Costa, N. (2002). Terapia Analítico-Comportamental - Dos Fundamentos Filosóficos à Relação Com o Modelo Cognitivista

June 21, 2019 | Author: Augusto Cézar de Souza | Category: Behaviorism, Psychology & Cognitive Science, Psychological Concepts, Cognitive Science, Action (Philosophy)
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Costa...

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e r a p ia

A

n a l ít ic o - C o m p o r t à m e n t a l :

DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À RELAÇÃO

COM O MODELO COGNITIVISTA

NAZARÉ COSTA

Copyright © desta edição: ESETcc Editores Associados, Santo André, 2002. Todos os direitos reservados Costa, Nazaré Terapia analítico-comportamental: dos fundam entos filosóficos à relação com o modelo cognitivista - Nazaré Costa. 1a ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2002. 96. 21 cm 1. Psicologia do C om portam ento pesquisa, aplicações 2. Behaviorism o 3. Análise do C om portam ento 4. Terapia Comportam ental

CDD 155.2 CDU 159.9.019.4

ISBN ESETec Editores Associados Direção Editorial: Teresa Cristina Cume Grassi-Leonardi Assistente Editorial: Jussara Vince Gomes Revisão Ortográfica: Erika Horigoshi

Revisão do material original: Prof.* M argarida Heluy

Solicitação de exemplares: [email protected] Rua Catequese, 845 —Bairro Jardim —Santo André —SP CEP 09090-710 Tel. 4990 5683/ 4432 37 47 www. esetec.com .br

T

e r a p ia

A n a l ít ic o -

COMPORTAMENTAL: DOS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS À RELAÇÃO COM O MODELO COGNTTIVTSTA

NAZARE COSTA

ESETec Editores Associados

2002

"Erros têm sido cometidos e não temos certeza se o ambiente construído pelo homem continuará a proporcionar ganhos que ultrapassem as perdas, mas o homem como o conhecemos, melhor ou pior, é o que o homem fez de si mesmo".

B. F. Skinner

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I

Aos meus pais Vilma e Daniel, grandes modelos, apoiadores e incentivadores de minhas escolhas e decisões no passado, presente e, espero, no futuro. Amo vocês!

S u m á r io

Epígrafe .................................................................................................

v

D edicatória ..........................................................................................

vii

A grad ecim entos ................................................................................ Prefácio ..................................................................................................

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A presentação

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I

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Os Behaviorism os

.....................................................................

II Terapia Analítico-Com portam ental: Histórico, Proces­ so e Características D efin id o ras............................................

^ 9

III A Subjetividade sob a Ótica Behaviorista Radical: In­ terpretação, Aspectos Polêm icos e M anejo Terapêutico

^

IV Psicoterapia "Cognihvo-C om portam ental" .....................

27

V Behaviorism o e Cognitivism o: Com paração entre Pro­ posições Teóricas e M odelos de Intervenção Terapêu­ tica ...................................................................................................

3.5

VI Caracterização, H ipóteses e Im plicações da Tendência Integracíonista na Terapia A nalítico-Com portam ental e Terapia Cognitiva ..................................................................

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Finalizando ..........................................................................................

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Referências

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A g r a d e c im e n t o s

A gradeço a Em m anuel Zagury Tourinho, aquele que tem in­ fluência direta sobre quase tudo que sei acerca da cicncia e da filoso­ fia behaviorista e do com o me com porto com meus alunos. Obrigada por tudo! Nunca cansarei de te agradccer, m eu eterno M ESTR F.

A o prof. W alter N unes, um dos grandes incentiva dores deste livro. M uito obrigada!

A os meus alunos e aos m eus clientes que, a cada dia, me fa­ zem crescer nos níveis profissional e pessoal. Adoro vocês.

P r e f á c io

A produção de conhecim ento em análise do com portam ento no Brasil, na últim a década, vem revelando um interesse m aior por questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas com a pesquisa básica e com aplicações no cam po da intervenção p sico ló g ica. A criação da A ssociação B rasileira de P sico terap ia e M edicina Com portam ental (ABPM C) e a realização de seus Encontros anuais têm sido um grande incentivador desse m ovim ento, tanto ao possibilitar um contato m ais intenso de novos profissionais e alunos com aquela produção quanto por estim ular a form ação e a divulgação de n ovos autores. Esta obra pode m uito bem ser consid erada um produto desse am biente. A autora, que desde cedo conviveu com a pesquisa em análise do com portam ento em seu curso de graduação em Psicologia na U niversidade Federal do Pará, parece ter encontrado na in te rlo cu çã o co m os tera p eu ta s a n a lítico -co m p o rta m e n ta is e cognitivo-com porta menta is uma m otivação a m ais para dedicar-se à pesquisa conceituai na área. Foi tam bém desse contato que se originou o problem a-pesquisa abordado em sua Dissertação de M estrado, da qual retirou parte do conteúdo do livro. As tradições com portam entais e cogni ti vistas de abordagem dos problem as psicológicos e seus respectivos m odelos de interven­ ção guardam relações históricas de diferentes ordens. N a sua origem, o co g n itiv ism o u su fru iu de re cu rs o s ta n to c o n c e itu a is qu an to m etodológicos elaborados no âmbito das psicologias com portam entais

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(e, desse ponto de vista, faz boa diferença falar das relações históricas do m entalism o ou do cognitivism o com o beh avio rism o, em bora contem poraneam ente os dois prim eiros sejam m uitas vezes tratados com o sinônim os). N os tem pos atuais, behaviorism o e cognitivism o são freqüentem ente referidos (inclusive por Skinner) com o os princi­ pais antagonistas no cenário acadêm ico de confronto das teorias psi­ cológicas. O texto que com põe este livro reflete as duas condições. É bastante didático no que diz respeito à apresentação dos behaviorism os e de aspectos das terapias an alítico -co m p o rtam en tal e cog nitivocom portam ental; é na m esm a m edida polêm ico no que concerne às relações entre aqueles m odelos de intervenção e, quanto a isso, é níti­ da a adesão da autora às posições de base analítico-com portam ental. Talvez não enfatize suficientem ente o clima de colaboração que vem sendo nutrido entre os praticantes e pesquisadores nas duas áreas, com o, inclusive, ilustram as program ações dos Encontros anuais da ABPM C; em contrapartida, ressalta aspectos críticos (de um ponto de vista analítico-com portam ental), que m uitas vezes são insuficiente­ m ente considerados nos debates sobre o assunto. A obra cumpre pelo m enos três objetivos muito positivos: di­ v u lg a a a n á lis e d o c o m p o rta m e n to e as te ra p ia s a n a lític o comportamental e cognitivo-comportamental, com um di da tis mo que a recomenda como recurso para o ensino de novos terapeutas; fomenta uma discussão crítica das iniciativas na direção da integração de m ode­ los diversos de intervenção, sem interditar as possibilidades de diálogo e colaboração; e, finalmente, revela uma nova autora, encorajando, tam­ bém, novos membros de nossa comunidade a divulgarem sua produ­ ção. Belém , 14 de agosto de 2002. Em m anuel Zagury Tourinho

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A presen tação

A idéia dc escrever um livro não é nova. Hã anos, quando ainda cursava a graduação, propus ao grupo de estudos do qual par­ ticipava que escrevêssem os um livro, a partir das 20 afirm ações des­ tacadas por Skinner na introdução de sua obra Sobre o Behaviorismo. No entanto, m otivos diversos nos levaram a não concretização de tal propósito. M as, eis que, m esm o sozinha, resolvi ousar e partir para a realização do desejo. Este livro retrata, na realidade, grande parte da minha trajetó­ ria acadêm ico-cicntífica no que se refere ao estudo do Behaviorismo, da Análise do Com portam ento e da Terapia Analítico-Comportamental. M eus prim eiros trabalhos foram os de conclusão de curso, ten­ do sido escritos nos anos de 1995 c 1996 intitulados respectivam ente: " O H om em com o Produto e Produtor do Am biente segundo Skinner" e " E v e n to s P r iv a d o s : A n á lise e Im p lic a ç õ e s p ara a T e ra p ia C om portam cntal". Durante o mestrado, além do anteprojeto para a seleção e da própria dissertação, redigi alguns trabalhos no contexto de disciplinas, m antendo com o foco de estudo a filosofia, a ciência e a prática clínica behavíorista. C om o passar do tem po, comecei a apresentar meus trabalhos em form a de painéis e apresentações orais, além de utilizá-los em m inhas aulas com alunos de graduação. Ao fazer isto, fui positiva­ m ente reforçada com os feedbacks dos alunos e tomei conhecim ento que alguns de m eus textos tam bém eram usados por outros professo­ res da graduação, inclusive nos estágios curriculares. Foi a partir daí c, também, por uma necessidade pessoal de produzir, que decidi tor­ nar públicos m eus eventos privados (pensamentos, desejos e necessi­ dades), com eçando a colocar em prática a organização do livro. G rande parte deste livro consiste em m inha dissertação de m estrado (concluída em 1999), porém existem capítulos que foram originalm ente escritos ainda no ano de 1996. Apesar de alguns textos

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P r e f á c io

A produção de conhecim ento em análise do com portam ento no Brasil, na últim a década, vem revelando um interesse m aior por questões conceituais e filosóficas e, também, pela articulação destas com a pesquisa básica e com aplicações no cam po da intervenção p sicológica. A criação da A ssociação Brasileira de P sico terap ia e M edicina C om portam ental (ABPM C) e a realização de seus Encontros anuais têm sido um grande incentivador desse m ovim ento, tanto ao possibilitar um contato m ais intenso de novos profissionais e alunos com aquela produção quanto por estim ular a form ação e a divulgação de novos autores. Esta obra pode m uito bem ser consid erada um produto desse am biente. A autora, que desde cedo conviveu com a pesquisa em análise do com portam ento em seu curso de graduação em Psicologia na U niversidade Federal do Pará, parece ter encontrado na in te rlo cu çã o co m os tera p eu ta s a n a lítico -co m p o rta m e n ta is e cognitivo-com portam entais uma m otivação a mais para dedicar-se à pesquisa conceituai na área. Foi tam bém desse contato que se originou o problem a-pesquisa abordado em sua Dissertação de M estrado, da qual retirou parte do conteúdo do livro. As tradições com portam entais e cognitivistas de abordagem dos problem as psicológicos e seus respectivos m odelos de interven­ ção guardam relações históricas de diferentes ordens. N a sua origem, o co g n itiv is m o u su fru iu de re c u rs o s ta n to c o n c e itu a is qu an to m etodológicos elaborados no âmbito das psicologias com portam entais

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serem m enos recentes, tive o cuidado de atualizá-los, inclusive a pró­ pria dissertação. O m aterial a seguir para m uitos não é novidade, pois algum as d iscu ssões aqui d ispostas já v êm send o feitas por vários au tores renom ados. M as, se é assim , em que m edida vale a leitura do livro? Considero que o livro seja útil por se tratar, até certo ponto, de um m aterial didático, apresentar reflexões críticas e m uito particu­ lares de alguns tem as, além de trazer discussões que ainda são im ­ portantes na atualidade. O livro está dividido em seis capítulos: parte das distinções entre très tipos de Behaviorismos; apresenta a história, o processo e as carac­ terísticas definidoras da Terapia Analítico-Com portam ental; discute o tema da subjetividade no Behaviorismo Radical e na Terapia AnalíticoC om p ortam en tal; aborda os fu n d am en to s e a prática da T erap ia "C ognitivo-C om portam ental"; com para as proposições teóricas e os modelos de intervenção terapêutica behaviorista e cognitivista e, por fim , ca ra cteriz a e fo rm u la h ip ó teses e im p lica çõ es da ten d ên cia in te g r a c io n is ta , e n v o lv e n d o a in te rv e n ç ã o clín ica a n a lític o comporta mental e a cognitivista. ' Espero que minha percepção em relação ao livro esteja de acor­ do com a realidade! Uma boa leitura a todos.

N a z a ré

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I Os

B e h a v io r is m o s

E m u m prim eiro trabalho acadêm ico (Costa, 1995), já se fa­ zia presente a preocupação de dem arcar o fato de que não se pode fa la r em n o m e do B eh av io rism o sem m en cio n ar a q u a l tip o de Behaviorism o está se referindo, uma vez que existem diferenças sig­ nificativas entre os seus vários modelos. Os m ais conhecidos no meio acadêmico são os representados por W atson, o Clássico, e por Skinner, o Radical. Entretanto, há, ainda, o Behaviorism o Mediacional, representado principalmente por Tolman e H ull, o Behaviorism o Teleológico, representado por R ach lin e o Interbehaviorism o, que tem a figura de Kantor como representante. C o m o as d is c u s s õ e s n e ste liv ro e s ta rã o p a u ta d a s no Behaviorism o de Skinner, sendo necessário tam bém esclarecer sobre determ inados aspectos do Behaviorism o Clássico e do Behaviorism o M ediacional, este capítulo se propõe a caracterizar cada um destes m odelos, a partir das concepções de com portam ento e am biente, de paradigm a adotado, de m odelo causal e de visão de homem.

Behaviorismo Clássico de John Watson In augurad o com a publicação do artigo Psychology as the behaviorist views it, em 1913 (W atson, 1913), o Behaviorism o surge em contraposição às psicologias m entalistas então dom inantes (M atos, 1997). A ntes de seu surgim ento, os psicólogos estavam voltados para o estudo da m ente ou da consciência hum ana, adotando com o m éto­ do a introspecção.

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Com o comportamentalismo, pelapm neira vez, os estudos psicológicos “deram as costas” à experiência imediata. Tudo aquilo que faz parte da experiência subjetwa individualizada deixa de ter lugar na ciência, seja por que não tem importância, seja porque não é acessível aos métodos objetivos da ciência (Figueiredo e Santi, 1997, pp. 66-67).

Assim , considera-se que o Behaviorism o foi um m arco na história da psicologia, na m edida em que delim itou com o objeto de estudo o com portam ento e buscou introduzir m étodos com patíveis com aqueles das ciências naturais (Chiesa, 1994). Para isso, W atson rejeitou toda e qualquer referência a processos m entais em sua pro­ posta de ciência psicológica. W atson (1924/1970) escreveu; "V am o s n os lim itar a coisas que podem ser observadas, e form ular leis apenas para aquelas coisas. Agora, o que podem os observar? N ós podem os observar o comportamento —o que o organismo faz ou diz” (p. 6). O comportamento, na concepção de Watson, referia-se basica­ m ente às m udanças observadas no organism o, em especial, às m udan­ ças nos sistem as glandular e m otor, decorrentes de algum estím ulo am biental antecedente. Em função da ênfase nas respostas glandulares e motoras, o Behaviorismo de W atson é denom inado por alguns autores de M uscle-tw itch Psychology (P sico lo g ia da C on tração M u scu lar) (Kitchener, 1977). Por outro lado, a despeito da interpretação dc que as explicações de W atson seriam m eram ente fisiológicas, ele é enfático em fazer a diferença. [A ] Fisiologia está particularmente interessada no funcionamento de partes do animal.... [O] Behauiorismo,, por outro Indo, enquanto estâ in­ tensivamente interessado no funcionamento de todas estas partes, estâ intrinsecamente interessudo no que o animal como um todo fareí de m a ­ nhã até à noite e de noite até tie manhã (Watson 1924/1970, p. 11),

E acrescenta: "E m outras palavras, a resposta n a qual o behaviorista está interessado é a resposta com um à pergunta " o que ele está fazendo e por que está fazendo?" (W atson 1924/1970, p. 15). Desta m aneira, conclui-se que W atson estava interessado no com por­ tam ento enquanto um fenôm eno m olar —no sentido de um "conjunto de m ovim entos integrados" - porém , para estudá-lo, considerava n e­ cessário decom pô-lo em partes m ais sim ples (Kitchener, 1977). Para W atson, todos os com portam entos são reflexos, um a vez que consistem "d e respostas eliciadas por estím ulos7' (Zuriff, 1986, p. 692). Deste modo, o paradigm a adotado por ele para explicar os com ­ p o rta m e n to s fo i o p ara d ig m a p a v lo v ia n o S -R . Em d e c o rrê n c ia d isto , o B e h a v io rism o w a ts o n ia n o ta m b é m é c o n h e c id o co m o Behaviorism o Clássico ou "Psicologia S-R " (Chiesa, 1994; M oore, 1995a, 1996; M atos, 1997). U m estímulo consiste em qualquer objeto no am biente ou m u­ dança no próprio corpo do organism o (contrações musculares, palpita-

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çoes e outras)1. Já a resposta diz respeito ao que o organism o faz, classi­ ficada como externa (explícita) e interna (implícita) (W atson 1924/1970). Ao usar o m odelo explicativo S-R, no qual um evento antece­ dente é a causa do com portam ento, W atson assum e um a concepção m ecanicista de explicação com portam ental. M ecanicista no sentido de que a causa é necessariam ente um evento anterior que produz, assim, um efeito 0u piassu e M arcondes, 1993). Outra denom inação dada ao Behaviorism o de W atson foi Behaviorism o M etodológico. Tal denom inação está relacionada com a opção m etodológica de W atson, ou seja, quando ele abandonou o estudo da vida m ental, o fez por um a lim itação de m étodo e não por considerar que os processos m entais inexistissem 2. N as palavras de Chiesa (1994): [ Watson argum entou] ... que o estudo da vida mental, consciência , sensações, e assim por diante não estava levando a psicologia a ne­ nhum lugar e deveria ser abandonado provisoriamente, em favor da concentração na pesquisa comportamental, até o desenvolvimento de métodos mais capazes de irradiar alguma luz sobre estes processos. Princípios do comportamento deveriam ser aplicados de maneira ci­ entífica, sem referência a estados mentais, até a psicologia avançar como uma ciência natural (p. 184).

U m a im plicação que se origina desta posição de W atson re­ fere-se à m anutenção da concepção dualista de hom em . Tanto para as psicologias tradicionais quanto para o Behaviorism o w atsoniano, exis­ tem processos internos que diferem dos com portam entais quanto à natureza: os prim eiros são m entais (subjetivos) e os segundos são físi­ cos (objetivos) (Chiesa, 1994). Sintetizando: o Behaviorism o é definido por W atson (1970) com o "u m a ciência natural que se encarrega de toda a área do ajusta­ m ento hum ano" (p. 11), cujos objetivos consistem em prever e controlar o com portam ento. D entre suas principais características, estão: tomar como objeto de estudo o comportamento publicamente observável; igno­ 1 Esta noção de ambiente envoivend o também o que se passa no interior do organismo é particularmente im portante em urna proposta behaviorísta, em função da possibilidade de aceitação da causalidade m tem a. Afinal, se todos os com portam entos são reflexos, dado o estímulo (externo ou interno) a res­ posta ocorrerá. A diferença desta interpretação para as dem ais interpretações intem alistas residiria no fato de que a natureza do in ttm o , neste contexto, é físico e não mental. Contudo, isto é apenas uma suposição que precisaria ser m elhor investigada. Assim, a proposição de que W atson é extem alista, com respeito às suas explicações com portam entais, será m antida. 1 Existem posições divergentes em relação a denom inar W atson de behaviorista m etodológico. Hayes e H ayes (1992), p o r exem plo, o consideram um behaviorista metafísico. Entretanto, a argum entação dada pelos autores que o consideram com o representante do Behaviorismo M etodológico é uma argum entação justificável. N ote, p o r exem plo, a afirm ação de Zettle e Hayes (1982) de que "o B ehaviorism o M etodológico (com o um a posição filosófica) tem en fatizad o qu e, por razões m etodológicas, apenas o com portam ento publicamente observável pode ser considerado com o cientificam ente adm issível" (p. 75). lista caracterização do Behaviorism o M etodológico é a m esm a que é feita para o Behaviorismo de Watson.

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rar os fenôm enos m entais; utilizar procedim entos objetivos para estu­ dar o com portam ento e explicar todos os com portam entos através do paradigm a S-R (Matos, 1997). Após esta fase inicial da cham ada revolução behaviorista, di­ versas críticas foram feitas a esta nova proposta de psicologia, dentre as quais a de que era m ecanicista, simplista e desum anizadora. Entre­ tanto, talvez a principal crítica tenha sido a de que as explicações behavioristas eram inadequadas e limitadas, já que nem todo com por­ tamento poderia ser explicado por conexões S-R (Moore, 1995a, 1996). Em conseqüência disto, na tentativa de explicar alguns pro­ blem as que o Behaviorism o de W atson não explicava satisfatoriam ente, "o s psicólogos reintroduziram os fenôm enos m entais nas explicações na form a de variáveis m ediacionais 'org an ísm icas'" (M oore, 1995b, p. 5 9 ). E sta n o v a fa s e da r e v o lu ç ã o b e h a v io r is ta , r o tu la d a de N eobehaviorism o M ediacional, teve início entre o final da década de 1920 e o com eço da década de 1930 (M oore, 1995a, 1996), tendo den­ tre seus representantes Tolm an e Hull.

Neobehaviorismos Mediacion&is de Tolman e Hull O N eob ehav iorism o M ed iacion al de T olm an, co n h ecid o como Behaviorism o Intencional, teve seus fundam entos lançados em 1932, com o livro Purposive behaviorin animal and men (cf. Carrara, 1998). U m pressuposto básico do N eobehaviorism o de Tolm an é o da intencionalidade do com portam ento. Para ele, todo organism o se com porta para alcançar um objetivo, um alvo determ inado (Zuriff, 1985). Assim, o com portam ento persiste ''até o objetivo ser alcançado" (Kitchener, 1977, p. 37). O com portam ento, na concepção de Tolm an, era um fenôm e­ no emergente por possuir em si mesmo propriedades que o descrevem e definem - propriedades estas não reduzíveis à fisiologia - m otivo pelo qual é denom inado de m olar (Kitchener, 1977; Sm ith, 1989; Carrara, 1998). A defesa da intencionalidade do com portam ento, aliada ao fato de ser um representante da teoria S-O -R, perm ite que Tolm an seja considerado um precursor de algum as teorias cognitivistas. Isto porque o en u n ciad o S-O -R evidencia u m a posição m ed iacion al e intem alista quanto à determ inação do com portam ento, o que consis­ te em um aspecto característico de teorias cognitivistas. O enunciado S-O -R significa que entre o estím ulo e a res­ posta existe um conjunto de eventos ocorrendo no organism o, que são os v erd ad eiro s d eterm in an tes do fen ô m en o co m p o rtam en tal (Zuriff, 1985).

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Os eventos mediacionais, designados por Tolman (1938), como variáveis intervenientes, foram concebidos "com o construtos adicionais, os quais cada ciência considera útil criar e introduzir com o passo explicativo entre as variáveis independentes, de um lado, e as variáveis dependentes finais, de outro" (p. 229). Em outras palavras, define-se uma variável interveniente com o aquela que conecta as variáveis inde­ pendentes e dependentes (Zuriff, 1985)3. Tolm an categorizou as variáveis intervenientes em três gru­ pos: a) sistem a de necessidades, que diz respeito ao estado de priva­ ção ou im pulso; b) m atriz de crença-valores (variável cognitiva), que se refere a hierarquias de expectativas aprendidas sobre estím ulos do am biente e suas funções na relação com o com portam ento e c) espaço com portam ental, o qual pode ser entendido com o o contexto em que o com portam ento ocorre (Carrara, 1998). De acordo com Tolm an (1948), o processo de aprendizagem envolve a construção de m apas cognitivos do am biente, que se for­ mam no cérebro dos organism os. Estes m apas representam relações estím ulo-estímulo (S-S) ou as expectativas dos organismos "d o que leva ao que..." (Zuriff, 1985, p. 254). Dito de outro modo, os mapas cognitivos são construídos a partir da relação organism o-m eio, através de cone­ xões entre estím ulos am bientais e expectativas do organism o (evento m ediador que funciona com o um estím ulo), constituindo-se em guia para o com portam ento dos organism os em situações posteriores. Dá-se o nom e de gestalts-sinais (sign-gestalts) aos processos cognitivos que inte­ gram as relações aprendidas entre as pistas do am biente e as expectati­ vas do organismo, ou seja, um mapa cognitivo seria um padrão d e gestalts sinais (C abral e Nick, 1997). Outro ponto im portante no sistema de Tolman refere-se à acei­ tação de processos mentais. Neste sentido, ele afirma que: O behaviorismo a ser apresentado aqui sustentará que os processos men­ tais são mais utilmente concebidos como apenas aspectos dinâmicos, ou determinantes, do comportamento. Eles são variáveis funcionais que intermedeiam equações causais entre estímulo ambiental e estados fisio­ lógicos iniciais..., de um lado, e comportamento final público, de outro (Tolman, 1932, conforme citado por Zuriff, 1985, p. 207).

E m outro m om ento, Tolm an (1959) conclui que, ao iniciar o seu sistem a behaviorista, o que "realm ente estava fazendo era tentar reescrever um a Psicologia m entalista de senso comum... em term os behavioristas operacionais" (conform e citado por Carrara, 1998, p. 62). A publicação do livro Principies o f Behavior, no ano de 1943, m arca o surgim ento de outro tipo de N eobehaviorism o S-O -R - o N eobehaviorism o de Clark Hull (Chiesa, 1994). 3 Fm 1948, M acCorqodale e Meehl (1948) propuseram um a diferenciação entre variáveis intervenientes e construtos hipotéticos. Adiante, tratar-se-á desta distinção.

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Hull, à semelhança de Tolman, faz uso das variáveis mediacionais para explicar o comportamento. Contudo, seu uso é diferenciado. Na litera­ tura, dentre os exemplos de construtos mediacionais postulados por Hull, encontram-se o drive, a inibição condicionada, a reação de fadiga, a interação neural aferente e o fator de oscilação (Chiesa, 1994), sendo que os cinco construtos considerados principais no Neobehaviorismo hulliano são: for­ ça do hábito, reação potencial, inibição, oscilação do potendaí de reação e princípio ou limiar de reação (Tumer, 1965). As variáveis m ediacionais do sistem a de Hull são variáveis essencialm ente intra-organísm icas, no sentido de que possuem um ca­ ráter neurofisiológico (Chiesa, 1994). Como representantes do Neobehaviorism o M ediacional, para Tolman e Hull o am biente é apenas o iniciador da cadeia S-O-R, caben­ do aos mediadores a função de " causas reais" do com portamento. C o n tra p o n d o -se o N eo b eh av io rism o de H u ll co m o de

1 olman, nota-se que apesar de serem classificados com o m ediacionais e intem alistas, apresentam diferenças significativas. Tolm an e Hull concebiam o com portam ento com o um fenô­ m eno m olar, entretanto, para Hull, rtiolar significava m acroscópico e não envolvia as propriedades de propósito e cognição postuladas por Tolm an (Kitchener, 1977). Enquanto Tolm an recorreu a conceitos m entais em sua ex­ plicação do com portam ento, de acordo com Zuriff (1985), Hull rejei­ tou a função explicativa destes conceitos. Possivelm ente por isto, Hull trabalhava com as variáveis m ediacionais entendendo-as apenas com o variáveis intra-organísm icas e não recorreu a conceitos cognitivos como intenção, representação, expectativa e crença (Chiesa, 1994). Isto evidencia que uma concepção m ediacional e intem alista quanto à determ inação do com portamento pode não ser suficiente para definir um a abordagem com o cognitiva. M ais que isso, uma visão cognitiva requer a introdução das cognições como fatores determinantes para o fenômeno comportamental. Por cognição entende-se a postulação de processos que ocorrem no interior dos organismos, com o memória, percepção, inteligência, pensamento, crenças etc., mas que não se con­ fundem com suas condições anátomo-fisiológicas. Tolm an e Hull possuem concepções diferenciadas em relação à mediação. Enquanto para Tolm an a natureza da m ediação era m ais pro­ priamente cognitiva, Hull a considerava como neurofisiológica. M esmo as variáveis intra-organísmicas postuladas por Tolm an referem -se à pró­ pria fisiologia do organism o de uma forma genérica. Ele não falava em processos e estruturas neurais, mas sim de estados de privação e condi­ ções endócrinas, dem onstrando claram ente sua ênfase nas variáveis cognitivas. Porém, deve ficar claro que tanto Tolm an como Hull utilíza-

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vam termos referentes a processos que não podiam ser de nenhum modo observados (MacCorquodale e Meehl, 1948). Hm decorrência da distinção feita anteriorm ente, Tolm an se­ gue a linha watsoniana de m anutenção do dualism o e Hull é considera­ do representante do monism o, por não utilizar term os que se referem a processos ou entidades não-físicas. Em resumo, o Neobehaviorism o de Tolm an é considerado um Behaviorism o Cognitivo, uma vez que enfatiza o papel das variáveis cog nitivas na explicação do com p ortam en to dos organ ism os. Em contrapartida, apesar de H ull tam bém ser m ediacionista e internalista no que se refere à explicação do com portam ento, seu m odelo não é cognitivista, pois recorre à neurofisiologia do organism o (em algu­ m as circunstâncias de m odo m eram ente especulativo) para explicar o fenôm eno com portamental. Na tentativa de recuperar "o ambiente, como instância privi­ legiada onde o cientista busca variáveis e condições das quais o com ­ portamento é função" (Matos, 1997, p. 59), um novo tipo de Behaviorismo é inaugurado por B. F. S k in n e r- o Behaviorismo Radical.

Behaviorismo Radical de B. F. Skinner Em bora o m odelo beh aviorista de Skinn er v en h a sendo construído a partir da década de 30, é apenas em 1945, com a publica­ ção do artigo intitulado The operational analysis o f psychological terms (Terms), que Skinner distingue seu Behaviorism o dos dem ais (Andery, 1993; Tourinho, 1995). Skinner (1963) define o Behaviorismo como a filosofia da ciên­ cia do comportamento, pois consiste em um conjunto de reflexões sobre o objeto de estudo, temas e m étodos da psicologia e da ciência do com ­ portam ento (Costa, 1997). A denom inação Behaviorism o Radical possui o significado de anti-m entalista (Lopes, 1993), ou seja, Skinner é radical por negar a existência de fenômenos cuja natureza não seja física, por exemplo, mente e cognição (M atos, 1997). Por negar a existência de tais fenôm enos, a visão de hom em skinneriana é m onista —o organism o é uno e interage em sua totalidade com o ambiente. No Behaviorismo Radical, o com portam ento é definido como a relação entre o organismo e o ambiente (Skinner, 1938) e, neste sentido, busca identificar o contexto em que cada resposta foi estabelecida e se m antém assim como sua função no ambiente. E, diferentem ente do que s u s te n ta v a W atso n , p a ra S k in n e r, g ra n d e p a rte do re p e rtó rio comportamental hum ano é operante e não reflexo. O operante é definido com o uma classe de respostas cuja probabilidade de ocorrência é função de suas conseqüências (Skinner, 1953/1965).

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O paradigm a utilizado por Skinner para explicar o com porta­ m ento operante consistiu na tríplice contingência, Sd-R-Sr, na qual o Sd refere-se ao estím ulo discrim inativo que sinaliza a ocasião para o refor­ ço; o R ,a resposta e o S r,o estím u lo reforçador. Assim, "um a form ulação adequada da interação entre um organism o e seu am biente deve sempre especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre/ (2) a pró­ pria resposta, (3) as conseqüências reforçadoras" (Skinner, 1969, p. 7, grifo acrescentado). A o m udar a unidade de análise, Skinner m odificou tam bém a n oção de cau sa. E n q u an to n os m od elo s b eh a v io rista s clássico e m ediacional existia um a relação m ecânica de causa e efeito, o m odelo causal adotado por Skinner é selecionista; são as conseqüências pro­ duzidas pelo com portam ento que atuam selecionando este. Nas palavras de Chiesa (1994), "behavioristas radicais ado­ tam um m odelo causal que não exige fornecer ligações entre um evento e outro; ele não é linear e não pressupõe contiguidade no espaço e no tem po" (p. 116). Uma explicação m ecânica, em contrapartida, procura sem pre um m ecanism o para explicar a realidade e a explica de form a independente da existência dos indivíduos (M ichelleto, 1997). A rea­ lidade, para o m ecanicism o, em função de se form a[r] por uma sucessão de interações mecânicas faz supor a necessidade constante de urna matéria através da qual o efeito pudes­ se se propagar e a necessidade de um princípio de explicação sempre baseado em um mecanismo. Para eventos em que não se podia obser­ var uma relação causal espacial ou temporal imediata, muitas vezes se tornava necessária a elaboração de conceitos baseados em interpre­ tações ou especulações para garantir a conexão do sistema, de causas (Michelleto, 1997, p. 32).

De form a sem elhante a W atson, Skinner considera am biente qualquer parte do m undo externo e interno que afete o indivíduo. M ais especificam ente, am biente seria qualquer parte do universo ao qual o in d iv íd u o re sp o n d e d is c rim in a tiv a m e n te (S k in n er, 1 9 5 3 / 1 9 6 5 ; Tourinho, 1997a). De forma sintética, o Behaviorism o Radical caracteriza-se, so­ bretudo, por ser a filosofia da ciência do com portam ento que delim ita o com portam ento enquanto objeto de estudo em si mesmo, considera que a maioria dos com portamentos humanos é operante, adota o paradigm a Sd-R-Sr, explica o comportamento sem recorrer a nenhum tipo de m edia­ dor tal com o o sistem a nervoso ou cognições e defende uma concepção m onista de hom em (Chiesa, 1994). As d istinções entre os Behaviorism os apresentadas neste capítulo servirão de suporte para a caracterização do m odelo de in­ tervenção analítico-com porta m ental a ser feita no capítulo seguinte.

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II TERAPiA

A n a l ít ic o - C o m p o r t a m e n t a l :

H is t ó r ic o , P r o c e s s o e C a r a c t e r ís t ic a s D e f in id o r a s

Craighead, Craighead, K azdin e M ahoney (1994) argum en­ tam que, d iferenciar o que é ou não um a in terven ção terapêu tica com portamental, pode ser, na m aioria das vezes, uma tarefa difícil e um tanto incom um . Para estes autores, "dentro da categoria daqueles que se identificam com o m odelo com portamental estão aqueles que se classifi­ cam co m o m o d ific a d o r e s do c o m p o r ta m e n to , te ra p e u ta s c o m p o rta m e n ta is, te ra p e u ta s c o g n itiv o s, te ra p e u ta s co g n itiv o comportamentaís, terapeutas multimodais, integracionistas, e assim por diante" (1994, p. ix). D iante deste cenário é que se considera relevante, neste capí­ tulo, caracterizar o m odelo clínico com portam ental a partir de sua contextualização histórica às etapas do processo terapêutico.

O surgim ento da Terapia C om portam ental está relaci com os trabalhos de condicionam ento reflexo de respostas de m edo de­ senvolvidos por W atson e Rayner na década de 20 (Barcellos e Haydu, 1995). À m edida que as pesquisas experim entais foram sendo desenvol­ vidas, seus resultados p assaram a ser in corp orad os à prática dos terapeutas. Dentre aqueles cujos trabalhos exerceram influência sobre a área clínica com portam ental, encontram -se Thom díke, Hull, G uthrie e Skinner (Barcellos e H aydu, 1995; Franks, 1996; Rim m e M aster, 1983). N a década de 60, os marcos do m odelo clínico comportamental podem ser encontrados em uma obra organizada por Eysenk, em 1960, e na publicação da prim eira revista de Terapia Com portam ental, em 1963 (Franks, 1996). Corroborando esta análise histórica, Barcellos e Haydu (1995) afirm am que este m odelo de terapia "constituiu-se em um movi-

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m ento form al som ente na década dc 60 e foi difundida m undialm ente na década seguinte" (p. 43). Existe uma proposta distinta de análise com relação aos traba­ lhos de Skinner subsidiarem a Terapia Comportamental. Na verdade, afirma-se que seus estudos deram origem a um outro tipo de intervenção de caráter behaviorista - a M odificação do Comportamento (Barcellos e Haydu, 1995; Figueiredo e Coutinho, 1988; Greenspoon e La mal, 1978; Ri mm e Master, 1983). Pode-se dizer assim que, por volta da década de 50, existiam , pelo menos, dois tipos de intervenção behaviorista: a Terapia Comportamental, cuja intervenção adotava o paradigma do condiciona­ mento reflexo e a Modificação do Comportamento, que tinha como respal­ do o paradigm a do condicionam ento operante. A identificação da Terapia Com portam ental com o paradigma reflexo e da M odificação do Com portam ento com o paradigma operante pode ser um modo impreciso de tratar as m udanças dos m odelos clínicos com porta mentais, na m edida em que são encontradas na literatura refe­ rendas a ambos (Terapia Com portam ental e Modificação do Com porta­ mento) envolvendo a aplicação de princípios derivados dos condicionajm entos clássico e operante (e.g. Kazdin, 1983). O que se pode salientar é jque, com a elaboração dos princípirts operantes, alguns terapeutas os /absorveram como base estrita de intervenção clínica, enquanto outros os associaram a princípios do condicionam ento reflexo no delineam ento de técnicas e procedimentos de intervenção. Atualmente, a denom inação que vem sendo adotada com o re­ ferên cia à in terv en ção beh av io rista no con texto clínico é Terapia A nalítico-Com portam ental. Esta term inologia visa resgatar os pres­ supostos behavioristas da clínica com portam ental e afastá-la dos di­ versos m odelos que se intitulam com portam ental e que usam pressu­ postos cognitivistas ou outros (Tourinho e Cavalcante, 2001). Com o a caracterização a ser apresentada é de fato behaviorista, justifica-se falar em Terapia Analítico-Comportamental (T AC), embora as referências uti­ lizad as ao lo n go do cap ítu lo ain d a façam uso do term o T erap ia Comportamental. Estas diferentes terminologias talvez sejam o reflexo das inter­ pretações distintas de grande parte daqueles que se intitulam clínicos com portamentais e que não com partilham da própria denom inação de um modelo comportamental ou, o inverso, em função da ausênda de uma única definição, encontram-se diferentes denominações.

O q u e é cla ro é q u e, d e sd e o in íc io , o m o d elo clí com portam ental esteve ligado a diferentes posições teóricas, sendo que sua "evolução ao longo dos anos é acom panhada por inúm eras discussões e divergências quanto aos princípios teóricos e m etodológicos que [o] caracterizam " (Barcellos e Haydu, 1995, p.43). Conseqüentem en­

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te, na própria década de 60 já existiam três definições distintas de Tera­ pia Com portam ental, além de m ais duas na década de 70 (Figueiredo e Coutinho, 1988). Atualmente, outras definições podem ser encontradas , na literatura, entretanto, optou-se por aquelas propostas por N eri (1987) e Costa (1996).

Para Neri (1987), o processo terapêutico com portam ental im­ plica um a tentativa de controlar as variáveis am bientais que fav a extinção de com portamentos inadequados e a aquisição de out '■possibilitem uma atuação m ais adequada do cliente em seu contexto, f I "n o sentido de reduzir ao m áxim o sua exposição às conseqüências ne- i |gativas, e de aum entar ao m áxim o a probabilidade de expor-se a situWções agradáveis" (p. 23). 1

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Costa (1996) com plem enta a definição acim a quando pro-

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põe que: f P or Terapia Comportamental [leia-se T A C ] entende-se o trabalho

| terapêutico que se fundam enta no Behaviorismo Radical e utiliza os I prin cíp io s da A n á lise do C om portam ento no contexto clín ico , \ objetivando identificar e analisar funcionalm ente as variáveis exter­ nas que estão controlando os comportamentos do cliente , a fim de j modificá-los, quando desejado. Dito de outra forma, o que define a f Terapia Comportamental [ou a T A C ] é o modo como se compreende e se ( intervém no fenômeno comportamental, que deve estar em concordânt cia com afilosofia e a ciência do comportamento (p. 4).

É notório que a definição proposta, apesar de se referir à Tera­ pia Comportamental, mostra-se completamente compatível com o movim en to q u e p reten d e d ar p recisão co n ce itu a i ao m o d elo clín ico com portamental. Cabe ressaltar, no entanto, que, quando se faz referên­ cia ao Behaviorism o Radical, não há um a restrição a Skinner, incorpo­ ram -se am pliações que vêm sendo feitas àquela proposta filosófica de autores contem porâneos que m antêm a denom inação de behavioristas radicais, com o Banaco, G uilhardi e Tourinho. A literatura sobre a clínica anaiítico-comportamental tem sido ampliada na última década, sobretudo com as publicações da Associação Brasileira de Medicina e Terapia Comportamental (ABPMC), porém algumas discussões importantes, como o processo terapêutico em si, não têm sido valorizadas. Diversos artigos podem ser encontrados sobre ava­ liação, uso de técnicas e outros, mas artigos que tratem da avaliação até o follow-up são escassos1. Por este motivo, considera-se de fundamental im­ portância m ostrar este percurso, inclusive porque um dos textos que traz uma caracterização das etapas do processo comportamental foi escrito 1 R ecentem ente Ribeiro (2001) escreveu um artigo enfocando as fases do processo terapêutico com portam ental. Entretanto, existem aspectos distintos entre a caracterização da autora e a adota­ da neste livro.

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por Range (1995), um autor cognitivo-comportamental (termo que será dis­ cutido nos capítulos finais deste livro). / O processo terapêutico analítico-com portam ental pode ser X dividido, didaticam ente, em três etapas: inicial, interm ediária e ter­ m inal (Lima, 1981). / A etapa inicial com preende a avaliação que se faz do caso, ■ determ inando, prim eiram ente, o m otivo que levou o cliente a procu­ rar a terapia (queixa) e, a partir daí, coletam -se inform ações sobre a h istória de vida do cliente, ou seja, busca-se saber sobre a história passada e caracterizar a situação atual do cliente, identificando-se não só com portam entos-problem a, mas tam bém com portam entos saudá­ veis, assim com o pessoas e situações que funcionem como reforça dores, etc. Com relação à queixa, cabe ressaltar que nem sem pre ela é trazida pelo cliente na prim eira ou segunda sessão e, às vezes, nem m esm o ao \/ final da avaliação, cabendo ao terapeuta avaliar se o cliente está se es!' quivando ou ainda não discriminou as variáveis às quais está respon­ dendo (situação com um no contexto psicoterápico). ■ ’ Durante a avaliação, os dados sã o coletados principalmente a V partir do relato verbal do cliente (no caso de adulto) e da observação dos / comportamentos clinicamente relevantes (CRBs). "O s CRBs são compor­ tamentos que ocorrem na relação terapeuta—cliente e são amostras da interação do cliente no seu contexto de vida" (Brandão e Torres, 1997, p. 219). Observar, analisar e intervir sobre os CRBs foi uma proposta elabora\ /' da por Kõhlenberg, ainda na década de 80, que vem sendo incorporada à prática de clínicos comportamentais desde a última década. Para que a avaliação possa ser efetiva, o terapeuta precisa cole­ tar as informações necessárias à compreensão do(s) problema (s) e à elabo­ ração do planejam ento terapêutico. Para tanto, diversas habilidades ver­ bais e não-verbais são exigidas do terapeuta, dentre elas Silvares e Gongora (1998) apontam as habilidades empáticas, a operadonalização de infor­ mações, o sorriso e os gestos ocasionais com as mãos e a postura corporal dirigida ao cliente. Todas estas habilidades visam o estabelecimento de uma relação terapêutica favorável, tema que vem sendo abordado com freqüência pela literatura como um aspecto im portante na condução do processo clínico. , /

Na etapa inicial ou avaliação, pelo m enos duas características são peculiares a este m odelo de terapia: a preocupação com "um a des­ crição, a m ais clara, objetiva e completa possível da história de vida do cliente" (Delitti, 1993, p. 43) e a ênfase nos determinantes atuais dos com ­ portam entos, m ais do que nos históricos (Franks, 1996; Lipp, 1984), Entre a fase inicial e a intermediária, encontra-se um momento do processo que é conhecido como devolução. Com base nos dados

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coletados na avaliação, o terapeuta formula hipóteses diagnosticas para todos os com portamentos do cliente, adequados e inadequados, que ju l­ gar necessário. U m com portam ento adequado pode ser definido como aquele que produz conseqüências reforçadoras para o cliente e/ou para as pessoas envolvidas em sua relação, a curto, a médio e a longo prazo, enquanto um comportamento inadequado é aquele cuja as conseqüências são aversivas para o cliente e/ou para os que fazem parte de seu contexto (cf. Banaco, 1997). As hipóteses são form uladas, tanto para com portam entos iso­ lados (microanálises) como tam bém um a hipótese mais ampla, capaz de explicar a situação atual do cliente a partir das inter-relações entre os seus diversos comportamentos (macroanálise) (cf. Meyer, 1997; cf. Silva­ res, 2000), a partir de análises funcionais, isto é, explicações sobre os eventos passados que instalaram os com portam entos e eventos atuais que os mantêm. Considerando a prática de atendim ento e de supervisão de estagiários em clínica com portam ental, elaborou-se o seguinte quadro para a organização das m icruanálises: ÁREAS

COMPORTAMENTO

COMPORTAMENTO

ADAPTADO

INADEQUADO

Interação Familiar Relações Afetivas Trabalho Lazer

Tabela 1: Ficha de O rganização de M icroanálise5 A devolução, que pode ocorrer ao longo de várias sessões, dáse, então, quando o terapeuta discute com o cliente as hipóteses para os com portam entos deste, objetivando testá-las. O que caracteriza esta(s) entrevista(s) é o fato de o terapeuta discutir de form a clara, objetiva e direta com o cliente a respeito do que pensa sobre a instalação e a manu­ tenção das suas dificuldades. Esta discussão é de fundam ental im por­ tância, na m edida em que possibilita que o cliente comece a observar os controles do am biente e com o tais controles podem ser m odificados por ele próprio. Afinal, "criar condições para a discrim inação das condi­ ções que controlam os com portam entos é a condição básica para a eficá- As áreas aparecerão na ficha de acordo com o caso, sendo enum erados quantos com portam entos relevantes o terapeuta selecionar.

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cia do processo terapêutico" (Delitti, 1993, p.42). É ainda durante a de/ volução que o terapeuta apresenta uma proposta de intervenção teraV pêutica, discutindo junto com o cliente os objetivos desta e com o preten­ de realizá-la6. Y

A etapa interm ediária diz respeito à intervenção, quando o foco recai sobre o(s) com portamento(s)-problem a trazido(s) pelo cliente, e/ou identificado(s) pelo terapeuta, visando, basicam ente, m odificar os com portam entos que estão trazendo conseqüências aversivas para o cliente e instalar e/ou aum entar a freqüência de com portam entos que produzam conseqüências reforçadoras. C onsiderando a categorização de com portam entos feita por Skirmer, as intervenções não se restringem ^ aos com portam entos públicos; tão importantes quanto estes são os comJ portam entos privados. É na etapa de intervenção que se utiliza m ais extensivam en>y.. te o arsenal de técnicas com portam entais com o a dessensibilização sistem ática, o esm aecim ento, o treino de papéis, dentre outras. O uso de técnicas é sem pre discutido com o cliente, considerando sua indi­ vidualidade, cabendo ressaltar que não consiste em um aspecto que caracteriza uma intervenção como aftalítico-com portam ental, na me'N! dida em que profissionais de diferentes orientações teóricas podem / fazer uso de técnicas com portamentais. São consideradas características peculiares da fase de inter\ ( venção a avaliação constante por parte do terapeuta das intervenções ^ realizadas (Craighead e cols., 1994) e a modificação de comportamento(s) do cliente com o critério último para avaliar a intervenção como eficaz (Franks, 1996). Quando os objetivos terapêuticos foram alcançados e o cliente m ostra-se capaz de gerenciar sua vida sem a ajuda do terapeuta, a alta é sugerida e o processo terapêutico entra em sua etapa term inal, que é conhecida como acom panham ento ou follozv-up. A respeito desta etapa, não existe um critério único de como ela deve ser realizada. Sabe-se, porém, que uma primeira medida no período de acom panham ento con­ siste em estabelecer um espaço de tempo m aior entre as sessões (realizálas quinzenalm ente, m ensalm ente, trim estralm ente e assim por diante) e, posteriorm ente, os contatos podem passar a ser feitos por telefone. Esta " estratégia" tem por objetivo verificar se os ganhos obtidos durante o processo terapêutico estão se m antendo, do contrário, ou se surgir alguma situação nova com a qual o cliente esteja tendo dificuldade em h Rangé (1995) em sua caracterização do processo com portam ental considera a form ulação e a devo­ lução, denom inada por ele de discussão, com o fases do processo terapêutico, assim com o a avalia­ ção, e Ribeiro (2CKJ1) usa o terino sessão de form ulação com portam entai para o que se denominou de devolução. Neste caso, form ulação pode ser entendida com o o trabalho do terapeuta de análise e síntese dos dados de avaliação.

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lidar, há possibilidade de ser realizada uma nova intervenção. Aqui, é im portante o terapeuta discriminar quando, de fato, o cliente precisa de ajuda e quando está sim ulando uma dificuldade para m anter a relação terapêutica. Em síntese, o processo terapêutico analítico-com portam ental pode ser dividido nas etapas de avaliação, intervenção e acom panha­ m ento. Ao longo deste processo, identificam -se certas características que são específicas deste m odelo de terapia. Dentre estas característi­ cas estão: a) ênfase nas variáveis am bientais, no com portam ento e nos seus determ inantes atuais; b) m inuciosa coleta e análise de dados; c) uso da análise funcional para interpretar os dados coletados; d) inter­ venção direta e objetiva e e) m udança com portam ental com o critério final para a avaliar a intervenção. Partindo desta caracterização do processo terapêutico, cons­ titui objetivo do m esm o, segundo Batistussi (2000), conscientizar o cliente das contingências em operação na sua vida, com­ preendendo como certas coisas são feitas e porquê são feitas. Esta conscientização provavelmente visa a modificação dos aspectos que es­ tão causando problemas para o cliente, na medida em que a meta é dar consciência através da descrição de contingências, de forma que o cli­ ente emita novos comportamentos e tenha conseqüências reforçadoras, tomando as relações com o ambiente mais produtivas (p. 158).

D o p o n to de v ista do terap eu ta, ain da de aco rd o com Batistussi (2000) " a principal meta é buscar uma adequada com preen­ são da problem ática do cliente e realizar uma intervenção baseada na análise funcional" (p. 161). M eyer (1990), em um texto intitulado Quais os requisitos para que uma terapia seja considerada comportamental ?, discute algum as ques­ tões que considera relevantes neste m odelo de terapia. Para a autora, São essenciais, no nível metodológico, a análise [funcional] de con­ tingências; no nível conceituai, o conhecimento e a aplicação, mesmo que assistemâtica , de princípios de comportamento; e no nível filosó­ fico, pelo menos a rejeição ao mentalismo. Caso contrário, teremos uma abordagem sem consistência e que provavelmente não sobrevi­ verá (p.4).

Em linhas gerais, neste capítulo, foi enfatizado que a TAC se c a r a c te r iz a p o r e s ta r fu n d a m e n ta d a n o s p re s s u p o s to s do Behaviorism o R adical e delim itar com o finalidade da intervenção, identificar, analisar e alterar, com o uso da análise funcional, as vari­ áveis externas das quais os com portam entos dos clientes são função. N o próxim o capítulo, tratar-se-á de um dos tem as m ais im ­ portantes da filosofia skinneriana - a subjetividade.

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III s-

A S u b je t iv id a d e s o b a O t ic a B e h a v io r is t a R a d ic a l : I n t e r p r e t a ç ã o , A s p e c t o s P o l ê m ic o s e M a n e jo T e r a p ê u t ic o

Com o mencionado no Capítulo I, as primeiras publicações de Skinner datam de 1930, sendo que, até 1944, seus trabalhos estiveram mais voltados para discussões acerca dos condicionamentos reflexo e operante, abordando assuntos como os processos de reforçam ento, extinção e discriminação. Mas, é a partir da publicação de Tcnns (1945)7, que Skinner pas­ sa a abordar com freqüência a temática da subjetividade. Porém, isto não significa que Skinner tenha deixado de tratar dos assuntos que tratava anteriormente, o que acontece é a inclusão da análise da subjetividade em termos behaviorista radical, análise esta pautada no modelo de seleção por conseqüências. N a verdade, a singularidade do Behaviorism o skinneriano consiste, exatam ente, em reconhecer e propor um estudo científico para a vida interna dos indivíduos, rom pendo com as explicações psicológi­ cas tradicionais ao rejeitar a função causal dos processos mentais, assu­ mindo que tanto os eventos privados quanto aqueles que ocorrem no ambiente externo possuem dim ensão física. Quando defende que even­ tos públicos e privados são físicos, Skinner supera a dicotomia até en­ tão existente entre físico e m ental (Tourinho, 1995). Ao rejeitar o status causal dos eventos privados, Skinner (1953/ 1965) enfatiza que "n ó s não podem os explicar o com portam ento de 7 Além do artigo de 1945, Skinner publicou tam bém em 1953 Ciência e Comportamento Humano, em 1974 Sobre o BehaDiorismo, em 1989 Questões Recentes na Análise do Comportamento e em 1990 Pode a Psico­ logia $er uma Ciência da M ente? (além de outras obras). Todas estas publicações abordam direta ou indiretamente o tem a da subjetividade.

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qualquer sistem a enquanto perm anecem os com pletam ente dentro dele; eventualm ente nós devemos retom ar às forças de fora operando sobre o organism o (p. 35)". E isto caracteriza o recorte extemalista e a adoção de um critério funcional de causalidade assumidos por Skinner. De acordo com Zuriff (1985), para os bchavioristas radicais, uma explicação adequada acerca do com portam ento deve relacioná-lo às características do ambiente externo. Por sua vez, o recorte extem alista fundam enta-se em uma questão pragm ática, já que são consideradas causas legítim as apenas aquelas que são passíveis de m anipulação di­ reta. C om o dizem Forsyth, Lejuez, H aw kins e Eifert (1996) "nós tería­ mos que m anipular cognições à parte de outras manipulações que po­ deriam ser interpretadas como causas para demonstrar se uma 'cognição' e não uma outra coisa qualquer é causa" (p. 372). E m fu nção do reco rte ex tem alista e do "fisica lism o " de Skinner, não existe nada de m isterioso e de m etafísico com respeito ao m undo privado (Skinner, 1974). A única distinção entre eventos públicos e privados refere-se à acessibilidade (Skinner, 1945). N esta perspectiva, existiriam , para Skinner, duas categorias de com portam ento: público e privado8. O s públicos referem -se às ações diretam ente observáveis e os com portam entos privados são aqueles que inicialm ente eram públicos, m as tom aram -se privados em função das contingências. A diferença estaria no fato de os com portam entos públicos serem acessíveis à observação pública direta e os com porta­ m entos privados serem acessíveis diretam ente apenas a cada indivíduo em particular (Skinner, 1953/1965). Com o exem plos de com portam en­ tos privados, encontram -se o pensar, o ouvir, o ver, o fantasiar. Skinner, em 1968/1972, cita o exem plo do comportamento ver­ bal privado ou encoberto: Embora uma criança possa eventualmente falar consigo mesma si­ lenciosamente, foi ensinada a falar reforçando-se diferencialmente o comportamento audível. Embora, mais tarde, seja possível ler livros silenciosamente ou recitar trechos [para si mesma], o ensino se faz pela leitura em voz alta (p. 118).

A lém dos com portam entos, Skinner (1945) concebe o m un­ do privado dos indivíduos constituído por estím ulos que são vistos com o as próprias condições corporais ou alterações fisiológicas senti­ das por cad a indivíduo. Da m esm a form a que os com portam entos, as condições corporais são produtos da história genética e am biental de I cada ser em particular. Logo, o que é sentido é o próprio corpo de quem { sente (Skinner, 1974), 8 A proposta dtj catego n zar com portam ento em público e privado não é com pletam ente original, uma vez que W atson já falava em respostas expífdtas (ações publicam ente observáveis) e implícitas (al­ terações fisiológicas).

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Os subprodutos aos quais Skinner se refere estão relaciona­ dos com um dos efeitos do reforçam ento. Quando o indivíduo interage com o am biente, ele é m odificado de duas formas: ao nível da condi­ ção corporal e ao da probabilidade de emissão de comportamento futuro (Costa, 1996; Tourinho, 1997b). A alteração da condição corporal relaci­ ona-se com o prazer —efeito im ediato do reforçam ento —no sentido de que a resposta de sentir envolve condições do próprio corpo daquele que sen te, e a m udança de p ro b ab ilid ad e d á-se em fu nção do efeito } fortalecedor do processo de reforçam ento (Andery, 1997). Hm síntese, as j contingências de reforçam ento produzem condições corporais e com' portam entos públicos e privados, bem com o outros tipos de contingên­ cias (extinção, punição), que tam bém produzem alterações no próprio corpo do organismo e na probabilidade de em issão de com portam entos públicos e privados. As interpretações skinnerianas de com portam ento público e m undo privado podem ser esquem atizadas da seguinte m aneira:

Inventas Externes l

(Cbntingàtias d e refctyairenlQ, extm çãu punição)

G an ^crtairaitus Publicre

HventiK Privadas

(estímulos e a Ttrportameittns)

Figura 1: Reiação entre eventos externos, com portam entos públicos e eventos privados na filosofia behaviorista radical. Esta esquem atização torna mais claro que, diferentem ente das teorias intem alistas, na filosofia behaviorista radical, o que ocor­ re no m undo privado não é um início, ou m elhor, não existe um a relação de determ inação entre eventos privados e públicos. Isto signi­ fica que tanto com portam entos públicos quanto eventos privados com portam entos e alterações fisiológicas — são produtos da relação que o indivíduo estabelece com seu am biente externo. Em bora não aceite a causalidade interna, Skinner adm ite algum as possibilidades de o evento privado entrar no controle do com ­ portam ento. Dentre estas possibilidades, encontram -se as seguintes (Tourinho, 1997b): a) Q uando uma condição corporal controla uma descrição verbal de dor, por exemplo; b) Q uando um com portam ento encoberto constitui um dos elos da contingência. Por exem plo, resolver um problem a envolve, em cer­ tas situações, pensar na solução antes de responder publicam ente.

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O que deve ficar claro é que m esm o Skinner adm itindo a pos­ sibilidade de um evento privado controlar um comportamento, esse even­ to nunca será visto como autônomo na determ inação (daquele) fenôm e­ no (Tourinho, 1997a; 1997b). A relação entre um evento privado e um evento público é m ais uma relação que deve ser explicada a partir das variáveis am bientais externas e não internas. Retomando as afirmações de que o mundo privado é constitu­ ído de estím ulos e com portam entos, e que esses estím ulos privados são as condições corporais, então, estas constituem o objeto de estudo da jfisiologia e não de uma ciência do com portam ento. Isto significa que a j análise da subjetividade envolve m ais precisam ente a análise de com'j portam entos sob controle de condições corporais e de com portamentos ijpnvados propriamente ditos. Todos esses fenômenos que na linguagem do senso com um "se relaciona[m] com os pensamentos e sentimentos de um s u je ito ,... [como os] desejos, esperanças, medos, crenças, intenções, ctc. (Tourinho, 1997c, p. 203). Para explicar a subjetividade, Skinner recorre às contingên­ cias am bientais de reforçam ento que atuam em três níveis diferencia­ dos: filogenético, ontogenético e cultural. Com preender a subjetivi­ dade, im plica com preender, em particular, o nível cultural ao qual ela estã m ais estritam ente relacionada (Andery, 1997). Na interpretação de Skinner, a vida privada de cada um se constrói a partir das relações estabelecidas com a com unidade verbal. É som ente através do reforçam ento diferencial provido pela com uni­ dade verbal, ao observar padrões de com portam entos públicos, que os organism os aprendem a reagir discrim inativam ente ao seu m undo pri-^ vado. Foram, as contingências sociais que possibilitaram aos indivíduos reagir discrim inativam ente às suas condições corporais e denom inar sentimentos de raiva, angústia e pensamento como tais (Tourinho, 1997b). Sendo assim , antes que a com unidade verbal interaja com o indivíduo, tanto o m undo privado quanto o mundo público, constituem um materi­ al indiferenciado com respeito ao qual os indivíduos não se comportam díferencialm ente (Tourinho, 1997a, 1997c). N este sentido, A ndery (1997) afirm a que: é apenas através da cultura que um outro contato importante pode ser feito entre o indivíduo e o ambiente: o comportamento verbal permite que os indivíduos passem a ter um acesso a uma parte importante do m undo: o mundo privado (...) É através da comunidade verbal que se constrói uma parte importante do repertório dos seres humanos: sua subjetividade (A ndery, 1997, p. 205).

Uma das dificuldades de se aceitar a interpretação behaviorista acerca da subjetividade diz respeito à suposta relação existente entre o que se passa dentro do indivíduo e o comportamento. Isto porque, como

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foi mencionado anteriormente, a interação do indivíduo com o ambiente pode gerar não só m udanças nas condições corporais com o tam bém m ufança na probabilidade de comportamento futuro. As alterações nas condições corporais do organismo antecedem ou acom panham os com ­ portam entos (Skinner, 1989). Assim, é fácil pensar que existe relação de causalidade entre esses eventos. Em 1974, Skinner cham a a atenção exatam ente para essa ten­ dência de deduzir relações de causalidade em relações m eram ente tem porais, cujo princípio se resum e na frase "depois disto, logo cau­ sado por isto". Em 1978, ele afirmou: O que sentimos são condições do nosso corpo, a maioria das quais estritamente relacionadas com nosso comportamento e com as cir­ cunstâncias nas quais nos comportamos. Agredim os e sentimos rai­ va; ambos pela mesma razão, e esta razão está no ambiente. Em suma, as condições corporais (...) Não possuem força explicativa; simplesmen­ te são fatos adicionais a serem levados em conta (p. 71).

De acordo com esta interpretação, a subjetividade, diferen­ tem ente do que sustenta a concepção tradicional, e largam ente aceita na cultura ocidental, não é interior, nem causa e nem m esm o é subje­ tiva no sentido de individual. A subjetividade de alguém consiste, na rea lid a d e , na su b je tiv id a d e de um g ru p o s o c ia l (A n d ery , 1997; Touxinho, 1997b). N as palavras de A ndery (1997): A nossa subjetividade, por paradoxal que pareça, talvez seja a mais social de todas as características humanas. E paradoxal, porque apenas através de correlatos outros a conhecem, e porque o próprio ato de tornã-la pública em certo sentido a desfaz; entretanto sem ú acompanhamento público, sem a modelagem e o reforçamento social, o comportamento verbal e a cultura, nãv podemos sequer falar dela (p. 206).

Com base no exposto, a interpretação behaviorista radical de subjetividade resum e-se nos seguintes termos: 1. É possível falar em estímulos e com portamentos privados, sendo que a análise da subjetividade envolve m ais especificam ente os com por­ tamentos; 2. A problem ática da subjetividade concentra-se na inacessibilidade dos eventos privados; 3. M esmo quando um evento privado entra no controle de um com por­ tam ento público, ele nunca é autônom o em sua produção; —^ 4. A subjetividade concebida enquanto um fenôm eno com portam ental é instalada e m antida da m esm a form a que os com portam entos públicos, através da ação da com unidade verbal que observa pa­ drões públicos de com portamentos;

^ 5. A com preensão da subjetividade deve passar diretamente pela com ­ preensão da relação entre indivíduo e cultura e das práticas cultu­ rais como um todo.

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Exposta a interpretação de Skinner sobre a subjetividade, a seguir serão discutidos alguns aspectos polêm icos desta interpreta­ ção.

Aspectos Polêmicos na Interpretação Skinneriana de Sub­ jetividade A u to res com o H ayes (1992), O verskeid (1994) e R achlin (1995), dentre outros, tecem críticas à interpretação skinneriana de subjetividade. Neste tópico, algum as destas críticas serão elucidadas e discutidas. U m dos problemas na interpretação de Skinner apontados por Overskeid (1994) refere-se à questão da causalidade. O autor argumenta que os eventos privados devem ser considerados como causas iniciais do com portam ento, pois um a cadeia causal é infinita e, por isso, decidir onde ela com eça e term ina é arbitrário. Isto é, com o um elo de uma se­ qüência causal, um evento privado, seja ele estímulo ou comportamento, na concepção de Overskeid, " é uma causa legítim a tanto quanto os elos externos" (Tourinho, 1999, p. 113). D e fato, a crítica levantada por Overskeid à interpretação skinneriana possui fundamento, entretanto, é possível respondê-la, pelo menos em parte. O problem a na interpretação de Skinner concentra-se muito mais na categorização de eventos privados como estímulos e com ­ portamentos do que propriamente no recorte assumido por ele. Se Skinner adm ite que estím ulos são partes do am biente que afetam o com portam ento, e que estím ulos públicos determ inam com ­ portam entos, parece difícil sustentar que estím ulos privados não o façam. A lém do m ais, Skinner tam bém adm ite a existência da relação com portam ento privado-com portam ento público. O que precisa ser enfatizado, porém , é que o recorte skinneriano, para a explicação do com portam ento humano, é e x te m a lis ta (Tourinho, 1 9 9 9 ), m esm o que se argum ente a sua arbitrariedade. A ssum ir isto, então, im plica que nenhum a condição privada controla um com portam ento, independen­ tem ente da relação estabelecida entre o indivíduo e o am biente sóciocultural do qual participa e, nem tam pouco, um pensam ento ou um sentim ento ocorre na ausência de uma estim ulação am biental exter­ na. N este sentido, a análise e o recorte extem alista usados por Skinner mostram -se coerentes. Rachlin (1995) discorda do term o usado por Skinner para tra­ tar da subjetividade. Para ele, "coisas que são m entais são m ais úteis para a psicologia do que coisas que são privadas" (p. 183), desde que por m e n ta l se en tenda p ad rão de co m p o rtam en to p u blicam en te observável que ocorra em um certo período de tempo.

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Possivelm ente, Skinner adotou o term o evento privado como m ais uma forma de se contrapor à interpretação intem alista de subje­ tividade que veicula a existência de uma m ente autônoma na produ­ ção do fenôm eno com portam ental. Por outro lado, a denom inação evento privado tam bém é problem ática, por se relacionar com interno. Afinal, os termos privado, interno e inacessível são utilizados por Skinner com o equivalentes. Partindo-se desta constatação, a crítica feita por Rachlin tem o mérito de trazer à tona o problem a da denominação usada por Skinner e tam bém de propor que os fenôm enos subjetivos, m entais ou privados, sejam considerados como com portamentos públicos como quaisquer outros, isto não significa, porém , concordar com Rachlin que a denominação mental seja a mais pertinente; tanto a denominação mental quanto a privada parecem inadequadas, uma vez que ambas sugerem a existência de algo interno e acessível apenas a cada indivíduo, que de algum m odo se diferencia do fenômeno com portamental publicam ente observável. Talvez, por isto, a alternativa seja adotar a denom inação de Kantor de eventos discretos ou sutis, para referir-se aos fenôm enos sub­ jetivos, m antendo-se o argumento de que um evento privado ou m ental não é interno nem inacessível, m as ujn com portam ento público. H ayes (1992) com para e avalia as propostas de Skinner e Kantor no que se refere ao tema da subjetividade. Como apontado acima, Skinner usa os term os privado, interno e inacessível como sinônim os e o argum ento central dc Hayes (1992) relaciona-se exatam ente com este aspecto da interpretação de Skinner. Para a autora, a análise de Skinner é problemática, por situar o evento privado dentro do indivíduo. A aná­ lise de Kantor, em contrapartida, segundo Hayes (1992), é mais coerente e útil do que a de Skinner, pois, para Kantor, um evento subjetivo é um evento sutil, mas nunca interno. Hayes (1992) acrescenta que estes even­ tos "são diretam ente observáveis com ou sem acom panham entos” (p. 161). A observação dos eventos subjetivos de alguém im plica, contudo, construir uma história de interação entre duas pessoas. Por exem plo: Casais que têm vivido juntos por um Longo período de. tempo (...) Com freqüência sabem tão bem o que o outro está pensando que eles conside­ ram menos necessário se expressarem abertamente. Eles terminam cada sentença do outro, ou falam sentenças parciais que seus pares entendetn completamente. Eles podem também pensar a mesma coisa ao mesmo tempo. Todas estas circunstâncias são devido à história extensiva de interação íntima entre as duas pessoas (Hayes, 1992, p. 160).

Resum indo, a "observação de eventos sutis (...) depende da intim idade do observador com o observado" (Hayes, 1992, p. 159).

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A crítica formulada por Hayes à interpretação de Skinner cha­ m a-nos a atenção para um a questão que é central na discussão da sub­ jetividade: as dicotomias externo-interno, observável-inobserváveí e acessível-inacessível, todas presentes na interpretação de Skinner. A análise skinneriana accrca da subjetividade, com o foi abor­ dada no tópico anterior, parte da concepção de que existem estímulos e com portamentos privados. Os primeiros, concebidos com o condições fisiológicas e que, não necessariamente, constituem a subjetividade. Já os comportamentos, estes sim, são considerados como eventos subjeti­ vos. A questão que se coloca então é a seguinte - se por subjetividade se entende com portamentos m odelados por uma com unidade verbal que depende da observação de com portamentos públicos, em que medida a subjetividade realmente diz respeito à privacidade de um indivíduo? Enquanto a subjetividade for tratada como um fenôm eno pri­ vado, interno, inacessível e/ou inobservável, provavelm ente as ques­ tões ligadas a ela perm anecerão "problem áticas" para qualquer tentati­ va de investigação. N este sentido, a análise de Kantor talvez seja a que mais perm itirá um avanço nesta discussão. O que não exclui considerar a afirm ação de Skinner, feita ainda em 1945, de que "o único problem a que uma ciência do com portam ento pode resolver em conexão com o subjetivism o é no campo verbal" (p. 294). A lém disso, considerar a argum entação de A ndery (1997) dc que entender a subjetividade envolve entender a cultura e como se relacionam indivíduo e cultura, também se mostra im prescindível. Continuando com a discussão da subjetividade, a seguir, será enfocado com o ela tem sido trabalhada no contexto terapêutico analítico-com portam ental.

Subjetividade na Terapia Analítico-Comportamental "Estou muito triste. Tenho chorado todos esses d ias". "N o final de semana, eu estava me sentindo péssim a". "Sonhei que o demônio vi­ nha me pegar". "À s vezes m e sinto tão confuso e inseguro que sim ples­ m ente acho que sou um inútil". Relatos desta natureza fazem parte do dia-a-dia de todos, mas é especialmente no contexto terapêutico que se tom am ainda mais presentes. Deste modo, o tem a da privacidade ou do ambiente privado de cada indivíduo é particularmente relevante quando se fala em terapia, já que "esse contexto caracteriza-se, socialmente, como um dos m ais apropriados e acolhedores para se falar de questões pesso­ ais relativas a sensações, sentimentos, crenças, pensamentos, enfim, a eventos privados" (Sant' Anna, 1994, p. 490). Q u an d o se faz re fe rê n cia ao m od elo clín ico a n alítico com portam ental, é necessário lem brar que não foi sem pre assim , uma

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vez que no seu início tinha com o principal característica atuar alteran­ do diretam ente as contingências no am biente natural do cliente (hospi­ tal, escola). C ontem poraneam ente, porém , os terapeutas analíticocom portam entais praticam a terapia face a face, que se caracteriza por ser predom inantem ente verbal (Guedes, 1993; Sant' Anna, 1994). Foi exatam ente nesta passagem de um m odelo para outro que o m undo privado do cliente passou a ter im portância. Conte e Regra (2000), por exemplo, ao distinguirem a M odificação do Com portam ento Infantil da Psicoterapia Com portam ental Infantil atual, ressaltam que não se levava em conta os sentim entos da criança (até porque ela quase não era inserida no processo); nem tam pouco os sentim entos de seus pais, sendo o terapeuta, basicam ente, um aplicador de técnicas. Desde a década de 60, m uitas m udanças em relação ao pro­ cesso clínico comportamental ocorreram e, com o em qualquer outra tera­ pia de gabinete, todo terapeuta, independente de abordagem , convive no cotidiano de sua prática com rela tos acerca do mundo interno, preci­ sando abordá-k) de algum modo. M as, o que fariam os clínicos com portam entais com este m aterial? E Skinner? O que ele te/ia a dizer sobre a clínica, e m ais precisam ente sobre a subjetividade na clínica? //Skinner não se propôs e não fez incursões sistem áticas pelo universo clínico, não fornecendo, portanto um m odelo teórico-experim ental diretamente voltado à prática clínica" (Guilhardi, 1995, p. 257, itálico acrescentado), contudo, em 1974, é categórico em afirm ar que: Urna análise behaviorista não discute a utilidade prática acerca dos relatos do mundo interior (...) Eles são pistas (1) paru o comporta­ mento passado e as condições que os afetaram , (2) para. o comporta­ mento atual e as condições que o afetam, e (3) para as condições rela­ cionadas ao comportamento fu tu ro (p. 31).

í Em 1989, novam ente enfatiza: "C o m o as pessoas se sentem é "S tão im portante quanto o que elas fazem " (Skinner, p. 3). Como se vê, Skinner é explícito em atribuir im portância aos relatos acerca do mundo privado. Afinal, sentimentos, emoções, sonhos e fantasias são fenômenos que também estão presentes no ambiente "natu ­ ral" dos indivíduos e não apenas no setting terapêutico. M as, efetivam ente, o que fazer com o m undo privado em um contexto terapêutico analítico-com portam ental? N os últimos anos, analistas do com portam ento têm dem ons­ trado grande interesse pelo estudo de eventos privados. Apesar disto, a com unidade de terapeutas ainda enfrenta dificuldades ao lidar com tais eventos no contexto clínico (Azevedo, 2001).

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Dentre as contribuições de trabalhos que tratam dos eventos privados na prática clínica analítico-com portam ental, está a criação de diversas categorias de análise que o clínico pode utilizar em sua atua­ ção (cf. Azevedo, 2001), além daqueles que abordam inclusive os própri­ os eventos privados do terapeuta. Na prática, com o eventos privad os são entendidos com o estím ulos e com portam entos que tam bém estão sob controle de con­ tingências, então, cabe ao terapeuta utilizar os princípios dos condici­ onam entos clássico e operante para m od ificar tanto com portam entos ( p ú b lico s com o eventos p riv ad o s do clien te. Logo, a in terv en ção 1 com portam ental parte do princípio de que m udanças nas contingên/ cias prom ovem m udanças tanto nos com portam entos públicos quan"j to no m undo privado dos indivíduos (Lipp, 1984). O foco e a inter\ venção ocorrem de fora para dentro. Prom over m udanças no am biente externo a fim de m odificar padrões de interação público e privado consiste no ponto central da intervenção analítico-comportamental que tanto a diferencia das demais. Para isso, trabalha-se com o cliente de m odo que o com portam ento ver­ bal do terapeuta controle o com portamento não-verbal do cliente fora da sessão terapêutica (Hübner, 1997). D e form a mais específica, para lidar com eventos privados na clínica, cabe ao terapeuta prim eiro lem brar sem pre que o relato de um evento privado é um comportamento verbal que faz referência a um esta­ do do corpo e/ou a um outro com portam ento; segundo, identificar que tipo de S d foi fornecido e o qual o cliente está respondendo; e, terceiro, considerar que o relato (sentir angústia, tristeza, pensar em morte, im a­ ginar-se linda em uma festa) sinaliza probabilidade de em issão de com ­ portamento público, ou seja, um relato de evento privado pode ser usado para prever com portam ento. Exem plificando, algumas pessoas, quan­ do se dizem deprim idas, têm m aior probabilidade de perm anecerem m ais tem po dentro de casa, sorrir com m enos freqüência, chorar com m ais freqüência, dentre outros. Desse m odo, talvez pudéssem os dizer que pensam entos e sentim entos são entendidos como com portam entos ju sta m e n te em fu nção de estarem sob co n tro le de co n tin g ên cias ambientais e envolverem probabilidade de ação publicamente observável. Reconhecido os três aspectos supracitados, cabe ainda ao terapeuta desfazer a análise causal freqüentem ente estabelecida pelo cli­ ente entre evento privado e com portamento público (quando afirma, por exemplo, que é sua ansiedade que causa todos os seus problemas de rela­ cionam ento) e conscientizar o cliente, através de análises funcionais e de m udanças nas contingências, que suas sensações, pensamentos e fanta­ sias mais incôm odas poderão diminuir com alterações ambientais exter-

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nas. N este sentido, o cliente precisa se com portar, expor-se às situações para que possa ser afetado pelas conseqüências (cf. Banaco, 1997). D e acordo com o referencial comportamental, então, trabalhar no contexto clínico com eventos privados, implica analisá-los funcio­ nalmente, como se faz com qualquer outro tipo de comportamento públi< co, isto ê, precisa-se identificar tanto as variáveis que antecedem a ocorjrência de um evento privado quanto as que o mantém. Assim , o privado j não é inacessível e pode ser com preendido e modificado da m esm a mayneira que um comportamento público. Em relação às funções da atuação do terapeuta analíticocom portam en tal ju nto aos eventos privados, Martins e Tourinho (2001) resum em -nas em quatro, são elas: investigar e intervir em relação aos eventos privados, analisar as relações entre eventos privados, contin­ gências am bientais e com portam entos públicos e fornecer "feedbacks descritivos e referências sobre eventos privados do terapeuta, do cli­ ente ou de terceiros"' (p. 42). Resgatar questões relacionadas à subjetividade é pertinente e, provavelm ente, sempre será um m aterial importante a ser analisado no contexto clínico. E isto, necessariam ente, não significa negligenciar as contingências e retom ar ao m entalísmo, mas, antes, uma busca de com ­ preensão do homem como um todo, com seus comportamentos abertos e encobertos. Afinal, os clientes procuram terapia quando estão ansiosos, angustiados, tristes, estão pensando em suicídio, enfim o cliente é aque­ le que sente e descreve o que está sentindo como sofrim ento. Em contrapartida, o terapeuta analítico-com portamental é aquele que, m es­ mo considerando relevante os conteúdos referentes ao m undo privado, não negligencia as contingências e não os trata como causa de com por­ tam entos, como fazem os m odelos de intervenção intem alista. Oliveira (2001), neste sentido, afirm a que um terapeuta antiinternalista (ou um terapeuta analítico-com portam ental) teria várias funções, dentre elas " com bater o internalism o e suas conseqüências; conceber relatos de eventos internos com o com portam ento verbal a ser analisado [ej não paralisar investigação diante de relatos sobre causas internas" (p. 310). Como visto, assim com o nos diferentes modelos terapêuticos em psicologia, não se pode falar em TA C sem fazer referência à subje­ tividade, sim plesm ente porque a subjetividade é indissociável das contingências (cf. Oliveira, 2001). Tendo encerrado por ora a discussão sobre o m undo priva­ do, o próxim o capítulo tratará do m odelo terapêutico "co g n itiv o com p or tam ent a l" .

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IV P SICOTERAPIA "CO G N ITIVO C o m po rtam en ta l"

O Behaviorism o e o Cognitivism o representam duas dagens de am pla repercussão na Psicologia deste século. Em bora fun­ dam entem -se em princípios filosóficos diversos, tem sido observado um m ovim ento de aproxim ação entre essas duas tradições de pensa­ mento nas últim as décadas. Reflexos desta aproxim ação podem ser verificados no contexto específico da Análise do Comportamento, cujos artigos na área têm tratado com freqüência do tema cognição e/ou interpretado dados à luz de um referencial cognitivista. Em um artigo publicado em 1980, intitulado "Para onde têm ido os behavioristas?", Branch e M alagodi (1980) argum entaram que o Journal of the Experim ental A nalysis of Behavior (JEAB), considerado um dos principais veículos de com unicação para a com unidade de ana­ listas experim entais do com portam ento, estava m udando sua concep­ ção sobre o locus de controle do com portam ento ao veicular afirm ações de cunho claram ente mentalistas. Isto significa que, na concepção dos autores, em alguns artigos, o com portam ento era explicado m ais em função de eventos internos. M orris, Higgins e Bickel (1982), ao discutirem os argum entos em favor da inclusão da ciência cognitiva na Análise Experim ental do Com portam ento (AEC), apontaram que "durante os últimos dez anos, o tema da cognição tem se tom ado crescentemente dominante na aprendi­ zagem anim al" (p. 109). De acordo com os autores, a partir de Skinner, a AEC passou a evitar construtos e linguagem cognitiva. Contudo, a con­ tagem do'núm ero de palavras-chave presentes nos artigos da JEA B evi­ denciou que

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em 18 anos de publicação da JEAB antes de 1976,... [os termos] memória, cognição, inteligência e processamento de informação apareceram 5 vezes ( X - 0,28 por ano); porém, nos seis anos entre 1976 e 1981, elas têm aparecido 26 vezes ( X~ 5,2 por ano) ... (M orris e cols. 1982, p .110).

A influência do Cognitivismo, entretanto, não pára aí. No con­ texto da TAC, Craighead e cols. (1994) constataram que 69% dos m em ­ bros da Associação para o A vanço da Terapia do Com portam ento rotu­ lam -se como cognitivo-com portam entais. Baer, W olf e Risley (1987), a partir de uma análise m ais ampla, estim aram que apenas 2% dos psicó­ logos am ericanos são behavioristas e, conform e Lee (1992), ""na psicolo­ gia clínica e aplicada, m odelos cognitivos têm se tornado a norm a e teorias não cognitivas são uma m inoria ..." (p.258). Para explicar o movimento integracionista entre Behaviorismo e Cognitivismo, há uma proposição de que este foi iniciado na área clínica (H aw kins e Forsyth, 1997a; 1997b; Jacobson, 1987; K erbauy, 1983; Mahoney, 1977). Como afirma Kerbauy (1983), a relação entre Cognitivismo e Behaviorism o "n ão foi de antagonism o, pelo m enos entre alguns terapeutas: houve uma fusão com um certo tipo de tratam ento, que enfatizava processos "m ediacionais" tais como: crenças, percepções e p en sam en to s (...). E ssa área de fu são é co n h ecid a co m o terap ia com portamental cognitiva" (p. 33). Mas quais são as origens do que se f chama de Terapia "Cognitivo-Com portam ental"? O que a define? Quais I são seus fundamentos? Com o se dá o processo terapêutico? Este capíVtulo se propõe a responder pontualmente cada uma destas questões. Atualmente, existem diferentes modelos de terapias "cognitivocom portam entais", porém , o de Beck, conhecido apenas por Terapia Cognitiva (TC), figura entre os primeiros (Freeman e Pretzer, 1993), apre­ senta uma estrutura teórica organizada que respalda suas intervenções e, ainda hoje, consiste em um m odelo de grande repercussão entre terapeutas de orientação cognitivista, tendo sido por estes m otivos sele­ cionado para ser abordado neste livro.

O p rim e iro m o d e lo clín ico de o rie n ta ç ã o c o g n comportamental foi a Terapia Racional Emotiva Comportamental (REBT, conhecida até 1993 por RET, segundo Campos, 1995), de Albert Ellis, que surgiu na década de 60. O advento desta nova orientação é atribuído, dentre outros, aos limites das terapias estritamente comportamentais e ao desenvolvimento de estudos na área das cognições (Dobson e Block, 1988). Já a TC, fundada por Aaron Beck, na década de 70, foi desen­ volvida a partir de estudos para o tratam ento da depressão, em bora, atualm ente, seja aplicada no tratam ento de diversos transtornos, inclu­ sive problem as interpessoais (Dobson e Franche, 1996).

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As origens da terapia cognitiva podem ser buscadas nos filósofos estoicistas, particularmen te em Zenão de Cítio (século 1V a. C.), Crfsipo, Cícero, Sêneca, Epicteto e M arco A u rélio . Epicteto escreveu no Enchiridion: "Os homens não são perturbados pelas coisas, mas pelas visões que fazem, delas". Como o Estoicismo, filosofias do Oriente tais como o Taoísmo e o Budismo têm enfatizado que as emoções humanas estão baseadas nas idéias. O controle dos sentimentos mais intensos pode ser alcançado pela modificação das idéias de uma pessoa (Beck, Rush, Shazu e Emery, 1979, p. 8).

Além dos tas, outras influências existiram, como a Psicanálise de Freud, com o pressuposto de que sintoma e afeto estão baseados em idéias inconscientes. Assim também, a Fenomenologia (Kant, Heidegger, Husserl) ao enfatizar a experiência subjetiva. A Teoria Cognitivista de Piaget, a REBT de Albert Ellis e a Terapia Com portam ental nas figuras de M ahoney, Goldfriend e Davison (Beck e cols., 1979). Na tradição "co gn itiv o-co m p ortam en tal", de acordo com Dobson e Block (1988), três proposições são consideradas básicas: a) a atividade cognitiva afeta o com portam ento; b) a atividade cognitiva pode ser m onitorada e alterada, e c) a m udança com portam ental pode ser afetada pela m udança cognitiva. N o m o d elo co g n itiv o de B eck , esp e cifica m e n te , são as cognições os determ inantes principais dos sentim entos e dos com ­ portam entos dos indivíduos (Craighead e cols., 1994). Deste modo, define-se TC como um tipo de intervenção que tem com o foco as cognições dos clientes e que se fundamenta na concepção teórica de que a m aneira com o os indivíduos estruturam cognitivam ente o m undo determ ina am plam ente o seu com portam ento (Beck, 1970; Beck e cols., 1979). As cognições ou pensam entos autom áticos consistem em di­ versos fenôm enos que ocorrem durante ti processam ento cognitivo (ou de inform ação), com o a recordação e a interpretação (Beck, 1991). '"Estes pensam entos (cognições) tendem a se originar rapida­ m ente e automaticamente, como se por reflexos; eles não estão sujeitos à força de vontade ou ao controle consciente" (Beck, 1991, p. 369). Apesar da rapidez e autom aticidade, estes pensam entos são produzidos atra­ vés da interação de crenças relevantes com as situações sim bólicas (Beck, 1991). Quando Beck (1991) escreve sobre as crenças em seu m ode­ lo terapêutico para depressão, ele sugere que elas se form am na fase inicial da vida dos indivíduos e passam a constituir a sua estrutura cognitiva, no caso, os esquemas. Em 1993, Beck propôs a hipótese de que as crenças disfuncionais possam ter sua origem ligada ã interação entre predisposição genética e situações am bientais.

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Oh term os crença, cognição e pensam ento autom ático, muitas vezes, são usados com o equivalentes, o que configura um a im precisão conceituai. Contudo, uma possibilidade de equacionar este problem a seria diferenciar cognição dc pensam ento autom ático, a partir de uma Ç das interpretações de Beck e cols. (1979) de que as cognições seriam a I avaliação dos eventos que m edeiam a relação entre o am biente extcm o c ; os sentimentos, comportamentos e os pensamentos automáticos. Dito de outro modo, pensam entos autom áticos são respostas im ediatas diante da exposição a um a situação. Já as cognições são pensam entos mais elaborados acerca da situação. Interpretando-se desta m aneira, faz sen­ tido dizer que as cognições e os pensam entos autom áticos derivam de crenças, na medida em que estas integram os esquemas. D e form a gené­ rica, cognições são pensam entos ou im agens visuais, enquanto pensa­ mentos autom áticos são tipos de cognição (Beck e cols,, 1979). A respeito dos esquemas, Beck (1993) argum enta que este ter­ mo já foi utilizado por Bartlett e Piaget "para descrever as estruturas que integram e atribuem significados aos eventos" (p. 24). Dattilio e Freeman (1995) referem -se aos esquem as como "estruturas hipotéticas que orien­ tam e organizam o processam ento d£ inform ações e a com preensão da experiência da vida", ou ainda, "são a acum ulação do aprendizado e da experiência do indivíduo..." (p. 25), podendo ser deduzidos dos pensa­ mentos automáticos e dos comportamentos. Acrescentam que Beck "su ­ geriu que os esquem as são o substrato cognitivo que gera as várias distorções cognitivas observadas nos pacientes" (Dattilio e Freeman, 1995, p. 25). Segundo o próprio Beck (1993), os esquem as são os verdadei­ ros responsáveis pelo processam ento de inform ação. São eles que "res­ pondem pela seqüência que se estende desde a recepção do estímulo até o ponto final da resposta com portam ental" (Beck, 1993, p. 25), organi­ zando as inform ações captadas pelos indivíduos. E stas estruturas cognitivas podem ter evoluído na filogênese em função de seu valor de sobrevivência (Beck, 1991; Beck, 1993). Já para Dattilio e Freem an (1995), os esquem as form am -se no início da vida dos seres hum anos, estando relativam ente estabelecidos no meio da infância. Beck (1993) ressalta que existem diferentes tipos de esquemas: esquem a cognitivo, esquem a m otivacional, esquem a de ação, e assim por diante, sendo que os esquem as mais im portantes para a intervenção terapêutica são os interpessoais (Shinohara, 1997). Neste m odelo, distinguem -se, então, estruturas e conteúdos ! cognitivos. As estruturas são os esquemas, e os conteúdos são as cren| ças, sendo que os verdadeiros responsáveis pela determ inação do afeto, 1_ pensamento e comportamento são os conteúdos (Freeman e Pretzer, 1993).

Ç

Uma esquem atização do m odelo de Beck seria a seguinte:

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Figura 2: Relação enlre eventos externos, esquem as, crenças, cognição, pensam ento, sentim ento e com portam ento, na teoria de Reck.

Beck enumera uma lista envolvendo as principais distorções cognitivas, as quais relaciona a transtornos específicos9. Tais distorções podem ser entendidas como crenças, idéias, pensamentos e autoverbalizações negativas, disfuncionais ou irracionais, o que significa representar a realidade com distorções (Campos e Baptista, 1997). As distorções são: 1) inferência arbitrária (refere-se a processos de e x t r a i r um.n conclusão específica sem evidência que sustente a con ­ clusão ou quando a evidência é contrária â conclusão; 2) abstração seletiva (consiste em focalizar detalhes extraídos do contexto, igno­ ra n d o o u tr a s c a r a c te r ís tic a s m a is s a lie n te s da s itu a ç ã o e conceituaiizando a experiência total com base neste fragm en to); 3) super generalização (refere-se ao padrão de extrair uma regra geral ou conclusão com base em um ou mais incidentes isolados e aplicá-la em am plas situações relacionadas ou não); 4) magnificação e minimização (são refletidas em erros na avaliação do significado ou magnitude de um evento que é tão grosseiro que pode se constituir em unia distorção); 5) personalização (refere-se a uma fo rte tendência du paciente a relacionar ei?entos externos a ele próprio quando não há base para fa zer tal cone­ xão); 6) pensam ento dicotôm ico, absolutista (é manifestado em uma tendência a classificar todas as experiências em am a de duas categorias opostas) (Beck e cols., 1979, p. 14).

Distingue-se no processo terapêutico da TC as etapas de ava­ liação e intervenção. O processo tem início com a investigação acerca da própria procura à terapia, com o terapeuta buscando identificar como o * Dobson e Pranche (1996) citam algumas distorções cognitivas sem relacioná-las a transtornos parti­ culares, inclusive algumas consideradas por Beck como específicas da depressão, por exemplo, a supergeneralizaçlo e o pensamento dicotômico.

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cliente se sentiu, qual(is) o(s) seu(s) pensam ento(s) em relação à terapia e ao terapeuta; se os sentim ento(s) e pensam ento(s) iniciais ainda persis­ tem e o que pretende em term os de ajuda com a terapia. Em seguida, o terapeuta explica a racionalidade da terapia (m aior parte da primeira sessão e parte da segunda), os conceitos im portantes para a m esm a, com o se dá a relação entre sentim entos e pensam entos, e fornece exem ­ plos dos conceitos que foram explicados (Beck e cols., 1979). Encerrado este prim eiro m om ento da avaliação, tem início a coleta de informações, a fim de estabelecer um diagnóstico e obter dados sobre a história passada, situação atual, problem as psicológicos e m oti­ vação do cliente para o tratam ento. Um a característica peculiar deste m odelo consiste na possibilidade de a avaliação iniciar-se antes m esm o da primeira entrevista, através do preenchim ento de questionários e in­ ventários por parte do cliente (Idem). As inform ações coletadas durante a avaliação subsidiarão a form ulação e o teste de hipóteses concretas por parte do terapeuta (cf. Idem), sendo que o teste de hipóteses pode ser considerado o m arco de início da intervenção propriam ente dita. Na etapa de intervenção, s^o utilizados recursos com o pes­ soas significativas, fitas de áudio ou vídeo da sessão e fitas que ilus­ tram técnicas (cf. Idem). Dentre as técnicas largam ente utilizadas, encontram -se o registro diário de pensam entos disfuncionais (RDPD), a reestruturação cognitiva e a confirm ação da realidade (Simão, 2000). As técnicas buscam corrigir crenças disfuncionais, partindo de sua identificação e contraposição à realidade. O pressuposto con­ siste em que a correção das crenças levará o indivíduo a dom inar suas dificuldades (Beck e cols., 1979). A TC também faz uso de técnicas comportamentais, sendo que seu uso está relacionado com o objetivo últim o de alterar e substi­ tuir cognições. Assim, elas servem para provocar cognições associadas a com portamentos e, em geral, são usadas no início do tratam ento, em casos m ais graves, por serem técnicas m ais ativas (Beck e cols., 1979). A TC é considerada um m odelo cognitivo-com portam ental ju s ta m e n te p o r re a liz a r "in te rv e n ç õ e s ta n to co g n itiv a s q u an to com portamentais" (Williams e Moorey, 1992/1994/ p. 294). Para Dobson e Franche (1996)"um dos problem as do term o 'cognitivo" para a terapia cognitiva é que, em bora a atenção se centre claram ente nos processos e produtos cognitivos, não é, de fato, um modelo exclusivamente cognitivo" (p. 442). N a p r o p o s ta de B e c k , ao lo n g o d e to d o o p ro c e s s o terapêutico, o terapeuta form ula um plano para cada sessão, atualiza e checa o hum or do cliente através de seus relatos e inventários, rela­ ciona a sessão atual com a anterior, revisa a tarefa de casa, discute as

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questões previstas no plano (ou agenda), estabelece um a nova tarefa de casa c fornece feedback da entrevista (Peres, 2000). A lém disso, o cliente é estim ulado a resum ir o que foi tratado na sessão e a fornecer feedback sobre a entrevista em si (o que perturbou, o que gerou confusão) (Beck e cols., 1979; Peres, 2000). A duração do processo terapêutico tende a ser lim itada de 15 a 25 sessões (pacientes depressivos) e no que se refere aos objetivos do processo, Beck e cols. (1979) destacam: (1) controlar [os] pensamentos negativos automáticos (cognições); (2) reconhecer as relações entre a cognição, o afeto e o comportamento; (3) examinar as evidências a favor e contra [os] pensamentos automáticos distorcidos; (4) substituir as cognições tendenciosas por interpreta­ ções mais orientadas para o real; e (5) aprender a identificar e alterar as crenças disfuncionais que predispõem a distorcer [as] experiências (p. 4).

O u ainda, nas palavras de Dobson e Franche (1996), o terapeuta cognitivo busca ajudar os clientes "a perceberem suas cognições e como estas m ediam [sicj seu afeto e seu com portam ento" (p. 448). C om o pode ser visto, as proposições teóricas e a condução do processo terapêutico no m odélo cognitivista de Beck enfatizam o papel rde eventos cognitivos na determinação de comportamentos. Observa-se que apesar da referência que faz à história de vida dos indivíduos, pou­ ca im portância lhe é dada na explicação do fenôm eno com portam ental. Ao enfatizar os processos internos, em determ inadas circunstâncias, sugere-se que aqueles processos possam tornar-se independentes do am biente externo, ou seja, autônom os na produção do com portam ento. A crescentando-se a isto, pode-se considerar o m odelo cognitivista de Beck lim itado por não incluir ou, pelo menos, não explicitar em suas análises, a relevância das conseqüências produzidas pelos com porta­ mentos. Cabe ressaltar que Beck (1970) e Beck e cols. (1979) argum en­ tam explicitam ente que a organização cognitiva dos organism os pode se tom ar independente do am biente externo. Apesar disto, Beck (1991), ao falar da depressão, tenta relativizar esta concepção ao afirm ar que, na realidade, eu tenho considerado a ativação dos esquemas como um mecanismo pelo qual a depressão se desenvolzie, não como a causa. A causa pode estar em qualquer combinação de fatores biológicos, genéticos, stress ou personalidade, os quais também podem ser balanceados por qual­ quer combinação de cada fator (p. 371).

D obson e Franche (1996) apoiam a argum entação anterior de Beck, quando ressaltam que as cognições por si só não determ i­ nam as disfunções, em bora algumas form ulações do m odelo cognitivo possibilitem este tipo de interpretação. M ais uma vez, é evidente a im ­ precisão conceituai neste m odelo cognitivo.

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Em decorrência do tipo de interpretação dada ao com porta­ m ento, o am biente externo, por ter pouca relevância em term os de foco de análise e intervenção, tende a perm anecer inalterado, sendo as crenças a variável fundam ental na explicação dos com portam entos hum anos. N este caso, conhecer as crenças dos indivíduos é indispen­ sável para uma análise do com portam ento, pois elas são preditoras di­ retas dos com portam entos dos indivíduos. N o ca p ítu lo seg u in te, serão co n fro n ta d o s os m o d elo s behaviorista e cognitivista, a fim de que se possa discutir, posteriorm en­ te, as questões envolvidas no rótulo "cognitivo-com portam ental".

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V B e h a v io r is m o e

CoGNmvisMo:

C o m p a r a ç ã o e n t r e P r o p o s iç õ e s T e ó r ic a s e M o d e l o s d e I n t e r v e n ç ã o T e r a p ê u t ic a

A tualm ente, segundo Síocum e Butterfield (1994), o princi­ pal cisma na Psicologia ocorre entre behavioristas e cognitivistas. Analistas do comportamento criticam os cognitivistas por serem mentalistas - em outras palavras, por serem cognitivistas. Psicólogos cognitivistas criticam os analistas do comportamento por explicarem o comportamento apenas no nível da observação - em outras palavras, por serem comportamentais (Slocum e Butterfield, 1994, p. 59).

Diante do exposto, observa-se que a relação entre as orienta­ ções behavioristas e cognitivistas está cercada de controvérsias, sendo possível identificar, atualm ente, pelo m enos três grupos que assum em argum entos totalm ente diversos um do outro. U m prim eiro grupo considera as explicações behavioristas incom pletas e/ou inadequa­ das e, por isso, defende as explicações cognitivas (Bandura, 1995; Locke, 1995; M ahoney, 1995); um segundo grupo, ao contrário, consi­ dera as explicações cognitivas inadequadas e/ou desnecessárias e por isso sustenta o m odelo behaviorista (Hawkins, 1992; Lee, 1992; 1995; M orris e cols., 1982; Observer, 1977); e um terceiro grupo, que adota um a p o siçã o in te rm e d iá ria , reco n h ece o v a lo r d as ex p lica çõ e s b e h a v io rista s e co g n itiv istas e su g ere qu e am bas não ap en as se com plem entam , m as que as suas diferenças são apenas de term inolo­ gia (O verskeid, 1995; Slocum e Butterfield, 1994). M esm o diante de posições tão divergentes e "avesso" aos pro­ blem as que envolvem as diferenças de paradigm as, o que se verifica é que o m ovim ento de integração entre Behaviorism o e Cognitivism o, so­ bretudo na área clínica, tem prosperado. Considerando estes fatos (con­ trovérsias e crescimento), o capítulo propõe-se a identificar alguns limi­

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tes da integração entre os m odelos de intervenção da TAC e da TC de Beck, confrontando proposições teóricas de orientações behavioristas e cognitivistas e certos aspectos da condução do processo terapêutico em cada um dos tipos de intervenção. Em um prim eiro m om ento, serão dem arcadas algum as se­ m elhanças e distinções entre os sistem as behavioristas de W atson, Tolm an, Hull e Skinner e os pressupostos da TC de Beck. N este caso, trata-se de um confronto entre p rop osições teóricas. No segu ndo m om ento, pretende-se ilustrar, através de fragm entos de sessões, as­ p e c to s d as se g u in te s p ro b le m á tic a s: a) e x is te m c a r a c te r ís tic a s definidoras de intervenções cognitivistas e com portam entais?; b) é possível distinguir uma intervenção com portam ental de um a inter­ ven ção cognitiva?; e c) id en tificam -se sem elh an tes nos p ro cesso s te ra p ê u tic o s co m p o rta m e n ta is e c o g n itiv is ta s qu e ju s tific a m a integração entre as orientações no contexto clínico?

Confronto entre Proposições Teóricas O s asp ecto s co n sid erad q s para a co m p aração e n tre os behaviorism os e TC serão as concepções de com portam ento, am biente, causalidade, hom em e crença. A inclusão do conceito de crenças neste confronto justifica-se na medida em que se observa que este conceito ocupa um lugar central nas explicações cognitivistas e, além disso, é possível estabelecer uni contraponto entre as interpretações sustenta­ das pelos cognitivistas, com a interpretação que é dada por T o lm a n Skinner e outros analistas do com portam ento. W atson e Hull foram ex­ cluídos do confronto, em função de não ter sido encontrada nenhum a referência às crenças em textos desses autores e de seus com entadores. Em outras palavras, enquanto eles são im portantes como representan­ tes de beh aviorism os distintos, o term o crença, em seus m od elos explicativos, não é incluído. W atson restringia-se a estudar o comportamento publicam en­ te observável, definindo-o, basicamente, como mudanças motoras e glan­ dulares desencadeadas por eventos am bientais. Tolm an e Hull, apesar de tam bém estudarem o com portam ento diretam ente observável, sus­ ten tav am q u e este era um fen ôm en o d eterm in ad o por v a riá v eis m ediacionais. Já Skinner defendia que a ciência do com portam ento de­ veria estudar não apenas com portam entos públicos, mas tam bém com ­ portam entos privados, aos quais apenas cada indivíduo, em particular, possuísse acesso direto; am bos os tipos de com portam ento, de acordo com Skinner, são determinados por contingências de sobrevivência e de reforçam ento. No modelo de Beck, sem elhante às posições de Tolm an e Hull, os com portam entos são fenôm enos públicos, produtos im ediatos

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de variáveis m ediacionais. Além disso, pode-se dizer que enquanto o com portam ento para W atson, Tolm an, Hull e Beck rem ete à noção de resposta, para Skinner, o com portam ento é um a relação. N o Behaviorism o de W atson, o am biente foi concebido com o partes do universo externo e interno que afetam o organism o, sendo que os dois "m u nd os de estím ulos" possuem dim ensões físicas. Nos sistem as de Tolm an e H ull, supõem -se que o am biente se restrinja apenas às situações externas que ativam variáveis internas em uma cadeia de eventos. Skinner, como W atson, concebe o am biente como partes do universo interno e externo que estão em relação com o indi­ víduo. I3eck assum e a m esm a concepção de Tolm an e Hull ao inter­ pretar o am biente com o situações externas aos indivíduos, que de­ sencadeiam variáveis m ediacionais. A respeito do modelo causal, o Behaviorismo watsoniano adota o paradigma S-R, que é característico de um m odelo mecanicista de cau­ sa e efeito. N os Neobehaviorismos M ediacionais de Tolm an e Hull, em ­ bora o paradigm a seja diferente, no caso o S-O-R, o modelo de causalida­ de é o m esm o presente na exp licação de W atson (m ecânico). No Behaviorism o Radical, a explicação dos eventos é seledonista, histórica e, por isso, não é um a explicação mecânica, sendo o paradigm a adotado o Sd-R -Sr. Na concepção de Beck, o m odelo causal tam bém é m ecânico, da mesma form a que o de Watson, Tolm an e Hull, embora mais próximo dos dois últim os, em função da possibilidade de enquadrar suas expli­ cações no paradigm a S-O-R. Relacionado com as noções de causalidade supracitadas, cabe fazer um parên tese para lembrar que W atson e Skinner são extem alistas e não recorrem a m ediadores em suas explicações com portam entais, distintam ente de Tolm an e Beck. Skinner é externalista, na m edida em que, m esm o quando adm ite a possibilidade de um evento interno con­ trolar um com portam ento, este evento nunca é autônom o; o controle discrim inativo, em instâncias de com portam entos operantes, constróise a partir da relação entre indivíduo e am biente público (Tourinho, 1999). A concepção de hom em adotada pelo Behaviorismo de Watson implica um dualismo em função de considerar que o hom em "se consti­ tui" de processos físicos e mentais. Da mesm a form a, para Tolm an, exis­ tem eventos que diferem dos fenôm enos físicos; tais eventos são variá­ veis m ediacionais de natureza cognitiva. H ull caracterizava as variá­ veis m ediacionais de seu sistem a com o intra-organísm ic^s (físicas) e não recorria a term os m entais; assim, pode-se dizer que ele trabalhava com uma concepção monista. Da m esm a m aneira, Skinner assum e uma posição m onista ao negar a existência de fenôm enos que de algum a forma vão além do físico. Já o modelo de Beck retom a a posição dualista

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ao sustentar, como Tolman, que existem variáveis mediacionais cognitivas que diferem dos eventos físicos. Até aqui, observou-se que o Behaviorismo de Watson é seme­ lhante ao de Tolman, Hull e do modelo de intervenção de Beck no que se refere à concepção de causalidade mecânica, e distingue-se destes em relação à noção de ambiente e ao paradigma adotado. Além disso, Watson, Tolman e o modelo de Beck são semelhantes quanto à postura dualista físico/mental (cognitivo). Comparado com o Behaviorismo Radical, Watson assemelha-se quanto à concepção de ambiente e por não recorrer a eventos mediacionais. Skinner e Hull aproximam-se na adoção do monismo. Os Neobehaviorismos de Tolman e Hull são seme­ lhantes ao sistema de Beck em relação às concepções de comportamento e ambiente, ao modelo causal e ao paradigma adotado. O Behaviorismo Radical de Skinner, com exceção das semelhanças já citadas com o Behaviorismo de Watson e o de Hull, não compartilha nada com o siste­ ma de Tolman, nem tampouco com o modelo de intervenção de Beck. A partir destas constatações, é possível afirmar que, se de um lado, o Behaviorism o C lássico de W atson e o N eobehaviorism o M ediacional de Hull possuem aspectos sem elhantes ao sistem a cognitivo aqui apresentado, e o N eobehaviorism o de Tolm an é indistinguível daquele sistema em pressupostos fundamentais, por outro lado, o Behaviorismo Radical distingue-se radicalmente dos pres­ supostos cognitivistas de Beck. As principais informações abordadas até aqui estão sintetiza­ das nas Tabelas 2 e 3, a seguir: A respeito da Tabela 2, alguns esclarecimentos ainda são ne­ cessários. O primeiro refere-se à interpretação da TC como representante do paradigma S-O-R. Fazer isto é uma interpretação proposta por al~

Tabela 2: Comparaçao geral entre os sistemas de Tolman, Hull e Beck.

Tabela 3: Comparaçao entre os sistemas behavioristas e o modelo cognitivista de Beck. guns behavioristas (Chiesa, 1994; Moore, 1995b; 1996) em f unção das sim ilaridades encontradas entre as explicações mediacionais e as cognitivistas. Na literatura cognitivista/ entretanto, tal interpretação é raramente encontrada. Na Tabela 2, então, o objetivo foi tentar evidenci­ ar a similaridade do paradigma S-O-R com o modelo explicativo de Beck. Passando agora à análise das crenças, como visto no capítulo 1, no Neobehaviorismo Mediacional, Tolman inclui as crenças em sua categorização de variáveis intervenientes e no processo de aprendiza­ gem. Tolman postulou a existência de seis conexões envolvidas na aprendizagem, dentre elas estão as crenças de equivalência, as expecta­ tivas de campo e os modos de cognição de campo. As crenças de equi­ valência consistem em atribuir uma crença ou expectativa existente a situações diferentes (comportar-se como); as expectativas de campo são representações do meio que permitem agir em situações novas, e os modos de cognição de campo dizem respeito a processos de ordem superior res­ ponsáveis pelas expectativas de campo (Marx e Hillix, 1982). Em 1959, Tolman afirmou que havia um lugar em que as crenças eram armazenadas. Disse ele: "as diferentes prontidões ou crenças (dispo-

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sições) estão armazenadas juntas (no sistema nervoso )" (Conforme citado por Morris e cols., 1982, p. 118). No sistema de Tolman, então, embora não seja possível identificar um conceito claramente elaborado para as crenças, elas são concebidas como variáveis mediacionais cognitivas que, armazenadas no sistema nervoso, são capazes de determinar comportamentos. Mais pre­ cisamente, dizem respeito às representações e às expectativas de um orga­ nismo construídas na relação com o ambiente. Assim, quando o organismo já adquiriu representações e expectativas acerca de certas situações, serão elas que determinarão a maneira como o organismo se comportará quando exposto àquelas situações. No Behaviorism o skinneriano, apesar do conceito de crenças não ser relevante, Skinner chegou a escrever a respeito em algum as de suas obras. A análise skinneriana coloca o tem a em discussão sob duas óticas: de um lado, indagando o que controla o com portam ento de atri­ buir-se crenças a alguém, isto é, como se pode interpretar a "linguagem " das crenças; de outro, exam inando o processo através do qual explica­ ções que o sujeito elabora sobre o am biente entram no controle de seu comportamento subseqüente. No livro, 'V erbal Behavior7/(Skinner, 1957), Skinner com enta que o com portam ento do ouvinte pode estar sob controle de crenças, relacionando-as com a força da resposta no sentido de um a tendência de se com portar de um a dada maneira. U m dos exem plos de crenças citados por Skinner (1957) foi o seguinte: "N o ssa crença de que há queijo na geladeira é uma função de, ou é idêntica a, nossa tendência de ir até a geladeira quando querem os com er queijo, ou outras coisas do tipo" (pp. 159-160). Tendência, em uma concepção skinneriana, diz respeito à pro­ babilidade de com portam ento (Skinner, 1989). D este modo, afirmações sobre crenças dos sujeitos são usualm ente afirm ações sobre a probabili­ dade de com portam ento e estão baseadas na observação de instâncias ^passadas do com portam ento. Da m esm a form a, em C o n tin g e n cie s o f R eifo r ce m e n t (Skinner, 1969), B ey o n d F reed o m a n d D ig n ity (Skinner, 1971) e A b o u t B eh a v io rism (Skinner, 1974), Skinner sugere que falas sobre crenças dizem respeito a um a probabilidade de ação, que é função da história passada dos indi­ víduos de exposição às contingências. Em 1969, Skinner afirma que cren­ ças são estabelecidas "quan d o aum entam os a probabilidade da ação através do reforçam ento do com portam ento" (p. 94). As crenças podem tam bém ser interpretadas com o regras, ou auto-regras, em bora Skinner não fale explicitam ente em crenças usando estas denominações. R etom ando o exem plo dado por Skinner (1957) de que "nossa crença de que há queijo na geladeira é uma função de, ou é

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idêntica a, nossa tendência de ir até a geladeira quando querem os comer queijo, ou outras coisas do tipo" (pp. 159-160), verifica-se que há uma outra possibilidade de interpretação das crenças. N este exem plo, uma crença tam bém pode ser entendida com o com portamento privado (pen­ sar que há queijo na geladeira) capaz de exercer controle sobre o com ; portamento público subseqüente (ir até a geladeira). Neste caso, pode-se dizer que crenças são regras (auto-regras, se tiverem sido elaboradas jp elo próprio sujeito) na m edida em que a própria fala do indivíduo, 'i aberta ou encoberta, pode funcionar com o um S d verbal descritivo de /uma probabilidade de com portam ento, que entra no controle do com ­ portam ento não-verbal subseqüente. Regras são definidas por Skinner (1969) com o descrições de contingências que funcionam com o S ds1°. Sendo assim, uma regra não altera a probabilidade de com portam ento, apenas sinaliza para a pos­ sibilidade de reforçam ento. Auto-regras, por outro lado, só diferem das regras na m edida em que são descrições de contingências form u­ ladas pelos próprios indivíduos. Resumindo, Skinner interpreta crenças com o uma dada proba­ bilidade de comportamento e como S dverbal, cuja explicação está na his­ tória passada de exposição às contingências. Logo, um a crença não é um agente interno e nem determinante de comportamento, ela só existe en­ quanto um a probabilidade de comportamento ou descrição verbal (públi­ ca ou privada) de uma dada probabilidade. Enquanto descrições, crenças são fenômenos comportamentais que podem adquirir função de controle do com portamento público e devem ser explicadas pelas contingências. Em relação às crenças irracionais ou disfuncionais descritas pelos cognitivistas, alguns autores, por exem plo, Popeen (1989) e Zettle e Hayes (1982), assum em explicitam ente que crenças irracionais são a u to -re g ra s fo rm a d a s e m a n tid a s a tra v é s de c o n tin g ê n c ia s de reforçam ento providas pela com unidade, que estão em desacordo com as contingências correspondentes (das quais seriam supostam ente des­ critivas) com as quais o sujeito interage. Nas palavras de Popeen (1989): O problem a das expectativas e crenças descritas por terapeutas cognitívistas pode ser formulado como auto-regras que estão em confli­ to com as contingências. Os sistemas desenzwlvidos por estes terapeutas e teóricos [cognitivo-comportarnentaís] podem ser incluídos em uma estrutura behaviorista como análises e programas para alterar as re­ gras que governam o comportamento (p. 341). 1UAtualmente, existem várias críticas à definição funcional de negras sustentada por Skinner. Tais cri­ ticas levaram alguns autores (Hayes, Browstem, Zettle, Rosenfarb e Korn, 1986; Sehlinger e Blakely, 1987; Zettle e Hayes, 1982) a propor definições diferentes. Entretanto, apesar de esta discussão ser relevante, ela não será abordada neste trabalho pois, o que é fundamental, é que todas as propostas assumem uma postura extemalista em relação ao comportamento governado por regra, conside­ rando-o como um comportamento determinado por uma história de reforçamento; o que é total­ mente compatível com a proposição skinneriana.

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Na TC, as cognições são concebidas como fenôm enos presen­ tes durante o processam ento de inform ação, sendo o rigin árias da interação entre situações am bientais e crenças. As crenças, por sua vez, são definidas como representações internas aos indivíduos, que se estruturam a partir da interação entre a predisposição genética e as situações am bientais (Beck, 1993). No caso, as crenças são conteúdos cognitivos responsáveis pela determ inação do com portam ento, afeto e pensamento. C onfrontando as diferentes interpretações de crenças aqui apresentadas, identifica-se que há m uitas sim ilaridades entre as con­ cepções de Tolm an e Beck, sendo apenas a interpretação behaviorista radical a que se apresenta com o realm ente distinta das dem ais. Nas concepções de Tolm an e Beck, as crenças são variáveis m ediacionais de natureza cognitiva, que se referem às interpretações individuais sobre situações do am biente e possuem status causal. T o­ dos consideram que as crenças resultam de processos ontogenéücos, sendo que Beck acrescenta tam bém o papei da filogênese. No sistem a de Tolm an, apenas o term o crença é encontrado. Entretanto, no sistem a de Beck os term os pensam ento, idéia, autoverbalização, interpretação, esquem a, pensam ento autom ático e regra são usados com o equivalentes. Em Beck, diferente de Tolm an, nota-se uma ênfase sobre as crenças irracionais ou disfuncionais dos indivíduos. Tolm an, na reali­ dade, trata das crenças sem usar os adjetivos racional e irracional. Beck enum era as crenças irracionais ou distorções cognitivas que con­ sidera m ais freqüentes na cultura ocidental. Possivelm ente, esta ênfa­ se nas crenças irracionais explica-se pelo fato de o sistem a ter surgido a partir da form ulação de um m odelo de intervenção terapêutica. Os modos de cognição de campo postulados por Tolm an são semelhantes àqueles que Beck denomina de esquemas. Lem bre-se que os m odos de cognição de cam po são processos ou funções superiores que produ zem representações através da percepção, m em ória ou inferência. E "o s esquemas são as estruturas cognitivas que organizam a experiência e o com portamento" (Freeman e Pretzer, 1993, p. 4). Em síntese, nas concepções de Tolm an e Beck, as crenças apre­ sentam -se com o uma variável fundam ental na explicação dos com por­ tam entos hum anos, na m edida em que se argum enta que os hom ens sentem e agem de acordo com as crenças que possuem a respeito de si m esm os, das outras pessoas e das situações em geral. Neste caso, para o N eobehaviorism o M ediacional de Tolm an e a TC, conhecer as crenças dos indivíduos é de grande utilidade para a previsão e o controle dos com portam entos dos indivíduos.

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Uma interpretação bastante distinta das anteriores é dada por Skinner. Para ele, crenças não são m ediadores internos, não são cognitivas e tampouco são causas. O conceito de crenças, na concep­ ção skinneriana, refere-se à probabilidade de comportamento ou à descrição de probabilidade; como tais, devem ser explicadas a partir da história de vida dos indivíduos. Como descrições, crenças são en­ tendidas como comportamentos verbais que podem participar de uma cadeia comportamental. Do mesmo modo, para Poppen (1989) e Zettle e Hayes (1982), considerados aqui como representantes do Behaviorismo Radical con­ temporâneo, crenças não são processos internos nem causais, são autoregras resultantes da interação do indivíduo com uma comunidade ver­ bal específica, que podem vir a controlar comportamentos públicos.

Tabela 4: Concepções de crenças nos sistemas de Tolman, Beck e Skinner. Com a finalidade de sistematizar e visualizar melhor as inter­ pretações de crenças aqui apresentadas, a tabela 4 ilustra de forma resu­ mida as informações principais. O acréscimo do conceito de crenças como mais um aspecto de comparação entre as proposições behavioristas e cognitivista permitiu evidenciar, com base em mais dados, que o Neobehaviorismo de Tolman é indistinguível da TC em pressupostos fundamentais e bastante distinto do B eh av iorism o R ad ical contem porâneo, pois, enqu anto o Neobehaviorismo Mediacional de Tolman e a TC representam concep-

ções cognitivas e intemalistas do fenômeno comportamental, behavioristas radicais adotam uma concepção externa lista para explicar este fenôm e­ no. Para os primeiros, o comportamento é sempre um fenômeno mediado; para os últimos, ocorre sem este tipo de mediação. A lém disso, a análise do conceito de crenças em cada um dos sistem as apresentados possibilita evidenciar as diferenças analíticas de cada sistem a. Na verdade, algumas destas diferenças estão im plícitas no livro e outras foram destacadas sem a ênfase necessária. Por estes m otivos, elas serão retom adas a seguir. Tolm an e Beck diferenciam-se de Skinner, pois mantêm a con­ cepção tradicional da Psicologia de que o com portam ento é determ ina­ do por fenôm enos internos que possuem um a natureza não-física. O com portamento é apenas um sintoma de algo subjacente; um m eio indi­ reto de se chegar aos problem as reais dos indivíduos. De uma perspectiva Behaviorista Radical, ao procurar as cau­ sas d o c o m p o rta m e n to em um m u n d o n ã o -fís ic o , os a u to re s cognitivistas estariam lidando com processos inferidos (no sentido de im aterial e determ inante do com portam ento) m ais do que com fenôm e­ nos do m undo m aterial e considerando que os problem as e as soluções para os problemas hum anos estão dentro dos indivíduos e não no am bi­ ente externo. As análises feitas até aqui levam a um a observação de caráter m ais genérico - não se pode falar em in teg ração Behaviorism o/ Cognitivism o sem antes dem arcar os lim ites desta integração e tais lim ites estão circunscritos ao N eobehaviorism o M ediacional e a cer­ tos aspectos do Behaviorism o de Watson. Assim, defendera compatibilidade, com plem entaridade e/ou ■integração entre Behaviorism o Radical e Cognitivism o constitui em uma

] incoerência teórica que só pode ser explicada pela ausência de fam ilia\ ridade com os pressupostos de uma ou outra orientação, como sugerem I as análises de Falcone (1993), Haycs e H ayes (1992), Zettle e H ayes

^J1982), dentre outros. Em contrapartida, enquanto as análises feitas são im portan­ tes para dem arcar com precisão alguns dos lim ites da integração en­ tre as proposições teóricas de behavioristas e cognitivistas, elas não perm item visualizar de que form a aquelas proposições se refletem nos processos terapêuticos com portam ental e cognitivo. Sendo assim, dando continuidade a este capítulo, a discussão adiante estará centrada nas questões estritam ente relacionadas aos contextos clínicos cognitivo e com p ortam en tal, p artind o de dois frag m en to s de sessões: uma conduzida por um terapeuta com portam ental e outra por um terapeuta cognitivo.

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Os fragm entos correspondem a atendim entos não equivalen­ tes sob vários aspectos (natureza do problem a, etapa da intervenção, repertório do cliente, etc.) e representam uma fração muito reduzida dos processos terapêuticos. Ainda assim, podem ser úteis para o propósito de colocar em evidência alguns aspectos im portantes de cada modelo de intervenção.

Análise de Fragm entos de Sessões de Terapia Cognitiva e Terapia Analítico-Com portam ental F ragm en to Ilu strativ o de u m a In terv en ção C o g n itiv a11 Fonte de referên cia : Beck e cols. (1979, pp. 229-243). Dados sob re o clien te e a queixa: "A paciente era uma psicóloga clínica de 40 anos que tinha sido recentem ente abandonada pelo namorado. Tinha um a história de depressões interm itentes desde a idade de 12 anos, tinha experim entado diversas form as de psicoterapia, drogas antidepressivas, terapia eletroconvulsiva e hospitalizações. Tinha sido vista pelo presente terapeuta (A.T.B.) cinco vezes, num período de 7 ou 8 m eses. Na ocasião desta entrevista era evidente que estava deprim ida e, com o indicavam seus episódios anteriores, provavel­ m ente suicida" (pp. 225-226). Terapeuta (T5): V ocê esperava ter dificuldade nos feriados... E quan­ do saiu de sou consultório para vir para cá, como estava se sentin­ do? Paciente (P5): M ais ou m enos da mesma m aneira. Eu sinto que eu posso fazer tudo que tenho que fazer, m as eu não quero. T7: Certo... e que tipo de sentim ento você teve? Sentindo-se paxa bai­ xo? P7: Eu sinto que não há esperança para mim. Eu sinto m eu futuro... que tudo é fútil, que não há esperança. T8: E que idéia você teve da entrevista de hoje? P8: Achei que provavelm ente ajudaria, com o sem pre aconteceu no passado... que m e sentiria m elhor - tem porariam ente. M as isso tom a as coisas m ais difíceis, porque sei então que vou m e sentir mal novamente. i l A fim de que a leitura não se tome cansativa, nem se perca o objetivo desta transcrição, serâo supri­ midos alguns trechos e as explicações dadas pelo terapeuta do que ele e a cliente estão fazendo, por exemplo, "explicita a crença-alvo"; "rejeita a hipótese". Quando houver supressão de trechos, isto será facilmente percebido, uma vez que a numeração original dos episódios será mantida. Nos trechos reproduzidos, não será feito nenhum corte. Assim, as reticências são do original.

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T9: Isto tom a as coisas piores em term os dc com o você se sente? P9:Sim . P13: Eu sei que não estou sendo razoável; os pensam entos m e parecem tão reais... que de fato exige esforço pára mudá-los. T14: Ora, se fosse fácil para você - m odificar os pensam entos, acha que eles durariam tanto? P14: Não... olhe, eu não digo que isto não funcionaria com outras pes­ soas. N ão estou tentando dizer isso, mas não sinto que possa fun­ cionar comigo. T15: Então, tem algum a evidência de que chegou a funcionar com você? P18: M inha conclusão é que sem pre terei que ficar sozinha porque não consigo m anter um relacionam ento com um homem. T19: Está bem , essa é uma explicação possível. Que outras explica­ ções possíveis existem? P19: Essa é a única explicação. T 27: Bem, havia outras coisas que você disse que eram im portantes, que são im portantes ainda agora.'Está correto? Quais eram as coi­ sas im portantes para você em dezem bro, novembro e outubro? F27: Tudo era im portante. T28: Tudo era im portante. E quais eram essas coisas? P28: É difícil até me lembrar de algo com que me im portasse então. T29: Ok, que tal seu trabalho? T31: Na m aior parte do tempo, você sentia que estava .realizando al­ guma coisa em seu trabalho, E agora? Você acha que está realizan­ do algum a coisa no trabalho agora? P31: N ão quanto poderia. T32: Você não está realizando tanto quanto poderia mas, m esm o quan­ do está "d esligad a", parece-m e que se sai tão bem ou m elhor que m uitos dos outros colegas. Isso tá certo? P58: Eu diria, o que há de errado com a m inha m ente? Se aconteceu uma vez, como posso negá-lo? T59: Porque é da natureza hum ana, infelizm ente, negar as experiênci­ as que não são coerentes com a atitude predom inante no m om en­ to. É exatam ente para isso que existe a terapia da atitude. V ocê tem atitudes m uito fortes e qualquer coisa que seja incom patível com essas atitudes prom ove a dissonância cognitiva. Tenho certe­ za de que você já ouviu falar nisso e as pessoas não gostam de ter dissonâncias cognitivas. Assim , jogam fora qualquer coisa que não seja com patível com sua crença predom inante. P59: Entendo.

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T60: Você tem uma crença predominante. Acontece, felizmente, que essa crença predom inante está errada. Não é m aravilhoso? Ter uma cren­ ça predom inante que a faz infeliz e descobrir que está errada! M as vai exigir um bocado de esforço e dem onstrações para m ostrar isso a você, para convencê-la de que a crença está errada. E por quê? P60: N ão sei. T61: Você quer saber por quê? Porque você sem pre a teve. Por quê? A ntes de m ais nada, porque essa crença surgiu num a idade m uito prem atura. N ão vam os entrar na sua infância, mas obviam ente, você fez uma tentativa de suicídio, ou pensou nisso quando era jovem . É um a crença que já estava lá num a idade m uito tenra. Foi im plantada muito a fundo, num a idade m uito prem atura, porque você era dem asiado vulnerável naquela época. E, desde então, quantas vezes foi repetida em sua cabeça? T88: Bem , vam os operacionalizar a coisa. O que quer dizer "N ão vai term inar"? Significa que você nunca irá se sentir bem novam ente em toda sua vida? O u sig n ifica qu e v o cê v ai sen tir um a tristeza ininterrupta, inflexível, inexorável, dia após dia, hora após hora, m inuto após m inuto? Parece-m e que essa é a sua crença. Essa é a hipótese por hora. Bem, vam os testá-la retrospectivam ente. Você teve essa idéia de que "Isso nunca vai term inar". Q uando foi que teve essa idéia? O ntem 9 da manhã? P88: Foi. T89: Ora, isso significa que, se essa hipótese estiver correta, desde a hora em que acordou hoje de m anhã você deveria ter sentido uma tristeza e uma infelicidade interm ináveis, inflexíveis, ininterruptas, inevitáveis, e inexoráveis. P89: Isso não é verdade. T98: Isso é extraordinário! Bem, diga novam ente, para que eu possa me lem brar. P98: Eu disse, “Pare e dê a você m esm a um a chance". T114: Baixou para 15% partindo de 95% e deve lem brar que se trata a dor de m odo estruturado, da m aneira que lhe contei sobre as pes­ soas que se fazem sentir tristes durante um período específico. Tem que ser estruturada. Se você puder estruturar sua dor, ela será algo que irá erguê-la no futuro, e de fato o fará. Mas se você se vir, sim plesm ente, com o sendo vitim ada por essas forças sobre as quais não tem controle... sentir que está sim plesm ente abandonada, em term os das coisas internas e externas... aí se sentirá péssima. E o que tem a fazer é transform ar-se, deixando de ser alguém que se sente desam parada, certo?... E você é a única pessoa que pode fazê-lo...

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N ão posso torná-la forte c independente... Posso mostrar-lhe o cami­ nho, m as se você conseguir, não será por haver tirado nada de mim: você o terá feito, utilizando os recursos dentro de você m esm a.

Fragm en to Ilu strativo de um a In terv en ção C o m p o rtam en tal12 Fonte de referência: G uilhardi e Queiroz (1997, pp. 79-86). Dados sobre o cliente e a queixa: “ E tem 30 anos, é casada, tem dois filhos: uma garota, D, de 14 anos e um m enino, M , de 12 anos. M ora com A desde os 13 anos, tendo se casado aos 18 anos '7 (p. 49). A queixa inicial trazida pela cliente era a de que queria se separar, mas seu m arido não aceitava. Dentre os m otivos alegados para a separa­ ção, encontram -se o alcoolism o, o controle excessivo e as agressões físicas do marido.

Terapeuta (T2): Já ficou claro (em sessões anteriores ) como lidar com A. Você consegue controlá-lo e sabe conversar com ele quando não está bêbado. E sabe tam bém o que acontece que o leva a beber.

Cliente (E2): É quando ele tem algum problem a. T3: Discutim os bastante com o o seu com portam ento faz com que ele beba e a agrida. Q uando você o am eaça, quando fala coisas que não o agradam.

E3: Eu não estou tão preparada assim. T4: O que falta para ele que faz com que em situações como essas (a do cunhado ) ele reaja dessa forma (bebendo, agredindo )?

E4: Eu, nó. T5: Chegam os num ponto que vocc sabe com o lidar com A. V o cc pre­ cisa, isso sim, resolver se quer ou não quer lidar de form a diferen­ te com ele. Não é se sentindo obrigada. Todas as vezes é a m esm a coisa, você reclama. A gir assim vai desgastá-la e não produzirá bons resultados, nem práticos, nem em ocionais. E5: Tam bém acredito nisso., só que tenho que estar preparada finan­ ceiram ente para tom ar a decisão (separação). Eu andava quieta, m as não dá. A é da idade da pedra e eu não sou. É difícil alguém que tem a mente igual à m inha viver com alguém como ele. Ainda que eu supero muita coisa. T6: E, você vê os com portam entos dele, mas não vê os seus...

E6: M as sou normal. Ele não sai o dia inteiro? Quando foi mesmo? Ah... no domingo. Ele foi pescar com os amigos. Todos têm casa, mulheres, mas Para facilitar a análise posterior, os episódios verbais serão numerados, o que não é feito no original. Do mesmo modo, também serão suprimidos alguns trechos c os comentários do terapeuta em relação a sua intervenção.

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para onde vão? Lá pra minha casa! A já foi falando que era pra eu limpar os peixes. Vê se não é falta de educação? Eu estava assistindo à fita (de vídeo), ele chegou e desligou para assistir ao jogo com os amigos. Ele convidou todos os amigos para ver o jogo e comer lá em casa. Eu não me contive,, falei na frente de todos se A pensava que eu era palhaça, que trabalhava o dia todo e à noite recebia aquele monte de gente para fazer sujeira. Ele que não venha folgar em mim. Existem outras casas, por que não foram para lá? Ele faz coisas contra m im que nenhum marido faz com suas mulheres. T7: Vam os lem brar o que ocorreu. N o sábado você brigou com ele porque ele bebeu, ai ele a ofendeu. Depois ficou sóbrio e tentou se aproxim ar de você... E7: Com m il am ores. T8: Você o agrediu... ficou brava, irritada... O que aconteceu depois? Você ficou trabalhando o tem po todo {em casa). Ele até falou que você só trabalha, não dá atenção para ele. O clima continuou péssi­ mo. N o dia seguinte, ele saiu o dia inteiro. Você trabalhou o domingo todo. É difícil ficar de bom humor... mesmo sem falar você mostra sua irritação. E8: Por incrível que pareça eu estava bem ... T9: Acho difícil. O jeito que está relatando m ostra isso. Você está irri­ tada só de contar... Com o você falou com ele de manhã? E9: Ele disse que ia pescar e eu disse: "vá, m as não traga peixe pra cá!". Ele não gostou do jeito que eu falei. TIO; Você pode até ter razão, mas gostaria que considerasse outras possibilidades. Ele pode estar querendo fazer coisas diferentes, como no dia que ele telefonou querendo fazer surpresa pra você, foi com seu cunhado buscá-la para com er pizza na casa dele. Não fez sujeira na sua casa e, m esm o assim , você reclamou do A. Ele procura fazer algum as coisas com você. Você ficou em casa traba­ lhando a tarde toda, ficou cansada e achou que era provocação dele. P ode ser, m as vam os pensar em alternativas... E10: Eu penso diferente. Ele quer ser o gostosão e leva todo mundo lá. Só que qu em trabalha sou eu. No dia seguinte, eu saio cedo e não dá para deixar a casa com aquele cheiro de peixe. A minha cunhada me disse que rezou para ninguém ir lá. A m inha vizinha tem tem po no dia seguinte para lim par a casa, já que não trabalha. Por que não levaram para casa dela? Ele fez isso porque eu tinha avisado para não irem lá para casa, só para m andar em mim. T i l : Ou será que ele quer fazer coisas com os am igos dele e com você tam bém ?

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T13: E, você não fala, mas sente. E de alguma forma demonstra a irritação que sente. Você já se perguntou se o que sente é causado pelas atitu­ des dele ou por outras razões? Você não estaria usando A com o o responsável por outras frustrações suas? E13: Q uando A chegou, foi aquela briga, queria que eu falasse o seu (da terapeuta) telefone. Ele fica desconfiado. Eu não vou dar. Q ualquer dia você recebe um telefonem a dele e será tarde da noite com o sem ­ pre. Você vai ver quem ele é. Ele quer ligar porque acha que eu minto. T14: F, nós já discutim os isso. Ele faz essas coisas porque está inseguro. E o que você faz para isso acontecer? E14: Eu não sei, ele tem ciúm e até do m eu sorriso. T15: Por que A tem ciúmes do seu sorriso? Será que é por que sabe que você sorri para todos, exceto para ele? Por que você é carinhosa, atenciosa com filhos, sobrinhos, irm ãos? E com ele, o que você faz? T18: A cho que ele gosta de você, é carente e quer carinho e atenção. Ele não é obsessivo. F., m e parece que você não sente o m esm o por ele. Não sentindo, não pode dar espontaneamente. Você precisa respon­ der para você mesm a: por que de fato fica com A? E por que ficando com ele tom a as coisas m ais difíceis? Você o pune por todos os atos dele, como você própria diz, mas me parece que há mais coisas envol­ vidas na situação: você tam bém o pune quando ele a trata bem. Ape­ nas m uda a form a de punição: você o despreza, trata bem os outros, deixando claro que não o trata bem. E18; Eu tenho pena dele. T27: Então a situação é essa: vocè agindo assim ele ficará cada vez pior (icontrolador, agressivo). Você sabe. Você precisa pensar o que quer, se quer viver em paz. E27: Eu estou tentando, m as ele não colabora. T28: Espera aí, E. Você está agindo de m aneira que a situação piora e você sabe. Você sabe o que fazer se quiser viver em paz. E assim que ele e você funcionam . Você deve pensar no que você quer, daqui para frente. Se para você não é bom viver com ele, vamos ver o que você quer fazer da sua vida. E28: Sem pre acontece algum a coisa. Eu não me conform o com o al­ guém vive com outra pessoa assim. Ele não aceita, quer que eu fique em casa, faça o alm oço no horário que ele quer. T31; Então, essa é a realidade. Você pode até tentar, mas não faz ou não consegue e isso traz conseqüências em casa. E31: Eu não estou m ais aguentando e vou bater. A vai sair perdendo. Eu estou disposta. Vai ser a decisão final, porque se ele apanhar de mim, será terrível para ele. T33: Bom, você tem duas alternativas. Você está querendo enfrentá-lo e sabe no que vai dar: briga e confusão. E opção sua. Você pode tom ar

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a situação menos ruim se quiser. Eu já falei no começo da sessão como você é aversiva e pune muito A. Ele reage a isso e fica agressivo. A já falou, quando vocês estavam numa boa, o quanto gosta e quer ficar com você, "no seu colo". A já disse que vocês conseguem o que quiserem dele, se o tratarem bem, com atenção e carinho. Você lem­ bra? Você precisa ser mais flexível nas situações, se sua opção for viver melhor com ele. A decisão é sua. T35: Talvez ele nunca entenda. Mas você pode pensar em outra alterna­ tiva. Analisando as verbalizações dos terapeutas cognitivo e comportamental, construiu-se uma lista de sete categorias. A tabela abai­ xo mostra as categorias, o número das respectivas verbalizações do terapeuta e a freqüência de cada categoria.

Tabela 5: Categorias e freqüência de verbalizações de terapeutas cognitivo e comportamental. Além da não equivalência dos fragmentos no que se refere à natureza do problema, a etapa do processo terapêutico em que as ses­ sões ocorreram, dentre outros, os fragmentos também não são equiva­ lentes para efeito de comparação de freqüências de tipos de verbalização, 1SNesta categoria, foram incluídas as verbalizações em que o terapeuta fazia uso explícito de um prin­ cípio comportamental (elogio após o relato de algo considerado positivo, por exemplo) ou usava algum termo técnico.

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um a vez que correspondem a intervalos diferenciados de tempo de uma sessão. D este m odo, os dados quantitativos da Tabela 5 podem apenas ser tom ad os com o indicativos da freqüência relativa dos tipos de verbalização. Isto, porém, não invalida a tentativa dc traçar característi­ cas definidoras de um tipo e outro de intervenção, a partir de um a aná­ lise qualitativa dos fragm entos de sessões. Um primeiro dado relevante que aponta para diferenças entre a TA C e a TC consiste nas verbalizações sobre eventos privados. As falas do terapeuta analítico-com portam entaí (freqüentes, ao contrário do que m uitas vezes se afirma sobre o m odelo de intervenção da TAC) referiam -se aos sentim entos e aos pensam entos da cliente e do m arido. Já no caso do terapeuta cognitivo, seu foco estava nos sentim entos, pen­ sam entos e crenças da cliente em particular. A lém disto, sem pre que o terapeuta analítico-comportamentaí falava de sentimentos e pensam en­ tos, o fazia enfocando sentim entos da cliente e de seu marido, relacíonando-os com situações externas; quando falava em pensam ento, dava idéia de que a cliente precisava analisar a situação na qual estava inserida (exem plo: "V ocê deve pensar no que você quer ..." - T28). Já o terapeuta cognitivo fazia perguntas sobre o que a cliente sentia em algu­ m as situações e falava de crenças e perisamentos com o algo interno que precisa ser m odificado (por exemplo: "V ocê tem um a crença predom i­ nante. Acontece, felizm ente, que essa crença predom inante está errada. Não é m aravilhoso? Ter uma crença predom inante que a faz infeliz c descobrir que está errada! M as vai exigir um bocado de esforço e de­ m onstrações para m ostrar isso a você, para convencê-la de que a crença está errada" - T 6 0 ; "E uma crença que já estava lá numa idade m uito tenra" - T 61). Um a segunda distinção sugerida pela análise dos fragm entos diz respeito ao fato de o terapeuta com portam ental buscar identificar variáveis externas (eventos antecedentes e conseqüentes) relacionadas aos com portam entos da cliente e das pessoas envolvidas em sua queixa; enquanto o terapeuta cognitivo em nenhum momento fez referência àque­ las variáveis. Outra diferença observada está no foco de mudança. Em todos os m om entos que o terapeuta cognitivo abordou a necessidade de m u­ dança, fazia-o referindo-se basicam ente a m udanças internas (idéias, pensam ento, crenças); já o terapeuta com portam ental sugeria m udan­ ças com porta m entais. Isto, por sua vez, aponta para o fato de que, en­ quanto o terapeuta analítico-com portam entaí propõe diretam ente a m udança com portam ental, o cognitivo pressupõe que a m udança do com portam ento ocorra indiretamente, já que é a mudança cognitiva que leva à m udança com portamental.

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Por fim, relacionado com as distinções supracitadas, pode-se dizer que a ênfase na condução do processo terapêutico cognitivo, tanto quando o terapeuta busca inform ações sobre a situação atual do cliente como quando visa intervir, está em eventos privados, mais precisam ente nas crenças do cliente. C ontrariam ente, no processo de intervenção com portam ental, a ênfase recai no com portam ento público do cliente e das pessoas que fazem parte de seu ambiente. Como conseqüência, podese dizer, ainda, que o foco de intervenção no caso da TC tem uma dimen­ são m ais individual; por outro lado, na intervenção com portam ental, a análise envolve não apenas o próprio cliente, mas tam bém as situações am bientais (incluindo pessoas significativas) envolvidas na queixa. Apesar das diferenças apontadas, os fragm entos ilustrativos das sessões cognitiva e com portam ental tam bém possibilitam identi­ ficar aspectos sem elhantes na condução das sessões da TA C e da TC. A primeira é que, tanto o terapeuta com portam ental quanto o cognitivo fazem referência a eventos p ú blicos (com portam entos e situações am bientais externas) e privados. As dem ais sem elhanças foram des­ critas pelo próprio Beck (1970), em um artigo intitulado Terapia cognitiva: natureza e relação com a terapia do comportamento, e são as seguintes: tanto a intervenção cognitiva quanto a a na lítico-com portam ental estão volta­ das para a resolução de problem as específicos, são diretivas, enfatizam o tempo presente e discutem explicitam ente com o cliente as hipóteses para a origem e a m anutenção dos problem as. Concluindo, a análise dos fragm entos das sessões com por­ tam ental e cognitiva leva a cinco observações principais: 1. TAC e TC apresentam vários aspectos semelhantes no que se refere à condução da sessão terapêutica; 2. Acredita-se que existam características específicas das intervenções comportamental e cognitiva que perm itam fazer a distinção entre um tipo de intervenção e outro; 3. Podem ser consideradas com o características definidoras da TAC o foco de intervenção sobre o com portam ento público do cliente c das pessoas pertencentes ao seu am biente (intervenção externa lista) e uso de análise funcional; 4. Possivelm ente, a característica definidora da TC consiste em tomar com o foco de intervenção sentim entos, pensam entos e crenças do cliente, considerando-os com o eventos internos que possuem status c a u s a l q u a n to a o s c o m p o rta m e n to s p ú b lic o s (in te rv e n ç ã o internalista), ainda que as m udanças, nos últimos, sejam a base a partir da qual se afirm e a m udança cognitiva;

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5) As intervenções terapêuticas com portam ental e cognitiva exam ina­ das orientam -se pelos pressupostos do Behaviorism o Radicai e do Cognitivismo, respectivamente. Concluídas as considerações acerca das sem elhanças e dis­ tinções entre o processo terapêutico analítico-com portam ental e o cognitivo, no próxim o capítulo será discutido o próprio m ovim ento integracionista entre Behaviorism o e Cognitivismo.

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VI C a r a c t e r i z a ç ã o , H ip ó t e s e s e I m p l ic a ç õ e s d a T e n d ê n c ia I n t e g r a c io n is t a n a T e r a p ia A n a l ít ic o C o m p o r t a m e n t a l e n a T e r a p ia C o g n it iv a

No capítulo anterior, foram confrontados os Behaviorism os de Tolm an e Skinner coni os princípios norteadores da TC. Foram com ­ parados, também, os processos terapêuticos da TAC e da TC através da análise de fragm entos de sessões terapêuticas. Contudo, as informações abordadas, apesar de terem levado a algum as conclusões im portantes para a discussão do m ovim ento dc integração entre Behaviorism o e Cognitivism o, não se m ostraram suficientes para a discussão de um conjunto de questões pertinentes a este debate. Afinal, o que explica o integracionism o entre as duas proposi­ ções no contexto clínico? O que tom a o m ovim ento de integração cres­ cente na atualidade, se o Behaviorism o contem porâneo não é represen­ tado pelas proposições de W atson, Tolm an e FIull? Quais as im plica­ ções que a suposta integração entre Behaviorism o e Cognitivism o, na p rática clínica,, traz para a co m u n id ad e de terap eu tas an alítico comportamentais? Sendo assim , este capítulo tem com o objetivo caracterizar o m ovim ento integracionista entre Behaviorism o e Cognitivism o, levan­ tar algumas hipóteses para o m ovim ento ter iniciado no contexto clí­ nico e m anter-se crescente no cenário atual e, ainda, levantar im plica­ ções que a tendência de integração possa trazer para a com unidade de terapeutas analítico-com portam entais.

Caracterização do M ovim ento de Integração O m ovim ento de integração, entre psicoterapias, data da déca­ da de 30, com a tentativa de m esclar princípios com portam entais e psi-

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canalíticos (G oldfriend, 1982). Já as tentativas de integração entre B ehavjorism o e Cognitivism o tiveram com o m arco a década de 70 (Craighead e cols., 1994). Segundo H aw kins e Forsyth (1997a; 1997b), Jacobson (1987), Kerbauy (1983) e M ahoney (1977), o m ovim ento de integração entre Behaviorism o e Cognitivismo foi iniciado por terapeutas. Todavia, não se sabe ao certo qual grupo deu início à tentativa de integração; se behavioristas ou cognitivistas. Considerando que, antes m esm o da década de 60, Ellis já havia fundado a Terapia Racional Em otiva Com portam ental, pode-se dizer que foram os cognitivistas que deram o passo inicial para a integração. Por outro lado, grande parte da literatura analisada sus­ tenta que os terapeutas com portam entais14 passaram a aceitar o m odelo de intervenção cogniti vista, j untamente com seus pressupostos teóricos. A lgum as inform ações sobre esta proposição serão destacadas a seguir. Ja c o b s o n (1 9 8 7 ) a rg u m e n ta q u e os te r a p e u ta s com portam entais com eçaram a aceitar a TC por ocasião do desenvol­ vim ento de intervenções voltadas para o tratam ento da depressão em clientes de consultórios, e sustenta qu^ foi a Terapia C om portam ental que incorporou a teoria e a TC em seu m odelo terapêutico. A lém de Jacobson (1987), Eifert e Plaud (1993), Eifert, Forsyth e Schauss (1993), Poppen (1989), dentre outros, sustentam que foram os terapeu tas com portam entais que incorporaram as explicações e os tratam entos cognitivos. Outro dado relevante foi aquele levantado no início do livro de que, na Associação para o Avanço da Terapia do C om porta­ m e n to , q u a se 70% dos m e m b ro s ro tu la ra m -s e c o g n itiv o com portam entais (Craighead e cols., 1994). Diante deste impasse, seria necessária uma análise mais am pla, incluindo outros m odelos de intervenção denom inados de cognitivo-comportamental, como, por exemplo, o de Bandura e textos publicados em periódicos representativos de discussões cognitivistas. Se for admitido que foram os terapeutas com portam entais que bu scaram a in teg ração com os m od elos cog nitivistas, então, colocam o-nos diante de outra questão polêm ica: qual categoria de terapeutas com portam entais? Behavioristas clássicos e radicais ou apenas os clássicos? Sem elhante à problem ática anterior, existem ar­ gum entos para defender tanto uma quanto outra proposição. Talvez a integração tenha se dado apenas entre aqueles terapeutas vinculados ao Behaviorismo Clássico, por dois m otivos. O primeiro, pelo fato de a tendência dominante, nos anos iniciais da Tera­ 14Neste capitulo, será usada a denominação Terapia Comportamental para manter o termo do origi­ nei], porém leia-se TAC.

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pia Comportamental, ter sido aquela baseada nos princípios do condicio­ namento clássico (Greenspoon e Brownstein, 1967), e o segundo, em fun­ ção de poucos terapeutas terem tido treino em intervenção de caráter Behaviorista Radical (Hayes e Hayes, 1992). Para Zettle e Hayes (1982), poucos terapeutas tiveram treino baseado na filosofia behaviorista ra­ dical, em função de a tradição histórica da Terapia do Com portam ento estar voltada para um m odelo de intervenção específico para pacientes " severam ente com prom etidos" e não para o modelo verbal de atuação no contexto de consultório. Lem bre-se tam bém que, diferentemente dos p re s s u p o s to s B e h a v io ris ta s R a d ic a is, a lg u n s p re s su p o sto s do Bchaviorism o Clássico são compatíveis com os da teoria cognitivista. Pode-se supor que a integração com os cogni ti vistas tam ­ bém foi bu scad a por terapeutas com portam entais de orientação radi­ cal, uma vez que esta categoria de terapeutas tem pouca fam iliarida­ de (Hayes, 1987), além da dificuldade em lidar com o Behaviorism o Radical (FaÍcone, 1993; Zettle e H ayes, 1982)15. A lém disso, Eifert e Plaud (1993) e Eifert e cols. (1993) discu­ tem as insatisfações dos terapeutas com portam entais com os m ode­ los de intervenção baseados nos condicionam entos reflexo e operante, argum entando que as lim itações destes levaram os terapeutas a adotar os m o d e lo s co g n itiv is ta s . Na co n ce p ç ã o dos a u to re s, tan to os behavioristas clássicos quanto os radicais que atuavam na clínica esta­ vam insatisfeitos com os sistemas behavioristas. Isto leva à conclusão de que am bas as ciasses de terapeutas (clássicos e radicais) aderiram às explicações e intervenções cognitivistas. U m questionam ento que se origina neste contexto é quem são de fato os terapeutas que se intitulam cognitivo-com portam entais? São os que inicialm ente eram com portam entais ou são os que se dizi­ am cognitivos? Para Bergin e Garfiend (Conform e citado por Sheldon, 1995), a m aioria das pessoas que costum ava st- considerar terapeutas co m p o rta m en ta is agora id en tifica m -se como co g n itiv o comportamentais. Além disso, a maioria das pessoas que se conside­ ravam praticantes estritamente cognitivos agora estão também dese­ jando levar o rótulo de cognitivo-comportamental (p.xii).

A re s p o sta se ria , en tã o , q u e os te ra p e u ta s c o g n itiv o com portam entais não são, apenas, os que se diziam comportamentais, mas os que se denom inavam cognitivistas. No entanto, se os terapeutas comportamentais estavam insatisfeitos com o Behaviorismo, por que man­ tiveram o rótulo comportamental? Ou melhor, por que não aderiram sim­ plesm ente às teorias cognitivistas, ao invés de buscarem integração? E os Atualmente, esta situação está se modificando e cada vez mais observa-se que os clínicos estão se aproximando do referencial Behaviorista Radical.

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c o g n itiv is ta s ? C o n sid era n d o que tam b ém v ia m as e x p lic a ç õ e s com portamentais como limitadas (Moore, 1995a; 1996; Shinohara, 1997), p o r qu e in clu íram o a d jetiv o co m p o rtam en tal? A p esar de estes questionam entos serem relevantes, não foi encontrada na literatura ne­ nhum a discussão explícita sobre o assunto. Deste modo, as respostas a serem dadas são hipóteses formuladas pela própria autora. No caso dos terapeutas com portamentais, uma hipótese seria a de que m anter o rótulo com portamental não os afastaria por com pleto da comunidade científica da área e nem seriam identificados com o total­ m ente intem alistas. Além do mais, dizer que algo é lim itado, difere de dizer que é inútil. Ou seja, é provável que os terapeutas comportamentais tenham continuado a usar o que funcionava (afinal, m uitos experim en­ tos com provam a eficácia da aplicação de princípios com portam entais) e recorriam às teorias e técnicas cognitivistas quando julgavam que as com portam entais não eram adequadas por algum a razão. D e form a sem elh an te, pode-se su p o r que os terap eu tas cognitivistas introduziram o rótulo com portam ental tam bém por con­ siderarem que, em determ inadas ocasiões, os princípios e técnicas com portam entais eram úteis e para tçm a r claro que não se tratava de um m odelo estritam ente cognitivo. A proposta do m ovim ento integracionista, como sugere a análise da literatura (Craighead e cols, 1994; Eifert e Plaud, 1993; H ayes e Hayes, 1992; Poppen, 1989), parece defender a integração entre p rin ­ cípios e técnicas cognitivistas e com portamentais. Integrar significa unir, juntar e, neste sentido, uma integração só é possível quando existe com patibilidade entre o que se pretende unir. Deste modo, com o já foi discutido anteriorm ente, as análises feita s aqui levam a o b serv ar que só p o d erá (ou p od eria) ex istir integração entre Behaviorism o e Cognitivism o se fossem consid era­ dos certos aspectos do Behaviorism o Clássico e do N eobehaviorism o M ediacional. Porém, com o o Behaviorism o contem porâneo não é re­ presentado pelas proposições daqueles behaviorism os, presume-se que existam duas possibilidades distintas de caracterizar o m ovim ento integracionista. Tais possibilidades colocam em questão se o que vem sendo cham ado de m ovim ento de integração consiste, de fato, em uma integração. Tendo em vista a argum entação anterior de que a proposta do m ovim ento integracionista sugere a união de princípios e técnicas cognitivas e com portam entais, note a afirm ação de Ellis (1978) de que a Terapia Racional Em otiva C om portam ental "fa z uso de m étodos com portam entais (...) tais com o exercícios-tarefa para realizar em casa, treinam ento de afirmação e m odificação de idéias irracionais pelos m é­ todos de condicionam ento operante ..." (p.288).

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N e sta c ita ç ã o , E llis a firm a u s a r u m a "m e to d o lo g ia com portam ental" e não os seus princípios. Porém , por m ais que se adm ita a possibilidade de utilizar técnicas de orientações teóricas diferentes, pois o que im porta é a form a de análise dos dados, em algum as circunstâncias este argum ento não se sustenta. Por exemplo, com o é possível m odificar idéias irracionais através de m étodos operantes sem aderir aos princípios do condicionam ento operante? Ou, de que forma é realizado o treino assertivo? Não são reforçados difercncialm ente os comportamentos dos clientes durante o treino? Ou será que, no contexto terapêutico, em algum as ocasiões, as distinções entre behavioristas e cognitivistas restringem -se às diferenças de linguagem ? São estes tip o s de q u estio n a m en to s que, de um a ótica Behaviorista Radical, fazem aderir à proposição de que as tentativas de integração buscam fazer uso tanto de técnicas quanto de princípios das orientações behavioristas e cognitivistas, sem atentar para as incom pa­ tibilidades das orientações, o que caracterizaria um ecletism o técnico e teórico e não um a integração. Lazarus (1967) define ecletism o técnico como o uso de técnicas originadas de m odelos de intervenções distintas, sem a necessária incorporação de seus fundam entos teóricos. A decisão de usar ou não uma técnica vinda de um a orientação teórica diferente deve ser guiada pelo critério em pírico e não teórico. Isto é, o critério encontra-se na utili­ dade prática da técnica. Para o autor, enquanto o ecletism o técnico é justificável, o ecletism o teórico não é recomendável, pois "envolve inevitdvelmente concepções divergentes e contraditórias" (p. 415). G uilhardi (1988; 1995) já havia com entado que terapeutas com portam entais estavam praticando os ecletism os técnico e teórico. Em 1988, o autor afirm a que /ytem havido uma tendência a se fazer, em nome de Am pliar7a terapia comportamental, um ecletismo teórico. É claro que um ecletism o teórico leva a um ecletism o de ação" (p. 315). Alguns anos m ais tarde, G uilhardi (1995) m antém sua posição e argu­ menta: Tem havido, infelizmente, entre os terapeutas comportamentais, uma crescente preocupação com temas ecléticos, mesclando linguagens, conceitos e, até mesmo, objetivos de diferentes linhas teóricas, in­ flando o arsenal de recursos teóricos e práticos ao qual recorrem os terapeutas. Pode-se argum entar que a aproximação de terapeutas de diferentes orientações teóricas com práticas clínicas diversas é um progresso, pois favorece a m útua influência. Essa prática tem um apelo extrem am ente atraente para os alunos de psicologia, e parece ser a panacéiapara as diversas peculiaridades da disciplina psicológica. Esta tendência, porém, é perigosa, equivocada e deve ser evitada (p. 258).

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A segu nd a p o ssib ilid a d e de ca ra c te riz a r o m o v im en to integracionista entre behavioristas e cognitivistas no contexto clínico, considerando a filosofia Behaviorista Radical, consistc em tratá-lo ape­ nas com o um ecletismo técnico. Isto porque observou-se claramente que no modelo de intervenção da TC, rotulado de cognitivo-comportamental, os com portam entos são interpretados com o fenôm enos m ediados por eventos cognitivos e, como conseqüência, os focos de análise e interven­ ção estão voltados para a m udança daqueles eventos e não necessaria­ m ente para os com portamentos. A lém disso, partindo da concepção de que TC e Terapia C ognitivo-Com portam ental podem ser concebidas como equivalentes (Forsythe cols., 1996, M ahoney, 1977), supõe-se que as cham adas terapias cognitivo-com portam entais, pelo m enos o m od e­ lo aqui analisado, é mais propriamente uma intervenção do tipo cognitiva pois, apesar de usar técnicas com portam entais, possui como referencial teórico as proposições cognitivistas. Em bora esta seja uma possibilida­ de, ela n ão p arece ser a caracterização m ais ad equ ad a, já qu e é questionável que se possa praticar um ecletismo meramente técnico. Como destacado anteriormente, em determ inados m om entos, é difícil susten­ tar que algum as técnicas sejam usada^ sem a adoção, m esm o que de form a lim itada, dos princípios nos quais se fundam entam . Em outras palavras, assim como G uilhardi (1988) afirmou que o ecletism o teórico leva ao ecletism o de ação, pode-se dizer que, em determ inadas circuns­ tâncias, o eclètismo de ação pode levar a um ecletism o teórico. Isto suge­ re que a adoção de um tipo de ecletism o acaba por levar a adoção do outro, havendo dificuldade em separá-los. Em linhas gerais, foi visto, então, que o m ovim ento de integração entre as orientações behavioristas e cognitivistas foi iniciado no contexto clínico, sendo que não há certeza se foram os terapeutas com portam entais ou os cognitivistas que deram início ao m ovim ento, em bora a literatura analisada sugira que foram os prim eiros. P ressu ­ pondo que a integração entre Behaviorismo e Cognitivismo esteja lim ita­ da aos Behaviorism os Clássico e M ediacional, considera-se que o m ovi­ m ento atual de integração entre a Terapia Com portam ental e as Terapi­ as C ognitivas seja m elhor caracterizado com o um ecletism o técnico e teórico, m ais do que propriam ente uma integração. A seguir, serão levantadas algumas hipóteses para o m ovim en­ to integracionista entre as orientações behavioristas e cognitivistas na área clínica e, ainda, algumas implicações de a tendência integracionista permanecer forte no contexto atual.

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H ipóteses e Im plicações da Tendência Integracionista

O início do m ovim ento integracionista entre as orien behavioristas e cognitivistas no contexto clínico, pode ser explicado atra­ vés de cinco hipóteses. Destas, as três primeiras foram form uladas ao longo da construção do referencial teórico e as dem ais foram extraídas da literatura que discute o tema. Cada uma delas será descrita a seguir. A prim eira hipótese está ligada ao fato de a “revolução cognitiva" ter ocorrido em um momento em que a TAC ainda estava em fase de consolidação. C om o afirm am Barcellos e Haydu (1995), a Tera­ pia Comporta mental "constituiu-se em um movim ento formal somente na década de 60..." (p. 43). N este sentido, pode-se dizer que as bases da intervenção com portam ental não estavam suficientem ente firm es para suportar as críticas dirigidas a este m odelo de intervenção. Dentre as críticas à intervenção comportamental destacam-se a de que era tecnicista e que não lidava satisfatoriam ente com eventos com plexos, com o as cognições (Barcellos e H aydu, 1995). Além disso, tam bém na década de 60, a generalidade dos princípios comportamentais foi fortem ente ques­ tionada por teóricos cognitivistas. Nas palavras de Hifert e cols. (1993) "n em o condicionam ento clássico nem o operante estavam desenvolvidos e avançados suficiente­ m ente no tem po crítico dos m eados do ano de 1970 quando as teorias e os tratam entos cognitivos ganharam espaço na área da terapia do com ­ portam ento" (p. 108). A segunda hipótese para a integração entre behavioristas e cognitivistas refere-se à TA C estar originalm ente ligada a diferentes posições teóricas (Barcellos e Haydu, 1995). A "evolução [da TAC] ao longo dos anos é acom panhada por inúm eras discussões e divergên­ cias quanto aos princípios teóricos e m etodológicos que a caracteri­ zam " (Barcellos e H aydu, 1995, p.43). Isto sugere que a história da TA C foi m arcada - e ainda é - pela ausência de um grupo teoricam en­ te coeso de terapeutas, o que se evidencia, por exem plo, quando se observa que na própria década de 60, já existiam diversas definições de Terapia Comportamental. Segund o Franks (1996), dentre os que se d enom inam de terapeutas com portamentais, estão aqueles que consideram a teoria do traço altamente compatíveis com uma posição comportamental e aqueles que mantêm um ponto de vista diametralmente oposto (...) Igualmente, estão aqueles que se apóiam notavelmente em fatores fisiológicos, constitucionais e genéticos, e aqueles que pensam que essas determinações não existem, ou são,

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quando muito , irrelevantes. Também encontramos aqueles para os quais o marco de referência é o compor tamentalismo radical, rechaçando totalmente qualquer variável que intervenha entre o estímulo e a res­ posta, e aqueles cuja única fid elid a d e se lim ita â metodologia comportamental. Para outros, os princípios do condicionamento clássi­ co e o do condicionamento operante, com a possível incorporação da modelagem, são suficientes , enquanto outros pensam que o condicio­ namento é só uma parte do film e (p. 9).

0> A terceira hipótese sugere que a integraçao entre as orientações cognitivistas e com portamentais no contexto clínico tenha ocorrido por­ que é favorável à m anutenção da tradição intem alista na Psicologia; o que se mostra compatível com uma afirmação anterior de que os modelos rotu lad os de cognitivo-com portam ental são na realidade m odelos cognitivistas. Esta hipótese será retomada posteriormente, quando se pas­ sar a discutir a manutenção da tendência íntegracionista ainda hoje. A q u a rta h ip ó te se p ro p õ e qu e a in teg ra ça o co g n itiv o com portamental na prática clínica ocorreu em função dos "princípios comportamentais mais conhecidos [terem surgido] de experimentos com animais, que [se supõe] diferentes de h u m an o s..." (Falcorie, 1993, p.4). A lguns anos antes Hayes (1^87) já defendia esta hipótese ao argum entar que muitos princípios comportamentais são desenvolvidos a partir de orga­ nismos não verbais. Há boas razões para acreditar que os organismos verbais são muito diferentes dos não verbais. F.sta é uma razão pela qual muitos terapeutas comportamentais se "tornaram cognitivistas". Na minha opinião este é um problema certo, mas a solução errada (pp. H27-328).

Segundo Eifert e Plaud (1993), os terapeutas com portamentais consideraram os modelos dc condicionam ento com o m ecanicistas e irrelevantes para a área clínica e, como conseqüência,, voltaram-se para as explicações e tratamentos cognitivos porque eles eram dirigidos para a experiência humana. Com o quinta hipótese, é possível que a integração tenha ocor­ rido devido as pesquisas daquela época não darem o suporte necessário para os terapeutas com portam entais explicarem os fenôm enos clínicos (H aw kins e Forsyth, 1997b). Quando o terapeuta m udou do contexto institucional para o de consultório, pode-se dizer que seu principal ins­ trumento de intervenção passou a ser o comportamento verbal (Guedes, 1993; Sant'A nna, 1994). Eifert e cols. (1993), fundam entados na ausência de pesquièas sobre com portam ento verbal, enfatizaram que "o s behavioristas rad i­ cais falharam em explicar os processos da linguagem e do pensam ento em term os úteis para os clínicos" (p. 108). N a verdade, as pesquisas

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nesta área são bastante recentes, sendo pertinente argum entar que, ain­ da hoje, os resultados das pesquisas em com portam ento verbal ainda estão sendo incorporados à intervenção com portam ental. Eifert e Plaud (1993) e Eifert e cols. (1993) tam bém argumentam que a afirmação de Skinner (1974) de que as em oções são epifenômenos, levou muitos clínicos a ignorarem "as teorias operantes e vê-las como irrelevantes para a prática clínica deles" (Eifert e co ls.,1993, p. 108). A argum entação dos autores mostra quanto os terapeutas comporta mentais realm ente possuíam pouca fam iliaridade com as pro­ posições do Behaviorismo Radical. De fato, Skinner (1974) trata do mun­ do privado como produto colateral; entretanto, também ressalta a impor­ tância daquele m undo como parte do que afeta o comportamento. Q uanto à m anutenção da tendência integracionista entre behavioristas e cognitivistas, pode-se explicá-la, de acordo com a pers­ pectiva Behaviorista Radical, através de três hipóteses: a primeira hipó­ tese está baseada na argumentação de Jacobson (1987) de que "ecletism o e integracionism o têm se tornado uma tendência crescente dentro da com unidade de psicoterapeutas... (p. 2)." A liipótese levantada, então, é que a m anutenção do m ovim ento integracionista, entre behavioristas e cognitivistas, possa ser explicada como parte de um Z eitgeist, ou mesmo de um modismo. A segunda hipótese é sustentada pela proposição de Hawkins e Forsyth (1997b) de que muitos terapeutas com portamentais possuem pouca familiaridade com. a Análise do Comportamento - argum enta­ ção semelhante à de Hayes (1987), usada anteriormente para explicar a integração entre terapeutas com portam entais e cognitivistas. Deste modo, talvez a manutenção se explique pela falta de fam iliaridade com a ciência do comportamento, em função da dificuldade que se terá para identificar as incompatibilidades entre uma e outra orientação. A terceira hipótese sustenta, não apenas que a integração cognitdvo-comportarnental favorece a continuação da tradição intemalista na Psicologia, m as que a tradição intem alista, tam bém na form a da integração entre behavioristas e cognitivistas, fa vorece a manutenção dos problemas humanos. A s teorias cognitivistas e as cognitivo-com portam entais estão mais próximas das idéias do senso comum (Figueiredo e Coutinho, 1988). Logo, os clientes podem se sentir mais confortáveis com um modelo cognitivo do que com um comportamental Uma abordagem que é congruente com o ponto de vista de seus clientes pode ser a maneira mais produ­ tiva de proceder; dado que o objetivo da terapia é assistir a uma pessoa com um problema (Lee, 1992, p .263).

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Em outro momento, Lee (1995) retom a esta problem ática e argum enta que uma ciência que enfatiza a análise das cognições tenderá com m aior probabilidade a supervalorizar com o foco de intervenção m udanças nas cognições em detrim ento da m odificação de circunstân­ cias am bientais. "T al tendência terá com o um de seus efeitos a proteção do status quo, e a real desconsideração das influências cultural e política sobre o com portam ento" (p.262). E acrescenta, Uma aceitação implícita do dualismo leva â proposição de uma "pessoa" abstrata que existe independentemente de um contexto físico, social, histórico ou cultural e possui “cognições” que também exis­ tem independentemente do mundo material. Assim , o modelo dualista serve para reduzir o nosso objeto de estudo de uma atividade inteiram ente humana para o estudo do subjetivo e individual (Lee, 1995, p .262).

Lee, em 1995, con clu iu sua an álise con sid erand o qu e os cognitivistas estão inconscientes destas im plicações e desinteressados neste tipo de análise. Nas palavras de Sam pson (1981), "a perspectiva cognitiva na psicologia, em virtude da prim azia dada ao conhecedor individual e aos determ inantes subjetivos do com portam ento ... representa um conjunto de valores e interesses que reproduz a natureza existente da ordem social" (p.730). Em contraposição, um a ciência fundam entada na filosofia behaviorista não é "d esejad a" pela cultura ocidental, exatam ente por estar em desacordo com esta cultura, que é fundam entalm ente individualista e anticientífica (Skinner, 1953/1965; Lopes.. 1994). Com o afirma Holland (1983), O mito dus causas internas e alimentado devido ao reforçamento fo r­ necido a elite e também devido ao papel que ele desempenha na ma­ nutenção do presente sistema. As pessoas que ocupam alta hierar­ quia no poder afirmam que atingiram essa posição elevada devido a w n grande mérito pessoal. Os ricos têm liberdade de usar seus recur­ sos internos, sua vontade, determinação , motivação e inteligência de form a a alcançarem seu alto nível. A s causas internas servem como justificativa para aqueles que tiram proveito da desigualdade. A os pobres é reservado um conjunto especial de causas internas. Dizse que eles são preguiçosos , sem ambição, sem talento ... [Enfim ], é especialmente importante "para os que estão por cima", convencer aos que estão em posições inferiores que eles próprios são os culpados de suas dificuldades (p.69).

O Behaviorism o Radical, com o já fo i visto, defende posição oposta à do Cognitivism o. Para Skinner (1953/1965), as cau­ sas n ão estã o no in d iv íd u o , m as fo ra d ele; estão nas situ a ç õ e s am bientais externas.

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É provável que a orientação cognitivo-comportamental esteja se difundindo e ganhando cada vez m ais adeptos em função exatam ente das im plicações que o rótulo comportamental "p u ro " carrega consigo. fComo afirma o próprio Skinner (1974), "o Behaviorism o Radical exige, /provavelmente, a mais dramática m udança jam ais proposta em nossa forma de pensar acerca do homem. É quase, literalmente, uma questão de v ira r pelo avesso a ex p licação do co m p o rta m e n to " (p .274). Em contrapartida, ao olhar para o que ocorre no interior dos indivíduos e não para as situações externas a eles, os cognitivistas - e as demais teorias internalistas —podem ser considerados responsáveis pelas falhas em re­ solver os problemas hum anos (Skinner, 1977). D e um ponto de vista cognitivo-com portam ental, certam ente serão outras as hipóteses explicativas para a m anutenção do m ovi­ m ento integracionista. Em particular, há nesta tradição uma ênfase nas lim itações do sistem a teórico skinneriano, que dem andariam no­ vos conceitos, como os derivados das pesquisas sobre as cognições. A pós esta longa exposição de hipóteses, é notório que não há um a e x p lic a ç ã o ú n ica p ara o m o v im e n to d e in te g ra ç ã o en tre Behaviorism o e Cognitivism o na prática clínica, nem para a sua m anu­ tenção no contexto atual. N a verdade, todos os fatores enum erados na­ quelas hipóteses, conjuntam ente, podem ter contribuído para o m ovi­ m ento inicial e a m anutenção da tentativa de integração. Resta agora discutir algum as im plicações da m anutenção da tendência integracionista para a com unidade de terapeutas analítico-com portam entais. Identificam -se três im plicações principais: a prim eira im pli­ cação que o crescim ento da tendência cognitivo-com portam ental pode trazer aos terapeutas analítico-com portam entais consiste em uma dim i­ nuição do número de terapeutas “puramente" comporta menta is ou quem sabe, m ais dram aticam ente, a extinção desta categoria, assim com o se prenunciou a morte do Behaviorismo. C om o segunda im plicação, contrariam ente àqueles que de­ fendem a inclusão de conceitos cognitivos com o um avanço na TAC, considera-se que aqueles conceitos são desnecessários e que acrescen­ tar o a d je tiv o co g n itiv o n a in te rv e n çã o d aq u eles qu e se dizem tera p e u ta s co m p o rtam en tais d e o rien tação b eh av io rista rad ical, descaracteriza a abordagem comportamental, comprometendo sua iden­ tidade (Jacobson, 1997). As duas im plicações, em conjunto, com certeza trarão im pli­ cações para a form ação de terapeutas com portam entais. Estes, muito provavelm ente, terão cada vez m enos fam iliaridade com a filosofia e a

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ciência Behaviorista Radical, ou sim plesm ente não haverá terapeutas form ados com base nesta orientação. As discussões feitas, principalm ente no presente capítulo e no anterior, levaram a 11 considerações principais sobre os lim ites de integração, na prática clínica, das orientações cognitiva e comportamental: 1. A s diferenças e incom patibilidades teóricas entre as orientações Behavioristas Radicais e C ognitivistas não têm sido im pedim entos para a tendência crescente, no contexto clínico atual, de bu scar integrar as duas proposições; 2. Os lim ites de integração Behaviorism o/Cognitivism o encontram se circunscritos ao N eobehaviorism o M ediacional e a certos aspec­ tos do Behaviorism o de W atson, na m edida em que se encontram aspectos semelhantes entre estas m odalidades de behaviorism os e o m odelo de intervenção cogni tivista; f 3. j

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A defesa da com patibilidade, com plem entaridade e/ou integração entre Behaviorism o Radical e Cognitivism o constitui uma incoerência teórica e talvez se explique pela pouca fam iliaridadecom os pressupostos de uma ou outra orientação; T

4. Identificam -se diversos aspectos semelhantes na condução das ses­ sões na TAC e TC, porém, as semelhanças mostram-se insuficientes para justificar a manutenção do m ovim ento de integração entre as duas orientações, pois outros tipos de intervenções terapêuticas tam ­ bém apresentam semelhanças com a intervenção comportamental e, nem por isso, incluíram o rótulo comportamental em suas intervenções; 5. Existem características específicas das intervenções com portamental e cogititiva que pennitem fazer a distinção entre um tipo de interven­ ção e outro; 6. C onsideram -se como características definidoras da TAC o foco de intervenção sobre o com portam ento público e o uso de análise fu n ­ cional (intervenção externalista); 7. Supõe-se com o característica definidora da TC o foco de interven­ çã o s o b r e e s tru tu ra s e c o n te ú d o s c o g n itiv o s (in te r v e n ç ã o intem alista); 8. O cham ado m ovim ento de integração Behaviorismo/ Cognitivism o na prática clínica, considerando os pressupostos do Behaviorism o Radical, parece ser m elhor caracterizado como um ecletismo técnico e teórico; 9. O m ov im en to de in teg ração entre o rien taçõ es b eh av io ristas e cognitivistas pode ser explicado, conjuntam ente, pela fragilidade e lim itação inicial do m odelo de intervenção com portam ental; au­ sência de um grupo de terapeutas teoricamente coeso; dificuldade de

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generalização dos princípios derivados do laboratório com não hu­ m anos para a clínica e por favorecer a m anutenção do internalism o na Psicologia; 10. Pode-se explicar a m anutenção da tendência integracionista com o parte de um 7-eigeist, pela pouca fam iliaridade com a ciência do com portam ento e continuidade do internalism o na Psicologia; 11. Como im plicações da tendência integra cionista destacam -se a dim i­ n uição do núm ero d c terap eu tas com p ortam en tais '"p u ro s"; a descaracterização e a perda de identidade da TAC e, em função disto, o com prom etim ento da form ação de terapeutas analíticocom portam entais, no sentido de que, possivelm ente, terão m enos fam iliaridade com a filosofia e a ciência Behaviorista Radical ou ha­ verá a extinção de terapeutas form ados neste referencial. M esm o diante de várias afirmações, para algum as questões aqui levantadas, não foi possível chegar-se a uma resposta consistente. Tais questões foram as seguintes: 1. Foram realm ente os terapeutas com portam entais que deram início ao m ovim ento de integração? 2. Se foram os terapeutas com portam entais, isto ocorreu por parte tanto de behavioristas radicais quanto de behavioristas clássicos? 3. O que levou, de fato, os terapeutas com portam entais a m anter o adjetivo com portam ental e os cognitivistas acrescentá-lo? 4. Ainda é possível ampliar os limites de integração entre Behaviorismo e Cognitivismo? Estes questionam entos apontam para a necessidade de um m aior aprofundam ento, envolvendo um estudo mais am plo sobretu­ do da literatura cognitivista. A lém das discussões teóricas envolvendo a prática clínica de terapeutas cognitivos e com portamentais, outra questão polêm ica se dá no cam po da efetividade destes dois tipos de intervenção. Neste campo, também se identificam posições opostas - cognitivistas sustentam que é o com ponente cognitivo na intervenção que garante a eficácia do proces­ so terapêutico e comportamentalistas, em contrapartida, sustentam que é o com ponente comportamental. Isto sugere que: Analistas do comportamento não são persuadidos pelos argumentos de Bandura [considerado representante do Cognitivismo], nem por seus dados, e por boas razões. Igualmente, Bandura não é persuadido nem pelos argumentos nem pelos dados deles [analistas do comportamento] — e novamente por boas razões. A s diferentes proposições e objetivos deles levam- a diferentes análises e interpretações, não porque cada lado seja rígido , mas porque cada lado está se comportando consistentemente dado suas posturas filosóficas (Hayes e Wilson, 1995, p. 242).

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Uma análise m inuciosa dos processos terapêuticos cognitivos e com portam entais com o um todo, entretanto, pode levar a m uitas discussões úteis para o debate entre cogni ti vistas e comportamentalistas. O termo processo terapêutico com o um todo significa analisar um n ú ­ m ero m aior de sessões ao longo de todas as etapas da terapia, o que perm itiria, dentre outras, am pliar as categorias de verbalizações do terapeuta e identificar de que form a e com que objetivos as técnicas de intervenção são aplicadas. A pesar das diversas conclusões apontadas, um conjunto dc indagações ainda perm anece, justificando a continuidade de análises dentro desta problem ática.

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F in a l iz a n d o

Dentre as diversas questões levantadas neste livro, u ma particu la rm e n te ain d a m erece a te n çã o - as im p lica çõ e s das te o ria s interna listas que predom inam em nossa cultura. Oliveira (2001) enu­ mera cinco im plicações que são produção do(a): a) individualism o, com seres hum anos supervalorizando o que está acontecendo dentro de si m esm os; b) alienação, ao distanciarem as pessoas das verdadei­ ras causas de seus com portam entos; c) passividade, na m edida em que os indivíduos não respondem às contingências que estão operan­ do em sua vida; d) paralisia, por acreditarem que encontraram as causas de seus com portam entos em seu interior, tendem a não atuar de forma efetiva sobre o m eio e e) doenças decorrentes do individua­ lismo, da alienação e da passividade. D esnecessário continuar argum entando. Parece claro que a proposta behaviorista radical poderia vir a contribuir para a resolução de muitos dos problem as hum anos que, com o passar dos tem pos, vêm se acentuando. Espero continuar Behaviorista Radical e acreditar no poder que o hom em tem, apesar das limitações, de mudar as relações de controle as quais responde! E assim, é com imenso prazer que chego ao fim do livro. Prova­ v elm e n te , se e stiv e sse sob co n tro le de o u tras co n tin g ê n cia s , o envolvim ento com ele seria ainda m aior. Que o seu com portam ento de ler este livro tenha sido positivam ente reforçado e que este lhe possa ser útil em algum momento.

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O texto que compõe este livro reflete as duas condições. E bastante didático no que diz respeito à apresentação dos behaviorismos e de aspectos das terapias analítico-comportamental e cognitivo-comportamental; é na mesma medida polêmico no que concerne às relações entre aqueles modelos de intervenção e, quanto a isso, é nítida a adesão da autora às posições de base analítico-comportamental. / (...)

(...) A obra cumpre pelo menos três objetivos muito positivos: divulga a análise do comportamento e as terapias analítico-comportamental e cognitivo-comportamental com um didatismo que a recomenda como recursojaara , o ensino de novos terapeutas; fomenta uma discussão crítica das iniciativas na direção da integração de modelos diversos de intervenção, sem interditar as possibilidades | de diálogo e colaboração; e, final mente, revela uma nov a autora, encorajando, também, novos membros de nossa comunidade a divulgarem (.) çã. u d ro ih suap o T ry u g elZ an m E

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