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ÍNDICE INTRODUÇÃO .................................................................. 1 O que você pode fazer com um diploma de Engenharia ................................... ................................................. ................ 2 Qual curso de engenharia? ............................................ 4 Carolina reis - O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro .............. ........................... ..................... ........ 8 Petróleo - A carreira em petróleo continua promissora? Saiba como Lava Jato e mudanças climáticas impactam essa indústria e seus engenheiros ............. ................ ... 11 BNDES - Como é trabalhar com investimentos no BNDES, um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo .............. ........................... ..................... ........ 15
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INTRODUÇÃO Pense em fortificações e artilharias bem desenvolvidas. Uma grande vantagem na guerra, certo? Foi esse o pensamento de militares franceses que, em idos de 1700, fundaram as primeiras escolas de Engenharia do mundo. No Brasil, o ensino chegou no fim daquele mesmo século, através da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, que foi seguida por outras academias militares, incluindo o Instituto Militar de Engenharia. Já a primeira escola politécnica do país, que hoje pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi fundada em 1792. (É uma das mais velhas do mundo!) Atualmente, centenas de instituições de ensino superior oferecem cursos de Engenharia no Brasil – e o prestígio de um engenheiro segue alto no país. O que antes atraía a atenção de monarcas preocupados em proteger seu território hoje atrai empreendedores, empresários e presidentes, entre tantos outros atores do mercado.\ Afinal, das mentes de engenheiros – pessoas capazes de atuar em inúmeras frentes e construir carreiras extremamente diversificadas – saem desde computadores, edifícios, aviões, robôs e novos materiais até processos industriais, estratégias corporativas, políticas públicas e muitas outras ideias revolucionárias. Neste ebook, que pode ser muito bem acompanhado pelo especial do portal Estudar Fora sobre Tudo que você precisa saber para estudar Engenharia no exterior, você descobre a trajetória de diversos jovens engenheiros pelo Brasil. Esperamos que, com esses relatos, você possa entender melhor os cursos de engenharia (será que são mesmo para você?) e também como direcionar a sua carreira da melhor forma. Reunimos aqui bons exemplos do que um engenheiro ou engenheira pode em começo de carreira pode esperar pela frente, e mostramos como a categoria é absolutamente fundamental para o desenvolvimento de qualquer país – quanto maior for o número de bons engenheiros, melhor! Boa leitura!
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O QUE VOCÊ PODE FAZER COM UM DIPLOMA DE ENGENHARIA O que um engenheiro no começo de carreira pode esperar do mercado brasileiro Embora o número de formados no país tenha crescido substancialmente, as possibilidades de atuação em diversos setores mantêm o curso atraente para jovens profissionais
Em 2010, cerca de 40 mil engenheiros se formavam por ano no Brasil em campos tão diversos quanto Computação, Elétrica, Mecânica, Eletrônica, Aeronáutica, Naval e Civil – para citar algumas das mais de 30 engenharias disponíveis no país.
Mesmo em tempos menos auspiciosos, quando há empresas encerrando milhares de vagas e gigantes nacionais sob investigação, ainda são muitas as possibilidades para engenheiros altamente qualificados no mercado, especialmente para quem considera aplicar seus conhecimentos de outras maneiras.
Em 2015, este número já tinha saltado para mais de 80 mil, de acordo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Isso porque um engenheiro é treinado para entender e solucionar problemas, e sua capacidade de raciocínio lógico e analítico é muito bem vinda tanto no mercado financeiro quanto num hangar de aviões, numa ONG, em uma startup, na gestão pública ou em uma consultoria estratégica, por exemplo.
Embora pareça uma grande quantia, o Conselho Nacional de Engenharia e Agronomia (Confea) aponta que outras nações têm muito mais desses profissionais essenciais para o desenvolvimento nacional: Índia e China formam, respectivamente, 220 mil e 650 mil novos engenheiros por ano.
“A Engenharia é basicamente a arte de engenhar, ou seja, pensar e desenvolver soluções baseadas em conhecimentos pré-existentes ou no desenvolvimento de nova tecnologias” , resume Carlos Marmorato, professor e coordenador associado da graduação da Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O curso oferece ao aluno um conhecimento amplo em diversas áreas. Evidentemente, o profissional acaba se especializado, mas todo conteúdo adquirido propicia ao engenheiro uma visão mais abrangente e importante no exercício profissional.”
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O QUE VOCÊ PODE FAZER COM UM DIPLOMA DE ENGENHARIA
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Marmorato explica por quê: há uma dependência de investimentos públicos para que grandes obras aconteçam aqui, o que acaba causando ansiedade entre alunos de Engenharia que se formam em tempos de crise, mas o aumento da demanda é questão de tempo.
Destaque para bons profissionais Esse não é, porém, o único fator em jogo para quem se forma agora: o salto brasileiro no número de formandos não se reflete necessariamente na qualidade dos profissionais chegam ao mercado. Isso porque o setor privado foi o responsável por ampliar em quase 600% sua quantidade de formandos entre 2000 e 2015, inundando o mercado numa época de crise – e nem todos são cursos bem qualificados pelo Ministério de Educação.
Ao comparar o Brasil de hoje com aquele de seu tempo de estudante, nos anos 1990, ele vê os mesmos gargalos de infraestrutura em áreas como saneamento, transporte e habitação, entre outras, onde há muito trabalho ainda por fazer e que eventualmente terá que ser feito – especialmente por engenheiros.
Num cenário como o atual, destaca-se com facilidade o jovem que estiver bem preparado. Para Marmorato, o engenheiro mais valioso é aquele que detém o conhecimento e “zela pelo bom exercício profissional, com ética e profissionalismo”.
“É um segmento que pode ter ciclos que demandam mais ou menos profissionais” , diz o professor. “A questão do mercado de trabalho depende mesmo da época na qual o aluno vai se inserir no mercado.”
Ou seja, o ideal é que o profissional busque ampliar seus conhecimentos sempre que possível, investindo em estudos e especializações que estão em alta no mercado, como análise de dados e desenvolvimento de negócios, para conquistar empresas cada vez mais exigentes.
Segundo especialistas, há hoje setores em alta que merecem atenção de engenheiros, como energia, telecomunicação e tecnologia, que investem constantemente em soluções inovadoras e na criação de processos mais eficazes – perfeito para profissionais curiosos e capazes de se adaptar.
À espera de um novo boom No início dos anos 2010, muito se falava sobre um possível “apagão de engenheiros” no Brasil, que apresentava então fortes índices de crescimento e investia pesado em obras de infraestrutura, preparando-se para sediar uma série de eventos e aquecendo a economia.
Com crise ou sem crise, uma coisa é certa: um bom engenheiro, que se e sforça para aprender sempre mais e melhor, sempre encontra e spaço no mercado.
Com a recessão e operações como a Lava Jato, que paralisaram projetos e atingiram construtoras e fontes de financiamento, o quadro mudou de figura. Não deixam de ser dois lados da mesma moeda – a demanda impulsionada pelo setor público –, e o cenário tende a se tornar menos sombrio conforme o país se recupera.
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QUAL CURSO DE ENGENHARIA? 6 engenheiros contam como tomaram a decisão (e o que estão fazendo hoje) Engenheiros contam como escolheram suas especializações universitárias, que vão de química à naval, e como elas os prepararam para o mercado de trabalho
A palavra em si, que deriva do latim para “inteligência” e “inventar”, já dá a dica: engenharia é algo amplo. A base que todos os engenheiros têm em comum envolve matemática, cálculo, raciocínio lógico e conhecimento prático, e é geralmente obtida nos dois primeiros anos de estudos. Depois, é preciso seguir uma especialização dentre as muitas disponíveis. O Na Prática conversou com seis engenheiros para descobrir como eles tomaram a decisão de se especializar – e como ela se desdobrou em seus futuros profissionais.
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QUAL CURSO DE ENGENHARIA?
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2. Renan Henrique
Confira:
Da engenharia civil para consultoria Renan Henrique entrou no Instituto Militar de Engenharia, onde estudou como bolsista da Fundação Estudar, sem nenhuma preferência. A proximidade com grandes construções, como hidrelétricas e pontes, acabaram atraindo-o para a engenharia civil, que por lá é chamada de engenharia de fortificação e construção.
1. Patrícia Aguiar Da engenharia ambiental para a Ambev
Patrícia Aguiar se formou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e tomou a decisão aconselhada pela Fundação Estudar e do Ismart, instituições das quais foi bolsista. “o processo para escolher ambiental veio do interesse por sustentabilidade, que já era forte no colégio e cresceu com o contato com outros alunos e professores da Poli” , lembra ela, que destaca o raciocínio lógico desenvolvido na Poli como um dos grandes benefícios da graduação.
Ao longo do curso, no entanto, acabou se aproximando do mercado financeiro e administração através de estágios, que o levaram ao seu cargo atual como consultor da consultoria estratégica Bain & Co. “Apesar de não utilizar grande parte do que aprendi durante o curso, a formação de engenheiro me ajudou muito a pensar de forma analítica e esta qualidade é muito importante para o trabalho de consultoria” , resume.
Por ter nascido no departamento de Hidráulica da Engenharia Civil, a especialização da Poli trata muito de água e efluentes. Por isso, Patricia acabou estudando em outras faculdades da USP como o Instituto de Oceanografia, a Faculdade de Saúde Pública e de Geologia, entre outros. “É um ambiente tão rico em experiências e bagagem pessoal que pra mim foi quase tão importante quanto o próprio conteúdo técnico” , diz ela.
3. Gabriel Gariglio Da engenharia civil para o Exército e Petrobras Gabriel Gariglio também escolheu engenharia civil no Instituto Militar de Engenharia, mas tomou um caminho bastante diferente. “Tive a oportunidade de conhecer algumas obras executadas pelo Exército Brasileiro quando estava no segundo ano e gostei muito do que vi, principalmente pela evidente colaboração com o desenvolvimento da infraestrutura do país” , lembra ele, destacando a construção do trecho da BR-101, estrada que liga o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul.
Hoje especialista de melhoria contínua do Centro de Engenharia da Ambev, ela está na empresa há seis anos. “Ter feito uma especialização em ambiental me deu base para trabalhar na área de Meio Ambiente dentro das operações da companhia” , conta. “Acabei vendo na prática uma boa parte do que eu estudei durante a engenharia ambiental, com gerenciamento de requisitos legais, tratamento de água e efluente, entre outros.”
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QUAL CURSO DE ENGENHARIA?
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4. Viviane Sousa
Bastante interessado no lado da gestão, Gabriel, que também é bolsista da Estudar, conversava com professores também sobre coisas menos técnicas, como o dia a a dia no relacionamento com funcionários e como enfrentar imprevistos.
Da engenharia mecânica às válvulas de uma usina nuclear Viviane Sousa começou a se interessar por engenharia aos 15 anos. Era a profissão do pai. “Ele me explicou que um engenheiro conhecia o funcionamento das coisas, ‘inventava’ novos produtos que faziam parte da nossa vida”, lembra. “Pequena, eu achava isso o máximo.”
Nos primeiros dois anos de formado, ele retomou o gosto pelas estradas e construiu mais de trinta quilômetros delas no Norte do Brasil, com o Exército e cerca de 150 funcionários diretos, e diz que a sensação de ver a obra funcionando faz toda a diferença. “Assim que tornamos o trecho transitável, já pudemos ver diariamente dezenas de carretas escoando a produção de soja e outros grãos do Centro-Oeste até o porto para seguir via fluvial pelo rio Tapajós até o Atlântico, para exportação, e vimos o comércio local crescer e as vilas se estruturarem melhor”, conta.
Apaixonada por descobrir como as coisas funcionavam, gostava de desmontar canetas, lapiseiras e controles remotos. Quando chegou a hora de pensar na universidade, Viviane morava no exterior e precisou se preparar de maneira mais específica.
Depois, decidiu trocar de carreira e tornouse engenheiro de petróleo na Petrobras, onde trabalha atualmente. Hoje, coordena a aprovação e implementação de projetos intermediando gerências técnicas, reunindo informações, elaborando estudos de viabilidade e buscando o melhor retorno para a estatal.
“Nesse período de pesquisas sobre as diferentes universidades e os diferentes cursos, eu me interessei mais pela mecânica. Descobri o que eu poderia aprender, até onde eu poderia chegar e como eu poderia trabalhar” , conta ela, que estudou no INSA, na França, como bolsista da Fundação Estudar. Por lá, a engenharia mecânica tem dois departamentos: desenvolvimento e concepção. O primeiro trata das fase iniciais, de pesquisa, criação e inovação. O segundo é mão na massa, colocando a ideia em prática. Viviane escolheu o departamento de desenvolvimento. “Tive curso de Biomecânica, mecânica dos fluidos, vibrações, materiais, mecânica aeroespacial e me especializei na mecânica de contatos” , conta.
“Acredito que a base do curso de engenharia, que aborda também a gestão, aliada à minha experiência nas obras me possibilitaram desempenhar meu trabalho com muito mais eficiência, comunicando-me melhor e vendendo melhor minhas ideias” , conclui.
Viviane ficou na França e trabalha como order entry engineer da Emerson Process Management. No departamento de válvulas de controle, produz válvulas pra todo tipo de coisa e atenta a uma série de fatores, de redução de nível sonoro a válvulas capazes de filtrar fluidos ou congelar substâncias, de acordo com os pedidos dos clientes – que são igualmente variados e vão de exploradores de petróleo a usinas nucleares. 6
QUAL CURSO DE ENGENHARIA?
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6. Fernando Palhares
“Aprendi durante meus estudos que um engenheiro aprende a aprender” , resume ela. ”Sei que as teorias físicas se aplicam à diversas situações. Basta entender as necessidades, o funcionamento e onde queremos chegar.”
Da engenharia naval à consultoria estratégica Fernando Palhares sempre gostou de grandes obras de infraestrutura. Ao mesmo tempo, era atraído pelo conceito de eficiência e sempre tornar algo melhor. Em conversas pela PoliUSP, acabou descobrindo que o departamento Naval conseguia unir suas duas vontades com uma terceira, a estruturação de sistemas complexos.
5. Ronaldo Rozenbaum Da engenharia química à estratégia de vendas Ronaldo Rozenbaum cresceu em meio aos laboratórios e lousas da mãe, engenharia química e professora de química. Não teve dúvida na hora de escolher o curso e a especialização, que fez na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e afirma estar contente com a escolha.
Transferiu-se da engenharia mecânica da Poli e começou seus estudos no curso, que ele classifica como amplo. Segundo sua experiência com um intercâmbio na Austrália, a amplitude também muda de cara de acordo com os países.
Após estágios e uma iniciação científica na área, no entanto, decidiu que o conhecimento era bom mas queria outro tipo de carreira. Acabou atraído pelo ramo vendas e encontrou-se na Ambev, onde trabalha como gerente nacional de estratégia de vendas.
“O curso no Brasil tem um foco muito grande em sistemas oceânicos, como navios cargueiros transatlânticos e plataformas de extração de petróleo” , conta. “Na Austrália, o foco era quase todo em barcos de lazer (veleiros) e balsas, que são um modal muito importante por lá. De maneira geral, foi legal ter essa visão e de certa forma poder escolher quais matérias assistir para ter um certo nível de especialização.”
“A base da engenharia – visão sistêmica, raciocínio lógico e rápido, desconstrução de problemas, dentre muitas outras coisas – foi essencial para mim no começo da minha carreira” , conta. “Hoje, acredito que ainda é boa parte das análises que faço, das conclusões que tomo e até da visão que os outros ainda tem de mim. É fato que me ajudou demais.”
Atualmente consultor da consultoria estratégica Boston Consulting Group (BCG) em São Paulo, Fernando destaca a necessidade de resolver problemas de forma criativa e sistemática, habilidades que ele desenvolveu na faculdade. “Acho que as maiores lições que aprendi no curso foram a visão sistêmica – conseguir enxergar um grande problema como um todo e mergulhar em tópicos específicos conforme necessário – e o conceito de eficiência, que se mantém vivo até hoje” , fala. “Essas são coisas muito importantes na vida de um consultor e grande parte dos conceitos que eu uso hoje foram herdados das matérias de engenharia.” 7
CAROLINA REIS O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro “Qualquer posto pode ser alcançado por qualquer mulher que achar que pode”, diz a tenente moderna Carolina Reis. Ela é a primeira mulher a chegar na Diretoria de Obras de Cooperação, que superintende a execução de obras e serviços de engenharia por órgãos militares
Carolina Reis sempre gostou de visitar obras. Quando era pequena, ia acompanhada pelo pai, engenheiro militar que adorava lhe ensinar matemática. Hoje tenente moderna – que, no linguajar militar, quer dizer recente – na Diretoria de Obras de Cooperação do Exército e também engenheira, segue a tradição.
“O IME permite que uma mulher tenha uma carreira militar completa, até alcançar o posto de general” , resume ela, que é a primeira mulher engenheira a chegar na Diretoria de Obras d e Cooperação.
Representadas A história é resultado de uma série de conquistas recentes na luta pela igualdade de gêneros. As brasileiras do Exército, que somam mais de 22 mil, representam cerca de 6% da força total. É um número baixo, mas crescente desde 2012, q uando a então presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei permitindo que vagas em áreas combatentes fossem abertas também para elas.
A opção pela carreira veio cedo. Na oitava série, incentivada pela família, Carolina prestou concurso para o Colégio Militar do Rio de Janeiro. Passou em quarto lugar e decidiu ali, em meio às formaturas cerimoniais, que queria ser militar também. “O companheirismo do Exército é diferente. O oficial tira algo da própria farda para colocar na sua, por exemplo” , diz.
A primeira mulher a integrar o Exército só foi oficialmente reconhecida pela organização mais de um século depois. Maria Quitéria de Jesus Medeiros, ou soldado Medeiros, pertencia ao Batalhão de Voluntários do Imperador e lutou pela Independência do Brasil em 1822.
Estudiosa, também gostava do currículo aprofundado. Decidiu estende-lo ao estudar no Instituto Militar de Engenharia (IME), onde entrou em 2008. A instituição, que fica n a capital carioca, é a mesma que formou seu pai, que possui seu nome gravado no salão nobre do lugar.
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CAROLINA REIS
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Famosa entre os pares, foi condecorada por Dom Pedro I como Cavaleiro da Imperial Ordem do Cruzeiro depois da guerra – e aproveitou para pedir que ele escrevesse uma carta para seu pai, a quem havia desobed ecido ao se alistar. Em 1996, ela ganhou o título de Patrono do Quadro Complementar de Oficiais e h oje tem seu retrato em todos os quarteis do país.
Igualdade Carolina diz que o fato de ser pioneira – e precoce, já que a carreira militar começa com o título de tenente – não lhe afetou na prática. “Sempre ouvi que, intelectualmente, homens e mulheres são iguais. Ponto. Parágrafo. E no serviço público você tem a vantagem de prestar concurso. Após chegar no posto, ninguém pode te tirar.” Inclusive, quando chegou à Diretoria de Obras de Cooperação (DOC), não sabia que era a primeira mulher a ocupar um posto no órgão.
As primeiras integrantes oficiais mesmo vieram em 1943, na Segunda Guerra Mundial. Eram enfermeiras e voluntárias. Meio século depois, em 1992, a Escola de Administração do Exército, na Bahia, teve sua primeira tu rma feminina matriculada – até então, as poucas mulheres presentes atuavam em cargos majoritariamente administrativos e de saúde.
A boa recepção dos colegas, baseada também nas condições de igualdade e mérito reforçadas pela própria estrutura do Exército, fortalece sua ideia de que não tolher as ambições femininas é fundamental. “Qualquer posto pode ser alcançado por qualquer mulher que achar que pode” , diz. “A grande responsabilidade das mulheres é fazer jus ao posto quando chegar nele.”
Ainda nos anos 199 0, seguiram-se outras opções de serviço na área de saúde, como médicas e dentistas, e n a área técnica, que inclui profissionais diversas como advogadas, psicólogas, professoras e jornalistas. A Aeronáutica, que tem a maior parte das militares ativas e 36 aviadoras, abriu suas portas em 1995, assim como a Marinha. O próprio IME passou a admitir mulheres (e, consequentemente, engenheiras militares) apenas em 1997.
Ela destaca que os mesmos valores do Exército que a atraíram desde a escola – contribuir para o desenvolvimento do Brasil, crescimento meritocrático e vontade de fazer grande – também a fizeram se identificar com a Fun dação Estudar, da qual é bolsista. Da rotina de universitária militar, que envolve tirar serviço armado e treinamento físico, ela também tirou lições que mantém. “Lá, você precisa se superar e descobre que é muito mais capaz do que imaginava. Não ando por aí escalando paredes, mas sei que posso” , diz. “Foi muito mais que apenas uma excelente formação em engenharia.”
Finalmente, no in ício de 2016, a Força Terrestre divulgou seu primeiro edital para ing ressantes do sexo feminino na área bélica – leia-se: combatentes. As primeiras quarenta oficiais vão passar pela tradicional Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), entre outros espaços, e devem concluir seus estudos em 2021.
Pelo Brasil Como a carreira militar é longeva e baseada em tempo de serviço, se alguma delas for se tornar a primeira comandante brasileira, só ganhará o título em idos de 2060.
Hoje em Brasília, ela ajuda a controlar as obras (cerca de 20) dos batalhões de Engenharia de Construção (são 11). Participa do controle de gestão e acompanha planejamentos e controles financeiros destes empreendimentos – que diferem das empresas tradicionais, por exemplo, no fato de que não se cobra mão de obra e não se lucra. 9
CAROLINA REIS
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Carolina se formou em engenharia de fortificação e construção em 2012. Para quem nunca ouviu o termo, ela explica: “É basicamente engenharia civil, que ganhou esse nome quando começou a ser ensinada também aos não-militares” . O IME possui um dos melhores (e mais concorridos) cursos do país na área e lá, além do currículo básico, os engenheiros estudam também temas específicos do universo militar, como paióis e explosivos.
Atenção constante O dia a dia de uma engenheira militar é diferente da colega civil em uma área crucial: militares estão constantemente em treinamento. “Por que quem é combatente faz simulações de guerra e quem é engenheiro precisa estar sempre adestrado?” , pergunta ela. “Porque se algum dia enfrentarmos uma guerra e uma ponte for destruída, por exemplo, precisamos ser capazes de reconstruí-la. As obras são importantes para nos mantermos atualizados.” Pode parecer uma possibilidade distante (felizmente), mas é real no quartel e envolve conhecer a fundo as particularidade do país. Quais são as dificuldades e facilidades envolvidas na construção de uma rodovia em época de chuvas no Norte, por exemplo? Ou como lidar com as baixas temperaturas no Sul, capazes de fazer uma máquina congelar? Carolina precisa saber.
Durante a graduação, Carolina também participou da empresa junior e desenvolveu projetos de pesquisa. Para ela, a própria natureza de sua engenharia é coletiva, já que envolve liderar equipes expressivas em obras de grande escala, e ensinou muito sobre trabalho em time e relacionamento com pessoas – habilidades que ela aplica diariamente no trabalho em campo.
Como uma situação pode surgir a qualquer momento, a tenente, que quer ascender na carreira, está sempre a postos. “Isso influencia todos os aspectos das nossas vidas ao exigir uma postura coerente e capacidade de dar exemplo para exercer a liderança de fato” , diz. “Se alguém me ligar, preciso colocar a farda e ir t rabalhar.”
Já diplomada, mudou-se para Santa Catarina, onde fica o 10º Batalhão de Engenharia de Construção. Lá, trabalhou na rodovia Caminhos da Neve, obra que, quando concluída, ajudaria no escoamento da produção de maçãs local, a maior do país. “Cerca de trinta por cento das maçãs eram perdidas pelo chacoalhar dos caminhões e só aquela obra evitaria a perda de alimentos, de produção de trabalho” , diz. O sentimento de que está construindo algo duradouro para o país está por trás de sua motivação. “Gosto muito de saber que o que estou executando se reflete diretamente para a nação.” A vida de transferências pelo território nacional a levou também à Amazônia, local de enormes obstáculos (e aprendizados) logísticos. “A Amazônia é um lugar que todo brasileiro deveria conhecer” , diz. Em muitos rincões brasileiros, especialmente no Norte, onde ficam quatro dos 11 batalhões, a presença do Exército é muito mais forte. “É importante saber dessa realidade do Brasil.”
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PETRÓLEO A carreira em petróleo continua promissora? Saiba como Lava Jato e mudanças climáticas impactam essa indústria e seus engenheiros. Embora o número de formados no país tenha crescido substancialmente, as possibilidades de atuação em diversos setores mantêm o curso atraente para jovens profissionais
Em 2015, o Brasil subiu uma posição em um ranking importante. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Petróleo, o país se tornou o 12º maior produtor de petróleo do mundo, produzindo cerca de 2,5 milhões de barris por dia.
“O boom de gás de xisto nos EUA e o Acordo de Paris mudaram a perspectiva de futuro da indústria de óleo e gás”, escreveu o Fórum Econômico Mundial em um relatório recente. “Num cenário em que o uso de combustíveis fósseis é restrito para limitar o aquecimento global a 2°C, o consumo de petróleo pode ser relativamente estável mas certamente não expandirá na mesma medida que as expectativas existentes do tipo business as usual.”
A expectativa da indústria de óleo e gás nacional, conduzida pela estatal Petrobras, é que a produção aumente significativamente com a exploração do pré-sal, mas a história não é tão simples.
Commodity estratégica O futuro deve envolver novas regras para combater mudanças climáticas (pense em taxas por emissão de carbono, por exemplo), reservas cada vez mais difíceis de alcançar e uma competição mais acirrada tanto entre petrolíferas quanto com outras fontes de energia, como a energia solar. Soma-se a isso as expectativas de preços menores por barril, situação que pode ser explicada pela tradicional lei da oferta e demanda – uma situação internacional complexa faz com que, hoje, a oferta de petróleo no mercado supere amplamente o consumo previsto.
Embora esteja rumando para um cenário delicado, o petróleo – hoje responsável por 32.9% do consumo global de energia e por 47% do consumo brasileiro – continuará sendo fundamental para a sociedade moderna e uma carreira promissora, com bons retornos e possibilidades de crescimento. “Ainda é uma commodity estratégica e o pré-sal tem demonstrado altos níveis de produtividade, o que representa uma variável chave no interesse de exploração e produção petrolífera“ , explicam Robson Dias da Silva e Manuel Victor Martins de Matos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autores de um artigo recente sobre a influência econômica do petróleo no Rio de Janeiro.
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PETRÓLEO
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Para eles, o pré-sal deve movimentar esse mercado. “A disputa pelo market share no mercado internacional e os problemas financeiros das petrolíferas internacionais fazem com que estas busquem ativos com menor risco e maior produtividade, caso do pré-sal brasileiro” , continuam.
Criada em 1953 por Getúlio Vargas, a Petrobras chegou a ser a segunda maior empresa do continente americano em valor de mercado, e a quinta maior do mundo. Representava, sozinha, mais de 10% do PIB do país. Isso foi no final da década de 2010, em um cenário impulsionado pelo otimismo decorrente do pré-sal.
Mas explorar bacias marítimas é uma tarefa complexa e extremamente cara (o pré-sal, por exemplo, fica a pelo menos 5 mil metros de profundidade). No Brasil, ela é custeada em sua maioria pela Petrobras, que vive a maior crise de sua história.
Nos próximos cinco anos, a empresa veria seu valor ir da casa dos 300 bilhões para 100 bilhões de dólares, numa queda causada tanto pela crise interna enfrentada pela organização quando pela queda no preço do barril.
Portanto, quando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) recebeu autorização do governo para estudar uma nova rodada de licitação de blocos em 2017, o mercado se animou. São as licitações que, através de leilões do governo, permitem que outras empresas disputem o direito de explorar ou produzir petróleo e gás natural no Brasil. Até 1997, essa atividade era monopólio do Estado e da Petrobras, porém desde então diversas outras petrolíferas vem atuando no país, como Shell, ExxonMobil, Chevron, e outras menores.
De todo fracasso, no entanto, é possível extrair aprendizados. “Talvez o maior legado dessa crise seja a reflexão sobre o papel central da indústria de petróleo para a economia brasileira, e acreditamos que a governança tende a melhorar com novas práticas de gestão” , dizem Robson e Manuel, que também destacam o aspecto positivo da maturidade das instituições públicas que investigam o caso. Mesmo com os reveses apontados acima e uma dívida milionária, é preciso reconhecer que a empresa continua uma gigante. Tem, atualmente, 13 refinarias, com capacidade para processar 2,1 milhões de barris de petróleo por dia, o que faz dela a quarta maior companhia de petróleo e gás do continente. Em valor de mercado, é a segunda maior empresa do Brasil, segundo a Forbes. Cresceu 90% de 2015 (ápice da crise) para este ano, e criou também mecanismos internos de compliance e governança para evitar novas irregularidades e recuperar o prestígio no mercado.
A rodada deve acontecer já dentro de um novo cenário. Em 29 de novembro, o presidente Michel Temer sancionou uma nova lei que desobriga a Petrobras a participar de todos os consórcios de exploração do pré-sal brasileiro, abrindo em definitivo a oportunidade para investimentos estrangeiros. “Esse projeto reativa o setor do petróleo e gás e dá um novo impulso” , defendeu Temer em uma coletiva de imprensa. A partir de agora, a estatal escolhe se participa ou não dos leilões e tem prioridade caso demonstre interesse em algum.
“Ainda que o setor atualmente esteja passando por uma ‘tempestade’, é preciso lembrar que sua dinâmica de investimentos e empregos tem lógica e perspectiva de longo prazo” , falam eles.
Crise e recuperação Em 2016, é impossível falar sobre a Petrobras sem lembrar do escândalo bilionário de corrupção ao seu redor, investigado na Operação Lava Jato, que teve (e tem) uma série de consequências financeiras graves para a empresa e para o país. 12
PETRÓLEO
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“Seja qual for o modelo adotado [pela Petrobras], mais ‘nacionalista’ ou ‘liberal’, as expectativas de aumento da produção indicam uma necessária ampliação do investimento – em produção, logística, pesquisa e desenvolvimento – que terá fortes efeitos sobre o mercado de trabalho brasileiro, especialmente no segmento de técnicos especializados.”
Atento às mudanças sociais, ambientais e políticas que cercam sua indústria, Rafael acredita que sua geração terá menos tempo para se adaptar às responsabilidades que a anterior. “Vejo uma passagem cada vez mais abrupta de responsabilidade” , diz. “Há ainda a questão de países pobres que precisarão de energia barata para poder melhorar seu padrão de vida – e uma corrida para tentar tornar isso possível usando energias de fontes renováveis.”
Rafael Oliveira dos Santos, Gabriel Gariglio e Matheus Eduardo Martins, todos ex-bolsistas da Fundação Estudar e engenheiros por formação, representam facetas dessa indústria diversa e compartilharam com o Na Prática o que pensam sobre o futuro profissional.
Para ele, a Shell, que também está envolvida com gás natural e energia eólica, estará entre as empresas capazes de encarar os desafios. “Ela já possui uma estrutura global e um conhecimento organizacional suficientemente grandes” , conta. Trata-se, afinal de contas, da quinta maior empresa do mundo, segundo levantamento da Forbes. “Por via das dúvidas, planejo minha vida para ser sempre alguém com atributos desejáveis em qualquer ambiente e que lide bem com incertezas.”
Petróleo e o setor privado Engenheiro de petróleo pela Escola Politécnica da USP, Rafael decidiu seu rumo ainda na universidade. “Conclui que teria mais chances de ser parte importante de grandes projetos nessa área” , lembra. “Meu interesse aumentou ao notar como essa indústria está literalmente na base de toda a civilização atual ao ser capaz de fornecer energia, no sentindo mais amplo do termo, a baixo custo.”
Petróleo e o setor público Não há lugar mais importante (ou disputado) na indústria de óleo e gás nacional que a Petrobras, onde Matheus e Gabriel trabalham desde 2008 e 2014, respectivamente.
Em 2012, quando terminava o curso, passou no processo seletivo para engenheiros de perfuração da Shell Brasil e começou no ano seguinte. Após uma temporada trabalhando em plataformas nos Países Baixos, voltou ao Brasil para atuar como engenheiro de poços no Rio de Janeiro, onde analisa e valida operações de parceiros nos campos de pré-sal.
No ranking da consultoria Universum sobre as empresas mais desejadas pelos estudantes de engenharia brasileiros, a Petrobras aparece invicta em primeiro lugar há anos. Caiu em pontos percentuais desde que a Operção Lava Jato foi deflagrada, mas não o suficiente para ser desbancada por nenhuma outra empresa.
“Estive em operações em alto mar com 156 pessoas a bordo lidando com tarefas de alto risco e custando literalmente milhões de reais por dia e também na área estratégica da companhia, acompanhando como diretores decidem se alocam ou não um ou 2 bilhões de dólares em um projeto” , conta. “Isso tudo muda muito a maneira como se lida com o dia a dia.”
Engenheiro ambiental pela USP São Carlos e hoje engenheiro planejador da Petrobras Distribuidora em Porto Alegre, Matheus faz o gerenciamento ambiental das redes de postos de combustíveis, bases de distribuição e clientes consumidores no Sul do país.
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PETRÓLEO
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Na prática, lida com algumas das consequências ambientais da exploração de petróleo, como fazer gestão de resíduos, monitorar e remediar emergências químicas e áreas contaminadas com hidrocarbonetos e cuidar de licenciamentos e consultorias ambientais em geral.
O futuro da indústria e da carreira, Gabriel vê com otimismo. Acredita que as empresas do setor irão se tornar mais abrangentes ao focar em fontes energéticas alternativas e que a crise da Petrobras abriu caminho para um futuro corporativo melhor. “A companhia está passando por uma reestruturação e acredito que, após esse processo, abrirá concursos com regularidade para alimentar o fluxo natural de renovação dos empregados” , diz ele, destacando que a área de compliance da empresa cresceu e houve um programa de incentivo à demissão voluntária que atraiu muitos profissionais em fim de carreira.
Para ele, a queda do preço por barril esperada para os próximos anos significa que as empresas precisarão se tornar mais eficientes e competitivas – e os engenheiros ambientais ganharão destaque, assim como quem inovar para criar materiais, técnicas, processos e cadeias logísticas menos poluentes. “Nesse contexto, a prevenção de passivos e acidentes ambientais, a sustentabilidade corporativa e a responsabilidade socioambiental ganham importância e o foco muda da mitigação para a prevenção de impactos” , fala. “Aspectos de segurança, meio ambiente e saúde serão cada vez mais reforçados e novas oportunidades serão criadas para profissionais da área.”
“É um excelente momento para contribuir com seu reerguimento, trazendo novas ideias e demonstrando seu comprometimento e capacidade de inovação” , conclui.
Lideranças transformadoras No começo desse ano, um grupo de pesquisadores da UFRJ publicou um artigo sobre o papel dos líderes na atual indústria de petróleo e gás do país – uma indústria em intensa transformação. “O futuro próximo e como será a evolução desse mercado é nebuloso” , escreveram. “O líder tem papel fundamental nesse contexto, pois ele passa a ser um direcionador para a gestão de mudanças e pessoas, e não simplesmente para as metas”.
Já Gabriel, engenheiro de petróleo no Rio de Janeiro, trabalha em uma gerência que coordena a aprovação e implementação de projetos. Na rotina estão reuniões com outras gerências e a elaboração de estudos de viabilidade técnica e econômica, sempre em busca do melhor retorno para a empresa. Ele concorda com o colega sobre a necessidade geral de buscar eficiência. “Vi a importância do treinamento contínuo numa indústria de tecnologia de ponta, que precisa se modernizar para permanecer competitiva” , fala. “A competitividade se mostrou ainda mais importante com a queda do preço do petróleo, que nos obrigou a correr atrás da redução de custos.”
“A indústria do petróleo passa por um período de crise e mudança, que está transformando toda sua cadeia produtiva e não tem previsão de término”, resumem os pesquisadores. Nessa conjectura, a liderança tem papel fundamental para manter as corporações no caminho certo, sendo capaz não só de propor mudanças mas também de engajar todo o time em realizá-las.
Sua aposta é que parte dessa modernização virá da necessidade de reduzir os custos de exploração de pré sal, ainda muito altos, uma mudança útil também para campos maduros, como são conhecidos aqueles com menor produtividade e reserva recuperáveis já bastante exploradas. “Concentraremos esforços para aproveitar melhor e buscar o óleo não drenado nesses campos aplicando novas tecnologias” , conta.
Segundo o artigo, esse líder precisará demonstrar ao time que a organização está se movimentando para reagir e, ao mesmo tempo, dar liberdade para que as equipes possam trabalhar com criatividade e ajudar nas soluções dos problemas. No final das contas, tudo se resume a uma palavra: pessoas. E, para quem busca desafios do tipo, a indústria de petróleo é um prato cheio. 14
BNDES Como é trabalhar com investimentos no BNDES, um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo Embora o número de formados no país tenha crescido substancialmente, as possibilidades de atuação em diversos setores mantêm o curso atraente para jovens profissionais
Fundado em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem como principal objetivo financiar a longo prazo a realização de investimentos em todos os segmentos da economia – de âmbito social, regional e ambiental. Hoje é um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, com bilhões de reais para investir e cerca de três mil funcionários. Um deles é Filipe Bordalo, que já atuou com estaleiros, navios e plataformas de petróleo e hoje acompanha a gestão das empresas em que o banco tem participação estratégica.
De volta ao Rio de Janeiro e ainda na universidade, tomou gosto por finanças e passou a estudar matérias que lidavam com o mercado financeiro. Queria aumentar seus conhecimentos sobre a indústria – e já estava de olho no setor público. Cogitou outros órgãos, como o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários, mas o BNDES despontou como sua opção preferida. “Eu queria trabalhar no setor público porque, ao contrário daqueles que pensam que é um lugar para amarrar seu bode à sombra, se você quiser, é possível fazer algo legal” , explica. “Minha motivação é achar meu trabalho muito interessante – e é um lugar que permite que eu tenha qualidade de vida, porque dificilmente saio daqui à meia noite.”
Formado em engenharia tanto pela UFRJ quanto pela École Centrale Paris, onde estudou como bolsista da Fundação Estudar, ele não teve dificuldades na hora de escolher sua graduação. “Sempre gostei de exatas e me pareceu um caminho natural, que dava boas oportunidades de colocação no mercado” , explica. “E eu sabia que um duplo diploma poderia me abrir portas no futuro, porque não é uma experiência com uma meia dúzia de matérias.”
A vontade veio de suas experiências anteriores em consultorias, onde as jornadas costumam ser longas. Para ter certeza de que aquele era o ambiente ideal tanto em termos de horas quanto em termos de autonomia profissional, Filipe pesquisou a estrutura e conversou com funcionários. “Eu não queria ser cerceado e não conseguir trabalhar [por ser um banco público]” , fala.
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Era uma carga grande de responsabilidade. “ Assumi frentes de negociação com um ano de banco e aprendi muito sobre as partes jurídica e de engenharia naval” , lembra ele. “Era uma estrutura financeira muito mais complexa e cheguei a ter mesas de negociação com cinquenta pessoas.”
Estudou para o disputado concurso público focando também no conteúdo que poderia não cair. “Não tem fórmula mágica: destrinchei todos os itens do edital do concurso, busquei a literatura recomendada em cada assunto e fiz um curso de preparação” , lembra. “Mas sempre tem uma questão improvável, que diferencia os candidatos. Para o óbvio, todo mundo se prepara.”
Papeis e mais papeis
Passou a integrar o quadro do BNDES um ano depois de formado, em 2012. Foi alocado no departamento de gás e petróleo, onde financiava plataformas. “Há a plataforma de petróleo e os navios que a suprem com alimentos, âncoras, dutos submarinos. O que eu fazia era financiar a construção tanto dos navios quanto das plataformas de perfuração” , conta.
Por estar no setor público, Filipe precisou se acostumar com o controle rígido exigido pelas políticas de transparência. Além de auditorias internas e externas – que também existem no setor privado –, é preciso estar preparado para apresentar seus papeis prontamente ao Tribunal de Contas da União e à Controladoria-Geral da União, além de explicar decisões para a imprensa e para a sociedade.
Não foi parar ali por acaso. O setor naval crescia no portfólio do banco desde 2003, quando o governo federal passou financiar mais armadores e estaleiros nacionais. Depois que as bacias de pré-sal foram descobertas no Brasil, em 2006, o quadro de investimentos se intensificou.
“Você está sendo auditado praticamente o tempo todo por todo mundo, o que gera uma burocracia muito grande” , fala. “Por mais simples que seja o processo, ele precisa ser registrado e aprovado por posições hierárquicas altas e passar por comitês. Tudo precisa ser previamente justificado.”
Em seu segundo ano de BNDES, Filipe começou a atuar em projeto específico e de grande escala: o financiamento de uma grande empresa de construção naval, diretamente envolvida com a exploração do pré-sal. Apesar de dois anos de trabalho e um apoio de bilhões por parte do banco, ele não conseguiu ver o projeto se concretizar por motivos externos, mas vê a época como um momento de grande crescimento profissional.
É uma posição complexa para quem faz investimentos financeiros, mas também instigante. “Apesar de toda a burocracia, você encontra a maioria das pessoas muito motivadas para fazer um trabalho excelente.”
Troca Quando o projeto no setor naval se encerrou, Filipe voltou ao financiamento de navios de plataforma. Um pouco desmotivado, pediu para mudar para o departamento de renda variável e atuar no mercado de capitais, onde está atualmente.
“Era uma modalidade de project financing, ou financiamento de projeto, em que você monta toda a estrutura de garantia e de metas baseada no projeto propriamente dito e não na empresa em si – é o contrário de um financiamento corporativo”, explica.
(Além de ter acesso à mobilidade interna, funcionários do banco podem crescer concorrendo a promoções anuais ou buscando cargos de confiança, que são limitados e envolvem, entre outras responsabilidades, representar o BNDES junto a outros bancos e instituições.)
Na prática, significava analisar muitos contratos complexos e customizados, além de manter contato com outros bancos e agentes do mundo inteiro. 16
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No começo de 2016, ele passou a acompanhar as participações estratégicas do BNDES através da subsidiária BNDESPAR. Aqui, o banco entra como sócio e visa apoiar o desenvolvimento, consolidação e capitalização de empresas brasileiras nas mais diversas áreas. “É uma visão completamente diferente”, resume. “A visão do credor vira a visão do sócio: muda da busca pela minimização de riscos para a busca por riscos controlados com retorno.”
Num setor muito regulado como o elétrico, ele estuda continuamente o regulamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mecanismos de leilão e regras de tarifa, entre outras coisas. Está aprendendo. “Meu gerente recomenda leituras de livros e artigos, que estudemos a estrutura do setor e estratégia dos concorrentes. Tudo isso para que na hora que fizermos as propostas de ação para a diretoria elas sejam mais embasadas.”
Filipe entrou acompanhando empresas de infraestrutura. Depois da troca na presidência, quando as prioridades e a diretoria do banco mudaram, foi transferido para o setor elétrico. Hoje, acompanha três empresas.
Gente boa Durante a crise política brasileira, o banco passou a enfrentar desconfiança por parte da sociedade, assim como muitas outras instituições do setor público. Com seus quase cinco anos de casa, Filipe não hesita em defender os sistemas de segurança criados para coibir o mal uso de recursos públicos.
Seu trabalho começa após as empresas já terem sido selecionadas pelo braço de investimentos do banco. É quando se inicia o processo de acompanhamento da participação no capital da empresa: “Muitas vezes temos um acordo de acionistas e, nesses casos, precisamos aprovar mudanças, como uma reestruturação ou a venda de uma subsidiária. É legal fazer parte desse processo”.
“Eu de fato acredito que os processos do banco são muito rígidos e passam por uma série de alçadas, comitês e colegiados”, tranquiliza. “É muito difícil ter um furo nesse sistema, que já tem uma série de redundâncias.” O impacto do escrutínio externo adicional transparece atualmente no crescimento de exigências por órgãos como o TCU e o CGU, que exigem montanhas de documentos para analisar. “Ao comparar meus dois primeiros anos com os dois anos seguintes, vejo que cheguei a passar 30% do meu tempo respondendo esse tipo de questionamento” , calcula. É uma das poucas mudanças na rotina.
Na rotina estão análises das pautas diárias, criação e encaminhamento de relatórios propondo votos e muito estudo. Ele exemplifica: se uma empresa decide adquirir outra, encaminha essa decisão para seus acionistas e espera os votos. Filipe então atualiza o negócio, disseca o fluxo de caixa, os custos e as dívidas e incorpora os achados no valuation, o processo de estimar o q uanto vale uma companhia.
O cerne da preocupação social – o que fazer e mudar para criar um Brasil melhor –, no entanto, é compartilhado por ele.
“Boa parte do trabalho é acompanhar as notificações e as ordens do dia de conselhos e assembleias, fazer o valuation dessas empresas e a modelagem financeira para calcular qual seria o valor justo das ações dessa empresa” , resume.
“Um dos principais motivos que me trouxe até aqui foi gostar de finanças e acreditar no país”, fala. “Queria contribuir de alguma forma para seu desenvolvimento e, apesar de estarmos num momento que não é muito otimista, sei que temos muitos recursos naturais, muita gente inteligente e tudo pra dar certo.” 17
Textos Ana Pinho Rafael Carvalho
Edição Rafael Carvalho
Design Aaron Saiki Danilo de Paulo Renata Monteiro
Imagens Creative Commons
Fundação Estudar, 2017
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