Do Livro Das Sonoridades de Silvio Ferraz

May 4, 2017 | Author: Donizeti de Paula | Category: N/A
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Do Livro das Sonoridades, Sonoridades, de Silvio Ferraz.

"Compor é como fazer uma casa. É desenhar um lugar. Os elementos para esta operação, cada um os toma de um canto. E aqui as harmonias, as séries, as pequenas reiterações, as sonoridades reer!erantes, os pequenos ogos de resson#ncia... ... fazer uma casa ou nicho é como que deixar claro que ali vive alguém, vive alguma coisa. ... o ritornelo, não é apenas voltar ao mesmo ponto, retomar do inicio, mas uma questão de território, de lugar. De escolher, fazer, sair e retomar este lugar. $%&' lugar. $%&' (e desenho um lugar, e faço com que o ouinte ia um pouco neste lugar, posso !rincar tam!ém de fazer com que ele se sinta tranq)ilo naquele lugar, ou com que tenha esta tranq)ilidade a!alada quando, de repente, e isto tem de ser de repente, o faço sentir*se arrastado para fora daquele lugar+ era nisto que consistia o ogo de modulação do classicismo, lear o ouinte para passear em um ponto em que ele não se reconhecesse mais... $%' - msica é feita desses ogos de criar e desfazer lugares. /oc0 escolhe um centro, gira em torno dele com alguns elementos e, de repente, é atra1do por outro centro, e da1 retoma o moimento. $...' 2ão se compõe o lugar lugar com uma matéria matéria que tem uma forma, ou sea, com linhas linhas duras... ou mesmo com uma forma preenchida de matéria, mas com estas formas e matérias desmanteladas. $...' 3itornelos que não estarão mais atados 4s forças do passado e presente, como matéria ou forma, mas a outras forças $...' falar uma primeira ez em forças que estão $%5' no futuro. Estão no futuro porque são impro6eis, impro6eis, nada do presente ou do passado passado me audam audam a deduzi* deduzi*las las.. (ão tais tais part1c part1cula ulass que chamam chamamos os de materi material al compos composici iciona onal, l, e o desmanche da forma e da matéria, o modo deste desmanche, 6 é tam!ém uma força do futuro, ou que conecta com o futuro. -o contrario do que se ensina nas academias de criação, nunca se compõe com a forma musical ou com a matéria sonora, mas com as part1culas impro6eis que, se foram um dia forma e matéria, o foram por pouco tempo. $...' 2o ritornelo o que olta não é o elemento, não é a forma nem a sonoridade $...' o que olta é a potencia de fazer msica, a potencia de fazer e desfazer lugares, pot0ncia de escuta. $... ' $%7' Criar lugares é tam!ém criar locais de insta!ilidade, criar zonas de tur!ul0ncia8 terrenos que muitas ezes podem ser a interseção de dois ou mais terrenos8 momentos em que o ouinte e o compositor compositor,, e por que não, tam!ém o intérprete, intérprete, se 0 atra1do atra1do por mais de uma força, por mais de um ei9o+ harmonia agante. Esses terrenos inst6eis podem surgir de tais mi9agens, ou ainda da altern#ncia r6pida de lugares, como nas !ricolagens, como no (acré de (trains:;. $&essiaen, como em lee e andins:; ou P;gia Clar: . Desdo!ramentos da mesma m6quina. G

"- arte não espera o homem para começar, podendo*se até mesmo perguntar se ela aparece ao homem sJ em condições tardias e artificiais." ... "O territJrio seria o efeito da arte. O artista, o primeiro homem que desenha uma !orda ou faz uma marca." (!). (!). Eu posso pensar comportamentos humanos com os mesmos dispositios com que penso !a!u1nos, sa!i6s ou coelhos, 6 que somos todos animais territoriais. ?or que esperaria encontrar tanta dist#ncia, tanta diferença, entre os nossos modos de musicar, por que mesmo não !uscar dispositios comuns 4s nossas msicasI 2a erdade, o noo recorte produzido no ritornelo não se limita a esta indistinção epistemolJg epistemolJgica ica entre "natureza", "natureza", no sentido sentido dos seres ios, e "cultura" "cultura".. Ela propõe todos os atraessamentos e começa antes+ muito antes dos ritmos nascerem como passagens entre meios, os prJprios meios são ritmos, como repetições periJdicas, e são os ritmos que os constituem que os tornam comunicantes. >uito antes dessa conflu0ncia da etologia, tirando os homens de sua solidão infinita e os deolendo ao reino dos seres animados, a indiiduação f1sica, indiiduação da matéria 6 é tomada como informação e ritmo $passagem cont1nua ou repetição' * inspiração da H1sica de Kil!ert Kil!ert (imondon * "não é apenas apenas o io que passa constante constantemente mente de um meio a outro, são os meios que passam um no outro, essencialmente comunicantes"(") comunicantes"(").. Os moimentos prJprios das forças e dos meios ensinam ao p6ssaro, como ao msico msico humano humano,, seus seus dispos dispositi itios os de passag passagem, em, a como como agenci agenciar ar elemen elementos tos,, matéri matérias, as, ordens, ordens, dimens dimensões ões heterog heterog0ne 0neas, as, como como ritmar ritmar,, e como como interag interagenc enciar iar.. - nature natureza za como como msica, como nas relações de contraponto enumeradas por on Qe9:)ll, entre a espa e a orqu1dea, a !oca*de*leão e a mamangaa... Como etJlogos, Deleuze e Kuattari desenolem conceitos estritamente musicais mas que ão serir para o estudo de comportamentos os mais diersos, como por e9emplo, os conceitos de personagem r1tmico e paisagem melJdica. O primeiro nasceria dos impulsos internos do animal em direção ao e9terior e o outro, das circunst#ncias e9ternas do meio 4s quais é preciso preciso responder, responder, mas no ritornelo ritornelo do p6ssaro*m p6ssaro*msic sico, o, por e9emplo, se articulari articulariam am em moime moimento nto,, alterna alternando ndo suas suas posiçõ posições es de fi9o fi9o e ari6 ari6el, el, motio motio e contra contrapon ponto, to, na autonomia da e9pressão, como em qualquer peça musical em que se faça ariar os ritmos e harmonizar a melodia. >uitos dos operadores*efetuadores da m6quina do ritornelo parecem se localizar num noo espaço comum 4 etologia e 4 etnologia. Operações prJprias 4 constituição de territJrios como a das especializações, dos ritmos diersos, !ase para as profissões, os of1cios, as ordenações sociais, montadas como a partir das dist#ncias cr1ticas entre os animais da mesma espécie, e a coni0ncia de animais de espécies diferentes no mesmo espaço8 a reorga reorganiz nizaçã ação o das funçõe funçõess e reagrup reagrupame amento nto das forças forças,, como como efe efeito itoss artic articula ulados dos destes destes regimes coletios na apropriação dos territJrios8 o surgimento dos ritos e das religiões como a "intensão" emergente dos regimes de forças territoriais elas mesmas ariadas e conflitias em sua relação com a =erra, ou o caos8 o papel do 2atal, em relação 4s migrações periJdicas tanto de "poos" animais $salmões, lagostas, 6rios tipos de p6ssaros' quanto de homens, como mais um efeito dessa m6quina do territJrio+ um centro intenso, no mais profundo do terri territJ tJri rio, o, mas mas que que pode pode esta estarr situ situad ado o fora fora do terri territJ tJri rio, o, no pont ponto o de con conerg erg0n 0nci ciaa de territJrios muito diferentes ou muito afastados, a!ertura para o Cosmos. Qma leitura atenta mostra que não se trata simplesmente de uma redução do etnolJgico ao etolJgico8 a questão do 2atal aparece por e9emplo numa discussão de Kenética so!re as relações entre o inato e o adquirido8 uma outra noção * a de consist0ncia * consist0ncia dos componentes de um agenciamento territorial * lea primeiro a uma discussão %

do funcio funcionam nament ento o do sistem sistemaa neros neroso o e seus seus dois dois princi principai paiss modelo modeloss * ar!ores ar!orescen cente te ou rizom6tico, na linguagem de D. e K *, e depois ai se alimentar da teoria da consolidação, do matem6 matem6tic tico o Eugene Eugene Dupréel Dupréel * aprese apresenta ntando ndo as operaç operações ões de interca intercalaç lação, ão, produç produção ão de interalos e superposições*articula super posições*articulações. ções. =rat =rata* a*se se,, na erda erdade, de, do méto método do,, se se pode pode fala falarr assi assim, m, que que atra atrae ess ssaa a construção de conceitos em todo o >il ?latLs+ trata*se de pensar segundo os princ1pios do 3izoma 3izoma,, "princ "princ1pi 1pios os de cone9ã cone9ão o e heterog heterogene eneida idade" de",, quando quando "cadei "cadeias as semiJt semiJtica icass de toda toda natureza, são conectadas a modos de codificação muito diersos, cadeias !iolJgicas, pol1ticas, econLmicas, etc, colocando em ogo não somente regimes de signos diferentes, mas tam!ém estatu estatutos tos de estado estadoss de coisas coisas"" (#)8 (#)8 o "principio de multiplicidade", quando se supera a dicotomia do uno e do mltiplo, a multiplicidade "tem determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que mude de natureza $as leis de com!inação crescem então com a multiplicidade'"8 o "principio de ruptura a*significante" * "um rizoma pode ser rompido, que!rado em qualquer lugar, e tam!ém retoma, segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas" ($). ($). >as, então eu queria oltar ao moimento do (ilio Herraz, de pensar a composição musica musical. l. Hazend Hazendo o um recort recortee ar!itr ar!itr6ri 6rio o entre entre os compos composito itores res contem contempor# por#neo neos, s, escolh escolhii Hrançois Na;le, pensador e compositor de musica concreta ou acusm6tica, como ele prefere chamar, disc1pulo e continuador da !usca iniciada por ?ierre (chaeffer, e que faz a seu modo uma composição rizom6tica. "Qm compositor é o!rigatoriamente pragm6tico. Qm !ricoleur, alguém que comete erros, que unta uma sugestão de idéia a outra sem se aperce!er que elas não agem no mesmo plano. >as uma asson#ncia, uma rima, um disparate fazem e9perimentar a ontade de por essas idéias unto, de apro9im6*las $...' $...' que alguma coisa incongruente se unte a outra, para untas produzirem um incongruente mais profundoI$...' - msica concreta é capaz de situar de maneira proocante dois mundos que são, de um lado o aspecto aspecto e9terior das morfologia morfologiass sonoras, sonoras, e do outro suas imagens perceptia perceptiass na escuta interior. O real aud1el, destacado de suas causas acsticas, e9tirpado de suas circunstancias e retido por traços isomorfos, fi9ados num suporte. =raços permanentes ou modifi modific6 c6eis eis,, gerador geradores es de o!eto o!etoss de percep percepçã ção o com identi identidad dades es mltip mltiplas las,, claras claras ou misteriosas. $...'" (%)

"É o!serando de dentro, por sua parte incognosc1el, o moimento da intuição auditia, estes formigamentos do pensamento pela moção sonora e9citada * encontrando a1 matéria para prolong6*la segundo a ilusão ou a ontade de perce!er nela ou quase capturar nela formas, gestos, histJrias histJrias * é nesta atiidade, atiidade, tentando compreend0*la, compreend0*la, e preser6*la preser6*la no seu gorgulhar concreto, afim de represent6*la em imagens e em figuras, que se constitui para mim o proeto musical. $... $...'' 2ã 2ão o se trat trata, a, hoe hoe,, nem nem em ist istaa de um oca oca!u !ul6 l6ri rio o nem nem no ato ato de composição, de se por 4 escuta dos ru1dos do mundo para fazer deles uma ersão imaginada. >as de surpreender, proocar, deslocar a formação do pensamento perceptio, aquela que flutuante se mo!iliza, associa, calcula, desconfia, adiinha, desco!re e inenta+ o pensamento, assim posto a tra!alhar pelo sonoro o!etio, e tornado o!eto manipul6el, so!re o qual se pode e9perimentar. Esta itJria que o olho conquistou desde a pré*histJria como contornoRcorRforma, itJria do olhar imaginante, agora se realiza com o ouido. S6 pouco... muito pouco tempo.

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=endo ganho um suporte material, o som torna*se, atraés dele, coisa e atiidade, da mãoRouido, manifestação e ida, fenLmeno a ser considerado. Em relação ao espaço e ao corpo, ao silencio e ao !arulho, ao instante e ao tempo. O traço sonoro se dispõe em camada, se mani manipu pula la como como te9t te9tur uraa e se insc inscre ree e com com a prec precis isão ão e9tr e9trem emaa de um te9t te9to o a!ert a!erto. o.,, comple9o, e flechado em mltiplas direções * lire. 2o entanto, gostaria de tentar mostrar que esta li!erdade funciona so! reseras, que o te9to sonoro comporta o agenciamento das marcas do deseo da escuta. (entido e prazer se alternam, do fazer ao ouir, em seu ai*e*em. Como o olho escuta, a orelha fala, e a escuta age." (&) Na;le nas palaras de Dmitri Coppe (') "O ouido da elocidade * segundo ele * permite ultrapassar o car6ter anal1tico da manipulação das m6quinas para atingir a dimensão sintética das leis que modelam o resultado ouido. =rata*se de e9plorar as forças em ogo num unierso e perce!er seu sentido. realidade não é mais o som, mas a ação da escuta, onde o gesto perceptio é o elemento capital.$...' $...' $...' - musica de Na;le Na;le aparece aparece como um reelador de forças forças em ogo, mltiplas mltiplas + mec#ni mec#nica, ca, elétri elétrica, ca, magnét magnética ica,, ps1qui ps1quica, ca, emoti emotia, a, sens1 sens1el. el... .. cua cua irtua irtualid lidade ade é apenas apenas aparente. $...' $...' por um acordo ps1quico com alores escolhidos por instinto, em resson#ncia com ritmos fisiolJgicos ou climas interiores, corresponde a uma atitude musical singular, uma lJgica parado9al $...'. O mundo dos ru1dos reflete o mundo simplesmente, Na;le conce!e o material !ruto * a marca energética de um acontecimento sonoro * como um acesso ao som + a forma de um contorno material com qualidades pl6sticas, deform6el, male6el. - tarefa de declinação desta forma inicial, de ariação de seus contornos constitui a matéria prima de seu proeto acusm6tico. - modelagem dos contornos e a transformação das formas reelam as propriedades morfolJgicas das entidades sonoras, mas, so!retudo requerem e estimulam as faculdades perceptias do ouinte. O ouido constitui o ponto de sa1da e o guia de um método emp1rico oscilando incessantemente entre escuta*ação e escuta*operação. $...' - intenção não é mais a de constituir uma estrutura, noção implicando rigidez e preisi!ilidade, mas a de encontrar articulações motoras. - noção de forma designa então a entidade inicial, as tramas constitu1das pelas declinações, mas tam!ém a duração glo!al8 cada etapa manifestando um n1el de percepção especifica $...'."

http://www.polemica.uerj.br/pol16/oficinas/hibridos_1-main.htm

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*++ *++ (1)(ilio (1)(ilio Herraz. Piro das (onoridades Tnotas dispersas so!re composiçãoU.  Petras, 3io de Vaneiro, Gil ?latLs. Capitalismo e Esquizofrenia. /ol. B., trad de -urélio Kuerra 2eto, (ão ?aulo, ed. %&, B77, p. BA. ($)dem, ($)dem, BF*B5. (%)?enser, (%)?enser, creer, in Hrançois Na;le. >usique acousmatique, propositionsW positions, 2-, NuchetRChastel, B77%, BB* BG5. (&)Hrançois (&)Hrançois Na;le, idem, B77%, B*B5. (')Dmitri (')Dmitri Coppe. Pa musique de Hrançois Na;le, http+RRXXX.magison.org

-/-02+ 323425-6/2+ 323425-6/2+++ HE33-Y, (ilio. Piro das (onoridades Tnotas dispersas so!re composiçãoU. Petras, 3io de Vaneiro, Gil ?latLs. Capitalismo e Esquizofrenia. /ol. B., trad de -urélio Kuerra 2eto, (ão ?aulo, ed. %&, B77. N-ZPE, Hrançois. >usique acousmatique, propositionsW positions, 2-, NuchetRChastel, NuchetRChastel, ?aris, B77%. CO??E. Dmitri. Pa musique de Hrançois Na;le, http+RRXXX.magison.org

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