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August 1, 2017 | Author: Amanda Fraga | Category: Africa, Breast, Europe, Colonialism, Renaissance
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el{nne cVtcClintock

Couro i*perial RAça, cÊNpno E sExuALTDADE NO EMBATE COLONIAL

TneouçÃo

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Plinio Dentzien

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U¡.¡rvsns¡oAD¡

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CAMpTN¡s

Reitor FBnN¡¡.roo Fpnn¡¡n¡ Coste Coordenador Geral da Universidade Epcan S¡¡.vepon¡ oe Decc¡

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Conselho Editorial P¡esidcnte

P¡u¡,o F¡¡¡.¡cr¡Brrr

Alc¡n PÉcon¡ - Anr,ev R¡vos MonB¡,¡o Gonrr¡o -JosÉ Rossnro Z¿ìi MancBr,o K¡,¡o¡nL - M¡nco A¡ro¡,¡¡o Z¡co SBo¡ Hrn¡r.¡o -Yeno BunrenJunron JosÉ A. R.

Comissão Editorial da coleção Gêneros

&

Feminismos

M¡,n¡ze ConnÊ¡ (coo¡d.) - Apnn¡¡¡ PlscrrnlLr InÊs Jonres -Ju¡,ro Ass¡s S¡¡¿õBs - Mencansrs Lopes Sonero C¡nn¡n¡. - Yeno BunreN Junron

Çêneros €l feminismos

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORÀD PÊLO SISTEMA DE BIBLIOTECÂS DA UNICAMP DIRETORIA DE TRATAMENTO DA INFORMAçÁO

Mrlzc

McClintock,rg54Couro impcrid: raça, gêncro tradução: Plinio Dcntzícn.

-

e scxudidade no cmbatc colonial /,{nnc McClintock; Campinas, sp: Editora da Unicmp, zoIo.

r. Comporcamenro scrual - Grá-Brctanha - Colônias - História' z. Rclaçócs homcmmulhcr - Grã-Brctanha - História - Séc. xtx. ¡. Papcl *xud - Grá-Brctanha - Colônias - História. +. Grã-Brcnnha - Colôniæ - Rclaçõcs raciais.I'În¡lo.

CDD 3oI.4I

tor.4tl

rsBN 978-8t-!68-089t-t Índiccs para catálogo sistcmático¡

r. z.

I,

Comportamcnto scxual - Grá-Brcranha - Colônias - História Rclaçócs homem-mulhcr - Grã-Brcmnh¿ - História - Séc. x¡x Papel scxual - Grá-Brctanha - Colôniæ - História

4. Grá-Brctanha

-

Colônias

-

Rclaçócs raciais

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&

Feminismos foi criada pela equipe de pesquisadores do Pagu-Núcleo de Estudos de Gênero da Unicamp e recebe o apoio da Editora da Unicamp. Voltada púa a. divulgação de obras importântes da história do feminismo e da áxea de estudos de gênero, no país e no exterior, pretende ser uma fonte de referência importante para coleção Gêneros

os pesquisadores dessa área em nosso país. Tío,tlo Oríginalz Imperial Leatha: røe, gnder and sexuzlity in tbc cohni¿l contcxt Copyright @ 1995 by Roudedge, Inc. 'Ibdos os dircitos rcscrvados. Tmdução aurorizada da ediçäo em língua inglesa publicada por Roudcdgc, panc do Tafor

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r

Çouro imperial

Escoihi, assim, contar uma série de estórias contraditórias e sobrepostas de trabalhadoras negras e brancas e de homens e mulheres de

-

classe média.

os gêneros que elegi são diversos

-

fotografia, diários,

PARTE

I

etnografias, novelas de aventuras, histórias orais, poesias declamadas e uma miríade de formas de cultura nacional. Entre outras, essas formas culn¡rais incluem os extraordinrlrios diririos e as fotografias de Hannah

cullwicþ uma empregada doméstica vitoriana para todo serviço e seu casamento secreto com o poetâ e advogado vitoriano, A¡thur Munby; o sucesso de vendas das fantasias imperiais de Rider Haggard; as exposições e fotografias imperiais; anúncios de sabão; os escriros políticos e as novelas da feminista olive Schreiner; a narrativa de uma doméstica

sul-africana "Poppie Nongena"; a política cultural negra na África do sul depois do levante de Soweto; os escritos de Frantz Fanon; e as vozes variadas e conflitantes de afrikaners e nacionalistas africanos na África do Sul. Essas na¡rativas têm muitas fontes e não prometem revelar um pas-

sado remoto, de qualquer modo tarefa utópica. Este liwo é, ant€s, um compromisso - motivado, seletivo e de oposição - tanto com as narrativas imperiais quanto com as anti-imperiais dos pais e das famílias,

do trabalho e do ouro, das mães e das empregadas.

+o

O IMPERIO DO LAR

V

I

A situaçáo daterra Genealogias do imperialismo

Eu não sou o campo de

trþ.

Nem a terra virgem. Ad¡ienne Rich

PoRNorRóprcos Co¡{srosnsMos, nARa começar, uma cena colonial. Emt4gz,Cristóvão Colombo, tropeçando pelo Caribe em busca das Índias, escreveu para cas para dner que antigos marinheiros tinham errado ao pensar que a Terra era redonda. Ao contrário,dizia, ela tinha a forma de um seio de mulher, com uma protuberância no topo na fordireção ao qual ele singrava ma inconfundível de um mamilo lentamente.

A imagem de Colombo torna aTerra feminina

na forma de um seio

cósmico, em relação ao qual o herói épico é uma criança perdida e ma, ansiando pelo mamilo celestial.

A imagem daTèrra

ínfi-

como seio aqui

não lembra a bravura masculina do explorador, investido de sua missão

de conquista, mas sim o incômodo sentido da ansiedade masculina, a infantiJização e o desejo pelo corpo feminino. Ao mesmo tempo, o corpo feminino é figurado como marcando a fronteira do cosmos e os limites do mundo conhecido, envolvendo os homens andrajosos, com seus sonhos de pimenta e pérolas, em seu coqpo oceânico indefinido.

A fantasia do seio em Colombo, como

o mapa dos seios de Sheba em

Haggard, segue uma longa tradição de viagens masculinas como uma erótica do alumbramento. Durante séculos, os continentes incertos

-

43

c.4 situação da

Couro imPerial

terra

-

Çenealogias do imperìalismo

África, Ásia, as Américas foram concebidos pelo saber europeu como libidinosamente eróticos. As estórias dos viajantes estavam eivadas de

Jordan, "da negação perversa"6. A' História universal cîtava uma tradição estabelecida e nobre quando declarava que os africanos eram "orgulho-

visões da monstruosa sexualidade de terras distantes, onde, segundo a

sos, preguiçosos, traiçoeiros, ladrões, quentes e chegados a todo

lenda, os homens exibiam pênis gigantescos e as mulheres copulavam

Iuxúrias"Z. Era tão impossível, insistia, "ser africano e não lascivo' como

com mâcacos; dos seios dos homens tornados femininos fluía o leite,

ser nascido

e

as mulheres mihtar'zadas cortavam os seus. Viajantes da Renascença

encontravam uma audiênciavoraz e lasciva para suas estórias picantes, de tal forma que, muito antes da era do alto imperialismo vitoriano, a f'frica e as Américas já se tinham tornado o que pode ser chamado de

p^ra imaginação europeia uma fantástica lanterna ^ da mente na qual a Europa projetava seus temores e desejos sexuais proibidos. Os pornotrópicos europeus vinham de uma longa tradição. No segundo século a.D., Ptolomeu escreveu sobre a frfrica,com confiança, que "a constelação do escorpião, que diz respeito às partes pudendas, domina aquele continente"'. Leo Africano concordava que não havia "nação sob o céu mais chegada âo sexo" do que "os negros"'. O eremita de Francis Bacon era visitado pelo espírito da fornicação, que acabou sendo um þequeno, sujo e feio etíope":.John Ogilby, adaptando os escritos de Olfert Dapper, com muito tato informava a seus leitores que os africanos ocidentais se distinguiam como'þrandes propagadores'4,ào passo que o plantador Edward Long via a Africacomo "originadora de tudo o que era monstruoso na naturezi's. Por volta do século XlX, o saber popular tinha estabelecido firmemente que a África eraazonaquintessencial da aberraçáo e da anomalia sexual "o próprio retrato", como dizia W. D.

tipo de

na þrfticae não ser africano"s. Dentro dessa tradição pornotrópica, as mulheres figuravam como a epítome da aberração e do excesso sexuais. O folclore as via, ainda mais que aos homens, como dadas a uma lascívia tão promíscua que beirava o bestial. Sir Thomas Herbert observou sobre os africanos "a semelhança

que eles têm com os babuínos, que, pude observar, fazem frequente companhia às mulheres"e. Long via uma lição mais próxima de casa no espetáculo africano do excesso sexual feminino, pois acreditava que as britânicas da classe trabalhadora habit¿vam, mais naturalmente que os homens, as perigosas fronteiras da transgressão se>n¡al e racial: "as mulheres das classes baixas na Inglaterra", escreveu de modo agourento, "têm preferência notável pelos negros"'o. O viajante William Smith advertia seus leitores sobre os perigos de viajar como brancos à lifrica, pois, naquele continente desordeiro, as mulheres "quando encontram um homem despem suas partes baixas e se atiram sobre ele"".

Durante a Renascença, à medida que a "fabulosa geografia" das via gens antigas era substituída pela "geografrz militante" do mercantil e pelo comércio triangular, os atrevidos navios mercantes Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França começaram a desenhar mundo num único novelo de rotas de comércio". O imperialismo mer-

-

6. r.

Apud Peter Fryer, Staying

Pozuer: Tlte History of Btack People in

Britain (Londres: Pluto

Press, 1984), p. r39.

z.

John Leo Africanus, A Geographical History of África, trad.John Pory (Londres: Georg. Bishop, róoo), p.38.

3. 4.

Francis Bacon, "New Atlantis: A Worke Unfinished", in H istory in Te n Ce n turies (Londres: Willi am, t67o), p. 26. Tho. Johnson, ró7o), p. 45r.

5.

Edward Long,The History ofJamaica (Londres:

++

T

(Nova York W.

7. 8. g.

Lowndes, r77+),pp.382-3.

Tbe

W Norton,

ro.

tlte Negro,

55o-r8rz

1977), p. 7.

Modern Part of tbe tlniøersal History

(T Osborne etc.,

176o, vol.

V)' pp. 658-9.

Op. cit., p. 659.

Sir Thomas Herbert, Some Years Tra't;e! Into Divars Parß of África and Asia tbe Great (Londres: R. Scot,

Sloa Syloarum or a Natural

John Ogilby, Africa: Being an Åccurate Destiption of the Regions of Aeg2t atc. (Londres:

Winthrop D. Jordan, lühite Ooer Black: Ámerican zlttituda Toward

1677), p. 18.

Edward Long, Candid Refcctions (Lonðres: T. Lowndes,tTTz),p.48-

rr. William Smith,ufNatr Voltøge to Guinea(Londres:John Nourse, r745),pp.zzr-zrz. o rermo 'þogra6a fabulosa" é de Michael Taussig, in Sltamanism, Colonialism and the Ilitd Man: Å

Study

in Terror and Healizg (Chicago: The Universiry of Chicago

+5

Press,

cz{ situação da terra

Çouro imperial

cantil começou a ser encorajado por sonhos de dominar não só um império de comércio sem limites, mas também um ilimitado império de

bertas"'S. Viajando no enigma do

[...] expandir

os lamentavelmente estreitos

infinito, p^r^lâ destravar

os "segredos

Novos caminhos se abrem para mim. Rasgarei o véu que esconde o que desejamos,

li-

Irromperei nos domínios da energia abstratató

mites do domínio do homem sobre o universo até seus limites prometi-

Mas a visão de Bacon de um pela Europa era animada não só uma do mas também uma erótica do conhecimento: "eu venho na verdade", proclamour "trazer a vós a î t,;ur.ez com todos os seus descendentes para pô-la a vosso serviço e torná-la vossa escrava,,'a. Com muita frequência, a metafísica do lluminismo apresentava o

Çenealogias do imperialismo

da natvrezd', Fausto também exclamou:

conhecimento. Francis Bacon (t56r-ú26) deu voz exemplar à falta de modéstia do expansionismo intelectual da Renascença: "meu único desejo terreno", escreveu, "é

-

dos"'3.

conhecimento como uma relação de poder entre dois espaços de gênero, articulados por uma jornada e por uma tecnologia de conversão: a penerração masculina e a exposição de um interior feminino velado; e a agressiva conversão de seus "segredos" numa ciência masculina visível da superfície. Bacon deplorava o fato de que "enquanto as regiões do globo

material [...] foram em nossos tempos expostas e reveladas, o globo intelectual permanece confinado aos estreitos limites de antigas desco-

O conhecimento do mundo desconhecido estava mapeado como uma metafisica da violência de não como o reconhecimento expandido das diferenças culturais e era validado pela nova lógica

-

iluminista da propriedade privada e do individualismo possessivo. Nessas fantasias, o mundo era tornado feminino e exposto exploração par^ e então remontado e organizado no inte^ fCSSC imperial massivo. Assim, para René Descartes, a expansão do conhecimento masculino equivalia a um violento arranjo de propriedade que fazia dos homens "senhores e possuidores da natvrezi"T. Na mente desses homens, a conquista imper-ial do globo encontrava sua figura e sua sanção política na prévia subordinação das mulheres como uma categoria da natareza.

AS MULHERES COMO MARCADORAS DAS FRONTEIRAS DO IMPÉNTO 1987), p. r5.Joseph conrad cunhou o termo þografia militante" em seu ensaio'Geography and Some Explorers" ,in Last Essays (Londres: J. M. Dent & Sons, r 9z6), p. y.para uma história do fim da escravidão colonial, ver Robin Blackburn,Tlte OoertÌtrou of Colonial Slaøery: ry76-r878 (Londres: Verso, 1988).

13. Benjamin Farrington,

Tbe Philosophy of Francis Bacon:

An

on lts Deoelopmentfrom (Chicago: The University Chicago Press, 1964), p. 62. ver LudmillaJordanova , sexuaÌ visions: Imagu of Gender in science and Medicine Betzoeen tlte Eighteenth and Tuentietb Centuries (Nova Yorlc Harvester wheatsheaf, 1989), ver também E.F.KelIer, Refeaions on Gender and scienee (NewRaven: Yale Universiry Press, 1985), especialmente os capínrlos z e 3; Susan Grtffin, Woman ønd Nanre: Tbe Roaring Inside Her (Nova York Ha¡per & Row, r97g); e Genevieve Lloyd,

t6o3 to 16o9

The

llitÌt Neu Tianslations of Fundamenta!

Essay

Tetcts

Man of Reason: "Male" and "Female" in western phitosopby (Minneaporis: Minnesora

Q"lé

Qrando os homens europeus atravessavam os perigosos limiares de seus mundos conhecidos, ritualisticamente tornavam femininas as fronteiras e os limites. Frguras femininas eram plantadas como fetiches nos pontos ambíguos de contato, nas fronteiras e oriffcios da zona disputada. Os

15. Francis Bacon, "Novum Organum", in James Spedding, Roben Ellis e Douglas Heath (orgs.),

University Press, 1984).

14. Faningon,TltePhitosEfuofFrancisBacon...,p.6z.paraogêneronavisãodaciênciade Bacon, ver carolyn Merchant, The Deatb of Nanre: women, Ecologlt and the seientfc Rnolutìon (Sào Francisco: Harper and Row, rggo), especialmente o capít'lo 7.

a6

o sentido dessa persistente generifrcaçâo da incógnita imperial?

ró.

Tbe WorÞs

of Francis Bacon (Londres: Longmans, r87o), p.

82.

Goethe, Faust.Parte I, apud Jordanova, Sexual l/isions...,p. 93.

17. René Descartes, Discourse on Metùod and the Meditations (Harmonðsworth: Penguin, ry68),p.78.

47

lr

r

Couro im?erial

marinheiros prendiam figuras femininas de madeira nas proas de seus barcos ebatizavam como objetos liminares exemplares - com nomes femininos. Os cartógrafos enchiam os mares vazios de seus mapas com ninfas e sereias. Os exploradores chamavam terras desco-

nhecidas de territórios "virgens". Os filósofos figuravam "a verdade" como fêmea, e então fantasiavam sobre retirar o véu. De muitíssimas

---

as mulheres serviam como figuras mectlactoras e hmrnares Pof meio das

OS

se orientavam no

como agentes

e

Os próximos capítulos exploram parcialmente os modos historicamente diferentes, mas persistentes, em que as mulheres serviram como marcadoras das fronteiras do imperialismo, as ambíguas mediadoras do que parecia ser pelo menos superficialmente o protagonismo

predominantemente

O primeiro ponto

masculino do império. que desejo salientar, porém, é que a feminização da terra incógnita era, desde o começo, uma estratégia de contenção violenta que pertence aos domínios tanto da psicanálise quanto da economia política. Se, à pri-

meira vista, a feminização da terra parece não ser mais do que um sintoma familiar da megalomania masculina, ela também trai uma paranoia aguda e um profundo (se não parológico) sentido de ansiedade e perda de limites. Como sugerem as imagens de Colombo e Haggard, a erótica da conquista imperial era também uma erótica da subjugação. Num I níve1, a representaçáo da terra como feminina é um tropo traumá.li tico, que ocorria quase invariavelmente, sugiro, depois da confusão I masculina com os limites, mas como umâ estratégia de contenção histórica e não arquetípica. Como traço visível de paranoia, feminizar a terra é um gesto compensatório, que nega a perda masculina dos limites reinscrevendo um excesso ritual de limites, acompanhado, com frequência, por um excesso de violência militar. A feminização da terrâ representa um momento ritualístico no discurso imperial, como os invasores masculinos se protegem do temor de desordens narcisistas ao reinscrever, como natural, um excesso de hierarquia de gênero.

48

cA situação da terra

-

Çenealogias do imperialismo

Mary Douglas observa que as margens são perigosas'8. As sociedades saoãais vulneráveis nas margens, nas esgarçadas beiras do mundo conhecido. Tendo velejado além dos limites dos mares conhecidos, os exchamou de lim$q!!acþ'e -Para ploradores entram no que Yt.*frt* Turner, a liminaridade é ambígua, fugindo à "rede de classificações que normalmente situam os espaços e as posições no esPaço cultural"'o. Ali na fronteira entre o conhecido e o desconhecido, os conquistadores, exploradores e navegadores se tornavam criaturas da transição e do limiar. Como tais, eram perigosos, pois como diz Douglas: "O perigo está nos estados de transição t...] A pessoa que deve Passar de um Para o outro está ela mesma em perigo e produz perigo Para as outras"2'. Como figuras do perigo, os homens das margens tinham "licença para emboscar,

roubar, estuprar. Esse comportamento é mesmo imposto a eles. Comportar-se antissocialmente é a própria expressão de sua condição margi-

îaI""".Ao mesmo temPo, os perþs representados pelas Pessoas marginais são administrados por rituais que as separam de seu status antefiot, segregando-as durante ,1go- temPo e então publicamente declarando sua entrada em seu novo status. O discurso colonial repetidamente ensaia esse padrão

-

marginalidade perigosa, segregação, reintegração.

o "DEscoBRIMENTo" IMPERIAL E A AMBIVALÊNCTA DE GÊNERO Consideremos agora outra cena colonial. Num desenho famoso (c475),Jan van der Straet retÍatà o "descobrimento" da América como g* um encontro erótico entre um homem e uma mulher (Frgura r'r)t-

ú.

Mary Douglas, Puritlt and Daagar (Londres: Roudedge & Kegan Paul, 1966), p' 63'

19. VictorTurner,TheRitualProcess:StructureandÅnti-structure(Ithaca:CornellUniversiry Press, 19ó9).

zo. Idem, op. cit., p. 95.

zr.

Douglas,

Pzritl

zz. Idem, op. cit.,p.

and Dangcr,p.78. 79.

23. Yer Peter Hulme, "Poþropic Man: Tropes of Sexuality and Mobiliry in Eariy colonial Discourse", in Francis Barker et al. (orgs.), Europe and Its Others (Essext University of

49

(ouro imperial

\j/ñtñ Figura Norte,

Jú;N

u - Pornotró?ico: c.

w{ situação da terra

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