October 21, 2024 | Author: Anonymous | Category: N/A
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ÍNDICE
MANUAL DO SHAPE
Introdução
3
Administração de Expectativas & o Problema com Suas Referências
11
Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia & Lifestyle
29
Treino & Hipertrofia
116
Suplementação
159
Considerações Finais
174
Conclusão & Aposentadoria Fitness
195
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
Sobre mim
Há aproximadamente 40 anos, meus pais se conheceram na
faculdade de Direito. De cara já se gostaram e pouco tempo depois se encontraram em uma festa. Estou brincando. Não preciso ir tão lá atrás assim.
Minha “história fitness” começou a engatinhar aos 17 anos. À
época, eu era completamente desinteressado sobre qualquer coisa que envolvesse esse universo fitness. Era obeso, branquelo e tímido. E isso nunca me incomodou, até que eu troquei de colégio e fui obrigado a sair da minha zona de conforto.
Na escola nova, me interessei por uma menina, e não foi
difícil constatar que eu teria maiores chances de conseguir alguma coisa se eu não parecesse um bolinho de arroz. Do nada, resolvi emagrecer. E foram 25 quilos em 3 meses.
Desta experiência surgiu a primeira lição: tem que partir de
você. Até então, meus pais tentaram de tudo para que eu perdesse peso. Fui a diversos profissionais, fiz diversas atividades, mas nada dava jeito. Tudo o que eu queria era comer pizza, beber coca-cola e jogar counter-strike. Pizza eu quero até hoje, mas isso é assunto para mais tarde.
A primeira tentativa dos meus pais foi me matricular no Krav
Magá. No primeiro mês, correu tudo bem. No segundo, um dos alunos sofreu um acidente de moto e os professores chegaram à conclusão de que ele teria se machucado menos se já tivesse aprendido rolamento. Resultado: passei 30 dias aprendendo a cair 4
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
para frente, para trás, para a direita e para a esquerda. Não há nada mais frustrante para um gordinho do que ter que cair e levantar o tempo inteiro. A gravidade não está a nosso favor. Saí do Krav Magá.
A segunda tentativa foi na natação. Eu não conseguia. Tinha
muita vergonha. De sunga preta eu parecia um sushi que foi enrolado com pouca alga. Saí da natação.
A essa altura, minha mãe estava frustrada com os
experimentos e só pediu que eu “fizesse algo”, nem que fosse caminhar. E eu obedeci – em partes. No primeiro passeio, descobri um Bob’s a 3 quadras do meu apartamento. Resultado: passei a todos os dias caminhar até o Bob’s, fazer um lanche e voltar. Em vez de gastar 300 kcals, eu consumia 1.000. Minha mãe estava desconfiada, pois, até onde ela sabia, caminhar não engordava. No entanto, foi quando eu cheguei em casa com sangue na camisa que tudo foi por água abaixo. Afinal, não era sangue. Era ketchup.
Pouco depois disso tudo eu mudei de colégio, e foi quando a
perda de peso ocorreu. Quando partiu de mim. Evidente, não foi um processo muito saudável. Foi muita restrição. Basicamente, eu me alimentava de proteínas e saladas e caminhava que nem doido. Eu andava para todo lado, de 5 a 10 quilômetros por dia. Era o Forrest Gump de Botafogo (bairro em que eu morava). Hoje, olhando em retrospecto, eu estimo que meu consumo energético era inferior ao déficit calórico. Por exemplo: meu gasto diário era em torno de 3.000 kcals e eu ingeria umas 1.200, configurando um déficit de 1.800 kcals/dia. 5
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
Obviamente, isso não é saudável. Na maioria dos casos, nem
sustentável é. Mas eu estava tão focado em perder peso para a festa de formatura que eu sobrevivi às repercussões negativas do déficit excessivo, sobre o qual conversaremos em breve. E só para finalizar esta história, não fiquei com a menina. Por mais magro que eu tivesse ficado, eu continuava tímido e sem papo. Não prestou. Mas pelo menos eu emagreci.
Agora com 18 anos e magrinho, eu queria ir à nutricionista.
Dessa vez, partiu de mim. O sonho era ter no lugar dos pneus os tais “quadradinhos” que eu sempre via nas capas de revista e propagandas da Abercrombie. Pouco tempo depois, entrei na musculação. Ao mesmo tempo, crescia meu interesse pelo corpo humano e por entender melhor esse processo de construir o shape. Conforme eu pesquisava, comecei a questionar muita coisa que eu ouvia na academia e da nutricionista. Muita coisa não fazia sentido. No entanto, à época a Internet não era a realidade que é hoje. As redes sociais, menos ainda. Não havia ocorrido o processo de democratização da informação. Você era completo refém de alguns expoentes fitness mais consolidados, como revistas e alguns sites. E como eles gostavam de disseminar mitos. Todos eles: carboidrato engorda – à noite, então, nem se fala; você tem que comer de 3 em 3 horas; café da manhã é a refeição mais importante do dia; BCAA e Glutamina para construir massa magra; etc. Enfim, todos eles.
Não vai soar surpreendente dizer que por uns anos foi isso
que eu fiz. Low carb de 3 em 3 horas com todos os suplementos 6
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
do mundo (os úteis e os inúteis). Ainda mais considerando que era isso que os “famosos pelo shape” faziam – modo de operar esse que, infelizmente, é comum até nos dias de hoje: encher o rabo de hormônios e atribuir os resultados a suplementos inúteis para rentabilizar em cima da ignorância dos outros. Se hoje isso acontece muito, imagina 11 anos atrás.
No entanto, de certa forma e em algum grau, esse extremismo
funciona. É absolutamente desnecessário, mas, se você consegue aderir, funciona. Cheguei ao abdômen que eu queria. O preço a ser pago era odiar meu dia a dia, mas cheguei. Agora o problema era manter. Tudo era empecilho: vida social, almoço em família, pudim da avó. Mas na minha cabeça valia a pena. Afinal, tem que “ter foco”, né?
Essa foi minha vida por uns anos. Em determinado
momento, comecei a oscilar entre períodos “secando” e episódios compulsivos. O motivo era óbvio: o que eu fazia não era de forma alguma sustentável. Depois de um tempo, comecei a ter episódios bulímicos, algo que não entrei em detalhes até hoje. Farei em algum outro momento. Agora não vem ao caso.
Essa fase mais tensa durou cerca de 1 ano. Felizmente, eu
continuava com meus estudos e acabei conhecendo o tal do jejum intermitente. Pouco depois, o conceito de “flexibilização dietética”, um dos pilares por trás da dieta flexível. Foi aí que tudo mudou. De 8 anos para cá, não há mais descontrole. Não há mais compulsão e muito menos bulimia. Não há mais dizer não ao pudim que a avó oferece com um sorriso no rosto por pensar que aquilo é inimigo 7
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
do seu abdômen. Não há mais terrorismo. Finalmente, cheguei ao ponto de equilíbrio.
Sobre o Manual do Shape
A essa altura, me parece importante salientar que a busca
pela autonomia tem um preço: autorresponsabilidade. Da mesma forma que você tem 100% do mérito nos seus acertos, também tem culpa nos seus erros.
Eu não chegaria ao ponto de dizer que todo esse processo
poderia ter sido otimizado com acompanhamento profissional, pois é claro para mim que há profissionais e profissionais. O que não me faltam são histórias envolvendo posturas lamentáveis por parte deles, tanto por incapacidade quanto por má-fé.
No entanto, ao longo desses anos, depois de tudo que vivi
e estudei e do aparente “sucesso fitness” finalmente conquistado, começou a se tornar rotineiro as pessoas à minha volta se aproximarem cheias de perguntas, em especial quando eu estava com o abdômen definido e uma fatia de pizza na mão. Comecei a ajudar um por um. Na camaradagem, lógico. Nunca cobrei para aconselhar amigos. E sempre deu muito certo. O motivo é óbvio: todo o aconselhamento era extremamente individualizado. Isso é fundamental entender. Cada um é um. Cada um tem um gosto, um objetivo, uma rotina, vantagens e desvantagens, qualidades e defeitos. Há quem precisasse de um direcionamento nutricional, outros precisavam de um norte nos treinos. Todos, sem exceção, se beneficiam de parar de rasgar dinheiro com suplemento inútil. No 8
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
entanto, não existe uma regra ou mandamentos a serem seguidos. Não há uma instrução universal. O que há são parâmetros. Dentro de “mínimos e máximos”, há muitas opções.
Sempre me deu enorme satisfação agregar valor à vida
daqueles à minha volta. Com o tempo, fui elaborar sobre esses assuntos no Instagram por meio de vídeos e tentar fazer isso em maior escala. Foi aí que tudo decolou.
Depois de um tempo, senti falta de poder me aprofundar
mais e conseguir relacionar os assuntos: treino, alimentação, suplementação, lifestyle etc. E foi daí que surgiu a ideia do Manual do Shape.
Após esses 12 anos vivenciando, estudando e observando o
Universo Fit, eu tenho meu diagnóstico dos motivos por trás das frustrações da maioria das pessoas na busca pelo shape. E também, claro, as soluções para essas questões. Para chegar lá, precisamos falar de assuntos como: alimentação, treino, suplementação, emagrecimento, hipertrofia, lifestyle e administração de expectativas, entre outros pormenores. É um ecossistema. É preciso equilíbrio entre todas essas variáveis para você ter sucesso.
De nada adianta alimentar-se bem se você não faz a menor
ideia do que está fazendo nos seus treinos. É preciso entender o problema com as suas referências, uma vez que não importa o seu progresso diário se as suas expectativas estão descompensadas. Nenhum progresso será bom o suficiente se o que você espera é irreal. De nada adianta apelar para abordagens extremistas que invariavelmente causarão rebote, pois você não consegue aderir. 9
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MANUAL DO SHAPE
Introdução
É preciso parar de negligenciar o psicológico por trás disso
tudo. Há alimentos que são nutricionalmente inferiores a outros, sem dúvidas, mas se te fazem feliz, como é possível dizer que não têm valor?
Enfim, é preciso desfazer o estrago que foi feito. Essa é a
missão do Manual do Shape. Se eu fizer meu trabalho corretamente, você terminará este livro com uma visão completamente diferente sobre o universo fitness e a melhor forma de você se inserir nele.
Obrigado pelo voto de confiança. Vamos ao livro.
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas & o Problema com
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
1) Atletas de dia a dia
Talvez o aprendizado mais útil ao longo dessa década
observando e aprendendo sobre o mundo fitness é que a maior parte das preocupações mais atrapalha que ajuda. Há um grande preciosismo com detalhes que nasce do fato de eles – talvez, dependendo do que se trata – importarem para os expoentes da musculação (leia-se: para os indivíduos com destaque midiático por conta de seus resultados; basicamente, os “famosos por seu shape”). Quando estamos falando de alto nível, pormenores podem separar o campeão do segundo colocado. Não é o caso dos “atletas de dia a dia”, expressão que eu uso para caracterizar 99% dos frequentadores de academia.
No entanto, como sabemos, é extremamente comum que
a rotina dessas pessoas “famosas” sirva de exemplo para todo o resto. Se você não pretende competir em alto nível, não faz o menor sentido copiá-las. Esse cenário é especialmente agravado quando seus ídolos são usuários de esteroides e você nem flerta com a possibilidade do uso. Não canso de reforçar: são mundos distintos e, ao longo deste livro, ficará claro para você o porquê.
Quem quer chegar a um shape maneiro de forma saudável
simplesmente não precisa atentar para um monte de coisa que hoje pensa ser relevante. Timing das refeições, por exemplo, não é tão importante assim. A maior parte dos suplementos é absolutamente inútil. Você terá que se dedicar aos treinos, mas nem perto do tanto que um atleta o faz. Dentro de certos parâmetros mínimos e máximos, há muita área para trabalhar. São inúmeras 12
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
possibilidades. E sabendo que o mais importante é a adesão e o mais importante para adesão é gostar do que se faz todos os dias, muitas vezes essa paranoia com detalhes é simplesmente um tiro no pé. Ficamos ansiosos pensando no tanto que precisamos fazer e ajustar, sem muitas vezes saber que boa parte desse tanto não faz qualquer diferença.
A ideia deste livro não é te dar o melhor caminho para você
alcançar esse objetivo, até porque isso não existe. Não há apenas uma rota de “sangue, suor e lágrimas” que te leva ao shape dos sonhos. É te fazer refletir sobre todas as possibilidades de forma que, conscientemente, você tome decisões coerentes que te levem ao seu objetivo, seja ele qual for. Com consistência, expectativas reais, estratégias eficientes e – principalmente – adesão e alegria ao longo do processo, todos podem chegar lá. Não há ninguém melhor que você para eleger o caminho mais adequado para a construção do shape dos seus sonhos.
2) Considerações fundamentais sobre esteroides
Pessoalmente, eu, Alessandro, não dou a mínima sobre o que
um indivíduo faz com sua vida, desde que não prejudique a vida dos outros. Se Fulano pretende se encher de esteroides, o problema é dele. Eu não tenho nada a ver com isso. A vida é dele, a estética é dele, a saúde é dele e a decisão é dele (ou dela).
O que não dá para suportar é a hipocrisia em torno desta 13
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
variável de enorme magnitude. A grande maioria mente sobre o uso. Dos poucos que abrem o jogo, há uma parcela considerável que minimiza o impacto. Classificam o uso de hormônios como “cereja do bolo”. Aí não dá. Estamos falando de substâncias que, de forma considerável, diminuem a degradação de proteínas, paralelamente aumentando a síntese. Permitem que se construa massa magra e queime gordura ao mesmo tempo e aumentam força, entre outros. O impacto estético pode ser imenso.
Não se engane, há um preço a ser pago com saúde. E o preço
pode ser incerto. Por mais que haja alguma previsibilidade sobre os colaterais, também é fato que há algum grau considerável de imprevisibilidade. E claro, é evidente, depende da substância e da dosagem. No entanto, se o custo-benefício agrada ao indivíduo, mais uma vez: é escolha dele. Eu só torço para que essa escolha seja consciente e feita com acompanhamento de profissionais qualificados.
É comum quando alguém tenta minimizar a relevância do uso
de hormônios falar algo do tipo “Ah, mas tem gente que toma e não fica sinistrão. E aí?” Tem gente que usa arma e não sabe atirar. Isso torna as armas menos letais? Da mesma forma, não torna os esteroides menos eficazes.
Outro pseudoargumento recorrente: “Você ainda assim vai ter
que treinar. Experimente usar esteroides, se alimentar mal e ficar sentado no sofá pra ver se você vai construir um shape maneiro. Não vai. Hormônios são a cereja do bolo”.
Com todo o respeito, esse argumento é bem estúpido. Só 14
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
faria algum sentido se fosse para contra-argumentar “basta tomar esteroides”. Não é o que está sendo dito. Não está sendo insinuado que o que difere o sedentário do Mr. Olympia é a aplicação de hormônios. O ponto é a relevância deles no processo. Só isso. E é muito louco que quem menospreza a relevância é justamente quem faz uso. Se faz pouca diferença, você resolveu tomar e arriscar sua saúde por que exatamente?
Tal qual na defesa, há os extremistas na crítica também.
Para estes, sugiro a reflexão: em vez de “com esteroides até eu”, entenda que a realidade é mais próxima de “sem esteroides, nem você”. Sugerir que o indivíduo teria outro resultado sem o uso é extremamente razoável e assertivo. Sugerir que bastava você fazer uso e você ficaria que nem ele beira o absurdo. Entenda essa distinção. Esteroides não são a cereja do bolo. São o fermento.
Ainda assim, você vai ter que executar a receita para obter o produto final. No entanto, experimente tirar o fermento e note o impacto que terá no seu bolo. Agora tire a cereja: o bolo é o mesmo. Esteroides não são a cereja. São o fermento.
“E por que isso importa?”
Continue a leitura que ficará claro em breve.
3) Modus operandi do mundo fitness
Modus operandi é uma expressão em latim que significa, como 15
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
intuitivamente talvez tenha lhe transparecido, o modo de operar. Ou seja, como algo ou alguém funciona. No caso do universo fitness, me parece o seguinte: criação de expectativas para vender meios de chegar lá. Até aí, sem problemas. Afinal, isso não é exclusivo ao Fitness. É muitas vezes a finalidade de um marketing bem feito. O grande problema aqui surge na magnitude da expectativa criada no imaginário coletivo das pessoas.
Façamos um teste: feche os olhos e pense em um homem e
uma mulher conhecidos exclusivamente pelos seus corpos. Posso te afirmar com grande segurança que é extremamente provável – para não dizer certo – que as pessoas que lhe vieram à mente são usuários de hormônios. Evitarei citar nomes para já não ser processado no começo do livro. E a razão pela qual isso se dá é simples: chegamos a um nível que é muito difícil se destacar sem o uso. Para melhor compreender isso, imagine a seguinte história fictícia:
Desde sempre, pessoas competiam de bicicleta para ver quem
alcançava a linha de chegada mais rápido. De repente, alguém surgiu com uma motocicleta mágica e, por alguma razão, entrou nessa competição. Imagine que essa motocicleta é discreta, com alguma espécie de motor escondido. Não é evidente aos demais participantes que alguém entre eles possui uma grande vantagem competitiva. É menos nítido ainda a quem assiste de longe – leia-se: o grande público. A partir desse momento, o usuário da motocicleta mágica passa a ganhar todas as competições. Aos poucos, outros participantes descobrem o ocorrido e também surgem com essa mesma motocicleta mágica. Claro que agora há certo pé de 16
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igualdade e não se sabe mais quem irá ganhar a corrida, mas algo ocorreu: basicamente, não há mais chances reais para um usuário de bicicleta comum. Se você quer ter chances de vencer, precisa aderir à motocicleta mágica. Os participantes que usam a bicicleta comum nem aparecem mais na foto da linha de chegada.
Talvez você já tenha identificado quem é quem nessa história,
mas permita-me elaborar: a bicicleta comum representa o corpo humano natural e suas potencialidades; a motocicleta mágica, por sua vez, o corpo humano com uma superdosagem fisiológica hormonal (usuários de hormônios).
E não me entenda errado: entre usuários da motocicleta
mágica, não há injustiça. O problema nasce quando você, com sua bicicleta, tem esses usuários como referência. E é isso o que acontece no Instagram e nas redes sociais de forma geral.
O físico natural já não se destaca mais. Tirando raras exceções –
e quando digo raras, eu digo raras –, é muito difícil alguém se destacar com resultados naturais. O porquê disso é evidente: há referências demais do resultado super-humano. Não é justa a comparação entre naturais e hormonizados. Mas na rede social, ela acaba acontecendo de forma inevitável. Às vezes, até inconscientemente: você está tão acostumado a associar tal magnitude de resultado ou tal velocidade de progresso a “alguém que se dedica”, que aquilo acaba se tornando o normal para você. E é perpetuado vez após vez. São tantas transformações absurdas de 30 a 90 dias que aquilo fica parecendo normal. E quando você repara que no mesmo período de tempo não conseguiu nem de perto algo parecido, você questiona tudo o que 17
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estava fazendo e muitas vezes abandona de vez.
Com o crescimento das redes sociais e essa cultura expositiva
que vivemos, é muito comum que essas sejam as pessoas com maior destaque. Não é razoável pensar que antes de seguir alguém, cada indivíduo irá julgar o que está por trás do corpo ou resultado exposto. Apenas o resultado será julgado. Apenas o superficial. A estética. E resultado vs. resultado, em média, assim como no fictício exemplo da corrida de bicicletas, não dá para comparar hormonizados e naturais.
4) As aparências enganam
Há algo de muito peculiar nesse universo fitness: a automática
presunção de credibilidade no discurso de quem tem os resultados que você almeja. Quantas vezes você não parou para ouvir a opinião de alguém sobre algo simplesmente por aquela pessoa ter o tipo de resultado que você desejaria ter. Eu mesmo já cometi esse erro inúmeras vezes nos meus primeiros anos de musculação.
Não que exista algo que em teoria impeça o indivíduo com
o físico que você admira de saber muito do que está falando. É evidente que não. Mas o simples fato de ter o físico não é garantia nenhuma. É possível, e até comum, um homem ou mulher com boa genética usuário de hormônios ter bons resultados com um treino mediano e sem saber nada de alimentação, por exemplo. Quando a pessoa está fazendo uso de substâncias que aumentam significativamente a capacidade de ela ter hipertrofia muscular, é possível que ela tenha resultados mais expressivos e mais 18
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rapidamente que indivíduos que treinam melhor do que ela. E por mais que aqueles resultados estejam aquém do que ela conquistaria “caso se dedicasse mais” ou em comparação aos de alguém hormonizado que fez tudo certo, são consideravelmente superiores à média de resultado de quem não fez uso de nada.
Importante deixar claro que me refiro ao ambiente das redes
sociais, em que frequentemente temos seguidores naturais tendo como referências expoentes hormonizados. Em um ambiente de competidores no qual todos fazem uso, todos terão que se preocupar com cada detalhe de alimentação e treino se quiserem sagrar-se campeões. Não estou insinuando de forma alguma que o campeão pode ser um “desleixado com boa genética”, apesar de saber que não é impossível que o campeão não seja o que mais se dedicou, visto que é um esporte no qual você se destaca por estética e não por desempenho.
A ideia aqui é deixar claro que, por mais que haja certa zona
de interseção e exemplos que sirvam para ambos os lados, são mundos distintos. Natural se comparar com hormonizado é receita perfeita para frustração. E frustração inviabiliza adesão. E adesão é o mais importante para chegar nos seus objetivos. Cuidado com as suas referências.
5) Onde entra a indústria de suplementos Basicamente, no patrocínio de atletas hormonizados.
Quem normalmente é patrocinado pela indústria? Alguém que 19
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possui em seu físico um exemplo do que boa parte do público-alvo da empresa almeja. Não surpreendentemente, nesse cenário, os eleitos para representar as expectativas são os hormonizados. Os que jamais deveriam representar a expectativa do público médio. Não há como presumir ingenuidade por parte dos contratantes aqui. Você acha que a empresa X paga uma celebridade fitness para divulgar seu BCAA achando que este suplemento teve qualquer relevância na vida daquele atleta ou que pode ter na sua? Não. Tudo o que ela espera criar é “Fulano tem os resultados que eu busco. Fulano endossa o uso de BCAAs para obter esse resultado. Vou comprar BCAAs para tentar conquistar para mim resultados parecidos com os de Fulano”.
Essa é a mentalidade na maioria das vezes. Isso já é
problemático com suplementos que funcionam e têm sua aplicabilidade, como whey e creatina, mas é especialmente mais triste quando falamos de suplementos que não possuem aplicabilidade na prática esportiva. Além de contribuírem para o problema da perpetuação de metas inalcançáveis, ainda te fazem rasgar dinheiro com cápsulas inúteis. E dinheiro, como sabemos, não cai de árvore. Gaste o seu sabiamente.
6) Como os profissionais entram nesse cenário?
Usando pessoas como vitrines e sugerindo que, de alguma
forma, é o trabalho deles que está associado aos resultados daquela magnitude. Quantos antes/depois vemos por aí, de magnitudes impensáveis, que te fazem questionar os seus próprios 20
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resultados e se sentir tentado a procurar aquele profissional, pois, aparentemente, “ele tem algo de diferente”? Quantas recomposições corporais em tempo recorde? Quantos ganhos de massa magra significativos associados à perda de gordura, algo que, como veremos, é necessário parar de idealizar quando você não é mais iniciante nos treinos de musculação.
E aqui também temos um ciclo vicioso que se retroalimenta:
nesse mundo superficial onde imagem é tudo, as fotos de antes/ depois são poderosas armas de sedução. E quando seus colegas (concorrentes) fazem, outros imitam para restabelecerem o pé de igualdade. E os profissionais sabem bem o que está por trás das transformações milagrosas. Mas quantos falam sobre? Você conhece algum? Eu conto nos dedos das mãos. Para quem se interessar, há um relato no meu Instagram (@fastnfitness) sobre uma amiga, atriz famosa, que foi tratar um problema da tireoide no médico, que passou a consulta inteira tentando convencê-la a usar GH (hormônio do crescimento). Por qual motivo você acha que ele estava desesperado para ela ter resultados estéticos impressionantes, possivelmente às custas de saúde? Para ele usá-la como vitrine. Ela nem foi até lá à procura disso, mas o profissional fez questão. É muito triste, mas não é incomum. Infelizmente.
7) Por que é tão raro termos exemplos naturais hoje em dia?
Podemos especular uma série de fatores que potencialmente
irão contribuir em graus diferentes.
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
Primeiramente, a cultura do imediatismo em que vivemos.
Quem ainda tem paciência para fazer o que precisa ser feito dia após dia para depois de certo tempo colher os frutos? Segundamente, os porquês que motivam essa busca pelos resultados. Se a ideia é se exibir nas redes sociais, por que você não iria querer fazê-lo o quanto antes? Outro motivo, a meu ver, que se associa de alguma forma ao imediatismo, é a negligência de possíveis colaterais em médio-longo prazo.
O abuso de substâncias pode acarretar colaterais tanto em
curto prazo quanto anos depois, mas muita gente prefere correr o risco para conseguir um físico mais impressionante e mais rápido. Eu não julgo. A vida é de cada um. Meu problema é com a mentira para rentabilização da ignorância do público. Ninguém colocou uma arma na sua cabeça e pediu para você ir até as redes sociais falar de fitness. Se você escolheu fazê-lo, que fale a verdade. Caso contrário, você não quer inspirar ninguém, mas sim impressionar para depois rentabilizar. É uma sujeira do caramba.
8) A rentabilização da sua ignorância
Gostaria de compartilhar um texto meu que publiquei na
Internet: a Fábula da Ilha do Super Shape.
“Era uma vez Fulano. Fulano queria influenciar pessoas e a
maneira de fazer isso era nadando até a Ilha do Shape. Para isso, Fulano precisaria treinar consistentemente por anos até conseguir fazer a travessia e chegar na tão almejada Ilha do Shape. Sabe que não será fácil, mas também sabe que é possível. Queria, então, por 22
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
meio do seu exemplo, estimular pessoas a chegarem lá também. Logo, essa era a sua meta.
Eis que surge Ciclano. Ciclano resolve pular etapas, pega um
barco escondido e após remar um bocado consegue alcançar a Ilha do Shape em tempo recorde. Chegando lá, ele avista algo novo e distante que ele nomeia como Ilha do Super Shape. Prontamente pega seu barco e volta a remar até chegar lá. Depois de um tempo ele chega e tão logo divulga suas conquistas nas redes sociais: afinal, em tempos modernos, de que vale uma conquista se não for publicada?
Ciclano deixa todos incrédulos. Que feito. No entanto, ao
relatar sua trajetória de sucesso, Ciclano omite a parte do barco. Ele só mostra que chegou à Ilha do Super Shape. E agora ele está vendendo cursos de como nadar para chegar lá. E os cursos vendem que nem água. E não poderia ser diferente: Ciclano não só descobriu como chegar nadando aonde todos queriam, mas ainda foi além e chegou à Ilha do Super Shape.
No entanto, Ciclano não chegou lá nadando, né? Então como
é de se esperar, as instruções de natação de Ciclano não são suficientes para que seus seguidores compartilhem de sua super conquista. Afinal, ele escondeu uma parte fundamental: o barco. Agora, seus seguidores – um a um – nadam e nadam mas morrem sem chegar na praia. Não chegam à Ilha do Shape e muito menos à Ilha do Super Shape.
Fulano seguiu sua rotina e eventualmente conquistou seu
objetivo. Os inspirados em seu exemplo também. 23
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MANUAL DO SHAPE
Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
Ele nunca chegou à Ilha do Super Shape. Não parece ser
humanamente possível. Ele não tem como provar, mas desconfia que Ciclano não chegou lá nadando.
Os que foram inspirados no mais modesto exemplo de Fulano de
chegar à Ilha do Shape eventualmente conquistam seus objetivos.
Os que foram impressionados pelo grande feito de Ciclano
descobrem que não conseguiriam chegar à Ilha do Super Shape nadando. Acabam nem chegando à Ilha do Shape pois desistiram antes. Ciclano não se incomoda. Seus cursos de natação continuam vendendo que nem água.”
Moral da história:
Fulano estava preocupado em inspirar pessoas.
Ciclano estava preocupado em impressionar pessoas.
Cuidado para não se inspirar em quem só está preocupado em te impressionar.
Há quem tente defender Ciclano.
Dizem: pô, ainda assim ele teve que remar!
Verdade. Ele de fato ainda teve que se esforçar.
Mas não foi por causa do seu esforço que ele conseguiu os resultados impressionantes, correto?
Foi por causa do barco que ele omitiu.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.”
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
Você provavelmente já ouviu um milhão de vezes para não se
comparar com o outro, mas sim com quem você era ontem. Esse conselho é lindo, mas um tanto quanto utópico. Por isso escutamos tantas vezes e continuamos insistindo no erro. É natural e até intuitivo fazer a comparação, infelizmente. Por isso, resolvi insistir tanto no problema que é esse hábito. Naturalmente já pode ser nocivo ter como referência alguém diferente de você, no entanto, na Internet, pode ser realmente o maior tiro no pé que você pode dar para a sua adesão. Se as suas expectativas são irreais, nenhum progresso
será bom o suficiente. E o que não falta na rede social é gente te gerando expectativa irreal. Mais uma vez e sempre: cuidado com as suas referências.
9) O problema com as suas referências
Quando estamos falando de “celebridades fitness”, estamos
falando de pessoas que vivem para ter resultados estéticos impressionantes. Ganham dinheiro com isso. Provavelmente não é o seu caso, e se espelhar nesses exemplos pode ter diversos desdobramentos infelizes, como você já deve ter vivido, então me permita sugerir um outro ângulo de análise.
Quantas vezes você deu um ânimo no seu planejamento
fitness e de repente se viu retornando à estaca zero, ou até pior do que quando começou? Essa é a invariável consequência da adoção de protocolos extremistas. Não incomum, pensa-se que é preciso flertar com o 8 ou o 80. Ou seja: dieta restrita e sem concessões, 25
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
treinar muito e todo dia, aeróbico, diversos suplementos etc. Afinal, é isso que parece funcionar para todas as pessoas notórias por seus resultados, correto? O clássico “foco, força e fé”.
Agora, entendendo um pouco melhor a relevância do uso
de hormônios e tendo em mente a maior magnitude da resposta hipertrófica, bem como a sua maior velocidade, você consegue imaginar o quão mais fácil é manter-se restrito e “extremista” na sua abordagem fitness?
Pense nisso de forma análoga a um investimento, até porque
não deixa de ser. Afinal, tempo é o nosso bem mais precioso. Não é muito mais fácil investir muito quando há certeza do maior e mais breve retorno? O mesmo princípio se aplica aqui. É mais fácil se preocupar com cada detalhe que pode fazer alguma mínima diferença quando você sabe que aquilo se dará por um curto período de tempo e/ou que te trará resultados grandiosos.
Com você o jogo não será assim.
Seu projeto não irá durar algumas semanas ou meses. É
devagar e sempre. É todo dia. Não faz o menor sentido privarse de tudo e possuir uma abordagem extremista se você vai fazer aquilo por um longo período de tempo. E acredite: você vai fazer aquilo por um longo período de tempo. Não baseie sua rotina na de uma celebridade fitness, atleta ou modelo. Não faz o menor sentido fazê-lo.
E aqui temos mais um exemplo do problema da mentira que
permeia esse universo. Essas pessoas que mentem quanto ao uso de
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
hormônios estão sugerindo, mesmo sem dizer, que você consegue resultados de maior magnitude que o possível em um espaço de tempo muito menor que o razoável com suas atitudes extremistas. E aí você as copia e não tem nem de perto o mesmo resultado. E o resto da história você já sabe. Possivelmente já foi protagonista de um relato parecido. Todo mundo que eu conheço já foi.
Preocupações com detalhes fazem sentido quando você é
atleta ou modelo. Você não vive do seu corpo. Quando você recebe retorno financeiro por sua postura extremista, também torna mais fácil mantê-la. Tente imaginar que eu te peça para ficar duas semanas sem chocolate. Você já pensa “de jeito nenhum”. Agora, se eu te falar que te pagarei quinhentos reais por dia que você conseguir, será que o jogo não muda?
Mesmo assim, o que não nos falta são exemplos de modelos
que mergulharam na bulimia. Nem mesmo o retorno em curto prazo pela postura extremista foi suficiente para dar o conforto psicológico necessário para perdurar em um protocolo extremo.
Agora imagine você que, no máximo, tem um feedback
positivo do espelho e de curtidas na rede social. Certas restrições simplesmente não fazem sentido e podem ser extremamente contraproducentes. O segredo, conforme todos aprendemos ao longo dos
nossos erros, é saber fazer o menor número de concessões para o maior retorno possível. E é isso que eu quero te ensinar a fazer. Por exemplo: suponhamos que X seja o máximo que você pode fazer para ter o máximo de retorno. X é sofrido. X requer 27
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Administração de Expectativas e o Problema com Suas Referências
posturas como total vigília com a dieta, eventos sociais são secundários, não é possível aproveitar os finais de semana e treinar religiosamente é o mínimo. Agora imagine que se você fizer 60% de X você tem 90% do retorno. Parece melhor negócio, né? E é. É exatamente esse meio termo que você precisa descobrir. O mínimo de concessões para o máximo de retorno. Se você é competidor, você não pode se dar ao luxo de não dar os 100%. Mas você não é. Por favor, entenda essa distinção.
Espero que o que isso representa exatamente para você
considerando sua rotina, gostos e objetivos fique claro até o final deste livro.
Reforçando:
A vida é sua e você usa o que você quiser. Eu não tenho nada
a ver com isso. Mas quando você vai para uma rede social contribuir para a consolidação de expectativas absolutamente irreais, você é parte do problema. Ninguém mandou ir se expor. Você não tem obrigação. Se escolheu fazê-lo, que seja transparente. É o mínimo.
E se você usa esses “resultados a mais” das suas agulhadas
para mentir e conquistar autopromoção, vender treinos ridículos, dietas absurdas ou suplementos inúteis, você é um bosta.
Não menospreze a relevância do que te contei aqui. Já cansei
de ver exemplos ao longo dos anos de mulheres com o corpo lindo e se odiando pois não têm o volume muscular ou a definição de Fulana, sem saber que sem o uso de esteroides nem Fulana teria o corpo de Fulana. O mesmo serve para os homens. Já deu.
Não te custa absolutamente nada ser um ser humano decente.
Agora chega de hormônios. Vamos à alimentação. 28
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Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia
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Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia e Lifestyle
1) Introdução à alimentação: comer bem vs. emagrecimento e hipertrofia
Imagino que você já tenha escutado a recomendação
“desembale menos, descasque mais”. Por mais válida que essa recomendação seja – afinal, ninguém nunca se prejudicou por aumentar a qualidade da sua alimentação –, é preciso entender que “comer bem” está longe de ser suficiente quando o assunto é hipertrofia ou emagrecimento. É importante, sem dúvidas, mas se você tem metas estéticas, há diversos outros parâmetros a serem considerados.
Ao “destreinado” em planejamento dietético, o preço do
“comer intuitivo” é mais custoso em uma perspectiva estética do que de saúde, dependendo de qual for o seu objetivo.
Se você come razoavelmente bem e colorido na maior
parte do tempo, as chances de estar ingerindo o que precisa de micronutrientes são altas. Dependendo dos seus hábitos alimentares e de algumas possíveis singularidades biológicas, pode ser que haja insuficiência de algumas vitaminas e minerais comuns, como ferro, zinco, magnésio, vitamina A ou vitamina B12, mas não necessariamente. Isso é algo que você pode verificar com o profissional de sua confiança. Não é passível de generalização.
No entanto, para quem possui pretensão de otimização de
composição corporal, seja hipertrofia ou perda de gordura, o buraco é mais embaixo. Quantidade e proporções de macronutrientes farão diferença. Comer alimentos naturais e nutritivos sempre é 30
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Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia e Lifestyle
importante, mas fazê-lo de forma aleatória e descontrolada não é garantia nenhuma de que você irá emagrecer, por exemplo.
Calorias além do seu déficit irão interferir na sua queima de
gordura. Calorias abaixo da sua manutenção irão interferir na sua hipertrofia. Simplificando: sem déficit calórico, você pode ter a alimentação mais saudável do mundo que não irá emagrecer. Da mesma forma, se a ingestão energética for insuficiente, não importa o quão nutritiva ela seja, você estará prejudicando ou inviabilizando a hipertrofia.
Falaremos sobre proteínas mais profundamente em breve,
mas, para ilustrar: insuficiência da ingestão delas irá interferir tanto na hipertrofia quanto na otimização de composição corporal quando em déficit, entre outros vários exemplos.
Nesse cenário, você tem algumas possibilidades: ou você
adquire certo controle sobre o que come, ou alguém controla para você, ou você simplesmente aceita que há dias que você vai comer de acordo com seus objetivos e há dias que não.
O que é importante é você parar de atribuir poderes místicos
a determinados alimentos. É sempre necessário analisar o contexto. Para isso, pensei que poderia ser muito útil começarmos entendendo melhor os pormenores desse processo. 31
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Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia e Lifestyle
2) Bioquímica do emagrecimento
Não sei se você compartilha do enorme fascínio que eu tenho
por essa máquina que chamamos de corpo humano, mas peço que você leia com carinho e atenção mesmo que detalhes dessa natureza nunca tenham sido de seu interesse.
A ideia deste livro é dar maior autonomia a cada leitor. Para
cada problema que eu identifico no universo fitness, há determinado diagnóstico – e, é claro, a respectiva solução.
No caso do emagrecimento, me parece cristalino que o que
torna tanta gente refém de baboseira é não fazer ideia do que acontece quando você queima ou acumula gordura. É um processo quase místico, eu arriscaria dizer. E é justamente isso que faz com que alguém acredite que água com limão emagrece. Ou que correr com casaco faz queimar mais gordura pois você sua mais. Ou que para emagrecer precisamos fazer muitas repetições com pouco peso. E por aí vai. Se fôssemos elaborar sobre mitos de emagrecimento, daria um livro por si só.
A solução, portanto, é você entender um pouco melhor a
bioquímica do emagrecimento. Tentarei da forma mais simples possível te explicar exatamente o que acontece quando alguém emagrece de forma que você nunca mais acredite em qualquer baboseira relacionada à perda de gordura.
Você já se perguntou o que acontece para você emagrecer?
Não me refiro ao que fazer para emagrecer. O gabarito aqui não é “comer menos e se exercitar mais”, mas sim o que acontece no 32
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Alimentação, Emagrecimento, Hipertrofia e Lifestyle
seu organismo quando você perde gordura. Suponhamos que um indivíduo emagreceu 20 quilos. Pesava 100, agora pesa 80. O que aconteceu? Para onde foram esses 20 quilos? Saíram no xixi? No cocô? No suor? Um entendimento do que ocorre bioquimicamente pode ser a cura para você não ficar mais refém da infinidade de mitos que envolvem emagrecimento. Essa noção, me parece, vem da bioquímica do processo. Então, vamos a ela.
Como sabem, a vida na Terra não seria possível sem carbono.
É a base de tudo e, entre os alimentos, essa verdade prevalece. É o componente fundamental de todos os principais macronutrientes da nossa alimentação, sendo eles: proteínas, carboidratos e gordura. Carboidratos, aliás, não à toa, têm como sinônimo “hidratos de carbono”. Provavelmente escolheram a versão do nome mais atraente. Se já tem tanta gente com medo de consumir carboidrato, imagina se tivessem que consumir hidratos de carbono.
Pequena digressão. Retomando.
Todos são compostos por cadeias de carbono. Aquele mesmo,
da tabela periódica. A estrutura molecular, é claro, difere entre eles. Em uma molécula de glicose, que é o exemplo mais conhecido de carboidrato simples, temos seis carbonos organizados de forma hexagonal. Gordura, por sua vez, possui outra estrutura composta por 3 longas cadeias carbônicas ligadas a uma molécula de glicerol. Em uma molécula de glicose há 6 carbonos, em uma de gordura pode haver 20, 30 ou 40 carbonos. Nesse caso, quanto mais carbonos, maior o número de ligações. No caso do metabolismo humano, a quebra dessas ligações gera mais energia para nosso 33
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organismo que a energia que gastamos para quebra-las, gerando um saldo positivo de energia que podemos utilizar. É análogo, de certa forma, à alimentação: gastamos energia para comer, afinal, mastigar, engolir e digerir não ocorrem de forma passiva, mas a energia que obtemos a partir do alimento torna essa equação de gasto energético positiva. Para dar um exemplo mais bobo: imagine que você pegou o Uber para ir ao caixa eletrônico sacar dinheiro. Gastou 10 reais para depois sacar 200 reais, tornando o saldo positivo. É isso basicamente que acontece: requer certo esforço (gasto) para tornar aquela energia acessível (quebrar as ligações), mas, ao fazê-lo, temos um saldo energético bem positivo.
Ao quebrar essas ligações, você tem agora carbonos
“sozinhos”, e quando você respira, você inspira oxigênio. Duas moléculas de oxigênio (O2) se ligam ao carbono, e é isso que você expira: gás carbônico. É aí que, pouco a pouco, você expira a gordura armazenada: em forma de CO2, mais conhecido como gás carbônico. O CO2 possui um peso que é calculável e o quanto você expira de gás carbônico está diretamente relacionado ao peso que você perdeu. Estima-se que, de cada 10kg de gordura perdida, pelo menos 8kg foram eliminados na forma de CO2.
Aí você pode estar pensando “ué, se a geração de energia se
dá a partir da quebra dessas ligações e há muito mais ligações na gordura do que no açúcar (glicose) por haver muito mais carbonos, quer dizer que a gordura fornece mais energia?” Exatamente. Gordura possui um potencial de fornecer bem mais energia que a glicose. A diferença, no entanto, é na velocidade. São processos distintos e a geração de energia a partir da glicose é mais rápida 34
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que a partir da gordura. Por essa razão, entre outras, para haver auge de performance, é necessária a presença de carboidratos. De forma simples: você vai longe só usando gordura como energia, mas não vai o mais rápido que pode ir. Enfim, apenas uma curiosidade. Esse não é o assunto em questão.
Chamamos esse processo de quebra de ligações de carbono
de metabolismo. O produto final desse processo é basicamente gás carbônico, água e ATP (lembra da tal “moeda energética biológica” sobre a qual ouvimos falar nas aulas de biologia no colégio?). Nosso corpo usa essa energia em potencial para transformá-la em ATP, que é a fonte de energia principal da célula.
Quando você ingere mais energia que você precisa, você a
estoca. Por exemplo, se seu organismo precisa de 2.000 kcal para realizar as atividades e você ingere 3.000 (o famoso superávit calórico), você vai armazenar esse excesso. Quando você precisa dessa energia armazenada, você a utiliza. É o caso do ainda mais famoso déficit energético, que ocorre quando, por exemplo, seu organismo precisa de 2.000 kcal e você ingere 1.500.
Quando você obriga o seu corpo a usar os estoques, que nada
mais são que cadeias de carbono – sejam elas gordura ou glicogênio –, eles ficam menores. Se seus estoques de energia na forma de gordura estão reduzidos, parabéns: você acabou de emagrecer. Parte daquela pochete que te incomodava tanto transformou-se em energia utilizável pelo seu organismo, e o bioproduto desta operação você expirou na forma de gás carbônico. Incrível, né? 35
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Seu corpo quebra as ligações entre esses carbonos, usa a
energia fornecida e, ao não repor esse estoque energético, você fica menor. Por isso, a única coisa imprescindível ao emagrecimento é estar em déficit energético. Agora você sabe o porquê: é ele que fará com que seu corpo acesse seus estoques de energia do qual irá fazer uso, e você irá expirar o CO2. Evidentemente, há estratégias mais e menos eficientes de alcançar esse déficit com a finalidade de otimizar composição corporal, como abordaremos ao longo do Manual do Shape.
Por ora, espero que tenha feito sentido e você consiga
entender todos aqueles casos bizarros que já ouviu, como o sujeito que emagreceu apenas comendo doces ou alguém que emagreceu comendo apenas fast food. É evidente que eles não estavam nem um pouco preocupados com saúde, mas a natureza extrema do experimento só reforça o quão relevante é o déficit energético. Se você encontrar um profissional que prega que calorias não importam, saia correndo. Calorias não são tudo, especialmente quando o assunto é saúde. A fonte delas pode ser determinante entre a saúde e a doença, mas não tenha dúvida de que elas são extremamente relevantes. É por conta do excesso ou escassez delas que você engorda ou emagrece. Calorias nada mais são que uma forma de estimar o potencial de fornecimento de energia daquele alimento. E agora você sabe que gordura nada mais é que energia em potencial armazenada no seu corpo. Para estimular a queima de gordura, você precisa estar em déficit energético.
Todas as dietas que já funcionaram para a perda de peso
tiveram uma singular característica em comum: todas – sem 36
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exceção – tornaram possível o déficit de energia dia após dia. Por isso a adesão é tão relevante: por conta do “dia após dia”. Da mesma forma que ninguém gerou o acúmulo de energia que foi armazenada na forma de gordura em um dia comendo demais, ninguém irá se desfazer dele em 24 horas. Demora um tempo diretamente proporcional, é claro, ao quanto de gordura você tem a perder.
Duas ressalvas importantes: primeiramente, esse não é um
processo linear. Acho que todos já passaram por alguma espécie de “estagnação”, na qual pareceu que essa teoria não faz sentido. Em breve você saberá o porquê. Em segundo lugar, entenda que esses processos não são mutuamente excludentes. É comum que, dependendo do cenário, um esteja prevalecendo sobre o outro. Como por exemplo em um cenário pós-prandial (depois de comer), no qual o acúmulo de energia estará favorecido. Diametralmente oposto a ele, temos o cenário do jejum, no qual o seu corpo não tem opção a não ser recorrer à energia armazenada nele mesmo para realizar suas atividades. Ou seja, o gasto da sua energia (gordura) será mais predominante. Portanto, você estará ao longo do dia acumulando gordura e queimando gordura. Se estiver em déficit energético, a queima será maior que o acúmulo. Se estiver em superávit, o acúmulo será maior que a queima.
Esse foi o capítulo mais nerd, prometo. Os próximos são
mais leves. Mas espero que tenham finalmente entendido porque nenhuma cadeia de carbono presente em qualquer alimento singularmente é capaz de te fazer engordar ou emagrecer. O que vai prevalecer é o contexto. Sempre. 37
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3) Jejum queima mais gordura? Sim e não
Se você for pesquisar na Internet, facilmente encontrará
dois posicionamentos: quem defenda que o jejum vai te fazer queimar mais gordura e quem defenda que não é superior a um planejamento dietético convencional (café da manhã, almoço, jantar e lanches) quando o objetivo é queimar gordura.
É comum que esses dois estejam em polos antagônicos de
um espectro de possibilidades, mas a verdade é que curiosamente ambos estão corretos, por mais paradoxal que possa parecer.
Quando estamos jejuando, nosso corpo é obrigado a oxidar
(queimar) o que há nele para obtenção de energia. Nesse sentido, e em especial conforme as horas em jejum passam, acabamos queimando mais gordura em comparação a um cenário pós-prandial (depois de comer).
“Beleza, então o jejum queima mais gordura.” Calma. Lembra
do contexto.
Ao mesmo tempo em que quando estamos jejuando estamos
queimando mais gordura comparado a um cenário alimentado, quando nos alimentamos também acumulamos mais gordura quando comparado àquela mesma refeição de alguém que não faz jejum.
Fácil entender quando pensamos em valores: imagine um
mesmo indivíduo com uma demanda energética de 2.000 kcal/dia que pode distribuir suas calorias ao longo do dia (planejamento convencional) ou em uma janela reduzida com desjejum no almoço (cenário do jejum). 38
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No primeiro caso, o almoço seria de, por exemplo, 500
kcal; no segundo, por sua vez, de 1.000 kcal. Qual dos dois você arriscaria dizer que acarretaria maior acúmulo de gordura? Exatamente, o que contém o dobro de calorias.
Durante nosso dia, é comum variar entre períodos de lipólise/
beta oxidação (quebra e “queima” de gordura) e períodos de lipogênese (formação de gordura). Isso é normal. Em determinado momento, estamos queimando mais gordura. Em outro, estamos acumulando mais gordura. Para exemplificar, são os casos dos períodos de jejum e pós-prandial, respectivamente.
Ou seja, independente da sua abordagem dietética, o que
vai ser determinante para seu emagrecimento é o saldo calórico ao fim do dia. Não faz diferença se você dividiu suas refeições desde o café da manhã até a hora de ir dormir ou se começou a comer mais tarde no dia. A única coisa que vai mudar são os períodos nos quais você acumulou ou queimou mais gordura. Ao fim do dia, se o déficit energético for equiparado, dará no mesmo. É isso que vemos nos estudos com boa metodologia que aplicaram estratégias dietéticas distintas com equiparação do déficit energético.
A lição aqui é: não comprometa sua adesão esperando alguma
espécie de mágica do seu protocolo alimentar. Escolha se alimentar da forma que preferir e que fizer sentido para o seu objetivo. Afinal, essa será a abordagem mais fácil de você sustentar. 39
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4) Perder gordura e ganhar peso
Para perder 1 kg de gordura, você precisa queimar
aproximadamente 7.700 kcal (esse número não é consenso, apenas uma estimativa). Entenda que não são simplesmente 7.700 kcal, mas sim calorias-que-você-não-ingeriu. Ou seria fácil e um indivíduo que gasta 2.000 kcal/dia queimaria 1kg de gordura a cada quatro dias.
Ou seja: se você for este indivíduo que gasta 2.000 kcal/dia
e reduz para 1.500 kcal/dia, ao sustentar esse déficit energético de 500 kcal diárias, você levará duas semanas para queimar 1 quilo de gordura.
Beleza, agora se liga: se você dividir 1.000 gramas (um
quilo) por 14 (dias em 2 semanas), você perceberá que queimou, em média, 71 gramas de gordura por dia. Isso considerando que o processo foi linear, o que nunca é o caso.
Sabe qual a chance de conseguir verificar isso na balança?
Exatamente: a chance é zero.
Se você possui o potencialmente nocivo hábito de se pesar
diariamente, provavelmente já notou que as oscilações são muito superiores a meras 71 gramas. Isso se dá porque você não é somente um aglomerado de lipídeos ambulante. Há muito mais coisa que irá ditar seu peso.
As oscilações de peso em uma escala diária se darão
primordialmente por conta de água. Especialmente dependendo do 40
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quão irregular é a sua rotina e/ou alimentação. E há muita coisa que pode interferir nos seus níveis de água: 1)
Dia que você comeu mais carboidratos e sintetizou mais
glicogênio. Glicogênio (forma como estocamos carboidratos) é uma energia “molhada” e puxará água para ser armazenado. 2)
Dependendo da natureza do carboidrato e da refeição,
uma vez que carboidratos de maior índice glicêmico levarão a maiores picos de insulina que podem gerar maior retenção de sódio. Sódio também te faz reter mais água. 3)
Maior consumo de sódio, pelo mesmo motivo.
4)
Consumo irregular de potássio: papel fundamental no
equilíbrio eletrolítico. A relação entre sódio e potássio também irá regular a retenção de água. 5)
Ingestão irregular de água: sua ingestão está direta
mente relacionada a sua retenção. 6)
Sono irregular e/ou estresse: há indivíduos mais e
menos sensíveis à privação de sono e ao estresse, mas alter
ações nos seus níveis de cortisol (“hormônio do estresse”)
também podem estar relacionados à retenção de água.
Isso tudo é abordando só a relação da água com seu peso ao
longo da semana. Poderíamos ainda falar de consumo de álcool, intestino preso, ganho de massa muscular ou o simples fato de que somos humanos e sabemos da improbabilidade de sustentarmos esse déficit de forma linear.
Moral da história: com tudo que pode fazer seu peso oscilar,
é simplesmente impossível você verificar seu emagrecimento diário
41
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pela balança. Inclusive, não é nada impossível queimar gordura e acordar mais pesado. Basta que você tenha terminado o dia em déficit, mas por qualquer das razões supracitadas, acordou um pouco mais retido (líquido). Imagina questionar tudo o que você está fazendo, mesmo estando no caminho certo, só porque na balança você atestou um “regresso” que é ilusório? Fora que a excessiva preocupação com a balança pode tranquilamente contribuir para problemas de autoimagem ou contribuir para distúrbios alimentares. Tenha cautela.
Como se livrar da paranóia com a balança
Uma estratégia que pode ser muito eficiente para se livrar de
vez da balança é pesar-se bastante por um tempo. Calma que eu explico.
Por uns 7-14 dias, experimente tirar fotos diárias no espelho
e se pesar. Anote esses valores e os relacione. Por exemplo: “na segunda-feira tirei essa foto aqui e meu peso era X”. Depois de um tempo, analise todas as fotos e os números. Ficará claro que a oscilação de peso não tem importância em um cenário mais amplo. Vai ter dia com peso mais alto e a foto te agradando mais. Vai ter dia que você estará 2 quilos mais pesado(a) e não vai ver diferença nenhuma no espelho. Etc.
Esse experimento é ainda mais eficiente em um espaço de
tempo maior. Quem nunca viu aquelas comparações de alguém com 80 quilos e todo definido vs. alguém com os mesmos 80 quilos só que gordinho? Na balança, possuem o mesmo peso. Na realidade, são shapes completamente diferentes. 42
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Inclusive, é a crítica mais contundente ao IMC (índice de
massa corporal): por mais útil que possa ser para determinadas atribuições, em especial em larga escala, é bastante impreciso. O meu IMC, por exemplo, é de obeso. E eu tenho entre 10 e 12% de gordura corporal na maior parte do tempo.
Peso na balança pode ser um bom parâmetro para alguém
educado nas variáveis que giram em torno daquilo, mas não para acompanhar progresso no dia a dia. Cuidado.
Registre-se periodicamente
Aproveitando o assunto “fotos”, gostaria de deixar essa
dica: registre-se periodicamente. Por razões óbvias, você está extremamente próximo de si mesmo. É muito difícil acompanhar os seus progressos diários. Não é incomum que passem despercebidos.
Imagine que você acompanha todos os dias uma obra. Você
nunca vai notar muita coisa diferente de um dia para o outro. Agora, experimente abster-se por 7 ou 15 dias e retorne àquela obra: a diferença será notável. Em 30 dias, então, nem se fala. Acontecerá algo similar, por mais que de menor magnitude, com o seu progresso: imperceptível no dia a dia e notável após um tempo.
Você não precisa postar. É de você para você. Além de
ser gostoso ter o registro do seu progresso, pode ser muito útil inclusive para verificar se ele está acontecendo. Afinal, se você está implementando certa estratégia com determinado objetivo em mente e dois meses depois não nota qualquer diferença estética, é provável que seja hora de você revisitar o que está fazendo. 43
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Tome cuidado para que seja sempre na mesma luz.
Iluminações distintas podem gerar percepções estéticas bem diferentes. Idealmente, no mesmo horário inclusive (ao acordar, por exemplo).
Por mais que em 30 dias você não esteja exatamente como
gostaria, pois esse processo leva tempo, é bastante agradável atestar que você está cada vez mais próximo. Pense sobre isso.
5) O poder sedutor da restrição
Se você já viveu algo parecido com o ciclo vicioso que eu
costumava viver, se identificará com essa dinâmica: meta de shape (muitas vezes irreal, o que agrava o problema) -> metodologia ineficiente para chegar lá -> restrição -> compulsão -> nova ou mesma metodologia ineficiente que leva a mais restrição. Qual é o problema aí? Não tenha dúvida: é a metodologia que foi adotada. No entanto, por alguma razão, definimos que o problema somos nós que não conseguimos respeitar aquela restrição por tempo suficiente para chegar no nosso objetivo, como se ela fosse imprescindível para obtermos resultados. E apesar de nunca funcionar, tentamos de novo e de novo.
Há alguns problemas com isso. O primeiro é que a restrição a
curto prazo realmente vai causar a impressão que essa abordagem é mais eficiente. As razões para isso serão esclarecidas quando falarmos sobre carboidratos. Resumindo, há um grande potencial para perda de “peso aquático” no curto prazo. Todas as vezes que você viu a balança diminuir em alguns quilos em pouco tempo, pode 44
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ter certeza que provavelmente nem 15% daquele valor refere-se a gordura.
Depois desse estímulo inicial, ficamos felizes e insistimos na
restrição. Somos seduzidos. Afinal, o peso desceu alguns quilos em alguns dias. Tudo está funcionando perfeitamente bem, não é mesmo? Se restringir, aparentemente, é o caminho.
Só se você encarar a ainda-inexistente-explosão de uma
bomba-relógio como sinal de sucesso. Pois é exatamente isso que essa metodologia é. Uma bomba-relógio prestes a explodir. A única pergunta aqui é o “quando”. Quase ninguém sustenta uma abordagem excessivamente restritiva por muito tempo. Por mais “força de vontade” que o indivíduo possa ter, o organismo dele vai adotar estratégias para amenizar essa restrição. E é daí que surgem os “rebotes”, que serão abordados em outro capítulo. Quem nunca conheceu alguém que emagreceu e depois ganhou tudo de novo – ou até mais? É por isso. Quem quer ficar sarado é você, não seu corpo. Seu organismo é uma máquina que preza pela sobrevivência e um período de grande escassez está longe de sinalizar que está tudo certo.
Restrição não deixa de ser uma forma de se punir. Afinal, você
pensa que comer demais é errado. Portanto, ao fazê-lo, é preciso uma medida compensatória. Quanto mais cedo você parar de enxergar as coisas dessa forma, mais perto você estará de ganhar controle sobre a situação. 45
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Se for para engordar, que seja consciente
Imagino que isso tenha soado esquisito. Permita-me explicar.
Imagine que alguém te conta que pulou do segundo andar
do prédio e quebrou o pé. Você receberia essa notícia com um ar de surpresa? Convenhamos, era de se esperar que a pessoa se machucasse, visto que ela pulou de uma altura tão grande. Analogamente, no entanto, é isso que vemos acontecer sempre que o assunto é comida. A pessoa exagera, come até o reboco da parede e no dia seguinte acorda mais pesada e mais retida e reage como se não esperasse que aquele comportamento tivesse aquela consequência. E é justamente constatar no espelho no dia seguinte as consequências do comportamento do dia anterior que gera a ideia de se restringir como “solução”. Pare para refletir: não é meio doido? A pessoa come tudo o que vê pela frente e no dia seguinte age como se esperasse que aquilo não tivesse consequências. E aí apela para a restrição. E tudo se repete. Vez após vez.
Por que não, portanto, ganhar controle sobre essa dinâmica?
Não fique mais surpreso. Se você comer demais, vai ganhar peso mesmo. Normal. E digo mais: faz parte da vida. Em determinadas ocasiões, comer pra caramba é bom mesmo. Pare de se culpar. Há tanta gente que adoraria ter acesso a 10% daquilo que você comeu. Aproveite que você vai acordar cheio de energia e faça um belo treino. Inverta a lógica para uma cascata positiva. Pare de sentir culpa e se punir.
Se você for capaz de antecipar quando pretende exagerar um
pouco, é bem capaz de você não exagerar. Ao que me parece, a 46
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sensação de impotência está muito relacionada ao descontrole. Se é algo programado, a coisa muda de figura. Por exemplo: se você curte comer um pouco a mais no sábado, por que não se programar e treinar bem naquele dia, de forma que o seu excesso vai acarretar construção de massa magra? Você não acha que teria uma paz de consciência maior sabendo que você programou aquilo e que está construindo músculo? No dia seguinte (domingo), você vai acordar cheio de energia. Por que não aproveitar e treinar muito bem de novo? Reverta o excesso para algo a seu favor. Ao deixar de ser refém da situação, você ganha um controle que nunca imaginou possível. E quando você passa a “programar uma compulsão”, até por uma questão conceitual, deixa de ser compulsão. Vira só um dia que você quis comer um pouco mais. E está tudo bem. Faz parte da vida.
6) Déficit: quando menos é mais
Conforme já conversamos, é preciso ter certo gasto energético
e não o repor por meio da alimentação (ingestão de calorias) para eliminação de gordura, que nada mais é que energia armazenada.
Para simplesmente sobreviver, você tem seu gasto metabólico
basal (o quanto seu corpo gasta de energia se você ficasse deitado o dia inteiro) e, somado às atividades do dia a dia e exercícios, você tem seu gasto energético total. Via de regra, a restrição calórica se dará em cima desse valor. Conforme já conversamos, é preciso criar, ao longo de dias, um déficit energético de aproximadamente 8.000 kcal para eliminarmos um quilo de gordura. Motivo esse, aproveitando para reforçar, que torna o hábito de se pesar frequentemente nocivo, visto que a grande alteração diária atestada 47
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na balança é, em sua minoria esmagadora, representativa de gordura corporal. Ninguém – absolutamente ninguém – perde ou ganha 2-3 quilos de gordura de um dia para o outro.
Intuitivamente, então, pode parecer tentador restringir as
calorias o máximo possível. Afinal, é matemática básica. Se eu restringir as calorias em 500 por dia, levo cerca de 2 semanas para eliminar um quilo. Se eu dobrar essa restrição (de 500 para 1.000), levarei metade do tempo. Faz sentido, certo?
Em teoria, sim. Na prática, no entanto, a teoria é outra. E para
entender o porquê disso, é importante ter o seguinte em mente: quem quer ficar sarado é você, o que seu corpo quer é sobreviver. E um período de grande restrição sinaliza para o seu organismo uma crise. Sinaliza vacas magras. E enquanto máquina que evoluiu para assegurar a perpetuação dos genes e sobreviver, seu organismo irá adotar medidas para amenizar esse período de escassez, uma vez que, se essa restrição grande se prolongar por tempo suficiente, irá comprometer a sua sobrevivência. Isso pode parecer frustrante hoje, mas se você encaixar em um contexto histórico-evolutivo, faz muito sentido. Afinal, essa fartura na oferta de alimentos é extremamente recente. A regra ao longo da evolução era escassez no acesso ao alimento e a sobrevivência do mais apto. Essa capacidade de adaptação fisiológica e metabólica foi primordial para enfrentarmos esses períodos nos quais, no lugar de abundância, tínhamos que enfrentar seu diametralmente oposto: a escassez.
Quais são essas adaptações que seu corpo adota para
minimizar o “perigo” desse período de restrição? Diminuir o quanto 48
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você gasta para fazer as mesmas atividades de dia a dia (NEAT – non-exercise activity thermogenesis). Reduzir sua taxa metabólica basal. Aumentar sua fome e seu “foco em comida” (provavelmente você já vivenciou, quando em dieta, períodos em que você não consegue focar direito na atividade que está fazendo pois só pensa em comida. Por mais que fatores psicológicos possam contribuir significativamente, há oscilações hormonais determinando isso também). É por isso que esse tipo de postura, boa parte das vezes, tem como consequência o rebote, assunto que será abordado em breve.
Normalmente, quanto mais agressiva a restrição, maiores
serão essas repercussões. Por isso, é comum que profissionais trabalhem com uma média de redução de 20% em cima do gasto energético total; 25% muitas vezes já é considerado agressivo, mas pode ter seu lugar. A ideia é mitigar essas repercussões que dificultam ou inviabilizam a progressão dos seus resultados para que o seu dia a dia seja o mais tolerável possível a ponto de, devagar e sempre, você alcançar seus objetivos. Nesse caso, a pressa é inimiga do progresso. A possível exceção à regra é o caso de indivíduos obesos. Pelo excesso de energia acumulada (gordura) e considerando a possível maior “urgência” no quadro, pode ser interessante uma abordagem inicialmente mais agressiva para que haja engajamento no projeto. O fato de o gasto energético total ser inicialmente bastante alto ajuda também. 49
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Por que costumo ver recomendação de redução de 500 calorias por dia?
É extremamente comum esse número “500” ser a referência
da ideia de restrição calórica. No entanto, tenha em mente que isso não é regra e a restrição pode ser individualizada. Esse valor de 500 kcal possivelmente consolidou-se como referência por conta de a média de ingestão calórica da população ser em torno de 2.000 kcal/dia. Considerando que a média feminina é um pouco abaixo disso e a média masculina um pouco acima, 2.000 kcal/dia como média para a população é razoável. Logo, se você reduzir de 20 a 25% as calorias em cima desse valor, terá uma redução de 400 a 500 kcal (20% de 2.000 e 25% de 2.000, respectivamente), que seriam suficientes, em teoria, para você eliminar aproximadamente meio quilo de gordura por semana. Mas é apenas isso: um valor de referência média. O melhor valor para você pode e deve ser trabalhado de acordo com a sua individualidade e objetivos.
Rebote
O famoso “rebote” se dá quando o indivíduo, após um período
de perda de peso, não consegue sustentar seus resultados recématingidos e ganha parte do peso de volta. Isso pode corresponder à totalidade do peso perdido ou até mais do total de quilos originalmente perdidos (exemplo: perdeu 10 quilos e depois ganhou 6, 10 ou 14 quilos). O que leva cada um a viver esse famoso “efeito sanfona” pode ter razões individualizadas, mas não é incomum que em sua grande maioria haja alguns denominadores em comum. E boa parte dos motivos têm em suas raízes a restrição excessiva, 50
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conforme o título desse capítulo sugere. Ninguém em sã consciência irá lhe dizer que uma restrição grande de calorias não levará a perda de peso. A questão é a insustentabilidade dessa condição. Ninguém tolera esse excesso de restrição por muito tempo, e quando invariavelmente ele falhar, muitas vezes ocorre um período de supercompensação, no qual você ingere não só calorias suficientes para anular seu déficit calórico, como ingere muitas mais para te colocar em um reganho de peso, configurando a famosa “sanfona”.
7) Quanto mais restrito, maior o rebote
Por essas razões, a ideia no processo de emagrecimento pode
ser vista como “amenizar a sinalização de escassez”, algo pouco agressivo para que seja sustentável e, dia após dia, você consiga perder gordura e conservar sua massa muscular. Quanto maior a restrição, mais drástica é a sinalização que você fará para seu corpo e maiores serão as medidas que ele adotará para amenizar esse quadro, no entanto, válido apontar que essas consequências podem variar de acordo com o indivíduo.
Partindo da premissa de que se trata de um organismo que
preza por sua sobrevivência, não há quem possa culpá-lo. Afinal, ele não sabe que, em breve, quando você alcançar sua meta de shape, aquela restrição irá cessar. Ele só nota o que está acontecendo e reage de acordo, visando a aumentar suas chances de sobreviver. É justamente essa capacidade que fez com que fôssemos bemsucedidos ao longo do processo evolutivo. Se a magnitude do déficit não fosse reduzida, a tendência seria que não sobreviveríamos a períodos de escassez.
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Como exemplificado na breve introdução sobre o
emagrecimento, quando não ingerimos 1000 kcal, o nosso corpo é obrigado a suprir essa demanda energética oxidando (“queimando”) seu próprio tecido, que é combustível/energia em potencial. Se ele não adotasse estratégias para minimizar esse déficit energético (nesse caso, 1000 kcal), nosso corpo seria obrigado a se livrar de “partes dele” (tecido adiposo e muscular, primordialmente) de forma linear sem previsão de melhora desse quadro. Está longe de ser um cenário ideal quando temos como meta sobrevivência. Por mais incômoda que possa ser aquela gordurinha a mais nos dias de hoje, a verdade é que ela sempre foi de alto valor estratégico. Quando o alimento não é abundante para atingir nossa demanda energética, cabe ao nosso organismo usar nossas reservas de energia: principalmente carboidratos e gorduras. Só que o quanto somos capazes de estocar de carboidratos é limitado: em média, 100 gramas no fígado e de 300 a 500 gramas nos músculos.
Portanto, idealmente, você se restringe (calorias) o suficiente
para ter uma perda de gordura satisfatória e sustentável ao longo do tempo. Assim, você ameniza as consequências negativas desse período de restrição. Até porque você possui uma vida que não gira apenas em torno do corpo. É inteligente organizar-se de forma que seu emagrecimento afete o menos possível seus estudos ou seu trabalho, por exemplo, ou até seu humor, pelo bem de todos que o cercam. Não que você precise de mais motivos, mas uma restrição exagerada vai afetar demais sua performance nos treinos também, comprometendo potencialmente mais da sua massa muscular. Tudo o que você não quer, ao fim de um período de emagrecimento, é ficar com a estética flácida, que é o que a restrição severa vai te proporcionar. Seja razoável e tenha paciência. Valerá a pena. 52
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8) Jejum, flexibilização dietética e compulsão
Esse é um relato pessoal. Até onde sei, não há literatura a
respeito. Aproveitando que acabamos de conversar sobre o mindset da restrição, pensei que contar como ocorreu comigo pudesse ter algum valor.
Como sabem, já tive um passado no qual minha relação com a
comida não era nada saudável. Aquilo depois de um tempo evoluiu para uma compulsão alimentar e bulimia, com a qual lidei por um ano. Algo muito interessante aconteceu quando, há 8 anos, comecei a fazer o jejum intermitente, período que coincidiu com uma introdução à ideia de flexibilidade dietética.
Antes, um breve histórico:
No início, não era como hoje que eu faço o desjejum
quando quero. Meus primeiros meses praticando jejum eu apenas pulava o café da manhã e me alimentava no almoço. Às vezes, apenas almoço e jantar e às vezes um lanche no meio. Também a essa época, me familiarizei com a ideia de gasto energético e macronutrientes. Até então, era refém daquele processo “místico” de acreditar que certos alimentos engordavam por si só enquanto outros te faziam emagrecer. Passando a entender melhor os números e o papel de nutrientes em nosso corpo, a primeira troca que fiz foi a dextrose no pós-treino. Caiu a ficha: eu estava colocando açúcar no meu Whey. Não é necessário, mas é o melhor momento para você consumir carboidrato de alto índice glicêmico. Em vez desse suplemento que nada mais é que um açúcar, passei a 53
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consumir meus açúcares nas minhas fontes favoritas. Variava: doce de leite, leite condensado, brigadeiro, gummy bears, entre tantos outros. Comecei a todos os dias ingerir um docinho que eu amava junto ao meu Whey no pós-treino. Se a memória não me falha, algo em torno de 40 gramas. Eu ainda não conhecia a dieta flexível, mas essa substituição “intuitiva” era basicamente a aplicação de um dos fundamentos por trás dessa abordagem.
Difícil mensurar o percentual de contribuição de cada coisa,
prefiro pensá-las como um ecossistema, mas o fato é que algo nisso tudo relativizou completamente o meu processo de compulsão. Basicamente, de duas formas. O jejum me ajudou a perceber que eu estava em maior controle que outrora imaginava, pois quando eu me alimentava o dia inteiro e estava em um protocolo restritivo, basicamente todo segundo do meu dia era uma possibilidade de ceder e atacar aquelas barras de chocolate que se encontravam na cozinha. Ao começar a jejuar, a minha “possibilidade de sair da dieta” foi reduzida significativamente para metade das horas que eu me encontrava acordado. Essa nova realidade, me parece, alterou a psicologia do processo.
Ao mesmo tempo, também responsável por essa mudança, foi
o princípio de flexibilização dietética. Afinal, de repente eu estava comendo doces todos os dias. E eu estava vendo, dia após dia, que, ao contrário do que eu sempre pensei, eles não atrapalhavam em absolutamente nada os meus resultados. Tudo era questão de saber dosar. Ao contrário: estavam se mostrando essenciais à adesão à dieta, uma vez que eu não tinha mais os desejos de empurrar para debaixo do tapete. 54
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Durante a compulsão/bulimia, a sensação mais frequente
é de impotência. Você quer resistir, mas não consegue. Quando finalmente cede, precisa aproveitar ao máximo aquele momento, pois não pretende vivê-lo novamente. Ao comer de forma desenfreada, somado a um maior preciosismo com autoimagem, resolve recorrer a um paliativo (vomitar).
Nesse novo cenário, a impotência foi instantaneamente
relativizada. Primeiro, o dilema da “tentação” com o fato de querer comer as “besteiras” foi encurtado em 50% das horas nas quais eu estava acordado. Segundo, eu percebi que tinha um controle muito maior que eu imaginava, afinal, eu não comia mais o dia inteiro. E, por fim, eu passei a consumir meu docinho todos os dias e aprender que ele não era inimigo do meu progresso. Sem perceber, dia após dia, eu me tornava um ex-compulsivo. À bulimia, foi meu adeus.
Quero deixar claro que transtornos alimentares são problemas
sérios que merecem ser tratados com a devida atenção e respeito. Eu tinha vergonha deles e nunca procurei ajuda profissional. Porém, com um misto de sorte e esforço, tornaram-se coisa do passado. Não estou sugerindo que isso se aplicaria a todos. Na dúvida, procure ajuda. Se você vive algo parecido, saiba que há luz no fim do túnel. E sem dúvida um caminho para deixar de ser refém das circunstâncias é ter maior conhecimento e autonomia do processo. Espero que isso esteja cada vez mais claro. 55
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9) Dieta flexível e “bagagem da flexível”
A famosa “Dieta Flexível”, nome adaptado da versão em
inglês “if it fit your macros” ou “flexible dieting”, consiste em uma abordagem dietética que prega que não há alimentos proibidos desde que “caibam em seus macros”, como sugere o nome americano. Também estipula que, respeitando sua meta diária de calorias, proteínas, carboidratos e gorduras, você alcança o objetivo que for, seja ele hipertrofia, perder gordura ou manutenção.
Então suponhamos que um indivíduo com ingestão calórica
média de 2.000 kcal/dia tenha organizado seus macronutrientes para alcançar sua demanda energética da seguinte forma: 150 gramas de proteína, 60 gramas de gordura e 215 gramas de carboidrato. Isso quer dizer que, dentro desses números, posso encaixar quaisquer alimentos? Sim e não.
Poder, você pode tudo, mas não é isso que verá expoentes da
dieta flexível defendendo. Ao menos os que merecem ser levados a sério. No lugar, o que você irá achar é a defesa de algo parecido com a abordagem “80/20”, que consiste na sugestão de que 80% das suas calorias diárias venham do que comumente definimos como “bons alimentos” e os outros 20% de alimentos normalmente designados como “ruins”, “não ideais” ou algo do tipo.
Obs: Pessoalmente, não gosto de definir alimentos dessa
forma (bons/ruins) por razões que irei elaborar em outro momento. No entanto, com o intuito de facilitar a comunicação e considerando as sugestões e exemplos que surgem no imaginário coletivo quando os classificamos assim, essa definição, por ora, serve. 56
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Para tornar mais ilustrativo, é como se o indivíduo do exemplo
supracitado ingerisse 80% das suas calorias do dia com peixe, legumes, frutas e azeite e os demais 20% com bolas de sorvete. Se isso estiver “dentro dos seus macros”, perfeito.
Espero que seja evidente para todos que isso não é uma
regra. Não é que você seja obrigado a encaixar um doce no seu dia ou que você não possa em algum momento ultrapassar os 20% de margem de flexibilização. É apenas uma sugestão de abordagem. Uma espécie de parâmetro. Uma referência.
“E se eu flexibilizar 100% da minha alimentação?” – Todos que
acabam de ser introduzidos à ideia da dieta flexível.
A curto prazo, provavelmente você não sofrerá quase
nenhuma consequência negativa. Se você conseguir administrar suas calorias e macronutrientes do dia com sucesso apenas comendo fast food e doces, por exemplo, nada irá acontecer com você amanhã. E me refiro ao amanhã literal; sobre o amanhã metafórico (futuro), elaborarei a seguir. Se você estiver em déficit energético, continuará emagrecendo. Sua composição corporal provavelmente sofrerá um baque temporário, visto que esses alimentos costumam possuir muito açúcar e sódio, o que vai fazer com que você retenha mais água, mas continuará emagrecendo.
No entanto, sabemos que não precisamos apenas de calorias
e macronutrientes, mas também de fibras e micronutrientes, como vitaminas, minerais e fitoquímicos. E é aqui que “exagerar na flexibilização” se torna perigoso. Se você procurar no google rapidamente consequências da deficiência da maioria das vitaminas 57
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e minerais, começará a ter alguma dimensão do tamanho do problema em potencial para casos mais extremos. Não precisamos apenas de energia: também precisamos de nutrição. Por isso, a fonte de proteína, gordura e carboidrato (ou um misto deles) importa. Boas fontes vêm acompanhadas de muita coisa que você precisa para ter boa saúde. Negligenciar alimentos nutritivos pode não ter grandes consequências a curto prazo, mas sem dúvida alguma uma hora a conta chega. E por “conta” refiro-me a eventuais problemas como regulação da sua glicemia – que pode levar ao diabetes –, danos à microbiota intestinal, consequências da seminula ingestão de fibras (como constipação), entre tantos outros. As potenciais consequências negativas a médio-longo prazo são inúmeras. Não é inteligente ou prudente negligenciar boa nutrição.
É importante que isso seja claro, pois uma vez que você
domine a ingestão de macronutrientes, pode ser tentador encaixar só alimentos hiperpalatáveis (muito gostosos) e pouco nutritivos. Mais uma vez: isso não é prudente.
Por que, então, estou falando da dieta flexível?
Pois eu penso que é de enorme valia que todo ser humano
adote essa abordagem por um tempo, por conta do que eu chamo de “bagagem da flexível”.
Bagagem da flexível
Eu classifico como “bagagem da flexível” a consequência de
fazer essa abordagem dietética por um tempo. O que você “carrega” depois da experiência. Diria que são primordialmente duas: 58
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consideravelmente maior grau de autonomia e cura definitiva do infeliz processo de demonização de alimentos.
Sobre a autonomia, que é discutivelmente o principal, é bem
simples: para conseguir fazer a dieta flexível, o indivíduo terá que registrar aquilo que come. E para registrar aquilo que come, ele vai saber o que tem naquilo que ele come. Chutaria que 99% da população sabe que arroz é uma fonte de carboidrato, mas o quanto de carboidrato há em 4 colheres de arroz? Pergunte a um adepto da flexível e ele te responde de imediato com razoável confiança e pequena margem de erro. Não consigo expressar suficientemente o quanto eu acho isso valoroso. Como disse: comer bem é fundamental para a saúde, mas são quantidades adequadas que irão definir progressos ou regressos estéticos.
A maioria das pessoas se alimenta em uma espécie de piloto
automático. Come o que tem pela frente. Ou come de acordo com suas preferências, com alguma noção do que há no alimento, mas sem qualquer profundidade. E não entende com qualquer detalhismo o motivo de engordar ou de emagrecer. Aí atribui, pelas razões erradas, a ideia que tais alimentos engordam e tais alimentos emagrecem, quando isso simplesmente não existe. É sempre o contexto. E é isso que nos leva à segunda grande consequência da dieta flexível.
Se alguém ficou por um tempo se alimentando com grande
noção do que estava fazendo, encaixou as “besteirinhas” que mais gosta e percebeu que aquilo não teve qualquer consequência negativa, nem que essa pessoa quisesse muito ela conseguiria continuar demonizando alimentos e classificando-os como ruins 59
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ou bons, que engordam ou que emagrecem. Ela passa a entender o contexto, e isso muda o jogo quando o assunto é alimentação.
Fora outras consequências, como controle calórico: há muita
gente que subestima bastante a sua ingestão calórica. Quando passa a registrar o que come, toma até um susto. Calorias não são tudo, em especial quando o assunto é saúde, mas pode ter certeza que elas importam e irão determinar seus resultados.
Não estou sugerindo de forma alguma que todos têm que adotar
a dieta flexível. O que disse e reitero é: testá-la por um período pode ter um valor tremendo para todo mundo. Há uma citação famosa de Peter Drucker, uma grande referência no marketing, que traduzida é basicamente “aquilo que se mensura, se administra”. Analogamente, o ensinamento nos serve, pois esse maior controle pode ser o fator chave do seu sucesso.
No fim do dia, há basicamente três opções: ou você tem controle
sobre sua dieta, ou alguém a controla por você. Não há gabarito, apenas preferência pessoal. O terceiro caminho é aceitar que seu seu progresso será incerto: haverá dias que sua alimentação será compatível com seus objetivos, e há dias que não. Como você não está controlando e não há ninguém controlando por você, não há como saber.
Você não precisa fazer a dieta flexível para sempre. Há quem
não goste de ficar controlando a alimentação todos os dias e não há nada de errado com isso. É preferência pessoal. A essas pessoas, eu sugiro: mesmo sem curtir muito, faça por um tempo. O aprendizado será eterno e espero que tenha conseguido demonstrar que também é extremamente útil. Afinal, você vai se alimentar até o último dia da sua vida. Por que você não gostaria de entender mais sobre isso?
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10) O problema com “fazer dieta”: revisitando conceitos
Não é incomum associarmos fazer dieta com certos alimentos
específicos. Aposto que, mesmo sem eu listá-los aqui, em nossas mentes nesse momento há pelo menos 95% de compatibilidade sobre quais seriam eles. São os alimentos “limpos”. Que você pode comer à vontade. Em detrimento de outros, que não fazem parte de uma dieta e por consequência você deve evitar. São “sujos”.
Se você faz dieta, ao comer um doce você saiu da dieta. E
aí o que você faz? Recomeça na segunda. Quem nunca, né? E aí, até recomeçar, são vários dias sem dieta até que você possa tentar seguir de novo. E nesses dias, que comumente são os do final de semana, você exagera nos “alimentos proibidos”, pois quando chegar segunda você terá que evitá-los novamente. Essa é, me parece, a pior abordagem que você pode ter quando o assunto é comida. O porquê é simples: será assim sua vida inteira. Você não vai deixar de eventualmente “ceder” e comer o que gosta. E a boa nova é que não só você não deveria ter isso como meta, como deveria saber que é absolutamente tranquilo fazer essas concessões.
Meu sonho é que você pare de achar estranho comer legumes,
verduras, frutas ou quaisquer outros alimentos saudáveis no mesmo dia que irá comer um doce ou uma pizza. Que você pare de categorizar os alimentos em extremos antagônicos e entenda que você pode consumi-los conjuntamente. Que você pare de burocratizar tanto o processo de se alimentar e entenda que não há essencialmente alimentos bons ou ruins, mas sim alimentos que fazem mais ou menos sentido dentro de um contexto dietético. 61
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No capítulo Calorias & Dinheiro, eu ofereço uma forma
diferente de enxergar sua alimentação que talvez ajude, mas por ora a minha mensagem é essa: se, para você, fazer dieta significa sofrer e se abster de alimentos de que você gosta, simplesmente pare de fazer dieta. Comece a se alimentar.
Dieta é algo que você começa a fazer já pensando no dia que
irá parar. Tem prazo. É em prol de um objetivo. E não é inteligente você associar fazer dieta a se alimentar bem quando você deveria se alimentar bem todos os dias. Nessa dinâmica, você em algum momento irá parar com a dieta, ou seja: se alimentar mal. E é o consequente descontrole que te fará engordar.
Toda vez que você come um prato de salada e depois um doce
sem ficar se sentindo mal, meu coração sorri.
Lembre-se: nem todo alimento que você come precisa ser o
auge da nutrição. Há alimentos que simplesmente te fazem feliz. E se te fazem feliz, têm seu valor.
11) Açúcar: transformando o vilão em mocinho Entendendo a demonização
Quando paramos para ver dados epidemiológicos (sobre
populações), a primeira impressão é que há certa relação entre açúcar e obesidade. Essa relação de fato existe, no entanto, não podemos cair na falácia de confundir correlação com causalidade. Ou seja, não é porque dois dados estão relacionados que há a natureza de causa e efeito entre eles. O exemplo clássico usado para elucidar essa questão é a do consumo de sorvete e ataques de 62
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tubarões: no verão, há mais pessoas na praia e no mar, tornando a incidência de ataques de tubarões percentualmente maior. Ao mesmo tempo, devido às altas temperaturas, há maior consumo de sorvete. Quem não sabe analisar dados pode concluir que tomar mais sorvete te torna mais suscetível a ser comido por um tubarão. No entanto, não é preciso nada mais que um mínimo de bom senso para entender o erro. No caso do açúcar, acontece algo parecido.
De onde vem a relação?
No “ranking de saciedade”, o açúcar não figura em uma
posição favorável. O motivo é porque a capacidade de promover saciedade é baixa. Há densidade energética alta (calorias) para pouca capacidade sacietógena (te deixar satisfeito). A implicação disso é que se você colocar dois indivíduos para se alimentar ad libitum (à vontade), sendo um deles com carboidratos complexos e o outro com carboidratos simples (açúcares), a chance deste último ingerir calorias em excesso é maior.
Agora relacione essas informações com o dia a dia das
pessoas na era industrial e do fast food. Imagine que os indivíduos tenham como base de sua alimentação alimentos dessa natureza. Infelizmente, é o caso de muitos (nos EUA, por exemplo). Também tenha em mente que não é só açúcar, uma vez que na maioria dos casos o alimento também tem quantidade considerável de gorduras (que também é muito saboroso, além de ainda mais calórico). Se a base da sua alimentação é essa e você não possui qualquer controle do que ingere, ou seja, você come “até se sentir cheio” e come alimentos extremamente saborosos, caloricamente densos 63
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e com baixo poder sacietógeno, a probabilidade de você ingerir calorias em excesso é grande. Esse comportamento, ao longo do tempo, vai te fazer ganhar mais e mais peso. Some a tudo isso o fato de indivíduos obesos possuírem uma disfunção* no sistema de saciedade do corpo, fazendo com que potencialmente comam ainda mais. O fim dessa história vocês já sabem: índices de obesidade que não param de crescer. *a razão por trás dessa disfunção é de natureza neuroendócrina e pensei que não havia necessidade de me aprofundar sobre, mas, caso você queira pesquisar, tem relação com resistência à leptina.
Nem tudo é preto ou branco: entendendo os tons de cinza
A partir daí, o primeiro impulso de muitos ao analisar
os índices de obesidade e a dieta dessas pessoas é concluir: açúcar engorda. E foi isso que um estudo de 6 meses com 390 participantes dedicou-se a investigar. Separaram os indivíduos em 2 grupos consumindo a mesma quantidade de calorias e carboidratos, sendo o diferencial que um dos grupos se alimentaria de carboidratos complexos e o outro de carboidratos simples. E não houve qualquer diferença na perda de gordura e retenção de massa magra. Surpreendentemente, também não houve distinção no perfil lipídico, um marcador bem relevante para desfechos cardiovasculares.
Ou seja, em um ambiente controlado e com o consumo
de calorias equiparado, a natureza do carboidrato não afetou composição corporal. Isso faz todo sentido, dado o que sabemos sobre o nosso corpo estar sujeito às leis da termodinâmica (nesse 64
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caso, a aplicação é calorias gastas vs. calorias consumidas). Portanto, a associação entre o consumo de açúcar e ganho de peso tem muito mais a ver com o descontrole no consumo e o excesso de calorias (por conta dos motivos supracitados) do que com a o fato de estar-se consumindo açúcar em si. Até porque, na maioria absoluta das vezes, não é açúcar puro. Esse padrão foi encontrado em diversos outros estudos, como um conduzido na Inglaterra pela Universidade Queen Margareth, no qual substituíram parte dos carboidratos complexos dos indivíduos por açúcares e concluíram que não há razão para exclusão.
Não se empolgue
Antes de você substituir todas as batatas da sua alimentação
por jujubas, entenda que açúcares são pobres em nutrição e fibras e não faz sentido representarem uma parte muito significativa da sua alimentação. O meu ponto é apenas que a demonização excessiva é absolutamente descabida. E como conversamos já no início deste livro, é muitas vezes essa demonização que está por trás do excesso. Essas categorizações de “proibido” vs. “permitido” são péssimas e mais atrapalham que ajudam. No entanto, se você tiver como base da sua “dieta” alimentos nutricionalmente porcos, mesmo que você controle suas calorias e não ganhe peso, pode acabar incorrendo em diversos problemas de saúde decorrente de carências nutricionais.
Todos nós amamos um docinho. Sabendo se organizar, é
perfeitamente possível que faça parte do nosso dia a dia sem prejuízo para nossos objetivos ou nossa saúde. Acrescentar um 65
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pouco de leite condensado à salada de frutas pode ser o diferencial entre o indivíduo aderir à dieta ou não. E adesão, mais uma vez, é o diferencial entre o sucesso e fracasso no seu planejamento.
Transformando o vilão em mocinho
Conforme conversamos, em uma dieta equilibrada e de acordo
com seus objetivos, um docinho pode fazer parte da sua rotina sem qualquer prejuízo para estética ou saúde. Em especial se você é um indivíduo ativo, o que eu espero que ao fim deste livro você passe a ser, caso ainda não seja.
Agora, gostaria de elaborar como você pode usar o doce a seu favor.
Há um momento no dia que é “ainda mais tranquilo” ingerir
doces. Esse momento é o pós-treino. O exercício físico promove melhor captação tecidual de glicose*. Ou seja, no pós-treino você tem maior sensibilidade à insulina, tornando este momento mais propício para o consumo de carboidratos de alto índice glicêmico (açúcares). *a insulina é responsável por transportar a glicose do sangue para dentro da célula a partir da translocação do GLUT4, uma proteína transportadora. Normalmente, ela encontra-se inativa e é direcionada à membrana celular a partir da sinalização da insulina. O exercício físico também promove a translocação desta proteína e consequente captação de glicose por mecanismos independentes de insulina, tornando o pós-treino um bom cenário para o consumo de açúcares.
Some esse fato ao que sabemos sobre a forma como hábitos 66
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são consolidados, a partir do mecanismo gatilho -> ação -> recompensa. Não precisamos falar sobre o gatilho, uma vez que, se você frequenta a academia ou quer frequentar, ele existe. A ação é o ato de treinar. A recompensa, nesse caso, pode ser multifacetada. O bem-estar pós-treino é uma espécie de recompensa – infelizmente, aparentemente não é forte o suficiente para parte das pessoas consolidarem o hábito, mas não deixa de ser. Outra recompensa é o benefício estético, mas esse não se dá instantaneamente, fazendo com que não seja forte o suficiente para uma parcela dos indivíduos também.
No entanto, como já conversamos e nos aprofundaremos ainda
mais na parte sobre hipertrofia, adesão é fundamental para os seus resultados, e adesão e hábitos estão estreitamente relacionados. Dessa forma, consolidar o hábito de ir à academia é basicamente sinônimo de aderir ao seu protocolo.
Com isso em mente, além do que sabemos sobre doce, por
que não usá-los como mecanismo de recompensa para consolidação do hábito de ir treinar? Imagine que sempre depois de treinar bem você consuma sua fonte de proteína (Whey, por exemplo) e o seu doce favorito. Doce de leite, leite condensado, brigadeiro, bala, picolé, o que for. Não parece possível que agora todos os dias você irá desejar ir treinar bem para ter esse pós-treino sensacional? Olha que loucura: nesse contexto, o doce, outrora classificado como vilão, pode ser o diferencial entre você aderir ou não aderir ao seu protocolo de treino. E a adesão será responsável por seus resultados. Nesse contexto, o vilão vira mocinho. 67
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Eu passei por algo similar. Digo similar pois essa estratégia
não foi destinada à consolidação do hábito de ir malhar, uma vez que eu sempre amei treinar. O doce diário por um tempo foi de grande valia, mas teve relação com algumas reflexões sobre flexibilidade dietética. Falaremos sobre isso em outro capítulo.
Para entender o poder disso tudo, imagine um cenário
antagônico. Pense no indivíduo que já não é muito fã de academia, não sabe treinar bem (o que compromete a magnitude dos resultados) e quando ele volta das suas sessões o que lhe resta é uma dieta restritiva e sem sabor. Qual a chance de ocorrer a consolidação do hábito? A única hipótese é se ele supervalorizar os benefícios de médio-longo prazo, e isso fizer com que ele vá dia após dia. Diariamente, não há recompensa alguma. Não há nada que o faça gostar do dia a dia. Vai tornar a adesão improvável, para não dizer quase impossível. E é isso que vemos vez após vez. Alguém se empolgando temporariamente, se matriculando na academia, indo todos os dias por um tempo e depois desistindo. Não é difícil especular o porquê. A pessoa não gosta dessa rotina e o que faria com que ela aderisse seriam os resultados. Só que os resultados demoram mais que 1-2 semanas para acontecer. É médio-longo prazo, e com nada para motivá-la no curto prazo, tão logo, ela desiste.
É o clássico “é preciso ter foco” fazendo mais uma vítima e
comprometendo a adesão de mais alguém. 68
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12) Emagrecimento e saciedade
Conforme já conversamos, apesar do que provavelmente você
já ouviu várias vezes por aí, não há comidas especiais que te farão queimar gordura de forma mágica. Sempre, invariavelmente, é dependente do déficit calórico. Com isso em mente, é fundamental que você se programe e tenha um plano dietético com o qual você consiga diariamente – ou na maioria dos dias – alcançar um déficit energético. É a soma desse déficit diário que, ao longo do tempo, vai fazer você queimar as indesejadas gordurinhas.
Ter refeições que te enchem mais e por mais tempo
provavelmente irão fazer com que seja mais fácil você aderir ao planejamento diário, tornando fome algo menos relevante e tornando mais improvável que você ingira calorias demais. Não é incomum que, ao perder peso, ocorra um aumento do apetite. É uma resposta compensatória do seu organismo que quer minimizar aquele déficit energético que, por mais que possa ser esteticamente desejável, em uma perspectiva de sobrevivência está longe de ser inteligente. Essa é a preocupação principal do seu organismo: sobreviver. A meta, de certa forma, é “enganar o seu corpo” que está tudo bem, para que você sofra menos as consequências da perda de peso e consiga aderir ao seu plano alimentar com maior facilidade e por mais tempo.
Há algumas estratégias que você pode adotar para facilitar
esse processo: 1.
Incluir alimentos de alto poder sacietógeno. Por exemplo,
sobre os carboidratos: pesquisadores da Universidade de Sidney
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estudaram as repercussões na saciedade de trinta e oito alimentos diferentes, e entre as fontes de carboidrato, os que se mostraram com maior capacidade de gerar saciedade foram batata inglesa, aveia, laranja, maçã e pipoca (nessa ordem, inclusive). Isso não quer dizer, evidentemente, que você precise deles para se sentir satisfeito, mas são alimentos que a maior parte das pessoas adora consumir. Você pode usar essa informação para incorporá-los no seu dia a dia, caso fome tenha se mostrado um problema recorrente. 2.
Incluir alimentos com volume alto por densidade calórica,
uma vez que aumentar o volume gástrico induz saciedade ao ativar receptores no estômago. Por isso, quanto mais volumosa for a refeição, maior poder sacietógeno ela terá. Um exemplo simples é acrescentar vegetais ao seu prato de macarrão. Além das fibras adicionadas ao seu prato de massa lentificarem o processo digestivo e isso gerar maior saciedade por si só, o aumento de volume também irá contribuir. Fora a adição de micronutrientes e fitoquímicos. De forma geral, encontrar formas de acrescentar vegetais à sua alimentação é sempre uma boa pedida. Procure receitas que te agradam. 3.
Aumentar o consumo de proteínas. Há estudos que
demonstram que proteínas são mais sacietógenas que carboidratos e gorduras. Aumentar a quantidade de proteínas nas suas refeições irá te manter saciado por mais tempo. Além disso, elas possuem outros papéis fundamentais no processo de emagrecimento, como manutenção da massa muscular. Um estudo de 2005 da Universidade de Washington encontrou que quando indivíduos aumentam sua ingestão de proteínas de 15% para 30%, eles se encontravam com menos fome e diminuíram intuitivamente sua ingestão em aproximadamente 500 calorias. No entanto, é válido apontar que há um estudo recente que descobriu que, quando a ingestão proteica está adequada, consumir mais proteína não proporcionou maior saciedade que o equivalente em carboidratos. 70
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Com isso em mente, é prudente certificar-se que o consumo proteico está adequado, sem a necessidade de um exagero. Uma ingestão entre 1.6 e 2.2 gramas por quilo de peso é o indicado, podendo ser um pouco mais quando em déficit de calorias.
Exemplos simples de refeições que abordam esses
fundamentos seriam: mingau de aveia com Whey e pedaços de frutas e macarrão com tiras de frango e vegetais (se quiser tornar este último ainda “melhor” – em uma perspectiva de saciedade –, substitua o macarrão pelo seu equivalente em carboidratos em batata inglesa assada. Fica mais nutritivo também).
13) Low carb e emagrecimento
No começo dos anos 2000 foram publicados estudos que
colocaram a dieta low carb em outro patamar quando o assunto é queima de gordura, impulsionando essa forma de se alimentar e começando o que se tornaria uma modinha que, em certo grau, perdura até os dias de hoje.
O problema é que os estudos eram falhos, a metodologia
usada foi ruim e os achados não poderiam ter sido usados com a finalidade que foram. Em um dos estudos, por exemplo, não houve nem controle de calorias ingeridas. Os indivíduos se alimentavam à vontade. A essa altura, acho que você sabe o problema que isso representa. Em outro, houve discrepância no consumo de proteína entre os grupos, o que invariavelmente vai afetar o resultado final por razões múltiplas.
Esses estudos poderiam ter sido usados para, no máximo, 71
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estipular que, para aqueles que se alimentam intuitivamente, o low carb pode ser vantajoso para perda de peso. Até aí, é uma proposição aceitável. Gera debate, sem dúvidas. Quem discordar dessa proposição pode sugerir que baixo consumo de carboidratos afetará performance, e isso pode ser inferior para a perda de peso, por exemplo. Da mesma forma, quem concordar com essa hipótese da superioridade do low carb, pode sugerir que quando consumimos os macronutrientes carboidrato e gordura juntos, como em uma dieta padrão, tendemos a comer mais por conta da natureza mais palatável da refeição, entre outros vários argumentos que poderiam ser usados tanto contra quanto a favor. Seria um debate interessante e mais estudos seriam necessários para chegar a qualquer conclusão. Isso, claro, pensando a nível populacional. Para o indivíduo, as preferências dietéticas sempre serão determinantes para estipular o melhor protocolo, independentemente do que seria melhor para a maioria das pessoas.
Para averiguar se low carb de fato é superior para perda de
gordura, é preciso equiparar o déficit energético e o consumo de proteínas entre os grupos*. Diversos estudos se propuseram a fazer isso e aconteceu o esperado: quando o consumo de calorias e proteínas foi igual, low carb não proporcionou vantagem para o emagrecimento. Tanto fez se a maior parte da sua dieta veio de carboidratos ou gorduras.
Hoje, há algumas meta-análises (“estudo de estudos”) com
essa mesma conclusão e, aparentemente, não há mais debate. Com a ingestão de proteínas apropriada, não faz qualquer diferença se você comer mais ou menos carboidratos. Isso é excelente,
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visto que você pode prosseguir como preferir.
Se você gosta de low carb, só se atente para fazer um
protocolo saudável. O que não falta na Internet é gente achando que essa dieta é sinônimo de open bar de bacon. Pelo amor de Deus, aí também não.
No entanto, por mais que hoje saibamos que o baixo consumo
de carboidratos não oferece vantagens para o emagrecimento, ainda há muita gente que pensa que sim. E parte dessas pessoas vive o que eu chamo “ciclo vicioso low carb”. Vamos falar sobre ele. *a importância das proteínas no emagrecimento ficará clara no capítulo que fala especificamente sobre este macronutriente.
14) O ciclo vicioso Low Carb Low Carb
Low carb possivelmente é a estratégia dietética mais famosa
hoje em dia. Com muita gente fazendo ou tentando fazer e consequentemente muita gente falando sobre o assunto, há de se esperar que boa parte dessa informação gerada e disponibilizada seja problemática.
Ela de fato possui suas ocasionais aplicabilidades clínicas.
No entanto, quando o assunto é perda de gordura e estética, é apenas mais uma opção que pode ou não funcionar, dependendo do indivíduo. Ao contrário do que você verá frequentemente no 73
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Instagram, não há nada de mágico nessa abordagem.
Vamos esclarecer então um pouco do misticismo envolvendo
a low carb. Por que algumas pessoas acham que há algo de intrinsecamente superior?
O ciclo vicioso Low Carb
Quando pensamos no porquê de algumas coisas funcionarem
e outras não, há camadas de análise. Para a maioria absoluta das pessoas, no entanto, só há o nível mais superficial: o dos resultados. E agora você irá entender perfeitamente porque para o indivíduo que não é aprofundado, o low carb pode parecer superior.
Armazenamos carboidratos em nosso corpo primordialmente
na forma de glicogênio hepático (no fígado) e muscular. Refiro-me especificamente à glicose. A quantidade varia de indivíduo para indivíduo. Esses estoques são usados e repostos o tempo inteiro e essa dinâmica pode e irá ser alterada de acordo principalmente com a natureza da atividade física sendo feita e a composição da sua dieta, entre outros fatores.
Quando você opta por fazer uma low carb, a síntese de
glicogênio será menor, e o glicogênio é uma energia “molhada”. Isso quer dizer que, fisiologicamente falando, será necessário água para seu armazenamento. Ou seja: para repor, você armazena água; quando seus estoques estão comprometidos, você elimina água. Isso irá gerar uma oscilação de peso muito rápida quando o indivíduo adere à dieta low carb. No entanto, essa perda de 74
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peso é exclusivamente condicionada a esse menor consumo de carboidratos. É uma perda de peso ilusória. Não é gordura. E se você pretende voltar a comer mais carboidratos, é temporária.
No entanto, conforme conversamos, não é incomum à maior
parte das pessoas só se atentar ao aspecto mais superficial do processo: a perda de peso. De fato, quando você for verificar na balança, haverá ocorrido uma perda de peso maior que se tivesse consumido carboidratos normalmente. Isso tende a não ser relevante com o passar das semanas, mas nos primeiros 15 dias têm seu impacto.
A perpetuação do que eu chamo “ciclo vicioso do low carb”
se dá quando o indivíduo está adotando aquela abordagem não porque gosta, mas por acreditar que é superior. Se pudesse escolher, ele estaria se alimentando de outra forma. Mas por acreditar que resultará em melhores resultados, ele insiste. Essa equação invariavelmente acarreta a adesão de – no máximo – curto prazo. E quando o consumo mais alto de carboidratos for retomado, a reposição de glicogênio acontecerá e, com ela, o ganho de peso “aquático”. Com isso, a demonização do carboidrato está consolidada: diminui-se o consumo e se perde bastante peso; quando esse consumo volta, ganha-se o peso de novo. E você culpa o carboidrato. Esse cenário é ainda mais agravado em casos de grande restrição seguida por compulsão. Quem não sabe o que está acontecendo e confunde toda mudança de quilos na balança como engordar/emagrecer será refém dessa dinâmica.
Partindo da premissa de que você não se encaixa nas
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eventuais aplicabilidades clínicas para as quais o low carb é indicado (diabetes ou síndrome do ovário policístico, por exemplo), não há nada de especial em adotar esse protocolo para emagrecimento. Se você prefere se alimentar dessa forma, no entanto, obviamente não há problema algum. Se não, saiba que não está em desvantagem alguma: quando variáveis relevantes são equalizadas, como consumo proteico e déficit energético, o baixo consumo de carboidratos não é superior a um maior consumo quando o assunto é emagrecimento.
15) Atente-se à ingestão de proteínas
A forma mais simples de você entender a importância da
proteína na busca pelo shape é a seguinte: se seu consumo é insuficiente quando a meta é hipertrofia, você vai comprometer o quanto é capaz de construir de músculos, fazendo com que receba menor retorno pelo seu esforço na academia; já quando a meta é emagrecimento, o consumo insuficiente fará com que você perca mais massa magra que o necessário, fazendo com que você queime menos gordura e piore a composição corporal ao fim do processo. Sabendo da importância da massa magra tanto para saúde quanto para a estética, você pode ter uma boa dimensão da relevância da ingestão proteica adequada.
A ideia com o consumo suficiente é primordialmente
manter o balanço nitrogenado positivo. Proteína é o único dos macronutrientes que possui nitrogênio em sua composição molecular, tornando possível mensurar a suficiência do seu consumo a partir dele. Um balanço nitrogenado negativo não está associado 76
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com hipertrofia. Às vezes, inclusive, está associado a má nutrição. Um balanço nitrogenado positivo é associado com reparação de tecido, processo fundamental para o processo de construção muscular. Em suma, é um indicativo que a síntese (construção) de proteínas está sendo superior à degradação, processos que ocorrem concomitantemente o tempo inteiro no nosso corpo. O seu treino é responsável pelo dano, a partir daí ocorre a reconstrução e, no melhor dos cenários, o crescimento (hipertrofia).
“Mas eu vi no Instagram que você só absorve X gramas de proteína por refeição”
Esse é um daqueles mitos que custa a morrer. Provavelmente
nasceu quando alguns estudos dedicaram-se à investigação do quanto de proteína por vez seria suficiente para estimular o máximo de síntese proteica muscular*. O que aprendemos é que há um teto para a questão dose-resposta. Em um estudo com carne vermelha, por exemplo, descobriu-se que 80 gramas de proteína em carne vermelha** não geraram mais síntese que 40 gramas. Um outro estudo com ovos encontrou valores similares. Portanto, há certo consenso que algo em torno de 20 a 40g por vez é suficiente para estimular o máximo de síntese proteica muscular (suspeito que daí que surgiu a dose-padrão de 25g do Whey, inclusive). Sabendo desses dados e que esses picos de síntese proteica muscular duram no máximo algumas horas, nasceu a sugestão de distribuir o consumo ao longo do dia para otimizar esse processo. *síntese proteica muscular é apenas o processo de síntese proteica, que acontece pelo corpo inteiro, acontecendo especificamente no músculo. **não confundir com 80g de carne. É o total de carne para se obter 80g de proteínas.
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Isso não implica que você não absorve. Na verdade, você
absorve quase tudo (exceção seria no caso de um consumo realmente massivo). No entanto, ao distribuir o seu consumo ao longo do dia, você estimula a síntese proteica muscular mais vezes, e há correlação entre síntese proteica muscular e hipertrofia, por mais que não seja um assunto perfeitamente elucidado.
“Então é por isso que o jejum intermitente não otimiza hipertrofia?”
Exatamente. Na verdade, quando paramos para refletir
sobre isso, é até bem intuitivo. Quando em jejum, você está em um estado catabólico. A hipertrofia é um processo anabólico. Seria ousado esperar que esse processo anabólico fosse otimizado quando, na maior parte do dia, você está em um estado catabólico.
Não confunda “não otimizar” com inviabilizar
O consumo total do seu dia continua sendo bem mais
relevante que a distribuição ao longo das horas. Se durante a janela de alimentação do jejum o seu consumo for adequado, somado ao estímulo do treino, você terá hipertrofia. Jejum não inviabiliza o ganho de massa magra, apenas não otimiza o processo. São coisas distintas.
Aproveitando para fazer um paralelo, esse foi precisamente
o meu caso. Como já contei, eu faço jejum há 8 anos. Boa parte da minha massa muscular foi construída durante esse período. É razoável especular que eu poderia ter construído um pouco mais
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rápido caso me alimentasse com maior frequência? Sim. No entanto, pouco me importa. Não vou subir no palco. Não há prazo para eu conquistar meus resultados. Considerando que eu amo fazer jejum, para mim não faria o menor sentido comprometer a minha felicidade no dia a dia e consequente adesão para tentar ter resultados um pouco mais rápido, até porque esse “a mais” talvez nem fosse perceptível. Mais uma vez: adesão é a variável mais importante. Voltarei a falar nesse assunto no fim do livro.
“E quanto seria esse tal de consumo suficiente?”
Via de regra, de 1.6 a 2.2 gramas por quilo de peso
corporal está de acordo com a maioria das recomendações, tanto de instituições esportivas, quanto de pesquisadores da área. A única ressalva é que alguns sugerem um potencial benefício para aumentar esse consumo até 2.5 ou 3.0 gramas por quilo de peso quando em restrição calórica, uma vez que a degradação de proteínas está aumentada. Há estudos mostrando pequena vantagem para fins de composição corporal também.
Jejum, perda de peso e preservação de massa magra
Da mesma forma que não podemos confundir não otimizar
com inviabilizar, é preciso entender que é diferente querer construir e querer preservar. Quando a meta é hipertrofia, queremos construir. Quando a meta é queimar gordura, queremos preservar (músculo).
Nesse cenário, a coisa já muda de figura e a distribuição 79
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aparentemente beira a irrelevância. Em estudos comparando composição corporal entre praticantes do jejum e pessoas se alimentando o dia inteiro, não há diferença para queima de gordura e preservação de massa magra. Há inclusive estudo em que o grupo do jejum obteve melhores resultados, mas isso precisaria ser replicado em outros estudos e na grande maioria deles a conclusão é que, considerando uma equiparação de calorias e consumo proteico, ingerir tudo em uma janela de 4 a 8 horas de alimentação ou durante o dia inteiro dá no mesmo.
Dica 1) Pensando em praticidade, estipule como meta 2 gramas de proteína por quilo de peso e não fique preocupado quando você ingerir um pouco menos. Afinal, entre a sugestão de piso (1.6 gramas) e esses 2 gramas, há um espaço grande. Para um indivíduo de 70 quilos, isso implicaria em um consumo diário entre 112 e 140 gramas de proteína. Se em determinado dia você preferir parar nas 120 gramas, por exemplo, e comer um pouco mais de carboidratos ou gorduras, não terá qualquer consequência negativa. Assim, você torna seu dia a dia mais flexível e diversificado. Você pode ajustar um pouco esse valor para cima quando em fase de emagrecimento. 2) Há pessoas que têm dificuldade em conseguir comer a quantidade ideal de proteínas. É aqui que entra o Whey ou outras fontes em pó. Falaremos sobre isso na parte de suplementos. 3) Há certo debate sobre a relevância da ingestão de proteínas no pós-treino, se faz diferença significativa ingerir até 1 hora após o fim da sessão ou 3 horas depois, por exemplo, em especial se você se alimentou adequadamente no pré-treino. No entanto, aplicando a filosofia “pelo sim e pelo não”, pode ser interessante esse consumo 80
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até 60 minutos depois de malhar. Se for benéfico, você colhe os frutos. Se for irrelevante, não há prejuízos. 4) Justamente por conta de não haver alimentação imediatamente pré-treino***, é prudente para aqueles que treinam em jejum tentar aproximar o desjejum com o fim do treino, a fim de otimizar a conservação ou construção de massa muscular. Se por alguma razão você for acabar de treinar (reforçando: em jejum) e só for se alimentar muitas horas depois, pode ser interessante tomar Whey logo após malhar, pois o Whey é suficiente para estimular a síntese proteica muscular independente da presença de carboidratos, como mostram alguns estudos, e também porque só possui, em média, 120 calorias. Dessa forma, você continuará tendo quase toda a totalidade do seu consumo energético para quando for desjejuar, fato que, para a maioria dos adeptos do jejum, é o grande diferencial (comer maior volume de comida). ***tecnicamente, alimentação pré-treino daquele que treina em jejum é tudo o que ele comeu no dia anterior. A maior parte já terá sido estocada como energia. No caso desses, refiro-me especificamente àquele lanche ou àquela refeição horas antes do treino, que para os que treinam em jejum não vai existir.
16) Carboidratos e estética
Em determinado estágio na busca pela definição extrema, os
carboidratos assumem grande relevância. A razão é simples: quando o percentual de gordura está baixo, o quanto de água você retém passa a ser muito importante para o quão definido você é. E para manipular essa água, você irá precisar manipular os carboidratos.
Armazenamos carboidratos principalmente na forma de 81
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glicogênio hepático (fígado) e muscular. O glicogênio é uma “energia molhada”. Para ser armazenado um grama, carrega consigo aproximadamente três gramas de água.
Também armazenamos água subcutaneamente (entre a pele e
o músculo), e uma maneira de reduzir essa retenção é manipulando o consumo de carboidratos.
No entanto, não conseguimos escolher onde iremos reter
líquido e onde iremos eliminar. Quando reduzimos o consumo de carboidratos e eliminamos a água entre a pele e o músculo (subcutânea), também eliminamos a água de dentro do músculo (intramuscular).
Seus exemplos do Instagram, como conversamos, muitas
vezes fazem uso de substâncias que driblam de certa forma essa dinâmica (depende da substância). Há menor retenção hídrica subcutânea em conjunto com manutenção do volume muscular, o que possui uma consequência estética bem relevante que está longe de ser razoável como meta para os atletas de dia a dia, como você.
Você não consegue isso naturalmente. Ou você está cheio
de água dentro do músculo, o que o torna mais volumoso, e você também possui certa retenção subcutânea, o que não deixa sua pele ficar extremamente fina, ou você está com a pele mais fina e também com seu músculo mais murcho.
Com uma ingestão baixa de carboidratos (low carb), você
até vai reduzir a retenção hídrica entre a pele e o músculo, mas seus músculos também ficarão mais murchos. A não ser que você 82
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tenha uma quantidade de massa magra bem acima da média, provavelmente o resultado estético não será de seu agrado. Além disso, justamente pelo menor estoque de glicogênio, você terá comprometimento da performance no treino, e sabemos como isso é importante para os seus resultados.
Dessa forma, faz muito mais sentido um consumo médio para
alto de carboidratos. Claro, dentro das necessidades energéticas proporcionais ao seu objetivo.
Não que precisemos de mais motivos, mas a definição
proveniente de um consumo maior de carboidratos vai ser muito menos inconstante que a do low carb. Quando você adquire um nível de definição com o corte de carboidratos, você precisa ter em mente que aquela definição é atrelada àquele consumo. Quando a vida fizer você comer mais, essa definição se vai. Sabemos como essa oscilação estética pode ser psicologicamente prejudicial, como talvez muitos de vocês já tenham vivenciado.
Além disso, você terá maior possibilidade de flexibilizar a
alimentação no dia a dia. Se um dia quiser comer um pouco menos de carboidratos e mais gorduras, não terá consequência negativa. O mesmo não pode ser dito para quem está acostumado com o baixo consumo, pois, como falamos, o consumo mais alto terá repercussões estéticas potencialmente problemáticas para aquele indivíduo.
De forma geral, a não ser que você esteja buscando explorar
uma definição mais acentuada por qualquer que seja a razão, seja uma sessão de fotos ou um encontro com seu ex-namorado na praia,
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só me parece boa ideia aderir ao low carb se você realmente gosta e pretende manter. Caso contrário, um maior consumo de carboidratos na maior parte do tempo me parece superior, por razões de: estética, performance e flexibilidade dietética no dia a dia.
17) Dia do lixo
Dia do lixo é a ideia de se tirar um dia “off” da dieta para comer
o que quiser ad libitum (à vontade). Não há regras ou parâmetros.
Esse conceito é problemático sob diversos níveis de análise.
Primeiramente, corrobora com a infeliz ideia de a dieta ser uma
espécie de martírio que você não vê a hora de largar. Algo que você precisa de um break, uma espécie de recompensa pelo grande esforço que foi sustentar seu plano alimentar ao decorrer da semana.
Em segundo lugar, é literalmente pautar-se nos extremos.
Restrição e compulsão, por mais que dentro de alguns parâmetros. Um dia inteiro de compulsão após dias de restrição. Você não vai desenvolver um bom relacionamento com a comida dessa forma. Invariavelmente, levará à categorização em alimentos “proibidos” e “permitidos”. Afinal, você tem um dia só com “lixo”.
Em terceiro lugar, e tendo em mente que esse conceito é
empregado em contextos de restrição calórica, é bem possível – e até provável – que você irá reduzir bastante ou até anular o déficit calórico gerado ao longo da semana. Se quiser aprender por si, experimente usar um desses aplicativos de contagens de calorias e registre o que você mais ou menos comeria se tivesse um dia inteiro
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livre com carta branca para extrapolar. Veja o total de calorias e compare com o déficit energético que você gerou ao longo da semana (comum que seja em torno de 3.000 kcal se foi trabalhado uma redução de 500 kcal/dia, o que costuma ser próximo ao valor comumente trabalhado).
Por fim, não é ousado especular de forma teórica que esse dia
off exagerado pode sair pela culatra e tornar excessivamente mais difícil retomar seu planejamento no dia seguinte. Especialmente se a dieta for demasiadamente restritiva. Tente imaginar passar um dia inteiro comendo pizza, hambúrguer, batata frita e sorvete e no dia seguinte frango e brócolis.
Pessoalmente, acho a ideia de dia do lixo péssima. Se você
precisa de um dia para fugir completamente da sua rotina alimentar, é porque sua rotina alimentar foi muito mal organizada.
18) O benefício universal do jejum
Se este capítulo fosse um vídeo do YouTube, ele
provavelmente seria classificado como “clickbait”. Digo isso pois não é uma apologia ao jejum como o nome sugere, mas sim uma reflexão acerca de um grande bônus que ele trouxe ao universo fitness de forma indireta.
Estamos falando sobre nutrient timing.
Antes de falar sobre isso, um breve histórico.
Por alguns anos, prevaleceu a máxima na nutrição que você 85
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deveria se alimentar de três em três horas para “acelerar o seu metabolismo”, ou simplesmente para ele não desacelerar, visto que pular refeições, em tese, causaria esse efeito; posicionamentos absurdos cujo grau de dramatização variava de acordo com quem os propagava. Ainda há quem os repita nos dias de hoje, mas é cada vez mais raro.
Eu vivi bastante essa fase. Era impossível ir a um consultório
de um profissional e não ouvir a replicação dessa “verdade”. À época, as redes sociais estavam engatinhando e ainda não havia ocorrido o processo de “democratização da informação”, então éramos reféns de alguns centros de informação com hipotética maior credibilidade, como alguns canais no YouTube, sites e revistas. Instagram ainda estava em seu primórdio. A disseminação da informação não era de forma alguma concentrada como na era pré-Internet, mas também não funcionava como nos dias de hoje. Foi uma fase na qual estávamos em uma espécie de meio termo do processo de horizontalização da comunicação que outrora era estritamente vertical (dos grandes polos diretamente para as massas). Era mais fácil e bastante comum ficar submisso a mitos e inverdades.
Basicamente, por uns anos todos ficamos reféns dessa que
parecia ser uma incontestável verdade escrita em concreto: você precisa se alimentar de três em três horas.
Até que começou um burburinho nos Estados Unidos sobre um
tal de Jejum Intermitente.
É comum que as “modinhas” comecem lá fora e em algum
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momento cheguem ao Brasil. Com o jejum não foi diferente. Pessoalmente, eu pratico há oito anos, e quando comecei já era bastante debatido lá fora. Eu observei essa onda chegar aqui em nosso país quando já praticava há cinco anos. Se eu for contar todas as interações bizarras que tive com médicos, nutricionistas e profissionais de educação física ao longo desses anos nos quais ninguém havia ouvido falar sobre jejum aqui no Brasil, daria um livro por si só. Eu tinha que sempre dedicar um tempo explicando para a pessoa que o que eu estava fazendo não era tentativa de suicídio. Depois de um tempo, a modinha chegou aqui e pude parar de me explicar. Esse foi o lado bom. O ruim foi que muita gente oportunista começou a falar muita abobrinha sobre o assunto. Mas isso também é fora do tópico aqui.
De repente, em um mundo fitness no qual “a verdade do três
em três horas” dominava, surgiu gente demonstrando excelentes resultados ficando dezesseis horas sem comer. Às vezes mais. Aquilo me deixou curioso e resolvi pesquisar sobre.
Para resumir uma história longa, comecei a praticar e nunca
mais parei. Até aí, ok. Esse sou eu. Por qual motivo, então, estou sugerindo que o jejum trouxe um benefício universal?
Ora, se há pessoas com bons resultados se alimentando
desde o momento em que acordam até o momento que vão dormir e outras com resultados similares se alimentando em uma janela reduzida, jejuando dois terços do dia ou mais, a lição é cristalina: é muito mais relevante o que você come e o quanto você come do que o quando você come.
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Entre comer durante o tempo inteiro que está acordado e só
comer durante um breve período de tempo, há um leque enorme de possibilidades.
Então, se o que você prefere é comer da forma tradicional,
com as grandes refeições e lanches menores, essa é uma opção. Se prefere não fazer lanches e comer de forma mais volumosa nessas três refeições principais, também é opção. Prefere pular o café da manhã e comer mais entre o almoço e o jantar? Tudo bem também. Se você é como eu e prefere comer muito de uma vez, de forma concentrada e em maiores porções, isso também é administrável. As opções são intermináveis.
Esse é o lado bonito, pois as rotinas das pessoas e os gostos
pessoais também constituem uma pluralidade sem fim. Ou seja, independentemente de quem você é, de como funciona a sua semana e qual é seu objetivo, é plenamente possível estruturar um plano alimentar do seu agrado e de forma que otimize a sua rotina, felicidade e, por consequência, os seus resultados.
Esse, a meu ver, foi o grande bônus que o jejum trouxe
ao universo fitness, mesmo para aqueles que não o praticam: liberdade para escolher.
Duas ressalvas: 1)
Quando o assunto é hipertrofia, há algumas considerações a
serem feitas (foram feitas no capítulo sobre proteínas). 2)
Estou, claro, partindo da premissa de que estamos falando
de seres humanos saudáveis. Se você possui qualquer singularidade que torne um tempo sem comer um problema, isso é algo que você precisa conversar com o profissional que te acompanha.
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19) “É fit, então pode comer sem culpa”
A essa altura, imagino que você esteja mais familiarizado com
os alimentos e o que faz alguém engordar ou emagrecer. Se sim, entender essa ideia vai ser muito fácil.
Por conta da problemática categorização dos alimentos como
“bons ou ruins”, “que engordam ou que emagrecem” e derivados, rolou a ascensão dos “alimentos fit”. Concomitantemente, a infeliz ideia “é fit, então pode comer sem culpa”.
Eis o problema: há a confluência de ideias distintas.
Confunde-se o “sem culpa” com a ideia de que não engorda. Não é porque possui ingredientes melhores ou que não possui açúcar ou qualquer outra característica que justifique a atribuição de “fit” que o alimento é isento de calorias. Se você possui uma opção de guloseima mais saudável, excelente, mas não pense que por isso ela engorda menos que uma opção “não fit” de calorias equivalentes.
A ideia de culpa, me parece evidente, é normalmente
associada ao ato de engordar. Ninguém come um lanche no McDonald’s e pensa “puts, estou fazendo mal à microbiota intestinal” ou come uma fatia de bolo e pensa “poxa, isso não é ideal para otimizar minha homeostase glicêmica”. A culpa se origina do fato de aquela refeição “não fazer parte da dieta”, ou “ser lixo” e similares. A culpa, então, surgiria por consequência da proibição. Afinal, se há alimentos que devo comer e alimentos que não devo comer, quando eu falho, eu sinto culpa. Essa ideia precisa ser descartada de uma vez, pois não ajuda em absolutamente nada.
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Como já elaboramos, o que há são alimentos que configuram
escolhas mais e menos inteligentes dependendo do contexto, levando em consideração – principalmente – o seu objetivo. Um alimento excessivamente calórico tanto pode ser um tiro no pé para alguém que precisa ingerir apenas 1.500 kcal para emagrecer quanto pode ser uma mão na roda para outro indivíduo que precisa ingerir 3.000 kcal na sua missão de construir massa magra.
É aqui que nasce a confusão. Profissionais ou influenciadores
divulgam alimentos “fit” afirmando que “pode comer sem culpa”, pensando que isso é válido quando atentamos à maior qualidade dos ingredientes. E aí o influenciado vai e come à vontade, “sem culpa”, e engorda da mesma forma. A outra possibilidade, claro, é quem prega esse discurso não fazer ideia da relevância das calorias, mas prefiro dar o benefício da dúvida.
Não tenha culpa comendo nada. Não existe alimento “lixo”.
Chega a ser criminoso essa qualificação em um mundo onde tantos nem têm o que comer.
Descarte esses rótulos/pré-conceitos. Não servem para nada.
É útil, possivelmente, pensar que há alimentos que você deve
evitar e/ou não devem compor a maior parte da sua alimentação. Até aí, penso que seria um ponto de convergência entre todos os indivíduos minimamente razoáveis. Especialmente se você possui alguma singularidade que te faça ter que seguir uma abordagem dietética mais restrita. Lembre-se sempre de respeitar sua individualidade e que as informações aqui são generalistas. Na dúvida, sempre converse com o profissional de sua confiança. 90
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Sugiro, então, que você enxergue todo e qualquer alimento
como fontes de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras e nutrição (vitaminas/minerais). Há fontes bem melhores que outras, sem dúvidas, mas todas são passíveis de encaixe em um plano alimentar bem estruturado. E, se você souber o que está fazendo, não há porque ter medo ou culpa de comer qualquer alimento. E não, de uma vez por todas: não é porque é fit que não
engorda. O que engorda é o excesso de calorias e seu corpo não irá deixar de armazená-las por serem de origem “fit”. Não caiam nessa.
20) Compulsão e restrição
Quem nunca ouviu “a gente quer aquilo que não pode ter”?
Quando o assunto é a nossa alimentação, não é muito diferente. Experimente fazer um desses tão clássicos quanto problemáticos desafios de “vinte e um dias sem açúcar” e repare no que você não conseguirá parar de pensar. Não é mistério algum o porquê de isso acontecer. Vez após vez. Mas a gente insiste, né? “Dessa vez vai dar certo”.
O que acontece toda vez é que você cria uma restrição
absolutamente desnecessária. Uma restrição sobre a qual você constantemente estará consciente durante todo esse desafio. Ao estipular que não irá ingerir açúcar por três semanas, é provável que você ficará com açúcar na sua cabeça com muito maior frequência que o habitual durante todo esse tempo. Você demoniza-o a ponto de creditar seu “insucesso fitness” a ele. Se você ama um docinho, você não deve e nem precisa abrir mão dele. Há abordagens muito mais eficientes que o idealismo de viver sem. 91
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Talvez – não é de forma alguma arriscado especular – com
um consumo diário e bem pensado, você alcance um estágio de que você nem faça mais questão, no qual você passa um dia ou outro sem e nem ao menos pensa sobre aquilo. Não é incomum que o “desespero” pelo consumo seja consequência da demonização. Quando você sabe que pode comer, você não faz tanta questão. Mais uma vez: queremos aquilo que não podemos ter. O triste é que nesse caso você pode, apenas cismou que não.
É preciso parar definitivamente com esse hábito de creditar
seu insucesso ou falta de progresso a algo singularmente. É o contexto todo que importa. É sempre um ecossistema, no qual é muito difícil isolar apenas uma variável.
Quando você coloca o alimento que você gosta na categoria
dos “proibidos”, você apenas irá desejá-lo mais e mais. E quando você invariavelmente cair em tentação, irá encarar aquilo como uma derrota. Afinal, você “não pode”, né?
E aí acontece sempre a mesma coisa: você come e come
até não poder mais, pois não irá querer vivenciar esse sentimento novamente. “Amanhã eu retomo a dieta”, você pensa. E invariavelmente o ciclo se repete. De novo e de novo.
Na minha experiência, que não é clínica, isso está no cerne da
maior parte dos episódios compulsivos. Ao menos foi o meu caso e de todos que já conversaram comigo. Nunca ouvi falar de alguém que tem surtos de compulsão e uma boa relação com a comida. Até porque, me parece óbvio, seriam comportamentos conceitualmente opostos: ou você tem uma boa relação com a comida, ou você tem
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episódios compulsivos. Não me parece possível conciliar os dois em um mesmo indivíduo.
Evidente, isso pode ser agravado por uma série de outras
razões que apenas um especialista no assunto poderá se aprofundar, como distúrbios de autoimagem, entre outros. Porém, um bom primeiro passo na direção certa é parar de demonizar alimentos, em especial o que você mais gosta. Não há alimento capaz de te engordar por si só. O mesmo não pode ser dito por comportamentos patológicos. Surtos compulsivos engordam e fazem muito mais estrago que qualquer “alimento ruim” que você cisma que não pode comer.
21) Síndrome do apetite mimado
Peço que leiam a reflexão a seguir como apenas isso: sugestão
de reflexão. Por mais apaixonado que eu seja pelo estilo de vida do jejum, afinal eu comecei há 8 anos e nunca mais parei, eu também sei que nenhuma abordagem é para todo mundo. Todas têm seus ônus e bônus, dependendo do indivíduo.
No entanto, talvez algumas das reflexões que o jejum me
proporcionou possam ser úteis para você. Começando por essa: a síndrome do apetite mimado.
Se há algo que percebi conforme o tempo na condição de
jejueiro (praticante de jejum) se prolongava, é que por boa parte da minha vida eu criei o hábito de mimar meu apetite. Como assim? Eu explico. 93
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É natural sentir sensações desconfortáveis. Fome está longe
de esgotar a lista dessas sensações. É comum você sentir frio por exemplo. Ou sono. E nem sempre é possível anular aquela sensação. Por anular, refiro-me a reduzi-la a zero. Muitas vezes você simplesmente se vê na situação de ter que conviver com ela, por mais que por somente um breve período. Não é sempre que você está com sono que você pode dormir, por exemplo. Ou nem sempre que está frio você consegue se agasalhar perfeitamente. Ainda assim, você tolera essas situações desconfortáveis, às vezes adotando alguma medida paliativa, como ingerir cafeína para o sono ou vestir uma roupa para reduzir o frio. E às vezes simplesmente não há nada que você possa fazer. Nesses casos, você simplesmente convive com o desconforto, a ponto de, em um momento que esteja engajado em uma atividade, você simplesmente esquecer completamente que ele exista.
Nesses meus muitos anos como praticante de jejum, pude
atestar o seguinte: por vezes, a fome nada mais é que um leve desconforto que você superestima. Quantas vezes você não se classificou como “morto de fome” e essa fome passou? Quantas vezes você se concentrou em alguma outra coisa e simplesmente esqueceu de comer?
Tenho a impressão que a sociedade pensa que o gráfico
da fome se dá em uma espécie de ascensão linear. Quanto mais tempo sem comer, mais fome irei sentir. Ao analisar o gráfico da grelina, principal hormônio responsável pela sinalização de fome, verificamos que está longe de ser o caso. Saiba que a grelina vem em ondas, e costuma coincidir com os horários que habitualmente 94
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nos alimentamos. Parece que é um lembrete que é hora de comer, e considerando que nossos hábitos alimentares muitas vezes são socialmente impostos, me pergunto o que exatamente originou o quê: se os picos de grelina foram responsáveis pela consolidação dos nossos hábitos alimentares ou se nossos hábitos alimentares ao longo do tempo moldaram de alguma forma nossa produção de grelina. Não descarto uma contribuição mútua, também.
O fato é que hoje não é a fome que me faz comer. Até porque
na maior parte do tempo, eu nem lembro que ela existe. Acontece vez ou outra de eu sentir a barriga roncar. Mas por alguma razão, isso não é mais associado a fome. É um desconforto breve que em pouquíssimo tempo passa. Não afeta em absolutamente nada na minha vida. É como se fosse um som ambiente: notável se você parar para prestar atenção, mas na maior parte do tempo você nem repara que existe.
Eu não vou incorrer no erro de extrapolar uma vivência
pessoal. Longe disso. Não estou me usando como parâmetro universal. Seria um erro grave. A ideia aqui é gerar essa reflexão: será que por vezes a sua fome não é somente um breve desconforto que você superestimou? “Estou morrendo de fome”: será mesmo?
Se você é como eu e faz parte da parcela privilegiada da
população que tem constante e abundante acesso a comida desde o momento em que nasceu, provavelmente foi doutrinado desde o berço a mimar seu apetite. A comer no primeiro indício de fome. Afinal, “saco vazio não para em pé”, correto? Sugiro experimentar não ceder a esse impulso de colocar algo na boca ao primeiro sinal
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de fome. Estude essa sensação. Veja como irá se sentir. Tente notar se essa fome irá aumentar ou se é passageira. Se não seria resolvida com um copo d’água (não é incomum confundir fome com sede quando pensamos em sinalização desses mecanismos no hipotálamo).
Dessa forma, talvez você adquira um novo controle sobre o
ato de comer que jamais imaginou possível, e talvez deixe de ser refém de uma possível síndrome do apetite mimado.
22) Como o café da manhã pode te ajudar a comer melhor
Na verdade, a ideia aqui é te explicar como o fato de eu ter
ficado tantos anos sem café da manhã fez com que eu elaborasse um método que talvez te faça se alimentar melhor, mas isso daria um título muito longo.
Eu explico: se há algo que os habituados ao jejum podem
te confirmar (entre os que eu conheço, ao menos, é consenso) é o quão prazeroso é o gosto da comida no desjejum. Há certa ressignificação do sabor do alimento, mesmo no caso de algum que você esteja habituado a comer. Fica muito mais gostoso. Há muitos anos, cogitei a hipótese de essa potencialização do paladar se dar pelo simples fato de você talvez estar ansioso para comer, já que não o faz há muitas horas, especialmente no início da adequação ao jejum, visto que você antes estava habituado a comer o tempo todo.
Essa possibilidade não sobreviveu ao escrutínio com o passar
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do tempo, uma vez que, mesmo oito anos depois de jejuns diários, continua sendo extremamente prazeroso. Mais de dois mil dias seguidos fazendo jejum e o primeiro alimento que eu como no dia continua sendo mais saboroso que o normal.
Foi aí que notei potencial ligação com o café da manhã.
É comum vermos pessoas apaixonadas pelo café da manhã – e não abrem mão dessa refeição de jeito nenhum – e pessoas que simplesmente não fazem questão alguma – não incomum, são essas também as que acordam sem fome.
Quando fiz uma enquete no meu Instagram sobre fome pela
manhã, de doze mil pessoas que votaram, foi bem próximo de 50/50. Isto é: metade acorda com fome e a outra metade não. Comento isso a critério de curiosidade. Não extrapolaria para a população geral, mas também não me surpreenderia se esses valores fossem representativos.
Pensei: e se, na verdade, a grande paixão de boa parte das
pessoas pelo café da manhã e, por consequência, pelas comidas que comumente fazem parte dele se desse pelo simples fato de ser o momento do desjejum? Talvez por isso a grande paixão de muitos por esses alimentos. Não necessariamente genuína, mas sim por eles serem especialmente mais gostosos no momento do desjejum, que, no caso dessas pessoas, se dá ao acordar. Faz sentido?
É mera especulação, mas o fato é que todo alimento que
eu como todos os dias ao desjejuar é especialmente saboroso. No meu caso, como esse desjejum se dá mais tarde no dia e não há padronização da refeição que o constitui, não há essa relação 97
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romântica como muito dos adeptos do café da manhã possuem com ovos mexidos, pão com manteiga ou cereal com leite, por exemplo. No entanto, uma coisa é certa: é sempre uma explosão de sabor.
Com isso em mente, comecei a sugerir para alguns amigos
que gostariam de se alimentar melhor e eram praticantes do jejum que desjejuassem os alimentos que eles gostariam de ter o hábito de consumir e tinham dificuldade. Invariavelmente eram saladas e legumes. Só que sugeri que fizessem inicialmente do preparo que mais os agradava e com alguns upgrades. Por exemplo: salada de vegetais, com folhas e legumes, com um acréscimo de algum molho gostoso e um punhado de oleaginosas. Ou legumes grelhados com o tempero que mais gostam ou um pouco de queijo. Até batata palha entrou na brincadeira.
O feedback foi incrível. Todos confirmaram aquilo que eu
suspeitava e tiveram muito maior prazer comendo pratos que antes comiam “por obrigação”. O segredo consiste em aproveitar as calorias extras que pular o café da manhã te proporcionou para acrescentar algo saboroso e crocante, tornando a experiência consumindo aqueles alimentos que você achava sem graça muito melhor. Oleaginosas são excelente opção, pois ainda são muito nutritivas. Tudo isso, claro, aumentado pelo fato de ser a experiência do desjejum, como expliquei. O aumento de sabor somado aos temperos certos e à crocância vai tornar prazeroso o consumo de alimentos com os quais você não se importava. Se você já gosta de uma salada, então, nem se fala. Será prazeroso como nunca. 98
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Com o passar do tempo, a tendência é que você se acostume
com o paladar e a textura e comer vegetais se torne hábito – um dos melhores hábitos que você pode ter, inclusive.
Obs: só tenha cautela, pois oleaginosas são bastante nutritivas
e saborosas, mas ao mesmo tempo caloricamente densas. Exagerar pode tornar sua salada excessivamente calórica. Qualquer coisa, há diversas outras opções, como tipos de croutons e sementes. Seja criativo. Sua saúde lhe agradecerá.
23) Comer menos mais vezes
Até aqui, você já entende bem os motivos pelos quais o
“você precisa comer de 3 em 3 horas” não possui fundamentação. Atente-se ao “precisa”, pois não há problema em se alimentar dessa forma. Se você gosta, claro que não há. Possui vantagens e desvantagens, como qualquer outro protocolo. No entanto, é importante salientar que não é imprescindível de forma alguma.
Infelizmente, me parece, uma consequência negativa
da consolidação dessa moda como “necessidade” foi sugerir indiretamente que comer porções maiores é ruim. É “descontrole”. Você deve comer até ficar levemente satisfeito e parar, correto? Sem excessos. A partir daí, quem prefere comer em maior quantidade sente que precisa mudar.
Foi basicamente o que eu vivi nos meus “anos fitness” que
antecederam à adoção do jejum. Sempre refeições controladas. Lanches modestos. Comer já pensando na próxima refeição que acontecerá em breve. Vai ficar um tempo na rua? Leve um lanche. 99
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É muito tempo? Leve dois lanches. Hoje, eu não voltaria a me
alimentar dessa forma nem se fosse pago para isso. É burocracia dietética demais para mim. Prefiro uma abordagem mais simplista. Mais que comer coisas gostosas, eu gosto de comer em
considerável quantidade. A sensação de paz e plenitude depois de estar de barriga cheia é algo que me dá um prazer inenarrável. Talvez você se identifique, talvez não. Esse capítulo é mais direcionado àqueles que se identificam.
Afinal, se você curte comer porções menores e o tempo todo,
não há por que mudar. Se te faz feliz, siga em frente. No entanto, se você é dos meus e o que prefere é comer mais comida menos vezes ao dia, tenha consciência que não há problema algum. É só se programar para isso.
Se você é dos que preferem estar com mais fome para
comer um prato generoso, além do meu “vai com tudo”, a dica que eu gostaria de deixar registrada é de incluir vegetais nas suas refeições. Se você não curte, tente seguir a dica que dei no capítulo antes desse. São alimentos nutritivos e sem densidade calórica, podendo ter alto valor estratégico nas suas grandes refeições. Por exemplo, se você vai comer empadão de frango com requeijão até sentir-se bem cheio, há uma chance grande de você comer demasiadamente e acabar consumindo um percentual muito grande da sua ingestão diária de calorias. No entanto, se antes de aventurar-se no empadão você come bastante salada, você terá o mesmo prazer e comerá bem menos. Uma fatia generosa provavelmente será mais que suficiente para te satisfazer tanto 100
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fisiológica quanto psicologicamente. Fisiologicamente porque você haverá preenchido espaço suficiente do seu estômago para ocorrer maior sinalização de saciedade, e psicologicamente pois você acabou de comer algo que ama e dentro dos seus objetivos. Sem necessidade de exagero e sem culpa.
Essa “saciedade psicológica” às vezes é o grande diferencial
no sucesso de um protocolo alimentar. Quantas vezes você já comeu comida para caramba mas mesmo assim ficou com aquela sensação que faltava algo? E faltou mesmo. Faltou incluir aquilo que você ama e te faria feliz. Mais uma vez: se te faz feliz, tem valor. Mesmo que não
seja nutricionalmente superior.
É só se programar e saber dosar. A vida é curta demais para
não comer aquilo que a gente ama.
24) Beliscadas do dia a dia
Algo aparentemente inofensivo que pode ser o que irá
determinar o seu sucesso ou não é o hábito de beliscar e pensar que não tem importância. Calorias são calorias. Tudo o que você come tem o potencial de gerar energia. Aquele biscoitinho bobo que você aceitou. Aquela balinha. Tudo.
E não estou sugerindo que você não possa comer. Você pode.
Pessoalmente, eu sugeriria tentar largar esse hábito. Como já deixei claro, acho muito mais prazeroso acumular essas calorias para quando de fato você vai fazer uma refeição maior, ou até um lanche 101
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um pouco mais elaborado. Mas vocês dificilmente irão me ouvir dizer que algo não pode. Não há proibição, só é preciso estar consciente das suas escolhas. Não é raro vermos pessoas negligenciando esses pormenores e só contabilizando as refeições maiores e lanches. Eles podem ser suficientes para, por exemplo, quando sua meta é emagrecimento, diminuírem significativamente seu déficit energético, de forma que torne todo o processo desnecessariamente mais longo.
Faça a conta: imagine que seu gasto diário é de 2.000 kcal e
você está com a meta de 1.500 pois quer perder peso. Com essas 500 calorias a menos por dia, é esperado que em 2 semanas você queime aproximadamente um quilo de gordura. Agora pense que essa pessoa tem o hábito de beliscar e as “bobeirinhas” somam 200 calorias por dia além da sua ingestão alimentar padrão. Agora, o déficit não é mais de 500 kcal, mas sim de 300. Em vez de 2 semanas, a pessoa demorará 25 dias para queimar o mesmo quilo de gordura. É o potencial peso de detalhes não computados. Fiquem atentos.
Evidentemente, quanto maior a sua ingestão calórica,
menos relevante isso é. Quando você está em superávit calórico, a consequência de ingerir 200 kcal a mais em beliscadas é acabar engordando um pouquinho a mais que o necessário, mas não vai comprometer a sua hipertrofia, diferentemente do emagrecimento, que pode ser bem afetado. Também por essa razão, acaba sendo mais significativo para mulheres, que possuem, em média, a ingestão calórica inferior à dos homens. 102
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Obs: uma vantagem “acidental” dos adeptos do jejum ou
daqueles que fazem apenas grandes refeições, como café, almoço e jantar é justamente essa. Naturalmente não se belisca. Não chega nem a ser algo forçado. Simplesmente não acontece.
25) Calorias líquidas
Não é preciso elaborar muito, visto que é o mesmo
fundamento do capítulo anterior. Eu imagino que a incidência desse hábito entre a “galera fitness” seja menor, mas o fato é que é muito comum vermos pessoas incluindo refrigerantes e sucos de caixinha cheios de açúcar nas suas refeições.
Como sempre: se você quer, a vida é sua. No entanto, sinto-
me compelido a dizer que, a meu ver, é um tiro no pé. Além de não agregarem em nada nutricionalmente, também não contribuem para saciedade. A chance de consumir descontroladamente e atrapalhar seu planejamento é ainda maior que com as beliscadas.
Para ilustrar: uma lata de refrigerante tem em média 140
calorias e 35 gramas de açúcar puro. Se consumida junto ao almoço, é uma quantidade substancial de comida que você deixou de colocar no prato. E pensar que há quem consuma no almoço e no jantar. Não seria muito mais prazeroso comer logo um doce?
Sei que se livrar do hábito às vezes é difícil, mas me
parece que nesse caso é muito válido. Não vou me meter na sua vida, mas adoraria se você revisitasse esse comportamento. Comece substituindo por bebidas zero, por exemplo. Já será consideravelmente menos nocivo aos seus resultados. Não que 103
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sejam saudáveis, mas de vez em quando não há problema algum. Trabalhe o “desmame” aos poucos. No seu tempo.
Dica: se você tiver o objetivo de diminuir refrigerantes,
experimente água com gás + limão espremido e adoçante a gosto (se precisar). Vira um Sprite natural. Eu curto bastante.
“E os sucos naturais de frutas?”
Provavelmente você já ouviu a sugestão “fruta não se bebe, se
come”. No entanto, como sempre, depende.
No caso de sucos de frutas, não há a variável “agregar em
nada nutricionalmente”. Afinal, estamos falando de sucos naturais. Todavia, continua não contribuindo para a saciedade, uma vez que boa parte das fibras se perdem no processo e, dependendo do suco, representa uma quantidade de calorias significativa – calorias que poderiam ser mastigadas.
Ainda assim, se você curte e fizer sentido no planejamento
do dia, não há problema algum. Dependendo do indivíduo, pode ser uma excelente estratégia para incluir maior nutrição no dia, inclusive. O problema é sempre o excesso/descontrole. Ao menos em teoria, é mais fácil consumir em demasia calorias que você bebe do que calorias que você mastiga. Por isso, a atenção é válida.
Contexto-dependente
Imagine que você tenha que consumir bastantes calorias e
mastigar tudo é desafiador. Nesse caso, calorias líquidas podem 104
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ser uma arma poderosa. Sucos, vitaminas, shakes etc. A questão é que é muito mais comum ouvirmos “gostaria de poder comer mais” do que “tenho dificuldade de ingerir tudo”, mas ainda assim, os dois cenários existem. O que vai determinar a utilidade de calorias líquidas é o contexto. Quem gostaria de poder comer mais e bebe parte das suas calorias provavelmente se beneficiará de trocar calorias líquidas por mastigáveis. Quem tem dificuldade de mastigar tanta comida, pode se beneficiar de calorias bebíveis.
Pessoalmente, eu só bebo água e água de coco. Sucos
naturais e refrigerantes zero bem de vez em quando. Como disse, gosto muito de comer em quantidade, e quanto mais calorias eu tiver pra mastigar, melhor. Mas esse sou eu. Só você saberá como prefere proceder. Eu só espero que as reflexões aqui sugeridas te ajudem a chegar a uma decisão mais consciente.
26) Álcool, hipertrofia, emagrecimento e hábitos relacionados Antes de tudo, vamos deixar claro que o álcool é uma
droga. Por ser legalizado e, de certa forma, banalizado, muitas vezes as pessoas esquecem disso. O consumo excessivo pode acarretar diversos problemas que vão muito além de atrapalhar ou não a vinda do shape. No entanto, não estou sugerindo que você pare de beber. Longe disso. Acho que vocês já sacaram minha filosofia: desde que você não prejudique os outros, pode fazer o que quiser da sua vida. Não sou ninguém para dizer o que você deve ou não fazer. Só quero contribuir para que tomem decisões mais conscientes. 105
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Assim, sabendo que beber com os amigos é muito bom e faz
parte da vida, vamos falar sobre como isso irá impactar o shape e o que fazer a respeito.
O álcool possui 7 calorias por grama. Se a ideia é evitar o
acúmulo de gordura, a estratégia é poupar parte de sua ingestão calórica para usar na bebedeira. Para isso, reduza o consumo de carboidratos e gorduras ao longo do dia. Álcool possui calorias vazias, ou seja: isentas de nutrição. Por isso, privilegie uma alimentação rica em nutrientes no dia em que pretende beber. Seria um dia que eu evitaria “flexibilizar” a alimentação ao longo do dia. É mais interessante alimentar-se de saladas e proteínas magras, já que no fim do dia você já vai consumir bastantes calorias vazias.
Vegetais não são caloricamente densos e são ricos em saúde.
Abuse deles. É a melhor forma de você comer bastante volume, se nutrir e poupar calorias para mais tarde no dia. Quanto mais colorido o seu prato, melhor. Além de tudo, as vitaminas e minerais serão responsáveis por ajudar no processo de detox que você obrigará seu organismo a fazer por conta da bebedeira.
Coma relativamente próximo ao momento da bebedeira
também. Isso retardará a absorção do álcool.
Lembre-se que poupar carboidratos não é evitar carboidratos.
Algum consumo de carboidratos poucas horas pré-bebedeira pode ser interessante para a manutenção da sua homeostase glicêmica (regulação do açúcar no sangue). 106
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Proteínas, por sua vez, serão essenciais à síntese proteica
que você irá prejudicar em algum grau com o consumo de álcool (estudos divergem sobre o quanto afeta). Falando nisso, eu treinaria no dia da bebedeira. Nunca sabemos como será a ressaca, então acho melhor “prevenir do que remediar”. Programe seu day off da semana para o dia seguinte da curtição. Se ressacas não são um problema para você, ignore esta dica.
Cada um sabe o que gosta de beber, mas se a sua ideia for
“curtir o momento” e minimizar impactos estéticos, sua melhor pedida é destilado com bebida zero caloria. Pessoalmente, é o que sempre faço. Mas tenha em mente que eu não curto muito beber, apenas gosto de ficar alcoolizado (às vezes).
Não raro, o grande perigo do hábito do álcool são os hábitos
relacionados, como a famosa “larica pós-night” (não sei como cada um de vocês ao redor do Brasil se refere ao momento de comer pós-bebedeira). Ou você organiza esse lanche de forma que ele faça parte do planejamento, ou não tem jeito: vai acabar sendo um excesso. De vez em quando, não vejo problema. Se é algo semanal, pode atrapalhar sim os seus resultados, em especial se for fase de emagrecimento, na qual não desfrutamos de abundância de calorias.
27) Não confunda deixar de emagrecer com engordar
Esta dica serve tanto para dias de bebedeira quanto para
qualquer dia que você pretenda se exceder um pouco.
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Tenha consciência desta distinção: deixar de emagrecer
não significa engordar. Por exemplo: suponhamos que você está trabalhando com o déficit de 500 calorias. Se determinado dia você achar de grande valor estratégico você ignorar o déficit e consumir 500 calorias a mais, faça isso. Anular o déficit não implica em superávit. Não é porque
você não emagreceu que você engordou. Aquele dia específico você preferiu comer um pouco a mais e deixou de emagrecer. Está tudo bem. Tudo dentro dos conformes. Retome seu objetivo no dia seguinte. Encare como um pause.
28) Calorias & dinheiro
Sejamos honestos, ao menos no início da caminhada fitness,
é incomum que alguém se importe ou entenda suficientemente a ideia de calorias. Parece algo vago e pouco palpável. Com o passar do tempo, esse conceito fica bem consolidado. Inicialmente, no entanto, nem sempre. Para melhor entendimento de pessoas próximas, ao longo dos anos criei o hábito de sugerir imaginar as calorias como dinheiro. Literalmente.
O motivo é simples: todo mundo está familiarizado e se
importa com dinheiro – ao menos o suficiente para servir a esse propósito. Imagine, então, que em vez de você amanhecer o dia com 2.000 kcal, você amanhece o dia com R$ 2.000,00. E a regra principal é essa: você vai ter que gastar esse dinheiro com comida.
Nesse cenário hipotético, calorias e reais são intercambiáveis.
Um para um. Um real é uma caloria. Agora vislumbre seu dia. Como
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você preferiria gastar esse dinheiro? A maior parte no começo do dia? A maior parte no final? Igualmente distribuído?
Se você prefere ter mais grana para gastar no jantar, é
necessário poupar ao longo do dia. Ou você terá que pedir mais dinheiro ao banco e se endividar, que nesse cenário hipotético corresponderia a engordar.
Com isso em mente, analise as calorias dos alimentos que
costuma ou gostaria de ingerir. Coloque-os em perspectiva. Isso te mostrará o peso/valor deles ao fazer suas escolhas. Quando você dá uma beliscada simplesmente pelo ato de beliscar, podem ser tranquilamente 100-200 reais que seriam mais bem investidos em outro momento. Isso pode facilmente acumular e acabar te endividando.
Quando gastamos dinheiro, estamos fazendo um investimento.
Com calorias não é diferente.
O alimento escolhido tem potencial para nos dar saúde – tanto
física quanto mental –, alegria, bem-estar, energia, entre outros tantos benefícios.
O investimento em saúde pode ser facilmente encarado como
prestação de contas. Afinal, se você negligenciar o pagamento e isso se perpetuar por tempo suficiente, as consequências podem ser problemáticas.
Por esse ângulo, faz todo sentido que a maior parte do seu
dinheiro seja investido em saúde. Mas é extremamente saudável que não seja em sua totalidade: afinal, se você vive só para pagar contas, que espécie de vida é essa?
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É fundamental atentar para nossos gastos, mas, às vezes,
mais importante ainda é investir na nossa alegria. Nos momentos gostosos. Celebrações.
Só é preciso saber dosar. Você sabe que tem contas a pagar.
E quando o assunto é saúde, se endividar pode eventualmente sair muito caro.
Entenda que a analogia de pagar contas refere-se à
responsabilidade de você para com você. Seu corpo precisa de nutrientes. Essa conta tem que ser paga. E tal qual um boleto não pago, juros acumulam. Não é para enxergar o ato de alimentarse bem como enfadonho, pelo contrário. Ele pode ser muito gostoso. A associação é apenas para você ter melhor dimensão da importância.
No fim das contas, a comida ou te dá saúde ou te dá prazer.
E se na maior parte do tempo a comida te dá saúde, às vezes que você comer por mero prazer não terão problema algum.
29) Considerações sobre emagrecimento
Se você leu até aqui, espero que já possua bagagem suficiente
para entender porque algumas coisas deram certo para você e outras não, assim como nunca mais ficar refém de baboseiras.
Hoje, você entende que todas as dietas que já funcionaram
foram por um único motivo: promoveram restrição calórica tempo suficiente para você queimar gordura. Nunca houve nada de mágico em cortar açúcar, carboidratos (em especial à noite), glúten,
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laticínios, gorduras ou qualquer outra coisa. O que aconteceu – todas as vezes – foi que você eliminou alimentos que consumia e consumiu menos calorias no lugar. Todas as vezes.
Por exemplo, quando você cortou carboidratos e emagreceu
(se é que não somente perdeu água e confundiu as coisas), você só emagreceu porque não substituiu aquelas calorias por equivalentes em gordura. Se você tivesse exagerado nos alimentos, não teria emagrecido. Não foi o corte de carboidratos. Foi o corte de calorias que o corte de carboidratos proporcionou. Funcionou assim todas as vezes ao longo da sua vida.
Como conversamos no capítulo da bioquímica, quando
pensamos em emagrecimento, gordura nada mais é que uma forma que seu organismo armazena energia. Quando você não consome energia o suficiente, ele é obrigado a recorrer às suas reservas, e aí você elimina gordura. Na teoria, é simples assim.
Na prática, ocorre toda a confusão que você já conhece, e
espero que agora entenda um pouco melhor.
Lembre-se de poupar calorias na primeira metade do dia
quando pretende se exceder à noite. Faça boa gerência do seu consumo energético. Proteínas magras e vegetais são sempre uma excelente pedida. Não há alimentos proibidos. Há alimentos mais e menos
estratégicos, dependendo do contexto.
Para ter um emagrecimento eficiente, é preciso ter paciência,
restringir calorias, mas não exagerar na restrição, incluir na sua 111
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rotina alimentos que você ama e consumir proteínas suficientes. Tanto faz se a maior parte das suas calorias será proveniente de carboidratos ou gorduras. O emagrecimento será o mesmo, você pode escolher. Tanto faz se você come de 3 em 3 horas ou só café, almoço e jantar. Tanto faz se seu desjejum é sete da matina ou só na hora do almoço. Se você equiparar o consumo energético dessas abordagens, dará no mesmo.
Se a meta é otimizar sua composição corporal, é inteligente
priorizar musculação (nosso próximo assunto). Não há mistério. Mas não é da noite pro dia. Por constantemente acreditar que pode ser de um dia para o outro que muitos de vocês se encontram frustrados e ansiosos e acreditando em fórmulas mágicas. Elas não existem. Poupem o tempo e o dinheiro de vocês.
Se quiser fazer um experimento interessante, anote tudo
que você comer por uma semana. Tudo mesmo. Depois vá a um desses aplicativos de contagem de calorias (como o MyFitnesspal) e registre dia por dia. Dê uma olhada no seu consumo de calorias, carboidratos, proteínas, gorduras e fibras. Assim, você poderá atestar de forma definitiva se o seu “comer intuitivo” está de acordo com seus objetivos estéticos, e pode usar essas informações como ponto de partida para ajustes. Por exemplo, se você notou que normalmente você fica bem abaixo da sua ingestão de proteínas, talvez seja hora de acrescentar um suplemento proteico à sua rotina. Ou caprichar nas proteínas das refeições. E por aí vai.
Faça a dieta flexível por umas semanas. Se você não gostar
e depois quiser largar, não tem problema, mas a bagagem que ela
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te dá é muito interessante. Não há uma infinidade de alimentos. O que costumamos consumir no dia a dia é razoavelmente limitado. Entender melhor aquilo que comemos é muito poderoso. E outra: você vai comer até o último dia da sua vida. É um dos conhecimentos mais úteis que você pode adquirir. Por que não conhecer esse processo um pouquinho melhor?
Toda vez que alguém tenta enganar vocês nesse mundo
fitness, é sob a implícita premissa que você pode ter um resultado de maior magnitude ou mais rápido. Se você entende minimamente as variáveis do processo e entende que ele leva tempo, você nunca mais rasga seu dinheiro com charlatão algum. Sobre “desafios de 30 dias”, gostaria de te propor um: te
desafio a nunca mais topar desafios de 30 dias.
Se um dia ou uma semaninha você quiser aumentar a
ingestão energética e anular seu déficit por alguma razão, faça isso. Às vezes, a vida acontece e outras coisas são mais prioridade que o shape. Se quiser/precisar comer um pouco mais, lembre-se que calorias de manutenção não engordam. Não existe só déficit ou superávit. Há inclusive um estudo que analisou dois grupos: um que fez restrição calórica constante e outro que teve intervalos ao longo do processo nos quais consumiam calorias de manutenção, e os resultados deste último grupo foram melhores no fim do estudo. Isso é pouco recomendado, porque a maioria das pessoas prefere “ir no embalo”, mas é interessante ter em mente. Não é porque você não está afim de fazer a restrição aquela semana que você necessariamente precisa chutar o balde. Tire sua folga. Volte
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assim que puder. Seu corpo não tem prazo e sua saúde mental é igualmente importante.
Se quiser ter noção do seu gasto energético e você não tiver
acompanhamento de um profissional, há diversas calculadoras online. Há equações, como a Harris-Benedict (caso você queira pesquisar), fórmula de bolso e várias outras. Tenha em mente que é uma estimativa; é impossível 100% de precisão. E fique tranquilo, pois também é desnecessário. É só aplicar a filosofia trial and error (teste e erro): você estipula certa quantidade e observa ao decorrer dos dias e semanas se fez sentido. A partir daí, ajusta para cima ou para baixo. Caso não acerte de cara, depois de um tempo você descobre. Se interessar maior precisão, exame de calorimetria indireta às vezes é coberto pelo seu plano de saúde. Pesquise sobre o assunto.
Sabendo as calorias que você gasta para sobreviver, um déficit
razoável vai girar em torno de uma redução de 15 a 25%. Uma maior redução pode ser excessivamente agressiva e causar todas as repercussões que já abordamos. Para hipertrofia, não é necessário mais que 5-10% acima das calorias de manutenção. Mais que isso não gera maior construção de massa magra, apenas maior acúmulo de gordura, como atestamos em diversos estudos.
Vocês já sabem o valor de referência para ingestão de
proteínas. Em média, dois gramas por quilo de peso, podendo oscilar para cima ou para baixo, dependendo do contexto. Para gorduras, a sugestão padrão é de 20 a 35% das suas calorias, mas também pode variar de acordo com preferência do indivíduo. Carboidratos compõem o restante. 114
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Quando a meta for emagrecimento, tenha consciência que
o mais relevante é ter o déficit energético e consumir proteínas suficientes. Se por acaso seu consumo de carboidratos e gorduras oscilar ao longo da semana, desde que dentro do seu teto de calorias, não fará qualquer diferença no processo. Pode até tornar seu dia a dia mais divertido.
Caso prefira padronizar, eu sugeriria (se você curtir),
mais carboidrato e menos gordura. Assim, você tem melhora de performance e fica menos refém de oscilações estéticas por conta de retenção de água. É muito melhor acostumar-se com uma definição sustentável e saudável do que viver obcecado com um grau maior de definição que você não consegue manter naturalmente com suas preferências dietéticas.
Deixei a “matemática” para o final de propósito, pois, como
conversamos, quando a sua meta é estética esses números importam. No entanto, comer é muito mais que números. Comer é prazer. É saúde. É tradição. É alegria. É amor. Infelizmente, ao longo dos anos, separaram o prazer do comer na busca pelo shape dos seus sonhos, como se fossem antagônicos. Espero que agora, entendendo um pouco melhor o processo, você esteja pronto para conciliar os dois.
Ao fim do livro farei mais considerações sobre sua jornada
fitness. E como queimar gordura não é tudo na busca do shape, precisamos falar sobre músculos.
Então, vamos falar sobre treino.
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Outra pretensão é que você consiga identificar se o
profissional que te acompanha, caso você tenha um, presta. Entenda: entre formar-se em educação física e entender de
hipertrofia ou estar atualizado com a ciência do processo há mundos de distância. Como sempre tive o hábito de estudar também essa parte, de forma que eu pudesse ser responsável por meus treinos nos últimos 10 anos, é muito fácil identificar essa questão e separar o joio do trigo. Já encontrei diversos profissionais sensacionais, mas não se engane: são – de longe – a minoria. No entanto, sabemos como há no imaginário coletivo a presunção de capacidade por conta do diploma. Se o cara te aborda na academia para montar sua série e ele é formado e contratado, ele deve saber do que está falando, né? Infelizmente, nem sempre é o caso. Estar burocraticamente capacitado a exercer determinada profissão e ser bom nela são coisas bem diferentes. Espero que depois desse capítulo você saiba identificar isso também.
A ideia é que, tal qual em relação à alimentação, deixe de ser
um processo místico e você entenda melhor o que está acontecendo e consiga nortear seus objetivos, bem como os consequentes caminhos para chegar lá.
Treino &
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Treino & Hipertrofia
1) Exercício aeróbico e emagrecimento
Antes de tudo, bacana deixar claro que o exercício aeróbico é
benéfico para a saúde. Melhora sua sensibilidade à insulina, seu sistema cardiovascular, entre outros benefícios. Com isso em mente, é válido cogitar integrá-lo à sua rotina só por essa razão. O que abordaremos aqui é a relação dele com o shape.
“Ok, sei que aeróbico é saudável, mas preciso dele para emagrecer?”
Não, mas talvez.
Se você leu o Manual do Shape até aqui, você já sabe bem o
que é a única coisa imprescindível para o emagrecimento: o déficit energético. Desta forma, o cárdio pode ser uma ferramenta
fundamental para facilitar a administração desse déficit na sua semana, tal qual pode ser inútil. Calma que eu explico.
Vamos pensar em dois cenários extremos. Começarei por mim.
Quem me acompanha nas redes sociais, sabe que eu não gosto
de fazer cárdio. Já dei inclusive dicas de cárdio para quem não gosta de fazer cárdio. Mesmo assim, eu quase não faço. Toda vez que tento ir para a esteira eu me sinto um hamster. E também tenho a impressão que lá o espaço-tempo é relativizado. É sempre muito estranho ter a sensação que estou caminhando há uma eternidade e quando olho para o relógio se passaram 37 segundos. Mas enfim, esse sou eu.
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Como sabem, eu faço jejum há 8 anos. Minha fome/ansiedade
é completamente controlada. Eu faço o desjejum quando quero e normalmente é mais para o fim do dia. Desta forma, eu tenho mais de 3.000 kcal para comer em algumas horas (eu amo minha vida). Quando quero perder um pouco de gordura, esse valor cai para 2.500 kcal (considerando o déficit energético). Continua sendo comida pra caramba para comer em pouco tempo. Ainda consigo encaixar minhas eventuais fatias de pizza numa boa. Desta forma, nunca precisei de cárdio para emagrecer. As calorias a mais que eu poderia queimar não me fazem a menor falta. E como eu não gosto de fazer, o único motivo que me conquistaria seria o da saúde, mas infelizmente não tem sido suficiente. Isso é uma escolha pessoal. Sou consciente dos ônus e bônus.
Agora imagine um cenário quase diametralmente oposto. Uma
mulher que quer perder peso e tem o gasto energético baixo. Vamos chamá-la de Fulana. Suponhamos que ela gaste 1.500 calorias por dia. Pensando em adesão, na maior parte das vezes trabalhase com um déficit de 400-500 kcal por dia, já que isso implica em aproximadamente meio quilo de gordura a menos por semana e isso é um ritmo razoável e aceitável para a maioria das pessoas. Se aplicarmos esse déficit, as calorias diárias de Fulana passam a ser 1.000. É pouca comida. Provavelmente, o dia a dia não vai ser dos mais agradáveis. Desta forma, ter mais 300-400 kcal para comer farão uma diferença enorme. É de 30 a 40% mais comida. Nesse caso, o aeróbico pode ser uma ferramenta poderosa. Em especial se for realizada uma atividade prazerosa, o que facilitará ainda mais a adesão.
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Agora pense na infinidade de opções entre esses dois
extremos. Como sempre, a utilidade é contexto-dependente. Aeróbico é uma forma de exercício. Exercício gasta calorias. Precisamos estar em déficit de calorias para emagrecer. Logo, com aeróbico você tem a opção de emagrecer comendo mais comida.
“Ok, mas qual aeróbico queima mais gordura?”
Nenhum, se você equiparar por gasto energético.
E já adiantando, cárdio em jejum também não emagrece mais
que cárdio depois de alimentado.
Para elaborar melhor o porquê, é interessante entender o
conceito time-efficient.
Time-efficient
Ideia que sugere o maior retorno por moeda de tempo gasta.
Por exemplo, correr do local A ao local B é mais time-efficient que ir andando. Você poupa tempo. Só gasta mais calorias se pensarmos no gasto por minuto, não no total. Ao ir andando, você gasta uma quantidade de calorias similar, só que demora mais tempo. Ao dividir o total de calorias gastas pelo tempo demorado, irá notar que correr foi superior apenas se analisar pelo ângulo “economia de tempo”. O total de calorias, no entanto, foi similar, e sua consequência para o processo de emagrecimento será parecida.
É válido apontar que a intensidade do exercício praticado
irá ditar as adaptações a serem sofridas, como, por exemplo,
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maior condicionamento cardiovascular ou maior sensibilidade à insulina. Nesse sentido, correr também será superior à caminhada. Dependendo do indivíduo, pode ser que faça sentido dar preferência a um no lugar do outro pensando nessas variáveis. Porém, pense que um indivíduo que almeja emagrecimento de médio-longo prazo tem a opção de caminhar todos os dias ou tentar engrenar numa rotina de corridas e desistir depois de uma semana. Pensando em adesão, não há por que titubear: caminhar será preferível. Quem sabe, depois, feliz com seus resultados, não nasce um ânimo para aumentar a intensidade? Respeite seu ritmo.
E tenha em mente que se gastar a mesma quantidade de
calorias, vai contribuir da mesma forma. A diferença é o quanto de tempo você irá levar para realização da atividade.
“Precisa ser em aparelho na academia?”
Não. Se o que você ama é surfar, faça isso. Dançar? Tudo
bem. Qualquer coisa que te faça se mexer irá funcionar. E se você ama e irá repetir e repetir todos os dias, melhor ainda. Adesão, mais uma vez, é fundamental. É inclusive o único aeróbico que eu faço às vezes: futebol.
“E a tal ‘zona de queima de gordura’?”
Quando pensamos em bioenergética, há diversas formas
do seu corpo gerar energia. Dependendo da atividade que você faça, e em especial da intensidade, haverá prevalência de uma via metabólica sobre a outra. Por exemplo: como contei pra vocês
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no capítulo “Bioquímica do emagrecimento”, carboidratos geram energia mais rápido que gordura. Por isso, quando uma atividade é mais intensa, há maior predominância da via glicolítica (a dos carboidratos como substrato principal) do que da oxidativa (gorduras como substrato principal).
Quando você está caminhando, por exemplo, não há
“urgência” no fornecimento de energia. Ele se dá na forma “devagar e sempre”. Nesse caso, haverá predomínio do uso de gorduras como fonte de energia daquela atividade.
No entanto, ao fim do dia, não faz a menor diferença qual
via predominou durante o seu exercício. Mais uma vez, o que prevalecerá é o déficit energético.
Desta forma, se você faz uma atividade glicolítica e gasta
400 calorias, e outro dia faz uma atividade oxidativa e gasta 200 calorias, o dia que você usou mais carboidratos como substrato principal terá maior potencial de emagrecimento do que o dia que você usou predominantemente gorduras. Se você equiparar as calorias, dá no mesmo.
“E a interferência na hipertrofia?”
Não é possível dizer que isso é um mito, uma vez que essa
interferência é de fato fisiologicamente possível. A nível celular, a “cascata” de sinalização hipertrófica pode de fato sofrer interferência pelo exercício aeróbico. Por isso, se você encontrar alguém alegando algo do tipo, saiba que há certa fundamentação.
Ao mesmo tempo, é possível fazer um argumento a favor do
exercício aeróbico também. Com um condicionamento cardiovascular
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melhorado, você acaba precisando de menor descanso menos entre as séries (dependendo da metodologia de exercício). Quando você precisa descansar menos, você pode acabar realizando maior volume de treino por sessão, que dentro de parâmetros que conversaremos a seguir, é associado com maior hipertrofia.
No entanto, é seguro dizer que, na maioria dos casos, essa
preocupação é um exagero e, como sempre, é dose-dependente. Se fosse você, eu só me preocuparia caso seu hábito de exercício aeróbico seja excessivo, muito intenso ou muito frequente. Nesse caso, pode atrapalhar sim. Inclusive, seria inteligente e prudente você separar as sessões. Por exemplo, se treina ao fim do dia, faça seu cárdio pela manhã. Ou vice-versa. Se for algo leve, como uma caminhada, eu não me preocuparia, mesmo que seja feito logo após o treino de musculação.
2) Dinâmica da definição abdominal
A ideia deste capítulo não é te dar a tal fórmula mágica do
tanquinho que você tanto vê irresponsavelmente marketada por aí, mas sim que você entenda a dinâmica intrínseca a ele.
Quando estamos falando de definição abdominal, uma
analogia que costumo usar e se mostra bastante eficiente para finalidade ilustrativa é a dos travesseiros na cama. Imagine que você está arrumando uma cama de casal, mas em vez de dois travesseiros emparelhados, há seis. Divididos em três fileiras de dois em dois, tal qual gomos em um abdômen. Agora imagine que você cobriu todos com um lençol. E mais um. E mais um. E mais
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vários até que não é possível dizer que há travesseiros ali embaixo, por mais que você saiba que eles ainda contribuem para a altura daquele volume que se vê. Essa é a dinâmica quando você está mais gordinho.
Todos temos os travesseiros, nem todos os vemos. Quando
você começa a remover lençol por lençol, em algum momento eles vão começar a aparecer. Tímidos, a princípio, claro, mas cada vez mais evidentes.
Com isso em mente, concorda que quanto mais grossos
forem esses travesseiros, menos lençóis você precisará remover para conseguir visualizá-los? Se forem fininhos, você precisará se livrar de quase todos os lençóis. Se forem mais grossos, conseguirá enxergá-los mesmo com alguns por cima.
É isso que acontece quando falamos de hipertrofia abdominal.
Há muita gente confusa e perdida, pensando eternamente que a resposta é sempre emagrecer. Nesse caso, sempre remover lençóis. Muitas vezes, a quantidade de lençóis está adequada e você se beneficiaria muito mais de travesseiros mais grossos – leia-se: um abdômen mais hipertrofiado.
Uma ressalva importante aqui é com relação à hipertrofia dos
oblíquos abdominais. Gosto é gosto, é claro, mas a maioria das pessoas que conheço não gosta da ideia de sua cintura aparentar ser mais grossa, e é isso que irá acontecer se você tiver o oblíquo muito hipertrofiado. Comumente é uma zona de maior acúmulo de gordura e, com um maior volume muscular por baixo, você só irá aumentar essa impressão de cintura maior. Quando o indivíduo está
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bastante seco, pode até gostar do corte (definição) a mais que terá na lateral, logo acima do glúteo, mas é bem raro que atletas do dia a dia se mantenham com o percentual de gordura tão baixo. A vida na maioria das vezes não possibilita e para muitos simplesmente não é saudável. Irá causar repercussões fisiológicas indesejadas, além de potenciais repercussões psicológicas problemáticas.
Sem saber dessa dinâmica, não é raro vermos pessoas na
academia fazendo treinamento específico para o oblíquo. Mais uma vez: gosto é gosto, mas eu evitaria. Há motivos estéticos e funcionais para hipertrofiarmos o abdômen, mas se a sua ideia for também construir um shape mais harmônico, eu minimizaria a possibilidade de maior volume muscular no oblíquo.
3) Percepção de esforço vs. hipertrofia
Percepção subjetiva de esforço, mais popularmente conhecida
como PSE, é um marcador da intensidade do exercício por meio de alterações do sistema cardiopulmonar e metabólico, principalmente na frequência cardíaca. Como o nome sugere, é baseada na percepção subjetiva do indivíduo acerca destes marcadores. Não incomum, confunde-se um treino eficiente para
hipertrofia com um treino cansativo (ou com alta percepção de esforço). Podemos dizer que invariavelmente um treino eficiente para finalidade hipertrófica terá um grau decente de dificuldade, exigindo esforço do indivíduo. No entanto, não é porque seu treino foi cansativo, que ele foi eficiente para hipertrofia. A diferença é sutil, mas relevante.
Um bobo porém eficiente exemplo seria “cachorro
normalmente tem quatro patas, mas nem tudo que tem quatro
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patas é cachorro”. Da mesma forma, um bom treino para hipertrofia normalmente tem uma percepção subjetiva de esforço significativa, mas nem todo treino com percepção subjetiva de esforço alta é bom para hipertrofia.
Eu hesito em generalizar a afirmativa só por conta da hipótese
dos iniciantes. Por serem altamente responsivos a basicamente qualquer estímulo, me parece plausível que possam ter hipertrofia relevante sem uma percepção de esforço alta.
Retomando: um excelente exemplo é o crossfit. Assista
uma aula dessa modalidade e a distinção será evidente. Via de regra, os treinos de crossfit têm uma PSE extremamente alta. Afinal, o esporte é focado em performance e é fundamental um aprimoramento do sistema cardiopulmonar e metabólico. E por mais que o crossfit possa e irá gerar alguma hipertrofia, é menos eficiente que a musculação, por exemplo. E PSE de um treino de crossfit – normalmente – será significativamente maior que a de um treino de musculação.
Como abordado na introdução à hipertrofia (a seguir), o
estresse metabólico (que anda lado a lado com alta PSE) tem seu lugar na busca dessa finalidade, mas é apenas um dos pilares. É preciso, então, verificar se seu treino atende às outras especificações para você otimizar seus ganhos de massa muscular. Sentir-se esbaforido e com o coração acelerado podem ter sua importância, mas estão longe de esgotar os requisitos de um treino eficiente para hipertrofia.
4) Hipertrofia muscular
Durante os anos, observei inúmeros casos de pessoas que
pensavam que residia na alimentação o porquê da não obtenção de resultados mais impressionantes. É extremamente comum. Pessoas
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trocando de nutricionista/dieta pela décima vez sem saber que a única coisa que falta ajustar é o treino.
Não existe essa questão de “é 70% alimentação”. Isso é coisa de
profissional da saúde puxando sardinha pro seu lado. Se o assunto é hipertrofia, você pode se alimentar da forma mais perfeita do mundo – se é que isso existe –, mas saiba que se não houver o estímulo adequado do treino, você não terá resultado algum. Da mesma forma, se não respeitar certos parâmetros na esfera dietética, também não terá resultados. Sendo assim, não se engane: são de igual importância – ao menos quando o assunto é construção de massa magra.
Na busca pela otimização da composição corporal, tentamos
alcançar uma boa proporção entre músculos e gordura. Como já abordado aqui no Manual, de certa forma, quanto mais músculos você tiver, mais gordura você “pode ter” e ainda assim ficar satisfeito com sua estética. Há mundos de diferença entre alguém que não faz musculação e tem 15% de gordura corporal e alguém com musculatura desenvolvida e os mesmos 15%.
A verdade é que 99% das pessoas se beneficiaria de mais massa
magra. Além das repercussões estéticas positivas, há diversos estudos demonstrando vantagens para a saúde em médio-longo prazo.
Por isso, abordarei da forma mais didática possível as variáveis
mais relevantes que orbitam o treino para que você possa ter a autonomia necessária para julgar por que não está tendo resultados. Ou, claro, também o porquê por trás dos resultados obtidos.
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5) Introdução à hipertrofia O que é hipertrofia?
A definição técnica de hipertrofia é o “desenvolvimento ou
crescimento excessivo de um órgão ou de parte dele devido a um aumento do tamanho de suas células constituintes”. Na prática, é sua musculatura se desenvolvendo.
Como alcançamos hipertrofia muscular?
Primeiramente, uma ressalva: neste livro, eu estabeleci como
meta ser “suficientemente técnico” e nada além disso. Isto é: me aprofundo com detalhes e tecnicalidades apenas onde julguei útil. Entender ajuda a fixar o saber, e o conhecimento leva à autonomia. E autonomia é poder. Então peço que confie em mim que o breve detalhismo técnico é importante para você entender depois as variáveis envolvidas e as suas respectivas consequências.
6) Hipertrofia
Não é um fenômeno 100% compreendido, mas aparentemente
há três mecanismos principais que desencadeiam as respostas hipertróficas na musculatura. São eles: tensão mecânica, dano muscular e estresse metabólico.
A tensão mecânica está relacionada à sobrecarga mecânica
a qual o músculo está sujeito durante o exercício. Esse peso gerará respostas adaptativas a nível celular a partir da alteração conformacional das fibras musculares durante o movimento. 127
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O dano muscular, por sua vez, como o próprio nome sugere,
está relacionado ao distúrbio da integridade do tecido muscular a partir de microtraumas nas estruturas celulares. Sabe a dor(zinha?) que você costuma sentir 24-48h após o treino? Ela vem daqui.
Já o estresse metabólico se caracteriza pelo acúmulo de
metabólitos no meio celular. Não que seja relevante você decorar quais, mas para ilustrar, são eles: lactato, íons hidrogênio, fosfato inorgânico. Esse acúmulo leva à acidificação do meio e eleva o potencial de respostas hormonais agudas que irão causar adaptações que ocasionarão hipertrofia muscular. Ou seja, também tem sua importância.
Agora você já sabe o suficiente para entender o motivo pelo
qual a maioria das séries de musculação que você fez na vida tinha como sugestão algo em torno de 6 a 12 repetições. Nessa gama de repetições, há uma boa combinação de todos esses elementos.
Entretanto, vale apontar que é cristalino na literatura científica
que você consegue hipertrofia com uma variedade bem grande de repetições, desde séries com 3 repetições até séries de 25 a 30. No entanto, faz sentido que a maior parte dos seus exercícios fiquem nessa faixa de 6 a 12 repetições, pois você terá uma boa soma de tensão mecânica e estresse metabólico.
Quando chegamos mais próximo dos extremos nesse espectro
de 3 a 30 repetições, iremos gerar adaptações distintas.
Treinos de poucas repetições são mais eficientes para
força. Se a sua ideia é ficar mais forte, você irá precisar fazer
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força. Por exemplo: você nunca vai encontrar um powerlifter que quer aumentar a sua 1 repetição máxima no levantamento terra priorizando o treino de séries de 25 a 30 repetições. Nesse caso, o foco será em fazer poucas repetições em movimentos específicos.
Da mesma forma, você nunca irá encontrar alguém focado
em desenvolver endurance (resistência) priorizando treinos de 1 repetição máxima. Nesse caso, o foco será muitas repetições.
A hipertrofia acontecerá como consequência da capacidade
daquele músculo de realizar mais força ou resistir de forma mais eficiente à fadiga.
A razão pela qual, ao menos em curto prazo, você consegue
respostas hipertróficas similares com 8 ou 25 repetições será esclarecida em breve.
7) Lição fundamental: seu músculo só cresce se houver necessidade (estímulo)
Provavelmente, você já ouviu dizer que quando somos
iniciantes podemos fazer basicamente qualquer treino e obteremos resultados. Isso se dá pois é um estímulo completamente novo e, invariavelmente, irá gerar adaptações. De forma alguma isso implica em dizer que não há metodologias superiores e inferiores para você obter mais ou menos resultados, mas quando um sedentário começa a fazer musculação, basicamente qualquer abordagem irá produzir ganhos notáveis.
Aliás, em certo nível acontece algo parecido com esteroides
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também. Há muita gente tendo resultados com treinos ruins por conta do ambiente extremamente mais anabólico e anticatabólico proporcionado por essas substâncias. Não incomum, essas pessoas querem te falar como treinar pautado em seus ganhos, que não são atribuíveis à metodologia de treino, mas sim às drogas. Mais uma vez, a ressalva de sempre: cuidado com suas referências.
Retomando: no entanto, depois de um tempo, essa fase,
comumente classificada como “newbie gains” ou “ganhos do novato”, cessa. E aí, como continuar conquistando resultados? Essa é uma resposta muito simples com desdobramentos bem complexos, mas resumindo: oferecendo progressão de estímulo.
A hipertrofia nada mais é que a consequência de uma
adaptação a um estímulo. Ou seja: seu músculo se adapta para que, na próxima vez que esteja submetido àquele trabalho, consiga realizá-lo de maneira mais eficiente.
Isso, aliás, é uma característica do nosso corpo de forma
geral. No nosso cérebro, para ilustrar, é igualzinho. É uma das premissas por trás da consolidação de hábitos em uma perspectiva cognitiva. São construídos “caminhos neurológicos”, de forma que aquela atividade frequentemente reiterada requeira menos energia para ser executada. Por isso, aquilo que um dia exigiu de você forte concentração ou força de vontade depois de um tempo tornou-se de fácil execução. Com seus músculos, acontece algo parecido.
Assim, o indivíduo que um dia achava difícil agachar com 50
quilos, agora sente o mesmo “grau de dificuldade” agachando com 100. Isso se deu porque ele se adaptou. Hoje, aquele treino com
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50 quilos para 8 repetições que lá atrás era muito difícil é feito com enorme facilidade.
A implicação disso tudo é que, se não houver progressão de
estímulo, não haverá progressão de adaptação e, por consequência, não haverá hipertrofia.
Não é raro vermos pessoas fazendo basicamente o mesmo
treino há meses e meses e, óbvio, sem obter resultados. A essa altura, acho que você consegue matar a charada do motivo por trás disso: parou de acontecer progressão de estímulo. De forma sucinta: a não ser que você submeta progressivamente
sua musculatura a estímulos, seus “ganhos” se encerrarão. Isso é incontornável. Não há motivo para seu músculo se desenvolver para realizar o mesmo trabalho que ele já consegue realizar.
8) O que exatamente significa “progressão de estímulo”?
A definição técnica é: “o aumento gradual de estresse ao qual
você sujeita o corpo durante o treino”.
Na prática, pode se dar de diversas formas, entre as quais:
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-
Aumentar o peso
-
Aumentar o número de repetições
-
Aumentar o número de séries
-
Diminuir o descanso entre séries
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Relacionando com os assuntos que abordamos há pouco
nos pilares da hipertrofia, isso se daria de forma que no primeiro exemplo dos listados ocorreu aumento da tensão mecânica (carga/ peso) e no último exemplo um aumento na capacidade do seu corpo lidar com o estresse metabólico, de forma que você precise de menos descanso para realizar o mesmo trabalho.
9) Volume de treino
É consenso entre boa parte dos especialistas como a variável
mais associada à hipertrofia (p.s. escrevi “boa parte” para não pecar pela generalização, mas pessoalmente eu nunca encontrei quem discorde).
Há certo debate sobre a melhor definição, mas a mais utilizada
é a do total de trabalho realizado: quantidade de quilos multiplicada pelo número de repetições multiplicada pelo número de séries.
Por exemplo, se seu treino de pernas consiste em uma sessão
por semana de 10 séries para 10 repetições com 100 quilos no agachamento, seu volume semanal de treino é 10.000.
Não se desespere. Você não precisa ficar fazendo conta. Isso é
apenas para você entender a teoria.
Na prática, basta você contabilizar o número de “hard sets” ou
“séries duras” e encarar o seu volume semanal de treino como esse total de séries (com intensidade suficiente) realizadas.
E podemos fazer isso porque a literatura nos mostra que a
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resposta hipertrófica é muito similar, com séries de 5-6 repetições ou 25-30 repetições, desde que equiparadas por intensidade relativa.
“Falou grego, Alê”. Calma que eu explico.
Equiparar por intensidade relativa significa que foram, na
medida do possível, iguais no quesito “proximidade à falha”, uma vez que falhar seria a intensidade máxima.
Ou seja: se você utilizar a carga certa para 6 repetições e for
até seu limite, ou uma carga inferior para 25 repetições e também for até seu limite, a resposta hipertrófica será similar.
O porquê disso pode parecer confuso, mas na verdade é bem
simples. Quando você está treinando para um número inferior de repetições (4 a 6, por exemplo), desde a sua primeira repetição você já tem um recrutamento de fibras muito grande, uma vez que a intensidade “bruta” (quantos % da carga que você usaria para 1 repetição máxima) é bem alta.
Quando você faz uma série para 25 repetições, o recrutamento
de fibras nas repetições iniciais é bem inferior, no entanto, conforme você vai realizando mais repetições, você começa a recrutar mais fibras, a partir do momento que as que estavam sendo utilizadas ficam fatigadas e “repassam” o trabalho para as demais.
Se você falhou, por exemplo, seja para 6 ou 25 repetições,
você teve recrutamento de fibras próximo do máximo, basicamente. E a resposta hipertrófica de ambos cenários, ao menos a curto prazo, será similar. “Então dá no mesmo?” Sim e não. Em breve ficará mais claro.
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10) Tipos de fibras musculares
Possuímos fibras de contração rápida, fibras de contração lenta
e outras “meio termo” entre elas. Um dos motivos da importância da periodização de treino é você explorar o potencial de crescimento de todas. E é justamente a intensidade do exercício que vai determinar o tipo de recrutamento.
Por exemplo, um corredor de 100 metros terá prevalência no
recrutamento das suas fibras de contração rápida. Um maratonista, por sua vez, terá prevalência das de contração lenta.
Quando você treina próximo à falha, no entanto, você acaba
fazendo uso de quase todas. O problema é que, ao que parece, a intensidade absoluta (percentual da sua 1 repetição máxima) nos treinos de muita repetição pode não ser suficiente para desencadear a hipertrofia máxima das fibras de contração rápida, que estão adaptadas a cargas muito maiores. Ao passo que, nos treinos de poucas repetições, parece que as fibras de contração lenta não ficam sob tensão tempo o suficiente para desencadear o seu maior potencial de hipertrofia, uma vez que estão acostumadas a resistir a estresse metabólico maior.
No entanto, ao menos a curto prazo, se você equiparar por
intensidade relativa (proximidade à falha), você tem respostas hipertróficas similares. É isso que vemos nos estudos que, normalmente, duram de 4 a 8 semanas. Indivíduos realizando as séries com 30% da carga que conseguiriam para 1 repetição (30% 1RM) e indo próximo à falha tiveram hipertrofia similar a
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indivíduos realizando as séries com 80% da carga que conseguiriam 1 repetição (80% 1RM).
Em longo prazo, no entanto, eu suspeitaria que a coisa
muda de figura. Alguns motivos: primeiramente porque o grupo trabalhando com cargas mais próximas da sua repetição máxima tende a ficar mais forte e, por consequência, produzirá maior tensão mecânica, que pode acarretar maior hipertrofia. Em segundo lugar, porque as fibras de contração rápida possuem maior potencial de crescimento que as de contração lenta ou intermediárias. Pensando nisso, faz sentido que tenham alguma prioridade no seu treino.
Tenha em mente que há variabilidade na distribuição de fibras,
tanto entre indivíduos quanto entre grupamentos musculares, mas esses são bons parâmetros a se considerar quando pensamos na média.
11) Falhar ou não falhar: eis a questão
Imagino que você já ouviu que “precisa ir até a falha”. Não é
raro vermos isso propagado por aí, mas a verdade é que na maioria dos casos é desnecessário e, dependendo, até contraprodutivo.
Quando paramos para analisar o potencial para gerar
hipertrofia de uma série que foi até a falha em comparação com uma série que não foi, de fato a série que foi levada até a falha mostra-se superior.
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“Ué, então ir até a falha é melhor, né?”
Não necessariamente. Basta você visualizar que essa série não
pode ser encarada de forma isolada e fica fácil de entender. Assim como tudo na vida, temos o lado bom e o lado ruim. O
lado bom do treino é o estímulo que ele irá gerar. O “ruim” é a fadiga. Todo treino que você faz lida com essa dinâmica “estímulo/fadiga”.
O que a literatura nos mostra é que séries levadas próximo
à falha (pararam de 1 a 3 repetições antes) possuem potencial hipertrófico muito similar às que foram de fato até a falha, porém acumulando consideravelmente menos fadiga.
Quando você falha, a não ser que você descanse uma
enormidade de tempo, você compromete a série subsequente, fazendo com que você levante menos carga, faça menos repetições ou até menos séries.
Conforme já conversamos, volume de treino parece ser a
variável mais associada com hipertrofia. Se você falha o tempo todo, você compromete o volume de treino. Ao comprometer volume de treino, você compromete hipertrofia.
Essa premissa, claro, é exercício-dependente, uma vez
que não podemos comparar a fadiga gerada por uma sessão de agachamento ou levantamento terra até a falha com um exercício para deltoides laterais ou bíceps até a falha. Via de regra, exercícios isolados fogem a essa regra por serem muito menos impactantes no seu organismo. 136
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Outra variável relevante é o seu tempo de treinamento. Até
por uma questão de autoconhecimento gerada pelos anos e anos no salão de musculação, falhar ou não falhar é uma escolha muito mais fácil de ser feita de forma assertiva para pessoas avançadas no treino. Para iniciantes e intermediários, no entanto, especialmente considerando o maior potencial lesivo do treino até a falha, é mais prudente que falhar seja a exceção e nunca a regra.
Outro motivo é que quando você é avançado, você já
conquistou a maior parte dos seus resultados hipertróficos. Nesse cenário, aumentar a intensidade pode ser inteligente se a ideia é continuar progredindo. Se está satisfeito com seus ganhos, não há porquê. Você só vai aumentar sua chance de lesão.
“Na prática, como isso se daria?”
Exemplo: imaginemos que você vai agachar com uma carga
que você mal aguenta 10 repetições, de forma que a décima é suada e sofrida e você mal sobe. Ao que tudo indica, é prudente e inteligente você parar na nona repetição. A repercussão hipertrófica será maior no fim da sessão, uma vez que, dessa forma, você conseguirá produzir maior volume de treino em todas as séries.
Idealmente, você treina com volume e intensidade
suficientes que não comprometam a sua recuperação para você conseguir progredir nas próximas sessões de treino.
12) INTENSIDADE: parem de dar migué (fazer corpo mole) Confissão: sempre tive certo receio de trazer essas informações sobre falha por medo de as pessoas usarem isso para dar migué no treino. 137
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Então permita-me fazer esse alerta: se o seu treino não for
suficientemente intenso, ele não irá produzir resultados. Não confunda “não ser necessário o máximo de intensidade (falha)” com “treinar de qualquer jeito”.
Como já abordado, há duas noções de intensidade: absoluta
e relativa. Absoluta é o quão próxima aquela carga é do máximo que você conseguiria levantar para 1 repetição máxima (% 1RM). Relativa é o quão próximo você chegou da falha.
Ou seja, quando digo “suficientemente intenso”, refiro-me à
intensidade relativa, uma vez que a literatura científica nos mostra que você consegue hipertrofia com cargas mais leves e mais pesadas – desde que levadas suficientemente próximo à falha (leiase: sem dar migué).
O potencial problema reside no fato de que a literatura
científica também nos mostra que iniciantes e intermediários não são muito assertivos em mensurar essa intensidade relativa. Há um estudo que pediu para participantes fazerem uso da carga que, segundo eles, aguentariam 10 repetições. Em um ambiente controlado, o que se descobriu foi que os indivíduos aguentavam de 15 a 19 repetições com aquela carga que eles sugeriram que seria para 10.
Isso é um problemão. Não menospreze esses dados.
Se seu treino funcionar assim, pode ter certeza que, depois
dos “ganhos do novato”, você não terá muito mais resultados.
A boa notícia é que há estudo demonstrando que pessoas mais
avançadas em seu treinamento são bem eficientes em mensurar
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essa proximidade à falha, sugerindo uma curva de aprendizado, como é de se esperar. Portanto, dedique-se a investigar isso. Seus resultados
lhe agradecerão.
Se a série é de 10 a 12 repetições, que isso seja respeitado.
Se você parou na décima, mas, no fim das contas, você aguentava 15, está boicotando seus ganhos. Dica: em vez de contar de 1 em diante, experimente ir de trás pra frente com um número aleatório e no fim veja quantas repetições você fez.
Por exemplo: em tese, aquela carga era para 10-12
repetições. Conte de trás para frente a partir do 27. Se o seu limite foi na repetição 12, por exemplo, você fez 16 repetições. A partir dessa informação, você pode ajustar a carga e ter um treino mais eficiente.
Sugiro isso pois me parece evidente o autoboicote psicológico
realizado por muitos. Se de antemão você estipulou que ia fazer 10 repetições, quando chega na oitava você já presume proximidade do fim e, às vezes, você aguentaria substancialmente mais.
Quando você conta de trás para frente de um número muito
mais alto que o total de repetições que você pretende fazer e de fato para quando não aguenta mais, você descobre o quanto aguenta com aquela carga.
Lembre-se: na maior parte das vezes, você não precisa ir até
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a falha. Os estudos nos mostram que é mais benéfico você parar um pouco antes (1-3 repetições). Ou seja: o treino submáximo seria superior ao treino máximo. Mas entenda: se você presume o seu máximo de forma errada, o seu submáximo vai ser em cima do seu submáximo. E esse treino estará muito longe de um treino ideal, se a sua pretensão é hipertrofia.
Dito isso, saiba também que falhar pode não só comprometer
o volume daquele treino como dos subsequentes, uma vez que você demora mais tempo para se recuperar. Há estudos mostrando uma necessidade de 50 a 100% maior de descanso para os indivíduos que treinaram até a falha, mas isso pode ser bem individual. Esses dados nos dão um direcionamento muito bom, mas, no fim do dia, se conhecer ou confiar no trabalho do (bom) profissional que te conhece é mais importante, dada a potencial variabilidade entre indivíduos. Mulheres tendem a tolerar um volume de treino maior que os homens, por exemplo.
Outra lição que esses dados nos proporcionam é que se a sua
frequência na academia for pouca – você treina cada grupamento uma vez por semana, por exemplo –, pode ser benéfico ir até a falha mais vezes, visto que haverá um intervalo grande até você treinar de novo. Como sempre: por mais que existam parâmetros para nos balizarmos, há sempre necessidade de se estudar o caso a caso.
13) Frequência de treino
A melhor forma de você encarar sua frequência de treino
é como uma ferramenta para administração e distribuição do volume e intensidade, uma vez que sua relevância é consideravelmente menor que esses outros dois fatores. 140
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Pensando em resultados, estudo sobre o assunto mostram
alguma vantagem para frequências um pouco maiores, como treinar o grupamento muscular de 1.5 a 3 vezes por semana (caso a ideia de “1.5” pareça confusa, pense no indivíduo que ao longo de 2 semanas treina aquele grupamento muscular 3 vezes. 3 treinos divididos por 2 semanas = 1.5 vezes por semana). Ou seja: suponhamos que você irá trabalhar com o volume de 14 séries por semana para determinado músculo. Considerando que sua meta é hipertrofia, é mais vantajoso dividir esse volume em duas sessões semanais com 7 séries do que fazer tudo de uma vez em um dia e só treinar de novo na semana seguinte.
Como sempre, há de se averiguar individualidade aqui, mas,
normalmente, se a sua sessão de treino é muito longa e extenuante, há de se esperar que a qualidade dos movimentos do meio para o fim do treino seja inferior do que a primeira metade, por exemplo. Por essa razão, treinos que individualmente são excessivamente volumosos podem não ser o melhor caminho, se houver a possibilidade de distribuir melhor esse volume em outras sessões. Necessariamente irão requerer maior tempo de descanso, também.
Outro fator importante de se ter em mente é o quão avançado
você é. Normalmente, quanto mais tempo de treino você tem, menor é a “janela de oportunidade anabólica” nos dias subsequentes àquele treino. Neste caso, pessoas mais experientes no salão de musculação podem se beneficiar de treinar os grupamentos musculares com maior frequência (pelo menos 1.5 vezes por semana).
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Frequência e adesão
Assim como na alimentação, adesão aqui é extremamente
importante. De nada adianta um protocolo para “otimizar” os ganhos a partir de uma frequência superior se isso acarretará eventuais faltas. Dessa forma, você estará eliminando uma parte considerável do seu volume de treino semanal.
Por exemplo: seguindo o caso supracitado, imagine que
em vez de fazer as 14 séries em um mesmo treino, você optou por duas sessões semanais com 7 séries em cada. Pensando em otimizar hipertrofia, é um caminho teoricamente superior. Porém, se você não tem a adesão necessária e em algum momento falta, o seu volume semanal passa a ser 7 séries. Essa quantidade provavelmente será suficiente para você manter sua massa magra, mas não otimizará de forma alguma seu progresso.
Não que faltar às vezes seja um problema. Claro que não
é. Muitas vezes precisamos resolver algo de maior prioridade em nossas vidas. Aqui, refiro-me às clássicas faltas por preguiça. Faltar de vez em quando não tem problema algum, contudo, se consistentemente, semana após semana, você falta um dia ou outro por preguiça, você estará eliminando boa parte do seu volume de treino, que, a essa altura, você sabe que é a variável mais relacionada com hipertrofia.
Fundamental: estabeleça uma frequência de treino que te
agrade e irá promover adesão. Você consegue progredir e ter resultados com muitas abordagens diferentes, até indo apenas 3 vezes por semana, se quiser. É o melhor cenário? Não. Mas qualquer 142
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cenário que te faça ir sempre e possibilite seu progresso é melhor que um cenário que te faça ir somente às vezes.
14) Intervalo
O intervalo dedicado à recuperação entre as séries pode ser
curto (30 segundos ou menos), moderado (60-90 s) ou longo (3 min ou mais). Intervalos curtos causam maior estresse metabólico, porém inviabilizam a recuperação completa entre uma série e outra para manutenção dos níveis de força, o que acaba diminuindo a tensão mecânica e o potencial de dano muscular.
“Então intervalos um pouco maiores podem ser melhores para
hipertrofia?”
Aparentemente, sim.
Há uma meta-análise de Schoenfeld que descobriu 3 minutos
de intervalo como superior para hipertrofia em comparação com um minuto. Não é difícil especular o porquê disso. Em 1 minuto, você descansa menos do que em 3 minutos, obviamente. O que acontece se você está mais descansado quando vai fazer a próxima série?
Você faz para mais repetições, mais carga ou os dois
juntos. Inclusive, talvez, com melhor execução. A consequência será a administração de um maior volume de treino e talvez um volume com maior qualidade. Isso pode acarretar mais hipertrofia.
Essa descoberta é interessante, mas há alguns problemas:
primeiramente, não se sabe o impacto de dois minutos de descanso,
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por exemplo. Não foi investigado. Talvez 120 segundos fossem suficientes e 3 minutos configurem descanso até demais. Outro problema é que, especialmente dependendo do treino, alguns indivíduos simplesmente não poderão se dar ao luxo de descansar 3 minutos por série. Para outros, essa abordagem pode fazer com que a pessoa fique tempo demais na academia e isso, com o tempo, poderia comprometer adesão, ao tornar a série chata e pouco dinâmica.
Lembra dos 3 pilares da hipertrofia (estresse metabólico, dano
muscular e tensão mecânica)? Intervalos curtos promovem maior estresse metabólico. Intervalos mais longos promovem maior tensão mecânica e, potencialmente, maior dano muscular. Por mais que ambos sejam relevantes, tensão muscular é mais importante que estresse metabólico quando o assunto é hipertrofia. Idealmente, você descansa o suficiente para
comprometer o menos possível o seu desempenho nas séries subsequentes e de forma que você não fique tempo demais na academia. Provavelmente algo em torno de 1 a 3 minutos, sendo mais descanso necessário nas séries que você moveu mais peso para menos repetições.
DICA - Boa execução
Torne-se um obcecado por boa execução. Filme a si mesmo
fazendo os movimentos. Veja e reveja. Pesquise. Pergunte a um profissional qualificado. Não descanse até que você pare de simplesmente mexer os pesos e comece a dar um show de movimento. Tenha como meta que um profissional de educação 144
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física possa usar o seu vídeo para ensinar alguém aquele exercício. Além de otimizar seus resultados e tornar a mensuração do seu progresso muito mais fidedigna, é importante para sua saúde e longevidade no treino. Boa execução é fundamental, em especial para você recrutar de forma mais eficiente a musculatura alvo e evitar lesões.
DICA - Pare de mover o peso. Comece a treinar
Trabalhe a “mind muscle connection” (conexão mente-
músculo). Ouvi essa sugestão do Schwarzenegger em um vídeo aleatório a que assisti há uns 12 anos e foi uma das melhores dicas que eu poderia ouvir enquanto novato na musculação. Carga é importante. Dentro de parâmetros, é fundamental
até, eu diria. Mas a sua meta não pode ser mover de qualquer jeito o máximo de peso que você aguenta do ponto A ao ponto B, mas sim otimizar o engajamento da musculatura alvo da melhor forma possível naquele intervalo de espaço.
Faça esse experimento agora mesmo: deixe um dos seus
braços paralelo ao corpo segurando o celular ou qualquer objeto minimamente pesado. Agora faça o movimento que normalmente você faria para treinar bíceps unilateral. Reconheça essa sensação. Beleza, agora faz o tal do “muque”. Sabe o ato de contrair o braço quando você faz o muque? Então, agora repita o experimento do braço paralelo ao corpo segurando o celular e fazendo o movimento do treino de bíceps, só que dessa vez contraia o bíceps durante todo o movimento, em especial no topo da execução (como você fez no
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muque). Tente reparar na enorme diferença que foi você contrair o bíceps durante o movimento. Não sei se deu para entender perfeitamente, é o tipo de coisa que é mais fácil explicar por vídeo, mas se você fez certo provavelmente sentiu o seu bíceps de uma forma bem diferente do que quando você fez sem contraí-lo.
É isso que você deve buscar em cada execução. Sentir a
musculatura alvo contraindo. Explorar o movimento. Sentir a parte excêntrica (negativa). Isso sim é treinar o músculo. Do contrário, você está apenas movendo o peso.
Não se surpreenda se isso for difícil de início. É comum que
seja, em especial os músculos da cadeia posterior (atrás do seu corpo). A visualização costuma ajudar, por isso dei o exemplo do bíceps.
Já ouviu “não treine seu ego, treine seus músculos”? Pode
parecer um conselho simplista, mas é de enorme valia. “Treinar o ego”, nesse caso, refere-se a colocar mais peso que você aguenta em detrimento da boa execução só para impressionar aqueles à sua volta. Não faça isso. É um tiro no pé. Dependendo do caso, uma roubadinha aqui e ali para completar uma repetição que você não conseguiria é normal. Acontece. Fazer o movimento todo cagado desde a primeira repetição é coisa de idiota. Não tem desculpa.
Quando você aprimora a sua execução e é mais consciente
durante o treino, é comum que você precise abaixar a carga para fazer as repetições que antes fazia com mais peso. Não se espante. Nesse caso, esse “passo pra trás” vai ser de grande valia para você dar diversos passos para frente. A carga em breve volta a subir. Não tenha pressa. 146
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Mais uma vez: seja um obcecado por boa execução. Não quero
te ver simplesmente movendo peso. Quero te ver dando show.
15) Volume de treino (parte 2)
Provavelmente depois de ler a primeira parte sobre volume
você ficou carente de especificações. Infelizmente, devo te contar que não existe um número mágico. Há bastante variabilidade, tanto entre indivíduos quanto entre músculos de um mesmo indivíduo. Uma mesma pessoa pode progredir com 10-12 séries de volume semanal de treino para peito e precisar de um volume de 20 séries para pernas, por exemplo. Não existe um número fixo. Ele pode – e provavelmente irá – mudar conforme seu tempo de treino passa.
No entanto, não se desespere. Como sempre, há parâmetros.
Há uma meta-análise (um “estudo de estudos”) relativamente
recente feita por James Krieger na qual ele identificou como ótimo uma média de 8 séries por grupamento muscular por sessão de treino para iniciantes e intermediários.
Para o volume semanal de treino, nenhum dos pesquisadores
que acompanho é capaz de cravar um número mágico de séries por semana, pois, como expliquei acima, esse número não existe. No entanto, a sugestão quase unânime é de 10 a 20 séries semanais. Há também um estudo interessante que apontou como ideal algo entre 5 a 10 séries por grupamento por treino, apoiando a análise de James Krieger, que sugeriu 8 séries.
Ou seja, aparentemente o melhor cenário para a maioria das
pessoas é trabalhar de 10 a 20 séries por semana por grupamento muscular divididos em 2 sessões de treino ou em até 3 sessões ao longo de 2 semanas.
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“E se eu só consigo aderir fazendo as 12 séries de peito (por
exemplo) de uma vez em um mesmo treino?”
Não é o cenário ideal, mas se é a organização que você
consegue, que assim seja. Volume continua sendo mais importante que frequência. Duas sessões na semana com 6 séries (para totalizar as 12 supracitadas) seriam superiores? Ao que tudo indica na literatura, sim. Mas de nada adianta ir atrás do cenário ideal se ele não for sustentável. Toda vez que você faltar um treino o seu volume semanal será de 6 séries e provavelmente você não terá progresso algum.
16) Escolha de exercícios
Evidentemente, nem todo volume de treino conta da mesma
forma. Não podemos equiparar exercícios isolados e compostos, uma vez que os multiarticulares são significativamente superiores para hipertrofia.
Com uma breve busca, você encontrará posicionamentos
divergentes. Há quem glamourize excessivamente exercícios isolados e há quem diga que não servem para nada. Como sempre, a meu ver, a razoabilidade encontra-se no meio termo: isolados não podem ser a maioria do seu treino, mas claro que têm seu lugar.
Certa vez, vi uma recomendação que me pareceu
extremamente pertinente. Pregava que de 50 a 60% do seu volume de treino fosse preenchido com exercícios compostos, de 15 a 25% máquinas e os outros 15 a 25% isolados. Por exemplo: se seu treino de pernas for de 16 séries semanais, isso poderia ser representado por 8 séries de agachamento, 4 de leg press, 2 de cadeira extensora e 2 de cadeira flexora. 148
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Obs: Máquinas podem permitir ir até a falha (ou próximo) com
mais segurança por conta de o movimento ser guiado.
17) “Confundir o músculo” – há necessidade? Já adianto: não. É um dos grandes mitos da musculação que
ainda sobrevive. Seu músculo não fica confuso, você que fica. Há literatura mostrando desvantagens em trocar de série o tempo todo. Em especial quando se trata de exercícios compostos, simplesmente há alguns que você só deve deixar de fazer se possuir alguma lesão ou impedimento biomecânico, pois são os melhores.
Quando você muda constantemente sua série, fica muito difícil
mensurar progressão. Além do mais, você pode periodizar em um mesmo exercício. Por exemplo: se você estava fazendo supino para 6 a 8 repetições e você passa a trabalhar séries de 15 a 20, isso é um estímulo diferente. Não faz o menor sentido trocar um exercício mais eficiente por um pior na vã expectativa de “confundir o músculo”.
Quando estamos falando de agachamento, levantamento
terra, supino, barra fixa, remada curvada e desenvolvimento de ombro, é preciso um motivo bem razoável para eles não fazerem parte da sua rotina na maior parte do tempo. São os que te darão maior “retorno por investimento”. Investimento, nesse caso, seria de tempo/intensidade, e o retorno, por sua vez, hipertrofia.
“Ah, mas eu sou mulher”. Não tem importância. Continuam
sendo excelentes. A única implicação é na distribuição de volume de treino distinto quando pensamos em inferiores/superiores. Obviamente, não vai ser a mesma dos homens, e eu incluiria elevação de quadril nessa lista.
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18) Descanso
Quando você ama musculação, em especial na fase iniciante/
intermediário, em que seu progresso é o mais rápido que você experimentará na vida, é tentador negligenciar dias de descanso. Afinal, quando pensamos em musculatura, quase sempre dá para organizar a semana de treino de forma que sempre exista algo que se possa treinar.
No entanto, é preciso ter em mente que seus músculos se
recuperam mais rápido que tendões e articulações. Acumulamos fadiga de forma local e sistêmica. Se seu treino é suficientemente intenso, ele causa impacto no seu SNC (sistema nervoso central), por exemplo. E eles precisam de uma folga de vez em quando.
Há tipos de lesões que são de natureza crônica. Não foi um
episódio agudo que algo deu errado e você se machucou. São danos pequenos causados no dia a dia com o treino intenso e descanso inadequado/insuficiente. Aí de repente, quando você menos espera, está lesionado.
É comum, ainda mais quando somos jovens, vivermos
a “síndrome do super-homem”. Não contemplamos a nossa fragilidade e pensamos que nada vai acontecer com a gente. Esse foi meu maior erro nos meus anos de musculação. Ao contrário da alimentação, que eu tive que errar bastante até finalmente acertar, eu sempre treinei muito bem. No entanto, justamente por gostar demais de malhar, eu por muitos anos negligenciei a importância do descanso. É meu único e maior arrependimento. Caso este livro te
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gere a empolgação que eu espero para evoluir muito nos treinos, tenha sempre isso em mente. Nada vai boicotar seu progresso mais que uma lesão. É muito melhor dar uma desacelerada por um breve período de tempos em tempos do que ter que frear 100% por meses.
19) Deload
Há um conceito na musculação que se refere justamente
a essa “desacelerada de tempos em tempos”, que é o deload. É sugerido de forma unânime por todos os pesquisadores que eu conheço para aqueles que treinam de forma minimamente intensa (o que eu torço que você passe a fazer, caso já não o faça). O que varia é a sugestão do quando. Uns sugerem a cada 4 semanas. Outros a cada 6-8. Outros sugerem que seja regulado pelo indivíduo, o que pode não ser o melhor cenário para um iniciante sem acompanhamento, por exemplo. O fato é que pode ser uma excelente estratégia pensando em longevidade na musculação.
Há diversas formas de fazer. Pessoalmente, a que mais
gosto é fazer de 40 a 50% menos séries aquela semana, cortando seu volume de treino pela metade e também fazer de 2 a 3 repetições a menos em cada série, reduzindo seu volume mais ainda e garantindo que você se distancie da falha que, como já conversamos, gera grande fadiga. Nos pesos eu não mexo.
Pessoalmente, eu me organizaria para que o deload coincidisse
com uma semana mais complicada na minha vida na qual o foco está em outras coisas. Uma semana de provas da faculdade, por exemplo.
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Treino & Hipertrofia
“E se eu quiser (ou tiver que) parar de treinar por uma
semana inteira?” Pode ser um pouco “excessivo”, mas está longe de ser o fim do mundo. Se quiser se dar uma semana de folga depois de semanas de treino intenso, vá em frente. Ou se você vai viajar e não pretende treinar, por exemplo. Lembre-se que adesão sempre é a variável mais importante. Retorne quando possível.
20) Resumão e considerações sobre treino
Imagino que tenha sido muita informação de uma vez. Vamos
a alguns direcionamentos, então. Comece pelo básico. Tanto pensando na sua evolução
quanto na sua saúde, dominar a técnica é fundamental. Boa execução é sempre a sua prioridade na musculação. Como eu sugeri: aprimore-se até que seu treino possa ser usado em uma videoaula demonstrativa. Pesquise, pergunte, se filme, o que for necessário. Seus resultados serão eternamente gratos.
Desenvolva maior conexão mente-músculo. Esteja presente
durante o exercício. Engaje da melhor forma possível a musculatura alvo. Quando você faz isso, o treino ganha um outro valor. Você não consegue pensar em mais nada, mesmo que quisesse. Sua concentração fica toda ali. Vira uma meditação ativa. É muito bom, vá por mim.
Após essa fase inicial de aprendizado, procure ficar mais
forte nos exercícios principais. Pessoalmente, eu nunca conheci alguém natural (que nunca usou hormônios) que tem um shape decentemente grande (para parâmetros naturais) e não é forte. 152
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Treino & Hipertrofia
Por mais que não exista uma relação de 1 para 1 entre força
e hipertrofia, aumentar carga nos exercícios certos pode ser seu melhor amigo, especialmente dependendo do range de repetições.
Digo isso porque, como conversamos ao longo do conteúdo
sobre hipertrofia, para cargas mais baixas e mais repetições funcionarem, é preciso chegar próximo à falha, e a maioria das pessoas (iniciantes e intermediários) não são boas em mensurar isso. Acabam parando a série muitas repetições antes, quando mal começou a arder, por exemplo. Treinos assim não te darão resultados.
Carga não mente. Se a sua ideia é ficar mais forte fazendo de 5
a 8 repetições, você jamais vai evoluir dando desculpinhas. Por mais que, de novo, hipertrofia e força não tenham uma relação causal, há relação, em especial nesse range de repetições. É impossível você evoluir de conseguir agachar com 50 quilos para 6 repetições para conseguir agachar com 100 quilos para 6 repetições e não ocorrer uma revolução nos seus membros inferiores. De novo: impossível.
Considerando que mulheres possuem maior prevalência de
fibras tipo 1 (aquelas resistentes à fadiga) em comparação aos homens, pode ser interessante encarar essa sugestão de 5 a 8 nos exercícios principais, como 6 a 10 repetições.
Independentemente de sexo, ficar mais forte nos exercícios
principais, a meu ver, é a melhor forma do indivíduo autorregular progresso. Afinal, se você aguentava 50 quilos para 6 repetições há 2 semanas e hoje aguenta 52.5, você está progredindo.
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Treino & Hipertrofia
Se puder (se sua individualidade permitir), priorize
multiarticulares com peso livre. Máquinas têm seu lugar, mas não devem ser prioridade, assim como os exercícios isolados.
Outra vantagem é que eu suspeitaria que a maioria das
pessoas jamais treinou desta forma (intensidade adequada, em especial para menos repetições). Por isso, será um estímulo novo. E talvez pela primeira vez você comece a recrutar determinadas fibras que antes estavam quase adormecidas – aquelas mais difíceis de se recrutar, que requerem maior intensidade. Isso será muito positivo. Não se empolgue na progressão. Tenha paciência. Por exemplo:
quando fazendo multiarticulares para até 8 repetições, aumentar 5 quilos de uma vez na maioria dos casos é coisa pra caramba.
Aumente um quilo ou dois. Conseguiu fazer as 8 com
facilidade? Aumente mais um ou dois quilos, e por aí vai. Devagar e sempre você vai longe.
Por melhores que sejam os exercícios multiarticulares com
peso livre, eles têm maior potencial lesivo, em especial para cargas mais altas. São de enorme valia mesmo assim, mas é preciso cautela – não exagere no volume de treino com eles. Por isso, máquinas ganham maior relevância. São uma forma consideravelmente mais segura de você fazer mais volume de treino, ou até de descobrir seu limite (falha). Como o movimento é guiado, o risco de complicações é muito reduzido.
Não comece com volume demais. Esse é um dos maiores
erros que você pode cometer. Depois para evoluir vai ser muito
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Treino & Hipertrofia
mais difícil. Comece com um volume mais baixo e otimize a intensidade. Fazer menos com boa intensidade é melhor que fazer muito sem intensidade adequada. Vá autorregulando a partir daí. Para homens, isso seria em torno de 10 a 15 séries por semana (por grupamento muscular). Para mulheres, algo em torno de 15 a 20 (mulheres aparentemente toleram e respondem melhor a maiores volumes de treino que o dos homens). Se está tranquilo e você está se recuperando bem, pode ir aumentando o número de séries progressivamente a cada semana. Há estudos mostrando alguns indivíduos respondendo bem com 20 a 30 séries. Para a maioria, no entanto, 10 a 20 séries parece ser o range ideal (sempre aumente de 5 a 10 para mulheres, pela razão mencionada acima).
Idealmente, distribua seu volume de treino entre 1.5 e 3
sessões por semana. Por exemplo, se são 20 séries para perna, faça 10 por treino em 2 sessões semanais. Assim, você aumenta a qualidade dos movimentos e consegue tolerar maior intensidade. Se não for possível, veja o melhor volume que você consiga trabalhar em uma sessão singular. Frequência é importante, mas volume (de qualidade) é mais. Descubra para qual metodologia você é mais responsivo.
Não é a maioria dos casos, mas talvez mais repetições com
menos carga possam funcionar melhor para você; depende da sua genética. Pode acontecer também de você descobrir que mais repetições com menos carga funcionam melhor para determinado grupamento muscular seu, enquanto menos repetições com mais carga são melhores para outros. Não descarte possibilidades.
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Treino & Hipertrofia
Misture os ranges de repetições para otimizar o recrutamento
de todo tipo de fibra. Você consegue isso com certa facilidade trabalhando, por exemplo, 5 a 12 repetições nos multiarticulares e 12 a 30 nos isolados e máquinas. Como repetições mais altas precisam de proximidade à falha para serem efetivas, guardeas para os movimentos que você consegue executar com maior segurança (isolados e máquinas). Além disso, experimente qualquer dia ir próximo à falha com 25 repetições no agachamento. É quase uma experiência religiosa. A maioria dos indivíduos vai parar muito antes do quanto de fato os músculos aguentam, e isso pode ser perigoso.
Saiba que há um debate quente no mundo da musculação
sobre a necessidade de exercícios isolados quando multiarticulares são bem trabalhados em uma periodização de treino. Você vai encontrar diversas opiniões distintas. Até onde sei, não há consenso. No entanto, é seguro dizer que se você tiver que priorizar um, que sejam os multiarticulares. Por exemplo: se você treinar costas suficientemente bem, é inevitável ocorrer um crescimento do seu bíceps. Há estudos mostrando que, nesses casos, não houve vantagem em fazer exercícios isolados para o bíceps. Outros divergem. Com isso em mente, e aplicando o “pelo sim e pelo não”, se você tiver tempo para os dois, ótimo. Se não, priorize multiarticulares.
Obs1: Tenha em mente que esse debate é para os
músculos que são bastante recrutados nos multiarticulares, como bíceps e tríceps. Um exercício para isolar deltoide (ombro) lateral, por exemplo, sempre é de grande valia. Além de não ser
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Treino & Hipertrofia
suficientemente recrutado como coadjuvante em outros exercícios, é um músculo com enorme poder estético, causa a impressão de ombros mais largos.
Obs2: se interessar meu relato pessoal, eu nunca malhei
braço. O meu tem aproximadamente 41-42 centímetros e todo o crescimento dele veio do treino de multiarticulares de costas, peito e ombro. Poderia ir um pouco mais longe se trabalhasse alguns isolados? Realmente não sei. Sei que quando passei de conseguir fazer 5 barras fixas com meu peso corporal para 5 barras fixas com 45 quilos atrelados ao meu corpo, o bíceps sofreu uma revolução. O mesmo serve para o tríceps na evolução no supino e no desenvolvimento de ombro. Hoje, eu malho braço às vezes porque estou com uma outra pegada de treino. No entanto, ao longo dos anos eu realmente não dei importância. E, caso interesse saber, se pudesse voltar atrás não faria diferente também.
Meninas, nem por um segundo cogitem se preocupar em “ficar
grande demais”. Isso nunca acontece. Mulher que treina pesado e de forma inteligente fica com o corpo escultural e proporcional. Todas as mulheres que você conhece que se parecem com um centauro ficaram assim exclusivamente pelos esteroides. Além do mais, hipertrofia é um processo lento. Você nunca vai acordar forte demais da noite para o dia. Quando na sua jornada fitness você se der por satisfeita, basta parar de trabalhar progressão e focar em manter. Não falei de homens pois nunca ouvi algum reclamar que tem medo de ficar grande demais.
Lembre-se que muitas vezes a satisfação com seu shape
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reside em conquistar maior hipertrofia e não em emagrecer mais. Quando pensamos em composição corporal, temos que ter em mente sempre a dinâmica “músculo empurrando pele”, como foi elaborada no capítulo sobre definição abdominal. Um mesmo percentual de gordura vai ter repercussões estéticas completamente diferentes dependendo do desenvolvimento muscular. Com mais músculos, você poderá ter mais gordura corporal e mesmo assim desfrutar de definição. Sem musculatura desenvolvida, você precisará atingir percentuais de gordura baixos e minimizar retenção de água para conseguir visualizar alguma definição, e isso pode te deixar mais suscetível às consequências de processos demasiadamente restritivos, como já falamos bastante. Falando em definição, cuidado para não achar normais
os extremos. Não são. Físicos excessivamente definidos na maior parte dos casos simplesmente não são compatíveis com uma vida equilibrada e feliz, requerem vigília e, muitas vezes, uso de substâncias. Requerem atenção constante às calorias, aos carboidratos, ao sódio etc. É muito melhor ter uma definição decente que te agrade e te permita viver a vida em toda sua plenitude do que obcecar com algo irrazoável que pode inclusive comprometer sua saúde física e mental, como eu mesmo já comprometi a minha um dia. Construir o shape é bom demais, pode melhorar sua vida em diversos aspectos, mas nunca deve ser às custas da sua felicidade. Aí perde o propósito.
Para finalizar, vamos falar de pormenores: suplementação.
Depois, mais algumas reflexões sobre sua jornada fitness e é o fim do Manual do Shape.
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Suplementação
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Suplementação
1) Introdução aos suplementos Primeiramente, importante ressaltar o seguinte: NENHUM
SUPLEMENTO FAZ MILAGRE.
Desculpe-me pelo grito, mas é pelo bem do seu bolso. Estando
na pele de alguém que já gastou milhares de reais com substâncias que hoje sei que foram absolutamente inúteis, sei bem como é creditar esperança excessiva em cápsulas e pós mágicos achando que aqueles produtos serão primordiais para seus resultados. Não são. Isso não existe.
E aí talvez você esteja pensando “ok, pode não fazer milagre,
mas faz bastante diferença, né?”. Também não.
Saber o que está fazendo na nutrição e no treino é
imensuravelmente mais relevante que sua suplementação; até porque está na natureza conceitual do termo “de natureza suplementar para suprir o que falta”. Atente-se a isso: para suprir o que falta. Essa é a natureza do suplemento.
É possível conseguir basicamente tudo o que os suplementos
poderiam te proporcionar por meio da alimentação, com algumas exceções que podem ser de maior relevância, dependendo do indivíduo. A maior parte dos suplementos, apesar das intermináveis tentativas de marketing, são inúteis. Sei que pode ser incômodo, para dizer o mínimo, aprender certas verdades sobre suplementos que você já gastou ou está gastando dinheiro nesse momento, mas pense pelo lado bom: ao menos você aprenderá que não precisa gastar mais.
Com isso em mente, resolvi fazer uma lista seleta daqueles
que merecem sua consideração e os seus respectivos porquês.
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2) Creatina
Creatina é o melhor suplemento que há, em especial quando
pensamos em custo-benefício. É o suplemento mais estudado, mais “comprovado” e, também, o mais barato.
Creatina é comumente associada à hipertrofia. Essa associação
é justa, porém limitada. Creatina na verdade irá causar otimização de performance, sendo potencialmente de grande valia tanto para hipertrofia quanto para emagrecimento.
Quando pensamos em bioenergética e nas formas que seu
corpo irá gerar energia, é didático imaginar a creatina como uma das vias. Temos a via ATP CP, a via glicolítica (carboidrato) e a oxidativa (gordura). O “CP” da primeira via supracitada refere-se exatamente à creatina (C) e ao fosfato (P).
A creatina que ingerimos, seja por meio da alimentação ou
pelo suplemento, será armazenada com um fosfato. Quando usamos ATP para gerar energia (lembra da moeda energética do nosso corpo?), ele perde um fosfato. Dessa forma, a adenosina trifosfato (ATP) se torna adenosina difosfato (ADP). A creatina cede seu fosfato e faz ressíntese de ATP, transformando aquele ADP em ATP de novo. Com isso, você tem potencialmente mais performance. É isso que buscamos com a suplementação de creatina. Ela por si só não vai construir músculos, mas os benefícios que irá te proporcionar durante o exercício podem otimizar o processo hipertrófico, tal qual podem otimizar a manutenção de massa muscular quando você estiver emagrecendo.
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A questão é que, para otimizar esses benefícios, você
precisa saturar seus estoques de creatina, e é muito difícil fazêlo com alimentação. Implicaria no consumo de um quilo de carne vermelha por dia, que além de não ser prático também pode não ser saudável. Daí surge a grande valia da suplementação.
Tenha em mente que depois dos potenciais benefícios estéticos
de curto prazo (que serão abordados a seguir), a vantagem que a creatina irá te proporcionar é performance-dependente. Não há mágica nenhuma. Você ainda terá que treinar bem. É apenas uma eficiente ferramenta para otimizar seus resultados, mas a diferença não será muito grande. Não espere milagre. No entanto, como ela é muito barata e é o melhor que temos pensando em hipertrofia, é mais que digna de sua consideração.
Como tomar
Os benefícios da creatina surgem a partir do seu consumo
diário, uma vez que você precisa saturar seus estoques. É de uso crônico. Por isso, é quase irrelevante o quando você toma. Basta tomar todos os dias. Todavia, saiba que há estudos apontando melhor absorção no pós-treino e outros quando consumida conjuntamente com carboidratos e proteínas, por conta da presença de insulina. Se você quiser tentar otimizar o aspecto absortivo, pode ser interessante explorar essa possibilidade. Entretanto, se há algum outro horário que torne mais fácil de você lembrar de tomar sempre (junto com o jantar, por exemplo), está tudo bem. A diferença provavelmente irá beirar o negligenciável.
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Suplementação
O intento aqui não é prescrever nada para ninguém, mas
a dose padrão é de 3 a 5 gramas diárias. É consenso entre os expoentes de nutrição esportiva. Na dúvida, converse com o profissional de sua confiança.
“Puts, esqueci de tomar hoje. E agora?”
Volte a tomar no dia seguinte naturalmente. Não vai mudar
nada. Se você esquece sempre é outra história, uma vez que isso implicará em redução dos seus estoques e com isso você não vai otimizar os benefícios. Esquecer vez ou outra não muda nada. Não se preocupe. Lembre-se que os benefícios são do uso crônico (tomar todo dia) e não de um episódio agudo (tomar hoje).
Creatina e estética
Um outro aspecto relevante de ser abordado é a leve
implicação estética a curto prazo do consumo. A creatina será armazenada dentro do músculo e, com isso, irá carregar mais água para dentro deles. Justamente por essa razão, é comum a pessoa ganhar uns quilinhos um pouco depois de começar a suplementação (demora um tempo para saturar os estoques).
Quando o indivíduo tem um percentual de gordura relativamente
baixo, essa implicação estética é positiva. Você terá maior volume muscular “empurrando” sua pele, e isso otimiza composição corporal.
Contudo, quando o indivíduo é gordinho, isso pode ter o efeito
reverso. Há grande quantidade de massa gorda por cima da massa
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magra, e quando você aumenta o volume de massa muscular, você irá aparentar estar mais gordinho.
“Tomei creatina e engordei. Aí parei.” Esse relato é tanto comum quanto falso. Ninguém engorda
por conta da creatina. Como você já sabe, a única maneira de você engordar é ingerindo calorias em excesso. De toda forma, a creatina de fato irá causar um súbito ganho de peso e maior volume muscular. Isso normalmente é apenas positivo. No entanto, se o indivíduo está consideravelmente acima do peso, ele pode não saber isolar as variáveis e deduzir que engordou.
Outro motivo é que normalmente as pessoas associam a
creatina ao processo de hipertrofia, no qual naturalmente você come mais. Aí você engorda porque comeu demais e culpa a creatina. Infelizmente acontece bastante.
Loading
Há quem advogue por uma fase de loading no início do
consumo, sugerindo que você ingira de 10 a 20 gramas por dia nos primeiros dias. A quantidade de dias que o loading irá durar depende da quantidade de gramas que você toma por dia. Pessoalmente, não curto muito a ideia. Tampouco sou contra, só não vejo o porquê da pressa. Se você tomar 3-5 gramas por dia, irá levar cerca de 3-4 semanas para saturar seus estoques, minimizando qualquer risco de desconforto estomacal por conta de uma dosagem mais alta. No entanto, se por alguma razão você
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se interessar pela ideia de acelerar o processo, converse com o profissional que te acompanha sobre a melhor estratégia de loading para você.
3) Whey Protein
Primeiramente, entenda que Whey Protein nada mais é que
uma fonte de proteínas. Só isso. Desta forma, ele pode ser de enorme relevância estratégica tal qual pode ser inútil. Lembre-se sempre que suplementos têm natureza suplementar.
Ter um consumo proteico adequado é de grande relevância
tanto para hipertrofia quanto para o emagrecimento, conforme conversamos no capítulo de proteínas. É aqui que reside a natureza estratégica do Whey: ele pode tornar bem mais fácil atingir seu consumo proteico do dia. Da mesma forma, caso seu consumo seja suficiente, acrescentar Whey à sua rotina não será de grande valia.
Por exemplo, eu consumo 1-2 scoops de Whey por dia (de
25 a 50 gramas). Às vezes, até 3. Isso se dá porque eu costumo consumir toda a minha alimentação em algumas horas, de forma que o Whey acaba sendo de grande valor estratégico. Há dias, no entanto, que não consumo nada de Whey.
Para um indivíduo que se alimenta desde o momento que
acorda até a hora que vai dormir, pode ser mais fácil administrar toda a sua ingestão proteica de forma que o Whey não tenha seu lugar. Realmente depende do caso a caso. Como sempre, é contexto-dependente.
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Praticidade
Um aspecto relevante de se levar em consideração é a questão
da praticidade. Pode ser bem mais fácil carregar um scoop de Whey do que alguma outra fonte proteica.
Pense também nos cenários que o dia está acabando, você
quer consumir mais um pouco de proteínas e não está com vontade de ir preparar um frango ou ovos mexidos. É bem mais prático tomar um scoop de Whey, por exemplo.
Outro cenário que não é incomum é o do pós-treino. Pense
quando você termina de treinar e só irá fazer sua refeição 3-4 horas depois. Não é incomum de acontecer. Nesses casos, é bem interessante tomar uma dose de Whey e ter um pico de síntese proteica muscular, enquanto você não faz a sua próxima alimentação, que proporcionará outro pico (como falamos no capítulo de proteínas).
De forma geral, mesmo que não seja necessário em uma
perspectiva diária, eu sugiro que você sempre tenha em casa para ser uma possibilidade. Quando for útil, você usa. Se não precisar, deixa lá quietinho. Isso, claro, se for passível de encaixe no seu orçamento. Whey não é dos suplementos mais caros, mas também não é necessariamente barato. Todavia, seu custo-benefício é bem grande.
Tanto faz a marca. Se for de confiança, você pode escolher a
que mais gosta.
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Proteína doce
Quando pensamos em fontes de proteína, na maior parte
dos casos nos ocorre fontes salgadas. Isso serve tanto para fontes animais quanto vegetais, como peixes, ovos ou feijão. Algumas exceções são leites e iogurtes, que tendem a ser mais adocicados. No entanto, normalmente o nosso consumo proteico é “salgado”.
Dessa realidade surge uma outra potencial vantagem do
Whey: diversificar o paladar. Com o avanço tecnológico da indústria de alimentos, hoje temos Wheys extremamente gostosos e de diversos sabores, podendo ser muito úteis para facilitar sua adesão no dia a dia.
Além do mais, se você for criativo, pode usá-lo em diversas
receitas, garantindo ainda maior variabilidade a sua rotina.
Por exemplo, eu gosto muito de fazer picolés proteicos (quem
quiser ver receitas, há várias no meu instagram @fastnfitness). Misturo Whey com um pouco de leite e frutas inteiras como recheio, ou até algo mais doce, se eu estiver com vontade, como doce de leite ou leite condensado, fazendo uso deles no cenário do póstreino, como falamos no capítulo sobre açúcar. Eu gosto bastante. Prefiro consumir o Whey dessa forma do que puro em um copo com água.
Outro aspecto relevante é o fato de ser basicamente só
proteína. Diversas outras fontes tendem a estar acompanhadas de quantidade significativa de carboidratos e/ou gorduras. Assim, o Whey pode ser uma forma estratégica de você aumentar seu aporte proteico, enquanto fica com maior liberdade para escolher suas fontes dos outros macronutrientes.
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Tipos de Whey
Temos o Whey concentrado, isolado e hidrolisado.
Whey hidrolisado é uma das formas que a indústria de
suplementos faz você rasgar dinheiro. À exceção de algumas situações clínicas, é absolutamente inútil. A suposta absorção mais rápida não vai ter qualquer relevância pensando em desfechos importantes para você, como hipertrofia quando em fase de ganho e manutenção quando perdendo gordura.
Whey isolado é vantajoso para aqueles com algum grau
relevante de intolerância à lactose, uma vez que apresenta menor teor desse açúcar que a versão concentrada deste suplemento. Como há níveis e níveis de intolerância, pode ser que o Whey isolado também não seja necessário, podendo o indivíduo fazer uso do concentrado sem problemas. Não dá para generalizar.
Whey concentrado é o que apresenta maior custo-benefício.
Tende a ser mais gostoso que suas outras versões (isolado e hidrolisado), justamente por ter um pouco mais de carboidratos e/ ou gorduras. Não se preocupe com esse 1-2 gramas a mais. Podem fazer diferença no paladar e consistência, mas beiram o irrelevante no contexto dietético geral. Estamos falando de 10 a 20 calorias a mais.
Whey e saciedade
Whey é menos sacietógeno que outras fontes de proteína.
É líquido e de rápida absorção. Desta forma, em um ambiente de restrição calórica, por exemplo, no qual a questão da fome tende a
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Suplementação
ser mais relevante, pode ser mais interessante você mastigar suas proteínas. Outra opção também é consumi-lo acompanhado de outras boas opções de alimentos. Não vou dizer mais uma vez que a aplicabilidade é contexto-dependente, pois você não deve aguentar mais eu escrever isso para tudo.
Mas é contexto-dependente.
4) Multivitamínico
Vitaminas e minerais são absolutamente fundamentais
para o bom funcionamento do nosso organismo. Desempenham papéis desde reparar dano no nosso DNA até construir massa muscular. Qualquer atividade que você imaginar terá algum(ns) micronutriente(s) envolvido(s).
Justamente por isso, a boa nutrição é fundamental. É a
escolha de bons alimentos que fornecerá um aporte adequado de vitaminas e minerais. Lembra quando eu disse que calorias são fundamentais, mas não são tudo? Essa é uma das razões.
Dito isso, os multivitamínicos entram na categoria “pelo sim
e pelo não”. Se sua alimentação é adequada, pode ser que sejam inúteis. Eu tomo diariamente. Pode ser que não façam diferença, tal qual pode ser que forneçam um pouco de algo que porventura ficou deficitário naquele dia.
Em um ambiente de restrição calórica, eles ganham um pouco
mais de importância, visto que, naturalmente, você estará ingerindo menos alimentos e, por consequência, menos nutrição.
Às vezes, pode ser mais interessante você investigar 169
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Suplementação
juntamente com o profissional de sua confiança se está deficitário em algum nutriente específico e suplementar só aquele. Não vou dizer de novo que depende do contexto.
Mas depende do contexto.
5) Ômega 3
Ômega 3 é um tipo de “gordura boa” que desempenha
alguns papéis importantes em nosso organismo. As fontes mais famosas são os pescados. No entanto, a maior parte dos brasileiros não consome peixe com regularidade suficiente. Pensando em otimização de saúde, é importante ter um equilíbrio entre o consumo de ômega 3 e ômega 6. Enquanto nação, é comum que o consumo de ômega 6 seja consideravelmente maior que o de ômega 3, tornando sua suplementação potencialmente útil para boa parte dos casos. É válido você investigar com o profissional que te acompanha.
E não vou repetir aquilo de novo.
Mas é contexto-dependente.
6) Cafeína
É a droga lícita mais consumida do mundo, podendo ser
encontrada em alguns alimentos, sendo o mais conhecido o café, bem como na forma de suplementação. Tem leve potencial ergogênico e termogênico.
Ergogênico tem a ver com performance, aumenta sua 170
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capacidade de realizar trabalho. Quem nunca teve um treino que rendeu mais depois de tomar café?
Termogênico tem a ver com o estímulo de alguns sistemas do
nosso corpo, como o sistema nervoso central. Dessa forma, faz com que gastemos mais calorias. No entanto, esse benefício costuma ser de curto prazo, dose-dependente e não é tão grande assim; normalmente, algumas dezenas de calorias. Nosso corpo tende a se adaptar e aquela mesma dosagem já não produz o mesmo efeito. Não é muito perspicaz exagerar na dose de cafeína, pois além de potenciais colaterais, existe um limite intransponível, que implica em dizer que depois de certo teto não adianta aumentar a ingestão.
Você pode ingerir a cafeína em cápsulas ou no seu café.
Cápsulas normalmente têm uma dosagem de 200 mg. Um copo de café com 200 ml (isso é bastante quantidade) tende a ter entre 80 e 120 mg de cafeína, dependendo do quão forte ele é. Ou seja, uma cápsula com o valor supracitado (200mg) equipara-se à cafeína encontrada em meio litro de café.
Pessoalmente, eu prefiro tomar meu café. É um ritual matinal
e, às vezes, como pré-treino. Além da cafeína, há outros benefícios, como a presença de antioxidantes. No entanto, caso você não curta café, a opção da cafeína em cápsulas pode ser bem interessante pensando nos benefícios de sua suplementação.
Apenas atente-se para valores. Há gente gourmetizando
cafeína e cobrando 200 reais em um pote. Esse preço é ridículo. Cafeína é cafeína. Uma média de até 50 reais para algo em torno de 100 cápsulas de 200 mg é um valor razoável. Muito mais que isso é simplesmente absurdo.
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Suplementação
Caso você costume consumir cafeína de diversas fontes
distintas, apenas atente-se para a quantidade. A maior parte das pessoas consegue tirar o máximo proveito com um consumo de até 400-600 mg por dia. Mais que isso pode ser excessivo e potencialmente problemático, em especial para alguns indivíduos (com problemas de ansiedade, por exemplo). Converse com o profissional de sua confiança.
Caso interesse, a título de curiosidade, eu consumo de 200 a
300 mg de cafeína por dia e 99% do tempo por meio do café.
7) “Menções honrosas”
Pensando em hipertrofia ou emagrecimento, esses são os
suplementos mais dignos de sua consideração. Alguns ajudam diretamente e outros de forma indireta. São os “consolidados”. Não estou sugerindo que não há mais nenhum que preste, até porque há diversos outros propósitos relevantes, como otimização do seu sono, por exemplo. Apenas citei os principais, visto que é impossível falar sobre todos. Dito isso, acho válido fazer algumas menções honrosas.
BCAA é absolutamente inútil se sua ingestão proteica é
adequada. Os estudos quanto a isso são cristalinos. Resumindo, quando você consome proteínas suficientes, você consome BCAAs suficientes, não havendo benefícios na suplementação. No seu scoop de Whey, por exemplo, há 5-6 gramas em média. Também estão presentes no frango, no ovo, na carne etc.
Glutamina pode ter sua utilidade clínica, mas, pensando na
prática esportiva, também pode beirar o irrelevante.
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Suplementação
Carnitina também não funciona. A queima de gordura se dá
em algumas etapas, sendo a carnitina importante em uma delas (transporte). No entanto, maior mobilização não implica em maior oxidação (queima) de gordura.
A categoria “pré-treino” engloba uma série de substâncias e
renderia um livro por si só. Se for de seu interesse, é válido você investigar com um profissional de sua confiança. Podem ter sua utilidade em dias que você não está tão bem para treinar. Só não acho interessante o indivíduo que depende deles, mas podem ter seu lugar. Pessoalmente, meu único pré-treino é o café. Gaste seu dinheiro sabiamente. É muito melhor você
investir na sua alimentação ou em um bom acompanhamento profissional do que com pós e cápsulas potencialmente inúteis. Há muita gente tentando te empurrar produtos irrelevantes. Não é coincidência que normalmente essas pessoas tenham cupom de desconto para “te ajudar”. Não foi o BCAA que deixou Fulano gigante. Foi o esteroide que ele mente que não toma. Seja cético.
Quando o assunto é suplementação, tenha em mente esse
lema: “na dúvida, duvide”.
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Considerações
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Considerações Finais
Considerações finais
Agora que nos aproximamos do fim, gostaria de misturar os
universos do treino e da alimentação para sugerir mais algumas reflexões e considerações sobre o seu lifestyle de forma geral.
1) Um pouco mais sobre treinar, adesão e treinar fim de semana
Não faz a menor diferença se seu treino é no sábado ou na
quarta-feira. Treino é treino. No entanto, se você é daqueles que ainda têm dificuldade de adesão, oscilando entre períodos de 8 ou 80 nos quais ou você é muito intenso ou simplesmente não se importa, treinar aos finais de semana pode ser uma ferramenta especialmente poderosa, mas não só para esses casos.
Primeiramente porque ajuda a desconstruir essa separação
entre “curtir a vida” e “ser fitness”, que está no cerne do problema da falta de adesão. Afinal, se durante a semana você faz suas “obrigações” (trabalhar, estudar, malhar) e fim de semana você curte a vida (esquece trabalho, estudos e exercícios), misturar esses cenários pode ser de grande valia estratégica em uma perspectiva psicológica. Naturalmente, começará a ocorrer a relativização dessa separação.
Na prática, há outras vantagens, como maior gasto energético
durante os dias que você está mais propenso a ingerir mais calorias. Não é incomum que a maior parte das pessoas cometa seus excessos durante a sexta-feira, sábado ou domingo. São os dias
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Considerações Finais
que você mais sai para comer na rua, há mais eventos sociais, é predominantemente quando a maior parte das festas acontece etc.
Sendo assim, se você treina e treina bem, duas coisas bem
positivas acontecem: primeiro, você de fato pode ingerir mais calorias sem qualquer prejuízo naqueles dias, por conta do maior gasto; segundo, se acontecer de você se exceder, você tem o consolo psicológico de “pelo menos estou construindo massa magra”.
Esta é também uma das razões pelas quais eu sugiro que
você sempre treine “como se estivesse em fase de ganho”. Afinal, quando você está nessa fase, sua meta será progredir nos seus treinos. Quando em fase de perder gordura, sua meta será tentar manter a performance. No início de uma fase de emagrecimento, é comum que você não sinta qualquer impacto na musculação, porém, conforme o tempo passa, é natural que você tenha uma queda de rendimento nos treinos. Justamente por isso, pode ser interessante que alguns exercícios sejam permanentes em sua rotina. Nesse cenário, eles servirão como parâmetro para autorregulação, uma vez que alguma queda de rendimento depois de um tempo é natural, mas um decréscimo de performance muito grande, em especial no início, não é. Se isso acontecer, pode ser que sua estratégia esteja excessivamente agressiva, e é bem mais difícil você ter a percepção com uma série completamente diferente.
Assim, se a sua meta é sempre tentar manter performance
ou progredir em seus treinos, nos dias que você comer um pouco mais ou ingerir mais calorias de forma geral, você tem o
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Considerações Finais
consolo da hipertrofia. Em vez de sentir-se mal, pois pretendia comer menos, entenda que às vezes comer um pouco mais é perfeitamente natural, faz parte da vida, e construir músculo é de igual importância a perder gordura na busca de otimização corporal. Dessa forma, em vez de “falhei em um objetivo”, você tem um “troquei de objetivo por um dia”. Você pode retomar o objetivo que você estava priorizando no dia seguinte, deixando de ficar refém das circunstâncias.
2) Dicas de cárdio para quem não gosta de cárdio
Se você é dos meus e não é muito fã de fazer exercícios
aeróbicos, mas gostaria de acrescentá-los à sua rotina para obter benefícios à saúde, ou porque enxergou que podem te ajudar no emagrecimento, vou deixar algumas dicas para você tentar criar o hábito. -
Se possível, associe a ideia de fazer cárdio a atividades que
você gosta. Dançar, surfar, jogar futevôlei, tanto faz. As opções são infinitas. Qualquer opção que te faça se mexer e expirar gás carbônico (lembra da bioquímica do emagrecimento?) irá funcionar. Não precisa ser na esteira. Equiparando por gasto energético, tanto faz a atividade. Por que, então, não fazer uma que você ama? Não existe alguém que não ame pelo menos um esporte. Pense sobre isso. -
Se for fazer na academia, experimente dividir o tempo de
cárdio entre diversos aparelhos. Isso confere maior dinamismo e talvez você fique menos entediado. Por exemplo, se pretende fazer 20 minutos, experimente ficar 7 minutos na esteira, 7 na escada e 7 no elíptico.
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Considerações Finais
Associe o cárdio a algum aprendizado que te interesse. Para
não parecer que você está simplesmente “jogando tempo fora”, por que não aproveitar o tempo de cárdio para estudar? Há diversas videoaulas incríveis ou podcasts que você pode consumir enquanto faz o seu cárdio. Talvez te ajude a consolidar o hábito também. -
Associe o cárdio a algum entretenimento. Por exemplo:
escolha uma série e assista um episódio por vez sempre associado ao seu cárdio. -
Experimente estacionar o carro e andar até bem longe,
por uns 2 ou 3 quilômetros. Você não vai ter alternativa a não ser andar de volta ou correr se quiser acelerar o processo. Apague o aplicativo do Uber para não cair em tentação (essa dica tem tom de brincadeira, lógico, mas funciona).
3) Aquecimento Não banque o herói e presuma que lesões estão fora da sua
realidade. Sempre faça o devido aquecimento. Cinco minutinhos na esteira e algumas séries com menos carga do primeiro exercício do seu dia, na maior parte dos casos, são suficientes. Na dúvida, converse com um profissional competente.
4) Hipertrofia
Quero apenas reforçar rapidamente que hipertrofia é um
processo multifatorial e há diversos caminhos para chegar lá. As sugestões que fiz ao longo deste livro são apenas isso: sugestões. Não esgotam de forma alguma as possibilidades.
No entanto, pessoalmente não vejo caminho melhor para o
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Considerações Finais
indivíduo natural (que não usa hormônios) que ficar mais forte nos exercícios principais para um range mínimo de repetições. Faz todo sentido que ocupem a maior parte do seu treino, especialmente pensando naqueles que autorregulam o progresso. Os motivos são os que conversamos na parte sobre treino.
Entenda que quando você usa esteroides, você cria um
ambiente consideravelmente mais anabólico. Com isso, você pode ter resultados fazendo protocolos que estão longe de serem ideais para aqueles que não usam essas substâncias. Cuidado com seus ídolos. A maioria não tem o seu progresso ou saúde como preocupação, apenas quer te vender algo. Infelizmente é a realidade. Seja cético. Sempre.
5) Intensidade & volume de treino
Tenha sempre em mente que quanto menor seu volume e
frequência de treino, mais relevante é a intensidade. Se você faz pouco e o pouco que faz é sem intensidade, não espere progresso. Quanto mais intenso o seu treino, menos volume você irá conseguir fazer, e vice-versa. No entanto, se você pretende trabalhar com pouco volume de treino e pouca intensidade, sinto dizer que você não vai longe.
A implicação prática disso é que se você, por exemplo, vai
malhar três vezes por semana, talvez ir até a falha tenha maior valor estratégico. O mesmo se aplica se vai trabalhar com menor volume semanal. Quanto menos você faz, mais relevante é a intensidade.
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Considerações Finais
E sempre tome muito cuidado com a ideia de falha em
exercícios com maior chance de lesão, como um levantamento terra.
6) Cautela
Antes de pensar em aumentar a intensidade, certifique-se
que o básico está sendo bem feito. Respeite suas fases. Se você é iniciante, espere dominar a execução antes de trabalhar intensidade e progressão.
7) Escolha de exercícios (2)
Por mais que multiarticulares com peso livre sejam “melhores”
por alguns ângulos de análise, é importante você ter em mente que não são imprescindíveis quando o assunto é construção do shape. Caso você possua qualquer singularidade, como um impedimento biomecânico ou simplesmente não gostar de determinado exercício de jeito nenhum, saiba que isso não é o fim do mundo.
Por exemplo, para falar de um exercício unânime:
agachamento. A maior parte dos profissionais da área que você irá conversar vai te dizer que é o melhor exercício que existe. Agora, suponhamos que você não goste de jeito nenhum ou por qualquer espécie de impedimento não possa fazer. É o fim do mundo? Claro que não. Você pode conseguir uma nível de hipertrofia excelente com as variações de leg press (um exemplo de multiarticular feito com máquina) somado a outros exercícios. Discutivelmente, inclusive, um mesmo nível. Um bom profissional pode facilmente auxiliar você com essa adaptação.
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Considerações Finais
Outra possibilidade também é você explorar outras variações
de um mesmo exercício. Só do agachamento, para seguir com o exemplo supracitado, há várias. Suponhamos agora que por alguma razão o supino com barra te cause algum incômodo: você pode experimentar com halteres. Se nada com pesos livres der certo, você ainda têm as máquinas.
Via de regra, exercícios com peso livre são superiores por
otimizarem o recrutamento de musculatura estabilizadora, que por razões óbvias será bem menos exigida quando você faz o exercício na máquina, uma vez que o equipamento faz parte da execução por você já que o movimento é guiado. Um lado positivo das máquinas é que te permitem ir próximo à falha ou até de fato falhar com maior segurança, justamente pelo mesmo motivo descrito acima. Como tudo na vida, sempre há os ônus e bônus.
No entanto, se você é um indivíduo saudável sem quaisquer
impedimentos, na maior parte dos casos é um excelente parâmetro que de 40 a 50% do seu treino seja dedicado a multiarticulares com peso livre, 20 a 30% a multiarticulares na máquina e outros 20 a 30% para exercícios isolados. Válido reforçar que isso é apenas uma sugestão. Não é, de forma alguma, uma imposição ou regra.
Só não se esqueça de trabalhar progressão,
independentemente de qual for sua rotina de treino. Lembre-se: não há porquê seu músculo se desenvolver para realizar um mesmo trabalho que ele já consegue realizar.
E lembre-se de incluir exercícios de que você gosta. São
fundamentais para sua adesão no treino.
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Considerações Finais
8) Gaste bem seu dinheiro
Um excelente profissional, por mais cara que seja sua
consulta, é de imensuravelmente maior valor que um suplemento inútil, por mais barato que este possa ser (e na maior parte das vezes é caro).
Pare de depositar suas esperanças em pós e cápsulas. Até
os mais cientificamente consolidados que temos não são tão úteis assim. O que você faz em relação à sua alimentação e ao seu treino é muito mais importante. Entre contratar alguém competente que pode te ajudar
a organizar tudo e arriscar em um produto novo, opte pelo profissional competente. No fim das contas, vai sair muito mais barato quando pensamos em custo-benefício.
9) Tropeços
Toda vez que você tenta uma abordagem fitness que não deu
certo, não se desespere: você simplesmente descobriu uma que não é ideal para você. Tente descobrir o que te levou ao insucesso e faça ajustes. Você está cada vez mais próximo de descobrir o seu caminho.
10) Prioridades
Há um estudo muito interessante com estudantes de
faculdades estadunidenses praticantes de futebol que identificou
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Considerações Finais
maior índice de lesões em épocas de provas. O porquê é evidente: você não consegue dar o seu 100% em tudo. Às vezes, é preciso ceder um pouquinho e não há nada de errado com isso. Portanto, se de vez em quando você precisar dar um passo para trás na sua caminhada fitness e focar em alguma outra coisa, tome seu tempo. Não há pressa. Você não vai subir no palco semana que vem. Retorne quando possível.
Por exemplo: imagine que você estava tentando emagrecer e
chegou uma semana de provas. Talvez seja válido você considerar naquela semana ingerir um pouco mais de comida para não afetar seu desempenho, anulando seu déficit calórico e ingerindo calorias de manutenção; talvez reduzir o volume semanal de treino, ou até quem sabe tirar uma semana de folga. Vá no seu ritmo.
11) Use paliativos para consolidar um dos melhores hábitos que você pode ter: comer vegetais
Talvez você não seja muito fã de vegetais. Talvez pelo gosto.
Talvez pela consistência. No entanto, com certeza você sabe o quanto eles podem agregar à sua vida.
Vegetais são saúde. Fontes de fibras, vitaminas, minerais,
fitoquímicos e antioxidantes. Consumi-los diariamente é um dos hábitos mais importantes que você pode ter.
Por isso, use o que for para construir esse hábito. Comece a
refeição por eles. Se você começar a refeição pelo que mais gosta, é improvável que você irá comer uma boa quantidade de vegetais 183
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Considerações Finais
caso não goste muito. Capriche no molho, se for preciso. Acrescente algo crocante que você gosta, como oleaginosas e croutons, como já falamos ao longo deste livro.
Com o tempo, seu paladar vai se acostumando, e é natural
que aconteça um “desmame”. Cada vez você “precisa” colocar menos molho ou acrescentar menos coisas. Quando perceber, o hábito está criado e faz parte da sua vida. E você criou um dos melhores hábitos que você pode ter.
Além dos benefícios à saúde, o hábito de comer frutas, grãos,
legumes e verduras é um dos seus maiores aliados para conseguir flexibilizar a dieta com sucesso. Afinal, a maior parte deles não possui muitas calorias e são capazes de promover grande saciedade.
Desta forma, nos dias que você pretende “curtir a noite”, por
exemplo, é bem inteligente você dedicar a primeira metade do dia ao consumo de proteínas magras e vegetais. Você fica saciado, se nutre e, quando entardecer, você ainda possui bastantes calorias para desfrutar seja lá o que for que você planeja.
12) Fibras
Já que acabamos de falar de vegetais, vamos aproveitar o
gancho para falar de um dos seus componentes importantes: as fibras.
Fibras retardam o processo digestivo, fazendo com que
você se sinta mais satisfeito por mais tempo, ajudam a regular o açúcar no sangue, melhoram o perfil lipídico, contribuem para uma microbiota intestinal mais saudável e estão associadas a diversos desfechos positivos quando o assunto é saúde, como menor 184
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Considerações Finais
índice de massa corporal e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis, tais quais diabetes e doenças do coração. Motivos não faltam para incluí-las na sua vida.
A recomendação padrão é de 10g de fibras para cada 1.000
calorias da alimentação. Por exemplo, 25 gramas para um indivíduo que consome 2.500 calorias. Se houver dificuldade para a ingestão adequada por meio dos vegetais, há outras fontes que podem ajudar, como o psyllium ou o farelo de trigo.
13) Ou te nutre, ou te faz feliz
Não desperdice suas calorias com alimentos que não se
encaixam em uma dessas categorias. Não faz o menor sentido comer algo que não for capaz de te promover saúde ou promover felicidade. Provou um doce e não curtiu tanto? Escolha um outro. Pense suas calorias como dinheiro. Você não usaria sua grana com algo de que não gosta, certo?
Similarmente, nem todo alimento vai te dar o maior prazer
do mundo, mas ainda assim são importantes de serem consumidos se forem benéficos à saúde. É intelectualmente maduro, às vezes, optar por algo pensando em seus benefícios, apesar de não gostar tanto. Talvez o hábito do consumo torne o paladar mais agradável com o tempo. No entanto, é válido ter em mente que nenhum alimento é singularmente fundamental para sua vida.
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Considerações Finais
14) Nenhum alimento é imprescindível ou proibido
Não existe nenhum alimento que seja fonte exclusiva de
qualquer macro ou micronutriente. Saiba que sempre há substitutos. Na dúvida, pesquise ou converse com um bom profissional.
Da mesma forma, não existe nenhum alimento que você não
possa comer. Nenhum é capaz de te engordar ou fazer mal por si só. Sempre depende do contexto. Única ressalva aqui é para gorduras trans, que eu acho inteligente você minimizar o consumo o máximo possível. Se for consumir, que realmente seja raro.
15) Segundas-feiras não podem simbolizar recomeços
Há poucas coisas tão simbólicas da falta de consolidação
de uma jornada fitness que eternos recomeços na segunda-feira. Por isso, gostaria de compartilhar um texto meu que publiquei na Internet:
“Seu final de semana simboliza um desvio de percurso ou um
acidente grave? Espero que seja a primeira opção, por mais que saiba o quanto o segundo caso é mais comum.
A crucial distinção aqui é que desvios de percurso você
planeja; acidentes, por sua vez, não.
Tome nota do que te faz sair dos trilhos e perder o rumo.
Nessa “viagem fitness” você é o trem, o trilho e o condutor. Permita186
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Considerações Finais
se fazer desvios, mas não perca o rumo. Se você não é atleta, seu percurso não precisa e nem deveria ser em linha reta.
Curtir o final de semana é normal; fazer com que ele
transforme sua segunda-feira em constantes recomeços não deveria ser.
O que transformou um desvio de percurso em acidente? O que
transformou sua segunda-feira em mais um recomeço?
Aprender com seus erros é fundamental para a sua viagem
ser cada vez mais suave. Erros são normais, não se desmotive por conta deles. Aprenda com eles.
Lembre-se que quando o assunto é você mesmo(a), desistir
não é opção.
E lembre-se de uma das maiores “lições fitness” que aprendi e
compartilhei aqui: quando suas segundas pararem de simbolizar recomeços, você estará no caminho certo. Ou, nesse caso, nos trilhos certos”.
Estude o seu comportamento e tente perceber o que está
perpetuando essa dinâmica. Espero que eu tenha oferecido reflexões suficientes para você fazer isso com maior sucesso. É perfeitamente possível curtir o final de semana sem abdicar dos seus objetivos. Enquanto você estiver sentindo que está recomeçando na segunda, é sinal que há algo bem errado. 187
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Considerações Finais
16) Divirta-se
Nada melhor para consolidação da sua caminhada fitness que
associá-la a outras coisas que você ama. Por exemplo: suponhamos que você ame pipoca. Por que não, então, substituir o carboidrato de uma das refeições por vegetais que não sejam fontes deste macronutriente e consumir um pote de pipoca vendo sua série favorita? Você pode fazer isso todos os dias da semana, se quiser.
Uma dica que gostaria de deixar aqui que pessoalmente
eu amo fazer é a seguinte: malhar e depois ir ao cinema. Você termina o treino, toma um whey e vai curtir um filme com um balde de pipoca, que nesse caso se torna sua fonte de carboidratos. Querendo aproveitar o cenário propício do pós-treino para consumo de açúcar, pode até escolher pipoca doce com a maior paz de consciência. Eu faço sempre. Gosto muito.
17) Conheça seus gostos: estude o hábito de comer
Há quem prefira comer pouco várias vezes e há quem prefira
comer muito poucas vezes. Conheça a si mesmo. Não há por que optar pelo protocolo que você não gosta quando há alternativas viáveis.
Há pessoas para as quais o que mais funciona é o “comer
preventivo”. Ou seja: refeições não tão grandes e mais frequentes, pensando em administrar a sensação de fome ao longo do dia.
Para outras, no entanto, a ideia de se programar para fazer 188
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Considerações Finais
inúmeras refeições ao longo do dia parece muito complicada e/ ou chata. Se você é uma delas, tenha em mente que está longe de esgotar seu leque de opções. Experimente fazer refeições maiores. Café da manhã, almoço e jantar. Se curtir a ideia do jejum, pode experimentar começar sua alimentação do dia só no almoço. Apenas atente-se para não começar o desjejum com alimentos hiperpalatáveis e caloricamente densos. Comece por vegetais e proteínas magras. Suas chances de administrar melhor suas calorias serão significativamente maiores.
Lembre-se do capítulo “síndrome do apetite mimado” e estude
se você por vezes não está superestimando a relevância do seu apetite. Pode ser um fator chave para melhor controle das suas refeições.
18) Longo prazo Quando o assunto é saúde, não importa o que você faz
hoje ou amanhã, mas sim o que você faz na maior parte do tempo pelas próximas décadas. Por isso, faça o que for para consolidar bons hábitos. Se tiver que conciliá-los com hábitos ruins ou paliativos por ora para conseguir prosperar, que seja. O importante é chegar lá. Vá no seu ritmo.
19) Quanto mais frequente, menos flexível
Quando você come várias vezes ao longo do dia desde o café
da manhã, é natural que ao fim do dia você já tenha muito menos calorias para comer. Também é natural que no fim do dia ocorram
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Considerações Finais
os episódios nos quais você come em excesso. Portanto, tenha em mente que quanto mais frequentes forem as suas refeições, menor espaço para flexibilidade. Se você costuma sofrer com o fim do dia, tenha isso em mente.
Isso não implica que você não possa ter alguma flexibilização
dietética comendo de 3 em 3 horas. Claro que você pode, só é mais difícil. Conceitualmente falando, são refeições menos calóricas. E quanto menos calorias por refeição, menores são as opções de alimentos “encaixáveis”.
20) Cuidado com mudanças que você não tornaria permanentes
Pensando em adequar a sua vida ao fitness da melhor forma
possível, o ideal é que você faça o menor número de concessões para o maior retorno. Dependendo do seu dia a dia, dos seus gostos e dos seus objetivos, pode ser que a necessidade de ajustes seja mínima, ou pode ser que seja mais significativa.
Apenas cuidado com a ideia de abrir mão de coisas sem as
quais você não viveria. Esse é um dos maiores motivos para os “picos de adesão”, nos quais você faz um monte de coisa que não vai conseguir manter e acaba desistindo.
21) Enquanto você separar as coisas que você ama da sua jornada fitness, você não terá uma jornada fitness. Autoexplicativo. 190
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MANUAL DO SHAPE
Considerações Finais
22) Se te faz feliz, tem valor. Mesmo que não seja nutricionalmente superior.
Só para lembrar.
23) Durma bem e se hidrate
Não subestime a relevância do sono adequado. É fundamental
tanto para a hipertrofia quanto para o emagrecimento e, claro, para a saúde. Há diversos estudos relacionando sono inadequado com maior perda de massa magra, maior acúmulo de gordura, queda de rendimento (físico e mental), impacto no humor, entre tantos outros fatores. Adote medidas para otimizar suas noites. Se possível, pensando na maior parte dos indivíduos, pelo menos sete horas de sono diárias podem otimizar sua vida em diversos aspectos. No entanto, esse valor não é generalizável.
E beba bastante água.
24) Resumo resumido da boa hipertrofia
Se você quer hipertrofia, você precisa de estímulo e
progressão no treino, proteínas suficientes e calorias suficientes (leve superávit calórico). O resto é detalhe.
Se quer otimizar, divida sua ingestão de proteínas em 4
porções ao longo do dia, pensando em otimizar síntese proteica muscular.
Se quer otimizar mais ainda, consuma proteínas 2 horas antes
e depois do seu treino. 191
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MANUAL DO SHAPE
Considerações Finais
Saiba que o primeiro parágrafo deste tópico é muito mais
relevante que os outros dois. Está em ordem de prioridade.
25) Resumo resumido do bom emagrecimento
Treinos de musculação, déficit energético (cárdio, se for
preciso) e consumo proteico adequado. Tanto faz frequência das refeições e distribuição entre carboidratos e gorduras. Planeje-se como preferir.
26) Perder gordura e construir músculos ao mesmo tempo
Sei que você estava se perguntando até agora se isso seria
abordado.
Não dá para dizer que é impossível, mas é justo dizer que está
longe de ser indicado. É possível em alguns cenários, como para iniciantes e usuários de hormônios. De resto, não é indicado. Não vai otimizar nem um lado nem o outro e requereria preciosismo com uma série de detalhes que invariavelmente complicariam ou comprometeriam sua adesão.
27) Por qual dos dois eu devo começar?
Depende do indivíduo. É normal que a fase de ganho tenha
repercussões estéticas negativas, como menor definição e algum ganho de gordura. Dessa forma, se o indivíduo já se encontra com o percentual de gordura alto, pode ser que ele não consiga
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Considerações Finais
permanecer em ganho por tempo suficiente por conta do incômodo com seu corpo. Como isso vai se dar na prática realmente depende de pessoa para pessoa.
Portanto, esteja “suficientemente magro” de forma que você
possa perder um pouco de definição e ganhar um pouco de gordura enquanto constrói seus músculos estando em paz consigo mesmo.
A partir daí, dedique-se a construir músculos até que você
ache que é hora de perder gordura. E repita esse processo até darse por satisfeito.
28) Dinamismo metabólico
Importante ter em mente que quando estamos falando de
metabolismo, não estamos falando de matemática exata. Há valores e esses valores certamente importam, mas sempre enxergue-os como referência. Dentro de certa faixa, é perfeitamente natural que seu gasto flutue ao longo da semana, tal qual sua ingestão. Por isso, além do contexto diário ser relevante para diversos aspectos, temos o contexto de médio-longo prazo (semanas e meses) como relevante para outros.
Outro ponto importante de se considerar é que esses valores
podem e irão sofrer ajustes. Por exemplo, conforme você perde peso e gordura ao longo do tempo, é natural que sua demanda energética diminua e aquele mesmo déficit inicial não seja mais suficiente, sendo necessário o reajuste.
Da mesma forma, quando em fase de ganho pode ser que
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MANUAL DO SHAPE
Considerações Finais
eventualmente você tenha que aumentar as calorias um pouquinho, uma vez que conforme os ganhos ocorrem, também acontecerá o aumento do valor necessário para você estar em superavit e otimizar o processo.
Com isso em mente, se você notou em determinado momento
que ao longo de 10 a 15 dias as mudanças não ocorreram na direção que você estava esperando, pode ser que seja hora de um reajuste. Inclusive, é mais um motivo pelo qual registrar-se em fotos pode ser de grande valor estratégico.
“De repente comecei a perder bem menos peso. Hora de reajustar?”
Não necessariamente. Cuidado com isso. Já que é natural,
quando em fase de perda, que você perca mais quilos no início. Por conta da presença de líquidos nessa equação. Uma vez que o excesso deles já foi eliminado, a perda de peso tende a ser bem mais sutil. Lembre-se que na maior parte dos casos você não vai queimar nem 80g de gordura por dia. Isso não é perceptível na balança, em especial somada às oscilações de peso que você naturalmente pode sofrer diariamente. Por isso, o macrocenário (10-15 dias) ganha maior relevância para determinação do veredito sobre a eficácia do seu protocolo.
Agora, vamos ao último capítulo do Manual do Shape.
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Conclusão &
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MANUAL DO SHAPE
Conclusão & Aposentadoria Fitness
Conclusão & aposentadoria fitness
Quando o assunto é saúde, você não tem a opção de não
pagar um preço. Ou você adota medidas preventivas hoje, ou você terá que remediar lá na frente.
É muito difícil determinar exatamente o que é saúde, mas é
consenso que é o nosso bem mais precioso. Se você não tem saúde, você não tem nada.
Criar o hábito de se alimentar bem e de se exercitar são as
melhores coisas que você pode fazer pelo seu “eu futuro”. E não é incomum que seja mais fácil consolidar esses hábitos quando associados a repercussões estéticas.
O motivo, me parece, se dá pela dificuldade que o ser humano
tem de mensurar adequadamente benefícios de longo prazo (nesse caso, saúde e longevidade) somados à tendência a supervalorizar o curto prazo (estética). Por isso, pensei em encerrarmos este livro com uma reflexão sobre o que eu chamo de “aposentadoria fitness”.
Aposentadoria fitness
Podemos enxergar aposentadoria como um retorno após um
período que foi dedicado a trabalhar. E é exatamente assim que eu quero que você enxergue o que eu chamo de aposentadoria fitness.
Aposentadoria fitness engloba todos os benefícios que você irá
colher por se dedicar um tempo a esse universo. Construir músculos e perder gordura são apenas a ponta do iceberg.
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Conclusão & Aposentadoria Fitness
O maior conhecimento sobre alimentação torna o seu
comer intuitivo consideravelmente mais assertivo. Afinal, quanto mais sabemos, menor é a margem para erro. Quanto mais meticuloso você for por um tempo, menos meticuloso você terá que ser depois de um tempo para mesmo assim continuar acertando. Pense em um aprendizado motor de uma atividade difícil. No começo, você fica concentrado em uma série de detalhes. Com o tempo, o movimento sai naturalmente. Com sua alimentação vai acontecer algo parecido, e você vai se alimentar até o último dia da sua vida. É um dos aprendizados mais relevantes que você pode adquirir.
No processo de construir músculos, você fica mais forte e mais
confiante. O peso que outrora era demais para você, hoje é leve. Isso é simbólico para diversos outros aspectos da sua vida. Você constantemente irá se superar e aprender que passou a vida inteira subestimando seus limites.
Além disso, ficando mais forte você terá que fazer menos
viagens para carregar as sacolas do mercado.
Estou brincando, mas não seria eu se não inserisse uma piada
ruim. Prosseguindo.
Quando temos mais músculos, temos maior estoque de
glicogênio, assim como mais calorias gastas simplesmente por existir. Ou seja, você vai poder comer mais e, se quiser, de forma mais flexível todos os dias pelo resto da sua vida.
Quanto mais músculos você tiver, menos refém de oscilações
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MANUAL DO SHAPE
Conclusão & Aposentadoria Fitness
estéticas você irá ficar. Como conversamos ao longo deste livro, quando você tem pouco desenvolvimento muscular, tem que emagrecer mais para ficar satisfeito com sua composição corporal. Com mais massa magra, você ficará satisfeito com seus resultados mesmo com um pouquinho mais de gordura e retenção de líquidos. A implicação disso será uma liberdade muito maior no dia a dia, sem repercussões estéticas negativas.
Manter músculos é consideravelmente mais fácil do que
construir. Afinal, para construir precisamos de progressão no treino. Para manter, não. Se por alguma razão você quiser desacelerar suas idas à academia depois de um tempo, você não precisará de mais que 2-3 sessões semanais bem estruturadas para manter o que conquistou. Continuando a usufruir das repercussões estéticas positivas enquanto se dedica a outras atividades.
Se por acaso você está pensando “poxa, mas para aposentar
eu preciso trabalhar a vida inteira”, saiba que no seu primeiro ano de musculação é quando você irá obter – com folga – os maiores resultados da sua vida. A tendência é de que, se você fizer as coisas certas, caiam em média 50% ano após ano e que você consiga construir 95% dos músculos que seu potencial genético permite com 5 anos de treino.
Talvez você já tenha ouvido a frase “quanto mais treinado
o indivíduo, menos treinável ele é”. Com músculos é a mesma dinâmica. Quando mais você tem, menos você tem para construir. Essa galera que você vê sugerindo que ficaram enormes porque treinam há 15 anos são de uma má-fé sem precedentes. Você
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pode, por exemplo, conquistar maior densidade muscular ou outros atributos estéticos relevantes com mais anos de treino, no entanto, seus ganhos de massa magra, quando pensamos em quantidade em quilos, já estão próximos do seu máximo com 5 anos de “treinamento correto”.
Na prática, se dá mais ou menos assim: 40-50% do seu limite
no primeiro ano, 20-25% no segundo, 10-12,5% no terceiro, 5-6% no quarto, 2-3% no quinto e assim sucessivamente. Lembre-se: quanto mais você tem, menos você pode vir a ter. Essa sugestão de que o corpo humano pode construir músculos infinitamente invariavelmente se dá por usuários de esteroides que querem te vender alguma coisa. Performance humana tem limites. Com a construção de músculos é a mesma dinâmica.
Não se desmotive se por acaso você já treina há um tempo.
Não quer dizer que você treina certo. Esses parâmetros sugeridos são para indivíduos que treinaram com a intensidade, volume e progressão suficientes e se alimentaram adequadamente. Se qualquer um desses parâmetros não for respeitado, não podemos dizer que você construiu o máximo que poderia construir de músculos. Lembre-se que são apenas referências.
O que eu quero que você perceba é que com 6 meses você já
pode usufruir de resultados bem significativos. Com um ano, então, nem se fala. Proporcionalmente falando, os maiores resultados que você pode experimentar na vida. A tendência é que você se vicie nesse processo de se melhorar e continue sua jornada fitness. Eu acredito que todos nós temos em nosso corpo uma obra de
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arte em potencial. Construir nossa melhor versão é uma viagem maravilhosa. No entanto, se depois de um ano você já se der por satisfeito, irá colher diversos benefícios pelo resto da sua vida.
Por fim, gostaria de compartilhar um último texto meu: “É sempre fascinante atestar a irremediável predisposição do ser humano de flertar com os extremos. Ou você faz tudo perfeito, ou simplesmente não faz nada. Aí surgem os obcecados com ‘alimentação limpa’, conhecidos como ortoréxicos, que de tanto passarem cada instante do seu dia preocupados com ‘comer perfeito’, desenvolvem um problema psicológico com repercussões potencialmente bem problemáticas. Preocupam-se demasiadamente como se fossem feitos de cristal. Diametralmente opostos a esses, temos os que jamais refletiram sobre o que colocavam pra dentro e são fortes candidatos para desenvolver precocemente diversas doenças crônicas não transmissíveis, que farão com que sua qualidade e quantidade de vida sejam altamente comprometidas. Despreocuparam-se excessivamente, como se fossem feitos de aço. Um jamais pensou em se permitir e ficou doente da cabeça; o outro, por sua vez, permitiu-se demais e ficou doente do corpo. Sugiro, então, um mantra fitness: cuide-se bem, pois você não é feito de aço, e também se permita, pois você não é feito de cristal.”
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Construir o shape é bom demais, mas jamais pode se dar às
custas da sua saúde física ou mental. Aí perde o propósito.
É isso.
Pode contar comigo. Você me encontra em @fastnfitness.
Agora vá lá construir o shape dos seus sonhos, e não se
esqueça de aproveitar a jornada. Ta vino.
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Considerações sobre o antes e depois
Evitei colocar imagens pessoais ao longo do texto pois espero
convencê-lo pelos meus argumentos e não por qualquer espécie de apelo estético, mas para fins de curiosidade aqui vão algumas fotos que representam alguns dos momentos descritos ao longo deste livro. E perdoe-me pelo pijama. Essas imagens não eram originalmente intencionadas ao público.
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Antes
Essas imagens representam as consequências dos meus
períodos compulsivos que invariavelmente ocorriam depois de semanas de extremismo. Representam a época na qual eu era “refém do sistema”, categorizando alimentos como “proibidos” e “permitidos”, rasgando dinheiro com dezenas de suplementos inúteis e evitando tudo o que eu gostava em busca dos meus objetivos. Não existia valorizar eventos sociais, beber com os amigos ou pudim da avó no domingo. O que existia era “foco”, pois aquilo era primordial para os meus resultados. Ao menos era o que eu acreditava. Minha vida oscilava entre períodos de proteínas magras, saladas e carboidratos limitados de 3 em 3 horas e períodos de compulsão.
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Depois
Essas duas imagens, sendo a primeira, à esquerda, em
2016 e a segunda, à direita, em 2019, representam os resultados conquistados com as informações e reflexões que trouxe para você ao longo do Manual do Shape. Comendo tudo o que eu gosto, gastando o mínimo com suplementos e com uma consistência que eu jamais imaginei possível, não oscilando mais entre períodos de “foco” e períodos de “compulsão”. E jejuando todos os dias desde 2012. A única constante foi a intensidade nos treinos. No resto, finalmente encontrei o ponto de equilíbrio. Agora quero proporcionar isso para você.
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Agradecimentos
Não poderia terminar este livro sem expressar minha gratidão.
Aos shapados (apelido carinhoso para os seguidores que estão na busca do shape), uma vez que, se não fosse por vocês, seria como se eu falasse sozinho.
Em especial aos shapados que abraçaram o projeto
desde quando estava engatinhando. Pensar que vocês já se comprometeram com a ideia do que eu poderia vir a fazer mesmo antes de eu ter escrito a primeira página é bem surreal. Muito obrigado.
À Nat, minha namorada, sócia e companheira de aventuras.
Obrigado pelo companheirismo de sempre. Você é um anjo na minha vida.
Por fim, ao meu pai, à minha mãe e ao meu irmão, por
sempre terem me apoiado de forma que eu pudesse errar tanto até finalmente encontrar meu caminho e fazer o que estou fazendo agora. Texto nenhum seria suficiente para vocês.
De coração, muito obrigado.
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Disclaimer: Todas as informações deste livro possuem finalidade educativa. São apenas uma tentativa de contribuição de um eterno estudante do tema. De forma alguma substituem o acompanhamento de profissionais qualificados.
Revisor técnico das informações científicas sobre nutrição: Felipe Quintino de Souza Almeida - Nutricionista - Crn 3 51579 (no Instagram: @nutrifelipealmeida)
Revisores técnicos das informações científicas sobre treino: Renan Dias de Araújo - Profissional de Educação Física - CREF 049129-G/RJ (no Instagram: @renandiass) Samuel Saraiva - Profissional de Educação Física - CREF RJ-045892 (no Instagram: @osamuelsaraiva)
Revisora ortográfica: Regina Peixoto (
[email protected])
Projeto de Capa e Diagramação Raphael D’Oliveira (
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