Dogmas Marianos: Sintese Catequetico-Pastoral - Clodovis M. Boff

March 20, 2017 | Author: Jaster IV | Category: N/A
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SUMÁRIO

COMO INTERPRETAR OS DOGMAS MARIANOS MATERNIDADE DIVINA VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA IMACULADA CONCEIÇÃO ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU EM CORPO E ALMA A MEDIAÇÃO DE MARIA: O QUINTO DOGMA?

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COMO INTERPRETAR OS DOGMAS MARIANOS

I. POR QUE SE FALA TANTO HOJE DE MARIA, QUANDO A BÍBLIA FALA TÃO POUCO DELA? É verdade, são poucas as passagens do Novo Testamento (NT) que falam de Maria: apenas 142 versículos. Contudo, são versículos riquíssimos, carregados de sentido. Eles frutificaram ao longo da história. A mariologia é um dos casos mais típicos do “desenvolvimento dos dogmas”. Pode-se aplicar a ela a parábola do “grão que cresce sozinho”: a terra produz primeiro a planta, depois a espiga e, por último, o grão abundante na espiga (Mc 4,28). De resto, a consciência da importância da Virgem começou já dentro do NT. É só comparar a “mariologia primária” (grão debaixo da terra) de S. Marcos e de S. Paulo com a “alta mariologia” de S. João (espiga cheia), passando pela “mariologia biográficoespiritual” de Lucas. No verdadeiro desenvolvimento do dogma, nada se inventa, tudo se descobre. Vai-se do implícito ao explícito. Surgem então novas perspectivas, não propriamente dados novos.

II. QUANTOS SÃO OS DOGMAS MARIANOS E COMO ELES SE RELACIONAM ENTRE SI? Os dogmas marianos são quatro ao todo. A história dos dogmas marianos mostra que os dois primeiros (Maternidade e Virgindade) seguem um modelo de desenvolvimento diferente dos dois últimos (Imaculada e Assunção), como mostra o quadro comparativo a seguir: MATERNIDADE E VIRGINDADE Declarados no Oriente Nos primeiros séculos Por decisão de concílios Contra os hereges (dentro da Igreja) Clara base na Bíblia Comuns às Igrejas cristãs em geral

IMACULADA E ASSUNÇÃO Declarados no Ocidente Nos dois últimos séculos Por decisão de papas Contra ideias do tempo (fora da Igreja) Base na Tradição, só indireta na Bíblia Dogmas exclusivos da Igreja Católica

Eles se articulam segundo a “conexão dos mistérios” (nexus mysteriorum: DH1 3016). Estão organizados em duas duplas: – 1ª dupla: Maternidade e Virgindade. É um mistério só, mas com dois aspectos. A Maternidade é o dogma central; a Virgindade é um aspecto que realça a 5

Maternidade; – 2ª a dupla: Imaculada (começo da vida de Maria) e Assunção (final de sua vida). Esses dois dogmas, assim como a Virgindade, estão a serviço da Maternidade: a Imaculada a prepara e a Assunção a coroa.2

III. ONDE SE FUNDAMENTAM OS DOGMAS MARIANOS? Os dogmas estão fundamentados na Bíblia, lida, porém, de acordo com a Tradição, como costuma fazer a exegese católica. Expliquemos: 1- Bíblia A Bíblia contém materialmente toda a Revelação. Também os quatro dogmas: os dois primeiros explicitamente ou quase; os dois últimos, só implicitamente. Para explicitá-los, é necessária justamente a Tradição. Esta não substitui a Bíblia, mas a esclarece e a interpreta, conferindo-lhe “certeza” (cf. Dei Verbum 9). 2- Tradição A tradição é a própria Bíblia enquanto lida piedosamente pela Igreja ao longo dos séculos. Essa leitura viva não fica só na “letra”, mas chega ao “espírito” da Palavra, capta seu sentido profundo e o torna pleno e claro. Trata-se da grande Tradição (com T maiúsculo, a Parádosis), que é imutável em sua substância, mas cresce em sua compreensão. É diferente das “pequenas tradições” (com t minúsculo), que são mutáveis e superáveis. A Tradição (Igreja compenetrando-se da Palavra de Deus) constitui o “princípio formal” da Escritura – “formal” no sentido de interpretativo ou explicitante. Isso significa que só a Tradição nos dá “certeza” dogmática em relação às verdades da fé, no caso, referentes à Virgem. A sola Scriptura dos Evangélicos é um princípio estreito, que leva frequentemente à idolatria da Bíblia. Contra isso, deve-se dizer que a Esposa de Cristo é a Igreja, não a Bíblia. Esta contém apenas as “cartas de amor” do Esposo. E mesmo essas cartas não contêm todos os “segredos” do Esposo, pelo menos não claramente. A Tradição se transmite por vários canais, especialmente os seguintes: a) “O senso dos fiéis” (sensus fidelium). É a intuição ou percepção que o Povo de Deus (sempre com seus Pastores) tem acerca da verdade da fé. É um “faro espiritual” ou “instinto de fé”. São as “razões do coração” que crê, as quais valem de modo todo especial na mariologia, pois se trata de uma figura queridíssima ao coração dos fiéis. Quando o Povo de Deus acredita em alguma coisa “em muitos lugares, por muito tempo e através de muita gente” (quod ubique, quod semper, quod ab omnibus), como dizia S. Vicente Lerinense, ele não se engana. É a “infalibilidade in credendo” (no crer), que 6

complementa a “infalibilidade in docendo” (no ensinar), a qual é da competência dos Pastores (Lumen Gentium [LG] 12). Ora, os dogmas marianos apelam de modo decisivo, especialmente os dois últimos, para o “senso dos fiéis”. Este se manifesta de muitas formas, especialmente por meio destes três subcanais: – o culto, seja ele litúrgico, seja da piedade popular; – os Santos Padres, na qualidade de intérpretes do sentimento dos fiéis, particularmente em suas homilias; e – outras formas, como os apócrifos, as imagens e pinturas, os exemplos dos santos, as aparições etc. b) O magistério (concílios, papas e bispos). Além de “passar adiante” a doutrina da fé, compete à instância da autoridade sagrada discernir as “descobertas” mariológicas do povo fiel e aprovar as boas. c) A teologia. Ela também desenvolve a Parádosis, mas agora de modo metódico. Devemos reconhecer que a razão teológica teve, em geral, muita dificuldade em aceitar os dogmas marianos. Não é de admirar, pois o Pai ama esconder seus segredos aos “sábios e entendidos” e revelá-los aos “pequeninos” (cf. Mt 11,25).3

IV. MARIA: MULHER MISTERIOSA Os dogmas são “mistérios”, maravilhas, milagres – palavras que evocam tudo o que Deus operou em Maria. As verdades dogmáticas são “abismos de luz”. São como janelas que se abrem para o mistério infinito. Ficar no texto dos dogmas, sem ver o que tem por baixo, é ficar examinando a janela em vez de lançar o olhar ao panorama que dela se descortina. Portanto, os dogmas nos fazem ver a face mais interna e mais profunda da pessoa da Mãe de Deus. Mostram-na como uma “Mulher misteriosa”, verdadeiramente “divina e maravilhosa”. Revelam como o próprio Deus vê Maria, em toda a sua verdadeira grandeza. Os dogmas representam a mariologia “esotérica”, aquela que nos faz contemplar a Virgem como que tirando o véu e fazendo ver seu rosto de luz e de beleza. Os dogmas não são para “principiantes”, mas para os “iniciados”. Eles evidenciam, na Toda-bela, a que extremos chegou Deus em sua potência, amor e sabedoria. Por isso suscitam a contemplação, a celebração e, enfim, o anúncio.

V. QUE SIGNIFICAM OS DOGMAS MARIANOS? FALAM FINALMENTE DO QUÊ? Os dogmas marianos falam natural e diretamente de Maria: são privilégios, graças muito especiais que ela recebeu de Deus. Mas não só isso; eles falam também de Cristo: a Virgem recebeu essas graças, em função de Cristo. Finalmente, os dogmas falam de 7

nossa salvação: representam tarefas que Maria assumiu em proveito de toda a humanidade. Em outras palavras, os dogmas falam da Virgem para falar de Jesus e também de nós. Assim, a verdade sobre Maria serve de “muro de proteção” para as verdades referentes a Cristo e à nossa Salvação. Desse modo, impugnar um dogma mariano é como derrubar esse muro e deixar a doutrina de Cristo e de nossa salvação exposta a ataques e saques. A seguir faremos a exposição de cada dogma, seguindo um esquema em três partes: 1. dados da fé – o que devemos crer; 2. explicação do dogma – o que ele significa, primeiro para Maria mesma e depois, para Cristo e 3. finalmente, as aplicações do dogma – para nossa vida hoje.

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MATERNIDADE DIVINA

I. DADOS DA FÉ 1- Bases bíblicas a) Mãe de meu Senhor (Lc 1,43). “Senhor” é na Bíblia um nome divino: é aplicado a Deus e ao Messias-Rei enquanto representante de Deus. b) Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo (Lc 1,32). Maria, portanto, é a Mãe do Filho de Deus. c) Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus-conosco (Mt 1,23 e Is 7,14). Note-se que o NT usa em geral a expressão “Mãe de Jesus” para falar de Maria. Sabemos, porém, que Jesus é Deus. Logo, Maria é Mãe de Deus. 2- Magistério O Concílio de Éfeso (431) declarou que Maria é “Mãe de Deus” (Theotókos, Dei Genitrix, Deipara); porém, “segundo a carne” assumida pelo Verbo. Trata-se, contudo, de uma declaração indireta, já que o Concílio retoma, aprovando claramente, uma carta (a segunda) de S. Cirilo a Nestório, na qual diz: “Eles (os Santos Padres) não duvidaram em chamar a Santa Virgem de Theotókos… porque nasceu d’Ela o Verbo… segundo a carne” (DH 251). Já em outra carta de Cirilo a Nestório, que não se sabe bem se o Concílio aprovou ou não, temos o seguinte anatematismo (condenação), que, contudo, vai na linha da carta anterior: “Se alguém não confessa que o Emanuel é Deus no verdadeiro sentido da Palavra, e que, por isso, a Santa Virgem é Theotókos porque gerou, segundo a carne, o Verbo que é de Deus, seja condenado” (DH 252). É que o patriarca da Constantinopla Nestório só aceitava o título “Mãe de Cristo” (Christotókos) ou o de “Portadora de Deus” (Theotochos). O título Theotókos foi confirmado como “verdadeiro” pelos Concílios ecumênicos subsequentes: Calcedônia em 451 (DH 300-301), Constantinopla II em 553 (DH 427) e Constantinopla III em 681 (DH 555). Veja também o Catecismo da Igreja Católica, n. 495, 466-467 (Mãe de Deus); e n. 967-970 (Mãe dos fiéis). 3- Senso dos fiéis

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Nos primeiros séculos, o termo Theotókos era usado pelos pagãos para deusas-mães como Cibele, Astarté, Ishtar e especialmente a grande deusa egípcia Ísis, “mãe do deus” Hórus, muito cultuada na Antiguidade. O povo cristão assumiu Theotókos, e aplicou-o àquela que é a verdadeira “Mãe de Deus”: Maria. Esse nome já se encontra na prece de súplica mais antiga (entre o século III e IV) dirigida a Maria, o Sub tuum praesidium: “À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus” (cf. LG 66 e nota 21). O grande Orígenes († ca. 253) já tinha aplicado esse apelativo à Virgem, não sem levantar polêmicas dentro da Igreja. Hoje, o título “Mãe de Deus” é familiar ao povo fiel. Está na segunda parte da AveMaria: “Santa Maria, Mãe de Deus”. Ademais, a imagem mariana mais popular é a da “Mãe com o Menino”. Assim aparece a Virgem nas catacumbas desde o século II. Assim também a pintam frequentemente os artistas cristãos, intérpretes do sentimento popular.

II. EXPLICAÇÃO DA MATERNIDADE DIVINA DE MARIA 1- Como Maria pode ser Mãe de Deus se Deus é eterno? Era a objeção dos nestorianos. Nessa linha, o grande teólogo Teodoro de Mopsuéstia († 427) declarava a própria noção de Theotókos uma “loucura”. Contudo, o Concílio de Éfeso e os seguintes explicaram que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, mas “segundo a carne”, ou seja, segundo a humanidade de Jesus. Pois Jesus é uma pessoa, e ser mãe é ser mãe de uma pessoa, que, no caso, é Deus. É justamente como uma relação de pessoa a pessoa que o Vaticano II coloca na Lumen Gentium a maternidade da Virgem (LG 56-59). Os Santos Padres, como Sto. Atanásio, Sto. Inácio de Antioquia e Sto. Irineu, fazem notar que as Escrituras (Lc 1,35; Gl 4,4) e os Credos professam que Jesus nasceu de Maria e não em Maria ou por Maria, como diziam alguns heréticos de ontem (gnósticos) e “crentes” de hoje. Para os Padres da Igreja, Maria é a origem de Cristo e não mero lugar. É fonte da água salvadora (cf. Jo 4), e não simples aqueduto pelo qual teria passado o corpo do Verbo, como dizia Valentino († 160), o chefe dos gnósticos.4 De fato, assim como se diz que Deus (Cristo) sofreu e morreu, também se pode dizer que ele teve uma mãe. Igualmente, não são simplesmente as mãos do artista que tocam guitarra, mas sua pessoa, fazendo naturalmente uso das mãos. 2- Dignidade quase infinita de Maria por ser Mãe de Deus É o que afirma S. Tomás de Aquino. O Beato Duns Scotus, “doutor mariano”, declara que, depois de “Filho de Deus”, o título mais elevado é o de “Mãe de Deus”. Ela é a “Primeira depois do Único” (Y. Congar). É a “infinitamente única” (Ch. Péguy). Além disso, como enfatiza Sto. Agostinho, os dois sexos ficam honrados no plano de Deus: um pelo “Filho de Deus” e outro pela “Mãe de Deus”. 10

É bom saber que os grandes reformadores, como Lutero, Calvino e Zwínglio, admitiam o título “Mãe de Deus”. A propósito, eis o que diz belamente Lutero: Foram dadas a Maria tantas e tão grandes coisas que ninguém as pode compreender… Por essa razão, ela é uma pessoa especial dentre todo o gênero humano. Ninguém se iguala a ela, porque ela tem um Filho com o Pai celeste. E que Filho! […] Por isso, toda a glória de Maria está encerrada nesta única palavra: “Mãe de Deus”. Ninguém pode dizer algo de maior sobre Ela, ainda que tivesse tantas línguas como há folhas nas árvores, hastes de grama nos campos, estrelas no céu ou grãos de areia no mar. É preciso meditar no coração sobre o que significa ser Mãe de Deus5. 3- A maternidade de Maria foi plenamente consciente e voluntária A gravidez de Maria não foi de modo algum uma “gravidez indesejada”. Isso se vê bem na Anunciação de Lucas, que mostra a Virgem como uma mulher consciente, livre e decidida (fiat). Diz o Vaticano II: “Os Santos Padres julgam que Deus não se serviu de Maria como de instrumento meramente passivo, mas julgam-na cooperando para a salvação humana com livre fé e obediência” (LG 56). Jesus mesmo ensina que “mãe” para Ele era quem ouvia sua palavra e a punha em prática (cf. Lc 8,21; 11,27-28). Aos seus olhos, era o que mais contava. Ora, Maria foi mãe também e sobretudo por sua fé. Por isso, os Santos Padres latinos, como Sto. Agostinho e S. Leão Magno, enfatizavam que Maria “concebeu antes na mente e depois no ventre”. O Doutor de Hipona chega a dizer: “Maria é mais feliz por ter sido discípula do Senhor do que mãe carnal do Senhor”6. Ademais, se é verdade que “mãe é sempre mãe”, a maternidade de Maria cobre toda a sua vida, da concepção ao Calvário, estendendo-se à sua existência no céu e prolongando-se até o fim dos tempos. “Esta maternidade… perdura ininterruptamente… até a perpétua consumação dos eleitos” (LG 62). Poderíamos acrescentar: e continuará eternidade afora, pois – repetimos – mãe é mãe para sempre. 4- A Theotókos está a serviço de Cristo e de nossa Salvação Confessar que Maria é Mãe de Deus é afirmar o realismo do mistério da Encarnação do Verbo: Jesus é verdadeiro homem, podendo sofrer e assim nos salvar. Esse dogma tem, pois, valor cristológico. Além disso, tem uma dimensão soteriológica: é para nossa salvação. Diz nesse sentido S. Paulo: Deus mandou seu Filho, feito de mulher… para que nós recebêssemos a adoção filial (primeira evocação histórica de Maria no NT e a única em S. Paulo). Por conseguinte, dizer “Maria” é dizer “Cristo” e é finalmente dizer nossa salvação. Assim, Ela contém em pequeno o mistério da salvação por inteiro. Por isso, S. João Damasceno diz: “A palavra Theotókos contém toda a economia (salvífica)”. S. Leão 11

Magno é mais explícito: a fé em Maria “virgem-mãe” é como o resumo de toda a doutrina cristã. De fato, dizer “mãe” é afirmar a humanidade de Cristo e dizer “virgem” é afirmar a sua divindade. E nisso se concentra todo o Catecismo. 5- Maria, Mãe dos fiéis Por mandato de seu Filho unigênito, Maria tornou-se aos pés da cruz mãe dos discípulos na pessoa de João, o discípulo (Jo 19,25-28). O “senso dos fiéis” percebeu cedo essa verdade, enquanto os teólogos começaram a refletir sobre ela bastante tarde, isto é, apenas a partir do século VIII, com Ambrósio Autperto. Maria é nossa mãe precisamente porque é mãe de Cristo. Quer dizer: é a maternidade divina que é a base da Maternidade espiritual de Maria. Santo Agostinho declara que, se Maria é mãe da Cabeça, ela é também mãe dos membros. Ela é, portanto, mãe do “Cristo total” (cf. LG 53). 6- Maternidade divina de Maria: razão de seu poder de mediação Porque mãe, Maria é medianeira. Pois, pelo fato de Ela ter sido mediadora da encarnação, isto é, porque teve a “participação mais alta e mais real na humanidade de Cristo” (A. Müller), Ela pode ser hoje a nossa medianeira junto a Deus. Ela goza, junto ao único Mediador, de um verdadeiro “direito materno” (cf. LG 6062; Redemptoris Mater, II e III). Com razão sentencia o povo: “Peça à mãe, que o Filho atende”. Todavia, o poder da Virgem diante de Deus é um poder de ordem moral, como o da rainha-mãe junto ao trono do rei. É um “direito de impetrar, não de imperar” (Duns Scotus). Ela não é a onipotência criadora e salvadora, mas a “onipotência suplicante”. Lutero aceitava para Maria o título de “intercessora”, por ser um título de humildade, mas não o de “advogada” e menos ainda o de “mediadora”, que seriam, ao seu ver, por demais presunçosos, aplicados a Ela.

III. APLICAÇÕES DO DOGMA DA MATERNIDADE DIVINA 1- Primeiro, a doxologia: louvação a Deus pelas coisas maravilhosas que operou em Maria, especialmente a Encarnação – tudo em vista da nossa salvação. E também confiança na poderosíssima mediação da Mãe de Cristo junto ao seu Filho divino. 2- Depois, a imitação: somos, como Maria, chamados a encarnar a Palavra, também no concreto do dia a dia e na vida em sociedade (trabalho, escola, política, mercado, mídia etc.). Como “mulher da encarnação”, a figura de Maria afasta a ideia de uma religião intelectualista e alienada. Referindo-se à maternidade da Virgem, ensina Puebla: “Sem Maria desencarna-se o Evangelho, desfigura-se e transforma-se em ideologia, em racionalismo espiritualista” (n. 301). 12

3- Maria é também o protótipo de nossa maternidade espiritual, a se realizar mediante o compromisso de fé. Cada um pode ser “mãe de Cristo” crendo na Palavra e praticando-a, como ensina Jesus (Lc 8,21). Assim, cada um pode “conceber” Cristo em seu coração pela fé e “gerá-lo” por meio do próprio testemunho de vida. 4- Os agentes pastorais, em particular, podem olhar para Maria como exemplo de uma outra dimensão da maternidade espiritual, aquela que se dá mediante o trabalho pastoral. Como? Gerando Cristo vivo nos corações dos outros, pelo anúncio da Palavra e pela administração da graça sacramental, e, antes ainda, pelo próprio testemunho de vida (cf. LG 65). 5- Para as mães, em especial, Maria ensina a superar uma maternidade meramente biológica (carnal), fechada sobre o próprio filho ou filha, para elevar-se a uma maternidade mais alta: a maternidade espiritual (comunicando a fé e a graça), a maternidade moral (transmitindo valores) e mesmo a maternidade comunitária (abrindose aos filhos dos outros), como Maria fez, assumindo todos os humanos como seus filhos.

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VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA

I. DADOS DA FÉ 1- Bases bíblicas Que a Virgem tenha sido mesmo virgem, este é um dado claramente atestado no NT. E ele veicula duas tradições autônomas a respeito da virgindade de Maria, uma reforçando a outra: a) A tradição de Mateus 1,18-25, com nada menos que quatro referências à virgindade da Mãe de Jesus: – Antes de coabitarem, aconteceu que Ela concebeu por virtude do Espírito Santo (v. 18); – O que n’Ela foi concebido vem do Espírito Santo (v. 20); – Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho… (v. 23); – E, sem que José a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho (v. 25). b) A tradição de Lucas 1,34-35: Como se fará isso, pois não conheço homem? O Espírito Santo descerá sobre ti… Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. A Bíblia usa conhecer para “ter relações”. Ora, Maria aqui diz que não as teve. 2- Magistério a) Professa o Credo apostólico: “Nasceu da Virgem Maria”. E também o Credo Niceno-Constantinopolitano: “E se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria”. Lá onde a tradução diz simplesmente “Virgem Maria”, a versão original grega dos dois credos diz de modo mais expressivo: “Maria, a Virgem” – a Virgem por excelência. b) O Concílio de Constantinopla II (553) fala na “sempre-virgem (aei-parthenos) Maria” (DH 427). c) Já o Sínodo de Latrão (649), regional mas de valor universal, faz da virgindade perpétua de Maria um autêntico dogma: Se alguém não professa, segundo os Padres, que Maria, a sempre Virgem imaculada, é própria e verdadeiramente Mãe de Deus, já que Ela, nos últimos tempos, própria e verdadeiramente concebeu sem sêmen por obra do Espírito Santo, deu à luz… o Deus Verbo e permaneceu inviolada também depois do parto, seja condenado (DH 503). 14

d) Ensina a Constituição do Papa Paulo IV de 1555, confirmada por dois outros papas, que Maria é virgem “antes do parto, no parto e depois do parto” (DH 1880). É uma expressão lapidar, que retoma didaticamente o que disse o Sínodo de Latrão e que se tornou corrente na catequese. e) Veja ainda para este tema: Catecismo da Igreja Católica, n. 496-507. 3- Senso dos fiéis A grande Tradição (Parádosis) da Igreja é unânime em afirmar a virgindade perpétua da Mãe de Jesus, não só na palavra dos Santos Padres e pela liturgia (como veremos mais à frente), mas sobretudo por meio do “senso dos fiéis”. Deste último, eis algumas ilustrações, tiradas dos Santos Padres: a) “Os amantes de Cristo não suportam ouvir dizer que a Theotókos deixou um dia de ser virgem” (S. Basílio). b) “Afirmar que Maria deixou de ser virgem é um crime abominável e uma blasfêmia” (Sto. Ambrósio). c) “Não dá para pensar, em absoluto, que… naquela carne em que nasceu a Verdade possa perecer a integridade” (virginal) (Sto. Agostinho). d) “Aos corações dos fiéis repugna submeter Maria à maldição de Eva” (Pascásio Radberto, século IX, referindo-se ao “parto entre dores” de Gn 3,16). A expressão “a Virgem” tornou-se cedo (desde o século II) o nome próprio de Maria, como foi o caso da designação “Cristo” para Jesus. Os Santos Padres usam “Virgem” três vezes mais do que “Mãe de Deus” (3.567 contra 1.009). Refere Sto. Epifânio: “Quem, por acaso, e quando ousou pronunciar o nome de Maria sem acrescentar de imediato ‘a Virgem’, quando interrogado?”. Aliás, até hoje, “a Virgem” é o nome que o povo mais usa para se referir a Maria. Tornou-se até uma exclamação corrente: Virgem Maria, Virgem, Vixe, Ixe. Note-se que sempre houve na história contestações contra a virgindade de Maria, como veremos melhor logo adiante. Mas a elas a grande Igreja nunca cedeu. Guardou a fé da grande tradição, convencida de que a virgindade de Maria pertence à esfera do mistério e do milagre. Essa é uma área da exclusiva competência de Deus, como explica o Anjo à perplexa Nazarena: A Deus nenhuma coisa é impossível (Lc 1,37). Por sua parte, os grandes reformadores Lutero, Calvino e Zwínglio nunca duvidaram da virgindade perpétua de Maria. Infelizmente, a maioria dos evangélicos acabou, com o tempo, perdendo essa herança preciosa. Mesmo para o Islã, Maria é sempre virgem, como se vê no Corão (19,20; 21,91; 66,12). Para o livro santo dos muçulmanos, os judeus, negando a virgindade de Maria, nada mais fazem que levantar contra Ela uma “calúnia enorme” (4,155).

II. EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA DA VIRGINDADE DE MARIA 15

1- A virgindade implica: a) em primeiro lugar, a “virgindade do corpo”: é a normal integridade física. Para os Padres da Igreja, a virgindade de Maria compreendia sua integridade biológica, sem, contudo, se reduzir a ela; b) depois, a “virgindade dos sentidos”: é a não experiência de relação sexual; c) enfim, a “virgindade do coração”: é a entrega total e perpétua a Cristo e a seu Reino. Essa é a essência da virgindade, que Maria realizou de forma insuperável. Portanto, a virgindade de Maria não é mera virgindade simbólica ou metafórica, como pensam alguns antropólogos (por exemplo, J. Campbell) e muitos “modernos”. Não; os fatos da revelação são sempre muito “encarnados”, corpóreos e mesmo viscerais, embora sempre a serviço do Espírito. 2- A virgindade de Maria é integral, não só no sentido da real entrega de corpo e alma a Deus, mas também no sentido de uma entrega perpétua. Em outras palavras, a Santíssima Virgem não foi só toda de Deus, mas foi também sempre de Deus. Portanto, a sua prestação não foi passageira, mas permanente e total, sem resto algum. Maria é a “virgem absoluta” (S. Tomás). Por isso mesmo, Maria se sentiu tão plenificada por Cristo, o consumador de tudo, que não podia conceber “outro filho”. O amor ao seu Filho único respondia totalmente às suas expectativas de mulher (A. Serra). Depois que foi invadida e possuída totalmente pelo Espírito de Deus, Ela não podia pertencer mais a homem nenhum. Por isso afirmava Orígenes: “A dignidade de Maria exige que aquele corpo, destinado a servir ao Verbo e sobre o qual descera o Espírito Santo… não conhecesse relação sexual com homem nenhum”. É isso que faz de Maria “a virgem” por antonomásia, ou a “sempre-virgem” (aeiparthenos), ou ainda a “virgem perpétua”. Na iconografia oriental, a figura da Theotókos traz em geral no véu três estrelas, simbolizando justamente sua tríplice virgindade. 3- A reflexão teológica cedo especificou os três momentos do mistério/milagre da virgindade perpétua de Maria: antes do parto, no parto e depois do parto. Isso já nos inícios do século IV, com S. Zeno de Verona, S. Pedro Crisólogo e Sto. Agostinho. Expliquemos isso: a) Antes do parto. É um dado incontestável do NT. Mas sempre houve gente que negou a virgindade de Maria até mesmo na concepção de Cristo (Jesus seria filho de José ou de outro), e isso fora da Igreja cristã e também dentro dela: – fora da Igreja: o filósofo pagão Celso, Juliano Apóstata, os judeus, propagando a lenda negra da “origem ilegítima” de Jesus, assim como os racionalistas de hoje; – dentro da Igreja cristã: os ebionitas, alguns gnósticos tais como Carpócrates e Cerinto, bem como vários exegetas atuais, que tratam a virgindade de Maria como mito, 16

lenda ou mero símbolo. É preciso, porém, dizer que essas posições críticas, na verdade heréticas, são coisa de minorias, das quais o povo fiel sempre tomou distância e que o Magistério da Igreja reprovou terminantemente. b) Depois do parto. À semelhança dos “crentes” de hoje, já no século IV houve quem afirmasse que Maria teria tido outros filhos, apelando para a expressão do NT “irmãos de Jesus”. É o caso dos antidicomarianitas (contrários à integridade virginal de Maria), do ariano Eunômio, do bispo Bonoso e especialmente do leigo Helvídio, este brilhantemente refutado por S. Jerônimo. A tradição da Igreja explicou os “irmãos de Jesus” de duas maneiras: – seriam os filhos de José de um primeiro casamento, como consta de alguns apócrifos. Tal é a explicação mais aceita ainda hoje pelas Igrejas grega e síria; – seriam os parentes próximos de Jesus. Disso há várias provas: (1) É o modo bíblico de falar. Por exemplo, os primos Abraão e Lot se chamam entre si de “irmãos” (Gn 13,8); (2) Tiago e José, chamados em Marcos 6,3 “irmãos de Jesus”, são em verdade filhos de outra Maria, como se sabe lendo, mais adiante, Marcos 15,47 e 16,1; e (3) Jesus moribundo não teria confiado sua Mãe ao Discípulo amado caso tivesse tido outros irmãos carnais, como já observara Orígenes. c) No parto. Este é o ponto mais delicado. O parto virginal, como a concepção virginal, só se explica porque a Deus nenhuma coisa é impossível (Lc 1,37). Diz Sto. Agostinho: “Nessas coisas, a razão do fato está na onipotência de quem o fez”. S. Tomás afirma, sem hesitação, que o parto de Maria foi “totalmente miraculoso”. Nesse ponto particular, a Parádosis da Igreja mostra uma convergência deveras impressionante: – Primeiro, na liturgia. O mais antigo prefácio mariano, que remonta ao século VIII e é fixado em 1095, reza: “E conservando a glória de sua virgindade, Maria deu ao mundo a Luz eterna…”.7 A oração da missa de 19 de dezembro diz: “Ó Deus, que revelastes ao mundo o esplendor de vossa glória pelo parto virginal de Maria…”. Ademais, como fez notar Sto. Ambrósio, o Credo apostólico declara expressamente: “Nasceu da Virgem Maria”, e não apenas “foi concebido da Virgem Maria”. – Depois, nos Padres. Sto. Inácio de Antioquia fala do parto da Virgem como um “mistério clamoroso” (“parto admirável”, diz Pio XII na Mystici Corporis). Há nesse ponto, entre os Padres, imensa unanimidade, com somente duas exceções (na verdade uma e meia): apenas Tertuliano e Orígenes, e este só em parte, dizem que o parto da Mãe de Jesus foi natural, não miraculoso. No século IV, um monge, Joviniano, afirmava que Maria “concebeu virgem, mas não gerou virgem”. Foi, porém, rebatido por gigantes como Ambrósio, Jerônimo e Agostinho. – Também no Magistério. Já vimos acima as afirmações magisteriais em favor da virgindade em geral, incluindo in partu. Quanto a esse ponto particular, eis a formulação discreta do Vaticano II: nascendo de 17

Maria, Cristo “não lhe violou, mas consagrou a integridade virginal” (LG 57). – Enfim, no senso dos fiéis. Bastam aqui duas ilustrações interessantes. Vários apócrifos atestam a virgindade no parto, como a Ascensão de Isaías (n. XI), as Odes de Salomão (n. XIX) e especialmente o Protoevangelho segundo Tiago (n. XIX-XX). Este último registra que havia na comunidade um falatório sobre se Maria, depois de ter gerado Jesus, tinha ou não continuado virgem. Descreve então, segundo um realismo bem popular, a “prova ginecológica” do toque a que a Santa Virgem foi temerariamente submetida e da qual saiu vitoriosa.8 Há uma quadrinha popular que remonta à Idade Média e que se espalhou pelos quatro cantos da cristandade. Ela reza, na versão portuguesa: No seio da Virgem mãe Encarnou divina graça: Entrou e saiu por ela Como o sol pela vidraça9. Perguntemos agora qual é o sentido teológico da virgindade “no parto”. É, em verdade, um sentido riquíssimo e belíssimo: Primeiro, é um “parto divino”, isto é, digno de Deus ou conveniente à dignidade do Verbo (Papa Hormisdas, Sto. Ambrósio, S. Tomás etc.). O corpo da Virgem foi comparado por Sto. Ambrósio e S. Jerônimo à “Porta oriental” do novo templo descrito por Ezequiel (44,2), porta que ficaria sempre fechada e só se abriria à passagem do “Príncipe do Povo”. O corpo da Virgem é também visto como o jardim fechado, a fonte selada, só acessível ao Amado, Deus (Ct 4,12). Segundo, é um “parto paradisíaco”, como teria sido o de Eva, antes do pecado. A Imaculada não foi submetida à maldição do “parto com dores”, fruto do pecado (Gn 3,16). Terceiro, é enfim um “parto messiânico”, como o da Jerusalém do fim dos tempos, a qual antes de sentir as dores, deu à luz um filho (Is 66,7), segundo Sto. Irineu e S. João Damasceno. Como os milagres em geral, esse também é a antecipação da plenitude da redenção no “mundo novo”, onde “o parto se dá na alegria, sem dor” (S. Gregório de Nissa). A tanto chegou a potência do Redentor na “primeira dos redimidos”! Note, contudo, que há hoje teólogos (A. Mitterer, J. Galot, D. Fernández, L. Boff etc.) que interpretam a virgindade no parto de modo simbólico, isto é, não como “integridade fisiológica” (Maria teria tido um parto normal, com dor), mas apenas como “integração espiritual”, pois ela teria integrado plenamente na fé os incômodos da gravidez e as dores do parto.10 18

Entretanto, essa posição, embora não desaprovada formalmente pela Igreja, atrita claramente com o sentido realista que a grande tradição deu à virgindade in partu, apesar de certo matiz “encratista” ou antissexo que se insinuou em vastos setores da cristandade quanto à compreensão da virgindade.11

III. APLICAÇÕES DO DOGMA DA VIRGINIDADE DE MARIA 1- Virgindade de Maria: sinal da identidade de Jesus como o Messias divino A fé na Virgindade de Maria garante a fé na divindade de Jesus (enquanto a Maternidade garante a fé na humanidade de Cristo). Em termos existenciais, a Virgem é sinal de que o Messias não é criação da potência humana, mas do poder do Altíssimo, que é o Espírito Santo. Ela testemunha que o Salvador vem do céu e não da terra, que é graça de Deus e não conquista do homem, como explica muito bem o grande teólogo protestante K. Barth. É esse também o sentido profundo que subjaz às narrações de Mateus e Lucas acerca da concepção virginal de Jesus. A expressão do Credo “o qual foi concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria” se refere respectivamente ao lado divino (poder do Espírito Santo) e ao lado humano (limitação de Maria como virgem) do mistério da Encarnação. 2- A virgindade de Maria marca o início do novo Povo de Deus Declara Tertuliano: “O Iniciador do novo nascimento devia nascer de forma nova”. Ou seja, a Virgindade de Maria mostra que, assim como Jesus nasceu da Virgem por obra do Espírito Santo, também o povo da Nova Aliança não nasce simplesmente da carne e do sangue, mas nasce virginalmente da Igreja e espiritualmente do Espírito Santo. É isso que sugere a genealogia de Mateus 1: o velho Povo de Deus (natural) nasce do homem e da mulher e se perpetua por via carnal, enquanto o novo Povo (sobrenatural) provém da Virgem e do Espírito Santo, perpetuando-se mediante a fé. S. João diz o mesmo: os filhos de Deus não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus (Jo 1,13). 3- Como Maria, a Igreja gera os filhos de Deus sendo virgem e mãe Os fiéis são gerados virginalmente pela Igreja, enquanto fecundada pelo Espírito Santo através da Palavra e dos Sacramentos. Daí ser a Igreja ao mesmo tempo virgem (enquanto concebe esta vida como obra do Espírito Santo) e mãe (enquanto gera a vida divina em nós). É o que ensina o Vaticano II, na linha de Sto. Ambrósio e de outros Santos Padres (cf. LG 64). Isso vale também para os pais terrenos. Eles começam gerando filhos para este 19

mundo. Agora, se querem gerá-los para a Igreja e o Reino, não lhes basta a geração carnal, pois a fé não se transmite com a carga hereditária; precisam ainda gerar os filhos na fé e para a fé. E esse é um parto ao mesmo tempo virginal e espiritual. 4- Cristo veio pelo caminho da virgindade: relativização do sexo A virgindade não é em absoluto a condenação do sexo, pois esse foi feito pelo Criador e tem sua função própria: a vida e o amor humanos – realidades que a graça pode assumir e elevar (sacramento do matrimônio). Mas a escolha por Cristo de uma mãe virgem significa certamente a relativização da sexualidade genital. Mostra que esta não tem o poder de conferir a vida nova, espiritual, salvífica, a vida da graça. O sexo é apenas sinal daquela vida mais alta, não seu instrumento. Ora, isto é muito relevante num mundo como o nosso, onde o sexo é idolatrado. Aliás, também o celibato consagrado (dos Padres e das Irmãs) não é desprezo da sexualidade, mas um modo de assumi-la, relativizando sua mera expressão carnal e superando-a em vista de um amor transgenital, ou seja, agápico de caridade.

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IMACULADA CONCEIÇÃO

I. DADOS DA FÉ 1- Magistério Na bula Ineffabilis Deus (1854), Pio IX declarou infalível a doutrina da Imaculada Conceição. Eis os termos solenes da definição dogmática, na qual cada linha foi pesada e tem, pois, seu sentido: Em honra da Santa e indivisível Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para a exaltação da fé católica e para o incremento da Religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos santos Apóstolos Pedro e Paulo e com a Nossa, DECLARAMOS, PRONUNCIAMOS E DEFINIMOS como doutrina revelada por Deus o seguinte: A Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do Gênero humano, FOI PRESERVADA IMUNE DE TODA MANCHA DE PECADO ORIGINAL. Essa doutrina, pois, deve ser crida firmemente e inviolavelmente por todos os fiéis. Portanto, quem presumir deliberadamente (que Deus não o permita!) pensar em seu coração uma opinião contrária a essa definição, conheça e saiba que se condena a si mesmo por seu próprio juízo, que fez naufrágio na fé, que se separou da unidade da Igreja e que incorreu automaticamente nas penas estabelecidas pelo Direito… (DH 2803)12. Veja também o Catecismo da Igreja Católica, n. 490-493. 21

2- Senso dos fiéis Esta é a fonte principal para o dogma da Imaculada. Quer dizer: o Povo de Deus, meditando e degustando a Palavra de Deus, compreendeu que a Mãe de Jesus tinha sido, desde sempre, toda pura, sem mancha alguma. De resto, Pio IX, antes de declarar o dogma, sondou as bases católicas para se certificar do consenso dos fiéis e nele se apoiar a respeito desta questão. a) Este mesmo sentimento, mais vivido que falado pelo povo, o qual se indigna quando ouve dizer que haveria algum pecado na SS. Mãe de Deus, ganha expressão na voz dos Santos Padres. – Sto. Agostinho declara, decidido: “Quando se trata de pecado em Maria, pela honra devida ao Senhor, não quero nem discutir”. É impossível “entregar Maria ao Diabo”, sequer por um só momento. – Dionísio o Cartuxo, citado por Pio IX, afirma: “É horroroso para nós dizer que esta mulher, que iria esmagar a cabeça da Serpente, tenha sido alguma vez esmagada por ela…”. É esse também o sentimento de uma convertida do início do século XX, Miss B. A. Baker, que assim se exprimiu: “Depois que descobri Cristo como Deus, a mera suposição de uma falta em Maria me parecia infligir a ele um ultraje”. b) O Magistério também se fez porta-voz do senso dos fiéis, invocando como argumento decisivo para a definição dogmática o que a Ineffabilis Deus chama de “senso da Igreja” e “conspiração dos Pastores e fiéis”. Note que o Concílio de Basileia (em 1439, quando já era infelizmente ilegítimo) tinha aprovado a doutrina da Imaculada, apelando para o sentimento popular, que declarou estar “em harmonia com a fé católica”. Por sua parte, o Concílio de Trento, embora não fale do pecado original em Maria, afirma o “privilégio especial” de sua isenção em relação a todo pecado atual (DH 1573). c) Outras expressões do senso dos fiéis quanto à verdade da Imaculada: – O Protoevangelho de Tiago. Este conta como Ana concebeu Maria, a saber: na ausência de Joaquim, para mostrar assim que Ela foi concebida de modo milagroso e puro; – A festa da Imaculada. Era celebrada pelo povo desde o século VIII no Oriente, e desde o século IX no Ocidente. No começo chamou-se festa da “Conceição de Ana” (concepção ativa), depois, no Ocidente, passou a chamar-se festa da “Conceição da B. V. Maria” (concepção passiva); – O voto de sangue. Para defender a doutrina da Imaculada, estava-se disposto a derramar o próprio sangue. Esse voto começou no século XIV e atingiu seu cume no século XVII. Tal voto foi feito seja por universidades (Paris, Oxford, Cambridge, Viena, Salamanca, Coimbra, Quito, Lima), seja por ordens religiosas (jesuítas, franciscanos), 22

seja por cidades (Lima, Caracas, Trujillo), seja ainda por inteiras monarquias (Espanha, Portugal); – As aparições de N. Sra. das Graças (1830) e de N. Sra. de Lourdes (1857). A primeira preparou a fé no dogma da Imaculada e a segunda a confirmou; – A abundante iconografia do povo e dos artistas sobre a Imaculada. Representamna ora esmagando a cabeça do Dragão, ora em meio a rosas e lírios, ora como a Tota pulchra, ou simplesmente como N. Sra. das Graças ou de Lourdes. 3- Tradição dos Santos Padres Meditando as Escrituras, os Padres descobrem o mistério da Imaculada especialmente em duas passagens: (1) Esta te ferirá a cabeça (Gn 3,15: Protoevangelho); e (2) Eis aqui a Serva do Senhor (Lc 1,38). Nesta última expressão, os Padres veem Maria como a Nova Eva, que, ao contrário da primeira, sempre disse sim a Deus. Além disso, os Santos Padres exploram algumas figuras veterotestamentárias e veem nelas evocações do mistério da Imaculada Conceição: a) a esposa dos Cânticos: Ela é sem mancha (4,7), torre inexpugnável (4,4), jardim fechado e fonte selada (4,12), bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha (6,10), a princesa-noiva que ascende apoiada em seu esposo real (cf. 8,5; cf. também Sl 44); b) a Tenda do Encontro com Deus (Ex 31,1-11), a morada divina (Shekinah: cf. Lc 1,35), o Templo da Glória (1Rs 8); c) a Arca da Aliança (Ex 25,10; 1Sm 4–6; 2Sm 6; Sl 131; Ap 11,19); d) outras figuras: a escada de Jacó (Gn 28,12), a sarça ardente (Ex 3,2-3), a Sabedoria (Sb 8; Sr 24,14-31) etc. – É digno de nota o fato de que os Doutores (teólogos) só entenderam tarde aquilo que o sentimento espiritual do povo tinha cedo captado. Grandes inteligências teológicas, fixadas na ideia da universalidade do pecado e da redenção, opuseram-se à crença na Imaculada, entre as quais S. Bernardo, Pedro Lombardo, Sto. Alberto Magno, Alexandre de Halles, S. Tomás, S. Boaventura, Melchior Cano, o cardeal Cajetano e muitos outros. Concediam apenas uma “purificação” da Virgem no seio materno, logo após a sua concepção, mas esta, de todo o modo, teria ocorrido no pecado. Os que mais contradiziam a crença na Imaculada eram os teólogos dominicanos, enquanto os seus maiores defensores eram os franciscanos, talvez porque eram mais próximos do povo e de seu senso de fé. As disputas entre as duas correntes eram tão ardorosas que chegavam não raro às vias de fato, obrigando, às vezes, tanto o poder eclesiástico como o civil a intervir para separar os contendores e serenar os ânimos. 23

Note também que os Islâmicos, que têm Maria em altíssimo conceito, acreditam que ela nasceu sem pecado. Dizem que todo recém-nascido é mordido nas costas pelo maldito, por isso chora. Essa regra sofreu apenas duas exceções: Jesus e Maria. Nem mesmo Maomé teria sido isento dela. 4- Bases bíblicas Além das referidas anteriormente, valem em especial: a) Cheia de graça (Lc 1,28). A expressão kecharitomen é única em toda a Bíblia. Ela surpreendeu a própria Virgem (Lc 1,29). Significa literalmente a-graci-ada, mas o sentido profundo é “plenamente agraciada”, “repleta de graça”, como viu muito bem o cultíssimo S. Jerônimo, que traduziu por gratia plena (cheia de graça). Maria devia, portanto, ser cheia de graça desde o primeiro instante de sua concepção. b) O Poderoso fez em mim maravilhas (em grego megála; em hebraico ghedolot) Lucas 1,49. O dogma da Imaculada é uma das maravilhas que Deus realizou em Maria.

II. EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA DA IMACULADA 1- O privilégio da Conceição imaculada está finalizado em Cristo Às razões trazidas pela definição dogmática da Ineffabilis Deus é preciso acrescentar esta: a graça da Imaculada está a serviço da Encarnação redentora de Jesus. É o que diz a liturgia da missa dessa festa: “Ó Deus, que preparaste uma digna habitação para vosso Filho pela imaculada conceição da Virgem Maria…” (Oração); “Puríssima devia ser aquela que geraria o Cordeiro sem mancha” (Prefácio). Mais: este dogma está finalizado à nossa salvação. Ele também se cumpre “por nós, homens, e pela nossa salvação”. 2- Imaculada: manifesto em favor da graça original A doutrina em foco diz que a graça é anterior ao pecado e mais forte do que ele. Na Imaculada, a graça triunfou totalmente, e isso desde o começo de sua existência. A Todapura surge como a Nova Eva, a Mulher do Paraíso, a Novíssima Criatura. “Ela vem mais cedo que o pecado” (G. Bernanos). De fato, a Virgem Imaculada é o fruto primeiro e melhor da potência redentora de Cristo. “Ela foi redimida de modo mais sublime”, isto é, preventiva e radicalmente (LG 53). É precisamente porque o Povo fiel está convencido do poder soteriológico de Cristo, atuando até a raiz do pecado e mesmo antes dele, que acredita na Conceição imaculada de Maria. Note que a ideia de “redenção preventiva” ou “pré-redenção” é do franciscano Duns Scotus, o grande advogado do dogma da Imaculada. Dizia que o perfeitíssimo Redentor 24

devia remir de modo perfeitíssimo a Virgem perfeitíssima. Scotus usou muito um argumento que tinha sido elaborado por discípulos de Sto. Anselmo († 1109), como Eadmero, e que soa: “(Deus) pôde, convinha, então fez” (potuit, decuit, ergo fecit).

III. APLICAÇÕES DO DOGMA DA IMACULADA 1- Confiança inabalável na força radical da graça redentora A graça do Redentor pode sanar nossa vida pela raiz. Pode nos tornar “imaculados” (cf. Ef 1,4; está na primeira leitura da festa da Imaculada). Devolve-nos a justiça original. Faz-nos voltar ao Paraíso (cf. Ap 22,1-2). Até aí vai a eficácia do perdão de Cristo: ele nos refaz de alto a baixo, nos recria totalmente. O perdão não fica apenas na reparação. Vai até a renovação: tornamo-nos novamente novos. O perdão redentor nos “revirginiza”, por assim dizer. Certo, o modo de redenção para nós é curativo, enquanto para a Virgem foi preventivo. Contudo, o efeito final é o mesmo: o surgimento da nova criatura, o tornarnos imaculados. 2- Maria Imaculada: no centro da luta contra o mal A Toda-santa pode ser associada a uma concepção agonística ou combativa da fé. Ela inspira a luta contra toda injustiça em nós e no mundo. Mas não parece, pode-se pensar. Pois não foi Maria isenta de todo pecado, inclusive da concupiscência, essa inclinação ao fechamento egoísta sobre si mesmo, essa dificuldade de dizer sim ao Amor? De fato, Ela foi a parceira perfeita de Deus. Correspondeu plenamente à sua graça. Viveu com Deus uma reciprocidade plena. Ela foi a esposa sempre fiel que “faz a alegria” de seu Esposo divino (cf. Is 62,5). Tudo isso parece dizer que para a Virgem Imaculada tudo era fácil. Mas não é verdade. A verdade é que a SS. Virgem também foi tentada, como Eva no Paraíso, como o próprio Cristo, como cada um de nós. Dela foi profetizado: Uma espada transpassará a tua alma (Lc 2,35). Isso significa: a espada da Palavra de Deus atravessará toda a tua vida, fazendo sentir suas exigências extremas.13 João Paulo II sublinhou o fato de que a Mulher nova enfrentou durante toda a sua vida uma luta gigantesca contra o maligno (cf. Redemptoris Mater 47 e 52). A grande diferença conosco é que ela nunca cedeu ao Sedutor, mas foi sempre sim a Deus. Disso tudo podemos concluir que a Imaculada permanece, para nós, como exemplo máximo de lutadora, que não sofreu a menor derrota do maligno. 3- Visão realista do pecado e visão esperançosa da graça O contexto histórico da declaração do dogma da Imaculada (meados do século XIX) 25

era o racionalismo, com sua visão idealista da onipotência da razão, a qual traria o progresso, a liberdade e a felicidade para todos. Proclamando o dogma da Imaculada, a Igreja ensina, ao contrário, um “realismo otimista”: a) “realismo”, porque sabe que subsiste sempre o poder do pecado e sua imensa influência nos corações e nas estruturas da sociedade, sendo eliminado totalmente apenas no fim dos tempos. Nada, pois, do mito ingênuo e ilusório de um “paraíso na terra”; b) “otimista”, porque a Igreja sabe também que existe mais ainda a força da graça redentora, pela qual podemos resistir vitoriosamente ao pecado e que pode criar corações e situações melhores que as anteriores. Pois, onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5,20).

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ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU EM CORPO E ALMA

I. DADOS DA FÉ 1- Magistério: declaração dogmática Há uma definição dogmática infalível acerca da Assunção: está na constituição Munificentissimus Deus (Deus generosíssimo), de Pio XII, de 1950. Eis os termos soleníssimos em que foi proclamado o dogma em 1º de novembro de 1950: Depois de termos elevado a Deus nossas insistentes preces de súplica e de termos invocado a luz do Espírito da Verdade; para a glória de Deus onipotente, que na Virgem Maria derramou sua especial benevolência; para honra de Seu Filho, Rei imortal dos séculos e Vencedor do Pecado e da Morte; para a maior glória de sua augusta Mãe; e para a alegria e exultação de toda a Igreja; pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e pela Nossa, PRONUNCIAMOS, DECLARAMOS E DEFINIMOS ser dogma revelado por Deus que: a Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrena, FOI ASSUNTA À GLÓRIA CELESTE EM CORPO E ALMA. Por isso, se alguém (que Deus não o permita!) ousasse negar ou pôr em dúvida voluntariamente o que foi por nós definido, saiba que decaiu da fé divina e católica (DH 3903-3904)14. 2- Senso dos fiéis O dogma da Assunção é, além da Imaculada, outra “vitória” do senso dos fiéis, que não se engana em questões de fé (infalibilitas in credendo; cf. LG 12). O sensus fidelium não funda dogma algum, mas testemunha a verdade de um dogma. Pio XII, na constituição Munificentissimus Deus, refere-se ao argumento decisivo da chamada 27

“conspiração dos bispos e dos fiéis”. A fé na Assunção é um factum ecclesiae. Isso se mostra claramente nas várias expressões do sensus fidelium, especialmente no chamado movimento assuncionista. a) De fato, o movimento assuncionista jogou sobre Roma uma avalanche de petições em favor do dogma. Eis as etapas desse processo: – Os primeiros a fazer tal solicitação foram: o Pe. Cesário Shguanin († 1769), Servo de Maria, quase duzentos anos antes da definição.15 Veio depois, em 1863, a rainha da Espanha, Isabela, sob sugestão de Sto. Antônio M. Claret. Pio IX respondeu a esses pedidos que a Assunção era, sim, uma verdade de fé, mas que não tinha ainda chegado o tempo de sua definição. – Outros entusiastas se jogaram na iniciativa: D. Luigi Vaccari, beneditino e depois bispo, que tentou mobilizar os bispos no Vaticano I para declarar o dogma, tendo sido freado pelo Santo Ofício; o advogado, hoje beato, Bártolo Longo, fundador do Santuário de Pompei, no início do século XX, que recolheu milhares de assinaturas dos peregrinos em favor do novo dogma. Graças aos missionários, esse movimento se espalhou pela África, pela Ásia e pela Oceania. No Brasil, em particular, recolheram-se 100 mil assinaturas. A reação dos Papas Pio X e Bento XV foi mandar aprofundar a questão do ponto de vista teológico. – Já a partir dos anos 30 do século XX, mais e mais petições foram se acumulando em Roma graças ao trabalho de promoção do dogma de homens como o padre jesuíta Salvador, de novo o beato B. Longo (12 vol. em 1929) e o padre estadunidense Mateus Crawley. Mais de 150 mil imagens da Assunta foram distribuídas pelo mundo. Resultado: de 1863 até 1921 tinham sido recolhidas mais de 1,6 bilhão de assinaturas em favor do dogma; e de 1921 até 1940, quase 6,5 bilhões. De cada cinco dioceses no mundo, quatro tinham feito esse pedido. Em 1942, esses documentos foram reunidos por G. Hentrich e R. G. de Moos em dois grandes volumes. – Enfim, como fizera Pio IX para o dogma da Imaculada, também Pio XII consultou, em 1946, os bispos do mundo inteiro para verificar o sentimento do povo fiel a respeito da doutrina da Assunção. Mais de 98% responderam positivamente. (Isso é democracia! Mas é uma “democracia de verificação”, não “democracia de constituição”, como as modernas.) b) Expressões do “senso dos fiéis”. Como dissemos, este foi decisivo para a definição do dogma da assunção, como pode ser verificado ao longo da história pelas seguintes mediações: – Apócrifos assuncionistas. Começaram talvez ainda no século II nos círculos judeocristãos e explodiram no Oriente a partir do século VI. Falavam do fim da vida de Maria em termos de dormição (kóimesis), de trânsito ou de descanso. O relato, embora 28

contado em muitíssimas e variadas versões, continha cinco episódios: • Um anjo anuncia a Maria sua morte próxima. • Todos os apóstolos são milagrosamente transportados ao redor de seu leito. • A Virgem morre como todo ser humano (o que favorece a tese mortalista). • No enterro, os judeus fazem protestos contra Ela, chamando-a a “mãe do sedutor”. • Depois de sepultada, Maria ressuscita e é levada ao Paraíso.16 É um pouco estranho que, antes da explosão dos apócrifos assuncionistas pelos anos 500, só haja indícios vagos do destino final da Virgem. A hipótese do Pe. B. Bagatti (que no início dos anos 1970 encontrara no Vale de Josafat, em Jerusalém, o túmulo em que Maria fora depositada) é a seguinte: nos primeiros séculos, o túmulo de Maria estava sob os cuidados dos judeo-cristãos, de modo que a grande Igreja, da qual eles se separaram, acabou perdendo contato com a tradição do “trânsito” corporal de Maria. – Festas. O Povo começou a celebrar a festa litúrgica da Assunção, fixada em 15 de agosto (seria o dies natalis de Maria, como para os santos), desde o século VI, na Basílica que a imperatriz Eudóxia (século V) tinha mandado construir no lugar do “passamento” de Maria em Jerusalém. O imperador Maurício (582-602) levou esta festa para Bizâncio e a difundiu por todo o Império, de modo que se tornou, com o tempo, a maior festa mariana, promovendo assim a crença na Assunção. Já no Ocidente a festa teve início no século VII em Roma, com uma procissão solene que começava com a famosa oração “Veneranda”: É para nós digno de veneração este dia (veneranda dies) em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal. Não podia, entretanto, ficar submetida aos laços da morte Aquela que gerou de si mesma e encarnou o vosso Filho, Senhor nosso. Essa festa, já então chamada de Assunção, era realizada com grande solenidade na corte de Carlos Magno, ao qual o Papa Adriano I enviara aquela oração. Sublinhava-se então fortemente o aspecto da Assunção corporal da Virgem. – Homilias. Na festa da Assunção, os homiliastas começaram a exaltar Maria, falando de sua Assunção também corporal, como Teoktenos, Bispo de Lívia, perto de Jericó (século VI). Usavam-se aí os chamados “argumentos de conveniência”, aplicando à Virgem gloriosa diversas imagens bíblicas (cf. infra). Explicava-se que a Virgem fora arrebatada ao céu ao modo de Henoc (Gn 5,24) e de Elias (2Re 2,3.5.9.10). – Imagística. O povo devoto e seus artistas começaram a representar a Virgem subindo ao céu, transportada por Cristo ou pelos anjos; ou ainda a Virgem reinando no 29

céu, como a Mulher do Apocalipse (cap. 12). 3- Santos Padres Para o dogma da Assunção, o papel dos Santos Padres não é relevante. Foi um dos motivos pelos quais o célebre patrólogo B. Altaner, em 1948 e 1950, se pronunciou contra a declaração do dogma da Assunção. Mas o Pe. Filograssi objetou dizendo que, se há consensus fidelium, isso é sinal (não prova) de que aquela verdade deve estar no depósito revelado. Antes do século VIII, na Patrística, há apenas débeis indícios sobre a Assunção corporal, e isso somente a partir do final do século IV, com Sto. Efrém, Timóteo de Jerusalém e Sto. Epifânio. Este, no Panarion (377), declara que as Escrituras nada nos dizem sobre o fim da Virgem e que, portanto, é preferível ficar numa atitude de silêncio e de meditação. Os grandes Padres da “idade de ouro” (séculos IV e V) nada dizem sobre o tema. Aliás, para preencher esse estranho silêncio foram inventados dois “falsos” (cf. infra). Foi só na Patrística tardia que emergiu a doutrina da Assunção corporal. No Ocidente, o primeiro a defendê-la foi Gregório de Tours, no século VI. Depois vieram Sto. Ildefonso, no século VII, e S. Beda, no século VIII. Foi, porém, no Oriente e a partir do século VIII que o tema da Assunção começou a ganhar um maior desenvolvimento, graças especialmente às homilias de Padres como Germano de Constantinopla, André de Creta, João Damasceno e Teodoro Estudita. No século IX surge um “falso”, a carta Cogitis me (vós me obrigais) atribuída a S. Jerônimo (século IV), mas que era em verdade da mão do monge Pascásio Radberto. Aí se levantam dúvidas sobre a autenticidade do apócrifo Transitus e em particular sobre o aspecto corporal da glorificação da Virgem, sem, contudo, excluí-lo de todo. Esse escrito teve grande influência na Igreja latina: bloqueou por muito tempo o desenvolvimento da crença na Assunção, também por ter sido usado no Breviário romano durante setecentos anos, até a reforma de Pio V (1568). Mas, para rebater esse escrito, surgiu lá pelo século XII um outro, o Livro da Assunção da Beata Maria Virgem. Este era mais um “falso”, posto agora sob o nome de Sto. Agostinho (século V). A base de sua argumentação teológica é esta: “carne de Cristo – carne de Maria”. Esse escrito contribuiu muito para manter viva a consciência assuncionista, pois contava com o reconhecimento de Sto. Alberto, de S. Tomás, de S. Boaventura e de outros doutores.17 Uma versão desse escrito foi inserida na Legenda áurea de Jacopo de Varazze († 1298), difundindo mais ainda entre o povo a devoção da Assunção.18 4- Bases bíblicas Não há nenhum texto explícito e direto da Bíblia que fale da Assunção de Maria (como, de resto, não há da Theotókos, da Trindade e dos Sete Sacramentos). O que há 30

são temas bíblicos, a partir dos quais a Comunidade eclesial, em sua tradição viva, chegou à descoberta (não à invenção) desse novo dogma. Este não está na Escritura, mas se deduz a partir da Escritura. Não é, pois, este ou aquele texto, mas o conjunto da mensagem bíblica que depõe em favor da glorificação também corporal da Mãe de Jesus. Portanto, o “último fundamento” desta verdade está na Bíblia, como afirma a proclamação dogmática (DH 3900). As ideias comuns de todos esses temas são duas: a íntima associação de Maria ao destino do Filho e sua santidade plena. Uma e outra coisa levaram o Povo de Deus a descobrir a verdade da glorificação imediata e total da Mãe de Deus. Eis os principais temas bíblicos que sustentam esse dogma: a) A Mulher vitoriosa sobre a serpente: Ela te ferirá a cabeça (Gn 3,15). Maria, portanto, vence o pecado e também suas consequências: a morte e sua corrupção. b) A Nova Eva: como Ela não comeu do “fruto da morte” (Gn 3,6/Lc 1,38), Ela também não podia morrer corporalmente. c) A nova Arca: como a madeira da velha Arca devia ser incorruptível, por isso tinha que ser de acácia, mais ainda devia permanecer incorruptível o corpo imaculado e virginal de Maria, inteiramente consagrado a Cristo e à sua missão, não podendo, portanto, ser destruído pela morte (Ap 11,19). Segundo os Santos Padres, vale para a Assunta o que se diz da arca: Levantai-vos, Senhor, para vir ao vosso repouso, vós e a arca de vossa majestade (Sl 131,8). Ora, na Ascensão, Cristo se levantou; logo, Maria, sua arca, deve tê-lo seguido. d) A Mãe perfeita: Jesus, filho perfeito, como manda o quarto mandamento, deve ter honrado perfeitamente sua perfeita mãe. Como, podendo e devendo, não iria fazê-lo, senão elevando-a ao céu, também com o corpo? e) A Rainha-mãe: A Mãe do Rei merecia ser colocada à direita do Filho, vitorioso da morte (Sl 44).19 Também a Rainha-esposa se senta no trono do Rei: Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu Amado? (Ct 8,5). f) A Mulher vestida de sol: ela é subtraída ao ataque do mortífero dragão (Ap 12, que corresponde à primeira leitura da festa da Assunção). A Igreja viu na “Mulher” a figura da Virgem glorificada, “imagem escatológica da Igreja” (LG 68). g) Maria, a primeira pessoa humana tocada plenamente pelo poder da ressurreição de Cristo (Fl 3,10). Pois ensina S. Paulo: Assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem – como primícias, Cristo; em seguida, os que forem de Cristo… (1Cor 15,22-23). Ora, a Virgem foi a criatura que mais “pertenceu” a Cristo. Ela será, portanto, a primeira a receber o efeito de sua Ressurreição, ressuscitando logo após a morte. K. Rahner, em escrito póstumo, diz que Maria, para ser a Redimida primeira e 31

integral, tinha que ressuscitar e tornar-se, assim, o elo entre o “Primogênito dentre os mortos” e a humanidade à espera da ressurreição.20 h) A Santa Virgem como “singular e generosa companheira” de seu Filho (LG 61: generosa socia). Ora, se Ela participou fiel e plenamente do destino de Jesus na humilhação, como não haveria de participar também de sua glorificação? De fato, lê-se: Se morrermos com Ele, com Ele viveremos. Se soubermos perseverar, com Ele reinaremos. (2Tm 2,11-12; cf. Mt 19,27-30).

II. EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA 1- Como se nota pelos termos da definição dogmática, o dogma da Assunção tem caráter teocêntrico e especialmente cristocêntrico: antes de exaltar Maria, exalta a SS. Trindade. Além disso, ele tem uma finalidade soteriológico-pastoral: redunda em benefício de todo o Povo de Deus. 2- Como sugere também a definição dogmática, o dogma da Assunta ganha luz quando articulado, em termos da conexão dos mistérios, com os outros três dogmas, dos quais é como a coroação: a) Quanto à Maternidade divina: Maria esteve unida a Cristo por um laço íntimo e indissolúvel, e isso em todos os níveis: corporal (pela geração), psicológico (pelo afeto) e espiritual (pela comunhão em sua missão); como poderia, então, estar separada do Filho glorioso em virtude da morte corporal? b) Quanto à Virgindade: já que o corpo de Maria, porque plasmado e ungido pelo Espírito da Vida, foi mantido sempre íntegro, como poderia ter sofrido a dissolução da morte? c) Quanto à Imaculada conceição: por ser Toda-santa (Panaghia), Maria nada deveu ao pecado e, portanto, também nada à morte, que é o salário do pecado (Rm 6,23). 3- Note que a definição infalível não diz que Maria foi elevada “ao céu”, como se diz de modo popular, mas precisamente que foi assunta “na glória celeste”, a fim de evitar todo entendimento espacializado do fato da Assunção. Ademais, o “foi assunta” (ou assumida ou ainda arrebatada) é um passivo divino: foi Deus que elevou Maria à Glória do Reino. 4- Sobre a morte ou não de Maria. Na definição infalível do dogma da Assunção, Pio XII diz: “terminado o curso de sua vida terrena…”. Essa expressão deixa em aberto a questão teológica: Maria morreu de verdade, como pensa o conhecido mariólogo franciscano Balic’, ou só adormeceu (morte aparente), como defende o grande estudioso deste dogma M. Jugie? A tese mortalista, de que a SS. Virgem morreu mesmo, representa hoje a tendência dominante, mas não única.21

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5- Há teólogos hoje que repensam a Assunção no quadro da escatologia da ressurreição “na” morte e não “depois” da morte. Afirmam, em consequência, que a Assunta não seria um caso exclusivo, mas apenas típico. Sem falar na debilidade antropológica e bíblica desta visão teológica equivocada, ela esvazia o sentido da Assunção como privilégio mariano, tão enfatizado pela bula definitória (que repete treze vezes o termo “privilégio”).22

III. APLICAÇÕES ATUAIS DO DOGMA DA ASSUNÇÃO23 1- A Virgem na glória é “sinal de esperança segura e de conforto para o Povo de Deus peregrino” (LG 68). Isso porque Ela é a “imagem e o começo da Igreja consumada” (LG 68). Sem dúvida, a Ressurreição de Cristo é garantia bastante forte para a nossa, mas a Assunção de Maria reforça tal garantia e lhe acrescenta novos matizes, tipicamente femininos. Assim também, a Assunção confirma o sentido da vida como plenitude de felicidade em alma e corpo. O fiel se convence mais fortemente de que o destino do ser humano é a glória perene e total. Somos cidadãos dos céus… Jesus Cristo transformará nosso mísero corpo… semelhante ao seu corpo glorioso (Fl 3,20-21). A festa da Assunção é a festa de nosso destino. Desse modo, esse dogma se torna, ao lado e depois da Ressurreição de Cristo, terapia para o desespero humano diante do absurdo e do vazio valorial provocados pela “morte de Deus”. Ademais, afirmando que Aquela que sofreu as “sete dores” é agora coroada com “doze estrelas”, a Assunção aparece também como resposta ao problema do sofrimento. 2- A Assunção é base da presença pneumática e, consequentemente, da intervenção poderosa da Mãe de Deus na história humana. Glorificada em corpo e alma, a Virgem está particularmente presente a nós e pode mais junto de Deus. Com um corpo espiritual(izado), Ela está perto de cada um e plenamente viva no meio do povo de Deus. Ela é, por assim dizer, a nova Arca da aliança e a nova Shekihah (tenda ou morada). Sua presença materna é uma presença realíssima, presença em corpo e alma, de sorte que Maria se torna verdadeiramente “protagonista da história” (Puebla 293). Tal presença pneumática suscita no povo fiel, em relação a Ela, confiança ilimitada e súplica em todas as circunstâncias.24 3- A Virgem gloriosa é um sinal eloquente do jeito de Deus agir: Ele exalta os humildes (Lc 1,52b; cf. Lc 14,11.18). De fato, Maria é a Serva (Lc 1,38.48) que foi elevada a Rainha. Isso infunde imensa esperança aos “humilhados e ofendidos” de nossa sociedade e desperta neles a coragem para lutar por sua dignidade. 4- A Assunta afirma o valor da vida humana, que é sempre sagrada, inclusive em sua dimensão biológica. Foi uma das lições que tirou Pio XII do dogma, visto a partir da segunda Guerra Mundial, que havia pouco terminara. A Assunção é um protesto contra 33

todos os ataques à vida humana, como a guerra e a fome. Mais amplamente ainda, a Assunção exalta toda forma de vida, como quer o movimento ecológico atual. 5- O dogma da Assunção proclama a dignidade do corpo humano. Sem nosso corpo não seríamos completos e, por isso, nem totalmente felizes. Isso vale especialmente em relação aos corpos mais degradados: os corpos dos pobres (por causa da fome, da exploração e do abandono) e os corpos das mulheres (pela exploração sexual e comercial). A Assunção leva a respeitar o corpo humano, tratando-o inclusive com toda pureza e castidade. Nessa linha exclamou o Pe. Ricardo Lombardi no Coliseu, às vésperas da declaração do dogma da Assunção: “Jovens, levantai a cabeça e olhai! No céu há um corpo de mulher!”. Partindo daí, convidava os rapazes e moças a se relacionar entre si com todo o respeito. 6- A glorificação de Maria em alma e corpo é a exaltação da matéria e da terra integradas no plano da salvação. Nas expressões de K. Rahner, a Assunção é um “canto à matéria” e um elogio à “fé que ama a terra”, contra todos os caluniadores do cristianismo, que o declaram inimigo da ordem natural. Por sua parte, G. Jung, que era protestante, via no dogma da Assunção da Virgem na glória a imagem da integração apoteótica dos polos contrários: corpo e alma, matéria e espírito, terra e céu, feminino e masculino, eros e agape. A Assunção seria um símbolo que responde, com eficácia poderosa, a profundas necessidades psíquicas do povo, colaborando para seu equilíbrio emocional. No meio de suas dores e tragédias, os humildes encontram nesse símbolo uma fonte riquíssima de consolo e de esperança. Por isso, Jung, embora protestante, considera a proclamação desse dogma “o acontecimento religioso mais importante depois da Reforma”.25 7- Enfim, N. S. da Glória aponta também para a glorificação de todo o cosmos. Puebla declara explicitamente: “No corpo glorioso de Maria começa a criação material a ter parte no corpo ressuscitado de Cristo” (n. 298). Isso também é sugerido pelos sublimes atavios cósmicos que embelezam a Mulher de Apocalipse 12: o sol por manto, a lua por estrado e as estrelas por coroa!

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A MEDIAÇÃO DE MARIA: O QUINTO DOGMA?26

Existe hoje no mundo um movimento em favor do quinto dogma: o de Maria corredentora ou medianeira de todas as graças. O movimento, forte nos Estados Unidos, é animado pelo teólogo leigo Mark Miravalle, professor na Universidade Franciscana de Steubenville (Ohio) e que já publicou dois grossos volumes sobre a corredenção de Maria. O movimento naquele país tem nome (Vox Populi Maria e Mediatricis), editora própria (Queenship) e home page na internet. Aí se podem ler, em mais de uma dezena de línguas diferentes, informações sobre a campanha nos diversos países e um manifesto em favor do quinto dogma na forma de uma petição dirigida ao Papa. Para essa causa já foram recolhidas milhões de assinaturas, inclusive de centenas de bispos do mundo inteiro, entre os quais vários cardeais. O conhecido canal de TV da Ir. Angélica, do Alabama, que alcança 55 milhões de casas em todo o mundo, também entrou firme nessa campanha.27

I. DUAS TOMADAS DE POSIÇÃO DE ALTAS INSTÂNCIAS MARIOLÓGICAS28 1- Comissão do Congresso de Czestochowa Durante aquele congresso, realizado de 12 a 24 de agosto de 1996, constituiu-se uma comissão de 22 mariólogos do mundo inteiro, incluindo cinco não católicos, para analisar a questão da mediação de Maria. O grupo foi unânime em qualificar a declaração do quinto dogma como inoportuna. Para aqueles mariólogos, é preciso – e é suficiente – ficar no plano estabelecido pelo Vaticano II. Eis seus argumentos mais importantes: a) A ambiguidade dos títulos “medianeira” e “corredentora”. Estes são raramente usados pelo Magistério em seus documentos mais importantes. Os peritos lembram que, especificamente para o de medianeira, houve no início do século três comissões da Santa Sé que estudaram sua definibilidade, mas acabaram por deixar a questão de lado por ser muito complicada. b) Necessidade de um maior aprofundamento teológico. Só assim esses títulos serão bem entendidos Pelo povo de Deus e não levarão a um descentramento deletério em relação à única mediação de Cristo. E nem falemos ainda das dificuldades ecumênicas suplementares que uma definição infalível traria hoje. 2- Pontifícia Academia Mariana Internacional (PAMI)

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Essa instituição, dirigida pelos Frades Menores, manifestou, também em meados de 1996, sua posição a respeito do quinto dogma. Os mariólogos reunidos naquela ocasião julgaram também que, no que tange à doutrina da mediação mariana, o ensino da Igreja deve-se ater ao Vaticano II. Lembraram que centenas de bispos foram para o Concílio com a proposta da declaração do dogma da mediação universal de Maria, mas que, com o correr do processo conciliar, viram sua demanda se dissolver. E, assim mesmo, o capítulo conciliar sobre Maria teve no fim uma excelente aprovação. A PAMI sugere que se aprofunde a problemática da mediação mariana no quadro teológico proposto pelo Concílio, isto é, na perspectiva da maternidade espiritual de Maria, pois foi a título de Mãe do Redentor que ela cooperou com ele na obra da salvação (LG 53, 56, 61 e 63) e é a título de Mãe dos Cristãos que ela continua essa cooperação mediante sua intercessão ininterrupta (LG 62). Essa também é a perspectiva adotada por João Paulo II na Redemptoris Mater (n. 44-47).

II. A mediação de Maria de acordo com o Vaticano II O Concílio trata do tema da missão de Maria, na forma de mediação, na Lumen Gentium, capítulo VIII, em três números: 60, 61 e 62, que aqui vamos apresentar sucessivamente. O n. 60 pode ser assim resumido: a missão de Maria na redenção se dá sempre in Christo, “único mediador”, como afirma 1 Timóteo 2,5, passo que o Concílio cita logo de entrada. Portanto, a mediação mariana é uma “mediação participada” (Card. Newman). Nas palavras conciliares, ela “flui” da mediação de Cristo, “ostenta a potência” desta, “repousa” nela e “depende inteiramente” dela. Poderíamos dizer: é uma mediação “por Cristo, com Cristo e em Cristo”, nunca, pois, sem Cristo ou no lugar de Cristo. Como se vê, o Concílio se preocupa com o necessário caráter cristocêntrico da missão mediacional de Maria, isso para afastar qualquer ambiguidade que a ideia da mediação mariana poderia suscitar seja no campo ecumênico, seja no campo pastoral. Já no n. 61, o Concílio dá as razões da missão ou mediação atual de Maria na Igreja. Diz que essa missão deita suas raízes no importante papel que ela exerceu na terra, ao lado do Filho, na redenção do mundo. Efetivamente, Ela cooperou na obra do Filho com sua “fé, [sua] esperança e [sua] caridade”, e isso “de modo inteiramente singular”. Por fim, no importante n. 62, o Concílio ensina que a missão de Maria perdura no céu mediante sua intercessão, pois é este precisamente o modo como a santa Virgem medeia a graça para seus filhos: intercedendo junto a Deus. Esta é expressão de sua materna caridade, pela qual cuida de seus filhos na terra. Em resumo: a mediação de Maria, por um lado, se baseia em sua maternidade e, por outro, se exprime na forma da intercessão. É essa também, aliás, a visão adotada pela Redemptoris Mater sobre esse tema, como se vê em sua parte III. Subjacente a essa questão toda latejava, no Concílio, a ideia de um possível dogma de “Maria medianeira de todas as graças”. De fato, havia um grupo expressivo de Padres 36

conciliares (313, precisamente) que tinha apresentado uma proposta que visava à declaração daquele dogma. Mas havia outro grupo, maior ainda, que era contrário, não, porém, ao conteúdo dessa verdade, mas à oportunidade de sua declaração formal. A saída, aceita por todos, foi encontrada por G. Philips, redator do documento. Consistia em duas coisas: 1º) constatar o fato de que “Maria é invocada na Igreja sob o título de… Medianeira…” (sensus fidelium); e 2º) colocar esse título meio problemático no meio de outros, como os de “advogada, auxiliadora e adjutriz”. Na sequência do n. 62, o Concílio ensina que a “única mediação” do Redentor não é uma mediação fechada, mas aberta; não é exclusiva, mas inclusiva: ela suscita cooperação. Usa para isso duas analogias ilustrativas: 1ª) só Deus é bom, mas ele faz as criaturas tomarem parte em sua bondade; e 2ª) só Cristo é Sacerdote, mas ele faz os ministros e todo o povo de Deus participarem de seu sacerdócio. Por fim, o Magistério conciliar sublinha mais uma vez que a mediação de Maria não aparece como algo de interposto entre nós e Cristo, como se a Virgem fosse uma intermediária. Não, ela cumpre uma mediação que, de certa forma, “imediatiza” nossa relação com o Mediador de modo que: “… os fiéis, encorajados por esta maternal proteção, mais intimamente adiram ao Mediador…”. De resto, o Concílio já havia declarado no número anterior que a “missão materna de Maria… favorece a união imediata com Cristo”. Diríamos, pois, que ela não está entre nós e Cristo, mas como que ao nosso lado, para nos levar diretamente a Ele. Maria pode, assim, ser vista como o caminho mais direto, curto e rápido para Cristo. Tudo isso pode ser visualizado no esquema seguinte:

Que vemos aí? Vemos, por um lado, o lugar da mediação de Maria em relação à única mediação de Jesus e, por outro, a relação entre a mediação de Maria (via 37

intercessão) e a mediação da Igreja (via pregação e sacramentos). Note-se que tanto Maria como a Igreja refletem a dimensão feminino-materna da mediação de Cristo, a primeira na glória e a segunda na história. O essencial é perceber que ambas representam alargamentos ou extensões da única mediação de Cristo.

III. CONCLUSÃO A ideia da mediação de Maria é bíblica. Toda a vida da SS. Virgem foi mediação para Deus. Por Ela Deus entrou no mundo, como se vê bem na Anunciação. Por Ela Cristo inaugurou sua vida pública em Caná e continua até hoje a revelar sua glória, sobretudo aos pequeninos, despertando assim a fé em sua pessoa divina. Que essa convicção religiosa, tão sentida pelo povo de Deus, seja ou não declarada dogma não é questão de verdade, mas apenas de oportunidade.

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1

DH = Denzinger-Hünermann, São Paulo: Paulinas/Loyola, 2007. Trata-se de uma coleção clássica de documentos do Magistério, que os expõe em ordem cronológica. Existe agora, em português, uma coleção semelhante, que segue, porém, a ordem temática: COLLANTES, J. (org.). A fé católica: documentos do magistério da Igreja. Anápolis/Rio de Janeiro: Lumen Christi, 2003; há aí uma lista de correspondências com DH. 2

Para a história dos dogmas marianos, cf. SÖLL, G. Storia dei dogmi mariani. Roma: LSA, 1981; talvez o melhor trabalho no gênero. 3

Para uma visão mais aprofundada dos dogmas marianos, cf. TEMPO-RELLI, C. Maria, mulher de Deus e dos pobres: releitura dos dogmas marianos. São Paulo: Paulus, 2010, p. 263. Pode-se encontrar uma explanação dos quatro dogmas em qualquer tratado sistemático de mariologia, como: BOFF, L. O rosto materno de Deus. Petrópolis: Vozes, 1979; FORTE, B. Maria, a mulher ícone do mistério. São Paulo: Paulinas, 1991; GEBARA I. e BINGEMER, M. C. Maria, mãe de Deus e mãe dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1987; MURAD, A. Maria, toda de Deus e tão humana. Valência/São Paulo: Siquem/Paulinas, 2004. 4

Para localizar as citações que aqui fazemos dos Padres da Igreja, cf. os manuais clássicos de teologia dogmática, como os de L. OTT, TANQUEREY ou BART-MANN, inclusive os modernos, como o de J.-C. R. GARCÍA PAREDES, Mariología (“BAC manuales”, 1995), e também os dicionários teológicos (os verbetes relativos aos quatro dogmas marianos), em particular DE FIORES, S.; MEO, S., (dir.). Dicionário de mariologia. São Paulo: Paulus, 1995. 5

Cf. LUTERO, M. O louvor de Maria (O Magníficat). São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 60.

6

Sermão 25,7-8, reportado no Ofício divino, leitura da festa “Apresentação de N. Senhora” de 21 de novembro, e citado em CNBB, Com Maria rumo ao novo milênio. São Paulo: Paulinas, 1998, p. 92. 7

A versão portuguesa em uso tem a tradução fraca: “E permanecendo virgem”.

8

Cf. Protoevangelho de Tiago, XX,1-4, publicado sob o título História do nascimento de Maria. Petrópolis: Vozes, 1988. 9

Quadrinha que teve o condão de “convencer” finalmente o comandante Rolim, fundador da TAM, acerca da virgindade de Maria, como conta na revista de bordo da companhia: Classe, n. 77, 1999, p. 5. 10

Cf. por exemplo BOFF, L., O rosto materno de Deus, op. cit., p. 160.

11

Para toda a questão da virgindade de Maria, particularmente in partu, cf. PERRELLA, S. (OSM). Maria, vergine e madre. Milão: San Paolo, 2004, para o qual escrevi um posfácio. 12

Pio IX, em 1857, achando-se em Ímola, onde fora bispo, revelou, por solicitação da Superiora do orfanato que ele mesmo fundara, as impressões que sentiu no momento solene em que pronunciou a fórmula dogmática: “Quando comecei a publicar o decreto dogmático, sentia minha voz impotente para se fazer ouvir pela imensa multidão (50 mil pessoas) que se apinhava na Basílica Vaticana. Mas, quando cheguei à fórmula da definição, Deus deu à voz de Seu Vigário tal força e tal vigor sobrenatural, que fez ressoar toda a Basílica. E eu fiquei tão impressionado por tal socorro divino que fui obrigado a suspender, por um instante, a palavra para dar livre desafogo às minhas lágrimas. Além disso, enquanto Deus proclamava o dogma pela boca de Seu Vigário, ele mesmo deu a meu espírito um conhecimento tão claro e tão grande da incomparável pureza da SS. Virgem que, abismado na profundidade desse conhecimento, o qual linguagem alguma poderia descrever, minha alma ficou inundada de delícias inenarráveis, delícias que não são terrenas e que não se poderiam provar senão no céu. Nenhuma prosperidade, nenhuma alegria deste mundo poderia dar daquelas delícias a menor ideia. E não temo em afirmar que o Vigário de Cristo precisou de uma graça especial para não morrer de doçura, sob a impressão de tal conhecimento e de tal sentimento da beleza incomparável de Maria Imaculada. Tu, minha caríssima filha, foste felicíssima no dia de tua primeira comunhão e mais ainda no dia de tua profissão religiosa. Eu mesmo conheci o que significa ser feliz no dia da ordenação sacerdotal. Ora bem, reúne todas essas felicidades, com outras ainda, multiplica-as sem medida para fazer todas juntas uma só felicidade, e tu terás, assim, uma pequena ideia do que provou o Papa no dia 8 de dezembro de 1854”: ap. BERTETTO, D. Il Papa dell’Immacolata Pio IX. Brescia: Civiltà, 1972, p. 63-65. 13

Nesse sentido preciso, cf. o eruditíssimo trabalho de SERRA (OSM), A. “Una spada trafiggerà la tua vita”.

39

Quale spada? Bibbia e tradizione giudacio-cristiana a confronto. Palazzago (BG)/Roma: Servitium/Marianum, 2003. 14

Veja também Catecismo da Igreja Católica, n. 966. Conta-se que, na hora da definição dogmática, o Céu quis dar um sinal de aprovação: a celebração solene na Praça de São Pedro, que se abrira com o céu fechado, no momento da proclamação dogmática foi subitamente iluminada pelo sol em todo o seu esplendor. 15

Sobre esse teólogo, D. Moacyr Grechi, Servo de Maria e atual arcebispo de Porto Velho fez em 1961 um trabalho monográfico no “Marianum” de Roma. 16

A Editora Vozes publicou esse apócrifo sob o título: Morte e assunção de Maria, Petrópolis, 1991.

17

C. Balic’ recolheu, do início até o Concílio de Trento, nada menos que 145 testemunhas “assuncionistas”.

18

O melhor estudo histórico-doutrinal sobre a Assunção é de JUGIE, M. La mort et l’Assomption de la Sainte Vierge. Cidade do Vaticano, 1944. 19

Os textos de Mateus 2,11 (Magos) e de Lucas 1,32-33 (Visitação) fazem alusões a Maria como Rainha-mãe (Ghebirah). 20

Cf. tese de doutorado de BÜREN, F. J. P. van. La tierra en el cielo. Roma: Gregoriana, 2004.

21

Em uma das catequeses de quarta-feira, João Paulo II mostrou-se inclinado para a tese mortalista.

22

A Comissão Teológica Internacional no documento A esperança cristã na Ressurreição, de 1990, Vozes, 1994 se opõe à escatologia da “morte total” seguida da “ressurreição imediata”, e repropõe a ideia do tempo intermédio entre o pós-morte e o fim dos tempos. 23

Cf. BOFF, C. Mariologia social. São Paulo: Paulus, 2006, p. 523-545

24

Cf. nesse sentido a tese de doutorado, de 1983, na Gregoriana, de PIZZARELLI, A. La presenza di Maria…, Cinisello Balsamo, 1990. 25

Cf. JUNG, C. G. Resposta a Jó, in Obras completas. Petrópolis: Vozes, 1979. vol. XI/4, p. 103-112.

26

Cf. para uma síntese com bibliografia: MEO, S. Mediadora in MEO, S. e DE FIORES, S. (dir.), Dicionário de mariologia, op. cit., p. 865-876. Retomamos aqui parte do que escrevemos em Introdução à mariologia. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 105-110 e p. 123-125. 27

Cf. Newsweek de 25 de agosto de 1997 (com a imagem da Virgem na capa), p. 41- 47. Mais informações em Il Regno, nº 16 (15 set. 1997), p. 469. 28

Cf. Il Regno, nº 17 (1º out. 1997), p. 530-533.

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Diretor Geral: Marcos Antônio Mendes, CMF Vice-Diretor: Oswair Chiozini, CMF Diretor Editorial: Luís Erlin Gomes Gordo, CMF Gerente Editorial: J. Augusto Nascimento Editor Assistente: Valdeci Toledo Revisão: Lucrécia Freitas, Maurício Leal Diagramação: Marcos Gubiotti Produção Gráfica: Carlos Eduardo P. de Sousa Arquivo ePub produzido pela Simplíssimo Livros

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Índice Como interpretar os dogmas marianos Maternidade divina Virgindade perpétua de Maria Imaculada Conceição Assunção de Maria ao céu em corpo e alma A mediação de Maria: o quinto dogma? Notas Créditos

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