Síntese Conceitos Magnani - Versão Corrigida
September 13, 2024 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Exercício redigido para a disciplina “Tópicos Especiais de Pesquisa Qualitativa”, ministrada pela docente Lady Selma Albernaz.
José Guilherme Cantor Magnani
O autor faz uso de conceitos apreendidos a partir de categorias nativas num processo dialógico entre o trabalho de campo e a reflexão no âmbito teórico. Abaixo seguem categorias antropológicas que permeiam o trabalho de Magnani na subárea da antropologia urbana e suas possíveis aplicabilidades em nosso trabalho de campo: Pedaço: “aponta para a existência de um espaço social que se situa entre a esfera da casa e a da rua. Com base em vínculos de vizinhança, coleguismo, procedência, de trabalho, estabelece uma forma de sociabilidade mais aberta que a fundada em laços de família, porém menos formal e mais próxima do cotidiano que a ditada pelas normas abstratas e impessoais da sociedade mais ampla. É no âmbito do pedaço que se vive e compartilha toda sorte de vicissitudes que constituem o dia-a-dia, nos momentos de lazer, devoção, participação em atividades comunitárias e associativas, troca de favores e pequenos serviços; e também dos inevitáveis conflitos, disputas. [...] No caso do pedaço, as marcas no espaço que estabelecem as fronteiras, ainda que visíveis, são reconhecidas e identificadas principalmente por seus membros - os quais, quando mudam de ponto, levam junto consigo o pedaço. A exclusividade que caracteriza esta forma de pertencimento deriva mais do manejo dos códigos que operam o reconhecimento mútuo do que da apropriação de um espaço físico” Mancha: “naqueles territórios mais impessoais das regiões do centro, é possível distinguir a existência de áreas claramente demarcadas pela oferta de determinados bens ou serviços: são as manchas, áreas contíguas do espaço urbano, dotadas de equipamentos que marcam seus limites e viabilizam, competindo ou complementando-se, uma atividade ou prática predominante. [...] sua forma de inserção na paisagem urbana é mais clara e estável (aqui o autor faz uma comparação em relação à categoria “pedaço”), pois, demarcada a partir da interrelação entre equipamentos, edificações e vias de acesso, funciona como ponto de referência concreto para um número mais abrangente de usuários. Sabe-se o que se quer buscar, em determinada mancha, mas não necessariamente o quê ou quem vai ser encontrado: esta particularidade é que garante a possibilidade (e o encanto) do imprevisto dentro de certos padrões, já conhecidos e escolhidos”
Circuito: “O circuito, por seu lado, cumpre as mesmas funções da mancha; a diferença está na forma de inserção, uma vez que não apresenta o caráter de contiguidade espacial. Assim, por exemplo, é possível distinguir os circuitos dos cines de arte, das livrarias, dos brechós, de espaços esotéricos, da cultura black, do agito gay, do movimento rapper e muitos outros, constituídos por pontos espalhados (mas que mantêm algum tipo de relação entre si) pela cidade.” Trajeto: “A vida na cidade, no entanto, não se restringe às experiências do cotidiano que transcorrem no âmbito do bairro. A circulação em direção a e através de territórios mais amplos dá-se por meio dos trajetos - percursos determinados por regras de compatibilidades - que abrem o particularismo do pedaço a novas experiências, situadas fora das fronteiras daquele espaço, conhecido, onde se está protegido por regras claras de pertencimento.”
FONTE: MAGNANI, José. Transformações na cultura urbana das grandes metrópoles. Disponível em Acesso em 08 jun 2017.
Os bairros da periferia se enquadram na categoria “pedaço” devido aos vínculos que são criados nesses locais, ao reconhecimento e à sensação de pertencimento derivados da intersubjetividade. Tal categoria pode dialogar com a de “lugaridade” de Marc Augé, mas em relação a esta última, apresenta maior grau de especificidade, pois delimita os tipos de relações entre os sujeitos e os espaços. Acredito que o Recife Antigo pode ser entendido como uma “mancha”, uma vez que há inúmeros equipamentos, edificações (centros culturais, museus, empresas, feiras ao ar livre, bares, restaurantes, lanchonetes entre outros) e o oferecimento de uma pluralidade de serviços e bens por meio do trabalho formal e informal. Consequentemente, há também um amplo número de possibilidades de acesso (relativa proximidade do terminal de ônibus Cais de Santa Rita e da estação de metrô Recife, a presença de ciclovias nos finais de semana). O trajeto é aparentemente nosso objeto de estudo, visto que procuramos entender quais as dificuldades que grupos situados na periferia
tem para chegar ao centro, ou seja, nossa pesquisa busca entender quais são os entraves existentes no que diz respeito à mobilidade urbana para a parcela mais pobre da população residente na cidade do Recife. Por fim, uma das implicações dessa obstaculização em relação à questão do trajeto é o fato de que se pode estar transformando a configuração do bairro do Recife Antigo no que diz respeito à pluralidade de circuitos que nele estão inseridos. Logo, percebe-se que o gradativo impedimento ao acesso de pessoas da periferia a um local público da cidade promove a desigualdade social, pois propicia a segregação ao impossibilitar o convívio de pessoas de grupos sociais distintos em um espaço que simboliza a identidade da cidade.
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