Thomson Reuters - Legal Design and Visual Law - Alexandre Zavaglia
August 28, 2024 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Legal Design | Visual Law
A influência do design e a mudança de cultura na comunicação jurídica Alexandre Zavaglia Coelho
Tendências 2024
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Alexandre Zavaglia Coelho é consultor de tendências da Thomson Reuters. Advogado, um dos pioneiros no uso de técnicas de ciência de dados e inteligência artificial na área do Direito. Foi um dos precursores a trazer os conceitos de Legal Design para o Brasil, sendo responsável pela criação do primeiro Curso de Visual Law, assim como da primeira publicação sobre o tema, em parceria com Ana Holtz. Além dos cursos, eventos e publicações, tem aplicado as técnicas de Legal Design e Visual Law em dezenas de projetos relacionados ao desenvolvimento e uso de tecnologia no mercado jurídico, design de serviços e design da informação jurídica, com trabalhos reconhecidos nacional e internacionalmente. Mestre em Direito e Doutorando em Tecnologias da Inteligência e Design Digital – TIDD/PUCSP, com cursos de Direito Digital pela FGVSP, Strategic Data Storytelling pela Universidade de
Chicago e Gestão de Tecnologia pelo MIT (em fase de conclusão). É professor da Pós-Graduação em Inteligência Artificial da Universidade de Lisboa e líder de pesquisas no Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação - CEPI da FGV Direito SP, autor de diversos livros e artigos sobre Direito e Tecnologia. As discussões trazidas ao longo desse texto representam um compilado de ideias e reflexões contidas em diversas publicações e artigos do autor, com o objetivo de explorar o avanço da área denominada Legal Design, com exemplos práticos e conceitos de aplicação de design de sistemas, de organizações, de serviços e design da informação, assim como o crescimento do uso das técnicas de Visual Law no Brasil. ZAVAGLIA COELHO, Alexandre. Legal Design | Visual Law: a influência do Design na área do Direito e a mudança de cultura na comunicação jurídica. Tendências 2023/24. Thomson Reuters, 2023.
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
Sumário O Design e sua influência na área do Direito
01
1. Subáreas do Legal Design
05
1.1. Design de Sistemas
05
Jurimetria
06
Automação de Documentos
07
Plataformas No Code | Low Code
09
Onde chegamos e o que aprendemos com o design de sistemas?
12
1.2. Design Organizacional
19
1.3. Design de Serviços
21
1.4. Design da Informação (Plain Language e Visual Law)
24
2. Visual Law 2.1. Cases: aplicação prática de Legal Design | Visual Law
4 KLEMOLA, Meera. A introduction of Legal Design. Disponível em: https://medium.com/observ-world/an-introduction-to-legal-design-da4dab282825
27 35
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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O Design e sua influência na área do Direito A conceituação de design vai muito além da sua associação com elementos visuais ou estéticos. “Design is about solving problems”¹. O design é uma ciência ou método para a solução de problemas complexos, que nos guia por fases que vão desde (a) a observação daquilo que queremos resolver (coleta de dados), passando pela (b) classificação dos dados relacionados e sua transformação em informações relevantes, pela (c) organização das ideias e o desenho da solução, das funcionalidades, até (d) a prototipação e a (e) entrega final do projeto, num ciclo sem fim, que vai se retroalimentando através de constantes aprimoramentos. Nesse sentido, a abordagem multifacetada do design tem se mostrado não apenas como uma ferramenta para nos apoiar nos mais diversos projetos de inovação, mas também como um poderoso catalisador no desenvolvimento de inovações tecnológicas, na estruturação de novos
¹ HAGAN, Margareth. Law by Design. Disponível em: https://lawbydesign.co/
modelos de negócios, na criação de produtos e serviços, até na mudança de cultura na comunicação. Seu caráter multidisciplinar amplia as nossas perspectivas e possibilita a conexão com diferentes visões e possibilidades. Vamos discutir os tipos de design e suas aplicações, mas sem qualquer pretensão de nos aprofundar em seu conceito, até pela ampla discussão técnica que os especialistas da área têm dedicado esforços para explorar e expandir ao longo das últimas décadas. O nosso objetivo é apenas abordar os seus princípios gerais e compreender a crescente influência do design como forma de aprimorar a comunicação na área do Direito, numa nova área que vem sendo denominada globalmente como Legal Design. Desde que colaboramos para trazer essa nova área para o Brasil, começando pela aplicação das técnicas de design para a construção de sistemas de tecnologia focados no mercado jurídico e na análise de dados (analytics), em meados de
01
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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2017; até quando avançamos para entender o potencial do Design da Informação e o chamado Visual Law nas camadas finais dos projetos, com o primeiro curso em 2018/2019 e a publicação pioneira sobre esse tema pela Thomson Reuters² , em conjunto com a Ana Holtz; pudemos acompanhar de perto o grande avanço dessa nova área de atuação. Mas, antes de falar sobre como temos aplicado essas técnicas e mostrar alguns exemplos, vamos entender um pouco melhor essa ligação do design com o universo jurídico. Para Margareth Hagan, do Legal Design Lab da Universidade de Stanford, “pode ser útil pensar no design como uma coleção de processos, mentalidades e mecanismos. Juntos, eles oferecem uma maneira de resolver problemas e criar ideias”³, de modo que o design sempre está ligado a solução de um problema. No nosso caso, de problemas jurídicos. O consórcio Legal Design Alliance LEDA, uma entidade que congrega muitos pioneiros nesta área, demonstra
a necessidade de adotar uma abordagem multidisciplinar. Esta perspectiva enfatiza a convergência sinérgica do design com o Direito, promovendo uma renovação significativa na maneira como os serviços jurídicos são concebidos, estruturados e entregues. Esta evolução sinaliza uma nova era, onde o Direito e o design coexistem para criar soluções inovadoras e mais eficientes, respondendo às crescentes demandas e complexidades da sociedade contemporânea: “é uma abordagem para criar novas intervenções para tornar um sistema jurídico mais utilizável, útil e acessível. O design não se contenta em compreender a realidade atual, mas pretende experimentar o que poderia ser - e impulsionar o impacto social, criando novos programas e políticas. O design cria conhecimento ao construir coisas novas - documentos, serviços, tecnologias, regras e sistemas, pilotando-os e avaliando-os (...)”
² ZAVAGLIA COELHO, Alexandre; HOLTZ, Ana. Legal Design | Visual Law, Thomson Reuters, disponível em: https://www.thomsonreuters.com.br/pt/juridico/legal-one/biblioteca-de-conteudo-juridico/legal-design-visual-law.html. ³ HAGAN, Margareth. Law by Design. Disponível em: https://lawbydesign.co/
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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No que se refere aos atores desse processo, esse consórcio defende que o Legal Design faz “a ponte entre domínios de pesquisa acadêmica e a prática profissional. Ele conecta o mundo dos negócios ao mundo acadêmico, o mundo da gestão ao mundo jurídico, e o mundo do Direito corretivo/reativo ao mundo do Direito proativo/preventivo. É necessária uma abordagem ampla: receber muitos tipos diferentes de pessoas da prática, da academia, do governo e da comunidade e trabalhar em estreita colaboração com muitos outros grupos - reconhecendo o valor de seu trabalho e mentalidade”. Isso demonstra a importância do trabalho conjunto e da colaboração, da integração dos profissionais da área do Direito com os de outras áreas, como matemáticos, estatísticos, programadores, designers gráficos, gestores, jornalistas, filósofos, entre muitos outros. E é essa diversidade que tem impulsionado novas formas de prestar serviços, alinhando a técnica e o conhecimento jurídico com essas outras visões.
Meera Klemola, uma das grandes pioneiras da área, demonstra que vai muito além da visualização de documentos, o que considera um equívoco comum sobre a visão do que é Legal Design. Pois, trata-se de um ambiente para criar e proporcionar melhores experiências jurídicas, ou seja, “refere-se à aplicação de design e uma abordagem de design por aqueles que trabalham no domínio do direito (escritórios de advocacia, departamentos jurídicos internos, educadores em faculdades de direito, funcionários dos órgãos do sistema de justiça, etc.)”4 para: “- Gerar soluções viáveis, desejáveis e novas para um desafio/problema jurídico; - Promover maior inovação e eficiência jurídica; - Promover métodos e atitudes de trabalho mais ágeis e experimentais; ou - Criar um ambiente legal, sistema, serviço ou produto que seja amigável, envolvente e compreensível para aqueles que os utilizam.”
4 KLEMOLA, Meera. A introduction of Legal Design. Disponível em: https://medium.com/observ-world/an-introduction-to-legal-design-da4dab282825
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Por trás desses objetivos de alto nível, o Legal Design estabelece algumas metas mais concretas a serem abordadas pelos projetos5:
a)
Melhor solução de problemas: ser mais inovador e criativo na geração de soluções para problemas;
b)
Serviços centrados no cliente: para colocar o foco no cliente e conquistá-los de maneiras mais eficiente, fornecer-lhes melhores serviços adaptados às suas necessidades explícitas (e ocultas);
c)
Melhor comunicação: comunicar informações – especialmente informações jurídicas complexas – de uma forma mais clara, mais convincente e mais eficaz.
d)
Profissão Jurídica com mais oportunidades: construir um novo conjunto de caminhos profissionais e oportunidades para advogados, com novos tipos de habilidades e competências;
e)
Melhores organizações jurídicas e vida profissional: desenvolver novas formas de colaboração, melhorar processos e tomada de decisão, e construir comunidades mais fortes dentro dos locais de trabalho;
f)
Novos produtos e serviços: gerar ideias sobre como servir clientes, advogados e o público em geral de novas maneiras - através da tecnologia ou de outra forma, e transformar ideias em produtos e negócios viáveis.
5 HAGAN, Margareth. Law by Design. Disponível em: https://lawbydesign.co/legal-design/
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1.Subáreas do Legal Design Seguindo a classificação de Margareth Hagan, temos diferentes tipos e/ou áreas do Legal Design: a) Design de Sistema; b) Design Organizacional; c) Design de Serviço;
d) Design de produto; e e) Design da informação.
Para compreender melhor essas possibilidades, seguem alguns exemplos: 1.1. Design de Sistema: essa foi a área que proporcionou o nosso início nessa jornada. Em 2016/17, começamos a trabalhar com o uso de Inteligência Artificial na área do Direito aqui no Brasil, especialmente para a classificação e organização de milhares de documentos jurídicos e dados de processos judiciais, e era preciso desenhar (design) os sistemas para essa finalidade. O problema que queríamos solucionar? Como apoiar a tomada de decisão a partir de informações baseadas em evidências, com dados em tempo real (data driven), para que escritórios de advocacia e departamentos jurídicos pudessem ser mais assertivos e gerar melhores resultados6.
Naquela época, a tecnologia na área do Direito se limitava aos softwares de gestão de processos judiciais e aos sistemas de processo eletrônico do Poder Judiciário, e todo esse movimento de startups e novas soluções para aplicar técnicas de jurimetria, plataformas de acordo, de automação de documentos, entre outras, estava bem no início. Em paralelo a esse movimento, os sistemas de gestão de processos, como o Legal One7, também avançaram muito desde então, com a alimentação automatizada de andamentos processuais, agenda de tarefas, aprimoramento da usabilidade, entre muitas outras funcionalidades, também se valendo dessas técnicas.
6Além dos projetos iniciais, no início de 2017 criamos o primeiro curso de Ciência de Dados aplicada ao Direito do Brasil, para discutir as formas de uso e aplicação dessas técnicas, o que teve grande repercussão na mídia e no mercado naquela época, por ser o pioneiro sobre o tema: https://www.convergenciadigital.com.br/Cloud-Computing/Ciencias-de-Dados-e-Inteligencia-Artificial-entram-no-Direito-44912.html 7https://www.thomsonreuters.com.br/pt/juridico/legal-one.html
05
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Jurimetria
as políticas de acordo e provisão, entre
Voltando ao exemplo da criação de
outros questionamentos.
sistemas que pudessem aplicar as
Então precisávamos pensar sob a lógica
técnicas de Jurimetria8, as primeiras
da tecnologia aplicada: “Onde estão
iniciativas eram desenvolvidas usando
esses dados?”, “Qual a diferença entre
softwares como o Excel, alimentados
os dados de cadastro dos processos e as
manualmente. Os sistemas de gestão já
informações constantes nos
permitiram organizar informações para
documentos?”, “Como seria a
o dia a dia dos serviços do contencioso,
usabilidade do sistema, para permitir ao
mas ainda não ofereciam uma visão
usuário final utilizá-lo da forma mais
estratégica dos dados para apoiar a
intuitiva possível?”
tomada de decisão.
Naquele momento, a inteligência
Apesar de um movimento ainda
artificial só havia sido treinada em
embrionário, já vislumbrávamos desde
inglês. Não “lia” em português. Assim,
aquela época que o estrategista de
foram anos até que pudéssemos criar
dados jurídicos seria uma grande
“bibliotecas” de IA não só em
tendência a partir daquele momento9,
português, mas em português
trazendo respostas sobre, por exemplo,
direcionado ao setor jurídico. Para tanto,
qual a melhor tese para um
iniciamos por projetos específicos¹0, em
determinado caso, qual a faixa de
cima de alguns temas ou áreas (small
acordo daquele tema por estado, por
data), sem a possibilidade de olhar para
comarca, como isso poderia aprimorar
o todo (big data), ao menos naquele momento.
8 Segundo a Associação Brasileira de Jurimetria – ABJ, presidida por Marcelo Guedes Nunes, pioneiro do tema no Brasil, ”uma definição possível de Jurimetria, mas que sofre com os problemas de todas as definições, é “a estatística aplicada ao Direito”. Não há uma cartilha a ser seguida, apenas um conjunto de princípios que deixam próximas todas as formas de Jurimetria: a concretude e a transparência na manipulação dos dados judiciários. (...) Ainda sobre manipulação de dados, todo o cuidado é necessário. Embora os dados não mintam, eles podem ajudar a colocar os fatos de maneira conveniente. A boa Jurimetria deixará os dados contarem a história que for relevante para o tema em estudo, enquanto a má Jurimetria não tomará o devido cuidado com a forma com que analisam os dados e estará sujeita a conclusões inconsistentes”. Disponível em: https://lab.abj.org.br/posts/2019-10-15-mas-afinal-o-que-jurimetria/ 9 “A carreira de analista e estrategista de dados deve ganhar muita relevância no meio jurídico”, diz Alexandre Zavaglia Coelho, coordenador do Curso de Ciência de Dados aplicada ao Direito. Janeiro de 2017, Revista Exame: https://exame.com/revista-exame/deixa-que-o-robo-resolve/ ¹0 Como exemplo dessa aplicação de inteligência artificial para classificar temas específicos, temos o projeto desenvolvido para a FIESP, que procurava entender a repercussão no Judiciário das alterações na legislação trabalhista, quando classificamos mais de 670 mil processos para analisar sentenças sobre a Lei n. 13.467, a Nova Lei Trabalhista (NLT) e identificar quais magistrados estavam decidindo sobre a inconstitucionalidade de alguns dispositivos. O estudo demonstrou que apenas 3,8% tinham algum tipo de decisão sobre a inconstitucionalidade da nova lei, e o trabalho foi entregue em uma apresentação com dashboards intuitivos, que serviram de base para as discussões sobre essa questão no Brasil. Disponível em: https://justicadigital.com/blog/inteligencia-artificial-fiesp/
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Com isso, concluímos que a trajetória do
Direito, que está sempre em mutação,
design tem a ver com navegação, com
tanto na legislação, doutrina e na
entender o problema e ir trabalhando os
jurisprudência, o que demonstra que é
caminhos e soluções ao longo dessa
preciso um novo olhar dos profissionais
jornada. Os problemas não são tão
da área para a criação da lógica e a
simples quanto parecem, e seguir um
curadoria de todo esse conteúdo, de
método ajuda muito a trilhar o
forma constante (recorrente).
desconhecido.
Mas e agora, com a IA Generativa? Tudo
E foi assim que começamos a utilizar as
já vai acontecer de forma automática,
técnicas de design e suas etapas, para
não é? Claro que não.
colaborar com a construção dos
Vamos pensar usando o caminho do
primeiros softwares nesse campo.
design e da ciência de dados. Como
E esse mesmo caminho (automação e
incorporar essa tecnologia para auxiliar
IA) serviu para a classificação avançada
na produção de documentos jurídicos?
da jurisprudência.
Primeiro, temos que observar, analisar, antes de sair fazendo. Ou seja, entender
Automação de Documentos
que os LLMs (large language models)
No caso da automação de documentos
também seguem a lógica de sistemas
jurídicos, o caminho também foi esse.
que se utilizam de matemática e
Como gerar automaticamente a minuta
estatística, nesse caso para atingir a
de uma contestação, por exemplo?
melhor probabilidade de geração de
Como desenhar esse sistema, desde a
palavras ou frases que façam sentido
captura e “leitura” de uma petição
para um contexto. E isso tem
inicial, a classificação dos atores do
demonstrado grande potencial de
processo, dos fundamentos jurídicos,
transformação no uso de técnicas de IA
dos pedidos?
para essa finalidade. Mas, como
Foram anos para atingir a alta
solução, não é feita para pesquisa de
performance em alguns desses
conteúdo, como os buscadores, mas
sistemas. Mas, mesmo com tudo
para gerar textos.
funcionando bem, o conteúdo é o
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Esse conteúdo, por sua vez, pode vir da
direitos autorais (pois nada é criado,
ligação desses modelos de linguagem
mas sempre baseado em algo que já foi
com um contexto, com uma base de
escrito por alguém).
dados. Assim, as aplicações mais
Mas então, será que não dá para
importantes lançadas até o momento,
começar usando para comunicações
se utilizaram de dados abertos na
internas, base de e-mails, ou mesmo
internet para essa finalidade, o que
para uma primeira minuta de um
reflete diversas limitações¹¹ e, inclusive,
contrato, que depois será desenvolvida
tem gerado um efeito que tem sido
por um advogado? Provavelmente sim.
chamado de “alucinação”. Justamente
Mas, certamente, não para documentos
porque são modelos de construção de
técnicos mais avançados, ou para uma
texto, não necessariamente de conteúdo
utilização sem a supervisão e a inclusão
avançado.
do conteúdo correto por um advogado.
Então precisamos investigar os dados
Para avançar nessas questões, já se
utilizados. Será que a jurisprudência
discute que a melhor estratégia será a
organizada, classificada, está disponível
implementação destes modelos em
na internet? Será que a coleção de livros
ambientes segmentados dentro de cada
da Revista dos Tribunais e de outras
organização (tecnologia de nuvem com
editoras estão abertas para essa
acesso restrito), garantindo assim a
utilização? Obviamente que não.
segurança da informação, a proteção
Portanto, será que uma solução aberta
dos direitos autorais/propriedade
como as que estamos utilizando, pode
intelectual, e o seu treinamento através
gerar textos jurídicos de alta qualidade,
de conteúdos confiáveis, recorrendo a
incorporando com precisão esses
bases especializadas e a documentos
elementos? Ao menos nesse formato
próprio e de clientes, conforme as
disponível até o momento, não.
informações internas de cada
Além disso, existem muitas discussões
departamento jurídico ou escritório de
sobre governança, relacionados ao
advocacia (como petições, contratos,
compartilhamento de dados sigilosos
pareceres, etc.).
nessas bases abertas, ou mesmo de
¹¹ KAUFMAN, Dora. Qualidade da base de dados e a magia da IA Generativa. Revista Época Negócios: https://epocanegocios.globo.com/colunas/iagora/coluna/2023/08/qualidade-da-base-de-dados-e-a-magia-da-ia-generativa.ghtml
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Plataformas No Code | Low code Um último exemplo relacionado ao design de sistemas, é a tendência de plataformas low code ou no code, como a HighQ¹² da Thomson Reuters, que já era uma plataforma líder nessa área no mundo jurídico, fundada em Londres há quase 20 anos, quando foi adquirida em 2019¹³.
Sistema Jurídico
Assinatura Eletrônica
Automação
Inteligência Artificial
GED
Edição de Documentos
CRM | ERP
Workflow
IA
Aplicativos Operacionais
Gerenciamento de Documentos
Portfolio TR
Assinaturas Eletrônicas
ELITE
CRM
Serviços de Identidade
Outros Conectores
¹² https://www.thomsonreuters.com.br/pt/juridico/highq.html ¹³ https://www.thomsonreuters.com/en/press-releases/2019/july/thomson-reuters-acquires-highq.html
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É um tipo de plataforma voltada
atos no procedimento que foi
principalmente para o consultivo e
digitalizado no sistema. E vejam que o
estratégico, que integra serviços de
procedimento pode ser o mesmo
nuvem; interligação entre diversas
(Processo Civil e suas variações), mas o
funcionalidades nativas e serviços de
conteúdo é diferente em cada demanda,
startups; faz a gestão de times e tarefas;
o que mostra que a padronização dos
integra informações de diferentes
atos de um serviço jurídico não interfere
sistemas gerando segurança da
nem engessa seu conteúdo. Pelo
informação, gestão de documentos e a
contrário, garante a sua qualidade,
gestão do conhecimento; amplia a
padronização e
experiência do cliente com sites e
visibilidade/transparência.
dashboards personalizados; relatórios
Contudo, diferentemente dos Códigos
em tempo real; e proporciona a
de Processo, no consultivo e estratégico,
colaboração entre as pessoas envolvidas
no especializado, apesar de prestarmos
em cada projeto (com a devida
serviços por muitos anos, com grande
rastreabilidade e accountability), entre
experiência dos times envolvidos, os
diversas outras possibilidades.
procedimentos (passo a passo)
Assim, seguindo a lógica: “pessoas,
correspondentes não estão detalhados
processos e tecnologia”, com essa
ou escritos da forma como precisamos
plataforma já disponível para o mercado
para implantá-los em sistemas de
brasileiro, precisamos começar
tecnologia.
escrevendo (detalhando) os processos
Para entender melhor, já são várias as
internos de cada tipo de serviço jurídico
implantações desse tipo de sistema para
prestado pelo escritório ou
áreas de fusões e aquisições (M&A).Por
departamento jurídico, para que
exemplo, nesses projetos, precisamos
possamos refletir seus atos/passos
pensar em todas as fases, desde a lista
nesse tipo de sistema.
de documentos necessários, tanto para
Foi assim que aconteceu com o PJe, por
a negociação como para as diligências
exemplo, que teve como base o
(due diligence); quais as etapas; os
Processo Civil para transformar seus
profissionais envolvidos em cada
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projeto; como fazer o upload desses dados; quais as fases de validação e análise desses documentos e informações; quais os critérios de classificação do risco; as formas de dar transparência a esses passos para os clientes; como construir dashboards (painéis gerenciais); promover a gestão de times e tarefas e proporcionar relatórios com os acessos em tempo real, etc.
Telas da plataforma HighQ | Thomson Reuters. Exemplos de relatórios gerenciais, gestão de times e de tarefas, e gestão de documentos.
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E a aplicação desse tipo de solução em diversos escritórios de advocacia, nos últimos anos, tem mudado completamente a forma como esses serviços são prestados e, especialmente, a experiência dos clientes. Os casos podem ser diferentes, mas o passo a passo, a lógica do serviço é em grande parte a mesma. E isso está revolucionando as diversas áreas de escritórios e departamentos jurídicos, com soluções que vão muito além da gestão do contencioso. Além dos exemplos citados acima, também temos participado do desenvolvimento de sistemas para a área de proteção de dados e, nos últimos anos, temos trabalhado em soluções para a governança e ética de inteligência artificial, principalmente para proporcionar a transparência, auditabilidade e explicabilidade dessas soluções. Onde chegamos e o que aprendemos
mundiais nessa área¹4. Mas isso nunca
com o design de sistemas?
acaba, pois sempre identificamos
Assim, foram as técnicas de design que
ajustes, melhorias, e isso vai
nos ajudaram a seguir cada passo do
retroalimentando a roda do design.
design de sistemas para o mercado
A partir de todas essas influências, e nos
jurídico, a pensar cada etapa, até a
valendo de diferentes metodologias,
prototipação e a sua entrega final. E
aprendemos ao longo do tempo que são
conseguimos atingir um nível muito
necessárias 4 fases principais para esse
consistente, com casos de aplicação que
processo, que servem para todos os
hoje são considerados referências
tipos ou áreas do Legal Design¹5:
¹4 Temos apresentado os projetos desenvolvidos no Brasil em diversos congressos e cursos internacionais. Em Maio de 2023, por exemplo, no Expojud Portugal/Lisboa, e em Julho apresentamos esses projetos no A Ifor Good da Onu-ITU, em Genebra, o maior evento do mundo sobre o tema, com representantes do mundo todo, na trilha de Generative AI for legal services; e em novembro na FALP, Federação dos Advogados de Língua Portuguesa, com a presença de escritórios de advocacia de vários continentes, demonstrando a criação dos modelos de linguagem de IA em português, pois nenhum outro país tem essa quantidade de processos judiciais e dados abertos para permitir esse treinamento. ¹5 Essa discussão e a explicação desses passos refletem as descrições do artigo sobre “Legal Design e Visual Law: conceitos e sua aplicação pelo Poder Público”, ZAVAGLIA COELHO, Alexandre; que é parte do livro Legal Design e Visual law no Poder Público, coordenado pelo autor, em conjunto com AZEVEDO E SOUZA, Bernardo. Editora Revista dos Tribunais, 2020.
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A primeira etapa é (1) a da observação e
atores realizem as suas atividades ao
da definição de onde estão os dados e
longo do procedimento nesse espaço,
informações necessárias para
que armazena milhares de dados. Mas é
compreender o problema. Não há
possível ter tudo digitalizado, e não se
design sem o entendimento claro e
fazer nada com isso. Assim, “fazer algo”
preciso do problema. Na área do Direito,
com esses dados, passa pela
normalmente as informações estão em
padronização e organização desses
documentos (contratos, processos
pontos então desconexos, para
judiciais, outras provas escritas, e-mails,
transformá-los em informações
nos dados do RH, da ouvidoria, etc), e
relevantes para auxiliar na tomada de
até por isso há uma ligação muito
decisão, para proporcionar mais
grande entre esse movimento de Legal
assertividade e melhores resultados. Aí
Design e a ciência de dados.
é que entra a ciência de dados e, nesse
O processo judicial eletrônico, por
caso do contencioso judicial, a
exemplo, como ambiente automatizado,
jurimetria.
digitalizado, faz com que todos os seus
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Quando observamos a tecnologia
como vamos entregar, se em papel, em
aplicada para essa finalidade no
um sistema ou plataforma, e como
processo judicial eletrônico, temos uma
vamos fazer isso, com a linguagem
parte de engenharia (infraestrutura de
(Design da Informação) mais adequada
hardware, nuvem, etc.), outra de
para cada destinatário e finalidade, e
automação (workflow de processos,
com a eventual inserção de elementos
ambiente de colaboração, comunicação,
visuais (dashboards, infográficos,
etc) e uma terceira de ciência de dados
imagens, pictogramas, QRcodes, etc.).
(data science), que por sua vez utiliza
Daí partimos para a prototipação e,
técnicas de automação e de inteligência
após os testes correspondentes, para a
artificial (processamento de linguagem
entrega final.
natural), em conjunto com modelos
Não estamos reinventando a roda, pois
estatísticos.
sempre fizemos assim. Buscávamos
Assim, na segunda fase, após identificar
(etapa 1) todas as provas e documentos
as fontes das informações possíveis e
relacionados a um caso, a jurisprudência
coletá-las, é (2) preciso usar ciência de
e a doutrina (em livros); depois (etapa 2)
dados ou outras técnicas para
classificávamos tudo isso para escolher
padronizar e selecionar esses inputs, e
exatamente quais provas, quais
ter a visão dos profissionais da área do
jurisprudência de fato se aplicavam
Direito para pensar os indicadores,
naquele caso específico. Daí (etapa 3)
filtrar o que é relevante, para gerar o
ficávamos horas, dias, pensando na
raio-x do problema, o que denominamos
solução, na maioria das vezes utilizando
uma espécie de “radiologia” do Direito.
nossa experiência e intuição, para
Só a partir disso, do entendimento
depois definir como contar (etapa 4)
preciso e aprofundado do problema
nossa história (storytelling), organizar os
(exame), é que (3) podemos pensar na
nossos argumentos para vencer uma
solução mais adequada. O que,
discussão judicial.
inclusive, temos feito cada vez mais em
E o que mudou? O design nos
parceria com times multidisciplinares.
proporciona uma metodologia para
E, na camada final, (4) pensar onde e
fazer isso de forma organizada, com
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fases que nos ajudam a capturar as
Além disso, essas iniciativas têm
informações, organizá-las da maneira
ajudado muito no desenvolvimento de
adequada para entender o problema
ambientes digitalizados para entregar
com profundidade, para daí pensar
os serviços, pois cada vez mais estamos
caminhos e a soluções mais assertivas, e
entregando serviços jurídicos em
como entregar nosso serviço jurídico.
plataformas de tecnologia, como no
O design oferece um “caminho
exemplo do PJe, ou nas soluções de
estruturado, porém flexível, para ter
assinatura eletrônica de contratos (que
grandes ideias e implementá-las. Em
não são mais impressos, mas entregues
vez de ficar explorando no escuro ou
nesses ambientes).
debatendo-se descontroladamente
Então, para o design de softwares
sobre como resolver problemas em sua
jurídicos, temos que escrever cada
organização ou como melhorar os
passo, sistematizar a forma como
serviços que você fornece aos seus
prestamos os serviços jurídicos e,
usuários, o design oferece um processo
principalmente, permitir que o conteúdo
claro a ser seguido (e ajustado). Oferece
seja diferente para cada tipo de
mentalidades que o ajudarão a ver a
demanda ou área.
área do desafio com maior visão e a
Assim, o movimento do Poder Judiciário
chegar a ideias e protótipos promissores
é muito relevante, pois começou com a
com mais eficiência e chance de
criação (design) do processo judicial
sucesso”¹6.
eletrônico - PJe (automação), partindo
E a tecnologia também tem auxiliado
para a fase de digitalização dos atos
muito, tanto na digitalização do
judiciais, dos documentos, para agora
procedimento e dos documentos, como
passar para uma nova etapa de ciência
na classificação desses dados e sua
de dados e microsserviços (como o
transformação em informações
balcão virtual), integrando tudo isso na
relevantes.
Plataforma Digital do Poder Judiciário – PDPJ¹7.
¹6 HAGAN, Margareth. Law by Design. Disponível em: https://lawbydesign.co/legal-design/ ¹7 https://www.cnj.jus.br/tecnologia-da-informacao-e-comunicacao/plataforma-digital-do-poder-judiciario-brasileiro-pdpj-br/, acesso em agosto de 2.021.
15
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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A prestação jurisdicional tem acontecido
tendência está vindo para o consultivo e
por meio dessa sistemática, pois a
estratégico. Os clientes também querem
realização dos atos processuais
ter visibilidade sobre o serviço: quais os
acontece por ali, a interação das partes,
passos, quanto tempo vai demorar, em
assim como a entrega das decisões
que fase está.
judiciais. Nesse sentido, saímos de
Sabe aquela ideia do e-commerce? Que
sistemas e bases de dados isoladas,
você tem a trilha e consegue ver que seu
para o pensamento de plataformização
pagamento foi aceito, que já está sendo
(PDPJ), da integração do sistema, das
empacotado, ou que já saiu para o
bases de dados e dos serviços em um
correio, e quando vai chegar? Isso não
mesmo ambiente, interligando essas
acontece por acaso, mas reflete muitos
estratégias e funcionalidades. E esse
estudos e técnicas relacionadas à
caminho também se valeu das técnicas
neurociência.
de design¹8.
Quando estava na biblioteca da
Apesar das dificuldades iniciais, que são
Universidade de Stanford, comprei um
naturais de todo processo de inovação,
livro chamado Design for How People
hoje o Judiciário brasileiro é um dos
Think: using brain science to build better
maiores casos do mundo de
products (John Whalen), que mudou
digitalização da Justiça. Ainda temos
minha forma de entender essas
muito a melhorar, mas já podemos
questões. Existem muitos estudos sobre
observar o quanto essa sistemática tem
a conexão do design de produtos ou
evoluído.
serviços com a neurociência, e esse livro
Além disso, ao entrar no ambiente de
nos mostra que “uma experiência não é
um determinado processo, conseguimos
nada singular, mas multidimensional,
ver as etapas realizadas, em que fase
matizada e composta por muitos
está, quem fez o que, todos os
processos e representações cerebrais. A
documentos e decisões relacionadas, e
experiência do cliente não acontece na
assim por diante. E essa mesma
tela, acontece na mente.”
¹8 GABRIEL, Anderson de Paiva; LIBONATI DE ABREU, Alexandre; PORTO, Fábio Ribeiro. Plataforma Digital do Poder Judiciário Brasileiro: Design da Justiça 4.0. Capítulo do livro Legal Design e Visual Law no Poder Público, Editora Revista dos Tribunais, 2022.
16
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Para demonstrar esse conceito, Whalen explora o que expressa como “The Six Minds”:
John Whalen. Design for How People Think, p.7.
Uma dessas dimensões é o wayfinding
– como no e-commerce - também está
(orientação). Porque gostamos de
migrando para os demais tipos de
mapas, ou de esquemas que mostram o
serviço, inclusive para os serviços
passo a passo de uma atividade, de um
jurídicos. Por quê? Porque isso resolve
serviço? Porque isso nos traz segurança,
uma das facetas da cognição humana,
previsibilidade, nos ajuda a pensar em
relacionada a nossa necessidade de
cada passo, dá transparência do
entender o caminho (orientação).
caminho e de como estamos evoluindo
De certa forma, já temos esse conceito
nessa trajetória.
no processo judicial. Os passos (atos
Se prestarmos atenção, veremos que
processuais) são bem definidos,
esse fenômeno, que está em expansão
sabemos a próxima etapa, como nos
em diversos setores da economia digital
preparar, os prazos, podemos consultar 17
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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em que fase está, o que aconteceu em
permitir padronizar os passos do
cada uma delas, e tudo está
atendimento, a visibilidade de cada
documentado em um ambiente
etapa, a organização dos documentos e
digitalizado.
demais informações e, principalmente, a
Daí podemos chegar à conclusão de que
gestão do conhecimento.
esse mesmo movimento também
Pois só a digitalização desses
deve/vai acontecer nos serviços jurídicos
procedimentos e a interligação dos
das áreas consultivas e estratégicas,
diferentes sistemas e dos dados
especializadas. Não porque queremos,
organizados em um mesmo ambiente, é
ou achamos que também vai funcionar,
que vão permitir uma pesquisa das
mas porque é uma demanda do ser
cláusulas contratuais que já fizemos, a
humano, da sua forma de entender
padronização dos critérios para a
(cognição/neurociência) e navegar por
classificação de risco, a consulta de
um caminho.
pareceres já produzidos, de doutrinas
E essa é uma grande tendência, que
classificadas, entre muitas outras
agora começamos a materializar,
possibilidades. E permitir a navegação
principalmente pelo uso das
pelas etapas de cada tipo de serviço,
plataformas no code/low code. E esse
com transparência e previsibilidade.
movimento vai crescer muito nos
E mesmo aqueles que geralmente não
próximos anos, de modo que quem
colaboram diretamente com essa
entender rápido e operacionalizar essas
criação, são igualmente importantes,
novas estratégias, terá muitos ganhos
pois sempre trazem suas ideias de
competitivos e vai melhorar
melhoria, de novas funcionalidades que
significativamente a experiência de seus
podem auxiliar suas atividades diárias.
clientes (novos e atuais).
Além disso, ajudam a adaptar esse
Mas como já dissemos acima,
sistema para a sua realidade, para sua
precisamos entender que o processo de
técnica jurídica, para garantir a
design deve envolver os advogados e
flexibilidade capaz de entender os
todo o time para reescrever ou desenhar
passos comuns de cada tipo de serviço
o procedimento adotado para um tipo
e, ao mesmo tempo, as necessidades e
de serviço jurídico, e essa é a base para
especificidades de cada caso ou área do
a sua inserção no sistema, o que vai
Direito. 18
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Por tudo isso, a área do design de
A integração das equipes técnicas
sistemas focados no mercado jurídico é
internas em um único eixo de inovação é
uma área fascinante e em expansão. E
fundamental para garantir a articulação
isso não tem haver só com a parte da
de todos os membros em prol de
tecnologia, mas também diz respeito a
objetivos estratégicos compartilhados,
visão do jurista sobre como tudo deve
atendendo de forma mais afinada às
ser e, principalmente, sobre o conteúdo,
demandas dos profissionais do campo
que é sempre o Direito.
jurídico. Ou seja, a harmonia e o
Ao começar a aplicar esses conceitos na
comprometimento na adoção e
construção de sistemas, depois de
refinamento de métodos operacionais e
muitos erros e acertos (e isso faz parte),
inovações tecnológicas são essenciais
também passamos a usar essas técnicas
para alcançar patamares elevados de
nos outros tipos de design.
eficiência e produtividade. Essa sinergia não apenas potencializa
1.2. Design organizacional. A
ações inovadoras, como também
transformação digital e a inovação na
fomenta um ambiente de trabalho mais
área do Direito têm alterado
colaborativo, integrando a área do
significativamente a forma como
Direito com os times multidisciplinares.
trabalhamos e entregamos serviços
Além disso, define um caminho
jurídicos. Isso também tem demandado
estratégico sobre quais são os projetos e
a reformulação da estrutura
investimentos prioritários, por onde
organizacional de escritórios e
começar e quais as metas e resultados
departamentos jurídicos, tanto pela
esperados em cada etapa.
criação de programas estruturados de inovação jurídica, como na criação de novas áreas, como a de Legal Operations.
19
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Legal Operations¹9, ou operações jurídicas, representa a soma de uma série de funções auxiliares na esfera jurídica, englobando a união de profissionais de variados setores dentro da organização, ferramentas tecnológicas avançadas, processos bem estruturados e análises críticas que visam amplificar a qualidade dos serviços jurídicos prestados. A meta principal é incrementar a eficiência e administrar riscos, agregando valor para propiciar resultados mais robustos para a instituição²0.
https://cloc.org/what-is-legal-ops/
¹9 Para saber mais sobre a área de Legal Operations, seu conceito e possibilidades, acesse https://cloc.org/what-is-legal-ops/ ²0 ZAVAGLIA COELHO, Alexandre; FEFERBAUM, Marina. As ondas de transformação digital no mercado jurídico e o movimento de plataformização. Manual de Gestão estratégica e inovação para escritórios de advocacia. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2023.
20
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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A área de Legal Operations é fruto da
expansão, trazendo essa visão integrada
demanda atual por uma modernização
e interdisciplinar. Busca aplicar as
ágil e eficaz da prática jurídica, alinhada
habilidades de design, administração e
às exigências de um cenário empresarial
engenharia de processos com o objetivo
em fluxo constante de evolução. Essa
de desenvolver fluxos de trabalho mais
transformação se materializa através da
eficientes e funcionalidades
incorporação de estratégias inovadoras,
aprimoradas. Além disso, visa
a partir de um novo desenho
proporcionar a melhor experiência
organizacional. Estes elementos são
possível ao cliente, seja interno ou
focados predominantemente na tomada
externo, fundamentada em uma análise
de decisão orientada por dados (data
atenta, abrangente e empática das suas
driven), na estruturação e redesenho dos
necessidades.
processos internos e na aplicação
Um exemplo bem atual desse tipo de
estratégica de tecnologias emergentes,
design é a criação da área de proteção
visando apoiar a criação de novos
de dados (LGPD). Essa nova área ou
modelos de negócios e a resolução de
serviço não existia, sendo criada por
problemas jurídicos cada vez mais
39% dos escritórios de advocacia ao
complexos.
longo dos últimos 5 anos, segundo o
São muitos os exemplos de design
relatório da pesquisa Formando a
organizacional, mas a área de Legal
Advocacia do Presente e do Futuro:
Operations tem se mostrado como um
habilidades e perspectivas de atuação²¹,
dos principais, no que diz respeito ao
do CEPI da FGV Direito SP. Após 18
mercado jurídico, ao aprimorar a
meses de trabalho e a realização de
estrutura dos diferentes setores e áreas
entrevistas e questionários com mais de
em um novo desenho institucional.
400 escritórios, a pesquisa constatou que essa é a área que mais se destaca
1.3. Design de serviços. Dentro desta
entre as novas oportunidades criadas
ótica, o design de serviços também se
recentemente.
destaca como um campo em ascensão e
²¹ https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/34165
21
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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CEPI – FGV Direito SP (2023)
E isso mostra que a transformação
momento de desenvolver essa nova
digital da sociedade, dos diversos
área, precisamos entender que
setores da economia, também está
problema queremos resolver: a
trazendo muitas oportunidades de
demanda dos clientes para a sua
trabalho para o mercado jurídico.
adequação e conformidade com a LGPD.
Seguindo a lógica do design, no
22
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Exemplos de questionamentos no processo de design:
01)
Mas quais e quantos são esses clientes potenciais?
02)
Quantos profissionais e qual o dimensionamento do time para essa nova área?
03)
Quais serão os entregáveis?
04)
Como e por onde entregar esses serviços?
05)
Quais os parceiros de tecnologia?
06)
Qual o orçamento e o custo por projeto?
07)
Como entender as reais necessidades dos clientes, de acordo com seu tamanho e tipos de dados utilizados?
08)
Como adequar os serviços para cada contexto e necessidade?
09)
Qual o potencial de receita e resultado para o escritório?
10)
Como entregar esses serviços, por meio de relatórios ou também se valendo de sistemas?
11)
Como gerar a melhor experiência e transparência dos serviços para esse novo cliente?
23
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Boa parte das discussões conceituais em
(contentmakers) e dos resolvedores de
torno do design de serviços tem como
problemas, que são os profissionais do
foco a experiência do usuário (UX), ou
direito, e da sua capacidade de
seja, o design centrado nesse
promover a interação do conteúdo
destinatário dos serviços, levando em
jurídico com times multidisciplinares,
consideração as motivações, percepções
para uma oferta integrada e
ou contextos culturais das organizações
completa”²².
e das pessoas que serão/estão sendo servidas pela solução. Através desse
1.4. Design da Informação. O Design da
conceito, prioriza-se a pesquisa
informação, por sua vez, está nas
(qualitativa e quantitativa), a interação e
camadas finais dos projetos que se
feedback das pessoas e os esforços para
utilizam das técnicas de design. É a
tornar as soluções mais acessíveis,
adaptação da linguagem jurídica (em
desejáveis e culturalmente apropriadas.
sentido amplo) de acordo com cada
No que tange à governança, todo e
finalidade ou destinatário final, trazendo
qualquer problema que aconteça com
mais clareza e efetividade para essa
relação ao tratamento dos dados vai
comunicação.
ocorrer dentro de um sistema
Se concentra em como a informação é
(vazamentos, transferência não
apresentada ao seu público destinado e
autorizada, utilização em
como envolver, informar e comunicar a
desconformidade com o consentimento
mensagem. Segundo Hagan, “é o ramo
e/ou da base legal definida, etc). O que
do design que se preocupa com a
nos mostra que essas inovações (novas
aparência das coisas, mas a sua
áreas), “os seus processos de negócio e
preocupação não deriva principalmente
as ferramentas tecnológicas que vão
do valor estético, mas sim da
apoiar esses serviços precisam de
funcionalidade na transmissão eficaz de
criadores dos conteúdos
uma mensagem às pessoas”²³.
²² Esses conceitos e discussões de Design de Serviços integram o artigo Design de Serviços Jurídicos, de autoria de ZAVAGLIA COELHO, Alexandre; BATISTA, Cynara,\; que faz parte do livro Legal Design, Editora Foco, 2021. ²³ HAGAN, Margareth. Law by Design. Disponível em: https://lawbydesign.co/legal-design/
24
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Nesse sentido, vai muito além das
mostrar o enquadramento e o respeito
questões estéticas, para refletir de fato
às hipóteses previstas na Lei (art. 7º), a
toda a trajetória do projeto. Não
prestação de contas de como isso foi
podemos destacar algo visualmente, ou
feito, a confecção dos relatórios de risco,
mesmo adaptar a linguagem para um
etc.
determinado público, se não
Então, o que vamos destacar na fase do
entendermos o problema, os diferentes
design da informação, vai depender do
destinatários (personas), quais são as
problema, dos dados relacionados, das
informações relevantes e definir a forma
estratégias de conformidade, e assim
e a estratégia para contar nossa história
por diante. E se vamos explicar questões
(storytelling).
da LGPD a um magistrado, a linguagem
Utilizando mais uma vez a área de
(escrita e visual) certamente é diferente
Proteção de Dados, se o problema
da forma como vamos explicar aos
estiver relacionado aos direitos dos
gestores de uma empresa, aos seus
titulares, temos que destacar nessa
funcionários e aos seus clientes. Cada
comunicação a existência do portal do
finalidade e destinatário demandam
titular, sobre como respeitamos o
uma adaptação dessa linguagem para
disposto no art. 18 e seguintes da LGPD;
sua realidade e conhecimento, para
se o problema for relacionado a
trazer essa efetividade esperada,
hipóteses de tratamento, aí temos que
mesmo se tratando da mesma lei.
Quando observamos o ramo do Design da Informação, temos dois elementos principais:
25
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Neste aspecto, destacam-se essas duas
assegurar que a comunicação no âmbito
linhas principais de utilização da
jurídico favoreça a compreensão
linguagem: (a) a escrita (textual) e (b) a
apropriada por cada receptor da
incorporação de imagens e/ou
mensagem, conforme estipulado no
componentes gráficos (visual).
"Plain Language Act"²4, bem como nas
No que concerne (a) à linguagem
diretrizes mandatórias para todas as
textual, além dos textos técnicos (para
entidades governamentais daquele país.
destinatários do mundo do Direito),
O conceito é a adaptação da linguagem
surgiu uma nova possibilidade,
técnica para uma maior efetividade com
denominada como “plain language” ou
os diferentes públicos, respeitando a
"linguagem clara ou simples", como foi
diversidade e a capacidade de
traduzida no Brasil. É importante
compreensão de cada tipo de perfil.
salientar que este termo pode suscitar
Também foi publicado recentemente o
confusões interpretativas, uma vez que o
ISO 24495-1:2023 – Plain Language²5, e
objetivo é realçar a necessidade de um
no Brasil já temos diversas iniciativas do
discurso articulado, coeso e que enfatize
Poder Judiciário nesse tema, como no
os aspectos jurídicos pertinentes em
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
cada contexto, sem necessariamente
Territórios - TJDFT²6 e no Tribunal de
simplificar a matéria jurídica, que
Justiça do Rio Grande do Sul - TJRS²7.
mantem toda a sua complexidade.
Já em relação ao segundo ponto, a (b)
Então o objetivo não é simplificar o
incorporação de imagens e/ou
Direito, mas a forma como explicamos
componentes gráficos (visual), área que
ou representamos o Direito de acordo
vem sendo denominada como Visual
com cada tipo de destinatário ou
Law, vale abrir um tópico específico,
necessidade, principalmente para as
diante da grande repercussão e avanço
pessoas que não são da área.
dessas técnicas globalmente, e em
Em relação ao Plain Language, essa
especial aqui no Brasil, que se tornou
agenda ganhou força nos Estados
grande referência nesse tema.
Unidos a ponto de virar lei, visando ²4 Plain Languagem Act, disponível em https://www.govinfo.gov/app/details/PLAW-111publ274 e Plain Language Guideline, disponível em: https://www.plainlanguage.gov/guidelines/, acesso em agosto de 2021. ²5 https://www.iso.org/standard/78907.html ²6 https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2021/setembro/tjdft-lanca-programa-e-adota-uso-de-linguagem-simples-e-direito-visual ²7https://www.tjrs.jus.br/novo/labee9/linguagem-simples-tjrs/
26
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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2. Visual Law Em relação à utilização de recursos
entusiasmo foi fortalecido pela
visuais em documentos ou projetos
participação no Legal Design Geek em
relacionados a serviços jurídicos,
Londres, naquele mesmo ano de 2018,
começamos essa jornada (2017) com a
onde pudemos observar uma série de
utilização de técnicas de data
casos de implementação prática, em sua
visualization (visualização de dados),
maioria relacionados à reestruturação
que passamos a utilizar nos projetos de
de contratos. Eram milhares de pessoas
ciência de dados (e de jurimetria) e nos
discutindo esse tema, e a cabeça estava
dashboards para a explicação e
fervilhando de ideias: precisávamos
acompanhamento dessas iniciativas,
trazer esses conceitos para o Brasil!
como já explicado acima.
Assim, a partir dessas experiências, logo
Mas foi no ano de 2018 que pudemos
no retorno, começamos a introduzir
conhecer melhor o trabalho do Legal
essas estratégias no nosso mercado
Design Lab, em uma visita à
jurídico, sempre preocupados em trazer
Universidade de Stanford, e o avanço
os conceitos e a classificação correta,
dos conceitos do Legal Design e das sua
como uma das vertentes do Legal
subáreas, em especial do Design de
Design. Ou seja, não como uma área
Informação, onde está inserida a
autônoma, e nem como um sinônimo de
“caixinha” do Visual Law²8, o que
Legal Design, mas como uma das
ampliou a nossa compreensão sobre
possibilidades dentro de sua subárea
essas outras possibilidades.
denominada Design da Informação, cuja
Realmente foi com um misto de
aplicação principal se dava na fase final
surpresa e empolgação, quando
dos projetos. Isso, como algo que vai
enxergamos o potencial dessa subárea,
muito além da simples esfera do design
do Visual Law, ao perceber que ainda
gráfico, mas realmente como uma das
não tínhamos nada sendo discutido
etapas do design (solução de
sobre isso por aqui. Na sequência, este
problemas).
²8 https://legaltechdesign.com/visualawlibrary/
27
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Ao lançarmos o termo Visual Law no
a inserção de elementos gráficos em
Brasil, naquele mesmo ano,
documentos jurídicos. Uma
inaugurando o primeiro curso e, na
interpretação que, na nossa perspectiva,
sequência, a primeira publicação²9 sobre
não traduz adequadamente a
o assunto em território nacional, já
verdadeira profundidade do conceito. É
imaginando que estávamos diante de
comum encontrar discussões que
um movimento robusto e que teria
pressupõem que simplesmente
grande ascensão para a mudança de
adicionar elementos visuais (QR codes,
cultura da comunicação jurídica.
ícones, pictogramas, etc) a um
Principalmente pela criatividade do
documento, equivale a prática de design
brasileiro e pela preocupação com o
(ou Visual Law), o que está mais
acesso à Justiça, no sentido de acesso
alinhado a simples aplicação de técnicas
ao Direito, ao adaptar uma linguagem
de design gráfico.
complexa e técnica para públicos
De fato, Visual Law (elementos visuais)
diversos, diante de nossas
representa apenas uma das
desigualdades sociais, dos diferentes
possibilidades da subárea denominada
níveis de conhecimento e da nossa
Design da Informação, que inclusive
magnitude continental.
contempla outras formas de linguagem
Mas, ao longo desses anos, o
(textual).
desenvolvimento e o crescimento desse
Nesse contexto, existem aqueles que
movimento superaram qualquer das
criticam a precisão do termo para este
expectativas iniciais.
fim, e outros que consideram
Apesar de todos os cuidados para trazer
desnecessária a nomeação específica de
os conceitos corretos e a atenção na
cada fase desse processo de design.
formulação e na aplicação dessas
Assim, há quem argumente que tal
estratégias, por meio de cursos, eventos
segmentação (Visual Law) é
e em dezenas de projetos, muitas vezes
desnecessária ou equivocada, pois tudo
ainda observamos a utilização incorreta
se enquadra numa única categoria: o
da expressão, como mera analogia para
Legal Design.
²9 ZAVAGLIA COELHO, Alexandre; HOLTZ, Ana. Legal Design | Visual Law, Thomson Reuters, disponível em: https://www.thomsonreuters.com.br/pt/juridico/legal-one/biblioteca-de-conteudo-juridico/legal-design-visual-law.html.
28
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Na nossa visão, e sempre respeitando a
de cada uma dessas partes. Todas são
pluralidade de opiniões, consideramos
partes do corpo humano. Mas se
que essa divisão é vital para uma
tivéssemos só essa única classificação
compreensão mais refinada de cada
geral, seria mais difícil entender as
etapa. A fase de observação está
partes, e até as especialidades
intimamente ligada à ciência de dados,
relacionadas a cada uma delas.
enquanto a etapa do design da
No mesmo sentido, o processo judicial
informação está relacionada à maneira
tramita na primeira, segunda e terceira
como a informação é transmitida, ao seu
instâncias. Não seria uma única
papel dentro do conjunto maior. E isso
entidade? O Poder Judiciário? De fato, é,
se justifica também pelo fato de já
mas já estamos vendo profissionais em
observarmos profissionais se
escritórios de advocacia que focam
aprofundando especificamente em cada
especificamente na terceira instância,
uma dessas fases ou etapas.
por exemplo. E é evidente que não se
Além disso, chamar todas essas
pode alcançar essa fase sem antes
possibilidades de Legal Design acaba
transitar pelas instâncias iniciais do
mais confundindo do que simplificando,
processo (a não ser na competência
pois são vários os ramos ou tipos de
originária), o que também indica que
Legal Design, sendo o Design da
não se pode avançar para etapas mais
Informação (e o Visual Law) apenas um
complexas do Recurso Extraordinário,
deles (design organizacional, de
p.ex., sem seguir a trajetória
sistemas, de serviços, de produtos).
estabelecida pelo Processo Civil. Essa é
O corpo humano também é uma
uma regra que se aplica igualmente ao
entidade única, mas identificamos
Visual Law dentro do escopo do Legal
distintamente o braço, as pernas, o
Design, que não pode existir sem se
pescoço, a cabeça, e assim por diante.
respeitar as etapas iniciais do processo
Existem médicos que se dedicam
do design (observação, organização das
exclusivamente ao estudo e tratamento
informações, design da solução, etc).
29
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Em resposta a essas discussões, que são
questões; no outro extremo, outros
sempre muito valiosas para o
argumentam que isso pode alterar e
aperfeiçoamento de conceitos, também
impactar negativamente a técnica
é necessário afirmar que,
jurídica tradicional.
evidentemente, não fomos os
No entanto, ao explorar a influência do
idealizadores do termo, que tem sua
Design da Informação no mundo
origem no trabalho do Legal Design
jurídico, é vital perceber que existe uma
Lab³0, em Stanford. Nós simplesmente o
conexão bem definida com a semiótica.
introduzimos por aqui, fomentando o
Dá pra dizer, inclusive, que é
início de sua difusão no nosso mercado
basicamente semiótica sendo aplicada
jurídico. Nesse sentido, nem é possível
no campo do Direito.
dirigir um movimento que possui
A semiótica é “a ciência de toda e
dinâmica própria, de modo que se a
qualquer linguagem”, de todas as
comunidade jurídica nacional adotou
linguagens possíveis, de “todo e
repetidamente essa terminologia, talvez
qualquer fenômeno como fenômeno de
seja porque ela representa essas novas
produção de significado e sentido”. Até
oportunidades de uma maneira
porque todo fenômeno de cultura só
compreensível. No entanto, é
funciona³¹:
indispensável discutir com prudência sua verdadeira extensão, seu conceito e
"graças à sua natureza comunicativa. E,
o método correto de utilização.
já que esses elementos se comunicam por
Por essa razão, há debates que, com o
se estruturarem como linguagem,
devido respeito, se desviam ou não se
podemos afirmar que cada fato cultural,
aprofundam nos conceitos corretos.
cada atividade ou prática social, se
Muitos sugerem que tudo isso irá
configura como práticas que carregam
descomplicar o Direito, propondo que a
significado, ou seja, são formas de criar
simples adição de elementos visuais ou
linguagem e sentido."
o uso de templates resolverá todas as
³0 https://legaltechdesign.com/visualawlibrary/ ³¹ SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. Editora Brasiliense, 2017, p. 16
30
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Apesar da semiótica ter um alcance
verdade ou a notícia, só expande ou
bastante vasto, é crucial entender que
aprimora o entendimento sobre a
seu objetivo é "descrever e analisar nos
mensagem que se quer passar.
fenômenos e sua constituição como
Por isso é que identificamos um certo
linguagem". Embora se “constitua num
equívoco, com toda a consideração, por
campo intrincado", que interage com
parte de quem acredita que a finalidade
outras ciências, ficam claros os limites
do Visual Law é, por exemplo, tornar o
de intersecção que “se querem bem
Direito mais simples, ou que isso vai
protegidos pelas bem demarcadas
impactar a profundidade do conteúdo
fronteiras” entre elas, motivo pelo qual
jurídico. Afinal, o Direito continua sendo
Lucia Santaella defende que “isso não
o Direito, mantendo toda a sua
significa que a semiótica esteja
complexidade e técnica. O que podemos
sorrateiramente chegando para roubar
dizer, é que algumas técnicas de Design
ou pilhar o campo do saber e da
da Informação podem ajudar a tornar a
investigação científica de outras
linguagem mais ajustada para
ciências”³².
diferentes públicos ou propósitos,
E o que isso significa? Que o emprego de
facilitando o acesso e a compreensão da
técnicas linguísticas (como simbolismos)
informação.
não mexe com a essência técnica de
Até porque, a verdade é que a maioria
cada campo ou ciência. Não mexe no
das pessoas com quem interagimos não
conteúdo, mas sim auxilia na maneira
são especialistas em Direito, e estamos
como ele é representado, buscando a
percebendo uma tendência global de
melhor estratégia para que a mensagem
fazer com que a comunicação seja mais
seja compreendida por quem a recebe.
direta, mais acessível, adaptada às
Esse movimento lembra o que
características e ao nível de
aconteceu no jornalismo. Antigamente,
compreensão de cada indivíduo. E essa
os jornais traziam apenas texto, depois
preocupação também está se refletindo
começaram a adicionar imagens e,
no setor jurídico, e tem impactado
agora, estão incorporando infográficos e
diretamente a experiência do usuário
outros recursos visuais para explicar
e/ou do cliente.
certas situações. E isso não muda a
³² SANTAELLA, Lúcia, op. Cit., p. 12.
31
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Esse movimento do Design da
fluxogramas, para tornar o Direito mais claro e
Informação, especialmente as técnicas
compreensível.
de Visual Law, tem crescido muito no nosso país nos últimos anos, gerando a criação de startups, consultorias, áreas específicas para esse desenvolvimento em escritórios de advocacia e departamentos jurídicos, e até influenciando a definição de diretrizes do setor público voltadas para o incentivo e a utilização dessas possibilidades, como no caso do Poder Judiciário. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Justiça - CNJ publicou a Resolução n.o 347/2020, que diz o seguinte: Art. 32 (...)
Essa diretriz, como se observa, se utilizou da classificação do Visual Law como integrante de uma subárea do Legal Design, tendo sido inspirada no conceito que trouxemos por meio da nossa primeira publicação já mencionada, que também influenciou publicações em diversos tribunais, como no caso do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul³³. E há sempre a pergunta sobre a aceitação do uso dessas estratégias nos processos judiciais. Em relação ao Judiciário, foi publicada uma pesquisa pelo grupo VisuLaw, liderada por
Parágrafo único. Sempre que possível, dever-se-á
Bernardo de Azevedo, que demonstra
utilizar recursos de visual law que tornem a linguagem
essa aceitação e a visão da magistratura
de todos os documentos, dados estatísticos em
sobre essas práticas³4, demonstrando
ambiente digital, análise de dados e dos fluxos de trabalho mais claros, usuais e acessíveis.
que os magistrados têm visto essas
Para os fins desta Resolução, consideram-se:
técnicas com bons olhos, desde que
XXV – Visual law – subárea do Legal Design que utiliza
usadas com moderação:
elementos visuais tais como imagens, infográficos e
³³ SEI/TJRS – 2131257 – Parecer – Gabinete dos Juízes-Corregedores da Justiça, que institui a implantação dos conceitos de Visual Law no TJRS. Segundo esse parecer, “Visual Law: É uma técnica nova, tomando força no Brasil nos últimos 3 anos. Porém, já utilizada instintivamente por profissionais da área jurídica há muito tempo (...) possibilitando-se, com isso, comunicação de maneira eficaz. Salientamos que Visual Law “Não se refere apenas à aplicação de conceitos visuais em projetos da área do Direito, mas à fase final dos projetos de design e visa melhorar a comunicação e a entrega das informações.(“Legal Design Visual Law: comunicação entre o universo do Direito e os demais setores da sociedade”, Alexandre Zavaglia Coelho e Ana Paula Holtz).” ³4 Disponível em: https://visulaw.com.br/.
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Imagem da pesquisa do Visulaw com magistrados da Justiça Estadual.
Nesse sentido, essas possibilidades têm
documental [COELHO, Alexandre Zavaglia; SOUZA,
sido objeto, inclusive, de discussões em
Bernardo de Azevedo. Legal Design e Visual Law no
decisões do Supremo Tribunal Federal, como nos votos do Min. Gilmar Mendes:
Poder Judiciário. São Paulo; RT, 2021]”. Voto do Min. Gilmar Mendes. STF, HC 230432/MA: “Por fim, destaco que o uso do
STF, AgRg. HC 213387, [2ª Turma, PV; 05-12/05/2023]:
Processo Eletrônico, especialmente com grande volume
“Destaco, ao arremate, que diante da sobreposição de
de dados, pode adotar estratégias de otimização da
documentos em arquivos longos, sequer identificados ou
navegabilidade quanto ao conteúdo, favorecendo o
decompostos autonomamente pelo recorrente, o esforço
acesso e a compreensão. Os recursos estão disponíveis
imposto ao julgador quanto à navegação entre as
no contexto tecnológico e, em geral, não são utilizadas
centenas de páginas viola o dever se colaboração
pelas partes, com a simples anexação de documentos
processual (CPP, art. 3º c/c o CPC, art. 6º). A atividade
sequer estruturados. [COELHO, Alexandre Zavaglia;
defensiva poderia adotar estratégias ágeis de navegação
SOUZA, Bernardo de Azevedo. Legal Design e Visual 33
A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Law no Poder Judiciário. São Paulo; RT, 2021]. O dever
conteúdo no tempo. Ou seja, devem ser
de cooperação processual também se refere ao acesso
utilizados como estratégias
otimizado ao conteúdo. Relator Min. Gilmar Mendes.
Obviamente que utilizar essas possibilidades em processos judiciais requer muito cuidado e o uso das técnicas corretas. O texto técnico pode e deve ter um texto mais objetivo e coeso, privilegiando o que é juridicamente relevante, e certamente podemos nos valer do uso de infográficos, ícones, QR codes, mapas, entre outros elementos visuais, mas de forma moderada. No caso dos QRcodes, por exemplo, há uma tendência de seu uso excessivo, o que pode gerar um efeito reverso, pois os magistrados já têm muitos documentos para ler e analisar. Esses recursos devem ser utilizados em casos muito específicos, como na explicação de uma perícia, ou como caminho para acessar vídeos curtos com a explicação ou para evidenciar questões ligadas a produção de provas. Também é preciso cuidado com hiperlinks, pois sempre vale a máxima “o que não está nos autos não está no mundo”, e algo que não está inserido nos documentos ou no ambiente do processo digital pode ser desconsiderado ou não utilizado, até pela possibilidade de alteração de seu
complementares, não como elementos centrais. O mesmo vale para o excesso de recursos visuais nas petições, como o uso excessivo de cores, de avatares ou muitas figuras, por exemplo, que não se mostram adequados para essa finalidade. Por outro lado, quando utilizamos essas técnicas para documentos que são direcionados para um público que não é da área do Direito, como políticas internas, contratos para o consumidor, entre outros, é possível utilizar mais recursos visuais e outras possibilidades, inclusive uma linguagem adaptada para o tipo de conhecimento de cada público (plain language). Mas, sempre com respeito ao conteúdo e as expressões técnicas necessárias para a validade e eficácia do documento (segurança jurídica). Nesse contexto, muito além das petições em processos judiciais, já são milhares de projetos relacionados a contratos, políticas de privacidade, políticas de compliance, normativas internas, arbitragens, entre muitas outras possibilidades, produzidos por uma gama de atores dos setores público e privado. 34
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Assim, o objetivo das discussões
a) Contencioso
trazidas nesse texto não é detalhar ou
Esse é o projeto para uma importante
nos aprofundar nas técnicas de
concessionária de energia, que tem uma
aplicação, mas demonstrar o
demanda recorrente de consumidores
movimento de influência do Design na
relacionada à queima de aparelhos
área do Direito, seus conceitos e as
elétricos.
diferentes áreas e estratégias
Os trabalhos se iniciaram pela
relacionadas. Desse modo, para quem
observação, para compreender os
tiver interesse em se aprofundar nessas
motivos principais dos pedidos dos
questões, além das referências citadas
consumidores, suas alegações (tese) e
acima, já são diversos cursos, eventos e
os tipo de prova utilizados, assim como
publicações desenvolvidos por
as normas jurídicas que regulam o
profissionais³5 que têm se destacado no
eventual direito de ressarcimento ou
movimento do Visual Law, com muito
indenização.
conteúdo interessante, inclusive de
Após a organização dessas informações,
projetos publicados, para iniciar ou
foram realizadas diversas sessões de
avançar em sua jornada nesse campo.
design com o time do jurídico responsável. Nessas discussões,
2.1. Cases – aplicação prática de Legal
entendemos os pontos principais que
Design | Visual Law
integravam as contestações juntadas pela empresa, assim como a hierarquia
Para exemplificar as estratégias e
desses argumentos.
conceitos discutidos até aqui, destacamos alguns cases que representam essas discussões.
³5 Para saber mais sobre as técnicas de Legal Design e Visual Law, siga os textos, publicações e cursos de Alexandre Morais da Rosa, Aline Rodrigues e Steinwascher, Ana Holtz, Antonio Alves de Oliveira Neto, Bernardo de Azevedo, Carol Hannud, Christiano Xavier, Cynara Batista, Danielle Serafino, Erik Nybo, Fellipe Branco, Gisele Ueno, Guilherme Leonel, Juliana Lima, Katsuren Machado, Kethellyn Siqueira, Lilian Coelho, Luciana Ortiz Zanoni, Marco Bruno Miranda, Marina Feferbaum, Paulo Cézar Neves Junior, Pedro Borges Mourão, Rafael Cerávolo, Rafael Posada, Rui Caminha, Ruy Coppola Jr., Tales Calaza, Thaís Munaretto, Victor Cabral Fonseca, entre muitos outros. Eles estão entre os pioneiros nessas questões aqui no Brasil, e representam todos os demais profissionais que estão entregando projetos excepcionais, e são igualmente importantes para fazer tudo isso acontecer. No cenário internacional, alguns dos pioneiros são: Alix Devendra, Anna Posthumus Meyjes, Astrid Kohl-meier, Emma Hertzberg, Jimmy Vestbirk, Margareth Hagan, Marie Potel-Saville, Meera Klemola, Nicole Bradick, Tessa Manuelo, Richard Mabey, entre outros.
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Usando técnicas de classificação das
que demandou um trabalho de concisão
informações, que nesse caso já haviam
do texto, realizado pelo próprio time do
sido levantadas pela própria empresa,
jurídico, sem perder a qualidade e os
pudemos observar que os clientes que
seus elementos principais (que foram
tinham direito à indenização/
devidamente mapeados). Esse processo,
ressarcimento eram uma minoria,
inclusive, contou com apresentação do
segundo as regras definidas pelo órgão
protótipo aos magistrados, para
regulador e demais normas aplicáveis. A
demonstrar o cuidado e processo de
maioria dos problemas aconteciam pela
melhoria na forma de comunicação das
instalação fora dos padrões técnicos ou
peças processuais.
pelo mau uso, sendo que a falta de nexo
Seguindo todos os passos das técnicas
causal e de aderência com as diretrizes
de design, chegou a fase do design da
regulatórias, eram os pontos principais
informação, e da inclusão de elementos
de discussão.
visuais (Visual Law).
Na sequência, o grupo decidiu criar uma
Nessa fase, junto com o time de
página com o resumo desses pontos
marketing da companhia, foi preciso
principais, para facilitar a identificação,
entender o manual de marcas, o estilo
pelo magistrado, dos destaques de cada
dos documentos e a sua unidade visual,
caso. Tudo por meio do trabalho
para adaptá-los aos documentos
conjunto dos profissionais da área do
jurídicos. Da mesma forma que a marca
Direito com um time multidisciplinar.
é reconhecida pelo mercado, é preciso
Naquele momento, também se
criar uma mesma identidade para o
constatou que a petição tinha um
departamento jurídico.
número muito excessivo de páginas, o
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Foram várias estratégias definidas para cada tipo de informação ao longo do texto da contestação, bem como para o destaque da jurisprudência, apresentação das provas, etc. Mas, para demonstrar esse processo de criação, trouxemos a figura abaixo, que ilustra a conexão entre o protótipo apresentado, e o respeito ao manual da marca e demais diretrizes de comunicação da empresa:
circuito
^
* Projeto realizado por Alexandre Zavaglia Coelho, Bernardo de Azevedo, Cynara Batista e Rafael Posada, em conjunto com o time do jurídico e do marketing da CPFL Energia.
Na apresentação acima, pode-se ver
adaptada para ser uma espécie de
claramente a utilização de caixas (box)
condutor dos temas principais, seguindo
seguindo a linha da empresa, o uso da
uma narrativa (storytelling). Além disso,
palheta de cores, e de um recurso
foram criados ícones personalizados
utilizado em várias peças do marketing
para refletir a temática (queima de
que simula um circuito elétrico.
aparelhos), a partir da inspiração em
Essa linha, na cocriação do projeto, foi
outros já utilizados pela empresa.
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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b) Consultivo e estratégico
estratégico, permitiram entender os
Nesse projeto desenvolvido em conjunto
pontos de interesse e questionamento
com o time de advogados, de Legal
dos clientes, para uniformizar o
Operations e de Comunicação e
processo, dando transparência de todos
Marketing de um dos maiores escritórios
os passos e as atribuições dos escritórios
do país, o objetivo era entender os
e desses clientes ao longo do
passos e o procedimento do serviço de
procedimento.
criação de uma pessoa jurídica no Brasil,
Esse processo começou pela criação da
para clientes estrangeiros.
própria área de Legal Operations do
Apesar da grande experiência na
escritório, que definiu os projetos
prestação desses serviços, as sessões de
prioritários para o período, sendo esse
design e as trocas de ideias e
um deles. Nesse exemplo, portanto,
experiências entre os diferentes setores,
vemos a presença dos diferentes tipos
com a participação direta do time de
de design:
advogados que trabalham no
a) b) c)
O design organizacional proporcionou a criação da área de Legal Operations, assim como a sua colaboração com a área de Comunicação e Marketing; O design de serviços, pelo (re)desenho e a formalização de todo o ciclo de atividades desse tipo de serviços; O design da informação, trazendo a adaptação dos elementos textuais e a inclusão de recursos visuais para a sua apresentação da forma adequada para seus destinatários.
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Antes
Depois
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Na figura abaixo, vê-se claramente a definição das etapas do serviço, seguindo aquela lógica da orientação (wayfinding) já descrita, com foco na experiência desses clientes ao longo das entregas desse serviço.
*Projeto realizado pelas áreas de Legal Operations e Marketing, em conjunto com os advogados, com a consultoria de Alexandre Zavaglia Coelho.
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Portanto, esse é um caso paradigma, pois integra 3 diferentes tipos de design no mesmo projeto. c) Contratos
com o time jurídico e a observação sobre
Esse último exemplo, mostra que essas
as necessidades e o interesse dos
possibilidades vão muito além dos
clientes, levou a criação de um glossário
documentos tradicionais. Nesse caso,
com os termos técnicos e a inserção de
trata-se de um contrato no mercado de
elementos visuais, como o mapa da
agro, por uma grande empresa
região atendida pelo contrato, tendo em
multinacional.
vista que esse mesmo documento será
Além de toda a reformulação no design
utilizado para o relacionamento com
da informação, as sessões de design
clientes (B2B) de diversos países.
Antes
Depois
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Além da página com as informações
desenvolvidos em softwares para o
principais do Contrato, o projeto
design gráfico dos projetos, todos são
englobou a capa, seguindo o Manual de
convertidos para o editor de texto que
Marca e demais diretrizes da empresa, e
utilizam, para que seja possível a sua
um conjunto de modelos das demais
utilização no dia a dia do trabalho do
páginas, para que sejam adaptados pelo
jurídico, de acordo com a usabilidade
time do jurídico para cada tipo de
que estão acostumados e a sua
necessidade. Importante ressaltar que,
utilização da forma mais intuitiva
nessa etapa visual, apesar de serem
possível.
* Projeto realizado por Alexandre Zavaglia Coelho, Rafael Posada, Bernardo de Azevedo e Cynara Batista, em conjunto com o time do jurídico..
Por tudo o que vimos até aqui, ao passar
essa nossa jornada é que design se
pelos conceitos de Legal Design, pelos
aprende fazendo.
diferentes tipo e exemplos, até finalizarmos com o Design da
Foi assim que começamos em 2018, e
Informação (Visual Law), que está
é assim que vamos trilhando esse
transformando a comunicação jurídica,
caminho.
o que aprendemos ao longo de toda
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A INFLUÊNCIA DO DESIGN E A MUDANÇA DE CULTURA NA COMUNICAÇÃO JURÍDICA
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Para aplicar as técnicas de Legal Design
respeitando as características da
com eficiência, é fundamental começar
informação e o contexto que envolve o
por uma compreensão profunda do
problema e seus destinatários.
problema, obtida por meio de pesquisa e observação (análise de dados,
Esses são alguns dos exemplos e
pesquisas qualitativas e quantitativas,
reflexões sobre a influência do design na
etc.). Somente assim poderemos criar a
área do Direito nos últimos anos, que
estrutura da solução, e, ao final do
demonstram como a aplicação desses
projeto, determinar como a informação
conceitos tem impactado na
será entregue, de acordo com as
transformação da prestação de serviços
necessidades do usuário final. Após a
e na mudança de cultura na
concepção, é crucial seguir princípios do
comunicação jurídica.
design e de suas diversas possibilidades e áreas, com a participação efetiva de
Já podemos ver trabalhos sérios, com
times multidisciplinares, e se valer de
fundamentação técnica e teórica, e que
técnicas de ciência de dados, tecnologia
tem gerado muitos resultados para
aplicada (automação e inteligência
escritórios de advocacia e
artificial), arquitetura de soluções, entre
departamentos jurídicos, trazendo mais
outras possibilidades.
eficiência e melhorando a experiência do cliente, trazendo mais efetividade e
E, ao final, trabalhar no Design da
acesso à Justiça.
Informação, por meio de sua subárea conhecida como Visual Law, para decidir
Nos vemos ao longo desse caminho!
quais informações serão apresentadas e como serão visualmente representadas,
Alexandre Zavaglia Coelho
43
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