CRC - Geografia Humana Do Brasil

April 8, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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GEOGRAFIA HUMANA DO BRASIL

 

CURSOS DE GRADUAÇÃO – EAD Geografia Humana do Brasil – Profª. Ms. Iara Rosa da Silva Bustos

Olá! Meu nome é Iara Rosa da Silva Bustos. Bustos. Sou mestre em Geografia pela Universidade de São Paulo e atuo como professora da rede particular de Ensino Fundamental e Médio. Minha formação foi concomitante à minha experiência profissional em Geografia. Trabalhei no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística logo no início da faculdade; depois, segui para o ensino de Geografia nas escolas de rede particular. Trabalhei, também, na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente como técnica ambiental, na área de Planejamento Urbano. Descobri que minha paixão é ensinar e, depois de uma gama de experiências vividas, espero que este material reflita um pouco dessa experiência, bem como que seja inspiração para você, futuro profissional da área. E-mail : [email protected]

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Iara Rosa da Silva Bustos

GEOGRAFIA HUMANA DO BRASIL

Batatais Claretiano 2014

 

© Ação Educacional Clareana, 2014 – Batata Batatais is (SP) Versão:: dez./2014 Versão

 

304.809 B99g Bustos, Iara Rosa da Silva Geografia humana do Brasil / Iara Rosa da Silva Bustos – Batatais, SP : Claretiano, 2014. 104 p. ISBN: 978-85-8377-164-7 1. População brasileira. 2. Estrutura fundiária brasileira. 3. Urbanização do Brasil. 4. Desenvolvimento econômico brasileiro. 5. Impactos ambientais no Brasil. II. Geografia humana do Brasil.

CDD 304.809

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional Coordenador de Material Didáco Mediacional: Mediacional: J. Alves Preparação Aline de Fátima Guedes Camila Maria Nardi Matos Carolina de Andrade Baviera Cáa Aparecida Ribeiro Dandara Louise Vieira Matavelli Elaine Aparecida de Lima Moraes Josiane Marchiori Marns Lidiane Maria Magalini Luciana A. Mani Luciana dos Santos Sançana deAdami Melo Patrícia Alves Veronez Montera Raquel Baptista Meneses Frata Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Simone Rodrigues de Oliveira Bibliotecária Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

Revisão Cecília Beatriz Alves Teixeira Felipe Aleixo Filipi Andrade de Deus Silveira Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz Rafael Antonio Morotti Rodrigo Ferreira Daverni Sônia Galindo Melo Talita Cristina Bartolomeu Vanessa Vergani Machado Projeto gráfico, diagramação e capa Eduardo de Oliveira Azevedo Joice Cristina Micai Lúcia Maria de Sousa Ferrão Luis Antônio Guimarães Toloi Raphael Fantacini de Oliveira Tamires Botta Murakami de Souza Wagner Segato dos Santos

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana. Claretiano - Centro Universitár Universitário io Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000 [email protected] Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006 www.claretianobt.com.br

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SUMÁRIO CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO 1 2 3 4

INT RODUÇ INTROD UÇÃO ÃO ........... ................. ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............ ..... 7 ORIENTAÇÕ ORI ENTAÇÕES ES PARA PARA ESTUD EST UDO O ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ........... .... 10 EREF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ........ 23 REFERÊ REF ERÊNCI NCIAS AS BI BIBLI BLIOG OGRÁF RÁFICA ICASS ....... ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ...... 23

UNIDADE 1  ENSINO DE GEOGRAFIA HUMANA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

OBJ ETIVOS OBJETI VOS ............... ..................... ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ....... 25 CONTEÚ CON TEÚDO DOSS ......... ............... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. .......... ... 25 ORIENTAÇÕ ORI ENTAÇÕES ES PARA O EST ESTUDO UDO DA UNI UNIDAD DADEE ................. ....................... ............ ............. ............. .......... .... 26 INTROD INT RODUÇ UÇÃO ÃO À UNI UNIDAD DADEE ....... ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ......... .. 27 ESCOLA ESCO LASS GEO GEOGRÁ GRÁFI FICAS CAS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............ ...... 28 GEOGRAFIA NOS PARÂMETROS CURRICUL CURRICULARES ARES NACIONAI NACIONAISS E NOS LIVROS DIDÁTIC DI DÁTICOS OS....................................................................................................... ......................................................................................................... .. 33 QUESTÕE QU ESTÕESS AUTO AUTOAVALI AVALIATIVAS ATIVAS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ........ .. 38 CONSID CON SIDERA ERAÇÕE ÇÕESS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ........... ..... 39 EREF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ........ 40 REFERÊ REF ERÊNCI NCIAS AS BI BIBLI BLIOG OGRÁF RÁFICA ICASS ............... ...................... ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ......... ... 40

UNIDADE 2  GLOBALIZAÇÃO E BRASIL 1 2 3 4 5

OBJ ETIVOS OBJETI VOS ............... ..................... ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ....... 41 CONTEÚ CON TEÚDO DOSS ......... ............... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. .......... ... 41 ORIENTAÇÕ ORI ENTAÇÕES ES PARA O EST ESTUDO UDO DA UNI UNIDAD DADEE ................. ....................... ............ ............. ............. .......... .... 41 INTROD INT RODUÇ UÇÃO ÃO À UNI UNIDAD DADEE ....... ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ......... .. 42 FENÔME FEN ÔMENO NO DA GLO GLOBAL BALIZA IZAÇÃO ÇÃO ....... ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ........... ..... 43

6 NOS AUTO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO GLOBALIZAÇÃO.................................................... .................................................... 45 7 BRASIL QUESTÕE QU ESTÕES AUTOAVALI AVALIATIVAS ATIVAS ..................... ............... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............ ..... 47 8 CON CONSID SIDERA ERAÇÕE ÇÕESS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ........... ..... 48 9 EREF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ........ 48 10 REFER RE FERÊNC ÊNCIA IASS BIBLIO BIBL IOGRÁ GRÁFI FICAS CAS ....... ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ...... 48

UNIDADE 3  PROBLEMAS SOCIAIS BRASILEIROS 1 2 3 4

OBJ ETIVOS OBJETI VOS ............... ..................... ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ....... 49 CONTEÚ CON TEÚDO DOSS ......... ............... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. .......... ... 49 ORIENTAÇÕ ORI ENTAÇÕES ES PARA O EST ESTUDO UDO DA UNI UNIDAD DADEE ................. ....................... ............ ............. ............. .......... .... 49 INTROD INT RODUÇ UÇÃO ÃO À UNI UNIDAD DADEE ....... ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ......... .. 50

5 PROBL PRO BLEMA EMASS SO SOCIA CIAIS IS NO CA CAMPO MPO ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. .......... .... 53 6 PRO PROBL BLEMA EMASS SO SOCIA CIAIS IS NA CI CIDAD DADEE ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. .......... .... 63 7 QU QUESTÕE ESTÕESS AUTOAVALI AUTO AVALIATIVAS ATIVAS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ........ .. 81

 

8 CONSID CON SIDERA ERAÇÕE ÇÕESS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ........... ..... 82 9 EREF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ........ 82 10 REF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS BIBLI BI BLIOG OGRÁF RÁFICA ICASS ............... ...................... ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ......... ... 84

UNIDADE 4  INDICADORES SOCIAIS 1 OBJ OBJETI ETIVOS VOS ............... ..................... ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ....... 87 2 CON CONTEÚ TEÚDO DOSS ......... ............... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. .......... ... 87 3 ORI ORIENTAÇÕ ENTAÇÕES ES PARA O EST ESTUDO UDO DA UNI UNIDAD DADEE ................. ....................... ............ ............. ............. .......... .... 87 4 INT INTROD RODUÇ UÇÃO ÃO À UNI UNIDAD DADEE ....... ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ......... .. 88 5 IND INDIC ICADO ADORES RES SO SOCIA CIAIS......... IS................ ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............ ...... 90 6 ANÁLISE DE UM MUNICÍPIO A PARTIR PARTIR DE INDICADORES SOCIAIS .. .... .... .... .... .... .... .. 94 7 TEX TEXTO TO COMPL COM PLEME EMENTAR NTAR ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............ ...... 101 8 QU QUESTÕE ESTÕESS AUTO AUTOAVALI AVALIATIVAS ATIVAS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ........ .. 102 9 CON CONSID SIDERA ERAÇÕE ÇÕESS ...... ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ........... ..... 102 10 EREF REFERÊ ERÊNCI NCIAS AS ...... ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ........ 103 11 REFER RE FERÊNC ÊNCIA IASS BIBLIO BIBL IOGRÁ GRÁFI FICAS CAS ....... ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ............ ............. ............. ...... 104

 

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Caderno de Referência de Conteúdo

CRC Con teúdo Conteú do –––––– –––––––––––– ––––––––––– –––––––––– ––––––––––– ––––––––––– –––––––––– –––––––––– ––––– A população brasileira: aspectos gerais. Desenvolvimento demográfico. Indicadores socioeconômicos. Distribuição espacial da população brasileira. Migrações. População rural. Estrutura fundiária brasileira. Conflitos sociais no campo. O homem e a cidade. A urbanização brasileira. Problemas urbanos. Economia agrária e os impactos ambientais. ambientais. Extrativismo vegetal. Extrativismo mineral. Industrialização brasileira. Indústria e os impactos ambientais. Os tipos de transporte no Brasil. Comércio e serviços. Turismo.  ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––  ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– –––––––

1. INTRODUÇÃO A Geografia Humana do Brasil  tem  tem um campo vasto de reflexão, cujo objetivo está em trabalhar o pensamento humano no espaço geográfico. Nesse sentido, ensiná-la significa ir além das possibilidades de uma reflexão sobre as questões presentes em nossa realidade. Em que consiste o ensino da Geografia Humana do Brasil ? Por que temos a divisão de Geografia Humana e Geografia Física, que tanto aparece nos livros didáticos e está presente no ensino de Geografia nas escolas? Como contribuir para a formação de alunos cidadãos no Ensino Fundamental e Médio? Esses são os desa-

 

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fios que teremos pela frente no desenvolvimento deste Caderno de Referência de Conteúdo. Conteúdo. Neste Caderno de Referência de Conteúdo, Conteúdo, o objetivo será  justamente  justamen te este: possibilitar uma refle reflexão xão criteriosa acerca dos fundamentos do ensino de Geografia Humana, no sentido de entender a complexidade do Brasil. Nas unidades que seguirão, você terá a possibilidade de compreender um conjunto de temas sobre o Brasil, além dos seus desafios, a fim de promover um viés sistematizado da prática educativa. Por se tratar de um campo amplo de análise, destacamos os principais temas da Geografia Humana do Brasil que compõem este estudo: na Unidade 1, estudaremos o ensino de Geografia Humana; na Unidade 2, trataremos da globalização e o Brasil; na Unidade 3, a discussão será em torno dos problemas sociais brasileiros; e, na Unidade 4, estudaremos os indicadores sociais. Além disso, abordaremos o desenv desenvolvimento olvimento das escolas da Geografia Clássica, Quantitativa, Crítica e Humanística. Esses são os princípios básicos que norteiam o ensino de Geografia Humana do Brasil  e  e que são encontrados nos livros didáticos de Ensino Fundamental e Médio. Vamos, assim, compreender os caminhos e as possibilidades de trabalhar a Geografia Humana do Brasil de forma gradual, indagativa, conflitiva e temática. Para uma melhor reflexão sobre os temas tratados, sugerimos a leitura do texto Ensinar a Geografia, Geografia, no qual o autor francês Yves Lacoste, no seu livro  A Geografia – isso serve, em primeiro lugar,, para fazer a guerra lugar guer ra,, apresenta algumas caracte características rísticas pertinentes ao ensino de Geografia nas escolas. Ensinar a Geogr Geogr afi a ––––––––––––––––––––––––––––––––––– “Não há Geografia sem drama” Ensinar a geografia no primário e no secundário, não é coisa cômoda. Temos todos, ou quase todos, a lembrança das lições de geogra fia particularmente tediosas, tal por exemplo, “a desigualdade dos dias e das noites” ou “longitude-latitude, meridianos e paralelos” (aliás, não é exatamente geografia, mas sobretudo astronomia), que são os deveres aborrecidos pelos quais se inaugura, ritualmente, o programa de geografia geral.

 

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[...] Ensinar a geografia, dizia eu, não é coisa cômoda e no entanto essa disciplina não parece árdua: ela descreve paisagens, enumera nomes de lugares, e algumas cifras; na aparência, ela seria antes simplista e a tal ponto que, desde há decênios, pensa-se que se pode encarregar dela professores que não tiveram formação nesse domínio. [...] A propósito de tal país ou de tal parte do programa, é preciso que ele enumere diferentes categorias de cínios que ele geográ esboça, para ligá-los uns aosdas outros, permanecem bastante formais. O discurso fico evoca, na maioria vezes, permanência ou fenômenos que evoluem sobre tempos relativamente longos ou muito longos; só raramente se trata de mecanismos ou acontecimentos. Nas descrições ou explicações geográficas não há qualquer “suspense” para manter o interesse dos alunos e é preciso muito talento e competência para que um tal discurso não acarrete aborrecimento. [...] O estudo do meio, para ser frutífero, exige a reunião de condições que são, a bem dizer, bastante excepcionais: tempo, entusiasmo, mestres solidamente formados que sejam capazes de operar múltiplas comparações e de serem pesquisadores perspicazes e bons observadores do terreno. Os cursos e os manuais de geografia não são mais hoje o que foram outrora para um grande número de futuros cidadãos do seu próprio país. De fato, a mídia difunde quotidianamente uma massa de informações e de imagens e isso de modo espetacular e a propósito de acontecimentos ou de circunstâncias mais ou menos dramáticas. Em comparação, o professor de geogra fia foi reduzido a enumerar banalidades bastante estáticas. [...] É preciso que os professores de geogra fia, como também os geógrafos universitários, retomem consciência das verdadeiras dimensões da geogra fia e compreendam que a razão de ser desse saber-pensar o espaço é a de melhor compreender o mundo para aí poder agir com mais e ficácia. “Não há geografia sem drama”, exclamou um dia o grande geógrafo Jean Dresch, que foi presidente da União Geográfica Internacional – fórmula epistemológica lapidar, cujo valor cientí fico é tão grande quando o alcance pedagógico (LACOSTE, 2001, p. 245-256).

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Como o ensino de Geografia no Brasil teve uma influência muito grande da França, nada mais justo que tomarmos como base introdutória esse texto francês. Como vimos, ele apresenta um ponto de vista do geógrafo francês Yves Lacoste em um livro clássico da Geografia e nos motiva a pensar o ensino de Geografia de uma maneira mais viva. A linguagem com que o autor propõe o ensino de Geografia é clara e contundente: devemos compreender o mundo em que vivemos e, como futuros profe professores ssores de Geografia, nos aprofundar Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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mais nesse universo, transmitir o conhecimento de modo claro e que promova uma verdadeira reflexão e impacto no ensino. O autor destaca, ainda, a importância da observação que pode ser realizada por meio de atividades de campo. No ensino de Geografia Humana, também podemos estimular nossos alunos com atividades enriquecedoras de observação observação do seu país, do seu estado,, da sua cidade e até mesmo do bairro em que vivem. estado Podemos propor atividades de reflexão como estas: • Será que as transformações que acontecem no mundo também me atingem? • Como eu me vejo no contexto dessas transformaçõe transformações? s? • Como eu posso agir para melhorar o espaço espaço em que vivo? vivo? Desejamos que o estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo o ajude a instigar e a promover uma reflexão crítica e Conteúdo o transformadora transf ormadora sobre o mundo. Após essa introdução, apresentaremos, a seguir, no Tópico Orientações para estudo, estudo,  algumas orientações de caráter motivacional, dicas e estratégias de aprendizagem que poderão facilitar o seu estudo.

2. ORIE ORIENT NTAÇÕES AÇÕES PARA ESTUD E STUDO O Abordagem Geral Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será estudado neste Caderno de Referência de Conteúdo. Conteúdo. Aqui, você entrará em contato com os assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada unidade. Desse modo, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhecimento básico necessário a partir do qual você possa construir um referencial referencial teórico com base sólida científica e cultural - para que, no futuro exercício exercício de sua profissão,

 

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você a ex exerça erça com competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Para compreendermos compreendermos a Geografia Humana do Brasil, é preciso que relembremos um pouco da história do nosso país. O Brasil é, oficialmente, denominado de República Federativa do Brasil e Brasil e é constituído por 26 estados e um Distrito Federal. Federal. Entretanto, nem sempre o Brasil foi assim. O Brasil foi “descoberto” pelo português Pedro Álvares Cabral em abril de 1500. Nesse período, as principais potências econômicas mundiais eram Portugal e Espanha. Enquanto a Espanha colonizou grande parte dos países latino-americanos atuais, Portugal colonizou o Brasil. A chegada dos portugueses ao país representou uma verdadeira catástrofe para os índios, que eram base da população nativa. Eles sofreram a violência cultural, aléma de terem contraído doenças e sofrido com epidemias que, até então, então, eram desconhecidas em nosso território. Tente imaginar essa situação no início da formação do nosso país. O impacto cultural e todos os aspectos de dominação não foram benéficos benéficos à população indígena que aqui vivia. Houve, também, a miscigenação do europeu com o indígena, originando a população mestiça, base da formação da sociedade brasileira. Estima-se que havia cinco milhões de indígenas no território brasileiro; hoje, esse número é de, aproximadamen aproximadamente, te, 325.652, representando present ando 0,17% da população atual. Agora, você deve estar se perguntando: "afinal, qual era o interesse da Coroa portuguesa no Brasil?”. Os portugueses viam, nas terras do Brasil, possibilidades de exploração, sendo a primeira delas a constituição de feitorias de extração do pau-brasil, obtido, especialmente, mediante troca com os índios. Estes forneciam madeira e, em troca, recebiam peças de te-

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cido, facas, canivetes e objetos de pouco valor para os portugueses. O interesse das potências europeias da época era motivo de disputa de influência na América. Com o Tratado de Tordesilhas, o mundo foi dividido pelas duas potências da época, Portugal e Espanha, por uma linha imaginária; as terras a oeste da linha pertenceriam à Espanha, e aquelas a leste da linha pertenceriam a Portugal. A França contestou essa divisão e entrou no comércio do pau-brasil sustentando o princípio de que só era possível ser detentor de uma área se esta fosse efetivamente ocupada. Diante desse contexto, contexto, a Coroa portuguesa decide colonizar a nova terra por meio da concessão e da exploraç exploração ão de terras, com o objetivo de efetivar a ocupação. Neste momento, é importante lembrar a sesmaria sesmaria,, uma extensão de terra virgem cuja propriedade era doada a um sesmeiro, que tinha a obrigação de cultivá-la dentro de cinco anos – isso nem sempre era cumprido – e de pagar o tributo devido à Coroa. Essa é a origem da formação de alguns dos vastos latifúndios de terras que temos hoje no Brasil. Trabalho escravo O trabalho escravo foi marcante na colonização portuguesa em nosso território por conta da introdução dos africanos, dando origem ao comércio negreiro, negreiro, que era altamente lucrativo. Aproximadamente quatro milhões de escravos africanos vieram ao Brasil entre meados do século 16 até o século 19, e os grandes centros importadores de escravos escravos foram Salvador e Rio de Janeiro. Na época, o negro escravizado escravizado não tinha direitos, sendo considerado apenas mercadoria; aliás, os negros também foram importantes para a miscigenação e a formação do Brasil. A colonização portuguesa, os índios e negros marcam o chamado Período Colonial. Colonial. Em 7 de setembro de 1822, o Brasil declara sua independência, porém, não houve qualquer ruptura que pudesse colocar em risco a estabilidade colônia.a Vamos também, que o Brasil foi o último da paísantiga da América acabar lembrar, com a escravidão; isso

 

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ocorreu oficialmente em 13 de maio de 1888, quando a princesa Isabel assinou a lei Áurea, a qual, aliás, não previa indenização aos escravos, que foram entregues à própria sorte; isso originou a desigualdade social da população negra no Brasil. Além disso, a dinâmica da economia cafeeira da época optou pelo trabalho do imigrante europeu e não abriu oportunidades para o ex-escravo. Por conta do preconceito, o negro muitas vezes era considerado um ser inferior, perigoso, vadio e propenso ao crime. Infelizmente, esse preconceito fez parte da história de nosso país, e, hoje, fazem-se necessárias ações para tentar amenizar uma grande dívida que o país tem com os negros. A Constituição Brasileira de 1988 considera a prática de racismo crime inafiançável. Em 2003, é criada uma lei determinando o dia 20 de novembro como o da Consciência Negra, no qual é lembrada a morte de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares. Geografia Humana e cidadania Vimos, até o momento momento,, alguns acontecime acontecimentos ntos do Brasil colonial e imperial, a questão da concentração de terras e as desigualdades sociais que surgiram nesse período. Esse estudo se faz necessário porque nos permite construir a noção de cidadania cidadania.. A cidadania é a capacidade que o indivíduo tem de construir sua relação com o país em que vive. Estudar referências históricas marcantes do Brasil permite-nos questionar e não nos conformar com as políticas dominantes. O questionamento constante por melhores garantias individuais e coletivas, por exemplo, é consequência da conquista da cidadania. Desse modo, é fundamental sabermos que as desigualdades produzidas historicamente revelam, também, as desigualdades produzidas espacialmente no território brasileiro e como podemos analisar e formar nossa própria opinião. Que relação há entre um morador de uma cidade urbanizada da região Sudeste e um morador do sertão nordestino? Temos de ter clareza de que, no espaço geográfico, o desenvolvimento Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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humano acompanha um tempo histórico, um contexto contexto econômico e político e, portanto, um contexto humano. O Brasil, no seu gigantismo territorial, territorial, apresenta contextos humanos distintos em todo o território, porém, o brasileiro precisa desenvolver sua cidadania para melhorar seu papel de cidadão frente ao país e, principalmente, em relação aos membros da sociedade. Mas o que é ser cidadão? “Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei” (CODIC, 2011).  2011).   O cidadão deve participar na sociedade exercendo seu poder de voto e, também, caso queira, candidatando-se para cargos públicos; chamamos isso de direitos civis e políticos. políticos. Contudo, esses direitos, por si sós, sem os direitos sociais, sociais, não asseguram a democracia. Os direitos sociais referem-se à participação do indivíduo na riqueza coletiva, coletiva, como o direito à educação, ao trabalho, a um salário justo, à saúde e à qualidade de vida. De forma resumida: “[...] exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais, fruto de um longo processo histórico que levou a sociedade ocidental a conquistar parte desses direitos” (DHNET, 2011). A Constituição de 1988 avançou em muitos aspectos no desenvolvimento senvolvime nto da cidadania, como podemos observar em um dos seus artigos, relacionado a seguir:

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

 

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IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; anonimato; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação prest ação alternativa, fixada em lei; IX - é livre li vre a expressão da atividade intelectual, artística, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação determinaçã o judicial; XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, telegrá ficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de invest investigação igação criminal ou instrução processual penal; (Vide Lei nº 9.296, de 1996) XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da font fonte, e, quando necessário ao exercício profissional; XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens; XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente (BRASIL, 2011).

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A legislação brasileira avançou no contexto das transformações sociais, e os desdobramentos ainda estão em curso. Atualmente, no Brasil, não há mais a ideia que abordamos no início do texto de exploração e dominação no sentido estrito da palavra, porém, ainda há desafios e problemas. O desenvolvimento do Brasil foi acompanhado, ao longo dos séculos, por um crescimento econômico desordenado e por uma concentração de renda que ainda produz efeitos sociais devastadores. A urbanização proporcionou o aumento da população urbana das grandes cidades e, consequentemente, gerou insegurança, criminalidade, situação extrema de pobreza e ocupações irregulares. Hoje, estamos diante de um país urbano, no qual 84% da população vive em cidades. Os problemas sociais urbanos são e continuarão sendo uma realidade que precisa ser construída por meio da cidadania. Nós, como professores de Geografia, devemos preparar os alunos para serem cidadãos críticos e conscientes do território em que vivem. Dessa forma, essa Abordagem essa Abordagem Geral se propôs a conte contextualixtualizar historicamente historicamente o Brasil, de modo a contribuir para o desenvolvimento da sua cidadania. Glossário de Conceitos O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados neste Caderno de Referência de Conteúdo.. Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos: Conteúdo 1) Boia-fria Boia-fria:: “[...] trabalhador rural que mora nos arredores de cidades e se emprega temporariamente, temporariamente, sem vínculo empregatício estável, em atividades agrícolas, para trabalhar na colheita das safras, limpeza do solo, etc. São assim chamados por levarem seus alimentos de casa e os consumirem no próprio local de trabalho, sem condições de aquecê-los" (GIOVANNETTI, 1996, p. 21).

 

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2) Crescimento urbano: urbano: refere-se ao crescimento do aspecto físico, ou seja, ao aumento da área de uma cidade. 3) Geografia Clássica: Clássica: é aquela que caracteriza o avanço industrial e do capitalismo na Europa em meados do século 19 e início do século 20. Nesse período, num primeiro momento, houve a necessidade de se conhecer melhor o espaço para o avanç avanço o das explorações e produções, realizando-se estudos e análises da paisagem em seus aspectos naturais. Num segundo momento, houve a preocupação com a relação do homem com o meio em que vive. Devido às dificuldades metodológicas para tratar da ação do homem no espaço, a princípio, os geógrafos graf os trabalharam de modo superficial, focando focando seus seus estudos na descrição e na caracterização caracterização da paisagem. 4) Geografia Crítica: Crítica: “[...] a partir da década de 60, geógrafos expressaram suas preocupações com a questão social, fazendo fortes críticas ao modo de produção capitalista, resultando na Geografia Crítica ou Radical. Estes geógrafos que tecem fortes críticas às injustiças sociais, tendem a buscar as causas e a resolução destes problemas. No Brasil, a geografia crítica chega no fim da década de 70, momento em que o regime militar se enfraquecia, e que os geógrafos contrários a este modo de governo,  já haviam contestado contestado em momento anterior anterior,, mas foram sufocados pelo rigor político” (VESENTINI, 2009, p. 32). 5) Geografia Humanística: Humanística: é aquela que caracteriza o contexto do século 20, em que a ação da globalização por todo o mundo provoca a descaracterização do lugar devido à "uniformização" do por modo de vida. Geografia Humanística caracteriza-se focar-se no A sujeito e na sua percepção de mundo; busca a relação do ser humano com a natureza, bem como entender o sentimento e as ideias que as pessoas têm do lugar e do espaço. 6) Geografia Quantitativa: Quantitativa: é aquela que caracteriza o contexto das transformações transformações por que o mundo passou após a Segunda Guerra Mundial, em meados do século 20. Entretanto, nesse período, na segunda metade da década de 1960, a situação começou a mostrar sinais de mudança. É aquantitativa – partir desse –momento que a denominada revolução quantitativa que há, aproximadamente, dez anos vinha ocorrendo nos EUA e no Reino Unido – Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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chegou ao Brasil, em meio ao processo de intensificação intensificação de atividades relacionadas ao planejamento territorial promovido pelo governo militar da época (EVANGELISTA, 2006). No Brasil, a Geografia Quantitativa surgiu por meio da ligação entre estatística e planejamento. Globalização:: “[...] processo acentuado nas últimas Globalização décadas do século pela aceleração e padronização dos meios técnicos, a instantaneidade da informação e da comunicação, e que promove a reorganização e reestruturação dos espaços nacionais e regionais” (GIOVANNETTI; LACERDA, 1996, p. 93). Posseiro:: de acordo Andrade (1987), os posseiros são Posseiro pessoas que trabalham no cultivo de pequenos sítios em terras devolutas devolutas ou nas quais os proprietários são desconhecidos. Conforme o Estatuto da Terra erra,, Art. 2, parágrafo 3 (apud GIOVANNETTI; LACERDA, 1996, p. 21): “[...] a todo agricultor assiste o direito de permanecer na terra que cultive, dentro dos termos e limites desta lei [...]”. Processo de globalização: globalização: pode ser definido como processo de mundialização, mundialização, ou seja, fenômeno que envolve troca cultural, comercial e financeira em velocidade cada vez mais marcante nos países, ou, também, como processo de internacionalização, internacionalização, referindo-se ao aumento da extensão geográfica das atividades econômicas. Urbanização:: é o rápido crescimento da população urUrbanização bana em relação ao crescimento da população rural de uma estado ouopaís, em financeiro função de passagem do capital área, produtivo para capital (CARLOS, 2006).

Esquema dos Conceitos-chave Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema dos Conceitos-chave. O mais aconselhável é que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você construir o seu conhecimento, conhecimento, ressignificando as informações a partir de suas próprias percepções.

 

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É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos Conceitos-chave Conceitos-ch ave é representar, representar, de maneira gráfica, as relações relações entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de ensino. Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em esquemas e mapas mentais, o indivídu indivíduo o pode construir o seu conhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pedagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendizagem. Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem escolar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos de ancoragem. Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, apenas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preciso, sobretudo, estabelecer estabelecer modificações para que ela se configure como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante considerar as entradas de conheciment conhecimento o e organiz organizar ar bem os materiais de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos conceitos seresses potencialmente significativos para o estruturas aluno, uma vez que,devem ao fixar conceitos nas suas já existe existentes ntes estrutur as cognitivas, outros serão também relembrados. Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você o principal agente da construção do próprio conhecimento, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tornar significativa a sua aprendizag aprendizagem, em, transformando o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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site  disponível em: . ceituais/utilizamapasconce ituais.html>. Acesso em: 11 mar. mar. 2010).

Figura 1 Esquema dos conceitos-chave – Geografia Humana do Brasil . 

 

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Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu processo de ensino-aprendizag ensino-aprendizagem. em. O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambiente virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento. Questões Autoavaliativ Autoavaliativas as No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser de múltipla escolha, escolha, abertas objetivas ou objetivas ou abertas dissertativas. dissertativas. Responder, discutir e comentar essas questões, bem como relacioná-las com a prática do ensino de Geografia pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e adquirir uma formaç formação ão sólida para a sua prática profissional. profissional. As questões de  múltipla escolha são as que têm como resposta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por questões abertas objetivas   as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, inalterada. Já as questões abertas diss erta ertativas tivas  obtêm por resposta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus colegas de turma.

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Bibliografia Básica É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliografias complementares. Figuras (ilustrações, (ilustrações, quadros...) Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte integrante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdos estudados, pois relacionar aquilo que está no campo visual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. intelectual. Dicas (motivacionais) O estudo deste Caderno de Referência de Conteúdo  Conteúdo  convida você a olhar, de forma mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade. Você, como aluno dos cursos de Gradução  Gradução  na modalidade EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades nas datas estipuladas. É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produções científicas.

 

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Leia os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discuta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas. No final de cada unidade, você encontrará algumas questões autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos para sua formação. Indague, reflita, conteste conteste e construa resenhas, pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadurecimento intelectual. Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores. Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a este Caderno de Referência de Conteúdo, Conteúdo, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto para ajudar você.

3. EREFERÊNCIAS Sites pesquisados BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 1988 . Disponível em: . Acesso em: 27 maio 2011. CODIC. Cidadão e cidadania – cidadania – o que é ser cidadão. Disponível em: . teudo.php?conteudo=8>. Acesso em: 8 set. 2011.

4. REFERÊN REFERÊNCIAS CIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁ FICAS ANDRADE, M. C. Geografia, ciência da sociedade: sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas S.A., 1987. CARLOS, A. F. A.; OLIVEIRA, A. U. (Orgs.). Geografias das metrópoles. metrópoles. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2006. v. 1. GIOVANNETTI, G.; LACERDA, M. Dicionário de geografia: GIOVANNETTI, geografia: termos, expressões, conceitos. São Paulo: Melhoramentos, 1996.

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Ensino de Geografia Humana

1 1. OBJETIVOS • Conhecer a evolução do pensamento geográfic geográfico. o. • Entender a importância da Geografia Geografia Humana nos ParâParâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). • Estabelecer paralelos paralelos entre a história história do pensamento pensamento geográfico geográfic o e o ensino de Geografia.

2. CONTEÚDO CONTEÚDOSS • Fundamentos da Geografia Geografia Clássica, Quantitat Quantitativa, iva, Crítica e Humanística. • As escolas geográfic geográficas as e os Par Parâmetros âmetros Curriculares Curriculares Nacionais (PCNs). • Ensino de Geografia Humana e Geografia Crítica nos livros livros didáticos. • Conteúdos conceitual, procediment procedimental al e atitudinal.

 

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3. ORIE ORIENT NTAÇÕES AÇÕES PARA O ESTUDO ESTU DO DA UNIDADE UNIDAD E Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Tenha sempre sempre à mão o significado significado dos conceitos explicitados no Glossário e suas ligações pelo Esquema dos

2)

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Conceitos-chave para o estudo de todas as unidades deste CRC. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desempenho. Ao estudar estudar esta esta unidade, é importante que você tenha em mente que o surgimento das escolas geográficas deu-se justamente em decorrência das transformações do mundo. Para aprofundar seus conheciment conhecimentos, os, pesquise, em livros ou na internet, a importância da Geografia francesa no Brasil. Ao ler os PCNs – algo que não deve ser uma obrigação obrigação,, e, sim, uma maneira de "estar por dentro" do que acontece com a educação em nossas escolas –, procure descobrir quais são as suas propostas essenciais. Para tanto, tanto, consulte, no portal do Ministério da Educação (MEC), os PCNs de Geografia. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2011. Consulte os livros da bibliografia indicada para que você amplie seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático e discuta a unidade com seus colegas e com o tutor. Sugerimos a leitura do livro Geografia: pequena história crítica,, de Antonio Carlos Robert Moraes (1990). Esse licrítica vro irá ajudá-lo a ampliar o seu entendimento entendimento acerca da história do pensamento geográfico e dos objetivos dos PCNs, os quais formam as bases do ensino de Geografia Humana. Para amplia ampliarr a visão das diferentes correntes geográficas, leia o artigo O espaço geográfico: um esforço de definição,, de Rhalf Magalhães Braga, o qual faz uma análise do ção espaço geográfico como resultado das relações socioes-

 

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paciais contradit contraditórias. órias. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2011. 8) Leia textos interessantes sobre a Geografia Crítica no site disponível em: . Acesso A cesso em: 18 maio 2011. 9) Sobre os consulte conteúdos conteúdos procedimentais procediment ais e atiatitudinais, o conceituais, site disponível em: .   -com-os-eixos-tematicos-dos-pcns/pagina1.html>. Acesso em: 19 maio 2011. 10) Assista ao vídeo sobre o ensino de Geografia Geografia no final do século 20 para ampliar seus conhecimentos acerca do assunto,, que, aliás, será abordado nesta unidade. Dispoassunto nível em: . Acesso em: 19 maio 2011.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Antes de iniciarmos nossos estudos acerca dos fundamentos das escolas geográficas, será preciso tomar consciência de que caminhamos sobre um terreno sinuoso, cujas regras não são fechadas e acabadas, mas, sim, em profunda transformação. Vamos Vamos começar com a definição de Geografia, que, ainda hoje, é polêmica. O conceito mais comum de Geografia é o estudo da superfície terrestre e dos fenômenos que nela ocorrem. Esse conceito tem sua origem na formulação de Kant: a Geografia é uma ciência que sintetiza os conhecimentos sobre a natureza. Do mesmo modo, o autor define Antropologia como a ciência que sintetiza conhecimentos conheciment os relativos ao homem (MORAES, 1990). É pertinente lembrar que Immanuel Kant foi o filósofo alemão mais influente do final do século 18 e ensinou Geografia na escola secundária antes de seguir sua trajetória pela carreira universitária versit ária na Alemanha.  Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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A definição mais clássica é o nosso ponto de partida para que, no final desta unidade, possamos compreender as  as   transformações da definição de Geografia e inseri-la no contexto do ensino de Geografia Humana do Brasil. Esperamos que a sistema sistematização tização proposta seja uma construção do conhecimento que lhe permita refletir e formar seu pensamento crítico, assim como estimular a busca do conhecimento, necessária para formar os futuros professores professores de Geografia. Não queremos apresentar respostas, mas, sim, problematizar! Bons estudos!

5. ESCOLAS GEOGRÁFICAS GEOGRÁ FICAS o final do século n ão período, não se falava aem conhecimento geográficoAté propriamente dito.18, Nesse Geografia era baseada nos relatos de viagens, escritos, muitas vezes, com certo tom literário. Eram descritos curiosidades de lugares exóticos e dados registrados registr ados sobre as condições climáticas durante as viagens. Nesse período, havia uma grande dispersão do conhecimento geográfico; existiam muitos registros, porém, sem nenhuma sistematização. Antonio Carlos Robert Moraes (1990), geógrafo brasileiro,  denominou esse período de pré-história da Geografia. Geografia. Em meados do século 19 e início do século 20, surge a chamada Geografia Clássica na Clássica na Europa, onde o avanço industrial e o capitalismo estavam estavam no seu auge. Conhecer melhor o espaço para avançar na exploração e na produção permitiu o surgimento de estudos e análises, primeiro, das caract características erísticas naturais das paisagens e, depois, da ação humana nesse espaço. A relação homem e espaço ainda não era profunda do ponto de vista teórico, e o peso maior dessa escola ficou para a descrição e caracterização da paisagem (ANDRADE, 1987).

 

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Na chamada Geografia Clássica, temos algumas contribuições importantes, como a da Geografia alemã, que foi um marco no sentido de sistematizar o conhecimento, sendo representada por Alexander von Humboldt e Carl Ritter no final do século 17 e início do século 19. Para Humboldt, a Geografia era como a parte terrestre da ciência do cosmos, ou seja, uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos à Terra. Ritter, por sua vez, define o sistema natural como uma área delimitada com uma característica individual, ou seja, toda área delimitada com características individuais compõe arranjos espaciais individuais. Cada arranjo abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, em que o homem seria o principal elemento. A Geografia deveria estudar esses arranjos espaciais individuais e compará-los. Trata-se, portanto,com de uma proposta de análise regional (estudo da individualidade) objetivo de valorizar a relação homem-natureza (MORAES, 1990). No final do século 19, tivemos, também, o chamado determinismo  geográfico nismo geográfico,, atribuído ao alemão Friedrich Ratzel, cujo objeto geográfico deveria ser estudado sob a influência que as “condições naturais” exerciam sobre a humanidade. Essa corrente propunha o estudo do homem em relação aos aos elementos do meio em que ele se insere, uma vez que a natureza não deve ser vista como uma determinação, mas, sim, como suporte da vida humana. O determinismo geográfico foi criticado pela escola francesa de Paul Vidal de La Blache. La Blache representa o chamado possibilismo geogr geográfico áfico;; ele define o objeto da Geografia como a relação homem-natureza, na perspectiva da paisagem, e coloca o homem como um ser ativo, que sofre influência do meio, porém, com a possibilidade de transformá-lo. Inicialmente, temos a descrição, a sistematização e a comparação, que represen paração, representam tam as caracte caracterizações rizações iniciais da paisagem como aspecto fundamental da Geografia, e o papel do homem no Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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espaço geográfico, que é influenciado pelo determinismo e pelo possibilismo geográfico. Pudemos observar, até agora, uma relação entre homem e meio físico; nesse sentido, a Geografia Humana é definida como o “estudo das relações dos homens com o meio físico”. Num segundo momento, temos o seguinte conceito: "a Geografia é o estudo dos grupamentos humanos em suas relações com o meio físico"; por fim, o conceito evolui para isto: "a Geografia Humana é o estudo dos grupamentos humanos em suas relações com o meio geográfico”. Portanto, podemos concluir que a inclusão da expressão “meio geográfico” engloba não somente as influências naturais, como também o ambiente total e a influência do próprio homem (DEMANGEON in CHRISTOFOLETTI, CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 52). A Geografia Quantitativa, que também pode ser denominada Nova Geografia, Geografia, surge no contexto da Segunda Guerra Mundial. O contexto dessa Nova Geografia diz respeito às transformações que ocorreram no mundo nesse período, cuja ideia era a reconst reconstrução rução de cidades que foram destruídas pela guerra. Foi preciso reconstruir as cidades em seus aspectos não só físicos, mas também sociais, econômicos e morais (ANDRADE, 1987). Esse momento foi muito importante para a ciência geográfica. Foram realizados levantamentos para analisar a situação socioeconômica da população, com a finalidade de identificar os caminhos a seguir para atingir os objetivos desejados. Assim, de acordo com Andrade (1987, p. 95): A generalização das políticas de planejamento abria novas perspectivas de trabalho para os cientistas sociais que eram utilizados no levantamento do diagnóstico em que se identificava a situação econômica e social e do prognóstico que indicava os caminhos a serem seguidos para que se atingissem os fins almejados, em um tempo definido.

Nesse contexto, surge um grande desafio para os geógrafos, que, antes, trabalhavam ou no ensinoe atingir universitário e passaram a trabalharisoladamente com outros especialistas fins

 

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pragmáticos. Esse desafio iria conduzi-los a fazer uma revisão nas categorias categ orias científicas que utilizav utilizavam am e a promover grandes polêmicas em torno da transformação do conhecimento e do estudo da Geografia (ANDRADE, 1987). A Geografia Quantitativa estava pautada na ideia de que era necessário da matemática fazer levantamentos estatísticos, a fim odeuso melhor planejar o para território. O Brasil não teria passado tão bruscamente de uma Geografia Clássica para uma Nova Geografia, pois, no país, a Geografia como ciência estava no começo, com a fundação do curso no início da década de 1930, com Pierre Deffontaines Deffontaines e Pierre Monbeig, ambos lablachianos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís Estatística tica (IBGE), criado em 1938, é um órgão governo federal se baseia sua na Geografia Quantitativa, ou do Nova Geografia, paraque desenvolver pesquisa. Nesse período, o IBGE começa a coletar informações para melhor planejar o território brasileiro. Seguindo nossa caminhada pela análise histórica da Geografia, algumas perguntas começam a surgir, a saber: “como explicar as transformações do mundo apenas com a descrição do lugar?”, “o que de fato transformou rapidamente as relações homem-espaço?”, “mais do que quantificar e planejar o território, o que aconteceu com o mundo após o fim da Segunda Guerra Mundial?”. Mundial?”. Na década de 1960, o capitalismo tornou-se uma realidade complexa, uma vez que a urbanização, a industrialização e a mecanização das atividades agrícolas se manifestaram em diversas partess do mundo (MORAE parte (MOR AES, S, 1990). 1990). Nesse contexto, surge a Geografia Crítica. O modo de produção passa a exercer influência nas relações sociais de toda a humanidade, alterando noção Segundo Santos (1996,a p. 166):de espaço socialmente produzido. Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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O espaço social é muito mais que o conjunto dos habitats, habitats, graças ao novo tipo de relação cujo âmbito ultrapassou o das comunidades isoladas, e mesmo dos países, para tornar-se tornar-se mundial.

A economia torna-se global, levando a sociedade a comprar produtos como roupas, eletrodomésticos e alimentos. Isso é fruto das transformações que o mundo sofreu após a Segunda Guerra Mundial. O teórico francês Yves Lacoste representa a Geografia Crítica.  No Brasil, a maior influência da Geografia Crítica foi Milton Santos, do qual falaremos mais na Unidade 3. No entanto, o crescimento rápido do capitalismo gerou uma grande degradação do meio natural. Uma política preservacionis preservacionista ta tornou mais elevados o custo de produção e a condição de vida da população, sobretudo do chamado mundo subdesenvolvido, acentuando a questão social. Surge, nesse contexto, um esforço muito grande da escola humanística em desenvolver desenvolver teorias para o desenvolvimento científico e para a solução de problemas sociais (ANDRADE, 1987). A Geografia Humanística, que surge em meados da década de 1960 e ganha destaque na década de 1970, realiza estudos acerca da percepção percepçã o que as pessoas pessoa s têm do lugar, lugar, levando em conta os olhares individuais e a ação de cada sujeito em relação aos valores de um dado local, ação essa que se reflete no espaço social. Christof Christofoletti oletti (1982, p. 22) dá a seguinte definição:  definição:  A Geografia Humanística procura valorizar a experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares. Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe existe uma visão do mundo, que se expressa através das suas atividades e valores para com o quadro ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu espaço e o seu mundo, e nele se relaciona. [...] o lugar não é toda e qualquer localidade, mas aquela que tem significância afetivaa para uma pessoa ou grupo de pessoas. afetiv

Observe a trajetória do desenv desenvolvimento olvimento do estudo de Geografia: ela parte de uma análise descritiva dos lugares; depois,

 

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passa por uma Geografia Quantitativa, que visa ao planejamento; em seguida, passa para uma Geografia Crítica em razão das transformações sociais no contexto do capitalismo; por fim, para uma Geografia mais voltada para o humano em relação ao espaço. Mesmo com as abordagens das escolas geográficas, ainda assim não é fácil definir a Geografia em razão de ela ser um estudo de grande complexidade. Mas tivemos a oportunidade de observar que “transformação” é a palavra-cha palavra-chave ve que acompanha a Geografia até os dias de hoje. Portanto, não fique preocupado em ter uma definição única, pois a Geografia representa a complexidade do mundo em que vivemos. Então, como se dão as relações sociais no espaço, uma vez que, considerando o processo histórico, elas não podem ser concebidas como iguais para todos? Essa pergunta fica para aguçar ainda mais nosso estudo. Vamos seguir, agora, com a ciência geográfica nos parâmetros curriculares.

6. GEOGRAFIA NOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E NOS LIVROS DIDÁ DIDÁTICOS TICOS No tópico anterior, apresentamos as escolas geográficas para nortear a compreensão de Geografia no contexto dos PCNs. Agora, vamos observar um trecho dos PCNs (BRASIL, 1998, p. 21): No ensino, essa Geografia se traduziu (e muitas vezes ainda se traduz) pelo estudo descritivo das paisagens naturais e humanizadas, de forma dissociada dos sentimentos dos homens pelo espaço. Os procedimentos didáticos adotados promoviam principalmente a descrição e a memorização dos elementos que compõem as paisagens como dimensão observável do território e do lugar. Os alunos eram orientados a descrever, relacionar os fatos naturais e sociais, fazer analogias entre eles e elaborar suas generalizações ou sínteses.

A descrição, um dos elementos da Geografia tradicional, é observada no ensino e até mesmo nos livros didáticos, principal-

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mente nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Até meados dos anos de 1970, os livros didáticos apresentavam um tipo de Geografia neutra, ou seja, uma Geografia que não transf transformava ormava a realidade, seja por meio de questionamento, questionamento, seja por meio de crítica. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, ou no pós-guerra, as transformações pelas quais o mundo passou foram tão intensas que a Geografia precisava dar conta de analisá-las. A urbanização acentuou-se e megalópoles começaram a se constituir. O espaço agrário sofreu as modificações estruturais comandadas pela Revolução Verde, em função da industrialização e da mecanização das atividades agrícolas em várias partes do mundo; as realidades locais passaram a se articular em uma rede de escala mundial. Cada lugar ou região deixou de explicar-se por si mesmo (BRASIL, 1998, p. 21).  21). 

A Geografia tradicional tornou-se insuficiente para explicar as transformações no mundo, nósnão passamos a viver uma forte influência da Geografia Crítica, eque queria apenas explicar o mundo, mas, sim, transformá-lo. O ensino de Geografia, nesse momento, buscou relacionar as questões econômicas com as de trabalho, muitas vezes inadequadas para os alunos do então Ensino Ginasial e Colegial (hoje, denominados, respectivamente, Ensino Fundamental II e Ensino Médio), os quais, por vezes, estavam distantes ou pouco conscientes da realidade em que viviam. era preciso estimular os ealunos a entender maneira como Assim, as sociedades se organizavam produziam bens easerviços, ou seja, como elas desenv desenvolviam olviam seu modo de produção. No próximo tópico, veremos o modo de produção e buscaremos inserir esse conceito no seu cotidiano como futuro professor de Geografia. Modo de produção Iniciemos este tópico com duas perguntas: "o que é o modo de produção?” e “como trabalhar o conceito de modo de produ-

 

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ção para estabelecer a relação do indivíduo com o espaço?”. espaço?”. Como veremos a seguir, é preciso estabelecer uma relação de proximidade entre o indivíduo e o espaço em que ele vive: Quando um aluno muda de rua, de escola, de bairro ou de cidade, ele não sente apenas as diferenç diferenças as das condições materiais nos novos lugares, mas também as mudanças de símbolos, códigos e significados com os lugares. Em cada imagem ou representação simbólica, os vínculos com a localização e com as outras pessoas estão a todo o momento, consciente ou inconscientemente, orientando as ações humanas (BRASIL, 1998, p. 23).

A relação de proximidade com o espaço vivido deve ser desenvolvida com a Geografia em que o conhecimento passe pela subjetividade. Ao pensar no mundo rural e urbano, em uma localidade ou mesmo um país, devemos construir um pensamento subjetivo nesses espaços. Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição empírica paisagens, tampouco pautadaque exclusivamente explicaçãodas política e econômica do mundo; trabalhe tanto tantopela as relações socioculturais da paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição dos lugares e territórios. Enfim, buscar explicar para compreender compreender (BRASIL, 1998, p. 24).

Devemos considerar também os três princípios importantes da Geografia Humana segundo Demangeon (in CHRISTOFOLETTI, 1982, p. 54-56): Primeiro princípio: Não se deve crer em Geografia Humana numa espécie de determinismo brutal, numa fatalidade tores naturais. A causalidade da geografia é muitoresultante complexa.dos faSegundo princípio: a Geografia Humana deve trabalhar apoiando-se sobre uma base territorial. Em todos os lugares onde vive o homem, seu modo de exist existência ência implica uma relação necessária entre ele e o substrato territorial. Terceiro princípio: para ser compreensiva e explicativa, a Geografia Humana não pode ater-se somente à consideração do estado atual das coisas. É preciso encarar a evolução dos fatos, remontar ao passado, isto é, recorrer à história.

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Temos, portanto, uma Geografia Crítica e uma Geografia Humana que permitem um novo tipo de enfoque, sugerindo que o ensino de Geografia deva permitir a compreensão do mundo, a fim de transf transformá-lo. ormá-lo. Vejamos, no próximo tópico, três conteúdos-chave para o ensino de Geografia. Conteúdos conceitual, procedimental e atitudinal Você já ouviu falar em conteúdos conceitual, procedimental e atitudinal? Os três são solicitados nos PCNs de Geografia. Espera-se que eles tanto sejam aplicados nos materiais didáticos de Geografia do Ensino Fundamental e Médio quanto façam parte da prática de ensino de professores dessa área. Vamos começar com uma questão-chave que mostra a clássica separação entre Geografia Física e Humana abordada pelos PCNs. O conteúdo conceitual  conceitual  parte da base teórica de qualquer tema abordado, ou seja, como podemos tratar de um assunto conceitualmente. É uma parte fundamental na formação do conhecimento. Já o conteúdo procedimental propõe procedimental propõe que o conhecimento adquirido conceitualmente seja posto em prática por meio de técnicas e estratégias que farão dele uma prática concreta. Finalmente, o conteúdo atitudinal aborda atitudinal aborda exatamente a vivência do aluno com o mundo em que ele vive. Tanto o conteúdo conceitual quanto o procedimental devem ser inseridos com o conteúdo atitudinal para constituírem um conhecimento que tenha uma forma espiral, conforme mostra a Figura 1:

 

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Figura 1 Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. atitudinais.

A construção do conhecimento geográfico deve seguir para além da simples descrição de fenômenos terrestres, sociais e relacionais. Essa construção deve ser feita por meio de um trabalho prático que insira o conhecimento na vivência do aluno. Assim, para o MEC (BRASIL, 2006, p. 43): A Geografia compõe o currículo do ensino fundamental e médio e deve preparar o aluno para: localizar, compreender e atuar no mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista vi sta a sua transformação.   transformação.

O ensino de Geografia deve permitir aos alunos compreender a realidade do mundo em que vivem de maneira mais ampla, consciente e propositiva. O MEC (BRASIL, 2006) solicita, do Ensino Fundamental e Médio, uma Geografia não apenas do físico e do humano, mas também que forme alunos capazes de transformar o mundo em que Claretiano - Centro Universitário Universitário

 

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vivem e que, desse modo, possam assumir, efetivamente, o papel de cidadãos brasileiros. Nesse sentido, as escolas geográficas têm um papel fundamental nessa construção, pois cada uma traz aquilo que, hoje, é importante para o ensino de Geografia. Vale ressaltar que as escolas geográficas são abordadas nos materiais de homem Geografia que diz respeito à descrição edidáticos à análisede doensino papel do nono espaço. Nesse sentido, os princípios da Geografia Humana, com os preceitos do MEC, caminham para construir um conhecimento que permita a capacidade de análise e contextualização dos acontecimentos sobre uma base territorial, no caso específico, o Brasil.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, da possibilidade do ensino de Geografia Humana do Brasil, da síntese desses problemas e do estabelecimento dos paralelos entre algumas corrent correntes es geográficas. A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se você encontrar dificuldades em responder a essas questões, procure revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas. Esse é o momento ideal para que você faça uma revisão desta unidade. Lembre-se de que, na Educação a Distância, a construção do conheciment conhecimento o ocorre de forma cooperativa e colaborativa; compartilhe, portanto, as suas descobertas com os seus colegas. Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Leia trecho a seguir, seguir, retirado dos dos PCNs de Geografia Geografia (BRASIL, 1998, p. 25):

 

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As propostas pedagógicas separam a Geografia Humana Huma na da Geografia da Natureza em relação àquilo que deve ser apreendido como conteúdo específico: ou a abordagem é essencialmente social (e a natureza é um apêndice, um recurso natural), ou então se trabalha a gênese dos fenômenos naturais de forma pura, analisando suas leis, em detrimento da possibilidade exclusiva da Geografia de interpretar, compreender e inserir o juízo do aluno na aprendizagem dos fenômenos em uma abordagem socioambiental. socioambiental. Com base na leitura do trecho apresentado anteriormente e dada a riqueza de informações sobre as quatro correntes geográficas, desenvolva a sua crítica sobre a Geografia trabalhada nesta unidade. 2) Veja, a seguir, seguir, a descrição do ensino ensino de Geografia segundo segundo o Ministério da Educação (BRASIL, 2006, p. 43): O ensino da Geografia deve fundamentar-se fundamentar-se em um corpo teórico-metodológico -metodológic o baseado nos conceitos de nature natureza, za, paisagem, espaço, território, região, rede, lugar e ambiente, incorporando também dimensões de análise que contemplam tempo, cultura, sociedade, poder e relações econômicas e sociais e tendo como referência os pressupostos Geografia ciência que as formas,por os processos, as da dinâmicas doscomo fenômenos que estuda se desenvolvem meio das relações entre a sociedade e a natureza, constituindo o espaço geográfico. Após a leitura e baseado no estudo desta unidade, descreva como pode ser analisado o papel do homem no espaço geográfico. geográfico. 3) Qual a importânci importânciaa da discussão proposta nesta nesta unidade para a sua formação? 4) De forma sucinta, sucinta, explique a essência essência do estudo proposto proposto em relação relação aos conceitos abordados no ensino de Geografia. Esses conceitos são importantes para se pensar uma proposta de ensino de Geografia? Por quê?

8. CONSIDERAÇÕES Esperamos que você tenha compreendido a trajet trajetória ória histórica das escolas geográficas e as bases que norteiam os materiais didáticos e o ensino de Geografia no Brasil. Na próxima unidade, veremos a Geografia e o processo de globalização no Brasil. Até lá!

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9. EREFERÊNCIAS Sites Pesquisados BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações curriculares  para o ensino médio médio.. Ciências humanas e suas tecnologias.  tecnologias.   Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. Disponível em: . br/seb/arquivos/pdf/book_volume_ 03_internet.pdf>. Acesso em: 20 fev fev.. 2011. 2011 .  ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. nacionais. Geografia. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Ensino Fundamental, 1998. Disponível em: . Acesso em: 20 fev fev.. 2011.

10.. REFERÊ 10 REFERÊNCIAS NCIAS BIBLIOGRÁFICA BIBL IOGRÁFICASS ANDRADE, M. C. Geografia, ciência da sociedade: sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas S.A., 1987. CHRISTOFOLETTI, A. As perspectivas do estudo geográfico. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org). Perspectivas da Geografia. Geografia. São Paulo: Difel, 1982. DEMANGEON, A. Uma definição de geografia humana. In: CHRISTOFOLETTI, A. (Org). Perspectivas da geografia. geografia. São Paulo: Difel, 1982. MORAES, A. C. R. Geografia Geografia::  pequena história crítica. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1990. SANTOS, M. Por   uma geografia nova: nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1996.

 

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Globalização e Br Brasil asil

2 1. OBJETIVOS • Problematizar Problematizar a globalização. • Estabelecer relação entre a globalização globalização e o Brasil. Brasil. • Sintetiz Sintetizar ar os conceitos e contextualiz contextualizá-los á-los com os probleproblemas abordados.

2. CONTEÚDO CONTEÚDOSS • Conceito de globalização. • Brasil no contexto contexto da globalização.

3. ORIE ORIENT NTAÇÕES AÇÕES PARA O ESTUDO ESTU DO DA UNIDADE UNIDAD E Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir:

 

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1) Sempre que falarmos de globalização e Brasil, devemos ter em mente os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), pois devemos estudar pensando no quão próximo o tema está de nosso viver. 2) Sugerimos a leitura do artigo Nação ativa, nação passiva,, publicado em O país distorcido, siva distorcido, de Milton Santos (2002), Referências cias Bibliográ ficas  ficas. . obra que consta no Tópico Referên 3) Assista ao vídeo vídeo produzido produzido pela pela TV Brasil que mostra os efeitos da globalização no mundo e uma interessante entrevista com Milton Santos. Disponível em: . vimeo.com/11411501 >. Acesso em: 19 maio 2011.

4. INTRODUÇÃO À UNIDADE unidade, vamos analisar asnosso basespaís. para o entendimen entendimen-to dosNesta problemas sociais existentes existe ntes no Antes de iniciarmos essa análise, vamos investigar os conceitos que servirão de base para esse entendimento. Inicialmente, Inicialmente, vejamos a definição de globalização proposta por Milton Santos (2002, p. 81): A globalização leva à afirmação de um novo meio geográfico cuja produção é deliberada e que é tanto mais produtivo quanto quanto maior o seu conteúdo em ciência, tecnologia e informação. Esse meio técnico-científico-informacional nico-científicoinformacional dá-se em muitos lugares de forma extensa e contínua (Europa, Estados Unidos, Japão, parte da América Latina), enquanto em outros (África, Ásia, parte da América Latina) apenas pode-se manifestar como manchas e pontos.

Segundo essa definição, vivemos um novo meio geográfico, influenciado pelo processo de globalização. Para Santos (2002, p. 82), o meio geográfico não é uniforme, e, sim, desigual, e deve ser analisado como território em redes: As redes são realidades concretas, formadas de pontos interligados que, praticamente, se espalham em todo planeta, ainda que com densidade desigual, segundo os continentes e países. Essas redes são a base da modernidade atual e a condição de realização da economia e da sociedade global.

 

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Portanto, na visão de Santos (2002), a globalização é um fenômeno presente no mundo inteiro que se manifesta no meio geográfico geográfic o por meio de redes. A seguir, analisaremos com maior profundidade a globalização.

5. FENÔMENO DA GLOBALIZAÇÃO Vamos iniciar este tópico com o artigo de Milton Santos (2002) intitulado Por uma globalização mais humana, humana, publicado em 30 de novembro de 1995 no jornal Folha de S. Paulo e, Paulo e, posteriormente, em O país distorcido, distorcido, obra do próprio autor: A globalização é o estágio supremo da internacionalização. O processo de intercâmbio entre países, que marcou o desenvolvime desenvolvimento nto do capitalismo desde o período mercantil dos séculos 17 e 18, expande-se com a industrialização, ganha novas bases com a grande indústria, nos finse do século 19, e,Oagora, adquire mais intensidade, mais amplitude novas feições. mundo inteiro torna-se envolvido em todo tipo de troca: técnica, comercial, financeira, cultural (SANTOS, 2002, p. 79).

Podemos compreender, diante do exposto, que a globalização não é um fenômeno recente, mas trata-se de um processo contínuo de formação, de um fenômeno mundial que pode ser chamado, também, de um processo de internacionalização. internacionalização. O processo de globalização está ligado ao desenvolvimento das técnicas. Diante disso, você pode estar se perguntando: "o que são as técnicas?”. As técnicas são as informações geradas pelos meios de comunicação, tais como a televisão, a internet, os jornais e as revistas, que circulam instant instantaneamente aneamente no mundo todo. Santos (2002, p. 79) ainda comenta: No mundo assim transformado, todos os lugares tendem a tornar-se globais, e o que acontece em qualquer ponto do ecúmeno (parte habitada da Terra) tem relação com o que acontece em todos os demais.

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Temos, então, um mundo fortemente influenciad infl uenciado o pelas técnicas, cada vez mais sofisticadas e rápidas, um sistema comercial cada vez mais interligado, países com sistemas financeiros dependentes e, por fim, um intercâmbio cultural muito forte no mundo em que vivemos. O mesmo autor explica o que realmente representa todo esse avanço da globalização: Daí a ilusão de vivermos num mundo sem fronteiras, uma aldeia global. Na realidade, as relações chamadas globais são reservadas a um pequeno número de agentes, os grandes bancos e empresas transnacionais, alguns estados, as grandes organizações transnacionais (SANTOS, 2002, p. 80).

Se a globalização é para uma minoria, onde se insere grande parte da população do planeta, já que somos, aproximadamente, 6,6 bilhões de habitantes no mundo todo? Nesse sentido, Santos (2002, p. 80) relata os efeitos sociais desse processo: Infelizmente, o estágio atual da globalização está produzindo ainda Infelizmente, mais desigualdades. E, ao contr contrário ário do que se esperava, crescem o desemprego, a pobreza, a fome, a insegurança do cotidiano, num mundo que se fragmenta e onde se ampliam as fratur fraturas as sociais. 

Assim, podemos entender que a globalização globali zação nem sempre é benéfica a todos; muito pelo contrário, ela acentua ainda mais as desigualdades sociais. Contudo, Santos (2002, p. 80) acredita que: Um mundo solidário produzirá muitos empregos, ampliando um interc intercâmbio âmbio pacífico entre povosose eliminando eli minando belicosidade do processo competitivo, queostodos dias reduz aa mão-de-obra. É possível pensar na realização de um mundo de bem-estar, onde os homens serão mais felizes, um outro tipo de globalização.

A belicosidade do processo produtivo a que Santos (2002) se refere é o efeito da mecanização e da automação das indústrias, o qual acaba por provocar uma redução da mão de obra e por aumentar os índices de desemprego. A busca do aumento da produtividade e a necessidade de obtenção o btenção de mais lucros são fatores cada vez mais present presentes es no meio corporativo.

 

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Santos (2002) chama nossa atenção para pensarmos na globalização como objeto de transformação, a fim de que alcancemos uma globalização mais humana, com o cultivo do bem-estar e maior solidariedade entre os povos. Uma vez estudado o fenômeno da globalização, daremos prosseguimento em nossos estudos falando do Brasil nesse contexto. text o. Acompanhe.

6. BRASIL NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO Para entender o Brasil no contexto da globalização, tomemos por base um trecho da entrevista que Milton Santos concedeu a Cassiano Elek Machado em 2 de fevereiro de 2001, ano do falecimento de Milton Santos. Machado perguntou a Milton Santos quais os desafios das questões territoriais no momento em que a globalização torna os limites geográficos cada vez mais permeáveis. Santos (2002, p. 70) respondeu: Um dos grandes desafios é o da própria tradição da geografia. Durante sua vida, ela trata o território como um quadro-negro sobre o qual a sociedade reescreve sua história. A ambição desse trabalho é negar essa visão do território. Ele também é dinâmico, vivo. A sociedade incide sobre o território, e este, sobre a sociedade.

Com esse trecho, retomamos o que estudamos na Unidade 1: a grande dificuldade que persiste em definir a Geografia. Fica claro que não basta apenas descrever o território, é preciso analisar como a sociedade produz o território. Assim, a Geografia Humana do Brasil será analisada desse ponto de vista. O impacto da globalização no Brasil acentuou as desigualdades sociais no país, pois não se trata de um fenômeno isolado, e, sim, em constante transformação. transformação. Observe o que Santos (2002, p. 70) afirma a esse respeito:

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A globalização. Ela representa mudanças brutais de valores. Os processos de valorização e desvalorização eram relativamente lentos. Agora há um processo de mudança de valores que não permite que os atores da vida social se reorganizem. Até a classe média, que parecia incólume, está aí ferida de morte. 

O destaque principal dessa ideia é a mudança que a globalização causa nasp.pessoas, uma mudança valores. Santos (apud RIBEIRO, 2002, 6), no trecho a seguir, de remete a globalização às pessoas: “O espaço se globaliza, mas não é mundial como um todo senão como metáfora. Todos os lugares são mundiais, mas não há um espaço mundial. Quem se globaliza mesmo são as pessoas”. pessoas”. Portanto, quando pensamos em globalização, devemos penPortanto, sar nos sujeitos, ou seja, naqueles em que o processo de globalização irá agir. agir. Aliás, é desse des se tema que trataremos no tópico seguinte. s eguinte. Influência da globalização na sociedade Se a globalização age nos sujeitos, tal como mencionado anteriormente, anteriorment e, poderíamos pensar que ela age da mesma maneira em todas as pessoas. No entanto, temos de distinguir e saber quem são essas pessoas. Santos (1987, p. 41) faz uma clara distinção entre consumidor e cidadão: O consumidor não é cidadão. Nem o consumidor de bens materiais, ilusões tornadas realidades como símbolos; a casa própria, o automóvel, os objetos, as coisas que dão status. Nem o consumidor de bens imateriais ou culturais, regalias de um consumo elitizado como o turismo e as viagens, os clubes, e as diversões pagas; ou de bens conquistados para para participar ainda mais do consumo, como a educação profissional, pseudo-educação pseudo-educação que não conduz ao entendimento do mundo. 

No entendimento de Santos (2002), o consumidor é aquele que consome tanto os bens materiais quanto os bens imateriais eautor que defende não tem anenhuma relação com formação da cidadania. O importância de ter umaposicionamento crítico so-

 

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bre o mundo por meio da cidadania. Vejamos como Santos (1987, p. 42) define o cidadão: O cidadão é multidimensional. Cada dimensão se articula com as demais na procura de um sentido para a vida. Isso é o que dele faz o indivíduo em busca do futuro, a partir de uma concepção de mundo.

A concepção de mundo que devemos ter deve ser analisada pela ótica do fenômeno da globalização. Observemos este outro trecho de Santos (2002, p. 100): A geografia brasileira foi, certamente, certamente, a primeira a se aperceber da relação entre essa grande mudança histórica - a globalização - e a necessidade profunda de se atribuírem novos fundamentos filosóficos e epistemológic epistemológicos. os.

Cabe à Geografia permitir o avanç avanço o do conhecimento e, acima de tudo, contribuir para a formação de cidadãos que interpretem o mundo e que tenham ção em suas próprias vidas. consciência do processo de globalizaDessa forma, o Brasil e as suas desigualdades sociais serão estudados pela ótica da globalização, que transformou e transforma, diariamente, suas relações sociais.

7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Como se deu o fenômeno da globalização? globalização? 2) Desenvolva Desenvolva a sua crítica sobre sobre a globalização tendo tendo em vista vista os conceitos estudados nesta unidade.  unidade.  3) Como os sujeitos sujeitos podem ser analisados no contexto contexto da globalização? 4) Analise, por meio dos meios de comunicação, comunicação, o uso uso das técnicas técnicas da globalização que tenham interferido na sociedade.

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8. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade, compreendemos o conceito de globalização e analisamos as bases para o entendimen entendimento to dos problemas sociais existentes no nosso país. estaem unidade tenha sido produtiva e que ela o leveEsperamos a pensar o que mundo que vivemos de uma maneira crítica, construtiva e transformadora. Na próxima unidade, estudaremos os fundamentos da dinâmica do território brasileiro e os problemas sociais no campo e na cidade. Até lá!

9. EREFERÊNCIAS Site pesquisado RIBEIRO, W. C. Globalização e Geografia em Milton Santos. Scripta Nova – Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Sociales, Barcelona, Universidad de Barcelona, v. v. VI, n. 124, 30 set. 2002. 200 2. Disponível em: . . Acesso em: 21 fev. 2011.

10.. REFERÊ 10 REFERÊNCIAS NCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIO GRÁFICAS SANTOS, M. O espaço do cidadão. cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.  ______. Por uma Geografia nova: nova: da crítica da Geografia a uma Geografia crítica. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1996.  ______. Por uma globalização mais humana. In: ______. ______. O  O país distorcido: distorcido: o Brasil, a globalização e a cidadania. São Paulo: Publifolha, 2002.

 

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Problemas Pr oblemas Sociais Brasileiros

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1. OBJETIVOS • Identificar e interpre interpretar tar os problemas problemas sociais brasileiros. • Estabelecer paralelos entre entre as questões questões sociais e as suas implicações no território brasileiro.

2. CONTEÚDO CONTEÚDOSS • Fundamentos da dinâmica do território brasileiro. • Problemas sociais no campo. • Problemas sociais na cidade.

3. ORIE ORIENT NTAÇÕES AÇÕES PARA O ESTUDO ESTU DO DA UNIDADE UNIDAD E Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir:

 

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1) Vamos analis analisar ar,, nesta unidad unidade, e, os problemas sociais do Brasil. Estudaremos, inicialmente, os problemas do campo e, posteriormente, os da cidade com o objetivo de abordar, dentro desses dois temas, assuntos da realidade brasileira. Isso não significa, necessariamente, que vamos esgotar todos os assuntos referentes aos problemas brasileiros, mas, sim, abordar aqueles que mais costumam fazer parte dos livros didáticos de Geografia. 2) Sugerimos a leitura do texto texto A  A estrutura fundiária brasileira e o papel dos assentamentos rurais na (re)organização do território brasileiro, brasileiro, de Sergio Ricardo Lima e Gisela Lemos Moreira, do X Encontro Nacional de Economia Política. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2011. 4) O Atlas O Atlas da questão questão agrária brasileira é brasileira é um rico material que vai auxiliá-lo na compreensão da situação agrária no Brasil. Disponível em:
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