Espera - Me (Série Recomeço - Livro 5) - Mônica Craveiro

September 4, 2024 | Author: Anonymous | Category: N/A
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PERIGOSAS NACIONAIS Copyright © 2019 Monica Craveiro Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência. Revisão: Analine Borges Cirne Leitura Crítica: RoseMeire Molan Capa e diagramação Digital: Layce Design Este livro segue as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Edição digital | Criado no Brasil.

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Sinopse Prólogo 01 - Elena 02 - Elena 03 - Elena 04 - Elena 05 - Elena 06 - Elena 07 - Arthur 08 - Elena 09 - Arthur 10 - Arthur 11 - Elena 12 - Arthur PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS 13 - Arthur 14 - Arthur 15 - Arthur 16 - Elena 17 - Elena 18 - Elena 19 - Arthur 20 - Elena Epílogo Bônus O que vem por aí... Agradecimentos Sobre a autora Outras obras Contato Notas

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Estava silencioso, estava escuro, mas eu sentia o perfume. Pelo menos aquilo não me fora tirado… Tentei mexer o meu corpo, mas ele não respondeu aos meus comandos; nada respondia. Nos poucos momentos de lucidez, senti o tubo em minha garganta. Ele me incomodava, assustavame. Eu não tinha noção do que estava acontecendo. O bipe-bipe parecia penetrar em minha cabeça e, mais uma vez, a escuridão me levava. O perfume voltava, e eu o reconhecia. Ouvia a linda voz, a voz da mulher que eu amava. Ela estava chorando, e eu não conseguia consolá-la. A PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS escuridão me levava, e a única coisa que eu pedia era que Elena me esperasse. O amor declarado, uma noite de entrega e promessas, mas tudo acabou com aquele acidente. Arthur e Elena, um amor que nasceu na infância entre dois primos que cresceram juntos e que, apesar de não serem consanguíneos, trazem todo o temor sobre a aceitação de sua família. Um amor que será colocado à prova e que nos mostrará que o que é verdadeiro permanece, apesar de todas as circunstâncias. Uma história tocante que encerrará a série Recomeço. Eu a amava em silêncio, guardava havia anos esse sentimento. Elena é minha prima, fomos criados como irmãos, mas, com o tempo, o que eu sentia por ela se modificou, e então me vi apaixonado e com medo de me expor e ela se afastar de mim.

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In memoriam da dona Má, minha sogra amada, que lutou bravamente e que agora descansa nos braços de Deus. Saudades eternas de ti.

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OLHEI PARA O TERNO sobre a minha cama e ainda não acreditava que teria que vestir aquilo, mas, pela minha irmãzinha, eu faria qualquer coisa, até mesmo pagar aquele mico. Terminei de me vestir e fui procurar por meu pai, pois eu não sabia dar o nó naquela maldita gravata. Atravessei o corredor e bati à porta de seu quarto. — Pai? Posso entrar? — Entra, filho. Logo que entrei, minha mãe me olhou sem jeito, e na mesma hora senti que interrompi alguma coisa, porém disfarcei e, como se não percebesse nada, falei: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Me ajuda com o nó desse troço. — Apontei para a gravata azul em minha mão. Meu pai pegou a gravata, e rapidamente o nó estava pronto. — Aqui está. — Entregou-me a peça, e eu a coloquei. Minha mãe veio em minha direção e me auxiliou. — Como você está lindo, meu amor! — Beijou meu rosto repetidas vezes. — Você também está linda, mãe. Minha mãe era linda, e eu morria de ciúmes dela. Quando andava ao seu lado, ficava puto com os olhares que a via receber, e, quando a chamava de mãe, as pessoas nos olhavam impressionados, pois eu puxara ao meu pai; minha estatura era alta, e eu aparentava ser mais velho do que verdadeiramente era. Meus amigos viviam me enchendo. Contudo, logo que eu falava o nome do Dr. Marcelo Medina, as brincadeiras cessavam. — Está lindíssima — meu pai completou todo bobo. Eu achava bonito o amor deles. Os olhos do meu pai brilhavam quando se direcionavam à minha mãe. Ela era a rainha daquela casa e fazia da vida PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS da nossa família uma alegria só. Aline não era minha mãe biológica. Contudo, eu a amava tanto quanto à minha mãe biológica, Carla. Eu era um cara de sorte, pois tinha dois pais e duas mães, e imaginem como foi crescer rodeado por todo aquele amor e em uma família grande, pois, do lado do meu pai Marcelo e da minha mãe Aline eu tinha dois irmãos: Luca, com quase 18, e Alice, que naquele dia fazia 15 anos; e da minha mãe Carla e do meu pai Marcos, Livi, com 17, e o caçulinha, Davi, com 12 anos. Para os meus irmãos, eu era o “mimadinho” da família. Se me perguntassem onde era minha casa, eu não saberia responder, pois acabava vivendo nas duas. Minhas mães sempre se deram bem, então eu nunca tive um lugar fixo, sempre estava onde desejava estar. Claro que, para que isso funcionasse, todos estudávamos no mesmo colégio. Sempre notei um distanciamento maior entre meus pais, mas eles se respeitavam, e em tudo que era referente à minha educação, eles chegavam a um acordo, sempre tomando o cuidado de escolher o que fosse melhor para mim. — Filho, você pode buscar sua irmã e suas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS primas? E de lá já pode ir direto para o salão de festas. Preciso buscar sua avó, e sua mãe ainda tem alguns detalhes para resolver. — Claro! Agora sou um cara que tem carro. — Pisquei para meu pai. Logo que eu completara 18 anos, ganhara dos meus pais um Jeep Renegade preto. Eles disseram que eu merecia, pois tinha conseguido entrar na USP entre os primeiros para a faculdade de medicina. Eu seguiria os passos do meu pai e um dia esperava ser um grande neurocirurgião. — Thur, dirija com cuidado, por favor — minha mãe pediu com olhos preocupados. — Pode deixar, mãe. Desci as escadas e encontrei meu irmão digitando algo no celular. — Ainda bem que você pagará esse mico comigo — Luca disse, revirando os olhos. — Pela nossa irmãzinha, fazemos tudo. — Ainda bem que ela desistiu da gravata rosa. Eu não usaria aquilo de jeito nenhum. — Ah, deixa de falar…. Sei que você usaria. Você e a Alice vivem brigando, mas você acaba fazendo tudo o que ela quer. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Pior que é verdade. — Vamos buscar as meninas? De lá já vamos para o salão de festas. Chegamos em frente ao salão de beleza em que minha irmã e minhas primas se arrumavam, e senti um frio em meu estômago. Peguei-me com os olhos vidrados na porta, aguardando sua saída. Minha irmãzinha estava linda em seu vestido azul, parecia uma princesa, mas meu mundo ficou em câmera lenta quando vi Elena descer os degraus. Ela estava linda, seus cabelos loiros estavam presos, a maquiagem realçava seus olhos azuis, e, ao se virar para responder algo para a sua irmã, que vinha logo atrás dela, pude ver que seu vestido deixava suas costas nuas. Aquilo mexeu com meus sentimentos. Fiquei sem saber como agir. Minha vontade era de que ela retirasse aquele vestido na hora. Senti-me enciumado, pois já imaginava o quanto ela chamaria atenção durante a festa, porém me mantive quieto e guardei para mim o que sentia. Mais uma vez eu sofria calado. — Irmão, fala com ela. Você está dando muito na cara — deixei meus pensamentos de lado ao ouvir a voz do Luca. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Me deixa, Luca! Meu irmão sempre soubera do meu amor platônico por minha prima. Luca era meu melhor amigo, éramos como carne e unha. Era um cara centrado, crânio em tudo que fosse referente a tecnologia, tanto que tinha acabado de entrar na faculdade de engenharia tecnológica. Ele me conhecia muito bem, e não demorou muito para que notasse meu interesse por Elena. Ela não era minha prima de sangue. Contudo, crescemos juntos. Os laços que nos uniam pela grande amizade das nossas mães – Amanda e Carla – se tornaram maiores quando o seu tio Marcos se casou com minha mãe. Ele cuidou de mim desde que eu estava na barriga dela, e, quando se é criança, não se atenta aos detalhes; para mim, ele era o meu pai e, automaticamente, Elena e Júlia eram as minhas primas. Mesmo depois de adulto, eu, com quase vinte anos e sabendo de toda a história sobre a minha vida, não conseguia separar as coisas. Achava que o que eu sentia por ela era errado, que eu não poderia desejá-la da forma como desejava. Era angustiante me sentir assim, aquilo estava acabando com o meu juízo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Elas entraram no carro tagarelando, e eu permaneci calado. Segui em silêncio durante o trajeto todo. Meu irmão, notando meu estado, acompanhou-me no silêncio, porém meus olhos vez ou outra se fixavam no rosto de Elena pelo retrovisor.

A festa estava linda. Meus pais tinham feito uma festa digna de uma princesa para Alice. Andei pelas mesas e encontrei minha mãe Carla e meu pai Marcos e meus irmãos Livi e Davi. — Como você está lindo, filho! Olha, amor, como nosso filho está! — Está muito bem, cara! — papai me cumprimentou. — Mas solta as bochechas do garoto, que isso na idade dele pega mal, querida. — Que pega mal o quê! Você sempre será meu bebê, não é? — mamãe falou, beijando meu rosto. — Sempre, mãe. — Devolvi o beijo. A festa rolava havia algum tempo. Meu pai já tinha dançado com minha irmã, assim como eu e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Luca. Elena desfilava pelo salão, e eu a fitava do canto onde estava e agradecia pelo ambiente mais escuro, pois meus olhos não negariam a paixão e o ciúme que sentia por ela. Elena era linda! Entretanto, não era minha. Era começo da madrugada, a música eletrônica tocava alto e a pista de dança fervia. Eu continuava a segui-la com meus olhos e bebia calado comigo e meus sentimentos. Desde que começara a ter esses sentimentos por ela, procurara me manter afastado; temia que a qualquer momento não conseguisse me controlar e colocasse tudo a perder. Ela veio em minha direção, e senti meu coração entrar em combustão. — Primo, vamos dançar! Por que está aí parado? Todo mundo está se divertindo, e você parece estar em um velório. Ela se aproximou e me envolveu com seus braços, colando seu corpo ao meu, fazendo com que meus sentidos ficassem em alerta. Não resisti e a abracei também. Coloquei meu rosto em seus cabelos e inalei seu cheiro. Deus, como segurar os meus sentimentos? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Por puro instinto a prendi mais forte em meus braços e deslizei minha mão em suas costas nuas. Eu precisava daquilo, queria sentir meus dedos tocando a sua pele. Elena virou o rosto, procurando por meus olhos, pois meu toque tinha deixado meus desejos transparecerem. Eu não a havia tocado como primo, mas como homem. Não deixei que seus olhos encontrassem os meus e me aproveitei daquele momento. Diante de seu pescoço exposto, deslizei leves beijos por toda a sua extensão. Senti que seus dedos apertaram meus ombros. Ela não se mostrou indiferente, pois colou seu corpo mais ao meu, e eu tinha certeza de que sentia minha ereção. Não sei se foi a bebida ou o torpor que meus sentimentos causavam, mas esqueci que estava na festa da minha irmã e com toda a minha família presente, esqueci-me até mesmo do tio Erick, que me mataria se me visse tocando Elena daquela forma. Todavia, a escuridão e os flashs coloridos das luzes que se modificavam a cada batida da música eletrônica me ajudaram a perder a cabeça. — Vamos sair daqui? Preciso falar com você — falei baixo com meus lábios colados em seu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ouvido. Meu coração estava disparado. Ela me respondeu com um balançar positivo de cabeça. Segurei em sua mão e saí o mais rápido que consegui de dentro do salão. Levei-a para o estacionamento e destravei a porta do meu carro. Ela se sentou ao meu lado, e, ao encontrar aqueles olhos assustados, lagrimosos e surpresos, não consegui falar nada. Eu estava totalmente consciente naquele momento do passo que daria e, sem mais pensar, segurei em sua nuca e a beijei como havia anos desejava, desde os raros beijos tímidos e desajeitados de nossa adolescência, e foi melhor do que tudo o que tinha pensado. Foi perfeito. Fiquei cego por meu desejo, e Elena não me freava, entregava-se. Deitei o seu banco e abocanhei a sua boca, deslizando minha mão sobre o tecido de seu vestido, encontrando seu corpo tão desejado. Minha paixão por ela estava acima de tudo, e eu a moldava com minhas mãos famintas. — Arthur... eu amo você! Eu sempre amei! — sua voz estava baixa e emocionada. Parei de beijar seu pescoço ao ouvir sua declaração e confesso que me emocionei ao PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS encontrar seus olhos e notar as lágrimas represadas. — Eu… Ela tocou meus lábios com seus dedos e me fez calar. Seu olhar se estreitou, e por alguns instantes vi medo neles. — Não fala nada, não sei o que eu faria se você me rejeitasse. Deixa acontecer, Thur. Eu esperei por você, eu me guardei para você... Ouvir suas palavras fez com que o homem apaixonado se entregasse, e eu a beijei com todo o meu amor. Meus sentimentos velados por ela aos poucos foram se tornando visíveis por minha entrega. Eu estava me jogando de cabeça naquela loucura, a melhor loucura que eu vivera até aquele momento. — Eu amo você, Elena. Foi sempre você — confessei em seus lábios. — Mas e aquela garota de que você falou? — Seus olhos confusos encontraram os meus. — Era mentira. Eu tentei disfarçar e confesso que até mesmo fugir de tudo o que sentia, mas era mais forte do que eu, eu não aguentava mais sufocar o que estava sentindo, Elena. Eu morria um pouco a cada vez que imaginava você arrumando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um cara, não aguentaria ver outro homem te tocar. Ela começou a chorar e me abraçou. — Nunca quis outro, nunca! Voltamos a nos beijar. Nossos beijos tinham muita entrega, paixão, e não resisti. Levei minha mão ao seu seio e o acariciei sobre o tecido de seu vestido. Nós estávamos ofegantes, entregues àquele momento, mas tomei consciência de que estávamos no estacionamento do salão de festas e de que, se continuássemos daquela maneira, poderíamos acabar transando ali mesmo. — Precisamos parar, Elena. — Então me leva para casa. Eu não posso voltar para a festa nesse estado — sua voz estava ofegante e baixa. O pouco que eu conseguia ver dela pela luz fraca do estacionamento revelava seus olhos borrados pelas lágrimas e a maquiagem e seu vestido amassado. Ela enxugou as lágrimas, ajeitou-se no banco do carro, e eu fiz o que ela me pediu. Mandei uma mensagem para o meu irmão e disse que ia levar Elena para casa. O trajeto foi feito em silêncio, mas meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pensamentos estavam a mil por hora. Estacionei na frente da sua casa e me virei, olhando-a fixamente. — Entra um pouco, vamos conversar — ela pediu. Desci do carro e a acompanhei. Elena abriu a porta da casa e, ao passarmos por ela, pegou em minha mão e ficou me encarando com aqueles imensos olhos azuis. — Não me olhe assim — pedi acariciando sua mão. — Assim como? Ela não imaginava a intensidade dos meus sentimentos por ela. — Assim. — Não resisti e a beijei com tanta força e desejo que pensei por um momento tê-la machucado e me afastei. — Que loucura, Elena... Nós não podemos, somos primos. — Não somos primos de verdade, Arthur. — Mas é como se fôssemos. Seu pai nunca entenderia... — Vamos esquecer meu pai. Eu amo você, Arthur. Amo você há tanto tempo, mas você só me desprezava. Cheguei a achar por alguns momentos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que tinha raiva de mim. — Não! Nunca tive raiva de você, como eu poderia? — Acariciei seu rosto. — Mas eu precisava me manter distante, e era para eu ter conseguido me manter dessa forma... mas hoje não consegui. Você está tão linda! E chegou me abraçando... Não resisti. — Não resista, Arthur. Eu amo você, sempre amei. Eu sofria tanto por sentir esse amor e achar que você me rejeitava, por imaginar com quantas mulheres você já deve ter se relacionado.... Eu sofria a cada vez que ia até a sua casa e, chegando lá, descobria que você tinha saído com seus amigos, pois logo imaginava que possivelmente você poderia estar com alguém. — As garotas com quem eu saía não significavam nada para mim. Eu saía para curtir, não sabia como lidar com meus sentimentos por você. Como eu poderia expor o que sentia? Poxa! Você é a minha prima! — Eu não sou sua prima de verdade, Arthur! E não somos mais crianças! Eu sou uma mulher, uma mulher com sentimentos e desejos que guardei só para você. E você agora é um homem. Acho que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS podemos viver isso. Elena colocou distância entre nós dando dois passos para trás. A claridade da lua entrava na sala, e essa era a única luz que tínhamos. Ela abaixou uma alça de seu vestido e depois a outra. O tecido fino deslizou como uma pluma por sua pele clara, deixando seus seios à mostra, assim como a pequena calcinha. Dei um passo em sua direção, mas ela fez que não, e me mantive em meu lugar. Elena levou suas mãos às laterais do pequeno pedaço de tecido que cobria sua intimidade e começou a deslizá-lo por suas pernas, e eu via a tudo em câmera lenta. O corpo que eu sempre desejara estava sendo revelado para mim. Com três passos, ela acabou com a distância que existia entre nós, pegou minha mão e a levou ao seu seio. E eu a toquei. A palma da minha mão sentiu seu mamilo entumecido, e o acariciei. Isso me deixou muito feliz e emocionado, e eu sorri. Minha respiração estava curta, e o desejo tomava conta de mim. — Tem certeza disso, Elena? — perguntei antes que a razão me deixasse. — Toda a certeza do mundo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Elena segurou em minha mão e me puxou pelo corredor de sua casa; eu sabia para onde ela estava me levando. Adentramos o seu quarto, e ela fechou a porta atrás de nós, voltou até mim e ficou na ponta dos pés, voltando a me beijar. Seu beijo era tão bom que acabei me perdendo nele. Entre beijos e carícias, fui retirando minha roupa. Nossos corpos nus se encontraram pela primeira vez. Passei meus lábios por toda a sua pele e senti o exato momento em que sua virgindade foi dada a mim. Suas unhas marcaram minha pele, seu cheiro ficou impregnado em meu corpo, e as nossas respirações eram o único som que se ouvia. Nossos olhos se encontraram e ambos mostravam a emoção daquele momento. Eu me movia, sentindo-a me receber, ouvindo seus gemidos baixos e sentindo seus beijos em meu pescoço, rosto e boca. Quando nossos lábios se encontravam, era difícil manter o controle. Minhas investidas se tornaram mais rápidas e fortes, fazendo com que eu chegasse ao meu limite. Meu prazer foi imenso e inigualável a qualquer outro que sentira até aquele momento. Elena estava deitada em meus braços, quieta. Notei que estava perdida em meio aos seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pensamentos e fiquei inseguro. — O que foi? Você se arrependeu? Eu vou entender, eu não devia… — Não! — Sua mão foi até meu rosto. — Eu nunca vou me arrepender, eu amo você! Mas como vai ser? Meu pai, nossa família… — Eu vou falar com seu pai, ele vai entender. Não cometemos nenhum pecado, Elena. — Mas você sabe como meu pai é. Ele vai achar que o estávamos enganando esse tempo todo. — Elena, nós temos 20 anos. Estudamos, sempre fomos motivo de orgulho para nossos pais. Eles podem estranhar no começo, o seu pai pode até ficar chateado comigo, mas depois vai passar. Eu não aguento mais esconder, quero que todos saibam, quero gritar para todos que eu amo você! — Eu também quero. — Então vem aqui. — Puxei-a para o meu peito, e ela descansou a cabeça ali. — Vai dar tudo certo, Loirinha. Nós vamos ficar bem, eu prometo. — É só o que quero. — Amanhã eu venho conversar com o seu pai, e nós vamos ficar juntos. Ela encostou seu nariz no meu, e senti sua PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS respiração. Sua boca encontrou a minha, e nos beijamos. — Estou tão feliz, Thur, tão feliz em estar aqui assim. Você não sabe o quanto eu sofri pensando que você não me queria. Eu te amava em silêncio, tinha medo de contar e te perder. — Como dois bobos. — Dei risada diante da situação. — Eu também não falava nada por medo de te perder, mas agora estamos aqui e vamos lutar por nós. Estou tão feliz, tão feliz, minha Loirinha. — Apertei seu corpo pequeno em meus braços. Olhei para o relógio; já fazia mais de uma hora que estávamos dentro do quarto. — Acho melhor eu ir embora, seus pais daqui a pouco estão chegando, e nossas caras vão entregar tudo o que fizemos aqui. — Beijei a ponta do seu nariz. Ela sorriu, e eu me derreti diante dela. Elena saiu da cama, e eu a segui com meus olhos. Ela vestiu um hobby e veio até a cama, sentando-se ao meu lado. — Você está bem? Está sentindo alguma dor? — perguntei preocupado. — Só um pouco dolorida, mas estou bem e muito PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS feliz. — Eu também estou muito feliz. — Obrigada por ter feito esse momento ser especial para mim. Eu o guardarei para sempre em meu coração e na minha memória. — Foi especial para mim também. Voltamos a nos beijar e já estávamos quase transando de novo, quando ela me lembrou que seus pais poderiam chegar a qualquer momento. Coloquei minha roupa, e ela me levou até a porta. Eu não queria ir embora, queria dormir com ela ao meu lado, e por isso nossa despedida foi longa. Nossos beijos eram intensos e nossos corpos se acariciavam, um buscando pelo outro. Fui para o carro, e Elena me acompanhou. Quando entrei, ela me beijou assim que abri o vidro. — Entra, Loirinha. Está tarde e um pouco frio para você ficar aqui só com esse hobby. Vou para casa do meu pai Marcelo, amanhã tenho um jogo de futebol cedo. — Ok, vamos nos falando. Ela me beijou mais uma vez e se afastou. Fiquei com o carro ligado, vendo-a correr pelo gramado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ela era a perfeição. Quando se virou para me dar tchau, não resisti e gritei: — Eu amo você! Elena levou as mãos à boca e me mandou um beijo. Vi sua porta se fechar e saí com o carro, meu peito explodindo de felicidade. Eu queria gritar como um louco. Minha casa ficava a 30 minutos da casa da Elena, mas já era madrugada e não havia trânsito. The Killers tocava, e eu aumentei o volume e cantei junto: We're burning down the highway skyline On the back of a hurricane that started turning When you were young 1 When you were young Eu estava muito feliz! Meu celular tocou, e era o Luca. — Já deixou a Elena? — Já deixei minha loirinha em casa. — “Sua” loirinha? Senti que ele estava sorrindo. — É, irmão! Minha, minha! Amanhã vou conversar com o tio Erick e vou falar que estamos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS juntos. — Boa sorte para você. O filho da mãe começou a rir da minha cara. — Ela é minha, e não vou esconder de mais ninguém. — Estou feliz por você, Thur. Você merece, irmão. — Para de viadagem! Daqui a pouco vamos chorar. — Sorri. — Já parei! — Estou chegando. — Vou te esperar. — Irmão? — Fala. — Eu amo você, seu maricas! — confessei, sorrindo. Desliguei o telefone, e um clarão tomou conta da minha visão.

Bipe… bipe… bipe… — Thur, volta para mim. Eu preciso de você aqui PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comigo… A escuridão me tomou mais uma vez.

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Alguns anos depois. DEIXEI A CLÍNICA apressada. Precisava chegar em 30 minutos ao aeroporto. Minha irmã e meu cunhado estavam chegando, e eu tinha ficado responsável por buscá-los. Júlia morava em Londres. Inicialmente ela fora para lá a fim de fazer sua pós-graduação. Contudo, acabou caindo de amores por seu professor, 10 anos mais velho, e o que era para ser uma breve viagem se tornou permanente, para desespero do meu pai. Finalmente papai já não olhava para Henry com os olhos em chamas. Dr. Erick Albers, meu pai. Ele parecia não notar que já éramos mulheres crescidas e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS independentes, que uma já havia se casado e a outra estava prestes a se casar. Aguardava ansiosa por minha irmã na área de desembarque, e não demorou muito para que eu avistasse a longa e platinada cabeleira, muito parecida com a de minha mãe havia alguns anos. Era incrível como Júlia lembrava a mamãe, mas isso só ficava na aparência, porque o gênio era todo do meu pai. Eu era uma mistura boa dos dois. Meus cabelos eram loiros, mas não tão claros como os da Ju e da minha mãe. Contudo, as luzes faziam com que a cor ficasse bem próxima a dos delas. Já Enzo era a cópia exata do meu pai, tanto na aparência quanto na personalidade. Entretanto, em uma coisa todos nós éramos iguais, tínhamos os olhos azuis idênticos aos do papai. Júlia me avistou e abriu um grande sorriso. Eu amava a minha irmã, éramos muito apegadas. Quando ela decidiu ir embora, senti muito a sua falta, mas entendia que ela desejava se especializar e tinha certeza de que seria a melhor psicóloga. — Oi, Ju! Que saudade! — Eu também estava com muitas saudades, maninha. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Demos um abraço longo e apertado. Meu cunhado veio na sequência e me abraçou também. Henry era um homem muito bonito e extremamente gentil, foi muito fácil saber o porquê de a minha irmã se apaixonar por ele logo nas primeiras semanas de aula. Lembro-me que Júlia me mandava fotos dele, as que ela conseguia tirar enquanto ele estava dando aula e me mandava legendas como “Encontrei meu marido” ou “Como posso me concentrar?”. A princípio pensei ser só uma bobeira momentânea da minha irmã, mas não era. Júlia realmente se apaixonou por Henry. No entanto, existiam muitas coisas entre eles, por isso ela o amou platonicamente por um tempo. Henry era noivo, 10 anos mais velho e ainda tinha toda a parte ética adotada pela faculdade sobre o não relacionamento entre alunos e professores. Ele lecionava psicologia comportamental, era muito respeitado por seus colegas, muito sério em sala de aula, e minha irmã só o admirava à distância. Júlia lia tudo que ele passava, era sempre atenta e participativa em sua aula, e esses pequenos minutos de atenção que ela recebia de Henry a deixavam cada vez mais apaixonada. Eu ficava com muito dó PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e preocupada com ela, pedia que saísse com outros caras, mas ela só tinha olhos para ele, e eu temia que se machucasse, pois havia mais contras que prós em um possível relacionamento entre eles. Henry, por outro lado, sempre foi respeitador e ético. De repente, do nada, ele acabou se ausentando das aulas, e a única notícia que se tinha era que ele tivera problemas pessoais. Júlia me ligava todas as noites, e eram horas de lamentação. A volta de Henry à universidade trouxe especulações. Ele estava aparentemente abatido, com a barba um pouco crescida e praticamente não sorria. No sábado daquela mesma semana, Júlia foi comemorar o aniversário da sua vizinha de apartamento em um bar que ficava próximo à sua casa. Elas comeram, beberam, cantaram parabéns, e, quando Júlia já estava indo embora, avistou Henry praticamente debruçado sobre o balcão do bar. Os bancos ao seu lado estavam vazios, e isso deu a entender que ele estava ali sozinho. Júlia se aproximou e tocou em seu ombro, despertando-o. Ele a olhou surpreso e tentou ajeitar sua postura, porém sua embriaguez não permitia. Naquela noite se iniciou a história de amor da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha irmã. Júlia se sentou ao seu lado e pediu uma Coca-Cola. Ele sorriu e pediu uma para si também, afastando o copo de uísque inacabado. Júlia contou que, naquele primeiro momento sozinha ao lado dele, acabou ficando sem jeito e sem assunto e, por isso, recorreu às suas dúvidas sobre o assunto da última aula, e ele, apesar da embriaguez aparente, tentou saná-las. Na hora de irem embora, ele não permitiu que Júlia caminhasse pelos quatro quarteirões até sua casa sozinha e a acompanhou. Nessa altura, minha irmã já estava mais desinibida, e eles acabaram trocando informações e descobriram que eram praticamente vizinhos. No decorrer da semana, acabaram se esbarrando na entrada da faculdade. Ele manteve sua postura de professor e a cumprimentou educadamente. Em sala de aula, portou-se da mesma maneira, e assim continuou por um tempo. Entretanto, um dia, em meio a uma prova, Júlia flagrou Henry a encarando. Ele disfarçou, mas ela sabia que ele a estava olhando. No mesmo dia, ao sair da aula, ela o encontrou sentado em um dos bancos do campus, lendo. Júlia disfarçou sua timidez e foi até ele. Depois de algumas palavras trocadas e de muita PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coragem, ela o convidou para um café e, para a surpresa da minha irmã, Henry aceitou prontamente. Naquela tarde ela descobriu que o noivado dele havia acabado e, com essa nova informação, jogou sua timidez e medo para os ares e o convidou para sair. Fiquei horas no face time ajudando-a com a escolha da roupa. Júlia ficou linda, mas estava insegura, e falei que ela teria que ousar, deixar que ele notasse seu interesse. Enquanto minha irmã estava no encontro, fiquei aflita, louca para saber a resenha de tudo. Acordei com o telefone tocando, e era ela. — Oi, maninha! Me conta tudo! Me fala! Eu estava ansiosa! — Ele me beijou! Eu o beijei! Nossa! Foi tão perfeito, Elena! — Conta mais! Conta mais! — Ele estava lindo! O perfume era maravilhoso. — Não quero saber disso, Júlia! Quero as partes quentes! — Não rolou nada além de beijos! Tá louca!? — Não acredito! Nem uma mão boba, nada? — Não, Elena! Ele é meu professor! PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ah... e beijar pode? Já que beijou, devia ter feito tudo — falei rindo. — Não iria fazer tudo com ele no primeiro encontro, está louca?! — Você nem é mais virgem, por que essa preocupação? — Eu sei disso e juro que foi difícil resistir ao convite dele para ir para o seu apartamento... — O quê?! Não me diga uma coisa dessas! Ju, para ele pedir isso, a mão dele deve ter chegado a áreas exógenas do seu corpo. Caímos na gargalhada. Eu amava a minha irmã, ela sempre fora minha grande amiga e incentivadora, e eu tinha tanto orgulho da mulher que ela estava se tornando que me espelhava muito nela, mesmo sendo mais nova. — Você é muito boba, Elena! Agora vamos dormir. — Não! Me conta mais! — Mais o quê? — Como foi a despedida? Vocês já marcaram outro encontro? — Sim! Ele me convidou para almoçar. — E a ex-noiva? Ele falou algo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não, e eu não quis perguntar. — Então amanhã me conta tudo o que acontecer. Júlia acabou descobrindo, depois de algum tempo, que o fim do noivado tinha sido devido a uma traição por parte da ex-noiva de Henry e que ela tinha ido embora de Londres. No começo, Júlia tinha muito medo de que eles retomassem o noivado, mas Henry sempre a acalmava quanto a isso. Eles namoraram escondido por alguns meses e aguardaram o período de Júlia como aluna da matéria dele terminar antes de assumir o namoro. Papai não gostou de saber que Henry era professor da minha irmã e muito menos quando soube que ele era 10 anos mais velho e que já tinha sido noivo. Dr. Erick, logo que pôde, pegou o primeiro voo, junto à minha mãe, para conferir essa história de perto. Ao final, Júlia noivou e se casou, tudo isso dentro de 18 meses. Ela foi a noiva mais linda que já vi. O casamento aconteceu aqui, no Brasil, e meu pai fez questão de que tudo acontecesse da forma como ela sonhara. Papai chorou ao caminhar ao lado dela até o altar. O amor dele por nós é comovente. Ele sempre nos olhará como seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS bebês. Acredito que, para ele, seus filhos nunca crescerão. Depois do casamento, ela passou a residir em Londres, para a tristeza dos meus pais e a minha, que via minha irmã somente nas férias. Estar com ela naquele momento era muito especial para mim. Chegamos à casa dos nossos pais, e mamãe já nos esperava eufórica. — Júlia, Henry, que saudade de vocês! — Mamãe os abraçou. — Também estava com saudades, mãe. — Júlia retribuiu o abraço caloroso. — E o papai? — Já está chegando. Hoje convidei seus avós e seus tios para um jantar de boas-vindas a vocês. — Que legal, mãe! Eu estava com muitas saudades de todos. Nós nos sentamos à mesa. Mamãe tinha preparado um almoço delicioso para nós com a ajuda da nossa boa e doce Ana, que estava conosco desde que mamãe se casara com papai. Ela também abraçou muito a Júlia. Após o almoço, Júlia e Henry foram para o quarto descansar da viagem, e eu fiquei na sala para abrir as quatro caixas de presentes que haviam PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chegado naquela manhã. Meu celular tocou, e eu o atendi. — Oi, meu amor, tudo bem? — Tudo, e com você? — Tudo tranquilo. Você buscou a sua irmã e o Henry? Eles chegaram bem? — Busquei. Estão bem. Recebemos quatro presentes esta manhã — contei animada. — Que legal! Minha mãe falou que chegaram presentes lá também. — Você está nervoso? Porque eu estou começando a ficar muito nervosa. — Estou. — Ele riu. — Acabei de passar no nosso apartamento, e eles finalizaram as pedras das pias. Antony estava lá e falou que as cortinas serão colocadas até quinta. Antony era nosso enrolado arquiteto. Nosso apartamento era para ter sido entregue havia dez dias, mas acabou não acontecendo. — Só acredito vendo — comentei irritada. — Calma, amor! Vai dar tudo certo. — Tomara! — Preciso voltar para o trabalho. À noite nos vemos no jantar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tá bom! — Eu te amo! — Eu também!

O encontro à noite com a nossa família, como sempre, se tornou uma grande festa. Eram muitas vozes, muitas risadas e muita comida. Vovó Isabel me presenteou com um par de brincos lindos de diamantes, e vovó Ângela, com uma pulseira. Todos estavam ansiosos e muito animados para o grande dia. Jantamos, e, na hora da sobremesa, meu cunhado pediu a atenção de todos e, com seu sotaque britânico, começou a dizer: — Família, gostaria de um minuto de atenção... — Ele olhou para a minha irmã com seus olhos cheios de brilho e sorriu. — Eu nunca imaginei que um dia pudesse encontrar uma pessoa tão incrível como você. Eu sou um homem muito sortudo por ter você em minha vida. Obrigado pela esposa perfeita que você é e por ter realizado um dos meus maiores sonhos. — Júlia olhava para Henry muito PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS emocionada. — Fala para eles, amor! Júlia voltou seu olhar para nós e, com as primeiras lágrimas escorrendo, levou as mãos à barriga e, com a voz embargada, revelou: — Eu estou grávida! Descobri no início da semana. Na hora senti uma emoção sem igual. Mamãe se levantou e foi abraçá-la, enquanto papai permanecia sentado parecendo estar em choque com a notícia, e os demais, sorriam, comentavam e parabenizavam os novos papais. — Eu não acredito que serei tia! — Abracei a minha irmã. — Você tem que ter a bebê aqui no Brasil, eu não vou aguentar ficar longe dela. — Calma, Elena! Acabei de saber que vou ser mãe, tenho muitos meses para decidir isso, e outra coisa, quem te falou que é uma menina? — Eu sei que é! Vai ser uma menininha. — Beijei seu rosto e a abracei mais uma vez. Papai e mamãe viviam dizendo para Júlia e Henry que eles tinham que viver no Brasil, mas eles ainda optavam por morar em Londres. Papai se levantou de onde estava e veio abraçar minha irmã, que retribuiu e começou a chorar de emoção após PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ouvir o que ele disse baixinho só para ela. A família ficou totalmente empolgada com a nova notícia. Minhas avós começaram a dar à minha irmã receitas de chás para os possíveis enjoos e a lhe dizer como deveria se alimentar.

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DO OUTRO LADO da mesa, meu futuro marido olhava-me de forma apaixonada, e eu retribuía sorrindo. Eduardo era meu noivo, nós nos conhecíamos desde a infância e estávamos juntos havia quatro anos. Ele me pedira em casamento um ano antes, porém eu ainda não pensava em matrimônio na época, queria terminar a residência, e ele respeitara. Edu sempre demostrara ter interesse por mim, mas eu fazia de conta que não notava e seguia com a minha vida, tendo-o somente como um bom amigo. Todavia, o tempo foi passando, e desisti de viver aquela vida solitária, sempre à espera de alguém. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS No dia em que fiquei com Edu pela primeira vez, foi em uma balada a que fui com as meninas da faculdade. Era final de semestre, e estava todo mundo doido para sair e beber. Eu dançava com as minhas amigas, e ele me observava. Quando as meninas perceberam isso, começaram a me atiçar para ficar com ele. Eduardo era um cara bonito, tinha um papo legal. Naquela noite resolvi expulsar os fantasmas da minha vida e me permiti recomeçar. Dentro de mim vivia um misto de sentimentos, raiva, decepção, rejeição e frustração. Esses sentimentos tinham me consumido por anos, e eu estava cansada. Minha vida profissional seguia como o planejado, mas minha vida sentimental tinha virado uma porcaria. Eu não queria ser uma mulher amargurada, mas notei que estava caminhando para isso. Caminhei decidida até ele, mas, ao chegar à sua frente, toda minha força e valentia se foram, e não sei como o olhei, pois ele cortou o pequeno espaço que nos separava e levou uma das suas mãos ao meu rosto. Não sei se foi o álcool ou minha fragilidade, mas minha boca falou totalmente desconectada do meu cérebro: PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Faz tudo isso parar? Eu não aguento mais viver assim. Ele não respondeu com palavras, mas com sentimentos bons, pois foi isso o que o seu beijo me deu. Ele me beijou com fome, puxou o meu corpo para ficar colado ao dele, e eu permiti, permiti-me sentir, permiti-me ter sentimentos por outra pessoa, e foi bom. Nossas respirações estavam fortes, nossos corpos colados, e nossos olhos se encontraram. — Esperei tanto por esse momento que agora estou com medo de fazer ou falar alguma coisa que a faça sair correndo. — Eu não vou sair correndo. — Nossa, eu nem acredito! — Ele sorriu, e suas covinhas apareceram. Eduardo voltou a me beijar, e assim ficamos até ele me deixar em frente de casa. Nós nos despedimos e ficamos de nos encontrar na faculdade. Edu fazia seu MBA na mesma faculdade em que eu cursava medicina. Era um ano mais velho do que eu e já trabalhava na construtora do avô. No dia seguinte fui receosa para a faculdade. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Achei que me sentiria desconfortável ao vê-lo, mas isso não aconteceu. Ao entrar com meu carro no estacionamento, avistei-o encostado ao seu. — Bom dia, Elena! — Bom dia! — Dormiu bem? — Dormi, e você? — Demorei para desligar, você me deixou agitado. — Eu? — perguntei surpresa. — É! Você. — Ele sorriu e me ajudou com a pilha de livros que eu tinha em meus braços. Andamos alguns metros em completo silêncio. — Elena, eu não quero que se sinta pressionada porque ficamos ontem. Acho que não é novidade que eu sempre me interessei por você, mas não vou forçar a barra. — Relaxa, Edu! Vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente. Nos encontrávamos todos os dias pela manhã e, quando dava tempo, tomávamos café juntos na cantina. Eu me sentia bem com o Eduardo, ele era divertido, tinha uma boa conversa e não era PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pegajoso, além de sermos bons amigos. Naquela primeira semana só rolou uns selinhos em nossas despedidas. No sábado, ele me convidou para jantar e foi até a minha casa me buscar. — Você está linda, filha! — mamãe elogiou assim que me viu descer a escada. — Eu vou sair com o Edu. — Até que enfim! Coitado desse rapaz. Há anos ele mostra interesse por você. A campainha tocou. Fui até a porta e a abri. Edu, ao me ver, abriu um grande sorriso, então notou mamãe atrás de mim e a cumprimentou também. — Vamos? — chamei-o. — Vamos! Nós nos despedimos da minha mãe e entramos em seu carro. Ele colocou para tocar uma música suave e baixa e colocou o carro em movimento. Fomos a um bistrô muito aconchegante. Edu escolheu o vinho, e optamos por comer risoto. Ele estava muito bonito, seu sorriso era lindo, e ganhei vários durante nosso jantar. — Sabe, Edu, eu não estava pensando em me envolver com ninguém até esse momento. Estive PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS até agora tendo como prioridade apenas a faculdade... — Elena, eu te entendo. Imagino o quanto deve ser puxado o curso de medicina. — E achei que seria muito complicado ter um relacionamento no decorrer do curso. Me desculpe se às vezes me fiz de rogada a suas investidas. — Tudo bem! Você sempre soube que eu gostava de você, não é? — Você não escondeu, com suas idas à lanchonete perto da minha área no campus, com os oferecimentos de carona, os convites para sair e as flores mandadas para minha casa. Ele pegou a minha mão que estava sobre a mesa e entrelaçou nossos dedos. — Eu quero te fazer feliz. Eu gosto muito de você, Elena. Olhei para as nossas mãos unidas e dei um sorriso fraco. — Eu sei que você não tem os mesmos sentimentos por mim, mas serei paciente — continuou quando me mantive em silêncio. — Gostaria que me desse uma chance. Fomos interrompidos pelo garçom trazendo o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vinho. Continuamos com nossos dedos entrelaçados e nos encarávamos com cumplicidade. O jantar foi servido e estava delicioso. Dispensamos a sobremesa e saímos do restaurante. Dentro do carro, Edu ficou de lado e fez um carinho em meu rosto. — Posso te beijar? — sua voz baixa e sussurrada soou próximo ao meu ouvido. — Pode. Sua boca foi ao encontro da minha, e nos beijamos. Ele beijava bem, deslizava sua mão em minhas costas, e era bom. Entretanto, Arthur veio à minha mente e senti vontade de chorar. Afastei-me e tentei me controlar. Eduardo não merecia isso, ele não tinha culpa de o meu coração ainda pertencer a outra pessoa. — Ei, tudo bem! Vamos aos poucos. Abraçou-me, e senti conforto em seus braços. — Vamos dar uma animada nessa nossa noite. O que acha de irmos dançar? — perguntou animado, tentando disfarçar o clima. — Vamos! Chegamos ao local, que estava lotado. Edu andava atrás de mim segurando em minha cintura e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS manteve seus braços ao meu redor durante toda a noite. Acabamos trocando beijos e dançamos bastante. Saímos já era madrugada, e ele me deixou em casa. — Obrigado pela nossa noite! — Eu a adorei. — Fui até ele e dei um beijo em seus lábios. Estávamos namorando havia quatro meses. Ele frequentava a minha casa, e eu, a dele, e nosso namoro já era conhecido por todos. As famílias faziam gosto do nosso namoro, ainda mais por serem próximas desde nossa infância. A família do Edu era muito tradicional, e acredito que eu tenha passado pelo “crivo” deles para tal aceitação. Edu era muito alto-astral, a sua companhia me fazia bem, ele era cuidadoso, atencioso, e aos poucos o nosso namoro ia se consolidando. Nossas vidas eram um tanto corridas, a faculdade ocupava-me bastante, e Edu vivia em viagens pela construtora. Em uma dessas viagens, ele me convidou para acompanhá-lo. Ele iria para o Rio de Janeiro, e, como a viagem de negócios se emendaria a um feriadão, teríamos tempo para curtir um pouco as praias cariocas. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Já estou com as passagens e reservei o hotel. Tenho duas reuniões na sexta, mas teremos o final de semana e o feriado para aproveitar — Edu contou empolgado. — Vou sair mais cedo da faculdade para arrumar as minhas malas. Faz muito tempo que não viajo para o Rio de Janeiro, estou ansiosa. — Eu também estou ansioso! Vai ser nossa primeira viagem, quero que seja especial. Agora tenho que entrar em uma reunião, mais tarde te ligo. Um beijo. — Um beijo para você também. Cheguei a casa e fui para o meu quarto, entrei no closet e comecei a separar as roupas que queria levar. Escolhi biquínis, saídas de praia, vestidos e lingerie. Quando olhei para os meus pijamas, percebi que provavelmente dormiríamos no mesmo quarto e que uma coisa possivelmente podia levar a outra. Elena, você tem 23 anos e precisa virar essa página. Ele é uma cara legal... Meus olhos encontraram meu corpo refletido no espelho. Ele te deixou, foi embora e não voltou mais. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Você precisa seguir em frente e se dar uma nova chance. Respirei fundo, terminei de colocar as coisas na mala e liguei para a minha irmã. — Oi, Ju! — Oi, maninha! Como você está? — Estou bem! E você? — Bem e morrendo de saudades de vocês. — Também sinto sua falta, Ju. — E como está o namoro? — Bem! Vamos viajar amanhã. — Hum... viajar, é?! — Ah, Ju... Vamos aproveitar o feriado. — Para onde vocês vão? — Para o Rio de Janeiro. — Que delícia! Sol! Verão brasileiro! — Faz tempo que não pego uma praia. Papai e mamãe foram para Ilha Bela semana passada, mas eu precisava estudar e acabei ficando. — Fico feliz, Elena. Aproveita e curte o momento. — Vou aproveitar. — O Eduardo é um cara legal, dá para ver o quanto ele gosta de você. As postagens nas redes PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sociais que ele faz deixam isso muito claro. Vocês ficam lindos juntos. — Ele é muito gentil. — Só gentil? — Sua risada irônica ecoou em meus ouvidos. — Não só isso, sua boba! — Então aproveita! — Vou aproveitar, Júlia! Conversamos um pouco mais e nos despedimos. Na manhã seguinte, acordei, coloquei uma roupa confortável e desci com a minha mala. Tomei café com meus pais e meu irmão, e não demorou muito para que o Edu chegasse. Fomos para o aeroporto de Congonhas e de lá pegamos o voo direto para o aeroporto Santos Dumont. O voo foi rápido e tranquilo. Edu estava lindo com uma calça social grafite e uma camisa branca, seus cabelos castanhos bem penteados e a barba rala que eu adorava. Do aeroporto, fomos direto para um hotel em Ipanema. Edu fez o check-in e precisou ir para o seu compromisso. — Eu preciso ir para a reunião, tudo bem você ficar? — Claro! Sem problema, pode ir tranquilo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele beijou meus lábios e saiu. Entrei no quarto e observei os detalhes. Ele era amplo e claro. A mesa de apoio tinha um balde com champanhe, morangos e chocolates, e, sobre a cama, havia um buquê de rosas vermelhas. Sorri diante do cuidado e carinho que Edu me proporcionava. Arrumei minhas coisas no armário, depois coloquei um biquíni e fui para a piscina. Meu celular recebeu uma mensagem e corri a olhar. ˃ Gostou do quarto? < Adorei! Obrigada. ˃ O que está fazendo? < Estou na piscina. ˃ Aproveita, daqui a pouco estou aí. Agora vou almoçar com um cliente, depois volto para o hotel. < Te espero. Almocei no quarto, depois me deitei na cama e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comecei a assistir a um filme. Acho que acabei dormindo, porque despertei sentindo beijos sendo depositados em meu rosto. O cheiro do perfume que já me era familiar entrou em minhas narinas, e eu adorei aquela sensação. Abri meus olhos e encontrei os de Eduardo. — Oi! Acho que acabei cochilando. — Você fica linda dormindo. — Seus dedos acariciavam meus cabelos. — Não passou protetor solar? Sua pele está bem vermelha. — Passei, mas minha pele é assim mesmo, fica vermelha fácil. Eu estava com o biquíni e uma camisa que usava como saída de praia. Seus olhos passeavam pelo meu corpo e pararam por alguns momentos em meus seios. Nunca tínhamos ficado daquela forma. Nossos quatro meses de namoro se resumiam a jantares, sair para dançar, almoços e jantares em família e cinema. Aquela era a primeira vez em que teríamos mais intimidade. Eu sabia que era eu mesma a evitar ter momentos mais íntimos, mas precisava me acostumar à sua companhia, precisava me sentir segura. No meu íntimo, sempre acreditara que o único homem da minha vida seria o Arthur. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O amor que nutria por ele parecia tomar posse de tudo em mim. Contudo, estava cansada daquilo. Ele desistira de tudo, tomara a decisão sozinho e falara que era para o meu bem, porém, sua atitude só me fizera mal, muito mal. — Você é linda, Elena! — Você também é lindo, Edu. — Estou muito feliz em estar aqui com você. Obrigado por nos dar uma chance. — Eu gosto de estar com você. Você me faz bem. — Eu quero muito que a gente dê certo. — Eu também! Ele começou a me beijar, e senti uma de suas mãos apertar minha cintura. Seu beijo era bom, seu cheiro era delicioso, e eu estava gostando de sentir suas mãos em minha pele. Meu corpo se arrepiou, senti desejo e queria ser tocada. Sua mão foi subindo, e meu corpo se agitou. Seus dedos tocaram meus mamilos, e um pequeno gemido saiu da minha boca, o que fez Edu sorrir durante nosso beijo. Seus lábios deixaram os meus e começaram a percorrer meu pescoço e meu colo. Olhando em meus olhos, ele abriu os botões da minha camisa, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS deixando o meu corpo à mostra, apenas com as peças do biquíni para cobrirem minha intimidade. Edu com cuidado afastou o tecido que cobria meu seio direito e levou sua boca até ele, abocanhando meu mamilo. A deliciosa sensação fez meu corpo se curvar, e, ante isso, ele soltou o laço da parte de cima do biquíni em minhas costas e o retirou por inteiro. — Você é linda! — Seus olhos percorriam meu corpo. Seus lábios voltaram a tocar os meus, e um beijo profundo e cheio de desejo foi trocado. Sua mão deslizou por meu abdome e foi à lateral do meu quadril, desfazendo o laço da calcinha do meu biquíni. Sua mão passou por minha intimidade, e ele soltou um gemido em minha boca. Seu dedo deslizou por minha pele molhada e me invadiu. Apertei minhas mãos em sua camisa e a retirei de sua calça. Ao sentir meu movimento, ele se afastou e terminou de retirá-la. Seus olhos brilhavam, mas, quando ele voltou a beijar meus seios, acabei o afastando, pois comecei a me sentir angustiada. Senti vontade de chorar, porque imaginei que o que eu estava fazendo era errado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu não posso! Me desculpa! Saí da cama e corri para o banheiro, liguei o chuveiro e chorei. Dois anos se passaram desde que ele foi embora, dois anos! Por que sinto que transar com outro é errado?! Eu não posso viver desse modo, eu não mereço viver assim! Eu quero ser feliz! Fiquei um bom tempo sob a água. Saí do boxe, coloquei o roupão e enrolei uma toalha no cabelo. Retirei o vapor do espelho e vi a minha imagem refletida. Meus olhos estavam vermelhos, tal como meu nariz e lábios. Lembrei-me do Edu lá fora. Ele não merecia aquilo, eu não merecia. Saí do banheiro e o encontrei sentado na beirada da cama. Ele estava com o cabelo molhado e vestia um short e uma camiseta. Seus olhos me encontraram, e ele se levantou na hora. — Onde você tomou banho? — indaguei envergonhada. — Elena, eu nem sei o que dizer. Achei melhor ir para outro quarto. — Não. Não precisava ter feito isso, Edu. Eu... Eu só tive medo, fiquei confusa. Queria um buraco pra me enfiar... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Meu Deus! Você é virgem? Nossa, devia ter me... — Não. Eu não sou mais virgem, mas é complicado. — Meus olhos se encheram de lágrimas, que tentei conter. Ele veio até mim e me abraçou. — Desculpa! — pedi me aconchegando em seus braços. — Tudo bem, Elena. — Suas mãos acariciavam as minhas costas. — Quer ir dar uma volta na praia? — questionou, e notei que ele queria que eu ficasse bem. — Quero. Edu beijou minha testa e voltou a se sentar na cama. — Então vai se arrumar. Escolhi um vestido estampado de alcinhas e coloquei sandálias rasteirinhas. Penteei meu cabelo e deixei que secasse sozinho. Saímos do hotel e fomos andar na orla de Ipanema. Edu segurou a minha mão e não a soltou. Paramos em um quiosque e pedimos água de coco. Ficamos por lá um tempo e depois voltamos a andar. Ele falava do trabalho, e eu, da faculdade, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS evitando o assunto” nós”. Anoiteceu, e fomos a um restaurante japonês. Pedi uma caipirinha de saquê, e ele, uma cerveja. Por alguns momentos parecia que aquele episódio da tarde nem tinha acontecido, porém em outros ficávamos calados. Voltamos para o hotel andando pela areia da praia de mãos dadas. Chegamos ao nosso andar em silêncio total. Paramos em frente ao quarto, e ele abriu a porta. — Elena, acho melhor eu ir para o outro quarto. — Não, fica aqui comigo. — Tem certeza? — Tenho. Fiquei na ponta dos pés e o beijei. Durante o beijo, fui levando-o para dentro do quarto. Edu bateu a porta com seu pé, e continuamos a nos beijar. Ele mantinha suas mãos na minha cintura, parecia temer me tocar. — Me toca — pedi, interrompendo o beijo. Senti sua mão deslizar pela lateral do meu corpo e segurar a barra do meu vestido. Ele o ergueu e o retirou. Fiquei só de calcinha, e ele não parava de me beijar. Senti meus pés saírem do chão e meu corpo ser acomodado em seu colo. Fui colocada PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sobre a cama, e ele ficou em pé à minha frente. Seus olhos brilhavam, e seu peito subia e descia mostrando sua respiração agitada. Edu se aproximou de mim e beijou minha barriga. Seus olhos buscaram os meus, talvez procurando por algo que o freasse. Continuou a beijar minha pele até chegar aos meus seios e abocanhá-los. Curvei meu corpo e acariciei seus cabelos enquanto meus gemidos saíam. Suas mãos deslizaram por minha pele até chegar à lateral da minha calcinha. Edu a retirou do meu corpo e ficou de joelhos à minha frente, deixando um beijo em meu sexo. Deslizei minhas mãos por suas costas e puxei sua camiseta, retirando-a. Ele colocou seu corpo sobre o meu e voltou a me beijar. Nossas peles se tocaram, nossos corpos se moldaram. Ia acontecer. — Edu, a camisinha... — eu o lembrei, pois tinha parado de tomar anticoncepcionais. — Não se preocupe, não vou esquecer. Ele continuou a me beijar e depois se afastou, sentando-se na cama e ficando de costas para mim, então voltou e me puxou para os seus braços, deitando seu corpo sobre o meu. Minhas pernas o envolveram, e senti minha intimidade ser invadida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nossos olhos se encontraram, e eu vi carinho e alegria em seu olhar. — Você não tem noção do quanto esperei por isso. — Seu corpo se mexia sobre o meu, sua boca beijava meu pescoço. — Você é perfeita! Eu também estava gostando, Edu era lindo, tinha um corpo que me atraía e era extremamente carinhoso. Ele soube me tocar, soube me acender e me fazer delirar. Naquele momento eu compreendi que sexo podia ser maravilhoso mesmo o amor não estando presente.

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NOSSO NAMORO SE tornou gostoso. Edu tinha um temperamento que me agradava, seu jeito calmo e alegre deixava-me feliz, fora que na cama nos entendíamos maravilhosamente bem. Eu era praticamente uma virgem, só tinha transado uma única vez antes dele, e posso dizer que Edu foi um ótimo professor. Ele fazia com que eu me sentisse mulher, sexy e desejável. Eu não me via mais como uma menininha boba e apaixonada que achava que nunca poderia ter outra pessoa na vida que não fosse o Arthur, meu primeiro amor. Mesmo sem saber, Edu me mostrou que eu poderia ser a mulher que quisesse, e optei por ser dona de mim e só PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aceitar o que me fizesse feliz. Podia ser egoísmo, talvez, porém, daquela maneira, eu me machucaria menos. Viajamos bastante durante os três anos de namoro. Sempre que eu tinha um espaço na faculdade e, depois, na residência, dávamos uma escapada. Edu era um cara aventureiro, ele amava fazer trilhas, esquiar, e eu o acompanhava sempre que podia. O pedido de casamento foi feito em meio a um luau em Fernando de Noronha. A cena típica dos pedidos foi feita, e eu me derreti. Seu jeito carinhoso me desarmava, e claro que aceitei. Transamos dentro do mar, tendo só as estrelas como nossas testemunhas. Foi maravilhoso e foi a primeira vez que fizemos sexo sem proteção, porém, eu já estava me cuidando, pois filhos estavam fora de cogitação. Nunca sequer havíamos falado sobre tal assunto. Nossas famílias amaram a notícia, menos meu pai, claro! Ele achou que Edu tinha que ter falado com ele antes. Coisas do meu pai. Eu ficava imaginando como o Arthur receberia a notícia do meu noivado. Por mais que eu lutasse, ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS permanecia em um lugar dentro de mim. Eu sabia de tudo sobre sua vida, mesmo com ele morando nos Estados Unidos. Durante muito tempo essa distância só existiu de forma geográfica, porque ele sempre esteve comigo, dominando meus pensamentos e desejos. Entretanto, a sua negativa aos meus pedidos foram disseminando a chance que achei que algum dia a vida nos daria. Ele não me queria por perto, não queria uma vida comigo, e eu acabei aceitando. Durante o ano de noivado, eu e Eduardo compramos nosso apartamento, mandamos decorálo e marcamos a data do casamento. Eu já me tornara uma pediatra, e a residência já não era mais empecilho. O vestido foi escolhido, a igreja, reservada, e eu teria a festa do sonho de qualquer noiva. Deixei as lembranças de lado e tornei a olhar para Edu, que ainda sorria para mim à mesa do jantar de boas-vindas para minha irmã e meu cunhado, que tinham vindo ao Brasil apenas para o nosso matrimônio. Eu serei feliz, prometi a mim mesma. PERIGOSAS ACHERON

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O dia do casamento chegou. Eu estava muito nervosa. Minha casa estava cheia de profissionais que ajudariam a arrumar a mim, minha mãe e minha irmã. Meu vestido estava pendurado, as joias, sapatos e lingerie, sobre a cama, e eu me via inquieta, agitada. Edu me mandara diversas mensagens carinhosas no decorrer do dia, mas isso não ajudou a me tranquilizar. Papai chorou abraçado à mamãe ao me ver vestida de noiva descendo a escada da nossa casa. Entrei no carro, mamãe me entregou o buquê e se sentou ao meu lado. Papai foi na frente com o motorista. Ao chegarmos à porta da igreja, eu já ouvia uma das músicas escolhidas por nós tocando. Mamãe entrou primeiro, porque ela entraria com o pai do Eduardo, e ficamos só eu e meu pai no carro. — Minha princesa, você está tão linda! — Obrigada, pai. — Eu quero que saiba que ainda serei seu protetor, que, mesmo casada, você sempre poderá correr para o meu colo quando não se sentir segura. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Você nunca deixará de ser o meu bebê. — Eu sei, papai. Eu te amo! — Fiquei emocionada ao ver os lindos olhos do meu pai vermelhos. — Agora vamos, que chegou seu momento. Papai me ajudou a sair do carro. Uma das organizadoras da assessoria do casamento veio arrumar meu véu. Ficamos diante da grande porta, e segurei no braço do meu pai. — Papai, não me deixe cair. — Eu tremia. Estava muito nervosa. — Nunca a deixarei cair. As portas se abriram, e apertei o braço do meu pai. Demos os primeiros passos sobre o extenso corredor, e, lá no altar, ele me esperava. Estava lindo em seu terno grafite. Contudo, a minha atenção foi roubada, trazendo-me espanto, tortura e dor. O movimento da cadeira, os ombros largos, o pescoço musculoso com um pequeno pedaço do desenho de uma tatuagem saindo acima do colarinho da camisa branca. Não podia ser! Ele nunca mais tinha voltado para o Brasil, foram anos de distanciamento colocados por ele, seis, para ser PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS exata, e agora... Era ele! Eu tinha certeza! E a confirmação veio quando a cadeira se virou e ele ficou de frente para mim, aos pés do altar. Parecia até que eu caminhava para ele, porém não era ele meu noivo, e sim o Eduardo, que estava no altar e me recebia com um sorriso emocionado, ao contrário de mim, que tinha certeza de que caminhava para o altar com uma cara péssima. Arthur me fitava sério, tenso e ferido. Você não tem esse direito!, pensei e deixei que meus olhos passassem essa mensagem a ele. O que faz aqui? Passei por ele e fui até o Edu, que me recebeu com um beijo na testa e depois abraçou o meu pai. — Você está linda, Elena! Sou um homem de sorte. — Você também está lindo. — Dei um sorriso fraco. O padre começou a cerimônia falando coisas lindas sobre amor, união e fidelidade. E eu só pensava no que Arthur fazia ali. Minha mão estava unida à do meu noivo, e Edu acariciava meus dedos. No momento dos votos, ficamos frente a frente, e, por minha visão periférica, eu via o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Arthur. Ele não deveria estar ali, não naquele dia, não tinha o direito! Edu falou seus votos apaixonadamente emocionado: — Eu não vou dizer o que está no script. Eu quero dizer o que sinto em meu coração. — Ele sorriu. — Eu te amo! E prometo que farei de tudo para ver sempre um sorriso em seu rosto. Eu te respeitarei e serei fiel ao nosso casamento, sempre te protegerei e cuidarei de você e da nossa família. Essa aliança significa o laço que nos une e todo o amor que tenho por você. — A aliança foi deslizando em meu dedo, e depois ele a beijou. Eu segui o script falado pelo padre, não me sentia em condições de formular nada naquele momento. Terminei de repetir o que era dito pelo sacerdote e deslizei a aliança no dedo do Edu. — Eu os declaro marido e mulher. Já pode beijar a noiva — o reverendo concluiu sorrindo. Edu segurou meu rosto e deu um beijo casto em meus lábios, depois falou olhando dentro dos meus olhos: — Você é a minha vida. Hoje você fez de mim o homem mais feliz desse mundo. — E me beijou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais uma vez. Quando descemos do altar, não avistei mais o Arthur. Ele já não estava mais no mesmo lugar. Na porta da igreja, recebemos a tradicional chuva de arroz e de lá fomos para o buffet onde seria realizada a festa. No salão, fomos recepcionados por palmas e assovios e encaminhados até a pista de dança, onde dançamos nossa primeira música depois de casados. Mesmo durante a dança, por mais que eu tentasse frear, via-me passando os olhos pelo espaço à procura de Arthur, e acabei o encontrando. E ele nos observava sério. Terminamos a dança e fomos fazer todo o ritual de casamento: foto na mesa do bolo, foto com os pais, fotos com os padrinhos, com os pajens... Depois jantamos sentados à mesa dos nossos pais. Mamãe e papai dançavam, riam, eles eram tão perfeitos juntos. Minha irmã não estava bem, precisou correr para o banheiro duas vezes para vomitar. Henry estava todo preocupado, e tio Leo tentava acalmá-lo dizendo que era normal. E todos comentavam a vinda inesperada do Arthur ao meu casamento. Desde o dia em que ele fora embora, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS nunca mais tinha voltado. Meus tios e meus primos iam para lá nas datas comemorativas. Tia Aline e tio Marcelo viveram com ele em Nova Iorque por seis meses no início do tratamento, e atualmente Luca era quem morava com ele. — Elena, precisamos cumprimentar os convidados — Eduardo me lembrou. Eu preferia que aquele momento não acontecesse, porém não seria educado com quem tinha vindo nos prestigiar. — Vamos! — Fui na direção oposta à que Arthur estava. Edu segurou a minha mão, e caminhamos para a primeira mesa, e então para a seguinte, e a seguinte, e a seguinte. Foram muitos abraços, beijos e desejos de boa sorte. Ao chegar à mesa dos meus avós, recebi abraços e beijos. Tia Carla e tio Marcos também se levantaram para nos cumprimentar e depois foram para a pista de dança. Por último estava ele, sério, revirando o gelo no resto da bebida que tinha em seu copo. O primeiro a ir até o Arthur foi o Edu. — Ei, cara, legal você ter vindo. — Cumprimentaram-se. Arthur e Edu se conheciam pela amizade das nossas famílias. Edu nunca tinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS falado nada contra meu primo, mesmo porque ele não sabia que Arthur havia sido meu grande amor. Já Arthur não via Edu com os mesmos olhos. — Não podia faltar ao casamento da minha prima. — Ele me encarou. — E vai ficar até quando? Fiquei sabendo que está com treinos puxados. Parabéns pelo ouro no Parapan. — Obrigado. Não vou ficar muito tempo. Só vim para ver o casamento. — Ele continuava a me encarar, então voltou sua atenção ao Edu. — Estou focado em minha carreira. — Você vai se sair bem, cara! Você é muito bom! — Eu tento — ele comentou sorrindo e voltando seus olhos para mim. — Então você se casou, priminha. — O sorriso irônico direcionado a mim me deixou irritada. — Muito tempo passou... — Eu me contive; Edu não merecia ouvir certas coisas. — Mas a vida foi muito boa comigo, “primo”. Ela me mandou o Edu, e eu não poderia fazer outra coisa que não fosse me tornar sua mulher. Meu avô chamou Edu para receber os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cumprimentos de um dos amigos em comum que eles tinham, e eu e Arthur ficamos a sós na mesa. — Que bom para você. Noto que as minhas suspeitas estavam certas. Viu como foi bom eu ter tomado a atitude que tomei? — Sua ironia debochada me irritou. — Olha para você, está com a felicidade estampada no rosto. — A escolha foi sua e não minha. Caberia somente a mim mesma escolher o que eu queria para a minha vida. Mas não quero falar disso, já passou muito tempo. Você ficou no meu passado. Agora encontrei uma pessoa bacana e estou feliz. — Que bom para você! — Deu um gole da sua bebida. Sua resposta e seu olhar me deixavam cada vez mais irritada. — O que faz aqui? Por que veio? Você passou anos sem voltar. Por que isso agora? — questionava-o de forma ríspida. — Eu queria ver isso com meus próprios olhos. Eu sei que não tenho direito de cobrar nada, mas, Loirinha... — Notei seu olhar enternecer. — Não me chame assim! Eu não sou nada sua para me chamar desse modo! — Sentia-me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ultrajada. Ele não tinha mais o direito de me chamar assim. — Você sempre será a minha Loirinha, sempre! Eu quero que seja feliz, que tenha uma vida alegre e que ele consiga te dar tudo o que eu não pude. — Eu só queria o seu amor, só o seu amor. — Meus olhos se encheram de lágrimas. — O resto viria com o tempo, porém você foi um covarde e usou de achismos para me descartar da sua vida. Que droga, Arthur! Você não deveria estar aqui! — Não foi achismo, não foi, Elena? — seu tom irônico voltou. — Mesmo porque olha com quem está se casando! Mas hoje eu te entendo. Você era jovem, linda, tinha acabado de descobrir o sexo. Ver um cara lambendo o chão que você passava, deve ter sido difícil de resistir. — Você é ridículo! E não devia ter vindo! — Eu precisava. — Para quê? Para que eu me sentisse mal? Para você me humilhar como faz agora? Para me mostrar o quanto está bem sem mim? — Não. Eu nunca estive bem, Elena. Não da forma que pensa. Mas eu queria ver com meus próprios olhos se você estaria realmente bem, e, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pelo que vi, está. — Estou mesmo! Ele é perfeito! Me ama e me assume! Não tem medo de mostrar para o mundo tudo o que significo para ele. Edu lutou por anos para ficar comigo, foi paciente e carinhoso. Ele é um homem completo para mim. Nós iremos ser muito felizes. — Um homem completo, era disso que eu falava, lembra? Mas você o ama? — Seus olhos se estreitaram. — A minha experiencia com o amor não foi muito boa, sabe? — fui irônica. — Prefiro manter esse sentimento guardado e não o dar a mais ninguém. Ah... mas descobri que sexo sem amor também é maravilhoso. Como fui idiota! Acreditava que só poderia ser feito por pessoas que se amassem para ser perfeito. Vi sua mandíbula ficar marcada e seu pescoço másculo mudar de cor. — Então sinto muito em te informar, mas acho que você cometeu um enorme erro ao se casar — concluiu, encarando-me. — Isso será um problema meu; guarde os seus achismos para você. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ei, meu amor! Vamos sair daqui, quero ter você só para mim agora. — Eduardo agarrou minha cintura e me prendeu ao seu corpo. — Se despede do seu primo. — Tchau, Arthur! — falei seca. — Tchau. — Até mais, cara! Essa noite promete! — Eduardo jogou essas palavras ao ar com um imenso sorriso e me arrastou consigo, e meu coração se partiu mais uma vez.

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Alguns anos antes. ARTHUR SEMPRE ESTEVE presente em minha vida. Nunca houve um momento em que não estivesse. Crescemos juntos e, quando crianças, brincávamos o tempo todo. Eu era péssima no videogame, e ele ganhava fácil. Algumas vezes deixava que eu ganhasse, e eu sempre soube disso, porém, ele dizia ser sorte minha. Em uma de nossas brincadeiras, Arthur foi meu cliente no salão de cabelereiro que montei em meu quarto. Tia Carla brigou muito comigo e minha mãe quase me matou, pois eu acabei com o cabelo dele, mas o que eu podia fazer se ele queria um corte moicano? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Peguei birra do Arthur quando ele começou a se achar o “todo, todo” do colégio, mas para mim ele não passava do meu primo cheio de espinhas com quem eu compartilhava minha vida e que não trocava por amiga nenhuma. Ele vivia me perguntando se eu ainda era BV – boca virgem –, e eu dizia que não, falava que já tinha beijado muitos garotos. Mal sabia ele que meus lábios só conheciam o espelho. Ele tirava barato da minha cara por eu gostar do Justin Bieber e do One Direction. Éramos cumplices, amigos e confidentes. Claro que odiei saber que ele beijava as meninas por aí, porém guardava isso a sete chaves dentro de mim e não entendia o sentimento que corroía meu peito. Nos meus 15 anos, papai e mamãe fizeram uma festa na casa da praia. Falei para a mamãe que queria um luau com meus amigos, e assim foi feito. Aquele aniversário foi o melhor de todos. Vários amigos vieram, e o céu estava lindo com as estrelas brilhando. Eu nunca esqueceria aquele dia, porque foi naquela noite que beijei pela primeira vez, e foi com ele. Achei estranho o beijo, o aparelho dele machucou meu lábio, foi molhado e desajeitado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para mim. O ruim foi o que senti depois disso, pois nunca mais olhei para o Arthur da mesma forma. E ele se afastou. No ensino médio, nosso beijo parecia nunca ter acontecido. Arthur tinha a turma dele e se mantinha o máximo que podia afastado de mim. Foi um tempo quando os estudos se tornaram nossa prioridade. Estudávamos muito, pois ambos já tínhamos escolhido medicina. Ele já não tinha mais espinhas, ia para a academia, estava ficando alto e sua voz estava mais grossa. As meninas viviam atrás dele, até mesmo minha melhor amiga, e, como era a “prima”, não fui poupada dos comentários e dos pedidos para que eu arrumasse uma forma de ela ficar com ele. Eu fugia da Pati todas as vezes em que ela chegava com esse assunto. Contudo, um dia peguei os dois se beijando e fiquei com muita raiva deles. Depois disso, comecei a ficar com os garotos que me agradavam, e nesse período parecia que nos odiávamos. Entretanto, um dia caí na saída do colégio e quebrei meu braço. No momento em que ele me viu no chão, correu ao meu encontro e me carregou no colo até encontrar ajuda. Arthur segurou minha mão o tempo todo e enxugou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minhas lágrimas, que não paravam de escorrer diante da dor que eu sentia. Naquele dia eu notei que ele sofria por ver minha dor, estava aflito e nervoso. E o tempo todo dizia: “estou aqui com você”. Em nossa formatura do ensino médio, ele estava lindo, foi o orador da turma. Passei a tarde toda com a minha mãe e minha irmã para escolher o meu vestido. A única vontade que eu tinha era de que ele me achasse bonita. Sentia-me transparente na frente dele e queria chamar a sua atenção.

Aos 18 anos, chegamos à faculdade, e mais seis longos anos juntos teríamos pela frente – ou achávamos que teríamos. Por essa época, voltamos a nos falar mais, já que os estudos nos obrigavam a isso. Vivíamos trocando e-mails e fazendo trabalhos em grupo. Um desses trabalhos foi feito em duplas escolhidas pelo professor, e nós ficamos juntos. Marcamos de nos encontrar em minha casa. Quando Arthur chegou e subimos para meu quarto, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele se sentou em minha cama com as pernas cruzadas à indiana e abriu meu notebook em seu colo. — Você já fez as pesquisas? — perguntou olhando para a tela do note. — Não, esperei por você. Eu estava sentada ao seu lado e olhava para o seu perfil concentrado no que fazia. Reparei no quanto bonito ele era, porém disfarcei ao ver que virava o rosto. — O que foi, Elena? — Nada. — E por que estava me encarando? — Não foi nada, Thur. — Apressei-me a sair da cama. Ele ficou me encarando, então resolvi falar o que sentia: — O que aconteceu com a gente, Arthur? Sinto falta da nossa amizade. — Não sei. — Ficou calado e sem me olhar. — Thur, olhe para mim. — Para quê, Elena? — Seus olhos teimavam em não encontrar os meus. — Eu quero falar com você olhando nos seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS olhos. Ele levantou o rosto, inseguro, apreensivo. — Fala. — Eu acho que gosto de você. — Você “acha”? — perguntou com um sorriso fraco. — Acho. — Mas você sabe que nunca vai poder rolar nada entre a gente, não é? — Por quê? — questionei baixo. — Nossa família, seu pai... Somos primos! — Mas não somos primos de verdade, Thur. — Mas para nossa família somos. Vamos deixar tudo como está, ok? — Eu não tenho medo de falar com meus pais. Eu gosto de você e não aguento mais esconder isso. — Por favor, não torne tudo mais difícil — Arthur pediu se levantando e andando pelo quarto. — Mais difícil?! — Fui em sua direção. — Por favor, Elena. — Ele tentou se esquivar. Eu o abracei e coloquei meu rosto em seu peito. — Mas que droga, Elena! Não faz isso! — gritou, tirando meus braços de seu corpo. — Mas eu sempre te abracei! PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas agora é diferente. Você não entende? Não somos mais crianças, podemos cometer erros que levaremos para o resto das nossas vidas. — Não leve tudo tão a sério, Arthur. — Não consigo agir de outra forma. — Fica comigo — pedi com meus olhos fixos nos dele. — Não. Não podemos. — Se quiser, manteremos tudo escondido. Ninguém nunca saberá. — Estou namorando. — O quê? — indaguei em um sussurro. — Estou namorando a Bruna. Caí sentada sobre a cama sem poder acreditar. Ele estava com ela?! — É mentira! Você está dizendo isso para fugir, para não enfrentar o que estamos sentindo! — Não é isso. — Vai embora! Sai daqui! Esquece tudo o que eu te disse! Sai! Ele me olhou indeciso, mas saiu. Caí em minha cama e chorei muito. Nossa rotina na faculdade continuou. Nos primeiros dias, não nos falamos, depois aos poucos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS voltamos a nos falar, mas nunca tocando no assunto sobre aquele dia. Era como se ele nunca tivesse existido. Comecei a sair com minhas amigas, e nos esbarrávamos em algumas baladas, mas só nos cumprimentávamos. Fiquei com alguns carinhas, mas nada passou de uns beijinhos, pois não queria um namorado; meu coração já tinha dono, e, por mais que eu tentasse arrancar Arthur de dentro de mim, ele permanecia lá, intocado, guardado. Eu cheguei a vê-lo com a “talzinha” duas vezes e quase morri. Passou-se um ano desde o dia em que eu me declarara para ele. Acabei me acostumando com a nossa situação, porém, toda vez que tinha alguma festa na família, eu escolhia minha roupa, meu perfume e a forma como ajeitaria meu cabelo pensando nele. Queria estar bonita, queria que ele me notasse, e, para o aniversário de 15 anos da Alice, sua irmã, eu abusei e coloquei um vestido muito sensual. Meu pai torceu o nariz quando me viu, mas nem liguei. Ele era um problema em minha vida, não só na minha, mas na da minha irmã também. Era superprotetor, dramático e parecia não perceber que já éramos mulheres. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nossa sorte era que a mamãe sempre nos ajudava. Com seu jeitinho, ela sabia dobrar meu pai, e assim seguíamos tentando ter a vida de jovens normais. Olhei para o espelho e amei meu vestido. Estava me sentindo muito feminina e queria ver a cara de Arthur quando me visse, por isso adorei saber que seria ele a vir nos buscar e não o tio Marcelo, como ficara combinado. Seu carro estava parado em frente ao SPA em que eu, Alice e Júlia estávamos, ansiosas. Não parávamos de falar um minuto. Ao entrar no carro, meus olhos se encontraram com os dele pelo retrovisor. Arthur falou um “oi” meio perdido e não disse mais nada, assim como Luca, seu irmão, que também permaneceu calado. Chegamos à festa, e estava tudo muito bonito. Minha priminha merecia. Peguei uma taça de champanhe e comecei a andar pelo salão. Fui até a mesa dos meus avós e os beijei. Meu avô Olavo falou que eu estava um arraso, e meu pai torceu o nariz mais uma vez. — Não faz essa cara, pai. — Que cara? Essa é a única que tenho. — Sei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Toma cuidado com isso — recomendou apontando para minha taça. — Para, amor! Deixa a menina se divertir — mamãe saiu em minha defesa. — Anjo, ela não está acostumada. Só falei por isso. Minha mãe sorriu para ele e deu um selinho em seus lábios. — Eu sei, meu amor, mas deixe as meninas se divertirem. Continuei circulando pela festa. Encontrei alguns amigos e alguns de meus primos e fiquei conversando. De vez em quando eu procurava Arthur e o encontrava pelos cantos, sempre com um copo na mão e com a cara fechada. A pista de dança foi liberada, as luzes ficaram mais baixas, e o ambiente se tornou uma balada. Dancei muito, pois estava tocando as músicas que eu mais gostava. Em dado momento enquanto eu dançava, vi meu primo em um canto isolado na festa e decidi o chamar para dançar. Eu estava alegre e queria que meu dia terminasse bem, mesmo que eu simplesmente dançasse com ele como um parente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Primo, vamos dançar! — chamei-o dessa forma para deixar claro que eu não passaria dos limites. — Por que está aí parado? Todo mundo está se divertindo e você parece estar em um velório. Ele me olhou sério e mordeu o lábio inferior. A contração de seu maxilar mostrava que ele estava tenso, e aquela barba rala e todo o champanhe que eu tinha ingerido fizeram com que eu perdesse o controle e o abraçasse. Não resisti, seu cheiro era tão bom. Para minha alegria, senti seus braços me aceitarem e me puxarem para mais perto. Ele cheirava meu cabelo. Senti sua mão acariciar minhas costas nuas e, com a ponta dos dedos, deslizar até o final do meu decote na parte baixa da coluna, enquanto seus lábios deslizavam discretamente pelo meu pescoço. Eu não acreditava que ele estava fazendo aquilo e me deixei em suas mãos. — Vamos sair daqui? Preciso falar com você — ouvi conforme minha orelha recebia leves beijos e eu me segurava nele, pois minhas pernas estavam moles. Saímos da festa discretamente e fomos até seu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS carro. Ao entrarmos, quando dei por mim, já estávamos nos beijando, suas mãos passando pelo meu corpo e eu adorando a sensação. — Arthur... eu amo você! Eu sempre amei! — despejei com a voz embargada. — Eu… Calei-o, pois temia que ele me rejeitasse mais uma vez: — Não fala nada, não sei o que eu faria se você me rejeitasse. Deixa acontecer, Thur. Eu esperei por você, eu me guardei para você. Seus olhos me fitaram surpresos, sua respiração estava rápida, e minha boca foi beijada com desejo. — Eu amo você, Elena. Foi sempre você — ele confessou disparando beijos pelo meu rosto. — Mas e aquela garota de que você falou? — Era mentira. Eu tentei disfarçar e confesso que até mesmo fugir de tudo que eu sentia, mas era mais forte do que eu, eu não aguentava mais sufocar o que estava sentindo, Elena. Eu morria um pouco a cada vez que imaginava você arrumando um cara, não aguentaria ver outro homem te tocar. Eram tantos sentimentos juntos que deixei uma lágrima escorrer. Eu estava feliz em ouvir aquilo, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS emocionada, ansiosa. — Nunca quis outro, nunca! Voltamos a nos beijar e acariciar, mas Arthur me olhou de forma preocupada e disse, provavelmente se dando conta da situação comprometedora em que estávamos: — Precisamos parar, Elena. Olhei para mim mesma e notei que eu estava uma bagunça e não poderia voltar para a festa, precisava ir para casa antes que meus pais resolvessem ir embora. — Então me leva para casa. Eu não posso voltar para a festa nesse estado. No caminho até minha casa, fui tomando noção do que tínhamos acabado de fazer. Que loucura! Tínhamos acabado de nos declarar. Reparei que, enquanto dirigia, Arthur apertava o volante e mantinha o maxilar tenso. Ele não me olhava, e percebi quando limpou uma lágrima que escorreu em seu rosto. Comecei a me sentir mal, pensando que ele podia ter se arrependido. Ele iria me rejeitar... Logo que o carro parou, pedi que ele entrasse. Eu precisava ter um tempo com ele, precisava fazê-lo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS entender que o amor que sentíamos era maior do que o medo e a insegurança que tínhamos com relação a nossa família. Passamos pela porta e não acendi a luz. A sala estava iluminada pela claridade da lua, e achei que, nos mantendo à meia-luz, teríamos mais coragem de falar sobre nós. Não notei que o encarava até ouvir sua voz: — Não me olhe assim. — Assim como? — Assim. — Ele grudou seus lábios nos meus e me beijou com intensidade, mas logo deixou meus lábios, dizendo que estávamos fazendo uma loucura, que não podíamos. Parecia estar muito confuso. — Não somos primos de verdade, Arthur. — Mas é como se fôssemos. Seu pai nunca entenderia... — Vamos esquecer meu pai. Eu amo você, Arthur. Amo você há tanto tempo, mas você só me desprezava. Cheguei a achar por alguns momentos que tinha raiva de mim. — Não! Nunca tive raiva de você, como eu poderia? — Ele acariciou meu rosto. — Mas eu precisava me manter distante, e era para eu ter PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conseguido me manter dessa forma... mas hoje não consegui. Você está tão linda! E chegou me abraçando... Não resisti. — Não resista, Arthur. Eu amo você, sempre amei. Eu sofria tanto por sentir esse amor e achar que você me rejeitava, por imaginar com quantas mulheres você já deve ter se relacionado.... Eu sofria a cada vez que ia até a sua casa e, chegando lá, descobria que você tinha saído com seus amigos, pois logo imaginava que possivelmente você poderia estar com alguém. — As garotas com quem eu saía não significavam nada para mim. Eu saía para curtir, não sabia como lidar com meus sentimentos por você. Como eu poderia expor meus sentimentos? Poxa! Você é a minha prima! — Eu não sou sua prima de verdade, Arthur! E não somos mais crianças! Eu sou uma mulher, uma mulher com sentimentos e desejos que guardei só para você. E você agora é um homem. Acho que podemos viver isso. Eu precisava mostrar para ele que falava a verdade, que o queria. Afastei-me de seu corpo, coloquei as mãos nas alças do meu vestido e, sem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tirar meus olhos dos dele, deixei que ele visse a minha nudez. Seus olhos rastrearam meu corpo, e, quando ele fez sinal de que se aproximaria, eu disse que não. Queria ser sensual, queria que me visse como uma mulher de verdade. Retirei minha calcinha e notei que ele estava ficando tenso, sua respiração estava rápida e seu maxilar, travado. Caminhei até ele, peguei sua mão e a coloquei em meu seio, fechando os olhos de prazer ao sentir seu toque, especialmente quando Arthur se rendeu e acariciou meu mamilo. — Tem certeza disso, Elena? — Toda a certeza do mundo — respondi, tomando sua mão e o levando ao meu quarto, onde tornamos a nos beijar. Sua língua deslizava pelos meus lábios e invadia minha boca. Sua mão foi até a minha intimidade e senti quando um dedo me invadiu. Ele manipulava meu corpo, e eu estava enlouquecida pelo tesão que sentia cada vez mais. Arthur começou a retirar sua roupa, peça por peça, enquanto ainda nos beijávamos e acariciávamos, seus olhos sempre fixos em mim, e aproveitei para olhá-lo, seus ombros largos pelos anos de natação, seu abdome PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS definido, assim como suas coxas, pelas aulas de musculação. Ele não era aqueles homens grandes e bombados, era definido, corpo de atleta, lindo demais! Por último ele retirou sua cueca, e senti meu rosto aquecer por vê-lo totalmente nu à minha frente. Arthur me deitou na cama e levou sua boca direto ao meu seio. Puxei seu quadril para junto do meu prendendo minha perna na dele. Senti a ponta do seu membro tocar a minha intimidade e foi uma sensação incrível. Eu gemia, ele gemia. — Eu quero ser sua... — Você não sabe o quanto está me fazendo feliz por isso. — Precisamos de preservativo — lembrei a ele. — Eu sei, Elena, vou colocar. Arthur saiu da cama e foi até sua calça, colocou o preservativo e voltou. Eu já o esperava, ansiosa por passar por essa experiência com ele, meu amor. — Vai doer, Elena. E eu não posso fazer isso de outra forma. Estou receoso, nunca tive uma mulher virgem. Então, se for demais, me avisa, que paro. Senti-o se ajeitar em minha entrada e aos poucos fui sentindo seu membro me invadir. Eu mordia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meu lábio, e Arthur me olhava fixamente. — Vai ser agora, Elena. Assenti, e Arthur saiu um pouco de mim e voltou a me preencher com tudo. A dor foi forte, e gememos juntos. — Minha, você é minha! Arthur voltou a se mexer, e aos poucos a dor e o ardor foram passando e eu me abri mais para ele, deixando que ele exercesse toda a sua paixão em meu corpo. — Que gostosa! Você é muito gostosa! Ele se entregou a mim, beijando cada pedaço do meu corpo, tomando posse do que eu entregava a ele. Sempre fantasiara aquele momento, porém superou minhas expectativas. O exato momento em que o êxtase me atingiu foi mágico. Eu sabia que minha vida estaria ligada à dele e que nunca mais o esqueceria. Deitei meu rosto em seu peito e relembrei o que tinha acabado de acontecer. — O que foi? Você se arrependeu? — perguntou baixinho. — Eu vou entender, eu não devia… — Não! — Acariciei seu rosto. — Eu nunca vou me arrepender, eu amo você! Mas como vai ser? Meu pai, nossa família... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu vou falar com seu pai, ele vai entender. Não cometemos nenhum pecado, Elena. — Mas você sabe como meu pai é. Ele vai achar que o estávamos enganando esse tempo todo. — Elena, nós temos vinte anos. Estudamos, sempre fomos motivo de orgulho para nossos pais. Eles podem estranhar no começo, o seu pai pode até ficar chateado comigo, mas depois vai passar. Eu não aguento mais esconder, quero que todos saibam, quero gritar para todos que eu amo você! — Eu também quero. — Então vem aqui. — Voltei a deitar minha cabeça em seu peito. — Vai dar tudo certo, Loirinha. Nós vamos ficar bem, eu prometo. — É só o que quero. — Amanhã eu venho conversar com o seu pai, e nós vamos ficar juntos. — Estou tão feliz, Thur, tão feliz em estar aqui assim. Você não sabe o quanto eu sofri pensando que você não me queria. Eu te amava em silêncio, tinha medo de contar e te perder. — Como dois bobos. Eu também não falava nada por medo de te perder, mas agora estamos aqui e vamos lutar por nós. Estou tão feliz, tão feliz, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha Loirinha. Sentia-me plena naquele momento, deitada em minha cama com o seu corpo nu entrelaçado ao meu. — Acho melhor eu ir embora, seus pais daqui a pouco estão chegando, e nossas caras vão entregar tudo o que fizemos aqui. Lembrei-me dos meus pais e saí da cama procurando por algo para me cobrir. Vesti meu hobby e voltei até a cama, sentando-me e o fitando. — Você está bem? Está sentindo alguma dor? — ele inquiriu preocupado. — Só um pouco dolorida, mas estou bem e muito feliz. — Eu também estou muito feliz. — Obrigada por ter feito esse momento ser especial para mim. Eu o guardarei para sempre em meu coração e na minha memória. — Foi especial para mim também. Voltamos a nos beijar e já estávamos quase transando de novo, quando nos lembramos dos meus pais. Arthur se vestiu, e eu o levei até a porta. No entanto, bastou que começássemos a nos beijar para que meu corpo despertasse. Eu o queria de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS novo, porém não podíamos dar sopa ao azar e ser pegos pelos meus pais. Acompanhei-o até o carro e o beijei novamente. — Entra, Loirinha. Está tarde e um pouco frio para você ficar aqui só com esse hobby. Vou para casa do meu pai Marcelo, amanhã tenho um jogo de futebol cedo. — Ok, vamos nos falando. Eu o beijei mais uma vez e voltei para casa. Quando me virei para dar tchau, ele gritou: — Eu amo você! Fiquei emocionada e mandei um beijo para ele. Fui direto para o meu quarto. Precisava tomar banho e lavar o meu lençol antes que meus pais chegassem e vissem as marcas de sangue manchando o tecido. Coloquei o lençol na máquina e fui para o banho enquanto esperava a lavagem terminar. Depois do banho, fiz um lanche rápido, estendi o lençol e voltei para o quarto. Eu não queria falar com mais ninguém a não ser com Arthur. Deitei-me nos meus lençóis limpos e fiquei lembrando-me do que tínhamos feito. Olhei para meu celular e lhe mandei uma mensagem. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS >Já chegou? 15 minutos depois, e nada de resposta. Liguei, e caiu na caixa postal. Que estranho, já era para ele estar em casa. Será que voltou para a festa? Fiquei olhando para o celular na minha mão e acabei pegando no sono. — Filha? Meu anjo? Acordei com meu pai de joelhos ao lado da minha cama, acariciando meus cabelos. — Oi, pai. Faz tempo que vocês chegaram? — Ajeitei-me na cama e notei seus olhos vermelhos. — O que foi? O que aconteceu?! Você chorou?! — Filha, aconteceu um acidente. — Cadê a minha mãe?! Meus irmãos?! — perguntei exaltada e já saindo da cama. Mamãe entrou no quarto e chorava sem parar. — O que foi? Mamãe?! Falem alguma coisa! Naquele momento eu já estava desesperada. — O Arthur, meu anjo. Foi com o Arthur. — O quê?! O que aconteceu com o Arthur?! — questionei aos gritos. — Um caminhão fez uma ultrapassagem PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS perigosa e acertou o carro dele. — Não! Tudo ficou escuro.

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Elena! Filha! Acorde! OUVIA AS VOZES me chamarem e aos poucos fui tomando consciência, lembrando-me também do que meu pai me contara. Eu não podia acreditar! Um acidente! — O Arthur! Onde ele está?! Como ele está?! — Calma, filha! Ele está no hospital, estão todos indo para lá. — Eu também vou! — comuniquei. Pulei da cama e corri para o closet. Minha mãe veio atrás e, em meio às lágrimas, ajudou-me pegando um par de sapatilhas. Na sala, Júlia nos esperava. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS O carro parecia não correr. Eu queria chegar logo ao hospital, precisava ver Arthur, necessitava saber que ele estava bem. Quando chegamos, meu pai jogou as chaves na mão do manobrista. Corri, passei pela porta da emergência e, ao cruzá-la, encontrei tia Carla agarrada ao tio Marcos. Tia Aline era amparada por Luca, que chorava, Livi se abraçava com expressão assustada e meus avós estavam sentados no sofá, perdidos em seus pensamentos. Meus primos, tios e avós ainda estavam com as roupas de festa do aniversário da Alice. Mamãe correu e abraçou tia Carla. — Amanda, meu filho... — Seu choro era angustiante. Caminhei até Luca e o abracei. — Me fala que ele está bem, por favor! Me diga que ele está bem, Luca! — pedia para meu primo, desesperada. — Eu não sei, Elena. Nós ainda não sabemos de nada. Só meu pai conseguiu entrar para ver meu irmão. Agradeci a Deus pelo pai do Arthur ser o neurocirurgião daquele hospital. Sentei-me em uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS das poltronas, encolhi minhas pernas sob meu corpo e ali fiquei. Os barulhos de choro baixo eram o único som que cortava o silêncio da sala. E eu recordei cada momento que passei ao seu lado naquela noite. Como nossa vida é frágil e imprevisível... Há algumas horas estávamos juntos, nos amando, falando sobre os sentimentos que guardamos por tanto tempo, e agora ele está dentro daquela sala... Mais de uma hora depois, vi o tio Marcelo passar pela porta. Ele estava muito abalado. Tia Aline correu para seus braços, e tia Carla foi ao encontro dele em desespero. — O meu filho, Marcelo?! O que aconteceu, como ele está? Pelo amor de Deus, me diz que ele está bem! Tio Marcos a abraçou por trás, tentando acalmála. — O Arthur está sedado e com muitas escoriações, vai precisar ir para a cirurgia. — Ele respirou fundo para continuar a falar: — A ressonância mostrou que ele lesionou a 12.ª vértebra. Tia Aline se grudou ao corpo do pai do Arthur e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chorou copiosamente. Mamãe me contara que ela tinha perdido seu primeiro marido em um acidente de carro. Luca era um bebê recém-nascido na época, e foi desse jeito que ela e o tio Marcelo se conheceram. Na época ele estava na fila para receber um coração e acabou recebendo o coração do pai do Luca. — Marcelo, fala que o Arthur vai ficar bem, por favor! Amor, eu não vou aguentar! — tia Aline pedia aflita. — A sala já está sendo preparada para a cirurgia, eu vou acompanhar tudo. Fica calma, vai dar tudo certo. — Ele beijou a testa de sua esposa. Uma enfermeira passou pela porta. — Dr. Marcelo, a sala já ficou pronta. A equipe já está indo para lá. — Obrigado, Matilde! Eu já vou. — Marcelo, cuida bem do meu filho! — tia Carla pediu em desespero. — Ele é meu também, Carla! — Eu sei, me desculpa. Meu Deus! Meu filho! Eu não acredito que estou passando por isso! Luca voltou a me abraçar. — Ele vai ficar bem, Elena. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu estou com tanto medo, Luca. — Meu irmão é forte, ele vai sair dessa, você vai ver. Tio Marcelo foi para o centro cirúrgico, e eu voltei à poltrona, puxei minhas pernas contra o meu corpo, fechei meus olhos, e minhas lembranças voltaram alguns anos antes. Arthur era forte, sempre fora. Quando estávamos entrando na adolescência, vovô nos levou para a casa de campo, e eu e o Arthur decidimos pescar. Arthur sempre queria mostrar que sabia de tudo. Ele foi até o depósito da casa e lá pegou as varas de pesca e a maleta com os anzóis e todo os apetrechos necessários para uma pescaria. Ele mesmo fez questão de pegar as minhocas, dispensando o Sr. Jordão, o caseiro do sítio, de tal trabalho. — Que nojo, Arthur! — exclamei, sentindo meu estômago embrulhar ao ver as minhocas se moverem no pequeno pote. — Que nada! Olha como elas se movem. — Ele pegou algumas e as deixou na palma da mão, avaliando-as. — Credo, coloca isso no pote! Eu não vou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS colocar isso no anzol, Arthur! Não tem outra coisa que sirva de isca, não? — Não. Em pescarias de verdade se usa minhocas. — Então será você a colocá-las no meu anzol. — Pode deixar que coloco, priminha. Avisamos à vovó que iríamos para o lago. Ela preparou uma cestinha com lanches e duas latas de refrigerante e nos desejou boa pescaria. O lago não ficava muito distante da casa, e de lá os nossos avós poderiam nos observar. Chegando ao lago, senteime na grama, e Arthur começou a preparar as varas, entregando a primeira para mim. Olhei-o enfiar o anzol na minhoca e não pude acreditar em que ele fazia aquilo de forma tão natural. Já com as varas na água, ficamos sentados observando a calmaria do lago. Olhei de relance para o seu perfil e notei que ele estava pensativo. — O que foi, Thur? — Não foi nada, não. — Ah, fala, o que foi? Você está com uma cara engraçada. — É que me lembrei de uma coisa. — Que coisa? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Uma que aconteceu no colégio. — Tem a ver com a briga que você teve com o Bruno? No último dia de aula, Arthur tinha sido mandado para a diretória e levara uma advertência por ter se envolvido em uma briga com nosso colega de classe. — Hum, hum... — O que foi, Thur? — Você está mudando, Elena. E não gostei de ver o Bruno falar de você. — Como assim? O que ele falou? — Que você está gostosinha, que seus peitos estão grandes e outras coisas mais. Por isso quebrei a cara dele. — Arthur tinha os olhos grudados em minha regata branca. — O que foi, Arthur? — Olhei para a minha blusinha, procurando o que ele estava olhando. — É que eles estão maiores mesmo. E agora todos os meninos estão falando, mas o Bruno falou que ia ficar com você... Eu o cortei: — Credo! Eu não vou ficar com ele, não. — Eu odiava o Bruno, ele era muito chato. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Fomos atraídos pela minha vara, que escapou da minha mão, e Arthur rapidamente conseguiu pegála e fisgou o peixe. O sorriso largo em seu rosto me fez vibrar. — Eu pesquei! Eu pesquei! — eu gritava batendo palmas. — Não, Elena, quem fisgou o peixe fui eu, portanto quem pescou esse peixinho aqui fui eu — explicou debochado. — Mas foi na minha vara que ele veio, portanto, quem pescou fui eu — copiei seu deboche. — Ah, tá! Então, já que foi você quem pescou, tira ele do anzol. Arthur colocou a vara de pesca em minha mão e se afastou, rindo da minha cara de espanto enquanto ela sacolejava. — Não, Thur! Me ajuda aqui! Eu não vou tirar esse peixe da água! — Só te ajudo se você confirmar que quem pescou fui eu. — Tá bom! Foi você quem pescou, seu chato! Arthur tomou a vara da minha mão e começou a retirar o peixe da água. — Pega a peneira e me ajuda. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS A peneira parecia uma pá feita de tela com um cabo comprido. Fui até a beira do lago e o ajudei. Retiramos o peixe da água e nos agachamos para olhar para ele. — É uma tilápia. Vou pedir para o vovô fazer sashimi — Arthur falou, pegando o alicate para retirar o anzol da boca do peixe, porém, depois de um movimento brusco do animal, escutei Arthur dar um grito e, quando o olhei, vi que o anzol que até pouco estava na boca do peixe passava atravessado no dedo do meu primo. Fiquei desesperada e saí gritando por meu avô. — O que foi, Elena? — perguntou vovô aflito. — O Arthur, vovô! Corre lá no lago! Vovô foi pelo caminho comigo, mas logo avistamos Arthur, que caminhava segurando o peixe com uma das mãos e com a mão ferida apoiada no peito, deixando sua camiseta branca com marcas de sangue. — Menino, o que foi isso? — Ele retirou o peixe da mão do Arthur e o entregou ao Sr. Jordão, que chegava atrás de nós. — Deixe-me ver. — Não foi nada, vô! Essa daí que é uma molenga. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Molenga nada! Olha o seu dedo! Ai, que aflição! — Senti meu corpo arrepiar. — Vamos ter que ir para o hospital. Do jeito que está, não tem como soltar o anzol. — Ai, vovô! Vai precisar ir para o hospital? — questionei aflita. — Vai, sim, filha, está muito feio. — E, olhando para o Arthur, completou: — Sua mãe vai me matar, garoto! — Vai nada, vô. Isso não foi nada. Eles foram para o hospital, e eu fiquei rezando. Ver o sangue em sua mão me deixou muito aflita. Apesar de ele não demonstrar, aquilo devia estar doendo muito. Depois de uma hora, eles voltaram. Arthur ganhou pontos no dedo e uma bela injeção no traseiro. Amor, seja forte. Seja como no dia do anzol. Não vai ser nada, você vai sair dessa! Por favor! Seja forte por nós! Nós nem tivemos tempo... Por favor! Por favor!, pensei, olhando para a sala de espera do hospital, onde minha família aflita esperava comigo. Meus pensamentos, minhas lágrimas, uma angústia terrível enquanto horas sem fim PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS transcorriam. Eu não queria comer nem beber nada. Meus pais e o Luca tentaram me fazer ir para casa. Contudo, neguei-me. Não saí daquela poltrona até o momento em que avistei o tio Marcelo passando pela porta. Pulei, mas, antes que eu chegasse, tia Carla e tia Aline já estavam à sua frente. Ele estava terrivelmente desolado, seus olhos alagados de lágrimas, e temi o que ouviria sair da sua boca. — Por favor, Carla, Aline e Marcos, eu preciso que vocês se sentem para que eu possa explicar o que aconteceu. — O que aconteceu?! Me fala! Tia Carla estava muito nervosa, e precisou que o tio Marcos chamasse sua atenção para que ela se acalmasse. — Tio Marcelo, comece a falar. Eu estou aflita! Como o Thur está? — perguntei, mas, pelo seu olhar, notei que não teria boas notícias. Um nó em minha garganta se fez, e tentei segurar as lágrimas que já inundavam meus olhos. — Como eu já havia dito, a ressonância mostrou que ele teve um trauma na 12.ª vértebra. Precisaram colocar oito pinos de titânio nas vértebras vizinhas para sustentar a coluna. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Meu Deus! O que isso quer dizer, amor? Fale mais claramente, por favor. — Tia Aline segurava a mão do Luca e chorava sem parar. — O trauma paralisou a região abaixo da vértebra. As suas pernas não respondem a nenhum estímulo. Eu nunca imaginei que passaria por isso com um filho meu. — Ele se calou e passou a mão nos cabelos. — Até agora, os exames físicos e de imagem mostram que ele sofreu uma paraplegia. — Não! Meu filho não! Tia Carla se descontrolou totalmente e foi amparada por minha mãe, meu pai e tio Marcos. Meus avós choravam abraçados, da mesma maneira que tia Aline e tio Marcelo e meus primos. Senti braços à minha volta e notei que eram do Luca, da Livi e de minha irmã. Naquele momento, desabei. O que seria agora? O que seria de nós? O que seria do meu Arthur?

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O SOL JÁ estava forte lá fora. Eu sabia porque ele queimava o meu braço enquanto passava pela gigantesca janela da sala de espera da UTI. Eu permanecia no hospital, do mesmo modo que a maior parte da minha família. Meus avós foram para casa, abaixo de protestos, depois que tia Carla observou que vovó Ângela estava muito cansada. Eu estava esgotada, sentia meu corpo dolorido por passar horas naquela poltrona, porém nada se comparava à dor que o Arthur sentiria ao descobrir tudo quando acordasse. Como seria sua vida a partir daquele dia? E os estudos? A escola de medicina, seu sonho... nosso sonho. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Elena, vamos comer algo? — Luca chamoume, e eu assenti. Na lanchonete do hospital, pedimos nosso lanche e nos sentamos. Ficamos quietos, perdidos cada um em sua própria dor. Luca era um rapaz centrado, de um equilíbrio invejável, mas pela primeira vez o vi chorar. — Me desculpa, Elena, mas está sendo muito difícil segurar. — Que isso, Luca. Eu te entendo. Eu sei a dor que está sentindo. — Segurei sua mão. — Ele me ligou momentos antes do acidente. Ele estava tão feliz, e sei que a felicidade dele tinha a ver com você. — Luca... eu... — Fiquei sem jeito. — Eu sempre soube, Elena. Meu irmão sempre foi louco por você, porém o respeito por nossa família e ao tio Erick sempre o impediu de se aproximar de verdade. — Eu sei. Eu também me mantive afastada pelos mesmos motivos, mas agora não dá mais para esconder, Luca. Eu amo o Arthur. — Eu sei... mas agora, diante de tudo o que aconteceu, como será que ele vai reagir? Tenho PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS medo, Elena. Eu conheço meu irmão, ele é muito orgulhoso, é apaixonado pela vida, pela liberdade que tem. Meu irmão é inquieto, pratica esportes... Não sei como ele vai lidar com isso, ao fato de estar preso a uma cadeira. Porra! Ele não merecia isso! Comecei a chorar. Eu sabia de tudo que Luca dizia e, como ele, temia pela reação do Arthur. Terminamos nosso lanche e voltamos para a sala de espera. Tia Carla e tia Aline tinham entrado para vê-lo, bem como tio Marcos e tio Marcelo. Fiquei ansiosa para que eles saíssem, pois também queria ver o Arthur. Ao saírem, corri até tia Carla e a abracei. — Como ele está, tia? Eu quero vê-lo. — Meu filho, Elena... Ele está tão machucado... — Mas vai ficar bem, meu amor. Lembre-se de que ele está vivo, e isso é o que importa — tio Marcos a consolava. Meu tio cuidara do Arthur desde que minha tia estava grávida do tio Marcelo. Mesmo ele demonstrando força, eu sabia que, por dentro, estava destruído. Arthur tinha um amor sem tamanho por ele, seu pai de coração, tanto que não dava para diferenciar do amor que tinha pelo tio PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Marcelo, seu pai biológico. Para ele, os dois eram seus pais. — Vai lá, Elena. Entra com o Luca — tio Marcelo concedeu, colocando a mão em meu ombro. Assenti, peguei a mão do meu primo e passei por todos de nossa família que ali ainda estavam. Mamãe, papai e Júlia tinham ido para casa. Nossa família tinha começado a fazer rodízio para que todos pudessem tomar banho, comer e descansar enquanto Thur estivesse no hospital. Passamos pela porta de vidro, foram entregues a mim e ao Luca um avental, pro-pés, máscara e touca, e colocamos as vestes descartáveis. Meu coração batia descompassado, ansiando por como eu encontraria o Arthur. A enfermeira nos apontou o leito, e deixei que Luca fosse na frente e parei na porta. Luca se aproximou do irmão, segurou sua mão e começou a chorar como um garotinho. Eu paralisei. O barulho do respirador e do monitor que marcava seus sinais vitais era repetitivo e entrava em meus ouvidos de forma assustadora. Deixei meus pensamentos de lado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quando meu primo me estendeu a sua mão. Respirei fundo e me aproximei da cama. Foi aterrorizante encontrar Arthur daquela forma. Sua cabeça estava enfaixada, seu rosto, inchado, a boca tinha um pequeno corte na lateral. Não consegui segurar o choro. Luca me passou a mão do Arthur para que eu a segurasse e saiu de perto da cama. A mão estava quente, e eu a beijei, como também ao seu rosto machucado. — Thur, eu estou aqui, meu amor. Volta para mim. Nós não tivemos tempo... — Voltei a beijar seu rosto. — Vai acabar tudo bem, amor. Quero ver seu sorriso de novo. Eu amo o seu sorriso. Meu choro era abundante, a dor, enorme. Eu estava ao seu lado, mas me sentia impotente, e essa sensação era horrível. Saímos do quarto depois que a enfermeira nos informou que nosso tempo havia acabado. Cheguei à sala de espera, e foi a vez de nossos avós, que tinham acabado de chegar, entrarem para ver Arthur. Papai e mamãe chegaram com tio Leo e tia Lia, e eu corri para os braços dele. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tio, ele está tão machucado! — Oh, minha princesa, não chore. Tudo vai passar. — Como vai ser, tio Leo? Como ele vai reagir quando souber? — Vamos ter que ser fortes para passar força a ele. Mamãe dizia que minha ligação com tio Leo vinha desde o meu nascimento. Ele cuidara de mim ainda na sala de parto. Tio Leo, assim como meu pai, era pediatra, e, juntos, eles tinham uma clínica. Eu tinha certeza de que minha vontade de exercer a medicina tinha vindo da paixão que meu pai e meu tio tinham pela profissão. — Eu sei, tio. — Você não acha que está na hora de ir para casa? Seu pai falou que você e o Luca estão aqui desde ontem. — Estamos — respondi entre as lágrimas. — Vai para casa. Tenta dormir um pouco. O Arthur está estável, e acredito que logo sairá da UTI. — Eu vou, preciso de um banho e dormir um pouco. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vai com meu carro. Depois volto com seu avô e o pego lá na sua casa. — falou, entregando-me as chaves do seu automóvel. — Obrigada, tio. Amo você! — Também te amo, minha princesa. Chamei Luca, e saímos do hospital. Dirigi até sua casa e o deixei em frente a ela, depois fui até a minha. Passei pela porta de entrada e encontrei minha irmã. — Eu estava indo para o hospital te buscar. Como você está? Vocês sempre foram tão ligados... — Júlia perguntou, puxando-me para os seus braços. — Ah... Ju, eu estou devastada... Paraplégico, Júlia. Ele está paraplégico. Eu entrei na UTI e fiquei arrasada ao ver seu estado. Ele está muito machucado. — Oh, minha irmã... Eu estou sofrendo tanto ao ver nosso primo nessa situação, mas vejo que sua dor é bem maior que a minha e entendo. Sempre desconfiei de que você era apaixonada por ele, e te ver nesse estado só confirma minhas suspeitas. — Eu o amo, Ju, e ele também me ama. Íamos falar com o papai sobre nós, mas agora... tudo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mudou, não sei como será. — Um dia de cada vez, Elena. Agora você terá que ser paciente. — Eu serei. Ficarei ao lado dele o tempo todo. — Irmã, você terá que ter paciência. Pacientes que sofrem esses tipos de traumas normalmente passam por processos psicológicos complicados. Ainda não sabemos como o Arthur vai agir quando souber. — Estou com muito medo desse momento. — Vamos esperar. E agora cuide de você, vá tomar um banho e descansar. Se precisar, estarei aqui. Entrei em meu quarto e fui direto para o banheiro. Eu precisava muito de um banho. Ao sentir a água quente cair em minha cabeça, relaxei meu corpo e mais uma vez chorei. Imagens de Arthur surfando, jogando futebol, correndo atrás de mim para se jogar comigo na piscina vieram à minha mente, da mesma maneira como vieram a forma como fizemos amor, seu jeito protetor e dominante. Volta para mim, amor. Coloquei um pijama, retirei as almofadas que decoravam minha cama e me deitei, cobrindo meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS corpo com o edredom. Mais uma vez fui levada ao passado. Na casa de campo, dormíamos no mesmo quarto. Sempre tinha sido assim, mas ultimamente eu me sentia constrangida por estar tão perto do Arthur e notava que ele também se sentia assim. Eu havia começado a ter pensamentos estranhos, o que me assustava. No dia em que ele machucou o dedo com o anzol, fui acordada no meio da madrugada por ele, que me chamava baixinho. — O que foi, Thur? — Meu dedo está doendo muito, Elena, mas não quis acordar a vovó. Saí da minha cama e fui até a dele. — Eu vou até a cozinha buscar o remédio que o médico passou, já volto. Fui à cozinha, peguei o analgésico, que ele já tinha tomado à tarde, como também um copo de água e voltei para o quarto, entregando tudo a ele. — Obrigado, Elena. — De nada. Mas acho que agora o molenga está sendo você. — Queria ver se fosse com você. Aposto que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estaria chorando como uma louca. — Estaria nada. Nós, mulheres, somos mais fortes que os homens. — Mulher? Você ainda não é uma mulher, Elena. — Claro que sou! — Não é, não! Você é uma menina. — Eu já sou uma mulher, Arthur. É que vocês, garotos, são mais imaturos. — Nossa! Falou a maturidade em pessoa, a adulta que nem dorme de luz apagada. — Isso não tem nada a ver, Thur. — Claro que tem. Desde quando você já é uma mulher? — Agora eu já posso engravidar, sabia? Mamãe me explicou há alguns meses, quando fiquei menstruada pela primeira vez. O olhar de espanto que ele fez foi engraçado. — Mas você só tem 12 anos! Nunca vi meninas de 12 anos grávidas. — Eu também não, mas ela disse que eu já posso. Sabe, Thur, eu até fiquei com medo. Às vezes me sinto estranha. Isso também está acontecendo com você? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Claro que não! Meninos não têm essas coisas aí — afirmou apontando para os meus seios. — Eles cresceram e doem. É tão estranho. Arthur me olhava parecendo confuso. — Se eu te pedir uma coisa, você deixa? — perguntou receoso. — O quê? — Me deixa ver como eles são? — pediu ainda olhando para o meu tórax. — Ah, não, Thur, tenho vergonha. — Mas nós nunca escondemos nada um do outro! Deixa eu ver, Elena. Era verdade. Nós nunca escondíamos nada um do outro. — Espera um pouco. Fui até a porta e a tranquei. Eu não queria que o vovô ou a vovó nos pegasse, tinha consciência de que eles nunca entenderiam. Voltei e me sentei na cama, ficando de frente para ele e comecei a abrir os botões do meu pijama. — Não é para rir de mim — cobrei, encarando-o. — Eu não vou rir. Terminei de abrir os botões e afastei o pijama e meu cabelo. Os olhos de Arthur brilharam, e ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ficou com uma expressão estranha. — O que foi? — indaguei confusa. — Posso colocar a mão? Esse pedido fez minhas bochechas corarem, mas deixei. — Pode. Arthur levou sua mão até meu peito e o acariciou, e eu senti algo que nunca tinha sentido antes. Ele se aproximou mais e segurou o outro seio com a outra mão. Nesse momento se inclinou como se fosse me beijar, mas fiquei assustada e saí de perto dele. Fui até a porta e a destranquei, depois voltei para a minha cama. Minha pulsação estava acelerada, e meu corpo, quente. Arthur não falou mais nada e, desde então, afastou-se de mim. Dormi revivendo nossos momentos de infância. Acordei, e era madrugada. Fui até o quarto da minha mãe e a encontrei dormindo sozinha. — Mamãe? — Oi, filha! Deita aqui ao meu lado. — Cadê o papai? — Ele ficou no hospital com seu tio Marcos. — Como o Arthur estava quando você deixou o hospital? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Estável. Agora é esperar, filha. — Estou tão triste, mãe. O Arthur não merecia isso. Ele estava tão feliz com a faculdade. — Ninguém merece passar por isso, filha, mas vamos esperar e ver como ele ficará. Dormi o restante da madrugada com a minha mãe e, na manhã seguinte, acordei, troquei-me e fui para o hospital. Assim fiz durante os cinco dias em que ele esteve na UTI. Passava o dia lá, entrava quando era autorizada e em todas as vezes chorava e implorava para que ele voltasse para mim. No sexto dia, ele foi para o quarto. Já não usava mais o tubo, e seus edemas estavam menores. Eu estava ansiosa para que ele acordasse, mas com muito medo da sua reação ao sentir que suas pernas não responderiam mais.

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SENTI OS MEUS olhos pesados, eles custavam a abrir. Pensei estar bêbado, porém não me recordava de ter bebido na noite anterior com os caras da faculdade. Lembrava-me de que havia saído tarde da faculdade por ter estado estudando e depois fui direto para casa. O que estava acontecendo? Com muito custo consegui abrir um pouco meus olhos, porém, assim que o fiz, um grande clarão impactou minhas retinas, não permitindo que eu continuasse com eles abertos. Sentia meu corpo pesado e mal mexia os dedos. Mas que porra é essa?! Será que estou sonhando? Dormi novamente e, quando acordei, tudo estava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS muito confuso, porém dessa vez consegui abrir minhas pálpebras, e a escuridão me recebeu. Procurei visualizar algo que me mostrasse onde eu estava e foi então que vi meu pai Marcelo em meio à penumbra. Ele dormia de forma desconfortável no sofá ao lado da cama. Tentei chamá-lo, mas minha voz não tinha força. Apenas pequenos sons saíam da minha boca, e, com as tentativas de falar, fui ficando nervoso, até que um alarme soou. Meu pai deu um pulo no mesmo momento e correu até mim. — Filho? Meu filho! Graças a Deus você acordou! — Ele acariciou meu rosto e beijou minha testa. — Como está se sentindo? Tentei responder, mas nada de a minha voz sair, e fiz sinal de negação. Eu não me sentia bem. — Filho, você lembra o que aconteceu na noite do aniversário da Alice? Aniversário da Alice? Como assim? Ainda faltam 15 dias para o aniversário da minha irmã. Meu Deus! O que está acontecendo? Fiquei irritado, porque estava tudo confuso e sentia que tinha alguma coisa enfiada em meu nariz que passava por minha garganta, e isso estava me dando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ânsia de vômito. Tentei tirar, mas meu braço estava muito pesado, não conseguia levantá-lo com a mesma rapidez de antes. — Calma, Arthur! Se acalme, filho. Os olhos do meu pai estavam cansados e aflitos, e eu só queria entender, pois não me lembrava de nada. — Filho, você está em um hospital, sofreu um acidente. Tente se acalmar. — Meu pai segurava meus ombros e me encarava. — Você não se lembra de nada? Neguei mais uma vez com a cabeça. Tentei recordar algo, mas minha última lembrança era da noite em que eu ficara até tarde na faculdade estudando e depois fora direto para casa. Alguém entrou no quarto e acendeu a luz, e isso ofuscou minha visão. Aos poucos fui abrindo as pálpebras e me acostumando com a iluminação. Meu pai começou a me examinar, colocou um foco de luz horrível em minhas pupilas, e meu braço foi apertado pelo aparelho de pressão que a senhora vestida de branco colocou nele. — Dr. Marcelo, a pressão está 13x8, e a temperatura, 36,2º. Os resultados dos exames PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coletados mais cedo já estão liberados no sistema. — Obrigado, Clara. Vou conversar um pouco com ele e depois vejo os resultados. A senhora saiu, e meu pai pegou em minha mão. — Deve estar tudo confuso para você, mas, graças a Deus, agora você está bem e aos poucos as coisas ficarão mais claras. Tentei falar que queria me levantar um pouco, mas não consegui, então meu pai conseguiu ler meus lábios. Eu estava sentindo muita dor em algum lugar das minhas costas. — Por enquanto você não pode se levantar, passou por uma cirurgia. Está com dor? Fiz sinal positivo com a cabeça. — Vou pedir para que te mediquem. Papai apertou minha mão e beijou mais uma vez minha testa. — Graças a Deus, meu filho! Não sei o que seria de mim se algo pior tivesse acontecido. — Ele secou uma lágrima que escorreu por sua face. Tinham sido poucas as vezes em que eu vira meu pai chorar. Ele sempre passara o ar de homem forte e centrado, e vê-lo daquele jeito me deixou emocionado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ei, campeão! Nada de lágrimas nesses olhos. Lembre-se de que você é o garoto mais forte e corajoso que conheço e que eu te amo até o infinito. Foi impossível segurar as lágrimas, pois ele acabara de falar comigo como sempre falava quando eu era pequeno. Eu e meu pai tínhamos uma ligação inexplicável, ele me entendia e até mesmo quando eu aprontava sempre pegava leve e tentava acalmar os ânimos. Não aguentei ficar por muito tempo acordado e acabei apagando mais uma vez Acordei, e a iluminação que chegava aos meus olhos era natural, o que me mostrava que era dia. Logo senti alguém se aproximar da cama e encontrei o rosto da minha mãe Carla. Em seguida, no outro lado, alguém segurou minha mão, e encontrei minha mãe Aline. As duas estavam com os olhos vermelhos. — Meu filho, graças a Deus você acordou! Eu estava aflita, meu amor — minha mãe Carla declarou, beijando meu rosto. Ela era muito protetora, e isso não ficara só na época da minha infância, ela ainda me tratava como se eu fosse um bebê. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Estou tão feliz por você estar bem, meu amor. — Minha amada madrasta beijou minha testa. Sorri para elas, e em meu campo de visão apareceu meu pai Marcos. — E aí, cara?! Que susto que você nos deu, hein? Fiquei com eles no quarto, observando-os do modo que eu conseguia. Apesar de tentarem demonstrar que estava tudo bem, deixavam escapar algumas coisas que ficavam no ar. Naquele mesmo dia notei que dormi menos. Recebi a visita de uma fisioterapeuta que me fez fazer alguns exercícios para a parte respiratória, já que eu estava deitado o tempo todo e precisava manter meus pulmões longe de qualquer possível pneumonia. Minhas mães acabaram ficando comigo o dia todo. Meus pais vez ou outra também passavam para me ver, e, na parte da tarde, recebi a visita de meus irmãos e das minhas primas. Luca chorou ao se abaixar e me abraçar, da mesma forma que Alice e Livi. Davi estava no colégio, e meus pais acharam melhor que ele não viesse até o hospital por ser muito jovem. Recebi o abraço da Júlia e, por último, o que eu mais esperava, o da Elena. Senti PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS seu peito sobre o meu, e seu cheiro invadiu minhas narinas. Ela encostou seus lábios em meu rosto e me deu um beijo demorado. Senti suas lágrimas caírem e me comovi por ver seus olhos cheios de dor. Como eu a amava! Como queria que tudo fosse diferente e que eu pudesse gritar a todo mundo o meu amor por ela. — Que bom que você voltou. Eu estava com tanto medo. Sorri para ela e fiquei olhando para aquele rosto lindo a centímetros do meu. Seus longos cabelos loiros caíam sobre mim, seus olhos azuis penetravam os meus. Eu a queria em meus braços, queria que só estivéssemos nós dois ali e, talvez, eu tomasse coragem de dizer toda a verdade sobre o que sentia por ela, porém aquele não era o momento nem a hora. Para me trazer de volta à realidade, tio Erick passou pela porta, fazendo com que Elena se afastasse de mim. — Ei, rapaz! Como se sente? Consegui soltar um “bem” muito fraco, mas ele entendeu. Tia Amanda apareceu na sequência e se abaixou, dando um beijo em minha testa. — Arthur, que susto que você deu na sua tia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nunca mais faça isso! Ela sorriu. Contudo, seus olhos demonstravam que havia chorado. Ouvi-los falar estava me cansando. Não entendia por que estava daquele jeito, sentindo-me fraco e sonolento. Acabei dormindo sem nem ao menos vêlos sair. Acordei mais uma vez e notei que era madrugada. Dessa vez quem estava no quarto comigo era o meu pai Marcos. Reclamei de dores nas costas, fui medicado e mais uma vez voltei a dormir. Na manhã seguinte, sentia-me um pouco melhor. Minha mãe Carla estava comigo, e escutamos batidas à porta. Um homem e duas moças entraram cheios de utensílios em um carrinho e avisaram que me dariam banho e fariam o curativo da cirurgia. Minha mãe saiu para que eu ficasse mais à vontade, e, como eu não tinha como contestar, aceitei o banho calado e morrendo de vergonha, porque as duas garotas deviam ter pouco mais que a minha idade. O rapaz e uma delas ficavam a cargo de me virar, e a outra, de lavar minhas costas e fazer o curativo. Meu corpo tinha de ser “virado em bloco”, essa foi a única coisa que ouvi a garota PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dizer, e eles me viravam dessa maneira, mantendo meu corpo todo alinhado. O rapaz era uma figura. Notei que cantava uma das meninas e ri quando ele levou um fora. — É, irmão! O negócio está feio aqui pro meu lado. Já avisei para elas que quem experimentou desse bombom aqui nunca mais se esqueceu. — Você está mais para uma bomba de chocolate, Ari — uma das meninas comentou. — Para você, sou o que quiser, se quiser sou bomba, sou croissant ou um sonho. Que tal um café da manhã comigo? — Ari, para! Eu sou noiva, olha aqui minha aliança! — Noiva não é casada, e essa aliança não me assusta. — Você não tem jeito mesmo. Dei muitas risadas durante meu banho constrangedor. Quando eles me viraram de novo, senti alívio, e minhas costas já não doíam tanto. Provavelmente aqueles momentos sem meu dorso em contato com o colchão me ajudaram. Uma das meninas começou a lavar meu cabelo, e reconheci o cheiro do xampu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que eu usava. Eu estava tenso imaginando o momento em que uma delas lavaria minhas partes íntimas. Já tinha me sentido constrangido ao imaginar que uma delas lavara a minha bunda, porém, como estava de costas para ela, não vira sua face. Entretanto, daquela vez eu iria olhar e morreria de vergonha. — Ei, cara! Vou limpar sua área de lazer. Licença aí — pediu o enfermeiro brincalhão. Puta que pariu! Pior que a menina limpar é ver um negão desse tamanho segurando as minhas bolas. Que porra! Não vejo a hora de estar bom para sair logo daqui. — Prontinho! Novinho em folha — concluiu o enfermeiro com um sorriso gigante, e eu queria um buraco para me enfiar. Observei que colocaram uma fralda em mim, depois me vestiram com uma bata de hospital e cobriram meu corpo com um lençol. O banho de certa forma me reanimou. Apesar de ser na cama, trouxe-me conforto e deixou meu corpo mais relaxado. — Hum... Bulgari! Com essa cara e com esse perfume, você deve catar um monte de mulher — o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tal Ari comentou. Dei um sorriso, pois era verdade. Eu pegava muitas mulheres, porém a única que eu queria de verdade era Elena. Eu não ficava um só minuto sozinho, sempre um dos meus pais estava comigo. Meus irmãos, tios e avós também vinham me ver, assim como Júlia e Elena. Num dia, na hora de me cumprimentar, ela acabou me dando um beijo que pegou no canto da minha boca, e eu adorei aquilo. Sua mão acariciava meu braço, e seu olhar enigmático me deixou curioso. — Thur, você não se lembra de nada da noite do acidente? Nada mesmo? — inquiriu bem baixinho. — Não, não me lembro de nada. Para mim a festa da Alice ainda está para acontecer — tentei responder no mesmo tom, já que não entendia o porquê de ela cochichar em meu ouvido. Seus olhos estavam tristes, e eu vi que havia lágrimas represadas neles, porém ela as capturou ao notar que começavam a escorrer por seu rosto. Era horrível estar naquela situação. Fazia uma semana que eu tinha acordado, e ainda não podia me sentar, não podia dormir de lado, comia por PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS aquela maldita sonda e sentia muita fraqueza. Não me lembrava do acidente, e minha última recordação era de muitos dias antes. E os banhos? Aquilo não era banho. E as trocas de fralda? A cada troca, eu morria de vergonha, mas continuava aguardando ansiosamente pelo dia em que estaria liberado para me sentar e logo ter alta para continuar com a minha vida. Finalmente meu pai Marcelo avisou que eu poderia ter a cabeceira da cama elevada. Senti-me muito feliz por isso, pois ver as pessoas e as coisas na posição em que me encontrava era muito desconfortável. Meu pai começou a elevar a cabeceira da cama, e foi ótimo poder olhar para as pessoas daquele ângulo. E foi também nesse momento que tive noção de que algo não estava bem. Durante todo o tempo em que eu estive deitado de forma ereta, pensei que minhas pernas estavam engessadas e que era por esse motivo que eu não conseguia movê-las, apenas sentir os toques bem de leve e um formigamento, mas, ao ficar sentado, retirei o lençol para olhar minha parte inferior e não encontrei as imobilizações que achara existir. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Minhas pernas estavam vestidas com meias longas que vinham até minhas coxas e aparelhos que insuflavam a todo o momento, com esponjas que cercavam meus pés e calcanhares. Pareciam um par de grandes botas azuis. Entretanto, acabei observando que o inflar do aparelho não me trazia a sensação de aperto em meus tornozelos. — Pai, o que é isso? — Apontei para as minhas pernas. — É uma compressão pneumática. Isso evita a trombose. Você permaneceu por dias, após a cirurgia, na mesma posição. Ele se aproximou da cama, e minha mãe Aline se levantou e ficou ao seu lado, fitando-me. Notei que ela estava nervosa, porque agarrou a mão do meu pai. — E por que eu não sinto quando o aparelho insufla? — Filho! Calma! Tentei mover uma das pernas, mas ela não saía do lugar. Tentei levantar a outra, e nada acontecia. Comecei a me desesperar. — Pai, o que está acontecendo?! — Já estava em pânico. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Filho, eu... seu acidente foi muito grave, e você vai ter que ser forte. Eu sempre estarei ao seu lado... — Fala logo! Por que minhas pernas não respondem? — Filho, você teve uma lesão medular. Recebi essa notícia como um grande soco na boca do estômago. O quarto ficou em um silêncio assustador, e eu tentava encontrar uma forma de voltar a respirar de forma correta. — Filho! Olha para mim! Filho? Marcelo... Minha mãe chorava, e eu ouvia tudo. Fiquei por um momento em inércia. Lesão medular... Lesão medular... Meu Deus! — Filho? Nós também estamos sofrendo muito, nós... — Que tipo de lesão eu tive? — interrompi-o. — Você lesionou a T12. — Isso é permanente? Foi uma lesão completa? Eu tinha crescido ouvindo meu pai falar sobre lesões medulares, lesões cerebrais... Meu entusiasmo para cursar medicina tinha vindo da paixão que eu via em meu pai por sua profissão. — Provavelmente... Você não faz ideia do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quanto me dói ter que falar isso para você. — Estou paraplégico, é isso? — Infelizmente é isso, filho, mas, agora que está acordado, poderemos ver os reflexos... — Chega! Não sei descrever o que senti, parecia não ser real. Voltei a olhar para as minhas pernas e tentei a todo custo fazê-las se moverem, mas não houve resposta. Não era possível! Era irreal! Fiz o máximo de força que conseguia para tentar movimentá-las, mas nada aconteceu. — O que vai ser da minha vida, pai? Minha faculdade? Meus esportes, uma família... Elena veio à minha mente, e comecei a chorar. Chorei como um menino. Que homem eu seria? Um cadeirante! Meu Deus! Que homem eu seria para uma mulher a partir daquele momento? Que homem eu seria para ela? Mais do que nunca, eu via que meu amor por Elena nunca poderia ser revelado. Ele nunca poderia existir.

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QUANDO MAMÃE ME avisou que o Arthur tinha acordado, fiquei ansiosa para vê-lo. Sabia que meus tios mereciam estar com ele naquele primeiro momento e por isso segurei minha ansiedade em correr para o hospital. Quando finalmente dei a eles o tempo que necessitavam, a ansiedade me corroía, eu não via a hora de chegar. Olhar o caminho e o trânsito que nos prendia me deixava cada vez mais nervosa. Como Arthur estaria? Como olharia para mim? E como seria quando ele descobrisse a lesão? Meus primos e minha irmã entraram primeiro, e fiquei por último, apoiando-me na porta. Depois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que todos foram até ele, decidi me aproximar. Abracei-o como pude e beijei seu rosto. Ele estava estranho, mas, tendo passado por tudo aquilo, não haveria de estar de outra forma, porém, meu lado egoísta esperava que ele me recebesse com brilho nos olhos, o que não aconteceu. Ele sorriu, foi carinhoso, mas falou comigo da mesma forma que tinha falado com a minha irmã, e isso me chateou. Fiquei deslocada, buscava em seu olhar algo que demonstrasse que tudo entre nós estava diferente, mas não aconteceu. Saí do quarto muito triste. O que será que houve? Por que ele está tão frio? Depois do que passamos juntos, achei que ele me receberia de outra forma. Fiquei quieta em um canto, tentando entender seu comportamento e me julgando por querer algo dele naquela situação. Notei o tio Marcelo falar baixo com Luca, fiquei próxima a eles e acabei ouvindo o que dizia: — Por enquanto nós decidimos não falar nada sobre a lesão. Se ele perguntar algo sobre não sentir as pernas, deem sempre uma desculpa. Eu preciso de fôlego, e ele, de estar mais forte para receber essa notícia. Ah... ele não se recorda de nada da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS noite do acidente, parece que sua última lembrança é de uns 15 dias antes daquela terrível noite. — Seu pai passou a mão pelos cabelos, o que demonstrou o quanto estressado estava. — Não cobre muito dele, não sabemos se algum dia ele se recordará dos dias que antecederam o acidente. Será melhor evitar perguntas, elas podem desenvolver um tipo de estresse, e isso é o que ele menos precisa neste momento. Enfim eu entendia o que estava acontecendo. Tudo voltara ao que era entre nós. Ele não se lembrava da nossa noite, não recordava que eu tinha me entregado a ele e que havíamos jurado lutar por nosso amor. Senti meus olhos marejarem. Queria ir para casa, para o meu quarto, ficar sozinha com meus pensamentos, e foi isso o que fiz. Eu tinha mil coisas da faculdade para fazer, porém não tinha ânimo para nada. Acordei com a porta do quarto sendo aberta e vi a minha mãe passar por ela. — Filha, vamos jantar? Você dormiu a tarde toda. Seu pai já chegou da clínica, e esperamos você à mesa. — Não quero jantar. Não estou com fome. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas, filha, você não comeu nada desde o almoço. — Não se preocupe comigo, mais tarde eu tomo um leite. — Você é quem sabe, mas não volte a dormir sem comer nada. Amanhã você tem que acordar cedo para ir para a faculdade. — Eu não vou para a faculdade, mãe. Não estou com cabeça e, além disso, tinha que entregar umas pesquisas e, com tudo o que aconteceu, acabei não fazendo nada. — Oh, filha, apesar de tudo, o Arthur está bem. Agora é ter paciência e aguardar as coisas se ajeitarem. Sei que vocês são muito apegados e entendo sua tristeza. — É, mamãe, eu estou muito triste. Eu conheço o Thur, acredito que ele irá receber da pior forma essa notícia e já estou sofrendo por antecedência. — Vamos dar tempo ao tempo, Elena. — Queria ter a sua tranquilidade, mãe, mas não tenho. Recebi um beijo na testa e um sorriso animador antes de ela sair do quarto e eu voltar a me deitar. Acordei sentindo um carinho no cabelo e, ao abrir PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS os olhos, encontrei meu pai ao lado da cama. — O que a minha princesa tem que não desceu para o jantar? — Oi, papai. Até quando vai me chamar assim? — Sorri para ele. — Eu só estou cansada e triste pelo Thur. — Você sempre será a minha princesa. — Ele acariciou meu rosto. — E, quanto ao seu primo, o processo será lento e doloroso, porém ele é forte e vai passar por isso tudo. — Ele pode ser forte fisicamente, e talvez isso até o ajude na reabilitação, mas emocionalmente ele vai ficar arrasado. — Comecei a chorar. — Eu sei que vai, pai. Eu o conheço. — É aí que entra a família. Temos que dar muita força a ele. Você, como prima e da mesma idade, tem que procurar mostrar para ele o lado bom. — E existe lado bom nisso, pai? Um rapaz de vinte anos paraplégico, com uma carreira pela frente, com muitos planos e metas? Não consigo enxergar nada de bom nessa tragédia. — Eu sei, filha, foi forma de falar. Mas você tem que ficar bem e continuar com suas coisas. Eu sei que agora está tudo muito recente, vocês estudam PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS juntos, porém, você tem que se empenhar na faculdade. — Por que acontecem essas coisas, pai? — Eu não sei, filha. Também gostaria de saber. No dia seguinte voltei ao hospital e encontrei Arthur mais corado. Na hora de cumprimentá-lo, deixei que minha boca encostasse no canto da dele. Eu queria sentir seus lábios, queria ver seus olhos cheios de amor por mim. — Thur, você não se lembra de nada da noite do acidente? Nada mesmo? — inquiri ansiosa — Não, não me lembro de nada. Para mim a festa da Alice ainda está para acontecer. Senti uma tristeza tão grande que meus olhos se encheram de lágrimas. O que eu faria? Eu não sabia como agir, não sabia como me portar na frente dele. Depois que ficáramos juntos, tudo mudara para mim, eu já não o via com os mesmos olhos, porém para ele nada tinha mudado. E isso me machucava. O que era um segredo nosso, agora era só meu. Passei a frequentar a faculdade novamente, mas só meu corpo estava lá, porque minha mente estava nele o tempo todo. Muitos colegas de classe vinham falar comigo e perguntar do Arthur; eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS respondia, porém não falava sobre a lesão, pois fiquei com medo de que alguém da faculdade fosse visitá-lo e acabasse lhe contando, se bem que o tio Marcelo proibira visitas, apenas a família estava autorizada a entrar. Voltei todos os dias ao hospital, e ele continuava o mesmo. Eu rezava para que ele recordasse, tinha esperança de um dia chegar lá e descobrir que ele tinha lembrado, mas isso não acontecia. Um dia o telefone de casa tocou e, quando atendi, escutei tia Carla chorando e me desesperei. — Tia, o que aconteceu?! — Sua mãe está aí? — Não. Ela foi à clínica do papai. Por que você está chorando? Aconteceu alguma coisa com o Arthur? — Ele já está sabendo de tudo, Elena. Meu filho está sofrendo, e eu não encontro coragem de ir até o hospital. Eu queria que Amanda fosse comigo. Se eu pudesse, transferia a dor e a lesão dele para mim, não queria que meu filho sofresse. — Mamãe não está, mas, se quiser, vou com você. — Você vai? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vou. Pode deixar, que passo aí pra te pegar. Saí de casa já imaginando como eu o encontraria. Passei na casa da minha tia e fomos direto para o hospital. Quando chegamos, tio Marcos estava sentado com a cabeça baixa apoiada nas mãos. — Amor? — minha tia o chamou. Meu tio levantou a cabeça, e seu rosto estava coberto de lágrimas. Eles se abraçaram, e eu fui para o quarto, bati à porta e entrei. Encontrei Arthur com o rosto abatido, os olhos vermelhos e o olhar perdido. Tia Aline estava sentada na poltrona. Fui até ela, dei um beijo em seu rosto marcado pelas lágrimas e segui até ele, que parecia não notar a minha presença. — Ei... — falei acariciando seu braço. Ele fechou os olhos no mesmo momento, parecia que meu toque ou a minha presença lhe causavam dor. Vi lágrimas começarem a escorrer por seu rosto e me segurei ao máximo para não chorar também. — Thur, eu sei que deve ser difícil e que vai ser duro por um tempo, mas você não está sozinho. Nossa família inteira irá te ajudar, eu estou aqui e ficarei ao seu lado o tempo todo. — Beijei seu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS rosto, mas minha vontade era de beijar sua boca, e talvez até o fizesse se minha tia não estivesse no quarto. Ele não respondeu nem olhou para mim. Tia Carla entrou no quarto junto ao tio Marcos, e saí de perto da cama para deixar que se aproximassem dele. Foi muito doloroso ver a minha tia falar com ele e ser ignorada. Eu achava que, naquele momento, nada o faria sair daquela bolha em que estava. Os pais dele saíram, e voltei a me aproximar da cama, mas Arthur continuou do mesmo jeito. Tornei a acariciar seu braço, queria que ele soubesse que não estava sozinho. Meus tios pediram que ninguém mais viesse visitá-lo, pois Arthur precisava de tempo para conseguir digerir aquela amarga notícia. Voltei para casa, jantei com a minha família, porém nosso jantar não foi igual aos que eu estava acostumada; era assim desde o acidente. Nossos jantares em família eram uma das coisas que papai fazia questão. Quando pequena, mamãe pedia que tomássemos banho para descer para o jantar, papai chegava do trabalho, e nós já estávamos à sua PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS espera. Quando nos sentávamos à mesa, era o momento de contar a ele tudo sobre o nosso dia, e ele ouvia atentamente e sempre tinha uma resposta para os nossos problemas. Entretanto, naquela noite, como vinha acontecendo havia uma semana, estávamos em total silêncio. Nenhum assunto era mais importante do que o estado do Arthur, e notei que ninguém queria falar sobre isso. Fui para o meu quarto e me deitei em minha cama. O teto branco me fazia companhia mais uma vez, e o sono não vinha. Peguei o celular, entrei no Instagram e fiquei olhando as fotos de Arthur. Lindo! Era tão lindo o meu amor... Eu precisava contar a ele, quem sabe assim ele se recordasse de algo, mas como ele reagiria? Talvez não fosse o momento. Iria esperar as coisas se acalmarem e, em um momento em que estivéssemos a sós, contaria tudo. Cheguei à faculdade e, ao estacionar o carro, vi o Eduardo se aproximar. — Oi, Elena — cumprimentou, beijando meu rosto. — Oi, Edu! — E aí, como estão as coisas com seu primo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ele e Arthur não eram muito próximos. — Estão bem complicadas — respondi desanimada. — É verdade que ele lesionou a coluna? Meu avô teve uma reunião com o seu, e ele comentou. Que droga! O que eu mais queria era poder gritar um não enorme na cara dele, mas era melhor confirmar para que as especulações acabassem. — Infelizmente ele teve uma lesão, mas não quero falar sobre isso. — Ah... claro! Me desculpa. É que não consegui visitá-lo, sua família não autorizou a entrada de pessoas que não fossem da família, e eu estava preocupado. — Meus tios acharam melhor dessa forma. — Também acho que foi melhor assim. Ainda está cedo para o início da aula. Você não quer tomar um café? Lembrei que tinha saído de casa sem comer nada, então aceitei. Durante o café, falamos dos nossos cursos, lembramos algumas coisas da nossa infância e evitamos falar do estado do Arthur. Despedimo-nos e cada um foi para seu lado. Foi quando minha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ficha caiu. O que Eduardo estava fazendo ali? O setor de engenharia ficava em um prédio bem afastado dentro do campus. Deixei para lá e fui para a minha sala. Tive horas maçantes de aula e pouco prestei atenção. Naquela tarde eu passaria no hospital, não conseguia ficar afastada. Saí da faculdade e fui direto para o hospital. Ao chegar ao corredor do quarto de Arthur, senti um frio no estômago, como em todas as outras vezes, pois não sabia como o encontraria. Parei em frente à porta e respirei fundo, tomando coragem para encontrá-lo. Dei três batidas e abri a porta. A cabeceira da cama estava um pouco elevada, o quarto cheirava ao seu perfume, seus cabelos estavam úmidos, e ele dormia. Tia Aline estava com ele e me abraçou ao me ver. — Ele está cochilando. A equipe da fisioterapia veio cedo, já iniciou alguns exercícios motores. O chefe da equipe conversou muito com ele. Hoje o senti mais animado, ele até sorriu. Depois veio a equipe de enfermagem, que lhe deu banho. Agora ele dormiu. — Que bom! Eu sei que não queriam que ele tivesse visitas, mas não consigo ficar longe dele, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tia. — Meus olhos se encheram de lágrimas, e fiquei sem jeito ao derramar meus sentimentos à sua frente. — Não precisa se justificar, Elena. E até foi bom que você veio, vou aproveitar que está aqui e dar um pulo em casa, esqueci de pegar um livro que ele pediu. Ela saiu, e fui para a lateral da cama. Peguei sua mão quente e a segurei firme. O quarto estava silencioso, e consegui relaxar. Como eu o amava! Eu não conhecia outra forma de amar, pois fora sempre dele e sempre seria dele o meu amor. Fitei seu rosto e me lembrei do quanto tinha sido feliz em seus braços, das juras que havíamos feito e do amor que sempre nos envolvera. Eu sabia que podia até parecer infantil nas minhas colocações, mas acreditava que eu fosse uma daquelas pessoas agraciadas por Deus, pois, quando nasci, ele já estava ali, não precisei procurá-lo em meio à multidão. Ele sempre fora o meu amor. Abaixei-me, não resistindo mais, e beijei seus lábios. Eles estavam quentes, e foi bom demais senti-los junto aos meus. Ao abrir meus olhos, encontrei os dele, que me fitavam. Ao tentar me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS separar, senti sua mão em minha nuca, impedindo que isso acontecesse. Nós nos encaramos e nos entregamos a um beijo cheio de paixão. Sua língua deslizava sobre a minha, e seu aperto em meu pescoço era forte. Ele me conduzia e me beijava com tanta intensidade que senti o ar faltar. Escutamos batidas à porta e nos separamos. Uma funcionária do hospital entrou, deixando seu lanche da tarde. Nossos olhos não se desgrudavam. — Oi — ele foi o primeiro a falar assim que a funcionária da copa saiu. — Oi — respondi sorrindo e me sentindo emocionada. Arthur ficou olhando para mim quieto e sério, e aos poucos seus olhos se encheram de lágrimas também. Meu peito começou a doer. Ele iria me rejeitar, e eu não estava preparada para ouvir, nunca estaria pronta para isso. E sua voz saiu: — Qual era a cor do seu vestido na festa da Alice? — Prata, por quê? — Prata e extremamente ousado. — Você se lembrou do meu vestido? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não foi só isso que lembrei, porém não sei se tudo que recordei foi real, eu... Peguei sua mão e a beijei. — Thur, me deixa falar. — Ele assentiu. — No dia da festa da Alice, meu único objetivo era chamar sua atenção, e a escolha do meu vestido foi feita para isso. Eu estava cansada de continuar fingindo não sentir nada por você e, apesar de estarmos o tempo todo juntos, você me evitava. E, naquela noite... eu chamei você pra dançar e foi mais forte do que eu... — Eu não resisti a você, e acabamos saindo da festa — ele me cortou. — Eu estava louco por te ver vestida daquela forma, ver suas costas nuas e observar o quanto você estava chamando atenção. Sorri ao ouvi-lo falar que sentira ciúmes. — E nós fomos para a minha casa, para o meu quarto, e lá eu fui sua, eu me entreguei a você, e tudo aconteceu como sempre sonhei. Eu sempre fui apaixonada por você. Ele segurou a minha mão e a beijou. — Eu me lembrei de tudo, Loirinha, de cada detalhe, no entanto tive medo de que tudo não passasse de um sonho ou algo que minha mente PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tinha inventado para saciar meu desejo. Eu sempre gostei de você, Elena, mas, quando se é garoto, os sentimentos ficam misturados, e eu não queria admitir que gostava da minha prima, porém bastava eu ouvir um dos moleques do colégio falar alguma coisa sobre você que eu morria de ciúme. — Ciúme? Eu morria de ciúme de você com aquelas atrevidas, e você pegava todas, né? — Dei um sorriso. — Mas eu só queria você, sempre foi você. Abracei-o, e nós dois ficamos emocionados. Ele disse contra minha face: — Eu te prometi tantas coisas, mas agora... — Agora eu estou aqui e não vou sair do seu lado. — Elena, eu não sei como as coisas vão ficar e acho injusto te trazer para toda essa incerteza. — Então me traz para toda a certeza que temos, o que sentimos um pelo outro, que é o que importa. Essa é a única certeza que eu tenho hoje, e nada mais... Voltamos a nos beijar, e foi mágico. Terminamos nosso beijo em meio a sorrisos e lágrimas. — Deita aqui ao meu lado um pouco — ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pediu. — Não! Alguém pode chegar. — Ah... Vem aqui, vamos viver perigosamente. Retirei minhas sapatilhas e me deitei ao seu lado. — Pode encostar aqui no meu braço. — Não. Eu não quero te machucar. — Você não vai. — Eu só pensei... — Não pensa, Loirinha. E, como ele pediu, eu fiz. Deitei-me ao seu lado e me virei, olhando para ele. Acariciei seu rosto, e ele fechou os olhos ao sentir meu toque. E a felicidade voltou para a minha vida. Eu sabia que muitas coisas estavam por vir, mas estaria preparada, seria forte e enfrentaria tudo para manter meu amor ao meu lado.

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ELENA ESTAVA DEITADA ao meu lado, e eu sentia o perfume dos seus cabelos. Ela tinha sido minha, minha! As lembranças da nossa noite voltavam à minha mente em pequenos flashbacks. Um lado meu, o lado sensato, queria que ela fosse embora, mas o lado egoísta a queria ali, porém o que eu tinha me tornado? O que eu poderia lhe oferecer? — Elena? Ela levantou o rosto e acabou descendo da cama. — O que foi, precisa de alguma coisa? — Precisamos conversar, deixar as coisas claras entre nós. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O que foi? Por que essa cara? — Elena, eu sei que o que sentimos é muito forte e, como um filho da puta egoísta, não vou abrir mão, mas também não estou em condições de assumir nada agora e entenderei se for demais para você. — Eu entendo, Thur. — Se antes eu já me sentia inseguro em falar dos meus sentimentos a você e assumi-los para a nossa família, agora me sinto muito pior. — Vamos fazer como você preferir, Thur. Só não me afaste, por favor. Eu sofri tanto... — Ei, Loirinha, vem aqui. Não chore, por favor. — Só não me afaste — ela pediu enxugando os olhos. — Seria o correto a fazer, Elena, mas, como já falei, meu egoísmo é maior e quero você comigo. Ela me abraçou, e nos beijamos. — Não vamos contar nada a ninguém. Eu não quero que ninguém saiba. Preciso ver como tudo ficará, estou tão confuso, tão revoltado. Justo agora! Justo quando eu viveria o melhor momento da minha vida isso aconteceu. A faculdade, meus esportes, você sendo minha... — Minha garganta se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apertou, e meus olhos arderam. — Shiiii, não fica assim. Olha, eu também estou com medo, insegura, mas não me vejo em outro lugar a não ser ao seu lado. Eu te amo, Thur! — Também te amo! Escutamos batidas na porta, e meu pai Marcelo passou por ela, indo até Elena e a cumprimentando. — Oi, Elena! — Oi, tio. Sua atenção se voltou para mim. — Como está se sentindo, filho? — Como acha, pai? — Filho, a revolta não te trará benefício nenhum. — Desculpa. Eu... É tão difícil, pai. Voltei a chorar e não me importei de Elena estar ali. — Thur... Ela veio até mim e segurou minha mão. — Eu queria ser um neurocirurgião, pai. Estava me esforçando muito para isso. Eu estava com a minha inscrição para o Iron Man feita e... — Olhei para Elena e fixei meus olhos nos dela. — Droga! — Filho, você pode ter tudo isso. Muitos constroem uma vida após a lesão medular. Se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acalme e passe por um dia de cada vez. — Meus dias se tornaram mais longos, pai. Já me perdi no tempo em que estou aqui. — Você terá o melhor tratamento, os melhores profissionais, e, se precisar, te levarei para fora do país. — Para fora do país?! — Elena perguntou com olhar assustado. — Existe um hospital especializado nesses tipos de lesões nos Estados Unidos, e, se precisar, eu o levarei para lá. — Não quero sair do Brasil, acredito que aqui também têm bons tratamentos — concluí olhando para Elena, que me pedia em silêncio para que eu ficasse. Escutamos outra batida na porta, e uma morena de cabelos lisos e sorriso largo passou por ela. Na hora eu queria um buraco para me enfiar. — Boa tarde! Meu nome é Vanessa, sou da equipe da fisioterapia e vou atender o Arthur. — Seus olhos saíram da prancheta e encontraram os meus. Ela deu um sorriso, mas manteve a postura profissional. — Boa tarde! — papai respondeu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Elena estava ao meu lado e não respondeu ao cumprimento da fisioterapeuta. Mulher parece que cheira essas coisas. — Filho, eu vou sair para que você seja atendido. Vamos, Elena? — Não, tio. Eu prefiro ficar. — Seus olhos estudavam a moça minuciosamente. — Então eu já vou. Sua mãe daqui a pouco estará aqui. Fique bem, filho. Assenti, e ele saiu. — Que surpresa te encontrar aqui, eu não fiquei sabendo de nada, Arthur. Eu estava de férias, voltei hoje — ela comentou olhando fixamente para mim, mas continuou a manter a pose profissional. — Para o meu azar, estou desse jeito. — Não fale assim. Você é forte, é um atleta. — Eu era, ia até participar do Iron Man deste ano. — Meu ex-namorado também é, ele já foi até para o Havaí participar da prova. — Era meu sonho, participar da prova no Havaí. — Você sabe que ser um atleta vai te ajudar muito na reabilitação. Seus músculos estão fortalecidos, e, fazendo um bom trabalho, logo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS você estará se sentando e se sentindo seguro. Precisamos cuidar da parte respiratória e do fortalecimento dos membros superiores. Virá uma equipe para tirar as medidas para as órteses dos membros inferiores, elas manterão seus pés na posição correta. Ela deixou a prancheta sobre a mesa de apoio, abaixou a grade da cama e retirou o lençol que me cobria. Começou com os exercícios respiratórios e depois exercitou meus braços e, por último, minhas pernas. Elena olhava tudo do outro lado do quarto e mantinha os braços cruzados e cara de poucos amigos. Vanessa me fitava, e eu sabia exatamente no que ela devia estar pensando. Os exercícios terminaram, Vanessa arrumou minha camisola horrorosa e depois me cobriu. — Arthur, amanhã volto para continuar com os exercícios. Você vai ver que sua condição física ajudará muito, você é um homem forte. — Obrigado! — Amanhã estarei aqui. — Ok! Ela mal passou pela porta, e Elena já estava ao meu lado com aquele olhar que eu conhecia muito PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS bem. — Você já ficou com ela, não foi? — Elena, pelo amor de Deus! Isso pouco importa. — Importa! Importa, sim! Eu vi como ela te olhava. — Foi há muito tempo. — Ela ficou passando a mão no seu corpo. — Para com isso. Ela não passou a mão em nada. — Se eu não estivesse aqui, “aquelazinha” ia se jogar em cima de você. — Elena, eu estou usando fraldas! Pelo amor de Deus! Acho que, na posição em que me encontro, não sou atrativo para mulher nenhuma. — Você é! Eu vi como ela te olhava. Você dormiu com ela? — Ah, não! Pode parar com isso. — Eu estou com ciúmes, estou morta de ciúmes! — Vem aqui. Ela se aproximou mais de mim. — Desculpa! Que infantilidade a minha... Eu sempre soube que você ficava com várias meninas, é que agora não foi só ciúmes, agora doeu de uma forma diferente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu entendo. Mas, para mim, só existe você. Só você. Puxei seu rosto e a beijei, e era tão bom, era tão perfeito que nenhum beijo, nenhum amasso ou até mesmo uma transa se comparava ao que eu sentia só em ter a sua boca na minha. Elena foi embora já era tarde. E foi muito ruim vê-la sair. Eu a queria o tempo todo ao meu lado, porém não podia permitir que ela parasse a sua vida por mim. Ela tinha a faculdade e precisava se dedicar. Vanessa voltou no dia seguinte para me atender, e, dessa vez, estávamos sozinhos. — Como se sente hoje, Arthur? — Estou bem, apesar de tudo. — Não fique assim, vamos trabalhar bastante para que você consiga se adaptar da melhor forma. Ela baixou a grade da cama e retirou meu lençol como da outra vez. Fez os exercícios respiratórios e depois os motores. Seus olhos sempre buscavam os meus. Provavelmente ela esperava que eu tocasse no assunto de nosso antigo relacionamento, mas, como não o fiz, tomou a frente e perguntou: — Por que nunca mais me procurou, Arthur? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Achei que estávamos nos entendendo. Foi especial para mim. — Vanessa, foi legal ficar com você, mas notei que você estava levando tudo muito a sério e, naquele momento, eu não queria me envolver com ninguém. — Ah... “Foi legal” ficar comigo? Poxa! — Ela sorriu. — Vanessa... Ela me cortou: — Tudo bem, Arthur! Deixa pra lá. Aqui eu sou sua fisioterapeuta e dessa forma irei te tratar. Até amanhã! Vanessa saiu, e eu me senti mal por ter feito com que ela não se sentisse bem. Foi bom o tempo que fiquei com ela. Talvez, se eu não carregasse Elena no coração, até pudéssemos dar certo. Vanessa era divertida, meio doidinha e tinha um corpo que me deixara louco. Eu a conheci em uma viagem que fiz com alguns amigos para Maresias e acabei ficando com ela. Devia ter encerrado a história lá mesmo, porém voltei a sair com ela quando retornamos para São Paulo. Notei que para Vanessa já não era mais só curtição, ela estava se apegando, e isso me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS assustou, pois eu não queria ter nada sério com ninguém... além de Elena, claro.

Meus dias no hospital terminaram. 30 dias foi o tempo em que estive lá. 30 dias de fraldas, de banhos estranhos, de mudanças de decúbito de duas em duas horas para que eu não tivesse escaras e de dores, as malditas dores neuropáticas. Elas acabavam comigo. Tinha hora que meu corpo formigava, tinha hora que queimava, mas, na maioria das vezes, era dor pura e crua, e esse era mais um dos itens que vinha no pacote da paraplegia. Eu teria que me habituar a ela. Lembro-me da felicidade que tive quando ganhei meu carro, e, por incrível que pareça, quando vi a cadeira de rodas, acabei sentindo um tipo de alegria, claro que de uma forma diferente, pois aquela cadeira me tiraria da cama por alguns momentos e seria as minhas pernas e a minha liberdade. Meus pais compraram a melhor cadeira que existia no mercado, e, na primeira vez que me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS colocaram nela, por pouco não caí de cara no chão. Foi então que notei que não conseguia controlar meu tronco. Precisei utilizar uma cinta que me prendia à cadeira. Por isso os fisioterapeutas falavam muito sobre a importância de exercitar os membros superiores. Elena estava radiante com a minha alta, da mesma maneira que todos os meus familiares. Entretanto, para mim era apenas mais uma etapa pela qual eu teria que passar. Sair do hospital me deu certa insegurança, pois lá eu estava assistido 24 horas por dia, já em casa eu não sabia como seria. Meu pai contratou o enfermeiro brincalhão, Ari. Ele ficaria comigo e me auxiliaria. Eu acabara me tornando amigo do cara que limpava a minha bunda e preferi deixar essa parte constrangedora da minha nova realidade para somente uma pessoa. Entrei na casa da minha mãe Carla e reparei que ela fizera do escritório meu novo quarto. Tudo estava limpo demais, era branco demais, e aquela cama de hospital que só faltava falar estava ali à minha espera. Senti que aquela seria minha nova prisão e não gostei dessa ideia. Não falei nada, pois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS não queria estragar a felicidade de todos. — Meu bebê! Que alegria ter você aqui! — minha mãe falava enchendo meu rosto de beijos. — Ei, maninho! Estou muito feliz por você ter voltado para casa! — Livi veio me abraçar, seguido por meu irmãozinho caçula. — Filho, seja bem-vindo! — Meu pai Marcos também me abraçou. — Bom, o Ari sabe dos cuidados, as medicações estão aqui, e me liguem se precisarem de algo. — Meu pai Marcelo voltou seus olhos para mim. — Sua mãe vem mais tarde com o Luca. Agora vou para o hospital, porque tenho uma cirurgia, mas meu celular ficará ligado, e qualquer coisa é só me ligar. Eu te amo, filho! — Valeu, pai! Eu vou ficar bem. Vai tranquilo para a sua cirurgia. Ele deu um aceno, e notei seus olhos marejados. Eu sabia que tinha ficado chateado por eu preferir ficar na casa da minha mãe, mas o local ficava mais fácil para eu ver a Elena, pois nossos pais moravam no mesmo condomínio, e, como eu queria manter o que tínhamos em segredo, estar ali deixava as coisas mais fáceis. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Marcos! — Ele acenou para o meu outro pai, que retribuiu o aceno. — Carla, não pense duas vezes se acontecer algo, me ligue imediatamente, que chegarei o mais rápido possível. — Fique tranquilo, Marcelo. Erick está aqui ao lado, se precisar, ligo para ele. — Eu sei, mas eu sou o pai dele e quero ser informado de tudo. — Pode deixar, que eu te avisarei. — Minha mãe revirou os olhos. Senti-me com cinco anos de idade, vendo os dois discutirem sobre meus dias de febre por causa de uma amidalite. Meu pai saiu chateado, e eu odiava vê-lo daquela forma. Por isso nunca escolhi um lado e sempre me dividia entre as duas casas. Meus pais biológicos eram geniosos, e eu via que nunca teriam conseguido ficar juntos. Minha mãe Aline trazia calma para o jeito tempestuoso do Dr. Marcelo, ela sempre conseguia desarmar meu pai, tinha meu velho na palma da mão. Minha mãe Carla virava uma ovelhinha nas mãos do meu pai Marcos; quem a via como uma tempestade ambulante não imaginava que ele a fazia se tornar uma garoa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apenas com um olhar. Amores perfeitos em meio à imperfeição. Eu acreditava nisso, no acordo de um nivelar o outro dentro de um relacionamento.

Seis meses depois do acidente, eu sentia que estar em casa era pior do que no hospital. Não gostava de ver os olhares dos meus irmãos e dos meus pais. Eu não era um coitado e odiava que as pessoas pensassem isso de mim. Os banhos na cama passaram a ser feitos no chuveiro com a ajuda de uma cadeira de banho, e esse foi o meu grito de liberdade, e eu tinha certeza de que ainda daria muitos outros, uma vez que eu não era um coitado! Sabia que muitos se colocavam nesse papel. Entretanto, eu nunca me colocaria. Já tivera meu momento de revolta, de perguntar “por que eu”? Contudo, essa etapa tinha passado. Eu precisava descobrir uma forma de continuar com meus planos e de trilhar os meus objetivos. Elena vinha me ver todos os dias, porém quase nunca conseguíamos ficar a sós, e isso era outra PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS coisa que me chateava demais. Eu precisava de um tempo sozinho com ela. Nunca mais havia tido uma ereção, o que estava me tirando o sono. Que tipo de homem eu seria? Havia conversado com meu médico, pois não me sentia à vontade em falar com meu pai sobre isso, e ele me explicara que, no meu caso, eu teria que reaprender, que eu poderia ter uma ereção completa, poderia ejacular, porém, precisava ser estimulado e explorar o meu corpo de outras formas, descobrir os lugares novos que me despertariam o desejo e o prazer, mas para isso eu precisava estar a sós com a minha namorada. Elena me trazia as matérias da faculdade e me ajudava com os estudos. Pedi que meus pais conversassem com o coordenador do meu curso, e ele autorizou que eu continuasse estudando, mas teria que ir até a universidade para realizar as provas. Eles inicialmente foram contra a minha vontade, queriam que eu trancasse o curso e dedicasse 100% do meu tempo à reabilitação, mas não permiti. Eu precisava ter minha mente trabalhando o tempo todo, e nada melhor do que continuar estudando. Todas as manhãs dedicava-me à fisioterapia. Era PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS frustrante às vezes, e confesso que muitas vezes pensei em não fazer mais nada daquilo, porque parecia que eu nunca sairia do lugar. No entanto, lembrava-me dos meus planos, da Elena e enfrentava a frustração. Um dia informei à minha mãe Carla que precisava falar com meus pais e pedi que os quatro viessem conversar comigo. Queria todos reunidos para informar sobre uma decisão que havia tomado, e, conhecendo-os como o fazia, sabia que não iriam gostar muito. Dr. Marcelo e Aline chegaram. Eu os esperava na sala. Já não ficava no quarto o tempo todo como no começo. — Oi, filho! Como está? — Estou bem, pai. Ele me abraçou e depois deu espaço para que minha mãe Aline me abraçasse. Meu pai Marcos e minha mãe Carla os cumprimentaram e pediram que se sentassem. Depois de todos acomodados, comecei a falar: — Eu queria pedir a ajuda de vocês para uma coisa que decidi. — Todos me olhavam com atenção. — Decidi que quero ter o meu canto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Minhas mães estavam com os olhos arregalados. — Como assim “seu canto”?! — Minha mãe Carla se levantou e me encarou. — Calma, Carla! Deixa o garoto explicar. — Seu marido segurou a mão dela, tentando acalmá-la. — Calma nada! Você sempre morou com a gente e, agora que mais precisa de nós, quer ir morar sozinho? Está louco! — Mãe! Eu preciso! E eu não vou estar sozinho, tenho o Ari e toda a equipe que me auxilia. — Mas não vai estar perto de nós. Você pode precisar dos seus pais... — Mãe, eu já decidi. Eu tenho aplicado o dinheiro que ganhei do vovô, porém não dá para comprar um apartamento e adaptá-lo para meu novo modo de vida e queria pedir a ajuda de vocês. — Claro que te ajudamos, filho — meu pai Marcelo falou. — Também te ajudo, filho — meu pai Marcos completou. — Vocês estão loucos! Só podem! Ele não irá! — minha mãe Carla gesticulava e andava pela sala. — Meu amor, você tem certeza? — Os olhos da minha mãe Aline me fitavam preocupados. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Tenho, mãe! Eu preciso me redescobrir, preciso ter minha privacidade. Sei que é recente, mas não quero parar para pensar na parte negativa da minha decisão. Estou determinado a continuar com meus objetivos e não vou permitir que esta situação em que estou me tire o foco. Aqui eu vejo que estou prendendo vocês. É estranho, vocês me olham com pesar, e eu não quero isso. Eu preciso provar, aliás, vou provar que isso aqui — segurei as rodas da cadeira — não define quem eu sou. — Claro que não, meu filho! Você é um rapaz forte e está nos mostrando isso. Eu te apoio e te ajudarei no que puder. — Meu pai Marcelo se aproximou e segurou meu ombro. — Isso mesmo, Marcelo! Vamos apoiar nosso garoto. Estarei sempre com você, filho. — Meu pai Marcos também se levantou e segurou em minha mão. Minha mãe Carla já estava fazendo o maior dramalhão e olhava para mim com total inconformismo por minha decisão e por ver que os demais me apoiavam. — Filho, eu apoio a sua decisão, mesmo sentindo meu coração apertado. Como seu pai falou, você é PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS um rapaz muito forte, e tomar essa decisão nos provou isso. Eu temia que você se entregasse à tristeza e ao rancor, contudo, te ver desse jeito me alegra. É isso mesmo, meu amor, nunca deixe que essa cadeira te defina — disse Aline. — Eu não tenho tempo para isso, mãe. Preciso provar a mim mesmo que sou capaz, apesar de estar nessa situação. O que está feito, está feito, e não tem como voltar atrás. Só vejo um caminho à minha frente e por ele continuarei a seguir. Antes já ia por ele com minhas pernas, agora vou com a minha amiga aqui. — Bati as mãos na minha nova companheira de caminhada.

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ELENA PASSOU PELA porta como um furacão e seus olhos me fuzilaram. Ela mantinha os braços cruzados à sua frente, e eu já imaginava por que e para que tinha vindo. Aguardei o seu desabafo. Todavia, ela se segurou por eu estar em meio aos exercícios de fisioterapia. Meu pai Marcelo contratara o Roberto, e ele vinha todos os dias para aplicar os exercícios. Graças a ele, tínhamos criado uma rotina, e eu já enxergava pequenos resultados. Um deles era conseguir ficar por um curto tempo com controle do tronco sem precisar de apoio. Sentia-me com meu corpo em pane, a parte de cima não se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS comunicava com a debaixo. A sensação que eu tinha era de que meu corpo terminava no começo do meu quadril e de que a parte de cima não conseguia ter equilíbrio para se manter ereta. Para muitos pode parecer uma bobeira, mas era muito difícil e doloroso conseguir manter a parte de cima do corpo ereta, e para isso eu usava as cintas que me prendiam à cadeira. Ver-me livre delas era um dos meus objetivos. Eu exercitava bastante meus membros superiores, porque precisava que estivessem fortalecidos a fim de que eu tivesse força para quando chegasse a hora de me transportar sozinho da cadeira para a cama, para a cadeira de banho, para o meu carro, que teria de ser adaptado... Meu carro... Eu sonhava com o dia em que poderia pegar a estrada de novo, sentindo o sol bater em meu braço, o vento em meu rosto, com minha namorada ao meu lado enquanto eu seria o condutor do nosso carro em uma fuga em um final de semana qualquer. Continuei a olhar para Elena conforme Roberto alongava minhas pernas para aumentar o tônus muscular. Ela era tão linda! Mesmo com aquela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS carinha emburrada que eu conhecia tanto, ela continuava linda. E tinha sido minha, minha! Eu não sabia como seria, morria de medo ao imaginar que nunca mais a teria daquele jeito, chegava a me faltar o ar. Entretanto, tinha esperança de que ainda conseguiria ter algum tipo de intimidade prazerosa com ela. Eu havia voltado à estaca zero e não passava de um virgem que teria que aprender formas novas para o despertar do tesão e do prazer, e esse era um dos motivos para que eu quisesse a minha independência. Eu precisava disso. Teria o Ari e o Roberto me ajudando e em breve conseguiria minha independência funcional. Aqueles dois caras eram anjos que tinham entrado na minha vida. Eles me botavam para cima. Eu sentia a minha autoconfiança latente e ficava menos ansioso e nervoso. Sabia que o processo era lento e que precisava ter muita paciência. Às vezes me pegava pensando: por que eu estava lá, naquele local? Por que meu carro tinha que ser atingido por aquele infeliz bêbado, que respondia ao processo em liberdade e devia continuar bebendo por aí como o irresponsável que era, e eu estava ali, sem poder beber nem uma Coca-Cola, para evitar a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS formação de gases? A revolta às vezes vinha e eu até debatia com ela, mas não permitia que se instalasse. Deixei meus pensamentos de lado ao perceber que os exercícios tinham acabado e que eu precisava voltar para a cadeira. Roberto me ajeitou nela, deixando meu corpo confortável. Eu mesmo já conseguia descomprimir o travesseiro que apoiava meu traseiro, de tempo em tempos aliviava um lado e, com isso, minha pele não ficava agredida por eu estar o tempo todo na mesma posição. — Prontinho, Campeão! Mais um para a conta, e o de hoje já está pago. Agora é banho e almoço. Amanhã volto, e vamos continuar com os treinos de transferência. Logo você estará um expert em sair da cama e se sentar sozinho na cadeira. — Ele olhou para Elena e sorriu. Era claro que o Ari e o Roberto já tinham percebido que entre nós existia algo mais do que carinho entre primos. — Valeu, cara! Te espero amanhã. Roberto saiu, e, mal a porta se fechou, Elena já estava grudada à cadeira. Eu só queria que ela se sentasse em meu colo para que eu pudesse beijá-la. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Que história é essa de ir embora daqui?! De querer ter “seu espaço”?! Está louco!? E nós?! — Seus olhos se encheram de lágrimas, e eu me assustei ao vê-la assim. — Ei, Loirinha, calma. Um dos maiores motivos para que eu queira tudo isso é por nós. Agora mesmo o que eu mais queria era que você se sentasse aqui no meu colo e eu te enchesse de beijos. Mas aqui não dá, toda hora tem gente entrando, e o bater na porta já não existe mais. Eu preciso, Elena, eu preciso ter meu canto, quero me reabilitar dentro do meu espaço e poder ter você por perto sem ter que ficar imaginando que a qualquer momento alguém pode entrar. — Thur, vamos falar para eles, vamos contar tudo, vamos assumir para a nossa família. — Não! Não agora. O que eu posso oferecer a você? — Para de besteiras, Arthur. Vamos assumir e pronto. — Não é besteira, Elena! Eu nem consigo tomar banho sozinho. Seus pais me olham com pesar, com dó... Droga! Eu não quero ver esse olhar quando eles souberem que você está comigo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mas meus pais te amam! — Mas amam mais a filha deles. Você acha que eles ficariam seguros com a nossa relação? Elena, para todos e até para mim, ainda sou uma incógnita; muitas coisas ainda não sabemos. — Isso é besteira! Todos sabemos quem você é. O resto, podemos ir resolvendo. — Mas é sobre o resto que falo. O que será que restou de mim? Será que eu vou conseguir concluir a faculdade? Porque, um neurocirurgião como o meu pai, eu sei que não vou ser mais. Será que vou voltar para os esportes? Porque, correr, eu sei que não vou nunca mais. — Meus olhos arderam, e, por mais que eu tentasse segurar, a maldita lágrima saiu e, com ela, todas as minhas frustrações. — E fazer amor com você? E ter filhos? Você entende, Elena? Não se trata de besteiras, se trata de tudo que era mais sagrado para mim, as coisas que eu mais amava na minha vida. Ela também chorava e parecia sem ação. Segurei em sua cintura e encostei minha cabeça em sua barriga. — Eu quero tentar, entende? Quero ver se sou capaz. Muitos são. Eu não tenho nenhuma dúvida PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de que te amo e de que quero você para mim, mas tenho que me sentir seguro do homem que me tornei após a lesão para poder gritar ao mundo que estamos juntos e que você é minha, e pode ter certeza de que esse dia será o mais feliz da minha vida. Ela se abaixou e grudou a boca na minha, nossos rostos colados, as lágrimas se misturando durante nosso beijo apaixonado. Quando dei por mim, Elena estava em meu colo, suas mãos seguravam meu rosto e seus dedos se encaixavam entre os meus cabelos. Minhas mãos já estavam dentro da sua blusa e acariciavam seus seios. Estava bom, estava gostoso. Seu toque em minha nuca fez com que eu sentisse que queria mais, muito mais. Ela soltou um gemido em minha boca, e eu mordi seus lábios. Estava tudo ótimo, mas não consegui saber aonde conseguiríamos chegar, porque a porra da porta foi aberta e Elena pulou do meu colo. O infeliz do meu irmão entrou com um sorriso debochado nos lábios. — Não sabe bater na porra da porta não!? — Foi mal, irmão, mas me agradeça, porque o pai dessa moça acabou de chegar e só não entrou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS porque o Marcos o chamou para conversar. Queria só ver se o Dr. Erick visse o que eu vi. — Cala a boca, Luca! — E acho melhor você ir lavar o rosto, está parecendo um panda — meu irmão falou olhando para Elena. — É bom que você saia antes que teu pai te encontre aqui. Vocês nesse estado estão dando muito na cara. Elena beijou meu rosto, depois saiu, deixando o enxerido do meu irmão me avaliando. — Fala logo! Vai ficar me encarando até quando? — Cara, você tem que ser mais prudente. Vocês estavam quase transando aqui. Se quer manter tudo em segredo, precisa ficar atento. — Por isso quero meu canto. Só porque estou neste estado, as pessoas acham que têm o direito de ir entrando no meu quarto sem bater, de tomar decisões sobre a minha vida. Por isso decidi ter meu lugar. — Sua mãe ficou magoada com a sua decisão. Ela acha que você não está preparado, que é muito recente. — Talvez seja recente, mas eu preciso. Preciso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de silêncio, espaço, porque por vezes me sinto sufocado, e essa situação claustrofóbica está me fazendo mal. Eu preciso ter liberdade dentro das limitações que me foram impostas, e o primeiro passo é ir morar no meu canto. — Eu te apoio no que decidir, irmão. — Eu sei. — Elena também teve importância nessa decisão, não teve? — Muito! Preciso ter meu tempo com ela, Luca. — Eu te entendo. — Ela é tudo para mim. Morro de medo de, sei lá, as coisas não saírem como penso e planejo e ela me deixar. Estou tão confuso, às vezes penso que seria melhor deixá-la até ver no que vai dar, porém não consigo imaginar ficar longe dela. Eu sei que estou sendo egoísta a arrastando comigo para tudo isso, mas acho que no fundo o amor é um pouco egoísta mesmo. — Suspirei, tendo a noção do amor imenso que carregava por ela. Elena Saí do quarto do Arthur e vi que meu pai conversava com o tio Marcos na sala de jantar. Passei sem ser notada e fui para casa. Entrei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS correndo, indo direto para o meu quarto. Sentia-me triste, queria que tudo fosse diferente, queria poder estar deitada no sofá em meio aos braços de Arthur, que ele pudesse me levar para jantar, que pudéssemos andar de mãos dadas por aí, mas não podíamos. Eu havia lutado tanto para manter esse amor vivo, até mesmo sabendo que ele ficava com outras. Lutava porque, no fundo, sabia que uma hora nossos ponteiros se acertariam e ficaríamos juntos. Porém, a vida nos reservara aquela horrível surpresa, e, quando eu achava que o teria por inteiro, só me restara metade dele, não de forma física, mas emocional. Retirei minha roupa e entrei no banho chorando e deixando que a água levasse minhas lágrimas. Já passava das 23h, e eu não conseguia dormir. Peguei meu celular e comecei a digitar. ˃ Não consigo dormir, e você tem grande culpa nisso. Aguardei e vi que ele começou a digitar. < Também estou aqui na insônia, e você também PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tem grande culpa nisso. ˃ Queria estar deitada com a minha cabeça no seu peito, ouvindo o som do seu coração e sentindo seu perfume. Dobraria a minha perna sobre a sua e dormiria agarrada a você. < Eu sentiria o cheiro dos seus cabelos, acariciaria seu braço e te aconchegaria mais. ˃ Dormiria em instantes na calmaria dos seus braços e com o calor do seu corpo. < E eu dormiria em instantes sentindo o toque da sua pele e o seu perfume. ˃ Eu te amo, Thur! Te amo de um jeito que não consigo explicar. < Não precisa explicar, porque eu entendo. Eu sinto o mesmo. ˃ Thur, diz que isso vai passar e que vamos viver tudo o que sempre sonhei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS < E o que você sonhou? > Eu sonhei que um dia você me beijaria, que eu seria sua, que viajaríamos por várias partes do mundo e que eu seria pedida em casamento em um momento emocionante. Sonhei que você seguraria a minha mão em momentos de dor e que sempre estaria ao meu lado nos momentos de desespero, que teríamos uma casa na serra, que daríamos plantão nos mesmos horários e que jamais dormiríamos separados a não ser por um motivo muito importante. Que me traria flores sem motivos e que cantaria canções de amor para mim, mesmo você achando brega. Que sempre voltaria para mim, porque eu sempre te esperaria. Minhas lágrimas rolavam, pois tudo saíra do fundo do meu coração. Esses eram os sonhos da Elena menina, daquela magricela que corria atrás do seu primo preferido, da Elena adolescente e enciumada que via que suas melhores amigas queriam seu objeto de desejo, e da Elena mulher que escondia tudo isso na fachada de uma responsável estudante de medicina, mas que, no PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fundo, quando o assunto era o amor por seu primo, não passava de uma grande menina romântica. Arthur demorou a responder e nem fazia sinal de que estava digitando. Eu segurava o celular e o olhava fixamente... e nada... Sua foto linda apareceu no visor, e eu corri a atender a chamada. — A partir de hoje, eu sonho tudo isso com você. Eu farei de tudo para realizar cada um dos seus sonhos. Mas também tenho um e queria colocar no meio dos seus e não vejo outra pessoa para o compartilhar comigo que não seja você — sua voz estava baixa e emocionada. — O quê? — indaguei em meio à voz embargada. Ouvi sua respiração e notei que ele também estava emocionado. — Um... filho — sua voz saiu entrecortada. — Um filho? — repeti, pois cheguei a pensar que tivesse ouvido errado. Eu estava tão emocionada. Nunca tínhamos falado sobre isso, eu nunca ouvira o Arthur falar sobre crianças e muito menos em tê-las. — Estar nesta situação me fez pensar em muitas coisas, Elena. Por mais que eu levasse a vida em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meio aos esportes, faculdade e curtição, no fundo o que eu sempre pensei, foi em ter uma família, a minha família. Me via como um homem bem estruturado financeiramente, com a minha bela esposa e meus filhos. Eu sempre me espelhei em meus pais, queria ser como eles, ter a vida que eles têm. Mas hoje, na situação em que me encontro, não sei como as coisas funcionarão, porém, farei de tudo para ter isso e quero com você. — Ele se calou, e eu ouvia sua respiração pesada. Depois de alguns segundos, voltou a falar: — Você ficou assustada com o que eu disse? Eu sei que somos jovens e que você tem muitas coisas para realizar antes de formar uma família, mas sonhos são sonhos. Nós imaginamos, jogamos para o alto e aguardamos que em algum momento a vida os recolha e nos entregue de volta. Agora o que mais tenho feito é sonhar. — Eu não estou assustada, só não imaginava que você pensasse nisso. Eu sempre achei que você curtiria a vida ao máximo, cheguei a achar que você nunca se casaria na vida, e quando falou em filhos... fiquei emocionada ao ouvir você dizer que quer isso comigo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Quero tudo com você, Elena. Só com você. Quero aquela casa na serra, uma lareira, um garotinho ou uma garotinha com os cabelos loirinhos como os seus correndo por todos os lados, e nessa hora eu já terei uma cadeira motorizada, que é para dar conta do arteiro. — Começamos a rir, mas a risada dele foi morrendo aos poucos. — Nós vamos ter tudo isso — me apressei em dizer. — Você é meu amor, Thur, o único que tive e que senti desde garotinha. — Também te amo, e você também foi meu único amor desde garoto. Ficamos em silêncio, mas logo ele voltou a falar: — Mas agora vamos dormir, porque daqui a pouco você precisa acordar para ir para a faculdade, e eu, para mudar de posição e passar o cateter da urina. — Ele riu. — Caminhos diferentes, com os mesmos sonhos, e você vai ver que ao final a gente se encontra, Loirinha. — A gente se encontra. Fica bem e sonha comigo. — Sempre. Ao acordar muito atrasada para a faculdade, deime conta de que, em meses, aquela tinha sido a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS melhor noite de todas. Peguei a primeira roupa que encontrei, passei pela sala de jantar, e meu pai tomava café enquanto lia um jornal. — Bom dia, princesa! — Bom dia, papai. E a mamãe? — Sua mãe estava um pouco indisposta e continuou na cama. Peguei uma pera da fruteira e beijei o rosto do meu pai. — Preciso ir, pai. Estou atrasada. — Vai, mas tome cuidado no trânsito. — Pode deixar. Cheguei à faculdade e corri até a sala do segundo andar. Meu tempo no período da manhã passou voando. Fui até o refeitório na hora do almoço e, ao chegar lá, dei de cara com o Eduardo. — Oi, Elena. — Oi, Eduardo. — Está sozinha? — É... estou... — Então fica aqui comigo. Olhei para os lados e não encontrei ninguém que pudesse me salvar daquela situação. Peguei minha bandeja e me sentei à sua frente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O que faz perdido por aqui? O prédio da engenharia está bem distante. — Estava com um amigo. — Ah... — E seu primo? — Ele está bem. — Deve ser uma barra ficar em uma cadeira de rodas. Acho que eu preferia a morte. — Depende do valor que as pessoas que estão ao seu lado lhe dão. No caso do meu primo, ele tem muitas pessoas que o amam e que ele ama também. O que o Arthur mais quer é viver, apesar da cadeira. Ele me encarou e mudou de assunto: — E como andam as aulas? — Bem. Puxadas, mas está dando para levar. — Medicina é bem complicado, acho que eu não conseguiria acompanhar a rotina de vocês. — É, enquanto a maioria se diverte, a gente está com a cara nos livros, mas o final será compensador. — E em meio a essa loucura toda você encontraria um tempinho para sair comigo? Seus olhos cobiçosos me fitavam, e me senti mal. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não. Ando muito ocupada. Agora mesmo era para eu estar lendo um artigo enquanto almoçava. Eduardo era um cara interessante, mas não para mim. — Preciso ir, Eduardo — falei, levantando-me. — Mas já? Achei que ficaria um pouco mais. — Estou com muita pressa, tenho muitas coisas para fazer. Ao me afastar da mesa, ele pegou na minha mão. — Só um dia, Elena. Encontre só um dia para sair comigo. — Realmente não dá, Eduardo. — Tirei minha mão da dele e saí do refeitório. A tarde passou de modo mais arrastado. Contudo, consegui assistir a todas as aulas. Ao sair da faculdade, mandei uma mensagem para o Arthur e lhe avisei que iria direto para a sua casa. Eu estava morrendo de saudades dele. Ao entrar em sua casa, encontrei tia Carla com uma cara emburrada. — Oi, tia! Que carinha é essa? — Fui até ela e a abracei. — Seu primo está lá dentro e parece que já escolheu o apartamento. Elena, me ajuda a tirar isso PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS da cabeça dele. Ele não pode viver sozinho, precisa da nossa ajuda. Sozinho... Esse menino deve estar louco! — Mas, tia, ele não vai estar sozinho, o Ari estará lá, além da senhora que cuidará da casa e a fisioterapia com o Roberto. — Não sei, não acho certo. Escutei a porta do escritório, que se tornara o quarto do Arthur, se abrir e vi o tio Marcelo e o tio Marcos saírem. — Oi, Elena — tio Marcelo me cumprimentou, e tio Marcos beijou minha testa. — Os papeis ficaram todos com ele. Arthur pediu para olhar as outras opções, porque descartou aquele apartamento aqui no condomínio — tio Marcelo informou à tia Carla, que se irritou na hora. — Por quê? Aquele era o melhor! — Mas ele não quer, Carla — tio Marcelo respondeu. — E tudo vai ser feito conforme a vontade dele? Como sempre, você vai fazer todos os seus gostos! — Às vezes minha tia perdia o foco quando estava falando, e tio Marcos a olhava e balançava a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cabeça. — Vai! Meu filho não é um moleque, Carla. Ele já é um homem, e eu farei de tudo para que ele se sinta bem! — tio Marcelo respondeu sem paciência. — Eu também quero que ele se sinta bem, e aqui é a casa dele! Eu sou a mãe! Em que lugar melhor ele estaria? — Na casa dele! Com a privacidade dele! Pelo amor de Deus! Ele está vivendo no seu escritório! — Amor, deixa o garoto. Nós estaremos por perto. — Tio Marcos se aproximou dela. — Marcos, vê amanhã o que ele vai decidir. Acredito que em 30 dias conseguimos adaptar o apartamento. Amanhã volto, e decidimos os detalhes. Tio Marcelo foi embora, e meus tios sumiram para dentro da casa. Fui para o quarto do Arthur. Quando entrei, encontrei o Ari o ajeitando na cama. Arthur, ao me ver, deu um grande sorriso. — Pode deixar! — O sorriso cúmplice do Ari nos encontrou. — Me lembrei que tenho algumas anotações para fazer. Vou deixar os pombinhos a sós, mas cuidado, hein, garoto? Não quero ser PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acusado e nem entrar na lista negra da sua mãe; só o olhar dela já me congela. — Ela não é tão má assim, Ari. — Um dia passarei o seu relatório para ela na sua frente. A mulher parece uma inquisidora, Deus do Céu! Fica à vontade, Elena. Se precisar, é só me chamar. Ao fechar a porta, corri para os braços da pessoa que mais amava no mundo. — Essa é a melhor hora do meu dia, Loirinha. — A minha também. Demos um beijo demorado e cheio de promessas. — Estava esperando você chegar para me ajudar a escolher meu apartamento. Um já descartei, por ser aqui no condomínio, porém têm esses três, e quero a sua opinião. Mais um passo rumo à minha liberdade, e eu quero dar esse passo com você me ajudando.

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O APARTAMENTO FOI comprado e preparado para que Arthur tivesse total locomoção dentro dele. O condomínio tinha rampas de acessibilidade, o que o faria ter a liberdade de ir e vir. A reforma, que imaginamos que demoraria um mês, durou dois, e, durante o processo, Arthur não passou muito bem. Ele teve vários episódios de dores que o deixavam deprimido, pois os analgésicos potentes acabavam por deixá-lo sonolento e apático. Arthur decidiu trancar a faculdade, visto que não estava conseguindo acompanhar todas as matérias, e eu, por outro lado, estava atolada em meio a trabalhos, palestras e provas. Notei que seu lado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS emocional não estava bom. Arthur estava triste e, nas poucas vezes em que nos víamos, eu sentia que seu sorriso era forçado, bem como as poucas palavras que trocávamos. Na semana de sua mudança, eu estava fazendo provas e não pude ficar por perto, e acabamos nos falando somente por telefone. Na semana seguinte, Arthur passou mal e precisou ficar internado. Ele teve uma infecção urinária que necessitou de antibióticos endovenosos. Essa infecção era decorrente das várias passagens de sonda que tinham sido feitas para o esvaziamento da sua bexiga, já que, de forma normal, ele não conseguia urinar. Ao visitá-lo no hospital, encontrei-o triste e pensativo. Senti-me mal ao vê-lo daquela forma e acabei ficando triste também. Parecia que eu não fazia mais parte de sua vida, ele estava frio e distante. Em meio a todos que estavam no quarto, notei-me em um canto, calada e procurando entender o que estava acontecendo. Ele recebeu alta sete dias depois e não parecia emocionalmente bem. Eduardo continuava com seus convites para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sairmos, mas eu me esquivava, e ele parecia entender todas as desculpas que eu dava. Flores eram enviadas à minha casa por ele, e caronas eram oferecidas nos dias do rodízio da placa do meu carro. Eu normalmente recusava, porém, duas vezes acabei aceitando a carona. Eduardo era gentil, demonstrava seu interesse, mas sempre respeitava meu espaço. Falei com Arthur depois de sua alta por telefone, e ele continuava distante. Eu queria estar com ele, porém precisava entregar três trabalhos, o que drenou todo o meu tempo. Contudo, no mesmo dia em que os entreguei, resolvi que iria até seu apartamento. Eu precisava estar com ele. Esperei escurecer e me arrumei. Queria sair de casa sem dar satisfação do lugar a que iria, pois pretendia passar a noite com ele. Cheguei sem avisar e, ao entrar em seu apartamento, encontrei-o no quarto com Ari, que terminava de acomodá-lo na cama. O cuidador saiu ao notar minha presença, dizendo: — Vou para o meu quarto para que vocês fiquem à vontade. Qualquer coisa, é só me chamar. — Ele sabia sobre nossa “relação” e era discreto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Voltei minha atenção ao Arthur. — Oi! Você está melhor? — Estou! — Seu olhar era sério. Aproximei-me da cama. Ele estava sentado com as costas apoiadas em travesseiros. O cheiro de sabonete estava no ar, e seus cabelos molhados evidenciavam o seu banho recente. Abaixei meu rosto próximo ao seu e o beijei. Estava ansiosa para ter esse momento com ele, precisava acalmar meu corpo, que pedia pelo dele a todo o momento. Vernos ali, pela primeira vez sozinhos e sem a possibilidade de sermos surpreendidos, levou meu desejo a mil por hora. Arthur respondeu ao meu beijo, e isso me acendeu ainda mais. — Que saudade que eu estava de você! Pensei tanto nesse momento, em estar sozinha com você. Ele continuava sério, mas não quis saber e voltei a beijá-lo. Paramos o beijo, e me afastei da cama. Tirei minhas sandálias, retirei meu vestido e, por último, a minha calcinha. Fiquei nua na sua frente e deixei que ele me olhasse. Meus mamilos estavam entumecidos, e eu sentia a minha intimidade úmida. — Gosta do que vê, Arthur? — Claro que gosto, que homem não gostaria? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Você é linda! Fui para a cama e voltei a beijar sua boca. Ele segurou meu rosto entre as suas mãos e enterrou sua língua em minha boca. Sem parar de beijá-lo, sentei-me sobre ele, deixando uma perna de cada lado do seu quadril. Parei o beijo e ofereci meus seios a ele, que os agarrou e depois levou um de cada vez à sua boca, mordendo-os e os sugando. Eu roçava minha intimidade sobre seu quadril, mas aquilo não era o bastante, eu queria mais, por isso saltei da cama e puxei os lençóis. Aproveitei para trancar a porta e o fitei, revelando a ele todo o meu desejo. Voltei à cama e retirei sua cueca, e ele despiu sua camiseta. Estávamos nus, e, por alguns instantes, analisei seu corpo por completo. Arthur estava mais magro, havia algumas marcas de cicatrizes em seu peito e coxas, e suas pernas não eram musculosas como antes. Ele fez menção de se cobrir, mas voltei antes disso e retirei o lençol de sua mão. Montei em seu corpo e deixei minha intimidade em contato com a dele, roçando as nossas peles e devorando sua boca. Arthur colocou sua mão entre nossos corpos e deslizou seus dedos nos lábios molhados PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de meu sexo. — Que gostoso! — gemi. O corpo de Arthur foi escorregando, e, quando dei por mim, ele estava deitado e meu corpo sobre o dele. Seus dois dedos me faziam delirar, mas eu queria mais, muito mais. — Arthur, eu quero você. Beijei seu peito e fui descendo beijando sua barriga e depois sua pélvis. Quando fiz menção de levá-lo à minha boca, Arthur me puxou para que eu voltasse a beijá-lo, e eu o fiz. Com uma de minhas mãos, segurei seu membro e comecei a masturbálo. Arthur gemeu em minha boca, e senti seu pênis adquirir uma leve rigidez. Beijei seu pescoço, mordi sua orelha e notei que seu membro foi ficando um pouco mais rígido. Aproximei-o de minha entrada e me sentei sobre ele. Não foi como a nossa primeira vez; antes ele estava totalmente ereto e me invadiu com virilidade, tirando a minha virgindade e me preenchendo por completo. Contudo, mesmo agora eu estava sentindo prazer e notei que ele estava enrijecendo aos poucos dentro de mim. — Elena, estamos sem preservativo — Arthur PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS me alertou. — Estou tomando anticoncepcional, não se preocupe. Ele me fitou de modo estranho, e não entendi seu olhar, mas deixei para lá e voltei a beijar sua boca. Tornei a oferecer meus seios a ele, que se deliciou, e isso me deixou louca. Não sabíamos como seria aquele momento, apenas tínhamos a certeza de que, por sua lesão não ser completa, ele poderia ter ereção, porém não tínhamos noção de como aconteceria, se ele sentiria prazer, se conseguiria ejacular. Eu sempre soube que isso o preocupava, mas, naquele momento, não queria que pensasse que eu o estava analisando. Continuei entregandome ao momento gostoso de ser dele sem reservas, mostrando-lhe a mulher que eu era. No entanto, durante a minha performance, de uma hora para outra, ele perdeu o pouco de ereção que tinha por completo. Foi como se uma chave o desligasse. Não deixei que ele notasse minha frustração, continuei em cima dele e voltei a beijar seu corpo. Arthur levou sua mão até minha intimidade e passou a me acariciar, até que explodi, gemendo e me contorcendo, sentindo seus dedos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dentro de mim. Meu corpo ficou mole, e um sorriso bobo se formou em meu rosto. Saí de cima dele e me deitei ao seu lado. Arthur puxou o lençol sobre seu corpo e levou o braço esquerdo sobre o rosto. Eu continuava a sorrir, estava feliz e apaixonada. — Foi delicioso, Arthur. — Deitei meu corpo de lado para olhá-lo. — Você transou com outro cara depois de mim, Elena? — ele continuava na mesma posição, e sua voz saiu baixa e direta. — Por que está perguntando isso? — Fui pega de surpresa por sua pergunta, e isso me fez sentar-me e proteger meu corpo com o lençol. — Eu só gostaria de saber... eu... — Não! Eu não transei com mais ninguém além de você. Por que essa pergunta, Arthur? — voltei a questioná-lo. Ele ficou em silêncio e continuou na mesma posição. — Acho melhor você ir embora. — O quê? Você está me expulsando? — minha voz saiu baixa e trêmula. — Estou! Olha, Elena, nada disso devia ter PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS acontecido. Achei que a sua ausência durante todos esses dias já seria um anúncio silencioso de que sua vida tinha seguido em frente. — Do que você está falando? Eu estava atolada de trabalhos e em meio a provas! Eu te avisei que não iria conseguir ficar tanto tempo com você! — Não acreditava que ele estava dizendo tais coisas. — Mas teve tempo pra sair com o Eduardo. — O quê? Eu nunca saí com o Eduardo. — Fiquei perplexa. — Não foi isso que fiquei sabendo. — E o que você ficou sabendo? — perguntei irritada. — Fiquei sabendo que o Eduardo te espera, que ele toma café com você e que já chegou a te levar para casa. — E por isso você acha que eu estou transando com ele?! — Acho! — Você é um idiota! — gritei. — Devo ser mesmo! — Ele se sentou e me encarou com muita raiva. — Por que você está tomando anticoncepcional? — Porque achei que devia me cuidar, que logo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estaríamos juntos de novo, e uma gravidez é tudo o que não podemos ter nesse momento. — Comigo você está segura, eu nunca farei um filho em você. — Ele soltou um sorriso irônico. — Você tentou disfarçar, mas notei sua frustração diante da minha impotência. — Para com isso! A sua paraplegia é recente, muitas coisas podem mudar. E eu gostei, foi bom estar com você. — Hoje vi que você é uma mulher fogosa, que precisa de um homem que dê conta do recado, e acho que não sou o suficiente. Você é jovem, saudável, nada mais normal que procure por isso. — Eu não procuro por nada, nem ninguém! Eu não tenho ninguém! Eu nunca transaria com um homem que eu não amasse! É preciso amor para o sexo ser completo, e eu te amo! Meu Deus! O que está acontecendo? Meu mundo está desabando! — Eu ia te chamar para conversarmos. As coisas não saíram como planejei, e o melhor é terminarmos tudo. — O q-quê? Você só pode estar brincando... Nós... nós acabamos de fazer amor, e você está me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dispensando? — minha voz saiu trêmula. — Eu preferia que nada disso tivesse acontecido e que a gente guardasse somente a nossa primeira vez como recordação, mas aconteceu. Por um lado, foi bom, porque só reafirmou o que eu já vinha pensando. Eu não posso ser um homem completo para você, Elena. Eu pensei que poderíamos... — Isso quem tem que decidir sou eu! Mas que droga, Arthur! Você quis isso aqui, quis ter sua liberdade para que pudéssemos ficar sozinhos! Tudo estava tão confuso. Levantei-me, peguei minha calcinha no chão e a coloquei, fazendo o mesmo com o meu vestido. — Não! Eu vou tomar a decisão que já devia ter tomado desde a hora em que acordei daquele acidente. Eu subestimei o meu estado, achei que, com o passar do tempo, as coisas iriam melhorar, mas notei que só piorei. As dores são terríveis, Elena. As infecções urinárias estão recorrentes, e dessa vez precisei até de internação. Essa situação é ruim demais! E acho que o melhor é a gente se afastar. Isso nunca daria certo. — Não acredito que você está me dizendo tudo isso depois do que acabamos de ter aqui... — Sentia PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meu corpo amolecer. — Vai embora. Assume seu romance com o mauricinho. Sei que até flores ele mandou para a sua casa. — Eu não tenho nada com ele, Arthur! Ele tem interesse por mim, mas eu nunca correspondi! — fui sincera. — Eu não quero saber. Prefiro não saber. Hoje você estava diferente, ousada, parecia experiente, e eu não fui um homem completo pra você e estou me sentindo mal por isso, estou frustrado, envergonhado. — Você foi completo, foi perfeito para mim! — Comecei a chorar. — Eu não tenho experiência nenhuma, você sabe disso! Eu só deixei acontecer, deixei a minha paixão me levar, meus instintos me guiarem! Você está sendo cruel comigo, está tentando me ferir para que eu saia correndo, mas eu não vou! — Estou sendo realista, Elena! Você está na faculdade, está começando a sua carreira, é jovem, muito bonita e tem um mundo de possibilidades à sua frente. Nem as aulas à distância eu consegui acompanhar, a medicina acabou para mim. Minha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS expectativa é passar o próximo mês sem infecções, conseguir, dentro dos próximos três meses, pelo menos passar da cadeira para a cama e vice-versa sem auxílio de ninguém. Não tenho mais planos a longo prazo e não vejo mais como te encaixar em tudo isso. Tudo está um caos, eu estou um caos. Hoje você pode me odiar por tudo que estou dizendo, mas estou fazendo o que é certo, pode acreditar. — Você não sabe o que é certo para mim! — gritei. — Isso pode ser verdade, eu posso estar fazendo a maior burrada da minha vida e posso me arrepender, mas agora acho que essa é a melhor decisão a ser tomada. — Eu não acredito que está fazendo isso... — Levei minha mão ao rosto e me entreguei ao choro. — Hoje eu conversei com meu pai e vou aceitar fazer meu tratamento nos Estados Unidos. — Não! Não faz isso comigo, não faz isso com a gente! — Estou fazendo o melhor para todos. Eu preciso tentar novas terapias, e isso eu vou encontrar lá. Você precisa se dedicar à faculdade PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e... — Eu amo você! Eu não me importo com seu estado! Eu largo tudo, deixo tudo e vou com você! — Você diz isso agora. Realmente acredito que você não se importaria em sair comigo por aí, me assumir para todo mundo como seu namorado, mas e aqui? E aqui, na nossa intimidade, como seria? Hoje eu tive uma pequena amostra do tormento que a nossa vida pode se tornar. Nem todas as vezes eu conseguirei te dar prazer apenas com meus dedos. — Senti como se tivesse levado um tapa na cara. — Eu não sou a porra de um homem completo e já fui avisado que as porras das infecções só fazem com que o quadro se agrave. Então eu decido sobre as nossas vidas, sim! Você tem um futuro brilhante pela frente, e eu nunca me perdoaria se você abrisse mão disso por mim! — Ele começou a chorar. — Você é um egoísta e só está pensando no seu lado, no que você está sentindo, no que você está passando, mas e eu? Me diz! Você está pensando nos meus sentimentos?! — Elena, estou tomando a decisão certa, acredite em mim. Vamos fazer isso agora, que ainda somos jovens e os danos serão menores. Olha para nós! PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Olha para a vida que estamos tendo! Eu preciso tomar a decisão certa por nós dois. Acabou! Um dia você irá me agradecer por isso. — Eu achei que estivéssemos bem... Acreditei que agora seria diferente... — Nada está bem! Eu não estou bem! Não tenho condições de seguir com isso! — Não... — Meu choro estava sufocado, meu peito doía demais. Eu não estava acreditando em tudo aquilo. O Arthur não podia estar fazendo aquilo conosco, ele não podia estar desistindo de nós! No entanto, seu olhar era sério e determinado enquanto me fitava. — Você tem noção do quanto está me machucando? — indaguei com meus olhos suplicantes. — Suas feridas não são maiores que as minhas, mas você saberá curá-las. Tem uma pessoa que, aposto, estará preparada para o trabalho — sua ironia não passou despercebida e me irritou. — Não sei o que te falaram, mas eu nunca tive nada com o Eduardo, ele é somente um amigo. — Isso já não importa, e me desculpa, eu... eu não tenho o direito de te cobrar nada. Olha, Elena, eu preciso sair, preciso ir e me dedicar ao meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tratamento. O nosso relacionamento me tira do foco, e, nesse momento, eu preciso estar focado. As inseguranças que sinto com relação a nós dois não estão me fazendo bem, por isso prefiro parar tudo por aqui. Eu o fitava e sentia muita raiva, tinha vontade de esmurrar seu peito, de feri-lo. — Você é um covarde! Está me afastando por insegurança, por ciúme! — Pode ser, mas prefiro dessa forma. Agora acho melhor você ir embora. — Eu odeio você... — É um direito seu me odiar. Saí sem olhar para trás, bati a porta com tanta força que o estrondo deve ter se propagado por todo o condomínio.

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DOEU DEMAIS VER Elena sair por aquela porta. A raiva e a mágoa estavam gravadas em seus olhos azuis. Contudo, preferi eu mesmo tomar a decisão de colocar um ponto final em nosso relacionamento. Não a queria ao meu lado por pena, e por quanto tempo ela aguentaria aquilo? Não tardaria muito para que ela desistisse de tudo, e eu não suportaria ser descartado pela única mulher que tinha amado. Antes que ela tomasse essa atitude, eu mesmo resolvera fazer isso. Nós nos amávamos, e tudo seria perfeito se eu não estivesse naquelas condições. Ouvir Luca me contar sobre a aproximação de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eduardo da vida de Elena mexeu muito com meus sentimentos, e o pior foi ouvir o tio Erick feliz com a possibilidade de envolvimento dos dois. Meu tio contou, em uma de suas visitas que me fizera, conversando de forma tranquila com meu pai Marcos, sobre o interesse notório do tal Eduardo na Elena, falou das flores que ela recebia e das famílias já sentirem a aproximação dos dois e fazerem gosto se o tal namoro acontecesse, já que tinham negócios em comum e se conheciam havia anos. Meu tio não cansou de elogiar o cara, dizendo que era um jovem engenheiro com futuro promissor e que logo tomaria a frente das empresas da família. Disse ainda que não aceitaria menos do que isso para a sua princesa, pois, para tirar sua filha de casa, um homem teria que ser igual ou melhor do que ele etc. Escutei cada palavra do meu tio como se recebesse punhaladas, várias delas. Em nada do que ele desejava para sua menina, eu me encaixava. Eu estava tão feliz em saber que teria meu espaço, minha privacidade, porém minha alegria foi sendo minada. Meu último mês havia sido terrível! As dores vinham sem dó nem piedade, eu tomava os analgésicos mais potentes que existiam, mas o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS alívio durava apenas algumas horas, e logo após elas voltavam a me consumir. Aquelas merdas que eu tomava tinham o efeito colateral de paralisar ainda mais meu intestino, trazendo mais transtorno e dor para o meu corpo. As infecções urinárias estavam cada vez mais fortes, e, na última vez, eu precisara de internação. Eu tinha achado que estava bem o suficiente para ter minha independência, mas bastara a maldita infecção para mobilizar toda a minha família. Além disso, ainda soube pelo Luca que o Eduardo estava cercando a Elena. Aquele filho da puta! Eu nunca fora com a cara dele, sempre notara o seu interesse por ela. E o pior foi ouvir do meu tio que as famílias faziam gosto pelo namoro dos dois. Eu estava me sentindo perdido, desolado e preso. Não sabia por quanto tempo manteria aquele quadro infeccioso, não tinha a mínima ideia do que a reabilitação iria trazer para mim. Meu corpo era uma incógnita, minha vida era uma incógnita. Tudo era lento, as respostas demoravam, e minha dedicação aos exercícios era grande, assim como minhas expectativas. Entretanto, parecia que eu andava em círculos e que não conseguia progredir. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu não podia oferecer isso a Elena, ela não merecia. Ela não merecia ter um namorado que não a assumisse, que a chamasse para encontros secretos, que não a satisfizesse na cama como deveria ser... Coloquei as mãos no rosto, recordando a minha vergonha. Elena merecia mais, merecia ter alguém completo, que cuidasse dela, que a acompanhasse, que lhe desse prazer. Eduardo era um pouco mais velho, já com sua vida profissional direcionada. Em comparação a ele, eu não podia ser nada para ela além de um grande peso que ela notaria com o passar do tempo. Naquela noite eu chorei, aproveitei a privacidade do meu quarto e me permiti pôr para fora toda a raiva que sentia por estar naquela situação e por ter que renunciar às coisas que me eram importantes na vida. Aquele acidente acabara com meus sonhos. Por alguns momentos, achei que conseguiria, que seria forte e venceria todas as barreiras que aquele novo estado erguia ante mim, mas nada era fácil, não adiantava eu tentar romantizar a minha dura realidade. O acidente roubara o futuro que eu havia planejado, tirara-me a dignidade, o prazer e meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS amor. Doía tanto me lembrar de tudo o que eu havia falado para Elena, do ciúme que eu sentia, da vergonha que tinha passado, de tê-la mandado embora, bem como imaginar que outro poderia estar com ela. Olhei para minhas pernas inertes, magras e brancas. Sentia meu corpo quente. Provavelmente a febre tinha voltado, e com certeza meu corpo conheceria mais um antibiótico.

Acordei com Ari entrando no quarto e já trazendo para perto da cama o carrinho com o material para a sondagem vesical. — Ei, Campeão! Bom dia! Vamos esvaziar essa bexiga? Já vou aproveitar e pegar uma amostra para o exame. Vamos continuar monitorando essa infecção. — Bom dia, Ari. Faz o que precisa ser feito, cara. E a porra dessa febre, que não cessa? Meu estômago está revirado de tanto antibiótico. — Será que o protetor gástrico prescrito não está PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sendo suficiente? Vou informar isso para o seu pai e a equipe da urologia. Meu ânimo era zero para a rotina diária que começava logo cedo com o procedimento para esvaziar minha bexiga, depois banho, café da manhã feito conforme a dieta prescrita, fisioterapia, esvaziar a bexiga, almoço também com dieta prescrita, fisioterapia, psicóloga, café da tarde, esvaziar a bexiga... A noite chegava, e eu estava exausto. As fisioterapias me deixavam muito cansado, era como nadar contra a correnteza. Dr. Marcelo apareceu naquele dia, e eu lhe informei que queria tentar o tratamento fora do Brasil. Ele não questionou, já que, desde o início, ele e o Marcos eram a favor de que eu fizesse o tratamento fora do país, porém deixaram que eu decidisse tudo. Pedi para que agilizassem a viagem e informei que gostaria de levar o Ari comigo. Como esperado, minha mãe fez o maior drama por eu optar pelo tratamento alternativo, dizendo que era um absurdo eu ir embora do país, mas no fundo dona Carla sabia que era o melhor. Meu pai me mostrou outros casos de pessoas paraplégicas que aderiram ao tratamento e conseguiram, depois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de um tempo, conduzir suas vidas muito bem. Quatro dias após o término do nosso relacionamento, recebi uma mensagem de Elena. ˃ Você vai mesmo insistir nessa loucura de ir embora? < Estou decidido! E, por favor, não me procure mais. Fui seco em minha resposta, e as mensagens acabaram ali. Eu estava amargurado, irritado e, no dia da minha partida, pedi que meu pai não alarmasse a família, por isso todos só ficaram sabendo quando nós já estávamos no aeroporto. Eu não queria despedidas, simplesmente pedi a Ari para arrumar minhas coisas e partimos com meu pai Marcelo. Ele iria me acompanhar, e depois minha mãe Aline também iria. Minha mãe Carla chorou ao telefone, mas ela entendeu que eu preferi não ter despedidas. A locomoção foi tranquila dentro do aeroporto, meu lugar no voo estava reservado para o assento especial. Não dormi durante toda a viagem. Ari PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS hora e outra descomprimia minhas costas e traseiro, olhava o coletor de urina para avaliar o débito e verificava minha perfusão periférica e temperatura. Mesmo com as meias de compressão, um edema poderia surgir nas minhas pernas, e isso seria mais um problema. Quando o avião aterrissou em Nova Iorque, eu estava extremamente cansado, queria muito dormir um pouco. Meu pai havia cuidado de tudo, um carro nos esperava na saída do aeroporto para nos levar até o apartamento do meu avô paterno, que era grande e bem-decorado. Tia Sílvia, irmã do meu pai Marcelo, morou nele por alguns anos antes de se casar, e foi ela mesma quem cuidou das pequenas adaptações que haviam sido feitas nele para mim. Ari me ajudou com o banho e me vestiu com uma roupa confortável. Naquele dia me permiti comer um bom x-burguer com refrigerante, mesmo ouvindo os protestos do meu pai. Depois da comida, acabei apagando e acordei ouvindo algumas risadas vindas da sala. Chamei pelo Ari, que logo apareceu seguido da minha tia. — Oi, meu lindo! Que saudades eu estava de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS você! — Também estava com saudades, tia. Obrigado por ter cuidado de tudo para a minha chegada. Tia Sílvia sempre foi muito carinhosa comigo e com meus irmãos. Acredito que colocou nos sobrinhos todo seu amor maternal, já que optou por não ter filhos. Minha mãe Aline contava que meus avós não se conformavam com essa escolha. Contudo, tia Sílvia foi sempre muito segura da sua decisão, e todos acabaram aceitando. Depois de minha chegada, só tive três dias para me adaptar ao novo ambiente. Na segunda-feira me consultei com os especialistas e fiz uma bateria de exames. Aguardei os laudos ficarem prontos e, já com eles em mãos e atualizados, os profissionais traçaram um plano de tratamento, que foi pesado, extremamente pesado. Meu pai e minha mãe – Marcelo e Aline – ficaram o primeiro mês comigo, depois voltaram para o Brasil. Após oito meses, eu já tinha controle total do meu tronco, conseguia passar sozinho da cadeira para a cama e da cadeira para a cadeira de banho. Ari me acompanhava em todas as terapias, e minhas vitórias pareciam ser dele. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Após um ano, eu já estava nas piscinas. Inicialmente tive um medo terrível, temia me afogar, porém foi um sentimento passageiro, pois, dentro da água, meu corpo suportava uma carga mais pesada de exercícios. Inicialmente, eu segurava nas barras e realizava meus exercícios com segurança, e, ao término, pedia para ficar por um momento solto dentro da água. Ari e Jonathan, meu fisioterapeuta, auxiliavam-me, e meu corpo boiava. Esse pequeno instante trazia-me paz, eu fechava os olhos e sentia meu corpo flutuar. Com o passar do tempo, comecei a sentir um leve formigamento no quadril, e isso me deu esperanças de conseguir controlá-lo. Os médicos não descartaram a possibilidade, porém eram cautelosos, pois eu poderia me frustrar. Todas as noites eu me sentia exausto. As medicações eram pesadas. No entanto, eu precisava delas para não sentir tantas dores. As infecções urinárias estavam ausentes, e o que eu mais desejava era um dia poder me livrar da sondagem vesical. Queria ter o controle das minhas eliminações fisiológicas e tinha fé e estava empenhado a ter essa conquista. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Evitava falar com a Elena. Preferia dessa maneira, visto que a dor seria menor, e desse jeito eu lidaria melhor com as escolhas que tinha feito. Ela me ligava diversas vezes, e no início eu até atendia as ligações. No entanto, não aguentava ouvi-la chorar e, um dia, pedi que não ligasse mais. Doeu pra caralho dizer isso a ela. Também evitei saber dela, porque tinha certeza de que Elena estava sofrendo e com muita raiva de mim. Temia que, diante de seu sofrimento, eu fraquejasse e acabasse voltando para o Brasil, aprisionando-a à minha vida. Ela não merecia isso. Contudo, meu amor por Elena continuava vivo e dentro do meu peito e queimava em momentos como aqueles em que me via deitado no escuro do meu quarto. As lembranças dela sempre estavam em minha mente, e não a ter por perto era a melhor e a pior escolha. Dois anos depois de minha mudança para os Estados Unidos, eu já tinha total controle da cadeira, saía e me sentava, andava pela casa, pelo parque sem precisar de ajuda. Meus braços estavam musculosos, meu peito, largo. Minha maior conquista foi o quadril; eu conseguia controlá-lo, não precisava auxiliar com as minhas mãos para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS descomprimir meu traseiro. Os médicos ficaram muito felizes com as minhas conquistas, e outras também viriam, porém tudo dependia de como meu corpo responderia às medicações e terapias. Minha lesão não chegara a ser completa, por isso eu conseguia sentir os quadris. Demorou, mas aos poucos e com muita fisioterapia eu conseguia movê-lo lentamente. Só o tempo mostraria o que mais eu conseguiria recuperar. Ari ria muito da minha cara, pois os fisioterapeutas me colocavam em pé nas barras paralelas com as minhas pernas retas com auxílio de órteses que pegavam dos meus pés até as coxas, e meu exercício era tentar mexer o quadril como se estivesse em uma aula de dança do ventre. Foi difícil pra caralho! Todavia, com muito empenho e pela graça de Deus, eu consegui. Não era um movimento certeiro, rápido, mas, do meu jeito, eu conseguia movê-lo.

Mais uma noite chegava, e eu estava exausto. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Depois do banho, pedimos pizza, e assisti com Ari a uma partida de basquete; a nova temporada da NBA começava naquele dia. Depois do término do jogo, dei boa noite para o Ari e fui para o meu quarto. Encostei a cadeira na cama, travei suas rodas e passei meu corpo para o colchão, ajeitei minhas pernas e me cobri. Dormi pensando em Elena, como em todas as noites. Acordei com o barulho da porta do meu quarto se abrindo e não acreditei quando vi Elena parada ao lado da minha cama. — O que faz aqui? — perguntei assustado. — Eu estava doente de saudade, Arthur. — Elena, você não devia estar aqui. Você não entende... Sua boca grudou na minha, seu cheiro tomou todos os meus sentidos, e eu a puxei para mais perto. Nossos lábios não desgrudavam, nossas línguas se acariciando, os gemidos se misturando. Eu queria mais. Com as mãos, tomei um impulso, sentando-me na cama e com isso trazendo o seu corpo para cima do meu. Com agilidade retirei sua camiseta e sutiã, segurando seus seios lindos, cheios e totalmente ao meu alcance. Beijei-os e dei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pequenas mordidas que a fizeram se contorcer. Meu coração batia forte e acelerado, e, pela primeira vez depois do acidente, senti meu pau pulsar forte, tenso, sólido como havia muito não sentia. Escorreguei minha mão para ter total certeza de que era real, e era! Fui invadido por uma felicidade infinita. Sem pensar ou esperar, levantei a pequena saia jeans que Elena usava, deixando-a embolada na cintura, puxei sua calcinha para o lado e me encaixei nela, sentindo cada pedacinho da sua pele me acomodar, o frio na barriga, o arrepio no corpo, o tesão avassalador. — Eu te amo! Eu morri de saudade! — Elena sussurrou em minha boca. — Eu também te amo, Loirinha. — Olha isso, Arthur! — Seu corpo subia e descia sobre o meu. — Podemos ter tudo. Sente o prazer que estamos tendo? Não me afaste, não me tire mais da sua vida! Eu preciso de você, estou sofrendo! Colei sua boca na minha e a beijei com paixão e saudade. Com as nossas bocas grudadas, senti seu corpo estremecer, e isso foi o estopim para que o meu prazer explodisse dentro dela. Foram jatos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS longos e um tesão interminável. Nossos olhos se encontraram, e ambos estavam emocionados. Elena saiu de cima de mim, e eu deixei meu corpo escorregar pelo colchão. Ela se aconchegou sobre um dos meus braços e deitou seu rosto em meu peito. — Eu te amo, Arthur. Acho que, depois de muito tempo, conseguirei dormir em paz. Eu também, Loirinha! Acordei com o despertador do celular e sentindo um sorriso bobo brotar, porém esse foi morrendo aos poucos ao me dar conta de que tudo não passara de um sonho. Senti o amargor em minha boca e um sentimento de tristeza muito grande. Não lamente! Não lamente! Foi sua escolha afastá-la! Porra! Retirei o lençol que cobria meu corpo e passei para a cadeira que estava ao lado da cama. Segui em direção ao banheiro e, ao chegar lá, retirei minha cueca e notei que havia ejaculado. Eu parecia ter 13 anos de novo, acordando todo melado por um sonho erótico. Recordei cada detalhe do sonho enquanto passava da cadeira de rodas para a cadeira de banho. Liguei o chuveiro, e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a água quente começou a cair sobre a minha cabeça, passando pelo meu tronco e por meu membro. A urina começou a ser liberada, e a alegria que eu sentia por ter esse controle tomado de volta era muito grande. Fazia pouco tempo que isso acontecia. Tinham sido meses treinando, estimulando para que meu corpo reagisse, para que eu conseguisse ter a liberação da urina de forma normal, e finalmente eu conseguia. Criara o hábito de fazer isso no banho, e esse era o momento quando a liberação do líquido era maior. Durante o dia fazia mais duas vezes e, quando notava que a vontade não aparecia, eu mesmo passava a sonda, mas fazia isso apenas se fosse absolutamente necessário. Os médicos falavam que meu caso era raro, porque poucos lesionados medulares da forma como eu tinha sido conseguiam retomar a sensibilidade dos quadris. Apesar de minha lesão não ter sido completa, raros eram os casos de pacientes que conseguiam ter a sensibilidade do quadril de volta. Meu caso passara a ser estudado. Minha lesão se dava do início da coxa para baixo. Nesses locais, nem se colocassem fogo eu sentiria. Já no quadril PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tinham áreas em que a sensibilidade era maior, e outras, bem menor. Contudo, em toda a extensão eu era sensível ao toque, e meu pênis era uma parte em que minha sensibilidade era muito sutil. Porém, na manhã me lembrando do sonho com Elena, repassando por minha mente cada momento, senti pequenos choques e levei minha mão ao membro, tentando entender o que estava acontecendo com meu corpo. Fechei os olhos ao sentir que ele começava a enrijecer em minha palma. Olhei para baixo e não acreditei que estava acontecendo. A alegria estava em meu rosto, e o prazer, todo concentrado em minha mente e em meu pau, que agora recebia investidas de minha mão em um vai e vem rigoroso. Era estranho, porque o toque da minha palma nele era sentido de leve, mas o tesão era bom ou até maior do que antes. A lembrança do corpo de Elena sobre o meu, dos bicos dos seus seios passando por meu peito e do aperto de sua intimidade na minha me fez explodir em minha mão. Não consegui controlar o urro que dei nem o tremor que senti logo após. Porra! Foi bom pra caralho! Eu precisava contar isso para o meu médico. Depois disso, não me importava que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS eles enfiassem mil eletrodos em minha cabeça e em meu corpo, queria que outros lesionados tivessem essa mesma chance, e, se fosse para eu ser um caso de estudo, que fosse! Mais um ano se passou, e me peguei interessado em saber sobre Elena. Eu ouvia um comentário aqui e outro ali. Entretanto, procurava não me atentar, temia saber que ela tinha seguido em frente. Às vezes meu irmão queria falar dela, mas eu pedia que se calasse. Todavia, em dado instante, o desejo de saber sobre sua vida foi maior que o temor, e pedi informações a Luca. Ele falou que ela era sempre vista com o tal Eduardo. Peguei mil vezes meu telefone para ligar para ela. Contudo, o que eu falaria?

Eu sempre amei esportes, fosse natação, corrida, luta, porém depois da lesão foi complicado, pois eu necessitava me dedicar 100% ao tratamento. Contudo, quando eu me senti mais fortalecido, foime apresentado o ciclismo na modalidade de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS HandBike. HandBike é um tipo de bicicleta adaptada para ser pedalada com as mãos. No paraciclismo, ela é posicionada de forma deitada ou esportiva. É utilizada por pessoas com deficiência física como paraplegia ou ainda por pessoas com mobilidade reduzida. No início, foi complicada a adaptação, porque essa bike é diferente. Entre os variados modelos, escolhi aquele em que meu corpo ficava praticamente deitado e em que todo o esforço para a colocar em movimento vinha dos meus braços. Eu treinava todos os dias e me sentia livre quando o fazia. A adrenalina, a velocidade e o vento no meu rosto, isso tudo fazia com que eu me sentisse vivo e tendo o controle de algo. Enfiei-me de cabeça no esporte. Corria com a bike por três, quatro quilômetros, mas, depois de um tempo, isso já não me bastava. Aos poucos fui conhecendo mais sobre as HandBikes e procurei um treinador. Eu queria ser um atleta e, para isso, precisava do auxílio de um profissional. Através de um dos terapeutas que trabalhavam na minha reabilitação, conheci o Sr. James, mas ele gostava que eu o chamasse de treinador. Ele avaliou meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desempenho, e recebi o feedback de que seria um bom atleta de HandBike de estrada. Com sua orientação e ajuda, comecei a desenvolver o gosto por correr com a minha bike pelas estradas. Nem tudo foram flores. Eu treinava todos os dias pela manhã. Quando chovia, colocava minha bike no rolo e praticava a quilometragem de treino em casa. Passava muito tempo me exercitando, debaixo de sol ou no frio, mas tinha um objetivo e iria focar nele. Eu seria um atleta profissional de HandBike. Havia anos estava fora do meu país, longe da minha família e da Elena. Ari já não estava mais comigo; ele voltara ao Brasil pouco depois que eu completara dois anos de tratamento. Eu tinha conquistado minha independência, e ele precisava voltar para cuidar do pai, que sofrera um AVC. Contudo, Ari seria sempre um grande amigo, ele estivera comigo nos meus piores momentos e vibrara pelas minhas vitórias. Entretanto, na época de sua ida, Luca resolveu vir fazer uma especialização em sua área nos Estados Unidos e se tornou meu hóspede. Era bom demais ter meu irmão comigo. Nessa época descobri que Elena seguira em PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS frente, e eu não podia culpá-la por isso. Eu queria que ela fosse feliz. Ela estava fazendo a sonhada residência em pediatria e namorando o babaca do Eduardo.

A descoberta sobre o noivado de Elena me deixou arrasado. Naquele dia, ao olhar as redes sociais dela, ver as fotos das mãos com as alianças e dos dois sorrindo foi como receber um soco no meio do estômago. Eles estavam em Fernando de Noronha. Doeu pra caramba. Fui tomado por um ciúme sem tamanho e muita raiva, primeiro de mim, depois da vida, que nos colocara naquela situação. Todavia, eu tinha optado por isso, e minha única alternativa era sofrer em silêncio. Em todos aqueles anos, eu recebia várias vezes a visita dos meus pais e meus irmãos. Na última vez, minha mãe Carla, ao me ver tão bem, pediu que eu voltasse ao Brasil, porém eu preferi permanecer nos EUA, ainda mais com a novidade sobre Elena. PERIGOSAS ACHERON

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ERA SEXTA-FEIRA À noite. Eu e Luca resolvemos ir até um bar que ficava próximo ao apartamento. Aos poucos eu vinha me socializando, voltando a frequentar os lugares. Havia conhecido muitas pessoas que estavam na mesma condição que a minha, trocávamos ideias e informações. Era bom ter esse pessoal das cadeiras por perto; com eles eu me sentia bem, eles me entendiam, e eu a eles. Deslizava minha cadeira pela lateral da rua, já que a calçada tinha vários desníveis, quando de repente a porta de um dos carros estacionados se abriu, acertando a cadeira. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Caralho! Não olha na porra do retrovisor antes de abrir a porta não?! — reclamei em inglês. Fui recebido por dois olhos assustados que escanearam meu corpo, e o pesar gritou em suas feições. — Moço, perdoe-me! Desculpe-me... Eu realmente não vi, estava distraída pegando minha bolsa e já fui abrindo a porta. Eu te machuquei? — Não, está tudo bem. — Por que não vai pela calçada? Lá é mais seguro. Algum carro pode te pegar. — Se as calçadas fossem niveladas, eu estaria passando com minha cadeira por elas, mas, como você pode ver, essas merdas em sua grande maioria têm desníveis. — Apontei para a calçada, onde avistei meu irmão rindo. Filho da puta! — Mais uma vez me desculpe! — Tudo bem. Continuamos nosso percurso, chegamos ao bar, pegamos uma mesa e pedimos cerveja e algo para petiscar. Eu gostava desses momentos, de estar com meu irmão e jogar conversa fora. Logo chegaram meu treinador e mais alguns dos caras que treinavam comigo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Já passava das 23h. Eu estava alto devido às várias cervejas e avistei uma mesa num canto, encontrando nela a moça desastrada que me acertara com a porta do carro. Ela me encarava, mas abaixou seu rosto ao ser pega em flagrante. Continuei a fitá-la, observando-a de forma detalhada. Vez ou outra nossos olhos se cruzavam, porém ela não permanecia muito tempo fixando seu olhar no meu, e isso me instigou. — Cara, vai ficar olhando para a menina até quando? Vai até lá — Luca falou próximo ao meu ouvido. — E vou dizer o quê? — Sentia-me inseguro. — Eu vou ter que ensinar a missa para o papa? — Luca riu. — As coisas não são mais as mesmas, Luca. — Dei mais um gole em minha cerveja. — Pelo que sei, tudo funciona perfeitamente, até mesmo seu cérebro e sua boca, então vai até lá e bota aquela garota no teu colo. Sentia-me ansioso. Aquela era a primeira vez em que me sentia atraído por alguém depois de Elena e da lesão. Descobrir que tinha controle sobre meu sexo me motivava. Eu havia pensado algumas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vezes em contratar o serviço de uma prostituta, porém desistia e acabava me masturbando. Lembrava-me de Elena e de como fora bom a ter por inteiro em meus braços. Eu sabia que um dia teria que seguir em frente e que Elena se tornaria um amor do passado, porém nenhuma mulher havia me chamado atenção até aquele momento. Ver aquela garota olhando para mim, mostrando estar interessada me despertou. Notei que a menina que a acompanhava saiu da mesa, e essa foi a minha chance de me aproximar. Deslizei com a cadeira pelo espaço e segui o trajeto sem tirar os olhos dela. Ouvi o burburinho dos caras, mas deixei para lá e continuei meu trajeto. Conforme me aproximava, ela ficava mais vermelha e me encarava. — Oi, sou o Arthur. — Estendi minha mão, e ela a recebeu. — Queria me desculpar por ter sido grosseiro mais cedo. — Não se preocupe com isso, eu... eu estava errada, preciso prestar mais atenção nas coisas. Tenho fama de ser um tanto desastrada. Uma desastrada linda! — O que você está bebendo? — indaguei, e ela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS olhou para o copo e sorriu. — É um mojito. Levantei o dedo para o garçom. — Traga um desse para mim e mais um para a moça. — Não ia beber mais. Não tenho o hábito e, além do mais, estou dirigindo, não deveria nem ter tomado esse. — Uma mulher responsável. Gosto disso... — Fixei meus olhos nos seus, pedindo silenciosamente que me dissesse seu nome. — Ah, me desculpe. Clair, me chamo Clair. — E eu sou o Arthur. — Estendi minha mão novamente, segurando a sua. — Ah, eu já tinha falado meu nome. — E sorri. Sua timidez era algo lindo de se ver. Ela era branquinha, com os cabelos e olhos castanhos. — Você não é daqui, tem um sotaque gostoso. — Não. Sou italiana, de Milão. — Está explicado! Então somos dois forasteiros. Eu sou do Brasil. — Nossa! Você fala perfeitamente bem, se não contasse, eu não perceberia que não é um nativo. — Falo inglês desde muito cedo com meus pais, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS eles achavam importante eu ter uma segunda língua desde garotinho, e já estou aqui há quase seis anos, isso facilita. Está curtindo férias aqui? — Fugindo... — Ela olhou para o copo e passou o dedo pela gota que escorria no vidro suado. Não pude deixar de me lembrar que eu também fugia, que já poderia ter voltado ao meu país. Contudo, preferia estar longe, ainda mais depois que descobrira que Elena seguia em frente e estava noiva. — Sei como é. Ela se recompôs e mudou seu semblante. — Seus amigos estão animados. — Ela apontou para os caras, que riam e falavam alto apontando para nós. — A verdade é que apostei com eles que conseguiria um beijo seu, e eles estão esperando para ver o fora que você vai me dar. — O que você apostou caso perca? — Vou ter que pagar a conta de todos. Eles não têm muita fé em mim. — E se ganhar a aposta? — Ela deu um sorriso tímido. — Eles irão pagar o pneu novo da minha bike. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Bike? Como... Ah... desculpe. — É uma bike adaptada. Eu pratico HandBike. É uma modalidade de ciclismo para paraplégicos. — Que legal! Então você é um atleta? — Estou treinando para ser um atleta paralímpico. Viajo esta semana para Toronto, vou participar do Parapan Americano. — Então está explicado... — Ela sorriu e voltou a beber. — O quê? — Fiquei curioso. — Seu porte atlético. — Muitas horas de treino deram alguns resultados. — Acho que valeu a pena a dedicação. — Seus olhos cobiçosos me fitavam. — E, quanto à sua aposta, vou contribuir para que você continue empenhado em seus treinos. E, surpreendendo-me, ela veio até mim, sentouse de lado no meu colo, cruzou as mãos na minha nuca e me beijou. Caralho! Fiquei tão surpreso que nem sabia como agir na hora. O beijo começou como um selinho, e nossos olhares se cruzaram. Recordei-me de como agir e levei uma de minhas mãos à sua cintura e, com a outra, segurei seus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cabelos próximo à nuca. Enfiei minha língua em sua boca e, quando dei por mim, estava perdido no beijo daquela garota. Voltei à realidade ouvindo assovios e gritos. Os caras festejavam. Filhos da puta! — Para quem perdeu a aposta, seus amigos até que estão bem animados — ela observou, e eu preferi me fazer de desentendido. Ela tentou sair do meu colo, mas a segurei pela cintura. — Fica aqui. Gostei do seu beijo e queria ganhar mais um, já que aquele foi uma contribuição para que eu continue empenhado nos meus treinos. É para calar a boca daqueles babacas. Ela sorriu e disse: — Eu sabia que não deveria ter bebido, porque, em meu estado normal, nunca estaria no seu colo. — Então vamos aproveitar o seu momento de embriaguez e curtir. — Vamos! Sua boca voltou à minha, faminta, sensual, e senti meu corpo reagir. Depois de tanto tempo, eu voltava a me sentir um homem. Uma mulher estava PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em meu colo, ela me beijava, eu correspondia e sentia que meu amigo lá embaixo se animava. Porra! Como era bom! Temia por esse momento. Contudo, agora me sentia bem e queria muito sair com ela dali. A amiga de Clair voltou à mesa e ficou surpresa ao nos ver. Clair nos apresentou. Stella era morena e tinha longos cabelos cacheados. Não demorou muito para que meu irmão se aproximasse e, com aquele seu jeito de lorde inglês, se apresentasse às meninas. Clair não saiu do meu colo. Continuamos a conversar e, vez ou outa, nos beijar. Luca e Stella se prenderam em uma conversa chata sobre software e controles de rede. Clair até se animou com o papo, mas eu tomei sua boca, e ficamos no nosso mundo. Meu irmão e Stella tinham uma paixão em comum, o mundo virtual, e ficaram presos nesse assunto durante todo o tempo. Foi uma noite agradável, e marcamos de encontrar as meninas no dia seguinte. Eu iria treinar, e Clair estava curiosa para ver. Expliquei que meus treinos eram longos e que eu não poderia dar atenção a ela, mas Luca falou que a levaria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS embora logo que eu pegasse a estrada.

Passava para a bike quando avistei meu irmão se aproximar com Clair e sua amiga. Acenei para eles. Mostrei-lhes a bicicleta, expliquei um pouco sobre a modalidade que eu treinava e depois me despedi. Ficamos de nos encontrar mais tarde. Concentrei-me no que meu treinador dizia, ajustei o capacete e coloquei a bike em movimento. O declínio da pista apareceu, e, como em outras vezes, dei tudo de mim e alcancei a velocidade que queria. Corri por duas horas, fiz o percurso todo dentro do tempo estipulado. Na chegada, recebi mais orientações do meu treinador e fui liberado. Estava exausto, precisava de um banho e descanso. Encontrei-me com Clair à noite no mesmo bar e, depois de algumas cervejas e de um desejo sem tamanho, tomei coragem e a convidei a ir até minha casa. — Vamos até minha casa? Fica aqui perto. — Vamos — ela respondeu, e eu fiquei animado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Era sábado, e a noite estava agradável. Saímos do bar, e ela caminhou ao meu lado. — Você não tem medo? Quando te vi naquela ladeira, senti um frio no estômago. Você correu sem frear em nenhum momento. — A velocidade é calculada, Clair, logo após aquela ladeira tem uma subida, e eu precisava do impulso para completá-la. — Tenho medo de velocidade — ela revelou. — Eu amo velocidade! Quero experimentar todos os esportes que me levem ao nível de adrenalina que a velocidade me proporciona. A velocidade me faz ter vida, eu nem me lembro de que não tenho mais as minhas pernas funcionando. O vento no meu rosto, as coisas passando por mim como raios me fazem vibrar, me animam e me deixam feliz. Chegamos ao meu apartamento, e abri a porta, dando passagem para que ela entrasse primeiro. — Que apartamento lindo, Arthur! — Clair olhava para todos os lados. — Coisas da minha tia. Ela morava aqui antes de se casar e, de vez em quando, ainda dá uma passada para ver se está tudo ok. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — A mão de uma mulher em uma casa é tudo — ela concluiu sorrindo. — Quer beber alguma coisa? Tenho cerveja, refrigerante, água... — Água. Hoje vou ficar com água. — Está de ressaca? — Não, é que não tinha o costume de beber, porém ultimamente tenho feito muito isso. Voltei à sala e entreguei a água para ela. Passei da cadeira para o sofá, ficando ao seu lado. — É incrível como se movimenta. Sua habilidade é impressionante. — Tive muito tempo para treinar. — Dei um sorriso de lado. — O que aconteceu? — questionou receosa. — Acidente de carro — respondi de boa. Não tinha problemas em falar do acidente. — E você ainda diz que ama velocidade? — Ela sorriu. — Adoro! Se antes não tinha medo, agora menos ainda. Clair depositou o copo na mesinha de centro da sala, e nessa hora eu peguei sua mão. Ela me encarou com seus olhos expressivos, e não deixei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que pensasse muito. Colei minha boca na dela e passei minha língua em seus lábios, pedindo autorização para entrar, e ela me aceitou. Segurei sua nuca e prendi sua boca na minha, perdendo-me em seu beijo, que me deixava louco. — Vem para o meu colo — pedi rouco. Ela me encarou e mordeu o lábio. — Vem? — pedi mais uma vez. Ela veio. Colocou uma perna de cada lado do meu quadril. Sua saia leve se movimentou, e eu aproveitei para passar minhas mãos em suas coxas. Nosso beijo ficou mais quente diante a minha carícia. Clair começou a esfregar sua intimidade na minha. O tecido da minha calça não escondia minha ereção. Eu estava duro, muito duro. Um gemido escapou da sua boca, e nesse momento agarrei sua bunda, trazendo-a mais para mim. — Gostosa! Desci minha boca por seu pescoço, beijando sua pele, seu queixo. — Tira a sua blusa — mandei, e ela obedeceu, retirando sua regata e ficando apenas de sutiã. Seus seios redondos preenchiam o bojo do sutiã branco. Beijei cada um e, com cuidado, abri o fecho e os PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS deixei nus à minha frente. — Você é linda, Clair! Levei minha boca até um deles, e ela gemeu ao sentir meus dentes prenderem o seu mamilo. — Deliciosa! Abocanhei o outro, e ela gemeu alto. — Ah... Arthur! — Estou louco pra transar com você, Clair. Você quer? Porque nós podemos ficar só nisso se você quiser. — Arthur, eu preciso te contar uma coisa. Eu... Parei de sugar seu seio e a fitei. — O que foi? — inquiri preocupado — Estou um tanto encabulada, confusa. Eu quero, mas só tive uma pessoa antes, e ele... Bom, ele me deixou, porém eu ainda o amo. — Seus olhos se encheram de lágrimas. — Ele não merece a minha consideração, ele me traiu, mas eu achei que o Lorenzo seria o único homem da minha vida, e agora, vendo-me aqui e louca pra transar com você... Estou confusa... — Eu te entendo. Eu também tinha uma pessoa e... é complicado... — Mas eu quero — ela me cortou. — Acho que, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS depois de tudo, eu mereço me sentir desejada, quero ser tocada. — Clair levou minha mão até seu seio. — Quero sentir prazer nos braços de outra pessoa. Você despertou algo em mim. — Então vamos para o meu quarto, não quero que Luca chegue aqui e te encontre nua no meio da sala. Ela saiu do meu colo, e eu voltei para a cadeira. Fomos para o quarto, e lá retirei um pacote de camisinhas da gaveta e o deixei ao lado da cama. Passei para a cama e a puxei para mim. — Clair, não vamos envolver sentimentos no que acontecerá aqui. Somos adultos, temos um passado com pessoas que foram ou talvez ainda sejam importantes em nossas vidas, mas que agora não estão mais com a gente. Vamos curtir, vamos deixar acontecer, sem cobranças, tudo bem? — Tudo bem, vamos deixar acontecer... Ela se sentou sobre mim e beijou minha boca. Segurei sua bunda e a trouxe para mais perto. Voltei a colocar seu mamilo em minha boca e dei pequenas mordidas. Tirei sua saia pela cabeça, e Clair ficou só de calcinha. Ela beijou meu pescoço e meu peito. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Você é lindo, Arthur! — Você que é linda, Clair. Seu corpo se curvou, e depositei beijos em sua barriga. — Tira a calcinha para mim. Quero ver. Clair saiu da cama, ficou em pé e, sem tirar seus olhos dos meus, foi descendo a calcinha lentamente, revelando sua intimidade depilada, lisa e molhada. Acariciei-a, deixei que um dos meus dedos deslizasse entre seus lábios. Ela curvou seu corpo e voltou a me beijar, acariciando meu pau, que ficava cada vez mais rígido sob a roupa. Ela gemia, eu gemia. — Me deixa tirar sua calça. Com sua ajuda, desfiz-me da minha calça, e meu corpo ficou completamente nu. Peguei uma camisinha e a coloquei. Eu estava ansioso para ver como seria. — Vem — pedi, e Clair voltou para a cama e ficou sobre o meu colo, nossas intimidades se tocando. Eu estava enlouquecendo. Segurei meu pau pela base, e Clair deslizou sobre ele. Não tenho como descrever o prazer que senti. Havia perdido a conta das vezes que me masturbara PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desde que aquela parte do meu corpo despertou, mas nada se compara ao toque apertado, quente e macio de uma mulher. Clair subia e descia sem pressa, nossas bocas grudadas, um tesão gigantesco. Lembrei-me das fotos que vi da Elena e o tal Eduardo e a imaginei transando com ele, mas precisei afastar esse pensamento, pois fora eu mesmo a jogá-la nos braços de outro homem. Além disso, eu estava ali com outra mulher. Fitei os olhos de Clair. — Está bom para você? — questionei curioso. — Está! — Ela gemia baixinho, mordia os lábios e me olhava. — Quer que eu fique por cima de você? — Você consegue? — ela perguntou receosa. — Consigo. — Pegando-a desprevenida, virei nossos corpos, deixando o dela por baixo do meu e, sem perder nosso encaixe e segurando nas grades da cama, penetrei-a forte e duro. — Ah... — Ela passou suas pernas por trás das minhas e segurou em minha bunda, ajudando-me nas investidas. Notei que ela gostava daquela forma e fechei os olhos, movendo-me de modo mais PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS intenso e rápido. Seus gemidos foram ficando altos, sua boca, procurando a minha com desespero, e me entreguei àquele tesão absurdo. — Ah... amore... Ela estremeceu e mantinha os olhos fechados. Senti seu orgasmo a atingir, forte, intenso. Continuei a penetrá-la com força, sentindo meu clímax perto. Clair voltou a se esfregar em mim. — Você vai gozar de novo? — perguntei entre os gemidos. — Sim. Fiquei surpreso ao ver que eu estava proporcionando tanto tesão àquela mulher, o que me alucinou. Soltei uma das mãos da grade da cama e passei a esfregar seu clitóris. Seu corpo começou a tremer. Levei minha boca a um dos seus mamilos e suguei forte. Ela deu um grito e gozou falando palavras em italiano e me chamando de amore. Fechei os olhos e senti sua boca em meu pescoço, sua língua deslizando por minha pele, e Elena voltou à minha mente. Eu a queria ali, queria o corpo dela sob o meu, queria sua pele na minha, seu cabelo, sua boca, seu cheiro, seus olhos... O orgasmo veio arrastando tudo de mim consigo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Ah... Elena... Meu corpo enrijeceu quando me dei conta do que havia pronunciado. Demorei alguns segundos para ter coragem de olhar para a garota sob mim. — Me perdoe, Clair! Eu... poxa! — Relaxa, Arthur. Eu também acabei te chamando de amore. Eu chamava meu noivo assim — sua voz era baixa. — Olha, eu estava sem sexo há seis meses. Sentia vontade, mas não tinha coragem de transar com ninguém até você aparecer. E, como já havia falado, ele foi o único homem da minha vida e, apesar do que fez, eu ainda o amo e é difícil para mim. — Eu sei como se sente. Elena foi... não, ela é meu grande amor. Contei nossa história a ela, que permanecia deitada em meu braço e ouvia atentamente. — Olha, Arthur, nós dois aqui, nus e falando dos amores que trazemos no peito. Você é homem, eu sou mulher, temos nossas necessidades, somos adultos e bem-resolvidos. Me senti segura com você, porém não estou aberta para relacionamentos, portanto acho que podemos manter isso que tivemos de forma limpa e honesta. Quando sentir PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS necessidade de me chamar de Elena, não vou me chatear. — E você pode me chamar de amore, que também não vou me chatear — respondi beijando sua testa. — Pelo tempo que isso durar, vamos curtir, Arthur. Sem promessas e sem cobranças. Saímos do quarto e encontramos Luca no maior dos amassos com Stella na sala. — Vão para o quarto, vocês dois! — falei brincando e pegando os dois de surpresa. Eles foram para o quarto de meu irmão, e eu e Clair ficamos na sala meio deslocados. — Quer uma pizza? Acho que aqueles dois vão demorar. Clair sorriu. — Acho que sim. E não estou a fim de voltar para casa sozinha. Precisei tomar um analgésico, sentia desconforto na região lombar, porém estava com a mente leve, sentia-me um homem completo de novo. Comemos a pizza, e Clair resolveu ir embora sem a amiga, pois, pelo visto, Stella e Luca não sairiam daquele quarto tão cedo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nós nos tornamos amigos, desenvolvemos um tipo de “relacionamento” que se encaixava ao acordo que fizéramos. Não existia estresse, nem cobrança. A frase que ambos usávamos quando queríamos sexo era: “Preciso de você”. Clair era recém-formada em bacharelado em direito em seu país e cursava doutorado em crimes virtuais nos Estados Unidos, mas eu sabia que a pós tinha sido um motivo para fugir do seu ex, do mesmo modo que eu usara meu tratamento para fugir de Elena.

Enfim fui para o Canadá com minha equipe para as competições do Parapan. Desembarcamos em Toronto, e eu sentia um nervosismo extremo ao me ver em um campeonato tão importante. Meu desempenho me ajudaria a conquistar minha vaga para as Olimpíadas. Queria muito e treinara demais para aquela conquista. Os próximos Jogos Olímpicos seriam em meu país, e eu sentia que orgulharia a minha família só em estar participando. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Meus pais e irmãos vieram me ver competir, e isso me deixava muito feliz e orgulhoso. Sem sombra de dúvidas eu tinha a melhor família do mundo. Eu os vi na entrada do hotel, meus dois pais e duas mães, Luca, Livi e Davi, meu irmãozinho caçula, que, enquanto eu estava fora do país, tornara-se um homem de quase 19 anos. Minha mãe Carla como sempre quase me sufocou ao me abraçar. Minha mãe Aline era mais discreta, porém eu não sentia diferença entre o amor das duas. Eu era um sortudo por tê-las. Conversei um pouco com meus familiares e depois precisei ficar concentrado com a equipe. Olhei para meu uniforme e meu capacete com a pequena bandeira verde e amarela que identificava minha nacionalidade antes de dar início à prova de ciclismo de estrada. E, naquela tarde de sábado, conquistei o ouro, completei os 80 km no Ontario Place West em 1h58min, com mais de dois minutos de vantagem sobre o colombiano Diego Duenas, prata. O bronze ficou com o dominicano Rodny Minier. Vibrei ao ver meus amigos de cadeiras conquistar suas medalhas também. Um ganhou PERIGOSAS ACHERON

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prata na perseguição individual de 4 mil metros, e 3 o outro, prata na prova de contrarrelógio . Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Ver o orgulho nos olhos dos meus pais e irmãos não tinha preço. Naquele momento senti que minha vida me fora entregue de novo. Eu era alguém, era um atleta que iria para as Olimpíadas.

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— PRECISO DE VOCÊ — a voz quente de Clair soou ao telefone assim que atendi. — Estou em casa. Vem. Era noite, e eu já estava na minha cama. Lia um artigo sobre lesionados e esportes, mas joguei tudo para o lado, retirei minha roupa e deixei as camisinhas ao lado da cama. A porta se abriu, e Clair passou por ela, fechando-a logo após. Ela parou ao lado da cama e começou a tirar a sua roupa. — Hoje eu preciso muito de você, Arthur. — Já estou pronto. Vem. E ela veio. Aproximou-se e me beijou de forma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS faminta. Estava ansiosa, e não tivemos preliminares. Ela subiu na cama e já encaixou seu corpo no meu. Subia e descia rápido, juntava seus seios e me oferecia. — Me deixa ficar de costas, Arthur. — Clair, nós tentamos outro dia, e não foi legal. — Mas hoje eu quero, Arthur, eu preciso. Não seja delicado comigo. Abri a gaveta do criado-mudo e retirei o gel, passei-o em meu membro, que pulsava, e a lambuzei. — Vem. Senta em mim com cuidado, não quero te machucar. E ela o fez. Eu segurava em sua cintura, e ela aos poucos foi se acomodando. Era muito apertado, e eu mordia meu lábio, segurando-me para não a puxar de uma vez. — Ah... me toca... — suplicou. — Porra! Que delícia! — grunhi em sua pele. — Aproveita! Ah... que bom! — ela gemeu manhosa. E eu aproveitei. Clair estava fora de si. Nós já estávamos nessa brincadeira havia dois meses, mas ela nunca tinha se portado dessa forma. Quanto PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mais eu lhe dava, mais ela pedia, e eu temia machucá-la ou que ela se arrependesse depois, mas o tesão nos cegou, e transamos como loucos, gozamos, e foi o tempo de trocar a camisinha, ela já sentava sobre mim novamente e descia sua intimidade, encaixando meu corpo no seu. Ela beijou e mordeu meus lábios, e, no impulso da dor e do tesão, dei um tapa em sua bunda, e ela gostou. Essa transa, de longe, foi a melhor de todas que tivéramos até aquele momento. Clair gozou, e eu fui em seguida. Ao notar que nossas respirações se acalmavam, senti o corpo de Clair estremecer e ela cair em um choro doloroso. — Clair, o que foi? O que aconteceu para você chegar aqui desse jeito? — Ela está grávida, Arthur. Grávida! — Como você soube? — Minha irmã me contou. Ela está com três meses. — Vem aqui. — Eu a abracei e beijei seu rosto. — Nós namoramos por quatro anos, sempre tivemos que nos cuidar, porque ele não queria filhos, e com ela, em menos de um ano, um bebê PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS apareceu. Por que ele fez isso comigo, Arthur? Por que ele me traiu e me deixou jogada? Eu o amava, eu me entreguei sem reservas, eu faria tudo por ele! Suas palavras me acertaram. Eu não havia traído Elena, mas a abandonara, nunca mais permitira que ela se aproximasse. Ela devia me odiar. Eu era um masoquista louco, só podia ser, porque sabia que sempre ficava mal, mas “espionava” suas redes sociais, igual a Clair, que sempre procurava saber da vida de seu ex-namorado. Parecia que um lado meu desafiava o outro. Um lado gostava de esfregar na minha cara o quão covarde eu tinha sido, eu era... Eu poderia ter voltado, mas tivera medo... Ela devia me odiar, e eu acreditava que tinha ficado no seu passado. As fotos descreviam, seu rosto sorridente evidenciava sua nova fase de alegria e amor. Onde eu me encaixaria se voltasse? Nos Estados Unidos, tinha uma vida montada, equilibrada e deslizava por ela sem nenhum estrago. Tinha minha independência, praticava um esporte que amava e era muito bom nele, encontrara uma garota legal com a qual extravasava os meus desejos e nem precisava mentir ou fingir amá-la, pois ambos usávamos um ao outro. Se eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS voltasse para lá, como seria? Tudo novo... de novo. Como eu me encaixaria? Eu e Elena éramos da mesma família, acabaríamos esbarrando um no outro, seria terrível! Por isso ultimamente, desde meu envolvimento com Clair, eu tinha me forçado a parar de acompanhar suas redes sociais; doía demais ver as fotos dela e seu noivo juntos. — Calma. Ele não merece suas lágrimas. Você ainda vai encontrar alguém que vai valer a pena. — Mas eu o queria, Arthur. Eu planejei para que tudo acontecesse com ele. Acreditei viver um conto de fadas. Fui burra em confiar tanto, e o pior é que ainda o amo. Como pode? Como posso sentir amor por alguém que me machuca tanto? — Não sei responder isso a você, Clair. Mas se acalma, fica aqui comigo essa noite, não vou deixar você ir para casa desse jeito. — Não. Acho melhor ir embora. Você sabe que dormir juntos não está no combinado. — Mas somos amigos. Podemos fazer isso numa boa. — Mulheres se apaixonam por pequenos detalhes. Talvez dormir nos seus braços faça nascer em mim sentimentos que prefiro manter PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS adormecidos. Ela deu um sorriso fraco e saiu da cama. Pegou suas roupas, que estavam no chão, e as vestiu. — Jura que vai ficar bem? — Vou tentar. Obrigada por estar aqui para me ouvir. — Ela deu um selinho em minha boca e saiu. No dia seguinte, usei o treino para tentar exorcizar meus demônios. Nesses dois meses desde o Parapan, meus treinos estavam cada vez mais pesados, e todo meu foco estava direcionado a treinar para as Paraolimpíadas. Confesso que pensei algumas vezes em desistir. Contudo, essa ideia não permanecia por muito tempo, e eu voltava a me concentrar e focar em meu objetivo. Estava exausto. Depois de horas de treino, cair na piscina era tudo o que eu precisava. A água na temperatura ideal ajudava meus músculos a relaxarem, e a dor passava. Depois de muito treino, eu conseguia boiar e controlar meu corpo dentro da água. Fechava meus olhos e esvaziava meu pensamento, permitia-me ter esses momentos de paz. No outro dia, acordei com meu celular tocando e recebi a notícia oficial e maravilhosa. Eu iria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS participar das Paraolimpíadas! Sentia-me feliz em saber que todo o esforço valera a pena, pois enfim eu receberia a recompensa. Eu havia tido sorte por ter apoio financeiro da minha família, por ter feito os tratamentos de ponta, ter tido a possibilidade de ser cuidado pelos melhores profissionais, especialistas em meu tipo de lesão e sabia que muitos não tinham a mesma sorte que eu, mas esperava um dia poder ajudar de alguma forma essas pessoas. Saí da cama e tomei um banho demorado. Eu estava muito feliz. Ao sair do quarto, encontrei Luca, que me parabenizou após saber da novidade. Marcamos de sair à noite. Chamei Clair e deixei para lhe contar a novidade assim que nos encontrássemos. Quando chegamos ao bar, as meninas já estavam lá. Luca e Stella estavam namorando, e eu estava feliz por ele. Stella era uma garota incrível, ela e meu irmão pareciam se completar. Notei a conexão dos dois assim que chegamos, ela praticamente se jogou nos braços dele, que a acolheu como se ela fosse seu bem mais precioso. Clair estava à mesa, e, quando encostei a cadeira, ela me cumprimentou PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com um selinho. — Me conta! Você estava tão eufórico ao telefone. O que aconteceu? — Eu vou para as Paraolimpíadas! Eu ainda não estou acreditando! — Jura!? Que legal, Arthur! Você merece. Vi o tanto que se empenhou para isso. — Estou muito feliz! Ficamos conversando com um grupo de amigos, e depois Clair foi para casa comigo. Transamos gostoso naquela noite, e, ao terminarmos, como nas outras vezes, ela se vestiu e foi embora. Era bom transar, sentir-me um homem, mas, depois que tudo acabava, eu sentia um vazio sem tamanho. Clair era linda, doce, porém trazia uma ferida enorme em seu peito, e, sabendo de tudo, eu seria o último a machucá-la. Eu tinha aceitado viver daquela forma. Entretanto, até quando isso me bastaria? Notei nos dias seguintes que Luca estava quieto, meio sem jeito. Chegou a um ponto que precisei colocá-lo contra a parede. — Vai falar para mim o que está rolando? Faz dias que noto seu jeito. Ele permaneceu quieto, parecia procurar uma PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS forma para responder meus questionamentos. — Na próxima semana preciso ir para o Brasil. — Seus olhos não deixavam os meus. — E por que você estava escondendo isso de mim? — Cara, eu... — O que foi, Luca? Aconteceu alguma coisa com alguém da nossa família? Fala, porra! Fica me olhando com essa cara... — A Elena vai se casar no próximo sábado. — O quê?! Desde quando você sabia disso? — perguntei, sentindo o ar me faltar. — Há algum tempo, mesmo porque serei um dos padrinhos com a Livi, e o Davi, com a Alice... Cara, eu não te contei porque nem sabia como abordar esse assunto com você e pedi para que ninguém da nossa família te contasse. Eles acham que vocês brigaram, que não se toleram... Eu vi o quanto a Elena tentou se aproximar, e você não deu chance. Achei que você não gostaria de saber. Eu realmente preferia não saber. Caralho! Vê-la namorar, noivar... ainda assim eu consegui suportar, mas escutar sobre o casamento me levou a sentimentos dolorosos. Meu desejo era de quebrar PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS algo. Levei as mãos ao rosto e abaixei minha cabeça. Eu precisava pôr meus pensamentos em ordem. Droga! Droga! — Thur, cara... — Me deixa sozinho, Luca. — Tem certeza de que quer isso? — Tenho! Eu preciso. Luca saiu, e eu permaneci na sala, sem saber o que fazer. Casar-se? Eu tinha ouvido direito? Elena, a minha Elena se casaria...? Iria se casar com outro, teria uma casa com ele, teria filhos dele... Porra! Que merda de vida! No entanto, o que eu queria? Voltei para o quarto e peguei meu celular. Depois de dois meses sem ver suas redes sociais, acessei-as e vi postagens sobre os preparativos para o casamento. Clair me ligou, mas preferi não atender, eu não estava em um bom momento. Fiquei como um louco revendo suas fotos, relendo suas postagens antigas. Parei por um tempo nas fotos da formatura, da formatura que deveria ter sido nossa, do baile, vi nossos colegas de classe todos felizes, e ela no meio. Revi fotos dela no hospital em que fizera sua residência, a foto do seu consultório pediátrico no hospital de seu pai e seu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tio, algumas dela com o Eduardo, o noivo... e em breve seu marido. Passei praticamente a noite em claro. Clair me mandou mensagens e ligou outras vezes. Contudo, eu as ignorei. No dia seguinte saí do quarto e encontrei Luca tomando café. — Como você está, irmão? — Bem, eu acho. — Eu nunca havia escondido meus sentimentos do meu irmão, mas não queria me expor daquela vez. — Clair falou que te ligou. — Várias vezes, mas eu não estava com cabeça para falar com ela. — Ficamos em silêncio, e fui preparar meu café. — Já comprou a passagem? — Vou comprar hoje, estava esperando para ver se Stella iria comigo, e ela vai. Vou aproveitar para apresentá-la à nossa família. Continuei pensativo. Tomei meu café e fiquei preso em meus pensamentos. Fui até meu quarto e permaneci por lá por um tempo. Minha cabeça dava voltas, em meu interior acontecia um duelo terrível. Saí do quarto e encontrei Luca no sofá lendo um livro. Joguei meu passaporte em seu peito. — Compre uma passagem para mim, irmão. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Quero ir ver esse casamento de perto.

Embarcamos para o Brasil, eu, Luca e Stella. Pedi que ele não avisasse a nossa família sobre a minha volta. Chegamos um dia antes do casamento, e fiquei na casa do meu pai Marcelo, porque, se minha mãe Carla soubesse que eu estava no Brasil, ela iria espalhar para toda a família, e eu não queria que Elena soubesse que eu estaria em seu casamento. Estar de volta depois de tanto tempo foi estranho. Eu parecia não pertencer àquele lugar. Minha mãe e meu pai não sabiam o que fazer para me agradar, e eu estava feliz em revê-los. No dia do casamento, entrei no quarto e encontrei um terno sobre a minha cama. Isso só podia ser coisa da minha mãe Aline. A cada minuto que passava, eu sentia meu estômago revirar. Estava nervoso pela situação e ansioso porque iria rever a mulher que ainda morava em meu coração. Tomei banho, arrumei-me e encontrei meu pai e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha mãe na sala. Chegamos à igreja, e deslizei minha cadeira de rodas pelo corredor. Todos ficaram surpresos ao me ver ali. Minha mãe Carla veio até mim, abraçou-me e começou a fazer cobranças por eu não ter avisado que chegaria, mas a cortei: — Mãe, eu não queria alvoroço. Preferi assim. — Mas por que isso? — Mãe... — Deixa o garoto, Carla! — meu pai Marcos a interrompeu. — Fala, meu grande atleta olímpico! — Oi, pai! Como o senhor está? — Estou bem, filho, e muito orgulhoso de você. Quando dei por mim, estava rodeado por meus pais, meus irmãos e meus avós. A nossa família era muito unida, e vê-los ali deixou-me emocionado. A cerimonialista avisou a todos que tomassem os seus lugares, e meus irmãos, que eram padrinhos, saíram. Os outros se ajeitaram nos bancos, e eu me vi ali, sem ter como ajeitar minha cadeira. Acabei ficando à frente do primeiro banco, em frente ao altar, bem ao lado do corredor. Meus avós estavam sentados na primeira fileira de bancos, logo atrás de mim, e ouvi vovó Ângela dizer o quanto Elena PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estava linda. Uma música começou a soar, e virei minha cadeira. Avistei o Eduardo entrar ao lado de sua mãe. Seu sorriso ia de orelha a orelha. Filho da puta! Depois vieram os padrinhos, e as portas se fecharam. Eu estava muito nervoso, não tirava os olhos da entrada, mas vovô chamou minha atenção ao me perguntar algo, e eu lhe respondia, quando ouvi a marcha nupcial tocar. Perdi a fala e virei minha cadeira, ficando de frente para as portas. Perdi a respiração também ao notar a presença de Elena. Ela estava linda! Senti meus olhos arderem diante de tanta beleza. Grudei meu olhar nela e travei meu maxilar. Seis anos! Fazia seis anos desde a última vez que eu a tinha visto. Que dor infernal eu estava sentindo, parecia que estava sendo cortado vivo. Elena sorria, porém assisti a seu sorriso morrer aos poucos ao notar minha presença. Notei que ela ficou vermelha e caminhou me encarando, seus olhos me questionando. Ela andou até o infeliz do seu noivo, e tio Erick a entregou a ele. O padre começou falando sobre amor e união, e eu só olhava tudo aquilo acontecer PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS diante de mim sem poder acreditar que era real. Na hora dos votos, escutei o cara declarar todo o seu amor para ela, e, em sua vez, foi demais para mim e preferi sair antes. Não queria ouvi-la dizer que o amava, nem ver a troca de alianças. Fiquei do lado de fora da igreja, em seguida meu pai Marcelo apareceu. — Imaginei que poderia ser demais para você, filho. Fiquei em silêncio. Meu pai sentou-se em uma mureta e olhou para o jardim à frente da igreja. — Uma vez eu tive medo, tive medo de deixar o que eu sentia tomar proporções maiores. Ela era linda, inteligente e muito alegre. — Ele sorriu e continuava a olhar o jardim. — Eu me vi totalmente envolvido, perdendo o controle da minha vida, sentia que estava sendo jogado naquele furacão e, por medo, fugi. Depois me arrependi, tentei arrumar as coisas, porém, era tarde, e ela já estava com outra pessoa. Eu torci para que o cara fosse um zero à esquerda, mas me ferrei, porque era gente boa, e ela ficou com ele. Eu não a culpo, fui um filho da puta egoísta e só pensei em mim. — Eu não era suficiente para ela, pai. Não depois PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS do acidente. O que eu poderia oferecer? Eu tive medo — desabafei. — Eu te entendo, filho. — Mas você tinha a mim. Criou um vínculo com a mamãe. Eu, de certa forma, uni vocês. Sei que a mamãe teve o Marcos, e você, a Aline, porém eu sempre serei um elo entre vocês. Eu não tive tempo para nada. Nem mesmo o direito de um tempo juntos nós tivemos. Aquele acidente levou todas as chances e possibilidades de criarmos algo. — Agora as coisas estão complicadas, filho. — Eu sei, pai... Porra! Mas dói demais! — Lembrei-me de Elena entrando na igreja, dos seus olhos em mim, os olhos que eu tanto amava. — Por que você veio? Seria mais fácil se não tivesse assistido a tudo isso. — Eu precisava ver. Precisava ter a certeza... mas, por outro lado, não tenho direito a nada, pois fui eu que a coloquei naquele altar com outro cara. — Olha, filho, se tem algo que aprendi, é que o tempo é o melhor remédio. Ele se encarrega de colocar todas as coisas no seu devido lugar. Tudo no fim se encaixa. O tempo trouxe para mim a Aline, que é sem sombra de dúvida a mulher da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha vida, e trouxe também um pai para o Luca. Eu os encontrei no momento certo, eu os salvei, e eles salvaram a mim. — E eu ganhei um irmão e mais uma mãe. — Sorri. — Pois é! E com isso nos tornamos uma família e tanto. Por você, eu e o Marcos deixamos as diferenças de lado, por você suas mães sempre se deram bem e, por você, seus irmãos de ambos os lados, independentemente de laços de sangue, se gostam e se consideram. Você é um cara especial! Eu sempre reparei que você gostava da Elena e entendi perfeitamente quando decidiu ir embora. Notamos que as pessoas começaram a sair pelas portas laterais e logo avistamos a Aline. — Oh, meu filho... não fica assim. — Ela me abraçou. Minha mãe sabia me ler como ninguém. — Se quiser, podemos voltar para casa. — Não, mãe. Eu vou com vocês. Cheguei à festa e fiquei em um canto. Observava a tudo e fui cumprimentado por várias pessoas. Eu era um atleta que iria para as Olimpíadas, e meus avós falavam orgulhosos de mim para seus amigos. Meus irmãos procuravam estar sempre por perto, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Stella já se enturmava com minhas irmãs e minha mãe, e, de onde eu estava, notava o sorriso bobo no rosto do Luca. Observei Elena chegar, seguia seus passos, escaneava cada detalhe do seu corpo e morria de dor e ciúme por dentro ao imaginar que ele pertencia a outro homem. Os noivos dançaram, tiraram fotos e começaram a cumprimentar os convidados. Nosso encontro na festa não foi dos mais agradáveis. Em um momento em que ficamos a sós, acabamos soltando farpas um ao outro, porém no final descobri que, naquele casamento, não existia amor da parte de Elena. Ouvi de sua boca e notei em seus atos, no brilho dos seus olhos, naquela raiva que ela dirigia a mim. Elena estava cometendo um grande erro, e eu esperava que ela não demorasse muito para notar isso.

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VOLTEI PARA OS Estados Unidos na semana seguinte e foquei em meus treinos. Clair me ligou, e marcamos de nos encontrar. Eu não tinha conversado com ela sobre o casamento e nem que iria para o Brasil. Saí do treino e fui para o bar que ficava próximo. Avistei Clair a uma mesa. Ela sorriu assim que me viu. Contudo, não foi seu sorriso habitual. Conteilhe sobre minha ida ao Brasil. Não houve uma cobrança direta, porém, em meio à conversa, senti seu desconforto pelo motivo que me fizera voltar ao meu país de forma tão inesperada. — Arthur, acho que devemos acabar com o que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS temos — foi direta. — Por quê? Você se chateou por eu ter viajado e não ter falado com você? — Eu tenho que ser sincera com você, Arthur. Começamos o que temos e permanecemos porque sempre fomos muito francos um com o outro. — Tudo bem. Pode falar. — Eu estava bem e achava que estava levando numa boa o nosso relacionamento, mas sua viagem repentina mexeu muito comigo. Sei lá, senti-me excluída. Eu quero que você entenda que isso não é uma cobrança, eu só estou falando que é para você entender a minha decisão. — Clair, eu não sei o que dizer. Eu gosto do que temos, você é uma pessoa incrível! — Mas estou com medo, Arthur. — Medo do quê? — De me apaixonar por você. Encarei-a e não soube o que dizer. — Não precisa ficar com essa cara. Eu sou responsável por estar me sentindo desse jeito... me deixei levar... — Eu estou surpreso. Achei que você estava confortável, que ainda pensava no seu ex. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Saber sobre a gravidez de sua namorada deixou-me sem esperanças. A notícia fez com que eu enxergasse que entre ele e mim não existirá mais nada. — Acho que estamos no mesmo patamar. — Dei um sorriso fraco. — Ver o casamento da Elena acabou comigo, saber que ela tem um compromisso tão sério com outra pessoa mostrou-me que entre nós nunca mais existirá nada. Clair abaixou a cabeça e ficou girando seu copo, e eu olhei para fora do bar. Permanecemos assim por alguns instantes. Cortei o silêncio, pegando a sua mão e a fazendo me olhar: — Vamos continuar o que temos. Vamos deixar rolar. Nós dois somos livres e desimpedidos, e os nossos ex seguiram com suas vidas. — Mas e se acontecer de a gente... — Se apaixonar? — Dei um sorriso para ela, que me fitava aflita. — Sou tão feio assim? É tão assustador para você se apaixonar por mim? — questionei brincando. — Não, pelo contrário — ela respondeu séria. — Você é lindo, Arthur. Seria muito difícil não me apaixonar por você. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Então vamos deixar acontecer — concluí. — Vamos deixar acontecer. — Clair saiu da sua cadeira e se sentou no meu colo. Seus lábios grudaram nos meus, e eu me dei para ela.

Os meses foram passando, e, com eles, os medos de Clair. Tornei-me seu namorado. Nossas transas eram intensas, e, ao final, ela dormia em meus braços. Ela estudava muito, e eu treinava feito louco, e, entre a correria das nossas vidas, encontrávamos tempo para nós. Eu não vou mentir dizendo que me apaixonei por ela. Contudo, Clair se tornou indispensável para mim. A cada dia sua presença se tornava mais importante, tanto que ela iria conhecer meus pais e meus irmãos. As Olimpíadas aconteceriam no Brasil, e eu a levaria comigo. Eu nunca mais soubera nada sobre a Elena. Pedira ao Luca que não me falasse nada e bloqueara todas as suas redes sociais. Foi difícil tomar essa decisão, porém ela foi necessária para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que eu mantivesse minha sanidade.

Nas competições de ciclismo de estrada, a modalidade em que eu competia era extremamente estratégica. Além da imensa força e resistência necessários, os ciclistas vencedores eram aqueles que sabiam dosar seu ritmo e posicionamento de forma perfeita ao longo da prova. Naquela edição dos Jogos do Rio 2016, o Brasil teria sua maior delegação na história, com 287 para-atletas – 185 homens e 102 mulheres – em 22 das 23 modalidades. A expectativa do Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB – seria ficar entre os cinco melhores colocados no quadro geral de medalhas, duas posições acima do que quatro anos antes. Desembarquei com a equipe no aeroporto do Galeão. Minha família e meu grande amigo Ari faziam festa no desembarque. Apesar de todos residirem em São Paulo, eles estavam hospedados no Rio de Janeiro e permaneceriam até o final das PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Paraolimpíadas. Todos portavam cartazes e balões. Meus amigos de treino estavam com a delegação americana, eles haviam chegado primeiro. Luca, Stella e Clair saíram logo depois de mim. Nossa família já conhecia Stella, mas Clair era novidade. Eu já havia falado dela, mas enfim eles a conheceriam pessoalmente. Clair estava linda! Vestia um vestido verde-escuro que fazia um contraste bonito com sua pele clara e seu cabelo castanho. Naquela noite minha família se juntou e deu um jantar para comemorar minha chegada em um restaurante na Barra da Tijuca. Clair estava nervosa, e eu sabia o motivo. Ela temia que Elena viesse. Confesso que eu também temia. Entretanto, ela não apareceu, e senti alívio por isso. Seus pais e irmão vieram, assim como meus avós. Todos estavam radiantes e orgulhosos. Vovô fez questão de descrever meus dotes de bom pescador. Pescar... Tudo me lembra dela... Minhas mães falavam com Clair com entusiasmo, e ela vez e outra olhava-me e sorria. O jantar acabou tarde. Levei Clair para o quarto em que ficaria hospedada. Ela arrumou suas coisas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e foi para o banho. Dormi com ela naquela noite; nas próximas, ficaria com a equipe. — Aproveite para conhecer o Rio enquanto eu estiver concentrado. Você irá amar as praias, mas se proteja, passe bloqueador, porque essa pele branquinha vai ficar toda vermelha. O sol daqui é forte, mesmo no inverno. — Pode deixar, que cuidarei da minha pele. Você é um lindo, sabia? — Você que é linda! Obrigado por ter vindo. — Beijei seus lábios. — Obrigada por me querer por perto. Na manhã seguinte precisei ir participar da reunião com a equipe brasileira de ciclismo. Muito dos caras eu já conhecia pelas competições. Depois participamos de um encontro com todos os atletas brasileiros de diferentes esportes. Fomos orientados quanto à permanência na Vila Olímpica e como seria nossa entrada na apresentação da abertura das Paraolimpíadas. Clair ficou com a minha família. Ela estava tranquila porque estava com Luca e Stella. Os Jogos Paralímpicos foram abertos com grande estilo no Maracanã. A cerimônia transmitiu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mensagens de respeito, união e diversidade. Mais de 4 mil atletas de 160 países participaram. Fomos aplaudidos de pé pelo público assim que a nossa delegação entrou. Foi uma sensação indescritível. Chovia muito, mas isso não tirou o brilho e a emoção do momento. Eu iria participar de duas modalidades: ciclismo de estrada e ciclismo de estrada contrarrelógio para 4 atletas H1 a H5 HandBike . As corridas de estrada eram eventos de corrida em um circuito em que todos partiam ao mesmo tempo, e o primeiro atleta a cruzar a linha de chegada após determinado número de voltas era o vencedor. Cada classe teria um percurso correspondente, com diferentes extensões Chegou o dia em que eu disputaria o ciclismo de estrada. Acordei cedo, tentei relaxar, fiz uma refeição leve e, junto à equipe, fui para o local da largada da prova. No vestiário, coloquei a minha roupa e fiz uma oração. Saí e encontrei minha equipe arrumando suas bikes. Fiz os testes para ver se estava tudo em ordem. Minha bike já havia passado pelos peritos e estava liberada para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS competir. Deslizei pela pista até a linha de largada. Na prova de estrada, meu desejo era fazer um dos melhores tempos que já tinha feito, estava empenhado nisso. Todos os competidores alinharam suas bikes. Respirei fundo e esperei soar a buzina da largada, quando comecei a pedalar forte, mas dosando para não quebrar. Alguns metros à frente, logo me desgarrei do pelotão e comecei a abrir distância dos outros atletas. Na primeira volta, um dos ciclistas chegou próximo, batendo em meu para-choque. Pensei que ele me passaria, então comecei a pedalar um pouco mais forte. Ele abriu para o lado e achei que seria ultrapassado, mas, com a consciência tranquila, continuei no meu ritmo e logo fui abrindo distância novamente, e o meu adversário foi ficando para trás. A cada quilometro, eu me distanciava mais, e a adrenalina corria em meu sangue. Olhava para o GPS e via a chegada se aproximar, porém o cansaço batia. Mesmo assim, lutava contra ele, e, na última volta, próximo à chegada, vi a bandeira xadrez que anunciava a minha vitória. Naquele momento caiu a ficha de que eu tinha vencido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Haviam sido tantos quilômetros, eu estava exausto, então parei de pedalar e abri os braços, comemorando. Vi quando minha equipe correu até mim. Todos gritavam. — Ouro! Cara, você é ouro! — Ouro? Eu ganhei mesmo?! Eu ganhei?! Fui retirado da bicicleta e carregado pelos caras. — Eu sabia que você iria conseguir! Você é um cara muito esforçado. — Meu treinador beijou meu rosto. Eu chorava e ria ao mesmo tempo. Procurava pela minha família, minha namorada, mas não os encontrava. Estava rodeado de pessoas, eram fotógrafos, repórteres, mas eu só queria abraçar meus pais. Fui levado até o lugar onde receberia a medalha. Meu treinador trouxe o agasalho da delegação brasileira e me ajudou a me ajeitar na cadeira. — Vai lá, garoto! Coloca aquele ouro no peito! — Ele é nosso, treinador! — declarei orgulhoso. Cheguei ao pódio e fui orientado, deslizei a cadeira para o centro e, ao meu lado, encontrei o britânico e o australiano, prata e bronze. Nós nos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS cumprimentamos, e o primeiro a receber a medalha foi o atleta australiano, colocando no peito sua medalha de bronze, depois o britânico, que recebeu a de prata, e eu por último, recebendo a de ouro. Meu nome foi pronunciado, e o público foi ao delírio. Foi impossível não me emocionar, especialmente quando o Hino Brasileiro foi tocado. Ao sair do pódio, alguns repórteres vieram em minha direção. — Arthur, fala com a gente. — Claro. — Parei a cadeira e dei atenção à primeira pergunta que recebi: — Como está se sentindo? — Poxa, cara! Estou vivendo um sonho, ainda não acredito ser real. Faz pouco tempo fiz 28 anos, e não poderia haver melhor presente que esse ouro. — Quanto custou esse sonho, Arthur? — outro repórter disparou. — Há uns dias, eu não saberia bem ao certo descrever esse sentimento, porém hoje consigo descrevê-lo. Um sonho está por trás das maiores barreiras, aquelas que as pessoas de fora talvez não enxerguem, por isso, muitos não acreditarão no seu sonho da mesma maneira que você acredita. O PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS preço que paguei para ver esse sonho se tornar real foi muito caro, sacrifiquei minhas manhãs treinando durante horas e, quando chovia ou quando não podia sair para treinar na rua, colocava minha HandBike no rolo e passava horas treinando. Eu sei que um atleta de verdade é aquele que, mesmo quando ninguém está olhando, trabalha duro, então sempre me esforcei. — Você sempre foi apontado por ser um atleta focado, mas já pensou alguma vez em desistir? — Já chorei no asfalto enquanto treinava, vendo o quão difícil era me tornar um atleta profissional e que mais difícil ainda seria vencer os atletas dos quais eu já fui plateia e aplaudi quando venciam. Passei muitos estresses durante a temporada de treino, alguns problemas roubavam minha concentração. Às vezes sentia vontade de largar tudo quando sentia dores no corpo a cada treino realizado, sentia fome, a água acabava e eu ficava com sede, a exaustão me abraçava e o corpo não tinha mais forças para continuar, mas, quando olhava para o GPS, ainda faltavam 20km de distância debaixo de um sol que fazia o corpo inteiro arder. Mas eu sabia que tudo isso fazia parte PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS de um longo processo de evolução. — Deixe um recado para os seus fãs. — Finalmente realizei meu sonho e hoje me consagrei o melhor atleta do ciclismo paralímpico H1. Essa sensação é única e mostra que todo o esforço valeu a pena, que qualquer sonho pode se tornar real, mesmo que pareça impossível. Eu deixo uma frase para todos os garotos e homens que um dia se encontrarem diante de uma situação difícil como a que vivi anos atrás: não desistam! Vivam para realizar seus sonhos! Após as entrevistas, encontrei meus familiares e Clair. Todos estavam felizes e me abraçavam. Passei meus olhos por todos. Eu procurava Elena. Sabia que não devia, mas a procurava, e ela não estava ali, pois eu a encontraria em meio a uma multidão. Meu coração doeu por Elena não estar ali comigo, mas agora ela tinha um marido, uma vida, e eu estava em seu passado. Em contrapartida, Clair me abraçou novamente, beijando minha boca e dizendo o quanto orgulhosa estava de mim. Não podia permanecer por muito tempo com eles, pois no dia seguinte competiria na outra categoria e precisava descansar e cuidar das dores PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS em meus braços. Após umas poucas horas, voltei para a Vila Olímpica. Quando se compete em várias categorias, o relaxamento só vem ao término da última competição. Eu não podia perder o foco. Fiz exercícios e compressas para aliviar as dores nos braços e descansei assistindo aos vídeos da corrida, observando junto à minha equipe falhas dos meus concorrentes e as que cometi durante o trajeto. Observei atentamente o desenvolvimento do australiano. Ele correria na manhã seguinte e seria um dos meus maiores concorrentes. Dormi cedo, porém não consegui ter um sono tranquilo. Elena não saía da minha cabeça. Onde ela estaria? Ainda morava em São Paulo? Até onde eu sabia, a construtora da família do Eduardo tinha sede em três capitais do país. Ela teria se mudado? Droga! Eu queria poder arrancá-la de dentro de mim, mas estava enraizada, parecia que sempre estivera ali. Procurei recordar de algum momento em que Elena não estivesse em minhas lembranças ou pensamentos, mas não encontrei.

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Outro dia, outra competição. Ajudei os meninos com a montagem da bike, testei-a e achei que as rodas estavam presas, por isso pedi que as deixassem mais soltas, testei os freios e a deixei alinhada. Naquela manhã estava me sentindo incomodado, inquieto. Recordei-me da péssima noite de sono e o motivo da minha insônia. Contudo, esses sentimentos tinham que ficar em segundo plano. Recebi orientações e palavras de otimismo da minha equipe, levei a bike até a faixa de largada e me concentrei durante os minutos que faltavam para o início da prova. Ouvia os gritos, assovios que vinham das arquibancadas próximas à zona de largada e tentei manter a calma. Meu nome surgia em meio aos gritos, e eu tentava manter o foco. O treinador aproximou-se e massageou meus braços. A primeira sirene tocou, e colocamos as bicicletas em seus lugares. Meu coração batia a mil por hora, mas eu estava muito concentrado e usaria minha estratégia, pegaria leve no começo e daria tudo de mim ao final. Assim fiz a partir do momento em que foi dada a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS largada. Deslizei os pneus pela pista plana, aproveitando a primeira descida que aparecia para ganhar velocidade e poupar esforços. Continuei com a mesma estratégia até completar 36 km. Depois disso, dei tudo de mim. Sentia o suor escorrer em meu rosto, o vento forte causado pela velocidade me acertar, e eu amava isso. Quando faltavam 20 km, aproximei-me do competidor australiano e de um japonês. Eu adorava desafios, e encontrá-los à minha frente fez com que me empenhasse mais e passasse os dois. Faltando 15 km quilômetros, emparelhei com o mexicano, que deu trabalho, mas pelo qual também consegui passar, e a 13 km, encostei no britânico, que mantinha o primeiro lugar. Dessa maneira, ele seria ouro. Minha prata estava garantida, mas eu queria a medalha dourada. Estava em meu país, e, a 10 km da linha de chegada, prestei atenção aos gritos e palavras de incentivo que os torcedores brasileiros me mandavam das laterais da pista. Foi exaustivo, doloroso, uma prova longa, porém consegui ficar roda a roda ao lado do britânico. Meu coração parecia que iria sair pela boca, meus braços PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estavam doloridos, visto que o cara era forte e conduzia sua bicicleta na mesma velocidade que eu. Na última curva acentuada do percurso, ao final dela, perdi o foco, atraído pelos longos cabelos loiros e o corpo pequeno que estava à beira da pista e que eu reconheceria em qualquer lugar. Era Elena, ela estava ali... Senti a pancada. Outro competidor acertou-me em cheio, e perdi o controle da bicicleta. Tentei segurar nos pedais, mas a bike girava de forma descontrolada, e só não fui arremessado por estar amarrado a ela. Minha sorte foi ter tido reflexo e deixado meus braços em forma de x sobre meu peito, tentando segurar ao máximo meu tronco no lugar. A bicicleta girou, girou, capotou, e foi nesse momento que senti o impacto na minha cabeça. Devo ter perdido os sentidos, porque acordei em meio a um monte de gente. Tudo estava confuso, e eu olhava para o asfalto. — Ei, moça! Moça? Não pode se aproximar, a equipe de socorro já vem. — Sou médica, e o atleta é meu primo. A voz dela... o cheiro... Na posição em que eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS estava, ela não conseguiria me ver, pois meu corpo estava virado para baixo. Eu só via o asfalto e a lateral da sua perna. — Arthur? Arthur? — Ela segurou em meu braço, e senti que tremia. Elena deitou seu corpo no asfalto e, nesse instante, vi seu rosto. — Calma, a ajuda já está chegando e vai te tirar daí. — Eu estou bem, não se preocupe. — Não me preocupar?! É claro que me preocupo! Você está sangrando! De onde está vindo esse sangue? Cadê a ambulância? Pelo amor de Deus, cadê a porra da ambulância?! — ela gritava para os técnicos de pista. — Lembra que você é uma médica? Está estressada demais. — Você é da minha família! Sabe que as coisas não funcionam da mesma forma quando têm sentimentos entre médico e paciente. O barulho das sirenes chamou a atenção de Elena, que se levantou. — Graças a Deus! — ela agradeceu. Minha bicicleta foi virada, e fui retirado dela PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS com toda cautela e segurança. Fui colocado na prancha, tive meu pescoço imobilizado pelo colar cervical e recebi o primeiro atendimento. Colocaram-me dentro da ambulância. Nós estávamos a 10 km da chegada, toda minha família me aguardava lá. Era claro que eles deviam saber do acidente, mas não teriam como chegar até ali em pouco tempo. — Eu vou acompanhá-lo, sou médica e prima dele — Elena se identificou ao socorrista. Ela entrou e se sentou ao lado da minha cabeceira. As portas foram fechadas, e a sirene, ligada. — Entre tantos esportes, por que foi escolher esse? Você é louco? Estava a uma velocidade enorme em uma curva! Já não basta o que aconteceu? Você quer se quebrar inteiro? — Oi, Elena! Tudo bem com você? Porque comigo estava tudo ótimo até eu te ver parada como um fantasma na porra da curva. — Eu estava aqui perto e resolvi parar para ver a corrida... — Ah... conta outra! Quer dizer que você fazia PERIGOSAS ACHERON

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compras no shopping Iguatemi e, de uma hora para outra, estava aqui na estrada de Grumari? — Não, seu idiota! Agora moro aqui no Rio e, para sua informação, muito perto daqui. — Carioca agora? Acompanhando o marido? — O caralho da sua aliança gritava na minha cara quando ela gesticulava as mãos. Sentia um ciúme terrível! — Sim. Esposas acompanham os seus maridos. — Está tentando me atingir com esse papinho de “esposas acompanham os maridos”? — debochei. — Você é atingível? Porque achei que pouco se importasse comigo. — Elena... deixa pra lá. Preferi me calar; não era hora nem local para discutirmos.

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OITO MESES DE casada. Minha vida nesse período havia mudado muito. Já não morava mais em São Paulo; Eduardo precisava ir muito à sede da empresa, no Rio de Janeiro, e, depois de ele passar algum tempo na ponte aérea, decidimos que o melhor seria a mudança definitiva para o Rio. Os negócios da empresa da família do Edu cresciam. O que não crescia era nosso entrosamento. Os primeiros quatro meses foram bons em relação aos demais, nem sei o que dizer, pois praticamente não ficávamos juntos. Eu dava plantões de 12 horas em dois hospitais, duas vezes na semana. Sentia-me solitária no Rio, sentia falta da minha família, do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS meu consultório, que mal usara. Cheguei do trabalho, deixei minha bolsa no sofá e fui para o meu quarto. O apartamento estava limpo e organizado. Odete, minha secretária do lar, deixava a casa limpinha e a comida preparada todos os dias. Caminhei pelo quarto, retirei as sapatilhas e a roupa e tomei um banho demorado. Vesti uma camisola e um hobby e fui para a sala, onde abri a porta da sacada. Morávamos em um andar alto, em frente à praia, e a vista era linda. Fiquei por ali algum tempo e depois fui até a cozinha para esquentar meu jantar. Mais uma vez jantaria sozinha. Sentia-me triste e angustiada. Terminei o jantar e fui para a sala. Estava sem sono e fiquei zapeando pelos canais de TV. Parei ao ver uma foto do Arthur no noticiário, com a legenda: Atleta paraplégico é esperança de medalha nas Paraolimpíadas do Rio de Janeiro. Ouvi atentamente a reportagem e assisti a trechos de corridas dele. Fiquei paralisada ao ver a sua entrevista. Ele estava lindo! A voz... aquela voz... Senti um aperto grande no peito. Por que me afastou de você?, pensei. Tanto tempo havia passado, e ele ainda estava ali dentro. Só em ver o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS vídeo pela tevê, eu sentia a dor da distância e a saudade, que demorara muito para administrar. Ainda guardava o amargor da sua rejeição. Tinha esperado tanto que um dia ele voltasse atrás em sua decisão, porém esse dia não chegara, ele me arrancara da sua vida. Escutei a fechadura da porta ser aberta e corri a limpar meu rosto, que estava molhado de lágrimas. Eduardo passou por ela e trazia sua pasta com notebook e a parte de cima do terno dobrada em seu braço. Ele já estava sem gravata, e sua camisa tinha os primeiros botões abertos. — Nossa, que calor terrível! Preciso de um banho. Tudo bem com você? — entrou falando sem olhar para mim. — Tudo bem — respondi, e ele veio até mim e beijou minha testa. — Vou tomar um banho — comentou, saindo da sala. — Eu esquento o seu jantar — avisei, levantando-me — Não precisa, jantei no escritório. — Podia ter avisado. Ainda bem que já jantei, porque, se estivesse esperado por você, jantaria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sozinha de qualquer forma e ainda por cima tarde — lamentei. — Eu esqueci, Elena. — Você anda esquecendo muitas coisas, Edu. — De novo com essa conversa? — Não é possível que para você as coisas entre nós estejam bem. — Elena, eu sei que tenho trabalhado muito, mas preciso estar à frente da empresa. Tenho muito trabalho, muitas coisas para resolver, carrego a vida de mais de mil famílias nas costas. Você tem ideia do que seja isso? — Pois você carrega a vida de mil famílias nas costas, mas não carrega a da sua família, e, quando digo família, estou falando de nós, da nossa casa, do nosso casamento. Estou me sentindo só. Me mudei para o Rio por você, para que as coisas ficassem mais fáceis para nós, e agora me vejo aqui, sozinha, e você continua dedicando seu tempo integral à empresa. — Elena, não me cobre. — Ele passou as mãos pelos cabelos. — Não cobrar? Nós não temos nem um ano de casados. Eu queria ter meu marido por perto, que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fizéssemos programas que casais recém-casados fazem. Era para nós estarmos em lua de mel ainda, mas não... Sinto como se eu apenas dividisse apartamento com alguém. — Tente entender. Estamos passando por um momento em que a empresa precisa de mim. Eu preciso estar lá. — Mas precisa estar com a sua esposa também. Curtir a nossa casa. Irmos à praia. Você vem trabalhando aos finais de semana há quase um mês. — Não foram tantos fins de semana assim. Quem ouve você falar, parece que faço de propósito. — Já está no automático, você nem nota — concluí triste. — Você quer que eu vá à praia? Tudo bem! Nós vamos no próximo final de semana. — Você não entende. Eu quero mais... — Mais o quê? Comecei a chorar e o abracei, porque o que eu queria nunca estaria ali. Eu sabia que ele me amava, mas eu procurava algo que nem sabia explicar com palavras. Esse estado produzia um vazio imenso, um sentimento que me consternava, adoecia-me. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Desculpa — pedi. — Eu vou mudar minha agenda, vou procurar estar mais em casa. — Senti-o beijar a minha cabeça. Saí dos seus braços e depositei um selinho em seus lábios. — Obrigada. No próximo final de semana, como prometido, Eduardo acompanhou-me até a praia, porém, na semana seguinte, tudo voltou ao que era. E, para piorar, ele ainda tinha uma viagem. Quando namorávamos, ele trabalhava bastante e as viagens sempre aconteciam, mas ele fazia de tudo para voltar cedo. No entanto, eu já não notava tal esforço. Antes, o tempo que tínhamos para ficar juntos era proveitoso, e ele era mais dedicado à nossa relação. Notei que, depois do casamento, ele relaxou. Eu sentia que o casamento lhe trouxera segurança, que, por estarmos casados, ele sentia que não precisava se esforçar tanto em nome da nossa relação. Eu acreditava que, para um casamento permanecer de pé, devíamos ser observadores, estar atentos um ao outro, ser companheiros e amigos... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Amigos, parecíamos que éramos apenas isso. Talvez Arthur estivesse certo, eu cometera um grande erro casando-me sem amor. Entretanto, acreditara que conseguiria amar o Edu. Ele era uma pessoa tão bacana... Contudo, não consegui. Sequei a lágrima que escorreu por meu rosto. Queria tanto ser feliz, ser completamente feliz. Eu era realizada profissionalmente, tinha pais maravilhosos, irmãos perfeitos, porém não amava quem deveria amar e, por um tempo, achara que conseguiria levar isso adiante, que meus sentimentos poderiam ser modificados durante nossa convivência, mas não acontecera. A imagem do Arthur veio à minha mente de novo, e chorei. Estava sozinha mais uma vez, deitada no sofá e sem nenhuma vontade de ir para a cama. Naquela noite Eduardo não voltaria para casa, estava em Curitiba, e só me restava aquele apartamento enorme e meus pensamentos, que teimavam em ir até ele. Por que você me deixou? Por que não permitiu que eu ficasse com você? Eu te amava tanto... Você não permitiu nem que eu me aproximasse... Descartou-me e foi embora... Acordei enrolada no cobertor e deitada no sofá. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Havia passado a noite praticamente em claro, tendo dormido tarde da madrugada. Meu celular chamava, e o peguei da mesinha da sala. Era o nome do Henry na tela. — Henry, aconteceu algo com a Júlia, com o bebê? — Estava aflita com sua ligação. — Eu sou pai, Elena! Minha pequena Charlote nasceu! — Como assim? Não era para daqui um mês? — Sim! Mas ontem a Júlia começou a ter dores e a bolsa rompeu. Foi tudo muito rápido. Mas elas estão bem, e minha filha é a coisinha mais linda que já vi. — Eu quero ver! Me mande fotos! E minha irmã? — indaguei preocupada. Só em imaginar minha maninha tendo um bebê me deu frio na barriga. Júlia era tão delicada, lembrava tanto a mamãe. — Eu estou tão orgulhoso dela, Elena. A Júlia foi tão corajosa. Se eu já a amava, hoje amo muito mais. Vê-la trazer minha filha ao mundo me mostrou o quanto sou sortudo por ela ter colado os olhos em mim. — Vocês são sortudos, Henry. O amor de vocês PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS é lindo, e a Charlote é a prova disso. — Ela é a maior prova de tudo o que sentimos, Elena — sua voz estava embargada. — A Júlia está descansando agora, mas ela irá te ligar, e já avisei aos seus pais. Eles irão embarcar no próximo voo. — Queria muito estar com vocês, mas estou com os plantões. Vou me organizar a fim de ir aí para conhecer a minha bonequinha. — Vamos esperar vocês. Ele desligou, e as fotos começaram a chegar, uma com a minha irmã deitada com cara de dor, outra do Henry ao seu lado com olhar assustado, uma linda da bebê toda sujinha no peito da minha irmã e o Henry beijando sua testa, e a última da Charlote já vestidinha com um macacãozinho que eu lhe dera. Que emoção! Eles eram lindos! Minha bonequinha era perfeita! Que benção ver a família que a Júlia formara. O amor deles era visível. E era aquilo que eu queria para mim e tinha achado que teria com o Edu. Eduardo voltou de viagem naquela noite. Eu o aguardava para o jantar, já que ele me avisara o horário de chegada do voo. Escutei a porta ser aberta e fui até ele. Edu trazia uma sacolinha da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Tiffany. — Oi! — Oi, tudo bem por aqui? — Ele beijou minha testa. —Trouxe para você. — Obrigada! Deixou a mala próximo ao corredor dos quartos e foi abrindo a camisa. — Estou com fome. O que tem para jantar? — Carne assada com batatas e salada. Abri a sacolinha e retirei a caixinha de veludo. Dentro dela tinha uma pulseira linda. — Obrigada, Edu. É linda! — De nada. Eu achei essa pulseira delicada assim como você. Dei-lhe um selinho como agradecimento. O alarme do timer do forno apitou, e fui retirar a carne. Arrumava a mesa enquanto Eduardo estava no banho e escutei o celular dele deixado em cima do aparador sinalizar a chegada de uma mensagem bem quando eu seguia com as taças na mão para deixá-las sobre a mesa. Acabei lendo sem querer a mensagem que aparecia no visor. >Já cheguei. Estou bem, não se preocupe. PERIGOSAS ACHERON

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A leitura foi rápida, já que a tela se apagou. Quem seria? Não me atentei a ver quem mandara. Fiquei andando pela cozinha e pensando em quem precisaria avisar a ele que já havia chegado. Edu apareceu vestido somente com sua calça de pijama. Seus cabelos estavam molhados, e a sua barba por fazer o deixava ainda mais bonito. Eu o fitava enquanto ele circulava pela nossa cozinha e imaginava se estaria tendo um caso, se estaria me traindo. Pensei em perguntar, mas preferi ficar calada. Enquanto jantávamos, eu continuava pensativa sobre o remetente da mensagem, e ele perguntou o que eu tinha. — Não tenho nada, Edu. Só fiquei triste, porque tinha me programado para estar com a Júlia no nascimento da Charlote, mas a danadinha se adiantou e nasceu nessa madrugada. — Já nasceu?! — Nasceu, e é tão linda! Peguei meu celular e lhe mostrei as fotos. — Eles são lindos juntos — comentei olhando uma das imagens. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — É, a bebê é muito linda! — Ele sorriu e se levantou, retirando os pratos da mesa e os levando até a pia. — Pode deixar que cuido da louça. — Então vou tomar banho. Fui para o meu quarto e entrei no banheiro. Tomei banho, enrolei-me na toalha, voltei para o quarto e vesti uma camisola de seda e renda preta e uma calcinha bem pequena. Passei perfume e escovei meus cabelos. Edu tinha ficado por três dias fora, era claro que iríamos transar. Seria o normal entre um casal, porém não aconteceu. Eduardo entrou no quarto, e eu estava terminando de passar hidratante nas pernas. Ele retirou as almofadas da cama, puxou o edredom e se deitou, colocando os braços atrás da cabeça. De onde eu estava, reparei que fechou os olhos, parecia pensativo. Terminei de passar o hidratante e apaguei a luz, deixando somente a do abajur ao lado da minha cama acesa. Ajeitei meu travesseiro e me deitei ao seu lado, levei minha cabeça ao seu peito, e minha mão descansou em sua barriga. Beijei seu rosto, mas ele continuou imóvel. Deslizei a mão por sua barriga, expondo a ele o que desejava. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Desculpa, Elena, mas estou muito cansado e preciso dormir. Amanhã tenho uma reunião às 7h30. Fiquei tão surpresa com sua resposta que nem contestei. — Tudo bem, Edu. Ele se deitou de lado e me puxou para dormir em seus braços. Acordei às 5h30 e estava de plantão naquele dia. Eduardo acordou logo depois, e me despedi dele. Fui para o hospital e, ao chegar lá, deparei-me com a UTI lotada. Recebi o plantão do meu colega, que passara a noite, e fui para os leitos examinar aquela turminha. Do mesmo modo que meu pai e meu padrinho, o tio Leo, tornei-me pediatra, porém minha especialização era em UTI infantil e neonatal. Atuava naquele hospital na ala pediátrica, e, no outro, na neo. Eu tinha paixão por bebês e crianças, e saber que os recebia por vezes em estados críticos e depois os via ir embora para o setor de pediatria curados e estáveis me fazia amar ainda mais minha profissão. Terminei de examiná-los e fiz as mudanças necessárias em algumas medicações. Pedi apoio da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fisioterapia para um bebê que provavelmente morreria até o final do plantão se continuasse a manter aqueles padrões respiratórios. Eu precisaria entubá-lo. Dei alta a dois e informei à equipe de enfermagem que preparasse o leito, porque iria subir uma criança vinda do PS que tinha se afogado. Passei-lhes a idade e o peso para que a equipe deixasse tudo à mão se eu precisasse agir rápido. Mal terminava de voltar para a minha sala quando Márcia, a enfermeira-chefe, avisou-me que o garoto do afogamento estava subindo. Aguardei com a equipe de enfermagem na porta da UTI e avistei a equipe do resgate trazendo a criança pelo corredor. Notei ao longe que ela estava recebendo manobras de ventilação pelo ambu. A maca passou pela porta e foi em direção ao leito. Uma das meninas da enfermagem segurou os pais à porta e pediu que aguardassem. Meu foco no início seria a criança; depois que a estabilizasse, conversaria com os pais. Ao passarem a criança para o berço, aproximeime e comecei a auscultá-lo. As técnicas da enfermagem a monitoravam. Olhei os parâmetros PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS na tela de monitoramento e vi que as coisas não iam nada bem. Ele estava em hipóxia, sua saturação estava a 75%. — Testem esse acesso e, se for preciso, já peguem logo outro. Vou precisar medicar. Esse tubo não está locado, vou retirá-lo e entubar de novo. Agradeci pela equipe que tinha comigo, porque, com muita agilidade, tudo estava à minha mão. 6 Extubei o pequeno garoto e o entubei com uma cânula nova e no tamanho certo para a sua idade. O acesso em seu braço estava perdido, e as meninas conseguiram um muito fraquinho para o volume de medicação que eu iria precisar infundir. Esperei sua parte respiratória estabilizar, fiz as medicações de urgência naquele acesso mesmo e pedi que preparassem o material para eu passar um cateter central. Paramentei-me com avental, luvas, máscara e óculos estéreis, fiz uma dose de sedação e comecei o procedimento. Passei o cateter, as medicações começaram a correr, e ele se estabilizou. Pedi uma ressonância e exames laboratoriais. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Só então saí para conversar com os pais, e fui pega de surpresa ao ver que o pai do bebê era um cadeirante. Ele chorava de forma tão dolorosa agarrado à sua mulher que tive que ser muito forte para não chorar também, porque muitos sentimentos cercaram-me naquele momento. — Com licença. Eles se soltaram e me olharam. — Eu sou a Dra. Elena... — Doutora, pelo amor de Deus, diz que meu filho vai ficar bem! — o pai me pedia angustiado. — Pai, o senhor precisa se acalmar. O João chegou aqui muito mal, mas agora ele está estável. Consegui controlar os padrões respiratórios, que era o que mais me preocupava quando ele chegou. Mas preciso saber como foi, o que aconteceu. — Nós temos uma piscina em nossa casa, que mandamos fazer para ajudar nas fisioterapias do Edgar assim que ele se acidentou. Ainda não tínhamos filhos quando aconteceu, e a fizemos bem próxima à porta da sala. Depois que o João nasceu, mandamos colocar a lona de segurança, mas vivemos atentos. Ele tem dois aninhos e é muito ativo, mas hoje, em um descuido, ao olhar para o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sofá onde eu o tinha deixado tomando a mamadeira enquanto auxiliava o Edgar no lavabo, que fica bem ao lado, não o encontrei e vi a mamadeira inacabada. Chamei por ele e não tive resposta e, ao sair, encontrei a lona aberta. Doutora, eu vivi momentos de pavor ao imaginar que meu bebê estava na água. Eu paralisei, não queria ver, mas o Edgar passou por mim, jogou seu corpo na água e o retirou de lá. Ouvir os relatos dos pais diante de um acidente com seus filhos sempre era péssimo, porém, necessário para descrever no prontuário médico. Pedi mais algumas informações e tentei acalmá-los. — Pedi uma ressonância e um eletroencefalograma. Ele permaneceu por muito tempo desacordado, precisamos ver a atividade cerebral. Tenho de descartar possíveis lesões. — Doutora, pelo amor de Deus, salva o meu filho. Foi uma luta tão grande para que pudéssemos tê-lo. Foram anos de tratamento, ele será nosso único filho. — Vocês precisam ficar calmos. O João precisa sentir a força de vocês. Como já disse, ele está estável. Eu retirei o tubo que ele usava quando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chegou, passei outro, e agora ele respira melhor. Passei um cateter venoso central para ele receber as medições e não precisar ficar sendo furado para puncionar uma veia. Se eu precisar fazer alguma medicação na emergência, estarei segura de que ele terá acesso para isso. Liberei a entrada dos pais, e foi comovente ver o pai deitar a cabeça no berço e chorar e a esposa o consolar. A cena me tocou, porque me lembrei dele, do Arthur. Olhava o casal tão unido; a deficiência parecia não interferir em nada entre eles. Trabalhei muito naquele dia. O que eu previa aconteceu, e precisei entubar o outro bebê, que teve uma piora muito grande. Cheguei a casa exausta. Hidratava meu corpo após o banho quando notei a mala que o Eduardo havia trazido da viagem e decidi desfazê-la. Comecei a retirar as peças; não tinha muita coisa, ele só passara três dias fora. Tirei as camisas e passei a colocá-las no cesto de roupas sujas, porém algo chamou a minha atenção, uma mancha de batom perto do colarinho. Segurei aquela peça e fiquei olhando para ela tentando entender, tentando PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS buscar justificativas para que aquela mancha estivesse ali. Ele estava me traindo. Olhei para a porta e encontrei o Edu parado. — Eu ia cuidar disso, Elena. Não precisava se preocupar em desfazer a minha mala. — Você quer dizer que queria cuidar disso aqui? — Mostrei a mancha a ele. — Elena, não é nada do que você está pensando. — E o que estou pensando? — Isso aconteceu quando cumprimentei uma cliente, e alguém esbarrou em nós. — Ah... entendi. — Você não vai ficar pensando coisas, não é? — Não estou pensando em nada, Edu. — Olha, se eu devesse, por que traria isso para casa? Eu teria deixado a camisa no hotel. — Edu, está tudo bem, não precisa se justificar tanto. Ele me analisava, e eu continuei a colocar as roupas no cesto. Eduardo retirou seu terno e o guardou, ficando só de cueca. Ele era tão bonito, tinha todos os atrativos para conquistar uma mulher. Era para estarmos conectados, apaixonados, mas isso não acontecia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Eu notava sua paixão por mim e me cobrava duramente para retribuir esse sentimento. Contudo, nunca conseguia corresponder. Por isso, ao notar seu distanciamento, não me sentia à vontade para cobrá-lo. Eu estava muito confusa. Acreditara que a companhia me bastaria, que a transa boa seria o suficiente, que aos poucos conseguiríamos criar algo, apostara nisso. Entretanto, sentia-me seca, desmotivada e triste. E notei que o Edu parecia sentir o mesmo, visto que não me convidou para entrar no banho com ele. Jantávamos quando, do nada, ele abordou um assunto: — Seu primo vai participar das Paraolimpíadas. — Acho que sim, mamãe comentou algo — fui apática ao responder; não queria dar continuidade ao assunto. — Incrível como ele deu a volta por cima. O cara está fazendo nome no esporte que pratica. Pelo que vi, parece ter se dado bem, já teve até reportagem dele em um programa de esporte, além do ouro no Pan. — Parece que está se dando bem por lá — limitei-me a comentar isso. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Acho que ele está se dando bem em outras áreas também, parece que arrumou uma garota e que ela virá com ele para conhecer a família. Assim seu avô comentou com meu pai. — É mesmo?! Não estava sabendo disso... — não consegui disfarçar minha surpresa. Ele estava namorando? Namorando?! Meu telefone começou a tocar, e era a minha irmã. Nós nos falamos pelo face time, e pude ver minha bonequinha. Mamãe e papai estavam com a Júlia, e Enzo, meu irmão caçula, estava com eles, aproveitando as férias da faculdade. Em breve a família ganharia mais um médico. Enzo iria se especializar em cirurgia plástica. Quando terminei a longa ligação com minha irmã, Eduardo assistia a um jogo do Corinthians contra o Flamengo. Sabendo que ele amava futebol, avisei-lhe que eu iria dormir. Entrei no quarto, liguei o ar-condicionado e fui para baixo do edredom. Bastou que minha cabeça se acomodasse ao travesseiro para Arthur vir à minha mente. Ele estava namorando... Quem seria ela? Como tinham se conhecido? O Arthur estava tão bonito e, depois de se tornar um atleta famoso, devia estar sendo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS assediado pelas mulheres. Eu estava morrendo de ciúmes.

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DOIS MESES DEPOIS, praticamente toda minha família estava no Rio de Janeiro. A cidade ficou parada devido às Olimpíadas e continuava para as Paraolimpíadas. Almocei com todos assim que chegaram e avisei que estaria de plantão durante toda a semana. Meu comunicado gerou comentários, já que meu “amado” primo estaria de volta depois de tanto tempo, e, justamente nesse momento, eu estaria presa a vários plantões. Contudo, expliquei que tivera de trocar os plantões porque queria algumas semanas de folga para ir conhecer a minha sobrinha. A outra parte, que preferia estar cheia de trabalho durante aqueles dias PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para que tudo acabasse logo, preferi omitir. Edu estava viajando e, daquela vez, fora do país. Ele e o pai estavam no Chile. Havia aparecido um negócio bom para a construtora lá. Nós continuávamos na mesma. Pedi para a mamãe, o papai e o Enzo que se hospedassem em minha casa, mas eles preferiram ficar com o restante da família no hotel. Mamãe ligou avisando sobre o jantar de boasvindas para o Arthur, mas inventei que estaria de plantão naquela noite. Eu não queria vê-lo e, muito menos, a tal namorada, que era a novidade do momento na família. Fiquei remoendo meus sentimentos durante aquela noite, imaginando-o a apresentando a todos como sua namorada. Eu desejava que aquilo acabasse, que ele logo retornasse a sua nova vida, a vida que ele escolhera recomeçar bem longe dali, a vida que ele escolhera e da qual me excluíra, sem pensar em como me destruiria com a sua decisão. Logo as fotos do jantar começaram a ser publicadas nas redes sociais dos meus primos, e não demorou muito para que eu a visse. Ela era bonita, estava sentada ao lado dele e sorria para a foto. Como doeu vê-lo com outra mulher... Eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sabia que o dia chegaria, sabia que em algum momento ele iria refazer sua vida por completo. Contudo, acreditara que me sentiria indiferente, que já estaria apaixonada pelo Eduardo e que Arthur seria uma lembrança no meu passado. No entanto, não, ele não havia ficado no meu passado, permanecia em meu presente, atormentando-me, gravado em mim como uma tatuagem, como algo de que nunca mais eu conseguiria me desfazer. 28 anos, e eu me sentia velha. Pedira tanto para que Deus o tirasse de dentro de mim, que me livrasse desse amor que me machucava tanto... Eu queria a alegria de um amor novo, de algo tranquilo, correspondido e que trouxesse calmaria para a minha vida. No dia da primeira prova em que Arthur competiria, eu estava em casa e resolvi assistir. Não conseguiria não vibrar ao vê-lo competir. Sentia-me aflita, o percurso era longo e com trechos perigosos que, em alta velocidade, poderiam proporcionar acidentes fatais. Quando a prova iniciou, eu assisti a ela até o final, vibrei por cada competidor alcançado por Arthur, gritei nos momentos finais, em que era notável seu desgaste físico. Contudo, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ele foi até o fim e ganhou a medalha de ouro. Eu sabia! Ele ganharia, Arthur sempre fora esforçado e, quando se dedicava a alguma coisa, tornava-se o melhor naquilo. Ele nunca aceitaria ser menos diante dos desafios que a vida e que ele próprio traçavam para si. Choveram fotos e vídeos postados pela minha família. Os canais de esporte ficavam reprisando sua performance na pista. Eles o apelidaram como “o destemido”. Apesar de tudo, eu estava orgulhosa dele. No dia seguinte eu sabia que ele disputaria uma prova em outra categoria e resolvi assistir ao vivo. Coloquei uma calça legging, regata, tênis, deixei meu carro parado em uma rua próxima ao evento e segui o restante do trajeto a pé. Não estava muito longe da minha casa, por isso conhecia bem o percurso que ele faria. Eu não queria estar nem na largada, nem na chegada, temia encontrar minha família – para todos, eu estava de plantão. Parei em um determinado ponto da estrada e fiquei ao lado de outros torcedores, que vestiam camisetas do Brasil e estavam muito animados. Peguei meu celular e, por um aplicativo, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS consegui ver o trajeto que os competidores daquela prova faziam. Sentia-me apreensiva diante da chegada de alguns deles ao ponto em que eu estava e aguardava ansiosa por vê-lo passar. Notei a torcida se agitar e o avistei. Os torcedores começaram a gritar seu nome, falando palavras de incentivo, e a sua bicicleta surgiu lado a lado com a de outro competidor em uma velocidade que me preocupou. Ao passar com sua bicicleta por mim, ao final da curva, Arthur foi atingido pelo outro competidor. O choque foi tão potente que sua bicicleta rodopiou duas vezes e capotou, parando de cabeça para baixo. Desesperei-me e saí correndo pela lateral da pista, aproximando-me da bicicleta. — Ei, moça! Moça? Não pode se aproximar, a equipe de socorro já vem. — Sou médica, e o atleta é meu primo — respondi nervosa. — Arthur? Arthur? — Precisava ver se ele estava consciente. Deitei meu corpo no asfalto para poder ver seu rosto, e, para a minha paz de espírito, ele mantinha os olhos abertos, apesar de parecer assustado. — Calma, a ajuda já está chegando e vai te tirar daí — tentei tranquilizá-lo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu estou bem, não se preocupe. — Não me preocupar?! É claro que me preocupo! Você está sangrando! De onde está vindo esse sangue? Cadê a ambulância? Pelo amor de Deus, cadê a porra da ambulância?! — Notei que escorria sangue em seu rosto e fiquei apavorada. — Lembra que você é uma médica? Está estressada demais. E eu estava mesmo, ainda mais por ser ele ali. — Você é da minha família! Sabe que as coisas não funcionam da mesma forma quando têm sentimentos entre médico e paciente. A ambulância chegou e eu agradeci a Deus. Levantei-me para passar as primeiras informações para o paramédico. Os fiscais de pista permaneciam por perto, cercando a bicicleta para que outros ciclistas passassem com segurança pela pista. A bicicleta foi virada, ele foi retirado com toda a técnica e colocado na maca. — Eu vou acompanhá-lo, sou médica e prima dele — identifiquei-me à equipe de socorristas e já fui entrando na ambulância. — Entre tantos esportes, por que foi escolher esse? Você é louco? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Estava a uma velocidade enorme em uma curva! Já não basta o que aconteceu? Você quer se quebrar inteiro? — Eu estava muito nervosa. Ele me fitava sério; seu olhar me incriminava. — Oi, Elena! Tudo bem com você? Porque comigo estava tudo ótimo até eu te ver parada como um fantasma na porra da curva. Ele estava me culpando? — Eu estava aqui perto e resolvi parar para ver a corrida... — Ah... conta outra! Quer dizer que você fazia compras no shopping Iguatemi e, de uma hora para outra, estava aqui na estrada de Grumari? Ele devia estar ótimo, porque seu péssimo humor estava presente. — Não, seu idiota! Agora moro aqui no Rio e, para sua informação, muito perto daqui. — Carioca agora? Acompanhando o marido? — Irônico, ele estava sendo irônico comigo. E você não trouxe a namoradinha a tiracolo, seu babaca? — Sim. Esposas acompanham os seus maridos. — Está tentando me atingir com esse papinho de “esposas acompanham os maridos”? — Você é atingível? Porque achei que pouco se PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS importasse comigo. — Elena... deixa pra lá. Ficamos em silêncio até a chegada ao hospital, que, por sorte, era um dos hospitais em que eu trabalhava. Arthur deu entrada na emergência, e eu o acompanhei. Não demorou muito para que seu pai entrasse pela sala onde estávamos. Tio Marcelo estava com o olhar preocupado. — Filho, como você está? — Estou bem, pai. — Oi, Elena, como você soube? — Eu estava por perto, tio. — Perto demais — ouvi Arthur resmungar. — Suas mães e sua namorada estão desesperadas. — Vai lá avisar a elas que estou bem, pai. — Vou conversar com o médico que te atendeu. Você poderia ir falar com elas, Elena? — Eu?! — fui pega de surpresa. — Não, pai. Eu quero conversar com a Elena. Avise o senhor, por favor. — Ok. Então vou falar com o médico e depois irei até elas. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Tio Marcelo saiu e nos deixou a sós. Ficamos em silêncio. Tantas coisas precisavam ser ditas, eu tinha ensaiado tanto, porém, não sabia o que dizer. Tanto tempo havia passado, as feridas, cicatrizado. Eu queria retirar as cascas? Gostaria de ouvir o que ele tinha a falar? Só desejava deitar meu rosto em seu peito e ouvir que tudo ficaria bem. — E aqui estamos nós... Como você está, Elena? — Seu semblante era sério, e seus olhos estavam atentos a mim. — Estou bem — respondi seca. — Soube que se tornou intensivista. — Sim. Pediátrica e neo. Atuo nas duas áreas. — Você sempre gostou de crianças, deve ser muito boa no que faz. — Modéstia à parte, sou boa, sim, já que amo o que faço. — E como anda sua vida de casada? Fui pega de surpresa com essa pergunta. — Normal — foi a primeira resposta que veio à minha mente. — Normal? — Suas sobrancelhas estreitaram-se, e me senti avaliada. — Menos de um ano de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS casada, e você responde que seu casamento está... normal. — Não quero falar do meu casamento com você. — Você nunca quis falar sobre o Eduardo comigo. Eu sempre notei o interesse dele por você, isso vinha desde a nossa adolescência, soube das investidas, das abordagens, mas você nunca falou dele para mim. O que eu não esperava era que você lhe correspondesse, que desse abertura a ele. — Eu não correspondia, Arthur. Seja lá o que tenham falado a você, ou o que sua mente tenha produzido, eu nunca, antes e pelo pouco tempo em que ficamos juntos, correspondi a ele... — Tanto não correspondia que hoje é mulher dele — ele me cortou, debochado. — Você me deixou! Com que direito acha que pode chegar e fazer cobranças? Você não atendia as minhas ligações, proibiu que eu fosse atrás de você, limitou todas as formas que eu pudesse ter para chegar até você. Tem ideia de como fiquei? Levei dois anos para seguir em frente! E, quando resolvi dar uma chance para mim, ele estava lá. — Eu fiz a melhor escolha... — ele repetiu pela milésima vez. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — A melhor escolha para você, você quer dizer. — A melhor escolha para nós. Acredite, foi o melhor a se fazer naquele momento. — O melhor? Sério? Devíamos ter passado por tudo juntos, enfrentando as dificuldades uma a uma. Eu estaria ao seu lado... Você estragou tudo. — Você não tem noção do que foi para mim tomar aquela decisão. Eu tinha 20 anos quando sofri o acidente! E, de uma hora para outra, minha vida virou de cabeça para baixo, eu perdi tudo, tudo foi retirado de mim de uma só vez. Tem noção do que foram aqueles dez meses pós-cirurgia aqui no Brasil? E eu não sabia o que seria de mim... Não soube lidar com tudo aquilo. — Não tenho dó de você por isso, pois você fez o mesmo comigo. Você tirou de mim o que me era mais sagrado, tratou tudo o que eu sentia como nada. Desprezou minha presença, meus sentimentos, meus pedidos... Eu implorei! Eu implorei... por você. Sentia raiva, mágoa, e minhas lágrimas, até pouco represadas em meus olhos, começaram a escorrer em meu rosto. — Você tem ideia do que senti ao chegar à sua PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS casa e não te encontrar? Ao abrir o guarda-roupa, e não existir mais nenhuma peça de roupa sua lá? Ao descobrir que você tinha ido embora sem nem se despedir? Eu carreguei por muito tempo a esperança de que voltaria, mas você nunca voltou. — E você acha que foi fácil para mim? Eu fui embora daquela forma porque, de outra maneira, não conseguiria. Eu te amava! Se eu olhasse para você, teria desistido... Elena, eu precisei ir. Eu estava muito confuso, inseguro e com medo. — Eu também estava! Mas eu enfrentaria todos os meus medos e inseguranças. — Talvez você seja mais corajosa do que eu. Seus olhos estavam marejados. — Nós nos perdemos, Arthur. Você soltou minha mão em meio a uma tempestade e deixou que os ventos me levassem para longe de você. — Sequei meu rosto. — E agora olha para nós. O que sobrou de nós...? A cortina que nos cobria foi afastada e, por ela, passaram a tia Aline, tia Carla, Alice, Livi e, por último, a garota que eu tinha visto nas fotos. Minhas tias e primas foram até ele e o beijaram, e a tal Clair depositou em seus lábios um beijo mais PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS demorado. Saí sem olhar para trás, porque não conseguia segurar o nó que estava em minha garganta. Passei pelos corredores chorando e buscando pelas portas de saída. Eu precisava de ar, precisava respirar. Saí pela porta da emergência e entrei no primeiro táxi que vi. Informei o endereço da minha casa ao motorista e abaixei minha cabeça, apoiando-a nas mãos. — Moça, está tudo bem? — Sim, está tudo bem — respondi em meio ao choro. Cheguei a minha casa e nunca havia me sentido tão deslocada como naquele momento. Joguei-me no sofá chorando sem controle. Olhei para o aparador, vi o porta-retratos com uma foto minha e do Edu no dia do nosso casamento e me senti ainda pior. Ele não merecia isso. Eu era a sua esposa e estava ali, chorando de forma desesperada por outro homem. Chorava porque tinha tido a certeza de que ainda amava Arthur e que a vida que eu levava se tornara uma grande fraude. Sentia-me sozinha, vazia, perdida... Estava emocionalmente abalada diante das confirmações. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Acordei escutando o interfone tocar. Olhei para a tela do meu celular, vi duas chamadas do Edu e observei que passava das 22h. Fui até a cozinha e atendi o aparelho, que não parava de tocar. — Boa noite, o Sr. Luca está na portaria. O Luca? O que será que aconteceu? — Pode liberar a sua entrada. Fui até a porta e o aguardei em frente ao elevador, mas, para a minha total surpresa, não foi o Luca a sair dele, e sim o Arthur. Eu devia estar péssima, porque ele, assim que me viu, mudou a expressão do seu rosto. Puxei meus cabelos para o alto, fazendo um coque em um movimento nervoso. — O que faz aqui? Era para você estar no hospital. — Eu estou bem, Elena. Pedi minha alta. — Mesmo assim, você não deveria estar aqui. — Eu precisava. Você saiu daquele jeito do hospital... Fiquei preocupado. — Preocupado? Comigo? — Dei um sorriso fraco. — Por que isso agora? — Não vai me convidar para entrar? Passei pela porta e dei passagem a ele, que entrou de forma tranquila com a sua cadeira. Como PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS era possível ele estar ainda mais bonito? — Diga, o que veio fazer aqui? — Eu evitava olhar para ele arrumando as almofadas no sofá. — Eu acredito que não sobrou muitas coisas de nós, Elena. Sei que me odeia por tudo que fiz, mas acredito que fiz o melhor. Eu fui racional diante de todo aquele inferno. Nós não teríamos maturidade para lidar com o nosso relacionamento naquela época. E, apesar de te amar com loucura, eu precisei fazer aquilo por nós dois. — O que está feito, está feito, Arthur. Eu nem devia ter tocado nesse assunto. Não tem por que ele ser tocado. Nós seguimos com as nossas vidas. Hoje estou casada, você namora. Acho melhor deixar tudo como estava. Mexer nessa história não vai fazer bem para nós, e poderíamos ferir pessoas que não têm nada a ver com isso. — Eu sei. Mas aqui estamos eu e você. Só nós dois. E sabemos o quanto o que sentíamos era grande e por quanto tempo carregamos tudo escondido. Vamos ser claros, Elena, vamos falar a verdade, vamos pôr as cartas na mesa. — Agora? Para quê? Para falarmos de sentimentos que agora, mais do que nunca, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS precisam ficar escondidos? Eu não posso, Arthur. Com a sua rejeição e com a minha tomada de decisão, fizemos com que a coisa que era mais linda, inocente e perfeita se tornasse um pecado. O meu sentimento ficou guardado, só eu o conheço, não posso expressá-lo e muito menos demonstrá-lo. Ele foi a única coisa que restou de nós para mim, não foi modificado ou alterado, permaneceu onde sempre esteve, nunca outro conseguiu tomar seu lugar, por mais que às vezes achei que aconteceria, mas era mais forte e continuava lá, no mesmo lugar. — Recolhi a lágrima que escorreu. — Você me marcou. Seu acidente fez com que você perdesse os movimentos das pernas e ficasse preso a essa cadeira. Entretanto, esse mesmo acidente me condenou também. Emocionalmente eu fui quebrada de tantas formas que nunca consegui me recuperar. Eu vivo presa a uma cadeira emocional, nunca mais fui a mesma e aprendi a viver desse modo Virei-me para encará-lo, e ele me fitava espantado. — Por que se casou? Por que fez isso, se ainda havia tanto dentro de você? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Demorei para me decidir. Mas o Edu era uma pessoa tão bacana que acreditei que o tempo colocaria tudo em seu lugar e que eu acabaria me apaixonando. — Mas não aconteceu, não é? — Arthur, essa conversa não nos levará a lugar nenhum. Vamos parar por aqui — pedi, mas ele não me deu ouvidos e continuou: — Faz pouco tempo que estou com a Clair, Elena, um ano. Ela é uma ótima pessoa. Chegou à minha vida em um momento em que meus ponteiros estavam zerados e, de certa forma, eu estava pronto para recomeçar. Ela sempre soube da nossa história, nunca foi segredo para ela que eu amava outra pessoa... — Ele me encarou firmemente. — Eu também nunca esqueci o que tivemos e o que sentíamos, porém demorou mais do que o esperado todo o processo de reabilitação e de construção de uma nova vida, anos, e, quando dei por mim, você já estava se casando. Não estou te cobrando nada, não é isso, é que me preparei muito para estar vivendo esse momento. Eu queria ser alguém, Elena. Não queria que as pessoas me limitassem a essa cadeira, que eu fosse o coitado, o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS azarão, eu queria ser alguém em cima dessa cadeira, e consegui. Em meu planejamento, agora seria o momento do nosso reencontro. Mas nossos ponteiros se desencontraram, e cada um seguiu seu caminho. — Agora é tarde, Arthur. Nosso momento já passou, ficou para trás. — Eu sei. Escutei um barulho na porta e, ao me virar, encontrei Eduardo parado nos observando. Por mais que eu não estivesse fazendo nada de errado, senti-me mal por estar com o Arthur ali. — Oi, Edu! Não sabia que voltaria hoje. — Quis fazer uma surpresa. — Ele veio até mim, segurou em minha cintura e me beijou. De forma sutil, saí dos seus braços. — O Arthur veio nos visitar — informei. — Oi, Arthur! Tudo bem? — Tudo bem. — Meu primo estendeu a mão para ele. — Parabéns pela medalha. Eu achei que estaria no hospital, pelo acidente que aconteceu nessa tarde. — Não foi nada sério. Eu estava bem, não tinha PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS necessidade de ficar em observação. Edu passou os olhos pela sala. — Sua prima não te ofereceu nada? Fiquei sem jeito olhando para o Arthur. — Você quer tomar alguma coisa...? — indaguei. — Claro que quer, Elena — Edu me interrompeu. — Não sei. Você toma cerveja? Tenho suco também. — Eu me sentia constrangida. — Tomo cerveja sem nenhum problema, Elena. Fui à cozinha e voltei com as long necks e copos. Entreguei uma para cada um e me sentei ao lado do Eduardo. Na mesma hora ele colocou uma das mãos na minha coxa e começou a fazer carinho. Os olhos do Arthur foram direto para ela. — E como é sua vida por lá? — Edu perguntou. — Tirando a rotina pesada dos treinos, é bem tranquila. Eu moro quase em frente ao Central Park, ando pelo bairro. Estou feliz lá. — Você pensa em voltar a morar no Brasil? — Agora não mais. — Arthur olhou para mim de relance. — Refiz minha vida por lá. — Eu adoraria morar em Nova Iorque. Porém as empresas estão aqui, e preciso estar presente o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS tempo todo. — Ouvi dizer que os negócios da sua família cresceram bastante nos últimos anos. — Sim. Apesar de toda a crise, estamos conseguindo nos manter bem. Tivemos que nos reformular, montar novas estratégias para continuar bem no mercado. — Que bom! Um silêncio momentâneo se fez, mas Arthur o interrompeu: — Acho que já está tarde, vou embora. Levantei-me do sofá na hora. Eduardo se levantou na sequência, e Arthur foi dirigindo sua cadeira para a saída. Ele deu a mão para o Edu e fez um sinal com a cabeça para mim. — Quer que eu te leve? — Edu inquiriu. — Não. Fica tranquilo! O cara do Uber está me aguardando. O elevador chegou, e ele entrou, deixando sua cadeira virada de frente para nós. — Eduardo. — Ele fez um aceno com a cabeça. — Adeus, Elena. E foi embora, deixando-me com um enorme vazio. PERIGOSAS ACHERON

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EU E EDUARDO voltamos para o apartamento, e fiz o possível para disfarçar o que sentia. Naquele momento eu desejava estar só, precisava pôr meus pensamentos em ordem, acalmar meu coração, que ainda batia descompassado. Todavia, Edu não me deu tempo. — Há quanto tempo seu primo estava aqui? — questionou enquanto andava pela sala. — Não muito, chegou um pouco antes de você. — Um pouco tarde para fazer visitas, não acha? Fiquei calada. Não estava conseguindo pensar direito. Eu precisava de alguns minutos sozinha. — Vou tomar um banho, Edu. Estou cansada e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quero dormir. Notei que ele preparava uma dose de bebida. Demorei no banho, meus pensamentos perdidos em meio a tudo o que Arthur tinha falado. Sua postura, seu olhar... Ele ainda me amava, fora isso mesmo que ele dissera? Eu havia sentido, enquanto estávamos naquela sala, que nossa energia era a mesma, que nossas almas se conheciam e eram conectadas e que, se não fosse a barreira dos nossos corpos físicos e do controle que ambos usávamos, seriam levadas pelo desejo que o reencontro causara. Entre milhões, ele sempre seria o único a me ter por inteiro. Eu não queria mais aquele apartamento, não queria mais aquele casamento, não queria mais aquela vida. Não era certo comigo e muito menos com o Edu, ele não merecia. Eu estava fazendo com que ele vivesse uma mentira e precisava ter coragem para dar um ponto final a tudo aquilo. Eu não devia ter arrastado o Eduardo para a bagunça que eram os meus sentimentos. — Elena, você está bem? — ouvi a voz do Edu e abri os olhos. Ele me observava encostado à pia do banheiro. — Estou — respondi tentando disfarçar meu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS desalento. — O que está acontecendo? — Estou cansada, só isso... Já terminei meu banho, vou sair para você entrar. — Saí do boxe e me enrolei na toalha. Fui para o closet, vesti um pijama e me deitei. Edu veio na sequência, estava quieto e pensativo. Virei meu corpo para o outro lado e demorei muito a dormir. Eduardo não encostou em mim durante toda a noite, e eu preferia assim; não estaria disposta se ele me procurasse para ter sexo. Acordei e encontrei a cama vazia. Andei pelo apartamento e reparei que meu marido já havia saído para o trabalho. Eu estava de plantão, então corri a me arrumar, pois ainda teria que ir buscar meu carro, que deixara estacionado na rua. Rezava para chegar e o encontrar no mesmo lugar. Peguei um táxi e fui até o local; por sorte, o automóvel estava do mesmo jeito. O que me restava era ter forças para as 12 horas de trabalho que teria pela frente. Cheguei ao hospital e fiquei feliz por saber que o pequeno João já estava extubado e respirava tranquilo, necessitando apenas de um pouco de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS oxigênio. Sua saturação estava boa, e, mais um dia mantendo aqueles parâmetros, ele iria ter alta. A alegria de exercer minha profissão é ver esses pequenos milagres. Não sou cética como alguns colegas, creio que Deus me olha e que seus anjos guiam minha mente e minhas mãos. Por vezes sou colocada diante de grandes desafios e tenho certeza de que ele me guia. Herdei essa fé da mamãe, ela nos ensinou desde muito pequenos a rezar para dormir e a agradecer pelo nosso dia. Terminei meu plantão e me sentia exausta. Eduardo não me ligou nem mandou mensagem durante todo o dia, e acabei fazendo o mesmo. Entrei no apartamento, e tudo estava em ordem e quieto. Eram poucas as vezes que eu chegava a casa depois do Eduardo, ele sempre trabalhava até tarde. Fiz minha rotina noturna pós-trabalho e mais uma vez jantei sozinha. Fiquei zapeando pela tevê e acabei pegando no sono no sofá. Acordei com meu celular tocando. Era o Eduardo. — Elena? — Oi! — Te acordei? — Estava cochilando no sofá. Que horas são PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS agora? — 23h. — Nossa, Edu! Aconteceu alguma coisa? Está tarde — perguntei sentando-me no sofá. — Eu estou em São Paulo. Precisei vir no meio da tarde e, na correria, não tive tempo de te avisar. — Ok! Obrigada por me avisar... agora — fui irônica. — Elena, não comece. Tive que vir correndo para resolver um problemão aqui. Saí tarde de uma reunião de emergência e não estou com paciência... — Tudo bem, Edu! Fique o tempo que precisar. — Me desculpe! É que estou muito nervoso, não queria ser grosseiro. — Tudo bem, Edu! — Vou precisar ficar por mais dois dias — senti receio em sua voz. — Tudo bem, Eduardo. Boa noite! — Boa noite! Durante esses dois dias, Edu me mandou uma única mensagem, a que dizia o horário em que iria chegar. Cheguei do plantão e aqueci nosso jantar. Pelo menos ele chegaria a tempo de jantar comigo. Eu PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS teria que tomar coragem e conversar com ele sobre o nosso casamento. Não dava mais para continuar. Estar com o Arthur me fizera ver que eu nunca iria amar o Eduardo e que, se eu deixasse, iríamos continuar naquela vida de dois bons grandes amigos, pois era assim que estávamos vivendo; ultimamente nem sexo fazíamos. Eu não queria que ele sofresse, não queria decepcioná-lo, mas não dava mais para continuar com aquela mentira. Edu chegou, deu um beijo em meu rosto e deixou suas coisas na sala. Eu terminava de arrumar a mesa e me sentia nervosa ante sua presença. Notei que ele também estava inquieto, preparando uma bebida. — Vai beber antes do jantar? — Estou precisando — foi sucinto. Terminei de arrumar as travessas sobre a mesa e o chamei. Edu veio carregando seu copo de uísque e se sentou à minha frente. Coloquei salada e carne em meu prato, ele se serviu, e começamos a jantar. O silêncio era agonizante. Reunindo toda a coragem que não pensava existir dentro de mim, comecei a falar: — Edu, precisamos conversar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu sei. — As coisas não andam bem entre a gente. — Eu sei, Elena. E tenho parte de culpa nisso. — Não estou cobrando nada, Edu. — Mas é que as coisas foram acontecendo, e tudo meio que saiu do meu controle. — Ele não me olhava. — Nós dois, em algum momento depois do casamento, nos perdemos. — E nada é mais como antes — ele concluiu. — Não. Não é. — Eu sei que prometi tantas coisas a você e me sinto mal por não as ter cumprido. Olha, Elena, eu realmente te amei, foi verdadeiro tudo o que eu te dizia. — Seu olhar era sério. — Eu sei, Edu. Não se sinta mal por isso — consolei-o, porque não queria que ele se sentisse tão culpado por tudo que estava acontecendo. — Eu conheci uma pessoa — ele disparou. Fui pega de surpresa por sua confissão. — Uma pessoa? — Elena, eu juro que não planejei. As coisas foram acontecendo, e, quando vi, já me sentia envolvido, gostando... PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Essas coisas, na maioria das vezes, não se planejam, Edu... Eu... — Ela está grávida, Elena. — Edu passou as mãos pelos cabelos, aflito. — Eu sei que fui um filho da puta com você, mas precisava te contar. Fiquei em choque. — Grávida?! Ele balançou a cabeça positivamente. — Ela passou mal na empresa. Precisou ser socorrida... — Na empresa? Por isso você foi para São Paulo? — Sim. Fomos pegos de surpresa por essa notícia. — E você tem certeza de que esse bebê é seu? — Tenho. Tenho total certeza disso. Estou apavorado, Elena. Ela não está bem. Os médicos descobriram um problema de saúde, e o risco para o bebê é muito grande... Se acontecer algo com ela, eu nunca me perdoarei. Fiquei por alguns instantes o observando. Ele devia gostar muito daquela mulher, porque era notório seu desespero; seu semblante mostrava muita dor e preocupação. Eu sabia muito bem como PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS era estar preocupada com a saúde de alguém importante, havia passado por isso duas vezes com Arthur, alguns dias antes, nas Paraolimpíadas, bem como havia oito anos, na época do seu acidente. — Me perdoa, Elena! Me perdoa! Eu lutei contra tudo o que sentia por ela, mas não consegui, foi um sentimento descontrolável. Por isso forcei nossa vinda para o Rio, precisava me afastar, eu lutei contra, mas... Deus! Estou me sentindo um lixo diante de você. Edu saiu da mesa e foi para o sofá. Chorava com as mãos no rosto, e fiquei triste ao vê-lo daquela forma, quando eu não merecia tanta consideração, afinal sempre amara outra pessoa. Abaixei-me à sua frente e segurei em seus braços. — Edu, olha para mim. — Seus olhos envergonhados encontraram os meus. — Antes de sermos marido e mulher, nós fomos amigos, talvez sejamos grandes amigos. E sinto que preciso ser honesta com você, mesmo que essa honestidade seja tardia e eu me envergonhe por isso. Sabe, Edu, eu gosto muito de você, gosto da sua companhia, praticamente me descobri mulher com você e pensei que, com o tempo, o amor chegaria para nós, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS quer dizer, para mim, porque eu verdadeiramente sentia o seu amor por mim quando namorávamos, porém ele não veio. Acreditei que o tempo o traria, que a nossa convivência faria o sentimento brotar, mas não aconteceu. Eu sei que você deve ter sentido a minha distância. — Eu nunca ouvi você dizer que me amava, Elena, nunca criamos os famosos “apelidos bobos”, você sempre respondia o meu “eu te amo” com “eu também”, porém eu gostava tanto de você que deixava pra lá, imaginando que, com o tempo, você me amaria, mas hoje vejo que para essas coisas não existe tempo, momento... O “negócio” vem como um rolo compressor, não deixando espaço para mais nada, e, quando nos damos conta, ele já tomou conta de tudo. — É assim mesmo. — Edu estava tão desesperado que preferi contar sobre o Arthur em outro momento. — Eu não sei o que faço, estou tão perdido, com medo... Ela é tão importante para mim. — Quem é ela? Você disse que é da empresa. É uma das secretárias, engenheiras, arquitetas? — Pensei nas mulheres com quem ele tinha mais PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS contato. Ele deu um sorriso fraco. — Ela não tem idade para ter uma formação. — Como assim, Edu? — questionei preocupada. — Ela é uma menina, Elena. Acabou de fazer 19 anos. — Eduardo! Você é dez anos mais velho que ela! — Eu sei, mas... — É uma estagiária? Você se envolveu com uma estagiária? Eduardo, isso pode te trazer problemas — comentei preocupada. — Não, não era estagiária. Ela trabalhava na copa. — Meu Deus, Edu! — Eu sei, Elena... nem precisa me dizer nada. Nem quero ver o que vai acontecer quando a minha família descobrir. A sua família... seus pais! — Ele voltou a colocar a mão no rosto. — Ninguém tem o direito de te julgar. Com a minha família, pode deixar que me entendo. Têm coisas que eu deveria ter dito há muito tempo, porém não o fiz, e, por esse erro, estamos nós dois aqui nesta sala agora. — E o que vamos fazer? — Seus olhos me PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fitavam temerosos. — Acabar com isto aqui. — Apontei o dedo entre mim e ele, depois retirei minha aliança, e Edu fez o mesmo. — Acho que, depois de tantas revelações, não tem por que manter esse casamento. Eu não permitiria que isso acontecesse. Não seria justo com você. Ela deve ser uma pessoa especial para ter tocado o seu coração dessa forma. Você merece ter alguém que te ame. — Vou ter que enfrentar uma batalha por ela. Você sabe o quanto tradicionais meus pais e meus avós são. Sabe o quanto trabalhei para conseguir a presidência da empresa e o quanto Fred rastreia atrás dos meus passos para achar alguma brecha e me deixar mal perante a minha família. — Ele é ridículo, não aceita que o Conselho escolheu você e não ele para a presidência. — Ele será uma pedra em meu sapato. — Enfrente tudo e todos se o que você sente for verdadeiro. Não abra mão da sua felicidade por nada. — Obrigada por me compreender. Me desculpa por ter falhado, por ter estragado tudo... Eu lamento... Mas chegou a um ponto que eu não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS conseguiria mais esconder isso de você. Dos outros, eu conseguiria, mas não de você, e, por mais que me doesse, eu precisava ser honesto. — Ele me abraçou. — Obrigado por esses anos, você sempre terá um lugar especial no meu coração. — E você no meu. Apertei-o mais em meus braços e chorei. Independentemente dos sentimentos, naquele momento acontecia uma ruptura, um término, e era doloroso estar diante daquela situação. Haviam sido cinco anos em sua companhia, nós tínhamos planos, idealizáramos coisas juntos, e ali, naquele abraço, tudo se findava. Ter a evidência do fim trouxe para Edu a liberdade e a possibilidade de ser feliz e, para mim, a esperança de que ainda poderia ter alguma chance com meu amor. Saímos um dos braços do outro e demos um sorriso fraco. Enganava-se quem achava que não existia amor ali; existia, sim, porém com outra conotação. Amigos, éramos bons amigos e nos amávamos dessa forma. — Vou voltar para São Paulo ainda hoje, fretei um jato. Preciso estar com a Mariana, não quero PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que ela fique sozinha nesse momento. Se quiser vir comigo... acredito que seu primo ainda esteja na cidade. Ele acompanhou seus pais a São Paulo, não foi? — Mariana, esse é o nome dela? — Ele meneou a cabeça. — E por que está falando do Arthur? — Porque pensei muito sobre nós, sobre a forma que estávamos vivendo. Eu desconfiava de algumas coisas, Elena. Quando mais novos, sempre que tentei me aproximar de você nos jantares e festas em que nossas famílias estavam, o Arthur dava um jeito de te tirar do meu alcance. Achei se tratar de ciúmes de primo, vocês foram praticamente criados juntos, quase como irmãos. Depois veio a indiferença com que você falava dele após a sua partida para os Estados Unidos, também teve a sua negativa em participar com a família do jantar de boas-vindas e das competições em que ele participou aqui no Rio, e eu assisti à prova, vi você o socorrendo na pista. Seu olhar desesperado demonstrou claramente seus sentimentos. — Ele deu um sorriso fraco. — E, por último, no dia em que ele te visitou aqui em casa, cheguei a tempo de ouvir algumas coisas, me desculpe. Apesar de não PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS ter direito algum de te cobrar, precisei digerir a confirmação das minhas suspeitas. Por isso demorei para falar com você.

Naquela noite, aproveitando que eu estava de folga do trabalho, entrei no avião com Edu. Fiz duas malas e não olhei para trás. Segui todo o trajeto pensando em como agiria. Eu precisava ter um momento a sós com o Arthur, precisava contar a ele que meu casamento tinha acabado; só assim saberia se teríamos alguma chance. Eu sabia que ele tinha namorada, porém ele mesmo informara ser um relacionamento recente. Estava nervosa, ansiosa. Provavelmente ele estaria na casa da tia Carla, que era no mesmo condomínio dos meus pais, e eu o encontraria. O avião pousou. Edu me deixou em frente à casa dos meus pais e seguiu para o hospital. Ele viera o caminho todo pensativo, preocupado. Era triste vêlo tão abatido. Eduardo sempre fora um homem muito centrado, analítico. Sua postura de PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS empresário importante transparecia que nada o desestabilizava. Contudo, aquela menina conseguira fazer isso. Ele estava muito amedrontado. Eu voltava a me sentir com 16 anos. Pensei mil vezes em como chegaria à casa dos meus pais e, parada em frente à porta de entrada, via-me receosa. Resolvi ligar para o meu irmão. Enzo atendeu ao segundo toque. — Elena? Por que está me ligando a essa hora? — Maninho, abre a porta, estou aqui na entrada, mas faz silêncio, não quero acordar o papai. — O que aconteceu? — Abre logo, Enzo! Está frio aqui fora. Enzo abriu a porta, e coloquei meu dedo em frente à boca em sinal de silêncio, fazendo sinal de que falaria com ele lá em cima, em seu quarto. Na ponta dos pés, seguimos até o quarto do meu irmão e fechamos a porta ao passar por ela. — O que aconteceu, Elena? — Meu casamento acabou, maninho. — Sério?! — Hum, hum. — Amanhã essa casa desaba! Não quero nem ver PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS a reação do pai quando souber disso. — Nem eu! Ainda mais quando eu contar os motivos. — O que foi? Você traiu o Eduardo? Nosso pai vai te matar, Lena! — Não, seu idiota! Mas foi quase isso. — Abaixei meus olhos. Só Júlia e Luca sabiam dos meus sentimentos pelo Arthur. Enzo, como os demais, nem imaginava. — E eu, que ia passar o final de semana fora. — Ele riu. — Presta atenção e para de graça. O Edu se envolveu com uma garota, e ela está grávida. Parece que ela não está bem de saúde, ele está desesperado... — E você fala isso assim, com essa calma? — ele me cortou. — O Eduardo te traiu?! Filho da puta! Vou ajudar o papai a matá-lo! — Você não vai matar ninguém! Para! Enzo, vou precisar da sua ajuda. Preciso te contar uma coisa. — Fala logo de uma vez! O que mais está envolvido nesse término? — O Arthur. — Quem? O Arthur, nosso primo? PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Sim, ele mesmo. — Como assim? O que tem o Arthur com isso? — Eu o amo! Ele foi meu primeiro amor e continua até hoje, e tê-lo aqui, no Brasil, trouxe tudo à tona, e não aguento mais, preciso dizer, preciso tentar consertar as coisas entre nós. — Elena, o pai vai ter uma síncope. — Eu sei! Mas eu não aguento mais esconder isso. Foram anos, muitos anos escondendo meus sentimentos, mas agora chega! — O que pensa em fazer? — Vou explicar para os nossos pais sobre o fim do meu casamento, contarei a eles sobre meus sentimentos e depois vou falar com o Arthur. Fiquei um pouco mais com Enzo e fui para o meu antigo quarto. Mamãe havia mantido tudo como era. Coloquei as malas ao pé da cama, procurei um pijama, troquei de roupa e me joguei embaixo do edredom. Acordei com o sol passando pela janela e, pela primeira vez em muito tempo, não senti o peso em meus ombros. Não que conviver com o Eduardo me trouxesse tais sentimentos. Contudo, a situação em si, sim. Saí debaixo do edredom, coloquei meus PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chinelos, respirei fundo e resolvi enfrentar de vez aquela situação. Era sábado, e, naquele horário, provavelmente meus pais estariam tomando café da manhã. Eles ficaram espantados ao me ver entrar na sala de jantar, onde ambos tomavam café tranquilamente. Minha mãe na hora colocou a mão no peito, e papai me encarou com espanto. — Filha, quando chegou? — mamãe perguntou. — Elena, o que você faz vestida de pijama a essa hora aqui? — Os olhos questionadores do meu pai me acertaram. — Eu preciso conversar com vocês. — O que aconteceu, Elena? Cadê o Eduardo? — Está cuidando da vida dele, pai. — O que você quer dizer com isso? — Papai franziu a testa. — Nós nos separamos. — Meu Deus, filha! Por quê? — Minha mãe saiu da mesa e veio até mim. — Vocês o quê?! — Nos separamos, pai. Papai parou de tomar seu café e saiu da mesa também. Fui até o sofá e me sentei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — O que aconteceu para levar à separação, Elena? — papai questionou. — Houve um desgaste, pai. Coisa natural em um casamento que não teve bases sólidas. — Não teve bases sólidas? Desgaste? Vocês não completaram um ano de casamento! — Pai, eu nunca amei o Edu. Eu me casei com ele por muitos motivos, menos por amá-lo. — E você fala isso assim? — Pai, nós não nos amamos. Eu sempre soube que não amava o Edu, e ele descobriu que também não me ama. Estávamos vivendo mais como amigos do que como marido e mulher e resolvemos pôr um ponto final. — Não se põe um ponto final em um casamento de uma hora para outra. — Não foi de uma hora para outra, pai. — O Eduardo está aqui em São Paulo? Eu vou falar com ele. — Papai tirou seu celular do bolso. — Você não vai fazer nada, Erick. Deixe que eles se entendam — mamãe interveio. — Mas, Amanda, olha isso! — Ela não vai ser a primeira e nem a última mulher a se separar. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não queria isso para a minha filha — papai lamentou. — Eu não quero é a infelicidade dela. — Não quero que discutam por minha causa. — Não estamos discutindo, filha — mamãe falou, pegando em minha mão. — Vem aqui, vamos conversar direito. — Sentei-me ao seu lado. — Conte tudo, para que possamos entender e te ajudar. Olhei para o meu pai e fiquei receosa em expor tudo a ele. — Eu não via mais motivos para continuar com o casamento e estava decidida a falar com o Edu, estava apenas esperando que ele voltasse de viagem. Logo que ele entrou em casa, notei que estava nervoso. Nem precisei pedir a separação logo de cara, porque ele estava terrivelmente abatido e muito preocupado. Pai, não surta, por favor. — Papai até mudou sua postura diante do meu pedido. — O Edu conheceu uma garota... — O quê?! Aquele filho da puta te traiu?! — Pai, eu te pedi. Me ouça. — Não acredito nisso! — Pai, nós já estávamos meio que afastados, a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS separação era questão de tempo. — Mas te trair? — Não o julgue, eu vi o quanto o Edu está sofrendo. Ele realmente gosta da menina. Não foi algo de caso pensado, aconteceu, e ele está tão preocupado, a menina parece não estar bem de saúde. — Por que você diz “menina”? — Porque ela só tem 19 anos e está grávida. Preferi falar logo, porque em breve vocês descobririam. — Grávida? Ela só tem 19 anos? — mamãe indagou aflita. — Sim, mãe. E, pelo pouco que sei, acho que não tem família por perto e está com um problema sério de saúde. — Coitada dessa moça. Eu sei o que é estar grávida e sozinha. Eu tinha a mesma idade que ela quando esperava a Júlia. — Anjo, pelo amor de Deus, nem me lembre disso. Acalmei os ânimos do meu pai e pedi que me deixassem resolver tudo. Preferi não falar sobre o Arthur naquele momento, queria conversar com ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS primeiro. Papai não estava confortável com a minha nova fase, mas, com o tempo, ele entenderia. — Bom dia, família! — Enzo apareceu na sala. Estava vestido com roupas esportivas e carregava a mochila com suas raquetes de tênis. — Bom dia, meu amor! — mamãe o cumprimentou. — Bom dia, filho! — papai o saudou, porém mantinha a cara emburrada. — Pai, você não quer ir comigo jogar tênis? — Enzo fez de conta que não percebia o clima pesado na sala. — Acho que vou, porque, depois da notícia que recebi, preciso extravasar meu nervosismo em algo, então que seja em umas partidas de tênis. Espere, que vou me trocar. Nossos pais nos deixaram na sala e seguiram para o andar superior. — Já falou sobre o Arthur para eles? — Achei melhor esperar. Preciso conversar com ele antes. Estou tão ansiosa, maninho. — Ele está namorando, Elena. Você pode se machucar. — Mais machucada do que estive até hoje, seria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS impossível. Se ele não quiser nada, vou seguir meu caminho. É um risco que corro, Enzo. Eu não tenho o que perder. — Vou torcer por você. — Ele me abraçou. Papai e Enzo saíram, e eu voltei ao meu quarto para me trocar. Queria ir até a casa da tia Carla, tinha de conversar com o Arthur. Porém, ao voltar à sala, encontrei tia Carla com a mamãe na sala. — Oi, tia! — Oi, minha menina. Sua mãe acabou de me contar. Eu sinto muito, mas, se você não estava feliz, fez bem em acabar. — Eu não estava feliz, tia. — Outro que irá cometer um grande erro será o seu primo. Não senti firmeza naquele namoro dele, até comentei com seu tio, mas, como sempre, fui taxada de implicante. — Eu preciso conversar com ele, tia. O Arthur está na sua casa? — Não, ele já foi. Passou a noite passada com o Marcelo e a Aline e pegou o voo das 7h. Nem sei como descrever o que senti. Acreditara que ele ainda estivesse no Brasil, havia pensado que ele ficaria por mais tempo. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Achei que ele fosse ficar alguns dias aqui em São Paulo. — Esse era o plano inicial, mas, de uma hora para outra, ele resolveu voltar e antecipou o voo. O Luca e a Stella ficaram, mas aquele cabeça-dura, não. — Tia, por favor, não conte a ninguém sobre a minha separação, pelo menos por enquanto. — Não contarei, pode ficar tranquila. Pedi licença e fui até o escritório do meu pai. Mandei mensagem para o meu chefe e deixei meu cargo à disposição nos dois hospitais. Ainda bem que nunca me dispus a assumir plantões diretamente com o hospital, precisando me dirigir apenas ao chefe da equipe para quem eu prestava serviços. Avisei que precisaria sair do país com urgência e que não poderia mais assumir os plantões. Abri um aplicativo no celular e comprei uma passagem aérea para o dia seguinte. Ainda bem que meu passaporte e meu visto de turista para os Estados Unidos estavam em dia. Voltei ao meu quarto e ajeitei uma das malas que havia trazido. Passei o resto do dia aflita e demorei a dormir. Meu voo era bem cedo, e eu estava contando os minutos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para entrar no avião. Pensei em ligar para o Arthur, mas o que eu precisava falar teria que ser cara a cara. Surpreendi a mamãe ao aparecer na sala com a mala na mão. — Aonde você vai? Elena, você está me preocupando. — Mãe, eu preciso ir atrás da minha felicidade. E não vou mais esperar. — Do que você está falando? — Mamãe, eu amo o Arthur — confessei. — Sempre foi ele, e escondi isso de todos por anos. — O Arthur, filha? — Mamãe ficou surpresa. — Eu reparava que você ficava diferente perto dele, mas achei ser coisa de adolescente. E ele? — Nós precisamos conversar, eu preciso ir até ele. Ele tem que saber que meu casamento acabou, eu preciso lutar por ele — disparei a falar. — Meu Deus, filha! Por que nunca me contou? — Quando jovens, tínhamos medo do que toda a família iria pensar, mas estávamos decididos a ficar juntos, porém o acidente aconteceu e levou toda a nossa felicidade. Ele foi embora e nunca permitiu que eu me aproximasse. Por isso minhas negativas PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS para viajar todas as vezes que vocês iam visitá-lo. O Arthur não me queria por lá, mãe, e a sua rejeição feriu demais meu orgulho, entretanto, agora pouco me importo com isso. Eu quero ser feliz e espero fazer isso ao lado dele. — Se vocês se amam de verdade, precisam conversar e resolver. — É o que mais quero, mãe. Preciso ir até ele. — Ai, Elena... Fico tão preocupada, filha. — Mas preciso ir, mamãe. — Tá bom! Vou te levar ao aeroporto. Mas me mantenha informada. Mamãe levou-me ao aeroporto. Depois de horas de voo, cheguei a Nova Iorque. Era madrugada, e não pensei em mais nada, estava cansada, tinham sido anos aceitando tudo, mas enfim não aceitaria mais. Definitivamente eu resolveria minha vida. Peguei um táxi e passei o endereço do Arthur; sabia-o de cabeça. Quando crianças e em nossa adolescência, viajávamos nas férias e ficávamos com a tia Sílvia. As férias com ela eram sempre especiais. Cheguei à frente do prédio e senti um frio na barriga. Fui até a portaria e me identifiquei. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Demorou um pouco, mas fui liberada para subir. Em frente ao apartamento, respirei fundo antes de bater. Dei duas batidas, e a porta foi aberta. A namorada do Arthur foi quem a abriu. Ela vestia uma camisa masculina e estava despenteada.

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SAÍ DA CASA da Elena decidido a colocar minha vida nos trilhos. Doera demais vê-la no papel de esposa daquele babaca; apesar de saber que ela ainda me amava, era com ele que ela dividia seus dias e suas noites. Ver a intimidade deles me machucou, e decidi que colocaria uma enorme pedra em cima do nosso passado. Muitos anos nos separavam, pessoas estavam entre nós... Eu não via mais possibilidades de o “nós” existir, muitas coisas nos separavam. Voltei para o hotel e encontrei Clair já dormindo. Procurei ser o mais silencioso possível para não a acordar. Terminei de me ajeitar e fui para a cama. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Na manhã seguinte eu iria para São Paulo, tinha algumas entrevistas agendadas; quando concluísse tudo, eu iria embora. Depois do café da manhã, fomos até o Santos Dumont e embarcamos rumo ao aeroporto de Congonhas. Clair estava pensativa e pouco falou. Fiquei um dia na casa da minha mãe Carla e um na da minha mãe Aline e fui abatido por tantas recordações, dolorosas recordações... Durante esse tempo, dei as entrevistas agendadas e decidi que era hora de voltar para casa. Minha mãe tentou argumentar para que eu ficasse, mas não cedi. O fato de eu ser um medalhista olímpico tornou meu rosto conhecido, o que fez com que minha passagem pelo saguão do aeroporto fosse mais demorada. Naquela manhã, sentia-me apreensivo, inquieto. A imagem da Elena não saía da minha cabeça, seus olhos cheios de lágrimas... as palavras que não puderam ser ditas... o silencio doloroso de tudo que sentíamos... Olhei para Clair, que mexia no celular, e notei que não conseguiria mais manter aquele relacionamento. Eu queria ficar só. — Clair, eu não vou voltar a Nova Iorque. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Preciso de um tempo sozinho. Ela deixou de olhar para o celular e me fitou surpresa. — Como assim não vai voltar? — Não queria te machucar e vou acabar fazendo isso se continuarmos. — Você está terminando comigo? — Não vai dar certo. E não seria justo. Você saiu de um relacionamento que deixou feridas, não acho correto deixar que aconteça de novo. — Reencontrá-la mexeu demais com você, não foi? Eu senti o quanto mudado você ficou desde então. Mas Elena refez a vida dela, Arthur. Você precisa entender isso. Se ela realmente quisesse, teria lutado por você. — Não posso pensar assim, se foi eu a afastá-la. Se existe um culpado nessa história, sou eu. — Acho que você está decidido, então nada que eu fale irá adiantar. Tudo o que não queria era magoar a Clair, mas era visível que era assim que ela estava se sentindo. — Não quero que fique magoada. Mas estou confuso e, no momento, preciso ficar sozinho. — Então isso aqui é um adeus. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não sei. Por isso tenho de ficar só. Preciso pôr meus pensamentos em ordem. Não seria justo te manter em um relacionamento comigo me sentindo dessa forma. — Eu realmente gosto de você. Acreditei que poderíamos dar certo, mas ela sempre estaria entre nós. — Foge do meu controle, é mais forte do que eu. Ouvimos a chamada do voo. — Tem certeza, Arthur? — Tenho. Me desculpa. — Então o que te digo? Até um dia, até logo, adeus... — Ela estava chateada. — Ei... somos amigos. Claro que nos veremos. Eu só preciso de um tempo. — Então vou dizer até logo, não vou dizer adeus. — Ela deu um sorriso fraco. — Vamos ficar no “até logo”. Ela se levantou e me abraçou. — Vou buscar minhas coisas na sua casa. — Tudo bem. Você tem as chaves. E assim Clair partiu. Não me beijou nem olhou para trás. Olhei-a andar entre as pessoas no saguão do aeroporto e senti meu peito doer. Fiquei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chateado por tê-la magoado, mas seria pior se não tomasse essa decisão. Peguei minha mala de mão e a coloquei sobre meu colo. Fui até a saída do aeroporto e peguei um táxi. Dentro dele, liguei para o meu avô. — Oi, vô! — Oi, filho. Já está embarcando? — Não vou mais, decidi ficar. Preciso descansar e queria saber se posso ir para a casa de campo. — Claro, meu filho. Vou avisar o Jordão que você está indo para lá. Ele e Iracema ajudarão você. — Obrigado, vô. Ah... por favor, não fale a ninguém que estou lá, preciso de uns dias sozinho. Meu avô ficou em silêncio por alguns instantes. — Sabe que pode contar comigo, não é? — Sei, vô, obrigado! — Se precisar de qualquer coisa, me avisa. — Pode deixar! Passei para o taxista o endereço da casa de campo dos meus avós, que ficava a uma hora e meia de são Paulo. No caminho, mandei uma mensagem para o Luca e avisei da minha decisão de permanecer no Brasil e de ir ficar um tempo na casa de campo. Avisei-lhe que queria ficar sozinho PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e que desligaria o celular. Na casa de campo, fui recebido pelo Sr. Jordão e a dona Iracema. — Menino, nem acreditei quando seu avô avisou que você estava vindo para cá. — Precisava descansar um pouco e acho que não existe lugar melhor que este aqui. — Eu sou suspeito, filho, amo este lugar. — Nem à cidade ele quer ir mais — revelou sua esposa. — É um custo tirar o Jordão deste sítio. Mas vamos entrar. Tem café fresquinho lá em casa e fiz aqueles biscoitinhos que você tanto gostava. Fui até a casa deles, que fica na parte da frente do sítio. E foi como se eu voltasse a ser criança. O cheiro da lenha queimando, do café recém-coado despertou em mim sentimentos bons, memórias afetivas que mantinha guardadas. Passei um tempo com eles, almocei uma comida deliciosa preparada por Iracema e depois fui para a casa dos meus avós. Tudo continuava do mesmo jeito, era incrível! Iracema e o Sr. Jordão me acompanharam. Porém, ao chegar à frente da grande casa, notei algumas diferenças que me emocionaram. Logo na entrada da ampla varanda, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS avistei uma rampa de acesso. Ela estava ao lado dos degraus antigos. — Seu avô mandou fazer. Ele imaginava que um dia você voltaria aqui. — Meu avô é um cara incrível! — Lá dentro também aconteceram mudanças — Iracema falou. Entrei na casa e notei que em um canto da sala tinha um elevador. Imaginei que teria que dormir no sofá, pois todos os quartos ficavam no andar superior. Entretanto, eu teria acesso total à casa. Os móveis estavam com mais espaço entre eles, e o Sr. Jordão avisou que, em uma das suítes, o banheiro tinha sido preparado para que eu pudesse usá-lo, com cadeira de banho e barras auxiliares. Meus avós nunca comentaram que tinham feito tais mudanças, fui pego de surpresa com esse carinho. Iracema informou ter abastecido a geladeira, mas que ambos me esperariam todos os dias para almoçar e jantar com eles se assim eu quisesse. Estava sozinho na varanda, e a noite chegava. O silêncio do lugar rompido pelo barulho dos grilos, o cheiro de mato... Eu me sentiria totalmente em paz se não estivesse com Elena em meus pensamentos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Bebi mais um gole da cerveja e notei que cada passo percorrido até aquele momento de pouco me valia. Afastara Elena da minha vida por me achar insuficiente para ela, lutara por cada conquista, mas, quando finalmente tinha tudo, não via valor em nada, porque ela não estava ao meu lado para vibrar comigo. Eu tinha tantas pessoas ao meu redor, porém me sentia só. Nada completava o vazio, ele chegava a ser desesperador. Ver Elena com seu marido, em sua casa, deixara-me com raiva, raiva da vida, raiva de mim...

Ver a namorada do Arthur à minha frente deixou-me mais nervosa. Travei, não sabia o que dizer, como agir, estava envergonhada e pensei em sair correndo. No fundo, temia ser rejeitada, estava morrendo de medo de ser rejeitada por ele mais uma vez. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Elena? — indagou surpresa. — Oi, desculpe estar aqui, mas... — O Arthur não está aqui — foi sucinta. — Como? — Eu estava tão cansada, e a ouvir dizer que o Arthur não estava me deixou mais prostrada. — Ele não voltou para Nova Iorque, ficou no Brasil. Tive vontade de me sentar no chão e chorar. — Mas minha tia falou que ele tinha voltado! Onde ele está? — Não sei. Eu o deixei no aeroporto em São Paulo. — Deus! — Sentia-me andando em círculos. — O que faz atrás dele? Você não refez a sua vida? — questionou-me com seus olhos inquisidores. — Não. Não refiz! Eu só vivi enquanto o tinha ao meu lado; o restante do tempo, passei tentando sobreviver diante da sua ausência. — Ele não merece sofrer. — Nenhum de nós merece. Mas foi ele quem preferiu me manter distante. Por mim, teria ficado ao seu lado desde o início. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Eu teria lutado por esse direito. — Não se tratava de direito. Se tratava de amor. Tentei compreendê-lo. Apesar da dor e de todo o meu sofrimento, não impus a minha presença a ele por me achar no direito de tê-lo. — O Arthur é um cara legal, ele não... — O quê? Não me merece? Você nem me conhece, então pare com seus julgamentos. — Não, realmente eu não te conheço, mas conheço o Arthur e sei o que ele sente por você. — Senti que ela baixou a guarda. — Olha, Elena, se existe alguma possibilidade de vocês serem felizes, volte para o Brasil e o procure. Ele está perdido. O encontro que tiveram mexeu demais com ele. — Nós dois estamos perdidos... Vou voltar ao aeroporto e tentar retornar no próximo voo. — Faça isso! E diga para o Arthur que eu disse adeus. Ele entenderá. — Eu direi. Voltei para o aeroporto e tive a sorte de encontrar um voo que sairia dentro de duas horas para o Brasil. Comprei a passagem e, no intervalo, fui comer algo. Aproveitei esse tempo e liguei para a única pessoa que poderia ter informações sobre o PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS paradeiro do Arthur. — Luca, sou eu, a Elena. — Oi, Elena! Aconteceu alguma coisa? — Luca, estou aqui no aeroporto JFK. Vim atrás do Arthur e descobri que ele não voltou para Nova Iorque. Onde ele está? Ele ficou calado. — Luca, eu sei que você sabe onde ele está. Por favor, me diga. — Elena, não sei. Meu irmão não está bem, eu acho... Eu o cortei: — Luca, meu casamento acabou. Nada mais me importa. Eu só quero estar com ele. Por favor, me diz onde ele está. — Ele está no sítio. — No sítio do vovô? — Isso! Ele ligou e me avisou que iria pra lá. — Obrigada por falar. — Tentem se acertar. — É o que mais quero. Foram horas intermináveis de voo. Eu estava agitada, nervosa e não conseguia dormir. Cheguei a são Paulo, estava frio e garoando. Peguei um Uber, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS e a próxima viagem durou quase duas horas. O carro parou em frente aos portões do sítio no fim da tarde. Passei pelo portão carregando minha mala e com uma ansiedade que não cabia dentro de mim. Tudo estava quieto, o frio devia ter feito todos se recolherem. A garoa fina molhava meu cabelo, meu corpo, eu devia estar um horror. Contudo, naquela altura, isso não me importava. Era uma boa caminhada da porteira do sítio até a casa, e eu segui pela estradinha. Meu estômago estava gelado, eu tremia pelo nervosismo e o frio. Avistei a casa, um local que tinha tantos significados para mim, um lugar ao qual nunca mais eu tinha voltado por me trazer tantas recordações. De onde estava, eu o avistei. Arthur estava na varanda e olhava para longe, tão perdido quanto eu... Fiquei emocionada e desabei emocionalmente. Minhas lágrimas saíam, eu estava tão cansada. Parei a uns 10 metros de onde ele estava e soltei minha mala. Não consegui dar mais nenhum passo a partir do momento em que ele colocou seus olhos em mim. Eu só chorava, esgotada, cansada das viagens, mas, muito mais, dos anos que passara PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS longe dele. Aquela seria nossa última chance. — Elena? O que faz aqui? — Ele me fitava surpreso. — Eu... eu quero os meus s-sonhos — balbuciei entre as lágrimas e tornei a caminhar em sua direção. — Um dia você falou que faria de tudo para realizá-los. — Eu sei que falei, mas... — Chega de “mas”! Foi ele que tirou você de mim! — E você não sabe do quanto me arrependo. Me perdoa! Me perdoa por ter afastado você da minha vida. — Você acha que eu estaria aqui se não tivesse perdoado? Eu te amo! Não existe mais nada entre nós, estamos livres para viver o que desejamos. Ele me puxou pela mão, e caí sentada em seu colo. — Eu te amo, Loirinha. Te amo! Sua boca encostou na minha, e nos perdemos em um beijo cheio de saudade e desespero. Sua língua invadia minha boca, e eu a recebia com ansiedade, amor, desejo. Eu o abraçava apertado, não acreditando ser real que estivéssemos ali. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Não acredito que estamos aqui, achei que nunca mais veria você — comentei. — Não sabe o quanto doeu ver você ir embora. — Não sabe o quanto sofri em te deixar. Estávamos com nossos rostos colados, e ele acariciava minha pele. — Vamos entrar, você está gelada. Você pode tomar um banho quente enquanto faço um chá. Entramos sem que eu saísse de seu colo. Fui ao quarto que usava quando adolescente e tomei um banho delicioso, que fez um bem imenso, pois, além do frio, eu estava casada devido às quase 24 horas desde que eu embarcara no voo para Nova Iorque. Ainda bem que eu tinha cochilado durante as muitas horas de voo. Vestida em um robe, desci até o andar de baixo. Arthur estava me esperando, mas não tinha nenhum chá à minha espera. — Eu quero você — ele disse. — Não fico mais um minuto sem ter você como minha. — Eu também quero você, quero muito... — Sentei-me em seu colo e o enchi de beijos. Subimos de elevador para o andar superior. Lembrei-me de ouvir vovô dizer que iria mandar instalar um. Arthur não parava de beijar meu rosto, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS minha boca, meu pescoço. Entramos numa suíte. Levantei-me de seu colo e retirei o robe. Arthur não tirava os olhos de mim. — Você é linda. E, com uma agilidade impressionante, passou seu corpo para a cama, ficando sentado na borda. Aproximei-me, e ele beijou meu colo, meus seios e minha barriga. Eu envolvia meus dedos em seus cabelos e me perdia por completo em suas carícias. Senti meu corpo ser virado e caí deitada sobre a cama. Seus olhos passaram por cada parte do meu corpo enquanto ele retirava sua calça e sua camiseta. Fiquei maravilhada com seu porte físico, ele estava muito mais forte, seus ombros largos, os braços malhados, a barriga definida, e havia novas tatuagens. Seu corpo estava lindo! Arthur voltou a beijar meu corpo, parou em meus seios e levou sua língua aos meus mamilos, que pediam por sua atenção, rijos. Meu corpo respondeu ao toque de sua língua curvando-se. Sentia minha intimidade pulsar. Eu o desejava, queria-o dentro de mim. — Que saudade, Thur... Parece que não é real. — É real, amor. Estamos aqui, voltamos pra PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS casa. Senti-me ser preenchida por ele, e seu gemido soou em meu ouvido. Enquanto nos amávamos, beijei seus ombros e acariciei suas costas. Sentiame consumida, arrebatada, eu o amava tanto... Sua boca encontrou a minha, e ele não foi gentil. Sua posse dominadora, forte, deixava-me sem ação. Ele me conduzia, e eu estava totalmente entregue a ele. O prazer que Arthur me proporcionava era gigantesco. Nossos gemidos saíam sem controle diante de suas investidas poderosas e beijos esfomeados, que nos levaram ao ápice. Nossos corações se reencontraram e batiam descompassados. Seus olhos estavam nos meus, sua pele, colada na minha, a emoção permeando o espaço entre nós. — Eu te amo, Elena! Te amo demais! Me perdoa. — Eu também te amo! Nunca mais me deixe. — Nunca mais! Prometo. A saudade, a dor por sua rejeição se esvaiam através de minhas lágrimas. Seus braços eram meu porto seguro, e ali eu queria permanecer pelo resto da minha vida. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Nós nos ajeitamos na cama, e me deitei em seu peito. Seus dedos acariciavam meus cabelos. — Farei de tudo para realizar cada um dos seus sonhos. Eu não me esqueci deles. — Eu só conseguiria realizá-los com você...Tantos anos nos separaram. E agora estamos aqui. Estou até com medo de dormir e descobrir que tudo não passou de um sonho. — Nós estamos aqui, é real. — Seus dedos se entrelaçaram com os meus, e ele levou minha mão à sua boca e a beijou. — O que aconteceu? Digo, com seu casamento? — Acabou. Eu e o Edu na verdade nos tornamos bons amigos. Depois que voltamos da nossa lua de mel, entramos em uma rotina. Ele pouco ficava em casa devido às viagens de trabalho, e foi acontecendo um distanciamento. Edu acabou conhecendo uma pessoa e se apaixonando. Ele me contou, e resolvemos terminar. E você? Por que não foi para Nova Iorque? — Eu fiquei muito mal depois da visita que te fiz. Ter a noção do seu casamento, ver sua casa, a intimidade de vocês mexeu muito comigo. Me culpei por ter perdido você. Eu nunca consegui te PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS esquecer, nunca. Porém eu tinha um relacionamento com a Clair e não achei certo deixá-la no meio disso tudo. Por isso resolvi ficar e pedi um tempo a ela. Eu precisava colocar meus pensamentos em ordem. — Eu estive com ela. A Clair pediu que eu dissesse adeus a você por ela. Ele ficou surpreso. — Você esteve com a Clair? Onde? Quando? — Eu fui até Nova Iorque atrás de você. Me deve uma pequena fortuna em passagens aéreas. Estou exausta. Não imagina o que senti ao chegar lá e descobrir que você não estava, e o pior, saber que estava no Brasil. — Por que não me ligou? — Eu tive medo. Queria ter essa conversa cara a cara. — Foi melhor mesmo ter essa conversa cara a cara. — Ele acariciou meu seio. — Engraçadinho... mas, de verdade, eu estava desesperada para te encontrar. — E aposto que foi o Luca que lhe contou que eu estava aqui — Foi. Eu sabia que ele seria a única pessoa a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS saber sobre você. — Eu avisei a ele, porque desliguei meu celular depois que cheguei aqui. Não queria falar com ninguém. — Ainda bem que você lhe avisou; não sei o que eu faria se não te encontrasse. — Mas encontrou, Loirinha, e agora estamos aqui, e nunca mais vou ficar longe de você. Aconcheguei-me mais em seus braços, usufruindo de todo o sentimento que aquele ato me proporcionava. Acabei dormindo grudada ao corpo do Arthur. Acordei sentindo-me quente, com a sensação de bem-estar e contentamento. Apertei o travesseiro e senti o cheiro do homem que eu amava. Abri meus olhos e o encontrei sentado em sua cadeira, com os cabelos molhados, segurando uma bandeja cheia de louça e alimentos e com os olhos grudados em mim. Seu olhar de deleite passava por meu corpo. — Você é linda, mesmo dormindo de boca aberta. — Ele sorriu. — Está preparado para ver isso todos os dias? Porque não durmo mais nenhuma noite longe de você. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — É tudo o que mais quero. — E você vai sempre me acordar com o café da manhã na cama? Sabe que amo café. — Sempre! Ele colocou a bandeja no criado-mudo e passou da cadeira para a cama, sentando-se ao meu lado, depois descansou a bandeja entre nós. Havia muita comida – frutas, iogurte, café, suco, ovos mexidos, queijos, pãezinhos. — Quanta coisa! Eu não vou conseguir comer nem a metade. Coloquei café puro em uma xícara e peguei um pãozinho e um pedaço de queijo. Arthur tomou suco, comeu os ovos e frutas. Estar com ele ali, compartilhando o café da manhã, curtindo a sensação de dividir algo como um casal, era incrível. Eu estava com meu coração tão cheio de amor, de felicidade. — Estou tão feliz. Eu te amo tanto! — declarei fazendo carinho em sua barba por fazer. — Nós vamos recuperar todos os anos que passamos separados. — Eu quero tantas coisas com você — E nós vamos ter. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Tomamos o café falando de assuntos referentes à sua recuperação. Arthur contou como foi todo o processo, depois falou sobre sua descoberta no esporte e sua paixão pela HandBike. Decidi tomar banho e me levantei da cama, indo em direção ao banheiro, mas, antes de passar pela porta, virei-me e o flagrei me apreciando. — Que tal tomar outro banho? — convidei-o. — Com o maior prazer. — Seus olhos eram pura luxúria. Entrei no banho primeiro, depois ele veio. A agilidade com que ele se movimentava ainda me causava espanto. Era tão seguro de si que a sua condição de cadeirante ficava em segundo plano. Ele fazia com que tudo fosse normal. Ao entrar no boxe, puxou-me para o seu colo, seu membro já ereto, roçando em mim, deixando-me ansiosa, molhada. Seus beijos famintos faziam com que o ar me faltasse. — Faz amor comigo, Arthur. Quero você dentro de mim. Ele levantou meu corpo e me fez sentar sobre si. Fui preenchida e mordi meu lábio diante do prazer que sentia. Ele gemeu em meu ouvido. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Você é perfeita, o amor da minha vida. Eu quero que seja a minha mulher. Parei de me movimentar e o fitei emocionada. — Sempre sonhei com o momento em que me pediria isso. — Então aqui, agora, com nossos corpos unidos, sentindo meu coração explodir de amor, eu te peço: Elena, você quer se casar comigo? — Sim! Mil vezes sim! Nós nos beijamos, e mordisquei seus lábios. Ele apertava minha cintura, e nos movimentávamos atentos um ao outro, buscando o prazer e o oferecendo, entregues e embriagados pelos sentimentos que nos cercavam.

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FICAMOS O DIA todo sob os lençóis. Fazíamos amor, cochilávamos abraçados, nos beijávamos e voltávamos a fazer tudo de novo. Desci e preparei uma macarronada e voltei para o quarto. Comemos no mesmo prato entre brincadeiras e beijos. Parecíamos crianças. Naquela noite Arthur quis ir até um barzinho que ficava no centro da cidade mais próxima ao sítio. Pedimos um táxi, e, na hora de sair da casa, foi que vi o Sr. Jordão e a dona Iracema. Eles ficaram surpresos ao me ver ali, porém foram discretos. No bar, notei o olhar das pessoas sobre nós. Não me importei por mim, mas pelo Arthur, não queria PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS que se sentisse mal. Entretanto, fiquei surpresa com a sua facilidade em lidar com o assunto. Arthur criou algo que o fazia ficar notável. Sua postura firme, com um ar intrépido acabava fazendo com que as pessoas modificassem seu olhar e o observassem com respeito. Foi uma noite extremamente agradável, apesar de termos abordado assuntos como Eduardo e Clair. — Quando vai pedir o divórcio? — Logo, assim que voltar ao Rio. E você? Como ficarão as coisas com a Clair? — Preciso falar pessoalmente com ela. — Vai voltar para Nova Iorque? — Eu ainda não tinha parado para pensar que sua vida era lá. Ele treinava lá, tinha uma estrutura montada naquela cidade, naquele país. — Depois que você resolver suas questões aqui, vamos para lá. Não te deixo mais sozinha um dia sequer. — Preciso ir para o Rio, pegar minhas coisas, desmontar o apartamento e entregá-lo. Não sei se o Eduardo está em condições de cuidar disso agora. Mas a separação será fácil, amigável; nós dois queremos, é só falar com nossos advogados. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Vamos tentar resolver logo e ir para Nova Iorque. Aliás, como vamos fazer? Minha vida é estruturada lá. — Vamos resolver. O que importa é que estamos junto; lá ou aqui, estaremos sempre juntos. Passamos mais quatro dias no sítio. Pescamos, Arthur quase me matou de susto ao entrar na lagoa. Fiquei apavorada ao chegar lá com uma cesta com um lanche e o ver na água. Joguei a cesta no chão e comecei a entrar na água. Só tive noção de que estava tudo bem ao ver que ele ria da minha cara, mas parou ao notar que eu estava realmente muito assustada. — Como você é boba... Acha que eu entraria se não conseguisse me manter bem dentro da água? Você está tremendo... — Ele abraçou meu corpo molhado. — Desculpa se te assustei, é que para mim já é normal. Eu treinei bastante na água, tenho equilíbrio do meu corpo dentro dela. — Seu idiota! Achei que tivesse caído na água e estivesse se afogando. Nunca mais me assuste desse jeito. — Desculpa! Não fiz por querer. Vem aqui. — Ele me abraçou mais apertado. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Morro de medo de que aconteça algo com você. — Nada vai acontecer comigo. Falei com a mamãe por telefone e descobri que meu pai já estava sabendo sobre nós. Mamãe lhe contou porque, quando ele soube que eu tinha ido para Nova Iorque, fez muitas perguntas, e ela acabou confessando tudo. Fomos do sítio direto para o aeroporto em Congonhas e pegamos um voo para o Rio de Janeiro. Falei com Eduardo por mensagem e descobri que ele já estava cuidando do nosso divórcio. Expliquei que iria retirar minhas coisas do apartamento, e ele pediu que eu cuidasse de tudo para a devolução do imóvel, porque não queria se ausentar de São Paulo. Assim fiz. Arthur não quis me acompanhar ao apartamento, preferiu ficar no hotel. Contratei uma empresa e fiquei um dia todo cuidando das coisas, separando as roupas do Edu, seus livros, seus objetos pessoais, e os meus. Separei algumas malas para levar comigo, e as outras, pedi que a empresa as entregasse na casa da minha mãe. Dispensei a nossa empregada e entreguei o apartamento. Evitei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS falar com o Eduardo por telefone. Arthur não falava nada, mas era notório seu desconforto. Fomos para Nova Iorque, e, ao chegar à casa do Arthur, senti receio de encontrar Clair por lá, mas ela não estava. Luca estava com a sua namorada, que de início ficou muito quieta, e eu a compreendia. Ela e Clair eram melhores amigas. Amei conhecer a rotina do Arthur e começar a fazer parte dela. Não desgrudávamos um minuto, porém, isso logo teria que mudar. Ele voltaria aos treinos, e eu precisava decidir o que faria da minha vida. Estávamos na cidade havia um mês, morando sozinhos nas últimas semanas. Luca estava morando com Stella, já que Clair acabara voltando para a Itália. Eu não sabia ao certo, mas parecia que seu ex-noivo a tinha procurado, ele viera atrás dela ali. Eu preferia não saber. Sabia que o Arthur vinha falando com ela por mensagens, ele me avisara que faria isso, e achei correto da parte dele. No entanto, morria de ciúmes, e imaginá-lo com ela fazia meu sangue ferver. Por isso o entendia quando o assunto Eduardo aparecia e ele torcia o nariz. Em breve eu teria que ir ao Brasil para assinar os papeis do PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS divórcio, e não havia mais como fugir da nossa família, por isso pedi que mamãe fizesse um jantar. Assim falaríamos com todos. Arthur estava uma pilha de nervos ao desembarcar em São Paulo. Naquele mesmo dia, eu me divorciaria, e, à noite, encontraríamos nossa família. Arthur decidiu ir comigo ao fórum, onde eu e Edu nos encontraríamos. Ao chegarmos lá, encontramos o Eduardo, seu advogado e a mamãe, que me aguardavam para a assinatura dos papeis. Apesar de o papai reclamar, ela continuava a advogar. O clima estava estranho, Edu se encontrava visivelmente abatido, com a barba por fazer e semblante triste. Mamãe estava pensativa. — Oi, mãe, está tudo bem? Estou te achando nervosa. — Está tudo bem, filha. Não se preocupe. — Oi, Edu! Como andam as coisas? Você está tão abatido... — cumprimentei-o. — Não andam bem, mas eu espero que melhorem. — Ele olhou para o Arthur, que nos fitava. — Oi, Arthur, como vai? — Bem! — foi a única coisa que ele respondeu. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Entrei com o Eduardo, seu advogado e mamãe na sala de audiências do juiz e, de lá, saí assinando com meu nome de solteira. Renunciei a metade do apartamento que tínhamos em São Paulo, já que praticamente tinha sido o Edu quem o pagara, e, no mais, não tínhamos o que dividir, nem havíamos tido tempo para conquistar bens. Dentro da sala, Eduardo me abraçou. — Desejo que você seja feliz, Elena. — Eu também desejo sua felicidade. Espero que a Mariana e seu bebê te tragam muitas alegrias, Edu. Seus olhos se encheram de lágrimas. — É o que mais quero, Elena. Estou lutando por isso. — De maneira máscula, recolheu a lágrima que desceu por seu rosto. — Adeus, Elena! — Adeus, Edu! E ele saiu pela porta. Eduardo era um homem maravilhoso e merecia ser feliz. Eu desejava que aquela garota o amasse, porque a dor que eu via em seus olhos era de cortar o coração. Fomos para um hotel, pois eu e o Arthur não queríamos nos separar. Decidimos conversar com nossas famílias antes do jantar, então Arthur foi até PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS seus pais, e eu fui para casa. Ao passar pela porta, avistei meu pai sentado no sofá. — Oi, papai! Ele se levantou e veio até mim. — Oi, filha! — Cadê a mamãe? — Estou aqui, meu amor. — Mamãe se aproximou e beijou meu rosto. — Papai, eu queria conversar com vocês antes do jantar. Ele voltou ao sofá e fez sinal para que eu me sentasse à sua frente. Mamãe se sentou ao seu lado e segurou sua mão. — Eu já sei o que veio me dizer. Sua mãe já me contou um pouco. — Pai, eu e o Arthur nos amamos desde crianças. Quando iríamos falar com vocês sobre isso, ele sofreu o acidente e depois acabou me afastando... Enfim, nos reencontramos e estamos juntos. — E por que você se casou se amava outra pessoa? — Porque, por muito tempo, ele não me quis por perto, e eu pensei que conseguiria amar o Edu. — Você achou? Isso não se acha, Elena, se sente. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Você poderia ter acabado com a vida do Eduardo, porque era visível que ele gostava de você. Eu não via em você os mesmos sentimentos e cheguei a falar com a sua mãe sobre isso. — Pai, eu e o Edu terminamos numa boa. Não se preocupe com isso. — E o que vocês pensam em fazer? Arthur mora fora, tem uma vida lá, pelo que vi, tinha uma namorada. — Eles terminaram ainda aqui, no Brasil. E, quanto ao que vamos fazer, ainda não sabemos. Talvez eu vá morar lá. — O quê? E a sua carreira? E a clínica? Seu consultório ainda está lá, esperando por você. — Erick, chega! Elena é adulta e saberá conduzir a sua vida. — Não me importa a idade dela! Ela é minha filha! A Júlia foi para fora para estudar e nunca mais voltou, nem a nossa neta temos por perto, e agora a Elena também vai sair do país. O Enzo já falou que vai ficar um tempo na Austrália depois que terminar a faculdade. O que nós vamos fazer? — Estava demorando para o meu pai começar. — Eu queria filhos, você lembra que eu dizia para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS termos mais filhos porque eu temia que um dia ficássemos sozinhos? E olha aí, vamos ficar sozinhos — começou a se lamentar. — Não vamos não, amor. — Como não!? Ela acabou de dizer que talvez vá embora com o Arthur! — E nós não iremos ficar sozinhos. Acho bom continuar as suas aulas de musculação e condicionamento físico. — Por que está me dizendo isso, Amanda? Pelo amor de Deus! — Meu pai passou a mão pelos cabelos. A emoção no rosto da minha mãe era a resposta. Mamãe sempre foi a mulher mais linda do mundo para mim e, naquele instante, irradiava luz através de seus olhos emocionados. — Não sei como, eu estava me preparando para a menopausa, achei que o atraso em minha menstruação era por isso, sentia meu corpo mais inchado, estava sempre com sono. Hoje, depois da ida ao fórum, fui a uma consulta com a Dra. Lúcia, totalmente tranquila com a pré-menopausa. Uma gravidez a essa altura, quase 50 anos, era uma coisa inimaginável para mim, ainda mais depois da PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS chegada da Charlote. Eu esperava apenas por meus netos, mas descobri que... estou grávida! — Mamãe! Que lindo! Jura?! — Corri e a abracei. Meu pai estava em choque. — Isso é sério? Pelo amor de Deus, não brinca com uma coisa dessa, Amanda. — É sério, amor! Olha o resultado. — Mamãe passou o celular para o meu pai e mostrou a tela aberta com o resultado do exame feito em um laboratório. — Eu acabei de receber a confirmação. Pelas minhas contas, devo estar com nove semanas. Papai olhava para a tela parecendo ainda não acreditar. — Anjo, tem noção do que essa notícia faz comigo? — Tenho, amor. Ele a abraçou com tanto carinho que foi impossível não me emocionar. Eu sempre sonhei em ter um amor como o deles. Meu pai sempre foi muito carinhoso e extremamente apaixonado por minha mãe. Os dois se completam de uma forma incrível, e saber que eu nasci deles, do amor deles me faz feliz. Eu e meus irmãos crescemos em um PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS lar cheio de carinho. Papai é nosso herói, e mamãe... a mamãe nós vemos como um anjo, assim como papai sempre a chama. Meu pai me puxou para o abraço deles e beijou minha testa. — Filha, eu sei que sou chato, que às vezes ultrapasso os limites. Como sua mãe diz, eu não enxergo que vocês cresceram. Mas é porque me preocupo com a felicidade de vocês. Há um tempo, talvez interferiria na sua escolha, porque você ainda seria uma menina, mas agora não, acredito que você sabe o que é melhor para você, para a sua vida, e, por outro lado, o Arthur é um bom rapaz, e, se ele te fizer feliz, eu estarei feliz também. — Obrigada, papai. É muito importante para mim a opinião de vocês. E parabéns! Porque esse bebezinho terá os melhores pais do mundo. Eu amo vocês! Os convidados começaram a chegar para o jantar que a mamãe organizou para comunicar a toda a família que eu e o Thur estávamos juntos. Entretanto, a grande novidade acabou sendo a gravidez da mamãe, que pegou a todos de surpresa. Tia Carla correu a me abraçar. Eu fiquei muito PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS feliz em ver a aceitação de nossa família. Eu e o Arthur estávamos apaixonados, trocávamos olhares durante todo o jantar, parecíamos não acreditar que estávamos vivendo aquilo.

Três meses depois. Beijei os pezinhos gordinhos de Charlote, que dava gargalhadas, deitada em minha cama no meu antigo quarto na casa dos meus pais. Ela era linda, a coisinha mais perfeita que existia. Eu sentia um amor por ela que era inexplicável. Minha irmã estava radiante, mais mulher, mais bonita, e meu cunhado não cabia em si de felicidade e orgulho quando olhava para Júlia e Charlote. Mamãe estava plena com sua barriguinha de cinco meses e sendo mimada por todos, principalmente pelo meu pai, ainda mais por ser uma gravidez de risco, na idade dela. Já meu irmão andava suspirando pela casa. Eu achava que o bichinho do amor o tinha picado PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS também. Enzo se tornara um homem lindo e tinha um coração do tamanho do mundo. E eu e o Arthur estávamos ansiosos para o nosso casamento. Decidimos fazer algo bem intimista, somente com nossos familiares e poucos amigos, no jardim da casa dos meus pais, todo decorado. Mamãe e tia Carla cuidaram dos detalhes para mim enquanto eu estava em Nova Iorque, e, quando cheguei, estava tudo pronto. Não quis nada convencional, para começar pelo meu vestido, que era lindo, perolado, solto sobre meu corpo, meus pés descalços, flores naturais presas em meus cabelos e um buquê de flores do campo, coloridas e alegres. Arthur vestiria uma calça bege e uma camisa branca, e pedimos que os convidados usassem branco. Todos os convidados aguardavam no jardim, e eu terminava de me arrumar. Júlia pegou Charlotte e desceu, dando-me uns minutos a sós. Ao descer as escadas, fui surpreendida. Não era meu pai que me aguardava, e sim o Arthur. — Você? — Sim. Achei que nós dois devíamos caminhar para aquele altar juntos. Só nós sabemos pelo que PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS passamos para chegar até aqui. — Só nós sabemos — repeti emocionada. — Você está linda! Sou um cara de sorte! — Você também está lindo! — Está pronta para viver essa aventura comigo? — Esperei minha vida toda por esse momento. — Então vem. — Ele pegou em minha mão e me puxou para o seu colo. — Eu te carregarei em meu colo e te protegerei com meus braços até o dia em que Deus permitir. Você foi e sempre será o grande amor da minha vida. Eu o abracei e beijei sua boca. — Então vamos, vamos fazer tudo se tornar real. E foi assim que passamos pelo corredor repleto de flores, em sua cadeira, eu em seu colo, sendo levada para o altar onde receberíamos as bençãos das pessoas mais importantes em nossas vidas, os nossos pais. Foi uma tarde maravilhosa. Estávamos felizes e não cansávamos de olhar para as nossas alianças. Dançamos, nos beijamos e nos entregamos àquele momento, que era tão nosso. Eu não sabia onde passaríamos nossa noite de núpcias, Arthur estava fazendo segredo. Fiquei PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS surpresa ao chegarmos a um hotel seis estrelas. A suíte presidencial era linda, tinha pétalas de rosas por todo o piso e sobre a cama, bem como velas pelo chão e na borda da banheira. A grande janela, que tomava praticamente uma parede, mostrava São Paulo aos nossos pés. — Gostou? — Amei! É lindo! — Eu te amo, minha esposa. — E eu te amo, meu marido. Fiquei a alguns passos dele e o fitei. Levei minha mão à alça do vestido e o desci pelo meu ombro. Meu corpo foi ficando desnudo, e seus olhos o escaneavam. Retirei minha calcinha e fui em sua direção. — Como na primeira vez — ele falou. — Como na primeira vez. E quero ser sua pela primeira vez depois de casados nessa cadeira. E foi assim que aconteceu. Não que já não tivéssemos feito aquilo antes, mas ali, naquele momento tão significativo para nós, eu queria que ele soubesse que era ele, somente ele que me importava, da forma que fosse, e que, mesmo em cima daquela cadeira, ele me realizava como PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS mulher, saciava meus desejos e me deixava a cada dia mais apaixonada. Vocês podem não acreditar, mas amores à primeira vista existem, e o nosso amor prova isso. Eu acredito que amei o Arthur desde a primeira vez em que o vi e foi somente ele a ser o dono desse sentimento. Eu o amei em todas as fases da sua vida, notei cada mudança de seu corpo, sua personalidade. Tornei-me mulher através de seu corpo, e isso será guardado para sempre em minha memória. Hoje ele é meu marido, com ele divido minha cama, meus sonhos, minha vida, filhos. Ele faz com que meus dias sejam alegres, e minhas noites, cheias de paixão. Eu o amo e me sinto extremamente amada. Hoje eu sei o verdadeiro significado da palavra felicidade e a vivo plenamente.

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FORAM DOIS ANOS de tentativas de fertilização, duas tentativas frustradas. Sentia-me desapontada. Eu queria muito um filho, era só o que faltava para a nossa felicidade ser completa. Pelas redes sociais, eu acompanhava a vida do meu ex-marido e o via muito feliz, apesar de tudo o que tinha passado. Arthur ainda tinha muito ciúmes dele, assim como eu tinha de Clair. Porém ficamos sabendo de sua vida por Stella. Clair estava casada, ela e o noivo haviam reatado depois que ela retornara para a Itália e estavam prestes a ter um bebê. Olhando para essas pessoas que tinham feito parte do nosso passado, vendo suas famílias sendo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS construídas, concluímos que nada acontece por acaso e que tudo acaba se encaixando no lugar certo e vindo na hora certa. Tanto que a boa notícia chegou para nós. Depois te mais uma tentativa de inseminação, eu estava grávida. Arthur teve um pequeno surto ao olhar para o teste de farmácia, abraçou-me e chorou comigo. Era um sonho nosso. Estávamos loucos por um bebê. Eu estava tão ansiosa que não aguentei ter a confirmação do laboratório, por isso fiz o teste em casa. Alguns dias depois, fomos ao médico para realizar a primeira ultrassonografia, e a ansiedade não cabia em nós. Entramos na sala assim que fomos anunciados, troquei de roupa e me deitei na maca. O exame começou, e, pela primeira vez, vimos as nossas bençãos. Eram dois, teríamos dois bebês. Sabíamos que poderia acontecer, porém focamos em ter a sorte de fecundar pelo menos um. Depois de duas tentativas frustradas, estávamos apreensivos. Entretanto, fomos abençoados e teríamos dois bebês. Saímos da clínica, e Arthur fez questão de ir até uma loja de artigos para bebês. Ele queria comprar as primeiras roupinhas dos nossos filhos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Os três primeiros meses não foram fáceis. Vomitei muito, tudo o que colocava na boca. Arthur era um companheiro excepcional, era muito cuidadoso e carinhoso.

— Você tem noção de que em você está tudo o que é mais importante para mim? Que minha vida se resume a vida de vocês três? — Arthur me perguntou. — Eu carrego as suas joias preciosas. — Sorri. — Você é minha joia mais preciosa. Obrigada por todo o esforço para que pudéssemos ter os gêmeos, eu só dei uma pequena contribuição. — Sorriu. — A heroína de toda essa história é você. — Quero ver se serei heroína na hora do parto. Preciso ficar bem. Tenho que ter energia para colocar esses dois malcriados no mundo. — Não chama os meus filhos de malcriados. — Eles judiam da mãezinha deles. — Fiz bico. — Eles irão ficar bonzinhos em breve, não é, crianças? — Arthur tinha a cabeça em meu colo, e PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS curtíamos uma tarde ensolarada no Central Park. E eles ouviram o pai. No mês seguinte, eu estava comendo como uma louca. Tentava me controlar, como pediatra e neonatologista, sabia que precisava me alimentar de forma correta, mas, como diz o ditado “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”. Comia muita porcaria, era louca por sorvete e ganhei trinta quilos na gravidez. Minha barriga era imensa, meus pés ficaram inchados, eu morria de dores nas costas e temia uma diabetes gestacional. Arthur tentava aliviar as dores com massagens. As crianças eram muito ativas em meu útero, mas bastava o pai pôr a mão em minhas costas e ombros e começar a massagem, que meus “pitoquinhos” ficavam quietinhos, e eu aproveitava o momento. Foi uma delícia arrumar o quartinho deles. Ajeitamos cada detalhe. Tia Carla e tia Aline vieram me ajudar. Assim que compramos o nosso apartamento, tia Carla fez o projeto e adaptou as portas, colocou tudo a uma altura boa para o Arthur ter manuseio total da casa e, depois que nos mudamos, voltou para ajudar com os detalhes da decoração. Minha tia estava como doida preparando tudo para os netos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Senti as primeiras contrações um mês antes do tempo normal. Tentei manter a calma, não queria alarmar o Arthur, porém minha bolsa rompeu na sua frente, e ele ficou em choque olhando para a poça que se formara aos meus pés. A pontada chata nas costas crescia cada vez mais. Troquei minha roupa, e fomos para o hospital. Fiquei mais de 18 horas em trabalho de parto, pois queria um parto normal. Que dor terrível! Chegou um momento em que eu só desejava colocar os bebês para fora, não aguentava mais ficar naquele sofrimento. — Loirinha, calma. — Eu não estou conseguindo, Thur. — Sentiame frustrada. — Você vai conseguir, está tudo caminhando para isso. — Arthur acariciava meu rosto suado e segurava a minha mão. — Outra contração está vindo! Segura minha mão, Thur. — Eu não vou soltar. Eu prometi. Lembra o seu sonho? Eu sempre seguraria sua mão em um momento de dor e desespero. Eu estou aqui com você, amor. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS A dor veio tão forte que achei que iria desmaiar. — É o momento, Sra. Medina. Eles estão chegando, pode fazer força — o médico avisou. — Vai, amor, empurra! — Arthur me encorajou. E eu empurrei, fiz mais força, e o primeiro bebê nasceu, chorando muito e fazendo com que eu e o Arthur nos acabássemos em lágrimas. — O que é, doutor? — Arthur perguntou ansioso. — Um meninão, grande e muito bonito. — Um menino! Temos um menino! Arthur beijou meu rosto, emocionado. Nós não quisemos saber o sexo dos bebês, deixamos para descobrir na hora do parto. Tive alguns segundos para respirar, e outra contração dolorosa me atingiu. — Lá vem o outro bebê. Força, Sra. Medina! — o médico informou. E fiz muita força para colocar minha bonequinha no mundo. Sim! Tivemos um casal! Deus foi extremamente grandioso conosco, mandando aquelas duas pessoinhas para nós. Eu e o Arthur chorávamos como duas crianças. Eu estava exausta. Contudo, sentia júbilo e gratidão, pois meus bebês PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS nasceram fortes, saudáveis e eram lindos. Dylan era loirinho como eu, e Lynda tinha os cabelinhos escuros do pai. Após os cuidados, os dois vieram para o meu colo e foram colocados em meu peito. Ambos grudaram em meus seios. A sucção dos dois estava muito boa, mesmo sendo prematuros. Saímos do hospital dois dias depois do meu parto com nossos dois “pitoquinhos”. Dylan era um amor, quietinho, pouco chorava, já a dona Lynda era uma chorona de carteirinha. Contudo, o colinho do papai lhe agradava muito, porque a espertinha amava ficar nos braços dele, que ficava todo garboso com ela. Fomos dois guerreiros, cuidamos dos dois sozinhos nos primeiros 60 dias. Foi uma escolha nossa estar com eles. Nossos pais queriam vir nos ajudar, mas queríamos passar por essa experiência sozinhos. Finalmente embarcamos com eles para o Brasil. Imaginem a logística de tudo isso. Todavia, chegamos bem ao nosso país. Nossa família nos esperava em peso no aeroporto. Tínhamos voltado ao Brasil para que nossa PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS família conhecesse os gêmeos e para batizá-los. Aproveitamos a agenda da minha irmã. Eram férias de Henry, e eles estavam no Brasil. Júlia e o marido iriam batizar a Lynda, e o Luca e a Stella batizariam o Dylan. Eu e Stella nos tornamos boas amigas. Ela e Luca iriam se casar no próximo verão. O batizado dos bebês foi lindo. Os dois ficaram tão comportados durante toda a cerimônia que fiquei orgulhosa deles. Quando saímos da igreja, recebemos os convidados na casa da tia Aline. Ela preparara um almoço especial para o batizado e decorara tudo com flores brancas e anjinhos. Encontrei Arthur ao lado da piscina. Ele bebia uma cerveja e olhava para o tio Marcelo com Dylan no colo. Ele e tia Aline estavam se derretendo por nosso filho. Do outro lado, tia Carla carregava a Lynda e tentava acalmá-la. Minha filha desde cedo demostrava que teria um gênio um pouco difícil, e tio Marcos falava que a nossa pequena chorona tinha puxado à avó. Enquanto isso, papai ninava a minha irmãzinha, Luiza, que era linda, um encanto de criança. Seu nascimento enchera meu pai de vida, e ele e mamãe PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS pareciam um casal novo como nós. Tio Leo e tia Lia conversavam com a vovó Isabel e o vovó Otávio. Eram muitos primos, muitos tios, muitos irmãos e amigos de longa data dos meus pais, como a tia Nath e o tio Rodrigo e o tio Gustavo e a tia Meg, uma família linda, rodeada de amor. E, sentada no colo do meu marido, eu observava o quanto feliz nós éramos e o quanto valera a pena ter guardado meu amor por ele. Apesar de tudo o que passáramos, cada passo tinha servido para que nos reencontrássemos no melhor momento de nossas vidas e pudéssemos usufruir de toda a alegria que a vida podia nos dar. Fim

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— AGORA É MINHA vez, Dylan! Me deixa jogar a bola! — Isso não é brincadeira de menina. Você é muito chata, está sempre se metendo quando estou brincando com o meu pai. — Ele é meu pai também, seu bobo! — Ei, vamos parar com isso! Sou o pai dos dois. Não gosto quando começam a brigar. — Mas ela sempre se mete em nossas brincadeiras — Dylan reclamou e ficou emburrado. — Jantar pronto! Lynda e Dylan, vão lavar as mãos. — Minha mulher linda e grávida apareceu à porta. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS — Mamãe, o Dylan está dizendo de novo que meu pai é dele. — Dylan, o papai é de vocês dois, da mamãe e do bebê também, amor. — Elena se abaixou e o beijou. Dylan era muito apegado a mim. Ele estava com cinco anos, mas ainda pedia meu colo e dormia colado em meu peito. Eu o carregaria pelo tempo que ele quisesse e coubesse em meus braços. Acreditei por muito tempo que minha maior vitória seria me tornar um grande atleta e vencedor de muitas medalhas. Todavia, a partir do momento em que meus filhos foram colocados em meus braços, eles se tornaram a minha maior vitória. Não existem medalhas que se igualem ao amor que recebo dos meus filhos e da minha mulher. Eles foram as minhas maiores conquistas. Os dois correram para dentro de casa, e Elena veio até mim, sentando-se em meu colo e beijando a minha boca. — Eu não poderia ter escolhido melhor pessoa para passar por isso comigo — declarei. — Obrigado por ter dado eles a mim, amor. Não sabe o quanto eu agradeço a Deus por Ele ter nos dado a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS benção de ter mais um filho, e, dessa vez, sem nenhum tratamento. Acariciei sua barriga arredondada, alegre por saber que em breve nossa pequenina chegaria. Fomos pegos de surpresa com essa gravidez. Elena começou a sentir enjoos, e, com um simples exame de farmácia, descobrimos a chegada de mais um filho. Ela estava linda, ela era a luz da minha vida. Eu a observava cuidando dos nossos filhos, e era tão bonito ver a sua entrega, seus cuidados e carinho. Após o nascimento dos gêmeos, permanecemos por mais três anos em Nova Iorque, depois voltamos ao Brasil. Elena sentia muita falta da nossa família e queria que as crianças tivessem a presença dos avós e tios, como também poder se dedicar à sua profissão, o que não podia nos Estados Unidos. — Já lavamos as mãos, mamãe — Lynda avisou, aparecendo à porta. — Então vamos jantar? Essa mocinha aqui dentro já está reclamando de fome — Elena falou, saindo do meu colo. O jantar estava na mesa. Elena colocou comida no prato do Dylan, e eu servi Lynda. Sempre PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS dividíamos as tarefas com as crianças. — Amanhã começam as aulas, então hoje vocês irão dormir cedo para não ter preguicinha para acordar. — Quero usar minha mochila nova! — Lynda comentou alegre. — Sua avó faz todos os gostos de vocês. Sua mochila estava novinha, dona Lynda! Vocês se aproveitam da vovó Carla, seus danadinhos. — Foi ela que quis comprar as mochilas, mamãe — Dylan se defendeu. — Sei! Conheço vocês dois muito bem. — E minha mãe não colabora. Ela os estraga mesmo. Eu nem falo mais nada. — Minhas vovós são boazinhas — Lynda comentou. — Elas mimam vocês, seus arteiros — retruquei. Depois do almoço, as crianças se deitaram no sofá para assistir pela milésima vez a Toy Story, e Elena foi para o nosso quarto. Eu peguei o notebook e agendei alguns pagamentos da academia. Depois que voltamos para o Brasil, abri uma academia que atendia ao público normal, mas também com profissionais especializados para PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS treinar clientes portadores de necessidades especiais, que, depois de alguns anos, tinha duas filiais em funcionamento. Elena trabalhava na clínica da família e dava plantão em um hospital uma vez na semana. — Papai, quero meu leite — pediu Lynda. — Mas você acabou de jantar. — Mas estou com sono e quero meu “tetê” — disse manhosa. — Sua mãe vai brigar comigo, sabe que ela não quer mais que usem mamadeira. Vocês já estão grandes. — Mas estou com soninho... Por favor, papai. Eu sempre acabava cedendo. — Deita no sofá, que vou fazer. Preparei as mamadeiras, porque sabia que o Dylan, quando visse a Lynda com a dela, também iria pedir. Voltei à sala e passei da cadeira para o sofá. Dylan, quando viu a mamadeira, correu a subir no meu colo, e Lynda se encaixou em meu braço. Estava cada vez mais difícil ter os dois juntos em meu colo. Minha menina tomava sua mamadeira enrolando uma mechinha do seu cabelo, e Dylan segurava o lóbulo da minha orelha. Ele PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS fazia isso desde muito novinho. Era assim que eu os fazia dormir. — Você é fogo, né, Arthur? Já não falei sobre as mamadeiras? — Elena apareceu na sala e cruzou os braços, chamando minha atenção em voz baixa. Os dois já dormiam com suas mamadeiras na boca. — Deixa de ser chata, Loirinha. Daqui a pouco eles estarão grandes. Me deixa curtir um pouco mais. — Quero só ver quando eles precisarem de aparelho nos dentes, porque eu tento tirar a chupeta e, quando vejo, você as entregou; tiro a mamadeira, e você, ao primeiro dengo deles, cede. — Se precisarem usar aparelhos, vão usar. Eu usei. — Porque você também era cheio de mimos e, mesmo grande, vivia com a chupeta na boca. Acredita que lembro disso? — Ela começou a rir da minha cara. — E você fazia xixi na cama. Lembra quando dormimos na mesma cama na casa da vó Ângela e você encheu a cama de xixi e, de tabela, me molhou inteiro? — Lembro. Eu morri de vergonha naquele dia. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Elena retirou as mamadeiras das mãos deles e ajeitou a Lynda em um canto do sofá, e eu deitei o Dylan, logo depois cobrindo-os com uma manta. Deixamos a tevê com o volume baixo, e voltei para a cadeira. — Eu ia te chamar pra deitar comigo. — Ela veio para o meu colo. — Depois os meus filhos é que são dengosos, né? — Beijei seu pescoço. — Mas eu só estou assim porque sua filha está aqui dentro. É ela que faz com que eu me sinta desta forma. — Olha só, culpando a nossa bebê por seus mimos. — Está bom! Reconheço. Amo ser mimada por você. Promete que vai ser assim até eu ficar velhinha? — Prometo! Pode deixar, que trocarei suas fraldas, colocarei meias em seus pés e todas as noites dormirei segurando a sua mão. — Ela beijou meu rosto. — Mas até lá eu vou me aproveitar bastante desse corpinho, e, se Deus quiser, ainda fazer mais alguns filhos com você. E pode ter certeza de que serei um velhinho atrevido e não te PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS darei sossego. — Mais filhos? Você quer acabar comigo? Filhos custam caro. — Quero nossa casa cheia de nossas miniaturas. E, quanto ao custo, nós trabalhamos bastante; juntos, daremos conta da empreitada. — Eu te amo, Arthur. — E eu te amo ainda mais, Elena.

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FOLHAS DE OUTONO Spin-off da série Recomeço

Sinopse PERIGOSAS ACHERON

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Depois da morte de sua mãe e do casamento inesperado de seu pai, Mariana, com apenas seis anos, foi mandada para um internato em outro estado. Seus valores foram moldados sob as leis cristãs, e sua educação, extremamente severa, seguindo as regras rigorosas das freiras e da Madre Superiora. Ao completar sua maioridade, ela ganha o direito de ir embora do lugar que por anos foi seu abrigo e, ao chegar a São Paulo, descobre que nada seria como imaginou. Sem a proteção de seu provedor e totalmente desacolhida por sua madrasta, Mariana precisa encontrar uma forma de sobreviver na grande metrópole. Eduardo, a mina de ouro da família Alves Alencar, presidente de uma construtora renomada no país, vive em um casamento que foi construído sobre a areia. Nos poucos meses após suas núpcias, ele notou que as coisas não caminhavam como ele esperava. Contudo, precisa manter o status de homem bem casado diante da família extremamente tradicional. Em um dia atípico para o grande magnata das PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS construções e muito importante para Mariana, ambos acabam se esbarrando de forma inusitada, fazendo com que Eduardo, pela primeira vez em muito tempo, sinta-se encantado por outra mulher e que Mariana descubra que o que para ela foi ensinado como pecado é a forma mais linda e sublime de amor. Um encontro de almas antigas, uma paixão arrebatadora. Apesar das diferenças de idade e padrão social, do preconceito e dos julgamentos, eles lutarão pelo que realmente importa, pelo amor verdadeiro.

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Termino este livro com a sensação de dever cumprido. Esta série sempre será muito especial para mim, e agora me despeço dos personagens que, por cinco anos, acompanharam-me. Olhando para trás, noto o quanto progredi. Erick e Amanda trouxeram para a minha vida um ar fresco e um mundo de possibilidades e recomeços. Agradeço à minha família, marido e filhos, por todo o apoio e compreensão pelas horas passadas diante do computador e por serem meus maiores incentivadores. À minha revisora querida, Analine Borges Cirne, ou Ana Christie, como é conhecida em suas redes PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS sociais, pela parceria, carinho e dedicação. A Laizy, que sempre me deixa apaixonada pelas capas e diagramações que produz. Ela sempre consegue captar a essência dos meus trabalhos. Às minhas betas, Debora Gomes, Nathália Karolline e Rose Molan, pela dedicação e carinho a cada capítulo escrito. Obrigada por me impulsionarem e por todo o incentivo. Amo vocês, meninas! E aos meus leitores do Wattpad, que acompanharam capítulo a capítulo e que agora terão o livro completo.

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Monica Craveiro, esposa e mãe. Apaixonada por livros de romance, tornou-se uma romântica incurável. Escrevia pequenos textos, mas nunca PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS imaginou que um dia chegaria a escrever um livro completo, porém em 2014 escreveu seu primeiro romance e começou a publicá-lo na plataforma canadense Wattpad. Lá conquistou milhares de leitores e, do livro inicial, fez-se uma série. Cinco anos depois, autora autopublicada na Amazon, teve seus livros entre os mais vendidos do site e da revista Veja.

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EU EM VOCÊ SÉRIE RECOMEÇO - LIVRO 1

À venda no formato digital Amazon PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS SINOPSE Amanda é uma jovem que aprendeu desde cedo o quanto a vida pode ser difícil. Acompanhada pelo sofrimento, poucas coisas a faziam sorrir ou pensar no amor, e uma dessas poucas coisas era o par de olhos azuis que pertencia a um rapaz que tomava café toda tarde na lanchonete em que ela trabalhava. Erick sempre teve tudo o que quis. Acostumado a uma vida de privilégios, nunca se sentiu intimidado, até colocar seus olhos na garçonete do café da faculdade. Ela tinha um olhar tímido que o encantava. Em uma noite, o destino faz o seu trabalho, e ela entra em sua vida. Será que Amanda poderá confiar em alguém a ponto de se entregar totalmente e se permitir ser curada das marcas de um passado tão presente? Será que é possível resistir a um amor que, apesar de todas as barreiras encontradas, cresce a cada dia? Eu em você é um romance que fala sobre amor, amizade e fidelidade. Ele nos mostra que o amor é o sentimento mais forte que pode existir e que há laços que jamais podem ser quebrados. PERIGOSAS ACHERON

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POR VOCÊ SÉRIE RECOMEÇO - LIVRO 2

À venda no formato digital Amazon SINOPSE: Voltar para uma vida normal era tudo o que Marcos queria. Depois de passar alguns anos preso, esse era seu único desejo, e tudo seria um recomeço em uma nova cidade, com novos amigos e novos objetivos. Carla se encontra em um momento delicado, PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS grávida e sozinha. Não procurava relacionamentos até o irmão de sua melhor amiga aparecer e a tomar aos seus cuidados, o que a deixou receosa, pois havia prometido a si mesma nunca mais se entregar. Será Carla capaz de abrir novamente seu coração? E Marcos conseguirá seu tão sonhado recomeço e a conquista de um amor? A vida está sempre nos dando presentes e que cabe a nós aceitar ou não.

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PARA TER VOCÊ SÉRIE RECOMEÇO – LIVRO 3

À venda no formato digital Amazon SINOPSE: Um livro, seis personagens, três histórias... Leonardo é um homem que está passando por um momento muito complicado. Ele precisa se reencontrar, se reconhecer e faz isso colocando uma mochila nas costas, indo para o aeroporto e deixando que a vida se encarregue do resto. Lia, uma jovem dentista que dedica sua vida aos PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS menos favorecidos e que tenta encontrar nas pequenas coisas motivos para continuar. Ela traz marcas físicas e emocionais de uma parte de sua vida que nunca esquecerá. Quem vê Rodrigo vestido em seu terno, advogado e herdeiro do mais famoso escritório de advocacia de São Paulo, não imagina que, por trás de tudo isso, ainda vive um jovem perdido que carrega a dor de uma história mal resolvida. No entanto, o passado volta e, junto com ele, Rodrigo encontra a chance de passar sua vida a limpo. Nath é daquelas pessoas que ou você ama, ou odeia. Uma mulher de atitude e de boca inteligente que usa a fachada de mulher fatal por medo de amar. Gustavo é um grande empresário que tinha sua vida milimetricamente planejada, mas agora se vê diante do caos que tudo ficou após o término do seu casamento, que para ele era perfeito. Ele jura a si mesmo que, a partir desse momento, só usará as mulheres. Meg é uma garota muito simples, trabalha na ala oncológica pediátrica de um hospital e, de lá, consegue os recursos para se manter e pagar sua faculdade de enfermagem e assim ter seu sonho PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS realizado. Ela leva a vida tentando passar despercebida e sua timidez a ajuda muito a conseguir isso. Seis pessoas que irão ter suas vidas interligadas, formando assim três belas histórias de amor.

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AMA-ME SÉRIE RECOMEÇO – LIVRO 4

À venda no formato digital Amazon SINOPSE: Aline… Tudo o que eu queria era recomeçar e recolher os cacos que sobraram da minha vida, mas meu corpo não queria, e minha mente não ajudava. A escuridão era gigantesca, e eu arranhava os muros do buraco em que eu estava. Um lado meu via a PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS luz, mas o outro queria continuar na escuridão onde eu lambia as minhas feridas. Marcelo… Eu só dei valor à vida quando vi que ela se esvaia entre meus dedos. Eu lutei e chorei, pedindo a Deus que me desse mais uma chance, mas, para que eu continuasse a viver, alguém teria que morrer, e isso era angustiante. Marcelo e Aline se encontram em um momento delicado, quando ela se revolta contra a vida diante de sua grande perda, e Marcelo está caído de joelhos, agradecendo a Deus pela oportunidade de recomeçar. Uma história de amizade, amor e recomeço…

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E AGORA MEU AMOR? À venda no formato digital Amazon SINOPSE: Uma viagem a Dubai com uma esticadinha nas ilhas Maldivas – férias! – era tudo que Nicholas queria. Ele e seu amigo Seth aguardavam ansiosamente por isso, mas o que Nick não esperava era que, em sua última noite naquele paraíso, tudo se transformasse em seu maior pesadelo, literalmente um inferno. Tendo a porta de seu quarto arrombada e vendo PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS diante dele um homem totalmente transtornado e falando em uma língua que ele não compreendia, viu-se nu e com uma garota ao seu lado que olhava para a cena tão chocada quanto ele. E agora Nick volta para casa com seu amigo Seth, várias fotos da viagem e uma esposa. Convido vocês a embarcarem nessa viagem a descobrir como Nicholas arrumou um casamento quando fora apenas procurar descanso.

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PROTEÇÃO À venda no formato digital Amazon SINOPSE: Felipe é um delegado que cuida do Departamento de Proteção à Testemunha. Ele vem de uma família de policiais idôneos e muito respeitados no meio. Viúvo, carrega a dor dilacerante da perda de sua esposa. É um homem sem sentimentos que dedica cem por cento de sua vida ao seu trabalho, extravasa suas dores em camas frias e com finas carreiras brancas que permitem que ele se desligue do mundo por alguns momentos. PERIGOSAS ACHERON

PERIGOSAS NACIONAIS Ana vive um conto de fadas ao lado de seu marido, que chefia o departamento de Tecnologia da Informação em uma multinacional. Dona de casa por opção e mãe de Bruno, seu bebê de pouco mais de um ano, tem uma vida privilegiada, regada a mordomias e luxos. As vidas de Ana e Felipe se chocam no momento em que ela vê seu conto de fadas se desfazer totalmente, trazendo à tona uma realidade assustadora e a descoberta de que, durante muito tempo, ela dormiu com um total desconhecido. Um homem destruído. Uma mulher machucada. Um homem que precisa amar. Uma mulher que precisa de proteção.

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Notas [←1] Nota da autora: Estamos destruindo o horizonte da estrada / Atrás do furacão que começou a girar / Quando você era jovem / Quando você era jovem. When you Were Yong – The Killers.

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[←2] Nota da autora: Perseguição. Os competidores saem lado a lado, e ganha quem alcançar o outro competidor ou quem terminar a prova em menor tempo.

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[←3] Nota da autora: Contrarrelógio. Nesta competição só entra na pista um competidor, e vale na pista o tempo que cada competidor faz para percorrer a pista, vencendo quem tiver o menor tempo.

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[←4] Nota da autora: H1 a H5 [HandBike] – Atletas com capacidade limitada nas pernas, nos braços e no tronco, que competem usando uma HandBike.

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[←5] Nota da autora: Shopping Iguatemi, Shopping em São Paulo localizado em região nobre.

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[←6] Nota da autora: extubar – retirar do tubo orotraqueal.

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