Educacao e Formacao Humana

April 21, 2019 | Author: João Gomes | Category: Karl Marx, Human Nature, Sociology, Social Inequality, Classe e desigualdade
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Educacao e Formacao Humana...

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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA Ivo Tonet* Introdução

Formar integralmente o homem. Mas, o que significa exatamente isso? Podese definir esse conceito de modo a que seja um ideal vlido !ara todos os tem!os e lugares? Parece que n"o. #nt"o, o que significaria isso, hoje? # como articular, hoje, a atividade educativa com uma forma$"o humana integral? Muitas !erguntas. Tentaremos refletir so%re essas quest&es ao longo desse artigo.

Formação humana

Talve Talve'' nen nenhum humaa !alav !alavra ra tenha tenha ex!re ex!ressa ssado do t"o %em a id(ia id(ia de forma$ forma$"o "o humana como a !alavra grega !aid(ia. Paid(ia ex!rimia o ideal de desenvolver no homem aquilo que era considerado es!ec)fico da nature'a humana o es!)rito e a vida  !ol)tica. Mas, !or isso mesmo, mesmo, essa forma$"o era !rivil(gio !rivil(gio a!enas de alguns !oucos, os cida cidad" d"os os.. +l(m +l(m diss disso, o, excl exclu) u)aa todo todo ti!o ti!o de ativ ativid idad ades es  as que que lida lidava vam m com com a trans transfo form rma$ a$"o "o da natu nature re'a 'a  que que n"o n"o foss fossem em cond condi' i'en ente tess com com essa essa natu nature re'a 'a  !ro!riamente humana. humana. + humanitas roman romana, a, o humanismo renascentista e a Bildung a  Bildung alem" tam%(m ex!ressam, cada uma com nuances !r!rias, esta mesma id(ia de uma am!la e slida forma$"o do ser humano. "o !or acaso, todas elas s"o !rofundamente devedoras da cultura grega clssica.  o entanto, essas !alavras, que ex!ressam momentos altos da trajetria humana, tam%(m deixam entrever a unilateralidade com que era vista essa forma$"o humana. / sem!re o cultivo do es!)rito que ( !rivilegiado. Mesmo quando, como entre os gregos e romanos, se acentua a necessidade de formar o cor!o e o es!)rito, a 0nfase est na forma$"o deste 1ltimo. 2uanto ao !rimeiro, trata-se a!enas do seu cultivo

 Mestre em filosofia e 3outor em #duca$"o. Prof. de filosofia do Instituto de 4i0ncias 5umanas, 4omunica$"o e +rtes da 6niversidade Federal de +lagoas *

: atrav(s de exerc)cios f)sicos de forma a !ossi%ilitar o !leno desenvolvimento das faculdades es!irituais. 8 que era inteiramente deixado de lado nesse !rocesso de forma$"o do humano era a !ro%lemtica do tra%alho, da transforma$"o da nature'a, da mani!ula$"o da mat(ria !ara a !rodu$"o da rique'a. #ntende-se que assim fosse !orque at( o advento do ca!italismo as tarefas eram de res!onsa%ilidade de seres considerados de condi$"o inferior. 3a) !orque a forma$"o se dirigia a!enas 9quelas !essoas que, n"o !recisando tra%alhar, !odiam dedicar-se integralmente 9s atividades de cunho es!iritual.  em ( !reciso fa'er men$"o 9 Idade M(dia !ara constatar mais ainda esta se!ara$"o e este desn)vel entre o tra%alho material e as atividades es!irituais. 2uando o ca!italismo entrou em cena, houve uma !rofunda mudan$a nessa id(ia da forma$"o humana. a verdade, houve at( uma invers"o entre tra%alho e forma$"o cultural. 8 tra%alho !assou a ser !rivilegiado como a atividade !rinci!al. "o,  !or(m, o tra%alho como uma atividade criativa, ex!licitadora das !otencialidades humanas, mas o tra%alho como sim!les meio de !rodu'ir mercadorias e, es!ecialmente, a mercadoria das mercadorias, que ( o dinheiro. 4ertamente, a forma$"o cultural ainda era %astante valori'ada, es!ecialmente no !er)odo ascensional do ca!italismo, ou seja, at( a reali'a$"o !lena da revolu$"o %urguesa. o entanto, ela !assava a ser cada ve' mais !er!assada !ela lgica do ter, terminando !or ser uma es!(cie de cereja no %olo da acumula$"o da rique'a material. 4ou%e a Marx, e a outros !ensadores que desenvolveram as suas id(ias, lan$ar os fundamentos de uma conce!$"o radicalmente nova de forma$"o humana. # o fundamento desta conce!$"o radicalmente nova encontra-se exatamente na a!reens"o da correta articula$"o entre es!)rito e mat(ria, entre su%jetividade e o%jetividade, entre a interioridade e a exterioridade no ser social. Tomando como !onto de !artida do tra%alho, considerado como o ato ontolgico-!rimrio do ser social, Marx constata que este ser n"o se define !ela es!iritualidade, mas !ela !rxis. 8ra, esta 1ltima ( exatamente uma s)ntese de es!)rito e mat(ria, de su%jetividade e o%jetividade, de interioridade e exterioridade. a realidade, ele mostra que entre interioridade e exterioridade n"o h uma rela$"o de exclus"o, nem de soma, mas uma rela$"o de determina$"o rec)!roca. 3esta determina$"o rec)!roca ( que resulta a realidade social. Para com!reender melhor o im!acto desta desco%erta, lem%re-se a defini$"o aristot(lica do homem. 3efini$"o que !redomina quase que integralmente at( hoje no  !ensamente ocidental. #le define o homem como um animal racional. 4ontudo, o que o

B define, es!ecificamente, ( a racionalidade, !orque a animalidade nos ( comum com os animais. / interessante notar como ( a desco%erta de que h uma determina$"o rec)!roca entre esses dois momentos que constituem o ser social que !ermite com!reender as formas concretas desta rela$"o ao longo da histria. Por exem!lo, ( o fato de a !rodu$"o da rique'a material ser reali'ada !elos escravos ou !elos servos que  !ermite entender o !rivilegiamento concedido ao es!)rito na forma$"o humana. o caso da socia%ilidade ca!italista, ( a centralidade do tra%alho a%strato que !ermite entender a su%ordina$"o da forma$"o cultural;es!iritual;humana aos im!erativos da !rodu$"o da rique'a e, !ortanto, a im!ossi%ilidade de uma aut0ntica forma$"o humana integral. 4ertamente, a forma$"o humana ( sem!re histrica e socialmente datada. Por isso mesmo n"o ( !oss)vel definir, de uma ve' !ara sem!re, o que ele seja como se fosse um ideal a ser !erseguido. Por(m, como o !rocesso de tornar-se homem do homem n"o ( a!enas descontinuidade, mas tam%(m continuidade, ( !oss)vel a!reender os tra$os gerais dessa !rocessualidade, tra$os esses que, n"o o%stante a sua muta%ilidade, guardar"o uma identidade ao longo de todo o !ercurso da histria humana. +ssim, !ode-se di'er, !artindo dos fundamentos onto-metodolgicos ela%orados !or Marx, que o !rocesso de o indiv)duo singular tornar-se mem%ro do g0nero humano !assa !ela necessria a!ro!ria$"o do !atrimeontiev, O desenvolvimento do psiquismo. >is%oa >ivros 5ori'onte, 7@A. 7

J sociedade em classes excluiu a maioria da !o!ula$"o do acesso 9 rique'a acumulada  !ela humanidade. 8 que fa'ia com que essa massa ficasse confinada a um n)vel muito  !rximo da animalidade. Por outro lado, a !ro!riedade !rivada, com a divis"o do tra%alho, tam%(m deu origem ao fen6+4=, . O que $ o mar%ismo ortodo%o. In 5istria e consci0ncia de classe. ="o Paulo Martins Fontes, :GGB.  UUUUUUUU, &er una ontologia dell'essere sociale. Soma Siuniti, 7@L-7A7. M+SR, . Traba-o asalariado  capital . Varcelona ova Terra, 7@G. M/=WXS8=, I. &ara al$m do capital. ="o Paulo Voitem!o, :GG. T8#T, I. Educaço, cidadania e emancipaço humana. Iju) 6niju) :GG  UUUUUU,  Educaço e concepç#es de sociedade. In 6niversidade e =ociedade, n. 7, 7.  UUUUUU, ! educaço numa encru"ilhada. In M##W#=, +.M.3., e FI6#IS#38, F. F. CorgsD Tra%alho, socia%ilidade e educa$"o. Fortale'a #d. 6F4, :GGB.

7:

Sesumo 8 !resente artigo !retende demonstrar que s se !ode falar em forma$"o humana integral, hoje, se for algo direcionado 9 constru$"o de uma forma de socia%ilidade onde ela seja, de fato, !oss)vel. #sta forma de socia%ilidade  ca!italista  !or im!licar a ex!lora$"o do homem !elo homem e a conseqente desigualdade social, n"o !ode  !ermitir essa forma$"o integral. Isto !orque, uma forma$"o integral exige o acesso aos  %ens materiais e es!irituais necessrios 9 !lena reali'a$"o dos indiv)duos. Isto s ser  !oss)vel numa sociedade comunista. 3este modo, uma atividade educativa que !retenda contri%uir !ara uma forma$"o integral ter que %uscar !ermitir aos indiv)duos engajar-se na luta !ela constru$"o de uma forma de socia%ilidade !ara al(m do ca!ital.

+%stract This !a!er intends to shoY that Ye onlZ can talQ a%out a Yhole human formation todaZ, if it is something directed to the construction of a Qind of socia%ilitZ Yhere it is, in fact,  !ossi%le. This Qind of socia%ilitZ  ca!italist  due to %eing %ased on the ex!loitation of the man %Z the man and the consequent inequalitZ, cannot alloY this Yhole formation. That[s %ecause, a Yhole formation demands the access to the material and s!iritual resources necessarZ to the full reali'ation of the individuals. This Yill onlZ %e !ossi%le in a communist societZ. This YaZ, an educational activitZ that intends to contri%ute to a Yhole formation Yill must trZ to alloY the individuals to get involved in this fight for the construction of a Qind of socia%ilitZ %eZond the ca!ital.

Macei, agosto de :GGL

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