April 29, 2017 | Author: David Fontes | Category: N/A
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Culturas eXtremas: mutações juvenis nos corpos das metrópoles Massimo Canevacci
Massimo Canevacci
Título original
Culture eXtreme: mutazioni giovanili tra i corpi dcllc I11clropoli
Tradução dos subcapftulos "Cllerokee" e "K - ncardcatll c.xpcricncc" Jaime Clasen Prepamção de originais e revisão de provas Daniel SeidI Projeto gráfico e gerência de produção Maria Gahriela Delgado
Culturas eXtremas Mutações juvenis nos corpos das metrópoles
Imagem da capa Manikins-corpse, performance dos Autoconslrulores, Roma, 1996 Imagens p. 6 - Ciberolho; p. 11- Mutoid Waste Company, Roma, Villaggio Globale; p. 12 - Kerosene: Auto-retrato; p. 40 - Mutek; p. 56 - Kerosene: Cal-girl; p. 158 - Mazinga, Roma, 1993: Rave ex Snia Viscosa; p. 187 - Berlim: squatter descansando
CIP-Brasil. Catalogação·na·fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ M369c Canevacci, Massimo, 1942Culturas eXtremas: mutações juvenis nos corpos das metrópoles I Massimo Canevacci; tradução de Alba Olmi. - Rio de Janeiro: DP&A, 2005. 20Dp.; i1.; 14 x 21cm Tradução de: Culture eXtreme: mutazioni giovanili tra i corpi delle metropolL Inclui bibliografia ISBN 85-7490-371-X 1. Juventude urbana -Itália. 2. Itâlia - Usos e costumes. 3. ItáliaCondições sociais - 1994. l. Título. CDD 305.230945 CDU 316.346.32-053.6
Tradução Alba Olmi
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da tradução DP&A editora Ltda.
Proibida a reprodução, total ou parcial, por qualquer
Sumário
IntroduçãolLoop - FFWD
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meio ou processo, seja reprográfico, fotográfico, gráfico, microfilmagem etc. Estas proibições aplicam-se
capitulo I Das contra culturas às culturas intcnninávcis
também às características gráficas e/ou editoriais.
Morte da contracultura, 13 Fim das subculturas, 16 Os jovens entre metrópole, mídia e consumo, 20 Os jovens intermináveis, 28
A violação dos direitos autorais é punível como crime (Código Penal arl. 184 e §§; Lei 6.895/80).
com busca, apreensão e indenizações diversas
Zona em trânsito Do K ao X, 41
13
41
Do extremo ao eXtremo, 45
(Lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais arts. 122, 123, 124 e 126).
capitulo II Excursus sobre as culturas juvenis intermináveis
57
Rewind '4'4,57 Interzonas,60 Mercadorias tatuadas, 62 Fucking Barbies, 65 Fikafutura, 70 Corpos inorgãnieos, 73 Torctta,7S Torazine,81 Rave,90 Fluid Video Crcw, 96 LutherBlissett,100 Anarcociclistas,108 Dceodcr,l12 Link,121 Piratarias de Porta, 124 Squatters,128 Chcrokcc, 130 Brain machinc, 136 Fin*Tcehklan,138 hup://www.kyuzz.orglordanomade, 147 K - near death experienee, 153 TAZ -
capitulo III Conceitos líquidos
159
Aporia, 160 Skullpturc, 162 PolEitics, 163 Diáspora, 164 Mcdiascapc, 171 E-spaec, 165 Nonordcr, 168 Anomia, 170 Amnésia, 173 Liquid days, 176 Flamc-wing, 178 lnconcretc, 180 X-seapc, 181 Loop :e-space .. x-scape: '4'4 ~~, 182
Bibliografia
189
Miscelânea
195
DP&A editora Rua Joaquim Silva, 98 - 2U andar - Lapa CEP 20241-110 - RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL Tel./Fax: (21) 2232-1768
Endereço eletrônico:
[email protected] Sítio: www.dpa.com.br
Impresso no Brasil 2005
IntroduçãolLoop FFWD
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Este ensaio nasce de uma grande insatisfação. As pesquisas jornalísticas, as pesquisas quantitativas, as abordagens generalistas, as visões prescritivas não conseguem dar, em minha opinião, o l11ultissentido das perspectivas emitidas por aquelas que se definem "culturas juvenis". Elas desenham constelações móveis, desordenadas, de faces múltiplas. Multicodes. Trata-se de fragmentos e de fraturas cheias de significados líquidos: um sentido fluido alterado é posto em ação por um panorama contextual e metodológico no qual não é mais possível organizar, com tipologias ou tabelas, um suposto "objeto" da pesquisa. Produziu-se uma fratura disjuntiva nas narrativas dessas culturas que aqui se tentará abordar por perspectivas atípicas, talvez pouco rigorosas, por vezes euróricas, sempre delicadas-descentralizadas-dialógicaso E multinarrativas. a) O contexto panorâmico pelo qual passam as culturas juvenis assume a metrópole comunicativa e imaterial como o novo sujeito plural, diferenciado e móvel. Um humor que corrompeu o conceito tradicional de sociedade. Inútil e deprimido, esse conceito não consegue mais dar o sentido, a pulsação, o ritmo da contemporaneidade. Como escreveu J. Shirley num romance antecipatório, City come awalhín' fazendo desaparecer a sociedade assim organizada, dualista,
sintética, produtiva, moderna, política. A última não consegue desenhar a anatomia da história presente e menos ainda a anatomia de sua transrormação revolucionária. Enquanto o caminho da metrópole, iniciado no século XIX, irrompe no cenário já interpretado pelo social (com seus atores asseados, os papéis fixos, o status declarado) e ali se inserem suas representações per formativas até deprimir qualquer tradição. Na metrópole - em seus módulos diferenciados e escorregadiosdifunde-se o consumo, a comunicação, a cultura; os estilos, o híbrido, a montagem: patchwork girl e mosaic mano DP&A editora
8 Cultllrils eXtremas
b) O método é desafiado por esses contextos panoramáticos. É desafiado tanto na busca quanto na realização. O método é uma gaiola enferrujada que pré-criou e encerrou seus sujeitos, organizando-os em objetos puros dos quais extrair regras, leis, previsões, tipologias, prescrições, tratamentos. Contra tudo isso, eu quis descentralizar o mé-
Introduç5.o/Loop
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aqui é rompido; o que resta - fragmentos líquidos - cruza-se e afasta-se sem possibilidade alguma de reconstruir o quebra-cabeça perspectiva do social.
***
todo, multiplicá-lo em seu próprio agir, construÍ-lo e diferenciá_lo ao
o texto é articulado em três partes:
longo de narrativas assimétricas: assumir como irredutíveis sujeitos,
- A primeira busca redefinir os cenários múltiplos dentro dos
em cada seu momento, os protagonistas das culturas juvenis eXtremas. Contrariamente à tradição socioantropológica, são as zonas limürofes, os espaços vazios, os desafios panoramáticos, os atraveSSélmcntos que me interessam.
Aqui se reivindica uma espol1taneidade metodológica polifônica que vai de encontro a todo rigor formal monológico, a toda e qualquer moral holística pensativa, a toda e qualquer implacável estatística. Ou então, para sermos mais exatos, minha metodologia é o gozo da diferença. Recuso-me explicitamente a elaborar tipologias que serVem para a banalização resumitiva e rígida. Rótulos da planície e do enquadramento: a hard-techno, a bad grrrl etc. A aliança Upológica entre sociólogos/antropólogos e jornalistas constituiu guetos conceituais contra a mudança dos paradigmas, obrigados somente a "fixar" e "uniformi_ zar" aquilo que é plural, Ouido, cambiante. Tipologias e taxonomias estão exauridas. Não está inscrito no estatuto de ferro das ciências sociais que se devem reproduzir essas gaio-
quais se colocam os fragmentos juvenis contemporâneos; contra qualquer tradição continuísta, entretecem-se os fios que eliminam todo resíduo conceitual de subcultura ou de contracultura, e propõe-se o cenário múltiplo das culturas intermináveis. Ou melhor, eX-terminadas: condições juvenis e produções culturais e comunicacionais não são
tennil1áveis. Por isso elas são intermináveis, sem fim, infinitas, sem limites. Entretanto, nem todas as culturas juvenis são eXtremas. Aliás, gostaria de esclarecer logo as diferenças entre uma visão do extremo como totalmente interna aos lugares do domínio e de sua reprodução territorializada e seus visares do eXtremo que produzem temporárias dcsterritorializações. - A segunda paTle é um excursus multi narrativo entre um defiuir de interzonas nas quais se experimenta o eXtremo intennilIcível. Há muitos anos venho freqüentando essas zonas - em primeiro lugar, para meu prazer. Talvez para a parte interminável de minha condição/per-
las. E se no estatuto epistemológico de sociologias/antropologias hou-
cepção juvenil. Foi-me dada uma extraordinária possibilidade de encontrar, ouvir, olhar e dialogar com muitos jovens estudantes que
ver a elaboração de modelos (patterns), eu não os seguirei. A viagem
constituíram as bases móveis das quais aprender e satisfazer uma
aqui empreendida é de outro lipo. Não satisfará nenhum sistematiza_
minha curiosidade excessiva, talvez demasiado entusiasta, sempre par-
dor, nem classificações ou comparações. O objetivo explícito é o de aplicar uma metodologia das diferel1ças, a fil11 de acentuar os traços de dcsordenação das produções juvenis intermináveis.
cial. O menos possível institucional. Nunca "científica", instrumento para obter financiamentos, fazer carreira, falar "em nome de". Repentinamente, encontrei-me diante de uma quantidade imensa de narrativas, saberes, fiyers, músicas, emoções, comunicações Oui-
Não existe Uma visão unitária e global das culturas juvenis que seja passível de resumir a Um número, a um código ou a uma receita.
das. E decidi que tentaria contar algumas dessas formações comunica-
A síntese é o instrumento conceitual de ordem, nascido da pólis, que
cionais, utilizando estilos diferenciados e de facetas diferentes. As
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Cultums eXtremas
narrativas englobam e envolvem apenas algumas entidades que acen-
deram minha paixão cognitiva, embora de formas diferentes, ou talvez com as quais soube ou pude relacionar-me melhor. A narrativa, de rato, dialoga com o sujeito outro, "percebe" -o. - Na terceira parte eu poderia tcr escolhido realizar conexões, fazer
comparações, genealogias e tipologias entre as culturas eXtremas; pelo contrário, minha escolha foi diferente: todo o texto se baseia numa acentuação das diferenças. Conseqüentemente, pensei em desenvolver
esta última parte de forma a torná'-la estridente em relação às anteriores, por meio da emergência de conceitos líquidos: tensões que conectam as interzonas eXtremas (as correntes diferenciadas entre si das culturas intermináveis) e alguns exploradores de sentido (artistas diaspóricos, arquitetos dissonantes, pesquisadoras pós-coloniais, etnógrafos anêmicos, filósofos desviados etc.).
Culturas intermináveis, interzonas eXtremas, conceitos líquidos: no decorrer dessas três diferenças, o texto se articula, se constrói e deflui. Sem uma relação dialógica constante com as muitas subjetividades que são aqui apresentadas, este texto não seria sequer imagináveL A todas essas pessoas multivíduas é dedicado este livro, e de qualquer maneira a elas é dirigido meu agradecimento eXtremo. Gostaria que esta publicação pudesse favorecer um salto temporal em direção a produções experimentais e intermináveis. Apesar de tudo, sinto o desejo de revelar duas entities que acompanharam desde o início este livro, lido e inclusive criticado duramente e, enfim, tornado possível. Sem elas, ele não teria nutuado. Ambasem sua diversidade - contribuíram para inflamar e alterar o texto. As
chamas e as alterações se disseminaram por todo lugar, e justamente através dessas duas entilies - que tentaram resfriar alguns entusiasmos meus, por vezes demasiado fáceis, e certas instâncias talvez demasiado eufóricas - o texto pôde encontrar uma solução parcial. A elas vai um pensamento final: líquido e interminável, naturalmente. ..
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"Quando falamos em baleias inclinadas, outros pensam em saurofídios. Nós, no entanto, pensamos em 30 toneladas de peso voador. Nós não queremos buscar a arquitetura numa enciclopédia. Nossa arquitetura pode ser encontrada onde o pensamento se move mais rápido do que as mãos, para apanhá-lo. [ ... ] Nós construimos casas que são o cruzamento entre uma ponte e um avião. [ ... ] Aquilo em que estávamos interessados era o movimento. [ ... ] A mobilidade continua tendo um grande papel em nossos projetos. [ ... ] Espaços inteiros se movem. [ ... ] Queremos casas com te lOS voadores, escadas geladas, paredes que queimam. [... ] É muito fácil explicar o desconstrucionismo: a arquitetura precisa incendiar. Chama que se levanta não só para queimar. Chama, para nós, é o paradigma de uma arquitetura aberta. [... ]lnventaInos coisas para serem construídas com cimento bruto, envolvido por uma flecha ao fim da qual queima uma asa-em-chamas. A ARQUITETURA DEVE fLAMEJAR. A arquitetura deveria ser cavernosa, fogosa, lisa, dura, angular, brutal, redonda, delicada, colorida, obscena, voluptuosa, sonhadora, sedutora, repelente, molhada, seca e pulsá til. Morta ou viva. Fria - e então fria como um bloco de gelo. Quente - e então quente como uma asa-em-chamas. A arquitetura deve flamejar."
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Culturas eXtremas
Numa arquitetura líquida, um edifício pode ser atravessado como
Conceitos líquidos
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vazios, as bordas dos rios e dos lagos, as bordas dos canais formaram a
piercing, inflamado como um branding - o beijo-de-fogo. A arquitetu-
plataforma sobre a qual se inseriram as novas arquiteturas". Aqui se
ra aberta é uma arquitetura líquida, que escapa por todos os lados, que
movem as que Memo chama de "novas ondas", feitas de apêndices ele-
se inflama, se faz chama, é uma arquitetura de fogo, na qual a mobili-
trônicos, fachadas-visores, edifícios inteligentes, errâncias audiomidiá-
dade para o alto é constante, e as formas mudam com sua dança, até
ticas, salas Imax, centros culturais e do consumo, Ski-Dome, imensos
fazer desaparecer tudo. Arquitetura úmida, obscena, angular. Asa-em-
aquários. O arquiteto Toyo \to projetou em Yokohama uma Wind
chamas. Fogo líquido.
Tower que parece uma medusa eletroabismal que emerge e se ergue do oceano.
- Inconcrete. Em inglês e em português, "concrete"l"concreto", respectivamente, significa cimento. Para mim, esse concreto se refere
Arquiteturas invisíveis, arquiteturas d'água, arquiteturas de vento: arquiteturas líquidas.
tanto ao material-cimento (pesado e imóvel em sua concretude) quanto Philip Johnson: "Hoje, utilizando o computador, podem-se con-
- X-scape. Este conceito pode ser lido de diversas maneiras: a primeira é olhar o "x" como panorama; assumir o código do eXtremo,
trolar formas impensáveis e livres da escravidão dos cantos e dos
como forma de caracterizar um visual líquido que abraça uma corren-
ãngulos retos: a arquitetura pode ter uma qualidade tátil, agredir o
te comunicativa que escorre, fluida, entre (in between) culturas inter-
espaço ou deixar-se tocar como escultura" (1996).
mináveis e tecnologias mutantes; é um tornar-se porosas, disponíveis e
to ao oposto de abstrato (a coisa visível e sólida). Como diz o arquite-
Assim, o concreto se liberta de sua concretude, de sua solidez imóvel e monológica, de seu peso das leis da estática, de sua, digamos, materialidade geometrizada e simplificada. Graças às novas tecnologias,
O
concreto se desconcretiza. O cimento se torna móvel, uma
sensíveis à absorção, a deixar-se percorrer pelo eXtremo, é um tornarse panorama interminável dos muitos sentidos oceãnicos. A outra maneira é sonora; modular o entrelaçamento entre "x" e "scape" como um novo ideograma que toca um pIot de panorama ex-
desordem concreta pode ser pensada como um fractal criador de caos
tremo em fuga: x-scape como escape. Nesse plot, a fuga não é abandono
descentralizados e plurais. O edifício é pensado como uma zona tem-
ou renúncia diante de temores passadistas a caminho de homolo-
porária. Como uma cortina, sem raízes nem fundações que sustentam
gações e repetições. Ao contrário, para mim, fuga é cimarron, é assu-
o lugar e o logos.
mir parcialmente o ponto de vista do outro mais diferente, do escravo-
Mara Memo, socióloga urbana, escolhe um belíssimo título para
que-foge, que chega ao cimo e conquista os espaços infinitos de uma
um ensaio que ela escreveu: líquidas entradas. Essas entradas líquidas
outra condição. Cimarron é x-scape. Fuga das idéias estáticas, do do-
são atravessadas graças a novas arquiteturas que inventam "gigantes
mínio social, das opressões estatais, das oposições binárias. Cimarron
tecnológicos heteromorfos que se refletem na água, visar líqUido que
produz e difunde comunicações móveis maroon, maroon-izações: exa-
duplica sua presença" (1998, p. 29). "Os waterfronts da metrópole são
tamente o contrário da homologação. Híbridos anômicos, amnésias
vastos campos da comunicação, ambientes da centralidade difundida,
sincréticas, aporias nonorder, inconcrele mediascape: e-space x-scape.
apêndices da tecnologia" (ib., p. 30) que se sucedem às frontes-doporto da paisagem moderna: "As áreas portuárias, os embarcadouros
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Culturas eXtremas
Conceitos líquidos
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Loop
quadrado da moldura. A moldura é contexto regular da ordem, das
:e-space ... x-scape:
normas metodológicas, dos edifícios euclidianos, dos conceitos só-
~~
~~
lidos, das músicas já ouvidas, das leis formais (políticas e estéticas). É
Aporia, anomia, amnésia - shullpture, liquid days, mediascape,
a raiz obscura na qual afundar e acomodar-se. Mas o quadro, que é
polEitics - inconcrete,flame-wing - diáspora, nonorder, e-space, x-scape.
emoldurado nas salas de estar, é historicamente determinado e, por-
Trata-se de treze conceitos líquidos que fluem em diversos terri-
tanto, deteriorável. Aliás, já está deteriorado: parece quase sobreviver
tórios: territórios de redefinição, cruzamentos textuais artístico-comu-
a si mesmo, abandonado tristemente na superfície lisa de uma parede.
nicacionais. Conceitos que mergulham no líquido multi narrativo e
Dificilmente atrai olhares. Raramente induz a sair dos limites. É fácil
emergem dele como intermináveis. Os três primeiros repensam as de-
imaginar um futuro sem quadros, com músicas, esculturas, edifícios
finições dadas, relacionadas ao trio lógica-lei-memória; os quatro
desemoldurados. O mesmo vale para os conceitos: um conceito, para
segundos replasmam os sentidos de esculturas-músicas-artes-mídia; e
ser líquido, deve evadir de seu círculo mágico que o circunscreve e o
depois há dois atravessamentos ao longo das novas arquiteturas incon-
imobiliza (frame identitário). Memoriza-o como "a colônia penal".
cretas-inflamadas; por fim, os quatro últimos exploram dimensões
Diz Deleuze: "Longe de ser a delimitação da superfície pictórica, a
imateriais suspensas entre mudanças-limites-espaços-fugas. Todos
moldura é quase o contrário, é o relacionamento imediato com o lado
saltam entre as montagens labirínticas de metrópole-comunicação-
externo. Agora, enxertar o pensamento no lado de fora é o que os filó-
idenÚdade. Todos podem tornar-se cut-up do outro ou dos outros.
sofos não fizeram" (1996, p. 8).
Percebo somente no final que quase todos esses conceitos são o re-
Isso vale também para os antropólogos que deveriam ter praticado
sultado de cruzamentos de mais palavras, desvios de prefixos e sufixos,
o pensamento do lado de fora, certamente mais ainda do que os filó-
consonâncias ácidas para doces dissonâncias, a caminho de signifi-
sofos. O chicano Renato Rosaldo é um desses que foram para o lado
cados inéditos. O a-privativo, em dois casos, revela-se múltiplo, um a-
de fora: nonorder, borderlands, criss-cross, multiple identities, blurred
que liberta, liberta-se do poder sólido de nomos e memória. Enxertos
zones, beyond dichotomy, processual perspective, muddling through,
de caveiras esculpidas, músicas líquidas, paisagens midiáticas, poéti-
relational knowledge. Colares de conceitos líquidos para novas conste-
cas-políticas. Arquiteturas inconcretas e inflamadas. Limites desloca-
laçôes de significados possíveis.
dos para espaços eletrônicos, espaços-de-fuga e em-fuga.
Introduzir o pensamento no lado de fora é desemoldurar.
Assim as palavras não conseguem ficar imóveis, mas se hibridizam,
Sempre para Deleuze, pensar o lado de fora é também praticar a
se enxertam, se amarram para produzir novos sentidos: sentidos não
fuga: "Uma sociedade, para definir-se menos por suas contradições e
apenas como alguma coisa que"se refere ao significado, mas também
mais por suas linhas de fuga, foge para qualquer lugar" (ih., p. 140). Ago-
como multiplicação dos cinco sentidos do corpo. O vocabulário não
ra poderíamos acrescentar que essa fuga - esse x-scape, esse cimarron,
pode ser o guardião do significado, de palavras petrificadas no puris-
essa diáspora - convive sempre menos com o social (ao qual pertence a
mo. O vocabulário deve ser constantemente desafiado e modificado:
categoria da contradição) e cada vez mais com as metrópoles imateriais
deve ser aberto como faz Marguerite Duras.
(das quais saem linhas de fuga aporéticas). As classes como momento
O elemento líquido do ato de desemoldurar é evidente no próprio
identificador e transformador do social não funcionam mais, também
movimento conceitual que leva a sair do perímetro circunscrito e es-
por isso os Mil platôs de Deleuze e Guattari abrem-se ao considerar-
Culturas eXtremas
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no lugar das classes - as minorias. Mas, talvez, também o conceito de
Conceitos líquidos
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biologista e antinaturalista, para livrar a etnicidade (o etnoviduo) nos
minoria tornou-se, por assim dizer, minoritário: ele funciona pouco.
muitos enxertos e autoclassificações possíveis. 66 A diferença como
É obsoleto. Todos podemos ser, a cada vez, minoria e - logo após, e até
prazer do multiplicar e não como dever a ser uniformizado. Para muitos autores, a releitura da filosofia do século XIX faz surgir
contemporaneamente - maioria. Às culturas eXtremas não interessa ser ou sentir-se maioria, nem procuram isso pela adesão, pela inscrição,
a filosofia de Nietzsche como pluralismo conceitual e devir múltiplo,
pelo proselitismo. A era da propaganda acabou: não há mais nada a ser
para uma silenciosa pluralidade dos sentidos: um pluralismo antidia-
divulgado. Ao eXtremo não interessa a conquista do poder, verdadeiro
lético e líquido.
objetivo de toda minoria política que procura tornar-se maioria. As culturas eXtremas são intersticiais. Se chegam a tocar o poder,
procuram difundi-lo e nunca centralizá-lo. Elas navegam in between.
"Ao elemento especulativo da negação, da oposiçãO ou da contradição, Nietzsche substitui o elemento prático da diferença, objeto de afirmação e de gozo" (Deleuze, 1992, p. 39).
No limite, trata-se de minorias não-minoritárias. Mil planos para mil
É o "gozo da diferença"67 que se coloca como novo elemento con-
minorias: a perspectiva nômade navega ao longo das minorias que se
ceitual. A diferença se opõe à contradição dialética. Através do gozo
tornam livremente e eXtremamente individuais.
das diferenças, chega-se a conceitos líquidos.
Com freqüência, as minorias podem constituir-se em bases étnicas. As culturas eXtremas procuram enfrentar a etnia com novos instru-
66
mentos, diferentes dos instrumentos modernos e institucionais da política: as minorias se constituem na igualdade da diferença contra os reducionismos identitários (assimilacionismos). As etnicidades não são inventadas e, por conseqüência, são inessenciais como muitos etnouniversalistas costumam afirmar. Proclamando a universalidade de cada indivíduo, eles negam os problemas que estão presentes em cada um: em vez de invenções, as etnicidades são construções. Elas são o resultado conflitante de processos histórico-comunicacionais festonados, cujo tecido móvel converge nas tramas transformadoras intersticiais. tlS Então, o eXtremo étnico se constrói nas escolhas de etnografias fluidas e - além da líquida entrada - individuais: etnovíduos. Contra sua suposta "invenção", diante de uma humanidade genérica e universal, sua construção/desconstrução move-se em sentido anti-
65
"O fato de que não existe a etnia em sentido objetivo - porque cada etnia é uma JiClio, no sentido de construçào - não impede que ela exista em sentido subjetivo. Este, por outro lado, é um problema que se relaciona à crise mais geral da objetividade na antropologia e em quem a representa, isto é, o antropólogo" (Montezemolo, 1999, p. 23).
67
Veja-se a crise taxonômica do censo no Brasil, que prevê, em suas infinitas cores! nuanças, novos futuros para muitas áreas da Europa. A perspectiva de uma brasileirização da Europa está cada vez mais presente em não poucos autores (cf. Featherstone, 1994; Beck, 1999). Uma genealogia da diferença já está madura. Muitos pensadores dissidentes consrituíram sobre a diferença seus paradigmas descentralizados: para Todorov, é a igualdade da diferença que dilui todos os universalismos do Iluminismo tardio. É igual quem é diferente e não quem é idêntico, truque universalista da racionalidade social iluminista. A Declaração dos Direitos Humanos insiste nesse erro, isto é, continua proclamando todos iguais, porque todos idênticos (um biologismo identitário pan-humano). Desafiar o pensamento e a lógica identitária é, ao contrário, praticar a igualdade somente como diferença reconhecida, aceita e gozada. Também a antropologia interpretativa de Geertz movimenta-se nos homens e seus significados que são essencialmente diferentes: e é extraordinário que, ao menos na Itália e na França, esse continue sendo considerado um escândalo político, muito antes do que antropológico. Com efeito, a política é identitária e se choca com as diferenças. Para Gregory Bateson, a informação é uma diferença que comunica uma diferença, em cuja perspectiva toda a ecologia da mente se baseia. Todas as correntes emográficas experimentais - denominadas com orgulho "pós-modernas" pelas academias solidificadas - elaboram conceitos mutantes com base na diferença. Diferença é o grande tema da reflexão feminista. Vimos filósofos- como Perniola e Deleuze - que caracterizam justamente o século xx como experimentação extrafilosófica da diferença. Enfim, a literatura crítica pós-colonial enriqueceu com olhares oblíquos e construtivistas o tema da diferença cultural (cf. Bhabha, 1997a; Said, 1991; Spivak, 1988).
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Culturas eXtremas
A contradição é historicista, evolucionista, em sua versão tanto uni quanto mullilinear, é intrinsecamente dualista e, enquanto tal, pertence a uma ordem lógica abandonada, semelhante, coeva das arqueologias industriais e lingüísticas. A diferença é nômade, cimarron, anêmica, diaspórica.
*** Marguerite Duras escreve em busca da "falta de uma palavra", da "palavra-ausência", "palavra-vazio", uma palavra "imensa, infinita, como um gongo vazio". Diz ela: "Faltando, aquela palavra torna inúteis todas as outras, contamina-as, é como o cão morto na praia, ao meiodia, aquele vazio de carne" . E Duras escreve esta passagem diaspórica: "Aquela palavra que não existe, mas que está ali: ela fica esperando-te numa virada da linguagem" (1989, p. 37-38). A virada da linguagem: os conceitos fluidos estão constantemente em busca dessa virada.
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