Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos

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Alberto Caeiro Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo. Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado. Discurso poético de características oralizantes oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências; Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza) Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito) Características da escrita - Verso livre - Métrica irregular - Pobreza lexical - Adjectivação objectiva - Pontuação lógica - Predomínio da coordenação - Comparações simples - Características orais: vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recursos a perguntas e respostas, reticências - Pouca subordinação - Ausência de preocupações estilísticas estilísticas - Número reduzido de vocábulos e de classes de palavras: pouca adjectivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo o u no gerúndio - Polissíndeto - Frases incorrectas Objectivismo - apagamento do sujeito - atitude antilírica - atenção à “eterna novidade do mundo” - integração e comunhão com a Natureza - poeta deambulatório Sensacionismo - poeta das sensações tal como elas são - poeta do olhar - predomínio das sensações visuais e das auditivas

Anti-metafísico - recusa do pensamento - recusa do mistério - recusa do misticismo Panteísmo Naturalista - tudo é Deus, as coisas são divinas - paganismo - desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual - contradição entre “teoria” e a “prática” Ideologia da poesia de Caeiro - Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea e de impressões visuais, sobretudo - Recusa a introspecção e a subjectividade, sendo poeta do real objectivo. - Caeiro “canta” o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno e não fragmentado. - Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) - Relação de harmonia com a natureza 8poeta da natureza) - Rejeita o pensamento e a linguagem porque alteram a realidade - Inocência e constante novidade das coisas - Mestre de pessoa e dos outros heterónimos - Elimina a dor de pensar de Pessoa - Ele não quer pensar, mas não consegue evitar - Escreve intuitivamente - Para ele a natureza é para usufruir não para pensar - Desejo de despersonificação (de fusão com a natureza) - Valorização das sensações - Preocupação apenas com o presente - é anti-religião - é anti-metafísica - é anti-filosofia

Álvaro de Campos Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no «extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro. Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir. Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a «sensação das coisas como são»: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”. Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é figurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso. Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade. O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra, o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância. Fases Primeira – decadentismo (1914)

Exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações (“Opiário”); o decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia. Com rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens apresenta-se marcado pelo Romantismo e pelo Simbolismo. Tédio, cansaço, necessidade de novas sensações Falta de um sentido para a vida Romantismo e simbolismo Nostalgia Saturação Embriaguez do ópio Horror à vida Realismo satírico Vocabulário precioso e vulgar Imagens Símbolos Estilo confessional brusco Decassílabos agrupados em quadras “Opiário “

Segunda – Futurismo (1914 a 1916)

Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna. Elogio da civilização industrial e da técnica Triunfo da máquina, beleza dos “maquinistas em fúria” Intelectualização das sensações, delírio sensorial Não aristotélica Sado masoquismo Cantar lúcido do mundo moderno Influência de Walt Whitman Vertigem das sensações modernas Volúpia da imaginação Hipertrofia ilimitada do eu Energia explosiva Impulsos inconscientes Verso livre, longo Estilo esfuziante, torrencial Anáforas, exclamações, interjeições, apóstrofes e enumerações Fantasia verbal Volúpia de ser objecto Vítima Dispersão “Ode triunfal”

Terceira fase – pessoal ou intimista (1916 a 1935)

Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sentese vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”). Melancolia Devaneio Cosmopolitismo Cepticismo Dor de pensar Saudades da Infância ou do Irreal Dissolução do eu Conflito entre a realidade e o poeta Cansaço, tédio e abulia Angustia existencial Solidão

Traços da sua poesia Poeta modernista Poeta sensacionista Cultor das sensações sem limite Poeta de verso livre Poeta de angústia existencial e da auto ironia Biografia Nasce em Tavira, em 1890 Estuda engenharia mecânica e naval na Escócia Filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. “Sentir tudo de todas as maneiras” Vanguardista e cosmopolita Único heterónimo que comparticipa da vida extra literária de Fernando Pessoa heterónimo

Comparação entre Alberto Caeiro e Álvaro de Campos: Não é de estranhar que estes dois poetas não tenham muito em comum, uma vez que um é o poeta natural e pacífico, e o outro é o poeta da modernidade, da técnica e é caracterizado por um certa violência e agressividade. No entanto, apesar destes contrastes, têm alguns pontos em comum, considerando a 2ªfase de A. Campos: ambos são poetas solitários, rejeitam a subjectividade da lírica radicional, tentando ser objectivos na observação do real, e neles predominam as sensações visuais. As maiores divergências, a nível temático, verificam-se na concepção do tempo (para Caeiro só existe o presente, para Campos o presente é a concentração de todos os tempos), no objecto da sua poesia Caeiro exulta as qualidades da natureza e Campos, na 2ªfase, exulta as da civilização moderna), e na atitude perante a vida (enquanto Caeiro é feliz, Campos – na 3ªfase – é um homem sem identidade e cansado de viver, pois a vida nunca lhe trouxe nada de bom). A nível formal, apesar de ambos se caracterizarem pela irregularidade estrófica, métrica e rítmica, verifica-se que, enquanto Caeiro utiliza uma linguagem simples e com poucos artifícios, Campos distingue-se pelo recurso a um grande número de figuras de estilo (que tornam a compreensão da mensagem mais difícil), e por uma exuberância que choca evidentemente com a simplicidade e serenidade dos versos do mestre Caeiro.

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