O ríg e n e s p o d e ser lo c a liz a d a n o sex to liv ro d a h is tó ria E c le s iá s tic a d e E u s é b io . N a s c e u e m A le x a n d ria , n o E g ito , o n d e fo i a lu n o d e C le m e n te , o q u e o fa ria su c e sso r d e ste , an o s m a is ta rd e . F ic o u à fre n te d a esc o la p o r v in te e o ito a n o s, le v a n d o u m a v id a e x tre m a m e n te a sc é tic a e p ie d o sa. D e v id o ao seu ze lo , in te r p r e to u lite r a lm e n te o te x to d e M a te u s 1 9 .1 2 , q u e diz: “P o rq u e h á e u n u c o s q u e assim n a sc e ra m d o v e n tre d a m ãe; e h á e u n u c o s q u e fo ra m c a stra d o s p elo s h o m e n s ; e h á e u n u c o s q u e se c a s tra ra m a si m e sm o s p o r ca u sa d o re in o d o s céus. Q u e m p o d e re c e b e r isso, q u e o re c e b a ”; e m u tilo u -s e a si m e sm o . S eu p ai, L e ô n id a s , m o rre u m a rtiriz a d o e m 2 0 2 , o q u e fe z c o m q u e ele tiv esse 0 m e s m o s e n tim e n to , a p o n to d e d iz e r ao p a i q u e se e n c o n tra v a p re so : “N ã o vai m u d a r d e id e ia p o r

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E N C

IC

LΟ Γ É D IA

c a u sa d e n ó s ”. E m 2 1 2 , estev e e m R o m a , G ré c ia e P a le s tin a. A m ã e d o im p e ra d o r A le x a n d re S ev ero , J ú lia M a m e ia , c h a m o u - o a A n tio q u ia p a ra o u v ir suas liçõ es. M o r r e u e m C e s a re ia , d u r a n te a p e rse g u iç ã o d o im p e ra d o r D é c io . A p ro d u ç ã o lite rá ria d e O rig e n s foi e n o rm e . S e g u n d o a e stim a tiv a , fo i o a u to r d e seis m il p e r g a m in h o s .26 U m a v ez q u e seus c o n h e c im e n to s b íb lic o s e ra m e n o rm e s e estav a c o n s c ie n te d e q u e o te x to d as E s c ritu ra s c o n tin h a lig eiras v a ria n te s , c o m p ô s a H exapla,2' u m a o b ra m o n u m e n ta l de e ru d iç ã o b íb lic a q u e n ã o foi c o n s e rv a d a n a ín te g ra .

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C a p ít u l o 6

0 APARECIMENTO DAS SEITAS

E n q u a n to v iv era m os a p ó sto lo s e sc o lh id o s p o r C ris to , a re v e rê n c ia e ra g e ra l p a ra c o m eles, c o m o fu n d a d o re s d a Ig re ja e, ta m b é m , c o m o h o m e n s d o ta d o s d e in sp ira ç ã o d iv in a . S eg u n d o os A to s d o s A p ó s to lo s , os p rim e iro s c ristã o s v iv iam e m c o m u n h ã o d e b e n s , c e le b ra v a m o p a r tir d o p ã o e m suas casas e o ra v a m d ia ria m e n te n o te m p lo (2 .4 2 ). O fe rv o r dos p rim e iro s te m p o s g e ro u n o s cristão s u m elev ad o nível de v id a m o ra l. N o tó ria n o s p rim e iro s te m p o s d a Igreja, foi a p rá tic a d a c a rid a d e , c o m o se p o d e o b serv ar: “E re p a rtia -s e a ca d a u m , se g u n d o a n ec e ssid a d e q u e ca d a u m tin h a ” (A t 4 .3 5 ). O s d iá c o n o s e d iaco n isas e n c a rre g a v a m -se d os e n fe rm o s, d os ó rfão s, das viúvas, d os escravos, D o p s p ris io n e iros e dos p e re g rin o s, d e m o d o q u e to d o s re c e b ia m c u id ad o s especiais. N o fin al d o p rim e iro século, o c ris tia n is m o e s p a lh o u -s e p o r to d a s as p a rte s d o im p é rio . J u n ta m e n te c o m o d e se n v o lv im e n to d a d o u tr in a te o ló g ic a , d e s e n v o lv e ra m -s e ta m b é m as seitas. A lé m das p e rse g u iç õ e s d o m u n d o p a g ã o , os c ristã o s tiv e ra m q u e e n f re n ta r as h e re sia s e d o u trin a s c o rro m p id a s d e n tro d o p ró p rio re b a n h o .

En c i c l o p é d i a

V ário s fo ra m os g ru p o s q u e se le v a n ta ra m c o n tra a Ig re ja d e D e u s . E n tr e eles, p o d e m o s d e sta c a r:

Judaizantes O r o m p im e n to d o u tr in á r io c o m o ju d a ís m o n ã o se d e u sem m u ita lu ta . O c ris tia n is m o p o d e r ia te r p e r m a n e c id o u m a m e ra se ita ju d a ic a , n ã o fo sse m a v isão e a p e rsis tê n c ia d e P a u lo , fre n te às te n ta tiv a s d e alg u n s g ru p o s d e tra n s f o rm a r a m e n s a g e m d o e v a n g e lh o e m u m a p ê n d ic e d a lei m o sa ic a . P a u lo fo i o h o m e m u s a d o p o r D e u s p a ra fa z e r a co n e x ã o e n tre o m u n d o ju d a ic o e o m u n d o g e n tio . S eu c o n h e c im e n to d e a m b o s os la d o s fo i u m im p o r ta n te f a to r d e lig ação . A o ler os escrito s p a u lin o s, é fácil p e rc e b e r q u e este foi u m d o s p io re s p ro b le m a s e n fre n ta d o s p elo ap ó sto lo . S u a in sistê n cia n a salvação p e la g ra ça, à p a rte d a lei m o saica, v a le u -lh e a in im iz a d e d e p re g a d o re s co m fo rte s raízes ju d a ic a s. P a ra a ta car P au lo , estes o p o sito re s b u sca v am in v a lid a r sua a u to rid a d e ap o stó lica, u m a v ez q u e ele n ã o fazia p a rte d o s d o ze. P o r c o n seq u ên cia, ele se via o b rig a d o a d e fe n d e r n ão ap e n as 0 ev an g elh o , c o m o p reg av a, m as, ta m b é m , sua p ró p ria a u to rid a d e . D o s escrito s m ais sig n ificativ o s sobre este d e b a te , te m o s a e p ísto la aos G á la ta s. N e s ta ca rta , ele d e fe n d e ta n to sua a u to rid a d e a p o stó lic a q u a n to c o m b a te e le m e n to s ju d a iz a n te s que estav am sen d o in tro d u z id o s nas igrejas d a q u e la região. D e fin itiv a m e n te , ele ex o rta aos seus d e stin a tá rio s cristão s a n ã o aceita re m “o u tro e v a n g e lh o ”, sob p e n a de m a ld iç ã o ( G 1 1.8,9).

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VOLUME 2

O to m d a c a rta é severo, p o is, caso essas h e re sia s n ã o fo ssem re je ita d a s, o c ris tia n is m o n ã o se ria m a is d o q u e u m j u d a ís m o c o m u m M e ssia s. P a u lo sa b ia m u ito b e m q u e n ã o se tra ta v a d isso . E n tr e os e le m e n to s ju d a ic o s e x iste n te s, p o d e m o s id e n tific a r:

A prática da circuncisão A c irc u n c isã o era u m sin a l d o p a c to d e D e u s c o m o p o v o d e Isra e l, a d e s c e n d ê n c ia física d e A b ra ã o ( G n 1 7 .1 0 ). M a s , os ju d a iz a n te s e x ig ia m d o s c o n v e rtid o s a C r is to q u e se c irc u n c id a sse m . P a u lo p ro te s ta v e e m e n te m e n te c o n tra aq u e le s q u e se d e ix a ra m c irc u n c id a r (G1 5 .3 ,4 ). M o s tr o u q u e os q u e assim p ro c e d e ra m o fiz e ra m p o r m o tiv o s falsos. M o s tr o u q u e essas coisas n ã o tin h a m v a lo r e m si m e s m a s , m a s q u e o v a lo r era se to r n a r n o v a c r ia tu r a e m C r is to e v iv er u m a v id a d e fé e a m o r (G1 6 .1 5 ). P a ra o a p ó sto lo , a v e rd a d e ira c irc u n c isã o era a d o co ração , e isto estav a d e a c o rd o c o m a lei e os p ro fe ta s (R m 2 .2 8 ,2 9 ; D t 3 0 .6 ).

A guarda de dias especiais e das festas judaicas Q u a n d o os g á la ta s c o m e ç a ra m a g u a r d a r as fe sta s ju d a ic a s , ta n to o sá b a d o q u a n to as lu as n o v as e as d e m a is fe stiv id a d es, P a u lo v iu isto c o m o u m re tro c e sso , c h e g a n d o a d u v id a r d a eficácia d a m e n s a g e m d o e v a n g e lh o e n tre eles (G1 3 .3 ). N a e p ís to la aos C o lo sse n se s, e n tre os q u ais p a re c e te r h a v id o u m a h e re sia s e m e lh a n te , ele m o s tra q u e as festas e ra m

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a p e n a s “s o m b ra s ”, e m c o n tra s te c o m a re a lid a d e re v e la d a e m C r is to (C l 2 .1 6 ,1 7 ).

A le i como p a d r ã o de co m p o rta m en to p a r a 0 cren te O te rc e iro e le m e n to d a ju d a iz a ç ã o d o e v a n g e lh o en v o lv ia a q u e s tã o d a san tificaç ão . A lei n ã o e ra m a is o p a d rã o p a ra o v iv er d iá rio e P a u lo v ai c o lo c a r a lei c o m o p ro v isó ria (2 C o 3 .1 1 ), c o m o aio (G1 3 .2 4 ,2 5 ) e c o m o im p o ssív e l d e h e r d a r as p ro m e ssa s ( G 1 4 .3 0 ). E classifica a te n ta tiv a d e a p e rfe iç o a r-s e p e la lei c o m o u m a te n ta tiv a c a rn a l, d iz e n d o o se g u in te : “Sois vós tã o in s e n s a to s q u e , te n d o c o m e ç a d o p e lo E s p írito , acab eis a g o ra p e la c a rn e ? ” (G1 3 .3 ). C o n d e n a o p e c a d o ta l q u a l a lei fa zia. E n tr e ta n to , d e m o n s tr a q u e a c ru z e o E s p ír ito S a n to são os m e io s e x iste n te s p a ra lev ar o c re n te à sa n tific a ç ã o (G1 5 .2 4 ,2 5 ). Q u a n d o fo i e sc rita a p r im e ir a e p ís to la a T im ó te o , esse p ro b le m a s u b sistia a in d a , p e lo q u e ele te v e q u e m o s tra r o v e rd a d e iro c a rá te r d a lei ( l T m 1 .8 -1 0 ). E s s a fo i su a p o s tu ra fre n te às h e re sia s ju d a iz a n te s . S u as co lo c a ç õ e s in s p ira d a s fo ra m cau sas d a r u p tu r a d e fin itiv a e n tre o c ris tia n is m o e o ju d a ís m o . S e ria só q u e s tã o d e te m p o , e esses e le m e n to s d e s a p a re c e ría m d o seio d a Ig re ja , p e lo m e n o s n esses m o ld e s.

Gnosticismo F o i u m a d as p io re s d o u trin a s in im ig a s d o c ristia n ism o . E m b o r a e x istisse m v árias c o rre n te s d ife re n te s d e g n o s tic is -

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m o , to d a s elas fo ra m in flu e n c ia d a s p e lo n e o p la to n is m o e p e lo p e n s a m e n to g re g o , e m g eral. S e g u n d o o h is to r ia d o r E d w a r d G ib b o n , h a v ia m ais d e c in q u e n ta seitas g n ó s tic a s d ife re n te s . N ã o p o d e m o s c h a m a r o g n o s tic is m o d e s e ita o u relig ião . O m a is c o rre to seria cla ssific á -lo c o m o u m a c o rre n te d e p e n s a m e n to , d iv id id a e m v á rio s siste m a s e esco las. A o q u e p a re c e , fo i u m a d as p rim e ira s h e re sia s c ristã s, v isto q u e , c o n fo rm e a o p in iã o d e a lg u n s, os e sc rito s d o a p ó s to lo J o ã o fo ra m p ro d u z id o s c o m a in te n ç ã o d e c o m b a te r essas id é ia s e rrô n e a s a re sp e ito d e C ris to . P o d e m o s classificar o g n o s tic is m o c o m o se n d o a te n ta tiv a ra c io n a lis ta g re g a d e in c lu ir o c ris tia n is m o e m u m s is te m a filo só fic o -re lig io so , c o m fo rte p re d o m in â n c ia d o e le m e n to co g n itiv o . E m o u tra s p alav ras, e m b o ra a fé fo sse o e le m e n to p r im o rd ia l n o c ris tia n is m o a p o stó lic o , esse m o v im e n to tr a to u d e tr a n s f o r m a r o c o n h e c im e n to e a s a b e d o ria e m e le m e n to s -c h a v e , b e m ao s a b o r d a c u ltu ra g re g a. E m b o r a os c o s tu m e s litú rg ic o s e os e le m e n to s m ito ló g icos v a ria sse m , é p o ssív el d e s c o b rir p rin c ip a is c o n c e ito s b á s icos. V ejam os:

D u a lism o d a n a tu r e z a O g n o s tic is m o e n fa tiz a v a a d u a lid a d e d a n a tu re z a . H a v ia o m u n d o físico e o m u n d o e s p iritu a l. A té este p o n to , n e n h u m p ro b le m a . M a s , o m u n d o físico e ra id e n tific a d o c o m o m a l, c o m o alg o in te rio r, e n q u a n to o m u n d o e s p iritu a l era id e n tific a d o c o m o b e m , se n d o s u p e rio r àq u e le . A p a r tir d e s ­

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se p rin c íp io , o rig in a d o d o p la to n is m o e d o n e o p la to n is m o , 0 c ris tia n is m o fo i d e sfig u ra d o . E s s e c o n c e ito a tin g iría to d a a d o u tr in a cristã.

O Deus Criador P e lo fa to d e o m u n d o físico ser m al, ele n ã o p o d e ría te r sid o c ria d o p o r u m D e u s b o m . L o g o , a c ria ção n ã o foi o b ra d o P a i d e Je su s C ris to , o D e u s d o N o v o T e s ta m e n to , m a s d o D e u s ju d a ic o , q u e se rev ela n o A n tig o T e s ta m e n to . E s s e “d e u s ” c ria d o r fo i c h a m a d o d e d e m iu rg o . E le só p o d ia ser u m d e u s in fe rio r, u m a v e z q u e e ra o c ria d o r d a m a té ria. T a m b é m , p o r ca u sa d isto , o g n o s tic is m o era a n ta g ô n ic o a tu d o q u e d iz ia re sp e ito ao A n tig o T e s ta m e n to , re je ita n d o a lei e e n s in a n d o q u e o h o m e m se lib e rta v a d e la a d q u irin d o “p e rc e p ç õ e s s u p e rio re s ”. O s p ais e c le siá stic o s, p rin c ip a lm e n te Ir in e u , c o m b a te r a m esse e n sin o , m o s tra n d o q u e só h a v ia u m D e u s ú n ic o , q u e foi o C r ia d o r d e to d a s as coisas e se re v elo u aos p ro fe ta s , e, p o r fim , re v e lo u -se a si m e s m o e m seu F ilh o .

D o u tr in a dos éons P a ra e x p lic a r essa d is tin ç ã o e n tre o D e u s v e rd a d e iro e o d e m iu rg o , e n tre o m u n d o e s p iritu a l e o m u n d o m a te ria l, os g n ó s tic o s c ria ra m a d o u tr in a d o s é o n s. U m d o s p rin c ip a is g n ó s tic o s , V a le n tin o , e n sin a v a q u e ex istia u m a c o rre n te d e t r in ta é o n s q u e e m a n a v a m d a d iv in d a d e , s e n d o q u e o m u n d o m a te ria l fo ra o rig in a d o p e lo m ais b aix o é o n d a c a d e ia , n ão

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c o m o re su lta d o de u m d ese jo cria tiv o , m as c o m o re su lta d o de u m a q u e d a . O D e u s s u p re m o o u p r o g e n ito r fo rm a v a o p rim e iro é o n , ta m b é m c o n h e c id o c o m o buthos (“a b is m o ”)· D e p o is , v in h a m , e m o rd e m , o silên cio o u id e ia , o e s p írito e a v e rd a d e . D e p o is , p o r su a vez, v ie ra m a ra z ã o e a v id a e, d esses, v ie ra m o h o m e m e a Ig re ja . E n tã o , os o u tro s d e z é o n s a p a re c e ra m . O ú ltim o é o n te ria c a íd o c o m o re s u lta d o d e u m a ta q u e d e p a ix ã o e a n sie d a d e , e fo i p o r c a u sa d e s ta q u e d a q u e o m u n d o m a te ria l c h e g o u a existir. O d e m iu rg o q u e c rio u o m u n d o p ro c e d e u d e ste é o n caíd o .

S alvação O s é o n s m ais elev a d o s te ria m d a d o o rig e m a C r is to e ao E s p ír ito S a n to . A ta re fa d e C r is to seria liv ra r as alm as d o s h o m e n s d e seu c a tiv e iro ao m u n d o m a te ria l e tra z ê -la s de v o lta ao m u n d o d o s e sp írito s. E s te e ra o c o n c e ito g n ó s tic o de salv ação - u m re to r n o d as a lm as d o m u n d o m a te ria l, o n d e tin h a m c a íd o e sid o a p ris io n a d a s , p a ra o m u n d o e s p iritu a l. M a s , e sta salv ação só era p o ssív el p e la p e rc e p ç ã o s u p e rio r ( gnosis). E ra u m tip o d e s a b e d o ria e s o té ric a q u e p r o p o rc io n av a c o n h e c im e n to re la tiv o ao “p le ro m a ” o u m u n d o s u p e rio r e s p iritu a l e ao c a m in h o q u e c o n d u z ia p a ra lá. N e m to d o s p o d ia m a lc a n ç a r e sta salvação, a p e n a s os c h a m a d o s p n e u m á tic o s, q u e p o s s u ía m o p o d e r n e c e ssá rio p a ra re c e b e r esse c o n h e c im e n to . O s q u e n ão e ra m ca p a z e s d isso e ra m ciassificad o s c o m o m a te ria lista s. A lg u n s g n ó s tic o s c ria ra m u m a classificação in te rm e d iá ria c h a m a d a d e “p s íq u ic o s ”, n a q u a l

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os c ristã o s e ra m g e ra lm e n te in c lu íd o s. A g ra n d e re fu ta ç ã o d o s p o le m is ta s (pais d a Ig re ja q u e c o m b a te r a m esse e o u tro s tip o s d e h e re sia s) era q u e os g n ó s tic o s e x c lu íra m a fé d o seu siste m a , s u b s titu in d o - a p o r u m c o n h e c im e n to p e r te n c e n te a u m p e q u e n o g ru p o seleto .

C r is to lo g ia A p o siç ã o g n ó s tic a a re s p e ito d e C r is to re c e b e u o n o m e de “d o c e tis m o ”, p a la v ra o rig in á ria d o g re g o dokeo, q u e sig n ifica “p a re c e r”. C o m o a m a té ria e ra m á , C r is to n ã o p o d ia te r u m c o rp o h u m a n o , a p e sa r d e a B íb lia d iz e r o c o n trá rio . C o m o b e m e s p iritu a l a b so lu to , C r is to n ã o se m is tu ra v a c o m a m a té ria . O h o m e m Je su s era o u u m fa n ta s m a c o m a p a rê n c ia d e c o rp o m a te ria l o u o C r is to to m o u seu c o rp o p o r o ca siã o d o b a tis m o e o d e ix o u n o c o m e ç o d e seu s o frim e n to n a cru z.

Nicolaítas O te rm o a p a re c e n a s c a rta s d o A p o c a lip s e p o r d u as v ezes e, p o r isso, g a n h o u a a te n ç ã o d e e s tu d io s o s d as h e re sia s p r im itiv a s. S e c o n s id e ra rm o s o a n o 90 c o m o d a ta p ro v á v el p a ra o liv ro d o A p o c a lip s e , e n tã o já te m o s a q u i u m a se ita b a s ta n te d e se n v o lv id a , m as d e d ifícil id e n tific a ç ã o . O N o v o T e s ta m e n to fa la e m “o b ra s d o s n ic o la íta s ” (A p 2 .6 ) e e m “d o u tr in a d o s n ic o la íta s ” (A p 2 .1 5 ), o q u e d á a e n te n d e r tr a ta r - s e d e u m g ru p o o rg a n iz a d o , c o m p rá tic a s e d o u trin a s . T e m o s u m a re fe rê n c ia d e I r in e u so b re o a ssu n to , q u e diz:

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“O s n ic o la íta s tê m p o r m e s tre N ic o la u , u m d o s sete p rim e iros d iá c o n o s c o n s titu íd o s p e lo s a p ó sto lo s. V iv e m se m m o d e ra ç ã o . O A p o c a lip s e d e J o ã o m a n ife s ta p le n a m e n te q u e m são: e n s in a m q u e a fo rn ic a ç ã o e o c o m e r c a rn e s o fe re c id a s aos íd o lo s sejam co isas in d if e r e n te s ”. T a m b é m T e r tu lia n o d e C a rta g o a trib u i ao d iá c o n o h e le n is ta a p a te r n id a d e d a se ita ao d iz e r: “N ic o la u d e A n tio q u ia , u m g e n tio q u e se g u ia a re lig iã o ju d a ic a , m e n c io n a d o e m A to s 6 .5 , te ria , p a ra se ju s tif icar, a p r e s e n ta d o su a e sp o sa à a sse m b lé ia d o s c re n te s, d iz e n do: ‘Q u e m a q u is e r p o d e d e s p o s á -la , p o is é n e c e ssá rio te r e m p o u c a e s tim a a c a rn e ’”. E m b o r a tiv esse sid o c o m b a tid o , esse m o v im e n to h e ré tic o c o n s e g u iu so b rev iv e r até p o r v o lta d o a n o 2 0 0 , q u a n d o , e n tã o , se d isso lv e u e m u m tip o d e g n o s tic is m o d e n o m in a d o “o fita ”, lig a d o ao c u lto às s e rp e n te s . C o m o p o d e m o s ver, o d e s e n v o lv im e n to d e c e rta s h e r e sias, a p a r tir d a d o u tr in a c ristã , fo i b a s ta n te a m p lo . O risco de p e r d e r a id e n tid a d e e m m e io a ta n to s d esv io s d ife r e n te era g ra n d e . M a s , a Ig re ja re a g iu n o s m o m e n to s c e rto s e, se n ã o c o n se g u iu re fre a r c o m p le ta m e n te c e rto s e le m e n to s , c o n se g u iu firm a r su a d o u tr in a de m o d o c o e re n te , d e ix a n d o f u n d a m e n to s q u e m a is ta rd e p o s s ib ilita ria m o re n a s c im e n to d o c ris tia n is m o b íb lic o n o sécu lo 16.

Ebionism o O s e b io n ita s tiv e ra m su a o rig e m n o c ris tia n is m o ju d a ico d e J e ru s a lé m . E m b o r a alg u n s te n h a m te n ta d o re c o n h e c e r

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En c i c l o p é d i a

c e rto E b io n c o m o se n d o 0 fu n d a d o r d e s ta seita, o c e rto é q u e o n o m e d e riv a d e u m a p a la v ra h e b ra ic a q u e sig n ifica “os p o b re s ”. A p rin c íp io , este era u m n o m e h o n ro s o p a ra os c ristã o s e m J e ru s a lé m . E sse g ru p o re lig io so m ig ro u p a ra a re g iã o L e s te d o J o rd ã o e m is tu ro u , de fo rm a in a d e q u a d a , e le m e n to s ju d a ic o s e cristã o s. A d ife re n ç a s u b s ta n c ia l q u e se p a rav a os e b io n ita s d o s d e m a is ju d e u s c ristã o s e d o s h e le n is ta s c o n sistia n a m a n e ira de c o n c e b e re m a p e sso a e a o b ra d e Je su s. P o r seu m o n o te ís m o re s trito , n ã o a d m itia m q u a lq u e r in s in u a ç ã o so b re a d iv in d a d e d e Je su s. A lg u n s s u p õ e m q u e os e b io n ita s se m is tu r a ra m e, c o n se q u e n te m e n te , re c e b e ra m fo rte in flu ê n c ia d o s e ssê n io s, p o v o q u e p ra tic a v a u m ju d a ís m o a sc é tic o e vivia n a re g iã o d o m a r M o r to . C o m o p o u q u ís s im o m a te ria l e x is te n te so b re eles, é im p o ssív e l fa z e r u m a d e sc riç ã o m in u c io sa . M a s , p o d e m o s te r u m p e q u e n o v islu m b re d o p e n s a m e n to d e s ta seita.

Maniqueísmo A n tig a religião q u e receb eu o n o m e de seu fu n d a d o r, o sábio p ersa M a n i, o u M a n e s, o u ain d a M a n iq u e u (2 1 6 -2 7 6 d .C .), que afirm ava que u m anjo lh e havia ap arecid o e o n o m e a ra co m o p ro fe ta de u m a nova e ú ltim a revelação. P re g o u p o r to d o o im p ério persa, inclusive en v io u m issio n ário s ao Im p é rio R o m an o . F o i preso, acusado d e heresia,e m o rre u p o u c o te m p o depois. O m a n iq u e ís m o re fle te u m a fo rte in flu ê n c ia d o a g n o s ticism o . S u a d o u tr in a b a s e ia -s e e m u m a d iv isão d u a lis ta d o

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U n iv e rso , n a lu ta e n tre o b e m (D e u s ) e o m a l (S a tã ). E sses d o is â m b ito s e sta v a m se p a ra d o s, p o ré m , a e sc u rid ã o in v a d iu a lu z e se m e s c la ra m . A e sp é cie h u m a n a é o p r o d u to d essa lu ta . C o m o te m p o , p o d e r - s e - ia re s g a ta r to d o s os fra g m e n to s d a lu z d iv in a e o m u n d o se d e s tru iría ; d e p o is d isso , a lu z e a A

e sc u rid ã o e s ta ria m n o v a m e n te se p a ra d a s p a ra se m p re . E d ifícil n ã o n o ta r a fo rte in flu ê n c ia d o z o r o a s tris m o n o s c o n c e ito s e sta b e le c id o s p o r M a n i. P o d e m o s d iz e r q u e e ra u m a c o m b in a ç ã o d o p e n s a m e n to c ristã o , d o p e n s a m e n to z o r o a s tris m o e d e id éias re lig io sas o rie n ta is . E m m u ito s p o n to s , se a sse m e lh a v a a o u tro s ra m o s d o g n o s tic is m o . S eu a sc e tism o , p o r e x e m p lo , e ra e x tre m o , e x a lta n d o o c e lib a to c o m o a m a io r das v irtu d e s. O s m a n iq u e ís ta s d iv id ia m -s e e m d u a s classes: os eleito s, c e lib a tá rio s rig o ro so s, e ra m v e g e ta ria n o s e se d e d ic a v a m so m e n te à o ra ção ; e os o u v in te s, cu ja e s p e ra n ç a e ra v o lta r a n a sce r c o n v e rtid o s e m e leito s. O m a n iq u e ís m o ex e rceu in flu ê n c ia d u r a n te u m b o m te m p o ap ó s a m o rte d e M a n i. A g o s tin h o d e H ip o n a , p o r e x e m p io , n o sécu lo 4°, fo i d isc íp u lo d e le p o r d o z e an o s. A g o s tin h o se v iu a tra íd o p o r este g ru p o d e v id o à su a ex p licaç ão ra c io n a l d o m u n d o , b e m c o m o p e lo seu c ó d ig o m o ra l asc étic o , q u e, te m p o r a r ia m e n te , lh e o fe re c e u u m a so lu ç ã o p a ra os seus p ro b le m a s e sp iritu a is. C o m o te m p o , o c a rá te r f ra u d u le n to d a d o u tr in a m a n iq u e ís ta fo i-se to r n a n d o e v id e n te p a ra A g o s tin h o , até q u e d e c id iu d e ix á -la . D e p o is d e su a co n v e rsão , p o ré m , tra b a lh o u a rd u a m e n te p a ra re fu tá -lo s .

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ENCICLOPÉDIA

Montanismo F o i u m m o v im e n to b a s ta n te fo rte , p rin c ip a lm e n te n a re g ião d a F rig ia. S eu fu n d a d o r foi M o n ta n o , q u e in titu la v a seu m o v im e n to d e N o v a R ev elação o u N o v a P ro fecia. M o n ta n o rejeitav a a crescen te a u to rid a d e d o s b isp o s (c o m o sen d o sucessores h e rd e iro s d o s ap ó sto lo s) e a a u to rid a d e d os escrito s ap o stó lico s. C o n sid e ra v a as igrejas e seus líd eres e s p iritu a lm e n te m o rto s e reiv in d icav a u m a “n o v a p ro fe c ia ” co m to d o s os sinais e m ilag res dos dias d a Ig re ja p rim itiv a n o p e n te c o ste s. A le g a v a te r re c e b id o u m a rev elação d ire ta d o E s p írito S a n to d e q u e ele, c o m o r e p re s e n ta n te d o E s p írito , lid e ra ria a Ig re ja d u r a n te o ú ltim o p e río d o d e la a q u i n a te rra . P o r isso, se in titu la v a p o r ta - v o z d o E s p ír ito S a n to e acu sav a os líd eres d a Ig re ja de p r e n d e r o E s p ír ito S a n to d e n tr o d e u m L iv ro , p o is lim ita v a m a in s p ira ç ã o d iv in a a p e n a s aos liv ro s a p o stó lic o s. M o n ta n o c ria n a in sp ira ç ã o c o n tín u a e c o lo c o u -se c o m o a lg u é m p o r m e io d o q u a l o E s p ír ito S a n to falava, n o m e s m o n ív el q u e fa la ra p o r in te r m é d io d e P a u lo e d o s o u tro s a p ó sto lo s. N a su a visão, o “m ais elev a d o e stá g io d a re v e la ç ã o ” h a v ia sid o a tin g id o n ele. O fim d o m u n d o estav a p ró x im o e o E s p ír ito o h a v ia e sc o lh id o , ju n ta m e n te c o m d u a s p r o f e tisas, M a x im ila e P risc ila , p a ra fa la r à h u m a n id a d e so b re os ú ltim o s ju lg a m e n to s d e D e u s so b re o m u n d o . M o n ta n o cria p ia m e n te q u e e ra o ú ltim o p ro fe ta e sc o lh id o p o r D e u s p a ra re v e la r seus e te rn o s p la n o s T e r tu lia n o , o m a is fa m o s o a d e p to d o m o n ta n is m o , e m su a o b ra , De anima [Sobre a A lm a\, d e u o seu re la to so b re

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VOLUME

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o m o v im e n to . F a la n d o so b re u m a d as p ro fe tis a s , ele d isse o q u e seg u e: “N ó s te m o s , e n tre n ó s, u m a irm ã q u e te m sid o a g ra c ia d a c o m m u ito s d o n s d e rev elação , os q u a is ela v iv ê n c ia n o E s p írito , p o r m e io d e v isõ es e x tá tic a s, n a Ig re ja , n o m e io d o s rito s sa g ra d o s d o d ia d o S e n h o r. E la c o n v e rsa c o m an jo s e, às v ezes, até c o m o S e n h o r. E la vê e o u v e c o m u n ic a ç õ e s m is te rio sas. E la c o n se g u e d is c e rn ir o c o ra ç ã o d e alg u n s h o m e n s e re c e b e in s tru ç õ e s p a ra a c u ra se m p re q u e p re cisa. S eja le n d o as E s c ritu ra s , c a n ta n d o salm o s, p re g a n d o o u o fe re c e n d o o ra ções — e m to d o s estes serv iço s re lig io so s, o p o r tu n id a d e s são o fe re c id a s a ela p a ra q u e te n h a v isões. A lé m d as v isõ es e co n v ersas c o m an jo s, u m a d as p ro fe c ia s d o m o v im e n to era a d e q u e , ap ó s a m o rte d e u m a d e suas p ro fe tisa s, M a x im ila , v iria o fim , c o m tu m u lto s e g u e rra s p o r to d a a p a rte . A h is tó ria p ro v o u a fa lsid a d e d e s ta p ro fe c ia . O m o v im e n to ta m b é m se c a ra c te riz o u p o r u m a m o ra l a sc é tic a e m q u e 0 c a s a m e n to e ra p ro ib id o e, a lg u m a s v ezes, a té m e s m o as re la çõ es sex u ais d e n tr o d o c a s a m e n to . O s je ju n s e ra m e x tre m a m e n te severos.

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Capítulo 7

A IGREJA IMPERIAL

D e s d e o é d ito d e C o n s ta n tin o a té a q u e d a d e R o m a , e m 4 7 6 d .C . D u r a n te esse p e río d o , o fa to m ais n o tá v e l e m a is in flu e n te foi a in s titu c io n a liz a ç ã o d o c ris tia n is m o c o m o re lig iã o o ficial d o Im p é r io R o m a n o . N o a n o 3 0 5 , q u a n d o D io c le c ia n o a b d ic o u o tro n o im p e ria l, a re lig iã o c ristã e ra te r m in a n te m e n te p ro ib id a , e aq u e le s q u e a p ro fe ssa sse m e ra m c a stig a d o s c o m to r tu r a e m o rte . P o r m u ito s a n o s, os c ristã o s fo ra m p riv a d o s de su a d ig n id a d e e d e seus d ire ito s civis. E s s a b r u ta l e s a n g re n ta p e rse g u iç ã o só te v e fim c o m a p r o m u lg a ç ã o , p o r G a lé rio , d o é d ito d e to le râ n c ia n o d ia 3 0 d e a b ril d e 3 1 1 .‫־‬s L o g o fo ra m a b e rto s os cárceres d e o n d e b r o to u u m a to r r e n te h u m a n a ; e ra m p esso a s m a rc a d a s p e la v io lê n c ia , p o ré m , e x u lta n te s p o r te re m sid o aflig id as p o r cau sa de sua fé e m C ris to . E m 3 1 3 d .C ., C o n s ta n tin o p ro c la m o u o é d ito d e M ilã o , fa z e n d o cessar a p e rse g u iç ã o aos c ristã o s e d e v o lv e n d o -lh e s as ig rejas, p ro p rie d a d e s e o u tro s b e n s q u e o E s ta d o h a v ia c o n fiscad o . A s s im te r m in o u 0 p e río d o d e tira n ia e c ru e ld a d e .

En c i c l o p é d i a

M e s m o d ia n te d e ta m a n h a s a fro n ta s e d o re s, a Ig re ja cre sc e u e p ro d u z iu m u ito s fru to s , c o m o d isse T e rtu lia n o : “0 sa n g u e d o s m á rtire s to r n o u - s e a seiva p a ra a s e m e n te ira do e v a n g e lh o ”. A p a r tir d e C o n s ta n tin o , o c ris tia n is m o d e ix o u d e ser re lig iã o p e rs e g u id a p a ra ser re lig iã o o ficial d o im p é rio . O s c ristã o s p a s s a ra m d o a n fite a tro ro m a n o , o n d e tin h a m q u e e n f re n ta r leõ es, a o c u p a r lu g a re s d e h o n r a j u n to ao tro n o q u e g o v e rn a v a o m u n d o . E m v e z d e p e rse g u id o s , e ra m p riv ile g ia dos; e m v e z d e e sp o lia d o s, e ra m a ju d a d o s. Se, a n te s , c o n fe ssa r o n o m e d e C r is to era m o tiv o p a ra ser m o rto , a g o ra sig n ifica p ro je ç ã o e se g u ra n ç a . A d e c la ra ç ã o d o c ris tia n is m o c o m o re lig iã o o ficial d o im p é rio tro u x e v árias v a n ta g e n s à re lig iã o cristã. E n tr e essas v a n ta g e n s , p o d e m o s re la ta r o rá p id o c re s c im e n to d o c ristia n ism o , a ise n ç ã o d e im p o s to s e d o serv iç o m ilita r ao clero, a c o n s tru ç ã o d e g ra n d e s c a te d ra is n as p rin c ip a is c id a d e s d o im p é rio e a d e v o lu ç ã o d o s b e n s c o n fisc a d o s p e lo E s ta d o . C e s sa ra m , c o m o j á d isse m o s, to d a s as p e rse g u iç õ e s p a ra se m p re . D e s d e o a n o 3 1 3 a té o te r m in o d o im p é rio , a e sp a d a n ã o foi s o m e n te e m b a in h a d a , m as e n te rra d a . P o r o u tr o la d o , a o fic ia liz a ç ã o d o c r is tia n is m o , c o m o re lig iã o o fic ia l d o im p é r io , tro u x e c o n s e q u ê n c ia s trá g ic a s p a ra a Ig re ja , c o m o , p o r e x e m p lo , a su a p a g a n iz a ç ã o . M ilh a r e s d e p e sso a s q u e a in d a e ra m p a g ã s p e n e tr a r a m n a Ig re ja , a fim d e o b te r v a n ta g e n s e sp e c ia is e fa v o re s q u e a d v in h a m d e ta l filiação . E s s a s p e s s o a s v in h a m p a r a a Ig re ja n ã o p o rq u e

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tin h a m p le n a c o n s c iê n c ia d e seu s p e c a d o s , m a s p o r c a u sa d as b e n e s se s q u e re c e b ia m . D e s s a f o rm a , p e r m a n e c ia m c o m seus h á b ito s e c o s tu m e s , se m se i m p o r ta r e m a g r a d a r a D e u s . V ie r a m e m q u a n tid a d e s m u ito m a io re s d o q u e p o d e m ser in s tr u íd o s o u a s s is tid o s . A c o s tu m a d o s ao s ritu a is p a g ã o s m a is c o m p lic a d o s , n ã o g o s ta r a m d a s im p lic id a d e d o c u lto c ris tã o e c o m e ç a ra m a in tr o d u z ir p rá tic a s e c re n ç a s p a g ã s n o seio d a Ig re ja . G r a d u a lm e n te , p o r c a u sa d a n e g lig ê n c ia d a B íb lia e p o r c a u sa d a ig n o r â n c ia d o p o v o , a Ig re ja fo i-s e c o n ta m in a n d o , p e r d e n d o , p a u la tin a m e n te , su a id e n tid a d e d e Ig re ja c r is tã fiel a J e s u s C r is to e à d o u tr in a d o s a p ó s to lo s . A s s im , c o m o d e c o rre r d o te m p o , a Ig re ja tin h a u m sa c e rd ó c io s u n tu o s a m e n te v e stid o q u e fa zia o fe rta s d e sacrifício s, u m rim a i c o m p lic a d o , im a g e n s, á g u a b e n ta , in c e n so , m o n g e s , fre iras, a d o u tr in a d o p u rg a tó r io e, d e u m m o d o g e ra l, a c re n ça de q u e a salv ação p o d ia ser a lc a n ç a d a p o r m e io d e o b ra s e n ã o p e la g ra ça. A ig re ja e m R o m a e, d e u m m o d o g e ra l, as ig rejas p o r to d o o im p é rio , d e ix a ra m d e c o n s titu ir a Ig re ja c ristã a p o stó lic a , tr a n s f o r m a n d o - s e n u m a g ra n d e m o n s tr u o sid a d e relig io sa. P e rm a n e c e ra m , e n tr e ta n to , alg u n s g ru p o s n u m e ric a m e n te p e q u e n o s , g e ra lm e n te iso la d o s, q u e m a n tiv e ra m a fé c ristã e m p u re z a , p e r d u r a n d o p o r to d a a Id a d e M é d ia a té o sécu lo 16, q u a n d o u m re a v iv a m e n to re lig io so d o O c id e n te , c o n h e c id o c o m o R e fo rm a , sa c u d iu a Ig re ja n o s seus alicerces.

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Capítulo 8

A IGREJA MEDIEVAL

D e s d e a q u e d a d e R o m a , e m 4 7 6 d .C ., a té a q u e d a d e C o n s ta n tin o p la , e m 14 5 3 . A p a r tir d esse m o m e n to , n o ssa a te n ç ã o e s ta rá v o lta d a p a ra a Ig re ja d o o c id e n te , o u la tin a , cu ja sed e d o p o d e r estav a e m R o m a , q u e p e r m a n e c e u se n d o a c id a d e im p e ria l, a p e sa r d e seu p o d e r p o lític o h a v e r d e sa p a re c id o . P o u c a a te n ç ã o será d a d a à ig reja d o o rie n te , o u g re g a , g o v e rn a d a d e C o n s ta n tin o p la , salvo q u a n d o a lg u m a d e suas d e c isõ e s e n v o lv e re m o c ristia n ism o . A p ó s a m o rte d e C o n s ta n tin o , o fa to m a is n o tá v e l n o d e se n v o lv im e n to d a Id a d e M é d ia fo i o d e s e n v o lv im e n to p ap a l. H a v ia b isp o s e sp a lh a d o s e m v árias c id a d e s, se n d o as m ais im p o rta n te s : J e ru s a lé m , A n tio q u ia , A le x a n d ria , C o n s ta n tin o p la e R o m a . O s b isp o s q u e d irig ia m estas c id a d e s e ra m c h a m a d o s d e “m e tr o p o lita n o s ” e, a lg u m te m p o d e p o is, d e “p a tria r c a s ”. H a v ia fre q u e n te s e fo rte s d is p u ta s e n tre esses p a tria rc a s p e la s u p re m a c ia ec le siá stica . D o s c in c o g ra n d e s líd e re s e c le siástico s m e tro p o lita n o s , a p e n a s o p a tria rc a d e C o n s ta n tin o -

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p ia e o b isp o d e R o m a v iv iam e m 5 9 0 , e m cid ad e s d e im p o r tâ n c ia m u n d ia l, fic a n d o e n tre esses d o is a d is p u ta p ap a l. O b is p o d e J e ru s a lé m p e r d e ra seu p re s tíg io c o m a re b e liã o ju d a ic a c o n tr a R o m a , n o s e g u n d o sécu lo . A le x a n d ria e A n tio q u ia d e c lin a ra m lo g o e m im p o rtâ n c ia , c h e g a n d o m e s m o a se re m p e rd id a s p e la c ris ta n d a d e q u a n d o in v a d id a s p elas h o s tes islâ m ic a s, n o sécu lo 7°. O b isp o d e R o m a to m o u o títu lo d e “p a i”, q u e, m ais ta rd e , foi m o d ific a d o p a ra “p a p a ”. R o m a afirm ava ser a ca p ital d a Igreja. O b isp o de R o m a , q u e já se ch a m a v a p ap a , reclam av a o u sad a m e n te seus d ireito s ao g o v ern o universal n a Igreja. C o m o su cessor le g ítim o d o ap ó sto lo P ed ro , in sistia e m ser re co n h ecid o co m o cabeça d a Igreja. D a m a s o I (3 6 6 - 3 8 4 ) fo i, p o s s iv e lm e n te , o p rim e iro b isp o d e R o m a a e x p o r a su a d io c e se c o m o a “Sé a p o s tó lic a ”. F o i n e sse p e r ío d o q u e J e r ô n im o tr a d u z iu as E s c r itu ra s p a ra o la tim a p e d id o d esse b isp o , d e q u e m e ra sec retário . J e rô n im o tin h a u m alto c o n c e ito c o m re la ç ã o ao b isp o d e R o m a , p o is e n te n d ia q u e D a m a s o era o “su c e sso r d o p e sc a d o r ”, a p o n to d e a firm a r q u e “c o m n in g u é m m e c o m u n ic o se n ã o c o m V ossa S a n tid a d e , isto é, c o m a c á te d ra d e P e d ro , p o is ela é a ro c h a so b re a q u a l e stá e d ific a d a a Ig re ja , a arca d e N o é , n a q u a l, se a lg u é m n ã o estiver, p e re c e rá q u a n d o o d ilú v io c o b rir to d o s ”.29 O C o n c ilio d e C o n s ta n tin o p la re c o n h e c e u , e m 381 d .C ., a p rim a z ia ro m a n a . A o p a tria rc a d e C o n s ta n tin o p la , fo i d a d a a “p rim a z ia d e h o n r a im e d ia ta m e n te d e p o is d o b is p o de R o m a , p o is C o n s ta n tin o p la é a n o v a R o m a ”. ’ü

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A p a la v ra “p a p a ”, n o m e p e lo q u a l o c a b e ç a d a Ig re ja R o m a n a é c o n h e c id o , e a p a la v ra “p a p a d o ”, q u e se re fe re ao siste m a d e g o v e rn o ec le siá stic o , n o q u a l o p a p a é re c o n h e c id o c o m o c h e fe su p re m o , n ã o se e n c o n tr a m n a B íb lia. A p a la v ra “p a p a ” v e m d o la tim papa, q u e sig n ific a “p a i”. N a Itá lia , o te r m o “p a p a ” v eio a ser a p lic a d o a to d o s os b isp o s c o m o títu lo d e h o n r a e ao b isp o d e R o m a , e x c lu siv a m e n te c o m o b is p o u n iversai. O títu lo foi c o n c e d id o , p e la p rim e ira vez, a G r e g á r io I, p e lo ím p io im p e r a d o r F o cas, n o a n o 6 0 4 d .C . A g iu d essa fo rm a p a ra ir r ita r o b isp o d e C o n s ta n tin o p la , q u e a c a b a ra d e e x c o m u n g á -lo p o r te r c a u sa d o o a ssa ssin a to d e seu p re d e c e s sor, o im p e ra d o r M a u ríc io . G re g á rio , e n tr e ta n to , re c u s o u o títu lo , m a s o su c e sso r seg u in te , B o n ifá c io I I I , a c e ito u -o e, d e sd e e n tã o , essa te m sid o a d e sig n a ç ã o d a d a s ao b is p o d e R o m a . O p a p a d e R o m a a firm a v a ser “b is p o u n iv e rs a l”, “c h e fe d a Ig re ja ”, g o v e rn a n te d e n a ç õ e s, a c im a d e reis e im p e ra d o re s . O p e río d o d e c re s c im e n to d o p o d e r p a p a l c o m e ç o u c o m o p o n tific a d o d e G r e g á r io V II , m ais c o n h e c id o p o r H ild e b r a n d o (1 0 2 1 - 1 0 8 5 ). N o c o m e ç o d o sécu lo 4°, c e rta s ig rejas e m R o m a e v iz in h a n ç a s tin h a m sid o d e sig n a d a s c o m o lu g are s exclusivos p a ra b a tis m o . O s p a s to re s d essas ig rejas e ra m c o n h e c id o s c o m o sa c e rd o te s ca rd e a is. A s d iv isõ es d e R o m a e m d is trito s p a ra o b ra s d e c a rid a d e e ra m a n te rio re s e os sa c e rd o te s d essas re g iõ e s, c o n h e c id o s c o m o d iá c o n o s card eais. N o sécu lo 9°, os b isp o s p ró x im o s d e R o m a e ra m c o n h e c í-

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E N C I C I. Ο Γ É D 1Λ

d o s c o m o b isp o s card eais. E ssa s p esso a s fo rm a v a m o n ú c le o d a q u ilo q u e v iria a ser o C o lé g io d o s C a rd e a is. H ild e b r a n d o fo i e n c a rre g a d o das fin a n ç a s d a S é ro m a n a e to r n o u - s e u m ca rd e a l. T a m b é m e x e rceu u m g ra n d e p o d e r n o g o v e rn o de N ic o la u I I (1 0 5 8 - 1 0 6 1 ), q u a n d o a ju d o u n a a p ro v a ç ã o de u m a leg isla ç ã o e c le siá stic a q u e to m a v a o p o d e r d e e le g e r o p a p a d as m ã o s d a p o p u la ç ã o d o a rc e b is p a d o d e R o m a . O s b isp o s d e R o m a e ra m e le ito s, d e sd e os p rim ó rd io s , p o r v o to p o p u la r, e m b o ra os im p e ra d o re s d o sa n to I m p é r io R o m a n o te n h a m in te rfe rid o q u a se se m p re n as eleiçõ es e, n o s dias de H ild e b r a n d o , a a ris to c ra c ia d e R o m a te n h a c o n tro la d o as eleiçõ es d e fo rm a c o rru p ta . N o C o n c ilio d e L a trã o , e m 1 0 5 9 , N ic o la u , a c o n se lh a d o p o r H u m b e r to , m u d o u o m é to d o d e eleição d o s p a p a s, a fim d e q u e a in flu ê n c ia a ris to c rá tic a o u im p e ria l p u d e sse ser elim in a d a . M o r to o p a p a , os b isp o s c a rd e a is se re u n ia m p a ra e s c o lh e r seu su cesso r. D e v e ría m , e n tã o , c o n s u lta r os sac erd o te s c a rd e a is e os d iá c o n o s ca rd e a is. S ó e n tã o o p o v o d o a rc e b isp a d o d e R o m a tin h a p e rm is s ã o d e v o ta r n o s n o m e s in d ic a d o s p e lo s c a rd eais. E m te rm o s p rá tic o s , is to co lo ca v a a eleiçã o d o p a p a sob c o n tro le d o C o lé g io d o s C a rd e a is. D e s e n v o lv e u c e rta s d o u trin a s n a Ig re ja ro m a n a , e sp e c ia lm e n te a a d o ra ç ã o d e im a g e n s , o p u rg a tó rio , a tra n s u b s ta n c ia ção, isto é, a c re n ç a d e q u e, n a m issa o u c o m u n h ã o , o p ã o e v in h o se tr a n s f o r m a m m ila g ro s a m e n te n o v e rd a d e iro C o r p o e sa n g u e d e C ris to .

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Capítulo 9

CRESCIMENTO DO PODER MAOMETANO

A p a r tir d o sécu lo 7°, os á rab es m u ç u lm a n o s c o m e ç a ra m a in v a d ir te rr itó rio s e o rg a n iz a r u m g ra n d e im p é rio . A n e ce ssid a d e d e c o n tro la r n o v as ro ta s e c id a d e s c o m e rc ia is e a b u sc a p o r te rra s fé rte is fo ra m m o tiv o s im p o r ta n te s , p o ré m , o m ais sig n ific a tiv o p a ra os h o m e n s e m u lh e re s d a é p o c a fo i a n e c e ssid a d e d e e s p a lh a r a fé re lig io sa m u ç u lm a n a . O m o v im e n to q u e a g o ra c h a m a a n o ssa a te n ç ã o en v o lv e a re lig iã o e o im p é rio fu n d a d o s p o r M a o m é , n o in íc io d o sécu lo 7°, o q u a l to m o u , u m a ap ó s o u tra , v ária s p ro v ín c ia s (n a çõ es) d o s im p e ra d o re s g re g o s q u e m o ra v a m e m C o n s ta n tin o p la , até a sua e x tin ç ã o fin al. O f u n d a d o r d a re lig iã o m a o m e ta n a fo i M a o m é , n a sc id o em M e c a , A rá b ia sa u d ita , n o a n o 5 7 0 . In ic io u su a c a rre ira c o m o p ro fe ta e r e fo rm a d o r n o a n o 6 1 0 , aos q u a r e n ta a n o s d e id a d e . N o in íc io d o m o v im e n to , ele c o n q u is to u p o u c o s d iscíp u lo s, p o ré m , o su fic ie n te p a ra so fre r p e rse g u iç õ e s. M a o m é fu g iu p a ra a c id a d e d e M e c a e m 6 2 2 e su a fu g a , a H é g ir a , fo rn e c e a d a ta e m q u e se b a se ia o c a le n d á rio m a o m e ta n o . M a o m é a lc a n ç o u p le n o êx ito n a c o n q u is ta d a s trib o s á ra -

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b e s, im p o n d o - lh e s a su a relig ião . V o lto u à c id a d e d e M e c a c o m o c o n q u is ta d o r. Q u a n d o m o rre u , n o a n o 6 3 2 , era p ro fe ta e g o v e rn a d o r re c o n h e c id o p o r to d a a A rá b ia . A n te s d e sua m o rte , c o n q u is to u a A rá b ia , e su a re lig iã o d o m in o u to d a s as d e m a is te rra s c o n q u is ta d a s , c o m o D a m a s c o , e m 6 3 5 d .C .; A n tio q u ia , e m 6 3 7 d .C ; e J e ru s a lé m , e m 6 3 8 d .C . D a í os árab es n ã o tiv e ra m n e n h u m a d ific u ld a d e e m s u b m e rg ir o im p é rio p e rsa , a p o d e ra r- s e d e C h ip r e , d e C r e ta e d e R o d e s. E m 7 1 2 d .C ., e n c o n tr a v a m -s e j á n a s fro n te ira s d a ín d ia , b ase s d e u m n o v o im p u ls o q u e tr a n s p o r ta r ia o Islã p a ra a I n d o c h in a . P a ra o O c id e n te , a v itó ria á ra b e fo i m ais rá p id a . A le x a n d ria é to m a d a e m 6 3 8 d .C ., a T r ip o lita n a é in v a d id a e p a s s a m a p e n a s o ito s a n o s (7 0 0 -7 0 8 ) p a ra a tira r ao m a r os ú ltim o s b iz a n tin o s d a Á fric a e o c u p a r o M a g re b e até o A tlâ n tic o . E m 711 d .C ., d o z e m il b e rb e re s m u ç u lm a n o s d e s e m b a rc a m e m G ib r a lta r e, e m 7 1 3 , a p e sa r d a sua v a le n tia , n ã o re sta m c ristã o s g o d o s n a E s p a n h a , a n ã o ser n as m o n ta n h a s d o N o ro e s te . E m 7 1 8 d .C ., os m u ç u lm a n o s fra n q u e ia m os P irin e u s , m as os fra n c o s, d e C a rlo s M a r te l, c o lo ca u m fim n o av a n ço d os á rab es n a E u r o p a n a b a ta lh a d e T o u rs , n a F ra n ç a , e m 7 3 2 .31 C a d a v itó ria m ilita r era, ta m b é m , u m a v itó ria re lig io sa, p o rq u e os h a b ita n te s se c o n v e rtia m ao isla m ism o . A lé m d isso, os á rab es p a ssa v a m a c o n tro la r n o v as ro ta s , te rra s e c id a d es. A in d a n o sécu lo 7°, a c a p ita l d o im p é rio á ra b e foi tr a n s fe rid a p a ra D a m a s c o , n a S íria. E m 7 5 0 , a c a p ita l d o im p é rio fo i tra n s f e rid a p a ra B a g d á , n a P érsia.

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Capitulo 10 AS CRUZADAS

O u tr o g ra n d e m o v im e n to d a Id a d e M é d ia , sob in sp ira ç ã o e m a n d a d o d a Ig re ja , fo ra m as C ru z a d a s , q u e se in ic ia ra m n o fim d o sécu lo 11 e p ro lo n g a r a m -s e p o r q u a se tre z e n to s an o s. A s C ru z a d a s fo ra m ex p e d iç õ e s m ilita re s o rg a n iz a d a s p elo s p a p a s, reis e n o b re s e u ro p e u s o c id e n ta is p a ra to m a r a c id a d e de J e ru s a lé m , e m p o sse d o s m u ç u lm a n o s . A re g iã o d a c id a d e d e J e ru s a lé m , n a P a le s tin a , o n d e a tu a lm e n te fica o E s ta d o d e Isra e l, é s a g ra d a p a ra os fiéis d a s três m ais im p o r ta n te s re lig iõ e s m o n o te ís ta s d o m u n d o : o ju d a ís m o , o c ris tia n is m o e o isla m ism o . D e s d e ép o c a s m u ito re m o ta s , ju d e u s , c ristã o s e m u ç u lm a n o s fa z ia m p e re g rin a ç õ e s a J e ru s a lé m , a fim d e v e n e ra re m os lu g a re s sa n to s. E m 638 d .C ., os m u ç u lm a n o s to m a ra m a P alestin a, in clu sive, Jeru salém . D u ra n te séculos, aqu ela o cu p ação n ão c h e g o u a criar p ro b lem as p a ra os cristãos, p o is os árabes re sp e ita m a religião cristã e, p o rta n to , as p ereg rin açõ es seg u iam p erm itid as. E m 1071, p o ré m , a T e rra S an ta foi c a p tu ra d a pelos tu rco s o to m a n o s, ta m b é m m u çu lm an o s, m as, in to le ra n te s p ara co m os cristãos, p assaram a criar to d o tip o de d ificuldades p ara os p ereg rin o s.

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A lé m d o m o tiv o re lig io so , as C ru z a d a s e n v o lv e ra m o u tro s in te re sse s. A Ig re ja c a tó lic a q u e ria e x p a n d ir o c ris tia n is m o p e lo O r ie n te M é d io e e lim in a r a in flu ê n c ia d a Ig re ja O r to d o x a d e B iz â n c io (a p rim e ira C r u z a d a in ic io u -s e a p e n a s m e io sécu lo ap ó s o g ra n d e c ism a e n tre c a tó lic o s ro m a n o s e c a tó lic o s o rto d o x o s g re g o s, e m 1 0 5 4 ). C id a d e s ita lia n a s, c o m o G ê n o v a e V en e za, c o m e rc ia liz a v a m c o m o O r ie n te M é d io d e sd e o sécu lo 8°, e a p o ia ra m os c ru z a d o s , p o rq u e s o n h a v a m e m to m a r p o s to s d e c o m é rc io d o s b iz a n tin o s e d o s á ra b e s d o E g ito . P a ra a te n d e r aos fiéis d ese jo so s d e r e to m a r as p e r e g rin a çõ es e e sc o a r o excesso d e m ã o d e o b ra o c io sa n a E u ro p a , o p a p a U r b a n o I I d e c la ro u g u e rra aos “in fié is” m u ç u lm a n o s , c o n c la m a n d o as m u ltid õ e s sob o b ra d o d e “D e u s o quer! D e u s o q u e r!”. O fe rv o r re lig io so e s p a lh o u -s e p o r to d a a E u ro p a . A s p esso a s a c re d ita v a m firm e m e n te q u e o c ris tia n is m o e stav a e m p e rig o e d e fe n d ê -lo , p o r ta n to , era c u m p rir a v o n ta d e de D e u s . O p a p a U rb a n o I I p ro m e te u a to d o s os q u e p a r tis s e m p a ra a g u e r ra c o n tra os “in fié is” q u e eles te ria m seus p e c a d o s p e rd o a d o s e iria m p a ra o céu ap ó s a m o rte . O s cav aleiro s q u e , a p a r tir d e 1 0 9 5 , a te n d e ra m ao c h a m a d o d o p a p a p a ra fa z e r p a r te d e u m a e x p e d iç ã o à T e r ra S a n ta , e s c o lh e ra m c o m o s ím b o lo u m a c ru z p in ta d a n a a r m a d u ra o u b o rd a d a nas v estes. P o r isso, fo ra m c h a m a d o s “c r u z a d o s ”. E le s se ria m os g u e rre iro s d a c ru z , os d e fe n so re s d o c ristia n ism o . E lá fo ra m eles, d e q u a se to d o s os lu g a re s d a E u r o p a O c id e n ta l, d a F ra n ç a , d a A le m a n h a , d a Itá lia , d a In g la te r ra , d a

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H o l a n d a ... O s n o b re s n o c o m a n d o , p ro te g id o s p o r a rm a d u ra s , e m c im a d o s v ig o ro so s cavalos; os c a m p o n e s e s n a in fa n ta ria ; os h o m e n s d a ig reja e m c a rro ç a s, m a ltra p ilh o s e d escalço s; to d o s v e s tia m u m p a n o c o m a c ru z v e rm e lh a sim b ó lic a . F é n o c o ração , id éias d e c o n q u is ta n a c a b e ç a e a rm a s n as m ão s. F o i assim q u e sécu lo s d e g u e rra tiv e ra m in ício . O s c ru z a d o s d e ix a ra m u m ra stro d e ro u b o s, in c ê n d io s , estu p ro s , assa ssin a to s. P ilh a r a m a C o n s ta n tin o p la c ristã e a J e ru s a lé m m u ç u lm a n a e ju d a ic a , m a ta ra m m ilh a re s d e c ria n ç a s, m u lh eres e velhos d esarm ad o s. N o final, as C ru z a d a s fracassaram . D e p o is dessa, h o u v e m ais seis, p rovocadas pelas vitó rias dos m a o m e ta n o s, p elo fa to d e J e ru salém c o n tin u a r n o p o d e r dos m a o m e ta n o s. A s p rim e ira s cru zadas fo ra m convocadas pelos p ap as, p o r isso a Ig reja as dirigia, u n in d o e co n c la m a n d o p a ra isso to d a a E u ro p a cristã. M a s , d e pois, a lid eran ç a desse m o v im e n to p asso u aos reis. C o m o passar dos anos, o en tu sia sm o religioso, sem o q u al as C ru z a d a s jam ais te ria m sido o rg an izad as, foi arrefecen d o . O s n o b res eu ro p eu s n ão c o n q u ista ra m g ra n d es extensões d e terras, co m o desejavam . A lg u n s se a rru in a ra m , o u tro s co n se g u iram re to rn a r ricos à te rra natal. C o m isso, su rg iram o u tro s m o tiv o s q u e im p u lsio n a ra m outras cruzadas: co n q u ista e ap reen são de riq u ezas.j2 A p r ó p ria Ig re ja C a tó lic a foi ab a la d a. A s C ru z a d a s p ro v a ra m a in c a p a c id a d e d o s p a p a s p a ra d irig ir a c ris ta n d a d e , p o rq u e se p re o c u p a v a m s o m e n te c o m o e n r iq u e c im e n to d a Ig re ja , o q u e lev o u os sa c e rd o te s à a rro g â n c ia e ao a b u so d o p o d e r, g e ra n d o u m d e s c o n te n ta m e n to q u e, m ais ta rd e , d a ria in íc io à R e ío rm a relig io sa.

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Capítulo 11

A REFORMA RELIGIOSA

A p rin c ip a l c a ra c te rís tic a d o p e río d o m e d ie v a l e ra o te o c e n tris m o ; o u seja, q u e D e u s estav a n o c e n tro d e tu d o . V am o s e n te n d e r b e m o q u e sig n ific a isso. T e o c e n tris m o sig n ifica q u e os v alo res re lig io so s p re d o m in a v a m so b re q u a se to d o s os a sp e c to s d a v id a d o s in d iv íd u o s . O s h o m e n s e as m u lh e res a c re d ita v a m q u e os fe n ô m e n o s d a n a tu re z a e ra m o re su lta d o d ire ito d a v o n ta d e d e D e u s . S e u m a c h u v a d e s tru ís s e u m a p la n ta ç ã o , e ra p o rq u e D e u s q u e r ia p u n ir a q u e la ald eia. A p e s te p a r o u d e m a ta r g ra ç a s às o ra ç õ e s. O m u n d o e ra d a q u e la m a n e ira p o r v o n ta d e d e D e u s , se m q u a lq u e r in flu ê n c ia do ho m em . N a s q u e stõ e s e s p iritu a is , o h o m e m m e d ie v a l n ã o tin h a acesso d ire to a D e u s ; isto é, p o d e r ía m s o m e n te se c o m u n ic a r c o m E le se p e rte n c e s s e à Ig re ja C a tó lic a . D e s s e m o d o , o p a p a e os b isp o s ex e rc ia m ex clu siv a a u to rid a d e so b re to d a s as v e rd a d e s ( n in g u é m p o d ia c o n tra ria r as d e c la ra ç õ e s d esse seleto g ru p o d e re lig io so s). P a ra a m e n ta lid a d e m e d ie v a l, a v e rd a d e e sta v a n a B íb lia e a Ig re ja C a tó lic a e ra a “ú n ic a ” q u e p o d ia d a r su a in te rp re ta ç ã o . C o m isso, a Ig re ja C a tó lic a a b u sa v a d e su a p o siç ã o d e “p o r ta - v o z d o s c é u s”.

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A o c o n trá rio d esse p e n s a m e n to q u e d o m in a v a os in te le c tu ais d a Id a d e M é d ia , su rg ira m os re n a sc e n tista s, q u e d iz ia m q u e o h o m e m d ev e ria e sta r n o c e n tro das a ten ç õ es. E sse m o v im e n to , c o n h e c id o c o m o R e n a sc e n tista s, tra z c o m o p rin c ipais ca ra c te rístic a s o flo re sc im e n to das artes e u m v igo ro so d e s p e rta r de to d a s as fo rm a s d e p e n s a m e n to . A re d e sc o b e rta d a a n tig a filosofia, d a lite ra tu ra , das ciências e a ev olução d os m é to d o s e m p íric o s d e c o n h e c im e n to c a ra c te riz a to d o este p e río d o , q u e se in icia n o século 15 e p ro lo n g a -se até o século 17. E m o p o siç ã o ao e s p írito e sc o lá stic o e ao c o n c e ito m e ta físico d a v id a , b u s c a -s e u m a n o v a m a n e ira de o lh a r e e s tu d a r o m u n d o n a tu ra l. E sse n a tu ra lis m o v in c u la -s e e s tre ita m e n te à c iê n c ia e m p íric a e u tiliz a suas d e s c o b e rta s p a ra a p lic á -la s n a s o b ra s d e a rte . O s n o v o s c o n h e c im e n to s d a a n a to m ia , d a fisio lo g ia e d a g e o m e tria são p r o n ta m e n te in c o rp o r a d o s , p o s s ib ilita n d o , p o r e x e m p lo , a re p re s e n ta ç ã o d o v o lu m e p e lo u so d a p e rsp e c tiv a , d o s e fe ito s d e lu z e s e co res. D o p o n to d e v ista filosófico , su rg e u m a n o v a c o n c e p ç ã o d o m u n d o e d o d e s tin o d o h o m e m , u m a v isão m a is re a lista e h u m a n a d o s p ro b le m a s m o ra is. Isso fo i u m c h o q u e p a ra a é p o c a , p o is a v id a in te le c tu a l estev e, d u r a n te m u ito te m p o , v in c u la d a à Ig re ja C a tó lic a . O s p a d re s e m o n g e s e ra m p r a tic a m e n te os ú n ic o s q u e lia m e e sc re v ia m livros. O R e n a s c im e n to g e ro u u m n o v o c rité rio p a ra re c o n h e c e r a v e rd a d e so b re as co isas d o m u n d o . A v isão d o m u n d o m e d ie v a l re sp e ita v a a tra d iç ã o e a a u to rid a d e d o s a n tig o s. P a ra

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s t u d o s

d e

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e o l o g i a

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os re n a s c e n tis ta s , a v e rd a d e e ra o b tid a e m p iric a m e n te ; o u seja, era fru to d a e x p e rim e n ta ç ã o e d a o b se rv a ç ã o ra c io n a l. A filo so fia re n a s c e n tis ta p ro c u ra v a s u b s titu ir a v isão tr a n s c e n d e n ta lis ta m e d ie v a l p e la v isão im a n e n tis ta d o m u n d o . E n q u a n to a m e n ta lid a d e m e d ie v a l d av a p r io rid a d e p a ra a v id a re lig io sa , e s p iritu a l, c e le ste , tr a n s c e n d e n ta l (s u p e rio r a este m u n d o ) , os re n a s c e n tis ta s d a Id a d e M é d ia o lh a v a m a v id a te rr e n a , im a n e n te (q u e p e r te n c e a e ste m u n d o ) , o ser h u m a n o d e c a rn e e o sso s, a n a tu re z a , o c o rp o e a e x p e rim e n ta ç ã o . O R e n a s c im e n to p ro v o c o u a se c u la riz a ç ã o d a c u ltu ra , isto é, o a fa s ta m e n to d a v id a c u ltu ra l d a a u to rid a d e d a Ig re ja. N o s século s 15 e 16, a c u ltu ra re n a s c e n tis ta se e s p a lh o u d a Itá lia p a ra o u tro s p aíses e u ro p e u s. N a F ra n ç a , o R e n a s c im e n to fo i re p re s e n ta d o p o r R a b e la is (1 4 9 0 -1 5 5 3 ) , q u e esc rev eu Gargántua e Pantagruel·, n a E s p a n h a , d e s ta c o u -s e M ig u e l C e rv a n te s ( 1 5 4 7 -1 6 1 6 ) , a u to r d a c é le b re o b ra Dom

Quixote; n a A le m a n h a , d e s ta c a ra m -s e os p in to re s H o lb e in e D iire r ; a I n g la te r r a fo i re p re s e n ta d a p o r W illia m S h a k e s p e a re (1 5 6 4 -1 6 1 6 ); e a H o la n d a , p o r E ra s m o d e R o tte r d a m (1 4 6 6 -1 5 3 6 ). D u r a n te esse p e río d o , a Ig re ja C a tó lic a re c e b e u m u ita s d o a ç õ e s d e n o b re s e c o m e rc ia n te s. T e rra s, o u ro , c a ste lo s e re b a n h o s e ra m d e ix a d o s em te s ta m e n to . A a b u n d â n c ia d e riq u e z a s e p o d e r a c a b o u p o r c o r ro m p e r p a r te d o clero. P a d re s e b isp o s d e s o n e sto s p o u c o se im p o rta v a m c o m os a s su n to s re lig io so s, v iv iam c o m o p rín c ip e s , c e rcad o s d e lu x o e p e c a d o . E n q u a n to isso, m ilh a re s d e p o b re s e d o e n te s p e ra m b u la v a m

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p elas c id a d e s e m b u sc a d e a lim e n to e p ro te ç ã o . O s p a d re s v e n d ia m o b je to s a n u n c ia d o s c o m o m ila g ro sos. P o r e x e m p lo , o p e d a ç o d a c ru z e m q u e C ris to te ria sido c ru c ific a d o . O p e n s a d o r h u m a n is ta E ra s m o d e R o tte r d a m , a u to r d e 0 elogio da loucura, iro n iz o u , d iz e n d o q u e, se ju n ta s sem to d o s esses p e d a c in h o s d a c ru z q u e a Ig re ja v e n d ia , d a ria p a ra c o n s tru ir u m n av io . O m a is c h o c a n te era a v e n d a de in d u lg ê n c ia s . L ite r a lm e n te , in d u lg ê n c ia q u e r d iz e r “p e rd ã o ”. E r a isso m e sm o . O su je ito p a g a v a p a ra a Ig re ja C a tó lic a u m a q u a n tia e re c e b ia u m a te s ta d o d e q u e estav a a b so lv id o dos p e c a d o s. D e s s a fo rm a , c o m e ç a m a su rg ir as ig rejas cristãs q u e n ã o o b e d e c ia m ao p a p a . V ejam o s alg u n s d o s g ra n d e s m o v im e n to s d e re fo rm a s q u e s u rg ira m n a h is tó ria , m as q u e fo ra m re p rim id o s c o m sa n g re n ta s p e rse g u iç õ e s.

Valdenses O s v a ld e n se s e ra m d isc íp u lo s d e P e d ro V aldo, ric o c o m e rc ia n te fra n c ê s d e L y o n , F ra n ç a , q u e, n o sécu lo 12, d á to d o s os seus b e n s aos p o b re s e re ú n e os fiéis d is p o s to s a lu ta r c o n tra o lu x o e a o p u lê n c ia d o clero. V ald o lia, ex p licav a e d is trib u ía as E s c ritu ra s ao p o v o , c o n tr a r ia n d o os c o s tu m e s e d o u tr in as, e s p a lh a n d o -a s n a re g iã o d e L iã o , d e p o is n a P ro v e n ç a , d o N o r te d a I tá lia à C a ta lu n h a . V ald o c o n g re g o u e m v o lta de si v á rio s d isc íp u lo s, q u e fo ra m c o n h e c id o s c o m o “os p o b re s d e L iã o ”. O s v a ld e n se s m o s tra ra m os a b su rd o s d a b u sc a d o a b s o lu tis m o p a p a l e c o m o a R e fo rm a v iria a ser in ev itáv el. F o ra m c ru e lm e n te p e rse g u id o s e ex p u lso s d a F ra n ç a , p o ­

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ré m , e n c o n tr a ra m re fu g io n o s vales ao N o r te d a Itá lia . E x is te m e v id ê n c ia s d a so b re v iv ê n c ia d o s v a ld e n se s até o sécu lo 15, se n d o q u e o d e s tin o m ais p ro v á v el d esse g ru p o te n h a sid o a a ssim ila ç ã o n o p r o te s ta n tis m o e n o a n a b a tis m o .

John Wycliff In ic io u u m m o v im e n to n a In g la te r r a a fa v o r d a lib e rta ç ã o d o d o m ín io e d o p o d e r ro m a n o s , b e m c o m o d a R e fo rm a d a Ig re ja C a tó lic a . N a sc e u e m Y orkshire, In g la te rra , p o r v o lta d e 1330. W y c liff foi filósofo d e d e sta q u e n a U n iv ersid a d e d e O x fo rd , o n d e lecio n o u filosofia. C o n se lh e iro d o rei, atra iu a ira d a Ig reja C a tó lic a , p ela p rim e ira vez, ao d e fe n d e r o d ireito d o g o v ern o d e co n fiscar as p ro p rie d a d e s d e sacerd o tes c o rru p to s. E screv eu várias obras de c u n h o teo ló g ico e ap o lo g ético , e n tre a m ais im p o rta n te , e n c o n tra -se a c h a m a d a d e Suma teológica, q u e a b o rd o u assu n to s sobre a p re d estin a ção , a ju stificação p e la fé, o e stad o d a graça, a a u to rid a d e p a p a l e a Ig re ja c o m o c o m u n id a d e d o s san to s. O u tr o assu n to q ue lh e cau so u g ra n d e ad v ersid ad e foi sua n eg ação d a d o u trin a da tran su b stan c ia ção , q u e se h av ia to rn a d o e m d o g m a , e m 1215. “A lé m de n ão aceitar a tra n sfo rm a ç ã o das su b stân cias, W y c liff in sistia n a p rá tic a de o ferecer ao laicato, n ão so m e n te a h ó stia , m as ta m b é m o cálice”.3. S u a m a io r o b ra foi a tra d u ção do N o v o T e s ta m e n to p a ra o inglês, c o n c lu íd a em 1380. O A n tig o T e s ta m e n to foi p u b licad o em 1384, an o d e sua m o rte . O seu a ta q u e à d o u tr in a d a tra n s u b s ta n c ia ç ã o fe z W i c liff c ria r in im ig o s in flu e n te s. E le e seus se g u id o re s fo ra m

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e x p u lso s d e O x fo r d . P o r d e c re to p a p a l, as o b ra s d e W y c liff fo ra m p ro ib id a s . N u m a a titu d e q u e só p o d e ser c o n s id e ra d a m e s q u in h a , W i c lif f foi p o s tu m a m e n te d e c la ra d o h e re g e , e m 1 4 1 5 , te n d o seu c o rp o d e s e n te rra d o e q u e im a d o n a fo g u e ira , em 1427. A p e s a r d a m o rte d e seu líd er, os se g u id o re s d e W y c liff fo ra m c o n h e c id o s c o m o “lo la rd o s ”, c o n tin u a n d o firm e s e in tr é p id o s , fo rm a n d o u m g ru p o o rg a n iz a d o c o m os seus p ró p rio s m in is tro s .

John Huss J o ã o H u s s (1 3 6 9 /1 4 1 5 ), n a B o ê m ia , c o n d e n a v a o c u lto d o s s a n to s e a v e n d a d e in d u lg ê n c ia s p e la Ig re ja . T a m b é m c o n d e n a v a o lu x o excessivo e m q u e vivia o alto clero c a tó lic o e p re g av a a liv re in te rp re ta ç ã o d a B íb lia p elo s cristã o s. F o i p e rse g u id o e m o r to n a fo g u e ira , m as suas id éias d e ix a ra m a d e p to s. D e 1 3 7 8 a 1 4 1 8 , a c ris ta n d a d e e n c o n tr o u -s e d iv id id a p e lo “c ism a d o O c id e n te ”, p ro v o c a d o p e la eleição s im u ltâ n e a de d o is p a p a s, d e v id o a u m d e s e n te n d im e n to e n tre os ca rd e a is, fa to q u e a b a lo u p r o f u n d a m e n te o p re s tíg io d a Ig re ja .

Martinho Lutero M a r tin h o L u te r o ( 1 4 8 3 -1 5 4 6 ) , m o n g e a g o s tin ia n o , v iv ia n a c id a d e d e W itte n b e r g , n a A le m a n h a , o n d e c o n q u is to u o títu lo d e d o u to r e m filo so fia, to r n a n d o - s e p ro fe s s o r d a U n iv e rs id a d e e p re g a d o r o ficial d e seu c o n v e n to . P ro te s ta v a

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c o n tra o p a g a m e n to d e in d u lg ê n c ia s , p o rq u e a c re d ita v a q u e s o m e n te D e u s p o d e r ia p e r d o a r o p e c a d o r. In ic ia lm e n te , L u te r o n ã o p r e te n d ia c ria r u m a n o v a Ig re ja , q u e ria re fo rm a r o c a to lic ism o . N a b u sc a d o v e rd a d e iro ca m in h o p a ra se e n c o n tr a r a v id a e te rn a , L u te r o e n c o n tr o u , n a e p ís to la aos R o m a n o s , fin a lm e n te u m a re s p o s ta às suas in d a g açõ es: a d o u tr in a d a salv ação a lc a n ç a d a u n ic a m e n te p e la fé e m D e u s , te m a c e n tra l d e su a f u tu ra te o lo g ia . E m 1 5 1 7 , o p a p a L e ã o X , d e s e ja n d o te r m in a r a c o n s tru ç ã o d a B a sílic a d e S ão P e d ro , e m R o m a , d e te r m in o u n o v a v e n d a de in d u lg ê n c ia s , p rin c ip a lm e n te n a A le m a n h a , o n d e a I g re ja era p o s s u id o ra d e im e n s o s te rr itó rio s . E m p ro te s to a essa falsa “s e g u ra n ç a ” re lig io sa p ro p o rc io n a d a p e la s in d u lg ê n c ia s , L u te r o fix o u suas 95 teses n a p o r ta d a Ig re ja d e W itte n b e r g , e m 31 de o u tu b ro d a q u e le m e s m o an o . E n tr e 1 5 1 8 e 1 5 1 9 , o p a p a L e ã o X ex ig iu q u e L u te r o se re tra ta s s e e re c o n h e c e s s e o v a lo r d a s in d u lg ê n c ia s , m a s n ã o foi o b e d e c id o . N e s s e p e río d o , L u te r o esc rev eu os liv ro s q u e se rv iría m d e b a se p a r a a su a n o v a d o u trin a : O papado de Roma,

0 apelo à nobreza cristã da nação Alemã, O cativeiro babilônico da Igreja e Da liberdade do cristão. E m 1 5 2 0 , o m o n g e q u e im o u p u b lic a m e n te a b u la p a p a l

Exsurge Domine, q u e d e c la ra v a h e ré tic o s seus e sc rito s. L e v a d o p e r a n te C a rlo s V, n a D ie ta d e W o r m s , re c u sa re tr a ta r - s e e é e x p a tria d o d o im p é rio e seu s liv ro s q u e im a d o s , e m 1 5 2 1 . L u te ro c o n se g u iu re fú g io n o c a ste lo d e W a rlb u rg , d o p r ín c ip e F re d e ric o d a S ax ô n ia, d e o n d e tra d u z iu a B íb lia p a ra o a le ­

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m ã o , to r n a n d o - a acessível ao pov o. C id a d e s c o m o C o n s ta n ça, N u re n b e rg , E r f u r t, M a g d e b u r g o e B re m e n se re c u sa ra m a a p lic a r o E d ito d e W o r m s . O e x -m o n g e tra n s fo rm a v a -s e n o líd e r e s p iritu a l d e u m n ú m e ro c a d a v e z m a io r d e a lem ãe s, e n tre h u m a n is ta s , a rtista s, b u rg u e se s, p rín c ip e s , p e q u e n o s , n o b re s e c a m p o n e se s. E m 1 5 2 6 , a c id a d e d e E s p ir a n ã o a c e ito u e m p r e g a r o E d i t o d e W o r m s c o n tr a L u te r o . C a r lo s V t e n t o u fo r ç á - la , p r o v o c a n d o o p r o te s to d e seis p r ín c ip e s e d e q u a to r z e c id a d e s (d e o n d e se o r ig in o u a p a la v r a “p r o t e s t a n t e ”). E m 1 5 2 9 , as c id a d e s p r o te s ta n te s se r e u n ir a m n a L ig a d e S m a ik a ld e c o n tr a C a r lo s V, q u e , e m g u e r r a c o n tr a a F r a n ç a e o I m p é r io O t o m a n o , n a d a p o d e f a z e r p a r a im p e d ir o a v a n ç o d o lu te r a n is m o . E m 1 5 3 9 , e m A u g s b u rg o , fo i a p re s e n ta d a a d o u tr in a de L u te r o — re d ig id a p o r F ilip e M e lâ n c to n , seu p rin c ip a l c o la b o r a d o r — q u e se b a se a v a n o s s e g u in te s p rin c íp io s: 1) A ú n ic a fo n te d e fé é a B íb lia , liv re m e n te in te r p r e ta d a p e lo s cristão s. 2 ) O ú n ic o m e io d e salv ação é a fé e m C ris to . O s sa c ra m e n to s e as b o a s o b ra s n ã o são v á lid o s c o m o m e io d e se o b te r a salvação. 3) A ig reja é a sim p les re u n iã o d o s c ren tes, q u e tê m to d o s os m e sm o s d ireito s. 4) O cu lto c o n siste n a p re g a ç ã o fe ita p e lo s p a s to re s o u “m in is tro s d e D e u s ”. Q u a n d o M a r tin h o L u te ro m o rre , e m 18 d e d e z e m b ro de

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1 5 4 6 , e m E isle b e n , sua cid ad e n a ta l, já o “ro s to ” d a c rista n d a d e se e n c o n tra p ro fu n d a m e n te m o d ificad o . A R e fo rm a P r o te s ta n te u ltra p a s s o u la rg a m e n te as fro n te ira s d a A le m a n h a ; a tin g iu a D in a m a r c a , a N o ru e g a , a S u é cia, a S u íça, os P aíses B aix o s, a I n g la te r r a e p a r te d a F ra n ç a . F a v o re c id a s p e lo s p rin c íp io s d e liv re in te rp re ta ç ã o d a B íb lia , n o v as seitas s u rg ira m e se p r o p a g a ra m p e la E u ro p a . A s r a zõ es ia m d e sd e o v e rd a d e iro in tu ito d e re fo rm a r a Ig re ja e a te n d e r m e lh o r à d e v o ç ã o d o s fiéis, a té os m o tiv o s p o lític o s, c o m o os q u e le v a ra m H e n r iq u e V I I I , d a In g la te r ra , a ro m p e r c o m o p a p a , c ria n d o a Ig re ja A n g lic a n a , d a q u a l se to r n o u c h e fe , e m 1 5 3 4 .

Zwinglio (na Suíça) H u ld r e ic h Z w in g lio (1 4 8 4 -1 5 3 1 ) fo i o líd e r d a re fo rm a n a S u íça, o n d e o c o rre u d e fo rm a m ais a m e n a . P o r m e io d e u m a v o ta ç ã o , c a d a p a r te d a S u íç a e sc o lh e u su a p r ó p ria re lig ião . E m b o r a , m ais ta rd e , fo sse in flu e n c ia d o p e lo s e n s in o s d e L u te ro , c h e g o u ao c o n h e c im e n to d o e v a n g e lh o p o r su a p r ó p ria b u sc a p esso al. D is c o r d o u d e M a r tin h o L u te r o n a q u e s tã o d a tra n s u b s ta n c ia ç ã o (tra n s fo rm a ç ã o d o p ã o e d o v in h o n o C o r p o d o S e n h o r) e, p o r isso, n ã o fo i p o ssív el u m a u n iã o efetiv a. Z w in g lio ex ig ia o re c u rso ex clu siv o d a B íb lia c o m o f u n d a m e n to d a fé e d a a u to rid a d e e o u so d a lín g u a a le m ã n a litu rg ia . A tr ib u ía m a io r im p o rtâ n c ia ao p ro b le m a d a sa n tificação d o q u e ao d a ju stific a ç ã o . O b a tis m o e a ceia já n ã o são

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s a c ra m e n to s , m as sim p le s m e m o ria is , o u seja, a a firm a ç ã o d a c o m u n h ã o d o s fiéis.

Anabatistas C o m o s u rg im e n to d a R e fo r m a P r o te s ta n te , lid e ra d a p o r M a r tin h o L u te ro , c rio u -s e a o p o r tu n id a d e d e q u e m u ito s g ru p o s d is s id e n te s in te n s ific a s s e m suas p re g a ç õ e s e. e n tre eles, aq u e le s c h a m a d o s d e “a n a b a tis ta s ”, q u e s u s te n ta v a m q u e o b a tis m o in f a n til n ã o tin h a v a lid a d e e re q u e ria m o re b a tis m o d a q u e le s q u e q u ise sse m se to r n a r m e m b ro s d e seu g ru p o . O s a n a b a tis ta s n ã o fo rm a v a m u m g ru p o p a r tic u la r o u co e re n te , m as re p re s e n ta v a m v á rio s g ra u s d e o rto d o x ia . O s g r u p o s v a ria v a m d e u m a re la tiv a o rto d o x ia , c o m o e ra a p o siç ã o d e C o n r a d o G re b e l (1 4 8 5 -1 5 2 8 ) , até a p o siç ã o m ais ra d ic a l e m e n o s o rto d o x a d e B a lta s a r H u e b m a ie r. N o sécu lo 17, s u rg iría n a I n g la te r r a u m m o v im e n to d e ig rejas b a tis ta s , q u e d e f e n d ia m id é ia s c o m o a d o b a tis m o em id a d e a d u lta , n e n h u m c re d o o ficial e a B íb lia c o m o ú n ic a re g ra d e fé e p rá tic a . E m b o r a n ã o p ro p u s e s s e m o ra d ic a lis m o so cial d o s a n a b a tis ta s n a A le m a n h a , n ã o a c e ita v a m a in g e rê n c ia d o E s ta d o so b re a ssu n to s re lig io so s, o q u e o c a sio n o u severas p e rse g u iç õ e s c o n tra eles. A m a io ria a c a b o u im ig r a n d o p a ra as tre z e co lô n ia s (E U A ).

Calvino C alv in o , cujo n o m e francês era J e a n C au v in , o u C alv in , n a sceu e m N o y o n , n a P ic a rd ia , N o rte d a F ra n ç a , em 10 de ju lh o de

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VO LUΜE 2

1509. F ilh o d o secretário ep isco p al d aq u e la cidade, teve a sua in fân c ia em dias q u e a Ig reja R o m a n a e suas cren d ices tin h a m fo rte in flu ên cia sobre o p o v o q u e se d is p u n h a a crer e m q u alq u e r coisa ab su rd a. E s tu d o u e m a lg u m a s d as m e lh o re s esco las d e P a ris c o m o o b je tiv o de se g u ir a c a rre ira e c le siá stic a , d e s is tin d o , m ais ta rd e , p a ra se g u ir a c a rre ira ju ríd ic a . E m 1 5 3 3 /3 4 , se to r n o u p ro te s ta n te . D e p o is d e c o n v e rtid o , esc rev eu u m a o b ra c h a m a d a De psychopannychia [Sobre os sonhos da alma\ , o n d e re fu ta a d o u tr in a d e alg u n s a n a b a tis ta s , s e g u n d o a q u a l as a lm as d o r m e m até o d ia d a re ssu rre iç ã o fin al. C o m o d ese jo d e escrev er u m c a te c ism o p a ra os p ro te s ta n te s d e lín g u a f r a n cesa, p u b lic o u , e m B asiléia, n o a n o 1 5 3 6 , a o b ra Christianae

religionis institutio \Institutas da religião cristã]. E m G e n e b ra , “escrev eu c o m e n tá rio s so b re q u ase to d o s os liv ro s d a B íb lia , v á rio s tra ta d o s so b re a te o lo g ia e so b re o g o v e rn o d a Ig re ja , e, s o b re tu d o , u m a série d e re e d iç õ e s d as I n s titu ta s , c a d a u m a m ais e x te n sa d o q u e a a n te r io r ”.34 A p rin c ip a l id e ia d e C a lv in o e ra a te o ria d a p re d e s tin a ç ã o . S e g u n d o ele, D e u s te m p o d e r in fin ito (é O n ip o te n te ) e sa b e d o ria in fin ita (é O n is c ie n te ) . N a d a n o U n iv e rso p o d e e x istir sem sua a u to riz a ç ã o , e n ã o h á n a d a q u e E le n ã o saib a, n e m n o p a ssa d o , n e m n o fu tu ro . A s s im , a n te s d e n a s c e rm o s , D e u s já sabe o q u e irá a c o n te c e r co n o sco . A c o n c lu sã o q u e C a lv in o c h e g o u foi q u e D e u s já tra ç o u o d e s tin o de to d o s os seres h u m a n o s a n te s d e eles n a sc e re m . Se vai ser salvo o u n ão , n ã o d e p e n d e d a v o n ta d e , d o q u e fa ç a o u

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

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E N C I C L O P É D I A

se n te , lo g o , to d o s fo ra m p re d e s tin a d o s . A salv ação seria u m a g ra ç a q u e D e u s c o n c e d e a alg u n s e n ã o c o n c e d e a o u tro s . E n ã o a d ia n ta a lg u é m p e r g u n ta r a D e u s o p o rq u ê d e E le te r p re d e s tin a d o u n s à salv ação e o u tro s à c o n d e n a ç ã o . E le d e c id iu e p o n to final. C a lv in o , au x iliad o p o r seus se g u id o re s, to m o u o p o d e r em G e n e b r a (S u íç a ) e ex erceu c o m a n d o a té su a m o rte , e m 15 6 4 .

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CAPÍTULO 12

A CONTRARREFORMA CATÓLICA

A Ig re ja C a tó lic a n ã o fico u p assiv a fre n te ao a v a n ç o d o p ro te s ta n tis m o . P a ra c o m b a te r a e x p a n sã o d o p r o te s ta n tis m o n a E u r o p a , ela se re u n iu n a c id a d e d e T re n to , n o fin a l d e 1 5 3 5 , e, ap ó s m u ita s h e sita ç õ e s e d e s e n te n d im e n to s e n tre o p a p a , os b isp o s e os reis, e d ito u u m d o c u m e n to c o n te n d o as p rin c ip a is m e d id a s q u e ju lg a v a n e c e ssá ria s p a ra e lim in a r os a b u so s (o u os a b u so s m ais e v id e n te s): re a firm a r a d o u tr in a C a tó lic a e r e p r im ir os q u e p e n s a s s e m d ife re n te . A p rim e ira m e d id a foi u m a faxina g eral n a Igreja. C o rru p to s fo ra m expulsos e a v e n d a d e in d u lg ên cias foi cancelada. R e fo rçou o p o d e r do p ap a, crio u o In d e x (relação d e livros p ro ib id o s à leitu ra dos cristão s),35 e lim in o u a c o m u n h ã o d e am b o s os elem e n to s d a ceia (pão e v in h o ), m a n te n d o ap en as a c o m u n h ã o d o pão, o b rig o u os b ispos a re sid irem e m suas sedes, co n serv o u os sete sacram en to s, refo rço u o trib u n a l d a In q u isição , afirm o u q u e so m e n te a Ig reja p o d e ría in te rp re ta r a S ag rad a E sc ritu ra e fixou regras p a ra a fo rm ação e a v id a d os padres. U m in s tr u m e n to m u ito im p o r ta n te d a C o n tr a r r e f o r m a fo i o tr is te m e n te c é le b re T rib u n a l d o S a n to o fício , m a is c o n h e c id o c o m o S a n ta In q u is iç ã o , q u e d u ro u até o sécu lo 18.

En c i c l o p é d i a

N e sse trib u n a l, as p esso a s e ra m ju lg a d a s p o r c rim e s c o n tr a a fé c a tó lic a . P a ra se o b te r co n fissõ e s, h a v ia u m a té c n ic a to d a especial: a to r tu r a e, p o r fim , a m o rte . “A Ig re ja C a tó lic a n a E s p a n h a e m p re g a v a re g u la rm e n te a to r tu r a p a ra c o n se g u ir co n fissõ es c o m p le ta s ’, e, e m 1 4 8 0 , o p a p a S isto I V d e u a p ro v ação aos p ro c e sso s in q u is itó rio s e tev e o a p o io d e T o rq u e m a d a , q u e , e m 1 4 8 3 , a p ro v o u o e m p re g o d e to r tu r a s ”. "0 F o ra m ta n ta s a tro c id a d e s , as q u a is, h o je , a sim p le s m e n ç ã o n o s c a u sa p av o r, p o ré m , fo ra m fa to s reais, v iv id o s p e la h u m a n id a d e , tr e m e n d a m e n te tris te s , m as v e rd a d e iro s. T o d o s aq u e le s q u e a Ig re ja C a tó lic a c o n sid e ra v a c u lp a d o s d e h e re sia s e ra m p e rse g u id o s e m o rto s p e la “s a n ta in q u is iç ã o ”. E n tr e os h e re g e s, e sta v a m , ló g ico , os p ro te s ta n te s , os filó so fos, os c ie n tis ta s , os ju d e u s , as b ru x a s, etc. A s p e n a s v a ria m d e u m a sim p le s m u lta a té a p ris ã o o u a ex e cu ção n a fo g u e ira . M ilh a re s d e p esso as fo ra m e x e c u ta d a s p e la In q u is iç ã o . M u ito im p o r ta n te p a ra d iv u lg a r os id eais d a C o n tr a r r e fo rm a fo i a criação , e m 1 5 4 3 , d a C o m p a n h ia d e Je su s. E s ta e n tid a d e , fu n d a d a p e lo n o b re m ilita r e s p a n h o l Ig n á c io de L o y o la , a d o to u u m a e s tr u tu r a m ilita r, c h e g a n d o m e s m o a ser c o n h e c id a c o m o o E x é rc ito d e C ris to . A o c o n trá rio das a n tig a s o rd e n s re lig io sas, n ã o se a fa sta v a m d o m u n d o , m as a tu a v a m n ele, p ro c u ra n d o te r o a p o io d o s g o v e rn a n te s e u ro p e u s n a su a lu ta c o n tr a o p r o te s ta n tis m o , fu n d a n d o esco las e c a te q u iz a n d o os a b o ríg e n e s n o s n o v o s m u n d o s su rg id o s co m a e x p a n sã o m a rítim a . A C o n tr a r r e f o r m a n ã o c o n s e g u iu e lim in a r o p ro te s ta n tis m o , m a s c o n s e g u iu e v ita r q u e ele se e sp a lh a sse m ais a in d a .

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Y O L U Μ Ε 2

Referências B E R K H O F , L o u is . A história das doutrinas cristãs. S ão P au lo : P u b lic a ç õ e s E v a n g é lic a s S e le c io n a d a s, 1 9 9 2 . B E T T E N S O N , H . Documentos da Igreja cristã. S ão P au lo : A s te -J u e rp , 2 0 0 1 . B O Y E R , O r la n d o . Heróis da fé. R io d e J a n e iro : C P A D ,

2001 . B R O W N , C o lin . Filosofia e f é cristã. S ão P a u lo : V id a N ova, 2001. C A I R N S , E a rle E . O cristianismo através dos séculos. S ão P a u lo : V id a N o v a , 1 9 9 5 . _

*

C E S A R , E lb e n M . História da evangelização no Brasil. S ão P au lo : U ltim a to , 2 0 0 0 . _

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C E S A R E I A , E u s é b io . História eclesiástica. S ão P a u lo : N o v o S écu lo , 2 0 0 2 . C H A M P L I N , R u sse ll N o r m a n ; B E N T E S , J o ã o M a r q u es. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. S ão P au lo : C a n d e ia , 1 9 9 7 . D O D D , C h a rle s Η . A interpretação do quarto evangelho. S ão P au lo : T e o ló g ic a , 2 0 0 3 . D R E H E R , M a r t i n N . Coleção história da Igreja. S ão L e o p o ld o : S in o d a l, 1 9 9 6 . D U R A N T , W ill. A história da civilização·, a R e fo rm a . R io de J a n e iro : R e c o rd , 1 9 5 7 . E L W E L L , W a lte r A . Enciclopédia histórica teológica da

Ig?‫׳‬eja cristã. S ão P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 3 .

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En c i c l o p é d i a

G E O R G E ,T i m o t h y . Teologia dos reformadores. S ão P au lo : V id a N o v a , 2 0 0 0 . G O N Z A L E Z , J u s to L . E até os confins da terra: u m a h istó ria ilu s tra d a d o c ris tia n is m o . S ão P a u lo : V id a N o v a , 1 9 9 5 . _________. E até os confins da terra: u m a h is tó ria ilu s tra d a do c ris tia n is m o V ol. II. (A e ra d o s g ig a n te s ).

S ão P a u lo : V id a

N ova, 2001. _________. E até os confins da terra‫׳‬, u m a h is tó r ia ilu s tra d a d o c ris tia n is m o V ol. I I I . (A e ra d as trev a s). S ão P a u lo : V id a N ova, 2001. _________. E até os confins da terra: u m a h is tó ria ilu s tra d a d o c ris tia n is m o V ol. IV . (A era d o s alto s id e a is). S ão P au lo : V id a N o v a , 2 0 0 1 . _________. E até os confins da terra‫׳‬, u m a h is tó ria ilu s tra d a d o c ris tia n is m o V ol. V. (A e ra d o s s o n h o s fru s tra d o s ).

S ão

P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 1 . _________. E até os confins da terra‫׳‬, u m a h is tó ria ilu s tra d a d o c ris tia n is m o V ol. V I. (A e ra d o s re fo rm a d o re s ). S ão P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 1 . _________. Dicionário ilustrado dos intérpretes dafé. S ão P a u lo: A c a d e m ia C ris tã , 2 0 0 5 H E E R S , Ja c q u e s, O M u n d o M e d ie v a l. L isb o a : E d iç õ e s Á tic a , 1 9 7 6 . H O R T O M , S ta n le y M . Teologia sistemática. R io d e J a n e iro: C P A D , 2 0 0 3 . H U R L B U T , Jessé L y m a n . História da Igreja cristã. S ão P a u lo : V id a , 1 9 9 6 .

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V O L U M E

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L A N E , T o n y . Pensamento cristão: d o s p rim ó rd io s à Id a d e M é d ia . S ão P a u lo : A b b a P re ss, 2 0 0 3 . M A T H E R , G e o r g e A ; N I C H O L S , L a r r y A . Dicionário

de religiões, crenças e ocultismo. S ão P a u lo : V id a , 2 0 0 0 . M I R A N D A , D a v id . M is s io n á r io D a v id M ir a n d a . S ão P a u lo : L u z , 1 9 9 2 . N I C H O L S , R o b e r t H a s tin g s . História da Igreja cristã. S ão P a u lo : C u ltu r a C ris tã , 2 0 0 0 . O L I V E I R A , R a im u n d o F. História da Igreja cristã. S ão P a u lo : E E T A D , 1 9 9 2 . O L S O N , R o g er. História da teologia cristã. S ão P au lo : V id a , 2 0 0 1 . _________. História das controvérsias na teologia cristã. S ão P a u lo : V id a , 2 0 0 4 . P E R E S , A lc id e s C . A Inquisição e os instrumentos de tortura

da Idade Média. R io d e J a n e iro : C P A D , 2 0 0 4 . P E R E I R A , L . R eis. História dos batistas no Brasil. R io d e J a n e iro : J u e rp , 1 9 8 2 . R E I L Y A .. D u n c a . Metodistas brasileiros e wesleyanos. S ão P au lo : I m p r e n s a M e to d is ta , 1 9 8 1 . R E I L I, D u n c a A le x a n d e r. História documental do protes-

tantismo no Brasil. S ão P a u lo : A s te , 2 0 0 3 . W A L K E R , J o h n . A história que nãofo i contada. S ão P au lo : W o r s h ip P ro d u ç õ e s , 1 9 9 6 . W A L K E R , W . História da Igreja cristã. S ão P a u lo : A S T E , 196 7.

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ENCICLOrÉDIA

W A L T O N , R o b e r t C . História da Igreja em quadros. S ão P a u lo : V id a , 2 0 0 0 . W A N D , J. W . História da Igreja prim itiva. S ão P au lo : C u s to m , 2 0 0 4 .

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ARQUEOLOGIA b íb l ic a

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n t r o d u ç ã o

A p a la v ra “a rq u e o lo g ia ” d e riv a d e d o is v o c á b u lo s g re g o s:

archaios, q u e sig n ific a “a n tig o ”, “d o c o m e ç o ”, e logos, “p a la v ra ”. P o r ta n to , e tm o lo g ic a m e n te , o te r m o sig n ific a “p a la v ra a re sp e ito ”, o u , “e s tu d o d e a n tig u id a d e ”. A s s im é q u e o te r m o e ra e m p re g a d o p e lo s a n tig o s e sc rito re s. N o e n ta n to , o te r m o se a p lic a , h o je , ao e s tu d o d e m a te ria is esc av ad o s p e r te n c e n te s às eras a n te rio re s . A a rq u e o lo g ia b íb lic a p o d e ser d e fin id a c o m o se n d o u m e x a m e d e a rte fa to s a n tig o s o u tr o r a p e rd id o s e h o je re c u p e ra d o s , q u e se re la c io n a m ao e s tu d o d a s E s c ritu ra s e à c a ra c te riz a ç ã o d a v id a n o s te m p o s b íb lic o s. E s s a d e lim ita ç ã o é im p o r ta n te p o rq u e a a rq u e o lo g ia te m escav ad o in ú m e ra s civ ilizaçõ es ao re d o r d o g lo b o , m a s n e m to d a s elas tê m re la ção a lg u m a c o m os a c o n te c im e n to s n a r ra d o s n as E s c ritu ra s . Se to m a rm o s os liv ro s d o A n tig o e d o N o v o T e s ta m e n to e m c o n ju n to , v e re m o s q u e a re g iã o d os a c o n te c im e n to s b íb lic o s é m u ito re s trita , a b ra n g e n d o u m p o u c o d o O r ie n te P ró x im o , u m p o u c o d a E u r o p a e u m p o u co d o N o r te d a Á fric a . E sse é o m u n d o d a B íb lia e, p o r ta n to , o m u n d o d a a rq u e o lo g ia b íb lic a . A a rq u e o lo g ia é, b a s ic a m e n te , u m a c iê n c ia , c o m to d a s as c a ra c te rístic a s p e r tin e n te s às ciên c ia s. O c o n h e c im e n to , n e s te c a m p o , se o b té m p e la o b se rv a ç ã o e e s tu d o s is te m á tic o s , e os

En c ic l o p é d i a

fa to s d e s c o b e rto s são av a liad o s e classifica d o s n u m c o n ju n to o rg a n iz a d o d e in fo rm a ç õ e s . A a rq u e o lo g ia é, ta m b é m , u m a c iê n c ia c o m p o s ta , p o is b u s c a au x ílio e m m u ita s o u tra s c iê n cias, ta is c o m o : a q u ím ic a , a h is tó ria , a lin g u ís tic a , a a n tr o p o lo g ia e a z o o lo g ia . N a tu r a lm e n te , alg u n s o b je to s d e in v estig ação a rq u e o ló g ic a (tais co m o : o b elisco s, te m p o s eg íp cio s e o P a rte n o n , e m A te nas) ja m a is fo ra m “p e rd id o s ”, m as, talv ez, a lg u m c o n h e c im e n to d e su a fo rm a e /o u p ro p ó s ito o rig in a is, b e m c o m o o sig n ificad o d e in scriçõ e s n eles e n c o n tra d a s , te n h a se p e rd id o . L e m b r e m o s q u e ela é o e s tu d o d o a n tig o e n ã o a p e n a s d o s m o n u m e n to s a n tig o s . D o c u m e n to s a n tig o s ta m b é m fa z e m p a r te d o seu e sc o p o e, v isto q u e são in ú m e ro s os o rig in a is ta n to d o N o v o q u a n to d o A n tig o T e s ta m e n to , a d e s c o b e rta d esses m a n u s c rito s ta m b é m se re la c io n a m c o m a a rq u e o lo g ia. E , n esse c a m p o , ela ta m b é m fe z im p o r ta n te s a c h a d o s. A s s im se n d o , o alvo d a a rq u e o lo g ia é d e sc o b rir, re sg a tar, o b se rv a r e p re se rv a r fra g m e n to s e n te r ra d o s d a a n tig u id a d e , e u s á -lo s p a ra a ju d a r a r e c o n s tru ir a v id a a n tig a . P a ra fa c ilita r o e s tu d o d a a rq u e o lo g ia , os e sp e c ia lista s a d iv id ira m e m q u a tro p a rte s . V ejam o s:

Arqueologia pré-histórica E s tá m ais in te re s s a d a e m fra g m e n to s d e m a te ria l re s u lta n te d e a tiv id a d e s h u m a n a s d o q u e em d o c u m e n to s esc rito s.

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E S T U D O S

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T E O L O G I A

V OL U ME 2

Arqueologia pré-clássica F o c a liz a a re g iã o d o M e d ite r r â n e o o rie n ta l e n o O r ie n te . E s tu d a as so c ie d a d e s a n tig a s q u e se d e se n v o lv e ra m n o E g ito , n a M e s o p o tâ m ia e n a P a le stin a .

Arqueologia clássica Se c o n c e n tra nas civ ilizaçõ es g re c o -ro m a n a s .

Arqueologia histórica T e n ta s u p le m e n ta r os te x to s e sc rito s, d e sc re v e n d o a r o tin a d iá ria das c u ltu ra s q u e os p ro d u z ira m . A rq u e ó lo g o s v ê m p e s q u is a n d o , h á cerca d e d o is séc u lo s, as te rra s e s p e c ific a m e n te re la c io n a d a s c o m o A n tig o e o N o v o T e s ta m e n to . F iz e r a m - s e d e s c o b rir d e fa to im p re s s io n a n te s , q u e ilu m in a m o c e n á rio o n d e se d e se n v o lv e u o c o n te x to h is tó ric o - c u ltu r a l d as E s c ritu ra s .

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a p í t u l o

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FUNÇÕES DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A a rq u e o lo g ia g e ra l, c o m o c iên c ia , b a s e a d a n a escav ação , d e c ifra ç ã o e av aliação c rític a d o s re g istro s d o p a ssa d o , é ass u n to p e r e n e m e n te fa sc in a n te . D e m a io r in te re sse a in d a é o c a m p o m ais re s tr ito d a a rq u e o lo g ia b íb lic a . A arq u e o lo g ia b íb lic a n o s aju d a a c o m p re e n d e r a B íb lia, n o s revela co m o era a v id a n o s te m p o s b íb lico s, esclarece o q u e as p assag en s o b scu ras d a B íb lia re a lm e n te sig n ificam e, ta m b é m , c o m o as n arrativ as h istó ric a s e os c o n te x to s b íb lic o s d e v e m ser e n te n d id o s . A ju d a a c o n firm a r a e x a tid ã o d o s te x to s b íb lico s e o c o n te ú d o d as E sc ritu ra s. T e m rev elad o a falsid ad e d e alg u m as te o ria s d e in te rp re ta ç ã o d a B íb lia. T e m a ju d a d o a e sta b e le c e r a ex a tid ão d o s o rig in a is g reg o s e h e b ra ic o s e a d e m o n s tra r q u e o te x to b íb lic o foi tra n s m itid o c o m u m a lto g ra u d e ex atid ão . T e m c o n firm a d o , ta m b é m , a ex a tid ã o d e m u ita s p assag en s d as E sc ritu ra s, co m o , p o r ex em p lo , afirm açõ es so b re n u m e ro so s reis e to d a a n a rra tiv a d o s p a tria rc a s. N ã o se d ev e ser d o g m á tic o , to d a v ia , e m d e c la ra ç õ e s so b re as c o n firm a ç õ e s d a a rq u e o lo g ia , p o is ela, ta m b é m , c ria v á rio s p ro b le m a s p a ra o e s tu d a n te d a B íb lia . P o r ex e m p lo : re la to s re c u p e ra d o s n a B a b ilô n ia e n a S u m é ria , so b re a c ria -

EN

C I C LΟ Γ E D [ Λ

ção e o d ilú v io , d e m o d o n o ta v e lm e n te s e m e lh a n te ao re la to b íb lico , d e ix a ra m p e rp le x o s os e ru d ito s b íb lico s. H á , a in d a , o p ro b le m a d e in te rp re ta r o re la c io n a m e n to e n tre os tex to s rec u p e ra d o s e m R as S h a m ra (u m a reg ião n a S íria) e o C ó d ig o M o sa ic o . P o d e -se , to d av ia, c o n fia n te m e n te , crer q u e re sp o sta s a tais p ro b le m a s v irá c o m o te m p o . A té o p re se n te , n ã o h o u v e u m caso se q u e r e m q u e a a rq u e o lo g ia te n h a d e m o n s tra d o d e fin itiv a e c o n c lu siv a m e n te q u e a B íb lia estivesse errad a. O q u e , d e fin itiv a m e n te , m o s tra as d e s c o b e rta s a c im a é q u e os fa to s e o e n s in o c o n tid o n o P e n ta te u c o e e m o u tra s p o r ções a n tig a s das S a g ra d a s E s c ritu ra s estav a e m p le n o a c o rd o c o m o u tro s te x to s a n tig o s d a é p o c a . A id e ia d e q u e fo ra m e sc rito s e m u m p e r ío d o m u ito p o s te rio r c a íra m d e fin itiv a m e n te p o r te rra . M e s m o a ssim , a p e sa r das se m e lh a n ç a s , é fácil p e rc e b e r u m a c o e rê n c ia s u p e rio r d a s E s c ritu ra s , fre n te às le n d a s d a m e s m a é p o c a so b re os m e s m o s e v e n to s, c o m o é o caso d a c ria ç ã o e d o d ilú v io . A a r q u e o lo g ia , n a s m ã o s d e e s tu d io s o s d a B íb lia , p o d e s e r d e g r a n d e u tilid a d e , o u m o tiv o d e a b u s o . O r e s u lta d o s e rá d e te r m in a d o , e m g r a n d e p a r te , p e la a t i t u d e d o in v e s t i g a d o r c o m r e s p e ito ao s ig n ific a d o d a s E s c r itu r a s e m si. S e e le , s im p le s m e n te , f o r u m té c n ic o c ie n tíf ic o , d e s p id o d a s c a r a c te r ís tic a s e s p ir itu a is , e r e je ita r o s a s p e c to s q u e fa z e m d a B íb lia u m liv ro d iv in o e h u m a n o , a c e ita r á a p e n a s as c a r a c te r ís tic a s h u m a n a s e os d a d o s a r q u e o ló g ic o s e m su a s m ã o s , e, a s s im s e n d o , e s ta r á e m c o n s ta n te p e r ig o d e t e r u m a fa ls a in t e r p r e ta ç ã o e a e m p r e g a r á c o m o b a s e e m

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VOLUΜ E 2

te o ria s e rrô n e a s , q u a n d o ele t e n t a r a p lic á -la s às E s c r itu r a s . S e, p o r o u tro lad o , c o m o té c n ic o c ie n tífic o , o in v e stig a d o r te m u m a c o m p re e n s ã o d o sig n ific a d o e s p iritu a l e e stá d e a c o rd o c o m a m e n s a g e m d a B íb lia , a a p lic a ç ã o q u e fiz e r das d e s c o b e rta s a rq u e o ló g ic a s p re s ta rá e n o r m e b e n e fíc io à ilu stra ç ã o e e lu c id a ç ã o d o s o rá c u lo s a n tig o s p a ra o m u n d o m o d e rn o . L e g itim a m e n te m a n u s e a d a s , as c o n trib u iç õ e s q u e a a rq u e o lo g ia e stá fa z e n d o ao e s tu d o d a s E s c ritu ra s são v istas e d e lo n g o alcan ce.

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C a p ít u l o 2

HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA BÍBLICA

A a c u ra c id a d e h is tó ric a d a s E s c ritu ra s é ta m b é m u m a c ia sse d e e v id ê n c ia s p o r si só, in f in ita m e n te s u p e rio r aos re g istro s e sc rito s d e ix a d o s p e lo E g ito , A s s íria e o u tra s n a ç õ e s a n tig a s. A s c o n firm a ç õ e s a rq u e o ló g ic a s d o re g istro b íb lic o são q u a se in u m e rá v e is. O dr. N e ls o n G lu e c k , a m a io r a u to rid a d e e m a rq u e o lo g ia isra e lita , disse: “N e n h u m a d e s c o b e rta a rq u e o ló g ic a ja m a is c o n tra d is s e q u a lq u e r re fe rê n c ia b íb lic a . F o ra m fe itas d e z e n a s d e d e s c o b e rta s a rq u e o ló g ic a s q u e c o n firm a m e m d e ta lh e as d e c la ra ç õ e s h is tó ric a s re la ta d a s n a B íb lia . E , d a m e s m a m a n e ira , u m a av aliação p r ó p r ia d e d e sc riç õ e s bíbH cas te m g e ra lm e n te lev ad o a fa sc in a n te s d e s c o b e rta s n o c a m p o d a a rq u e o lo g ia m o d e r n a ”. E q u a n d o a a rq u e o lo g ia c o n tra d iz o te x to b íb lic o ? E q u a n d o os re su lta d o s d a p e sq u isa c ie n tífic a a rq u e o ló g ic a p a re c e m n ão se h a r m o n iz a r c o m a n a rra tiv a e n c o n tr a d a n a B íb lia? S im p le s m e n te , ig n o ra m o s o q u e d iz e m as E s c ritu ra s e p a s s a m o s a c re r s o m e n te n o q u e p o d e n o s fo rn e c e r a a rq u e o lo g ia ? O u fe c h a m o s n o sso s o lh o s c o m p le ta m e n te p a ra os re s u lta d o s d a p e s q u is a a rq u e o ló g ic a e p ro fe s s a m o s c e g a m e n te n o ssa fé n a B íb lia? E s s a a titu d e é h o n e sta ?

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A lg u m a s c o lo c a ç õ e s são im p o r ta n te s aq u i. A q u e le s q u e a c re d ita m n a in e rr â n c ia d a s E s c ritu ra s , tê m , ta m b é m , b ases o b je tiv a s p a ra isso. N ã o c re e m a p e n a s p o r crer. C re e m p o r q u e , ao lo n g o d o s a n o s, e p o rq u e n ã o d iz e r d o s sécu lo s, a e x p e riê n c ia te m se in c lin a d o a seu favor. E , p o r isso, g o s ta ría m o s d e fa la r a lg u m a s co isas so b re a a rq u e o lo g ia . P rim e iro , a a rq u e o lo g ia n ã o é u m a c iê n c ia ex ata. N ã o é m a te m á tic a , o n d e d o is m ais d o is são d e fin itiv a m e n te q u a tro . E la se u tiliz a d e m u ita s o u tra s ciên c ia s e sab e res, p o r ta n to , c o n c lu sõ e s re s u lta n te s n ã o p o d e m , to d a s elas, ser to m a d a s c o m o v e rd a d e s a b so lu ta s e in q u e s tio n á v e is . P o d e h a v e r d iv e rg ê n c ia s d e o p in iõ e s e d e p a re c e re s. É c o m o n a m e d ic in a , em q u e , e m a lg u m a s c irc u n stâ n c ia s, se b u sc a u m a s e g u n d a o p in ião . P o r ta n to , q u e re r q u e to d a s as d e s c o b e rta s a rq u e o ló g ic a s s o lu c io n e m d e f in itiv a m e n te os p ro b le m a s d e c o n h e c im e n to h is tó ric o é ex ig ir d e la m a is d o q u e ela p o d e dar. O s c o n flito s in te r n o s d e c o n c lu sõ e s d e n tr o d a p r ó p ria c iê n c ia a rq u e o ló g ica s u g e re m c a u te la . P o d e m o s d iz e r q u e as c o n c lu sõ e s re s u lta n te s p o d e m c o n te r e rro s d e p e lo m e n o s d u a s n a tu re z a s . O s p rim e iro s erro s se ria m d e n a tu re z a p rá tic a . N e m se m p re os d a d o s fo rn e c id o s p e lo s a c h a d o s a rq u e o ló g ic o s fo rn e c e m re c u rso s su fic ie n te s p a ra u m a c o n c lu sã o in falív el. T u d o o q u e as civ ilizaçõ es a n tig a s p o d e m n o s fo rn e c e r são v e stíg io s. H o je , te m o s re c u rso s a u d io v isu a is m u ito a v a n ç a d o s, c o m os q u a is as civ ilizaçõ es a n tig a s , o b je to s d e e s tu d o d a a rq u e o lo g ia , s e q u e r s o n h a ra m . N ó s , to d a v ia , só p o s s u ím o s u m a ín fim a p a rc e la d e o b je to s

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d essas civ ilizaçõ es e, p o r m ais a c u ra d a q u e p o ssa ser u m a in v e stig a ç ã o , vai se d e p a ra r c o m la c u n a s q u e n ã o p o d e rã o ser p re e n c h id a s o u , se o fo re m , serã o p re e n c h id a s p o r ra c io c ín io s, d e d u ç õ e s o u , m e sm o , c ria tiv id a d e , e p o d e m n e m s e m p re c o rre s p o n d e r aos fa to s. N a d a im p e d e q u e algo tã o d e fin itiv a m e n te a c e ito c o m o fa to seja, d e re p e n te , n e g a d o e e sc la re c id o p o r a c h a d o s a rq u e o ló g ic o s p o s te rio re s . Isso te m a c o n te c id o e, c o m c e rte z a , v o lta rá a a c o n te c e r. E p o d e m o s d iz e r q u e n ã o a p e n a s n a a rq u e o lo g ia , m as e m m u ita s o u tra s áreas d o c o n h e c im e n to h u m a n o . O s e g u n d o f a to r a se r le v a d o e m c o n ta é a p e sso a d o p r ó p rio a rq u e ó lo g o . E m b o r a to d o c ie n tis ta p ro c u re o b je tiv id a de e im p a rc ia lid a d e e m se u c a m p o d e e s tu d o , n e m s e m p re ele c o n se g u e ta l fa ç a n h a . I m a g in e m o s u m a rq u e ó lo g o a te u o u cético , p a ra q u e m a B íb lia n ã o p a ssa d e u m a m o n to a d o de le n d a s sem q u a lq u e r re la ç ã o c o m os a c o n te c im e n to s h is tó ric o s. A g o ra , im a g in e u m a rq u e ó lo g o c ristã o , p a r a q u e m a B íb lia é d e fin itiv a m e n te a P a la v ra d e D e u s e n ã o c o n té m n e n h u m erro , seja d e n a tu re z a te o ló g ic a o u d e n a tu r e z a h is tó ric a o u g eo g ráfica. C la ro q u e a m b o s p o d e m c h e g a r a c o n clu sõ es d ife re n te s d e u m m e s m o c o n ju n to d e in fo rm a ç õ e s . Is s o se c h a m a c o n h e c i m e n to a p r i o r i ; o u se ja , u m a v isã o a n t e c ip a d a d a n a t u r e z a d o c o n j u n t o d e in f o r m a ç õ e s d is p o n ív e is . Se a lg u é m c a v a u m s ítio a r q u e o ló g ic o c o m in t e n ç ã o d e p r o v a r q u e a B íb lia é fa ls a , e le j á f o i i n f l u e n c ia d o p o r ta l p e r s p e c tiv a e, n a c e r ta , v a i i g n o r a r o s d a d o s q u e c o n f ir m e m a v e r a c id a d e d a B íb lia e v a i re s s a lv a r

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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e n c i c l o p é d i a

a q u e le s q u e a p a r e n t e m e n t e a d e s a c re d ite m . J o s h M c D o w e l se u tiliz o u d e c ita ç õ e s q u e e x p re ssa m m u ito b e m esse p o s ic io n a m e n to , o n d e u m a o p in iã o a n te c ip a d a te m tra z id o d ific u ld a d e s d e h a r m o n iz a ç ã o e n tre a B íb lia e as d e s c o b e rta s a rq u e o ló g ic a s. V ejam os: J o h n W a r w ic k M o n tg o m e r y ex p õ e u m p ro b le m a típ ic o e n f re n ta d o p o r m u ito s e ru d ito s h o je e m dia: T h o m a s D r o b e n a , p e s q u is a d o r d o I n s titu to N o r te - A m e r ic a n o d e E s tu d o s so b re a T e r ra S a n ta , a d v e rtiu q u e o n d e a a rq u e o lo g ia e a B íb lia p a re c e m e s ta r e m c o n flito , a q u e s tã o é q u a se se m p re de d ataç ão , a área m ais in stáv el n a arq u e o lo g ia c o n te m p o râ n e a e a ú n ic a e m q u e o ra c io c ín io c ie n tífic o , a p rio ri e circular, fr e q u e n te m e n te s u b s titu i u m a an á lise e m p íric a a p ro p ria d a . M a s n ã o a p e n a s e m q u e stõ e s m ais esp ecíficas, c o m o d a ta ç õ e s, p o r e x e m p lo . E s s a v isão a p rio rís tic a d e c e rto s c o n h e c im e n to s e fa to s in flu e n c ia a in v e stig a ç ã o b íb lic a re fe re n te aos p ró p rio s fa to s. T o d a u m a f o rm a d e p e n s a r e v e r o m u n d o e a n a tu re z a d a re a lid a d e a fe ta a in v e stig a ç ã o c ie n tífic a e as p ro p o s iç õ e s d e la d e riv a d a s. U m caso m u ito c o n h e c id o é o d o fa m o s o liv ro E a Bíblia tinha razão, d e W e r n e r K eller. S e n d o a le m ã o , ele fo i m u ito in flu e n c ia d o p e la esc o la lib e ra l d e te o lo g ia . Isso sig n ific a , d e im e d ia to , q u e ele n ã o p o d e r ia a c e ita r a p o s s ib ilid a d e d e m ila g re s, q u e só p o d e r ía m se r re le g a d o s ao a s p e c to d e le n d a . T o d a a su a o b ra , a p e sa r d a g ra n d e e ru d iç ã o a p re s e n ta d a , fo i a fe ta d a p o r esse fa to . A g o ra , im a g in e , a m a d o a lu n o , ele a n a lis a n d o a B íb lia e seu v a lo r h is tó ric o , te n d o nas m ã o s u m liv ro cu jo s m ila g re s e stã o p re s e n te s e m q u a se c a d a

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p á g in a . O re s u lta d o só p o d e r ia ser u m a d is to rç ã o d o te x to p a ra se a ju sta r à su a filo so fia n a tu ra lis ta . A p ro p o s ta d o liv ro , id e n tific a d a já n o títu lo d o m e sm o , fo i a n u la d a p o r essa p re m issa . E le n ã o a c re d ita v a n a in fa lib ilid a d e d as E s c ritu ra s , n ã o c o m o n ó s c re m o s h o je . E seu tra b a lh o fo i b a s ta n te d is to rc id o p o r esse fa to . B a s ta le rm o s o té r m in o d e su a o b ra e fic a m o s c ie n te s d essa d e fic iê n c ia , n a v e rd a d e , u m a fo rte d is to rç ã o d o v a lo r e d a v e ra c id a d e d a B íb lia , c o m o se p o d e v erificar: “E m o u tra s p a la v ra s, a B íb lia n ã o to le ra ser c o m p r im id a d e n tro d a m o ld u ra ríg id a , a p e rta d a , d as n o ssas e x ig ên c ia s — p o r si sós, b a s ta n te p ro b le m á tic a s — d e “v e rd a d e h is tó r ica” e “o b je tiv id a d e c ie n tífic a ”, a n ã o ser q u e p re te n d é s s e m o s v io lá -la . E la é (o u , a n te s, era) u m a o b ra h is tó ric a , m a s n ã o n o s e n tid o c o m o n ó s o c o m p re e n d e m o s . E la é a n a rra ç ã o d e u m p o v o e seu D e u s , cu jas d isp o siç õ e s fo ra m s e n tid a s p e lo s seus a d e p to s , n a p r ó p ria c a rn e , ao lo n g o d a h is tó ria . E ela n e m p re te n d e c o n s titu ir -s e n o p ro to c o lo n e u tro , in c o rru p tív e l, d o s e v e n to s re la ta d o s, p o is, p a ra ta n to , ela e stá e n g a ja d a d e m a is e d e m a s ia d a m e n te c o n d ic io n a d a à su a é p o c a , cu ja lin g u a g e m fala. E h á o u tro p o n to q u e n ã o d ev e ser e sq u e c id o : a B íb lia se rv e -se d e m e io s d e ex p ressão q u e n e m s e m p re c o in c id e m c o m os n o sso s; ta m b é m , a lin g u a g e m b íb lic a , a fu n d o , é u m a a b stra ç ã o , c o m o n ã o p o d e r ia d e ix a r d e ser, p o ré m , ela é m u ito m ais ric a e m q u a d ro s d e m o n s tra tiv o s d o q u e a n o ssa , a tu al. A q u ilo q u e p ro c u ra m o s fo rm u la r p a ra q u e seja c o m p re e n d id a d a m a n e ira m ais fácil e su c in ta , a B íb lia tra n s f o rm a

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e m h is tó ria e, f r e q u e n te m e n te , suas im a g e n s são v e rd a d e iro s “e n ig m a s v isu a is”, e n s e ja n d o in te rp re ta ç õ e s m ú ltip la s , o q u e, n ã o ra ra s v ezes, é n itid a m e n te in te n c io n a l. “A s s im , a c e n a d o sacrifício d e Isa q u e , ex ig id o p o r D e u s e, n o ú ltim o in s ta n te , e v ita d o p o r A b ra ã o ( G n 2 2 . 1 -1 3 ) é p assív el d e trê s in te rp re ta ç õ e s : “1) T r a ta - s e d o reflex o d e u m a n tiq u ís s im o ritu a l d e in iciação, u m a esp é cie d e ‘b a tis m o d e s a n g u e ’. S o m e n te aq u e le q u e se su je ita ao seu D e u s , d e m a n e ira to ta l e in c o n d ic io n a l, se to r n a m e m b ro p le n o d a c o m u n id a d e . “2 ) A p a ssa g e m re p re s e n ta — d e c e rto m o d o , e m fo rm a d e e n ig m a v isu al — o re p ú d io d a p rá tic a d o sacrifício h u m a n o , m o r m e n te d o m e n in o , c o n fo rm e e ra d if u n d id a n o a n tig o O r ie n te . “3) P a ra A b ra ã o , tr a ta - s e d e u m a p ro v a d e fé. E s s a in te rp r e ta ç ã o a té fo i su g e rid a p e lo p r ó p rio a u to r d a p a ssa g e m b íb lic a e m q u e s tã o , p o is ele c o m e ç a su a n a rra tiv a c o m as p a lav ras ‘te n to u D e u s a A b r a ã o ...’. “A tu a lm e n te , s e m p re c o m p o u c o te m p o e p a c iê n c ia , n o s s e n tim o s p o u c o à v o n ta d e d ia n te d a ta re fa d e d e c ifra r tais “e n ig m a s v isu a is, lin g u ís tic o s ”. A fim d e a ssim ila rm o s o m u n d o d o s p e n s a m e n to s d o s a u to re s b íb lic o s, c u m p re fa z e rm o s v o lta r a trá s à ro d a d a h is tó ria , a té a é p o c a q u e m a rc o u o in íc io d a c o d ific a ç ã o , d o re g is tro p o r e sc rito , d a s d iv ersas tra d iç õ e s a té e n tã o o ra is, o u seja, a té as E s c r itu ra s d o a n tig o Isra e l, q u a n d o c o m e ç o u o c re s c im e n to , a e la b o ra ç ã o d o fe n ô m e n o c o m p le x o c o n h e c id o c o m o B íb lia.

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T o d a v ia , será q u e a B íb lia te m ra zão ? P o r c e rto , isso p o d e ser c o n firm a d o , sem q u a is q u e r rese rv as, q u a n to às p a ssa g e n s q u e fo ra m a u te n tic a d a s , o u p o r g e n u ín a s fo n te s p a ra le la s, e x tra b íb lic a s, o u p o r a c h a d o s a rq u e o ló g ic o s. N o e n ta n to , ela a in d a p o d e p r e te n d e r p a ra si m a is o u tr a fo rm a , cu jo títu lo “te m ra z ã o ”, n a m e d id a e m q u e n o s a p ro x im a rm o s su ce ssiv a m e n te d a su a é p o c a e d o h o m e m d e ssa é p o c a , a fim d e q u e p o s s a m o s a p r e n d e r a n o s in te ira rm o s s m e lh o r d o s seus se rm õ e s, d as suas p a rá b o la s , ale g o ria s, v isõ es, sím b o lo s, im a g e n s e alu sõ es. T a lv e z , c h e g u e o d ia e m q u e te re m o s c o n d iç õ e s d e c o n firm a r, ta m b é m , p a ra u m a o u o u tra p a ssa g e m , h o je a in d a c o n s id e ra d a e n ig m á tic a o u p o u c o clara: Έ a B íb lia tin h a ra z ã o ’, d o p o n to d e v ista d o seu te m p o !”. D iz e r q u e a B íb lia tin h a ra z ã o d o p o n to d e v is ta d o seu te m p o eq u iv a le d iz e r q u e ela n ã o te m ra z ã o d o p o n to d e v ista d o n o sso te m p o . Q u e a m e n te m o d e r n a n ã o p o d e a c e ita r as v e rd a d e s h is tó ric a s n e la c o n tid a s c o m o fa to s e n ã o p o d e a c e ita r os m ila g re s c o m o reais. T o d o o liv ro é u m a te n t a t i va d e ex plicar, p o r m e io s ra c io n a is, os m ila g re s e r e tira r d a B íb lia to d o e le m e n to s o b re n a tu ra l, seja a a b e rtu ra d o m a r V e rm e lh o , seja o fa la r d e D e u s c o m A b ra ã o . E s s a é a p o s tu ra d o livro. N ã o v a m o s n e g a r o v a lo r d o c o n te ú d o in v e stig a tiv o d o livro. E le é u m a p é ro la d e e ru d iç ã o . V ias, a p e sa r d isso , a p o s tu *

ra a p rio rís tic a d o a u to r e lim in a c e rto s fa to re s. E c o m o se, p o r e x e m p lo , u s a n d o n o sso e n fo q u e a n te rio r, ele n ã o a c eita sse a re ssu rre iç ã o d e Je su s c o m o fa to e, p o r ta n to , c o m e ç a sse su a

E s t u d o s de T e o l o g i a

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n c i c l o p é d i a

p e s q u is a e ex p o siç ã o j á d iz e n d o q u e Je su s n ã o re ssu sc ito u . C o m c e rte z a , te ria o u tr a v isão e n e g a ria p o n to s e v id e n te s, in te r p r e ta n d o tu d o a p a r tir d e ssa p e rsp e c tiv a . A in v e stig a ç ã o seria , c o m c e rte z a , a tin g id a p o r essa fa lta d e im p a rc ia lid a d e . A in flu ê n c ia d a te o lo g ia lib e ra l é g r ita n te . O e x a g erad o ce tic ism o d e m u ito s d esses te ó lo g o s lib erais n ã o é fru to d e u m a avaliação c u id a d o sa d o s d a d o s d isp o n ív e is, m as d e u m a fo rte p re d isp o siç ã o c o n tra o s o b re n a tu ra l. L o g o , su a c o m p re e n s ã o d e tu r p a d a in flu e n c io u e r u d ito s c o m o W e r n e r K eller, e n tre o u tro s . D ia n te d e tu d o isso, d e v e m o s, sim , n o s u tiliz a r d a fe rra m e n ta a rq u e o lo g ia , m a s c o m as d e v id a s rese rv as. N e m to d o s aq u e le s q u e a d e n tr a m n e sse c a m p o d a c iê n c ia são n e c e ssa ria m e n te c re n te s n a B íb lia , se n d o , m u ita s v ezes, seus c rític o s fe rre n h o s . M e s m o a ssim , a a rq u e o lo g ia b íb lic a é u m a d isc ip lin a d ig n a d e n o ssa a te n ç ã o . Se a n o ssa a titu d e , d e c e rto m o d o , p a re c e d u v id o sa , p o r n ã o a c e ita rm o s fa c ilm e n te fa to s a rq u e o ló g ic o s q u e c o n tra d ig a m as E s c ritu ra s , isso se d á p e la s e x p e riê n c ia s a n te rio re s. C o m o v im o s e m alg u n s casos e v e re m o s e m o u tro s , o d e s d é m in ic ia l p a r a c o m as E s c ritu ra s d ia n te d e u m a c h a d o a rq u e o ló g ic o tr a n s f o rm o u -s e , p o s te r io r m e n te , e m v e rg o n h a p a ra os q u e d e s p re z a ra m seu v a lo r h istó ric o . O re s p e ito e a re v e rê n cia à B íb lia fo ra m re s ta u ra d o s p a ra aq u e le s q u e já c ria m n ela, e n q u a n to isso d ific ilm e n te a c o n te c e rá c o m aq u e le s q u e n ão c ria m . C o m c e rte z a , h ã o d e a c e ita r a p rim e ira a firm a ç ã o e ig n o ra r a se g u n d a .

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e s t u d o s

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C a p ít u l o 3

DATAÇÃO DOS ACHADOS ARQUEOLÓGICOS

O s m é to d o s m a is e m p re g a d o s p e lo s a rq u e ó lo g o s p a ra d a ta ç ã o d e v e stíg io s são: a ra d io m e tria , a e s tra tig ra fia , a g la c io lo g ia e s tra tig rá fic a e, n o caso d e á rv o re s, a d e n d ro c ro n o lo g ia . V eja m o s c a d a u m d esses m é to d o s :

Radiometria M é to d o s d e d a ta ç ã o q u e se b a s e ia m n a s a lte ra ç õ e s so frid a s p o r d iv erso s e le m e n to s ra d io a tiv o s o u seu s is ó to p o s in stá v e is. O s p ro c e sso s e m q u e essas a lte ra ç õ e s o c o rre m p o d e m , s u p o s ta m e n te , d u r a r m ilh a re s , m ilh õ e s o u a té b ilh õ e s d e a n o s. P a ra q u e os m é to d o s d e d a ta ç ã o ra d io m é tric o s se ja m v á lid o s, p re c isa m q u e os d iv erso s p re s s u p o s to s (aos q u a is se a trib u i g ra u v ariáv el d e c e rte z a ) sejam v e rd a d e iro s. O p rim e iro p re s s u p ô s to n e c e ssá rio é o d e q u e essas a lte ra ç õ e s o c o rra m s e m p re e m u m ritm o c o n s ta n te e c o n h e c id o , e q u e seja im p o ssív e l h a v e r q u a lq u e r exceção, n e m m e s m o d e v id o a fa to re s e x te rn o s (a té m e s m o o p rim e iro p re s s u p o s to é, m u ita s v ezes, im p ro v á v e l). G e r a lm e n te , se m e d e a q u a n tid a d e d o m a te ria l q u e so fre u a a lte ra ç ã o e c o m p a ra -s e c o m a q u a n tid a d e d o m a te ria l

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o rig in a l q u e se d e d u z , p e la d ife re n ç a e n tre as q u a n tid a d e s , o te m p o q u e d u ro u o p ro c esso . U m s e g u n d o p re s s u p o s to é q u e n e n h u m fa to r e x te rn o te n h a a lte ra d o a p ro p o rç ã o e n tre o m a te ria l o rig in a l e o d e r iv ad o . O m é to d o d o p o tá s s io -a rg ô n io , p o r e x e m p lo , é b a se a d o n e ssa ló g ica. U m is ó to p o in stá v e l d o e le m e n to p o tá s s io (K 4 0 ) d e c a i n o gás a rg ô n io ( A r -4 0 ). C a lc u la -s e q u e a m e ia -v id a (te m p o e m q u e m e ta d e d o m a te ria l o rig in a l já d e c a iu p a r a a fo rm a a lte ra d a ) d o (K -4 0 ) é d e 1 ,2 5 b ilh õ e s d e an o s. E u m m é to d o la rg a m e n te e m p re g a d o p a ra d a ta r a m o s tra s d e ro c h a s a n tig a s (o fa m o so fó ssil “L u c y ” fo i d a ta d o p o r essa a b o rd a g e m — é im p o r ta n te o b s e rv a r q u e a d a ta ç ã o n ã o foi e s tim a d a a p a r tir d a c o le ta d e u m a a m o s tra d o fó ssil e m si, m a s de u m a d as ro c h a s q u e e stav a n a s p ro x im id a d e s d e o n d e o fó ssil fo i e n c o n tr a d o ).

Estratigrafia O e s tu d o d o s a rra n jo s e d isp o siç õ e s d e c a m a d a s s u b te rrâ n e a s s u p e rp o s ta s . A e s tra tig ra fia p e r m ite a n a lis a r as fases d a o c u p a ç ã o d e u m tell. C o m o as c a m a d a s m a is p ró x im a s à su p e rfíc ie d e escav ação c o s tu m a m c o n te r m a te ria is m a is re c e n te s (e x c e to q u a n d o o c o rre a lg u m a a lte ra ç ã o g e o ló g ic a im p o r ta n te ) , é, m u ita s v ezes, p o ssív el e sta b e le c e r u m a d a ta ção re la tiv a (a p e sa r d e q u e , p e la p r ó p ria n a tu re z a d o m é to d o , essa d a ta ç ã o c o s tu m a ser im p re c isa ).

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Glaciologia estratigráfica E m re g iõ e s g laciais, é p o ssív el e s tu d a r as d ife re n te s c a m a d as s u b te rrâ n e a s d e g e lo q u e se s o b re p õ e m su c e ssiv a m e n te a c a d a in v e rn o . V is to q u e , c o m a c h e g a d a d a e sta ç ã o a m e n a , d iv ersas esp é cies e n c o n tr a m a m b ie n te m a is a d e q u a d o ao c re s c im e n to e à re p ro d u ç ã o , é p o ssív el a n a lisa r seus v e stíg io s n o re g istro e s tra tig rá fic o e e sta b e le c e r su a d a ta ç ã o re la tiv a p o r m e io d a c o n ta g e m d o s e s tra to s .

Dendrocronologia M é to d o d e d a ta ç ã o q u e se b a se ia n a c o n ta g e m e a n á lise d o s an é is d o tro n c o d e c e rta s árv o res. N e la s , o n ú m e ro d o s an é is c o rre s p o n d e ao n ú m e ro d e a n o s d a su a id a d e , e a e s p e ssu ra d e c a d a u m d o s an é is in d ic a a q u a n tid a d e d e c h u v a q u e ca iu n o a n o e m q u e o a n e l fo i fo rm a d o . A d en d ro c ro n o lo g ia é u m m é to d o d e d ataç ão b a sta n te p re ciso e confiável, e, p o r isso, é u m p ro c e d im e n to p a d rã o p a ra u sá10‫ ־‬c o m o referência p a ra calib rar o u tro s m é to d o s. N o en ta n to , q u a n to à q u estão das datas m u ito an tig as, a ev id ên cia co n firm a q ue to d as as árvores p ré -d ilu v ian a s fo ra m d estru íd as p elo cataclism o. H á q u e m co n jectu re u m a id ad e m a io r p a ra algum as p lan tas sem , n o e n ta n to , u tiliza r a a b o rd ag em d e n d ro c ro n o ló g ica, m as, a árvore m ais an tig a (que é, pelo q u e se sabe, o h a b ita n te vivo m ais an tig o d o p lan eta), d a ta d a p o r m eio d a d e n d ro c ro n o logia, tin h a “ap e n as” 4 .7 6 7 anéis, isso e m 2 0 0 1 . T ra ta -se d e u m p in h e iro bristlecone, c h a m a d o “M e th u s e la h ”, q u e vive n a re g iã o m o n ta n h o s a d e W h ite - I n y o , n a C a lifó rn ia .

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A lé m d isso , a p e sa r d a c o n fia b ilid a d e g e ra l d o m é to d o , a d e n d r o c ro n o lo g ia n ã o é in falív el, p o is, sob c e rta s c o n d iç õ e s c lim á tic a s (c o m o o a tra s o d a c h e g a d a d o in v e rn o , e sp e c ia lm e n te e m lu g a re s e m q u e o frio é rig o ro s o ), a lg u m a s árv o res p o d e m p r o d u z ir m ais d e u m a n e l p o r a n o (o q u e , fe liz m e n te , é u m f e n ô m e n o b a s ta n te ra ro ). V am o s n o s c o n c e n tra r n o m é to d o d o C a rb o n o 14, dev id o à su a fre q u e n te u tiliz a ç ã o e ao fa to d e q u e é, c o n s ta n te m e n te , c ita d o e m c o n te x to s e m q u e a a u te n tic id a d e d a B íb lia é q u e s tio n a d a . O m é to d o d o ra d io c a rb o n o fo i d e se n v o lv id o ap ó s a S e g u n d a G u e r r a M u n d ia l, p o r W illa r d F. L ib b y , d a U n iv e rs id a d e d e C h ic a g o . E le se b a se ia n a q u a n tid a d e d o is ó to p o 14 d o c a rb o n o , p re s e n te e m d e te r m in a d a a m o s tra . Is ó to p o s são v a rie d a d e s d e u m e le m e n to q u e p o s s u e m o m e s m o n ú m e ro a tô m ic o (isto é, o m e s m o n ú m e ro d e p r ó to n s ) , m a s n ú m e ro s d e m a ssa d ife re n te s (p o rq u e p o s s u e m n ú m e ro d e n ê u tro n s d ife re n te s ). H á trê s is ó to p o s p rin c ip a is d o e le m e n to c a rb o n o p re s e n te s n a a tm o s fe ra (o C 1 2 e o C 1 3 , estáv e is, e o C 1 4 , in stá v e l). O s trê s is ó to p o s o c o rre m e m p ro p o rç õ e s fixas: C 1 2 = 9 8 .8 9 % ; C 1 3 = 1 .1 1 % e C 1 4 = 0 .0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 % . C a r b o n o 1 4 o u C 1 4 é o e le m e n to u tiliz a d o p a ra a d a ta ç ã o d e o b je to s e seres. M u ita s v ezes, h á d is c re p â n c ia e n tre d a ta s in d ic a d a s p e lo C 1 4 e o u tra s fo n te s . P o r tr a ta r - s e d e u m m é to d o to ta lm e n te c ie n tífic o , a lg u n s c o n s id e ra m a d a ta ç ã o r e s u lta n te d o te s te d o C a r b o n o 1 4 alg o d e fin itiv o e in falív el. M a s n ã o é b e m assim .

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O C 14 se fo rm a a p a r tir d o n itro g ê n io , n as a lta s c a m a d a s d a a tm o s fe ra . R a io s c ó sm ic o s b o m b a rd e ia m c o n s ta n te m e n te a n o ssa a tm o s fe ra , p ro d u z in d o n ê u tro n s liv res, q u e , p o r sua v ez, b o m b a rd e ia m o n itro g ê n io , p r o d u z in d o u m is ó to p o d o c a rb o n o , o C a r b o n o 14, q u e é ra d io a tiv o . D e c e rta q u a n tid a d e d e á to m o s d e C l 4, a m e ta d e d ec ai, a le a to r ia m e n te , p a ra C 1 2 e m 5 7 3 0 a n o s, o u seja, a p ó s 5 7 3 0 só re s ta a in d a a m e ta d e d e C 1 4 d o o rig in a l. O C 1 4 e s tá u n if o r m e m e n te d is trib u íd o n a a tm o s fe ra . T o d o s os seres vivos m e ta b o liz a m o C 1 4 c o n tid o n o s seus a lim e n to s , n a c o n c e n tra ç ã o p ro p o rc io n a l a p ro x im a d a d e 1 0 -1 2 % d o C 1 2 n o ar, p o rq u e a m b o s tê m a m e s m a re a tiv id a d e e a fin id a d e q u ím ic a . Q u a n d o u m ser vivo m o rre , d eix a d e m e ta b o liz a r C 1 4 , q u e c o m e ç a a re d u z ir a sua c o n c e n tra ç ã o , p o r fo rç a d o d e c a im e n to ra d io a tiv o , n o s te c id o s m o rto s . M e d in d o - s e a p ro p o rç ã o e n tre o C 1 4 e o C 1 2 d e resto s m o rta is e c o m p a ra n d o -o s c o m as p ro p o rç õ es c o n tid a s n o s seres vivos p o d e - s e ca lc u la r a su a id ad e. D e v id o às c o n c e n tra ç õ e s e x tre m a m e n te p e q u e n a s d e C 1 4 n a a tm o s fe ra , c e rc a d e 1 ( u m ) C 1 4 p a r a c a d a t r i l h ã o d e á to m o s d e C 1 2 , é im p o s s ív e l m e d i r d a ta s a lé m d e 2 0 o u 3 0 m il a n o s . O s c r ia c io n is ta s q u e m a n t ê m q u e a t e r r a é m u i to jo v e m , n o e n t a n t o , n ã o a c e ita m d a ta s d e s ta g r a n d ez a. M a s, p o r quê? A ta x a d e fo rm a ç ã o d e C 1 4 é m u ito p e q u e n a e n e c e s s ita ria d e m ilh a re s d e a n o s p a ra q u e se e q u ilib re c o m a ta x a d e d e c a im e n to . S e essas tax as n ã o e stiv e ra m e m e q u ilíb rio p o r o ca siã o d a é p o c a d e v id a d o ser vivo a ser d a ta d o e, se p a r te

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

293

En c i c l o p é d i a

d e u m a c o n c e n tra ç ã o in ic ia l d e C 1 4 é m e n o r, e a id a d e a p u ra d a é m a io r d o q u e a real, n in g u é m c o n se g u e d e te r m in a r se a ta x a a tu a l d e fo rm a ç ã o é ig u a l à ta x a a tu a l d e d e c a im e n to . O u seja, n in g u é m c o n se g u e d e te r m in a r se essas d u a s g ra n d e zas e stã o e m e q u ilíb rio . P a ra m e d iç õ e s a té 3 0 0 0 a .C ., ex iste u m d e sv io n ã o m u ito sig n ific a tiv o , c o m p a ra d o c o m fo sséis de d a ta a rq u e o ló g ic a c o n h e c id a , m a s, a n te s d essa d a ta , n in g u é m sabe. O c a m p o m a g n é tic o d a te rr a m a n té m o c in tu rã o V an A lle n . E sse c in tu rã o é u m e sc u d o c o n tra a ra d ia ç ã o c ó sm ic a . Q u a n t o m a is fo rte o c a m p o e le tro m a g n é tic o d a te rra , m ais fo rte o e sc u d o V an A lle n . Q u a n to m a is fo rte o e sc u d o , m e n o r a ra d ia ç ã o c ó sm ica; e, q u a n to m e n o r a ra d ia ç ã o c ó sm ic a , m e n o r a ta x a d e fo rm a ç ã o d e C 1 4 . A c o n te c e , p o ré m , q u e o c a p o e le tro m a g n é tic o d a te rr a está e m fra n c o d e c a im e n to . H á a p e n a s d o is m il a n o s, p o r e x e m p io , ele tin h a trê s v ez es a su a in te n s id a d e d e h o je . S e, p o r e x e m p lo , d e v id o ao a c im a e x p o sto , a c o n c e n tra ç ã o d e C 1 4 n a a tm o s fe ra , h á 5 m il a n o s, tiv esse u m q u a r to d a c o n c e n tra ç ã o a tu a l, u m fó ssil fa le c id o n a q u e la d a ta fo rn e c e ría u m a id a d e a tu a l d e 5 7 3 0 x 2 + 5 0 0 0 = 1 6 4 6 0 an o s. E s s e e n g e n h o s o m é t o d o p a r e c e s e r r a z o a v e lm e n te c o n fiá v e l p a r a d a t a r o b je to s r e c e n te s , m a s d e v e - s e t e r c e r ta d e s c o n f ia n ç a a r e s p e ito d e d a ta s m u i to a n tig a s . E m u m a a m o s tr a a tu a l, h á u m t r i l h ã o d e á to m o s d e C 1 2 p a r a c a d a á to m o d e C 1 4 . E m u m a a m o s tr a m a is a n tig a , os v e s tíg io s d e C 1 4 s e rã o a in d a m a is r a r o s e e s ta p r o p o r ç ã o s e rá a in d a m a is d e s ig u a l, t o r n a n d o a d a ta ç ã o p o u c o c o n fiá v e l.

294

Es t u d o s

de

T eologia

VOLUME

2

P o r e s s e s e m a is m o tiv o s , f a la - s e , c i e n t i f i c a m e n te , e m a n o s o u id a d e r a d io c a r b o n o , q u e , o b r i g a t o r i a m e n t e , n ã o q u e r d iz e r , n e c e s s a r ia m e n te , a m e s m a c o is a q u e a n o s s o la re s . A m íd ia , m u ito s c ie n tis ta s e le ig o s in te r e s s a d o s , a lé m d e m u ito s liv ro s e s c o la r e s , n ã o s a b e m d i s t i n g u i r e n tr e os d o is .

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

295

C a p ít u l o 4

FATOS RELEVANTES SOBRE A ARQUEOLOGIA E A BÍBLIA

P esso as cé tica s q u a n to à B íb lia , m as q u e tin h a m u m c e tic ism o sad io , livre d e p re c o n c e ito s , p ô d e , d e a lg u m a fo rm a , ser a ju d a d a s p e la a rq u e o lo g ia . V ira m q u e n ã o a p e n a s as d e sc o b e rta s n ã o c o n tra d iz ia m a B íb lia , m as q u e ela m e s m a p o d e r ia ser u tiliz a d a c o m o u m g u ia p a ra d e sc o b e rta s. É in te re s s a n te c o n h e c e rm o s a lg u m a s d e c la ra ç õ e s d e e sp e c ia lista s so b re a rq u e o lo g ia e B íb lia . S ão h o m e n s e ru d ito s q u e re c o n h e c e ra m q u ã o fu n d a m e n ta d a s e stã o as E s c ritu ra s S a g ra d a s n e ssa área: F red e ric K en y o n diz: “P o rta n to , é le g ítim o a firm a r q u e, e m relação àq u ela p a rte d o A n tig o T e sta m e n to , c o n tra a q u a l d ire ta m e n te se v o lto u a crítica d e stru id o ra d a se g u n d a m e ta d e d o século d ezen o v e, as provas arqu eo ló g icas tê m restab elecid o a au to rid a d e do A n tig o T e sta m e n to , e m ais, tê m a u m e n ta d o o seu v alo r ao to rn á -lo m ais in teligível p o r m eio d e u m c o n h e c im e n to m ais co m p le to d e seu c o n te x to e am b ie n te . A arq u eo lo g ia ain d a n ão se p ro n u n c io u d e fin itiv a m e n te a respeito, m as os resu ltad o s já alcan çado s c o n firm a m aquilo q u e a fé sugere, q u e a B íb lia só te m a g a n h a r co m o a p ro fu n d a r d o c o n h e c im e n to ”.

En c i c l o p é d i a

N e ls o n G lu e c k , r e n o m a d o a rq u e ó lo g o ju d e u , escreveu: “P o d e -s e a firm a r c a te g o ric a m e n te q u e, até h o je, n e n h u m a d e s c o b e rta

a rq u e o ló g ic a c o n tra d isse

q u a lq u e r in fo rm a ç ã o

d a d a p e la B íb lia ”. E p ro sse g u e c o m e n ta n d o so b re a “in c rív el fid e lid a d e d a m e m ó ria h is tó ric a d a B íb lia , e s p e c ia lm e n te q u a n d o c o rro b o ra d a p elas d e sc o b e rta s a rq u e o ló g ic a s”. W illia m F. A lb rig h t, c o n h e c id o p o r su a re p u ta ç ã o c o m o u m d o s g ra n d e s a rq u e ó lo g o s, afirm a: “N ã o p o d e h a v e r d ú v id a a lg u m a d e q u e a a rq u e o lo g ia te m c o n firm a d o a h is to ric id a d e s u b s ta n c ia l d a tra d iç ã o d o A n tig o T e s ta m e n to ”. E a c re sc e n ta: “P ro g re s s iv a m e n te o e x a g e ra d o c e tic ism o q u a n to à B íb lia fo i se n d o d e sa c re d ita d o , p o r p a r te d e im p o r ta n te s siste m a s h istó ric o s, se n d o q u e alg u n s asp e cto s d e tais siste m a s a in d a se m a n ife s ta m p e r io d ic a m e n te . U m a d e s c o b e rta ap ó s a o u tr a te m c o n firm a d o a e x a tid ã o d e in c o n tá v e is d e ta lh e s e te m fe ito c o m q u e a B íb lia re c e b a u m re c o n h e c im e n to c a d a v ez m a io r c o m o f o n te h is tó ric a ”. Q u a n d o as escav açõ es c o m e ç a ra m n as te rra s b íb lic a s, o te x to d as E s c ritu ra s so fria to d a so rte d e a ta q u e . C id a d e s , n o m e s e e v e n to s e ra m classifica d o s c o m o le n d a s , se m q u a lq u e r V

co n e x ã o c o m a re a lid a d e . A m e d id a q u e c id a d e s, reis e p o v o s c ita d o s n a B íb lia ia m s e n d o d e s c o b e rto s , c e rto re sp e ito era a trib u íd o ao te x to sacro. H a v ia , in clu siv e, u m a frase irô n ic a , q u e d iz ia q u e “c a d a b u ra c o n o O r ie n te e n te rra v a u m a te u n o O c id e n te ”. A s aleg açõ es d a im p re c isã o d a n a rra tiv a b íb lic a n ã o tin h a m q u a lq u e r fu n d a m e n to . H á q u a s e d o is sé c u lo s, e s tu d io s o s a m e r ic a n o s , in g le s e s , fra n c e s e s e a le m ã e s v ê m f a z e n d o e sc a v a ç õ e s n o O r i e n te

298

E s t u d o s de t e o l o g i a

VOLUME 2

P ró x im o , n a M e s o p o tâ m ia , n a P a le s tin a e n o E g ito . A s g r a n d e s n a ç õ e s f u n d a r a m in s titu to s e e sc o la s e s p e c ia liz a d a s n e sse s tr a b a lh o s d e p e s q u is a . E m 1 8 6 9 , fo i c r ia d o o P a le s t i n e - E x p l o r a t i o n F u n d ; e m 1 8 9 2 , a E c o le B ib liq u e dos

D o m in ic a n o s , d e

S a in t-E tie n n e ;

s e g u in d o - s e , e m

1 8 9 8 , a D e u ts c h e O r ie n tg e s e lls c h a f t; e m 1 9 0 0 , a A m e r ic a n S c h o o l o f O r i e n t a l R e s e a rc h ; e, e m 1 9 0 1 , o D e u t s c h e r E v a n g e lis c h e r I n s t i t u í f ü r A lt e r t u m s k u n d e . N a P a le s tin a , fo ra m d e s c o b e rto s lu g a re s e c id a d e s, m u ita s v ez es, m e n c io n a d o s n a B íb lia . A p r e s e n ta m - s e e x a ta m e n te c o m o a B íb lia os d e sc rev e e n o lu g a r e x a to e m q u e e la os situ a . E m in sc riç õ e s e m o n u m e n to s a r q u ite tô n ic o s p r im itivos, os p e sq u is a d o re s e n c o n tr a m , c a d a v ez m a is, p e rs o n a g e n s d o A n tig o e d o N o v o T e s ta m e n to . R elev o s c o n te m p o râ n e o s m o s tra m im a g e n s d e p o v o s q u e só c o n h e c ía m o s p e lo n o m e . S eus tra ç o s fisio n ô m ic o s, seus tra je s e su as a rm a s a d q u ire m fo rm a p a ra a p o s te rid a d e . E s c u ltu ra s e im a g e n s g ig a n te s c a s m o s tr a m os h itita s d e g ro sso n a riz , os alto s e e sb e lto s filiste u s, os e le g a n te s p r ín cip es c a n a n e u s , c o m seus “c a rro s d e fe rro ”, tã o te m id o s p o r Isra e l, os p acífico s e s o rrid e n te s reis d e M a r i — c o n te m p o r â n eo s d e A b ra ã o . C o m o fiz e ra m c o m N ín iv e e N e m r o d — a a n tig a C a le ; c o m o fiz e ra m c o m A s s u r e T e b a s, q u e os p ro fe tas c h a m a v a m N o - A m o n , os p e sq u isa d o re s d e s p e rta ra m d o so n o d o p a ssa d o a fa m o s a B a b e l d a B íb lia , c o m su a to rre fa b u lo sa . O s a rq u e ó lo g o s e n c o n tr a ra m , n o d e lta d o N ilo , as c id a d e s d e P ito m e R a m sé s, o n d e Isra e l so fre u o d io s a esc rav id ão , d e s c o b rira m as c a m a d a s d e fo g o e d e s tru iç ã o q u e

Es t u d o s

de t e o l o g i a

299

En c i c l o p é d i a

a c o m p a n h a ra m a m a rc h a d o s filh o s d e Is ra e l n a c o n q u is ta d e C a n a ã e, e m G ib e ã o , a fo rta le z a d e S au l, so b re cu jo s m u ro s o jo v e m D a v i c a n to u p a ra ele ao so m d a h a rp a ; e m M e g id o d e s c o b rira m u m a ca v a la riç a g ig a n te s c a d o rei S a lo m ã o , q u e tin h a d o z e m il so ld a d o s a cavalo. D o m u n d o d o N o v o T e s ta m e n to , re ss u rg ira m as m a g n íficas c o n s tru ç õ e s d o rei H e r o d e s ; n o c o ra ç ã o d a a n tig a J e ru s a lé m , fo i d e s c o b e rta a p la ta fo r m a (lito s tro to s ), c ita d a p o r Jo ã o , o n d e J e s u s e ste v e d ia n te d e P ila to s ; os a ssirió lo g o s d e c ifra ra m e m tá b u a s a s tro n ô m ic a s d a B a b ilô n ia . A s so m b ro so s e in calcu láv eis p o r su a p ro fu sã o , esses d ad o s e d e sc o b e rta s m o d ific a ra m a m a n e ira d e c o n sid e ra r a B íb lia. E p is ó d io s q u e, até ag o ra, m u ito s c o n sid e ra v a m sim p les “h istó ria s p ie d o sa s”, a d q u ire m , d e re p e n te , e s ta tu ra h istó ric a . P o r vezes, os re su lta d o s d a p e sq u isa c o in c id e m c o m as n arrativ as b íb lic as n o s m ín im o s d e ta lh e s. E le s n ã o só “c o n firm a m ”, m as esclarecem ig u a lm e n te os a c o n te c im e n to s h istó ric o s re g istra d o s n as E sc ritu ra s. A s ex p e riên cias e o d e s tin o d o p o v o d e Isra e l são, assim , a p re se n ta d o s, n ã o só n u m c e n á rio vivo e v aria d o , n u m c o lo rid o p a in e l d a v id a d iá ria , m as, ta m b é m , nas c irc u n stâ n c ia s e lu tas p o lític a s, c u ltu ra is e e c o n ô m ic a s d o s E s ta d o s e im p é rio s d a M e s o p o tâ m ia e d o N ilo , d as q u ais n u n c a p u d e r a m lib e rta r-s e in te ira m e n te , d u ra n te m ais d e d o is m il an o s, os h a b ita n te s d e e stre ita reg ião in te rm é d ia d a P alestin a. N a o p in iã o g e ra l, a B íb lia é e x c lu siv a m e n te h is tó ria sa g ra d a , te s te m u n h o d e c re n ç a p a r a os c ristã o s d e to d o o m u n d o . N a v e rd a d e , ela é, ao m e s m o te m p o , u m liv ro d e ac o n te ( i-

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E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

V O L U M E

2

m e n to s reais. E le s são h is to r ic a m e n te g e n u ín o s e tê m - s e re v e la d o d e u m a e x a tid ã o v e r d a d e ira m e n te e sp a n to sa . P a ra c o m p re e n d e r c la ra m e n te a situ ação , d e v e m o s d is tin g u ir e n tre d o is tip o s d e c o n firm a ç ã o : a g e ra l e a esp ecífica. A c o n firm a ç ã o g eral é u m a q u e stã o d e c o m p a tib ilid a d e , sem q u e h a ja u m a c lara c o n firm a ç ã o d e p o n to s específicos. P o d e -se, ta m b é m , c o n sid e ra r, c o m o c o n firm a ç ã o g e ra l, b o a p a r te d o q u e já te m sid o d is c u tid o c o m o ex p licaç ão e ilu stração . O q u a d ro se en c aix a n a m o ld u ra e a m e lo d ia e o a c o m p a n h a m e n to são h a rm ô n ic o s . A fo rç a d esse tip o d e p ro v as é c u m u lativa. Q u a n to m ais d e sc o b rim o s q u e os d e ta lh e s d o q u a d ro h is tó ric o d e sc rito p e la B íb lia são c o m p a tív e is c o m a q u ilo q u e c o n h e c e m o s p e la a rq u e o lo g ia , e m b o ra e sta n ã o c o n firm e d ire ta m e n te aq u eles d e ta lh e s, m a io r é a im p re ssã o q u e te m o s d a a u te n tic id a d e g e ra l d a B íb lia. S im p le s le n d a s o u ficções in e v ita v e lm e n te se rev elariam p o r si m esm as d ev id o aos a n a c ro n ism o s e in c o n g ru ê n c ia s. É claro q u e a in d a e x iste m p ro b le m a s p a ra u m a c o m p le ta h a rm o n iz a ç ã o d o m a te ria l a rq u e o ló g ic o c o m a B íb lia , m as n e n h u m é tã o sério a p o n to d e a n u la r u m a p e rsp e c tiv a c o n e re ta d e so lu ção im in e n te m e d ia n te in v estig ação m ais p ro fu n d a . D e v e ser e x tre m a m e n te sig n ific a tiv o q u e , d ia n te d o g ra n d e v o lu m e d e p ro v a s c o rro b o ra d o ra s d a h is tó ria b íb lic a d esses p e río d o s , h o je n ã o ex ista u m ú n ic o a c h a d o a rq u e o ló g ico in q u e s tio n á v e l q u e c o m p ro v e q u e a B íb lia e stá e r ra d a e m a lg u m p o n to .

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

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VOLUME 2

G lossário Anacronismo. C o n fu s ã o d e d a ta s. A nim ism o. E a c re n ç a d e q u e “a lm a s” (n a v e rd a d e , e sp in to s ) , fa n ta s m a s e d e u se s v iv em n o s o b je to s, a n im a is o u fe n ô m e n o s d a n a tu re z a .

Antropologia. E o e s tu d o d o h o m e m , q u e p o d e re c e b e r u m e n fo q u e s in c rô n ic o o u d ia c rô n ic o . Sincronicamente: p ra ta d as s im ila rid a d e s e d ife re n ç a s e n tre as v a rie d a d e s b io ló g ic a s h u m a n a s , seu s c o s tu m e s , c u ltu ra s , lin g u a g e n s e c re n ç a s. D ia -

cronicamente : p re o c u p a -s e c o m a o rig e m e o d e s e n v o lv im e n to c u ltu ra l e te c n o ló g ic o n a c o rre n te d o te m p o . A r t e f a t o . Q u a lq u e r o b je to p ro d u z id o a rtific ia lm e n te .

Assimilação. O c o r re q u a n d o o g ru p o , c u ltu ra lm e n te d o m in a n te , in te g ra e fu n d e tra ç o s d e o u tra s c u ltu ra s , a n te rio re s e d is tin ta s d ele.

Associação. P rin c íp io , g e ra lm e n te , aceito , s e g u n d o o q u al, em u m lócu s n ã o p e rtu rb a d o , d e d u z -s e q u e os a rte fa to s e n c o n tra d o s, p ro v a v e lm e n te , e stav a m e m u so n o m e s m o p e río d o .

Basalto. U m a ro c h a íg n e a (v u lc â n ic a ), e sc u ra o u n e g ra . Camada. U m a u n id a d e d e m a te ria l q u e n ã o so fre so lu ç ã o d e c o n tin u id a d e (p o r ex e m p lo : u m a ro c h a , u m so lo esp ecífico o u a p a re d e d e u m a casa).

Cerâmica. A rte fa to s d e c e râ m ic a (arg ila co z id a ), in c lu in d o tijo lo s e vasos, estão e n tre os a c h a d o s m ais c o m u m e n te e n c o n tra d o s n a m a io r p a rte das escavações arq u eo ló g ic as (cf. vaso).

Diacronism o. U m a d e sc riç ã o o u a n á lise é d ia c rô n ic a q u a n d o e x a m in a os fa to s q u e d iz e m re s p e ito ao te m a e s tu -

Es t u d o s

de

T eologia

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E

n c i c l o p é d i a

d a d o , c o n s id e ra n d o as m o d ific a ç õ e s q u e ele so fre d u r a n te a p a s s a g e m d o te m p o (cf. sin c rô n ic o ).

Equinócio Vernal (ou Equinócio da Primavera Setentrional). O c o r re p o r v o lta d e 2 1 d e m a rç o , é p o c a e m q u e o so l e s tá n o m e s m o p la n o q u e a lin h a d o E q u a d o r, fa z e n d o c o m q u e o d ia e a n o ite te n h a a m e s m a d u ra ç ã o .

Escavação. E a re m o ç ã o s is te m á tic a d a m a tr iz c o m o o b je tiv o d e c o le ta r o u o b s e rv a r a rte fa to s e re g is tra r d a d o s.

Esteia. M o n u m e n to v e rtic a l e m fo rm a d e u m a laje d e p e d r a (o u m a d e ira ), c o m in sc riç õ e s, p in tu ra s o u relevos.

Estrato. E o c o n ju n to d e lo ci o u c a m a d a s e m q u e n ão o c o rre r u p tu r a c u ltu ra l. T a m b é m , é c h a m a d o stratum (o p lu ra l é strata)

Etnologia. E a a n á lise d as c u ltu ra s e d as v a ria ç õ e s c u ltu rais.

Fóssil. E o re s to o u v e stíg io d e u m se r m o r to c o m o re su lta d o d a fo ssiliz a ç ã o (as su b stâ n c ia s o rg â n ic a s são m in e ra liz a d as, is to é, s u b s titu íd a s p o r m in e ra is).

Inscrições. D iv e rsa s in sc riç õ e s e n c o n tr a d a s e m Isra e l estã o e m h e b ra ic o , a ra m a ic o , g re g o e la tim . A m a io r p a r te d o A n tig o T e s ta m e n to fo i e sc rita , o rig in a lm e n te , e m h e b ra ic o . O h e b ra ic o p e r te n c e ao g ru p o d o s id io m a s s e m ític o s , p o s s u in d o p a re n te s c o c o m d iv ersa s lín g u a s, ta is c o m o , o a c a d ia n o (e seu s d e riv a d o s, c o m o o b a b ilô n io ), o a ra m a ic o (in c lu in d o o d ia le to siría c o ), as lín g u a s fa la d a s em C a n a ã e n as v iz in h a n ç a s (c o m o o fe n íc io , o u g a rític o e o m o a b ita ) e o á rab e. O h e b ra ic o , a ssim c o m o os o u tro s id io m a s

30 4

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME 2

se m ític o s, se escrev e d a d ire ita p a ra a e sq u e rd a . A té o exílio b a b ilô n io , e sc re v ia -se c o m os c a ra c te re s p a le o - h e b ra ic o s (o u arcaico s), b a s ic a m e n te id ê n tic o s aos u sa d o s p e lo s fe n íc io s e c a n a n e u s . O c a le n d á rio d e G e z e r, a P e d ra M o a b ita , o sa rc ó fa g o d o re i E s h m u n a z o r I I , a in s c riç ã o d e S ilo é e o A r te f a to T e m p lo (e m f o rm a d e ro m ã ) são a m o s tra s d a e sc rita arcaica. A p ó s o exílio, os ju d e u s e m p re g a ra m o u tro tip o d e c a ra c te re s, h o je c h a m a d o s “q u a d r a d o s ”. N o p e r ío d o e m q u e o A n tig o T e s ta m e n to fo i e sc rito , a p e n a s as c o n s o a n te s e ra m g ra fa d a s. N o p e r ío d o m a s s o ré tic o (e n tre os sécu lo s 5° e 10° d .C .) fo i e la b o ra d o u m s is te m a d e re g istro d e v o g ais e a c e n to s, c h a m a d o “n o ta ç ã o d ia c rític a ”. O a ra m a ic o (ta m b é m c h a m a d o c a ld a ic o ) fo i u s a d o p elo s ju d e u s d e sd e o fim d o c a tiv e iro b a b ilô n ic o ( 5 8 7 -5 3 9 a .C .). E r a o id io m a n a c io n a l fa la d o n a re g iã o n o te m p o e m q u e Je su s estev e a q u i, n a te rra . O g re g o , p o r su a v ez , a lc a n ç o u o e s ta tu s d e lín g u a in te r n a c io n a l, p o r m e io d as c o n q u is ta s h e le n iz a n te s d e A le x a n d re , o G r a n d e . O N o v o T e s ta m e n to foi e sc rito e m g re g o , o q u e , e m m u ito , fa c ilito u su a d ifu sã o e n tre os d iv e rso s p o v o s. Q u a n to ao la tim , e ra a lín g u a d o I m p é r io R o m a n o , a p o tê n c ia e x p a n s io n is ta e s tra n g e ira q u e d o m in a v a a J u d e ia (a lé m d e m u ito s o u tro s p o v o s) d u r a n te o p e r ío d o d o m in is té r io te r re stre d e Je su s.

In situ. E a p o siç ã o e x a ta e m q u e os a rte fa to s fo ra m e n c o n tra d o s n o sítio.

Es t u d o s

de

t e o l o g ia

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E

n c i c l o p é d i a

Instrumentos. A n te s d a escav ação , ra d a re s o u so n a re s, m a g n e tô m e tro s c o m p u ta d o riz a d o s e so n d a s p e risc ó p ic a s de p ro fu n d id a d e . D u r a n te a escav ação e c o le ta , p ás, p ic a re ta s, e sp á tu la s, p in ç a s , escovas e p in c é is, in s tr u m e n to s o d o n to ló g ico s, en v e lo p e s p lá stic o s, tu b o s d e en sa io , p o te s d e v id ro , b a ld e s, ce sto s d e b o rra c h a , c a rrin h o s d e m ão , p e n e ira s , níveis e fitas m é tric a s , b lo c o s d e n o ta s e c o m p u ta d o re s , p a ra o re g is tro d e d a d o s.

M eia-vida. O s m a te ria is ra d io a tiv o s , in stá v e is, te n d e m a so fre r a lte ra ç õ e s a tô m ic a s c o m o p a ssa r d e lo n g o s p e río d o s d e te m p o q u e os tr a n s f o r m a m e m m a te ria is estáv eis. M e ia -v id a é a d u ra ç ã o d e te m p o e m q u e se p ro c e ssa a tr a n s f o r m a ção d e m e ta d e d a m a ssa o rig in a l.

M esopotâmia. U m a re g iã o d a Á s ia q u e se e s te n d e e n tre os rio s T ig r e e E u fra te s . I n c lu i as c id a d e s d e B a b ilô n ia , E r e q u e (U ru k ), M a r i, N u z i e N ín iv e (n a A s s íria ). A s p rim e ira s g ra n d e s civ ilizaçõ es p ó s -d ilu v ia n a s (S u m é ria e A c a d e ) se esta b e le c e ra m n a reg ião .

Ostracon (plural: ostraca). C a c o d e u m v aso o u lasca d e c a lc á rio o u d e c e râ m ic a u tiliz a d o p a ra a e sc rita . C o n s id e r a n d o -s e a e tim o lo g ia (a p a la v ra g re g a ostracon sig n ific a “ca co ”), q u a lq u e r e s c rito e m m a te ria l fr a g m e n ta d o p o d e se r c h a m a d o o s tra c o n .

Paleografia. M u ita s vezes, u m a c h a d o arq u eo ló g ico in clu i inscrições, q u e p o d e m e sta r p re se n te s e m u m d o c u m e n to m a n u sc rito e m p e rg a m in h o , p ap iro , o u o stra c o n , o u p o d e m estar reg istrad as e m vasos, láp id es e o u tro s arte fato s, o u até m e sm o

306

estudos

de t e o l o g i a

VOLUME

2

e m m o n u m e n to s e g ra n d e s co n stru ç õ es. A p aleo g rafia é o e stu do das escritas an tig as e u m d os ca m p o s d a ep ig rafia (o e stu d o das in scriçõ es e m geral). A ssim co m o os id io m a s são d in âm ico s (p o r exem plo, palavras an tes u tilizad as p a ra re p re se n ta r alg u m a coisa d eix am de ser e m p re g ad as d ep o is o u g a n h a m u m se n tid o d iferen te), a fo rm a d os caracteres e o u tro s d ad o s referen tes ao reg istro ta m b é m m u d a m c o m o p assar d o te m p o . Isso in clu i o m a te ria l d e escrita (p o r ex em p lo , e m c e rto m o m e n to , h av ia relativa a b u n d â n c ia d e p ap iro , m as, alg u m te m p o d ep o is, ele n ão estava m ais d isp o n ív el), a e n c a d e rn a ç ã o (e m c e rta época, os livros tin h a m a fo rm a d e rolo, m as, os m a n u sc rito s cristão s lo g o p a ssa ra m a ser e n c a d e rn a d o s c o m o códices, isto é, livros) e, p rin c ip a lm e n te , os caracteres e a fo rm a d e escrevê-los (c o m o o processo d e su b stitu içã o d a escrita u n c ia l [isto é, m aiú scu la] p ela cursiva). A análise d e ca d a u m desses d ad o s, c o n sid e ra n d o as m u d a n ç a s n a c o rre n te d o te m p o , p o d e , g e ra lm e n te , estab e le cer a ép o ca e, p o r vezes, o local e m q u e d e te rm in a d a in scrição foi reg istrad a.

Palimpsesto. M a n u s c r ito re g is tra d o e m m a te ria l d e e sc rita (g e ra lm e n te , p e r g a m in h o ) re u tiliz a d o . O s m a te ria is d e e sc rita , g e ra lm e n te , e ra m caro s e, m u ita s v ezes, in acessív eis (e sp e c ia lm e n te , os p e rg a m in h o s ). E v e n tu a lm e n te , q u a n d o su rg ia a n e c e ssid a d e d e se fa z e r u m re g istro , ra sp a v a -se , c u id a d o s a m e n te , u m p e r g a m in h o e ele e ra re e sc rito . T a lv e z , o p a lim p s e s to m ais fa m o so p a ra os e sp e c ia lista s b íb lic o s seja o ephraemi rescriptus (c ó d ic e u n c ia l “C ”), u m p e r g a m in h o d o sécu lo 5° q u e c o n tin h a o N o v o T e s ta m e n to , s e n d o re e s c ri-

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

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En c i c l o p é d i a

to p a ra re g is tra r os d isc u rso s d e E fr a im , d a S íria. O c rític o te x tu a l d o N o v o T e s ta m e n to , C o n s ta n tin v o n T is c h e n d o r f (1 8 1 5 -1 8 7 4 ) , fa m o s o p e la d e s c o b e rta d o m a n u s c r ito s in a ítico n o m o s te iro d e S a n ta C a ta r in a (n a b ase d o m o n te S in a i), fo i q u e m o d e c ifro u . H o je , os p a lim p s e s to s são d e c ifra d o s c o m o au x ílio d a fo to g ra fia c o m ilu m in a ç ã o u ltra v io le ta .

Registro arqueológico. E o c o n ju n to das c u ltu ra s m a te riais d o s d iv erso s p o v o s q u e se d is trib u e m so b re a te rra .

Topologia. E s tu d o d e u m lu g ar, c o n s id e ra n d o ta n to suas c a ra c te rístic a s físicas e n a tu ra is q u a n to os a c id e n te s a rtificiais, p ro d u z id o s p e la p re s e n ç a d o h o m e m .

Wadi. R io in te r m ite n te , o u a re g iã o d esse rio.

308

estudos

de

T eologia

VOLUME

2

Referências A N D R A D E , C la u d io n o r d e. Geografia bíblica. R io d e J a n e iro : C P A D , 1 9 9 8 . C U R R I D , J o h n D . Arqueologia nas terras bíblicas. São Paulo: C u ltu ra C ristã, 2003. C O L E M A N , W illia m L . M anual dos tempos e costumes bí-

blicos. M in a s G e ra is: B e tâ n ia , 1 9 9 1 . E N C IC L O P É D IA M I C R O S O F T E N C A R T A , 1996. H A L L E Y , H e n r y H a m p to n . M anual Bíblico de Halley. S ão P a u lo : V id a , 2 0 0 1 . J E N K I N S , S im o n .Atlas da Bíblia. S ão P a u lo : A b b a p re s s , 1998. J O S E F O , F láv io . História dos hebreus. 5 a ed . R io d e J a n e iro: C P A D , 2 0 0 1 . M E S Q U I T A , A n to n io N e v e s de. Povos e nações do mundo

antigo. 6 a ed. R io d e J a n e iro : J U E R P , 1 9 9 5 . M I L L A R D , A lla n . Descobertas dos tempos bíblicos. S ão P au lo : V id a , 19 9 9 . N A L B A N D I A N , G a r o e S A R A G O S A , A le s s a n d ra . A

terra santa. Itá lia : C a s a E d itr ic e B o n e c h i, 1 9 9 1 . P F E I F F E R , C h a rle s F ; V O S , H o w a r d F ; R E A J o h n . D i-

cionário Bíblico Wycliffe. R io d e J a n e iro : C P A D , 2 0 0 7 . R O A F , M ic h a e l. Mesopotâmia. B a rc e lo n a : F o lio , 2 0 0 6 . R O B E R T S O N , O . P a lm e r. Terra de Deus. S ão P a u lo : C u ltu r a C ris tã , 1 9 9 8 . R O P S , H e n r i D a n ie l. A vida diária nos tempos de Jesus. 3 a ed . S ão P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 8 .

E s t u d o s de T e o l o g i a

309

En c ic l o p é d i a

T O G N I N I , E n é a s . Geografia da terra santa, v o l 1. S ã o P a u lo : L o u v o r e s d o C o r a ç ã o , 1 9 8 7 . ___________ . Geografia das terras bíblicas, v o l 2 . S ã o P a u lo : L o u v o r e s d o C o r a ç ã o , 1 9 8 7 . T H O M P S O N , J o h n A . A Bíblia e a arqueologia. S ã o P a u lo : V i d a C r i s t ã , 2 0 0 7 . U N G E R , M e r r i l F. Arqueologia do Velho Testamento. S ã o P a u lo : B a t i s t a R e g u la r , 2 0 0 4 . K A I S E R , W a lt e r . Documentos do A n tig o Testamento. S ã o P a u lo : C u l t u r a C r i s t ã , 2 0 0 7 .

310

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

■»JBHM LHM r a w w n i

H e r m e n ê u t ic a b íb l ic a

VOLUME 2

INTRODUÇÃO



N ã o b a sta te r u m a B íblia. E n ecessário lê-la. N ã o b a s ta lê -la. É n ecessário e n te n d ê -la . E p o d e ria m o s c o n tin u a r d iz e n d o ___

A

q u e n ão b a sta e n te n d e r a B íb lia. E p reciso o b e d e c ê -la . M a s , g e ra lm e n te , n os d e p a ra m o s c o m tex to s d o q u a l n ã o c o m p re e n d e m o s o u te m o s u m a c o m p re e n sã o eq u iv o cad a. O d iálo g o e n tre o eu n u co , m o rd o m o d a ra in h a d os e tío p es, e F ilip e é u m ex em p lo m u ito significativo. V ejam os o te x to bíblico : “E n tã o , F ilip e c o rre u p a ra a c a rru a g e m , o u v iu o h o m e m le n d o o p ro fe ta Isaías e lh e p e r g u n to u : O s e n h o r e n te n d e 0 q u e e stá le n d o ? E le re sp o n d e u : C o m o p o sso e n te n d e r se

a lg u é m n ã o m e ex p licar? A s s im , c o n v id o u F ilip e p a ra s u b ir e s e n ta r-s e ao seu lad o . O e u n u c o e sta v a le n d o e sta p a s s a g e m d a E s c ritu ra : E le fo i lev ad o c o m o o v e lh a p a ra o m a ta d o u ro , e c o m o c o rd e iro m u d o d ia n te d o to s q u ia d o r, ele n ã o a b riu a su a b o ca . E m sua h u m ilh a ç ã o foi p riv a d o d e ju s tiç a . Q u e m p o d e fa la r d o s seus d e s c e n d e n te s ? P o is a su a v id a fo i tira d a d a te rra . O e u n u c o p e r g u n to u a F ilip e : D ig a - m e , p o r favor: de q u e m o p ro fe ta e stá fa la n d o ? D e si p ró p rio o u d e o u tro ? ” (A t 8 .3 0 -3 4 ). C o m o v e m o s a q u i, u m te x to p o d e a p re s e n ta r a lg u m a s d ific u ld a d e s e p re c is a re m o s d e au x ílio p a ra c o m p re e n d ê -lo . E s ta é u m a d as p a ssa g e n s m a is im p o r ta n te s d a s E s c ritu ra s ,

E s t u d o s de T e o l o g i a

313

En c i c l o p é d i a

p o is fa la d a m o r te d o M e s s ia s p e lo s n o sso s p e c a d o s. A m o rte d e C r is to n ã o fo i a p e n a s u m a to d e a m o r c o m o q u e re m a lg u n s , m a s u m “a to s u b s titu tiv o ”. O s in té rp re te s d o te m p o d os a p ó s to lo s id e n tific a v a m e ste serv o s o fre d o r d e (Is 5 3 ) c o m o p r ó p rio p o v o d e Isra e l. F ilip e , s e n d o u m salvo, tin h a fe rra m e n ta s su fic ie n te s p a r a in te r p r e ta r c o r r e ta m e n te o te x to . O e u n u c o v iu a n e c e s s id a d e d e a ju d a. S e q u ise rm o s tra n s m itir o e v a n g e lh o p a ra a lg u é m , te m o s a n ec e ssid a d e d e sa b e r ex p licar c e rtas p assag en s. C la ro q u e existe m p assag e n s difíceis q u e n e c e ssita m d e u m m a io r esforço p a ra e x tra ir seu sen tid o . O p ró p rio ap ó sto lo P e d ro escreveu, e m su a se g u n d a ep ísto la, acerca d e a lg u n s te x to s d e P a u lo e de o u tra s p a rte s das E sc ritu ra s: “E te n d e p o r salv ação a lo n g a n im id a d e d e n o sso S e n h o r ; c o m o ta m b é m o n o sso a m a d o irm ã o P a u lo v os e sc re v eu , s e g u n d o a s a b e d o ria q u e lh e fo i d a d a ; c o m o fa z ta m b é m e m to d a s as su as e p ísto la s, n e la s fa la n d o a c erca d e sta s co isas, n a s q u a is h á p o n to s d ifíceis d e e n te n d e r, q u e os in d o u to s e in c o n s ta n te s to rc e m , c o m o o fa z e m ta m b é m c o m as o u tra s E s c ritu ra s , p a r a su a p r ó p r ia p e rd iç ã o ” (3 .1 5 ,1 6 ). C o n tu d o , is to n ã o sig n ific a q u e as E s c r itu ra s se ja m u m liv ro in c o m p re e n s ív e l, d e s tin a d o a se r e n te n d id o a p e n a s p o r a lg u n s in ic ia d o s . Q u e m n ã o e n te n d e , p o r e x e m p lo , “n ã o m a ta rá s ”, “n ã o ro u b a rá s ”, “n ã o a d u lte ra rá s ”? Q u a lq u e r p e sso a te m p le n a c o n d iç ã o d e e n te n d e r essa p a ssa g e m . “A m a r á s o te u p ró x im o c o m o a ti m e s m o ”, n ã o é u m a ex p ressão q u e n ã o p o ssa se r c o m p re e n d id a . “N ã o m in ta is u n s aos o u tr o s ”.

314

Es t u d o s

de

T eologia

VO L UM h 2

T a m b é m é fa c ilm e n te in te lig ív e l. E ssa s são a p e n a s a m o s tra s d e q u e a m a io r p a r te d a B íb lic a é c o m p re e n sív e l p a ra o le ito r m é d io . C o m a lg u m a s p o u c a s re g ra s e m m ã o , p o d e m o s a m p lia r g r a n d e m e n te o n o sso c o n h e c im e n to d as E s c ritu ra s . D ia n te d a o rd e m p a ra m e d ita r n elas d ia e n o ite (S I 1 . 1 3 ‫ ) ־‬e d e e n s in a r a to d a s as n a ç õ e s ( M t 2 8 .1 9 ,2 0 ) será d e g ra n d e u tilid a d e c o n h e c e r as re g ra s d e h e r m e n ê u tic a , o u seja, a “a rte d e in te r p r e ta r te x to s ”. A h e r m e n ê u tic a b íb lic a te rá su as c a ra c te rís ticas p a rtic u la re s , u m a v e z q u e a B íb lia te m , e m a lg u n s caso s, u m a lin g u a g e m e u m c o n te x to sin g u la re s. E n te n d e r e e x p lic a r o q u e a B íb lia d iz é a n o ssa m issão .

E

s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

315

CAPÍTULO 1

ORIGEM DA HERMENÊUTICA

A p alav ra “h e rm e n ê u tic a ” é u m le g a d o d a lín g u a g re g a {her-

meneutike), e m p re s ta d o à n o ssa lín g u a d o la tim hermenêutica. E , h o d ie rn a m e n te , tid a c o m o u m a te o ria o u filosofia d a in te rp re ta ç ã o — c a p a z d e to r n a r c o m p re e n sív e l o o b je to d e e stu d o m ais d o q u e su a sim p les a p a rê n c ia o u su p erficialid ad e. O te r m o g re g o hermeios r e m e te - n o s ao d e u s H e r m e s , q u e , s e g u n d o a m ito lo g ia g re g a , fo i o d e s c o b rid o r d a lin g u a g e m e d a e sc rita . A s s im , H e r m e s e ra tid o c o m o a q u e le q u e d e s c o b riu o o b je to u tiliz a d o p e la c o m p re e n s ã o h u m a n a p a r a a lc a n ç a r o sig n ific a d o d as co isas e tr a n s m iti- lo às o u tra s p e s soas. E s s a d iv in d a d e g re g a e ra v in c u la d a a u m a fu n ç ã o d e tra n s m u ta ç ã o , o u seja, tra n s fo rm a v a a q u ilo q u e a c o m p re e n são h u m a n a n ã o alca n ç a v a e m alg o q u e e sta c o m p re e n s ã o c o n se g u isse c o m p re e n d e r. S e m se d e lo n g a r n a m ito lo g ia , o te rm o “h e r m e n ê u tic a ”, n o â m b ito te o ló g ic o , e stá lig ad o : a) A q u ilo q u e c o n c e rn e à in te rp re ta ç ã o ; b ) À q u ilo q u e se re la c io n a c o m a h a b ilid a d e d e in te r p r e ta ç ã o ; c) À s técn icas p a ra a h áb il explicação d o tex to , à n a tu re z a d o processo in terp re ta tiv o .

enciclopédia

D e to d o m o d o , se a a tiv id a d e o u o sim p le s a to d e c a p ta ç ã o d o s e n tid o é a in te rp re ta ç ã o , as re g ra s p e la s q u a is ela se o p e ra e o e n te n d im e n to d o s seus la b irin to s é a h e rm e n ê u tic a . A s sim se n d o , fica u m a p rim e ira p in tu r a p a rc ia l d o c o n c e ito de h e r m e n ê u tic a , q u e n ó s v e m o s c o m o a p e s q u is a o u o c o n h e c im e n to re fe re n te às e s tru tu ra s e ao f u n c io n a m e n to d a in te rp re ta ç ã o . E fácil v erificar, já n u m a v isão a n te c ip a tó ria , q u e se tr a ta d e c o n c e ito e m q u e a h e r m e n ê u tic a será fo c a liz a d a c o m o s e n d o u m s is te m a d e d ire triz e s v o lta d a s à o rie n ta ç ã o d a a tiv id a d e in te r p r e ta tiv a , a fim d e q u e e sta u ã o se d eix e le v a r d e ro ld ã o p e lo s e n tid o , d a d a a in e s g o ta b ilid a d e d e ste , q u e é c a p a z d e p ro v o c a r d esv io s n a fu n ç ã o so cial d a in te rp re ta ç ã o — p rin c íp io e ste ao q u a l o u to rg a m o s e sp e c ia l relevo. A h e r m e n ê u tic a , b e m c o m o a a tiv id a d e in te rp re ta tiv a p o r ela p e s q u is a d a , d e s v e n d a d a e o rie n ta d a , a p re s e n ta p ro fu n d a s v in c u la ç õ e s c o m a te o ria d o c o n h e c im e n to . A q u e la sem esta n ã o c o n s e g u irá s e q u e r u ltra p a s s a r os u m b ra is d o sab er, e s ta c io n a n d o a p e n a s n o p á tio d o s m e ro s p a lp ite s o u a p e n a s p re te n s io s a m e n te filo só fico s. O sa b e r h e r m e n ê u tic o é, p o r ta n to , u m sa b e r co m p le x o . O c u p a - s e d a e s tr u tu r a e d a o p e r a c io n a lid a d e d a in te r p r e ta ção, c o m o o b je tiv o d e o u to rg a r e s ta b ilid a d e à ú ltim a , e m b e n e fíc io d o s e fe ito s sociais d o s e n tid o , e m te rm o s d e ap licaç ão e c o n v e n iê n c ia .

318

Es t u d o s

de t e o l o g i a

Capítulo 2 DIFERENÇA ENTRE HERMENÊUTICA E EXEGESE

U m p o n to im p o r ta n te q u e m e re c e ser e sc la re c id o é q u e a h e r m e n ê u tic a te m u m a áre a d ife re n te d a exegese. E m b o r a n ã o p o ssa m o s n e g a r a in te rlig a ç ã o e n tre a ex eg ese e a h e r m e n ê u tic a , a m b a s tê m su a ra z ã o d e existir. A p a la v r a e x e g e se , d o g re g o eksegesis, te m c o m o s e n tid o : “e x p lic a r, i n te r p r e ta r , c o n ta r , d e sc re v e r, r e la ta r ”. D e a c o rd o c o m o c o n te x to , p o d e s e r u m a n a r r a tiv a , e x p lic a ç ã o o u in te r p r e ta ç ã o . A s s im s e n d o , é a c iê n c ia d a in te r p r e ta ç ã o . E x e g e se c a rre g a a n o ç ã o s e m â n tic a d e “a p a r tir d e d e n tr o ”. A s s im se n d o , o te rm o é u s a d o p a ra “tr a z e r p a r a fo ra a m e n sa g e m q u e e stá o c u lta ”, “d o b ra d a ”. M a s , n ã o se tr a ta d e u m a ex p licaç ão q u a lq u e r, c o m o u m a le itu ra r á p id a d e u m te x to e su a c o n s e q u e n te in te rp re ta ç ã o a p a r tir d e id é ia s p re c o n c e b ídas e, m u ita s v ezes, in te re sse ira s. A ex eg ese p re s s u p õ e u m a in te rp re ta ç ã o c rític a , ju s tific a d a p o r d iv erso s fa to re s, c o m o o lex ical (d a lín g u a o rig in a l), o g ra m a tic a l, o g e o g rá fic o , o h is tó ric o , o c u ltu ra l e o te o ló g ic o . D iz - s e q u e a h e r m e n ê u tic a e a ex eg ese se re la c io n a m d a m e s m a fo rm a q u e a te o ria se re la c io n a c o m a p rá tic a . N e sse

ENCI CLOPÉ DIA

s e n tid o , esc rev eu E s d ra s B e n th o : “T e o lo g ic a m e n te , a exegese é o c a p ítu lo d a te o lo g ia q u e e s tu d a a in te rp re ta ç ã o , u tiliz a n d o -s e d e m o d o s fo rm a is d e ex p licação , q u e p o d e m ser a p lic a d o s a a lg u m a s p a ssa g e n s d a s E s c ritu ra s , a fim d e c o m p re e n d e r o seu s e n tid o ”.39 D e p o is d o q u e a c a b a m o s d e c o n c lu ir, n ã o n o s re sta d ú v id a d e q u e a h e r m e n ê u tic a é u m a c iê n c ia e u m a a rte d e in te rp re ta ç ã o . P a ra e x p lic a r p o rq u e e s ta d is c ip lin a é u m a c iê n c ia , v a m o s u tiliz a r as p alav ras d e V irk le r: “C o n s id e ra - s e a h e r m e n ê u tic a c o m o a c iê n c ia p o rq u e ela te m n o rm a s , o u re g ra s, e essas p o d e m se r classifica d as n u m s is te m a o rd e n a d o . E c o n s id e ra d a c o m o a rte p o rq u e a c o m u n ic a ç ã o é flexível e, p o r ta n to , u m a a p lic a ç ã o m e c â n ic a e ríg id a d as re g ra s, às v ezes, d is to rc e rá o v e rd a d e iro s e n tid o d e u m a c o m u n ic a ç ã o ”.40 P a ra se r u m b o m in té r p r e te , o b r ig a to r ia m e n te te m q u e sab e r m a n u s e a r as re g ra s d a h e r m e n ê u tic a e, ta m b é m , a a rte d e a p lic á -la s.

Divisão da hermenêutica H á d o is tip o s p rin c ip a is d e h e r m e n ê u tic a b íb lic a : a h e r m e n ê u tic a g e ra l e a h e r m e n ê u tic a esp ecial. A h e r m e n ê u tic a g e ra l c u id a d o e s tu d o d as re g ra s q u e re g e m o e s tu d o d o te x to in te iro , in c lu in d o e le m e n to s h is tó ric o e c u ltu ra l, léx ico e s in tá tic o , c o n te x tu a l e te o ló g ic o , s e n d o a p lic a d a a q u a lq u e r o b ra esc rita . J á a h e r m e n ê u tic a esp e cial, e s tu d a as re g ra s q u e se a p lic a m s o m e n te às fo rm a s d istin tiv a s d e lite ra tu ra , c o m o as p a rá b o la s , as aleg o ria s, os tip o s e as p ro fe c ia s.

320

E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME

2

Capítulo 3 HISTÓRICO DA HERMENÊUTICA CRISTÃ

C o m o e m d iv erso s p o n to s d a te o lo g ia , p o d e m o s d e fin ir a h is tó ria d a h e r m e n ê u tic a a p a r tir d e d u a s esco las p rin c ip a is: A n tio q u ia e A le x a n d ria . A p rim e ira , lo c a liz a d a n a Á s ia M e n o r e m ais p ró x im a d a te rra d e Isra e l, se m p re te n d e u a se g u ir os p rin c íp io s h is tó ric o s e a a p e g a r-s e à h e r a n ç a d o ju d a ís m o . A s e g u n d a , te n d o se to r n a d o u m g ra n d e c e n tro d o sa b e r filo sófico g re g o , te n d ia a fa z e r d e ste , a su a b a se d e in te rp re ta ç ã o e e stu d o . A h e r m e n ê u tic a d e A n tio q u ia e ra m a is lite ra l e m su a in te rp re ta ç ã o , p o is, d e sd e E s d ra s , os ju d e u s a d o ta v a m ta l m é to do. N a v e rd a d e , os ju d e u s o b se rv a v a m u m lite ra lis m o e x tre m a d o q u e g e ro u d iv erso s v ício s d e in te rp re ta ç ã o . J e rô n im o , o c o m p ila d o r d a tra d u ç ã o la tin a d a B íb lia c o n h e c id a c o m o V u lg a ta , c o m p a ra o m é to d o lite ra l ao ju d a ic o . A lg u é m j á d is se, p o ré m , q u e o g ra n d e d e fe ito d a in te r p r e ta ç ã o ra b ín ic a d as E s c ritu ra s n ã o estav a ta n to n o m é to d o u tiliz a d o , m as n a sua ap licação . A o u tra e sc o la d e in te rp re ta ç ã o q u e se d e se n v o lv e u em A le x a n d ria (E g ito ) a d o to u u m s is te m a d e in te rp re ta ç ã o a le ­

Es t u d o s

de t e o l o g i a

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E

n c i c l o p é d i a

g ó ric a . E sse s is te m a c o m e ç o u c o m F ilo , u m ju d e u q u e te n ta v a c o n c ilia r a c u ltu ra g re g a c o m a lei m o sa ic a . E le in sistia e m q u e e ra p o ssív el e n c o n tr a r e m M o is é s os p rin c íp io s e n s in a d o s p e lo s filó so fo s g re g o s. F ilo tin h a u m a fo rm a ç ã o ju d a ic a e e ra le a l às in s titu iç õ e s e aos c o s tu m e s d e seu povo. E r a u m e s tu d io s o d as E s c r itu ra s d o A n tig o T e s ta m e n to tra d u z id a s p a ra o g re g o (a S e p tu a g in ta ). T i n h a , ta m b é m , u m a fo rm a ç ã o filo só fica, e s p e c ia lm e n te n o p la to n is m o . M o is é s e P la tã o e ra m os d o is h e ró is d e F ilo , q u e d e d ic o u sua v id a a re c o n c ilia r o e n sin o d e M o isé s nas E sc ritu ra s c o m as id éias de P la tã o . O m é to d o q u e ele e m p re g o u p a ra isso foi a alegorese. E sse te rm o v e m d a p alav ra g re g a alegoria, q u e significa: “d iz e r u m a coisa e m te rm o s d e o u tra ”. F ilo escrev eu diversas o b ras e c o m e n tá rio s so b re a lei d e M o isé s in te rp re ta n d o as E sc ritu ra s a le g o ric a m e n te , e m te rm o s d as id éias e d as v irtu d e s. E n tã o , ele a d o to u u m siste m a q u e , ao invés d e a c e ita r lite ra lm e n te as d ec laraçõ es d e M o is é s e d o s p ro fe ta s, e ra fe ita u m a in te rp re ta ção te n ta n d o e x tra ir o se n tid o aleg ó rico d o tex to . E sse m é to d o fo i a m p la m e n te ac eito p o r O ríg e n e s , u m d o s g ra n d e s m estres cristão s d o te rc e iro e q u a rto séculos. P o r in te rm é d io dele, o m é to d o seria in tro d u z id o n a Id a d e M é d ia . A escola d ese n v o lv id a e m A n tio q u ia a d o ta v a u m m é to d o m ais lite ra l d e in te rp re ta ç ã o , fu g in d o d a a leg o riz ação e x tre m a q u e, m u ita s v ezes, e ra a d o ta d a e m A le x a n d ria . P ro c u ra v a e n te n d e r o te x to d e n tro d e seu c o n te x to h istó ric o e p re n d ia -s e ao seu se n tid o g ra m a tic a l. E n tr e os g ra n d e s n o m e s d essa escola, p o d e m o s c ita r T e o d o ro d e M o p s u é s tia e J o ã o C risó sto m o .

322

Es t u d o s

de

T eologia

V O L U M E

2

P o r to d a a Id a d e M é d ia , p re v a le c e u o m é to d o aleg ó ric o . C o n s id e ra v a -s e o s e n tid o lite ra l u m m e ro v eícu lo q u e p o r tav a u m s e n tid o c h a m a d o d e “e s p iritu a l” q u e n a d a m a is era d o q u e a trib u ir ao s e n tid o d ire to u m s e n tid o m ístic o , o c u lto , g e r a lm e n te só c o m p re e n sív e l p e la Ig re ja , ú n ic a d e te n to r a d a in te rp re ta ç ã o c o rre ta .

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

323

Capítulo 4

A POSSIBILIDADE DE COMPREEDERMOS AS ESCRITURAS

U m d o s m a is d ifíceis e fe c u n d o s c a m p o s d a in q u ie ta ç ã o filo só fica é a lin g u a g e m . A p re o c u p a ç ã o d o s p e n s a d o re s e m e n te n d e r a n a tu re z a e e lu c id a r a su a o rig e m r e m o n ta ao s in s ta n te s p rim e iro s d o filosofar. A a m p litu d e d as in d a g a ç õ e s q u e su sc ita , a ssim c o m o a im p o r tâ n c ia e m c o n h e c e r os m e a n d ro s d o seu d e s e n v o lv im e n to e d o s seu s m is té rio s a p r e s e n ta m -se ta m a n h o s q u e , n ã o o b s ta n te a a n c e s tra lid a d e d o e sfo rç o d e s p e n d id o p e lo s p e s q u is a d o re s , os e s tu d o s v o lta d o s ao seu d e s v e n d a m e n to c o n tin u a m a n im a d o s e a fa n o so s, te n d o sid o p a r tic u la r m e n te in te re s s a n te s a in d a n e s te séc u lo , q u a n d o in ú m e ra s p e rsp e c tiv a s n o v as fo ra m v is lu m b ra d a s . D e q u a lq u e r fo rm a , as v á ria s c o rre n te s , e m re g ra , fa la m d e lin g u a g e m n a a c e p ç ã o d e u m a a tiv id a d e h u m a n a u n iv e rsa l, e m q u e se u tiliz a u m s is te m a d e sin ais c o o rd e n a d o s e n tre si c o m b ase s e m d e te r m in a d a s re g ra s q u e se p re s s u p õ e m a c e itas, g e ra lm e n te . D e s s e m o d o , e n te n d e - s e a lin g u a g e m c o m o se n d o o u so d e sin ais q u e p o s s ib ilita m a c o m u n ic a ç ã o , is to é, o c o n ju n to d e sin ais in te rsu b je tiv o s. F o i p o r m e io d a lin g u a g e m q u e s u rg iu u m lia m e e n tre

E N C IC LΟ Γ É D IΛ

D e u s e o h o m e m . A lin g u a g e m fo i o c a n a l d e in te rm e d ia ç ã o e n tr e o m u n d o e s p iritu a l e o m u n d o m a te ria l. A B íb lia S ag ra d a é o re g is tro d e ssa c o m u n ic a ç ã o e n tre D e u s e o h o m e m , q u e fo ra m p re se rv a d o s d e fo rm a m ira c u lo sa . A s E s c ritu ra s são u m liv ro a b e rto , o u seja, q u a lq u e r p e sso a p o d e lê -la p a ra a d q u irir c o n h e c im e n to su fic ie n te q u e c o n d u z à v id a e te rn a . N u m a sim p le s le itu ra d as E s c ritu ra s , q u a lq u e r le ito r o b se rv a rá q u e ela n ã o é u m liv ro h e rm é tic o , c o m sig n ific a d o s o c u lto s, d e s tin a d o a p e n a s p a ra os in ic ia d o s. Q u a lq u e r p e sso a p o d e e x tra ir d e la o c o n h e c im e n to ex a to d a rev elação d e D e u s aos h o m e n s , b e m c o m o d e se n v o lv e r su a v id a c o m D e u s. E im p o r ta n te frisa r q u e n ã o e s ta m o s a q u i fa la n d o q u e to d as as p e sso a s são c a p a z e s d e le r as E s c r itu ra s e f o rm a r u m a te o lo g ia s is te m á tic a . O q u e q u e re m o s d iz e r é q u e , n a q u ilo q u e é n e c e ssá rio p a r a c o n h e c im e n to d a salv ação , a B íb lia se fa z e n te n d e r a q u a lq u e r q u e a ssim e stiv e r d isp o sto . D e u s d e ix o u p a r a h u m a n id a d e u m re g is tro e s c rito d e su a rev elação , ju s ta m e n te c o m e ste in tu ito .

326

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

Capítulo 5 REGRAS FUNDAMENTAIS PARA INTERPRETAR AS ESCRITURAS

E x is te m m u ita s lista s d e re g ra s p a ra a in te rp re ta ç ã o d o s te x to s b íb lic o s. A lg u m a s são m a is e x te n sa s e o u tra s , m ais c u rta s. U m a s se c o n c e n tra m e m c e rto s a sp e c to s esp ecífico s; o u tra s p ro c u ra m u m a s p e c to g e ra l. A in d a h á a q u e la s q u e se d e s tin a m ao te ó lo g o p ro fissio n a l q u e fa rá su a in v e stig a ç ã o n as lín g u a s o rig in a is. O u tr o s , p o r su a v ez, v ão p re s s u p o r o e s tu d o fe ito p o r u m leig o . T o d a s essas lista s tê m g ra n d e u tilid a d e e, m e s m o q u e p o s s a m p a re c e r re p e titiv a s , c o n tê m p r in c íp io s d e g ra n d e v alia p a ra o ex ercício h e rm e n ê u tic o . E ssa s re g ras são b a s ta n te sim p le s e, ao m e s m o te m p o , d e e n o rm e im p o rtâ n c ia . P a ra o n o sso e s tu d o , lis ta m o s a lg u m a s re g ra s q u e d e v e m ser se g u id a s p o r aq u e le s q u e b u s c a m u m b o m e n te n d im e n to b íb lic o : •

A E s c r itu ra in te r p r e ta a E s c ritu ra ;



O s te x to s d e v e m g u a rd a r o seu s e n tid o lite ra l, le v a n d o -se em c o n ta as fig u ras d e lin g u a g e m e o u tro s re c u rso s lite rá rio s;

‫׳‬

O te x to deve se m p re ser e n te n d id o d e n tr o d o seu c o n te x to im e d ia to , g e ra l e h istó ric o .

E

n c i c l o p é d i a

A Escritura interpreta a Escritura A

E n e c e ssá rio c o n s u lta r as p a ssa g e n s p a ra le la s, “e x p lic a n d o co u sas e sp iritu a is p e la s e s p iritu a is ” ( l C o 2 :1 3 — o rig in a l). C o m p a ssa g e n s p a ra le la s, e n te n d e m o s , a q u i, as q u e fa z e m re fe rê n c ia u m a à o u tra , q u e te n h a m e n tre si a lg u m a relação , o u tr a te m , d e u m m o d o o u d e o u tro , d e u m m e s m o a ssu n to . N ã o só é p re c iso a p e la r p a ra ta is p a ra le lo s, a fim d e a c la ra r d e te r m in a d a s p a ssa g e n s o b sc u ra s, m as, ta m b é m , tr a ta r d e a d q u ir ir c o n h e c im e n to s b íb lic o s e x a to s q u a n to às d o u trin a s e às p rá tic a s c ristã s. P o rq u e , c o m o j á d isse m o s, u m a d o u tr in a q u e p r e te n d e ser b íb lic a n ã o p o d e ser c o n s id e ra d a , n o to d o , c o m o ta l se m re s u m ir e ex p ressar, c o m fid e lid a d e , tu d o o q u e e sta b e le c e e e x c e tu a a B íb lia e m suas d ife re n te s p a rte s em re la ç ã o ao p a rtic u la r. S e e s ta n o rm a , d e fa to , fo sse o b s e rv a d a , n ã o se p r o p a g a ria m h o je ta n to s e rro s c o m a p re te n s ã o d e se re m d o u tr in a s b íb lic a s. N e s te e s tu d o im p o r ta n te , c o n v é m o b s e rv a r q u e h á p a ra le lo s d e p a la v ra s, p a ra le lo s d e id éias e p a ra le lo s d e e n s in o s g erais. V ejam o s c a d a u m d eles.

P aralelos d e p a la v r a s Q u a n to a esses p a ra le lo s, q u a n d o o c o n ju n to d a frase o u o c o n te x to n ã o b a s ta p a ra e x p lic a r u m a p a la v ra d u v id o sa, p ro c u ra -s e , às v ezes, a d q u irir seu v e rd a d e iro sig n ific a d o c o n s u lta n d o o u tro s te x to s e m q u e ela o c o rre ; e, o u tra s v ezes, tr a ta n d o - s e d e n o m e s p ró p rio s , a p e la -se p a ra o m e s m o p r o c e d im e n to , a fim d e fa z e r re ssa lta r fa to s e v e rd a d e s q u e, de

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E

s t u d o s

d e

t e o l o g i a

VOLUME

2

o u tro m o d o , p e rd e ría m su a im p o r tâ n c ia e sig n ific a d o .

Exemplo 1. E m G á la ta s 6 .1 7 , d iz P a u lo : “T ra g o n o c o rp o as m a rc a s d e J e s u s ”. Q u e m a rc a s e ra m essas? N e m o c o n ju n to d a frase, n e m o c o n te x to ex p lic a m . Ire m o s , p o is, às p a ssa g e n s p a ra le la s. E m 2 C o r ín tio s 4 .1 0 , e n c o n tr a m o s , e m p rim e iro lu g ar, q u e P a u lo u sa a ex p ressão “le v a n d o se m p re n o c o rp o o m o rre r d e J e s u s ”, fa la n d o d a c ru e l p e rse g u iç ã o q u e , c o n tin u a m e n te , C r is to p a d e c ia , o q u e n o s in d ic a q u e essas m a rc a s se re la c io n a m c o m a p e rse g u iç ã o q u e so fria. T o d a v ia , a in d a m ais lu z a lc a n ç a m o s m e d ia n te o te x to d e 2 C o r ín tio s 1 1 .2 3 , 2 5 , o n d e o a p ó sto lo a firm a q u e foi a ç o ita d o c in c o v ez es (c o m g o lp e s de co u ro ) e trê s v ezes c o m v aras; su p líc io s tã o c ru éis q u e, se n ã o d e ix a v a m o p a c ie n te m o rto , c a u sa v a m m a rc a s n o c o rp o q u e d u ra v a m p o r to d a a v id a. C o n s u lta n d o , a ssim , os p a ra le lo s, a p r e n d e m o s q u e as m a rc a s q u e P a u lo tra z ia n o c o rp o n ã o e ra m ch a g a s o u sin ais d a c ru z m ila g ro s a o u a rtific ia lm e n te p ro d u z id o s , c o m o a lg u n s p r e te n d e m , p o ré m , m a rc a s o u sin ais d o s su p lício s so frid o s p e lo e v a n g e lh o d e C ris to .

Exemplo 2. N a c a rta aos G á la ta s 3 .2 7 , d iz o a p ó s to lo d o s b a tiz a d o s: “D e C ris to vos re v e s tis te s ”. E m q u e c o n siste e s ta r re v e stid o d e C ris to ? P elas p a ssa g e n s p a ra le la s e m R o m a n o s 1 3 .1 3 ,1 4 e C o lo c e n s s e s 3 .1 2 ,1 4 , tu d o se esc larece. O e s ta r re v e stid o d e C ris to , p o r u m la d o , c o n s is te e m te r d e ix a d o as p rá tic a s c a rn a is, c o m o lu x ú ria , d isso lu ç õ e s, c o n te n d a s e ciú m e s; e, p o r o u tro , c o n siste e m h a v e r a d o ta d o , c o m o v e stid o d e c o ro so , a p rá tic a d e u m a v id a n o v a, c o m o m is e ric ó rd ia , b e n ig n id a d e , h u m ild a d e , m a n s id ã o , to le râ n c ia e, s o b re tu d o ,

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

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E

n c i c l o p é d i a

am o r, cu jos ato s os c ristã o s p rim itiv o s sim b o liz a v a m n o seu b a tis m o , d e ix a n d o -s e s e p u lta r e le v a n ta r e m sin a l d e h a v e re m m o rrid o p a ra essas p rá tic a s m u n d a n a s e d e h a v e re m re ssu sc ita d o e m n o v id a d e d e v id a , c o m suas c o rre s p o n d e n te s p rá tic a s n ovas. A s s im é q u e , c o n s u lta n d o os p a ra le lo s, a p r e n d e m o s q u e o e s ta r re v e stid o d e C r is to n ã o c o n siste e m h a v e r a d o ta d o ta l o u q u a l tú n ic a o u v e stid o “s a g ra d o ”, m as e m a d o rn o s e sp iritu a is o u m o ra is, p ró p rio s d o c ris tia n is m o sim p le s, sa n to e p u ro ( l P e 3 .3 -6 ).

Exemplo 3. S e g u n d o A to s 1 3 .2 2 , D a v i fo i u m “h o m e m s e g u n d o o c o ra ç ã o d e D e u s ”. Q u e r e r á a E s c r itu r a c o m e sta e x p re ssã o a p r e s e n ta r - n o s a D a v i c o m o m o d e lo d e p e r f e ição ? N ã o , p o r q u e n ã o a p a g a su as m u ita s e g ra v e s fa lta s, n e m seus c o r r e s p o n d e n te s c a s tig o s . C o m o e e m q u e s e n tid o , p o is, D a v i fo i h o m e m c o n f o r m e o c o ra ç ã o d e D e u s ? B u s q u e m o s os p a ra le lo s . E m l S a m u e l 2 .3 5 , d isse D e u s : “ S u s c ita re i p a r a m im u m s a c e rd o te fiel, q u e p ro c e d e r á s e g u n d o o q u e te n h o n o c o ra ç ã o ”, to m a n d o to d a a p a s s a g e m e m c o n s id e ra ç ã o , q u e D a v i, e s p e c ia lm e n te e m su a q u a lid a d e d e s a c e rd o te -r e i, p r o c e d e r ía s e g u n d o o c o ra ç ã o o u a v o n ta d e d e D e u s . E s ta id e ia se e n c o n tr a p le n a m e n te c o n f ir m a d a n a p a s s a g e m p a ra le la d o c a p ítu lo 13, v e rso 14, o n d e , ta m b é m , v e rific a m o s q u e e ra e m v is ta d o re b e ld e S a u l, e c o n tr á r io à su a m á c o n d u ta c o m o re i, q u e D a v i s e ria h o m e m s e g u n d o o c o ra ç ã o de D eus. E m b o r a D a v i, c o m o sa b e m o s p o r su a h is tó ria e seus salm o s, tiv esse sid o u m h o m e m p ie d o s o e, e m m u ito s caso s,

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E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

V O LU Μ E 2

d ig n o d e im ita ç ã o , c o n tu d o , n ã o n o s a u to riz a m , d e m o d o n e n h u m , os p a ra le lo s d e n o ssa p a ssa g e m c o n s id e rá -lo m o d e lo d e p e rfe iç ã o , se n d o seu sig n ific a d o p rim itiv o , c o m o te m o s v isto , q u e D a v i, e m su a q u a lid a d e o ficial, o c o n trá rio d o re b e ld e rei S au l, seria h o m e m q u e p ro c e d e ría s e g u n d o o c o ra ção o u a v o n ta d e d e D e u s .

Exemplo 4. U m ex e m p lo d a u tilid a d e d e c o n s u lta r os p a ra lelos e m relação aos n o m e s p ró p rio s e n c o n tra m o s n o re la to d e B alaão, em N ú m e ro s 2 2 a 2 4 , d e ix a n d o -n o s e m d ú v id a q u a n to à sua p esso a e ao seu v e rd a d e iro caráter. F o i ele re a lm e n te p ro feta? E , em tal caso, q u a l foi a cau sa d e su a q u e d a ? C o n s u lta n d o os p aralelo s d o N o v o T e s ta m e n to , v erific am o s, p o r 2 P e d ro 2 .1 5 ,1 6 e Ju d a s 11, q u e ele fo i u m p re te n s o p ro fe ta q u e atu av a levado p ela p aix ão d a cobiça. E , e m A p o c a lip se 2 .1 4 , q u e , p o r suas in stig a çõ es, B alaq u e fez os israelitas c a íre m e m p e c a d o tão g ra n d e q u e lh es cu sto u a d e s tm iç ã o d e 2 3 m il pessoas.

Exemplo 5. C o n v é m o b se rv a r, ta m b é m , q u e , p o r e ste e s tu d o d e p a ra le lo s, se a c la ra m a p a re n te s c o n tra d iç õ e s . S e g u n d o 1 C rô n ic a s 2 1 .1 1 , p o r e x e m p lo , G a d e o fe re c e a D a v i, d a p a r te d e D e u s , o c a stig o d e três a n o s d e fo m e . E , d e a c o rd o c o m 2 S a m u e l 2 4 .1 3 , G a d e lh e p e r g u n ta se q u e r se te a n o s d e fo m e . C o m o p ô d e p e r g u n ta r - lh e se q u e ria se te e, ao m e s m o te m p o , lh e o fe rece três? S im p le s m e n te p o rq u e , p e lo p a ra le lo d e 2 S a m u e l 2 1 .1 , n a p e r g u n ta d e G a d e , c o m p re e n d e m o s q u e lev a e m c o n s id e ra ç ã o os trê s an o s d e fo m e j á p a s s a d o s , c o m os q u e e stã o p a ssa n d o , e n q u a n to n o o fe re c im e n to d o s trê s a n o s só se re fe re ao p o rv ir.

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s t u d o s

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n c i c l o p é d i a

Exemplo 6. A o c o n s u lta r-s e este tip o d e p a ra le lo s, c o n v é m p ro c e d e r c o m o segue: p rim e iro , b u s c a r o p a ra le lo , o u seja, a a c la ra ç ã o d a p a la v ra o b s c u ra n o m e s m o liv ro o u a u to r em q u e se e n c o n tr a , d e p o is , n o s d e m a is d a m e s m a é p o c a , e, fin a lm e n te , e m q u a lq u e r liv ro d a E s c r itu ra . Is to é n e c e ssá rio p o rq u e , às v ezes, v a ria o s e n tid o d e u m a p a la v ra , c o n fo rm e o a u to r q u e a u sa, s e g u n d o a é p o c a e m q u e se e m p re g a , e, a in d a , c o m o já te m o s d ito , s e g u n d o o te x to e m q u e o c o rre n o m e s m o livro. U m e x e m p lo d e c o m o d ife re n te s a u to re s e m p re g a m u m a m e s m a p a la v ra e m s e n tid o d ife re n te , e n c o n tr a m o s n as c a rta s d e P a u lo e T ia g o . A p a la v ra “o b ra s ”, q u a n d o o c o rre só, nas c a rta s aos R o m a n o s e aos G á la ta s , sig n ifica “o o p o s to à f é ”. A sab er: as p rá tic a s d a lei a n tig a c o m o f u n d a m e n to p a r a a salvação. N a c a rta d e T ia g o se u sa a m e s m a p a la v ra , se m p re n o s e n tid o d a o b e d iê n c ia e s a n tid a d e q u e a v e rd a d e ira fé e m C r is to p ro d u z . N e s te caso, e e m caso s p a re c id o s , n ã o se a c la ra, p o is, u m a p e la o u tr a p alav ra; d a í, c o m p re e n d e m o s a n e c e ssid a d e d e se b u s c a r p a ra le lo s c o m p re fe rê n c ia n o m e s m o liv ro o u n o s liv ro s d o a u to r q u e se e s tu d a . N o te m o s , to d a v ia , q u e u m m e s m o a u to r e m p re g a , às v ez es, u m a p a la v ra e m s e n tid o d ife re n te , e m cu jo caso ta m b é m u m a e x p re ssã o ex p lica a o u tra . L e m o s , e m A to s 9 .7 , q u e os c o m p a n h e iro s d e S au lo , n o c a m in h o d e D a m a s c o , o u v ira m a v o z d o S e n h o r, e, n o c a p ítu lo 2 2 .9 d o m e s m o livro, q u e “n ã o p e r c e b e ra m o s e n tid o d a v o z ” o u , c o m o d iz o u tr a v ersão , “n ã o o u v ira m a v o z ”. E p o rq u e , e n tre os g re g o s, c o m o e n tre n ó s, a p a la v ra “o u v ir” se

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u sav a n o s e n tid o d e “e n te n d e r ”. O u v ir a m , p o is, a v o z e n ã o a o u v ira m , sig n ific a n d o : o u v ira m o ru íd o , p o ré m , n ã o e n te n d e ra m as p a la v ra s. D o m e s m o m o d o , d is tin g u im o s e n tr e v e r e ver, c o m o fa z ia m os h e b re u s , u s a n d o a p a la v ra e m s e n tid o d ife re n te . A s s im , le m o s e m G ê n e s is 4 8 .8 ,1 0 q u e Is ra e l “v iu ” os filh o s d e Jo sé , e, e m se g u id a , “os o lh o s d e Is ra e l j á se tin h a m e sc u re c id o p o r c a u sa d a v e lh ic e , d e m o d o q u e n ã o p o d ia v er b e m ”. S ig n ific a q u e os v iu c o n fu s a m e n te , p o ré m , n ã o os p o d ia v e r c o m c la re z a , s e n d o n e c e ssá rio c o lo c á -lo s p e r to , c o m o ta m b é m d iz o c o n te x to . B u s q u e m -s e , p o is, os p a ra le lo s, c o m p re fe rê n c ia e e m p rim e iro lu g ar, n u m m e s m o a u to r, p o ré m , n ã o se esp e re, m e s m o a ssim , q u e sirv a m d e p a ra le lo s, se m p re , to d a s as ex p ressõ es ig u ais. A p ro v a d e c o m o p o d e m u d a r o sig n ific a d o d e u m a p a la v ra s e g u n d o a é p o c a e m q u e se e m p re g a p o d e se r v e rific a d a n a ex p ressão “a r r e p e n d e r - s e ”. N o N o v o T e s ta m e n to , é u s a d a c o n s ta n te m e n te n o s e n tid o de: m u d a r d e m e n te (p e c a d o r), isto é, n o s e n tid o d e m u d a r d e o p in iã o , d e co n v ic ç ã o ín tim a , d e s e n tim e n to , e n q u a n to , n o A n tig o T e s ta m e n to , te m s ig n ificad o s tã o d ife re n te s q u e u n ic a m e n te o c o n te x to , e m c a d a caso, os p o d e aclarar. T a n to é a ssim , q u e, n o A n tig o T e s ta m e n to , se d iz d o p ró p rio D e u s q u e se a rre p e n d e u , ex p ressão q u e n u n c a é e m p re g a d a p e lo s e sc rito re s d o N o v o T e s ta m e n to ao fa la re m d e D e u s , ex ceto n o caso d e c ita re m o A n tig o T e s ta m e n to . D a í, ser e v id e n te q u e , ao d iz e r q u e D e u s se a rre p e n d e , n ã o d e v e m o s, d e m o d o n e n h u m , to m a r n o m e s m o s e n tid o d o q u e n ó s c o m p re e n d e m o s p o r a r r e p e n d im e n to d e

E S T U D O S

DE

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E N C IC LΟ Γ Ê D IA

u m h o m e m . D e v e m o s , p o is, b u s c a r os p a ra le lo s, e m s e g u n d o lu g ar, n o s e sc rito s q u e d a ta m de u m a m e s m a é p o c a , de p re fe rê n c ia aos q u e p o d e m ser e n c o n tr a d o s e m o u tra s p a rte s das E s c ritu ra s .

P aralelos d e id éia s P a ra c o n s e g u ir id e ia c o m p le ta e e x a ta d o q u e e n s in a a E s c r itu ra n e s te o u n a q u e le te x to d e te r m in a d o , ta lv e z o b sc u ro o u d isc u tív e l, c o n s u lta m -s e n ã o só as p a la v ra s p a ra le la s, m as os e n s in o s , as n a rra tiv a s e os fa to s c o n tid o s e m te x to s o u p a ssa g e n s e sc la re c e d o re s q u e se re la c io n e m c o m o d ito te x to o b sc u ro o u d isc u tív e l. T a is te x to s o u p a ssa g e n s c h a m a m - s e p a ra le lo s d e id éias. V eja m o s alg u n s ex e m p lo s:

Exemplo 1. A o in s titu ir a ceia, Je su s d e u o cálice aos d is c íp u lo s, d iz e n d o : “B e b e i d e le to d o s ”. Isso sig n ific a q u e só os m in is tro s d a re lig iã o d e v e m p a r tic ip a r d o v in h o n a ceia c o m e x c lu sã o d a c o n g re g a ç ã o ? Q u e id e ia n o s p ro p o rc io n a m os p a ra le lo s? E m I C o r í n t i o s 1 1 .2 2 -2 9 , n a d a m e n o s q u e seis v ersíc u lo s c o n se c u tiv o s n o s a p re s e n ta m o “c o m e r d o p ã o e b e b e r d o v in h o ” c o m o fa to s in se p a rá v e is n a ceia, d e s tin a n d o os e le m e n to s a to d o s os m e m b ro s d a ig reja, sem d istin ç ã o . In v e n ç ã o h u m a n a , d e s titu íd a d e f u n d a m e n to b íb lic o é, p o is, o p a r tic ip a r e m u n s d o p ã o e o u tro s d o v in h o n a c o m u n h ã o .

Exemplo 2. A o d iz e r Je su s: “S o b re e sta p e d r a e d ific a re i a m in h a ig re ja ”, E le E S tá c o n s titu in d o P e d ro c o m o f im d a m e n to d a Ig re ja , e s ta b e le c e n d o o p r im a d o d e P e d ro e d o s p a p a s, c o m o p r e te n d e m os p a p ista s? N o te - s e , p rim e iro , q u e C r is to

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Es t u d o s

de

T eologia

VO L υ ΜE 2

n ã o disse: “S o b re ti, P e d ro ”. N a d a m e lh o r q u e os p a ra le lo s q u e o fe re c e m as p a la v ra s d e C r is to e P e d ro , re sp e c tiv a m e n te, p a ra d e te r m in a r e ste a ssu n to , o u seja, o sig n ific a d o d e ste te x to . P o is b e m , e m M a te u s 2 1 .4 2 ,4 4 , v e m o s Je su s m e sm o c o m o a “p e d r a f u n d a m e n ta l” o u “p e d r a a n g u la r”, p ro fe tiz a d a e tip ific a d a n o A n tig o T e s ta m e n to . E , e m c o n fo rm id a d e c o m e sta id e ia , o p ró p rio P e d ro d e c la ra q u e C r is to é a p e d r a q u e vive, a p rin c ip a l p e d r a a n g u la r, re je ita d a p e lo s ju d e u s . E m S ilo, e sta p e d r a foi fe ita a p rin c ip a l p e d r a an g u la r, etc. ( l P e 2 .4 , 8). P a u lo c o n firm a e a c la ra a m e s m a id e ia , d iz e n d o aos m e m b ro s d a ig re ja d e É fe so (2 .2 0 ) q u e são “e d ific a d o s so b re o f u n d a m e n to d o s a p ó sto lo s e p ro fe ta s , se n d o ele m e s m o , C ris to Je su s, a p e d r a an g u la r, n o q u a l to d o ed ifício , b e m a ju sta d o , cresce p a ra s a n tu á r io d e d ic a d o ao S e n h o r ”. D e s s e f u n d a m e n to d a Ig re ja , p o s to p e la p re g a ç ã o d e P a u lo , “c o m o p r u d e n te c o n s tr u to r ” e n tre os c o rín tio s , d isse o a p ó s to lo q u e “n in g u é m p o d e la n ç a r o u tr o fu n d a m e n to , a lé m d o q u e fo i p o s to , o q u a l é Je su s C r is to ” (1 C 0 3 .1 0 ,1 1 ) . C o te ja n d o esses e o u tro s p a ra le lo s, c h e g a m o s à c o n c lu sã o d e q u e C r is to , n esse te x to , n ã o c o n s titu i P e d ro c o m o f u n d a m e n to d e su a Ig re ja . O m o d o d e p ro c e d e r, tr a ta n d o - s e d e sse tip o d e p a ra le lo s, é, p o is, a c la ra r as p a ssa g e n s o b sc u ra s m e d ia n te p a ra le lo s m a is claro s: as ex p ressõ es fig u ra tiv a s, m e d ia n te os te x to s p a ra le lo s p ró p rio s e se m fig u ra , e as id éias s u m a ria m e n te ex p ressas, m e d ia n te os p a ra le lo s m a is e x te n so s e e x p líc ito s. V eja m o s, a seg u ir, n o v o s ex e m p lo s:

Exemplo 1. A c e n tu a - s e m u ito o a m o r aos c re n te s e m l P e -

Es t u d o s

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T eologia

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d ro 4 .8 , q u e d iz: “P o rq u e o a m o r c o b re m u ltid ã o d e p e c a d o s ”. C o m o e x p lic a r esse te x to o b scu ro ? P e lo c o n te x to e c o te ja n d o - o c o m l C o r í n ti o s 13 e C o lo s se n s e s 1.4, c o m p re e n d e m o s q u e a p a la v ra a m o r é u s a d a a q u i n o s e n tid o d e a m o r fra te rn a l. M a s , e m q u e s e n tid o c o b re o a m o r fra te rn a l m u ito s p ec ad o s? E m R o m a n o s 4 .7 e S a lm o 3 2 .1 , v e m o s o p e c a d o p e rd o a d o so b a fig u ra d e “p e c a d o c o b e rto ”, “s e p u lta d o n o e s q u e c im e n to ”, c o m o d iria m o s . C o n s u lta n d o o c o n te ú d o d e P ro v é rb io s 1 0 .1 2 , c ita d o p o r P e d ro n e ste lu g ar, c o m p re e n d e m o s q u e o a m o r fra te rn a l co b re m u ito s p e c a d o s n o s e n tid o d e se p e r d o a r as o fe n sa s re c e b id a s d o s irm ã o s , s e p u lta n d o -a s n o e sq u e c im e n to , c o n trá rio ao ó d io , q u e d e s p e rta rixas e aviva o p e c a d o . N ã o se tra ta , p o is, a q u i, d e m e re c e r o p e rd ã o d o s p ró p rio s p e c a d o s m e d ia n te as o b ra s d e c a rid a d e , n e m d e e n c o b rir p e c a d o s p ró p rio s e a lh e io s m e d ia n te d issim u la ç õ e s e escu sas, c o m o e r ro n e a m e n te p r e te n d e m os q u e n ã o c u id a m d e c o n s u lta r os p a ra le lo s, e x p lic a n d o a E s c r itu r a p e la E s c ritu ra .

Exemplo 2. S e g u n d o G á la ta s 6 .1 5 , o q u e é d e v a lo r p a ra C r is to é a n o v a c ria tu ra . O q u e sig n ific a essa ex p ressão fig u ra d a ? C o n s u lta n d o o p a ra le lo d e 2 C o r ín tio s 5 .1 7 , v e rific a m o s q u e a n o v a c ria tu ra é a p e sso a q u e “e stá e m C r is to ”, p a ra a q u a l “as c o u sa s a n tig a s p a s s a ra m ” e “se fiz e ra m n o v a s ”; e n q u a n to , e m G á la ta s 5 .6 e l C o r í n t i o s 7 .1 9 , te m o s a n o v a c r ia tu r a c o m o a p e sso a q u e te m fé e o b se rv a os m a n d a m e n to s de D eus.

Exemplo 3. P a u lo e x p õ e s u m a ria m e n te a id e ia d a ju s tific a çã o p e la fé e m F ilip e n s e s 3 .9 , d iz e n d o q u e d e se ja ser a c h a d o e m C ris to , “n ã o te n d o ju s tiç a p ró p ria , q u e p ro c e d e d e lei, se­

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d e

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n ã o a q u e é m e d ia n te a fé e m C ris to , a ju s tiç a q u e p ro c e d e d e D e u s b a s e a d a n a fé ”. P a ra c o n s e g u ir c la re z a d e s ta id e ia , é p re c iso re c o rre r a n u m e ro s a s p a ssa g e n s das c a rta s aos R o m a n o s e aos G á la ta s , n as q u a is se ex p lica e x te n s a m e n te co m o , p e la lei, to d o h o m e m é ré u c o n v ic to d ia n te d e D e u s e co m o , p e la fé n a m o r te d e C ris to , e m lu g a r d o p e c a d o r, o h o m e m , sem m é rito p r ó p rio a lg u m , é d e c la ra d o ju s to e a b so lv id o p e lo p ró p rio D e u s (R m 3 — 5; G1 3 — 4 ).

P aralelos d e ensinos g e ra is P a ra a a c la ra ç ã o e c o rre ta in te rp re ta ç ã o d e d e te r m in a d a s p a ssa g e n s, n ã o são su fic ie n te s os p a ra le lo s d e p a la v ra s e id é ia s, a n te s , é p re c iso re c o rre r ao te o r g e ra l, o u seja, aos e n s in o s g e rais d as E s c ritu ra s . T e m o s in d ic a ç õ e s d e s te tip o d e p a ra le lo s n a p ró p ria B íb lia , so b as ex p ressõ es d e e n s in a r c o n fo rm e as E s c ritu ra s , d e ser a n u n c ia d a ta l o u q u a l co isa p o r b o c a d e to d o s os p ro fe ta s e d e u s a re m os p ro fe ta s (o u p re g a d o re s ) seu d o m c o n fo rm e a m e d id a d a fé, isto é, s e g u n d o a a n a lo g ia o u re g ra d a d o u tr in a re v e la d a ( I C o 1 5 .3 ,1 4 ; A t 3 .1 8 ; R m 1 2 .6 ).

Exemplo 1. D iz a E s c ritu ra : “O h o m e m é ju s tific a d o p e la fé sem as o b ra s d e le i”. O r a , se d e s ta c irc u n s tâ n c ia a lg u é m tira , e m c o n se q u ê n c ia , o e n s in o d e q u e o h o m e m d e fé q u e fica livre das o b rig a ç õ e s de v iv er u m a v id a s a n ta e d e c o n fo rm id a d e c o m os p re c e ito s d iv in o s, c o m e te u m erro , a in d a q u e se c o n su lte u m te x to p aralelo . E p re c iso c o n s u lta r o te o r o u a d o u tr in a g e ra l d a E s c r itu ra q u e tr a ta d o a ssu n to ; fe ito isso,

E S T U D O S

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n c i c l o p é d i a

o b s e rv a -s e q u e essa in te rp re ta ç ã o é falsa p o r c o n tra ria r, p o r in te iro , o e s p írito o u d e s íg n io d o e v a n g e lh o , q u e, e m to d a s as p a rte s , p re v in e os c re n te s c o n tra o p e c a d o , e x o r ta n d o -o s à p u re z a e à s a n tid a d e . S e g u n d o o te o r o u e n sin o g eral das E sc ritu ra s, D e u s é esp írito o n ip o te n te , p u ríssim o , sa n tíssim o , c o n h e c e d o r d e to d a s as coisas e está p re se n te em to d a s as p a rte s, co isa que, p o s itiv a m e n te , c o n sta d e u m a m u ltid ã o d e p assag en s. P ois b e m , h á te x to s q u e, a p a re n te m e n te , n o s a p re s e n ta m D e u s c o m o ser h u m a n o , lim ita n d o -o ao te m p o o u lugar, d im in u in d o , e m alg u m se n tid o , sua p u re z a o u sa n tid a d e , seu p o d e r o u sab ed o ria; tais tex to s d ev e m ser in te rp re ta d o s à lu z d e d ito s en sin o s gerais. O fa to d e h a v e r te x to s q u e , à p rim e ira v ista, n ã o p a re c e m h a r m o n iz a r c o m esse te o r d a s E s c ritu ra s , d e v e m , p o r ta n to , a lin g u a g e m fig u ra d a d a B íb lia e a in c a p a c id a d e d a m e n te h u m a n a a b ra ç a r a v e rd a d e d iv in a e m su a to ta lid a d e .

Exemplo 2. Q u a n d o as E s c r itu ra s d iz e m : “O S e n h o r fez to d a s as co isas p a ra d e te r m in a d o s fin s, e até o p e rv e rso p a ra o d ia d a c a la m id a d e ” (P v 1 6 .4 ), se rá q u e , a q u i, e stã o q u e r e n d o e n s in a r q u e D e u s c rio u o ím p io p a ra c o n d e n á -lo , c o m o a lg u n s in te r p r e ta m o te x to ? C e r ta m e n te q u e n ã o ; p o rq u e , seg u n d o o te o r d a s E s c r itu ra s , e m n u m e ro s a s p a ssa g e n s, D e u s n ã o q u e r a m o r te d o ím p io , n ã o q u e r q u e n in g u é m p e re ç a , m a s q u e to d o s se a rre p e n d a m . P o r ta n to , o sig n ific a d o d a ú ltim a p a r te d o te x to d ev e ser q u e o C r ia d o r d e to d a s as co isas, n o d ia m a u , s a b e rá v a le r-se , in c lu siv e , d o ím p io , p a ra re a liz a r seu s a d o rá v e is d e síg n io s.

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P aralelos aplicados à lin g u a g em f ig u r a d a S

A s v ezes, é p re c iso c o n s u lta r os p a ra le lo s p a ra d e te r m in a r se u m a p a ssa g e m d ev e ser to m a d a ao p é d a le tra o u e m s e n tid o fig u ra d o . V arias v ezes, os p ro fe ta s n o s a p r e s e n ta m D e u s , p o r e x e m p lo , c o m u m cálice n a n ã o , d a n d o d e b e b e r aos q u e q u e r ca stig ar, c a in d o e stes p o r te rra , e m b ria g a d o s e a tu rd id o s (N a 3 .1 1 ; H b 2 .1 6 ; SI 7 5 .8 ). E s ta re p re s e n ta ç ã o , b re v e e sem e x p lic a ç ã o e m c e rto s te x to s, e n c o n tr a -s e a c la ra d a n o p a ra le lo de Isaía s 5 1 .1 7 ,2 2 ,2 3 , o n d e a p re n d e m o s q u e o cálice é o fu ro r d a ira o u ju s ta in d ig n a ç ã o d e D e u s , e o a tu r d im e n to o u e m b ria g u e z , asso laçõ es e q u e b r a n ta m e n to s in su p o rtá v e is. A p ro p ó s ito d a lin g u a g e m fig u ra d a , é p re c iso re c o rd a r a q u i q u e a lg u m a s e m e lh a n ç a o u ig u a ld a d e e n tre d u a s c o isas, p esso a s e fa to s ju s tific a a c o m p a ra ç ã o e o u so d a fig u ra . A s s im , p o is, se h o u v e r c e rta c o r re s p o n d ê n c ia e n tre o s e n tid o fig u ra d o d e u m a p a la v ra e o se u s e n tid o lite ra l, n ã o é n e c e s sário , c o m o ta m p o u c o é p o ssív el, q u e tu d o q u a n to e n c e rra a fig u ra se e n c o n tr e n o s e n tid o lite ra l. P e la m e s m a ra z ã o , p o r e x e m p lo , q u a n d o C r is to c h a m a seus d isc íp u lo s d e o v e lh a s, é n a tu ra l q u e n ã o a p liq u e m o s a eles to d a s as q u a lid a d e s q u e e n c e rra a p a la v ra o v e lh a , a q u a l, a q u i, é u s a d a e m s e n tid o fig u ra d o . C o m p r e e n d e m o s q u e , q u a n d o C r is to é c h a m a d o d e o C o rd e iro , essa ex p ressão se re fe re a p e n a s ao seu c a rá te r m a n s o e ao seu d e s tin o d e ser sac rificad o , c o m o o c o rd e iro se m m á c u la o era e n tre os isra e lita s. D o m e s m o m o d o , c o m p re e n d e m o s e m q u e s e n tid o se c h a m a o p e c a d o d e d ív id a ; a

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re d e n ç ã o d e p a g a m e n to d a d ív id a; e o p e rd ã o d e re m issã o d a d ív id a o u d a cu lp a. *

E e v id e n te q u e o s e n tid o d e ta is e x p re ssõ e s n ã o d ev e ser le v a d o a e x tre m o s e x a g e ra d o s: se q u e C r is to m o r r e u p e lo s p e c a d o re s , n ã o se a d m ite , e m c o n s e q u ê n c ia , p o r e x e m p io , q u e to d o s os p e c a d o re s são o u se rã o salv o s; e, se C r is to c u m p r iu t o d a a le i p o r n ó s , n ã o r e s u lta d a í q u e te n h a m o s o d ir e ito d e v iv e r n o p e c a d o ; o u se c o n s ta q u e o h o m e m e s tá m o r to n o p e c a d o , n ã o q u e r d iz e r q u e e s tá d e ta l m o d o m o r to q u e n ã o se p o s s a a r r e p e n d e r e q u e fiq u e se m c u lp a se d e ix a r d e o u v ir o c h a m a d o d o e v a n g e lh o . T r a ta n d o - s e d e fig u ra s d e o b je to s m a te r ia is , n ã o se rá d ifíc il d e te r m in a r o ju s to n ú m e r o d e re a lid a d e s o u p o n to s d e c o m p a r a ç ã o q u e d e s ig n a c a d a fig u ra , n e m a c o n s e q u ê n c ia líc ita o u o e n s in o p o s itiv o q u e e n c e r r a c a d a p o n to . M a is d ific u ld a d e s o fe re c e m as fig u ra s to m a d a s d a n a tu r e z a h u m a n a o u d a v id a o rd in á ria . M u ito s tê m - s e re c re a d o e m f o r m a r c a ste lo s d e d o u trin a s se m fu n d a m e n to , re b u s c a n d o e c o m p a r a n d o ta is fig u ra s e sím iles, tir a n d o c o n s e q u ê n c ia s ilícitas e a té c o n trá ria s às E s c ritu ra s . O e s p írito h u m a n o p a re c e e n c o n tr a r g o s to e sp e c ia l e m s e m e lh a n te s fa b ric a ç õ e s c a p ric h o sa s e jo g o s d e p a la v ra s. D e v e m -s e , p o is, e s tu d a r as fig u ra s c o m s o b rie d a d e e sp e c ia l e s e m p re c o m to d a a se rie d a d e .

O texto deve ser tomado em seu sentido literal O v e rd a d e iro s e n tid o d o s te x to s é c o n s e g u id o p e lo s ig n ific a d o d e su as p a la v ra s. A s s im , p e la a q u isiç ã o d o v e rd a d e iro

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s e n tid o das p alav ras, se c o n se g u e o v e rd a d e iro s e n tid o d o s te x to s. N ã o se d ev e esq u e cer, n e m p o r u m m o m e n to , q u e o sig n ific a d o d as p a la v ra s e stá d e te r m in a d o p e la p e c u lia rid a d e e u so d a lin g u a g e m b íb lic a , d e v e n d o -s e , p o r ta n to , b u s c a r o c o n h e c im e n to d o s e n tid o e m q u e se u sa m as p a la v ra s, a n te s d e tu d o , n a p ró p ria B íb lia. A s p alav ras d e v e m ser to m a d a s n o s e n tid o q u e c o m u m e n te p o s s u e m , se este s e n tid o n ã o estiver, m a n ife s ta m e n te , c o n trá rio a o u tra s p alav ras d a frase e m q u e o c o rre m , c o m o c o n te x to e c o m o u tra s p a rte s das E s c ritu ra s . N o caso d e h a v e r u m a p a la v ra c o m sig n ific a d o d ife re n te , o fe re c e n d o -s e , assim , o u d e o u tro m o d o , u m p o n to o b sc u ro , re c o rra -s e às d e m a is re g ra s p a ra se c o n s e g u ir o s e n tid o ex a to q u e o e s c rito r in s p ira d o in te n ta v a , o u m e lh o r, o p ró p rio E s p ír ito d e D e u s . O s e sc rito re s d as S a g ra d a s E s c ritu ra s e sc re v e ra m , n a tu ra lm e n te , c o m o o b je tiv o d e se re m c o m p re e n d id o s . E , p o r c o n s e g u in te , d e v e ría m v a le r-se d e p a la v ra s c o n h e c id a s e d e v e ria m u sá -la s n o s e n tid o q u e g e r a lm e n te tin h a m . A v e rig u a r e d e te r m in a r q u a l seja este s e n tid o u s u a l e o rd in á r io d ev e c o n s titu ir, p o r ta n to , n o p rim e iro c u id a d o n a in te rp re ta ç ã o o u c o rre ta c o m p re e n s ã o d as E s c ritu ra s . A

E p re ciso , o q u a n to p o ssív el, to m a r as p a la v ra s e m seu s e n tid o u su a l e c o m u m . Se o s e n tid o lite ra l fa z s e n tid o , n ã o b u s q u e o u tro . E s ta é u m a re g ra s u m a m e n te n a tu ra l e sim p le s, p o ré m , d a m a io r im p o rtâ n c ia , p o is, ig n o ra n d o o u v io la n d o -a , e m m u ita s p a rte s d a E s c r itu ra n ã o te r á o u tro s e n tid o q u e aq u e le q u e q u e ira c o n c e d e r-lh e o c a p ric h o h u m a n o . P o r

estudos

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e x e m p lo , h o u v e q u e m im a g in a sse q u e as o v elh as e os b o is, m e n c io n a d o s n o S a lm o 8, e ra m os c re n te s, e n q u a n to as aves e os p eix es, os in c ré d u lo s , d e o n d e se c o n c lu ía , e m c o n s e q u ê n c ia , q u e to d o s os h o m e n s , q u e ira m o u n ão , e stã o s u b m e tid o s ao p o d e r d e C ris to . Se tiv esse sid o le v a d o e m c o n ta o s e n tid o u su a l e c o m u m d as p a la v ra s, n ã o te ria c a íd o em s e m e lh a n te erro. M a s , te n h a - s e se m p re p re s e n te q u e o s e n tid o u su a l e co m u m n ã o eq u iv ale, se m p re , ao s e n tid o lite ra l. E m o u tra s p a lav ras, o d e v e r d e to m a r os te rm o s e frases e m seu se n tid o c o m u m e n a tu r a l n ã o sig n ific a q u e se m p re d e v e m ser to m a d o s ao “p é d a le tra ”, o u seja, lite ra lm e n te . C o m o se sab e, c a d a id io m a te m seus m o d o s p ró p rio s e p e c u lia re s d e ex p ressão , e tã o sin g u la re s, q u e se fo r tr a d u z id o ao p é d a le tra , p e r d e -s e o u é d e s tru íd o c o m p le ta m e n te o s e n tid o re a l e v e rd a d e iro . E s s a c irc u n s tâ n c ia a p a re c e m a is ao tr a ta r - s e d a lin g u a g e m d a s E s c r itu ra s d o q u e d e o u tro liv ro q u a lq u e r, p o r e s ta re m s u m a m e n te c h e ia s d e ta is m o d o s e ex p ressõ es p ró p ria s e p e cu liares. O s e sc rito re s sa g ra d o s n ã o se d irig e m a c e rta classe d e p e s soas p riv ile g ia d a s, m a s ao p o v o e m g e ra l; e, p o r c o n s e g u in te , n ã o se se rv e m d e u m a lin g u a g e m c ie n tífic a o u seca, m a s fig u ra d a e p o p u la r. A e sta s c irc u n s tâ n c ia s se d e v e m a lib e rd a d e , v a rie d a d e e v ig o r q u e o b s e rv a m o s e m su a lin g u a g e m . A elas, se d ev e seu a b u n d a n te u so d e to d a o rd e m d e fig u ra s re tó ric a s, sím ile s, p a rá b o la s o u ex p ressõ es sim b ó lic a s. A lé m d o c ita d o , o c o rre m m u ita s ex p ressõ es p e c u lia re s d o id io m a h e b re u , c h a ­

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m a d a s “h e b r a ís m o s ”. P re c isa m o s te r tu d o isso p re s e n te , p a ra p o d e rm o s d e te r m in a r q u a l seja o v e rd a d e iro s e n tid o u su a l e c o m u m das p alav ras e frases. V ejam o s alg u n s ex e m p lo s:

Exemplo 1. E m G ê n e s is 6 .1 2 , lem o s: “P o rq u e to d a c a rn e h a v ia c o rro m p id o o seu c a m in h o so b re a te rr a ” (V ersão R e v ista e C o rrig id a ). T o m a n d o a q u i as p alav ras “c a rn e ” e “c a m in h o ” e m s e n tid o lite ra l, o te x to p e rd e o sig n ific a d o p o r c o m p le to . V ia s, to m a n d o e m seu s e n tid o c o m u m , u s a n d o -s e c o m o fig u ra s, isto é, c a rn e e m s e n tid o d e p e sso a e c a m in h o n o s e n tid o d e c o s tu m e s , m o d o d e p ro c e d e r o u re lig ião , já n ão só te m sig n ific a d o , c o m o u m sig n ific a d o te r m in a n te , d iz e n d o - n o s q u e to d a p e sso a h a v ia c o rro m p id o seus c o stu m e s; a m e s m a v e rd a d e q u e n o s d e c la ra P a u lo , se m fig u ra , d iz e n d o : “N ã o h á q u e m faça o b e m ” (R m 3 .1 2 ). P e r g u n ta Je su s: “Q u a l é a m u lh e r q u e , te n d o d e z d ra c m a s , se p e r d e r u m a , n ã o a c e n d e a c a n d e ia , v a rre a ca sa e a p ro c u ra d ilig e n te m e n te a té e n c o n tr á -la ? ”. N e s te v e rsíc u lo , to m a d o ao p é d a le tra , e m b o ra n o s a p re s e n te u m a p e r g u n ta in te re s s a n te , e s ta m o s lo n g e d e c o m p re e n d e r a v e rd a d e q u e e n c e rra . M a s , s a b e n d o q u e n a r ra m u m a p a rá b o la , cu jas p a r te s p rin c ip a is e fig u ra d a s re q u e re m in te rp re ta ç ã o e d e s ig n a m re a lid a d e s c o rre s p o n d e n te s às fig u ra s, n ã o v e m o s, a q u i, u m a p e r g u n ta in te re s s a n te , m a s u m a m u lh e r q u e r e p re s e n ta C ris to ; u m tr a b a lh o d ilig e n te q u e re p re s e n ta u m tra b a lh o s e m e lh a n te q u e C r is to e stá le v a n d o a ca b o ; e u m a m o e d a p e r d id a re p re s e n ta o h o m e m p e r d id o n o p e c a d o ; tu d o is to e x p o n d o e ilu s tra n d o , a d m ira v e lm e n te , a m e s m a v e rd a d e q u e ex p ressa C r is to sem

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p a rá b o la , d iz e n d o : “P o rq u e o F ilh o d o H o m e m v eio b u s c a r e salv ar o p e r d id o ” (L c 1 9 .1 0 ). P ro fe tiz a n d o a re s p e ito d e Je su s, Z a c a ria s disse: “E n o s s u sc ito u p le n a e p o d e ro s a salv ação n a casa d e D a v i” (L c 1 .6 9 ). D ific ilm e n te , e x tra ire m o s d a q u i a lg u m a co isa c la ra se to m a rm o s a p a la v ra casa e m s e n tid o lite ra l. M a s , s a b e n d o q u e , c o m o s ím b o lo e fig u ra , casa, o r d in a r ia m e n te , sig n ifica fa m ília o u d e s c e n d ê n c ia , já n ã o e s ta m o s às escu ras: aí se n o s d iz q u e D e u s le v a n to u u m a p o d e ro s a salv ação e n tre os d e sc e n d e n te s d e D a v i, c o m o ta m b é m d isse P e d ro : “D e u s , p o ré m [...] o e x a lto u a P rín c ip e e S alv ad o r, a fim d e c o n c e d e r a Isra e l o a r r e p e n d im e n to e a re m issã o d o s p e c a d o s ” ( A t 5 .3 1 ). D is s e Je su s: “Se a lg u é m v e m a m im , e n ã o a b o rre c e a seu p a i, e m ã e [...] n ã o p o d e se r m e u d is c íp u lo ” (L c 1 4 .2 6 ); o ra , to m a d o ao p é d a le tra , isso c o n s titu i u m a c o n tra d iç ã o ao p re c e ito d e a m a r a té os in im ig o s . M a s , le m b r a n d o - n o s d o h e b ra ís m o , p e lo q u a l se e x p re ssa m , às v ezes, as c o m p a ra ç õ e s e p re fe rê n c ia s e n tre d u a s p esso a s o u co isas c o m p a la v ra s tã o e n é rg ic a s, c o m o a m a r e a b o rre c e r, j á n ã o só d e sa p a re c e a c o n tra d iç ã o , m a s c o m p re e n d e m o s o v e rd a d e iro s e n tid o d o tex to , s e n tid o q u e , se m h e b ra ís m o , o p ró p rio Je su s ex p ressa, d iz e n do: ‘‘Q u e m a m a seu p a i e su a m ã e m a is d o q u e a m im , n ã o é d ig n o d e m im ” ( M t 1 0 .3 7 ). P elos ex em p lo s c itad o s, p o d e m o s c o m p re e n d e r a g ra n d e n e c essid ad e d e n o s fa m ilia riz a rm o s c o m as fig u ras e m o d o s p ró p rio s e p ec u liares d a lin g u a g e m b íb lica. E s ta fa m ilia rid a d e se a d q u ire , d e sd e lo g o , p o r u m e s tu d o d a p ró p ria E sc ritu ra .

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D e v e - s e a n a lisa r 0 texto em todos os seus contextos N a B íb lia , assim c o m o e m to d a b o a lite ra tu ra , d e v e m o s te r u m a c o m p re e n s ã o d o to d o , a fim d e a p re c ia rm o s e e n te n d e r m o s as p a rte s . N u n c a d e v e ria m o s tr a ta r u m liv ro d a B íb lia c o m o u m a co leç ão d e p a ssa g e n s iso lad as. S ão h is tó ria s , p o e m a s e c a rta s c o n e c ta d a s. O sig n ific a d o d o s v erso s p o d e ser d e s c o b e rto n o fluxo d e to d o o f ra g m e n to lite rá rio . E sse p rin c íp io n ã o n o s im p e d e d e a b rirm o s u m liv ro b íb lico n o m e io e le r u m a p a rte , p o ré m , d e v e ria m o s fa z ê -lo so m e n te se tiv e rm o s u m a c o m p re e n s ã o b á sic a d e c o m o a p a s sag e m se en c aix a n a m e n s a g e m d e to d o o livro. E m o u tra s p alav ras, q u a n d o le m o s p e q u e n a s p o rç õ e s e v e rsíc u lo s das E s c ritu ra s , d e v e m o s te r u m g ra n d e c u id a d o . C a s o c o n trá rio , p o d e m o s d is to rc e r a m e n s a g e m d e D e u s . C o m o u m n o v o c ris tã o q u e e s p e ra o b e d e c e r a D e u s , u m d ia u m a m ig o m e u p ro c u ro u , n a s E s c r itu ra s , o rie n ta ç ã o so b re o c a sa m e n to . S eu s o lh o s c a íra m e m I C o r ín tio s 7 .2 7 , q u e diz: “E s tá s casad o ? N ã o p ro c u re s s e p a ra r-te . E s tá s liv re d e m u lh e r? N ã o p ro c u re s c a s a m e n to ”. P rim e iro , o fa to o c o n fu n d iu , e, c o m o cresceu n u m a ig reja tra d ic io n a l q u e p re z a v a p e lo c e lib a to d o sac erd ó cio , isso n ão lh e p a re c e u tã o d is ta n te d o seu o b jetiv o . A las, c o n fo rm e lia o c o n te x to d o livro, ele p e rc e b e u , p a ra seu alívio, q u e P a u lo n ã o p ro ib ia os c ristã o s de se ca sarem . O c o n te x to in c lu i m ais d o q u e a p e n a s os p a rá g ra fo s q u e v ê m a n te s e d e p o is d e u m te x to . In c lu i u m c e n á r io h i s t ó r i c o t e m á t i c o m u i t o m a is a m p lo . P o r e x e m p lo : c o n s id e r e G ê -

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n e s is 5 0 .2 0 , q u a n d o J o s é d is s e : “ V ó s, n a v e r d a d e , i n t e n t a s te s o m a l c o n t r a m im ; p o r é m D e u s 0 t o r n o u e m b e m , p a r a fa z e r, c o m o v e d e s a g o r a , q u e se c o n s e r v e m u i t a g e n te e m v id a ” . S e v o c ê o b s e r v a r o c o n t e x t o i m e d i a t o , ir á v e r q u e e s t á f a la n d o c o m s e u s ir m ã o s i m e d i a t a m e n t e a p ó s a m o r t e d e s e u p a i. P a r a c o m p r e e n d e r a o q u e e le e s tá se r e f e r i n d o , p r e c is a m o s le r o c o n t e x t o t o d o d a h i s t ó r i a d e J o sé , e m G ê n e s is 3 7 . 1 5 0 ‫ ־‬. A p e n a s d e s ta m a n e ira v e re m o s q u e o s ir m ã o s d e J o s é o v e n d e r a m a o s m e r c a d o r e s m i d i a n i t a s , q u e o le v a r a m a o E g i t o . T a m b é m , o b s e r v a m o s c o m o D e u s u s o u as m á s a ç õ e s h u m a n a s p a r a c o l o c a r J o s é n u m a p o s iç ã o d e p o d e r e, f i n a l m e n t e , p e r m i t i u q u e e le s a lv a s s e a s u a f a m ília . E n tr e ta n to , h á u m c o n te x to m a io r a c o n sid e ra r. Se le rm o s G ê n e s is 5 0 .2 0 à lu z d e to d o o liv ro d e G ê n e s is , re s g a ta m o s a p ro m e s s a q u e D e u s d e u a A b ra ã o — a re s p e ito d a te rr a e d o s seus in ú m e ro s d e s c e n d e n te s . S e m d ú v id a a lg u m a , Jo sé reflete o p a ssa d o e suas d e c la ra ç õ e s m o s tra m a su a c o n sc iê n c ia de q u e D e u s h a v ia d irig id o a m á in te n ç ã o d e seu s irm ã o s , a fim d e p re se rv a r a lin h a fa m ilia r e, ta m b é m , d e c u m p rir as p ro m essas d e D e u s fe ita s a A b ra ã o . E n tr e ta n to , a in d a n ã o te r m in a m o s c o m o c o n te x to . O c o n te x to ú ltim o d e q u a lq u e r p a s s a g e m p a r tic u la r é a B íb lia to d a . A m e d id a q u e le m o s a B íb lia to d a , v e m o s q u e ela a p re s e n ta m u ito s p a ra le lo s c o m as d e c la ra ç õ e s d e M o is é s . E n tr e ta n to , n e n h u m a fo i tã o n ítid a q u a n to as p a la v ra s d e P e d ro d e sc re v e n d o a m o r te d e Je su s. E m A to s 2 .2 2 - 2 4 , P e d ro d isse q u e

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Je su s fo i m o r to p o r h o m e n s q u e tin h a m in te n ç õ e s m a ld o sa s, p o ré m , D e u s u s o u a q u e la s in te n ç õ e s p a ra salv ar m u ito s d o s seus p e c a d o s. P o d e m o s a p r e n d e r a le r o c o n te x to m e d ia n te a le itu ra d e to d o s os livros d a B íb lia , ao in v és d e s im p le s m e n te le rm o s os seus fra g m e n to s . Se v o cê c o n se g u e s e n ta r -s e p o r d u a s o u trê s h o ra s p a ra le r u m ro m a n c e , te n te fa z e r o m e s m o c o m Isaía s o u A to s d o s A p ó s to lo s , e n tr e ta n to , c e rtifiq u e -s e d e q u e e stá u s a n d o u m a v ersã o c o n te m p o râ n e a . S e m p re q u e le r u m a p e q u e n a p a s s a g e m , le ia -a c o m u m re s u m o d o liv ro in te iro e m m e n te o u c o m a a ju d a d e u m b o m c o m e n tá rio . A n a tu re z a p re c isa d o c o n te x to p o d e d ife r ir d e u m liv ro p a ra o u tro . O c o n te x to d o s liv ro s h is tó ric o s se o rig in a m d o cu rso de e v e n to s n a h is tó ria . N a s e p ísto la s, u m a id e ia c o n s tró i a o u tra . E m P ro v é rb io s 1 0 a 3 1 , h á u m c o n te x to so lto . N e sse s c a p ítu lo s , u m p ro v é rb io ex p ressiv o — so b re a p re g u iç a , p o r e x e m p lo — é se g u id o p o r d o is so b re a lín g u a e, e n tã o , o u tro so b re a p re g u iç a n o v a m e n te . M e s m o a ssim , e m to d o s o s livros b íb lic o s, d e v e ria m o s te r u m a v isão d o liv ro to d o q u a n d o e s tu d a m o s u m a p a r te d ele. S e m p re q u e s tio n e c o m o a q u e la p a ssa g e m p o d e e n c a ix a r-se c o m a m e n s a g e m d o liv ro to d o , e até m e s m o c o m to d a a B íb lia.

D e v e - s e le v a r em conta a in ten ção do a u to r T o d a p a ssa g e m b íb lic a te m u m sig n ific a d o o b je tiv o p re te n d id o p e lo a u to r. A ta re fa d o in té r p r e te é d e s c o b rir esse sig n ificad o . E sse p rin c íp io p a re c e claro o b a s ta n te , e n tr e ­

E S T U DOS DE T E O L O G I A

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En c i c l o p é d i a

ta n to , d e v e m o s d e se n v o lv e r m u ita s q u e stõ e s q u e ele le v a n ta . P rim e ira , q u e m é o a u to r e c o m o d e s c o b rir su a in te n ção. M e s m o q u a n d o sab e m o s o n o m e d o a u to r h u m a n o ( M o is é s , P a u lo , D a v i) , n ã o t e m o s a c e s s o d i r e t o a e le . N ã o p o d e m o s p e r g u n t a r a P a u lo se e le se r e f e r i u a o s c r is tã o s o u a o s n ã o c r is tã o s q u a n d o d e s c r e v e u u m a p e s s o a q u e n ã o q u e r f a z e r o q u e D e u s d e s e ja e m R o m a n o s 7 .2 1 - 2 5 . P o d e m o s a p e n a s r e s p o n d e r a ta is q u e s tõ e s n o s c o lo c a n d o n o p e r í o d o e m q u e o a u t o r e s c r e v e u o liv r o e q u e s t i o n a n d o a s u a i n t e n ç ã o , a o n o s d i z e r e s s e o u a q u e le a s s u n to . U m a s e g u n d a q u e s tã o te m a v e r c o m o c a rá te r ú n ic o d a B íb lia c o m o P a la v ra d e D e u s . C o m o o a p ó s to lo P e d ro a íirm a: “P o rq u e a p ro fe c ia n u n c a fo i p ro d u z id a p ro v o n ta d e d e h o m e m a lg u m , m a s os h o m e n s s a n to s d e D e u s fa la ra m in s p ira d o s p e lo E s p ír ito S a n to ” (2 P e 1 .2 1 ). D e u s é o A u to r ú ltim o d a B íb lia e, d e p e n d e n d o d a m a n e ira q u e e n te n d e m o s e s ta v e rd a d e , h a v e rá im p lic a ç õ e s. O b s e r v e m o s o u tro e x e m p lo n o liv ro d e O s e ia s, q u e d iz: “Q u a n d o Is ra e l e ra m e n in o , eu o a m e i, e d o E g ito c h a m e i o m e u filh o ” (1 1 .1 ). Q u e m é o a u to r d e ssa p a ssa g e m ? D e a c o rd o c o m o p r im e iro v e rso d e O s e ia s , é o p ro fe ta q u e te m esse n o m e . E n t r e ta n to , c o m o p o d e m o s sa b e r q u a is f o ra m as in te n ç õ e s d e suas p a la v ra s n e s ta p a ssa g e m ? P rim e iro , c o n h e c e m o s , a p ro x im a d a m e n te , a é p o c a e m q u e ele viv eu . T a m b é m , h á u m c o n te x to m a is a m p lo d o livro, q u e n o s d á u m a id e ia c o m p le ta d o q u e O s e ia s q u e ria d iz e r n e s te verso . Q u a n d o e s tu d a m o s esse te x to n o c o n te x to d e to d o o livro, d e s c o b rim o s q u e O se ia s e s tá -

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-se re fe rin d o à lib e rta ç ã o d e s c rita n o liv ro d e Ê x o d o . M a is a d ia n te , p o d e m o s le r M a te u s 2 e c h e g a r ao v e rso 15, o n d e o e s c rito r a p lic a O s e ia s 11 .1 a Je su s c o m o u m m e n in o re to r n a n d o d o E g ito à J u d e ia . E s s a re fe rê n c ia n ã o p a re c e se r a in te n ç ã o d e O se ia s. M a s , a q u i, d e v e m o s n o s le m b ra r d e q u e o sig n ific a d o d o te x to re sid e n a in te n ç ã o d e D e u s , o seu A u to r. A m e d id a q u e le m o s essa p a ssa g e m , le v a n d o e m c o n s id e ra ção to d o o c o n te x to b íb lic o , p e rc e b e m o s q u e D e u s fe z u m a a n a lo g ia . P ro fe tic a m e n te , ele e stá re la c io n a n d o Is ra e l (o s filh u s d e D e u s se n d o lib e rto s d o E g ito ) c o m Je su s (o F ilh o d e D e u s , q u e v e m d o E g ito ). E s te é u m m o d e lo q u e p e rc o rre to d o o e v a n g e lh o d e M a te u s . P e rc e b a q u e esse p rin c íp io re c o n h e c e q u e ex iste u m s ig n ific a d o n o te x to . E s s e é u m p o n to im p o r ta n te n a n o s s a e ra d e re la tiv ism o . U m g r a n d e n ú m e ro d e in té r p r e te s d a B íb lia s u g ere q u e a m e s m a n ã o e s ta b e le c e u n e n h u m sig n ific a d o e q u e p o d e m o s le r n e la o q u e d e se ja rm o s. P e lo c o n trá rio , q u a n d o in te r p r e ta m o s a B íb lia , b u s c a m o s a q u ilo q u e o a u to r q u is d iz e r o rig in a lm e n te , ao in v és d e im p o r o n o sso sig n ific a d o . Q u a n d o a in te rp re ta ç ã o d o le ito r e n tr a e m c o n flito c o m a in te n ç ã o d o a u to r, a in te rp re ta ç ã o d o le ito r é e rrô n e a . O s te x to s a n tig o s n ã o a p a re c e ra m s im p le s m e n te n a h is tó ria , n e m e v o lu íra m d e f o rm a m ira c u lo s a a p a r tir d e á rv o re s, p a p iro s o u p e le s d e a n im a is . A lg u é m , e m a lg u m a é p o c a e lu g ar, d is p ô s ‫ ־‬se a e sc re v ê -lo s, p a ra d iz e r a lg u m a co isa a q u e m os lesse. S e isso n ã o fo sse v e rd a d e , n u n c a te ria m a p a re c id o . P esso as in te lig e n te s d e s e ja ra m tr a n s m itir alg o q u e sig n ific a s­

estudos

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T eologia

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se a lg u m a co isa p a ra a lg u m leito r. A p e s a r d e e sc rito s c o m os sím b o lo s lin u ü ís tic o s d a é p o c a (h e b ra ic o , a ra m a ic o , g re g o , la tin o ) n ã o im p o r ta , p o s s u e m u m sig n ific a d o q u e n ã o p o d e se r m u d a d o . O s te x to s b íb lic o s e stã o fu n d a d o s n a h is tó ria . F o ra m e sc rito s n o p a s s a d o e d e le fa z e m p a rte , m a s isso n ã o a lte ra o q u e o a u to r q u e ria tra n s m itir , assim c o m o n ã o m u d a os e v e n to s n o s q u a is se b a se a ra m . O q u e u m a u to r d o p a ssa d o , c o m o o a p ó s to lo P a u lo , p o r e x e m p lo , c o n s c ie n te m e n te q u is d iz e r ta m b é m im p lic a em coisas d as q u a is, n e c e s s a ria m e n te , n ã o tin h a c o n sc iê n c ia . E ssa s im p lic a ç õ e s, a in d a , são p a r te d o sig n ific a d o d o te x to . Q u a n d o , p o r e x e m p lo , o a p ó s to lo esc rev eu à ig re ja e m E fe so, d iz e n d o : “N ã o vos e m b ria g u e is c o m v in h o ” (5 .1 8 ), e s ta v a c o n s c ie n te d e q u e os c ristã o s n ã o d e v e ría m e m b ria g a r-s e c o m a b e b id a . E s s a d e c la ra ç ã o , to d a v ia , te m im p lic a ç õ e s q u e v ão a lé m d o te x to . P a u lo tr a to u d e u m p rin c íp io : n ã o se e m b ria g a r c o m q u a lq u e r tip o d e b e b id a , seja q u a l fo r — cerv eja, u ísq u e , r u m , v o d c a , c a c h a ç a o u v in h o . S e lh e p e rg u n ta s s e m , d e c la ra ria q u e , e m b o ra n ã o estiv esse c o n s c ie n te m e n te p e n s a n d o e m o u tra s b e b id a s alco ó licas, c e rta m e n te q u e ria d iz e r aos c ristã o s q u e n ã o se e m b ria g a s s e m c o m elas ta m b é m . N in g u é m , e m E fe so , te ria ra c io c in a d o : “P a u lo p ro íb e q u e n o s e m b ria g u e m o s c o m v in h o , m a s a c h o q u e n ã o seria e rra d o m e e m b ria g a r c o m c e rv eja”. O s e sc rito s d o a p ó s to lo v ão a lé m d a su a c o n sc iê n c ia , e essas im p lic a ç õ e s n ã o c o n tra d iz e m o s ig n ific a d o o rig in a l. P e lo c o n trá rio , fa z e m p a r te d o te x to e d iz e m re s p e ito a té m e s m o a coisas q u e n ã o e x istia m n a é p o c a e m q u e fo i escrito !

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Es t u d o s

de t e o l o g i a

VOLUME 2

O p ro p ó s ito d a in te r p r e ta ç ã o b íb lic a n ã o p re ss u p õ e a p e n as a c o m p re e n s ã o esp e c ífic a d a c o n s c iê n c ia d o a u to r, m as, ta m b é m , o p rin c íp io o u fo rm a d e sig n ific a d o q u e ele p r e te n d e u p assar. S e P a u lo re a lm e n te p ro ib iu as p e sso a s d o n o sso te m p o d e se e m b ria g a re m c o m b e b id a s alco ó licas, e s ta ria ele ta m b é m p ro ib in d o , e m E fé sio s 5 .1 8 , o u so d e sn e c e ssá rio e o a b u so d e n a rc ó tic o s? E fa to q u e o u tra s d e c la ra ç õ e s d as E s c ritu ra s o p ro íb e m , m a s, e esse v e rsíc u lo e m p a rtic u la r? S e c o m p re e n d e rm o s o m a n d a m e n to p a u lin o c o m o u m p r in c íp io , e n tã o se d e p r e e n d e q u e essa p a ssa g e m r e a lm e n te a d v e rte c o n tr a o u so d e n a rc ó tic o s. S e o p rin c íp io o u f o rm a d e sig n ific a d o p r e te n d id o p o r P a u lo é alg o c o m o : “N ã o c o n ta m in e se u c o rp o c o m su b stâ n c ia s c o m o o v in h o , q u e p o d e m fa z e r c o m q u e vo cê p e rc a o c o n tro le d e seu s s e n tid o s e in ib iç õ e s n a tu r a is ”, e n tã o , o u so d e n a rc ó tic o s é ig u a lm e n te p ro ib id o p o r esse v ersícu lo . Se p e rg u n tá s s e m o s ao a p ó s to lo so b re o a s s u n to , c o m c e rte z a ele re sp o n d e ría : “E u n ã o estav a c o n s c ie n te m e n te p e n sa n d o e m n a rc ó tic o s q u a n d o escrevi, m as fo i e x a ta m e n te a esse tip o d e co isa a q u e m e re fe ri”. O fa to é q u e c a d a te x to te m im p lic a ç õ e s o u sig n ific a d o s, d o s q u ais até m e s m o o p ró p rio a u to r n ã o e stá c o n s c ie n te , m as q u e se e n c a ix a m n o s ig n ifica d o p re te n d id o . C o m m ais fre q u ê n c ia d o q u e se im a g in a , a p rin c ip a l p re o c u p a ç ã o , ao se in te r p r e ta r u m te x to , é c o m p re e n d e r q u ais são as v e rd a d e ira s im p lic a ç õ e s d o sig n ific a d o d o au to r.

Es t u d o s d e T e o l o g i a

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En c i c l o p é d i a

D e v e - s e le v a r em conta 0 estilo lite rá rio A B íb lia c o n té m u m a riq u e z a in fin d á v e l d e estilo s lite rá N

rio s. A m e d id a q u e le m o s d e G ê n e s is a A p o c a lip s e , e n c o n tra m o s v á rio s e stilo s lite rá rio s , p a ssa m o s p o r h is tó ria s , leis, p o e sia s, sa b e d o ria , p ro fe c ia , e v a n g e lh o s, e p ísto la s e lite ra tu ra a p o c a líp tic a . E , q u a n d o c o n h e c e m o s o e stilo — o g ê n e ro — d a lite r a tu r a q u e e s ta m o s le n d o , p o d e m o s e n te n d ê - la m e lh o r. L e m o s h is tó ria c o m u m a p o s tu ra d ife re n te de q u a n d o le m o s u m a p o e sia . G ê n e ro s d ife re n te s ev o c a m e x p e c ta tiv a s e e s tra tég ias d e in te rp re ta ç ã o d ife re n te s. O g ê n e ro é u m c o n c e ito tã o im p o r ta n te p a ra q u e p o s s a m o s fa z e r u m a le itu ra a d e q u a d a das E s c ritu ra s q u e d e v o ta m o s o re sto d esse liv ro à e x p lo ra ç ã o d o s p rin c ip a is e stilo s d a lite r a tu r a b íb lic a . P e la o rd e m , e x a m in a re m o s c o m o a h is tó ria , leis, s a b e d o ria e p o e sia , p ro fe c ia e lite r a tu r a a p o c a líp tic a , e v a n g e lh o s e p a rá b o la s e c a rta s d e v e ría m se r in te rp re ta d o s . C a d a e stilo n o s leva, d e d iv ersas m a n e ira s , a u m e n c o n tr o c o m Je su s C ris to .

D e v e - s e le v a r em conta a B íb lia como u m todo N u n c a d e v e m o s le r p a ssa g e n s iso la d a s d e to d o o c o n te x to d as E s c ritu ra s . A p e s a r d e m u ito s a u to re s h u m a n o s te re m c o n trib u íd o p a r a esc rev er a B íb lia , D e u s é o seu A u to r ú ltim o . E , ao m e s m o te m p o e m q u e a B íb lia é u m a a n to lo g ia d e m u ito s liv ro s, ela é, ta m b é m , u m só livro. A B íb lia c o n té m m u ita s h is tó ria s , m as to d a s elas c o n tr ib u e m p a ra u m a ú n i ­

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ESTUDOS DE T EOLOGI A

VOLUME 2

ca h is tó ria . C o n s e q u e n te m e n te , d e v e m o s le r u m a p a ssa g e m , o u a té m e s m o u m liv ro d a B íb lia , n o c o n te x to d o c o rp o d o e n s in o e d o u tr in a q u e flui d a h is tó r ia c o m p le ta d a rev elação p ro g re ssiv a n a P a la v ra d e D e u s . E s s e p rin c íp io te m im p lic a çõ e s m u ito im p o r ta n te s . P rim e iro , n ã o d e v e m o s b a s e a r a d o u tr in a o u e n s in o s m o ra is n u m te x to o b sc u ro . A s id é ia s m a is im p o r ta n te s d a B íb lia são d e c la ra d a s m a is d e u m a v ez. Q u a n d o u m te x to a p a re c e c o m o o b je tiv o d e e n s in a r alg o o b s c u ro o u q u e stio n á v e l, e n ã o e n c o n tr a m o s o u tra s p a ssa g e n s q u e o a p o ie m , n ã o d e v e m o s a g re g a r m u ito p e so a ele. S e g u n d o , se u m a p a ssa g e m “p a re c e ” e n s in a r alg o , p o ré m , o u tro te x to c la r a m e n te e n s in a a lg u m a c o isa a m a is, d e v e m o s p ro c u ra r c o m p re e n d e r essa p a s s a g e m d ifícil à lu z d a q u e la q u e seja m ais fácil d e c o m p re e n d e r. Is to é, p o d e m o s d e te r m in a r o sig n ific a d o d e u m v erso o b sc u ro e x a m in a n d o o e n s in o c laro de to d a a E s c ritu ra . P a ra c o m p re e n d e rm o s a c o n s e n so d as E s c r itu ra s , te m o s d e e s tu d a r os te m a s e as a n a lo g ia s q u e v ão d e sd e G ê n e s is até o A p o c a lip s e . E , assim , q u a n d o le m o s q u a lq u e r te x to b íb lic o , e n te n d e m o s seu lu g a r n o d e s e n ro la r d a h is tó r ia d a salvação. L e r as E s c ritu ra s à lu z d e to d a a m e n s a g e m b íb lic a , o c o m p le to c o n se n so d iv in o , n ã o a p e n a s n o s p re v in e d e in te r p re ta ç õ e s e rrô n e a s c o m o ta m b é m n o s p r o p o rc io n a u m e n te n d im e n to m ais p ro fu n d o d a P a la v ra d e D e u s .

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D e v e - s e le v a r em conta 0 contexto histórico A B íb lia f o i e s c r ita e m u m t e m p o e e m u m a c u l t u r a m u ito d ife re n te d a n o ssa . A s s im s e n d o , p a ra d e s c o b rir o s ig n if ic a d o d a s p a la v r a s d e d e t e r m i n a d o a u to r , t e m o s d e a p r e n d e r a l e r c o m o se f ô s s e m o s u m d o s s e u s c o n t e m p o r â n e o s . C o m o f a z e r is to ? A m a i o r i a d e n ó s r e c o r r e a c o m e n t á r i o s e o u t r a s f e r r a m e n t a s d e a ju d a . E s s e s liv ro s p o d e m n o s p r o p o r c i o n a r u m a v is ã o d o p a n o d e f u n d o c u l t u r a l e h i s t ó r i c o d o s e s c r ito s b íb lic o s . P o r e x e m p lo , a B íb lia , c o m f r e q u ê n c i a , d e s c r e v e o S e n h o r c a v a lg a n d o n a s n u v e n s (S I 1 8 .7 - 1 5 ; 1 0 4 .3 ; N a 1 .3 ). C e r t o c o m e n t á r i o n o s d i z q u e o s v i z i n h o s d e I s r a e l, f r e q u e n t e m e n t e , p i n t a v a m s e u d e u s , B a a l, c a v a lg a n d o n u m a c a r r u a g e m p a r a a b a t a l h a . S e a n a li s a r m o s a i m a g e m b í b l ic a à lu z d o a n t i g o O r i e n t e P r ó x im o , p e r c e b e r e m o s q u e a n u v e m d e D e u s é u m a c a r r u a g e m d a q u a l E l e se u t i l i z a p a r a a g u e rra . N o N o v o T e s ta m e n to , v em o s q u e Je su s ta m b é m se u t i l i z a d a i m a g e m d e u m c a v a le ir o n a s n u v e n s ( M t 2 4 .3 0 ; A p 1 .7 ) e e n t e n d e m o s q u e n ã o se t r a t a d e u m a n u v e m b r a n c a e f o f i n h a , m a s , s im , d e u m a n u v e m d e t e m p e s t a d e q u e E l e d ir ig e n u m j u l g a m e n t o . A g o r a , s im , p o d e m o s p e rc e b e r q u e a im a g e m d o A n tig o T e s ta m e n to c h a m a v a o s is r a e lita s , a d o r a d o r e s d e B a a l, a o a r r e p e n d í m e n t o e à a d o r a ç ã o d o v e r d a d e i r o c a v a le ir o d a s n u v e n s , o S e n h o r , C r i a d o r d o s c é u s e d a te r r a . E a p a s s a g e m d o S a l m o 2 3 .1 ? C o n s e g u i m o s e n t e n ­

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E s t u d o s de T e o l o g i a

VOLUME

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d e r a fig u ra d e u m p a s to r se m r e c o r r e r ao m u n d o a n t i g o ? S a b e m o s o q u e f a z u m p a s t o r : e le p r o t e g e , g u i a , to m a c o n ta d a s su a s o v e lh a s . A r e s p o s ta é s im — e n ã o . N o s te m p o s b íb lic o s , os p a s to re s a g ia m c o m o os p a s t o r e s d o s t e m p o s m o d e r n o s , d e n t r o d e s s e s d o is a s p e c t o s . M a s , se n ã o e s t i v e r m o s c ô n s c io s d o u s o d a f i g u r a d o p a s to r n o a n tig o O r ie n te , p e rd e re m o s u m a sp e c t o i m p o r t a n t e d o S a l m o . O s r e is d o O r i e n t e s e m p r e se r e f e r i a m a si m e s m o s c o m o “p a s t o r e s ” d o s e u p o v o . Q u a n d o le m o s o S a lm o 2 3 à lu z d o s e u p a n o d e f u n d o h is tó ric o , d e s c o b rim o s u m e n s in o im p o r ta n te : O S e n h o r é o P a s t o r r e a l.

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a p í t u l o

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FIGURAS DE LINGUAGEM

A lin g u a g e m bíblica é rica em figuras e sím b o lo s. Isto p o rq u e as coisas espirituais são de u m a p ro fu n d id a d e ím p a r e, m u itas vezes, só p o d e m ser e n te n d id a s pelas co m p araçõ es co m objetos e situações co m u n s. A o n a rra r sua ex p eriên cia n o céu, Jo ã o se u tiliza de m u itas co m p araçõ es, c o n fo rm e se p o d e p e rc e b e r pelos fre q u en tes te rm o s “se m e lh a n te ” e “c o m o ”. Im a g in e u m m e rg u lh a d o r d o C a rib e te n ta n d o ex p licar p a ra u m h a b ita n te d a região d o H im a la ia c o m o é u m polvo. S e ele tiv er u m a fo to , é fácil, m as, se n ã o tiver, ele vai se u tiliz a r d e co m p araçõ es. O m e s m o se d á c o m as v e rd a d e s e re a lid a d e s e s p iritu a is . S ão e x p lic a d a s d e f o rm a sim b ó lic a , m e ta fó ric a , e p o r p a r á b o la s. Is to n ã o tira o v a lo r d a in te rp re ta ç ã o lite ra l. É im p o r ta n te e n te n d e r q u e lite ra l e lite ra lis ta n ã o são a m e s m a co isa. Q u a n d o a B íb lia d iz , p o r e x e m p lo , q u e as á rv o re s b a te rã o p a lm a s , é o b v io tr a ta r - s e d e u m a fig u ra d e lin g u a g e m c o n h e c id a c o m o p ro s o p o p e ia o u p e rso n ific a ç ã o , e m q u e açõ es e s e n tim e n to s são a trib u íd o s a seres in a n im a d o s . A in te r p r e ta çã o é ó b v ia - u m e s ta d o d e fe lic id a d e p le n a . V am o s c o n h e c e r u m p o u c o d essas fig u ras d e lin g u a g e m , fi­

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g u ra s d e re tó ric a o u figuras d e estilo q u e n os aju d arão a e n te n d e r b o a p a rte d a lin g u a g e m b íb lica.

Metáfora A m e tá fo ra c o n s is te e m e m p re g a r u m te r m o c o m s ig n ifica d o d ife re n te d o h a b itu a l, c o m b a se n u m a re la ç ã o d e sim ila rid a d e e n tre o s e n tid o p r ó p rio e o s e n tid o fig u ra d o . A m e tá fo r a im p lic a , p o is, n u m a c o m p a ra ç ã o e m q u e o c o n e c tivo c o m p a ra tiv o fica s u b e n te n d id o . E s ta fig u ra te m p o r b ase a lg u m a s e m e lh a n ç a e n tre d o is o b je to s o u fa to s, c a ra c te riz a n d o -s e u m c o m o q u e é p r ó p rio d o o u tro . E x e m p lo s : A o Je su s d iz e r: “E u so u a v id e ira v e rd a d e ira ”, Je su s se c a ra c te riz a c o m o q u e é p ró p rio e e sse n c ia l d a v id e ira. E , ao d iz e r aos d isc íp u lo s: “V ós sois as v a ra s ”, c a ra c te riz a -o s c o m o q u e é p ró p rio d a s v aras. P a ra a b o a in te rp re ta ç ã o d e s ta fig u ra , p e r g u n ta m o s , p o is: “O q u e c a ra c te riz a a v id e ira ? ”. O u : “P a ra q u e serv e p rin c ip a lm e n te ? ”. N a re s p o s ta a tais p e r g u n ta s , e stá a ex p licaç ão d a fig u ra . P a ra q u e serv e u m a v id e ira ? P a ra tr a n s m itir seiva e v id a às v aras, a fim d e p r o d u z ire m uvas. P o is is to é o q u e , e m s e n tid o e s p iritu a l, c a ra c te riz a C r is to q u a l u m a v id e ira o u tro n c o v e rd a d e iro , c o m u n ic a v id a e fo rç a os c re n te s , p a ra q u e , c o m o v aras, p r o d u z e m uvas, p r o d u z a m os fru to s d o c ristia n ism o . P ro c e d a -s e d o m e s m o m o d o n a in te rp re ta ç ã o d e o u tra s fig u ra s d o m e s m o tip o , c o m o , p o r ex e m p lo : “E u so u a p o r ta , eu so u o c a m in h o , eu so u o p ã o vivo; vós sois a lu z , o sal; e d ifíc io d e D e u s ; id e, d iz e i à q u e la ra p o sa ; são os o lh o s a lâ m p a d a d o c o rp o ; J u d á é le ã o z in h o ; tu és m in h a ro c h a e m in h a fo rta le z a ;

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estu d o s

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eo lo gia

VOLUME 2

sol e e sc u d o é o S e n h o r D e u s ; a casa d e Ja c ó se rá fo g o ; e a casa d e J o s é c h a m a e a casa d e E s a ú re s to lh o ” (J o 1 5 .1 ; 1 0 .9 ; 1 4 .6 ; 6 .5 1 ; M t 5 .1 3 ,1 4 ; 6 .2 2 ; I C o 3 .9 ; L c 1 3 .3 2 ; G n 4 9 .9 ; SI 7 1 .3 ; 8 4 .1 1 ; O b 18).

Sinédoque F a z -s e u so d e s ta fig u ra q u a n d o se to m a a p a r te p e lo to d o o u o to d o p e la p a rte , o p lu ra l p e lo sin g u la r, o g ê n e ro p e la esp é cie, o u v ice-v ersa. E x e m p lo s: o sa lm ista to m a a p a r te p e lo to d o ao d iz e r: “M in h a c a rn e re p o u s a rá se g u ra ”, e m lu g a r d e d iz e r: “m e u c o rp o o u m e u s e r”, q u e seria o to d o , s e n d o a c a rn e só p a r te de seu ser (SI 1 6 .9 ). O a p ó s to lo to m a a o to d o p e la p a r te q u a n d o d iz so b re a ceia d o S e n h o r: “T o d a s as v ez es q u e [...] b e b e rd e s o c á lic e ”, e m lu g a r d e d iz e r “b e b e rd e s d o c á lic e ”; is to é, p a r te d o q u e h á n o cálice ( I C o 1 1 .2 6 ). T o m a m ta m b é m o to d o p e la p a r te os a c u sa d o re s d e P a u lo , ao d iz e re m : “E s te h o m e m é u m a p e s te e p ro m o v e se d iç õ e s e n tre os ju d e u s e sp a rso s p o r to d o o m u n d o ”; sig n ific a n d o , p o r a q u e la p a r te d o m u n d o o u d o I m p é r io R o m a n o q u e o a p ó s to lo h a v ia a lc a n ç a d o c o m su a p re g a ç ã o ( A t 2 4 .5 ).

Metonímia E n q u a n to a m e tá fo ra se b a se ia n u m a re la ç ã o d e s im ila rid a d e d e s e n tid o s , a m e to n ím ia se a s s e n ta n u m a re la ção

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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d e c o n tig u id a d e d e s e n tid o s . N a m e tá fo ra , o tr a n s p o r te d e s e n tid o o p e ra -s e p o r m e io d e u m a s e m e lh a n ç a , a n a lo g ia . N a m e to n ím ia , a tra n s p o s iç ã o d e s e n tid o re a liz a -s e p o r m e io d e u m a relação , e x is tin d o ta n ta s v a rie d a d e s d e m e to n ím ia s q u a n to s os tip o s d e relação . A m e to n ím ia (d o g re g o metonymía = “m u d a n ç a d e n o m e ”) c o n siste e m d e s ig n a r d e te r m in a d a re a lid a d e p o r m e io d e u m te rm o q u e se re fe re a u m a o u tr a re a lid a d e , m a s e n tre as q u ais (e n tre as d u a s re a lid a d e s) e x iste u m a relação . A s s im se n d o , a a sso cia ção q u e se e sta b e le c e e n tre X e Y (e n tre d u a s re a lid a d e s, e n tre d u a s id éias) é o re s u lta d o d e u m a re la ç ã o p o r c o n tig u id a d e e n ã o p o r se m e lh a n ç a . A m e to n ím ia f u n d a -s e e m re la çõ es d e c a u sa lid a d e , p ro c e d ê n c ia o u su cessão e n tre as d u a s p a la v ra s q u e se in te rlig a m . Is to im p lic a e m alteração d e se n tid o d e u m a palavra o u expressão, p elo acréscim o d e o u tro significado ao já existen te, q u a n d o e n tre eles (u m e o u tro significado) existe u m a relação d e co n tig u id ad e, d e inclusão, d e im p licação , d e in te rd e p e n d ê n c ia , d e coexistência. P o r exem plo, q u a n d o d izem o s “A s cãs (cabelos b ran co s) in sp ira m re sp e ito ”, estam o s e m p re g a n d o cãs p o r v elh ice, p o rq u e os cabelos b ra n c o s in d ic ia m q u e a p esso a é id o sa e, c o n se q u e n te m e n te , c o m m u ita ex p eriên cia vivida. E m p re g a -se esta fig ura n a B íb lia q u a n d o se to m a causa p elo efeito, o u sinal o u sím b o lo p e la realid ad e q u e in d ic a o sím bolo. E x e m p lo s : J e s u s u sa essa fig u ra e m p re g a n d o a ca u sa p e lo e fe ito , ao d iz e r: “E le s tê m M o is é s e os p ro fe ta s; o u ç a m - n o s ”, e m lu g a r d e d iz e r q u e “tê m os e sc rito s d e M o is é s e d o s p r o ­

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fe ta s ”, o u seja, o A n tig o T e s ta m e n to (L c 1 6 .2 9 ). E m p r e g a ta m b é m o sin a l o u s ím b o lo p e la re a lid a d e q u e in d ic a o sin a l q u a n d o d isse a P e d ro : “S e e u n ã o te lavar, n ã o te n s p a r te c o m ig o ”. A q u i, Je su s e m p re g a o sin a l d e la v a r os p é s p e la re a lid a d e d e p u rific a r a a lm a , p o r q u e fa z s a b e r q u e o te r p a r te c o m E le n ã o d e p e n d e d a la v a g e m d o s p é s, m a s d a p u rific a ç ã o d a a lm a (J o 1 3 .8 ). D o m e s m o m o d o , J o ã o fa z u so d e s ta fig u ra p o n d o o sin a l p e la re a lid a d e q u e in d ic a o sin al, ao d iz e r: “O sa n g u e d e J e sus, seu F ilh o , n o s p u rific a d e to d o p e c a d o ”, p o is é e v id e n te q u e , a q u i, a p a la v ra sa n g u e in d ic a to d a p a ix ã o e m o r te e x p ia tó ria d e Je su s, ú n ic a co isa efic az p a ra s a tis fa z e r e p u rific a r o h o m e m ( l j o 1.7).

Prosopopéia U s a -s e e sta fig u ra q u a n d o se p e rs o n ific a m as co isas in a n im a d a s, a tr ib u in d o - lh e s os fe ito s e açõ es d a s p esso as. E x e m p lo s: o a p ó sto lo fa la d a m o r te c o m o d e u m a p e s soa q u e p o d e g a n h a r v itó ria o u so fre r d e r ro ta , ao p e r g u n ta r: “O n d e e stá, ó m o rte , o te u a g u ilh ã o ? ” ( 1 C 0 1 5 .5 5 ). O a p ó s to lo P e d ro e m p re g a a m e s m a fig u ra , fa la n d o d o a m o r e re fe rin d o -s e à p e sso a q u e a m a , q u a n d o d iz: “O a m o r c o b re m u ltid ã o d e p e c a d o s ” ( l P e r o 4 .8 ). C o m o é n a tu ra l, o c o rre m c o m fre q u ê n c ia essas fig u ra s n a lin g u a g e m p o é tic a d o A n tig o T e s ta m e n to , d a n d o - lh e , assim , u m a fo rm o s u ra , v iv a c id a d e e a n im a ç ã o e x tra o rd in á ria s , c o m o , p o r e x e m p lo , ao p r o r r o m p e r o p ro fe ta : “O s m o n te s e os o u te iro s ro m p e rã o e m c â n tic o s

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d ia n te d e vós, e to d a s as árv o res d o c a m p o b a te rã o p a lm a s ” (Is 5 5 .1 2 ). D e v e m o s o b se rv a r, a in d a , q u e , e m caso s c o m o e ste s, n ã o se tr a ta s o m e n te d e u m a m e ra p e rso n ific a ç ã o d as co isas in a n im a d a s , m as d e u m a sim b o liz a ç ã o p elas m e sm a s, re p re s e n ta n d o , n e s ta p a ssa g e m , os m o n te s e os o u te iro s , p esso a s e m in e n te s , á rv o res, p esso a s h u m ild e s ; u n s e o u tro s d e re g o z ijo lo u v a n d o o R e d e n to r a n te seus m e n sa g e iro s. O u t r o caso d e p e rso n ific a ç ã o g ra n d io s a o c o rre n o S a lm o 8 5 .1 0 ,1 1 , o n d e se fa z re fe rê n c ia à a b u n d â n c ia d e b ê n ç ã o s p ró p ria s d o re in a d o d o M e s s ia s n e ste s te rm o s : “E n c o n tr a r a m - s e a g ra ç a e a v e rd a d e , a ju s tiç a e a p a z se b e ija ra m . D a te rra , b r o ta a v e rd a d e , d o s céu s, a ju s tiç a b a ix a o seu o lh a r ”.

Ironia A iro n ia c o n siste e m d a r a se n sa ç ã o d e lo u v a r o q u e se p r e te n d e c o n d e n a r, e m e x p rim ir as suas in te n ç õ e s p o r a n tífra ses, e m d iz e r o in v e rso d o q u e se p r e te n d e d e ix a r e n te n d e r. C o m a iro n ia p r e te n d e - s e s u g e rir o c o n trá rio d a q u ilo q u e se d iz c o m as p a la v ra s. A iro n ia a s s e m e lh a -s e à h ip o c ris ia , m as c o m b a te n d o - a c o m as a rm a s q u e e s ta m e s m a u tiliz a . C o m o a iro n ia e stá e s p e c ia lm e n te e x p o s ta ao p e rig o d a in c o m p re e n s ã o (a “o b s c u rita s ”), é o c o n te x to q u e d e te r m in a o se u re a l s e n tid o e g a n h a p a r tic u la r e v id ê n c ia p o r m e io d a

pronuntiatio (a e x p re ssiv id a d e d o to m c o m q u e é p ro d u z id a ). F a z - s e u s o d e s ta f ig u ra q u a n d o se e x p re s s a o c o n tr á r io d o q u e se q u e r d iz e r , p o r é m , s e m p re d e ta l m o d o q u e se fa z r e s s a lta r o s e n tid o v e r d a d e ir o . 362

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E x e m p lo s: P a u lo e m p re g a e sta fig u ra q u a n d o c h a m a os falsos m e stre s d e os tais a p ó sto lo s, d a n d o a e n te n d e r, ao m e s m o te m p o , q u e , d e m o d o n e n h u m , são a p ó sto lo s (2 C o 11 .5 ; 1 2 .1 1 ; V .tb. 1 1 .1 3 ). V ale-se d a m e s m a fig u ra o p ro fe ta E lia s, q u a n d o , n o m o n te C a rm e lo , d isse aos sa c e rd o te s d o falso d e u s B aal: “C la m a i e m altas v o ze s [...] e d e s p e rta rá ”, d a n d o - lh e s a c o m p re e n d e r, p o r su a vez, q u e e ra d e to d o in ú til g rita re m ( l R s 1 8 .2 7 ). Jó , ta m b é m , faz u so d e sta fig u ra ao d iz e r a seus am ig o s: “Vós sois o p o v o , e co n v o sco m o rre rá a sa b e d o ria ”, fa z e n d o -o s sab e r q u e e stav a m m u ito lo n g e d e sere m tais sábios (J ó 12 .2 ).

Hipérbole N a lin g u a g e m c o rre n te , seu d o m ín io d e p re fe rê n c ia , a h ip é rb o le , c o n siste e m u tiliz a r te rm o s excessivos e im p ró p rio s , c o m o “g e n ia l”, “fa n tá s tic o ”, “s u b lim e ”, “ig n ó b il”, “ex e cráv e l”, e n tre o u tro s; a lém d e c o m p a ra ç õ e s irre a lista s (“fo rte c o m o u m to u r o ”) e ab u so d e su p e rla tiv o s. N o fu n d o , n a lin g u a g e m c o rre n te o u n a lin g u a g e m lite rá ria , a h ip é rb o le c o rre s p o n d e se m p re a u m ex ag ero , seja d o re al o u d o im a g in á rio , p o r excesso o u p o r d e fe ito . A h ip é rb o le p o ssu i e fe ito s p o é tic o -e v o c a tiv o s e serv e, n a re tó ric a , p a ra d e s p e rta r, p a te tic a m e n te , n o p ú b lic o a feto s p a r tid á r io s , p a ra a c ria ç ã o a fe tiv a d e im a g e n s q u e u ltra p a s sa m a re a lid a d e , e n fa tiz a n d o , d e s te m o d o , d e te r m in a d a id eia. A h ip é rb o le p u ra é u m s o b re p u ja m e n to g ra d u a l d e s in ô n im o s a m p lific a n te s q u e a c a b a m p o r u ltra p a s s a r os lim ite s d a c re d ib ilid a d e . E

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En c ic l o p é d ia

E a fig u ra p e la q u a l se re p re s e n ta u m a co isa c o m o m u ito m a io r o u m e n o r d o q u e , n a re a lid a d e , é, p a r a a p re s e n tá -la viva à im a g in a ç ã o . T a n to a iro n ia c o m o a h ip é rb o le são p o u c o u sa d a s n as E s c ritu ra s , p o ré m , a lg u m a o u o u tra v ez o c o rre m . E x e m p lo s: fa z e m u so d a h ip é rb o le os ex p lo ra d o res d a te rra d e C a n a ã , q u a n d o v o lta m p a ra c o n ta r o q u e ali h a v ia m visto, d iz e n d o : “V im o s ali g ig a n te s [...] e é ra m o s aos n o sso s p ró p rio s o lh o s c o m o g a fa n h o to s [...] as cid ad es são g ra n d e s e fo rtificadas até os céu s” ( N m 1 3 .3 3 ; D t 1 .2 8 ). D a í, se vê q u e os exp lo ra d o re s falav am c o m o se c o stu m a e n tre n ó s, q u a n d o u m a p esso a d iz à o u tra: “J á lh e avisei m il v ez es”, q u e re n d o d iz e r so m e n te : “J á lh e avisei m u ita s v ez es”. J o ã o ta m b é m fa z u so d e s ta fig u ra , ao d iz e r: “H á , p o ré m , a in d a m u ita s o u tra s co isas q u e Je su s fez. S e to d a s elas fo sse m re la ta d a s u m a p o r u m a , c re io eu q u e n e m n o m u n d o in te iro c a b e ría m os liv ro s q u e se ria m e s c rito s ” (J o 2 1 .2 5 ).

Alegoria A a le g o ria é, n a v e rd a d e , u m a a c u m u la ç ã o d e m e tá fo ra s r e fe rin d o -s e ao m e s m o o b je to . E u m a fig u ra p o é tic a q u e c o n s is te e m e x p re ssa r u m a situ a ç ã o g lo b a l p o r m e io d e o u tra q u e a e v o q u e e in te n s ifiq u e o seu sig n ific a d o . N a aleg o ria , to d a s as p a la v ra s são tra n s la d a d a s p a ra u m p la n o in c o m u m e o fe re c e m d o is s e n tid o s c o m p le to s e p e rfe ito s — u m re fe re n ciai e o u tro m e ta fó ric o . A a le g o ria b íb lic a c o n s ta d e v ária s m e tá fo ra s u n id a s , c a d a u m a d elas r e p re s e n ta n d o re a lid a d e s c o rre s p o n d e n te s . C o s ­

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tu m a se r tã o p a lp á v e l a n a tu re z a fig u ra tiv a d a a le g o ria , q u e u m a in te rp re ta ç ã o ao p é d a le tra q u a se q u e se é im p o ssív e l. V

A s v ezes, a a le g o ria e stá a c o m p a n h a d a , c o m o a p a rá b o la , d a in te rp re ta ç ã o q u e exige. E x e m p lo s: Je su s n o s fa z ta l e x p o siç ã o a le g ó ric a , ao d iz e r: “E u so u o p ã o vivo q u e d e sc e u d o céu; se a lg u é m d e le co m er, v iv erá e te r n a m e n te ; e o p ã o q u e eu d a re i p e la v id a d o m u n d o , é a m in h a c a rn e [...] Q u e m c o m e r a m in h a c a rn e e b e b e r o m e u sa n g u e te m a v id a e te r n a ” (J o 6 .5 1 -6 5 ). E s ta a le g o ria te m su a in te rp re ta ç ã o n a m e s m a p a s s a g e m d a E s c ritu ra . O sa lm ista a p re se n ta o u tra aleg o ria (SI 8 0 .8 -1 3 ) re p re s e n ta n d o os israelitas, sua tra sla d a ç ã o d o E g ito a C a n a ã e su a su cessiva h is tó ria sob as fig u ras m e ta fó ric a s d e u m a v id e ira c o m suas raízes, ra m o s, e tc ., à q u al, d e p o is d e tra sla d a d a , la n ç a ra ízes e se e ste n d e , fic a n d o , p o ré m , m ais ta rd e , e s tro p ia d a p e lo jav ali d a selva e c o m id a p elas b e sta s d o c a m p o (re p re se n ta n d o , o jav ali e as b estas, p o d e re s g e n tílic o s). A in d a o u tr a a le g o ria n o s a p r e s e n ta o p o v o is ra e lita so b as fig u ra s d e u m a v in h a e m lu g a r fé rtil, à q u a l, a p e s a r d o s m e lh o re s c u id a d o s , n ã o d á m a is q u e u v as silv estres, e tc .T a m b é m , e sta a le g o ria e stá a c o m p a n h a d a d e su a e x p lic a ç ã o c o rre s p o n d e n te : “P o rq u e , a v in h a d o S e n h o r d o s E x é rc ito s é a casa d e Isra e l, e os h o m e n s d e J u d á são a p la n ta d ile ta d o S e n h o r ” (Is 5 .1 -7 ).

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Fábula A fá b u la é u m a a le g o ria h is tó ric a , p o u c o u sa d a n as E s c r itu ra s , n a q u a l u m fa to o u a lg u m a c irc u n s tâ n c ia se ex p õ e em fo rm a d e n a rra ç ã o m e d ia n te a p e rso n ific a ç ã o d e coisas o u de a n im a is. E x e m p lo s: le m o s, e m 2 R e is 1 4 .9 : Ό

c a rd o q u e e stá n o

L íb a n o , m a n d o u d iz e r ao c e d ro q u e lá está: D á tu a filh a p o r m u lh e r a m e u filh o ; m a s os a n im a is d o c a m p o , q u e e sta v a m n o L íb a n o , p a s s a ra m e p is a ra m o c a rd o ”. C o m e s ta fá b u la Je o á s, rei d e Isra e l, re s p o n d e ao r e p to d e g u e rra q u e lh e h a v ia fe ito A m a z ia s , re i d e J u d á . J e o á s c o m p a r a -s e a si m e s m o ao ro b u s to c e d ro d o L íb a n o e h u m ilh a o seu o rg u lh o s o c o n te n d o r, ig u a la n d o -o a u m d é b il c a rd o , d e s fa z e n d o to d a a lia n ç a e n tre os d o is e p re d iz e n d o a r u ín a d e A m a z ia s c o m a e x p re ssão d e q u e “os a n im a is d o c a m p o p is a ra m o c a rd o ”.

Enigma O e n ig m a ta m b é m é u m tip o d e aleg o ria, p o ré m , sua so lu ção é difícil e ab stru sa . E x e m p lo s : S a n sã o p ro p ô s aos filiste u s o se g u in te : “D o c o m e d o r saiu c o m id a e d o fo rte saiu d o ç u r a ” ( J z 1 4 .1 4 ). A so lu ç ã o se e n c o n tr a n o s o b re d ito tre c h o b íb lic o . E n tr e o u tro s d ito s d e A g u r, e n c o n tr a m o s , e m P ro v é rb io s 3 0 .2 4 , o e n ig m a se g u in te : “H á q u a tro co isas m u i p e q u e n a s n a te rr a , q u e , p o ré m , são m a is sáb ias q u e os sá b io s”. E s te e n ig m a te m ta m b é m su a so lu ç ã o n a m e s m a p a s s a g e m e m q u e se e n c o n tra .

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Parábola O te rm o g re g o “p a rá b o la ” sig n ific a “d esv io d o c a m in h o ”. M a s , d e sv ia r-se n ã o eq u iv ale, n e c e s s a ria m e n te , p e rd e r-s e . N o fiando, re c o rre -s e a u m a f o rm a p o é tic a p a r a re v e la r u m a re a lid a d e a b s tra ta , o u , u tiliz a n d o u m o x im o ro , tr a ta - s e d e u m

“revelarpor ocultação”. N a p a rá b o la , a ssiste -se a u m a e sp é c ie d e d esv io e m re la ção à lite ra lid a d e d a m e n s a g e m , id e n tic a m e n te ao q u e su c e d e c o m o d esv io à n o rm a , tra ç o c a ra c te rís tic o e e sse n c ia l d o fa to estilístico . U m a p a rá b o la p o d e ser in v e n ta d a , m a s u m a c o n te c im e n to h is tó ric o o u u m a a n e d o ta p o d e se rv ir d e p a rá b o la , fo ra d e te m p o , o q u e e x p lica o s e n tid o p ro v e rb ia l d e c e rta s ex p re ssõ e s. A s p a rá b o la s d o e v a n g e lh o a d q u irira m u m s e n tid o e x e m p la r e in te g r a m - s e n o d is c u rs o d e ig u a l m o d o . U m a p a rá b o la é u m a e sp é c ie d e a le g o ria a p r e s e n ta d a so b f o rm a d e u m a n a rra ç ã o , re la ta n d o fa to s n a tu ra is o u a c o n te c im e n to s p o ssív eis, s e m p re c o m o o b je tiv o d e d e c la ra r o u ilu s tr a r u m a o u v árias v e rd a d e s im p o r ta n te s . E x e m p lo s : e m L u c a s 1 8 .1 -7 , Je su s ex p õ e a v e rd a d e d e q u e é p re c iso o ra r s e m p re e se m d esfa lecer, a in d a q u e ta rd e m o s e m re c e b e r a re s p o s ta p a r a a c la ra r e im p r im ir n o s c o ra ç õ e s e sta v e rd a d e . S e rv e -se d o e x e m p lo o u p a rá b o la d e u m a v iú v a e u m m a u ju iz , q u e , n e m te m e a D e u s n e m te m re s p e ito aos h o m e n s . C o m p a re c e a v iú v a p e r a n te o ju iz p e d in d o ju s tiç a c o n tra seu a d v e rsário . M a s , o ju iz n ã o fa z caso; to d a v ia , e m ra zão d e v o lta r e m o le stá -lo , a v iúva co n se g u e q u e o ju iz in ju s­

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to lh e faça ju stiç a . E , assim D e u s o u v irá os seus “q u e a E le ciam a m d ia e n o ite , e m b o ra p a re ç a d e m o ra d o e m d e fe n d ê -lo s ”. U m a p a rá b o la q u e te m p o r o b je tiv o ilu s tra r v ária s v e rd a d es, te m o - la n o “S e m e a d o r ” ( M t 1 3 .3 -8 ), cu ja s e m e n te cai n a te rr a e m q u a tro p o n to s d ife re n te s ; n e c e s s ita n d o c a d a u m sua in te rp re ta ç ã o (v. 1 8 2 5 ‫) ־‬. V árias v e rd a d e s são a c la ra d a s ta m b é m p e la s p a rá b o la s d a “O v e lh a p e r d id a ”, d a “D r a c m a p e r d id a ” e d o “F ilh o p ró d ig o ” (L c 15). O u t r o ta n to su c e d e c o m a d o “F a ris e u e o p u b lic a n o ” (L c 1 8 .1 0 -1 4 ). Q u a n to à c o rre ta c o m p re e n s ã o e in te rp re ta ç ã o d as p a r á b o la s, é p re c iso o b s e rv a r o se g u in te :

Primeiro. D e v e -s e b u sc a r seu o b jetiv o ; e m o u tra s palavras, q u a l é a v e rd a d e o u q u a is as v e rd a d e s q u e ilu stra . E n c o n tra d o isso, te m -s e a ex p licação d a p a rá b o la , e, n o te -s e q u e, às vezes, c o n sta o o b jetiv o n a su a in tro d u ç ã o o u n o seu té rm in o . O u tr a s vezes, se d e sc o b re seu o b jetiv o te n d o p re se n te o m o tiv o co m q u e foi e m p re g a d a .

Segundo. D e v e m o s te r e m c o n ta os tra ç o s p rin c ip a is d as p a rá b o la s , d e ix a n d o -s e d e la d o o q u e lh e s serv e d e a d o r n o o u p a ra c o m p le ta r a n a rra tiv a . J e s u s m e s m o n o s e n s in a a p ro c e d e r assim n a in te rp re ta ç ã o d e suas p ró p ria s p a rá b o la s. C o m o ex iste o p e rig o d e e q u iv o c a r-se n e s te p o n to , v a m o s a c la rá -lo , c h a m a n d o a a te n ç ã o p a ra a p a rá b o la d e L u c a s 1 1 .5 -8 , o n d e Je su s ilu s tra a v e rd a d e d e q u e é n e c e ssá rio o ra r c o m in sistê n c ia , v a le n d o -s e d o e x e m p lo d e u m a p e sso a q u e n e c e ssita d e trê s p ães. E n o ite e vai p e d i-lo s e m p re s ta d o s a u m a m ig o q u e j á te m a p o r ta fe c h a d a e e stá d e ita d o , b e m c o m o os seus

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filh o s. E s te a m ig o p re g u iç o s o n ã o q u e r le v a n ta r-s e p a r a d á -lo s, m a s, p o r fo rç a d a in s is tê n c ia e im p o r tu n a ç ã o n o p e d id o , o h o m e m c o n se g u e o q u e d eseja. É fácil v er q u e , a q u i, é o h o m e m n e c e ssita d o e su p lic a n te q u e m n o s o fe rece o b o m e x e m p lo e re p re s e n ta o c ristã o n a p a rá b o la . I g u a lm e n te fácil é e n te n d e r q u e o seu a m ig o re p re s e n ta D e u s . M a s , q u e a b s u rd o se ria in te r p r e ta r tu d o o q u e se disse d o a m ig o , a p lic a n d o - o a D e u s ; a saber, q u e te m a p o r ta fe c h a d a , e s ta n d o ele e seus filh o s d e ita d o s , e, se n d o p re g u iç o so, n ã o q u e r le v a n ta r-se ! E e v id e n te q u e e sta p a r te c o n s titu i o q u e c h a m a m o s d e a d o rn o d a p a rá b o la e q u e se d ev e d e ix a r d e la d o , p o r n ã o c o r re s p o n d e r e se a p lic a r à re a lid a d e . O b se rv e m o s, p o is, se m p re a to ta lid a d e d a p a rá b o la e su as p a rte s p rin c ip a is , fa z e n d o caso o m isso d e seu s d e ta lh e s .

Terceiro. N ã o se e sq u e ç a d e q u e as p a rá b o la s , c o m o as d e m a is fig u ra s, se rv e m p a ra ilu s tra r as d o u tr in a s e n ã o p a ra p ro d u z i-la s .

Símile C o n s is te , c o m o o p ró p rio n o m e in d ic a , e m c o m p a ra r d o is seres, fa z e n d o u so d e c o n e c tiv o s a p ro p ria d o s , p o r ex e m p lo : “esse líq u id o é a z e d o c o m o lim ã o ”, “a jo v e m estav a b ra n c a q u a l u m a v ela”. E s s a fig u ra re tó ric a d e n o m in a d a sím ile p ro c e d e d a p a la v ra la tin a similis, q u e sig n ific a “s e m e lh a n te ” o u “p a re c id o a o u tro ”. A p a la v ra é d e fin id a d a s e g u in te m a n e ira , p e la E n c ic lo p é d ia B ra sile ira M é r ito : “S e m e lh a n te . A n a lo g ia ; q u a lid a d e d o q u e

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s t u d o s

d e

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é s e m e lh a n te ; c o m p a ra ç ã o d e coisas s e m e lh a n te s ”. A B íb lia c o n té m n u m e ro s o s e b e líssim o s sím iles, q u e , q u a is ja n e la s d e u m ed ifício , d e ix a m p e n e tr a r a lu z e p e r m ite m q u e os q u e e stã o e m seu in te r io r p o s s a m o lh a r p a ra fo ra e c o n te m p la r o m a ra v ilh o s o m u n d o d e D e u s . S ím ile c o n siste e m d e n o m in a r u m a co isa e m p re g a n d o o n o m e d e o u tra , n a e s p e ra n ç a d e q u e o le ito r o u o o u v in te re c o n h e c e rá a s e m e lh a n ç a e n tre o s e n tid o re a l e o fig u ra d o d a c o m p a ra ç ã o . O S e n h o r Je su s e m p re g o u , a re sp e ito d e H e ro d e s, o q u a lific a tiv o d e “a q u e la ra p o s a ”, o q u e c o n s titu i e m u m a m e tá fo ra . Se h o u v e sse d ito q u e H e r o d e s era c o m o u m a ra p o sa , te ria e m p re g a d o a fig u ra re tó ric a d e n o m in a d a sím ile, m a s, n e s te caso, te ria fa lta d o fo rç a à su a d e c la ra ç ã o . A p a la v ra ra p o s a a ju sta v a -se tã o b e m ao a s tu to rei, q u e o S e n h o r n ã o n e c e s s ito u d iz e r q u e H e r o d e s e ra c o m o u m a ra p o sa . N a sím ile, se e m p re g a p a ra a c o m p a ra ç ã o a p a la v ra c o m o o u o u tr a sim ilar, e n q u a n to n a m e tá fo r a se p re s c in d e d ela. V ejam o s m a is a lg u n s e x e m p lo s d e s ta fig u ra d e lin g u a g e m : E x e m p lo s : “P o is q u a n to o cé u se a lte ia a c im a d a te rra , a ssim é g ra n d e a su a m is e ric ó rd ia p a r a c o m os q u e o te m e m ” (S ím ile ). “C o m o o p a i se c o m p a d e c e d e seu s filh o s, a ssim o S e n h o r se c o m p a d e c e d o s q u e o te m e m ” (S ím ile ). “P o is ele c o n h e c e a n o ssa e s tr u tu r a , e sab e q u e so m o s p ó ” (M e tá fo ra ). “Q u a n to ao h o m e m , os seus dias são c o m o a relva; c o m o a flo r d o ca m p o , assim ele floresce; p o is, so p ra n d o n ela o ven to ,

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d esaparece; e n ão c o n h e c e rá d aí e m d ia n te o seu lu g a r” (S ím ile). O u t r a série d e sím ile s se e n c o n tr a e m Isa ía s 5 5 .8 - 1 1 . T e m o s sím ile s d e ra ra b e le z a , c o m o , p o r ex e m p lo : “C o m o os céu s são m a is alto s d o q u e a te rra , a ssim são os m e u s c a m in h o s m a is alto s d o q u e os v o sso s c a m in h o s ; e os m e u s p e n s a m e n to s m a is alto s d o q u e os v o sso s p e n s a m e n to s ”. “P o rq u e , assim c o m o d e s c e m a c h u v a e a n ev e d o s céu s, e p a ra lá n ã o to r n a m , se m q u e p rim e iro re g u e m a te r r a e a fe c u n d e m e a fa ç a m b r o ta r p a ra d a r s e m e n te ao s e m e a d o r e p ã o ao q u e c o m e , a ssim será a p a la v ra q u e sa ir d a m in h a b o c a ; n ã o v o lta rá p a ra m im v azia, m a s fa rá o q u e m e a p ra z , e p ro s p e ra rá n a q u ilo p a ra q u e a d e s ig n e i”. “O s sím b o lo s e s c o lh id o s ”, d iz - n o s o dr. D e litc h , e m seu

Comentário bíblico de Isaías: “T ê m p r o f u n d o sig n ific a d o a lu sivo. A s s im c o m o a n ev e e a c h u v a são cau sas im e d ia ta s d e c re s c im e n to , e ta m b é m d a sa tisfa ç ã o q u e p ro p o r c io n a m os p ro d u to s c o lh id o s, assim ta m b é m a P a la v ra d e D e u s a b ra n d a e re fre sc a o c o ra ç ã o h u m a n o , tr a n s f o r m a n d o - o e m te rr e n o fé rtil e v e g e ta tiv o . A P a la v ra d e D e u s p ro p o rc io n a , ta m b é m , ao p ro fe ta - o s e m e a d o r - a s e m e n te p a ra sem ea r, a q u a l tr a z c o n sig o o p ã o q u e a lim e n ta a alm a . O h o m e m vive d e to d a p a la v ra q u e sai d a b o c a d e D e u s ( D t 8 .3 )”. O u tr o s d o is sím iles eficazes, relativ o s ao p o d e r d a P alav ra d e D e u s , se e n c o n tra m em Je re m ia s 2 3 .2 9 , q u e d iz assim : “N ã o é a m in h a p alav ra fo g o , d iz o S e n h o r, e m a rte lo q u e e sm iú ça a p e n h a ? ”. C o m p a re a p o d e ro sa m e tá fo ra d e H e b re u s 4 .1 2 . O p ro fe ta Isaías, n a re fe rê n c ia 1 .1 8 , m e d ia n te d o is sím iles

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fa m iliares, d á a c o n h e c e r as p ro m e ssa s d e D e u s relativ as ao p e rd ã o e à lim p e z a . “A in d a q u e os vossos p e c a d o s sejam c o m o a escarlate, eles se to rn a rã o b ra n c o s c o m o a neve; a in d a q u e sejam v e rm e lh o s c o m o o c a rm e sim , se to rn a rã o c o m o a lã”. O p ro fe ta Isaías n o s d iz, ta m b é m , q u e “os p erversos são c o m o o m a r ag itad o , q u e n ão se p o d e aquietar, cujas águas la n ç a m d e si la m a e lo d o ”. O m e sm o p ro fe ta c o m p a ra os ju sto s a u m ja rd im reg ad o e a u m m a n a n c ia l inesgotável (57.20; 5 8 .1 1 ). N a d a é m a is in c o n s ta n te q u e as o n d a s m a rin h a s im p u lsio n a d a s p e lo v e n to . O a p ó s to lo T ia g o (1 .6 ) as c o m p a ra c o m o c re n te v ariáv el e v a c ila n te , q u e o scila e n tre a fé e a d ú v ida. “P e ç a c o m fé, e m n a d a d u v id a n d o ; p o is o q u e d u v id a é s e m e lh a n te à o n d a d o m ar, im p e lid a e a g ita d a p e lo v e n to ”. A tra d u ç ã o d e s te v e rsíc u lo p a ra o in g lê s, fe ita p o r M o f f a tt, e v e r tid a liv re m e n te p a ra o p o rtu g u ê s , d iz assim : “S o m e n te p e ç a c o m fé, se m d u v id a r ja m a is , p o rq u e o h o m e m q u e d u v id a é c o m o a o n d a d o m a r, q u e g ira e m r e d e m o in h o e flu tu a , im p u ls io n a d a p e lo v e n to ”. O s sím ile s d a B íb lia são q u a is g ra v a ç õ e s fo rm o s a s e d e g r a n d e v a lo r a rtís tic o , q u e a c o m p a n h a m as v e rd a d e s q u e , sem e ste au x ílio , se ria m c a p ta d a s fra c a m e n te e e sq u e c id a s c o m fa c ilid a d e .

Interrogação A p a la v ra in te rro g a ç ã o p ro c e d e d e u m v o c á b u lo la tin o q u e sig n ific a “p e r g u n ta ”. M a s , n e m to d a s as p e r g u n ta s são fig u ra s

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VOLUME

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d e re tó ric a . S o m e n te q u a n d o a p e r g u n ta e n c e rra u m a c o n c lu sã o e v id e n te é q u e é u m a fig u ra lite rá ria . A E n c ic lo p é d ia B ra s ile ira M é r ito d e fin e a in te rro g a ç ã o d a s e g u in te m a n e ira : “F ig u r a p e la q u a l o o r a d o r se d irig e ao seu in te rlo c u to r, o u a d v e rsá rio , o u ao p ú b lic o , e m to m d e p e r g u n ta , s a b e n d o d e a n te m ã o q u e n in g u é m v ai r e s p o n d e r ”. E x e m p lo s : “N ã o fa rá ju s tiç a o ju iz d e to d a a te rra ? ” ( G n 1 8 .2 5 ). Isso e q u iv a le a d iz e r q u e o j u i z d e to d a a te r r a fa rá o q u e é ju s to . “N ã o são to d o s eles e s p írito s m in is tra d o re s e n v ia d o s p a r a serv iço , a fa v o r d o s q u e h ã o d e h e r d a r a sa lv aç ão ?” ( H b 1 .1 4 ). N e s te v e rsíc u lo , o m in is té r io n o b re d o s an jo s se c o n s id e ra u m fa to in c o n tro v e rtív e l. A s in te rro g a ç õ e s q u e se e n c o n tr a m e m R o m a n o s 8 .3 3 -3 5 c o n s titu e m e m fo rm o so s e x e m p lo s d o p o d e r e d o u so d e s ta fig u ra lite rá ria . A m e n te , e m fo rm a in s tin tiv a , v ai d a p e r g u n ta à re s p o s ta e m a titu d e triu n fa l. “Q u e m in te n ta r á a c u sação c o n tr a os e le ito s d e D e u s? E D e u s q u e m os ju s tific a . Q u e m os c o n d e n a rá ? É C r is to Je su s q u e m m o rre u , o u a n te s, q u e m re ssu sc ito u , o q u a l e stá à d ire ita d e D e u s , e ta m b é m in te rc e d e p o r n ó s. Q u e m n o s s e p a ra rá d o a m o r d e C ris to ? S e rá trib u la ç ã o , o u fo m e , o u n u d e z , o u p e rig o o u e sp a d a ? ”. “J e s u s , p o ré m , lh e disse: J u d a s , c o m u m b e ijo tra is o F ilh o d o H o m e m ? ”. E s ta s p a la v ra s e q u iv a lia m a d iz e r: “J u d a s , tu e n tre g a s o F ilh o d o H o m e m c o m u m b e ijo ” (L c 2 2 .4 8 ). N o liv ro d e Jó , h á m u ita s in te rro g a ç õ e s . A q u i, te m o s a lg u n s ex e m p lo s: “P o rv e n tu ra , n ã o sab es tu q u e , d e s d e to d o s os te m p o s , d e s ­

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d e q u e o h o m e m fo i p o s to so b re a te rra , o jú b ilo d o s p e rv e rsos é b rev e, e a a le g ria d o s ím p io s m o m e n tâ n e a ? ” (J ó 2 0 .4 ,5 ). “P o rv e n tu ra , d e sv e n d a rá s os a rc a n o s d e D e u s , o u p e n e tr a rá s a té a p e rfe iç ã o d o T o d o - P o d e r o s o ? ” (J ó 1 1 .7 ). A re s p o s ta d e D e u s d o m e io d e u m r e d e m o in h o (cap. 3 8 -4 0 ) e stá ex p ressa e m su a m a io r p a r te p o r m e io d e in te rro g a ç õ e s .

Antítese A n títe s e é u m a fig u ra d e co n stru ção , co m o ta m b é m de p e n sarnen to . S e n d o u m p ro c e d im e n to literário e, so b retu d o p o é tico, a an títese n ão con siste e m c o n fro n ta r d ia le tic a m e n te te o rias o p o stas, m as, sim , ap en as e m jo g a r co m os co n trastes e em p e rim i-lo s p o r m eio d e co n stru çõ es co m p actas e b ipolares. A a n títe s e p o é tic a n ã o p r e te n d e reso lv er, e m u ito m e n o s elu cid ar, as c o n tra d iç õ e s d o U n iv e rso o u d o p e n s a m e n to ; a n tes, p r e te n d e s o m e n te e x p rim ir to d o o c la ro -e s c u ro d a v id a p elas ex p ressõ es in tu itiv a s . E s ta fig u ra d e lin g u a g e m re sid e n a o p o s iç ã o d o s c o n tra s te s e m e s ta d o p u ro e n a fo rm a m ais o u m e n o s s im é tric a q u e os c o lo c a e m relev o . A sig n ific a ç ã o id e o ló g ic a q u e d a í se p o d e r e tir a r p e r te n c e a o u tro d o m ín io . E s s e v o c á b u lo p ro c e d e d a p a la v ra la tin a antithesis, q u e te m c o m o sig n ific a d o “c o lo c a r u m a c o isa c o n tr a a o u tr a ”. A E n c ic lo p é d ia B ra sile ira M é r ito n o s d á a s e g u in te d e fin iç ã o : “In c lu s ã o , n a m e s m a frase, d e d u a s p a la v ra s, o u d o is p e n s a m e n to s , q u e fa z e m c o n tra s te u m c o m o o u tr o ”. T r a ta - s e d e u m a fig u ra d e re tó ric a m u ito efic a z q u e se e n c o n tr a e m m u ita s p a r te s d as E s c ritu ra s . O m a u e o falso se rv e m d e c o n tra s te

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o u f u n d o q u e d ê realce ao b o m e ao v e rd a d e iro . E x e m p lo s : o d is c u rs o d e d e s p e d id a d e M o is é s ( D t 2 7 — 3 3 ) c o n s is te n u m a n o tá v e l sé rie d e c o n tr a s te s o u a n títe s e s . N o t e - s e o q u e se e n c o n tr a e m D e u t e r o n ô m io 3 0 .1 5 , q u e d iz : “ Vê q u e p r o p o n h o h o je a v id a e o b e m , a m o r te e o m a l”. T e m o s , a q u i, u m c o n tr a s te o u a n títe s e d u p la . T a m b é m , n o v e rs íc u lo 1 9 , le m o s : “O s c é u s e a te r r a to m o h o je c o m o te s te m u n h a s c o n tr a t i q u e te p r o p u s a v id a e a m o r te , a b ê n ç ã o e a m a ld iç ã o [d u a s a n títe s e s ] ; e s c o lh e , p o is , a v id a , p a r a q u e v iv as, tu e a tu a d e s c e n d ê n c ia ”. O

S e n h o r Je su s a p re se n ta , e m seu S e rm ã o d a M o n ta -

n h a , n u m e ro sa s a n títe se s. V ejam o s a q u e ap arece e m M a te u s 7 .1 3 ,1 4 : “E n tr a i p e la p o rta estre ita , p o rq u e la rg a é a p o r ta e esp aç o so o c a m in h o q u e c o n d u z à p e rd iç ã o , e são m u ito s os q u e e n tra m p o r ela; p o rq u e e stre ita é a p o r ta e a p e rta d o o c a m in h o q u e c o n d u z p a ra a v id a, e são p o u c o s os q u e a c e rta m c o m ela”. O S e n h o r J e s u s e s ta b e le c e u m c o n tr a s te , o u a n títe s e , e n tr e a p o r t a e s tr e ita e a la rg a ; e n tr e o c a m in h o e s tr e ito e o la rg o ; e n tr e os d o is d e s tin o s , a v id a e a d e s tr u iç ã o ; e e n tr e os p o u c o s e os m u ito s . T e m o s , a q u i, u m a q u á d r u p la a n títe s e . E n t r e os v e rs íc u lo s 1 7 e 1 8 , se c o n t r a s ta a á r v o re m á e os se u s m a u s f r u to s c o m a á r v o re b o a e o s se u s b o n s f r u to s . N o s v e r s íc u lo s 2 1 a 2 3 , o S e n h o r e f e tu a u m c o n tr a s te e n tr e d u a s p e s s o a s : u m a p r o f e s s a o b e d iê n c ia à v o n ta d e d iv in a , s e m p r a ti c á - l a , e n q u a n to a o u tr a , r e a lm e n te , p r a tic a a o b e d iê n c ia . A s e g u ir, ilu s tr a a d if e r e n ç a m e d ia n te u m a e x tr a o r d in á r ia e m ú ltip la a n títe s e (v. 2 4 - 2 7 ) . O n o sso S e n h o r Je su s d á p o r c o n c lu íd o o se u m a ra v ilh o s o

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d isc u rso e sc a to ló g ic o (re fe re n te às co isas fin ais, c o m o a m o rte , o ju íz o e o e s ta d o fu tu ro ) n o s c a p ítu lo s 2 4 e 2 5 d e M a te u s , e m p re g a n d o g ra d a ç ã o o u c lím a x d e c a rá te r a n tité tic o . E m 2 C o r ín tio s 3 .6 - 1 8 , P a u lo e sta b e le c e u m c o n tra s te e n tre o a n tig a a lia n ç a a n o v a a lia n ç a , e n tre a lei e o e v a n g e lh o , e m p re g a n d o , p a ra isso , u m a série n o tá v e l d e a n títe s e s q u e p o d e m se r c o n v e n ie n te m e n te p re p a ra d a s e m c o lu n a s p a ralelas. E m R o m a n o s 6 .2 3 , o a p ó s to lo P a u lo c o n tra s ta “m o r te ” c o m “v id a e te r n a ” e o “sa lá rio d o p e c a d o ” c o m o “d o m g ra tu ito d e D e u s ”. E m u m a d e su as c a rta s ao s C o r ín tio s , o a p ó sto lo P a u lo n o s p r o p o rc io n a u m a sé rie d e a n títe s e s re la c io n a d a s c o m su a p r ó p ria e x p e riê n c ia m e d ia n te a n títe s e s c u id a d o s a m e n te se le c io n a d a s, d e m o n s tr a n d o a lo u c u ra d o c ristã o q u e se a g rilh o a ao m u n d o . E m l C o r í n t i o s 1 5 .3 5 -3 8 , ele d á p o r te r m in a d o seu p o d e ro s o a r g u m e n to re la tiv o à re ssu rre iç ã o , m e d ia n te u m a b u n d a n te n ú m e ro d e a n títe s e s , s e m e lh a n te à d e sc a rg a d e u m a m e tra lh a d o ra .

Clímax ou gradação A p a la v ra c lím a x o u g ra d a ç ã o p ro c e d e d o la tim clímax e e sta , d o g re g o klimax, q u e sig n ific a “escala”, n o s e n tid o fig u ra d o d a p alav ra. A E n c ic lo p é d ia B ra sile ira M é r ito n o s p r o p o rc io n a a s e g u in te d e fin iç ã o d a p a la v ra g ra d a ç ã o : “C o n c a te n a ç ã o d o s e le m e n to s d e u m p e río d o , d e m o d o a fa z e r c o m q u e c a d a u m c o m e c e c o m a ú ltim a p a la v ra d o a n te rio r; a m p lific a ç ã o , a p re s e n ta ç ã o d e u m a série d e id é ia s e m p ro g re ssã o a s c e n d e n te o u d e s c e n d e n te . T a m b é m se d iz c lím a x ”.

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O e sse n c ia l é q u e e x ista a v a n ço o u p ro g re s s o n a o ra ç ã o , p a rá g ra fo , te m a , liv ro o u d isc u rso . A m a io ria d o s se rm õ e s b e m p re p a ra d o s te m m a is d e u m a g ra d a ç ã o , e te r m in a m e d ia n te u m a g ra d a ç ã o fin a l d e c a rá te r e x tra o rd in á rio . A g ra d a ç ã o p o d e c o n s is tir e m a lg u m a s p o u c a s p a la v ra s o u p o d e , a in d a , e s te n d e r-s e p o r to d o o d isc u rso o u livro. P o d e c o n s is tir e m p a la v ra s so lta s, p re p a ra d a s d e ta l m a n e ira q u e le v e m a m e n te à p ro g re ssã o g ra d u a l a s c e n d e n te o u p o d e c o n s is tir e m u m a série d e a rg u m e n to s q u e e x p lo d e m e m tr iu n fa l c u lm in a ç ã o , c o m o o a r g u m e n to in c o n tro v e rtív e l d a re ss u rre ição, e m l C o r í n t i o s 15. O g ra n d e c a p ítu lo d á fé, H e b r e u s 11, é u m e x e m p lo d e u m lo n g o e p o d e ro s o c lím a x o u g ra d a ç ã o . E x e m p lo s: o c a p ítu lo 8 d e R o m a n o s é u m m a ra v ilh o s o c lím a x o u g ra d a ç ã o . C o m e ç a c o m os v o c á b u lo s “n e n h u m a c o n d e n a ç ã o ” e te r m in a d iz e n d o q u e “n e n h u m a c r ia tu r a n o s p o d e r á s e p a ra r”. P a ra c ria r e ste p o d e ro s o c lím a x o u g ra d a ção, o a p ó sto lo e m p re g a u m a série d e g ra d a ç õ e s. T e m o s , aq u i, u m a delas: “P o rq u e n ã o re c e b e ste s o e s p írito d e se rv id ã o p a ra v iv erd es o u tra v ez a te m o riz a d o s , m as re c e b e ste s o e s p írito de a d o ç ã o , b a se a d o s n o q u a l c la m a m o s: A b a , P ai. O p ró p rio E s p írito te stific a c o m o n o sso e s p írito q u e so m o s filh o s d e D e u s . O ra , se so m o s filh o s, so m o s ta m b é m h e rd e iro s , h e r d e iros de D e u s e c o e rd e iro s c o m C ris to ; se c o m ele so fre rm o s, p a ra q u e ta m b é m c o m ele sejam o s g lo rific a d o s ” (v. 1 5 -1 7 ). T e m o s , a q u i, os d e g ra u s d a escala: (1) E s ta m o s e x p o sto s ao e s p írito de se rv id ã o e te m o r; (2) te m o s sid o a d o ta d o s ; (3) ao c o m p re e n d e r os lag o s q u e n o s u n e m a D e u s , c o m o c ria n ç a s

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su s s u rra m o s a p a la v ra Aba , q u e sig n ific a “p a i”, e m a ra m a ic o ; (4 ) a té o E s p ír ito d á te s te m u n h o d a v e rd a d e e re a lid a d e d e s ta n o v a re la ção ; (5) m a s, os filh o s são h e rd e iro s , e ta m b é m o so m o s n ó s; (6) so m o s h e rd e iro s d e D e u s , o m a is rico d e to d o s; (7) e sta m o s n o m e s m o p é d e ig u a ld a d e c o m Je su s, seu F ilh o , q u e é h e rd e iro d e to d a s as co isas ( H b 1 .2 ); e se so fre rm o s c o m ele, (8) ta m b é m se re m o s g lo rific a d o s c o m ele. T e m o s , e m s e g u im e n to , o u tr a fig u ra d e g ra d a ç ã o . N o s v e rsíc u lo s 2 9 e 3 0 , n o ta m o s c o m o o a p ó s to lo a sc e n d e c ú s p id e a p ó s c ú sp id e : c o n h e c e u , p r e d e s tin o u , c h a m o u , ju s tific o u , g lo rific o u . D e p o is d e h a v e r a lc a n ç a d o e sta a ltu ra , o a p ó s to lo p o d e r á c o n tin u a r su b in d o ? S im , leia os v ersíc u lo s 31 a 39 . N o te - s e a b a se d e n o ssa c o m p le ta e a b s o lu ta c o n fia n ç a e seg u ra n ç a : (1) “Se D e u s é p o r n ó s, q u e m será c o n tr a n ó s? ”; (2) Se n o s d e u liv re m e n te se u F ilh o p a ra q u e m o rre s se p o r n ó s, c o m o n o s p o d e r á n e g a r a g ra ç a o u a b ê n ç ã o d e q u e n e c e ssita m o s? (3 ) Q u e m n o s a c u sa rá , p o s to q u e é D e u s q u e m n o s ju stific a ? (4) Q u e m se a tre v e rá a c o n d e n a r - n o s , q u a n d o C r is to m o rre u p a ra n o s salvar? (5) E s tá a g o ra à d e s tra d e D e u s c o m o n o sso A d v o g a d o p a ra in te r c e d e r p o r n ó s. (6) Q u e m n o s s e p a ra rá d o a m o r q u e C r is to te m p a ra co n o sc o ? S e p a ra r- n o s - á p o r acaso (a) a trib u la ç ã o , (b) a a n g ú s tia , (c) a p e rs e g u iç ã o , (d ) a fo m e , (e) a n u d e z , (f ) o p e rig o , (g) o u e sp a d a? D e p o is d e h a v e r a lc a n ç a d o e ste p la n o , o a p ó s to lo se d e té m o su fic ie n te p a r a p o d e r c ita r o S a lm o 4 4 .2 2 , a fim d e d e m o n s tr a r q u e , e m é p o c a re m o ta , o p o v o e sc o lh id o so fre u o m a r tír io p o r a m o r d e D e u s , in s in u a n d o , assim , q u e e sta m o s

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p re p a ra d o s p a ra a m e s m a p ro v a . S im , n e ste s c o n flito s, fa z e m o s m ais q u e v en cer. L o g o , n o s v e rsíc u lo s 38 e 3 9 , se elev a a a ltu ra s q u e p ro d u z e m v e rtig e n s , c h e g a n d o lo g o a u m a das g ra d a ç õ e s m a is g ra n d io s a s d e to d a a lite ra tu ra . R e c o rd e m o s , ta m b é m , q u e , n o caso d e P a u lo , n ã o se tr a ta v a d e u m d e s d o b r a m e n to o ra tó rio , m a s, sim , d a p le n a c o n fia n ç a e p r o fu n d a co n v ic ç ã o d e seu c o ra ç ã o , o q u e fic o u d e m o n s tr a d a e m sua p ró p ria v id a v ito rio s a ( 2 C o 1 1 .2 3 -2 7 ) e m o rte (2 T m 4 .6 -8 ). D e v e m o s p e rc e b e r os a d m irá v e is e e lo q u e n te s c lím a x o u g ra d a ç õ e s e m Isaía s 4 0 — 5 5 ; e e m E fé s io s 3 .1 4 - 2 1 , a lé m d e F ilip e n s e s 2 .5 -2 1 . O a n tic lím a x é o c o n trá rio d o c lím a x o u g ra d a ç ã o , e é, a m iú d o , e m p re g a d o p o r e sc rito re s in e x p e rie n te s . C o n s is te e m d e sc e r d o su b lim e ao rid íc u lo o u e m co lo ca r, ao fin a l d o esc rito o u d isc u rso , as frases d e m e n o r im p o rtâ n c ia .

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R eferências

A L T A V IL A , J a y m e . Origem dos direitos dos povos. 6 a ed . S ão P a u lo : íc o n e E d ito r a , 1 9 9 9 . A R I S T Ó T E L E S . Ética a Nicômaco. S ão P a u lo : M a r t i n C la re t, 2 0 0 2 . A Z E V E D O , P la u to F a ra c o d e . Crítica à dogmática e her-

menêutica jurídica. 5 a re im p . R io G r a n d e d o S ul: S A F E , 1989. C A M A R G O , R ic a rd o A n tô n io L u c a s. Interpretação ju r í -

dica e estereótipos. R io G r a n d e d o S ul: S A F E , 2 0 0 3 . C A R S O N , D . A . A exegese e suasfalácias. S ão P a u lo : E d içõ es V id a N o v a , 1 9 9 9 . C H A M P L I N , R . N ; B E N T E S , J. M . Enciclopédia de B í-

blia, teologia efilosofia. V ol. 2 . S ão P a u lo : C a n d e ia , 1 9 9 5 . C Í C E R O , M a r c o T ú lio . Dos deveres. S ão P a u lo : M a r t i n C la re t, 2 0 0 2 . C O E L H O , In o c ê n c io M á r tir e s . Interpretação constitucio-

nal. 2 a e d . a m p . R io G r a n d e d o S ul: S A F E , 2 0 0 3 . F A L C Ã O , R a im u n d o B e z e rra . Hermenêutica. S ão P a u lo : M a lh e ir o s E d ito r e s , 2 0 0 4 . F E R R E I R A , A u ré lio B u a rq u e d e H o la n d a . O N o v o D i c io n á rio A u ré lio d a L ín g u a P o rtu g u e s a . V ersão 5 .0 . R io d e J a n e iro : E d ito r a P o sitiv o , 2 0 0 4 . F E R R E I R A , N a z a ré d o S o c o rro C o n te . D a interpretação

à hermenêutica jurídica·, u m a le itu ra d e G a d a m e r e D w o r k in . R io G r a n d e d o S ul: S A F E , 2 0 0 4 .

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VOLUME 2

F E R R E I R A , O d im B ra n d ã o . L A I A A L I a U n iv e rs a lid a d e d o P ro b le m a H e r m e n ê u tic o . R io G r a n d e d o S ul: S A F E ,

2001 . G A D A M E R , H a n s G e o rg . Verdade e método 1 .7 a ed. R io d e Jan e iro : V ozes, 2 0 0 5 . H À B E R L E , P e te r. Hermenêutica constitucional·, a so c ie d a d e a b e rta d o s in té rp re te s d a C o n s titu iç ã o . R io G r a n d e d o S ul: S A F E , 1 9 9 7 . N E L S O N , C ; L U N D , E . Hermenêutica. 1 3 a ed . S ão P a u 10: V id a , 1 9 9 6 . V I R K L E R , H e n r y A . Hermenêutica·, p rin c íp io s e p ro c e s sos d e in te rp re ta ç ã o b íb lic a . S ão P a u lo : E d ito r a V id a , 1 9 9 0 . W E G N E R , U w e . Exegese do Novo Testamento. 3 a e d . S ão P a u lo : P a u lu s , 2 0 0 2 .

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

381

Ex e g e s e b íb l ic a ^ B P I ^ B W im m illlllllW W iW iiM il—



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I

n t r o d u ç ã o

Q u e m se a p ro x im a d as E s c ritu ra s c o m a in te n ç ã o d e c o m p re e n d ê -la , lo g o d e sc o b re q u e se e n c o n tr a a n te u m d u p lo d e safio. P rim e iro , te m a v er c o m a e s tra n h e z a d a fo n te : c o m o e n te n d e r o sig n ific a d o d e te x to s q u e fo ra m e sc rito s h á p e lo m e n o s d o is m ilê n io s, n u m c o n te x to h is tó ric o e g e o g rá fic o d is tin to d o n o sso ? O s e g u n d o se d ev e à n a tu re z a d a fo n te : ela n ã o se c o n te n ta e m in f o r m a r so b re o p a ssa d o , m as q u e r p ro v o c ar, n o s le ito re s d e h o je , u m a re s p o s ta o b e d ie n te , e n g a ja d a e c o m p ro m e tid a . H á u m re la tiv o c o n se n so n a p e sq u isa b íb lic a de q u e n ã o se p o d e r e s p o n d e r ao s e g u n d o d esa fio sem q u e a n te s se te n h a re s p o n d id o ao p rim e iro . P a ra se p ro c la m a r o e v a n g e lh o d e fo rm a a d e q u a d a n o s d ias atu a is, d ev e o in té r p r e te d e s c o b rir e av a liar o im p a c to d o te x to n o a m b ie n te o rig in a l e m q u e fo i g e ra d o . E s s a , e m sín te se , é a ta re fa a q u e se p ro p õ e a c iê n c ia b íb lic a c o n h e c id a p e lo n o m e de “e x e g ese”. A exegese b u sc a a ju d a r as p esso as a le r e a e s tu d a r a B íb lia c o m m a io r c o m p re e n sã o . A m a io ria d o s c ristã o s te m a B íb lia em a lta e stim a , a c e ita n d o -a c o m o P a la v ra d e D e u s , e n tr e ta n to, p o u c o s c o n c o rd a m q u e e n te n d ê - la seja u m a ta re fa fácil. E s ta d isc ip lin a , e m te rm o s p rá tic o s e n ã o té c n ic o s, te m c o m o fin a lid a d e g u ia r os le ito re s a d e s c o b rire m , p o r si m e sm o s, o o b je tiv o d a le itu ra b íb lic a e a m a n e ira d e a lc a n ç a r esses o b ESTUDOS

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Ε Ν' C I C L Ο Γ É D I A

je tiv o s. O o b je tiv o d e c o lo c a rm o s e sta d is c ip lin a e m n o sso cu rso te o ló g ic o é a n im a r o le ito r p a ra o g o s to d e in te r p r e ta r e ser in te r p r e ta d o p e la B íb lia. E s p e r a m o s q u e , ao fin a l d e s ta le itu ra, os le ito re s p o s s a m a d q u irir u m a e s tr u tu r a d e in te rp re ta ç ã o q u e os au x ilie a c o m p re e n d e r m e lh o r o sig n ific a d o d o s te x to s b íb lic o s e a su a a p lic a ç ã o p rá tic a .

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Ca p ít u l o l

DEFINIÇÃO DO TERMO

C o m o m u ita s palavras d a lín g u a p o rtu g u e sa “exegese” é u m v ocábu lo que nos foi d ad o p elo id io m a grego. O te rm o d eriv a-se d a p alavra ekseguéomai\ a p rep o sição ek — carrega a n o ção se m â n tic a do “a p a rtir de d e n tro ”, q u e não a rb itra ria m e n te foi ju n ta d a ao te m a v erb al hge. P o rta n to , significa, lite ra lm e n te , “c o n d u z o d e d e n tro p a ra fo ra”, e, a p licad a m e n te ao texto , é tra z e r p a ra fo ra a m en sag e m q u e está “o cu lta”, “d o b ra d a ”, daí, a o rig e m d a p alav ra exegesis, q u e ta n to p o d e significar “ap resen tação , d escrição o u n a rraçã o ”, b e m com o “explicação” e “in te rp re ta ç ã o ”. O s d icio n ário s, c o m u m e n te , d efin em o te rm o exegese co m o “c o m e n tá rio o u d issertação p ara esclarecim en to ou m in u cio sa in te rp re ta ç ã o de u m tex to ou de u m a p alav ra”. ' D e n tro do co n tex to bíblico, a ênfase recai sobre a in te rp retação , q u a n d o ap licad o a alg u m tex to das E sc ritu ra s com o in tu ito de aclarar o seu sen tid o . E xegese é, pois, o tra b a lh o de explicação e in te rp re ta ç ã o de u m tex to o u de u m a palavra. M a s, não se tra ta de u m a explicação q u alquer, com o de u m a le itu ra rá p id a de u m tex to e sua co n se q u en te in te rp re ta ç ã o a 3 FERREIRA. Aurélio Buarquc ac Holanda. (.) Novo Dicionário Aurélio da Língua Pi >m!uucsa. \ Trsao 5.0. Ri< ‫ י‬dc janeiro: Editora Positivo: Lexicon. 2004. CD-ROM.

ESTUDOS

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E N C I C LΟ Γ É D IA

partir de idéias pré-concebidas e, muitas vezes, interesseiras. A exegese pressupõe uma interpretação crítica, justificada por diversos elementos. O exegeta se envolverá com as funções e sentidos das palavras (linguística); com a análise da literatura e do discurso (filologia); com a teologia; com a história, com a transmissão dos escritos bíblicos (crítica textual); com a estilística; com a gramática; e com a análise dos vocábulos. Nesse sentido, salienta D. A. Carson: “Em outras palavras, exegese crítica [...] é aquela que dá boas razões para as escolhas que faz e as posições que adota”.4 O termo, exegese, é usado neste estudo num sentido limitado para nos conduzir à investigação histórica do significado de um texto bíblico. O processo de se fazer exegese e escrever um trabalho exegético tem como meta solucionar as dificuldades de um texto, ou uma passagem problemática. Para auxiliar a interpretação, hoje contamos com uma vasta bibliografia especializada em diversas áreas do estudo da Bíblia: gramáticas e livro-texto para o aprendizado das línguas bíblicas, léxicos, dicionários teológicos do grego, hebraico e aramaico; séries de comentários exegéticos, literários, sociológicos, homiléticos; compêndios de arqueologia bíblica, história de Israel, história do período do Novo Testamento; introdução ao Antigo e ao Novo Testamento; manuais de formas literárias de crítica textual, de metodologia exegética; e muito mais. Graças a essa bibliografia, o trabalho de interpretação fica bastante facilitado, pois muitas questões já foram solucionadas por estudiosos. 4 CARSON, D. A. A exegese e suas falácias. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999, p. 14. 388

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MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

A B íblia é a P alavra in e rra n te e infalível de D e u s, d e tal fo rm a que, q u a n d o ela fala, D e u s fala. D e sd e a sua c a n o n ização, os cristãos a te m em alta estim a, a c e ita n d o -a com o sen d o a P alavra de D e u s escrita. P o u co s, p o ré m , já se p recip ita ra m em d izer que é fácil c o m p re e n d ê -la . C o m o seu o b jetiv o é revelar a v erd ad e e não o cu ltá-la, não h á dú v id a de que D e u s p re te n d e q u e a e n te n d a m o s. A lé m d o m ais, é v ital que c o m p re e n d a m o s as E sc ritu ra s, pois as nossas d o u trin a s sobre D e u s, o h o m e m , a salvação e os a c o n te c im e n to s fu tu ro s d e p e n d e m de u m a in te rp re ta ç ã o c o rre ta d a B íblia. P a ra u m a co m p reen são exata das E sc ritu ra s, é necessário co n h e cer os m éto d o s in te rp re ta tiv o s. É , h o je, u m p o stu lad o quase universal a tese de que não h á n o rm a sem in te rp re ta ção; ou seja, to d a n o rm a é, p elo sim ples fato de ser p o sta, p assível de in terp re ta ção . E n tre os escritos ju d aico s d a a n tig u idade, p o d e m o s e n c o n tra r alguns m é to d o s de in te rp re ta r as E scritu ra s. O s p rin cip ais m é to d o s são: alegórico, m id rásh ico , literal e tipológico. Vale salien tar que essa classificação não é u m a reg ra p ara os in té rp re te s ju d aico s p rim itiv o s. Es t u d o s de T e o l o g i a

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E ‫ א‬C I C LΟ Γ ÉD IΛ

Alegórico A concepção de interpretar um texto de forma alegórica consiste na interpretação de um texto da perspectiva de alguma coisa, sem levar em consideração, seja o que for essa outra coisa. O mais proeminente intérpretes judeus da forma alegórica foi Fílon, um filósofo judeu do século 1°, de Alexandria, contemporâneo de Jesus. Para Fílon, as Escrituras possuíam duas formas de ser interpretada: a literal e a subjacente, sendo que, a forma subjacente era recuperada somente por intermédio da exegese alegórica. M u ito s cristãos faziam uso d a alegoria p ara e n c o n tra r C risto no A n tig o T e sta m e n to . D e ssa fo rm a, esse m é to d o passo u a ser “u m a estra té g ia in te rp re ta tiv a p a ra d eclarar que isso significa aq u ilo ”.5

Orígenes (185-254 d.C.) foi o maior intérprete alegórico do cristianismo primitivo, seu praticante mais notável e seu mais adequado expoente. Ele acreditava que as Escrituras continham um significado literal e outro espiritual. No seu entendimento, o sentido literal do texto era inferior ao significado espiritual, da mesma forma que, para Platão, as coisas terrenas são sombras das formas celestiais e o corpo humano é inferior ao espírito. Dessa forma, uma Escritura inspirada por Deus tinha que ser interpretada de forma espiritual, com um significado mais profundo, além de um significado de superfície . 5 VANHOOZER. Kevin. Há um significado neste texto. São Paulo:

Vida, 2005, p. 137.

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Com base nesse pressuposto, Orígenes desenvolveu uma abordagem tríplice das Escrituras, ou seja, a Palavra de Deus tinha um sentido literal ou físico; um sentido moral ou psíquico e, por fim, um sentido alegórico ou intelectual. Ao fazer essa divisão, ele seguiu Clemente e Fílon, embora adotasse três diferentes sentidos em vez dos dois anteriores, porém, na prática, menosprezou o sentido literal, raramente se referiu ao sentido moral e usou constantemente a alegoria. M idráshico

Para os rabinos, a Torá é a própria Palavra de Deus e contém a soma do conhecimento de Deus para o seu povo. Pelo fato de ser um produto divino, até mesmo as próprias letras das Escrituras estão repletas de um significado profundo. Assim sendo, a interpretação é o meio pelo qual as Escrituras falam com as gerações subsequentes em situações diferentes. Os rabinos também acreditam em outra lei, conhecida como T o r á S c h e b e a lp e (“lei oral”), que é fruto de milhares de anos de sabedoria judaica, um compêndio de lei, lenda e filosofia. Tamanha é a força dessa lei oral na vida religiosa, pois “ela exerce influência sobre a teoria e a prática da vida judaica, dando forma ao seu conteúdo espiritual e servindo de guia de conduta”.‫ס‬ Essa lei oral, para a tradição judaica, serve para interpretar o conteúdo escrito da lei e, também, suprir suas lacunas.6 6 SZPICZKOSWI. Ana. Educação e Talmud. São Paulo: Humanitas, 2002. p. 33.

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EN C I C L Ο Γ É D I Λ

Do ponto de vista histórico-crítico, é muito difícil precisar quando começaram a cultivar, no judaísmo, as tradições orais e quando surgiu a consciência de uma dupla fonte da Torá: a oral e a escrita. Entretanto, é sugerido que esse processo teve início na época do segundo templo, com Esdras, sacerdote e escriba. Esdras, seguido pelos homens da grande assembléia, conhecido como denominação geral de s o f r i m (“escribas”) exerceu grande influência sobre o corpo legislativo judaico. Uma das principais tarefas desta instituição legislativa foi “levar a observância da Torá escrita e das tradições orais, introduzindo novas disposições no campo normativo e incluindo inovações no campo das doutrinas”.78 Foram os escribas { s o fr im ) que elaboraram os métodos básicos da exegese h a lá k h ic a , isto é, os métodos de estudar as decisões rabínicas dos próprios textos bíblicos, conciliando aparentes contradições do texto, interpretando informações obscuras, analisando e resolvendo problemas do esquadrinhamento do texto e organizando o material para facilitar sua transmissão sistemática e estudo metódico. A partir do século 1° d.C., a atividade da transmissão oral se sistematiza e seus transmissores são chamados de “tanaítas”, isto é, aqueles que estudam, repetindo e passando adiante o que aprenderam de seus mestres. A atividade dos tanaítas finda com a redação da Mischná, por volta do ano 220 d.C., 7 Grande assembléia - uma espécie de corpo legislativo. Existiu logo

após 0 início do período que corresponde ao segundo templo; e dela faziam parte Esdras e Neemias. de acordo com a tradição judaica. 8 Ibid., p. 34.

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quando Yehudá Há-nassi, o príncipe, compila a tradição. A Mischná do rabino Yehudá foi adotada como livro-texto tanto pela escola palestina como pela escola babilônica. Os professores, chamados naquela época de amoraítas, trabalhavam palavra por palavra o texto mischnaico, discutindo, elucidando, juntando novo material. Esse trabalho dos amoraítas fez surgir a Guemará. Os dois elementos, a Mischná e a Guemará, formam o Talmud. Vale salientar que há duas Guemarot,9 uma realizada nas escolas palestinas e outra nas escolas babilônicas. Sendo esta última três vezes maior do que a primeira. Essa forma de interpretar as Escrituras tornou-se conhecida como Midrash,'10usada pelos rabinos e fariseus para sua leitura bíblica. “O Midrash tem o significado de comentários, em particular, com a ideia de tornar contemporânea a Escritura, a fim de aplicá-la ou torná-la significativa para a situação atual do intérprete”.11 L iteral

A maioria dos dicionários descreve o sentido literal como o significado primário de um termo, o significado estabelecído pelo uso comum. Podemos assim dizer que o significado 9 Plural de Guemará.

10 O termo midrash vem da raiz hebraica darash, que significa “investigar. averiguar", e denota estudo intenso ou exame do sentido de uma passagem. Era 0 método usado por alguns escribas para chegarem ao sentido de uma passagem da Torá. 11 DOCKERY. David S. Hermenêutica contemporânea à 111: da Igreja primitiva. São Paulo: Vida. 2005. p. 33.

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En ciclo pédia

literal é o significado “puro, simples e direto do texto”. O s c o m e n tá rio s rab ín ico s e m ite m diversos exem plos nos quais as E sc ritu ra s S agradas fo ram e n te n d id a s de fo rm a d ireta, o que re su lto u n a aplicação, no significado e n a m an ifestação sim ples e n a tu ra l do tex to em favor da v ida das pessoas.

A escola exegética do rabino Shammai era extremamente literal, evidenciada pelos comentários dos textos bíblicos a ele atribuído. “Os comentários de Shammai observam que, à noite, todos devem reclinar-se ao recitar o sh e m á , mas, pela manhã, devem ficar em pé, pois está escrito: Quando vos deitardes e quando vos levantardes”.12 Jesus fez uso dessa forma de interpretação em alguns de seus discursos, em especial com relação às questões morais. Em Mateus, o mestre Jesus repreende os fariseus com citações diretas do livro de Exodo, dizendo: “Honra a teu pai e a tua mãe...” (Ex 20.12) e “E quem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe certamente morrerá” (Ex 21.17). Concernente ao divórcio, Jesus fez citação direta de Gênesis 2.24, que diz: “Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”. Durante muitos séculos, a interpretação esteve adstrita à explicação de textos considerados obscuros, em que ao ato de interpretar, era necessário, somente, se a estrutura gramatical desse texto não fosse suficiente para o entendimento de seu significado. Na Idade Média, no âmbito da cultura teológica, inten12 Ibid., p. 31.

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Teolocia

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sificaram-se as inquietações quanto à compreensão do texto bíblico. Contudo, inicialmente, essa compreensão ficou restrita à interpretação gramatical e à lógica sistemática. T ipo lógico

A exegese tipológica busca reconhecer e interpretar símbolos, tipos e alegorias das Escrituras, fazendo uma correspondência entre pessoas e acontecimentos do passado, do presente e do futuro. O Antigo Testamento está repleto de tipos que o Novo Testamento se refere e explica, como dizia Agostinho: “O Novo está contido no Antigo; o Antigo é explicado pelo Novo”. Assim sendo, é muito importante entendermos qual é o significado de um tipo. Paulo, ao escrever aos Coríntios, disse: “Ora, tudo isso lhes sobreveio como figuras [de modo típico], e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (lCo 10.11). A partir deste texto, podemos concluir que a lição, quando não bem aprendida, torna a se repetir na história, ou seja, se não aprendermos com os erros da história, vamos cometer os mesmos erros. Certos personagens bíblicos são referidos no Novo Testamento como tipos, pessoas vivas e reais que deixaram um legado para os cristãos, como disse Robert Anderson: “A tipologia do Antigo Testamento é o próprio abecedário da linguagem em que a doutrina do Novo Testamento é escrita”.13 13.ANDERSON apud HABERSHON. 2003. p. 12.

ESTUDOS

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En ciclo pédia

O escritor aos Hebreus menciona, com frequência, algumas peças existentes no tabernáculo e os sacrifícios ali oferecidos, e declara que todas essas coisas são “uma alegoria para o tempo presente (Hb 9.9), naturalmente se referindo à dispensação da graça. Jesus usou várias vezes os tipos em suas pregações. Repetida vezes, se referia a eles e demonstrava como apontavam para o próprio Jesus, como no caso do caminho de Emaús, quando, “começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). Os eventos que aconteceram em Jerusalém estavam, todos eles, prefigurados nas Escrituras, como disse Jesus: “Convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos” (Lc 24.44). Atualmente, os métodos de interpretação bíblicos mais conhecidos são: o fundamentalista, o estruturalista e o histórico-crítico. Cada qual com seus aspectos positivos e negativos. A seguir, apresentamos uma pequena avaliação dos três métodos.

Fundamentalista O método fundamentalista parte do pressuposto de que cada detalhe da Bíblia é divinamente inspirado, não podendo, em decorrência, apresentar erros ou incongruências. Esse método tende a absolutizar o sentido literal das Escrituras com o objetivo último de defender a Bíblia como referencial

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único, confiável e íntegro para a formulação da doutrina e ética cristãs. Seu aspecto positivo reside na seriedade com que encara a revelação de Deus por meio de sua Palavra, na responsabilidade e no compromisso que exige frente à sua mensagem. Pesa contra esse método a acusação de ser demasiadamente apegado à letra dos textos.

Estruturalista Este método vê o texto bíblico como estrutura e organização que produz sentido para além da intenção do seu autor. Caracteriza-se por analisá-los da maneira como se encontram escritos na atualidade, independentemente do processo pelo qual a tradição possa ter passado até alcançar o nível de evolução final. Em favor deste método, destacam-se duas vantagens importantes. A primeira delas é que este método consegue devolver as várias narrativas numa dinâmica bem viva e diversificada entre as ações praticadas e agentes envolvidos. A segunda consiste no fato de a análise estruturalista ter intensificado a percepção da importância das oposições no texto como elementos determinantes dos eixos das narrativas. Pesam contra esse método as críticas pelo seu desinteresse pela gênese e evolução dos textos, o que o torna reducionista ao fazer a abstração da vida do texto, sua história, seu contexto cultural, social ou religioso.

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Enciclopédia

Histórico-crítico *

E o método que prioriza as fontes históricas, que, no caso da Bíblia, datam de milênios anteriores à nossa era. Este método busca analisar as diversas fontes dentro de uma perspectiva de evolução histórica, procurando determinar os diversos estágios da sua formação e crescimento, até terem adquirido sua forma atual.

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PORQUE A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA É IMPORTANTE

Todo leitor é um intérprete. Muitos não se apercebem do fato de que cada leitura de um texto envolve um processo de interpretação do mesmo. Não existe compreensão de um texto sem que haja interpretação, mesmo que esta leitura seja de uma revista, pois o processo de interpretação, nesse caso, acontece inconscientemente. Sendo um texto, a Bíblia Sagrada não foge a essa regra. Cada vez que a abrimos e lemos, esquadrinhando a mensagem de Deus, nos engajamos num processo de interpretação. Fazer exegese é um trabalho importante. Por seu intermédio, procuramos interpretar as Escrituras. Atualmente, esta tarefa conta com a ajuda de um enorme instrumental científico à disposição dos pesquisadores, fruto do labor abnegado de inúmeros pesquisadores e pesquisadoras em diferentes áreas. O estudo exegético é importante porque, infelizmente, muitas interpretações distorcidas ocorrem em nosso meio, levando muitos a naufragarem na fé. A questão é muito séria, porque interpretar errado uma peça teatral é uma coisa, mas interpretar erroneamente a Palavra de Deus acarreta consequ­

En c ic lo p é d ia

ências eternas. Certas pessoas “adulteram a Palavra de Deus” intencionalmente (2Co 4.2); outras, deturpam as Escrituras, como escreveu Pedro: “Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2Pe 3.16). Há, ainda, aqueles que interpretam a Bíblia erroneamente sem saber. Por quê? Por não darem a devida atenção aos princípios e processos de interpretação bíblica. Ehna simples olhada para a Igreja contemporânea, por exemplo, torna abundantemente claro que nem todos os leitores das Escrituras são unânimes em suas interpretações. Para alguns, a Bíblia “ensina claramente” o batismo dos crentes por imersão; outros acreditam que podem defender o batismo de crianças por meio da Bíblia. Alguns cristãos buscam o batismo com o Espírito Santo com base em Atos 1.5. Já outros, leem o mesmo texto e entendem que tal acontecimento limitava-se à era apostólica sem aplicar-se à atualidade. Tanto a “segurança eterna” quanto a possibilidade de “perder a salvação” são advertidas na Igreja, mas nunca pela mesma pessoa! As duas posições, no entanto, são afirmadas como sendo o significado claro dos textos. Quando a Bíblia não é interpretada corretamente, a teologia, seja de um indivíduo ou de toda uma igreja, pode ser desorientada ou superficial, e seu ministério desequilibrado. Todas estas - como tantas outras - são questões de in-

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terpretação. Evidentemente, essa discrepância de concepções ressalta que nem todos os leitores seguem os mesmos princípios para compreender a Bíblia. A ausência de uma hermenêutica correta é a causa dos enormes desmandos e da difamação que sofrem as Sagradas Escrituras. As finalidades a serem perseguidas pela interpretação bíblica são de grande importância, porque visam garantir a efetividade da Palavra de Deus e a aplicabilidade de seus preceitos. Para isso, existem muitas regras para interpretação de textos, para o nosso caso, os bíblicos. Algumas são mais extensas, outras mais curtas. Umas se concentram em certos aspectos específicos, outras procuram um aspecto geral. Todas essas listas têm grande utilidade e, mesmo que possam parecer repetitivas, contêm princípios de grande valia para o exercício hermenêutico. Devemos compreender o seu sentido para a época antes de percebermos seu significado para hoje. Se negligenciarmos a hermenêutica bíblica (ciência e arte de interpretar a Bíblia), estaremos passando por cima de uma etapa indispensável do estudo bíblico e deixando de nos beneficiar dela.

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OS PROBLEMAS DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Se a construção dos significados se dá em determinada sociedade, a partir de sua experiência e de sua práxis social, torna-se importante reconhecer o contexto histórico de produção dos discursos por meio dos quais se constroem esses significados. A Bíblia Sagrada, totalizando 66 livros, sendo 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo, foi escrita num período de 1500 anos, teve cerca de 40 autores, das mais variadas profissões e atividades, que viveram e escreveram em países, regiões e continentes distantes uns dos outros, em épocas e condições diversas. Entretanto, seus escritos formam uma harmonia perfeita. Dois dos escritores eram reis: Davi e Salomão; dois eram sacerdotes: Jeremias e Ezequiel. Lucas era médico. Dois eram pescadores: Pedro e João. Dois eram pastores: Moisés e Amós. Paulo era fariseu. Daniel era político. Mateus era cobrador de impostos. Josué era soldado. Esdras era escriba. Neemias era mordomo. A pluralidade de autores muito contribuiu para a riqueza do próprio texto, o qual deixa de apresentar o ponto de vista de um indivíduo ou grupo e passa a representar crenças de um povo, ao longo de muitos séculos.

ENCICLOPÉDIA

Além das qualidades literárias, inclusive poéticas, que a Bíblia apresenta em muitos de seus textos, temos informações históricas e linguísticas da maior importância. Mesmo porque, a organização que lhe deram seus compiladores e editores acabou gerando novas informações. Os cinco primeiros livros do Antigo Testamento foram escritos por Moisés, por volta de 1400 a.C., e o último livro da Bíblia, Apocalipse, foi escrito pelo apóstolo João, por volta de 90 d.C. Portanto, alguns dos livros foram produzidos há mais ou menos 3400 anos, sendo que, o último deles, há 1900 anos, aproximadamente. Isto mostra a dificuldade que temos de transpor para compreender a Palavra de Deus. Em meio a essa diversidade cronológica, cultural, geográfica e idiomática, vários abismos se apresentam pelo fato de termos em mãos um livro tão antigo. O abism o cronológico

A Bíblia foi escrita há séculos. Seu último livro foi escrito no final do primeiro século da Era Cristã, o que nos separa temporalmente em dois milênios. Como não estávamos presente quando esses textos foram escritos, não podemos perguntar aos autores o que eles queriam dizer quando escreveram. A história da interpretação das Escrituras visa mostrar como, desde cedo, o estudioso da Bíblia procurou condições para transpor esse abismo temporal.

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O abism o geográfico O s lugares o n d e o co rrera m os fatos das E scritu ra s estão d ista n te s d a m a io r p a rte dos seus leito res. F oi no O rie n te M é d io , no E g ito e nas nações m e d ite rrâ n e a s e m erid io n ais da E u ro p a , de hoje, que os p erso n a g en s bíblicos viverem e p ereg rin ara m .

O abism o cu ltu ral O m u n d o em q u e os escritores da B íblia viveram não é o m esm o d a atu alid ad e. Seus co stu m es, trad içõ es e crenças estão n u m p assado d ista n te . A falta de c o n h e c im e n to d e tais h á b ito s gera in te rp re ta ç õ e s errô n eas. O s in té rp re te s das E s critu ras devem observar, a te n ta m e n te , os traço s cu ltu rais em que o tex to sagrado foi g erad o , dos quais p reserv a vestígios significantes.

O abism o linguístico A lé m dos abism os cron oló gico , g eográfico e cu ltu ral, o in té rp re te vai se d e p a ra r com o ab ism o lin g u ístico . A fo rm a de falar e de escrever dos au to res sagrados já não existe. N ã o se fala m ais o heb raico , o aram aico e o g rego bíblicos nos dias de hoje, m esm o em países o n d e as E sc ritu ra s fo ra m escritas. P ara se te r u m a noção, os verbos e os su bstantiv os qu e se referem a u m m esm o n ú cleo de significados d eriv am d e u m a m esm a raiz. A ssim , p o r exem plo, as três co n so a n te s

m lk

fo r-

m a m o su b stan tiv o M e L e K (“re i”) ou a fo rm a verbal M a L a K

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Enciclopédia

(“ele reinou”). Para reconhecer qual das duas formas deve ser lida em determinada passagem, o intérprete, sem os recursos da escrita vocálica, não tem alternativa senão recorrer ao contexto. Os modos para indicar tempo e pessoa se formam mediante a flexão interna e a flexão por prefixação, sufixação ou de infixo: MeLaK-TeM (“vós reinastes ”), HiMLiK (“ele fez reinar”), etc. Qualquer estudante de hebraico sabe como é difícil, algumas vezes, identificar a raiz de uma forma verbal. Não é de admirar que o próprio texto bíblico apresente, algumas vezes, duas leituras variantes, ocasionadas pela diferente identificação da raiz verbal. O hebraico é uma língua relativamente pobre em adjetivos. Carece, também, de formas específicas para expressar o comparativo e o superlativo. Em seu lugar, utiliza a forma do construtor ou outro tipo de expressão. Assim, por exemplo, “o Santo dos santos”, designa o espaço mais sagrado do templo, e “o Cântico dos Cânticos”, o cântico por antonomásia. Além disso, tanto o hebraico quanto o aramaico são lidos da direita para a esquerda. Ademais, não havia separação entre as palavras. As palavras escritas nessa língua bíblica emendavam-se umas às outras. As cópias do Novo Testamento chegaram até nossos dias em uma quantidade incomparavelmente maior do que qualquer outra obra do mundo clássico. “Conhecem-se cerca de 5 mil manuscritos gregos do Novo Testamento, aos quais é preciso acrescentar uns 10 mil manuscritos das distintas versões antigas,

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assim com o m ilhares de citações nos padres da Igreja”.14 O u tr a d ificuld ad e im p o sta pelo ab ism o lin g u ístico é o fato de que as lín g uas bíblicas o rig in ais c o n tin h a m expressões in c o m u n s, de sen tid o obscuro, difíceis de c o m p re e n d e r em nosso id io m a. A ciência qu e b u sca d esc o b rir quais tex to s são o rig in ais é co n h e c id a pelo n o m e de “crítica te x tu a l”.

O abism o literário A B íblia S ag rad a é u m c o n ju n to de escritos p ro d u z id o s p o r pessoas reais q u e viveram em épocas h istó ricas d ife re n tes. E ssas pessoas u sara m suas lín g u as nativas e as form as literárias, e n tã o disponíveis, p a ra a au toexpressão, crian d o , n o processo, u m m a te ria l qu e p o d e ser lid o e ap reciad o nas m esm as cond içõ es que se ap licam à lite ra tu ra em geral, o n d e q u e r que seja e n c o n tra d a , sem jam ais se esq u ecer q ue as E s critu ras é u m re p o sitó rio d a v erd ad e religiosa. A B íblia não é u m livro n o se n tid o c o m u m d o te rm o , m as u m a an to lo g ia - u m c o n ju n to de seleções de u m a b ib lio te ca de escritos religiosos e n acio n alistas p ro d u z id o ao lo n g o de u m p e río d o de 1500 anos. N ã o h ou ve u n ifo rm id a d e de co nd içõ es n a co m p o sição dos livros da B íblia. U n s fo ra m escritos n a cidade, o u tro s n o cam p o, n o palácio, em ilhas, em prisõ es e no deserto . A p e sa r de ta n ta s d iferen tes con diçõ es, a m en sag e m das E scritu ra s é sem pre única. E m b o ra a B íblia seja, n u m sen tid o geral, lite ra tu ra , tais 14 BARRERA, lulio Trebolle. A Bíblia judaica e a Bíblia cristã. 2a ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999. p. 39".

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como os produtos dos escritos modernos, as suas formas literárias são bastante diferentes das nossas para exigir um estudo particular. Os estilos e formas de escrita dos tempos bíblicos são diferentes do mundo ocidental moderno. Os escritores bíblicos, naturalmente, estavam cônscios disso, de modo que escolheram as palavras e formas literárias que melhor poderíam transmitir o significado pretendido. Quando o propósito era compartilhar informações de natureza histórica, a melhor forma era a narrativa, como, por exemplo, as de Paulo, Pedro e João. Vários livros das Escrituras empregaram este gênero (de Gênesis a Ester e de Mateus a Atos). Até mesmo na linguagem profética, encontramos narrativa, como, por exemplo, em Jeremias 26-29; 32-45; 52; Ageu 1-2; Daniel 1-6. Vale, ainda, ressaltar que, em muitas narrativas, há poesia (Êx 15; Jz 5; lSm 2). Está claro, portanto, que existem várias formas literárias na Bíblia, cada uma com suas próprias regras de interpretação. O abism o e sp iritu a l O fa to d e s e rm o s p e c a d o r e s im p õ e lim ite s à n o s s a c a p a c id a d e d e i n t e r p r e ta r as E s c r itu r a s . Q u e m n ã o é salvo e s tá c e g o ( 2 C o 4 .4 ) e m o r to e s p ir itu a lm e n te ( E f 2 .1 ). O a p ó s to lo P a u lo e s c re v e u s o b re isso , d iz e n d o : “O r a , o h o m e m n a tu r a l n ã o c o m p r e e n d e as c o isa s d o E s p ír ito d e D e u s , p o r q u e lh e p a r e c e m lo u c u ra ; e n ã o p o d e e n t e n d ê -la s , p o r q u e elas se d is c e r n e m e s p ir itu a lm e n te . M a s o

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q u e é e s p ir itu a l d is c e r n e b e m tu d o , e ele d e n in g u é m é d is c e r n id o ” ( 1 C 0 2 .1 4 ,1 5 ) . D e u s, que é in fin ito , n ão p o d e ser p le n a m e n te c o m p re e n d id o pelo que é finito. A s E scritu ra s d escrevem os m ilagres de D e u s e suas p red içõ es sobre o fu tu ro . T a m b é m , fazem m en çã o de verdades difíceis de ser assim iladas. P o r exem pio: a d o u trin a d a T rin d a d e , as duas n atu re zas de C risto , a so b eran ia de D eu s e a v o n tad e h u m a n a . T ra n sp o r o abism o causad o pela q u ed a é, c e rta m e n te , o p o n to de p a rtid a p a ra a co rreta in te rp re ta ç ã o d a B íblia. E x iste m o u tro s abism os que d ificu ltam a co m p reen são da B íblia, m as esses são suficientes p ara d e m o n s tra r os graves p ro b lem as que q u alq u er in té rp re te e n fre n ta ao b u sca r c o m p re e n d e r a P alavra de D eu s. Isso n ão nos isen ta de b u scarm o s co m p re en d er, de fo rm a m ais exata e co m p leta, a revelação que D e u s fez de si m esm o . C o m m u ita oração (m ais o estu d o dos p rin cíp io s de in te rp re ta ç ã o d a B íblia e o u tro s m eios d isponíveis), p o d e m o s receb er a ilu m in aç ão do E s p írito S an to de D e u s p ara aclarar m u itas passagens difíceis co n tid as nas E scritu ra s, m as sua m en sag e m básica é su fic ie n te m e n te sim pies p ara q u alq u er in d iv íd u o co m p reen d er.

ESTUDOS

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C a p ít u lo 5

CORRELAÇÃO ENTRE HERMENÊUTICA, EXEGESE E EISEGESE Q u e relação existe en tre h erm e n êu tic a, exegese e eisegese? Q u e te rm o s são estes difíceis de falar? E m que difere a exegese d a exposição? A finalidad e p rin c ip a l d a h e rm e n ê u tic a b íb lic a é auxiliar o obreiro , ou q u alq u er e stu d a n te da B íblia, a u sar os m é to d o s de in te rp re ta ç õ e s confiáveis, além de estab elecer os p rin c ípios fu n d a m e n ta is d a exegese bíblica, com o base p a ra o estu do do tex to na sua d iv ersidad e lin g u ística, cu ltu ral e h istó rica. D e ssa fo rm a, a h e rm e n ê u tic a ajuda o e stu d a n te a analisar c ritic a m e n te , com critério s objetivos, os m é to d o s e resu ltad o s de u m estu d o ou exegese de q u alq u er tex to das E scritu ra s Sagradas. A h e rm e n ê u tic a b íb lica é a ciência e a arte de in te rp re ta r a B íblia. X a q u alid ad e de ciência, e n u n c ia os p rin cíp io s, in vestiga as leis do p e n sa m e n to e da lin g u a g e m e classifica seus fatos e resultado s. C o m o arte, en sin a co m o esses p rin cíp io s devem ser aplicados. Q u a l é a relação, en tão , en tre h e rm e n ê u tic a e exegese? A h e rm e n ê u tic a an teced e a exegese, que, p o r sua vez, faz uso dos p rin cíp io s, regras e m é to d o s h e rm e n ê u tic o s em suas

En ciclo pédia

conclusões e investigações. D e u m a fo rm a sim ples, p o d e ría m os d iz e r que a h e rm e n ê u tic a é a te o ria e a exegese, a p rá tica, p o rq u e a p rá tic a aplica os p rin cíp io s h e rm e n ê u tic o s p ara ch e g ar a u m e n te n d im e n to co rreto do texto. A h o m ilé tic a é a ciência (p rin cíp io s) e a arte (tarefa) de tra n s m itir o significado e a im p o rtâ n c ia do tex to bíblico sob fo rm a de pregação. A p ed a g o g ia é a ciência (p rin cíp io s) e a arte (tarefa) de tra n s m itir o significado e a aplicação do tex to bíblico sob fo rm a d e ensino. A exegese co n siste n o estu d o in d iv id u a l e a exposição, na ap resen tação em p úblico. A exegese é feita n a sala de estudo, ao passo q u e a exposição é fe ita d etrás de u m p ú lp ito , da m esa d o p ro fesso r o u d a p latafo rm a . U m b o m ex p o sito r é, antes de q u a lq u e r coisa, u m b o m exegeta. A exegese é, p o rta n to , u m m eio qu e visa u m fim ; é u m passo ru m o à exposição. A o co n trário da exegese, a eisegese ocorre q u an d o o in té rp rete aborda o texto com preconceitos, ex traind o dele u m sentid o que já desejava de antem ão. O u seja, significa ler no texto aquilo que ele q u er en c o n tra r ali, m as que, n a realidade, não se enco ntra; ou, então, distorce u m texto p ara ad ap tá-lo às suas próp rias idéias. E m o u tras palavras, q u em usa de eisegese força o texto m ed ian te várias m anipulações, fazend o com que u m a passagem diga o que, n a verdade, não se acha ali. A eisegese, u su a lm e n te , ocorre q u a n d o u m in té rp re te desco n sid era u m a reg ra de in te rp re ta ç ã o p o rq u e está em conflito com suas noções p reco n ceb id as.

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E m to d o s esses passos, p ara u m a fru tu o sa in te rp re ta ç ã o das E sc ritu ra s, é in d isp en sáv el a p re se n ça do E s p írito S anto. A p articip aç ão d o E sp írito S an to n a in te rp re ta ç ã o das E s critu ras in d ica várias coisas: a) S ua p articip aç ão não significa q ue as in te rp re ta ç õ e s de alg u ém serão infalíveis. In e rrâ n c ia e in falib ilid ad e são características peculiares dos m an u scrito s o rig in ais e não de seus in té rp re te s. b) A atuação do E s p írito S an to n a in te rp re ta ç ã o n ão q u er d iz e r q u e E le vai “rev elar” u m sen tid o “o cu lto ”, d ife re n te do significado n o rm a l e literal do texto. c) O novo n a sc im e n to é a d e m o n stra ç ã o de m u d a n ç a dos an tig o s h á b ito s p a ra u m a nova v ida em C risto . O in té rp re te que esteja vivendo em p ecad o ou q ue n em m esm o se co n v erteu é suscetível de in te rp re ta r e rro n e a m e n te a B íblia, pois seu coração e sua m e n te n ão estão em h a rm o n ia com o E sp írito S anto. d) O p ap el do E sp írito S an to , na in te rp re ta ç ã o , in d ic a que a B íblia foi d ad a p a ra q u e to d o s os cren tes a e n te n d e ssem . S ua in te rp re ta ç ã o n ão p e rte n c e a u m a elite m in o ritá ria de eru d ito s.

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CRÍTICA TEXTUAL

A crítica tex tu al é o seg u n d o passo d a exegese. S ua tarefa con siste em re co n stitu ir, com m a io r ex atid ão possível, o tex to bíb lico que p o d e rá serv ir de base p a ra a tra d u ç ã o e p esq u isa p o sterio res. P o d e -se a trib u ir à crítica tex tu al d u p la fin alid ade: re sta u ra r o tex to dan ificad o , p a ra ch e g ar m ais p ró x im o d a in te n ç ã o d o a u to r e d e te rm in a r a h istó ria d a tran sm issão e d o d ese n v o lv im en to d o tex to escrito de qu e te m o s várias fo rm as hoje. O tex to do A n tig o T e sta m e n to co n h e ceu u m a lo n g a h istó ria evolutiva. A q u ele que se to rn o u o tex to “oficial”, p e los fins do século 1° de nossa era, é o “m asso rético ”, fru to do tra b a lh o dos m asso retas e de seus an tep assad o s. O te rm o

massorá - “tra d iç ã o ”, em seu se n tid o am p lo , refere-se ao tex to da B íb lia h eb raica, d esenvolvido e p a d ro n iz a d o pelos m asso retas, os quais a d o ta ra m o tex to de sinais vocálicos, acen to s e n o tas relacio nad o s aos d etalh es textuais. O texto bíblico h eb raico , d e se m p e n h a d o p o r esses estu diosos, é d e n o m in a d o pelos e ru d ito s de “tex to m assso rético” ( T M ). E m sen tid o estrito , o te rm o “m asso rá” refere-se ao

En c ic l o p é d ia

conjunto de notas escrito nas laterais e nas margens superior e inferior do texto bíblico, nos códices massoréticos medievais e nas modernas edições críticas da Bíblia hebraica. A necessidade da crítica textual decorre do fato que o Novo Testamento foi escrito em grego e em manuscritos cujos originais desapareceram, devido às constantes perseguições que a Igreja do Senhor sofreu. Entretanto, inúmeras cópias foram, sucessivamente, copiadas no decorrer dos séculos, de modo que chegaram até os nossos dias milhares dessas cópias. Comparando-as entre si, constata-se que o texto produzido nem sempre é igual. São exatamente essas diferenças, existentes entre essas várias cópias, que perfazem o objeto de estudo da crítica textual. A árdua tarefa desta disciplina consiste em constatar as diferenças entre os diversos manuscritos que contêm cópias do texto em análise e avaliar qual das variantes poderia corresponder, com maior probabilidade, ao texto originalmente escrito pelo autor bíblico. Os estudantes devem possuir conhecimentos básicos sobre história do texto do Novo Testamento e o valor de suas principais testemunhas. Devem ter a capacidade de utilizar tecnicamente o aparato crítico da 27a edição do Novum Testamentum Graece, de Nestle-Aland, e saber aplicar as regras fundamentais das decisões da crítica textual. Para a realização da crítica textual, é necessário, inicialmente, ter alguma informação básica sobre os tipos de manuscritos e suas devidas variantes. Boa parte dessas informa­

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ções pode ser encontrada nas introduções e nos apêndices apresentados em alemão e inglês do Novum Testamentum Graece, de Nestle-Aland, e em inglês, no The Greek New Testament, bem como nos manuais de crítica textual. A edição do The Greek New Testament, publicado entre 1881 e 1882, pelos ingleses B. F.Westcott (1825-1901) e F.J. Hort (18281872‫)־‬, se destaca pela reconstrução confiável do texto grego e por critérios metodológicos convincentes. Para a crítica textual do Novo Testamento, são importantes as distinções que Westcott e Hort estabeleceram ao investigar o parentesco entre os diferentes documentos. De acordo com seus estudos, eles concluíram que há quatro tipos principais de texto do Novo Testamento: a) O texto ocidental (representante principal: Codex Bezae D 05). b) O texto alexandrino (representantes principais: Codex Ephraemi C 04 e Codex Regius L 019). c) O texto neutro (representantes principais: Codex Sinaiticus A 01 e Codex Vaticanus B 03). d) O texto sírio (representante principal: Codex Alexandrinus A 02). O te x tu s receptus moderno foi elaborado por Eberhard Nestle (1851-1913) com seu Novum Testamentum Graece, publicado em 1898, por incumbência da sociedade bíblica de Württemberg. Nestle tomou com base para sua obra as três grades edições científicas do século 19. A saber: Tischendorf (T),Westcott-Hort (H) e, inicialmente, R. E. Weymouth, em cujo lugar inseriu, desde a 3a edição (1901), a publicação de B. Weib (W). ESTUDOS

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ENCICLOPÉDIA

E m seu apparatus criticus, N e stle não apenas levou em c o n ta as v arian tes e n tre H , T e W , m as, ta m b é m , n u m seg u n do ap arato , v arian tes d e o u tro s m an u scrito s do N o v o T esta m e n to . A análise d os m a n u sc rito s o rig in ais foi c o n sta n te m e n te am p liad a p o r seu filho, E rw in N e stle (1 8 8 3 -1 9 7 2 ), e p o r K u rt A la n d (1 9 1 5 -1 9 9 4 ), co ed ito r, desde a 2 1 a edição, de 1952, n o que se rev elaram de su m a im p o rtâ n c ia os p ap iro s d esco b erto s re c e n te m e n te . A té a 2 5 a edição, de 1963, N e stle e A la n d p re ssu p u seram , ta m b é m , tip o s tex tu ais re p re se n ta d o s p o r fam ílias de m a n u scrito s, e n tre os quais se d istin g u e m , até a atu alid ad e, q u atro fo rm as p rin cip ais d o tex to d o N o v o T e sta m e n to .

Texto neutro (ou alexandrino, respectivamente, hesiquiano) E sse tip o tex tu al, re p resen tad o , so b retu d o , pelos m a n u scrito s m aiúsculo s A 01, A 02, B 03, C 04, (A e C , p o ré m , não ab arcam os ev an g elh o s) e relevantes p ap iro s (p o r exem plo p66, p/5 p ara os evangelhos, P 46 p a ra as cartas de P au lo ), é d esig n ad o de “n e u tro ” p o rq u e W e s tc o tt e H o r t o co n sid erav am tex to não revisado. F oi c h a m a d o de “a le x a n d rin o ”, p o rq u e, ta m b é m , é ap resen tad o pelos pais alex an d rin o s, C le m e n te , O ríg e n e s, D io n ísio e C irilo de A lex a n d ria. P o r m eio de W . B ousset, foi in tro d u z id a a d esig n ação de tex to “h e siq u ia n o ”, p o rq u e relacio n o u com esse tip o te x tu a l o b isp o H e síq u io de A lex a n d ria, m e n c io n a d o p o r Je rô n im o . P o r in flu en cia do

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tex to k o in é, o tex to alex an d rin o d esen v o lv eu -se d u ra n te os séculos p a ra fo rm a r o tex to egípcio.

Texto ocidental C o m o já sugere o n o m e, esse tip o tex tu al está d o c u m e n tad o , p rin c ip a lm e n te , n a região o c id e n ta l d o M e d ite rrâ n e o . P o d e -se classificá-lo co m o o tip o d e tex to m ais “lib e ra l”. Seus an cestrais e fo rm a s co laterais d eix aram v estígios até os séculos 3° e 4°, sen d o a te sta d o p elo s códices D , W (para M a rc o s 1 .1 -5 ), P 38, P 48 e pelas an tig as versões latin as e a u to res eclesiásticos latin o s. Q u a n d o c o m p arad o co m os d em ais, c a racteriz a-se pelo em p re g o d e m u itas p aráfrases (so b re tu d o na versão D ), p o r acréscim os em fo rm a de esclarecim en to s, pela h a rm o n iz a ç ã o e n tre os tex to s sin ó p tico s, m as ta m b é m p o r om issões. E m D , o tex to de A to s resu lta qu ase 10% m ais *

lo n g o q u e n os o u tro s m an u scrito s. E d e n o m in a d o d e “o cid e n ta l” p o r e n c o n tra r-se fo rte m e n te p re se n te n os códices latin o s e nos pais o cid en tais d a Igreja.

ESTUDOS DE TEOLOGIA

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E N C I C L O P É DIA

Papiros: P5, P8 # p19‫׳‬ R 25

I

p 27

(parcial)

I

p 29 I

p 38

p 3E (parcial} D 36

p 41

- 5.30), 0171, a versão latina antiga, Sys e sy: (parcja})?os primeiros pais

I

p 48

latinos e o Diatessaron, de Taciano. Unciais: D, W (nos evange-

• Atos: P29, P38, P48, D, E, 383, 614, 1739, sy*‫«"״‬, sypms, cop867, primeiros pais latinos, Efraim.

Ihos), E, F e G nas epístolas.

Versões: it, sy (parcial) e etiópica.

Pais da Igreja: 0 grupo inteiro dos pais latinos/ocidentais e os pais sírios, até cerca de 450 d.C. Também alguns pais

• Epístolas: D, F, G, pais gregos até o fim do século 3o, manuscritos da versão latina antiga, primeiros pais latinos, pais sírios até cerca de 450 d.C.

gregos, pelo menos em parte, como Irineu, Taciano, Clemente de Alexandria, Eusébio, Orígenes (parcial), Marcião, Hipólito, Tertuliano, Cipriano, Ambrósio, Agostinho, Jerônim o e Pelágio.

Texto de Cesareia A desig n ação “tex to de C esareia” explica-se a p a rtir da suposição de B. H . S tre e te r de q ue O ríg e n e s te ria u tiliza d o esse tex to após sua m u d a n ç a de A le x a n d ria p a ra C esareia e de qu e ali, ta m b é m , su rg iu essa fo rm a. E m te rm o s de q u ali­

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dade, situ a-se e n tre o o c id e n ta l e o alex an d rin o . N a p esquisa, h á co n tro v érsia q u a n to à ex istên cia d este tip o de tex to fo ra de M a rc o s 5 .3 1 —1 6 .2 0 e, ta m b é m , q u a n to aos m an u scrito s específicos que o re p resen tam .

Texto bizantino ou koiné O tip o tex tu al b iz a n tin o , ao q u al p e rte n c e m quase to d o s os m an u scrito s a p a r tir dos séculos 6° e 7°, é b a sta n te u n itá rio e ap resen ta h o m o g e n e iz a ç ã o lite rária, elegância nas expres✓

sões e m odificações estilísticas. E o re su ltad o d e u m processo de recensão, (efetu ad o pelo p re sb ítero L u cian o , em A n tio quia, que faleceu logo n o in ício do século 4°), co n clu íd o em

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421

ENCICLOPÉDIA

_

*

B izân cio , o n d e se d ifu n d iu p o r to d o o im p ério . E o tex to re p re se n ta d o p ela m aio ria d os un ciais p o sterio re s e p ela g ra n d e m a io ria dos m in ú scu lo s. C a ra c te riz a -se , p rin c ip a lm e n te , pela h a rm o n iz a ç ã o de p assag en s e n tre os ev an g elh o s e p elo p o lim e n to d a lin g u ag em . O s p rin cip ais m an u scrito s d este tip o são A (evan g elh o s), E , F, G , Η , K , e n tre o u tro s.

TESTEMUNHAS Segundo os tipos de

Segundo a representatividade nos es-

manuscritos

Papiros: P42, P68

critos do Novo Testamento.



Evangelhos: A, E, F, G, Η, K, P, S, V, W, (em Mateus e Lucas 8.13‫־‬ 24.53), P, Q (em Lucas e João), W, e a maioria dos minúsculos.



Atos: H, L, P, 049, e a maioria dos minúsculos.



Epístolas: L, 049, e a maioria dos minúsculos.



Apocalipse: 046, 051, 052, e a maioria dos minúsculos.

Unciais: a maioria editada após

0 século 5o.

Cursivos: a maioria.

Versões: eslavônica e peshita.

422

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C a p ít u lo 7 TIPOS DE ALTERAÇÕES EFETUADAS PELOS COPISTAS

P elo fato de a in d a n ão p o ssu irm o s as in tro d u ç õ e s e os ap ên d ices de am bas as edições em p o rtu g u ê s, ap resen tam o s, a seguir, u m a síntese das p rin cip ais in fo rm açõ es. A s v arian tes en tre os m an u scrito s, g era lm e n te , p o d e m ser explicadas de duas m an eiras: elas o rig in a ra m -se de alterações in v o lu n tárias ou in ten cio n ais. A s alterações in v o lu n tá rias c o m p re e n d e m to d as as m odificações n ão in te n c io n a is provocadas n o texto. E n tre elas, p o d e m o s destacar:

Equívocos visuais D ev id o à sem elh an ç a e n tre algu m as letras do alfabeto grego, os copistas, in v o lu n ta ria m e n te , tro cav am algum as p a lavras. P o r exem plo, em R o m an o s 6.5, a co n ju n ção adversativa alia (“m a s”, “p o ré m ”, p o r exem plo) foi c o n fu n d id a , p o r alguns copistas, com o advérbio ama (“ao m esm o te m p o ”). D e fato, os dois te rm o s são m u ito parecid o s em escrita co n tíin u a m aiúscula: A D D A e A M A !

E

n c i c l o p é d i a

Equívocos auditivos A lg u m as vezes, os tex tos eram d itad o s p ara os copistas, que, in v o lu n ta ria m e n te , tro cav am u m a m esm a p ro n u n c ia greg a p o r vogais co m d ito n g o s d iferen tes. P o r exem plo, em IC o rín tio s 15.54, no lu g ar d a expressão “tra g a d a foi a m o rte n a v itó ria”, alguns m a n u sc rito s a p re se n ta m o texto: “tra g a d a foi a m o rte n o co n flito ”. C aso se m e lh a n te o corre em lC o r í n tios 13.3, o n d e, ao invés de “en tre g o m eu co rp o p ara g lo ria r-m e ”, certo s m an u scrito s escreveram : “en tre g o m eu corpo p ara q u e im a r”.

Equívocos m entais A m e n te exerce g ra n d e in flu ên cia n a co m po sição do texto. Se a m e n te d o co p ista n ão estava em con diçõ es ad eq uadas, c o n se q u e n te m e n te à su b stitu ição p o d e m o co rrer om issões e inversões d e palavras. P o r exem plo, em M a rc o s 1.4, o texto diz: “E veio Jo ão , o B atista, n o d e se rto e p regava a rre p e n d ím e n to ”, m as foi m o d ificad o para: “E veio Jo ão no deserto , b a tiz a n d o e p re g a n d o a rre p e n d im e n to ”. A s alterações in te n c io n a is c o m p re e n d e m to d as aquelas que os cop istas efe tu a ra m c o n sc ie n te m e n te nos textos. C o m o exem plo, citam os:

a) Harmonizações.

O c o rre m , so b retu d o , en tre textos dos

evangelhos sin ó p tico s. Q u a n d o as d iferen ças en tre os tex tos dos evangelhos não eram consideráveis, c o stu ­

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T E O L O G IA

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2

m ava-se h a rm o n iz a r seu co n teú d o . N o ap a rato N e stle e A la n d , as h a rm o n iz a ç õ e s vêm assinaladas p ela a n te p osição da sigla p. E m M a rc o s 2 .1 6 , p o r exem plo, alg u n s m an u scrito s leem : “P o r q ue com eis e bebeis com p u b lican o s e p ecad o res?”, ao invés de: “P o r que co m e e b ebe ele co m p u b lican o s e p ecad o res?”. A le itu ra com os verbos n a seg u n d a pessoa do p lu ral é c laram en te u m a h a rm o n iz a ç ã o com o tex to de L u cas 5.30.

b) Correções de ortografia, gramática e estilo. E m

M a r-

cos 1.12, alguns m an u scrito s ap resen tam : “F oi c o n d u zid o ao d e se rto ” (com dativo ), e n q u a n to o u tro s escrevem com acusativo: “F oi co n d u z id o p a ra o d e se rto ”.

c) Correções explicativas ou doutrinárias.

A lg u n s m a -

n u scrito s realizaram u m a correção d o u trin á ria em L u cas 1.3 ao tex to que diz: “A m im ta m b é m p areceu co n v en ien te [...] e sc rev er-te” e acrescen taram u m a referên cia ao E s p írito S an to , fican d o a le itu ra assim : “A m im e ao E sp írito S an to ta m b é m p areceu co n v en ien te [...] e sc rev er-te”. C o m esse acréscim o, os cop istas p o d ia m d a r a e n te n d e r que o ev angelho foi escrito p o r L u cas, d iv in a m e n te in sp ira do. O u tr a correção d o u trin á ria p o d e -se verificar em M a te u s 24.36: “D a q u e le d ia e d a h o ra , n in g u é m sabe, n e m os anjos do céu n e m o F ilh o , m as só o P a i”. A lg u n s m a n u sc rito s ap rese n ta m este versículo sem a referên cia ao F ilh o , p ara que o texto conflitasse com a o n isciên cia de Jesus.

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425

Enciclopédia

d) Acréscimos com complementos naturais e interpolações de notas marginais. E m M a te u s 2 7.4 1, p o r exem pio, alguns m an u scrito s acrescentam “fariseus” após a m en ção dos “escribas”, ficando o texto assim: “D o m esm o m odo, ta m b é m os chefes dos sacerdotes, ju n ta m e n te com os escribas, fariseus e anciãos, caçoavam dele”.

e) Correções geográficas e históricas. E m

M a te u s 2 3 .3 5 ,

a om issão d a expressão “filho de B ara q u ia s” no códice sin aítico (a) p o d e -se explicar p elo fato de esta in fo rm ação c o n tra d iz e r 2 C rô n ic a s 2 4 .2 0 , em que Z acarias é ap resen tad o co m o sen d o o filho de Jo iad a. E m Jo ão 1.28, O ríg e n e s e vários m a n u sc rito s te ste m u n h a ra m , ao invés de “B e tâ n ia ”, a expressão “B etab ara”. E s ta m o dificação visava co rrig ir u m ev en tu al erro geográfico, p o is, a lo calid ad e de B e tâ n ia , em referência, ta m b é m , em Jo ã o 11.18, n ão ficava “d o o u tro lad o do J o rd ã o ”, m as p ró x im o d e Jeru salém . O estu d o co m p arativ o dos n u m ero so s m a n u sc rito s levou à d esc o b erta de alguns tip o s específicos de tex to que se caracte riz a m , so b retu d o , p o r ap re se n ta re m te n d ê n c ia s h o m o g ê n e as n a tran sm issão d o c o n te ú d o e p o r d eco rrerem em regra d e conferên cias feitas em cen tro s expressivos d e difusão do cristian ism o.

426

E

s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

C

a p í t u l o

8

CRITÉRIOS PARA A AVALIAÇÃO DAS VARIANTES

Q u a n d o os m an u scrito s a p re se n ta m leitu ras d iferen ciad as p ara u m m esm o tex to , a fu n ção d a crítica tex tu al é avaliar qual dessas leitu ras deve re m o n tar, co m m aio r p ro b a b ilid ad e, ao tex to m ais p ró x im o dos au tó g rafo s (originais). E ssa tarefa de avaliação e m p re g a dois tip o s de critérios: ex tern o s e in te rn o s.

C ritérios externos P o r m eio dos critério s ex tern o s, se avalia, so b retu d o , a q u a n tid a d e de te ste m u n h a s q ue ap o iam u m a v aria n te , a m e n o r o u a m aio r ab ran g ên cia geo gráfica desses m a n u sc rito s e o tip o de tex to ao q u al p e rte n c e m a sua d a ta ç ã o .15 O s cri té rios que regem a avaliação desses d ad o s são:

a) O s

m an u scrito s m ais an tig o s d evem ser p referid o s, in -

cluídas as versões.

b) E n tre os m an u scrito s m ais recen tes, d ev em ser p re fe ri15 Como subsídios para a aplicação desses critérios, destacamos as tabelas apresentadas por R. X, Champlim. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, que incluem informações sobre data, conteúdo e úpos de textos escritos.

E

n c i c l o p é d i a

dos aqueles que p o d e m re m o n ta r a u m o rig in al antigo. O decisivo, em m a n u sc rito recen te, n ão é, pois, a sua p ró p ria id ad e, m as a an tig u id a d e d o tex to que lh e serviu de base.

c)

A q u alid ad e dos m a n u sc rito s q u e re p ro d u z e u m a varia n te deve p re d o m in a r sobre a m era q u a n tid a d e . O te s te m u n h o de m u ito s m an u scrito s, em favor de u m a v arian te, p o d e ser d e p o u co significado se esses m a n u scritos são d e d a ta recen te o u se p e rte n c e m a tip o s de tex to s qu e n ão o alex an d rin o .

d) V arian tes cujos m a n u sc rito s a te ste m am p la expansão geográfica d ev em ser p re ferid as àquelas o rig in ad as em u m m esm o local. A ssim , u m a v aria n te ap o iad a p o r m a n u scrito s de A lex a n d ria, C esareia e R o m a leva v a n ta g em sobre o u tra te s te m u n h a so m e n te p o r m a n u sc rito do O c id e n te .

e)

V arian tes te ste m u n h a d a s p elo tip o de tex to alex an d rin o d ev em ser p referid as às d em ais, so b re tu d o p o r sua n e u tra lid a d e estilística e sua brevidade.

C ritérios internos E sses critério s tê m sua o rig em das co n sid eraçõ es sobre leis a m p la m e n te reco n h ecid as q u e reg em a tran sm issão de m an u scrito s, b e m co m o d e observações a serem feitas nos p ró p rio s escritos em q u e se e n c o n tra m as v arian tes. O s critérios in te rn o s m ais co m u n s re c o m e n d a m p rio riza r:

428

E

s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

V O L U M E

a)

2

A s leitu ras difíceis, d esd e que n ão sejam d eco rren tes de erros d e au d ição o u visão. O s cop istas, c o m u m e n te , p ro c u ra m facilitar e n ão d ificu ltar a leitu ra.

b) A s leitu ras m ais breves. A te n d ê n c ia de tran sm issão de tex tos sagrados está, an tes, n o se n tid o de a m p liá -lo do q u e de su p rim ir algum as d e suas p artes.

c) A s

leitu ras q u e n ão estejam h a rm o n iz a d a s co m os tex -

tos paralelos. A te n d ê n c ia dos copistas está n a d ireção de h a rm o n iz a r os tex to s dos ev an g elh o s o u as citações e n c o n tra d a s nos evangelhos com o tex to d a S e p tu a g in ta.

d) T ex to de lin g u a g e m m ais ru d im e n ta r, em d e trim e n to daqueles, com a p e rfe iç o a m e n to estilístico.

e) A s

v arian tes que m e lh o r reflitam as características te o -

lógicas e estilísticas p ró p ria s d o a u to r d a p assag em em estudo.

f) A v aria n te q u e m e lh o r co n sig a explicar a o rig e m das dem ais.

E S T U D O S

DE

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429

ENCICLOPÉDIA

Referências

A R I S T Ó T E L E S . Ética a Nicômaco. São Paulo: M a r tin C la re t, 2 0 02 . B A R R E R A , Ju lio T rebo lle. A Bíblia judaica e a Bíblia cris-

tã. 2 a E d . R io d e Jan eiro : V ozes, 2005. B R U C E , F. F. Merece confiança 0 Novo Testamento. São Paulo: V id a N o v a, 1999. C A R S O N , D . A . A exegese e suasfalácias. São P aulo: E d ições V id a N o v a, 1999. C H A M P L I N , R . N ; B E N T E S , J. M . Enciclopédia de Bí-

blia, teologia efilosofia. Vol. 2. São P aulo: C a n d e ia , 1995. C Í C E R O , M a rc o T úlio. Dos deveres. São Paulo: M a rtin C la re t, 2 002 . C O E L H O , In o c ê n c io M á rtire s. Interpretação constitucio-

nal. 2 a ed. am p. R io G ra n d e d o Sul: S A F E , 2 0 0 3 . E G G E R , W ilh e lm . Metodologia do Novo Testamento. São Paulo: L o y ola, 2 0 0 5 . E K D A H L , E liz a b e th M u rie l. Versões da Bíblia‫׳‬, p o r que ta n ta s diferenças? São Paulo: V id a N o v a, 1993. F A L C A O , R a im u n d o B ezerra. Hermenêutica. São Paulo: M a lh e iro s E d ito re s, 2 0 0 4 . F E E , G o rd o n D ; S tu a rt, D o u g las. Entendes 0 que lês? São Paulo: V id a N o v a, 2 0 0 0 . _________ . Manual de exegese bíblica. São Paulo: V id a N o v a, 2 008 . F E R R E I R A , A u rélio B u arq u e de H o la n d a . O N o v o D i-

430

estudos

de

teologia

V O L U M E

2

c io n á rio A u ré lio d a L ín g u a P o rtu g u e s a . V ersão 5 .0 . R io de Ja n e iro : E d ito r a P o sitiv o , 2 0 0 4 . F E R R E I R A , N a z a ré d o S o c o rro C o n te . t a ç ã o à h e r m e n ê u t i c a j u r í d i c a ‫׳‬,

D a

in te r p r e -

u m a le itu ra d e G a d a m e r e

D w o r k in . R io G r a n d e d o Sul: S A F E , 2 0 0 4 . F E R R E I R A , O d im B ra n d ã o . L A I A A L I a U n iv e rsa lid a d e d o P ro b le m a H e r m e n ê u tic o . R io G r a n d e d o Sul: S A F E , 2001. F R A N C I S C O , E d s o n F a ria .

M a n u a l d a B í b l i a h e b r a ic a .

S ão P au lo : V id a N o v a , 2 0 0 3 . G A B E L , J o h n B; W H E E L E R , C h a rle s B. com o lit e r a t u r a .

A

B íb lia

2 a ed . S ão P a u lo : L o y o la , 2 0 0 3 .

G A D A M E R , H a n s G e o rg .

V e rd a d e e m é to d o

I. 7 a ed.

R io de Ja n e iro : V ozes, 2 0 0 5 . H A B E R L E , P e te r.

H e r m e n ê u t i c a c o n s t i t u c io n a l· ,

a so c ie -

d a d e a b e rta d o s in té r p r e te s d a C o n s titu iç ã o . R io G r a n d e d o Sul: S A F E , 1 9 9 7 . J U N I O R , G le a s o n L . m e n to .

M e r e c e c o n fia n ç a

n tig o

T e s ta -

S ão P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 0 .

L A S O R , W illia m S a n fo rd . do N o v o T e s ta m e n to .

G r a m á t ic a s in tá tic a do g re g o

S ão P a u lo : V id a N o v a , 2 0 0 2 .

L O P E S , A u g u s tu s N ic o d e m u s . A te s .

0A

B í b l i a e seu s i n t é r p r e -

São P au lo : C u ltu r a C r is tã ,2 0 0 4 .

M A L A N G A , E lia n a B ra n c o . o b ra a b e rta .

A

B íb lia

h e b r a ic a

com o

S ão P au lo : H u m a n ita s , 2 0 0 5 .

N E L S O N , C; L U N D , E.

H e r m e n ê u tic a .

1 3 a ed. S ão

P au lo : V id a , 1 99 6 .

E

s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

431

E

n c i c l o p é d i a

P I N T O , C arlo s O sv ald o C ard o so . g ese d o A n t i g o T e s t a m e n t o .

F u n d a m e n to s p a r a e x e -

São Paulo: V id a N o v a, 1998.

________ . F u n d a m e n t o s

p a r a exeg ese d o N o v o T e s t a m e n t o .

São Paulo: V id a N o v a, 2 0 0 2 . S C H N E L L E , U do. m e n to .

In tr o d u ç ã o

à exegese d o N o v o

T e s ta -

São Paulo: L o y o la, 20 04 .

S T E I N , R o b e rt H .

G u i a b á s ic o p a r a in t e r p r e t a ç ã o d a B í b l i a .

R io de Jan eiro : C P A D , 1999. V IR K L E R , H e n r y A .

H e r m e n ê u t ic a · ,

p rin cíp io s e p ro ces-

sos de in te rp re ta ç ã o bíblica. São Paulo: E d ito ra V id a, 1990. W E G N E R , U w e.

E x e g e s e do N o v o T e s ta m e n to .

3a ed. São

P aulo: P au lus, 2 0 0 2 . Y O F R E , H o rá c io S im ian . m e n to .

M e to d o lo g ia

do A n t ig o

T e s ta -

São Paulo: L oyola, 2 0 0 0 .

Z A B A T IE R O , Julio.

M a n u a l d e exegese.

São Paulo: H a g -

nos, 200 7 . Z U C K , R oy B.

A

in t e r p r e t a ç ã o b í b l i c a .

N o v a, 2 0 05.

432

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

São Paulo: V id a

R

e l i g i õ e s

c o m p a r a d a s

In

t r o d u ç ã o

F re q u e n te m e n te , som os q u estio n ad o s p o r pessoas de o u tras convicções religiosas q u a n d o afirm am o s sobre a sin g u larid ad e e o c a rá te r defin itivo d a fé cristã. A rg u m e n ta m que o cristian ism o é co m p atív el co m o u tras religiões e seitas, e que não d ev eriam o s a c e n tu a r a sin g u larid ad e de Jesus C risto com o ú n ico c a m in h o p elo q u al u m a p esso a p o d e co n h e cer o D e u s vivo e verdadeiro. E s ta d iscip lin a m o stra que o cristian ism o n ão é co m p atív el com q u alq u er o u tra religião o u seita. N o s p rim e iro s m ó d u lo s do nosso curso, o le ito r p o d e rá verificar, co m m ais d etalh es, a in c o m p a tib ilid a d e do cristian ism o co m as religiões não cristãs, co m as religiões seculares e co m o ocultism o . A q u i, p re te n d e m o s m o stra r as crenças de fo rm a sin tética, a cren ça de vários g ru p o s religiosos e, co m isso, d e m o n stra r que tais g ru p o s não são cristãos. E ste estu d o , p o ré m , n ão p re te n d e ser u m tra ta d o exaustivo sobre q u a lq u e r g ru p o , e m u ito m en o s u m g u ia co m p leto , m as u m m a n u a l p a ra co nsultas rápidas. A lé m disso, foi necessário q u e nos lim itássem o s a ap reciar as convicções cen trais de cad a g ru p o selecionado, g astan d o p o u co te m p o p ara tra ta r de sua h istó ria, o rg an ização , m é to dos ou crenças secu n d árias, a n ão ser qu e fossem especifica­

E

n c i c l o p é d i a

m e n te relacio n ad as às suas d o u trin a s de m a n e ira que exigisse consideração. O n osso desejo é q u e este resu m o sirva com o u m a re ferên cia ú til p ara to d o s aqueles que “m ilita m p ela fé que u m a vez foi d a d a aos sa n to s” (J d 3).

436

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

CAPÍTULO 1

CRISTIANISMO BÍBLICO

Jesus é u m a das m aiores figuras da h istó ria. É o fu n d a d o r de u m a das m aiores religiões d o m u n d o - o cristian ism o. A tu a lm e n te , c o n ta co m cerca de dois b ilh õ es de seguidores. O s seguidores de Jesu s são ch a m a d o s de cristãos. S em d ú v ida J e s u s é o ce n tro d a fé cristã, de q u e m leva o p ró p rio n o m e “c ristia n ism o ”. Seus en sin o s fo ra m ch am ad o s de “b o a s-n o v a s” o u “feliz a n ú n c io ”. O p ró p rio Jesus o con sid erav a assim : besorah, em aram aico, que, em grego, foi tra d u z id o p a ra evangelion, isto é, “b o a n o tíc ia ”, “in fo rm aç ão alvissareira”. Jesus não tro u x e ao m u n d o u m a nova d o u trin a filosófica, n em u m p ro je to de re fo rm as sociais, ta m p o u c o a co nsciência dos m istério s d o além . Jesu s tra n sfo rm o u p ela ra iz a p ró p ria relação do h o m e m co m D e u s, m o stra n d o ex p licitam en te a to d o s a face de D e u s, que, an tes, m al se p o d ia vislum brar. A b o a n o tícia de Jesus fala p re c isa m e n te d esta vocação sublim e do h o m e m e d a alegria o rig in á ria d a u n ião com o C riad o r.

En c i c l o p é d i a

Fundador Jesu s C risto . F u n d a d o p o r v o lta dos anos 3 0 -3 3 d .C ., n a Ju d e ia , região d a P alestin a (atu al Israel).

Escrituras A B íb lia foi escrita, o rig in a lm e n te , em h eb raico e aram aico (A n tig o T e sta m e n to ) e g rego (N o v o T e sta m e n to ). A p a lavra “b íb lia ” q u e r d iz e r “coleção de livros p e q u e n o s”; o u seja, u m a p e q u e n a b ib lio te c a co m p o sta de sessen ta e seis p e q u e nos livros: 39 n o A n tig o T e sta m e n to e 2 7 n o N ovo.

D eus O cristian ism o é m o n o te ísta , o u seja, h á so m e n te u m D e u s, p o ré m , esse ú n ico D e u s é trin o (u m D e u s em três Pessoas e não três deuses): P ai, F ilh o e E sp írito S an to . O vocábulo “trin d a d e ” é m e ra m e n te u m a te n ta tiv a teo ló g ica d e definir, em te rm o s m ais o u m en o s com preensíveis, a su b stân cia de D e u s. A g ra n d e realid ad e é q u e n in g u é m , re alm e n te , p o d e c o m p re e n d e r alg u m a coisa d e D e u s, salvo o q u e E le d esejou nos revelar. O c o n h e c im e n to h u m a n o é d e m a sia d a m e n te lim ita d o , o qu e to rn a im p o ssív el p a ra os h o m e n s c o m p re e n d e r re a lm e n te a essência e as m an ifestaçõ es d e D e u s. A d o u trin a trin itarian a afirm a que o Pai é D eu s e que o F ilho não é m enos D eu s que o Pai. E o m esm o p o d e ser dito com respeito ao E sp írito Santo. A lém das E scrituras d em o n strarem que as três pessoas são distintas, o testem u n h o ab u n d an te que

438

Es t u d o s

de

T eologia

VOLUΜ E 2

as E scrituras fornecem é que cada pessoa é p len am ente D eus. F re q u e n te m e n te , o títu lo “D e u s ” in d ica a p rim e ira pessoa, D eu s Pai. D e u s é u m ser esp iritu al (sem co rp o físico), que do n ad a crio u o U n iv erso , e q ue é E te rn o , S an to , am o ro so e p erfeito .

Jesus Jesus é D e u s, a seg u n d a pessoa d a T rin d a d e . E le sem pre _

_

*

existiu com o D e u s F ilh o e n ão foi criado. E p le n a m e n te D e u s e p le n a m e n te H o m e m (duas n atu re zas u n id as e n ão am alg am ad as). C o m o se g u n d a pessoa d a T rin d a d e , é ig ual a D e u s P ai e D e u s E sp írito S anto. P a ra se to rn a r h u m a n o , foi g erad o pelo E sp írito S an to e nasceu d a v irg em M a ria . Jesus é o ú n ico C a m in h o p a ra ir ao Pai, à salvação e à v id a e te rna. E le m o rre u n u m a cruz, de acordo com o p lan o de D e u s, co m o u m sacrifício co m p leto e expiou os nossos pecad os. R essu scito u d e n tre os m o rto s três dias após sua m o rte , fisicam e n te im o rtal. D u ra n te os q u a re n ta dias seg u in tes, foi visto p o r m ais de q u in h e n ta s te ste m u n h a s oculares. Suas feridas fo ram to cad as, e E le co m eu d ia n te dos discípulos. A sc e n deu fisicam en te aos céus. Jesu s reg ressará o u tra vez, visível e fisicam en te, n o fim dos te m p o s, p a ra estab elecer o rein o de D e u s e ju lg a r o m u n d o .

ESTUDOS DE T EOLOGIA

439

En c ic l o p é d ia

Espírito Santo Pelos a trib u to s que lh e são co n ferid o s, o E sp írito S an to faz p a rte d a T rin d a d e S an ta, sen d o coigual a D e u s Pai e a D e u s F ilh o . E le é etern o , o n ip o te n te , o n iscien te e o n ip re sen te ( M t 2 8 .1 9 ). O E sp írito S an to é u m a pessoa e não u m a força o u u m ca m p o de en erg ia. E le consola, rep reen d e , co n vence, g uia, en sin a e se en tristece. O E s p írito S an to n ão é o Pai, n e m o F ilh o , Jesus C risto .

Salvação A salvação é o b tid a p ela g raça de D e u s e n ão pelas obras. A salvação é receb id a p ela fé. B asta crer n o coração que Jesus m o rre u p o r nossos p ecad o s e ressu scito u fisicam en te d e n tre os m o rto s. T erem o s, en tão , assegurados o p erd ão e a ressurreição d o nosso corpo. E ste é o p lan o am o ro so de D e u s p ara p e rd o a r os p ecad o res. Jesus ja m a is e n sin o u a n ecessid ad e de se co n q u ista r a p erfeição final p o r esforços e m é rito s pessoais. O cern e da m en sag e m cristã é que Jesu s C risto , o V erbo e te rno, p ela sua vida, paixão e m o rte , reco n cilio u a h u m a n id a d e com D eu s. A red en ção p o r C ris to é a m e d u la do ev an g elh o e d a v ida n e o te sta m e n tá ria .

Morte D e p o is da m o rte , to d as as pessoas esp eram o ju íz o final, ta n to as salvas co m o as p erd id a s h ão de ressuscitar. O s salvos

440

Es t u d o s

de

T eologia

VOLUME

2

viverão com Jesus nos céus, os p erd id o s, p o ré m , sofrerão o to rm e n to (in fe rn o ), a separação e te rn a de D eu s. A ressu rreição c o rp o ral de Jesu s g a ra n te aos cren tes q u e eles ta m b é m terão corpos im o rtais. Jesu s, nosso S e n h o r e D e u s, q u a n d o fala d esta nossa atu al v ida terrestre, c o stu m a a trib u ir-lh e u m valor decisivo p ara to d a a existência p o ste rio r à m o rte. N o sso S e n h o r insiste, e m u ito , n a im p o rtâ n c ia c u lm in a n te d a h o ra da m o rte , a d v e rtin d o -n o s, fre q u e n te m e n te , de estarm o s p ro n to s e p re p arad o s p ara p re sta rm o s co n tas d a nossa v ida ao ju iz divino, p ro m e te n d o aos ju sto s re co m p en sa im e d ia ta depois do desenlace e c o n te sta n d o a b e rta m e n te a p o ssib ilidad e de a rre p e n d im e n to e p erd ão , passados os u m b rais d a etern id a d e. Jesus jam ais d eixou q u alq u er p o ssib ilid ad e de re e n c a rn a ção. E le foi claro e explícito ao e n sin a r a existência e a e te rn idad e do in fern o . Q u a se em cad a serm ão q u e fazia, ap o n tav a p ara os tre m e n d o s castigos d ep o is d a m o rte , q u e seriam sem fim , etern o s.

Outras características A ad o ração em g ru p o , u su a lm e n te p ra tic a d a nas igrejas. N ão h á cerim ô n ias secretas. O b a tism o e a ceia d o S e n h o r fazem p a rte d a co m u n h ão . D e d ic a -se ao tra b a lh o m issio n á rio v o lu n tário . A ju d a os n ecessitados: p o b res, viúvas, órfãos e o p rim id o s. O s cristãos creem q u e Jesus é o M essias, ju d e u p ro m e tid o a Israel no A n tig o T e sta m e n to . Jesus disse q u e os seus seguidores seriam co n h ecid o s p elo a m o r fra tern al.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

441

Capítulo 2 ISLAMISMO

O islam ism o foi fu n d a d o p o r M a o m é , em 6 10 d .C ., na A rá b ia S au d ita. F ilh o de A b d a lla h e A m in a , d a trib o dos coraixitas, u m a das trib o s d a região. O p ai d e M a o m é faleceu q u a n d o ele a in d a estava n o v e n tre d e sua m ãe. E sua m ãe m o rre u q u a n d o ele estava com seis anos d e idade. D e p o is disso, foi aco lh id o p o r seu avô, A b d a l-M o tta lib , qu e m o rre u dois anos d ep o is, q u a n d o M a o m é , en tão , ficou sob a cu stó d ia de seu tio A b u T alib. Seus p rim eiro s anos fo ram obscuros e difíceis. E ra co m erc ia n te e c o n d u to r de caravanas. A os v in te e cinco anos, caso u -se com u m a viúva rica, c h a m a d a C ad ija, cujos n eg ó cios ad m in istrav a. E m suas buscas esp iritu ais, re tiro u -se p ara u m a caverna no m o n te H ira , p ró x im o de M e c a , no an o 610 d .C ., en tão , com q u a re n ta anos de id ad e, re la to u q ue teve a v isita do anjo G ab riel, q u e lh e explicou o que ele d ev eria fazer com o servo de A lá. A p a rtir desse m o m e n to , M a o m é ficou certo de te r receb id o u m c h a m a d o d iv ino p ara ate sta r a u n id a d e e tra n sc e n d ên cia de A lá, a fim de ad v ertir seu povo do ju íz o final e lhes

En ciclo pédia

falar das reco m p en sas dos fiéis no p araíso e d o castigo dos m aus no in fern o . E le d efin iu a fé que pregava co m o Islã, que significa “su b m issão ”, a D eu s.

Profeta T o d o s os m u çu lm an o s o u islâm icos são u n â n im e s em afirm a r que M o h a m m e d (M a o m é ) é o p ro fe ta dessa religião. E m 6 1 0 d .C ., aos q u a re n ta anos, M a o m é afirm a te r receb id o revelações de D e u s, no m o n te H ira .

Escrituras O livro sagrado p a ra os m u ç u lm a n o s é o A lcorão , escrito em árabe. S e g u n d o a trad içã o islâm ica, A lá, p o r in te rm é d io do anjo G ab riel, re c ito u a m e n sa g e m do A lco rão a M a o m é , n u m p e río d o d e v in te e três anos, revelando, assim , o c o n te ú do d e u m a tá b u a q u e estava co n serv ad a nos céus. C o n sid e ra n d o q u e a B íb lia c o n tra d iz o A lcorão , e vice-versa, n ão p o d e m am bo s os livros o rig in a r-se da m esm a fo n te. O A lco rão é c o n stitu íd o de 114 cap ítu lo s (S uras), estru tu ra d a de fo rm a q ue os cap ítu lo s vão d im in u in d o de ta m a n h o e o rd e m decrescen te.

Deus P ara o islam ism o, h á so m en te u m “deus to d o -p o d e ro so e absoluto” ch am ad o de A lá. E le é u m ju iz severo e não é represen tad o com o am oroso e m u ito m eno s com o te n d o u m filho.

444

estudos

de t e o l o g i a

V O L U ME 2

Jesus N a teo lo g ia islâm ica, o S e n h o r Jesu s n ão é re co n h ecid o co m o D e u s, n e m co m o F ilh o de D e u s, n e m co m o Salvador, n em m o rre u pelos p ecad o s de alguém , n e m ressu scito u . E le é u m dos 124 m il p ro fetas enviados p o r D e u s a d iferen tes culturas, co m o foi A b ra ão , M o isé s e M a o m é . N ã o foi crucificado (ascen d eu ao céu sem ser m o rto ), p o ré m , reg ressará no fu tu ro p ara viver e m orrer.

Espírito Santo O A lco rão se refere a Jesus co m o o E sp írito de D eu s. O s e ru d ito s m u çu lm an o s veem o anjo G a b rie l co m o o E s p írito S anto.

Salvação A salvação n o islam ism o é, p ra tic a m e n te , p o r obras, q u a n do os b o n s serão reco m p en sad o s co m b eb id as, carnes de p ássaros e virgen s ad o lescen tes e os m au s serão lan çad o s n o in ferno. H a v e rá u m d ia p a ra o ju íz o fin al que, seg u n d o m u ito s, será in a u g u ra d o p o r Jesus.

Morte A m o rte é a p assag em d este m u n d o físico p ara o u tro . O s falecidos são lavados, envolvidos em p an o s (sem e lh a n te s aos trajes dos p ereg rin o s) e, após a oração fú n eb re, sep u ltad o s co m o ro sto v o ltad o p ara M ec a.

E S T U D O S DE T E O L O G I A

445

En c i c l o p é d i a

Outras características O s ad e p to s são ch a m a d o s m u ç u lm an o s. Vão às m esq u itas (tem p lo s) p a ra orar, o u vir serm õ es e co nselh os. E sfo rço san to p a ra ex p a n d ir o islam ism o (jihad). Seus cinco pilares são: con fessar qu e A lá é o ú n ico D e u s v erd ad eiro e M a o m é o seu p ro fe ta , o ra r cinco vezes ao d ia v o ltad o p a ra M e c a , d a r esm o las, je ju a r d u ra n te o m ês de ra m a d ã e fazer u m a p ereg rin açã o a M e c a (ao m en o s u m a vez n a vida).

446

Es t u d o s

de

Teologia

Capítulo 3 FE ΒΑΗΑΊ

D ev id o a u m a profecia que circulava en tre os m u çu lm an o s do século 19, que d izia que A lá levantaria u m p ro feta p ara rep resentá-lo, crio u -se u m a g ra n d e expectativa n a nação islâm ica. E m 1844, M irz a A li M u h a m m e d (1 8 1 9 -1 8 5 0 ) reivindicou p ara si o títu lo de bab (“A p o rta ”), ou seja, o p recu rso r do profeta. Sua p rin cip al m en sag em era que, após nove anos, surgiria o u tro enviado de D eu s, p ara iniciar u m a nova era, u m novo ciclo profético. Várias pessoas passaram a segui-lo, sendo conhecidas com o “bab istas”. Sua m issão de arau to findou, su b itam en te, em 1850, q u an d o foi executado p o r fanáticos religiosos que não aceitaram sua saída do islam ism o. U m de seus seg u id o res, M irz a H u sa y n A li (1 8 1 7 -1 8 9 2 ), co n h e cid o co m o B ah a U lla h , em 1863, d ec la ro u ser aquele que h á m u ito era esp erado , o u aquele a q u em D e u s se m a n ifestaria. B ah a U lla h foi u m prolixo escritor. F aleceu em 1892. Seu filho, A b d u l B a h a (1 8 4 4 -1 9 2 1 ), assu m iu a lid e ra n ç a do g ru p o , solid ifican d o os e n sin a m e n to s d o m o v im e n to . D e p o is da m o rte de A b d u l B ah a, em 1921, S h o n g i E fe n d i, n e to de A b d u l, to rn o u -s e o novo líd er d o g ru p o .

En c i c l o p é d i a

Profeta O p re c u rso r d o “p ro fe ta ” foi M irz a A li M u h a m m e d (o

Bab), m as o p ro fe ta m esm o d o g ru p o foi M irz a H u sa y n A li (B ah a U llah ), co n sid erad o p o r seus discípulos com o sen d o su p e rio r a M a o m é .

Escrituras E n tre as in ú m eras obras escritas p o r B ah a U lla h , as p rin cipais são: Al-Kitab al-Aqdas (O livro san tíssim o ), o qual c o n té m as leis que g o v ern am o b ah aísm o ; Ketab-e Iqan (O livro da certeza); e As palavras escondidas e os sete vales. O s escritos de B ah a U lla h fo ra m elevados à co n d ição de tex to s sagrados pelos d ev o to s d o b ah aísm o .

Deus O s b ah aístas p ro fessam a cren ça em u m ú n ico D e u s, d istin to do m u n d o . C o n fo rm e seus en sin o s, D e u s se d á a c o n h e cer p o r seus p rofetas: M o isés, B u d a, C o n fú cio , Jesus C risto e, p o r ú ltim o , B ah a U lla h , co m q u e m as m an ifestaçõ es d a d iv in d ad e ch e g a ra m à co n su m ação .

Jesus Jesus é co n sid erad o apenas co m o m ais u m p ro fe ta n a revelação progressiva de D eu s. C a d a m an ifestação su b stitu i a an terio r, d a n d o novas revelações acerca de D eu s. M o isés foi su b stitu íd o p o r Jesu s, q u e foi su b stitu íd o p o r M a o m é e,

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Es t u d o s

de

teologia

VOLUME 2

m ais re c e n te m e n te , p elo ilu m in a d o B ah a U lla h (“G ló ria de D e u s ”), o selo dos p ro fetas. N a teo lo g ia B ah aista, Jesus não é D eu s e não ressu scito u d e n tre os m o rto s.

Espírito Santo O E sp írito S an to é a en erg ia d iv in a de D e u s que co nced e p o d e r a cada m an ifestação . O E sp írito da V erdade refere-se a B ah a U llah .

Salvação A salvação é o b tid a p elo c o n h e c im e n to e p rá tic a dos p rin cípios en sin ad o s p o r B ah a U llah .

Morte A s afirm ações sobre a vida após m o rte são vagas. S o m e n te os “pro fetas e sa n to s” tê m suas faculdades “sin to n iz ad as com as vibrações m ais elevadas” e, p o rta n to , sua visão e sp iritu al p e rm ite c o n ta to com D e u s e com o u tro s m u n d o s. O céu e o in fe rn o são níveis de co n sciên cia e p ercep ção esp irituais.

Outras características A Fé B ah a í o rig in o u -se co m o seita islâm ica e é severam e n te p erse g u id a n o Irã. S u a cren ça é que to d as as religiões tê m a m esm a o rig em , p rin cíp io s e aspirações. E n fa tiz a a u n idad e e a u nificação do m u n d o . Suas reu n iõ es são d e n o m in a das “assem bléias e sp iritu a is”.

Es tu do s

de

T

eologia

449

C

a p í t u l o

4

BUDISMO

E ste n o m e d eriv a de u m títu lo h o n o rífico a trib u íd o ao asceta itin e ra n te c h a m a d o G a u ta m a S id d h a rth a , o B u d a. O b u d ism o p ro v ém d a ín d ia , te n d o su rg id o n o N o rte do su b c o n tin e n te n o q u in to século a .C ., co m o m o v im e n to de refo rm a d a religião p re d o m in a n te dos sacerd otes h in d u s, os b râ m a n es. E m suas d iferenças facções, o b u d ism o p ossu i cerca de 5 0 0 m ilh õ es de ad ep to s. U m im p o rta n te d etalh e: o h in d u ísm o re strin g iu -se ao seu país de o rig em , a ín d ia , e o tao ism o , à C h in a , m as o b u d ism o foi a p rim e ira religião o rie n ta l que se ex p a n d iu em d ireção a o u tro s países. A m aio ria dos b u d istas n ão vive n o país de o rig em , a ín d ia , m as, sim , no L e ste e S u d este asiático (M y a n m a r/B irm â n ia , T ailân d ia, L ao s, C a m b o ja , V ie tn ã , C h in a , C o ré ia e Jap ã o ) e, em m e d id a crescen te, ta m b é m n o m u n d o o c id e n ta l (A m é ricas e E u ro p a ). E m sua te rra n atal, o b u d ism o c o n ta com apenas dois m il b u d istas, de u m to ta l de tre z e n to s m ilh õ es em to d o o m u n d o .

Enciclopédia

Fundador S id d h a rth a G a u ta m a , “o ilu m in ad o ” (B uda) é considerado p ela m aio ria dos b u d istas com o sendo o fu n d a d o r desta religião, criada no século 6° a.C , n a ín d ia .

Escrituras O c â n o n b u d ista se divide em três “cestas” ( tripitaka). A p rim e ira cesta ( Vinaya o u Vinayapitaka) é a discip lin a, isto é, das prescrições p a ra os m o n g es. A seg u n d a cesta é a das pregações de B u d a, c h a m a d a de Sutras ou Sutrapitaka. A te rceira cesta c o n té m a exposição d a d o u trin a b ú d ica, c h a m a d a

Abhidaramma o u Abhidharmapitaka.

Deus B u d a n ão d istin g u iu u m D e u s c ria d o r e so b eran o do U n iverso, e te rn o e o n ip o te n te , e n tre os m ilh ares deuses d o b u dism o. D e u s o u deuses não d e se m p e n h a m n e n h u m p ap e l no b u d ism o , sendo, p o r isso, alg u m as vezes co n sid erad a u m a religião ateia.

JESUS Jesu s C ris to é in d ife re n te p a ra o b u d ism o . O s b u d ista s d o O c id e n te , g e ra lm e n te , v ee m Jesu s co m o u m h o m e m ilu m in a d o .

452

Estudos

de

T eologia

VOLUME 2

Espírito Santo O E sp írito S an to n ão faz p a rte d esta crença.

Salvação O b u d ism o é a u m a religião de autossalvação. B asta seg u ir as m áxim as de B u d a e c h e g a r-se -á à salvação pelas p ró prias forças do n irv an a. O objetivo d a v id a é o n irv an a, p ara e lim in a r to d o s os desejos e ev itar o so frim en to . O b u d ism o co n sid era o n irv a n a co m o o fim das reen carn açõ es: significa extinção. O h o m e m q u e não a lim e n ta suas paixões ex tin g u e-se e sua vida não reen carn a. O n irv a n a b ú d ic o é u m estad o que escapa à fa talid ad e do fu tu ro , o n d e os “b e m -a v e n tu ra d o s ” vivem em êxtase d ep o is d a m o rte.

Morte A s pessoas n ão tê m alm a e espírito . N ã o h á céu n e m in fe rno. H á o n irv an a (lib ertação final).

Outras características N a C h in a , o b u d ism o d iv id iu -se em diversas escolas, sen do a d o u trin a d o L ó tu s a m ais típ ica. E s ta escola se caracteriz o u pelo c o n te ú d o in te le c tu a l e p ela ênfase n a m ed itação . P ara se alcan çar o n irv an a , o b u d ism o re c o m e n d a a ioga. A ioga é o c a m in h o u tiliza d o pelos b u d ista s p a ra se alcan çar a ilu m in ação . P ara se a tin g ir este p a ta m a r, eles p recisam p assar pelas “q u a tro v erd ad es san tas”, q u e fixam a pro g ressão b ú d i-

E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

453

En c i c l o p é d i a

ca: o p rim eiro consiste em ad q u irir o controle dos sentidos; o segundo, em d o m in a r a im aginação; o terceiro, em su p rim ir a sensibilidade; e o q u arto , em colher o fru to desta realização espiritual. O s exercícios respiratórios são o m eio que o iogue usa p a ra se o b ter a co n cen tração n a ioga. O s b u d is ta s fa z e m p e re g rin a ç õ e s em q u a tro lu g ares p rin c ip a is: 1) o n d e B u d a n asceu ; 2) o n d e B u d a re ceb eu a ilu m in a ç ã o ; 3) o n d e B u d a p ô s em a n d a m e n to a R o d a da L e i (p rim e iro serm ã o ); e 4) o n d e B u d a e n tro u n o n irv an a . A p a r tir d o p rim e iro século a .C ., B u d a c o m e ç o u a ser re p re s e n ta n d o p o r u m a im a g e m e, p o s te rio rm e n te , p asso u ser a d o ra d o p elo s fiéis.

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Es t u d o s

de

T e o l o g ia

Capítulo 5 HINDUÍSMO

*

N a ín d ia , n ão existe apenas u m a religião, m as diversas. O h in d u ísm o é a m aio r delas. E difícil d efin ir o h in d u ísm o , pois ele abso rveu as influências de diversas civilizações. Seus seg u id o res d e m o n stra m g ra n d e devoção p o r u m a v aried ad e de crenças, cujo d o g m a fu n d a m e n ta l é u m S er divino c h a m a d o B rah m a.

Fundador N ã o h á u m só fu n d ad o r. E x iste m m u ita s seitas. Seus fu n d a m e n to s ab ra n g e m u m p e río d o q ue vai d e 1 80 0 a 10 00 a.C , na ín d ia , te n d o in flu ên cia d a religião b ra m â n ic a. A div ulgação d o h in d u ísm o n o O c id e n te d ev e-se à S o cied ad e T eo só fica de H e le n a Blavatsky.

Escrituras A religião dos h in d u s se u tiliz a d e diversos d o c u m e n to s, os p rin cip ais são: o Bhagavad-Gita (an tig o ), os Bramanas (m an u ais p ara sacrifícios), os Upanichades (co m un icações con fid enciais), os Vedas (saber) e os Puranas (a n tig u id ad es).

En c i c l o p é d i a

Deus O credo fu n d a m e n ta l do h in d u ísm o é o d a existência de u m esp írito universal ch a m a d o B ra h m a (alm a do m u n d o ). E ssa alm a do m u n d o ta m b é m é c h a m a d a de “T r im u rti”, o deus trin o e u no: B ra h m a , o criad or;

V is h n u

(K rish n a ), o co n -

serv ado r; e Shiva, o d estru id o r. A c re d ita m , ain d a, n a existência de m ilh ares de deuses m enores.

Jesus Jesu s C risto é u m m estre, u m g u ru , o avatar (u m a en c arnação de Vishnu). E m ais. Jesu s é u m filho de D e u s assim co m o são os o u tro s. S u a m o rte n ão expia pecado s e E le não ressu scito u d e n tre os m o rto s.

Espírito santo O E s p írito S an to n ão faz p a rte d esta crença.

Salvação O s q ue são b o n s n esta v id a serão re co m p en sad o s, en c arn a n d o -se n u m a casta superior. O d e stin o dos h in d u s já está m arcad o. N ã o h á u m m o d o p elo q u al eles p o ssam escap ar do k arm a. N e m m esm o q u a lq u e r deus p o d e in te rv ir p ara alterar seu rigor. A s re en carn açõ es p o d e m ser d im in u íd a s, m as não se p o d e fu g ir delas, seg u n d o a con cepção h in d u . A salvação final é u m a u n ião co m B rah m a.

456

estudos

de

T eologia

V O L U ME 2

Morte U m a p arcela dos h in d u ísta s ac red ita que, após a m o rte , h á a anulação to ta l da p erso n a lid a d e h u m a n a p a ra aqueles que co n se g u iram o c o n h e c im e n to su p rem o . O u tr a te n d ê n c ia é a de que, q u a n d o o h o m e m alcança a perfeição , ele u su fru i d a b e m -a v e n tu ra n ç a , p o ré m , in fe rio r à d o “deu s su p re m o ”.

Outras características A lg u n s discípulos u sam tú n icas alaranjadas e tê m a cabeça rasp ad a. M u ito s h in d u s a d o ra m íd o lo s de p e d ra e m ad eira em seus tem p lo s, que são san tu ário s d o deus, o ce n tro das p ereg rin açõ es o u o lu g ar p a ra o cu lto p ú b lico em certas solen id ad es d o ca le n d ário litú rg ico . O s g u ru s exigem o b ed iên c ia to tal, os discípulos m e d ita m n u m a palavra, frase o u fo to g ra fia. A ioga in clu i m ed itação , cân tico s, p o stu ra e exercícios de respiração.

Es t u d o s

de

Teologia

457

Capítulo 6 JUDAÍSMO

O ju d a ísm o é a religião dos ju d e u s. O ju d a ísm o é co n sid erad o a p rim e ira religião m o n o te ísta a ap arecer n a h istó ria. T e m co m o cren ça p rin c ip a l a existência de apenas u m D e u s, o C ria d o r de tu d o . P ara os ju d e u s, D e u s fez u m acordo com A b ra ão , fa zen d o com qu e ele se to rn asse o g e n ito r d o povo escolhido. A religião foi in stitu c io n a liz a d a p ela in te rm e d ia ção de u m h o m e m : M o isés. A tu a lm e n te , a fé ju d a ic a é p ra tic a d a em vários países do m u n d o , p o ré m , é n o E sta d o de Israel qu e se c o n c e n tra u m g ra n d e n ú m e ro de p ra tica n te s.

Fundador A revelação d o D e u s ú n ico o co rreu , p ela p rim e ira , vez a A b rão , filho d e T era, n ascid o em U r dos C a ld e u s, n a C ald eia, n o seio de u m a fam ília id o latra. C o m A b ra ão , foi estab elecida u m a alian ça e n tre D e u s e seus d esc en d en tes, p rim e iro com o sacrifício de an im ais e, p o ste rio rm e n te , m e d ia n te o ritu a l d a circuncisão.

En ciclo pédia

Escrituras A B íblia h eb raica dos ju d e u s é o A n tig o T e sta m e n to , con h e c id o p o r Tanak, sigla que vem das inicias da divisão (T o ra h , N ev iím , K etu v ím ). A d isp o sição em que se e n c o n tra m os livros d o A n tig o T e sta m e n to h eb raico é d iferen te das o u tras versões, pois se c o n stitu i de 2 4 livros, to davia, são e x a ta m e n te iguais aos 39 das B íblias p ro te sta n te s, p o rq u e os p ro fetas m en o res são u m ú n ico livro, assim co m o são os dois livros de S am uel, dos R eis, das C rô n ic a s e E sd ra s-N e e m ia s, p e rfa z e n do u m to ta l d e 24. São aceitos p o r certo s ju d e u s o u tro s livros com o revelação de D e u s. U m deles é o T a lm u d e , o b ra que re ú n e m u ita s tra dições orais, d iv id id o em q u a tro livros: M is h n a h , T a rg u m in , M id ra s h im e C o m e n tá rio s.

Deus A religião ju d a ic a é a b so lu ta m e n te m o n o te ísta , ou seja, de que D e u s é u m , a U n id a d e d a U n ic id a d e indivisível. P ara os ju d e u s o rto d o x o s, D e u s é pessoal, T o d o -P o d e ro so , etern o , m isericord ioso . P ara o u tro s ju d e u s, D e u s é im pessoal, in co g noscível e d efin id o de m u ita s m an eiras. P a ra o in c o n d ic io n a l m o n o te ísm o ju d aico , a d o u trin a d a T rin d a d e é p ro fu n d a m e n te objetável, p o rq u e , n a co ncep ção ju d a ic a , tra ta -s e de u m a concessão ao p o liteísm o .

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VOLUME 2

Jesus O ju d a ísm o não qualifica Jesus co m o p ro fe ta, ra b in o ou m estre. P ara os ju d a iz a n te s, Jesu s não foi o M essias, p o rq u e não realizo u as esp eran ças m essiânicas, o u seja, n ão estab eleceu a p a z universal e a ju stiç a social p a ra to d a a h u m a n id a d e , n e m re d im iu o povo de Israel. O s ju d e u s o rto d o x o s creem que o M essias vai re sta u ra r o rein o ju d a ic o e g o v ern ará finalm e n te o m u n d o .

Espírito santo A lg u n s ju d e u s creem q u e o E s p írito S an to é o u tro n o m e p ara a ativid ade de D e u s n a terra. O u tro s , n o e n ta n to , d izem que o E sp írito S an to é o am o r de D eu s.

Salvação A lg u n s ju d e u s creem que a oração, o a rre p e n d im e n to e a o b ed iên c ia à lei são necessários p a ra a salvação. O u tro s , p o ré m , creem que a salvação seja o a p e rfe iç o a m e n to d a sociedade. P ara os ju d e u s, a d o u trin a do p ec ad o o rig in a l é to ta lm e n te inaceitável. “O s ju d e u s creem qu e o h o m e m ch eg o u a este m u n d o sem p ecad o , co m a alm a p u ra, in o c e n te e sem m ácula. A n d a qu e te n h a h av id o m estres ju d e u s nos te m p o s talm ú d ico s, que acred itav am qu e a m o rte era u m castigo im p o sto p o r D e u s sobre a h u m a n id a d e p o r causa d o p ecad o de A d ão , prevaleceu a tese de q u e os pecado s do ser h u m a n o são co n seq u ências de sua im p erfeição e não, co m o p re g a o

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

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c ris tia n is m o , u m a h e r a n ç a ” (Livro judaico dos porquês, vol.

II, p. 69).

Morte P a ra o ju d a ísm o , com a m o rte , te rm in a m to d o s os p ianos e atividades, e os m o rto s n ão to m a m c o n h e c im e n to do que aco ntece n a terra. A p a rtir de u m p e río d o tard io , surge a esp eran ça p ela ressu rreição dos m o rto s (D n 12.2). E x iste u m a fo rte crença, c o m p a rtilh a d a p o r m u ito s ju d e u s, de que, q u a n d o o M essias aparecer, os m o rto s seguirão ressuscitados e aqueles que viverem u m a v id a p ied o sa irão se d eslo car p o r d ebaixo d a te rra até Israel p ara serem ressu scitad o s (Livro

judaico dos porquês, p. 60).

Outras características R e ú n e m -se nas sinagogas aos sábados. A s co rren tes o rto doxa e co n se rv ad o ra d o ju d a ísm o exigem q u e o varão, p ara c o n v e rter-se ao ju d a ísm o , seja circu n cid ad o co m o p a rte do ritu a l de iniciação. O p ecad o o rig in al, a v irg in d ad e de M a ria , a san tíssim a T rin d a d e e a expiação vicária são algum as d o u trin a s q u e não são aceitas pelos ju d eu s. C o m e m o ra m vários dias san to s e festivos, in clu in d o : P áscoa, S u k o t,Ja n u c á , R o sh R o sh a n á , Y om K ip p u r e P u rim . Je ru sa lé m é co n sid erad a a cidade santa.

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M0RM0NISM0

O s m ó rm o n s são ad ep to s d a Ig reja de Jesu s C risto dos S an to s dos Ú ltim o s D ia s, fu n d a d a p o r Jo se p h S m ith Jú n io r, n ascido em S h aro n , E sta d o de V erm o n t, nos E sta d o s U n idos, em 23 de d e z e m b ro de 1805. E ra o q u a rto dos d e z filhos d e Jo se p h e L u c y M a c k S m ith , crianças p re c a ria m e n te edu cad as e, g e ra lm e n te , dadas a cren ças e p ráticas sup ersticio sas E m 1823, Jo se p h S m ith receb eu a v isita d e u m anjo, em visão, que lh e revelou u m local o n d e estav am esco n d id as alg u m as placas de ou ro , p e rto d e P alm y ra, n o E s ta d o d e N o v a York. D essas placas, u m su p o sto “d e u s” fez co m q u e Jo se p h S m ith fosse cap az d e tra d u z i-la s e p ro d u z isse o L ivro de M ó rm o n , qu e se to rn a ria o fu n d a m e n to d o m o rm o n ism o

Fundador Jo se p h S m ith J r (1 8 0 5 -1 8 4 4 ) fu n d o u a Ig reja d e Jesus ✓

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C risto dos S an to s dos Ú ltim o s D ias (S U D ) em 1830, em N o v a York, nos E sta d o s U n id o s d a A m éric a. A sede dos S an to s dos Ú ltim o s D ias se e n c o n tra em S alt L ak e C ity, U ta h . E U A .

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Escrituras O s m ó rm o n s d iz e m que to d as as bíblias fo ram a d u lte radas e q ue so m en te a versão inglesa, K in g Jam es, c o n té m a P alavra de D e u s, “desde que esteja tra d u z id a c o rre ta m e n te ”. A d o ta m três livros co m o sen d o a revelação final de D eu s p a ra suas vidas: Doutrina e convênios, Pérola de grande valor e a p rin c ip a l o b ra d a seita, o L iv ro de M ó rm o n .

Deus A Ig reja d e Jesus C risto dos S an to s dos Ú ltim o s D ia s e n sina que D e u s P ai foi u m h o m e m n o rm al, q u e p ro g re d iu até to rn a r-s e u m D e u s e, m esm o nessa co n d ição , c o n tin u a p o ssu in d o u m co rp o de carn e e osso, co n fo rm e se lê: “O p ró p rio D e u s já foi co m o n ós som os agora — E le é u m h o m e m exaltad o , e n tro n iz a d o em céus d istan tes!”.1617

Jesus N a teo lo g ia m ó rm o n , os deuses e as deusas p o d e m co p u lar p a ra g erarem filhos esp iritu ais n o céu. D e ssa fo rm a, o Pai d este p la n e ta teve vários filhos e filhas com sua esp o sa-d eu sa, do q u al Jesus foi o p rim o g ê n ito , co n fo rm e d eclaro u Jo se p h F. S m ith : “E n tre os filhos esp iritu ais d e E lo h im , o p rim o g ê n ito é Jeová, ou Jesu s C risto , de q u e m to d o s os d em ais são irm ão s m e n o re s”.1' 16 Ensinamentos do profeta Joseph Smith, compilado por Joseph Fieldmg Smith, p. 336. 17 SMITH apud MCDOWRLL, 2001, p. ‫־‬Ό.

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Espírito santo O s m ó rm o n s e n sin am q u e o E sp írito S an to é u m h o m e m -e sp írito : “O E sp írito S an to [...] é u m p e rso n a g e m de E sp írito , u m a P e sso a -E sp írito , u m H o m e m -E s p írito , u m a E n tid a d e -E s p írito ”.18 E m o u tro lugar, escreveram que “o E s p írito S an to é o terceiro m e m b ro d a D e id a d e [T rin d a d e ]. E u m E s p írito n a fo rm a de u m h o m e m [...] C o m o p erso n a g em de E sp írito , o E sp írito S an to te m ta m a n h o e d im e n sã o ”.19

Salvação R essu scitad o s p ela graça, m as salvos (exaltados à d iv in d ade) pelas obras, in c lu in d o leald ad e aos líderes, o b a tism o p o r im ersão, o ato de dizim ar, as o rd e n an ças, o m a trim ô n io e as cerim ô n ias secretas n o tem p lo . Só h á v id a e te rn a p a ra aquele q u e fo r d a Ig reja M ó rm o n .

Morte E n sin a m q u e m ilh õ es de pessoas serão salvas após a m o rte, p o rq u e , no “m u n d o dos e sp írito s”, o ev an g elh o será en sin ad o a to d o s q u e m o rre ra m sem te re m tid o a o p o rtu n id a d e de aceitar Jesu s C ris to e o seu evangelho. F in a lm e n te , quase to d o s irão a u m dos três rein o s p re p a rados: celestial, te rrestrial e telestial, alguns o b te n d o a d iv in dade. 18 GEER. Thelma Granny. Porque abandonei o monnonismo. São Paulo: Vida. 1991. p. 176) 19 SMITH. Joseph Fielding. Doutrinas da salvação, Vol. 1, p. 42.

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Enciclopédia

O s ap ó statas e os assassinos irão p ara o re in o das trevas.

O utras características A Ig reja M ó rm o n en sin a que o p ecad o de A d ã o foi u m a b ên ção : “Q u a n d o A d ã o foi expulso d o ja rd im do É d e n , o S e n h o r im p ô s u m a sen ten ça. A lg u m as pessoas tê m co n sid erad o essa se n te n ç a co m o terrível. P ois n ão foi. Foi u m a b ê n ç ã o ”.20 E n s in a q u e a o b ra re d e n to ra de C risto apenas g ara n te o que eles c h a m a m de “salvação g e ra l”, que con siste no fato de to d as as pessoas serem ressu scitad as, in d ife re n te de te re m aceitad o Jesus C ris to p ela fé o u não. B rig h a m Y oung, sucessor de Jo se p h S m ith , en sin o u , em u m de seus livros, que “h á certo s p ecad o s que o h o m e m p o d e c o m e te r p a ra os quais o san g u e ex p iad o r de C risto de n ad a v ale”.21 F aze m algum as ce rim ô n ias secretas n o tem p lo , o n d e so m e n te os m em b ro s de b o a re p u ta ç ã o p o d e m p articip ar. A s pessoas n egras n ão tiv eram acesso ao sacerdócio m ó rm o n e o u tro s privilégios até 1978. D e p o is dessa d ata, n ão h á m ais restrição ao sacerdócio d e pessoas negras.

20 Ibid., p. 123. 21 Ibid., p. 145.

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TESTEMUNHAS DE JEOVÁ

E ste g ru p o religioso é co n h e c id o p elo seu p ro selitism o de dois em dois q u e fazem d ia ria m e n te de casa em casa, ap rese n ta n d o -se co m o cristãos e o ferecen d o cursos bíblicos. A p ó s a ap resen tação de suas lite ra tu ra s, oferecem estu d o s bíblicos, co n v id am as pessoas a fre q u e n ta re m suas re u n iõ es, cu lm in a n d o com o b atism o . Seus locais de reu n ião são ch am ad o s de Salões d o R eino. Suas crenças se c o n stitu e m em colocar u m “n ão ” d ia n te de q u a lq u e r u m dos credos d o cristian ism o .

Fundador C h a rle s T aze R ussel, n ascid o em 1852, em P ittsb u rg o , E U A , filho de p re sb ite ria n o s de lin h a g e m esco cês-irlan d esa. S o lid ificaram o g ru p o d ep o is d e R ussel: Jo se p h F. R u th e rfo rd , N a th a n K n o rr, F re d e ric k F ran z s e M ilto n G . H e n sc h e l.

Escrituras A s te ste m u n h a s d e Jeo v á p o ssu em in ú m e ro s livros e fo lh eto s. O s m ais im p o rta n te s são: Tradução do Novo Mundo

das Escrituras Sagradas, a B íb lia d e uso p a rtic u la r das te ste -

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m u n h a s de Jeová; Estudo das Escrituras, de o n d e fim d a m e n ta m suas d o u trin a s (os seis p rim eiro s volum es fo ram escritos p o r R ussel, m as o sétim o foi u m a co m p ilação dos escritos dele, p u b licad o s d ep o is de sua m o rte); revista A Sentinela, d istrib u íd a q u in z e n a lm e n te ; e Despertai, o u tro p erió d ico do g ru p o . A s te ste m u n h a s de Jeo v á ac red itam que a B íblia não p o d e ser e n te n d id a sem a o rien taç ão da S o cied ad e T o rre de V igia, qu e p u b l i c a i Sentinela p ara o rie n ta r seus ad ep to s.

Deus O D e u s das te ste m u n h a s de Jeo v á não é o n ip re se n te n em o n iscien te, p o r isso n ão p o d e p rev er o fu tu ro . O D e u s das te ste m u n h a s de Jeo v á não sabe de to d as as coisas.

Jesus Jesus é u m “d e u s”. A n te s de vir ao m u n d o , Jesus era o arcanjo M ig u e l. Jeo v á crio u o U n iv erso p o r m eio de Jesus. Q u a n d o Jesus estava n a terra, E le foi u m h o m e m q ue viveu p e rfe ita m e n te . D e p o is d e h av er m o rrid o n u m a estaca (não n u m a cruz), foi ressu scitad o com o esp írito e seu corpo, destru íd o . O h o m e m Jesu s não existe m ais. Jesus n ão virá o u tra vez. E le já veio in v isiv elm en te em 1914, em esp írito . E m b re ve, h av erá a b a ta lh a d o A rm a g e d o n , q u a n d o to d o s os qu e não são te ste m u n h a s de Jeo v á perecerão.

Espírito santo A s te ste m u n h a s de Jeo v á n eg a m a d iv in d ad e e a p e rso n a ­

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lid ad e do E sp írito S an to , d e c la ra n d o ser E le a “força ativa de Jeo v á”,22 u m p oder, u m a in flu ên cia divina, sem v o n tad e p ró p ria.

Salvação A s te ste m u n h a s de Jeo v á tê m de g a n h a r a v id a e te rn a n a terra, tra b a lh a n d o de casa em casa, pois não co n sid era Jesus com o seu m ed iad o r. A salvação é u m alvo p a ra ser cu m p rid o . A salvação n o céu está lim ita d a aos 144 m il “cristãos u n g id o s”. O ú n ico c a m in h o p a ra a salvação é a sua o rg an ização religiosa.

Morte O s 144 m il viverão no céu co m o seres esp iritu ais. O re m an esc en te dos ju sto s, a g ra n d e m u ltid ão , viverá n a te rra e o b ed ecerá a D e u s p e rfe ita m e n te p o r m il anos. D e p o is, deverão su p o rta r a pro v a final, q u a n d o S atan ás fo r solto do po ço do abism o.

Outras características R e ú n e m -se aos d o m in g o s nos Salões do R eino . U m a vez p o r ano, celebram a R efeição N o tu rn a . Só os cristãos u n g id o s p o d e m p articip ar. N ã o c o m e m o ra m feriad os n e m aniversários. N ã o saú d am a B an d eira , n ão p re sta m serviço m ilitar, 22 Poderá Jíver para sempre no paraíso na terra, p. 37.

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não aceitam tran sfu sõ es de sangue. C re e m que a g u e rra do A rm a g e d o n o co rrerá em breve.

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T E O L O G I A

Capítulo 9

ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA

O início d a Ig reja A d v e n tista está ligado ao M o v im e n to do A d v en to , que su rg iu em m ead o s d o século 19, e n fa tiz a n d o o re to rn o de C risto à terra. W illia n (G u ilh e rm e ) M iller, p re g a d o r leigo, co m base em D a n ie l 8.14, qu e diz: “E le m e disse: A té duas m il e tre z e n ta s tard es e m an h ãs; e o san tu ário será p u rifica d o ”, fixou a d a ta d a v olta de C risto p a ra 2 2 de m a rço de 1843, c o n c lu in d o q u e 2 .3 0 0 dias de D a n ie l significava anos, co n fo rm e N ú m e ro s 14.34. O d ia esp erad o ch eg o u , m as o tão esp erad o a c o n te c im e n to não o co rreu . M ille r refez seus cálculos co n c lu in d o q ue estava errad o p o r u m ano, p o is havia u sad o o ca le n d ário h eb raico em vez do ro m a n o , e a n u n c io u q ue C ris to v o ltaria n o d ia 22 de o u tu b ro de 1844. A o ch e g ar a no va d a ta prev ista p o r M iller, n ad a o co rreu . Seus seg u id ores so freram nova d ec ep ção. M ille r a b a n d o n o u suas idéias p ro féticas e v o lto u à co m u n h ã o de sua ex -ig reja b a tista , p e rm a n e c e n d o d ed ica d o até sua m o rte . A d ecep ção foi m u ito g ra n d e, c h a m a ra m aquele dia de “G ra n d e d e s a p o n ta m e n to ”. A p ó s a saída de M iller, n e m to d o s os seus seg uido res estavam d isp o sto s a a b a n d o n a r essa m en sag em . E n tã o , alguns

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líderes do m o v im e n to re fo rça ram o m o v im e n to inicial, p o r m eio d e visões e revelações. D o s m u ito s g ru p o s d issid en tes, três se u n ira m p a ra fo rm a r u m a no va igreja basead a n u m a nova in te rp re ta ç ã o d a m en sag e m de M ille r: H ira m E d so n , que re in te rp re to u a p ro fecia de M iller, d iz e n d o haver tid o u m a visão a re sp eito d o san tu ário celestial; Jo se p h B ates, que observava a g u a rd a d o sábado em vez do d o m in g o ; e E llen H a r m o n (m ais tard e , se n h o ra W h ite ) , que dava m u ita ênfase aos d o n s esp iritu ais, p a rtic u la rm e n te ao de profecia.

Fundador E m 1860, três g ru p o s d issid en tes do M o v im e n to do A d v en to d eram o rig em ao qu e h o je se ch a m a Ig reja A d v e n tista do S étim o D ia: H ira m E d so n , Jo se p h B ates e Jam es W h ite , com sua esposa, E lle n G o u ld W h ite .

Escrituras E lle n G o u ld W h ite foi a p ro fe tisa d o m o v im e n to , sen do assim , d eixou escritos vários livros “p ro fé tic o s”, dos quais ela disse: “E m b o ra os p ro fetas d a an tig u id a d e fossem h u m a n o s, a m e n te div in a e a v o n tad e de u m D e u s infalível estão sufic ie n te m e n te rep resen tad a s n a B íblia. E o m esm o D e u s fala p o r m eio dos escritos do esp írito de p rofecia. E stes livros in sp irad o s, tais co m o O desejado de todas as nações, O confli-

to dos séculos e Patriarcas e profetas, são c e rta m e n te revelações divinas d a v erd ad e sobre as quais d everiam o s d e p e n d e r c o m p le ta m e n te ”.23 23 Orientação profética no movimento adventista, 1965. p. 45. 472

Es t u d o s

de

T eologia

VOLUΜE 2

Deus C re e m n a d o u trin a da T rin d a d e co n fo rm e revelado nas E scritu ra s, com ressalva c o n c e rn e n te à pessoa d e Jesus.

Jesus Jesus e o arcanjo M ig u e l são a m e sm a pessoa. E m u m a de suas lite ratu ras, está escrito que Jesus p o ssu i n a tu re z a p ecam in o sa, b e m co m o n ão co n c lu iu a o b ra de red en ção na cruz. N o céu, d evido à sua o b ra salvífica não te r sido co m p leta, se e n c o n tra fa zen d o o ju íz o investigativo.

Espírito Santo É u m a p esso a d ivina, com to d o s os a trib u to s co n ferid o s à div in dad e.

Salvação D iz E lle n G o u ld W h ite , p ro fe tisa dos ad v en tistas do sétim o dia, a resp eito d a im p o rtâ n c ia d a g u a rd a d o sábado : ‘S a n tiíica r o sábado ao S e n h o r im p o rta em salvação e te rn a ” ( Tes-

temunhos seletos, vol. I I I , p. 2 2). U m dos erros m ais cruciais da d o u trin a ad v en tista se e n c o n tra n a q u estão da salvação. T e n ta n d o co rrig ir o erro de M iller, a Sra. W h ite (u m a das fu n d a d o ras) dizia que C risto v o lto u m esm o em 1844, não p ara a terra, com o pen sav a M iller, m as q ue Jesus te ria e n tra do no san tu ário celestial. O ra , seg u n d o ela, q u a n d o C risto e n tro u no san tu ário celestial, a p o rta da g raça foi fechada. A g o ra, C risto está fa zen d o u m “ju íz o in vestig ativo ”, o u seja,

E S T UDOS DE T E O L O G I A

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C IC LΟ Γ E D IΛ

ex a m in an d o tu d o e m o stra n d o ao Pai celestial aqueles que tê m os m érito s de g o zar dos benefícios d a expiação. A ssim send o , so m en te os q u e já estão no san tu ário estão salvos. O s d em ais, se n ão aceitarem as d o u trin a s d a Igreja A d v en tista, não tê m ch an ce de se salvar, pois a v erd ad e está com eles. P o rta n to , seg u n d o esse e n te n d im e n to , a expiação n ão foi realizad a n a c ru z d o calvário, m as, sim , no “sa n tu á rio ”, n o céu. N ã o d u ra n te a paixão de C risto , m as em 1844, q u a n do, seg u n d o a “p ro fe tisa ” ad v en tista, Jesus teria e n tra d o no sa n tu á rio celestial nessa d ata. N ã o p ela g raça salvadora, m as pelas obras d a carne. N ã o p ela aceitação de C risto , m as pelas d o u trin a s e pelo c o m p ro m e tim e n to com a Ig reja A d v en tista. P a ra eles, C risto te m apenas o títu lo d e “S alv ad o r”.

M orte O s ad v en tistas do sétim o d ia acred itam que som os re d u zido s a u m estad o de silêncio, de in ativ id a d e e de in te ira in consciên cia após a m o rte . A firm a m que, en tre a m o rte e a ressurreição, os m o rto s d o rm e m .

Outras características M a is u m a d o u trin a criad a pelos ad v en tistas e d issem in ad a en tre seus discípulos d iz q u e os ím p io s serão an iq u ilad o s. S e g u n d o esse en sin o , o p ec ad o e os p ecad o res serão ex term in ad o s, p a ra n ão ex istirem m ais. A firm a m , em alto e b o m som , q ue Jesus, em 1844, p asso u do p rim e iro c o m p a rtim e n to d o san tu ário celestial p a ra o S an to dos san to s p ara c o n c lu ir a o b ra de red en ção , o n d e está o c o rre n d o o ju íz o investigativo. 474

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Capítulo 10 ESPIRITISMO

O e sp iritism o m o d e rn o surg iu em H y desv ille, nos E s tad o s U n id o s, co m as irm ãs M a rg a re t e K ate Fox. A s duas eram a in d a crian ças q u an d o , em 31 de m arço de 1848, aco n tece ram as p rim eiras m an ifestaçõ es esp íritas. R u íd o s d e p a n cadas fo ram ouvidos n a casa d a fam ília Fox. D e p o is, m óveis p assaram a m ov er de u m a p a rte p a ra a o u tra. K ate e M a rg a re t criaram u m sistem a de co m u n icação co m o su p o sto esp írito . A s n o tícias do fe n ô m e n o se e sp a lh a ram e sessões esp íritas co m eç aram a ser realizadas p o r to d a p a rte , ta n to n os E sta d o s U n id o s q u a n to n a E u ro p a .

Fundador O esp iritism o m o d e rn o teve seu in ício co m as irm ãs K ate e M a rg a re te Fox, em 1848, em H yd esville, N o v a Y ork, E U A . M a s, foi n a p esso a de H ip p o ly te L é o n D e n iz a rd R ivail, m ais tard e co n h e cid o co m o A lla n K ardec, qu e o esp iritism o foi codificado.

En ciclo pédia

Escrituras D e fin e -se co m o d o u trin a esp írita o c o n ju n to de p rin c ípios básicos, re u n id o s p o r A ila n K ardec, que c o n stitu e m o esp iritism o . A s d o u trin a s d o esp iritism o estão co n tid as nas obras escritas p o r A ila n K ardec, q u e são: 0 livro dos espíritos, p u b lic a d o em 1857; 0 que éespiritismo, p u b licad o e m l8 5 9 ; O

livro dos médiuns, p u b licad o em 1861; O tvangelho segundo 0 espiritismo, p u b lic a d o em 1864; 0 céu e 0 inferno, p u b licad o em 1865) Λ gênese, p u b licad o em 1868; e Obras póstumas, p u b licad a d ep o is d e sua m o rte.

Deus A d o u trin a esp írita acerca de D e u s é am b íg u a, ora assum in d o aspectos d eísta, ora aspectos p a n te ísta s, o ra co n fim d in d o -s e co m a d o u trin a d e D e u s, d o c C ristia n ism o h istó rico . Fala, com freq u ên cia, de D e u s co m o “divino foco”, “su p rem o foco d o b e m e d o b elo ”, “o g ra n d e foco d iv in o ”, en tre o u tro s.

Jesus A ila n K ard ec d eix o u e n tre suas Obras póstumas u m “estu do sobre a n a tu re z a d e C ris to ” de 41 p ág in as, to d o ele te n d e n c io sa m e n te o rie n ta d o a p ro v a r q u e Jesu s n ão era D eu s. Jesu s é colocado n o m esm o p a ta m a r dos g ra n d es filósofos ou fu n d a d o re s de religião do passado, co m o S ó crates, B u d a, C o n fu cio , Z o ro a stro , M a o m é , e n tre o u tro s.

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V O L U M E

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Espírito santo O E sp írito S an to é u m a falange de esp írito s p u ro s, o u seja, alm as q u e re e n c a rn a ra m in ú m eras vezes q u e alcan çaram a p erfeição e, h oje, h a b ita m n o Sol. E sse c o n g lo m era d o de esp írito s “ev o lu íd o s” seria o E sp írito S anto.

Salvação P o r m eio de in ú m eras reen carn açõ es, to d o s ch eg arão à perfeição , sem D e u s, sem Jesus, m as p o r m é rito p ró p rio . O c o n h e c im e n to e as bo as obras p o ssib ilitam o acesso a u m n ível su p erio r n a v id a fu tu ra . A rre p e n d im e n to , expiação e rep aração são as co n d içõ es básicas p a ra se o b te r u m esp írito puro.

Morte E apenas u m estad o tra n sitó rio , d ep o is d a m o rte aq u i n a te rra , a v id a c o n tin u a rá n o m u n d o d os esp írito s. P a ra os esp íritas, existe p lu ra lid a d e d e existências, novas vidas terrestres. É o p rin c íp io re e n c a rn a c io n ista d a p lu ra lid a d e de existências. N a p ro p o rç ã o em que avança n a in cessan te c o n q u ista p a ra a p erfeição final, a alm a, em suas novas en carn açõ es, assu m irá u m novo corpo, n o q u al viverá p a ra sem p re, livre d o corpo, in d e p e n d e n te d a m atéria.

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Outras características Sessões p a ra c o n ta ta r os m o rto s. C u ra s psíquicas. Serviços co ng reg acio n ais com cân tico s, m úsicas, serm õ es, m en sag en s de esp írito s m o rto s e profecias. P o d e m u sar Ouija. A tra e m pessoas en lu tad as, pois elas tê m esp e ran ça de c o n ta ta r o e n te q u e rid o qu e já te n h a falecido.

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E S T U D O S

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Capítulo 11 LEGIÃO DA BOA VONTADE (LBV)

M u ito s p e n sa m q u e a L B V é u m a e n tid a d e filan tró p ica, pois, em suas d ep e n d ên cias, se ab rig a m m ilh ares de crianças em to d o o B rasil. C o n h e c id a é a sua iniciativ a d a d istrib u iç ão do fam o so p ra to de “S o p a dos p o b re s” n a fam o sa “R o n d a da c a rid a d e ”. N o tó ria é a p resen ça, à m e ia -n o ite , dos leg io n ário s p e rc o rre n d o as ruas de cidades brasileiras lev an d o u m p ra to de sopa b em q u e n tin h a p ara os d esab rig ad o s. N ã o h á o que q u estio n ar, n e m d isco rd a r dessas boas obras, pois é n otáv el a co n trib u ição no aspecto m a te ria l aos m en o s favorecidos, m e d ia n te c o n sta n te e in te n so tra b a lh o dos ad e p to s d a LBV. O que irem o s an alisar n e sta m a té ria sobre a L B V são suas crenças à lu z d a P alavra de D e u s, p ois a m e sm a ap reg o a em alto e b o m som que ela é “m a io r o b ra de to d o s os te m p o s ”. E isso, seg u n d o seu fu n d a d o r, o corre p o rq u e ela te m u m a m issão ím p a r n a terra: re sta u ra r o cristian ism o p rim itiv o que foi co rro m p id o .

Fundador O fu n d a d o r da L B V (L eg ião d a B oa V o n tad e, n ão co n fu n d ir com L B A , L eg ião B rasileira de A ssistên cia), foi A lz i-

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ro Z a ru r (E lias D av i A b ra ã o ), n ascid o a 25 de d ez e m b ro de 1914 e falecido em 21 e o u tu b ro de 1979.

Escrituras D e c la ra q u e a B íb lia está ch eia de erros, d evido ao estado evolutivo dos seus au to res. N ã o crê n a in sp iração divina da B íblia. E n s in a q u e a S ag rad a E sc ritu ra c o n té m m u ita s fáb u las e lend as. O Livro de Deus é a B íb lia do terceiro m ilên io

{Livro de Deus, p .1 4 3 ).

Deus A ssim co m o o esp iritism o k ard ecista, a L B V ta m b é m é p a n te ísta . O p a n te ísm o é a cren ça de que “D e u s é tu d o e tu d o é D e u s ”. A ssim sendo, D e u s e os h o m e n s id e n tific a m -se u m com o o u tro . A m a té ria é apenas u m a ex ten são de u m a realid ad e única.

Jesus São várias as d eclarações a resp eito de Jesu s nos livros d a LBV. C ita m m u ito o n o m e do M e stre , m as n eg a m a sua d iv in d ad e; n eg a m sua m o rte vicária; n eg a m que Jesus teve u m co rp o físico; n eg a m o n a sc im e n to v irg in al de Jesus. E m u m a de suas lite ratu ras, afirm a que Jesu s viveu em o u tro m u n d o e foi d esen volv en d o o seu E sp írito de en carn ação em e n c a rn a ção, até ch e g ar à u n id a d e co m o Pai.

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VOLUME 2

E sp írito san to S eg u in d o a m esm a co n cep ção dos esp íritas k ard ecistas, o E sp írito S an to é u m a falange de esp írito s p u ro s, superiores. A falange sagrad a q u e h a b ita os m u n d o s espiritu ais.

S alvação A fé em Jesus n ão p ro p icia salvação a n e n h u m dos leg io nários da LBV . P ara os seguidores de Z a ru r, a reen carn ação é o m eio de se ch eg ar à p erfeição pelas obras. S o m e n te se alcança a salvação q u em re e n c a rn a r in ú m e ra s vezes e se p u rificar p o r m eio de esforços pessoais.

M o r te P ara os leg io n ário s, não h á ressurreição, o u seja, a v o lta do esp írito ao m esm o corpo, m as, sim , a reen carn ação . P o r o casião da m o rte , o corre o d e sp re n d im e n to d a alm a, qu e ain d a fica algum te m p o ao lado d o corpo. D e p o is, viaja ru m o ao m u n d o dos esp írito s, o n d e receb erá in stru ç õ e s p a ra evoluir e ag u a rd ar o te m p o de re e n c a rn a r até qu e atin ja o estad o de esp írito p u ro , tal co m o Jesus.

O u tra s características A L B V n ão a d m ite a e x istê n c ia d o céu e d o in fe rn o . N ã o crê em a n jo s, d e m ô n io s , o u em S a ta n á s. N ã o crê, a in d a , n a re ssu rre iç ã o d os c o rp o s, no ju lg a m e n to ap ó s a m o rte e n a p o s s ib ilid a d e de p e rd ã o . S eu f u n d a d o r c u ltu a

ESTUDOS DE TEOLOGIA

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E N C I C L Ο Γ É D 1A

seu irm ã o , S a ta n á s, c o n fo rm e se e n c o n tr a em u m a de suas lite ra tu ra s .

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ESTUDOS

DE T E O L O G I A

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IGREJA LOCAL DE WITNESS LEE

O s m e m b ro s d a Ig reja L o c a l alegam , fre q u e n te m e n te , que sua igreja está alicerçad a n u m a “base co rreta”. A expressão “base c o rre ta ” d a Ig reja q u e r d iz e r q u e n u m m u n ic íp io só p o d e haver u m a ú n ic a ig reja q u e re p resen te o c o rp o d e C ris to ou sua Igreja. E les são m u ito fáceis de id en tificar, pois, q u a n d o se p e rg u n ta a u m m e m b ro d a Ig reja L o c a l q u al o n o m e d a sua “d e n o m in a ç ã o ”, a re sp o sta qu e se o b té m é a d e q u e a Ig reja L o c a l n ão é u m a d en o m in açã o . D iz e m : “O ú n ico n o m e que o ste n ta m o s e h o n ra m o s é o n o m e d o S e n h o r Jesu s C risto . T o m a r q u a lq u e r o u tro n o m e é in su ltá -lo ”. E m b o ra se esfo rcem p a ra d a r a im p ressão de q u e Ig re ja L o c a l n ão é u m n o m e d e n o m in a c io n a l, e afirm em q u e “a Ig reja L o ca l é u m g ru p o de cren tes q u e são os m em b ro s vivos de C ris to ”, q u e n ão p e rte n c e m a n e n h u m a d e n o m in a ç ã o , não p o d e m n eg a r qu e p o ssu em reg istro de pessoa ju ríd ic a , com o q u a lq u e r d e n o m in a ç ã o o u in stitu iç ã o religiosa.

Fundador O g ru p o co m eço u com W a tc h m a n N ee, n a C h in a . Q u a n -

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do o g o vern o c o m u n ista se in stalo u , W itn e s s L ee, que era d iscípulo de W a tc h m a n N ee, fug iu p a ra T aiw an . N ee ficou n a C h in a e, após v in te anos n a prisão, m o rre u q u a n d o o g ru p o p asso u a ser lid erad o p o r ele.

E scritu ras A firm a m q u e não é necessário pesquisar, e n te n d e r ou a p re n d e r as E sc ritu ra s S agradas. U sa m u m a p rá tic a c h a m a d a “o ra r e le r” a Palavra. Seus m em b ro s c o n sid eram os livros de W . L e e in sp irad o s p o r D eu s.

D eu s S e g u n d o os seg u id o res dessa seita, D e u s é o D e u s triú n o processado. U m “deu s p ro cessad o ” seria u m deus q ue passa p o r alterações o u m u d an ças: de P ai p a ra F ilh o , de F ilh o p ara o E s p írito S an to e d o E sp írito S a n to p a ra a Igreja. E sse e n sino d a Ig reja L o c a l sobre a n a tu re z a de D e u s é co n h e cid o co m o m o d alístico estatístico . L e e en sin a qu e o Pai, o F ilh o e o E sp írito S a n to são, sim u lta n e a m e n te , u m e o u tro , e, ao m esm o te m p o , o P ai é o F ilh o e o E sp írito . H isto ric a m e n te , esse en sin o é co n h e c id o co m o p atrip assio n ism o .

J esu s Jesus é ta n to P ai co m o o F ilh o . M a n ife s to u -s e co m o F ilh o p elo fato d e te r assu m id o a fo rm a h u m a n a e n ascer co m o hom em .

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V O L U M E

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E sp írito san to O E sp írito S an to é apenas u m passo o u estág io sucessivo na revelação de D e u s aos h o m en s.

S alvação É necessário ser m e m b ro d a Ig reja L o c a l p a ra ser salvo.

M o r te H a v e rá ressurreição.

O u tra s características S e g u n d o os en sin o s d a Ig reja L o cal, A d ão , S atan ás e D e u s h a b ita m n o h o m e m . O p ecad o é o p ró p rio S atanás. Jo ã o B atista era u m p ro fe ta desviado. L ib e ra -se o esp írito re cita n d o “Ó S e n h o r Je su s”.

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NOVA ERA

A N o v a E r a é u m c o n ju n to d e c o n h e c im e n to a b s o rv id o s d e to d a s as re lig iõ e s. C o m o u m a g ra n d e c o lc h a de re ta lh o s , q u e é c o n s tru íd a d o s m ais d iv erso s m a te ria is , a N o v a E ra ta m b é m é m u ltifa c e ta d a e c o m in ú m e ro s e n fo q u es. T e m e x e rc id o in flu ê n c ia em c a d a área d a v id a c o n te m p o râ n e a . S u as p ro p a g a n d a s e suas c re n ç a s, g e ra lm e n te , são v isíveis em n o sso s a p a re lh o s de te le v isã o , n o c in e m a , ou em lojas de a lim e n to s n a tu ra is e, p rin c ip a lm e n te , nas liv ra ria s. S ão m iría d e s de p ro d u to s v in c u la d o s à N o v a E ra : c rista is, ta ç a s tib e ta n a s , c a n ta n te s , p irâ m id e s , e s ta tu e ta s , in c e n so , c a rta s de ta rô , erv as m e d ic in a is , in c e n so s, v ita m inas e so té ric a s, p u rific a d o re s d e ar, etc. E stã o in su flan d o suas idéias em celebrid ad es, p ro p a g a n das e te ste m u n h o s... F ic o u ev id en te e fu lg en te d a n o ite p ara o dia. A lg u m as g ra n d es co rp o raçõ es tê m c o n tra ta d o cô n su ltores da N o v a E ra p a ra aju d arem a a u m e n ta r a p ro d u tiv id a d e de seus em p reg ad o s. A N o v a E ra é, n a verdad e, u m a era sem D e u s, pois, p ara seus ad ep to s, o co n ceito do D e u s d o cristian ism o vai d esap arecer da te rra e se estab elecer a N o v a E ra , a E ra A q u arian a.

En ciclo pédia

Fundador B asead a n o m isticism o o rie n ta l, no h in d u ísm o , n o ta o ísm o, n o cristian ism o , em p a rte foi p o p u la riz a d a p ela atriz S h irley M a c L a in e , e n tre 1980 e 1990. A s crenças variam .

Escrituras V ários livros d iv u lg am o p e n sa m e n to d a N o v a E ra. E is alguns: Conspiração aquariana, d a a u to ria de M e rily n F erg u ssen, escritu ras de I Ching, obras h in d u s, b u d istas e taoístas. A lé m de v alo rizar as crenças dos ín d io s n o rte -a m e ric a n o s, a astrologia, o m isticism o e a m agia.

Deus São várias as con cepçõ es sobre D e u s n a N o v a E ra , to d as co n trá rias às E scritu ra s. H á g ru p o s p a n te ísta s, o u tro s m o n istas. C o m o o m o v im e n to N o v a E ra é u m sistem a eclético e sincrético, h á espaço p a ra m u ito s co n ceito s acerca de D eu s.

Jesus A c re d ita m q u e Jesus nasceu em B elém , m as não era o C risto . E le se to rn o u u m m o d elo esp iritu al, u m g u ru , u m avatar. Jesu s foi u m a d e p to d a N o v a E ra , p ois lib ero u o p o d e r div in o d a m esm a m a n e ira q u e q u alq u er u m p o d e fazer. M u itos ad ep to s creem q u e Jesus foi à ín d ia , ao T ib e te e à G ré cia p ara a p re n d e r verdades m ísticas.

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VOLUME

2

S e g u n d o afirm am , Jesus n ão ressu scito u fisicam en te, m as ascen d eu a u m rein o e sp iritu al m ais evoluído.

E sp írito S a n to N ã o é clara a co m p re en são d o E sp írito S a n to n o m o v im e n to , sendo, algum as vezes, co n ceb id o co m o u m a força p síquica.

S alvação São re en carn acio n istas. N e g a m a p re se n ça d o p ec ad o d iz e n d o que o p ro b le m a d a h u m a n id a d e é a ig n o rân cia. O h o m e m é u m a “fag u lh a” d a d iv in d ad e q ue precisa ser d e sp e rta do p a ra atin g ir a sua d iv in d ad e.

M o r te A s re en carn açõ es h u m a n a s o co rrem até qu e a p esso a alcance a u n id a d e com D e u s. N ã o h á v id a e te rn a , n e m céu e, m en o s ain d a, in fern o .

O u tra s características O s p o d eres so b ren a tu rais p o d e m ser lib erad o s p ela m e d itação, c o n h e c im e n to de si m esm o , m e d ita ç ã o tra n sc e n d e n ta l e esp írito s guias. P o r m eio dessas p ráticas, a pessoa se co n scien tiza da d iv in d ad e que h á em seu in terio r. C risto está em to d as as pessoas e to d as as pessoas são “cristos p o te n c ia is”. P ra tic a m te ra p ia m e d ia n te as p irâ m id e s e os cristais.

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Capítulo 14 HARE KRISHNA

O m o v im e n to H a re K rish n a, n o m e pelo q u al é c o n h e cida a S o cied ade In te rn a c io n a l p a ra a C o n sc iê n c ia de K rish n a (IS K C O N - In te rn a tio n a l S o ciety fo r K rish n a C o n sc io u sness) é u m tip o o rto d o x o de h in d u ísm o v ed a n tista. E n tre os livros d a religião védica, os upanixades, está o mabhabharata (um p o e m a épico), no q u al u m de seus p rin c ip a is p e rso n a gens é K rish n a, co n sid erad o u m sem id eu s, u m a das p rin c ipais en carn açõ es de V ish n u , g ra n d e d iv in d ad e d o h in d u ísm o , o p o sto a Shiva. D e acordo com B h a g a v a d -g ita , K rish n a é o c o n d u to r d a ca rru ag em de A rju n a n u m a b a ta lh a trav a d a e n tre os kauravas e os pand avas. E le sobreviveu à g u erra, m as, p o ste rio rm e n te , foi m o rto q u a n d o a flecha a tira d a p o r u m ca çad o r acerto u seu calcanhar, a ú n ic a p a rte vuln erável de seu corpo.

Fundador A . C . B h a k tiv e d a n ta S w am i P ra b h u p a d a (1 8 9 6 -1 9 7 7 ). “A . C .” é a abreviação de “A b h a y C h a ra n a ra v in d a ”, o n o m e de iniciação que lhe foi d ad o p o r seu m estre esp iritu al. S ignifica “aquele que é d e ste m id o aos pés de ló tu s de K rish n a ”. O t í ­

En c i c l o p é d i a

tu lo “B h a k tiv e d a n ta ” lh e foi co n ced id o m ais ta rd e em v irtu d e de sua devoção (“b h a k ti”) e sua p ro fu n d a co m p re en são das conclusões finais do c o n h e c im e n to e sp iritu al (“v e d a n ta ”). E le receb eu o títu lo S w am i (que significa “c o n tro la d o r dos se n tid o s”) em 1959, q u a n d o aceito u a o rd e m re n u n c ia d a de vida de sannyasa. F in a lm e n te , P ra b h u p a d a é u m títu lo h o n o rífico , que significa: “aquele que serve aos pés de D e u s ”. A lg u n s de seus seg u ido res se referem a ele co m o B h a k tiv e d a n ta S w am i, e o u tro s co m o S rila P ra b h u p a d a . O te rm o “S rila”, sen d o u m títu lo de h o n ra , significa “e m in e n te ”.

Escrituras S rila P ra b h u p a d a escreveu m ais de q u a re n ta vo lu m es de tra d u ç ã o e c o m e n tá rio s sobre S rim a d B h ag av atam , o C a itan y a C a rita m rita e o B h ag av a d -g ita .

Deus H a re K rish n a é o n o m e d a d iv in d ad e in v o cad a pelos ad e p to s da seita. E re p re se n ta d o p ela figura de u m a m e n in a ro d e ad a de flores, co m vestes colo rid as, to c a n d o u m a flau ta e d e m o n stra n d o felicidade. O s seg u id o res de K rish n a id e n tificam tu d o co m o D eu s; o h o m e m é u m a p arcela d a d iv in d ad e. N a d a h á acim a d o ser h u m a n o , n e m existe q u a lq u e r p o ssib ilid ad e de oração a D eu s.

Jesus Jesus n ão é im p o rta n te . E le, u su a lm e n te , é m en cio n ad o

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co m o u m m estre ilu m in a d o v eg e ta rian o qu e e n sin o u a m e d itação. Jesu s n ão é a en c arn aç ão de D e u s. A lg u n s p a rtid á rio s de K rish n a c o n sid eram C risto co m o K rish n a. O u tro s d izem que Jesus é u m g ra n d e A v a ta r (m estre).

Espírito santo O E sp írito S an to n ão é m en cio n ad o .

Salvação C o m o to d a d o u trin a p a n te ísta e re en carn acio n ista , a salvação ocorre p elo m é rito p ró p rio , p ela rep etição c o n sta n te d o m a h a -m a n tra , o n o m e de K rish n a, p elo d esap eg o às coisas m ateriais, pelo a b a n d o n o d a sociedade, p elo sacrifício e ren ú n c ia a tu d o o que é co n sid erad o n o rm a l p elo ser h u m a n o .

Morte A qu eles que estão sem lu z c o n tin u a rã o se re e n c a rn a n d o in in te rru p ta m e n te (ren ascer n a te rra ), lev an d o -se em co n sideração as m ás ações de u m a p esso a em sua v id a passada.

Outras características C â n tic o s de m a n tra H a re K rish n a em público, ioga, o feren d as de alim en to s, solicitação de doações. D ie ta v eg etariana, q u a n d o são p ro ib id o s o co n su m o de carn e, peixe, ovos, álcool e drogas. O sexo só é p e rm itid o p ara p ro criação, u m a vez p o r m ês. A S o cied ad e In te rn a c io n a l p ara C o n sciên cia de

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K rish n a atrai novos ad ep to s pelas festas e p ro g ra m as cu ltu rais h in d u s. O s sectários p assam a te r novos n o m es e, m u itas vezes, c o rta m seus re la c io n a m e n to s fam iliares.

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Capítulo 15 MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL

A sse m e lh a n d o -se a o u tro s g ru p o s religiosos da atu alid ad e, a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l in sp ira -se no p e n sa m e n to religioso o rie n ta l védico (h in d u ísm o e b u d ism o ). A M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l se d eriva d e u m a in te rp re ta ç ã o d e M a h a ris h i A

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dos texto s sagrados d a ín d ia : os V edas e o B h ag av a d -g ita . M a h a ris h i e seus seguidores não c o n sid e ra m a M e d ita ção T ra n sc e n d e n ta l co m o religião, m as ap en as u m a “técn ica d isp o nív el p a ra o b te r u m re la x am en to p ro fu n d o , e lim in a n do estresse, p ro m o v e n d o saúde, a u m e n ta n d o a in telig ê n cia criativa e alcan çan d o , assim , a felicid ad e in te rn a m e d ia n te o crescim en to físico, m e n ta l e e sp iritu a l” co m base n a ciência. E n tre ta n to , n os tex to s d a ce rim ô n ia d e iniciação, ap arecem elem en to s c la ra m e n te religiosos: re c o n h e c im e n to de u m a p e rso n a lid a d e su p rem a, invocação d a m esm a, o feren d as e adoração. A M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l está im p re g n a d a de e le m e n tos do h in d u ísm o : oferece ritu a l co m invocação dos deuses h in d u s (B ra h m a , Shiva, K rish n a e V ish n u ); u so d o m a n tra de u m deus h in d u ; exige dois p erío d o s de m e d ita ç ã o diários;

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reverência ao fu n d a d o r, o títu lo de seu fu n d a d o r (S u a S an tid ad e); o uso d a oração (m ed itaçã o ); ju ra m e n to s de leald ade; ad o ração (venera os m estres d a trad ição S h an k ara); fo rte zelo m issio n ário (o in iciad o deve p ro p a g a r a d o u trin a ). É p o r essas e o u tras que a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l é co n sid erad a religião, e assim p o d em o s avaliar suas crenças, à lu z d a P alavra de D eu s.

Fundador M a h a ris h i M a h e s h Yogi é o fu n d a d o r d a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l. E le receb eu sua h e ra n ç a e sp iritu al p o r m eio de S w am i B ra h a m a n a n d a S arasw ati, c o g n o m in a d o de G u ru D ev. E m 29 de Ja n e iro de 1959, M a h a ris h i M a h e s h Yogi ch eg o u a S an F ran cisco e d iv u lg o u a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l nesse país. A lc a n ç o u fa m a n acio n al ao in iciar G eo rg e H a rris o n (dos B eatles) e J o h n L e n n o n à sua religião.

Escrituras B aseia seus e n sin a m e n to s nas escritu ras védicas e nas m e ditaçõ es de M a h a ris h i M a h e s h Yogi, com o, p o r exem plo: A

ciência de ser e a arte de viver, entre outras escrituras dele.

Deus O en sin o d a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l d iz que D e u s é im p esso al e faz p a rte d a p ró p ria n atu re za. E le é co n sid erad o co m o fo n te de to d as as leis n atu ra is o u das leis que reg em a n atu re za. P ela m ed itação , a pessoa e n tra em c o n ta to co m as

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leis d a n a tu re z a e recebe seu benefício. Q u a n d o isso aco n tece, o h o m e m é tra n sfo rm a d o em ser divino. E ssa d o u trin a é co n h e cid a com o p a n te ísm o , ou seja, D e u s é tu d o e tu d o é D eu s. D e c la ra Yogi: “O divino tra n sc e n d e n ta l, o n ip rese n te , é, p o r v irtu d e de sua o n ip resen ça, o Ser essencial de to d o s nós. F o rm a a base de to d as as vidas: n ão é o u tro senão o n o sso p ró p rio ser ou Ser. D e u s é im p esso al e m o ra n o coração de cad a ser. T u d o o que h á n a criação é m an ifestação do ser im p esso al ab so lu to e n ão m an ifesto . C a d a pessoa é, em sua v erd ad eira n a tu re z a , o D e u s im p esso al”.

Jesus Jesus C risto é u m m estre, u m g u ru , u m avatar (u m a en c a rnação de V ish n u ). E u m filho de D e u s co m o os o u tro s. S ua m o rte não expia pecad o s. C risto n ão ressu scito u d e n tre os m o rto s. D iz M a h a ris h i M a h e s h Yogi: “C o m o não e n te n d o a vida de C risto n e m c o m p re e n d o sua m en sag em , não creio que re a lm e n te tivesse sofrido em alg u m a ép o ca d e sua vida; n e m m esm o p u d esse so frer [...] E lam en táv el q ue se fale de C risto em té rm in o s de so frim e n to [...] A q u eles qu e co nfiam n a sua o b ra re d e n to ra p o r m eio d o so frim e n to n a c ru z p o ssuem u m a in te rp re ta ç ã o eq u ivo cad a d a vida de C ris to e de sua m en sag em ”.

Espírito Santo N ã o é m en cio n ad o .

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DE

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Salvação E o p ró p rio h o m e m q u em se salva, m e d ia n te seus esforços, m ed itaçõ es, ab straçõ es, iso lam en to . U m a vez d esapegado das coisas m ateriais, se to rn a ap to a e n tra r n o n irv an a ou estad o de ab so lu ta id en tificação com a D iv in d a d e (B ra h m a ), n o q u al não h á m ais n e m o eu h u m a n o n e m o tu d ivino. A palavra “n irv a n a ” vem d o sânscrito, qu e significa “ex tin ção ” (d a c h a m a vital); d esig n a au sên cia to ta l de q u alq u er desejo, e, p o r isto, ta m b é m de q u a lq u e r so frim en to .

Morte A d o u trin a d a re en carn ação é a cren ça fu n d a m e n ta l dos seus ad ep to s.

Outras características A M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l não se im p o rta com n e n h u m co m p ro m isso q u e a p esso a te n h a co m alg u m a o u tra religião. O in ician te recebe u m m a n tra p esso al (m e d ia n te p a g a m e n to de taxas), o q u al re p ete sem p arar, e n q u a n to m e d ita . P o r m eio desse m a n tra , lh e é p ro m e tid o alcan çar a consciência cósm ica.

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CAPÍTULO 16

IGREJA DA UNIFICAÇÃO

A Ig reja d a U nificação, n a p esso a de seu fu n d a d o r, m ais co n h e cid o co m o R ev eren d o M o o n , d eclara q u e foi lev an tad a p o r D e u s p a ra estab elecer a fam ília p erfeita. A firm a M o o n que o p ro je to d e D e u s com relação a essa fam ília p e rfe ita foi A

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in iciad o n o E d e n co m A d ã o e E va, m as o casal fa lh o u em sua m issão. D e p o is, D e u s te ria te n ta d o n o v a m e n te estab elecer esse p ro jeto com Jesu s C ris to e M a ria M a d a le n a , m as, d evido à m o rte p re m a tu ra d e Jesu s, o p lan o fa lh o u n o v a m e n te . A g o ra, p ela terc eira vez, D e u s está le v a n ta n d o a fam ília p e rfe ita co m M o o n e sua esposa. S e g u n d o ele m e sm o d iz, em 1936 teve u m a visão, n a q u al D e u s lh e con fio u u m a m issão: te rm in a r a m issão de Jesus, que estava in c o m p le ta . N o d ia I o d e m aio de 1 9 5 4 , ele fu n d o u a Ig reja d a U n ificação , d e n o m in a d a d e A sso ciação do E sp írito S a n to p a ra U n ificação d o C ristia n ism o M u n d ia l.

Fundador O fu n d a d o r d a Ig reja d a U n ificação foi Y oun M y u n g M o o n , que m u d o u seu n o m e p a ra S u n M y u n g M o o n . F u n d ad a n a C o réia, em 1954, a tu a lm e n te a sede se e n c o n tra em N o v a Y ork, E U A .

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Escrituras E m 1957, foi p u b lic a d o o livro O princípio divino , q u e é a fo n te m á x im a de au to rid a d e e das cren ça s dos ad ep to s da Ig reja da U n ificação . E sse livro n ão foi escrito p elo R ev eren d o M o o n , m as re p re se n ta seus p en sam en to s. C o n sid e ra m co m o sen d o o te rc eiro te sta m e n to e a c e ita m sua au to rid a d e co m o su p e rio r à B íblia.

D eus M o o n escreveu q u e “o h o m e m é a fo rm a visível de D eu s e D e u s a fo rm a invisível d o h o m e m . O sujeito e o o bjeto, em essência, são u m só. D e u s e o h o m e m são u m . O h o m e m é a en carn ação de D e u s ”. E ste co n c eito de D e u s n ão se e n c o n tra nas E scritu ras.

Jesus S e g u n d o a Ig reja d a U n ificação , Jesus foi u m h o m e m p erfeito , m as não D eu s. S u a m issão foi e n c o n tra r u m a esposa p e rfe ita e c o n stitu ir u m a fam ília p erfeita, o que E le não co n seguiu, fracassou. A seg u n d a v in d a de C risto está cu m p rid a em S u n M y u n g M o o n , que é su p erio r a Jesus e c o m p le ta rá a m issão de Jesus: realizar a red en ção física d o h o m e m . Jesu s só realizo u a red en ção esp iritu al.

Espírito Santo O E sp írito S an to é u m “esp írito fe m in in o ” que tra b a lh a co m Jesus, n o m u n d o dos esp írito s, a fim de d irig ir as pessoas a Sun M yung M oon. 500

Es t u d o s

de

Teologia

VOLUME

2

Salvação D e acordo com a Ig reja d a U nificação, a salvação n ão é o b tid a p ela graça, p o r m eio do p erfeito sacrifício do S e n h o r Jesus, m as te m que ser o b tid a p o r m eio de obras h u m a n a s. O s seguidores de M o o n p recisam tra b a lh a r m u ito p a ra o b te r a salvação: v e n d e r flores, livros e lápis pelas ruas. M o o n e seus seg u id ores e n sin a m q ue o seg u n d o A d ão — Jesus C risto — foi enviado p ara co m p le ta r aquilo que o p rim e iro A d ã o não co n seg u iu , isto é, lev an tar n a te rra u m a fam ília p erfeita, c e n tra liz a d a em D e u s m e d ia n te o ca sam en to e a p ro criação (G n 1 .2 6 ,2 8 ). E m o u tras palavras, o seg u n do A d ã o d everia casar-se com u m a se g u n d a E va e p ro d u z ir u m a raça p erfeita, o q u e ac o n teceria se Jesus tivesse se casado. M a s isso n ão ac o n teceu p o r causa d a m o rte de Jesus n a cruz, que não era o p ro p ó sito de D e u s, e a m o rte de Jesus se d eu p o rq u e Jesus foi tra íd o p o r Jo ão B atista. S eg u n d o acred itam , Jo ão B a tista causou ta n ta d escren ça em Jesus que os ju d e u s se d iv id iram . Jesus, re c o n h e c e n d o a situação, sabia que n ão seria aceito p ela nação ju d a ic a , p o rta n to , resolveu to m a r a c ru z co m o in d e n iz a ç ã o p a ra p ag a r pela realização de, p elo m en o s, a salvação esp iritu al do h o m em . L o g o , a red en ção n a c ru z não p o d e ser co m p leta. A ssim , Jesus só p ô d e realizar u m a p a rte da red en ção d a q u ed a esp iritu al, m as não a red en ção da q u ed a física. A o b ed iên c ia e a aceitação dos v erd ad eiro s pais (M o o n e sua esposa) e lim in a m o p ecad o e ap erfeiço a o ad ep to. A q u e les que são casados p o r M o o n e sua esposa to m a m u m v in h o

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

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q u e c o n té m v in te e u m in g re d ie n te s (in c lu in d o o sang ue dos v erd adeiros pais).

Morte N a d o u trin a m o o n ista , n ão h á co n d e n ação final, to d o s serão salvos, inclusive S atan ás, co m o está escrito: “O o bjetivo final da p ro v id ên c ia d iv in a de restau ração é salvar to d a a h u m a n id a d e . P o rta n to , é a in te n ç ã o de D e u s ab olir o in fe rn o c o m p le ta m e n te , d ep ois d o té rm in o d o p e río d o necessário p a ra o p a g a m e n to co m p leto de to d a a in d en ização . Se o in fe rn o p erm an ecesse e te rn a m e n te no m u n d o da criação, m esm o d ep ois d a realização do p ro p ó sito d o b e m de D e u s, o re su ltad o disso seria a co n tra d iç ão de u m D e u s im p erfe ito , sem m e n c io n a r a re su lta n te im p erfeição em seu id eal d a criação e em sua p ro v id ên c ia d a re sta u raçã o ”.

Outras características C a sa m e n to s em m assa b asead o s em d iferen tes a n te c e d e n tes raciais, p re p arad o s e efetu ad o s p o r M o o n . O s m em b ro s creem qu e Jesus se d o b ra rá a S u n M y u n g M o o n . M o o n é o rei d os reis, se n h o r dos sen h o res e o co rd eiro de D e u s. A d m ite -s e a p rá tic a d a co n su lta aos m o rto s.

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C a p ít u lo 17

IGREJA VOZ OA VERDADE

E sse g ru p o religioso ficou co n h e cid o n o m eio evangélico em g eral p o r causa d o c o n ju n to q u e te m o m esm o n o m e d a Igreja. O s jo v en s g o sta m o u g o stav am m u ito desse co n ju n to , p o r causa de seu estilo, q u e se ajusta ou ajustava b e m ao esp írito ju v en il.

Fundador F u n d a d a em 5 de ja n e iro d e 1984, em S a n to A n d ré , SP. C o n s ta em seu e sta tu to que os fu n d a d o re s fo ra m v in te e o ito m em b ro s b atizad o s. A ssin a o e sta tu to apenas O p a sto r F rancisco F irm in o dos S an to s F ilh o é o ú n ico que assina o estatu to , em 10 de m aio de 1984. O p rin c ip a l ex p o en te é o p a sto r C arlo s A . M o y sés, c a n to r e c o m p o sito r d o g ru p o V oz da V erdade

Escrituras A B íblia S agrada.

En c ic l o p é d ia

Deus N e g a m a T rin d a d e , d iz e n d o que h á so m en te u m a só p essoa n a d iv in d ad e, que é Jesus. Jesus é o P ai (n a tu re z a divina), o F ilh o (n a tu re z a h u m a n a ) e é o E s p írito S anto. T rês m a n ifestações de u m a só pessoa. Q u a n d o a B íblia se refere a D eu s, está falan d o sobre o E s p írito S an to , que é o Pai, C ria d o r e S e n h o r de to d as as coisas. M a n ife sto u -se , ta m b é m , m e d ia n te o u tras fo rm as o u m o d o s, com o, p o r exem plo, fogo, n u v em , v en to , água, p o m b a , pão.

Jesus Jesus ta n to é o P ai co m o o F ilh o . M a n ife sto u -se com o F ilh o pelo fato de te r assu m id o a fo rm a h u m a n a e nascer co m o h o m em .

Espírito Santo Jesus se m a n ife sto u co m o E sp írito e c o n tin u a se m a n ife sta n d o dessa fo rm a, p o rq u e a sua m issão n este m u n d o é re sg atar o nosso esp írito d o nosso co rp o m o rtal.

Salvação O b a tism o é essencial p ara a salvação, p o rq u e oferece p e rdão e rem issão de pecad o s.

504

ESTUDOS DE TEOLOGIA

V O L U ME 2

Morte H a v e rá ressurreição.

Outras características Jesus n ão existia an tes d a en carn ação . B a tism o só em n o m e de Jesus.

Es t u d o s

de

T eologia

505

En c i c l o p é d i a

Referências A L M E I D A , A b ra ã o de. O sá b a d o , a le i e a g r a ç a . R io de Jan eiro : C P A D , 1997. A N D R A D E , R o q u e M o n te iro de. A s u p e r io r id a d e d a r e lig iã o c ristã . R io de Jan eiro : Ju e rp , 1991. _

S

A N D R E , M arco . L a ç o s d a N o v a E r a . M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1998. A V IL A , L u is C arlo s. O B r a s i l m ístico ·, o caso rosa cruz. São Paulo: M u ltile tra , 1995. B E T T E N S O N , H . D o c u m e n to s d a I g r e j a c ristã . São Paulo: A ste , 1998. B O E T T N E R , L o ra in e . C a to lic is m o R o m a n o . São Paulo: Im p re n sa B a tista R egular, 1985. B O W M A N Jr, R o b e rt M . P o r q u e d e v o c rer n a T r i n d a d e . São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1996. B R E E S E , D ave. C o n h e ç a a s m a r c a s d a s s e ita s . São Paulo: E d ito ra F iel, 1998. B U B E C K , M a r k I. O r e a v i v a m e n t o s a tâ n ic o . São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1993. C A B R A L , J. R e lig iõ e s , S e ita s e h e re sia s. R io de Jan eiro : E d ito ra G ráfica U niversal, 1992. C H A N D L E R , R ussel. C o m p r e e n d e n d o a N o v a E r a . São Paulo: B o m P astor, 1993. C O E N E N , L o th a r e B R O W N , C o lin . D i c io n á r io I n t e r n a c io n a l d e T e o lo g ia d o N o v o T e s ta m e n to . Vol. II. São Paulo:

E d içõ es V id a N ova, 2 0 0 0 . D E N N E T T , W . D . G a n h e os m u ç u lm a n o s p a r a C r is to . São

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E S T U D O S

DE

T E O L O G I A

VOLUME

2

P aulo: E d ito ra S epal, 1993. D O U G L A S , J. D .

O N o v o D ic io n á r io d a B íb lia .

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C r i s t i a n i s m o e m c ris e .

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M a ç o n a r ia

efé

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H i s t ó r i a dos h e b re u s .

Es t u d o s

de

O b ra C o m p le ta . 5 a

T eologia

507

En c i c l o p é d i a

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508

e s t u d o s

d e

T

e o l o g i a

VOLUME 2

_________ . 0 império das seitas. Vol. I. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . 0 império das seitas. Vol. II. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . 0 império das seitas. Vol. I I I . M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . 0 império das seitas. Vol. IV. M in a s G erais: E d ito ra B e tâ n ia , 1993. M A R T I N S , Jaziel G u erreiro . Seitas - heresias de nosso tem-

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2000. M C D O W E L L ,J o s h e L A R S O N , B a rt .Jesus·, u m a defesa b íb lica de sua d iv in d ad e. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1994. M C D O W E L L , J o s h e S T E W A R T , D o n . Entendendo as

religiões não cristãs. São P aulo: E d ito ra C a n d e ia , 1996. M C D O W E L L , J o sh e S T E W A R T , D o n . Entendendo as

seitas. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1998. _________ . Entendendo 0 oculto. São Paulo: E d ito ra C a n deia, 1998. M E N E Z E S , A ld o dos S an to s. Merecem crédito as testemu-

nhas de Jeová? R io d e Jan eiro : C e n tro de P esquisas R elig io sas, 1995. _________ .As Testemunhas de Jeová eJesus Cristo. São P au lo: E d ito ra V id a, 2 0 0 3 . _________ . As Testemunhas de Jeová e 0 Espírito Santo. São Paulo: E d ito ra V id a, 2 0 0 3 . ESTUDOS

DE T E O L O G I A

509

E

n c i c l o p é

d i a

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da luz. C u ritib a : E d ito ra L u z e V id a, 1999. S H A N K S , H e rsh e l. Para compreender os manuscritos do

mar Morto. R io de Jan eiro : Im ag o , 1993. SIL V A , E seq u ias Soares da. Manual de apologética cristã.

510

E S T U D O S

DE

T E O L O G IA

VOLUME

2

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plicativo. Vol. 2. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1995. D o m in g u e s. As doutrinas mórmons.

SILV A , H y la rin o

C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. S IL V E IR A , H o rá c io . Santos padres e santos podres. P a ra ná. S M I T H , Jo se p h F ie ld in g . Doutrinas de salvação. Vol. 1. S U D , 1994. S M I T H , Jo se p h . Ensinos do profeta José Smith ; São Paulo: SUD. S O A R E S , R . R . Osfalsos profetas. E d ito ra G raça. S T A M P S , D o n a ld C . Bíblia de estudo pentecostal. R io de Jan eiro : C P A D , 1996. T A L M A G E , Jam es E . Um Estudo das regras de fé. São Paulo: M issã o B rasileira, 1958. T O N I N I , E n éa s e B E N T E S ,J o ã o M a rq u e s. Janelas para 0 Novo

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Es t u d o s

de

T eologia

511

En c i c l o p é d i a

batina? C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1997. V A N B A A L E N , J.K . 0 caos das seitas: u m estu d o sobre os “ism o s” m o d ern o s. São Paulo: Im p re n sa B a tista R egular, 1986. W O O T T O N , R . F. Muçulmanos que encontraram a Cristo. São Paulo: E d ito ra S epal, 1987.

512

Es t u d o s

de

T eologia

Ap o l o g é t ic a geral

In

t r o d u ç ã o

Estamos vivendo numa época em que muitas pessoas estão querendo ir além, em busca de algo novo, que ultrapasse as faixas demarcatórias do cristianismo. Por causa dos mitos do progresso, em voga em nossos dias, a palavra “excede” exerce um certo apelo. Qualquer coisa que seja fixa e imutável parece ser, na mente de alguns, algo enfadonho e sem dinamismo. Nesta nossa época existencialista, as coisas devem progredir incessantemente, impulsionadas pelo dinamismo de uma recém-descoberta energia vital. A emoção que prevalece em nossa civilização não é o amor, o ódio ou qualquer emoção ativa. Pelo contrário, é o enfado. Exigimos novos fascínios para alimentar as nossas áreas limitadas de interesses. A demanda por novos fascínios tem levado muitos a tentarem avançar além da fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, para chegarem a alguma novidade mais excitante. O cristianismo jamais deveria ser concebido como uma intransponível muralha de pedra. Pelo contrário, é o cume mais elevado para além do qual há uma descida, seja qual for a direção em que o indivíduo siga. Nada existe de maior, nada

EX C IC LΟ Γ ÉD IA

existe de m ais elevado e, p o r certo, n a d a existe de m ais m ag n ificen te d o que as alturas da revelação de divina nas S agradas E sc ritu ra s e em Jesus C risto . T e n ta r avançar p a ra além desse cum e, em b u sca de algo m elh or, equivale a p e rd e r-se nas fendas e p en h a sco s das faldas m o n ta n h o sa s que se vão afastan d o d o cristian ism o au tên tico . P ara além das fen d as das heresias, h á os atoleiros febris das seitas, o n d e as serp en tes e os escorpiões nos esperam . P ara além d a racio n alid ad e, h á so m en te in san id ad e. P ara além d a m ed icin a, so m en te h á o veneno. P ara além d o sexo, só h á a perversão. P ara além d o fascínio, so m en te existe o vício. P ara além d o am or, h á apenas a con cu piscência. E , p a ra além d a realid ad e, a fantasia. D e igual m o d o , p a ra além do cristian ism o h á so m en te a m o rte , a d esesp eran ça, as trevas e as heresias. A p e sa r disso, m u ita s pessoas p re fere m p e rm a n e c e r a n d a n do nas laterais d o alto cu m e, que só co n d u z e m p ara baixo. A situ ação religiosa c re sc e n te m e n te co m p licad a em nossos dias está p ro d u z in d o u m a explosão das m ais estra n h as religiões forjad as p ela m e n te h u m a n a . S eitas e novas religiões estão su rg in d o em p ro p o rçõ es sem p re c e d e n te s em to d o o m u n d o . C a d a u m a delas p rofessa ser d e te n to ra d a m ais re cen te revelação d a verdade. H eresias d a a n tig u id a d e tê m ressu rg id o em dias atuais, d e fe n d e n d o os m esm o s erros já d a n te s co m b atid o s, com o, p o r exem plo, o g n o sticism o , q u e reaparece en tre os teósofos,

516

Es t u d o s

de

t e o l o g ia

V O Lυ Μ E 2

esp iritu alistas e esotéricos; o u o arian ism o , d efe n d id o pelas te ste m u n h a s de Jeová. A lg u n s estu d io so s c o n c lu íra m que h á cerca de 7 0 0 seitas. O u tro s , p o rta n to , afirm am que esse n ú m e ro já u ltrap asso u a m arca dos 3 m il. E x iste m , h oje, esp alh ad o s p elo m u n d o , m ais de 5 m ilh õ es de te ste m u n h a s de Jeová, quase 9 m ilh õ es de m ó rm o n s e m ilhares de ad ep to s d a N o v a E ra. Se houve u m te m p o em q u e ler o u e stu d a r alg u m tex to h erético já era u m sinal (ou, ao m en o s, lev antava suspeitas) de que se tra ta v a de u m a le itu ra h e ré tic a à d isp o sição d a Ig re ja, h oje, p o ré m , essas d o u trin a s são c o m p le ta m e n te diversas. M a is ab erta, m ais to le ra n te e m ais d ialo g an te, a Igreja, hoje, te n d e a descobrir, nas h eresias, ev en tu ais asp ecto s p o sitivos, ain d a que parciais, da v erd ad e co m p leta. D e q u a lq u e r m an eira , é u m d ad o a d m itid o p o r m u ito s que as heresias fizeram com q u e a reflexão teo ló g ica a u m e n tasse, o b rig an d o , co m isso, a Ig reja a p recisar d a d o u trin a e ap u ra r os te rm o s am b íg u o s.

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

517

C

a p í t u l o

l

DEFINIÇÃO DOS TERMOS

Antes de apresentarmos os métodos para se identificar uma seita ou religião falsa, saibamos o que significam as palavras seita e heresia. Ambas derivam da palavra grega h á ir e s is , que significa “escolha, partido tomado, corrente de pensamento, divisão, escola, etc”.24 A palavra heresia é uma adaptação de h á ir e s is . Quando passada para o latim, h á ir e s is tornou-se secta . Foi do latim que veio a palavra “seita”.2s Originalmente, a palavra seita não tinha sentido pejorativo. Quando o cristianismo foi chamado de seita (At 24.5), não foi em sentido depreciativo. Os líderes judaicos viam os cristãos como mais um grupo, uma facção dentro do judaísmo. Com o tempo, h á ir e s is , também assumiu conotação negativa. Foi dito pelo apóstolo Paulo que “importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós” (lCo 11.19). Em termos teológicos, podemos dizer que “seita” se refere a um grupo de pessoas e “heresias”, às doutrinas antibíblicas defendidas pelo grupo. Baseando-se nessa explicação, pode24 FRAGIOTTI. Roque. r«;s Orr.m1s ‫־‬séc. T-VII,.. São Paulo: Paulus. 1995. p. 6. 25 CHAMPLIX. R.X. Bcntcs. 1. M. haao/ooidia de B io iia , teologia e filo s o fia . λ ol. 3, 6. San Paulo: Candeia. 1991.

En c ic l o p é d ia

m os d iz e r q ue u m cristão im a tu ro p o d e estar e n sin a n d o alg u m a heresia, sem , co n tu d o , fazer p a rte de u m a seita. H á o u tras definições sobre o que é seita: 1) U m g ru p o de in d iv íd u o s re u n id o s em to rn o de u m a in te rp re ta ç ã o errô n ea d a B íblia, feita p o r u m a o u m ais pessoas.26 2) U m a perversão, u m a distorção do cristian ism o bíblico e / o u u m a rejeição dos ensinos h istóricos d a Igreja cristã.27 3) Q u a lq u e r re lig iã o tid a p o r h e te r o d o x a o u m e s m o e s p ú r ia .28 4) H o je , seitas são g ru p o s isolados que ex p õ em en sin o s errad os e h eresias, esses en sin o s co n trá rio s às E s c ritu ras S ag rad as.29 5) G ru p o religioso q u e se sep ara de u m a religião estab elecida, devido ao ca rism a tism o e p reg ação de u m ex -líd er local qu e g e ra lm e n te alega te r revelações ad v in d as d ire ta m e n te do céu .30 U m breve com entário sobre o que é doutrina: essa palavra é derivada do vocábulo latino doctrina, que significa “ensino”. R eferindo-se a qualquer tipo de ensino ou a algum ensino específico.31 26 MARTIN, Walter. O im p é r io d a s s e ita s . 2a ed., vol. 1, Belo Horizonte: Betânia, 1992, p. 11. 27 MC D OW EEL, Josh e STEWART, Don. E n te n d e n d o a s se ita s: um manual das religiões de hoje. São Paulo: Candeia, 1992, p. 9. 28 VAN BAALEN, J.K. O c a o s d a s s e ita s . um estudo sobre os “ismos” modernos. Sao Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, p. 282. 29 SILVA, Esequias Soares da. C o m o r e s p o n d e r à s te s te m u n h a s d e J e o v á . Vol. 1. São Paulo: Editora Candeia, 1995, p. 29. 30 MATHER, George A. e NICHOLS, Larrv A. D ic io n á r io d e re lig iõ e s , c re n ç a s e o c u ltis m o . São Paulo: Editora Vida, 2000, p. 408. 31 CHAMPLIN, R.N. Bentes, J. M. E n c ic lo p é d ia d e B íb lia , te o lo g ia e filo s o fia . Vol. 2. 520

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

VOLUME

2

E x iste m três tip o s de d o u trin a n a B íblia: a) D o u trin a de D e u s (A t 13.12; 2 .4 2 ; T t 2 .1 0 ). b) D o u trin a de h o m e n s ( M t 15.9; 16.12; C l 2 .2 2 ). c) D o u trin a de d e m ô n io s ( lT m 4.1). A p rim e ira é b o a, as du as ú ltim as, dan o sas. É p reciso d istin g u ir a p rim e ira das ú ltim as, senão os p reju ízo s p o d e m ser irreparáveis. A o p o sição e n tre a v erd ad e e a m e n tira é m ais ev id en te do q u e o c o n tra ste en tre a v erd ad e e a falsidade. R eligiões e seitas pagãs p o d e m ser analisadas facilm en te. C o n tu d o , u m a religião o u seita que se ap resen te com o cristã, m as te m suas d o u trin a s co n trá rias às E sc ritu ra s, m erece ser in q u irid as. P ara ta n to , fo rn e cerem o s os m eio s ad e q u ad o s p a ra se id e n tific a r u m a seita.

Pluralidade religiosa A p ro fu são relig io sa não é exclusiva dos te m p o s d e Jesus. E m nossos dias, ex istem m ilh ares d e seitas e religiões falsas, as quais p re su m e m estar fa zen d o a v o n ta d e de D e u s q u an d o , n a verd ade, n ão estão. P ara efeitos d id ático s, classificam os as seitas de nossos dias seg u in d o o critério de sua o rig em . A s secretas se o rig in a ra m de alg u m a revelação q u e so m e n te os in iciad o s te ria m acesso; as p ro féticas, de líderes que se d e n o m in a ra m p ro fetas; as esp íritas, d a b u sca d a co m u n icação co m o m u n d o so b ren a tu ral; as afro -b rasileiras, das p ráticas São Paulo: Candeia, 1991.

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

521

En c ic l o p é d ia

m ágicas africanas, trazid as ao B rasil pelos escravos; as o rie n tais, dos p rin cíp io s d a relig io sidad e e filosofia ja p o n e sa , h in d u e iran ian a ; e as u n icistas, que n ão aceitam a p lu ralid ad e de pessoas n a u n id a d e d iv in a e q u a lq u e r referên cia à id eia de T rin d a d e in te rp re ta m co m o sen d o várias m an ifestaçõ es de D e u s o u de Jesus. V ejam os cad a u m a delas:

Secretas: m aço n a ria, teo so fia, ro sacru cian ism o , eso terism o , e n tre o u tras.

Proféticas‫׳‬, m o rm o n ism o , te ste m u n h a s de Jeová, ad v en tism o d o sétim o dia, ciência cristã, a fam ília (M e n in o s de D e u s), e n tre o u tras.

Espíritas: k ard ecism o , L eg ião d a B oa V o n tad e, R acio n alism o C ristão , e n tre o u tras.

Afro-brasileiras: U m b a n d a , Q u im b a n d a , C a n d o m b lé , C u ltu ra R acio n al, e n tre o u tras.

Orientais:

S e ic h o -n o -Ie ,

M e ssiâ n ic a

M u n d ia l,

A rte

M a h ik a ri, H a re K rish n a, M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l, U n ificação (m o o n ism o ), P e rfe ita L ib e rd a d e , e n tre o u tras.

Unicistas: Ig reja L o cal, Ig reja E v an g élica V oz d a V erdade, Só Jesu s, T a b e rn á c u lo d a F é, A d e p to s do N o m e Y eh o sh u a e suas v arian tes, C ristad elfian o s, e n tre o u tro s. O objetiv o dessa a b o rd ag em h istó ric a é ap resen tar, a in d a que em ráp id as p in celad as, co m o su rg ira m as diversas seitas h o d ie rn a s e co m o v ieram p a ra o B rasil, o n d e p ro life ra m em to d o s os E sta d o s.

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Es t u d o s

de

T e o l o g ia

VOLUME

2

E n q u a n to essas e o u tras seitas se m u ltip lic a m , e seus d irig en tes d e se n c a m in h a m m ilh õ es de pessoas, p recisam o s a te n ta r p a ra a ex o rtação de Ju d a s 3, q u e n os convoca a “b a ta lh a r pela fé que d e u m a vez foi d ad o aos sa n to s”.

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

523

C

a p í t u l o

2

PRINCIPAIS SEITAS DOS DIAS DE JESUS

Três grupos religiosos surgiram no ju d aísm o no p erío d o in terbíblico, nos dias d e João H ircan o , d a fam ília dos m acabeus, na época dos asm oneus,32 p o r volta d a m etad e do século 2° a.C . E sses g ru p o s eram fo rm a d o s pelos fariseus, saduceus e essênios, cad a q u al co m características p ró p rias.

Os fariseus O n o m e fariseu, d o g rego farisaios, vem , p o r sua vez, do h eb raico prushim , q u e significa “sep a rad o ”, “seg reg ad o ”, “d iv id id o ”. T alvez, esse n o m e te n h a sido d ad o pelos in im ig o s, os saduceus, o u em v irtu d e de o fariseu viver sep arad o d o povo p o r te m e r a im u n d íc ie . E g o stav am d e c h a m a r a si m esm o s de haberim‫׳‬. “c o m p a n h e iro s”, o u de qedosim‫׳‬. “sa n to s”. E sd ra s e n tre g o u -se à su b lim e tarefa de e n sin a r a lei ao povo. A p ó s sua p a rtid a , foi, p o r seus leg ítim o s discípulos, d ad o p ro sse g u im e n to a essa im p o rta n te m issão. A q u eles que p ro sseg u ira m e n sin a n d o a lei ao povo fo ra m ch a m a d o s de

hasidhim,qy1 e significa “leais a D e u s ”. 32 Após a revolta dos macabeus, a dinastia dos asmoneus passou a governar a Judeia.

ENCICLOPÉDIA

O N o v o D ic io n á rio d a B íb lia d iz q u e “o n o m e ‘fariseu ’ aparece p ela p rim e ira v ez nos co n tex to s dos p rim eiro s reis-sacerd o tes h a m o n e a n o s ”.33 A p e sa r d e ser m in o ria n a socied ad e p ré -c ristã , eram fe rren h o s g u ard iães d a lei de M o isés, e acab aram sen d o , n o te m p o de H e ro d e s, o G ra n d e , ch am ad o s de “sep a rad o s”. A este g ru p o p e rte n c ia m os “escrib as”, h o m en s q ue co piav am e, p o rta n to , c o n h e ciam a lei, sen d o reco n h ec id o s co m o os “sep arad o s”, os “p u rita n o s ”, os “ze lo te s”. E v o lu íra m até ch e g arem ao fariseu tra d ic io n a lista e exclusivista da ép o ca de Jesus. A tu a lm e n te , a p alav ra fariseu to rn o u -se sin ô n im o de h ip ó c rita e fin g id o até os dias d e hoje. O h is to ria d o r ju d e u F lávio Jo sefo d iz que “a m a n e ira de viver dos fariseus n ão era n e m m o le n em ch eia de delícias; eram sim ples. O s fariseus h o n ra m de tal m o d o os velhos que não o u sam n e m m esm o co n tra d iz ê -lo s. A trib u e m ao d e stin o tu d o o que acontece, sem , to d av ia, tira r ao h o m e m o p o d e r de nele co n se n tir; d e so rte que, tu d o sen d o feito p o r o rd e m de D e u s, d e p e n d e , n o e n ta n to , d a nossa v o n ta d e , e n tre g a n d o -n o s à v irtu d e o u ao vício. Ju lg a m q u e as alm as são im o rta is, que são ju lg ad as em o u tro m u n d o e reco m p en sad as o u castig ad as se g u n d o fo ra m n este m u n d o , viciosas o u v irtu o sas; que u m as são e te rn a m e n te re tid as p risio n eiras n a o u tra v ida e q ue o u tras v o lta m a esta vida. G ra n je a ra m p o r essa crença, de tão g ra n d e au to rid a d e e n tre o povo, q u e segue os seus se n tim e n to s em tu d o o que se refere ao cu lto de D e u s e às 33 DOUGLAS, J. D. O N o v o Nova, 1997, p. 604.

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D iá o n á H o d a B íb lia .

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o rações solenes q u e lh e são feitas. A ssim , cid ad es in te ira s dão te s te m u n h o de sua v irtu d e , de sua m a n e ira de viver e d e seus d iscu rso s”.34

Os saduceus N o grego, lem o s saddoukaíor, n o h eb raico , sadduqutm. O n o m e parece d eriv ar d e sadoq que, n a S e p tu a g in ta , se lê sa-

ddouk, n o m e d e vários sacerd o tes, u m dos quais vivia n o rein a d o de D av i (2 S m 15.24; 17.15; 19.11) e ta m b é m d epois co m S alom ão: “... e a Z a d o q u e , o sacerd o te, p ôs o rei em lu g ar de A b ia ta r” ( lR s 2 .3 5 ). A linhag em de Z ad o q u e p erm an eceu no sum o sacerdócio até o cativeiro babilônico ( l C r 6.8-12). M e sm o assim, a id en tificação dos saduceus com os zadoquianos não é certa, de m odo algum . E h á tradições conflitantes q u an to à origem deles. S eus p o n to s de vistas religiosos e teo ló g ico s re su lta ra m do seu m an u seio co n se rv ad o r e lite ral d a lei d o A n tig o T e sta m e n to (o P e n ta te u c o ). E ra m am arg o s o p o n e n te s dos fariseus e tin h a m suas p ró p ria s trad içõ e s e m é to d o s h e rm e n ê u tic o s, re cu san d o os p receito s orais trad icio n ais dos fariseus, a re co m p e n sa co m o castigo p ó s -m o rte , a existência de anjos, esp írito s e a ressurreição. E sses m o tiv o s d esp e rtav am os saduceus à o p o sição c o n tra Jesus. N o livro História dos Hebreus, está escrito q u e “a o p in ião dos saduceus é q u e as alm as m o rre m co m o co rp o ; q u e a ú n i34 JOSEFO, Flávio. CPAD, 2001, p. 415.

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ca coisa que n ós som os o b rig ad o s a fa zer é co n serv ar a lei e é u m ato de v irtu d e n ão q u e re r exceder em sab ed o ria aos que n o -la en sin am . O s d esta seita são em p e q u e n o n ú m e ro , m as é c o m p o sta de pessoas d a m ais alta co n d içã o ”.35

Os essênios N o grego “essênoi, essaioi, o ssaio i”. N o aram aico , asên,

asayyâ, p lu ral de asê, asyâ: “c u ra d o r”. O n o m e se ju stific a p o rq ue p o ssu íam re a lm e n te u m c o n h e c im e n to av an çad o d a m ed icin a.36 E sta b e le c e ra m -se n a p ra ia o c id e n ta l d o m a r M o rto , viv en d o em c o m u n id a d e , c o n stitu in d o -se em u m im p o rta n te m o v im e n to ju d aico . P ro v av elm en te, flo resceram e n tre o século 2° a.C . e o século 2° d .C ., o u m ais, e m b o ra n ão ap areçam no N o v o T e sta m e n to , pois viviam n o d eserto . E ra m sep aratista s, n o se n tid o rad ical d e se co n sid e ra re m os ú n ico s v erd adeiros filhos de Israel, m a n te n d o -s e c o m p le ta m e n te isolados dos seus c o m p a trio ta s. O N o v o D ic io n á rio d a B íblia, se u tiliz a n d o de P lín io , d e clara qu e os essênios vivam n o lad o o c id e n ta l d o M a r M o rto , acim a de E n g e d i.37 E ssa localização, en tre Jerico e E n g e d i, é d esé rtic a e é o n d e se lo calizavam as ru ín as de Q u m ra n . A referên cia de P lín io é decisiva p a ra a id en tificação d a seita 35 Ibid. 36 SILVA, Esequias Soares da. M a n u a l d e a b o lo g é tic a c r is tã . São Paulo: CPAD, 2002, p. 24. 37 DOUGLAS, j. D. O N o v o D ic io n á r io d a B íb lia , 2a ed., Sao Paulo: Edições Vida Nova, 1997, p. 550.

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de Q u m ra n co m o sen d o os essênios, n a au sên cia de c o n tra -a rg u m e n to s co n sisten tes. N ã o se co n h ece n e n h u m a o u tra seita su rg id a n o século 2° a .C . que p o ssa ser associada à “com u n id a d e d o d e se rto ”. A arq u eo lo g ia n ão revelou n e n h u m a o u tra p ovoação n o p e río d o em estudo. H e rs h e l S h an k s, p re sid e n te d a S o cied ad e B íblica de arqu eo lo g ia, n os d iz q u e “os essênios de Q u m ra n eram u m g ru p o sacerdotal; seu chefe era sacerdote; o a rq u i-in im ig o d a seita era u m sacerd o te, u su a lm e n te d esig n ad o co m o sacerd o te ím p io. E x iste m razõ es p a ra se a c red itar q u e a seita ad o tav a u m esq u e m a de sacrifícios em sua c o m u n id a d e de Q u m ra n . D e q u a lq u e r fo rm a , a c o m u n id a d e estava a te n ta às trad içõ es sacerdo tais, às leis cerim o n iais, às o rd en s dos sacerd o tes e ao ca le n d ário litú rg ico ; m u ita s de suas co m p o siçõ es refletem seu in teresse quase obsessivo p ela ortopraxia sacerd o tal (ou seja, a co rreta p rá tic a e o b serv ân cia o rto d o x a). A co m u n id ad e se referia aos seus sacerd o tes co m o ‘filhos d e Z a d o q u e ’, isto é, m em b ro s d a a n tig a lin h a g e m d e su m o s sacerd o tes estab e lecida nas e sc ritu ras”.38 S e g u n d o Josefo, “os essênios a trib u e m e e n tre g a m to d as as coisas, sem exceção, à p ro v id ên c ia d e D e u s. C re e m q u e as alm as são im o rta is, ac h am q u e se deve fazer to d o o possível p ara p ra tic a r a ju stiç a e se c o n te n ta m em en v iar suas o fertas ao tem p lo , sem lá irem fazer os sacrifícios, p o rq u e o fazem em p articu lar, co m ce rim ô n ias a in d a m aio res. Seus co stu m es são irreprocháveis e sua ú n ic a p reo cu p ação é cu ltiv ar a terra. S ua 38 SHANKS, Hershel. Imago, 1993, p. 27.

P a r a c o m p re e n d e r o s m a n u s c r ito s d o m a r M o r to .

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v irtu d e é tão ad m iráv el q u e su p era, em m u ito , a de to d o s os gregos e os de o u tras nações, p o rq u e fazem disso to d o o seu e m p e n h o e p reo cu p ação , e a ela se ap licam c o n tin u a m e n te . “P o ssu em to d o s os b en s em co m u m , sem q u e os ricos te n h a m m a io r p a rte d o q u e os p o b res; seu n ú m e ro é de m ais de q u a tro m il. N ã o tê m m u lh eres, n e m criad o s, p o rq u e estão p e rsu a d id o s d e q u e as m u lh eres n ão c o n trib u e m p a ra o d escanso d a vida. “Q u a n to aos criados, c o n c o rd a m ser u m a o fen sa à n a tu re za, q u e fez to d o s os h o m e n s iguais, q u e re r su jeitá-lo s. A ssim , se servem u n s dos o u tro s e esco lh em h o m e n s de b e m , da o rd e m dos sacrificadores, q u e receb em tu d o o q u e reco lh em do seu tra b a lh o e tê m o cu id ad o de d a r a lim e n to a to d o s ”.39

39 JOSEFO, Flávio. CPAD, 2001, p. 415.

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POR QUE ESTUDAR AS FALSAS DOUTRINAS?

M u ito s ju lg a m d esn ecessário o estu d o dessa m a té ria e p e rg u n ta m p o r q u e as falsas d o u trin a s devem ser estu d ad a s, afirm a n d o que n ão lhes in teressa a p re n d e r heresias, m as apenas a P alavra de D e u s. N ã o q u erem o s criticar os q u e ag em d essa fo rm a. T o d av ia, ju lg a m o s n ecessário, e n tre m u ito s o u tro s m o tiv os, algum as razõ es p a ra o estu d o das falsas d o u trin a s.

Capacita-nos à defesa própria In ú m e ra s e n tid a d e s religiosas ca p acitam seus ad e p to s p ara ir ao cam p o à p ro c u ra de novos ad ep to s. A lg u m as se esp ecializara m em tra b a lh a r co m os evangélicos, p rin c ip a lm e n te os re cém -co n v e rtid o s. O s cristãos n ecessitam se in fo rm a r sobre o qu e os vários g ru p o s en sin a m , p ara, assim , p o d e r re fu tá-lo s b ib lic a m e n te ( T t 1.9).

Proteção individual e coletiva O cristão é in d iv id u a lm e n te resp o n sáv el p ela b u sca do c o n h e c im e n to d a v erd ad e e p elo c o m b ate à m e n tira . U m re b a n h o b e m in fo rm a d o e in stru íd o n ão d ará p ro b lem as.

En c i c l o p é d i a

N ec essitam o s in v estir te m p o e recursos n a p re p araç ão dos m em b ro s da Ig reja. E scolas bíblicas b e m a d m in istra d a s ajud a m o cristão a co n h e cer m e lh o r a P alavra de D eu s. U m curso bíblico m ais extensivo, a b ra n g e n d o d e ta lh a d a m e n te as p rin cip ais d o u trin a s, re fu ta n d o as arg u m e n ta çõ es dos sectários e e x p o n d o -lh e s a verd ad e, será ú til p a ra p ro te g e r os novos co n v ertid o s dos ataq u es das seitas;

Auxilia-nos na evangelização N ão sabem os quais são os tip o s de pessoas que irem os e n contrar. O fato d e saberm os d e an tem ão seu credo e suas d o u trin as nos facilita a ap resen tar-lh es a verdade de que necessitam . U m fa to r essencial é que o cristão p rocure “ap resen tar-te a D eu s aprovado, com o obreiro que n ão tem de que se envergonh ar, que m an eja b em a palavra d a v erd ad e” (2 T m 2.15). E x iste m , e n tre os sectários, várias pessoas sinceras q u e p re cisam se lib e rta r e co n h e cer a P alavra de D e u s. O s ad ep to s das seitas, em sua m aio ria, d e sc o n h ecem a P alav ra d e D eu s, seg u in d o os en sin o s d e sua d e n o m in a ç ã o o u líder. Se estiv erm o s p re p a ra d o s p a ra a b o rd á -lo s e d e m o n s tra r a v erdade em sua p ró p ria B íblia, p o d e re m o s, co m a ajuda d o E sp írito S an to , g a n h á -lo s p ara re in o de D eu s.

Ajuda-nos a cumprir a grande missão F aze r o tra b a lh o d e m issões re q u e r m u ito m ais q u e se d eslo car de u m a região p a ra o u tra o u de u m país p a ra o u tro . P recisam o s estar cap acitad o s te o lo g ic a m e n te e, ta m b é m , cul-

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tu ra lm e n te , p a ra m e lh o r sem earm o s a P alavra de D e u s. C o n h e c e r a c u ltu ra o n d e v am o s sem ear o ev an g elh o é d e su m a im p o rtâ n c ia , pois, em cad a país, existe a relig io sid ad e n a tiva. C o n h e c e r de a n te m ã o tais ele m e n to s n os d ará co n d içõ es p ara alcan çá-lo s co m adequação.

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ASPECTOS HISTÓRICOS

A s seitas e suas devidas heresias de h oje, co m o b e m disse o dr. V an B aalen , “são as co n tas v en cid as d a Ig reja”. T o d o in s tru m e n ta l teoló g ico , p a ra se e n te n d e r a q u estão d a heresia no seio d a Ig reja d e o n te m e de h oje, é fo rn e cid o p ela h istó ria da m esm a, q u e d eixou u m leg ad o p a ra se d e te c ta r q u e a co n fusão qu e re in a h oje, n o to c a n te às heresias (seitas), m u itas vezes, não passa d e u m a re p etiç ão de idéias q u e, n o passado, su rg ira m n o tran sc u rso d a Igreja. A h istó ria d a teo lo g ia cristã, p o rta n to , é a h istó ria d a refiexão sobre a n a tu re z a de D e u s e d a revelação q u e E le fez de si m esm o , na p esso a de seu F ilh o , Jesu s C risto , e sobre m u itas o u tras crenças ligadas à salvação. E ssa p re o cu p açã o co m a salvação ficou ev id en te p rin c ip a lm e n te nas etap as fo rm ativ as e refo rm ativ as do d esen v o lv im e n to d a d o u trin a cristã. O s g ra n d es d eb ates sobre o que se d ev eria crer em relação a D e u s, Jesu s C risto , ao p ec ad o e à graça qu e c o n su m ia m a aten ção dos p rim e iro s pais d a Ig re ja , e n tre , a p ro x im a d a m e n te , 3 3 0 e 5 0 0 , b a sic a m e n te visavam re sg u a rd ar e p ro te g e r o ev an g elh o d a salvação.

En c i c l o p é d i a

D e sd e o ap ó sto lo P aulo, h o u v e a necessid ad e de u m co n fro n to dos cristãos co m os ju d e u s e gregos legalistas. N a cid ad e de C o rin to , P au lo se c o n fro n to u com os g n ó stico s, o que re p re se n to u a p rim e ira g ra n d e crise in te rn a q u e a co m u n id a d e c ristã /g e n tia teve de en frentar. N o s p rim e iro s séculos, a Ig reja teve de se c o n fro n ta r com o m o n ta n ism o , o d o n a tism o , o p elag ian ism o , o arian ism o , o ico n o clastia e o u tro s m o v im e n to s co n sid erad o s h erético s e co n trá rio s à sã d o u trin a . F o i a p a rtir d o século 2° q u e tiv eram in ício as m aiores divergências o u co n tro v érsias em relação às d o u trin a s sobre D e u s, Jesus C ris to e o E s p írito S anto. O p rim e iro h ereg e, m e n c io n a d o em A to s 8 .9 -2 5 , foi S im ão, o m ago, q u e quis c o m p ra r a fo rça do E s p írito S an to , a titu d e que d eu o rig e m à s im o n ia ,40 sem p re co n d en ad a. D e p o is de S im ão, aparece M a rc iã o , q u e p re te n d ia a re fo rm a d a Ig re ja ju d a iz a d a . E le re p u d iav a o A n tig o T e sta m e n to , c o n sta ta n d o q u e o m e sm o n ão ap resen tav a os traço s de m isericó rd ia do D e u s an u n c ia d o p o r Jesu s C risto . A ssim , d istin g u iu o D e u s b en év o lo e P ai de Jesus, q u e salva liv rem en te e p o r am or, do D e u s v in g a d o r e iroso d o A n tig o T e sta m e n to , S e n h o r d este m u n d o . N o esforço de afastar e e lim in a r d o cristian ism o to d o s os ele m e n to s ju d aico s das E sc ritu ra s d o N o v o T e sta m e n to , com o objetivo de “d e sju d a iz a r” a religião cristã, M a rc iã o d e p u ra dos escrito s n e o te sta m e n tá rio s os ev an g elh o s d e M arc o s, 40 Tráfico de coisas sagradas ou espirituais, tais como: sacramentos, dignidades, benefícios eclesiásticos, etc. Dicionário Aurélio.

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M a te u s e Jo ão . E la b o ra , p esso alm en te, u m c â n o n e co n tex to s selecionados d e L u cas e d a tra d iç ã o p au lin a. D e seu c o n ta to com os g n ó stico s, aceito u dois deuses. M a rc iã o im p ô s u m a m o ra l ríg id a, au stera, in te rd ita n d o o m a trim ô n io , o v in h o e o uso de carne. D e sp re z o u , ta m b é m , a criação, a m a té ria e o co rp o , re p u d ia n d o a ressu rreição dos m o rto s. O u tr o m o v im e n to h erético , q u e su rg iu nos p rim ó rd io s do cristian ism o , foi o g n o sticism o , cujo objetivo foi c o n fu n d ir a fé dos p rim eiro s cristão s, p o rq u e objetivava tra n sfo rm a r o cristian ism o em m isté rio s sin cretistas, re u n in d o e le m e n to s filosóficos e religiosos, v in d o s d o O rie n te , e os e le m e n tos fu n d id o s co m o cristian ism o . O n o m e p ro v ém d a p alavra g reg a gnosis, q u e significa “c o n h e c im e n to ” o u “sab ed o ria”. E m resu m o , os g n ó stico s acred itav am q u e a m a té ria , in c lu in d o o corpo, era u m a p risão in e re n te m e n te lim ita n te ou, até m esm o , u m o b stácu lo m alig n o p a ra a b o a alm a o u esp írito do ser h u m a n o , e q u e o esp írito , essen c ialm e n te d ivino, u m a “c e n te lh a d e D e u s ”, h a b itav a o tú m u lo d o corpo. P a ra to d o s os g n ó stico s, a salvação significava alcan çar u m tip o especial de c o n h e c im e n to q u e n ão seria, g e ra lm e n te , co n h e c id o pelos cristãos co m u n s e m u ito m en o s estaria à sua disposição. T al gnoses o u conhecimento im p licav a em re c o n h e c e r a v erd ad e ira o rig em celestial d o esp írito , sua n a tu re z a d iv in a essencial, co m o u m a p a rte d o p ró p rio ser de D e u s (co m o afirm am , hoje, os ad e p to s d a N o v a E ra ). O m o n ta n ism o su rg iu n a F rig ia, n o seg u n d o século, cujo líd e r ch am av a-se M o n ta n o , id en tificad o com o o “p a rá c le to ”.

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En c ic l o p é d ia

Seus ad e p to s ch a m a v am esse m o v im e n to de N o v a R evelação e N o v a P rofecia, e seus o p o n e n te s de m o n ta n ism o . M o n ta n o reu n iu em volta de si u m g ru p o de seguidores em P apu za e construiu, ali, u m a com unidade. D u a s m ulheres, P riscila e M axim ila, u n iram -se a ele, e o trio passou a profetizar. A característica m ais excêntrica do m o n tan ism o foi sua m en sagem escatológica: o breve reto rn o de C risto e a inauguração de Jerusalém celestial. A q u i, fica u m a advertência: sem pre e onde quer que for que a profecia de u m líder espiritual fo r elevada a u m a posição igual ou superior às E scrituras, lá estará o m o n ta nism o em ação. O d o natism o foi o u tra heresia que surgiu n o seio d a Igreja nascente e provocou u m verdadeiro cism a n a Igreja, em 312. O líder principal e o teólogo incentivador cham avam -se, am bos, D o n ato . Julgavam -se, assim , os donatistas, com o sendo os autênticos herdeiros d a verdadeira Igreja. Isso os to rn a v a co n serv ad o res em te rm o s litú rg ico s. N o m e a n d o seus p ró p rio s b isp o s, in cen tiv av am o m a rtírio v o lu n tá rio co m o sen d o u m m eio eficaz de ap ag ar os p ecad o s co m etid o s após o b atism o . O p u n h a m -s e ao m o n a rq u ism o e co n tin u av am u sa n d o a B íb lia african a, e n q u a n to a Ig reja ro m a n a já lia a V ulgata. P o r essas razões, a verd ad eira Igreja era d o n atista, pois som en te ela se conservava “san ta e im acu lad a”. Isso nos faz lem b ra r de algum as d en o m in açõ es d a atualidade? S im . P o r exem pio, as testem u n h as d e Jeová, os m ó rm o n s, os adventistas do sétim o dia, en tre o u tro s g ru p o s sectários. O p e la g ia n ism o su rg iu p a ra se c o n tra p o r ao g n o stic ism o m a n iq u e ísta . S eu p rin c ip a l e x p o e n te fo i P elág io , p a ra q u e m 538

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o h o m e m s o z in h o p o d ia p ra tic a r o b em ; n ão ex istia p e c a d o o rig in a l; e ra c o n tra o b a tis m o e a re m issão d o s p ecad o s. P a ra ele, o sacrifício de C ris to n ão tev e o b jetiv o . N o século 18, essas id éias fo ra m to m a d a s p elo ja n se n ism o . O p e la g ia n ism o é a d o u trin a a trib u íd a a P elágio e a seu d iscípu lo C eléstio . S e g u n d o esse en sin o : 1) A d ã o foi criad o m o rta l e te ria m o rrid o com p ecad o ou sem pecado. 2) O p ec ad o d e A d ã o p re ju d ic o u so m e n te a ele e n ão a estirp e h u m a n a . 3) A lei c o n d u z ao rein o tão b e m q u a n to o evangelho. 4) H o u v e h o m e n s sem p ecad o s an tes d a v in d a d e C risto . 5) A s c ria n ç a s r e c é m -n a s c id a s e stã o n a s m e s m a s c o n d iç õ e s d e A d ã o a n te s d a q u e d a . 6) N ã o é p o r m eio d a q u ed a ou m o rte de A d ã o q u e to d a a raça h u m a n a m o rre. E n ão é, m u ito m en o s, p ela d a ressu rreição de C ris to q u e o h o m e m ressurgirá. A in d a o u tro s p o n to s fo ra m lev an tad o s c o n tra ele, sob fian ça de seu p ró p rio n o m e. V ejam os alguns desses p o n to s: •

o h o m em , caso q u eira, p o d e e sta r sem p ecad o .



as cria n ças, m e sm o m o rre n d o se m b a tism o , d e sfru ta m d a v id a etern a.



os ricos, ainda que batizados, não terão m éritos em qualquer caridade que façam , a m enos que abandone tudo o que possuem . Do contrário, não entrarão no reino de D eus.41

C e lé s tio fo i c o m b a tid o n o S ín o d o d e C a r ta g o , e m 4 1 2 d .C ., e c o n d e n a d o . 41 BETTEN SON , H.

D o c u m e n to s d a Ig r e ja m s tã ,

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São Paulo: Aste, 1998, p. 104.

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n c i c l o p é d i a

P e lá g io fo i c o m b a tid o n a P a le s tin a p o r J e r ô n im o . M a s , d o is s ín o d o s , e m 4 1 5 d .C ., a p r o v a ra m su a d o u tr in a . A Ig r e ja a f ric a n a n e g o u se u r e c o n h e c im e n to às d e c is õ e s d a P a le s tin a . D o is s ín o d o s , e m 4 1 6 d .C ., n o v a m e n te c o n d e n a r a m C e lé s tio , n o q u e f o r a m a p r o v a d o s p o r I n o c ê n c io I. M a s , c o m a m o r te d o p a p a I n o c ê n c io , se u su c e sso r, o p a p a Z ó s im o , a p o io u P e lá g io e C e lé s tio . O c o n c ílo d e C a r ta g o , p o r é m , c o n d e n o u , d e f in itiv a m e n te , as id é ia s p e la g ia n a s . M a is u m a v e z , c o n s e g u ir a m e d ito s im p e r ia is c o n tr a os h e r e g e s e, f in a lm e n te , Z ó s im o c o n c o r d o u c o m o p o n t o d e v is ta a fric a n o . M u i t o s b is p o s , n o e n ta n to , s u b s c re v e ra m c o m re tic ê n c ia s e d e z o ito f o r a m d e p o s to s . O

a r ia n is m o p e r tu r b o u o c r is tia n is m o p o r m u ito s

a n o s , o q u e fo i e x tr e m a m e n te p e rig o s o . S e u f u n d a d o r ✓ _ fo i A r io . D e ta lh e s d e s u a v id a sã o d e s c o n h e c id o s . T a lv e z , A

t e n h a n a s c id o n a re g iã o d a Á f r ic a d o N o r te , o n d e , a tu a lm e n te , e s tá a L íb ia . A c o n tro v é rsia su rg iu n a c id a d e d e A le x a n d ria , q u a n d o L ic ín io a in d a g o v e rn a v a n a R e g iã o L e s te e C o n s ta n tin o , n a O e s te . T u d o c o m e ç o u c o m u m a série d e d e sa c o rd o s te o ló *

g ico s e n tre A le x a n d re , b is p o d e A le x a n d ria , e A rio , u m d o s p re sb íte ro s d e m a is p re stíg io e p o p u la rid a d e n a cid ad e. *

A rio tin h a a id e ia d o m in a n te , q u e e ra o p rin c íp io m o n o teísta, o u seja, d e q u e h á u m só D e u s e te rn o q u e n ã o é criado, g erad o , o rig in ad o . P a ra Á rio , ο λ ο γ ο ς (lo g o s)42 e ra u m a esp é 42 λογος (logos) é traduzido por “verbo” em João 1.1: “N o princípio, era o Verbo [logos]” .

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cie d e e n e rg ia d iv in a q u e e n c a rn a ra n o h o m e m Jesu s, e esse λ ο γο ς eve u m p rin c íp io , u m co m eço , u m a criação. O v erb o , e m c e rta a ltu ra d a h istó ria, foi criad o p o r D e u s , se b e m q u e a n te s d e to d a criação. Jesu s n ã o tin h a essên cia d iv in a, p o is o λ ο γο ς e n c a rn o u n o h o m e m Jesu s, q u e é u m a cria tu ra , se n d o a p rim e ira c ria tu ra fe ita p o r D e u s P ai e, p o rta n to , u m a c ria tu ra n ã o p o d e te r a m e s m a essên cia e /o u su b stâ n c ia d o C ria d o r. A

P ara A rio, Jesus é u m ser m utável, e foi cham ado F ilh o de D eu s devido à sua glória futura, à qual foi escolhido. O F ilh o não te m com o ser igual ao Pai, m as está acim a de todas as o u tras criaturas, inclusive do h o m em , p o r isso, não é errado venerar o F ilho. A rio via em Jesus u m ser in term ed iário en tre D eu s e os h o m en s, m as D eu s é so m en te o Pai, que é U n o e Indivisível. Á rio abalou a época com suas idéias, p o rém , não fora com arg um ento s vazios, antes, fu n d a m e n to u -se nas E scrituras p ara apoiar a sua ideia. A ssim estava fo rm a d o o conflito, q u e se to rn o u p ú b lico q u a n d o A lex a n d re e os p a rtic ip a n te s d o sín o d o realizad o em A lex a n d ria, em 3 1 8 , c o n d e n a ra m Á rio e seus en sin o s a resp e ito de C risto co m o h erético s e d e p u se ra m d e sua co n d ição de p resb ítero . E n tã o , ele foi o b rig ad o a d eixar a cidade. I n c o n fo rm ad o , b u sco u a aju d a de seu an tig o am ig o E u sé b io de N ic o m é d ia , q u e já era b isp o in flu en te. O s dois co m eçaram a p e rsu a d ir os b isp o s q u e n ão c o m p areceram ao sín o d o d e A lex an d ria. L o g o ho u v e p ro te sto s p o p u lares n a cidade de A lex a n d ria, o n d e o povo m arch av a pelas ru as c a n ta n d o as m áxim as te o -

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ENCICLOPÉDIA



lógicas de A rio . O s b isp o s a q u e m havia escrito re sp o n d e ra m qu e A rio estava co m a razão e q u e A lex a n d re estava e n sin a n do falsas d o u trin a s. O im p e ra d o r C o n s ta n tin o resolveu in te rv ir en v ian d o o b isp o Ó sio , d e C ó rd o b a , seu co n selh eiro em assu n to s eclesi✓

ásticos, p a ra q ue te n ta sse reco n ciliar esse conflito. O sio co n sta to u q ue as raízes teo ló g icas d o co n flito eram p ro fu n d a s e que a q u estão n ão p o d e ria ser reso lv id a in d iv id u a lm e n te . D ia n te desse fato, o im p erad o r o rd en o u que todos os bispos cristãos com parecessem , p ara deliberar a respeito d a pessoa de C risto e d a T rin d ad e, em u m a reunião que ele presidiria em N icéia, em 325. A g ran d e assem bléia realizou-se com a presença de 318 bispos católicos e so m en te 22 eram declarad am en te arianos desde o início.43 O p ró p rio Á rio não obteve licença para participar do C o ncilio p o r não ser bispo. Foi representado p o r E usébio, de N ico m éd ia, e T eogno, de N iceia. A lexandre, de A lexandria, dirigiu o processo ju ríd ico co n tra A rio e o arianism o, e foi auxiliado p o r seu jo v em assistente A tanásio, que viria a sucedê-lo no bispado de A lexandria poucos anos depois. N esse C oncilio, ch eg o u -se à seguinte fórm ula, co n h ecid a com o C re d o de N icéia: C re m o s em u m só D e u s, P ai o n ip o te n te , c ria d o r de to d as as coisas visíveis e invisíveis; e em u m só S en h o r, Jesu s C risto, o F ilh o de D e u s, g erad o p elo P ai, u n ig ê n ito , isto é, sen d o d a m esm a su b stân cia44 d o Pai, D e u s de D e u s, L u z d a L u z, 43 AGOSTINHO, Santo. Λ T n n d a d e . Sâo Paulo: Editora Paullus. 2a ed., 1994, p. 11. 44 E k te s o y sía s to y p a tr ó s — “do mais íntimo ser do Pai” — unido ínseparavelmente.

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D e u s v erd ad eiro d o D e u s v erdad eiro , g erad o , n ão feito , de u m a só su b stân cia45 co m o P ai, p elo q u al fo ra m feitas to d as as coisas, as q u e estão n o céu e as q u e estão n a terra; o qual, p o r nós h o m e n s e p o r nossa salvação, desceu, se e n c a rn o u e se fez h o m e m 46, e sofreu e ressu scito u ao terceiro dia, su b iu ao céu, e n o v a m e n te deve vir p a ra ju lg a r os vivos e os m o rto s; e n o E s p írito S an to . E a to d o s q u e d izem : “E le era q u a n d o não era”, e “an tes de nascer, E le n ão era”, o u q u e “foi feito do não e x iste n te ”,47 b e m co m o aqueles q u e alegam ser o F ilh o de D e u s “d e o u tra su b stân cia o u essência”, o u “fe ito ”, o u “m u tá v e l”,48 o u “alteráv el”49 a to d o s esses a Ig reja C a tó lic a e A p o stó lic a a n a te m a tiz a .50 E sse credo, ao q ual, d ep o is, fo ra m acrescen tad as diversas cláusulas — e tira d o s os an á te m a s do ú ltim o p arág rafo — se to rn o u a base d o q u e h oje c h a m a m o s de C re d o N ice n o , o cred o cristão u n iv ersa lm en te m ais aceito.

45 H o m o o y s io n t o p a t r í — “ser único intimamente com o Pai, embora distintos em existência, estejam essencialmente unidos”. 46 E n a n th ô p é s a n ta — tomando sobre si tudo aquilo que faz homem ao homem, alargando s a r k ô th é n ta , “fez-se carne” ; ou, talvez, “viveu como homem entre os homens”, alargando e salvaguardando o credo de Cesareia “viveu entre os homens”, em a n th r ô p is p o lite y s á m e n o n . Mas isto parece menos provável. 47 E k s q y k ó n tô n — “do nada” . 48 Isto é, moralmente mutável. 49 Idem. 50 BETTEN SO N , H. D o c u m e n to s d a Ig r e ja m s tã . São Paulo: Aste, 1998, p. 62.

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C a p ít u l o 5

CARACTERÍSTICAS doutrinárias de uma seita E x iste m várias características co m u n s às seitas falsas. A q u i, d estacarem o s alg u m as que, c o n fo rm e e n te n d e m o s, são essenciais.

Outras fontes doutrinárias além da Bíblia E m alg um as seitas, a B íb lia é re sp eitad a, m as sem p re com o acréscim o de in te rp re ta ç õ e s de seus p ro fetas o u fu n d a d o res. A ev id ên cia é q u e a B íb lia apenas n ão b asta. O g ru p o acrescenta algo à B íblia. O s escritos de seus líderes to rn a m -se regras de fé ig u a lm e n te os escritos sagrados d a B íblia, n e g a n d o a au to rid a d e ú n ic a das E scritu ras. P o r exem plo:

A Igreja Adventista do Sétimo Dia A s visões de E lle n G o u ld W h ite c o n stitu e m o câ n o n e do A d v en tism o . Suas revelações são co n sid erad as co m o “d o m de p ro fecia”. Seus ad e p to s acred itam q u e os escritos de E lle n G o u ld W h ite são in sp irad o s ta n to q u a n to os livros d a B íblia o fo ram . A firm a m : “C re m o s que E lle n W h ite foi in sp irad a

En c i c l o p é d i a

pelo E s p írito S a n to e seus escrito s, o p ro d u to dessa in sp ira ção, tê m aplicação e a u to rid a d e especial p a ra os ad v en tistas do sétim o dia. N e g a m o s q u e a q u alid ad e o u g ra u de in sp ira ção dos escritos de E lle n W h ite sejam d iferen tes d os e n c o n trad o s nas E sc ritu ra s S ag rad as”.51 E ssa declaração é a lta m e n te c o m p ro m e te d o ra . V árias p ro fecias p ro fe rid as e escritas p o r E lle n W h ite n ão se c u m p riram . C e rto e sc rito r ad v e n tista de re n o m e assim se p ro n u n ciou sobre E lle n G o u ld W h ite : “T u d o q u a n to disse e escreve foi p u ro , elevado, c ie n tific a m e n te co rreto e p ro fe tic a m e n te exato. A irm ã W h ite jam ais escreveu u m a in v erd ad e n e m fez p red içõ es qu e n ão se c u m p rissem ”.52 V ejam os u m a dessas p red içõ es, a fim d e c o n sta ta rm o s se estão d e n tro d o p a d rã o d o esc rito r m en cio n ad o :

“A porta da graça fechada” “P o r alg u m te m p o d ep o is d a d ecep ção de 1844, m an tiv e, ju n ta m e n te co m o co rp o do ad v en to , q u e a p o rta d a g raça estava p a ra sem p re fe ch ad a p ara o m u n d o . E ste p o n to de vista foi a d o ta d o an tes de m in h a p rim e ira visão. F oi a lu z a m im co n c ed id a p o r D e u s q u e co rrig iu o n osso erro, e h a b ilito u -n o s a v er a v erd ad eira a titu d e ”.53

As testemunhas de Jeová (TJ) A c re d ita m q u e so m e n te co m a in te rp re ta ç ã o d o C o rp o G o v e rn a n te (d ire to ria das te ste m u n h a s de Jeová, fo rm a d a 51 Revista Adventista (fev/94), p. 37. 52 S u b tile z a s d o e rro , p. 30,42. 53 M e n s a g e n s e sc o lh id a s , vol. 1, p. 63. 546

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p o r u m n ú m e ro q u e v aria e n tre 9 e 14 pessoas, n os E U A ), a B íb lia p o d e ser e n te n d id a . V ejam os alg u m as afirm ações d o can al de co m u n icação de Jeo v á (o C o rp o G o v e rn a n te ): “M e ra m e n te te r a P alavra d e D e u s e lê -la n ão b a sta p ara a d q u irir o c o n h e c im e n to exato q u e coloca a p esso a n o c a m in h o d a v id a”.54 “A m en o s q u e estejam o s e m c o n ta to co m este can al de co m u n icação u sad o p o r D e u s, n ão av an çarem o s n a estra d a d a vida, n ão im p o rta q u a n to leiam o s a B íb lia”.55 C o m essas palavras, acred itam q u e a B íb lia n ão p o d e ser e n te n d id a sem a revista A Sentinela e a S o cied ad e T o rre de V igia.

Os m órm ons E m suas regras de fé (n° 8), afirm am : “C re m o s ser a B íb lia a P alavra de D e u s, d esd e q u e esteja tra d u z id a c o rre ta m e n te ; ta m b é m crem o s ser o L ivro d e M ó r m o n a P alavra de D e u s ”. E m b o ra isso p areça d a r e n te n d e r q u e os m ó rm o n s co n fiam n a B íb lia, n a v erd ad e, a c re d ita m q u e ela foi a d u lte ra d a e co rro m p id a . A ssev eram q u e o L ivro de M ó rm o n é a P alavra de D e u s e a B íb lia apenas c o n té m a P alavra de D e u s. O u tro s livros ta m b é m são co n sid erad o s in sp irad o s, com o, p o r ex em 54^4 S e n tin e la (set/91), p. 19. 42N ETO , Paiva. L iv r o d e D e u s , p. 213. 55

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pio, Pérola de grande valor e Doutrinas e convênios. V ejam os o qu e Jam es E d w a rd T alm ag e, u m dos apó sto lo s m ó rm o n s, declarou:

>

_

“A Ig reja de Jesu s C risto dos S an to s dos Ú ltim o s D ias aceita a B íb lia co m o o p rin c ip a l de seus livros can ô n ico s, o p rim e iro e n tre os livros q u e fo ra m p ro c la m a d o s, co m o sua n o rm a escrita q u a n to à fé e d o u trin a . Q u a n to à san tid ad e *

co m q u e c o n sid eram a B íblia, os S an to s d os Ú ltim o s D ias p ro fessam o m esm o q u e as d en o m in a ç õ e s cristãs em geral, p o ré m se d istin g u e m delas p o r ta m b é m a d m itire m co m o au tê n tic a s e san tas o u tras escritu ras q u e c o n c o rd e m com a B íblia e servem p a ra ap o iar e fazer ressaltar seus fato s e d o u trin a s ”.56

Os M en in o s de D eu s (A F am ília) C h e g a ra m ao B rasil em 1973. Suas escritu ras básicas são as C a rta s de M o , escritas p o r seu líder, cujo n o m e é D a v id B ra n d t B erg, n ascid o em 1919, n os E sta d o s U n id o s. Suas d o u trin a s e n fa tiz a m B erg com o o ú n ico p ro fe ta e afirm am qu e o A p o ca lip se já ch eg o u . O a m o r livre é n atu ra l.

Ig reja da Unificação S u n M y u n g M o o n , fu n d a d o r d a Ig reja d a U n ificação e esc rito r do livro O princípio divina, afirm a ser seu livro a ú ltim a revelação de D e u s p a ra a h u m a n id a d e . N esse livro, está escrito q u e “talv ez d esag rad e os cren tes 56

U m e s tu d o d a s re g ra s d e f é .

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São Paulo: Missão Brasileira, 1958, p. 220.

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religiosos, esp e cialm e n te os cristão s, a p re n d e re m q u e deve su rg ir u m a n o v a expressão d a verd ad e. A c re d ita m q u e a B íblia que ag o ra tê m é p e rfe ita e ab so lu ta em si m esm a. A v erdad e, lo g icam en te, é ú n ica, e te rn a , im u táv el e ab so lu ta. A B íblia, p o ré m , n ão é a p ró p ria v erd ad e, senão u m livro d e tex to que en sin a a v e rd a d e ”.5‫׳‬ Se a B íb lia n ão é a p ró p ria v erd ad e co m o o rev eren d o M o o n afirm a, e n tão a q u e deve ser c o m p a ra d a a B íblia? O

Princípio divino resp o n d e: “A esc ritu ra p o d e ser c o m p a ra d a a u m a lâ m p a d a q u e alu m ia a verd ad e. S u a m issão é esp alh ar a lu z da verd ad e. Q u a n d o u m a lu z m ais b rilh a n te aparece, ex tin g u e-se a m issão d a an tig a. T o d as as religiões d e h oje fa lh a ram em c o n d u z ir a p re se n te geração d o vale escuro da m o rte p a ra o b rilh o d a v ida, de fo rm a q u e deve, agora, su rg ir u m a nova verd ad e, que p o ssa e sp a lh a r u m a n o v a lu z ”.58 D e novo, surge o u tra dúvida: Q u a l será o fim d a B íblia? In te rp re ta n d o M a te u s 2 4 .2 9 , o livro resp o n d e: “O sol escu recerá, a lu a n ão d ará a sua luz, as estrelas cairão d o firm a m e n to ...”. E xplica: “N a tu ra lm e n te , aqui a lu z d o sol significa a lu z das palavras de Jesu s, e a lu z d a lu a significa a lu z d o E sp írito S an to , que veio co m o o E s p írito de v erd ad e (J o 1 6 .1 3 ). P o r isso, o fato de o sol e a lu a p e rd e ra m sua lu z significa q u e as palavras d o N o v o T e sta m e n to , faladas p o r Jesu s e o E s p írito S an to , p e rd e rã o a sua lu z ”.59 “O s cristão s de h o je, q u e são p risio n eiro s das palavras d a 57 O p r in c ip io d iv in o , p. 7. 58 Página 7. 59 Ibid., p. 91.

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S ag rad a E sc ritu ra , c e rta m e n te criticarão as palavras e a co n d u ta do S e n h o r d o S e g u n d o A d v e n to ”.60 O rev eren d o M o o n se in titu la co m o sen d o o M essias p ro m e tid o nas E sc ritu ra s e suas palavras, reg istrad as n o livro Principio divino, são as novas revelações de D e u s p a ra a h u m a n id a d e .

Os espíritas kardecistas O s esp íritas tê m os en sin o s codificados p o r D e n iz a rd H ip p o ly te L é o n R ivail (A llan K ardec) co m o sen d o a ú ltim a revelação de D e u s, ta l co m o escreveu A lla n K ardec: “A lei do A n tig o T e sta m e n to teve a sua p erso n ificação em M o isés e a d o N o v o T e sta m e n to , em C risto . O esp iritism o é a te rceira revelação d a lei de D e u s, m as n ão te m a p erso n ificá-la n e n h u m a in d iv id u a lid a d e, p o rq u e é fru to d o en sin o dado, não p o r u m h o m e m , m as pelos E s p írito s ”.61 E c o n tin u a ele: “T o d as as v erd ad es se e n c o n tra m n o cristian ism o . O s erros q u e nele se arraig ara m são de o rig e m h u m a n a ”.62 S eg u n d o K ardec, q u a n d o seus en sin o s c o n c o rd a m com a B íblia, ela é a P alavra de D e u s, q u a n d o ao co n trá rio , o erro foi d aq u eles que a in te rp re ta ra m e rro n e a m e n te . A P alavra de D e u s n os d á u m a defin ição clara q u a n to às ativ idades esp íritas e suas orig en s: “F icarã o de fo ra os cães, 60 Ibid., p. 398. 61 Evangelho Segundo o Espiritismo. Obra Completa. São Paulo: Editora Opus, p. 534. 62 Ibid., p. 564.

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os feiticeiro s, os ad ú ltero s, os h o m icid as, os id ó latras, e to d o aquele q u e am a e p ra tic a a m e n tira ” (A p 2 2 .1 5 ; 2 1 .8 ; Ê x 22 .1 8 ; Is 47.9; 2 C r 33.6; D t 1 8 .1 0 ,1 1 ).

Resposta apologética A m a io ria das seitas afirm a re sp e ita r os e n sin a m e n to s d a B íblia. M u ita s delas ch e g am a afirm ar a in sp iração d iv in a das S agradas E sc ritu ra s, co m o n ós lem o s acim a, m as os en sin o s da B íblia são ap en as u m a p arcela d a revelação de D e u s e que E le te m falado, o u c o n tin u a falan d o , d e u m a fo rm a ex tra b íblica, à p a rte das E sc ritu ra s, não lev an d o em co n sid eração a ad m o estaç ão d o ap ó sto lo Jo ão em A p o calip se, q u e diz: “P o rq u e eu testifico a to d o aquele que o u v ir as palavras d a p ro fecia d este livro que, se alg u ém lh es acrescen tar alg u m a coisa, D e u s fará vir sobre ele as p rag as q u e estão escritas n este livro; e, se alg u ém tira r q u aisq u er palavras d o livro d esta p rofecia, D e u s tira rá a sua p a rte d a árvore d a v id a e d a C id a de S an ta, q u e estão escritas n este livro” (2 2 .1 8 ,1 9 ). O s ad ep to s das seitas, p o r n ão c o n h e c e re m a B íblia, acred ita m nas d o u trin a s h eréticas, ac eita n d o as su p o stas revelações extrabíblicas. A lg u m as vezes, essas revelações ac o n te cem p o r in te rm é d io de u m anjo, de u m so n h o o u d e u m a visão, cujas palavras tê m a m esm a a u to rid a d e , o u m a io r a u to rid a d e d o que as S an tas E scritu ra s. M a s, p ara nó s, cristãos, a P alavra de D e u s é a revelação final e c o m p le ta de D e u s e n ão p o d e ser su b stitu íd a p o r q u a lq u e r o u tra revelação.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

551

e n c i c l o p é d i a

O ap ó sto lo P aulo, p re o c u p a d o co m a igreja d a G alácia, escreveu: “M a ra v ilh o -m e de qu e tão d ep ressa passásseis d a q u e le que vos c h a m o u à g raça de C ris to p a ra o u tro evangelho, o q u al não é o u tro , m as h á alguns que vos in q u ie ta m e q u erem tra n s to rn a r o ev an g elh o de C risto . M a s, a in d a q u e nós m esm os ou u m anjo d o céu vos an u n cie o u tro ev an g elh o além do que já vos te n h o an u n ciad o , seja a n á te m a ” ( G 1 1 .6 -8 ). P recisam o s n os d e d ic a r ao estu d o sistem ático d a Palavra de D e u s p a ra p o d e rm o s estar “sem p re p re p arad o s p a ra resp o n d e r co m m an sid ão e te m o r a q u a lq u e r que vos p e d ir a razão d a esp eran ça q u e h á em v ós” ( lP e 3.1 5 ). A B íb lia nos co n v id a a n os ap re se n ta rm o s “a D e u s ap ro vado, co m o o b reiro q u e n ão te m d o q u e se en v erg o n h ar, que m an eja b e m a p alav ra d a v e rd a d e ” (2 T m 2 .1 5 ). Q u e stio n a r a B íblia é questionar a au to rid ad e e a fidelidade de D eu s e de nosso S en h o r Jesus (N m 23.19; Is 55.11; J r 1.11,12; M t 22.29; 24.35).

A Trindade não é o centro das atenções A s seitas n ão dão o d ev id o valor à d o u trin a d a T rin d a d e , q u a n d o não, ch e g am até m esm o a n e g á -la in te ira m e n te . O g ru p o su b trai algo d a p esso a d o E s p írito S an to , d o S e n h o r Jesu s e de D e u s Pai.

O Espírito Santo Igreja da Unificação N o livro Princípio divino , d a Ig reja d a U n ificação , se lê:

552

Es t u d o s

d e

T e o l o g ia

VOLUME

2

“C o n tu d o , so m e n te u m p ai n ão p o d e te r filhos. D ev e h av er u m a V erd ad eira M ã e com o V erdadeiro Pai, a fim de d arem re n a sc im e n to aos filhos d ecaíd o s co m o filhos d o b e m . E la é o E sp írito S an to . E p o r isso que Jesu s disse a N ic o d e m o s qu e q u em não n ascer de novo p elo E sp írito S a n to n ão p o d e e n tra r no rein o de D e u s (Jo 3.5 ). H á m u ito s q u e receb em revelações in d ic a n d o q u e o E s p írito S a n to é u m E s p írito fe m in in o ”.63

Testemunhas de Jeová A S o cied ad e T o rre d e V ig ia ensina: “Q u a n to ao E sp írito S an to , a su p o sta terc eira p esso a d a T rin d a d e , já v im o s q u e n ão se tra ta d e u m a pessoa, m as d a força ativa de D eu s. Jo ão , o b atizad o r, disse q u e Jesu s b a tiz a ria com E s p írito S an to , assim co m o Jo ão b atizav a em água. P o rta n to , assim co m o a ág u a não é pessoa, ta m p o u c o o E sp írito S a n to é p esso a”.64 D iz e m que o E s p írito S an to n ão é u m a p esso a in te lig e n te , m as, sim , u m a fo rça im p esso al, invisível e ativa. A ssim , o E s p írito S a n to n a d a m ais é d o q u e u m p o d e r o u in flu ên cia de D e u s p a ra ex ecu tar a sua v o n tad e.

Legião da Boa Vontade O q ue é a L eg ião d a B o a V o n tad e (L B V )? R e sp o n d e Paiva N e to : A

“E a religião de D e u s, tra z id a p e sso a lm e n te p o r Jesus e 63 Página 162. 64 P o d e r á v iv e r p a r a

se m p re n o p a r a ís o n a te r r a ,

ESTUDOS

p. 40.

DE T E O L O G I A

553

e n c i c l o p é d i a

confiada ao E s p írito S a n to — os esp írito s que já se san tificara m e são os guias esp iritu ais d a h u m a n id a d e ”.65 E q u em é o E sp írito S anto? A re sp o sta é de Paiva N e to tam b ém : “J á sabeis que, sob a d esig n ação sim b ó lica de E sp írito S an to , se c o m p re e n d e o c o n ju n to dos esp írito s d o S e n h o r”.66 D iz a in d a qu e o E sp írito S a n to é u m a falange “dos E sp írito s P u ro s q u e fo rm a m o E s p írito S a n to ”.67 P a ra a LBV , o E s p írito S a n to são vários esp írito s q u e p assaram p o r várias reen carn açõ es p a ra ch e g arem ao estad o de “E s p írito P u ro ” e, d ep o is, a reu n ião coletiva deles fo rm a o E s p írito S anto.

Espiritismo kardecista K ard ec fez a seg u in te declaração: “R ec o n h e c e -se q u e o e sp iritism o realiza to d as as p ro m e ssas d o C ris to a re sp eito d o C o n so la d o r an u n ciad o . O ra , co m o é o E s p írito de V erdade q u e p resid e ao g ra n d e m o v im e n to da regen eração , a p ro m essa d a sua v in d a ach a-se p o r essa fo rm a realizad a, p o rq u e , d e fato, ele é o v erd ad eiro C o n s o la d o r”.68 P ara K ard ec, o “C o n so la d o r é [...] a p erso n ificação d e u m a d o u trin a so b e ra n a m e n te co n so lad o ra”.69 E le e n te n d ia q u e os en sin o s d e Jesu s n ão fo ra m co m p leto s e que o esp iritism o , 65 O liv r o d e D e u s , p. 114. 66 A sa g a d e A i ^ i r o Z a r n r l l , p. 197. 67 L iv r o d e D e u s , p. 213.

68 A

G ênese.

Obras Completas. São Paulo: Editora Opus, p. 888.

69 Ibid., p. 1042.

554

e s t u d o s

de

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VOLUME

2

sen d o o “C o n s o la d o r”, su p la n to u o cristian ism o e, ain d a, “te n d o raízes em to d as as crenças co n v e rterá a h u m a n id a d e ”.70

Ciência Cristã “N a s palavras de S. Jo ão : ele vos d ará o u tro C o n so lad o r, a fim de q ue esteja p a ra sem p re convosco. E sse C o n so lad o r, n o m e u e n te n d e r, é a C iê n c ia D iv in a ”.71 A d eclaração de q u e o E s p írito S a n to é a C iê n c ia C ris tã se assem elh a ao en sin o esp írita sobre o C o n so la d o r p ro m e tid o .

Igreja Apostólica “Vó Rosa” A Ig reja A p o stó lic a su rg iu d ep o is d e 1954, em São Paulo, p o r m eio de u m tra b a lh o d o m issio n ário n o rte -a m e ric a n o W illia m Scheiffer. P o ste rio rm e n te , foi su b stitu íd o p o r E u rico M a tto s C o u tin h o , que se a u to p ro c la m o u b isp o e co m eço u a d a r ênfase à V irg e m M a ria , p o r causa d e m u ito s católicos in teressad o s. S u a co n selh eira, Sra. R osa, p ro c la m o u -se p ro fetisa, sendo, m ais tard e , id en tificad a co m o p ró p rio E sp írito S an to . Seus seg uido res afirm am , co m m u ita ênfase, q u e o C o n so la d o r p ro m e tid o é a pessoa d a “S a n ta Vó R o sa”. D e sd e q u a n d o a “S a n ta Vó R o sa” faleceu, n u m ac id e n te de trâ n sito , n a cid ad e de P oá, SP, em 2 6 de o u tu b ro de 1970, com 76 anos de id ad e, os líderes in te rp re ta m sua m o rte co m o u m “a rre b a ta m e n to ” 72 e e n sin a m que “Jesu s c u m p riu 70 Ibid. "1 EDDY, Man* Baker. C iê n c ia e s a ú d e c o m a c h a v e d a s E s c r itu r a s , p. 55. 72 Ig r e ja A p o s tó lic a , n o ss a h is tó r ia , n o s s a s v itó r ia s , p. 71.

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

555

ENCICLOPÉDIA

sua p ro m essa en v ian d o o C o n so la d o r, a S a n ta Vó R o sa, que, p o r m eio d a Ig reja A p o stó lica, te m co n v en cid o a m u ito s a re sp e ito d a v erd ad e, d a ju stiç a e do ju íz o d iv in o s”.73 “A S a n ta Vó R o sa nasceu n esta te rra p a ra se to rn a r o E sp írito C o n so la d o r enviado p elo P a i”.74 N a d a se p o d e falar c o n tra a “S a n ta Vó R osa, o C o n s o la d o r”, pois ab rir a b o ca ou escrever critic a n d o seus en sin o s é c o m e te r o p ecad o im p e rdoável: a b lasfêm ia c o n tra o E s p írito S anto. “U m p reg ad o r, p o r exem plo, que n ão creia n a d o u trin a tal q u al nós e n sin a m o s n e sta igreja, se ele n ão ab rir a sua b o ca p a ra c o m b a tê -la , e se n ão to m a r a titu d e d e oposição, não ch eg ará a b lasfem ar; m as, se o fizer, a in d a que seja com o in tu ito de d e fe n d e r seu povo d e vista, irá b lasfem ar c o n tra o E s p írito S a n to q u e n os en sin a a p re g á-la. Se p re g a r c o n tra a S a n ta Vó R o sa, p eca c o n tra o E s p írito S an to , a q u em ela re p re se n ta ”.75

Resposta apologética *

E essencial q u e os cren tes re c o n h e ç a m a im p o rtâ n c ia do E s p írito S a n to em suas vidas. E le n os convence d o p ecad o (Jo 1 6 .7 ,8 ), rev ela-n o s a v erd ad e a re sp eito de Jesu s (Jo 1 4 .1 6 ,2 6 ), realiza o novo n a sc im e n to (Jo 3 .3 -6 ) e fa z -n o s m e m b ro s do C o rp o de C risto ( I C o 12.13). N a conversão, os cristãos recebem o E sp írito S an to (Jo 3 .3 73 O E s p ír ito S a n to 74 Ig r e ja A p o s tó lic a , 75 O E s p ír ito S a n to

556

d e D e u s e 0 C o n s o la d o r,

p. 60. p. 13. C o n s o la d o r ; p. 152.

n o s s a h is tó r ia , n o s s a s v itó r ia s , de D eu s e 0

e s t u d o s

de

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VOLUME

2

6; 20 .22 ) e se to rn a co p articip an tes d a n atu re za divina (2Pe 1.4). O E sp írito S an to passa a h a b ita r n o crente, in flu en cian d o sua vida, de m o d o a viver u m a vida san ta (R m 8.9; l C o 6.19), longe d o pecad o (R m 8.2-4; G 1 5.16,17; 2T s 2.13). O E sp írito S an to testifica q u e so m o s filhos de D e u s (R m 8.16 ), aju d a-n o s n a ad o ração a D e u s (A t 1 0 .4 5 ,4 6 ; R m 8 .2 6 ,2 7 ), n a n o ssa v id a de o ração e in te rc e d e p o r n ós q u a n d o clam am o s a D e u s (R m 8 .2 6 ,2 7 ). N o s g u ia em to d a a v erd ade (Jo 16.13; 14.26; l C o 2 .1 0 -1 6 ), n os co n so la e aju d a (Jo 14.16; lT s 1.6). E x a m in a re m o s, agora, alg u ns e n sin a m e n to s bíblicos a resp e ito da p esso a d o E s p írito S anto. A o a trib u ir-lh e p erso n a lid a d e, verifica-se q u e E le n ão é u m a en erg ia im p esso al, m as u m ser pessoal, in te lig e n te , com v o n ta d e e d e te rm in a ç ã o p ró p rias. Q u e o E s p írito S an to é u m a pessoa, fica ev id en te pelas atrib u içõ es q u e a P alavra de D e u s faz a E le, co m o lem os: •

E le so n d a as coisas p ro fu n d a s d e D e u s P ai ( l C o 2 .1 0 ).



E le fala ( M t 10.20; A t 8.39; 1 0 .1 9 ,2 0 ; 13.2; A p 2.7 ).



E le e n sin a (L c 12.12; J 0 1 4 .26; l C o 2 .1 3 ).



E le c o n d u z e g u ia (Jo 16.13; R m 8.14).



E le in terce d e (R m 8 .2 6 -2 8 ).



E le d isp en sa d o n s ( l C o 1 2 .7 -1 1 ).



E le c h a m a h o m e n s p a ra o seu serviço (A t 13.2; 2 0 .2 8 ).



E le se e n triste c e ( E f 4.3 0).



E le d á o rd e n s (A t 16.6,7).



E le am a (R m 15.30).



E le p o d e ser resistid o (A t 7.51).

Es t u d o s

de

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En c i c l o p é d i a

A palavra h e b raica p ara “esp írito ” é ruach, qu e p o d e ser tra d u z id a p o r “E s p írito de D e u s ”, “E s p írito de YAH W EH '', “teu E s p írito ”, “E s p írito S a n to ”, “esp írito do h o m e m ”, “v en .

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to , so p ro e resp iração . A S e p tu a g in ta , versão g reg a d o A n tig o T e sta m e n to , tra d u z iu ruach p a ra a p alav ra g reg a pneuma, q u e é u m su b sta n tivo n eu tro . L o g o , E le n ão p o d e ser co n sid erad o u m a m ulher, co m o afirm a o rev eren d o M o o n . O E s p írito S a n to é revelado co m sua p ró p ria in d iv id u a lid a d e (2 C o 3 .1 7 ,1 8 ; H b 9.14; lP e 1.2). O E s p írito S a n to é u m a pessoa d iv in a co m o o P ai e o F ilh o , co m o afirm am as E scritu ras: “P ara qu e m e n tiste ao E s p írito S an to , re te n d o p a rte do p reço d a p ro p rie d ad e? [...] P o rq u e fo rm a ste este d esíg n io em te u coração? N ã o m e n tiste aos h o m e n s, m as a D e u s ” (A t 5 .3 ,4 ). N ã o é m e ra in flu ên cia ou poder.

Jesus Cristo As testemunhas de Jeová A c re d ita m q u e Jesu s seja o arcan jo M ig u e l, co m o se lê em u m a de suas lite ratu ras: “Jeo v á crio u q u eru b in s, serafins e m u ito s o u tro s anjos p a ra fazerem a sua v o n ta d e n os céus. Jesus C ris to é o A rc a n jo sobre e acim a de to d o s esses”.76

76

P o d e r á v iv e r p a r a s e m p r e n o p a r a ís o n a te r r a ,

558

ESTUDOS

DE

p. 40.

TEOLOGIA

VOLUME

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Maçonaria Vê Jesu s sim p le sm e n te co m o m ais u m fu n d a d o r de re ligião, ao lad o de p erso n a lid a d es m ito ló g icas, o cu ltistas ou religiosas, tais com o, O rfe u , H e rm e s , T rim eg isto , K rish n a, (o deus d o h in d u ísm o ), M a o m é (p ro feta d o islam ism o ), e n tre o u tro s. Se n eg a rm o s o sacrifício de Jesu s C risto e sua vida, estarem o s n e g a n d o ta m b é m o A n tig o T e sta m e n to , q u e o a p resen ta co m o o M essias. O u crem o s in te g ra lm e n te n a P alavra de D e u s co m o revelação c o m p le ta e, p o rta n to , nas im p licaçõ es salvíficas q u e h á em Jesu s C risto , o u a rejeitam o s in te g ra lm e n te . N ã o h á m eio term o .

A Legião da Boa Vontade (LBV) S u b tra i a n a tu re z a h u m a n a de Jesu s, d iz e n d o q u e E le p o ssui apen as u m co rp o a p a ren te o u fluídico, além de n eg ar sua d iv in d ad e, d iz e n d o q u e E le “jam ais afirm o u q u e fosse D e u s ”.77

Espíritas kardecistas N o livro Obras póstumas, A llan K ardec fez u m estu d o sobre a n atu re za de C risto de q u ato rze páginas, com a in ten ção de provar que Jesus não era D eu s. A o final, ele afirm a: “Se Jesus, ao m orrer, en treg a sua alm a nas m ãos de D eu s, é p o rq u e E le tin h a u m a alm a d istin ta d a de D eu s, su b o rd in ad a a D eu s e, p o rta n to , E le não era D e u s”.78 ZARUR, Alziro.

D o u tr in a d o céu d a L J W \

p. 108, 112.

78 Página 1146.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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En c ic l o p é d ia

Resposta apologética S ab er q u em é Jesu s C risto é algo tão im p o rta n te q u a n to o que E le fez. M u ito s acred itam qu e E le esteve n a terra, fez m u ito s m ilagres e m u ita s o u tras coisas. Q u e m é C risto . Q u e tip o de pesso a E le é? A B íblia afirm a qu e Jesus é a a u to rid ad e final n a d e te rm in a ç ã o d e q u estõ es d o u trin á ria s (2 T m 3 .1 6 ,1 7 ). A P alav ra de D e u s n ão p e rm ite novos e n sin a m e n to s que p o ssam altera r seu c o n te ú d o ou fa z e r-lh e acréscim os. O ap ó sto lo P au lo disse: “M a s, ain d a que nós m esm o s ou u m anjo do céu vos an u n cie o u tro ev an g elh o além do que já vos a n u n c ia m o s, seja a n á te m a ” (G1 1.8). A o co n sid e ra r a d iv in d ad e de C risto , a q u estão n ão reside em “se é fácil crer nessa d iv in d ad e o u m esm o c o m p re e n d ê -la ”, m as se ela é en sin ad a n a P alavra de D eu s. A B íblia revela que D e u s não p o d e ser co m p reen d id o pela m en te h u m a n a (Jó 11.7; 4 2 .2 -6 ; SI 145.3; Is 40.13; 5 5.8,9; R m 11.33). A ssim sendo, devem os p e rm itir que a u ltim a palavra a respeito de si m esm o seja do p ró p rio D eu s, q u er possam os ou não co m p re en d ê-la in teiram en te. A B íblia ensin a que Jesus é D eu s: “N o princípio, era o V erbo, e o V erbo estava com D eu s, e o V erbo era D eu s. E le estava n o p rin cíp io com D eus. T odas as coisas fo ram feitas p o r m eio dele, e sem ele n ad a d o que foi feito se fez” (Jo 1.1-3; 20.28; T t 2.13; l j o 5.20). Jesus C risto conferiu p ara si os n o m es e títu lo s dados a D e u s n o A n tig o T e sta m e n to e ta m b é m p e rm itiu que outros assim o cham assem . Q u a n d o Jesus reivindicou esses títu lo s d i-

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vinos, os principais dos ju d eu s ficaram tão irados que te n ta ra m m a tá -lo p o r blasfêm ia. E le reivindicou p ara si o n o m e m ais respeitado pelos ju d eu s, tid o com o tão sagrado que eles sequer o pronu nciav am : YHWH. D eu s revelou, pela p rim eira vez, o significado desse nom e ao seu povo. D ep o is de M o isés haver lhe p erg u n tad o p o r qual n o m e deveria cham á-lo, ouviu o seguinte: “E disse D eu s a M oisés: E u s o u o que sou . D isse mais: A ssim dirás aos filhos de Israel: E u s o u m e enviou a vós” (Ê x 3.14). “E u s o u ” não é a tradução de YHWH. T odavia, trata-se de u m derivado do verbo “ser”, d o qual ta m b é m deriva o n o m e divino YAHWEH

{YHWH) em Ê xodo 3.14. P o rtan to , o títu lo “E u s o u o

que

s o u ”, indicado p o r D eu s a M oisés, é a expressão m ais plena de seu ser eterno, abreviado n o versículo 15 p ara o n o m e divino YHW H. A S eptuaginta, a versão grega do A n tig o T estam en to heb raico, trad u ziu o p rim eiro uso d a expressão “E u s o u ”, em Ê xodo 3.14, p o r ego eimi, no grego. E m várias ocasiões, Jesus em pregou o term o ego eimi, referindo-se a si m esm o, na form a unicam ente usada para D eus. U m exem plo claro é aquele em que “disseram -lhe, pois, os judeus: A in d a não tens cinquenta anos e viste A braão? D isse:lhe Jesus: E m verdade, em verdade vos digo que antes que A braão existisse eu sou [no grego: ego eimi]. E n tão , pegaram em pedras para lhe atirarem ; m as Jesus ocultou-se, e saiu do tem plo, passando pelo m eio deles, e assim se retirou” (Jo 8.57-59). Jesus atribuiu esse título a si m esm o tam b ém em outras oca-

Es t u d o s

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561

ENCICLOPÉDIA

siões. N esse m esm o capítulo do evangelho de João, C risto declarou: “P or isso vos disse que m orrereis em vossos pecados, porque, se não crerdes que eu sou [no grego: ego eimi], m orrereis em vossos pecados” (v. 24). D isse ainda: “Q u a n d o levantardes o Filho do h o m em , então conhecereis quem eu sou [no grego: ego eimi], e que nada faço p o r m im m esm o; m as falo com o o Pai m e ensinou” (Jo 8.28). Q u a n do os guardas do tem plo, ju n tam en te com os soldados rom anos, foram prendê-lo n a noite anterior à crucificação, Jesus perguntou-lhes: “A quem buscais? R esponderam -lhe: A Jesus N azareno. D isse-lhes Jesus: Sou eu [no grego: ego eimi], Q u a n d o Jesus lhes disse isso, recuaram e caíram p o r terra” (Jo 18.4-6). N ã o resta dúvida sobre q u em os líderes ju d aico s pensavam que Jesus estava p ro c la m a n d o ser. F ica, p o rta n to , b em claro que, na m en te daqueles que ouviram essa afirm ação, n ão havia q u alq u er in certeza de que Jesus tivesse d ito p eran te eles que E le era D eus. Essas afirm ações fo ram consideradas blasfêm ias pelos líderes religiosos e resu ltaram em sua crucificação “p o rque se fez filho de D e u s” (Jo 19.7). O s atrib u to s divinos dados ao D e u s P ai ta m b é m são en con trad o s em Jesus, o que evidencia sua divindade. P o rta n to , o F ilh o é D e u s, assim com o o P ai e o E sp írito S an to ( M t 28.19; 2 C o 13.13; E f 4 :4 -6 , l j o 5.7). Veja n a tabela:

562

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

ESPIRITO

A TR IB U TO S

PAI

FILH O

Onipresença

J r 23.24

Ef 1.2023‫־‬

SI 139.7

Onipotência

Gn 17.1

Ap 1.8

Rm 15.19

Onisciência

At 15.18

Jo 21.17

1C0 2.10

Capacidade de criar

Gn 1.1

Jo 1.3

Jó 33.4

Eternidade

Rm 16.26

Ap 22.13

Hb 9.14

Santidade

Ap 4.8

At 3.14

1J0 2.20

Santificador

Jo 10.36

Hb 2.11

1Pe 1.2

Rm 6.23

Jo 10.28

Gl 6.8

Hb 1.1

2C0 13.3

M c 13.11

Salvador

2Ts 2.13

Tt 3.4-6

1Pe 1.2

Deus

Êx 20.2

Jo 20.28

At 5.3,4

Fonte de vida

SANTO

eterna Inspirador dos profetas

D eus P ai Os mórmons E n s in a m q u e D e u s P ai já foi u m h o m e m an tes de p ro g re d ir até to rn a r-s e D e u s. S e g u n d o esse en sin o , D e u s, agora, é u m h o m e m exaltado, e o p ró p rio h o m e m p o d e se to rn a r u m “d e u s”. U m dos p ro b lem as q u e os m ó rm o n s tê m co m a afirm ação de q u e D e u s u m a v ez já foi h o m e m é: se D e u s u m a vez já foi h o m e m , an tes de se to rn a r D e u s, en tão , o h o m e m , de fato, to rn a -s e o criador, o u p elo m en o s o p re cu rso r em

e s t u d o s

de

T e o l o g ia

563

e n c i c l o p é d i a

evolução de D e u s, em vez de D e u s ser o C ria d o r d o h o m e m . P ara d eix arm o s b e m claro q ual é a v erd ad eira cren ça dos m ó rm o n s n a n a tu re z a de D e u s, d am o s, a seguir, u m a série de citações tirad as de fo n tes re c o n h e c id a m e n te m ó rm o n s, que revelam p le n a m e n te o q u e eles q u erem d iz e r q u a n d o falam de D eu s. “O p ró p rio D e u s já foi co m o n ós som os ag o ra - E le é u m h o m e m exaltado, e n tro n iz a d o em céus d istan tes! E sse é o g ra n d e segredo. Se o véu se ro m p esse h oje, e o g ra n d e D eu s q ue m a n té m este m u n d o em sua ó rb ita , e que su ste n ta to d o s os m u n d o s e to d as as coisas p o r seu p o d er, se fizesse visível d igo se vós pu d ésseis v islu m b rá -lo h oje, v ê -lo -e is em fo rm a de h o m e m - co m o vós em to d a pessoa, im a g e m e n a p ró p ria fo rm a de u m h o m e m ; p o is A d ã o foi criad o à p ró p ria im ag em e sem elh an ç a de D e u s, e dele receb ia in stru ç õ e s e co m E le andava, falava e conversava, e x a ta m e n te co m o u m h o m e m fala e conversa co m o u tro ”.79 “L e m b ra i-v o s d e q u e D e u s, n osso P ai celestial, já u m a vez talvez tivesse sido u m a crian ça, e m o rta l co m o nós som os e se elevou u m passo n a escala d o pro g resso , n a escola do a d ia n ta m e n to ”.80 “O S e n h o r crio u a ti e a m im p a ra o p ro p ó sito de nos to rn a rm o s D eu se s co m o E le p ró p rio ”.81 “C o m o o h o m e m é, D e u s foi; co m o D e u s é, o h o m e m p o d e rá v ir a ser”.82 79 SMITH, Joseph. E n s in o s d o p r o fe ta J o s é S m ith . São Paulo: SUD, p. 336. 80 H Y DE, Orson. Journal o f Discourses. Vol. 1, p. 123; publicado por E D. e S. W. Richards, Liverpool, 1854; edição reimpressa, Salt Lake City, Utah, 1966. 81 YOUNG, Brigham. Journal o f Discourses. Vol. 3, p. 93. 82 TALMAGE, James E, U m e stu d o d a s re g ra s d e f é . Sao Paulo: Missão Brasileira, 564

ESTUDOS DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

"... V ou c o n ta r-v o s co m o D e u s veio a ser D e u s. T em o s im a g in a d o e su p o sto q u e D e u s é D e u s desd e o to d o sem pre. E u refu tarei esta id eia e re tirarei o véu, p a ra q u e possais enx ergar . “A q u i, en tão , está a v ida e te rn a - co n h e c e r o ú n ico D e u s sábio e v erd ad eiro ; e tereis q u e a p re n d e r co m o vos to rn a r deuses vós m esm o s, e co m o serdes reis e sacerd o tes p ara D e u s, d a m esm a fo rm a co m o to d o s os deuses fizeram antes de vós, isto é, p assan d o de u m p e q u e n o d e g ra u p a ra o u tro , de o u tro , de u m a ca p acid ad e m e n o r p a ra o u tra m aio r; de graça em graça, de exaltação em exaltação, até q u e consigais ressu scitar os m o rto s e sejais capazes de h a b ita r em fulgores etern o s e d e assen tar-v o s em gló ria, co m o aqueles q u e estão en tro n iz a d o s em p o d e r in fin ito ”.84 O s m ó rm o n s acred itam q u e D e u s te m co rp o físico. A lé m de e n sin a re m q u e D e u s é u m h o m e m exaltado, os m ó rm o n s e a d o u trin a m ó rm o n afirm am q u e D e u s te m co rp o visível e m aterial. A afirm ação m ó rm o n d e q u e D e u s é u m h o m e m ex altado e p o ssu i co rp o físico te m levado os m ó rm o n s à ceg u eira e sp iritu al seg u in d o “seu p ro fe ta ” B rig h a m Y oung, que “p ro fe tiz o u ”: “A d ã o [...] é n osso P ai e n osso D e u s, e o ú n ico D e u s co m q u e m d ev em o s lid a r”. D e novo, d iz ele: “Jesus C risto não foi g erad o p elo E s p írito S a n to ”.85 P a ra co rro b o ra r esses en sin o s, citarem o s, ain d a, m ais alg u m as a u to rid a d e s m ó rm o n s sobre o assu n to p ro p o sto : 1958, p. 389. 83 SMITH, Joseph. E n s in o s d o p r o fe ta J o s é S m ith . São Paulo: SUD, p. 337. 84 Ibid., p. 338. 85 J o u r n a l o f D is c o u r s e s , vol. 1, p. 50-1.

e s t u d o s

d e

T e o l o g ia

565

ENCICLOPÉDIA

Ό

P ai p o ssu i u m c o rp o d e carn e e ossos tã o tan g ív el

co m o o do h o m e m ; o F ilh o ta m b é m ; m as o E s p írito S an to não p ossu i u m co rp o d e carn e e ossos; m as é u m p erso n a g em de E s p írito ...”.8687 “C re m o s em D e u s, o P ai E te rn o , e em seu F ilh o , Jesus C risto , e n o E sp írito S an to . A c e ita m o s esses três p e rso n a gens co m o o su p rem o co n selh o g o v e rn a n te nos céus. O Pai e o F ilh o p o ssu em tab ern ácu lo s de carn e e ossos”.S/ P o d e ria m o s c o n tin u a r c ita n d o passagens d e m u ito s o u tro s livros e p u b licaçõ es oficiais m ó rm o n s, m as e n te n d e m o s que essas b a sta m p a ra p ro v ar o fato.

Resposta apologética D e acordo com a B íblia, D eu s jam ais p ro g red iu até ser D eu s. Pelo contrário. E le sem pre foi D eu s. E stá claro que o h o m e m não existiu antes de D eu s. C laro ta m b é m está que, visto com o D eu s declara que jam ais haverá n e n h u m o u tro D eu s, os h o m en s n u n ca se to rn arão deuses. A s E scritu ras nos ensinam : “A n te s que os m o n tes nascessem e se fo rm assem a terra e o m u n d o , de etern id a d e a etern id ad e, tu és D e u s” (SI 90.2). C o m D e u s “não p o d e existir variação, o u so m b ra de m u d a n ç a ” (T g 1.17). “P o rq u e eu, o S en h o r, n ão m u d o ” (M l 3.6). “N o p rin cíp io , crio u D e u s ...” (G n 1.1). “O ra , ao R ei d os séculos, im o rta l, invisível, ao ú n ico D e u s seja h o n ra e g ló ria p ara to d o o sem p re. A m é m !” ( lT m 1.17).

86 D o u tr in a s e c o n v ê n io s, 130.22. 87 SM ITH,Joseph Fielding. D o u tr in a s

566

Es t u d o s

d e sa lva çã o ^

d e

vol. 1, SUD, 1994, p. 1.

T e o l o g ia

VOLUME

2

Ensina o homem a desenvolver sua própria salvação O u seja, p re g a m a autossalvação. C re r em Jesu s é im p o rta n te , m as n ão é tu d o . A salvação é co n ceb id a p o r esforços h u m an o s.

Seicho-no-Ie In iciad a p o r T an ig u ch i M a sa h a ru , que, antes, era ad ep to da seita O m o to k io e se desiludiu com o m o v im e n to depois de crer em u m a profecia d a restauração d a terra que não se cu m p riu em 1922. N esse m esm o ano, lançou a revista Seicho-no-Ie. A o b ra básica do m o v im e n to co n tém 4 0 volum es, escrita p o r T an ag u ch i, in titu la d a Simei nojissô ( Verdade da vida). E m 1940, o m o v im e n to foi re g istra d o co m o religião. C h e g o u ao B rasil em 1930, co m os im ig ra n te s ja p o n ese s, m as fo rta le c e u -se d ep o is d e 1951, co m sede n a ca p ital p au lista, d esd e 1955. N e g a m a m a té ria , a eficácia d a o b ra re d e n to ra de Jesus e o v alo r de seu san g u e p a ra rem issão de p ecad o s, d iz e n d o qu e “se o p ec ad o existisse re a lm e n te , n e m os b u d as to d o s d o U n iv erso co n se g u iría m ex tin g u i-lo , n e m m esm o a cru z de Jesu s C ris to co n seg u iría e x tin g u i-lo ”.88

Espíritas kardecistas L e o n D e n n is , “o filósofo” d o e sp iritism o m o d e rn o , escreveu: “N ão , a m issão d o C risto n ão era resgatar, co m o seu sang ue, os crim es d a h u m a n id a d e . O san g u e, m esm o d e u m D e u s, não seria cap az de re sg a tar n in g u é m . C a d a q u al deve 88 Taniguchi, Masaharu Kanro no hoou I-II-II. C h u v a s d e n e c tá r e a s d o u tn n a s . São Paulo: Igreja Seicho-no-Ie do Brasil, 1979 (sem numeração de páginas).

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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En c i c l o p é d i a

re sg a tar-se a si m esm o , re sg a tar-se d a ig n o râ n c ia e d o m a l”.89 K ardec, p o r sua vez, escreveu: “F o ra d a carid ad e n ão h á salvação”.90

Os mórmons Jo se p h F ie ld in g S m ith escreveu: “N ã o h á salvação sem aceitação de Jo se p h S m ith ”.91 O u tra s seitas p re g a m d e te r o m o n o p ó lio d a salvação, com o, p o r exem plo, a Ig reja d a U nificação, d o rev eren d o M o o n , que d esp re za os cristãos p o r ach arem q u e fo ra m salvos p elo san g ue de Jesus q u e v erte u n a cru z .92 A s te ste m u n h a s de Jeo v á e n sin a m ser im p o ssív el fazer a v o n ta d e de D e u s fo ra d a S o cied ad e T o rre de V igia. U m a de suas obras diz: “T ra b a lh a m o s a rd u a m e n te com o fim de o b te r no ssa p ró p ria salvação”.93 O s ad v en tistas creem q u e a v id a e te rn a só será co n ced id a aos q ue g u a rd a re m a lei. A g u a rd a o b rig a tó ria d o sábado é essencial p a ra a salvação, co m o escreveu E lle n G . W h ite : “S an tificar o sábado ao S e n h o r im p o rta em salvação e te rn a ”.94

Resposta apologética 89

C r is tia n is m o e e s p ir itis m o .

Federação Espírita Brasileira, p. 85.

90 E v a n g e lh o se g u n d o 0 e s p ir itis m o . Obra Completa. Federação Espírita Brasileira, p. 608. 91 D o u tr in a s d e sa lv a ç ã o , vol. 1. SUD, 1994, p. 206. 92 KIM, Young Moon. Λ te o lo g ia d a u n ific a ç ã o . São Paulo: AES - UCM, 1986, p. 276. 93 N o s s o m in is té r io d o re in o , dezembro de 1984, p. 1. 94 T e s te m u n h o s se le c to s — III. 2o ed.,1956, p. 23.

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Es t u d o s

de

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VOLUME

2

A eficácia d o san g u e de C ris to p a ra can celar os pecad o s nos é a p re se n ta d a co m o m en sag e m c e n tra l d a B íb lia ( E f 1.7; l j o 1 .7 -9 ; A p 1.5). C o m re sp eito à salvação pelas o b ras, a B íb lia é clara ao e n sin a r que “p ela g raça sois salvo, p o r m eio d a fé; e isto não vem de vós; é d o m d e D eu s. N ã o v em das obras, p a ra que n in g u é m se g lo rie ” ( E f 2 .8 ,9 ). P ra tic a m o s bo as o b ras não p ara serm os salvos, m as p o rq u e som os salvos em C risto Je sus, nosso S en h o r. A s obras são o re su ltad o d a salvação e não o seu agen te. O v alo r das obras está em n os d iscip lin arm o s p ara a vida cristã ( H b 1 2 .5 -1 1 ; l C o 11.31).

Dizem ser a única religião certa U m a das p rincipais características das seitas falsas é esta: não se su b m eter à organização ou à igreja equivale a desobedecer a D eu s. O p seu d o cristian ism o , em m uitas de suas fo rm as, com frequência te m an u n ciad o que “n ão existe salvação fora d o seu sistem a religioso”, significando, n atu ra lm en te , a sua p ró p ria organização religiosa. A m aioria das religiões e seitas alega ter restaurado algum a coisa do cristianism o prim itivo que os discípulos de C risto, n a atualidade, deixaram de p raticar e, p o r isso, se ap o stataram do verdadeiro evangelho. R ealm ente, to rn a-se tão fu n d am en tal essa alegação que desem penh a u m papel relevante n a estru tu ra d o u trin ária das seitas e religiões. A cred itam que, em d eterm in ad a data, o m o v im en to apareceu p o r v ontade divina p ara restaurar o que foi perdido.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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e n c i c l o p é d i a

O m o rm o n ism o diz ter restaurado o evangelho. O adventism o afirm a ter restaurado a g uarda do sábado. A Igreja In tern acio n al de C risto (m ovim ento de B oston) diz ter restaurado a m etod o lo g ia do discipulado. A Igreja C ató lica A p ostólica R o m an a afirm a ter restaurado a au toridade apostólica. O m o o n ism o afirm a ter restaurado a m issão m essiânica. D a í a ênfase de exclusividade.

Outras características Profecias fa lsa s C o m freq u ên cia, as seitas p ro m u lg a m pro fecias falsas. Isso ocorre, p o r exem plo, co m as te ste m u n h a s de Jeová, que, p o r várias vezes, p ro fe tiz a ra m a v o lta d e C risto à te rra n os seg u in te s anos: 1 9 1 4 ,1 9 2 5 e 1975. M a s, to d as falharam ! N ã o p o d e m o s n os esq u ecer d os ad v en tistas, q u e ta m b é m afirm am qu e C risto já v o lto u , em 1844. Já p a ra W illia m M a rrio n B ra n h a m , q u e se e n c o n tra nessa m e sm a lin h a g e m , C risto v o lto u em 1977.

Negam a ressurreição corporal de Jesus A d m ite m q u e Jesus te n h a ressu scitad o ap en as em E sp írito. T e ste m u n h a s de Jeová, C iê n c ia C ristã , Ig reja d a U n ificação, k K ard ecism o , e n tre o u tro s g ru p o s, d iz e m que Jesus seq uer ressu scito u (L B V ). E a in d a o u tro s n ão acred itam que Jesus te n h a m o rrid o n a cruz.

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Es t u d o s

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VOLUME

2

Liderançasfortes C o n s id e ra n d o -s e m en sag eiro de D e u s, seus líderes fascin a m seus o u v in tes afirm a n d o p o ssu ir in fo rm açõ es exclusivas d a p a rte de D e u s. C o m isso, exercem e n o rm e in flu ên cia sob re o g ru p o . E ssa lid e ra n ç a inexorável faz q u e os ad e p to s das seitas d e p e n d a m to ta lm e n te d ela (d a lid eran ça).

Proselitistas B u scam ad e p to s n ão e n tre os n ecessitad o s, aflitos, d esesp erad o s, m as e n tre aqueles q u e in iciam a v id a cristã. A s seitas não m e d e m esforços p a ra c o n q u ista r ad e p to s p a ra suas cren ças ou idéias. Jesus c o n d e n o u essa a titu d e , d izen d o : “A i de vós, escribas e fariseus, h ip ó critas! Pois q u e p erco rreis o m a r e a te rra p a ra fazer u m p ro sélito ; e, d ep o is d e o terd es feito , o fazeis filho do in fe rn o duas vezes m ais d o que vós” ( M t 2 3 .1 5 ).

Es t u d o s

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571

C

a p í t u l o

6

A EVANGELIZAÇÃO DOS ADEPTOS DAS SEITAS

D e sd e os p rim ó rd io s d o cristian ism o até os nossos dias, o su rg im e n to de seitas e heresias é u m alerta e u m desafio p a ra os cristãos. E las d ev em ser co n te m p la d a s co m seren id ad e e precaução. O p ró p rio ap ó sto lo P au lo afirm ou: “E até im p o rta que h aja e n tre vós heresias, p a ra q u e os q u e são sinceros se m a n ife ste m e n tre vós” ( l C o 11.19 — A lm e id a , V ersão R evista e C o rrig id a ). U m dos desafios p a ra os cristãos é a ev angelização dos ad ep to s das seitas, p o is aquele q u e deseja sem ear a P alavra de D e u s e n tre p ro sélito deve te r sua fé alicerçada em Jesus C risto e nas d o u trin a s bíblicas. O p esq u isad o r J a n K arel V an B aalen afirm ou: “O s a d e p tos das seitas são as pessoas m ais difíceis d e ev an g elizar”.95 M a s n ão q u e r d iz e r q u e isso seja im possível. N u n c a devem os esq uecer que os ad e p to s de seitas são seres h u m a n o s, alm as preciosas pelas quais Jesu s C risto se sacrificou.

95 O ca o s d a s se ita s: um estudo sobre os “ismos” modernos. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, p. 282.

E

n c i c l o p é d i a

Referências A L M E I D A , A b raão de. 0 sábado, a lei e a graça. R io de Janeiro: C P A D , 1997. A N D R A D E , R o q u e M o n te iro de. A superioridade da reli-

gião cristã. R io de Jan eiro : J u e rp , 1991. A N D R E , M arc o . Laços da Nova Era. M in a s G erais: E d ito ra B e tâ n ia , 1998. A V IL A , Luis Carlos. O Brasil místico', o caso rosacruz. São P aulo: M ultiletra, 1995. B E T T E N S O N , H . Documentos da Igreja cristã. São Paulo: A ste , 1998. B O E T T N E R , L o ra in e . Catolicismo romano. São Paulo: Im p re n sa b a tis ta R eg u lar, 1985. B O W M A N Jr, R o b e rt M . Porque devo crer na Trindade. São P aulo: E d ito ra C a n d e ia , 1996. B R E E S E , D av e. Conheça as marcas das seitas. São Paulo: E d ito ra F iel, 1998. B U B E C K , M a r k I. 0 reavivamento satânico. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1993. C A B R A L , J. Religiões, seitas e heresias. R io d e Jan eiro : E d ito ra G rá fic a U n iv ersal, 1992. C H A N D L E R , R ussel. Compreendendo a Nova Era. São Paulo: B o m P astor, 1993. C O E N E N , L o th a r e B R O W N , C o lin . D ic io n á rio In te r n ac io n al de T eo lo g ia d o N o v o T e sta m e n to . Vol. II. São P a u lo: E d içõ es V id a N o v a, 2 0 0 0 .

574

e s t u d o s

d e

T e o l o g ia

VOLUME

2

D E N N E T T , W . D . Ganhe os muçulmanos para Cristo. São Paulo: E d ito ra S epal, 1993. D O U G L A S , J. D . O N o v o D ic io n á rio d a B íblia. 2 a ed. São Paulo: E d içõ es V id a N o v a, 1997. F R A N G I O T T I , R o q u e. História das heresias. São Paulo: E d ito ra P au lu s, 1995. G E E R , T h elm a G ran n y . Porque abandonei 0 mormonismo. São Paulo: E d ito ra V id a, 1991. G E I S L E R , N o rm a n L . e R H O D E S , R o n . Respostas às

seitas. R io de Jan eiro : C P A D , 2 00 0 . G O N D I M , R ic a rd o . O evangelho de Nova Era. S ão P a u lo : A b b a P re ss E d ito r a , 1 9 9 5 . G O N Z A L E Z , J u sto L . Uma história ilustrada do cristia-

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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ESTUDOS

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TEOLOGIA

VOLUME

2

_________ . O império das seitas. Vol. I. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . O império das seitas. Vol. II. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . O império das seitas. Vol. III. M in a s G erais: E d ito ra B etânia, 1992. _________ . O império das seitas. Vol. IV. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1993. M A R T I N S , Jaziel G u erreiro . Seitas: heresias de nosso tem p o . C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. M A T H E R , G e o rg e A . e N I C H O L S , L a rry A . D ic io n á rio de R eligiões, C re n ç a s e O c u ltism o . São Paulo: E d ito ra V id a, 2 00 0. M C D O W E L L ,J o s h e L A R S O N , B a rt .Jesus·, u m a defesa b íb lica de sua d iv in d ad e. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1994. M C D O W E L L , J o sh e S T E W A R T , D o n . Entendendo as

religiões não cristãs. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1996. M C D O W E L L , J o sh e S T E W A R T , D o n . Entendendo as

seitas. São P aulo: E d ito ra C a n d e ia , 1998. _________ . Entendendo 0 oculto. São P aulo: E d ito ra C a n deia, 1998. M E N E Z E S , A ld o dos S an to s. M e re c e m créd ito as T e ste m u n h a s de Jeová? R io de Jan eiro : C e n tro d e P esquisas R eligiosas, 1995. _________ .As testemunhas deJeová eJesus Cristo. São Paulo: E d ito ra V id a, 2 0 0 3 . _________ .. As testemunhas de Jeová e 0 Espírito Santo. São

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n c i c l o p é d i a

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mar Morto. R io d e Jan e iro : Im ag o , 1993. SIL V A , E seq u ias S oares da. Manual de apologética cristã.

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São Paulo: C P A D , 2 0 0 2 . _________ . Como responder às testemunhas de Jeová. Vol. 1. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1995. _________ . Testemunhas de Jeová, comentário exegético e ex-

plicativo. Vol. 2. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1995. SIL V A , H y la rin o

D o m in g u e s. As doutrinas mórmons.

C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. S IL V E IR A , H o rá c io . Santos padres e santos podres. P a ra ná. S M I T H , Jo se p h F ie ld in g . Doutrinas de salvação. Vol. 1. S U D , 1994. S M I T H , Jo se p h . Ensinos do profeta José Smith. São Paulo: SUD. S O A R E S , R . R . Osfalsos profetas. E d ito ra G raça. S T A M P S , D o n a ld C . B íb lia de E s tu d o P en teco stal. R io de Jan eiro : C P A D , 1996. T A L M A G E , Jam es E . Um estudo das regras defé. São P a u 10: M issã o B rasileira, 1958. T O N I N I , E n éa s e B E N T E S , Jo ã o M a rq u e s. Janelas para

oNovo Testamento. São Paulo: L o u v o res d o C o ração . 1992. T O N I N I , E n éa s. O período interbíblico. 7 a ed. São Paulo: L o u v o res do C o ração . 1992 T O S T E S , Silas. 0 islamismo e a cruz de Cristo. São Paulo: I C P E d ito ra , 2 0 0 1 . _________ . O islamismo e a Trindade. São Paulo: A g ap e E d ito re s, 2 0 0 1 . V A L E , A g ríc io do. Por que estes padres católicos deixaram a

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e n c i c l o p é d i a

batina? C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1997. V A N B A A L E N , J.K . 0 caos das seitas: u m estu d o sobre os “ism o s” m o d e rn o s. São P aulo: Im p re n sa B a tista R egular, 1986. W O O T T O N , R . F. Muçulmanos que encontraram a Cristo. São Paulo: E d ito ra S epal, 1987.

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,s m K S T m F P n c K S

IN T R O D U Ç Ã O

In titu la m o s de seitas proféticas p o r se o rig in arem de líderes que se d e n o m in a ra m profetas. A o se p esq u isar a o rig em dessas seitas, conclu i-se que, n a m aio ria das vezes, saíram de d e n o m inações evangélicas tradicionais, o rien tad o s p o r in te rp re ta ções particulares das E scritu ras e p o r visões extraordinárias. A ssim , p ro clam aram -se “p ro fetas”. A lg u n s anunciavam a volta im in e n te de C risto , estabelecendo diversas datas, com o os ad ventistas (em 1844), as testem u n h as de Jeová (em 1 9 1 4 ,1 9 2 5 , 1975), o T ab ern ácu lo d a Fé (em 1977), en tre outros. A m aio r p arte das seitas veio d a A m éric a do N o rte , atracan d o n o Brasil, com exceção daquelas que aqui se o rig in aram . A s seitas p ro féticas c o stu m a m ap arecer em final d e século e v irad a de m ilên io , p rin c ip a lm e n te se a situ ação social e econ ô m ic a não a n d a b em . N o B rasil, as seitas p ro féticas m ais co n h ecid as são os m ó rm o n s, os ad v en tistas, a C iê n c ia C ristã , as te ste m u n h a s de Jeová, o T a b e rn á c u lo d a F é, O s M e n in o s d e D e u s, a Ig reja A p o stó lic a o u “Vó R o sa”. N e s ta m a té ria , ao final d e cad a tó p ico , o alu n o e n c o n tra rá u m a b ib lio g rafia, p ela q u al p o d e rá co n su ltar o u tras obras q u e tra ta m d o m e sm o assu n to co m m a io r p ro fu n d id a d e .

C

a p í t u l o

l

TESTEMUNHA DE JEOVÁ

História P o d em o s d iv id ir a h istó ria das te ste m u n h a s de Jeo v á em q u a tro p e río d o s q u e co in c id e m com os q u a tro p re sid e n te s qu e lid e ra ra m o m o v im e n to até 1992. V ejam os: C h a rle s T a z e R ussell (1 8 5 2 -1 9 1 6 ) foi o fu n d a d o r da Z io n s W a tc h T o w e r a n d H e ra ld o f C h r is ts P resen ce (T o rre de V ig ia de Sião e A ra u to d a P resen ç a de C risto ) em 1879, a tu a lm e n te c o n h e c id a com o n o m e d e A Sentinela. E m 1881, o rg a n iz o u a W a tc h T o w e r T ra c t S o ciety (S o cied ad e T o rre de V ig ia d e T ra ta d o s), q u e, p o ste rio rm e n te , receb eu o n o m e de Z io n s W a tc h T o w e r T ra c t Society, co n h e c id a co m o W a tc h T o w e r B ible a n d T ra c t S o ciety o f P en n sy lv an ia (S o cied ad e T o rre de V ig ia de B íblias e T ra ta d o s d e P en silv ân ia). A lé m de seus discursos e artig o s, R u ssell escreveu os seis vo lu m es de Studies in the Scriptures (Estudos das Escrituras) o rig in a lm e n te Millennial Dawn o u Aurora do milênio, p u b licad o e n tre 1886 e 1904. P o r ocasião de sua m o rte , em 1916, aos 64 anos, o fu n d a m e n to legal e d o u trin á rio d a S o cied ad e já h av ia-se estabelecido.

En

c i c l o p é d i a

Jo se p h F ra n k lin R u th e rfo rd (1 8 6 9 -1 9 4 2 ), que, após a m o rte de R ussel, foi eleito, n a assem bléia an u al d a S ociedad e, o novo p re sid e n te . Sob sua lid eran ç a, lan ço u a revista

The GoldenAge (A idade de ouro), a tu a lm e n te co n h e c id a com o Despertai!. E m 1920, la n ç o u o livro Milhões que agora vivem jamais morrerão, v a tic in a n d o a ressu rreição de A b ra ão , Isaq u e e Jacó, e n tre m u ito s o u tro s fiéis d o A n tig o te sta m e n to , p ara 1925. E m 1931, a d o to u o n o m e de “te ste m u n h a s d e Jeo v á”, p ro ib in d o , nesse m e sm o ano, o N a ta l e o D ia das m ães. S ua ad m in istra ç ã o foi m a rc ad a p o r várias re in te rp re ta ç õ e s da d o u trin a e das E scritu ra s. Suas lite ra tu ra s fo ra m m arcad as de m u ita s co n tro v érsias em relação à P alav ra de D e u s. M o r reu em 8 d e fevereiro, co m 72 an o s de id ad e, n a resid ên cia que havia co m p ra d o p a ra recep cio n ar os p atriarcas q u e não re ssu rg iram em 1925. N a th a n H o m e r K n o rr (1 9 0 5 -1 9 7 7 ). S u ced eu R u th e rfo rd em 1942, após a sua m o rte . A ssu m iu a lid e ra n ç a das te ste m u n h a s de Jeo v á com p o u co m ais de 115 m il ad ep to s. C rio u a W a tc h to w e r B ible S ch o o l o f G ile a d (E sco la B íb lica d e G ileade da T o rre de V igia), p a ra o tre in a m e n to m issio n ário , e, ta m b é m , a E sco la d o M in is té rio T eo crático , p ara tre in a m e n to de o breiro s p a ra as congregações locais. K n o rr d e m o n stro u sua h a b ilid a d e o rg a n iz acio n al e, sob sua d ireção, houve u m g ra n d e crescim en to em n ú m e ro de m e m b ro s, c o n stru ções e pu blicações. F oi em sua a d m in istra ç ã o que o co rreu o la n ç a m e n to d a T ra d u ç ã o d o N o v o M u n d o ( T N M ) das E s critu ras gregas e h eb raicas, em 1961. P ro fe tiz a , em 1966, que

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o fim do m u n d o o co rrería em 1975, n o livro Vida eterna na

liberdade dosfilhos de Deus, q u e ta m b é m falh o u . M o rre u em 197 7 , com 72 an o s d e idade. F re d e ric k W illia n F ra n z (1 8 9 4 -1 9 9 2 ). V ic e -p re sid e n te d a S ociedade, é eleito o novo p re sid e n te d a o rg a n ização após a m o rte d e K norr. E n fre n to u u m fo rte m o v im e n to de d issid e n te s na org an ização , d evido às co n sta n te s m u d an ça s d o u trin árias.

A Torre de Vigia no Brasil N o A n u á rio das T e ste m u n h a s d e Jeová, de 1 9 7 4 ,1 está re g istrad o que os en sin o s d a T o rre de V ig ia ch e g a ra m ao B rasil p o r m eio “de o ito h u m ild e s m aru jo s b rasileiro s” q u e e n c o n tra ra m as te ste m u n h a s de Jeo v á em N o v a Y ork, em 1920. O p rim e iro re p re se n ta n te d a T o rre de V ig ia veio p a ra o B rasil em 1922. N o início, estu d av am as revistas em e sp a n h o l, sen d o q u e a p rim e ira revista p u b lic a d a em p o rtu g u ê s foi a Torre de Vigia, em 1923. E m sua se g u n d a p ág in a, an u nciava: “C o m p len a au to riza ção d o ju iz J. F. R u th e rfo rd , p re sid e n te d a T o rre de V igia, e S o cied ad e B íb lica d e T ra ta d o s de B ro o k ly n , N o v a Y ork, estab eleceu -se u m a filial dessa S o cied ad e n o B rasil com escritó rio sito à R u a d o R o sário , 7 6 - 2 ° an d ar,2 n o R io de Ja n e iro ”. E s ta p u b licação foi in te rro m p id a p o r u m breve p e río d o nos anos 2 0 , m as re in icio u suas atividades em 1937. O n o m e d a revista foi tro ca d o p a ra A Atalaia, em 1 9 4 0 , p o r causa d a su sp eita d o g o v ern o com resp eito ao n o m e Torre de

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e n c i c l o p é d i a

Vigia, e ta m b é m d ev id o aos ad v en tistas p o ssu ir p u b licação co m n o m e sem e lh a n te . A ssim , o p erió d ico teve seu n o m e alterad o , em 1943, p ara o títu lo atual: A Sentinela. O u tr a p u blicação desse g ru p o , d e n o m in a d a Despertai!, foi p u b licad a, p rim e ira m e n te , com o títu lo de Consolação, sen d o , p o ste rio rm e n te , alterad o , em m ead o s d a d éc ad a d e 4 0 , p ara o atual. P o r m u ito s an o s, as te ste m u n h a s de Jeo v á e n fre n ta ra m diversos p ro b lem as co m as a u to rid a d e s civis e católicas p o r causa do seu c o m p o rta m e n to agressivo. A s p u b licaçõ es fo ra m in te rro m p id a s e a S o cied ad e foi o ficialm en te dissolvida pelo g o v ern o b rasileiro p o r u m p e río d o , sen d o restab elecid a p o ste rio rm e n te . A tu a lm e n te , o B rasil o cu p a o se g u n d o lu g ar n o ranking m u n d ia l em n ú m e ro de “b a tiz a d o s” das te ste m u n h a s de Jeo v á (d ep o is dos E sta d o s U n id o s). M a is de u m terço dos m e m b ro s brasileiro s estão c o n c e n tra d o s n o E sta d o d e São Paulo, o n d e está situ ad a a sua sede n acio n al, em C esário L an g e . São m u ito ativos, n ão m e d in d o esforços p a ra p ro c la m a r o “rein o de Jeo v á” de casa em casa. 12

1Página 34. 2Anuários das Testemunhas de Jeová, 1974, p. 38.

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Doutrinas A m a n e ira m ais fácil de tra ta r com o sistem a d o u trin á rio d esta seita é fazer q u e suas negações ao cristian ism o a p o sto lico sejam co n h ecid as. Suas características d o u trin á ria s estão a c e n tu a d a m e n te m an ifestad as. •

N eg ação d a T rin d a d e .3



N eg ação d a d eid ad e v erd ad eira de C ris to (p o n to de vista A ria n o ).4

‫־‬

N eg a ção d a p e rso n a lid a d e d o E s p írito S an to (co n sid era d o co m o “fo rça ativa de D e u s ”).5



N eg a ção d a im o rta lid a d e d a alm a h u m a n a .6



N eg a ção d a ressu rreição c o rp o ra l de Jesu s n o m esm o corpo. 7



N eg a ção d a ressu rreição c o rp o ral de C ris to (e n sin a m qu e Jesu s ressu scito u em esp írito e se m a te ria liz o u em várias ocasiões p a ra ser visto p elo s seus d iscíp u lo s).8



N eg ação d o in fe rn o co m o local d e to rm e n to e te rn o .9



D iz e m q u e so m e n te os 144 m il serão salvos. 10



N eg ação d a v o lta visível e c o rp o ra l d e C ris to (a S o cied ad e d iz q u e C risto “v o lto u ” invisível, em 1914, e, d e pois, houve u m a “ressu rreição e sp iritu a l” invisível, em 1918).11 3*6

3D e v e -s e

(brochura), p. 30. 15 de setembro de 1989, p. 5,6. ‫כ‬P o d e r á v iv e r p a r a s e m p r e n o p a r a ís o n a te r r a , ed. 1983, p. 37. 6Ib id , p. 78,89. ‫ ־‬Ib id , p. 144. 8Ibid. 9Ibid., p. 82-3. lORaciocínios à base das Escrituras, p. 342. !!Poderão viver para sempre no paraíso na terra, ed. 1983, p. 145, 147. λΛ

c r e r n a T r in d a d e ?

S e n tin e la ,

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En c ic l o p é d ia

A g o ra , o u tras características d o u trin á ria s: •

A B íblia n ão p o d e ser c o m p re e n d id a h o je sem a S ocied ad e.1 2



A tran sfu são de san g u e é rejeitad a. Se u m a te s te m u n h a aceita receb ê-la, p o d e rá re su ltar em sua m o rte etern a.



A s te ste m u n h a s se recu sam a p re sta r o serviço m ilitar, a c a n ta r o h in o n ac io n al e a fazer ju ra m e n to à b a n d e ira , q ue é co n sid erad o u m ato de id o latria. 13



O s feriad o s e celebrações, co m o N a ta l, P ásco a e an iv ersários são re jeitad o s co m o sen d o d e o rig em p ag ã .1 4

• A c re d ita m que irão h e rd a r a te rra , q u e vão h a b ita r n u m a te rra p arad isíaca (não creem q u e vão p a ra o céu, p o is, se g u n d o d iz e m , o céu está reserv ad o apenas p ara 144 m il p esso a s).15

Publicações A p á g in a im p ressa te m sido u m a das arm as m ais eficazes u tiliza d as pelas te ste m u n h a s de Jeová. U m a de suas p u b licações, A Sentinela, n a edição de 15 de n o v em b ro de 2 0 0 4 , re g istro u u m a tira g e m m éd ia de 2 5 .6 1 8 .0 0 0 cópias. A versão in g lesa d a B íb lia das te ste m u n h a s d e Jeová, c h a m a d a T ra d u ção do N o v o M u n d o das E sc ritu ra s S ag rad as, foi co n clu ída em 1961 e, p o ste rio rm e n te , tra d u z id a e p u b lic a d a p a ra a A

L ín g u a P o rtu g u e sa em 1967. E relev an te n o ta r que n e n h u m m e m b ro do C o m itê d e T ra d u ç ã o d a B íblia d o N o v o M u n d o era e ru d ito n o g rego o u n o h eb raico , co n fo rm e d e m o n stra E z e q u ia s Soares d a Silva:

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“E m 1884, R ussel co n seg u iu os e sta tu to s p a ra p u b lic a r a B íblia. N e n h u m dos seus líderes co n h e cia as lín g u as o rig in ais d a B íblia. E sta v a m , p o is, im p elid o s de tra d u z ir p a ra o inglês a sua p ró p ria B íblia. A ssim , p u b lic a ra m alg u m as versões já con h ecid as, m as se d e ra m ao tra b a lh o de p u b licá-las co m n o tas explicativas n o ro d a p é o u com ap ên d ices n o final d elas”.16 A s te ste m u n h a s ta m b é m p o ssu em dois tex to s in te rlin e a res d o N o v o T e sta m e n to grego. A o b ra m ais a n tig a é a T he E m p h a tic D ia g lo tt, tra d u z id o p o r B e n ja m in W ils o n , u m m e m b ro da seita C h ris ta d e lp h ia n , co m p o n to s d o u trin á rio s em c o m u m co m a S o cied ad e T o rre de V igia, p rin c ip a lm e n te sobre a T rin d a d e e a d iv in d ad e d e C ris to .17 A K in g d o m In te rlin e a r T ra n sla tio n o f th e G re e k S c rip tu res, p u b lic a d a em 1969, associa-se ao tex to g reg o de W e s tc o tt e H o r t co m a tra d u ç ã o d a S o cied ad e e u m tex to ap erfeiço ado d a T ra d u ção d o N o v o M u n d o . A s du as versões revelam , a b e rta m e n te , u m a in flu ên cia d o u trin á ria .

Metodologia A m a io ria dos m o v im e n to s p o ssu i alg u m tip o de p ro g ra m a p a ra g a n h a r ad ep to s. N o B rasil, as te ste m u n h a s de Jeo v á estão em to rn o de 5 0 0 m il p u b licad o res q u e se re ú n e m sem a n a lm e n te em seis m il congregações (Salões do R ein o ). N o m u n d o , são a p ro x im a d a m e n te 6 m ilh õ es, re u n id o s em 75 m il congregações, q u e se u tiliz a m dos seg u in tes m éto d o s:

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c i c l o p é d i a

1. C o lo c a m lite ra tu ra s nas m ãos das pessoas p o r m eio das visitas de casa em casa o u p o r q u a lq u e r o u tra fo rm a de div ulg ar a sua d o u trin a ; 2. A c o m p a n h a m as pessoas com visitas p a ra averig u arem e en c o rajarem o seu interesse; 3. M a rc a m “estu d o s b íb lico s” nos lares, u tiliz a n d o -se das lite ra tu ra s recen tes d a S o cied ad e T o rre de V ig ia, p rin c ip a lm e n te d a revista A Sentinela; 4. In c e n tiv a m as pessoas in teressad as n o ”estu d o b íb lico ” a co n h e c e r a congregação; 5. A c o m p a n h a m aqueles que d e m o n strarem interesse ao “estudo d a Sentinela '; 6. E s tim u la m os in ician tes a p a rtic ip a re m d a “reu n ião p a ra fazer d iscíp u lo s” e d a “E sco la d o M in is té rio T e o crático ”. O objetivo dessas duas reu n iõ es são os tre in a m e n to s, p o r m eio das quais as te ste m u n h a s d esen v o lv em seu p ro g ra m a de “ev an g elism o ”; 7. E , p o r fim , in c e n tiv a m o d e v o ta m e n to a Jeo v á p elo b a tism o . 167

16ob. cit., p. 82. 17Ibid.

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Evangelização das testemunhas de Jeová M u ito s líderes de igrejas tê m p e rg u n ta d o q u al deve ser a a titu d e dos cren tes ao receb er em casa u m a te s te m u n h a de Jeová. M u ita s vezes, esses irm ão s n ão estão d e v id a m e n te p re p arad o s p a ra d ialo g ar com elas. V isto que as te ste m u n h a s de Jeov á fazem p a rte d os g ru p o s n ão alcançad os p elo ev ang elho de Jesus C risto , p recisam ser evangelizadas. A m a n e ira m ais sim ples de realizar ta l tarefa (evangelizar as te ste m u n h a s de Jeová) é p o r m eio de fo lh eto s específicos. E x istem três tip o s, in titu la d o s: “E n s in o d iv in o ”, “O te m o r p ie d o so ” e “L o u v ad o res alegres”.

Ensino divino F oi o te m a d o congresso de d istrito das te ste m u n h a s de Jeová, realizad o em 1 9 9 3 .0 fo lh e to foi escrito em lin g u ag em sim ples, u sa n d o o estilo d a T o rre de V igia, co m a im p ressão n o p a d rã o d a o rg an ização , u m a v ez que as te ste m u n h a s de Jeo v á são p ro ib id as de receb er o u tras pu blicações. O te m a tra ta d o no referid o fo lh e to são as falsas profecias e, no final, tra z u m co n v ite p ara q ue as te ste m u n h a s de Jeo v á aceitem a Jesus C risto com S alv ado r pessoal.

Temorpiedoso F oi p re p a ra d o p a ra a evangelização das te ste m u n h a s de Jeo v á d u ra n te o congresso de d istrito , q ue receb eu o m esm o n o m e do fo lh e to e foi realizad o pelas te ste m u n h a s em 1994.

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S egue o m esm o p a d rã o d o fo lh e to an terio r. A b o rd a dois te m as: a ad o ração de Jesu s e a ressu rreição dos h a b ita n te s de S o d o m a. A s te ste m u n h a s d e Jeo v á a d o raram Jesu s até 1954, m as, d ep o is, a S o cied ad e T o rre de V ig ia resolveu m u d a r essa crença. A g o ra , as te ste m u n h a s d e Jeo v á são p ro ib id as d e ad o ra r Jesu s, c o n sid e ra n d o tal p rá tic a pagã. A ssim , co m o fica a situ ação das te ste m u n h a s d e Jeo v á que m o rre ra m a d o ra n d o Jesus até a d a ta d a pro ib ição ? O u tr o p o n to q u e abala as te ste m u n h a s de Jeo v á está relacio n ad o aos h a b ita n te s de S o d o m a. A S o cied ad e T o rre de V ig ia (S T V ) d eclara ser o ú n ico can al de co m u n icação en tre D e u s e o h o m e m ,18 aleg an d o receb er o rie n ta ç ã o te o c rá tic a e, ta m b é m , de ser o p ro fe ta d e Jeová. E n tre ta n to , várias vezes m u d a ra m o d e stin o dos h a b ita n te s de S o d o m a .19 N u m a p ub licação , afirm am q u e serão ressu scitad o s, m as, em o u tras, não. O erro, p o rta n to , é de Jeo v á ou d a o rg a n iz a *

ção? Isso p e rtu rb a as te ste m u n h a s de Jeová. E sobre isso q u e tra ta o re ferid o fo lh eto , te rm in a n d o co m u m co n v ite p ara aceitarem a Jesus.

Louvadores alegres E o novo fo lh e to específico p a ra a ev angelização das te ste m u n h a s d e Jeová. A b o rd a as três ú ltim a s m u d an ça s d a seita: a geração d e 1914, o ju lg a m e n to das nações e o serviço m ilita r altern ativ o. A le itu ra desse e dos o u tro s fo lh eto s parece n ão significar n a d a p a ra os evangélicos, m as abala p ro fu n d a m e n te as te ste m u n h a s de Jeová.

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E sses fo lh eto s são m u ito ú teis, ta n to p a ra ev an g elizar as te ste m u n h a s de Jeo v á co m o p a ra p re v en ir a Igreja. C a d a cren te deve levar consigo alguns fo lh eto s d e n tro d a B íblia. Q u a n d o u m a te s te m u n h a de Jeo v á b a te r à p o rta , a pessoa qu e fo r a te n d e r deve o ferecer tal fo lh eto . A te s te m u n h a de Jeová, sem d úvida, vai receber, p e n sa n d o tra ta r-s e de sua p ró p ria lite ra tu ra . E n tã o , essa p esso a será u m a fo rte c a n d id a ta a servir ao S e n h o r Jesus. Se ela desconfiar, o u se já co n h ece o tal fo lh eto , c e rta m e n te o recusará. D ia n te disso, o cren te p o d e p e rg u n ta r-lh e , d izen d o : “V ocê q u e r d istrib u ir a sua lite ra tu ra re cu san d o receb er a m in h a? Se você b a te r à p o rta do m e u v izin h o , eu irei em seg u id a o fe re c e r-lh e o fo lh e to q u e você esta recu san d o !”20

20Esses folhetos podem ser adquiridos pelo site www.icp.com.br.

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a p í t u l o

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M0RM0NISM0

U m a característica peculiar das religiões é alegar ter, com o p rin cip al fo n te de inspiração, a pessoa de D eu s. A ssim afirm am os m ó rm o n s, com o in tu ito de o b te r aceitabilidade do seu credo, baseados n a falsa acusação de que a Igreja de Jesus C risto , em d e te rm in a d a época, a b a n d o n o u a fé e se co rro m peu, havendo, então, a necessidade de a Igreja ser restaurada. A esse en sin o se d á o n o m e de apostasia geral. E sta re m o s av erig u an d o este assu n to m ais p ro fu n d a m e n te , b a se a n d o -n o s nas p ró p ria s p u b licaçõ es dos m ó rm o n s.

A origem A Ig reja d e Jesu s C risto dos S an to s dos Ú ltim o s D ia s foi fu n d a d a p o r Jo se p h S m ith Jú n io r, n ascid o em S h aro n , E s ta d o de V erm o n t, n os E sta d o s U n id o s, em 23 de d e z e m b ro de 1805. Jo se p h S m ith foi o q u a rto d os d e z filhos de Jo se p h e L u c y M a c k S m ith , crianças p o b re m e n te ed u cad as e, g eralm e n te , ded icad as a crenças e p ráticas su p ersticio sas.21

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A primeira visão Jo se p h S m ith d eclaro u que D e u s, o Pai, e seu F ilh o , Jesus C risto , ap areceram p a ra ele em 1820 e em fo rm a h u m a n a . A o d ialo g ar co m esses seres, p e rg u n to u -lh e s: “Q u a l de to d as as seitas é a v erd ad eira, a fim d e saber a q ual delas m e u n ir”, se n d o -lh e in fo rm a d o p o r u m desses p erso n a g en s “que não se u nisse a q u a lq u e r delas [igrejas], pois estav am to d as erradas [...] to d o s os seus credos eram ab o m in açõ es à sua vista; que aqueles religiosos eram to d o s c o rru p to s”.22 E n tã o , ele seguiu a o rie n ta ç ã o desses seres, sen d o in c u m b id o d e “re sta u ra r o v erd ad eiro ev an g elh o e sua au to rid a d e o rig in a l”. R eceb eu , ain d a, a v isita de u m anjo, em visão, que lh e revelou o local o n d e estavam esco n d id as alg u m as placas de ouro, p e rto d e P alm y ra, n o E sta d o d e N o v a York. D e s sas placas, “D e u s ” fez co m q u e Jo se p h S m ith fosse cap az de tra d u z i-la s e p ro d u z isse o L iv ro d e M ó rm o n , fu n d a m e n to do m o rm o n ism o . E ssa não deixa de ser u m a b ela h istó ria. M a s, q u em seriam esses p erso n a g en s q u e v e rd a d e ira m e n te ap areceram ao “p ro feta”Jo se p h S m ith . P o d e ría ser m esm o D e u s P ai e seu F ilh o Jesus? A s E sc ritu ra s c o n firm a m esse relato? Pois b e m , vam os averig uar os fatos. O ap ó sto lo P aulo, ao escrever ao seu discíp u lo T im ó te o , disse: “A q u e le q u e tem , ele só, a im o rta lid a d e e h a b ita na lu z inacessível; a q u em n e n h u m dos h o m e n s viu n e m p o d e ver; ao q u al seja h o n ra e p o d e r sem p itern o . A m é m ” ( lT m 6.16 ). P o r exclusão, co n clu ím o s q u e o ap ó sto lo se referia a D e u s P ai, pois o F ilh o , q u e é D e u s, foi visto p o r m u itas

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pessoas. O E s p írito S an to , q u e ta m b é m é D e u s (A t 5 .3 ,4 ), foi visto d escen d o co m o p o m b a e v in d o sobre Jesu s ( M t 3.1 6 ). Jo se p h S m ith escreveu a in d a q u e to d as as igrejas se ap o sta ta ra m e qu e “to d o s os seus credos fo ra m ab o m in açã o à sua vista”. À lu z d a B íblia, esse a c o n te c im e n to seria im possível. A fin al, foi o p ró p rio F ilh o de D e u s q u e m g a ra n tiu a ex istên cia d a Ig reja p a ra sem p re ao afirm ar que “as p o rta s d o in fe rn o não prev alecerão c o n tra ela” ( M t 1 6 .1 6 -1 8 ). A ssim , o evangelho an u n ciad o pelo fu n d a d o r do m o rm o nism o é o u tro evangelho, co n fo rm e o texto de G álatas 1.6-9.

A Igreja de Joseph Smith hoje O s m ó rm o n s acred itam que sua religião é a restauração da verdadeira Igreja, com seu sacerdócio e suas o rdenanças. D aí, o seu n o m e oficial: Igreja de Jesus C risto dos S antos dos Ú ltim o s D ias. N a igreja m ó rm o n , não h á distinção en tre clero e leigos. E m vez disso, a p a rtir dos d o ze anos, to d o ad ep to do sexo m asculino, d igno, p o d e ajudar a cuidar dos vários deveres da igreja, alcan çan d o o sacerdócio aos 16 anos. S

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A s fam ílias dos S antos dos Ú ltim o s D ias p articip am ativam en te nos p ro g ram as p atro cin ad o s p ela congregação em sua localidade, d e n o m in a d a “ala”. E m nível congregacional, os élderes, os bispos e os p resid en tes das estacas (distritos) su p er\is io n a m os assuntos b em org an izad o s d a igreja. U m conselho de 12 apóstolos, em S alt L ak e C ity, nos E stad o s U n id o s, tem ju risd ição m u n d ial. P o r fim , o p resid en te d a igreja, reverenciado com o p ro feta, v id en te e revelador, e dois conselheiros

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co m p õ em o corpo que governa a igreja, ch am ad o de “Q u o ru m da presidência” o u “P rim eira presidência”. V árias o rd e n an ças afetam a v id a dos m ó rm o n s devotos. O b atism o , p o r exem plo, que significa a rre p e n d im e n to e o b ed iên cia, p o d e o co rrer d epo is q u e o c a n d id a to c o m p le ta o ito anos de id ad e. O lav am en to e a u n çã o o p u rificam e co n sag ram . A ce rim ô n ia d o endowment (“in v estid u ra”) n o te m p lo envolve u m a série de co nvênios, ou p ro m essas, en tre elas, o in iciad o recebe u m a veste especial, p a ra ser u sad a em to d o m o m e n to , co m o p ro te ç ã o c o n tra o m al e com o le m b re te dos v oto s secretos assu m id o s. T a m b é m , u m casal de m ó rm o n s p o d e selar seu ca sa m e n to n u m te m p lo “p elo te m p o e p ela e te rn id a d e ”, p a ra q u e sua fam ília n ão seja d esfeita n o céu, o n d e o casal p o d e c o n tin u a r a te r filhos.

Doutrinas mórmons Há mais de um Deus verdadeiro? A B íblia é categ ó rica ao afirm ar que h á u m só D e u s vivo e verdad eiro, e q u e além dele n ão h á o u tro ( D t 6.4; Is 4 3 .1 0 ,1 1 ; 4 4 .6 ,8 ; 4 5 .2 1 ,2 2 ; 46.9; M c 1 2 .2 9 -3 4 ). A o co n trá rio , a igreja m ó rm o n en sin a q u e h á m u ito s deuses, e q u e os seres h u m a nos p o d e m v ir a ser deuses e deusas n o re in o celestial, com o está reg istrad o : “C o m o o h o m e m é, D e u s foi; co m o D e u s é, o h o m e m p o d e rá vir a ser”.23 A firm a m , ain d a, q u e “as E sc ritu ras d ec la ram q u e h á m u ito s deuses e m u ito s S e n h o re s”.24

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O Deus Paij á fo i homem como nós? A B íb lia afirm a q u e D e u s P ai é E sp írito (Jo 4.24; l T m 6 .1 5 ,1 6 ), qu e n ão é u m h o m e m com carn e e ossos co m o os m o rtais (N m 2 3.19; O s 11.9; R m 1.22,23) e que, de etern id a de a etern id ad e, sem pre existiu com o D eu s o n ip o ten te, o n ip resen te e onisciente (SI 90.2; 1 3 9 .7 -1 0 ; A p 19.6; M l 3.6). U m co n trassen so : a igreja m ó rm o n en sin a que D e u s “Pai nos céus passo u u m d ia p ela v id a e m o rte ”,25 que p ro g re d iu até to rn a r-s e u m a d iv in d ad e e, nessa co n d ição , c o n tin u a p o ssu in d o u m co rp o de carn e e osso. E m u m a d e suas lite ratu ras, está escrito q u e “o p ró p rio D e u s já foi co m o n ós som os; ou seja, agora E le é u m h o m e m exaltado, e n tro n iz a d o em céus distan tes! [...] v o u co n tar-v o s co m o D e u s veio a ser D eu s. T em o s im a g in a d o e su p o sto que D e u s é D e u s desd e to d o o sem p re. E u refu tarei esta id eia e re tira rei o véu, p a ra que possais en x e rg ar”.26 N o u tra lite ra tu ra , n os é d ito que “o P ai te m u m c o rp o de carn e e ossos, tangível, co m o o d o h o m e m ”.2/ P ara co m p letar, de fo rm a d esa rraz o ad a, o m o rm o n ism o en sin a q u e D e u s te m u m p ai, u m avô, e assim su cessiv am en te.28

Jesus e Satanás são espíritos irmãos f A s E scritu ras não deixam dúvidas de que Jesus C risto é o único d a espécie divina que to m o u fo rm a h u m an a. G erad o pelo Pai, u n ig ên ito , sen d o d a m esm a substância,29 é co etern o e coigual com o P ai (Jo 1 .1-14; 10.30; C l 2.9). A o co n trá rio , os m ó rm o n s e n sin am q u e Jesus C risto é

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o nosso irm ão m ais velho, e que p ro g re d iu até ch e g ar a ser u m “d e u s”, h a v e n d o p rim e iro sido g erad o co m o u m “filho e sp iritu a l” nos céus p o r in te rm é d io de “p ai e m ãe celestiais”. “Q u a n d o a v irg em M a ria co n ceb eu o m e n in o Jesu s, o P ai o tin h a g erad o à sua p ró p ria sem elh an ça. Jesu s n ão foi g erad o p elo E s p írito S a n to ”.30 S e g u n d o e n te n d e m os m ó rm o n s ,J e sus é fru to do re la c io n a m e n to de D e u s P ai com M a ria . C o m isso, a d o u trin a m ó rm o n afirm a q u e Jesu s e L ú c ife r são irm ão s.31

Deus é uma triunidade? A P alavra de D e u s en sin a q u e o Pai, o F ilh o e o E sp írito S a n to n ão são três “d eu ses”, m as, sim , três P essoas d istin ta s que fo rm a m a u n id a d e c o m p o sta d ivina, a q u al ch a m a m o s de T rin d a d e . P a ra m e lh o r co m p re en são d o co n c eito bíblico d a n a tu re z a de D e u s, u sarem o s o v o cáb u lo triunidade’2 em lu g ar de T rin d a d e . O te rm o triu n id a d e tra n sm ite a id eia de que D e u s é u m só, ao m esm o te m p o em q u e co n siste em trê s Pessoas. E m várias passagens d o N o v o T e sta m e n to , o Pai, o F ilh o e o E sp írito S an to são id en tificad o s sep a rad am e n te co m o D e u s

Espírito Santo:

(Filho: M c

2 .5 -1 2 ; Jo 2 0 .2 8 ; F p 2 .1 0 ,1 1 .

A t 5 .3 ,4 ; 2 C o 3 .1 7 ,1 8 ; 1 3 .1 4 ). A o m esm o

te m p o em q u e as E sc ritu ra s e n sin a m q u e existe u m só D e u s ta m b é m ev iden cia q u e esse ú n ico D e u s é T rin o ( D t 6.4; Is 4 3 .1 0 ,1 1 ; 4 4 .6 ,8 ; 4 5 .2 1 ,2 2 ; 46.9; M c 1 2 .2 9 -3 4 ). D ista n c ia n d o cad a vez m ais d o cristian ism o p rim itiv o , o fu n d a d o r d a igreja Jesu s C risto d os S an to s dos Ú ltim o s D ias

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sem p re e n sin o u q u e o Pai, o F ilh o e o E s p írito S a n to são três “d eu ses” sep a rad o s,33 c o n fu n d in d o o P ai co m o F ilh o , com o se lê: “N o ssas escritu ras e n sin a m q u e Jesus C risto é ta n to o Pai co m o o F ilh o ”.34

O pecado de Adão e E vafoi um grande mal ou uma grande bênção? A d eso b e d iê n cia d o h o m e m tro u x e co n seq u ên cias p ara to d o o p la n e ta T erra. F oi u m g ra n d e m al, p o rq u e , p o r m eio desse a c o n te c im e n to , o p ecad o e n tro u n o m u n d o , su b m e te n d o to d o s os seres vivos à co n d e n ação e à m o rte etern a. A ssim , to d o s os seres h u m a n o s n ascem co m a n a tu re z a p ec am in o sa , e to d o s serão ju lg ad o s pelos p ecad o s q u e c o m e te m , in d iv id u alm en te (E z l 1 8 .1 -2 0 ; R m 5 .1 2 -2 1 ). E m d e sa rm o n ia com as E sc ritu ra s, a Ig reja m ó rm o n e n sina que o p ecad o de A d ã o “foi u m a b ên ç ão d isfarçad a”. E , ainda: “Q u a n d o A d ã o foi expulso d o J a rd im d o É d e n , o S en h o r im p ô s u m a sen ten ça. A lg u m as pessoas tê m co n sid erad o essa se n te n ç a co m o terrível. P ois n ão foi: foi u m a b ê n ç ã o ”.35

A Bíblia é a única e definitiva Palavra de Deus? O s cristãos tê m crido, através d os te m p o s, q u e a B íb lia é a ú n ic a reg ra de fé e p rá tica , final e infalível P alavra d e D e u s (2 T m 3.16; H b 1.1,2; 2 P e 1.21). A preserv ação p ro v id en cial, p o r p a rte d e D e u s, d o tex to b íb lico te m sido m ara v ilh o sam e n te co n firm a d a p ela arq u eo lo g ia e p ela h istó ria , a ex em plo da d esc o b erta dos rolos do m a r M o r to .36 A o co n trá rio , a Ig reja m ó rm o n en sin a q u e a B íb lia foi

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ad u lte ra d a e, p o r isso, p e rd e u m u ita s de suas v erd ad es e n ão c o n té m o ev an g elh o em to d a a sua p le n itu d e , aleg an d o “que n e n h u m a pesso a co m in telig ê n cia p o d e ria ser levada a aceitá -la lite ra lm e n te ”.353637 P o u co te m p o d ep o is de o rg a n iz a r a Ig reja m ó rm o n , J o sep h S m ith in icio u u m a revisão das E sc ritu ra s, e n te n d e n d o que: “Pelas várias revelações receb id as, n ão h á dúvidas de que m u ita s p arte s cap itais c o n c e rn e n te s à salvação d o h o m e m fo ra m tirad as d a B íb lia o u p erd id a s, an tes de serem co p ilad as”.38 T u d o isso p a ra afirm ar “q u e o L ivro de M ó rm o n é a P alavra de D e u s ”,39 d esq u alifican d o as E sc ritu ra s S agradas.

35SMITH, Joseph Fielding. D o u tr in a s d e sa lv a ç ã o , vol. 1, SUD, p. 123. liv ro de M órmon, 2 Néfi 2.22-25 36Doutrina da Bíblia, vol. 1. 37SMITH, Joseph Fielding. D o u tr in a s d e sa lv a ç ã o , vol. 3, SUD, p. 190-1. 38SMITFí, Joseph Fielding. E n s in a m e n to s d o p r o fe ta J o se p h S m ith . SUD, p. 12. 39R e g r a s d e F é , n° 8.

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Considerações A p re se n ta m o s os desvios d o u trin á rio s dessas d u as seitas p ro féticas. T o d av ia, ex istem m u ita s o u tras q u e, em su m a, tê m as m esm as d o u trin a s. P ara u m m e lh o r a p re n d iz a d o sobre seitas e heresias, in d icam o s o C u rso de A p o lo g ética, p elo I P C do B rasil.

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En c ic l o p é d ia

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VOLUME 2

D E N N E T T , W . D . Ganhe os muçulmanos para Cristo. São Paulo: E d ito ra S epal, 1993. D O U G L A S , J. D . 0 Novo Dicionário da Bíblia. 2 a ed. São Paulo: E d içõ es V id a N o v a, 1997. F R A N G I O T T I , R o q u e. História das heresias. São Paulo: E d ito ra P au lu s, 1995. G E E R , T h elm a G ran n y . Porque abandonei 0 mormonismo. São Paulo: E d ito ra V id a, 1991. G E I S L E R , N o rm a n L . e R H O D E S , R o n . Respostas às

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2003.

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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En c i c l o p é d i a

J E R E M I A H , D a v id e C A R L S O N , C . C . Invasão de deu-

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ESTUDOS DE TEOLOGIA

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_________ . Mormonismo. P u e rto R ico: E d ito ria l B etân ia, 1982. _________ . O império das seitas. Vol. I. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . 0 império das seitas. Vol. II. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . O império das seitas. Vol. III . M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1992. _________ . 0 império das seitas. Vol. IV. M in a s G erais: E d ito ra B etân ia, 1993. M A R T I N S , Jaziel G u erreiro . Seitas: heresias d e nosso tem p o . C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. M A T H E R , G e o rg e A . e N I C H O L S , L a rry A . Dicioná-

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munhas de Jeová? R io d e Jan e iro : C e n tro de P esquisas R eligiosas, 1995.

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en c iclo péd ia

_________ .As testemunhas deJeová eJesus Cristo. São Paulo: E d ito ra V id a, 2 0 0 3 . _________ . As testemunhas de Jeová e 0 Espírito Santo. São Paulo: E d ito ra V id a, 2 0 0 3. M I L T O N , S.V .A verdade sobre 0 sábado. C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1996. _________ . Conhecendo a Congregação Cristã no Brasil. C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1995. _________ . Conhecendo os cultos afros. C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1999. _________ . Espiritismo. C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1996. O L IV E IR A , R a im u n d o F. de. Seitas e heresias‫׳‬, u m sinal dos tem p o s. R io d e Jan eiro : C P A D , 1987. O L S O N , R oger. História da Igreja cristã. São Paulo: E d ito ra V id a, 20 0 1. P A T Z IA , A r th u r G e P e tro tta , J. Dicionário de estudos bí-

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plicativo. Vol. 2. São P aulo: E d ito ra C a n d e ia , 1995. D o m in g u e s. As doutrinas mórmons.

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C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. S IL V E IR A , H o rá c io . Santos padres e santos podres. P a ra ná. S M I T H , Jo se p h F ie ld in g . Doutrinas de salvação. Vol. 1. S U D , 1994. S M I T H , Jo se p h . Ensinos do profeta José Smith‫׳‬, São Paulo: SUD. S O A R E S , R . R . Osfalsos profetas. E d ito ra G raça. S T A M P S , D o n a ld C . Bíblia de Estudo Pentecostal. R io de Jan eiro : C P A D , 1996. T A L M A G E , Ja m e s E . Um estudo das regras de Fé. São P aulo: M issã o B rasileira, 1958. T O N I N I , E n éa s e B E N T E S , Jo ã o M a rq u e s .Janelas para 0 Novo

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En c i c l o p é d i a

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batina? C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1997. V A N B A A L E N , J.K . O caos das seitas: u m estu d o sobre os “ism os” m odernos. São Paulo: Im p re n sa B atista R egular, 1986. W O O T T O N , R . F. Muçulmanos que encontraram a Cristo. São Paulo: E d ito ra S epal, 1987.

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S eitas se c r e t a s

INTRODUÇÃO

São in titu la d a s d e “seitas secretas” p o rq u e não revelam seus en sin o s a n in g u é m , salvo àqueles qu e ad e rem às suas d o u trin a s. N o B rasil, as seitas secretas m ais co n h ecid as são: m aço n aria, O rd e m ro sacru z, teosofia. N esse breve estu d o , visam os fo rn e c e r alg um as ca racterísticas dessas seitas, p a ra qu e o aluno, p ela lu z d a teo lo g ia cristã, possa avaliá-las e d e m o n stra r a q u em q u e r q ue seja qu e as seitas d o p re se n te e as heresias do passad o se a p re se n ta m co m ro u p a g em nova, m as co n se rv an d o su b jacen te c o n te ú d o h erético , co m a m an ip u lação d a falsa h e rm e n ê u tic a e o u tro s aspectos in co m p atív eis co m a fé cristã e bíblica. A o té rm in o d o estu d o , fica ev id en te q u e o objetivo das seitas em g eral é co m u m , o u seja, fazer p ro sélito s, tira r as pessoas de sua realid ad e e tra n sfo rm á -la s em in stru m e n to s do g ru p o , p a ra fin alid ad es b e m d iferen tes d aqu elas p ro p o stas pelo cristian ism o . P ara u m estu d o m ais d e ta lh a d o e a p ro fu n d a d o de cada seita secreta aqui citad a, n o final o alu n o e n c o n tra rá u m a farta b ib lio g rafia, em q u e p o d e rá c o n su lta r o u tras obras vo ltad as aos assuntos.

C

a p í t u l o

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MAÇONARIA

Você, am a d o aluno, o cu p a u m a p o sição d e d estaq u e n a sociedade? E in d u stria l, co m ercian te, b an q u e iro , m éd ico , a d vogado, político? Pois, en tão , c e rta m e n te já foi co n v id ad o a e n tra r na m aço n aria. Se n ão foi, será em breve so licitad o p ela p ro p a g a n d a m açô n ica. F a la r-te -ã o das im en sas v an tag en s que os m aço n s de to d o o m u n d o o ferecerão aos teu s n eg ó cios, d a p ro teç ão q u e d arão ao te u em p reg o , das facilidades dos e m p ré stim o s, e n tre o u tras. D ir - te - ã o que a m a ç o n a ria é u m a in stitu iç ã o essencialm e n te caritativ a, filan tró p ica, filosófica e p ro g ressista; que te m p o r o b jeto a in d ag ação d a v erd ad e, o estu d o d a m o ra l e a p rá tic a da so lid aried ad e; q u e ela q u e r tra b a lh a r ap en as p a ra o m e lh o ra m e n to m a te ria l e social d a h u m a n id a d e . D e m o n stra rã o q u e a m a ç o n a ria re co n h ece e p ro c la m a a existência de D e u s, a su p e rio rid a d e d o esp írito sobre a m a té ria e que, p o r isso, n e n h u m ateu o u m a te ria lista p o d e ser m aço m . F ris a r-te -ã o que a m a ç o n a ria n ão é, de m a n e ira n e n h u m a , c o n tra a religião de seus ad ep to s; q u e n ão h á ab so lu ta m e n te n e n h u m a in c o m p a tib ilid a d e e n tre m a ç o n a ria e cristian ism o . F a la r-te -ã o q u e p asto res, p resb ítero s e d iáco n o s

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ilustres p e rte n c e ra m à m a ç o n a ria sem q u e nisso p erceb essem a m ín im a co n tro v érsia c o n tra sua fé e suas convicções cristãs. M o s tra r- te -ã o leis e ritu ais em q u e se exige q u e o v erd ad eiro m aço m seja v irtu o so , exem plar, de b o n s co stu m es, m o rto p a ra o vício, sem erros n e m p re co n ceito s, o b serv a n te d o b em , sábio, in te lig e n te , livre, to le ra n te , sincero, caridoso, d e sin te ressado, g en ero so , d ev o tad o , pacífico, irm ão de to d o s... E n tre ta n to , an tes d e a c red itar em to d as essas co m o v en tes, lin d as e a tra e n te s afirm ações, peço sua aten ção p ara, ju n to s , d isco rrerm o s a re sp eito d a qu estão: o cristão p o d e ser m açom ? A

E possível co n ciliar essas du as d o u trin a s? E ssa q u estão é extre m a m e n te im p o rta n te , afinal, se fo rm o s co n v id ad o s p ara fazer p a rte da m aço n aria, p recisam o s saber d o q u e irem os p articip ar, já que te m o s u m co m p ro m isso co m a Ig reja de C risto . P recisam o s, p o rta n to , e stu d a r as d o u trin a s m açô n icas, p a ra d iscern irm o s se esta é o u n ão u m a e n tid a d e cristã.

D o u tr in a m a çô n ica e d o u trin a ev a n g élica T a n to s os ad ep to s co m o a p ró p ria seita p ro c u ra m co n te sta r o fato de q u e a m a ç o n a ria seja u m a religião. T o d av ia, b asta u m a le itu ra superficial d e seus escrito s, dos m ais re n o m ad o s au to res, p ara se ev id en ciar características de religião n a m aço n aria. V ejam os:

Cristianismo N o D ic io n á rio F ilosófico de M a ç o n a ria , de R izzard o da C a m in o , m e m b ro fu n d a d o r d a A c a d e m ia M a ç ô n ic a de L e -

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tras, e n c o n tra a seg u in te d efin ição p a ra cristian ism o : “A re ligião cristã, em si, não é adotada pela m açonaria, m as, sim , os princípios cristãos. A m açonaria, adotada em todos os países, proclam a a existência de D eu s sob o n o m e de G ra n d e A rq u iteto do U niverso; não im p o rta a religião que o m açom siga, o que im p o rta é a crença n o A bsoluto, no P o d er D ivino, em D eu s, seja qual for o no m e que se lhe der, com o Jeová o u A lá”.35 A ssim , o co n ceito d e D e u s nos escritos d a m a ç o n a ria é u m a m istu ra de tu d o : g n o sticism o , h in d u ísm o , tao ísm o , z o ro astrism o , ilu m in ism o , cristian ism o lib eral e N o v a E ra . V erifica-se, co m isso, q u e a m a ç o n a ria n ão a d o ta o cristian ism o e n ão aceita a ex istên cia d o n osso S e n h o r co m o o ú n ico D eu s. N e g a r a cren ça n o G ra n d e A rq u ite to d o U n iv erso (G A D U ) é im p e d im e n to ab so lu to p a ra a iniciação n a m aço n a ria, e n tre ta n to , é in d ife re n te à cren ça em Jesu s C risto o u em B uda. N ã o vem os declaraçõ es de q u e Jesus é o F ilh o d e D e u s. Se a m a ç o n a ria é u m a religião, m as n ão é o cristian ism o , u m cristão p o d e p e rte n c e r a du as religiões? P o d e servir a dois sen h o res, ao “V enerável M e s tre ” (títu lo d o líd e r d a loja) e a Jesus? O M e s tre d a G alileia m esm o disse q u e “n in g u é m p o d e servir a dois sen h o res, p o rq u e o u h á de o d ia r u m e am ar o o u tro o u se d e d ica rá a u m e d esp re zará o o u tro ...” ( M t 6.2 4 ), p ro ib in d o ta m b é m seus discípulos d e c h a m a re m alg u ém de m estre ( M t 2 3 .8 -1 0 ). O s m aço n s m u d a ra m o n o m e d o D e u s v erd ad eiro p ara G A D U (G ra n d e A rq u ite to d o U n iv erso ). D ev e m o s o b serv ar que este é u m n o m e p ró p rio , escrito co m letras m aiúsculas, e

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n c i c l o p é d i a

não apenas u m adjetivo. E m algum lug ar da B íblia, o S en h o r foi ch am ad o desta fo rm a o u m an ifesto u algum desejo de ser ch am ad o assim ? T em o s nós, o d ireito de m u d a r o n o m e de D eus? T em o vaso o d ireito de m u d a r o n o m e do oleiro? (Jr 18.6; R m 9.20,21; 11.34,35; Jó 41.11). O m aço m p o d e cham a r nosso S e n h o r Jesus C risto de G A D U n a Igreja? O cristão p o d e o rar e m n o m e d e Jesus n a L o ja m açônica? E stas questões devem ser b e m analisada pelos cristãos m ais desatento s.

Juramento In d e p e n d e n te do rito (seja escocês, a d o n ira m ita o u fra n cês), a m a ç o n a ria exigirá de seus in iciado s ju ra m e n to s pelos quais se c o m p ro m e te rã o a g u a rd a r inviolável tu d o q u a n to vira m , o u v iram o u fique d elib erad o nas sessões das L o jas ou nas reu n iõ es secretas dos m açons. O c h a m a d o “R ito E scocês A n tig o e A c e ito ”, o m ais ad o tad o , p o r 95 % das L o jas m açô n icas do B rasil, se divide em 33° graus e em cad a g ra u o m a ç o m deve p ro n u n c ia r u m novo ju ra m e n to . N esse R ito , o in ician te, c h a m a d o d e “a p re n d iz ” ( I o g rau ), deve a ju ra m e n ta r q u e “n u n c a revelará q u a lq u e r dos m isté rios d a m a ç o n a ria q u e vão lh e ser con fiado s [...] n u n c a os escrever, gravar, traçar, im p rim ir ou em p re g a r o u tro s m eios pelos quais po ssa d iv u lg á-lo s”. Sob a p e n a lid a d e de te r “sua g a rg a n ta co rta d a, sua lín g u a arra n c a d a p elo n a riz e seu co rp o e n te rra d o nas areias ásperas da p raia, com m aré baixa, o n d e as águas so b em du as vezes p o r dia, se ele co n sid erav elm en -

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e s t u d o s de t e o l o g i a

VOLUME 2

te v io lar seu co m p ro m isso d e In iciação d e A p re n d iz ”.36 N o 2 o g rau , co n h e c id o co m o “c o m p a n h e iro ”, a pessoa p ro m e te e ju ra “n u n c a revelar aos A p re n d iz e s os segredos d o g ra u de C o m p a n h e iro , q u e m e vão ser co n fiad o s”, sob p e n a d e “te r o coração arra n c a d o ”; ta m b é m n o 3 o g rau , co n h e cid o com o “m e stre ”, ele a ju ra m e n ta q u e p refere te r d iv id id o o co rp o ao m eio e ver suas e n tra n h a s arran cad as e red u zid as a cinzas a “revelar os segredos d o g ra u d e M e s tre ”. Pois b em , aqui se e n c o n tra a p rim eira razão evidente, p recisa, im p o sta pela lógica em que se percebe a fro n ta l oposição en tre a d o u trin a m açô n ica e a evangélica. A Igreja de C risto e sua d o u trin a de u m lado e a m aço n aria e sua d o u trin a de o u tro. C o m o se percebe, são dois cam pos opostos, pois, n o cristianism o, as E scritu ras dizem : “M a s, so b retu d o , m eus irm ãos, não jureis n em pelo céu n em pela terra, n em façais q u alq u er o u tro ju ra m e n to ; m as que a vossa palavra seja sim , sim e não, não, p ara que não caiais em co n d en ação ” (T g 5.12), e n q u a n to que, na m aço n aria, não se adere sem ju ra m e n to s. São duas sociedades irreconciliáveis em suas d o u trin as: o u segue-se à Igreja, co m p rad a pelo sangue d e Jesus C risto (A t 2 0 .2 8 ), ou à m açonaria.

A Bíblia N ão se p o d e n eg ar que a B íblia seja reco n h ecid a com o o v olum e do co n h e cim e n to sagrado d a m aço n aria, desde que a L o ja m açônica esteja situ ad a n u m país cuja m aio ria seja cristã. C aso a L o ja se situe em país, p o r exem plo, de m aio ria m u çu l-

Es t u d o s

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T eo logia

621

E

n c i c l o p é d i a

m an a, o v olum e do co n h e cim e n to sagrado já será o u tro livro, o A lcorão. Se a L o ja estiver n u m país asiático com o a C h in a ou o Japão, já será o T rip itaca, e assim p o r dian te. Isso co n traria a posição cristã que ad o ta a B íblia com o ú n ica regra de fé e prática. A B íb lia é m ais q u e u m livro co m u m . E la se revela com o sen d o a P alav ra so b re n a tu ra l de D e u s. A B íb lia é a P alavra de D e u s, escrita co m palavras h u m a n a s. D e u s u so u h o m e n s falíveis p a ra receb er e re g istra r a sua P alavra infalível, de m o d o que ela chegasse até n ós sem erros. P arece difícil? N ã o p a ra o D e u s T o d o -P o d e ro so , qu e diz: “E is q ue sou o S en h o r, o D e u s de to d o s os viventes; acaso h av ería coisa d e m a sia d a m e n te d ifícil p a ra m im ? ” (J r 3 2 .2 7 ).

Jesus Cristo B u scan d o n o Dicionário de maçonaria, de Jo a q u im G e rvásio de F ig u eired o , 33° g rau , e no Dicionário filosófico de

maçonaria, de R izzard o d a C a m in o , 33° g rau , in fo rm açõ es acerca d e Jesu s C risto , v erificou -se om issão quase qu e to ta l de in fo rm aç õ es a esse respeito. J. S c o tt H o rre ll afirm a que: “A d m itin d o sua p ró p ria relig io sid ad e, a m a ç o n a ria ex p licitam e n te p ro íb e o evangélico de falar de Jesus C risto n a L o ja, e as in te rp re ta ç õ e s evangélicas dos sím bo los m açô n ico s são, m u ita s vezes, escarn ecid as”.37 E m b o ra as reu n iõ es m açô n icas in c lu a m orações, é ab so lu ta m e n te p ro ib id o o ra r em n o m e de Jesus. N o Dicionário de maçonaria, n o v erb ete “R elig ião ”, diz:

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Es t u d o s

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T eologia

VOLUME 2

“T o d o s eles fo ra m u n â n im e s em p ro c la m a r a p a te rn id a d e de D e u s e a fra te rn id a d e d os h o m e n s. T a l foi, em essência, a m e n sa g e m de V yâsa, H e rm e s T rism eg isto , Z a ra th u s tra , O r feu, K rish n a, M o isés, P itá g o ra s, P la tã o , C risto , M a o m e t e o u tro s”.38 N o ritu a l d o 32° g rau , d o “R ito escocês”, existe u m cerim o n ia l em q u e são “ouvidas nove v o zes”, a saber: d e C o n fiicio, de Z a ra tu s tra , de B u d a, de M o isés, de H e rm e s T rim e gisto, de P latão , d e Jesu s, de M a o m é e “A q u ele d o A m a n h ã ” (não é revelado o d o n o d a ú ltim a v o z).39 S e g u n d o o m a ç o m Ja c k H a rris , “to d a s as o rações nas L o jas m açô n icas d ev em ser d irig id as à d e id a d e a q u al to d o s os m aço n s se referem co m o o G ra n d e A rq u ite to d o U n iv erso ”. “A s orações nas L o jas d ev em ser en cerrad as co m expressões co m o lo ra m o s n o M a is S a n to e P recio so n o m e ’, sem u sar o u tras palavras que estejam em co n flito co m as crenças re ligiosas dos p re se n tes nas re u n iõ e s”.40 O q ue se p erceb e é q u e a m a ç o n a ria n ão a d o ta o cristian ism o e n ão aceita a ex istên cia d o n osso S e n h o r co m o o ú n ico D e u s. Jesus é apenas m ais um !

GADU P o d e -se te r id eia de co m o é u m a religião a p a rtir d e seu deus. S en d o este o m arco d e u n ião o u d ista n c ia m e n to en tre o cristian ism o e q u a lq u e r o u tra religião. A in c o m p a tib ilid a d e se to rn a flag ran te co m relação ao deu s d a m a ç o n a ria c h a m a do G ra n d e A rq u ite to d o U n iv erso (G A D U ) e o D e u s d a h e -

Es t u d o s

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ENCICLOPÉ DIA

ra n ça ju d a ic o -c ristã ( YH W H ). S e g u n d o o en sin o d a p ró p ria seita, G A D U é o n o m e p elo qual, n a m aço n aria, se d e n o m in a q u a lq u e r d iv in d ad e: K rish n a, A lá, Jeová, etc.41 P o rta n to , G A D U é apenas o n o m e de u m dos m u ito s deuses, in d e p e n d e n te m e n te de q u e m seja. F ica ev id en te e in co m p atív el co m a convicção de u m cristão que a d o ra o ú n ico D e u s, que do m o n te S in ai trovejou: “N ã o terás o u tro s deuses d ia n te de m im . N ã o farás p a ra ti im ag em de escu ltu ra, n e m algu m a sem elh an ç a d o q u e h á em cim a n os céus, n e m em baixo n a te rra , n e m nas águas debaixo da terra. N ã o te en cu rv arás a elas n e m as servirás; p o rq u e eu, o S en h o r , te u D e u s, sou D e u s zeloso, q u e visito a m a ld ad e dos pais nos filhos até a terc eira e q u a rta geração d aq u eles q u e m e ab o rrecem e faço m isericó rd ia em m ilh ares aos qu e m e am am e g u a rd a m os m eus m a n d a m e n to s ” (Ê x 2 0 .3 -5 ).

O nome secreto de Deus E xiste u m a len d a m açô nica q u a n to ao verdadeiro n o m e de D eu s, que teria sido p erd id o pelo artesão H ira m A bif, d u ra n te a constru ção do tem p lo de Salom ão. E xistem in ú m eras referências a H ira m A b if nas obras m açônicas, p rin cip alm en te na len d a do terceiro g rau .42 E ste n o m e p erd id o foi, p o ste rio rm e n te, descoberto, to rn a n d o -se u m segredo revelado no m ais alto g rau d a m açonaria. S endo, p o rta n to , d o co n h e cim e n to apenas dos m açons. O n o m e secreto de D eu s que so m en te os m açons m ais adiantado s p o d e m saber é J A B U L O M , u m a m istu ra de Jeová, B aal e O síris.

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

VOLUME

2

D iverso s ex -m a ço n s co n firm a m esta d o u trin a m açô n ica sobre o n o m e de D e u s 43 e q u e p o d e ser co n firm a d a n a “C o il’s M a so n ic E n c y c lo p e d ia ”.44 J. S c o tt H o rre ll ta m b é m c o n ta so b re este n o m e secreto de D eu s: “N o g ra u d o R eal A rco , do R ito de Y ork, q u a n d o o m aço m su p o sta m e n te e n c o n tra a A rc a d a A lia n ç a p e rd id a nas ru ín as d o te m p lo salo m ô n ico , d esco bre o v erd ad eiro n o m e d e D e u s co m o sen d o J A B U L O M ”. T al n o m e, co n fo rm e o p ró p rio C o ils e vários o u tro s escrito res m açô n ico s, é u m a associação de Jahweh (Jeo v á do A n tig o T e sta m e n to ), Baal ou Bel (o deus ca n an ita ) e Om (O síris, o d e u s-so l d o E g ito ). 45 O c ris tã o q u e a c re d ita n u m D e u s ú n ic o n ã o p o d e a c e ita r a m is tu r a q u e os m a ç o n s fiz e ra m , p r in c ip a lm e n te p e la u n iã o c o m B a a l, p a r a o q u a l os h e re g e s sa c rific a v a m c ria n ç a s ( J r 3 2 .3 5 ) e c u jo c u lto fo i c o n d e n a d o e m to d a a B íb lia ( J r 7 .9 ,1 0 ; J z 6 .2 5 ,2 6 ). S e g u n d o a lg u n s te ó lo g o s , o n o m e B e lz e b u é d e riv a d o d e B a a l (B a a lz e b u ), p o rq u e o d e u s B a a l e ra tã o s a tâ n ic o q u a n to o p r ó p r io d ia b o ( M t 1 2 .2 4 ) .46 N ã o h á a m e n o r p o s s ib ilid a d e d e u n ir o C r ia d o r (D e u s T o d o - P o d e r o s o ) c o m su a c r ia tu r a (S a ta n á s ), p o r q u e n ã o h á c o m u n h ã o e n tr e a lu z e as tre v a s. C o m relação a O síris, existe u m m ito egípcio que d iz que ele foi m o rto p o r Set, seu irm ão m au , e seu corpo foi co rtad o em pedaços. Isis, a p rin cip al deusa do E g ito , reu n iu as partes p ara re co m p o r-lh e a vida, m as não en c o n tro u seu órgão re p ro d u to r e a ten tativ a de ressurreição falh o u .47 C o in cid ên cia ou não, a len d a de O síris lem b ra a de H irã o A bif, o h eró i m açô n i-

Es t u d o s

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T e o l o g ia

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En c ic l o p é d ia

co: am b os eram filhos d e viúvas, fo ra m m o rto s, tiv eram u m a te n ta tiv a de ressu rreição e tin h a m alg u m a coisa p erd id a: A b if p e rd e u a “p alav ra d o m e stre ” e O síris, o falo. O n o m e J A B U L O M n ad a m ais é d o que u m a com provação da d o u trin a p an teísta a d o tad a p ela m açonaria. P an teísm o é a teo ria de que “tu d o é deu s”. A m aço n aria reconhece q u alq u er

“ser” com o sen d o divino: A lá, B uda, O síris, etc. O nosso Senhor, en tre ta n to , é u m D e u s único, e d e m o n stra n a B íblia que não q u er ser co m p arad o com B aal n e m com deuses de Faraó: “O s sacerd o tes n ão d isseram : O n d e está o S en h o r? E os que tratav a m d a lei n ão m e c o n h e c e ra m , os p asto res p rev arica ram c o n tra m im , os p ro fe tas p ro fe tiz a ra m p o r B aal e a n d a ra m atrás de coisas de n e n h u m p ro v e ito ” (J r 2.8 ). “T a m b é m d e stitu iu os sacerd o tes q u e os reis de J u d á estab eleceram p ara in cen sa rem sobre os altos nas cidades de Ju d á , e ao re d o r d e Jeru sa lém , co m o ta m b é m os que in c e n savam a B aal, ao sol, e à lua, e aos m ais p lan etas, e a to d o o exército dos céus” (2R s 2 3 .5 ). “S e n te n ç a c o n tra o E g ito . E is que o S en h o r, cavalgando n u m a n u v em ligeira, v em ao E g ito ; os íd o lo s d o E g ito estrem ec erão d ia n te dele, e o coração dos egípcios se d e rre te rá d e n tro n eles” (Is 19.1).

0 diabo é uma invenção humana E n c o n tra m o s , em v ário s d ic io n á rio s m a ç o n s, d eclaraçõ es de qu e o d ia b o n ã o p assa de u m a in v en çã o h u m a n a , c o n fo rm e p assam o s a expor:

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Es t u d o s

d e

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VOLUME

2

“N a realid ad e, o d iab o é criação h u m a n a e ele se m an ifesta pelos p e n sa m e n to s q u e o rig in a m atos nocivos. M a ç o n ic a m e n te , n ão é c o n sid e ra d o ”.48 “E s tá claro q u e S atan ás re p re se n ta a d esco n fian ça e falta de fé do h o m e m p a ra co m D eu s; n ão é u m p e rso n a g e m real, m as u m estad o d e esp írito d o h o m e m ”.49 “S atã é ap en as u m a g ro tesc a p erso n ificação das te n d ê n cias, forças o u p o larid ad e s o p o stas d a n a tu re z a ”.50 G rav e erro é su b e stim a r as forças d o in im ig o . D iz e r q u e o d iab o é invenção h u m a n a é o m esm o q u e d iz e r q u e ele n ão existe. E n tre ta n to , as E sc ritu ra s, q u e é o L iv ro in sp ira d o p o r D e u s, c a te g o ric a m e n te d ec la ram q u e este ser existe e alerta os fiéis p a ra “sede só b rio s e vig ilan tes. O diabo, vosso a d versário, a n d a em d erred o r, co m o leão q u e ru g e p ro c u ra n d o alg u ém p a ra d e v o ra r” ( l P e 5.8). U m a ca racterística d o d iab o é q u e ele n ão é criativo: ele im ita. U m ex em p lo dessa sua falta d e criativ id ad e é a missa

negra do satan ism o : u m a p a ró d ia d a m issa d o cato licism o ro m a n o , o n d e é co lo cad o sobre o altar u m sím b o lo d o b o d e e os p a rtic ip a n te s ficam n u s, as h ó stia s são p ro fa n ad as e as orações p ro n u n c ia d a s de trás p a ra fre n te 51 N a m aço n aria, existem alg u m as sem elh an ças com a Ig reja de C risto , p a ra c o n fu n d ir os n eó fito s. A iniciação é sem elh a n te a u m b atism o , a ceia d o 18° g ra u é u m a có p ia d a S an ta C eia, m as, talvez, a m a io r có p ia cristã seja a seguinte: q u a n d o fazem u m local sagrado, o n d e fica o V enerável M estre , os in iciantes não p o d e m pisar, o q u e é sem elh an te ao lu g ar “S anto

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E

n c i c l o p é d i a

dos S an to s” do tab ern ácu lo (Ê x 2 6 .3 3 ,3 4 ; 2 C r 3 .8 -1 0 ). Precisam os to m a r cuidado q u an d o alguém quiser su b stitu ir os átrios do S e n h o r p o r átrios feitos p o r m ãos h u m an as, sem a presença do nosso único e suficiente Salvador, que é Jesus, po rq u e isto p o d e ser o b ra do m alig n o (A t 7 .4 8 -5 1 ; 2T s 2.4). O ap ó sto lo P au lo d eclaro u q u e sua m issão era desviar os h o m e n s do p o d e r d e S atan ás, le v a n d o -o s a D e u s (A t 2 6 .1 8 ). O m e sm o ap ó sto lo fez u m alerta: n ão só o d iab o existe com o ta m b é m to d o s aqueles q u e a d o ra m a o u tro s deuses estão na v erd ad e a d o ra n d o d em ô n io s: “Q u e digo, pois? Q u e o sacrificado ao íd olo é alg u m a coisa? O u q u e o p ró p rio íd o lo tem algum valor? A n te s, d ig o q u e as coisas que eles sacrificam é a d e m ô n io s q u e as sacrificam , e n ão a D e u s; e eu n ão q uero q ue vos to rn e is associados aos d e m ô n io s” ( I C o 1 0 .1 9 ,2 0 ).

Graus da maçonaria A

E co n sid erad o m aço m to d o aquele que p assar pelos três p rim eiro s graus: “a p re n d iz ”, “c o m p a n h e iro ” e “m e stre ”. O s graus do R ito E sco cês estão d iv id id o s em q u a tro séries: G ra u s sim bólicos, d o I o ao 3 o; G ra u s cap itu lares, d o 4 o ao 18°; G ra u s filosóficos, d o 19° ao 30°; e os G ra u s superiores, d o 31° ao 33°.

Graus do Rito Escocês Loja azul ou graus simbólicos ■ A p re n d iz •

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C o m p a n h e iro

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

VOLUME

2

• M estre G ra u s cap itu lares •

M e s tre secreto

‫־‬

M e stre p erfeito



S ecretário ín tim o



C h e fe e ju iz



S u p e rin te n d e n te d o edifício



M e stre eleito d os nove



Ilu stre E le ito d os Q u in z e



S u b lim e m estre eleito



G ra n d e m estre a rq u ite to



M e s tre d o arco real de S alom ão

■ G ra n d e eleito m aço m •

C av aleiro d o O rie n te o u d a esp ad a



P rín c ip e d e Jeru sa lém

‫־‬

C av aleiro d o L e ste e O e ste



C av aleiro d a O rd e m R o sacru z

Grausfilosóficos • G ra n d e p o n tífice •

G ra n d e A d -V ita m



P a tria rc a n o a c h ita o u p ru ssian o

■ C avaleiro do m a c h a d o real •

P rín c ip e d o L íb a n o



C h e fe d o tab ern ácu lo



P rín cip e d o tab ern ácu lo

Es t u d o s

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T e o l o g ia

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En c ic l o p é d ia

C av aleiro d a se rp e n te de b ro n z e P rín c ip e d a m isericó rd ia C o m a n d a n te d o te m p lo C av aleiro d o sol o u p rín c ip e a d e p to C av aleiro de S a n to A n d ré C av aleiro C a d o sh

Graus superiores ■ In s p e to r in q u isid o r •

M e s tre d o segredo real



G ra n d e so b era n o in sp e to r geral

P o r fim , e o pior, é o en v o lv im en to d a m a ç o n a ria com o o cultism o : cad eia de u n ião , m ag ia b ra n ca, cabala, n u m e ro logia, astro lo g ia, p o d eres p síq u ico s e to d a so rte d e p rá tic a o cu ltista. N a tu ra lm e n te , p a ra os m aço n s que g alg am até o 3o g ra u de m estre, o o cu ltism o vivido n a m a ç o n a ria passa a ser desp ercebid o . A B íb lia é taxativa n a p ro ib ição de to d a e q u a lq u e r fo rm a de o cu ltism o : “Q u a n d o en tra res n a te rra que o S en h o r, te u D e u s, te der, n ão ap ren d erá s a fazer co n fo rm e as ab o m in açõ es d aq u eles povos. N ã o se ach ará e n tre ti q u em faça p assar p elo fogo o seu filho o u a sua filha, n e m ad iv in h ador, n e m p ro g n o sticad o r, n e m agoureiro, n e m feiticeiro , n em en c a n ta d o r, n e m n e c ro m a n te , n e m q u em co n su lte os m o rto s; p o is to d o aquele q u e faz tal co usa é ab o m in açã o ao S en h o r; e p o r estas ab o m in açõ es o S en h o r, te u D e u s, os lan ça d ian te d e ti. P e rfe ito serás co m o S en h o r, te u D e u s. P o rq u e estas

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VOLUME

2

nações, que hás de possuir, o u v em os p ro g n ó stico s e os ad iv in h ad o res; p o ré m a ti o S en h o r, te u D e u s, n ão p e rm itiu tal coisa” ( D t 1 8 .9 -1 4 ). A

N a c id a d e de E fe so , m u ito s d o s q u e se d e d ic a v a m ao o c u ltis m o o re n u n c ia ra m e to r n a r a m - s e c re n te s em Jesu s C ris to . “T a m b é m m u ito s d o s q u e h a v ia m p ra tic a d o a rte s m á g ic a s, re u n in d o os seus liv ro s, os q u e im a ra m d ia n te de to d o s ” (A t 1 9 .1 9 ). E is alg um as in fo rm açõ es sobre a m a ç o n a ria b rasileira, sobre os deveres d o m aço m e sobre as razõ es p o r q u e o cristão n ão p o d e ser m aço m e p o r q u e o m aço m deixa de ser ev an gélico. C re io q u e co n seg u im o s esclarecer o d ilem a: o u evangélico o u m açom ! Q u e o le ito r cristão possa d ecid ir-se: Jesu s foi claro ao dizer: “N in g u é m p o d e serv ir a dois sen h o res; p o rq u e o u h á de o d ia r u m e am ar o o u tro o u se d e d ica rá a u m e d esp rezará o o u tro . N ã o p o d eis servir a D e u s e a M a m o m ” ( M t 6.2 4 ). A fin al, “a n d a rão dois ju n to s , se n ão h o u v er e n tre eles aco rdo ?” (A m 3.3).

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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C

a p í t u l o

2

ORDEM ROSACRUZ52

A O rd e m R o sacru z faz p a rte do g ru p o d e seitas ch am ad as ocultistas, in teg rad a s ta m b é m p ela teo so fia, m aço n a ria, círculo eso térico d a c o m u n h ã o de p e n sa m e n to s e o u tro s g ru p o s m en o res. E x p lic a n d o a razão d a sua existência, a O rd e m d eclara qu e “o objetivo m a io r dos ro sacru zes sem p re foi aju d ar to d a a h u m a n id a d e a evoluir ao m ais alto g ra u de p erfeição terren a, e, ta m b é m , p re sta r auxílio a to d a cria tu ra, p a ra a g ló ria de D e u s e o b e m -e s ta r d a h u m a n id a d e ”.53

O r ig e m D e início, cabe salien tar que a o rig e m h istó ric a e v erd ad eira d a O rd e m R o sacru z é d esco n h ecid a. A tu a lm e n te , h á dois g ru p o s q ue se c o n sid eram seus v erd ad eiro s re p re se n ta n te s e reiv in d icam sua o rig em . A m a io r e m ais in flu e n te ram ificação ro sac ru z n o m u n d o é a e n tid a d e d e n o m in a d a A M O R C , aque se arro g a o d ireito de ser a ú n ic a e v erd ad eira O rd e m R osacruz. S e g u n d o esse g ru p o , p a ra se e n te n d e r as o rig en s dos rosacruzes é p reciso re tro c e d e r n o te m p o , e assim d a ta m

En c i c l o p é d i a

sua o rig em às escolas secretas que ex istiam ao te m p o d o faraó A m e n h o te p IV (que m ais ta rd e tro c o u seu n o m e p a ra A k h e n a to n ), p o r v o lta de 1350 a .C ., n o E g ito . E sse m o n arca, além de c o n stru ir vários tem p lo s, “a d o to u o sím b o lo d a cruz ansata (u m círculo oval sobre a c ru z em fo rm a d e T ) , sobre a q u al po usav a u m a rosa”.54

O fundador S em delo n g ar, d eix an d o de lad o a fa n ta sia criad a q u a n to à o rig em dessa seita, é fato q u e C h ris tia n R o se n k re u tz é o fu n d a d o r d a O rd e m R o sa c ru z (a A M O R C n eg a v ee m e n te a existência e a h istó ria dessa pessoa). N asc id o n a A le m a n h a em 1375, seg u n d o trad içã o o cu ltista, aos 16 anos foi enviado p ara u m m o steiro situ ad o nas fro n te iras d a A le m a n h a co m a Á u stria , o n d e a p re n d e u o la tim e o grego. P o ste rio rm e n te , R o se n k re u tz , ju n ta m e n te com u m m o n ge, te ria m in te n ta d o ir p ara a T e rra S an ta. N o trajeto , n a ilh a de C h ip re , o m o n g e veio a falecer, fa zen d o R o se n k re u tz m u d a r seu trajeto , d ire c io n a n d o -se p a ra a A rá b ia. N o E g ito , e stu d o u com sacerd o tes e m ag o s, o n d e foi aceito e b e m acolh id o pelos irm ão s d a L o ja egípcia, alca n çan d o os m ais altos graus dos m istério s egípcios que h av iam sido co n serv ad o s p o r sucessão d ire ta d esd e os h ie ro fa n te s d a an tig u id ad e. A o re to rn a r do E g ito , p ro c u ro u u tiliz a r seus c o n h e c im e n to s a d q u irid o s p a ra fu n d a r u m a O rd e m . C o m o n ão foi aceito n a E u ro p a , R o se n k re u tz d irig iu -se p a ra a A le m a n h a , reu n in d o alguns d iscíp u lo s em to rn o de si, fu n d a n d o a O rd e m

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R o sacruz. T e ria falecido em 1484, co m 106 anos d e idade, sen d o tal lo n g ev id ad e a trib u íd a ao elixir d e lo n g a v id a p o r ele d esc o b erto .55 M o rre u n u m a caverna, o n d e p assara os ú ltim o s ano s de vida. T ra n sfo rm a d a em sep u ltu ra, essa cavern a p e rm a n e c e ría ig n o ra d a até 1614. N o século 18 se d eu o apelativo d e ro sac ru z a to d o s os g ru p o s d e “ilu m in a d o s” que afirm av am te r relações secretas com o m u n d o invisível.

Tipo de rosacrucianismo no mundo e no Brasil E x iste m , h oje, m ais d e cem g ru p o s ro sacru zes esp alh ad o s p elo m u n d o , m as o m a io r de to d as é a A M O R C . A s duas p rim eiras abaixo m en cio n ad a s d isp u ta m e n tre si serem as v erd ad eiras re p re se n ta n te s. O s títu lo s das e n tid a d e s ro sacru cianas m ais destacad as são: •

A n tig a M ístic a O rd e m R o sacru z (A M O R C ) , fu n d a d a em 1915 p elo o cu ltista C a rl L o u is V on G ra ssh o f, m ais co n h e c id o p elo p se u d ô n im o de H . S p en ce r L ew is, a tu a lm e n te sed iad a em S an José, C a lifó rn ia (U S A ).



F ra te rn id a d e R o sacru z, fu n d a d a p o r M a x H e in d e l, em 1907, O ce an sid e, n a C a lifó rn ia (U S A ).



F ra te rn ita tis R osae C ru cis, fu n d a d a em 1920, p o r R . S w ib u rn e C ly m er, Q u a k e rsto w n , P en silv ân ia (U S A ). S



L e c to riu m R o sic ru c ia n u m /A u re a , fu n d a d a em 1971, p o r J. V an R ijc k b o rg h , em H a a rle m , n a H o la n d a .



Ig reja E x p e c ta n te , fu n d a d a em 1919, p o r A R . C o s te t de M asch ev ille, em G u a ra p a ri, n o E sta d o d o E sp írito S anto.

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Ligação com a maçonaria D e acordo com o m aço m Jo sé C astellan i: “A m aço n a ria m o d e rn a co m eço u , a p a rtir d o século 18, a d esenvolver co n ceitos e sím bo lo s de in stitu içõ es m ísticas, q u e h av iam florescido m ais a p a rtir d o final d a Id a d e M é d ia , co m o é o caso d a astrologia, do ro sacru cian ism o e d a alq u im ia o cu lta”.56 P o rta n to , não é de se a d m ira r q u e a m a ç o n a ria e a O rd e m R o sacru z te n h a m p o n to s d o u trin á rio s co n v erg en tes. A ssim com o a m aço n aria se in titu la u m a “sociedade secreta”, aliás, a m aio r sociedade secreta do m u n d o , os rosacruzes ta m b é m o fazem . T alvez, o sigilo dessas seitas seja ju sta m e n te p ara esco n d er sua n atu re za religiosa d o m u n d o externo e, assim , a seita o b ter convertidos que, de o u tro m o d o , n ão se in co rp o rariam à confraria. N o século 18, foi d ad o o títu lo de R o sacru z a to d a s as e n tid ad es q ue afirm av am te r relações secretas com o m u n d o invisível. A p ró p ria m a ç o n a ria a d o to u o títu lo de “C av aleiro R o sacru z” p a ra o 18° g ra u d o R ito E scocês A n tig o e A ceito ; p a ra o 12° g ra u do R ito A d o n ira m ita e p ara o 7 o g ra u do R ito M o d e rn o o u F ra n c ê s .57 E x iste u m a u n an im id ad e en tre os m açons em c h a m a r a L o ja de “te m p lo ”. E m b o ra d ian te de nós não se refiram a ela desta fo rm a, em to d a a lite ratu ra m açô n ica e endereços da In te rn e t u sam esta term in o lo g ia, b em com o citações de que ali são p raticad o s atos litúrgicos. A O rd e m R o sacru z tam b ém possui seu tem p lo , que, às vezes, ta m b é m é ch am ad o de L oja. 56CARVALHO, Assis. A A Trolha, 1994, p. 8.

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m a ç o n a ria ·.

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usos e costumes. Paraná: Editora Maçônica:

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A té m esm o n a fo rm a co m o os ro sacru zes se c u m p rim e n ta m existe u m elo de ligação co m a m aço n a ria, p o is os dois g ru p o s se u tiliz a m de sinais de re c o n h e c im e n to , palavras de passe e ap e rto s de m ão. E sses g esto s, e n tre ta n to , são e n c o n trad o s nas ilu straçõ es de iniciações e g íp c ia s 58 ✓ L u ís C arlo s A vila, em seu livro ap o lo g ético sobre a O rd e m R o sacru z, e n u m e ra várias sem elh an ças e n tre ela e a m a ç o n a ria, in c lu in d o aspectos d o tem p lo , sinais de re c o n h e c im e n to , existência de g rau s e, o b v iam en te, o c a rá te r secreto.s9

Juramento N a m açon aria, o ju ra m e n to de fidelidade é renovado à m ed id a que o m aço m vai su b in d o os degraus d a en tid ad e. D a m esm a form a, os rosacruzes ta m b é m tê m os seus ju ra m e n to s, dand o, assim , o caráter de sociedade religiosa secreta. O ju ra m e n to rep resen ta o com prom isso assum ido pelos iniciados p o r ocasião d a “iniciação ao P rim eiro G ra u ”, b e m com o em outras o p o rtu n id ad es, em cerim ônias e convocações. A s palavras d o ju ra m e n to são p reced id as d o S in al d a C ru z (não é o sinal cató lico ), q u e deve ser feito le n ta m e n te com sincera reverência, p ro n u n c ia n d o este ju ra m e n to : “D ia n te d o S in al d a C ru z , p ro m e to p o r m in h a h o n ra n ão revelar a n in g u ém qu e não seja co n h e c id o F rá te r o u S ó ro r d esta O rd e m , os sinais secretos o u palavras q u e a p re n d e r an tes, d u ra n te e d epo is de te r p assad o p elo P rim e iro G ra u ”.60

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Objetos usados V ários o b jeto s u tiliza d o s p ela m a ç o n a ria ta m b é m são u sadas p ela O rd e m R o sacru z. A O rd e m faz uso, em suas p rá ticas ocu ltistas, d o in cen so , de estátu as, de to alh as, de aventais, de b an d e iras e de m úsicas. C o m o te m o s p erceb id o até aqui, existe u m a ligação m u ito ev id en te e n tre a m a ç o n a ria e a O rd e m R o sacru z, p o r isso desejam os ex po r alguns d os o b jeto s u tiliza d o s n a m a ç o n a ria d e qu e te m o s c o n h e c im e n to q u e n ão devem te r significados d iferen tes p a ra os ro sacru cian o s.

Avental. “O av en tal é u m a p eç a o b rig a tó ria n a in d u m e n tá ria de u m m aço m e ele n ão p o d e a p re se n ta r-se sem ele a u m a sessão de L o ja; sem o avental, é co n sid erad o n u ”.61 P a ra q u e não re ste m dúvidas q u a n to ao significado d o avental, tran screv em o s u m tre c h o d o ritu a l m açô n ico d o 2 o g ra u (ou g ra u do C o m p a n h e iro ): “O av en tal d o m aço m te m p o r objetivo le m b rá -lo d a p u re z a d a m e n te e d a m o ral. A ssim v estirás o te u av en tal e n q u a n to trab a lh a res en tre nós co m o C o m p a n h e iro E sp ecu lativ o d a A rte R eal, p a ra d is tin g u ir-te dos A p re n d iz e s, sem p re le m b ra n d o q u e deves u sá-lo co m o e m b le m a d aq u ela p u re z a de coração e de co n sciên cia n ecessária p a ra o b te r a aprovação d o G ra n d e A rq u ite to d o U n i» (O

verso .

Velas. N a p o rta d e e n tra d a das L o jas m açô n icas h á u m a vela, q ue sem p re fica acesa d u ra n te as reu n iõ es. Jo sé E b ra m , p re sid e n te d a A c a d e m ia P au lista M a ç ô n ic a de L e tra s, escreveu sobre o significado d esta lu z de vela: “E co stu m e, em

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d e te rm in a d a s sociedades secretas, ac en d er u m a vela à p o rta do tem p lo . E s ta vela te m u m significado o culto. A s forças negativas são n eu tra liz a d a s p elo fo g o ”.63

Música. S e g u n d o R izzard o d a C a m in o , “eso te ric a m e n te , os sons p e n e tra m d e tal fo rm a n o ín tim o dos seres h u m a n o s que lh e d ão h a rm o n ia e paz. N as sessões m açô n icas, o m estre de h a rm o n ia sem p re oferece p ro g ra m açõ es m usicais a d e q u a das à litu rg ia e isso p ro p icia m o m e n to s de enlevo”. 64 Q u a n d o u m a p esso a se co n v erte ao cristian ism o , deve a b a n d o n a r as p rá tica s ligadas ao o cu ltism o . E ssas p ráticas são ch a m a d as d e artes m ágicas e to d o s os o b jeto s d e livros ligados a essas artes d ev em ser re n u n ciad o s e, se possível, até q u eim ad o s. E ra co m o p ro c e d ia m os cristãos p rim itiv o s (A t 19 .18 ,19 ).

Símbolo O sím b o lo d a O rd e m é u m a cruz negra co m u m a rosa

vermelha n o cen tro . C o n fo rm e o M a n u a l R o sacru z, a cru z “re p re se n ta o co rp o h u m a n o , co m os b raço s ab e rto s, v o ltad o p ara a luz. N o cen tro , n o p o n to em q u e o b raço h o riz o n ta l da c ru z se u n e à m a d e ira v ertical, está so b rep o sta a rosa, re p re se n ta n d o a p e rso n a lid a d e -a lm a . E ssa rosa, p arcialm e n te d esa b ro ch ad a , sim b o liza a co n sciên cia em evolução à m e d id a que recebe a L u z M a io r ”.65 A O r d e m R o s a c r u z le m b r a a m a ç o n a ria p o r q u e é u m a s e ita e s o té r ic a e o c u ltis ta . P a ra e sta s e n tid a d e s , a c ru z é s o m e n te u m s ím b o lo m ís tic o , s e n d o q u e , p a r a o c ris tã o , a

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c ru z te m u m s e n tid o b e m d if e r e n te , p o is le m b ra a lib e rta ç ã o d o p e c a d o . P a ra as e n tid a d e s o c u ltis ta s , a salv aç ão d e p e n d e d o e sfo rç o e d a e le v a ç ã o e s p ir itu a l d o h o m e m , e n q u a n to o c ris tã o c o n fia n a m is e ric ó rd ia d e D e u s e n o sa c rifíc io d e Je su s.

Saudação A saud ação ro sacru cian a, fe ita em q u alq u er C e n tro da F ra te rn id a d e R o sacru z, é a seg u in te: “Q u e as rosas floresçam em vossa C ru z !”. O s discípulos e e stu d a n te s re sp o n d e m : “E n a vossa ta m b é m ”. A ssim se inicia os trab alh o s. A o co n trário da O rd e m R osacruz, não en c o n tram o s u m pad rão bíblico p ara o m o d o de saudar os irm ãos. O apóstolo P aulo saúda os crentes em suas cartas das seguintes m aneiras: •

“G ra ç a e p a z de D e u s, n osso P ai, e d o S e n h o r Jesus C ris to ” (R m 1.7);

■ “G ra ç a e p a z d a p a rte d e D e u s, n osso P ai, e do S e n h o r Jesus C ris to ” ( l C o 1.3); •

“G ra ç a a vós e p az d a p a rte de D e u s, n osso Pai, e d a do S e n h o r Jesus C ris to ” (2 C o 1.2);



“G ra ç a e p a z d a p a rte de D e u s Pai e d a de n osso Sen h o r Jesu s C ris to ” ( G 1 1.3);



“A vós, g raça, e p a z d a p a rte de D e u s, n osso Pai, e d a do S e n h o r Jesu s C ris to ” ( E f 1.2);

■ “G ra ç a a vós, e p a z d a p a rte de D e u s, n osso Pai, e d a do S e n h o r Jesu s C ris to ” (F p 1.2); •

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“A o s san to s e irm ão s fiéis em C risto , q u e estão em C o -

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lossos, g raça a vós, e p a z d a p a rte de D e u s, n osso Pai, e d a d o S e n h o r Jesus C ris to ” (C l 1.2); •

“G ra ç a e p a z te n h a is de D e u s, nosso P ai, e do S e n h o r Jesus C ris to ” ( lT s 1.1);



“G ra ç a e p a z a vós da p a rte d e D e u s, nosso Pai, e d a do S e n h o r Jesu s C ris to ” (2T s 1.2);



“A T im ó te o , m eu v erd ad eiro filho na fé: graça, m ise ricó rd ia e p a z d a p a rte de D e u s, nosso Pai, e d a d e C risto Jesus, n osso S e n h o r” ( l T m 1.2);



“A T im ó te o , m e u am ad o filho: graça, m isericó rd ia e p a z d a p a rte d e D e u s P ai, e d a de C risto Jesu s, S e n h o r n o sso ” (2 T m 1.2);



“A T ito , m e u v erd ad eiro filho, se g u n d o a fé co m u m , graça, m isericó rd ia e p a z d a p a rte de D e u s Pai, e d a do S e n h o r Jesus C risto , n osso S alv ad o r” ( T t 1.4);



“G ra ç a a vós e p a z d a p a rte de D e u s, nosso Pai, e d a do S e n h o r Jesu s C ris to ” (F m 1.3).

J á T ia g o saú d a os cren tes em sua ep ísto la d a seg u in te m a neira: “T ia g o , servo de D e u s e d o S e n h o r Jesus C risto , às d oze trib o s que se e n c o n tra m n a dispersão, sau d açõ es” (1.1). P ed ro saú d a assim : “E le ito s se g u n d o a p resciên cia d e D e u s P ai, em san tificação do E sp írito , p a ra a o b ed iên c ia e aspersão d o san g u e de Jesus C risto : g raça e p a z vos sejam m u ltip lic a d a s” ( l P e 1.2). E , em sua se g u n d a ep ísto la, sua saud ação é: “G ra ç a e p a z

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vos sejam m u ltip licad a s, p elo c o n h e c im e n to de D e u s, e de Jesus, nosso S e n h o r” (2Pe 1.2). Ju d a s saú d a assim : “A m isericó rd ia, e a paz, e a carid ad e vos sejam m u ltip licad as” (v. 2). C o m re la ção às d o u trin a s c e n tra is d o c ris tia n is m o , a O r d e m a c re d ita em u m D e u s p a n te ís ta , q u e m o ra d e n tro d o h o m e m e e stá s u b o rd in a d o ao m e sm o . Je su s te ria sid o a p e n a s m ais u m e s p írito p e r te n c e n te à ev o lu ção h u m a n a , c o m o ta m b é m fo ra B u d a , e n tr e ta n to , o m ais n o tá v e l q u e e x istiu , n e g a n d o , co m isso, sua d iv in d a d e . D e v id o à sua d e d ic a ç ã o e a b n e g a ç ã o , a lc a n ç o u o n ív el m ais a lto d a im o r ta lid a d e , m as n ã o m o rre u n a cru z. O c a m in h o p a ra a lc a n ç a r a salvação, o u m e lh o r, a im o rta lid a d e , n ão seria c o n fia r n a o b ra d e C ris to , m as, sim , b u sc a r e x p e riê n c ia s m ístic a s e re a liz a r b o as o b ras. N e n h u m a das afirm ações acim a está em co n fo rm id a d e com a B íblia. A s S agradas E scritu ra s e n sin a m que existe só u m D e u s ( D t 6.4; G 1 3.2 0 ) e que Jesus C risto é D e u s (Jo 1.1; 6.38; M t 1.23; 16.15; F p 2.10; l j o 5.20; A p 17 .1 4 ). O ap ó sto lo P au lo escreveu in sp ira d o q u e “se C ris to n ão ressuscitou, é vã a vossa fé, e a in d a p e rm a n e c e m o s em nossos p ec ad o s” ( I C o 15.17). O u tro s dois escrito res re g istra m a ascensão de Jesus aos céus e seu re to rn o p ú b lico à terra, n o final dos te m pos (A t 1 .9 -1 1 ; M t 2 4 .3 0 ). N e g a r as d o u trin a s d a salvação, d a m o rte , da ressu rreição e d a ascensão de Jesus C risto é u m a p ro v a v eraz de q u e o Jesu s d a O rd e m n ão é o Jesu s C ris to das E scritu ra s.

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

645

En

c i c l o p é d i a

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646

Es t u d o s

d e

T e o l o g ia

VOLUME

2

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ENCICLOPÉDIA

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plicativo. Vol. 2. São Paulo: E d ito ra C a n d e ia , 1995. SIL V A , H y la rin o

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Seitas e sp ír it a s e a f r o s

INTRODUÇÃO

Q u e m tiv er o lh o s p a ra v er e o uvidos p a ra ouvir, já te rá n o ta d o a p resen ça, e n tre nó s, cad a dia m ais a la rm a n te d e te rre iros, ten d as, cab an as, cen tro s, casas, tem p lo s, igrejas, núcleos, sociedades, irm a n d a d e s, to d o s qualificados, g e ra lm e n te , com o adjetivo de u m b a n d ista s o u espíritas. São m ilh ares n o R io de Jan e iro , em São P aulo, n o R io G ra n d e do Sul, n a B ah ia, en fim , p o r to d o o te rritó rio brasileiro. Já se to rn o u c o m u m en tre nós as L o jas d e U m b a n d a . N e ssas lojas, p o d e m -se c o m p ra r ervas m ágicas, in cen so , am u letos, colares de d e n te s de p orco, e n c a n ta m e n to s, livros sobre m acu m b a, p arte s de co rp o s d e b o n ecas p a ra u so em feitiços e co m o m eio de se d e te rm in a r o fu tu ro . A s im ag en s d a V irg e m M a ria , de Jesus e d o d iab o com chifres são colocadas lad o a lad o co m o u tras im ag en s. D e sd e já , q u erem o s d eixar b e m d efin id o a d iferen ça en tre o aspecto cu ltu ral e o asp ecto religioso. P o r cu ltu ra, e n te n d e -se, g era lm e n te , co m o sen d o “o c o n ju n to de características h u m a n a s q u e n ão são in atas, e q u e se criam e se p reserv am o u a p rim o ra m p o r m eio d a co m u n icação e co o p eração en tre in d iv íd u o s em so cied ad e”.96 P o r religião, c o m p re e n d e m o s “o 96 Novo Dicionário Aurélio, verbete “cultura”, positivo Informática, 2004.

ENCICLOPÉDIA

c o n ju n to d e relações m o rais que u n e m o h o m e m co m D eu s, in c lu in d o seus deveres e v irtu d es co m que o h o m e m se sujeita a D e u s e d irec io n a sua v id a p a ra com E le ”. S en d o assim , a religião n ão se id en tifica com a c u ltu ra e am bas p o d e m co existir p ac ific am en te co m os m ais diversos usos e co stu m es m e ra m e n te cu lturais. A ssim , a Ig reja de C risto , q u e é u m m o v im e n to exclusivam e n te religioso e n ão cu ltu ral, n ão se id en tifica com n e n h u m a cu ltu ra, n e m se o p õ e a elas, m as coexiste com as m ais variadas fo rm a s cu ltu rais, re c o n h e c e n d o e d eix an d o o q u e nelas n ão se o p õ e à n a tu re z a o u às positivas disposições d e D eu s. O cristão, p o r co n se g u in te, n ão p recisa a d o ta r d e te rm in a d o tip o de cultu ra: suas m ais ín tim a s convicções cristãs p o d e m co existir p e rfe ita m e n te com os m ais v ariad o s elem en to s cu ltu rais sadios. A ssim , tem o s o cristão am erican o , o cristão p aq u istan ês, o cristão ch in ês, o cristão an g o lan o , etc. A arte cu lin ária, a lín g u a, a p oesia, o can to , a d an ça, a o rg an ização social e p o lítica , e n tre o u tras, so m e n te in teressa m à Ig reja na m e d id a em q u e o seu en sin o , a sua in te rp re ta ç ã o e a sua aplicação re v estem -se de c a rá te r m o ral e, p o r isso, religioso. Se a U m b a n d a fo sse u m m o v im e n to p u ra m e n te c u ltu ra l o u é tn ic o , co m a ex clu siv a fin a lid a d e de c o n se rv a r o u re in tro d u z ir tra d iç õ e s , u so s e c o stu m e s a fric a n o s, a m e rín d io s o u o u tro q u a lq u e r d e c a rá te r fo lc ló ric o , n ã o seria n e c e ssá rio esc rev er so b re ela. F a z e m o s q u e stã o d e a c e n tu a r e d e cla ra r: n ã o so m o s a n tia fric a n o s! A s s im c o m o ta m b é m n ão

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so m o s c o n tra a n e n h u m a c u ltu ra sa d ia , d e q u a lq u e r n aç ão o u ra ç a q u e ela p e rte n ç a . M a s, n a realid ad e, a U m b a n d a se ap resen ta, em p rim e iro lugar, co m o m o v im e n to religioso, e faz q u estão d e ser religião. O s elem en to s cu ltu rais q u e ela a p resen ta são im p re g n a dos de idéias n itid a m e n te religiosa.

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C

a p í t u l o

1

ESCRAVOS, ÍNDIOS E NEGROS

D e sd e o século 15 que os p o rtu g u eses co m p rav am escravos n a Á frica p ara levá-los p ara as colônias de A çores e M ad e ira, ilhas do O c e a n o A tlân tico , o n d e já se p ro d u z ia açúcar. Q u a n d o C a b ra l ch e g o u à co sta d a B ah ia, havia m ilh õ es de ín d io s no B rasil. O s ín d io s q u e m o rav a m n o lito ral, os p o rtu gu eses ch a m a v am de tu p is e de tap u ias, os q u e viviam n o in terio r. D o início d a co lo n ização d o B rasil, os p o rtu g u ese s p re fe rira m escravizar os ín d io s. O d o m in a d o r im p ô s à força sua lín g u a, seus co stu m es, sua religião. O s ín d io s fo ra m o b rigado s a tra b a lh a r co m o anim ais. D e sp o ja d o s d e tu d o , h u m ilh ad o s e o fe n d id o s até o fu n d o d a alm a, fo ra m d izim ad o s. E foi assim p o r u m século in teiro . M a s, a p a rtir d o século 17, os p o rtu g u e se s p assaram a u sar m ais escravos africanos do q ue in d íg en as. O m o tiv o dessa m u d a n ç a foi o fato d e que m u ito s ín d io s m o rre ra m em d ec o rrên cia das d o en ças q u e os eu ro p eu s tro u x e ra m d a E u ro p a (varíola, saram p o , grip e) e, ta m b é m , p o rq u e fo ra m escravizados, o b rig ad o s a tra b a lh a r até não a g u e n ta r m ais. Já no século 16, os p o rtu g u ese s d e tin h a m o m o n o p ó lio do tráfico de escravos. N aq u e le m o m e n to , era p ra tic a m e n te o

En

ciclo péd ia

*

ú n ico povo eu ro p eu a co n seg u ir cativos n a Á frica. O b tin h a m os escravos n a faixa que ia d a co sta d o S enegal, p assan d o p o r G u in é -B issa u , G u in é até S erra L eo a . E ssa p a rte d a Á frica, ao N o rte d a lin h a d o E q u a d o r, era co n h e cid a co m o a fo rm o sa G u in é . D e lá, vieram os povos m an d ig as, nagôs, b an to s e o utro s. N o século 17, os escravos q u e ch e g a ra m ao B rasil v ieram p rin c ip a lm e n te d o C o n g o e de A n g o la. N o século 18, os escravos q u e v ieram p a ra o B rasil eram o rig in ário s d a C o sta do O u ro (ou d a M in a ), m ais o u m en o s o n d e, h oje, estão G a n a e T ogo, B e n in e N ig éria . A B ah ia, esp ecialm en te, receb eu escravos q ue v in h a m d o B en in . N o século 19, a te n d ê n c ia era tra z e r os escravos p a ra o B rasil d ire ta m e n te das colônias p o rtu g u esas em A n g o la e M o ç a m b iq u e .

*m m w jr ‫■־י‬fVw *‫׳‬ C f tjtm em w w u tm -Λ * ‫ * · »* * *ד*ו‬:u m · n

‫■־‬Ir· ·*τ-Φτ V K ·Zm m *yfc■1 1‫־‬ü . 1# 1.c■n * n err * vrw r» j o j r u ■ssrmre r a

O fim da escrav atu ra co m eç o u q u an d o , em 4 d e setem b ro de 1850, o P a rla m e n to apro v o u a L e i E u z é b io de Q u e iro z , *

que en cerro u , de vez, o tráfico d a Á fric a p a ra o B rasil. E n -

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T

eologia

V O L U M E

2

*

tretanto, somente em 1888, com a Lei Aurea, o cativeiro foi suspenso. O Brasil ostenta o triste título de ter sido o último país do Continente a acabar com o escravismo. No mapa abaixo, encontram-se as principais rotas de abastecimento de escravos para o porto do Rio de Janeiro entre 1750 e 1830. Repare a variedade de origens.

S in cretism o r e lig io so

Os africanos que vieram para o Brasil pertenciam às diversas nações, e cada uma delas tinha sua própria crença religiosa. Os estudiosos costumam dividir os negros vindos para 0 Brasil em dois grandes grupos: sudaneses e bantos. Os primeiros saíram do Dahomey, da Nigéria e do Sudão, predominando os yorubas, ou nagôs, e os gêges, e foram colocados nos mercados de escravos da Bahia e Sergipe. Os bantos vieram do Congo, da Angola de Moçambique, e foram levados para os mercados de Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro,

E S T U D O S

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En c ic l o p é d ia

M in a s G erais, São P aulo, São L u iz do M a ra n h ã o e P ará, além d a B ah ia. A cu ltu ra su d an esa era su p erio r à c u ltu ra dos b a n to s e in flu iu p ro fu n d a m e n te sobre as o u tras. N u n c a tivem os, n o B rasil, cu ltu ras africanas em estad o de p u reza. D e sd e o início, elas a p re se n ta ra m -se b a s ta n te m istu rad a s, n ão ap en as en tre si, m as ta m b é m com cu ltu ras n ão africanas, co m o os ín d io s e os estran g eiro s, in flu e n c ia n d o e sen d o in flu en ciad o s p sico ló g ica e so cialm en te. A o s poucos, as crenças religiosas d os escravos fo ra m se m istu ra n d o um as as o u tras e se a d a p ta n d o ao B rasil. N o final, p re d o m in o u o c h a m a d o cu lto n ag ô .97 R ep are q u e o cu lto n ag ô é u m a fo rm a tip ic a m e n te brasileira, o u seja, é re su ltad o d a m istu ra de várias cu ltu ras african as co m a c u ltu ra colonial. P ara a religião dos y o ru b as, existe u m a d iv in d ad e su p rem a n o U niverso , que g ero u to d as as coisas, c h a m a d a de O lo ru m (ou O lo ru n g ). O lo ru m só p o d e e n tra r em c o n ta to co m os h o m e n s m e d ia n te d iv in d ad es in ferio res o u secu n d árias, ch a m adas orixás pelos nagôs e vo d ú s pelos gêges. E s ta d iv in d ad e n ão era o b jeto de cu lto direto . P ara se o b te r o seu “fav o r”, som e n te p o r in te rm é d io dos orixás, q u e são os in te rm e d iá rio s e n tre O lo ru m e os h o m e n s. O s orixás em o rd e m de im p o rtâ n c ia cu ltu ral são:

Obatalá o u Orixalá (“o

g ra n d e orixá”, o m a io r d e to d o s)

ou sim p le sm e n te O x alá , co m o se d iz n o B rasil. S im b o liza as energias p ro d u tiv as d a n a tu re z a e te m , p o r isso, u m caráter 97 N o Brasil, deram o nome de nagôs ao grupo de africanos que vieram de uma região onde hoje está a Nigéria e falavam o idioma yoruba.

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bissexual. E re p re se n ta d o p o r m eio de co n ch as, lim o verde, d e n tro de u m círculo d e ch u m b o . Seus en feites são b ra n co s e o d ia do culto, n o B rasil, é sex ta-feira. S acrific am -lh e cabras e p o m b o s.

Xangô

é o u tro orixá m u ito p o d ero so . P erso n ifica a força

dos raios. S eu fe tich e é a “p e d ra d o raio ” o u o m e te o rito , que é c u ltu ad o em m eio de co n tas b ran cas e v erm elh as, p rin c ip a lm e n te nas q u arta s-feira s. O fe re c e m -lh e co m o sacrifícios o galo e o ca rn eiro .98

Exu (nagô) re p re se n ta

as p o tên cias co n trá rias ao h o m e m .

N ã o se realiza n e n h u m tra b a lh o sem an tes fazer o d esp a ch o de E x u; caso co n trá rio , ele a tra p a lh a tu d o . Seu fe tich e é u m a m assa d e b arro com u m a cab eça o n d e os o lh o s e a b o ca são re p resen tad o s p o r co n ch as in cru stad a s o u fra g m e n to s de ferro. P e rte n c e m -lh e os p rim eiro s dias das festas e as seg u n d as-feiras. N a Á frica, exigia sacrifícios h u m a n o s. N o B rasil, c o n te n ta -se co m o b o d e , o galo e o cão.

Ogun é

o orixá das lu tas e das g u erras. S eu fe tich e é u m

fra g m e n to d e ferro e carreg a co n sig o ap e trech o s bélicos (esp ad a, foice, pá, en x ad a, etc.). O galo e o carn eiro são seus alim en to s p referid o s.

Yemanjáé o orixá das águas. T e m

co m o fe tich e u m a p e d ra

de á g u a -m a rin h a . 98 A palavra francesa fédche vem do português feitiço (e ambas do ladm factidus: “coisa feita”). De modo geral, fetiche é um objeto material (árvore, monte, mar, fragmentos de madeira, seixos, conchas, etc.) preparado em cerimônia especial, simbolizando uma divindade.

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661

E

Yansan, que

n c i c l o p é d i a

ta m b é m saiu d a ág u a e é o orixá dos v en to s e

das te m p e sta d e s e m u lh e r de X an g ô .

Oxóssi é

o deus d os caçadores, re p re se n ta d o p o r u m arco

atravessado de flecha. F e ste ja m -n o às q u in tas-fe iras.

Xapanan o u Omolu é

o orixá d a varíola. G o s ta de galo e

do b o d e , m as aceita ta m b é m m ilh o com azeite de d en d ê. N ã o p o d e ser festejad o n o terreiro com os o u tro s orixás, te n d o seu altar isolad o n u m a cabana. N o livro O folclore negro do Brasil, A rtu r R am o s, resum e assim o m ito africano d a o rig em dos deuses: “P o d e-se d izer que é com o casam en to de O b a ta lá (ou O xalá), o céu, com O d u d u a , a terra, que se in iciam as p eripécias m ísticas dos deuses africanos d a C o sta dos Escravos. D esses consórcios, n asceram A g an ju , a terra, e Y em anjá, a água. C o m o nas velhas m itologias, aqui ta m b é m , terra e água se u n em , Y em anjá desposa o seu irm ão, A g an ju , e te m u m filho, O ru n g a n . E O ru n g a n , o É d ip o africano, rep resen tan te de u m m otivo universal, apaixonou-se p o r sua m ãe, que p ro cu ra fu g ir-lh e aos ím p eto s arrebatados. M a s O ru n g a n não p o d e ren u n ciar àquela paixão incoercível. A p ro v eita-se, certo dia, da ausência de A g an ju , o pai, e d ecid e-se a v io len tar Y em anjá, que foge, e p õ e-se a correr, p erseg u id a p o r O ru n g a n . D u ra n te a perseguição, Y em anjá cai ao chão, de costas, e m orre. E n tão , o seu corpo com eça a d ilatar-se e dos en o rm es seios b ro ta m duas correntes de água que se reú n em ad ian te até fo rm a r u m g ran d e lago. E , do v entre d esm esurado, que se ro m p e, nascem os seguintes deuses: D a d a , deus dos vegetais; X angô, deus do

662

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trovão; O g u n , deus do ferro e d a guerra; O lo k u n , deus d o m ar; O loxá, deusa dos lagos; O y á, deusa do rio N ig er; O x u n , deusa do rio O x u n ; O b a , deusa do rio O b a; O rix á O k ô , deusa da agricultura; O xóssi, deus dos caçadores; O k é , deus dos m o n tes; A jê X alu n g a, deus da riqueza; X ap a n an , deus d a varíola; O ru n , o sol; O x u , a lua”.99 N o cu lto g e g ê -n ag ô s d os sudaneses, os terreiro s são co n sid erado s tem p lo s. N o B rasil, eram esco n d id o s nas m atas, y

em zo n as d e difícil acesso. N a Á frica, seus te m p lo s são em lugares p ú b lico s e ab erto s. N o terreiro , são p re p a ra d o s os fetich es, as filhas de san to são in iciad as e os cu lto s co m u n s e as g ra n d es festas são celebrados. O s sacerd o tes y o ru b a n o s (ou nagôs) c h a m a m -se babalaôs, o u ab abaloalôs, o u babalorixás. A lé m deles, existem as m ães de san to , a yalorixá, coisa que, y

n a Á frica, é p ro ib id o . O culto dos b a n to s, d ev id o ao fato de p o ssu ir u m a cu ltu ra inferio r, sofreu fo rte in flu ên cia d os cultos g e g ê -n ag ô s dos sudaneses. A d iv in d ad e p rin c ip a l dos b a n to s era Z a m b i, n a A n g o la, e Z a m b i A m p u n g o , n o C o n g o . O g rã o -sa c e rd o te , dos cu ltos b a n to s, ch a m av a-se Q u im b a n d a , o u K i-m b a n d a , o m esm o qu e m éd ico , ad iv in h o , feiticeiro. D o m esm o radical,

mbanda, surge, ta m b é m , a p alav ra U m b a n d a , q u e p o d e significar “feiticeiro ” o u “sac erd o te”. T a m b é m , p o d e significar o local d o rito. O lu g ar d o cu lto b a n to é co n h e cid o p o r “te rre iro ”. E n tr e ta n to , é u m terreiro m u ito m ais sim ples d o que o d os su d aneses. 99 Citado por KLOPPENBURG, B. A Umbanda no Brasil. Sao Paulo: Editora Vozes, 1961, p. 13. Es t u d o s

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O q ue d istin g u e o ritu a l b a n to dos nag ô s é o cu lto aos an tep assad o s. O s babalo rix ás su d an eses e n tra m em tran se e in c o rp o ra m os orixás; m as os sacerd o tes b a n to s são to m a d o s de esp írito s fam iliares o u esp írito s de an tep assad o s. São os “p re to s v elh o s”, guias esp iritu ais, q u e d irig em as cerim ô n ias.

Navio Negreiro do Brasil. Repare nos canhões. Além do tráfico, o navio podería praticar a pirataria.

Quem são os orixás D e acordo com o Dicionário de cultos afro-brasileiros, de O lg a C acciato re, os orixás são d iv in d ad es in te rm e d iá ria s e n tre O lo ru m (deus su p rem o ) e os h o m e n s. N a Á frica, eram cerca de 60 0 orixás. D esses, v ieram p a ra o B rasil u ns cin q u e n ta , q ue estão red u zid o s a dezesseis n o C a n d o m b lé , dos quais só o ito p assaram p a ra U m b a n d a . M u ito s deles são a n tigo s reis, ra in h a s o u h eró is d iv in izad o s, os quais re p re se n ta m as vibrações das forças elem en tares d a n a tu re z a , co m o raios,

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trovões, te m p e sta d e s, água; as ativ id ad es eco n ô m icas, com o: caça e ag ricu ltu ra; e, ain d a, os g ra n d es ceifadores de vidas, as d o en ças ep id êm icas, com o, p o r exem plo, a varíola, en tre o u tras.

Os orixás e o sincretismo S eg u n d o o D icio n ário A urélio, sin cretism o é a “am álg am a de d o u trin as o u concepções h etero g ên eas” o u “fusão de elem en to s culturais diferentes, ou até an tagônicos, em u m só elem ento, co n tin u a n d o perceptíveis alguns sinais o rig in ário s”. A ssim , o sin cretism o religioso existente en tre os escravos terá u m aspecto significante nos cultos afros. O fetich ism o africano sofreu influência do espiritism o, das religiões ind íg en as e, so b retu d o, do catolicism o. O africano trouxe de sua terra as suas crenças e, aqui n o Brasil, foi o b rigado a aceitar o u tra religião, o catolicism o. E x te rn a m e n te , os negros escravos aceitavam a “nova religião” im p o sta pelos seus senhores, m as, in tim a m e n te , co n tin u av am com suas crenças e práticas. O sincretism o in co rp o ro u o catolicism o ao seu sistem a m ítico-reU gioso, tra n sfo rm a n d o -se , assim , o fetich ism o n u m a vasta religião politeísta, em q u e os orixás fo ram am algam ados com os “san to s” d a nova religião que lh e foi im posta. M u ito s orixás dos cultos afros en c o n trarão n o catolicism o u m san to “co rresp o n d en te”, p o r exem plo:

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• • • •

Exu - d iab o Iemanjà - N o ssa S en h o ra Ogum - São Jo rg e Iansã - S an ta B árb a ra Iemanjá - N o ssa S en h o ra A p arecid a. N o ssa

S en h o ra da

Im acu lad a C on ceição • • • • •



Oxóssi - S ão S eb astião Oxalá ‫ ־‬Jesu s C risto - S en h o r Omulu - São L ázaro Ossain - S ão B en ed ito Oxumaré - São B a rto lo m e u Xangô - São Jerô n im o

do B onfim

T a m b é m estão p re se n tes n os cu lto s afro -b rasileiro s os esp in to s que re p re se n ta m diversos tip o s de h u m a n o s falecidos, tais com o: caboclos (ín d io s), p reto s velhos (escravos), cria n ças, m a rin h e iro s, b o iad eiro s, ciganos, etc.

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a p í t u l o

AS ORIGENS DO CANDOMBLÉ, DA UMBANDA E DA QUIMBANDA

Candomblé C a n d o m b lé é u m a d an ç a religiosa, p o r m eio d a q u al as ✓

pessoas h o m e n a g e ia m seus orixás. E , lite ra lm e n te , o culto dos orixás. A p re se n ça d o orixá é necessária ta n to n a U m b a n d a co m o n o C a n d o m b lé . O s nag ô s, g ru p o de african o s o riu n d o s da N ig éria , d e ra m o rig em ao C a n d o m b lé , q u e é m u ito d iferen te d a M a c u m b a , d o M a ra c a tu , d a Q u im b a n d a e da U m b a n d a . E s ta ú ltim a , é u m a fo rm a de cu lto afro in te ira m e n te brasileiro. S e g u n d o T á c ito d a G a m a L e ite F ilh o , a p alavra “u m b a n d a” te m sua o rig em n o te rm o kandombile (c u lto e o ração ’)”, m as, ta m b é m , p o d e re ferir-se às d an ças dos escravos nas fazen d as ao som de atab a q u es”.100 N o C a n d o m b lé , o c e rim o n ia l é d ife re n te d os d em ais cultos afros. O s segredos são p assad o s d e geração em geração, p ela fam ília. A ssim , palavras, m úsicas e certo s aspectos dos ritu ais fo ra m co n serv ad o s. A ritu a lístic a se divide em duas p artes: os p rep arativ o s p a ra o culto, q u e se in iciam até dois 100 LEITE FILHO, Tácito da Gama. Seitas mágico-religiosas. 2a ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 51.

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dias antes, sen d o u m ritu a l secreto, e as cerim ô n ias d o culto. T u d o é b e m o rg a n iz ad o . C a d a g ru p o te m seu líder, q u e coo rd e n a os tra b a lh o s, o rie n ta n d o e c u id a n d o p a ra que tu d o tra n sc o rra d e m a n e ira satisfató ria. G e ra lm e n te , u m a festa d e C a n d o m b lé co m eça co m a m a ta n ç a de an im ais, em m eio aos cân tico s e d an ças sagrados. O san g u e d os an im ais é asp erg id o sobre as p ed ras dos o rixás sec retam en te. Q u a lq u e r ce rim ô n ia é a b e rta com cân tico s ritu ais a E x u . Q u a lq u e r o fe ren d a p recisa ser p re c e d id a das oferen d as a E x u . N essas festas, os orixás b aix am , o b rig a tó ria m e n te , p rim e iro n o p ai de san to o u m ãe d e san to ; d ep o is, n os d em ais filhos o u filhas de san to . Q u a n d o o orixá se in c o rp o ra, c u m p rim e n ta m -s e com o abraço u m b a n d ístic o - o m b ro d ire ito /e sq u e rd o , em seguida, são c a n ta d o s os p o n to s p a ra a e n tid a d e do dia. A q u i, se faz necessário u m esc la recim en to im p o rta n tíssim o. N o s terreiro s d e U m b a n d a , n ão é c o m u m baix arem ou in c o rp o ra re m os orixás. Q u e m in c o rp o ra são as e n tid ad es co n sid erad as in ferio res aos orixás: p re to s v elhos, caboclos, crianças e exus. O orixá só baixa q u a n d o é p re v ia m e n te in vocado.

U m banda A palavra “m b a n d a ” é de o rig em african a e designava, o rig in a ria m e n te , o g rã o -sa c e rd o te do cu lto b a n to ou, ta m b é m , o evo cad or dos esp írito s o u feiticeiro. A p re se n ta -se co m o u m sin cretism o exótico de p rá tica s fetich istas e rito s católicos,

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deuses african o s e san to s católicos, d o u trin a s k ard ecistas e e n sin a m e n to s cristãos. Se a U m b a n d a fosse u m m o v im en to p u ra m e n te cultural ou étnico, com a exclusiva finalidade de conservar o u m esm o re in tro d u z ir tradições, usos o u costum es africanos, am erín d io s ou o u tro s q uaisq u er de caráter folclórico/religioso, m as p e rm an ecen d o nos lim ites d a m o ral n atu ral, ela n ão seria u m p ro b lem a d a Igreja, m as d o M in isté rio d a E d u cação e C u ltu ra. E n tre ta n to , a U m b a n d a se ap resen ta com o u m m o v im en to religioso. O s elem en to s culturais que ela apresenta, o u fo m e n ta, são to d o s im p reg n ad o s de idéias n itid a m e n te religiosa e estão em função quase exclusiva dessas idéias. O q ue p o d e m co existir p ac ific am en te em u m só in d iv íd u o são a c u ltu ra e a religião, p o ré m , é im possível a u n ião h a rm o n io sa de du as o u m ais religiões d istin ta s n u m m e sm o ser ra cio n al e p e n sa n te . O sin cre tism o religioso é u m ab su rd o filosófico e só p o d e ser d e fe n d id o p o r q u e m d esco n h ece os elem en to s essenciais d a religião. E possível ser, ao m esm o te m p o , cristão e ja p o n ê s. T o d av ia, n ão é adm issível ser, ao m esm o te m p o , cristão e b u d ista . A lg u é m p o d e ser cristão e árabe, m as n ão cristão e m u çu lm an o . Isso p o rq u e sua d o u trina sobre D e u s é p a n te ísta e, co m o tal, c o n te sta e deve c o n te sta r to d a u m a lo n g a série de v erd ad es cristãs: n eg a a T rin d a d e ; n eg a a existência d e u m D e u s pessoal e d istin to d o m u n d o ; n eg a a d o u trin a cristã a re sp eito d a o rig em e d a criação do U niv erso ; n eg a a criação d a alm a h u m a n a ; n eg a a d iv in d ad e de Jesu s C risto . E n tre m u ita s o u tras negações.

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E m sua d o u trin a sobre o h o m e m , a U m b a n d a en d o ssa a d o u trin a esp írita k ard ecista d a reen carn ação , c o n te sta n d o m ais o u tra seq u ên cia de verdades c la ra m e n te en sin ad as p o r C risto . N e g a a red en ção p ela paixão e m o rte de C risto ; n eg a a g raça de D e u s e to d a a d o u trin a cristã d o so b ren atu ral; n eg a a u n ic id a d e d a v id a terrestre; n eg a o ju íz o p a rtic u la r e o ju íz o final d ep o is d a m o rte ; n eg a a ex istên cia d o in fern o . E n tre o u tras. A U m b a n d a id e n tific a -se su b sta n c ia lm e n te co m o esp iritism o , p ois p ra tic a m evocação d os esp írito s (n ecro m an cia), te n ta m colo car os esp írito s d ire ta e sen siv elm en te ao serviço do h o m e m (m agia) e aceitam a te o ria d a reen carn ação .

Q u im b a n d a Q u a n d o d a c h e g ad a dos escravos n o B rasil, to d o s c o n h e ciam a palavra U m b a n d a e, p rin c ip a lm e n te , o te rm o Q u im b a n d a — m u ito m ais u sad o — co rren tes en tre eles p a ra d e sig n ar os “sacerd o tes d o fe tic h e ”.101 C o m o p assar d o te m p o , Q u im b a n d a se to rn o u u m a varia n te da U m b a n d a . A ssim , a Q u im b a n d a ficou sen d o con h e c id a co m o a im ag em in v e rtid a d a U m b a n d a . T u d o que se passa n o re in o d a U m b a n d a , q u e se in titu la m ag ia b ra n c a (a d o b e m ), te m o seu eq u iv alen te n a Q u im b a n d a , q u e é d e n o 101 Quando, no século 15, os portugueses se encontraram com os nativos africanos, verificaram que eles veneravam uns objetos fora do comum, de formas humanas uns, outros simples enfeites trazidos no peito, nos pulsos, por todo o corpo, e deram o nome a esses objetos de “feitiço” . Hoje, a palavra “ fetiche” designa um objeto animado ou inanimado, feito pelo homem (feiticeiro) ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto.

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m in a d a de m ag ia n eg ra (a d o m al). S e g u n d o T ác ito d a G a m a L e ite F ilh o , “não h á razão p a ra d esv in cu lar a Q u im b a n d a da U m b a n d a , a n ão ser o in teresse dos u m b a n d ista s de o ferecerem ao povo u m a im a g e m p o sitiv a d a sua religião, co m o p ra tic a n d o apenas o b e m ”.102 U m b a n d a e Q u im b a n d a vivem en trelaçad as. P elo fato d e a U m b a n d a ser m ais co n h e c id a d o q u e a Q u im b a n d a , seria d e se p re su m ir q u e a Q u im b a n d a fosse o rig in á ria d a U m b a n d a , m as é e x a ta m e n te o co n trá rio . A Q u im b a n d a p reced e a U m b a n d a .

102 Seitas mágico-religiosas. 2a ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1994, p. 62.

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Ca p ít u l o 3

ESPIRITISMO KARDECISTA

Histórico E m 1925, em P aris, F ran ç a, foi aprovado, n o C o n g resso In te rn a c io n a l d e E sp iritism o , a c o n stru ç ão de u m m o n u m e n to co m em o ra tiv o n a cid ad e de H y d esv ille, E sta d o s U n idos, p a ra so len izar as p rim eiras m an ifestaçõ es esp íritas que o co rrera m em 31 de m arço de 1848, nas pessoas das irm ãs M a rg a re te e K ate Fox. O m o n u m e n to recebeu, d ep o is, as seg u in te s inscrições: “E rig id o a 4 de d e z e m b ro de 1927 pelos esp iritistas de to d o o m u n d o , em co m em o ra ção d a revelação d o esp iritism o m o d e rn o em H y desville, N o v a York, a 31 d e m arço d e 1848, em h o m e n a g e m à m e d iu n id a d e , base de to d as as d e m o n straçõ es sobre q u e se ap o ia o esp iritism o . A m o rte n ão existe. N ã o h á m o rto s ”.103 P ara re co rd ar as irm ãs Fox, g rav aram , n u m a láp id e de m á rm o re , as seg u in tes palavras: “A q u i n asceu o m o v im e n to e sp iritista m o d e rn o . N e ste lugar, estava, em H y desville, a casa de h ab itaçã o das irm ãs Fox, cuja co m u n icação m e d iú n ica co m o m u n d o dos esp írito s foi estab elecid a a 31 d e m arço 103 KLOPPENBURG, Boaventura. Espiritismo: orientação para os católicos. São Paulo: Editora Loyola, 1986, p. 13.

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de 1848. A m o rte n ão existe. N ã o h á m o rto s. E s ta láp id e foi colocada p o r M m e . C a d w a lla d e r”.104 T o d o esse a c o n te c im e n to foi re g istrad o n a revista La Re-

vue Spirite, (n o v em b ro de 1928, p. 5 1 1 -2 ) sob o títu lo : “U m g ra n d e a c o n te c im e n to n a h istó ria do e sp iritism o ”. C o m essas afirm ações, co n clu ím o s que as irm ãs Fox fo ram as p rim eiras a e n tra re m em co m u n icação m e d iú n ic a com o m u n d o dos esp írito s e, a p a rtir dessa m an ifestação , surge o m o v im e n to esp írita m o d ern o .

O m o d ern o esp ir itism o E m 1848, h o u v e u m re c ru d e sc im e n to do esp iritism o na cid ad e de H y desville, E sta d o de N o v a Y ork (E U A ). U m a fam ília de so b re n o m e F ox alu g ara u m a casa tid a co m o asso m b ra d a n a região, o n d e se estabeleceu. A fam ília era co n stitu íd a p elo dr. Jo ão Fox, sua esposa, M a rg a rid a , e suas duas filhas, M a rg a re te , cujo apelido fa m iliar era M a g g ie , e C a ta rin a, ap e lid ad a K atie. O casal Fox tin h a m ais dois filhos, que m o rav am fo ra d a casa p atern a: D a v id e A n a L e a h (ou L ia), m ais velh a q u e M ag g ie. E ra u m lu g ar m u ito p o b re de casas e de h u m ild e aspecto, g e ra lm e n te c o n stru íd as de m ad eira. Seus pais eram m e to distas. T u d o tra n sc o rria b e m até m ead o s de m arço de 1848, q u a n d o co m eç aram a ouvir golpes nas p o rta s e o b jeto s se m o v iam de u m lu g ar p ara o u tro em d e te rm in a d a s ocasiões, o q u e assustava as crianças. À s vezes, a vibração era ta n ta que 104 Ibid.

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as cam as tre m ia m . N essa d ata, M a rg a re te tin h a q u in z e anos e K ate, do ze. F in a lm e n te , n a n o ite d e 21 d e m arço de 1848, a jo v em K ate d esafio u o p o d e r invisível e re p e tia o b a ru lh o , que p arecia co m u m estalar de ded o s. O desafio foi aceito a cad a estalar de d ed o s, que era re p etid o , o q u e su rp re e n d e u to d a a fam ília. D e s ta m an eira , fo ra m in fo rm a d a s q u e o tal esp írito era a alm a de C arlo s R yan, assassinado n aq u e la casa e e n te rra d o n a d isp en sa. A n o tíc ia d e q u e era possível falar com os m o rto s p o r m eio de seu esp írito logo se esp a lh o u e a casa d a fam ília Fox co m eço u a ser fre q u e n ta d a pelos v izin h o s, q u e ali iam p assar n o ites em c o n su lta ao esp írito . A ssim , se estab eleceu c o n ta to co m o m u n d o invisível e a n o tícia co rreu , se ala stra n d o p o r o u tras p artes.

Outros continentes A p a rtir d e 1850, os “e sp írito s” in d ic a ra m u m a n o v a m a n eira de se co m u n icar: b astava sim p le sm e n te q u e se co lo cassem ao re d o r de u m a m esa, em cim a d a q u al se p o ria m as m ãos. L e v a n ta n d o u m dos seus pés, a m esa d aria (e n q u a n to se recitava o alfab eto ) u m a p a n c a d a to d a v ez q u e fosse p ro ferid a a le tra q u e servisse ao esp írito p a ra fo rm a r a palavra. A ssim , p ela p rim e ira vez, em 1 8 5 0 , as m esas co m eç aram a g ira r e a d a n ç a r n os E sta d o s U n id o s. E m p o u co te m p o , as m esas g iran tes to m a ra m c o n ta dos E sta d o s U n id o s, C a n a d á e M éx ico. E m 1852, ch e g o u à E scó cia, p o r in te rm é d io de alg u n s m éd iu n s am erican o s. D a li, p asso u p a ra L o n d re s e co n -

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ENCICLOPÉDIA

q u isto u a In g la te rra . D e p o is, as m esas in iciaram o seu giro pelas cidades alem ãs de B rem en , V ien a, B erlim e B reslau. E m 185 3 , atrav esso u o R en o , in v ad iu E stra sb u rg o e e n tro u n a F ran ça. M esas, ch apéus, p ra to s, bacias, cestas... tu d o co m eç o u a lo co m o v er-se sob a p ro te ç ã o das m ãos. K lo p p e n b u rg d iz q ue “no B rasil as m esas co m eç aram a d a n ç a r em 1853. O Jornal do Comércio, d o R io de Jan eiro , foi o p rim e iro a pu b licar, p ela p rim e ira vez, artig o s sobre as m e sas g iran tes d a E u ro p a e dos E sta d o s U n id o s, em sua edição de 14 de ju n h o de 1 8 5 3 ”. 105

A lla n kardec e a co d ifica çã o d o esp ir itism o

A F ra n ç a logo se to rn a ria a p á tria d o en sin o esp írita. A li, su rg iu o d o u trin a d o r do esp iritism o , sobre cujos escritos se fu n d a m e n ta ria m quase to d o s os esp íritas d o m u n d o . E m 3 de o u tu b ro de 1804, nascia aquele que, m ais tard e, seria o co d ificad o r d o esp iritism o m o d e rn o . D e n iz a rd H ip p o ly te L é o n R ivail n asceu às 7 h o ras da n o ite , filho de Je a n B a p tiste A n to in e R ivail, m ag istrad o , ju iz , e sua esposa, Je a n ne D u h a m e l, m o rad o res de L yon. S eus p rim e iro s e stu d o s fo ra m fe ito s em sua te rra n a ta l e in te iro u a sua b a g a g e m escolar, n a cid ad e d e Y v erd u n (S u íça), o n d e e s tu d o u sob a d ireç ão do fa m o so m e stre P e sta 105 KLOPPENBURG, Boaventura. (‫ ל‬espiritismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1960, p. 12.

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lo zzi, d e q u e m re ceb eu g ra n d e in flu ên cia. In ú m e ra s vezes, q u a n d o P e sta lo z z i e ra so lic ita d o p elo s g o v ern o s, p a ra cria r I n s titu to s c o m o o d e Y v e rn u n , co nfiava a D e n iz a rd R iv ail o tra b a lh o de s u b s titu í-lo n a d ireç ão d a escola. B a c h a re lo u -se em L e tra s e C iê n c ia s e d o u to ro u -s e em M e d ic in a , após c o m p le ta r to d o s os e stu d o s m éd ico s e d e fe n d e r b rilh a n te m e n te sua tese. C o n h e c ia p e rfe ita m e n te e falava c o rre ta m e n te o alem ão , o in g lês, o ita lia n o e o e sp a n h o l. T a m b é m , tin h a c o n h e c im e n to s d o h o la n d ê s e, co m fa cilid ad e , p o d ia e x p ressar-se n e sta lín g u a. C o m apenas 19 an o s de id ad e, D e n iz a rd R ivail d e m o n strav a g ra n d e in teresse p elo m a g n e tism o an im al, u m m o v im e n to d a ép o ca c h a m a d o ta m b é m de “m e sm e rism o ”, p o rq u e fo ra criad o p elo m éd ico alem ão F ran cisco A n tô n io M e s m e r (1 7 3 3 -1 8 1 5 ), q u e m o rav a em P aris d esd e 1778. E m 1853, q u a n d o as m esas g ira n te s e d a n ç a n te s, v in d as d os E sta d o s U n id o s, in v ad iram a E u ro p a , os ad ep to s do m esm erism o o u m a g n e tista s de P aris, logo q u isera m explicar, co m suas te o rias m ag n éticas, esse cu rio so fe n ô m e n o . E m 1854, foi o an o em que, p ela p rim e ira vez, R ivail ouviu falar nas m esas g iran tes, p o r in te rm é d io d o se n h o r F o rtier, m a g n e tiz a d o r, co m q u e m estab elecera relações, em v irtu d e de seus estu d o s sobre o m ag n etism o . N o ano seg u in te, n o co m eço de 1 8 5 5 , e n c o n tro u o se n h o r C a rlo tti, am ig o de h á v in te e cinco an o s, q u e to rn o u a lhe falar sobre esses fe n ô m e n o s p o r cerca d e u m a h o ra com m u ito en tu siasm o , o q u e o fez d e sp e rta r novas idéias. N o fim d a

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conversa, disse-lh e: “U m dia, serás u m dos nossos. R e sp o n d e u -lh e : N ã o d igo q u e não. V erem os m ais ta rd e ”.106 E m m aio de 1855, R ivail foi à casa da sen h o r R oger, en co n tra n d o com o sen h o r Fortier, seu m agnetizador. E stav am presentes ali o sen h o r P âtier e a sen h o r P lan n em aiso n , que lhe falaram desses fen ô m en o s n o m esm o sen tid o que usara o sen h o r C a rlo tti. R ivail foi convidado a assistir às experiências que se realizavam n a casa do sen h o r P lan n em aiso n , n a rua G ra n d e-B ateliére , n° 18. O en co n tro foi assentado p ara terça-feira, às 8 horas d a noite. Foi ali que, pela p rim eira vez, Rivail presenciou o fe n ô m en o das m esas giran tes, que pulavam e corriam , em condições tais que não houve m ais d úvida nele.107 U m a n o ite , p o r m eio de u m m é d iu m , seu “esp írito p ro te to r d e u -lh e u m a co m u n icação to d a pessoal, em q u e lh e dizia, de p e rm e io a o u tras coisas, tê -lo co n h e cid o em u m a ex istên cia an terio r, q u an d o , ao te m p o d os D ru id a s, am b o s viviam nas G álias. E le usava, en tão , o n o m e de A lla n K ard ec”.108 F aleceu aos 65 an o s de id ad e, n o dia 31 de m arço de 1869, su cu m b id o p ela ru p tu ra de u m an eu rism a. N o seu tú m u lo , em P aris, foi colocado o seg u in te epitáfio: “N ascer, m o rrer; ren ascer e p ro g re d ir sem p re. E s ta é a le i”. A se n h o ra R ivail co n tav a co m 74 an o s q u a n d o seu esposo m o rre u . Sobreviveu até 1883, q u an d o , em 21 de ja n e iro , faleceu, co m a id ad e de 89 an o s, sem d eix ar h erd eiro s d ireto s.

106 KARDEC, Allan. Obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 4. 107 Ib id , p. 5. 108 Ibid., p. 6.

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O b ras p u b licad as Rivail participava assid u am en te das reuniões espíritas. E m cada sessão, ele levava p erg u n tas p ré-fo rm u lad as p ara que os espíritos lhe respondessem . Foi assim que decidiu reu n ir todas as inform ações que tin h a sobre o espiritism o e a ag rup ou em u m a série d e leis, q u e os espíritos haviam lh e revelado, p u b licando, no dia 18 de abril de 1857, u m a o bra com o n o m e de:

Le Livre des Espirits (0 livro dos espíritos). E ste livro alcan ço u g ra n d e repercussão, esg o ta n d o ra p id a m en te. A lla n re e d ito u -o n o ano seg u in te, p u b lican d o , co n ju n ta m e n te , u m p erió d ico d e n o m in a d o Revue Spirite (Re-

vista espírita), o p rim e iro órgão e sp írita da F ran ça. E m 1° de ab ril de 1858, fu n d o u a S o ciedade P arisien se de E stu d o s E sp íritas. E m 185 9 , p u b lic a O que é 0 espiritismo. E d ito u o Livro

dos médiuns, q u e su rg iu n a p rim e ira q u in z e n a de ja n e iro de 1 8 6 1 , c o n sid e ra d o co m o a o b ra m ais im p o rta n te so b re a p rá tic a do e sp iritism o e x p e rim e n ta l. E m 18 62 , p u b lic o u u m a Refutação de críticas contra 0 espiritismo. E m a b ril de 18 6 4, o Imitação do evangelho segundo 0 espiritismo, q u e, m ais ta rd e , foi a lte ra d o p a ra o Evangelho segundo 0 espiritismo, co m explicaçõ es das p a rá b o la s d e Je su s, ap licação e c o n c o rd â n c ia d a m e sm a co m o e sp iritism o . K ard ec in te rp re ta os serm õ es e as p a rá b o la s d e Jesu s d e m a n e ira q u e c o n c o rd e co m os seus en sin o s e co m as cren ças e sp írita s e a n im istas q u e se m p re ex istiram . E m 1° de ag o sto de 1 8 6 5 , la n ç o u no v a o b ra co m o títu lo de 0 céu e 0 inferno o u a Justiça di­

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vina segundo

0 espiritismo. E m ja n e iro de 1 8 6 8 , a

Gênese, os

milagres e aspredições segundo 0 espiritismo, co m a q u al c o m p le ta a co d ificação d a d o u trin a esp írita .

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Ca p ít u l o 4

ESPIRITISMO NO BRASIL

Histórico N o B rasil, o fe n ô m e n o das m esas d a n ç a n te s se in icio u em 1853. E m suas investigações, K lo p p e n b u rg n os in fo rm a que

“O Jornal do Comércio, d o R io d e Jan e iro , foi o p rim e iro a pu blicar, p ela p rim e ira vez, so b re as m esas g ira n te s d a E u ro p a e d os E sta d o s U n id o s, em sua ed ição d e 14 de ju n h o de 1 8 5 3 ”.109 D u a s sem an as d ep o is, n o d ia 30 de ju n h o , o m esm o jo rn a l in fo rm a , sob o títu lo de “A ro taç ão elétrica”, os fe n o m en o s qu e em p o lg av am P aris, d ep o is de te re m feito sucesso nos E sta d o s U n id o s, M éx ico , L o n d re s, V ie n a e B erlim . N o dia 2 de ju lh o de 1853, o Diário de Pernambuco, ed itad o no Recife, in fo rm av a seus leitores que, em Paris, g ra n d e era a curiosidade d a sociedade parisiense que to d o s ficavam em silêncio em to rn o das m esas, esp eran d o algum m o v im e n to .110 O jo rn a l Cearense, d e F o rtaleza , n a edição d e 3 de ju lh o de 1853, in fo rm av a aos seus leito res sobre o m o d o co m o fazer g irar as m esas. E ste m esm o jo rn a l, n a edição d e 19 de m aio de 1854, in fo rm av a sobre a evocação d e alm as p o r m eio das m e 109 KLOPPENBURG, Boaventura. O espiritismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1960, p. 12. llO Ibid., p. 13.

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sas g iran tes, co n c lu in d o q u e “a evocação se faz p o r in te rm é dio d e u m ilu m in ad o , a q u em se d á o n o m e de m é d iu m ”.111 A p rim e ira sessão esp írita realizad a no B rasil o co rreu em Salvador, B ah ia, n o d ia 17 de setem b ro de 1865, sob a d ireção de L u ís O lím p io T eles de M e n e z e s. N e ste m esm o ano, T eles d e M e n e z e s fu n d o u n a B ah ia o p rim e iro C e n tro E s p írita , d e n o m in a d o “G ru p o fa m iliar do e sp iritism o ”, que te rá v id a efêm era. E m 28 d e n o v em b ro de 1873, m em b ro s d o ex tin to “G ru po fa m iliar d o e sp iritism o ” fu n d a m a A sso ciação E sp írita B rasileira. N o an o seg u in te, alguns sócios d a associação fizera m surgir, sem p re n a B ah ia, o G ru p o S a n ta T eresa de Jesus. F oi assim que o esp iritism o n o B rasil co n q u isto u a d e p to s, p assan d o d a m esa ro d a n te p a ra a m esa falan te; d a m esa in te lig e n te à relação co m os m o rto s; d a co m u n icação com os m o rto s a novas revelações; d estas revelações a u m a nova religião, com d o u trin a s e p ráticas o p o stas ao ev an g elh o de Jesus C risto .

Divisões do espiritismo no Brasil E n tre nó s, h á três g ru p o s de esp íritas b e m separados: • O e sp iritism o k a rd e c ista • O e sp iritism o ra c io n a lista • O e sp iritism o u m b a n d ista

111 Ib id , p. 14.

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Espiritismo kardecista Q u e p o d e, ta m b é m , ser c h a m a d o d e esp iritism o o rto d o x o . A q u ele qu e está filiado à F ed eração E s p írita B rasileira e p a ra q u em A lla n K ard ec é co n sid erad o o m estre divino. É o m ais tra d ic io n a l e o m ais b e m o rg a n iz ad o , sen d o o m a io r g ru p o . N o livro Obras póstumas, A lla n K ard ec re la to u sua p ro fu n d a in q u ietação em relação à u n id a d e do esp iritism o .

Espiritismo racionalista do redentor S urgiu em 1910, com L uis de M a tto s, com o n o m e d e “E sp iritism o racional e científico”, que te m sua sede p rin cip al no R io de Janeiro. U ltim a m e n te , tro caram o n o m e p ara “R acionalism o C ristã o ”. E n tre seus adeptos, é ch am ad o de “R e d e n to ristas”, p o r causa do n o m e “R e d e n to r” d ad o aos centros filiados. Suas m aiores especialidades são a cura e o fo rn ecim en to de prescrições m édicas astrais. Possui tem p lo s su n tu o so s em várias regiões de São Paulo.

Espiritismo umbandista N ã o te m u m a d a ta ce rta p a ra sua ap arição n o B rasil. T ra ta -se , p o ré m , d e u m a seita afro -b rasileira, sen d o d iv u lg ad a m ais co m o folclore d o q u e co m o religião, e m b o ra advogue ✓

esta ú ltim a co n d ição . E fo rm a d o p elo sin cre tism o de cultos afros, a m e rín d io s e cato licism o e u ro p e u tra z id o pelos p o rtu gueses. D e c la ra -se co m o objetivo de d esfazer os m ales in v o cados p ela Q u im b a n d a pelos exus. E voca, d ife re n te m e n te do esp iritism o k ard ecista, os orixás, seres elem en tares d a n a tu re -

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za. M a s evoca, ta m b é m , os esp írito s dos p re to s velhos e cab o cios, que são, seg u n d o eles, os esp írito s dos ín d io s falecidos.

E x iste m m u ita s o u tras o rg an izaçõ es qu e n ão são d ireta m e n te esp iritistas, m as q ue, em suas p ráticas e d o u trin a s, m u ito se ap ro x im am d o esp iritism o . V ejam os:

A Legião da Boa Vontade E m b o ra n ão esteja filiada à F ed eração E s p írita d o B rasil, aceita a id eia de A lz iro Z a ru r, seg u n d o se afirm a, era a re e n carnação de A lla n K ardec. N ã o crê que C risto tivesse co rp o real e h u m a n o , seg u in d o a lin h a de p e n sa m e n to de Jo ã o B a tista R o u stain g .

Cultura Racional F oi fu n d a d a p o r M a n o e l J a c in th o C o e lh o em 1935, no R io de Ja n e iro (M ey er), sen d o so m e n te div u lg ad a a p a rtir de 1970, q u a n d o alcan ço u fam a n acio nal. A c e ita a m e te m p sic o se (re to rn o do esp írito do falecido a seres inferio res).

Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento F o i fu n d a d o em 1909 p o r A n tô n io O lív io R o d rig u es, o g ru p o p o ssu i, esp alh ad o s p elo B rasil, m ilh ares de ta ttw as o u cen tro s. A c e ita a d o u trin a re en carn acio n ista .

O rd e m R o sacru z C om

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suas várias

o rg an izaçõ es, com o, p o r

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exem plo:

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A M O R C (A n tig a e M ís tic a O rd e m R osae C ru cis), a fra te rn id a d e segue u m a trad içã o m ístic a egípcia. A leg a ser o rig in á ria do re in a d o de A m e n h o te p IV, im p e ra d o r eg íp cio em 1353 a.C ., m ais co n h e c id o com o A k h e n a to n . Suas co rren tes são: a fra te rn id a d e R o sacru z, d e M a x H e in d e l, a F R C (F ra te rn id a d e R osae C ru cis) de C ly m er, a F R A (F ra te rn ita R o sacru cian a A n tiq u a ) d e K ru m m h e lle r ou a Ig reja G n ó stic a e a O rd e m C ab alístic a d a R o sacru z (Igreja E x p e c ta n te d o Sr. L é o A lv arez C o s te t de M a sc h e v ille ).112

Teosofia F u n d a d a p ela m a d a m e H e le n a P e tro v n a B lavatsky e H e n A

ry S teel O lc o tt, em A dyar, ín d ia . N o B rasil, são duas as so ciedades teosóficas: a S o cied ad e T eosófica n o B rasil (sede em São P au lo ), que é a Secção N a c io n a l d a S o cied ad e T eosófica M u n d ia l; e a S o cied ad e T eo só fica B rasileira (sede em São L o u re n ç o , M G ) . A m b a s tê m suas lojas o u ram as esp alh ad as pelo B rasil. P o r fim , p o d e ria m o s a g ru p a r a in d a as seitas o rien tais, com o, p o r exem plo, a S e ic h o -n o -Ie , a Ig reja M e ssiâ n ic a M u n d ia l, a A rte M a h ik a ri, a P e rfe c t L ib e rty ; e, ta m b é m , as p ro v in d as do h in d u ísm o , com o: o m o v im e n to H a re K rish n a, a M e d ita ç ã o T ra n sc e n d e n ta l, e n tre o u tras. T o d as ad ep tas do reen carn acio n ism o .

112 Ver, no volume 3, seitas secretas.

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Causas da difusão espirita no brasil E n tre to d as as nações do m u n d o , d estac a-se o B rasil, in te rn a c io n a lm e n te co n h e c id o co m o sen d o o m a io r país esp írita d o p la n e ta . P ara os esp íritas, o B rasil é o “coração do m u n d o e a p á tria d o ev an g elh o ”.113 N ã o se p o d e c o n te sta r a p re se n ça d o e sp iritism o n o B rasil. V erem os, agora, os fato res q u e cau saram , facilitaram e /o u p e rm itira m a p e n e tra ç ã o das d o u trin a s reen carn acio n ista s e das p ráticas esp íritas n o B rasil:

A facilidade de abrir centros C o m a lib erd ad e religiosa, cad a u m p o d e, p o r sua v o n ta de, ab rir u m ce n tro o u fo rm a r novos g ru p o s. N ã o h á reg u lam e n ta ç ã o n e m p rescrição. O ce n tro p o d e viver in te ira m e n te in d e p e n d e n te e à v o n tad e, e sem n e n h u m a o rie n ta ç ã o d a F ederação E sp írita .

Liberdade de culto A C o n stitu iç ã o de 25 de m arço de 1 8 2 4 previa, em seu artig o 5 o, qu e a “religião C a tó lic a A p o stó lic a R o m a n a co n tin u a rá a ser a religião d o im p ério . T o d as as o u tras relig iões serão p e rm itid a s co m seu cu lto d o m éstico , o u p articu lar, em casas p a ra isso d estin ad as, sem fo rm a alg u m a ex terio r de te m p lo ”. D e ssa fo rm a , a p rim e ira C o n stitu iç ã o b rasileira era co nfessio nal e, ap esar d a co n sag ração d a lib erd ad e de crença 113 Título dado a um livro psicografado por Francisco Cândido Xavier e “ditado pelo espírito de H um berto Campos” .

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religiosa, n ão assegurava a lib erd ad e de cu lto p ú b lico , so m e n te p e rm itin d o a religião católica. C o m o ad v en to d a p rim e ira C o n stitu iç ã o d a R ep ú b lica, o B rasil p asso u a ser u m E sta d o laico e a co n sag rar am p la lib erd ad e de cren ça e cu lto relig io so. A C o n stitu iç ã o F ed eral de 1988, em seu artig o 5 o, inciso V I, co n sag ra q u e “é inviolável a lib erd ad e d e co n sciên cia e de cren ça, sen d o asseg u rad o o livre exercício dos cu lto s relig io sos e g a ra n tid a , n a fo rm a d a lei, a p ro teç ão aos locais de culto e às suas litu rg ia s”. Vale ressaltar q u e o d ireito c o n stitu c io n a l co n sag rad o da lib erd ad e de co n sciên cia e exercício p len o d a p rá tic a relig io sa só p o d e sofrer re striç ão d o P o d e r P ú b lico , caso os cu lto s, p regaçõ es o u cân tico s c o n tra rie m a o rd e m , o sossego e a tra n q u ilid a d e p ú b lica. C aso seja d e m o n stra d o q u e a p rá tic a religiosa d os ad e p to s, p elo exagero d e g rito s e d ep red açõ es n o in te rio r d o te m p lo (que n ão o b tev e p a ra sua localização, au to riza ção d o P o d e r P ú b lico ) v em p e rtu rb a n d o o rep o u so e o b e m -e s ta r d a co letiv id ad e, lícito é ao m u n ic íp io p ro ib ir A

tal p rá tic a em z o n a resid en cial d a c id a d e .114 E p o r isso q u e os esp íritas fazem q u estão de co n sid erar o esp iritism o com o religião.

Você é um médium Se você é u m m é d iu m , p recisa desenvolver-se. São as p a lavras dos esp íritas q u a n d o se d e p a ra m co m alg u m as pessoas com p ro b lem as lig ad o s à in sô n ia, triste z a , p e rtu rb a ç ã o , ar114 Foi o que decidiu o Tribunal de Justiça do Paraná em sua I a Câmara Civil.

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rep ios, e n tre o u tro s p ro b lem as e dificuldades. L o g o , a id eia do e sp írita é que essa pessoa está sob a pressão de esp íritos opressores e, p o r isso, p recisa desenvolver a m e d iu n id a d e n u m ce n tro esp írita. E lá vai o in d iv íd u o ch eio de esp eran ça de v er-se livre desses in c ô m o d o s inexplicáveis. E n v o lv en d o -se co m o esp iritism o , vem , em seguida, o te m o r de sair, ju lg a n d o q ue as co n seq u ên cias serão fatais.

A grande saudade dos mortos E ssa sau d ad e é h a b ilm e n te ex p lo rad a p elo esp iritism o .

A ignorância religiosa do povo brasileiro A ig n o râ n c ia religiosa d o povo b rasileiro favorece o avanço d o esp iritism o . A o s m en o s favorecidos, d izem , o esp iritism o é carid ad e, aos ig n o ra n te s, a p re se n ta m -n o co m o religião; aos in telectu ais, q u e re m p in tá -lo co m o filosofia e ciência. P ro m e te m resolver e elu cid ar to d o s os p ro b lem as “cien tific a m e n te ”. N o m e s re tu m b a n te s O s n o m es de e ru d ito s, p o etas e, até m esm o , de apó sto lo s são exp lo rado s com im p u d ê n c ia . O lav o B ilac, R u i B arb o sa, o ap ó sto lo P au lo e to d o s os d em ais se to rn a m esp íritas (depois da m o rte ).

Fachada cristã O povo, em geral, é ig n o ra n te em se tra ta n d o de religião, m as q u e r ser de C risto . B asta, p ois, ap re se n ta r a face de C ris-

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to p a ra te r u m m u n d o de seguidores. P o r m ais errô n ea e a n ticristã qu e seja u m a d o u trin a , se fo r a p re se n ta d a co m o “cristã”, te rá ad ep to s. E sse é o m o tiv o p elo q u al tem o s n o B rasil o “esp iritism o cristão ”. R e p e te m e p ro p a g a m q u e o “esp iritism o e o cristian ism o e n sin a m a m esm a coisa”, q u e “o esp iritism o é o m ais p u ro e leg ítim o cristian ism o ”. D iz e m -s e cren tes, m as n ão aceitam a fé; d iz e m ser cristãos, m as re jeitam o b atism o ; u sam a B íblia, m as atacam as v erd ad es bíblicas; a d m ira m o S e n h o r Jesu s, m as afirm am q u e E le n ão é D eu s.

A curiosidade A

E a m ãe das ciências e, co m o tal, b o a, m as p o d e ser d esreg ra d a e levar à desgraça. M a s é u m a in clin ação n a tu ra l, in d iscu tiv elm en te favorável ao esp iritism o , co m seus fe n ô m en o s.

Religião mais cômoda O h o m e m , p o r in clin ação e n a tu re z a , n ecessita de u m a “religião ”. O cristian ism o é ríg id o e inflexível em seus p rin c ípios m o rais, exige sujeição e o b ed iên c ia às q u estõ es essenciais e oferece u m a so m b ria p ersp ectiv a de co n d en ação d ep o is d a m o rte. O esp iritism o é m ais liberal, n ão te m p rin cíp io s sólidos e o b rig ató rio s, n eg a o in fe rn o e a p resen ta a o p o rtu n id a d e de novas en carn açõ es. É , pois, u m a religião m en o s ex igente, m ais fácil e m ais cô m o d a.

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C

a p í t u l o

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DOUTRINA ESPÍRITA

A verdadeira religião O esp iritism o reiv in d ica ser u m a religião. A firm a ser a “v erd ad eira relig ião ”, su p e rio r a to d as as o u tras, a in d a que alguns de seus ad e p to s aleg u em qu e o esp iritism o seja apenas filosofia ou ciência. V ejam os alg um as declarações d o codificad o r d o esp iritism o , A lla n K ardec: “O esp iritism o foi c h a m a d o a d e se m p e n h a r u m p ap el im en so n a terra. R e fo rm a rá a legislação ta n ta s vezes c o n trá ria às leis divinas; retificará os erros d a h istó ria; re sta u ra rá a religião do C risto , que nas m ãos dos clérigos se tra n sfo rm o u em co m ércio e tráfico vil; in s titu irá a v erd ad eira religião, a religião n a tu ra l, a q u e p a rte d o coração e vai d ireto a D e u s, sem se d e te r às abas d e u m a so ta in a ou n os d egrau s d e u m a lta r”.113 E , ain d a, fo i-lh e in fo rm a d o que: “A p ro x im a -se a h o ra em q u e terás q ue d ec la rar a b e rta m e n te o q ue é o e sp iritism o e m o stra r a to d o s o n d e está a v erd ad eira d o u trin a en sin ad a p elo C risto . A h o ra em que, à face d o céu e d a terra, deverás p ro c la m a r o esp iritism o com o 115 Obras póstumas —obra completa. São Paulo: Editora: Opus, p. 1175.

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ú n ica tra d iç ã o re a lm e n te cristã, a ú n ica in stitu iç ã o v erd ad eira m e n te d iv in a e h u m a n a ”.116 E m o u tro d e seus livros, escreveu que: “A p ro x im a -se a h o ra em qu e deverás a p re se n ta r o esp iritism o tal co m o é, d e m o n stra n d o a b e rta m e n te o n d e se e n c o n tra a v erd ad eira d o u trin a en sin ad a p elo C risto . A p ro x im a-se a h o ra em q ue, d ia n te dos céus e d a te rra , terá s d e p ro c la m a r o esp iritism o co m o ú n ic a trad içã o v e rd a d e ira m e n te cristã, ú n ic a in stitu iç ã o d e caracteres a u te n tic a m e n te esp iritu ais e h u m a n o s ”.117 O e sp iritism o alega ser a v erd ad eira religião d o C risto tal co m o foi revelado a A lla n K ard ec pelos esp írito s. O cristian ism o te m seus fu n d a m e n to s h istó rico s e d o u trin á rio s b aseados n a B íblia. Q u a lq u e r m o v im e n to religioso que alegue ser cristãos deve te r seus en sino s co n fro n tad o s com a P alavra de D e u s p a ra se verificar a v eracid ade dos m esm o s e se, de fato, p o d e m ser ch a m a d o s cristãos.

O espiritismo e a Bíblia *

E d o u trin a da Igreja que os livros da S agrada E scritu ra, ta n to no A n tig o q u an to no N ovo T estam en to , fo ram escritos sob a inspiração do E sp írito S an to e, p o rta n to , tê m o S e n h o r D eu s ✓ p o r A u tor. E u m a das verdades fu n d am en tais do cristianism o. E m to d o s os séculos, apesar de o u tras divergências en tre os cristãos, todo s sem pre co n co rd aram neste p o n to básico. lló lb id ., p. 1178. 117 Evangelho segundo o espiritismo —obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 519.

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V erdade é q u e os esp íritas citam ta m b é m alguns tex to s d a B íblia, m as ap en as co m o tá tic a d e p ro p a g a n d a e n tre os cristãos. Q u e re m , co m isso, p ro d u z ir a im p ressão de q u e ta m b é m re sp e ita m a B íb lia e a te m em ig u al co n ta. A llan K ardec arroga ao esp iritism o a condição de ser a te rceira revelação d e D eu s, que veio co m p letar a revelação inicial dada a M o isés com o A n tig o T estam en to , co m p lem en tad a p o r Jesus com o N o v o T e sta m e n to e co n clu íd a pelos espíritos. D e clarou que: “A p ro x im a-se a h o ra em que deverás ap resen tar o espiritism o tal com o é, d e m o n stra n d o ab e rtam en te o n d e se e n c o n tra a verdadeira d o u trin a en sin ad a p elo C risto ”.118 “A lei do A n tig o T e sta m e n to teve em M o isés a sua p e rsonificação; a d o N o v o T e sta m e n to a te m no C risto . O esp iritism o é a terceira revelação da lei de D eu s, m as não te m a person ificá-la n e n h u m a individualidade, p o rq u e é fru to do ensino dado, não p o r u m h o m e m m as pelos espíritos, que são as vozes do céu em to d o s os p o n to s d a terra, com o concurso de u m a legião inum erável de in te rm e d iá rio s”.119 A lla n K ard ec afirm o u a in d a n o livro Evangelho segundo 0

espiritismo q u e “O cristian ism o e o esp iritism o e n sin a m a •

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m e sm a coisa .

120

Se o esp iritism o en sin a as m esm as d o u trin a s q u e o cristian ism o , é de se esp e rar q u e os seus e n sin a m e n to s co n c o r118 Obras Póstumas - obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 1178. 119 Evangelho segundo o espiritismo - obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 534. 120 Ibid., p. 530.

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d em co m as palavras de Jesus e dos ap ó sto lo s. A ssim sendo, re sta -n o s averig u arm o s os fatos. V ejam os o que K ard ec d iz a re sp eito d a B íblia: “A B íblia c o n té m e v id e n te m e n te fato s q u e a razão, d e senvolvida p ela ciência, n ão p o d e h oje aceitar, e o u tro s que p arecem singulares, m as re p u g n a m , p o r se lig arem a co stu m es que não são m ais os nossos. A ciência, lev an d o as suas investigações d esd e as e n tra n h a s d a te rra até as p ro fu n d e zas do céu, d e m o n stro u , in q u e stio n a v e lm e n te , os erros d a gênese m osaica, to m a d a ao p é d a letra, e a im p o ssib ilid ad e m a te ria l de q u e as coisas se passassem c o n fo rm e o m o d o p elo q ual estão aí te x tu a lm e n te n arrad as, d an d o , p o r essa fo rm a, p ro fu n d o g o lp e nas crenças seculares”.121 O u tr o líd e r esp írita, L é o n D e n n is, já é m ais explícito. D e clarou sim p le sm e n te que "... n ão p o d e ria a B íb lia ser co n sid e ra d a a P alavra de D e u s, n em u m a revelação so b ren atu ral. O qu e se deve n ela ver é u m a co m p ilação de n arrativ as h istó ricas o u leg en d árias, de e n sin a m e n to s sublim es, de p a r com p o rm e n o re s, às vezes, triv iais”.122 C o m essas d eclarações d o p ró p rio co d ificad o r d o esp iritism o a re sp eito d a B íblia, v erifica-se q u e o esp iritism o en sin a o o p o sto do cristian ism o . A p ró p ria B íb lia esclarece que não é sim p le sm e n te u m a lite ra tu ra in sp ira d o ra , co m o os livros de S h ak esp eare, M ilto n , H o m e ro o u u m reg istro falível das palavras de D e u s, m as, sim , a infalível P alavra de D e u s (2 T m 3.16; 2 P e 1.21). 121 A gênese ‫ ־‬obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 911. 81 Cristianismo e espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 ° ed., 1978, p. 267. 122

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A p alavra “in sp ira d a ”, n o g rego theopneustos, u sad a em 2 T im ó te o 3 .1 6 , significa “D e u s so p ro u ”. A ssim , as E s c ritu ras são so p rad as p o r D e u s. P ed ro falo u q u e “a p ro fecia n u n c a foi p ro d u z id a p o r v o n ta d e d e h o m e m alg u m , m as os h o m e n s santos de D e u s falaram in sp irad o s p elo E s p írito S a n to ” (2Pe 1.21), o q u e co n firm a q u e os escrito res fo ra m m o v id o s p o r D e u s p a ra escrever aq u ilo q u e E le q u eria. P o rta n to , se D e u s in sp iro u os escrito s, co n c lu ím o s, c e rta m e n te , q u e são p e rfe ito s e infalíveis.

D eu s A d o u tr in a e s p írita so b re D e u s é a m b íg u a , o ra assu m in d o a sp e c to s d e ísta s, o ra a sp e c to s p a n te ís ta s , o ra c o n fu n d in d o - s e co m o c ris tia n is m o h is tó ric o . N o Livro dos

espíritos, A lla n K a rd e c re sp o n d e à p e r g u n ta so b re o “q u e é D e u s ” co m a se g u in te assertiv a: “D e u s é a in te lig ê n c ia su p re m a , c a u sa p rim á ria d e to d a s as c o isas”.123 A fim de explicar a existência d e D e u s, ele se vale d a arg u m e n ta ç ã o clássica d eísta, de q u e “n ão h á efeito sem causa”. A p ela, ta m b é m , p ara o “s e n tim e n to in tu itiv o de q u e to d o s os h o m e n s carreg am em si m esm o s a existência d e D e u s ”.124 D e acordo com a co n cep ção d eísta, D e u s te ria criad o o U n iv erso e, d ep o is, se re tira d o dele, d eix a n d o -o e n tre g u e à ação das leis físicas q u e, d esd e en tão , o g o v ern am , co m o se o U n iv erso fosse u m g ra n d e relógio. D e u s seria, p o rta n to , a causa p rim á ria d o U n iv erso , p o ré m , n ão está im a n e n te nele; q u alq u er c o n tato co m a d iv in d ad e é im possível. 123 P. 50. 124 Ibid., p. 51. Es

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P o r o u tro lado, o p ró p rio K ard ec afirm a q u e “D e u s é e te rno, in fin ito , im u táv el, im aterial, único, T o d o -P o d e ro so , so b era n a m e n te ju s to e b o m ”.125 E ste co n ceito q u e K ard ec d eclara acerca de D e u s co rro b o ra co m o q u e o cristian ism o afirm a em relação a alguns a trib u to s d e D e u s. M a s, o fato d e d e te rm in a d a religião o u seita te r p o n to s em c o m u m co m o cristia n ism o b íb lico n ão é su ficien te p a ra que lh e seja co n ferid o o títu lo de cristã.

A cristologia no espiritismo A lla n K ard ec deixou u m estu d o sobre a n a tu re z a d e C risto n o livro Obras Póstumas q u e n os aju d ará a e n te n d e r o seu p e n sa m e n to sobre Jesus. A o in te rp re ta r o texto escrito pelo apóstolo João: “N o princípio era o Verbo, e o Verbo estava com D eus, e o Verbo era D eu s”, ele diz que “antes de qualquer coisa, é preciso n o tar que as palavras citadas acim a são de João e não de Jesus. A d m itin d o -se que não ten h am sido alteradas, não exprim em , na realidade, senão um a opinião pessoal, u m a indução que deixa transparecer o m isticism o habitual, contrário às reiteradas afirmações do próprio Jesus”.126 P ara os esp íritas, Jesu s n ão passa de u m m o d elo id eal da p erfeição m o ral, alg u ém em q u em D e u s d e p o sito u a sabed o ria d iv in a e o m estre p o r excelência n o e n sin a m e n to da lei de D e u s. P o r sua b o n d a d e e p u re za, Jesus te ria receb id o o 125 Ib id ,p . 52. 126 P. 1152.

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E sp írito do p ró p rio D e u s, n ão sen d o o p ró p rio D e u s, com o K ard ec deixou escrito: “Se Jesu s, ao m o rrer, e n tre g a sua alm a nas m ãos d e D e u s, é q u e E ele tin h a u m a alm a d is tin ta d a de D e u s, su b o rd in a d a a D e u s e, p o rta n to , E le n ão era D e u s ”.127 M á rio C av alca n ti d e M e llo escreveu o seg u in te: “E m face de ta n ta s provas, Jesu s C risto , a q u e m os esp íritas ven eram , n ão é D e u s, n ão é a se g u n d a pessoa d a S an tíssim a T rin d a d e ”.128 A o co n trário do espiritism o, to d o s os cristãos professam que Jesus C risto é v erd ad eiram en te D eu s e v erd ad eiram en te h o m em . A d iv indade de Jesus é fu n d a m e n ta l p ara a fé cristã. Jesus afirm ou, repetidas vezes, a sua n atu re za divina, te n do sido co n firm ad a pelos apóstolos e dem ais evangelistas do N ovo T estam en to . Várias vezes, lem os, em seu evangelho, que os ju d eu s estavam dispostos a m a ta r Jesus, co n fo rm e os textos de Jo ão 5.18; 10 .3 0 -3 3 e, p rin cip alm en te, Jo ão 8.58,59 (co m p arad o com E x o d o 3.14), N a ocasião, Jesus se id en tifico u com o sendo o “E u sou” d esta ú ltim a p assag em .129

A Trindade Q u a n to à ex istên cia d o P ai, d o F ilh o e d o E s p írito S an to - três Pessoas d istin ta s em u m a u n id a d e - u m a das d o u trinas fu n d a m e n ta is d o cristian ism o b íb lico e h istó ric o q u e o 127 Obras Póstumas - Obras Completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 1146. 128 Ver volume 3, do Curso de Teologia Básico, o capítulo sobre a divindade de Jesus. 129 Ibid.

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d istin g u e de to d as as d em ais religiões e d a m a io ria das seitas. L é o n D e n is, o filósofo d o esp iritism o , ataco u essa d o u trin a da seg u in te form a: “E x a m in e m o s os p rin cip ais d o g m as e m istério s, cujo co n ju n to c o n stitu i n o en sin o das Igrejas cristãs. E n c o n tra m o s a sua exposição em to d o s os catecism o s o rto d o x o s. C o m e ç a com essa e stra n h a co n cep ção d o S er divino, q u e se resolve no m isté rio da T rin d a d e , u m só D e u s em três Pessoas, o Pai, o F ilh o e o E s p írito S an to . E ssa co n cep ção trib u tá ria é tão obscura, in co m p ree n sív e l...”. 130 A d o u trin a d a T rin d a d e sem p re e n fre n to u d ificu ld ad es e, p o rta n to , não é de se a d m ira r q u e a Igreja, em seus esforços p ara fo rm u lá -la , te n h a sido re p e tid a m e n te te n ta d a a ra cio n alizá-la, so fren d o co m isso ataq u es dos m ais diversos. A m aio ria dos co m e n ta d o re s bíblicos das E sc ritu ra s, que p o ssu ím o s (ex clu in d o a lite ra tu ra h erética), disco rre sobre a T rin d a d e , qu e é D e u s, e expôs sua d o u trin a , co n fo rm e as E s critu ras, nos seg u in tes term o s: “O Pai, o F ilh o e o E sp írito S an to p erfaze m a u n id a d e d iv in a p ela inseparável ig u ald ad e de u m a ú n ica e m esm a su b stân cia. N ã o são, p o rta n to , três deuses, m as u m só D e u s, e m b o ra o P ai te n h a g erad o o F ilh o , e assim , o F ilh o não é o que é o Pai. O F ilh o foi g erad o p elo Pai, e assim , o P ai não é o que o F ilh o é. E o E sp írito S an to n ão é o P ai n e m o F ilh o ”.131

130 Cristianismo e espiritismo. Rio de janeiro: FEB. 7 ° ed., 1978, p. 72. 131 Ver volume 2, do Curso de Teologia Básico, o capítulo sobre a Trindade, p.18.

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A redenção A o escrever aos efésios, o ap ó sto lo P au lo explicava que “é pelo san g u e de Jesu s C ris to que tem o s a red en ção , a re m issão dos p ecad o s, se g u n d o a riq u e z a de sua g raça q u e ele d e rra m o u p ro fu n d a m e n te sobre n ó s” (1.7). N o ssa red en ção p ela paixão, m o rte e ressurreição d e Jesu s é o u tra v erdade fu n d a m e n ta l d a fé cristã. N isso co n siste a “b o a -n o v a ” o u o “ev an g elh o ”. S e g u n d o A lla n K ardec, cad a u m deve ser seu p ró p rio re d e n to r pelo sistem a de reen carn açõ es. D a í, esta d o u trin a : “T o d a falta c o m etid a, to d o m al realizad o , é u m a d ív id a co n tra íd a que deverá ser paga; se n ão o fo r em u m a existência, sê -lo -á n a seg u in te o u seg u in tes, p o rq u e to d as as existências são solidárias en tre si. A q u ele q u e resg ata seu d é b ito n u m a existência n ão te rá necessid ad e de p a g a r se g u n d a v ez”.132 P o r isso, n o esp iritism o , a so terio lo g ia (d o u trin a d a salvação do h o m e m ) é d eslo cad a d a cristo lo g ia p a ra a a n tro p o lo gia. L é o n D e n is o e n u n c ia q u a n d o escreve: “N ão . A m issão do C risto n ão era re sg atar co m o seu san g u e os crim es d a h u m a n id a d e . O san g u e, m esm o d e u m D e u s, n ão seria cap az de re sg atar n in g u é m . C a d a q u al deve re sg a tar-se a si m esm o , re sg a tar-se d a ig n o râ n c ia e d o m a l”.133 N a d o u trin a esp írita, a g raça é coisa que não existe, p o rq u e seria u m a in ju stiça, m as n ão p a ra os q u e aceitam as E sc ritu ra s 132 O céu e o inferno ‫ ־‬obras completas. São Paulo: Editora: Opus, p. 728. 133 Cristianismo e espiritismo. Rio de Janeiro: FEB. 7 ° ed., 1978, p. 85.

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co m o revelação de D e u s. P au lo afirm a q u e a n o ssa red en ção é feita p o r C risto ( lT m 1.15), e que o seu sangue nos p u rifica do p ec ad o ( H b 7.25; E f 1.7).

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Referências C A C C I A T O R E , O l g a G u d o lle . Dicionário de cul-

to afro-brasileiro. R io d e J a n e ir o : F o r e n s e U n iv e r s itá r ia , 1997. D E N I S , L é o n . Cristianismo e espiritismo. R io d e J a n e iro : F E B . 7 ° e d ., 1 9 7 8 K A R D E C , A lla n . Obras completas. S ã o P a u lo : E d i t o ra: O p u s . K L O P P E N B U R G , B o a v e n tu r a . A Umbanda no Bra-

sil. R io d e J a n e ir o : E d i t o r a V o z e s, 1 9 6 1 . __________ . O espiritismo no Brasil. R io d e J a n e ir o : E d i to r a V o z e s, 1 9 6 0 . __________ . Espiritismo - Orientação para os católicos. 6 a e d . S ã o P a u lo : L o y o la , 1 9 9 7 . L E I T E F I L H O , T á c ito d a G a m a . Seitas mágico-reli-

giosas. 2 a e d . R io d e J a n e ir o : J U E R P , 1 9 9 4 . Novo Dicionário Aurélio. P o s itiv o I n f o r m á tic a , 2 0 0 4 . S IL V A , M i l t o n V ie ir a d a . Conhecendo os cultos afros. C u r itib a : A .D . S a n to s , 1 9 9 9 .

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HARE KRISHNA

Histórico A A ssociação In te rn a c io n a l p a ra C o n sciên cia de K rish n a, m ais co n h e c id a co m o H a re K rish n a, é u m a seita o rie n ta l que segue os p receito s d o h in d u ísm o . S e g u n d o co n sta, a o rig em desse g ru p o é de an tes d o século 15 d .C ., q u a n d o C h a ita n y a M a h a p ra b h u (1 4 8 6 -1 5 3 4 ), d epois de e stu d a r a seita h in d u d o v ish n u ísm o , co n clu i que K rish n a era o D e u s p rin c ip a l q u e tin h a se revelado n o p assado com o V ish n u , ao c o n trá rio d o q u e afirm avam os v ish n u ísm o s. A A ssociação In te rn a c io n a l p a ra C o n sc iê n c ia de K rish n a g a n h o u v u lto q u a n d o foi tra z id a p a ra o O c id e n te , em 1965, p o r A b h a y C h a ra n B h a k tiv e d a n ta S w am i P ra b h u p a d a . E sse h o m e m in icio u sua p ereg rin açã o em N o v a Y ork, so zin h o , tra z e n d o a tra d u ç ã o ing lesa c o m e n ta d a d o B h a g a v a d -g ita , alguns o u tro s livros e q u a re n ta rúpias. R eceb eu de seus pais o n o m e b en g alês A b h a y C h a ra n D e , q u e significa: “S em te m o r ju n to dos pés sem elh an tes ao ló tu s do S e n h o r”.

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E m 1922, e n c o n tro u -se com aquele que seria seu m estre esp iritual: S ri S rim a d B h a k tis id d h a n ta S aravasti G o sv am i M a h a ra ja , q u e lh e co n fio u a resp o n sab ilid ad e e o priv ilégio de levar a filosofia p a ra o O c id e n te . A ssim , em 1966, foi ab e rto o p rim e iro te m p lo em N o v a Y ork e em São Francisco. E m 1967, alcan ço u B o sto n e M o n tre a l. E m 1968, in sta lo u -se em L o n d re s, co m recursos de d e z m il dólares advindos d os E sta d o s U n id o s. P ra b h u p a d a nasceu em C a lc u tá , n a ín d ia , em 1896, o n d e co n c lu iu seus estu d o s u n iv ersitário s. C o n s titu iu fam ília, m as, em 1922, a b a n d o n o u essa fam ília. M o rre u em 14 de n o v em b ro de 1977, em M a th u ra , n a ín d ia . P reparou m ais de 70 volum es de traduções e com entários dos *

m ais im po rtan tes clássicos religiosos e filosóficos da ín d ia. A n te s de m orrer, esco lh eu o n ze de seus m ais an tig o s d iscípulos p a ra tra n s m itire m às novas gerações a sua filosofia de v id a e, ta m b é m , d arem c o n tin u id a d e à A sso ciação In te rn a cio n al p a ra C o n sc iê n c ia d e K rish n a. E m 1970, o fu n d a d o r d a associação estab eleceu u m a com issão de gov ern o , a tu a lm e n te c o m p o sta de 2 4 m em b ro s, d e stin a d a ao g o v ern o in te rn a c io n a l dos ce n tro s d a in s titu ição. C a d a m e m b ro dessa co m issão é responsável p ela lid era n ç a esp iritu al d os ce n tro s d a área g eo g ráfica d e te rm in a d a . A s decisões são d em o cráticas. A n u a lm e n te , é eleito u m p re sid e n te nessa com issão que a tu a co m o co o rd en ad o r. C a d a ce n tro p o ssu i u m a com issão

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d e d ireto res, fu n c io n á rio s e p re sid e n te p articu lar. O s p re sid e n te s se re ú n e m , u m a vez p o r ano, p a ra aceitar, d e m o c ra tica m e n te , as decisões d a com issão d e governo. A associação, a tu a lm e n te , c o n ta co m m ais de 100 sedes n o m u n d o in teiro . N o B rasil, existe d esd e 1975, e já c o n ta co m m u ito m ais d e 150 m o n g es e co m ce n tro s estab elecid o s em São P aulo, R io d e Jan e iro , B elo H o riz o n te , S alv ad o r e R ecife. A sede b rasileira está n o b airro d a A clim ação , e m São Paulo. O m o v im e n to ch e g o u ao B rasil p o r m eio dos devotos n o rte -a m e ric a n o s, q u e v ieram d o H a v a í e v isita ram diversas capitais.

Doutrinas K rish n a é a d iv in d ad e m ais c o n h e c id a d o h in d u ísm o . D e ssa fo rm a , p a ra se co n h e cer as d o u trin a s H a re K rish n a reco rrerem o s ao h in d u ísm o .

Textos sagrados O s livros sagrados in d ia n o s, co n h e cid o s co m o V edas, fo rm a ra m -se e n tre 1 5 0 0 e 5 0 0 a .C ., re c o lh e n d o -se trad içõ es religiosas p o r m eio de h in o s co n h e cid o s co m o rigveda, das orações e dos e n sin a m e n to s diversos. O B agavad G ita , u m a p o rção d o M a h a b h a ra ta , é co n sid erado o m ais im p o rta n te e, c e rtam en te, o m ais p o p u lar d e to d o s os textos h in d u s. C o n ta a h istó ria d e u m guerreiro de n o m e A rju n a e o c o n d u to r de sua carru ag em , K rishna. O te m a m ais en fatizado n o B agavad G ita é a devoção esp iritu al intensa.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

707

En

c i c l o p é d i a

Deus O h in d u ísm o ou b ram an ism o professa a fé em B ram a, que seria a causa p rim eira e é identificado com o o princípio de todas as coisas. S egundo seus seguidores, ele teria surgido da escuridão prim ordial. Seria u m princípio neutro, p o r m eio do qual e pelo qual to d a a realidade é u m a parte. P o rtan to , seu conceito é p an teísta, pois está presente em todas as coisas e seres. A ssim co m o n o cristian ism o , o h in d u ísm o ta m b é m p o ssu i u m a trin d a d e divina, c o n stitu íd a p o r B ram a, Vishnu e Shiva (criador, p re se rv a d o r e d estru id o r, re sp e ctiv am en te). E n tre ta n to , ta l sim ilarid ad e é en g a n a d o ra , p o is B ra m a é im pessoal. N o cristian ism o , D e u s é pessoal, n o se n tid o de que é im a n e n te . B ra m a seria o criador, V ish n u é re ferid o co m o o p re serv ad o r e Shiva, o terceiro deus d a tría d e h in d u , é ch a m a d o de d estru id o r. O p a n te ísm o dos h in d u ísta s é associado ao p o lite ísm o e à m ito lo g ia, a d m itin d o diversas figuras m ito ló g icas, ad o rad as co m o deuses; é esse p o lite ísm o q u e explica as fó rm u las de oração d irig id as a D e u s n a se g u n d a pessoa d o singular, com o se a d iv in d ad e fosse d is tin ta d aq u ele q u e ora.

Reencarnação O h in d u ísm o ta m b é m a d m ite a reen carn ação . T o d o ato d e te rm in a o tip o de v id a q u e a p esso a te rá n a o u tra e n c a rn a ção. O s h in d u ísta s a in d a p ro fessam o sistem a de castas sociais. A rigveda faz alusão a cinco castas sociais:

708

Es t u d o s

d e

T e o l o g ia

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2

O s b ra h m in s (b râm an es) são co m p o sto s d a casta sacerd o ta l e acadêm ica.



O s k sh atriy as, são co m p o sto s p ela casta dos soldados g uerreiros.



O s vaishyas, são co m p o sto s p ela casta d os ag ricu lto res e m ercad o res.



O s su d ras, co m p o sto s d a casta dos cam p o n eses e m e rcadores.



H a riy a n , co m p o sto d a casta dos m arg in alizad o s.

E ssas observações fa z e m -se necessárias p a ra c o m p re e n d e rm o s as d o u trin a s o u características d o m o v im e n to H a re K rish n a, d iv in d ad e in v o cad a p elos ad e p to s d a seita, re p re se n ta d o p ela fig u ra de u m a m e n in a ro d e a d a d e flores, co m vestes co lo rid as, to c a n d o u m a flau ta e d e m o n stra n d o felicidade. O g ran d e orientalista, A lain D an ié lo u , escreve: “A s escolas tardias do v ish n u ísm o co n sid eram K rish n a u m a encarnação to ta l d o ser su p rem o e lhe co n ferem to d o s os atrib u to s de d iv in d ad e absoluta. R am a e K rish n a p erte n cem , am bos, à casta dos prín cip es guerreiros e não à casta sacerdotal. O s dois tê m pele escura. H á quase a certeza de que, sob seu aspecto h istó rico, rep resen tam antigos heróis d a trad ição p ré-arian a, in co rp o rad o s ao p an teã o h in d u em d a ta relativ am en te tard ia”.134 O ideal d o a d e p to d o g ru p o H a re K rish n a é id en tificar-se, cada vez m ais, co m a d iv in d ad e. T rês fato res c o n trib u e m p a ra essa identificação: 134 WOODROW, Alain. As novas seitas. São Paulo: Paulinas, 1979, p. 85-6.

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

709

ENCICLOPÉDIA

1.

D esa p e g o de tu d o o q u e é visível ou sensível.

2.

M e d ita ç ã o o u c o n c en traçã o in terio r.

3.

R ep e tiç ã o d e palavras de K rish n a, p re se n te p o r m eio

de suas palavras. R e c o m e n d a -se , esp ecialm en te, o c a n to do m a h a -m a n tra : “H a re K rish n a, H a re K rish n a, K rish n a, K rish na, H a re , H a re , H a re R am a, H a re R am a, R a m a R am a, H a re H a r e ”.135

Panteísta P a n te ísm o (do grego: pan, “tu d o ”, “to d a s as coisas”, e the-

os, “D e u s ”) é a d o u trin a q u e afirm a a id e n tid a d e su b stan cial de D e u s e d o U n iv erso , os quais fo rm a ria m u m a u n id a d e e c o n stitu iría m u m to d o indivisível. P a ra os p a n te ísta s, D e u s n ão é tra n sc e n d e n te ao U n iv erso e dele n ão se d istin g u e n e m se separa. P elo c o n trá rio , é -lh e im a n e n te . T o d as as coisas estão, de alg u m a fo rm a , id e n tific a das co m D e u s. A co n clu são seria: o m u n d o é D e u s e D e u s é o m u n d o . O s H a re K rish n as id e n tific a m tu d o com D eu s; o h o m e m é u m a fa g u lh a d a d iv in d ad e. y

E co n h e c id a de to d o s n ós a d o u trin a de D e u s co m o o C ria d o r, o su ste n ta d o r d e to d as as coisas. O C ria d o r está acim a das coisas criadas, m as n ão as a b a n d o n a , n ão é in d ife re n te a elas (G n 1 .1 -2 6 ; SI 19.1; 2 4 .1 ,2 ; C l 1 .1 6 ,1 7 ).

135 PRABHUPADA, A.C. Swami. Além do nascimento e da morte. São Paulo. 1972, p. 53.

710

Es t u d o s

d e

t e o l o g i a

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2

Salvação T o ta lm e n te d ife re n te das E sc ritu ra s S agradas, a salvação ocorre p elo p ró p rio esforço, p ela rep etição c o n sta n te do m a h a -m a n tra , d a invocação d o n o m e d e K rish n a, p elo d esapego às coisas m ateriais, p elo a b a n d o n o d a sociedade, pelo sacrifício e re n ú n c ia a tu d o o q u e é co n sid erad o n o rm a l pelo ser h u m a n o . A

E e x tre m a m e n te im p o rta n te e n te n d e r c o rre ta m e n te a salvação. A B íb lia coloca u m a n á te m a (m ald ição ) sobre q u alq u e r pessoa (in c lu in d o anjos e p reg ad o res) q u e v e n h a a e n sin ar u m ev an g elh o de salvação d ife re n te d aq u ele en sin ad o nas E sc ritu ra s, co m o disse o ap ó sto lo : “M a s, a in d a q u e nós ou m esm o u m anjo v in d o d o céu vos p reg u e ev an g elh o que vá além do que vos te m o s p reg ad o , seja a n á te m a ” ( G 1 1.18). O p lan o de salvação p o r in te rm é d io de Jesus é a b o a -n o v a p a ra to d o p e c a d o r e to d o cristão. São b o as-n o v a s p a ra to d a a v id a e p ara to d a a e te rn id a d e . T o d o s p recisam dessas b o as-novas. E o m elh o r, q u a lq u e r u m p o d e ser tra n sfo rm a d o e ab en ço ad o p o r elas. O p lan o d a salvação d e D e u s é tão sim pies qu e o m e n o r e n tre os filhos dos h o m e n s p o d e e n te n d ê -lo o b a sta n te p a ra e x p e rim e n ta r esse p o d e r tra n sfo rm a d o r. A

E u m p lan o re d e n to r q u e alcan ça a to d o s, de m o d o q u e “n in g u é m é tão p ecad o r, tão an alfab eto , tão velho, tã o cercado de h á b ito s p ec am in o so s o u p o d eres d em o n íaco s q u e n ão possa te r essa salvação. N a d a n a v id a de u m a pessoa p o d e ser tão terrív el e n in g u é m foi tão lo n g e n o p ecad o q u e n ão possa v o ltar a D e u s e ser p e rd o a d o p o r m eio de Je su s”.136 136 DUEWEL, Wcsley L · A grande salvação de Deus. São Paulo: Candeia, 1999, p. 12. Es t u d o s

de

T e o l o g ia

711

e n c i c l o p é d i a

A B íb lia é b e m clara ao a p re se n ta r o p lan o de salvação co m o sen d o u m a in iciativ a divina (Is 5 5 .6 -9 ; Jo 1 .1 1 -1 4 ; 3 .1 6 -2 1 ; E f 2 .8 -1 0 ; H b 10 :4 -9 ).

P rin cíp io s o rie n ta d o re s dos h are k rish n as D e sd e 1966, a A sso ciação In te rn a c io n a l p a ra C o n sciên cia de K rish n a é d irig id a p o r o ito p rin cíp io s fu n d a m e n ta is, co n fo rm e relacio n ad o s abaixo: 1. A v erd ad e ab so lu ta está c o n tid a em to d as as S an tas E s critu ras, co m o a B íblia, o C o rã o e o u tras. E n tre ta n to , os V edas são as E sc ritu ra s m ais an tig as, d e stac an d o o B agavad G ita , tran sc rição exata das palavras d e D eu s.

2. D e u s,

o K rish n a, é o n ip re se n te , o n ip o te n te , o n iscien te

e etern o . E le é o P ai de to d o s os seres, aquele q u e d á a se m e n te e m a n té m to d a a criação cósm ica.

3. O

h o m e m n ão se id en tifica com o seu corpo. O h o m e m

é u m a alm a e sp iritu al etern a, p a rte in te g ra n te de D eu s. E im o rtal. T o d o s os h o m e n s são irm ãos.

4. T o d as

as nossas ações d ev em ser oferecid as a K rish n a e

n ão d ev em o s fazer coisa alg u m a p a ra a gratificação de nossos p ró p rio s sen tid o s.

5. O s

alim en to s que n os d ão a v id a devem ser a p re se n ta -

dos d ia n te do S en h o r, an tes de serem in g erid o s. K rish n a se co n v erte n o o fe re c im e n to e nos purifica. 712

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

6. A p ro fu n d a n d o -se , com sin cerid ad e, n a ciência esp iritu a l a u tê n tic a , a pessoa p o d e liv rar-se de to d a an g ú stia e alcançar, d u ra n te esta vida, u m estad o d e con sciên cia p u ra, in in te rru p ta e b e m -a v e n tu ra d a .

7. D ev e m o s

a p re n d e r o c o n h e c im e n to védico d a p a rte de

u m m e stre e sp iritu al g en u ín o , q u e n ão te n h a m otiv o s egoístas e cuja m e n te esteja firm e m e n te fixa n o S e n h o r K rish na.

8. O s m eio s re c o m en d ad o s p a ra se alcan çar u m estad o am ad u recid o d e a m o r a D e u s n e sta era de Kali, isto é, de discórdias, são os de c a n ta r o san to n o m e d o Sen h o r, isto é, o m a h a -m a n tra , p elo m en o s 1.728 vezes p o r dia. O s in ician tes n a seita H a re K rish n a assistem , p rim e iro , a algum as con ferên cias dadas em u m dos te m p lo s d o g ru p o e b aseadas no B agavad G ita . D e p o is, são en tre g u es ao g u ru .

e s t u d o s

de

T e o l o g ia

713

C

a p í t u l o

2

IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL

Histórico A Ig reja M e ssiâ n ic a M u n d ia l foi fu n d a d a em 1935, n o J a pão, p o r M o k iti O k a d a ( 1 8 8 2 1 9 5 5 ‫) ־‬. D e m essiân ica só te m o n o m e , p ois n ão h á q u alq u er invocação ao n o m e g lo rio so do M essias de Israel, Jesus C risto . S eu “m essias” é u m h o m e m que d iz te r receb id o in sp iraçõ es e se to rn o u u m “d e u s” c h a m ad o M e ish u -S a rn a , q u e significa: “p o rta d o r d e lu z ” o u “o se n h o r da lu z ”. U m a lu z n ão v erd ad eira, sem d ú v id a, p o is, a re sp e ito de Jesus, Jo ão escreveu: “A li estava a lu z v erd ad eira, q u e alu m ia a to d o h o m e m que vem ao m u n d o ” (Jo 1.9). Se Jesus é a lu z v erd ad eira, q u a lq u e r u m q u e alegue ser p o rta d o r de lu z só p o d e ser aceito co m o falso. O fato o co rreu n o alto d o m o n te N o k o g u iri, n o Jap ão . S eg u n d o o p ró p rio fu n d a d o r, ele teve revelações sobre D e u s, o h o m e m e o m u n d o e, n a ocasião, disse te r a tin g id o o estad o de kenshinjitsu‫׳‬. “c o n h e c im e n to to ta l d a v erd ad e de to d as as coisas e d os fe n ô m e n o s d o U n iv erso e do h o m e m ”.137 O “m essias” dessa igreja, M o k iti O k a d a , n ão faz segre137 Igreja Messiânica Mundial. Fundação Messiânica do Brasil. S.d., p.32.

E N C I C L O P É DI A

do dessa reivindicação: “N ã o houve o u tro caso se m e lh a n te , a n ão ser C risto , que o u to rg o u sua fo rça aos seus d o ze d iscíp u lo s”.138 A p a rtir de 1 9 2 6 , O k a d a co m eço u a a n u n c ia r que havia re ceb id o u m a série de revelações acerca de D e u s, d o h o m e m e d o m u n d o . S e g u n d o ele, as m isérias h u m a n a s eram causadas p elos m ales esp iritu ais alojados n o h o m e m , que, ao p u rificar seu e sp írito , estaria im u n e das d o en ças e de to d a e q u alq u er aflição e so frim en to . D e ssa fo rm a , a d o u trin a d a Ig reja M e ssiâ n ic a se to rn o u m u ito atrativ a, pois, além de o ferecer a lib ertação das d o enças, O k a d a atraia as pessoas q u a n d o falava d o p o d e r da m e n te e das realizações h u m a n a s p a ra d e sfru ta re m de u m p araíso n a terra, co m v erd ad e, v irtu d e e b eleza, q u e trarão saúde, p ro sp e rid a d e e p a z .139 T a n to é que, n o Jap ão , ch eg o u a c o n stru ir os “solos sagrados de A ta m i e H a k o n e ”, co m b o sques, lagos e ja rd in s p ro jetad o s p elo p ró p rio fu n d a d o r, que disse, ao a d m itir sua vocação divina: “L o g o v irá o te m p o em q u e a Ig reja M e ssiâ n ic a será p ro c la m a d a p elo m u n d o in te iA

ro. E u m a igreja q u e se caracteriz a p elo esp írito eclético ou a.

·

1 ‫מ‬

ecu m en ico .

An

Suas bases são o e sp iritu alism o e o a ltru ísm o p a ra a co n cretização de u m m u n d o ideal, isen to de d o en ças, co n flito s e p o b reza, co m o escreveu O k a d a : “A Ig reja M e ssiâ n ic a cultiva o e sp iritu alism o e o altru ísm o , faz o h o m e m crer n o invisível 138 Apostila para aula de iniciação, aula 4, p. 23. 139 Igreja Messiânica Mundial. Fundação Messiânica do Brasil. 1971, p. 13. 140 Alicerce do paraíso, vol. 4, p. 66.

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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2

e en sin a qu e existem esp írito e s e n tim e n to n ão só n o ser h u m an o , m as, ta m b é m , n os an im ais, n os vegetais e nos d em ais » 141

seres . 1 O s m essiân ico s citam a B íb lia e sp o ra d ic a m e n te , ap enas q u a n d o os tex to s servem p ara co n firm a r os en sin o s de M e is h u -S a m a . O k a d a faleceu em 10 d e fevereiro de 1955, m as, a in d a que m o rto , seus ad ep to s co n v ersam com ele. D isse u m dos seguid ores: “F u i ao altar, conversei co m M e is h u -S a m a e lh e m an ifestei o m e u d esejo ”.141142

Doutrinas Suas d o u trin a s são p o liteístas (a d o ra m vários deuses) e p a n te ísta s (D e u s é p a rte d a n atu re za). O m a l d o h o m e m é o pecado , p o r isso su rg ira m as d o en ças, as m isérias e os so frim en to s.

Jesus Cristo Q u a n d o se referem a Jesu s, n ão re co n h ece m sua d iv in dad e, sua ressu rreição c o rp o ra l e sua m o rte v icária n a cru z p ara o p erd ão dos pecad o s. O salv ad o r d a h u m a n id a d e , p ara os m essiân ico s, é M e is h u -S a m a , a q u e m a Ig reja M e ssiâ n ic a c h a m a de “ú ltim o salvador d o m u n d o ”.143

141 Filosofia de M. Okada. Fundação Messiânica do Brasil. S.d. 142 Oferta de gratidão, p. 41. 143 Igreja Messiânica Mundial. Fundação Messiânica do Brasil. S.d., p. 15.

e s t u d o s

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T e o l o g ia

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e n c i c l o p é d i a

Pecado N eg a , n ão ex p licitam en te, o pecad o , e e n te n d e q u e o h o m e m , p o r si só, p o d e o b te r a sua salvação, a sua a u to rre a lização. Isso n a d a m ais é do q u e u m a nova ro u p a g e m p a ra a v elh a m e n tira satân ica p ro fe rid a n o É d e n . A o c o n trá rio das revelações de O k a d a , to d a a B íb lia está *

c e n tra d a n o te m a d a salvação. E u m p re ssu p o sto b ásico e irren u n ciáv el p re se n te em to d as as suas p ág in as. D e sd e o livro de G ên e sis, D e u s a n u n c io u u m M essias q u e re d im iría o p e cado d e to d o s os fiéis. A co n d içã o p ec ad o ra d a h u m a n id a d e a in c a p a c ita a u m e n c o n tro co m D e u s, q u e só é possível p ela g ra tu id a d e de seu a m o r e p red ileção , até a ch e g ad a defin itiv a do Salvador. A vida, paixão e m o rte de Jesus ap arecem de fo rm a explí✓

cita co m este c a rá te r de lib ertação . E o c u m p rim e n to de to d os os an ú n cio s feitos a n te rio rm e n te . Jesus veio nos re sg atar d a m o rte , d a lei e do pecado. E n tre g o u sua ex istên cia p a ra a rem issão d os p ecad o s d o m u n d o e p a ra to rn a r possível a nova e d efin itiv a aliança.

A salvação P a ra a tin g ir a felicidade e ficar livre dos p ro b lem as físicos e esp iritu ais, o m essiân ico p recisa p ra tic a r o johrei. S eg u n d o M e ish u -S a rn a , estam o s viven d o em u m p e río d o de tran siçã o d a “era d a n o ite ” p a ra a “era d a lu z ”, e ele te ria receb id o a m issão de o u to rg a r à h u m a n id a d e o p o d e r d a “lu z d iv in a”, p o r m eio d o “sagrado p o n to fo cal”, o ohikari.

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ESTUDOS

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TEOLOGIA

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0 johrei É u m m eio p elo q ual o in d iv íd u o p o d e se elevar esp iritu a lm e n te sem q u e seja necessário ta n to so frim en to . A o re ceb er o johrei, o esp írito é p u rificad o e a p esso a se to rn a ú til à o b ra de D eu s: “P ela lei, o esp írito p ro ced e à m atéria. T o d o a c o n te c im e n to o corre, p rim e iro , n o m u n d o esp iritu al e, d e pois, se reflete n o m u n d o m a te ria l”. P o rta n to , p a ra se livrar d o so frim e n to , é p reciso e lim in á -lo em sua o rig em , q u e e stá n o c o rp o esp iritu al. O johrei é u m a ce rim ô n ia em q u e os ad e p to s co lo cam a p a lm a das m ãos sobre as pessoas e lib e ra m “en e rg ia” divina sobre elas. É a m in istra ç ã o d a “d iv in a en erg ia”, o u “lu z divina”, q ue a tu a n o co rp o esp iritu al, lib e rta n d o os in d iv íd u o s de seus anseios, ten sõ es e m ágoas e elim in a n d o as “nu v en s esp iritu a is”, a u m e n ta n d o , assim , a “fo rça n a tu ra l d e recu p eração ”. O s objetivos são dissolver e e lim in a r as to x in as físicas e elevar o esp írito a níveis m ais altos. A p rá tic a d o johrei to rn a cad a vez m ais p u ro ta n to q u em o recebe q u a n to q u em o m in is tra .144 E , p a ra a sua m in istração , é im p rescin d ív el q u e o m in is tra n te p o ssu a o ohikari,145 em cujo in te rio r está a re p ro d u ç ã o im p ressa d a p alav ra lu z, escrita p o r M e is h u -S a m a . “Q u e m deseja ser feliz, deve, p rim e iro , to rn a r feliz seu sem e lh a n te , p o is a d iv in a re c o m p e n sa q u e disso p ro v ém será a v erd ad eira fe licid ad e”, disse M e is h u -S a m a . “P o r isso, p re cisam os ser in s tru m e n to s de D e u s — que deseja to rn a r o 144 Primeiras noções sobre a Igreja Messiânica. 145 Amuleto que os messiânicos penduram no pescoço, em forma de medalha dourada, junto ao peito. Seria o sagrado ponto pelo qual se canaliza a luz de “deus” e Meishu-Sama para produzir cura de males físicos e espirituais. ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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EN CICLO PÉ DIA

h o m e m feliz — e é p a ra isso que receb em o s o ohikari. A ssim , irem o s nos to rn a r v erd ad eiro s esp iritu alistas e a ltru ísta s”. 146 P ara os m essiânicos, o johrei é a p u rificação das m áculas o u m a n ch a s h u m a n a s, o q u e nós, cristão s, d e n o m in a m o s p e cado, q ue o “m essias” d a Ig reja M e ssiâ n ic a nega. A B íblia en sin a q ue o p ec ad o e n tro u n o m u n d o p ela d eso b ed iên cia d e A d ão e E va: “P elo q u e, co m o p o r u m h o m e m e n tro u o p ecad o no m u n d o , p o r isso q u e to d o s p ec aram ” (R m 5.1 2 ). O s m essiânicos, c o n tra ria n d o os e n sin a m e n to s d a P alav ra d e D e u s, ac re d ita m q u e as m áculas p ro v êm das seg u in tes causas: h e ra n ç a dos an tep assad o s (resu ltad o de en carn açõ es an terio res), p e n sa m e n to s, palavras o u atos de m ald ad e (m ácuias de a tu a l red en ção ) e in g estão de su b stân cias nocivas que tu rv a m o sangue. A firm a m , ain d a, q u e a do ação de d in h e iro p o d e acelerar o p ro cesso de elim inação. O u seja, q u a n d o d o am o s d in h e iro e sp o n ta n e a m e n te , g rato s p o r to d a s as b ên ção s recebidas, m u ita s das nossas m áculas são e lim in a d a s.147 A d m itir q u e d in h e iro elim in e m áculas é inconcebível. A

E o co n h e cid o p ecad o de sim o n ia, criticad o p elo ap ó sto lo P edro: “E S im ão, v en d o que p ela im p o sição das m ãos dos apó sto los era d ad o o E s p írito S an to , lhes o fereceu d in h eiro , d izen d o : D a i- m e ta m b é m a m im esse p oder, p ara que aquele sobre q u e m eu p u ser as m ãos receba o E sp írito S an to . M a s d isse-lh e P ed ro : O te u d in h e iro seja co n tig o p ara p erd ição , 146 Primeiras noções sobre a Igreja Messiânica. 147 Idem.

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ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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2

pois cu id aste q u e o d o m d e D e u s se alcança p o r d in h eiro . T u não ten s p a rte n e m so rte n esta palavra, p o rq u e o te u coração não é reto d ia n te de D e u s ” (A t 8 .1 8 -2 1 ). E x iste so m e n te u m m eio de p u rificação das m ácu las d o pecado: Jesu s, co m o escreveram seus discípulos: “S ab en d o q u e n ão foi co m coisas co rru p tív eis, co m o p ra ta o u ouro, q u e fo stes resg atad o s d a vossa vã m a n e ira d e viver, a qual, p o r trad ição , receb estes dos vossos pais, m as co m o precio so san g u e de C risto , co m o de u m co rd eiro sem d efeito e sem m a n c h a ” ( l P e 1.1 8 ,1 9 ). “O san g u e d e Jesu s C risto , seu F ilh o , nos p u rifica d e to d o p e c a d o ” ( l j o 1.7). “E m q u em tem o s a red en ção p elo seu san g u e, a rem issão das ofensas, seg u n d o as riq u ezas d a sua g raça” ( E f 1.7). “Q u a n to m ais o san g u e de C risto , q u e p elo E s p írito e te rno se ofereceu a si m esm o im acu lad o a D e u s, p u rificará a nossa co nsciên cia das o b ras m o rtas, p a ra serv irm o s ao D eu s vivo?” ( H b 9.14). O johrei n ão passa de u m a farsa e, co m o tal, está lig ad a ao o cu ltism o . D e u s p ro íb e esse tip o d e coisa, co m o se p o d e ler em D e u te ro n ô m io 1 8 .1 0 -1 2 , q u e diz: “E n tre ti n ão se ach ará q u em faça p assar p elo fogo o seu filh o o u a sua filha, n e m ad iv in h ad o r, n e m p ro g n o sticad o r, n e m agoureiro, n e m fe iticeiro; n e m en c a n ta d o r, n e m n e c ro m a n te , n e m m ágico, n em q u em co n su lte os m o rto s; p o is to d o aquele q u e faz tal coisa é ab o m in ação ao S e n h o r”.

ESTUDOS

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TEOLOGIA

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ENCICLOPÉDIA

A cren ça n a reen carn ação e o cu lto aos an tep assad o s a fro n ta m os m a n d a m e n to s divinos. S ab em o s que o v erd ad eiro “p araíso te rre stre ” d a r-s e -á n o re in o m ile n a r de C risto , q u a n d o o S en h o r, p esso alm en te, g o v ern ará a te rra e esta b e lecerá as m od ificaçõ es necessárias, p ara que h aja p le n a h a rm o n ia e n tre a h u m a n id a d e e a n atu re za. O h o m e m , p o r si só, e n g a n a d o p elo adversário e seus fiéis e leais seguidores (o falso p ro fe ta e o a n tic risto ), em v ez de u m a “no v a era de lu z ” tra rá a irrem ed iáv el e c o m p le ta d e stru iç ã o d o p lan eta.

Elementos da natureza humana S e g u n d o M e is h u -S a m a , o h o m e m p o ssu i três esp írito s. A alm a é o esp írito p rim á rio , d iv in a em sua n a tu re z a e o ce n tro d a con sciência esp iritu al d o ser h u m a n o . D e p o is, vem o espí-

rito secundário, o esp írito an im a l em sua n a tu re z a , q u e p e n e tra n o in d iv íd u o co m id ad e de u m a dois anos. O terceiro é o esp írito guardião. S elecio n ad o e n tre os an cestrais n o m u n d o esp iritu al, p e rm a n e c e ju n to , m as n ão d e n tro d a pessoa, até a m o rte física. D ife re n te d o que afirm a M e is h u -S a m a , seg u n d o as E sc ritu ras S agrada, n a criação, “fo rm o u o S enh o r D e u s o h o m e m d o p ó d a te rra e lh e so p ro u nas n a rin a s o fôlego de v ida, e o h o m e m passo u a ser alm a v iv en te” ( G n 2 .7 ). P elo relato bíblico, o h o m e m receb eu u m co rp o fo rm a d o d o p ó d a te rra e o alen to divino. C o m o re su ltad o d a co m b in ação criativa desses dois elem en to s, u m te rre n o e o u tro celestial, o h o m e m to rn o u -s e u m ser vivo à im a g e m de D eu s.

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Es t u d o s

d e

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U m a q u estão q u e te m d iv id id o os estu d io so s p o r longas d atas é se o h o m e m é u m ser d u p lo o u tríp lice, m as n ão com o afirm o u O k a d a . A q u eles q u e acred itam q u e a alm a e o esp írito são a m esm a coisa, são ch a m a d o s de d ico to m istas; os que d e fe n d e m a separação d a alm a d o esp írito são ch a m a d o s de tric o to m ista s. S e g u n d o os d ic o to m ista s, o h o m e m p ossu i u m a d u p la n a tu reza: u m e le m e n to m aterial, o co rp o , e u m e le m e n to im a terial, o e sp írito o u alm a. N ã o h á d istin ç ão e n tre esp írito e alm a, sen d o am b o s u m só elem en to . O c o rp o é a p a rte qu e m orre; a alm a, p o r o u tro lado, é a p a rte im aterial, a p a rte que A

sobrevive à m o rte . E essa n a tu re z a im o rta l q ue sep ara a h u m a n id a d e d e to d as as o u tras criaturas. P ara os tric o to m ista s, a alm a é u m a su b stân cia in c o rp ó re a e invisível d o h o m e m , in separável d o esp írito , e m b o ra d istin ta dele, fo rm a d a p o r D e u s d e n tro d o h o m e m , co n scien te, m esm o fo ra d o corpo. E la é a sede das em oções, desejos e paixões, cuja co m u n icação co m o m u n d o ex terio r é m a n ife sta A

pelo corpo. E a p a rtir d ela q u e o h o m e m sen te, g o za e sofre A

tu d o m e d ia n te os órgãos sensoriais. E algo in e re n te aos seres A

h u m a n o s, e é o ce n tro de sua v id a afetiva, volitiva e m o ral. E ela que p re sta c o n ta a D e u s dos atos h u m a n o s. J á o esp írito, ta m b é m invisível, ju n ta m e n te co m a alm a, é ch a m a d o de “h o m e m in te rio r”. E u ric o B e rg sté n e n te n d e qu e o esp írito é “aq uela p a rte d o h o m e m q u e, co m o u m a ja n e la a b e rta p a ra o céu, lh e d á co n d içõ es d e se n tir a realid ad e d e D e u s e d a sua P alavra”.148 148 BERGSTÉN, Eurico. Introdução à teologia sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p. 157. e s t u d o s

de

T e o l o g ia

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En c ic l o p é d ia

E m n e n h u m lu g ar d a B íb lia, e n c o n tra m o s os p ro fetas, e m u ito m en o s Jesu s, falan d o sobre o h o m e m p o ssu ir três esp írito s, co m o afirm o u M e is h u -S a m a .

Culto aos ancestrais O objetivo d o cu lto aos an cestrais (u m co stu m e o rien tal) é h o n ra r os an tep assad o s m o rto s, pois seus ad ep to s creem que os m o rto s a in d a estão co n scien tes, n u m m u n d o invisível, e p o d e m , ain d a, se m a n ife sta r aos vivos. P ara os ad ep to s da Ig reja M e ssiâ n ic a , d e p e n d e n d o d o grau de p urificação aqui n a te rra , o in d iv íd u o p o d e rá h a b ita r em u m dos três níveis esp iritu ais: o superior, o in te rm e d iá rio ou o inferior. N o nível superior, h a b ita aqueles q u e p u rifica ram seu co rp o e sp iritu al p o r m eio d o johrei. Q u e m está n o nível in fe rio r p o d e, ain d a, se p u rifica r p o r m eio d a reen carn ação até a tin g ir o nível m ais elevado, o superior.

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C a p ít u lo 3

M00NISM0

H istó r ic o O n o m e oficial é A sso ciação d o E sp írito S a n to p a ra a U n ificação do C ristia n ism o M u n d ia l. O m o v im e n to ta m b é m é co n h e c id o co m o Ig reja d a U n ificação o u F am ília U n ificad a. E p ro p õ e u m ideal: a u n id a d e , a p a z e a h a rm o n ia . S u a p ro p o sta filosófica b ásica é a absorção d a civilização m a té ria lista o c id e n ta l p ela civilização esp iritu al d o m u n d o o rien tal. Q u e m lê os escritos d a Ig reja d a U n ificação te m a im p ressão de q ue é u m a so ciedade a n tic o m u n ista e p ró -a m e ric a n a de ró tu lo religioso. Seu fu n d a d o r é o coreano S u n M y u n g M o o n , nascido em 6 de jan eiro de 1920, n a aldeia de K w angju Sangsa R i, n a p ro víncia de P y u n g an B ukedo, a N o ro e ste d a C oréia. É o segundo filho de u m fazendeiro, te n d o u m irm ão e seis irm ãs. Foi ed u cado p o r seus pais n a fé secundária em Seul, o n d e d escobriu o pen tecostalism o. S eg u n d o ele m esm o diz, em 1936 teve u m a visão, n o dia d a Páscoa, q u an d o Jesus lhe confiou u m a m issão: te rm in a r sua m issão que estava incom pleta. D u r a n te os p ró x im o s nove an o s, M o o n p re p a ro u -s e p a ra a n o v a m issão , p o r m e io d a o ração . D e p o is , fo i p a ra o Jap ã o ,

E

n c i c l o p é d i a

o n d e , d u ra n te a S e g u n d a G u e r ra M u n d ia l, e s tu d o u e n g e n h a ria e lé tric a n a U n iv e rsid a d e de W a se d a . E m 1 9 4 5 , p o r o casião do acesso d a C o ré ia à in d e p e n d ê n c ia , v o lto u à sua te rra n atal. S ab e-se q u e M o o n , em 1946, p asso u seis m eses n u m a com u n id a d e relig io sa situ ad a em P aju, N o rte de Seul, c h a m a d a Israel S o o d o W o n (o m o steiro de Israel), p a ra e stu d a r a d o u trin a d e u m c e rto P a ik M o n n K im , m essias corean o . F oi n essa ép o ca q u e ele m u d o u o seu n o m e de Y oun M y u n g M o o n , que significa “d rag ão b rilh a n te lu a”, p a ra S u n M y u n g M o o n , “sol b rilh a n te lu a”. A o v o ltar p ara seus seg u id o res, em P v o n g y an g , M o o n estab eleceu , em 1946, a Ig reja K an g H e i (Igreja d o M a r L a rgo), e co m eço u a p re g a r ativ am en te. E m 1948, foi excluído d a Ig reja P re sb ite ria n a d a C o réia. E m 1946 e 1948, M o o n foi p reso pelos co m u n istas, sob a alegação de que a sua p reg ação era a n tic o m u n ista ; alguns d iz e m qu e as causas de sua p risão fo ra m o ad u ltério e a im o ra lid ad e, p ois sua c a m p a n h a a n tic o m u n ista teve in ício so m en te em 1962. E m 1950, to rn o u a ser preso, agora, sob a acusação de ad u ltério , sen d o , p o ste rio rm e n te , lib e rto pelas tro p as das N a ções U n id a s. E m 1 9 5 7 , p u b lico u o livro in titu la d o Oprincípio

divino , ex p o n d o as d o u trin a s p rin cip ais d o seu g ru p o . E m 1963, fu n d o u , n a C o ré ia , a Ig re ja d a U n ificação d o C ris tia n ism o M u n d ia l, c h a m a n d o -a , em corean o , de T o n g -il-k y o . A Ig re ja d a U n ificação ch e g o u ao B rasil em 1973 e, em m en o s d e d e z anos, já p o ssu íam m ais de sete m il ad ep to s.

726

Es

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T

e o l o g i a

VOLUME

2

E stã o esp alh ad o s p o r to d o o te rritó rio n acio n al, sen d o a sede ce n tra l em São Paulo.

D o u tr in a s P a ra se co n h e cer u m g ru p o religioso, é necessário saber o que eles p e n sa m sobre d e te rm in a d a s d o u trin a s. M u ito s aleg am ser cristãos, q u e ac re d ita m em D e u s, n a B íblia, em Jesus C risto , m as será q u e c o m p a rtilh a m d a fé c o m u m e n tre g u e aos san to s, co m o escreveu Judas? F arem o s u m a co m p aração das d o u trin a s d a Ig reja d a U n ificação co m as d o u trin a s d a B íb lia S agrada.

Bíblia O m ero fato de a B íb lia ser u sad a p o r u m a religião não prova, em si m esm o , q u e to d o s os en sin o s e p ráticas d ela se A

b aseiem n a B íblia. E o que o corre co m a Ig reja d a U n ificação , em que a B íb lia é re sp eitad a, m as é sem p re acrescen tad a de in te rp re ta ç õ e s, o ra d e seus p ro fetas, o ra de seus fu n d a d o res. A ev id ên cia é de q u e so m e n te a B íb lia n ão b asta; o g ru p o acrescenta algo a ela. P a rtin d o dessa p rem issa, fica ev id en te q u e os escritos de seus líderes to rn a m -s e regras d e fé, a p o n to d e afirm arem q ue seus p ro n u n c ia m e n to s são tão in sp irad o s co m o são as E scritu ra s S agradas. N o livro oficial d a Ig reja d a U n ificação , c h a m a d o de O

princípio divino , e n c o n tra m o s a seg u in te afirm ativ a sobre as E scritu ras:

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DE

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E

n c i c l o p é d i a

“T alvez, d esag rad e aos cren tes religiosos, esp ecialm en te os cristãos, a p re n d e re m q u e deve su rg ir u m a nova expressão da verdad e. A c re d ita m que a B íb lia que agora tê m é p erfeita e ab so lu ta em si m esm a. A verd ad e, lo g icam en te, é única, e te rn a , im u táv el e ab so lu ta. A B íblia, p o ré m , n ão é a p ró p ria verd ade, senão u m livro d e tex to que en sin a a verdade. N a tu ra lm e n te , a q u alid ad e d o e n sin a m e n to , o m é to d o e a a m p litu d e d a v erd ad e d a d a devem v ariar de aco rd o com cada id ad e, pois a verd ad e é d ad a a povos de épocas d iferen tes, cujos níveis esp iritu ais e in telectu ais são d iferen tes. P o rta n to , n ão d evem o s co n sid e ra r o livro de tex to co m o ab so lu to em to d o s os d e ta lh e s”.149 P o r m eio dessa declaração, p o d e m o s e n te n d e r q u al é o valo r que os m o o n ies dão às S agradas E scritu ra s. O s seguidores d o rev eren d o M o o n ac re d ita m q u e as palavras c o n tid as nesse livro são as ú ltim a s revelações de D e u s p a ra a h u m a n id a d e , sen d o su p erio r às E scritu ra s. Se a B íb lia n ão é a p ró p ria v erd ad e, co m o M o o n afirm a, e n tão a q ue deve ser c o m p a ra d a a B íblia? 0 princípio divino resp o n d e: “A E sc ritu ra p o d e ser c o m p a ra d a a u m a lâ m p a d a q u e alum ia a verdade. S ua m issão é esp alh ar a lu z d a verd ad e. Q u a n do u m a lu z m ais b rilh a n te aparece, ex tin g u e-se a m issão da an tig a. T o d as as religiões de h o je fa lh a ram em c o n d u z ir a p re se n te geração do vale escuro d a m o rte p ara o b rilh o da vida, de fo rm a q u e deve, agora, su rg ir u m a nova verd ad e, que 149 1978, p. 7.

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

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2

possa esp alh ar u m a n o v a luz. M u ita s passagens d a B íb lia d iz e m qu e novas palavras de v erd ad e serão d ad as à h u m a n id a de nos ‘ú ltim o s d ias”’.150

Divindade de Jesus N ã o b asta falar q u e crê em Jesu s, pois, h o je, a m aio ria dos g ru p o s religiosos p ro fessa fé em Jesus. S ab er q u em é Jesus C risto é algo tão im p o rta n te q u a n to o q u e E le fez. M u ito s acred itam q u e Jesu s esteve n a terra, fez m u ito s m ilagres e m u ita s o u tras coisas. A d ificu ld ad e p a ra alguns é sab er de fato q u em é C risto ? Q u e tip o de p esso a E le é? A B íblia afirm a ser a a u to rid a d e final n a d e te rm in a ç ã o de q u estõ es d o u trin á ria s (2 T m 3 .1 6 ,1 7 ). A P alavra de D e u s não p e rm ite novos e n sin a m e n to s que p o ssam alte ra r seu c o n te ú d o o u fa z e r-lh e acréscim os. O ap ó sto lo P au lo disse: “M a s, a in d a qu e nós m esm o s ou u m anjo d o céu vos an u n cie o u tro ev an gelh o além do que já vos an u n c ia m o s, seja a n á te m a ” (G1 1.8).

A o co n sid erar a d iv in d ad e d e C risto , a q u estão não

reside em “se é fácil crer nessa d iv in d ad e o u m esm o c o m p re e n d ê -la ”, m as se ela é e n sin a d a n a P alav ra de D eu s. A B íblia, p o ré m , en sin a q u e D e u s n ão p o d e ser c o m p re e n d id o p ela m e n te h u m a n a (Jó 11.7; 4 2 .2 -6 ; SI 145.3; Is 4 0.13; 55 .8 ,9 ; R m 11.33). M e s m o co m ta m a n h a s ad v ertên cias, a Igreja d a U n ificação , c o n tra ria n d o os en sin o s bíblicos, afirm a que Jesu s, “de m o d o alg u m p o d e ser c h a m a d o de D e u s [...] D a m esm a m an eira , Jesus, sen d o u m só co rp o co m D eu s, 150 Ibid.

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ENCICLOPÉDIA

p o d e ser c h a m a d o u m seg u n d o D e u s (im ag em d e D eu s), m as, de m o d o alg u m , p o d e ser o p ró p rio D e u s ”.151

Messias A s afirm ações de S u n M y u n g M o o n tê m deixado claro que ele se co n sid era o M essias d esta era: “C o m a p le n itu d e d o te m p o , D e u s enviou seu m en sag eiro p a ra resolver as q u estõ es fu n d a m e n ta is d a v id a e do U n iv e rso. S eu n o m e é S u n M y u n g M o o n . P o r m u itas décadas, ele vagou em u m vasto m u n d o esp iritu al à p ro c u ra d a v erdade ú ltim a. E , nesse c a m in h o , ele su p o rto u so frim en to s ain d a não im ag in ad o s p o r pessoa alg u m a n a h istó ria h u m a n a . S om e n te D e u s se le m b ra rá disso. “S ab en d o que n in g u é m p o d e e n c o n tra r a v erd ad e ú ltim a p a ra salvar a h u m a n id a d e sem p assar pelas m ais am argas provações, ele lu to u so zin h o c o n tra u m a m u ltid ã o de forças satânicas, ta n to n o m u n d o esp iritu al co m o n o m u n d o físico, e, fin a lm e n te , triu n fo u sobre to d a s elas”.152

Espírito Santo O co n ceito de salvação n a Ig reja d a U n ificação d ese n volveu-se sobre a id eia de q u e a v o n ta d e de D e u s te m sido sem p re estab elecer u m a fam ília p e rfe ita n o m u n d o criado. O p ró p rio D e u s é tid o co m o u m P ai p erfeito . M a s, u m a fam ília 151 M O O N , Sun Myung. Princípio divino. Sào Paulo: Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, 1978, p. 159. 152 Princípio divino. São Paulo: Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, 1978, p. 12.

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ESTUDOS DE TEOLOGI A

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precisa de u m a m ãe. N a teo lo g ia de M o o n , esta p o sição de m ãe é o c u p a d a p elo E s p írito S an to , co m o está escrito: “C o n tu d o , so m e n te u m p ai n ão p o d e te r filhos. D ev e h a ver u m a V erd ad eira M ã e co m o V erdadeiro Pai, a fim d e d a rem n a sc im e n to aos filhos d ecaíd o s co m o filhos d o b e m . E la _ _ _



é o E s p írito S an to . E p o r isso q u e Jesu s disse a N ic o d e m o s que q u em n ão n ascer de novo p elo E s p írito S a n to n ão p o d e e n tra r n o re in o de D e u s (Jo 3 .5 ). H á m u ito s q u e receb em revelações in d ic a n d o q u e o E sp írito S an to é u m e sp írito fe m in in o ’, p o rq u e , se g u n d o eles, ela veio co m o a V erd ad eira M ã e ; isto é, co m o a se g u n d a E va. O u tro s s im , já q u e o E sp írito S a n to é u m esp írito fe m in in o ’, n ão p o d e m o s nos to rn a r noivas’ de Jesu s, a m en o s q u e receb am o s o E s p írito S anto. A ssim , o E s p írito S a n to é o esp írito fe m in in o ’, q u e co n so la e g u ia os corações d o povo ( l C o 1 2 .3 )”.153 E x iste m , n os dias atu ais, m u ito s erros e confusão a resp eito da p erso n a lid a d e, o p eraçõ es e m an ifestaçõ es d o E sp írito S an to . E ru d ito s co n scien tes, m as eq u iv o cad o s, tê m su ste n ta do p o n to s d e v ista errô n eo s a re sp e ito dessa d o u trin a . E m b o ra , d e fo rm a concisa, seja v ital p a ra a fé d e to d o cren te e stu d a r o q u e en sin a a B íb lia sobre o E s p írito S an to e as suas o b ras, co n fo rm e reveladas nas E sc ritu ra s e ex p erim e n ta d a s n a v id a d a Ig reja, hoje!

153 Princípio divino. São Paulo: Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, 1978, p. 162.

ESTUDOS DE TEOLOGI A

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e n c i c l o p é d i a

Morte e ressurreição de Jesus Cristo O rev eren d o M o o n n eg a a m o rte de Jesus n a cruz, com o se p o d e observar: “P o r isso, tem o s de c o n sta ta r que Jesu s não veio m o rre r n a c ru z ”.154 C h e g a ao ex trem o ao afirm ar o seg u in te: “D e p o is d e e n tre g a r seu co rp o físico a S atan ás, pela cruz, Jesus estab eleceu a base e sp iritu al de separação de S atan ás p o r u m p e río d o de ressu rreição de 4 0 dias, a p a rtir da p osição de p o rta d o r esp iritu al d a m issão de Jo ã o B a tista ”.155 A co nclu são n ão p o d e ria ser o u tra: “T em o s de reco n h ece r que, p ela crucificação n a cruz, D e u s e Jesus p e rd e ra m tu d o [...] N ã o ho u v e n e n h u m a red en ção , n e n h u m a salvação, e não h ou ve n e n h u m co m eço do cristian ism o . L o g o , lá n a cruz, a salvação não foi co n so lid ad a”.156 A o c o n trá rio do q u e en sin a a Ig reja d a U nificação, o p ro p ó sito d e to d o s os p ro p ó sito s d a en carn ação de C risto é expressa n a seg u in te d eclaração d o ap ó sto lo Paulo: “A n te s de tu d o , vos e n tre g u e i o q u e ta m b é m recebi: q u e C risto m o rre u pelos nossos p ecad o s, se g u n d o as E sc ritu ra s, e que foi sep u lta d o e ressu scito u ao terceiro d ia, seg u n d o as E sc ritu ra s” ( l C o 15.3). Jesus teve u m a m o rte su b stitu in te p o r nós. Jesus m o rre u em lug ar de tod os nós, com o está escrito: “E ele m o rreu p o r todos, p ara que os que vivem não vivam m ais p ara si m esm os, m as p ara aquele que p o r eles m o rreu e ressuscitou” (2 C 0 5.15).

154 Divine principie, p.144. 155 Princípio divino. Sào Paulo: Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial, 1978, p. 270. 156 MCDOW ELL apud The Way o f the World, p. 13.

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estudos

de

T eologia

VOLUME

2

U m dos significados p rin cip ais d a m o rte de C risto , sem o q u al os d em ais n ão te ria m q u alq u er significado etern o , é a su b stitu ição . Isso significa, sim p le sm e n te , q u e C risto m o rre u n o lu g ar dos p ecadores: “Se u m m o rre u p o r to d o s; logo, to d o s m o rre ra m ” (2 C o 5.14).

e s t u d o s

de

T e o l o g ia

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En

c i c l o p é d i a

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734

ESTUDOS

DE T E O L O G I A

VOLUME

2

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. Adventista do Sétimo Dia. São Paulo: O A ra d o . . Nova Era. São P aulo: O A ra d o . s.d.

Es t u d o s

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T e o l o g ia

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En c i c l o p é d i a

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736

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

J E R E M I A H , D av id ; C A R L S O N , C . C . Invasão de deuses

estranhos. São Paulo: Q u a d ra n g u la r, 1997. J O S E F O , Flávio. História dos hebreus. O b r a C o m p le ta . 5 a ed. R io de Jan eiro : C P A D , 2 0 0 1 . K A R D E C , A llan . Obras póstumas. O b ra C o m p le ta . São Paulo: E d ito ra O p u s, s.d. K L O P P E N B U R G , B o av en tu ra. Espiritismo. São Paulo: E d içõ es L oyola, 1997. L E I T E F I L H O , T á c ito d a G a m a . As religiões antigas. R io de Jan eiro : Ju e rp , Vol. 2 ,1 9 9 4 . _________ . As religiões vivas I. R io de Jan e iro : Ju e rp , Vol. 3 .1 9 9 4 . __________. As religiões vivas II. R io de Jan eiro : Ju e rp , Vol. 4 .1 9 9 5 . ___________ . Heresias, seitas e denominações. R io de Jan eiro : Ju e rp , 1995. _________ . Origem e desenvolvimento da religião. R io d e J a neiro: Ju e rp , 1993. _________ . Seitas mágico-religiosas. R io d e Jan eiro : Ju e rp , 1994.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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e n c i c l o p é d i a

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M in a s G erais: B etân ia,

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M in a s G erais: B etân ia,

Vol. I I I , 1992. _________ . O império das seitas. M in a s G erais: B etân ia, Vol. IV, 1993. M A R T I N S , Jaziel G u erreiro . Seitas: heresias de nosso tem p o . C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. M A T H E R , G e o rg e A ; N I C H O L S , L a rry A . Dicionário

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e s t u d o s

d e

T e o l o g ia

VOLUME

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as seitas. R io d e Jan e iro : C P A D , 1997.

Es t u d o s

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ENCICLOPÉDIA

R O M E I R O , P aulo. Evangélicos em crise. São Paulo: M u n d o cristão. 1997. S A N T O S , A d e lso n d am ascen o . Catolicismo‫׳‬, v erd ad e ou m en tira? C u ritib a : A . D . S an to s, 1999. S C H N O E B E L E N , W illia m . Maçonaria: d o o u tro lado d a luz. C u ritib a : E d ito ra L u z e V id a, 1999. S H A N K S , H e rsh e l. Para compreender os manuscritos do

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740

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

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ESTUDOS

DE

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S eitas u n ic is t a s

VOLUME

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In t r o d u ç ã o

O s u n icistas e n sin a m q u e h á so m e n te u m a p esso a d a d iv in d ad e, qu e o P ai é ta n to Jesu s C risto co m o ta m b é m o E s p írito S an to . B asead o s n o e n te n d im e n to de duas verdades bíblicas de q u e h á so m e n te u m D e u s e q u e Jesu s é D e u s, os u n icistas d e d u z e m q u e Jesu s C ris to é D e u s em sua to ta lid ad e, sen d o assim , Jesu s é o P ai, o F ilh o e o E sp írito S anto. D e ssa fo rm a , n eg a m ex p licitam en te q u e D e u s seja u m a T r in d ad e, c o m p o sta de três Pessoas d istin ta s ex istin d o em u m a só essência. A o co n trá rio , u m a ú n ic a P essoa cu m p re várias tarefas e assu m e vários p ap éis, os quais ela in titu la P ai, F ilh o e E sp írito S an to . Q u a n d o o D e u s m o n o te ísta cria, E le age co m o sen d o o Pai. Q u a n d o faz expiação pelos p ecad o s, E le age co m o sen d o o F ilh o . Q u a n d o tra n sfo rm a pessoas, E le age co m o sen d o o E s p írito S anto. Seus a rg u m e n to s ev id en ciam dois equívocos: a falta de c o n h e c im e n to das o rig en s d o m o d alism o e o en g a n o sobre o q u e a B íblia en sin a sobre a T rin d a d e . O e n te n d im e n to co rreto desses p o n to s é fu n d a m e n ta l p a ra u m a teo lo g ia cristã correta. A B íblia en sin a q u e h á u m a P essoa c h a m a d a D e u s Pai, u m a P essoa c h a m a d a D e u s F ilh o e u m a P essoa c h a m a d a D e u s E sp írito S an to , o q u e in d ic a que, n a n a tu re z a e essên -

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

745

En c i c l o p é d i a

cia d o D e u s ú n ico , existem três Pessoas codivinas e co etern as. M u ita s passagens bíblicas ev id en ciam a d istin ç ão nas obras de cada P essoa d a T rin d a d e . O nosso objetivo é m o strar, p o r m eio dos d o c u m e n to s que os vários g ru p o s u n icistas p u b licara m , o q u a n to estão d ista n tes d a d o u trin a bíblica. Vale le m b ra r que, e m b o ra fre q u e n te m e n te u sem a B íb lia p a ra su p o sta base dos seus en sin o s, não _

*

se ap o ia re a lm e n te só n a B íblia. E ca racterística das seitas tere m , além d a B íblia, u m líd e r fu n d ad o r, cujos en sin o s são tid o s com o m esm o v alo r de au to rid a d e das E scritu ra s.

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Es t u d o s

d e

T e o l o g ia

C

a p í t u l o

1

HISTÚRICO DO UNICISMO

O m o d alism o , d ife re n te d o ad o cio n ism o , que d izia q u e Jesus era a d o ta d o p o r D e u s, p regava q u e Jesus era D e u s, m as q ue se m a n ife sto u co m o C ria d o r d o m u n d o (P ai). D e p o is, essa m esm a p esso a veio à te rra , se e n c a rn a n d o em Jesu s, p ara salvar o h o m e m (F ilh o ). H o je , essa m e sm a p esso a se m a n ifesta co m o E s p írito S anto. P a ra o m o d alism o , p o ré m , h á u m a só pessoa, q u e se m a n ife sto u de fo rm a d ife re n te e com n o m es d iferen tes. A id eia do m o n o te ísm o ju d a ic o não foi ferida. N o O c id e n te , esse e n s in o e ra c h a m a d o d e “p a trip a s s ia n is m o ”, p o r e n s in a r q u e a p e sso a d o P a i fo i a q u e se e n c a rn o u em Je su s, se n d o a m e sm a P e sso a q u e c rio u o m u n d o e, d e p o is, fo i cru cificad a. J á n o O r ie n te , essa d o u tr in a era c o n h e c id a c o m o “sa b e lia n is m o ”, p a la v ra d e riv a d a d o n o m e de S ab élio , q u e fo i o g ra n d e d e fe n s o r d a id e ia , e q u e estev e e n s in a n d o em R o m a p o r v o lta d e 2 1 5 d. C . S a b é lio n eg a v a a T rin d a d e , p o is, p a ra ele, n ão h av ia trê s p esso as d is tin ta s , m as, sim , u m a ú n ic a p e sso a q u e se m a n ife s ta n a h is tó ria em trê s fo rm a s, o ra c o m o P a i, o ra c o m o F ilh o , o ra c o m o o E s p ír ito S a n to .

En c i c l o p é d i a

O u tr a pesso a a d e fe n d e r o m o d alism o foi N o e to , q u e d izia qu e o Pai e o F ilh o , além de serem d a m e sm a essência e su b stân cia, e ra m a m e sm a pessoa, só m u d a n d o o n o m e e a fo rm a de atuação. T o d o s esses, n a realid ad e, d isseram a m e sm a coisa, e, p ara e n te n d e rm o s m e lh o r a id eia m o d alista , vejam os essa frase, a trib u íd a a S abélio: “D e u s, co m re sp eito à h ip ó stase é u m , m as foi p erso n ificad o n a E s c ritu ra de várias m an eiras, seg u n do a necessid ad e d o m o m e n to ” (B asílio, E p ísto la 21 4 ). A

O sab elian ism o g a n h o u a d e p to s em R o m a, A sia M e n o r, S íria e E g ito . E m 263 d .C .,D io n ís io de A le x a n d ria e n fre n to u o p ró p rio S abélio, d e rro ta n d o o sabelianism o. O cristian ism o p asso u a re p u d ia r as d o u trin a s d e S abélio, sen d o co n d e n ad as co m o h eréticas p o r n eg a r a u n id a d e c o m p o sta d a d iv in d ad e. C o n tra esses en sin o s, os b isp o s d o século 4° se re u n ira m em dois g ra n d e s concílios ecu m ên ico s, em 325 (N iceia) e em 381 d .C . (C o n s ta n tin o p la ), e a rticu laram u m credo u n ificad o r p a ra to d o s os cristãos, em to d o s os lugares, co n h e cid o co m o C re d o N ic e n o -C o n s ta n tin o p o lita n o : “C re m o s em u m só D e u s, P ai T o d o -P o d e ro so , c ria d o r do céu e d a te rra , d e to d as as coisas visíveis e invisíveis; e em u m S e n h o r Jesu s C risto , o u n ig ê n ito F ilh o de D e u s, g erad o pelo P ai an tes de to d o s os séculos, L u z de L u z , v erd ad eiro D eu s de v erd ad eiro D e u s, g erad o , n ão feito, de u m a só su b stâ n cia com o Pai, p elo q u al to d as as coisas fo ra m feitas; o qual, p o r nós h o m e n s e p o r n o ssa salvação, desceu dos céus, foi feito carn e d o E s p írito S an to e d a V irg e m M a ria , e to rn o u -

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-se h o m e m , e foi crucificado p o r n ós sob o p o d e r de P ô n cio P ila to s, e p ad eceu , e foi sep u ltad o , e ressu scito u ao terceiro dia, co n fo rm e as E sc ritu ra s, e su b iu aos céus, e assen to u -se à d ire ita d o P ai, e d e novo h á de v ir co m g ló ria p a ra ju lg a r os vivos e os m o rto s, e seu re in o n ão te rá fim ; e n o E sp írito S an to , S e n h o r e V ivificador, q ue p ro c ed e d o P ai e d o F ilh o ,40 q ue com o P ai e o F ilh o c o n ju n ta m e n te é a d o rad o e g lo rificado, que falo u pelos p ro fetas; e n a Ig reja u n a, san ta, cató lica e apo stólica; co n fessam o s u m só b a tism o p a ra rem issão dos pecad os. E sp e ra m o s a ressu rreição d os m o rto s e a v id a no século v in d o u ro ”.41 O u n icism o foi errad icad o d a h istó ria p o r m u ito s séculos até te r sido ressu scitad o p o r J o h n G . S ch ep p , fu n d a d o r d a seita Só Jesu s, em 1913. O s m o v im e n to s u n icistas são u m d e sd o b ra m e n to d a an tig a h eresia m o d alista. O m o d alism o é crido, h oje, pelos u n icistas, co m o a Ig reja L o ca l de W itn e s s L ee, C o n ju n to V oz d a V erdade e T a b e rn á culo d a Fé. E n tre o u tro s g ru p o s.

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IGREJA LOCAL DE WITNESS LEE

História Q u a n d o , n o século 19, o ev an g elh o e a B íb lia fo ra m levados p a ra a C h in a , p o r m eio de ce n te n as de m issio n ário s, igrejas fo ra m im p la n ta d a s em to d as as p artes. R o b e rt M o rríson d ese m b a rco u em C a n tã o , ca p ital d a p ro v ín cia m ais m e rid io n a l d a C h in a . O s co n g reg acio n alistas, os m e to d ista s e os an glican os fo ra m p a ra a p ro v ín cia d e F u k ien . O s p re sb ite ria nos e os b atistas p a ra X a n tu m , ao N o rte d a C h in a . A A lia n ç a C ris tã e M issio n á ria alcan ço u X an g a i. M u ito s deles sacrificaram suas vidas em p ro l d a o b ra d o S en h o r, so fren d o m u ito p o r causa d o ev an g elh o de Jesu s C risto . M u ita s pessoas q u e se e n c o n tra v a m nas trevas e n o p ec ad o fo ra m co n d u z id a s ao S enhor. E m 1920, u m jo v em de n o m e N ee S h u -tsu se converteu a C risto. Seu nom e inglês era H e n ry N ee. E stu d av a na faculdade anglicana Trinity, em Fuchow , capital d a província de Fukien. D epo is de convertido, m u d o u seu n o m e p ara W a tc h m a n N ee e u m novo n o m e em chinês, T o -sh en g , que significa: “som de alerta de u m a sentinela”. E le an u n ciav a o ev an g elh o nas cidades e vilas, e m u ito s se

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co n v ertiam . N o final de 1922, p u b lico u u m a revista c h a m a d a

O testemunho atual, q u e foi su sp en sa a p a rtir de sua edição 36, d e ju lh o a ago sto de 1934, v o lta n d o a circular, em 1948, com o títu lo de O tetemunho. T o d av ia, em 1951, v o lta a ser p u b licada co m o n o m e inicial. A lé m dos p erió d ico s, W a tc h m a n N e e p u b lico u m u ito s livros e três h in ário s. E m 1932, ho u v e u m c o n ta to pessoal en tre W a tc h m a n N e e e W itn e s s L ee. A m b o s m a n tia m co rresp o n d ên cias, m as so m e n te n o verão d aq u ele an o tiv eram u m c o n ta to pessoal. A p a rtir desse en c o n tro , L e e p asso u a ser seg u id o r d e W a tc h m a n N ee. W itn e s s L e e co m eço u a e stu d a r a revista p u b licad a p o r W a tc h m a n N e e e a p re g a r p ara esse m o v im e n to . W a tc h m a n N e e era m e m b ro d a igreja dos Irm ã o s de P lim o u th , m as saiu de lá e crio u o seu p ró p rio g ru p o , d e n o m in a d o de o P e q u en o R e b a n h o . P o r vários anos, L e e p re sid iu o P e q u e n o R e b a n h o em C h e fo o , até que foi co n v id ad o a se d irig ir p a ra X an g a i, a fim d e aju d ar N e e n o tra b a lh o , e isso d u ro u até 1946. D e p o is d a p risão de N ee, alg u m as d iferen ças de d o u trin a s e p ráticas en tre L e e e os o u tro s d irig e n te s d o P e q u e n o R eb an h o c o n trib u íra m p a ra a separação d o g ru p o . P o r c o n ta disso, em 1950, L ee crio u o seu p ró p rio g ru p o , lev an d o consigo m u ito s m em b ro s do P e q u e n o R e b a n h o e in d o tra b a lh a r em T a iw a n e nas F ilip in as. E m 1962, L e e fu n d o u a p rim e ira igreja em L o s A n g eles, USA.

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Doutrinas O m ero fato de a B íb lia ser u sad a p o r u m g ru p o religioso não prova, em si m esm o , q u e to d o s os en sin o s e p ráticas d eles se b aseiem n a B íblia. A v erd ad e é q u e u sam a B íb lia p a ra a tra ir os in cau to s. N u m p rim e iro c o n ta to co m eles, a ev id ên cia é de q ue a B íb lia apenas n ão basta; seus en sin o s tê m d e ser ad a p ta d o s, c o n fo rm e a in te rp re ta ç ã o d a m ais alta lid eran ç a, que c o n tro la to d a a sua vida. P a rtin d o dessa p rem issa, an alisarem os os en sin o s d e alg u m as d en o m in a ç õ e s p a ra saber se resistem ao c o n fro n to co m as S ag rad as E scritu ra s. U m a ca racterística p ec u liar das seitas é o exclusivism o re ligioso, o u seja, elas afirm am q u e, em alg u m m o m e n to , D e u s c h a m o u seu líd er p a ra re sta u ra r o cristian ism o q u e se ap o sta to u . C o m a Ig reja L o ca l n ão é d iferen te. W itn e s s L e e foi categ ó rico em afirm ar que: “A restau ração de D e u s n ão co m eç o u n o século 2 0 . E m b o ra seja difícil fixar u m a d a ta exata p a ra o seu início, é co n v e n ie n te estab e le cê-la n a ép o ca d a R efo rm a . A restau ração p asso u p o r m u ito s estágios d esd e a R e fo rm a [...] p ro sse g u in do p a ra a revelação de m u ita s v erd ad es preciosas d a B íblia p o r m eio dos Irm ã o s de P ly m o u th e, d ep o is, c o n tin u a n d o até a g e n u ín a ex p eriên cia d a v id a in terio r. A g o ra , ela atin g iu o seu estág io atu al co m o estab e le cim en to das g en u ín as igrejas lo cais...”.42 Se esta afirm ação fosse v erd ad eira, o c o n trá rio ta m b é m seria; o u seja, to d as as d em ais seriam falsas. Jesu s p ro m e te u qu e “as p o rta s d o in fe rn o n ão p rev aleceríam c o n tra a sua

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igreja” ( M t 16.18). S erá que n ão lhe foi possível m a n te r a in te g rid a d e d a sua Ig reja e q ue a Ig reja p o r E le fu n d a d a veio a ap o statar, p re cisan d o ser re sta u ra d a p o r W itn e s s L ee? N ão p ro m e te u Jesus estar con o sco “to d o s os dias, até a co n su m a ção dos séculos” ( M t 28.20)?

Batismo regeneracional U m a das ú ltim as o rien taçõ es de Jesus aos seus seguidores foi: “Id e , en sin ai to d as as nações, b a tiz a n d o -a s em n o m e do Pai, e d o F ilh o , e d o E sp írito S a n to ” ( M t 2 8 .1 9 ). A m aio ria de seus discípulos o b ed eceu à o rd em . O b a tism o cristão foi a d m in istra d o , p ela p rim e ira vez, n o d ia de P en teco stes, e sua sem elh an ç a co m o b a tism o de Jo ã o B a tista salta aos olhos: “A rre p e n d e i-v o s, e cad a u m de vós seja b a tiz a d o em n o m e de Jesus C risto , p a ra p e rd ã o dos p e c a d o s”, o rd e n o u P ed ro , q u a n d o to d o s qu e o assistiam e “c o m p u n g ira m -se em seu coração ” (A t 2 .3 7 ,3 8 ). O b a tism o cristão, à sem elh an ç a do b a tism o de Jo ão , é u m sinal e u m veículo de a rre p e n d im e n to e perdão. O b atism o d e m o n stra que a salvação consiste tã o -so m e n te n a graça de D eu s. E screv end o a T ito , P aulo declara: “Q u a n d o , p o rém , se m an ifesto u a b en ig n id ad e de D eu s, nosso Salvador, e o seu am o r p ara com to d o s, não p o r obras de ju stiç a praticadas p o r nós, m as seg u n d o sua m isericórdia, ele nos salvou m ed ian te o lavar reg en erad o r e ren ov ad o r do E sp írito S an to ” (3.4,5). A graça é fu n d a m e n ta l n o N o v o T estam en to , po rq u e fala do favor e d a b o n d ad e que D eu s estend e aos h o m en s, co m p letam en te in d e p e n d e n te das condições e m erecim en to s deles.

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P ela fé, e so m e n te p o r m eio dela, to m a m o s posse d a salvação, o q ue o b a tism o ta m b é m d eclara. Q u a n d o os sa m a rita nos creram n a p reg ação de F ilip e sobre as b o as-n o v a s d o rein o de D e u s e d o n o m e de Jesu s C risto , eles fo ra m b atizad o s (A t 8.12). Q u a n d o o eu n u c o etío p e p e rg u n to u a F ilip e: “Q u e m e im p e d e de ser b a tiz a d o ? ”, a re sp o sta de F ilip e foi: “Se você crer de to d o o co ração ”. O eu n u co resp o n d e u : “C reio qu e Jesus C risto é o F ilh o de D e u s ” (A t 8 .3 6 -3 8 ). Q u a n d o o carcereiro filipense p e rg u n to u a P au lo e Silas: “S en h o re s, q u e devo fazer p a ra ser salvo?”, P au lo resp o n d eu : “C rê no S e n h o r Jesu s C risto e serás salvo, tu e a tu a casa”. E aquele h o m e m e foi im e d ia ta m e n te b a tiz a d o com to d a a sua fam ília (A t 1 6 .3 0 -3 3 ). Q u a n d o P au lo p re g o u em C o rin to , as pessoas o uviam , criam e eram b atizad a s (A t 18.8). A o escrever aos co lo ssen ses, declarou: “T e n d o sido sep u ltad o s, ju n ta m e n te co m ele, no b atism o , n o q u al ig u a lm e n te fostes ressu scitad o s m e d ia n te a fé n o p o d e r de D e u s, q u e o ressu scito u d e n tre os m o rto s ” (C l 2 .1 2 ). N o N o v o T e sta m e n to , fé e b a tism o estão in tim a m e n te v in cu lad o s, u m c o m p le m e n ta o o u tro , p o ré m , ja m a is o b a tism o an tec ed e a fé. D ife re n te d o q u e e n sin a m as E sc ritu ra s, a Ig reja L o c a l de W itn e s s L e e en sin a o b a tism o reg en eracio n al, e rro n e a m e n te b asead a em Jo ão 3.5 e T i t o 3.5, afirm a n d o q u e o b a tism o te m o p o d e r de re g en era r os q u e se lhes su b m e te m , co m o se p o d e averiguar:

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“A água é n ão só o sím b o lo do b atism o , m as ta m b é m o m eio d a salvação; p a ra ser re g en era d o e e n tra r no re in o de D e u s, é preciso nascer, não só d o E sp írito , m as ta m b é m da água. P o r isso, o b a tism o é u m a co n d ição p a ra a regen eração e a e n tra d a no rein o de D eu s. A ssim co m o a fé é u m a c o n d ição d a salvação, ta m b é m o b a tism o o é”. 43 D ife re n te d o q u e in te rp re ta W itn e s s L ee, a reg en eração (o novo n a sc im e n to ) é a o b ra so b re n a tu ra l e in sta n tâ n e a d o E sp írito S a n to n o coração do p ecad or, à m e d id a qu e ele se arrep e n d e e aceita a C ris to co m o seu S alvador p esso al e não p o r te r sido b a tiz a d o . P o r esse m ilag re, seu esp írito , que estava m o rto nas tran sg ressõ es e p ecad o s, é vivificado p elo E sp írito S an to , co n fo rm e está escrito: “E le vos d e u vida, e sta n d o vós m o rto s nos vossos d elito s e p e c a d o s” ( E f 2 .1 ). E ssa nova vida é a n a tu re z a d iv in a q u e passa a h a b ita r no cren te, m e d ia n te o p o d e r do E s p írito S anto. Regeneração significa nascer de novo em D eus (Jo 1.13), nascer do E spírito (Jo 3.8), nascer de novo (Jo 3.7). A pessoa to m a-se nova criatura e todas as coisas to m am -se novas, com o está escrito: “E , assim, se alguém está em C risto, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2C o 5.17).

A Trindade O cristian ism o sem p re e n sin o u o m o n o te ísm o , m as D eu s te m se revelado co m o u m a u n id a d e co m p o sta. C o n h e c e m o s D e u s se g u n d o o q u e E le se fez conh ecer, pois n ão h á com o o h o m e m , em sua h u m a n id a d e , co n h e cê-lo , a m en o s q ue E le se revele às suas criatu ras. 756

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A o tra ta r d a d o u trin a d a T rin d a d e , u sam o s palavras h u m an as p a ra descrever a n a tu re z a d ivina, o q u e já ev id en cia a im p erfeição h u m a n a . N in g u é m co n h ece D e u s em sua to ta lid ad e. O S e n h o r é im a n e n te e, ao m esm o te m p o , tra n sc e n d e n te , o n iscien te, o n ip o te n te , o n ip re se n te e etern o . O s vocáb ulos desenvolvidos pelos estu d io so s das E sc ritu ra s são, em si m esm o s, lim ita d o s, p o r serem lin g u ag en s h u m a n a s. O s estu d io so s te n ta m expressar e explicar D e u s, m as, co m o p o d e o fin ito explicar o in fin ito ? C o n tu d o , p a ra q u e a d o u trin a de D e u s fosse fo rm u lad a , d esen v o lv eu -se u m v o cab u lário p ró p rio , o q u al p recisa ser b e m e n te n d id o , p o is, do co n trá rio , cria-se desnecessários p ro b lem as de co m u n icação . M e s m o assim , p o ré m , e n te n d e -se q u e n ão expressam e exp licam D e u s em sua to ta lid a d e , pois o S e n h o r é m a io r q u e a m e n te h u m a n a . O te rm o u sad o pelos cristãos p a ra d e n o ta r q u e D e u s é u m a u n id a d e c o m p o sta de três pessoas, inseparáveis e in d ivisíveis, é T rin d a d e . E sse é u m te rm o teo ló g ico e n ão bíblico. H á o u tras palavras não bíblicas, as quais u sam o s a m p la m e n te, pois expressam revelações bíblicas so b re D e u s, tais com o: o nisciên cia, o n ip rese n ça e o n ip o tê n c ia . E sses te rm o s revelam a trib u to s im p o rta n te s d e D e u s, p o ré m , n ão se e n c o n tra m nas S agradas E scritu ra s. N ã o é de se a d m ira r q u e a p alav ra “trin d a d e ” n ão se e n co n tre na B íblia, pois é teoló g ica. O im p o rta n te é sab er se o seu u so te m resp ald o bíblico o u não. S e g u n d o o N o v o T esta m e n to , h á três Pessoas d istin ta s reco n h ecid as co m o D e u s,

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p o rta n to , p o d e m o s re su m ir o en sin o das E sc ritu ra s em duas afirm ações: •

H á u m só D eus.



H á três P e sso a s d istin tas q u e são D eus: o P ai, o F ilh o e o E sp írito Santo.

C o n c lu ím o s, p o rta n to , seg u n d o a defin ição d a T rin d a d e , q ue h á so m e n te u m ser divino, su b siste n te em três Pessoas d istin ta s, logo, to d a a essência de D e u s p e rte n c e ig u a lm e n te a cad a u m a das três Pessoas, assim co m o cada u m a das três Pessoas c o m p a rtilh a n ão só a m e sm a essência com o, ta m b é m , a m e sm a v o n tad e, o m esm o p ro p ó sito , o m esm o p oder, a m e sm a e te rn id a d e e os d em ais a trib u to s divinos. D ife re n te do que d issem o s, o en sin o d a Ig reja L o ca l sobre a n a tu re z a de D e u s é m o d alístico estatístico . L e e en sin a que o Pai, o F ilh o e o E s p írito S a n to são sim u lta n e a m e n te u m , o u seja, ao m esm o te m p o o P ai é o F ilh o e o E sp írito . E sse en sin o h isto ric a m e n te é co n h e c id o co m o “p a trip a ssio n ism o ”. O P ai p a d e ceu n a cru z co m o o F ilh o . L e e declara: “Q u a n d o o F ilh o veio, não veio so zin h o , n ão deixou o P ai n os céus [...] P ro v av elm en te, n os d isseram n o p assad o que, q u a n d o o F ilh o veio n ascer co m o u m h o m e m , E le deixou o P ai n o tro n o no céu, m as a B íb lia n os d iz que, q u a n d o o F ilh o veio, E le veio co m o P a i”.44 E x em p lifican d o sua fo rm a de crer n a T rin d a d e , assim escreveu W itn e s s L ee: “O Pai está ilu strad o p ela m elan cia in teira; o F ilh o , pelas fatias, e, fin a lm e n te , o E sp írito , p elo suco.

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A g o ra , você vê este p o n to : o P ai não é apenas o Pai, m as é ta m b é m o F ilh o . E o F ilh o n ão é apenas o F ilh o , m as é ta m b é m o E s p írito ”.45 P ara que n ão fique d ú v id a q u a n to à crença sabeliana, d ifu n d id a p o r W itn e s s L ee , ele d iz o q u e p en sa sobre a T rin d a d e : “A lg u n s teó lo g o s trad icio n ais nos d izem q ue as três pessoas n a T rin d a d e divina: o P ai, o F ilh o e o E sp írito , n ão d ev em ser co n fu n d id o s e devem ser m a n tid o s c la ra m e n te sep arad o s o te m p o to d o . M a s, a B íb lia en sin a que Jesus, o F ilh o de D e u s, to rn o u -s e o E s p írito ”.46 P ro p o m o s-n o s, aqui, sim p le sm e n te d e m o n stra r, co m o está revelado nas E sc ritu ra s, q u e o Pai, o F ilh o e o E sp írito S an to p o ssu em a m esm a n a tu re z a divina. P a ra u m a m e lh o r ap reciação, ver o v o lu m e dois do curso.

Homem, habitação de Satanás E m b o ra Satanás e seus subordinados jam ais devessem receber qualquer proem inência, é salutar com p reen d er o lugar dado a eles nas E scrituras. N e n h u m outro indivíduo, exceto a T rin dade, recebeu tam an h o enfoque n a Bíblia, desde o seu início até o fim , com o o personagem que conhecem os com o Satanás, o diabo. A in d a que algum as pessoas falem de “diabos” com o se houvessem m uitos de sua espécie, tal expressão é incorreta. H á um n ú m ero g rande de “d em ônios”, m as existe apenas u m diabo. O vocábulo “diabo” é a transliteração d o term o grego diabolos “diabolov”, n o m e sem pre usado no singular, que significa “acusador”, e é aplicado exclusivam ente nas E scrituras a Satanás. U m a d o u trin a to ta lm e n te c o n trá ria às E sc ritu ra s é en si-

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n ad a p elo fu n d a d o r d a Ig reja L o cal, W itn e s s L ee , q u a n to à atuação d o diabo. V ejam os: “S erá q ue som o s im p ressio n ad o s co m o fato de q u e to dos os três seres: A d ão , S atan ás e D e u s, estão em n ós hoje? S o m o s b a sta n te co m p licad o s. O h o m e m A d ão , está em nós; o diabo, S atan ás, está em nós; e o S e n h o r d a vida, o p ró p rio D e u s, está em nós. P o rta n to , n ós nos to rn a m o s u m p e q u e n o ja rd im do É d e n ”.47 N ã o h á o m e n o r co n stra n g im e n to em afirm ar que o ser h u m an o é hab itação de S atanás, repetidas vezes ele declara, em alto e b o m som , sua teoria: “A d ão , o ego, está n a nossa alm a; S atanás, o diabo, está em nosso corpo; e D eu s, o D eu s triú n o , está em nosso esp írito ”. 48 E com pleta: “P o r isso, o h o m e m tem não só a vida e n atu re za d e S atanás, m as ta m b é m o p ró p rio S atanás com o tal espírito m alig n o o p eran d o d en tro de si”.49 A B íb lia é clara em afirm ar q u e o n osso c o rp o é o te m p io do E s p írito S an to : “N ã o sabeis vós que sois o te m p lo de D e u s, e q u e o E s p írito d e D e u s h a b ita em v ós” ( I C o 3 .1 6 ). “O u não sabeis q u e o vosso co rp o é o te m p lo d o E sp írito S an to , q u e h a b ita em vós, p ro v e n ie n te de D e u s, e que não sois de vós m esm o s? P o rq u e fo stes c o m p ra d o s p o r b o m p re ço; glorificai, p ois a D e u s n o vosso corpo, e n o vosso esp írito , os quais p e rte n c e m a D e u s ” ( I C o 6 .1 9 ,2 0 ). Jesu s veio p ara d e stru ir as obras d o d iab o ( l j o 3 .8 -1 0 ), e o d iab o n ão to c a n a v id a d o cristão fiel: “S ab em o s q u e to d o aquele q u e é n ascid o de D e u s n ão peca, o q u e de D e u s é g erad o co n serv a-se a si m esm o , e o m alig n o n ão lh e to c a ” ( l j o 5.1 8 ).

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Es t u d o s

de

T e o l o g ia

Ca p ít u l o 3

TABERNACULODAFE

H istó r ic o O fu n d a d o r dessa d e n o m in a ç ã o , co n h e c id o co m o W illia m M a rrio n B ra n h a m , n asceu em K e n tu c h y (E U A ), em 6 de ab ril de 1909, filho p rim o g ê n ito d e u m a fam ília m u ito h u m ilde. C o n ta -s e q u e, d e z dias d ep o is d o seu n asc im en to , u m a co lu n a de lu z p e n e tro u p ela ja n e la e refletiu sobre sua cabeça. Seus pais não c o m p re e n d e ra m o q u e havia o co rrid o . D e s de crian ça, B ra n h a m , seg u n d o ele, tin h a visões sobre alg u m even to fu tu ro , q u e se m u ltip lic a ria d u ra n te to d a a sua vida. P ró x im o d a id ad e de 18 an o s, B ra n h a m foi tra b a lh a r n u m ra n ch o , o n d e receb eu a n o tíc ia d a m o rte d e seu irm ão . T riste co m esta p erd a, sofreu, nessa ép o ca, d e ap e n d ic ite, sen d o su b m e tid o a u m a ciru rg ia. D u ra n te a o p eração , se n tin d o que iria su p o rtar, ele teve u m a visão, e fez u m a p ro m essa a D e u s, de servi-lo d u ra n te a v id a to d a , se fosse restau rad o . M a is ta rd e , d iz te r tid o o u tra ex p eriên cia co m aq u ela lu z qu e o u tro ra e n tra ra n a casa de seus pais q u a n d o a in d a tin h a te n ra idade. D e s ta vez, B ra n h a m estava em oração, e saiu dali co nv icto de sua conversão. U n iu -s e a u m g ru p o d e m issio n á rios b atistas, sen d o logo o rd e n a d o pastor. Q u a n d o pregava,

En c ic l o p é d ia

sua te n d a se en c h ia co m m ilh ares de pessoas, e m u ito s se co n v ertiam . G o sta v a de falar de suas visões, m as sua p re ferên cia era sobre as sete disp ensações d a Igreja. S e g u n d o ele, a Ig reja atravessava a ú ltim a dispensação, da q u al ele p ró p rio era o p ro fe ta, o p re cu rso r d a volta de C risto , co m o Jo ão B a tista o foi d a p rim e ira vin d a. O livrete O profeta do século

vinte , p u b licad o p elo T ab e rn ácu lo d a Fé, c o n ta a h istó ria de m u ita s visões q u e B ra n h a m teve e de m u ita s curas q ue ele realizou. B ra n h a m m o rre u em 1965, atro p e la d o p o r u m m o to rista b êb ad o . A lg u n s de seus seguidores esp eravam sua ressu rreição, e n q u a n to o u tro s ed ificaram u m san tu ário (u m a p irâ m ide) em sua m e m ó ria , n o seu tú m u lo , em Jeffersonville.50

O p ro feta m en sa g eiro da ú ltim a era B ra n h a m e n g ra n d e c e u seu n o m e de tal m a n e ira que c h e g o u a ser co n sid erad o o “p ro fe ta m en sag eiro d a ú ltim a era da h istó ria d o m u n d o ”. E le d iv id iu a h istó ria em sete d isp en sações ou idades. D iz ia que, em cad a u m a dessas dispensações, D e u s enviara u m p ro fe ta m en sag eiro; p o rta n to , seus c o n te m p o râ n eo s estavam viven d o no p e río d o d a ú ltim a dispensação. B aseado em A p o ca lip se 2 e 3, B ra n h a m listo u os n o m es dos seis g ra n d es líderes cristãos de to d a a h istó ria d a Igreja, dos quais ele é o ú ltim o . O s g ra n d es líderes d a Ig reja e seu devido p e río d o de a tu ação, seg u n d o B ra n h a m , ficaram d efin id os d a seg u in te m a neira:

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VOLUME

2



É feso (5 3 - 170 d .C .) - o ap ó sto lo P aulo



E s m irn a (1 7 0 - 31 2 d .C .) —Irin e u de L ião



P érg a m o (3 1 2 - 606 d .C .) - M a rtin h o

• T ia tir a (6 0 6 -1 5 2 0 d .C .) - C o lu m b a ■ S ardes (1 5 2 0 -1 7 5 0 d .C .) - L u te ro •

F ilad élfia (1 7 5 0 -1 9 0 6 d .C .) - Jo ão W esley



L ao d icé ia (1 9 0 7 -1 9 6 5 d .C .) - W illia m M a rrio m B ra nham

O s seguidores de B ra n h a m en sin am q ue a Igreja cristã de hoje está n a m esm a situação esp iritu al d a igreja de L aodicéia.

R ejeiçã o da d o u trin a da T rin d ad e U m a das características peculiares das seitas u n icistas é a rejeição d a d o u trin a b íb lica d a T rin d a d e , pois, do co n trá rio , jam ais co n se g u iría m su ste n ta r seus en sin o s. B ra n h a m e n sinava que: “P ai, F ilh o e E s p írito S a n to são sim p le sm e n te *

títu lo s. N ã o são n o m es. E p o r isso q ue b a tiz a m o s em n o m e d o S e n h o r Jesu s C risto , p o rq u e é u m n o m e , n ão u m títu lo ”.51 A sssim sen d o , seg u n d o o fu n d a d o r do T ab e rn ácu lo da Fé, Jesus te ria sido ao m esm o te m p o o P ai, o F ilh o e o E sp írito S an to . E m o u tra de suas p u b licaçõ es, lem os: “Se q u alq u er trin ita ria n o aqui so m e n te se soltasse u m m in u to , você p o d e ria ver q ue P ai, F ilh o e E s p írito S a n to não são três deuses. São três a trib u to s d o m e sm o D e u s [...] D e u s, expresso em Jesus C risto , q u e eram am bos: Pai, F ilh o e E s p írito S an to , a p le n itu d e d a d iv in d ad e c o rp o riz a d a ”.52

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

763

En c i c l o p é d i a

E ssa d o u trin a foi c o m b a tid a m u ito te m p o atrás p o r T e r tu liano, em sua o b ra Contra Práxeas, q u an d o , p ela p rim e ira vez, foi u tiliz a d o o te rm o Trinitas (T rin d a d e ) p a ra a d iv in d ad e. C a d a u m a das pessoas d a S a n tíssim a T rin d a d e é D e u s p len o , em to d a a sua p le n itu d e , n ão se tra ta de u m a p a rte de D e u s. A s três pessoas são d a m e sm a n a tu re z a , essência, su b stân cia, p o is são u m só D e u s. O fato de o P ai, o F ilh o e o E sp írito S an to serem u m só e m esm o D e u s, n ão significa que os m e m b ro s d a T rin d a d e sejam u m a só pessoa. A T rin d a d e é a u n ião d e três pessoas d istin ta s em u m a só d iv in d ad e e não em u m a só pessoa, p o is a u n id a d e de D e u s é c o m p o sta e não absoluta. A d istin ç ão e n tre as três pessoas d a T rin d a d e é o b serv ad a n a B íblia, co m o p assam o s a expor:

Pai e Filho são duas Pessoas distintas: a) C o m o du as te ste m u n h a s: “Se eu testifico de m im m esm o, o m eu te s te m u n h o n ão é v erd ad eiro . H á o u tro que testifica de m im , e sei q u e o te s te m u n h o que ele d á de m im é v erd ad eiro ” (Jo 5 .3 1 ,3 2 ). “E , se n a v erd ad e ju lg o , o m e u ju íz o é v erd ad eiro , p o rq u e n ão sou eu só, m as eu e o P ai q u e m e enviou. E n a vossa lei está ta m b é m escrito que o te s te m u n h o d e dois h o m e n s é v erdadeiro. E u sou o q u e testifico d e m im m esm o , e de m im te stifica ta m b é m o P ai, q u e m e en v io u ” (Jo 8 .1 6 -1 8 ).

b) O que envia e o enviado: “P o rq u e D e u s enviou o seu

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VOLUME

2

F ilh o ao m u n d o , n ão p a ra q u e co n d en asse o m u n d o , m as p a ra q u e o m u n d o fosse salvo p o r ele” (Jo 3.17). “M a s, v in d o a p le n itu d e dos te m p o s, D e u s en v io u seu F ilh o , n ascid o d e m u lh er, n ascid o sob a lei” (G1 4.4).

c) N as saudações: “G ra ç a e p az d a p a rte de D e u s nosso P ai, e d o S e n h o r Jesu s C ris to ” ( l C o 1.3). “P aulo, ap ó sto lo n ão d a p a rte d os h o m e n s, n e m p o r h o m e m alg u m , m as p o r Jesus C risto e p o r D e u s P ai, q u e o ressu scito u d e n tre os m o rto s ” (G1 1.1). “G ra ç a , m isericó rd ia e p a z d a p a rte de D e u s P ai e d a d o S e n h o r Jesu s C risto , o F ilh o d o P ai, seja convosco n a v erd ad e e a m o r” (2Jo 3).

Outras provas bíblicas de que Jesus não é 0 Pai a) E m to d o o te m p o em q u e Jesu s esteve n a te rra , o P ai esteve n o céu: “A ssim re sp lan d eça a vossa lu z d ia n te dos h o m e n s, p a ra que vejam as vossas bo as obras e g lo rifiq u em a vosso Pai, q u e está nos céus” ( M t 5 .1 6 ). “S ede vós, pois, p erfeito s, co m o é p e rfe ito o vosso Pai qu e está n os céus” ( M t 5 .4 8 ).

b) Jesus disse q u e co n fessaria os h o m e n s q u e o co n fessassem d ia n te d o Pai: “P o rta n to , q u a lq u e r q u e m e co n fessar d ia n te dos h o m e n s, eu o confessarei d ia n te de m eu P ai, q u e está n os céus. M a s q u a lq u e r q u e m e n e g a r d ia n te dos h o m e n s, eu o n eg arei ta m b é m d ia n te de m e u P ai, q u e está n os céus” ( M t 1 0 .3 2 ,3 3 ).

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

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En

c i c l o p é d i a

c) O S e n h o r Jesu s C risto está, h o je, à d e stra do Pai: “E , o u v in d o isto, e n fu reciam -se em seus corações, e ra n g iam os d e n te s c o n tra ele. M a s ele, e sta n d o ch eio do E s p írito S an to , fixando os o lh o s n o céu, viu a g ló ria de D e u s, e Jesu s, q u e estava à d ire ita de D e u s, e disse: E is q u e vejo os céus ab e rto s, e o F ilh o d o h o m e m , q u e está em p é à m ão d ire ita d e D e u s ” (A t 7 .5 4 -5 6 ).

d) D e u s P ai é Pai de Jesus e n ão Jesus é P ai de si m esm o: “B e n d ito o D e u s e Pai de nosso S e n h o r Jesus C risto , o q u al n os ab e n ço o u co m to d as as b ên ção s esp iritu ais n os lugares celestiais em C ris to ” ( E f 1.3). “G ra ç a , m isericó rd ia e paz, d a p a rte de D e u s Pai e d a d o S e n h o r Jesus C risto , o F ilh o d o Pai, seja convosco n a v erdade e a m o r” (2Jo 3).

e) Jesu s e n tre g o u o seu esp írito a seu P ai e n ão a si p ró p rio : “E , c la m a n d o Jesu s com g ra n d e voz, disse: Pai, nas tuas m ãos en tre g o o m e u esp írito . E , h av en d o d ito isto, exp iro u ” (L c 2 3 .4 6 ).

a) Jesu s co n h e cia o P ai, m as n ão era o Pai: “A ssim co m o o P ai co n h ece a m im , ta m b é m eu c o n h e ço o P ai, e d o u a m in h a v id a pelas o v elh as” (Jo 10.15)

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2

g) Jesus cita a lei sobre o testem u n h o de dois h o m en s e faz analogia entre E le e o Pai, com o duas testem unhas: Έ n a vossa lei está tam b ém escrito que o testem u n h o de dois h o m en s é verdadeiro. E u sou o que testifico de m im m esm o, e de m im testifica tam b ém o Pai que m e enviou” (Jo 8.1 7 ,1 8 ).

O Pai não é 0 Espírito Santo a) O P ai envia o E s p írito S an to : “E u ro g arei ao P ai, e ele vos d a rá o u tro C o n so la d o r, p a ra q u e fique convosco p ara se m p re ” (Jo 14 .16 ). “M a s, q u a n d o vier o C o n s o lador, q u e eu d a p a rte d o P ai vos h ei d e enviar, aquele E s p írito d a V erdade, qu e p ro ced e d o P ai, ele testificará de m im ” (Jo 15 .2 6 ).

b) O E s p írito S an to in terce d e ju n to ao Pai: “E , d a m esm a m a n e ira , ta m b é m o E sp írito aju d a as nossas fraquezas; p o rq u e n ão sab em o s o q u e h av em o s d e p e d ir com o convém , m as o m esm o E sp írito in terce d e p o r n ós com g em id o s in ex p rim ív eis. E aquele q u e ex am in a os corações sabe q u al é a in te n ç ã o d o E sp írito ; e é ele que, se g u n d o D e u s, in terce d e pelos sa n to s” (R m 8 .2 6 ,2 7 ).

Jesus não é 0 Espírito Santo a) O E sp írito S an to é o u tro C o n so la d o r: “E u ro g arei ao Pai, e ele vos d a rá o u tro C o n so lad o r, p a ra q u e fique convosco p ara se m p re ” (Jo 14.16). “M e u s filh in h o s, estas coisas vos escrevo, p ara q u e n ão pequeis; e, se al­

Es t u d o s

de

t e o l o g i a

767

En c ic l o p é d ia

g u é m pecar, tem o s u m A d v o g ad o p ara com o Pai, Jesus C risto , o ju s to ” ( l j o 2.1).

b) O E s p írito S a n to g lorifica a Jesus: “E le m e glorificará, p o rq u e h á de receb er d o que é m eu , e v o -lo h á d e a n u n ciar” (Jo 16.14).

c) O E s p írito S a n to desceu sobre Jesus n o m o m e n to do b atism o : “E sen d o Jesu s b a tiz a d o , saiu logo d a água, e eis q u e se lh e a b rira m os céus, e viu o E s p írito d e D e u s d escen d o com p o m b a e v in d o sobre ele” ( M t 3.1 6 ).

Outras provas bíblicas de que 0 Espírito Santo não é Jesus a) O E sp írito S an to é u m outro C o n so lad o r, p ro ced en te do Pai e do F ilho: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos d ará o u tro C o nso lad o r, p ara que fique convosco p ara sem p re” (Jo 14.16). “M a s q u an d o vier o C onso lad o r, que eu d a p arte d o Pai vos hei de enviar, aquele E sp írito d a verdade, que procede d o Pai, ele testificará de m im ” (Jo 15.26).

b) O F ilh o p o d e ser b lasfe m a d o e o p e c a d o r cu lp ad o disso e n c o n tra p erd ão , m as, se o E sp írito S a n to for blasfem ad o , essa pessoa n ão e n c o n tra p erd ão . Isto p ro v a h a ver du as pessoas d istin tas: “P o rta n to , eu vos digo: T o d o p ec ad o e b lasfêm ia serão p e rd o a d o s aos h o m en s; m as a b lasfêm ia c o n tra o E s p írito n ão será p e rd o a d a aos h o m e n s. E , se q u a lq u e r d isser alg u m a p alav ra c o n tra o F ilh o d o h o m e m , s e r-lh e -á p erd o ad o ; m as, se alg u ém

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falar c o n tra o E s p írito S an to , n ão lh e será p erd o ad o , n e m n este século n e m n o fu tu ro ” ( M t 12 .3 1 ,3 2 ).

c) O E s p írito S a n to não veio p a ra falar de si m e sm o o u g lo rificar a si m esm o , m as, sim , g lo rificar a Jesus: “M a s, q u a n d o vier aquele E sp írito d a v erd ad e, ele vos g u iará em to d a a v erdade; p o rq u e não falará de si m esm o , m as d irá tu d o o q u e tiv er ouvido, e vos an u n c ia rá o q u e h á de vir. E le m e glo rificará, p o rq u e h á de receb er d o que é m eu , e v o -lo h á de a n u n c ia r” (Jo 16 .1 3 ,1 4 ).

d) A d escid a d o E sp írito S an to , n o d ia de P en teco ste, foi a p ro v a de q u e Jesu s havia ch eg ad o ao céu, o n d e asse n to u -se à d e stra de D e u s Pai: “E isto disse ele do E sp írito q u e h av iam de receb er os q u e n ele cressem ; p o rq u e o E sp írito S an to a in d a n ão fo ra d ad o , p o r a in d a Jesus não te r sido g lo rificad o ” (Jo 7.3 9 ). “D e so rte que, ex altado p ela d estra d e D e u s, e te n d o receb id o d o P ai a p ro m essa d o E sp írito S an to , d e rra m o u isto q u e vós agora vedes e ouvis” (A t 2 .3 3 ).

e) Jesus afirm o u , m esm o d epo is d a ressurreição, q u e E le n ão era “esp írito ”. P o rta n to , E le n ão p o d ia ser n e m o P ai (Jo 4 .2 4 ), n e m o E sp írito S an to (Jo 1 4 .1 6 ,1 7 ,2 6 ; 15.26; 1 6 .7 ,1 3 ), pois esses são seres esp iritu ais: “V ede as m in h a s m ãos e os m eus pés, q u e sou eu m esm o ; a p a lp a i-m e e vede, p o is u m esp írito n ão te m carn e n e m ossos, co m o vedes q u e eu te n h o ” (L c 2 4 .3 9 ).

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

769

e n c i c l o p é d i a

P o rta n to , é in su sten táv el m a n te r o novo sab elian ism o de

Jesus somente, q u a n d o o te s te m u n h o das E sc ritu ra s a re sp eito é b e m claro. E x iste, de aco rd o co m as E sc ritu ra s, u m a pessoa c h a m a d a “o P a i”, o q u al é d esig n ad o co m o D e u s ( E f 1.2). H á , ta m b é m ,u m a pessoa c h a m a d a “o F ilh o ”, q u e é d esig n ad o co m o D e u s (Jo 1.1; 2 0 .2 8 ; l j o 5 .2 0 ). H á , ain d a, u m a terc eira pesso a c h a m a d a “o E s p írito S a n to ”, ig u a lm e n te d esig n ad a co m o D e u s (A t 5 .3 ,4 ). E ssas três pessoas são co ex isten tes e, n a u n id a d e d a d iv in dade, são d esig n ad as co m o u m ú n ico D e u s ( D t 6.4).

T R IN D A D E ^ |||| \ Onipresença

FILHO

ESPÍRITO SANTO

Efésios 1.2023‫־‬

Salmo 139.7

PAI Jeremias 23.24 ^

;

Onipotência

Gênesis Í 7 A

Apocalipse 1.8

Romanos 15.19

Onisciência

Atos 15.18

João 21.17

ICoríntios 2.10

Capacidade de criar

Gênesis 1.1

João 1.3

Jó 33.4

Eternidade

Romanos 16.26

Apocalipse 22.13

Hebreus 9.14

Santidade

Apocalipse 4.8

Atos 3.14

1João 2.20

Santificador

João 10.36

Hebreus 2.11

1Pedro 1.2

Fonte de vida eterna

Romanos 6.23

João 10.28

Gaiatas 6.8

Inspirador dos profetas

Hebreus 1.1

2Coríntios 13.3

Marcos 13.11

Supridor de ministros à igreja

Jeremias 3.15

Efésios 4.11

Atos 20.28

Salvador

2Tessatonicenses 2.13

Tito 3.46‫־‬

1Pedro 1.2

Deus

Êxodo 20.2

João 20.28

Atos 5.3,4

Pluralidade (Gênesis 1.26; 3.22; 11.7; Isaías 6.8) Tríplice bênção (Números 6.2426‫)־‬ Tríplice doxologia — frase de glorificaçãor (Isaías 6.3)

770

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

Yahweh

Jesus

EU SOU (Êxodo 3.13,14)

EU SOU (João 8.58)

A ROCHA (Isaías 44.8)

A ROCHA (ICoríntios 10.4)

0 SENHOR (Isaías 45.5,6)

O SENHOR (Filipenses 2.11)

A PAZ (Juizes 6.24)

A NOSSA PAZ (Efésios 2.14)

0 PASTOR (Salmo 23.1)

O PASTOR (Hebreus 13.20)

A NOSSA BANDEIRA (Êxodo 17.15)

A NOSSA BANDEIRA (João 3.14)

O SENHOR DOS SENHORES (Deuteronômio 10.17)

SENHOR DOS SENHORES (ITimóteo 6.15)

O ÚNICO SALVADOR (Isatas 43.11)

O ÚNICO SALVADOR (Atos 4.12)

O SANTO (Levítico 19.2)

O SANTO (Atos 4.27)

O VERDADEIRO (Jeremias 10.10)

O VERDADEIRO (Atos 3.14)

O JUSTO (Salmo 7.9)

O JUSTO (Atos 3.14)

A VIDA (Deuteronômio 30.20)

A VIDA (João 14.6)

SÁBIO (Jeremias 32.19)

SÁBIO (ICoríntios 1.24)

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO (Isaías 44.6)

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO (Apocalipse 1.17)

PEDRA DE TROPEÇO (Isaías 8.1315‫)־‬

PEDRA DE TROPEÇO (Romanos 9.33)

TRANSPASSADO (Zacarias 12.10)

TRANSPASSADO (João 19.33,34)

O PERDOADOR (Salmo 103.3)

O PERDOADOR (Mateus 9.5,6)

VIRÁ COM OS SANTOS (Zacarias 14.5)

VIRÁ COM OS SANTOS (ITessalonicenses 3.13)

Es t u d o s

de

t e o l o g i a

771

ENCICLOPÉDIA

R eferên cia s

A G O S T I N H O , S anto. A Trindade. 2 a ed. São Paulo: P aulus. 1994. A L M E I D A , A b raão de. 0 sábado, a lei e a graça. R io de Janeiro: C P A D , 1997. A N D R A D E , R o q u e M o n te iro de. A superioridade da reli-

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S

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772

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

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nacional de teologia do Novo Testamento. São Paulo: E d içõ es V id a N o v a, 2 0 0 0 . D E N N I S , L e o n . Cristianismo e espiritismo. F ed eração E sp írita B rasileira. D E N N E T T , W . D . Ganhe os muçulmanos para Cristo. São Paulo: S epal, 1993. D O U G L A S , J. D . O N o v o D ic io n á rio d a B íblia. 2 a ed. São Paulo: E d içõ es V id a N o v a, 1997. F R A N G I O T T I , R o q u e. História das heresias. São Paulo: P aulus, 1995. F A L C Ã O , M árcio. M an u al de Teologia Sistemática. São Pau10: E ditora O A rado. s.d. _________ . Como conhecer uma seita. São P aulo: O A ra d o . 20 06 . _________ . Seitas proféticas. São P au lo : O A ra d o . s.d. _________ . Seitas espíritas. São P au lo : O A ra d o . s.d. _________ . Seitas secretas. São P aulo: O A ra d o . s.d. _________ . Seitas orientais. São P aulo: O A ra d o . s.d. _________ . Seitas unicistas. São Paulo: O A rado. s.d. _________ .Adventista do sétimo dia. São Paulo: O A rado. s.d. _________ . Nova Era. São P aulo: O A ra d o . s.d.

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

773

ENCICLOPÉDI A

_________ . Islamismo. São Paulo: O A rad o . s.d. _________ . Catolicismo romano. São Paulo: O A rad o . s.d. F E R R E I R A , A u ré lio B u arq u e de H o la n d a . O N o v o D icio n ário A u rélio d a L ín g u a P o rtu g u esa. V ersão 5.0. R io de Jan e iro : Positivo, 2 0 0 4 . C D - R O M . F I G U E I R E D O , Jo a q u im G erv ásio de. Dicionário de ma-

çonaria‫׳‬. seus m isté rio s, seus rito s, sua filosofia, sua h istó ria. São P aulo: P e n sa m e n to , 1996. G E E R , T h e lm a G ran n y . Porque abandonei 0 mormonismo. São P aulo: E d ito ra V id a, 1991. G E I S L E R , N o rm a n L ; R H O D E S , R o n . Respostas às sei-

tas. R io de Jan e iro : C P A D , 2 0 0 0 . G O N D I M , R icard o . O evangelho de Nova Era. São Paulo: A b b a Press E d ito ra , 1995. G O N Z A L E Z , J u sto L. Uma história ilustrada do cristia-

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mento. São P aulo: V id a N o v a, 1998. H E X H A M , Irv in g . Dicionário de religiões e crenças moder-

nas. São Paulo: V id a, 2003. H O R R E L L , J. S co tt. Maçonaria e f é cristã. São Paulo: M u n d o C ristã o , 1996. IC P . C u rso in te rd e n o m in a c io n a l d e teo lo g ia. São Paulo: I C P E d ito ra , 2 0 0 3 .

774

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

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estranhos. São Paulo: Q u a d ra n g u la r, 1997. J O S E F O , F lávio. História dos hebreus. O b ra C o m p le ta . 5 a ed. R io de Jan eiro : C P A D , 2 0 01 . K A R D E C , A llan. O b ra s P óstu m as. O b ra C o m p le ta . São Paulo: E d ito ra O p u s, s.d. K L O P P E N B U R G , B o av en tu ra. Espiritismo. São Paulo: E d içõ es L o y o la, 1997. L E I T E F I L H O , T á c ito d a G a m a . As religiões antigas. R io de Jan eiro : Ju e rp , Vol. 2 ,1 9 9 4 . _________ . As religiões vivas I. R io de Jan eiro : Ju e rp , Vol. 3 ,1 9 9 4 . _________ . As religiões vivas II. R io de Jan e iro : Ju e rp , Vol. 4 ,1 9 9 5 . .. Heresias, seitas e denominações. R io de Jan eiro : Ju e rp , 1995. _________ . Origem e desenvolvimento da religião. R io de Ja neiro: Juerp, 1993. _________ . Seitas mágico-religiosas. R io d e Jan eiro : Ju e rp , 1994. _________ . Seitas orientais. R io d e Jan eiro : Ju e rp , 1995. M A C A R T H U R Jr, J o h n F. Os carismáticos. São Paulo: F iel, 1995. M A G A L H Ã E S C O S T A , S am u el F ern a n d es. A Nova

Era. P o rto A legre: O b ra M issio n á ria C h a m a d a d a M e ia -N o ite . M A G N O C O S T A , Jefferso n . Porque Deus condena 0 espi-

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

775

ENCICLOPÉDIA

ritismo. R io de Jan eiro : C P A D , 1997. M A R T I N , W alter. C o m o e n te n d e r a N o v a E ra . São P a u lo: V id a, 1999. _________ .Mormonismo. P u e rto R ico: B etân ia, 1982. _________ . O império das seitas. M in a s G erais: B etân ia, Vol. 1 , 1992. _________ . O império das seitas. M in a s G erais: B etân ia, Vol. II, 1992. _________ . O império das seitas. M in a s G erais: B etân ia, Vol. I I I , 1992. _________ . O império das seitas. M in a s G erais: B etân ia, Vol. IV, 1993. M A R T I N S , Jaziel G u erreiro . Seitas: heresias de nosso tem p o . C u ritib a : E d ito ra A . D . S an to s, 1998. M A T H E R , G e o rg e A ; N I C H O L S , L a rry A . Dicionário

de religiões, crenças e ocultismo. São Paulo: V id a, 2 0 0 0 . M C D O W E L L , Jo sh ; L A R S O N , B art. Jesus: u m a defesa b íb lica de sua d iv in d ad e. São Paulo: C a n d e ia , 1994. M C D O W E L L , Jo sh ; S T E W A R T , D o n . Entendendo as

religiões não cristãs. São Paulo: C a n d e ia , 1996. M C D O W E L L , Jo sh ; S T E W A R T , D o n . Entendendo as

seitas. São P aulo: C a n d e ia , 1998. _________ . Entendendo 0 oculto. São Paulo: C a n d e ia , 1998. M E N E Z E S , A ld o dos S an to s. Merecem crédito as testemu-

nhas de Jeová? R io de Jan eiro : C e n tro d e Pesquisas R elig io sas, 1995. _________ .As testemunhas deJeová eJesus Cristo. São Paulo: V id a, 2 0 0 3 . .. As testemunhas de Jeová e 0 Espírito Santo. São 776

ESTUDOS DE TEOLOGIA

VOLUME

2

Paulo: V id a, 2003. M I L T O N , S.V. A verdade sobre 0 sábado. C u ritib a : A . D . S an to s, 1996. _________ . Conhecendo a Congregação Cristã no Brasil. C u ritib a : A . D . S an to s, 1995. _________ . Conhecendo os cultos afros. C u ritib a : A . D . S a n tos, 1999. _________ . Espiritismo. C u ritib a : A . D . S an to s, 1996. O L IV E IR A , R a im u n d o F. de. Seitas e heresias: u m sinal dos tem p o s. R io de Jan eiro : C P A D , 1987. O L S O N , R oger. História da Igreja cristã. São P aulo: V id a,

2001 . P A T Z IA , A r th u r G ; P e tro tta , J. D ic io n á rio d e estu d o s b íblicos. São P aulo: V id a, 2 0 0 3 . P A X T O N , G eo ffrey J. O abalo adventista. R io de Jan eiro : Ju e rp , 1983. R I N A L D I , N ata n ael; R O M E I R O , Paulo. Desmascarando

as seitas. R io de Jan eiro : C P A D , 1997. R O M E I R O , Paulo. Evangélicos em crise. São Paulo: M u n do cristão. 1997. S A N T O S , A d e lso n d am ascen o . Catolicismo·, v erd ad e o u m en tira? C u ritib a : A . D . S an to s, 1999. S C H N O E B E L E N , W illia m . Maçonaria: d o o u tro lado d a luz. C u ritib a : E d ito ra L u z e V id a, 1999. S H A N K S , H e rsh e l. Para compreender os manuscritos do

mar Morto. R io de Jan eiro : Im ag o , 1993. SIL V A , E seq u ias Soares da. Manual de apologética cristã. São Paulo: C P A D , 2 0 0 2 . _________ . Como responder às testemunhas de Jeová. São estudos

de

T eologia

777

e n c i c l o p é d i a

P aulo: C a n d e ia , Vol. 1 ,1 9 9 5 . _________ . Testemunhas de Jeová, comentário exegético e ex-

plicativo. São P aulo: C a n d e ia , Vol. 2 ,1 9 9 5 . SIL V A , H y la rin o

D o m in g u e s. As doutrinas mórmons.

C u ritib a : A . D . S an to s, 1998. S IL V E IR A , H o rá c io . Santos Padres e santos podres. P aran á, s.d. S M I T H , Jo se p h F ie ld in g . Doutrinas de salvação. S U D , Vol. 1 ,1 9 9 4 . S M I T H , Jo sep h . Ensinos do profeta José Smith. São Paulo: S U D , s.d S O A R E S , R . R . Osfalsos profetas. E d ito ra G ra ç a , s.d. S T A M P S , D o n a ld C . B íb lia d e E s tu d o P en teco stal. R io de Jan eiro : C P A D , 1996. T A L M A G E , Jam es E . Um estudo das regras defé. São P a u lo: M issã o B rasileira, 1958. T O N I N I , E n éa s; B E N T E S , Jo ã o M a rq u e s. Janelas para 0 Novo

Testamento. São Paulo: L o u v o res d o C o ração . 1992.

T O N I N I , E n éas. 0 período interbíblico. 7 a ed. São Paulo: L o u v o res do C o ração , 1992 T O S T E S , Silas. 0 islamismo e a cruz de Cristo. São Paulo: I C P E d ito ra , 2 0 0 1 . *

_________ . O islamismo e a Trindade. São P aulo: A g ap e E d ito re s, 20 0 1. V A L E , A g ríc io do. Por que estes padres católicos deixaram a

batina? C u ritib a : A . D . S an to s, 1997. V A N B A A L E N , J.K . O caos das seitas: u m estu d o sobre

778

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

VOLUME

2

os “ism o s” m o d e rn o s. São Paulo: Im p re n sa B a tista R egular, 1986. W O O T T O N , R . R Muçulmanos que encontraram a Cristo. São Paulo: S epal, 1987.

Es t u d o s

de

T e o l o g ia

779

in t r o d u ç ã o

À Fil o so f ia

C a p ít u l o l

período pré -socrático

F ilo so fia e sab ed o ria. N ã o se te m d ú v id a sobre a ín tim a relação e n tre sab e d o ria e filosofia. V erem os logo q u e esta re lação co m eça p o r ser etim o ló g ica. M a s, fica d esd e já e n te n d id o qu e, nessa relação, o corre u m nexo psico ló g ico se m e lh a n te ao que d ep a ram o s, p o r exem plo, n a relação d ireito e ju s tiça. A ju stiç a , em p rin c íp io , sobreleva o d ireito , q u e te m p o r objetivo alcan çá-la. M a s, d e ix a n d o -se de lad o co n sid eraçõ es estra n h as ao nosso estu d o , ta n to o d ireito q u a n to a ju stiç a “c o n c e rn e m às coisas h u m a n a s ”.6 A ssim , a m a io r p re o c u p a ção clássica co m a ju stiç a te m u m d esen v o lv im en to h istó rico se m e lh a n te ao d a p rim e ira relação d estac ad a — sab ed o ria e filosofia — , até q u e o d ireito se co lo q u e n a p re cíp u a p o sição de ú n ico m eio, h u m a n o , de a ju stiç a ser alcan çad a, realizada. A ssim , a sab ed o ria sobreleva a filosofia, que te m p o r o b jetiv o alcan çá-la, atin g i-la . O p a ta m a r clássico tra ta v a d a sab e d o ria h u m a n a ; a filosofia, su b o rd in a d a à sab ed o ria, surge, c o n c e itu a lm e n te , d ep o is, p ara, afinal, su b stitu ir, o u inverter, a h ie ra rq u ia , co m o n a relação d ireito e ju stiç a , co n sid e ra n d o a filosofia o ú n ico m eio de se alcan çar a sab ed o ria h u m a n a .

ENCICLOPÉDIA

A m ito lo g ia grega, e v id e n te m e n te , cu id o u , co m o de resto, ta m b é m desses a trib u to s h u m a n o s. E a d eu sa Palas A te n a , p ro te to ra de A te n a s, d eu sa p ag ã d a sab ed o ria, é, ta m b é m , p a tro n a da filosofia. A filosofia te m co m o seu sím b o lo p o p u la r a coruja; m u ita s vezes, nos tê m p e rg u n ta d o o m o tivo, e já in sin u a ra m q u e seria p elo o lh a r en ig m ático , “sábio”, que a coruja tem . Q u a se isto. A te n a te m o lh a r b rilh a n te , u m o lh a r d e b ro n z e, que lh e co nfere o ap elid o de “G la u c ó p is” ( γ λ α υ κ ω π ις o lh a r b rilh a n te e assu stad o r), q u e le m b ra o da coruja, pássaro de o lh a r fixo e lu m in o so , que passa, p o r p o ssu ir u m p o d e r fa scin an te e h ip n ó tic o , se m e lh a n te ao escudo, co m a m áscara de u m só o lh o d a G ó rg o n a , u sad o p ela deusa. A te n a am a a coruja, p o r ela re p re se n ta r a m ed itação que se p ro d u z nas trevas. A ssim , p o r tu d o isso e p a ra azar d a coruja, to rn o u -s e ela o an im al sacrificado nas cerim ô n ias religiosas em h o m e n a g e m à d eu sa e, c o n se q u e n te m e n te , o sím b o lo d a filosofia. E to d o s, alg u m a vez, já o u v iram falar n o “v o to de M in e rva”. E s te v o to no táv el, q u e liga Palas A te n a (M in e rv a , p a ra os ro m an o s) ao d ireito e à ju stiç a , além d a filosofia e da sab ed o ria e, p o rta n to , à d iscip lin a filosofia d o d ireito , foi p ro fe rid o se g u n d o a m ito lo g ia g reg a h o m érica , q u e c o stu m a m istu rar, e m u m só resu m o , os anais d a v erd ad eira h istó ria d os povos gregos p rim itiv o s co m sua religião o lím p ica, em d elicad o e especial ju lg a m e n to . E m ráp id as palavras, A g a m e m n o n , rei de M ic e n a s, ao reto rn a r d a g u e rra de T ro ia, é su rp re e n d id o p ela sua esposa,

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Es t u d o s

d e

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C lite m n e stra , e seu am a n te , E g isto , e assassinado d u ra n te o b a n h o , à sua ch eg ad a, u su rp a n d o -lh e o tro n o , lid erad o p o r C lite m n e stra , a ra in h a . O re ste s, seu filho, in sp irad o e p ro te g id o p elo deu s A p o io e in stig a d o p ela irm ã E le c tra , vin g a a m o rte do p ai, assassin an d o a m ãe, C lite m n e stra , e o a m a n te, E g isto . A ra in h a havia sido p rev en id a, em so n h o s, sobre a ação de O re ste s. E n tã o , p o r suas preces, lan ça c o n tra ele as F ú rias (E rín ia s, o u E u m ê n id e s), deusas v iolen tas e p erseg u id o ras im placáveis. S em p re am p a ra d o p o r A p o io , O re ste s foge p ara D elfo s (cid ad e ap o lín ea) p a ra se p ro te g e r das F ú rias. M a s, sab en d o serem elas im placáveis, e a in d a ac o n selh ado p o r A p o io , O re ste s foge p a ra A te n a s e resolve p ro c u ra r o ju lg a m e n to de Palas A te n a , que, em lu g ar disso, o su b m ete à decisão de u m trib u n a l fo rm a d o pelos m ais ilu stres cidadãos d aq u ela cidade, n o A re ó p ag o , co lina situ a d a ju n to ao local o n d e, m ais tard e , seria erig id o o seu tem p lo , n a A c ró p o le .7 A li, foi O re ste s ju lg a d o p ela m o rte d a m ãe. A q u estão era: C lite m n e s tra m a ta ra o m arid o , qu e d ela não era c o n sa n g u íneo; e O re ste s m a ta ra a m ãe, sua co n san g u ín ea. Q u a l é o crim e m ais grave? A lg u n s h isto ria d o re s in te rp re ta m o relato do ju lg a m e n to in se rto n a p eça “A s E u m ê n id e s ”, de E sq u ilo ,8 co m o sendo, n a v erdade, ju lg a m e n to d o m atriarc ad o , re p re se n ta d o pelo p o d e r de C lite m n e stra . O re ste s re p re se n ta ria o p atriarcad o , que a in d a n ão havia se firm ad o co m o reg im e eco n ô m ico d o m in a n te n aq u e la ép o ca re m o ta.

ESTUDOS

DE

TEOLOGIA

785

E

n c i c l o p é d i a

O trib u n a l q u e ju lg o u O re ste s re ceb eu o n o m e d o local o n d e se re u n iu A re ó p a g o ,9 q u e p asso u a ser a d en o m in a ç ã o d o trib u n a l su p erio r de A te n a s. N o ju lg a m e n to , in terv iera m : o coro das E rín e a s, n a acusação, o deus A p o io , n a defesa, P alas A te n a p re sid in d o os trab a lh o s. O s m ag istrad o s v o ta ra m , e a v o tação te rm in o u em em p ate. U m im p asse. Palas A te n a teve de p ro fe rir o seu voto, d e se m p a ta n d o a lide. E ela d ecidiu. C o m o ? O re ste s foi absolvido! T o d o s já d ev em te r o u vido falar que a expressão filosofia, v in d a d o grego, significa “a m o r à sab e d o ria”. O s radicais gregos, fo rm a d o res d a palavra, p o d e m ser tra d u z id o s desse m o d o . M a s, d ev e-se rem o v er o c a rá te r sim p lista d a expressão re su lta n te d a trad u ção . V ejam os a fo rm a ção d a palavra, n o grego, com seu co n te ú d o lin g u ístico : φ ι λ ί α - philia - (filia): “a m iz a d e ”, “afeição viva” o u “a m o r” (sem a id eia d e sen su alid ad e o u sexo) resu lta n o rad ical φ ίλ ο -philo - (filo), u tiliz a d o n a fo rm a ção de u m se m -n ú m e ro de v o cábulos gregos e la tin o s.Φ ίλ ο - philo (filo), significa: “am ig o ” (... de alg u ém ), o u “q u em , sem sexualid ad e, am a” (alg u ém o u alg u m a coisa). E x em p lo s: q u em am a as uvas (a m a n te do v in h o o u das uvas); d esig n a a in d a am o r ao po d er, à p á tria , ao lucro, à v itó ria, ao d in h e iro .10

Σ ό φ ια - sophia - (sofia): “sab ed o ria” (g ên ero ) e ainda: • S ab ed o ria p rá tic a • S ab er • C iê n c ia

786

Es t u d o s

d e

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VOLUME

2

- arte: •

h a b ilid a d e (em geral)



h a b ilid a d e m a n u a l

— a rte sa n a to D a í resulta: φ ιλ ο σ ο φ ία - p h ilo so p h ia - (filosofia), co m os significados, em g rego, so b re tu d o o an tig o , de a m o r “à ciên cia; à pesquisa; à p rá tic a de u m a a rte o u ciência; o u , a cu ltu ra in te le c tu a l em si, a ciência em si m esm a, o exercício p rá tic o de u m a arte o u ciên cia q u a isq u e r”, o q u e resu lta, afinal, em u m a p esq u isa d a essência das coisas, estu d o d a n a tu re z a , p ro cu ra d a verdade. P erceb e-se q u e o v erb ete, rico d e significados, em lín g u a g reg a n ão se re strin g ia à significação co n cisa d e h oje. E m suas o rig en s, p ro v in h a de expressão d e u so p o p u lar. E m v erdad e, o “p o p u la r” a q u e n os referim o s, em se tra ta n d o d e G ré cia an tig a, significa uso quase e ru d ito p a ra nó s. A so ciedade greg a era u m a so ciedade escravista, aristo crátic a, q u e e n c arava o tra b a lh o , so b retu d o , o m ercen ário , co m o in d ig n o . O s escravos, ju n to co m os estran g eiro s (m eteco s) e os p o b res o u n ão p ro p rie tá rio s (tetes), arcavam co m to d o s os tip o s d e tra b alh o necessário à m a n u te n ç ã o d a so cied ad e, tarefas p ráticas, sujas, no ca m p o e n a cidade, e d ev iam u tiliz a r lin g u ajar m ais p ró x im o do q u e h o je e n te n d e m o s p o r “p o p u la r”. P o rta n to , filosofia era expressão d e uso c o rre n te q u e foi a d q u irin d o , ao lo n g o d o te m p o , o se n tid o atual. P ara o g rego an tig o , a sab ed o ria estava acim a d a filosofia. E s te era o

Es t u d o s

d e

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n c i c l o p é d i a

e n te n d im e n to e n tre os p ré -so crá tico s. A p a rtir de S ócrates, e, p rin c ip a lm e n te , p ela d efin ição de P la tã o in c o rp o ra d a , de fo rm a en x u ta, p o r A ristó teles, o v erb ete filosofia ad q u iriu c o n te ú d o etim o ló g ico p ró x im o d o seu se n tid o m o d e rn o :11 “a filosofia co n cern e às coisas h u m a n a s ”, é a trib u to d o in telecto h u m a n o , da sab ed o ria h u m a n a : refere-se ao h o m e m e ao seu c o m p o rta m e n to . T e m seu su b stra to 12 n o ser h u m a n o . V o ltan d o u m p o u co à etim o lo g ia, d estacam o s que o ra dical p h ilo p asso u d o g rego p a ra o la tim , co m o in te g ra n te significativo d e (com o en tre nó s, no p o rtu g u ês): sim p atia, adesão, to rcid a, am izad e, ad m iração , en g a ja m e n to , sujeição in telectu al, in clin ação , te n d ê n c ia . E S o p h ia, à sab ed o ria. M o d e rn a m e n te , p o d e m o s e x tra ir d a u n ião desses radicais o verbete: F ilo so fia (Φ ΙΛ Ο Σ Ο Φ ΙΑ ): 1) filosofia; 2) lógica; 3) m oral; 4) ética; 5) estética; 6) m etafísica; 6) d o u trin a s e escolas filosóficas.13 A p a rtir do la tim , a expressão p erco rre u c a m in h o inverso ao do grego. D e p alavra de uso eru d ito , a d q u iriu sig n ificações co rren tes. O povo la tin o - o m ais cu lto em sua ép o ca e, p o ssiv elm en te, em to d as as épocas, fazia uso em seu lin g u ajar d iário de palavras de c o n te ú d o e ru d ito .14 E tal co stu m e, nós d e o rig e m latin a, h e rd a m o s a expressão “m o ra n a filosofia”, p o r exem plo, q ue u m a é expressão p o p u lar, co m p reen sív el a to d o s, u tiliz a d a até n o ca n cio n eiro popular. O p e n sa d o r p o lo n ês B o ch en sk i, observa: “F ilo so fia é u m assu n to q ue n ão in teressa só ao especialista, p o rq u e , p o r m ais

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e stra n h o q u e isto pareça, p ro v av elm en te n ão h á h o m e m que não filosofe; ou, p elo m en o s, to d o h o m e m se to rn a filósofo em alg u m a circ u n stâ n cia d a vida. Isto vale, an tes de tu d o , p a ra nossos cien tistas, h isto riad o res, artistas. T o d o s eles, m ais cedo o u m ais tard e , c o stu m a m o c u p a r-se com a filosofia. N ã o afirm o que, co m isso, eles p re ste m u m g ra n d e serviço à h u m an id ad e. O s livros dos q u e se p õ e m a filosofar sem serem p o r profissão filósofos, a in d a qu e sejam e m in e n te s físicos, p o etas o u p o lítico s, são, em geral, m ed ío cres e c o n tê m u m a filosofia in fa n tilm e n te in g ê n u a , e o m ais das vezes, falsa. M a s isso é aqui secu n d ário . O im p o rta n te é que to d o s nós filosofam os, e até parece q u e estam o s o b rig ad o s a filo so far”.15

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0 NASCIMENTO DA FILOSOFIA OCIDENTAL C o m o acab am o s d e dizer, filosofar é u m a ativ id ad e que to d o s, u m dia, nos d ed ica m o s, sem , p o r isso, n os to rn a rm o s filósofos. C ita m o s a o p in ião exata d o p e n sa d o r p o lo n ês B o ch en sk i a re sp eito d o assu n to . R efo rçam o s, co m u m exem plo fa m iliar a to d o s nó s, brasileiros: o fu teb o l. Q u a lq u e r b rasileiro e n te n d e de fu teb o l, a p o n to de se ju lg a r a p to a escalar o tim e d a seleção b rasileira. M a s, a ativ id ad e d e tre in a d o r de fu te b o l é profission al, d e p e n d e de especialização p a ra ser exercida. A ssim , q u a lq u e r desses “técn ico s” de ru a n ão sab eria o que fazer, p o r o n d e com eçar, se, em u m a se g u n d a -fe ira q u alquer, se vissem às voltas co m u m v erd ad eiro c o n ju n to d e fu teb o l profission al, a fim de p re p a rá -lo p a ra o p ró x im o jogo. P a ra o p e ra r q u alq u er sistem a o rd e n ad o , seja filosofia ou fu teb o l, é necessário, além d a noção d os ele m e n to s essenciais que o c o m p õ e m , te r-se m éto d o . S em m éto d o , n a d a é p o ssível. D iz D e sc a rte s, ao in iciar o seu Discurso sobre 0 método·. “O b o m senso é a coisa m ais b e m d iv id id a d o m u n d o , p o is cada q u al ju lg a estar tão b e m d o ta d o dele q u e m esm o os m ais d ifíceis de c o n te n ta r-se em o u tras coisas não c o stu m a m d esejá-lo m ais do que p o ssu em ”.16 M a s, p a ra c o n stru ir o u e n te n d e r

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u m a ciência, n ão b a sta o b o m senso. É necessário m éto d o . N a A n tig u id a d e , a ativ id ad e filosófica ab ran g ia to d o o ca m p o do sab er h u m a n o id en tificad a com o co n ceito de “sab e d o ria ”. O s “sáb io s” d ev eríam , p a ra ta n to , ser d o tad o s de ecléticos c o n h e c im e n to s que ab ran g essem quase to d o o c o n h e c im e n to científico d a épo ca em que vivessem . A cristalização d o co n ceito do v erb ete “filosofia”, com o h o je o em p re g am o s (e que e n te n d e m o s te r ev oluído de u m p rim itiv o se n tid o de “am o r à sab ed o ria” às definições e ru d itas de S ó crates, P la tã o e A ristó te le s), o corre a p a rtir d a sua versão p ara o la tim , q u a n d o fixa sua co n ceitu ação m o d e rn a . E m se n tid o atu al, filosofia c o m p o rta u m a subdivisão de ca m p o de estu d o : o n to lo g ia (estu d o d o ser) e g n o sio lo g ia (te o ria do c o n h e c im e n to ou, à m o d a ca rtesian a, te o ria d o m é to d o ). C o m to d as as p erd as sofridas através dos te m p o s ,17 m e d ia n te a especialização de seus ram o s, re sta m in c o n te sta d a s n o in te rio r d o co rp o d a filosofia: a) m etafísica; b) ética; c) m oral; d) estética; e) ló g ica.18 P ara m e lh o r com preensão do que estam os nos referindo, é necessário tra n sm itir alguns fu n d a m e n to s básicos de filosofia, trilh a n d o o curso h istó rico da disciplina. Essas noções são in dispensáveis p ara este estudo, devido às lacunas existentes nos com pên dios em geral, além d a om issão que h á n o en sin o m édio. T ra ta -se de co n h e cim e n to s básicos que, a rigor, o e stu d an te deveria traz er em sua b agagem p ré-u n iv ersitária. M a s, com o isto, em geral, não ocorre, o b rig a-n o s a falha em supri-la.

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A d e n o m in a ç ã o “filosofia o c id e n ta l” te m sua o rig em e n tre os gregos, m ais p re c isa m e n te en tre os gregos h a b ita n te s das A

an tig as colônias gregas d a A sia M e n o r (o n d e h o je se situ a a costa tu rc a m e d ite rrâ n e a ) e d a “M a g n a G ré c ia ”, Sul d a Itá lia e Sicília. O filósofo inglês H e n r y S u m n e r M a in e disse: “O p rin c íp io d o progresso foi criad o p o r u m d im in u to povo, o grego. A liás, ex cetu an d o as forças d a n a tu re z a , n a d a se m ove n este nosso U n iv erso q u e n ão seja greg o ”. D a n d o -s e créd ito a M a in e , co m a filosofia não p o d e ria ser d iferen te. N ã o q ue a filosofia, desen v o lv id a pelos povos q ue p re ced eram c u ltu ra lm e n te os gregos, seja p o u co im p o rta n te ; apenas q ue, v o ltad a p a ra o p e n sa m e n to , a p rá tic a e a a titu d e religiosa, em ép oca em que a ad m in istra ç ã o do E sta d o c o n fu n d ia -se co m a sacerd o tal, co lo cam -se em p lan o secu n d ário em nosso estudo. A filosofia grega desen vo lveu-se, p rim e iro , em suas co lô nias da Á sia M e n o r, d evido à in flu ên cia d a filosofia o rien tal, b e m co m o do E g ito e povos asiáticos do O rie n te P ró xim o, inclusive os m eso p o tâm io s, q ue às colônias ch e g o u an tes, p o r razão geográfica. T a m b é m in flu en cio u , co m o se sabe, este d esen v o lv im en to , o p ro g resso eco n ô m ico e com ercial das colônias em relação à m e tró p o le , a in d a d o m in a d a , à época, pela aristo cracia agrícola, m ais co n se rv ad o ra e m en o s d e m o crática. A ciência egípcia e sua pio n eira organização ad m inistrativ a e econôm ica; a religiosidade dos povos do deserto, b em com o a dos orientais; o alfabeto persa, evoluído da escrita cun eifor-

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m e; e, sobretudo, o alfabeto fenício, serviram de base ao g rego que, apenas, acrescentaram a este ú ltim o as vogais.19 T u d o isto a p o rto u p rim eiro às colônias, em id ad e que hoje p o d em o s qualificar de “clássica” (a p a rtir do século 7° a.C .). B e rtra n d R ussell, em sua co n h ecid a História dafilosofia, in icia com as seguintes palavras, en fo can d o o tem a: “E m to d a a história, não h á n ad a tão su rp re en d en te n e m tão difícil de explicar com o o re p en tin o ap arecim en to d a civilização na G récia. M u ito do que co n stitu i em u m a civilização já havia existido, m ilhares de anos antes, n o E g ito e n a M eso p o tâm ia, e sten d e n d o -se aos países vizinhos. M a s, faltavam certos elem en to s que fo ram fornecidos pelos gregos. O que estes realizaram n a arte e n a literatu ra é conhecido de to d a a g en te, m as o que realizaram n o cam p o p u ra m e n te in telectu al é ain d a m ais excepcional. In v e n ta ram as m atem áticas, a ciência e a filosofia; fo ram os p rim eiro s a escrever h istórias, em lugar de m eros anais; especularam liv rem en te sobre a n atu reza d o m u n d o e as finalidades da vida, sem que se achassem aco rren tad o s a q u alq u er orto d o x ia herd ad a. F oi tão espantoso o que ocorreu que, até recen tem en te, os h o m e n s se co n ten tav a m em ficar b o q u iab erto s e a falar m istica m e n te d o gênio grego”. O n a sc im e n to d a filosofia o c id e n ta l a q u e n os referim o s se deu , ex a ta m e n te , n a região d e n o m in a d a Jô n ia , situ ad a, com o dissem os, no C o n tin e n te A siático , esp ecificam en te nas p ro x im id ad es da G ré c ia eu ro p eia, às m arg en s d o m a r E g e u , que b a n h a a p a rte o rie n ta l d a p e n ín su la grega. A região, que fo ra co lo n izad a pelos g regos, c o n stitu ía -se em u m a ex ten sa co lô -

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n ia d e n o m in a d a D o d e c á p o le Jô n ia , o u seja, u m a confederação que gozava de g rande au to n o m ia em relação à m etrópole e era fo rm ad a p o r doze cidades, en tre as quais despontavam E feso e M ileto. O com ércio m arítim o era seu forte, além de S

u m a desenvolvida agricultura; servia de p o rtal d a A sia p ara o M ed iterrân eo , daí sua im p o rtân cia com ercial e a influência que sofria da A sia. D e lá, advinham , além das m ercadorias, objeto de sua existência, o h áb ito de filosofar, típico dos povos orien tais. O apogeu da região ocorre a p artir do século 7° a.C . A atividad e q u e h o je e n te n d e m o s co m o filosófica era, lite ra lm e n te , exercida, en tão , p elos “sáb io s”, a m a n te s e cultores da sabed oria. E a u m deles, T ales, de M ile to , é a trib u íd a a criação d o que p o d e m o s n o m e a r co m o a p rim e ira escola filosófica. C o n sid e ra -se co m o ca racterística d o tra b a lh o d e u m filósofo a sua cap acid ad e d e co n seg u ir criar u m sistem a filosófico e, e v e n tu a lm e n te , fo rm a r u m a escola filosófica. O m ín im o , p o ré m , é a m o n ta g e m de u m v erd ad eiro sistem a. P o d em o s p e rfe ita m e n te a trib u ir este c o stu m e à p ró p ria o rig em d a filosofia o c id e n ta l com T ales de M ile to . Tales (que, seg u n d o o h isto riad o r A p o lo d o ro , viveu en tre 6 2 4 -5 4 6 a.C .) é co n sid erad o o pai d a filosofia grega e, conseq u en tem en te, d a ocid en tal. F oi o p rim eiro a m erecer, n a A n tiguid ad e, o designativo de “sábio”, co n fo rm e disse o h isto riad o r clássico D ió g en es L aércio, em sua o b ra d atad a de 2 5 0 d .C ., co n hecid a com o Vida e opiniões dosfilósofos, e que o in clu iu n a relação d en o m in ad a “O s sete sábios d a G récia an tig a”. 20

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H á dú v id a q u a n to ao local de seu n asc im en to , sen d o M ileto sua cidade de adoção; H e ró d o to , o h isto ria d o r (4 8 0 -4 2 5 a .C .), a trib u i-lh e o rig em fen ícia,21 a q ual explicaria m e lh o r sua passag em p elo E g ito e o c o n h e c im e n to d a escrita b a b ilô n ica q ue p o ssib ilito u o estu d o das m en cio n ad a s táb u as astro n ô m ic a s em sua estad a em S ardes. D iz , ain d a, H e ró d o to , q u e T ales era d e sc e n d e n te d e p ai cário e m ãe grega, em b o ra n ascid o n a Fenícia. E le foi leg islad o r em M ile to e acum ulava c o n h e c im e n to s sobre to d as as atividades h u m a n a s elevadas co n h ecid as, in clusive m a te m á tic a e astro n o m ia. A liás, a d e te rm in a ç ã o exata da ép o ca em q u e viveu se deve ao fato de h av er p rev isto u m eclipse to ta l d o sol, o co rrid o em 2 8 /5 /5 8 5 a .C ., provávelm e n te a p a rtir de estu d o s que fizera em S ardes, cap ital da L íd ia, de táb u as astro n ô m icas b ab ilô n icas.22 P o rta n to , n esta d ata, in ício d o século 6° a .C ., ele já gozava d a n o to rie d a d e necessária ao reg istro desse feito. A trib u i-se a ele, ainda, a criação do fam oso co njunto de teorem as que leva seu nom e, em u m e outro caso fru to do am adurecim ento de conhecim entos astronôm icos e m atem áticos adquiridos no E gito, de onde trouxe, tam b ém , conhecim entos sobre m eteorologia e seriação de tábuas de m aré que iriam , no prim eiro caso, ren d er-lh e vultosa som a financeira,23 e, n o segundo, p erm itir-lh e p ro d u zir estudo preciso das m arés n a região de M ileto que propiciaram a esta, sob sua direção e, agora atuando com o engenheiro, a construção de seguro e abrigado porto, fo n te de im ediata prosperidade e h eg em o n ia com ercial n a região.

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D e le disse A ristó teles: “F oi o fu n d a d o r dessa classe d e filosofia”, a c h a m a d a filosofia jô n ic a , o u m esm o grega, q u e especulava sobre a o rig em das coisas e a n a tu re z a d a m atéria. D e sua v id a singular, n a rra m -se vários ep isó d io s. T ã o ab so rto vivia e andava, p resa de suas investigações e elu cu b rações, que, ce rta vez, c o n te m p la n d o as estrelas, caiu em u m poço. N ã o m o rre u ... A in d a b e m , p ara a filosofia. N a área p o lítica , id ealizo u , p a ra a Jô n ia , u m in é d ito e p re cu rso r E s ta d o fed eral q u e congregasse to d o s os povos e cid ade& d a região. U m E sta d o d em o crátic o fed erativ o , im ag in ad o àquela época, é algo re a lm e n te esp an to so . A lé m de filósofo, m a te m á tic o , a strô n o m o e estad ista, foi en g e n h eiro , co m o v im o s, id ealizad o r e c o n stru to r d o p o rto de M ile to . E , talvez, te n h a sido o p rim e iro a siste m a tiz a r os c o n h e c im e n to s esparsos dos d ese n h istas e p ro jetistas eg íp cios, v o ltad o s sem p re à solução de p ro b lem as p articu lares, m as co m té c n ic a u n ifo rm e e desenvolvida, a in d a q u e p o u co d ifu n d id a — a q u estão d a difusão e divulgação cien tífica egípcia, talvez, esbarre n a d ificu ld ad e d e reg istro p ela co m p licad a escrita h ieroglífica. A p a r tir d e seus estu d o s n o E g ito , T ales criou a p rim e ira g e o m e tria d e d u tiv a fu n d a m e n ta d a em teo re m a s gerais de q u e se te m notícia. C o n s ta que, nessa ocasião, e n sin o u aos seus m estres eg íp cios u m m é to d o , in v en tad o n a tu ra lm e n te p o r ele, p a ra m e d ir a altu ra das p irâm id es. O m é to d o co n sistia em m e d ir a altu ra de u m o b jeto p e q u e n o , u m h o m e m , p o r exem plo, e a altu ra d a sua so m b ra p ro je ta d a n o solo em d e te rm in a d a h o ra e, si-

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m u lta n e a m e n te , m e d ir a so m b ra da p irâ m id e p ro je ta d a no solo; m e d ia n te sim ples reg ra de três, en tão , a p u ra -se a altu ra exata d o m o n u m e n to . E ra u m a c o n sta n te , a p reo cu p ação dos h o m e n s em saber, n aq u ele te m p o , a o rig em das coisas, d o U niverso. E os q u a tro ele m e n to s n atu rais: a água, o fogo, o ar e a te rra , eram , n a tu ra lm e n te , fru to s d e especulação. O s p e n sa d o res dessa época, d e n o m in a d o s “físicos”, se p reo cu p av am esp e cialm e n te co m a o rig e m de tu d o o q u e existe, e e lab o raram u m a série de d o u trin a s sobre a p ro to ssu b stân cia. T ales, im p re ssio n a d o co m o m o v im e n to e a tra n sfo rm a ç ã o de to d as as coisas ex isten tes, c e n tro u sua filosofia n a afirm ação d e qu e a ág u a seria o e le m e n to fu n d a m e n ta l e a o rig em m esm a d o U n iv erso , sensível. A u m id a d e , d izia, id en tifica a vida; a m o rte tu d o resseca; os g erm es d a v ida são sem p re ú m id o s e a água, co m seu in cessa n te m o v im e n to , devia e p o d ia ser a o rig em de to d as as coisas. N ã o devia ser d e sc o n h e cida de T ales a n a tu re z a d o m o v im e n to m o lecu lar da água e sua co n stitu iç ão q u ím ic a especial e elem en tar. R aciocinava ele, ainda, que tu d o deva se n u trir d aquilo de que se origina, e achava que a terra estava assente sobre a água. A o p e rg u n ta r se o que as coisas são — se referin d o ao p rin cípio delas — a o rig em de suas m u d an ças e m utações, e n u n ciou T ales o p ro b lem a cap ital d a filosofia e com ele iniciou-se, h isto ricam en te, a filosofia ocid en tal, d igam os, adulta. T ales, co m o dissem os, re sp o n d e à p e rg u n ta sobre a o rig em das coisas assin alan d o a água co m o o e le m e n to fu n d a m e n ta l,

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m e lh o r d iz e n d o , o ú m id o , que, p ela sua ação, faz co m que as coisas se altere m , p o r co n d e n sação o u dilatação . M a s este n ão é só o fu n d a m e n to das coisas, aquilo em que as coisas co n sistem , senão o p rin c íp io d a v italid ad e de to d o ser v ivente. A p ro p ó sito , cerca d e 60% do n osso co rp o é c o n stitu íd o d e r água. E ssas afirm ações tê m p o r ilações, en fim , o fato de qu e o sêm en , m a triz d a vida, é líq u id o , e a co n stataç ão d e que (m o rm e n te p a ra u m grego) o m a r cerca tu d o . C o n sid erav a , ain d a, que o m o v im e n to im p reg n av a e an im ava as coisas, de so rte q u e a m a té ria se re d u ziría, em ú ltim a análise e afinal, à alm a, im p erecív el e im o rtal. A in d a qu e in g ê n u a , a te o ria filosófica criad a p o r T ales, além de p re cu rso ra, d e té m o v alo r de, p ela v ez p rim e ira , alg u ém te r criad o u m v erd ad eiro sistem a de n a tu re z a filosófica. E v id e n te m e n te q u e, d ev id o à atrib u la d a v id a d e T ales, o siste m a filosófico m o n ta d o foi u m a espécie de coroa d o c o n ju n to de sua ativ id ad e co m o sábio, cien tista. M a s , foi su ficiente p ara fu n d a r a p rim e ira escola filosófica im p o rta n te , a escola de M ile to , o u m ilésia, e d a r o im p u lso in icial p a ra a in s titu ição, ao q ue h oje d e n o m in a m o s, sim p le sm e n te , filosofia.

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ESCOLA MILÉSIA

N a filosofia grega, a fig u ra d e S ócrates (4 6 9 -3 9 9 a.C .) d e sp o n ta co m o u m m arco divisor. Isto se deve ao fato d e ter sido ele que, de fo rm a m a rc a n te , tro u x e a filosofia clássica p a ra o in te rio r d o ser filosófico co g n o scen te, o h o m e m . C o n trib u iu p a ra este feito , é b e m v erd ad e, a ativ id ad e c o n te m p o râ n e a dos filósofos sofistas, m as a p e rso n a lid a d e ex p o n en cial de S ó crates u ltrap assa, em fam a, a to d o s eles. Isto ju stific a ser ele, en tão , o d ivisor e n tre a filosofia q u e lh e an tec ed eu , d ita física, n atu ra lista, co sm o g ô n ica o u m aterialista, e dos seus p ó stero s, ce n trad as n o h o m e m , de c a rá te r e m in e n te m e n te an tro p o ló g ico . E aqueles que o su ced eram , ta m b é m c h a m a dos “socráticos m e n o re s”, p o d e -se d esig n ar p ó s-so crático s. A p rim e ira escola filosófica fo rm a -se em M ile to , à so m b ra d a fam a d o sábio T ales, e é co n h e c id a p o r E sco la M ilésia. E essa escola d u ro u e n tre o ap o g eu dele, em to rn o d o an o 600 a .C ., e a m o rte d e A n ax ím en e s, em 5 2 4 a.C . C o m o já foi d ito , os filósofos p ré -so c rá tic o s fu n d a m e n tav am suas especulações filosóficas n a o rig em d o U n iv erso e das coisas, d a vida, inclusive a trib u in d o a fo rça c ria d o ra aos

ENCICLOPÉDIA

elem en to s fu n d a m e n ta is co n h ecid o s: o ar, o fogo, a te rra e, co m o T ales, a água. A té q u e su rg iu u m a id eia nova com o u tros filósofos, tais com o:

Anaximandro (610547‫ ־‬a.C.) F u g in d o à regra, em sua o bra Da natureza, p ub licada no fim d e sua vida e d a qual só resto u frag m en to s, inovou fazen do as seguintes considerações: o p rin cíp io de tu d o era a arquê ( Α ρ κ η ) 24, a in fin itu d e, força original e term o inicial da força criado ra de to d as as coisas, o apeiron (Α π ε ιρ ο ν ), o infinito. D a arquê, a in fin itu d e, p ro v in h a a força criadora; do apeiron, o infinito, o reco b rid o r do finito, já que tod as as coisas são finitas e têm , no infinito, sua n atu ra l lim itação. O cosm os, assim , é reg id o p o r u m a lei b iu n ív o ca q ue ab a rca tu d o , u m d u alism o c o n c e n tra d o r de to d o s os fe n ô m e n o s, org ân ico s e in o g ârn ico s, viventes e n ão viventes: criador, criatu ra e m o rte . E s te co sm o s é, pois, u m g ig an tesco c o n ju n to em qu e tu d o se rege p o r u m a ín tim a co erên cia de duas forças criad oras originais. E in trig a n te com o esta teo ria cósm ica de A n ax im an d ro faz lem b rar a teo ria do big-bang d a astrofísica co n tem p o rân ea.

Anaxímenes (588524‫ ־‬a.C.) F oi, n a tu ra lm e n te , d iscípu lo d e A n a x im a n d ro . E tra b a lh o u co m as m esm as idéias d e A n a x im a n d ro , ex train d o , co n tu d o ,

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u m a con clu são de n a tu re z a cien tífica, m en o s o rig in a l e m ais sim ples, q u a n to à o rig e m d o U n iv erso . A cresce n to u , p o ré m , u m a rrem ate filosófico de g ra n d e im p o rtâ n c ia , fa z e n d o n ascer a p rim e ira d ic o to m ia filosófica significativa, n o c o n fro n to das suas idéias co m as d o m estre. A p ro to ssu b stâ n c ia , p a ra A n a x ím en es, era única: o ar, o u apeiros-arquê ( α π ε ι ρ ο ς - α ρ κ η ) , u m a força unív o ca, em co n cep ção rig o ro sa m e n te m o n ista . O ar era o p rin c íp io dos co rp o s sim ples, p ro d u z in d o tu d o a p a rtir d a sua co n d en sação o u rarefação; co m p rim id o , criava o fogo; d ilatad o , a ág u a e a terra. D a m e sm a fo rm a q u e a co n cebid a p o r A n a x im a n d ro p a ra o apeiron, achava A n ax ím en e s q ue o ar re co b ria to d as as coisas e o U n iv erso , inclusive. D iz ia qu e o ar re co b ria o U n iv erso d a m e sm a fo rm a q u e o ilim ita d o reco b ria o lim itad o . M a s n ão n a fo rm a q u e o estático reco b re o d in âm ico . A o co n trá rio , o ar é e le m e n to vivo e d in âm ico ; é co m o a alm a h u m a n a , u m alen to , o u u m h á lito q u e se c o n tra p õ e à passiv id ad e d a m atéria. P ara ele, o ar seria o m ais dem o crático dos elem en to s, aquele que iguala a to d o s, pobres e ricos, fracos e poderosos, súditos e soberanos. T o d o s dele d e p e n d e m ig u alm en te p ara sobreviver. E ssa concepção ética de A n ax ím en es tra z a teo ria cósm ica de A n ax im an d ro e a dele p ara u m co n tex to pró x im o d a vida h u m a n a em sociedade, deix an d o a filosofia a u m passo da p e rquirição dos im ensos e com plexos pro b lem as antropológicos n a relação do h o m e m com o U niverso, com o E stad o , com a religião, com a política, com a ju stiça, com a alteridade e o d ireito e com a m o ral e a ética.

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O que nele se d e n o ta é a in tro d u ção conceituai de u m a ética física (ou m o ral superior) que só com Sócrates e alguns sofistas iria passar a ocupar, de fo rm a consistente, o cen tro das p reo cu pações filosóficas, a p a rtir daí centradas n o h o m em . N a filosofia, desd e seus p rim ó rd io s, id e n tific o u -se u m an ta g o n ism o e n tre lógica e d ialética, d o q u al falarem os n a p ró x im a exposição d o p e n sa m e n to de H e rá c lito e P a rm ê n id e s, n o ca m p o d a g n o sio lo g ia o u te o ria do c o n h e c im e n to . C o m A n ax ím en e s, nasce o u tra d ic o to m ia im p o rta n te n o cam p o da o n to lo g ia o u estu d o d o ser, e n tre m o n ism o e dualism o. A p ro to ssu b stâ n c ia seria ú n ica o u d ual, dúplice? O b e d e c e ría a u m a lei o u d e te rm in a ç ã o , u n ív o ca o u biunívoca? A n a x im a n d ro a d u p lica em arquê e apeiron. A n ax ím en e s a unifica, em apeiros-arquê, o u o ar. A q u i, veja-se, não in teressa e x a ta m e n te de q ual su b stân cia se tra ta , m as, sim , d a ideia filosófica d efen d id a. A c o n seq u ên cia filosófica d esta unificação é a co n sid eração de qu e, sen d o ú n ica a su b stân cia, esta só se altera q u alitativ am e n te m e d ia n te m u d an ça s q u a n tita tiv a s, o u seja, o processo q u alitativ o d e criação se p ro cessa n o in te rio r d a su b stân cia ú n ica p o r alterações p a ra m ais o u p a ra m en o s d o fa to r e n e rg ético n ela co n tid o . T ro c a n d o em m iú d o s, esta g en ial ideia de A n ax ím en e s parece te r-se o rig in a d o d a o bservação de que os corpo s, ao esq u en tar, se d ilatam e, ao esfriar, se c o n tra em , e q u e a água, p o r exem plo, ao se resfriar o u se aquecer, sofre u m a m u d a n ç a q u alitativ a de estad o ; assim sen d o , sob frio

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in ten so , m u d a seu estad o líq u id o p a ra sólido; e sob in te n so calor, m u d a seu estad o líq u id o p a ra gasoso. E ste seria o processo de criação de tu d o o q u e existe. A firm ava que, p o r rarefação do ar, se o rig in a o fogo, e, p o r co n densação g rad u al, su cessiv am en te, o v en to , a n u v em , a água, a te rra e os o b jeto s sólidos, d u ro s (a p e d ra e d em ais m in erais). E , em se n tid o universal, to d o s os astro s e co rp o s celestes. O s seres org ân ico s, os h u m a n o s em especial, ta m b é m são fo rm ad o s pelo ar m ais o u m en o s c o n d e n sad o e d o ta d o s de u m sopro v ital c o n stitu íd o d a p ro to ssu b stâ n c ia p u ra , a alm a.

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HERÁCLITO, DE ÉFESO

Éfeso, próspera cidade da Jônia, cujas ruínas estupendas e com seu fam oso tem p lo a A rtem is (D iana) conservado, ruas e calçadas pavim entadas em m árm ore, foi berço de H eráclito (5 7 6-4 80 a.C .), sem favor, u m dos m aiores pensadores de todos os tem pos. S ua b iog rafia in clu i u m a n o táv el atitu d e. N o b re , h erd eiro do tro n o de sua c id a d e -e sta d o , ao ch e g ar o m o m e n to d e ser co ro ad o rei, ab d ica d o tro n o em favor de seu irm ão . A titu d e ú n ic a a to m a r p o r q u em n ão p o d ia p e rd e r u m m in u to de seu p recio so ócio co m coisas in ferio res à p esq u isa filosófica, co m o o sim ples re in a r sobre seus súd ito s. C o n s ta te r sido d iscíp u lo d e A n a x im a n d ro . C o m o n u n A

ca se afasto u de E feso, é provável que n ão te n h a sido aluno d ireto do m ilésio; c o n te m p o râ n e o , p o ré m , ta n to de A n a x im a n d ro q u a n to de A n a x ím e n e s, e viven d o n a m e sm a região, é im possível q u e n ão te n h a receb id o in flu ên cia desses seus ilustres antecessores. Seu p e n sa m e n to exerce p esad a in flu ên cia filosófica e cien tífica até nossos dias. T alvez, te n h a sido o p rim e iro a p erceb er

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a necessid ade de sep arar a especulação filosófica, em to rn o da o rig em d o U n iv erso e das coisas, d a m e to d o lo g ia cien tífica e m p re g a d a n a especulação, a p a rta r a o n to lo g ia d a g n o sio lo gia. D izia: “U m a coisa é saber m u ito , o u tra é e n te n d e r”. N a o n to lo g ia , su rp re e n d e u com sua o rig in a l co n cep ção d o logos (λ ο γ ο ς ), fo rça n a tu ra l id en tificad a com a criação do U n iv erso , im p ressa, e, p o r isso, reconhecível, em to d as as coisas, inclusive n o in te le c to h u m a n o , este ta m b é m criad o pelo

logos e p o r ele in d elev elm en te m arcado. Logos, v erb ete g rego co m am p la sig n ific a ç ã o ,25 é u tiliza d o p o r H e rá c lito n o se n tid o de fo rça c riad o ra o rig in al, c o n sistin do n a p ró p ria essência d a n a tu re z a im p re g n a d a n a in te lig ê n cia h u m a n a , c o n c e d e n d o a ca p acid ad e ra cio n al do h o m e m .26 “A lu ta ”, afirm ava, “é ju stiç a ; d a lu ta resu lta a h a rm o n ia ”. Isto é, da lu ta, m esm o tra ta n d o -s e d e u m a g u erra, resu lta a ju stiça; d a lu ta, d a o p o sição d e co n trá rio s, re su lta a h a rm o n ia . O fogo é p u ro , dizia H e rá c lito , a ág u a ig n ó b il; m as, d a sua c o m b in a ção, su rg em to d as as coisas. O ú m id o , o rig in ad o d a água, é ben éfico em relação à secura, p ro v e n ie n te d o fogo. T o d av ia, o m e lh o r está n a alm a m ais seca d o q u e n a m ais ú m id a .27 E , n a g n o sio lo g ia o u te o ria d o c o n h e c im e n to , crio u , p o d e -se assim dizer, o m é to d o d ialético. A d ialética, se g u n d o ele, é a chave p a ra o e n te n d im e n to d a n a tu re z a , re d u to ra de u m d u p lo processo lógico n a tu ra l c o o rd e n a d o r de co n trá rio s, a n ta g ô n ico em reg ra e d in â m ic o sem p re, era o processo pelo q u al o logos a tu d o criava. E ste processo, suscetível de ser ca p ta d o pelo logos (in telig ên cia) d o h o m e m , colocava ao seu

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alcance a v erd ad e física u niv ersal im p ressa em to d as as coisas e, p o r isso, ap esar de estarem em p e rm a n e n te m o v im e n to (d in â m ic a universal), p o d ia m ser e n te n d id a s p ela sab ed o ria h u m a n a . E esta, a in telig ê n cia, n ad a m ais era do q ue fru to su p rem o d o p ro cesso cria d o r n atu ra l. E s te p ro cesso d ialético n a tu ra l, ou, sim p le sm e n te , p ro c e d im e n to d a n a tu re z a , id e n tificado e c a p ta d o p elo logos h u m a n o (razão ), é causa de to d o c o n h e c im e n to científico. N a id ealização d a sua d ialética m eto d o ló g ic a, H e rá c lito in sp iro u -se , n o p lan o racion al, n o teatro . A o ra tó ria , m o n ta d a em discurso unívoco, d ito m o n ó lo g o , o a u to r te a tra l c o n tra põ e u m discu rso b iu n ív o co , m o n ta d o em discurso p lu ral, d ito diálogo. A ssim , a m en sag e m d o te a tro se p ro d u z m e d ia n te fo rm a dialo g ad a, co m a exposição c o n c o m ita n te de discursos diversos, dísp ares, d iferen tes, an tag ô n ico s, de aco rd o co m as necessidad es d a n arrativa. E s te p ro c e d im e n to foi ap erfeiçoado , m ais tard e , p o r P ia tão, q u e racio n aliz o u , ao ex trem o , o m é to d o p a ra u tilização n a exposição d e sua filosofia das idéias, do m u n d o das ideiar, qu e se o p õe ao m u n d o dos sen tid o s, e a in d a o ap ro v eito u co m o fo rm a d a sua o b ra, os fam o so s Diálogos.

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CAPÍTULO 5 ESCOLA ELEÁTICA

A E sco la E le á tic a , o u E sco la de E leia, n o m es pelos quais é co n h e cid a, surge d a m ig ração de X en ó fan es, de C o lo fo n , ciA

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d ad e d a Jô n ia , situ ad a n a L íd ia , A sia M e n o r, p a ra E leia, cid ade re c é m -fu n d a d a n a m a g n a G récia. E s ta região, situ a d a no S ul d a p e n ín su la itálica, era p ro g ressista co lô n ia g reg a que, alguns séculos m ais ta rd e , seria c o n q u ista d a pelos ro m an o s. X en ó fan es, jo v em de esp írito e rra n te , era a to r e se ap resentava pelas cidades gregas co m o in té rp re te dos p o e ta s H e síod o e H o m e ro , p rin c ip a lm e n te . Q u a n d o estava viven d o n a Sicília, em Z a n c le (hoje, M e ssin a ), soube d a fu n d a ção de E leia p o r co lo n o s fenícios, n a p a rte S ul d a p e n ín su la itálica, n a L u c â n ia , ju n to ao m a r T irre n o , ao N o rte d a C aláb ria. M a is ta rd e , sob o d o m ín io ro m a n o , esta cid ad e seria re b a tiz a d a co m o n o m e de V eglia, cujas ru ín as existem até h oje. N a região calabreza, n o M e ta p o n to , viscejaria, logo em seguida, a escola p itag ó rica. T o d av ia, os eleáticos ev o lu íram seu p en sa m e n to n a lin h a tra d ic io n a l de H e rá c lito e d a E sco la M ilé sia e n ad a, o u po uco , tiv eram a ver co m P itá g o ras. A filosofia grega, o rig in á ria d a Jô n ia , go zav a de lib erd ad e

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co nsideráv el p a ra a especulação filosófica, d a d a a p o u c a in terferên c ia q u e sofria d a p a rte dos sacerd o tes ligados à religião o lím p ica grega, b e m co m o do esp írito d em o crátic o que perm eav a, desd e os albores, as polis (c id a d e s-e sta d o ) gregas. M a s, a lib erd ad e de p e n sa m e n to de X en ó fan es, em E leia, b a te u to d o s os lim ites d a ousadia. X e n ó fa n e s atu av a co m o u m re fo rm a d o r em dois cam pos: no religioso, critic a n d o a religião oficial dos gregos; e n a filosófica, c h o c a n d o -se co m as idéias d o e n tão jo v em H e rá c lito , A

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de E feso. E s ta lin h a crítica foi, d ep o is, re fin a d a m e n te co m p le ta d a p o r seu discípulo, P a rm ê n id e s, de E leia. M o ra lista e ad e p to d a p u re z a esp iritu al, a p a rtir dos tex to s q ue tão b e m co n h e cia de H e s ío d o e H o m e ro , X en ó fan es se escan d aliza co m o m u n d o d os deuses o lím p ico s. D iz ia ele: “H o m e ro e H e s ío d o a trib u e m aos deuses atos que sem p re fo ram m o tiv o de escân dalo e v erg o n h a en tre os h o m en s: ro u bo, ad u ltério e tra p a ç a m ú tu a ”. E , q u a n to aos m ito s obscuros da co sm o g o n ia religiosa re la ta d a n a Teogonia de H e sío d o ,28 afirm ava n ão p assarem de “len d as de te m p o s p assad o s”. M a s X e n ó fa n e s se supera. C ritic a , de fo rm a im placável, q u alq u er tip o de co n cep ção an tro p o m ó rfic a das d ivindades. Z o m b e te iro , afirm ava: “Se as vacas, os cavalos o u os leões tivessem m ãos e p u d essem p in ta r e realizar obras co m o os h o m en s, e n tã o os cavalos cria riam deuses co m fig u ra de cavalo, as vacas com figura de vacas, os leões com fig u ra de leão ”. E , m ais ad ian te: “P o r isso, os etío p es fazem seus deuses negros e baixos, os trácio s os re p re se n ta m co m o lh o s azuis e ruivos”.

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O ra , p a ra u m h o m e m p ú b lico e filósofo, tais p e n sa m e n to s seriam ousad o s hoje; im a g in e -se n aq u ele tem po ! V ejam os o c o m e n tá rio de W ilh e lm C ap elle a resp eito: “T ã o o u sad os p e n sa m e n to s d ev em te r p arecid o in a u d ito s, pois n in g u é m , até en tão , havia atacado, d e fo rm a tão im p ie dosa e m o rd az , a cren ça an tro p o m ó rfic a n a d iv in d ad e. P ela p rim e ira vez, aparece, n a h istó ria d o p e n sa m e n to , o re c o n h e c im e n to claro d a verdade: ‘T a l o h o m e m , assim seu d e u s’”.29 N a lin h a de A n a x im a n d ro , X en ó fan es deixa de lado a p ro cu ra de u m a p ro to ssu b stâ n c ia e n tre os ele m e n to s sensíveis e concebe u m a fo rça c ria d o ra su b jacen te a tu d o qu e existe, nasce e m o rre, invisível, im p o n d eráv e l, m as sem p re id ê n tic a a si m esm a. D izia: “A q u alq u er p a rte o n d e d irija m eu esp írito , se a p resen ta u m a n a tu re z a sem p re igual. O to d o , em seu e te rno ser, instável em to d a s as p arte s, converge em u m a ú n ic a e h o m o g ê n e a n a tu re z a ”.30 E sse to d o é etern o : n ão teve p rin c íp io e é, p o r co n se q u ê n cia, im perecível. E , d o m esm o m o d o , p o rq u e não teve p rin cípio, ta m p o u c o está su jeito a m u d an ça s, já que, co n ceb id o e e n te n d id o co m o to ta lid a d e — o to d o qu e é. D e ssa fo rm a, fica elim in a d a a p o ssib ilid ad e d e existência de vários deuses, p o rq u e fica ev id en te q u e u m ú n ico p o d e r rege o to d o , rege o A

U niv erso . E sse p o d e r n ão te m lim ites de n e n h u m a classe. E to d o -p o d e ro so .31 N e g a n d o q u alq u er tip o de sem elh an ç a e n tre D e u s e os m o rtais, afirm ava: “E le p e rm a n e c e sem p re no m esm o lugar, im óvel, e não é p ró p rio q ue se m ova de u m lu g ar a o u tro , p o r-

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que, sem esforço, dirige o T o d o com a força de seu esp írito”.32 P a rm ê n id e s, d e E leia (5 4 0 /5 3 9 - até p elo m e n o s 4 50 a .C .), nesse esd rú x u lo reg istro d e sua vida, fre q u e n te e n tre os an tig o s, d ev e-se, q u a n to ao seu n asc im en to , em E leia, à n o ta ção dos h isto ria d o re s T eo frasto e D ió g e n e s L aércio; q u a n to à sua m o rte , d e q u e se n ão te m reg istro exato, sabe-se que viveu a té 4 5 0 a .C ., d a d o q u e, nesse an o esteve em A te n a s e e n c o n tro u -se co m o jo v em S ó crates, e n tã o co m cerca de 19 an os, se g u n d o assin alo u P latão . D isc íp u lo de X en ó fan es to rn o u -s e o m a io r d estaq u e da E sco la E leática . A p ro x im id ad e de E le ia d o M e ta p o n to , sede d a escola p itag ó rica, faz crer q ue P a rm ê n id e s te n h a receb id o in flu ên cia filosófica de P itá g o ras, cujo rig o r científico e m a te m á tic o se perceb e n o racio cín io p a rm e d ia n o . M a s, a in flu ência se re strin g e ao ca m p o do m é to d o , vistas as p ro fu n d a s d iferenças filosóficas e co sm o g ô n icas en tre os dois. A lg u n s h isto ria d o re s d a filosofia d iz e m te r P a rm ê n id e s in v e n ta d o a lógica. A n te c e d id o p o r P itá g o ra s e sua lógica m a te m á tic a e, m ais, p o r H e rá c lito e sua d o u trin a do logos, vê-se que tal afirm ação é im p ro c e d e n te . T o davia, sobre isto c o m e n ta B e rtra n s R ussell: “U m a d úv id a n ão paira: foi P a rm ê n id e s o c ria d o r d a m etafísica,33 b asead a n a lógica”. 34 P a rm ê n id e s se v o lto u c o n tra H e rá c lito , de E feso. A ch av a o p e n sa m e n to d o efésio, refere n te ao fluir, ao devir de to das as coisas, in co m p reen sív el, não aceitan d o , em h ip ó te se algum a, qu e u m a coisa p u d esse ser e n ão ser ao m esm o tem p o . D izia: “C o m o p o d e alg u ém c o m p re e n d e r qu e o q ue é não

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seja e o qu e n ão é seja? N ã o p o d e ser! Isto é im possível!”.35 C o n te sto u H e rá c lito afirm an d o que as coisas não m u d a m e, p o r consequência, as pessoas ta m b é m não m u d am , são sem pre as m esm as. O que as id en tifica é o n o m e pelo q ual são co n h e cidas, de sorte que, estejam elas presentes o u não, hoje, o n tem , o u d aq u i a d ez anos, vivas o u m o rtas, elas são sem pre as m esm as, pois, ao ser m en cio n ad o o seu n o m e, delas se p o d e falar co rretam en te. E stava, assim , colocado em fo rm a o ch am ad o “p rin cíp io de id e n tid a d e ”, q u e u ltrap asso u sua im p o rtân cia filosófica e m arca, até hoje, o cam p o jurídico. A id eia b ásica d e n a tu re z a cien tífica está n o p rin c íp io de q ue dois co rp o s não p o d e m o c u p a r o m esm o espaço físico ao m esm o te m p o , d e m o d o q u e n u n c a a id e n tid a d e d e u m a pessoa p o d e ser c o n fu n d id a co m a de o u tra . T o d as as p esso as são, assim , ú n icas e in su b stitu ív eis, e reco n h ecív eis, p ara sem p re, p elo seu n o m e. “Q u a n d o alg u ém m en cio n ar, h o je e sem p re, sobre P a rm ê n id e s, de E leia, to d o s saberão, sem p re, de q u e m se tra ta ”, dizia. E , claro, está im p lícito , n e n h u m o u tro e n te p o d e ria ocupar, a in d a q u e em id eia, o seu lugar. T o d o s nós so m o s, p o rta n to , ú n ico s e insubstituíveis! A p a rtir d e sta id eia n o táv el, P a rm ê n id e s p a rte p a ra a exp o sição de sua in trig a n te te o ria o n to ló g ic a, h e rd a d a , em p a rte, d a id eia de d iv in d ad e de X en ó fan es. P a rm ê n id e s, em sua o b ra Da natureza, expõe sua id eia d a existência de dois m u n d o s, o u de du as realid ad es, q u e viria logo a segu ir in flu en ciar P latão : o m u n d o das ap arên cias, ilu sório, p ercep tív el pelos nossos en g an o so s sen tid o s; e o m u n -

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do do S er v erd ad eiro , ú n ico , in fin ito e im ó v el.36 E ste Ser, u m a espécie de deu s p a n te ísta , n a m e lh o r trad içã o dos filósofos p ré -so crá tico s, é ex ten so e m aterial, com fo rm a g e o m é tric a esférica. A esfera, além de ser co n sid erad a o sólido g e o m é trico p erfeito , d á a id eia, p o r m e tá fo ra , de in fin itu d e , de u m a e n tid a d e sem lim ites. A p ro p o siçã o de P a rm ê n id e s p o d e assim ser resu m id a: “O S er é e é im possível q u e n ão seja. O n ão S er n ão é e n ão se p o d e seq u er falar d ele”. E acresce n ta n d o a id eia de sup re m a cia da razão sobre os sen tid o s, q u a n d o c o m p lem en ta: “É o m esm o o S er e o p e n s a r”. D e s ta p ro p o siçã o trip a rtid a , d eriv am co n seq u ên cias irresp o n d ív eis, irreto rq u ív eis, das quais, a títu lo de exem plo, d estacam o s qu atro : • o S er é único. • o S er é im óvel. • o S er é etern o . • o S er não te m p rin c íp io n e m fim . E a rg u m e n ta : “A p rim e ira é v erd ad eira, p o rq u e , se existisse m ais d e u m Ser, e n tre eles h av eria o não S er a sep ará-lo s [...] m as o não S er não existe. “A se g u n d a é v erd ad eira, p o rq u e , se o S er se m o v im en tasse, ele se m o v im e n ta ria em algo q u e n ão seria ele p ró p rio ; seria o u tro Ser, o qu e é im possível, em razão d a h ip ó te se p rim e ira , ou seria o não S er [...] m as o n ão S er n ão existe. “A terceira é v erd ad eira, p o rq u e , se o S er n ão fosse e te r 10 ,

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ao se fin d ar su rg iría o u tro Ser, o q u e é im possível, em face d a h ip ó te se p rim e ira , o u se fin d aria n o n ão S er [...] m as o não Ser n ão existe. “A q u a rta é v erd ad eira, p o rq u e , se o S er tivesse p rin cíp io ou fim , ele se o rig in a ria o u se fin d aria em algo q u e n ão seria ele p ró p rio ; o u tro Ser, im possível, d e acordo co m a p rim e ira h ip ó tese, o u o n ão S er [...] m as o n ão S er n ão ex iste”. D u a s co n clu sõ es de in teresse p a ra nossas in d ag açõ es p essoais devem , d e im ed iato , sacar-se d a exposição p a rm e n id ia na: p rim eiro , que, d e u m p e n sa m e n to óbvio, se v erd ad eiro , p o d e -se ex trair su rp re e n d e n te s, com plexos e in esp erad o s ra ciocínios, d e p e n d e n te s ap en as d o p o d e r criativo d o expositor, o q ue não deixa de ser im p o rta n te p ara os q u e terão , n a p a lavra, seu p rin c ip a l in s tru m e n to de trab a lh o ; seg u n d o , que o “p rin c íp io ju ríd ic o d e id e n tid a d e ”, co m u m à n o ssa ativ id ad e diária, n ão p a rte de u m a sim plificação estatístic a vulgar, m as de u m p ro c e d im e n to de rig o ro sa racio n alid ad e, b asead a n a m ais elevada e refin ad a m eto d ização . Z e n o n , de E leia, (4 9 0 -4 3 0 a .C .) discípulo, e o m ais im p o rta n te , de P a rm ê n id e s, lu to u p ara p reserv ar a re p u tação de seu m estre e d eu sin g u lar c o n trib u iç ã o ao seu raciocínio. M a te m á tic o , p u x o u a arg u m e n ta ç ã o p a ra sua especialidade. E m apoio às idéias de P a rm ê n id e s, Z e n o n p ro c u ro u ridicularizar, co m os co n ceito s de m u ltip licid ad e d o S er e do m o v im e n to . A rg u m e n ta v a q u e, se existisse m ais de u m Ser, o n ú m e ro de seres seria, ao m esm o te m p o , fin ito e in fin ito , o qu e é absu rd o . Q u a n to ao m o v im e n to , afirm ava q u e este

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seria apenas ap a ren te, pois sua co n stataç ão é im possível. Ilu strav a suas p ro p o siçõ es com m etáfo ras que se c o n stitu ía m em arg u m e n ta çõ es que visavam a red u ção ao ab su rd o na con clusão d a n arrativ a. E stas m etáfo ras eram d e n o m in a das d e aporias ( α π ο ρ ία ς ) , q u e significava, lite ra lm e n te : “beco sem saída”. A m ais célebre de suas h istó rias era a d a co rrid a de A q u iles, o m ais rá p id o dos h o m e n s, e a ta rta ru g a . D iz ia ele que, se a ta rta ru g a saísse à fre n te de A q u iles n a co rrida, ja m a is ele co n seg u iría alcan çá-la, já que, q u a n d o A q u iles atin gisse o lu g ar o n d e a ta rta ru g a estava, esta já te ria an d a d o alg u m a coisa; q u a n d o de novo ating isse o lu g ar o n d e a ta rta ru g a tin h a estad o , esta já te ria an d a d o alg u m a coisa... e isto ao in fin ito , de m o d o que A q u iles jam ais co n seg u iría alcançar a ta rta ru g a . A o u tra aporia célebre de Z e n o n é a d o arrem esso de u m a flecha a u m alvo. D iz ia ele que, se u m a flecha fosse arrem essad a p o r u m arqueiro, ela te ria q u e p erco rre r p rim e iro a m e ta d e d a d istân cia e n tre o arco e o alvo, an tes de atin g i-lo . M a s, p a ra p erco rre r a m e ta d e d a d istân cia, te ria que p e rc o rre r p rim e iro u m q u a rto d a d istân cia. E , p a ra p erco rre r u m q u a rto d a d istân cia, te ria que p erco rrer, an tes, u m oitavo da d istân cia... e assim , sucessivam ente, ao in fin ito , de so rte que a flecha, não p o d e n d o m o v im e n ta r-se p o r in fin ito s in te rv a los, ficaria sim p le sm e n te p arad a, im p o ssib ilita d a de p erco rre r q u alq u er d istân cia. O a rg u m e n to de Z e n o n se referia ao p ro b le m a d a c o m p o sição do in fin ito em g e o m e tria , n o se n tid o d a in fin ita divisi-

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b ilid ad e de q u a lq u e r coisa c o n tín u a , co m o u m se g m e n to de re ta qualquer. A s apo rias de Z e n o n sig n ificam “p arad o x o s”, m as co m u m se n tid o p a rtic u la r de p ro p o sição sem saída lógica. E s ta lin h a a d o ta d a p o r ele irá servir, e m u ito , co m o verem os m ais ad ia n te , à arg u m e n ta ç ã o d e m u ito s dos ch a m a d o s filósofos sofistas, q u e d esen v o lv eram a arte d a erística, a arte, afinal, q ue fu n d a m e n ta o tra b a lh o dos advogados.

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M etafísica , d o g reg o M e ta -P h y s ik á (Μ ε τ α -Φ υ σ ικ α ) -re sp e c tiv a m e n te , o p rim e iro rad ical μ ε τ ά , sig n ifican d o “além ”, “tra n sc e n d ê n c ia ”, e n tre o u tro s sen tid o s, e o seg u n d o , “física”, de p h ísis (φ ίσ ίς ). L ite ra lm e n te , “além o u tra n sc e n d e n te ao físico”, em sum a, o q u e n ão é físico, fru to d e u m a expressão (τ α Μ ε τ ά τ α Φ υ σ ικ ά , e não d e u m v erb ete, de resto n ão reg istrad o , esclareça-se, p o r u m d os m elh o res d icio nário s o cid en tais, o fam o so D ic tio n n a ire G re c F ran çais, de A . Bailly. T o d av ia, re g istra m os m ais co n c eitu a d o s tra ta d ista s, e n tre eles, o fam o so d ic io n a rista e sp a n h o l F e rra te r M o ra , a versão de que, em v erd ad e, este n o m e (que c la ra m e n te n ão ap arece nos textos aristo télico s) foi d a d o p o r A n d rô n ic o , de R o des, q u a n d o e d ito u , n o século 1° a .C ., a o b ra d o E sta g irita . C o m o os o ito p rim eiro s v o lu m es e d itad o s co m p u sessem a p a rte d ed ica d a à física (d o u trin a s e ciências n atu ra is), os que o seg u iram , e q u e tra ta v a m d a “filosofia p rim e ira ” (π ρ ώ τ η

φ ιλ ο σ ο φ ία ) , d e n o m in a ç ã o d o p ró p rio A ristó te le s, d esig n o u -o s A n d rô n ic o co m a expressão tá metá tá physicá (τα

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μ ε τ ά τ α φ υ σ ιχ α ) , isto é, “após a física”, o u “além das coisas físicas”; esta expressão te ria se to rn a d o , já que p e rtin e n te d esignativo filosófico d aq u ilo q u e está além , o u “tra n s c e n d e n te ” à física em se n tid o g reg o ( φ υ σ ί ς ) - n atu reza. D e q u a lq u e r fo rm a, a m aio ria dos tra ta d ista s reg istra que o E sta g irita usava, p a ra a p a rte n ão física d e sua o b ra, a expressão “filosofia p rim e ira ”, co m o n o ta F rancesco P atrizi (1 4 1 3 -1 4 9 4 ), em sua o b ra Discussionesperipatetica, em que a expressão “m etafísica” p o r ele n ão foi usada, p o sto que, fru to da expressão atrás m e n c io n a d a , su rg iu d ep o is d a m o rte de A ristó teles. A ssim , p a ra este, a “filosofia p rim e ira ”, e n te n d id a h o je co m o “a m etafísica aristo télica”, se d esd o b ra em dois sig n ifican tes filosóficos: P rim eiro : a ciência do ser in d e te rm in a d o o u g eral q u e p e n e tra ou d o m in a to d o en te, n ão p o d e n d o ser o b jeto de exp eriên cia, e m b o ra e n tra n h e to d o o ex p erim en táv el co m o seu âm ag o m ais ín tim o ; S eg u n d o : a ciên cia do in ex p erim en tá v el, q u e u ltrap assa o em p írico p a ra p e rq u irir sobre sua o rig e m p rim e ira , o Ser in fin ito e d iv in o , c ria d o r d e to d o e n te finito.

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OS ATOMISTAS

N a d a , a p a re n te m e n te , explica o b rilh o ím p a r d a civilização grega. A s p ráticas d em o crátic as, p ro v e n ie n te s, talvez, d a p ró p ria “dem o cracia”, re su lta n te d a religião p ag ã o lím p ica, a m ito lo g ia sim p ló ria, ru ral, de H o m e ro e H e sío d o , esp e ta c u la rm e n te in trig a n te , to d av ia, devem explicar m u ito dessa vocação cu ltu ral p erfecc io n ista q u e se ex p a n d iu em to d as as direções do saber h u m a n o . M a s o salto filosófico, fru to , sem d úvida, d a d em o cracia assinalada, te n h a , talvez, u m a explicação p a ra d ig m á tic a ex tra íd a de três im p o rta n te s fe n ô m e n o s o co rrid o s n aq u eles tem p o s. O p rim eiro , e n te n d e m o s, foi a c o n c en traçã o do tra b a lh o filosófico de três p o rte n to s em u m a ú n ica e p ró sp era cidade, M ile to , em u m m esm o século: T ales, A n a x im a n d ro e A n a x ím en es. U m trio desse p o rte e te rn iz a ria q u a lq u e r cidade, p o r m aio r que fosse, e em q u alq u er época, co m o u m respeitável ce n tro cultu ral. E M ile to , em te rm o s atuais, é u m a cidade de p o rte m éd io , m as, n aq u eles te m p o s, u m a g ra n d e cidade, passava à h istó ria co m o o a u tê n tic o e in c o n te sta d o ce n tro c ria d o r da filosofia jô n ia - e g reg a ? - e o cid en tal. E sse fe n ô m en o seria, talvez, su ficiente p ara explicar a explosão re g io -

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n al d a civilização g reg a e, ta m b é m , serviría de su p o rte ao, já em processo, d esen v o lv im en to eco n ô m ico . _

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P itá g o ra s, de S am o s, e H e rá c lito , de E feso, acrescen tariam ao fe n ô m e n o m ilésio a força de seus ro b u sto s p e n sa m e n to s, m as a rep etição d o m esm o fe n ô m e n o viría en g ro ssar a base cu ltu ral grega, a in d a fo ra d a M e tró p o le . N o v am e n te , em cu rto p erío do , p o u co m ais de u m século (de 54 0 a. C ., d a ta provável d a cheg ad a de X en ó fan es à Eleia, em 43 0 a.C ., d ata da m o rte de Z e n o n ), três o u tro s gênios da filosofia se co n c en tram em u m a m esm a cidade, de p o rte m en o r que M ileto , m as situ ada na p ró sp era colônia grega itálica: X enófanes, P arm ên id es e Z e n o n . A repetição, em c o n tin u id ade, do m esm o fe n ô m en o criad o r d a filosofia ocid en tal, fato r de desenvolvim ento d a cu ltu ra grega e, p o rta n to , o segundo su p o rte seq u en te p ré-so crático à base d a eclosão, d esta vez, do _

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fe n ô m en o ático, p o r vezes d en o m in ad o E scola A tica. P ois, en tão , em A te n a s, nas m esm as co n d içõ es an terio res e, agora, em u m a g ra n d e m etró p o le, co m c e n te n as de m ilh a res de h a b ita n te s, em m en o s de u m século e m eio, te n d o à sua re ta g u a rd a as escolas m ilésia e eleática, o fe n ô m e n o se rep ete pela terceira vez: ali vivem S ó crates, P la tã o e A ristó te le s (de 4 5 0 a. C ., d a ta d o in ício do flo re scim e n to de S ó crates, a 322 a.C ., m o rte d o E sta g irita ). Isso, c o n ta n d o , ain d a, co m o e n riq u e c im e n to do p en sa m e n to d e p ro d íg io s d o p o rte de P itá g o ras e H e rá c lito , já citad o s, e de E m p é d o c le s, A n ax ág o ras, E p ic u ro , C a rn é a d e s, dos in co n táv eis sofistas, co m o P ro tág o ra s e G ó rg ia s, e, a in -

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da, os d a lin h a das escolas o rig in ais d os fabulosos ato m istas. C o m u m elen co e x tra o rd in ário co m o esse, so m e n te n o c a m po rig o ro so e ex trem o , co m o o d a filosofia, tu d o o m ais ach am os tra ta r-s e d e d e sd o b ra m e n to e co n se q u ên cia in te le c tu a l n a tu ra l, lógica. D o is filósofos são co n sid erad o s criad o res d o ato m ism o : L e u c ip o e D e m ó c rito . N ã o se sabe co m c e rte z a as d atas de n a sc im e n to e m o rte d os dois, m as, p o r referências d e terc eiros (co m o A ristó te le s), sab e-se q u e a florescência de L eu c ip o (m ais velho q u e D e m ó c rito ) deve te r o co rrid o e n tre 4 5 0 e 4 3 0 a .C ., e a d e D e m ó c rito , e n tre 4 3 0 e 4 2 0 a .C ., sen d o , p o rta n to , c o n te m p o râ n e o s. A relação m e stre -d isc íp u lo d e L e u cipo p a ra D e m ó c rito é provável, e d e L eu c ip o , co m o d e P itá goras, ta m b é m h o u v e q u e m d u vidasse d a sua ex istên cia real; com base em A ristó te le s, co n tu d o , q u e p ro v in h a d a m esm a região em q u e n asceu L eu c ip o , A b d e ra , cidade n a ta l de D e m ó c rito e de P ro tág o ra s, p o d e -se concluir, co m certeza, que ele exisitiu. O h isto ria d o r T eo frasto ta m b é m co n firm a, com p le n itu d e de certeza, a existência de L eu cip o . A d úvida, n a v erd ad e, su rg ira d ev id o a u m a afirm ação, p elo m en o s in c o n sisten te, do filósofo p ó s-so crático , E p icu ro . L e u c ip o p ro v in h a de M ile to e, além d a in flu ên cia que n a tu ra lm e n te receb eu d a fam o sa escola q u e su rg iu n esta cid ad e, foi m u ito in flu en ciad o p o r P a rm ê n id e s e Z e n o n ; foi de Z e n o n , sem d ú v id a, discípulo, q u a n d o v in d o de M ile to , esteve em E leia. M a s, em te rm o s pessoais, re a lm e n te p o u co se sabe. A s m elh o res alusões a ele são devidas e x a ta m e n te a

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A ristó teles. A fo rm a objetiva co m que o E sta g irita c o m e n ta suas idéias serve de co m p ro v ação d a sua existência real. D e q u alq u er m an eira , L eu cip o , de E leia m ig ro u p a ra A b d e ra , na T rácia, N o rte d a G récia. O tra b a lh o filosófico, d evido a L eu cip o , e q u e v iria servir de su p o rte ao d esen v o lv im en to p o ste rio r de D e m ó c rito , in icia-se p ela te n ta tiv a d e u n ir a o n to lo g ia de P a rm ê n id e s à d o u trin a de H e rá c lito , sobre o c o n sta n te fluxo das coisas. L eu cip o adm ite, com o seu m estre Z e n o n , que o Ser é in criado, im utável e im perecível. A p esar disso, curva-se à evidência d a m ultip licid ad e e d o m o vim en to . S en te-se o brigado a a d m itir a existência d a m u ltip licid ad e de seres, neg ad a p e los eleatas sob o arg u m e n to de que n ad a p o d ería separar esses seres, já que to d o o U niverso estava p re en ch id o p o r u m Ser, ún ico e im óvel. Pela m esm a razão, negava os eleatas a possibilidade de existência do m o v im en to , já que o Ser não p o d ería m o v im e n ta r-se n o vazio, pois o vazio só p o d ería ser o não Ser, cuja possibilidade de existência negavam . A lém disso, su sten tavam que o m o v im en to e a m u ltip licid ad e não passavam de aparência cap tad a erro n eam en te pelos sentidos. N esse p o n to , co m eça a fu n c io n a r o p e n sa m e n to evoluído de L eu c ip o , o n d e supõe, com razão, que, sem o vazio, não seria possível co n c eb er-se n e m o m o v im e n to n e m a m u ltiplicid ad e. H o u v e u m passo decisivo ao a d m itir a existência d o vazio em o p o sição ao cheio, d esc arac te rizan d o , assim , a concep ção a b stra ta de P arm ên id es. O p ô s o corpóreo ao incorpóreo, ou seja, o Ser em to d a sua

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plenitu de ao não Ser, agora to m ad o com o m era ausência de m assa. L eucip o se atreveu, então, a afirm ar que o não Ser é o espaço vazio e, p o rtan to , tin h a existência equivalente ao Ser, identificado ao espaço cheio. Cheio e vazio são, pois, os dois fu n d am en to s do m u n d o físico. E m p é d o c le s, q u e te n ta ra ig u a lm e n te o fe ito de u n ificar P a rm ê n id e s e H e rá c lito , h av ia su p o sto , de fo rm a singela, m as co n v in cen te, q u e o m u n d o era fo rm a d o p o r p artícu las ex trem a m e n te d im in u ta s de ele m e n to s q u e, ag ru p ad o s o u d isp ô stos u n s ao lado dos o u tro s, fo rm a v am o m u n d o visível. M a s, o q u e iria in flu en ciar m esm o L e u c ip o n a co n cep ção de sua te o ria a to m ista era a fam o sa d ic o to m ia d e Z e n o n , q u e d era co n sistên cia às suas fam osas ap o rias, re fere n te à divisib ilid ad e dos co rp o s ao in fin ito , tal co m o co n ceb id a, d ita div isão, n o p lan o d a g e o m e tria à div isib ilid ad e de u m seg m en to de reta qualquer. E m ab erta oposição a esta d o u trin a, L eu cip o , ao refletir sobre o p ro b lem a d a m atéria, chegou à conclusão de que deveria existir, com o já previra E m p éd o cles, partículas sólidas indivisíveis. Se as coisas p u d essem ser divididas ao infinito, os espaços vazios resultantes das sucessivas divisões deveríam ig u alm en te ser infin ito s, já que, sem este vazio, não era concebível a divisão dos corpos idealizada in abstracto p o r Z e n o n . R ea lm e n te , a divisão d e Z e n o n fo ra co n ceb id a d e n tro de u m p o n to de vista ab stra to , m a te m á tic o , o u m elh o r, d e lógica filosófica m a te m á tic a , que, to dav ia, se m o strav a ser d e im possível co m p ro v ação n a reafidade física. A s p artícu las m a -

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teriais, co n clu i L eu c ip o , c o n stitu in te s das m assas dos corpos, tê m que estar livres de q u alq u er classe de vazio, tê m que estar to ta lm e n te cheias e indivisíveis ( α τ ο μ α , ato m a, lite ra lm e n te , em grego,” indivisível, que não se p o d e c o rta r”) e não sujeitas à apatia - ( α π α θ ή apate, de α π α θ ή i a apateia, em português: “apatia”), com o sen tid o de “im passível”, ou “im utável”. T o d o s os corpos visíveis estão fo rm ad o s p o r tais partículas m ateriais indivisíveis e invisíveis e, esses corpos, tê m en tre suas partes constitutivas, o u áto m o s, espaços vazios, os quais, todavia, têm c o m p o rta m e n to d inâm ico, in q u ieto , inverso à apatia. O s áto m o s de L e u c ip o são u m a rép lica p e rfe ita e m icrocósm ica do 0(53 d e P a rm ê n id e s (ο ν , ο ν τ ο ς - E n te , Ser), in criad o , im u táv el, im p erecível, só q u e agora co n ceb id o de fo rm a desag reg ad a em n ú m e ro in fin ito de p artícu las, d a n d o se n tid o à m u ltip lic id a d e n a tu ra l das coisas. S ob re isso, c o m e n ta A ristó teles, q u e leu, sem d úvida, as obras de L e u c ip o e D e m ó c rito : “E les a rg u m e n ta m q u e não é possível o m o v im e n to lo cal” (no in te rio r dos áto m o s, ou d a p a rtíc u la indivisível que, fo rç o sam en te, serviría de base m aterial, de m assa fo rm a d o ra , de tu d o o q u e existe); “em seg u n d o lugar, o fato de q u e alguns co rp o s se c o n tra e m e se c o n d e n sam ; em terceiro lugar, q u e o crescim en to das coisas parece ser co n seq u ên cia dos espaços vazios. U sa co m o prova a ex p eriên cia d a cin za, q u e é cap az de ab so rv er ta n ta água q u a n to u m re c ip ie n te vazio”. O s á to m o s e os espaços vazios são, p o rta n to , os ú n ico s elem e n to s co n stitu tiv o s d a realid ad e. E , assim co m o h á in fin i-

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tos seres in d iv id u ais, h á in fin ito s espaços vazios, b e m com o o espaço vazio circu n d a e envolve nosso m u n d o e to d o s os m u n d o s possíveis, e se e ste n d e até o in fin ito . Já D e m ó c rito é figura que se to rn o u m ais co n h e c id a e, p o rta n to , de existência m e lh o r co m p ro v ad a. T e n d o n ascido em A b d e ra , cid ad e situ ad a n a T rá c ia , p o rção N o rte d a G ré c ia an tig a (hoje o cu p a ria p a rte d a T u rq u ia , G ré cia, B u lg ária e M a c e d ô n ia ). A liás, o c o n h e c im e n to d a filosofia d e D e m ó crito e, p o r co n seq u ên cia, d e L eu cip o , p o r A ristó te le s, te m co m o explicação c o m p le m e n ta r o fato de os dois serem , de ce rta fo rm a, co n terrân eo s, pois A ristó te le s n asceu em E s ta gira, cidade d a M a c e d ô n ia , e, nessa época, a M a c e d ô n ia de F ilip e, p ai de A lex an d re, o G ra n d e , d o m in av a to d a a T rácia. D e m ó c rito era c o n te m p o râ n e o de S ó crates e esteve em A ten a s. M a s reclam av a q u e n ão foi n o ta d o p o r n in g u é m n aq u ela cidade. O E sta g irita cu id o u dele e d e seu parceiro indissolúvel, L eu cip o . M a s P la tã o o ig n o ro u so le n e m e n te e, seg u n d o o h isto ria d o r D ió g e n e s L aércio , de p ro p ó sito , pois tin h a aversão às idéias de D e m ó c rito , n u trin d o p o r ele verd ad eiro ódio. A s idéias fu n d a m e n ta is d a filosofia a to m ista são a trib u idas a L eu c ip o , m as, d evido à c o m u n h ã o e n tre L e u c ip o e D e m ó c rito , fica m u ito difícil e d esn ecessário d istin g u i-lo s. A filosofia reg istra diversos casos de c o m u n h ã o d e idéias filosóficas co m o a de L e u c ip o e D e m ó c rito : S ó c ra te s-P la tã o , L eib n iz-W o lff, M a rx -E n g e ls , são exem plos desses casos. S e g u n d o B e rtra n d R ussell, o p o n to de vista d a d u p la “as-

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sem elh a-se su rp re e n d e n te m e n te com o d a ciência m o d e rn a , te n d o evitado m u ita s das falhas a qu e a especulação g reg a era p ro p e n sa ”. E p ro sseg u e R ussell n o seu co m en tário : “A cred itav am que tu d o se c o m p u n h a de áto m o s, os quais seriam fisicam en te, m as n ão g e o m e tric a m e n te , indivisíveis; q u e e n tre os á to m o s existe u m espaço vazio; q u e os áto m o s são in d estru tív eis; q u e sem p re estiv eram e sem p re estarão em m o v im e n to ; q u e h á u m n ú m e ro in fin ito de áto m o s e, m esm o, d e espécies de áto m o s, e q u e as d iferen ças dessas espécies d izem re sp eito à fo rm a e ao ta m a n h o . A ristó te le s afirm a que, seg u n d o os ato m ista s, os áto m o s ta m b é m d iferem q u a n to ao calor, e que os áto m o s esféricos, q u e co m p õ e o fogo, são os m ais q u en tes; q u a n to ao peso, cita, lite ra lm e n te , D e m ó c rito , que te ria afirm ad o q u e q u a n to m a io r é o indivisível (áto m o ), ta n to m ais ele pesa. T o d av ia, a id eia de peso atô m ico , e m b o ra e m erg en te, n ão é clara n a te o ria a to m ista ”. H á razões p o n d eráv eis p a ra se su p o r que o peso n ão era u m a p ro p rie d a d e o rig in al dos áto m o s co m o con ceb id o s p o r L e u c ip o e D e m ó c rito , o que se p o d e d ed uzir, inclusive, de u m a d e m o n stra ç ã o fe ita p elo seg u n d o sobre a q u estão ; teria d ito ele: “N ã o h á alto n e m baixo no vazio in fin ito e o m o v im e n to dos áto m o s n a alm a se c o m p a ra com o das p artícu las de p o e ira em u m raio de sol, q u a n d o n ão h á v e n to ”, o que nos passa a id eia de q u e os áto m o s lev itariam , o q ue, ta m b é m , d esc o n sid e raria sua d istrib u iç ão p o r peso, co m o a av en tad a p o r A n a x im a n d ro em sua cosm ologia.

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O áto m o , assim , pelas idéias d estes dois filósofos, c o n té m em si to d o o ideário que P arm ênides faz do Ser. Todavia, a ideia nuclear, agora, se situa no m icrocosm o, trazen d o n o seu interior u m a contribuição inacreditável (pela época em que foi form ulada) ao desenvolvim ento d a ciência. T u d o no U niverso ocorrería p o r u m a relação de causa e efeito atôm icos; n a origem prim eira, apenas estaria o acaso e, a p artir daí, tu d o se desenvolvería p o r m eio de u m rig o ro so d e te rm in ism o m ecânico. M a s, certam en te, as idéias de L e u c ip o -D e m ó c rito se in terlig am à d o apeiron de A n ax im an d ro , p ara q u em o infinito, criad o r de to d o o finito, proviría d a arquê re m o ta e, p o r consequência, caótica, am orfa, desordenada; tal ideia b ate com a do

big-bang, o u a do “universo inflacionário”, d a astrofísica m o d ern a, e que teria d ad o o rig em ao nosso U niverso a p a rtir de u m fe n ô m en o acidental, a p a rtir d o acaso. O calor, o g o sto , a cor, n ão estaria m , seg u n d o D e m ó c rito , nos o b jeto s, m as em nós m esm o s; e n ós seríam o s d e te n to re s do c o n h e c im e n to sen so rial e d o c o n h e c im e n to in telectu al, p ela in telig ê n cia in fo rm a d a pelos sen tid o s. T o d as as p ro p rie dad es sensíveis das coisas re su ltam d a ca p acid ad e sensorial do h o m e m , q u e é u m ser que p en sa e trab a lh a . Só existem , pois, áto m o s e vazio q u e u n ic a m e n te p o d e m ser co n ceb id o s p o r m eio d o p e n sa m e n to q u e c a p ta das coisas a sua fo rm a, d e te rm in a d a p ela d isp o sição n a tu ra l d os dois ele m e n to s fu n d am en tais. E s ta p o sição assem elh a-se à de E in ste in , em sua te o ria da relativ id ad e, fu n d a d a n a relação de co g n o scên cia do ser p e n sa n te com o U niverso.

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N a tu ra lm e n te , esta fo rm a de p en sar leva, e agora só a D e m ó crito , ap artad o de L eu cip o , a u m a ética o rig in al e precu rsora de alguns dos m o v im en to s filosóficos p ós-socráticos, com o o epicurism o. E ssa ética é claram en te eudem ônica, isto é, dispõe que a felicidade in d iv id u al o u coletiva en cerra n e ce ssariam en te u m a c o n d u ta m o ral boa. A felicidade p o d e re su lta r dos p razeres dos sen tid o s, m as a felicidade real e d e sejável é aquela re su lta n te d o b e m -e s ta r esp iritu al, a eutimia ( ε υ θ υ μ ία ) , fru to d a m o d eração : n ão se deve desejar m u itas coisas, m as se c o n te n ta r com aquilo q u e se p o d e alcançar. B ens, n o se n tid o a u tê n tic o da palavra, são os b en s esp iritu ais, já que a felicidade d o h o m e m te m o rig em em sua p ró p ria alm a e só d ela d ep en d e. C o n c lu ím o s esta p a rte citan d o , m ais u m a vez, tex to de B e rtra n d R ussell: “D e m ó c rito , ao m en o s em m in h a o p in ião, é o ú ltim o d o s filósofos gregos a lib e rta r-se d e ce rta falh a qu e c o m p ro m e te u to d o o p e n sa m e n to an tig o p o sterio r, b e m co m o o m edieval. T o d o s os filósofos de q u e tra ta m o s, até aqui, e m p e n h a ra m -se n u m esforço d esin teressad o p ara c o m p re e n d e r o m u n d o . A c h a ra m m u ito m ais fácil c o m p re e n d ê -lo d o q ue n a realid ad e o é, m as sem este o tim ism o não te ria m tid o a co rag em d e d a r o p rim e iro passo. S ua atitu d e, em geral, era g e n u in a m e n te cien tífica, sem p re q u e n ão re p resentava, sim p le sm e n te , os p re co n ceito s de sua época. M a s, n ão era so m e n te científica; era im ag in ativ a, v igorosa e cheia do p ra z e r da av en tu ra. Se in teressav am p o r tu d o : m eteo ro s e

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eclipses, peixes e re d e m o in h o s, religião e m o ralid ad e; a u m in te le c to p e n e tra n te u n ia m u m en tu sia sm o in fan til. “D e s te p o n to em d ia n te , h á , p rim e iro , certas se m e n te s d e d e c a d ê n c ia , ap e sar das in ig u a la d a s realizaçõ es a n te rio re s e, d e p o is, u m a d e c a d ê n c ia g ra d u a l. O q u e e stá e rra d o m e sm o n o s m e lh o re s filósofos p o ste rio re s a D e m ó c rito , é u m a ê n fase in d e v id a c o m re sp e ito ao h o m e m em c o m p a ra ç ã o co m o U n iv e rso ”.

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E m P latão , e n c o n tra m o s in fo rm açõ es sobre o tra b a lh o do sofista. A p re se n ta -se , aí, o sofista ( sophistés) co m o “m estre de filosofia e d e elo q u ên c ia”. E sta , pois, é a d efin ição clássica p a ra sofista: o m estre d e filosofia e elo q u ên cia. M a is de elo q u ên cia d o que d e filosofia, p o d e ria m o s dizer, p elo que co n h ecem o s, a tu a lm e n te , desses p rofessores d a an tig u id ad e. S abem os, h oje, q u e o tra b a lh o d o sofista, n a G ré c ia an tig a, era o de v erd ad eiro e d u c a d o r itin e ra n te . E le p erco rria as cid ades, e n sin a n d o e, g e ra lm e n te , c o b ra n d o alg u m d in h e iro pelo trab alh o . C o m o v erd ad eiro m estre de m o ral, co m o m estre d a arte de b e m viver em sociedade, d a arte de u su fru ir dos b e nefícios d a v id a p o lítica, o sofista p ro cu rav a, c o n sta n te m e n te , a d q u irir m ais c o n h e c im e n to s sobre as diversas atividades e m an ifestaçõ es do h o m e m : arte, lin g u ag em , p oesia, p o lítica, retó rica. P ro cu rav a, em su m a, a p re n d e r e d ep o is e n sin a r a arte d e viver b em . S eu discípulo p re ferid o era o jo v em de fam ília rica, a q u em o sofista dava m ais c o m u m e n te lições de retó rica; era m ais c o m u m q u e o jo v e m p ro cu rasse esse tip o de aula, a fim de p re p a ra r-se p ara a carreira p o lítica.

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C o n sta v a m nessas lições dialéticas, retó ricas e exercícios de crítica. A le itu ra de b o n s p o e ta s era aí im p o rta n te m a te rial de trab alh o . P ara os cursos de re tó ric a, o sofista, ao qu e parece, co b rav am h o n o rá rio s elevados. A lé m dos cursos, ele p o d ia dar, em escolas o u em casas p articu lares, conferências pelas quais cobrava p reço m ais popular. G io rg io D e l V ecchio (1 8 7 8 /1 9 7 0 ), n ascido em B o lo g n a, p o ré m te n d o co n c lu íd o sua v id a de m ag istério em R o m a, em sua fam o sa o b ra Lições de filosofia áo Direito, 37 faz colocações preciosas co m re sp eito à sofistica, que desejam o s deixar consign adas: “A história da filosofia , d iz o m estre b o lo n h ês, “é m eio de estu d o e de investigação, e, co m o tal, p o d ero sa aju d a p a ra o n osso tra b a lh o : o fe rece -n o s re p o sitó rio de o b servações, de racio cín io s, de d istin çõ es, q ue a u m h o m e m só, n o d ecu rso d a vida, seria im possível ocorrer. A c o n te c e -n o s o m e sm o q u e a q u a lq u e r artífice atu al que, agora, seria in cap az de ser o in v e n to r de to d o s os in stru m e n to s d a sua a rte ”. E , d ep o is de m e n c io n a r a o rig em co n fu sa d a m a té ria em sua fase o rie n ta l, m esclad a à teo lo g ia, à p o lític a e à m o ral (in g re d ie n te s fu n d id o s, c o n fu n d id o s, dos estad o s p ré -h e lê n icos) reco n h ece, co n tu d o , o n o táv el im p u lso d ad o aos estu d o s filosóficos, so b retu d o , c o n c e rn e n te à m o ral, pelos h eb reu s, ch in eses e in d ian o s. A í a p o rta à G ré cia, d izen d o : “C o n v é m n o ta r q ue o p e n sa m e n to filosófico grego não floresceu tã o -so m e n te n a G ré c ia p ro p ria m e n te d ita, m as, ta m b é m , na M a g n a G ré c ia (Itália m e rid io n a l e S icília)”. E prossegue: “E m p é d o c le s, p o r exem plo, era n a tu ra l de

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A g rig e n to ; P a rm ê n id e s e Z e n o n , seu discípulo, d e E le ia (a a n tig a Velia, cid ad e ao S ul d e S alern o , d e q u e h o je só re sta m alg um as ru ín as); e G ó rg ia s, de L e o n tin a (p ró x im o d e S iracusa). P o r sua vez, era em C ro to n a q u e a escola p ita g ó ric a tin h a a sua sede, razão p o r q u e A ristó te le s d esig n av a os seus m e m b ro s p o r italian o s; e m u ito s o u tro s p en sa d o res h av ia de o u tras regiões d o M e d ite rrâ n e o , co m o A ristip o e C a rn é a d e s, n atu ra is d a C ire n a ic a ”. E sta b e le c id a a conexão e n tre o p e n sa m e n to clássico g rego e a região em q u e viria a se in stalar, em seus p rim ó rd io s, o Im p é rio R o m a n o , D e l V ecchio p assa a tra ta r d a escola sofística, d izen d o : “A escola que, em p rim e ira m ão, e n fre n to u os p ro b lem as d o esp írito h u m a n o , d o c o n h e c im e n to e d a ética foi a dos sofistas, n o século 5° a .C . H o m e n s d e g ra n d e vigor d ialético e d e ro b u sta elo q u ên c ia p e rc o rria m várias cidades su ste n ta n d o , em seus discursos, as teses m ais díspares; tin h a m o g o sto d e se o p o re m às te n d ê n c ia s d o m in a n te s; fre q u e n te m e n te , p ro v o cav am escân d alo n o n u m e ro so a u d itó rio com ✓

os seus paradoxos. E de so b re m o d o n o táv el o fato de, en tão , se co m eç ar a d isc u tir e a c ritic a r o p rin c íp io d a a u to rid a d e , a m in a r a fé tra d ic io n a l e a d e sp e rta r aten ção d o povo; e isto está em relação com o p e río d o d e d iscó rd ias in te rn a s em que se e n c o n trav a a G ré cia. A o b ra dos sofistas re la cio n a-se com esta situação. O s sofistas eram in d iv id u alistas e subjetivistas. E n sin a v a m que cada h o m e m p o ssu i o seu p ró p rio m o d o d e ver e de co n h e c e r as coisas. D a q u i a tese, seg u n d o a q ual, n ão é possível

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u m a ciência a u tê n tic a , de caráter objetivo e u n iv ersa lm en te válida, m as tã o -só o p in iõ es in d iv id u ais. F ico u célebre o d ito de P ro tág o ras: “o h o m e m é a m e d id a de to d as as coisas: ou seja: cad a h o m e m p o ssu i a sua visão p ró p ria d a re alid a d e”. O p ro fesso r D e l V ecchio cita, p arcialm e n te, o p e n sa m e n to de P ro tág o ra s, já que, ao d estaq u e que q u e r dar, esta p a rte lh e b asta. M a is ad ian te, ad u z D e l V ecchio: “N e g a n d o os sofistas a p o ssib ilid ad e d e u m a v erd ad e objetiva, n eg a m ta m b é m que exista u m a ju stiç a ab so lu ta; o d ireito , p ara eles, é algo re lativo, o p in ião m utáv el, expressão do a rb ítrio e d a força: ju sto é “aquilo q ue favorece o m ais fo rte ”. A ssim ,T ra sím a c o p e rg u n ta se a ju stiç a é u m b e m o u u m m al. E resp o n d e: “A ju stiç a é, n a realidad e, u m b e m de o u tre m ; é u m a v an tag e m p ara q u em m a n d a , é u m d a n o p a ra q u em o bedece. C o m o p elo exposto se d á co n ta, os sofistas eram céticos em m o ral, m ais n eg adores e d estru id o re s do que co n stru tiv o s e afirm ativos. N ã o o b sta n te , g ra n d e foi o seu m érito , p o r te re m a tra íd o a aten ção dos h o m e n s sobre d ad o s e p ro b lem as relativos ao h o m e m , ao p e n sa m e n to h u m a n o ; e a p e rtu rb a ç ã o , tra z id a p ela sua ativid ad e à co n sciên cia p ú b lica, foi a in d a b en éfica e fecu n d a, pois ag u ço u o esp írito crítico p ara m u ito s tem as que, até então, a n in g u é m p reo cu p av am . E n q u a n to os filósofos da escola jô n ic a h av iam se e n tre g u e à exclusiva m e d ita ç ã o d o m u n d o ex tern o , os sofistas d eram o seu in teresse aos p ro b lem as p sicológicos, m o rais e sociais. “A eles, se deve, p o r exem plo, a colocação rig o ro sa d o p ro b lem a de saber se a ju stiç a te m u m fu n d a m e n to n atu ral; se

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aquilo q ue é ju sto p o r lei o u co m o nós d izem o s, o d ire ito p o sitivo é ta m b é m ju s to p o r n a tu re z a (a an títese e n tre ο ν ο μ ο δ ι χ α ι ο ν nomo dikhaion e ο φ ύ σ ε ι δ ι χ α ι ο ν - physei dikhaion). A n te a este p ro b lem a, assu m iram , g era lm e n te , a titu d e n e gativa, d iz e n d o q u e, se existisse u m ju sto n atu ra l, to d as as leis seriam iguais. T o d av ia, m ais im p o rta n te que a resp o sta dad a, q ue, d ig am o s, é d iscutível e até inaceitável, foi tere m p ro p o sto o p ro b lem a. N a v erd ad e, d ep o is d a solução n eg ativ a te n ta d a pelos sofistas, o u tro s filósofos p u d e ra m te n ta r u m a solução afirm ativa. “O s sofistas fo ram , em síntese, o fe rm en to que suscitou a g ra n d e filosofia idealista grega: u m a floração ex trao rd in ária do p en sa m e n to de que n e n h u m o u tro povo p o d e o rg u lh ar-se”. N a verd ad e, os sofistas tê m sido in ju stiçad o s, nos ju íz o s que p en sad o res p ó stero s deles fizeram , so b re tu d o co n sid erad a a in flu ên cia p ó s-so c rá tic a exercida p elo p e n sa m e n to de P latão e A ristó teles. S ó crates, q u e tin h a m u ito d e sofista, n u tria , e n tre ta n to , p a rtic u la r a n tip a tia pelos seus re p re se n ta n te s, talvez até p o r m o tiv ação p o lítica, já q u e S ó crates, sim p a tiz a n te do p a rtid o aristo crático , n isto se co n fro n tav a co m a m a io ria dos sofistas, em g eral p a rtid á rio s d a d em o cracia. P arece q u e só a P ro tág o ra s, S ó crates respeitava, seg u n d o p o d e -se d e d u z ir de d e p o im e n to de P latão , co m o h o m e m d e g ra n d e saber. C laro que, a d esp eito disso, ta m b é m dele S ó crates discordava. P la tã o e A ristó te le s, cad a u m a seu m o d o seg u id o r de S ó crates, tra n s m itira m o p reco n ceito g en e ralizad o q u e se n u tre até h o je aos sofistas. A ca b am o s d e ver q u e m esm o u m p e n -

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sad o r c o n te m p o râ n e o d a p o tê n c ia de u m D e l V ecchio não conseg ue, p o r in teiro , se livrar dele. O que realm en te acontecia àquela época é que o E stad o grego entrava em sua fatal e final crise, iniciada em 431 a.C ., com a eclosão d a g u erra d o P eloponeso e encerrada nos anos que se seguiram à m o rte de A lex an d re M a g n o , em 323 a.C . E o saber, sob retud o , valorizado pela dem ocracia, p rin cip alm en te a atenien se, reclam ava u m a evolução que os sofistas trouxeram com seu p en sa r eclético e a b ra n g en tem en te especulativo. A sofistica, p o rta n to , não é ex atam en te u m a escola filosófica, m as u m a co rren te d e p en sa m e n to que, colocando o h o m e m no cen tro de suas atenções, ex atam en te com o fez Sócrates, fixava, fin alm ente, o sen tid o an tro p o ló g ico d a pesquisa filosófica, essencial ao estu d o e e n te n d im e n to d o direito. P o d e -se re su m ir d a seg u in te m a n e ira as p rin cip ais v e rte n tes d o p e n sa m e n to s o fis tic o :38

a) A c o n c en traçã o d o in teresse filosófico n o h o m e m e em seus p ro b lem as; b) A re d u ção d o c o n h e c im e n to à o p in ião e d o b e m à u tilid ad e co m o co n se q u en te re c o n h e c im e n to da relativid ad e da v erd ad e e dos valores m o rais, q u e m u d a ria m co n fo rm e os lugares, os co stu m es e os tem p o s; c) A “erística”, isto é, a h a b ilid a d e em re fu ta r e su sten tar, ao m esm o te m p o , teses c o n tra d itó rias; d) A o po sição e n tre a n a tu re z a e a lei, e o re c o n h e c im e n to de que a n a tu re z a co n h ece so m e n te o d ireito d o m ais fo rte.

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Protágoras, de Abdera (480 - 410 a. C.) D e to d o o povo d a an tig u id ad e, n u n ca se sabe com certeza a d a ta de n ascim en to e, apenas dos notáveis, g eralm en te, se con h ece a d a ta de sua m o rte, o u pelo m en o s o ano em q u e o co rreu. C o m as tran sfo rm açõ es dos calendários (cada povo an tig o tin h a , ou tem , o seu) e sem registros civis, com o saber quais nascituros seriam d ignos d a m en ção ao seu n ascim ento? C o m P ro tág o ra s n ão foi d iferen te. E ta m b é m d ele a h u m a n id a d e p e rd e u sua p alavra escrita. P assou à h istó ria p rin c ip a lm e n te p o r m eio d o q u e sobre ele escreveram dois de seus in im ig o s in telectu ais: “ap e n as” P la tã o e A ristó teles. P ro tág o ra s, co m o quase a to ta lid a d e dos sofistas, n o ta b iliz o u -se p ela cap acid ad e o ra tó ria e, p e rc o rre n d o diversas cidad es gregas, lecionava re tó ric a, d ialética e os fu n d a m e n to s d e seu p e n sa m e n to é tic o -m o ra l. F oi am ig o de n o tab ilid a d es, co m o o p o lítico e e stad ista P éricles e o p o e ta e te a tró lo g o E u ríp e d e s; teve, ain d a, u m re la c io n a m e n to co m S ó crates, e m b o ra n ão e x a ta m e n te am isto so , m as p elo m en o s, re sp e ito so. P la tã o n os d á c o n ta disso em seus diálo g o s “P ro tá g o ra s” e “S ofistas”, além d e o u tras citações, co m o em T ee te to . M o rre u co m se te n ta anos. N o fim d a v ida, se g u n d o o h isto ria d o r D ió g e n e s L aércio , p ro d u z iu u m a o b ra, in titu la d a

Acerca dos deuses, p o r causa d a q u al foi p ro cessad o p elo trib u n al aten ien se , o n z e an o s an tes d o fam o so processo m o v id o c o n tra S ócrates. C o n d e n a d o à m o rte p o r sacrilégio, fo i-lh e p e rm itid o , in fo rm a lm e n te , co m o era c o stu m e em A te n a s q u a n d o d a aplicação d e p e n a cap ital, fugir. N a v erd ad e, não se sabe co m c e rte z a se ele foi apenas d e ste rra d o o u se, de ce r­ Es t u d o s

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ta fo rm a , sua execução foi relaxada. O ce rto é que, p erseg u id o e d esterrad o , teve q u e sair de A te n a s, v iajan d o p ara a Sicília, m as seu barco n au frag o u e ele m o rreu . N o p re â m b u lo d a o b ra que lh e valeu a desgraça, d izia P ro tágoras: “D o s deuses não sei d iz e r se os h á o u não, pois são m u ita s as coisas q u e p ro íb e m sabê-lo: a o b scu rid a d e d o assu n to e a b rev id ad e d a v id a h u m a n a ”. S eg u n d o P latão , P ro tág o ra s foi in flu en ciad o p ela filosofia de H e rá c lito , q u e, d ig a -se de p assag em , a p a r d e P la tã o , foi o filósofo que m ais in flu en cio u A ristó teles, o que, p o rta n to , não d im in u i, an tes, en g ran d ece P ro tág o ras. E le se colocava de in te iro acordo co m a d o u trin a h eraclitia n a , q ue su ste n ta a p e rp é tu a flu ên cia das coisas, ex train d o d ela a ideia d a “im p o ssib ilid ad e de se atin g ir u m a verdade ab so lu ta p a ra to d o s os h o m e n s ”. E ste relativ ism o su b jetiv ista de P ro tág o ra s se e n c o n tra n o fu n d a m e n to de sua filosofia e se d estaca d a sua p rin c ip al o b ra ,Acerca da verdade, o n d e diz: “O h o m e m é a m e d id a de to d as as coisas, das q u e são e n q u a n to são e das que não são e n q u a n to n ão são” que, e v id e n te m e n te , in sere c o n te ú d o a n tro p o ló g ico ao p e n sa m e n to se m e lh a n te d esenvolvido p o r H e rá c lito , ao m esm o te m p o em que d esc arta a d ic o to m ia p a rm e n id ia n a , q u e d iz q u e “o S er existe, o n ão S er não existe ”, ao estab elecer o co n ceito irrefu táv el de q u e o “n ão S er só é concebível p elo h o m e m ”, vale dizer: “A té p ara a ‘não existên cia’ a m e d id a ú n ica de co g n o scên cia é o h o m e m ”. O Ser, a m ed id a de todas as coisas, de to d o s os bens (cor-

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póreos ou inco rp ó reo s), não significa que h aja u m critério de verdade individualizado p ara cada h o m e m (o que vedaria q u alq u er tip o de co n h e cim e n to h u m an o , inclusive o ad q u irido e aplicado pelo p ró p rio P ro tágo ras, assessor dos governos de diversas cidades p o r o n d e passou, ten d o , inclusive, em u m a delas, T hu rii, elaborado sua C o n stitu ição ); m as significa que, em cada h o m em , varia a m ed id a, seg un do suas pró prias circunstâncias, segundo o espaço e o te m p o em que se en co n tra. P o r corolário à id eia ce n tra l d este e x tra o rd in á rio sofista, ex trai-se q u e o v erd ad eiro objetivo de u m sábio é o b e m , e q ue seu c o m p o rta m e n to deve se p a u ta r p ela ad eq uação ao p re se n te , de so rte a p o ssib ilitar a em issão de ju íz o s seg u n d o a m e d id a p ro p o rc io n a d a p ela ocasião e m o m e n to d in a m ic a m e n te , co m o en sin av a H e rá c lito , c o m p re en d id o . P a ra ele, o relativ ism o n ão significava (com o p a ra G ó rgias) a negação de to d a verd ad e, m as, sim , a negação de to d a falsidade: o que é afirm ad o em d ad o m o m e n to , to m a n d o o h o m e m co m o m ed id a, é sem pre v erd ad eiro ; assim , deve o ju iz decidir, pois, to m a n d o o h o m e m co m o m ed id a, a se n te n ça será ju sta . E ssa id eia b rilh a n te está, p en sa m o s, na raiz da h e rm e n ê u tic a ju ríd ica. A crítica relativ ista e, às vezes, ab so lu tista de P ro tág o ra s se enfocava sob ó tica sensorial, c o n tra to d o s qu e p re te n d ia m verdades invariáveis e universais, esp e cialm en te c o n tra os ch a m a d o s g eô m etra s, P itá g o ra s em p articu lar. D o p e n sa m e n to su b stan tiv o de P ro tág o ras, in te g ro u -se à filosofia, inclusive, o co n ceito homo mensura, tra n sm u d a d o

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em v erb ete de d icio n ário filosófico. D e q u a lq u e r fo rm a, dele e de o u tro s sofistas d eriv am o co n c eito de ju stiç a e n q u a n to objetivo d o D ire ito ; d a ju ris p ru d ê n c ia co m o fo n te d o saber ju ríd ic o (se n ão à m o d a grega, c e rta m e n te à m o d a ro m an a ); d a h e rm e n ê u tic a co m o fo rm a de a p rim o ra m e n to d o ju íz o ; e, so b retu d o , d o ap e rfeiço a m e n to d a fu n ç ão d e ju lg ar, to m a n d o o h o m e m , cad a h o m e m , inclusive aqueles q u e c o m p õ e m u m a lide, co m o m e d id a da decisão a ser p ro ferid a.

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Referências A ristó teles. São Paulo: C o m p a n h ia das L e tra s, 2 0 0 2 . A R A N H A , M a ria L ú cia de A rru d a ; M a rtin s , M a ria H e len a P ires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: E d ito ra M o d e rn a . 1994 B R O W N , C o lin . Filosofia e f é cristã. São Paulo: V id a N o v a, 1999. C O T R I M , G ilb e rto . Fundamentos da filosofia. São Paulo: E d ito ra Saraiva. 1996. C H A U I , M a rile n a . Convite à filosofia. São P aulo: A tica,

2000 . ________ . Introdução à história dafilosofia: d os p ré -so c rá ticos a... ________ .Filosofia. S ão P aulo: Á tic a , 2 0 0 2 . G A A R D E R , Jo ste in . O mundo de Sofia. São Paulo: E d ito ra S ch w arcz L td a . 1997. J E R P H A G N O N , L u cien . FUstória das grandes filosofias. São P aulo: L iv raria M a rtin s F o n te s E d ito ra L td a . 1992.

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Ό P R O FU N D ID A D E DAS RIQ U EZA S...” “Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu” (Rm 1.21) Nesse grande texto do apóstolo Paulo, está uma importante lição sobre o estudo de Deus, ou seja, sobre o estudo teológico. Com esse aprendizado, passamos a conhecer o SENHOR, para glorificá-lo como Deus, o Deus que Ele é! Não estudamos para sermos os melhores. Não estudamos para vencermos debates doutrinários! O próprio Deus nos capacitou com intelecto para que tivéssemos a capacidade de sondá-lo e conhecê-lo! E é justamente nesse sentido que apresentamos a ENCICLOPÉDIA ESTUDOS DE TEOLOGIA. Uma referência que faltava aos estudantes cristãos. Preocupados em conhecer melhor o Senhor! Com conteúdo considerado essencial para o entendimento das mais diversas doutrinas bíblicas, esta é a única obra do gênero que contempla as principais matérias estudadas em salas de aulas dos principais cursos de teologia do Brasil e no exterior. Todas as disciplinas foram desenvolvidas com dialética própria ao cristão interessado em compreender melhor o Senhor Deus e a sua Palavra. Agora, você, amado, tem condições de sair das “águas rasas” e mergulhar em “águas profundas”, e, até mesmo, gritar como Paulo: “O profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rm 11.33,34). — Os editores, inverno de 2013

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