EAGLETON, Terry - Ideologia. Fichamento

May 7, 2019 | Author: Camela Maria Von Chops | Category: Ideologies, Karl Marx, Antonio Gramsci, Sociology, Louis Althusser
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Ideologia, Terry Terry Eagleton Eaglet on

São Paulo: Boitempo e Unesp, 1997 Introdução:

-Contemp -Contemporan oraneida eidade: de: manifest manifestam-s am-se e ideologia ideologiass novas, novas, porém porém é decretad decretada a a falência falência do conceito de ideologia. Porque? -O “fim da ideologia” claramente de direita, fabricado no pós-IIGM x O mundo “pós-ideológico “pós-ideológico”” da pós-modernidade, fundado em argumentos como o fim da representação e impossibilidade de existência da verdade (p. 11 e 12). -“O estudo da ideologia é, entre outras coisas, uma exame das formas pelas quais as pessoas podem chegar investir em sua própria infelicidade.” infelicidade.” (p.13) Capítulo 01 – O que é Ideologia?

-Uma série de definições divergentes formam uma malha de fios conceituais. Na página 15/16 o autor lista uma série de definições para o termo. -Ponto de cisão: ideias gerais de um grupo social ou ideias do grupo dominante com o objetivo de manutenção da ordem? (p.16) -No marxismo, dividem-se aqueles que pensam a ideologia como falsa consciência, ilusão e mistificação, e aqueles que estão mais focados na função social das ideias. (p.19) -No uso comum: um discurso ideológico é aquele que avalia uma questão segundo uma estrut estrutura ura rígida rígida de ideias ideias preco preconc ncebi ebida dass que que distor distorce ce a compr compreen eensão são.. Essa Essa é também também a definiçã definição o de Durkheim. Poré Porém, m, hoje hoje concor concordam damos os que que não não exist existe e pensam pensament ento o livre livre de pressupostos! Mas então seria todo pensamento e ato de fala ideologia ? Ou só aqueles que são supostamente mais duros e fechados?(p.17) -De senso comum para uma sociologia elaborada: na guerra fria o comunismo soviético é pura ideologia, enquanto o liberalismo é apenas uma adaptação a realidade, o pragmatismo (p.18). -Para além da crença, a ideologia deve fazer referencia a questões de poder. Que tipo de referencia? Para alguns autores, a ideologia atua no sentido de legitimar o poder de uma classe ou um grupo social dominante. -Citando  John B. Thompson: “Est “Estud udar ar a ideo ideolo logi gia a é estu estuda darr os modo modoss pelo peloss quai quaiss o significado (ou a significação) contribui para manter as relações de dominação”. (Studies in the theory of ideology). -Métodos de legitimar-se: promovendo crenças e valores, naturalizando e universalizando tais crenç crenças as de forma forma a torna torna-la -lass apar aparent entem ement ente e inevi inevitáv táveis eis,, denegr denegrind indo o ideias ideias que que possa possam m desafia-las, excluindo excluindo formas rivais de pensamento pensamento e obscurecendo obscurecendo a realidade realidade social de modo a favorece-la. (p.19) -Problema: como ficam o sistema de ideias contestatórias? Não seriam também ideologia? Para liberais, como Minogue, justo elas são as ideológicas. Diz ele que “As ideologias podem ser descritas em termos de uma hostilidade comum a modernidade: ao liberalismo na política, ao individualismo na prática social e ao mercado na economia”. (p.19) -Solução -Solução via Salinguer: “conj “conjun unto to de ideia ideiass pelas pelas quais quais homen homenss postu postulam lam,, expli explica cam m e  justificam os fins e os meios da ação social organizada, organizada, e especialmente especialmente da ação política, qualquer que seja o objetivo dessa ação, se preservai, corrigir, extirpar ou reconstruir uma cert certa a orde ordem m soci social al”. ”. Solu Soluçã ção o que, que, no enta entant nto, o, apag apaga a as ques questõ tões es de mist mistif ific icaç ação ão e escondimento dos conflitos socais... (p.20) -Nova problemática: Foucault e o poder que está difuso e em todo o tecido social. A partir dessa constatação os foucautianos abandonaram o conceito de ideologia, substituindo-o pelo de discurso. O problema é que “qualquer palavra que abranja tudo perde seu valor e degenera em um som vazio”.. Quem diz “tudo é ideológico” ou “tudo é político” acaba por gerar o efeito contrário do desejado, tira a forca dos termos, o que é conveniente pra ordem dominante. Isso

não implica negar a pulverização do poder, tal como postulava Focault. -Não se pode dizer que um fragmento de texto seja ideológico quando o isolamos de seu contexto. Não que não existam linguagem ideológicas específicas, tais como o léxico característico do fascismo, mas o que importa é a estratégia da fala: quem disse, como disse, quando disse, de que modo, para quem..etc. (p.22). -O discurso ideológico seria então aquele dotado de interesse? Ora, mas interesse também é um termo que foi esvaziado por sua amplitude. Nenhum ato é desinteressado... desde amarrar os cadarços a derrubar um governo? (p.23) -Mesmo entre os marxistas mais ortodoxos, cai por terra a ideia de falsa consciência, pois começa a soar ridícula e anti-democrática a noção da existência de seu oposto. (p.24) -Política X Ideologia – dizer que “a Inglaterra é uma monarquia constitucional” é uma afirmação política mas não necessariamente ideológica. Porém, se eu digo que isso é bom, aí sim é ideológico, pois estou levando em conta que alguém ache ruim. A política está no campo de disputa de poder, enquanto a ideologia entra na batalha do modo pelo qual esses processos de poder ficam presos no reino dos significados. -A ideia de falsa consciência implicaria crer na total incapacidade crítica das massas, um pensamento conservador. Há de ter algo a mais do que mentira num discurso ideológico. Em relação a doutrinas mágicas ou religiosas, não podemos afirmar seu completo vazio, mas admitir que “elas codificam, ainda que de maneira mistificada, necessidades e desejos genuínos”. (p.25) -”Como lembra Jon Elster, as ideologias dominantes podem moldar ativamente as necessidades e os desejos daqueles a quem elas submetem; mas devem também comprometer-se, de maneira significativa, com as necessidades desejos que as pessoas já tem, captar esperanças e carências genuínas, refleti-las em seu idioma próprio e específico e retorna-las a seus sujeitos de modo a converterem-se em ideologias plausíveis e atraentes. Devem ser “reais” o bastante para propiciar a base sobre a qual os indivíduos possam moldar um identidade coerente, devem fornecer motivações sólidas para a ação efetiva, e devem empenhar-se o minimo que seja, para explicar suas contradições e incoerências mais flagrantes.(...) Qualquer ideologia dominante falhasse por completo em harmonizar-se com a experiencia vivenciada por seus sujeitos seria extremamente vulnerável.” (p.26/27) - por ex. A contradição de alta produtividade coma existência de pobres e ricos deve ser explicada a partir do princípio da meritocracia, do esforço e tracos psicológicos do empreendedor etc.. -Porém há sim princípios totalmente falsos como pressupostos ideológicos (ex: judeus são uma raca inferior). Então, como afirmar ou negar o princípio da falsa consciência? -Com conteúdo verdadeiro ou falso, “o enunciado é ideológico quando está carregado de um motivo ulterior estritamente relacionado com a legitimação de certos interesses em uma luta do poder” (p.28). Por exemplo se um porta-voz da diretoria diz durante uma greve que “as pessoas morrerão nas ruas sem ambulâncias”. -Se se toma em consideração que um enunciado pode conter veracidade em um nível, porém ser falso em um outro nível, resolve-se o problema da falsa consciência (p.28). -Althusser: “uma organização específica de práticas significantes que vão constituir os seres humanos como sujeitos sociais e que produzem relações vivenciadas mediante as quais tais sujeitos vinculam-se ás relações de produção dominantes em uma sociedade. Enquanto termo, abrange todas as diversas modalidades políticas de tais relações, desde a identificação com o poder dominante até a atitude de oposição a ele.” Para Althusser, não há uma implicação da oposição verdadeiro/falso. Para o autor, Althusser posiciona a ideologia a uma relação emotiva do sujeito com o mundo que experiência. Mas ele não é subjetivista, os anunciados são afetivos, mas não particulares! (p. 30/31) -Paul Hirst (reduzindo questões epistemológicas as ontológicas) – não há como falar em falsa consciência, pois a ideologia é sempre real, pois suas consequências são materiais. (p.33)

-Denys Turner: “Visto que, portanto, parece não haver espaço epistêmico entre o que é socialmente vivido e as ideias sociais a cerca disso, parece não haver lugar para uma relação falsa entre os dois”. Um ato de “contradição entre um significado transmitido explicitamente e um significado transmitido pelo próprio transmitir” que é, segundo Turner a estrutura essencial de toda a ideologia. (p.35) – é também apoio da tese “antifalsa consciência”. -”Podemos notar que um conjunto de crenças pode ser falso mas racional, no sentido de ser internamente coerente, consistente com as evidencias disponíveis e firmemente estabelecido em fundamentos que parecem plausíveis. O fato de a ideologia não ter, na origem, nada a ver com a razão, não nos autoriza a equipara-lá à irracionalidade.” (p.36) -P. 36 – Inicia-se uma síntese no último parágrafo! 1) A ideologia não é uma ilusão infundada, mas uma forma material ativa que precisa ter ao menos sentido cognitivo para ajudar a organizar a vida social. Algumas proposições que ela apresenta são realmente verdadeiras, mas essas preposições podem não precisam ser negados pelos que entendem que a ideologia envolver com frequência operações de distorção. 2) Ainda que a ideologia seja, em grande parte, uma questão de “relações vivenciada”, isso não exclui que em algumas situações sejam fundadas em pressupostos eminentemente falsos. Ex: racismo e sexismo. 3) É possível que uma ordem dominante faca enunciações ideológicas, no sentido de que servem para manter seu poder, mas que de modo algum sejam falsas. 4) É possível que discursos de oposição sejam também envolvidos em distorções. Ex: “Operários, revoltem-se! Vocês não tem nada a perder”, sendo que sim, podemos perder até nossas vidas. 4)Nem toda legitimação envolve ilusão. Alguém poderia entender perfeitamente a ordem exploratória do capitalismo e mesmo assim acreditar que tal ordem é a melhor. 5) Há também aqueles cujo compromisso com a manutenção da ordem se dá pelo cinismo (cita-se aqui Peter Sloterdijk ). Mas para o autor, a maioria das pessoas não é cínica e precisa acreditar que estão, ao menos, no caminho de maior justiça futura. -Pg. 38 a 40: Seis maneiras de entender a ideologia: 1° - Próximo a noção de cultura, refere-se de forma ampla ao conjunto de ideias, crenças e valores na vida social. (um conceito epistemologicamente neutro) 2° - Ideias e crenças (verdadeiras ou falsas) que simbolizam as condições e experiencias de vida de m grupo ou classe específico, socialmente significativos, algo como uma visão do mundo (ainda que esse último termo se aplique a questões mais específicas ou ontológicas). 3° - Um campo discursivo no qual os poderes sociais que se autopromovem conflitam e colidem acerca de questões centrais para a reprodução do poder social como um todo. Ou seja, é um discurso “orientado para a ação”, em alguns termos com mais compromisso com o efeito do que com sua base empírica. 4° - Ideologias de um grupo dominante para unificar uma formação social de maneira conveniente para seus governantes, garantindo a cumplicidade entre classes e grupos subordinados. 5° - Ideias e crenças que ajudam a legitimar os interesses de um grupo ou classe dominante, mediante sobretudo a distorção e a dissimulação. 6° - Enfase nas crenças falsas ou ilusórias, mas que não são oriundas do interesses da classe dominante, mas da estrutura material do conjunto da sociedade em geral.(ex: teoria de Marx sobre o fetichismo da mercadoria) Capítulo 2 – Estratégias Ideológicas

Relação entre o material e o consciente: será a ideologia, as ideias, assim tao importante? -É possível que haja domínio sem convencimento ideológico (ex. Margaret Tatcher) e talvez isso seja quase sempre certo, visto que os governos são em geral “mais temidos que admirado”. Pode ser que também, por exemplo, consciente dos problemas do capitalismo e convencido de que há outras alternativas, um sujeito resolva permanecer politicamente inativo, visto que momentaneamente ele analisa que a forma como está inserido no sistema é ainda vantajosa e que a vida como militante não vale a pena. -A tese de alguns sociólogos ( Abercombrie, Hill e Turner) vieram a questionar a acentuação que foi dada pela esquerda, a partir da década de 70, a questão da ideologia. Para eles,

superestimou-se o poder da ideologia (inclusive dos meios de comunicação) e subestimou-se a autonomia das ideias das classes subalternas. Tal movida veio em reação ao economicismo anterior da esquerda. Esses autores defendem, sem negar a existência da ideologia, que o controle maior se dá via economia. Eagleton opõem esse pensamento ao da Escola de Frankfurt. (p.41 a 43). -Gramsci: a consciência dos oprimidos é um amalgama contraditório de valores absolvidos de seus governantes e noções que se originam, mais diretamente, de sua experiencia prática. -Outra argumentação que retira a importância da ideologia vem no espírito niilista de Baudrillard. A forma sobrepuja o conteúdo. O capitalismo se reproduz não por convencimento, mas por apatia. “É a ausência de significado, mais do que ele, o que nos mantem em nosso devido lugar”. “Os sujeitos achatados, depauperados e sem rosto dessa ordem social não estão a altura d do significado ideológico, nem tem necessidade dele. A política é uma questão mais de gerenciamento técnico e manipulação do que de de pregação ou doutrinação, de forma mais do que de conteúdo, uma vez mais é como se a máquina funcionasse sozinha, sem precisar fazer um desvio pela mente consciente”. Eagleton critica tal posicionamento, pois ele homogeniza uma condição de vazio, de ausencia de subjetividade. (p. 44 a 46). Será que o cidadão “dopado” de Baudrillard não despertaria para um piquete quando parte de uma demissão em massa? (p48 – crítica a visão pós modernista) -”Falsa consciência esclarecida” e o cinismo de Peter Sloterdijk  (p46): A contradicao entre o que se faz e o que se diz é racionalizada, pra em seguida ser ironicamente cosciente de si e adotar uma auto-ironia que serve a ideologia. Tal princípio escaparia da crítica a ideologia. -Slavoj Zizek: “A fórmula de Sloterdijk  para a falsa consciência esclarecida é “Eles sabem muito bem o que estão fazendo, mas mesmo assim continuam a faze-lo. Zizek, ao contrário, sugere um ajuste crucial: “Eles sabem que, em sua atividade, estão seguindo uma ilusão, mas ainda assim o fazem”. Em outras palavras, a ideologia não é apenas uma questão a respeito daquilo que penso acerca de uma situação; ela está de algum modo inscrita nessa mesma situação. De nada adianta lembrar a mim mesmo que eu sou contra o racismo quando me sento em um banco no parque onde se lê “só para brancos”; ao sentar nele, apoiei e perpetuei a ideologia racista. A ideologia, por assim dizer, está no banco, não em minha cabeça”(p47) -Tipologia esquemática de Raymond Geuss: definições descritivas, pejorativas e positivas do termo ideologia! (p49/50) – um resumo útil do que foi discutido até agora.. -Eu tenho acordo aqui: “o que as vezes se percebe como ideológico em uma forma de consciência não é o modo como ela ocorre, ou se é verdadeira ou não, mas o fato de funcionarem para legitimar uma ordem social injusta. Desse ponto de vista não é a origem das ideias que as faz ideológicas. Nem todas as ideias que se originam na classe dominante são necessariamente ideológicas; inversamente, uma classe dominante pode apoderar-se das ideias que germinaram em outro lugar e utilizá-las para seus propósitos. (…) Quando Marx e Engels comentaram em A ideologia alemã, que as ideias governantes de cada época são as ideias da classe dominante, é provável que tivessem aqui uma observação genérica..” de que essas ideias poderiam ter origem em qualquer parte contanto que entejam em poder da classe dominante (p.50). -Lenin: a ideia de “ideologia socialista” aproximada a da “consciência de classe”. (p.50) Caracterizações comuns ao conceito:  A ideologia é unificadora (p.50/52)

-Ela serve para promover certa coesão a uma classe, no entanto raramente são homogêneas. Elas são formações complexas, diferenciadas e com conflitos internos. O fato da ideologia dominante falar a partir de uma multiplicidade a reforça, porque assim ela não oferece nenhum alvo isolado ao seus inimigos. Além disso, como dito antes, para que se estabeleça é preciso que ela reconheça interesses e desejos das classes subalternas, ou seja, é preciso que ela reconheça o outro, o que lhe dá heterogeneidade. (p.51) Defendem um carácter unitário da ideologia Karls Manheim e Lucien Goldman, e sua complexidade e irregularidade Antonio Gramsci e Pierre Macherey, sendo esse último um definidor da invisibilidade e forma amorfa

dela. Nessa discussão a Escola de Frankfurt, especialmente Adorno e Marcuse nos oferecem um panorama bastante duro da ideologia, onde não há espaço fora da alienação, o que, levado as últimas consequências não permitiria nem mesmo a percepção da própria alienação e logo não permitiria o esclarecimento (ou seja, eles veem a ideologia tal como ela gostaria de ser). -Da mesma forma, para Michel Foucault não há nada fora do poder (mesmo que ele considere os atos de resistência).  A ideologia é um conjuntos de crenças orientadas para uma ação

-Isso é, ela deve ser efetiva tanto em termos práticos quanto teóricos. (p53) -Para Martin Salinger – ideologias possuem uma mistura de enunciados analíticos e descritivos junto a prescrições morais e técnicas. Vloshinov procura uma ruptura entre a distinção do mundo da ideologia como sistema rígido de ideias frente ao mundo da experiencia cotidiana, indeterminado e caótico. Essa divisão em si é ideologia. De quem é esse mundo indeterminado e caótico. Vloshinov fala em “ideologia comportamental”. Tal construção aparece de forma semelhante em Gramci (consciência prática X consciência oficial), Althusser (ideologias teóricas e ideologias em um estado práticos) e Bourdieu (habitus). Dessa interpretação da ideologia voltada a pratica social, deriva a ideia de seu carácter tendencioso.

 A ideologia é Racionalizante

-No entanto pode ser que ela não só “expresse” interesses social, como os racionalizem, mas nem todo discurso ideológico precisa passar por esse processo, talvez apenas aqueles cujos princípios sejam ao menos vergonhosos ou em crise de legitimidade. - “Desse ponto de vista as ideologias podem ser tidas como tentativas de fornecer explicações e justificativas plausíveis para comportamentos sociais que, de outro modo, poderiam ser objetos de críticas.” (p56/7) “Estudar uma formação ideológica 'e, portanto, entre outras coisas, examinar o complexo conjunto de ligações ou mediações entre seus níveis mais e menos articulados” (p.55)  A ideologia é Legitimadora (p58 a 60)

-Observar a diferença entre uma aceitação normativa e outra pragmática!  A ideologia é Universalizante

-Não reconhece diferentes tempos, espaços, classes... Diria Althusser que ela “não tem exterior” (p. 61). Só vendo de fora pode-se reconhecer suas fronteiras. -A ideia clássica da universalização está bem colocada em A Ideologia Alemã ( Marx & Engels) , que a classe dominante coloca suas ideias como de interesse de todos, as únicas racionais e válidas. -Isso não quer dizer que não absolva interesses de outras classes: “Para alguns teóricos marxistas, é só nesse momento que a ideologia propriamente dita se estabelece: segundo essa visão, a consciência de classe não é ideológica enquanto uma classe ainda se encontra em sua fase revolucionaria, mas só quando ela precisa esconder, mais tarde, as contradições entre seus interesses particulares e aqueles de toda a sociedade. Em resuma, uma falsa universalização passa a ser necessária, já que a verdadeira fracassou.” (p.60) -Porém, não é claro que os interesses de libertação da mulher são comuns a todos? Então a questão não é como o grupo se promove para outros, mas também como é para si mesmo. Ou seja, “se meus interesses, para florescerem, tem de levar em conta os seus, então serão redefinidos com base nas suas próprias necessidades, deixando assim de identificar-se consigo mesmo”, mas a longo prazo sempre será um só interesse! Ex. Estado. (p.61).

 A ideologia é Naturalizante

Isso tornar-se auto-evidente, ou ainda, confundir-se com o senso comum.. a ponto do “é claro” ou “nem presava dizer”. Pierre Bourdieu chamaria isso de doxa. Um perfeito entre a ideologia e a realidade, que fecha a brecha pela qual a crítica passaria. Devem trabalhar nessa perspectiva Georg Luckács e Roland Barthes. “Dessa perspectiva, uma ideologia dominante não tanto combate as ideias alternativas quanto as empurra para além das próprias fronteiras do imaginável. As ideologias existem porque há coisas sobre as quais, a todo custo, não se deve pensar, muito menos falar” (p.62). A naturalização, tal como a universalização, é desistoricizante. Não que Marx e outros teóricos de esquerda não acreditassem em uma natureza humana, mas existe uma concepção reacionária de natureza imutável.. Althusser dizia que “a ideologia nunca diz: eu sou ideológica!”. Mas será esse nunca um exagero? Não há momentos que se diz “Desculpem, eu sei que sou extremamente sexista, mas

não suporto ver uma mulher de calcas”. Antecipa-se a crítica de forma cínica e irônica. (p.64) Capítulo 3 – Do Iluminismo à II Internacional

-O iluminismo e as origens da Ideologia como estudo científico das ideias humanas, representava um combate do racionalismo contra o antigo regime. No entanto, pode-se arriscar dizer que, se tratava de “uma crítica ideológica da ideologia”. Pois, “Ao iluminar o obscurantismo da velha ordem, lançou sobre a sociedade uma luz ofuscante, que cegou homens e mulheres para a fontes sombrias dessa claridade” (p66) Pois a análise em si, parece transcendental, a razão é inquestionável. -Antonie Destutt De Tracy: a ideologia, faz parte da zoologia, é uma região da ciência que estuda o animal humano. O projeto (burgues) de tal estudiosos se basiava na ideia de que se homens e mulheres deveriam guiar a si mesmos, então era preciso antes conhecer as leis de sua natureza. -Napoleão X De Tracy: antes em apoio aos ideólogos, Napoleão é o primeiro a usar o termo de forma pejorativa. Para o autor, trava-se uma batalha clássica entre o pragmatista político e o intelectual radical, o neopragmatismo e a esquerda política, o humanismo e a ciências sociais. (p 69) -”Assim, o surgimento do conceito de ideologia não é um mero capítulo na história das ideias. Ao contrário, está intimamente relacionado com a luta revolucionária e figura, desde início, como uma arma teórica da guerra de classes” (p70) -O termo deixa de denotar um cético materialismo científico, para se referir a uma esfera de ideias abstratas e desconexas – significado adotado por Marx e Engels. Marx e a Ideologia:

-A ideia de ideologia aparece explicitamente em Ideologia Alemã, mas também pode ser buscada em outras obras como nos Manuscritos e no Capital. -Em IA joga-se contra os hegelianos, para os quais as ideias habitam um universo próprio, desistoricizado. A ideologia está ligada a ideia de reificação, pois se os fenômenos sociais deixam de ser reconhecidos como resultado de projetos humanos, é compreensível que sejam percebidos como coisas materiais, admitindo-se sua existência como inevitável. (p71) -Marx e Engels inauguram a interpretação moderna do conceito! - “Não é consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência.” Ou seja, não se pode mudar a sociedade combatendo-se ideias falsas com verdadeiras: “Além disso, não é que a crítica da ideologia proponha substituir a falsidade por alguma coisa verdadeira. Em certo sentido, essa crítica conserva algo de uma estrutura racionalista ou iluminista: a verdade, ou teoria, lançará luz sobre as concepções falsas. Mas é anti-racionalista na medida em que o que ela propõe, então, não é um conjunto de concepções verdadeiras, mas apenas a tese de que todas as ideias, verdadeiras ou falsas, baseiam-se na atividade prática social, mais particularmente, nas contradições que essa atividade gera.” (p72) -Problema da ID: a pesar da inversão, mantém a oposição entre “vida real” e “consciência”. Como se is significados são constitutivos – e não secundários – da própria atividade humana? (p73). O que talvez tivessem em mente é o evento da divisão entre trabalho material e manual, que permite a ilusão dessa separação (p74). Porém, nenhuma ação é isenta de suposições teóricas. Portanto, a consciente está ligada ao processo da vida. (p75) -Marx e Engels parecem percebem que os humanos com frequência se iludem quanto a significação de suas próprias acoes. (p75) A ideologia de ID é como algo sobrenatural, cheia de valores que cegam as pessoas. Ela não é algo normativo, como as técnicas disciplinares. Porém, é questionável se um regime conseguiria reproduzir-se por meio de ideologia tao generalizada e negativa. (p76)

-Porém não basta serem ilusórias. É preciso, postula a IA, que estejam a serviço de propósitos políticos objetáveis. -Duas definições do termo em IA: política X epistemológica. As ideias são ideológicas porque negam suas raízes na vida social com efeitos politicamente opressivos; ou por serem expressões diretas de interesses materiais, instrumento da guerra de classes. (p78/9) -Estrutura X Superestrutura: será a superestrutura (e com ela a ideologia) um fenômeno de funcionalidade histórica (ou seja, que não precisaria, por exemplo, existir no socialismo) ou ela é tao natural para sociedades como respirar? (p.80) -O que Marx quer dizer é que as superestruturas não podem ser catalizadoras de mudanças sociais. Que a produção material é primária não num sentido determinista, mas que constitui a principal narrativa da história até o presente. (p81) -A “superestrutura” é um termo relacional: uma instituição pode em um momento se comportar como tal e em outro não. Ex: se você ler um texto contanto o número de pontos e vírgulas nele é uma coisa, se busca suas conexões com uma ideologia dominante, aí sim, poderá dizer que o está tratando superestruturalmente. (p81) Em resumo, até agora nos foi apresentado três conceitos de ideologia via Marx (p82): 1) Crenças ilusórias ou socialmente desvinculadas que se veem como fundamento da história e que, distraindo humanos de suas condições sociais efetivas, servem para sustentar um poder político opressivo. 2) Ideias que expressam os interesses materiais da classe social dominante e que são úteis ao seu domínio. 3) todas as formas conceptuais em que é travada a luta de classes como um todo, o que presumivelmente, incluiria a consciência válida das forcas politicamente revolucionárias. A leitura do fetichismo da mercadoria, em O Capital, complica ainda mais a coisa: -O fetichismo (as relações entre homens aparecem como aparência de relação entre coisas, entre mercadorias) fragmenta o processo de totalidade. O fato da vida social ser dominada por entidades inanimadas empresta-se um ar de naturalidade e inevitabilidade: a sociedade não é mais vista como construto humano, logo, não pode ser alterada pelos mesmos. (p82/3) -Em relação a IA: aqui a ideologia se desloca da superestrutura para a base, não é uma questão de imaginação ou consciência, mas está ancorada nas relacres cotidianas do capitalismo. (p83). A questão seria então sair da expressão fenomenológica para a sua essência: o lucro X mais-valia, a competição X determinação do valor pelo tempo do trabalho, a relação de mercadorias X a relação social, o salário X o trabalho necessário e o excedente. (p. 83 citando Jorge Larrain). “A vantagem dessa nova teoria da ideologia diante do argumento defendido em IA é certamente clara. Enquanto a ideologia na obra inicial surgia como especulação idealista, ela agora recebe uma fundamentação firme nas práticas materiais da sociedade burguesa. Não é mais inteiramente redutível à falsa consciência: a ideia de falsidade persiste na noção de aparências enganadoras, mas estas são menos ficções da mente que efeitos estruturais do capitalismo. Se a realidade capitalista abrange sua própria falsidade, então essa falsidade deve, de certa maneira, ser real. E há efeitos ideológicos, como o fetichismo da mercadoria, que não são, de maneira nenhuma irreais, por mais que possam envolver mistificações. Podese sentir contudo, que, se a IA corre o risco de relegar formas ideológicas ao domínio da irrealidade, a obra posterior de Marx coloca-as desconfortavelmente muito perto da realidade.” (p. 85) -Não seria, no entanto, uma ideia muito economicista? Você pode achar as origens da ideologia patriarcado indo ao modo de produção? Outra questão: estão todas as classes indiferentemente sob o domínio do fetichismo? (p. 85) -Em IA todo pensamento é socialmente determinado, mas a ideologia é o pensamento tao socialmente determinado a ponto de negar seu próprio determinante. (86/7). Lenin vai dizer que a única escolha possível é entre a ideologia burguesa e a socialista. Logo, a ideologia torna-se aqui idêntica e não oposta a certo socialismo científico. Como no iluminismo, o

“ideólogo” não é mais alguém chafurdando uma falsa consciência, mas o analista científico das leis fundamentais da sociedade e de suas formações sociais (p.87). Mais uma vez: sentido epistemológico X político do termo: Ideologia como ilusão ou como arma de uma classe social? No sentido político o que importa não é o caráter das crenças em questão, mas sua função e talvez sua origem. Não há motivo para que sejam necessariamente falsas. A “falsidade” em questão diz respeito ao próprio domínio de classes, ela se deslocou de seu sentido epistemológico para o sentido ético. Feito isso, abre-se caminho para que a definição caminhe para a esquerda! É o que fez Lenin. (p. 87) -Modifica-se também seu antônimo: em IA o oposto de ideologia pode ser enxergar a realidade tal como ela lé. Em O Capital essa realidade é traidora e há necessidade de um discurso especial, a ciência, para penetrar suas formas fenomenais! (p.87) Capítulo 4 – De Lukács a Gramsci Lukács:

-As ideias não podem ser falsas ou infiéis a seu objeto se são parte constitutiva pela. Ou sejam não há espaço entre realidade e a consciência. (p89) -“É verdade que a realidade é o critério para a correção do pensamento. Mas a realidade não é, ela se torna – e, para tornar-se, é necessária a participação do pensamento.” (em História e Consciência de Classe). Pensamento e existência não devem ser opostos em um modelo binário dual, ele são aspectos de um mesmo processo histórico e dialético real. (p90) -O ato de conhecer transforma o sujeito. Ao conhecer, já não sou o que era antes, tal qual o objeto não o é. (p90) -O oposto da ideologia é a totalidade! Toda forma de consciência de classe é ideológica.. porém algumas são mais que as outras. A burguesia é incapaz de compreender a estrutura da formação social como um todo por causa dos efeitos da reificação. (p90) A consciência de classe proletária necessita de uma compreensão do todo. É preciso estar em uma posição privilegiada para dispensar a totalidade, tal como fazem os teóricos relativistas. (p92) -”Assim, a barreira que converte a consciência de de classe da burguesia em 'falsa' consciência é objetiva; é a própria situação da classe. É o resultado objetivo da organização econômica e não é arbitrária, subjetiva ou psicológica” (idem). Temos aqui então a ideologia como “pensamento estruturalmente coagido”. Tal ideia aparece no 18 Brumário → o que faz com que certos políticos representem a pequena burguesia é “o fato de, em suas mentes, ultrapassarem os limites que a [pequena burguesia] não ultrapassa na vida”. (p99) -A ciência não é oposta a ideologia, mas sim uma de suas expressões. (p91) Luckács tem uma visão pessimista e romântica em relação a ela. (p98) -A racionalização de Weber + a mercadoria de Marx: “na sociedade capitalista, a forma de mercadoria permeia todo aspecto da vida social, assumindo a forma de uma ampla mecanização, quantificação e desumanização da experiência humana. A “totalidade” da sociedade é partida em muitas operações técnicas, especializadas, distintas, que, todas elas, passam a assumir uma vida própria semiautônoma e a dominar a existência humana quase como uma força natural. Técnicas puramente formais de calculabilidade impregnam cada região da sociedade, do trabalho na fábrica à burocracia política, do jornalismo ao judiciário, e as próprias ciências naturais são simplesmente mais uma instância de pensamento reificado. Assolado por um mundo opaco de objetos e instituições autônomas, o sujeito humano é rapidamente reduzido a um ser inerte, contemplativo, incapaz de reconhecer nesses produtor petrificados sia

própria prática criativa.” (p93) A ruptura estaria no momento de autorreconhecimento. - Para Hegel a verdade está no todo dinâmico. (p93) -Para Luckács, como para todos marxistas historicistas, temos a ideia da classe social como sujeito. É como se elas tivessem uma “visão de mundo” peculiar, que expressasse suas condições materiais de existência. Para que tão visão se torne dominação ideológica, é preciso que ela imponha sua marca na formação social como um todo. (p95) Porém, esse marxismo concebe uma relação muito orgânica entre a classe e sua visão do mundo, apagando suas contradições internas → “A ideologia é um domínio de contestação e negociação, em que há um tráfego intenso e constante: significados e valores são roubados, transformados, recuperados, apropriados através das fronteiras de diferentes classes e grupos, cedidos, recuperados, reinfletidos”. (p96) -Luckács não ignora os modos como a consciência da classe operária é “contaminada” pela de seus governantes. Há duas teorias de ideologia aqui → “uma que deriva do fetichismo da mercadoria, outra que deriva de uma visão historicista da ideologia como visão de mundo de um sujeito de classe, No que diz respeito ao proletariado, essas duas concepções parecem corresponder respectivamente aos seus estados de ser, “normal” e revolucionário”. (p97) -A ideologia só pode ser produto do capitalismo ou da modernidade: “ o conceito de ideologia surgiu no pont histórico em que os sistemas de idéias primeiro perceberam sua própria parcialidade, e isso ocorreu quando essas ideias foram obrigadas a encontrar formas de discurso estranhas e alternativas (…) A autoridade entrincheirada de uma única visão de mundo é, consequentemente, minada pela própria natureza do capitalismo”, onde tudo o que é sólido, desmancha no ar.. (p100) Mannheim:

-Relativismo X relacionismo → o unilateralismo inevitável de qualquer ponto de vista pode ser corrigido sintetizando-o com seus rivais, constituindo uma totalidade sintética provisória. Ao fazer tal operação, o autor, via “sociologia do conhecimento” enfraquece o conceito de ideologia como estratégia de poder e retorna ao conceito iluminista (p 100-102). -Verdade = ideias adequadas a um estágio particular do desenvolvimento histórico. Ideologia = crença antiquada, conjunto de mitos obsoletos, desvinculados do real. Utopia = prematura e irreal, mas deve ser reservada como termo para as prefigurações conceptuais que realmente conseguem perceber uma nova ordem social. Ou seja, a ideologia é uma utopia fracassada! (p102) *nesse sentido, talvez os empreendedores façam ideologia (no sentido marxista) ao passo que se acreditem fazendo utopia (no sentido de Mannheim.. diria Foucault que a utopia não é posse da esquerda). Gramsci:

-Hegemonia X Ideologia → hegemonia designa a maneira pela qual um poder governante conquista o consentimento dos subjulgados a seu domínio, mesmo que Gramsci também use o termo ocasionalmente para designar o consentimento junto a coerção. Há uma diferença imediata> ideologias podem ser impostas a força (ex: Apartheid). Hegemonia inclui ideologia, mas é uma categoria mais ampla (p105). A ideologia refere-se especificamente ao nível da significação. - Gramsci associa a hegemonia com a sociedade civil. Como combater o que já é o senso comum? Lenin dizia que o início revolução na URSS foi mais fácil pela “falta de cultura” do proletariado. Pelo mesmo motivo, o desafio seria manter a revolução depois (p107). -”É com Gramsci que se efetua a transição crucial de ideologia como “sistema de ideias” como ideologia como prática social vivida, habitual – que então deve abranger as dimensões inconscientes, inarticuladas da experiência social, além das instituições”. Raymond Williams diz que em relação a ideia de ideologia, o conceito de hegemonia é mais dinâmico. Ela nunca está definitivamente ganha, terá de ser conquistada todo o dia. (p107)

-”Ideologia é um espectro inteiro de estratégias práticas pelas quais um poder dominante obtém o consentimento ao domínio daqueles que subjuga. Conquista-la é estabelecer liderança moral, política e intelectual na vida social, difundindo sua própria “visão de mundo” pelo tecido da sociedade como um todo, igualando assim, o próprio interesse com o da sociedade em geral.” (p107/8) -No capitalismo, o consentimento é mais importante e eficaz que a coerção direta: “Um deslocamento da coerção para o consentimento está implícito nas próprias condições materiais da sociedade de classe média. Como essa sociedade é composta por indivíduos “livres”, aparentemente autônomos, cada um perseguindo seus interesses provados, qualquer supervisão política centralizada desses sujeitos atomizados torna-se consideravelmente mais difícil de sustentar. Cada um deles deve, consequentemente, tornar-se sua própria sede de governo, cada um deve “internalizar” o poder, torna-lo espontaneamente seu e carregá-o consigo como um princípio inseparável de sua identidade.” (p108)

-Intelectuais orgânicos: todos os homens e mulheres são filósofps, no sentido que sua atividade prática envolve uma concepção do mundo. O papel do intelectual é dar forma e coesão, unindo essa concepção em teoria e pática. (p110) Seu oposto é o intelectual tradicional, que se acredita independente e fora da vida social (p111). Analogia ao conceito de ideologia → ideias que se desprenderam da realidade ou ideias a serviço de uma classe? (p112) -Senso comum: um amalgama disperso e contraditório que geralmente é reacionário. Isso não quer dizer rejeitar o conhecimento popular, mas sim selecionar nele o que há de mais progressista. O intelectual orgânico deve fazer o vínculo entre teoria e ideologia, criando uma passagem entre a experiência popular e análise política. Figura-se aqui um sentido positivo de ideologia.(p111) -Gramsci, Luckács e Goldman: a realidade é historicamente variável, relativa a consciência da classe social mais progressista de uma época particular. -Crítica de Nicos Poulantaz → o marxismo historicista comete o erro idealista de crer que uma ideologia dominante é que assegura a unidade da sociedade, sendo que ela mais a reflete do que a constitui. (p113) Capítulo 5 – De Adorno a Bourdieu Adorno: -A ideia de domínio do valor-de-troca sobre o valor-de-uso migra para a superestrutura → Na política todos são abstratamente iguais como votantes e cidadãos, mas essa equivalência serve para mascarar suas desigualdades no âmbito da sociedade civil. Todos são iguais perante a lei, que em última análise, está a favor dos proprietários. Nessa equivalência encontra-se o segredo da ideologia para Adorno: “A troca de mercadorias efetua uma equação entre coisas que são, na verdade, incomensuráveis, e, para Adorno, o mesmo ocorre com o pensamento ideológico”. Ele se revolta perante a alteridade. (p115) -Ideologia é uma forma de “pensamento de identidade”, a identidade é sua forma primal. A ideologia transmuta a singularidade das coisas em mero simulacro de si ou, em um ato de exclusão, a expulsa para além das fronteiras. Ela homogeniza, iguala fenômenos distintos. A solução é uma “dialética negativa” que se esforça para incluir no pensamento aquilo que é heterogêneo a ele. Adorno diz que → “A reconciliação libertaria o não-identico, livra-lo-ia da coerção (…) abriria o caminho para a multiplicidade de coisas diferentes e despiria a dialética de seu poder sobre elas”. (citando Dialética Negativa em p166) -Marcuse: “A ideologia, em resumo, é um sistema “totalitário” que geriu e processou todos os conflitos sociais até privá-los de existência”. (p117) -Crítica a Frankfurt: boa parte dos autores são refugiados do nazismo.. por isso a persistência na ideia de que a ideologia é aquele que expulsa o que é heterogêneo. O que dizer então do humanismo liberal, que convive tão bem com a pluralidade, a relatividade cultural?

Heterogeneidade não são benefícios políticos absolutos independentemente de seu conteúdo social concreto. (p117) Habermas: -O domínio se escreve no interior de nossa linguagem, distorcendo nossa comunicação. Quando sistematicamente distorcida, se apresenta como normalidade. No caso de uma ideologia bem sucedida, fica difícil pensar fora dos seus próprios termos. (p118) -A situação ideal seria um discurso livre de dominação. (p119). -É um autor racionalista? Sim, porque acredita que um debate livre de dominação chegará a um termo comum via argumentação. Não, porque não acredita em conhecimento desinteressado. Ao contrário, o interesse é amigo do conhecimento (p120). Uma modalidade de racionalidade interessada é a “crítica emancipatória”, que se pela auto-reflexão coletiva...como em Luckács! Habermas X Freud: -O recalcamento: instintos frustrados pelas instituições, que lhes oferecem um sistema de valores de outro tipo para consolar e recompensar os indivíduos. Esses sistemas de valores servem para legtimar a ordem social, canalizando a dissidência potencial em formas ilusórias. Para Freud, como Habermas, tais visões idealizadas não são apenas ilusões, elas emprestam voz a desejos genuínos e, assim, escondem um âmago utópico. (p121) -Assim como o neurótico pode negar um desejo que manifesta de forma simbólica no corpo, uma classe dominante pode dizer-se a favor da liberdade apesar de obstrui-la na prática. A psicanálise é como a crítica da ideologia para o indivíduo. (p121)

-Feud e a Ideologia Alemã: se os sonhos ocultam motivações inconscientes em roupagem simbólicas assim também fazem os textos ideológicos. A questão então é explicar não os “falseamentos”, mas forças em funcionamento (p122): “As ideologias não podem ser resumidas a disfarces. A ideologia de classe média de liberdade e autonomia individual não é uma mera ficção: pelo contrário, significou em seu tempo uma vitória política real sobre um feudalismo brutalmente repressivo. Ao mesmo tempo, porém, serve para mascarar a opressividade genuína da sociedade burguesa. A “verdade” de tal ideologia, como no sintoma neurótico, não se encontra na revelação nem no ocultamento apenas, mas na unidade contraditória que a compõem” (p122/3) -As “contradições ideológicas” refletem contradições reais? A exemplo: entre a liberdade burguesa e seus efeitos opressivos: “também se pode dizer que o discurso ideológico da liberdade burguesa é contraditório, mas isso não exatamente porque reproduz a contradições “reais” em questão. Em vez disso, a ideologia tenderá a representar o que é positivo em tal liberdade, mascarando, reprimindo ou deslocando seus corolários odiosos, e esse trabalho de mascarar ou reprimir, como no sintoma neurótico, provavelmente afetará a partir de dentro, o que é genuinamente articulado. Pode-se afirmar, então, que a natureza ambígua, autocontraditória da ideologia origina-se justamente no fato de ela não reproduzir com autenticidade a contradição real; na verdade, se realmente o fizesse, poderíamos até mesmo hesitar em chamar “ideológico” esse discurso.” (p123)

Ou seja, tal como o comportamento do neurótico e uma forma de lidar com conflitos de maneira imaginária, as ideologias são estrategias engenhosas para combater, administrar e resolver imaginariamente as contradições.(p123) “A ideologia, como Freud poderia ter dito, é uma especia de psicopatologia da vida cotidiana – um sistema de distorção tão generalizado que se neutraliza inteiramente e apresenta toda a aparência de normalidade” (p124) Louis Althusser:

-Anti-humanista: a reificação, tal como sua amiga alienação, pressupõe uma “essência humana”. (p124) -Anti-historicista: o materialismo histórico independe da consciência de classe e de seu suposto sujeito. (p124) -Ideologia X Ciência: a estrutura da ideologia é fechada, circular e autoafirmadora. Ela só levanta questões cujas respostas estão dentro dela. A ciência é um empreendimento autenticamente exploratório, ao passo que as ideologias dão aparência de avançar enquanto marcham teimosamente sem sair do lugar. (125) Eagleton discorda: a ciência não é redutível a ideologia, mas está profundamente marcada por ela. Na sociedade moderna não é ideológico (no sentido mais amplo do termo) uma teoria ou outra, mas a ciência como tal – o triunfo das formas tecnológicas, instrumentais de ver o mundo. (p126) -Althusser não está argumentando que a ciência é superior, apenas que são registros diferentes do ser, incomensuráveis um a o outro. É uma distinção epistemológica e não sociológica: atravessamos o tempo foto a fronteira entre ideologia e ciência. Uma mulher pode participar de um protesto pela manhã (um ato ideológico) e escrever um tratado sobre o patriarcado de tarde (um ato teórico). Para ele, como todo marxista, a teoria existe pela prática política, porém sua veracidade ou falsidade não é determinada por essa prática. (p126/7) -O que distingue ideologia de ciência, é que a segunda sempre pode estar errada! (p127) -Influência de Lacan → a ideologia é “uma representação das relações imaginárias dos indivíduos com suas condições reais de existência” como uma imagem de si mesmo, consoladoramente coerente, refletida no espelho de um discurso ideológico. (p129) -Interpelação: a ideologia nos dá existência como sujeitos individuais. Crítica: o modelo é monista e ignora as maneiras múltiplas, discrepantes e contraditórias que o indivíduo pode ser ideologicamente abordada por discursos que não formam nenhuma unidade coesiva evidente. (p131) Duplo processo: ser “sujeeitificado” é ser “sujeitado”: tornamo-nos seres livres justamente nos submetendo ao Sujeito, ou a Lei. Diria Espinoza → homens e mulheres “lutam pela escravidão como se estivessem lutando pela liberdade. (p132) (Michel Foucault radicaliza essa sujeição. Para a teoria Queer, ele o faz negando a luta pela identidade) Reduções estruturalistas: -Althusser fala dos aparelhos ideológicos como palcos de conflitos entre classes sócias. Mas apenas cita, para voltar a esquecer-se (tal como a resistência de Foucault) -A complexidade interna de tais instituições é inexplorada no momento em que elas são vistas como meros sustentáculos de outras instituições. Não há espaço pra outras ideologias que não sejam as de classe! (133/4) -Contribuição essencial de Althusser: A ideologia é um veículo indispensável para a produção de sujeitos humanos. Ela é mais uma estrutura que se impõe sem necessariamente passar pela consciência do que uma questão de ideias. Sociologicamente, ela é um leque de práticas materiais e rituais que estão sempre inseridas em instituições materiais. (p134) -Quanta materialidade! É valioso o resgate da materialidade, porém há também ideias que figuram na ideologia de modo importante, a exemplo das “ideologias teóricas” de Aquino ou Smith (p135). -A ideologia não tem história: seus mecanismos estruturais permanecem imutáveis no tempo. Em uma ordem socialista, ela adotaria homens e mulheres a nova ordem produtiva. A ideia de que em tais condições esse procedimento seria transparente, é uma ilusão humanista.(p136) Geetz: ideologia como mapa imaginário! Capítulo do Iterpretation of Cultures. (p136) -Os termos verdadeiro X falso não são aplicáveis a ideologia, já que ela não é um tipo de

conhecimento (p137) -A ideia de três instancias: política, econômica e ideológica deu a Althusser uma abordagem economicista da ideologia. Essa reducionismo marxista foi valiosamente escamoteado, mas até chegar ao ponto de um apagamento total da questão de classe. Nicos Poulantzas: -A ideologia é composta por várias regiões sociais> moral, política, jurídica, religiosa, estética.. Cada um será dominante em diferentes épocas. O nível “escolhido” será aquele que mascarar com mais eficácia as realidades da exploração econômica. (ex: feudalismo/religioso, capitalismo/juríduco-político): “Uma característica distintiva da ideologia burguesa, argumenta Polantzas, é a ausência em seu discurso de qualquer traço da dominação de classes. A ideologia feudal, por contraste, é muito mais explícita quanto a tais relações de classe, mas justifica como natural ou religiosamente fundamentadas. A ideologia burguesa, em outras palavrasm é a forma de discurso dominador que se apresentaria como interamente inocente do poder – assim como o Estado burguês tende a oferecer-se como se representasse os interesses gerais da sociedade como um todo, mais do que como aparelho opressor. Na ideologia burguessa, sustenta Poulantzas, essa dissimulação do poder assume uma forma específica> o ocultamento dos interesses políticos por trás da máscara da ciência. Os pensadores do fim das ideologias que aplaudiram a suposta transição de uma racionalidade “metafísica” para uma “tecnológica” estão, portanto., simplesmente endossando o que era endêmico na ideologia burguesa. Tais ideologias, assim diz Pulantzas, são notáveis por sua falta de apelo ao sagrado ou transcendental; em vez disso, pedem para ser aceitas como um corpo de técnicas científicas.” (p139)

-Crítica: há muito de transcendental também no liberalismo – EUA: Deus, Liberdade e Nação! (p.140) Pierre Bourdieu: Habitus = “a história transformada em natureza” → na espontaneidade de nosso comportamento reproduzimos valores e normas, das quais o habitus é o mecanismo de transmissão pelo qual as estruturas morais e sociais encarnam-se nas atividades sociais diárias. Ele é um sistema aberto que capacita indivíduos a lidar com situações imprevistas, é um “princípio gerador de estratégias” que permite antes uma inovação incessante que um projeto rígido. (p141) Doxa = pertence ao tipo de ordem social onde o poder é naturalizado, nada fora do que há no presente pode ser sequer imaginado. O que importa é o que “não é preciso dizer”, o que e determinado para a tradição. Qualquer desafio a doxa é heterodoxia, contra a qual se deve afirmar uma nova ortodoxia (que diferente da doxa, precisa ser defendida). (p141) Campo = para cada um há um habitus. Ele é um sistema cooperativo de relações sociais que funciona segundo sua lógica interna. (p141) Violencia simbólica: modo que operam as regras não enunciadas de um campo. Uma violencia que nunca é reconhecida como tal, não é tanto sofrida como acolhida. Contribuição: repensa a hegemonia gramsciniana e contribui para entender “microestruturas” da ideologia com relatos de sua atuação na vida cotidiana. (p142)

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Capítulo 6 – De Schopenhauer a Sorel

Nietzche: -Como para Marx ou Heidegger, somos seres práticos antes de animais teóricos, logo a ideia de intelectual desinteressado é apenas uma forma velada de interesse, uma expressão da rancorosa maldade dos que são “muito covardes para viver perigosamente”. (p147)

-A leitura pós-mderna do autor leva a conceber que não existe verdade e que tudo se passa de  jogos de interesses sob a fachada da objetividade. A presente política é ruim, mas não há esperanças no futuro. Para os autores do EUA, tudo é melhor do que o atual modo de vida americano. Feminismo, etnicidade, pluralidade e diferença sim, luta de classes e exploração não. (p148) -É uma vitória do liberalismo equacionar objetividade com desinteresse, pois, posteriormente, o pós-modernismo jogou fora a objetividade com a água do desinteresse. (p149) -”A manobra pós-modernista de expandir o conceito de interesses para que abranja toda a vida social, embora válido o suficiente em si, serve para deslocar a atenção dessas lutas políticas concretas, demolindo-as em um cosmos neonietzchiano em que jogar um casaco é, secretamente, uma questão de conflito e dominação tanto quanto tomar o Estado. Se todo pensamento é “interessado” até as raízes, então – pode-se argumentar – os tipos de luta política para os quais, por exemplo, socialistas e feministas tradicionalmente chamaram a atenção não tem nenhuma importância especial.” (p149) Nietzche: poder > razão Schopenhauer: vontade > intelecto Stanley Fish: tudo é crença.. (pragmatismo radical). -A rejeicao a crítica racional parte da ideia de que ela necessita que o analista se posicione em um ponto transcendental de observação. Supor que sem tal posicao divina não nos resta mais nada que uma série de perspectivas parciar, todas tao boas quanto as outrasm pe uma espécie de metafísica invertida. Estao aprisionados aos argumentos que tentam combater. (p151) -Ao contrário de Fish, o marxismo não sustenta que o sujeito seja um reflexo impotente das condicoes históricas. Ao contrário, eke é a capacidade transformadora das determinantes sociais. O que se tenta nega é a possibilidade de crítica imanente. Pluralismo: “O pluralista liberal não está errado ao ver tal diálogo aberto entre diferenças como um objetivo desejável: está equivocado apenas ao pensar que possa ser adequadamente conduzido em uma sociedade dividida em classes, onde, o que conta em primeiro lugar como interesse aceitável é determinado pelo poder dominante.” (p156) Freud -Saber é dominar (tmb para Nietzche e Foucault). (p156) -”O desejo infiltra-se nos nosso projetos rotineiros, fazendo-os desviar-se, recuar, não atingir seu objetivo. Assim, a falsa consciência é menos um corpo específico de crenca do que, nas palavras de Freud, a “psicopatologia da vida cotidiana”. (p157) -O esquecimento é nosso modo natural de lembrar. Lembrar é esquecer de esquecer. (p157) -Num estilo marxista, Freud diz que a motivaçao básica da vida é economica: a civilizacao é aneas um dispositivo para induzir os homens a trabalhares. O mecanismo pelo qual as leis da sociedade são internalizadas é o superego. Qualquer transcressao a ele, é uma autotransgressao. Para isso é feito o projeto terapeutico freudiano. O sujeito ama e deseja as leis que o reprimem. Diz Freud → “As classes reprimidas podem ser emocionalmente apegadas a seus senhores; apesar de sua hostilidade por eles, podem ver neles seus ideais.” (p159/160) -Para o autor a visao de sujeito de Freud é classicamente burguesa: homens e mulheres com sedes vorazes e a sociedade como mero dispositivo contratual de controle. (p161) -Se para Freud, a ideologia é apoiada por nossos desejos inconscientes, então ela oculta um amago utópico, ou seja, ela não é necessariamente negativa. Para Frederic Jameson: “Ideologias, formacoes culturais e obras de arte podem muito bem operar como “contencoes” de contradicoes reais, mas elas também apontam, ainda que apenas em razao de sua forma coletiva, para a possibilidades além dessa condicao opressiva”. Para Marcuse: “a cultura de classes é simultaneamente uma falsa sublimacao do conflito sócias e – ainda que apenas na própria integridade da obra de arte – uma crítica utópica do presente. (p163)

Sorel: -As ideias são maneiras práticas e provisórias de dar coerencia a nossa experiencia, permitindo que nossos poderes florecam. Sorel “estetiiza o processo rovolucionário: “Nenhuma inducao racional dará conta do mistério que envolve o socialismo.” (p165)

Capítulo 7 – Discurso e Ideologia

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