Budadarma Completo Para Leitura No Computador

July 18, 2018 | Author: melloh | Category: Gautama Buddha, Mahayana, Japan, Religious Behaviour And Experience, Indian Religions
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Descrição: a vida de buda e seus ensinamentos...

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Budadarma O Caminho para a Iluminação

Centro Numata Traduções e Pesquisas Budistas 2003

Tradução para o português CEBB – Centro de Estudos Budistas Bodisatva Marcelo Nicolodi

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

“Frequentemente me perguntam se os ensinamentos e as técnicas do budismo ainda são relevantes nos tempos atuais. Como todas as religiões, o budismo se volta aos problemas humanos básicos. Enquanto

continuarmos

experimentando

os

sofrimentos

humanos básicos do nascimento, doença, velhice e morte, não há como questionar se ele continua relevante ou não. Portanto, eu dou as boas-vindas a esta nova edição em inglês de 'Budadarma', que apresenta uma antologia clara e concisa dos ensinamentos do Buda.” Sua Santidade, o XIV Dalai Lama

“Esta nova edição de 'Budadarma' é uma compilação excelente dos ensinamentos, discursos e ações do Buda Sakyamuni, extraídos de forma não-sectária de fontes Theravada e Mahayana. A leitura deste livro é uma boa introdução ao mundo de um grande ser iluminado e de seus seguidores. É uma experiência de encontro com o Buda, ouvindo o seu Darma e conectando-se com a sua comunidade da Sanga. Eu o recomendo com alegria.” Professor Robert Thurman, Je Tsongkhapa Professor de Estudos Indotibetanos, Universidade de Colúmbia

“O mundo dos leitores da língua inglesa deve um profundo respeito e gratidão ao falecido Dr. Yehan Numata. É admirável que ele tenha dedicado uma parcela considerável dos lucros de suas companhias à nobre causa da propagação dos ensinamentos do Buda. Além de seu grandioso projeto de tradução e publicação do Tripitaka Taisho em inglês, este 'Budadarma' é uma parte importante de seu legado generoso. Este livro é uma antologia CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

excelente dos ensinamentos budistas que será benéfica para todos que desejem aprofundar sua compreensão.” Samuel Bercholz, Fundador e Editor-Chefe, Shambala Publications

“Devido aos votos generosos do Reverendo Yehan Numata, a vida e os ensinamentos do Buda Sakyamuni estão sendo disseminados a todos aqueles que buscam o estado desperto. Ao ler este volume, que se baseia em fontes tanto da tradição Theravada quanto da Mahayana, você se verá em meio à própria assembleia viva do Buda histórico. Assim, poderá reconhecer em sua vida a humanidade essencial daqueles que praticam este Darma sutil. Este volume é uma introdução excelente ao Darma do Buda.” Wendy Egyoku Nakao, Centro Zen de Los Angeles

“Uma

apresentação

bastante

necessária

e

ampla

dos

ensinamentos básicos do budismo, incluindo importantes escrituras Theravada e Mahayana. Este livro está bem organizado e é fácil de ler, devendo atrair aqueles que buscam adquirir uma visão geral da tradição budista. Talvez seja o que há de mais próximo à ideia de uma Bíblia Budista, atualmente.” Dr. Taitetsu Unni, Professor de Jill Kerr Conway Professor Emérito de Religião, Smith College

“Esta coleção de textos denominada 'Budadarma' apresenta apenas isto: a vida e os verdadeiros ensinamentos do Buda histórico, Sakyamuni. A maior parte do texto cobre os anos em que Sakyamuni ensinou. O relato que se segue é inspirador, em CEBB

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sua descrição bastante humana dos mais sinceros (e às vezes céticos) leigos, bhikshus, bhikshunis como pessoas bastante reais, de todos os estilos de vida. O próprio Grande Professor é estável, profundo, paciente, doce, e em algumas situações, irritado por seus complicados seguidores. Esta é verdadeiramente a fonte histórica do budismo. Ele nos leva às raízes, que são perenes e incrivelmente profundas, e ainda mais fortes por sua familiar idiossincrasia. Esta é a nossa própria história, a ser seguida e na qual devemos mergulhar, em um texto claro e disponível.” Gary Snyder, Escritor Vencedor do Prêmio Pulitzer

“Extraída das vastas fontes escriturais do budismo Theravada e Mahayana, esta ampla antologia oferece seleções representativas de passagens de vários tópicos e aspectos do budismo. Esta rica e variada tradição produziu histórias, mitos, lendas, parábolas, metáforas e ensinamentos através dos quais o estudante do budismo poderá experimentar o sabor do Darma e seu espírito de compaixão e sabedoria. Este volume é indispensável para o estudo da visão budista e de seu modo de vida. O glossário, o índice e a lista de fontes textuais serão de grande ajuda ao navegar por este texto.” Dr. Alfred Bloom, Professor Emérito Departamento de Religião - Universidade do Havaí

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Budadarma Segunda Edição Revisada

Centro Numata Traduções e Pesquisas Budistas

2003

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Conteúdo Conteúdo ......................................................................................................................................................... 6 PREFÁCIO ..................................................................................................................................................... 11 PRÓLOGO ..................................................................................................................................................... 13 AGRADECIMENTOS .................................................................................................................................. 19 GATHA .......................................................................................................................................................... 23 LIVRO I .......................................................................................................................................................... 26 Introdução...................................................................................................................................................... 26 Capítulo I - A BUSCA PELO CAMINHO ................................................................................................ 30 1. Uma Encarnação Anterior do Honrado pelo Mundo ..................................................................... 30 2. O Nascimento do Buda........................................................................................................................ 31 3. Noivado com uma Princesa ................................................................................................................ 35 4. Viajando Além dos Quatro Portões ................................................................................................... 37 5. Abandonando o Lar para Buscar o Caminho ................................................................................... 42 6. Práticas Ascéticas ................................................................................................................................. 50 Capítulo II - ILUMINAÇÃO ....................................................................................................................... 54 1. A Conquista de Mara ........................................................................................................................... 54 2. Versos em Louvor à Iluminação. ....................................................................................................... 64 3. A Súplica de Brahma ........................................................................................................................... 74 Capítulo III - A DISSEMINAÇÃO DO DARMA...................................................................................... 79 1. Girando a Roda do Darma .................................................................................................................. 79 2. O Abandono do Lar por Yasa. ............................................................................................................ 85 3. A Conversão dos Três Kassapas ........................................................................................................ 89 4. O Monastério do Bosque de Bambus ................................................................................................ 93 5. Sariputta e Moggallana........................................................................................................................ 96 6. O Ensinamento no Monastério do Bosque de Bambus ................................................................. 101 Capítulo IV - SAKYAMUNI EM SUA TERRA NATAL ....................................................................... 105 2. Os Versos dos Seres Celestiais .......................................................................................................... 108 3. O Honrado pelo Mundo Retorna à Cidade .................................................................................... 114 4. Yasodhara ............................................................................................................................................ 122 5. Nanda e Rahula .................................................................................................................................. 126 6. Anathapindika, o Homem Rico........................................................................................................ 131 LIVRO II ....................................................................................................................................................... 139 Introdução.................................................................................................................................................... 139 Capítulo I - NO BOSQUE JETA ................................................................................................................ 144 1. O Sermão no Monastério de Anathapindika.................................................................................. 144 2. Pasenadi ............................................................................................................................................... 157 3. Instruções a Nanda ............................................................................................................................ 162 4. O Diálogo dos Bodisatvas ................................................................................................................. 164 Capítulo II - RAJAGAHA .......................................................................................................................... 178 1. Uggasena e Talaputa.......................................................................................................................... 178 2. Pancasikha ........................................................................................................................................... 183 3. A Fome em Vesali............................................................................................................................... 186 4. O Sermão de Sariputta ....................................................................................................................... 187 5. A Disputa pela Água de Irrigação ................................................................................................... 190 6. O Estabelecimento da Sanga das Monjas ........................................................................................ 195 7. As Instruções do Buda no Jardim Posterior ................................................................................... 199 Capítulo III - AS OITO CONSCIÊNCIAS ............................................................................................... 203 1. A Rainha Khema ................................................................................................................................ 203 CEBB

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2. O Reino da Iluminação ...................................................................................................................... 205 3. As Oito Consciências ......................................................................................................................... 209 4. Duas Visões Deturpadas ................................................................................................................... 215 5. Nenhuma Palavra Pronunciada ....................................................................................................... 222 Capítulo IV - O CRESCIMENTO DA SANGA ....................................................................................... 233 1. A Relação entre o Professor e os Discípulos ................................................................................... 233 2. Observância de Encontros Regulares e da Estação Chuvosa ....................................................... 238 3. O Último Dia do Retiro...................................................................................................................... 240 4. Poderes................................................................................................................................................. 243 5. O Rugido do Leão .............................................................................................................................. 246 6. O Sermão no Céu de Tavatimsa ....................................................................................................... 253 7. Os Doze Elos da Originação Dependente ....................................................................................... 261 8. Cinca..................................................................................................................................................... 267 9. Anuruddha .......................................................................................................................................... 274 10. A Cidade de Kosambi ...................................................................................................................... 278 LIVRO III...................................................................................................................................................... 290 Introdução.................................................................................................................................................... 290 Capítulo I - O SEGUIDOR IDEAL............................................................................................................ 293 1. Ghatikara ............................................................................................................................................. 293 2. A Parábola da Cobra e a Parábola da Balsa .................................................................................... 297 3. Matangi ................................................................................................................................................ 304 4. A Origem Externa dos Obscurecimentos........................................................................................ 307 5. As Circunstâncias que Levam à Iluminação .................................................................................. 323 Capítulo II - OBSCURECIMENTOS......................................................................................................... 332 1. Os Três Venenos ................................................................................................................................. 332 2. O Pico dos Abutres............................................................................................................................. 338 3. Instruções no Reino de Vajii ............................................................................................................. 341 4. A Dor do Desejo Ardente .................................................................................................................. 354 Capítulo III - A CONDUTA DE UM BODISATVA ............................................................................... 366 1. O Discurso de Sariputta sobre o Darma.......................................................................................... 366 2. A Parábola da Serra............................................................................................................................ 372 3. Hatthaka, o Homem Rico .................................................................................................................. 377 4. Homenagem às Seis Direções ........................................................................................................... 380 5. Punna e Sariputta ............................................................................................................................... 386 6. O Honrado pelo Mundo e Vários Deuses ....................................................................................... 391 7. Sudhana ............................................................................................................................................... 395 8. Um Brâmane em Prática Ascética .................................................................................................... 406 9. Ratridevata .......................................................................................................................................... 423 10. Os Bodisatvas Maitreya e Samantabhadra ................................................................................... 428 LIVRO IV ..................................................................................................................................................... 439 Introdução.................................................................................................................................................... 439 Capítulo I - A ESSÊNCIA DA MENTE DO BUDA ................................................................................ 444 1. A Sabedoria do Buda ......................................................................................................................... 444 2. Diálogos com Professores Não-Budistas......................................................................................... 452 3. O Monarca Universal ......................................................................................................................... 463 4. A Prática de Samantabhadra ............................................................................................................ 471 5. As Ações do Corpo e da Mente ........................................................................................................ 491 Capítulo II - A SABEDORIA ABSOLUTA .............................................................................................. 506 1. Vacuidade ............................................................................................................................................ 506 2. A Iluminação Livre de Fixações ....................................................................................................... 510 3. A Essência da Sabedoria Absoluta................................................................................................... 513 CEBB

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4. A Busca pelo Caminho do Bodisatva Sadaprarudita .................................................................... 514 Capítulo III - A TRANSFERÊNCIA DE MÉRITOS ................................................................................ 534 1. Os Três Tipos de Professores ............................................................................................................ 534 2. Quatro Perigos .................................................................................................................................... 546 3. O Caminho de um Soberano............................................................................................................. 558 4. A Transferência de Méritos ............................................................................................................... 563 5. As Cinco Virtudes do Buda .............................................................................................................. 574 Capítulo IV - OS ESTÁGIOS DA ILUMINAÇÃO.................................................................................. 582 1. Rahula .................................................................................................................................................. 582 2. Os Dez Estágios .................................................................................................................................. 584 3. Vimalakirti........................................................................................................................................... 595 LIVRO V ....................................................................................................................................................... 632 Introdução.................................................................................................................................................... 632 Capítulo I - EDUCAÇÃO .......................................................................................................................... 636 1. O Professor Correto e o Falso Professor.......................................................................................... 636 2. Os Demônios nas Planícies Selvagens ............................................................................................. 642 3. Linhagem Familiar ............................................................................................................................. 647 4. A Questão do Eu................................................................................................................................. 656 5. O Príncipe de Cinco Armas .............................................................................................................. 671 6. Ratthapala............................................................................................................................................ 682 Capítulo II - ORGANIZAÇÃO DA ORDEM .......................................................................................... 689 1. Os Dez Preceitos Principais e os Quarenta e Oito Preceitos Menores de um Bodisatva ......... 689 2. Desarmonia na Ordem ...................................................................................................................... 706 3. Lições da Jornada ............................................................................................................................... 721 4. O Cabelo Branco ................................................................................................................................. 733 Capítulo III - SABEDORIA E IGNORÂNCIA ........................................................................................ 738 1. Nanda e Rahula .................................................................................................................................. 738 2. Os Ignorantes e os Sábios .................................................................................................................. 742 3. Angulimala, o Transgressor.............................................................................................................. 747 4. A Origem da Sociedade ..................................................................................................................... 756 5. As Duas Rodas de Uma Carruagem ................................................................................................ 762 6. O Emaranhado da Natureza Humana ............................................................................................ 767 Capítulo IV - AS QUATRO NOBRES VERDADES ............................................................................... 773 1. Libertando-se dos Obscurecimentos ............................................................................................... 773 2. Maha-Kaccayana ................................................................................................................................ 778 3. O Assento das Quatro Nobres Verdades ........................................................................................ 785 4. O Débito com os Pais ......................................................................................................................... 789 5. A Mente e o Mundo ........................................................................................................................... 796 LIVRO VI ..................................................................................................................................................... 811 Introdução.................................................................................................................................................... 811 Capítulo I - CONHECENDO O DARMA ............................................................................................... 817 1. Carma ................................................................................................................................................... 817 2. O Brâmane Cabeça de Cervo ............................................................................................................ 826 3. Descartando a Cobiça, a Raiva e a Ignorância ............................................................................... 832 4. O Esforço e Seu Estímulo .................................................................................................................. 836 5. O Dhammapada ................................................................................................................................. 844 Capítulo II - O VOTO PRIMORDIAL DO BUDA .................................................................................. 888 AMITAYUS E SUA SALVAÇÃO ............................................................................................................. 888 1. O Bodisatva Dharmakara .................................................................................................................. 888 2. O Buda da Vida Infinita .................................................................................................................... 897 3. O Despertar da Fé............................................................................................................................... 900 CEBB

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4. A Realidade da Vida e do Ensinamento ......................................................................................... 908 5. Vendo o Buda Amitayus ................................................................................................................... 926 Capítulo III - O SIGNIFICADO DO TATHAGATA .............................................................................. 930 1. Uma Vida de Reverência ................................................................................................................... 930 2. Indra ..................................................................................................................................................... 933 3. A Isca do Caçador .............................................................................................................................. 936 4. A Rainha Srimala................................................................................................................................ 938 5. Os Três Grandes Votos ...................................................................................................................... 942 Capítulo IV - REALIZANDO O CAMINHO .......................................................................................... 951 PARA A EMANCIPAÇÃO ....................................................................................................................... 951 1. Moggallana e Punna .......................................................................................................................... 951 2. Potaliya ................................................................................................................................................ 955 3. Realizando o Caminho para a Emancipação .................................................................................. 961 4. A Alegoria da Flecha ......................................................................................................................... 966 5. Rajakarama – O Templo do Rei ........................................................................................................ 970 6. As Folhas na Mão ............................................................................................................................... 980 LIVRO VII .................................................................................................................................................... 985 Introdução.................................................................................................................................................... 985 Capítulo I - O DARMA MARAVILHOSO É REVELADO.................................................................... 990 1. O Ensinamento do Veículo Único .................................................................................................... 990 2. A Parábola da Casa em Chamas .................................................................................................... 1004 3. A Mente da Fé ................................................................................................................................... 1016 4. A Realização da Iluminação pela Filha do Rei Naga .................................................................. 1031 5. A Duração da Vida do Buda ........................................................................................................... 1043 6. Pensamentos ..................................................................................................................................... 1059 Capítulo II - A TRAGÉDIA EM RAJAGRIHA ..................................................................................... 1066 1. A Deserção de Devadatta ................................................................................................................ 1066 2. Ajatasatru Usurpa o Trono ............................................................................................................. 1077 3. Vaidehi ............................................................................................................................................... 1081 4. A Agonia de Ajatasatru ................................................................................................................... 1093 5. O Honrado pelo Mundo Expõe o Darma...................................................................................... 1110 Capítulo III - DEVOÇÃO AO CAMINHO............................................................................................ 1115 1. A Entrega ao Caminho .................................................................................................................... 1115 2. O Príncipe Bodhi .............................................................................................................................. 1128 3. Citta, o Homem Rico ........................................................................................................................ 1131 4. Parábolas ........................................................................................................................................... 1138 5. O Formigueiro .................................................................................................................................. 1167 Capítulo IV - A ESTUPA ......................................................................................................................... 1171 1. A Morte de Nigantha Nataputta .................................................................................................... 1171 2. Vassakara........................................................................................................................................... 1177 3. Bhaddiya ............................................................................................................................................ 1180 4. Os Últimos Anos do Rei Pasenadi ................................................................................................. 1184 5. A Queda de Kapilavatthu ............................................................................................................... 1191 6. A Terra de Sukhavati ....................................................................................................................... 1199 LIVRO VIII ................................................................................................................................................. 1206 Introdução.................................................................................................................................................. 1206 Capítulo I - A PROFECIA DA GRANDE PASSAGEM DO BUDA ................................................... 1212 1. Os Sete Princípios do Bem-Estar .................................................................................................... 1212 2. O Espelho da Verdade ..................................................................................................................... 1216 3. Amrapali, a Cortesã ......................................................................................................................... 1223 4. A Morte de Sariputra e Maudgalyayana ...................................................................................... 1235 CEBB

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5. O Sermão do Buda Antes de Sua Morte........................................................................................ 1241 Capítulo II - A LUZ DOURADA ............................................................................................................ 1249 1. Os Três Corpos do Buda.................................................................................................................. 1249 2. A Terra do Verdadeiro Darma ....................................................................................................... 1257 3. Oferecendo Sua Carne à Tigresa Que Morria de Fome .............................................................. 1261 4. A Mente da Iluminação, da Grande Compaixão e dos Meios Hábeis ...................................... 1269 Capítulo III - TATHAGATA-GARBHA ................................................................................................ 1280 1. A Despedida...................................................................................................................................... 1280 2. A Natureza de Buda ........................................................................................................................ 1291 3. A Oferenda de Cunda...................................................................................................................... 1316 4. Três Tipos de Pessoas Incuráveis ................................................................................................... 1323 5. O Preço de Meio Verso .................................................................................................................... 1331 6. As Quatro Mentes Ilimitadas.......................................................................................................... 1335 Capítulo IV - A GRANDE PASSAGEM ................................................................................................ 1343 1. O Caminho do Bodisatva ................................................................................................................ 1343 2. O Grande Nirvana............................................................................................................................ 1350 3. A Doença do Honrado pelo Mundo .............................................................................................. 1354 4. A Metáfora da Montanha do Tesouro ........................................................................................... 1359 5. Os Quatro Lugares Sagrados .......................................................................................................... 1368 6. A Última Instrução ........................................................................................................................... 1382 7. A Fumaça se Eleva ........................................................................................................................... 1392 8. Fatos Posteriores à Morte do Buda ................................................................................................ 1402 Glossário .................................................................................................................................................... 1419 Fontes Escriturais...................................................................................................................................... 1478 PALAVRAS EM PÁLI E SÂNSCRITO .................................................................................................. 1489 Lista de Palavras em Páli e Sânscrito ..................................................................................................... 1491 LEITURAS SUGERIDAS ......................................................................................................................... 1501 A SOCIEDADE PARA A PROMOÇÃO DO BUDISMO..................................................................... 1507 ÍNDICE ....................................................................................................................................................... 1509

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PREFÁCIO A mais completa e aceita edição das escrituras budistas é denominada Taisho Shinshu Daizokyo, ou Taisho Daizokyo, estudada amplamente em todo o mundo. Ela foi compilada por vários estudiosos japoneses eminentes, durante o Período Taisho (1912 – 1925), e foi publicada de 1924 a 1934. Essa edição de 100 volumes consiste em 3360 obras, com aproximadamente 12.000 fascículos. Todos os textos estão em chinês, tanto as traduções das obras originais nas línguas da Índia e da Ásia Central quanto os tratados, comentários, catálogos e outras obras de monges e estudiosos chineses ou japoneses. O Taisho Daizokyo é, resumindo, uma edição na língua chinesa do Tripitaka. Durante o difícil trabalho de compilação desta coleção monumental, os estudiosos

japoneses

liderados

pelo

Professor

Junjiro

Takakusu,

reconheceram a necessidade e a urgência da publicação de uma coleção pequena de textos selecionados do Daizokyo em japonês, para os leitores comuns do Japão, que até aquele momento não tinham à disposição um livro com os sutras budistas em japonês. Como resultado, a primeira edição do Shinyaku Bukkyo Seiten (A Nova Tradução das Escrituras Budistas), em forma condensada, foi publicada em 1925, tendo sido editada pelo Rev. Muan Kizu, representante da Bukkyo Kyokai (Associação Budista) de Nagoya, Japão. Devido à extensão e ao uso excessivo de termos técnicos na edição original de 1925, o Rev. Kizu, com a ajuda dos Professores Chizen Akanuma e Shugaku Yamabe, retirou alguns termos e passagens que poderiam não ser compreendidos prontamente pelos leitores, e publicou edições revisadas em

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1929 e 1976. A extensão foi reduzida de 1626 páginas para 720, reduzindo, desta forma, o preço do livro e tornando mais fácil a sua aquisição. A Sociedade para a Promoção do Budismo (Bukkyo Dendo Kyokai) do Japão e o Centro Numata para Traduções e Pesquisas Budistas, estabelecido de forma independente em Berkeley, Califórnia, estão envolvidos na tarefa formidável de traduzir e publicar o Taisho Daizokyo completo em inglês. Visto que esse trabalho pode levar cerca de cem anos ou mais para ser finalizado, foi decidido que uma tradução para o inglês da edição revisada em 1976 do Shinyaku Bukkyo Seiten seria uma forma rápida e desejável de oferecer aos leitores da língua inglesa uma coleção condensada das escrituras budistas. Assim, a primeira edição do Budadarma foi publicada em 1984. Esta edição atual é uma revisão completa da edição de 1984, contendo adicionalmente uma introdução para cada uma das oito seções principais, uma lista das fontes originais para passagens selecionadas, a compilação de nomes e da terminologia sânscrita e do páli, um glossário ampliado e um índice definitivo. Para esta edição do Budadarma também foram revisadas cuidadosamente as traduções de diferentes seções realizadas por diversos ministros budistas na América, de forma a proporcionar uma imagem fiel ao texto original em japonês. Contrariamente a outras antologias de escrituras budistas em inglês, que são organizadas de acordo com as diversas escolas ou seitas às quais os textos estão associados, o Shinyaku Bukkyo Seiten, a coleção original em japonês,

foi

organizado

de

forma

aproximadamente

cronológica,

independente da fonte, para que os leitores possam apreciar os discursos do Buda no contexto de suas viagens pela Índia, desde o momento de sua iluminação em Bodhgaya, até sua morte 45 anos mais tarde em Kusinagara. Nesta edição também foi mantida, de modo geral, a prática da edição CEBB

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de 1984 de usar os nomes e termos páli e sânscritos de acordo com o texto original das passagens que foram utilizadas para fazer a tradução para o japonês. A maior parte dos textos chineses que serviram de fonte para a tradução para o japonês tiveram por fonte os textos em sânscrito. Alguns termos que agora se encontram em uso geral nos dicionários ingleses, tais como nirvana, Darma, arhat, atman etc, foram utilizados independente da fonte. Assim como na primeira edição, os sinais diacríticos foram omitidos intencionalmente para tornar a leitura mais fácil para os leitores comuns. Uma lista de palavras páli e sânscritas com os sinais diacríticos foi disponibilizada no final do livro. O Prólogo do Rev. Kyoshiro Tokunaga, escrito originalmente para a edição de 1984, agradece a muitos ministros budistas que fizeram suas contribuições à difícil tarefa de traduzir o Shinyaku Bukkyo Seiten para um inglês compreensível. Esperamos que este livro seja, para muitos leitores, uma boa introdução à vida de Shakyamuni, o Buda histórico, e aos seus ensinamentos maravilhosos, o Budadarma. Equipe de Edição Centro Numata para Traduções e Pesquisas Budistas

PRÓLOGO Durante as últimas décadas, centenas de livros de boa qualidade sobre o budismo foram publicados em inglês e outros idiomas. Existe muito material disponível para que os leitores ocidentais desenvolvam uma visão geral do Darma do Buda. Para os estudantes com inclinação acadêmica existe CEBB

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um grande número de textos originais traduzidos para diversas línguas europeias. Por que, então, publicar mais um volume? Acreditamos que temos algo único a oferecer ao público leitor, o que justifica esta publicação. O cânone budista, como ele existe hoje, é, no mínimo, muito volumoso. Existem muitas razões para isto. O Buda teve uma longa vida. Entre o período do seu Despertar com a idade de trinta e cinco anos e o momento de sua morte aos oitenta, passaram-se quarenta e cinco anos durante os quais ele expôs continuamente o Darma. Os ensinamentos eram dirigidos não apenas a um segmento da população, mas a todos os tipos de pessoas. Dentre a sua audiência estavam aqueles de castas inferiores, jovens e velhos, ricos e pobres, homens e mulheres, estudiosos e iletrados, e seus próprios discípulos, assim como os mestres e discípulos de outras tradições (havia pelo menos seis escolas filosóficas na Índia daquela época, além do budismo). O método de ensino do Buda era flexível o bastante para acomodar as necessidades espirituais de todos da forma mais efetiva. O cânone budista é denominado Tripitaka, que significa Três 'Cestos' ou 'Recipientes', e é composto por três partes: Sutras, Vinayas e Abhidharmas. Os Sutras, significando “urdidura, trama”, e, por extensão, ‘Princípios Imutáveis’, são também chamados, às vezes, de ‘Buddhavacana’, ou ‘Palavras do Buda’. Os Vinayas são a combinação de preceitos e regras para a ordem monástica. Os Abhidharmas são os tratados ou comentários sobre os Sutras por mestres e eruditos. Na época da primeira compilação do cânone, que aconteceu vários meses após a morte do Buda, os Abhidharmas não foram incluídos. Este cânone era uma coleção de recitações simples da Buddhavacana que os discípulos principais tinham memorizado, e que todos os discípulos participantes do concílio, estimados em quinhentos, deveriam aceitar como verdadeiros e autênticos. Assim, era comum iniciar os Sutras CEBB

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com a frase, “Assim eu ouvi.” Mais tarde, no século I A.C., o primeiro Tripitaka escrito foi compilado no dialeto de Magadha. Diversas outras compilações foram realizadas nos séculos seguintes. Uma compilação mais completa foi realizada no Ceilão utilizando a língua páli. Com o passar do tempo, mais Sutras e Abhidharmas foram acrescentados. O que começou como um simples Tripitaka, gradualmente cresceu em volume, especialmente no caso da escola Mahayana. A maior parte das edições chinesas possui mais de 5000 volumes. À medida que o ensinamento se propagou pelos países asiáticos, ele encontrou expressão em línguas diferentes, tais como Wigur, Khotan, tibetano, chinês, mongol, manchuriano, coreano e japonês. No Japão, em meio a outras edições, o Taisho Daizokyo (O Cânone Taisho da Grande Compilação), que é considerado o mais completo Tripitaka Mahayana, inclui tratados de mestres chineses e japoneses e descobertas mais recentes de Tunhuang. Ele contém 11.970 fascículos. Ao considerarmos estes fatos podemos visualizar facilmente a enorme tarefa que é a leitura e a compreensão integral de todas essas escrituras. Apenas folheá-las é quase impossível em uma única vida. Muitas tentativas foram feitas para tentar abreviar a Buddhavacana completa em um único ou uma série de volumes, tornando-a disponível para o público em geral. Entretanto, ou a maioria das tentativas foi acadêmica ou técnica demais para o leitor comum, ou então não era abrangente o suficiente para englobar toda a vastidão de ensinamentos, e não trazia o tom mais profundo e inspirador da Buddhavacana original. Alguns anos atrás, o Bhikshu Sangharakshita escreveu um livro excelente, ‘Uma Análise do Budismo’. Como análise, ele oferece uma exposição lúcida dos diversos aspectos do Darma. No prefácio do livro o CEBB

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autor escreve que seu foco principal é ver os ensinamentos como um todo, e vê-los em profundidade suficiente para ser capaz de discernir as conexões subjacentes tanto a eles mesmos quanto à vida espiritual do praticante budista. Eu acredito que esta é a postura adequada para um estudante em busca de compreensão em qualquer religião. Todas as experiências religiosas estão relacionadas no aspecto de ser neste nível profundo que é encontrado o ponto comum ou os princípios filosóficos básicos e espirituais, sobre os quais toda a estrutura dos ensinamentos se baseia. Para explorar as profundezas do Darma do Buda é preciso experimentar o ‘sentimento’ que ele traz; e isto não será experimentado apenas lendo um compêndio ou dois. O Darma do Buda só pode ser completamente apreciado quando nos aprofundamos o bastante para discernir a ‘interconexão’. Isto significa que os materiais para leitura deveriam oferecer substância ou ‘carne’ a serem saboreados, e isto só pode ser realizado quando nos familiarizamos com as palavras originais do sábio. Por ‘original’ eu não quero dizer que os textos devem ser, necessariamente, lidos na língua original ou dialeto utilizado pelo Buda. Não temos nem mesmo certeza em qual dialeto ou dialetos ele ensinou. Entretanto, as palavras não devem ser interpretadas pelo escritor. A interpretação deve ser realizada pelo leitor. É a este propósito que este volume pretende servir. Felizmente para nosso projeto havia um protótipo que pudemos seguir. Ele foi compilado por eruditos budistas como o Reverendo Muan Kizu, os Professores Chizen Akanuma, Shugaku Yamabe e outros da Universidade Otani de Kyoto, Japão. O livro intitulado Shinyaku Bukkyo Seiten, as Escrituras Budistas da Nova Tradução (referidas aqui como ‘Nova Tradução’ deste ponto em diante), foi a resposta a nossa busca por um volume modelo, breve o suficiente para ser disponibilizado aos leigos comuns, mas CEBB

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abrangente e detalhado o bastante para que o leitor possa sentir a presença do grande ser. Nós o tomamos de forma livre para compilar esta nossa versão em inglês. Somos extremamente gratos aos citados eruditos. Não consideramos este volume completo. Devido à magnitude do tema envolvido e ao limite de espaço, algumas partes foram tratadas de forma inadequada. Em uma rápida leitura pode-se notar que algumas partes são até mesmo contraditórias, especialmente devido às vastas diferenças entre os enfoques e interpretações Theravada e Mahayana. Mesmo dentro de cada escola existem muitas divergências, comparáveis às diferenças encontradas entre as várias denominações do cristianismo, e aquelas encontradas entre as outras religiões. Neste aspecto eu sugiro que o leitor relembre as palavras de Sangharakshita. É preciso cavar fundo o bastante para descobrir que os brotos de bambu que surgem em lugares diferentes em um bosque vêm todos da mesma raiz. Ao enviarmos este manuscrito para a gráfica, gostaríamos de expressar nossa profunda satisfação com o Sr. Yehan Numata da Bukkyo Dendo Kyokai (Fundação para a Promoção do Budismo), por nos dar a oportunidade deste trabalho. Foi o zelo e a sinceridade deste senhor que nos motivou a realizar este projeto e nos sustentou durante o extenso período de preparação que foi necessário. Pessoalmente, eu gostaria de oferecer meus sinceros agradecimentos aos contribuintes que ofereceram cada momento livre de seus intensos deveres profissionais para preparar este material. Foram eles: os Reverendos John Doami e Masami Fujitani, o Reverendo Dr. Ronald Nakasone, os Reverendos Shojo Oi, Takashi Tsuji, Shodo Tsunoda e Tesuo Unno. Eles são pastores budistas ordenados, versados no pensamento budista, com excelente domínio das línguas inglesa e japonesa, bem como possuindo a habilidade de ler os textos chineses. Meus agradecimentos CEBB

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especiais vão para o Reverendo Masami Fujitani, um linguista consumado, por verificar os termos em sânscrito e páli, e ao Dr. Ichimura pelos mapas detalhados, dos quais só pudemos utilizar um, e pelo amplo glossário, que também foi abreviado devido à falta de espaço. Sinto-me profundamente em débito com o Reverendo Tetsuo Unno pela coedição dos manuscritos e com o Reverendo

Takashi

Tsuji

por

seus

constantes

conselhos.

Meus

agradecimentos também aos Reverendos Ejitsu Hojo, Keizo Norimoto e Junjo Tsumura por suas palavras sempre encorajadoras, e ao Sr. e à Sra. Robert Lyon por digitar e repassar todo o manuscrito. Finalmente, sou profundamente grato aos Srs. Steve Yamamoto e Art Hayashi e a toda a equipe da MTI Graphics Inc., que produziram este volume, por seus conselhos gentis e pacientes durante os estágios finais da publicação. Concluindo, eu sinto a verdade de Pratityasamutpada e por ela sinto gratidão, sem o quê este trabalho, mesmo imperfeito, não poderia ter sido completado.

Gassho, Kyoshiro Tokunaga Editor, 1984

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AGRADECIMENTOS Este livro é uma revisão da edição de 1984 com 755 páginas de ‘Budadarma’. Um grande número de pessoas esteve envolvido na preparação do material para a Primeira Edição, e seus esforços foram reconhecidos pelo editor, o Reverendo Kyoshiro Tokunaga. Neste momento, eu quero agradecer ao Reverendo Tokunaga pelo tremendo trabalho que ele realizou compilando as traduções de oito ministros budistas e publicando uma antologia das escrituras budistas. O que é mais surpreendente é que tudo isto foi realizado mesmo diante de muitos obstáculos, dos quais o mais severo era a restrição de tempo. O livro deveria ser publicado antes de novembro de 1984, pois seria

usado

como

um

presente

de

comemoração

na

ocasião

do

estabelecimento do Centro Numata de Traduções e Pesquisas Budistas, em Berkeley, Califórnia. Para manter o prazo, ele teve que realizar esforços muito além das expectativas normais. Ele teve que supervisionar o trabalho de tradução realizado pelos ministros budistas, a maior parte da edição e todas as tarefas árduas necessárias no processo de desenvolvimento de um livro. Como resultado do trabalho estressante em uma idade avançada (mais de setenta anos), ele acabou arruinando sua saúde. Não posso agradecê-lo o CEBB

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bastante pelos sacrifícios que realizou. Ele também estava destinado a grandes contribuições para a Segunda Edição. Como

podemos

imaginar,

muitas

pessoas

também

estiveram

envolvidas na produção desta Segunda Edição. Acima de todos, foi o próprio Reverendo Tokunaga que, aparentemente, ao reconhecer as limitações da Primeira Edição, sentiu-se no dever de corrigir a situação. Ele apoiou a reedição, a tediosa tradução da seção sobre as fontes escriturais e a compilação inicial do índice. Infelizmente, entretanto, o Reverendo Tokunaga foi incapaz de ter a satisfação e o prazer de ver os resultados do seu sacrifício nesta Segunda Edição. Ele faleceu em junho de 2001. Para este volume revisado, eu gostaria de agradecer em primeiro lugar à Sra. Kimi Hisatsune, que aceitou com alegria a enorme responsabilidade de ajudar na edição geral deste valioso trabalho. Ela é a filha mais velha do falecido Reverendo Inshu Yonemura, um pastor budista que atuou nos Estados Unidos de 1927 a 1949. A Sra. Hisatsune foi Editora Associada de “The Pacific World” de 1987 a 1991, o jornal do Instituto para Estudos Budistas, de Berkeley, Califórnia. Seu objetivo neste livro foi assegurar que a revisão respeitaria os esforços anteriores dos eminentes eruditos japoneses que compilaram a antologia original, assim como os de todos que traduziram e produziram a Primeira Edição. Dentre os novos elementos da revisão estavam as introduções aos oito capítulos do livro, uma lista de fontes escriturais, uma compilação de nomes e terminologia em páli e sânscrito, um glossário ampliado e a produção de um índice definitivo. A Sra. Hisatsune passou incontáveis horas em todos os aspectos da edição, da pesquisa e do texto das introduções para as oito seções do livro. O material introdutório trouxe uma transição mais suave e compreensão mais fácil da seção seguinte. A produção de um índice útil e abrangente também consumiu muito de sua CEBB

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energia e concentração. As palavras são insuficientes para expressar minha satisfação com seus esforços dedicados. Também deve ser mencionado o papel do marido da Sra. Hisatsune, o Dr. Clarence Hisatsune, Professor Emérito de Química Física, Universidade do Estado da Pensilvânia, e Professor Adjunto de Ciência e Budismo, Instituto de Estudos Budistas, Berkeley, Califórnia. Sinto-me devedor a ele por ter lido o texto completo três vezes, revisando o manuscrito e oferecendo sugestões significativas ao editor. Muitos outros contribuíram a esta Edição Revisada e Ampliada. Ideias valiosas e recomendações para a revisão foram feitas por Charles Niimi. Agradecimentos especiais ao Dr. Kenneth K. Inada, Professor Emérito por Serviços Especiais, SUNY, e ao Professor Emérito Dr. Francis Crook, Universidade da Califórnia em Riverside, por revisar o material introdutório para os Oito Livros e o glossário. Também sou grato ao Dr. Taitetsu Unno, Professor Emérito, Smith College, Northampton, Massachussets, por suas sugestões de melhorias em geral na qualidade do livro e ideias para o póspublicação. Minha gratidão a Elizabeth Cook, que ajudou a criar o mapa apresentando a região das atividades evangélicas de Sakyamuni na Índia, e para Koh Nishiike pela revisão das novas seções sobre as fontes escriturais e os equivalentes páli-sânscrito. Brian Nagata também foi muito útil fazendo contatos e oferecendo apoio administrativo. Além disso tudo, para realizar a miríade de tarefas necessárias na produção de uma ampla revisão de um livro de 750 páginas, agradeço muito pelos esforços das seguintes pessoas: Diane Ames, Brian Galloway, Marianne Dresser, Betty Jo Yamamoto, Dr. Eisho Nasu e Rev. Tetsuo Unno. Uma menção especial deve ser feita ao fato de que também sou extremamente grato ao Reverendo Toshihide Numata, Chairman do Bukkyo Dendo Kyokai (Sociedade para a Promoção do Budismo), e a Shigeru CEBB

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Yamamoto da Buddha Dharma Kyokai (Sociedade), EUA, por oferecerem generoso apoio financeiro para a produção do livro, e por seu encorajamento e paciência incansável. Eu espero que este livro seja útil aos estudantes, útil aos professores, inspirador aos praticantes budistas leigos, e interessante para os leitores em geral. Acima de tudo, tenho esperanças que os ensinamentos deste livro ajudem a promover paz e harmonia entre os povos do mundo ao fazer com que cada homem, mulher e criança que leiam este livro se tornem pessoas mais virtuosas e melhores. Esta foi a visão inspiradora do falecido Reverendo Yehan Numata, o fundador da Sociedade para a Promoção do Budismo, em 1965.

Outubro de 2001 Seishin K. Yamashita, Presidente Centro Numata para Traduções e Pesquisas Budistas

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GATHA

No fluxo sem princípio e sem fim do tempo você encontra o Buda apenas uma vez. Portanto, livre-se de seus apegos mundanos e receba o Darma.

Estamos todos afundando no mar do sofrimento e nossas mentes corrompidas tremem de medo. Mas o Buda, através de sua compaixão, nos mostra o Reino da Pureza.

Em cada raio de luz residem incontáveis budas, Trabalhando incansavelmente por incontáveis éons para salvar todos nós.

O corpo do Buda é puro e sereno, ele irradia luz por todo o mundo, Mas sua Verdade é silenciosa e sem forma.

O reino do Buda é incompreensível e seus ensinamentos são ilimitados, CEBB

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Mas ele fala com uma certa voz e a voz do Darma chega a todos os lugares.

E todos os seres alcançam a Iluminação. Cada um de acordo com a sua capacidade, Mas todos os ensinamentos são apenas um.

Muitas são as alegrias do mundo, mas nenhuma supera a alegria da pura paz. O Darma imaculado é o domínio do Buda, de onde ele vê o mundo com visão pura.

Todos os países do mundo ocupam espaço menor que um fio de cabelo. A compaixão do Buda é verdadeiramente tão ampla quanto o céu aberto.

Nosso orgulho é grande como uma montanha, mas o Buda o destrói com o poder de seus meios hábeis e sabedoria. Ele trabalhou incansavelmente para realizar o estado búdico que dissipa a escuridão de nossa ignorância. Realmente pura é a sabedoria do Buda.

No passado infinito ele transcendeu o sofrimento do nascimento e da morte. Ele ensina o caminho da pureza. CEBB

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O Buda é a lâmpada da sabedoria.

Ah, nascimento, velhice, doença e morte, miséria e sofrimentos caem pesadamente sobre o coração humano. Mas, ao ver apenas uma vez o Buda, sua mente imediatamente entra no Reino da Pureza.

Todos os incontáveis mundos do Buda estão preenchidos por suas profundas virtudes. Aqui se reúnem numerosos e imaculados filhos do Buda, sempre para ouvir a voz do Darma. O Buda é elevado e exaltado, mas ele também reside em cada partícula de poeira.

Ele nos ensina numerosas práticas e usa meios além de nossa compreensão Para conduzir todos os seus filhos ao Reino da Pureza.

Ah, o mundo puro da iluminação, o oceano de virtude, todos os seres abençoados pelas circunstâncias positivas para ouvir o Darma fazem votos de seguir o caminho E, no final, atingem o supremo estado de um buda.

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LIVRO I

Introdução

O livro I inicia com a vida lendária do Buda, desde o momento de seu nascimento, e termina com o estabelecimento do primeiro monastério por Anathapindika para o Buda e seus discípulos, no bosque Jetavana, em Savatthi (Sct. Sravasti), a capital do clã Kosala. Essa antiga cidade foi identificada como as modernas cidades gêmeas de Sahet-Mahet do distrito de Gonda, na margem sul do rio Rapti. Inspirados pelas fabulosas histórias dos deuses e seres celestiais do panteão hindu narradas desde tempos imemoriais na Índia antiga, os primeiros escribas budistas ornamentaram a história da vida de Gotama (Sct. Gautama) Buda com eventos fictícios e sobrenaturais, entremeados por fatos e lugares históricos, para honrar este grande professor espiritual. Assim, o primeiro capítulo inicia com uma vida anterior do Buda como Sumedha, que fez o voto ao Buda Dipankara de salvar os seres humanos das delusões que os fazem sofrer. Seu carma positivo trouxe-lhe um renascimento no reino celestial. Mais tarde, ele desceu deste reino celestial para entrar no útero da rainha Maya. Após seu nascimento, o rei Suddhodana tentou impedir o príncipe de se tornar um monge, conforme profetizado, e circundou-o com todos os tipos de prazeres e luxos em uma tentativa de protegê-lo de

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testemunhar os sofrimentos da vida. A lenda dos Quatro Portões simboliza as preocupações do jovem príncipe com a velhice, doença e morte, que ele acaba descobrindo. O quarto portão representa a decisão que ele tomou de deixar o palácio em busca do caminho que pudesse livrá-lo das inevitáveis misérias da vida. Apesar dos contos fantásticos, a veracidade histórica da vida de Gotama pode ser encontrada não somente em traços físicos descobertos por arqueólogos,

mas

também

nos

registros

escritos

de

não-budistas

contemporâneos à época dos primeiros registros budistas. Dois monges chineses que foram à Índia para estudar ou coletar cópias das escrituras budistas (Fa-Hsien no quinto século D.C. e Hsuan-Tseng no sétimo século D.C.) também descreveram em detalhes os lugares sagrados relacionados à vida do Buda que eles visitaram. Gotama (nome de família do Buda histórico) nasceu na metade do sexto século A.C. (a data exata é desconhecida), no bosque de Lumbini, localizado entre Kapilavatthu e Devadaha, o local do nascimento de sua mãe, a rainha Maya, do clã Koliya. Apesar de a vegetação original ter desaparecido completamente da área, as vilas da época de seu nascimento eram separadas por densas florestas que se estendiam do rio Ganges até as montanhas do Himalaya ao norte das planícies. O local em Lumbini, no Nepal, próximo à fronteira indiana, é marcado por uma coluna de pedra erigida em 249 A.C. pelo rei Asoka, o rei do império de Magadha que abrangia aproximadamente todo o território da Índia atual. De acordo com a tradição cingalesa (Sri Lanka), a coroação de Asoka aconteceu 218 anos após a morte do Buda. Esta data é de grande importância para os eruditos estimarem a cronologia dos regentes de Magadha e outras figuras contemporâneas à época do Buda. Segundo a discussão sobre este CEBB

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ponto crucial em ‘A Idade da Unidade Imperial’, volume 2 de ‘A História e a Cultura do Povo Indiano’, editado por R.C. Majumdar (Bombaim: Bharatiya Vidya Bhavan, 2ª ed., 1953) os cingaleses fixam a data da morte do Buda em 544 A.C.; os chineses a colocam em 486 A.C., que foi determinada pela sua prática de gravar um ponto a cada ano após a morte do Buda. Uma vez que a data da coroação de Asoka pode ser determinada como 269 A.C., ‘com um grau tolerável de certeza’, 218 anos antes desta data seria o ano de 487 A.C. Assim, a fonte acima citada declara que a maioria dos eruditos fixou a data da morte do Buda com apenas alguns anos de diferença em relação a esta data. A maior parte dos eruditos determinou as datas da vida do Buda como sendo 563 – 483 A.C. Entretanto, os leitores devem estar conscientes de que não existem provas arqueológicas ou documentais para embasar estas datas, e assim os eruditos tiveram que escolher entre várias datas históricas disponíveis para calcular a cronologia provável da vida do Buda. O local da iluminação do Buda em Bodhgaya é marcado por uma grande árvore Bodhi (figueira sagrada, ficus religiosa) e logo ao lado dela se encontra o Templo Maha Bodhi com sua enorme torre piramidal. Não há evidência direta que permita fixar a data exata ou provável da construção deste templo. Diversas tradições atribuem seu estabelecimento a Asoka, mas o peregrino chinês Fa-hsien visitou Bodhgaya em 409 D.C. e não registrou nada sobre esta marcante estrutura ao lado da árvore Bodhi. Outro monge chinês, Hsuan-tsang, visitou o local em 637 D.C. e descreveu um templo de 160 pés de altura (53 m), tendo ouvido a história de que um brâmane o construiu ao receber um conselho do deus Shiva. Em outras palavras, não é sabido quem ordenou a sua construção, mas parece ser provável que ele tenha sido construído no século VI, antes da visita de Hsuan-tsang. A descrição física registrada em detalhes por Hsuan-tsang corresponde CEBB

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aproximadamente ao templo atual. Bodhgaya está situada seis milhas ao sul da moderna Gaya, no estado de Bihar, e está a cerca de 70 milhas (112 quilômetros) ao sul de Patna, a capital do atual estado de Bihar, Índia. O rio Neranjara (Sct. Nairanjana) no qual o Buda se banhou após seis anos de práticas ascéticas, pouco antes de sua iluminação, está localizado a cerca de 200 jardas (182 m) do local da árvore Bodhi. O capítulo 3 apresenta ao leitor o Primeiro Sermão do Buda que foi proferido

aos

seus

companheiros

anteriores

que

tinham

praticado

austeridades com ele, mas que o abandonaram quando ele parou com as práticas ascéticas e aceitou a comida da mulher Sujata. Os cinco ascetas se tornaram seus discípulos após ouvirem sua doutrina das Quatro Nobres Verdades e do Caminho do Meio para a liberação espiritual, que é o ensinamento básico do Iluminado.

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LIVRO I Capítulo I - A BUSCA PELO CAMINHO

1. Uma Encarnação Anterior do Honrado pelo Mundo Num passado muito distante, o asceta Sumedha lamentava que as pessoas estavam destinadas a vidas sem fim de sofrimento neste mundo. Para liberar-se deste destino, Sumedha realizou ações humanitárias livres do egoísmo. Suportando pacientemente as dificuldades, ele praticou o caminho com devoção unifocada. Naquela época o Buda Dipankara se manifestou neste mundo. Ele expôs o Darma, apontou o caminho e trabalhou para salvar as pessoas. Certa vez, soube-se que este Buda visitaria a vila de Rammaka. O povo da vila se reuniu, decorou os beirais de suas casas, e consertou as estradas colocando areia nas poças cheias de água. Nesse momento, Sumedha se juntou ao povo desta vila, observando suas atividades, e disse: “Mesmo ouvir o nome de um buda é difícil; que boa fortuna ter um buda manifestando-se diante de nossos olhos aqui e agora!” Tomado pela alegria e bastante motivado, Sumedha se juntou a eles e lançou-se à tarefa de consertar as estradas. Mas, antes de eles terminarem os reparos, o Buda, acompanhado por um grande número de discípulos, chegou à vila. Sumedha achou que esse era o momento para fazer uma oferenda ao Buda. Ele soltou seus cabelos, deitou-se no chão lamacento, e disse: “Honrado pelo Mundo, para minha CEBB

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felicidade e benefício eterno, por favor não pise na lama, mas caminhe com seus discípulos por cima de minhas costas.” Após dirigir-se ao Buda com estas palavras, Sumedha fez o voto: “Assim como o Buda Dipankara, eu também faço o voto de eliminar todos os meus obscurecimentos; após alcançar a iluminação, irei salvar todos os seres do oceano da delusão.” O Buda estava próximo à cabeça prostrada de Sumedha, olhou para ele, percebendo o voto na mente de Sumedha, e disse: “Sumedha, num futuro distante você irá, sem dúvidas, tornar-se o Buda Shakyamuni.” Dipankara louvou a aspiração de Sumedha, e então partiu.

2. O Nascimento do Buda (1) Daquele momento em diante, Sumedha praticou gradualmente o caminho dos budas, e logo ele foi elevado à condição que conduz ao estado búdico. Ele renasceu no céu de Tushita e tornou-se um bodisatva. O bodisatva residia em uma terra com árvores asoka e flores de lótus e mandarava desabrochando, onde papagaios, pavões e kalavinkas entoavam suas canções. Circundado por música oferecida por donzelas celestiais, ele subiu no Trono do Leão na Grande Sala do Verdadeiro Darma, e para o benefício de uma hoste de seres divinos, ele expôs o ensinamento. Certo dia, em uma reunião, a música dos seres divinos produziu naturalmente uma canção: “Ó Arhat, éons atrás, sob o Buda Dipankara, você alcançou a iluminação dos budas. “Você completou as práticas e está tomado pela sabedoria. “Ó Arhat, nos lugares onde as pessoas têm estado sedentas por água há

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um longo tempo, rapidamente desça ao mundo e dê-lhes água. “Onde o fogo dos obscurecimentos queima furiosamente, emane uma nuvem de compaixão que faça com que a chuva do Darma caia. “Destrua os estratagemas dos demônios e seus ensinamentos falsos, revele o caminho dos bodisatvas e salve as pessoas do mundo.” O bodisatva ouviu esta canção, e, percebendo que deveria realizar uma grande missão, fez o voto de descer ao mundo dos homens. A hoste de seres divinos elevou as suas vozes em regozijo e gritou: “Agora o Buda surgirá no mundo dos humanos.” O bodisatva analisou numerosos mundos humanos, e desejando nascer em um lar pertencente a um clã nobre, ele escolheu a família Gotama, do clã Sakya. O rei do clã Sakya, o rei Suddhodana, realizava constantemente ações virtuosas e governava seu povo de forma magnânima. Sua consorte, a rainha Maya, possuía uma bela aparência e seu coração era puro. Era hábil em diversas artes e possuía todos os méritos necessários para se tornar a mãe de um buda.

(2) Então, o bodisatva expôs os ensinamentos para o benefício da hoste de seres divinos: “Todos vocês, primeiramente fortaleçam sua fé, venerem os ensinamentos, sustentem o Buda, o Darma e a Sanga em suas mentes, e sigam o caminho dos sábios. Sabendo que o mundo é impermanente e cheio de sofrimentos, repousem na mente livre de identidades. Com a mente pacífica, não gerem pensamentos de cobiça. Incessantemente absortos em meditação, atinjam a sabedoria; através dos meios hábeis, guiem aquelas pessoas que estão encobertas pela escuridão da ignorância. “Até mesmo os maravilhosos ornamentos do mundo celestial caem nas terras do sofrimento quando a boa fortuna que os produziu se exaure. CEBB

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Mesmo a cobiça é pateticamente volátil. Tudo é tão vazio quanto um sonho. A cobiça não será nunca saciada; é como estar morrendo de sede, e então beber água salgada. “Portanto, movendo-se com urgência, alcancem o êxtase do não-criado. Se vocês atingirem a sabedoria transcendente alcançarão a satisfação. “Estudem os princípios das coisas, não se apeguem às palavras. Ajam de acordo com suas palavras, e falem de acordo com suas ações. “Sempre estejam conscientes de suas próprias negatividades, e não fiquem olhando para as falhas dos outros. Sem realizar suas próprias ações, vocês não receberão os frutos das ações realizadas pelos outros.” O bodisatva instruiu a hoste de seres divinos com estas palavras. Quando ele estava pronto para descer do reino celestial, incontáveis seres divinos daquele mundo se reuniram no palácio do céu de Tushita, e fizeram oferendas de música ao bodisatva. Naquele momento, do corpo do bodisatva irradiou luz, que brilhou nos grandiosos três mil mundos, e dissipou a escuridão. Os céus e a terra tremeram, e a luz do sol e da lua perderam seu poder. O povo foi preenchido por alegria, e se tornaram tão amorosos uns com os outros como se fossem pais e filhos. Os seres celestiais cantaram:

“Por um tempo incomensurável ele dilacerou sua carne e pulverizou seus ossos. Como recompensa para sua prática completa, o bodisatva atinge um corpo que não pode ser movido. Recebendo o elmo da compaixão ele dissipa o mal perpetrado pelas negatividades. Possuindo compaixão por todos os seres, o bodisatva agora se manifesta no mundo. CEBB

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Brilhando com a luz da sabedoria, ele desperta todos aqueles que estão adormecidos. Como um grande rei dos grandiosos mil mundos, ele surge no mundo como o sol.”

(3) Nesse momento o bodisatva assumiu a forma de um enorme elefante branco com seis presas e desceu do céu de Tushita. Ele passou sob o braço direito da rainha Maya e entrou em seu útero, enquanto ela dormia pacificamente. O palácio foi preenchido por alegria e paz. Nuvens auspiciosas moviam-se pelo céu e envolveram os telhados das imponentes torres. Certo dia, no último mês de sua gravidez, a rainha decidiu passar um dia de primavera no jardim florido. Tendo recebido a permissão do rei e acompanhada por um séquito de damas de companhia, ela foi levada até o bosque de Lumbini. As árvores estavam cobertas por belas flores que emanavam fragrâncias agradáveis; o gramado de um verde profundo era como as penas da cauda de um pavão, e dançava como fina e macia seda tocada pelo vento. A rainha se pôs a passear prazerosamente; ela se apoiou em um galho de uma árvore asoka que se inclinava devido ao peso das flores. Naquele instante o bodisatva nasceu, repentinamente, porém tranquilamente. Imediatamente após o nascimento, ele deu sete passos em cada uma das quatro direções e declarou: “No céu acima e na terra abaixo, eu sou o mais honrado. Irei dissipar o sofrimento que envolve o mundo.” Os seres divinos que residem no espaço louvaram as virtudes da mãe, a rainha Maya. O rei Naga fez chover água fria e morna para banhar o corpo do bodisatva. A grande terra tremeu e se agitou com alegria. Logo depois, a criança foi recebida pela rainha, e como tudo havia acontecido sem CEBB

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dificuldades ele foi chamado de Siddhattha (Aquele que Alcança Suas Metas). Sete dias após seu nascimento, sua mãe, a rainha Maya, partiu deste mundo e renasceu no céu de Tavatimsa, e sua irmã mais jovem Mahaprajapati assumiu o papel de uma amorosa madrasta para o príncipe. Naquela época o sábio Asita, que vivia nas montanhas próximas à cidade de Kapilavatthu, estava alarmado com os sinais auspiciosos que acompanharam o nascimento do príncipe. Ele visitou o palácio real, levando consigo o seu sobrinho, uma criança de nome Narada. Asita embalou o príncipe com reverência e olhou para ele por um longo tempo, mas logo, soluçando com lágrimas de tristeza, ele disse: “Ó rei, se esta criança permanecer em casa irá se tornar um monarca universal e trará paz para os quatro mundos. Mas ele, sem dúvidas, deixará o lar em busca do caminho e se tornará um buda. Eu sou um homem velho e não ouvirei os ensinamentos deste buda; ao compreender isto, derramei estas lágrimas de pesar.” O rei Suddhodana ouviu essas palavras e se regozijou, fazendo diferentes tipos de oferendas ao sábio e a Narada.

3. Noivado com uma Princesa Desde os sete anos o príncipe Siddhattha estudou idiomas, matemática, direito, astronomia, geografia, arco e flecha, e outros, com diversos professores. A superioridade de sua inteligência e de sua força física assombrava repetidamente os seus professores. Certo ano, na primavera, em um festival de plantio, o rei Suddhodana estava dando uma festa para os oficiais, e realizou o ritual do arado com uma pá de ouro. O príncipe o acompanhou, deixando o castelo. Ele observava CEBB

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enquanto os agricultores aravam o campo. Então ele viu um pássaro que mergulhava dos céus para pegar uma minhoca que havia sido desenterrada por acaso pela ponta do arado. Seu coração compassivo condoeu-se com esta visão. Ele lamentou: “Que sofrimento! Os seres vivos devoram uns aos outros para sobreviverem.” Tomado por tristeza, ele andou até a floresta no limite do campo. Sentado sob uma árvore jambu de espessa folhagem, ele mergulhou profundamente em seus pensamentos. Ninguém sabia onde o príncipe estava; o povo, preocupado, começou a procurá-lo. Quando depararam com ele, descobriram algo estranho. Apesar de as árvores ao redor fazerem sombra, a árvore sob a qual o príncipe estava sentado não lançava sombra alguma. O rei Suddhodana olhou a forma majestosa do príncipe imerso em pensamentos. Mesmo o príncipe sendo seu próprio filho, ele o louvou e disse: “Ele é como a lua que brilha claramente no céu.” Quando o príncipe tinha dezenove anos o rei construiu palácios para as três estações do verão, inverno e a estação chuvosa; e decidiu que eles seriam as residências para o príncipe. As águas do lago tocavam as escadarias do palácio, e pequenas ondas se propagavam na superfície. A fragrância do puro lótus sempre estava no ar. Naquele ano o rei decidiu escolher uma princesa virtuosa e torná-la consorte do príncipe. Sua primeira escolha foi a princesa Yasodhara, a filha mais velha de Suppabuddha, rei dos Kolyias, a família da rainha Maya. De acordo com os costumes daquele tempo, foi organizada uma festividade na qual o príncipe deveria, junto com jovens príncipes de outros clãs, se engajar em uma competição para Escolha do Noivo. Naquele dia, a princesa, vestida com beleza e acompanhada por seu pai, assumiu o trono que havia sido preparado para ela. Durante a competição os outros príncipes, com os corações batendo fortemente, enfrentaram-no. Mas não havia CEBB

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ninguém que pudesse igualá-lo nas artes marciais, fosse na luta, no arco ou outras habilidades. Em meio às palavras de louvor que choveram sobre ele, o príncipe e a princesa noivaram; assim, a futura rainha foi escolhida neste local.

4. Viajando Além dos Quatro Portões (1) Após o noivado, o príncipe e a princesa viveram no palácio por aproximadamente dez tranquilos anos. Durante esse tempo, entretanto, ele havia contemplado profundamente a natureza da vida, e agora estava próximo o momento de deixar o lar para buscar o caminho. Certo dia, ele ouviu os seguintes versos na música que estava sendo tocada no palácio:

“A música das belas donzelas desvia os homens para a luxúria. Mas a força de um homem livre de máculas permitirá que ele ouça a música como sendo as palavras do Darma. Ó Arhat, lembra-te daqueles dias passados quando observaste as massas sofrendo e, ao fazer o voto de salvá-las, acumulaste virtudes para o seu benefício. Agora é o momento de deixar o lar. Com uma mente de grande compaixão, recebe aqueles aflitos pelos três venenos. De fato, nos três mundos as negatividades queimam como um fogo intenso. Os ignorantes estão inebriados pela juventude, mas logo serão destruídos pela velhice, doença e morte. O homem sábio, em tempos passados, encontrou o Buda e já se iluminou com o verdadeiro Darma. O momento de derramar o doce néctar do Darma é agora!” CEBB

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(2) O príncipe passava cada vez mais os seus dias em um estado contemplativo. Certo dia, ele pensou: “Em última análise, viver como um ser humano nada mais é do que buscar alguma coisa. Há a busca positiva e a busca negativa. A busca negativa é seguir desta forma: Apesar de ser alguém que passa pelo nascimento e pelo envelhecimento, a pessoa procura outros seres que também passam por nascimento e velhice. Apesar de possuir um corpo que é presa fácil das doenças, que definha e morre, que entra em depressão, e que é maculado pelas negatividades, a pessoa procura por outros que sofrem da mesma forma. Quais são algumas das coisas que se seguem ao nascimento? São coisas como esposa e filhos, servos, víveres, ouro e prata. Assim como a própria pessoa, estas coisas envelhecem, adoecem, caem em depressão, e são maculadas pelas negatividades. As pessoas deste mundo, apesar de, um dia, definharem e morrerem, mesmo assim buscam coisas que definham e morrem; além do mais, elas se apegam a estas coisas e são desvirtuadas por elas. “A busca positiva se dá da seguinte forma: Aquele que passar pelo nascimento observa a desgraça daqueles que também passaram pelo nascimento, e procura alcançar o nirvana da paz insuperável, que é um Darma que não leva ao nascimento. Ou, aquele que envelhece, adoece, cai em depressão e é maculado pelas negatividades, observa a desgraça daqueles que sofrem o mesmo, e busca o nirvana da paz insuperável, que não envelhece, adoece, cai em depressão ou se torna maculado pelas negatividades. “Quando reflito sobre mim mesmo, vejo que eu também sou um daqueles que buscam coisas sem valor. Que tolice! De agora em diante, devo buscar as coisas que estão livres de depressão e negatividades.” CEBB

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(3) Novamente, Siddhattha pensou consigo mesmo: “Meu corpo é extremamente belo e delicado. Em meu palácio, lagos repletos de incontáveis lótus estão cheios até a superfície com água. Flores em uma multiplicidade de cores – azul, vermelho e branco – desabrocham em toda sua glória. Se o perfume não provém da árvore candana que cresce no país de Kasi, eu não aceito passá-lo em meu corpo. Também visto roupas de baixo de seda que tocam a minha pele, e indumentárias e chapéus superiores e inferiores de seda, todos do país de Kasi. Noite e dia um dossel branco, sobre minha cabeça, me abriga dos desconfortos do calor e do frio, e me protege da poeira, grama, orvalho e assim por diante. “Além disso tudo, eu possuo três palácios. Durante os quatro meses da estação das chuvas eu me retiro no Palácio da Chuva; e, rodeado por donzelas, nunca saio do palácio, tomado pelos prazeres da música, dança e vinho. Os servos de outras casas recebem para a refeição arroz com casca ou um mingau azedo; mas, em minha casa, mesmo os servos comem arroz branco e limpo. “Eu vivo em meio a tamanha opulência, abençoado com um corpo esplêndido; entretanto, de que me serve isto tudo quando procuro o despertar? Os seres do mundo irão, definitivamente, envelhecer; eles são recipientes que adoecerão; eles são seres que irão, pela sua própria natureza, fenecer e morrer. Porém, vendo os velhos, os doentes e os mortos, eles os olham com desgosto. Eu não devo me comportar assim. “Neste instante, eu abandonarei o orgulho da juventude, saúde e vida.”

(4) Enquanto sua mente se encontrava em profunda batalha, seu pai, o rei, relembrando as palavras do sábio Asita, que tinha feito uma profecia CEBB

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sobre o príncipe, ficou profundamente preocupado que ele pudesse deixar o lar para buscar o caminho. Um dia, ele ouviu que o príncipe planejava deixar o castelo e visitar a floresta, e ordenou a todos os seus atendentes que removessem todas as coisas feias e nocivas de sua visão. Ele ordenou aos atendentes para limparem as estradas, decorarem a cidade e varrerem e limparem o jardim. O príncipe, acompanhado por seus atendentes, partiu em uma carruagem através do Portão Leste. Na estrada, ele deparou com um homem que se arrastava com dificuldades. O homem parecia ser corcunda; seu cabelo era branco; seu corpo estava enfraquecido; e ele se apoiava em um cajado. Quando o príncipe perguntou ao condutor da carruagem que tipo de homem era aquele, o condutor respondeu: “Um homem velho.” O príncipe disse: “Eu também me tornarei como aquele homem?” O condutor respondeu: “Todos os seres vivos, nobres ou não, não têm como escapar desse destino.” O príncipe ficou angustiado e seu plano de visitar o jardim desapareceu, ele imediatamente ordenou que a carruagem retornasse ao palácio. Na segunda vez o príncipe deixou a cidade através do Portão Sul. Ele encontrou um homem que era apenas ossos. Enquanto ele se contorcia em dor no meio de um monte de lixo e arfava, gotas de suor escorriam por sua pele amarelada. O príncipe perguntou: “Algum dia eu ficarei doente como aquele homem?” O condutor respondeu: “Ninguém é capaz de escapar a esse tipo de sofrimento.” Novamente o príncipe ordenou que a carruagem retornasse ao palácio. O rei Suddhodana ouviu sobre o que estava acontecendo e foi ficando cada vez mais incomodado. Com severidade ainda maior ele ordenou que seus atendentes limpassem todos os cantos da cidade. Mas, quando o príncipe deixou a cidade pelo Portão Oeste, ele topou com uma procissão de CEBB

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pessoas entristecidas em luto, carregando um homem morto em uma maca. O príncipe observou e perguntou: “Ai de mim, no final eu também serei como esse homem?” O condutor respondeu: “Todas as coisas vivas devem morrer, inevitavelmente.” Então, naquele dia a carruagem, novamente, retornou ao palácio. Na próxima ocasião, quando deixou a cidade através do Portão Norte, ele encontrou um homem vestido com um manto cor de açafrão, caminhando com grande dignidade. Seu cabelo e sua barba tinham sido raspados, ele carregava uma tigela de mendicante em suas mãos. Quando o príncipe perguntou ao condutor: “Que espécie de homem é aquele?” o condutor respondeu: “Um mendicante que busca o caminho.” O príncipe desceu da carruagem, curvou-se para o homem, e disse: “Que tipos de benefícios recebe o mendicante?” O homem respondeu: “Observando a transitoriedade deste mundo, a doença, a velhice e a morte, eu busco alcançar a liberação, e ao abandonar todos os meus parentes, eu pratico agora o caminho em locais tranquilos. Guiado pelo Darma verdadeiro eu restrinjo meus cinco órgãos sensoriais, e com grande compaixão eu protejo todas as pessoas sem me deixar macular pelas negatividades deste mundo; estes são os benefícios de ser um mendicante.” Ao ouvir estas palavras, o príncipe tomou uma firme decisão, e pensou consigo: “Não há nada neste mundo que supere isto, eu também devo abandonar o lar e estudar o caminho.” Então, ele se curvou com reverência ao mendicante, entrou na carruagem, embrenhou-se na floresta e passou o restante do dia em uma variedade de atividades lúdicas. À medida que o crepúsculo se aproximava, ele se banhou em um lago escondido na floresta. Então, mandou seus atendentes apanharem suas roupas mais finas para ele vestir. Em meio às exclamações de encanto das CEBB

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donzelas da corte, ele subiu à carruagem. Naquele momento, um mensageiro enviado pelo rei trouxe a notícia do nascimento de um príncipe. Ele, sem alegria, disse: “Nasceu outro grilhão que devo desfazer.” Tendo ouvido a palavra rahula (grilhão), o mensageiro reportou-a ao rei, e assim o recémnascido foi chamado de Rahula. O príncipe, que tinha tomado a firme decisão de deixar o lar naquela noite, apressou-se para chegar ao palácio e foi circundado por uma multidão de pessoas felizes. Mas, no caminho, uma jovem donzela de nome Kisa Gotami, a qual estava no andar superior de seu palácio, que possuía vista para a estrada principal, viu o príncipe e, encantada, recitou este verso:

Verdadeiramente feliz é o pai, Verdadeiramente feliz é a mãe Que possuem tal filho. Verdadeiramente feliz é a esposa Que espera por tal marido. Quão verdadeiramente feliz!

A mente do príncipe não se perturbou com tais versos agradáveis e apaixonados, mas como a palavra ‘feliz’, ‘nibbuta’, parece-se com a palavra nirvana, ele lembrou-se da segunda. Grato por sua bênção inesperada, ele tirou um colar de pérolas e o presenteou à jovem donzela. Então, apressando seu condutor, ele retornou ao palácio.

5. Abandonando o Lar para Buscar o Caminho

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(1) Para descansar a fadiga do passeio daquele dia, o príncipe deitou em sua cama adornada por joias. Um grupo de belas cortesãs tentou confortar o príncipe cantando e dançando ao som da música. A qualidade belíssima de sua performance e a graciosidade de suas formas faziam lembrar as donzelas celestiais. Mas até mesmo sua habilidosa dança não foi capaz de afetar a mente do sereno príncipe, que rapidamente caiu em um sono profundo. As cortesãs perceberam e perderam seu entusiasmo pela dança e pelo canto. Elas pararam a música e também foram dormir. Apenas a chama perfumada tremulava brincando na noite silenciosa. O príncipe acordou repentinamente de seu sono, sentou na cama e analisou a cena que o circundava. A noite estava calma, o palácio era belo e a luz dos incensos emitia uma fragrância agradável. Mas quão repugnantes pareciam as dançarinas! Saliva escorria de suas bocas; elas rangiam os dentes e murmuravam durante o sono. Suas roupas e corpos estavam desalinhados, e elas estavam esquecidas de suas posições como mulheres. Em grupos de duas ou três elas se encontravam em sono profundo. Na verdade, o palácio que brilhara durante a tarde havia se tornado um cemitério. O príncipe ficou arrepiado de desgosto e levantou-se. Em seu coração, ele clamava: “Todas as coisas são como esta cena, não posso tolerar isto.” Ele decidiu fugir do palácio imediatamente; deixou seu quarto silenciosamente e se dirigiu ao portão do palácio. Ele chamou seu condutor, Channa, e ordenou que selasse seu cavalo. Então, retornou mais uma vez aos aposentos da princesa e abriu a porta com cuidado. No quarto, lamparinas perfumadas lançavam pálidas sombras na profunda escuridão da noite, e havia apenas a respiração silenciosa de alguém em sono profundo. Ele pensou: “Se eu abraçar meu filho e me entristecer por este encontro final, a princesa despertará e tentará me impedir de deixar o lar. Em vez disso, seria mais sábio visitar esta criança depois que CEBB

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eu atingir a iluminação.” Deixando o palácio e montando seu belo garanhão Kanthaka, ele se apressou em direção ao grande portão externo da cidade. Como precaução para o caso de o príncipe deixar o lar, o rei havia posicionado um grande número de soldados nesse portão, que tinham a ordem de guardá-lo. Além disso, os dois portões de ferro foram construídos de tal forma que mesmo a força de mil homens poderia abri-los apenas com dificuldade. Mas, talvez devido à ajuda de seres divinos, os guardas haviam misteriosamente adormecido, e mesmo aqueles grandes portões de ferro se abriram silenciosamente. O garanhão branco Kanthaka correu através do portão como uma rajada de vento. Era meia-noite do dia da lua cheia do quarto mês. Naquele momento, Mara apareceu no céu e gritou: “Ó príncipe, abandona a tua intenção tola de deixar o lar e retorna ao palácio cheio de flores. Se assim o fizeres, em sete dias tornar-te-á um rei universal que reinará nas quatro direções.” O príncipe respondeu: “Ó rei Mara, vai para longe! Demônio do mal, desaparece daqui! Ser soberano neste mundo não é meu objetivo, minha única aspiração é encontrar o caminho.” Quando o príncipe o rejeitou com aquelas palavras, o rei Mara silenciosamente se retirou desanimado. Mas ele pensou: “Mais cedo ou mais tarde, o pássaro do ódio construirá um dia um ninho no coração do príncipe; nesse momento, eu aproveitarei a minha chance.” Daquele dia em diante, como a sombra que segue o corpo, ele não saiu do lado do príncipe e fez o seu melhor para obstruir o caminho dele para a iluminação.

(2) O príncipe, que havia deixado o palácio de forma resoluta, sentiu vontade de olhar uma última vez para sua cidade, que estava gradualmente desaparecendo à distância; porém, ele repreendeu a si mesmo e apertou o CEBB

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passo. Devido à ferocidade da batalha em sua mente, a grande terra girou misteriosamente como a roda de um ceramista, e a cidade apareceu diante de seu olho mental. Mas, com determinação renovada, ele continuou galopando. Após cavalgar por sete milhas, chegou às margens do rio Anoma ao amanhecer. Continuando apressadamente, voou sobre o rio com um único salto. Ele se abaixou até a areia que começava a brilhar, cintilante sob o sol da manhã.

O príncipe tirou suas roupas e deu-as a Channa, dizendo: “Ó

Channa, algumas pessoas servem com suas mentes, mas não com seus corpos; enquanto outros servem com seus corpos, mas não com suas mentes. Você me serviu tanto com seu corpo quanto com sua mente. As pessoas brigam para servir aqueles que são importantes e abastados, mas elas se afastam daqueles que são pobres e de nascimento inferior. Apenas você, entretanto, abandonou o próprio país e me seguiu por longas distâncias até este lugar. Sua ação é verdadeiramente admirável!” Soltando seu coque, o príncipe segurou uma joia e disse: “Channa, volte ao palácio agora e ofereça isto ao grande rei. Transmita estas palavras a ele: ‘O príncipe não quer nada das coisas do mundo. As pessoas estão todas aprisionadas pelas emoções do amor e da afeição, mas no final elas não são capazes de enganar a velhice, a doença e a morte. Por favor, pondere sobre esta verdade e abandone a aflição. Enquanto o príncipe não alcançar a iluminação, ele não retornará ao palácio.’” Então tirou um colar, entregou-o a Channa, e disse: “Por favor, leve isto à rainha madrasta, e diga a ela que o desejo é a raiz do sofrimento e que eu resolvi cortar a raiz do sofrimento e acabar com a aflição.” Mais uma vez ele entregou uma variedade de ornamentos e disse: “Por favor, leve-os à princesa e diga-lhe que no mundo dos homens, infalivelmente, há a dor da separação; CEBB

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e que o príncipe decidiu cortar a raiz desta dor. Se ela se abater pela emoção do apego amoroso, diga-lhe para não se afundar na aflição.” Channa se desesperou, e chorando suplicou para seguir o príncipe como mendicante também, mas ele não permitiu. Então, Channa chorou em alta voz. O garanhão Kanthaka também dobrou suas patas dianteiras e lambeu os pés do príncipe, enquanto gemia tristemente. Ele tocou a cabeça de Kanthaka e consolou-o com estas palavras: “Ó Kantaka, você fez tudo o que lhe foi pedido, não há razão alguma para ficar triste.” Ele desembainhou sua espada com a mão direita, e com a esquerda segurou seus cabelos, e cortouos. Ele lançou os cabelos no ar, exclamando: “Se eu for capaz de alcançar a verdadeira iluminação, possam estes cabelos permanecer suspensos no ar. Se eu for incapaz de tal tarefa, que eles caiam ao chão.” Os cabelos permaneceram suspensos no ar e não caíram. O deus Indra recolheu os cabelos e colocou-os em um vaso ornamentado por joias, guardando o vaso no céu de Tavatimsa. O príncipe vestiu-se com três mantos presenteados a ele pelo filho do deus Ghatikara, e com uma tigela em sua mão calmamente começou a caminhar. Aos prantos, Channa disse adeus ao príncipe, enquanto ele desaparecia ao longe. Com o coração pesado, Channa retornou ao palácio. Mesmo caindo na ira de todo o clã, especialmente do grande rei Suddhodana e da princesa Yasodhara, Channa transmitiu fielmente as palavras do príncipe.

(3) Agora o príncipe havia se tornado um humilde mendicante. Ele se sentiu renascido tanto em mente quanto corpo, e com a tigela na mão pediu por comida nas casas da vizinhança. Mas, no início, o príncipe, que estava acostumado a se deliciar com as generosas refeições do palácio, não conseguiu comer a comida desagradável que havia conseguido juntar. CEBB

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Dirigiu-se a um local sob uma árvore e tentou comer, mas hesitou; sem pensar, ele estava no ponto de jogar a comida fora. Mas, repentinamente, atingido pelo pensamento de que agora era um mendicante buscando o caminho, ele partilhou daquela comida graciosamente. Daquele momento em diante, durante toda a sua vida, o príncipe nunca sofreu por comida. Ele entrou, então, em Vesali e visitou o asceta Bhaggava para observar as práticas de seus seguidores. Ele percebeu que eles se vestiam com roupas feitas de folhas e cascas de árvores, e comiam raízes e frutas. Às vezes, comiam uma vez por dia; outras vezes comiam uma vez a cada dois ou três dias. Eles veneravam o fogo e a água e dormiam em becos. O asceta explicou os benefícios da mortificação. Ele afirmou: “No futuro, devido a estas práticas, você renascerá nos reinos celestiais.” Mas o príncipe o pressionou com questões como: “Quando a alegria dos céus chegar a um fim, não teremos que afundar novamente no mundo do sofrimento? Por que você e seus seguidores cultivam as sementes do sofrimento e buscam seus frutos?” O asceta Bhaggava não foi capaz de responder de uma forma satisfatória. O príncipe, então, pensou: “Mercadores buscam tesouros e se lançam aos mares. Reis buscam expandir seus territórios e guerreiam com outros países. Estes ascetas buscam os mundos celestiais e se entregam a práticas ascéticas.” Desta forma, as questões e respostas continuaram até o cair da noite. O príncipe passou a noite ali, mas estava convencido de que estas práticas não eram o caminho verdadeiro. No dia seguinte ele partiu, e ao cruzar o Ganges, em direção ao sul, aproximou-se das vizinhanças de Rajagaha. Então ele visitou um asceta de nome Alara Kalama, que vivia no Monte Sumeru, e perguntou-lhe sobre o caminho. “Ó Kalama, desejo praticar o seu ensinamento.” O asceta respondeu: “Permaneça aqui comigo se desejar; este ensinamento pode ser realizado por qualquer um em um curto tempo.” O CEBB

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príncipe rapidamente chegou à perfeição daquele ensinamento. O príncipe pensou: “Quando Kalama afirma ter realizado este ensinamento, ele não apenas acredita que isto é verdade. Ele não tem dúvidas de que realizou completamente o ensinamento.” Desta forma, o príncipe perguntou: “Kalama, qual é a natureza de sua iluminação?” Kalama respondeu falando sobre o estado da nulidade infinita. “No estado da nulidade infinita, os pensamentos sobre coisas materiais são transcendidos e todas as coisas existentes são vazias. Este é o estado meditativo no qual realizamos que apenas o vazio existe na nulidade infinita.” O príncipe pensou consigo mesmo: “Alara Kalama não é o único que possui fé, eu também possuo fé. Não apenas ele, mas eu também possuo esforço, atenção mental correta, meditação e sabedoria. Irei me esforçar para alcançar o estado que, assim se diz, ele alcançou.” Em pouco tempo o príncipe realizou aquele ensinamento, e aproximando-se de Kalama, disse: “Kalama, é esta a amplidão do ensinamento que você afirma ter alcançado?” “Esta é a amplidão”, respondeu

Kalama.

O

príncipe

disse:

“Eu,

também,

realizei

este

ensinamento.” Kalama disse: “Amigo, eu sou afortunado por ter recebido um aluno como você. O ensinamento que eu realizei, você também realizou. O ensinamento que você alcançou, eu também alcancei. Você e eu alcançamos o mesmo estado. Portanto, vamos juntos guiar os discípulos.” Mas o príncipe pensou: “Este ensinamento não leva à liberação da delusão. Este não é o ensinamento verdadeiro e iluminado que é livre de cobiça. Através deste ensinamento atinge-se apenas um estado chamado nulidade infinita.” Insatisfeito com o ensinamento, o príncipe colocou-se novamente a buscar. Então, procurando pelo caminho que leva à paz, ele foi até Uddaka Ramaputta e praticou seu ensinamento. Ali o príncipe realizou o ensinamento de Uddaka. Ele descobriu que o CEBB

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ensinamento de Uddaka levava apenas à realização de um tipo de estado meditativo no qual não há nem consciência, nem ausência de consciência. Ele pensou: “Este ensinamento também não leva à liberação da delusão; este não é o ensinamento verdadeiro e iluminado que é livre de cobiça.” Ele pensou que se o estado de nem consciência nem de ausência de consciência fossem desprovidos de ego, então mesmo os termos “nem consciência nem ausência de consciência” deveriam, por bem, existir. Se, por outro lado, houvesse um ego, então, inevitavelmente deveria haver alguma consciência. Se houvesse consciência e o ser ficasse confuso nas conexões mundanas, então o apego surgiria. Pensando que isto não podia ser encarado como liberação, ele deixou Uddaka e colocou-se, mais uma vez, na estrada em busca do caminho.

(4) Incitando-se a seguir a estrada, o príncipe chegou a Rajagaha e foi de casa em casa mendigando por comida. As pessoas da cidade perceberam a nobre aparência do príncipe e se empurravam para caminhar atrás dele. Devido à comoção, o rei Bimbisara finalmente se alarmou. Subindo à torre do palácio, ele viu a aparência majestosa do príncipe à distância. Ele foi atrás do príncipe em sua carruagem até chegar à colina Pandava, fora da cidade. Após uma troca de saudações, o rei disse: “Apesar de ser um mendicante, você ainda é jovem; você parece ser um príncipe de nobre nascimento. Se tiver a vontade de reinar, eu gostaria de dividir o país em dois e você teria a metade.” O príncipe respondeu: “Sou um príncipe do clã Sakya, que mora nas colinas ao pé dos Himalayas. Tendo compreendido que a cobiça é a raiz do sofrimento, eu abandonei toda a cobiça e agora aspiro à paz do nirvana. Esta é a única coisa que busco.” O rei ficou profundamente comovido pela nobre mente do príncipe e disse: “Se você alcançar a iluminação, eu gostaria de ser o primeiro a ser salvo CEBB

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por você.” O príncipe aceitou silenciosamente a súplica do rei, e partiu. Ele viajou na direção sudoeste, cruzou o rio Neranjara, e entrou na silenciosa floresta de Uruvela. Essa floresta exuberante e de um belo verde, situada próximo ao rio Neranjara com suas margens de areia branca pura, tornou-se para o príncipe o local para um período de seis anos de prática do caminho do bodisatva. Logo depois que o príncipe entrou no caminho da mendicância, seu pai, o rei Suddhodana, escolheu cinco homens, Kondanna e outros quatro pertencentes ao clã Sakya, e ordenou que eles seguissem o príncipe. Ao cumprirem as ordens, eles acabaram juntando-se ao príncipe e iniciaram as práticas espirituais também.

6. Práticas Ascéticas (1) Durante os seis anos seguintes o príncipe fez uma refeição por dia, ou uma refeição a cada duas semanas, ou uma refeição por mês. Com as pernas cruzadas, ele sentou-se em uma postura digna e não sucumbiu à chuva, ao vento e ao trovão; em silêncio, nunca sentiu medo. Às vezes apertava seus dentes, passava sua língua pelo palato superior e restringia sua mente. A transpiração escorria de suas axilas como se um homem muito forte estivesse pressionando-o para baixo, mas sua mente não oscilava no esforço. Sua atenção mental correta permanecia imperturbável; ao invés de enfraquecer, ele estava cheio de energia e era incentivado por aquele grande sofrimento. Em certa ocasião, o príncipe praticou meditação sem respirar. Quando ele parou de respirar pela boca e pelo nariz, o ar que estava preso dentro dele saiu pelos ouvidos fazendo um tremendo ruído. O ruído era tão

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forte quanto o fole de um ferreiro. Ao avançar e parar com a respiração pelos ouvidos, um violento vento interno se elevou em direção ao topo da cabeça; era como se ele estivesse sendo perfurado por uma espada afiada. Em outro momento, os violentos ventos internos fizeram com que sua cabeça doesse como se ela estivesse sendo perfurada por um pedaço quebrado de cerâmica. Em uma outra vez, ele sofreu uma febre violenta, como se uma faca de cozinha estivesse rasgando seu estômago, ou como se ele tivesse jogado seu corpo em uma fogueira. E mesmo assim a mente do príncipe nunca oscilava. Ao ver isto, um homem pensou que Gotama tivesse morrido. Outro pensou que ele morreria logo. E ainda outro suspeitou que ele tinha alcançado a iluminação e entrado na vida de um sábio.

(2) O príncipe, então, decidiu intensificar sua prática, e parou de comer completamente. Os seres celestiais ficaram desolados, e gritaram: “Você não deve se abster de comer. Se você está determinado a jejuar, nós iremos derramar fluidos através de seus poros mantendo-o vivo.” Mas o príncipe, sem se abalar, rejeitou sua oferta. O príncipe comeu apenas uma parca ração de feijões, e em pouco tempo se tornou macilento. Seus braços e pernas se transformaram em caniços secos, suas nádegas pareciam a corcova de um camelo, e sua coluna parecia uma corda trançada. Suas costelas se projetavam para fora como as vigas de uma cabana, e a pele que cobria sua cabeça se tornou desgastada como uma cuia semiamadurecida que tivesse sido marcada pelo sol. Apenas seus olhos, profundos em suas órbitas, brilhavam como as estrelas refletidas em um poço profundo. Quando ele esfregava sua barriga, podia agarrar sua espinha; e quando esfregava sua espinha era capaz de agarrar seu estômago. Quando tentou ficar em pé, ele girou e caiu. As raízes de seus cabelos apodreceram, e seu cabelo caía em chumaços. O CEBB

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príncipe pensou: “Nenhum asceta ou mendicante do passado, do presente ou do futuro passou ou irá passar por sofrimentos maiores que estes.”

(3) Assim, o príncipe seguiu práticas que não foram superadas por outros em sua excelência e que levavam ao abandono do desejo. Ele rompeu com os costumes tradicionais. Por exemplo, ao invés de lavar suas mãos após as refeições, ele as lambia. Ele recusava esmolas que lhe fossem oferecidas com as palavras: “Por favor, entre; por favor, pegue isto.” E também rejeitava convites e se recusava a aceitar comida de casas onde havia cachorros ou onde havia moscas voando ao redor. Ele não comia peixe ou bebia licor; ele fazia uma refeição por dia, ou uma refeição a cada dois ou sete dias. Gradualmente reduziu a quantidade de comida, e passava a metade de um mês sem comer. Ele comia coisas como cascas de cereais, palha dos grãos, cascas de arroz, plantas aquáticas e castanhas e frutos podres. Para vestir, ele usava sacos, fibras, roupas feitas com tecidos jogados fora, cascas de árvores, e pele de animais. Ele passou por todos os tipos de práticas de automortificação: arrancando cabelos de sua cabeça ou fios de sua barba, ficando

em



constantemente,

ficando

na

posição

de

cócoras

constantemente, deitando em camas de espinhos, passando óleo em seu corpo e poeira sobre ele, secando-se próximo ao fogo, imergindo seu corpo na água e suportando o frio, e assim por diante. Desta forma, a sujeira de anos saía sem precisar ser tocada. Sua pele perdeu o brilho e ficou de uma cor acinzentada, como a cor de uma árvore coberta por musgo velho. Ele era muito cuidadoso em não tirar a vida de pequenas criaturas, certificando-se de não pisar mesmo nos menores insetos. Tendo se retirado do mundo, ele evitava as pessoas, fugindo até mesmo dos vaqueiros, cortadores de grama, lenhadores, e retirou-se profundamente na floresta. CEBB

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(4)

Fustigado pelo sol, insensibilizado pelo frio, completamente só. Na floresta amedrontadora, sem roupas ou fogo, O sábio senta-se em meditação Com a luz radiante de seus ideais.

O príncipe, além do mais, dormia às vezes nos cemitérios, onde os cadáveres e ossos estavam espalhados ou amontoados. Os filhos dos pastores viam o príncipe e cuspiam ou jogavam lama nele; ou, quebrando o galho de uma árvore, eles enfiavam o ramo no ouvido do príncipe. Mas sua mente não sentia raiva por estas crianças. Suportando tais práticas ascéticas, ele realizou aquilo que é difícil de realizar; entretanto, ainda se sentia incapaz de alcançar o Darma que transcende este mundo. Ele não conseguiu atingir a sabedoria divina. Percebendo que estas práticas não o levariam à liberação, que elas não extinguiriam o sofrimento, e que elas não lhe trariam a sabedoria pura, o príncipe decidiu procurar um novo caminho.

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LIVRO I Capítulo II - ILUMINAÇÃO

1. A Conquista de Mara

(1) As práticas ascéticas do príncipe não trouxeram resultado algum. Seis anos haviam se passado em vão. O príncipe decidiu que não iria mais mortificar inutilmente seu corpo; ele decidiu voltar a comer, nutrir seu corpo e alcançar a liberação da mente. Após banhar-se no rio Nairanjana, ele agarrou-se às raízes de uma árvore e subiu até a margem do rio. Então, com grande dificuldade, caminhou até uma vila próxima. Naquele momento, Sujata, a filha de Senanipati, um proprietário de terras em Uruvilva, tinha se preparado para fazer oferendas às três divindades. Ela tinha ordenhado o leite de vacas saudáveis, havia cozido um mingau de leite, e foi até a floresta para fazer a oferenda às três divindades no dia da lua cheia do quarto mês. Na floresta, ela avistou um asceta que estava fraco e macilento. Movida por um sentimento de reverência, ela ofereceu o mingau de leite ao asceta, e disse: “Venerável asceta, por favor, tenha compaixão por mim e aceite esta oferenda.” O príncipe aceitou e recuperou suas forças. Pensando que através deste ato ele poderia alcançar a iluminação, concluiu que ainda existia esperança. Kaundinya e os outros quatro ascetas ficaram surpresos e desconfiados. Eles acharam que o príncipe havia abandonado a sua prática. Portanto, mostrando seu desprezo, CEBB

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abandonaram-no e partiram para o Parque dos Cervos, em Varanasi. O príncipe, tendo reconquistado suas forças através do mingau de leite, caminhou para a floresta de folhagem exuberante. O terreno era plano e a visão nas quatro direções era clara. Um capim flexível crescia com vigor; no meio da floresta uma enorme figueira sagrada, de folhagem espessa, estendia seus galhos como um dossel celestial. Belas flores desabrochavam emitindo uma fragrância agradável. O príncipe recebeu uma oferenda de grama kusa do filho de um cortador de grama que, por acaso, estava por ali, e assim montou seu assento. Ele fez o voto: “Se eu não puder alcançar a iluminação aqui, não levantarei vivo deste assento.”

(2) O príncipe acreditava que era chegada a hora de subjugar Mara. Ele emitiu um raio de luz de sabedoria do pelo branco em sua testa. O palácio de Mara gemeu e tremeu, provocando grande medo. Mara se contorceu em agonia como se tivesse bebido veneno. Então, ele elaborou uma estratégia para levar a mente do príncipe à confusão. Enviou três espíritos malignos para abordarem o príncipe. Seus mantos de fina seda eram leves como penas, flores embelezavam seus cabelos, elas eram fascinantes. As três dançaram e cantaram graciosamente, com beleza. Elas tentaram seduzir o príncipe de todas as formas. Elas cantaram:

A primavera chegou, a primavera chegou, Os raios do sol trazem o calor, E novos botões desabrocharam. Ó belo Senhor, por que você abandona os prazeres da juventude E busca a iluminação, que está tão distante? Você não olha para nós, com toda nossa beleza – CEBB

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Nós, que encantamos até mesmo os ascetas Que se retiraram deste mundo impermanente.

O príncipe se dirigiu às três, e disse: “Como recompensa por seu carma passado, vocês possuem, agora, corpos de seres celestiais; mas, em pouco tempo, serão assoladas pela impermanência da velhice e da morte. Sua aparência é cativante, mas suas mentes não são sinceras – é como se um belo vaso colorido estivesse cheio de veneno mal-cheiroso. A cobiça é a fonte da autodestruição, é a causa da queda aos reinos do mal.” Com estas palavras, os três espíritos malignos perderam imediatamente sua beleza, e se transformaram em mulheres velhas e acabadas.

(3) O rei Mara ficou possesso, e imediatamente reuniu cem milhões e oito mil demônios; eles se lançaram à base da figueira sagrada, atirando com seus arcos e brandindo suas espadas. O céu e a terra estavam envoltos em escuridão, e o som dos trovões era amedrontador. Demônios, espíritos malignos e suas legiões, todos com aparências grotescas, alguns com cabeças de leões, ursos, touros ou cavalos, alguns com cabeças de seres humanos e corpos de cobras – esses monstros com as presas à mostra e garras brilhantes vomitavam chamas de veneno, derramavam todos os tipos de armas, e avançavam em direção ao príncipe. Assim iniciou-se a grande batalha entre o terrível rei Mara e o príncipe, o salvador deste mundo. No céu, mil estrelas se moveram rapidamente; nuvens negras se agitaram; a grande terra e o grande oceano, assolados por tufões, balançaram como as pétalas de uma flor. Maremotos se espalharam pelos oceanos e os rios se levantaram, derrubando montanhas nas quais antigas árvores de mil anos haviam crescido em abundância. As vibrações CEBB

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dos golpes e dos uivos eram realmente aterrorizantes. Era como se todo o mundo tivesse sido coberto por uma cortina negra, o sol perdeu sua luz, e o céu estava tomado por hordas de monstros. O rei Mara, à frente de um grande exército de cem mil, mergulhou sobre o príncipe como uma águia por todos os lados. Os deuses, que até aquele momento haviam rodeado o príncipe e cantavam seus louvores, fugiram com medo. Agora não havia ninguém que pudesse salvá-lo. Mas o príncipe pensou: “Os Dez Preceitos que eu pratiquei por um longo tempo são meu poderoso exército; eles são a espada cravejada por joias e o forte escudo que protegem meu ser. Carregando em minhas mãos a prática virtuosa destes Dez Preceitos, irei aniquilar o exército de demônios.” Ele permaneceu completamente imóvel. Mara convenceu o deus do vento a criar ventanias, mas mesmo a barra da roupa do príncipe permaneceu imóvel. Ele ordenou que o deus da chuva derramasse águas torrenciais, mas nem mesmo uma gota molhou o príncipe. Ele derramou chuvas de pedras, espadas e fogo, mas eles foram todos transformados em uma coroa de flores; transformando-se em poeira perfumada, eles se espalharam por todo o solo. Mesmo a escuridão lançada pelo rei Mara foi transformada em raios de sol quando se aproximou do príncipe. As armas que foram jogadas contra ele se transformaram em um dossel celestial. Não havia nada que pudesse atacar o príncipe. O rei Mara caminhou até a frente de seu exército e gritou: “Ó mendigo, o que procuras, sentado sob essa árvore? Vai-te embora, e rápido! Tu não és digno do Trono de Diamante.” O príncipe, entretanto, solenemente apontou para a grande terra, e disse: “Neste mundo circundado pelo céu e pela terra, eu sou o único digno de sentar-se neste trono. Apenas aquele adornado pelas raízes de méritos do passado distante é digno de ocupar este trono. Divindade da terra, rapidamente faça-se aparecer e confirme o que eu disse CEBB

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aqui.” E, repentinamente, a grande terra sob o trono se abriu, e a divindade da terra apareceu. A mente do rei Mara se despedaçou com o rugido tonitruante que acompanhou o surgimento da divindade. Tremendo de medo e sem nem mesmo olhar para trás para suas legiões, ele disparou nas quatro direções.

(4) Depois de algum tempo, Mara apareceu novamente. Mudando sua tática, ele tentou seduzir o príncipe com palavras melosas: “Como é terrível a cor de tua face adoentada e esquálida! Com certeza a tua morte está bastante próxima. A morte é uma grande parte tua, a vida é apenas uma pequena parte. Vive! É bom viver. Vive e realiza ações benéficas. Realiza ações puras, venera o fogo e muitos serão os teus méritos. Por que te esforças tão inutilmente? O caminho é duramente trilhado e difícil de alcançar.” Sem titubear, o príncipe refutou Mara: “Demônio, escravo da preguiça, por que vieste aqui? Eu não preciso de méritos. Por que me exortas a viver, eu, que diligentemente me dedico ao caminho com fé, esforço e sabedoria? Até mesmo o rio que flui é secado pelo vento; como poderia meu sangue que se dedica tão diligentemente também não secar? “O sangue seca, a gordura se desfaz, a carne se perde; mas a mente se torna ainda mais pacífica. Atenção mental correta e sabedoria se tornam claros, e meu estado meditativo se torna ainda mais estabilizado. Em anos passados, eu experimentei os limites extremos dos prazeres dos cinco desejos. Eu não mais busco por esses desejos. Observa este ser puro! Quanto a ti, teu primeiro exército é a luxúria. Teu segundo exército é a aversão. Teu terceiro exército é a fome e a sede. Teu quarto exército é o desejo. Teu quinto exército é a preguiça. Teu sexto exército é o medo. Teu sétimo exército é a dúvida. Teu oitavo exército é a vaidade e a obstinação. Teu nono exército é a fama e o CEBB

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lucro. Teu décimo exército é o autoengrandecimento e a difamação dos outros. Demônio, esses são os teus exércitos, essas são as tuas armas. Mas o herói emerge vitorioso, subjugando esses exércitos e atinge a paz. “Ao invés de viver derrotado, é muito melhor batalhar e morrer! Mas os mendicantes e sábios que são derrotados uma única vez pelos exércitos de Mara serão incapazes de reconhecer ou praticar o caminho dos virtuosos. Mara, montando um grande elefante tu vieste liderando um grande exército. Vem, batalha! Eu sairei vitorioso. Tu não me lançarás à desordem. Apesar dos mundos humanos e celestiais terem sido incapazes de destruir o teu exército, eu o vencerei como uma rocha destrói as folhas de uma árvore. “Com uma mente verdadeira e pensamentos corretos, descansa dos desejos. Eu irei viajar pelo mundo e treinarei numerosos discípulos. Se eles treinarem diligentemente, seguindo meus ensinamentos, e atingirem a ausência do desejo, no final não haverá mais pesar.” Mara, percebendo que não havia nada a ser ganho batalhando, ficou desolado e pesaroso. “Por sete anos eu persegui o Honrado pelo Mundo, mas fui incapaz de encontrar uma fraqueza no Iluminado, que repousa na atenção mental correta. É como uma rocha que parece com carne tenra, os pássaros se reúnem e tentam provar sua doçura, mas são incapazes e vão embora. Eu sou como o pássaro que bica essa rocha.” Mara foi esmagado, e com o coração muito, muito pesado, desapareceu.

(5) Desta forma, o príncipe, em um dia, alcançou o pináculo, realizou a tranquilidade da mente e entrou no estado meditativo. Primeiro ele se liberou do desejo e do mal. No primeiro estado meditativo ele provou o êxtase e a alegria. Ele avançou para o segundo estado meditativo, e ao cessar a atividade descontrolada da mente, CEBB

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mergulhou no êxtase meditativo. Avançando para o terceiro estado meditativo, ele entrou num estado de equanimidade e extinguiu prazer e dor, alegria e pesar. Passando para o quarto estado meditativo, com uma mente tranquila, pura, imaculada e flexível que não podia ser perturbada por coisa alguma, ele contemplou suas vidas passadas. Ao cair da primeira noite, enquanto recordava em detalhes as numerosas vidas do passado distante, ele atingiu a primeira sabedoria, deixou para trás a ignorância e dissipou a escuridão. Depois, ele procurou entender as formas de nascimento e morte pelas quais as pessoas passam. Com o olho puro e divino, ele viu cenas de pessoas passando por nascimento e morte e renascendo ao longo de um fluxo de acordo com suas ações. “Ai! O oceano de nascimento e morte é agitado infinitamente, e as pessoas afundam e estão à deriva em fluxo ilimitado; em lugar algum há qualquer apoio.” Então ele viu aqueles que acumularam maldades, prejudicaram arhats, mantiveram visões errôneas e seguiram por aí em caminhos negativos. Também viu aqueles que acumularam carma positivo, seguiram os arhats, sustentaram visões corretas e trilharam o caminho positivo. No meio da noite, ele alcançou a segunda sabedoria, e abandonando a ignorância dissipou a escuridão. Em seguida, com a sabedoria que extingue os obscurecimentos, ele se esforçou e claramente viu o que é o sofrimento, quais são as causas do sofrimento, o que é a extinção do sofrimento, e qual é o caminho que leva à extinção do sofrimento. Mais uma vez, viu claramente o que é negativo, quais são as causas do obscurecimento, o que é a cessação do obscurecimento e qual é o caminho que leva à cessação do obscurecimento. Pela virtude dessa sabedoria iluminada, sua mente se liberou da luxúria e da ignorância e deu nascimento à sabedoria que atinge a emancipação, ou seja, a sabedoria que CEBB

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faz o voto: “O nascimento cessou. Eu completei a prática sagrada. Eu realizei aquilo que devia realizar. Este é o meu último nascimento. Depois dele, eu nunca renascerei no samsara novamente.” No final da noite ele alcançou essa terceira sabedoria, liberou-se da ignorância e dissipou a escuridão. Naquele momento, a grande terra tremeu de alegria, e o mundo brilhou intensamente. Seres divinos reunidos como nuvens tocaram música celestial e cantaram um louvor ao Honrado Pelo Mundo, o qual recitou este verso em grande alegria: “Busquei o construtor desta casa de sofrimento, mas não fui capaz de encontrá-lo. A roda do samsara seguiu girando e eu tive repetidas vidas de sofrimento. Mas agora, eu vejo o construtor da casa. Você não construirá a casa novamente. Todas as vigas foram quebradas, e a cumeeira está destruída. Minha mente se despede do desejo e alcança o nirvana.” Desta forma, o príncipe se tornou um homem digno das oferendas de todo o mundo. Ele se tornou um homem verdadeiramente iluminado, ou seja, um buda. Ele tinha trinta e cinco anos. Era a aurora, perto do momento em que o planeta Vênus brilhava no céu matutino.

(6) Assim, o Honrado pelo Mundo atingiu a iluminação sob a árvore Bodhi, à margem do rio Nairanjana, que passava pela floresta de Uruvilva. Por sete dias ele sentou imóvel e desfrutou o êxtase da iluminação. Durante a primeira vigília do sétimo dia, ele meditou no sentido direto e no reverso do princípio da originação dependente a partir do qual todos os sofrimentos surgem. Ele percebeu que da ignorância surge a atividade cármica; da atividade cármica surge a consciência; da consciência surgem nome e forma; do nome e da forma surgem os seis órgãos dos sentidos; dos seis órgãos dos sentidos surge o contato; do contato surgem as sensações; das sensações surge o desejo; do desejo surge o apego; do apego surge o vir a ser; do vir a CEBB

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ser surge o nascimento; e do nascimento surgem velhice e morte, ansiedade, pesar, dor, sofrimento e angústia. Ele viu que toda a acumulação de sofrimento surge desta maneira. Portanto, se a ignorância for extinta sem resíduos, a atividade cármica cessará. Se a atividade cármica for extinta, a consciência cessará. Se a consciência cessar, nome e forma também cessarão. Se nome e forma forem extintos, os seis órgãos dos sentidos cessarão. Se os órgãos dos sentidos forem extintos, o contato cessará. Se o contato for extinto, as sensações cessarão. Se as sensações forem extintas, o desejo cessará. Se o desejo for extinto, o apego cessará. Se o apego for extinto, o vir a ser cessará. Se o vir a ser for extinto, o nascimento cessará. Se o nascimento for extinto, então velhice e morte, ansiedade, pesar, dor, sofrimento e angústia também cessarão. Ele viu que toda a acumulação de sofrimentos seria extinta desta maneira. Na vigília intermediária e na última da noite, seguindo o mesmo método, o Honrado pelo Mundo meditou no sentido direto e reverso destes doze elos da originação dependente. Então, ele entrou na seguinte contemplação:

(7) Originalmente, todos os darmas são iguais. Suas naturezas não são imutáveis, e suas formas não são diferenciadas. Originalmente, eles são entidades puras, livres da mácula dos obscurecimentos; portanto, são iguais. Aqueles que praticam o caminho devem meditar sobre a igualdade de todos os darmas; com grande compaixão por princípio, eles devem ampliar sua grande compaixão e contemplar os estados do nascimento e da extinção que regem este mundo. E eles devem pensar da seguinte forma: Neste mundo, seres diferenciados vêm à existência devido à fixação a uma identidade. Ao cessar o apego às identidades, não mais será reconhecida a existência de seres CEBB

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diferenciados. Todos são iguais. Mas os seres comuns produzem continuamente visões errôneas. Devido à ignorância eles fecham seus olhos, realizam várias ações apegados às identidades, e como resultado dão origem a uma identidade que está sujeita a nascimento e morte. Para eles, o carma é como um campo de arroz, e a consciência é como as sementes. Encobertos pela ignorância, eles aspergem as sementes com a água do desejo. Com a mente apegada à identidade, eles regam as sementes e alimentam ainda mais visões errôneas; este é o processo que produz uma identidade composta por nome e forma. Devido a nome e forma, os seis órgãos dos sentidos - olho, ouvido, nariz, língua, corpo e consciência – são produzidos. Dos seis órgãos sensoriais surge o contato. Do contato surgem as sensações. Das sensações surge o desejo. Do desejo surge o apego. Do apego é produzido o vir a ser. Do vir a ser surge o nascimento. Do nascimento vêm a velhice e a morte. Devido à velhice e à morte vêm à existência a ansiedade, o pesar, a dor, o sofrimento e a angústia. Mas, nos doze elos da originação dependente não há nada que venha a existir e não há nada que se dissipe na inexistência. As condições simplesmente se reúnem para produzir o surgimento; e quando estas condições se dissipam, tudo retorna à nulidade. Os seres comuns não sabem que a Verdade Absoluta corporifica a igualdade; portanto, eles percebem diferenciações entre os doze elos da originação dependente. Quando alguém está consciente de que, na verdade, não há diferenciações tais como identidades e os objetos aos quais as identidades estão apegadas, ou um agente que produz e objetos que são produzidos, então os três mundos aos quais os seres estão apegados são vistos apenas como sombras de uma mente deludida, e todos os apegos cessam. Na verdade, estes Doze Elos da Originação Dependente surgem da própria mente. Esta foi sua contemplação. CEBB

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No oceano da serena mente do Honrado pelo Mundo, todas as coisas eram agora refletidas como imagens brilhantes. Não há palavras para louvar adequadamente esse estado mental.

2. Versos em Louvor à Iluminação. (1) Naquele momento, pelo poder do Buda, os galhos, folhas e tronco da árvore Bodhi brilharam com as sete gemas. Do seu trono, luz foi emitida nas dez direções e brilhou em todos os mundos. Agora, a sabedoria do Buda era mais profunda que o oceano e mais vasta que o céu. Sua luz brilhou sobre os mundos encobertos pela escuridão. As imagens da multiplicidade de objetos mundanos se manifestaram serenamente e imediatamente em seu coração, como as estrelas no espaço que lançam suas imagens livres das nuvens no grande oceano. Incontáveis bodisatvas e deuses se reuniram como nuvens, e confiantes de que o poder do Honrado pelo Mundo os inspiraria, cantaram louvores aos seus méritos:

(i) O mundo ilimitado e maravilhoso do Darma preenche o corpo do Buda. Apesar deste mundo ser eternamente imóvel, ele é a base para todos os seres sencientes; o Buda surgiu agora neste mundo para proclamar esta verdade. O Buda surgiu neste mundo e estabeleceu o verdadeiro Darma. Sua iluminação é ilimitada. Com sua luz ele extingue nosso sofrimento e nos confere alegria infinita. Com seu poder inconcebível, ele expõe para o nosso bem o ensinamento da iluminação. A luz do sol revela as formas das CEBB

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coisas; da mesma forma o sol, o Buda, revela agora para nosso benefício as formas do carma e nos faz entrar na verdadeira meditação.

(ii) Para nós, que nos tornamos arrogantes devido à escuridão da ignorância e passamos descuidadamente pela vida, o Buda manifesta o ensinamento iluminado. Assim, ele guia cada um de nós à aspiração e à alegria adequadas. Ele serve como a base suprema para nosso ser e expurga os sofrimentos deste mundo. Se desejarmos vê-lo, ele aparecerá diante de nós como a lua cheia levantando-se acima das montanhas.

(iii) O Buda manifesta compaixão de todas as formas concebíveis, entra em nossos seres e pacifica nossas mentes. Aqueles de nós que têm os olhos puros da sabedoria nunca se cansam de fitá-lo. Quando refletimos sobre seus méritos ilimitados, uma alegria profunda surge internamente. Isto se deve ao poder do Buda. Se refletirmos mesmo que brevemente sobre o Buda, por éons uma multiplicidade de sofrimentos será afastada. A luz da sabedoria é infinita, ela brilha em todos os lugares dos mundos nas dez direções. Ele recorre a inúmeros meios para que sejamos capazes de reverenciá-lo aqui e agora.

(iv) Que maravilhoso que todos os lugares que a luz da sabedoria alcança se tornem lúcidos! As mentes dos seres despertam para o caminho e se regozijam. Mesmo aqueles cegos pela escuridão da ignorância abrem seus olhos para a luz da sabedoria e se curvam

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diante desta manifestação do Buda da pureza. Apesar de termos nos tornado estranhos ao êxtase do sábio e de estarmos imersos nos sofrimentos do mundo, devido ao Darma puro do Buda nossas mentes agora se regozijam e estão serenas. Todas as coisas são como flores fantasmas, mas o Buda é a luz que revela a verdade. Com uma nuvem benéfica de sabedoria, ele cobre este mundo e o banha com a chuva do Darma. Apenas o Buda seca o oceano do sofrimento infinito; com os meios hábeis da grande sabedoria, ele abre o olho da mente. Assim como o oceano, não há fim para os méritos de seu ensinamento; ele ouve todos os nossos desejos e aspirações. Apesar de sua voz ser gentil, ela reverbera como o trovão. Porque o Buda expôs o verdadeiro Darma, somos tomados pelo êxtase. Ouvindo sua voz, nossas mentes regozijam, e o êxtase do Darma preenche completamente nossos corações.

(v) Nossos obscurecimentos são sombrios, nem uma vez ao longo de éons nós nos curvamos ao Buda. Repetidamente passamos por nascimento e morte e experimentamos sofrimento. Para nos salvar, o Buda apareceu no mundo. Empregando métodos variados, ele afasta os terríveis obscurecimentos e obstruções maléficas e nos firma no Darma. Por ele ter louvado todos os budas anteriores quando se entregou às práticas espirituais por um tempo extremamente longo, sua fama se espalhou por este mundo. Apesar de ele sentar serenamente em meditação, com um poder que é indestrutível, ele aparece em todos os mundos, e as pessoas

reverenciam

sua

aparição.

Adornado

por

uma

multiplicidade de virtudes perfeitas, e brilhando através dos

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mundos, sua luz revela a verdade profunda.

(2) (Hino de Samantabhadra) Então o bodisatva Samantabhadra recebeu o poder do Buda e percebeu as ações e aspirações de todos os seres em todos os mundos. Ele também percebeu os budas dos três mundos. Após isto, ele falou ao vasto número de grandes bodisatvas que se reuniram, numerosos como o oceano: “Ó filhos do Buda, não há forma de conceber o surgimento e a cessação dos mundos dos budas e da sabedoria pura dos budas. Mas, confiando no poder do Buda, irei expor os seguintes portais para o Darma, para guiar as pessoas a entrarem no oceano da sabedoria do Buda.” E ele expôs o Darma através de versos:

(i) As mentes dos seres são ilimitadas; suas ações produzem seus mundos. Se os seres são maculados, os mundos são maculados. Uma vez que seu carma é ilimitado, o surgimento dos mundos também é infinito. Se os seres se dedicarem à prática de Samantabhadra, eles sempre habitarão um mundo puro. Seu mérito será como o do Buda. Eles darão origem a um número infinito de terras búdicas. Incontáveis mundos nasceram de um único momento do pensamento do bodisatva Samantabhadra. Esses mundos são pacíficos, mesmo as menores partículas de areia; a mente do Buda, como uma nuvem, protege cada um dos mundos. Todos os mundos surgem da atividade mental e apresentam incontáveis aparências distintas. Às vezes eles são puros, e as às vezes são corrompidos; seus sofrimentos e prazeres são infinitos em sua variedade. Todas as coisas mudam constantemente, e eles giram constantemente.

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(ii) Desde um passado distante, ao aproximar-se de um bom professor e se as práticas puras forem mantidas, acompanhadas pela compaixão, as terras búdicas serão purificadas. Com uma mente extremamente pura, acredite firmemente no Buda. Se o poder da paciência não estiver maculado, todos os mundos serão adornados admiravelmente.

Através de um número ilimitado de métodos, produzindo todos os mundos e respondendo aos desejos dos seres, o Buda surge no mundo. É difícil ter concepções sobre o ser do Buda; visto que ele não tem forma nem cor, não há nada com o qual ele possa ser comparado. Aqueles que aceitam o Darma, entretanto, veem seu surgimento em todos os lugares. O Buda, empregando uma variedade de meios hábeis, surgidos do grande oceano de compaixão, manifesta-se aqui e agora.

(iii) Esse mundo é adornado por joias; cada joia brilha como uma nuvem e extingue o sofrimento mundano dos seres; os seres são pacificados de forma verdadeira. Os lagos são completamente preenchidos com água perfumada; a luz das flores flui nas quatro direções. As vozes de regozijo são ouvidas à distância. Parapeitos de joias, filas de árvores adornadas, e o som da clara música são todos verdadeiros e serenos. Eles louvam as virtudes dos Três Tesouros. As redes de joias se encontram e produzem a voz do Buda; da outra margem são ouvidos os ensinamentos de todos os bodisatvas e budas, as práticas de Samantabhadra e a voz dos

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votos do Buda.

(iv) Apesar de o Buda manifestar sua forma em todos os lugares nas dez direções, ele nem vem nem vai. Mas, devido aos votos do Buda, as pessoas, sem exceção, podem percebê-lo. Apesar de mundos se sobreporem, eles nem crescem nem decrescem. Apesar de um mundo preencher as dez direções e os mundos das dez direções caberem em um mundo, as formas do mundo não são destruídas. Mesmo nas partículas de poeira de todos os mundos, o poder da liberdade do Buda é visto. Sua voz reverbera no oceano de seu voto e leva harmonia às pessoas.

(v) Uma variedade de árvores produz uma variedade de frutos; uma variedade de mundos é povoada por uma diversidade de habitantes. Sementes diferentes produzem frutos diferentes; como esses exemplos, ações diferentes produzem mundos diferentes. Como o rei Naga que gera as nuvens, o Buda, através do poder de seu voto, gera todos os mundos.

Como um artista produz pinturas, a mente produz mundos; em cada um dos pensamentos ela produz mundos incontáveis. Como esses mundos são sustentados pelo Buda, eles são puros e livres de máculas.

Certo mundo é feito de sujeira e não é puro; destituído de luz, ele é eternamente escuro. Aqueles que cometeram o mal lá vivem. Outro mundo é feito de sujeira e cheio de sofrimento. Aqueles

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cuja boa fortuna é reduzida lá habitam. E ainda, outro mundo é feito de sujeira e cheio de sofrimento infinito. Apesar dele permanecer por éons na escuridão, a luz brilha sobre ele como o oceano.

No mundo dos animais existem incontáveis seres. De acordo com suas ações em mundos anteriores, eles passam por sofrimento infinito. Aqueles que habitam no mundo do rei da Morte são torturados perpetuamente pelo sofrimento da fome e da sede, ou são perseguidos por uma montanha de fogo; eles passam por sofrimentos sem fim.

(vi) Atendendo os desejos dos seres, o Buda manifesta-se em uma variedade de formas; entretanto, aqueles que não possuem as condições

cármicas

são

obstruídos

pela

nuvem

dos

obscurecimentos e não conseguem ver o Buda. Outro mundo está preenchido pelo som da prática devotada. As vozes da luz que é emanada, dos bodisatvas, dos votos incessantes, do caminho sendo praticado, e dos nomes veneráveis dos budas dos três mundos são ouvidas.

(3) (Hino de Maitreya) Dos diversos mundos das dez direções, um número infinito de bodisatvas se reuniu como nuvens na assembleia. O bodisatva Maitreya, ao ver isto, alegrou-se; voltou-se à grande assembleia e disse: “O local que o Buda habita, o Darma do Buda, o surgimento do Buda neste mundo, e o surgimento da terra do Buda são todos inconcebíveis. Quando o Buda expõe o Darma, primeiro ele percebe as mentes das pessoas,

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e de acordo com elas ele expõe o Darma; portanto, o Buda emprega uma variedade infinita de meios hábeis e portas para o Darma.” Então, ele apresentou o Darma em versos:

(i) Ele liberta-se da multiplicidade de sofrimentos, alcança o desapego a este mundo, e purifica o cerne do caminho. Ele percebe que não há nada a que se apegar e que todas as coisas, no final, cessam; desta forma, ele se torna o Buda. Sua mente penetra o princípio da igualdade e o ensinamento da não-dualidade, e assim ele é denominado inconcebível. No indivíduo ele vê o infinito, no infinito ele vê o indivíduo. As coisas produzidas pela mente não são reais; o homem sábio, portanto, não as teme.

(ii) Vendo as pessoas assoladas pela luxúria e torturadas pelo sofrimento tolo, ele busca o caminho da iluminação; este é, verdadeiramente, o caminho dos budas. Livrando-se das visões errôneas de que as coisas existem ou de que as coisas inexistem, ele entende o verdadeiro Darma e expõe um ensinamento que não foi oferecido no passado. O sábio não destrói nenhum dos reinos, ele viaja a incontáveis mundos, e sem apego a qualquer coisa ele é livre, como os budas. Para o benefício de todas as pessoas, ele entra no inferno do sofrimento incessante; apesar de ser fervido por uma eternidade, sua mente é pura como a dos budas. Aquele que segue o ensinamento do Buda constantemente, sem poupar o próprio corpo ou a vida, e se esforça nas práticas da paciência, alcançará o Darma do Buda. Libertem-se dos prazeres dos humanos e dos deuses e, com uma mente de Grande Compaixão,

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salvem todos os seres. Percebam sua verdadeira forma. Todas as coisas estão imóveis. Libertem-se do pensamento do “eu” e daquilo que não é “eu”. Gerando um mundo sem limites, absorvam o oceano que contém todos os sofrimentos e alcancem o grande poder.

(iii) Se alguém afirma perceber o Buda ao perceber a forma suprema do Buda, seu olho deficiente está produzindo delusões. Essa pessoa desconhece o ensinamento supremo. Não há como as pessoas deste mundo perceberem a forma do Buda. Mesmo que ponderem por éons, elas não serão capazes de perceber o poder do Buda. A forma não é o Buda, e o Buda não possui forma. Mas o Buda manifesta formas maravilhosas em resposta às necessidades das pessoas.

O verdadeiro ensinamento do Buda é de difícil compreensão; ele transcende todas as palavras; ele nem converge nem se dispersa. Sua natureza é sempre imóvel. Um corpo físico não é o Buda. Se você enxergar isto claramente e não se apegar à sua forma, você atingirá o poder da liberdade e perceberá o Buda.

O corpo e a mente são iguais; você é livre de obstruções internas e externas. Os seus pensamentos são constantemente verdadeiros e livres de todas as idéias de apego. Você irradia luz em todos os lugares e brilha em todos os reinos. Com o olho da sabedoria, você percebe a base de todas as coisas. O um é infinito, o infinito é um. Em resposta à natureza das pessoas, você manifesta todas as

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formas. E ainda assim, você nem vem nem vai. Além do mais, sob condições existe uma variedade de seres. Os mundos são todos produzidos pela delusão; os darmas deludidos não possuem natureza verdadeira. Apenas o Buda percebe suas verdadeiras formas. Aquele que realiza a verdade claramente desta forma é alguém que percebe o mestre.

(iv) O Buda extingue o absoluto na delusão; ele eleva a luz da sabedoria. Ele constrói o navio e a ponte do verdadeiro ensinamento e salva todos aqueles que devem ser salvos. Nesta prisão de nascimento e morte, infortúnios são realmente infinitos. Os sofrimentos da velhice, doença e morte atacam as pessoas sem cessar, dia e noite. O Buda desperta para a verdade profunda, e aplicando a sabedoria dos meios hábeis, ele expurga o seu sofrimento. Esse é o reino do Buda. O Buda é vazio e imutável; entretanto, ele não é um fantasma ilusório. Como o homem cego que depara com as cores, você pode perceber o Buda, porém não há nada a ser visto. Aqueles que caem na armadilha das formas ilusórias são incapazes de perceber o verdadeiro Buda. Aqueles que estão livres de pensamentos de apego percebem o verdadeiro Buda.

O Buda infinito se estende ao longo do espaço, e nem vem nem vai. Os mundos surgem e se despedaçam sem qualquer base absoluta; da mesma forma, o ser do Buda também preenche o espaço.

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3. A Súplica de Brahma (1) Então, o Honrado pelo Mundo saiu de sua meditação quando sete dias haviam se passado. Da árvore bodhi ele saiu e foi sentar-se sob a árvore nigrodha. Aqui, novamente, por sete dias ele permaneceu sentado desfrutando o êxtase da iluminação. Naquele momento, um brâmane que era conhecido por seu hábito de desdenhar todas as coisas, aproximou-se do Honrado pelo Mundo, e disse: “Gotama, Honrado, que tipo de homem é um brâmane, e qual ensinamento ele deveria praticar?” O Honrado pelo Mundo percebeu o significado da pergunta e respondeu com um verso:

Aquele que se liberta do mal e se abstém de desdenhar os outros, afasta as máculas, segue restrições, alcança a sabedoria absoluta e completa as práticas puras é um brâmane. Esse homem não sente cobiça ou raiva pelas coisas deste mundo e nunca se entrega à ignorância.

(2) Novamente, depois que sete dias haviam se passado, o Honrado pelo Mundo deixou seu assento sob aquela árvore, e se dirigiu à arvore mucalinda. Lá ele permaneceu sentado, continuamente, por sete dias, e desfrutou o êxtase da iluminação. Naquele momento, nuvens fora de estação apareceram, e por sete dias choveu continuamente. Um vento frio soprou e a escuridão encobriu todas as quatro direções. O rei Naga saiu de seu palácio, cobriu o Honrado pelo Mundo com seu corpo, e orou: “Que não haja nenhum mal pelo frio ou calor, CEBB

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por mosquitos ou pernilongos, pelo vento ou pela chuva, ou por cobras.” Quando se passaram sete dias a chuva arrefeceu, e não havia mais nem mesmo uma mancha de nuvem no céu. O rei Naga se transformou, então, em uma criança e apareceu diante do Honrado pelo Mundo. Ele juntou suas mãos em prece e se curvou ao Honrado pelo Mundo, o qual disse:

A mente está completa; ouve-se o ensinamento, enxerga-se o princípio verdadeiro e a paz é encontrada. Todos os seres vivos também encontram a paz ao manterem-se livres da raiva. Aqueles que, ao libertarem-se da cobiça, afastam-se dos desejos mundanos, também estão em paz. Superar o pensamento de que o “eu” existe é a paz insuperável.

(3) Mais uma vez, após sete dias, o Honrado pelo Mundo se levantou de sua meditação, deixando para trás seu assento sob a árvore mucalinda, e desfrutou do êxtase da iluminação por sete dias sob a árvore rajayatana. Naquele momento, dois mercadores que vinham de Ukkala, chamados Tapussa e Bhallika, passavam por ali casualmente. Um parente deles, que agora estava em um mundo celestial, instigou-os da seguinte forma: “Pela primeira vez o Honrado pelo Mundo despertou para a iluminação e se encontra sob a árvore rajayana. Ofereçam a ele cevada e mel.” Então, eles se apresentaram ao Honrado pelo Mundo e disseram: “Ó Honrado pelo Mundo, para a nossa felicidade duradoura, por favor aceite esta cevada e este mel.” O Honrado pelo Mundo pensou: “Os budas não podem receber comida com suas próprias mãos. Com qual tigela eu receberei esta oferenda de cevada e mel?” As quatro deidades guardiãs perceberam isto e, das quatro direções, CEBB

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presentearam-no com tigelas de pedra. O Honrado pelo Mundo transformou as quatro tigelas em uma, recebeu o alimento, e partilhou-o. Os mercadores disseram com alegria: “Honrado pelo Mundo, nós tomamos refúgio em você e no Darma. De agora até o fim de nossas vidas, por favor nos proteja como seus seguidores.” Eles foram os primeiros seguidores do Buda a tomarem refúgio nos dois tesouros, o Buda e o Darma.

(4) Mais sete dias se passaram, e o Honrado pelo Mundo deixou a árvore rajayana, sentou-se em meditação sob a árvore nigrodha, e pensou assim: “O Darma para o qual eu despertei é realmente difícil. É imutável, insuperável e difícil de alcançar pela razão comum. Profundo e complexo, ele só pode ser conhecido e alcançado pelos sábios. Como poderiam as pessoas deste mundo, que são viciadas nos prazeres do desejo, entender verdades como ‘Todas as coisas nascem de condições, e de acordo com condições elas são extintas’, ou a verdade do nirvana, onde todos os desejos foram extintos e onde os obscurecimentos desapareceram? Mesmo que eu ensinasse esse Darma, elas não seriam capazes de atingir a iluminação. Isto apenas aumentaria meu cansaço.” O Honrado pelo Mundo pensou desta forma, e decidiu não expor o Darma. Nesse momento, Brahma percebeu o que se passava pela mente do Honrado pelo Mundo e lamentou: “Ó, o mundo se despedaça e sucumbe; o Buda não tem a intenção de expor o Darma.” Então, tão rapidamente quanto um forte homem jovem estende seu braço dobrado, ele deixou o mundo de Brahma e apareceu diante do Honrado pelo Mundo. Com seus mantos dobrados sobre o ombro e com seu joelho direito apoiado sobre a grande terra, ele curvou-se diante do Honrado pelo Mundo com as mãos em prece e disse: “Honrado pelo Mundo, eu lhe imploro para expor o Darma. Existem CEBB

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aqueles neste mundo que possuem o olho da sabedoria que não está maculado pelas impurezas. Se eles não ouvirem o Darma, eles perecerão. Se eles o ouvirem, sem dúvidas eles despertarão para o Darma do Honrado pelo Mundo.” Depois de falar desta forma, ele continuou com o seguinte verso:

No país de Magadha, até agora, o ensinamento impuro de pessoas maculadas era exposto. Honrado pelo Mundo, possa você abrir a porta da imortalidade. Como um homem que se encontra no topo de uma colina e analisa tudo que se encontra abaixo, o sábio se eleva ao palácio do Darma e liberta-se do pesar. Ó sábio, volte seus olhos agora àqueles que, afogando-se no pesar, são subjugados pelo nascimento e velhice. Ó ser heroico, conquistador das batalhas, líder das caravanas, livre das dívidas, inicie suas viagens pelo mundo. Se o Honrado pelo Mundo expuser o Darma, com certeza haverá aqueles que alcançarão a iluminação.

(5) O Honrado pelo Mundo percebeu as súplicas de Brahma, e movido por uma mente compassiva por todas as pessoas, olhou para o mundo com os olhos de um buda. Uma diversidade de pessoas refletia-se nos olhos do Honrado pelo Mundo: aqueles cujas mentes estavam apenas levemente obscurecidas; aqueles cujas mentes estavam fortemente obscurecidas; aqueles com faculdades aguçadas; aqueles com faculdades embotadas; pessoas virtuosas; pessoas más; aqueles fáceis de ensinar, e assim por diante. Novamente, a capacidade espiritual de uma diversidade de pessoas refletiuse claramente nos olhos do Honrado pelo Mundo, assim como em um lago CEBB

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repleto de flores de lótus. No lago há flores de lótus azuis, amarelas, vermelhas e brancas. Alguns lótus brotam na água, crescem na água, e nunca aparecem à superfície da água. Alguns lótus brotam na água, crescem na água e permanecem na superfície da água. Alguns lótus brotam na água, crescem na água, elevam-se acima da água, e nunca são tocados pela água. Então, o Honrado pelo Mundo respondeu Brahma com um verso:

Ó Brahma, acreditando que poderia ser inútil ensinar, eu pensei em me abster de expor o Darma às pessoas. Mas aqueles que possuem ouvidos para ouvir poderão ouvi-lo e alcançarão a fé. Irei abrir as portas para a imortalidade.

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LIVRO I Capítulo III - A DISSEMINAÇÃO DO DARMA

1. Girando a Roda do Darma

(1) Então, o Honrado pelo Mundo ponderou: “A quem devo expor este Darma? Quem despertará com este Darma? Alara Kalama é um douto e sábio homem, com apenas um leve traço de ignorância; ele despertará com este Darma verdadeiro.” Entretanto, o Honrado pelo Mundo percebeu com seu olho celestial que Alara Kalama havia morrido sete dias antes. Ele pensou: “A morte de Alara Kalama é uma grande perda. A quem eu poderei expor este Darma? Uddaka Ramaputta também é um douto e sábio homem, transmitirei este Darma a ele.” Mas ele descobriu que Uddaka também havia morrido, no dia anterior. Ele lamentou a perda e voltou seus pensamentos aos cinco mendicantes. E pensou: “Aqueles cinco monges me seguiram durante minha prática de treinamento ascético. Eles são homens de grande valor, irei oferecer o Darma por primeiro a eles.” Assim, o Honrado pelo Mundo tomou essa decisão, e colocou-se no caminho que levava da floresta de Uruvela ao Parque dos Cervos de Isipatana, próximo a Baranasi.

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(2) Em seu caminho, o Honrado pelo Mundo encontrou Upaka, seguidor de um caminho falso que levava uma forma negativa de vida. Upaka ficou impressionado com a serenidade da aparência do Honrado pelo Mundo e disse: “Sua aparência é realmente serena, pura e lúcida. Como mendicante, quem você tomou por professor, e que tipo de ensinamento ele prega?” O Honrado pelo Mundo respondeu a pergunta através de um verso: “Eu alcancei a vitória na batalha; minha sabedoria é superior; não sou maculado por coisa alguma; estou livre de todos os sofrimentos; a sede da luxúria desapareceu para mim; eu estou perfeitamente iluminado. Isto se deve completamente à minha sabedoria; quem eu deveria olhar como professor? No céu ou na terra não há ninguém igual a mim. Sou o Iluminado deste mundo, sou o professor supremo. Apenas eu repouso na estabilidade pura. De agora em diante, girarei a Roda do Darma neste mundo cego; aqui tocarei o tambor da imortalidade. Para realizar isto, agora me dirijo à cidade de Kasi.” Upaka disse: “Honrado pelo Mundo, você se autodenomina ‘o Iluminado’ e ‘o Vitorioso’?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Aquele que extinguiu todos os obscurecimentos e se afastou do mal – esse homem não é ‘Vitorioso’?” Upaka disse: “Talvez seja assim”, e assentindo com a cabeça, partiu, tomando um caminho diferente.

(3) O Honrado pelo Mundo chegou ao Parque dos Cervos de Isipatana. Os cinco mendicantes viram o Honrado pelo Mundo e disseram uns aos outros: “Lá vem Gotama, aquele que abandonou o treinamento espiritual fugindo para uma vida de autoindulgência e que agora se aproxima de nós. Não devemos preparar um assento para ele. Ele que sente onde desejar.” CEBB

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Mas, quando o Honrado pelo Mundo aproximou-se dos cinco monges, eles esqueceram sua promessa. Um deles se dirigiu ao Honrado pelo Mundo. Outro preparou um assento, e outro buscou água para lavar seus pés. Depois de o Honrado pelo Mundo ter lavado os pés e tomado seu assento, os cinco mendicantes se voltaram a ele, e o chamaram por “Gotama” ou “amigo”. Mas, o Honrado pelo Mundo disse: “Vocês não deveriam se dirigir ao Buda pelo nome ou através de termos como ‘amigo’. Eu sou o Buda que alcançou a iluminação e sou digno de receber oferendas de todo o mundo. Ó monges, ouçam-me, irei ensinar-lhes o caminho para a imortalidade. Se vocês respeitarem e seguirem o Darma que irei ensinar agora, logo satisfarão as aspirações que os fizeram abandonar o lar e tornarem-se mendicantes. Vocês receberão práticas puras, e serão capazes de alcançar a iluminação naturalmente.” Os cinco mendicantes disseram: “Mas, Gotama, mesmo em um caminho austero e através de terríveis práticas ascéticas você não foi capaz de alcançar a verdadeira sabedoria que supera todas as outras. Você abandonou esse treinamento espiritual e escapou para uma vida de autoindulgência. Como você pode ter atingido tal Darma?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mendicantes, eu não sou indulgente com a preguiça nem abandonei o treinamento espiritual. Eu sou verdadeiramente um buda que alcançou a iluminação digna de oferendas pelo mundo. Ouçam-me: irei ensinar a vocês o caminho que leva à imortalidade.” Mas os cinco monges não aceitaram as palavras do Honrado pelo Mundo e repetiram suas observações anteriores por três vezes. Finalmente, o Honrado pelo Mundo disse: “Ó mendicantes, vocês se lembram de eu ter falado desta forma antes?” Os mendicantes responderam: “Ó Honrado pelo Mundo, não, você nunca assim o fez.” “Vocês veem? O CEBB

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Buda não busca uma vida de autoindulgência, nem ele abandonou seu treinamento espiritual. Eu sou um homem que, verdadeiramente, alcançou a iluminação. Ouçam-me: escutem o Darma que leva à imortalidade.” Então, pela primeira vez, os cinco mendicantes decidiram ouvir o Buda com sinceridade total.

(4) O Honrado pelo Mundo disse-lhes: “Mendicantes, existem dois caminhos extremistas que devem ser evitados. O primeiro é uma vida de prazeres tolos, viciando-se em desejos inferiores. O segundo é uma vida de práticas ascéticas tolas que mortificam o corpo em vão. Mendicantes, o Buda se iluminou através do Caminho do Meio, que está livre dos dois extremos, abrindo os olhos da mente, aprofundando a sabedoria, e guiando todos os seres à estabilidade, à sabedoria, à iluminação e ao nirvana. “Mendicantes, o que é o Caminho do Meio? É o Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta. “Mendicantes, esta é a Nobre Verdade do sofrimento. Nascimento é sofrimento. Velhice, doença e morte também são sofrimentos. Entrar em contato com algo odiado, afastar-se de alguém amado e não obter o que se procura também são sofrimentos. Em resumo, existir como um ser humano é sofrimento. “Mendicantes, esta é a Nobre Verdade da causa do sofrimento. O desejo intenso produz uma nova vida, acompanhada por prazer e cobiça, resultando nos prazeres do desejo em algum dos reinos. Existem três tipos de desejo: o desejo da paixão, o desejo de existir e o desejo de não existir. “Mendicantes, esta é a Nobre Verdade da cessação do sofrimento. O CEBB

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sofrimento cessa quando suas causas são removidas. “Mendicantes, esta é a Nobre Verdade do caminho que leva à cessação do sofrimento. É o Nobre Caminho Óctuplo da visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta. “Mendicantes, estas Quatro Nobres Verdades são um Darma que nunca foi exposto antes; este é o Darma com o qual eu me iluminei. Através deste Darma eu abri os olhos da mente e dei nascimento à sabedoria e à luz. O sofrimento deve ser compreendido, e eu o entendi. A causa do sofrimento, o desejo, deve ser cortada, e eu a cortei. Deve-se despertar para a cessação do sofrimento, e eu despertei. O caminho que leva à cessação do sofrimento deve ser praticado, e eu o pratiquei. Com base neste Darma que me permitiu a iluminação eu abri os olhos da mente e dei nascimento à sabedoria e à luz. “Mendicantes, enquanto o insight puro e verdadeiro das Quatro Nobres Verdades não tinha ainda surgido dentro de mim, eu não proclamei entre os vários mundos e povos que eu havia alcançado a iluminação. Mas, uma vez que tais insights surgiram em mim, agora eu proclamo que alcancei a iluminação. Além disso, o seguinte insight se manifestou em mim: ‘Minha mente, que se libertou da escravidão, nunca mais será abalada; este é meu último nascimento; para mim não haverá mais nascimentos delusórios.’” Quando o Honrado pelo Mundo transmitiu este ensinamento, um dos mendicantes, de nome Kondanna, adquiriu o olho do Darma que é livre de obscurecimentos; ele percebeu que todas as coisas que vêm à existência perecerão, infalivelmente.

(5) Assim, o Honrado pelo Mundo girou a Roda do Darma. Os deuses da terra proclamaram em conjunto: “No Parque dos Cervos de Isipatana, em CEBB

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Baranasi, o Honrado pelo Mundo girou a insuperável Roda do Darma que não havia sido girada neste mundo por ninguém.” As vozes desses deuses reverberaram nos mundos dos outros deuses e, finalmente, alcançaram o mundo de Brahma. Naquele instante, os mil mundos balançaram e tremeram, e uma luz ilimitada que transcendia a luz dos deuses brilhou sobre todos os mundos. Naquele momento, o Honrado pelo Mundo disse: “De fato, Kondanna entendeu (annasi) tudo”; e assim ele ficou conhecido como Annata Kondanna. Ele se tornou um discípulo que seguia o ensinamento do mestre; ele entendeu o Darma com grande profundidade, transcendeu a dúvida, libertou-se da delusão e alcançou o destemor. Sem interrupções, o Honrado pelo Mundo expôs o Darma aos outros quatro mendicantes. Esses outros quatro mendicantes – Vappa, Bhaddyia, Mahanama e Assaji – também se libertaram e alcançaram o olho do Darma que percebe que todas as coisas que vêm à existência infalivelmente perecerão. E todos, assim como Kondanna, tornaram-se discípulos.

(6) O Honrado pelo Mundo os reuniu e expôs o Darma: “Discípulos, o corpo não é o eu. Se o corpo fosse o eu, deveríamos ser capazes de modificar nossos corpos livremente. Da mesma forma, a mente também não é o eu; somos incapazes de modificar livremente nossas mentes.” Ele perguntou: “Discípulos, o que vocês acham? O corpo é permanente ou impermanente?” “É impermanente”, eles replicaram. Ele perguntou: “As coisas impermanentes são dolorosas ou prazerosas?” Os discípulos responderam: “Honrado pelo Mundo, elas são dolorosas.” Ele perguntou: “Vocês podem considerar como ‘meu’ ou ‘eu’ aquilo que é impermanente, doloroso e que muda constantemente?” Eles responderam: “Honrado pelo CEBB

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Mundo, não podemos considerar isso como ‘meu’ ou ‘eu’.” Ele disse: “Discípulos, a mente é assim. Os nobres discípulos devem ouvir e entender esta mesma verdade; eles devem dar nascimento à mente que rejeita tanto a mente quanto o corpo. Se não se apegarem a ambos, vocês alcançarão a liberação e darão nascimento à sabedoria que é completamente consciente dessa realização. Esta é a sabedoria que vê que ‘o nascimento chegou ao fim; a prática dedicada foi completada; aquilo que precisava ser realizado foi realizado; e após este, não haverá outros nascimentos.’” Os cinco homens ouviram o discurso do Honrado pelo Mundo e se regozijaram; eles se libertaram do apego, afastaram-se dos obscurecimentos e se tornaram sábios. Desta forma, agora havia seis sábios neste mundo.

2. O Abandono do Lar por Yasa. (1) Naquele tempo, em Baranasi, havia um esplêndido jovem de nome Yasa, o filho de um rico mercador. Ele era o único filho desse mercador, e por isso recebia todos os tipos de luxos. Para a estação fria ele recebeu um palácio de inverno; para a estação quente, um palácio de verão; para a estação chuvosa, uma mansão. Certa noite, após ter se entregado aos prazeres do desejo, ele caiu num cochilo por um momento. Quando acordou, sob a luz de uma bela lâmpada solitária, as mulheres que estavam cansadas da música estavam num sono profundo, esquecidas de qualquer senso de decoro. Algumas delas haviam rolado por sobre os alaúdes; algumas dançarinas tinham tambores sobre seus pescoços. Havia mulheres com os cabelos desgrenhados; em algumas escorria saliva por seus queixos, enquanto

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murmuravam durante o sono. Yasa, que observava de perto essa cena que parecia com um cemitério, percebeu os males do desejo e nele despertou uma mente que sentia repulsa pelo desejo. Gritando: “É terrível, é terrível!”, ele calçou seus chinelos dourados e fugiu. Ele seguiu diretamente para o Parque dos Cervos, e na aurora encontrou o Honrado pelo Mundo que estava na estrada. As palavras “É terrível, é terrível!” saíram da boca de Yasa. O Honrado pelo Mundo disse: “Yasa, não há nada terrível neste lugar. Sente-se aqui e ouça meu ensinamento.” Essas palavras pacificaram a mente perturbada de Yasa. Ele tirou seus chinelos dourados e sentou-se ao lado do Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo falou, então, de forma clara sobre os seguintes temas: oferendas desinteressadas, preceitos, nascimento nos céus, as máculas e negatividade do desejo sensual, os benefícios da liberação do mundo do desejo, e assim por diante. Após levar paz à mente de Yasa, ele expôs as Quatro Nobres Verdades do sofrimento, sua origem, sua cessação e do caminho que leva à cessação. Assim como um manto alvo é facilmente manchado pela tinta, a mente de Yasa foi pintada pela cor do ensinamento, e ele deu nascimento ao olho do Darma que percebe que todas as coisas que vêm à existência perecerão infalivelmente.

(2) A notícia de que Yasa não estava mais no palácio chocou os membros do clã. Mensageiros partiram nas oito direções à procura dele. Até mesmo o pai partiu na busca. Por acaso ele estava próximo ao Parque dos Cervos, e percebendo os chinelos dourados que haviam sido abandonados, ele perguntou ao Honrado pelo Mundo sobre o paradeiro de seu filho. O Honrado pelo Mundo disse: “No tempo devido você poderá encontrar seu filho; portanto, será bom para você sentar aqui por uns instantes.” Então, ele expôs os ensinamentos e fez com que o pai alcançasse o olho do Darma que é CEBB

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livre de obscurecimentos. O próspero pai se alegrou e repetiu os Três Refúgios. Ele disse: “Honrado pelo Mundo, este é um acontecimento extraordinário. É como levantar alguém que caiu, é como revelar aquilo que está escondido, é como mostrar o caminho a alguém que está perdido, é como segurar uma luz na escuridão e encorajar aqueles que possuem o olho de ver para observarem as formas das coisas, de diversas maneiras o Honrado pelo Mundo manifesta os ensinamentos para nosso benefício. Honrado pelo Mundo, eu tomo refúgio em você. Por favor, aceite-me como um fiel que toma refúgio deste dia em diante até o final de minha vida.” Desta forma, aquele que procurava e o procurado ambos entraram no caminho, pois Yasa deixou o lar e se tornou um sábio. No dia seguinte, o Honrado pelo Mundo, acompanhado por Yasa, foi convidado para ir a sua casa. Ele transformou a mãe e a irmã mais nova de Yasa em fiéis. Seguindo o exemplo de Yasa, seus quatro amigos – Vimala, Subahu, Punnaji e Gavampati – deixaram seus lares; um grupo de cinquenta amigos, encorajados por Yasa, também se tornaram discípulos do Buda. Esses homens seguiram o ensinamento do Honrado pelo Mundo, praticaram de acordo com o Darma e alcançaram a iluminação. Neste ponto, havia sessenta e um sábios no mundo que eram discípulos do Buda.

(3) Naquele tempo, o Honrado pelo Mundo dirigiu-se aos seus discípulos: “Discípulos, eu me livrei de todos os grilhões. Vocês também se livraram de todos os grilhões. Discípulos, tenham compaixão pelo mundo, para o benefício e felicidade de todos caminhem pelo mundo. Porém, dois homens não devem seguir a mesma estrada. Disseminem o ensinamento que é bom no princípio, bom no meio e bom no final, o ensinamento que é dotado tanto de erudição quanto de significado. Expliquem a prática que é CEBB

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completamente pura e perfeita. No mundo há pessoas cujos olhos de sabedoria estão apenas levemente maculados. Entretanto, se eles não ouvirem o ensinamento, cairão em ruína. Se eles ouvirem o ensinamento, alcançarão a iluminação. Discípulos, para expor o ensinamento eu irei até Senanigama, em Uruvela.” Então, Mara apareceu repentinamente diante do Honrado pelo Mundo e disse: “Tu estás preso por grilhões e estás amarrado por elos espessos. Tu não podes me escapar.” O Honrado pelo Mundo respondeu a Mara: “Estou livre de todos os grilhões, tu foste derrotado.” Mara falou mais uma vez: “O elo conhecido como Concentração do Espaço Infinito nada mais é do que cobiça. Eu te prendi com esse grilhão. Mendicante, tu não podes me escapar.” O Honrado pelo Mundo mais uma vez respondeu: “Estou livre da cobiça dos cinco desejos, tu foste derrotado.” Mara disse: “O Honrado pelo Mundo me conhece”, e, melancolicamente, desapareceu.

(4) O Honrado pelo Mundo enviou sessenta de seus discípulos em todas as direções e entrou no Bosque de Kappasiya em Uruvela sozinho. Naquele momento, trinta jovens que se denominavam Grupo do Prazer estavam se divertindo no bosque. No grupo, vinte e nove homens tinham esposas. Para o único solteiro, eles contrataram uma prostituta para servir como esposa. Os sessenta homens e mulheres estavam desfrutando completamente essa festa no bosque. A prostituta esperou por uma chance para fugir com suas belas vestimentas e joias. Os participantes da festa ficaram surpresos e correram atrás dela, virando para lá e para cá. Por acaso, eles se aproximaram do Honrado pelo Mundo, que estava sentado serenamente sob uma árvore. Eles notaram sua aparência radiante e, CEBB

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maravilhados, perguntaram ao Honrado pelo Mundo onde estava a prostituta. O Honrado pelo Mundo disse: “Jovens, por que procuram uma mulher? O que é superior, procurar uma mulher ou procurar a si mesmo?” Os jovens disseram: “Honrado pelo Mundo, buscar a si mesmo é superior.” “Jovens, então vocês fariam bem em sentar aqui, eu irei expor o ensinamento da busca de si mesmo.” Submetendo-se às suas palavras, eles sentaram-se ao lado do Honrado pelo Mundo. Ele elucidou o ensinamento, passo a passo. Ele esperou até que suas mentes se pacificassem, então ele explicou as Quatro Nobres Verdades. Todos os jovens abriram o olho de sabedoria e se tornaram mendicantes e discípulos do Honrado pelo Mundo.

3. A Conversão dos Três Kassapas

(1) Então, o Honrado pelo Mundo continuou gradualmente, e chegou às margens do rio Neranjara no bosque de Uruvela. Naquela época no país de Magadha, havia três irmãos chamados Kassapa, que eram tidos em alta estima pelo povo. Kassapa de Uruvela era seguido por cem discípulos. Kassapa de Nadi liderava trezentos discípulos. Kassapa de Gaya era acompanhado por duzentos discípulos. Eles usavam cabelos trançados e eram devotos do culto ao fogo. O Honrado pelo Mundo foi até o local de Kassapa de Uruvela e pediu por alojamento para uma noite na câmara de fogo. Kassapa avisou sobre o perigo do dragão venenoso que morava na câmara e recusou o pedido. Mas o Honrado pelo Mundo insistiu e, finalmente, entrou na câmara. Naquela noite, chamas saíam pelas janelas da câmara de fogo e as pessoas ficaram preocupadas com o bem-estar do pobre

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asceta que estava lá dentro. Na manhã seguinte, o Honrado pelo Mundo colocou o dragão venenoso em uma tigela e mostrou-o ao povo. Kassapa ficou surpreso com a estatura de sua virtude e poder, mas continuou pensando que o mendicante era inferior a ele. O Honrado pelo Mundo permaneceu na câmara de fogo e manifestou, repetidamente, poderes milagrosos. Certa noite, uma hoste de deuses se reuniu lá para ouvir o ensinamento, e assim, a floresta de Uruvela brilhou com a luz dos deuses. Outra vez, ele trouxe frutos de um mundo distante e uma doce fragrância invadiu o bosque. Ainda em outra ocasião, devido ao poder do ensinamento do Honrado pelo Mundo, não era possível cortar a madeira, o fogo não queimava, uma sujeira seca surgia da água e um lago surgiu em um local seco. Kassapa se maravilhou com o poder do ensinamento do Honrado pelo Mundo, mas ainda pensava: “Este mendicante não é páreo para mim.” Percebendo que era chegado o tempo, o Honrado pelo Mundo o aconselhou: “Kassapa, você não é um arhat. Você não descobriu o caminho que leva a tornar-se um arhat. O seu ensinamento não é o caminho que leva a tornar-se um arhat.” Kassapa ficou chocado e, de joelhos, curvou-se aos pés do Buda e fez o voto de tornar-se um mendicante com o Honrado pelo Mundo como seu professor. O Honrado pelo Mundo o aceitou, assim como seus dois irmãos e seus mil seguidores como discípulos.

(2) O Honrado pelo Mundo pensou: “Agora, pela primeira vez, chegou o momento de realizar a promessa que fiz ao rei Bimbisara.” Junto com os três Kassapas, que eram vistos como os mais sábios de Magadha, e seus mil discípulos, ele viajou para Rajagaha. Ele subiu uma montanha em Gayasisa, e observando os fogos da cidade de Rajagaha que tremulavam à distância, ele explicou assim: “Discípulos, todas as coisas estão queimando. Como elas CEBB

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queimam? Discípulos, tanto os olhos que veem quanto as coisas que são vistas, tanto a consciência que vê e diferencia quanto as sensações que resultam deste ato estão queimando. Da mesma forma os ouvidos, o nariz, a língua, o corpo, a mente, seus objetos de consciência e as diferenciações e sensações que ocorrem estão todos em chamas. Discípulos, qual é o fogo que os queima? Eles queimam com o fogo da cobiça, o fogo da raiva e o fogo da ignorância. Eles queimam com o fogo do nascimento, velhice, doença e morte, e com o fogo da ansiedade, tristeza, dor e angústia. Discípulos, se os seguidores deste ensinamento, ao assim verem e ouvirem, cansarem-se de todas as coisas, eles se libertarão das paixões e darão origem à sabedoria que percebe que ‘Eu alcancei a liberação’. Eles saberão que ‘o nascimento chegou ao fim, eu completei a prática dedicada, eu realizei aquilo que devia realizar. Deste momento em diante não haverá mais nascimentos delusórios.’

(3) “Discípulos, existem cinco desejos. Cada um possui uma aparência atraente e encantadora e o poder de seduzir e estimular. Os cinco desejos surgem para as formas vistas pelo olho, os sons percebidos pelos ouvidos, os cheiros sentidos pelo nariz, os gostos saboreados pela língua e as sensações tácteis sentidas pelo corpo. Todos os mendicantes que se afogam nos cinco sentidos e permanecem cegos ao mal causado por eles, e que são ignorantes do caminho que os afastaria de tais desejos, são descritos como pessoas que estão imersas no infortúnio, estão aflitas pelo mal, e caíram na armadilha preparada por Mara. Eles são como os cervos da floresta que pisaram em uma armadilha e ficaram presos; diz-se sobre eles: ‘Esses cervos caíram em uma armadilha preparada pelo caçador e são incapazes de fugir.’ “Discípulos, se eles enxergarem o mal dos cinco desejos, conhecerem o caminho que os afastará deles, e praticarem esse caminho, esses mendicantes CEBB

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serão descritos como pessoas que não estão imersas no infortúnio, e que não caem nas armadilhas preparadas por Mara. Eles serão como o cervo da floresta que não cai na armadilha do caçador e é capaz de correr quando o caçador se aproxima. “Discípulos, um cervo da floresta é capaz de vagar livremente pela floresta e pelas montanhas, e pacificamente levantar-se e deitar, porque ele mora em uma área onde o caçador não consegue penetrar. Da mesma forma, quando os discípulos praticam a meditação, eles são conhecidos como pessoas que cegaram Mara e que escaparam das áreas assoladas por Mara. No ato de caminhar, ficar em pé, sentar ou deitar, eles estão cheios de confiança e em paz.

(4) “Discípulos, quando ainda era um bodisatva que não havia alcançado a iluminação, eu pensava assim: ‘O que é a felicidade mundana? O que é o infortúnio? Como posso escapar do infortúnio?’ Então, eu pensava: ‘Neste mundo, é a felicidade que gera o prazer e o contentamento. O fato deste mundo ser um mundo de impermanência, sofrimento e mudança é um infortúnio. Neste mundo, ao restringir-se e abandonar a cobiça, será possível escapar dele.’ “Discípulos, eu busquei a felicidade mundana e, ao alcançá-la, verifiquei sua origem. E também busquei o infortúnio mundano e verifiquei sua origem. Eu contemplei o caminho que leva à liberação deste mundo, e ao alcançá-lo, verifiquei sua origem. Discípulos, quando percebi desta forma a verdadeira natureza da felicidade mundana, do infortúnio e da liberação de ambos, eu atingi a iluminação suprema. Agora minha mente é inabalável. A sabedoria de que ‘este é meu nascimento final, não nascerei novamente’ surgiu dentro de mim. Discípulos, se não houvesse felicidade neste mundo, CEBB

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as pessoas não ficariam apegadas ao mundo. Como há felicidade no mundo, as pessoas se apegam. Se o infortúnio não existisse no mundo, as pessoas não se cansariam dele. Como há o infortúnio, as pessoas se cansam do mundo. E também, se o Darma que ensina o caminho para a libertação do mundo não existisse, as pessoas não encontrariam a libertação do mundo. Como tal Darma existe, elas são capazes de encontrar a libertação deste mundo.” Ao ouvirem seu ensinamento, os mil discípulos libertaram-se do apego e alcançaram a iluminação.

4. O Monastério do Bosque de Bambus (1) O Honrado pelo Mundo, acompanhado pelos três Kassapas e os mil discípulos, entrou em Rajagaha; eles pararam no Santuário Suppatittha, que estava localizado em um bosque de bambus nas cercanias da cidade. Sua presença foi divulgada em Rajagaha. O povo louvou o Honrado pelo Mundo, dizendo: “O Buda é um homem digno de receber as oferendas do mundo. Ele é um homem verdadeiramente iluminado. Ele é um professor para todos os mundos. Ele é um modelo para os seres humanos e os seres celestiais. Tendo alcançado a iluminação, ele expõe em todos os mundos o Darma que é perfeitamente dotado de erudição e significado.” O rei de Magadha, Bimbisara, acompanhado por um grande séquito, foi até o Honrado pelo Mundo, curvou-se e sentou-se ao seu lado. As outras pessoas também sentaram.

(2) Muitas pessoas do país de Magadha duvidavam que Kassapa de

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Uruvela, considerado o homem sábio de seu tempo, tivesse se tornado um discípulo do Honrado pelo Mundo. Se Gotama estava praticando sob a orientação de Kassapa ou se Kassapa estava praticando sob a orientação de Gotama não estava claro. O Honrado pelo Mundo percebeu a situação imediatamente, e olhou para Kassapa de Uruvela; Kassapa percebeu sua intenção e disse em alta voz para que todos pudessem ouvir: “Honrado pelo Mundo, antes, na floresta de Uruvela, eu venerava o fogo e me enfraqueci pelas práticas ascéticas. Mas agora, devido ao ensinamento do Honrado pelo Mundo, encontrei o deleite do caminho verdadeiro. O Honrado pelo Mundo é meu professor, eu sou seu discípulo.” Ele repetiu isto duas vezes. Desta forma, suas palavras dissiparam todas as dúvidas.

(3) O Honrado pelo Mundo expôs o Darma com dedicação e de uma forma ordenada, fazendo com que o rei Bimbisara e um grande número de pessoas abrissem o olho do Darma. O rei Bimbisara disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, quando eu era um príncipe tinha cinco aspirações. Eu desejava ser coroado como rei; desejava que um Buda surgisse em meu país; aspirei a servir o Buda; desejava ouvir o Darma daquele Buda; e aspirava a alcançar a iluminação. Agora, todas essas aspirações foram realizadas. O Honrado pelo Mundo expôs o Darma de diversas formas; foi como levantar alguém que estava caído; revelar algo que estava escondido; mostrar o caminho para alguém que estava perdido; guiar alguém com visão para perceber as formas; ou segurar uma luz na escuridão. Honrado pelo Mundo, eu tomo refúgio em você. Eu tomo refúgio no Darma e na Sanga. De agora até o final de minha vida, eu imploro que me aceite como seu seguidor. Eu lhe peço para visitar meu palácio amanhã, junto com seus discípulos.” O Honrado pelo Mundo silenciosamente aceitou o convite. CEBB

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O rei estava radiante e retornou ao palácio. As preparações para a refeição foram conduzidas durante a noite. Na manhã seguinte, ele informou o Honrado pelo Mundo sobre o momento da refeição. O Honrado pelo Mundo arrumou seu manto, tomou sua tigela na mão e, acompanhado por mais de mil discípulos, entrou em Rajagaha. Naquele momento, o rei dos deuses, Indra, assumiu a forma de um jovem, e caminhando à frente do Honrado pelo Mundo, ele cantou:

Guiando um séquito de homens pacíficos, de homens libertos, O Honrado pelo Mundo agora chega a Rajagaha. Guiando um séquito de homens equilibrados, de homens libertos, O Honrado pelo Mundo agora chega a Rajagaha.

O povo olhava para ele e pensava: “Quem é esse jovem de aparência esplêndida e graciosa?” Ao perceber isto, Indra cantou: “O Buda é sábio e puro, incomparável; eu sou um jovem que o segue.”

(4) O Honrado pelo Mundo entrou no palácio do rei Bimbisara e sentou-se no trono que havia sido preparado para ele. O rei ofereceu-lhe comida com as próprias mãos. Após tê-lo servido, o rei também se sentou e pensou: “Onde seria o melhor lugar para o Honrado pelo Mundo morar? Deve ser um lugar nem distante demais, nem perto demais da cidade; um lugar conveniente tanto para vir quanto para ir; um lugar acessível a todos; um lugar que esteja livre das multidões durante a tarde e silencioso ao anoitecer; um lugar que seja adequado para a contemplação e para o retiro. Existe tal lugar?” Ponderando desta forma, ele percebeu que o bosque de bambus seria CEBB

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ideal. Aspirando oferecer esse parque ao Honrado pelo Mundo, ele pegou um vaso de ouro, derramou água sobre as mãos do Honrado pelo Mundo, e disse: “Honrado pelo Mundo, eu desejo oferecer o bosque de bambus a você.” O Honrado pelo Mundo expôs o Darma e encorajou o rei. Após retornarem ao bosque, ele disse aos discípulos: “De agora em diante, aceitar a oferenda de um bosque será permitido.” E lá foi construído um monastério.

5. Sariputta e Moggallana (1) Em uma família abastada que vivia na vila de Narada, a noroeste e não muito distante de Rajagaha, havia um jovem de nome Upatissa. Ele se tornou um amigo próximo de Kolita, que vivia em uma vila vizinha; frequentemente eles conversavam sobre seus propósitos e metas. Certo dia, os dois amigos viram uma multidão de pessoas circulando por um festival da montanha e sentiram profunda repugnância. Eles procuraram um lugar silencioso e, olhando para Rajagaha ao pé das montanhas, mergulharam em contemplação. Eles pensaram: “Essas pessoas em multidões aceleradas, famintas por sonhos passageiros, estão embotadas pelos prazeres – quantas delas estarão vivas em cem anos? Mesmo enquanto elas estão arrebatadas pela música tocada pelos músicos celestiais Gandhabba, a tristeza dos seres humanos cairá sobre elas sem restrições. Aquela cidade que aparece à distância irá, algum dia, soçobrar. Qual o sentido de alguém que será destruído buscar algo que também será destruído?” Os dois jovens se tornaram mendicantes e, entrando em Rajagaha, tornaram-se discípulos de Sanjaya, um renomado asceta daquele tempo.

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Sanjaya tinha um séquito de duzentos e cinquenta discípulos. Upatissa e Kolita rapidamente alcançaram o mesmo estágio de seu professor, e eram servidos pelos discípulos conforme condizia com sua posição de discípulos seniores; e eles continuaram buscando o caminho com grande zelo. Os dois fizeram o pacto: “Se algum de nós alcançar a iluminação, irá informar imediatamente o outro.”

(2) Certa manhã, um discípulo do Buda chamado Assaji fazia sua caminhada de mendicância em Rajagaha. Sua aparência digna chamou a atenção de Upatissa, que o encontrou por acaso na estrada. “Ó, que nobre aparência. Se há homens que atingiram a iluminação neste mundo, esse mendicante com certeza é um deles.” Upatissa aproximou-se de Assaji e pensou em perguntar-lhe sobre o caminho, mas então, ponderou: “Este não é o momento adequado; devo esperar até ele terminar sua caminhada”, e assim ele seguiu Assaji. Depois que Assaji terminou sua caminhada e deixou a vila, Upatissa foi até ele e disse: “Amigo, seu corpo é realmente pleno de serenidade, você é brilhante, e claro, e puro. Quem você segue como professor?” Assaji disse: “Amigo, há um grande mendicante que deixou seu lar no clã dos Sakya, eu sou um daqueles que seguem o ensinamento do Honrado pelo Mundo.” Upatissa perguntou: “Que espécie de ensinamento professa o seu mestre?” Assaji disse: “Recebi há pouco tempo o ensinamento, portanto, sou incapaz de explicá-lo em detalhes. Mas, resumindo em uma única frase, ele pode ser expresso com as palavras: ‘Os darmas surgem dependentes de condições; e, dependentes de condições, eles deixam de existir.’” Upatissa, ao ouvir este ensinamento, iluminou-se para o princípio de que todas as coisas que surgem cessarão, infalivelmente, de existir. Ele falou CEBB

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sobre o que havia acontecido com Kolita, para manter sua promessa; ele também falou sobre isto com duzentos e cinquenta amigos seus. Depois, seguindo Upatissa e Kolita, todos eles pediram para seguir o caminho sob a orientação do Honrado pelo Mundo. Os dois amigos falaram sobre isto com Sanjaya. Desconsiderando a tentativa de seu professor de impedi-los, e liderando duzentos e cinquenta homens, eles foram ao Monastério do Bosque de Bambus, onde morava o Honrado pelo Mundo.

(3) O Honrado pelo Mundo viu Upatissa e Kolita vindo à distância. Ele disse aos discípulos: “Discípulos, dois amigos se aproximam daqui, os dois se tornarão grandes discípulos meus.” Os dois amigos se tornaram discípulos do Honrado pelo Mundo, e, em pouco tempo, eram reverenciados como seniores no grupo de discípulos. Desde aquele momento, Upatissa recebeu o nome de Sariputta, e Kolita de Moggallana. Mas, devido ao seu rápido avanço, surgiu um incômodo entre os discípulos seniores. O Honrado pelo Mundo soube disso, e falou: “Discípulos, eu fiz de Sariputta e Moggallana discípulos seniores, mas não devido a preferências. Sua posição se deve às raízes de mérito e aspirações de suas vidas passadas. É inapropriado que aqueles que deixaram seus lares para buscar o nirvana supremo disputem por posições ou poder. Vocês devem purificar suas mentes e, concentrados unifocadamente, avançar no caminho.” Então, ele expôs o Verso dos Preceitos Normalmente Ensinados pelos Sete Budas:

Não cometam o mal; acumulem inúmeras ações positivas; Purifiquem suas próprias mentes: este é o ensinamento dos budas.

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(4) Depois que Sariputta e Moggallana se tornaram mendicantes, os filhos de muitas famílias importantes de Magadha também se tornaram discípulos do Honrado pelo Mundo. Por isso, algumas pessoas reprovavam o Honrado pelo Mundo, dizendo: “Gotama tira os filhos de seus pais, os maridos de suas esposas, e os herdeiros de seus lares.” Elas espalharam os seguintes rumores: “Mil devotos do fogo se tornaram mendicantes; duzentos e cinquenta discípulos do renomado Sanjaya se tornaram mendicantes; os filhos de importantes famílias de Magadha se tornaram mendicantes. Quem serão os próximos a serem atraídos?” Alguns começaram a cantarolar escárnios ao verem os discípulos do Buda:

Um grande mendicante apareceu na cidade, nas montanhas de Magadha. Ele arrastou os discípulos de Sanjaya. Quem serão os próximos a serem arrastados?

Os discípulos informaram o Honrado pelo Mundo sobre isto. Ele disse: “Discípulos,

essas

vozes

não

continuarão

por

muito

tempo;

elas

desaparecerão em sete dias. Discípulos, quando forem à cidade e ouvirem essas vozes, respondam da seguinte maneira: “Com o Darma verdadeiro, o Buda guia todos os seres. O que podem fazer as flechas da inveja?” Ao ouvirem isto, as pessoas logo pararam com os escárnios.

(5) O Honrado pelo Mundo estava morando na Caverna do Javali, no Pico dos Abutres, que ficava a nordeste de Rajagaha. O tio de Sariputta, o brâmane Dighanakha, buscando encontrar o professor de seu sobrinho, veio CEBB

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até o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, meu princípio é não afirmar coisa alguma.” O Buda disse: “Brâmane, se você clama não afirmar coisa alguma, então não deve afirmar o princípio de não afirmar coisa alguma.” Dighanakha disse: “É verdade, se eu afirmar o princípio da nãoafirmação, então isto é afirmar algo.” O Buda disse: “Brâmane, existem muitos que, como você, não abandonam a própria negação, embora sustentem a negação; poucos são aqueles que estão livres deste erro. No mundo existem aqueles que clamam afirmar todas as coisas, e aqueles que clamam afirmar uma parte e não afirmam uma outra parte. Dentre todas essas visões, em geral, o princípio que afirma todas as coisas está fortemente conectado à cobiça, à escravidão e ao apego; e o princípio que não afirma todas as coisas está relacionado a eles apenas fracamente. Mas, em ambos os casos, se você se apegar firmemente a qualquer um desses princípios, inimigos surgirão e darão início a disputas, obstruções serão formadas e problemas se seguirão. Aqueles com sabedoria percebem tudo isto, e abandonam os princípios. “Brâmane, esta forma corpórea nasce do pai e da mãe, e é mantida pela comida; é impermanente, e, no final, será destruída. Ela sofre, não possui essência e é vazia. Ao perceber isto, você deve liberar-se dos apegos e paixões relativos a sua forma corpórea. Além do mais, existem três formas de sensações: dolorosas, prazerosas e aquelas que não são nem prazerosas nem dolorosas. Essas três sensações surgem devido a condições. Elas são impermanentes e são destruídas; você não deve se apegar a elas. Meus discípulos que seguem este ensinamento rejeitam o prazer e a dor, assim como o estado sem dor e sem prazer, libertam-se da cobiça e alcançam a liberação. Eles vivem sem disputar com ninguém.” Naquele momento, Sariputta estava em pé atrás do Honrado pelo CEBB

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Mundo, abanando-o. Ele pensou com sinceridade: “O Honrado pelo Mundo realmente revela o ensinamento da liberação do desejo.” E, assim, ele se libertou dos obscurecimentos, sem quaisquer traços remanescentes. O brâmane Dighanakha entendeu que todas as coisas que vêm à existência são, infalivelmente, extintas, e também alcançou o olho do Darma. Ele se tornou um seguidor, e durante toda sua vida tomou refúgio nos Três Tesouros.

6. O Ensinamento no Monastério do Bosque de Bambus (1) No Monastério do Bosque de Bambus, o Honrado pelo Mundo transmitia, frequentemente, o ensinamento aos discípulos: “Discípulos, de tempos em tempos, três tipos de sons celestiais reverberam entre os deuses. Primeiro, quando um discípulo desse ensinamento raspa sua barba e cabelo e decide tornar-se um mendicante, um som celestial surge reverberando: ‘Esse homem irá batalhar com Mara.’ Em seguida, quando esse discípulo realiza a prática verdadeira que se torna a semente da iluminação, um som celestial surge para reverberar: ‘Esse homem está batalhando com Mara.’ Depois, quando esse discípulo extingue completamente os obscurecimentos e alcança a iluminação, um som celestial surge e reverbera: ‘Esse homem venceu a batalha.’ Discípulos, de tempos em tempos, esses tipos de sons celestiais surgem entre os deuses.

(2) “Discípulos, quando os deuses estão perto de desaparecer do mundo celestial, cinco tipo de sinais marcam sua aparência. Suas guirlandas de flores murcham; seus mantos ficam manchados; surge suor de suas axilas;

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seus corpos emanam um odor desagradável; e eles começam a sentir-se insatisfeitos com o lugar onde moram. Nesse momento, os outros deuses os encorajam dizendo: ‘Amigos, vocês fariam bem em ir a um bom lugar, para realizar aquilo que é bom, e para ficarem firmemente plantados naquele solo.’ Discípulos, ‘um bom lugar’ refere-se ao mundo dos seres humanos, e ‘realizar aquilo que é bom’ se refere à realização da fé no ensinamento exposto pelo Buda no mundo dos seres humanos. Quando essa fé está firmemente estabelecida e não é abalada pelos ensinamentos de outros homens, isso se chama ‘estar firmemente plantado no solo da fé.’

(3) “Discípulos, se um discípulo meu agarrar a barra de meu manto e me seguir, mesmo que ele siga minhas pegadas, se sua mente estiver cheia de desejo e em desordem, ele estará distante de mim, e eu também estarei distante dele. A razão para isto é que ele não perceberá o Darma. E aquele que não percebe o Darma não me percebe. Por outro lado, mesmo se um discípulo estiver longe de mim a mais de trinta milhas, se ele tiver se libertado do desejo e se sua mente for verdadeira, ele estará ao meu lado. A razão para isto é que ele percebe o Darma; percebendo o Darma, ele me percebe.

(4) “Discípulos, eu doo àqueles que pedem; sou um ser iluminado e estou sempre pronto para doar. Eu sou um grande e insuperável médico. Vocês são meus filhos; vocês nasceram no Darma e são herdeiros no Darma. Vocês não são herdeiros de riquezas materiais. Discípulos, existem dois tipos de presentes, os presentes das riquezas materiais e os presentes do Darma. Existem dois tipos de oferecimento jubiloso, o oferecimento de riquezas CEBB

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materiais e o oferecimento do Darma. Existem dois tipos de ajuda, a ajuda através de riquezas materiais e a ajuda através do Darma. Existem dois tipos de oferendas, oferendas de riquezas materiais e oferendas do Darma. O Darma é sempre superior às riquezas materiais.

(5) “Discípulos, suponham que um homem esteja flutuando em um rio; ele flutua com a correnteza agradavelmente em um barco adequado. Um homem com visão privilegiada encontra-se sobre uma rocha, vê o barco e grita: ‘Por que você está navegando com tanta alegria rio abaixo? Lá abaixo há ondas se elevando, há redemoinhos, há águas profundas onde moram crocodilos e demônios; é certo que você encontrará lá sua morte.’ O homem ouve aquela voz e começa a nadar para a margem movendo seus braços e pernas. Discípulos, a correnteza do rio é a sede da luxúria; flutuar agradavelmente refere-se ao apego ao corpo físico; as águas profundas rio abaixo significam as máculas que surgem no mundo inferior. As ondas se levantando se referem à negatividade da raiva; os redemoinhos se referem aos cinco desejos; crocodilos e demônios se referem às mulheres. Discípulos, nadar até a margem se refere a libertar-se da escravidão; esforçar-se com os braços e pernas refere-se à disciplina espiritual; e o homem que enxerga bem sobre uma rocha é o Buda.”

(6) “Discípulos, música é lamentação; a dança mostra uma mente desorganizada. Além disso, rir mostrando os dentes é infantil. Portanto, parem de ouvir música e de dançar. Se algo é agradável, é o suficiente apenas sorrir.

(7) “Discípulos, quer o Buda surja neste mundo ou não, todas as coisas CEBB

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são impermanentes. Esta é uma lei imutável. O Buda está desperto para esta lei; ele a percebe e ensina explicitamente que todas as coisas são impermanentes. Quer o Buda surja neste mundo ou não, as verdades de que todas as coisas são sofrimento e de que todas as coisas são vazias de identidades são imutáveis. O Buda despertou para estas verdades, ele as percebe e as expõe.”

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LIVRO I Capítulo IV - SAKYAMUNI EM SUA TERRA NATAL

1. Mahakasyapa e Narada

(1) No dia em que Sakyamuni alcançou a iluminação, um jovem homem de nome Pippalayana, que vivia na vila brâmane de Mahatistha, deixou o lar. Seu nascimento aconteceu da seguinte forma: o pai, de nome Kapilla, era um homem de riquezas incomparáveis nas vilas e cidades vizinhas. Quando a mulher de Kapilla estava no último mês da gravidez, ela resolveu dar um passeio em seu amplo e verde jardim. Enquanto descansava à sombra de uma enorme figueira, uma vestimenta celestial surgiu flutuando e caiu sobre o topo da árvore. Então, seu filho nasceu sob aquela árvore, e assim foi chamado de Pippalayana. Ele cresceu em meio a grande luxo e aprendeu as artes e as ciências. Ele era inteligente e possuía grande eloquência. Mesmo os adultos se maravilhavam com suas habilidades. Mas, desde criança ele se afastou dos prazeres do mundo impermanente e buscou algo nobre e elevado. Com dificuldades para recusar as exigências de seus pais, ele se casou com uma bela donzela de nome Bhaddakapilani, da família Kausiya, que vivia na cidade de Sagara, no país de Madra, nas distantes regiões ao norte. Mas a noiva também rejeitou os cinco desejos e aspirava realizar as

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práticas puras; assim, os dois fizeram o voto de não dormirem juntos. Após a morte de seus pais, Pippalayana lamentou a transitoriedade da vida, mesmo a vida de um inseto morto pela ponta do arado de um fazendeiro. Bhaddakapilani observou os incontáveis insetos que, como um enxame, aglomeravam-se nas sementes de gergelim que estavam sendo prensadas, e se desiludiu do mundo. Após conversarem sobre isso, os dois deixaram o lar e se colocaram em peregrinação, indo para o oeste e para o leste. Devido à linhagem de sua família, Pippalayana era conhecido como Mahakasyapa.

(2) Certo dia, quando o Honrado pelo Mundo estava morando no Monastério do Bosque de Bambus, ele percebeu que as condições para a iluminação de Mahakasyapa tinham chegado à fruição. Então, ele deixou o monastério e viajou na direção nordeste, sentou-se ao pé da grande árvore nyagrodha

que

Mahakasyapa

existia

sentiu

entre

que

Rajagriha

estava

sendo

e

Narada.

atraído

por

Nessa

ocasião,

alguma

força

desconhecida; procurando o Honrado pelo Mundo, ele viajou em direção ao Monastério do Bosque de Bambus. Mas, por acaso, ele avistou o Honrado pelo Mundo sentado sob a árvore na postura meditativa. Acreditando que aquele era o grande professor que estava buscando, ele disse: “O Honrado pelo Mundo é meu grande professor; eu sou um discípulo do Honrado pelo Mundo.” O Honrado pelo Mundo expôs cuidadosamente o ensinamento das Quatro Nobres Verdades, transmitindo-o ao seu discípulo. Após isso, Mahakasyapa praticou o caminho com grande esforço, e no oitavo dia alcançou a iluminação.

(3) Naquela época, Narada também se tornou um mendicante. Assim CEBB

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que o viu, o vidente Asita profetizou que o príncipe Siddartha se tornaria um mendicante e alcançaria a iluminação. Mas, quando ele percebeu que Siddartha giraria a Roda do Darma no Parque dos Cervos apenas depois de sua morte, ele aspirou que ao menos seu sobrinho Narada tivesse a boa fortuna de encontrar o ensinamento do Honrado pelo Mundo. Ele temia que, após sua morte, Narada continuasse a tradição da família, e recebesse grandes oferendas, perdendo assim a mente da meditação sobre o surgimento do Honrado pelo Mundo. Portanto, ele construiu uma casa próxima ao Parque dos Cervos, e instruiu Narada a meditar sobre o Honrado pelo Mundo três vezes por dia. Então, Asita faleceu. Após sua morte, como ele temia, Narada desenvolveu apego às oferendas e negligenciou a meditação sobre o Honrado pelo Mundo. Naquele tempo, o rei Naga relembrou as palavras ditas a ele pelo Buda Kasyapa: “No tempo do surgimento do Buda Sakyamuni neste mundo, você conseguirá se liberar do corpo de um naga.” Com o pensamento de que deveria encontrar o Buda, ele se dirigiu ao ponto médio do rio Ganges, juntou um monte de milhete prateado em uma tigela de ouro, e um monte de milhete dourado em uma tigela de prata; então, mandou duas donzelas vestidas com beleza cantarem esta canção:

Quem é o rei dos reis? Como podemos nós, tanto os corrompidos quanto os puros, Libertar-nos dos obscurecimentos? O que é a ignorância? O que morre com seu fluxo? Qual realização merece o nome de sabedoria? O que quer dizer fluir e não fluir? Além disso, como podemos alcançar o nirvana? CEBB

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O rei Naga disse: “Aquele que despertar para o significado deste verso e puder responder as questões é um buda. Estou pronto para oferecer o milhete dourado e o prateado servidos nas tigelas de ouro e prata e as duas donzelas a esse homem.”

(4) Mas ninguém, nem mendicantes, nem eruditos, nem as mais diversas pessoas foram capazes de solucionar o enigma. Narada também não foi capaz de responder, desapontando seus conterrâneos; finalmente, ele foi forçado a procurar o Honrado pelo Mundo para perguntar o significado do verso. O Honrado pelo Mundo respondeu com o seguinte verso: “Todos, do rei Mara do sexto céu para baixo, ou são corrompidos ou são livres das corrupções; aquele que não está corrompido não possui máculas. Aqueles que estão corrompidos são chamados de ignorantes; eles são carregados pela corrente. Aquilo que extingue a ignorância é chamado de sabedoria; aquele que abandona a corrente não é arrastado e é chamado de liberto.” Então, Narada, no sétimo dia, foi ao rio Ganges e transmitiu este verso ao rei Naga. O rei Naga ficou exultante; ele perguntou onde residia o Honrado pelo Mundo, foi até ele e tornou-se seu seguidor. Narada também se tornou seu discípulo e, em pouco tempo, atingiu a iluminação.

2. Os Versos dos Seres Celestiais (1) Naquela época, diversos deuses vieram até o Honrado pelo Mundo e cantaram seus louvores, ou trocaram perguntas e respostas com o Buda:

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(i) Todos os seres vivos morrem. A vida é breve e não há ninguém para protegê-los. Despertando para o temor diante da morte, eles acumularão os méritos que levam ao equilíbrio. Libertando-se da imoralidade do mundo, eles avançarão em direção à iluminação. O tempo passa, os dias voam, a juventude a todos abandona e se dissolve.

Se as pessoas não despertarem para o Darma, elas seguirão ensinamentos negativos. Elas dormirão e não despertarão. Desperte-as agora! Se despertarem para o Darma, elas não cairão nos ensinamentos negativos; sua iluminação será verdadeira e seu caminho será reto.

(ii) Se elas se deludirem sobre os ensinamentos seguirão ensinamentos negativos. Se elas não se deludirem sobre os ensinamentos, não cairão nos ensinamentos negativos. Se elas forem orgulhosas, os cinco sentidos não estarão em harmonia. Se a mente não estiver pacificada, não haverá equilíbrio. Mesmo que elas habitem na floresta, se forem negligentes não transcenderão os domínios de Mara. Se elas libertarem-se do orgulho e suas mentes se tornarem equilibradas, se elas desatarem os nós da escravidão com a sabedoria que é clara, se elas habitarem a floresta e não forem negligentes, então elas transcenderão o domínio de Mara.

(iii) Se elas têm crianças, alegram-se pelas crianças. Se elas

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possuem vacas, alegram-se pelas vacas. Prazer e cobiça andam juntos. Se elas têm crianças, entristecem-se pelas crianças. Se elas possuem vacas, entristecem-se pelas vacas. Tristeza e cobiça andam juntas. O homem iluminado não possui cabana, nem lar, nem corda que o amarre, ele está liberado da escravidão. A mãe é a cabana, a esposa é o lar, o filho é a corda, a sede da luxúria é o elo. O homem iluminado não tem cabana esperando por ele, ele não tem lar para onde retornar e não tem corda que o amarre, ele está liberado de toda a escravidão. Seres humanos e celestiais deste mundo e de outros procuram seu rastro, mas não há como descobrir. Portanto, neste mundo, não cometam negatividades com o corpo, a fala ou a mente. Abandonem o desejo, corrijam seus pensamentos e cuidem de sua conduta. Não atraiam para vocês sofrimentos que não tragam benefícios.

(iv) Uma noite, os deuses do céu de Tavatimsa visitaram o Bosque Jeta e cantaram louvores à sua própria glória. “Aqueles que não viram os jardins de prazer, as moradas do céu de Tavatimsa, que é conhecido em todo o mundo pela sua glória, ainda não conheceram o verdadeiro prazer.” Em resposta a essa voz, os outros deuses responderam com estes versos:

Vocês são ignorantes. Não conhecem o ensinamento do Buda de que todas as coisas são impermanentes e fluidas? Nascimento e extinção são a natureza de todas as coisas. As coisas nascem e, sem exceção, são extintas. Quando tanto o nascimento quanto a extinção forem transcendidos, será alcançada a verdadeira

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felicidade do equilíbrio.

Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Se conhecerem o verdadeiro Darma, vocês se aproximarão do que é bom e não se desviarão para o mal. Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Se conhecerem o verdadeiro Darma, a sabedoria será transmitida a vocês. Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Se conhecerem o verdadeiro Darma, vocês saberão que mesmo neste mundo de sofrimento não há sofrimento verdadeiro. Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Se conhecerem o verdadeiro Darma, vocês brilharão entre as pessoas. Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Se conhecerem o verdadeiro Darma, vocês renascerão em um bom país. Permaneçam com pessoas boas, procurem a companhia de pessoas verdadeiras. Ao conhecerem o verdadeiro Darma, alcançarão a liberação de todo o sofrimento.

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(v) Se você for avarento e negligente, não fará doações. Se você meditar sobre os méritos e possuir sabedoria, fará doações. Pessoas avarentas têm medo e não doam; mas o que deveria ser realmente temido é a falha de não doar.

Isto assim se dá porque o homem sábio teme a fome e a sede que os tolos terão que sofrer tanto neste mundo quanto no próximo. Portanto, supere a negatividade da cobiça e realize ações generosas. Os méritos são verdadeiramente um porto seguro para todas as pessoas no pós-vida. O homem que, como um viajante atravessando uma terra inóspita, divide o pouco que tem com outra pessoa, nunca perecerá, mesmo vivendo em meio a coisas que perecem. Ele será sempre próspero. Doar quando se possui pouco é superior a doar quando se é rico. Doar com fé é superior a ambos.

(vi) A fé é uma boa companheira. Se você tiver fé, encontrará a glória neste mundo; e no pós-vida você encontrará renascimento em um bom país. Os preceitos não envelhecem; a fé é um terreno bom e pacífico; a sabedoria é o tesouro de um homem; os méritos não podem ser retirados de ninguém.

Na floresta há uma grande assembleia, os deuses também se reúnem lá. Viemos a esta floresta para encontrar a Sanga, que é vitoriosa na batalha. Discípulos, pacifiquem e corrijam suas mentes. O homem sábio, como um condutor que segura as rédeas, controla seus cinco sentidos. Se você tomar refúgio no Buda, não

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irá para um país negativo. Quando o corpo desta vida se extinguir, você se reunirá à assembleia dos deuses.

(vii) Um ser celestial colocou uma pergunta em versos: “Você e seus discípulos vivem na floresta, dedicam-se a práticas severas e fazem apenas uma refeição por dia. Por que você e seus discípulos possuem compleições tão claras?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Aquele que não se entristece pelos dias que já se foram, e não anseia pelo futuro que está por vir, estará em paz com o que existe agora. Portanto, sua compleição será verdadeiramente clara. O homem ignorante, que anseia por um futuro que ainda está por vir e se entristece pelos dias que já se foram, murcha como um junco seco.

(2) Um discípulo, procurando esforçar-se como o Honrado pelo Mundo, foi longe demais e perdeu sua vida. Enquanto estava escorado em um poste, ele renasceu no céu de Tavatimsa como recompensa por seu carma positivo, apesar de ainda não ter alcançado a iluminação. Donzelas celestiais cantavam, dançavam e esperavam por ele. Entretanto, ele não acreditou, a princípio, que havia renascido em um mundo celestial. As donzelas celestiais trouxeram-lhe um espelho de corpo inteiro. Olhando para o espelho ele percebeu pela primeira vez que estava em um mundo celestial. Afastando-se desse nascimento em um mundo celestial, e acompanhado pelas donzelas que serviam como suas atendentes, ele veio até o Honrado pelo Mundo e cantou este verso: “Ser servido por donzelas celestiais é como ser assombrado por demônios que chupam meu sangue. Floresta da Ignorância seria um nome apropriado para esta floresta. Como posso encontrar uma forma de CEBB

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sair?” O Honrado pelo Mundo instruiu-o com um verso: “Se você embarcar no veículo que é equipado com a cortina do pensamento correto e um condutor do Darma, e que é guiado pela visão correta, caminho correto, solo do destemor, um carro silencioso, e contrição, você entrará pacificamente no nirvana.”

3. O Honrado pelo Mundo Retorna à Cidade (1) A notícia de que o Honrado pelo Mundo havia atingido a iluminação se espalhou por todos os países da Índia. De todos, quem mais se alegrou com essa notícia foi seu pai, o rei Suddhodana. Ao receber relatos de que o príncipe havia perecido ao longo de seus seis anos de práticas ascéticas, o rei não acreditou. Agora que o Honrado pelo Mundo havia atingido a iluminação, tornando-se um buda, o rei desejava encontrá-lo o mais rápido possível. Os mensageiros do rei, uns após os outros, viajaram para o sul. Mas nenhum retornou. Todos buscaram refúgio no ensinamento do Honrado pelo Mundo e se dedicaram à pratica do caminho. Eles esqueceram suas tarefas como mensageiros, não havia mais ninguém para transmitir o desconsolo de seu pai ao Honrado pelo Mundo. Como último recurso, o rei Suddhodana convocou a ajuda de Kaludayin e o despachou para o sul, cerca de 500 milhas de Rajagaha. Kaludayin nascera no mesmo ano em que o Honrado pelo Mundo e foi seu amigo de infância. Ele respondeu o chamado do rei: “Se me for permitido tornar-me um mendicante, eu realizarei meus deveres como mensageiro.” O rei concordou com seu desejo, mas ordenou com fervor a

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Kaludayin para que o Honrado pelo Mundo retornasse a Kapilavatthu. Kaludayin foi até o Honrado pelo Mundo e ouviu seu ensinamento. Ele se tornou um mendicante e alcançou a iluminação. No dia da lua cheia do último mês do ano ele se dirigiu ao Honrado pelo Mundo, e tentou persuadilo com uma canção a retornar ao seu lar: “Honrado pelo Mundo, as árvores agora estão da cor carmesim. Seus frutos estão maduros. As folhas secas caíram e elas ardem como se estivessem em chamas. “Não faz calor demais, nem frio. É tempo de viajar, uma estação muito agradável. Para que seus conterrâneos possam ver o Honrado pelo Mundo, viaje na direção oeste e cruze o rio Rohini. “Os campos são arados com esperança; as sementes são plantadas com esperança; mercadores lançam-se ao mar na esperança de encontrar tesouros. Possa a esperança com a qual cheguei aqui passar.”

(2) O Honrado pelo Mundo ouviu essa canção e percebeu que era chegado o momento de instruir sua família. Acompanhado por um grande número de discípulos, ele se dirigiu à sua terra natal, cerca de 500 milhas ao norte. O Honrado pelo Mundo viajou num ritmo em que cobria cerca de 10 milhas por dia. Kaludayin voou pelos céus até o local onde o rei Suddhodana se encontrava para relatar sobre a viagem do Honrado pelo Mundo. Em Kapilavatthu, o povo do clã Sakya estava ocupado com os preparativos para o retorno do Honrado pelo Mundo. Por primeiro, eles limparam o Parque da Árvore Nigrodha e convidaram o Honrado pelo Mundo e seus discípulos a irem até lá. Desde sempre o clã Sakya havia sido um povo orgulhoso, e isso resultou numa série de problemas. Nessa ocasião, quando o Honrado pelo Mundo tomou seu assento, os anciões do clã, tomados por seu orgulho inato, recusaram-se a se curvar ao Honrado pelo CEBB

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Mundo. Eles disseram: “Gotama é mais jovem que nós, portanto não precisamos nos curvar a ele. Os mais jovens devem dar um passo à frente e devem se curvar; nós iremos permanecer atrás.” O Honrado pelo Mundo percebeu o que eles sentiam, e para esmagar suas mentes orgulhosas ele subiu aos céus e manifestou uma transformação divina. O rei Suddhodana, ao ver o milagre, prostrou-se aos pés do Honrado pelo Mundo. Então, os outros membros do clã Sakya também se curvaram com reverência aos pés do Honrado pelo Mundo. Com isto, o Honrado pelo Mundo desceu dos céus e tomou seu assento. Circundado por seus parentes, ele contou o Jataka de Vessantara:

(3) Muito tempo atrás, o rei Sivi governava a cidade de Jetuttara, no país de Sivi. O rei tinha um príncipe de nome Sanjaya. Quando chegou o tempo correto, o príncipe recebeu por consorte a filha do rei Madda, Phusati, e ele passou a governar o reino. Phusati se tornou a favorita do grande rei Sanjaya; dentre todas as consortes, ela era a principal. Naquele momento, o deus Indra pensou: “Com isto, eu fui capaz de realizar nove das dez aspirações que prometi satisfazer na vida anterior de Phusati. Desta vez eu devo realizar a promessa de uma criança.” No céu de Tavatimsa, Indra se aproximou de um bodisatva cuja vida no reino celestial estava se aproximando do final, e exortou-o a descer ao mundo das pessoas e entrar no útero de Phusati, a consorte do rei Sanjaya. Durante sua gravidez, a rainha sentiu uma poderosa compulsão para doar livremente. Ela estabeleceu seis pontos para fazer isto; eles se localizavam nos quatro portões da cidade, no centro da cidade e no portão do palácio posterior. Ela aspirava doar todos os dias seiscentas mil moedas. Um adivinho disse: “Um bodisatva inabalável em sua devoção à generosidade CEBB

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livre de egoísmo entrou em seu útero.” O grande rei ficou exultante e, seguindo

os

desejos

de

sua

consorte,

praticou

a

generosidade

magnanimamente. No décimo mês a rainha recebeu a permissão do grande rei e passeou de carruagem até o centro da cidade. Quando chegaram à área habitada pela população da classe comum, ela sentiu repentinamente as dores do parto. Entrando em uma cabana construída apressadamente para este propósito, ela deu a luz ao bodisatva. Como havia nascido na região da classe comum, ele recebeu o nome de Vessantara. Tão logo o príncipe nasceu, ele pediu a permissão de sua mãe para distribuir livremente um saco de mil moedas. Depois disso, sempre se alegrou em oferecer suas posses a todos os seres. Mas, quando tinha oito anos, ele se apoiou em uma cadeira e pensou: “Tudo que eu ofereço veio até mim, originalmente, de alguma fonte externa. Não estou satisfeito com tal generosidade. Devo oferecer algo que seja meu. Se alguém quiser meu coração, devo arrancá-lo e oferecê-lo. Se alguém desejar meus olhos, eu lhe darei meus olhos; se alguém desejar minha carne, cortarei pedaços dela e lhe oferecerei.” Então, a grande terra tremeu, as montanhas balançaram e sinais auspiciosos surgiram no céu e no oceano. Os deuses cantaram louvores às suas aspirações. Aos dezesseis anos Vessantara dominava as várias artes, e tomou por consorte Maddi, uma princesa da família do rei Madda. Ele foi elevado ao status de príncipe coroado, e a cada dia ele oferecia seiscentas mil moedas. Logo depois, eles tiveram um filho príncipe e o chamaram de Jali. Então, uma princesa de nome Kanhajali nasceu. Vessantara montou um elefante branco de nome Paccaya que havia nascido no mesmo momento que ele. Todos os dias ele passava pelas seis grandes áreas definidas para a prática da generosidade. Esse elefante branco CEBB

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possuía um misterioso poder; ele era capaz de fazer chover à vontade nos lugares que tinham sido marcados por suas pegadas. Naquela época, o país de Kalinga passava por um longo período de seca, que foi seguido pela fome. O povo foi atormentado pela fome e por ladrões. Tomados pelo sofrimento, eles corriam ao palácio real e descarregavam sua raiva no rei. O rei, através do poder de seus méritos e de sua observância dos preceitos e generosidade desinteressada, tentou fazer chover, mas não foi capaz. Com a pressão do povo, ele enviou brâmanes para pedirem a Vessantara para usar seu elefante branco. Os brâmanes que receberam essas ordens cobriram-se propositalmente com poeira e passaram lama em seus corpos. Após uma longa jornada, eles entraram na cidade de Jetuttara. No dia da lua cheia, eles espreitaram o príncipe no portão sul da cidade e suplicaram para que ele lhes desse o elefante que era o tesouro glorioso do país de Sivi, o elefante que tinha o poder de salvar o mundo. O príncipe pensou: “Eu aspiro oferecer até mesmo meu corpo; é fácil oferecer outras coisas além de mim mesmo.” Imediatamente ele desmontou do elefante branco e ofereceu-o, junto com incontáveis objetos preciosos, aos brâmanes. O choque e a raiva do povo da cidade quando eles descobriram o que havia acontecido foi extraordinário. Eles gritavam: “Ficaremos arruinados! Ficaremos arruinados!”, e acusaram o príncipe. Os brâmanes que montavam o elefante escaparam da cidade com grande dificuldade. A raiva se transformou num tumulto, não havia como pacificar o povo. O desespero do povo finalmente comoveu o rei; isto resultou no banimento do príncipe para o Monte Vanka. Porém, o príncipe se regozijava internamente por ter realizado um ato de generosidade muito difícil. Ele não se deixou abalar pelo banimento, e pretendia abandonar a Princesa Maddi na manhã seguinte e se embrenhar CEBB

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nas montanhas do Himalaya. Mas a princesa se opôs à separação e cantou o seguinte verso: “A vegetação exuberante da floresta crescerá devido à presença de nossos filhos e ressoará com o som das vozes puras elevadas nas canções. “Os cervos correrão juntos, os pavões dançarão, os elefantes se moverão em bandos através da floresta florida, e kinnaras cantarão acompanhando os sons murmurantes das águas frescas. “Mesmo abandonando a cidade, o lugar onde as crianças estiverem será meu lar; longe nas montanhas eu permanecerei com você.” Vessantara concordou com o desejo da princesa de acompanhá-lo. Ele disse adeus a seus pais. Em uma carruagem puxada por quatro cavalos, levou seus dois filhos, e, dirigindo-se para os caminhos das montanhas, iniciou sua jornada. Na estrada, um brâmane pediu seus cavalos e carruagem, e o príncipe os deu a ele. Ele disse à princesa para levar sua filha pela mão, e ele carregou o filho nas costas. Apressando-se no caminho, eles chegaram ao Monte Vanka. A montanha estava cheia de cobras venenosas e animais selvagens, mas todos foram vencidos pelo poder das virtudes do príncipe, e todos viveram juntos em harmonia. Desta forma eles passaram sete pacíficos meses.

(4) Nesta época, no país de Kalinga havia uma vila brâmane chamada Dunnivittha, e lá morava um brâmane chamado Jujaka. A esposa de Jujaka pediu-lhe que comprasse uma serva, e ele tentou, mas não tinha dinheiro suficiente para isso. Assim, ele tentou tirar vantagem do espírito de caridade de Vessantara. Ele fez uma longa jornada e escalou o Monte Vanka. Espreitando pelo momento em que a consorte do príncipe fosse colher os frutos das árvores, foi até o príncipe e disse: “Como as águas do grande rio CEBB

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que satisfazem os desejos daqueles que sofrem pela sede, eu acredito que o Honorável irá, sem dúvidas, entregar seus dois filhos para mim.” O príncipe segurou as duas crianças, que tentavam fugir e se esconder, e as entregou ao brâmane. “Jali, Kanha, por favor, não se escondam. Desçam a montanha com este brâmane e tornem-se seus servos. Tornem-se os barcos que me permitirão cruzar o oceano do nascimento e da morte. Ó, meus filhos são muito caros a mim, entretanto, a iluminação supera meu amor por eles dez trilhões de vezes.” Com estas palavras, o príncipe olhou para seus filhos, que foram cruelmente amarrados com uma trepadeira glicínia e estavam sendo levados, à distância. O brâmane apressava as crianças chicoteando-as repetidamente. Sua pele foi rasgada, o sangue escorria, os dois cambaleavam com os golpes. Por acaso, o brâmane topou com uma pedra e caiu. Assim que as amarras se soltaram ao redor de seus corpos, as crianças correram de volta para o príncipe, chorando em delírio. Elas abraçaram suas pernas e imploraram para que ele não as deixasse serem levadas. O príncipe não pronunciou uma palavra. As crianças argumentaram: “Pai, nós não tememos a morte, essa é a sina de todos os seres. Mas nós tememos por nossa mãe, ela irá chorar para sempre. Perdendo-nos, ela sofrerá uma tristeza profunda e suas lágrimas fluirão para sempre, como um rio.” O brâmane viu a cena, mas com frieza e violência arrastou as crianças e colocou-as no caminho. As crianças disseram: “Pai, cuide-se bem. Todas as nossas posses, vacas, elefantes, cavalos, ficam todos para mamãe. Que eles possam aliviar sua tristeza.” Lamuriando-se e chorando, as crianças foram arrastadas. O coração do príncipe ficou quente e todo seu corpo tremia. Incapaz de suportar isto, ele foi até a cabana e chorou, derramando copiosas lágrimas. Levantando, ele tomou sua espada e foi atrás do brâmane com a ideia de matá-lo. Mas a sabedoria do príncipe segurou suas emoções. CEBB

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O brâmane teve grande dificuldade para descer a montanha com as duas crianças. Jali escapou das amarras e retornou ao pai. Quando o brâmane arrastou Jali novamente, Kanha, cambaleando, correu e lançou-se aos pés do príncipe. Ela chorava: “Pai, por favor, por favor, pai, por favor, me salve!” A mente do príncipe fraquejou, e ele chorou lágrimas de sangue. Ele pensou: “Este sofrimento é resultado da sede da luxúria, devo abandonar a luxúria e alcançar a mente do desapego.” Com a luz da sabedoria, o príncipe enfrentou dolorosa falta de ar, e sentou-se em meditação em silêncio. Sua consorte Maddi tinha penetrado profundamente nas montanhas para colher frutos das árvores. Ela cavou atrás de raízes de árvores e retornou à cabana ao anoitecer. Mas ela não encontrou suas crianças. Pensou sobre o terrível sonho que havia tido na noite anterior e, como uma louca, correu pelo lugar procurando as crianças. O príncipe permaneceu em silêncio e não contou nada. Ela buscou e buscou desesperadamente e, ao amanhecer, retornou à cabana. Então, ela desmaiou, perdendo a consciência, mas com os cuidados do príncipe retornou a si. Essa prática grandiosa e de cortar o coração de generosidade desinteressada surpreendeu Indra. Para testar a resolução do príncipe, Indra assumiu a forma de um brâmane e pediu sua consorte. O príncipe não conseguia responder, “Ontem eu dei meus dois filhos, como eu poderia agora dar a minha consorte?” Mas, sem um traço de apego, como se estivesse jogando fora um saco de mil moedas, ele pegou uma jarra, derramou água sobre as mãos do brâmane, e entregou sua consorte a ele; ela obedeceu pacificamente e seguiu com o brâmane. Tudo isso foi feito com o objetivo de aperfeiçoar o caminho. Indra estava comovido pela determinação do príncipe e pela fidelidade de sua consorte, e manifestou-se em sua verdadeira forma de deus, devolvendo-a ao príncipe. O brâmane que levava as duas crianças CEBB

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Jali e Kanha pretendia ir até Kalinga, mas, atraído por este deus ele se dirigiu à cidade de Jetuttara. As crianças correram para seu avô. Tanto o príncipe quanto sua consorte voltaram para casa e foram recebidos em seu país. Uma grande reunião para celebrar a generosidade desinteressada de Vessantara foi realizada. O povo do clã Sakya ouviu a história e estava deliciado, enquanto partia da floresta para retornar aos lares. Mas, ninguém convidou o Honrado pelo Mundo para compartilhar a refeição no dia seguinte.

4. Yasodhara (1) O Honrado pelo Mundo tomou sua tigela de mendicante e foi até Kapilavatthu. Ninguém o convidou à sua casa, e ninguém pegou sua tigela e a preencheu com comida. O Honrado pelo Mundo caminhou pela estrada e mendigou comida em cada casa. As pessoas abriram suas janelas e olharam para o Buda como se ele fosse uma novidade. Elas murmuravam: “Siddhattha está fazendo sua ronda de mendicância.” O rei Suddhodana foi informado sobre isto, e ficou calado e entristecido; segurando seus mantos ele foi até as ruas, e diante do Honrado pelo Mundo, ele o repreendeu: “Por que nos envergonhas? Por que andas por aí mendigando por comida? Achas que não receberias em nossa casa a quantidade de comida recebida por um mendicante?” O Buda disse: “Grande rei, meus ancestrais também praticaram a mendicância.” O rei disse: “O que dizes? Podemos traçar nossa linhagem até o rei Mahasammata; não há mendigos na linhagem de nossa família.” O Buda disse: “Rei, essa linhagem real é a linhagem da tua família. Minha

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linhagem vai até o Buda Dipankara e todos os budas que se seguiram. Todos esses budas praticaram a mendicância com uma tigela, e eles mantiveram suas vidas através da mendicância.” Na estrada, ele expôs esse ensinamento em verso:

“Levanta-te, libera-te da negligência e pratica o Darma. Se praticares o Darma corretamente, tanto este mundo quanto o próximo serão alegres para ti. Pratica o Darma, libera-te do mal, e se tua mente for verdadeira, tanto este mundo quanto o próximo serão alegres para ti.”

O rei Suddhodana, tomado por esse ensinamento, despertou e se regozijou. Pegando a tigela do Honrado pelo Mundo, ele o guiou e a seus discípulos até o palácio, e serviu-lhes uma deliciosa refeição. Quando a refeição terminou, todas as mulheres do palácio, exceto Yasodhara, vieram e se curvaram ao Honrado pelo Mundo. A princesa disse: “Se eu possuo alguma virtude, por menor que seja, o Honrado pelo Mundo virá com certeza aos meus aposentos, então eu me curvarei a ele”, e ela não deu ouvidos à incitação dos outros. O Honrado pelo Mundo entregou sua tigela ao rei e, acompanhado por Sariputta e Moggallana, dirigiu-se ao palácio posterior. Ele lhes disse: “Não importa o tipo de veneração que ela demonstre, vocês não devem pronunciar uma única palavra.” Então, ele foi até o assento que havia sido preparado para ele. A princesa Yasodhara quase caiu ao se aproximar, esfregou sua cabeça repetidamente nos pés do Honrado pelo Mundo, e curvou-se a ele para a alegria de seu coração. O rei relatou ao Honrado pelo Mundo a fidelidade da princesa: “Honrado pelo Mundo, a princesa, ao ouvir que você estava vestindo o manto açafrão, também se vestiu com mantos CEBB

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açafrão. Ao ouvir que você fazia apenas uma refeição por dia, ela também fez o mesmo. Ao ouvir que você havia abandonado as camas confortáveis, dormiu em tapetes de palha. Ao ouvir que você evitava usar incenso e flores, também se afastou do seu uso. Apesar de reis dos clãs parentes a incitarem a tomar outro marido ou tentarem ganhá-la em casamento, ela não lhes deu atenção e guardou-se fielmente para você. A princesa possui tais virtudes.” O Honrado pelo Mundo disse: “Grande rei, isso é realmente maravilhoso. A princesa é protegida neste momento pelo grande rei; portanto, com sua sabedoria madura ela, sem dúvidas, sabe se proteger. Mas, em anos passados, sem a proteção de ninguém, ela caminhou pelas regiões mais profundas das montanhas, protegendo-se com uma sabedoria que ainda havia de ser aperfeiçoada.” Então, o Honrado pelo Mundo contou a história Jataka do kinnara Canda:

(2) Muito tempo atrás, quando o rei Brahmadatta governava Baranasi, havia um kinnara, um músico celestial, chamado Canda, nos Himalayas; na companhia de sua esposa, Donzela da Lua, ele morava no topo do Monte da Lua de Prata. Naquela época, o rei de Baranasi confiou os negócios do estado ao primeiro ministro, e se vestiu com dois mantos amarelos. Carregando cinco armas, ele viajou extensamente através dos Himalayas. Certo dia, após a refeição, o rei desejava um pouco de água. Ele se lembrou de que havia um pequeno córrego próximo a onde ele estava, e começou a subir uma colina. Durante a estação chuvosa, era hábito dos kinnaras retirarem-se nas montanhas, e no verão eles desciam das montanhas. Naquele momento, Canda e sua esposa desceram da montanha. Ele esfregou incenso em seu corpo e vestiu-se com um manto leve feito de flores. Ele comeu pólen e balançou-se nas trepadeiras. Cantando com uma CEBB

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voz macia ele veio até o pequeno córrego e, com sua mulher, entrou na água. Espalhando flores e aspergindo água ele saiu do córrego. Sobre a areia branca como a prata, ele arrumou uma cama de flores e se deitou sobre ela. Tomando uma flauta de bambu ele tocou e cantou com uma voz agradável. Sua esposa acompanhou-o na canção e dançou. O rei Brahmadatta ouviu sua voz e furtivamente se aproximou. Com apenas um olhar à Donzela da Lua, ele se tornou um prisioneiro do amor. Decidindo matar o marido para fazer dela sua esposa, o rei atirou no kinnara. Encolhendo-se em agonia, o kinnara cantou da seguinte forma e caiu na cama de flores: “A morte se aproxima, ó Donzela da Lua. O sangue escorre e minha vida está próxima do fim. Minha respiração enfraquece. Meu corpo está falhando e minha mente anseia por você.” Com isto, ele deu sua última respiração. De início, a Donzela da Lua, dançando para as flores e cantando para as borboletas, não percebeu o acontecimento chocante. Então, ela caiu em si e descobriu o que havia acontecido. Incapaz de suportar o choque e a tristeza, ela soltou um grito lancinante. Logo ela avistou o terrível rei. Tremendo de medo e raiva, a Donzela da Lua voou para longe, e parando no pico de uma montanha, ela cantou: “Demônio da maldade, meu marido está caído no chão. Que esta tristeza recaia sobre sua esposa: não sendo capaz de ver sua própria criança e perdendo seu marido, que ela seja tomada por tristeza infinita.” O rei Brahmadatta descreveu de diversas formas os esplendores do palácio real na tentativa de cativá-la; porém, ele foi incapaz de dissipar a tristeza e a raiva da Donzela da Lua. Ela abraçava o corpo de seu marido desesperadamente e cantava este lamento: “As flores das árvores são belas; os córregos fluem com pureza; os picos dos Himalayas brilham em cores douradas. Mas, sem meu marido, como passarei os meus dias?” Sentindo, repentinamente, um fraco calor em seu peito, ela reprovou os CEBB

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deuses em alta voz: “Não há deuses para proteger o mundo? Estarão eles viajando? Estarão eles mortos? Por que eles não protegeram meu marido amado?” Essa expressão de tristeza intensa chegou aos deuses, e Indra imediatamente perguntou por sua razão e a descobriu. Transformando-se em um brâmane, ele apareceu no local e derramou água de uma jarra sobre o corpo do kinnara, com o quê o veneno foi destruído. Então, completamente curado, o kinnara levantou. Indra disse-lhe: “Depois disto, você não deve descer do monte da Lua de Prata, ou entrar no mundo dos homens. Você deve morar apenas neste lugar.” Ele alertou o kinnara com estas palavras e retornou ao mundo celestial. A Donzela da Lua cantou: “Agradável é a brisa que agita as árvores às margens dos rios nas montanhas, salpicadas por flores. Agora partiremos e, para sempre, trocaremos sussurros de amor.” Então, ela partiu com seu marido. O Honrado pelo Mundo terminou este conto e concluiu: “Grande rei, a princesa sempre foi fiel a mim, não apenas desta vez.”

5. Nanda e Rahula (1) O dia seguinte foi um dia propício, no qual deveriam ocorrer a investidura e o casamento de Nanda, o irmão de criação do Honrado pelo Mundo. Mas o Honrado pelo Mundo foi até a casa de Nanda e falou com ele, que saiu para saudá-lo. Então, o Buda entregou a ele uma tigela de mendicância e partiu. Nanda, com a tigela na mão, seguiu-o para fora da

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casa. Sua noiva, a donzela Sundari, estava penteando seu cabelo naquele momento. Percebendo que Nanda estava saindo, com os cabelos na mão ela perguntou com firmeza: “Aonde você está indo?” Ignorando os pedidos de Nanda para receber de volta a tigela de mendicância, o Honrado pelo Mundo acelerou seu passo. Acompanhado por Nanda, ele foi ao Parque da Árvore Nigrodha. Ele fez com que o relutante Nanda tornasse-se um mendicante. Isto se deu no terceiro dia em que o Honrado pelo Mundo se encontrava na cidade.

(2) No sétimo dia o Honrado pelo Mundo entrou na cidade para sua ronda de mendicância. A princesa Yasodhara vestiu o príncipe Rahula de forma esplêndida e o enviou ao Honrado pelo Mundo. Ela disse: “Veja! Aquele divino mendicante, circundado por muitos mendicantes, é seu pai. Seu pai possuía muitos tesouros, depois que ele se tornou um mendicante eles não foram mais vistos. Vá até ele e receba sua herança justa. Você faria bem em dizer: ‘Pai, eu sou seu filho. Penso em ascender ao trono e me tornar rei. Por favor, conceda-me seus tesouros.’” Como instruído, Rahula foi até o Honrado pelo Mundo. Entretanto, ele sentiu naturalmente o amor que flui entre pai e filho, e disse: “Mendicante, a sua sombra é muito agradável.” Então, ele permaneceu ao lado dele. Quando o Honrado pelo Mundo terminou sua refeição e levantou para partir, Rahula o seguiu, e com as mãos estendidas, ele disse: “Por favor, me dê minha herança, por favor, me dê minha herança.” O Honrado pelo Mundo não mandou Rahula retornar ao seu lar. Caminhando juntos, eles entraram em uma floresta de árvores nigrodha. O Honrado pelo Mundo refletiu: “Esta criança busca a herança de seu pai. Aquela herança cresce e diminui e produz sofrimento. Ao invés disso, irei conceder-lhe o tesouro espiritual que eu CEBB

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alcancei com a iluminação. Farei dele um herdeiro da herança sobrenatural.” Ele chamou por Sariputta e lhe disse: “Faça de Rahula um mendicante.” Sariputta disse: “Como eu deveria fazer de Rahula um mendicante?” O Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos para explicar este assunto: “Discípulos, é permitido aos jovens tornarem-se mendicantes de acordo com o Darma dos Três Refúgios. Primeiro, eles raspam suas barbas e cabelos e vestem o manto açafrão. Eles dobram a parte superior do manto sobre o ombro e se curvam aos pés dos discípulos. Então, eles se ajoelham, com um joelho tocando o solo. Eles juntam as palmas das mãos e repetem: ‘Eu tomo refúgio no Buda, eu tomo refúgio no Darma, eu tomo refúgio na Sanga.’ Façam com que eles repitam os Três Refúgios três vezes.”

(3) Seguindo as instruções, Sariputta fez de Rahula um mendicante. Ao receber esta notícia, o rei Suddhodana ficou desolado; ele correu até o local onde estava o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, eu busco uma bênção para mim.” O Honrado pelo Mundo disse: “Grande rei, o Buda pode conceder qualquer tipo de bênçãos.” O rei disse: “Honrado pelo Mundo, a bênção que eu busco é muito apropriada e não está maculada pela cobiça. Quando o Honrado pelo Mundo se tornou um mendicante, isto me trouxe um profundo sofrimento. Foi o mesmo quando Nanda se tornou um mendicante. Hoje Rahula se tornou um mendicante. Pensamentos de amor por meu neto rasgam minha pele; eles cortam minha carne e esmagam meus ossos; eles perfuram minha medula e me trazem dor. De agora em diante, por favor proíba o abandono do lar por filhos que não tiverem o consentimento de seus pais.” O Honrado pelo Mundo assentiu, e dali em diante proibiu que os filhos que não tinham o consentimento de seus pais abandonassem o lar. Naquela época, dentre os muitos discípulos jovens, havia alguns que CEBB

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estavam confusos sobre o número de preceitos que deveriam ser seguidos. O Honrado pelo Mundo soube desta confusão e estabeleceu os dez princípios para os discípulos jovens: “Discípulos, eu recomendo dez preceitos aos discípulos jovens. Eles devem se abster de matar, de roubar, do comportamento licencioso, de mentir, de beber bebidas alcoólicas, de comer fora dos horários definidos; devem se abster do contato com canções, dança, música e apresentações; devem se abster de usar guirlandas de flores, de passar incenso em seus corpos, de usar cosméticos; devem se abster de deitar em camas decoradas; e devem se abster de receber dinheiro. Estes são os dez preceitos para os discípulos jovens. Os jovens devem observar estes dez preceitos.”

(4) O Honrado pelo Mundo havia retornado à sua terra natal após uma longa ausência. Quando a formação espiritual de sua família e de seu povo foi finalizada, ele se dirigiu novamente para Rajagaha e viajou para lugares tão distantes como a vila de Anupiya do clã Malla. Muitos membros jovens e famosos do clã Sakya se tornaram mendicantes. No clã Sakya havia dois jovens chamados Mahanama e Anuruddha. Anuruddha era fraco fisicamente, e tinha a tendência de se isolar em seu quarto. Mas seu irmão mais velho Mahanama pensou: “As pessoas eminentes do clã Sakya se tornaram mendicantes, seguindo o Honrado pelo Mundo. Um de nós dois deve se tornar mendicante também.” Ele conversou sobre isto com Anuruddha. Inicialmente, devido à sua condição doentia, Anuruddha declinou da ideia de se tornar um mendicante. Mas ele ouviu seu irmão mais velho, que disse: “A vida em casa também não é fácil. Arando e colhendo desde o tempo de nossos distantes ancestrais, continuamos a fazer o mesmo trabalho difícil. Ano após ano repetimos este difícil trabalho. Ao ouvir CEBB

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isto, Anuruddha decidiu tornar-se um mendicante. Ele solicitou a permissão a sua mãe. Ela se recusou repetidamente a conceder a permissão. Para fazer com que Anuruddha abandonasse essa aspiração de tornar-se mendicante, sua mãe, finalmente, disse: “Se o rei Bhaddyia se tornar um mendicante, eu concordarei com seu pedido.” Anuruddha correu imediatamente ao palácio do rei Bhaddyia e o pressionou a remover a obstrução que o impedia de tornar-se um mendicante. Animando-o, Anuruddha excitou a mente do rei. Levando Ananda, Bhagu, Kimbila e Devadatta consigo, e acompanhado pelo barbeiro Upali, Anuruddha deixou a cidade. Ao entrarem nos subúrbios eles retiraram seus ornamentos. Eles os entregaram a Upali e disseram-lhe para retornar à cidade. No caminho, Upali pensou: “O clã Sakya é uma tribo feroz; se eu retornar com estes tesouros agora, eles pensarão que eu matei aqueles jovens nobres e os roubei. Eles podem me matar. Os jovens nobres tornaramse mendicantes; não há razão que me impeça de tornar-me um mendicante também.” Upali pendurou o saco em uma árvore, para que fosse um presente para aquele que o encontrasse. Então, ele se apressou para alcançar os jovens nobres. Num relance, eles avistaram Upali, que retornava inesperadamente, e se alegraram grandemente. Eles se apresentaram ao Honrado pelo Mundo e pediram para se tornar mendicantes. Eles disseram: “Honrado pelo Mundo, nós somos do clã Sakya, arrogantes e orgulhosos. Upali vem nos servindo por um longo tempo como barbeiro. Para que possamos esmagar nosso orgulho inato e arrogância e para reverenciar Upali, desejamos que Upali se torne um mendicante em primeiro lugar.” Com isto, o Honrado pelo Mundo fez com que Upali se tornasse mendicante, e depois, também os jovens nobres.

(5) Após a estação das chuvas, Bhaddyia alcançou a iluminação. CEBB

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Sentado sob uma árvore, na postura de meditação, ele desfrutava o êxtase de um sábio. Espontaneamente ele disse: “É extasiante, é extasiante!” Os outros discípulos ao ouvirem isto pensaram que Bhaddyia estava buscando os prazeres do mundo impermanente, e informaram o Honrado pelo Mundo. Como consequência, quando Bhaddyia foi convocado pelo Honrado pelo Mundo, ele disse: “Honrado pelo Mundo, quando eu sentava em um trono, em todos os lugares – dentro e fora de meu quarto, na cidade, no campo – eu era protegido por guardas. Apesar disto, eu sempre vivi com medo. Agora, apesar de estar sozinho sob uma árvore no meio da floresta, minha mente está tão pacífica quanto a de um cervo. Enquanto pensava sobre isto que eu, espontaneamente, gritei: “Ó, é extasiante, é extasiante!” O Honrado pelo Mundo replicou com um verso: “Quem libertar-se da raiva interna e transcender o sofrimento de existência e inexistência estará livre do medo e da ansiedade, e alcançará o êxtase ilimitado. Nem mesmo os deuses conhecem esse estado mental.” O Honrado pelo Mundo, à frente de seus discípulos, retornou, então, a Rajagaha.

6. Anathapindika, o Homem Rico (1) O rico homem Anathapindika, da cidade de Savatthi, era cunhado de um próspero mercador de Rajagaha. Certa vez, ele foi a Rajagaha e ficou na casa desse mercador. O próspero mercador convidara o Honrado pelo Mundo e seus discípulos para virem à sua casa no dia seguinte; ele estava extremamente ocupado dando ordens aos seus servos para fazerem isto ou aquilo. Anathapindika pensou: “Toda vez que o mestre desta casa me vê ele

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deixa de fazer o que estava fazendo e entra em conversa íntima comigo. Hoje, entretanto, algo está errado. Estará ele se preparando para receber uma noiva? Estará ele se preparando para realizar um grande sacrifício? Ou estará ele se preparando para receber o rei deste país? Ou seus ministros de postos elevados?” Após distribuir as ordens aos servos, o próspero mercador se aproximou pela primeira vez de Anathapindika e respondeu suas perguntas. “Amanhã de manhã irei receber o Buda e seus discípulos.” Anathapindika disse: “Você disse ‘o Buda’?” O mercador respondeu: “Sim, foi o que eu disse.” Anathapindika disse: “Neste mundo, é difícil até mesmo ouvir a palavra ‘Buda’. Posso ir agora encontrar o Iluminado reverenciado pelo mundo?” O mercador disse: “Anathapindika, agora não é o momento para ver o Buda; você faria melhor em esperar até amanhã de manhã cedo.”

(2) Naquela noite, Anathapindika focou seus pensamentos no Buda; antes do nascer do dia ele acordou três vezes. Quando deixou os portões da cidade de manhã cedo e chegou às cercanias da cidade, repentinamente a luz do sol se escondeu, e veio a escuridão. Anathapindika ficou com medo e parou em seu caminho; ele tentou voltar. Então, uma voz nos céus se fez ouvir: “Uma oferenda de cem elefantes, cavalos ou carruagens, ou de uma donzela com brincos de pedras preciosas, não se iguala ao mérito de dar um passo à frente.” “Anathapindika, vá adiante; se você avançar, receberá benefícios; se retirar-se não haverá benefício.” A luz do sol se mostrou, novamente. Esse fenômeno ocorreu três vezes. Anathapindika se sentiu encorajado e avançou para uma floresta desolada onde viu o Honrado pelo Mundo que, por acaso, estava caminhando pela CEBB

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estrada. O Honrado pelo Mundo também avistou Anathapindika e, dirigindo-se ao assento preparado para ele, chamou por ele. Ele disse: “Sudatta, venha!” Anathapindika estava exultante, aproximou-se do Buda, e curvou-se aos seus pés. Ele perguntou: “Honrado pelo Mundo, você dormiu em paz na noite passada?” O Buda respondeu: “Quando se entra na iluminação e se está divorciado do desejo, se você não tem obscurecimentos e é puro, você dormirá em grande alegria. Se você se divorciar de todas as amarras e liberarse do sofrimento, se você alcançar o equilíbrio da mente, você dormirá em grande alegria.” O Honrado pelo Mundo fitou Anathapindika e expôs o seguinte: a generosidade desinteressada, o nascimento no mundo celestial, e os benefícios de liberar-se dos infortúnios atrelados ao desejo e sua negatividade grosseira. Gradualmente, ele expôs o Darma e levou a mente deste rico homem à fruição. Em seguida, ele proferiu as Quatro Nobres Verdades. Como o pano branco, imaculado, que é facilmente colorido pela tinta, Anathapindika foi colorido pelo Darma e deu nascimento ao olho do Darma que percebe que todas as coisas que nascem se extinguirão, infalivelmente. Assim, ele libertou-se da dúvida e do medo. Ele disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, isto é maravilhoso. Mostrando o caminho a alguém que estava perdido, você abriu o olho que entende tudo. De agora em diante eu tomo refúgio no Honrado pelo Mundo, no Darma e na Sanga. Por favor, aceite-me como seu seguidor. Além do mais, Honrado pelo Mundo, amanhã, junto com seus discípulos, eu lhe imploro a aceitar minhas oferendas.” O Honrado pelo Mundo aceitou, em silêncio, sua oferta. Anathapindika, ao receber o consentimento do Honrado pelo Mudo, deixou seu assento, curvou-se ao Honrado pelo Mundo, virou CEBB

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para a direita e partiu.

(3) O rico mercador de Rajagaha ouviu que no dia seguinte Anathapindika estaria recebendo o Honrado pelo Mundo e seus discípulos; então ele disse: “Por favor, permita-me pagar as despesas.” Mas Anathapindika desdenhou a oferta de ajuda. Na casa do rico mercador, ele preparou a refeição e enviou um mensageiro para avisar o Honrado pelo Mundo sobre o horário. Não demorou muito, e o Honrado pelo Mundo chegou à casa do mercador. Anathapindika fez oferendas pessoalmente ao Honrado pelo Mundo e seus discípulos. Depois que o Honrado pelo Mundo partilhou da sua refeição, ele disse: “Que o Honrado pelo Mundo e seus discípulos possam passar seu retiro este ano em Rajagaha.” Então ele aprendeu que “os budas se regozijam em casas vazias.” O Honrado pelo Mundo expôs o Darma a Anathapindika e retornou ao Bosque de Bambus.

(4) Anathapindika tinha numerosos amigos e conhecidos e era tido em alta estima por eles. Na estrada de retorno de Rajagaha a Savatthi, ele anunciou ao seu povo: “Construam um parque para os monges, erijam um monastério, preparem presentes; em resposta ao meu convite, o Buda que surgiu neste mundo passará por esta estrada.” O povo respondeu às suas palavras e se preparou para saudar o Honrado pelo Mundo. Logo depois, Anathapindika retornou a Savatthi; olhando em todas as direções ele pensou: “Haverá um lugar adequado, um lugar que não seja nem muito distante nem muito perto da cidade, um lugar conveniente para ir e vir, um lugar acessível a todos, um lugar livre das multidões à tarde e do barulho grosseiro ao anoitecer, um lugar livre de pessoas e adequado para a vida em reclusão?” E ele procurou por tal lugar em todas as direções. CEBB

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Como resultado, ele descobriu um parque que pertencia ao príncipe Jeta. Ele implorou ao príncipe por ele e, espalhando moedas de ouro pela floresta do parque, comprou-o. Ele construiu um monastério que cobria toda a floresta. Ele construiu quartos, um depósito, uma casa para convidados, uma caldeira, uma cozinha, banheiros separados, uma área para caminhar, poços, coberturas para os poços, uma casa de banhos, um pequeno lago, e um abrigo feito de troncos e trepadeiras. O príncipe Jeta também construiu um portão de dois níveis nos terrenos desocupados.

(5) De Rajagaha o Honrado pelo Mundo viajou em direção a Savatthi; no caminho, ele passou por Vesali e ficou em um espaço elevado na grande floresta. O povo de Vesali, entretanto, incitado por Anathapindika, já tinha começado a construção; eles trataram os discípulos que trabalhavam como supervisores com uma calorosa hospitalidade. Observando as pessoas construírem o monastério, um pobre alfaiate, sentindo a importância do momento, decidiu construir ele mesmo um edifício. Ele misturou o barro e construiu uma parede pedaço por pedaço. Mas ele não sabia a forma correta de construir uma parede; ela ficou torta, e acabou caindo ao solo. Isso se repetiu duas ou três vezes. O alfaiate começou a reclamar: “Os seguidores Sakya cuidam das construções daqueles que lhes trazem oferendas generosas; entretanto, eles prestam pouquíssima atenção ao trabalho de um homem pobre como eu.” O Honrado pelo Mundo ficou sabendo disto, e após terminar um sermão, reuniu seus discípulos e deu as seguintes ordens: “Discípulos, de agora em diante, eu permito selecionar um supervisor para as novas construções. Aqueles que forem selecionados para servirem como supervisores devem exercer seus deveres diligentemente, certificando-se de que as construções prossigam sem erros. Quando houver danos, eles devem CEBB

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repará-los.”

(6) Quando o Honrado pelo Mundo estava no caminho de Vesali a Savatthi, os discípulos disputaram pelos quartos em um monastério. Como resultado, Sariputta, que chegou um pouco mais tarde, não conseguiu encontrar um quarto e dormiu sob uma árvore naquela noite. O Honrado pelo Mundo acordou e deixou seu quarto ao nascer do sol. Ao ver Sariputta, ele perguntou por que ele estava dormindo ali. Então, reuniu os discípulos e disse: “Quem é digno do primeiro assento, da primeira água e da primeira refeição?” Os discípulos expressaram suas visões; o Buda, então, contou esta história: “Discípulos, muito tempo atrás, nas colinas aos pés dos Himalayas, havia uma grande árvore nigrodha. Próximos a ela viviam uma perdiz, um macaco e um elefante. Os três não se respeitavam, amavam, ou viviam em harmonia uns com os outros. Certo dia, eles concordaram com o seguinte: ‘Vamos descobrir quem é o mais velho entre nós três; então veneraremos o mais velho e seguiremos seu ensinamento.’ “Com isto, a perdiz e o macaco perguntaram ao elefante: ‘Amigo, até onde você consegue se lembrar?’ O elefante respondeu: ‘Quando eu era criança, eu passei por cima desta árvore nigrodha, eu me lembro de que o seu galho mais alto roçava o meu peito.’ O macaco disse: ‘Quando eu era criança, eu me lembro de sentar no chão e morder o broto mais alto desta árvore nigrodha.’ A perdiz disse: ‘Muito tempo atrás, nesta terra aberta, havia uma enorme árvore nigrodha. Eu comi de seus frutos e derramei minhas fezes neste lugar. Esta árvore nigrodha cresceu naquele ponto. Portanto, eu sou o mais velho entre nós três.’ Com isto, o macaco e o elefante disseram à perdiz: ‘Amiga, entre nós três você é a mais velha. Você é digna de nossa veneração. CEBB

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Iremos seguir seu ensinamento.’ Amigos, eles receberam os cinco preceitos da perdiz e os praticaram. Eles reverenciaram uns aos outros e viveram em harmonia. Após sua morte, eles renasceram em um reino celestial. Esses três são renomados pela pureza de seus atos. Percebam, mesmo animais reverenciaram, amaram e viveram em harmonia uns com os outros. Por outro lado, vocês deixaram seus lares e chegaram até este bom ensinamento; entretanto, vocês são ignorantes de tais virtudes. Isto não irá ajudar aqueles que não têm fé a adquirirem fé, nem ajudará aqueles que têm fé a aprofundarem a sua fé. Ao contrário, isto deixará aqueles sem fé como estão, e fará com que aqueles que têm fé recuem em sua fé. Discípulos, vocês devem observar em relação aos mais velhos as regras de propriedade, tais como obediência e ajoelhar-se em respeito, juntar as palmas das mãos, e assim por diante; e vocês devem oferecer o primeiro assento, a primeira água e o primeiro alimento aos mais velhos.”

(7) O Honrado pelo Mundo fez sua jornada passo a passo, e quando chegou a Savatthi, Anathapindika organizou uma animada procissão e saudou o Honrado pelo Mundo. Ele o guiou até o Monastério Anathapindika no Bosque Jeta. No dia seguinte ele convidou o Honrado pelo Mundo a sua própria casa e fez oferendas a ele. Após a refeição, ele disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, o que você acha que eu deveria fazer com este Bosque Jeta?” O Buda disse: “Amigo, ofereça este Bosque Jeta às Sangas das quatro direções, independente deles virem até aqui ou não.” O rico homem pegou um vaso de ouro, derramou água sobre as mãos do Honrado pelo Mundo, e fez conforme instruído. O Honrado pelo Mundo expressou sua gratidão com uma canção:

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Uma multidão de budas louva a oferenda à Sanga de um tranquilo monastério que a protege do calor e do frio, do vento e da chuva. Portanto, aqueles que possuem sabedoria deveriam construir monastérios e oferecê-los às pessoas de vasto conhecimento como moradia. Com alegria na mente, eles deveriam oferecer alimento, água, mantos e quartos àqueles com mentes corretas. Ouçam o Darma que extingue o sofrimento; então vocês despertarão e entrarão na iluminação.

FIM DO LIVRO I

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LIVRO II

Introdução

Após proferir seu Primeiro Sermão no Parque dos Cervos, próximo a Benares, aos trinta e cinco anos de idade, Gotama Buda dedicou os vinte anos seguintes a caminhar de lugar em lugar, das vilas para as áreas urbanas, através de florestas e terras agrícolas, em um esforço supremo para disseminar os ensinamentos a todas as classes sociais, desde membros das famílias reais e buscadores religiosos eruditos até o povo comum, mercadores, fazendeiros, ou artistas nômades. Durante a estação chuvosa (monções), de junho a setembro, ele permanecia nas casas de repouso (que acabaram se transformando em grandes monastérios), estabelecidas para o Buda e seus discípulos por mercadores ricos como Anathapindika, em Jetavana.

Após

vinte

anos

de

peregrinações,

ele

se

estabeleceu

definitivamente em Savatthi, permanecendo alternadamente no monastério de Jetavana ou em Pubbarama, no Parque Oriental. O Livro II contém uma variedade de discursos proferidos pelo Buda, que utilizava habilidosamente metáforas, analogias ou comparações para esclarecer suas instruções tanto aos seus discípulos quanto àqueles que chegavam para ouvir seus ensinamentos. Por exemplo, quando os fazendeiros dos clãs Sakya e Kolyia estavam se preparando para a guerra

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durante um período de seca para disputar o controle sobre as águas do rio Rohini para a irrigação, o Buda contou histórias sobre animais às pessoas, para ilustrar a loucura da destruição de vidas humanas por assuntos triviais, ao mesmo tempo ensinando a importância da não-violência e da paz. Também nessa época, devido à súplica de Mahapajapati (a tia e mãe adotiva do Buda), foi permitido às mulheres ingressarem na Sanga, a comunidade dos discípulos do Buda. Ele alertava seus discípulos para não demonstrarem poderes mágicos ou sobre-humanos, pois isso poderia levar a uma compreensão incorreta da verdade da vida. Porém, alguns registros antigos dos ensinamentos do Buda descrevem como o Buda usou suas habilidades sobrenaturais para levar um discípulo a um lugar celestial, de forma a enfatizar um ponto do ensinamento. Nesse ponto, os leitores precisam ter em mente que não deveriam ficar perplexos com as palavras dessas histórias, mas sim deveriam tentar captar o significado sutil que o evento pretende transmitir. Para os discípulos, o Buda também promulgou regras monásticas de conduta e a observância de uma periodicidade regular de encontros para recitar os ensinamentos e para refletir sobre a correção da conduta errônea. Essa última prática foi modelada de acordo com o costume tradicional dos grupos religiosos não-budistas, o que era reconhecido pelo Buda como de efeito benéfico para seus discípulos e para ajudar a manter uma unidade de propósito. O capítulo 3 introduz os leitores aos seguintes conceitos profundos e metafísicos da escola Mahayana (Grande Veículo) do budismo, que é seguida principalmente na China, Coreia e Japão: sunyata (vacuidade ou vazio), alayavijnana (consciência-depósito) e tathagatagarbha (ventre do Tathagata, ou estado búdico). O conceito da vacuidade é encontrado nas antigas CEBB

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escrituras em páli, mas ele não foi desenvolvido pelos seguidores conservadores do Budadarma. O conceito de alayavijnana está baseado na antiga doutrina das oito consciências e de anatman (inexistência de uma essência). As cinco consciências surgem separadamente dos nossos cinco órgãos sensoriais (olho, nariz, ouvido, língua e tato); a sexta é a mente que processa o que é sentido pelas outras cinco em pensamentos, sentimentos e imaginação; a sétima surge da combinação das seis consciências, o que faz com que o indivíduo acredite na existência de uma essência interna separada; e a oitava é alayavijnana, subjacente às outras sete consciências, onde todo o conhecimento cognitivo é armazenado. Tathagatagarbha é, de forma simples, o ventre que contém o embrião do estado búdico, implicando que todos os seres possuem o potencial de se tornarem budas. Alguns budistas podem acreditar que esse ventre puro e imutável transcende todas as mentes individuais que, enganosamente, discriminam os fenômenos da vida. Entretanto, a crença em uma mente fundamental eterna, semelhante à Mente do Criador de outras religiões, está em conflito com a doutrina do Buda de anatman (inexistência de uma essência). Esta questão sobre a imutabilidade de tathagatagarbha foi colocada (em uma passagem do capítulo 3, seção 4) por um bodisatva, alguém que fez o voto de salvar os outros seres e que segue o Nobre Caminho do Meio para a iluminação. O Buda respondeu que aqueles que ainda não atingiram o nível de compreensão adequado podem ficar temerosos com a doutrina de anatman, e assim, a ideia de uma Essência Eterna é um meio hábil para estabilizá-los até que estejam prontos para absorver a verdade mais elevada de sunyata. O Livro III, capítulo 1, seção 4, apresenta uma passagem de outra escritura Mahayana que discute em detalhes o conceito de tathagatagarbha. Para explicar certos conflitos encontrados nos textos antigos, os budistas CEBB

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declaram que existem 84.000 caminhos até o pico da iluminação, ou que o Buda ensinou a doutrina de acordo com o nível mental ou espiritual dos ouvintes. De fato, os leitores também descobrirão que os conceitos compreendidos num primeiro dia de leitura serão vistos sob luz diferente à medida que eles avançam na compreensão dos ensinamentos do Buda. De acordo com a filosofia Mahayana, não se pode simplesmente afirmar que algo existe ou inexiste, porque, na verdade, nada é permanente. As coisas existem de acordo com certas causas e condições que geram uma existência temporária. Este conceito também se aplica à essência individual, ou ego, que sentimos que deve existir dentro de cada um de nós, e que continuará existindo após a morte. O Buda ensinou seus discípulos que não há natureza intrínseca em qualquer objeto que encontremos na vida; assim, diz-se que eles são vazios. Não é que a vida seja apenas como um sonho, mas que tudo que observamos na vida existe em relação a outras coisas ou condições que causam o seu surgimento. Por acreditar que as coisas são permanentes e por apegar-se a elas que o sofrimento surge. Todas as coisas estão num processo de mudança. Para esclarecer este ponto, o Buda explica (capítulo 4, seção 7) o princípio dos Doze Elos da Originação Dependente. Morte e decrepitude surgem devido ao nascimento; e desejo e apego se desenvolvem através das cinco percepções sensoriais, levando-nos, de acordo com tais elos de causa e efeito, a uma falsa compreensão da existência. Os conceitos que os leitores encontrarão no capítulo 3 são tão profundos em suas implicações que muitos artigos e livros foram escritos por eruditos a partir do ponto de vista de suas próprias interpretações e entendimentos, mas os leitores devem reconhecer que o entendimento intelectual apenas não é suficiente para apreciar o ensinamento do Buda. O Budadarma deve ser vivido e experimentado. A ênfase está na experiência CEBB

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direta ao invés da especulação mental sobre o significado desses conceitos. O Darma significava, originalmente, a condição natural das coisas e dos seres; portanto, ele denota a lei de sua existência. Ao ler todas as passagens selecionadas deste livro e ao aplicar diariamente os ensinamentos contidos nelas, os leitores poderão se tornar cada vez mais conscientes da visão do Buda sobre a verdadeira natureza da vida.

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LIVRO II Capítulo I - NO BOSQUE JETA

1. O Sermão no Monastério de Anathapindika

(1) Certo dia, o Honrado pelo Mundo estava no Bosque Jeta, no Monastério de Anathapindika, e falou aos seus discípulos, instruindo-os assim: “Meus discípulos, eu desejo que vocês sejam herdeiros do Darma em vez de simples herdeiros de coisas materiais. Digo isto a vocês porque tenho um profundo interesse por todos vocês. Se vocês se tornarem meros herdeiros de coisas, então as pessoas poderiam dizer que os seguidores de Sakyamuni renunciaram ao mundo para adquirir coisas, e não para herdarem o Darma. Meus discípulos, suponham que em certa ocasião eu não tivesse me alimentado da comida que me ofereceram como esmola. Imaginem que naquele momento dois de meus discípulos chegassem famintos e cansados. Imaginem que eu lhes dissesse que a comida lhes seria oferecida, para ser comida como desejassem, e que se eles não quisessem comê-la, eu a jogaria fora em um lugar onde o crescimento da grama não fosse perturbado, ou na água onde não houvesse a possibilidade de prejudicar seres vivos. “Um deles com certeza lembraria que certa vez o Honrado pelo Mundo havia instruído: ‘Eu gostaria que vocês se tornassem herdeiros do Darma em vez de herdeiros de coisas.’ Ele recorda que essa comida é uma dessas coisas. Assim, em vez de comer o alimento ele prefere suportar a fome e a fadiga por CEBB

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um dia inteiro, e faz exatamente como seu pensamento ordena. O outro discípulo do Buda tem o seguinte pensamento em mente: ‘Irei partilhar dessa comida e saciarei minha fome, serei aliviado de minha fadiga, e assim passarei mais um dia e uma noite’. Imaginemos que ele assim aja. Meus discípulos, eu não hesitaria em louvar a atitude do primeiro discípulo, pois ele por um longo tempo enfraqueceu os desejos e está satisfeito com as coisas como elas são. Ele continua removendo a flecha envenenada dos desejos. É por ter profundo interesse e cuidado por todos vocês que eu os instruí a se tornarem herdeiros do Darma e não de coisas materiais.” Após dar estas instruções, o Buda se levantou de seu assento e retornou ao seu quarto.

(2) Imediatamente após o Buda deixar o local do ensinamento, Sariputra se dirigiu aos discípulos e disse: “Amigos, o que significa para os discípulos do Buda não residir em um estado de tranquilidade, e não estudálo? E também, o que significa para eles o estudo da tranquilidade?” Os discípulos perguntaram: “Amigo, não foi devido ao desejo de conhecer mais sobre este tema que viemos de longe para ficarmos próximos ao Buda? Por favor, esclareça-nos sobre este assunto, e tomaremos suas instruções em nossos corações ao ouvi-las.” Então, Sariputta disse aos monges: “Não estudar ou não entrar em um estado de tranquilidade significa que ao falhar em livrar-se das coisas materiais que o mestre nos instruiu a descartarmos, livramo-nos da mente que repousa em um estado de tranquilidade, e assim tornamo-nos arrogantes, preguiçosos e degenerados. Estudar a tranquilidade significa descartar as coisas materiais que o mestre nos instruiu a descartar e, sem tornarmo-nos arrogantes ou preguiçosos, apressamo-nos a repousar em um estado de tranquilidade. CEBB

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“Amigos, o desejo é maléfico; da mesma forma a raiva, o ódio e a omissão.

Paixões

cegas,

inveja,

avareza,

adulação,

autoindulgência,

arrogância e ócio são maléficos. Amigos, para eliminar esses males existe o Caminho do Meio. O Caminho do Meio significa seguir o Nobre Caminho Óctuplo. Através desse caminho, a sabedoria correta pode ser cultivada e a iluminação será atingida.”

(3) Quando o brâmane Janussoni de Savatthi saiu para os subúrbios da cidade certo dia em uma carruagem coberta por um dossel branco, ele encontrou o asceta itinerante Pilotika. O brâmane perguntou ao asceta: “Para onde você está indo a essa hora do dia?” O asceta replicou que estava indo buscar a orientação de Gotama, o Buda. O brâmane, então, perguntou ao asceta: “É ele verdadeiramente um sábio?” O asceta respondeu assim: “Como eu poderia sequer avaliar a amplidão do conhecimento e da sabedoria de Gotama, o Buda? Apenas aqueles iguais a Gotama serão capazes de perceber o conhecimento e a sabedoria de Gotama.” Diante disso, o brâmane disse que Pilotika estava sendo exagerado em seu louvor às virtudes de Gotama. O asceta disse: “Como posso ser exagerado em meu louvor às virtudes de Gotama? Ele é o maior de todas as pessoas e deuses!” O brâmane replicou: “Bem, então o que você vê em Gotama que é tão excepcional?” Pilotika respondeu: “É como quando um guardador de elefantes entra na floresta e vê as pegadas enormes dos elefantes. Ele sabe através daquelas pegadas que os elefantes da floresta são grandes. Da mesma forma, eu vi quatro das pegadas de Gotama e soube que ele é o Completamente Desperto, que o Darma é apresentado perfeitamente por ele, e que seus discípulos praticam o caminho correto. Por quatro pegadas eu quero dizer as seguintes quatro virtudes. Alguns kshatriyas, sábios e eloquentes, tentaram refutar os ensinamentos de CEBB

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Gotama. Mas, cada um deles, quando confrontados por Gotama e ao aprenderem o Darma, rapidamente se tornaram seus discípulos. Esta é a primeira de suas quatro pegadas. “Outra vez, um sábio brâmane tentou derrotar Gotama em debate, mas ficou exultante ao ouvir as instruções de Gotama, e tornou-se seu seguidor. Esta é a segunda pegada. “Outra vez, um chefe de família eloquente e articulado tentou derrotar Gotama em debate empregando meios variados. Mas, ao encontrar Gotama, ele ficou profundamente abalado pelos ensinamentos e tornou-se um seguidor. Esta é a terceira pegada. “Ainda em outra ocasião, um asceta com uma mente afiada como uma navalha preparou-se completamente para refutar o ensinamento de Gotama. Entretanto, no final também ele se tornou discípulo de Gotama. Ele observou que anteriormente pensava ser um asceta que havia renunciado a todas as coisas mundanas, mas que agora entendia que havia se tornado um verdadeiro asceta, e isto através da orientação de Gotama. Esta é a quarta pegada. Foi observando estas quatro pegadas que eu concluí que o Honrado pelo Mundo é o verdadeiramente Desperto, aquele que ensina o Darma perfeitamente, e cujos seguidores praticam o caminho correto.”

(4) Então, Janussoni desceu de sua carruagem de dossel branco e, dobrando seu manto sobre o ombro, olhou na direção em que o Buda morava, juntou as mãos em prece, e pronunciou três vezes: “Busco refúgio no Honrado pelo Mundo, o Buda Desperto.” Repentinamente ele exclamou: “Irei encontrar o Santo, Gotama, e ouvirei seus ensinamentos.” Então, ele se dirigiu ao local onde Gotama Buda se encontrava, e prestando seu sincero respeito, ele relatou ao Buda o que Pilotika havia lhe contado. CEBB

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O Buda assim respondeu: “Ó brâmane, a metáfora das quatro pegadas do elefante não é adequada. Irei explicar a metáfora para você agora. Não é verdade que um guardador experiente de elefantes, ao entrar na floresta e encontrar grandes pegadas, pense imediatamente que estas são as pegadas de um grande elefante. Isto porque existem fêmeas de baixa estatura e pés grandes. “Aprofundando ainda mais a questão, mesmo se houvesse grandes pegadas e os galhos elevados estivessem quebrados, ele não pensaria que as pegadas tivessem sido deixadas por um elefante enorme. Isto porque existem elefantes que são altos e que deixam grandes pegadas. Além disso, mesmo se houvesse grandes pegadas e os galhos elevados estivessem quebrados, e houvesse marcas nos troncos das árvores feitas pelas presas de elefantes, ainda assim ele não pensaria que elas tinham sido deixadas por um elefante enorme. Isto porque existem fêmeas grandes. Agora, finalmente, se houvesse grandes pegadas, e galhos elevados quebrados e troncos de árvores com marcas de presas de elefantes, e se, além disso, um grande elefante fosse visto movendo-se para lá e para cá ou deitado sobre o chão, então, pela primeira vez ele concluiria que estas eram as pegadas de um elefante muito grande. “Ó brâmane, conforme este exemplo indica, quando o Buda aparece no mundo e ensina o Darma, os filhos e as filhas de boas famílias se tornam mendicantes. Ao desenvolver a fé e seguir as práticas puras, eles se afastam de todos os desejos e aprendem o verdadeiro contentamento, assim como pássaros aprendem a voar. Eles mantêm os preceitos, praticam meditação e cultivam a sabedoria. Assim, eles entram no primeiro estágio da meditação. “Ó brâmane, essas são as pegadas do Buda e as marcas das presas dos elefantes. Perceba, entretanto, que não é apenas pela força dessas observações que os discípulos que recebem essas instruções chegam à conclusão que o CEBB

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Buda atingiu o reino do Despertar, que o Buda ensina o Darma corretamente, e que os discípulos do Buda praticam a prática correta. “Ó brâmane, esses discípulos prosseguirão, passo a passo, em sua busca pelo caminho. E, ao avançarem nas diversas meditações, eles alcançarão o poder de conhecer suas vidas prévias e as dos outros, conhecerão as mentes dos outros, e conhecerão o fim de seus obscurecimentos. Ó brâmane, essas também são chamadas de pegadas e marcas das presas do Buda. Entretanto, os discípulos do ensinamento não dirão: ‘O Honrado pelo Mundo é o verdadeiramente Desperto’, ao observarem apenas esses sinais. Eles avançarão ainda mais, libertando-se dos obscurecimentos, e tornar-se-ão conscientes de que estão livres dos obscurecimentos. Ó brâmane, essas são as pegadas e marcas das presas do Buda. Então, pela primeira vez, os discípulos do ensinamento dirão: ‘O Honrado pelo Mundo é o verdadeiramente Desperto.’” Janussoni ficou exultante, como se luz tivesse penetrado a escuridão, ou como se algo que estava coberto tivesse sido descoberto. Ele deixou o local fazendo o voto de permanecer como discípulo do Buda por toda a vida.

(5) Certa vez, Janussoni veio até a presença do Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, uma oferenda realizada a um brâmane com os três conhecimentos é uma oferenda verdadeira?” O Buda perguntou: “Qual é a natureza dos três conhecimentos?” O brâmane respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, um brâmane com os três conhecimentos é versado nos três Vedas: o Rgveda, o Samaveda e o Yajurveda. Tanto pelo lado de seu pai quanto de sua mãe retornando sete gerações para trás não deve haver um único caso no qual a linhagem da família tenha sido maculada. Ele não deve ser nunca objeto de escárnio; o nome de sua família deve ser honorável e seu CEBB

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modo de vida deve ser puro. Ele deve memorizar os textos sagrados e os encantamentos, e ser versado na terminologia, nos rituais, na liturgia, nas interpretações, nas histórias e nos contos contidos nos Vedas. Ele deve ter clareza no que se refere à origem das palavras e da gramática. Então, depois de ter aprendido a filosofia lokayata do materialismo, e após ter dominado o conhecimento das três marcas de um grande sábio, esse brâmane pode ser chamado de um brâmane com os três conhecimentos.” Então, o Buda afirmou: “Ó brâmane, é verdade que essa é uma versão dos três conhecimentos, mas não é assim do ponto de vista dos verdadeiros ensinamentos.” Diante disso, o brâmane perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, quais são os verdadeiros três conhecimentos?” Então, o Buda deu-lhe o seguinte ensinamento: “Ó brâmane, ouça com cuidado meu ensinamento. Quando um discípulo meu, ao buscar o caminho da pureza, inicialmente abandona o desejo e a impureza, então ainda podem existir vestígios das maquinações da mente que questiona e raciocina, e ele entra no primeiro nível de concentração e experimenta alegria e felicidade. No segundo nível de concentração, ele desfruta a alegria e a felicidade advindas da meditação após abandonar o questionamento e o raciocínio. Ao avançar e deixar para trás a alegria e a felicidade, ele repousa em pensamentos equânimes. Desfrutando a felicidade da mente correta e do pensamento correto, ele entra no terceiro nível de concentração. Indo adiante, livre de pensamentos sobre felicidade e infelicidade, sobre alegria e ansiedade, ele entra na quarta concentração, que é o estado mental puro e não-perturbado, transcendendo todo o sofrimento e o prazer. “Nesse estado, a mente do meu discípulo está em equilíbrio e clara, livre de todos os quereres e desejos. Sua mente não é apenas clara, mas também está livre de maquinações; está pronta para funcionar todo o tempo e CEBB

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é firme, não sendo incomodada pelos outros. Quando essa mente é direcionada aos acontecimentos do passado, então as coisas do passado, de uma vida passada a um milhão de vidas passadas e além, podem ser trazidas à mente. Assuntos como seus nomes e linhagem familiar ao longo das vidas passadas são recordados; além disso, suas profissões, experiências, duração da vida, mesmo suas menores características, são claramente relembradas. É nesse estágio que ele adquire o poder de conhecer suas próprias vidas passadas e as dos outros, e por isso a ignorância é destruída, a escuridão é dissipada e a luz se apresenta. “Em seguida ele direcionará sua mente para conhecer os nascimentos e as mortes de outras pessoas. Com olhos divinos que transcendem a visão humana, agora ele é capaz de discernir que os nobres e os humildes, os belos e os feios, os felizes e os infelizes, todos aparecem e desaparecem de acordo com suas ações. Alguns cometem negatividades com seus corpos, bocas e mentes, difamam os sábios, e acolhem pensamentos impuros. Devido a essas ações, eles caem nos reinos do sofrimento infernal. Outros realizam ações positivas com seus corpos, bocas e mentes; eles evitam difamar os sábios e têm atitudes e compreensão corretas. Por virtude de suas ações positivas eles renascem em reinos puros. Essa segunda sabedoria é chamada de conhecimento dos pensamentos dos outros. Com ela a ignorância é destruída, a escuridão é dissipada e a luz se manifesta. “No próximo estágio, ele direciona sua mente para a extinção de todos os obscurecimentos. Ele percebe claramente a realidade do sofrimento, as causas do sofrimento, a remoção do sofrimento e o caminho para a remoção do sofrimento. “Da

mesma

forma,

ele

percebe

claramente

o

que

são

os

obscurecimentos, quais são suas causas, o que é a extinção dos CEBB

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obscurecimentos, e qual é o caminho para a extinção dos obscurecimentos. Então, ao compreender tudo isso, sua mente estará livre da negatividade do surgimento dos desejos humanos, da negatividade que surge da própria existência, e da negatividade que surge da cegueira humana. Assim, ele alcança a consciência de que se liberou dessas amarras. Surge nele o conhecimento de que a vida delusória chegou ao fim; de que as práticas puras foram completadas; de que aquilo que ele deveria realizar foi realizado; e de que ele nunca mais experimentará o nascimento na delusão. Essa é a terceira sabedoria, denominada extinção dos obscurecimentos, através da qual a ignorância é destruída, a escuridão é dissipada e a luz se manifesta. Ó brâmane, com a expressão ‘brâmane dos três conhecimentos’ nos referimos a uma pessoa que possui essas três sabedorias.” Diante destas instruções, o brâmane respondeu que, comparando os três conhecimentos que ele havia citado com os do Buda, ele percebeu que os seus eram inferiores, nem mesmo um dezesseis-avos do seu valor. E ele louvou a superioridade dos ensinamentos do Buda.

(6) Certa noite, na presença de seus discípulos no salão de aulas do monastério, o Honrado pelo Mundo discursou desta forma: “Sejam como a lua, meus discípulos, quando mendigarem por esmolas sejam circunspectos em mente e comportamento; sejam humildes como um noviço. Na casa de um leigo, é importante que vocês sejam tão humildes quanto um noviço, sempre. Sejam cautelosos como alguém que observa um poço velho, ou olha para baixo da borda de uma montanha, ou para um abismo. Ao aproximarem-se da casa de um leigo, é bom manter isso em mente. Kassapa é como a lua quando mendiga esmolas, circunspecto tanto em mente quanto no comportamento, e humilde como um noviço. Meus discípulos, digam-me que CEBB

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tipo de monge deveria pedir esmolas na casa de um leigo.” Os discípulos responderam que como eles reverenciavam o Honrado pelo Mundo como a fonte do Darma e centro do refúgio espiritual, eles manteriam as instruções do Buda em suas mentes em todas as ocasiões. Naquele momento, o Buda moveu sua mão no ar e deu as seguintes instruções: “Meus discípulos, assim como minha mão está solta no espaço e não está presa, em qualquer casa visitada um monge não deve ter apegos. Ele deveria ter sempre em mente o pensamento de possibilitar aqueles que desejam adquirir coisas para assim o fazerem, e de possibilitar aqueles que preferem virtudes espirituais a alcançálas. Assim como sentimos satisfação ao adquirir coisas para nós, procurem sentir alegria e satisfação com aquilo que os outros adquirirem. É com essa atitude que vocês devem se aproximar das casas dos leigos. Meus discípulos, onde quer que Mahakassapa esteja, ele não guarda apego à casa e não fica preso de forma alguma. “Meus discípulos, quais vocês acham que são os sermões impuros e puros dos discípulos do Buda?” Os discípulos apenas solicitaram os ensinamentos do Buda. O Buda, então,

deu

essas

instruções:

“Meus

discípulos, quero

que

ouçam

cuidadosamente e ponderem sobre isto. Suponham que um discípulo tenha o seguinte pensamento em sua mente enquanto dá as instruções: ‘Espero que as pessoas ouçam meu sermão. Espero que ao ouvirem meu sermão elas se regozijem, e ao se regozijarem elas expressem um sentimento de alegria.’ Recitar um sermão com este pensamento é recitar um sermão impuro. Agora, suponham que haja outro discípulo que ensina o Darma com o pensamento: ‘O Darma foi devidamente apresentado pelo Honrado pelo Mundo. Através desse Darma, neste mundo, adquirem-se recompensas instantâneas. Além do mais, esse Darma possibilita a realização do nirvana, e pode ser devidamente CEBB

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compreendido por qualquer um que seja instruído e sábio. É por esta razão que eu desejo que as pessoas ouçam o Darma conforme ensinado, alcancem a realização e pratiquem os ensinamentos.’ Se ele possui tais pensamentos e se suas instruções estão de acordo com o Darma, e se ele expõe os ensinamentos com profunda compaixão, então esse é chamado de um sermão puro. Meus discípulos, lembrem-se que Mahakassapa ensinou o Darma de tal maneira. Eu, verdadeiramente, espero que vocês ensinem o Darma da mesma maneira que Mahakassapa.”

(7) Uma vez o Buda e muitos discípulos deixaram o Monastério do Bosque Jeta e entraram no país de Kosala para ensinar o Darma. Ao longo do caminho, o Buda viu chamas vibrantes subindo aos céus; evitando as chamas, ele sentou-se no assento preparado para ele e disse aos seus discípulos: “Meus discípulos, todos vocês conseguem ver essas chamas vibrantes?” Os discípulos responderam que conseguiam. Então, o Buda disse: “Meus discípulos, digam-me o que vocês acham que é melhor, abraçar essas chamas vibrantes, ou abraçar os braços e pernas macias de uma donzela kshatriya, da filha de um brâmane ou da mulher de um chefe de família?” Os discípulos responderam: “Seria muito melhor abraçar os braços e pernas macios de uma jovem mulher, visto que não é possível descrever a dor que surgiria ao abraçar as chamas vibrantes.” O Buda disse: “Meus discípulos, eu digo a vocês que aqueles que quebram os preceitos, agem contra o Darma, escondem tais ações dos outros, agem como mendicantes sem serem verdadeiros mendicantes, ou como buscadores puros do caminho apesar de não o serem, e cujas mentes estejam corrompidas e repletas de pensamentos impuros, deveriam abraçar as chamas vibrantes, porque abraçar o fogo é melhor que abraçar o corpo de uma donzela. A razão CEBB

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para isto é que, na situação anterior, a dor e a agonia podem causar a morte ou algo próximo à morte, mas isto não constitui uma causa para cair nos infernos. A última situação pode se tornar a causa para a queda nos infernos, onde há dor e agonia infinitas.” O Buda continuou: “Meus discípulos, o que vocês acham de um homem forte que amarra suas pernas pelas canelas com uma corda forte e esfrega suas pernas violentamente? Ao fazer isso, sua pele se rasgará, seus músculos serão prejudicados, seus tendões serão cortados, seus ossos se quebrarão. O dano alcançará a medula do osso e, finalmente, aí será contido. Sob essas circunstâncias, surge a questão de ele preferir passar por essas dores ou de receber a hospitalidade de um rico kshatriya, de um brâmane ou de um devoto leigo. Meus discípulos, eu digo a vocês que para aqueles que são inferiores, que descartaram os preceitos, e que agiram contra o Darma, seria melhor ter ambas as pernas esmagadas. A razão para isto é que no caso anterior o sofrimento está limitado à morte e à dor excruciante que se assemelha à dor da morte; mas isso não faz com que alguém caia nos infernos. No segundo caso, as ações se tornam a causa para cair nos infernos após a morte.” O Buda continuou: “Meus discípulos, o que vocês pensam que é melhor, ter as laterais retalhadas por um forte homem com uma espada afiada ou ser venerado por um rico kshatryia, brâmane ou devoto leigo? Ou ainda, o que é melhor, ter o corpo preso em uma placa metálica flamejante em brasa por um homem forte ou receber oferendas de alimento do coração de um rico kshatryia, brâmane ou devoto leigo? Ou ainda, imaginem que um homem forte, com uma tenaz metálica flamejante em brasa, coloca uma bola em brasa na boca aberta de alguém. A bola queima os lábios, a boca e a língua; ela seguirá queimando a garganta, o peito, os intestinos, e então CEBB

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queimará até o final do corpo e cairá por baixo. Ou, em contraste a essa imagem, imaginem-se recebendo oferendas de alimento de um rico kshatryia, brâmane ou devoto leigo feitas de coração. O que é preferível? Ou ainda, digamos que um homem forte agarre a sua cabeça e o faça deitar em uma cama de aço incandescente em chamas, com um travesseiro de aço. Como isso se compara a aceitar uma oferenda de leito, feita com o coração por um rico kshatryia, brâmane ou devoto leigo? Mais uma vez, imaginem que um homem forte agarrasse vocês, segurando-os de cabeça para baixo pelos pés; ele os jogaria, então, em um caldeirão de ferro em chamas, deixando-os subir e descer como uma bolha em um caldeirão fervente. Então, como isso se compara com a oferenda de um quarto por um rico kshatryia, brâmane ou devoto leigo? “Meus discípulos, devo dizer a vocês que todas essas formas de dor física não se tornam causas para o nascimento nos infernos; mas aqueles que violam os preceitos sagrados, agem em rebeldia com o Darma e então recebem oferendas de fé dos ricos, criam a causa para um sofrimento duradouro. Portanto, vocês devem pensar: ‘Grandes benefícios são concedidos àqueles que realizam oferendas; e iremos receber roupas, alimento, tapetes e remédios como oferendas, de tal maneira que termos nos tornado mendicantes não tenha sido em vão. Ao pensar sobre si mesmo, recebem-se benefícios quando há esforço com diligência. O benefício dos outros também resulta de tais ações.’” Quando o Buda terminou suas instruções, sessenta de seus discípulos cuspiram sangue quente. Outros sessenta discípulos declararam em conjunto que o caminho do Buda era extremamente difícil e partiram para retornar à vida leiga. Outros sessenta mendicantes liberaram-se dos apegos e foram aliviados de suas paixões e desejos. CEBB

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2. Pasenadi (1) A notícia de que o Honrado pelo Mundo iria visitar Savatthi com o propósito de disseminar o Darma também chegou ao palácio real. O rei Pasenadi mantinha o seguinte pensamento em sua mente: “Dizem que um príncipe do clã Sakya renunciou à vida mundana e se tornou um buda. Seria bom encontrar-me com ele.” A orientação oferecida e a influência exercida pelo Buda no Monastério do Bosque Jeta levaram o rei a convidar o Buda. Após uma troca de saudações, o Buda o instruiu assim: “Ó grande rei, existem quatro tipos de pessoas. Existem aqueles que da escuridão seguem adiante na escuridão; e existem aqueles que da escuridão entram na luz; e ainda existem aqueles que da luz entram na escuridão; e finalmente existem aqueles que da luz seguem na luz. O primeiro tipo de pessoas, que da escuridão seguem na escuridão, são aquelas que nascem na pobreza, não possuem fé e são de caráter inferior, nunca sabem compartilhar com os outros, sustentam constantemente visões pervertidas e não têm respeito pelos mendicantes. Essas pessoas poderão cair nos infernos após suas mortes. “O próximo tipo de pessoas, que da escuridão entram na luz, podem ser pobres nesta vida, mas possuem fortes crenças e nobres ideias, estão dispostas a compartilhar suas coisas com os outros com uma mente serena, respeitam os mendicantes, e se esforçam nos atos puros; elas renascem em lugares bastante desejáveis após suas mortes. O terceiro tipo de pessoas, que da luz seguem para a escuridão, são aquelas que são ricas e prósperas neste mundo, mas não possuem fé. Elas são avarentas e não sabem fazer doações;

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elas sustentam visões pervertidas e não demonstram respeito pelos mendicantes. Essas pessoas, ao encontrarem a morte, poderão cair nos infernos. O quarto tipo de pessoas, que da luz seguem na luz, são aquelas que são ricas e prósperas neste mundo, possuem fé e nobres corações, alegram-se em compartilhar suas coisas com os outros com uma mente sincera, demonstram profundo respeito pelos mendicantes, e renascem em um reino superior após a morte. Ó grande rei, existem esses quatro tipos de pessoas neste mundo.” O rei Pasenadi, exultante com estas instruções, retornou ao seu palácio naquele dia, e dali em diante visitou frequentemente o Buda no Monastério do Bosque Jeta.

(2) Um dia, o rei visitou o Buda e curvou-se reverentemente. O Buda disse: “Ó grande rei, de onde vem a esta hora meridiana?” O rei respondeu: “Honrado pelo Mundo, estou sempre ocupado com meus deveres como rei. Eu nasci em uma família kshatryia; eu fui ungido pela aspersão da água consagrada e subi ao trono. Investido com o poder da regência, eu preservo a paz nesta terra real; faço isso em meio a este mundo dos cinco desejos. Não é algo fácil governar um grande território.” O Buda disse: “Ó grande rei, suponha que uma pessoa confiável chegasse aqui vinda do leste e dissesse: ‘Ó grande rei, eu venho do leste e vi que uma grande montanha com o pico alcançando o céu começou a se mover, esmagando toda forma de vida ao longo do caminho. Penso que é necessário tomar medidas adequadas.’ Junto com essa pessoa, suponha que mensageiros cheguem do oeste, do sul e do norte trazendo a mesma notícia, esperando que alguma medida adequada fosse tomada. Ó grande rei, quando e se tal terrível acontecimento ocorresse, seríamos lembrados que o nascimento humano é difícil de obter. Então, o que você proporia fazer a respeito de tal emergência?” CEBB

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O rei, então, disse ao Buda: “Quando tais coisas terríveis acontecem, eu percebo como é raro ter uma vida humana. Eu acredito que não há outro caminho para mim além de fazer o bem de acordo com o Darma e de acumular méritos.” O Buda perguntou ao rei: “Ó grande rei, velhice e morte recaem sobre você. Nesta situação, o que você fará?” O rei respondeu: “Nesta situação, eu acredito que não há outro caminho para mim além de fazer o bem de acordo com o Darma e de acumular méritos. Ó Honrado pelo Mundo, a despeito do poder que um regente possa exercer, velhice e morte estão além de seu poder. Ó Honrado pelo Mundo, na congregação de fiéis de um monarca há um grupo de magos e feiticeiros que podem deter os inimigos que se aproximam, mas contra a velhice e a morte não há nada que se possa fazer além daquilo que é puro e que esteja de acordo com o Darma, e de acumular virtude contra a velhice e a morte sorrateiras.” Naquele dia, também, sentindo-se grato pelas instruções do Buda, o rei Pasenadi retornou feliz ao palácio.

(3) Em ainda outra ocasião, o rei fez uma visita ao Buda. Nesse encontro o rei perguntou se o Iluminado chamava a si mesmo de O Desperto. A essa pergunta o Buda respondeu: “Ó grande rei, se existe alguém neste mundo que merece ser chamado de O Desperto, essa pessoa não é outra que não eu. Eu sou O Desperto.” Então, o rei disse que no mundo havia muitos mendicantes que, como o Buda, possuíam discípulos, davam instruções, e eram respeitados pelo povo. Ele disse: “Há pessoas como Purana Kassapa, Ajita Kesakambalin, Pakudha Kaccayana, Sanjaya Belatthiputta, Mahavira e outros. Até agora, eu tive a oportunidade de fazer a mesma pergunta a todos eles, mas nenhum deles se autodenomina O Desperto. Por sua vez, o Honrado pelo Mundo é jovem e se tornou um mendicante recentemente. Eu CEBB

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me pergunto como você pode fazer tal afirmação.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó grande rei, existem quatro coisas neste mundo que não devem ser tomadas levianamente devido à sua pouca idade. Elas são: um príncipe real, uma serpente, o fogo e um discípulo do Buda. Estas coisas não deveriam ser desconsideradas simplesmente devido à sua pouca idade.” Esse dia, também, foi bom para o rei, que saiu impressionado pela dignidade do Buda; ele retornou feliz para o castelo.

(4) A consorte do rei Pasenadi, a rainha Mallika, era muito sábia. Ela era filha do líder dos desenhistas de grinaldas, e foi selecionada entre muitas para ser a consorte do rei. Anteriormente, ela havia buscado refúgio no Buda e apreciava profundamente o Darma; frequentemente ela dava orientação espiritual ao rei. Havia um chefe de família em Savatthi que perdeu seu único filho. Ele se encontrava em profundo pesar, incapaz de fazer qualquer trabalho e não comendo nada; ele ficava sempre no cemitério tentando descobrir para onde seu filho tinha ido. Então, um dia ele foi ao Monastério do Bosque Jeta, e após venerar o Buda, sentou-se. O Honrado pelo Mundo, tendo ouvido a causa do pesar daquele chefe de família, instruiu-o: “Ó chefe de família, devido ao amor surgem desconforto, pesar, sofrimento, preocupação e a dor no coração.” O chefe de família, ao ouvir isto, não ficou nem um pouco feliz. Ele, então, juntou-se a uma companhia de jogadores e contou a eles o que havia acontecido. Ele criticou amargamente as instruções do Buda, que não faziam muito sentido para ele. Os jogadores, ao ouvirem o chefe de família, concordaram com ele: é devido ao amor que a felicidade e o prazer surgem, e não há razão pela qual coisas como tristeza e ansiedade venham a surgir; eles se juntaram nas CEBB

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críticas. Este assunto espalhou-se gradualmente até o palácio e chegou aos ouvidos do rei Pasenadi. O rei mencionou o assunto à rainha, a qual respondeu a ele que se aquilo tinha sido dito pelo Honrado pelo Mundo, então devia ser verdade. Como um discípulo segue as palavras do mestre, a rainha havia aderido às palavras do Buda. Mas o rei se mostrou incapaz de aceitar essas palavras e mostrou descontentamento. A rainha Mallika enviou o brâmane Nalijangha ao Buda para inquirir sobre o significado daquelas palavras. Então, o Buda disse ao brâmane: “Ó brâmane, havia uma jovem mulher que perdeu sua mãe e enlouqueceu com a perda, perambulando de rua em rua, perguntando a cada um em todos os lugares aonde ia: ‘Onde está minha mãe?’ Também havia uma mulher que havia perdido seu marido e que também implorava para saber aonde seu marido tinha ido. Havia uma mãe que tinha perdido seu filho e vagueava para cá e para lá procurando a criança. Havia um jovem casal que cometeu suicídio quando soube que seriam separados à força. Não seria devido ao amor que surgem ansiedade, pesar, sofrimento, desconforto e agonia?” O brâmane contou isso tudo à rainha Mallika, que mais tarde relatou ao rei e disse: “Ó rei, você ama sua única filha, a princesa Vajra?” O rei respondeu que sim. A rainha continuou: “Diga-me, ó rei, se algum infortúnio acontecesse com ela, você não ficaria cheio de ansiedade e pesar?” O rei respondeu que sim. A rainha perguntou: “Ó rei, você me ama?” Ele respondeu que sim. A rainha perguntou: “Ó rei, se alguma coisa acontecesse comigo, o que você faria?” O rei respondeu que se algo acontecesse com ela, ele cairia em profunda ansiedade e pesar. Ao ouvir estas palavras, a rainha observou: “Ó rei, é por isto que o Buda, o mais sábio dos homens, disse que é devido ao amor que surgem em nossos corações ansiedade, pesar, sofrimento, preocupações e angústia.” Então, o rei exclamou: “Ó, que CEBB

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ensinamento grandioso! Mallika, minha amada rainha, o Honrado pelo Mundo possui o insight penetrante. Perdoe minha ignorância!” Então, o rei levantou-se de seu trono e colocou o manto sobre um dos ombros. Juntando suas mãos ao olhar na direção na qual o Buda residia, ele exclamou com alegria três vezes: “Ó Honrado pelo Mundo, com isto eu tomo refúgio no Buda!”

3. Instruções a Nanda (1) Nanda, que havia se tornado um mendicante, anteriormente, sob a orientação do Honrado pelo Mundo, foi capaz de esquecer o poder que havia tido como um rei. Entretanto, ele não conseguia apagar a memória da princesa Sundari, que era famosa por ser a mais bela donzela do país. Apesar de vestir os mantos amarelos de um monge, sua mente vagueava para o interior do palácio de Kapilavatthu; frequentemente ele passava dias em transe. Esquecendo que era um monge ordenado, ele usava ornamentos em seu corpo, vestia roupas macias e pintava suas pálpebras. Segurando uma bela tigela, ele caminhava pelas ruas para receber esmolas. Com isto levantaram-se várias vozes criticando-o fortemente, dentro e fora da Sanga, e o Buda ficou profundamente preocupado. Uma tarde, o Buda deixou o Bosque Jeta, e levando Nanda pela mão, conduziu-o até a montanha chamada Fragrância Exótica. Naquele instante, ventos muito fortes balançaram a floresta. As árvores friccionaram-se e começaram a queimar. Rapidamente, uma fumaça negra cobriu o céu; as chamas devoraram todas as árvores e chamuscaram os céus. Centenas de

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macacos nas árvores estavam envoltos na fumaça e foram queimados. Eles soltavam gritos de agonia e tentavam desesperadamente apagar as chamas que queimavam seus corpos. Naquele momento, o Buda apontou para uma macaca e disse: “Nanda, compare a mulher à qual você está apegado com esta macaca, e você verá que não há nada que as diferencie.” Nanda se desagradou com as palavras do Buda. Então, o Buda levou Nanda a um lugar de seres celestiais. Ali, em meio à chuva de flores de mandarava, Nanda podia ver as belas formas das donzelas celestiais adornadas com belos trajes de mangas longas, dançando com a música dos cinco instrumentos. Nanda ficou pasmo com a beleza das mulheres celestiais; e, ao observá-las, ele percebeu que sua noiva famosa como a mulher mais bela do país, se comparada com a beleza delas, não era melhor que as macacas da montanha. Ao ver isto, o Buda disse a Nanda que se ele desejava a beleza dos seres celestiais, ele deveria primeiro seguir o caminho. Então, direcionando gradualmente a mente de Nanda para o Darma, o Buda fez com que ele entendesse que não era apropriado vestir roupas macias, pintar as pálpebras ou caminhar com uma tigela translúcida na mão; a forma adequada a ser seguida era viver nos bosques, receber esmolas, vestir roupas velhas, e praticar as restrições, liberando-se de todas as vontades e desejos. Nanda ficou impressionado com estas instruções; entrando na floresta, ele praticou restrições e conquistou a paz mental. Ao alcançar a liberação da delusão, ele cantou esta canção de alegria:

Meu coração era perverso, preocupado apenas com aparências. Minha mente vagueava para cá e para lá, obscurecida pelas paixões. Guiado pelo Buda através de seus meios compassivos, Eu posso, agora, fazer o que é correto, livre de todas as delusões e da cobiça. CEBB

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(2) O oferecimento do Monastério do Bosque Jeta tinha influenciado profundamente muitas pessoas. Nessa época, Sirima e Sirivadda, dois irmãos, tornaram-se discípulos do Buda. Sirivadda, o mais jovem, era respeitado pelo povo assim como pelos discípulos do mesmo monastério. O outro irmão, Sirima, era visto como inferior ao seu irmão, e era repreendido pelos outros. Apesar disto, Sirima se retirou para um local silencioso, e concentrando sua mente, atingiu a iluminação. O povo, entretanto, continuava louvando o irmão mais jovem, menosprezando o irmão mais velho. Sirima percebeu que os louvores das pessoas apenas obstaculizariam a busca do caminho de seu irmão mais novo, e compôs os seguintes versos como encorajamento para ele:

Para a mente que não repousa em paz, Os louvores do povo não têm significado. Para a mente que repousa em paz, As calúnias do povo não têm significado.

Sirivadda, ao ouvir isto, ficou bastante comovido e, devotando-se às práticas do Darma, foi capaz de alcançar a mesma iluminação que seu irmão.

4. O Diálogo dos Bodisatvas (1) Certa noite, o Buda instruiu seus discípulos até as primeiras horas da manhã. A voz do Buda ressoava no céu limpo e, ao ouvirem a voz do Buda, os bodisatvas das quatro direções se reuniram. Nessa ocasião, deu-se o seguinte diálogo: CEBB

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Manjushri disse: “Se a mente, que é a base das ações, é única, por que existem tantos resultados variados? Alguns nascem em lugares favoráveis. Outros nascem em lugares desfavoráveis. Alguns são belos, ao passo que outros são feios. Olhando-se para os sofrimentos e as alegrias, existem de todos os tipos. Por que é que de uma única mente surgem tantos resultados variados?” Em resposta à pergunta, o bodisatva Alokamukha instruiu: “No que se refere a tudo que existe, não há natureza determinada. Assim, as coisas existentes não conhecem umas às outras. Mas não podemos dizer que não há conexão entre elas. Observem o fluxo rápido da água corrente, que segue sem fim. A água que corre na parte baixa do rio e a água que corre na parte superior do rio constituem dois rios diferentes. Igualmente, a chama flamejante segue queimando infinitamente, mas a chama que queimou um instante atrás e a chama atual são chamas separadas. Nossos cinco sentidos e mentes trabalham da mesma forma. Através de cada um desses sentidos todos os tipos de sofrimento são criados; mas, na verdade, cada um desses sofrimentos é produzido de forma completamente desconhecida para os outros. Assim, a natureza básica das coisas não causa qualquer sofrimento por si mesma, mas cada ação resulta em sofrimento.” O bodisatva Manjushri colocou, então, a seguinte questão: “Sabemos que os seres são combinações dos quatro grandes elementos e, por natureza, são caracterizados pela insubstancialidade. Por que, então, eles são resultantes do sofrimento, prazer, bem e mal? Não é verdade que, ao considerar a natureza básica de todos os darmas, não deveria nunca haver bem ou mal, puro ou impuro?” O bodisatva Ratnamukha deu a seguinte resposta: “Todos os efeitos surgem das próprias ações, nenhum outro agente causa o seu acontecimento. Isto é similar ao caso em que um espelho claro reflete a forma de alguém que CEBB

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esteja diante dele. Não há objeto no espelho ou do outro lado do espelho que cause este acontecimento. A natureza e o efeito das forças cármicas são parecidas com isso. Por exemplo, o solo e a semente semeada são, originalmente, separados; mas, pelas ações da natureza eles se aproximam. Uma pessoa sofrendo em agonia não sofre porque algo inflige o sofrimento, esse é o resultado de sua própria ação.” O bodisatva Manjushri levantou, então, a seguinte questão: “Todos sabemos que o Buda se iluminou com um único Darma. Então, qual a razão que faz com que o Darma exposto por ele seja ilimitado, que sua voz ressoe através dos mundos inimagináveis e que seu ensinamento desperte incontáveis seres?” A esta pergunta respondeu o bodisatva Gunamukha da seguinte forma: “Ele é similar à natureza básica do fogo, que é um e ainda assim queima todos os tipos de coisas; às águas do grande oceano, que não têm o sabor alterado mesmo que centenas de milhares de rios deságuem nele; e à grande terra, que também é uma, mas é capaz de fazer crescer todos os tipos de mudas.”

(2) O bodisatva Manjushri levantou ainda outra questão: “Nós ouvimos que assim que uma pessoa recebe as instruções do Buda, todas as suas ansiedades deveriam ser erradicadas. Por que, então, que apesar de alguém ouvir o Darma correto, essa pessoa não é capaz de eliminar imediatamente todos os sofrimentos e ansiedades?” O bodisatva Dharmamukha respondeu: “O que você está descrevendo é uma pessoa que ouve bem, mas que não pratica. Não é possível entender e aceitar o Budadarma apenas ouvindo. Tal pessoa é como alguém que flutua na superfície da água; torna-se desnecessariamente medroso do afogamento e morre de sede e desidratação. CEBB

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Para aceitar totalmente o Darma, deve-se seguir realmente o caminho conforme instruído. Além do mais, existem aqueles que morrem de fome por se recusarem a comer, apesar de receberem a oferta de comida abundante; existe o médico habilidoso que é bem versado na medicina, mas que não é capaz de curar a si mesmo; existe a pessoa pobre que, dia após dia, conta os tesouros que pertencem aos outros, mas que não possui um único centavo; existe a pessoa surda que executa belas músicas e leva alegria aos outros, mas que não pode ouvir uma única nota; e ainda, existe a pessoa que ensina o verdadeiro Darma a muitos que vêm ouvi-la, mas que, no mais íntimo do seu ser, não possui verdadeira virtude. As pessoas que apenas ouvem são exatamente assim.” Então, o bodisatva Manjushri assim disse: “Entre as muitas gemas do Budadarma, a sabedoria é a de maior valor. Apesar disto, o Buda em suas instruções louva fortemente as virtudes da prática da caridade, a observância dos preceitos, a paciência, a diligência e a concentração mental, assim como a compaixão, a ação jubilosa e o alegre repartir com os outros. Ao vincular-se apenas a um deles, não seria possível atingir a liberação do apego à própria identidade?” O bodisatva Bodhimukha assim respondeu: “Nenhum dos budas dos três mundos alcançou a iluminação vinculando-se apenas a um Darma. Na verdade, o Buda está totalmente ciente que os seres diferem em suas capacidades. Ele ensina o Darma de acordo com a natureza básica deles. Àqueles que não compartilham suas coisas com os outros, o Buda recomenda os atos de caridade; àqueles que não praticam os preceitos, o Buda recomenda a observância dos mesmos; àqueles que ficam facilmente irritados, a paciência é ensinada; àqueles que oscilam em suas ações, o Buda recomenda a perseverança; àqueles cujas mentes tendem a vaguear, o Buda CEBB

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ensina concentração mental; àqueles presos à ignorância o Buda enfatiza a sabedoria; aos insensíveis o Buda ensina a compaixão; àqueles cuja intenção é prejudicar os outros o Buda ensina grande compaixão; àqueles em agonia o Buda concede bem-estar e felicidade; e àqueles que possuem fortes sentimentos de ódio e desejo o Buda recomenda as virtudes da equanimidade e da fraternidade. É apenas através do emprego de tais meios que aqueles que aspiram pela primeira vez poderão, gradualmente, compreender a verdade de todos os Darmas. Citando uma analogia, assim como fortalecemos a fundação ao construir uma casa, os atos de caridade e a observância dos preceitos são as fundações da prática de um bodisatva. Igualmente, assim como um castelo fortificado resiste aos ataques dos inimigos, a paciência e a diligência protegerão o bodisatva. Assim como um rei poderoso governa seu país com autoridade e virtude, a concentração mental e a sabedoria são os meios que permitem ao bodisatva alcançar a paz mental. E também, assim como um monarca universal desfruta todos os prazeres deste mundo, as virtudes da prática da compaixão e da generosidade desinteressada trazem prazer ao bodisatva.”

(3) O bodisatva Manjushri colocou a seguinte questão aos bodisatvas: “Uma vez que todos os budas cruzaram o oceano do samsara a bordo do Veículo Único, por que os sermões e outros meios de instruções diferem em cada país? Significaria isto que, a não ser que sejam adquiridos todos esses meios de instruções, é impossível alcançar a iluminação?” Diante desta questão, o bodisatva Bhadramukha respondeu: “O Darma do universo é eterno; o Darma mais elevado é o Darma único. Aqueles que estão livres de todas as obstruções podem ser liberados da transmigração por esse único Darma. O corpo de todos os budas é o darmakaya único, uma mente e uma CEBB

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sabedoria. Todas as terras búdicas são igualmente adornadas; mas, como todas as pessoas têm carmas diferentes, elas não veem a mesma coisa quando olham para eles. Assim, o Buda, a doutrina do Buda, as terras do Buda, e os discursos do Buda não podem ser observados sob a verdadeira luz pelas pessoas comuns. Apenas aqueles que possuem mentes puras e que alcançaram suas aspirações podem enxergar a realidade verdadeira e última. Tais pessoas abriram o claro olho da sabedoria. De acordo com a aspiração da pessoa, suas ações e o resultado das ações, o Buda possibilita que ela enxergue a própria verdade. Isto é possível porque o poder do Buda é totalmente livre de todas as restrições. Na terra do Buda ninguém parece diferente dos outros; não há ninguém que guarde ódio ou desejo. Se alguma diferença surge para uma pessoa, então esse é o resultado de sua ação.”

(4) O bodisatva Bodhimukha perguntou: “O que deve fazer um bodisatva para realizar a ação pura no que diz respeito ao corpo, à fala e à mente; para adquirir sabedoria superior; para servir como um porto para as pessoas que necessitam; para se tornar uma causa para a salvação dos outros; para se tornar uma ilha de refúgio; e para se tornar um mestre e guia para os homens?” O bodisatva Manjushri assim respondeu: “Quando um bodisatva serve seus pais, ele espera garantir a paz por um longo tempo ao fazer tudo o que estiver em seu poder para protegê-los e para prover suas necessidades. Quando está com sua esposa e filhos, ele espera liberá-los dos grilhões do amor e da escravidão da vida familiar. Ao ouvir uma apresentação de música, ele espera desfrutar o bem-estar do Darma. Quando se encontra no isolamento de seu quarto, ele entra no reino dos sábios e espera ser liberado para sempre de quaisquer impurezas. Quando pratica a caridade, ele deseja oferecer tudo e ser liberado do apego às coisas. Quando se encontra reunido CEBB

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com seus pares, ele espera que seja uma reunião de budas. Quando depara com o infortúnio, ele deseja desfrutar paz mental, não sendo perturbado por coisa alguma. Quando busca refúgio no Buda, ele espera estimular a aspiração pela iluminação ao experimentar o grande caminho com todos os seres. Quando busca refúgio no Darma, ele aspira adquirir sabedoria profunda como o oceano ao imergir nos sutras e ensinamentos com todos os seres. E quando busca refúgio na Sanga, junto com todos os seres ele aspira liberar-se de todas as obstruções ao reunir e orientar todos os seres sencientes. “E também, ao vestir suas roupas ele não se esquece de olhar as raízes positivas e a profunda autorreflexão como suas roupas. Ao excretar seus restos, ele espera liberar-se da cobiça, raiva e ignorância. Quando olha para um caminho que leva a um lugar superior, ele aspira liberar-se da escravidão dos três reinos buscando o caminho para o reino mais elevado.

Quando

olha para um caminho que leva a um lugar inferior, ele aspira penetrar profundamente no reino da doutrina do Buda tornando-se dócil e humilde. Sempre que vê uma ponte, ele aspira construir uma ponte com o ensinamento do Buda e sempre ajudar as pessoas a alcançarem a outra margem. Ao ver uma pessoa em profunda ansiedade e pesar, ele se lembra de buscar a liberação do apego a coisas que estão constantemente mudando e desmoronando. “Ao ver pessoas se entregando aos prazeres do corpo, ele deveria aspirar alcançar o bem-estar mais elevado e a liberação dos males do corpo. Ao ver pessoas com boa saúde, ele deveria esperar realizar o darmakaya diamantino, livre para sempre da velhice e do enfraquecimento. Ao ver uma pessoa abatida pela doença, ele deveria compreender a natureza temporária da existência humana e esperar libertar-se de todos os tipos de sofrimento. CEBB

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Ainda, ao ver um monge que renunciou a todos os laços mundanos, ele deveria aquietar e controlar sua mente. Ao ver pessoas engajadas em discussões, ele deveria empregar suas habilidades de persuasão superiores e convencer os fiéis de outras crenças. Ao observar um monarca, ele deve aspirar tornar-se um regente no Darma, e girar a Roda do Darma sem obstruções. Ao compartilhar de uma refeição deliciosa, ele deveria exercitar a temperança, limitando seus desejos e não se apegando às paixões carnais. Ao receber comida aversiva, ele deveria colocar de lado o apego. Nos momentos de extremo calor, ele deveria se afastar do calor das paixões e dos desejos, e deveria procurar alcançar a concentração fresca e plácida; quando em temperaturas muito frias, ele deveria ter a esperança de alcançar a fresca quietude da liberação. Ao ler um sutra (escritura), ele deveria aderir completamente ao Darma. Ao observar o Buda, tendo adquirido os olhos da verdade do Buda, ele deveria desejar ver aquilo que é superior a tudo que existe. Ao se recolher à noite, tendo subjugado as atividades de mente, fala e corpo, ele deve purificar sua mente e aspirar libertar-se das impurezas. Ao despertar de manhã, ele deve aspirar tornar-se ciente de todas as coisas ao realizar a mais elevada verdade. Essas são as formas pelas quais o bodisatva controla suas ações de corpo, fala e mente. Esta é a forma pela qual todas as virtudes serão alcançadas.”

(5) O bodisatva Manjushri pediu, então, por um esclarecimento sobre a virtude da aspiração pela iluminação:

(i) Eu discorri sobre as ações puras de um bodisatva, mas qual é a grande virtude de tais ações e quais são suas profundas implicações? CEBB

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O bodisatva Bhadramukha assim respondeu: “Um bodisatva, enquanto nos reinos samsáricos, aspira seguir o caminho; e as virtudes de cada pensamento são verdadeiramente vastas e ilimitadas.

A natureza búdica é a causa, os ensinamentos são as condições. É apenas através dessas causas e condições que profunda confiança no Buda surgirá. Não buscar prazer ou tesouros ou fama ou meios fáceis, mas sim aliviar as pessoas de seu sofrimento – esta deve ser sua aspiração!

(ii) É apenas através da confiança na doutrina do Buda e nos meios de um bodisatva que um bodisatva poderá dar origem ao pensamento da iluminação. A fé é realmente a base do caminho e a mãe de todas as virtudes. Na continuidade das ações positivas e na erradicação de todas as dúvidas torna-se possível realizar o caminho mais elevado.

A fé afasta a impureza. Ao esclarecer a mente, ela erradica a arrogância e se torna fonte de respeito pelos outros. A fé é guardada no cofre do Darma e é o primeiro de todos os tesouros. Ela se torna a mão pura que recebe os méritos.

A fé é oferecer a todos sem limitações; e o bem-estar da fé permite que se ingresse no reino da doutrina do Buda.

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A fé fortalece as virtudes da sabedoria e permite que o estado búdico seja realizado infalivelmente.

A fé torna manifestas todas as ações da doutrina do Buda; sua força é firme, nunca é quebrada. Ela também elimina as causas das ansiedades e leva as pessoas a buscarem os méritos do Buda.

A fé não tem fronteiras e nos poupa das calamidades. Ela permite a transcendência dos reinos demoníacos e a realização da iluminação mais elevada.

A fé é a fonte de virtudes inquebrantáveis e é a muda da árvore da sabedoria. À medida que se desenvolve, ela torna manifestas as virtudes do Buda.

A fé é excelente e não é facilmente alcançável, assim como o botão da flor udumbara.

Quando se possui fé constante no Darma nunca haverá cansaço ao ouvir o Darma. Quando se possui confiança na Sanga em todos os momentos, a fé nunca oscilará.

(iii) As ações de uma pessoa com fé são puras; isto a permite aproximar-se de boas pessoas, fazer o bem e adquirir grande poder. A sua sabedoria se expande e ela é protegida pelos budas de

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todos os tempos. Portanto, aspire pelo caminho, siga os caminhos do Buda, nasça na casa do Buda e siga as práticas dos maravilhosos meios hábeis. A mente que acredita e se regozija é pura; essa mente insuperável cresce e permite à pessoa de fé praticar as seis perfeições, e faz com que se fortaleça a aspiração de seguir o caminho do Buda. Assim, com a mente direcionada ao Buda, nunca instável, é possível enxergar sempre o Buda de virtudes ilimitadas.

Tendo enxergado que o Buda é eterno, sabendo que o Darma nunca se desintegrará, e tendo adquirido o poder da fala impressiva, ele agora dissemina o Darma ilimitado, guiando as pessoas ao ser conduzido pela compaixão. Com a mente da grande compaixão, ele desfruta o profundo Darma.

(iv) Através de seus esforços o verdadeiro Darma prevalecerá no mundo, nunca se desintegrando, e toda a bondade, todos os caminhos e todos os tesouros excelentes aparecerão no mundo.

Por aqueles que não conhecem os caminhos que levam à liberação espiritual, e por aqueles que tendem a se fixar ao samsara, um bodisatva rejeita seu país e tesouros e busca a quietude da serenidade, renunciando a todos os apegos mundanos.

Além disso, mesmo escolhendo permanecer no mundo e dando orientações a todos os seres, ele não é maculado pelas impurezas mundanas, assim como o botão do lótus se mantém puro. Quando

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visões perversas conduzem ao sofrimento, ele emprega meios hábeis para apresentar o Darma, levando as pessoas à iluminação.

Um bodisatva faz com que o Buda se manifeste e aponta o caminho que leva ao Darma e à Sanga. Aqueles que recebem essa luz são capazes de realizar a mais elevada iluminação através de suas virtudes ilimitadas.

(v) A luz do Buda leva ao despertar, traz a aspiração pelo caminho e faz a travessia do oceano das paixões e dos desejos.

A luz leva ao despertar e com a água da liberação remove a sede da luxúria e dos desejos.

A luz leva ao despertar e possibilita desfrutar alegremente e seguir o caminho do Buda.

A luz leva ao despertar e permite realizar que nada realmente existe e que não há uma inexistência real, que todas as coisas são como o reflexo da lua na água, e que todas as coisas são ilusões.

A luz leva ao despertar e faz com que o Darma prevaleça, conduzindo-nos a respeitar os bons e puros e a proteger os sábios. Ela permite que as virtudes ilimitadas do Darma fluam.

A luz leva ao despertar e possibilita pensar no Buda, observar o Buda e alcançar um nascimento na terra do Buda.

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A luz leva ao despertar, a ouvir o Darma, a expô-lo, a compartilhar a alegria com os outros, a protegê-lo, a transmiti-lo, e a fazer com que o verdadeiro Darma prevaleça.

A luz leva ao despertar e faz com que todas as vozes do mundo soem como a voz do Buda.

(vi) Alguém com visão pode enxergar o sol, mas os cegos não podem. Aqueles que buscam o caminho podem ver a luz, mas os que mantêm visões perversas não podem. O castelo adornado por joias, o veículo de tesouros, alimentos doces e gemas preciosas são todos recebidos naturalmente pelos virtuosos, mas nunca pelos não-virtuosos. Existem muitas coisas inconcebíveis na vida, como as próprias forças cármicas, as hábeis alterações da forma pelos dragões, e os poderes dos deuses, mas não há nada que possa se igualar ao poder do Buda.

Um guerreiro com uma espada pode ser visto refletido na superfície límpida da água sem mostrar qualquer traço de ódio ou paixão. A liberdade da mente do Buda é exatamente assim. Aqueles que alcançam a perfeita liberdade, que possuem o mérito para salvar todos os seres com uma voz doce e suave, possuem o poder de suprimir demônios e de levar felicidade a todos sem exceção. Assim eu transmiti a vocês o conhecimento dos méritos daqueles que entraram no oceano do Darma e que o compreenderam. Aqueles a quem agora o Darma for exposto

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deveriam aceitá-lo e transmiti-lo aos outros.

Quando o bodisatva Bhadramukha ensinou com essas palavras, os mundos nas dez direções tremeram fortemente seis vezes. Os palácios dos demônios pararam de brilhar, e todas as formas de maldade desapareceram.

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LIVRO II Capítulo II - RAJAGAHA

1. Uggasena e Talaputa

(1) O Honrado pelo Mundo permaneceu por algum tempo no Bosque Jeta, no Monastério de Anathapindika, em Savatthi, e depois retornou a Rajagaha e passou a terceira estação chuvosa no Monastério do Bosque de Bambus. O mestre da acrobacia Uggasena estava na cidade com sua esposa e um grupo de artistas. Uggasena era o filho de um rico mercador da cidade. Anteriormente, quando um grupo de saltimbancos chegou à cidade e apresentou suas habilidades diante do rei, Uggasena se apaixonou por uma moça do grupo, deixou o lar e se juntou a eles. No início, quando estava em treinamento, sua esposa e outros artistas do grupo riam zombando e desprezando a sua falta de capacidade, e ele chorava por isso. Mas ele perseverou até tornar-se o líder do grupo, levandoos de lugar em lugar fazendo apresentações. Ele mesmo se tornou capaz de atuar sobre um poste de mais de sessenta pés de altura, e o povo se reunia ansiosamente para vê-lo. O Honrado pelo Mundo com seus discípulos também estavam presentes. O Buda permitiu que Moggallana utilizasse poderes sobrenaturais para alcançar a mesma altura onde estava Uggasena e para lhe ensinar o Darma. Era chegado o momento para Uggasena, pois ele

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apreciou intensamente o Darma, e após escorregar pelo poste até o chão, prostrou-se diante do Buda e, humildemente, pediu ao Buda para tornar-se um discípulo. O Buda concordou, e todos os membros do grupo tornaram-se discípulos. Logo Uggasena alcançou a iluminação e se tornou um dos arhats.

(2) Talaputa também era um artista em Rajagaha. Ele liderava um grupo de quinhentas mulheres, fazendo apresentações e tocando em festividades nas cidades e vilas. Às vezes, quando convidado, ele também levava as garotas para se apresentarem no palácio. Depois que Uggasena se tornou um monge, Talaputa também se inspirou a entrar na Sanga e foi visitar o Buda no Monastério do Bosque Jeta. Ele disse: “Ó Honrado pelo Mundo, eu ouvi dos mais velhos que um artista entretém a audiência contando algo que não é verdadeiro. Com isto, depois de sua morte, ele renasce no reino dos céus, onde todo o pensamento correto é esquecido. Qual é sua opinião sobre isto?” O Buda respondeu que essa era uma pergunta que não deveria ser feita ao Desperto. Apesar disto, Talaputa perguntou ao Buda três vezes. Em todas as vezes o Buda não respondeu. Finalmente, quando a mesma questão foi colocada pela quarta vez, o Buda deu a seguinte resposta: “Ó Talaputa, um artista que desperta os desejos das pessoas, que causa confusão nas mentes dos que são sinceros ao fazer palhaçadas, e que faz com que outros abandonem a sinceridade, irá com certeza cair nos infernos. O que você ouviu dos mais velhos não é verdade. Aqueles que possuem visões distorcidas renascerão ou no reino dos infernos ou no reino dos animais.” Ao ouvir isto, Talaputa explodiu em lágrimas. O Buda, então, relembrou-o que ele não deveria ter feito tal pergunta. Talaputa respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, não derramo lágrimas porque você me iluminou CEBB

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sobre um futuro terrível, mas porque os mais velhos me enganaram fazendome pensar que eu renasceria no céu.” Então, Talaputa ouviu atentamente os ensinamentos do Buda e, possuindo grande fé, tornou-se um mendicante, desenvolveu gradualmente todas as práticas e alcançou a iluminação. Ele compôs os seguintes versos para expressar as inúmeras dificuldades que encontrou e a forma como conseguiu controlar sua mente:

(i) Um dia eu viverei em uma caverna nas montanhas, compreendendo a impermanência de tudo que existe.

Um dia eu vestirei um manto amarelo esfarrapado, livre de todo o apego às coisas, livre da cobiça, da raiva e da ignorância, e encontrarei a paz na floresta.

Um dia eu vencerei a morte, a velhice e a doença e habitarei na floresta, livre de ansiedades.

Um dia eu cortarei as amarras da sede dos desejos; conquistarei demônios com a espada da sabedoria; nunca me entregarei à preguiça; não me incomodarei mais com as chamas que surgem da visão, da audição, do paladar e da sensação; não mais me desesperarei quando difamado; não mais me sentirei exultante quando elogiado; estarei em perfeita paz com o Darma; e esperarei pelo dia maravilhoso da realização.

(ii) Ó, minha cara mente, quanto tempo faz que você clamou não sentir a necessidade de seguir como chefe de família? Agora, após

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a renúncia, por que - ó! - por que você não se esforça?

Ó, minha cara mente, quantas vezes você me seduziu, dizendo que os pássaros de belas penas das longínquas montanhas e o trovão de Indra trariam alegria àqueles que habitam na floresta!

Agora, tendo abandonado o lar, os amigos e os prazeres mundanos, você ainda - ai de mim! - não conhece a felicidade.

Vendo que tudo que existe muda, você não buscou o caminho da impermanência? O Buda ensinou: ‘A mente é como um macaco louco. O controle sobre ela só virá quando houver liberação da luxúria.’

Ser deludido pela beleza e perseguir esta vida são caminhos para o sofrimento. Mesmo deixar-se atrair pela mente leva ao sofrimento do inferno.

(iii) Não percebendo que se está cercado por leopardos e tigres na floresta onde pavões e aves aquáticas residem, devemos nos libertar agora da luxúria, sem perder tempo. Ó, minha cara mente, você não me encorajou? Siga o caminho que leva à liberação. Corte as raízes do sofrimento e liberte-se das maquinações inúteis. Siga o caminho dos sábios; ensine a todos em todos os lugares enquanto reside na quietude da floresta. Ó, minha cara mente, não foi você que me encorajou? Ó, mente, sem forma e sempre galopante, não precisarei mais de você, pois nas

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paixões há dor intensa e grande medo. Aspirarei pelo caminho da liberação e segui-lo-ei. Ó, minha cara mente, onde quer que eu me encontrasse, eu atendia às suas ordens.

Até agora esta mente estava perturbada e eu segui suas ordens; mas agora, tendo despertado, eu serei o piloto desta mente de hoje em diante.

(iv) Ó, minha cara mente, permita-me cruzar o oceano da delusão, pois eu não mais me encontro em meu estado anterior de delusão. Não tenho motivo para ser controlado por você, pois eu aceitei o caminho dos sábios.

Não mais estou fadado à extinção. As montanhas, os rios e os oceanos, também, em todas as seis direções, são impermanentes e são causas para a infelicidade. Ó, minha cara mente, onde você encontrará a felicidade? Em uma manada de cervos, em um bando de pavões ou no frescor de um banho de verão! Mesmo deitar como um tronco no chão de uma caverna das montanhas é como repousar sobre o algodão.

Como o Buda ensinou, encontre o contentamento naquilo que está disponível. Evite os caminhos errôneos. Busque orientação com os santos. Resida na floresta da beleza, entre na montanha da felicidade. Ó, minha cara mente, alcance a margem da iluminação.

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2. Pancasikha (1) Desta forma, o Honrado pelo Mundo disseminou o Darma em Rajagaha e nas redondezas, tendo por base o Monastério do Bosque de Bambus, às vezes indo para o leste e às vezes para o oeste. Certa vez, quando o Buda se encontrava na Caverna Indasala no Monte Vediyaka, localizada ao norte da vila brâmane de Ambasanda, a leste de Rajagaha, o deus Indra quis visitar o Buda. Acompanhado por outros deuses, ele foi até o Monte Vediyaka. Pancasikha, filho de um Gandhabba, carregando uma harpa de lápis lazúli feita de madeira amarela, seguiu o deus Indra. O Monte Vediyaka foi envolvido pelo brilho dos deuses. As pessoas das vilas próximas ficaram aterrorizadas, achando que estava acontecendo um incêndio terrível. Indra, ao ver o Buda em meditação, instruiu Pancasikha: “Pancasikha, o Buda está em meditação, e é difícil aproximar-se dele agora. Você deve entreter antes o Buda com sua música. Eu o seguirei.” Dizendo: “Sim”, Pancasikha aproximou-se da caverna onde o Buda estava com sua harpa de lápis lazúli na mão, tocou a harpa e cantou uma canção. Nesta canção ele louvou as virtudes do Buda, do Darma e da Sanga. Então ele cantou sobre seu puro amor:

(i) Ó bela princesa Luz do Sol, vós sois como os raios do sol, possa o vosso pai Cimpala desfrutar a prosperidade, pois aquele que é a luz do mundo é, verdadeiramente, a fonte de minha felicidade. CEBB

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Assim como a brisa suave traz grande alívio àqueles que labutam sob o intenso sol, assim como a clara água dá prazer àqueles que estão com as gargantas secas, ó princesa do deus do sol, vós sois o centro de minha afeição.

Assim como o Darma, centro das afeições do sábio, como o remédio que traz alívio ao doente, como o alimento para o faminto, vós haveis pacificado meu coração como a água pura.

(ii) Assim como o grande elefante cujo corpo queima de febre imerge nas águas frescas do lago em meio ao pólen dos botões de lótus, eu também encontro descanso em vosso seio.

Como o grande elefante que, perfurado por uma lança, move-se violentamente apesar das cercas e postes, eu, também, sou ofuscado pela vossa beleza, e não sei discernir o certo do errado.

Meu coração está apegado a vós para sempre e nunca se libertará, como um peixe preso por dentro a um anzol. Ó, que grande mudança! Ó princesa, apertai-me em vosso abraço e, com olhos amorosos, cuidai de mim. Esse é o meu único desejo.

(iii) No início meu amor era aquele da juventude, mas agora, princesa

dos

cabelos

ondulados,

infinitamente.

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ele

se

ampliou

quase

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Possa uma virtude como a virtude da oferenda desinteressada ao Buda ser vossa para sempre. Grande é a virtude de minha devoção; que vós a recebais completamente.

Assim como o Buda praticou a perfeita meditação, cultivou a mente com sinceridade suprema e correta concentração e buscou a liberação, eu digo a Luz do Sol: ‘Meu desejo é vos ter.’

Assim como o Buda se regozijou ao alcançar a iluminação mais elevada, eu, também, regozijar-me-ei ao me tornar um convosco.

(iv) Se Indra, rei do céu de Tavatimsa, permitisse-me um único desejo, eu vos escolheria.

Minha inteligente princesa, eu reverencio o vosso pai como a floresta de árvores sala em flor, pois ele vos deu a vida que eu tanto estimo.

(2) O Honrado pelo Mundo, ao ouvir a música da harpa de lápis lazúli e as palavras da canção, fez a seguinte observação: “Pancasikha, suas cordas estão em harmonia com suas palavras. Diga-me onde você aprendeu tal canção.” Pancasikha respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, é preciso voltar ao tempo em que você se encontrava sob a árvore nigrodha às margens do rio Neranjara. Naquela época eu estava apaixonado por Bhadda, também conhecida como Luz do Sol, a filha de Tumburu, rei dos Gandhabbas. Entretanto, a princesa já tinha um amante, Sikhandi, filho do condutor de carruagens Matali. Por mais que eu pensasse sobre ela, não havia como me

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aproximar. Então, peguei minha harpa e fiquei diante do palácio de Tumburu, tocando a harpa e cantando essa canção. Nesse momento, Luz do Sol Bhadda veio de dentro da casa e disse: ‘Eu ainda não pude prestar homenagem pessoalmente ao Honrado pelo Mundo. Outro dia, no baile do céu de Tavatimsa, fiquei sabendo sobre ele. Hoje, em sua canção, você o louvou da forma mais elevada. É por isto que decidi me encontrar com você hoje.’ Ó Honrado pelo Mundo, em outro momento, eu fui capaz de conquistá-la.” Desta forma, Indra foi capaz de trazer o Honrado pelo Mundo de sua concentração mental para poder encontrá-lo.

3. A Fome em Vesali Quando o Honrado pelo Mundo se encontrava no Monastério do Bosque de Bambus e estava disseminando os ensinamentos nas quatro direções, o estado vizinho de Vesali foi abatido pela fome e por epidemias. As pessoas morriam umas após as outras, todos estavam tomados pelo medo, sem saber o que fazer. Os nobres no poder convidaram um dos seis mestres dos ensinamentos não-budistas para espantar os demônios. Mas, devido à influência de outro grupo importante, foram enviados mensageiros ao Honrado pelo Mundo. O rei Bimbisara, relatando a trágica situação, pediu ao Honrado pelo Mundo para vir e instruí-los. O Buda concordou com o pedido, e o rei consertou a estrada que levava ao rio Ganges, e enviou súditos para escoltar o Buda. O Buda cruzou o rio Ganges, e andando cerca de 30 milhas, pisou no reino de

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Vesali. Imediatamente as forças dos demônios declinaram e a epidemia gradualmente cedeu. O discípulo Ananda entoou o Ratna Sutra, e circulou os muros do castelo, aspergindo água. Os demônios acabaram fugindo, e a epidemia foi completamente erradicada. O Buda permaneceu em Vesali por dois meses para ensinar o Darma, então retornou ao Monastério do Bosque de Bambus.

4. O Sermão de Sariputta (1) Novamente, o Honrado pelo Mundo deixou o Monastério do Bosque de Bambus e se dirigiu para o oeste, em direção a Baranasi, permanecendo no Parque dos Cervos. Certo dia, o Honrado pelo Mundo deu aos seus discípulos instruções sobre o Darma: “Meus discípulos, foi aqui em Baranasi que o Buda colocou em movimento a Roda do mais elevado Darma; isso nunca havia sido feito por qualquer outra pessoa em qualquer lugar do mundo. Dessa forma o ensinamento sobre as Quatro Nobres Verdades foi apresentado e esclarecido. ‘Quais são as Quatro Nobres Verdades?’ vocês podem perguntar. Elas são as verdades do sofrimento, da causa do sofrimento, da extinção do sofrimento e do caminho que leva à extinção do sofrimento. Meus discípulos, foi exatamente aqui que a Roda do Darma mais elevado foi colocada em movimento. “Ó meus discípulos, vocês devem reverenciar Sariputta e Moggallana e aceitá-los como seus professores. Eles são sábios e são professores que seguem caminhos puros. Ó meus discípulos, Sariputta é como uma mãe que deu nascimento a vocês, e Moggallana é como uma mãe que os criou.

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Sariputta guia aqueles que acabaram de entrar na Sanga e Moggallana os eleva até alcançarem a iluminação. Sariputta pode instruí-los no Darma através das Quatro Nobres Verdades.” Tendo dito isto, o Buda deixou o salão e foi para seu quarto.

(2) Depois que o Buda deixou o salão, Sariputta se dirigiu aos presentes: “Amigos, o Buda ensinou o Darma mais elevado aqui no Parque dos Cervos, que nunca havia sido pronunciado por qualquer pessoa em qualquer lugar deste mundo. O Buda elucidou as Quatro Nobres Verdades do sofrimento, das causas do sofrimento, da extinção do sofrimento e do caminho que leva à extinção do sofrimento. Amigos, qual é a verdade do sofrimento? Significa que nascimento é sofrimento, velhice é sofrimento, morte é sofrimento, e preocupação, pesar, dor, ansiedade e agonia são todos sofrimento. Não ter aquilo que é desejado é sofrimento. No todo, a própria vida humana é sofrimento. O que é nascimento? Cada ser nasce em uma espécie em particular e herda as condições que fazem parte desta espécie. O que são as calamidades e a dor, e como sofremos extrema angústia mental? O que é a tristeza? Quando as calamidades se abatem e a dor é sentida, surgem confusão e tristeza, e, em grande aflição, há o choro agoniado. O que é o sofrimento? É a dor que os seres sentem com seus corpos. O que é aflição? É o sofrimento que se experimenta com a própria mente. O que é agonia? É o estado em que o coração se parte e não há esperança quando infortúnio e sofrimento são encontrados. Qual é o sofrimento resultante de não conseguir o que é desejado? É quando a pessoa desejaria não ter nascido mesmo que todas as condições para nascer estivessem presentes. Igualmente, a vida humana não pode escapar da velhice, doença, morte, pesar e angústia; mas ainda assim as pessoas rezam para que tais misérias não recaiam sobre elas, CEBB

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tudo isto é sofrimento. Em resumo, o que significa que a existência humana é sofrimento? Basicamente, significa que a existência é resultado de impurezas e, assim, não pode ser caracterizada por nada mais. “Quais são as causas do sofrimento? A sede das paixões, ou os obscurecimentos, que geram uma nova existência futura. Existem três tipos de paixões: da luxúria, pela existência e pela extinção. “O que é a extinção do sofrimento? É o estado em que a sede das paixões foi extinta completamente e todos os traços de impurezas desapareceram. “Qual é o caminho que leva à extinção do sofrimento? É o Caminho Óctuplo que leva à extinção das causas do sofrimento. É a visão correta, o pensamento correto, a fala correta, a ação correta, o modo de vida correto, o esforço correto, a atenção mental correta e a meditação correta. “A visão correta é alcançar o insight claro sobre o ensinamento das Quatro Nobres Verdades. O pensamento correto é o pensamento livre das paixões, da raiva e do ódio. A fala correta é a fala livre de falsidades, difamação e conversa inútil; é falar a verdade sempre. A ação correta é absterse de matar, roubar e do adultério, e agir com compaixão. O modo de vida correto é nunca se entregar a ações impróprias para um monge. O esforço correto significa se prevenir do mal que ainda não surgiu e descartar aquele que já surgiu; ampliar o bem que ainda não surgiu e aumentar e aperfeiçoar o bem que já surgiu; e cultivar a mente através desses esforços sempre. A atenção mental correta é aplicar o pensamento sempre com uma mente clara, observando o corpo, os sentidos, a mente e os elementos, e superando a cobiça e aquilo que surge a partir dela. A meditação correta é libertar-se das paixões e do mal e repousar em todos os níveis de meditação. Esses, meus amigos, são os ensinamentos sobre as Quatro Nobres Verdades que nos CEBB

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foram passados pelo Honrado pelo Mundo.”

5. A Disputa pela Água de Irrigação (1) No quarto ano após sua iluminação, o Honrado pelo Mundo permaneceu por um tempo em uma grande floresta em Vesali. Então ele se dirigiu ao norte e chegou a Savatthi, permanecendo no Monastério do Bosque Jeta. No quinto mês daquele ano houve um longo período de seca, fazendo com que os rios diminuíssem seu fluxo para um filete de água, o que acabou gerando problemas de irrigação. As cidades de Kapilavatthu e Kolyia viram surgir tensões pelas águas do rio Rohini, que passava entre elas. Isto coincidiu com o período em que a agricultura necessitava de água. A escassez de água fez com que os fazendeiros de um lado do rio reclamassem daqueles na margem oposta, até que finalmente, armados com maças e espadas, eles derramaram sangue. O Honrado pelo Mundo ouviu sobre o conflito enquanto estava no Monastério do Bosque Jeta, e se apressou até Kapilavatthu a tempo de posicionar-se entre os dois exércitos opostos. De ambos os exércitos vieram gritos: “Ó Honrado pelo Mundo, Honrado pelo Mundo! Vê-lo aí torna impossível lançar nossas flechas!” Então, ambos os lados derrubaram suas armas. O Honrado pelo Mundo, ao ver isto, convocou os líderes de ambos os exércitos e perguntou-lhes: “Por que vocês estão aqui reunidos? Por que vocês estão a ponto de iniciar uma batalha?” Ambos os líderes responderam que era devido à água necessária para a irrigação. “Comparada com a vida

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humana, qual o valor da água?” Os líderes responderam que comparada à vida humana, o valor da água era quase nulo. “Por que, então, se é pela água, que possui tão pequeno valor, que vocês estão tentando destruir vidas humanas, que são de valor inestimável?” Dizendo isto, o Buda contou a seguinte história:

(2) “Uma vez havia um leão de pelo negro que estava sempre deitado junto às raízes da árvore pandana, onde esperava até que outros animais passassem por ali. Certa vez, um galho seco quebrou com o vento e caiu nas costas do leão. Ele ficou imediatamente com medo e fugiu. Mas, quando olhava para trás, ele percebia que não havia ninguém correndo atrás dele. Então, concluiu que o espírito da árvore o odiava e estava tentando mantê-lo afastado da árvore. Irritado, o leão voltou e, dando uma forte mordida no tronco, disse: ‘Eu não comi nem mesmo uma de suas folhas, nem quebrei galho algum. Você permite que outros animais descansem sob seus galhos, mas não me deixa ficar. O que eu fiz para você? Vou fazer com que você seja derrubada e que seus galhos sejam cortados.’ Dizendo essas palavras desrespeitosas o leão saiu para procurar alguém que pudesse cumprir a tarefa. Naquele momento, um carpinteiro que construía carroças apareceu procurando por uma árvore. O leão mostrou onde estava a árvore pandana e tentou convencer o carpinteiro a derrubá-la. Quando o carpinteiro começou a cortá-la, o espírito da árvore, aterrorizado, apareceu e disse-lhe o que fazer: ‘Parece que você quer cortar esta árvore para fazer uma carroça. Se você colocar a pele do pescoço do leão negro sobre as rodas, elas ficarão muito mais fortes. Você deveria matar o leão e tirar sua pele.’ O carpinteiro seguiu o conselho alegremente e matou o leão negro. Então, ele derrubou a árvore e voltou para sua vila. CEBB

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(3) O Buda disse: “Como essa história demonstra, é comum os seres lutarem entre si por mal-entendidos triviais, ferindo-se e até mesmo matando uns aos outros.” Ele continuou com outra história: “Às margens do Mar Ocidental havia uma floresta na qual cresciam algumas castanheiras-daíndia. Naquela floresta, em um arbusto que ficava sob uma castanheira, morava um coelho. Naquele momento, o coelho se perguntou o que poderia ser feito se o mundo chegasse ao fim repentinamente. Então, uma castanha caiu sobre as folhas do arbusto, fazendo um som agudo. O coelho se apavorou, achando que o mundo estava acabando. Sem olhar para trás, ele começou a correr. Os outros coelhos, ao vê-lo correndo em fuga, sentiram que alguma coisa incomum estava acontecendo, e foram atrás dele, perguntando o que havia acontecido. O primeiro coelho respondeu que o fim do mundo estava chegando, e seguiu correndo. O segundo coelho, agora alarmado, também começou a correr atrás do primeiro. Então, o terceiro e o quarto coelhos começaram a correr, até que milhares de coelhos estavam fugindo. Assim, os cervos os seguiram, e depois os porcos-do-mato, os búfalos, e ainda os rinocerontes, tigres, leões e elefantes, e todos os outros animais, até que a fila de animais se estendia por milhas e milhas. “Enquanto isso, havia um leão que observava o que estava acontecendo. Ao ouvir que os animais estavam com medo de que a terra estivesse acabando, ele achou que isto não poderia estar acontecendo realmente, e que o primeiro coelho devia ter ouvido um som agudo e se enganou, achando que isto era o barulho da terra acabando. O leão pensou que se ele deixasse as coisas seguirem este curso todos os animais estariam perdidos. Então ele começou a correr, passando os líderes do bando, e esperou pelo bando no pé da montanha. Quando os animais se aproximaram, CEBB

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ele deu um forte rugido. Então o coelho que vinha à frente parou, e os animais, dezenas de milhares, todos pararam repentinamente. O leão foi até o meio do bando e perguntou por que eles estavam correndo. Os animais responderam que era por causa do fim do mundo. Quando o leão perguntou se alguém tinha visto alguma coisa, alguns animais disseram que o elefante era quem sabia. Ao ser perguntado se tinha visto alguma coisa, o elefante disse que não sabia nada sobre isto e que tinha ouvido de um leão. Então os animais começaram a se perguntar, o leão dizendo que tinha ouvido do tigre, o tigre do rinoceronte, e assim por diante até que chegaram ao primeiro coelho, que tinha visto. O leão perguntou ao coelho: ‘Onde você estava nessa hora, e quando você viu isso acontecer?’ O coelho respondeu que estava sob uma castanheira perto do Mar Ocidental pensando como seria terrível se o mundo acabasse, quando ouviu um som agudo de algo batendo e começou a correr. “Entendo completamente a situação, o leão pediu aos animais que permanecessem ali. Com o coelho o seguindo ele retornou ao arbusto e pediu ao coelho para apontar o lugar exato onde tinha ouvido o som. O coelho ainda estava apavorado e não queria se aproximar do local. O leão estudou cuidadosamente a região e, pegando a castanha, confirmando que não havia nada de incomum, voltou até o bando. Mostrando aos animais a castanha, ele afastou seus medos.” O Buda continuou: “Se o leão não os tivesse esclarecido, incontáveis animais teriam continuado correndo até se jogarem ao mar e morrerem afogados. Ó lideres, deve-se manter compreensão clara e segura em todas as situações. Também deve-se lembrar que devido a pequenos malentendidos dezenas de milhares podem se agitar e acabar sendo levados à destruição.” O povo das duas cidades se regozijou com as instruções do Buda, e CEBB

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muitos membros das famílias nobres entraram na Sanga do Buda. O Buda disse-lhes para seguirem-no, enquanto dava continuidade às instruções nos dois palácios, e permaneceu na floresta nigrodha fora de Kapilavatthu.

(4) Um dia, Mahapajapati, com dois mantos novos em suas mãos, visitou o Buda e disse: “Ó Buda, esses dois mantos foram feitos com o fio que eu produzi e foram tecidos por minhas próprias mãos. Por favor, seja piedoso comigo e aceite-os!” O Buda respondeu: “Mahapajapati, você deveria oferecê-los à Sanga, então eu também estarei recebendo-os.” Mahapajapati fez o pedido ao Buda por três vezes, e a cada vez o Buda deu a mesma resposta, dizendo-lhe para fazer a oferenda à Sanga. Ananda, que estava ao seu lado e ouviu o diálogo, aproximou-se, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, por favor, aceite os mantos que Mahapajati está oferecendo, pois ela o tem servido corretamente. Ela é sua tia e o alimentou; quando você era uma criança, após a morte da rainha Maya, ela ofereceu-lhe o próprio peito. O Honrado pelo Mundo também lhe concedeu muitos benefícios. Ela buscou refúgio nos Três Tesouros, abstendose de tirar vidas, abstendo-se de tomar coisas que não lhe foram dadas, nunca se engajando em conduta sexual imprópria, mentindo ou bebendo álcool. Seguindo os cinco preceitos, ela colocou confiança inabalável nos Três Tesouros e erradicou todas as dúvidas sobre o ensinamento das Quatro Nobres Verdades. O Buda lhe concedeu esses benefícios. Por favor, acredite na sinceridade de suas intenções.” O Buda aceitou a caridade de Mahapajapati devido ao pedido de Ananda, e ensinou as virtudes da prática da caridade.

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6. O Estabelecimento da Sanga das Monjas (1) O Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos discípulos, foi em direção ao leste e depois seguiu para o sul e retornou a Vesali. O retiro daquele ano foi realizado em uma grande floresta nas vizinhanças do palácio. Ao ouvir que seu pai, o rei Suddhodana, estava doente, o Buda retornou imediatamente a Kapilavatthu para visitá-lo. Ao entrar no quarto em que seu pai doente estava, os raios que o Buda emanava iluminaram a cama na qual o rei repousava e aliviaram enormemente a dor do rei. O Buda, acompanhado por seu discípulo Ananda, ficou ao lado do leito e com palavras reconfortantes em relação à doença do rei ensinou o Darma. Quando o Buda lhe explicou a verdade da impermanência de tudo que existe, o rei, apesar da dor, foi capaz de alcançar a iluminação devido às instruções do Buda. No anoitecer do sétimo dia o rei se levantou da cama e, apoiado pelo Buda e por Ananda, arrependeu-se profundamente pelas ações negativas do passado que ele havia infligido aos seus súditos; então ele disse palavras reconfortantes a Mahapajapati. O rei falou sobre a morte, que não pode ser vencida, e com a consciência de que tinha feito o que devia ser feito neste mundo, ele expirou pela última vez na avançada idade de noventa e sete anos. Então, o Buda ensinou o Darma aos discípulos, aos nobres da família real e aos servos reais. No dia do funeral, ele colocou o caixão real sobre a pira e ateou o fogo. O sermão proferido pelo Buda naquele dia trouxe a muitos alívio do sofrimento deste mundo.

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(2) Após os ritos funerais para seu pai, o rei Suddhodana, o Buda permaneceu no jardim de árvores nigrodha. Foi nessa época que Mahapajapati se aproximou do Buda e fez um pedido: “Ó Honrado pelo Mundo, humildemente eu peço permissão para ser admitida na Sanga.” O Buda não permitiu. Mahapajapati pediu três vezes, e a cada vez o Buda não permitiu que ela entrasse na Sanga. Grandemente desapontada, ela se curvou ao Buda e deixou a sua presença. Então, o Buda deixou Kapilavatthu, retornou a Vesali e ficou no salão de palestras Kutagara. Mahapajapati cortou seus cabelos, vestiu um manto, e se dirigiu a Vesali, levando consigo as mulheres dos nobres do clã Sakya. Ao chegarem a Vesali, elas ficaram em pé na entrada do salão de palestras da grande floresta descalças, cobertas por poeira, e com lágrimas escorrendo por suas faces. Ao ver isto, Ananda ficou profundamente impressionado por sua sinceridade. Ele pediu que elas esperassem do lado de fora, aproximou-se do Buda e fez o pedido: “Ó Honrado pelo Mundo, Mahapajapati e as outras mulheres fizeram uma longa viagem; elas estão cobertas pela poeira e estão aos prantos. Elas buscam sua orientação. Estão em pé na porta do salão de palestras. Por favor, Honrado pelo Mundo, permita que elas se juntem à Sanga.” Diante dessas palavras o Buda respondeu que Ananda não deveria pedir permissão para admitir mulheres na Sanga. Ananda pediu ao Buda pela segunda vez, e o Buda recusou novamente. Então, Ananda pediu mais uma vez: “Ó Honrado pelo Mundo, se uma mulher se tornasse mendicante de acordo com as regras da doutrina do Buda, e seguindo o caminho do cultivo espiritual, ela poderia alcançar a iluminação?” O Buda respondeu a questão, dizendo que sim. “Ananda, as mulheres podem alcançar a iluminação tornando-se mendicantes e devotando-se aos CEBB

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ensinamentos.” Diante dessas palavras do Buda, Ananda disse: “Ó Honrado pelo Mundo, se assim é com as mulheres, então seria apropriado que o Buda permitisse que Mahapajapati, que é sua tia e que o alimentou e o criou, e as outras mulheres das famílias nobres, ingressassem na Sanga do Buda.” Então, o Buda disse a Ananda que se as mulheres seguissem oito preceitos, ele as admitiria, sendo que os oito são:

1. Mesmo que uma monja tenha sido monja por mais de cem anos, ela deve mostrar respeito pelos monges, curvando-se em reverência, mesmo que ele tenha sido ordenado naquele mesmo dia. 2. Uma monja não deve conduzir um retiro onde não haja monges presentes. 3. Uma monja deve conferenciar com a Sanga dos monges a cada meio mês na data em que os preceitos são revisados, e deve receber instruções sobre os preceitos. 4. Após o retiro, uma monja deve pedir tanto à Sanga dos monges quanto à Sanga das monjas para mostrar e apresentar as violações dos preceitos. 5. Uma monja que tiver cometido uma ofensa séria deve ser separada de ambas as Sangas por meio mês. 6. Após ter sido treinada nas seis abstenções básicas como uma noviça por dois anos, uma monja deve solicitar os ritos de ordenação a ambas as Sangas. 7. Uma monja nunca deve gritar com um monge ou criticá-lo em qualquer momento. 8. Uma monja nunca deve apontar as violações de um monge.

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Um monge pode apontar as violações de uma monja.

O Buda disse: “Ananda, se Mahapajapati estiver decidida a seguir esses oito preceitos, ela pode ser admitida na Sanga.”

(3) Ananda relatou imediatamente o que o Buda disse às mulheres. Mahapajapati respondeu: “Ó venerável senhor, assim como uma jovem mulher que deseja se fazer bela lava seus cabelos e mantém cuidadosamente as flores que recebeu no alto de sua cabeça, eu cumprirei esses oito preceitos respeitosamente por toda a minha vida e nunca os violarei.” Então, Ananda relatou ao

Buda: “Ó

Honrado pelo

Mundo,

Mahapajapati aceitou os oito preceitos e foi admitida na Sanga.” Com isto, o Buda disse: “Se as mulheres não tivessem se tornado mendicantes, os ensinamentos durariam um longo tempo. O Darma permaneceria puro e verdadeiro por mais de mil anos. Agora que as mulheres foram admitidas na Sanga, a pureza dos ensinamentos pode não durar tanto tempo, e o Darma verdadeiro durará apenas quinhentos anos. Ananda, não importa qual casa seja, se as mulheres forem mais numerosas que os homens, torna-se mais fácil para os bandidos entrarem. Quando um ramo de arroz está doente, o arroz não durará muito tempo; da mesma forma, agora que as mulheres foram admitidas na Sanga, a pureza dos ensinamentos não será preservada por muito tempo. Barragens são construídas ao redor de um lago para evitar que a água transborde; assim, eu determinei os oito preceitos para as monjas.” Neste momento, a princesa Yasodhara e as mulheres do clã Sakya foram admitidas junto com Mahapajapati.

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7. As Instruções do Buda no Jardim Posterior (1) Naquele ano, o Honrado pelo Mundo retornou mais uma vez de Vesali e permaneceu no Monastério do Bosque Jeta. Certo dia, Anathapindika visitou o Honrado pelo Mundo. Nessa ocasião o Buda deu os seguintes ensinamentos: “Ó Anathapindika, a não ser que a pessoa seja capaz de proteger sua mente, torna-se impossível proteger suas ações de corpo, fala e mente. Se ela não for capaz de fazer isto, então suas ações de corpo, fala e mente serão maculadas pelo desejo. Quando as três ações se tornam impuras, tanto o momento da morte daquela pessoa quanto o período posterior não serão felizes. Quando o teto de um castelo não está corretamente posicionado, a viga principal, as outras vigas e as paredes estarão expostas à chuva e começarão a apodrecer. Ó Anathapindika, quando a mente está protegida, as ações de corpo, fala e mente estarão protegidas. Elas não serão maculadas pelo desejo, e portanto, tanto o momento da morte daquela pessoa quanto o período posterior serão felizes. Quando o telhado de um castelo foi adequadamente montado, as vigas principais, as outras vigas e as paredes não estarão expostas e não apodrecerão.”

(2) Outro dia, o Honrado pelo Mundo instruiu seus discípulos no Jardim Posterior: “Meus discípulos, existem três causas pelas quais as pessoas geram seu próprio carma. Elas são a cobiça, a raiva e a ignorância. As pessoas criam seu próprio carma através desses três tipos de ações, e elas renascem aonde o carma as dirigiu; elas terão que colher os resultados de suas ações cármicas de uma existência para a outra. Assim como a semente que foi plantada e que recebe chuva no momento adequado brota e cresce, da mesma

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forma as pessoas criam suas ações através dessas três causas, e quando as forças cármicas geram frutos, elas devem receber os resultados de suas ações. Ó meus discípulos, existem três causas para realizar o nirvana. Elas são a não-cobiça, a não-raiva e a não-ignorância. Se e quando as pessoas forem capazes de seguir suas práticas de acordo com essas três causas, elas não renascerão novamente em delusão e entrarão no nirvana. Assim como a grama cujas raízes foram arrancadas ou como uma palmeira cujos botões foram retirados, essas pessoas nunca mais sofrerão o nascimento no reino da delusão.” O Buda continuou o ensinamento, dizendo assim: “Meus ensinamento são superiores aos outros por duas razões. A primeira é que eu ensino que uma pessoa que comete uma ação negativa deve olhar sinceramente para o mal que foi feito. A outra é que quando uma pessoa comete uma ação negativa, eu ensino essa pessoa a se desgostar e detestar a ação, e a se desapegar dela. Esses são os dois pontos que tornam meus ensinamentos superiores.”

(3) O Buda também disse: “Ó meus discípulos, existem duas coisas puras que protegem este mundo. Elas são a vergonha interior, ou arrependimento, e a vergonha exterior, ou arrependimento. Se elas desaparecessem deste mundo a distinção entre mãe e tia ou entre a mulher do mestre e a mulher de um amigo estaria perdida, e haveria um caos completo, como podemos ver nos reinos das ovelhas, porcos, cachorros e raposas. É devido a esses aspectos da vergonha que existe ordem no mundo. “Ó meus discípulos, a ignorância precede tudo aquilo que não é puro, e é seguida pelos dois tipos de ausência de vergonha. Por outro lado, a sabedoria clara precede tudo aquilo que é puro, e o arrependimento e o CEBB

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remorso seguem-se a ela.”

(4) Uma noite, o Honrado pelo Mundo reuniu os monges e disse a eles: “Ó meus discípulos, três mensageiros celestiais são enviados a este mundo. Irei ensiná-los sobre eles. Certa vez uma pessoa cometeu uma ação negativa e caiu nos infernos. Um guarda pegou aquela pessoa pela mão violentamente e a levou até o rei Yama, dizendo que aquela pessoa, na sua vida como humana, tinha sido extremamente desrespeitosa com seus pais, não tinha respeito pelos monges e desdenhava seu mestre e os mais velhos. ‘Devido a essas ações negativas ela renasceu aqui. Por favor, puna-a de acordo.’ “Ó meus discípulos, o rei Yama então perguntou à pessoa se ela tinha visto o primeiro mensageiro celestial, e a pessoa em sofrimento respondeu que não o tinha visto. O rei Yama então lhe perguntou se não tinha visto um homem velho, curvado pela idade e com um cajado, cambaleando sozinho. A pessoa respondeu que tinha visto tal homem muitas vezes. Ao ouvir isto, o rei Yama perguntou: ‘Se você o viu, por que não pensou que também se tornaria velho e fraco, e que deveria realizar ações positivas imediatamente com o corpo, a fala e a mente?’ A pessoa respondeu que não tinha percebido tais coisas por ser extremamente relaxada em suas maneiras. “O rei Yama disse: ‘Devido à sua indolência, você negligenciou as coisas que deveriam ser feitas mesmo depois de ter compreendido a situação claramente. Por esta razão, você é responsável pela sua indolência. Essas não são coisas que seus pais fizeram, nem seus irmãos ou irmãs, nem seus amigos ou outras pessoas. São coisas que você fez, e portanto deve aceitar as consequências.’ “Então o rei perguntou: ‘Você viu o segundo mensageiro celestial?’ A pessoa respondeu que não. O rei Yama disse: ‘Mas você não viu um ser CEBB

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patético que estava doente e era incapaz de ficar em pé por si mesmo, e que estava caído sobre os próprios excrementos?’ A pessoa respondeu: ‘Grande rei, eu vi tal cena.’ O rei disse: ‘Quando você observou tal cena, não pensou que você, também, ficaria algum dia doente e que enquanto estava saudável deveria purificar seu corpo, fala e mente?’ A pessoa disse: ‘Grande rei, eu fui negligente demais para pensar desta forma.’ “O rei Yama então perguntou: ‘Você viu o terceiro mensageiro celestial?’ A pessoa respondeu que não tinha visto o terceiro mensageiro celestial. O rei perguntou: ‘Você não viu um cadáver com dois ou três dias após a morte, pútrido e com pus gotejando?’ O homem disse que havia visto aquilo muitas vezes. Então, o rei Yama disse: ‘Depois de ter visto tudo isso, por que você foi tão negligente? Agora você terá que enfrentar o resultado de sua negligência. Essas coisas não são o resultado do que seus pais, irmãos ou irmãs, ou amigos e parentes fizeram a você, mas são o resultado de sua própria indolência. Você deve se preparar para enfrentar as consequências.’ Tendo dito isto, o rei Yama selou seus lábios. O guarda então levou a pessoa à força e a jogou nas chamas flamejantes do inferno. “Meus discípulos, existem três mensageiros celestiais que são enviados a este mundo. Aqueles que são despertos pelos mensageiros celestiais e que estão no controle são os afortunados, enquanto que aqueles que falham na compreensão apesar dos sinais apresentados a eles, terão que permanecer na tristeza por um longo tempo.”

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LIVRO II Capítulo III - AS OITO CONSCIÊNCIAS

1. A Rainha Khema

(1) O Honrado pelo Mundo dirigiu-se para o leste de Savatthi até chegar a Rajagaha, onde permaneceu no Monastério do Bosque de Bambus. A rainha do rei Bimbisara chamava-se Khema. Ela era nascida na cidade de Sagara, no país de Magadha, e foi escolhida para ser rainha devido a sua natural beleza. Ela tinha orgulho disto e não lhe agradava a ideia de encontrar o Honrado pelo Mundo. O rei desejava que a rainha prestasse homenagem ao Buda, e assim ele pediu para muitas pessoas louvarem o Honrado pelo Mundo em sua presença, até que finalmente a rainha se comoveu e afirmou que desejava prestar homenagem ao Buda. O Buda, ao ver a rainha vindo em sua direção, fez com que surgisse uma mulher que parecia uma donzela celestial. Ela estava atrás dele, com uma folha de bananeira nas mãos, abanando-o. Ao ver isto, a rainha pensou: “Ó, que bela mulher! O Honrado pelo Mundo é servido por tais mulheres! Não sirvo para ficar em sua presença. Eu estava realmente enganada em meu entendimento do Honrado pelo Mundo!” Entretanto, enquanto a rainha observava a mulher, a compleição daquela mulher mudou gradualmente, sua juventude desapareceu, a velhice

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se abateu, seus cabelos negros se tornaram cinza, rugas apareceram em sua pele e, enquanto segurava a folha de bananeira, ela caiu no chão. A rainha ficou amedrontada com o que viu, e parecia bastante deprimida. O Honrado pelo Mundo cantou uma canção:

Aqueles que estão à mercê da cobiça Serão arrastados pela corrente, Como uma aranha descendo em sua teia. Os sábios estão conscientes disso. Eles estão livres das paixões. Deixando para trás os prazeres da luxúria, Eles renunciam às amarras mundanas.

Ao ouvir isto, a rainha despertou para os verdadeiros valores espirituais, e com as bênçãos e a permissão do rei, tornou-se uma monja. Ela alcançou a iluminação rapidamente.

(2) Tempos depois, no Monastério do Bosque Jeta, o Honrado pelo Mundo louvou a monja, dizendo que entre todas as monjas da Sanga do Buda, Khema era a de sabedoria mais avançada. Entretanto, o caminho da prática estava longe de ser fácil para ela. Um dia, sentada em meditação sob a sombra de uma árvore, Mara apareceu para ela na forma de um jovem e tentou seduzi-la com estas palavras: “Enquanto você é jovem, se você é bela, sua felicidade será insuperável. Dance com as borboletas, acompanhada pela música no jardim onde as flores desabrocham.” No entanto, a monja rejeitou essas palavras com estes versos: “O corpo que adoece e definha começa a apodrecer. Eu destruo a tolice de correr atrás de borboletas. O amor é uma CEBB

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lança; a cobiça, um tridente; se você se aproximar, eles o cortarão. Como podem ser chamados de prazerosos? Quando alguém está livre dos prazeres da cobiça, a escuridão é dissipada. “Ó Mara, você foi derrotado. Os não-iluminados não conhecem a verdade; eles veneram as estrelas e oferecem rituais de fogo nas florestas, achando que esses são os caminhos do prazer. Quando eu venero o supremo Buda, sou aliviada do sofrimento e prossigo neste caminho.” O Honrado pelo Mundo residiu em Magadha por um curto tempo. Durante esse período, ele visitou as cidades e vilas de Magadha, disseminando os ensinamentos onde quer que fosse.

2. O Reino da Iluminação (1) O Honrado pelo Mundo foi para o extremo sul, através da Índia Central, e com um barco chegou à ilha de Lanka. O rei Ravana convidou o Buda ao seu palácio no Monte Malaya para dar instruções, e o louvou com estas palavras: “Sua mente é o tesouro do Darma. Como você realizou a ausência de identidades pessoais, sua visão é a própria pureza. Por favor, dênos a mais elevada sabedoria da iluminação, envolvida pelo verdadeiro Darma, em paz com o conhecimento mais elevado, exibindo livremente as maravilhas do Darma. Ó Honrado pelo Mundo, por favor, entre no palácio de Lanka. Nossas mentes desejam apenas ouvir o Darma.” Quando o Buda concordou em dar ensinamentos, todas as pessoas no palácio vieram até o local onde o Buda estava. O rei disse ao bodisatva Mahamati: “Ó bodisatva, por favor, diga ao Buda por todos nós, que

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desejamos ardentemente ouvir sobre a iluminação do Buda.”

(2) O Honrado pelo Mundo respondeu à questão de Mahamati, e ensinou: “Tudo o que existe é como um fantasma.” Enquanto o Buda expunha esse ensinamento, repentinamente ele desapareceu no céu, todas as pessoas e a floresta sumiram instantaneamente, e o rei Ravana ficou só no castelo. O rei refletiu sobre o que tinha acontecido: “O que era tudo aquilo que parecia visível? Quem eram aqueles ouvindo o Buda? Para onde foram o Buda, o castelo, todos os tesouros e a floresta? Isso está acontecendo em um sonho? É real, ou é uma miragem? Tudo é tão estranho. Esta deve ser a forma pela qual o Buda está tentando demonstrar que todas as coisas são, na verdade, como um sonho. Tudo que aparece é resultado da própria discriminação de cada um. As pessoas não conseguem perceber isto. A verdade é que o observador e aquilo que é observado, ou aquele que ensina e o que é ensinado, não existem verdadeiramente. Agora, não ver o Buda ou ouvir o Darma poderiam ser resultados de tal discriminação? Então, o Buda que eu vi poderia ser um Buda concebido pela minha mente. Agora que fui instruído pelo Buda e libertado da discriminação, tudo que resulta da discriminação desapareceu completamente. De fato, enquanto houver discriminação não será possível conceber o verdadeiro Buda, e libertar-se das discriminações é ver o Buda verdadeiramente.” Ravana percebeu a realidade e se libertou das impurezas; ele entrou em um reino completamente livre de suposições e foi capaz de ver todas as coisas sob sua verdadeira luz.

(3) Nesse momento, quando o Honrado pelo Mundo percebeu que a mente do rei estava prestes a alcançar a iluminação, ele apareceu diante do CEBB

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rei como antes. Encantado, o rei colocou ao Honrado pelo Mundo as seguintes questões: “Ó Honrado pelo Mundo, você tem nos ensinado constantemente que mesmo os darmas (as coisas) devem ser abandonados. E há muito mais razão ainda para fazer o mesmo com os adarmas (coisas inexistentes). Por que esses dois tipos de darmas devem ser abandonados? O que significam os darmas e adarmas?” O Buda respondeu, dizendo: “Ó rei, é comumente aceito que um recipiente cerâmico possa quebrar. Entretanto, as pessoas tendem a acreditar que no recipiente há uma essência permanente que não quebrará. Tal noção de que os darmas possuem uma essência permanente imaginada deve ser abandonada. Quando se é capaz de ver a natureza básica da própria menteconsciência, não há necessidade de se apegar a qualquer coisa externa a ela. Olhar os darmas de um ponto de vista baseado na visão correta é o que se quer dizer com abandonar os darmas. Adarmas são como os chifres de uma lebre e o filho de uma mulher estéril; eles estão longe da verdade. Não se deve gerar fixação a eles, assim como não se deve gerar apego a um recipiente de cerâmica; ambos devem ser abandonados. “Ó rei, os ensinamentos do Buda também estão completamente separados de toda discriminação humana e argumentos inúteis. Eles só podem ser apreendidos pela verdadeira sabedoria. O Buda dissemina o Darma para guiar as pessoas à paz espiritual, e ele estabelece a sabedoria livre das discriminações humanas. Assim, o Buda é uno com a verdadeira sabedoria e não pode ser compreendido por aqueles que tentam entendê-lo com a sabedoria baseada em discriminações. “Ó rei, seres sencientes pintados em uma parede não têm sensações. Da mesma forma, todas as pessoas devem ser encaradas como fantasmas. Ver as coisas desta forma é chamado de pensamento correto, e ver as coisas de outra CEBB

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forma é chamado de visão da discriminação. Por discriminar, surge o apego aos darmas e adarmas. Ó rei, por exemplo, um homem vê sua imagem na superfície da água, que serve como espelho, ou ele vê sua sombra, lançada por uma tocha ou pela lua. Ele gera discriminações e, apegando-se a elas, ele se regozija ou é perturbado pelo medo. Quer se fale sobre darmas ou sobre adarmas, ambos são produtos da discriminação. Por isto, não é possível afastá-los. Além disso, as delusões aumentam e não é possível alcançar a extinção dos obscurecimentos. Extinção se refere à mente que se libertou da delusão. Essa extinção é o ventre que dá nascimento aos budas; ela é chamada de Tathagata-garbha (ventre dos budas)”

(4) Naquele exato momento, o bodisatva Mahamati levantou-se e ofereceu palavras de louvor: “O Buda em sua compaixão e sabedoria, completamente livre da discriminação de nascimento e morte, mostrou que este mundo é como uma flor flutuando no céu. Ele ensinou que, quer haja renúncia ou apego, tudo é irreal. O darmakaya é inconcebível, como as coisas em um sonho, e está além de nossas palavras ou louvor.” “Compreender que não há natureza definida em tudo o que existe é louvar a sabedoria do Buda. Não há formas para ver ou para serem vistas no Buda. Não ver é ver o verdadeiro Buda. Assim, nossas palavras de louvor ou difamação não fazem diferença para o Buda. “O Buda em sua compaixão e sabedoria libertou-se de todas as discriminações e entende que tudo que existe é como uma ilusão. Assim, ele olha tanto para o abandono quanto para a fixação como delusões. “Tendo abandonado as discriminações de conhecimento e conhecido, e de existência e inexistência, o Buda não repousa na iluminação, e a iluminação não é o Buda. Se alguém observa o Buda e desfruta serenidade CEBB

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mental, isto o levará a transcender nascimento e morte. Ele se livrará de todas as discriminações nesta vida e em todas as vidas futuras.”

3. As Oito Consciências (1) O Honrado pelo Mundo disse ao bodisatva Mahamati: “Ó Mahamati, o Buda com seus olhos de sabedoria olha os aspectos originais das coisas, ou os aspectos básicos comuns a tudo que existe. Essa visão não é como as visões errôneas dos mestres não-budistas. Eles não estão conscientes que o mundo é o resultado das discriminações de suas mentes, mas pensam que subjacentes a tudo que existe há duas naturezas básicas, existência e inexistência. Mahamati, se eles pudessem ver que o mundo é como um sonho e é resultado da própria mente, então o sofrimento e a cegueira do reino da delusão seriam erradicados, assim como a luxúria e suas forças cármicas.”

(2) Então, o bodisatva Mahamati perguntou ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, por favor, conceda-me os ensinamentos relativos a coração, mente, consciência e a natureza e aspectos das cinco categorias de nome, forma, delusão, sabedoria correta e realidade mais elevada. Ouvi dizer que através desse ensinamento todos os budas e bodisatvas são capazes de perceber o reino de suas mentes, são capazes de se liberar do apego aos aspectos do ambiente, e assim ficam em completa harmonia com a verdade do Darma.” O Buda disse: “Em relação à consciência do olho, os quatro agentes: órgão do olho, objeto, contato e consciência do olho, devem se apresentar. Entretanto, nesse exemplo ainda não se sabe que os objetos e o ambiente são

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resultado da própria mente. Isso não é sabido porque desde um passado sem princípio a delusão obscureceu a mente, levando as pessoas a se apegarem a objetos. Assim, na natureza da consciência há uma forte tendência a se apegar ao ambiente. O resultado final é o surgimento do desejo de encontrar prazer nas formas e aparências das coisas ao redor. “Mahamati, alaya-vijnana [consciência depósito ou semente] é a consciência básica dos seres, e também existe e trabalha através desses quatro agentes. É similar à água caindo de uma cascata, fazendo com que ondas sejam produzidas; pois, quando o ambiente ativa a mente humana, a consciência da visão, da audição, do olfato, do paladar, tátil, mental e a sétima consciência são ativadas. A sétima consciência age, às vezes, imediatamente, assim como um espelho reflete um objeto, e em outros momentos ela trabalha de forma gradual, assim como o vento assopra as águas do mar. É desta maneira que os ventos dos estímulos do ambiente sopram sobre o mar da mente, e causam ondas mentais, e essa sequência de atividades continua. Mahamati, note que a oitava consciência fundamental e as sete outras consciências não são, na verdade, uma só, mas ao mesmo tempo não são, de fato, diferentes. Todas as consciências se inter-relacionam e estão profundamente conectadas, mas elas não são capazes de perceber a natureza das coisas ao seu redor. A partir desse engano básico, as cinco consciências sensoriais da visão, da audição, do olfato, do paladar e do tato funcionam em relação ao mundo externo. “Mahamati, a função de alaya-vijnana é, indubitavelmente, muito sutil e sensível, e apenas aqueles que se devotarem sinceramente serão capazes de conhecer o reino da mente, através de seu conhecimento e sabedoria.”

(3) Naquele momento, o bodisatva Mahamati perguntou: “Se alayaCEBB

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vijnana é como as ondas se propagando sobre o mar, então por que as pessoas não estão conscientes disso?” O Honrado pelo Mundo, então, respondeu: “A metáfora que usei ao dizer que alaya-vijnana é como o mar e as outras consciências são como as ondas foi direcionada aos ignorantes.” Com isto, o bodisatva Mahamati perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, por que o Honrado pelo Mundo não revela a verdade a todos aqueles que são ignorantes, assim como o sol brilha para todos igualmente?” O Buda respondeu: “Assim como as ondas do mar, uma imagem refletida em um espelho ou um sonho são aparências temporárias, o reino da mente não é diferente. Isto não quer dizer que nas sete consciências estejam incluídos todos os fenômenos, mas através da oitava consciência todas elas funcionam de uma maneira ordenada. A sexta consciência nos permite discernir, a sétima consciência aceita a mente não-iluminada como centro do próprio ego, e as outras cinco consciências visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil simplesmente refletem o ambiente que está diante dos olhos. “Para traçar uma analogia, assim como um pintor habilidoso é capaz de representar todos os tipos de objetos, o que eu lhes ensinei fará o mesmo com vocês. Não há desenho algum na tinta, ou no pincel ou na tela. Entretanto, usando-os o pintor cria belas imagens, levando prazer às pessoas. Deve ser lembrado que palavras e expressões mudam e que, ai de nós!, a verdade não pode ser expressa em palavras. Eu dei essas instruções para o benefício dos bodisatvas e instruirei aqueles de menor compreensão em outra ocasião. Se as instruções oferecidas não estiverem de acordo com a habilidade do ouvinte seria melhor não as ter dado. Assim como um bom médico prescreve o remédio de acordo com a doença, o Buda ensina o Darma de acordo com a capacidade das pessoas.”

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(4) Então, o bodisatva Mahamati fez a seguinte pergunta ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, quando alguém deseja purificar sua mente superando os desejos, ela é purificada instantaneamente ou gradualmente?” O Honrado pelo Mundo respondeu à pergunta: “Mahamati, assim como a fruta verde amadurece, assim como um oleiro cria seus utensílios, assim como a terra permite que as plantas cresçam, assim como alguém aprende música, pintura e outras habilidades, o Buda purifica as impurezas dos seres gradualmente. Por outro lado, assim como um espelho reflete um objeto, e assim como o sol e a luz brilham sobre todos os objetos ao mesmo tempo, o Buda purifica as mentes dos seres instantaneamente. Desta forma, o Buda torna manifestos todos os darmas e brilha para o mundo, tornando possível, assim, a liberação das ideias de existência e inexistência.”

(5) O bodisatva Mahamati pediu instruções ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, seria esse reino da verdade mais elevada, que está além de toda compreensão humana e é eterno, a partir do qual o Buda agora nos fala, equivalente ao criador incompreensível e eterno de outros ensinamentos?” O Buda respondeu: “Mahamati, o eterno mencionado por outros ensinamentos é eterno no sentido de que ele é a causa primordial para tudo aquilo que é impermanente. Isto não significa que ele é eterno por si mesmo. Em outras palavras, é em contraste à impermanência que eles estabelecem um estado de existência eterna. O Buda ensina que tudo é impermanente. “Mahamati, é com base em tais visões que outros ensinamentos concluem sobre algo que é inconcebível e eterno. Entretanto, isto não possui existência real; isto pode ser comparado aos chifres de uma lebre, que na realidade não existem. Tais coisas são resultado de suposições, e nada mais são do que palavras. Por que eu comparo suas ideias aos chifres de uma CEBB

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lebre? Porque não há nada nisto que possa servir como causa para si mesmo. Mahamati, o inconcebível e eterno sobre o qual eu falo está relacionado à realização da própria iluminação como causa. A iluminação é atingida e, assim, o ser se torna eterno. Em contraste, outros ensinamentos são ignorantes daquilo que é verdadeiramente inconcebível, e se colocam fora do reino da sabedoria sagaz que alcança a iluminação por si mesma. Eles não estão de acordo com a verdade. “Mahamati, os budas do passado, do presente e do futuro ensinam que as coisas que existem não surgem de si mesmas. A razão para isto, de acordo com a visão dos budas, é que não há existência ou inexistência, e não há nascimento ou extinção. Por outro lado, os não-iluminados e os ignorantes tendem a distinguir entre existência e inexistência e acabam se apegando a elas. Mas a verdade é que todas as coisas que existem são caracterizadas, basicamente, nem pela existência nem pela inexistência, assim como a lebre não possui chifres. A visão do ponto de vista da sabedoria do Buda é completamente diferente da forma pela qual os ignorantes tendem a considerar existência ou inexistência. “Mahamati, o corpo humano, os meios para a existência humana e todas as coisas que existem são sombras de alaya-vijnana. Tanto aquele que reconhece quanto aquilo que é reconhecido surgem a partir de alaya-vijnana. Você deveria se dedicar a aprender o significado e o raciocínio referentes a esse assunto.

(6) “Em seguida, Mahamati, o bodisatva deve estar consciente dos três níveis da natureza das coisas. O primeiro é a natureza da pura imaginação. Essa é a visão não-iluminada baseada no apego às coisas, que apreende aquilo que surge a partir de causas e múltiplas condições como se fosse CEBB

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realmente existente. O segundo é a ideia de que a existência de uma coisa depende de outras coisas, que causas e condições ao serem reunidas trazem as coisas a uma existência temporária. O terceiro é a sabedoria perfeita livre de todas as suposições. Essa é a talidade. “Depois, Mahamati, o bodisatva deve estar consciente dos dois tipos de anatman [ausência de identidade]. Em primeiro lugar, o anatman pessoal. Isto significa que os agregados que constituem o corpo, a consciência e mesmo as condições circundantes são todos livres da consciência de um ‘eu’ e da ‘minha’ consciência. É a mente que não possui sabedoria que olha para as coisas como ‘mim’ ou ‘minhas’ e se fixa a elas. Este corpo e o ambiente ao seu redor surgiram de alaya-vijnana, que segue em transformação, nunca estática, nem mesmo por um momento; é como um rio ou uma chama mudando constantemente e, às vezes, tremulando violentamente; é como um macaco inquieto. Todas as ações do corpo são similares às de um boneco que só pode se mover devido ao seu mecanismo. Aqueles que são capazes de ver sua situação de tal forma conhecem completamente a natureza do anatman pessoal. “Em segundo lugar, há o anatman dos darmas. Com base nesta compreensão não deve haver apego ao corpo ou ao ambiente como sendo ‘mim’ ou ‘meu’. De fato, é através das fortes paixões que todas as coisas são mantidas atadas, umas às outras. Não há causa primordial, criador, nem há qualquer natureza inerente como uma alma nas coisas. Vê-las com a mente subjetiva e então imaginar várias formas e modelos na própria mente é a ação de uma pessoa ignorante. Ser capaz de ver o mundo de acordo com a visão correta baseada na sabedoria, e saber que não há nada exceto aquilo que é criado na própria mente, é conhecer o anatman dos darmas.”

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4. Duas Visões Deturpadas (1) Em certo momento, o bodisatva Mahamati perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, como podem ser dissipadas as duas visões da existência duradoura e da completa extinção?” O Buda respondeu: “Um ser humano, suas posses materiais e o ambiente ao seu redor são apenas sombras de sua mente. Entretanto, esta verdade não pode ser compreendida por uma pessoa ignorante que mantém o pensamento de que as coisas existem de forma duradoura ou de que as coisas se extinguem completamente. Essas duas visões se originam na mente e nada existe fora da mente. Mahamati, para o seu benefício irei expor sunyata, ou vacuidade, nãonascimento, e a ausência de natureza própria. “As formas e aspectos de tudo que existe, os aspectos individuais e únicos de cada existência, e os aspectos comuns de tudo que existe são caracterizados pela vacuidade. Esses aspectos são resultado do surgimento de cada existência através de causas e condições. Assim, mesmo que essa relação seja analisada, não será encontrada uma essência única e independente em todo o processo. O verdadeiro aspecto de tudo que existe é a vacuidade. Além disso, em relação a tudo que existe, não há nascimento ou extinção do ponto de vista das próprias coisas, nem se pode dizer que esse é o aspecto do nascimento ou que aquele é o aspecto da extinção. Os ignorantes tentam compreender aquilo que é incompreensível, e tentam demonstrar aquilo que não pode ser demonstrado. A partir de seu limitado entendimento eles até mesmo dizem que todas as coisas possuem uma natureza intrínseca. Mas a verdade é que suas naturezas são vazias.

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“Mahamati, como você agora já sabe, em relação à natureza básica das coisas não há nem surgimento nem extinção. É devido a essa natureza comum de vacuidade que eu chamo isto de não-nascimento. Tudo que existe só pode existir em íntima inter-relação com todas as outras coisas e não pode existir de forma separada. Isto é similar à relação entre luz e sombra, longo e curto, e preto e branco. “Da mesma maneira, nirvana não existe separado de samsara [nascimento e morte], e samsara não existe separado de nirvana. Os dois não estão em oposição um ao outro. Em outras palavras, as coisas não possuem duas naturezas diferentes, e portanto, eu ensino que elas são destituídas das duas naturezas. “Mahamati, todos os budas expõem as verdades da vacuidade, nãonascimento, ausência de natureza própria e a vacuidade das duas naturezas. Entretanto, suas verdades não podem ser expressas em palavras. Por exemplo, uma miragem delude os animais e os faz pensar que a miragem é verdadeiramente água. O Buda cria aparições que trazem alegria ao expor os diversos ensinamentos de acordo com a capacidade mental das pessoas. Entretanto, o Darma que é realizado pelos sábios não pode ser manifestado de uma forma direta. Portanto, não se deve apegar às palavras, mas sim experimentar as palavras de acordo com seu significado.”

(2) O bodisatva Mahamati perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, em relação a Tathagata-garbha, você nos ensinou que sua natureza é a própria pureza, que ela nunca se extingue ou passa por mudanças, que ela corporifica todos os aspectos do Buda e é inerente a todos os seres humanos, mesmo nos corpos impuros e em todos os aspectos da negatividade humana. Você nos ensinou que ela é como uma joia CEBB

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embrulhada em panos sujos. Se é assim, Tathagata-garbha parece ser similar àquilo que os seguidores de outros ensinamentos chamam de atman, que eles descrevem como o criador, livre para fazer o que deseja, que nunca se extinguirá. Isto não está em conflito com o ensinamento de anatman que você nos deu?” O Buda respondeu: “Mahamati, a Tatagatha-garbha que eu explico não é o mesmo atman do qual falam os outros mestres. O Buda explica que Tathagata-garbha equivale a vacuidade, existência real, nirvana, nãonascimento, não-forma, ou ausência de desejos para que os ignorantes não fiquem perturbados ou temerosos ao ouvirem os ensinamentos sobre anatman, e para que eles possam se libertar das delusões da discriminação e não se apeguem ao atman. Mahamati, assim como um ceramista cria utensílios a partir da argila usando água, bastão, anel e corda, o Buda, usando os meios hábeis da sabedoria e outros métodos, fala sobre Tathagata-garbha e outras vezes sobre anatman. Os nomes são diferentes, mas eles são a mesma coisa. Mahamati, a razão pela qual eu expus sobre Tathagata-garbha foi atrair os mestres de outros ensinamentos, que propõem e estão fixados ao atman; ao libertá-los de suas visões distorcidas eu espero guiá-los à iluminação.”

(3) Então, o bodisatva Mahamati solicitou ao Buda instruções sobre a forma de cultivo do caminho do bodisatva. O Buda respondeu: “Mahamati, o bodisatva cultiva o caminho ao praticar de quatro formas. A primeira é enxergar que tudo que existe surge da mente. Os três reinos da existência não podem existir independentes da mente. Os reinos se originam das ideias de ‘eu’ e ‘meu’. Eles nunca vêm ou vão, mas devido aos hábitos arraigados, desenvolvidos há muito tempo atrás, eles aparecem como os três reinos. Assim, devemos entender que todas as coisas existentes, ações, palavras, CEBB

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prisões, o corpo humano, tesouros ou lugares de moradia são todos resultantes da discriminação humana. “A segunda forma é abandonar os pensamentos de nascimento, permanência e extinção, e ver que tudo é como um sonho. Isto é assim porque não há nada que tenha surgido por si mesmo, nem há nada criado por outros fatores. Além do mais, nada surge a partir de si mesmo e dos outros. As coisas são criações da própria mente e não possuem substancialidade. Então, se não há substancialidade nas coisas externas, a mente discriminativa também não pode surgir. Sabendo que é apenas devido à discriminação que os três reinos existem, não há nada, interno ou externo, a que se fixar. Tudo é como um sonho, livre de surgimento, permanência e extinção. O bodisatva, ao ver isto, liberta-se das ideias de surgimento e extinção. “A terceira é a contemplação da ausência de natureza própria nos objetos externos. As coisas são percebidas como miragens ou sonhos. Ele percebe que todas as coisas devem sua existência a argumentos inúteis, a uma variedade de apegos e hábitos deludidos, e que, originalmente e na realidade, todas as coisas não possuem uma natureza substancial. “A quarta é enxergar todas as coisas existentes desta maneira e buscar a sabedoria mais elevada.”

(4) O bodisatva Mahamati perguntou, então, ao Honrado pelo Mundo sobre a natureza do nirvana. O Buda respondeu: “O estado do nirvana é atingido ao reverter o sentimento delusório que preenche a natureza individual da mente não-iluminada, as forças habituais de alaya-vijnana, manas-vijnana (a sétima consciência do apego à individualidade), e a própria mente. Esse reino é idêntico ao estado em que alguém compreende que a própria natureza de tudo que existe é caracterizada pela vacuidade, e CEBB

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também é idêntico à sabedoria sagrada livre das categorias de cessação da existência, existência permanente, existência e inexistência. Além disso, não há desintegração no nirvana, nem há morte. Suponha que houvesse tal coisa como a morte; então teríamos que supor também que há o nascimento. Se houvesse tal coisa como a desintegração, isto significaria que as coisas mudam. No nirvana não há desintegração ou morte; é o reino ao qual todos que cultivam o caminho chegarão. O nirvana não abandona os darmas do mundo, ele não é nem idêntico aos darmas mundanos nem diferente deles.”

(5) O bodisatva Mahamati perguntou ao Buda se poderia haver nomes de coisas que não existem. O Buda respondeu: “Mahamati, mesmo as coisas não existindo, há palavras para descrevê-las. Na verdade, ninguém nunca viu os cabelos de uma tartaruga, ou os chifres de uma lebre ou o filho de uma mulher estéril, e ainda assim as pessoas usam essas expressões. Mahamati, isto não significa que elas existem, e não se pode dizer que elas não existem. São apenas nomes e expressões. Mahamati, a fixação à tese de que se houver palavras haverá coisas representadas pelas palavras é errônea. Você deveria saber que as terras búdicas não necessariamente possuem nomes ou expressões. Por exemplo, em uma certa terra búdica o Darma é revelado simplesmente fixando os olhos em um determinado ponto, movendo as sobrancelhas ou os olhos, ou sorrindo ou suspirando, ou tossindo; enquanto que em lugares como a terra do não-piscar, ou no mundo do incenso maravilhoso, ou na terra do Buda Samantabhadra a iluminação do bodisatva é alcançada fixando os olhos sem piscar. Assim, a existência das coisas não é dependente da existência de palavras. Neste mundo, não é verdade que apesar de as moscas e formigas não possuírem palavras elas são capazes de fazer o que é necessário para elas?” CEBB

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(6) O bodisatva então perguntou ao Buda qual era a base do argumento do Honrado pelo Mundo em relação à verdade da permanência. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mahamati, o reino do Darma permanente pode ser explicado pelas coisas do reino não-iluminado, que é regido pela lei da impermanência. “Os darmas ilusórios também aparecem da mesma forma aos olhos dos sábios, mas os sábios os observam sob sua verdadeira luz. Os não-iluminados tendem a ver coisas como ondas de calor tremulantes, anéis de fogo, miragens, sonhos, ilusões ou reflexos em um espelho de uma forma invertida; mas os sábios os enxergam corretamente. Essas delusões estão, em sua base, separadas de existência e inexistência e, assim, não são impermanentes. Por exemplo, para um demônio faminto, seria impossível dizer que há água aqui, pois ele não vê o rio Ganges. Por outro lado, como outros podem ver o rio eles não têm como dizer que não há água aqui. Em relação a todas as coisas que existem no reino da delusão, originalmente não há nem existência nem inexistência e, portanto, diz-se que elas existem eternamente. Apesar de que não deveriam existir diferenciações entre as coisas, devido à percepção de cada um as distinções são reconhecidas; na verdade, entretanto, sua natureza essencial é a existência eterna. Mahamati, tudo que existe, apesar de ser em um estado de delusão, é verdadeiro como é. O sábio não considera as coisas pervertidas, mesmo que ele resida em um reino caracterizado pela existência ilusória. Os darmas ilusórios são, ao mesmo tempo, darmas reais. Se e quando sua mente subjetiva de ego-consciência estiver ativada em suas observações, então ele não será mais um sábio.”

(7) Então, o bodisatva Mahamati perguntou ao Buda se todas as CEBB

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existências ilusórias são existentes ou inexistentes. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Fixar-se a existência ou inexistência é um indicador de apego. Na verdade, todas as coisas existentes estão, em sua origem, separadas de tais apegos, e diz-se, portanto, que elas existem em um sonho. Se, entretanto, todas as existências possuem substância própria e não passam por mudanças, então elas seriam o que os seguidores de outros ensinamentos chamam de atman. Entretanto, todas as coisas que existem surgem devido a incontáveis condições e, portanto, passam por mudanças; por esta razão eu digo que as existências no mundo das delusões são existências passando por processos de mudanças.”

(8) O bodisatva Mahamati fez a seguinte pergunta ao Buda: “Você diz que as existências no mundo da delusão são idênticas a ilusões. Se é assim, elas podem se tornar causas de outras existências no mundo da delusão?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mahamati, existências ilusórias não podem se tornar causas de outras existências no mundo da delusão. Isto porque as existências ilusórias não podem se tornar causas de erros. Em outras palavras, existências ilusórias não podem realizar suposições, e por esta razão elas não podem criar suposições errôneas. Através do apego às coisas os ignorantes criam a ilusão, mas os sábios se libertam do apego e veem a verdade nas existências temporárias. Se houvesse uma verdade além da existência transitória, então tal verdade se tornaria também parte da existência temporária. Mahamati, quando me refiro ao nirvana, eu quero dizer a aniquilação da sexta consciência, que é a mente que enganosamente discrimina os fenômenos no plano da existência temporária.”

(9) O bodisatva Mahamati perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Ó CEBB

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Honrado pelo Mundo, por que você fala sobre oito tipos de consciência, e por que apenas a sexta consciência deve ser superada e as outras não são consideradas?” O Buda respondeu: “Mahamati, é pelo fato de a sexta consciência se tornar a causa básica ou a condição que sustenta as outras sete. Sempre que a sexta consciência é ativada pelo ambiente, isto causa um padrão de desenvolvimento que, por sua vez, alimenta alaya-vijnana. A sétima consciência, devido ao seu apego aos pensamentos de ‘eu’ e ‘meu’, segue direcionando seus pensamentos para a oitava. Desta forma, a partir do apego ao ambiente, que originalmente se manifestou na própria mente, todas as outras consciências surgem, e cada uma, por sua vez, age como causa para as outras. Mahamati, se eu comparar esse processo às ondas do oceano, podese dizer que o vento sopra no ambiente ao redor e causa o surgimento e desaparecimento de ondas. De acordo com isto, quando cessa a operação da sexta consciência, as outras também cessam.”

5. Nenhuma Palavra Pronunciada (1) O bodisatva Mahamati pediu para que o Buda lhe ensinasse o modo de prática dos sábios e daqueles que seguem o caminho do Veículo Único. Então, o Buda respondeu: “Mahamati, o bodisatva não gera discriminações de acordo com os diversos ensinamentos. O bodisatva medita no Darma permanecendo isolado em ambientes silenciosos. Ele alcança a iluminação por si mesmo, sem o apoio de ninguém. Ele se liberta de todas as discriminações, avança para planos espirituais mais elevados e entra no reino da iluminação. Esse modo de prática é chamado de o modo de prática dos

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sábios. “Em seguida, o caminho do Veículo Único leva o praticante a realizar completamente a verdade. Significa repousar em completa liberdade no Darma, distante da dualidade sujeito-objeto. “Quando alguém se torna consciente do veículo, não há mais veículo. Uma vez que tal consciência ceda, a separação entre o veículo e aquele que segue o veículo desaparece; esse estado é o verdadeiro Veículo Único. Outros veículos são meios para guiar aqueles de capacidade inferior. Cobiça e paixão são a mãe, a ignorância humana básica é o pai, e é por intermédio desses dois que surge o mundo. Aqueles que realizam essa visão são chamados de budas.”

(2) O bodisatva Mahamati perguntou ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, certa vez você ensinou que desde o momento da iluminação do Buda até o nirvana final nenhuma palavra será pronunciada. Por favor, iluminenos sobre o significado pretendido por tais palavras.” O Buda assim respondeu: “Eu os ensinei assim com dois pensamentos em mente. Primeiro, em relação ao Darma que eu realizei, é o mesmo objetivo da iluminação que todos os budas do universo realizaram. Essa iluminação nem cresce nem decresce. Essa sabedoria transcende palavras, discriminações e nomes. “Segundo, em relação ao Darma que fundamenta todas as coisas, assim como o ouro puro é encontrado em uma pepita, quer um buda apareça neste mundo ou não, tudo que existe tem como natureza básica a verdade perene. Quando alguém segue seu caminho em uma região desértica através de um antigo caminho, ele poderá redescobrir um velho castelo. Igualmente, eu redescobri a verdade perene que todos os budas do passado realizaram, e digo a vocês que a natureza do Darma é duradoura e imutável. Foi por esta CEBB

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razão que eu ensinei a vocês que um buda, desde o momento da realização da iluminação até o momento do nirvana final não pronunciará uma única palavra.”

(3) O bodisatva Mahamati pediu, então, ao Buda para ensiná-lo como não se preocupar apenas com as palavras, mas focar o significado com seriedade. O Buda assim respondeu: “Mahamati, a discriminação e a prática da discriminação são as causas das palavras. Uma grande variedade de sons são produzidos pela garganta, língua, dentes e lábios, e esses sons são usados para conversar com outras pessoas. Em contraste há alguém que busca o caminho, e que sozinho em um local isolado direciona-se para a iluminação. Ao fazer isto ele emprega três tipos de sabedoria, ou seja, as sabedorias de ouvir, pensar e praticar. Ele está completamente consciente do mundo que habita; ele extingue os obscurecimentos internos; e ele pratica as várias práticas do caminho do treinamento espiritual. Mahamati, aqueles que praticam o caminho da purificação devem ver que as palavras e seus significados não são a mesma coisa, nem são totalmente diferentes. Se os significados e as palavras fossem completamente diferentes, então os significados não poderiam ser expressos pelas palavras. Perceber o significado através de palavras é como revelar a existência de um objeto lançando luz sobre ele, e é através da luz das palavras que o reino da iluminação pode ser alcançado. Esse reino está além das palavras. “Mahamati, em relação a expressões como não-nascimento, nãoextinção, natureza básica como vacuidade e nirvana, quando tentamos entender seus significados de acordo com as próprias palavras caímos no problema da existência ou extinção permanentes. É similar à situação na qual uma ilusão é encarada como uma coisa real, que é o pensamento dos CEBB

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ignorantes. Uma pessoa ignorante pode dizer: ‘O significado e as palavras não são diferentes. Isto é assim porque o significado não possui substancialidade permanente.’ Entretanto, tal pessoa não está consciente da natureza básica das palavras e não sabe que apesar de as palavras se dissiparem e se extinguirem, com o significado das palavras isto não ocorre. Mahamati, todas as palavras e expressões estão limitadas a letras, mas não é assim com o significado. O significado está livre de existência e inexistência. Visto que ele não possui nascimento, também não possui substancialidade. O Buda não ensina um Darma limitado por palavras. Quando há alguém ensinando um Darma limitado por palavras, então essa pessoa não estará expondo a verdade. Isto porque a natureza própria de tudo que existe está separada das palavras. É por estas razões que eu, assim como todos os budas, não pronunciamos nenhuma palavra. Como eu expliquei a você, tudo que existe está separado das palavras e só pode ser abordado com base em seu significado. “Por outro lado, Mahamati, se não houvesse esforço para ensinar o Darma, os ensinamentos, eles cessariam de existir. Se a doutrina do Buda cessasse de existir, então as pessoas que a seguem e todos os budas cessariam de existir. Se o Darma e os budas, assim como as pessoas, cessassem de existir, quem continuaria ensinando e para quem? Assim, o Darma deveria ser ensinado por aqueles que seguem o caminho, que não estão apegados às palavras, e que empregam meios efetivos. Eu ensinarei tudo de acordo com os obscurecimentos, compreensões e aspirações de cada pessoa; farei cada uma compreender que tudo o que existe é criação da própria mente, e que não há um ambiente externo real com uma existência verdadeira. Ao ajudálos a se libertarem das discriminações em relação a existência e inexistência, eu espero transformar suas mentes obscurecidas em mentes serenas e claras. CEBB

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Isto não é feito com o propósito de revelar a iluminação diretamente. Portanto, o bodisatva deveria se relacionar com o significado e não se apegar às palavras e expressões. Uma forte confiança nas palavras tende a levar as pessoas a visões errôneas, tornando-as indevidamente apegadas àquilo que prezam, o que por sua vez as fará incapazes de realizar o verdadeiro aspecto do Darma e os significados das palavras e frases dos ensinamentos; esse movimento então acarreta infortúnios para elas mesmas e para os outros. “Mahamati, o verdadeiro Darma não vem nem vai e não passa por mudanças. Todos os argumentos sem sentido cessam em sua presença. Assim, aqueles que buscam o caminho da pureza, assim como foi apontado em relação às palavras e expressões, não deve se apegar nem mesmo ao significado. Isto é assim porque o Darma está separado de todas as palavras. Se alguém apontasse para um objeto com seu dedo, uma criança olharia para o dedo e falharia em ver o objeto. Da mesma forma, uma pessoa ignorante se torna indevidamente apegada ao dedo das palavras e se agarra ao dedo até o fim da vida, e nunca se conscientiza da verdade mais elevada. “Mahamati, o significado verdadeiro é sempre sutil; além do mais, ele é equilibrado e é a causa do nirvana. Palavras e delusão estão conectadas, e elas vagueiam juntas na arena do nascimento e da morte. O significado verdadeiro é apreendido ouvindo infinitamente. Ouvir infinitamente leva ao aprofundamento do significado e não das palavras. O aprofundamento do significado leva não somente à rejeição dos pensamentos negativos dos ensinamentos falsos, mas também a esforçar-se para que os outros façam o mesmo. Isto é descrito como ‘ouvir infinitamente com base no significado.’ Deve-se procurar ficar próximo àqueles que buscam o significado, mantendo uma grande distância daqueles que estão presos às palavras.”

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(4) O bodisatva Mahamati perguntou ao Honrado pelo Mundo sobre a natureza básica do Iluminado. O Buda respondeu com os seguintes versos:

O Buda transcende as limitações dos cinco sentidos e não é resultado nem causa. O Buda está além das formas de tudo o que existe.

As formas e modelos de tudo o que existe foram transcendidas completamente pelo Buda; não havendo nada a ser visto não pode haver discriminação.

As coisas são separadas da própria percepção; porém, isto não significa que as coisas não possuem existência. Por si mesmas, as coisas existem como coisas.

Aquele que não desperta para a verdade do ‘eu’ e do ‘meu’ e é apanhado pelas palavras se afoga nos extremos da existência e da inexistência. Desta forma ele se prejudica e destrói o mundo.

Ao enxergar esse Darma, ele se libera das visões falsas.

(5) Mahamati, agora inspirado pelo poder do Honrado pelo Mundo, pediu ao Buda por orientação. “Ó Honrado pelo Mundo, as ideias referentes a não-nascimento e não-extinção das coisas propostas pelos mestres de outros ensinamentos e o seu ensinamento sobre este assunto são a mesma coisa?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mahamati, o não-nascimento e nãoextinção de todas as coisas de que eu falo e que é professada por outros

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ensinamentos não são iguais. A razão para isto é que aqueles que defendem os outros ensinamentos afirmam que em todas as coisas que existem há uma natureza intrínseca e forma, e que elas não nascem e não passam por mudanças. Eu não ensino nada que leve as coisas a caírem nas categorias de existência e inexistência. O que eu ensino é que a natureza das coisas não é nem existente nem inexistente, e está além de nascimento e decadência. Essa natureza não é inexistente, porque tudo que existe é como um sonho ou fantasia. Além disso, ela também não é existente, porque tudo que existe não possui uma natureza própria. Eu ensino que tudo que existe não possui uma natureza existente ou inexistente. “Se alguém compreende que tudo que existe é criação de sua própria mente e liberta-se de tais delusões, então os problemas de sua vida se vão para sempre. Esforçar-se sob as delusões é o que os não-iluminados fazem, e não os iluminados. “Mahamati, a mente sob efeito das delusões tende a criar coisas que não são reais. É como uma criança que, ao olhar para um espelho ou para uma boneca manipulada por um mágico, pensa que eles são reais. Considerar que esta vida tem nascimento e morte, ou delusão e iluminação, é similar à delusão. É como dizer ‘isto é nascimento e morte’ ao observar bonecos aparecendo no palco e depois partindo. Mahamati, de uma forma parecida, ao contrário dos sábios, as pessoas produzem visões falsas em relação a nascimento e morte. ‘Falsas’ significa que as pessoas não enxergam a natureza das coisas como elas são, mas sim produzem visões invertidas. Elas encaram a natureza básica das coisas como verdadeiramente existente; elas se apegam às coisas e falham em perceber a natureza essencialmente inexistente das coisas. Portanto, elas não são capazes de se separar das percepções falsas. “Por esta razão, Mahamati, enxergar que não existe forma ou modelo CEBB

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nas coisas é excelente. Ver que há formas e modelos duradouros para as coisas e apegar-se a eles é a causa para renascimento no reino da delusão. Quando alguém é capaz de libertar-se da visão de tais formas ou modelos, então não haverá discriminações. Mahamati, nirvana significa um estado no qual a verdade é concebida, a mente discriminativa é abandonada e a sabedoria mais elevada do Buda é alcançada. Isto é o nirvana.”

(6) O bodisatva Mahamati perguntou, então, ao Buda o que o Honrado pelo Mundo queria dizer ao afirmar que os budas de todos os universos são tão numerosos quanto os grãos de areia do rio Ganges. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mahamati, você não deve interpretar tal afirmação pelas letras das palavras. Isto é assim porque um buda é a própria perfeição, transcendendo todos os mundos e reinos, e não pode ser explicado através de analogias. De fato, as analogias apresentam apenas uma face de um buda. É verdade que as pessoas têm a tendência de se apegarem ao mundo, o que, por sua vez, fortalece as suas visões errôneas, fazendo-as repetirem o ciclo de nascimento e morte. O Buda, para fazer com que as pessoas gerem aversão a tal estado e aspirem por objetivos mais elevados, afirmou que o estado búdico pode ser facilmente alcançado e que é fácil encontrar um buda, e que há tantos budas quanto os grãos de areia ao longo do rio Ganges. Entretanto, se eu encontrasse alguém que busca a orientação de um buda, então eu diria que é verdadeiramente difícil encontrar-se com um buda, tão difícil quanto encontrar uma flor udumbara aberta. “Mahamati, o verdadeiro buda não pode ser descrito através do uso de analogias, porque ele está além do coração, da mente e da consciência dos não-iluminados. Entretanto, há momentos em que metáforas são oferecidas, e há razões para isto. Veja o rio Ganges, por exemplo. Tartarugas, elefantes e CEBB

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cavalos entram nele; ele serve de habitat para os peixes; apesar disto, ele mantém sua pureza. A sabedoria mais elevada de um buda é como o grande rio; sua habilidade para retornar à pureza é como os incontáveis grãos de areia. Apesar de os seguidores de outros ensinamentos tentarem causar perturbações, o buda não produz nem mesmo uma percepção falsa, mas permanece puro e claro. O buda, motivado por seu voto primordial e o êxtase de sua meditação, pacifica os seres. Ele pode ser comparado às areias do rio Ganges, que também estão livres de amor e ódio. “Mahamati, assim como os grãos de areia ao longo do Ganges são ilimitados em número, a luz do buda é ilimitada. Como a luz de um buda leva paz à mente de todos os seres, ela também brilha sobre todas as reuniões de budas. Além disso, assim como as areias do Ganges não diminuem mesmo quando retiradas e não se multiplicam quando mais areia é distribuída nas margens, quando um buda, empregando a sabedoria dos meios hábeis, leva paz à mente das pessoas, não há aumento ou diminuição nas virtudes do buda. Isto porque o darmakaya de um buda não é o corpo mundano. Além do mais, mesmo que as areias do rio Ganges fossem espremidas para produzir óleo, não seria possível obtê-lo. Da mesma forma, mesmo que um buda sinta-se incomodado pelo sofrimento das pessoas, até que todas elas atinjam o nirvana ele não terá pensamentos sobre cansaço ou esgotamento. A razão para isto é que ele cultiva uma mente de Grande Compaixão que não exclui ninguém. “Além do mais, Mahamati, assim como as areias do rio Ganges são carregadas pelo fluxo, os diversos ensinamentos do Buda devem estar de acordo com o fluxo do nirvana. Foi por estas razões que o Buda afirmou que os budas são como os grãos de areia do rio Ganges.” O Buda continuou com os seguintes versos: CEBB

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(i) Aquele que espera enxergar a verdade deve libertar-se das expectativas falsas e cultivar a visão correta; então ele certamente verá o Buda.

O mundo é como um sonho, os tesouros também são fantasias. Quando alguém enxergar isto, será respeitado entre os homens. Os reinos da delusão surgem da mente. Com a realização de que nada existe separado da delusão, o caminho para a pureza está aberto.

(ii) O alto e o baixo que são pintados em uma tela podem ser vistos, mas nunca alcançados. Todas as coisas são assim; elas são como ondas de calor tremulantes ou sonhos. Todas as nossas discriminações são irreais. As delusões são sonhos ou fantasias. Apenas libertando-se dos apegos será possível alcançar, verdadeiramente, este conhecimento.

(iii) Não há nascimento como se acredita. Tudo é vazio, destituído de natureza própria. Tudo existe a partir de causas e condições. Os ignorantes dizem que há nascimento e morte. Através das palavras as coisas se manifestam, apesar de não possuírem natureza própria. Sem palavras nada surgirá.

Com a mente distorcida pelos obscurecimentos habituais, os nãoiluminados estão deludidos pelas aparências, percebendo várias formas e fazendo discriminações onde não há distinções.

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Quando alguém se liberta da discriminação, a natureza verdadeira das coisas se manifesta. Assim, a vacuidade é finalmente realizada.

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LIVRO II Capítulo IV - O CRESCIMENTO DA SANGA

1. A Relação entre o Professor e os Discípulos

(1) Com a expansão do número de discípulos o cotidiano da Sanga se tornou mais agitado. Os discípulos novos que não tinham um professor para guiá-los se tornaram bastante turbulentos. O Honrado pelo Mundo, ao perceber que esta situação não os conduziria à fé e à confiança na Sanga, deu as seguintes instruções: “Meus discípulos, deste momento em diante eu permito que cada um de vocês tenha seu próprio professor. O professor deve olhar para seu discípulo como se fosse um filho; o discípulo deve olhar para seu professor como um pai. Eles devem se respeitar, e se viverem juntos nas alegrias e tristezas avançarão nos ensinamentos. “Meus discípulos, o discípulo deve servir seu professor de maneira adequada. Ele deve se levantar no momento adequado, vestir-se e colocar uma ponta de seu manto sobre o ombro, oferecer ao professor um limpador de dentes e uma bacia de água, e arrumar um lugar para o professor sentar. Se houver mingau de arroz pela manhã, o discípulo deve lavar a tigela e enchê-la com o mingau. Depois que o professor tiver comido seu mingau, o discípulo deve oferecer-lhe água, receber sua tigela, e cuidadosamente lavá-la e colocá-la em seu devido lugar. Depois que o professor tiver levantado de

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seu assento, o discípulo deve cuidadosamente dobrar o tapete; se o lugar estiver sujo, ele deve limpá-lo. Quando o professor estiver se preparando para sair mendigar, o discípulo deve ajudá-lo a vestir os mantos e deve apresentar sua tigela para ele. Se o professor precisar de um auxiliar, o discípulo deve acompanhá-lo. O discípulo não deveria caminhar muito distante do professor, nem muito próximo. “Quando a comida oferecida ao professor estiver quente demais ou pesada demais, o discípulo deve segurar a tigela para ele; enquanto o professor estiver falando o discípulo não deve interromper com suas próprias palavras. Quando o professor estiver pronunciando palavras incorretas, o discípulo deve, polidamente e respeitosamente, colocar um fim a estas palavras. Ao retornar para casa, o discípulo deve voltar antes do professor e esperar por ele, deixar o seu tapete pronto, buscar água para lavar seus pés, e preparar o fogo para aquecer a água. Quando o professor chegar, ele deve receber a tigela de mendicância e os mantos. Se os mantos estiverem úmidos pela transpiração ele deveria secá-los e dobrá-los. Ao dobrá-los ele deveria tomar cuidado para não criar rugas, dobrando os mantos cuidadosamente sobre os quatro dedos; e deve colocar o cinto com cuidado dentro dos mantos dobrados. Depois de lavar, secar e guardar a tigela de mendicância, o discípulo deve entoar os sutras de acordo com as ordens do professor e deve fazer perguntas. Quando o professor se sentir triste, o discípulo deve consolálo. Quando o professor sentir arrependimento, o discípulo deveria encorajálo; quando o professor mantiver visões negativas, o discípulo deve fazê-lo retornar à visão correta. O discípulo deveria fazer tudo o que for possível para o benefício do professor em todos os momentos. O discípulo não deveria sair sem a permissão do professor. Quando o professor ficar doente, o discípulo deve desejar sua recuperação e ministrar remédios a ele. CEBB

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“Além disso, o professor deve fazer seu discípulo ler os sutras, permitir-lhe fazer perguntas, venerar os ensinamentos e ajudá-lo. Se ele possuir uma tigela de mendicância ou manto ou outro artigo de que não precise e que seu discípulo não possua, então ele deveria dá-lo ao discípulo. Quando o discípulo adoecer, o professor deveria cuidar dele com sinceridade; quando o discípulo estiver triste, o professor deveria consolá-lo; quando o discípulo sentir arrependimento, o professor deveria encorajá-lo; quando o discípulo mantiver visões errôneas, o professor deveria fazê-lo retornar à visão correta. O professor deveria fazer tudo o que for possível para o benefício do discípulo em todos os momentos. Meus discípulos, esses são os deveres de um professor para com seu discípulo e os deveres de um discípulo para com seu professor. “Meus discípulos, se um discípulo não tiver amor, fé, vergonha, respeito e compaixão pelo seu professor, é permitido ao professor dispensar tal discípulo.”

(2) Com o aumento do número de discípulos, tornou-se impossível para o Buda conduzir os ritos para os novos convertidos que desejavam entrar na Sanga para receber os ensinamentos. Foi então que ele permitiu que seus discípulos realizassem os ritos de ordenação de acordo com a fórmula dos Três Refúgios. Mais adiante surgiu uma situação em que um brâmane de nome Radha não pôde entrar na Sanga, recusado por um discípulo, gerando-lhe tamanha angústia que ele ficou macilento e fraco. O Honrado pelo Mundo perguntou ao discípulo qual era a razão para isso, e então disse aos discípulos: “Há alguém entre vocês que se lembre de ter recebido ajuda deste brâmane?” Sariputta respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu me lembro de ter CEBB

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recebido ajuda deste brâmane. Certa vez, quando eu estava caminhando perto do palácio de Rajagaha, eu recebi uma colher cheia de alimento dele.” “Muito bom, muito bom, Sariputta. Você se lembrou bem do débito de gratidão que tem com ele. Você fará com que este brâmane passe pelos ritos de ordenação?” Sariputta perguntou: “Honrado pelo Mundo, como devem ser conduzidos os ritos de ordenação?” O Honrado pelo Mundo pronunciou, então, estas palavras aos seus discípulos: “No passado eu concedi permissão para que todos se tornassem discípulos fazendo-os tomar refúgio nos Três Tesouros; mas, de agora em diante, façam com que se tornem meus discípulos seguindo a fórmula da Afirmação Única e dos Três Carmas. Primeiro, os discípulos deveriam se reunir todos no mesmo lugar. Aqueles que desejam se tornar discípulos deveriam vir à frente da assembleia com suas vestimentas externas apoiadas sobre o ombro; então, eles deveriam se apoiar sobre um joelho e juntar as palmas das mãos, fazendo o seguinte pedido: ‘Ó virtuosos, por favor, permitam que eu me torne um discípulo do Buda. Por favor, ajudem-me e me orientem com compaixão em seus corações.’ Isto deve ser dito três vezes. Neste momento, alguém que possui sabedoria e virtude elevada deverá conduzir os ritos, e certificando-se de que o aspirante não tenha obstáculos para se tornar um discípulo, deverá dirigirse aos discípulos reunidos assim: ‘Ó virtuosos, por favor, ouçam o que tenho a dizer. Esta pessoa expressou seu desejo de se tornar um discípulo do Buda seguindo alguém mais experiente como seu mestre. Esta pessoa não tem obstáculos, está preparada com sua tigela e mantos. Se receber a sua aprovação, poderá tornar-se um discípulo do Buda tendo esse discípulo mais experiente como seu mestre. Esta é a minha proposta.’ Esta proposta é chamado de rito da Afirmação Única. CEBB

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“Então, após fazer tal proposta, ele continuará, dizendo: ‘Ó virtuosos, rogo que me ouçam. Esta pessoa pede a permissão para se tornar um discípulo do Buda sob a tutoria de alguém mais experiente. Ela não tem obstáculos e está preparada com seu manto e tigela. Possa a assembleia de discípulos permitir que esta pessoa se torne um discípulo do Buda com o acompanhamento de alguém experiente. Se não houver objeções entre os virtuosos, por favor, permaneçam em silêncio. Se houver qualquer objeção, por favor falem.’ Ele repetirá isto três vezes. Este é chamado de rito dos Três Carmas. “Se não houver comentários, o condutor deve continuar com as seguintes palavras: ‘Os membros da Sanga aprovaram o ingresso deste discípulo do Buda, que servirá acompanhado por alguém experiente. Não houve palavras de oposição por parte da Sanga, e eu considero o silêncio um sinal de confirmação.’ Meus discípulos, isto conclui a cerimônia de iniciação. “O discípulo do Buda, como parte das regras e regulamentos de um discípulo, deve aprender as quatro ações básicas e as quatro proibições graves. As quatro ações básicas são: (1) o discípulo do Buda deve viver do recebimento de esmolas; (2) o discípulo do Buda deve vestir roupas feitas com os materiais mais grosseiros; (3) o discípulo do Buda deve fazer das raízes de uma árvore a sua moradia; (4) o discípulo do Buda deve usar remédios feitos de urina. Pode haver exceções para estes pontos. As quatro proibições graves são: falhar com a castidade, matar, roubar e ter orgulho pelo Darma.” Então, Sariputta realizou a ordenação do brâmane Radha de acordo com as ordens do Buda. Mais adiante, Sariputta saiu em peregrinação e observou as ações amorosas e gentis de Radha, e pronunciou os seguintes versos como palavras de encorajamento: “Se você cometer o mal e encontrar CEBB

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um homem que o corrija, sirva tal pessoa como alguém que lhe mostra o caminho para tesouros escondidos. Não é bom servir tal homem?”

2. Observância de Encontros Regulares e da Estação Chuvosa (1) De acordo com a tradição dos ensinamentos dos brâmanes seis dias de cada mês eram reservados para que eles se reunissem e ouvissem os ensinamentos: o oitavo, o décimo quarto, o décimo quinto, o vigésimo terceiro, o vigésimo nono e o trigésimo. Como essas ocasiões traziam uma oportunidade para que as pessoas ouvissem ensinamentos, esses dias eram aguardados ansiosamente por aqueles que praticavam os ensinamentos dos brâmanes, e os ensinamentos floresciam. O rei Bimbisara pensou consigo: “Todos os ensinamentos, com exceção dos ensinamentos do Honrado pelo Mundo, reúnem o meu povo; se a Sanga do Honrado pelo Mundo fizesse a mesma coisa isto seria bom.” O rei expressou sua opinião ao Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo concordou e decidiu reservar alguns dias do mês para que os discípulos se reunissem, ensinassem o Darma e debatessem o Darma. O Buda disse: “Meus discípulos, vocês se reunirão em seis ocasiões, no oitavo, décimo quarto, décimo quinto, vigésimo terceiro, vigésimo nono e trigésimo dias de cada mês, e vocês irão debater o Darma. Nestes momentos vocês deveriam purificar suas transgressões passadas e deveriam tentar evitá-las nos dias vindouros.”

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(2) Até aquele momento, como o retiro durante a estação chuvosa não tinha sido instituído, mesmo durante esta estação os discípulos caminhavam de lugar em lugar, pisando sobre a grama que estava nascendo. As pessoas, ao verem isso, criticavam-nos, dizendo: “Mesmo os pássaros que voam pelos céus durante a estação chuvosa constroem ninhos no topo das árvores e descansam; mesmo os seguidores de outros ensinamentos, que são menosprezados como falsos, reúnem-se em um único lugar e descansam durante esta estação. Por que os seguidores do Buda caminham por aí durante a estação chuvosa, pisando sobre a grama e as plantas que estão começando a brotar e matando os insetos recém-nascidos?” Estas palavras de crítica chegaram ao conhecimento do Buda; a partir daí o Honrado pelo Mundo estabeleceu a prática do retiro da estação chuvosa. Ele disse: “Meus discípulos, é melhor que durante a estação chuvosa vocês se reúnam e residam em um único lugar, descansem e conduzam um retiro. “O retiro será dividido em duas partes, o retiro inicial e o retiro final. O retiro inicial começará um dia depois da lua cheia de junho e terminará um dia antes da lua cheia de setembro; o retiro final começará um dia depois da lua cheia de julho e terminará um dia antes da lua cheia de outubro. Meus discípulos, dependendo das circunstâncias em que estejam envolvidos, vocês podem participar de qualquer um destes dois retiros. Vocês também podem participar do retiro intermediário, entre os outros dois. Aqueles que não tiverem como entrar no retiro inicial no dia designado poderão entrar em retiro em qualquer dia anterior ao início do retiro final, terminando o retiro quando completarem noventa dias de prática. “Meus discípulos, durante o período do retiro, enquanto estiverem morando juntos, vocês não deveriam ir a outros lugares. Entretanto, se um CEBB

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discípulo ou seguidor leigo, com a aspiração de construir um templo ou um jardim para o benefício da Sanga ou para o benefício de um discípulo do Buda, convidá-los para ensinarem o Darma, vocês poderão deixar o retiro com a restrição de retornarem em sete dias. Além disso, se um discípulo ficar doente, ou estiver sofrendo por depressão ou remorso, ou estiver sustentando visões negativas, ou se cometeu uma ofensa séria e deva receber punição da Sanga, mesmo que um mensageiro não venha avisá-los, vocês poderão deixar o retiro para confortá-lo e para aliviar o seu sofrimento. Entretanto, vocês devem retornar ao retiro em sete dias. “Meus discípulos, no caso de doença de suas mães, pais, irmãos, irmãs ou parentes, vocês poderão deixar o retiro por sete dias. No caso de serem os seus pais, vocês poderão partir mesmo que um mensageiro não tenha vindo chamá-los. No caso de serem irmãos, irmãs ou parentes, vocês devem esperar pelo mensageiro antes de partirem. “Meus discípulos, mais uma coisa, se vocês tiverem que deixar o retiro para ajudar a Sanga, poderão partir por não mais do que sete dias. “Meus discípulos, durante o retiro, se vocês forem atacados por animais selvagens, ou molestados por bandidos, ou se depararem com os perigos do fogo ou enchentes, ou não puderem obter alimento ou remédios, ou acharem que o local do retiro não contribui para a prática de ações puras, se vocês encontrarem tais obstáculos, poderão deixar o retiro e se mudar para outro lugar.”

3. O Último Dia do Retiro

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(1) Mais uma vez estava o Honrado pelo Mundo conduzindo um retiro no Monastério do Bosque Jeta, na cidade de Savatthi. Naquele momento, sete ou oito discípulos que eram amigos próximos estavam em retiro em uma vila no país de Kosala. Esses discípulos pensaram: “Neste retiro, o que podemos fazer para tornar nossa permanência aqui o mais fácil possível e para facilitar a ronda de mendicância por esmolas?” Depois de ponderar sobre isto por algum tempo eles decidiram manter silêncio entre si. O primeiro que retornasse da prática de recebimento de esmolas prepararia um lugar para sentar, água para lavar os pés, e água para beber; aqueles que chegassem depois lavariam as tigelas e limpariam o lugar das refeições, alternadamente; e tudo que tivesse que ser feito seria feito; se houvesse algo a mais a ser feito, eles usariam sinais com as mãos. Ninguém deveria falar uma única palavra. Eles decidiram passar a estação chuvosa desta maneira. Quando o retiro chegou ao fim, era costume os discípulos se reunirem na presença do Honrado pelo Mundo. Este grupo de discípulos, após terminar seu retiro de três meses e de guardar suas roupas de cama e tapetes, foi até o Bosque Jeta para prestar homenagem ao Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo se dirigiu aos discípulos, dizendo: “Meus discípulos, como está a sua saúde? Durante o retiro vocês passaram por alguma dificuldade ou necessidade? Vocês conseguiram passar os dias em harmonia mútua e em paz? Vocês sentiram alguma dificuldade na mendicância?”

(2) Naquele momento, o grupo de discípulos contou ao Buda que não haviam falado uns com os outros durante todo o retiro. Então, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a todos os discípulos e deu os seguintes ensinamentos: “Meus discípulos, estes discípulos, apesar de levarem vidas desconfortáveis, CEBB

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acharam que estavam vivendo vidas de tranquilidade e paz. Vivendo como animais, vivendo como carneiros selvagens, vivendo como inimigos mútuos, eles acharam que viviam em paz e tranquilidade. Por que estes discípulos seguiram o preceito de se manter surdos e mudos, imitando aqueles que seguem outros ensinamentos? Tal ação não cabe a um discípulo do Buda. Quando os discípulos do Buda se reúnem, eles deveriam manter um nobre silêncio ou conversar sobre o Darma. Não há porque seguir o exemplo de pessoas surdas e mudas. “Além disso, quando o retiro terminar, vocês devem se reunir e realizar a pavarana. Pavarana significa a correção pelos colegas das suas ações errôneas durante o retiro. “Meus discípulos, a pavarana deve ser realizada da seguinte maneira. Um discípulo sábio e capaz deve se consultar com seus companheiros discípulos, dizendo: ‘Ó virtuosos da Sanga, por favor, ouçam-me. Hoje é a pavarana, o dia da autorreflexão e da confissão. Se a Sanga estiver preparada, vamos conduzir esta autorreflexão e confissão.’ “A pavarana deve começar com os discípulos mais experientes e, gradualmente, prosseguir até os discípulos mais novos. O discípulo de grau mais elevado deve manter dignidade física; colocando seu joelho direito no chão e juntando as palmas das mãos, ele deveria pronunciar as seguintes palavras: ‘Meus amigos, eu solicito à Sanga a pavarana. Se qualquer um de vocês percebeu qualquer falha em minhas ações, se vocês ouviram sobre algo de errado que eu tenha feito, ou se há qualquer dúvida em suas mentes sobre minhas ações, com compaixão em seus corações, por favor, digam-me. Irei me esforçar para corrigir minhas falhas.’ Ele deve dizer isto três vezes. Os discípulos de grau mais elevado terminam e, então, os outros discípulos até os discípulos mais novos, repetem o mesmo pedido. CEBB

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(3) A pavarana será conduzida em dois dias separados. A primeira cairá no décimo quinto dia do mês no qual o retiro for concluído; esse é o dia da lua cheia. Caso isto não seja possível, a pavarana será realizada no mês seguinte, no dia da lua nova. “Meus discípulos, no dia da pavarana, alguém que sabe ter cometido uma transgressão não deveria esperar que os outros a apontassem; assim, antes da pavarana ele deve se dirigir a outro discípulo e confessar sua transgressão e se arrepender. Se tiver qualquer dúvida se cometeu uma transgressão, ele deve prometer corrigir sua falha. Além disso, se alguém se lembrar de uma transgressão depois que a pavarana tiver começado, deve se voltar para a pessoa sentada ao lado e dizer: ‘Amigo, acabei de me lembrar de uma transgressão. Quando deixar este assento irei confessar e pedir por perdão e corrigirei minha falha.’ Dizendo isto, ele deve continuar a pavarana. Suponham uma ocasião em que cada um daqueles que forem realizar a pavarana tiverem cometido transgressões, esses discípulos devem escolher um mensageiro entre eles para enviá-lo ao grupo mais próximo de discípulos, contando a eles as transgressões cometidas, e depois passando pela pavarana.”

4. Poderes (1) Pindola era filho do professor do rei Udena, governante do reino de Kosambi. Ele tinha estudado os três Vedas e dava instruções às crianças brâmanes, mas logo perdeu o interesse no que estava fazendo. Chegando a

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Rajagaha ele percebeu a alta estima recebida pela Sanga do Honrado pelo Mundo, e repentinamente pensou em entrar na Sanga, foi ordenado e se tornou um discípulo do Buda. Ele era bastante ávido por natureza; na prática do Darma ele passou por muitas dificuldades devido a esse traço. Entretanto, finalmente foi capaz de superar a cobiça e atingiu a iluminação. Frequentemente viajava com Moggallana. Nessa época Jotika, o filho de Subhadda, um homem abastado de Rajagaha, conseguiu um pedaço de madeira de sândalo e pensou: “Mandarei fazer uma tigela com esta madeira de sândalo e a apresentarei aos discípulos do Buda, guardando os cavacos da madeira para mim.” Ele mandou pendurar a bela tigela em um poste alto, e proclamou que qualquer mendicante que fosse capaz de trazer a tigela para baixo com poderes sobrenaturais ficaria com ela. Muitos mendicantes famosos daquela época se reuniram no local. Entretanto, eles apenas observaram a tigela, nenhum tentou trazê-la para baixo através de poderes sobrenaturais. Naquele momento, Pindola acompanhava Moggallana, e eles foram até Rajagaha em uma ronda de mendicância. Observando a cena diante dele, Pindola disse a Moggallana: “Grande professor, você possui enormes poderes. Por que não exibir esses poderes diante de todo o povo e obter a tigela?” Moggallana recusou a oferta e sugeriu que Pindola a pegasse em seu lugar. Assim, Pindola, exibindo seus poderes sobre-humanos, saltou até o céu e em meio à aclamação da multidão trouxe a tigela para baixo. O rico Jotika convidou os dois para irem até sua casa, preencheu a tigela com iguarias e, como prometido, fez oferendas a eles. As pessoas reunidas no lado de fora da casa não iam embora, assim os dois deixaram aquela casa e foram até o Monastério do Bosque de Bambus, e o povo os seguiu até lá. Os dois monges chegaram ao monastério acompanhados pela turba, quebrando o ambiente CEBB

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silencioso do local. O Honrado pelo Mundo, ouvindo o clamor que vinha de fora, reuniu seus discípulos e pediu uma explicação a Pindola. Após ouvir a explicação, o Honrado pelo Mundo disse a Pindola: “Pindola, isto é verdade?” “Honrado pelo Mundo, isto é verdade.” “Pindola, esta não é uma ação adequada para um monge. Por que você exibiu poderes sobrenaturais com o objetivo de obter uma mera tigela de madeira? Você exibiu a sua ação com o propósito de ganhar dinheiro. Esta não é a forma de fazer com que as pessoas que não têm fé a alcancem, nem é a forma pela qual aqueles que têm fé irão fortalecê-la. Meus discípulos, vocês não deveriam exibir seus poderes para os leigos. Destruam esta tigela de madeira e façam incenso em pó com os pedaços quebrados, depois misturem o incenso com remédio em pó para olhos. De agora em diante, vocês estão proibidos de possuir tais tigelas de madeira. Esta é a regra para a Sanga.”

(2) À medida que a fama do Honrado pelo Mundo se espalhava, surgiam aqueles que se tornavam discípulos do Buda para vê-lo realizar milagres.

Entretanto,

o

verdadeiro

Darma

não

requer

elementos

sobrenaturais. O Honrado pelo Mundo ensinou as Quatro Nobres Verdades e proibiu os discípulos de realizar milagres. Os seguidores de outras religiões alegremente os ofendiam, dizendo que Sakyamuni não oferecia ensinamentos sobre-humanos e que seus ensinamentos eram comuns e simples. Entre seus discípulos, houve aqueles que deixaram a Sanga, expressando seu descontentamento; entretanto, o Honrado pelo Mudo se manteve fiel ao seu ensinamento.

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5. O Rugido do Leão (1) O Honrado pelo Mundo, enquanto caminhava para o norte de Rajagaha, parou em um bosque a oeste da cidade de Vesali. Naquela época, uma pessoa de nome Sunakkhata, do clã Licchavi e que tinha recentemente abandonado os ensinamentos do Honrado pelo Mundo, dizia ao povo de Vesali: “Gotama não possui ensinamentos sobre-humanos. Ele não possui visão e conhecimento superiores. Ele ensina coisas inventadas por ele mesmo ou que vêm à sua mente no calor do momento. De acordo com esses ensinamentos uma pessoa pode atingir o estado de ausência de sofrimento apenas pensando sobre isto, sem realizar quaisquer práticas difíceis.”

(2) Enquanto fazia sua ronda de mendicância certa manhã, Sariputta ficou sabendo de tais conversas e levou o assunto ao Honrado pelo Mundo. O Buda disse: “Sariputta, Sunakhatta pronunciou essas palavras com raiva, mas na tentativa de me ofender ele, na verdade, louvou o Buda. ‘De acordo com aqueles ensinamentos uma pessoa pode atingir o estado em que não há sofrimento simplesmente pensando sobre isto.’ Essas palavras são de louvor ao Buda. Sariputta, essa pessoa tola não sabe que eu possuo dez epítetos: Tathagata, Arhat, Corretamente e Completamente Desperto, Dotado de Conhecimento e Conduta, Aquele que Assim se Foi, Conhecedor do Mundo, Líder Preeminente Daqueles a Serem Treinados, Professor de Deuses e Homens, Buda e Honrado pelo Mundo. “Sariputta, o Buda também possui dez poderes. Com esses dez poderes o Buda, conhecendo o estado de todas as coisas, proclama o Darma a todas as pessoas. Esses dez poderes são: o Buda sabe o que é possível e que é

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impossível; o Buda conhece o efeito das ações; o Buda conhece as várias propensões; o Buda conhece os vários reinos; o Buda conhece as faculdades supremas e não-supremas; o Buda conhece o caminho que leva a todos os lugares; o Buda sabe como purificar os defeitos através dos muitos tipos de meditações; o Buda conhece suas moradas anteriores; o Buda conhece a vida e a morte dos seres com seu olho divino; e o Buda sabe como destruir todos os obscurecimentos. Esses são os dez poderes do Buda. “Sariputta, Sunakkhata, mesmo sabendo disto, diz que Gotama não possui ensinamentos sobre-humanos, e que ele não apresenta uma visão superior ou conhecimento. Ele irá para os infernos, a não ser que desista de suas palavras e mude suas ideias.

(3) “Sariputta, o Buda possui as quatro qualidades do destemor ou da autoconfiança. Alguém neste mundo pode me criticar, dizendo: ‘Você pensa que entendeu todos os darmas, mas você não os entendeu; você pensa que extinguiu todas os obscurecimentos, mas na verdade não os extinguiu; você pensa que pode explicar quais darmas são obstáculos à iluminação, mas na verdade não pode explicá-los; você acha que pode explicar o caminho para o nirvana, mas na verdade não pode.’ Mas essas palavras ofensivas não são corretas. Eu não aceito a base de tais críticas. Como eu não aceito a base, minha mente está tranquila. Eu não conheço medo algum. “Sariputta, vou contar a você, fui muitas vezes aos encontros dos kshatriyas. Eu falei com eles nessas ocasiões em uma base comum de igualdade. Eu não tive qualquer medo. É assim em qualquer encontro que eu tenha que participar. “Sariputta, existem quatro tipos de nascimento. Eles são o nascimento ovíparo, vivíparo, pela umidade e pela metamorfose. CEBB

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“O nascimento ovíparo se dá pelos ovos, no qual o ovo quebra e o nascimento acontece. O nascimento vivíparo é pelo útero, no qual o útero se parte e o nascimento ocorre. O nascimento pela umidade se dá a partir de peixe podre, carne podre, mingau de arroz estragado ou da água estagnada em um pântano ou poça. O nascimento pela metamorfose é o nascimento daqueles nos céus, no inferno e de alguns seres humanos. “Sariputta, eu conheço todos eles. Eu conheço os caminhos que levam a eles. Além disso, eu conheço o nirvana, eu conheço o caminho que leva ao nirvana. Eu conheço as ações que levam ao ingresso no nirvana.

(4) “Sariputta, eu sei o que acontecerá a cada pessoa. Essa pessoa passará por isso porque está trilhando o caminho da maneira que ela é; eu sei que essa pessoa após a morte irá para o inferno. Depois de ver essa pessoa com minha visão sobre-humana, eu vejo que ela foi para o inferno e está passando por um sofrimento intenso. “Sariputta, essa pessoa que está me insultando diz: ‘Gotama não possui ensinamentos sobre-humanos, e também não possui conhecimento e visão superiores; Gotama ensina qualquer coisa que venha à sua mente.’ Essa pessoa irá para o inferno se não abandonar tais ideias.”

(5) O Honrado pelo Mundo seguiu, então, para o norte e entrou na cidade de Anupiya, em Malla. Um dia ele saiu para sua ronda de mendicância, mas percebeu que ainda era cedo, assim decidiu visitar um professor andarilho Bhaggava-gotta, em seu eremitério. Bhaggava-gotta disse ao Buda: “Ó ser mais virtuoso, anteontem Sunakkhata do clã Licchavi veio até mim. Ele disse que não é mais um discípulo do Honrado pelo Mundo e que abandonou a sua Sanga. É verdade?” CEBB

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O Honrado pelo Mundo respondeu: “Bhaggava-gotta, é exatamente como ele disse. Sunakkhata veio até minha presença dias atrás dizendo: ‘Estou partindo, não mais permanecerei com o Honrado pelo Mundo porque ele não me ensina poderes sobre-humanos e milagres.’ Eu lhe disse: ‘Sunakkhata, eu nunca pedi para você vir morar comigo; eu nunca prometi que lhe ensinaria poderes sobre-humanos e milagres. Então, quem quebrou um compromisso? Sunakkhata, meus ensinamentos são para aqueles que desejam entrar no estado onde não há sofrimento. Neste caso, que diferença faz realizar ou não realizar milagres? Sunakkhata, você louvou as virtudes do Buda, do Darma e da Sanga. Se você abandonar este lugar de práticas puras, as pessoas dirão que você não foi capaz de suportar as práticas das atividades puras.’

(6) “Bhaggava-gotta, esta foi minha resposta a ele. Eu ainda o aconselhei desta forma: ‘Sunakkhata, quando eu estava na vila de Uttaraka em Bhumu, eu o deixei me acompanhar na ronda de mendicância de manhã cedo. Naquela ocasião, um asceta nu, Kora-khattiya, de acordo com os preceitos dos cães, estava engatinhando no chão com suas mãos e pés e comendo a comida do chão. Ao ver esse espetáculo, você louvou as ações desse asceta que praticava os preceitos dos cães dizendo: ‘Ó, que coisa boa e maravilhosa esse sábio está fazendo!’ Eu critiquei esse ensinamento enganoso e vergonhoso, e profetizei que esse asceta dos preceitos dos cães morreria em sete dias devido a problemas estomacais. Aconteceu exatamente como eu previ. Sunakkhata, apesar disto, você ainda está apegado a tal tipo de ensinamento.’ “Houve outro incidente parecido quando estávamos no Salão de Kutagara, perto de Vesali, com um asceta nu chamado Kandaramasuka. Ele CEBB

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realizava ações como não vestir roupas por toda a vida; nunca permitir que mulheres se aproximassem; não beber álcool e não comer carne; não comer arroz branco ou mingau de arroz; não dar um passo para fora dos limites de Vesali. Realizando tais práticas ascéticas ele alcançou uma elevada reputação. Sunakkhata, por se deixar escravizar pelas formas externas, você pensou que esse asceta tinha alcançado a iluminação. Mais uma vez, conforme eu predisse, esse asceta abandonou suas práticas e partiu para lugares desconhecidos. “Mais uma vez, uma pessoa de nome Patikaputta também conquistou renome entre as pessoas por suas práticas ascéticas. Ele me criticou, clamando que sua apresentação de milagres era deveras superior à minha. Naquele momento, você acreditou no que ele disse e relatou a mim o que ele dizia. Eu afirmei que Patikaputta não se retrataria ou viria até minha presença. “No dia seguinte, você e eu fomos ao lugar da morada de Patikaputta. O povo se reunia, pensando que haveria uma disputa de manifestação de milagres. Patikaputta secretamente fugiu para o eremitério de Tindukkhanu, um jardim de ascetas nômades. O povo o seguiu até o eremitério e implorou que Patikaputta entrasse em disputa com Gotama. Patikaputta, dizendo ‘eu irei’, ‘eu irei’, não saiu do eremitério. O povo tentou trazê-lo para fora, mas todas as tentativas foram em vão. Quando se havia tudo dito e tentado, Patikaputta não veio até a minha presença e não se retratou sobre suas palavras ou renunciou às suas ideias e visões. ‘Sunakkhata, mesmo após ter testemunhado meus ensinamentos sobrehumanos e poderes, você ainda busca outros ensinamentos sobre-humanos e habilidades. Não seria este um grande erro de sua parte?’ “Bagghava-gota, desta maneira eu tentei ensiná-lo, mas ele estava tão CEBB

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absorto nas formas externas que não pôde ver o significado interno, assim, finalmente, ele deixou minha Sanga.” Bagghava-gota se dirigiu ao Buda, dizendo: “Ó Virtuoso, eu acredito que aqueles que ofendem o Virtuoso e seus discípulos estão enganados. Ó Virtuoso, você me ensinaria o caminho que possa me levar à pura iluminação?” O Honrado pelo Mundo disse: “Bhaggava-gotta, é difícil para alguém como você que mantém diferentes convicções e pontos de vista tentar entrar na pura iluminação. É o suficiente se você mantiver a fé que possui em mim.” Bagghava-gotta se regozijou grandemente com estas palavras do Honrado pelo Mundo; ele fez o voto de manter sua fé no Honrado pelo Mundo.

(7) O Honrado pelo Mundo viajou para o sul e entrou na cidade de Rajagaha. Lá, os não-budistas andavam espalhando estranhos rumores, dizendo: “Nos ensinamentos do Buda não há nada sobre-humano. Ele chegou ao fim de seu apostolado. Ele não possui poderes milagrosos para apresentar.” O Honrado pelo Mundo, sentindo que havia chegado o momento em que ele não poderia evitar uma confrontação com os seguidores de outros ensinamentos, fez a seguinte proclamação: “Dentro de quatro meses a partir desta data, em um lugar a leste de Savatthi chamado Bosque das Mangas, eu demonstrarei meus poderes milagrosos.” Então, o Honrado pelo Mundo partiu de Rajagaha e tomou a estrada que levava para o norte, chegando a Savatthi. Ao sul de Savatthi e a leste do Bosque Jeta há outro bosque. O Honrado pelo Mundo, acompanhado de seus discípulos, entrou nesse bosque. O povo de Savatthi e os seguidores de outros ensinamentos seguiram o Honrado pelo Mundo. O vigia do bosque presenteou o Honrado pelo Mundo com uma CEBB

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manga. O Honrado pelo Mundo comeu a fruta, entregou o caroço para Ananda, e disse a ele para plantá-lo no solo ao redor. Tão logo o caroço foi colocado no solo, o Honrado pelo Mundo lavou suas mãos sobre o caroço plantado. Então, para o espanto de todos, a terra repentinamente se abriu e um botão começou a crescer no solo diante dos olhos dos espectadores. Então começaram a surgir folhas nos galhos e as flores logo se abriram e frutos nasceram. O povo ficou paralisado com espanto, e todos louvaram a grandiosidade do poder do Buda. O líder dos não-budistas começou a se preparar para fugir em silêncio. Enquanto o povo se encontrava maravilhado, repentinamente surgiu uma grande estrada no céu que ia do leste para o oeste. O Honrado pelo Mundo subiu silenciosamente ao céu e ficou em pé sobre a estrada. Do corpo do Buda saíam duas correntes de fogo e água. De cada poro de sua pele surgiam formas similares de maravilhas. Era um espetáculo que não poderia ser expresso em palavras. Então o Honrado pelo Mundo se transformou em duas pessoas. Essas duas formas estavam em pé, sentadas e caminhavam; enquanto faziam isso, elas conversavam uma com a outra. O diálogo consistia em debates sobre o significado profundo do Darma. O povo, ao olhar para cima, vendo essa cena milagrosa e ouvindo o significado profundo do Darma, louvou as virtudes do Buda e chegou à compreensão das Quatro Nobres Verdades. Assim o Honrado pelo Mudo exibiu seus poderes milagrosos. Então, deixando o povo, ele subiu ao céu de Tavatimsa para encontrar sua mãe, a rainha Maya. A multidão, entretanto, não deu sinais de partir dali.

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6. O Sermão no Céu de Tavatimsa (1) O palácio do céu de Tavatimsa estava repleto de deuses que se reuniram vindo de diferentes lugares. Naquele momento, a luz irradiada pelo Honrado pelo Mundo iluminou todos os mundos; ela ofuscou a luz do sol e da lua e das estrelas. Todos nesse mundo celestial foram envolvidos por sua luz radiante. Essa radiação fez com que todas as pessoas no céu tremessem. Então, foi pedido ao bodisatva Manjushri para ir até a presença da rainha Maya. Manjushri recitou uma canção em louvor ao Honrado pelo Mundo:

O grande sábio do clã Sakya possui a sabedoria que tudo abarca. No mundo ele é como um deus com mil olhos. Pensando constantemente em sua mãe, Ele gostaria de encontrá-la por muito tempo. ‘Sete dias após me trazer à luz, Ela veio para este palácio celestial; Ela recebeu a felicidade do mundo dos deuses. De modo a retribuir o débito de gratidão Que eu tenho com ela do passado, Eu vim até aqui para ensinar o Darma. Ó, mãe, por favor, respeite os Três Tesouros e receba o verdadeiro Darma.’

(2) Quando a rainha Maya ouviu esta canção, leite começou a jorrar de seus seios e ela disse: “Se este é realmente meu filho Siddhattha, o leite entrará em sua boca.” Com estas palavras, o leite, como botões de lótus, entrou na boca do Honrado pelo Mundo. A rainha Maya se regozijou com CEBB

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isto, e com uma radiância em sua face que era como o reflexo do sol sobre milhares de pétalas de lótus, ela disse ao bodisatva Manjushri: “Nunca, desde que me tornei a mãe do Buda, eu pude encontrar tal felicidade e alegria. Sou como uma pessoa que ao sofrer as dores da terrível fome encontra um alimento delicioso.” Assim, acompanhada pelo bodisatva Manjushri, ela se dirigiu à presença do Honrado pelo Mundo. Vendo sua mãe se aproximar à distância, o coração do Honrado pelo Mundo se encheu de alegria e reverência; vendo-a se aproximar cada vez mais como se ela tivesse se elevado do chão e flutuasse no ar, ele disse à sua mãe: “Até agora o seu caminho tem sido de sofrimento e prazer. De agora em diante, por favor, pratique este caminho que leva à iluminação, e liberte-se das encruzilhadas do sofrimento e do prazer.” A rainha Maya, ao ouvir estas palavras, juntou suas mãos em reverência, curvou sua cabeça, concentrou seus pensamentos, purificou todos os desejos negativos, e então pronunciou os seguintes versos:

Através de inúmeros kalpas você recebeu o meu leite; Você se libertou de todas as delusões E atingiu o estado da iluminação. Se você deseja retribuir o seu débito de gratidão, Corte as raízes de meus três venenos. Agora eu coloco minha confiança e fé no Buda, O maior dos heróis E mestre das oferendas compassivas. Ó rei dos ensinamentos supremos, Dono dos mais férteis campos da felicidade, Possa você permitir que as plantas da virtude cresçam, CEBB

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E com compaixão em seu coração Guie-me para a iluminação.

(3) Assim, os méritos da rainha-mãe amadureceram devido ao poder do Honrado pelo Mundo. Superando as amarras das transgressões, ela alcançou a iluminação; ela atingiu o estado de não-retorno. Juntando suas mãos, ela disse: “Honrado pelo Mundo, eu escapei do inferno do nascimento e da morte e alcancei a iluminação.” Ao ouvir estas palavras, aqueles que ali tinham se reunido levantaram suas vozes em alegria. A rainha continuou com estas palavras: “Como alguém que é queimado pelo ferro aquecido por uma terrível chama, minha mente e meu corpo estavam marcados pelo calor e eu me encontrava em um estado de intenso desejo, como as folhas de uma árvore sendo açoitadas por um forte vento.” Reprovando sua própria mente, ela continuou, dizendo: “Ó minha mente, por que você vaga por aí neste reino fútil e não demonstra sinais de calma ou compostura; por que você é tão impaciente que não cessa seus movimentos? Por que você me deixa confusa e me incomoda para conseguir coisas? Tal vida é como a de alguém que tenta arar o campo com um arado que se quebra em pedaços mesmo antes de tocar o solo. Tenho vagueado sem propósito no oceano do nascimento e da morte, e já deixei para trás incontáveis vidas; entretanto, não fui capaz de arar os campos de minha mente. Durante esse tempo, você me deixou reinar como um grande rei ou me fez vagar para cá e para lá como uma mendiga, implorando por comida. Em outros momentos, você me deixou viver em palácios habitados por deuses e me fez cansar dos prazeres. Além disso, você me enviou para o inferno e me fez engolir cobre derretido e bolas de ferro quente em brasa. Mesmo tendo passado por tais fases de vida e morte, você não me deixou CEBB

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escapar da delusão. Ó mente tola, você me arrastou de tantas formas diferentes. Eu a segui por todas essas vidas e nunca desobedeci. Entretanto, agora eu ouvi o Darma. Agora, não me traga sofrimentos, não se torne um obstáculo em meu caminho. Por favor, esforce-se para se libertar dos sofrimentos variados, busque a iluminação imediatamente, e sustente o equilíbrio interno.”

(4) Então, ela se voltou ao Honrado pelo Mundo e recitou os seguintes versos:

(i) Possa você fazer com que a chuva do Darma caia para satisfazer a sede daqueles cujas gargantas estão secas; possa você alimentar os brotos da árvore do Darma, e que eles possam crescer tranquilamente. Amorosamente nos favoreça com o néctar e o fruto da sabedoria. Durante a longa noite vagueando estamos atados à escuridão da prisão; não temos como buscar o caminho. Possa você nos mostrar o caminho para a liberação, de forma que possamos entrar instantaneamente no palácio da alegria.

(ii) Sua sabedoria é como o pico da montanha; seu pico é muito elevado, seu vale é profundo. Onde as águas límpidas descem o leito, encontra-se o crescimento exuberante das ervas medicinais. De fato você, ó Buda, é o rei dos médicos; você prescreve o bom remédio de acordo com a doença de cada um. Se as pessoas tiverem fé em você, sua felicidade não encontrará limites. Você apenas, ó Buda, pode afastar todo o sofrimento que as aflige há um tempo imemorial, e pode satisfazer seus desejos. Ó Buda, por

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compaixão por sua mãe que lhe deu o nascimento, agora estenda sua compaixão a todos os seres sencientes; possa você prontamente revelar o Darma e que eles o recebam.

(5) O Honrado pelo Mundo disse à rainha-mãe: “Rainha e mãe, as razões pelas quais as pessoas não conseguem se libertar da ilusão são a cobiça, a raiva e a ignorância. Devido a estes três venenos elas não são nem mesmo capazes de renascer nos céus. E muito menos são capazes de abandonar o reino do nascimento e da morte! “Neste mundo elas perdem suas reputações, são evitadas por seus amigos e parentes como pelotas de sujeira, e no momento da morte elas são assoladas pelo medo. Elas perdem o controle de suas mentes e deixam apenas um profundo arrependimento devido a esses venenos. Portanto, aquele que busca alcançar a outra margem da iluminação, que é a libertação dessas amarras, deve cortar as raízes do sofrimento. Assim como um cavalo selvagem é mantido preso por cordas, um ser mortal tolo está preso pelos desejos negativos e não consegue se mover. Assim, você deveria perceber verdadeiramente a mente e o corpo que a constituem. Então você poderá se liberar dos sofrimentos do nascimento, doença, morte e pesar. Isto é o que se quer dizer por cortar as raízes do sofrimento. Desta forma você será capaz de se libertar da delusão, do apego e do ódio.”

(6) Nesse momento, um deus de nome Candradeva saiu do meio da multidão e arrumou seus mantos, prestou respeito ao Honrado pelo Mundo, e louvou suas virtudes recitando os seguintes versos:

(i) Por piedade pelos seres CEBB

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Você buscou a iluminação, E passou um tempo incomensurável Suportando muitos sofrimentos. Você beneficiou muitos seres; Sua mente é tranquila e pacífica; Você é a fonte de felicidade incomparável neste mundo; Suas virtudes são como o oceano. Como a sua mente é plena de compaixão Você está distante do medo; Você ama os outros assim como ama a si mesmo.

(ii) Ó grande sábio, Apesar de você passar por um milhão de países Você não se apega a nenhum deles; Apesar de você fazer oferendas a milhões de budas Você não se apega a nenhum deles. A negatividade é conquistada e o caminho é estabelecido; A escuridão desapareceu para sempre. Assim, o Darma foi estabelecido; Céu e terra estremecem de alegria.

(7) Ao terminar sua canção de louvor, o deus perguntou ao Buda: “Honrado pelo Mundo, para aquele que deseja seguir o caminho, como é possível alcançar a sabedoria mais elevada, e praticar e chegar à margem da iluminação?” O Honrado pelo Mundo respondeu, dizendo: “Ó deus, o bodisatva sabe que todas as coisas surgem naturalmente, que todas as coisas são originalmente puras e livres de identidades, que todas as coisas são não-

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nascidas e também não existem livres de modificações e nem vêm à existência. Portanto, quando ele fala sobre os ensinamentos do Buda não há pensamento sobre ‘eu’, nem há apego às coisas. “Além disso, ó deus, todas as coisas são como o céu. Como todas as coisas dos três mundos são produtos da mente, se não houvesse apegos por parte da mente, não haveria matéria nem forma. Além do mais, essa mente é algo que não pode ser visto. Não é matéria nem forma, é como uma aparição. Quando alguém tenta achar coisas com base em tal mente, nenhuma dessas coisas será alcançada. E também, se você procurar pela mente, não há mente; haverá apenas um nome temporário sem substância. Na verdade sabemos que há uma tranquilidade livre do apego ao desejo. “Ó deus, um bodisatva que quiser fortalecer seus votos e alcançar a sabedoria perfeita, esforça-se incessantemente com diligência e sem descansar. Sempre com compaixão pelos outros, ele suporta todo o sofrimento e não altera sua determinação. “Em seguida, sem se afastar do caminho das pessoas comuns, ele se prepara para o caminho do Buda. Em outras palavras, ele não critica o caminho das pessoas comuns; e ele não considera especiais os benefícios do caminho do Buda; nem ele tenta louvar as obras do Buda. Isto porque ele não discrimina entre o caminho das pessoas comuns como grosseiro e vulgar e o caminho do Buda como nobre e sutil. Na verdade, por que esses dois caminhos deveriam ser diferenciados? Na realidade eles não são diferentes, eles apenas possuem nomes ou rótulos temporários. É apenas a discriminação que gera as diferenças. “Portanto, o caminho do Buda nada mais é do que discernir as coisas como elas são, com sabedoria. Ao vermos todas as coisas com essa sabedoria,

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há apenas a Vacuidade. Isto não significa que as coisas não existem. Elas existem, mas não possuem uma substância determinada à qual possamos nos apegar. Portanto, elas são chamadas de Vacuidade. As formas discriminadas pelo apego cego das pessoas comuns surgem devido à ignorância. “É por isto que, ó deus, as coisas são diferentes daquilo que as pessoas comuns veem; elas não são maculadas pelo desejo, nem são discriminadas, e são absolutamente iguais. Ver as coisas livre de discriminações é o caminho do Buda. “De fato, para aquele que pratica e segue os verdadeiros ensinamentos coisa alguma está separada da doutrina do Buda. As coisas são discriminadas devido aos hábitos das pessoas comuns; se esses hábitos forem abandonados, as coisas que são livres da linguagem e do pensamento, definitivamente não possuirão formas definidas. Ó deus, apesar de não haver limite para o número de coisas, todas elas fazem parte do Darma do Buda. Saber que todas as coisas em sua essência pertencem ao Darma do Buda é a sabedoria do Buda.

(8) Candradeva perguntou ao Buda: “Honrado pelo Mundo, os bodisatvas em sua sabedoria conhecem a natureza do nascimento e da morte, e eles seguem o caminho incansavelmente. Como, então, eles encaram o nascimento e a destruição das coisas?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó deus, os bodisatvas veem todas as coisas como fantasmas, e que elas se manifestam nos seis reinos, mas que na verdade não há nem nascimento nem morte.” O deus disse: “Honrado pelo Mundo, se esses são os seus ensinamentos, então por que o Honrado pelo Mundo veio até esse céu e passou três meses aqui para o benefício da mãe que lhe deu nascimento? Afinal, o Honrado pelo Mundo nasceu da rainha Maya, não é verdade?” CEBB

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O Honrado pelo Mundo disse: “Ó deus, o Buda não nasceu da rainha Maya. A mãe do Buda é a sabedoria que permite que a margem da iluminação seja alcançada. Em outras palavras, ela é a Perfeição da Sabedoria. A razão para isto é que todas as formas que são atributos do Buda, toda a sabedoria e o poder, não vieram da rainha Maya, eles foram verdadeiramente alcançados devido à realização da Perfeição da Sabedoria.” Assim, a rainha Maya e todos os outros receberam os ensinamentos do Honrado pelo Mundo e se alegraram em seus corações.

7. Os Doze Elos da Originação Dependente (1) Então, o Honrado pelo Mundo viajou para um país distante ao oeste chamado Kuru. Acompanhado por Ananda ele entrou na cidade de Kammassadhamma. Ananda ainda era jovem, ele não conhecia a profundidade dos ensinamentos do Buda. Um dia ele estava sentado sob uma árvore pensando nos ensinamentos do Honrado pelo Mundo. Quando sua mente se tornou mais clara, Ananda pensou que tinha compreendido o ensinamento sobre a originação dependente que o Honrado pelo Mundo havia proferido. Em sua exaltação ele imediatamente foi até o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, o princípio da originação dependente que você nos ensinou é muito profundo, mas hoje eu consegui compreendê-lo.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ananda, você não deveria dizer isto. Este princípio da originação dependente é muito difícil de entender. A razão pela qual as pessoas estão neste mundo de sofrimento e aflição é que

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elas não conseguem compreender o princípio da originação dependente, que é tão difícil de desatar quanto um novelo de fios com nós. Ó Ananda, decrepitude e morte surgem devido ao nascimento; o nascimento surge devido ao vir-a-ser; o vir-a-ser surge devido ao apego; o apego surge devido ao desejo; o desejo surge devido à sensação; a sensação surge devido ao contato; o contato surge devido aos seis órgãos dos sentidos; os seis órgãos dos sentidos surgem devido à mente e ao corpo; a mente e o corpo surgem devido à consciência; a consciência surge devido à volição; a volição surge devido à ignorância. “Ó Ananda, agora eu explicarei um dos doze elos da originação dependente: a sensação é a condição para o surgimento do desejo. Se não houver sensação, o desejo não surgirá. A sensação é a base para o surgimento do desejo. Devido ao desejo, a vontade de procurar algo surge; desta vontade de procurar algo surge o desejo de obter; ao obter algo, surge a escolha de bom e ruim; devido a esta escolha surge o apego; devido ao apego surge o ciúme; devido ao ciúme aumenta a cobiça; devido à cobiça nos esforçamos para proteger nossas posses. Com bastões e espadas nós brigamos e lutamos, ofendendo uns aos outros – todos esses males se manifestam.

(2) “Ó Ananda, agora irei falar sobre o ego. O conceito que admite a existência do ego não vai além destas quatro visões: o ego é material e limitado; o ego é material e ilimitado; o ego é imaterial e limitado; e o ego é imaterial e ilimitado. Ó Ananda, apesar de existirem estas quatro formas de considerar o ego, é um erro considerá-lo como possuidor de uma substância definida. E por quê? Porque o ego apenas surge devido a várias condições. “Ó Ananda, alguns dizem que o ego é idêntico às sensações; também há aqueles que dizem que o ego não é nem as sensações nem as percepções. CEBB

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Além disso, há aqueles que dizem que apesar de o ego não ser nem sensações nem percepções, ele é a ação de sentir e conhecer. “Ó Ananda, em relação à ideia de que o ego é idêntico às sensações, nossas sensações são de sofrimento, prazer ou nem sofrimento nem prazer. Quando temos sensações de prazer, por exemplo, essas sensações não são permanentes; elas sempre se encontram num processo de mudanças. Assim, quando o prazer desaparece, teríamos que dizer: ‘Meu ego não existe mais.’ Assim, não podemos dizer que o ego é o mesmo que as sensações. “Também há aqueles que dizem que o ego não é nem as sensações nem as percepções. Mas, como podem eles dizer que o ego existe quando não há sensações ou percepções? Uma vez que eles não podem, não é possível que o ego não seja nem as sensações nem as percepções. “Além disso, há aqueles que dizem que o ego não é nem as sensações nem as percepções, mas sim o próprio ato de sentir e de conhecer; entretanto, quando todas as sensações e percepções são extintas, como podem eles dizer que o ego existe? Assim, podemos dizer que todas estas ideias sobre a existência do ego são errôneas. “Ó Ananda, os discípulos que se livram destes conceitos enganosos sobre o ego não se apegam a coisa alguma neste mundo. E assim, livres de medo, eles são capazes de abandonar a ilusão e de alcançar a iluminação.” Ananda muito se alegrou com este ensinamento do Honrado pelo Mundo. Ele retornou à floresta e continuou sua prática de meditação.

(3) Na cidade de Kammassadhamma morava um brâmane de nome Magandiya. Ele tinha uma filha chamada Magandiya que era muito bonita. Esse brâmane era muito orgulhoso pela beleza de sua filha e desejava casá-la com um homem belo e jovem. Certo dia, ele viu por acaso o Honrado pelo CEBB

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Mundo caminhando à margem da estrada em sua ronda de mendicância. Impressionado pela poderosa aparência do Honrado pelo Mundo, o brâmane achou que ele seria um marido muito adequado para sua filha. Imediatamente retornou à sua casa. Trazendo consigo a mulher e a filha, ele seguiu o Honrado pelo Mundo, que havia saído da cidade e entrado no bosque. Os três membros da família brâmane observaram as pegadas deixadas pelo Honrado pelo Mundo. A esposa disse: “Esta pessoa deve ter se liberado de todos os desejos. De outra forma não teria deixado para trás pegadas tão ordenadas e suaves. Não devemos dizer qualquer coisa desrespeitosa a essa personalidade venerável.” Entretanto, o brâmane não deu atenção às suas palavras de conselho. Ao encontrar o Honrado pelo Mundo sentado sob uma árvore, ele se dirigiu ao Honrado pelo Mundo e disse: “Ó mendicante, você já alcançou seu objetivo com suas práticas, então por que você não retorna para o seu lar? Minha filha é muito bonita, como você pode ver. Se você aceitar tomá-la por esposa, consideraremos isto uma grande honra e ficaremos muito felizes.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó brâmane, eu não me envolvo nem mesmo com donzelas celestiais, e muito menos com uma mulher cheia de nojento e mal-cheiroso pus. O que eu poderia querer com tal mulher?” Então o Honrado pelo Mundo expôs os preceitos e outros ensinamentos. Quando terminou o seu discurso, o brâmane e sua esposa derramaram lágrimas de alegria, desculpando-se pelo seu comportamento rude, e pediram para ingressar na Sanga como discípulos. Entretanto, a filha era orgulhosa como um pavão e obstinada demais para ser umedecida pela chuva do Darma. Ela se sentiu ofendida quando sua bela aparência foi tachada de corpo corrompido cheio de pus, e sua mente ferida fez secretamente o voto de buscar vingança. Pouco tempo depois o CEBB

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casal brâmane entrou na Sanga; a filha se tornou a primeira rainha consorte do rei Udena de Kosambi, que foi arrebatado pela sua beleza à primeira vista.

(4) O povo começou a perguntar pelo paradeiro do Honrado pelo Mundo. Quando eles ouviram de Anuruddha que o Honrado pelo Mundo retornaria três meses após sua ascensão ao céu de Tavatimsa, todos ficaram esperando ansiosamente por seu retorno. O Honrado pelo Mundo passou o retiro anual no céu de Tavatimsa; então, próximo ao fim de novembro ele decidiu descer a Samkassa. Indra ordenou a Vissakamma para fazer três escadas preciosas. Naquele dia, o Honrado pelo Mundo colocou o pé na escada de ouro central. Brahma, segurando um pequeno espanador ao lado direito do Buda desceu pelos degraus de prata; Indra, carregando um guarda-chuva precioso ao lado esquerdo do Buda desceu pelos degraus de cristal. Os deuses os seguiram voando no ar, espalhando guirlandas de flores e louvando as virtudes do Honrado pelo Mundo. A primeira pessoa a saber da descida do Honrado pelo Mundo foi uma monja de nome Uppalavanna, que era considerada a mais avançada entre as monjas em termos de poderes sobre-humanos. Imediatamente, ela se transformou na forma de um grande rei do Giro da Roda, e saudou o Buda. Entretanto, ela não foi a primeira pessoa a receber o Honrado pelo Mundo. Nesse momento, Subhuti estava costurando seus mantos em uma caverna no Pico dos Abutres fora de Rajagaha, que ficava várias centenas de milhas a leste da cidade de Samkassa. Com o pensamento de dar as boasvindas ao Honrado pelo Mundo, Subhuti colocou de lado as roupas que estava costurando e começou a se levantar. Quando seu joelho direito tocou o solo, o seguinte pensamento ocorreu em sua mente: “Qual é a forma do Buda que eu estava pronto a receber? Essa forma do Buda é composta de matéria. CEBB

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Não é o meu corpo também composto de matéria? Todas essas coisas são vazias. Não há criador, não há nada criado. “Ao prestar homenagem ao

Buda, eu presto homenagem à

impermanência e à inconstância do corpo e da mente. “Ao prestar homenagem ao Buda, eu presto homenagem à vacuidade de todas as coisas. “Ao prestar homenagem ao Buda, eu presto homenagem à ausência de identidade de todas as coisas. “Eu não existo, não há criador, nem há qualquer coisa criada; tudo é vazio. Eu presto homenagem ao verdadeiro Darma.” Retornando ao seu assento, Subhuti recomeçou a costurar seus mantos. Quando o Honrado pelo Mundo retornou aos seus discípulos, ele disse a Uppalavanna: “Ó Uppalavanna, você não foi a primeira a me ver. Subhuti, ao enxergar a verdadeira natureza das coisas como vazias foi o primeiro a me ver. Aquele que vê meu corpo não é alguém que me vê; aquele que vê o Darma é alguém que me vê.”

(5) Em Samkassa, o discípulo Sariputta se tornou o líder e estava ensinando os discípulos e os leigos. Agora, quando o Honrado pelo Mundo desceu os degraus preciosos e estava a ponto de colocar seus pés no chão, Sariputta deu um passo à frente e disse: “Honrado pelo Mundo, eu lhe dou as boas-vindas. Hoje todas as pessoas se regozijam com seu retorno.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Sariputta, vocês são muito afortunados por se regozijarem por alguém que cortou todas as impurezas e alcançou a iluminação e a liberação.” E muitos alcançaram a iluminação ao ouvirem a conversa entre o Honrado pelo Mundo e Sariputta.

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8. Cinca (1) Pouco tempo depois, o Honrado pelo Mundo deixou Samkassa e retornou a Savatthi. A fé e a confiança do povo no Buda cresceram rapidamente; oferendas chegavam à Sanga como água jorrando. Os nãobudistas ficaram cheios de inveja e ciúme; eles planejaram esquemas e conspirações contra ele. Havia a filha de um brâmane, chamada Cinca, que era muito bonita e seguia uma religião não-budista. Esses hereges planejaram usar Cinca para realizar seus esquemas. Certo dia, como era de seu hábito, Cinca visitou o bosque onde moravam os hereges. O professor principal dos hereges não a cumprimentou, mas permaneceu em silêncio com uma expressão de preocupação em seu rosto. Cinca ficou preocupada de ter sido a causa para o seu desagrado. Ela lhe perguntou o motivo. O herege disse: “Por Gotama estar ensinando as suas doutrinas estamos perdendo nossos seguidores e as oferendas dia após dia. Se você puder manchar a reputação de Gotama através do seu poder e fazer com que as pessoas parem de respeitá-lo, isso seria algo maravilhoso.” Cinca disse: “Podem deixar comigo.” Prometendo dar seguimento a tal missão, ela partiu. Daquele dia em diante, a figura desta mulher era vista à margem da estrada entre Savatthi e o Bosque Jeta. No momento em que as pessoas retornavam para seus lares deixando o Bosque Jeta, ela se colocava a caminho para o monastério. E quando as pessoas iam em direção ao monastério, ela fazia parecer que estava voltando para casa. Depois de algum tempo, ela começou a dizer que seu alojamento noturno era sempre o salão com odor de

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incenso dentro do monastério. Após alguns meses, seu abdômen começou a inchar, dando-lhe a aparência de uma mulher grávida. As pessoas que não a conheciam começaram a suspeitar e se preocuparam. Um dia esta mulher estava ouvindo um discurso do Honrado pelo Mundo, no meio de um sermão ela se levantou e bradou: “Ó mendicante, você está ensinando o grande Darma ao povo. Então por que você não constrói um local para mim para ter o nosso filho? Você tem muitos patrocinadores ricos que o apóiam. Você já teve o seu prazer, por que você agora teme as consequências?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Se o que você diz é verdade ou mentira, apenas eu e você sabemos.” Nesse momento, um rato apareceu aproximando-se de Cinca e roeu e cortou seu cinto. Então, um súbito vento surgiu e soprou abrindo o seu vestido, com isso caiu uma tigela de madeira de seu abdômen. O esquema de Cinca foi revelado. Em meio ao clamor raivoso do povo, Cinca conseguiu escapar do monastério, mas antes que pudesse se afastar muito a terra se abriu e ela foi engolida.

(2) Uma mulher asceta peregrina que vestia uma túnica branca, chamada Sundari, também era famosa por sua beleza e também foi usada pelos hereges. Eles espalharam rumores de que havia alguma espécie de relação entre ela e o Honrado pelo Mundo. Depois mandaram matá-la e jogaram seu corpo em uma pilha de lixo próxima ao Monastério do Bosque Jeta. Entretanto, este esquema também foi descoberto, todos os implicados foram punidos severamente pelo rei Pasenadi. Assim, o prestígio do Honrado pelo Mundo alimentou as chamas do ciúme dos hereges e atraiu o CEBB

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surgimento de perseguições; entretanto, a luz do Honrado pelo Mundo continuou a se espalhar nas quatro direções.

(3) O Honrado pelo Mundo permaneceu por algum tempo no Monastério do Bosque Jeta e expôs o Darma aos seus discípulos: “Ó discípulos, estas são três visões falsas. Um homem sábio irá discernir estes erros e tentará fazer com que as pessoas os abandonem. Se alguém persistir nestas visões, isto significará a negação de todos os esforços humanos neste mundo. “Quais são estas três visões errôneas? Primeiro, um certo mendicante declara que qualquer tipo de sofrimento, prazer, ou nem sofrimento nem prazer que os homens experimentam neste mundo são devidos ao carma das vidas passadas. Segundo, um certo mendicante afirma que todas as coisas são resultantes da criação do deus Mahissara. Terceiro, uma certa pessoa declara que não há causas e não há condições.

(4) “Ó discípulos, assim eu irei até o local onde se encontra o mendicante que sustenta a visão de que todas as coisas são devidas ao carma de vidas passadas e perguntarei se ele realmente sustenta essa visão. Se ele disser que sim, eu direi o seguinte: ‘Ó mendicante, neste mundo a ação de matar, roubar, os atos ignóbeis, as palavras maldosas, a difamação, a bajulação, a cobiça, a raiva e as visões negativas não devem ser atribuídas a causas de vidas passadas. Se eles fossem definidos pelo carma de nossas vidas passadas não haveria esperança para nós e não faríamos esforços para agir ou não de uma certa maneira. Assim, as pessoas não saberão o que deveriam e o que não deveriam fazer. Alguém que, devido a essa delusão, não é capaz de controlar seus cinco sentidos não pode ser chamado de um CEBB

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verdadeiro mendicante.’ Esta é a minha crítica sincera àqueles que sustentam este tipo de visão.

(5) “Ó discípulos, para aqueles mendicantes que acreditam ser Mahissara a causa de todas as coisas eu direi: ‘Ó mendicantes, então o ato de matar é causado por Mahissara. Se você tomar Mahissara como a causa de todas as coisas, então as pessoas não terão esperança nem farão qualquer esforço para fazer isto ou não fazer aquilo. Elas serão realmente incapazes de saber o que fazer e o que não fazer. Aqueles que não são capazes de controlar os cinco sentidos devido à delusão não podem ser chamados de verdadeiros mendicantes.’ Esta é a minha crítica sincera àqueles que sustentam este tipo de visão.

(6) “Ó discípulos, para aqueles mendicantes que acreditam que não há causas nem condições eu direi: ‘Então, ó mendicantes, no ato de matar não há causas nem condições. Se vocês afirmarem que não há causas nem condições as pessoas não terão esperança nem farão qualquer esforço para fazer isto e não fazer aquilo. Assim, elas verdadeiramente não saberão o que fazer e o que não fazer. Aqueles que são incapazes de controlar os cinco sentidos devido à delusão não podem ser chamados de verdadeiros mendicantes.’ Ó discípulos, esta é a minha crítica sincera àqueles mendicantes que sustentam estas visões. Ó discípulos, numa análise final, estas são as três visões errôneas que negam todos os esforços deste mundo; os sábios saberão reconhecer estas visões como errôneas e se esforçarão para que as pessoas as abandonem.

(7) “Ó discípulos, em oposição a estas visões errôneas eu ensino as Quatro Nobres Verdades e os doze elos da originação dependente. O Darma CEBB

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que eu ensino a vocês não pode ser, mesmo no menor grau, difamado, maculado ou criticado por aqueles que são atenciosos e ponderados. “Ó discípulos, eu digo a vocês que todo o sofrimento e prazer e nem o sofrimento nem o prazer surgem devido a causas e condições. E como eles surgem? Eu ensino que devido à ignorância e ao desejo a decrepitude e a morte surgem; preocupação, tristeza, sofrimento, aflição e problemas surgem. Nas Quatro Nobres Verdades todos eles vêm sob a Nobre Verdade do sofrimento e a Nobre Verdade da causa do sofrimento. Eu ensino que se a ignorância e o desejo forem extintos, aquilo que surge a partir deles, decrepitude, morte, preocupação, tristeza, sofrimento, aflição e problemas também serão extintos. Aqui temos a Nobre Verdade da cessação do sofrimento e a Nobre Verdade do caminho para a cessação do sofrimento nas Quatro Nobres Verdades. “Ó discípulos, este meu ensinamento não pode ser, mesmo no menor grau, difamado, maculado ou criticado por aqueles que são atenciosos e ponderados.”

(8) Certa vez, o Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos de seus seguidores, visitou o país de Kosala e foi até uma vila brâmane chamada Venagapura. Os devotos em Venagapura ouviram sobre sua vinda e logo espalharam belos louvores sobre suas virtudes elevadas, dizendo: “O Honrado pelo Mundo é um Buda digno de receber oferendas do mundo; ele é o grande professor de humanos e deuses. Ele atingiu a iluminação e expõe o Darma que é belo do início ao fim, em todos os mundos; ele dá o exemplo da prática harmoniosa e santa. Não há nada que exceda a alegria de ver o Buda.” Então, os devotos brâmanes de Venagapura foram até a presença do Honrado pelo Mundo, e, um por um, prestaram homenagem a ele e CEBB

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sentaram-se ao lado. Naquele momento, um brâmane de nome Vacchagotta dirigiu estas palavras ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, quão magnífico é você! Sua figura é graciosa e sua face brilhante irradia em todas as direções. Assim como a fruta jujuba amadurece com uma cor dourada, o seu semblante brilha como o ouro de Jambunada. O trono ornamentado é extremamente adequado a você. Não é verdade que você pode ter um trono celestial apenas desejando-o?” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó brâmane, tal magnífico trono é difícil de obter para um mendicante. Mesmo que um mendicante seja capaz de obtêlo, o uso de tal trono é proibido. Ó brâmane, existem três tronos que posso obter imediatamente assim que meu coração os deseje. Eles são os tronos do céu, de Brahma e de um sábio. Estes três tronos magníficos eu posso obter a qualquer momento que meu coração assim os deseje.” O brâmane pediu: “Honrado pelo Mundo, por favor, explique o que são esses três tronos.” O Buda respondeu: “Ó brâmane, suponha que eu resida próximo a uma vila ou cidade. Cedo pela manhã eu vou até a vila ou cidade para receber esmolas. Após o desjejum eu retorno para o bosque, junto algumas folhas e grama, e sento-me adequadamente mantendo pensamentos corretos. Libertando-me do desejo e da negatividade e praticando as várias meditações, sou capaz de experimentar em minha mente a pureza que não permite mais que o sofrimento, o prazer, ou nem sofrimento nem prazer surjam. Assim, eu experimento a felicidade celestial mesmo enquanto caminho, fico em pé, sento ou me deito. Este é o trono celestial que posso obter a qualquer momento que deseje. “Em seguida, ó brâmane, suponha que eu resida próximo a uma vila ou cidade. Eu irei à vila ou cidade cedo de manhã para receber esmolas; então, após o desjejum eu retorno ao bosque, junto algumas folhas e grama, e sentoCEBB

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me adequadamente mantendo pensamentos corretos. Desta forma, eu preencho uma direção com a mente plena de compaixão. Com a mente de Grande Compaixão, em todos os lugares, eu preencho, livre de maldade e ódio, as miríades de mundos que se encontram nas duas, três ou quatro direções cardeais, no zênite e no nadir. Eu faço isto com uma mente de piedade, regozijo e igualdade. Eu experimento a pura felicidade quer esteja caminhando ou parado. Este é o trono de Brahma que posso obter a qualquer momento que deseje. “E também, ó brâmane, suponha que eu resida próximo a uma vila ou cidade. Cedo pela manhã eu vou até a vila ou cidade para receber esmolas. Após o desjejum eu retorno para o bosque, junto algumas folhas e grama, e sento-me adequadamente mantendo pensamentos corretos. Desta forma eu sei que meus pensamentos de cobiça, raiva e ignorância serão desenraizados e não darão origem a novos brotos. Eu sei que alcancei o Darma que finaliza meus renascimentos. Aqui eu irei caminhar e descansar, experimentando a alegria ilimitada dos sábios; eu me sentarei no trono dos sábios; eu me deitarei na cama dos sábios. Ó brâmane, este é o trono dos sábios que posso obter a qualquer momento que deseje.” “Honrado pelo Mundo, quão maravilhosos são estes três tronos magníficos! Como poderia alguém além de você obtê-los a qualquer momento que deseje?”

(9) Outra vez, Ananda fez as seguintes observações ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, existem três tipos de fragrância que são levadas pelo vento e não vão contra ele. As três são a fragrância das raízes das árvores, a fragrância do centro das árvores e a fragrância das flores das árvores. Estes três tipos de fragrâncias seguem o vento e não resistem a ele. CEBB

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Existem fragrâncias que sejam levadas tanto a favor como contra o vento?” O Buda respondeu: “Ó Ananda, tais perfumes existem. Vamos supor que haja um homem ou uma mulher vivendo em uma vila ou cidade que preste homenagem ao Buda, ao Darma e à Sanga; e que se abstenha de matar, roubar, atos sexuais impuros, e de ficar deitado, que não se intoxique com bebida, não leve uma vida de devassidão, siga os preceitos, possua uma natureza positiva, e sempre realize oferendas com uma mente que se afasta da cobiça maculada. Tal pessoa será louvada pelos mendicantes e os deuses de todos os lugares. Ananda, esta é a fragrância que é levada tanto a favor quanto contra o vento. “A fragrância das flores não vai contra o vento; o mesmo acontece com a fragrância da árvore de sândalo. Entretanto, a fragrância de uma pessoa correta é levada mesmo contra o vento e espalha a fragrância de uma boa pessoa nas quatro direções.”

9. Anuruddha (1) O país dos Vacchas ainda não tinha sido favorecido pelos ensinamentos do Buda. Agora, entretanto, estava chegando o tempo adequado para os ensinamentos do Buda. Na capital de Kosambi havia três homens ricos de nome Ghosita, Kukkuta e Pavarika; eram amigos e todos seguiam religiões não-budistas. Entretanto, quando se espalhou a notícia pelo país de que o Buda havia surgido neste mundo, os professores da religião não-budista viajaram a Savatthi para encontrar o Buda. Desejando ouvir os ensinamentos do Honrado pelo Mundo, estes homens ricos os seguiram. Os

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três se tornaram discípulos do Buda. Cada um deles prometeu construir um templo e convidar o Honrado pelo Mundo à sua cidade. Eles retornaram e construíram os templos, batizados com seus nomes: Monastério Ghosita, Monastério

Kukkuta

e

Monastério

Pavarika.

Então

eles

enviaram

mensageiros ao Honrado pelo Mundo, convidando-o a vir aos seus monastérios. Assim, o Honrado pelo Mundo se dirigiu ao sul e cruzou o rio Ganges, chegando a Kosambi. No caminho ele entrou no Parque dos Cervos no Bosque Bhesakala em Sumsumara, e ali conduziu um retiro. A notícia da chegada do Honrado pelo Mundo imediatamente se espalhou por todo o povo; o povo foi até a presença do Honrado pelo Mundo e ouviu seus discursos sobre o Darma. Entre essas pessoas havia um casal chamado Pai de Nakula e Mãe de Nakula. Este casal desde o início sentiu uma forte atração pela figura do Buda, e eles fizeram o voto de permanecer firmes seguidores pelo resto de suas vidas. No dia seguinte eles convidaram o Honrado pelo Mundo à sua casa, e após a refeição o Pai de Nakula disse: “Desde o momento em que casei com minha esposa, que eu conheci quando ainda era uma pequena criança, eu nunca duvidei de sua lealdade, devoção e castidade. Você poderia nos ensinar como vivermos juntos em amor e harmonia na vida futura assim como vivemos nesta vida atual?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Mantenham a mesma fé; sustentem os mesmos preceitos; tenham os mesmos sentimentos de caridade; tenham a mesma sabedoria. Se vocês assim o fizerem, serão capazes de estar juntos em suas vidas futuras.” O Honrado pelo Mundo mais tarde pronunciou palavras de louvor, dizendo que este casal servia como exemplo de um casal que confiava um no outro.

(2) Anteriormente a isto, Anuruddha tinha visitado o Honrado pelo CEBB

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Mundo e havia dito: “Honrado pelo Mundo, com meu olho divino eu testemunhei muitas mulheres caindo para os infernos após sua morte. Por que tantas mulheres caem nos infernos desta maneira?” O Buda respondeu: “Anuruddha, essas mulheres possuem três traços que as levam a cair nos infernos. Durante a manhã suas mentes são tomadas pela negatividade do remorso; ao meio-dia pelo ciúme; e à tarde, pela luxúria do sexo. Anuruddha, as mulheres que possuem estes três traços caem nos infernos após morrerem.”

(3) Em outra ocasião, Anuruddha visitou Sariputta e disse a ele: “Meu amigo Sariputta, através do meu poder puro da visão sobre-humana eu sou capaz de estender minha visão a milhares de mundos. Meus esforços são incansáveis; minha concentração correta é inabalável. Meu corpo é calmo e tranquilo. Minha mente não é perturbada e não vê problemas. Entretanto, minha mente ainda não está livre do apego, minha mente não consegue escapar dos desejos malignos. Por quê?” Sariputta respondeu com estas palavras: “Ó Anuruddha, suas palavras ‘através do meu poder da visão sobre-humana eu sou capaz de estender minha visão a milhares de mundos’ expressa um orgulho arrogante. ‘Meus esforços são incansáveis, minha concentração correta é inabalável’ expressam excesso de confiança. ‘Entretanto, minha mente não está livre do apego, minha mente não consegue escapar dos desejos malignos’ exprime remorso. Se você conseguir se afastar destas coisas e direcionar sua mente para o mundo do nirvana, isso será verdadeiramente apropriado.” Mais tarde, Anuruddha libertou-se destas três coisas, dirigindo sua mente para o mundo do nirvana, e permanecia sozinho em um lugar tranquilo, esforçando-se e constantemente dedicando-se à prática. CEBB

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(4) Então, quando o Honrado pelo Mundo estava residindo no bosque Bhesakala, Anuruddha estava residindo no bosque Pacinavamsa em Ceti. Certo dia, à tarde, enquanto estava meditando, o seguinte pensamento surgiu em sua mente: “Este ensinamento é um ensinamento para aqueles com pequenos desejos, não é um ensinamento para aqueles dominados pela avidez; é um ensinamento que traz satisfação, não é um ensinamento que não traga satisfação; é um ensinamento para libertar-se de uma multidão de pessoas, não é um ensinamento para reunir multidões; é um ensinamento de esforço, não é um ensinamento de preguiça; é um ensinamento de pensamentos corretos, não é um ensinamento de pensamentos errôneos; é um ensinamento de silêncio, não é um ensinamento de barulho; é um ensinamento para os sábios, não é um ensinamento para os tolos.” Neste momento, o Honrado pelo Mundo, sabendo dos pensamentos de Anuruddha, surgiu diante dele no bosque de Pacinavamsa no curto espaço de tempo necessário para um homem forte estender o seu braço, e disse a Anuruddha: “Muito bom, muito bom, Anuruddha, você tem contemplado as sete iluminações de um grande homem. Anuruddha, agora contemple a oitava iluminação de um grande homem, ou seja: ‘Este ensinamento é um ensinamento que não perde tempo com argumentações.’ Se você conseguir pensar sobre estes oito ensinamentos, você se libertará da cobiça e dos ensinamentos negativos, e desfrutará a felicidade que é atingida com a libertação dos desejos malignos, e você será capaz de entrar nas diversas meditações. Anuruddha, se você for capaz de entrar livremente nas várias meditações, então você será capaz de alcançar um estado de satisfação e felicidade ao vestir as roupas simples de um monge, ao comer aquilo que recebe como esmola, ao sentar-se sob uma árvore, ao dormir em uma cama CEBB

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de grama, e ao tomar remédios feitos de urina quando estiver doente. Você será exatamente como uma garota que se alegra e fica satisfeita quando seus armários estão cheios de roupas até o limite. Ó Anuruddha, durante o próximo retiro, permaneça aqui, no bosque Pacinavamsa em Ceti.” Anuruddha respondeu ao Honrado pelo Mundo: “Farei como você diz.” Assim, Anuruddha fez o retiro neste bosque e praticou e estudou sozinho, e logo atingiu a iluminação.

10. A Cidade de Kosambi (1) Anteriormente a isto, Pindola havia alcançado a iluminação com os ensinamentos do Honrado pelo Mundo, e de forma a disseminar o Darma na sua terra natal de Kosambi, ele havia retornado para lá residir. Devido aos seus esforços haviam sido plantadas as sementes lançadas em preparação para a disseminação da doutrina do Buda. Nos arredores da cidade de Kosambi havia um bosque chamado Udaka, situado às margens do rio Ganges; este bosque era de propriedade do rei. Filas de árvores alinhadas às margens se estendiam tão longe quanto o olho conseguia enxergar, e as ondas do vasto rio Ganges enviavam uma brisa fresca. Um dia, Pindola, ao se refugiar do calor da tarde, estava sentado em meditação sob as árvores que cresciam exuberantemente neste bosque. Neste mesmo dia, o rei Udena veio visitar o bosque acompanhado por suas damas de companhia. Tendo se divertido com a comida e os entretenimentos musicais, e sentindo-se cansado das apresentações, ele se afastou para

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descansar e tirar uma soneca. Enquanto o rei estava dormindo, as damas de companhia andaram de um lugar para outro; quando, repentinamente, elas encontraram o monge meditando, pediram por ensinamentos e ouviram atentamente as suas palavras. Algum tempo depois, o rei despertou de seu sono e achou estranho que suas damas de companhia não estavam por perto. Ele começou a procurá-las e encontrou-as aglomeradas ao redor do monge. Embrutecido pelo modo de vida lascivo, o rei perdeu todo seu senso de julgamento e correu em direção ao grupo com ciúme e raiva em seu coração, dizendo: “Não seria totalmente inapropriado para um monge ter mulheres ao seu redor e se entregar à conversa inútil com elas?” O monge fechou os olhos e permaneceu em silêncio. O rei, enlouquecido pela raiva, desembainhou sua espada e ameaçou golpear o monge na garganta, mas ainda assim ele não pronunciou uma palavra. Então, o rei desmanchou um formigueiro e jogou vários punhados de formigas vermelhas sobre o corpo do monge, mas ele permaneceu calmo e não moveu um músculo. O rei acabou se envergonhando por suas ações violentas, especialmente quando recobrou a compostura. Ele percebeu que este monge Pindola era o filho de um dos professores de confiança da corte. Sentimentos de remorso o invadiram e junto com suas damas de companhia ele pediu perdão por seus atos. Este incidente fez com que uma das consortes, de nome Samavati, desenvolvesse grande confiança nos ensinamentos do Buda, e também se tornou uma das causas para que o rei Udasena desenvolvesse reverência pelo Honrado pelo Mundo.

(2) Alguns dias se passaram e, então, o rei visitou Pindola em sua residência no bosque e o inquiriu com as seguintes palavras: “Ó grande CEBB

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professor, aqui você é um jovem monge; você cortou seus cabelos negros, abandonou os prazeres dos cinco sentidos, e levará um modo de vida puro até o final. Qual poder possibilita que você faça isso?” “Grande rei, o Buda, o Olho do Mundo, nos ensinou e disse: ‘Ó discípulos, olhem para as mulheres velhas como suas mães, para as mulheres de meia-idade como suas irmãs, e para as mulheres jovens como suas filhas.’ É por isto que, apesar de sermos jovens no corpo, somos capazes de abandonar as cinco paixões e conduzir uma vida pura.” “Grande professor, o coração do homem é pleno de paixões. Mesmo em relação a uma mulher velha como uma mãe surgem sentimentos lascivos; mesmo em relação a uma mulher da idade de uma irmã podem surgir pensamentos impuros; mesmo em relação a uma mulher jovem como uma filha podem surgir pensamentos licenciosos. Como pode um jovem monge, com sangue quente correndo por seu corpo, abster-se dos cinco desejos e levar uma vida de pureza?” “Grande rei, o Buda, a Luz do Mundo, nos ensinou, dizendo: ‘Este corpo humano da ponta dos dedos dos pés até o topo da cabeça está repleto de imundície: cabelo, unhas, dentes, saliva, sangue, pus, catarro, suor, lágrimas, gordura, urina e excrementos.’ Sabendo disto, é possível para os jovens monges com corpos jovens levarem vidas puras.” “Grande professor, isto pode ser fácil para um monge que passou por um longo período de treinamento espiritual e de controle mental, mas eu acho que deve ser muito difícil para um monge não-treinado. Ao tentar meditar sobre aquilo que é impuro, antes de percebê-lo sua mente será tomada pelo pensamento de que aquilo é puro. Ao tentar se fixar ao lado feio de alguma coisa, antes que ele perceba sua mente será arrastada para o lado belo daquela coisa. Portanto, deve existir alguma outra forma para que os CEBB

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jovens mendicantes se resguardem de uma forma pura.” “Grande rei, o Buda, que é onisciente e tudo vê, nos ensinou com as seguintes palavras: ‘Discípulos, vocês devem proteger as portas dos cinco sentidos. Quando com os olhos vocês virem uma forma, quando com os ouvidos vocês ouvirem um som, quando com o nariz vocês sentirem uma fragrância, quando com a língua vocês experimentarem um sabor, quando com o corpo vocês sentirem uma sensação de contato, não se apeguem à forma, não se apeguem aos objetos. Protejam as portas dos cinco sentidos. Pensamentos negativos se infiltrarão, a não ser que estas portas estejam bem protegidas contra sua entrada.’ É assim que um jovem monge na flor da juventude não se entrega aos cinco sentidos e vive uma vida pura.” “Grande professor, os ensinamentos do Buda são verdadeiramente dignos de elogios. Esta deve ser a razão para um jovem monge com sangue quente correndo por seu corpo conseguir sustentar uma conduta pura ao longo de toda sua vida. Grande professor, eu sei de minha própria experiência que se eu entrar no harém sem proteger as portas dos cinco órgãos e sem proteger meu corpo, boca e mente, eu imediatamente me tornarei um escravo de meus desejos impuros. Por outro lado, se eu me proteger contra as ações de corpo, fala e mente, eu não me tornarei um prisioneiro dos desejos negativos. Os ensinamentos do Buda mostraram isto claramente para mim.”

(3) O Honrado pelo Mundo, continuando sua viagem, chegou a Kosambi e entrou no Monastério Ghosita construído pelo abastado Ghosita. Magandiya, que agora era a primeira rainha do rei Udena, esperava por sua oportunidade de vingança. Ao ouvir sobre a chegada do Honrado pelo Mundo, ela subornou criminosos da cidade para caluniarem o Buda. Os CEBB

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discípulos do Buda ouviram estes ataques caluniosos dirigidos ao seu mestre e ficaram bastante preocupados. Ananda foi ao Buda e disse: “Honrado pelo Mundo, eu acredito que não precisamos permanecer em um lugar como este. Creio que seria melhor que fôssemos a algum outro lugar.” “Ananda, se formos até outro lugar e se tais calúnias ocorrerem novamente, o que faremos então?” “Honrado pelo Mundo, deveríamos partir mais uma vez para outra cidade.” “Ananda, neste caso não haverá fim para isto, não importa aonde eu vá. Eu creio que é melhor suportar silenciosamente qualquer calúnia que eu possa receber e esperar até que elas cessem. Então eu poderei ir para outro lugar. Ananda, o Buda não é afetado por oito coisas: ganho, perda, fama, difamação, louvor, menosprezo, sofrimento e prazer. Estes ataques difamatórios cessarão em sete dias.” O esquema de Magandiya falhou completamente; o número de pessoas que acabaram acreditando no Honrado pelo Mundo aumentou, e as calúnias contra o Buda cessaram. Nesta época havia a filha adotada pelo abastado Ghosita, chamada Samavati, que era consorte do rei na corte. Seu pai era um bom amigo de Ghosita. Na sua infância, a vila na qual ela residia foi assolada por uma terrível fome, e quando ambos os seus pais morreram por inanição, ela foi adotada pelo abastado Ghosita. Então, ela acabou se tornando uma rainha no palácio do rei Udena. Devido à profunda fé que seu pai adotivo Ghosita tinha no Buda, Samavati mantinha secretamente uma profunda reverência pela Sanga budista. Entre as damas de companhia da rainha consorte Samavati havia uma corcunda chamada Uttara. Seu dever era sair e comprar flores para a rainha. Certo dia, quando ela foi comprar flores, o vendedor disse a ela: “Hoje estou CEBB

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tão ocupado que não terei tempo para cuidar das flores. Devo servir o Honrado pelo Mundo. Você pode me ajudar a servir o Honrado pelo Mundo?” Assim, ela se juntou a ele para servirem o Honrado pelo Mundo e ouviu o seu discurso. Como tinha boa memória ela foi capaz de repetir palavra por palavra do sermão do Buda para a rainha consorte. Mais adiante as duas tomaram refúgio nos Três Tesouros. Uttara ia até o monastério, ouvia os discursos e os relatava à rainha. Magandiya ficou sabendo disso, e incessantemente começou a importunar os ouvidos do rei com palavras de difamação, dizendo: “Samavati está apaixonada por Gotama. Uttara está sendo usada como mensageira.” Com toda a sua astúcia feminina ela envenenou a mente do rei. O rei se inflamou com raiva e tomou uma aljava de flechas envenenadas, convocou Samavati e todos os seus servos para comparecerem diante dele. A rainha compreendeu a situação e silenciosamente controlou sua mente e preparou todos para suas mortes, comparecendo calmamente diante do rei. Todos esperavam ver as flechas envenenadas deixarem o arco e sangue ser derramado, mas as flechas não saíam da mão do rei; elas permaneceram imóveis em suas mãos. O rosto do surpreso rei gotejava com um suor oleoso; seu corpo começou a tremer como palha ao vento; espuma escorria de sua boca. Finalmente, ele mal foi capaz de implorar por ajuda com uma voz fraca e encoberta. Samavati disse a ele para apontar a flecha para o chão. Quando assim o fez, o rei foi capaz de atirar a flecha. O rei ficou chocado com este acontecimento milagroso; seu coração ficou tocado pelos ensinamentos do Buda. Depois disso ele começou a visitar o monastério livremente e permitiu que os discípulos do Buda fossem convidados ao seu palácio.

(4) O Honrado pelo Mundo conduziu um retiro no Monastério Ghosita. CEBB

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Durante os três meses da estação das chuvas Samavati fez oferendas no monastério e convidou um discípulo a cada dia para o palácio interno e fez oferendas a ele. Ananda acompanhou a maior parte destas oferendas. Certo dia, neste monastério, Pindola fez uma revelação sobre sua iluminação, dizendo: “Minha vida mundana terminou; eu completei todas as práticas puras. Eu fiz tudo o que tinha a fazer. Desta forma, não há samsara para mim que leve à ilusão.” O Honrado pelo Mundo explicou estas palavras de Pindola para os seus discípulos, dizendo: “Discípulos, Pindola declarou sua iluminação através das três práticas da atenção mental correta, meditação e sabedoria ao dizer: ‘Minha vida mundana terminou. Eu completei todas as práticas puras.’” Pindola expressou sua felicidade com a seguinte canção: “Não há vida sem os preceitos. Por saber que minha vida corpórea é sustentada pelo alimento eu mendigo por comida. Mas não tenho apego à comida. As oferendas de uma família próspera são como sujeira; elas são como pequenas flechas que não podem ser retiradas. Eu sei que a piedade das pessoas negativas, também, não pode ser desperdiçada.”

(5) Após o término do retiro, Samavati fez uma oferenda de quinhentas peças de roupa a Ananda, que dividiu o presente entre os membros da Sanga. O rei Udena, ao ouvir sobre isto, ficou bastante surpreso. Ele visitou Ananda e o reprovou, dizendo: “Não seria avidez um monge aceitar uma oferenda tão grande? E, grande professor, o que você irá fazer com todas essas vestimentas?” “Grande rei, eu irei dividi-las entre os discípulos cujas vestimentas estão rasgadas.” “O que será feito com as vestimentas rasgadas?” “As vestimentas rasgadas serão transformadas em cobertas para as CEBB

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camas.” “O que vocês farão com as cobertas velhas?” “Delas serão feitas capas para travesseiros.” “O que vocês farão com as capas para travesseiros velhas?” “Com elas serão feitas almofadas.” “O que você farão com as almofadas velhas?” “Elas serão transformadas em toalhas de limpeza para secar os pés.” “O que vocês farão com as tolhas velhas?” “Delas serão feitos panos secos.” “O que vocês farão com os panos secos velhos?” “Grande rei, iremos rasgar os panos secos em pequenos pedaços e misturá-los com sujeira e argila, usando-os para rebocar as paredes das casas.” “Grande professor, que maravilhoso! Os discípulos do Buda sabem realmente como fazer uso de coisas materiais.” O rei partiu fortemente impressionado.

(6) Magandiya ficou cada vez mais desesperada e irritável até o ponto em que não conseguia mais suportar a situação. Todos os seus esquemas de difamação não haviam dado resultados; o coração do rei estava agora voltado para o Buda. Sua determinação se voltou, então, para Samavati. Conspirando com seu tio, que era empregado do palácio e também era uma pessoa negativa, Magandiya, durante o tempo em que o rei estava distante do país, mandou colocar fogo na residência de Samavati. Samavati, que dirigiu e encorajou seus atendentes em prantos que foram apanhados no incêndio, permaneceu calma e controlada. Agarrando-se aos ensinamentos do Buda em seu coração, ela desistiu da vida pela verdade. Uttara, sua serva corcunda, CEBB

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também pereceu nas chamas. O rei Udena ficou furioso com a tragédia, e fez com que Magandiya e seus cúmplices fossem queimados até a morte. O Honrado pelo Mundo pranteou a morte destas nobres mulheres e louvou Samavati como a mais compassiva entre todas as mulheres, e Uttara como a mais capaz para ouvir o Darma.

(7) Um dia o Honrado pelo Mundo foi aos subúrbios de Kosambi e permaneceu em pé às margens do rio Ganges. Ao ver grandes troncos flutuando rio abaixo ele disse aos discípulos: “Discípulos, vocês veem os grandes troncos flutuando na água e sendo levados embora pela corrente? Discípulos, se aqueles troncos não se aproximarem das margens, não afundarem em meio à corrente, não subirem nas duas margens, não forem apanhados por homens, não forem apanhados por deuses, não forem sugados por redemoinhos e não apodrecerem por dentro, então esses troncos chegarão e permanecerão no oceano. Discípulos, é o mesmo com vocês, vocês entrarão e permanecerão no nirvana. E por quê? Porque visões corretas nos levam ao nirvana.” Um discípulo perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, qual é o significado das duas margens? Qual é o significado de afundar em meio à corrente, subir nas margens, ser apanhado por pessoas, deuses ou redemoinhos, e apodrecer por dentro?” “Discípulos, esta margem são os cinco órgãos; a outra margem são os objetos externos. Afundar em meio à corrente é afundar nos prazeres do desejo. Subir nas margens é o orgulho próprio. Ser apanhado por pessoas é o monge que se mistura com os leigos; eles desfrutam felicidade e tristeza juntos. Quando os leigos se regozijam, o monge se regozija; quando os leigos sofrem, o monge sofre. Eles se tornam companheiros em todas as coisas – isto CEBB

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é o que significa ser apanhado pelas pessoas. Ser apanhado pelos deuses é fazer o voto de renascer no mundo dos deuses e praticar com este objetivo, esperando que através da prática dos preceitos, ascetismo e ações puras seja alcançado o estado de um deus. Ser sugado pelos redemoinhos significa ser levado pelos cinco desejos. Apodrecer por dentro significa que, apesar de ser um discípulo do Buda, a própria natureza é negativa, os preceitos não são seguidos, é feito o mal e não é feito o bem, e as próprias ações são escondidas; não se é um monge, mas se veste a aparência de um monge, e por dentro se encontra apodrecido.”

(8) Neste momento, um vaqueiro de nome Nanda estava parado em um local não muito distante do Honrado pelo Mundo. Nanda se dirigiu ao Buda, dizendo: “Honrado pelo Mundo, eu me esforçarei para libertar-me de todas as obstruções e me esforçarei para seguir o caminho. Honrado pelo Mundo, eu gostaria de ficar com você e de me tornar seu discípulo.” “Nanda, então você deveria retornar e devolver o gado ao seu patrão.” “Honrado pelo Mundo, estas vacas retornarão sozinhas devido ao amor por suas crias.” “Nanda, é melhor que você volte e devolva o gado ao seu patrão.” Assim, o vaqueiro Nanda devolveu o gado ao seu patrão e ao voltar para o Buda pediu a permissão para se tornar um discípulo. Seu desejo foi concedido e Nanda, entregando-se às práticas, não muito tempo depois alcançou a iluminação.

(9) Um dia o Honrado pelo Mundo assim falou enquanto estava no Monastério Ghosita: “Discípulos, suponham um homem que apanhe seis CEBB

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diferentes espécies de animais e que os amarre juntos com uma corda resistente. Os animais presos são uma cobra, um crocodilo, um pássaro, um cão, uma raposa e um macaco. Ele amarra cada um destes animais com uma corda resistente e amarra as cordas umas às outras, e deixa os animais à sua própria sorte. Neste momento, cada uma das seis espécies procura retornar ao seu local de moradia – a cobra para um morro, o crocodilo para a água, o pássaro para o céu, o cão para uma vila, a raposa para um cemitério e o macaco para um bosque. As seis criaturas irão lutar umas com as outras e ficarão fatigadas; finalmente, elas serão arrastadas na direção daquele que for mais forte, e ficarão sob seu controle. “Discípulos, da mesma forma, se não contemplarem a impureza do corpo, não praticarem as três meditações sobre as máculas do corpo, se forem negligentes com estas práticas, seus olhos serão atraídos para as formas que gostam e terão aversão por aquelas que não gostam. O mesmo acontece com o ouvido, o nariz, a língua, o corpo e a mente. Eles são atraídos pelas coisas agradáveis e não são atraídos pelas coisas desagradáveis. Discípulos, isto se chama ausência de restrições. “Discípulos, o que se quer dizer por restrições? Quando são vistas as formas com os olhos, não surge apego àquelas que são agradáveis, nem surge raiva diante daquelas formas que são desagradáveis. Permanece-se na meditação sobre o corpo e nas quatro mentes ilimitadas da compaixão, clemência, alegria e desapego. Então, é conhecida verdadeiramente a libertação da mente e a libertação da sabedoria; assim é possível afastar-se de todos os pensamentos negativos que possam surgir. É o mesmo com os sons, fragrâncias, sabores e sensações – com a mente chega-se a perceber todas as coisas, não surge apego às coisas agradáveis, não surge raiva diante das coisas desagradáveis, e permanece-se na meditação do corpo e das quatro CEBB

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mentes ilimitadas. Então, chega-se verdadeiramente a conhecer a libertação da mente e a libertação da sabedoria; assim, são destruídas todas as coisas negativas que possam surgir. “Discípulos, animais amarrados a um poste inicialmente lutam para retornar às suas respectivas moradias, mas no final se cansam e param, ou sentam e deitam perto do poste. “Discípulos, da mesma forma, aquele que praticar a meditação do corpo, dos ouvidos, do nariz, da língua, do corpo e da mente não será influenciado pelos variados estados em que estes possam se encontrar. A meditação sobre o corpo é como um firme poste ou árvore. Assim, vocês devem praticar a meditação sobre o corpo.” Assim, o Honrado pelo Mundo permaneceu por um longo tempo em Kosambi; depois, ele retornou a Savatthi.

FIM DO LIVRO II

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LIVRO III

Introdução

Este livro inicia com a história de Ghatikara, cujos atos de generosidade desinteressados conquistaram a confiança completa do Buda. Em seguida, através do uso de parábolas, o Buda explica que apenas aprender os ensinamentos sem compreender seu significado leva ao sofrimento em vez de levar à felicidade. Por exemplo, ao pegar uma cobra da forma errada, corre-se o risco de morrer ou de sofrer com sua picada; portanto, deve-se desenvolver o controle adequado da mente e do corpo em tudo que se faça. A parábola da balsa apresenta o homem que construiu uma balsa para cruzar um rio, mas que continua a carregá-la para todos os lugares por ela ter sido tão útil ao cruzar o rio. O Buda explica que, assim como esse homem, as pessoas se apegam à doutrina e aos ensinamentos sem compreender adequadamente a natureza da impermanência e das condições mutáveis da vida. Devem-se jogar fora as coisas que não são mais essenciais para evitar a ansiedade e o sofrimento. A parábola da balsa enfatiza a natureza nãoabsoluta da doutrina. O Buda explica a Ananda que ele deveria focar a mente original pura, a base da iluminação, e não deveria ser arrastado pelas visões que podem

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distraí-lo do pensamento sobre a verdadeira natureza das coisas. A mente verdadeira não é afetada pelas condições mutáveis e nos conduz à iluminação. Ao não identificar a mente original com a identidade fenomênica é possível alcançar o dharmadhatu, o mundo espiritual livre de imagens que não é idêntico ao mundo fenomênico das particularidades que vemos e experimentamos; porém, ao mesmo tempo, há uma interpenetração mútua entre os dois mundos. É claro, surge a questão, conforme expressado por Purna (Capítulo I, Seção 4:7), sobre como este mundo de diferenças pode surgir da mente pura. É explicado que a criação da mente deludida não existe verdadeiramente, mas se manifesta de acordo com determinadas condições. A mente original pura, Tathagata-garbha, não é nem vazia nem consiste em materiais ou elementos psicológicos; porém, ela pode se manifestar livremente sem obstruções. Entretanto, as manifestações diferenciadas são como bolhas flutuando sobre o oceano; elas não possuem existência substancial. Finalmente, no final do Livro III, o leitor encontrará passagens do Sutra Avatamsaka, que era considerado por D. T. Suzuki, um eminente erudito budista, como sendo a consumação do pensamento budista. Esse sutra é, na verdade, uma coleção de diversos sutras encontrados em diversas versões e extensões dos versos. A seleção no Capítulo III, Seção 7 representa uma parte do Gandavyuha, que narra as peregrinações de um jovem chamado Sudhana, um filho de uma nobre família que viaja por toda a Índia, peregrinando de um kalyanamitra (amigo espiritual) para outro, tendo encontrado 53 professores no total, cujo conhecimento o levaria à iluminação. A história da jornada de Sudhana levou ao estabelecimento das 53 estações ao longo da estrada Tokaido de Tóquio a Kyoto, que se tornou famosa pelo conjunto de gravuras em madeira produzido por Hiroshige em CEBB

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LIVRO III Capítulo I - O SEGUIDOR IDEAL

1. Ghatikara

(1) Viajando para Savatthi com seus muitos discípulos, o Honrado pelo Mundo passava pelo país de Kosala quando parou em um lugar ao lado da estrada. Ele ficou parado com um sorriso em seu rosto. Ananda perguntou ao Buda qual a razão de seu sorriso e o Honrado pelo Mundo respondeu: “Ananda, no passado muito distante este lugar era chamado Vehalinga. Era uma rica e próspera cidade na qual moravam muitas pessoas. Era essa a cidade que o Buda Kassapa escolheu como local de sua moradia. Ananda, este é o lugar onde o Tathagata Kassapa costumava sentar e ensinar seus discípulos.” Ao ouvir estas palavras, Ananda tirou seu manto amarelo e o dobrou quatro vezes. Colocando-o no chão, ele disse: “Honrado pelo Mundo, por favor, sente-se nesta almofada. Desta forma este lugar se tornará um ponto onde dois Budas se sentaram.” O Honrado pelo Mundo sentou-se e contou a Ananda a história de Ghatikara e de Jotipala.

(2) Na cidade de Vehalinga vivia um oleiro de nome Ghatikara. Ele era um seguidor devotado do Buda Kassapa, e era o principal doador entre os

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seguidores. Ele tinha um bom amigo chamado Jotipala. Um dia, Ghatikara se voltou ao seu amigo Jotipala e disse: “Vamos visitar e prestar homenagem ao Buda Kassapa. É bom ir e prestar homenagem ao Honrado pelo Mundo.” Mas Jotipala se recusou, dizendo: “Qual é o benefício de ir ver um monge careca?” Apesar de ter sido convidado duas ou três vezes mais, ele continuou a recusar da mesma maneira. Assim, Ghatikara levou seu amigo para o rio para que eles pudessem se banhar. Enquanto estavam no rio, Ghatikara segurou o bracelete de Jotipala, esfregou-o e suplicou-lhe, dizendo: “Vamos prestar homenagem ao Honrado pelo Mundo.” Jotipala ficou aborrecido e tirou o bracelete de seu pulso; um pouco irritado, ele recusou novamente. Assim, os dois começaram a lavar seus corpos, e quando Jotipala se curvou para lavar sua cabeça, Ghatikara agarrou o cabelo de seu amigo, e esfregando gentilmente o seu cabelo, disse: “Vamos ver o Honrado pelo Mundo.” Então, surgiu o pensamento na mente de Jotipala: “Isto é muito estranho. Este Ghatikara é uma pessoa de nascimento inferior ao meu, de modo que lhe é proibido tocar minha cabeça, no entanto ele está segurando meus cabelos para me convencer a ir visitar o Buda. Isto é muito estranho e incomum.” Jotipala tirou sua cabeça das mãos de Ghatikara e, pela primeira vez, concordou com o desejo de seu amigo. Assim, os dois foram até a presença do Buda Kassapa, e Ghatikara suplicou ao Buda, dizendo: “Honrado pelo Mundo, este é um bom e querido amigo. Por favor, você poderia lhe ensinar o Darma?” O Buda Kassapa ensinou-lhes o Darma e os fez muito felizes. Regozijando-se por terem ouvido a doutrina, os dois prestaram homenagem ao Honrado pelo Mundo caminhando ao seu redor pela direita, e então eles CEBB

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partiram. Jotipala disse: “Você acabou de ouvir um discurso maravilhoso. Você deseja se tornar um monge?” Ghatikara respondeu: “Jotipala, o que você está dizendo? Você conhece muito bem minha situação familiar. Eu tenho que tomar conta de meus pais idosos e cegos.” Jotipala disse: “Então, Ghatikara, eu me tornarei um monge.” Encorajado por seu amigo, Jotipala encontrou o Buda Kassapa, ouviu o Darma e se tornou um monge.

(3) Aproximadamente meio mês depois de Jotipala ter se tornado um monge, o Buda Kassapa seguiu para Baranasi e se estabeleceu no Parque dos Cervos. O regente do país de Kasi, o rei Kiki, ficou sabendo disto. Preparando sua bela carruagem ele foi até a presença do Buda Kassapa, ouviu seu discurso e convidou o Buda para uma refeição no dia seguinte. O Buda foi ao palácio na manhã do dia seguinte e recebeu uma oferenda de alimentos, mas ele recusou o convite de realizar um retiro no palácio devido a outros compromissos. O rei pleiteou com o Buda insistentemente para que houvesse o retiro no palácio, mas em todas as vezes obteve a mesma recusa. No final, o rei começou a mostrar seu descontentamento e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, há alguém além de mim que sirva a sua Sanga tão bem?” O Buda respondeu: “Ó rei, na vila de Vehalinga há um oleiro chamado Ghatikara. Ele é o maior de meus colaboradores. Mesmo que lhe seja recusado o convite para um retiro, ele nunca apresenta sinais de descontentamento. Ó rei, ele encontrou refúgio no Buda, no Darma e na Sanga; ele segue o preceito de não matar; ele não se entrega a ações sexuais ilícitas; ele não toma coisas que não lhe pertencem; ele não pronuncia palavras falsas; ele não se entrega aos tóxicos. Ele possui uma forte fé no CEBB

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Buda, no Darma e na Sanga. Ele segue os preceitos que os sábios seguiram; ele afastou todas as dúvidas em relação às Quatro Nobres Verdades. Ele segue a regra de ter uma única refeição ao dia; ele não acumula riquezas. Ele não cava o chão com uma pá com suas próprias mãos, mas usa a terra que caiu de um barranco ou que foi cavada por cães ou ratos como material para sua cerâmica. Ele diz: ‘Leve o que você quiser das coisas que faço, deixando qualquer quantidade de arroz, feijões ou ervilhas que você tenha disponível.’ Ele cuida de seus dois pais cegos. Ele se afastou das quatro impurezas. Assim, ele não retornará para este mundo, mas entrará no mundo do nirvana.

(4) “Ó rei, uma manhã quando eu residia na vila de Vehalinga, eu visitei a casa de Ghatikara. Seus pais estavam lá. Eu perguntei: ‘O mestre desta casa está aqui?’ ‘Não, Honrado pelo Mundo, ele saiu para negociar, mas, por favor, aceite o arroz cozido naquela panela e a sopa que está na outra.’ Ó rei, eu fiz como eles me pediram e, então, parti. Quando Ghatikara chegou e ouviu sobre o que tinha acontecido, ele exclamou: ‘Ó, que pessoa afortunada sou eu! Agradeço por o Buda Kassapa confiar em mim desta forma.’ Ghatikara ficou feliz por meio mês, seus pais ficaram felizes durante sete dias. “Ó rei, em outro momento, eu descobri que o meu teto estava pingando quando chovia. Assim, chamei meus discípulos e disse-lhes para obterem um pouco de palha da residência de Ghatikara para cobrir o meu teto. Então, os discípulos me disseram: ‘Honrado pelo Mundo, não há palha na casa de Ghatikara, ele colocou a palha nova em sua oficina.’ “’Então tirem a palha do telhado da oficina e tragam-na até aqui’, eu mandei. Os discípulos foram até a oficina como eu havia mandado e retiraram a palha nova do telhado. Os pais de Ghatikara disseram: ‘Quem CEBB

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está tirando a palha do telhado?’ Ao ouvirem que era para consertar uma goteira no teto da sala de meditação do Buda Kassapa, o velho casal disse: ‘Por favor, peguem, peguem.’ Estas palavras foram ditas com grande alegria. “Ghatikara, ao retornar e ficar sabendo disto, disse: ‘Que pessoa afortunada sou eu! Fico feliz em saber que o Buda Kassapa confia em mim desta forma.’ Assim como no acontecimento anterior, ele ficou tomado por felicidade e alegria. “Ó rei, sua oficina ficou descoberta por três meses, mas, felizmente, não choveu muito neste período. Ó rei, assim é Ghatikara.” O rei Kiki ao ouvir isto, disse: “Ghatikara é realmente uma pessoa afortunada, ele tem a confiança de alguém como o Buda Kassapa. Muito grande deve ser sua felicidade.” O rei enviou arroz em quinhentas carroças para Ghatikara, mas Ghatikara recusou este presente, dizendo: “Ó rei, você deve ter muitas despesas para cobrir. Eu já tenho o bastante.” O Buda contou tudo isto a Ananda, e ele acrescentou: “Ananda, na verdade, naquela época, eu era Jotipala.”

2. A Parábola da Cobra e a Parábola da Balsa

(1) O Honrado pelo Mudo retornou ao Monastério do Bosque Jeta. Certo dia, ele disse aos seus discípulos: “Meus discípulos, para conhecerem, extinguirem e libertarem-se da cobiça vocês devem praticar estas três portas da liberação: a primeira, a meditação sobre a vacuidade; a segunda, a meditação da ausência de sinais; e a terceira, a meditação da ausência de desejos. Além do mais, vocês devem praticar estas três meditações de forma a

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conhecerem, extinguirem e libertarem-se da raiva, ignorância, segredos, presunção, ciúme, mesquinharia, bajulação, engano, disputas, orgulho excessivo e negligência.”

(2) Uma vez um brâmane disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Gotama, você diz que os seus ensinamentos têm efeitos nesta vida atual, mas como você pode afirmar que eles têm efeitos nesta vida? Além disso, existem pessoas que podem entender se os seus ensinamentos levam as pessoas ao nirvana?” O Buda respondeu: “Ó brâmane, a mente inflamada, destruída e presa aos pensamentos de cobiça, raiva e ignorância traz problemas para aqueles que sustentam tais pensamentos, e gera pensamentos desejosos de prejudicar os outros; na própria mente, essa pessoa conhecerá sofrimento e preocupações. Aquele que se liberta da cobiça, da raiva e da ignorância não pensa em coisas prejudiciais a si mesmo, e não conhece o sofrimento e as preocupações. Ó brâmane, este ensinamento é um ensinamento que apresenta efeitos nesta mesma vida; além disso, todos sabem que este ensinamento conduz ao nirvana.”

(3) Ainda em outro momento, havia um discípulo chamado Arittha, que anteriormente caçava águias e que mantinha uma visão negativa. Ele disse: “O Honrado pelo Mundo diz que algumas ações são obstáculos para a prática do caminho, mas quando realizamos tais ações percebemos que elas não são um obstáculo tão grande.” Muitos discípulos tentaram fazê-lo abandonar sua visão negativa, mas independente do quanto tentassem mudar sua visão através de discussões e argumentos, todos foram em vão. O Honrado pelo Mundo ficou sabendo disso e chamou Arittha até ele, e, após reprová-lo, instruiu seus discípulos: CEBB

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“Ó discípulos, se um caçador de cobras encontrar uma grande cobra e agarrála pelo corpo ou pelo rabo, então a cobra voltará seu corpo e picará suas mãos, pulsos ou outras partes de seu corpo. Por isto, ele poderá morrer ou sofrerá uma terrível agonia. E por quê? Pelo fato de estar segurando a cobra da maneira errada. Da mesma forma as pessoas tolas, ao aprenderem os ensinamentos do Buda, não compreendem seu significado e, portanto, não são capazes de discernir a verdade. Elas estudam os ensinamentos para poderem citar passagens autorizadas ao argumentarem com outras pessoas. Essas pessoas não entendem o significado, apesar de estudarem os ensinamentos. Elas desvirtuam os ensinamentos e cairão em sofrimento duradouro. Isto se deve ao fato de compreenderem incorretamente meus ensinamentos. “Ó discípulos, existem alguns filhos de boas famílias que aprendem estes ensinamentos e pesquisam o seu significado; eles compreendem corretamente os ensinamentos e terão felicidade por um longo tempo. Por quê? Porque eles entendem corretamente os ensinamentos. Eles agem como um caçador de cobras que usa um garfo de madeira e prende a cobra no chão pressionando o garfo em seu pescoço, e então a pega pelo pescoço. Não importa quantas vezes a cobra possa se enroscar em seu corpo ao redor das mãos, dos pulsos ou de qualquer outra parte de seu corpo, essa pessoa não morrerá ou experimentará uma dor mortal. E por quê? Porque ela obteve um firme controle sobre a cobra.

(4) “Ó discípulos, para que vocês possam se afastar do apego, eu irei contar a parábola da balsa. Um homem estava fazendo uma longa jornada. Ao encontrar um grande oceano a sua frente, ele assim pensou: ‘A margem deste lado do oceano parece perigosa, mas a margem do outro lado é segura. CEBB

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Porém, não há barco e não há uma ponte. Atravessarei para o outro lado juntando palha, troncos e folhas e construindo uma balsa.’ Logo ele terminou a balsa e conseguiu alcançar a outra margem com segurança. Ao chegar à outra margem a salvo, ele pensou: ‘Esta balsa provou ser de grande valor para mim. Eu fui capaz de chegar a esta margem com segurança devido a ela. Irei carregá-la sobre minha cabeça e ombros, levando-a a todos os lugares.’ Ó discípulos, o que vocês acham disso? Vocês acham que essa pessoa fez o que deveria ser feito com a balsa?” Os discípulos responderam: “Não, Honrado pelo Mundo, ele não fez.” O Buda continuou: “Ó discípulos, então o que vocês acham que esse homem deveria ter feito com a balsa? Ó discípulos, essa pessoa, após chegar ao seu destino, ou deveria deixar a balsa na praia da outra margem ou deveria deixá-la solta no oceano para ir aonde quer que fosse. Ó discípulos, através desta parábola da balsa estou dizendo a vocês para não se apegarem aos ensinamentos. Mesmo os ensinamentos devem ser deixados de lado, conforme vimos na parábola da balsa. E o que dizer então dos ensinamentos falsos!”

(5) O Buda ensinou: “Ó discípulos, existem quatro coisas das quais surgem as visões negativas de ‘eu’ e ‘meu’; elas são o corpo, a mente, as percepções como ouvir e ver, e os pontos de vista mentais. Ó discípulos, aqueles que não estudam e praticam, que não se associam a boas pessoas, e que são ignorantes dos ensinamentos dos sábios e das pessoas de bem – tais pessoas reconhecem e se apegam a estas quatro coisas, pensando: ‘Elas pertencem a mim, este sou ‘eu’, este é o meu ego.’ “Entretanto, alguém que estuda amplamente, associa-se com pessoas de bem, e é treinado nos ensinamentos dos sábios e das pessoas de bem não CEBB

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reconhecerá e não se apegará a estas quatro coisas. Assim, mesmo quando estas coisas são extintas ele não se afastará dos pensamentos corretos e não será ameaçado pelo medo.” Naquele momento, um discípulo se dirigiu ao Honrado pelo Mundo, dizendo: “Honrado pelo Mundo, poderia alguém se afastar do pensamento correto e ser ameaçado pelo medo devido a influências externas?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Assim é uma pessoa que pensa desta forma: ‘Antes, isto pertencia a mim, mas agora não é mais meu. Conseguirei torná-lo

meu

novamente?

Provavelmente

será

impossível

possuí-lo

novamente.’ Essa pessoa se entristece e chora, batendo em seu peito angustiada. Este é um caso em que alguém, devido a influências externas, afasta-se dos pensamentos corretos e é ameaçado pelo medo. Além do mais, mesmo pensando assim, se ela não se entristecer, não se angustiar e não chorar, batendo em seu peito angustiada, tal pessoa não se afastará dos pensamentos corretos e não será ameaçada pelas influências externas.” O discípulo perguntou: “Honrado pelo Mundo, é possível que uma pessoa se afaste dos pensamentos corretos e seja ameaçada pelo medo devido a influências internas?” O Buda respondeu: “Assim é uma pessoa que pensa que este mundo e seu ego existirão para sempre imutáveis. Ao ouvir os ensinamentos do Buda sobre a ausência de identidades, ela se entristece, chora e bate em seu peito angustiada, enquanto pensa: ‘Se eu seguir este ensinamento, aquilo que chamo de ‘mim mesmo’ será extinto e não mais existirá.’ Este é um caso em que a pessoa se afasta dos pensamentos corretos e é ameaçada pelo medo devido a influências internas. “Se, ao ouvir o ensinamento do Buda sobre a ausência de identidades, a pessoa não se entristece ou se aborrece pensando que será extinta e não mais existirá, então este é um caso em que ela não se afasta dos pensamentos CEBB

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corretos e não é ameaçada pelo medo devido a influências internas.”

(6) O Buda perguntou: “Ó discípulos, vocês já possuíram alguma coisa que continuou existindo sem mudanças de qualquer tipo? Ou vocês já encontraram algo que seja permanente e imutável?” “Ó Honrado pelo Mundo, não, nunca vimos tal coisa.” O Buda continuou: “Ó discípulos, muito bem dito. Eu, também, nunca vi tal coisa. Neste mundo não há nada que exista permanentemente e eternamente. Quando alguém se apega às identidades, a ansiedade, os problemas e os sofrimentos surgirão. Discípulos, se há um ‘eu’, então surgirá o ‘meu’; se houver ‘meu’, surgirá o ‘eu’. Entretanto, como não conseguimos descobrir em parte alguma a existência de ‘eu’ ou ‘meu’, a ideia de que este mundo e ‘eu’ existem e não se modificam por toda a eternidade é completamente ingênua.” O Buda perguntou: “Ó discípulos, o corpo é permanente ou impermanente?” Os discípulos responderam: “É impermanente.” Algo que é impermanente traz sofrimento ou felicidade?” “Sofrimento.” “Em relação a algo que é impermanente, mutável e traz sofrimento, é correto dizer que isto pertence a mim ou que é ‘eu’ ou ‘meu ego’?” “Não, Honrado pelo Mundo, não é correto.”

(7) O Buda disse: “Ó discípulos, isto não se aplica apenas ao corpo, também se aplica à mente. Portanto, devemos entender que, não importa qual seja o tipo de corpo, este corpo não pertence a mim; ele não é ‘eu’; ele não é o meu ego. Isto também se aplica à mente da mesma forma. “Ó discípulos, estes discípulos veem e ouvem os ensinamentos desta forma; eles sentem repulsa pelo corpo e pela mente, afastam-se da cobiça, e CEBB

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alcançam a emancipação. Então, a sabedoria que diz: ‘Eu alcancei a emancipação’ surge, e eles entendem que os nascimentos cessaram, que as ações puras foram completadas, e que todas as coisas que precisam ser alcançadas foram alcançadas; e que para tal pessoa não haverá nascimento após o fim desta vida. Tal pessoa é chamada de um sábio que se afastou de todos os impedimentos e da escravidão, e que deitou o pesado fardo.”

(8) “Ó discípulos, alguns monges me criticam sem qualquer fundamento, dizendo: ‘Gotama ensina a destruição e a extinção dos seres.’ Ó discípulos, não é isto o que eu digo. Eu venho ensinando, no passado e no presente, o sofrimento atual e a extinção do sofrimento. Mesmo que eles critiquem, ofendam e difamem o Buda, o Buda não se perturba e não se irrita. Além disso, mesmo quando as pessoas louvam e reverenciam o Buda, e fazem oferendas a ele, o Buda não se regozija e não experimenta prazer ou se orgulha. Quando uma pessoa reverencia e respeita o Buda, e faz oferendas a ele, o Buda pensa assim: ‘O fato de ela fazer isto para mim – eu já sabia disto antes.’ Assim, mesmo que alguém os critique, ofenda e difame, vocês não deveriam se perturbar ou se irritar. E também vocês não deveriam se regozijar quando alguém os elogia, nem deveriam se orgulhar ou ser arrogantes. Vocês devem lembrar que já sabiam disto anteriormente. “Ó discípulos, portanto, joguem fora todas as coisas que não pertencem a vocês. Se vocês as jogarem fora, isto lhes trará muitos kalpas de felicidade. Quais são as coisas que não pertencem a vocês? Seus corpos não pertencem a vocês, joguem-nos fora. Suas mentes também não pertencem a vocês, joguem suas mentes fora. Se vocês os jogarem fora, receberão benefícios e contentamento por muitos kalpas. “Ó discípulos, o que pensam sobre o seguinte? Suponham que uma CEBB

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pessoa venha até este Bosque Jeta e traga consigo grama, ramos e folhas, e coloque fogo neles. Neste momento, vocês achariam que esta pessoa trouxe coisas que eram de vocês e as queimou?” Os discípulos responderam: “Ó Honrado pelo Mundo, não deveríamos pensar assim. E a razão para isto é que essas coisas não nos pertencem.” O Buda disse: “Ó discípulos, da mesma forma, joguem fora todas as coisas que não pertencem a vocês. Se vocês as jogarem fora, alcançarão felicidade por muitos kalpas.”

3. Matangi (1) Certo dia, o Honrado pelo Mundo foi convidado pelo rei Prasenajit. Acompanhado por muitos discípulos, ele prosseguiu até o palácio. Apenas Ananda de todos os discípulos havia recebido um convite especial de outra família, e sozinho entrou na cidade de Sravasti. Após receber as oferendas de seu anfitrião, Ananda se colocou no caminho de retorno. Caminhando pela estrada ele ficou com muita sede. Ao passar ao lado de um grande lago, viu uma jovem garota que pertencia aos candalas, a casta intocável, tirando água de um poço. Ananda lhe disse: “Ó jovem irmã, por favor, dê-me um pouco de água.” A garota respondeu, hesitando: “Venerável, eu sou uma pessoa de nascimento inferior.” “Jovem irmã, eu sou um monge. Em meu coração eu não faço distinções entre os de nascimento elevado e os de nascimento inferior.” A garota, muito feliz pelo pedido, retirou água pura do poço e lhe

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ofereceu. Ananda bebeu a água devagar, e ao terminar, partiu. Mas a nobre aparência de Ananda e suas palavras gentis fizeram uma impressão profunda na jovem garota, e ela se apaixonou por ele. Voltando para casa ela fez um pedido a sua mãe, que era adepta da magia, dizendo: “Por favor, convide o sábio Ananda para nossa casa.” “Filha, minha magia não pode ser aplicada àqueles que se libertaram da cobiça ou que estão mortos. Em especial, o mestre deste sábio, Gautama, é uma pessoa de grandes virtudes. Como ele é altamente respeitado pelo rei Prasenajit, se eu trouxer o sábio até aqui através de magia, todos nós da casta sudra seremos mortos.” Mas o coração que estava tomado pelo amor não podia ser parado. A jovem garota gritou, dizendo: “Só me resta um caminho, devo morrer.” A mãe, não sabendo mais o que fazer, finalmente decidiu concordar com o desejo de sua filha. Em um quarto da casa ela colocou um pouco de excremento de vaca sobre o chão sujo e empilhou um pouco de grama branca congo por cima; ela acendeu o fogo e jogou cento e oito pétalas de lótus sobre as fortes chamas. E a cada vez que jogava uma pétala de lótus, ela rezava aos deuses da terra e dos céus, dizendo: “Façam com que o sábio Ananda venha até esta casa.”

(2) Neste momento, Ananda ficou confuso e, estranhamente, cambaleou até a casa da jovem garota. Ele foi saudado com grande alegria pela mãe e pela filha, que estavam queimando incenso e espalhando flores. Ele se sentou sobre uma bela almofada, mas ficou com medo, como alguém que repentinamente desperta de um sonho, e com a mente unifocada ele clamou pelo poder do Honrado pelo Mundo para ajudá-lo a escapar da difícil situação. CEBB

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Enquanto isso, o Honrado pelo Mundo, que havia retornado do palácio do rei Prasenajit ao Bosque Jeta, soube instantaneamente do perigo que recaía sobre Ananda, e recitou um verso:

Se o lago dos preceitos for puro, as máculas das pessoas serão purificadas. Aqueles de sabedoria, ao entrarem no lago, purificarão a escuridão da ignorância para sempre. Isto é pronunciado igualmente pelos sábios dos três mundos. Por favor, façam com que meu discípulo retorne para mim imediatamente.

Devido ao poder do Honrado pelo Mundo, Ananda conseguiu deixar a casa da jovem e retornou ao Bosque Jeta. “O sábio foi embora”, disse a jovem, e assim ela passou a noite chorando.

(3) No dia seguinte, Ananda saiu para receber esmolas. A jovem garota, trajando um novo vestido, adornada por um corpete e um colar, estava esperando por ele. Ela seguiu Ananda por todos os lugares, como uma mariposa atraída por uma chama. Quando ele parava, ela parava; quando ele prosseguia, ela prosseguia. Eles foram para fora das muralhas do castelo e retornaram ao Bosque Jeta, e a jovem nunca perdia Ananda de vista. Ananda se sentiu embaraçado e envergonhado e foi imediatamente até o Honrado pelo Mundo, suplicando por ajuda. O Honrado pelo Mundo disse: “Não se preocupe”, confortando Ananda, e se voltou para a garota, pronunciando estas palavras: “Se você deseja se tornar a esposa de Ananda, vá até seus pais e peça a permissão.” CEBB

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A garota se regozijou enormemente, voltou até sua casa, e logo voltou ao Honrado pelo Mundo acompanhada por seus pais. O Honrado pelo Mundo se dirigiu à garota, dizendo: “Ó jovem, para se tornar a esposa de Ananda você deve se tornar uma monja e ingressar na Sanga.” E a jovem, com grande reverência, concordou com as palavras do Buda. O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, muito bem.” Ele fez com que ela raspasse seus cachos e vestisse os mantos de uma monja. Vendo que os pensamentos da jovem haviam finalmente se acalmado, o Honrado pelo Mundo lhe disse: “Ó jovem, paixão e cobiça são as fontes do sofrimento; seu sabor é muito curto, e suas armadilhas são muitas. Como uma mariposa que voa ao redor de uma fogueira, a pessoa tola lança seu corpo nas chamas ardentes da luxúria. Uma pessoa sábia é diferente, ela se afastará da cobiça e da luxúria, e os pensamentos de paixão não surgirão.” Ao ouvir estes ensinamentos do Buda, a mente da garota ficou calma e pacífica e ela conseguiu se libertar de todos os seus obstáculos. Ela alcançou o estado da iluminação e recuperou a paz. Assim, ficou conhecida como a monja Matangi.

4. A Origem Externa dos Obscurecimentos (1) Através da experiência do poder sedutor da garota candala, Ananda descobriu como eram deficientes suas capacidades, e um dia ele se consultou detalhadamente com o Honrado pelo Mundo, indagando sobre o método para praticar o caminho. O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, quando você decidiu pela primeira vez ingressar no caminho para a iluminação, ao

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observar suas características superiores, você abandonou o mundo do desejo?” Ananda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, quando eu encontrei pela primeira vez as marcas superiores das características do Honrado pelo Mundo, incomparáveis com qualquer coisa deste mundo, eu me convenci que o corpo claro do Honrado pelo Mundo, tal como uma pedra preciosa de lápis lazúli, nunca poderia ter nascido dos desejos mundanos. Pois é impossível que qualquer homem de desejos grosseiros e com a mente obscurecida como o pus possa emitir tal luz. Devido a esta adoração, eu decidi abandonar o lar e me tornei um monge.” O Honrado pelo Mundo disse: “Bem dito, Ananda. Se você realmente deseja alcançar a iluminação, responda minhas questões sinceramente. Ananda, você acabou de dizer que devido ao seu senso de adoração pelas características do Tathagata, você decidiu ingressar no caminho daqueles sem lar. Mas através de que tipo de faculdade você viu e ansiou por isto?” Ananda replicou: “Ó Honrado pelo Mundo, eu vi com estes olhos e ansiei por isto com minha mente.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ananda, não há erro em sua resposta, porém você deve também admitir que são esses olhos e essa mente que o têm feito transmigrar através do ciclo de vida e morte até agora. Portanto, Ananda, assim como um rei de um país tenta subjugar os bandidos que se infiltram em seu território, ele deve acima de tudo conhecer a área onde eles se encontram. Da mesma forma, para eliminar a poeira dos obscurecimentos, você deve primeiramente descobrir onde tais olhos e mente estão localizados. Onde você pensa que seus olhos e mente estão localizados?” Ananda respondeu: “Meus olhos estão em meu rosto e minha mente dentro de meu corpo.” O Honrado pelo Mundo disse: “Então, o que os seus olhos veem neste CEBB

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salão de palestras?” Ananda respondeu: “Eles veem a presença do Honrado pelo Mundo, então os discípulos, e então a floresta fora do edifício.” O Honrado pelo Mundo disse: “Como você disse, visto que as janelas estão abertas é possível ver a floresta distante. Mas, entre os discípulos que aqui estão, há algum que olhe apenas para fora sem prestar atenção ao Tathagata?” Ananda replicou: “Ó Honrado pelo Mundo, não há nenhum nesta condição.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, se a sua mente está localizada dentro do corpo, naturalmente ela enxergará mais do que qualquer outra coisa o interior do corpo. Mas as pessoas não conseguem saber nada sobre o interior de seus corpos. Então, é possível dizer que a mente está localizada dentro do corpo?” Ananda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, devido à sua instrução, agora eu compreendo que a mente não está localizada no interior do corpo, mas sim fora dele. Por exemplo, quando uma vela é colocada em um quarto ela não ilumina apenas a si mesma, mas também o interior do quarto, e então ela estende a luz para além de si mesma. Comparativamente, as pessoas não veem o interior do corpo, apenas o seu exterior.” O Honrado pelo Mundo disse: “Entretanto, Ananda, se a mente estiver localizada fora do corpo, então o corpo e a mente estarão separados. Então, o que a mente souber o corpo não poderá sentir; o que o corpo sentir a mente não poderá conhecer. Na verdade, entretanto, o que a mente sabe o corpo também sente; o que o corpo sente a mente também reconhece. Portanto, Ananda, não se pode dizer que a mente se encontra fora do corpo.”

(2) Com esta instrução, Ananda juntou as palmas das mãos e se dirigiu ao Honrado pelo Mundo: “Se a mente não é encontrada nem dentro do corpo CEBB

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nem fora dele, onde, eu pergunto, está a essência da mente? Possa o Honrado pelo Mundo, através de sua grande compaixão, esclarecer a verdade sobre onde esta mente pode ser encontrada e ensinar a essência para aqueles que praticam o caminho.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, todas as pessoas estão fortemente presas aos grilhões do carma desde um passado imemorial, devido ao fato de elas não compreenderem duas verdades fundamentais: primeiro, elas não sabem que a raiz derradeira da vida e da morte é a mente da delusão, acreditando que esta mente é a sua própria natureza essencial; e segundo, elas não sabem que são dotadas de uma mente pura, ou seja, a essência da iluminação.” Tendo instruído-o desta forma, o Honrado pelo Mundo levantou seu cotovelo, fechou o punho, e disse: “Ananda, o que você vê aqui?” Ananda respondeu: “O Honrado pelo Mundo levantou seu cotovelo e fechou o punho, sobre o que o Honrado pelo Mundo está chamando nossa atenção agora.” “Com o que você viu isto?” Ananda respondeu: “Assim como meus companheiros discípulos, eu vi com meus olhos.” “Se fosse com os seus olhos que você tivesse visto, então seria desnecessário dizer que eu chamei a sua atenção.” Ananda disse: “Mas o que eu vi com meus olhos, eu reconheci como um punho com minha mente.” “Ananda, você pensa que aquilo que reconheceu o punho foi a sua mente?” “Sim, eu penso assim.” O Honrado pelo Mundo disse: “Silêncio, Ananda, esta não é a sua mente verdadeira.” Nesse momento, Ananda ficou bastante surpreso, e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, então o que é a minha mente verdadeira?” O Honrado pelo Mundo disse: “Ananda, a mente que conceitualiza é irreal e ilusória, pois ela surge devido a causas e condições, e, portanto, é irreal, insubstancial e vazia. À medida que você se convenceu de que esta era a substância de sua mente, CEBB

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surgiu sua ilusão duradoura.” Em seguida, o Honrado pelo Mundo mais uma vez fechou o punho, e ao abri-lo perguntou a Ananda: “Ó Ananda, como você vê isto?” Ananda respondeu: “Conforme eu vejo, o Honrado pelo Mundo fechou o punho e então o abriu.” O Honrado pelo Mundo disse: “Você viu eu fechar e abrir a minha mão, ou o ato de abrir e de fechar estão em seu próprio pensamento?” Ananda respondeu: “Foi a mão do Honrado pelo Mundo que eu vi abrir e fechar. Não foi o meu pensamento que determinou estas ações.” O Honrado pelo Mundo disse: “Então, é a minha mão que se move, ou é a sua mente?” Ananda respondeu: “É a mão do Honrado pelo Mundo que se move.” O Honrado pelo Mundo levantou novamente sua mão, movendo-a para a direita e para a esquerda de modo a dar uma sugestão para a mente de Ananda. Quando Ananda, seguindo os movimentos da mão, moveu sua cabeça para a direita e para a esquerda, o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, quando você move a sua cabeça você acha que a sua mente se move ou que o seu pensamento se move?” Ananda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, é a minha cabeça que se move, mas não há movimento em meu pensamento.” Nesse momento, o Honrado pelo Mundo disse a toda a assembleia de seus discípulos: “Ó discípulos, é exatamente assim: as pessoas em geral caíram em pensamentos errôneos porque suas mentes puras originais foram maculadas pelos desejos incorridos objetivamente. Os obscurecimentos que são induzidos por causas e condições externas estão em constante movimento e mudança. Como convidados externos eles permanecem na mente original, e como o pó, eles aderem externamente a ela e a maculam. Apesar disto, a mente pura, a base da iluminação, não é na verdade nem forçada a se mover nem é maculada pela sua presença. Apesar de estar profundamente CEBB

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encoberta pela poeira dos obscurecimentos, a natureza original da mente não é perdida. Considerem a afirmação de Ananda de que sua cabeça se move e não o seu pensamento, e de que a minha mão se move e não o seu pensamento. Vocês deveriam analisar cuidadosamente este ponto e não deveriam encarar os obscurecimentos causados pela poeira externa como sendo a sua natureza essencial. Ao se tornarem conscientes da mente original da iluminação, vocês devem conhecer a natureza de sua verdadeira essência. Se vocês forem apanhados pelos obscurecimentos que se movem e mudam externamente, vocês serão castigados para sempre por uma visão distorcida do mundo, e vagarão pelas ruas da delusão.” Tendo assim ouvido, Ananda e os outros discípulos se deleitaram com esta ampliação de sua compreensão, e eles olharam para o semblante do Honrado pelo Mundo como fazem as crianças que, ao terem perdido o leite materno, são novamente acalentadas por suas mães.

(3) Naquele momento, o rei Prasenajit levantou-se de seu assento e, com reverência, disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, quando ainda não havia recebido o seu ensinamento, eu encontrei por acaso Sanjayin Vairatiputra, e ele me ensinou naquela vez que quando o corpo perece após a morte ele se encontra no estado do nirvana. Perecer completamente após a morte é uma perspectiva deprimente. Agora, entretanto, o Honrado pelo Mundo revelou que a mente original é indestrutível. Eu me sinto grandemente consolado. Possa o Honrado pelo Mundo continuar nos ensinando o caminho pelo qual poderemos entrar no estado da mente indestrutível.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó grande rei, é o seu corpo forte como um diamante ou ele é perecível?” O rei respondeu: “É perecível, Honrado CEBB

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pelo Mundo.” O Honrado pelo Mundo disse: “Enquanto ele ainda não pereceu, como você sabe que ele é perecível?” O rei respondeu: “Este corpo muda a cada momento, assim como um fogo que gradualmente se transforma em cinzas. Ó Honrado pelo Mundo, quando eu era criança até mesmo a minha pele era agradável, mas agora, devido à velhice ela está toda enrugada. E também, quando eu era jovem, meu corpo estava cheio do vigor juvenil, mas agora meu ânimo declinou e minha mente vacila. Apesar de eu não estar claramente consciente de quando e de quanto eu envelheci, olhando para trás para os anos de minha vida em uma escala de décadas, eu posso claramente reconhecer os sinais da velhice. E se eu escrutinar esta análise ainda mais atentamente, mesmo em uma escala anual, ou mesmo em uma escala mensal, eu poderei detectar as mudanças. De fato, este processo continua a cada momento incessantemente. Esta é a impermanência da vida humana, e de acordo com esta regra eu não tenho a menor dúvida de que este corpo também perecerá em pouco tempo.” O Honrado pelo Mundo se dirigiu ao rei: “Sua majestade explicou bem como o corpo perecerá. Portanto, agora eu explicarei o que é indestrutível dentro do corpo perecível. Ó grande rei, quando você viu o Ganges pela primeira vez?” O rei respondeu: “Foi quando eu tinha três anos de idade e fui levado pela rainha-mãe para visitar um santuário dos deuses que eu vi o rio pela primeira vez.” O Honrado pelo Mundo perguntou: “Grande rei, há alguma diferença entre a água do rio de hoje e daquela época?” O rei respondeu: “Apesar de muitos anos terem passado, ela ainda flui exatamente da mesma forma daqueles dias.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó grande rei, há, então, alguma diferença na sua forma de observar o fluxo da água do rio naqueles dias e hoje quando seu cabelo já tem fios brancos e sua face já apresenta algumas rugas?” O rei respondeu: “Não há diferença alguma.” O CEBB

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Honrado pelo Mundo disse: “Ó grande rei, apesar de sua face apresentar algumas rugas, a sua forma de observar não mudou; apesar daquilo que é mutável ter mudado, aquilo que é imutável não se altera. O que quer que envelheça se altera, e aquilo que se altera irá perecer. Entretanto, Sua majestade pode ver mesmo naquilo que é perecível algo que não perece. Ó grande rei, portanto, ao contrário da visão dos não-budistas, não podemos dizer que quando o corpo perece tudo o mais também perece.” Tendo assim ouvido o ensinamento do Honrado pelo Mundo o rei percebeu que mesmo tendo que abandonar o corpo perecível, há algo que não morre, assegurando uma vida duradoura, e ficou extremamente satisfeito, assim como os outros discípulos.

(4) Naquele momento, Ananda se levantou e se dirigiu ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, se nossa forma de ver não possui início nem fim, então isto não é contrário ao ensinamento do Honrado pelo Mundo?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Todos os fenômenos, Ananda, sejam externos ou mentais, surgem com base em causas e condições, que por sua vez também são todas originadas pela mente. Até agora, eu venho explicando frequentemente esta doutrina. Desta forma, você pode compreender que o seu corpo assim como sua mente se manifestaram originalmente da mente, a qual é, por natureza, extremamente sutil e clara. Entretanto, esquecendo esta mente sutil e experimentando a delusão em sua mente, cuja essência é a iluminação, você acredita que a delusão resultante é a sua natureza essencial, e que ela está localizada dentro do corpo. Assim, você não percebe que as colinas e os rios, a grande terra, e todas as coisas que existem no amplo espaço se manifestaram da mente original sutil. Portanto, isto não seria tão tolo quanto, ao apanhar uma pequena bolha, pensar que CEBB

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você exauriu o grande oceano?” Ananda disse: “Através das palavras do Honrado pelo Mundo eu percebi a natureza eterna da mente. Entretanto, não é verdade que minha compreensão desta presença também é realizada pela mente discriminativa?” O Honrado pelo Mundo disse: “Ananda, se você disser que foi através da mente discriminativa que você compreendeu meu ensinamento, então o ensinamento que você compreendeu também será algo discriminado e não poderá ser visto como a natureza essencial do ensinamento. Ó Ananda, quando um homem aponta para a lua com um dedo, se outro homem olhar apenas para a ponta do dedo e acreditar que viu a lua, ele não apenas deixará de ver a lua, mas também não compreenderá o significado do dedo que aponta. Além do mais, visto que tal homem se engana em relação ao dedo que não emite luz e à lua que emite, deve-se dizer que ele não sabe nem mesmo a diferença entre a natureza da luz e da escuridão. De fato, não é possível conhecer a verdadeira natureza das coisas através da faculdade discriminativa. Ó Ananda, você disse que compreendeu minhas palavras através da mente discriminativa. Se a faculdade discriminativa fosse realmente sua própria mente, a mente discriminativa deveria existir em todos os momentos sem alterações; mas o processo de discriminação surge dependente de condições, e quando estas condições se extinguem, ele está fadado a mudar e mesmo a perecer. De fato, não há a natureza de tal faculdade separada da presença das condições. Entretanto, completamente independente de tais condições, que vêm e vão, há a natureza essencial da mente que nem se move nem perece. Tal é a natureza essencial da mente, o mestre. Ó Ananda, eu farei uma explicação adicional através de uma metáfora. Em uma estalagem há o estalajadeiro e os hóspedes. Os hóspedes representam a mente discriminativa, pois eles chegam e permanecem CEBB

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dependentes de condições; ao passo que, quando estas condições se extinguem, eles deixam a estalagem. Entretanto, o estalajadeiro sempre fica lá, mesmo que os hóspedes venham e vão. Mesmo quando todos os hóspedes tiverem partido, não se pode dizer que a estalagem se foi. Igualmente, mesmo quando a mente discriminativa se extinguir devido à ausência das condições necessárias, não se pode dizer que a essência do homem se extinguiu. Ó Ananda, você não deve tomar a mente discriminativa que se altera devido a condições externas como sua natureza essencial; mas, ao transcender esta mente fenomênica, faça com que a mente que nem se move nem se altera seja seu mestre.”

(5) Ananda levantou a seguinte questão: “Ó Honrado pelo Mundo, por que a mente original que não é condicionada por fatores externos não perece?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ananda, ouça atentamente. Este salão de palestras está agora bem iluminado devido ao sol, mas ele ficará escuro quando o sol se puser. Esta luz pode ser atribuída ao dia e a escuridão à noite. O poder da visão, entretanto, não pertence a nenhum deles, pois quando a luz está presente o poder de ver a escuridão não está perdido; e quando a escuridão se vai, não é por isso que capacidade de ver a luz surge. Quer a luz ou a escuridão surjam ou desapareçam permanece a capacidade de ver a luz ou a escuridão. Ver o primeiro é um momento mental, e ver o seguinte é outro momento. Estes fenômenos não representam a natureza real da mente; aquilo que é eternamente existente, que não é limitado pela luz ou pela escuridão, é a sua verdadeira mente. Assim, deve-se saber que a mente original não pode ser afetada seja pela luz ou pela escuridão; apesar de estar encoberta por diversos obscurecimentos, tais como bem e mal, amor e ódio, que vêm e vão devido a causas e condições externas, ela não é maculada ou CEBB

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manchada; ela é essencialmente sutil, pura e indestrutível. “Ó Ananda, quando a água é vertida em um recipiente redondo ela assume a forma redonda; quando é derramada em um vaso quadrado, ela toma a forma quadrada. Mas não há uma forma quadrada ou redonda na natureza da água. Desta forma, as pessoas percebem suas vidas desde um passado imemorial de formas variadas, assim como quando a água é vertida em recipientes pequenos ou grandes, redondos ou quadrados, e elas experimentam bem e mal, amor e ódio; assim elas são levadas a correr atrás de coisas externas, sujeitando-se a sofrimentos diversos. Esta situação é uma forma de delusão surgida da convicção errônea que identifica a mente original com a identidade fenomênica acorrentada a condições externas, conforme exemplificado pelos recipientes para a água. Portanto, quando alguém deixa de se ver acorrentado a condições externas e retorna à sua própria mente verdadeira, que não possui limitações, ele se torna idêntico ao Buda, e seu corpo e mente se tornam perfeitos e claros. Livre de quaisquer obstruções, ele é capaz de alcançar o Dharmadhatu das dez direções diretamente através de seu próprio corpo. “Ó Ananda, quando você acende o fogo colocando uma lente entre o sol e a grama seca, você acha que o fogo vem da lente, ou que ele vem da grama seca, ou que ele vem do sol? A lente é sustentada pelo homem, os raios vêm do céu, e a grama vem do solo. O sol e a grama estão muito distantes e não podem entrar em contato, mas não há dúvidas de que o fogo do sol se manifesta sobre a grama quando a lente se apresenta como condição auxiliar. A verdadeira mente original de Tathagata-garbha, de onde nascem os budas, é a raiz da fé, como o fogo na metáfora, que é onipresente em todo o Dharmadhatu. Quando o fogo da fé toca a grama das pessoas com a lente do Buda como condição, não há dúvidas que a chama do fogo que acende a CEBB

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iluminação nas pessoas surgirá com grande intensidade. Quando a lente é dirigida para um ponto, surge fogo naquele ponto. Da mesma forma, quando ela é direcionada para a totalidade do Dharmadhatu, é inevitável que todo o mundo seja preenchido pelo fogo. “Ó Ananda, é com base neste princípio que o Buda direciona a lente do Darma para cada um e para todos.”

(6) Devido ao ensinamento do Honrado pelo Mundo, Ananda e os outros discípulos reunidos tornaram-se conscientes da mente original da iluminação, compreenderam que este corpo físico é como uma pequena partícula de poeira flutuando no grande espaço, e lamentaram-se por terem sido tolos ao ponto de serem presos pelo nascimento e morte de sua carne e, portanto, por serem tomados por preocupação, tristeza, sofrimento e aflições. Assim, todos eles saudaram o Honrado pelo Mundo e expressaram sua determinação através destes versos:

De posse do espantoso Darma, amplo como o oceano, o Buda imutável dissipa nossa delusão, que é antiga como o passado imemorial, e nos ajuda a realizar imediatamente o Darmakaya; seu valor, de fato, é ilimitado.

Que nós possamos nos tornar senhores do Darma e salvar pessoas incontáveis. Pois, dotados com esta mente profunda, estar a serviço em reinos inumeráveis é a forma de responder ao benefício da doutrina.

Possa o Honrado pelo Mundo testemunhar nossa determinação CEBB

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de entrar no mundo que sofre por todos os males e de não passar para o nirvana até que o último deles se torne um buda.

Mesmo que o grande céu seja extinto, nada destruirá este voto, que é duro como o diamante.

(7) Naquele momento, o venerável Purna que também estava na assembleia, levantou-se, e juntando as palmas das mãos com reverência, dirigiu-se ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, se esta mente original, que é a iluminação, e a mente do Buda são idênticas, sem excessos ou faltas, por que o mundo das diferenciações nasce de tal mente búdica?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Purna, suponha que um homem entre em uma vila, mas erre a direção norte e a direção sul. Este erro vem da mente delusória ou da mente original da iluminação?” Purna respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, a mente delusória surge na dependência de condições externas e não possui essência real; portanto, ela é, assim como sempre foi, como a grama sem raízes. Desta forma, não deveria haver germinação devido à delusão a partir da mente delusória sem raízes. Além do mais, visto que a própria iluminação não produz de forma alguma delusões, não se pode também dizer que isto nasceu da mente da iluminação.” O Honrado pelo Mundo disse: “Então, se alguém que conhece bem a vila ensinar ao homem confuso a direção correta, ele irá perder novamente a direção?” Purna respondeu: “Não haverá mais tais erros.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Purna, é o mesmo com o Buda. Uma vez que ele chega à compreensão correta de que a natureza da delusão é vazia e sem raízes, ele não estará mais deludido. Ó Purna, um homem com olhos aflitos verá flores no céu, mas quando a aflição for curada ele não mais as verá. As CEBB

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flores que aparecem com as delusões não são, necessariamente, existentes; mas, uma vez que as pessoas são afligidas pela ignorância de seus olhos da visão interna, elas são levadas a imaginar a presença da dualidade da delusão e da iluminação. Os budas cujos olhos estão livres das aflições causadas pela ignorância não têm mais visões de flores no céu; tudo o que eles veem é apenas o mundo da iluminação correta. Portanto, não há mundo algum de diferenciações nas mentes dos budas. Ó Purna, o ouro puro, uma vez purificado, não retornará mais à pepita. Uma vez que a madeira se transforme em cinzas, não há como ela voltar ao estado original da madeira. Como poderia surgir o mundo das diferenciações nas mentes dos budas que cortaram a raiz da delusão? Pois ele é apenas um pensamento imaginado a partir da visão deludida. “Entretanto, ó Purna, a forma do espaço não é determinada; não é nem brilhante nem escura, nem se move nem é imóvel; e, porém, quando o sol brilha, o brilho se manifesta; quando as nuvens se espalham a escuridão se manifesta; quando o vento sopra o movimento se manifesta; quando eles são pacificados, a calmaria se manifesta. Em resumo, visto que não há uma forma determinada, o espaço pode se manifestar sob qualquer forma que possa assumir sob determinadas condições. É o mesmo com a mente original da iluminação, denominada Tathagata-garbha. Ela não é nem vazia nem é da natureza de qualquer fator material como terra, água, fogo ou vento; nem é da natureza de qualquer um dos elementos psicofísicos, como o que é visto, ouvido, cheirado, degustado ou tocado. Nem é um mundo no qual a ignorância se manifesta, nem é a sua cessação. Visto que não é nenhum destes fatores, quando alguém segue o caminho apegando-se a fatores materiais, terra, água, fogo ou vento, o seu caminho poderá se manifestar como consistindo nesses componentes. Além disso, para alguém que possui o CEBB

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insight de que estas formas se configuram na dependência de causas e condições e, portanto, não possuem existência própria e são vazias, Tathagata-garbha é capaz de se manifestar como vacuidade. Ele é capaz de se manifestar livremente como moralmente correto ou errado, matéria ou mente, existente ou inexistente, sem qualquer obstrução. Além disso, as pessoas acreditam que, assim como a lua refletida na água parece se mover para o leste para o viajante que viaja naquela direção, ou para o oeste para outro que prossiga nesta direção, Tathagata-garbha é encontrado onde quer que se procure por ele. “Ó Purna, as pessoas se afastam da dádiva original da iluminação e deixam suas mentes ser atadas pelas formas das coisas, na armadilha da poeira dos obscurecimentos e sofrendo com a escravidão. Entretanto, o Buda é uno com a dádiva original da iluminação que permeia todo o Dharmadhatu sem qualquer espécie de obstruções. Ele pode revelar uma coisa como incontáveis coisas, incontáveis coisas como uma coisa, o pequeno como grande, e o grande como pequeno, e ele pode identificar uma coisa com inúmeras coisas e vice versa, e o pequeno com o grande e vice versa, sem obstruções; enquanto permanece no salão de palestras ele pode permear as dez direções, assim como pode absorver os incontáveis mundos das dez direções em seu único corpo. Ele pode mostrar na ponta de um único cabelo todo o Dharmadhatu, tão precioso como uma gema, e pode demonstrar em uma partícula de poeira o grande giro da Roda do Darma, transformando a delusão em iluminação. Portanto, aos olhos do homem comum, o Buda parece estar criando estados de diferenciação em um mundo de diferenciações.”

(8) Purna disse: “Ó Honrado pelo Mundo, se as pessoas são CEBB

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originalmente dotadas com a verdadeira mente da iluminação, por que elas criam ilusões que obstruem a sua luz, colocando-se, assim, em uma posição de afogamento nos ciclos da vida e da morte?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Purna, era uma vez um homem chamado Yajnadatta, de Sravasti. Certa manhã, quando estava diante do espelho, ele ficou chocado por não encontrar nem sua face nem sua cabeça refletidas nele. Ele estava tão convencido de ter se tornado um espectro que perdeu o juízo. Igualmente, apesar de não haver razão pela qual a ilusão deva existir na iluminação, as pessoas vêm imaginando ilusões por um longo período de tempo devido à poeira externa dos obscurecimentos, e desta forma continuaram a viver vidas de insanidade com delusão após delusão. Apesar disto, assim como Yajnadatta, que quando reconquistou sua mente reconheceu que sua cabeça estava intacta, da mesma forma quando as pessoas varrem ao longe suas delusões elas compreendem que cada uma delas possui a mente verdadeira da iluminação original. Além do mais, quando Yajnadatta reconquistou sua mente, sua cabeça não surgiu de outro lugar, nem tinha ela ido a qualquer lugar enquanto ele estava no estado de insanidade. Igualmente, a mente da iluminação original não passa por uma nova originação devido à iluminação do homem, nem ela se perde quando está na delusão. Onde o pensamento errôneo termina, lá se encontra a iluminação. Desta forma, delusão e iluminação são essencialmente iguais. “Purna, assim como um tolo, que apesar de possuir uma gema fabulosa não está consciente de seu tesouro e segue vagando e mendigando por comida, as pessoas que não estão conscientes de que possuem a mente da iluminação original seguem tolamente buscando-a nos outros. Quando um homem tolo é ensinado por um sábio sobre sua gema fabulosa, ele é capaz de gerar riquezas conforme sua vontade. É o mesmo com aqueles que, ao CEBB

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seguirem a instrução do Buda, devem compreender que possuem em si mesmos a mente verdadeira da iluminação original.” Devido a esta instrução oferecida pelo Honrado pelo Mundo, todos daquela assembleia foram capazes de pacificar suas dúvidas e realizaram o insight perfeito.

5. As Circunstâncias que Levam à Iluminação (1) Então, o Honrado pelo Mundo perguntou aos grandes bodisatvas que estavam na assembleia: “Qual de meus ensinamentos os levou a atingirem a iluminação?” Em resposta, os grandes bodisatvas relataram com reverência seus respectivos caminhos para a iluminação. O grande bodisatva Gandhavyuha disse: “Certa vez, o Honrado pelo Mundo nos convocou para meditarmos sobre os vários aspectos dos fenômenos, e eu me retirei para um quarto escuro e me coloquei silenciosamente a meditar. Naquele momento eu percebi que alguns discípulos estavam queimando incenso de aloé, e uma corrente de ar trouxe a fragrância até o quarto e alcançou meu nariz. Então eu pensei: ‘Esta fragrância não é nem a madeira original, nem o próprio ar, nem a fumaça, nem o próprio fogo; nem ela tem uma direção determinada para ir, nem possui uma passagem definida para entrar; e, entretanto, sem a madeira, o ar, a fumaça ou o fogo, e sem as suas formas de ir e vir, eu não poderia experimentar esta fragrância.’ Com esta reflexão, eu compreendi de uma vez a verdade da ignorância. Assim, através dos sinais do mundo que a fragrância embeleza, eu atingi a iluminação, tendo meu corpo libertado dos obscurecimentos e perfumado com uma fragrância maravilhosa.”

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(2) O bodisatva Pilindavatsa disse: “Um dia, pensando sobre a observação do Honrado pelo Mundo de que este mundo é de pequeno valor para ser desfrutado, eu fui até uma cidade para mendigar. Na estrada, meu pé se machucou com um espinho venenoso e eu experimentei uma terrível dor em todo o meu corpo. Então, eu pensei: ‘Eu sinto esta dor porque possuo a faculdade de senti-la, e, porém, mesmo experimentando tal dor, tão logo eu me recordo da alegria do Darma, eu me esqueço da dor da ferida. Sendo este o caso, pode não haver uma faculdade especial em meu corpo que sinta a dor, mas, dependendo das condições dadas, a mente única pode ficar com dor ou alegre. Em suma, esta mente não possui forma determinada, de modo que quando confusa ela se transforma em obscurecimento; quando controlada ela se transforma em insight.’ Pensando assim, eu permaneci em concentração por um instante; neste meio tempo eu esqueci completamente a dor, sentindo o corpo e a mente como vazios, e não mais fiquei obstruído ou preso a qualquer coisa. Assim, em vinte e um dias eu exauri todos os meus obscurecimentos. Portanto, minha iluminação se deu pela atenção mental à origem da percepção sensorial.”

(3) O bodisatva Ucchusma disse: “Em certa época, eu me lembro, minha natureza estava cheia de cobiça. Mas, quando o Buda Dharma-padmasrikusala-devata surgiu neste mundo, ele me ensinou que aquele que possui cobiça se transformará em um agregado de fogos, e que portanto eu deveria meditar na presença do ar fresco assim como na presença do ar quente dentro de meu corpo. Enquanto eu praticava conforme instruído pelo Buda, surgiram raios sagrados de dentro de meu corpo, e o combustível da negatividade da cobiça se transformou no fogo do insight, e começou a queimar. Ó Honrado pelo Mundo, desta forma eu alcancei a iluminação pelo CEBB

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poder da Meditação de Emissão do Fogo. Os budas me chamam de Ucchusma (Cabeça de Fogo), e eu, de minha parte, de modo a retribuir o benefício recebido, fiz o voto de surgir como um protetor para superar os Maras sempre que os budas alcançarem a iluminação suprema.”

(4) O bodisatva Dharanidhara disse: “Ó Honrado pelo Mundo, certa vez, quando o Buda Samantaprabha surgiu neste mundo, eu me tornei seu discípulo e entrei na vida de mendicante. Por um longo tempo, como minha prática do Darma, eu me dediquei à tarefa de nivelar os solos e estabelecer pontes onde havia estradas sujas, estuários e campos que dificultavam a passagem de carroças e cavalos. Eu encontrei muitos budas durante este tempo. Além disso, sempre que eu encontrava alguém incapaz de carregar sua bagagem em uma multidão de pessoas, eu me oferecia para carregar sem pagamento. Em tempos de carestia, eu carreguei pessoas em minhas costas, não me importando com as distâncias; quando eu encontrava uma carreta puxada por bois atolada no barro e com dificuldades para sair, eu oferecia ajuda empurrando-a por trás. Enquanto eu fazia estas práticas, um buda chamado Visvabhu surgiu neste mundo e, a caminho do castelo para receber oferendas do rei, ele acabou passando pela estrada que eu tinha consertado para sua passagem. Quando o buda passou, ele tocou minha cabeça e disse: ‘Faça com que o solo de sua mente também fique nivelado. Quando você conseguir fazer isto, todo o solo do mundo também ficará nivelado.’ Com este ensinamento, eu compreendi que o mundo das diferenciações havia surgido originalmente de Tathagatha-garbha afetado pelo poder da imaginação. Não apenas as partículas atômicas que formam este corpo se manifestaram da imaginação ilusória, mas também todas as partículas que constituem todo o universo se manifestam igualmente da mesma fonte de CEBB

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imaginação ilusória. Ao compreender que esses dois tipos de partículas são completamente idênticos em suas naturezas, minha mente repentinamente expandiu seu horizonte e meu insight chegou à perfeição.”

(5) O bodisatva Vaiduryaprabha disse: “Ó Honrado pelo Mundo, um inimaginável tempo atrás, eu encontrei o Buda Amitaba neste mundo, e recebi dele diversos ensinamentos: todos somos dotados com a mente verdadeira da iluminação original; não apenas o mundo das diferenciações, mas também o corpo de impermanência e sofrimento derivaram todos de nossa imaginação ilusória. Através da prática de meditação sobre os temas do mundo, o corpo e a mente, no final eu alcancei a realização de que todos os incontáveis seres vivendo nas dez direções são todos formas ilusórias, e são apenas como grandes nuvens de mosquitos, borrachudos e outros, reunidos em uma pequena tigela, ocupados voando por aí e gritando em alta voz. Devido a esta compreensão, logo após encontrar o Buda, eu pude entrar no estado em que meu corpo e minha mente emitiam luz igualmente sem qualquer obstrução.”

(6)

Em

seguida,

o

bodisatva

Mahasthamaprapta

levantou-se

acompanhado de outros cinquenta e dois bodisatvas e, após cumprimentar o Honrado pelo Mundo a seus pés, disse: “Ó Honrado pelo Mundo, um número incontável de anos atrás, comparável ao número de grãos de areia do rio Ganges, o Buda chamado Amitaba surgiu neste mundo, e em seguida a ele doze outros budas surgiram sucessivamente durante o período de doze kalpas. O último Buda desta série chamava-se Vikramasurya-candra-prabha, que me ensinou a prática da concentração de relembrar os budas. Ó Honrado pelo Mundo, esse Buda me ensinou que os budas dos dez mundos são CEBB

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compassivos com as pessoas da mesma forma que os pais são com seus filhos únicos. Se as pessoas recordarem esses budas no fundo de seus corações, assim como uma criança procura por sua mãe, elas serão capazes de ver os budas em pouco tempo, seja neste mundo ou no próximo. Ó Honrado pelo Mundo, esta prática, chamada de relembrar os budas, é conhecida como Embelezamento com um Esplendor Perfumado. Isto significa que, assim como um homem perfumado por incenso sempre carrega esta fragrância consigo, aquele que praticar a concentração de relembrar os budas sempre será embelezado pelo perfume da sabedoria dos budas. Ó Honrado pelo Mundo, desta forma eu fui capaz de compreender a verdade da vacuidade que não possui nascimento ou morte, durante o período de minha busca pelo caminho, através da mente engajada no relembrar os budas. Portanto, mesmo hoje, quando surgi neste mundo, eu tento receber as pessoas que praticam esta mesma disciplina e ajudo-as a retornarem à Terra Pura do Buda Amitaba.”

(7) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo emitiu raios brilhantes de seu corpo e iluminou os incontáveis budas e bodisatvas habitando as dez regiões longínquas, e os budas e bodisatvas devolveram a luz para a assembleia. Quando as árvores, florestas, lagos e pântanos estavam todos iluminados, esses objetos de uma única vez manifestaram a verdade conforme ela era inerente a eles, cada um emitindo seus próprios raios em interação com os outros, e todos juntos refletindo o seu esplendor como uma rede de gemas arranjada em incontáveis malhas; os espaços das dez direções foram, assim, transformados em um cosmo sublime consistindo em sete tipos de joias preciosas; não apenas a grande terra, mas também as montanhas e os rios todos extinguiram suas feias características de diferenciação, de modo CEBB

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que o cosmo inteiro se fundiu em uma única iluminação. Canções em louvor ao Buda e ao Darma surgiram espontaneamente. Naquele momento, convidado pelo Honrado pelo Mundo, o bodisatva Manjushri levantou de seu assento, saudou o Honrado pelo Mundo a seus pés, e cantou:

O oceano da iluminação reside em clara perfeição, pois esta é a sua própria natureza. Quando ele brilha, a diferenciação entre o agente iluminador e o objeto iluminado desaparece por si só.

Deludidas pela poeira do obscurecimento, as pessoas olham para o espaço no qual o mundo se manifesta. Elas diferenciam aquilo que é não-senciente como o ambiente e o que é senciente como os seres vivos que o habitam.

Como a iluminação original da verdadeira existência é vasta, essas manifestações diferenciadas no espaço se assemelham a bolhas de água flutuando sobre o oceano. Incontáveis terras impuras são todas igualmente nascidas desse espaço.

Quando essas bolhas desaparecem, sabe-se que elas eram originalmente não-existentes. Quando as partículas de poeira são varridas para longe, sabe-se que originalmente também não há espaço. Não apenas a terra que havia surgido no espaço se extingue, mas os seres também desaparecem como aparições. Quando estes desaparecem, sabe-se que originalmente não há diferenciação, mas apenas variações de manifestações habilidosas.

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Como a natureza sublime do mundo absolutamente real é onipresente, cada aspecto deste mundo, felicidade e adversidade, é conhecido como uma manifestação habilidosa do Buda.

(8) Tendo ouvido estes relatos e canções dos bodisatvas, Ananda e diversos outros discípulos tiveram a experiência de suas mentes subitamente se abrirem livremente, e eles compreenderam a verdadeira natureza da mente, Tathagata-garbha, que constitui o verdadeiro mundo original, assim como um viajante pode relembrar o caminho de volta para casa mesmo estando distante dela. Ananda, tendo ajustado seu manto e juntando suas mãos, reverentemente se dirigiu ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, agora eu visualizei claramente o caminho pelo qual podemos nos tornar budas, e não tenho mais dúvidas sobre a prática deste caminho. Estou apenas preocupado, entretanto, com aqueles de um futuro distante. Estando mais afastados no tempo do Honrado pelo Mundo, eles podem se desviar para sempre sob a influência de falsos professores. Como poderão eles manter suas mentes sob controle e não serem perturbados pelo Maras, e corajosamente se esforçarem no caminho para a iluminação?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Ananda, a sua pergunta será de benefício infinito para as gerações vindouras. Ouça atentamente o que vou dizer a você. Ananda, certa vez eu dei ensinamentos sobre o tema dos três aprendizados, ou seja, preceitos, concentração e insight. É através da prática dos preceitos morais que se mantém a mente sob controle; através dos preceitos morais é desenvolvida a capacidade na disciplina da meditação; e, finalmente, através da meditação se alcança a abertura para o insight final. Em relação a como manter a mente sob controle, minha resposta é de que se CEBB

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deve eliminar a mente da cobiça, pois quando se alcança esta realização não se estará mais sujeito ao ciclo de vida e morte. Em relação à prática de meditação, é basicamente se libertar das impurezas. A não ser que a cobiça seja eliminada, não será alcançada a liberação das impurezas. Assim, não importa o quanto alguém pratique meditação e cultive o insight, a não ser que se liberte da cobiça ele estará fadado a cair no caminho dos Maras e a perturbar outros seres também. Aquele que não alcançou a iluminação, mas fala como se tivesse, e se torna um professor que leva as pessoas aos infernos do apego, pertence a essa laia. Portanto, de forma a ensinar a prática da meditação, é essencial primeiro ensinar como eliminar a mente da cobiça. Todos os budas ensinaram isto como o passo mais importante. Ó Ananda, aqueles que praticam meditação sem erradicar a mente da cobiça estão, comparativamente, tentando ferver areia e pedras para obterem arroz cozido. Não importa o quanto tempo, mesmo cem mil kalpas ou mais, eles as ferverem, nada obterão além de areia e pedras aquecidas; não há outra saída para eles além de caírem nos três caminhos negativos ao longo de todos esses kalpas. “Além do mais, Ananda, sem se afastar da mente que busca prejudicar os outros ou sem eliminar a mente do roubo, ninguém poderá se libertar das manchas das impurezas. Não importa o quanto ele pratique meditação e aprofunde seu insight, a não ser que ele tenha se afastado da mente assassina, ele cairá no caminho dos demônios; a não ser que ele tenha eliminado a mente do roubo, ele cairá no caminho dos espíritos malignos. Ó Ananda, além disso, mesmo quando ele tiver se afastado da mente assassina, do roubo e da cobiça, se ele falar mentiras perderá a semente que o tornará um buda. Aquele que clama ter alcançado um certo estado que, de fato, não conseguiu, ou que clama ter alcançado a iluminação apesar de não o ter, ou fala sobre si CEBB

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mesmo como alguém superior e insulta as oferendas recebidas, estará destruindo raízes positivas, tornando impossível seu retorno à compreensão correta. É como recortar fezes, fazendo-as parecerem madeira de sândalo, e tentar encontrar nelas a fragrância da madeira. Portanto, um discípulo do Buda deve manter sua mente em um estado como uma linha reta, para que ele possa entrar no estado de meditação, escapar das tentações de Mara para sempre, e finalmente realizar o insight dos bodisatvas.”

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LIVRO III Capítulo II - OBSCURECIMENTOS

1. Os Três Venenos

(1) O Honrado pelo Mundo continuou sua permanência no Monastério do Bosque Jeta e disse aos discípulos: “Meus discípulos, suponham que vocês sejam indagados por monges itinerantes de outras religiões sobre os três pontos da cobiça, raiva e ignorância. Suponham que eles queiram saber os seus significados e suas distinções. Então, como vocês os explicariam a eles?” Os discípulos responderam: “O Honrado pelo Mundo é a base de todos os ensinamentos. O Buda é o refúgio final. Desejamos receber instruções conforme elas ocorram na mente do Buda. Iremos manter nossos pensamentos de acordo com as instruções do Buda.” Então, o Buda disse: “Ouçam cuidadosamente, portanto. Se vocês forem questionados sobre estes pontos pelos itinerantes de outras religiões, vocês deveriam responder da seguinte forma: ‘Em relação à cobiça, o impacto negativo das impurezas é relativamente pequeno, mas será necessário um longo tempo para se livrar dela. Por outro lado, o impacto da raiva é grande, mas é possível livrar-se dela relativamente rápido. Em relação à ignorância, o seu impacto é grande, e o tempo necessário para livrar-se dela é longo. Meus amigos, lembrem-se de que a cobiça que ainda não surgiu na mente surgirá dos pensamentos sobre

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coisas desejáveis distorcidos, e a cobiça que já surgiu se intensificará. Além disso, a raiva que ainda não surgiu na mente surgirá ao olhar para coisas desagradáveis de uma forma distorcida, e a raiva que já surgiu se intensificará. E também, dos pensamentos errôneos surgirá a ignorância, e a ignorância que já surgiu se intensificará. Por estas razões é bom sempre olhar adequadamente com uma mente compassiva tanto os aspectos agradáveis da vida quanto os desagradáveis. Quando alguém age assim, nem a cobiça nem a raiva surgirão na mente, e se elas surgirem serão superadas. Então, em virtude desta visão a ignorância não mais surgirá na mente; e se ela surgir, será superada.’ Meus discípulos, é desta forma que vocês deveriam responder à questão.”

(2) Certo dia, o asceta nômade Channa se dirigiu à Ananda e interpelou-o com a seguinte questão: “Ó Venerável, em seus ensinamentos você diz: ‘Livrem-se da cobiça, superem a raiva e libertem-se da ignorância.’ Nós também afirmamos o mesmo em nossos ensinamentos. Então, quais infortúnios são causados pela cobiça, pela raiva e pela ignorância de acordo com seu ponto de vista, as quais você está nos aconselhando a descartar?” Diante desta pergunta Ananda respondeu: “Channa, aqueles que se incendeiam com a cobiça são vítimas de sua cobiça e estão à mercê dessa cobiça; eles prejudicam a si mesmos e aos outros, geram o sentimento de prejudicar a si mesmos assim como aos outros, e deverão enfrentar as agonias que resultam disto. Aqueles que se libertam da cobiça não experimentam tais agonias. Mais uma vez, aqueles cujas mentes estão cheias de cobiça acabarão realizando ações impuras de mente, fala e corpo. Aqueles que se libertaram da cobiça não se engajarão em tais ações. “Além disso, aqueles cujas mentes estão plenas de cobiça não CEBB

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compreendem verdadeiramente o que são o benefício para si mesmo, o benefício para os outros e os benefícios para todos. Aqueles que estão livres da cobiça compreenderão as virtudes destes atos. Meu amigo, perceba que a cobiça cega, faz com que a sabedoria seja perdida, leva às delusões, e traz obstruções no caminho para a iluminação. Tanto a raiva quanto a ignorância levam as pessoas a fazerem estas mesmas coisas adversas. Caro amigo, nós vemos esses infortúnios que surgem devido à cobiça, à raiva e à ignorância, e ensinamos nossos seguidores a se livrarem da cobiça, a superarem a raiva e a libertarem-se da ignorância.” Assim, Channa perguntou: “Ó Venerável, como alguém pode se libertar de cobiça, raiva e ignorância?” Ananda respondeu: “Meu amigo, o caminho para se libertar dessas adversidades é seguir o Caminho Óctuplo. Ele consiste em visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta.” Channa respondeu: “Esse caminho é excelente. Esse Caminho Óctuplo deveria ser praticado por todos.”

(3) Um dia, o Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos discípulos, deixou o Monastério do Bosque Jeta e se dirigiu ao país de Kosala, chegando à cidade de Kesaputta, onde residia o povo do clã Kalama. O povo, após saudar o Buda, comentou: “Ó Honrado pelo Mundo, quando um grupo de monges visita nossa cidade, eles louvam fortemente seus próprios ensinamentos, mas ridicularizam e abusam dos outros ensinamentos. Então, em seguida, outro grupo de monges chega e faz a mesma coisa. Agora estamos confusos e não sabemos qual dos grupos está dizendo a verdade e qual não está.” Diante disto, o Buda respondeu: “Ó povo dos Kalamas, é compreensível CEBB

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que vocês tenham tais dúvidas e estejam confusos. Ó povo dos Kalamas, vocês não precisam aceitar coisas que ouviram a partir de boatos. Vocês não precisam aceitar lendas conforme são passadas, ou mesmo o que está escrito nos sutras, ou especulações baseadas em ideias do tipo ‘pode ser que’, ou coisas que vocês sintam que estão de acordo com o seu próprio pensamento, ou as palavras de um monge renomado; vocês não precisam aceitar nada disso da forma como é apresentado. Ó povo dos Kalamas, vocês deveriam sustentar visões corretas e evitar qualquer coisa que não seja um bom Darma para vocês, tudo aquilo que é poluído e impuro, tudo aquilo que é rejeitado pelos sábios, e tudo que vocês sabem que trará perdas e agonias caso vocês se associem àquilo.

(4) “Ó povo dos Kalamas, qual é a sua opinião? Digam-me, vocês acham que aqueles que sustentam a cobiça ou a raiva em seus corações obterão benefícios ou sofrerão perdas?” Eles responderam que só poderiam surgir perdas. O Buda disse: “Ó povo dos Kalamas, uma pessoa que é ávida, que rapidamente se enraivece e é ignorante, é vítima de sua cobiça, raiva e ignorância; ela é alguém cuja mente está obcecada pelas coisas, que tira a vida, que pega coisas que não lhe foram dadas, persegue as esposas de outros, conta mentiras e também força os outros a fazerem tais ações. Não é verdade que tal pessoa sofrerá perdas e agonias prolongadas? “Ó povo dos Kalamas, essas ações são boas ou más? E, além disso, elas são impuras e maculadas, ou não? Elas são abominadas pelos sábios ou são bem recebidas por eles? Se alguém se apegasse a elas sofreria perdas e agonias, ou não?” O povo respondeu à pergunta: “Ó Honrado pelo Mundo, todas elas são negativas e impuras, e só poderiam trazer perdas e agonias inimagináveis.” CEBB

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(5) O Buda disse: “Ó povo dos Kalamas, é isto que eu quero dizer quando os instruo a não aceitarem prontamente rumores, lendas, o conteúdo dos sutras, especulações, preferências ou aversões, ou coisas que são ditas mesmo por aqueles que vocês respeitam. Eu digo que vocês deveriam descartá-las se perceberam que o assunto em questão não está correto de acordo com o seu julgamento, que ele é impuro, que é algo que os verdadeiramente sábios desprezariam, e que é algo que lhes traria perdas e agonias. Pela mesma medida, quando vocês estiverem certos que o assunto em questão é positivo, livre de máculas e do mal, bem recebido e adotado pelos sábios, e que certamente trará benefícios e felicidade, então vocês deveriam adotá-lo. Ó povo dos Kalamas, vocês acham que superar os anseios, controlar a raiva e não estar à mercê da própria ignorância é uma bênção ou uma desvantagem?” O povo respondeu: “É uma bênção para todas as pessoas.” O Buda disse: “Ó povo dos Kalamas, notem que aqueles que se libertaram da cobiça, da raiva e da ignorância não serão vítimas de sua cobiça, raiva e ignorância. Eles sempre estarão no completo domínio de suas mentes, não tirarão a vida, nunca pegarão coisas que não receberam, não perseguirão as esposas de outros, não contarão mentiras, e não obrigarão os outros a realizarem ações impuras. Isto é, de fato, uma bênção e uma felicidade para essas pessoas. “Ó povo dos Kalamas, lembrem que se as pessoas forem capazes de se libertar da cobiça, da raiva e da ignorância, e conduzirem suas vidas com pensamentos corretos, com profunda consideração, bondade e solidariedade, e com pensamentos de boa vontade e igualdade para com os outros, então elas não amaldiçoarão o mundo, e elas preencherão todo o mundo com pensamentos virtuosos. Os discípulos que receberem tal orientação se CEBB

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libertarão da mesma forma da cobiça e da raiva, e com mentes puras livres dos pensamentos impuros eles alcançarão por si mesmos os quatro tipos de paz mental, mesmo neste mundo.

(6) “A primeira paz mental é expressa pela seguinte afirmação: ‘Se existe uma próxima vida e as ações positivas e negativas geram resultados, então eu renascerei em uma situação ainda mais positiva.’ A segunda paz mental é expressa através da seguinte afirmação: ‘Mesmo que não haja uma próxima vida e que as ações positivas e negativas não gerem resultados, eu irei, nesta mesma vida, repousar na felicidade em que não há cobiça, raiva ou sofrimento.’ A terceira paz mental é expressa pela seguinte afirmação: ‘Se uma pessoa que cometeu ações negativas sofre a retribuição por suas ações, então que tipo de sofrimento poderia haver para alguém como eu que nunca pensou na maldade ou cometeu ações negativas?’ A quarta paz mental é expressa pela seguinte afirmação: ‘Mesmo que não haja retribuições negativas para aquela pessoa que cometeu ações negativas, eu me reconheço como uma pessoa pura, visto que não cometi quaisquer ações negativas.’ “Os discípulos que observam estas instruções são, desta forma, gentis e imperturbáveis, puros em corpo e mente, e desfrutam no presente esses quatro tipos de paz mental.” Com isto, o povo dos Kalamas respondeu dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, é exatamente como você diz. Todos os discípulos do Buda são bondosos, tolerantes e livres das impurezas; com mentes puras todos eles atingiram os quatro tipos de paz mental. Por favor, aceite-nos como seguidores que buscarão refúgio no Darma por toda a vida.”

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2. O Pico dos Abutres (1) O Honrado pelo Mundo continuou seu caminho, passando pelo país de Kosala ele chegou à vila de Pankadha e lá permaneceu por algum tempo. Durante esse período o Buda deu instruções detalhadas sobre as regras, preparações e determinação daqueles que seguem o caminho. O discípulo Kassapa-gotta havia nascido naquela vila. Tendo ingressado na Sanga, ele estava com raiva por pensar que o Buda dava atenção demasiada a coisas insignificantes. Quando chegou a hora, o Honrado pelo Mundo deixou Pankadha e foi até o Pico dos Abutres em Rajagaha. Logo depois de o Honrado pelo Mundo ter

partido,

Kassapa-gotta

sentiu

profundo

arrependimento.

Ele

compreendeu que havia perdido uma grande bênção, pois, ao pensar que a repetição detalhada dos ensinamentos pelo Buda sobre as formas de buscar o Darma era insuportável, ele havia se irritado e, assim, sofrera uma grande perda. Ele concluiu que deveria ir até o Buda e pedir perdão por sua raiva. Apressadamente, ele foi a Rajagaha, subiu a montanha, e se dirigiu ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, outro dia, quando você discursou em Pankadha, eu estava descontente e irritado. Depois que o Honrado pelo Mundo partiu, eu não pude conter o profundo arrependimento e vim para cá para me corrigir. Ó Honrado pelo Mundo, foi meu obscurecimento que influenciou minha razão. Por favor, perdoe minha maldade para que eu possa deixar de ser vítima de minhas emoções.” Então, o Honrado pelo Mundo instruiu Kassapa-gotta sobre os muitos aspectos do Darma, encorajou-o e perdoou-o por seu pensamento maldoso.

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(2) Outro dia, o Honrado pelo Mundo instruiu os discípulos, afirmando: “Meus discípulos, existem três treinamentos que vocês devem praticar como monges. São os preceitos, a meditação e a sabedoria. Para dar um exemplo, suponham que haja um burro que não tenha a cor ou a aparência de uma vaca, que não muja como uma vaca, que não tenha as pernas de uma vaca, mas que siga com um rebanho de vacas e que clame ser, também, uma vaca. Isto é ridículo. Assim, se alguns discípulos seguirem junto com os outros discípulos do Buda e clamarem que eles, também, são discípulos do Buda, é óbvio que eles não buscaram refúgio nos três treinamentos que todos os discípulos do Buda seguem, nem eles possuem a determinação ou o desejo de aprendê-los. Por isto, meus discípulos, eu os aconselho a desenvolverem esta determinação: ‘Devemos sinceramente aprender e praticar os preceitos, a meditação e a sabedoria.’

(3) “Meus discípulos, há três coisas que um fazendeiro deve fazer antes de colher suas plantações. Primeiro, ele deve arar e aplainar o solo. Então ele deve plantar as sementes no momento certo. Depois ele deve irrigar a plantação no momento certo e deixar que a água seja drenada. Da mesma forma, os discípulos do Buda devem se devotar a três coisas antes de alcançarem a iluminação. Essas coisas são os três treinamentos nos preceitos, na meditação e na sabedoria. Por isto, meus discípulos, eu os aconselho a terem esta determinação: ‘Devemos aprender e praticar, sinceramente, os preceitos, a meditação e a sabedoria.’ “Meus discípulos, o fazendeiro não possui a capacidade sobrenatural para dizer: ‘Nesse dia mudas brotarão das plantações, amanhã surgirão os caules e folhas, e no dia seguinte nascerão os grãos.’ A plantação passará por mudanças de acordo com as estações, as mudas aparecerão, os caules CEBB

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crescerão, e finalmente surgirão os grãos. Da mesma forma, os meus discípulos não têm a capacidade de se libertar dos apegos e de se livrar das impurezas no curto período de tempo do hoje, amanhã e o depois. Na verdade, à medida que eles se devotam aos três treinamentos dos preceitos, meditação e sabedoria, eles se libertarão gradualmente dos apegos e, no final, estarão livres das impurezas. Por esta razão vocês devem ter a forte determinação de praticar sinceramente os preceitos, a meditação e a sabedoria.

(4) “Em primeiro lugar, meus discípulos, o que se quer dizer com o aprendizado dos preceitos? Significa que os discípulos do Buda observam os preceitos e controlam suas mentes e corpos de acordo com as regras dos preceitos, eles praticam aquilo que é puro, eles têm controle total sobre os cinco sentidos, e eles têm uma preocupação profunda ao cometer mesmo a menor das violações e ofensas; e eles se esforçam sinceramente no caminho para a pureza. Em segundo lugar, o que se quer dizer com o aprendizado da meditação? É o processo pelo qual meus discípulos que superaram os desejos e se libertaram das ações impuras entram, gradualmente, nos diversos estados de meditação. Terceiro, o que é o aprendizado da sabedoria? É compreender a existência humana tal como ela é. Os obscurecimentos existem, há causas para os obscurecimentos, as causas podem ser superadas, e há um caminho para ultrapassar as causas dos obscurecimentos. Ao ultrapassar todos os obscurecimentos, será alcançada a iluminação. Estes são os três aprendizados dos preceitos, da meditação e da sabedoria.”

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3. Instruções no Reino de Vajii (1) Então, o Honrado pelo Mundo se dirigiu para o norte; cruzando o rio Ganges, ele entrou no reino de Vajii e permaneceu em Ukkala, ao longo das margens do Ganges. Certo dia, ao observar o fluxo do rio, o Buda comentou: “Meus discípulos, uma vez havia um vaqueiro tolo no país de Magadha que conduziu seu rebanho, sem avaliar com cuidado a situação, em direção às margens setentrionais do rio Ganges, onde o rio não era raso, e quando o fluxo estava elevado no último mês da estação chuvosa do primeiro dia do outono. Naquele momento, o gado foi arrastado pela corrente principal do rio turbulento e afogou na água turbulenta. Da mesma forma, olhar para alguém que não possui uma boa compreensão deste mundo e dos outros mundos, e que não entende os reinos dos demônios, como alguém que dá instruções que deveriam ser ouvidas ou acreditadas, é atrair perdas e infelicidade prolongadas. “Meus discípulos, por outro lado, havia um vaqueiro sábio que, na mesma estação, estudou com cuidado as margens do rio Ganges, e ao escolher um local raso do rio, conduziu seu rebanho até a margem setentrional. Primeiro ele conduziu os bois através do rio. Quando eles cruzaram a salvo, então ele conduziu as vacas mais fortes acostumadas a cruzar o rio. Elas também conseguiram chegar à outra margem com segurança. Agora o vaqueiro conduziu os bezerros machos e fêmeas mais fortes através do rio. Eles também conseguiram atravessar com segurança. Por último, os bezerros mais fracos foram conduzidos e também atravessaram sem problemas. Meus discípulos, no último grupo de bezerros havia os recém-nascidos que foram colocados diante de suas mães,

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choramingando ao longo do caminho. Entretanto, também eles foram capazes de cruzar o rio com segurança até a outra margem. Tudo transcorreu assim porque o vaqueiro sábio havia estudado todas as condições envolvidas antes de conduzir os animais através do rio.

(2) “Meus discípulos, da mesma forma, se você buscarem aquele que é bem versado nos assuntos deste mundo e de outros mundos e do reino de Mara como alguém cujas palavras devem ser levadas em consideração e em quem devem confiar, então vocês desfrutarão bênçãos e felicidade duradouras. Meus discípulos, assim como a junta de bois à frente do rebanho alcançou com segurança a outra margem do rio Ganges ao cruzar o leito do rio, o arhat iluminado que extinguiu completamente os obscurecimentos, realizou as práticas puras, alcançou aquilo que deve ser alcançado, libertouse do pesado fardo, atingiu sua meta e realizou o insight perfeito cruzará o rio de Mara e chegará à outra margem a salvo. “E também, assim como uma vaca forte e experiente cruzará o rio Ganges com segurança, uma pessoa que extinguiu completamente os cinco obscurecimentos que a prendem a este mundo, que alcançou renascimento num reino celestial, que lá alcançou a iluminação e que nunca retornará a este mundo alcançará com segurança a outra margem cruzando o rio de Mara. “E também, assim como os bezerros mais fortes cruzam o fluxo do Ganges e alcançam a outra margem, a pessoa que extingue os três obscurecimentos, vence a cobiça, a raiva e a ignorância, e que se liberta do sofrimento, renascendo apenas mais uma vez neste mundo será capaz de cruzar o fluxo de Mara e alcançará com segurança a outra margem. “E também, assim como os bezerros mais fracos cruzam o Ganges e chegam à outra margem com segurança, a pessoa que extingue os três CEBB

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obscurecimentos e não mais decai para os reinos malignos, irá com certeza alcançar a iluminação, cruzará o fluxo de Mara e chegará à outra margem com segurança. “E por último, assim como os bezerros recém-nascidos que bufam e choramingam à frente de suas mães e cruzam o fluxo do Ganges chegando à outra margem, da mesma forma o discípulo que se encontra no nível básico da prática do Darma ou na atenção às instruções recebidas também irá cruzar o fluxo de Mara e chegará com segurança à outra margem. “Meus discípulos, eu sou alguém bem versado nos assuntos deste mundo, dos outros mundos e dos reinos de Mara. Portanto, aqueles que acreditam que devem ouvir e seguir o Buda serão abençoados pela felicidade duradoura.”

(3) O Honrado pelo Mundo deixou a margem do rio. Seguindo para o norte, ele permaneceu em uma casa de tijolos na vila de Nadika. Naquela mesma época, Anuruddha, Nandiya e Kimbila se encontravam na Floresta Gosinga-sala. Uma noite, saindo de sua meditação, o Honrado pelo Mundo se dirigiu à Floresta Gosinga-sala. Ao vê-lo, o guardião da floresta disse ao Honrado pelo Mundo: “Não entre nesta floresta, três mendicantes estão aqui tentando controlar suas mentes e mantendo o silêncio. Não os perturbe.” Tendo visto a situação por acaso, Anuruddha disse ao guardião para não negar o acesso ao Honrado pelo Mundo, uma vez que ele era o seu mestre e o Buda. Então, Anuruddha foi até o lugar onde Nandiya e Kimbila estavam esperando e contou-lhes o que tinha acontecido. “Meus amigos, o Honrado pelo Mundo chegou”, ele disse. Os três prosseguiram para o lugar onde o Buda se encontrava. Um deles recebeu o manto e a tigela do Buda, outro preparou um assento para ele, e o outro CEBB

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preparou uma bacia de água para lavar os pés do Buda. Então, o Buda lavou os pés e sentou no lugar preparado para ele. Os discípulos se prostraram diante do Buda e trouxeram seus tapetes para perto dele. O Honrado pelo Mundo se dirigiu a Anuruddha e perguntou: “Ó Anuruddha, vocês estão todos mantendo a paz mental? Vocês estão recebendo oferendas adequadas, incluindo alimento?” Anuruddha respondeu que eles se encontravam com as mentes em paz, que as oferendas eram adequadas, e que eles não tinham dificuldades em obter alimento. O Honrado pelo Mundo perguntou: “Anuruddha, estão todos vocês mantendo um estado de paz e harmonia onde há amizade livre de conflitos e unidade, assim como o leite e a água se misturam, com profundo interesse pelo bem-estar dos outros?” Anuruddha respondeu dizendo que eles estavam mantendo esse estado. O Buda perguntou: “Anuruddha, conte-me, como vocês estão sustentando a harmonia entre vocês?” Anuruddha respondeu expressando sua crença de que ele era muito privilegiado por poder viver com seus companheiros mendicantes. Ele também afirmou que estava se devotando aos outros através de suas ações bondosas conhecidas ou não pelos outros. Anuruddha expressou sua firme convicção, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, eu espero me libertar de minhas intenções pessoais e me tornar verdadeiramente um com os corações dessas pessoas. Ó Honrado pelo Mundo, apesar de sermos indivíduos separados, nossos corações e mentes estão unidos.” Nandiya e Kimbila também se juntaram a ele e declararam: “Ó Honrado pelo Mundo, esta é a nossa crença. Somos verdadeiramente afortunados em poder viver com estes companheiros discípulos. Iremos nos esforçar na devoção aos outros através de nossas ações bondosas conhecidas CEBB

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por eles ou não. Afastar-nos-emos do apego às nossas consciências egoicas e permaneceremos em harmonia com os outros.” Diante destas palavras, o Buda replicou: “Bem dito. Entretanto, vocês mantêm a honestidade, a perseverança e a sinceridade em seus corações?” Todos responderam e disseram que sim.

(4) O Buda disse: “Anuruddha, diga-me como vocês estão praticando esses estados.” Anuruddha respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, entre os monges que aqui residem aquele que retorna antes da sua ronda de mendicância matinal prepara água para os outros, água para lavar os pés e para beber; esvaziando a comida que restou em uma tigela, ela a deixa pronta. Aqueles que retornam mais tarde e que desejam comê-la, assim o fazem sempre que sobram restos. Se eles não desejam comê-la, jogam-na fora em lugares onde não haja grama crescendo ou a derramam na água onde não há peixes. Então os assentos são limpos, a água de beber é guardada, os recipientes são guardados, e o local das refeições é limpo. Outros recipientes, tais como aqueles de água para gargarejo, água para beber, ou água para lavar as mãos, quando vazios são preenchidos por quem perceber primeiro. Se um monge não consegue fazer suas tarefas sozinho, ele dá um sinal com sua mão para chamar outro monge para ajudá-lo. Fazemos as tarefas juntos. Ao realizá-las mantemos o silêncio não pronunciando uma única palavra. Ó Honrado pelo Mundo, todo quinto dia nós nos reunimos para ouvir o Darma a noite inteira. É desta forma que residimos aqui devotando-nos com honestidade, diligência e sinceridade ao Darma.” Com isto, o Buda disse: “Muito bem, Anuruddha! Entretanto, mesmo quando vocês se devotam com honestidade, diligência e sinceridade, poderão dizer que permanecem no reino que está além das regras, puro e pleno de CEBB

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paz e felicidade?” Anuruddha respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, não poderia ser de outra forma; conseguimos abandonar livremente a cobiça e as impurezas e entrar em vários tipos de meditação plenos de felicidade e satisfação. É este o estado que atingimos, o qual supera todas as regras e leis humanas, o reino insuperável, livre de todos os obscurecimentos, puro, e pleno de êxtase e felicidade. Não conhecemos nenhum outro reino mais elevado ou superior.” O Buda disse: “Muito bem dito, Anuruddha; de fato, é verdade que não há outro reino mais elevado que o reino que vocês estão agora desfrutando.” Tendo instruído os três discípulos, o Honrado pelo Mundo estava satisfeito; ele se levantou de seu assento e partiu. Os três discípulos, ao verem o Honrado pelo Mundo partir, retornaram aos seus lugares. Nandiya e Kimbila perguntaram a Anuruddha: “Na presença do Honrado pelo Mundo você se referiu a nós como livres de todos os obscurecimentos. Alguma vez nós lhe dissemos que atingimos tal estado?” Anuruddha lhes respondeu: “É verdade que vocês não afirmaram ter atingido tais estados. Entretanto, conhecendo as suas mentes intuitivamente com a minha mente, eu pude afirmar diante do Buda o que afirmei.”

(5) Nessa época, Digha morava nesta floresta. Ele se aproximou do Honrado pelo Mundo e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, o povo de Vajii é realmente afortunado, pois além do Buda residir aqui, os três discípulos Anuruddha,

Nandiya

e

Kimbila

também

vivem

aqui.

Eles

são

verdadeiramente afortunados!” Essas palavras de Digha estavam tão cheias de poder e verdade que elas tocaram os deuses. O Honrado pelo Mundo disse, com aprovação: “Ó Digha, é exatamente como você disse. Além disso, Digha, se os membros das famílias desses três discípulos refletirem sobre os CEBB

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três discípulos com mentes de fé pura, eles também desfrutarão benefícios e bênçãos permanentes. Ó Digha, se o povo dos diversos grupos, vilas, cidades e países dos quais os três discípulos provêm mantiverem seus pensamentos neles com as mentes cheias de fé, eles também desfrutarão bênçãos permanentes. E também, Digha, se os kshatriyas, brâmanes, vaisyas, sudras e todos os outros, sejam eles deuses ou monges, refletirem sobre esses três filhos de famílias de boa reputação com mentes puras de fé, também eles receberão benefícios e bênçãos permanentes. Digha, você faria bem em considerar quanto benefício e bênçãos foram recebidos por tantos seres através das ações desses três, e em considerar o estado que eles alcançaram em seu interesse por beneficiar pessoas e deuses.”

(6) Desse momento em diante, o Honrado pelo Mundo permaneceu por algum tempo no Salão Pagoda da Grande Floresta, logo na saída de Vesali. O venerável Ananda estava presente na Sanga do Buda. Abhaya do clã Licchavi veio encontrar Ananda, acompanhado por Pandita-kumaraka, e disse a Ananda: “Os jainistas professam ter adquirido os poderes de tudo conhecer e tudo perceber. Eles nos dizem para seguir as práticas ascéticas de modo a eliminar o carma. Para eliminar a causa do sofrimento, eles nos instruem a não criar mais carma. Eles dizem: ‘Quando o carma é extinto, o sofrimento cessará. Quando o sofrimento cessar, os sentidos deixarão de existir. Quando os sentidos deixarem de existir, todos os sofrimentos cessarão. Assim, através de práticas ascéticas que são puras e livres do calor dos obscurecimentos, toda dor e sofrimento serão superados.’ Como responderia o Honrado pelo Mundo a isto?” Ananda disse: “Ó Abhaya, veja que o Honrado pelo Mundo, um homem de sabedoria e insight, purifica os seres sencientes, e de forma a CEBB

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superar todas as agonias e sofrimentos, ensina três tipos de pureza, que estão livres do calor dos obscurecimentos. Abhaya, estes são: primeiro, observar os preceitos, contendo-se de acordo com os preceitos, realizar ações puras, controlar os cinco sentidos, e temer mesmo a menor das ofensas enquanto são seguidas estas condutas com diligência; segundo, alcançar o reino da meditação observando os preceitos; terceiro, realizar a iluminação ao extinguir os obscurecimentos pela observância dos preceitos e ao entrar em meditação. Então não será criado mais carma; e ao receber apenas as retribuições por carma anterior, as agonias e sofrimentos são superados buscando a pureza que é livre do calor de todas as impurezas. Ó Abhaya, estes são os três tipos de pureza, livres de todas as impurezas, que o Honrado pelo Mundo, um homem de sabedoria e insight, expôs.” Nesse momento, Pandita-kumaraka disse a Abhaya: “Ó Abhaya, por que você não demonstra sinais de regozijo com as sábias palavras de Ananda ao ouvir este sermão?” Abhaya respondeu: “Meu amigo, como eu poderia não me regozijar com as palavras do venerável Anada? Se houvesse alguém que não se regozijasse, sua cabeça se partiria em duas.”

(7) Outra vez, o Honrado pelo Mundo instruiu Ananda no Salão Pagoda da Grande Floresta: “Ananda, se você realmente tem compaixão por seus amigos e parentes, você deve ensiná-los e direcioná-los para os três tipos de fé. Eles são: primeiro, uma fé inabalável no Buda; segundo, uma fé inabalável no Darma; e terceiro, uma fé inabalável na Sanga. Em relação ao Buda, faça-os terem fé em sua iluminação. Em relação ao Darma, faça-os realizarem o valor do Darma. Em relação à Sanga, leve-os a acreditarem que ela é a reunião de praticantes genuínos, onde os mais elevados benefícios espirituais podem ser atingidos. CEBB

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“Ananda, tenha em mente que mesmo se tudo o que existe no mundo passar por mudanças, não haverá mudanças com os discípulos que possuem fé inabalável no Buda, no Darma e na Sanga. De fato, se houver qualquer mudança em relação a eles, é a de que essas pessoas que possuem fé profunda nos Três Tesouros nunca renascerão nos reinos negativos. Esta é a grande mudança. Ananda, se você realmente tem compaixão por seus amigos e parentes, você deve dirigi-los a desenvolverem fé nos Três Tesouros.”

(8) Certo dia, Ananda perguntou ao Honrado pelo Mundo sobre o tema da existência ou do ser, que havia sido discutido por muitos, e ele queria saber o que existir ou ser significam. O Buda perguntou: “Ananda, diga-me, se não houvesse ação que causasse o renascimento nos três mundos, então viriam os três mundos em algum momento à existência?” Diante de tal pergunta, Ananda respondeu que não haveria tais mundos. O Buda continuou: “Ananda, perceba que a ação é o solo. Consciência é a semente. A sede do desejo é a água. Quando alguém que está obscurecido pela ignorância e está preso pela sede do desejo nasce no futuro, é no momento de tal nascimento que os três mundos surgirão. Assim, Ananda, é isto que ser ou existir significam.”

(9) Ainda em outro momento, o Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Ananda, poderia alguém dizer que a observância dos preceitos, rituais e tradições, ascetismo, práticas religiosas e convicções traz resultados positivos?” Ananda respondeu: “Não é adequado dar uma resposta geral. Se a observância dos preceitos, rituais e tradições, ascetismo, práticas religiosas e convicções aumentarem as não-virtudes e diminuírem as virtudes, então tal observância não trará resultados favoráveis. Por outro lado, se a observância CEBB

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dos preceitos e assim por diante aumentar as virtudes e diminuir as nãovirtudes, então ela trará resultados positivos.” O Honrado pelo Mundo aceitou e endossou estas palavras de Ananda. Ananda se regozijou ao saber que suas palavras haviam sido endossadas pelo Buda. Ele se levantou, venerou o Buda, circumambulou-o pela direita, e deixou o salão. Ao ver Ananda partir, o Honrado pelo Mundo instruiu seus discípulos: “Meus discípulos, vocês deveriam todos notar que apesar de Ananda ainda estar no processo do aprendizado do caminho, é realmente difícil encontrar outra pessoa que se iguale a ele em sabedoria.”

(10) Certa vez, o Honrado pelo Mundo deixou a Grande Floresta, e acompanhado por discípulos famosos incluindo Sariputta, Moggallana, Mahakassapa, Anuruddha, Revata, Ananda e outros, permaneceu na Floresta Gosinga-sala próxima à vila de Nadika. Certa noite, Moggallana retornou de profunda meditação, e chamou Mahakassapa, dizendo: “Caro amigo, vamos procurar Sariputta para ouvir o Darma.” O discípulo Anuruddha também foi convidado para ir com eles, e os três se dirigiram ao local de residência de Sariputta. Nesse momento, Ananda ficou sabendo disto, e se aproximou de Revata, dizendo: “Ó Revata, os três foram para a residência de Sariputta para ouvir o Darma. Vamos nos juntar a eles?” Assim, os dois se dirigiram para a casa de Sariputta. Sariputta, ao ver Ananda à distância, chamou-o e disse: “Ananda, que bom que você veio. A Floresta Gosinga-sala é realmente um lugar encantador. A noite também está agradável. As árvores sala deram frutos, e as flores estão abertas, preenchendo o ar com um belo aroma. Ananda, diga-me, que espécie de discípulos do Buda pode trazer ainda maior esplendor a esta floresta de árvores sala?” Ananda disse: “Aqueles que ouvem atentamente, relembram CEBB

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as coisas corretamente e cuidadosamente, mantêm os maravilhosos ensinamentos do Buda em suas mentes, esforçam-se diligentemente pela iluminação, e oferecem seus ensinamentos às pessoas com correção de forma que elas também possam se libertar das impurezas trarão ainda maior esplendor a esta Floresta Gosinga-sala.” O discípulo Sariputta disse: “Revata, o venerável Ananda nos deu sua opinião. Eu gostaria de ouvir quem você acha que traria maior esplendor a esta Floresta Gosinga-sala.” Revata respondeu: “Ó Sariputta, creio que aqueles que gostam de permanecer sozinhos, esforçam-se para pacificar suas mentes e possuem insight trarão um maior esplendor à Floresta Gosingasala.”

(11) Sariputta perguntou, então, a Anuruddha, Mahakassapa e Moggallana da seguinte forma: “Amigos, Revata nos deu sua opinião. Eu gostaria de fazer a mesma pergunta a cada um de vocês. Quem traria maior esplendor à Floresta Gosinga-sala?” Anuruddha respondeu: “Caro amigo, seriam pessoas capazes de ver mil mundos com olhos sobre-humanos que são muito, muito mais puros que os humanos, assim como uma pessoa comum é capaz de ver mil mundos quando sobe a uma torre elevada. Aqueles que são capazes de ver mil mundos com o poder da visão sobre-humana são, de fato, aqueles que trarão maior esplendor à Floresta Gosinga-sala.” Mahakassapa respondeu: “Caro amigo, as pessoas que trarão maior esplendor à Floresta Gosinga-sala são aquelas que residem na floresta e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que mendigam por comida e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que vestem um manto feito de roupas velhas e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que possuem CEBB

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apenas três mantos e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que têm poucos desejos e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que apreciam o que possuem e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que vivem sozinhas e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que buscam o Darma diligentemente e destemidamente e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que evitam as multidões e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que observam os preceitos e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que cultivam a concentração e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que alcançam a sabedoria e que louvam a virtude de tal prática, aquelas que experimentam a liberação e que louvam a virtude de tal prática, e aquelas que conquistam a sabedoria da liberação e que louvam a virtude de tal prática.” O discípulo Moggallana disse: “Ó Sariputta, assumindo que haja dois discípulos do Buda que, ao discutirem o Darma, troquem perguntas e respostas de uma maneira que esteja de acordo com o Darma, essas pessoas trarão esplendor para a Floresta Gosinga-sala.” Depois que todas essas respostas foram dadas, Moggallana disse a Sariputta: “Ó Sariputta, todos nós expressamos nossas opiniões. Agora gostaríamos de lhe colocar uma questão. Sariputta, esta Floresta Gosinga-sala é realmente um lugar agradável, e a noite está realmente agradável. As árvores sala estão dando frutos, flores se abrem e um ar sagrado se espalha por toda parte. Assim, Sariputta, diga-nos que tipo de discípulo do Buda traria maior esplendor à Floresta Gosinga-sala?” Sariputta assim respondeu: “Moggallana, imagine que haja um discípulo do Buda que seja capaz de controlar livremente sua mente e que não seja controlado por ela. Assim como um rei ou um membro da família real que possui uma caixa cheia de roupas está livre para trocar suas roupas CEBB

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pela manhã, ao meio-dia e à noite, a pessoa que pode controlar prontamente sua mente é o tipo de pessoa que trará maior esplendor à Floresta Gosingasala.”

(12) Depois desta resposta, Sariputta disse: “Meus amigos, todos nós expressamos nossas opiniões. Agora vamos até o Honrado pelo Mundo, contar-lhe sobre nossa discussão, com a esperança de reter em nossas memórias as instruções do Buda sobre este assunto.” Então os discípulos foram até a morada do Buda. O Venerável Sariputta, representando todos os presentes, dirigiu-se ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, estes amigos vieram me ver esta noite para discutir o Darma. Eu perguntei aos meus amigos do Darma que tipo de discípulos traria maior esplendor a esta Floresta Gosinga-sala, a qual estimamos tanto. Depois que cada um expressou sua opinião, decidimos buscar a orientação do Buda. Ó Honrado pelo Mundo, qual das opiniões deveria ser considerada superior às outras?” Então Sariputta relatou as diversas opiniões. Ao ouvir suas palavras, o Buda disse: “Ó Sariputta, todas as opiniões expressadas são boas. Tais opiniões só poderiam vir de vocês que alcançaram altos níveis de realização. Entretanto, ouçam as palavras do Buda a respeito de quem traria maior esplendor à Floresta Gosinga-sala. “Ó Sariputta, se entre os discípulos do Buda houver aqueles que, guardando suas tigelas após a refeição e sentando calmamente com seus corpos e mentes sob total controle, puderem dizer com determinação: ‘Eu não deixarei este assento enquanto minha mente não estiver livre do apego e tiver se libertado dos obscurecimentos’. Estes são, de fato, aqueles que trarão maior esplendor a esta floresta.”

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4. A Dor do Desejo Ardente (1) No tempo devido, o Honrado pelo Mundo se dirigiu ao norte e entrou em uma floresta nigrodha nos arredores da cidade de Kapilavatthu, onde o clã Sakya vivia. O rei do clã Sakya, Mahanama, se aproximou do Honrado pelo Mundo e se dirigiu a ele da seguinte maneira: “Ó Honrado pelo Mundo, por um longo tempo eu tenho tido em alta estima o ensinamento do Buda de que cobiça, raiva e ignorância são obscurecimentos da mente. Contudo, devo confessar que apesar de meus esforços sinto que, às vezes, essas impurezas tomam conta de minha mente. Quando isto acontece, fico inclinado a acreditar que ainda há resquícios de coisas que não fui capaz de eliminar de minha mente.” Com estas palavras, o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Mahanama, é exatamente como você disse. É assim porque a cobiça, a raiva e a ignorância ainda não foram eliminadas de sua mente. Se elas forem eliminadas de sua mente você não escolherá a vida de chefe de família, nem buscará realizar seus desejos ardentes. Mesmo que você saiba através de sua sabedoria que, não importa quantos desejos você persiga, não haverá fim para isto, e que os desejos estão cheios de sofrimento, e que eles o levam a perder toda a esperança e o conduzem a infortúnios, a não ser que você atinja a verdadeira felicidade livre dos desejos ardentes você ainda estará preso a estes desejos. Se você alcançar a sabedoria e a felicidade livres dos desejos, você será capaz de se libertar da caçada pelos seus desejos.

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(2) “Mahanama, irei contar-lhe minha própria experiência. Antes de atingir a iluminação, apesar de eu ter compreendido corretamente que por mais que corresse atrás de meus desejos não haveria um fim para eles, que eles estavam cheios de sofrimento, e que isto tirava toda a minha esperança e me levaria a infortúnios, eu ainda era continuamente assombrado pelos desejos, visto que eu não havia alcançado a verdadeira felicidade livre do desejo. Como, mais tarde, eu alcancei não apenas a sabedoria, mas também a verdadeira felicidade livre do desejo, eu consegui escapar da busca incessante pelos desejos. “Mahanama, quais são os prazeres dos desejos dos homens? Existem cinco desejos. Eles são os desejos por visões agradáveis, sons, odores, sabores e toques. Prazer e satisfação surgem devido aos cinco desejos. Estes são os prazeres dos cinco desejos. “Mahanama, quais são os infortúnios causados pelos desejos? Todas as pessoas ganham suas vidas através de seu trabalho; elas têm que suportar calor e frio; elas são constantemente afligidas por vento, chuva, pulgas, mosquitos e répteis; e elas sofrem de fome e sede. Porém, apesar de seus esforços excruciantes, elas não conseguem acumular riquezas. Elas se exaurem, agonizam e sofrem; elas batem em seus peitos e lamentam, dizendo que seus esforços foram sem sentido e não geraram frutos.

(3) “Ó Mahanama, suponha que, como resultado de seu empenho e esforços, elas sejam capazes de acumular riquezas. Então, para proteger sua fortuna elas terão que suportar todos os tipos de sofrimento. Elas terão que pensar como não deixar sua fortuna ser confiscada pelo rei e como protegê-la dos ladrões, do fogo, das inundações e dos parentes que tentarão tomá-la. Em geral, ela acaba sendo confiscada pelo rei, roubada por ladrões, destruída por CEBB

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inundações ou fogo, ou tomada por parentes. Nessas alturas, elas estarão exaustas e em profundo pesar e agonia, batendo em seus peitos elas choram por aquilo que era seu e agora não é mais. Estes são os infortúnios da indulgência nos desejos. Todos os sofrimentos deste mundo se baseiam nos desejos e são resultantes do desejo ardente. “Ó Mahanama, devido aos desejos reis guerreiam com outros reis, brâmanes lutam contra brâmanes, pais discutem com sua prole, irmãos lutam com irmãos, irmãs contradizem irmãs, amigos se opõem a amigos. Eles sempre acabarão se engajando em lutas, confrontos e discussões, e no final irão recorrer a maças e espadas e se matarão. Estes são os infortúnios trazidos pelos desejos. “Além do mais, Mahanama, devido aos desejos exércitos se confrontam com escudos e espadas, e com arcos e aljavas fixadas em seus lugares eles avançam. As flechas voam, lanças são arremessadas e espadas lampejam; eles perfuram uns aos outros e cortam as cabeças dos inimigos. Estes são os infortúnios dos desejos dos homens.

(4) “Mahanama, mais uma vez, é devido à cobiça que as pessoas atraem a destruição física, entregam-se a furtos, cometem assaltos nas estradas, e se engajam em atos imorais contra as mulheres. Normalmente o rei captura essas pessoas e as pune. Elas são batidas com chicotes, com grandes bastões, ou com maças; suas mãos são decepadas; suas pernas são cortadas; suas orelhas são cortadas fora; seus narizes são decepados; seus crânios são abertos e barras de ferro em brasa são aplicadas; seus escalpos são retirados e seus crânios são atritados com seixos até se tornarem brancos como conchas marinhas; suas bocas são queimadas pelo fogo e são rasgadas até as orelhas; seus corpos são enrolados em panos embebidos com óleo e são queimados; CEBB

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suas mãos são queimadas; sua pele é arrancada da garganta e do peito até os tornozelos; seus cotovelos e tornozelos são pregados a um poste de ferro com fogo queimando ao redor; sua pele e vasos sanguíneos são rasgados por ganchos de pontas agudas; os corpos são retalhados como um tabuleiro de xadrez; os corpos feridos são lavados com água salgada; seus corpos são esticados no chão e barras de ferro são enfiadas através das orelhas e da cabeça e os corpos são enrolados ao redor; os corpos são surrados e amaciados como feixes de palha; os corpos são borrifados com óleo fervente e lançados para alimentar os cães famintos; então os corpos são perfurados por ferros em brasa e as cabeças são cortadas. Estas formas extremas de sofrimento são originadas pelos desejos. “Além disso, Mahanama, é devido aos desejos que as pessoas continuam agindo de forma impura com o corpo, a fala e a mente, e devido a estas várias ações elas terão que suportar os vários sofrimentos do inferno após sua morte. Estes são os infortúnios que surgem devido aos desejos dos homens. Os sofrimentos na vida futura também são causados pelos desejos e dependem dos desejos.

(5) “Certa vez eu estava na montanha do Pico dos Abutres em Rajagaha. Naquele mesmo momento, no declive da Pedra Negra do Monte Isigiri havia muitos jainistas ascetas praticando o ascetismo de permanecer em pé por um tempo prolongado e pareciam estar sofrendo dor extrema. Uma noite eu saí da meditação e me aproximei dos ascetas, perguntando por que eles estavam realizando a prática de permanecer em pé por um tempo prolongado e sofrendo tal dor extrema. Os jainistas responderam que seu mestre, Nigantha Nataputta era onisciente e tudo via, possuindo sabedoria ilimitada. De acordo com eles sua sabedoria estava desperta constantemente, CEBB

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e ele instruiu seus discípulos: ‘Vocês realizaram ações negativas em vidas passadas. Vocês devem se libertar de seu carma negativo através de práticas ascéticas. Assim, se vocês controlarem suas ações, fala e mentes e erradicarem as forças do carma passado e não criarem novos carmas, então, no futuro não haverá a possibilidade de deixar as secreções impuras de seus desejos vazarem. Quando este vazamento estiver controlado, então o carma cessará sua ativação. Quando o carma cessar, então todo o sofrimento cessará. Quando o sofrimento cessar, então toda a dor e as agonias humanas serão eliminadas.’ Estas, disseram eles, foram as instruções do mestre, as quais eles estavam seguindo animadamente. “Ó Mahanama, naquele momento eu perguntei aos ascetas se eles sabiam se tinham existido ou não no passado. Todos responderam que não sabiam. Além disso, eu lhes perguntei se eles sabiam que tinham cometido ações negativas no passado ou não. Eles responderam que não sabiam. Então eu lhes perguntei: ‘Vocês sabem que tipo de ações negativas vocês cometeram no passado?’ Eles responderam que não sabiam. Então eu lhes perguntei se eles sabiam quanto sofrimento tinha sido removido, ou quanto ainda restava, ou quanto sofrimento deveria ser removido para que eles se tornassem completamente livres dele. Eles responderam que não sabiam. Então, eu os instruí: ‘Está claro agora que todos vocês não têm consciência de ter existido ou não no passado, ou se cometeram ações negativas nas vidas passadas ou não, ou qual era a natureza das ações negativas. Além do mais, vocês não sabem quanto do sofrimento já foi removido ou quando ainda resta, ou quanto deve ser removido de forma que todos os sofrimentos sejam eliminados para sempre. Isto nos leva a dizer que apenas as pessoas que possuem máculas de sangue impiedosas em suas mãos se tornariam ascetas jainistas.” CEBB

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(6) “Os ascetas jainistas então se dirigiram a mim: ‘Ó Gotama, a verdadeira felicidade não deriva da felicidade. Ela é construída pelo sofrimento. Se a verdadeira felicidade é obtida pela felicidade, o rei Bimbisara será mais feliz que você, simplesmente porque o rei está, no momento, desfrutando maior felicidade.’ Eu respondi que tais afirmações não deveriam ser feitas sem pensar profundamente sobre elas. Então eu perguntei se o rei vivia de forma mais feliz do que eu. Os ascetas responderam: ‘Ó Gotama, é verdade, nós fizemos tais observações sem pensar profundamente sobre elas. Nós rogamos, nos ensine. Qual de vocês está desfrutando uma vida verdadeiramente feliz?’ Eu, então, coloquei-lhes uma questão, dizendo-lhes que deveriam responder francamente. A questão era se o rei Bimbisara conseguiria ou não viver em perfeita felicidade sem mover seu corpo ou pronunciar uma palavra por sete dias e sete noites. Eles responderam que o rei não conseguiria. Eu perguntei se sem pronunciar uma palavra por seis dias e seis noites, ou cinco dias e cinco noites, ou quatro dias e quatro noites, ou três dias e três noites, ou dois dias e duas noites, ou um dia e uma noite, o rei conseguiria permanecer perfeitamente feliz. Os ascetas responderam que o rei não ficaria feliz. “Eu continuei meu discurso: ‘Ó ascetas do jainismo, eu permaneço em perfeito bem-estar sem mover o corpo ou dizer uma palavra por um dia inteiro e uma noite. Eu permaneço em perfeito bem-estar por dois dias e duas noites, três dias e três noites até sete dias e sete noites sem mover o corpo ou pronunciar uma palavra. Assim, olhando o assunto deste ponto de vista, qual de nós desfruta felicidade perfeita, o rei Bimbisara ou o Buda?’ Os ascetas responderam que era óbvio que Gotama permanecia em bem-estar perfeito. Mahanama, este foi o diálogo entre os ascetas jainistas e o Buda.” Mahanama CEBB

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se regozijou por ouvir o Buda e alegremente retornou para sua casa.

(7) Isto também aconteceu quando o Honrado pelo Mundo permanecia na floresta nigrodha. Certa manhã bem cedo o Buda foi a Kapilavatthu para receber oferendas de alimento. Durante o meio-dia ele se sentou sob um bambuzal novo, longe na grande floresta, evitando o calor do dia. Nesse momento, Dandapani do clã Sakya entrou na floresta e, ao ver o Honrado pelo Mundo sob o bambuzal, prestou respeito ao Buda. Apoiando-se em seu cajado, ele ficou ao lado do Buda e inquiriu: “Ó venerável mendicante, qual é seu ensinamento principal? O que você explica aos outros?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Meu amigo, meu ensinamento principal é viver a vida sem se fixar a qualquer mundo. Lembre-se que o verdadeiro brâmane que se libertou dos desejos, dúvidas e delusões e está livre da sede da luxúria relativa a vida e morte não mais será incomodado pelo pensamento de ‘É isto ou é aquilo?’ É isto o que eu explico aos outros.” Ouvindo as palavras do Buda, Dandapani assentiu repetidamente; profundamente impressionado, franziu o cenho; apoiando-se pesadamente sobre seu cajado, ele partiu.

(8) Ao cair da noite o Honrado pelo Mundo saiu de sua meditação e retornou à floresta Nigrodha, sentou-se no assento do Buda, e contou aos discípulos tudo o que havia acontecido durante a tarde. Então, um dos discípulos observou que não entendia claramente as palavras do Buda, e pediu ao Buda para explicá-las em maiores detalhes. Então o Buda disse: “Meus queridos discípulos, sempre que houver condições determinantes, então ocorrerão pensamentos variados. Se não houver condições para mencionar, CEBB

para

se

encantar,

ou

para

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se

apegar,

então

ocorre

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verdadeiramente o fim da impureza da cobiça. Isto também significa o fim da impureza da raiva, da impureza das visões errôneas, da impureza das dúvidas, da impureza da arrogância, da impureza da paixão pela existência e da impureza da ignorância. Isto também significa o fim das lutas e dos confrontos com varas e espadas; significa o fim das discussões, bajulação mútua e mentiras. É então, de fato, quando todas as impurezas terminam.” Com estas palavras de sabedoria, o Honrado pelo Mundo levantou-se de seu assento e se recolheu ao seu quarto. Vendo o Buda se recolher, os discípulos observaram que uma vez que o Buda havia ensinado brevemente e agora partira, eles gostariam de ter ensinamentos explicados mais longamente. Eles também pensavam que o discípulo principal MahaKaccayana, que era sempre elogiado pelo Buda e respeitado pelos discípulos eruditos do Buda, seria capaz de explicar em detalhes os ensinamentos do Buda. Eles decidiram ir até Maha-Kaccayana e perguntar-lhe sobre o significado das palavras do Buda.

(9) Assim, os discípulos do Buda foram em grupo procurar MahaKaccayana e pediram-lhe para iluminá-los sobre o sermão do Buda. MahaKaccayana respondeu e os instruiu: “Amigos, suponham que haja um homem que esteja procurando um cerne vermelho no tronco de uma árvore. Ele encontra uma grande árvore com um cerne vermelho no tronco, e sobe no tronco tentando descobrir um cerne vermelho nos galhos e folhas. Da mesma forma, vocês deixaram seu próprio mestre e esperam que eu lhes diga o significado de seu ensinamento. Meus amigos, o Buda é o onisciente entre todas as pessoas, aquele que tudo vê entre todas as pessoas, o professor do Darma, aquele que ilumina a todos com o verdadeiro significado, e aquele que permanece no Darma. Quando o Honrado pelo Mundo ensinou o Darma, CEBB

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vocês deveriam ter-lhe inquirido sobre o verdadeiro significado das palavras do Buda; vocês deveriam ter guardado isto em suas mentes exatamente conforme os ensinamentos do Buda.” Os discípulos disseram: “Ó Maha-Kaccayana, é exatamente como você disse. Entretanto, você é louvado pelo Buda e respeitado pelos eruditos da Sanga e é capaz de elaborar as palavras do Buda. Por favor, entenda nosso sentimento e explique o significado das instruções do Buda para nós.” Maha-Kaccayana se dirigiu aos monges: “Irei agora oferecer meu entendimento. Espero que vocês ouçam atentamente. Meus amigos, as breves instruções que nos foram dadas pelo Honrado pelo Mundo, conforme minha interpretação, possuem este significado. Devido aos olhos e aos seus objetos, surge a consciência visual; devido ao jogo entre olhos, objetos e consciência visual, surge a sensação visual. Devido a esta sensação visual surge a percepção. Quando a percepção é recebida surgem os conceitos. Com base nos conceitos surge o pensamento. Devido aos pensamentos surge a discriminação. Condicionadas pela discriminação, surgem as diversas ideias. Meus amigos, é o mesmo com a audição, o olfato, o paladar, o contato corporal e a atividade mental. Assim, quando não há olhos, objetos ou consciência visual, não haverá sensação visual. Quando não houver sensação visual não haverá percepção. Quando não houver percepção não haverá conceitos. Quando não houver conceitos não haverá pensamentos. Quando não houver pensamentos não haverá discriminações. Quando não houver discriminações não haverá as diversas ideias. É o mesmo caso com os ouvidos, nariz, língua, corpo e mente. Meus amigos, é assim que eu interpreto as breves instruções dadas pelo Buda. Se vocês tiverem outros pensamentos, eu os encorajo a irem ao Honrado pelo Mundo, inquirindo sobre o significado de seus pensamentos, e guardem com exatidão as CEBB

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instruções do Buda em suas mentes.”

(10) Os discípulos do Buda se regozijaram ao ouvir as explicações de Maha-Kaccayana e, deixando seus assentos, aproximaram-se do Honrado pelo Mundo, exclamando: “Ó Honrado pelo Mundo, nós, discípulos, fomos até Maha-Kaccayana e pedimos sua explicação do breve sermão que o Buda nos deu. Maha-Kaccayana explicou-o para nós, usando estas palavras e expressões e nos iluminou.” O Buda disse: “Meus discípulos, Maha-kaccayana é um erudito e uma pessoa de grande sabedoria. Mesmo se vocês me pedissem para explicar minhas palavras eu as explicaria da maneira que Maha-Kaccayana fez. E isto porque o que vocês ouviram de Maha-Kaccayana é o verdadeiro significado. Meus discípulos, guardem isto em suas mentes.” Naquele momento, Ananda disse ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, suponha que uma pessoa na iminência da morte por fome e fadiga receba tabletes de mel. Neste caso, quanto mais ela saborear mais forte será o gosto doce. Da mesma forma, os discípulos conscienciosos e sábios do Buda, seguindo seu ensinamento, adquirindo sabedoria, e buscando o significado dele, conquistaram ainda maior satisfação e alegria. Ó Honrado pelo Mundo, por qual nome este ensinamento deveria ser conhecido?” O Honrado pelo Mundo então disse: “Ananda, que este ensinamento seja conhecido como o Sutra da Analogia do Tablete de Mel.”

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LIVRO III Capítulo III - A CONDUTA DE UM BODISATVA

1. O Discurso de Sariputta sobre o Darma

(1) O Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos discípulos, retornou novamente ao Monastério Anathapindika. Certo dia, o venerável Sariputta disse aos outros discípulos: “Amigos, existem quatro tipos de pessoas no mundo: aquelas que possuem obscurecimentos, mas que não sabem que os possuem; aquelas que possuem obscurecimentos e que sabem que os possuem; aquelas que não possuem obscurecimentos, mas que também não sabem que não os possuem; e aquelas que não possuem obscurecimentos e sabem que não os possuem. Dos dois primeiros tipos de pessoas, aquelas que não sabem que possuem obscurecimentos são inferiores àquelas que sabem que os possuem. O mesmo pode ser dito sobre os dois últimos tipos de pessoas. O fato de a pessoa estar consciente ou não de sua condição determina se ela é superior ou inferior.” Naquele momento, o venerável Moggallana disse a Sariputta: “A respeito desses dois tipos de pessoas que possuem obscurecimentos, por que você diz que um tipo é superior ao outro?” Sariputta respondeu: “Meu amigo, esta é a razão. Na pessoa que possui obscurecimentos, mas que não CEBB

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sabe que os possui não há determinação ou esforço para remover seus obscurecimentos. Desta forma ela morrerá com os obscurecimentos da cobiça, da raiva e da ignorância. Ela é como uma tigela de bronze coberta por pó comprada no mercado. Se alguém não a lavar e limpar, jogando-a em um canto poeirento da casa, ela se tornará ainda mais suja. Por outro lado, a pessoa que sabe que possui obscurecimentos direcionará sua mente para removê-los com esforço e empenho; e, consequentemente, ela morrerá sem os obscurecimentos da cobiça, da raiva e da ignorância. Ela é como uma tigela de bronze coberta por poeira comprada no mercado que foi lavada e está limpa. Continuando, a pessoa que não possui obscurecimentos, mas que não sabe que não os possui, é atraída pelas aparências das coisas de que gosta e será perturbada pela cobiça, caindo nas armadilhas da raiva e da ignorância; ela chegará ao fim de sua vida com obscurecimentos. Ela é como uma tigela de bronze limpa comprada no mercado e jogada num canto poeirento da casa sem ser lavada; ela acabará suja. Por outro lado, a pessoa que não possui obscurecimentos e que sabe que não os possui não será atraída pelas aparências das coisas de que gosta. Ela não será perturbada pela cobiça nem cairá nas armadilhas da raiva e da ignorância; ela chegará ao fim de sua vida sem obscurecimentos. Ela é como uma tigela de bronze limpa comprada no mercado e que se tornou ainda mais limpa ao ser lavada. Ó venerável Moggallana, é devido a isto que digo que uma é superior e que a outra é inferior.

(2) “Ó amigos, por obscurecimentos quero dizer desejos não-virtuosos. Por exemplo, quando alguém comete uma ofensa, deseja: ‘Que os outros não fiquem sabendo disto’; quando a ação é conhecida, deseja: ‘Que eu seja reprimido de forma privada, e não diante da Sanga’; ou ainda deseja: ‘Que eu CEBB

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seja reprimido por um amigo próximo, e não por outras pessoas.’ Todos estes pensamentos estão maculados. Devido a estes obscurecimentos, quando tais desejos não se realizam, a pessoa ficará com raiva e sua mente ficará irritada. “Além disso, quando alguém ouve um discurso de seu professor, e deseja: ‘Que o professor dê mais atenção para mim’, ou: ‘Que ele me escolha como seu interlocutor’, ou no momento de receber oferendas ela deseja secretamente: ‘Que eu receba oferendas por primeiro.’ Todos estes pensamentos estão maculados. Devido a estes obscurecimentos, quando tais desejos não se realizarem, a pessoa ficará com raiva e sua mente ficará irritada. “Ó amigos, não importa quem ela seja, a não ser que esteja livre destes desejos não-virtuosos, tais obscurecimentos se tornarão, naturalmente, conhecidos por outras pessoas. Então, mesmo que esta pessoa vista mantos humildes, viva em uma floresta, e se esforce na prática de se libertar da cobiça por roupas, comida e moradia, ela não conquistará o respeito dos outros. Ela será como uma bela tigela de bronze trazida do mercado, na qual o dono coloca cobras, cães ou cadáveres humanos, e posiciona outra tigela de bronze como tampa para a primeira, e a devolve ao mercado. Pessoas serão atraídas pelo recipiente, mas quando o abrirem para ver o conteúdo, com certeza elas se sentirão repelidas por ele. “Assim, quando alguém se liberta dos desejos não-virtuosos, isso será, naturalmente, sabido pelos outros; e mesmo que essa pessoa more em uma vila, ela receberá convites de outras pessoas; mesmo que vista roupas leigas, as pessoas prestarão respeito a ela. Ela será como uma tigela de bronze trazida do mercado e que é lavada e limpa: o dono a preenche com arroz branco cozido e posiciona outra tigela de bronze como tampa, devolvendo-a ao mercado. Então as pessoas serão atraídas por ela, e quando o conteúdo for CEBB

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examinado seu apetite será estimulado.”

(3) Naquele momento, Moggallana se dirigiu a Sariputra: “Ó venerável Sariputta, certa vez eu estava morando em uma colina fora de Rajagaha, e uma manhã cedo eu fui até a cidade para mendigar. Lá eu vi um aprendiz no conserto de rodas trabalhando duramente para cortar os pedaços de uma roda. Então, naquele momento chegou um asceta nu, Pandaputta, que havia sido anteriormente aprendiz no conserto de rodas. Ele ficou em pé ali perto, observando o trabalho cuidadosamente. Pandaputta pensava: ‘Este aprendiz está agora trabalhando na roda de um veículo. Ele aplainará todas as deformações do aro, as torções e os nós, de forma que o aro esteja livre de defeitos e tudo se encaixe perfeitamente.” Enquanto isso, o aprendiz, como esperado, aplainou as deformações, as torções e os nós. Ao ver isto, Pandaputta soltou um grito de satisfação: ‘Ele trabalhou a roda como se conhecesse a minha mente.’ Ó meu amigo, da mesma forma, você retirou os pensamentos vãos, frívolos e confusos de alguns monges que se tornaram mendicantes como modo de vida, como se conhecesse exatamente suas mentes. Aqueles discípulos que ingressaram na vida sem lar devido à sua fé no Darma, e que possuem o insight sério e silencioso, estão tão satisfeitos com o seu ensinamento como um homem sedento e faminto se satisfaz com água e alimento. De fato, é maravilhoso que você tenha despertado nossos amigos discípulos para aquilo que é virtuoso, e para libertá-los daquilo que não é virtuoso.” Assim, os dois veneráveis discípulos se alegraram com seus discursos proferidos com correção.

(4)

Um

dia,

Sariputta

disse:

“Ó

amigos,

as

pessoas

falam

frequentemente sobre a visão correta, de que forma os discípulos do Buda são CEBB

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reconhecidos por possuírem a compreensão correta, uma fé indestrutível no Darma e por alcançarem o Darma correto? Amigos, se os discípulos do Buda conhecem a não-virtude e suas raízes e a virtude e suas raízes, eles são famosos por terem a compreensão correta, uma fé indestrutível no Darma e por alcançarem o Darma correto. “Mas o que é a não-virtude e quais são suas raízes? O que é a virtude e quais são suas raízes? Amigos, as dez ações que se seguem são denominadas não-virtuosas: matar, roubar, indulgência lasciva, fala mentirosa, fala dúbia, calúnia, bajulação, cobiça, raiva e visões errôneas. As raízes da não-virtude, os três venenos, são a cobiça, a raiva e a ignorância. Além disso, abster-se das dez ações não-virtuosas é chamado de conduta virtuosa, e abster-se da cobiça, abster-se da raiva e abster-se da ignorância são chamados de raízes da virtude. Se alguém compreender, desta forma, a não-virtude e suas raízes, a virtude e suas raízes, e se abstiver de todos os desejos e pensamentos prejudiciais, e se remover o obscurecimento da visão das identidades, aniquilar a ignorância, e acabar com o sofrimento nesta mesma vida, esta pessoa encontrou a compreensão correta, adquiriu uma fé indestrutível no Darma e alcançou o Darma correto.”

(5) Maravilhados por este discurso, outros discípulos perguntaram a Sariputta: “Ó amigo, há alguma outra forma pela qual os discípulos do Buda possam encontrar a compreensão correta, possam adquirir uma fé indestrutível no Darma e possam alcançar o Darma correto?” Sariputta respondeu: “Sim, meus amigos, há. Quando os discípulos do Buda têm conhecimento da natureza do sustento, suas causas, sua cessação, e o caminho para chegar à cessação, diz-se que eles possuem a compreensão correta, uma fé indestrutível no Darma e alcançaram o Darma correto. Qual é CEBB

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a natureza do sustento e qual é o caminho para alcançar sua cessação? Existem quatro formas de sustento que apoiam os corpos e mentes de todos os seres, e que ajudam a nutrir aqueles que ainda não nasceram: alimento físico, grosseiro ou refinado; alimento para as faculdades sensoriais; alimento para o pensamento e a vontade; e alimento para a consciência. Visto que a base causal para tal sustento é a sede dos desejos, quando a sede dos desejos é levada à cessação, a cessação do sustento também é alcançada. O caminho para realizar este objetivo é o Nobre Caminho Óctuplo, ou seja, visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e concentração correta. Portanto, quando os discípulos do Buda conhecem a natureza do sustento, suas causas, sua cessação, e o caminho para chegar à sua cessação, e também se afastam de todos os desejos e pensamentos negativos, removem o obscurecimento da visão sobre as identidades, aniquilam a ignorância, e acabam com o sofrimento nesta mesma vida, então se diz que eles encontraram a compreensão correta, adquiriram uma fé indestrutível no Darma e alcançaram o Darma correto. O mesmo pode ser dito sobre o sofrimento. Aqueles que conhecem a natureza do sofrimento, suas causas, sua cessação e o caminho para a sua cessação, são conhecidos por terem encontrado a compreensão correta, por terem adquirido fé indestrutível no Darma e por terem alcançado o Darma correto. “Nascimento, velhice, doença, morte, ansiedade, pesar, sofrimento, vícios e agonia são todos fontes do sofrimento. Em resumo, viver é sofrimento, e a sua fonte primária é a paixão intensa denominada sede, que leva a delusões futuras. Assim, quando as paixões são extintas sem resquícios a cessação do sofrimento é realizada por si mesma, e o Nobre Caminho Óctuplo é o meio para atingir tal estado.” Todos os que ouviram Sariputta CEBB

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estavam, nesse momento, encantados com seu discurso.

2. A Parábola da Serra (1) Naquela época, o venerável Moliyaphagguna estava conectado de forma próxima demais a algumas monjas. Se algum discípulo afrontava aquelas monjas, ele ficava bastante irritado. Da mesma forma, se os discípulos falassem com aquelas monjas afrontando Moliyaphagguna, as monjas ficavam bastante irritadas. Quando o Honrado pelo Mundo ouviu sobre isto, ele chamou Moliyaphagunna para confirmar a situação e perguntou-lhe: “Ó Phagguna, você se tornou um mendicante devido à sua fé?” Phagguna respondeu: “Sim, Honrado pelo Mundo.” Então o Honrado pelo Mundo lhe disse: “Ó Phagguna, então não é bom para você estar conectado de forma próxima a essas monjas. Portanto, quando alguém falar com você afrontando aquelas monjas, você deveria descartar os pensamentos que são mantidos por aqueles que estão atados às suas famílias: você deve disciplinar-se e pensar: ‘Minha mente é imutável. Eu nunca pronunciarei palavras ásperas. Estou determinado a viver uma vida de compaixão, comiseração e amor. Eu nunca guardarei raiva, mesmo privadamente.’ Ó Phagguna, além do mais, se alguém bater nessas monjas diante de você com os punhos, com sujeira ou com um bastão, ou mesmo com uma espada, você não deve manter tais pensamentos que são normalmente guardados por chefes de família atados às suas famílias. Você deveria agir da mesma forma quando alguém afrontá-lo ou mesmo bater em você.”

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(2) Então, o Honrado pelo Mundo se voltou aos discípulos e assim lhes falou: “Discípulos, em certa ocasião eu percebi que as mentes de meus discípulos estavam bem controladas e eu lhes disse: ‘Discípulos, como eu faço apenas uma refeição por dia, vivo uma vida saudável e satisfatória. Assim, eu recomendo que vocês também façam uma refeição por dia, para que possam viver vidas saudáveis e satisfatórias.’ Mas, ó discípulos, não há necessidade real desta regra, e o que é realmente necessário é que vocês vivam com atenção mental correta. Se um técnico excelente comandar um time de cavalos bem treinados a puxarem uma carruagem por uma estrada bem nivelada, ele será capaz de guiá-los a qualquer lugar que deseje mesmo sem usar o chicote. É o mesmo com as vidas dos discípulos. Portanto, vocês devem abandonar o mal e praticar o bem; com este princípio básico vocês farão um progresso estável. Suponham que haja uma grande floresta de árvores sala próxima a uma vila ou cidade. Como as cascas dessas árvores estão poluídas o crescimento das árvores foi interrompido. Então chega alguém que ama a floresta. Quando ele retira os galhos torcidos e os brotos doentes, limpa toda a floresta, varrendo-a, e protege os galhos em bom estado e os brotos saudáveis, a floresta sala logo crescerá e se tornará mais densa. É o mesmo na vida dos discípulos. Mas, ó discípulos, vocês devem manter em suas mentes uma coisa. Mentes tranquilas comuns podem ser perturbadas em tempos de emergências; você devem treinar para serem capazes de manter a compostura mesmo em tempos de emergências.

(3) “Era uma vez, discípulos, uma viúva de nome Vedehika que morava nesta mesma Savatthi. Sua reputação era boa. Ela era conhecida por ser gentil, dócil e silenciosa. Vedehika tinha uma serva de nome Kali que era CEBB

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uma trabalhadora inteligente e dedicada. Certo dia, Kali pensou: ‘Minha ama possui uma ótima reputação, mas será que internamente ela não tem um mau gênio apesar de não mostrá-lo? Ou será que por eu estar fazendo meu trabalho com esforço total ela não se mostrou assim, mesmo internamente sendo raivosa? Assim, irei testar minha ama.’ Então Kali ficou até tarde na cama no dia seguinte e saiu para trabalhar na metade da manhã. Vedehika disse a Kali: ‘Bem, Kali, por que você acordou tão tarde hoje?’ Kali respondeu: ‘Eu acho que isso não é da sua conta.’ ‘Por que não? Você levantou tão tarde.’ A viúva ficou com raiva, mostrando seu gênio ruim na sua testa. “Então Kali levantou-se no outro dia ainda mais tarde do que no dia anterior para testar a reação de sua ama. ‘Bem, Kali, por que você se levantou tão tarde?’ perguntou a ama. Kali respondeu: ‘Se eu levanto cedo ou tarde não é da sua conta.’ ‘E por que não? Sua estúpida!’ Vedehika se enraiveceu e não conseguiu mais controlar seu temperamento ruim; ela bateu na cabeça de Kali com uma vara. Kali saiu da casa sangrando e declarou em alta voz para os vizinhos: ‘Olhem para mim, olhem o que a gentil senhora fez comigo! Olhem o que a senhora gentil e tranquila fez comigo! Ela me machucou porque eu acordei tarde!’ Ó discípulos, logo após o acontecimento, espalhouse o rumor de que Vedehika era uma mulher terrível e violenta.

(4) “Da mesma forma, ó discípulos, as pessoas em geral são gentis, modestas e serenas enquanto palavras desagradáveis não caírem em seus ouvidos. Quando tais palavras são ouvidas diretamente, entretanto, elas serão testadas se são verdadeiramente gentis, modestas e serenas. “Ó discípulos, eu não considero um monge como um verdadeiro discípulo amoroso, que apenas pelo fato de possuir mantos, comida CEBB

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mendigada, um tapete e remédios é gentil na fala e na conduta. Por quê? Por que este monge não é gentil na fala e na conduta a não ser que possua mantos, alimento, tapete e remédios. Mas aquele que respeita e reverencia o Darma e é gentil na fala e na conduta, este eu denomino um discípulo verdadeiramente gentil. “Ó discípulos, existem cinco pares de opostos: palavras oportunas e palavras inoportunas, palavras verdadeiras e palavras enganosas, palavras gentis e palavras ásperas, palavras benéficas e palavras prejudiciais, palavras compassivas e palavras maliciosas. Quando as pessoas falarem com vocês de alguma destas formas vocês devem treinar da seguinte maneira: ‘Minha mente

nunca

se

abalará,

nunca

pronunciarei

palavras

maldosas,

permanecerei na mente de compaixão, comiseração e amor, não guardarei raiva mesmo privadamente, viverei com minha mente cheia de amor pelos outros, e viverei ampliando minha mente, protegendo este mundo com a mente da compaixão ampla, grandiosa e infinita, sem raiva ou amargor.’

(5) “Meus discípulos, suponham que um homem tente esvaziar a terra do solo com uma pá e um saco para carregá-la. Gritando: ‘Que a terra do solo desapareça, que a terra do solo desapareça’, ele cava o solo e espalha a sujeira. Vocês acham que esse homem poderia, finalmente, esvaziar a terra do solo?” Os discípulos responderam: “Honrado pelo Mundo, ele não conseguiria, porque não há limite para a profundidade da terra.” “Meus discípulos, é o mesmo com a sua fala. Não importa como as pessoas falem com vocês, vocês devem estar treinados a tratá-las com compaixão e comiseração, mantendo a compostura, e a preencher o universo com suas mentes amorosas e compassivas. Meus discípulos, se alguém tentar pintar uma imagem no ar com tinta não conseguirá criar imagens de coisas CEBB

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no espaço sem forma. E também, se alguém tentar aquecer o rio Ganges para secar sua água através de uma pequena tocha feita de grama seca, não terá sucesso. E também, se alguém tentar criar o som de fricção esfregando peles de gato bem curtidas não terá sucesso. Deveria ser o mesmo com a sua fala. Não importa como as pessoas falem com vocês, para manter a compostura vocês devem treinar em manter suas mentes amplas como a grande terra, tão desapegadas quanto o grande céu, tão profundas quanto o Ganges, tão macias quanto uma pele bem curtida, vocês devem tratar as pessoas com compaixão e comiseração e preencher o universo com uma mente de ampla e grande compaixão.

(6) “Meus discípulos, mesmo que vocês deparem com uma situação na qual um ladrão tenha agarrado um homem e esteja cortando seus membros com uma serra de fio duplo, se suas mentes ficarem obscurecidas vocês não estarão praticando verdadeiramente meu ensinamento. Mesmo em tal situação extrema vocês devem treinar desta maneira: ‘Minha mente nunca se abalará. Eu nunca pronunciarei palavras negativas, irei tratar esse homem com uma mente compassiva, com comiseração e amor, e nunca guardarei raiva, mesmo privadamente. Então, ampliando esta mente, irei preencher o universo com compaixão ampla, grandiosa e infinita, sem ódio ou amargor.’ “Meus discípulos, tragam às suas mentes frequentemente a Parábola da Serra. Vocês veem algum erro sutil ou grosseiro na lógica de minha exortação?” Os discípulos responderam: “Não, Honrado pelo Mundo, nós não vemos erro algum nela.” O Honrado pelo Mundo disse: “Então, meus discípulos, lembrem-se repetidamente desta exortação, a Parábola da Serra. Ela aumentará seu bemCEBB

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estar e felicidade por um longo tempo.”

3. Hatthaka, o Homem Rico (1) Dali o Honrado pelo Mundo viajou de Savatthi para Kosambi, e no caminho entrou em uma floresta próxima a Alavi, onde montou sua cama empilhando folhas sobre o solo. Na manhã seguinte, Hatthaka, um morador de Alavi, estava passeando pela floresta e encontrou por acaso o Honrado pelo Mundo. Com reverência, ele perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, você dormiu bem na noite passada?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Sim, eu descansei bem, pois eu sou um daqueles que dormem bem neste mundo.” Então Hatthaka se dirigiu ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, a noite invernal é fria. Durante oito dias, os últimos quatro dias do segundo mês e os primeiros quatro dias do terceiro mês, o chão fica endurecido como se tivesse sido espezinhado pelo gado. Uma cama de folhas é insuficiente, o clima frio penetra os mantos amarelos, as folhas secas nas árvores tremem com o vento frio. Com tudo isto, por que o Honrado pelo Mundo diz que dormiu bem na noite passada e que é um daqueles que dormem agradavelmente à noite?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó homem de riquezas, o que você acha? Suponha que houvesse uma mansão de um rico homem aqui. As paredes do quarto estão bem rebocadas por dentro assim como por fora, de forma que quando a porta é fechada não há fresta pela qual o vento possa entrar no quarto. Há uma cama e um carpete espesso e felpudo sobre o chão,

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um belo colchão feito de pelo de ovelha, um dossel pendurado acima, e luz iluminando agradavelmente o quarto. Então, quatro mulheres, suas esposas e donas da casa, servem e confortam o mestre. Ó homem de riquezas, você acha que esse homem dormiria bem e feliz?” Hatthaka respondeu: “Sim, Honrado pelo Mundo, ele dormiria.” O Honrado pelo Mundo perguntou: “Ó homem de riquezas, pense sobre isto cuidadosamente antes de responder. Um homem sente um fluxo de calor em seu corpo e mente que surgem de sua cobiça. Então, ele não teria dificuldade em encontrar um sono agradável?” Hatthaka respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, ele teria, como o Honrado pelo Mundo diz.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó homem de riquezas, a cobiça, que é a causa deste fluxo de calor que faz o homem sofrer, foi cortada pelo Buda, descartada, e assim é incapaz de surgir novamente. Desta forma, eu durmo bem à noite. Além do mais, homem de riquezas, não poderia esse mesmo chefe de família sentir em seu corpo e mente o mesmo fluxo de calor vindo da raiva e da ignorância, e não acharia ele difícil descansar bem à noite?” Então Hatthaka respondeu: “Sim, Honrado pelo Mundo, é assim como você diz.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó homem de riquezas, raiva e ignorância são as causas do fluxo de calor que faz aquele homem sofrer, e o Buda as eliminou, descartou e, portanto, elas não podem surgir novamente. Desta forma, eu posso descansar agradavelmente à noite. Afastado de todos os desejos, livre de todos os medos internos, eu durmo pacificamente e agradavelmente.”

(2) Acompanhado por muitos discípulos, o Honrado pelo Mundo entrou na cidade de Kosambi. Enquanto Ananda permanecia no Jardim Ghosita seguindo o Honrado pelo Mundo, certo dia ele recebeu a visita de CEBB

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um chefe de família que seguia Ajivaka. O homem perguntou: “Ó Venerável, de quem é o ensinamento supremo? Quem vive de forma mais correta neste mundo? Quem é o homem mais feliz?” Ananda respondeu: “Ó caro chefe de família, farei agora uma pergunta a você. Você pode responder como achar melhor. Caro chefe de família, o que você acha? Se alguém ensinar o Darma com o objetivo de renunciar ao desejo, à raiva e à ignorância, não seria o seu ensinamento o mais sábio?” O homem respondeu: “Ó Venerável, assim é.” Ananda perguntou: “Caro chefe de família, além do mais, se alguém guiar sua vida com o objetivo de renunciar ao desejo, à raiva e à ignorância, não seria a sua vida a mais virtuosa?” O homem respondeu: “Ó Venerável, é como você diz.” Ananda perguntou: “Caro chefe de família, então, se alguém renunciou ao desejo, à raiva e à ignorância, e não mais os deixou surgirem, assim como uma palmeira cujos brotos foram cortados, não seria tal pessoa a mais feliz deste mundo?” O chefe de família respondeu: “Isto também é verdade. Ó Venerável, você expôs o Darma realmente bem. Você o explicou louvando a sua própria doutrina, mas sem menosprezar as outras; você esclareceu o significado do Darma sem gabar-se por suas virtudes. Ó Venerável, você ensinou com o objetivo de levar os outros a renunciarem ao desejo, à raiva e à ignorância. Assim, o Darma é exposto da forma mais sábia por você. Ó Venerável, você vive sua vida com o objetivo de renunciar ao desejo, à raiva e à ignorância. A sua vida é conduzida da forma mais virtuosa. Ó Venerável, você renunciou ao desejo, à raiva e à ignorância completamente. Essas causas de obscurecimentos foram completamente desenraizadas, para não surgirem novamente, assim como uma palmeira cujos brotos foram eliminados. Você é o homem mais feliz neste mundo. Ó Venerável, suas palavras são as mais excelentes.” CEBB

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4. Homenagem às Seis Direções

(1) O Honrado pelo Mundo deixou, então, Kosambi, viajou descendo o rio Ganges e, finalmente, entrou em Rajagaha, permanecendo no Monastério do Bosque de Bambus. Naquele momento, Singala, filho de uma rica família da cidade, levantou-se cedo pela manhã e deixou a cidade. Umedecendo suas roupas e seu cabelo e juntando as palmas de suas mãos, ele prestava homenagem regularmente às seis direções, norte, sul, leste, oeste, acima e abaixo. Certa manhã, em seu caminho para a cidade para a ronda de mendicância, o Honrado pelo Mundo viu aquele ritual diário e disse-lhe: “Ó filho de boa família, por qual motivo você se levanta tão cedo, deixa a cidade, molha suas roupas e cabelos, e venera as seis direções: norte, sul, leste, oeste, acima e abaixo?” Singala respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, quando meu pai morreu ele me instruiu a venerar as seis direções regularmente, em deferência às suas palavras eu mantenho este ritual diário.” O Honrado pelo Mundo disse a Singala: “Ó filho de boa família, no verdadeiro ensinamento esta não é a forma de venerar as seis direções.” Singala, então, perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, que o Honrado pelo Mundo possa me instruir sobre a verdadeira forma de venerar as seis direções.”

(2) “Ó filho de boa família, ouça com atenção. Os discípulos do nobre ensinamento estão livres das quatro ações maculadas, abstêm-se das ações

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dos quatro caminhos negativos, não se associam às seis bocas malignas que igualmente drenam a fortuna, e da mesma forma se mantêm distantes de todas essas quatorze negatividades e se protegem e são cautelosos com as seis direções. Devido a isto, eles são vitoriosos nesta vida e na próxima, e ao morrerem renascerão nos reinos celestiais. As quatro ações maculadas são: matar, roubar, cometer adultério e mentir; os quatro caminhos negativos são: a cobiça, a raiva, a ignorância e o medo.” O Honrado pelo Mundo explicou a Singala em verso: “A honra de alguém que comete ofensas contra o Darma devido à cobiça, à raiva e à ignorância diminui a cada dia como a lua minguante. A honra de alguém que não comete ofensas contra o Darma e não é afetado por cobiça, ódio, medo e ignorância aumenta a cada dia como a lua crescente.”

(3) O Honrado pelo Mundo continuou: “Manter distância das seis bocas malignas que inevitavelmente drenam a fortuna significa abster-se de ingerir substâncias tóxicas e de ser autoindulgente, abster-se de vagar pelas ruas tarde da noite, afastar-se das diversões da alegria da música e da dança ou em festividades, afastar-se da indulgência com as apostas, afastar-se da associação com amigos negativos, e afastar-se da indolência. Todas estas seis são as bocas malignas que drenam a fortuna até o fim. “Ó filho de boa família, ingerir substâncias tóxicas e tornar-se autoindulgente são acompanhados pelos seis infortúnios: perda de riquezas, brigas e disputas, doença, reputação desfavorável, irritabilidade e propensão à raiva, e diminuição da sabedoria. “Vagar pelas ruas tarde da noite é acompanhado por seis tipos de infortúnios: falta de proteção para a própria segurança, falta de proteção para a própria família, falta de proteção para as suas propriedades, ser ameaçado CEBB

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em locais negativos, aumento natural de palavras enganosas e misturar-se com uma variedade de sofrimentos. “A diversão com a alegria da música, dança e festividades é acompanhada pelos seguintes seis infortúnios: uma tendência a procurar por danças, cantos, música, histórias, um pequeno tambor e um grande tambor. “A indulgência com apostas também resulta em seis infortúnios: raiva contra o vencedor, o incômodo da derrota, fuga de riquezas, desdém por parte dos amigos, ficar sem defesas em uma corte de justiça, não encontrar um parceiro para o casamento, e não receber apoio suficiente da própria família. “Associar-se a amigos negativos é acompanhado por seis infortúnios: atrair apenas jogadores, bêbados, pessoas de extrema cobiça, hipócritas, vigaristas e de sangue frio. “A vida vazia e indolente é acompanhada por seis infortúnios: fuga de riquezas por não trabalhar devido ao frio ou ao calor, porque está tarde ou porque está cedo, ou por estar com o estômago vazio ou cheio.

(4) “Ó filho de nobre família, existem quatro tipos de pessoas que parecem ser amigos, mas que não podem ser amigos verdadeiros: uma pessoa ávida, uma pessoa de palavras floreadas, um bajulador e uma pessoa esbanjadora. A pessoa ávida, devido a sua natureza, oferece pouco, mas faz muitas exigências; ela o acompanhará enquanto for arrastada pelo medo, mas devido à sua motivação ser apenas o ganho pessoal, ela não poderá se tornar uma amiga verdadeira. Uma pessoa de fala floreada relembra os dias passados para demonstrar intimidade, adulando com gracejos para fingir ser útil; mas, nos momentos de real necessidade, tal pessoa fugirá, ela não poderá ser uma amiga verdadeira. A pessoa bajuladora não protesta contra ações CEBB

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errôneas, nem promove ações positivas. Visto que ela o admira diante de você, mas fala mal pelas costas, ela não poderá ser uma verdadeira amiga. A pessoa esbanjadora se acompanha de outros bêbados, vaga pelas ruas com eles tarde da noite, diverte-se com eles nas alegrias das canções, dança e festividades, assim como nas apostas. Ela não poderá ser uma amiga verdadeira. “A pessoa que é realmente uma boa amiga é aquela que se torna de ajuda e apoio reais, compartilha a alegria e os pesares, não hesita em protestar, e tem compaixão verdadeira. A pessoa que é de ajuda e apoio reais afasta seu amigo da indulgência, ajuda-o a proteger a sua riqueza, é um confidente e conselheiro nos tempos difíceis, e não hesita em emprestar dinheiro quando necessário. A pessoa que compartilha a alegria e os pesares não trairá os segredos de seus amigos, não os deixará em tempos de infortúnio e arriscará sua vida por seus amigos. A pessoa que não hesita em protestar impedirá que seu amigo cometa ações errôneas e promoverá suas ações positivas, contará a ele o que ele não souber e mostrará o caminho para assegurar a paz no futuro. A pessoa compassiva se entristece no momento da separação e se encanta em reencontrar os amigos, louva aquilo que é digno e protesta quando isto é apropriado. Portanto, estes quatro tipos de pessoas são vistos como amigos verdadeiros.

(5) “Ó filho de boa família, das seis direções o leste representa seu pai e sua mãe, o sul o seu professor, o oeste a sua esposa e filhos, o norte os seus amigos, a direção abaixo os seus servos e servas e a direção acima os mendicantes. “Uma criança deveria servir seus pais no leste, mantendo em sua mente as cinco práticas: prover comida para seus pais, assumir a responsabilidade CEBB

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pela sobrevivência da família, manter a linhagem familiar intacta, proteger a riqueza herdada, e após as suas mortes fazer oferendas em seu benefício. O pai e a mãe, servidos desta forma, também amarão os seus filhos com as cinco práticas: fazendo-os se afastarem de ações negativas, promovendo as ações positivas, educando-os, arranjando casamentos adequados para eles e transferindo as suas propriedades para eles no momento adequado. Desta forma, a direção leste será observada adequadamente e estará em paz e livre de ansiedade. “Em seguida, um discípulo deve seguir seu professor no sul com as seguintes cinco práticas: levantando-se quando seu professor entra, saudando-o e oferecendo-lhe um lugar para sentar, servindo-o, oferecendo esmolas de uma forma gentil, recebendo seu ensinamento com reverência. O professor, assim servido, deve amar o seu discípulo com as cinco práticas: fazendo-o controlar seu corpo e sua mente da mesma forma que ele o fez, deixando-o compreender aquilo que ele mesmo compreendeu, fazendo-o aprender todos os estudos através da instrução correta, fazendo com que seu nome seja conhecido por seus colegas, e protegendo-o em todas as áreas. Desta forma, a direção sul estará sendo bem observada, em paz e livre de ansiedade. “Em seguida, um marido amará sua mulher na direção oeste através das seguintes cinco práticas: respeitando-a, sendo educado com ela, sendo fiel a ela, confiando assuntos de família a ela e dando roupas e ornamentos a ela. A esposa no oeste, sendo assim servida, deverá amar seu marido através das seguintes cinco práticas: trabalhando de forma adequada, aprendendo a lidar com empregadas e servos, sendo fiel, protegendo a propriedade e sendo habilidosa e diligente em todos os tipos de trabalho. Desta forma, a direção oeste será bem observada, em paz e livre de ansiedade. CEBB

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(6) “Em seguida, um amigo deve servir seus amigos na direção norte através das seguintes cinco práticas: mantendo os quatro tipos de conduta benevolente, ou seja, caridade, palavras amorosas, ações benéficas, compartilhando todas as coisas e evitando dizer palavras venenosas. Os amigos do norte, sendo assim servidos, servi-lo-ão através das seguintes cinco práticas: protegendo-o de qualquer tipo de indulgência, protegendo sua propriedade quando ele cair na miséria, sendo seus confidentes e conselheiros quando ele estiver em dificuldades, não o abandonando quando ele encontrar o infortúnio e retribuindo o favor de sua amizade ajudando sua família a sobreviver nas privações. Desta forma, a direção norte estará sendo bem observada, em paz e livre de ansiedade. “Em seguida, um chefe de família deve cuidar de seus servos na direção abaixo através das seguintes cinco práticas: atribuindo a eles trabalho adequado a suas respectivas capacidades, oferecendo-lhes alimento e pagamento, cuidando deles quando doentes, compartilhando com eles coisas excelentes e deixando-os descansarem quando necessário. Os servos, sendo assim tratados, servirão o seu mestre através das seguintes cinco práticas: acordando mais cedo que seu mestre, indo dormir mais tarde que ele, trabalhando honestamente, trabalhando com habilidade, fazendo com que a boa reputação de seu mestre seja conhecida. Desta forma, a direção abaixo será bem observada, em paz e livre de ansiedade. “Por último, a pessoa deve servir os mendicantes na direção acima através das seguintes cinco práticas: mantendo suas ações, sua fala e seu pensamento cordiais em relação a eles; não fechando a porta para eles, oferecendo comida a eles. Os mendicantes, sendo assim servidos, amá-lo-ão através das seguintes seis práticas: fazendo com que ele se abstenha das ações CEBB

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errôneas, encorajando-o a realizar ações positivas, amando-o com compaixão, ensinando-lhe o que ele não sabia antes, fazendo com que ele tenha um claro entendimento do que escutou, ensinando-lhe o caminho para a paz no futuro. Ó filho de boa família, desta forma a direção acima será bem observada, em paz e livre de ansiedade. “Ó Singala, como eu expliquei a você, o leste representa seus pais, o sul o seu professor, o oeste a sua esposa e filhos, o norte os seus amigos, a direção abaixo os seus servos, a direção acima os mendicantes. Venere as seis direções com estes significados que lhe foram mostrados; mantenha sua conduta justa, fortaleça sua sabedoria, seja humilde e esteja livre da mente obstinada, seja diligente em seu trabalho, seja destemido diante do infortúnio e continue com ações imaculadas. Associe-se a bons amigos e mantenha os quatro tipos de conduta benevolente: caridade, palavras amorosas, ações benéficas e compartilhando todas as coisas. Estas ações são, de fato, as normas da verdadeira relação com os pais.” Singala ficou completamente encantado com estes ensinamentos, como se seus olhos tivessem se aberto pela primeira vez. Depois disto, ele se tornou um seguidor devotado dos Três Tesouros.

5. Punna e Sariputta

(1) Naquele ano, o Honrado pelo Mundo passou a estação das chuvas no Local de Alimentação dos Esquilos no Bosque dos Bambus, próximo a Rajagaha. Quando a estação terminou, muitos discípulos deixaram os lugares em que tinham permanecido durante a estação das chuvas para virem até o

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monastério e verem o Honrado pelo Mundo. Assim, após saudar o Honrado pelo Mundo, esses discípulos sentaram-se ao seu lado. O Honrado pelo Mundo lhes disse: “Ó discípulos, há algum entre vocês que, enquanto se encontrava em seu lugar de retiro, praticou a redução do desejo, o contentamento, a diligência em um local isolado, manteve preceitos morais e praticou meditação, abriu seu insight e realizou a iluminação, e permitiu a outros discípulos realizarem o mesmo, protestando quando necessário, sendo um conselheiro, um guia, inspirando, encorajando, e encantando seus companheiros?” Alguns discípulos responderam, falando sobre Punna, que não estava presente naquele momento: “Ó Honrado pelo Mundo, Punna se mostrou uma pessoa que, como o Honrado pelo Mundo disse, praticou por si mesmo a redução do desejo, o contentamento, a diligência em um local isolado, manteve preceitos morais e praticou meditação, abriu seu insight e realizou a iluminação, e também permitiu a outros discípulos realizarem o mesmo, protestando quando necessário, sendo um conselheiro, um guia, inspirando, encorajando, e encantando seus companheiros.” Naquele momento, Sariputta estava sentado um pouco mais perto do Honrado pelo Mundo e, ao ouvir isto, pensou consigo mesmo: “O Venerável Punna é afortunado, pois seus companheiros enaltecem suas virtudes diante do Honrado pelo Mundo e o mestre venerável ficou encantado. Eu gostaria de conversar com Punna no futuro próximo.” Logo depois, o Honrado pelo Mundo, Sariputta e outros partiram de Rajagaha para Savatthi, e ao completarem a viagem entraram no Monastério Anathapindika. Tendo ouvido sobre a chegada do Honrado pelo Mundo, Punna partiu de sua morada para visitar o Honrado pelo Mundo; ele ouviu o discurso que o Buda estava dando e se alegrou com isto; saudando-o e mantendo seu lado direito CEBB

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voltado para o Buda, ele partiu para o Bosque dos Homens Cegos para passar o dia. Ao ver Punna partir, Sariputta se levantou e o seguiu, mantendo-o à vista. Quando Punna entrou na floresta e sentou sob a sombra de uma árvore, Sariputta também sentou sob outra árvore da floresta.

(2) Perto do anoitecer, Sariputta se levantou de seu assento de meditação e se aproximou de Punna, perguntando: “Amigo, você está praticando o caminho de acordo com o Honrado pelo Mundo?” “Sim, Venerável, está correto,” respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Você se dedica à prática para purificar seus preceitos morais?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para purificar a sua mente?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para alcançar a compreensão correta?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para se libertar das dúvidas?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para saber qual é o caminho correto e o que não é o caminho?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para aprender o caminho da iluminação?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Então você se dedica à prática para alcançar o insight?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Por qual razão, então, você se dedica à prática?” “Eu me dedico à prática de acordo com o Honrado pelo Mundo para realizar o nirvana perfeito”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “A pureza dos preceitos morais não é o nirvana perfeito?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “A pureza da mente não é o perfeito nirvana?” “Não, Venerável”, CEBB

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respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Amigo, a pureza da compreensão não é o nirvana?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Amigo, a liberação das dúvidas não é o nirvana perfeito?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “A pureza do conhecimento sobre o caminho correto e o que não é o caminho não é o perfeito nirvana?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “A pureza do conhecimento sobre o caminho da iluminação não é o nirvana perfeito?” “Não, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta perguntou: “Há algum outro darma além destes que seja o nirvana perfeito?” “Não, não há, Venerável”, respondeu Punna. Sariputta então perguntou: “Amigo, quando perguntado se estes darmas que eu mencionei a você são o nirvana perfeito, você respondeu que eles não são; e também quando perguntado se estes mesmos darmas não são o nirvana perfeito, você respondeu novamente de forma negativa, implicando que eles são. Como eu deveria entender o significado de suas respostas contraditórias?”

(3) Punna respondeu: “Amigo, não apenas a pureza da conduta moral, da mente e da compreensão, mas também a pureza do insight da iluminação, todos eles não são o estado perfeito; eles ainda devem ser aperfeiçoados. Eles não são o estado em que cada parcela de apego foi completamente exaurida. Porém, se houvesse outra coisa chamada de nirvana perfeito além destes darmas, então as pessoas comuns também entrariam no nirvana, pois elas não possuem estes darmas. Portanto, irei usar uma alegoria para explicar meu ponto de vista. Suponha que Pasenadi, rei de Kosala, tenha que fazer uma viagem às pressas para Saketa devido a algum acontecimento inesperado. Ele ordena que sete carruagens sejam preparadas em sete lugares entre Savatthi e Saketa, e parte de seu castelo com a primeira carruagem. Ao CEBB

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chegar à segunda, ele abandona sua primeira carruagem e viaja com a segunda até alcançar a terceira. Então, viajando com a terceira carruagem, ele chega à quarta; e desta forma ele segue viajando com diferentes carruagens, sucessivamente. Finalmente, trocando da sexta para a sétima carruagem, e viajando com esta, ele chega ao castelo em Saketa. Então, se alguém perguntar ao rei: ‘Você chegou a Saketa com esta carruagem desde Savatthi?’, a resposta do rei seria: ‘Não, eu ordenei que preparassem sete carruagens entre Savatthi e Saketa, e viajei nestas carruagens em sucessão até esta cidade.’ “É o mesmo com as práticas ensinadas pelo Honrado pelo Mundo. A purificação da conduta moral tem o objetivo da pureza da mente; a purificação da mente tem por objetivo a compreensão correta; a compreensão correta tem por objetivo a libertação das dúvidas; a libertação das dúvidas tem por objetivo a pureza do insight para distinguir o que é o caminho correto e o que não é o caminho correto; esta última tem, então, por objetivo o conhecimento do caminho da iluminação; a purificação do conhecimento do caminho da iluminação tem por objetivo a pureza do insight da iluminação. A purificação do insight da iluminação tem por objetivo o perfeito nirvana no qual todos os apegos estão completamente extintos. É com o objetivo de atingir este perfeito nirvana que eu me dedico às práticas de acordo com os ensinamentos do Honrado pelo Mundo.”

(4) Sariputta disse: “Qual é o seu nome, Venerável?” “Meu nome é Punna e meus discípulos amigos me chamam de filho de Maitrayani”, respondeu Punna. Sariputta disse: “Amigo, é excelente que você, Venerável, seja um estudioso, compreenda o ensinamento do mestre venerável e explique bem o significado do Darma profundo. Os amigos discípulos que o CEBB

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veem e que seguem ao seu lado são afortunados, e eu também por tê-lo encontrado e me reunido com você.” Punna também perguntou a Sariputta o seu nome. “Meu nome é Upatissa, e meus amigos discípulos me chama por Sariputta”, respondeu Sariputta. “Ó, você é o discípulo venerável que é frequentemente comparado ao próprio Honrado pelo Mundo. Enquanto falava com você eu não sabia quem você era. Se eu soubesse quem você era eu não teria falado tanto. Amigo, é realmente excelente que sendo alguém de grande compreensão como você é, compreendendo corretamente o ensinamento do Buda, você tenha me perguntado sobre o significado do Darma profundo de diversas formas e adequadamente. Os amigos discípulos que podem vê-lo e seguir ao seu lado são, de fato, afortunados; e eu também por tê-lo encontrado.” Assim, esses dois discípulos discutiram sua compreensão do Darma e ficaram igualmente encantados.

6. O Honrado pelo Mundo e Vários Deuses (1) Naqueles dias, seres celestiais iluminavam o Bosque Jeta a cada noite, prestavam homenagem ao Honrado pelo Mundo e faziam diversas perguntas. As seguintes respostas foram dadas pelo Honrado pelo Mundo em versos:

(i) O desejo intenso é a causa do samsara. Tão profundo é o mar do samsara, o ciclo de vidas e mortes, que é difícil escapar do estado de sofrimento. A vida baseada na cobiça é contrária à vida no caminho. Enquanto a juventude passa rapidamente dia após CEBB

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dia, os homens se associam a mulheres, sem saber que mulheres são tentações. Não apenas as coisas desta vida e da próxima, mas também as luzes que brilham nos céus são igualmente as iscas enviadas por Mara para prender aqueles que têm desejos. O desejo intenso aprisiona este mundo, no qual o homem está viciado, possuído por sua força. De fato, a pureza é o estado do nirvana, livre do desejo intenso. A mente cria este mundo, torna as pessoas dependentes, e subjuga todas as coisas.

(ii) A fé é a companheira, o insight é o guia; que todos possam escapar do sofrimento, fazendo do nirvana sua luz. A fé é a riqueza suprema, a verdade é o sabor supremo, acumular méritos é a ação suprema; possam todos realizar a paz e a tranquilidade. A fé é a provisão para a jornada, o mérito é a morada da riqueza, o insight é a luz deste mundo, a atenção mental correta é a proteção

na

noite

escura.

Assim

como

a

vida

sem

obscurecimentos não perecerá, aquele que superar os desejos se tornará um homem livre.

(2) Kamada, filho de deuses, havia sido discípulo do Buda em uma vida anterior e praticado o caminho. Mas, como ele não havia realizado a iluminação, acabou renascendo como um ser celestial. Kamada prestou homenagem ao Honrado pelo Mundo e lamentou como era difícil alcançar a iluminação. O Honrado pelo Mundo disse, em versos: “Ó Kamada, o Buda alcançou aquilo que é difícil de alcançar. Pleno de paz e tranquilidade é o coração daquele que sustenta os preceitos morais, que acalma a mente até a imobilidade, e que se torna um mendicante; mas não diga que a satisfação

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suprema é difícil de realizar. Pois os sábios realizaram aquilo que é difícil de realizar. Aquele que desfruta uma mente tranquila sempre disciplina essa mente, noite e dia. Não diga que uma mente tranquila é difícil de ser alcançada, pois os sábios tranquilizaram aquilo que é difícil de tranquilizar. Aquele que desfruta paz no corpo e na mente rompe a armadilha da rede de Mara e passeia pelas regiões de sabedoria. Não diga que é difícil seguir o caminho, pois os sábios trilharam aquilo que é difícil de trilhar. Quando a mente está obscurecida, a estrada não parece plana e será fácil tropeçar; por outro lado, quando a mente é pura a estrada se torna plana e regular.”

(3) Certo dia, o deus Subrahma estava se divertindo com as donzelas celestiais no Jardim da Alegria do céu de Tavatimsa. Enquanto ele se esquecia do tempo, subindo em árvores para balançar as flores e se divertindo com canções e danças, ele viu uma das donzelas cair repentinamente nos infernos por seu carma positivo ter se exaurido. Ele ficou abalado e amedrontado, e então foi ao Honrado pelo Mundo buscando orientação. Ele disse: “Esta mente está sempre pesarosa. Portanto, está sempre num estado de medo. Não apenas diante daquilo que aconteceu, mas também diante daquilo que ainda não aconteceu encontra-se esta mente em medo constante. Possa você me ensinar se há um caminho para superar este medo.” O Honrado pelo Mundo instruiu-o com o seguinte verso: “Pratique o caminho da iluminação, abstenha-se dos desejos, renuncie a todas as coisas; não há outro caminho para realizar a paz e a tranquilidade.”

(4) Certo dia, o Honrado pelo Mundo partiu de Savatthi em direção a Saketa, e permaneceu na floresta de Anjana. Naquela noite, o deus Kakuda iluminou a floresta com seus raios gloriosos e desceu para fazer uma visita ao CEBB

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Honrado pelo Mundo. O deus perguntou: “Honrado pelo Mundo, você se encontra num estado de deleite?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kakudha, você acha que existe alguma coisa com a qual eu deveria me deleitar?” O deus perguntou: “Se não, estaria você num estado de pesar?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kakudha, você acha que eu perdi alguma coisa pela qual eu deveria sentir pesar?” Kakudha perguntou: “Então, Honrado pelo Mundo, você não se encontra nem em deleite nem em pesar?” “Assim é”, respondeu o Honrado pelo Mundo. “Ó Honrado pelo Mundo, você não está nem em deleite nem em pesar. Não é solitário permanecer na floresta? Você não sente que haja algo ainda a ser realizado?” O Honrado pelo Mundo disse: “Onde quer que haja pesar, haverá alegria; onde quer que haja alegria, haverá pesar. Quando tanto aquilo que é bom quanto aquilo que é ruim igualmente desaparecem, não há mais pensamento ao qual se fixar.” “Sublime é o Honrado pelo Mundo. Liberto igualmente tanto do deleite quanto do pesar, ultrapassando o mundo do apego, que o homem iluminado esteja conosco por um longo tempo.”

(5) O Honrado pelo Mundo retornou a Savatthi e entrou no Monastério Anathapindika. Um dia, o deus Rohitassa perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, há algum lugar onde não haja nascimento, velhice e morte? É possível chegar a pé no local chamado de fim do mundo?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Rohitassa, não é possível chegar ao fim deste mundo a pé.” Rohitassa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, anteriormente eu fui Rohitassa, filho de Bhoja, e tinha o poder de voar pelo céu mais rapidamente que uma flecha. Eu era capaz de passar com um passo a distância da margem do mar oriental até o final do mar ocidental. Em certo momento, eu desejei ver o fim deste mundo. Eu voei pelo céu, não me CEBB

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preocupando com comida ou bebida, com sono ou descanso, mas não consegui realizar meu desejo. Eu apenas terminei com minha vida. O que o Honrado pelo Mundo disse é, de fato, excelente.” O Honrado pelo Mundo disse: “Rohitassa, você não poderá eliminar o sofrimento sem alcançar o fim deste mundo, mas você não poderá alcançá-lo a pé. Pois não apenas este mundo, sua origem assim como seu fim, mas também o caminho para chegar ao fim deste mundo são encontrados igualmente dentro do próprio corpo, e quem conhecer este mundo será capaz de alcançar o seu limite. Mantendo uma conduta pura e pacificando todo o mal, conhecendo assim o limite deste mundo, não haverá mais nada a buscar neste mundo ou no próximo.”

7. Sudhana (1) Certa vez o Buda estava presente no Salão de Palestras do Monastério do Bosque Jeta, reunido com uma assembleia de quinhentos bodisatvas. A assembleia, presidida pelos bodisatvas Samantabhadra e Manjusri, desejava secretamente que o Honrado pelo Mundo expusesse sobre a disciplina do Buda e o reino da sabedoria. O Buda percebeu o desejo da assembleia e movido por sua grande compaixão ele entrou na meditação conhecida como Simhavijrmbhita. Com isto, o Bosque Jeta e o Salão de Palestras se transformaram imediatamente em um mundo ilimitado, preenchido por incontáveis tesouros cujo brilho era refletido nas nuvens. O céu ressoou com uma música extraordinária louvando o Buda. Os bodisatvas das dez direções e os membros de suas

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famílias se reuniram como nuvens. A assembleia levantou sua voz espontaneamente em louvor ao Buda:

(i) A iluminação é ilimitada e ao mesmo tempo não está livre de limites. O nobre Buda está livre de ambos os extremos. Como o sol que rompe a escuridão e como a clara lua cheia, o nobre Buda é puro e imaculado. Como um oceano sereno, o nobre Buda extinguiu completamente a sede dos desejos. Como o Monte Sumeru elevando-se majestosamente do oceano, o nobre Buda reina serenamente no mar inconcebível do Darma. Assim como a joia perfeita purifica a água contaminada, quando prestamos homenagem ao nobre Buda nossos corpos e mentes são purificados.

(ii) Assim como a pedra lápis lazúli colore todas as coisas da cor azul, todos aqueles que veneram o Buda alcançarão a sabedoria do Buda. O nobre Buda revela-se prontamente em cada partícula de poeira para purificar incontáveis seres. Um bodisatva está separado da ignorância. Seus pensamentos são puros e ele compreende completamente todos os darmas. A sabedoria profunda do bodisatva exaure o oceano do nobre Buda. O bodisatva, pleno de fé e sabedoria, trabalha incansavelmente e incessantemente. E mesmo que o bodisatva habite o mundo ilusório, sua mente permanece imaculada. Porém, a disciplina do bodisatva não é facilmente penetrada. Não há ninguém neste mundo que a compreenda. A disciplina do bodisatva ilumina o mundo e salva a humanidade.

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(iii) Mesmo que um homem viva para sempre, muito raramente poderá ele ouvir a voz do Buda, e apenas raramente ele o encontrará. Quão mais difícil ainda é extinguir as dúvidas! O nobre Buda é a lâmpada do mundo que penetrou todos os darmas. Ele é o solo fértil de virtudes incomparáveis através do qual o homem é purificado. Ele é a tocha da virtude perfeita que aparece para iluminar o mundo. Ele nutre os seres com virtudes incomensuráveis. Ó Buda, sua aparição neste mundo é uma bênção. O Giro da Roda do Darma se dá devido a sua grande compaixão. Você surge continuamente na forma humana. O Buda está profundamente envolvido com o mundo do sofrimento, de onde ele expõe o Darma.

(2)

Naquele

momento,

o

bodisatva

Manjusri

levantou-se

silenciosamente de seu trono e andou na direção sudeste com seus seguidores atrás, até a grande mansão na Floresta Vicitra-saladhvaja-vyuha, a leste da cidade de Gaya. Foi neste lugar que os budas do passado vivenciaram a disciplina estrita. A multidão, sabendo da presença do bodisatva, apressou-se desordenadamente para se reunir ao seu redor. Com a intenção de ensinar o Darma, o bodisatva primeiro analisou as mentes da audiência. Ele percebeu o peregrino Sudhana. Tendo semeado muitas ações benéficas no passado, Sudhana aspirava a alcançar a iluminação perfeita. Esse peregrino era chamado Sudhana (Muito Rico) porque no dia de seu nascimento joias choveram do céu preenchendo as casas de tesouros. O bodisatva disse: “Para o seu bem irei ensinar a doutrina do Buda.” Após ensinar o Darma, Manjusri novamente seguiu para o sul. CEBB

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Sudhana acompanhou o bodisatva, aspirando pela sabedoria através do aprendizado das virtudes do Buda. Ele recitou os seguintes versos:

(i) A ilusão é uma fortaleza, o orgulho um obstáculo; o mundo sêxtuplo é uma barreira, a luxúria é como um fosso. Quando somos dominados pela ignorância, o obscurecimento cresce. Considerando o diabo como mestre, o ignorante mora na fortaleza. Quando estamos presos pela cobiça, a bajulação dissuade a ação. Quando a dúvida obscurece o olho da sabedoria, a ignorância nos impele a transmigrar pelo mundo sêxtuplo. Tranquilamente testemunhe o sol da perfeita compaixão e da pura sabedoria exaurindo o mar da negatividade. Ó grande professor que traz a aspiração pela sabedoria, que expande os méritos e que nutre todas as coisas, por favor, salveme. Ó grande luz com poder imaculado neste mundo flutuante, por favor, mostre-me o caminho correto.

(ii) Como o sol que ilumina o mundo, todos os budas, ao seguirem os ditames do Darma, entram na iluminação e retornam ao mundo. Por favor, mostre-me o caminho. Por favor, estabeleça o mundo puro do Darma e olhe para mim com grande compaixão; conceda-me o veículo insuperável adornado pelas flores da virtude.

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Revele-me o caminho do rei do Darma, que repousa pacificamente na prática devotada e é servido pela manhã por donzelas serenas que tocam a música extraordinária do Darma.

O bodisatva Manjusri voltou-se para Sudhana, e disse: “Filho de boa família, sua mente aspira pela suprema sabedoria. De agora em diante procure por bons professores e sinceramente confie neles e os honre. O melhor seria perguntar-lhes como alcançar a maestria no caminho para a iluminação e como completar a prática da iluminação. Filho de boa família, na direção sul reside no Monte Sugriva, no país de Ramavaranta, o monge Meghasri. Valeria a pena ouvir o que o monge tem a dizer sobre o caminho do Buda.”

(3) Seguindo este conselho, Sudhana subiu o Monte Sugriva no país de Ramavaranta. Após sete dias procurando, Sudhana finalmente encontrou Meghasri passeando silenciosamente no topo do Monte Sugriva. Sudhana perguntou sobre o caminho da sabedoria suprema. O mestre venerável respondeu: “Sudhana, você já despertou a aspiração de realizar a suprema sabedoria. É verdadeiramente difícil aspirar pela busca da prática da iluminação. Através do poder da iluminação meu olho da fé foi purificado, o brilho de minha sabedoria ilumina através de tudo, e eu percebo todos os mundos sem a menor obstrução. Percebo que os incontáveis budas estão revelando livremente o Darma, adaptando seus ensinamentos a quem quer que eles alcancem. Sudhana, esta é a extensão de minha sabedoria. Eu não compreendo completamente a sabedoria perfeita e a prática do bodisatva. Será melhor se você fizer outras perguntas ao monge Sagaramegha, que vive na direção sul, no país de Sagaramukha.” CEBB

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(4) Sudhana se alegrou com o ensinamento de Meghasri e, conforme instruído, prosseguiu para o sul para encontrar Sagaramegha. Ele disse ao mestre: “Ó santo, apesar de eu estar tentando penetrar no oceano da perfeita sabedoria, sou incapaz. Como poderia um bodisatva se libertar do samsara e renascer na morada do Buda? Como ele poderia fazer o grande voto de salvar todos os seres?” O santo Sagaramegha respondeu: “Ó Sudhana, a não ser que sejam plantadas raízes genuinamente virtuosas não será possível despertar o desejo pela iluminação perfeita. Apenas aquele que vive próximo a um bom professor, que entrega seu corpo e sua vida e que aspira pelo mundo do Buda poderá despertar a mente para entrar no caminho. Eu tenho vivido aqui em Sagaramukha por doze anos. O grande oceano tem sido meu guia de contemplação. O oceano é realmente ilimitado; sua profundidade é incompreensível. Ele possui incontáveis joias e é um reservatório de uma quantidade ilimitada de água. O grande oceano manifesta cores especiais de formas muito variadas, ele é o lar para muitas criaturas. O oceano também reflete as grandes nuvens. O grande oceano nunca aumenta ou diminui. Um dia eu estava ponderando se há algo maior, mais profundo ou mais ricamente dotado do que este grande oceano, e de suas profundezas apareceu espontaneamente um grande lótus ornamentado por uma miríade de joias. Milhões de deuses e deidades dos oceanos prestaram homenagem a ele. E sobre este lótus, circundado por uma grande assembleia, estava um único Buda cujo poder está além da compreensão. Este Buda silenciosamente estendeu sua mão direita e tocou minha cabeça. Então ele começou a proferir o ensinamento de Samantabhadra. Ele revelou a mim o mundo do Buda e esclareceu a prática do bodisatva. Apesar de eu ter recebido suas instruções CEBB

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por mil e duzentos anos, este é o limite de meu entendimento. Como eu poderia clamar ter maestria na prática do bodisatva? Você deve viajar sessenta yojanas para o sul e perguntar ao monge Supratisthita, que mora no país de Sagaratira.”

(5) Sudhana, atento à sua instrução, viajou para Sagaratira, em busca desse grande professor. Ele encontrou Supratisthita passeando pelo ar, cercado por uma multidão que jogava flores e tocava instrumentos musicais. Sudhana juntou as palmas das mãos e honrou o grande professor, então perguntou: “Ó grande sábio, como eu posso implementar a disciplina do bodisatva?” O venerável Supratisthita respondeu: “Sudhana, eu conheço a nãoobstrução de todas as coisas. Eu possuo a luz da ilustre sabedoria com a qual posso perceber as mentes das pessoas sem a menor obstrução. Além disso, através de meus poderes sobre-humanos eu tenho a lembrança completa dos ensinamentos de todos os budas. Qualquer um que me veja alcançará a iluminação. Entretanto, eu compreendo apenas a não-obstrução. Na direção sul, na cidade de Mantrausadhi, no país de Isanajarapad reside o bom médico Megha. Leve sua questão até ele.”

(6) Seguindo este conselho, Sudhana entrou na cidade meridional de Isanajarapad. Sudhana fez reverência aos pés de Megha, que estava ensinando o Darma para uma assembleia de dez mil. Ele implorou: “Ó grande sábio, eu já possuo a determinação de alcançar a iluminação perfeita. Como eu posso implementar a disciplina do bodisatva, e como eu posso viver no mundo do samsara sem macular minha sabedoria? Por favor, instrua-me.”

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Megha desceu de seu trono de leão e prostrou-se no chão diante de Sudhana. “Filho de boa família, você está admiravelmente determinado a alcançar a mais elevada sabedoria. A realização de tal sabedoria sustenta todos os budas, purifica todas as terras búdicas e é um farol para todas as pessoas. Pela virtude dessa sabedoria você será protegido por todos os budas e deuses; e pela luz da pura sabedoria deles você ilumina o caminho do bodisatva. Ó Sudhana, um bodisatva é o pai e a mãe dos seres e extingue o seu sofrimento. Um bodisatva nutre a bondade como a grande terra; um bodisatva possui tesouros como o grande oceano; um bodisatva é a radiância do sol que destrói a escuridão da ignorância no mundo. Um bodisatva é a lua que refresca os seres. Um bodisatva é o fogo que queima os apegos; um bodisatva é a ponte através da qual as pessoas cruzam o oceano da transmigração. Apesar de eu ser fluente nas línguas de todos os seres de todos os mundos, tudo de que estou certo é isto: as palavras de um bodisatva estão livres da falsidade. Eu sou incapaz de explicar a prática do bodisatva. Na direção sul, no país de Vanavasin vive o banqueiro Vimuktika. É melhor que você o visite e pergunte a ele.”

(7) Com esta instrução, Sudhana atingiu uma profunda fé e compreendeu a visão correta baseada no Darma. Ele fez uma reverência aos pés de Megha e se dirigiu para o sul. A mente de Sudhana, agora purificada, não estava apegada às noções de ‘eu’ e ‘meu’, e ele praticou sincera e incansavelmente. Quando recebeu a proteção do Buda, sua mente se tornou igual à do Buda. Com sua profunda aspiração, ele recebeu todos os reinos em seu interior. Sudhana continuou viajando para o sul e, após doze anos, finalmente chegou ao país de Vanavasin. Ele prestou homenagem a Vimuktika e pensou: CEBB

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“É difícil encontrar bons professores. É duplamente difícil aproximar-se deles e seguir seus ensinamentos.” Ele disse: “Ó grande sábio, estou decidido a alcançar a mais elevada sabedoria. Eu desejo realizar o voto búdico e adquirir a sabedoria búdica. Eu lhe imploro para abrir o portão do verdadeiro Darma, extraia o espinho da dúvida e instrua-me como eu poderia completar esta prática.” O ancião respondeu: “Ó filho de boa família, todas as coisas são dotadas com o poder da não-obstrução. Quando apreendemos os budas das dez direções sabemos que esses budas não vêm até aqui e nem nós vamos até eles. E, apesar de nem os budas virem nem nós partirmos, através do poder da não-obstrução nós abraçamos o Darma do Buda, satisfatoriamente implementamos a disciplina do bodisatva e geramos o grande voto interno de instruir as pessoas. Através da luz da sabedoria você será capaz de perceber a sua própria mente e despertará uma grande mente liberada, igual à do Buda. Porém, isto é tudo que eu sei, porque isto é tudo que tenho buscado. Se você deseja uma compreensão total da sabedoria não-obstruída de um bodisatva e de sua disciplina, então você deveria levar suas questões ao monge Saradhvaja que vive no país de Jambudvipasirsa mais ao sul.”

(8) Radiante, Sudhana louvou as virtudes do ancião. Ele fitou a sua face e chorou com devoção. Em gratidão, ele fez reverências aos pés do ancião e se dirigiu para o sul. O santo Saradhvaja estava sentado em um local silencioso. Ele entrou em meditação e sua inalação e exalação cessaram. Ele praticamente não se movia. Apesar de estar imóvel, o corpo de Saradhvaja exibia energia. Luz fluía de seu corpo para destruir os Maras e retirar a maldade das pessoas.

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Essa luz expunha o Darma, ensinava compaixão e revelava o verdadeiro caminho para enxergar a realidade tal como ela é. Sudhana refletiu genuinamente sobre aquela meditação impenetrável por um bom tempo, mas quando o santo finalmente emergiu de sua meditação ele juntou as palmas de suas mãos e disse: “Ó grande sábio, isto é realmente maravilhoso. Esta meditação é profunda e expansiva. Ela tem o poder da liberdade. A luz da sabedoria ilumina todos os mundos, destrói para sempre o sofrimento neste mundo e torna as pessoas felizes. Como é chamada esta meditação?” Saradhvaja disse: “Ó filho de boa família, esta meditação é chamada de Meditação sobre o Reino da Sabedoria Pleno de Pura Luz. Eu me dediquei ao cultivo da sabedoria e aperfeiçoei esta meditação, assim como incontáveis outras práticas meditativas. Entretanto, eu aperfeiçoei apenas a meditação. Todos os bodisatvas entraram no oceano profundo da sabedoria e apreenderam o reino do puro Darma. Eu não possuo capacidade para absorver qualquer coisa a mais. Em direção ao sul, no país de Samudravetadin nos Jardins de Samantavyuha encontra-se Asa, uma mulher devota. Aproxime-se dela e pergunte sobre o caminho do bodisatva.”

(9) Com esta instrução, a firme determinação de Sudhana se tornou ainda mais firme, e sua brilhante sabedoria se tornou ainda mais luminosa. Cheio de alegria, ele prosseguiu para o sul. Sudhana, sempre lembrando de Saradhvaja, ansiava pelo som de sua voz, visualizava seu rosto, e relembrava sua bondade e meditação. Ele pensou: “Como o bom professor revela o ensinamento completo do Buda, eu sou capaz de ver o Buda através dele. O bom professor é uma lâmpada verdadeiramente brilhante.” Quando ele finalmente chegou aos Jardins de Samantavyuha, ele os encontrou CEBB

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circundados por uma parede de sete camadas; de suas árvores choviam flores fragrantes. Os lagos tranquilos preenchidos com as águas dos méritos refletiam incontáveis mansões de torres douradas; garças, pavões e outros pássaros cantavam nas palmeiras. A devota Asa estava coberta por incontáveis joias e sentada sobre um trono dourado. Ela respondeu à questão de Sudhana: “Ó Sudhana, eu sei apenas isto. Aqueles que me veem não oscilaram em sua determinação de buscar a sabedoria. Os budas das dez direções estão sempre vindo até mim para ensinar o Darma.” “Quando você alcançará a iluminação?”, Sudhana perguntou. “Ó Sudhana, um bodisatva conhece as mentes de todas as pessoas e a ascensão e queda de todos os mundos. O bodisatva gerou o desejo de atingir a iluminação perfeita de modo a destruir os obscurecimentos das pessoas e para completar as práticas delas. Portanto, quando eu purifico todos os mundos cortando os obscurecimentos de todas as pessoas, minha aspiração será satisfeita. Meu conhecimento é estável, livre do pesar. Aqueles que me veem alcançarão a paz. Este é o limite de minha sabedoria. Para o sul, no país de Nalayus, está o sábio Bhismottaranirghosa. Leve suas questões até ele.”

(10) Sudhana agradeceu a Asa e partiu. Atento ao Buda e tendo apreendido a verdadeira natureza das coisas, ele viajou de lugar em lugar até entrar no país de Nalayus. Lá, em uma grande floresta, Sudhana avistou Bhismottaranirghosa, vestido com cascas de árvores, em um assento de palha. Ele estava circundado por um grande séquito de eremitas. Sudhana humildemente perguntou sobre a disciplina do bodisatva. O sábio respondeu: “Eu possuo a sabedoria indestrutível.” Ele estendeu sua mão direita e tocou a cabeça de Sudhana e segurou suas mãos.

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Sudhana observou o próprio corpo. Ele se viu indo para as moradas dos incontáveis budas das dez direções. Ele também viu seus sinais auspiciosos, seus séquitos, e sua radiância. E também, através da sabedoria da nãoobstrução ele aplicou o poder do Buda e foi capaz de passar um dia e uma noite na morada de um Buda, sete dias e sete noites em outra, um mês em outra, um ano em outra, cem anos em outra, e uma eternidade em outra. E como ele estava banhado nessa sabedoria indestrutível, Sudhana adquiriu conhecimento de várias meditações e sabedoria. Quando o sábio retirou sua mão, Sudhana voltou ao estado anterior. O sábio disse: “Agora, você lembra?” “Através do poder do sábio sou capaz de lembrar.” Então o sábio respondeu: “Ó Sudhana, esta é a extensão de minha sabedoria. Não está em meu poder saber sobre a disciplina de um grande bodisatva. Um bodisatva pode gerar sabedoria ilimitada, ele pode alcançar a luz da sabedoria do Buda, ele pode conhecer os três mundos em um pensamento, e ele pode manifestar o corpo de sabedoria em todos os mundos. Eu não sou capaz de fazer tais coisas. Ó Sudhana, na direção sul se encontra o país de Isana. Lá reside um brâmane de nome Jayosmayatana. É melhor que você se consulte com ele.”

8. Um Brâmane em Prática Ascética (1)

Com

alegria

indizível

Sudhana

prestou

homenagem

respeitosamente ao sábio e seguiu para o sul. Quando finalmente chegou ao país de Isana, o brâmane Jayosmayatana estava passando pela dolorosa

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disciplina de lançar-se da traiçoeira Montanha da Espada em um enorme inferno. Jayosmayatana voltou-se para Sudhana, que o saudou com grande reverência. Ele respondeu à pergunta de Sudhana, dizendo: “Ó Sudhana, se você subir a Montanha da Espada e lançar-se neste inferno, você aperfeiçoará a prática do bodisatva.” O jovem ponderou: “Eu nasci como homem, é difícil encontrar bons professores e ouvir o verdadeiro ensinamento. Será ele um demônio ou o mensageiro de um demônio disfarçado como um bom professor? Ele está me pedindo para abandonar minha vida. Não há erro, este não é o caminho do Buda.” Mas então, dos céus os deuses encorajaram Sudhana: “Ó Sudhana, o seu pensamento está incorreto. Este homem é, de fato, um grande sábio. Ele possui a tocha da sabedoria e trabalha para esvaziar o oceano da cobiça. Quando o seu corpo é consumido pelas chamas, ele emite uma forte luz que ilumina os céus e incita os deuses a se reunirem neste lugar para ensinar o Darma. Esta forte luz ilumina o inferno de Avici e faz com que aqueles que lá sofrem renasçam nos céus.” Exultante com esta revelação, Sudhana compreendeu que o brâmane era um professor genuíno. Arrependendo-se de seu erro, Sudhana subiu a Montanha da Espada e lançou-se no inferno abaixo. Antes de ser tocado pelas chamas, ele entrou em serena meditação. Quando chegou às chamas ele alcançou uma meditação ainda mais estável e bem-aventurada. “Ó grande sábio”, ele disse, “isto é realmente milagroso. Quando eu entrei em contato com a Montanha da Espada e o grande fogo, eu também alcancei a bem-aventurança genuína.” “Ó Sudhana, eu me familiarizei apenas com este único aspecto das virtudes inexauríveis de um bodisatva. Como eu poderia falar sobre a grande CEBB

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prática de um bodisatva, que satisfaz todas as aspirações e que consome os obscurecimentos das pessoas? Você deve se aproximar da grande professora Maitrayani, a virgem, que reside na cidade de Simhavijrmbhita, e perguntar sobre o caminho do bodisatva.”

(2) Sudhana agradeceu repetidamente ao brâmane antes de se dirigir para o sul. Durante sua viagem, Sudhana despertou pensamentos de reverência, alcançou familiaridade com o Buda e destruiu todas as ilusões. Quando chegou e perguntou pela casa de Maitrayani, ele foi direcionado para o Castelo Simhaketu. Sudhana entrou no castelo e encontrou Maitrayani em uma sala ornamentada. A sala estava adornada com milhares de sinos dourados suspensos do teto. Sua pele brilhava como ouro, e seus olhos e cabelo eram mais esplêndidos que o azul índigo. Ela estava ensinando o Darma para uma multidão, sentada em um Trono de Leão. Sudhana aproximou-se e inquiriu respeitosamente sobre o caminho do bodisatva. Ela disse: “Ó Sudhana, observe os ornamentos neste salão do Darma.” Sudhana, com olhos estalados, observou cada coluna de lápis lazúli, parede de diamantes e espelho adornado. Como a água imóvel que espelha a imagem da lua, os sinos dourados, árvores adornadas e fitas refletiam o continuum completo daqueles que possuem a iluminação, desde aqueles que obtiveram o despertar inicial da mente búdica até aqueles que obtiveram a emancipação final. “Grande sábia, qual é o Darma que você possui?”, ele perguntou. “Filho de boa família, é o Darma fundamentado na sabedoria. Este Darma leva até a margem da iluminação. Certa vez eu cultivei este Darma sob a direção de incontáveis budas. Filho de boa família, quando eu penetrei CEBB

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este Darma e despertei pensamentos corretos e a mente correta e equânime, eu guardei na memória cem milhões de versos relativos ao Buda, ao Darma, às boas ações e ao princípio do universo. Ó filho de boa família, eu conheço apenas este único Darma. A mente de todos os grandes bodisatvas é como o céu. Um bodisatva penetrou o Darma profundo e está pleno de virtudes. Ele abraça os seres com seus meios hábeis. Falta-me a compreensão completa de suas virtudes. Para o sul, no país de Trinayana encontra-se o monge Sudarsana. Você deveria visitá-lo e perguntar sobre o caminho.”

(3) Sudhana agradeceu a Maitrayani e seguiu em direção ao sul. Ele refletiu profundamente sobre a instrução que havia recebido. Viajando com determinação, ele chegou ao seu destino. O santo Sudarsana passeava silenciosamente pela floresta. Seus cabelos eram negros azulados, sua pele cor de bronze, e os lábios eram cor de rubi. Sua sabedoria era vasta como o oceano. Sudhana o saudou e, respeitosamente, inquiriu sobre o caminho do bodisatva. O santo respondeu: “Ó Sudhana, eu cultivei o caminho do bodisatva sob a orientação de incontáveis budas. Eu fiz todos os tipos de votos e completei todas as disciplinas de um bodisatva. Por estas razões, enquanto caminho silencioso como agora, todos os mundos e budas aparecem diante de mim em um único pensamento. Todas as maneiras de meios hábeis para salvar as pessoas surgem diante de mim. Mas, ó Sudhana, eu conheço apenas a sabedoria de ver as coisas como elas são. Eu não possuo a virtude de um bodisatva, que é como uma lâmpada de diamante, a virtude de ter nascido na casa do Buda, ou a virtude de manifestar a vida eterna que não é afetada por fogo, veneno ou espadas. Nem possuo eu a virtude de superar demônios e os não-budistas, ou de fazer chover o doce néctar do Darma em todos os lugares. No sul, no país de Sramana-mandala há uma CEBB

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criança, Indriyesvara. Você deveria lhe perguntar sobre o caminho do bodisatva.”

(4) Quando Sudhana chegou a Sramana-mandala, ele encontrou Indriyesvara brincando na areia ao longo da margem do rio com muitas crianças. Indriyesvara respondeu a questão de Sudhana: “Ó Sudhana, o bodisatva Manjusri me ensinou as técnicas de adivinhação pelas pintas, matemática e mudras. Eu sou um mestre do ocultismo. Sou capaz de exorcizar toda a angústia, veneno e demônios das pessoas. Além disso, eu acessei a essência da matemática, e portanto sou capaz de calcular o número de grãos de areia nos montes levantados por incontáveis milhas. Eu também conheço as ações de todos os budas e bodisatvas ao longo de todo o tempo. Ó Sudhana, eu domino apenas estas técnicas. Eu nada sei da virtude de um bodisatva que acessa o profundo princípio da matemática para contar os darmas. Na direção sul, na cidade de Samudrapratisthana, encontra-se a devota Prabhuta. Pergunte-lhe o segredo do caminho do bodisatva.”

(5) Sudhana partiu em grande animação. Como o grande oceano que é alimentado constantemente por inúmeros rios, Sudhana lembrava-se constantemente de seus bons professores. Ele os louvou, dizendo: “O brilho solar de um bom professor com sua sabedoria iluminadora faz com que as mentes das pessoas desabrochem como pétalas de lótus. Ele nutre uma grande árvore, cujo tronco são as raízes de virtude e cujas folhas e ramos são as virtudes. O brilho lunar do bom professor com seu ensinamento pacificador extingue as chamas dos obscurecimentos. Sua mente é como um

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oceano repleto de tesouros; seu ensinamento é fantástico como as incríveis ações do rei Naga nos céus.” Chegando à cidade de Samudrapratisthana, Sudhana dirigiu-se aos salões internos do castelo de Prabhuta. O salão, com quatro passagens abertas, estava decorado com corrimões incrustados por joias. A bela e elegante Prabhuta estava sentada em seu Trono de Leão. Ela estava vestida magnificamente; luz emanava de seu cabelo. Ela era servida por muitas donzelas celestiais. Aqueles que a fitavam eram liberados de seus desejos; aqueles que ouviam sua voz ficavam plenos de alegria. Ela se dirigiu a Sudhana: “Ó filho de boa família, eu possuo um tesouro inexaurível de virtude. Com apenas uma única tigela de alimento eu nutro e satisfaço não apenas cem ou mil, mas um número incontável de pessoas. Meu tesouro também pode satisfazer suas necessidades de carruagens, roupas e ornamentos. E também, todos os bodisatvas das dez direções receberam meus presentes e atingiram a mais elevada sabedoria. Ó filho de boa família, minhas dez mil servas e os incontáveis membros de meu séquito seguem a mesma disciplina e guardam os mesmos votos. Nós salvamos todos os seres com uma sincera e grande compaixão.” Logo após, Prabhuta alimentou a multidão que se aglomerava nas quatro entradas que levavam ao seu Trono de Leão. Ela continuou: “Ó filho de boa família, eu realizei apenas este inexaurível tesouro de virtude. Eu ainda tenho que penetrar a virtude vasta como o oceano dos grandes bodisatvas. Para o sul, na cidade de Mahasambhava vive o ancião Vidvat. Leve suas perguntas a ele.”

(6) Sudhana prestou homenagem aos pés de Prabhuta e se voltou na direção sul. Agora Sudhana havia realizado o Darma da virtude inexaurível e CEBB

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tinha aumentado sua disciplina para beneficiar os outros. Sua mente, também, estava envolvida pela luz do Buda. Ao chegar à cidade, Sudhana finalmente encontrou o ancião Vidvat sentado em um salão de sete joias e circundado por dez mil pessoas. Vidvat disse a Sudhana: “Ó filho de boa família, eu ensinei o Darma a estas dez mil pessoas e despertei seu nascimento na casa do Buda. Ó filho de boa família, eu abro livremente meu depósito de tesouros de virtude para fazer oferendas a todas as pessoas e para satisfazer seus desejos.” Vidvat, então, orientou Sudhana para ir ao ancião Ratnacuda, que vivia na cidade de Simhapota.

(7) No caminho Sudhana encontrou Ratnacuda, que tomou sua mão e levou-o para sua casa. Sudhana foi instruído a observar a residência do ancião. Observando a casa e seus arredores, Sudhana viu que ela era cercada por uma sebe de sete joias e por exuberantes árvores de joias. O lago transbordava com água de virtude genuína. A própria casa era embelezada por lápis lazúli e suas colunas estriadas estavam cobertas por cortinas bordadas com joias. A casa do ancião possuía quartos sobrepostos em dez andares e oito portas de entrada. O primeiro andar estava repleto de comida e bebida, o segundo andar com vestimentas enfeitadas por joias, o terceiro com utensílios preciosos e o quarto abrigava donzelas íntegras e de boa moral. Bodisatvas do quinto estágio que estavam compilando o verdadeiro Darma ocupavam o quinto andar. No sexto andar, bodisatvas que realizaram os limites da sabedoria estavam ensinando sobre a sabedoria. Bodisatvas que atingiram o segundo e terceiro estágios estavam ensinando sobre a sabedoria dos meios hábeis no sétimo andar. No oitavo andar se reuniam aqueles bodisatvas que haviam alcançado poderes sobre-humanos. No nono andar estavam reunidos os bodisatvas que haviam atingido o estágio mais elevado CEBB

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anterior à iluminação. Todos os budas estavam reunidos no décimo andar, e eles estavam salvando pessoas. Sudhana ficou atônito com este espetáculo e o ancião lhe disse: “Ó filho de boa família, no passado eu encontrei Amithaba, o Buda do Dharmadhatu, quando ele surgiu neste mundo. Eu o honrei com flores fragrantes. Depois disso eu extingui a cobiça e entendi o estado búdico. Eu desejava ouvir o verdadeiro Darma, e assim recebi minha recompensa atual.”

(8) Após receber as instruções do ancião, Sudhana mais uma vez se dirigiu ao sul, para o país de Vetramulaka, para se encontrar com o ancião Samantanetra, que vivia no castelo de Samantamukha. A cidade era circundada por muitos castelos menores e elevava-se majestosamente entre eles. O ancião se encontrava no castelo e estava sentado em um trono perfumado. Ele respondeu à pergunta de Sudhana: “Ó filho de boa família, eu conheço as doenças de todas as pessoas. Aqueles com catarro ou resfriados e febre que me invocam são todos curados. Após cuidar de suas doenças eu exponho sobre as várias formas do Darma. Para aqueles que estão cheios de cobiça eu ensino a meditação sobre a impureza. Para aqueles consumidos pelo ódio eu ensino a meditação sobre a compaixão; para aqueles de raciocínio lento eu ensino a meditação sobre os verdadeiros aspectos do Darma. Através de minha instrução todos se regozijam com os méritos do Darma. Além disso, ó filho de boa família, eu sei como combinar os diversos ingredientes para a produção de incenso. Quando eu honro o Buda com este incenso eu satisfaço meu desejo de salvar as pessoas e de glorificar o reino do Buda. O perfume doce do incenso alcança os budas das dez direções. O odor se torna seus palácios, corrimões, estandartes e dosséis.

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“Ó filho de boa família, a única coisa que sei fazer é despertar alegria nas pessoas e perceber todos os budas. Os ensinamentos dos grandes bodisatvas médicos estão além de minha compreensão.”

(9) Com a orientação do ancião, Sudhana caminhou para o sul para buscar as instruções do Rei Anala, que residia na cidade de Taladhvaja. Sudhana entrou no palácio do rei e prosseguiu para o salão principal. O rei se encontrava administrando o reino. Quando Sudhana entrou no grande salão, o rei estava em seu trono de leão de diamante. O rei ostentava uma coroa adornada com uma meia-lua feita com o ouro de Jambunada. Seu cabelo era negro-azulado e os lóbulos de suas orelhas eram grandes. Ele usava um colar de joias. Acima do rei estavam parassóis de ouro com joias bordadas. Nas suas laterais pendiam bandeiras que iluminavam as oito direções. Os dez mil ministros à sua direita e à esquerda estavam fazendo cumprir os decretos reais. Ele estava protegido por dez mil generais com alabardas. O jovem também percebeu incontáveis pessoas que tinham violado as leis do rei e que tinham sido punidas. Algumas haviam recebido as cinco repreensões, outras tiveram as mãos e pés amputados, outras estavam sem orelhas e narizes. Ele viu outras com os olhos arrancados e aquelas que haviam sido feridas com água fervente. Sudhana percebeu aquelas que haviam sido enroladas num tecido de lã ensopado com óleo e depois queimadas. Elas eram incontáveis. Sudhana pensou: “Eu tenho cultivado as práticas para o benefício dos outros. Mas este rei é, com certeza, extremamente maldoso. Ele é o pior dos seres malignos.” Nesse momento, entretanto, os deuses incitaram Sudhana a se aproximar do rei e a pedir instruções. O rei tomou a mão de Sudhana e o levou através do palácio, que acomodava quinhentas donzelas celestiais, e CEBB

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disse: “Ó filho de boa família, eu conheço o Darma de que todas as coisas são ilusórias. Eu também sei que aqueles em meu reino que cometem assassinato, que roubam, que atacam as mulheres dos outros ou que sustentam visões pervertidas não podem ser persuadidos a abandonar seus caminhos negativos com simples instruções. Não há outro recurso além de lhes aplicar punições disciplinares para levá-los a aceitarem o verdadeiro caminho. Ao expô-los à dor estou tentando fazê-los desistir de seus caminhos negativos. Ó filho de boa família, eu não sou capaz de ferir mesmo uma única formiga, o que dizer de uma pessoa. As pessoas são o campo fértil no qual as ações positivas crescem.”

(10) Seguindo as instruções do rei, Sudhana continuou para o sul para a cidade de Suprabha. A grandiosidade da cidade estava além das palavras. A solene dignidade do rei Mahaprabha era como a do sol. Ele emanava uma majestade comparável ao brilho da lua cheia que encobre a luz das estrelas. O rei disse respeitosamente a Sudhana: “Ó filho de boa família, eu pratico a compaixão. É com compaixão que eu governo o país, ensino meus súditos, dissipo as impurezas de suas mentes, torno-os completamente gentis, faço-os rejeitarem o caminho dos prazeres mundanos, e os guio para buscarem o Darma. Quando sou abordado pelos pobres eu abro meu depósito de tesouros e lhes digo para pegarem o que quiserem. Ao mesmo tempo eu lhes peço para se afastarem das ações negativas. Ó Sudhana, entre meus súditos há aqueles que percebem esta cidade como suja, e há outros que dizem que ela é limpa. Enquanto alguns percebem a cidade como sendo de madeira e pedras, outros a percebem como feita de joias preciosas. Aqueles que cultivam raízes positivas com a mente sincera e honesta percebem a cidade adornada por incontáveis joias.” CEBB

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Quando o rei entrou na meditação da grande compaixão, a cidade de Suprabha balançou de seis diferentes formas. Os baluartes preciosos, o palácio, as torres, os sinos e os ornamentos de renda suspensos das paredes do castelo, todos louvaram o rei com sons extraordinários. Os súditos dentro e fora do palácio ficaram exultantes de alegria e juntaram as palmas das mãos, prestando homenagem ao rei. As montanhas e árvores curvaram-se ao rei; os rios e as fontes mudaram seus cursos e fluíram na direção do rei. Mesmo os demônios malignos que chupavam sangue e comiam carne, e aquelas bestas malignas que viviam na terra ou no mar, todos abraçaram a compaixão e acreditaram nos renascimentos. Como sinal de respeito, todos esses demônios e bestas prestaram homenagem aos pés do rei.

(11) Então, o rei saiu de sua meditação e orientou Sudhana a procurar a devota Acala na cidade de Sthila. Sudhana, com o ensinamento do Rei Mahaprabha em mente, alcançou a mente alegre, a mente livre do desejo, a mente humilde e destemida. Além disso, quando ele sustentava na mente as virtudes dos bons professores uma voz dos céus falou: “Ó Sudhana, o Buda se regozija quando você segue os ensinamentos dos bons professores e, assim, se aproxima da onisciência. E também, quando os ensinamentos dos bons professores são buscados incansavelmente, todos os benefícios surgem diante de você.” Lentamente Sudhana seguiu seu caminho para a cidade de Sthila. Ao chegar, ele entrou no castelo da devota Acala. O castelo estava envolvido por um brilho dourado que iluminava as quatro direções. Quando esse brilho tocou Sudhana, todo o seu ser se tornou leve e flexível. E quando Sudhana finalmente viu Acala, sua beleza era incomparável à beleza terrestre. Em seu louvor, Sudhana cantou: CEBB

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Se você sempre observar os preceitos puros E se cultivar paciência diligentemente, Você será como a lua cheia Brilhando entre as estrelas no céu limpo.

Então, Sudhana respeitosamente inquiriu sobre o caminho do bodisatva. Acala disse: “Ó Sudhana, quando o Buda surgiu no mundo do passado eu era rainha deste país. Tarde da noite, quando toda a música havia cessado, quando minhas muitas servas se entregavam ao sono, e quando, sozinha nas torres, eu fitava as estrelas e via o Buda circundado por deuses e bodisatvas, ele pairava no céu e brilhava como uma montanha de joias. De seus poros emanava uma fragrância que amadureceu meu corpo e minha mente. Imediatamente eu coloquei minhas mãos em reverência. Eu me perguntei como ele era capaz de possuir as marcas auspiciosas de tal brilho. O Buda percebeu meus pensamentos e respondeu: ‘Você deve extinguir seus obscurecimentos, aceitar o ensinamento do Buda e dar nascimento à luz da sabedoria.’ Ó filho de boa família, daquele momento em diante eu dobrei meus esforços no cultivo do caminho. Mesmo em meu sono eu venero o Buda. Eu percebi todas as coisas com equanimidade e sou completamente capaz de fazer surgirem poderes sobre-humanos.”

(12) Seguindo a orientação de Acala, Sudhana mais uma vez se dirigiu para o sul para a cidade de Tosala, buscando encontrar Sarvagamin, um mestre não-budista. Sudhana entrou na cidade ao anoitecer e procurou por Sarvagamin

durante

a

noite.

Uma

grande

montanha

elevando-se

majestosamente ao norte da cidade brilhava como se recebesse a luz da CEBB

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aurora. Finalmente, ao romper do dia, Sudhana deixou a cidade e subiu a montanha à procura de Sarvagamin. Então, ele deparou com Sarvagamin, que estava caminhando pela montanha. Ele respondeu à questão de Sudhana: “Ó filho de boa família, eu caminho por aí na tentativa de salvar as pessoas. Com a sabedoria da equanimidade eu instruo os seres nos vários estágios dos seis reinos, de acordo com sua capacidade. Mas ninguém sabe quem eu sou.”

(13) Sarvagamin aconselhou Sudhana a continuar sua jornada para o sul, para seguir perguntando sobre a disciplina do bodisatva ao ancião Utpalabhuti de Prthurastra. O ancião disse: “Ó Sudhana, conheço bem as diferentes variedades de incenso. Existem incensos que dão prazer, outros que aumentam o obscurecimento, e ainda outros que destroem o obscurecimento. Alguns tipos de incenso apoiam a meditação sobre o Buda, outros o encorajam a seguir o Darma. Ó Sudhana, nós temos aqui um incenso chamado Depósito da Grande Assembleia, que foi produzido como resultado de muitas batalhas. Se eu queimar um único grão dele, é criada uma grande nuvem luminosa que cobre todo o país. Essa nuvem derrama perfume por sete dias e noites; e se essa chuva perfumada tocar o corpo, ele se torna da cor dourada. Tudo que ela toca se torna dourado. O odor traz grande prazer por sete dias e noites e cura todas as doenças. O odor gera pensamentos bondosos e compassivos em todas as pessoas. Ó Sudhana, eu também conheço outros tipos maravilhosos de incenso. Entretanto, não está em meu poder penetrar o reino do bodisatva, que é dotado com o incenso maravilhoso da sabedoria.”

(14) Seguindo o conselho de Utpalabhuti Sudhana prosseguiu para o sul até Kutagara para falar com o capitão de navio Vaira. Sudhana chegou a Kutagara e viu Vaira no porto, onde os navios se encontravam. Ele disse: “Ó CEBB

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grande sábio, por favor, instrua-me na disciplina do bodisatva.” Vaira respondeu: “Ó filho de boa família, através da disciplina da grande compaixão eu enfrentei muitas dificuldades pelos seres desafortunados desta cidade e satisfiz seus desejos. Eu os tenho satisfeito ensinando o Darma longamente a eles. Eu quero que todas as pessoas percebam o Mar do Buda. Ó filho de boa família, eu tenho conhecimento de cada banco de areia e tesouro do oceano. Além disso, eu sei a localização de cada palácio dos Nagas e afastei desastres causados por dragões. Também tenho familiaridade com os palácios dos demônios e afastei desastres causados por demônios. Eu sempre zarpo possuindo conhecimento detalhado das correntes, ventos, ondas e movimentos do sol, da lua e das estrelas. Eu venho expondo o Darma às pessoas de forma que elas possam se libertar do medo do samsara, entrar no oceano da sabedoria e esvaziar o oceano do desejo. Eu tornei possível para elas realizarem o oceano da sabedoria que é pleno de luz.”

(15) Os ensinamentos de Vaira levaram Sudhana a derramar lágrimas de alegria. Sudhana recebeu o conselho para seguir para o sul até a cidade de Nandihara, e para ouvir a visão do ancião Jayottama sobre a disciplina do bodisatva. “Ó filho de boa família, eu elimino a discórdia entre as pessoas, acabo com as hostilidades e expulso sua raiva e ódio. Eu corto seus grilhões para liberá-las das prisões. Além disso, eu removo seus pensamentos pervertidos

e

toda

a

sua

negatividade.

Eu

também

as

satisfaço

compartilhando minhas habilidades e conhecimento. Eu venho guiando os não-budistas, de forma que eles desejem procurar o Budadarma. Eu exponho os caminhos da esfera mundana de forma que eles desejem abandoná-la. Eu revelo o caminho do bodisatva de forma que eles possam se afastar da maldade deste mundo transitório.” CEBB

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(16) O ancião aconselhou Sudhana a visitar a monja Simhavijrmbhita, que vivia no país de Kalinga. Quando Sudhana chegou ao país, ele encontrou a monja sentada sobre um Trono de Leão infinitamente grande, sob uma árvore luminosa na floresta de Kalinga. O trono de leão estava coberto por um tecido de ouro e adornado com uma rede de joias. A monja estava circundada por inúmeros membros do clã. Através de seus poderes sobrehumanos ela ocupava cada Trono de Leão de todo o universo. Sua postura era digna e majestosa, sua mente estava serena. Ela inspirava temor como um abismo profundo e sereno. Ela respondeu tranquilamente a Sudhana: “Ó filho de boa família, eu penetrei as profundezas da sabedoria. Para aqueles que se aproximam de mim eu exponho os meios para obter a sabedoria. Porém, eu não dou nascimento ao pensamento de que eles são seres sencientes. Apesar de eu dominar cada língua que há para aprender, eu não sou presa pelas palavras. Mesmo percebendo todos os budas, eu não me apego a eles por ter realizado a essência profunda do Dharmakaya. Além disso, apesar de eu conhecer todas as coisas em um único momento, eu não me fixo a elas por entender que todas as coisas são como ilusões.”

(17) Sudhana agradeceu com reverência, e, seguindo o conselho dela, dirigiu-se para o sul para falar com Vasumitra, que vivia na cidade de Ratnavyuha, no país de Durgajanapada. A ampla cidade estava cercada por dez filas de paredes, circundadas por palmeiras. Os dez fossos que cercavam a cidade fluíam com água clara e cristalina; no fundo dos fossos brilhava a areia de ouro. Botões de lótus azuis, vermelhos e brancos perfumavam o ar com doçura. Envoltos nessa fragrância maravilhosa, o castelo precioso e as torres estavam ornamentados com sinos que pareciam neve caindo. CEBB

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Balançados pela brisa que espalhava os botões, os sinos ressoavam agradavelmente. A beleza do rosto de Vasumitra estava além de qualquer comparação. Com uma charmosa aparência e uma voz maravilhosa, ela era hábil nas artes e na caligrafia. Ela voltou-se para Sudhana, que respeitosamente inquiriu sobre o caminho do bodisatva: “Ó filho de boa família, eu alcancei a maestria do reino livre do desejo. Em consequência, quando vista pelos deuses eu sou dignificada e tomada por uma deusa. Quando vista por pessoas, sou tomada por uma mulher deste mundo. Este meu corpo milagroso é insuperável tanto no reino dos deuses quando no reino das pessoas. Quando aqueles que estão presos à luxúria se aproximam, eu os ensino e eles são liberados de seus desejos. Aqueles que me encontram alcançam a pura alegria. Aqueles que ouvem minha voz maravilhosa têm sua percepção dos sons aguçada. Aqueles que seguram minha mão encontram o caminho secreto para a terra búdica. Aqueles que moram comigo são tocados pela minha luz, que remove o sofrimento. Aqueles que me abraçam atingem a força para salvar todas as pessoas. Aqueles que me beijam obtêm uma grande quantidade de muitas virtudes.”

(18) Vasumitra instruiu Sudhana a prosseguir para o sul até Subhaparangama, onde ele procurou pelo ancião Vesthila, que lhe disse: “Ó filho de boa família, eu compreendo que os budas nunca entram no nirvana. Quando eu abri uma estupa búdica de madeira de sândalo, eu atingi a perfeição da meditação chamada de Eternidade do Estado Búdico. À medida que avanço para um nível mais elevado meditativo eu realizo um Darma indescritível. Ó filho de boa família, estou familiarizado apenas com este ensinamento. Os grandes bodisatvas apreendem os três mundos com um CEBB

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único pensamento; eles podem entrar em todas as meditações em um único pensamento; suas mentes são banhadas pela luz da sabedoria do Buda; eles não discriminam entre todas as coisas. Eles sabem que eles mesmos, os budas e todos os outros seres sencientes são o mesmo. Mas não sou eu que devo expor sobre seus méritos.”

(19) Com estas palavras do mestre leigo, Sudhana prosseguiu para o sul até o Monte Potalaka, um pico defronte ao mar meridional que era a morada do bodisatva Avalokitesvara. Ao chegar à montanha, Sudhana observou o bodisatva na face ocidental da montanha sentado sobre um Trono de Diamante e ensinando o Darma da grande compaixão. Sua grande audiência estava reunida entre os córregos que fluíam entremeando a grama macia e árvores encorpadas. Avalokitesvara percebeu imediatamente a presença de Sudhana, que viera com o pensamento único de inquirir sobre o caminho do bodisatva. “Ó filho de boa família, é muito bom que você tenha gerado o desejo de buscar a iluminação perfeita. Eu possuo o Darma da grande compaixão, a realização da sabedoria. Ao guiar pessoas, às vezes eu pratico a generosidade, às vezes eu me engajo nas mesmas atividades que os outros, e às vezes eu assumo formas inconcebíveis. Além disso, às vezes eu emano luz para extinguir o calor das paixões malignas. Em outras vezes eu ensino o Darma com dignidade e com uma voz maravilhosa. Eu capacito as pessoas a atingirem a iluminação através de meus meios hábeis sobre-humanos. E, às vezes, eu assumo a mesma forma humana deles para salvá-los. Eu fiz o voto de salvar todas as pessoas e desejo que elas se afastem do terror de seus caminhos maldosos, do calor das paixões, da tolice, dos grilhões, dos assassinatos, da pobreza, do medo da morte e do futuro, e do medo do amor e do ódio. Além disso, eu fiz o voto de liberar de todos os medos aqueles que CEBB

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se lembrarem de mim, recitarem meu nome e me perceberem. Ó filho de boa família, estou familiarizado apenas com este único aspecto do Darma. Não estou familiarizado com as virtudes dos grandes bodisatvas que estão preenchidos pelo grande voto e a disciplina do altruísmo.”

9. Ratridevata (1) Sudhana recebeu muitas lições durante suas viagens. Então ele se aproximou do deus Ratridevata, que vivia no Bosque de Lumbini. “O que devo fazer”, perguntou Sudhana, “para nascer na casa do Buda? E como posso me tornar uma lâmpada para o mundo?” “Ó filho de boa família, um bodisatva deve primeiramente despertar o desejo de honrar todos os budas; ele deve ensinar as pessoas com grande compaixão e ele deve perceber as verdadeiras marcas dos darmas, chegando aos limites de sua grande sabedoria. Ele deve alcançar a maestria de todas as práticas meditativas e entrar em todas as terras búdicas. Ele deve nutrir a onisciência e ser capaz de atravessar todo o Dharmadhatu. Tal bodisatva é o verdadeiro discípulo do Buda. Ó filho de boa família, o bodisatva que aperfeiçoa estas práticas nascerá na casa do Buda e se tornará uma lâmpada para o mundo.”

(2) Ratridevata aconselhou Sudhana a seguir até Kapilavatthu e falar com Gopa, uma dama do clã Sakya. Em seu caminho para o Salão de Palestras de Gandavyuha, a deidade Asokasridevata, junto com uma hoste de outras deidades, saudaram Sudhana: “Bem-vindo, jovem de grande

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sabedoria. Sua presença nos diz que você tem seguido firmemente e corajosamente o caminho do bodisatva; você não perdeu o seu entusiasmo para entrar no palácio do Darma; você é digno e seus cinco órgãos são perfeitos. Não há dúvidas que você em pouco tempo adquirirá o corpo, a fala e a mente de um buda.” Sudhana respondeu: “É como vocês disseram. Eu fiz o voto de extinguir a angústia das pessoas e de conduzi-las à estabilidade. Tendo cometido muitas ações negativas, as pessoas caíram nos três reinos negativos, e em consequência seus sofrimentos não têm limite. A tristeza de um bodisatva que observa os seus sofrimentos é como a de um genitor que testemunha seu filho sendo cortado até a morte. Um bodisatva testemunha, assim, os sofrimentos das pessoas e desperta seus votos de grande compaixão com a qual ele abraça a todos.” Quando Sudhana estava prestes a entrar no salão de palestras os deuses lançaram botões fragrantes sobre ele, e elevaram suas vozes cantando:

O sol da virtude, que é difícil de encontrar ao longo de kalpas incontáveis, agora se mostra para iluminar o mundo obscurecido.

Você despertou o sentimento da grande compaixão por todos que estão obscurecidos pela ignorância, e você generosamente ofereceu seu corpo e sua vida; com a mente unifocada você se aproximou dos professores e buscou a iluminação do Buda.

Você dominou a disciplina do bodisatva e é pleno de virtudes e de sabedoria.

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Você viajou livremente pelo mundo sem abandoná-lo, como o vento que tem rédeas livres no céu.

Sua determinação para aperfeiçoar o caminho é infinita, como uma chama inextinguível. (3) Naquele momento, Gopa estava presente, sobre o precioso Trono de Leão. Ela estava circundada por oitenta e quatro mil princesas que amavam cada pessoa como se elas fossem seus próprios filhos. Respeitosamente ela disse a Sudhana, o nobre buscador da verdade: “Ó filho de boa família, estou sempre atenta à profunda meditação de um bodisatva. Eu conheço o bem e o mal nas pessoas deste reino e de todos os outros reinos. Eu também conheço a resolução, a disciplina e os sermões de cada buda. Eu compreendo as mentes de todas as pessoas, as raízes positivas que elas adquiriram, e suas naturezas. Por último, eu conheço os ensinamentos sobre a não-obstrução de todos os buscadores do caminho e dos budas. Ó grande sábio, faz muito tempo que você decidiu alcançar a iluminação?” “Ó filho de boa família, certa vez havia um príncipe, Abhiguna, que conduzia sua carruagem através da Montanha da Presa Perfumada. O príncipe se apaixonou pela princesa Ratiprabhasasri. Um dia ele disse à princesa e à sua mãe que a acompanhava: ‘Eu sacrificaria mesmo minha esposa e filhos para obter a onisciência. Princesa, se você não obstruir meu caminho, eu a receberei com alegria como minha consorte.’ A princesa respondeu: ‘Príncipe, se você me deseja, eu passarei alegremente muitos kalpas nas chamas do inferno.’ Sua mãe disse: ‘Sempre foi o desejo de minha vida oferecer minha preciosa filha, cuja pele é macia como tecidos divinos, a um príncipe que busca a sabedoria mais elevada.’

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“Mais tarde, guiados pela princesa, os três se aproximaram do Tatágata cujo nome é Suryagatraprabha. Este encontro incitou os três a realizarem a sabedoria de não retorno da iluminação. Ó filho de boa família, o príncipe era uma encarnação de Sakyamuni, o Honrado pelo Mundo, e a princesa era uma encarnação minha. E apesar de ter sido capaz de encontrar incontáveis budas e de ter seguido suas disciplinas dármicas, eu ainda tenho que absorver os ensinamentos do bodisatva Samantabhadra, cujo ensinamento é ilimitado como o céu. Ó filho de boa família, por um tempo muito longo eu tenho venerado o bodisatva Samantabhadra e não me canso de o fazer. Eu vejo um universo ilimitado em cada poro do bodisatva; o número de universos é igual ao número de pensamentos deludidos que são gerados pelos homens e mulheres que estão loucamente apaixonados.” Então Gopa, a rainha, recitou os seguintes versos:

O bodisatva salva todas as pessoas que despertam sentimentos de respeito ao observarem o bodisatva praticar as disciplinas puras.

O bodisatva vê que alguns mundos são puros e outros maculados, mas ele não escolhe apenas os puros ou rejeita os impuros.

O bodisatva apreende todos os mundos, percebe os budas que habitam no reino da iluminação, e libera com um único pensamento a luz que ilumina todas as assembleias.

(4) Seguindo as instruções de Gopa, Sudhana procurou pela Rainha Maya, de Kapilavastu. Durante sua jornada, o corpo rarefeito de Ratnanetra, a deidade guardiã da cidade, surgiu no céu, e disse: “Ó filho de boa família, CEBB

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para escapar do samsara você deve guardar o domínio da mente; para adquirir o poder do Buda você deve ornamentar o domínio da mente; para destruir a mente da cobiça e da perversão, você deve purificar o domínio da mente; para continuar praticando todas as meditações e adquirir o poder da talidade você deve destruir a mente da paixão ardente; para iluminar o Oceano do Buda e outros com a luz da sabedoria, você deve iluminar o domínio da mente; para adquirir a grandiosidade das virtudes do Buda você deve expandir o domínio da mente; para salvar todas as pessoas através da Grande Compaixão ilimitada você deve abrir os portões para a cidadela da mente.” Outra deidade, Dharma-padma-srikusala-devata, cantou em louvor à rainha Maya com uma voz extraordinária. Ele emitiu raios de luz que iluminaram cada universo. A luz, ao retornar, entrou pela nuca de Sudhana e preencheu seu corpo. Então Sudhana alcançou um olho de sabedoria livre de obscurecimentos. Livre da escuridão da ignorância, Sudhana apreendeu a natureza do homem e percebeu o corpo do Buda. Nesse momento, a rainha Maya estava sentada sobre o Trono de Leão decorado com guirlandas de flores de lótus, que haviam brotado da grande terra. Muitos dos membros de seu clã circundavam sua presença maravilhosa. Ela disse a Sudhana, o verdadeiro buscador do caminho: “Ó filho de boa família, eu mantenho o grande voto, sabedoria e poderes sobre-humanos. Por essa razão eu me tornei a mãe de todos os bodisatvas. Neste mundo, no palácio de Suddhodana em Kalipavastu, eu dei nascimento ao príncipe Siddhartha. Ó filho de boa família, enquanto eu residia no castelo de Suddhodana eu me encontrei com um bodisatva que desceu do céu de Tusita. A grandiosa luz radiante que emergiu de seus poros revelou nos menores detalhes as histórias das vidas de incontáveis bodisatvas. Após iluminar o universo, sua luz retornou e entrou CEBB

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por minha nuca. Então, meu corpo se tornou o palácio uterino para o Buda Sakyamuni.”

10. Os Bodisatvas Maitreya e Samantabhadra (1) Sudhana continuou sua jornada para o sul em direção à cidade de Samanamukha. Lá, ele procurou pelas crianças Srisambava e Srimati. Ambos o aconselharam a procurar pelo bodisatva Maitreya, que vivia na floresta Mahavyuha, no reino de Samudrakaccha. As duas crianças louvaram as virtudes do bom professor para Sudhana: “Ó filho de boa família, quando você se aproximar do bom professor, desperte a mente que conhece todas as coisas e que é incansável como a grande terra. E para complementar essa nobre mente você deveria gerar a mente desinteressada e humilde. Além disso, você deveria saber que está doente devido às paixões e que o bom professor é um excelente médico. Você deve gerar estes pensamentos, pois apenas através da sinceridade mental você será capaz de reconhecer o bom professor. E é através dos ensinamentos dele que suas raízes de bondade crescerão. Os ensinamentos são como a água que escorre dos Himalayas para nutrir as ervas medicinais. A purificação da aspiração pela iluminação é semelhante ao tratamento térmico da pepita de ouro. O bom professor, como o lótus florescendo na água lodosa, permanece imaculado pelo mundo. O bom professor, como o sol que brilha à distância, ilumina o Dharmadhatu. O bom professor faz tudo isso porque ele nutre o bodisatva que é como uma mãe que cuida de sua criança. Ó filho de boa família, estas virtudes se

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baseiam no bom professor. Devido ao bom professor elas surgem, nascem e permanecem.”

(2)

Exultante

com

esta

mensagem,

Sudhana

viajou

para

Samudrakaccha. Após um longo tempo, ele se aproximou da mansão de Maitreya e se prostrou diante da torre. Em pé junto ao portão, Sudhana observou o bodisatva Maitreya à distância. Ele pensou: “Aqui residem todos os budas, bodisatvas e bons professores. Aqui, também, é o local do tesouro do Darma e de todo o Dharmadhatu.” Sudhana seguiu refletindo: “Todas as coisas são como um sonho e um eco. Todas as coisas surgem através da originação dependente. As coisas não são nem existentes nem inexistentes. As ações são a base de nossas vidas. Nós recebemos os resultados das ações. Além disso, quando alcançamos a mais elevada sabedoria através da fé verdadeira, estamos livres das ideias de ‘eu’ e ‘meu’. Nós entendemos o profundo princípio da causalidade e compreendemos a verdadeira natureza das coisas.” Assim, Sudhana apreendeu o significado do Darma. Antes de prestar homenagem a Maitreya ele estava pleno de inconcebíveis raízes de bondade, e seu corpo e sua mente se tornaram leves e flexíveis. Ele recitou:

(i) Profundamente compassivo Maitreya, repleto de virtudes milagrosas, você demonstra bondade para todas as pessoas. Aqueles que extinguiram a cobiça, a raiva, a ignorância e todas as ilusões e que desejam uma mente estável descansarão neste salão do Darma.

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Aqueles que entram no oceano da ilusão para conquistar os dragões das negatividades e para receber a joia da sabedoria estarão em paz neste salão do Darma.

Aqueles que viajam aos confins da terra por todas as pessoas e que carregam seus sofrimentos encontrarão estabilidade neste salão do Darma.

(ii) Os discípulos do Buda que permanecem em estabilidade neste salão do Darma percebem todos os darmas e entendem que as pessoas, nações e eventos são todos destituídos de uma natureza própria duradoura. Eles também sabem que os seres sencientes e os darmas são idênticos; o Buda e os votos são idênticos; este mundo e os três mundos são idênticos. Eu presto homenagem junto com todos os discípulos do Buda à disciplina de Maitreya, o sucessor do Buda.”

(3) Maitreya, que residia no reino do Buda, pleno de dignidade, estava circundado por incontáveis deuses e uma multidão de pessoas. Sudhana reverentemente juntou suas mãos e disse: “Ó grande sábio, como eu posso ser fiel à mente original, não violar os Três Tesouros, não menosprezar deuses e pessoas e praticar o verdadeiro Darma no qual residem os bodisatvas?” Dirigindo-se à grande assembleia, Maitreya apontou para Sudhana e disse: “Vocês não conseguem ver que a busca de Sudhana pela iluminação perfeita é tão urgente para ele quanto seria extinguir o fogo que queimasse seus cabelos? Ele buscou incansavelmente os ensinamentos de Manjusri e de muitos bons professores, e agora ele chegou até mim. Desde que decidiu

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atingir a iluminação suprema, Sudhana salvou todos os seres sencientes e transcendeu as dificuldades e perigos dos caminhos maléficos e das visões falsas. Ele acendeu a tocha da sabedoria na escuridão da ignorância e destrancou a prisão dos três mundos. Ele cortou as amarras das visões pervertidas com a espada da sabedoria. Nutrido pelas chuvas do verdadeiro Darma ele trabalha incansavelmente e corajosamente aperfeiçoa cada virtude. Sudhana tem buscado desta forma bons professores sem poupar seu corpo ou sua vida. Apesar de ter acumulado méritos para a iluminação, ele não é ávido por ganhos. Ele não abandonou a mente sincera de um bodisatva; nem ele está apegado ao modo de vida de sua família; nem está obstruído pelos cinco desejos. Ele não tem apego aos seus pais ou parentes. É muito raro encontrar alguém que aspire com mente unifocada ao cultivo da onisciência.” Voltando-se para Sudhana, Maitreya disse: “Sudhana, regozije-se, pois logo você receberá sua grande recompensa. Muitos bodisatvas cultivaram suas práticas por muitos kalpas, mas você completou todas as disciplinas em uma única vida. Isto foi possível porque você buscou o caminho com sinceridade completa. Aqueles que desejam realizar o Darma deveriam seguir o exemplo de Sudhana. Ó Sudhana, agora você deveria voltar para o bodisatva Manjusri e perguntar-lhe sobre os muitos ensinamentos, o reino da sabedoria e a prática do bodisatva Samantabhadra.” Após o discurso de Matreya, o bodisatva Manjusri estendeu seus braços, e solenemente presenteou uma guirlanda de flores a Sudhana, que a aceitou. Sudhana, por sua vez, alegremente a ofereceu ao bodisatva Maitreya. Tocando a nuca de Sudhana, o bodisatva Maitreya disse: “Ó discípulo do Buda, em pouco tempo você será igual a mim.” Jubiloso, Sudhana saltou com entusiasmo e disse: “Graças à ajuda de Manjusri eu agora sou favorecido por muitos bons professores que são raramente encontrados mesmo em milhões CEBB

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de kalpas. Ó sábio de grandes virtudes, eu me apresentarei a você imediatamente.”

(4) O bodisatva Maitreya disse a Sudhana: “Filho de boa família, você é afortunado por ter nascido como um ser humano e por ter encontrado o Buda e Manjusri. Tendo se tornado um receptáculo para o verdadeiro Darma, e pleno de raízes cármicas virtuosas, você purificou suas negatividades. Você está protegido por bons professores e está guardado por todos os budas, pois você gerou a determinação para alcançar a iluminação suprema. A determinação dá origem ao Budadarma, portanto, ela é a semente do Buda. A determinação cultiva darmas meritórios nas pessoas; portanto, ela é um campo fértil de sabedoria. A determinação purifica as dores dos obscurecimentos; portanto, ela é similar à água pura. A determinação reconhece o caminho incorreto; portanto, ela é um olho puro. A determinação leva à onisciência; portanto, ela é o grande caminho. A determinação abrange todas as virtudes; portanto, ela é o grande mar. A determinação é a voz maravilhosa que ressoa através do Dharmadhatu; portanto, ela é como um instrumento musical. A determinação reflete todas as faces do Darma; portanto, ela é como um espelho claro. “Ó Sudhana, assim como ninguém consegue ver a pessoa que possui o remédio da invisibilidade, aquele que possui determinação não poderá ser visto por qualquer demônio. E também, assim como uma gema colocada na água turva purifica essa água, a determinação extingue todos os obscurecimentos. Mais uma vez, assim como uma boia impede que alguém se afogue no oceano profundo, a determinação impede que alguém seja engolido pelo mar do samsara. Assim como uma vela não se exaure quando é usada para acender cem mil velas, a determinação não se exaure quando CEBB

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ilumina os budas dos três tempos. Assim como uma única chama destruirá a escuridão de um quarto escuro, a determinação destruirá a escuridão da mente e despertará a sabedoria. Assim como o poder de um leão usado para encordoar uma cítara quebrará todas as outras cordas quando a cítara for tocada, a determinação cortará os cinco desejos e outros desejos pela busca de ensinamentos inferiores. Quando o leite de uma leoa é vertido em um recipiente que contém uma mistura do leite de uma vaca, uma égua e uma ovelha, então o leite no recipiente assumirá o sabor do leite da leoa. Da mesma forma, a nutrição adquirida pela determinação supera completamente os resquícios do carma e das negatividades que se acumularam através de incontáveis kalpas. Ó filho de boa família, a determinação aperfeiçoará virtudes inexauríveis. Quando uma pessoa desperta a determinação, ela possuirá estas virtudes.”

(5) Naquele momento, o bodisatva Maitreya estalou os dedos de sua mão direita, e os portões de sua mansão de muitos andares se abriram por si mesmos. Sudhana entrou e as portas se fecharam atrás dele. O interior da mansão era tão espaçoso quanto os céus. Havia inúmeros lagos cristalinos, janelas incontáveis, e corrimões feitos dos sete tipos de joias. O interior estava adornado com bandeiras de seda e cordões de joias. A melodia dos sinos de ouro se misturava às canções dos pássaros. Pétalas de flores luminosas choviam fora de estação. Esse magnífico espetáculo era igual em cem mil mansões de muitos andares. Observando a milagrosa interpenetração e ornamentação mútua das mansões de múltiplos andares, Sudhana se alegrou e sua mente se tornou flexível, dissipando pensamentos ilusórios e rompendo a escuridão da ignorância. Quando Sudhana respeitosamente se prostrou em admiração, o CEBB

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bodisatva Maitreya se revelou em cada uma das mansões. Como a multiplicidade de formas refletidas em um espelho, Sudhana observou Maitreya se revelando de inúmeras formas para salvar deuses e pessoas. Assim como alguém se alegra ao sonhar com uma bela montanha, lago ou palácio, Sudhana também se alegrou quando foi capaz de extinguir os pensamentos ilusórios através dos poderes do bodisatva e de perceber os darmas dos três mundos. Assim como cem anos no Palácio do Dragão parecem ser apenas um momento, cem mil kalpas pareceram ser apenas um momento quando Sudhana entrou na morada do bodisatva. Então, Maitreya cessou seus poderes. Estalando os dedos ele deixou Sudhana retornar de sua meditação. Ele disse a Sudhana: “Realmente, esta sabedoria permite entrar nos três tempos e armazenar pensamentos corretos.”

(6) Sudhana agradeceu respeitosamente o bodisatva Maitreya, e prosseguiu buscando novamente o bodisatva Manjusri. Sudhana passou por cento e onze cidades e se aproximou da cidade de Samantamukha. Seu desejo unifocado de encontrar Manjusri fez com que o bodisatva aparecesse. Manjusri tocou sua nuca e disse: “Muito bem, ó filho de boa família. Se a fé for perdida, a mente dolorosamente se degenera, a disciplina não é praticada, a conduta se torna desordenada e o esforço enfraquece. Então, nós nos contentaremos com pequenas virtudes e não teremos a proteção de bons professores, nem seremos abraçados pelos pensamentos dos budas. E seremos incapazes de apreender a natureza e a essência do Darma e não compreenderemos a disciplina budista.” Este ensinamento preencheu Sudhana com a luz da sabedoria infinita. Então Manjusri conduziu Sudhana à sala de meditação de Samantabhadra, CEBB

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colocou-o em seu próprio assento, e saiu. Lá, Sudhana se comunicou com bons professores cujo número era igual ao de partículas no trichiliocosmo. Ele ampliou seu conhecimento e grande compaixão. Confortável dentro dos estáveis portões do Darma, Sudhana estava consciente de todos os reinos e praticou a disciplina do bodisatva durante todos os kalpas; ele realizou sua grande aspiração e entendeu o nome do bodisatva Samantabhadra, sua disciplina, votos e virtudes. A partir do desejo sincero de Sudhana de encontrar o bodisatva Samantabhadra, ele observou que através do poder da grande força do Buda os caminhos negativos em cada reino são extintos, e que todas as pessoas estavam praticando meditação sobre o Buda com mentes compassivas. Além disso, Sudhana estava consciente de que cada buda residindo em cada partícula de poeira no mundo era luminoso, e que cada buda estava entoando louvores à prática e aos votos do bodisatva Samantabhadra. Sudhana observou com reverência Samantabhadra ascendendo ao precioso lótus Trono de Leão, que estava diretamente em frente ao Buda. Circundado pela grande assembleia, Samantabhadra tinha uma mente tão vasta como os céus, livre de todos os obscurecimentos. Habitando a esfera da onisciência, Samantabhadra guiava as pessoas e observava os budas dos três tempos. Testemunhando

os

livres

poderes

inconcebíveis

do

bodisatva

Samantabhadra, Sudhana foi capaz de estar presente em todos os reinos a cada momento, e de encontrar cada um dos budas e de ouvir o verdadeiro Darma. Ele também foi capaz de adquirir a sabedoria livre e inconcebível do Buda, a sabedoria de conhecer os obscurecimentos de todas as pessoas, e a sabedoria que Samantabhadra possuía. As virtudes que Sudhana adquiriu ao encontrar um número infinito de bons professores não se igualavam a uma CEBB

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bilionésima parte das virtudes que Samantabhadra possuía. Mas ele, assim como o Buda, agora entendem o universo; seu reino, corpo, prática, iluminação, poder, propagação do Darma e Grande Compaixão serão iguais aos do Buda.

(7) Então, Samantabhadra recitou os seguintes versos:

(i) A luz da perfeita sabedoria rompe a escuridão da negatividade e ilumina todos os mundos para oferecer paz às pessoas. O surgimento de um Buda no mundo após incontáveis kalpas é similar ao desabrochar da flor udumbara. Um buda passa por muitas árduas disciplinas por muitos kalpas pelo benefício das pessoas; e apesar de ele vagar entre as negatividades do mundo, sua mente não é maculada.

(ii) A luz da lua crescente e minguante, que se reflete em todas as formas de água, ofusca a luz do pequeno vaga-lume. A luz da lua crescente e minguante da sabedoria do Buda, que se reflete na água da mente honesta, ofusca os ensinamentos de pequena iluminação.

Assim como todos os seres surgem no profundo e vasto oceano, no qual incontáveis gemas estão escondidas, todos os tipos de imagens aparecem no corpo puro do Buda – o profundo mar de causas e condições no qual as gemas da virtude estão armazenadas. Assim como o dragão gera nuvens, derrama as chuvas e refresca todos os seres, também o Buda dá nascimento à

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nuvem da Grande Compaixão, derrama doces chuvas e extingue os fogos dos três venenos.

(iii) O puro corpo do Buda é incomparável neste mundo; ele não é nem existente nem inexistente; nem ele é dependente de qualquer coisa. Ele não sai de seu lugar, mas viaja a todos os lugares. Assim como o espaço, que é único, princípios como talidade, natureza-própria, nirvana e estabilidade não-condicionada, que são ensinados pelo Buda, são todos sinônimos. Apesar de podermos contar o número de mentes humanas, o número de gotas de água no oceano, e a amplidão do céu vazio, não podemos relatar completamente as virtudes do Buda. Aquele que se regozija ao ouvir o Darma, e que não tem dúvidas em sua mente de fé logo alcançará a iluminação e se tornará igual a todos os budas.

FIM DO LIVRO III

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LIVRO IV

Introdução

O Buda continua suas viagens, ensinando o Darma e engajando-se em diálogos com seus discípulos e com outros, de todas as classes, que vêm a ele buscando o caminho para a iluminação. O livro IV contém passagens de três escrituras bastante conhecidas. No capítulo 2, seção 2, encontra-se o bastante apreciado Sutra do Diamante (Vajracchedika-prajnaparamita-sutra), que é um texto curto na forma de um diálogo entre o Buda e seu discípulo Subhuti. Seu propósito é revelar a Mente de Diamante do Buda, ou a Mente Absoluta da suprema iluminação. Neste discurso, o Buda tenta remover as dúvidas de Subhuti em relação à verdadeira natureza do Buda e do Darma (os ensinamentos), e se um aluno está qualificado para entender e praticar este ensinamento. O Buda explica que mesmo que um ser entre no nirvana perfeito não haveria, na verdade, alguém que entrasse no nirvana, pois um bodisatva que fez o voto de alcançar a iluminação não afirma a existência permanente de uma identidade, ou de qualquer outra coisa na vida. Ele não se apega às formas das coisas, assim ele não busca a iluminação com as formas físicas, pois ele considera todas as formas como ilusões. Subhuti se pergunta se alguém acreditaria em tais palavras. Então, o Buda pergunta a Subhuti se os budas atingiram a iluminação suprema ou se

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haveria algum Darma que o Buda deveria explicar. Subhuti responde que não há um Darma imutável que possa ser rotulado como a suprema iluminação, nem um Darma fixo que um buda deveria explicar, visto que ele não pode ser apreendido nem exposto. Segue-se a pergunta a Subhuti se os arhats encaram a iluminação que atingiram como ‘algo’ que eles atingiram. Subhuti afirma que os arhats reconhecem que não há nada que possa ser chamado de iluminação; se não fosse assim, os arhats ainda estariam presos pelo apego a si mesmos. Assim, segue-se que Subhuti não seria um arhat se ele sustentasse a ideia de ter alcançado ‘algo’. Neste princípio da Vacuidade, conceitos como Darma e iluminação devem ser usados como um bote com o objetivo de cruzar o mar do sofrimento, mas não devem ser apreendidos como verdades absolutas. De fato, todas as categorias do pensamento budista são irreais; elas são simplesmente nomes que são usados como um meio de dissolver as próprias delusões sobre a vida. No capítulo 2, seção 3, encontra-se o Sutra do Coração (Prajnaparamita-hrdaya-sutra), outro breve texto que é provavelmente a mais amplamente recitada escritura budista. Neste sutra, o protagonista é Avalokitesvara, que revela o conteúdo de sua contemplação espiritual transcendental, que foi alcançada quando ele se dedicou à prática da profunda sabedoria que leva à outra margem do Darma da iluminação. Ele descobriu que todas as coisas são vazias. As categorias doutrinárias estabelecidas pelo ensinamento budista convencional são negadas; e à luz do conceito da vacuidade a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação não existem no sentido absoluto. Na verdade não há nada a ser atingido. Este conceito leva ao altruísmo absoluto, pois são realizadas ações compassivas pelo benefício dos outros sem qualquer pensamento de CEBB

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recompensa. A sabedoria que leva à outra margem é a Sabedoria Perfeita que está condensada no dharani ‘Gate Gate Paragate Parasamgate Bodhi Svaha’, o mantra que budistas de todas as seitas recitam ao entoarem o Sutra do Coração para a extinção de todo o sofrimento. A terceira escritura, o Sutra de Vimalakirti, uma das mais antigas escrituras Mahayana, é encontrada no capítulo 4, seção 3. Ela sustenta o ideal do bodisatva e glorifica um leigo, Vimalakirti, como exemplo desta mais elevada virtude. Vimalakirti é um rico chefe de família que vive em Vaisali (páli: Vesali). Um bodisatva aplica meios hábeis para salvar os seres sencientes; assim, Vimalakirti usa sua doença como ocasião para ensinar o Darma às pessoas que vinham visitá-lo em sua cama. O Buda pede a Sariputra e aos outros discípulos, 500 no total, para visitarem Vimalakirti, mas cada um expressa uma razão para se sentir indigno de visitá-lo. Então, o Buda pede a todos os bodisatvas presentes, mas mesmo os bodisatvas declinam, explicando como em encontros prévios com Vimalakirti eles também haviam se engajado em diálogos sobre o Darma com aquele leigo iluminado, e não se sentiam qualificados para competir com ele. Finalmente, Manjusri aceita visitar Vimalakirti, que através de seus poderes sobrenaturais esvazia seu quarto de todas as coisas, exceto de sua cama para acomodar Manjusri e as centenas de discípulos e de bodisatvas que o acompanharam. Quando Manjusri lhe pergunta sobre a natureza de sua doença, Vimalakirti responde que a doença de um bodisatva é causada por sua grande compaixão por todos os seres, que estão doentes espiritualmente e que podem se curar confiando em seus meios hábeis que transfeririam a eles a Sabedoria Perfeita que leva à iluminação. Sariputra se preocupa com a falta de assentos no quarto, e assim CEBB

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Vimalakirti produz 32 000 ‘tronos de leão’ ampliando seu quarto para acomodá-los. De início, devido à altura dos assentos apenas os bodisatvas mais avançados foram capazes de sentar sobre eles. O resto do grupo teve que compreender que ainda não havia atingido a compreensão necessária do Darma. Finalmente, Vimalakirti pergunta a todos os bodisatvas como explicar a forma pela qual um bodisatva atravessa a Porta do Darma da Não-dualidade. Manjusri, que é o último a responder, declara que é não ter palavra ou fala, assim como percepção sobre quaisquer darmas e manter-se afastado de questões e respostas. Quando, finalmente, Vimalakirti é perguntado como ele acessou a Porta do Darma da Não-dualidade, ele permaneceu em silêncio. Isto ficou conhecido como o “Silêncio Ensurdecedor” de Vimalakirti. O capítulo 3, seção 4, introduz o leitor ao conceito de transferência de méritos, que foi desenvolvido em seu mais elevado grau em várias escolas Mahayana. Um bodisatva que alcançou a iluminação faz o voto de compartilhar os méritos que ele conquistou através de muitos kalpas (éons) de esforço supremo, com todos os seres sencientes. Quando o bodisatva se torna um buda e estabelece sua terra búdica, todos aqueles que são incapazes de alcançar a compreensão do Darma através de seus próprios pequenos esforços podem confiar na Grande Compaixão todo-abrangente do Buda para ajudá-los a atravessarem para a margem da iluminação.

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LIVRO IV Capítulo I - A ESSÊNCIA DA MENTE DO BUDA

1. A Sabedoria do Buda

(1) Partindo dali, o Honrado pelo Mundo viajou por Kosala e chegou à cidade de Kapilavatthu. O rei do clã Sakya, Mahanama, foi avisado e se apressou a visitar o Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo disse: “Mahanama, eu gostaria de ter um alojamento dentro da cidade para mim esta noite.” O rei concordou e buscou um local para alojar o Buda dentro da cidade; entretanto, ele não conseguiu encontrar um lugar adequado. Com isso, ele voltou para o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, não há um alojamento adequado dentro da cidade. Portanto, eu gostaria que você passasse a noite na casa de Bharandu Kalama que, no passado, foi seu discípulo.” O Buda disse: “Neste caso, eu gostaria que você preparasse minha cama.” Mahanama preparou a cama, disponibilizou água para lavar os pés e conduziu o Honrado pelo Mundo até a casa. Ao nascer do dia ele visitou novamente o Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo disse: “Mahanama, neste mundo há três tipos de professores. O primeiro tipo ensina a diferenciação dos desejos, mas não ensina a diferenciação entre as

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coisas e as sensações. O segundo tipo ensina a diferenciação entre os desejos e as coisas, mas não ensina a diferenciação das sensações. O terceiro tipo ensina as diferenciações que existem entre os desejos, as coisas e as sensações. Mahanama, esses três professores buscam o mesmo refúgio ou eles buscam refúgios diferentes?” Kalama sugeriu: “Digamos que eles buscam o mesmo refúgio.” O Honrado pelo Mundo disse: “Digamos que eles buscam refúgios diferentes.” Eles repetiram isto três vezes. Kalama pensou consigo: “Três vezes o Honrado pelo Mundo me envergonhou na presença de Mahanama; chegou a hora de eu deixar Kapilavatthu.” Então ele partiu para nunca mais voltar.

(2) O Honrado pelo Mundo permaneceu, então, por um tempo em uma floresta nigrodha. Mahanama visitou o Honrado pelo Mundo todos os dias. Um dia, ele perguntou: “Honrado pelo Mundo, neste momento Kapilavatthu está florescendo; o congestionamento de pessoas e cavalos é algo notável. Após realizar meus serviços para com o Honrado pelo Mundo e seus discípulos eu retorno para casa à noite; mas, no caminho, encontro um congestionamento de elefantes, cavalos, carruagens e pessoas movendo-se em confusão. Devido a isto, eu tendo a esquecer quaisquer pensamentos sobre o Buda, o Darma e os discípulos do Buda. Se eu morrer num momento destes, onde renascerei?” O Buda disse: “Mahanama, não há nada a temer. Sua morte não seria desafortunada. Se você tiver cultivado sua mente diariamente com os preceitos, reflexão, generosidade desinteressada e sabedoria, não importa quando ou onde o seu corpo morra, a sua mente irá para um lugar excelente. Suponha que você quebre duas jarras cheias de leite e óleo em um lago de água. Os cacos quebrados das jarras descerão até o fundo, mas o leite e o óleo CEBB

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flutuarão no topo. Você tem cultivado sua mente diariamente com os preceitos, reflexão, generosidade desinteressada e sabedoria; portanto, sua morte não será desafortunada. Mahanama, aqueles que sustentam uma fé indestrutível no Buda, no Darma e na Sanga, e que obedecem aos preceitos elogiados pelos arhats entrarão, infalivelmente, no nirvana. Isto é tão certo quanto uma árvore que se inclina para o leste, ao ser cortada tombe para o leste. Não importa quando a morte chegue para você, ela não será de forma alguma desafortunada.”

(3) Um dia Mahanama visitou o Honrado pelo Mundo e perguntou: “Honrado pelo Mundo, como você determina quem é um devoto budista?” O Buda disse: “Mahanama, ao simplesmente tomar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga, a pessoa será devota.” Mahanama perguntou: “Honrado pelo Mundo, o que significa para um devoto dominar os preceitos, possuir fé, generosidade desinteressada e sabedoria?” O Buda disse: “Mahanama, os preceitos de um devoto são aqueles que o proíbem de tirar vidas, roubar, cometer atos lascivos, mentir e ingerir bebidas alcoólicas. A fé do devoto é possuir fé na iluminação do Buda. Generosidade desinteressada por parte do devoto é afastar a mente avarenta e miserável e se regozijar em atos de generosidade, enquanto vive em uma casa em vez de um monastério. A sabedoria do devoto é conhecer a verdade de que todas as coisas nascem e perecem; é ter repulsa pelo mundo da ganância e abandoná-lo. É conhecer o caminho que leva à cessação do sofrimento.”

(4) O Honrado pelo Mundo passou três meses em retiro na floresta nigrodha. Arrumando seus mantos, ele estava prestes a iniciar uma nova viagem. Mahanama ficou sabendo disto e, aproximando-se do Buda, disse: CEBB

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“Honrado pelo Mundo, você arrumou seus mantos e está a ponto de partir. Como deveria um devoto, que você acabou de descrever, visitar e consolar outro devoto que se encontra doente na cama? O que ele deveria fazer?” O Buda disse: “Mahanama, um devoto deveria visitar seu amigo doente e encorajar seu ânimo com os quatro consolos. Ele deveria consolar seu amigo doente com estas palavras: ‘Amigo, você tem sustentado uma fé indestrutível no Buda, no Darma e na Sanga. Você tem seguido os preceitos louvados pelos arhats. Estes quatro são os seus consolos.’ Então, deveria dizer: ‘Você tem apego aos seus pais?’ Se o amigo doente responder que tem, então deve-se dizer: ‘Quer você tenha apego ou não, você terá que morrer; portanto, você deveria se afastar de todo apego pelos seus pais.’ Se ele disser que não possui tal apego, então deve-se dizer: ‘Você tem apego por sua esposa e filhos?’ Se ele responder que tem, então deve-se incitá-lo com estas palavras: ‘Você terá que morrer; portanto, deveria abandonar seu apego por esposa e filhos.’ Se ele disser que abandonou o apego a esposa e filhos, então deve-se dizer: ‘O apego aos cinco desejos dos seres humanos ainda permanece?’ Se ele responder que sim, então deve-se ensiná-lo: ‘Os prazeres do mundo celestial vão muito além dos cinco desejos do mundo humano. Ao abandonar o apego ao mundo humano deixe sua mente encontrar prazer no mundo celestial.’ Fortalecendo gradualmente a sua determinação, deve-se ensiná-lo: ‘Os mundos dos deuses também são transitórios; portanto, você deveria direcionar sua mente para o nirvana.’ Se o devoto doente abandonar o mundo dos deuses, pensar sobre o nirvana e libertar-se de todas os obscurecimentos, então não haverá diferença entre ele e um discípulo mendicante.”

(5) O Honrado pelo Mundo partiu de Kapilavatthu e prosseguiu para CEBB

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Kusinara onde, na floresta de Baliharana, permaneceu e ensinou seus discípulos: “Discípulos, vivendo nas proximidades de uma vila ou cidade vocês serão convidados pelos leigos e receberão comida suntuosa como oferenda. Se vocês se deliciarem com isto, pensando: ‘Por favor, convide-me outras vezes!’, vocês serão presos pela comida. Vocês estarão ignorando o caminho que os libera deste mal. Disto resultam sentimentos de cobiça, raiva e malícia. Atos de generosidade realizados por tal pessoa não trazem grandes resultados, pois ela é negligente. Por outro lado, se vocês forem convidados e lhe oferecerem comida suntuosa e, mesmo assim, vocês não ficarem aprisionados pela comida e forem capazes de perceber o mal que há nisto, vocês estarão livres dos sentimentos de cobiça, raiva e malícia. Devido a sua diligência, atos generosos realizados trarão grandes resultados. “Discípulos, mesmo pensar em um lugar onde as pessoas estão constantemente enredadas em brigas é desagradável, onde elas se apunhalam com línguas afiadas. E muito menos vocês terão vontade de visitá-las. Essas pessoas estão enlouquecidas pelos três pensamentos de cobiça, raiva e malícia. Comparado a essa situação, é agradável pensar em lugares onde todos são amigáveis uns com os outros, convivendo como leite e água. E é ainda muito mais agradável ir até tal lugar. Essas pessoas abandonaram todos os pensamentos de cobiça, raiva e malícia.

(6) “Discípulos, há três tipos de pessoas que são raramente vistas neste mundo. O primeiro tipo é um buda. O segundo é alguém que expõe e dissemina o Darma. O terceiro é alguém que despertou para seu débito de gratidão e alegria. “Discípulos, existem três tipos de pessoas no mundo. O primeiro é uma pessoa cuja natureza é facilmente reconhecida. Ela é arrogante, descuidada, CEBB

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tagarela e sempre inquieta. O segundo é uma pessoa cuja natureza é difícil de apreender. Ela é silenciosa, humilde, cuidadosa com todas as coisas, alguém de poucas palavras e que suprimiu sua cobiça. O terceiro é uma pessoa cuja natureza não pode ser reconhecida. Ela é uma pessoa que extinguiu completamente todos os obscurecimentos. “Discípulos, no mundo existem aqueles que cometem transgressões de três formas: nas ações, no modo de vida e nas visões. Aqueles que cometem transgressões através das ações matam seres vivos, roubam, cometem atos lascivos, mentem, difamam, cospem palavras que destroem a harmonia das coisas e tagarelam infinitamente. Aqueles que cometem transgressões no modo de vida ganham seu sustento de formas imorais. Aqueles que cometem transgressões nas visões sustentam visões errôneas como: ‘Nem a generosidade desinteressada nem as oferendas são necessárias. Não há ações negativas ou boas, nem há frutos que resultem destes atos. Nem este mundo nem outros existem. Não é necessário realizar ações de piedade filial, alcançar a iluminação ou tornar-se um mendicante.’ “Discípulos, vocês deveriam sempre se esforçar para purificar as três ações realizadas por corpo, fala e mente. Purificar suas ações de corpo significa não matar criaturas vivas, não roubar e não cometer ações lascivas. Purificar suas ações verbais significa não lançar mentiras, não difamar os outros, abster-se de usar palavras que rompam a harmonia das coisas e não tagarelar continuamente. Purificar suas ações mentais significa não ansiar por coisas, não se enraivecer e guardar visões corretas. “Discípulos, existem três tipos de grupos: grupos que possuem líderes, grupos desorganizados e grupos harmônicos. Nos grupos que possuem líderes, o líder se abstém da extravagância, é diligente em seus estudos e se esforça em suas tentativas para atingir a iluminação. Seus seguidores imitam CEBB

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seu líder e se aplicam com diligência. Esta é a natureza dos grupos com líderes. Quando aos grupos desorganizados, quando surgem conflitos nestes grupos eles se atacam com suas línguas afiadas. Grupos harmônicos são aqueles nos quais todos são amigáveis uns com os outros, unindo-se como leite e água. Inúmeras virtudes são produzidas no terceiro grupo. As pessoas do terceiro grupo levam a mesma vida que um buda. Suas mentes estão plenas de alegria; e por virtude desta alegria elas alcançam méritos. Devido a estes méritos seus corpos ficam relaxados. Como elas estão em harmonia umas com as outras, elas gradualmente produzem estas virtudes. Suas mentes experimentam alegria, e evitando as confusões elas são capazes de chegar a uma mente única. Isto é como a forte chuva que se derrama sobre o topo da montanha. A água desce e é recolhida em poças, em pequenos córregos e em grandes rios, e no final ela preenche o grande oceano.

(7) “Discípulos, se o cavalo de um rei possuir os três traços de beleza, força e rapidez, esse cavalo poderá se tornar o corcel pessoal do rei. Se um discípulo do Buda possuir esses três traços esplêndidos ele receberá oferendas do mundo e se tornará um campo, insuperável em excelência, que produz méritos. A beleza do discípulo do Buda significa que ele obedece aos preceitos, segue as boas práticas, restringe seus desejos, treme mesmo diante de uma pequena transgressão e esforça-se na prática do caminho. A força do discípulo do Buda significa que ele adquire a força para esforçar-se no caminho, abandona o mal e é sincero em sua prática do bem. A rapidez do discípulo do Buda significa que ele realmente conhece o ensinamento das Quatro Nobres Verdades. Aqueles que possuem estes três traços esplêndidos são campos que produzem méritos; esses campos são insuperáveis neste mundo em sua excelência. CEBB

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(8) “Discípulos, se um soldado a serviço do rei é capaz de atirar suas flechas com a velocidade de um raio, se ele pode atirar à distância e se ele consegue acertar um alvo distante, ele poderá se tornar um valoroso guardacostas para o rei. Da mesma forma, os discípulos do Buda que são capazes de realizar estas três ações podem se tornar dignos de receber as oferendas do mundo, e de se tornarem campos que produzem méritos insuperáveis em excelência. “Atirar à distância, no caso dos discípulos do Buda, significa que em todas as ocasiões eles se libertam do apego às ideias de ‘eu’ e ‘meu’, e guardam a verdadeira sabedoria. Atirar com a velocidade de um raio significa conhecer o ensinamento das Quatro Nobres Verdades. Além do mais, acertar um alvo distante significa romper e destruir a escuridão da ignorância. Os discípulos do Buda que possuem estes três traços são campos que produzem méritos insuperáveis neste mundo.

(9) “Discípulos, para verdadeiramente conhecer o que é a cobiça e para libertar-se dela, devem-se praticar os três Darmas: vacuidade, ausência de formas e ausência de desejos. Para saber o que a raiva, a ignorância e todos os outros obscurecimentos são e para extingui-los, devem ser praticados os três Darmas: vacuidade, ausência de formas e ausência de desejos. “Discípulos, entre os tecidos, aqueles feitos de cabelos são os de pior qualidade; quando está frio, o tecido dá calafrios; quando está quente, ele traz calor. Seu cheiro é ruim, é feio e desagradável ao toque. Assim como tecidos de cabelo, Makkhali Gosala é da pior qualidade. Ele propaga a visão maligna: ‘Nem as ações nem suas consequências existem; não há necessidade de fazer esforços.’ Entretanto, discípulos, tanto os budas do passado quando do futuro CEBB

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expõem sobre as ações e suas consequências; eles também ensinam sobre a necessidade de fazer esforços no caminho. Eu, o Buda do presente, ensino da mesma forma. O ignorante Makkhali, entretanto, vai contra os budas dos três mundos ao afirmar: ‘Nem as ações nem suas consequências existem; não há necessidade de fazer esforços.’ Ele é como uma rede montada na boca de um rio. Para incontáveis peixes se torna aquela rede uma fonte de ferimentos, dor e morte. Assim como essa rede, Makkhali surgiu para ferir, causar sofrimento e matar incontáveis seres humanos.”

2. Diálogos com Professores Não-Budistas (1) O Honrado pelo Mundo partiu de Kusinara e viajou para Vesali. Lá, na grande floresta, ele descansou no salão de palestras de múltiplas fileiras. Naquela época, muitos brâmanes foram enviados para aquela área em uma missão pelos dois países de Kosala e Magadha. Eles ouviram que o Honrado pelo Mundo se encontrava na grande floresta e decidiram visitá-lo. Eles perguntaram ao atendente do Buda, Nagita: “Onde está o Honrado pelo Mundo agora?” Nagita respondeu: “Ele acabou de ir para o seu quarto; portanto, vocês não poderão vê-lo agora.” Os brâmanes ficaram esperando pelo momento em que poderiam passar. Otthaddha do clã Licchavi também veio visitar o Honrado pelo Mundo, trazendo consigo um grande número de membros do seu clã. Ele sentou ao lado e esperou por uma oportunidade de encontrar o Honrado pelo Mundo. Nesse momento, o sobrinho de Nagita, Siha, um discípulo noviço que estava por perto, disse a Nagita: “Um grande número de pessoas veio ver o

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Honrado pelo Mundo, eu acho que seria adequado informá-lo.” Nagita disse: “Neste caso, Siha, você deve informar o Honrado pelo Mundo.” Siha disse: “Muito bem”, e ele levou a mensagem ao Honrado pelo Mundo.

(2) Seguindo as instruções do Honrado pelo Mundo eles prepararam um assento à sombra na frente do monastério. O Honrado pelo Mundo saiu de seu quarto e sentou-se naquele assento. Os brâmanes reverentemente se curvaram em saudação e se sentaram por perto. Otthaddha disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, dois ou três dias atrás, Sunakkhatta do clã Licchavi veio até minha casa e disse: ‘Mahali, três anos se passaram desde que eu vim para viver próximo ao Honrado pelo Mundo. Durante esse tempo eu tenho testemunhado cenas inspiradoras dos deuses preenchendo as aspirações das pessoas. Entretanto, eu ainda não ouvi as vozes dos deuses.’ Honrado pelo Mundo, há tal coisa como as vozes dos deuses?” O Honrado pelo Mundo disse: “Mahali, naturalmente há tal coisa como as vozes dos deuses.” Mahali disse: “Nesse caso, por que Sunakkhatta é incapaz de ouvir essas vozes?” O Buda disse: “Mahali, um discípulo que deseje ver as aparências esplêndidas dos deuses entra em meditação sem perder sua concentração; esse discípulo irá, com certeza, enxergar as belas figuras dos deuses. E como ele deseja ouvir as belas vozes dos deuses ele entra em meditação; com certeza ele as ouvirá.” Mahali disse: “Honrado pelo Mundo, os discípulos do Buda se dedicam às práticas puras sob a orientação do Honrado pelo Mundo porque querem atingir tal meditação?” O Buda disse: “Mahali, não é por isto. Eles praticam para alcançar um Darma que é muito mais esplêndido e maravilhoso. Mahali, caso você se libertasse dos três grilhões você entraria no estágio de um ‘vencedor da corrente’, tendo entrado na corrente que leva ao estado búdico. Você nunca mais seguiria um caminho CEBB

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negativo e, no final, atingiria a iluminação. Se você se libertasse dos três grilhões e diminuísse os obscurecimentos da cobiça, raiva e ignorância, você entraria no estágio de ‘mais um retorno’, no qual você renasceria apenas mais uma vez neste mundo e alcançaria o fim de todo sofrimento. Se você cortasse os cinco obscurecimentos que o prendem a este mundo você renasceria no mundo celestial, e entraria no estágio de ‘não-retorno’, no qual você nunca mais retornaria a este mundo e entraria no nirvana. Se você extinguisse o fluxo agitado dos quatro obscurecimentos do desejo, da existência, da ignorância e da visão deludida, você alcançaria a iluminação neste mundo e se tornaria um arhat. Mahali, para alcançar esse estado sublime os discípulos praticam as práticas puras sob minha orientação e atingem estes quatro estágios.” “Honrado pelo Mundo, qual é o caminho que leva a esse estado sublime?” O Buda disse: “Mahali, é o Nobre Caminho Óctuplo da visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, concentração correta e meditação correta.”

(3) “Mahali, anteriormente, quando eu morava no Monastério Ghosita em Kosambi, o peregrino Mandissa e o discípulo de Darupattika, Jaliya, vieram me visitar, perguntando se a alma e o corpo eram a mesma coisa ou se eram diferentes. Naquele momento, eu disse: ‘Jaliya, um buda nasce neste mundo e atinge a iluminação, e então ele ensina os outros. Alguém ouve esse ensinamento; despertando uma mente de fé ele se torna um mendicante. Observando os preceitos, ele se disciplina. Ele pratica corretamente e experimenta alegria. Ele mantém o temor mesmo diante de pequenas transgressões; protegendo as portas dos cinco órgãos dos sentidos, ele é dotado da verdadeira sabedoria. Ele não mata criaturas vivas; ele está pleno CEBB

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de compaixão. Ele não rouba; ele purifica sua mente. Libertando-se de atos lascivos, ele não emite mentiras ou falas grosseiras. Ele leva uma vida sem máculas; ele se liberta da cobiça, evita a raiva e deixa o torpor para trás. Sua mente está livre da impaciência, do remorso e da dúvida. Ele purifica sua mente. Então, quando tal discípulo pratica desta forma ele alcança a alegria e o bem-estar e entra em meditação. Você acha que esta questão sobre a alma e o corpo é vista como um problema para ele?’ Jaliya disse: ‘Honrado pelo Mundo, esse tipo de problema não se apresentaria.’ “Então, eu disse: ‘Jaliya, eu também percebo e vejo as coisas desta forma; portanto, eu não me ocupo com o problema de o corpo e alma serem o mesmo ou diferentes. Jaliya, o mesmo discípulo gradualmente aprofunda sua meditação, e finalmente sua mente é preenchida por um sentimento de pureza e lucidez. Sua mente se torna imune a todo o sofrimento. Nessa ocasião, ele contempla seu corpo; ele percebe que seu corpo é composto por elementos físicos e que ele nasceu de seu pai e sua mãe. Ele percebe que está sendo sustentado por comida, que não é uma entidade permanente, e que irá, no final, perecer. Progredindo ainda mais ele percebe exatamente a verdade das Quatro Nobres Verdades. Ele se emancipa do obscurecimento da cobiça e desperta para o insight de que ele, de fato, atingiu a emancipação. Jaliya, esse discípulo percebe e vê desta maneira. Você acha que ele fica ponderando se o corpo e a alma são o mesmo ou se são diferentes?’ Jaliya disse: ‘Honrado pelo Mundo, ele não se faria tal pergunta.’ Então eu disse: ‘Jaliya, eu também percebo e vejo as coisas desta forma; portanto, eu nunca dou ensinamentos sobre o tema de o corpo e a alma serem iguais ou diferentes.’ Mahali, através de diálogos como este Jaliya ficou satisfeito com meu ensinamento e voltou para casa.” Otthaddha e todos os brâmanes ouviram este discurso do Buda e se regozijaram. CEBB

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(4) O Honrado pelo Mundo continuou com suas viagens, e após o final do ano ele entrou em Rajagaha e subiu a montanha chamada de Pico dos Abutres. Naquela época, o peregrino Nigrodha e três mil de seus discípulos se encontravam num bosque vizinho que havia sido dado à Sanga pela Rainha Udumbarika. Certo dia, um discípulo leigo chamado Sandhana estava em seu caminho para visitar o Honrado pelo Mundo. Enquanto caminhava, ele pensava: “O Honrado pelo Mundo se retirou e entrou em meditação; seus discípulos também seguiram seu exemplo. Eu não deveria visitá-lo agora. Irei visitar o peregrino Nigrodha que está no Parque Udumbarika.” Sandhana, então, dirigiu-se àquele bosque. Naquele momento, Nigrodha, circundado por seus discípulos, estava falando em alta voz. Eles estavam todos engajados em fala inútil, trocando histórias sobre reis, bandidos, ministros do palácio, exércitos, roupas e comida, fantasmas e outros assuntos aleatórios. Vendo Sandhana à distância à medida que se aproximava, Nigrodha disse: “Todos vocês, fiquem quietos! Mantenham suas vozes baixas! Um discípulo de Gotama, Sandhana, está vindo até nós. Os discípulos de Gotama desfrutam a estabilidade e louvam aqueles que são silenciosos. Se permanecermos em silêncio, ele poderá pensar que esta é uma assembleia silenciosa.” Seus discípulos se calaram com estas palavras. Logo chegou Sandhana, e disse: “Homens de grande virtude, parece que vocês estavam envoltos animadamente em fala inútil. Meu professor, o Honrado pelo Mundo, senta-se em profunda meditação em florestas desertas e silenciosas que facilitam a contemplação interior.” Nigrodha disse: “Ó discípulo leigo, você sabe com quem Gotama conversa e de quem ele recebe sabedoria? Gotama vive em uma casa deserta e manifesta uma sabedoria excêntrica. A sabedoria que ele alcançou está CEBB

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separada da tradição. Portanto, ele vaga tristemente por algum canto. Ele é como uma vaca de um olho só caminhando sem rumo ao longo das bordas de um pasto. Se ele aparecesse por aqui, iríamos esmagá-lo com uma questão. Iríamos surpreendê-lo como se ele fosse um barril vazio.”

(5) Naquele momento, por acaso estava o Honrado pelo Mundo descendo do Pico dos Abutres e caminhava pelos espaços abertos do Jardim do Pavão, localizado próximo ao Lago Sumagadha. Nigrodha o avistou e silenciou seu grupo, ponderando sobre as questões que ele faria quando o Honrado pelo Mundo chegasse até eles. Ele preparou sua mente e esperou. Finalmente, o Honrado pelo Mundo chegou e sentou no assento preparado para ele. Ele perguntou o propósito deles estarem reunidos ali. Nigrodha respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu o vi passeando pelo Jardim do Pavão e pensei comigo que se você viesse até aqui eu deveria perguntarlhe sobre o Darma com o qual você cultiva seus discípulos. Portanto, eu acabei de encerrar minha fala.” O Buda disse: “Nigrodha, seria difícil para alguém como você, que é diferente de mim tanto no ensinamento quanto na visão, compreender meus ensinamentos. Ao invés disso, você deveria esclarecer o seu próprio ensinamento magnífico de renúncia, perguntando: ‘Como posso aperfeiçoar minhas práticas ascéticas e minha renúncia à cobiça?’”

(6) Os peregrinos que estavam sentados em filas no encontro exclamaram em alta voz: “Gotama realmente possui grandes poderes. Sem colocar suas próprias afirmações ele faz com que seu oponente fale sobre as próprias asserções.” Nigrodha silenciou o clamor e disse: “Honrado pelo Mundo, nós mantemos as práticas ascéticas e a renúncia ao mundo como CEBB

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nossas doutrinas principais. Nós nos baseamos nestas duas doutrinas. Como podemos aperfeiçoar nossas práticas ascéticas e nossa renúncia?” O Buda disse: “Nigrodha, pode-se dizer que vocês aperfeiçoaram suas práticas ascéticas e sua renúncia ao mundo dedicando-se às práticas descritas a seguir? Vocês vivem nus, não seguindo as convenções do mundo. Em relação ao alimento, vocês se recusam a aceitar convites para uma refeição mesmo quando feitos por alguém que pratica a generosidade desinteressada. Vocês não atendem a pedidos para esperar por uma oferenda de comida. Vocês recusam a comida trazida até vocês. Temendo danificar os potes e panelas, vocês se recusam a aceitar comida da boca desses potes de panelas. Vocês se recusam a aceitar comida preparada apenas para vocês. Vocês recusam a comida de um lugar onde duas pessoas estejam jantando. Vocês recusam a comida de uma mulher grávida. Vocês recusam a comida de uma mulher que esteja amamentando. Vocês recusam a comida de uma casa onde homens e mulheres estejam se divertindo. Vocês recusam a comida que foi conseguida para vocês em tempos de carestia. Vocês recusam a comida preparada para vocês em uma casa que possui cães. Vocês recusam a comida de uma casa cheia de moscas. Vocês se abstêm de comer peixe e carne, e de beber qualquer tipo de bebida alcoólica. Vocês aceitam um bocado de comida de uma casa e retornam para os seus lares. Vocês aceitam dois bocados de comida de duas casas e retornam para os seus lares. Vocês aceitam até sete bocados de comida de até sete casas e retornam para os seus lares. Satisfeitos com isto, vocês se sustentam com essas comidas. Vocês comem uma refeição por dia, ou uma refeição a cada sete dias. Vocês fazem jejum por duas semanas. Quando comem, vocês comem apenas salsa selvagem, cascas de cereais sujas, restos do processo de arrancar as peles de animais, farelo de arroz, comida queimada deixada em um pote, restos de óleo de semente de CEBB

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colza, esterco de vaca, raízes de árvores e frutos podres que caíram no chão. Com relação às roupas, vocês se cobrem com cânhamo e outros tecidos grosseiros, com trapos retirados de latas de lixo, com cascas de árvore, pelos de animais, grama ou tecidos costurados com cabelos humanos ou com penas da cauda ou penas comuns. Vocês praticam arrancando suas barbas e cabelos. Vocês praticam em pé por longos períodos. Vocês praticam de cócoras continuamente. Vocês praticam deitados em camas de espinhos. Vocês praticam dormindo sobre a grande terra. Vocês praticam besuntando os corpos com óleo. Vocês praticam cobertos por pó e dormindo normalmente de lado. Vocês praticam comendo coisas imundas, sem beber água e imergindo na água.” Nigrodha disse: “Honrado pelo Mundo, eu penso que atingi a perfeição de todas essas práticas ascéticas.”

(7) O Buda disse: “Agora irei apontar os obscurecimentos que surgem das práticas ascéticas e da renúncia ao mundo que você acredita ter aperfeiçoado. Vamos dizer que um asceta consumou as práticas ascéticas. Devido a isto ele experimenta alegria e orgulho por ter consumado as práticas ascéticas. Este é o primeiro obscurecimento. Em seguida, por ter completado fielmente as práticas ascéticas ele se vê como elevado e menospreza os outros. Este é o segundo obscurecimento. Em seguida, ele fica embriagado com a alegria e orgulho por ter passado por tais práticas ascéticas. Ao mesmo tempo, ele resvala para a negligência. Este é o terceiro obscurecimento. Em seguida, em virtude dessas práticas ascéticas ele alcança fama, veneração e lucros, e se regozija. Este é o quarto obscurecimento. Em seguida, por ter alcançado fama, veneração e lucros ele se vê como elevado e menospreza os outros. Este é o quinto obscurecimento. Em seguida, ele fica embriagado com a fama e os lucros e cai na negligência. Este é o sexto CEBB

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obscurecimento. Em seguida, ele começa gradualmente a escolher a sua comida; ele desperta o apego pela comida e falha em ver o mal por trás disto. Este é o sétimo obscurecimento. Em seguida, ele gradualmente se enche de orgulho por sua fama e orgulho, esperando que todos, reis e ministros inclusive, venerem-no. Este é o oitavo obscurecimento. Em seguida, ele olha para os outros mendicantes e os repreende, dizendo que são extravagantes e se permitem comer qualquer tipo de comida. Este é o nono obscurecimento. Em seguida, ele percebe outros mendicantes recebendo oferendas e desperta o sentimento de ciúmes, pensando: ‘Nesta casa eles fazem oferendas a pessoas tão extravagantes ao invés de venerarem um verdadeiro asceta como eu.’ Este é o décimo obscurecimento. Em seguida, ele começa a praticar em lugares que são vistos pelas pessoas. Este é o décimo primeiro obscurecimento. Em seguida, ele ostenta suas virtudes; visitando as casas dos leigos ele se gaba que essas virtudes são apenas uma pequena parte de suas práticas ascéticas. Este é o décimo segundo obscurecimento. Em seguida, ele começa a mentir, clamando ser capaz de suportar aquilo que ele, na verdade, é incapaz de suportar. E ele clama, por outro lado, que não é capaz de suportar aquilo que é suportável. Este é o décimo terceiro obscurecimento. Em seguida, ele desaprova o Darma ensinado pelo Buda e por seus discípulos. Este é o décimo quarto obscurecimento. Em seguida, ele guarda raiva e ódio e desperta os obscurecimentos da omissão, arrogância, ciúmes, avareza, engano, fraude, estupidez, orgulho, desejos maldosos e assim por diante; ele é acorrentado pelo mundo. Este é o décimo quinto obscurecimento. Nigrodha, se o que foi dito é verdadeiro, então as práticas ascéticas e a renúncia ao mundo apresentam obscurecimentos que denigrem o discípulo. Mesmo que eles não possuam tais obscurecimentos, estas práticas de ascetismo e renúncia ao mundo não são os estágios finais da CEBB

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iluminação. “Esse asceta segue adiante e se abstém de matar, roubar, mentir e das indulgências nos cinco desejos. Ele mantém os preceitos das quatro restrições, retira-se para um local isolado e senta-se em meditação. Ele se liberta dos cinco obscurecimentos que impedem a iluminação: desejos, raiva, torpor, agitação e remorso, e dúvida. Com as quatro mentes ilimitadas da afeição, compaixão, alegria e equanimidade ele satisfaz todos os mundos. Em seguida, lembrando-se de suas vidas passadas ele percebe seus carmas; ele percebe as diferenças que existem entre as pessoas e adquire o poder de ler suas mentes. Nigrodha, tendo alcançado tal estágio, pela primeira vez ascetismo e renúncia ao mundo chegam ao estágio final. De início você me perguntou sobre o ensinamento através do qual eu cultivo meus discípulos, e pelo qual meus discípulos são confortados. Meu ensinamento ultrapassa amplamente os ensinamentos do ascetismo e da renúncia ao mundo” Quando ele expôs este Darma os peregrinos que estavam sentados em filas gritaram: “Não há professor que supere este professor; não há ninguém igual a ele.” Eles louvaram o Buda do fundo de seus corações.

(8) Naquele momento, Sandhana disse: “Venerável Nigrodha, em minha presença você discordou do Honrado pelo Mundo de muitas diferentes formas. Assim, você deveria surpreender o Honrado pelo Mundo como um barril vazio, como você disse que faria.” Ouvindo isto, Nigrodha inclinou sua cabeça e não foi capaz de responder. O Honrado pelo Mundo perguntou: “Nigrodha, o que Sandhana diz é verdade?” Nigrodha ficou aflito e expressou contrição por seus erros, dizendo: “Honrado pelo Mundo, minha mente estava confusa, assim eu disse tais coisas.” O Buda disse: “Nigrodha, você ouviu os professores dizerem: ‘Os Iluminados do passado reuniam um CEBB

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grande número de discípulos que, em alta voz, entregavam-se à fala inútil sobre histórias de reis, ministros, bandidos, exércitos e assim por diante?’ Ou você os ouviu dizer: ‘Os Iluminados do passado sentavam-se em meditação em florestas isoladas e silenciosas apropriadas para a contemplação?’” Nigrodha disse: “Honrado pelo Mundo, eu os ouvi afirmando a segunda opção.” O Buda disse: “Nigrodha, enquanto você ainda possui sabedoria e pensamento correto e é um homem maduro, por que você não diz: ‘O Honrado pelo Mundo atingiu a iluminação, e para o bem da iluminação ele expõe o caminho. Disciplinando-se ele expõe o Darma de forma que outros possam se disciplinar; colocando um fim aos seus obscurecimentos, ele expõe o Darma com o objetivo de pôr um fim aos obscurecimentos dos outros. Ele atravessou para a outra margem da iluminação, e para o benefício da salvação dos outros, ele expõe o Darma; ele entrou no nirvana e, para ajudar os outros a entrarem no nirvana, ele expõe o Darma.’” Nigrodha disse: “Honrado pelo Mundo, sendo ignorante e com minha mente confusa eu fui dominado pelas transgressões. Por favor, ajude-me a me abster de repetir as mesmas transgressões novamente, perdoando minhas transgressões.” O Buda disse: “Nigrodha, sem dúvidas sua mente estava confusa e você foi dominado pelas transgressões. De forma que você possa, nos dias vindouros, disciplinar-se, eu perdoarei suas transgressões. Nigrodha, eu digo isso a você: ‘Adiante-se, você que possui sabedoria, você que nem engana nem trapaceia os outros. Você de mente correta, agora exporei o Darma. Se você seguir e praticar o Darma irá realizar o objetivo do mendicante em sete anos, ou em um ano, ou em sete dias.’ Nigrodha, você não deveria pensar: ‘Gotama fala desta forma porque quer me fazer seu discípulo, porque ele quer nos afugentar desta área, porque ele quer nos privar do nosso modo de vida, ou porque ele quer nos fazer deixar o bem e quer nos aproximar do CEBB

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mal.’ Veja seu professor como seu professor; veja o seu lugar como seu lugar; veja seu modo de vida como seu modo de vida. Eu exponho o Darma de forma que você possa se afastar dos caminhos que criam as sementes que o levarão ao ciclo delusório de nascimentos e mortes. Se você treinar desta forma seus modos maculados serão afastados; seus elementos puros aumentarão; e você será capaz de manifestar a perfeita sabedoria.” A multidão de peregrinos que havia se reunido ao redor do Buda permanecia em silêncio e olhava para baixo. Parecendo inquietos, eles permaneciam sentados. O Honrado pelo Mundo, com compaixão, pousou seus olhos sobre esses homens vazios, que estavam presos por demônios malignos e que não estavam inclinados a seguir as práticas com o objetivo de atingir o nirvana, mesmo por sete dias. Ele olhou para eles com pena e retornou ao Pico dos Abutres.

3. O Monarca Universal (1) Então o Honrado pelo Mundo viajou pelo país de Magadha e, finalmente, parou em Matula. Lá ele ensinou seus discípulos: “Discípulos, sejam como lâmpadas para vocês mesmos; sejam um refúgio para vocês mesmos. Considerem o Darma sua lâmpada e refúgio. Vocês não deveriam tomar outros como sua lâmpada e refúgio. Esforcem-se com diligência e assumam o pensamento correto. Percebam que seus corpos são impuros, que tudo pelo qual vocês passam é sofrimento, que suas mentes estão em fluxo e que todas as coisas são destituídas de essências permanentes. Se vocês perceberem estas verdades, libertarem-se da cobiça mundana e se afastarem

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do pesar, vocês mesmos e o Darma se tornarão lâmpadas e refúgios. Não tomem os outros como suas lâmpadas e refúgios.

(2) “Discípulos, quando vocês viajarem, viajem pelas terras de seus ancestrais. Demônios malignos não encontrarão oportunidades para tirar vantagem de vocês e seus méritos se multiplicarão. Discípulos, no passado distante havia um monarca universal chamado Dalhanemi. Inicialmente ele governou seu país de forma justa. Então, ele subjugou as áreas fronteiriças. Ele era dotado com os sete tesouros: a roda preciosa, o elefante precioso, o cavalo precioso, a joia preciosa, a uma mulher preciosa com a beleza de uma joia, o conselheiro budista leigo precioso e o general precioso. Ele também teve mil filhos de bravura extraordinária que possuíam a força de esmagar seus inimigos. De modo a subjugar este mundo, que era limitado pelos oceanos, ele não recorreu à espada ou às varas de bambu. Em vez disso, o rei subjugou este mundo com o Darma. Uma vez, Dalhanemi disse aos seus oficiais presentes: “Se a roda preciosa se mover daquele ponto, reportemme.” Depois de muitos milhares de anos terem se passado, a roda preciosa começou a se mover daquele ponto. Portanto, os oficiais do rei reportaramlhe o fato. O rei chamou seu herdeiro legítimo e disse: ‘Foi-me dito que quando a roda preciosa se movesse meu fim não estaria longe. Quanto aos prazeres deste mundo, eu os saboreei a contento de meu coração. Agora eu busco os prazeres puros. Irei me tornar um mendicante e buscarei o caminho. Você deve ser meu sucessor.’ Então, o rei se tornou um mendicante. Sete dias depois, a roda preciosa desapareceu. “O herdeiro legítimo foi informado e, angustiado, foi até o retiro isolado de seu pai. Ele disse: ‘Ó rei, meu pai, a roda preciosa desapareceu.’ O rei disse: ‘Caro filho, apesar de a roda preciosa ter desaparecido, não é CEBB

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motivo para ficar angustiado. Aquela roda preciosa não é o legado que eu lhe transmiti. Se você praticar o verdadeiro Darma de um monarca universal e subir a mansão de muitos andares e lavar sua cabeça no dia do jejum do décimo quinto dia do mês, você será dotado com mil rodas e eixos. Você testemunhará o surgimento de sua roda preciosa adornada com perfeitos ornamentos.’ O filho disse: ‘Ó rei, meu pai, qual é o verdadeiro Darma de um monarca universal?’ O rei disse: ‘Confie no Darma. Venere o Darma; faça do Darma a sua bandeira; e encontre um guardião e um protetor no Darma. No seu reino, assegure-se de que não haja injustiça. Retorne e conceda riquezas àqueles que não as possuem; liberte-se do orgulho e da negligência. Pratique tanto a moderação quanto a bondade. Discipline-se. Se houver mendicantes que estejam avançando em direção ao nirvana, vá até eles e ouça seus discursos sobre o caminho. Liberte-se das não-virtudes e una-se às virtudes. Caro filho, este é o verdadeiro Darma de um monarca universal.’

(3) “O herdeiro legítimo, que agora tinha se tornado o rei, aceitou as prescrições de seu pai. Ele praticou o Darma de um monarca universal. No décimo quinto dia do mês, no dia do jejum, ele lavou sua cabeça e subiu até a mansão de muitos andares. Lá ele testemunhou o surgimento da roda preciosa e se tornou um monarca universal. O rei se levantou de seu trono e dobrou seus mantos sobre o ombro. Em sua mão esquerda ele segurou uma jarra de ouro; com sua mão direita ele derramou água sobre a roda preciosa. Ao fazer isto, ele gritou: ‘Roda preciosa, gire! Roda preciosa, subjugue!’ Imediatamente a roda preciosa começou a girar na direção leste. O rei organizou quatro exércitos e seguiu a roda preciosa. No ponto em que a roda preciosa parou, o rei também parou sua carruagem. Os reis das regiões orientais se apressaram até o recém chegado rei e o saudaram alegremente: CEBB

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‘Grande rei, tudo é seu; nós suplicamos para que nos transmita seus ensinamentos.’ O rei disse: ‘Vocês não devem matar. Vocês não devem roubar. Vocês devem se libertar dos atos lascivos. Vocês não devem emitir mentiras. Vocês devem se abster de ingerir bebidas alcoólicas. Vocês devem se restringir em relação à comida.’ Então, ele subjugou todos os países orientais. A roda preciosa rolou até o oceano da região oriental e novamente subiu até a terra. Ela rolou para o sul, para o oeste e para o norte e mostrou o caminho para que o rei subjugasse todas as pessoas. Ela pacificou os quatro oceanos e retornou ao palácio real. Assim como os ornamentos do palácio interno do rei ela parou no ponto mais adequado.

(4) “Discípulos, o segundo monarca universal também pacificou os quatro oceanos daquela maneira. O terceiro, o quarto, o quinto, o sexto e o sétimo monarcas universais também pacificaram os países desta forma. Quando o sétimo rei se tornou um mendicante, o herdeiro legítimo não perguntou ao monarca universal sobre o verdadeiro Darma, nem tentou praticá-lo. Devido a isto houve uma diminuição da população. Os servos do rei se preocuparam e aconselharam o rei. O rei, então, ouviu o Darma de um monarca universal e também o praticou. Entretanto, ele era negligente na prática de repassar riquezas àqueles que tinham sido privados das coisas. Devido a essa negligência, os pobres se tornaram mais pobres e também aumentaram em número. As pessoas começaram a roubar. Outras pessoas prenderam os ladrões e os trouxeram diante do rei. O rei foi informado que esses ladrões haviam roubado por razões de sobrevivência, então ele devolveu os objetos para os ladrões. Ele instruiu os ladrões a levarem vidas corretas com as riquezas que agora lhes pertenciam. Ele os instruiu a cuidar bem de seus pais, esposas e filhos, a realizar ações positivas, fazer oferendas CEBB

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livremente aos mendicantes para renascer nos reinos celestiais. Rapidamente aumentou o número de ladrões, e cada um deles roubava para receber riquezas do rei. O rei pensou: ‘Enquanto eu der riquezas àqueles que roubam, o número de ladrões continuará crescendo. De modo a parar com isso e eliminar os culpados, na próxima vez eu irei cortar suas cabeças.’ O rei passou esta ordem aos seus homens. Quando o próximo ladrão foi preso, ele foi amarrado. Sua cabeça foi raspada, ele foi arrastado ao redor da praça do mercado e no local de execuções nas cercanias da cidade sua cabeça foi cortada. “As pessoas da cidade ficaram sabendo do acontecimento, e numa tentativa de erradicar os ladrões cada um se preparou com uma espada. Desta forma, as invasões nas vilas e cidades se multiplicaram. Como o rei havia falhado em prover riquezas aos pobres o número de pessoas pobres aumentou. O número de ladrões se multiplicou; muitas espadas foram feitas e o número de mortes aumentou. As mentiras se alastraram; como resultado, as vidas se encurtaram e a estatura das pessoas diminuiu. Informantes entraram em cena. Palavras que traem a amizade proliferaram. Havia um número crescente de pessoas se entregando a atos lascivos; visões negativas começaram a aparecer. Cobiça e raiva grassavam; a ausência do Darma e os darmas malignos se espalharam. A duração das vidas das pessoas gradualmente diminuiu.

(5) “Como consequência da ausência do Darma e do crescimento acelerado dos darmas negativos, no final as vidas das pessoas terão a duração de apenas dez anos. Manteiga fresca, iogurte, açúcar e sal faltarão e a papoula se tornará um dos alimentos principais. As dez virtudes desaparecerão, não haverá ninguém que pratique as virtudes. Ninguém praticará a piedade filial CEBB

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para com seus pais. Ninguém fará oferendas aos mendicantes. Ninguém servirá o chefe da casa. À medida que todas as relações humanas se romperem, não haverá os papéis de mãe, tia, esposa do professor ou esposa dos mais velhos. Em todos os lugares as pessoas começarão a agir como cães e raposas. Fúria e pensamentos assassinos surgirão entre as pessoas. Mães se voltarão contra suas crianças, as crianças contra seus pais, irmãos mais velhos contra irmãos mais novos e as irmãs mais velhas contra as irmãs mais novas. Como o caçador que avista um cervo, eles manterão pensamentos violentos e assassinos. No final, por sete dias, eles lançarão suas espadas uns sobre os outros gritando: ‘Isto é um cervo! Isto é um cervo!’ “Discípulos, nesse momento, algumas pessoas se sentirão repelidas por esse massacre mútuo. Por sete dias elas se esconderão nos arbustos e moitas na floresta ou em cavernas nas montanhas. Quando sete dias tiverem se passado elas sairão de seus esconderijos e, olhando umas para as outras e se abraçando elas se congratularão, dizendo: ‘Veja, estamos vivos! Estamos vivos!’ Todas essas pessoas compreenderão que esse trágico evento aconteceu porque elas foram aprisionadas pelo mal. Elas compreenderão que deveriam, daquele momento em diante, retornar às virtudes e começar a praticá-las. Devido à sua prática de virtudes a duração de suas vidas aumentará. Seus corpos tornar-se-ão maiores e elas desistirão, gradualmente, da ausência do Darma e dos darmas negativos. Elas extinguirão tanto a cobiça quanto a raiva, libertar-se-ão das visões maléficas, eliminarão as palavras que destroem as amizades e cessarão com as mentiras. Como resultado, a duração da vida que havia se reduzido para dez anos se expandirá para oitenta mil anos; uma moça noivará aos cinco mil anos de idade. Discípulos, nesse momento, no mundo dos seres humanos, haverá apenas três tipos de doenças: paixão, não ser capaz de comer e velhice. A população do mundo CEBB

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crescerá como uma floresta de juncos ou árvores sala; a atual cidade de Baranasi se tornará uma metrópole chamada Ketumati. O seu rei, Sankha, como um rei do Darma, subjugará as áreas vizinhas. Dotado com os sete tesouros, ele se tornará um monarca universal.

(6) “Discípulos, Maitreya surgirá durante o reinado deste rei e, assim como eu, alcançará a iluminação. Como eu, ele explicará o Darma e guiará muitos milhares de discípulos. O rei Sankha subirá à plataforma para celebrações construída pelo rei Mahapanada. Lá ele conduzirá uma grande reunião com o propósito da generosidade desinteressada. Ele se tornará um mendicante, um discípulo de Maitreya. Esforçando-se com grande intensidade ele alcançará a iluminação, a meta de todos os mendicantes. “Discípulos, sejam lâmpadas para vocês mesmos, sejam refúgios para vocês mesmos. Tomem o Darma como sua lâmpada e refúgio. Não tomem outras pessoas como suas lâmpadas e refúgios. Discípulos, quando vocês viajarem, viajem pela terra de seus ancestrais. Em virtude disto, vocês elevarão a duração de suas vidas, sua aparência, alegria, tesouros e força. “Discípulos, aumentar a duração da vida é praticar os quatro poderes divinos, ou seja, do desejo, do esforço, mental e do pensamento, e permanecer neste mundo o quanto se deseje. Elevar a própria aparência significa obedecer aos preceitos, praticar virtudes, temer mesmo as menores transgressões e ser diligente nos estudos. Elevar a própria alegria significa entrar em muitas meditações e experimentar a alegria da meditação. Elevar os próprios tesouros é viver enquanto são satisfeitas as aspirações de todos os lugares com as quatro mentes ilimitadas da compaixão, clemência, alegria e equanimidade. Elevar a própria força é exaurir os obscurecimentos e manifestar a iluminação neste mesmo mundo. CEBB

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“Discípulos, neste mundo não há nada mais difícil de desafiar que o poder de um demônio. Mesmo assim, preservando os darmas positivos os méritos são elevados ao ponto de sermos capazes de desafiar o poder dos demônios.”

(7) Dali, o Honrado pelo Mundo foi até Baranasi e permaneceu no Parque dos Cervos. Certa manhã, quando ele estava fazendo sua ronda de mendicância por comida na cidade de Baranasi, ele viu sob uma figueira um discípulo solitário cuja mente estava confusa e que não era capaz de sustentar o pensamento correto. Assim, o Buda disse: “Discípulo, você não deveria se sujar com impurezas. Moscas estão fervilhando ao redor de seu corpo, que é o ninho para as impurezas.” Ao ouvir as palavras do Honrado pelo Mundo, o discípulo ficou deprimido e cheio de angústia. Pouco depois, o Honrado pelo Mundo retornou ao Parque dos Cervos e disse aos seus discípulos: “Discípulos, esta manhã enquanto eu fazia minha ronda de mendicância por comida, eu vi um discípulo cuja mente estava confusa e que era incapaz de sustentar pensamentos corretos, e eu disse: ‘Discípulo, você não deveria se sujar com impurezas. Moscas estão fervilhando ao redor de seu corpo, que é o ninho para as impurezas.’ Discípulos, por impurezas eu me referi à cobiça. Por ninho para as impurezas eu me referi à raiva. Pelas moscas eu me referi a pensamentos não-virtuosos, negativos. As moscas dos pensamentos não-virtuosos, negativos fervilharão ao redor daqueles que se sujam com a impureza da cobiça e que se tornaram um ninho para a raiva.”

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4. A Prática de Samantabhadra (1) O Honrado pelo Mundo retornou novamente à montanha denominada Pico dos Abutres deixando o Parque dos Cervos, e lá ele estava circundado por um grande número de discípulos. Naquele momento, o bodisatva Samantabhadra se dirigiu à grande assembleia dizendo: “Filhos do Buda, os bodisatvas perceberam que todas as coisas não possuem nomes ou substância real; elas são destituídas de uma natureza própria; elas nem vêm nem vão e são destituídas de uma entidade permanente. Portanto, os bodisatvas não estão presos nem às verdades convencionais nem à verdade absoluta. Suas mentes não estão presas aleatoriamente pelas formas das coisas; elas não se apegam aos nomes das coisas; e elas seguem a natureza equilibrada das coisas. Além do mais, eles não abandonam todas as aspirações; de acordo com a verdade absoluta, eles expõem inúmeros darmas com meios hábeis. Eles guiam as pessoas, e não há fim para sua eloquência. De um reino sem palavras eles produzem palavras. Além disso, sem destruir a natureza das palavras eles compreendem todas as palavras e guiam as pessoas. Eliminando as dúvidas de acordo com a estação, eles fazem cair a chuva do Darma. “Filhos do Buda, se os bodisatvas ouvirem o verdadeiro Darma sem se espantar e livres de medo, firmes em sua fé no Darma, alegremente seguindoo, cultivando-o e descansando nele, eles alcançarão a sabedoria do som, isto é, a iluminação de estar em conformidade com o som. Além disso, se de acordo com o equilíbrio eles perceberem a igualdade de todos os darmas, discernirem todas as coisas com a mente pura e verdadeira, e penetrarem profundamente na natureza de todas as coisas, eles alcançarão a sabedoria de

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estar em harmonia, isto é, a iluminação de estar em harmonia com a natureza de todas as coisas. Novamente, avançando além, eles não mais perceberão o surgimento e o perecimento das coisas. Em vez disso eles perceberão que as coisas nem surgem nem perecem; que uma vez que não há o surgimento não há perecimento; que visto que não há perecimento as coisas nunca se exaurem; que visto que elas nunca se exaurem elas estão livres dos obscurecimentos das negatividades; que visto que elas estão livres destes obscurecimentos elas não são nunca destruídas; e que visto que elas não são destruídas elas são imutáveis. Este é o reino em que as negatividades se tornaram equilibradas e se extinguiram. Neste reino não há nem desejo nem prática. Este é o grande voto. Eles vivem em meio à beleza do país do Buda. Esta é a terceira sabedoria chamada de sabedoria do Darma não originado.

(2) “Filhos do Buda, um bodisatva compreende que a voz do Buda não vem de dentro, ou de fora, ou de dentro e de fora ao mesmo tempo. Ele não procura essa voz dentro ou fora, ou em ambos. A voz do Buda, como um eco, surge de causas e condições. Um bodisatva percebe que quando a voz do Buda se manifesta, ela derrama a chuva do presente do Darma. Desta forma, ele penetra profundamente no mistério do som. Ele se liberta do erro de estar preso a vozes, e ele diligentemente estuda todas as coisas.

(i) Todas as coisas são criadas pela mente; elas são vazias como fantasmas. Os bodisatvas despertam para a irrealidade de todas as coisas e compreendem que todas as coisas são como miríades de figuras produzidas por um ilusionista que encanta as pessoas. Apesar de o Buda ver todas as coisas como fantasmas, ele faz um grande voto, ele assume o papel de um guia e, com Grande CEBB

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Compaixão ilimitada, ele purifica as pessoas. Como todas as coisas são fantasmas, a pureza se manifesta neste mundo, e aqui ela permanece devido ao poder dos fantasmas.

(ii) A sabedoria é tão plena quanto o espaço e remove todas as obstruções. Como o espaço é livre de todas as formas, ele não apresenta impurezas. O mundo também é assim, bem como a sabedoria. O espaço não possui natureza própria e não pode ser destruído; não possui princípio, meio ou fim, e nem aparências diferenciadas. A sabedoria também não assume uma forma ilusória. Ela é inexaurível e ilimitada.

(iii) Cada fio de cabelo contém um número infinito de reinos puros. Eles são ornamentados por um número infinito de tesouros. Eles possuem um número infinito de nomes e expõem um número infinito de Darmas. Portanto, o Buda expõe aqueles versos que são difíceis de expor e que nunca cessam. Ele expõe a verdade que não pode ser exposta. Com essa voz ele gira a Roda do Darma que não pode ser ensinado. E com cada giro da Roda do Darma, ele derrama os ensinamentos que não podem ser ensinados. É difícil expor a verdadeira natureza das coisas. Também é difícil venerar o Buda. É igualmente difícil conhecer cada um dos meios hábeis. Apenas aqueles que realmente seguem o Darma entram na natureza de um buda.

(3) “Filhos do Buda, o Buda possui Grande Compaixão interna e nunca abandona ninguém. A mente do Buda está livre dos sofrimentos dos

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obscurecimentos. Ele fita as pessoas e, aproveitando as oportunidades, harmoniza-as. Ele destrói uma multidão de demônios malignos e esmaga uma miríade de caminhos falsos. Ele entra em todos os mundos e, guiando as pessoas que lá estão, alegra aqueles que o veem e lhes concede benefícios. Se houver aqueles que contemplam o caminho correto o Buda imediatamente surge diante deles e cultiva suas raízes de mérito. Aproveitando o momento para ensinar o Darma, com o poder da liberdade absoluta ele assume constantemente diferentes corpos e expõe universalmente o Darma para o benefício das pessoas. Além disso, com o campo visual da consciência o Buda realiza o seu trabalho no campo audível da consciência; e com o campo audível da consciência ele realiza o trabalho do Buda no campo visual da consciência. Os seis órgãos sensoriais se misturam perfeitamente; em todos os campos de consciência o Buda realiza seu trabalho. O Buda é um depósito de méritos inexauríveis. Ele faz com que as pessoas elevem suas mentes de fé e alegra seus corações. Ele faz com que aqueles que ainda não despertaram a mente do caminho acabem despertando-a. Àqueles que já despertaram tal mente, ele presenteia a sabedoria; ele faz com que eles se iluminem sem depender de outros. E ele também ensina as pessoas a sentirem repulsa pelo mundo e a se conformarem à mente do Buda. Ele ensina a brevidade da vida e a ausência de prazer real no mundo. Ele ensina que se alguém contemplar o Buda com uma mente pura, essa pessoa verá o Buda. Ele remove um grande número de sofrimentos e faz com que as pessoas despertem para o caminho puro do Buda. Ele abraça todas as pessoas e faz com que elas entrem no reino profundo dos budas. Em relação aos negligentes, ele os faz cultivar os preceitos puros. “Quando aqueles que estão no inferno são tomados pela luz do Buda e estão prestes a nascer no céu de Tusita ao final de suas vidas, eles ouvem CEBB

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vozes espantosas, divinas. Essas vozes lhes dizem: ‘Ó filhos dos deuses, vocês deveriam ir e venerar o Buda. Quando este mundo terminar, mesmo o Monte Sumeru será consumido e reduzido a cinzas pelo fogo. Igualmente, essa mente dos cinco desejos será consumida e obliterada pelo fogo se vocês contemplarem o Buda. Vocês deveriam reconhecer sua dívida de gratidão e deveriam venerar o Buda. Se vocês permanecerem ignorantes de sua dívida de gratidão, então quando suas vidas estiverem próximas de seu final, vocês terão que entrar novamente no inferno. Como todos vocês habitaram no inferno e foram beneficiados pela luz, vocês estão prestes a renascer neste reino celestial. Portanto, vocês devem cultivar suas raízes de mérito.”

(4) Naquele momento, os deuses ao ouvirem isto se regozijaram e perguntaram: “Como os bodisatvas se arrependem de seus erros?” O bodisatva Samantabhadra disse: “Filhos dos deuses, as obstruções cármicas não vêm de fora, congregando-se na mente; mas sim, elas se originam de visões inversas. A ação da cobiça, da raiva e da ignorância, na verdade, não possui substância real. Não importa onde vocês procurem, não serão capazes de encontrar sua substância. Assim como as vozes nem surgem nem perecem, todas as ações nem surgem nem perecem. Mas isto não significa que as ações não existam. As pessoas realmente recebem as recompensas de acordo com suas ações. Em um espelho de cristal é refletido um número infinito de imagens; entretanto, essas imagens nem se originam fora do espelho e nem elas saem do espelho. Da mesma forma, todas as ações carecem de uma substância real; elas nem vêm nem vão. E mesmo assim elas produzem uma miríade de frutos cármicos. Se vocês perceberem as coisas desta maneira, vocês serão vistos como puros e verdadeiros em sua contrição pelos erros. “No passado, incontáveis budas emitiram uma grande luz e CEBB

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iluminaram os reinos das dez direções. Recebendo a iluminação, bodisatvas fizeram votos, dizendo: ‘Eu me tornarei uma lâmpada para este mundo. Irei adornar meu corpo com méritos e alcançarei a sabedoria de todos os budas. “As pessoas deste mundo queimam com o fogo da cobiça, da raiva e da ignorância. Para o seu benefício extinguirei o sofrimento sem fim do caminho negativo.’ “Tendo feito este voto, eles cultivaram as práticas dos bodisatvas com determinação, sem voltar atrás e alcançaram um poder que penetra todas as coisas sem qualquer obstrução.”

(5) Naquele momento, do pêlo localizado no ponto entre as sobrancelhas do Buda brilhou a Luz Que Ilumina a Doutrina do Buda, derramando-se sobre todos os mundos. Ela despertou o olho da mente de um número infinito de pessoas; ela destruiu os sofrimentos de todos os caminhos negativos. Retornando, ela girou brilhando sobre uma grande assembleia e entrou no topo da coroa de um certo bodisatva. Aquele bodisatva disse em nome da grande assembleia, cujas mentes se regozijavam: “Samantabhadra, nós suplicamos para que nos mostre o expansivo e infinito Darma da Origem do Tathagata.” O bodisatva Samantabhadra respondeu: “Filhos do Buda, o Darma da Origem do Tathagata não pode ser concebido. Esse Darma é inefável porque o Tathagata atingiu a iluminação em virtude de um número infinitamente grande de causas e condições, e então se manifestou neste mundo. Isto é, despertando a sabedoria infinita ele não abandona todos os seres. Por um período infinitamente longo de tempo ele pratica as raízes de méritos com uma mente sincera. Com compaixão infinita ele salva as pessoas. Seguindo infinitas práticas corretas sem abandonar seu grande voto, ele manifesta a CEBB

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sabedoria que emprega um número infinito de meios hábeis com os quais ele expõe o verdadeiro significado do Darma. Ele é como as nuvens que derramam a chuva; ninguém é capaz de calcular o número de gotas de chuva que caem. “Filhos do Buda, as gotas de chuva têm um único sabor, porém, dependendo de onde elas acabam caindo, há diferenças no sabor. A água da Grande Compaixão do Buda também é de um único sabor; entretanto, visto que o Buda se manifesta de acordo com os diferentes potenciais de todas as pessoas, suas manifestações não são uniformemente as mesmas. Com relação ao Darma da Origem do Buda, ele se origina da sabedoria universal de todos os budas. Além do mais, essa sabedoria, que é de um único sabor, produz méritos infinitos. As pessoas pensam que esses méritos são produzidos pelo Buda. Mas esses méritos não são produto dos esforços do Buda. “Mesmo um bodisatva deve plantar raízes de mérito no local de um buda; de outra forma, ele não será capaz de alcançar mesmo uma sabedoria de pouco valor. Como todos os budas, para o benefício de todas as pessoas, se tornam bons professores, eles alcançam grande sabedoria. Em última instância não há nada que seja produzido, e não há ninguém que produza esses méritos que surgiram como resultado da reunião de causas e condições.

(6) “Filhos do Buda, a Grande Compaixão se torna o refúgio para as pessoas e a Grande Compaixão salva as pessoas. A Grande Compaixão depende da sabedoria dos meios hábeis do Buda; a sabedoria dos meios hábeis é dependente do Buda. Além disso, o Buda não depende de coisa alguma. Emitindo a luz da sabedoria desobstruída, em todo o universo ele brilha sobre os mundos das dez direções. “Filhos do Buda, quanto ao Darma da Origem do Buda, sua prática é CEBB

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infinita; portanto, o seu mérito também é infinito. Uma vez que ele nem vem nem vai, ele preenche as dez direções. Como ele não possui um corpo substancial, ele está livre de tais corpos e consciências. Como todas as coisas são iguais para ele, ele é igual ao céu, que não faz diferenciações. Como ele é inexaurível, todas as pessoas estão livres de ‘eu’ e ‘meu’. Como ele é imutável, todos os países nunca terão um fim. Como ele não recua, as existências futuras continuam infalivelmente. Como os budas veem todos os darmas da mesma forma, sua sabedoria é desobstruída. Como eles fazem o voto original e alegram todas as pessoas à vontade, sua iluminação da igualdade beneficia todas as pessoas.” Então, o bodisatva Samantabhadra disse em versos:

As

coisas

não

mudam,

elas

são

vazias

e

livres

de

obscurecimentos. Elas são como o espaço.

Como todas as coisas, os budas também são vazios, eles nem existem nem inexistem.

O verdadeiro Darma transcende a forma das palavras e é equilibrado. Os objetos de cognição também transcendem a forma das palavras. Eles são equilibrados como o céu que é livre das pegadas dos pássaros.

Em meio a esse equilíbrio, como recompensa por seus votos ilimitados, o corpo puro do Buda reside; ali, ele manifesta um grande estado inconcebível.

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Portanto, se vocês desejam perceber o profundo Darma do Buda, purifiquem seus corações até que eles sejam como o espaço.

Libertem-se de pensamentos delusórios e de visões negativas, e pratiquem o caminho da pureza; então vocês alcançarão uma mente pura.

(7) “Filhos do Buda, o sol se levanta e destrói a escuridão. Ele nutre todas as coisas e afasta o frio. Ele brilha no céu e beneficia as pessoas. Ele brilha sobre os lagos e faz com que as flores de lótus desabrochem. Ele revela as cores e formas de todas as coisas. Ele faz com que a miríade de fenômenos mundanos seja vista como eles são. A razão para isto é que o sol emite uma luz infinita. Da mesma forma, o Buda também destrói o mal e alimenta o que é bom; a luz de sua sabedoria remove a escuridão das pessoas, sua Grande Compaixão beneficia todos os seres e faz com que eles alcancem a iluminação.” Então, o bodisatva Samantabhadra disse em versos:

(i) O sol se levanta e, primeiramente, brilha sobre picos elevados. Então ele alcança as outras montanhas. Ele brilha sobre as colinas e vales e, finalmente, sobre a grande terra.

A luz da sabedoria do Buda brilha, primeiramente, sobre aqueles com mentes superiores, e gradualmente ela alcança as outras pessoas.

Entretanto, a luz da sabedoria não está nunca consciente de tal

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pensamento como ‘Eu estou brilhando sobre as mentes das pessoas.’

Quando o sol brilhante aparece no mundo, o homem cego é incapaz de vê-lo. Entretanto, o sol relaxa o seu corpo e ele experimenta prazer.

Como o sol, o Buda surge no mundo e beneficia mesmo aqueles que são cegos à fé. Essas pessoas espiritualmente cegas ouvem a voz do Buda e são tocadas por sua luz e, no final, atingem a sabedoria.

(ii) A voz do Buda preenche naturalmente o Dharmadatu e não há um lugar em que ela não seja ouvida.

Se as pessoas ouvirem a sua voz, elas escaparão para sempre do oceano da delusão.

Ela é como um eco. Se alguém gritar em um vale, o canyon ressoa com um eco. Como esse eco é produzido em consequência de múltiplas condições, aqueles que o ouvem ouvirão de variadas formas. Mas o eco por si só não pensa: ‘Eu estou criando diferentes tipos de som.’

O Buda emite o rugido do som infinito de acordo com as necessidades das pessoas dos vales e, desta forma, as salva.

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(8) “Filhos do Buda, como deve ser percebida a mente do Buda? A mente do Buda só deve ser percebida como sabedoria infinita. A sabedoria do Buda é a base para todas as outras sabedorias; ela por si só não possui uma outra base. O espaço é a base para todas as coisas; mas ele, por si só, não possui outra base. Os quatro grandes oceanos banham as terras dos quatro continentes e de muitas ilhas. Portanto, se alguém procurar por água deveria ser capaz de encontrar água em qualquer direção que vá. Entretanto, o grande oceano nunca tem o pensamento: ‘Eu concedo água a todas as coisas.’ Igualmente, a mente do Buda também banha as mentes das pessoas. Se essas pessoas, de acordo com os caminhos de seus respectivos ensinamentos, praticarem as raízes de mérito, todas elas alcançarão a luz da sabedoria. Mas o Buda nunca desperta o pensamento: ‘Eu concedo sabedoria às pessoas.’ “Filhos do Buda, não há lugar que a sabedoria do Buda não alcance. A razão para isto é que não há ninguém que não seja dotado com a sabedoria do Buda. Apenas as pessoas pensam de uma maneira distorcida e estão ignorantes da sabedoria do Buda. Se elas se libertassem dos pensamentos distorcidos despertariam a onisciência, a sabedoria que percebe que todas as coisas não possuem formas, a sabedoria que é livre de todas as obstruções. Aqueles que são ignorantes estão simplesmente encobertos por pensamentos distorcidos e permanecem esquecidos da sabedoria do Buda. Eles não a percebem e falham em despertar a mente da fé. O Buda percebe todas as pessoas com o olho celestial livre de obstruções e diz: ‘Realmente estranho! Realmente estranho! Por que as pessoas, mesmo possuindo a sabedoria búdica em si mesmas, continuam ignorantes dela? Irei ensiná-las e despertálas para o Caminho Sagrado. Irei libertá-las para sempre da delusão e farei com que percebam que a sabedoria do Buda existe dentro delas, e que elas não são diferentes do Buda.’ CEBB

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(i) A Talidade não se exaure nunca. Ela não nasce e não perece. Uma vez que não há nada ao que se fixar, não há como procurála. Da mesma forma, o reino dos budas é incomensurável. Ele transcende os três tempos e sua natureza é a Talidade.

(ii) Quando um pássaro voa pelo espaço é difícil medir o espaço pelo qual ele já voou e o espaço pelo qual ele ainda não voou, mesmo se medirmos por cem mil anos. Se alguém expusesse a prática do Buda por um tempo infinitamente longo, seria difícil medir o que ele explicou e o que não explicou.

(iii) O dourado pássaro Garuda, que apresenta uma envergadura de trinta milhões de milhas, observou do espaço o palácio do rei dragão. Abrindo suas asas ele rompeu as águas do oceano e retirou o dragão que estava prestes a perder sua vida.

(iv) Igualmente, o Buda repousa na prática dos budas, e com as asas da concentração e do insight ele rompe as águas do oceano dos desejos. Ele retira do oceano de obscurecimentos aqueles cujas raízes de mérito chegaram à fruição.

(v) E também, o sol e a lua viajam pelo espaço e trazem prazer para as pessoas. Entretanto, eles estão livres do pensamento de estar fazendo isto. O Buda, que viaja através das miríades de Dharmadatus e salva todos os seres, também está livre do pensamento de estar salvando os outros.

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(9) “Filhos do Buda, a sabedoria do Buda conhece todos os princípios, ela destrói as dúvidas. Libertando-se dos dois extremos, o Buda repousa no caminho do meio. Ele transcende todos os mundos e línguas; ele percebe as mentes de todas as pessoas, suas ações, seus obscurecimentos e suas convenções. Em cada momento de pensamento ele percebe todos os darmas dos três tempos. Todas as formas e imagens são refletidas no grande oceano; devido a isto, o oceano é chamado de Reflexo. Da mesma forma, no oceano da iluminação da sabedoria do Buda, os pensamentos e percepções de todas as pessoas se refletem. E, porém, não há lugar algum onde essas imagens sejam refletidas. Portanto, o Buda é chamado de Sabedoria Universal. “Filhos do Buda, quando o Buda alcança a iluminação, em virtude de seus meios hábeis ele atinge um corpo que é igual ao de todas as pessoas. Ele obtém um corpo que é igual a todos os darmas, a todos os reinos, aos três tempos, a todos os budas, a todas as línguas, a todos os Dharmadatus e ao mundo do nirvana. Além do mais, tanto sua mente quanto sua voz são idênticas ao seu corpo. Considerem todas as letras e palavras como expressões do giro da Roda do Darma, pois não há lugar algum que a voz do Buda não alcance. Além disso, saibam que a Roda do Darma é como um eco e que ela nem vem nem vai, pois a Roda do Darma nada mais é do que a verdadeira e real natureza do Darma. Também saibam que todos os sons são de uma única voz, pois com essa voz o Buda gira a Roda do Darma. “Filhos do Buda, o Buda surgiu no mundo apenas para alegrar as pessoas. Ele manifesta o nirvana para que as pessoas, ao verem que o Buda morreu, possam ficar em luto e adorá-lo cada vez mais. Na verdade, o Buda nem surge no mundo nem entra no nirvana. A razão para isto é que o Buda, assim como o mundo do Darma, é eterno. CEBB

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“Filhos do Buda, mesmo que o sol brilhe no mundo e lance sua imagem sobre a água de um determinado vaso, ele não pensa consigo mesmo: ‘Eu lanço minha imagem sobre todas as águas puras.’ Caso o vaso se quebrasse, a imagem do sol não mais apareceria ali, mas isto não seria uma falha do sol; na verdade, seria devido ao fato de o vaso ter sido quebrado. O sol da sabedoria perfeita do Buda se manifesta em um momento de pensamento. Ele brilha sobre todos os mundos e povos e elimina seus obscurecimentos, manifestando-se no vaso da mente pura. Vasos quebrados e pessoas com mentes turvas nunca enxergam o Dharmakaya do Buda. Portanto, quando as pessoas notam o desaparecimento do Buda, elas ficam bastante espantadas e, pela primeira vez, são salvas, porque elas veem além do corpo do Buda que aparece e desaparece e percebem o Dharmakaya absoluto do Buda. É por esta razão que o Buda manifesta o nirvana. Mas, na verdade, o Buda nem nasce nem perece, nem ele se oculta por um tempo longo. Se um grande incêndio se espalha pelo mundo e queima a grama e as árvores, e se esse fogo atinge uma área na qual não há grama, árvores, cidades ou vilas, o fogo se extinguirá por si mesmo. Isto, entretanto, não significa que o fogo desapareceu deste mundo. Da mesma forma, o Buda queima com o fogo da salvação através de todos os mundos; e nos lugares onde a grama da salvação não pode ser encontrada, ele manifesta o nirvana. Entretanto, isto não significa que o Buda desapareceu do mundo.

(10) “Filhos do Buda, aquele que assume a mente do Buda penetra nas práticas das pessoas, atravessando os três tempos, passado, presente e futuro. Ele penetra em suas práticas tanto positivas quanto negativas. Ele salva todas as pessoas e, para suportar o sofrimento no lugar de todas essas pessoas, ele desperta a mente da Grande Compaixão. E também, de modo a se libertar de CEBB

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todas as suas posses, ele enxerga a generosidade desinteressada como sendo de importância primária. Para buscar todos os darmas do Buda ele enxerga a meditação da sabedoria universal como de importância primária. Então, ele contempla: ‘A mente é a base da iluminação. Se a mente é pura, a pessoa será preenchida por todas as raízes de mérito. Se a mente se libertar, será alcançada a sabedoria suprema, serão realizadas as grandes práticas, todos os votos serão preenchidos e ela servirá como guia para todas as pessoas.’ Isto é chamado de a prática de Samantabhadra. “Filhos do Buda, aquele que assume a mente do Buda adquire liberdade em todos os reinos. Mesmo habitando no reino da iluminação ele aparece no reino da delusão. Mesmo habitando no reino em que os obscurecimentos foram pacificados ele não abandona o reino humano, que se encontra em tumulto devido aos obscurecimentos. Ele desperta o voto da Grande Compaixão e Sabedoria e renasce neste mundo turvo de forma a realizar obras de compaixão pelas pessoas. Aqui, ele se torna profundamente envolvido com assuntos seculares que surgem dos desejos e mantém uma vida de chefe de família com esposa, filhos e os membros do clã. Ele assim o faz por desejar exclusivamente ensinar e beneficiar as pessoas. Ele pensa: ‘Apesar de viver em meio a estes obscurecimentos, eu não deveria me deludir em relação à sabedoria, emancipação, meditação e assim por diante, porque alguém que assumiu a mente do Buda deveria alcançar liberdade em meio a todos os darmas, deveria atingir a tranquilidade da sabedoria, seguir as práticas e alcançar a margem da iluminação.’ “Além do mais, sua mente é dotada de todas as sabedorias; ela é firme e correta e é embelezada por grandes ornamentos. Portanto, mesmo em lugares que não são propícios à prática do caminho ou onde há pessoas maldosas, ele nunca perde a gema da sabedoria universal. Ele é como a joia da água CEBB

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conhecida como Pura Luz, que não apenas permanece imutável em sua natureza mesmo quando em contato com a água turva, mas que também purifica completamente aquela água.

(11) “Filhos do Buda, essa pessoa tem o poder de queimar. Como ela guia com sucesso os outros, diz-se que ela consome o mundo humano em chamas. Como ela queima as impurezas e as purifica, diz-se que ela queima o mundo material. Como ela completa todas as práticas, diz-se que ela queima o Buda. Como ela acumula uma variedade de méritos e formas virtuosas, dizse que ela queima as raízes de mérito. Como ela destrói os sofrimentos de todas as pessoas e faz com que elas repousem em prazer supremo, diz-se que ela queima a Grande Compaixão. Como ela claramente percebe todos os darmas, diz-se que ela queima todos os darmas. “Filhos do Buda, ela também possui numerosos braços. Ela acredita com todo o coração no verdadeiro Darma do Buda; portanto, ela possui o braço da fé. Ela alegra todos aqueles que buscam; portanto, ela possui o braço que não está apegado aos tesouros. Sem cessar ela alimenta seus méritos e nunca se cansa de o fazer; portanto, ela possui o braço de fazer oferendas a todos os budas. Ela destrói as dúvidas que as pessoas guardam; portanto, ela possui o braço que alcança a iluminação rapidamente e que ouve o Darma amplamente. Ela salva aqueles que naufragam no rio dos obscurecimentos; portanto, ela possui o braço que repousa no reino iluminado. Ela destrói a escuridão da negatividade e manifesta a luz do Darma que é difícil de mensurar; portanto, ela possui o braço do tesouro da sabedoria. “Filhos do Buda, quando essa pessoa busca o Darma sua mente é sincera; ela se livra da falsidade e da bajulação. Ela se esforça com diligência e não é negligente; ela não poupa tanto seu corpo quanto sua vida. Além disso, CEBB

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ela nunca busca meios para sustentar sua vida, nem trabalha com o objetivo de obter lucro. Ela busca o Darma apenas para extirpar os obscurecimentos das pessoas e para beneficiá-las; ela busca o Darma para penetrar profundamente na sabedoria, destruir todas as dúvidas, e assim completa o Budadarma.

(12) “Filhos do Buda, essa pessoa será assolada por dez tipos de demônios: primeiro, o demônio do corpo e da mente que faz com que ela se torne apegada ao corpo e à mente; segundo, o demônio do obscurecimento através do qual ela se torna maculada pelas negatividades; terceiro, o demônio do carma que desperta obstruções; quarto, o demônio da mente que desperta a atitude de orgulho arrogante; quinto, o demônio da morte que a separa deste mundo; sexto, o demônio dos céus que faz com que a mente se torne orgulhosa e negligente; sétimo, o demônio da perda das raízes de mérito que afasta a mente da contrição; oitavo, o demônio da meditação profunda através do qual surge o apego à meditação; nono, o demônio do bom professor através do qual ela se torna apegada ao seu guia espiritual; e décimo, o demônio da ignorância da sabedoria do verdadeiro Darma, através do qual ela é incapaz de dar nascimento a quaisquer votos. Filhos do Buda, aplicando meios hábeis vocês deveriam rapidamente se afastar de tais demônios. “Filhos do Buda, esses demônios são capazes de infligir numerosos atos diabólicos a uma pessoa. Depois de perder a sabedoria, a pessoa continua a praticar as raízes de mérito. Com uma mente negativa, ela oferece coisas. Com a mente cheia de raiva, ela segue os preceitos. Ela abandona e se afasta daqueles que são maldosos e negligentes. Ela despreza aqueles que são ignorantes e que carregam o fardo de uma mente perturbada. Ela se ressente CEBB

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com o Darma verdadeiro. Ela pune aqueles que são vasos para o Darma. Ela expõe o Darma publicamente para o bem de seu próprio lucro. Todos estes são atos diabólicos. Distanciar-se dos bons professores e se aproximar de professores maldosos, maldizer o verdadeiro Darma e não ouvir os ensinamentos, ouvir e não louvar os ensinamentos são todos atos diabólicos. Se um mestre do Darma expõe o Darma e é incapaz de, com reverência, tornar sua mente humilde, e que pensa: ‘Minha doutrina é magnífica; suas doutrinas são sem valor’, isto também constitui um ato diabólico. Expor o Darma profundo àqueles que seguem o estudo do conhecimento mundano ou que não são vasos para o Darma também é um ato diabólico. “Filhos do Buda, para essa pessoa aparecem as seguintes dez esferas diferentes do Buda: 1 – a esfera búdica do desapego, na qual a pessoa não está apegada nem ao mundo do nirvana nem ao mundo da transmigração, e atinge a iluminação enquanto repousa tranquilamente no mundo da ilusão; 2 – a esfera búdica do voto, na qual a pessoa nasce no céu de Tusita e alcança o portal que leva suas falhas ao estado búdico; 3 – a esfera búdica das recompensas cármicas, na qual a pessoa adorna seu corpo com um número infinito de méritos; 4 – a esfera búdica da sustentação, na qual a pessoa retém o poder de sustentar a doutrina do Buda mesmo após a sua morte; 5 – a esfera búdica do nirvana, na qual a pessoa manifesta o nirvana neste mundo, desperta uma sensação de espanto nas pessoas, e faz com que elas entrem na doutrina do Buda rapidamente; 6 – a esfera búdica do Dharmadatu, na qual a pessoa toma como seu corpo o Dharmadatu, que não perece mesmo depois que seu corpo físico chegou ao fim; 7 – a esfera búdica da mente, na qual a pessoa concentra sua mente na Grande Compaixão e faz com que as pessoas saibam que o Buda existe na compaixão; 8 – a esfera búdica da meditação, na qual a pessoa permanece não aflita em meio aos obscurecimentos da CEBB

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transmigração, focando sua mente na concentração meditativa, e saboreia o equilíbrio do nirvana; 9 – a esfera búdica da natureza, na qual a pessoa desperta para a verdade do estado búdico, que é originalmente possuído por todos os homens e mulheres; 10 – a esfera búdica das atividades livres, na qual a pessoa surge diante das pessoas à vontade, e é capaz de ensinar, orientar e expor o Darma.

(13) “Filhos do Buda, se aquele que assumiu a mente do Buda como sendo a sua própria mente gerar uma mente negligente, abandonar o verdadeiro Darma do Buda e desejar coisas sem se cansar delas, ele está tomado por um demônio. E também, se ele pensar em salvar apenas a si mesmo, desejar o equilíbrio que é livre dos obscurecimentos e partir do mundo real, ele está tomado por um demônio. Se ele abandonar a mente que ensina e que guia os outros, despertar dúvidas em relação ao verdadeiro Darma e difamar a doutrina do Buda, ele está tomado por um demônio. Vocês deveriam se distanciar rapidamente de tal ser. “Filhos do Buda, quando alguém percebe que todas as coisas são impermanentes e trazem sofrimento, que todos os darmas são desprovidos de identidades, e que o nirvana é um reino em que os obscurecimentos foram extintos, ele está tomado pelo Darma. E também, se ele perceber que as miríades de delusões surgem dos pensamentos negativos e que as delusões são destruídas quando os pensamentos negativos são destruídos, ele está tomado pelo Darma. Se ele perceber que todos os países, darmas, pessoas e mundos são o campo búdico da consciência e se ele cortar todos os pensamentos, abandonar todos os apegos e estiver de acordo com o nirvana, ele está tomado pelo Darma.

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(i) O oceano da profunda sabedoria está preenchido com a água do verdadeiro Darma, que é de um único sabor. Apesar de ele estar preenchido com o tesouro da iluminação, ninguém pode mensurar esse oceano.

A mente correta é pura e expansiva; ela é o mar da sabedoria universal. Pode-se expor o oceano de um bodisatva, mas não se pode exauri-lo. O bodisatva é o Monte Sumeru elevando-se muito alto acima do mundo. O pico do poder divino e da concentração meditativa é firme e inabalável.

(ii) A mente profunda é como um diamante; a fé nos três tesouros é indestrutível. Ela subjuga todos os demônios e destrói todos os obscurecimentos. Ela gera nuvens de grande compaixão e relâmpagos de grande piedade. O trovão do Darma reverbera e salva as pessoas.

Com o puro Darma como o castelo, com a sabedoria como as muralhas, com a contrição como o fosso, ela parte através do portão da emancipação da vacuidade. Nos três mundos, ela planta uma bandeira formidável e destrói todos os demônios.

(iii) Em um dia agradável, um bodisatva circula nos céus da vacuidade absoluta. Ele emite luz para os três reinos e revela os darmas mentais das pessoas. Na terra de meios hábeis ilimitados, ele beneficia as pessoas. Com a água da pura compaixão, ele apaga o fogo das negatividades que queima furiosamente.

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O fogo violento da sabedoria queima as negatividades e seus traços remanescentes. Movendo-se como o vento, ele realiza o trabalho de um buda nas dez direções.

A joia que concede todos os desejos dissipa a pobreza das pessoas; a sabedoria é como um diamante e esmaga todas as visões malignas.

(iv) Um bodisatva é um rio de méritos. Ele flui com a corrente do caminho verdadeiro, ou ele se transforma em pontes que conectam o nascimento e a morte. Ele salva as pessoas sem descansar.

Um bodisatva é um navio do verdadeiro Darma. Ele flutua no oceano dos votos; sua sabedoria satisfaz as pessoas e as carrega para a outra margem.

Um bodisatva é um jardim imaculado. O verdadeiro Darma é a flor da emancipação, e seus frutos alegram as pessoas. Além disso, a sabedoria de um bodisatva é o palácio real do jardim.”

5. As Ações do Corpo e da Mente (1) O Honrado pelo Mundo partiu de Kapilavatthu, voltou-se para Nalanda e entrou no Bosque das Mangueiras de Pavarika. Naquele tempo, CEBB

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Nigantha Nataputta, acompanhado por numerosos discípulos, morava nessa área. Após realizar sua ronda de mendicância na vila, seu discípulo Dighatapassi, visitou o Honrado pelo Mundo no Bosque das Mangueiras e sentouse próximo a ele. O Honrado pelo Mundo disse: “Digha-tapassi, quantos tipos de carma o seu professor apresenta?” Digha-tapassi disse: “Gotama, meu professor não usa o termo ‘carma’; ao invés, ele utiliza o termo ‘retribuição’, como nas retribuições físicas, retribuições verbais e retribuições mentais.” O Honrado pelo Mundo perguntou: “Digha-tapassi, destas três retribuições, qual ele considera como a mais poderosa?” Digha-tapassi disse: “A retribuição física é vista como a mais poderosa. E quantas retribuições você, Gotama, expõe?” O Honrado pelo Mundo disse: “Digha-tapassi, eu não uso o termo ‘retribuição’; eu uso o termo ‘carma’. Eu exponho três carmas separados – carma físico, carma verbal e carma mental – e eu vejo o carma mental como o mais poderoso.” Então, Digha-tapassi deixou o Honrado pelo Mundo, e ao retornar para a moradia de seu professor ele relatou o que havia acontecido entre os dois. Nataputta disse: “Excelente! Você explicou meu ensinamento claramente para Gotama. De forma alguma pode uma fraca retribuição mental ser mais poderosa que a forte retribuição física. É desnecessário dizer que a retribuição física é mais poderosa.” O famoso e proeminente leigo Upali estava, por acaso, presente, e disse: “Acho que também irei visitar Gotama. Se ele começar um debate comigo, irei arremessá-lo como um homem poderoso que agarra um chumaço de pelos de uma ovelha e lança a ovelha sobre alguém.” Encorajado, Upali não pôde ser dissuadido mesmo quando lhe disseram: “Gotama tem conhecimento de ardis misteriosos; ele é habilidoso em apanhar discípulos de outras pessoas. Você deveria desistir de seu plano de visitar CEBB

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Gotama.” Ele partiu em sua jornada e, ao encontrar o Honrado pelo Mundo, iniciou um debate.

(2) O Honrado pelo Mundo disse: “Upali, se você prometer que usará a razão e não será carregado pelas emoções eu concordarei em entrar em debate com você. Assim, digamos que um seguidor de Nigantha fica doente e anseia por água fria devido à sua doença. Seus ensinamentos o proíbem de usar água fria. Portanto, ele recebe água morna e morre sem ter recebido a água fria. Onde você acha que esse homem renascerá?” Upali disse: “Ele renascerá em um lugar chamado Céu Onde a Mente Está Apegada. Ele irá para lá por ter morrido dando sequência ao apego à água fria.” O Honrado pelo Mundo disse: “Upali, você deveria pensar cuidadosamente antes de responder. Do início ao fim você não deveria cair em contradição. Vamos dizer, novamente, que há um seguidor de Nigantha. Ele obedece às quatro proibições, restringe-se noite e dia e se liberta de todas os obscurecimentos. Andando para frente e para trás ele pisa e mata incontáveis insetos. De acordo com Nataputta, que tipo de retribuição haverá?” Upali disse: “Se ele não o fez voluntariamente, Nataputta diria que esse não é um grande mal. Se tivesse sido feito voluntariamente, então seria um grande mal.” O Honrado pelo Mundo disse: “Upali, você deveria pensar cuidadosamente antes de responder. Do início ao fim você não deveria cair em contradição. Um outro exemplo: Nalanda prosperou e tem uma grande população. Nesta cidade, alguém levanta sua espada e diz que com um único golpe ele fará do povo de Nalanda um monte de carne morta. Você acha que ele será capaz de fazer isto?” Upali disse: “É claro que ele não será capaz de fazer isto. Mesmo que dez, vinte ou cinquenta pessoas se juntassem a ele, eles CEBB

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não seriam capazes de tal feito.” O Honrado pelo Mundo disse: “Por outro lado, surge um mendicante que é dotado com poderes mágicos, e que é capaz de manifestar sua mente e seus desejos à vontade. Com raiva em sua mente, ele tenta transformar Nalanda em cinzas. Você acha que ele seria capaz de fazer isto?” Upali disse: “É claro que ele será capaz de fazer isto. Ele será capaz de transformar, à sua vontade, dez, vinte ou mesmo cinquenta Nalandas em cinzas.” O Honrado pelo Mundo disse: “Upali, você deveria pensar cuidadosamente antes de responder. Do início ao fim você não deveria cair em contradição. Você alguma vez ouviu sobre sábios eremitas que transformaram países em planícies secas em um momento de raiva?” Upali disse: “Honrado pelo Mundo, eu já ouvi tais relatos. Honrado pelo Mundo, devo dizer que já compreendi seu ponto claramente através do primeiro exemplo.” Assim, Upali ficou convencido do poder superior dos atos mentais. “Entretanto, eu gostaria de receber respostas para outras questões, mas permaneci em silêncio. Eu tomo refúgio nos Três Tesouros, suplico-lhe para me aceitar como seu seguidor de hoje em diante.”

(3)

O

Honrado

pelo

Mundo

disse:

“Depois

de

ponderar

cuidadosamente, faça o que você achar que deve. Um homem de renome como você deveria fazer aquilo que acha ser o melhor.” Upali disse: “Por você ter dito isto, eu desejo ainda mais tomar refúgio nos Três Tesouros. Outros professores, quando tomam alguém como eu como discípulo, rapidamente espalham a notícia através de Nalanda. Em contraste, o Honrado pelo Mundo me diz para fazer o que acho que é correto após deliberar sobre o assunto. Com maior razão ainda desejo tomar refúgio nos Três Tesouros.” CEBB

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O Honrado pelo Mundo disse: “Upali, até hoje você fez oferendas ao grupo de Nigantha. De hoje em diante você faria bem em fazer oferendas a eles quando eles pedirem.” Upali disse: “Honrado pelo Mundo, depois de ouvir essas palavras, ainda mais eu me sinto feliz em tomar refúgio nos Três Tesouros. Eu ouvi anteriormente de outros que o Honrado pelo Mundo disse que só deveriam ser feitas oferendas ao Honrado pelo Mundo e aos seus discípulos, e não para aqueles de outros ensinamentos. Entretanto, o Honrado pelo Mundo agora me instrui para fazer oferendas como antes ao grupo de Nigantha. Ao ouvir isto, sinto ainda maior vontade de tomar refúgio nos Três Tesouros.” Upali ouviu o ensinamento do Honrado pelo Mundo e despertou para a verdade de que todas as coisas são impermanentes. Sentindo alegria, ele voltou para casa e deu ordens ao guardião de seus portões para que, daquele momento em diante, quando os seguidores de Nigantha viessem até sua casa, ele deveria oferecer esmolas, mas também deveria dizer: “Upali se tornou um seguidor de Gotama; portanto, estes portões estão fechados para os seguidores de Nigantha e estão abertos para os discípulos de Gotama. Se vocês desejam alimento ou esmolas, eles serão trazidos para vocês aqui.”

(4) O Honrado pelo Mundo viajou para o leste até o país de Anga e chegou a Campa, que se localizava abaixo de Anga. Em Campa, ele se alojou à margem do lago de lótus Gaggara. Naquela área havia um brâmane, Sonadanda. Tendo recebido um feudo do rei Bimbisara, ele era um homem de posses e era respeitado pelo povo. Tendo subido à mansão de muitos andares, Sonadanda estava cochilando durante a tarde. Nesse momento, uma grande multidão de pessoas se movia na direção do lago Gaggara. Ele acordou com o barulho da CEBB

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multidão e descobriu que eles estavam todos indo visitar o Honrado pelo Mundo. Ele também decidiu visitar o Honrado pelo Mundo. Muitos dos brâmanes que souberam disso ficaram chocados e tentaram dissuadi-lo, dizendo: “Esta não é uma atitude sábia. Se você tomar a iniciativa de visitá-lo, você diminuirá a sua boa reputação e, sem dúvida, elevará a reputação de Gotama. Você é uma pessoa pura, nascido em uma família brâmane que tem se mantido livre das impurezas por sete gerações. Acima de tudo você é versado nos três Vedas; você é um estudioso de moral elevada. Você ensinou as escrituras para mais de trezentos discípulos; entre os brâmanes você é visto como um sábio ancião. Você conquistou o respeito do rei de Magadha Bimbisara, e do brâmane Pokkharasati. Você possui o status daqueles que receberam um feudo do rei. Portanto, seria apropriado que Gotama tomasse a iniciativa de visitá-lo.” Sonadanda disse: “Não, não é assim. É apropriado que eu tome a iniciativa para visitar Gotama. Gotama nasceu em uma linhagem nobre, porém ele deixou de lado sua linhagem e os tesouros da família e se tornou um mendicante. Seu semblante é elegante e digno. Ele segue os preceitos, acredita no carma, é dotado das marcas sublimes e atingiu a iluminação. Ele se tornou um professor para o mundo; ele é bondoso com as pessoas; portanto, onde quer que ele permaneça, não há discórdia. Ele está à frente dos discípulos, tanto mendicantes quanto leigos; ele é o fundador de um grande ensinamento. Tanto o rei Bimbisara quanto o brâmane Pokkharasati, assim como suas famílias, tomaram refúgio nos Três Tesouros, e o reverenciam. Neste momento, esse Gotama se encontra à margem do lago de lótus Gaggara em Campa, portanto, ele é nosso hóspede. Hóspedes deveriam ser honrados, é adequado que eu tome a iniciativa de visitá-lo. Além do mais, apesar de eu ser capaz de contar essas muitas virtudes de Gotama, suas CEBB

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virtudes não se limitam, de forma alguma, a essas que eu citei. Aqueles que possuem fé deveriam visitar um professor mesmo que tenham que carregar suas provisões nas suas costas, e não deveriam deixar que a distância fosse um empecilho.”

(5) Um grande número de brâmanes foi persuadido por estas palavras de Sonadanda e, acompanhando-o, colocaram-se no caminho para o lago Gaggara. No caminho, ao passar por uma floresta, Sonadanda pensou consigo: “Se eu fizer uma pergunta a Gotama e receber a resposta: ‘Brâmane, você não deveria fazer sua pergunta desta forma; você deveria fazê-la desta maneira’, estas pessoas começarão a olhar com desdém para mim. Assim, minha reputação será afetada; até mesmo meus rendimentos poderão ser afetados. Ou Gotama pode me fazer uma pergunta e se minha resposta não o satisfizer, ele poderá dizer: ‘Você não deveria explicar as coisas desta maneira’, e o resultado seria o mesmo. Com tudo isto, se eu retornar para casa sem encontrar Gotama depois de me mover para vê-lo, alguém enxergará minha covardia e isto afetará minha reputação. Este problema é realmente angustiante. Irei iniciar um diálogo sobre assuntos eruditos relacionados aos três Vedas, que são meu ponto forte, e assim conquistarei sua aprovação.” Após prestar seus respeitos a Gotama, Sonadanda sentou-se próximo a ele. O Honrado pelo Mundo notou uma certa cautela no comportamento de Sonadanda; percebendo seu estado de mente e desejando dar-lhe segurança, ele disse: “Brâmane, quais qualificações alguém deveria possuir para ser chamado de um verdadeiro brâmane?” Esta pergunta alegrou o coração de Sonadanda e também lhe deu segurança. Ele pensou consigo: “Estou realmente feliz que Gotama tenha me CEBB

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feito esta pergunta. Sem dúvidas ele aplaudirá minha resposta.” Arrumando sua postura, ele disse: “Honrado pelo Mundo, alguém que possui cinco qualificações poderá ser chamado de um verdadeiro brâmane. Primeiro, por sete gerações sua linhagem de sangue deve ser pura, tanto pelo lado do pai quanto da mãe. Segundo, ele deve ler as escrituras e ser versado nos três Vedas. Além disso, ele deve estar completamente familiarizado com o ensinamento da escola Lokayata. Deve conhecer o Darma que permite que sejam distinguidas as marcas de uma grande pessoa. Terceiro, deve ser bondoso, elegante e digno na aparência. Quarto, ele deve ser correto em suas práticas de disciplina. Quinto, deve ser sábio e ser o mais generoso, ou pelo menos o segundo, ao fazer oferendas com a concha sacrificial. Alguém que possui estas cinco qualificações pode ser chamado de verdadeiro brâmane.” O Honrado pelo Mundo disse: “Brâmane, entre as cinco qualificações trazidas por você, poderia alguém ser chamado de brâmane se alguma qualificação fosse omitida?” Sonadanda disse: “Isso é possível. Mesmo que a terceira qualificação relacionada à elegância da aparência fosse omitida, pode-se chamar alguém de brâmane.” O Honrado pelo Mundo disse: “Se ainda outra qualificação fosse retirada das quatro remanescentes, poder-se-ia chamar alguém de brâmane?” Sonadanda disse: “Isso é possível. A segunda pode ser omitida.” O Honrado pelo Mundo disse: “Das três qualificações remanescentes, poderia ainda alguma delas ser omitida?” Sonadanda disse: “Isso é possível. A primeira pode ser omitida.”

(6) Os outros brâmanes ouviram essa conversa e, sentindo-se apreensivos, sussurraram a Sonadanda: “Venerável, não fale desta maneira. Você não deveria concordar prontamente com as ideias de Gotama.” O Honrado pelo Mundo disse: “Brâmanes, se vocês pensam que Sonadanda é CEBB

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superficial no conhecimento ou incapaz com as palavras e não conseguem suportar vê-lo em debate comigo, vocês mesmos deveriam se adiantar e expressar sua opinião. Por outro lado, se vocês pensam que Sonadanda estudou amplamente e é capaz de debater comigo, então vocês deveriam se abster.” Sonadanda disse: “Honrado pelo Mundo, por favor, não lhes dê atenção. Eu falarei diretamente com eles: Vocês estão com a impressão de que eu menosprezo a aparência e os dharanis e desdenho a linhagem. Entretanto, nem eu os menosprezo nem os desdenho. Olhem para meu sobrinho, Angaka; ele é elegante na aparência e, com a exceção de Gotama, não há ninguém que se compare a ele. Além disso, ele estudou os dharanis, ele é versado nos três Vedas. Eu mesmo o tomei pela mão e o instruí. Sete gerações para trás a sua linhagem de sangue é pura, pelo lado do pai e da mãe. Entretanto, se o mesmo Angaka matasse seres vivos, roubasse coisas, cometesse adultério com a mulher de outro homem, lançasse mentiras e ingerisse bebidas alcoólicas, em última análise que valor teriam a aparência, o conhecimento e a linhagem? Por esta razão eu afirmei que aquele que possui sabedoria e as qualificações para ser o primeiro ou segundo ao realizar oferendas com a concha sacrificial pode ser chamado de verdadeiro brâmane.” O Honrado pelo Mundo disse: “Brâmane, sobre os últimos itens, pode algum deles ser omitido?” Sonadanda disse: “Honrado pelo Mundo, isso não seria possível. A sabedoria é purificada pelas práticas disciplinares e as práticas disciplinares são purificadas pela sabedoria. Onde há práticas disciplinares, há sabedoria; e onde há sabedoria, há práticas disciplinares. Aqueles que observam as práticas disciplinares possuem sabedoria; e aqueles que possuem sabedoria observam as práticas disciplinares. As práticas CEBB

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disciplinares e a sabedoria são conhecidas como as duas virtudes mais importantes deste mundo. Assim como alguém que lava suas mãos uma com a outra, ou os pés um com o outro, as práticas disciplinares e a sabedoria purificam-se entre si.” O Honrado pelo Mundo disse: “Brâmane, de fato é assim. As práticas disciplinares e a sabedoria realmente purificam-se entre si e são conhecidas como as duas virtudes mais importantes deste mundo. Entretanto, o que você entende por práticas disciplinares e sabedoria?” Sonadanda disse: “Ó Honrado pelo Mundo, isto é tudo que sei; eu lhe suplico para elaborar com base no que eu disse.”

(7) O Honrado pelo Mundo disse: “Brâmane, este é o significado das práticas disciplinares: um Buda surge neste mundo e expõe o Darma. Pessoas leigas ouvem seu ensinamento, despertam a mente da fé e se tornam mendicantes. Elas observam os preceitos, regozijam-se com as práticas verdadeiras, observam mesmo os menores males com atenção e levam vidas corretas. Elas vigiam as portas dos cinco órgãos sensoriais; elas param de matar criaturas vivas e se enchem de compaixão. Elas param de roubar e purificam imediatamente suas mentes. Elas se abstêm dos atos lascivos, libertam-se das mentiras, param de falar palavras que destruiriam amizades e se protegem da fala grosseira. Elas param de falar inutilmente e falam adequadamente no momento apropriado. Este é o significado dos preceitos. Além disso, elas se libertam dos obscurecimentos e alcançam uma miríade de meditações. Com mentes equilibradas, gentis e firmes elas percebem que todos os darmas são impermanentes e destituídos de identidades. Elas enxergam suas vidas passadas, assim como as vidas passadas dos outros. Elas percebem os nascimentos e mortes das pessoas. E elas percebem a CEBB

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destruição dos obscurecimentos. Este é o significado da sabedoria.” Sonadanda ouviu estas palavras do Buda e se alegrou profundamente. Ele fez o voto de se tornar um seguidor que busca refúgio nos Três Tesouros. Ele convidou o Buda para uma refeição no dia seguinte. No dia seguinte, depois de terem finalizado a refeição, Sonadanda trouxe uma cadeira mais baixa e sentou-se sobre ela. Ele disse ao Honrado pelo

Mundo:

“Honrado

pelo

Mundo,

quando

estou

entre

meus

companheiros, se eu me levantasse e me prostrasse diante do Honrado pelo Mundo eles olhariam para mim com desprezo e surgiria discórdia. Portanto, se eu estender minhas mãos em prece, eu gostaria que você entendesse que eu me levantei de meu assento. E também, caso tire meu chapéu, eu gostaria que você entendesse que estou me prostrando diante de você. E também, quando encontrá-lo e eu estiver conduzindo minha carruagem, se eu apontar meu cetro para baixo e levantar minhas mãos para a cabeça, eu gostaria que entendesse que eu desci da carruagem e me prostrei diante de você.” O Honrado pelo Mundo concordou em interpretar as ações de Sonadanda da maneira prescrita por ele. Depois de conversarem sobre o Darma, o Honrado pelo Mundo retornou para as margens do lago Gaggara.

(8) Depois disso, o Honrado pelo Mundo gradualmente se moveu através do país de Anga. Ele permaneceu por um tempo na cidade de Assapura; nesse lugar, ele concedeu o seguinte ensinamento aos discípulos: “Discípulos, todos vocês são conhecidos como mendicantes. Além do mais, quando perguntados, vocês respondem: ‘Eu sou um mendicante.’ Portanto, vocês deveriam se esforçar da seguinte maneira: ‘Eu seguirei o Darma que deve ser praticado por um mendicante. Desta forma eu manifestarei a verdade de um mendicante. Farei com que aqueles que oferecem mantos, CEBB

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alimento, alojamento e remédios para mim adquiram grande felicidade. Farei com que a vida de mendicante se transforme em algo que dê frutos, e que não seja algo inútil.’ “Discípulos, qual é o Darma que os mendicantes deveriam praticar? Os mendicantes deveriam possuir arrependimento interno e externo. Entretanto, vocês não deveriam achar que o sentimento de arrependimento é o suficiente. Além disso, vocês deveriam purificar suas vidas e suas ações de corpo, fala e mente. Vocês deveriam manter-se abertos, sem esconder coisa alguma. Vocês não deveriam ter orgulho por suas ações enaltecendo-se, nem difamar os outros. “Discípulos, apenas praticando isto vocês não deveriam achar que alcançaram todos os objetivos de um mendicante. Vocês também deveriam vigiar as portas dos cinco órgãos dos sentidos. Olhando para o mundo externo, vocês não deveriam se apegar a ele. Com relação à comida, vocês deveriam saber a medida certa; ao compartilhar o alimento vocês não deveriam fazê-lo pelo prazer. Vocês devem sustentar e nutrir o corpo, que é o recipiente para o Darma. Vocês deveriam nutri-lo como uma ajuda para observar as práticas puras. Vocês deveriam fazer as refeições refletindo corretamente. Vocês deveriam sempre permanecer despertos. Durante o dia vocês deveriam sentar silenciosamente em meditação, caminhar em contemplação e não cometer atos proibidos. Durante a primeira vigília da noite vocês deveriam sentar silenciosamente em meditação e caminhar em contemplação. Durante a vigília intermediária da noite vocês deveriam se deitar sobre o lado direito, colocando uma perna sobre a outra. Com a mente e o pensamento corretos, vocês deveriam pensar no momento de levantar. E vocês deveriam dormir como um leão. Durante a última vigília da noite vocês deveriam despertar e sentar silenciosamente em meditação, caminhar em CEBB

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contemplação e purificar suas mentes das coisas proibidas. E sempre vocês deveriam manter a mente correta, quer estejam indo ou vindo, olhando para longe ou para perto, vestindo seus mantos, mendigando, comendo, bebendo água, movendo-se, permanecendo em pé, sentados ou deitados. Vocês deveriam procurar um lugar isolado para retiros e sentar-se em meditação sob uma árvore na floresta, em uma caverna nas montanhas, em um cemitério ou ao lado de um monte de palha. Mantendo tanto a mente quanto o corpo corretos, vocês deveriam purificar suas mentes libertando-se da cobiça, raiva, preguiça, sono, agitação, arrependimento e dúvida. Vocês deveriam se libertar destes obscurecimentos mentais. Vocês deveriam se alegrar internamente, relaxar seus corpos, adquirir concentração de seus ânimos e acessar miríades de meditações. Vocês deveriam fazer isto como alguém que sofre uma dor insuportável e é curado de sua doença, recuperando sua força física e experimentando grande alegria por sua recuperação; ou como um escravo, que se alegra ao receber a liberdade e por poder ir aonde deseja; ou como um viajante que se alegra depois de carregar um monte de tesouros em suas costas, movendo-se através de regiões ermas, ao alcançar seu destino com boa saúde. “Discípulos, além disso, vocês se desenvolverão com tais meditações. Com uma mente que está pronta para funcionar a qualquer momento, vocês deveriam perceber suas próprias vidas passadas, assim como as vidas passadas dos outros. Vocês deveriam perceber os nascimentos e mortes das pessoas e a destruição dos obscurecimentos. Discípulos, desta forma vocês poderão ser chamados pela primeira vez de mendicantes, brâmanes, homens de sabedoria, homens de tranquilidade, arhats. Discípulos, essas pessoas, dos mendicantes e brâmanes até o arhats, são aquelas que pacificaram a fonte que dá origem aos grosseiros darmas malignos, que dá origem aos frutos do CEBB

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sofrimento e que, no final, leva ao nascimento em um próximo mundo.

(9) “Discípulos, se um mendicante não abandonar a cobiça, se ele não se libertar da raiva, se ele não se distanciar da ira, do ódio, do engano, do orgulho, do ciúme, da fraude, da bajulação, dos desejos malignos e das visões malignas, será como embrulhar uma espada de fio duplo em seu manto. Quanto a mim, apenas por alguém vestir os mantos eu não o chamo de mendicante. Por alguém estar nu, eu não o chamo de asceta. Além do mais, um asceta coberto por cinzas é simplesmente alguém que esfrega cinzas sobre seu corpo. Um asceta que imerge na água é apenas alguém que se banha três vezes por dia. Nenhum destes é um mendicante. Isto inclui aqueles que vivem sob árvores, que vivem em lugares ermos, permanecendo em pé por longos períodos, entregando-se ao jejum ou entoando sutras. “Discípulos, vocês não podem se libertar da raiva e das outras negatividades simplesmente vestindo os mantos de um mendicante. Se isto fosse possível, os pais vestiriam seus filhos com tais mantos. Práticas ascéticas nada mais são do que modos externos, e não são o verdadeiro caminho do mendicante. Qual, então, é o verdadeiro caminho do mendicante? É libertarse da cobiça, da raiva, da ira, do ódio, do engano, do orgulho, do ciúme, da fraude, da bajulação, dos desejos malignos e das visões malignas. Quando vocês se libertam do mal, vocês percebem que estão livres e a alegria desperta; seus corpos relaxam e suas mentes se tornam harmônicas. Da mesma forma, vocês preenchem todos os mundos com uma mente de compaixão, uma mente de misericórdia, uma mente de alegria, uma mente de equanimidade. Vocês assim o fazem sem ódio ou inimizades. “Discípulos, suponham que haja um lago de lótus transbordando com águas límpidas e frescas, cercado por margens tomadas pela areia pura. Das CEBB

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quatro direções, viajantes arrastam seus pés, cansados do calor, até este lago de lótus. Em suas águas eles matam a sede e dão um fim ao mal-estar causado pelo calor. Exatamente da mesma forma, kshatriyas, brâmanes, sudras e vaisyas, ao ouvirem o Darma exposto pelo Buda, praticam as quatro mentes ilimitadas da compaixão, piedade, alegria e desapego. Eles escapam do mal-estar causado pelo calor e alcançam o frescor da mente. Quando eles assim o fazem, eu os chamo de pessoas que entraram no caminho do mendicante. Desta forma eles pacificam e destroem suas negatividades e se tornam verdadeiros mendicantes.”

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LIVRO IV Capítulo II - A SABEDORIA ABSOLUTA

1. Vacuidade

(1) No início do décimo quarto ano após sua iluminação, o Honrado pelo Mundo viajou atravessando o Ganges a partir de Anga, e entrou na cidade de Vajii. Gradualmente ele seguiu o caminho até a grande floresta de Vesali e lá permaneceu por algum tempo. Um dia ele deu ensinamentos desta forma aos seus discípulos: “Discípulos, o que se quer dizer com o estado nãocriado, destituído das ações de nascimento e morte? Qual é o caminho que leva a esse estado? O estado em que a cobiça, a raiva e a ignorância foram totalmente extintas e exauridas é o estado não-criado. A meditação sobre a vacuidade, a meditação sobre a ausência de sinais e a meditação sobre a ausência de desejos compreendem o caminho que leva a esse estado. Portanto, vocês deveriam entrar na floresta ou nas cabanas vazias onde ninguém mora e deveriam concentrar suas mentes em tais meditações. Não sejam negligentes. Não guardem arrependimento. Este é o ensinamento que eu transmito a vocês.”

(2) Certa tarde, Ananda perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, diz-se que o mundo é vazio. Qual é o sentido de tal afirmação?”

CEBB

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O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ananda, não há ‘eu’ nem ‘meu’; portanto, o mundo é descrito como sendo vazio. A vacuidade do ‘eu’ e do ‘meu’ significa que o olho não é nem o ‘eu’ nem o ‘meu’. Formas ou coisas modeladas não são nem o ‘eu’ nem o ‘meu’. A consciência do olho não é nem o ‘eu’ nem o ‘meu’. Quando o olho e seu objeto correspondente e consciência se encontram é produzida uma impressão; esta impressão também não é nem o ‘eu’ nem o ‘meu’. A sensação que é produzida por esta impressão também não é nem o ‘eu’ nem o ‘meu’. Desta forma as impressões e sensações que são produzidas pelo olho, pelo ouvido, pelo nariz, pela língua, pela pele e pela mente, seus objetos cognitivos correspondentes e suas consciências, e a união de todos estes componentes também não são o ‘eu’ nem o ‘meu’. Tanto o ‘eu’ quanto o ‘meu’ são absolutamente vazios; com base nesta verdade, diz-se que o mundo é vazio.”

(3) Uma noite Sariputta se levantou de sua meditação e se aproximou do Honrado pelo Mundo, curvou-se e se sentou próximo a ele. O Honrado pelo Mundo disse: “Sariputta, sua aparência é pura e serena, e sua compleição é brilhante; em que tipo de meditação você esteve absorto hoje?” “Honrado pelo Mundo, hoje eu entrei na meditação sobre a vacuidade”, respondeu Sariputta. O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, Sariputta, hoje você entrou na meditação dos budas. A Vacuidade é a meditação dos budas. Se um discípulo do Buda desejar entrar na meditação sobre a Vacuidade, ele deveria contemplar da seguinte forma: “Hoje eu fui até a vila para mendigar por comida. Enquanto eu mendigava havia formas vistas por meus olhos, sons percebidos por meus ouvidos, fragrâncias sentidas por meu nariz, sabores degustados por minha língua, sensações táteis percebidas por meu corpo, e darmas percebidos por minha mente. Em todos eles, havia os CEBB

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obscurecimentos da cobiça, da raiva e da ignorância? Ao contemplar desta maneira, se for percebido que tais obscurecimentos estiveram, de fato, presentes, então eu devo me esforçar para me afastar de tais negatividades. Se for percebido que elas não estiveram presentes, então, com alegria e bemaventurança, noite e dia, devo persistir na prática do bem. “Além do mais, Sariputta, este discípulo deve refletir da seguinte forma:

‘Eu

me

afastei

dos

cinco

desejos?

Eu

erradiquei

meus

obscurecimentos? Eu percebi a forma física e a mente que compõem este corpo? Eu pratiquei os múltiplos caminhos que levam à iluminação? Eu alcancei sabedoria e a iluminação?’ Sariputta, depois de refletir sobre si mesmo desta forma, se ele descobrir que não se libertou dos obscurecimentos e que não atingiu a iluminação, ele deveria se esforçar para isso. Se ele tiver se libertado dos obscurecimentos e tiver atingido a iluminação, então com alegria e bem-aventurança, noite e dia, ele deveria persistir nas práticas positivas. “Sariputta, todos os mendicantes que abençoam a comida recebida através da ação de generosidade desinteressada, quer eles sejam do passado remoto, do presente ou do futuro distante, contemplam da maneira que eu descrevi. Portanto, Sariputta, você deveria se disciplinar para abençoar a comida que recebeu através da ação de generosidade desinteressada.”

(4) Em outra ocasião, certa noite Ananda perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, eu me lembro que na pequena vila de Nangaraka pertencente ao clã Sakya você disse para mim: ‘Ananda, hoje em dia eu permaneço quase sempre na meditação sobre a Vacuidade.’ Está correta minha memória?” O Honrado pelo Mundo disse: “Ananda, sua lembrança não está CEBB

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incorreta. Tanto no passado quanto agora, quase sempre eu repouso na meditação sobre a Vacuidade. Este salão de palestras de muitas filas que se encontra nesta grande floresta está vazio de elefantes, cavalos e ovelhas; neste sentido, ele é vazio. O salão não está lotado por homens e mulheres; neste sentido, ele é vazio. A única coisa da qual ele não está vazio é a Sanga. De forma similar, um discípulo restringe o surgimento de pensamentos sobre sua vila, ele não dá nascimento a pensamentos sobre a sociedade, ele pensa apenas sobre aquelas coisas que dizem respeito à floresta. Se ele assim o fizer, sua mente se regozijará com seus pensamentos sobre a floresta; preocupações relativas à vila e à sociedade desaparecerão, e preocupações relacionadas apenas à floresta permanecerão. Os pensamentos sobre sua vila e sobre a sociedade se tornarão vazios, e apenas os pensamentos sobre a floresta não serão vazios. Desta forma, quando algo não está presente é denominado vazio, e quando está presente, diz-se que é existente. “Avançando em sua meditação ele abandona os pensamentos sobre a floresta e gera apenas pensamentos sobre a terra. Ele olha para a grande terra, que está coberta por montanhas, rios, bosques, planaltos e planícies, como a terra plana que está livre de todas as rugas como um pedaço de couro de vaca esticado firmemente como um tambor. Sua mente se regozija com tal pensamento; preocupações relativas à floresta desaparecem, e apenas os interesses relativos à terra permanecem. “Desta forma, passo a passo, ele se move através de uma variedade de meditações e avança até a meditação do não-pensamento. Se ele permanecer na meditação do não-pensamento, então sua mente se regozijará com a meditação do não-pensamento; a única coisa que resta é o interesse relativo ao corpo. Entrando na meditação do não-pensamento ele percebe que sua meditação sobre o não-pensamento é algo que foi criado, algo que foi CEBB

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produzido pelo pensamento. E devido a isto ele percebe que sua meditação também é impermanente e que no final desaparecerá. Então, ele se ilumina com a realização de que agora está livre dos obscurecimentos da cobiça, da existência e da ignorância; de que o que ele tinha que realizar foi alcançado, e que de agora em diante ele nunca mais sofrerá com o nascimento deludido. Entrando nesse estado, ele está livre de todos os interesses que surgem dos obscurecimentos. Os únicos interesses que persistem são aqueles que surgem do corpo. “Desta forma, tudo se torna vazio; a única coisa que não é vazia é o corpo que continua vivendo. Assim, quando algo não está presente é percebido como sendo vazio, e quando algo está lá é percebido como existente. Se, desta maneira, alguém praticar a meditação sobre a Vacuidade, estará de acordo com a verdade e não cairá nas armadilhas dos pensamentos enganosos. Ananda, esforce-se para que você possa permanecer nesta pura e esplêndida meditação sobre a Vacuidade.”

2. A Iluminação Livre de Fixações (1) Certo dia, o Honrado pelo Mundo havia terminado sua ronda de mendicância em Sravasti e retornado ao Monastério do Bosque Jeta. Guardando seus mantos e tigela de mendicância, ele lavou seus pés e se sentou. Subhuti levantou-se em meio à grande assembleia, curvou-se ao Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, o Buda protege todos aqueles que buscam o caminho; além disso, o Buda lhes oferece conselhos sublimes. Eu creio que esta é uma coisa muito rara. Honrado pelo Mundo, se

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as pessoas despertarem a mente que busca o caminho supremo, como elas deveriam restringir suas mentes?” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, Subhuti, para subjugar suas mentes, os bodisatvas deveriam em primeiro lugar fazer com que as miríades de seres sencientes alcançassem o nirvana perfeito. Porém, mesmo que eles tivessem sucesso nisto, não haveria, de fato, ninguém que tivesse alcançado o nirvana. A razão para isto é de que qualquer bodisatva digno deste nome não afirma a existência permanente da pessoa, da identidade, da vida e assim por diante. “Além disso, Subhuti, um bodisatva não deveria se fixar ao Darma. Isto é, mesmo em sua prática de generosidade desinteressada ele não deveria se fixar às coisas que ofertou. Ou seja, ele não deveria se apegar às formas das coisas. Se ele evitar esta forma de agir os méritos e seus benefícios serão ilimitados; eles serão ilimitados como o espaço, que é infinito e incomensurável, quer se olhe para o leste, para o oeste, para o sul ou para o norte. “Subhuti, você não deveria buscar o estado búdico nas formas físicas. A razão para isto é de que as formas físicas expostas pelos budas não são, de fato, formas físicas. Todas as formas são ilusórias. Portanto, se você perceber que todas as formas não são verdadeiramente formas, então você entendeu o estado búdico. Um verso diz: ‘Se alguém me enxergar como uma forma ou me perceber como um som, então essa pessoa caminha por um caminho errôneo, ela não verá o Buda.’”

(2) Subhuti perguntou: “Você pensa, Honrado pelo Mundo, que as pessoas acreditarão em tais palavras?” O Honrado pelo Mundo disse: “Você não deveria falar desta forma. Quinhentos anos após o Buda entrar no nirvana, aqueles que observarem os preceitos e praticarem o bem ouvirão CEBB

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essas palavras e acreditarão na verdade delas. Essas pessoas, por terem estabelecido méritos junto a três ou quatro budas, serão capazes de despertar essa fé pura em um momento de pensamento. Desta forma, elas alcançarão virtudes ilimitadas; isto é, elas assim o farão por nem afirmarem a forma do ‘eu’ nem as formas das pessoas. Subhuti, os budas atingiram a iluminação suprema? Existem darmas que os budas deveriam expor?” Subhuti respondeu: “De acordo com minha compreensão eu não acredito que haja qualquer Darma imutável que possa ser rotulado como a suprema iluminação. E também eu não acredito que para o Buda exista algum darma fixo que ele deva expor. A razão para isto é de que o Darma exposto pelo Buda não pode ser apreendido ou exposto. Seu ensinamento não é nem Darma nem não-Darma, pois todos os arhats são manifestações do não-criado.”

(3) O Honrado pelo Mundo disse: “Subhuti, você acha que todos os arhats veem a iluminação que atingiram como algo que eles atingiram?” Subhuti disse: “Eu não acredito que os arhats pensem desta maneira. A razão para isto é de que não há nada em específico que possa ser chamado de iluminação. Se os arhats pensassem: ‘Eu alcancei tal iluminação’, eles ainda estariam presos ao apego a si mesmos e não poderiam ser chamados de arhats.” O Honrado pelo Mundo disse: “Éons atrás, o Buda alcançou algum Darma na presença do Buda Dipankara?” Subhuti disse: “Eu não acredito que ele tenha alcançado coisa alguma.” O Honrado pelo Mundo disse: “Se houver um bodisatva que afirme ornamentar uma terra búdica, ele não fala a verdade, pois ornamentar uma terra não é ornamentar. Ornamentar e, porém, estar livre de qualquer pensamento sobre ornamentos é realmente ornamentar. Portanto, Subhuti, um bodisatva não deveria posicionar sua CEBB

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mente em qualquer lugar ou coisa, mas deveria repousar na mente.”

(4) Subhuti, ao ouvir este profundo ensinamento, derramou lágrimas de alegria e disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, até hoje eu não havia ouvido tal ensinamento. Se alguém ouvir este ensinamento e despertar a fé pura, esta pessoa alcançará, sem dúvidas, o insight da verdadeira forma da realidade. Esta pessoa alcançará o mais raro e elevado mérito mundano. Eu acredito que você, Honrado pelo Mundo, descreveu aquilo que é originalmente indefinível como a verdadeira forma da realidade.” O Honrado pelo Mundo disse: “Mesmo que alguém concedesse desinteressadamente incontáveis tesouros às pessoas, isto não se compararia com os méritos que surgem da exposição deste ensinamento às pessoas. Como, então, alguém expõe este ensinamento para o benefício dos outros? ‘Todas as coisas são sonhos e ilusões; elas são como bolhas e sombras. Vejam todas as coisas como gotas de orvalho ou como relâmpagos.’” Quando o Honrado pelo Mundo terminou seu discurso, Subhuti e toda a assembleia se encheram de alegria com o Darma e suas mentes ficaram cheias de júbilo.

3. A Essência da Sabedoria Absoluta O Honrado pelo Mundo fitou, novamente, Sariputra e disse: “O bodisatva Avalokitesvara dedicou-se à prática da profunda sabedoria que leva à margem da iluminação. Ele contemplou que a percepção do corpo e da mente como vazios é o caminho para cruzar todo o sofrimento. Portanto,

CEBB

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Sariputra, a forma é simultaneamente vazia; a Vacuidade é simultaneamente forma. A Vacuidade não é separada da forma, a forma não é separada da vacuidade. Isto também é verdade para os outros quatro agregados: sensação, percepção, volição e consciência. Sariputra, todas as coisas são vazias; elas nem nascem nem cessam; elas não são maculadas ou puras; elas nem crescem nem decrescem. Na Vacuidade os cinco agregados como a forma, os seis órgãos sensoriais, como o olho, e os seis objetos de cognição, tais como a forma, não existem. Desde o âmbito da consciência visual até o âmbito

da

consciência

manas

(mental),

nenhum

destes

âmbitos

verdadeiramente existe. Não há nem a ignorância nem o estado no qual a ignorância foi extinta. Não há nem envelhecimento e morte nem o estado no qual envelhecimento e morte foram extintos. O sofrimento, sua causa, a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação não existem. Não há nem sabedoria nem a realização da sabedoria. Como não há nada para atingir, um bodisatva se baseia na sabedoria que leva à margem da iluminação, e sua mente está livre de todas as obstruções. Uma vez que não há obstruções, não há medos para um bodisatva. Ele se liberta dos pensamentos enganosos que são como o sonho e atinge o derradeiro nirvana. Os budas dos três tempos, pela virtude da sabedoria que leva à margem da iluminação, despertam para a iluminação suprema da igualdade. A sabedoria que leva à outra margem, a Perfeição da Sabedoria, é um dharani assombroso e incomparável. Este dharani é verdadeiro e real, e ele extingue todo o sofrimento. Este dharani é: ‘Gate gate paragate parasamgate bodhi svaha’.”

4. A Busca pelo Caminho do Bodisatva Sadaprarudita

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(1) Desta forma, o Honrado pelo Mundo expôs a Prajna-Paramita (Perfeição da Sabedoria); na sequência ele relatou a busca pelo caminho do bodisatva Sadaprarudita: “Subhuti, ao buscar a Perfeição da Sabedoria você deveria

buscá-la

diligentemente,

da

mesma

maneira

do

bodisatva

Sadaprarudita.” E ele contou a seguinte história: Quando o bodisatva Sadaprarudita buscou pela primeira vez a Perfeição da Sabedoria ele estava disposto a abandonar sua vida por este objetivo. Ele se isolou nas montanhas tranquilas, afastado de todo o contato humano. Ele afastou de sua mente pensamentos de fama e das noções do mundo flutuante. Com um único pensamento em mente, ele buscou o caminho. Então, repentinamente, ele ouviu uma voz do céu: “Prossiga, bom homem, arriscando sua vida, prossiga daqui em direção ao leste. Siga com diligência, afastando de sua mente pensamentos sobre fadiga, sono, alimento, noite e dia, calor e frio, e assim por diante. Em relação ao seu corpo e mente, evite gerar pensamentos discriminativos. A verdadeira natureza de todas as coisas é a Vacuidade que é livre de tais discriminações. A mente da cobiça emprega tais distinções e produz as sementes da angústia. Consequentemente, ela destrói a verdadeira natureza de todas as coisas. Se alguém permite que a mente da cobiça se inflame com fúria crescente, essa pessoa vagará perdida para sempre no mundo do sofrimento e será incapaz de, finalmente, atingir a Perfeição da Sabedoria. Portanto, você não deveria nunca distorcer a verdadeira natureza de todas as coisas.”

(2) O bodisatva Sadaprarudita ficou cheio de alegria ao receber este ensinamento e disse: “Certamente seguirei seu ensinamento. Para o bem

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daqueles que sofrem angustiados em meio à vasta escuridão da miséria, eu aspiro me tornar a luz ofuscante da salvação. Irei ponderar apenas sobre a aspiração de conhecer toda a doutrina do Buda e de atingir a iluminação suprema.” Naquele instante, novamente, houve um estrondo vindo do céu. “Muito bom, muito bom, filho de boa família! Busque a Perfeição da Sabedoria unifocadamente, despertando a mente da fé enquanto estiver em meio ao mundo, no qual é difícil de despertar para o Darma; e sem gerar, em momento algum, uma mente de apego e discriminação. Afaste-se de amigos maléficos e se associe a bons amigos. Fique na companhia daqueles que expõem este Darma. Não procure professores com o objetivo de fama mundana e de lucro; busque apenas aqueles bodisatvas que expõem este Darma com uma mente que valoriza e venera o Darma. Enquanto isso, uma hoste de interferências demoníacas pode se apresentar; entretanto, não importa o que os demônios escolham fazer, não perca a esperança. Lembre que um buda muitas vezes salva as pessoas através de meios hábeis; devido ao seu desejo de que as pessoas plantem as raízes do mérito ele recebe suas oferendas dos cinco desejos mundanos. Ele assume a mesma forma física dessas pessoas e vive como elas. Mesmo que os demônios tentem dizer-lhe que o professor honra os cinco desejos mundanos, aceite suas ações como meios hábeis do Buda. Se as ações dos demônios forem impiedosas, é essencial que você as suporte com equanimidade. Se você buscar o Darma e seu professor desta forma, sem dúvidas você alcançará a Perfeição da Sabedoria e será capaz de trazer sua grande aspiração à fruição.”

(3)

O

bodisatva

Sadaprarudita,

ao

ouvir

tal

ensinamento,

imediatamente partiu dali. Fortalecendo sua determinação, ele andou na direção leste de acordo com as instruções do Buda. Entretanto, na estrada, CEBB

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repentinamente uma onda de ansiedade atacou seu coração. No início de sua jornada ele esquecera de perguntar à voz que veio do céu questões como: “Para onde devo ir? É um lugar próximo ou distante? De qual professor eu devo ouvir o Darma?” E, assim, ele se sentiu perdido. Não é que ele estivesse desmotivado devido ao cansaço, ao calor ou ao frio. Ele simplesmente havia encontrado um grande obstáculo que normalmente bloqueia aqueles que verdadeiramente buscam o Darma. Ele permaneceu naquele ponto e fez o voto de não se mover dali até que a escuridão se dissipasse. Como um homem que perdeu seu único filho amado e que, de repente, começa a perder a esperança no mundo, o sofrimento de ver a joia da fé, que ele havia cultivado até agora, ser-lhe arrebatada, era excruciante. Após sete dias ele ouviu dos céus algo que soou como a voz do Buda. “Bom homem, você não deveria agonizar, de forma alguma. O seu sofrimento não é de maneira alguma apenas seu. Todos aqueles que buscaram o caminho no passado experimentaram tal sofrimento. Não se desespere, esforce-se. Unifocadamente aspire a realizar o Darma. Prossiga sempre para o leste; se você viajar cinco mil milhas a partir daqui, você chegará a um grande castelo chamado de Fragrante, ele é circundado por sete fossos concêntricos. É um castelo majestoso no qual as torres, parapeitos e filas de árvores estão todos adornados por sete tipos de gemas. Ele é grandioso e aqueles que lá vivem são muito numerosos. Ele está preenchido por riquezas e prazeres, pertencentes a ninguém em particular. É permitido que cada um simplesmente pegue coisas para si, portanto, ninguém sofre por pensamentos de apego ou vê as coisas como apenas suas. Isto é, de fato, nada menos que a manifestação externa do ensinamento da Vacuidade. Esta é a recompensa para todas essas pessoas que vivem no castelo e que procuraram a sabedoria absoluta com fervor, e que com seus corpos praticaram o CEBB

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caminho. No meio da cidade se encontra uma torre imponente. Lá, o bodisatva Dharmodgata expõe o Darma. Tanto adultos quanto crianças vão até a torre e a veneram, fazendo uma variedade de oferendas ao bodisatva Dharmodgata. Alguns o ouvem ensinar sobre a sabedoria absoluta, alguns guardam o ensinamento em suas memórias. Outros leem, escrevem e meditam de acordo com o ensinamento, ou eles praticam com seus corpos exatamente conforme o ensinado. Apesar de suas atividades serem variadas, suas mentes que veneram e se regozijam com a sabedoria absoluta são uma só. Agora vá até lá e ouça o Darma. Para o seu benefício o bodisatva Dharmodgata servirá sem dúvidas como um bom professor. Não tema, não se canse, esquecendo tanto o dia quanto a noite e, abandonando a mente que se torna uma obstrução, vá adiante com a mente unifocada.”

(4) Ao ouvir isto, o júbilo do bodisatva Sadaprarudita se elevou como a maré do oceano. A mente deste bodisatva era como a de um homem que foi alvejado por uma flecha venenosa e que rapidamente procura um médico hábil. Ele desejava encontrar o professor rapidamente e ter a escuridão de sua mente iluminada por ele. Contemplando apenas o pensamento do bom professor e coberto pela luz, ele despertou em seu interior uma determinação firme e inflexível. Ele gerou uma sabedoria inabalável que não poderia ser obstruída por qualquer demônio. Pensamentos livres de obstruções em relação a todas as coisas se manifestaram em seu interior. Naquele momento, budas no céu disseram-lhe: “Bom homem, o caminho que preenche suas aspirações foi agora realizado. Anteriormente, quando nós, também, estávamos praticando o caminho, assim como você agora, a mente da meditação se manifestou, e nós realizamos a Perfeição da Sabedoria. O poder para salvar as pessoas despertou e nós ascendemos ao estado onde não há CEBB

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regressão. Portanto, agora é o momento em que você deveria valorizar e venerar a doutrina do Buda, em relação ao seu bom professor você deveria guardar os mesmos pensamentos que você sustenta em relação ao Buda.” “Quem é meu bom professor?” perguntou o bodisatva Sadaprarudita. A voz respondeu: “Seu bom professor não é ninguém mais que o bodisatva Dharmodgata. Desde o passado distante este bodisatva tem devotado sua energia para guiá-lo. Quando refletir sobre isso, você verá que mesmo que lhe oferecesse todos os tesouros do mundo pela longa duração de cem mil anos, isto não seria suficiente para retribuir mesmo uma pequena porção de seu débito de gratidão.”

(5) A mente do bodisatva Sadaprarudita voou imediatamente para seu professor, o bodisatva Dharmodgata, e ele pensou consigo mesmo: “Éons atrás, tendo praticado a Perfeição da Sabedoria, o bodisatva Dharmodgata alcançou a iluminação. Devo procurar este professor imediatamente.” Quanto mais pensava sobre o professor, mais o bodisatva ponderava sobre que oferenda ele deveria fazer ao seu professor. Ele pensou: “Quando eu chegar ao local do professor devo fazer uma oferenda, mas não possuo nem mesmo um pedaço de pano, e o que dizer de riquezas como ouro e prata. Se eu me apresentar diante dele como sou, sem qualquer oferenda, ele poderá me perdoar, mas não serei capaz de manifestar meu verdadeiro coração.” O bodisatva pensou: “Como não tenho nada para oferecer irei simplesmente sacrificar meu corpo e entregá-lo como oferenda. Devido à cobiça tenho passado por infinitos ciclos de nascimento e morte, sempre retornando às chamas do inferno. Eu não entreguei minha vida nem mesmo uma vez para o bem do Darma ou por gratidão. Agora é o momento de oferecer minha vida para benefício do nobre caminho.” Com esta determinação, ele seguiu na CEBB

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direção leste e logo chegou a uma grande cidade. Com a ideia de vender seu corpo nesta cidade ele caminhou através das ruas buscando um comprador, bradando: “Há alguém aqui que precise de um homem? Há alguém que precise de um homem?” Nesse momento, o Demônio pensou: “Se eu permitir que este bodisatva reúna os recursos para sua oferenda ele alcançará a iluminação, sem dúvidas. Se isto acontecer, nosso mundo será destruído. De qualquer forma possível eu devo bloquear seus esforços e impedi-lo de encontrar um comprador.” Então, o Demônio prosseguiu tapando os ouvidos de todos na cidade. O bodisatva Sadaprarudita, que não sabia disso, sentiu-se abatido, pois por mais que ele caminhasse ou gritasse, nenhuma pessoa parou ou respondeu a sua oferta. Ele pensou: “Qual é o mal que eu carrego para não conseguir encontrar nem mesmo um comprador nesta grande cidade?” Permanecendo em pé em uma esquina, ele explodiu em lágrimas.

(6) Nesse momento, Indra o rei dos deuses, a deidade guardiã da doutrina do Buda, percebeu o que acontecia. Decidido a oferecer ao bodisatva, após testar sua determinação, um guardião, ele assumiu a forma de um jovem homem e apareceu diante do bodisatva. Então, ele perguntou: “Por que você está chorando?” O bodisatva respondeu: “Buscando o Darma unifocadamente, eu cheguei a este lugar. Estou próximo ao local onde reside o bodisatva Dharmodgata. Portanto, pensei em vender meu próprio corpo e assim adquirir os recursos para uma oferenda. Entretanto, como meus méritos talvez sejam fracos, fui incapaz de encontrar mesmo um único comprador. É por isto que estou me repreendendo.” Indra, na forma do jovem homem, examinou o rosto do bodisatva e disse: “Isto é muito desafortunado. Eu mesmo não estou precisando de um CEBB

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homem. Mas meu pai deseja oferecer um sacrifício humano e precisa de um coração, de sangue e da medula dos ossos de um homem. Se você os der a mim, irei pagar-lhe por eles.” O bodisatva pensou: “Depois de tudo, eu encontrei facilmente um comprador”, e ele disse com grande alegria: “Irei vender-lhe este corpo, visto que você tem uma utilidade para ele.” O brâmane perguntou: “Qual é o preço que você está pedindo?” O bodisatva disse: “Deixarei o preço por sua conta.” E Sadaprarudita pegou uma espada afiada e cortou seu cotovelo esquerdo, fazendo o sangue jorrar. Então ele fez um corte na coxa direita; seus ossos foram quebrados e ele os golpeou em pedaços para que a medula pudesse escorrer para fora.

(7) Nesse momento, apareceu a filha de um mercador que havia escapado à obstrução da audição causada pelo Demônio devido ao seu carma passado. Do segundo andar de sua casa ela estivera observando a cena sangrenta; levada pela excessiva brutalidade ela desceu até a rua sem qualquer consideração por sua própria segurança. E ela lhe perguntou o porquê daquilo. O bodisatva disse: “Buscando o Darma unifocadamente, eu cheguei a este lugar. E para levantar recursos para fazer uma oferenda ao bodisatva Dharmodgata, eu vendi meu corpo.” A donzela disse: “Você jogou fora sua vida com o propósito de realizar uma oferenda a alguém. Que tipo de pessoa é esta que possui valor maior que sua própria vida?” O bodisatva disse: “Ele é alguém que, dotado com a Perfeição da Sabedoria, revelará a prática dos bodisatvas para meu benefício. Através de sua orientação alcançarei a iluminação suprema e me tornarei um refúgio para todas as pessoas. Assim, serei capaz de salvar todos os seres à vontade.” Esta resposta foi realmente um nobre ensinamento que surge raramente CEBB

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neste mundo. A donzela derramou lágrimas de alegria assim que ouviu as palavras do bodisatva. Ela disse: “Eu acredito que você está correto. Se o ensinamento é assim tão nobre, mesmo que alguém imolasse o próprio corpo vezes tão numerosas quanto os grãos de areia de uma praia, ainda assim essa seria uma oferenda irrisória. Se são oferendas que você busca, oferecerei o que você quiser. Por favor, aceite tudo de bom grado. Imploro-lhe para me levar junto com você.” Naquele momento, Indra despiu sua forma de jovem homem e reassumiu sua aparência de um deus. Ele disse: “Muito bom, muito bom, filho de boa família; estou profundamente comovido com sua determinação de buscar o caminho. Na verdade, eu sou Indra. Eu estava simplesmente testando sua determinação, e de forma alguma era minha verdadeira intenção abusar de você.” Ao dizer isto, ele desapareceu repentinamente; ao mesmo tempo, o corpo do bodisatva retornou à sua condição original, livre de qualquer traço de ferimentos. A donzela deixou o bodisatva esperando em frente ao portão, e ela correu até seus pais, explicando tudo em grandes detalhes para eles; ela implorou-lhes para lhe darem os recursos para uma oferenda ao bodisatva junto com quinhentas carruagens e suas quinhentas jovens servas. Os pais disseram: “Como você diz, não há dúvida de que ele seja um nobre homem. Conforme seu desejo, ofereceremos a ele o que quer que deseje. De fato, você despertou para algo de grande valor. Deste dia em diante, junto com esta pessoa, você deveria trilhar o caminho das oferendas.”

(8) Todas as preparações foram feitas. Quinhentas carruagens construídas com os sete tipos de gemas foram completamente carregadas com flores raras que crescem na água e na terra, vestes valiosas, incensos CEBB

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fragrantes, colares e uma variedade de provisões. O bodisatva Sadaprarudita estava no centro, circundado pela donzela e pelas suas quinhentas jovens servas. Todos se colocaram no caminho em direção ao leste para o castelo Fragrante; eles encontraram uma cena de maior beleza que qualquer pintura. Havia ornamentos feitos dos sete diferentes tipos de gemas, uma parede de sete gemas, fossos de sete gemas que circundavam o castelo em sete filas. No tempo devido eles entraram na cidade e puderam se curvar reverentemente ao bodisatva Dharmodgata, o qual estava no topo de uma imponente torre circundado por uma grande multidão. O júbilo do bodisatva Sadaprarudita elevou-se ao ponto mais alto. Todos eles desceram das carruagens silenciosamente e se aproximaram do bodisatva Dharmodgata. Havia um palco de sete gemas, adornado por árvores de sândalo fragrantes. Do alto pendiam redes feitas de pérolas. Nos quatro cantos brilhavam muitas gemas, e no incensário um maravilhoso incenso queimava. No centro do palco havia uma grande almofada de sete gemas. No topo havia uma pequena almofada quadrada. Lá, o Sutra da Prajnaparamita, escrito em letras douradas, encontrava-se em um relicário. Sobre ele havia uma miríade de ornamentos e um dossel sobre a almofada. Indra liderava seu séquito de deuses acima dos ornamentos; de lá, os deuses espalhavam as divinas flores mandarava e incensos maravilhosos, enquanto tocavam a música celestial. O bodisatva Sadaprarudita estava estupefato com a cena, como a qual ele nunca havia visto antes, e voltando-se para Indra, ele perguntou: “Ó deus, por que você nos oferece a alegria deste palco?” Indra respondeu: “Realmente, a razão para isto é que este palco é o lugar onde a Perfeição da Sabedoria, a mãe de todos os budas e bodisatvas, está guardada em um relicário.” O bodisatva Sadaprarudita se encheu de alegria ao ouvir que este era o lugar onde a Perfeição da Sabedoria estava guardada. Ele disse: “É ela que CEBB

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venho buscando mesmo sob o risco de minha própria vida. Suponho que esteja em meio a uma hoste de budas. Por favor, deixe-me vê-la.” Indra respondeu: “Eu não posso permitir. O bodisatva Dharmodgata gravou sobre ela um selo feito com as sete gemas, e eu não tenho a permissão para quebrar este selo.” O bodisatva Sadaprarudita, acompanhado pelas donzelas e as quinhentas jovens servas, dividiram as pilhas de oferendas que tinham trazido em dois grupos. O primeiro grupo eles ofereceram à Perfeição da Sabedoria, e o segundo eles ofereceram ao bodisatva Dharmodgata. Milagrosamente, as flores, incensos e panos foram suspensos no espaço e se transformaram em um palco de flores. O incenso de pó de madeira de sândalo e as flores douradas e prateadas se transformaram em cortinas preciosas que cobriram o palco, elas se transformaram em dosséis e fitas preciosos que adornaram o palco. Tudo isto aconteceu pelo poder do bodisatva Dharmodgata. O júbilo da filha do mercador e das jovens servas era imenso, e elas despertaram a mente do caminho. Elas despertaram a aspiração de poderem, também, assim como o bodisatva Dharmodgata, um dia manifestarem poderes milagrosos e exporem a Perfeição da Sabedoria.

(9) Naquele momento, o bodisatva Sadaprarudita, acompanhado pela filha do mercador e as jovens servas, aproximaram-se do bodisatva Dharmodgata e curvaram-se com reverência juntando as palmas de suas mãos, e então ele contou sua vida passada até aquele momento. Ele disse: “De onde vieram os budas das dez direções que me guiaram até o Honorável, e para onde eles partiram? Eu não desejo nunca sair do lado dos budas. O fato de que eu não consigo permanecer continuamente diante dos budas é meu maior sofrimento.” CEBB

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O bodisatva Dharmodgata explicou: “Bom homem, não podemos dizer de onde os budas vêm ou para onde eles vão, pois a verdadeira forma de todas as coisas é a vacuidade. Eles nem nascem nem morrem, apesar de aparecerem quando vistos com os olhos do apego. Além do mais, eles não se manifestam como bons ou maus, feios ou puros, odiosos ou amáveis, cedendo à mente do apego. Eles não são maculados, absolutamente nem um pouco, pela mente do apego. Apesar deles permanecerem em meio a negatividades violentas sua tranquilidade não é afetada de forma alguma. Transformações como nascimento e extinção e bem e mal surgem devido ao apego daquele que vê. Os budas nos ensinam a abandonar a mente do apego e a ver a verdade da Vacuidade, que é serena e imutável. Os budas são seres que se iluminaram para a verdadeira natureza de todas as coisas, que é a Vacuidade; portanto, para os budas, não há tais coisas como vir ou ir. A verdade de todas as coisas e o corpo de todos os budas são uma única e a mesma coisa; eles não são diferentes de forma alguma. Bom homem, se você decidir fazer diferenciações, este mundo poderá ser dividido em uma miríade de formas; a verdade, entretanto, não está presa nestas diferenciações. Se alguém em busca de água correr atrás das ondas de calor tremulantes que se elevam ao meio-dia na primavera, você consideraria este ato sábio?” O bodisatva Sadaprarudita disse: “Grande professor, água não pode ser encontrada em ondas de calor tremulantes.”

(10) O bodisatva Dharmodgata disse: “Está correto. De fato, é tolice alguém que sofre de calor e sede se alegrar ao confundir ondas de calor tremulantes com água. Agarrar-se aos budas e ponderar de onde eles vieram e para onde eles foram é igualmente tolo. Os corpos dos budas se manifestam para o benefício das pessoas; eles assim o fazem por breves períodos como CEBB

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um meio hábil. Portanto, apenas com este corpo não é possível perceber o verdadeiro Buda. O verdadeiro Buda e a verdade final são a mesma coisa. O Buda no formato de um corpo é um recipiente; como esse recipiente está cheio até a boca com a iluminação, mesmo o recipiente, ou seja, o corpo, é chamado de Buda. Para a verdadeira iluminação não há coisas como vir ou ir; portanto, isto também é verdade para os budas. Bom homem, ao ver todos os tipos de coisas em um sonho, seria tolo pensar que elas seguiriam existindo mesmo após despertar. Os budas sempre ensinaram que todas as coisas são como esses sonhos. Seria tolice apegar-se a budas que manifestam, como num sonho, suas formas passageiras neste mundo humano. Ignorantes da verdade última de sua iluminação, seria o máximo da tolice perseguir budas devido ao apego por seus nomes ou corpos. Bom homem, portanto, você deveria perceber a verdadeira natureza de todas as coisas, que é serena, imutável e livre de nascimento e extinção, de vir ou ir. Devemos abandonar o apego a todas as coisas. Se você for incapaz de conceder méritos aos outros, você não deveria aceitar os presentes oferecidos pelas pessoas. Por outro lado, ao receber presentes, se você for capaz de ajudar as pessoas a plantarem méritos, então você deveria recebê-los com alegria e deveria se tornar um campo produtor de méritos. Afastando-se do apego, não fazemos coisas apenas para nós mesmos; se for para o bem dos outros, então recebemos tanto os presentes quanto as oferendas. Assim podemos criar o caminho dos meios hábeis. Esse homem poderá ser chamado de verdadeiro discípulo do Buda. “Bom homem, o grande oceano está preenchido por miríades de tesouros. Entretanto, esses tesouros nem caíram dos céus nem brotaram da terra. Todos eles nasceram de causas e condições. Portanto, quando essas causas e condições chegarem ao fim, esses tesouros também desaparecerão. Da mesma forma, o alaúde que produz sons melodiosos não é um produto CEBB

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apenas do corpo, do pescoço, da pele, das cordas ou das cravelhas. Seu som não é produzido apenas pelas mãos humanas. As causas e condições adequadas se reúnem, e então, pela primeira vez, são produzidos sons melodiosos. O nascimento e a extinção, a vinda e a partida dos budas não se dão devido a uma única causa, uma única condição, ou um único mérito. Todas as causas e condições devem atingir a fruição em conjunto, e quando o momento adequado para a salvação das pessoas tiver chegado, os budas aparecerão neste mundo. Quando essas causas e condições chegarem ao fim, os budas se retirarão deste mundo. Nascimento e extinção, vir e ir apenas existem devido a causas e condições. Mesmo que nascimento e extinção e vir e ir existam temporariamente, sua verdadeira natureza é serena e imutável. Se você despertar para esta verdade não haverá necessidade de ficar espantado ou pesaroso com o nascimento, extinção, vindas e partidas dos budas. No final você alcançará a iluminação suprema e será capaz de praticar os meios hábeis e a sabedoria.”

(11) Quando este discurso terminou, Indra lançou as divinas flores mandarava sobre o bodisatva Sadaprarudita, e disse: “Bom homem, ofereça estas flores ao bodisatva Dharmodgata. Eu irei protegê-lo. Por um tempo incomensurável você passou por dificuldades de forma a ser capaz de salvar as pessoas. Uma pessoa virtuosa como você não surgirá facilmente outra vez. Sua busca pela iluminação com tamanho fervor trará, sem dúvidas, benefícios a uma grande multidão e lhes concederá a suprema iluminação.” O bodisatva Sadaprarudita se alegrou com estas palavras de Indra. Tendo recebido as flores de Indra, ele espalhou-as sobre a cabeça de Dharmodgata, e disse: “Ó grande professor, de hoje em diante ofereço meu próprio ser a você como um presente, e irei servi-lo com a totalidade de meu CEBB

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ser.” Então, a filha do mercador e as quinhentas jovens servas disseram ao bodisatva Sadaprarudita: “Nós também, de nossa parte nos oferecemos como presentes e iremos servi-lo com a totalidade de nossos seres de hoje em diante. Junto com você faremos oferendas a todos os budas de todas as eras. Faça conosco o que desejar.” O bodisatva Sadaprarudita ofereceu, então, a Dharmodgata a filha do mercador, as quinhentas jovens servas e as miríades de tesouros nas quinhentas carruagens que tinham sido trazidas até ali. Ele disse: “Grande professor, por favor, permita que estas quinhentas jovens servas permaneçam ao seu lado para servi-lo dia e noite. E, por favor, também faça uso destes tesouros das quinhentas carruagens para suas necessidades diárias.” Ao ouvir isto, Indra disse: “Este é um evento realmente soberbo. Você percebe que a verdadeira natureza de todas as coisas é a Vacuidade. Sem se apegar a qualquer coisa virtuosa ou mérito, você os oferece desinteressadamente aos outros para o bem da iluminação. Isto é verdadeiramente nobre; todos os bodisatvas deveriam ser assim. Todos os budas do passado praticaram desta forma, alcançaram a Perfeição da Sabedoria e atingiram o poder dos meios hábeis. Este bodisatva se tornará, sem dúvidas, desta mesma forma.” Com estas palavras, Indra louvou o bodisatva Sadaprarudita. De modo a plantar as raízes de mérito, o bodisatva Dharmodgata alegremente aceitou suas oferendas. Mas, então, ele as devolveu ao bodisatva Sadaprarudita. Então, quando a noite chegou, ele se levantou e foi para o palácio. Naquele momento, o bodisatva Sadaprarudita pensou: “Eu vim aqui para buscar o Darma; eu não vim para este mundo com desejo por prazeres que são como sonhos. Portanto, eu não irei me deitar ou sentar até que o mestre do Darma retorne e exponha o Darma novamente.” CEBB

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(12) No palácio, o bodisatva Dharmodgata entrou em meditação e, por sete anos, ele se dedicou à meditação da Perfeição da Sabedoria. Entretanto, o bodisatva Sadaprarudita não se cansou na espera; ele não despertou os obscurecimentos da cobiça, da raiva e da ignorância, nem ele se viciou na própria iluminação. Ele apenas continuou em pé ou caminhando, esperando atentamente pelo momento em que o professor exporia novamente o Darma. Depois de sete anos uma voz dos céus disse ao bodisatva Sadaprarudita que em sete dias o professor sairia de sua meditação. O bodisatva Sadaprarudita, acompanhado da filha do mercador e das quinhentas jovens servas, construíram um palco com as sete gemas. No palco eles estenderam suas roupas superiores e rezaram para que o professor expusesse o Darma, enquanto sentavam sobre as roupas. Com a intenção de aspergir água para pacificar a poeira, de modo que nenhum grão de poeira caísse sobre o corpo do professor, Sadaprarudita procurou por água, mas foi incapaz de encontrála, pois o Demônio havia escondido toda a água, e Sadaprarudita ficou extremamente desolado. Mas, então, ele tomou uma espada e perfurou repetidamente seu corpo, usando o sangue de seu próprio corpo para aspergi-lo sobre o chão pacificando a poeira, e as donzelas fizeram o mesmo. Com o pensamento de que desde um tempo sem início ele havia sofrido numerosos ferimentos em seu corpo, e de que era a primeira vez que ele sofria um ferimento para tal propósito, o bodisatva Sadaprarudita estava pleno de alegria, e apesar da dor nem ele nem qualquer uma das donzelas se abalaram. Indra ficou profundamente comovido e cantou seus louvores: “Este é verdadeiramente um ato nobre. Como ele buscou a iluminação através deste tipo de esforço, sua mente se mantém imutável. De fato, todos os budas do passado foram exatamente assim.” E Indra transformou todo o CEBB

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sangue em água celestial perfumada por madeira de sândalo.

(13) Assim, depois de terem se passado sete anos, o bodisatva Dharmodgata, circundado por uma enorme multidão de pessoas, avançou em direção ao palco que tinha sido preparado para ele. O bodisatva Sadaprarudita venerou com reverência o professor, e seu coração se encheu de alegria. Então, o bodisatva Dharmodgata expôs o Darma: “Bom homem, ouça bem: guarde isto no coração de sua mente. Irei para o seu benefício expor a Perfeição da Sabedoria. Bom homem, todos os darmas são iguais, e as diferenciações absolutas nas quais as pessoas ignorantes acreditam não existem. Perceber isto é a Perfeição da Sabedoria; portanto, a Perfeição da Sabedoria também é igual. Todos os darmas são iguais; portanto, não há tais diferenciações como amor e ódio, ou bom e mau, como acreditam as mentes cheias de desejo. Da mesma forma, todos os darmas estão desconectados dos apegos das pessoas; a Perfeição da Sabedoria que gera este desapego também está desconectada do reino do apego. Bom homem, todos os darmas são desta forma iguais; eles estão desconectados do apego. Portanto, pensar, ao ver as coisas com os olhos do apego, que nascimento e extinção, e vir e ir existem é um erro. Isto é, a natureza fundamental dos darmas é livre de todo movimento. Além disso, os darmas não manifestam formas de amor e raiva devido aos seus pensamentos; portanto, deveria ser dito que os darmas não têm pensamentos. Como eles estão livres de pensamentos, os darmas nunca são perturbados por inimigos temerosos. Os darmas são, portanto, chamados de darmas destemidos, e como eles estão imbuídos do mesmo valor, eles são chamados de darmas de um único sabor. A Perfeição da Sabedoria, que se encontra em união com os darmas, também é imutável, livre de pensamentos, destemida e de um único sabor. Bom homem, como todos os darmas estão CEBB

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livres de amarras, a Perfeição da Sabedoria também está livre de limites. Como todos os darmas nem nascem nem se extinguem, a Perfeição da Sabedoria também é não-nascida e não morre. Bom homem, o espaço e o grande oceano não têm limites; a Perfeição da Sabedoria também possui o grande ornamento da ausência de limites, assim como os ornamentos do Monte Sumeru em sua mais esplêndida beleza. Às vezes o espaço produz calamidades inesperadas; entretanto, o espaço não faz isto como resultado de um pensamento; da mesma forma, a Perfeição da Sabedoria também é livre de diferenciações, que são o resultado do pensamento. A verdadeira natureza de todos os darmas é como um diamante; portanto, a Perfeição da Sabedoria também é como um diamante. Desta forma, todos os darmas e a Perfeição da Sabedoria são absolutamente a única e a mesma coisa. Ambos não se diferenciam; suas verdadeiras naturezas são difíceis de apreender; eles são livres de apego; suas ações não são realizadas voluntariamente; eles são inconcebíveis e não podem ser abarcados pelo pensamento; eles são os darmas sem diferenciações, inapreensíveis, sem acumulações cármicas, sem ações e inconcebíveis.” Ao ouvir este ensinamento, o bodisatva Sadaprarudita foi capaz, naquele mesmo momento, de repousar serenamente no Darma, e foi capaz de atingir todas as meditações e de ver todos os budas dos três tempos e das dez direções, tão numerosos como as areias do Ganges, expondo a Perfeição da Sabedoria a suas multidões de discípulos.

(14) Assim, o Honrado pelo Mundo expôs a história da busca do bodisatva Sadaprarudita pelo Darma; e ele disse a Subhuti: “Subhuti, agora, circundado por inúmeros discípulos, eu exponho a Perfeição da Sabedoria neste mundo. Assim como eu contei na história do bodisatva Sadaprarudita, CEBB

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os budas dos três tempos e das dez direções, tão numerosos como as areias do Ganges, estão expondo a Perfeição da Sabedoria. A Perfeição da Sabedoria é realmente um nobre ensinamento compartilhado por todos os budas. Subhuti, o bodisatva Sadaprarudita, depois disto, ouviu atentamente e guardou o ensinamento, como o grande oceano que recebe todas as águas e não perde uma única gota. Ele sempre permaneceu próximo a um buda, nascendo em reino após reino nos quais os budas residem. Agora ele tem o poder de renascer no local de qualquer buda, de acordo com suas aspirações. Ele é capaz de fazer isto por virtude de sua prática da Perfeição da Sabedoria. Você deveria saber que é apenas depois de se dedicar desta forma que alguém se torna capaz de acumular todos os méritos e a sabedoria universal.”

(15) O Honrado pelo Mundo, ao terminar de expor o Darma, perguntou a Ananda: “Ananda, você acredita, do fundo de seu coração, que eu sou seu professor e que você é meu discípulo?” Ananda respondeu: “Eu me regozijo porque o Honrado pelo Mundo é o meu professor e porque eu sou um discípulo do Honrado pelo Mundo.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, Ananda, eu sou seu professor e você é meu discípulo inabalável. Até hoje, você tem realizado continuamente seus deveres como um discípulo. Ananda, tudo que você pensou, disse e fez tem sido de acordo com meus desejos. A maneira como você está me servindo é realmente esplêndida; após minha morte, você deve servir a Perfeição da Sabedoria com o mesmo sentimento com o qual me serviu. Não se esqueça de fazer isto; não abandone isto; como detentor deste ensinamento, eu lhe peço para cumprir o seu dever. Ananda, você deveria pensar que onde quer que um seguidor do caminho se encontre, lá estará a Perfeição da Sabedoria, e onde quer que a Perfeição da Sabedoria apareça, o CEBB

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Buda também estará lá, expondo o Darma.” Quando o Honrado pelo Mundo terminou sua exposição do Darma, as mentes das pessoas estavam plenas de alegria.

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LIVRO IV Capítulo III - A TRANSFERÊNCIA DE MÉRITOS

1. Os Três Tipos de Professores

(1) Assim, o Honrado pelo Mundo se dirigiu para o norte e entrou em Savatthi. Então, ele viajou pelo país de Kosala e permaneceu em uma vila chamada Salavatika. Esta vila havia sido dada ao brâmane Lohicca pelo rei Pasenadi. Com muito pasto e campos de arroz os aldeões prosperavam e estavam em boas condições. O líder Lohicca mantinha este pensamento em sua mente: “É possível que um monge alcance o bem ao qual ele aspira, mas ele não deveria ensiná-lo aos outros. Isto porque seria difícil para ele conceber o que outra pessoa seria capaz de fazer. O ensinamento seria como soltar um velho grilhão e criar um novo. Isto seria, de toda forma, uma espécie de autoindulgência.” Ao ouvir que o Honrado pelo Mundo tinha chegado à vila, Lohicca chamou o cabeleireiro Bhesika para transmitir seus respeitos ao Honrado pelo Mundo, e para convidar o Buda para jantar no dia seguinte. Bhesika, tendo transmitido os desejos de Lohicca, acompanhou o Buda. Ao longo do caminho ele mencionou ao Buda os pensamentos que o mestre Lohicca mantinha em sua mente, e implorou ao Buda para empregar seu poder para

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afastar os pensamentos errôneos de Lohicca.

(2) Ao oferecer alimento ao Buda, Lohicca tomou seu assento em uma posição inferior na presença do Buda. O Honrado pelo Mundo, referindo-se aos pensamentos que, segundo lhe haviam dito, Lohicca mantinha em sua mente, perguntou-lhe se ele, de fato, pensava daquela maneira. Lohicca respondeu que sim. Então, o Buda perguntou-lhe: “Lohicca, atualmente você é o senhor desta vila de Salavatika. Poderia haver alguém que afirmasse que você, o brâmane, deveria guardar toda a colheita e produção para você mesmo e que não deveria compartilhá-las com os outros. Agora, poderia tal pessoa se tornar uma ameaça para a manutenção da paz e da harmonia nesta vila?” Diante da pergunta, Lohicca respondeu que, com certeza, essa pessoa seria uma ameaça. O Honrado pelo Mundo continuou, e disse: “Tal pessoa se torna uma ameaça por não ser solidário e por guardar animosidade em seu coração. Uma pessoa que guarda animosidade em seu coração não possui visões errôneas? É bem sabido que uma pessoa de visões errôneas renascerá no inferno. Então, estendendo a situação que eu mencionei a você, ela se aplicará no caso rei Pasenadi. O rei governa os países de Kasi e Kosala; entretanto, se houver pessoas que argumentem que as colheitas e frutos desses dois países deveriam ser oferecidas apenas ao rei e não aos outros, tais pessoas representam uma ameaça para os habitantes dos dois países. Elas não possuem compaixão, estão cheias de hostilidade, vivem vidas pervertidas e terão que cair nos infernos. Ó Lohicca, aqueles que dizem: ‘Um mendicante não deveria contar às outras pessoas o bem que ele realizou’, levantam barreiras para aqueles que ingressaram no caminho do Buda e estão nutrindo as sementes da iluminação. Falta-lhes compaixão, eles estão cheios de CEBB

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hostilidade, eles residem na maldade e, portanto, deverão cair nos infernos.

(3) “Lohicca, existem três tipos de mestres que deveriam ser advertidos. Os primeiros são aqueles que, tendo se tornado mendicantes, falharam em alcançar suas metas e, mesmo assim, instruem seus discípulos, dizendo: ‘Estes ensinamentos são bons para vocês e lhes trarão felicidade’, e cujos discípulos não escutam o que esses monges dizem e, no final, os abandonam. Este tipo de professor deveria ser advertido da seguinte forma: ‘Apesar de você ter sido ordenado monge, você ainda não alcançou suas metas. Então, como você tenta ensinar seus discípulos, eles escolhem não escutar os seus ensinamentos, mas procuram por outros mestres buscando orientação. Os seus ensinamentos não agradam, assim como um homem que se apaixona por uma mulher que não gosta dele e que tenta se agarrar a ela, não irá agradá-la. Este é um tipo de apego indevido.’ Tal advertência é justificada. “O segundo tipo são aqueles que se tornaram mendicantes, mas que falharam em alcançar suas metas, mas mesmo assim instruem seus discípulos, dizendo: ‘Estes ensinamentos são bons para vocês e lhes trarão felicidade’, e cujos discípulos ouvem atentamente as instruções dos mestres e seguem seus caminhos com sinceridade. Estes mestres deveriam ser advertidos da seguinte forma: ‘Você esqueceu o seu próprio campo e está limpando o campo dos outros. Este também é um tipo de apego indevido.’ Tal advertência é justificada. “O terceiro tipo são aqueles que alcançaram o propósito de sua renúncia e que estão ensinando seus discípulos, mas cujos discípulos não ouvem os ensinamentos dos mestres e estão se afastando dos mestres. Estes mestres, também, deveriam ser advertidos da seguinte forma: ‘O que você está fazendo é como libertar-se de antigas amarras, e ao mesmo tempo criar CEBB

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novas amarras, que é uma forma de apego negativo. Como pode alguém impor seus desejos aos outros?’ Tal advertência é justificada.

(4) Lohicca perguntou ao Buda se havia professores no mundo que não deveriam ser criticados. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Lohicca, digamos, por exemplo, que desde o momento do surgimento do Buda neste mundo, o Darma tem sido ensinado. Homens leigos, ao ouvirem isto, colocaram sua confiança no Darma e se tornaram monges. Eles seguem vivendo suas vidas de acordo com os preceitos e encontram felicidade nas ações corretas, são temerosos mesmo diante da menor ofensa, são sempre cautelosos com os cinco sentidos, realizam a meditação superando os desejos com as mentes cultivadas através da concentração, e atingem o poder de conhecer os eventos do passado e os pensamentos dos outros e de superar os obscurecimentos. Assim, tendo alcançado a liberação completa, eles estão completamente conscientes desta realização. Agora, Lohicca, qualquer mestre cujos discípulos tenham atingido tais níveis de emancipação sob sua orientação

nunca

merecerá

ser

criticado.

Criticá-lo

não

é

apenas

desnecessário, mas é o mesmo que cometer uma transgressão.” Lohicca, ao ouvir estas instruções do Buda, regozijou-se enormemente, dizendo: “Como um homem que estava prestes a cair de um penhasco, mas que foi salvo por outro que o segurou pelo colarinho, eu, que estava destinado a cair nos infernos, fui salvo pelo Buda.” Lohicca tomou refúgio no Buda e se tornou seu discípulo.

(5) O Honrado pelo Mundo continuou suas viagens e chegou à vila de Manasakata, que era governada por um líder brâmane. Ele repousava em uma floresta ao longo do rio Aciravati. Naquele momento, os famosos CEBB

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brâmanes Tarukkha e Pokkharasati tinham assuntos para resolver e estavam hospedados naquela vila. O discípulo líder do último mestre, Vasettha, e aquele do primeiro mestre, Bharadvaja, estavam discutindo temas relacionados à natureza verdadeira e falsa do caminho, enquanto tranquilamente passeavam ao longo da margem arenosa, depois de terem tomado seus banhos noturnos. De acordo com Vesattha, o ensinamento que ele recebera do mestre Pokkharasati era tão autêntico que, se alguém seguisse fielmente

aquele

caminho,

essa

pessoa

encontraria

infalivelmente

renascimento no reino dos deuses. Mas, de acordo com Bharadvaja, o ensinamento do brâmane Tarukkha era, na verdade, o verdadeiro ensinamento. Assim, os dois foram incapazes de derrotar um ao outro na discussão. Finalmente, eles concordaram em ir até o famoso Gotama para pedir sua opinião.

(6) O Buda lhes fez uma pergunta: “Vasettha diz que o caminho que lhe foi ensinado por seu mestre é o caminho que leva ao renascimento no reino dos deuses, e Bharadvaja também clama que seu mestre ensina o caminho correto. Qual é a diferença de opiniões, a causa da controvérsia?” Diante da pergunta do Buda, eles responderam: “Estamos discutindo sobre a natureza verdadeira ou falsa do caminho. Existem muitos mestres brâmanes que estão ensinando o caminho. Talvez todos os ensinamentos expostos pelos professores e mestres nos possibilitarão renascer no reino dos deuses. Isto não é similar à convergência de muitas estradas perto de cidades e vilas, quando elas se tornam uma única estrada?” O Buda respondeu: “Vasettha, você está querendo dizer que os ensinamentos desses brâmanes levarão seus seguidores até suas metas infalivelmente?” Ele respondeu: “Sim.” CEBB

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O Buda perguntou: “Vasettha, de todos os brâmanes que estudam os principais textos védicos, você conhece algum que, de fato, viu um deus?” Ele respondeu: “Não.” Então, o Buda perguntou: “Vasettha, de todos os professores dos brâmanes ou além, os professores dos professores dos mestres, alguma vez houve alguém que viu um deus?” Ele respondeu que ninguém havia visto um deus. O Buda perguntou: “Vasettha, houve alguma vez algum mestre entre os ancestrais até sete gerações para trás que tenha visto um deus?” Ele respondeu: “Não.” “Vasettha, entre os sábios do passado que formularam as preces dos brâmanes houve algum que proclamou onde um deus poderia ser encontrado, ou como nascem os deuses, ou de que um deus claramente percebe e observa alguém?” Vasettha respondeu: “Não.”

(7) Então, o Buda disse a Vasettha: “A partir disto fica claro que desde os tempos antigos, entre os sábios e brâmanes que são versados no três textos védicos, nunca houve alguém que tenha visto um deus. Eles clamam: ‘Nós ensinamos um caminho que leva a um local que não conhecemos ou vimos. Este caminho é correto, e se vocês o seguirem fielmente, chegarão a um local que nós nem conhecemos nem vimos.’” O Buda continuou: “Suponha que haja um grupo de pessoas cegas que estão amarradas umas às outras. Nem o homem cego na frente, nem aquele no final, nem aquele no meio seria capaz de ver coisa alguma. Igualmente, os brâmanes, neste caso, também são incapazes de ver, mesmo que eles tendam a fazer tais afirmações. Tais palavras nada mais são do que conversa sem sentido.” O Buda continuou: “Vasettha, suponha que um homem que fale de seu amor dissesse que está apaixonado pela mulher mais bela do reino. Então, outra pessoa pergunta se o objeto de sua afeição é a rainha ou a filha de um brâmane, ou a filha de um mercador ou uma serva. Diante desta pergunta, CEBB

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ele responde que não sabe. Outras questões são levantadas, tais como o nome dela e o nome da família, ou se ela é alta ou baixa, ou se ela é loura ou morena, ou onde ela mora, e ele responde que não sabe. Então lhe perguntam: ‘Você diz que está apaixonado, mas não é verdade que você não conhece essa mulher nem nunca a viu?’ Diante desta pergunta ele responde que é exatamente assim. Vasettha, esse ensinamento dos brâmanes que diz que alguém pode renascer no reino dos deuses é exatamente igual.” O Buda continuou: “Vasettha, suponha que após uma pesada chuva o rio Aciravati quase transborde em suas margens. Uma pessoa que tenha algum negócio para resolver do outro lado grita: ‘Outra margem, venha até aqui!’ Viria a outra margem até ele em resposta a tal oração? Ele é como um brâmane que deixou de lado o que um brâmane deveria fazer e que está preocupado com assuntos totalmente inapropriados para um brâmane, invocando o poder dos deuses. “Além disso, Vasettha, no momento do transbordamento do rio Aciravati, se alguém, desejando atravessar para a outra margem, tivesse suas mãos atadas atrás de suas costas com uma corrente, seria possível para este homem realizar a travessia? Os brâmanes abriram mão do caminho que deveriam seguir, e apesar de possuírem a intenção de seguir o caminho dos sábios, estão presos pelas correntes dos cinco desejos. “Mais uma vez, Vasettha, suponha que há alguém dormindo às margens do inundado rio Aciravati. Todo seu corpo, até mesmo a cabeça, está coberto por um cobertor. Seria possível ele cruzar o rio e alcançar a outra margem? Os brâmanes também abriram mão do caminho que deveriam estar praticando e estão cobertos por impurezas que são obstáculos para o caminho dos sábios. Serão esses brâmanes capazes de cruzar para a outra margem? “Vasettha, segundo o que dizem os anciões brâmanes, os deuses não CEBB

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possuem famílias nem riquezas materiais. Em suas mentes não há raiva, ódio, impurezas, apenas a própria pureza. Como parecem para você os brâmanes que estão em atividade hoje?” Indagado desta forma pelo Honrado pelo Mundo, Vasettha respondeu que, pelo contrário, os brâmanes possuem famílias e riquezas, e suas mentes estão tomadas por raiva, ódio e impurezas. O Buda disse: “Vasettha, está claro, agora, que não há nada em comum entre os deuses e os brâmanes. Sem uma base comum, não é possível que os brâmanes possam entrar no grupo dos deuses. Na verdade, enquanto sentados em meditação, os brâmanes afundarão para o abismo dos infernos. Eles cairão pensando que estão ascendendo aos céus. Assim, os ensinamentos dos três Vedas são como um deserto sem água e um bosque de bambus sem uma estrada que o atravesse; eles não são nada além da própria destruição.”

(8) Vasettha perguntou, então, ao Buda, se ele conhecia o caminho que leva ao renascimento no reino dos deuses. O Buda respondeu: “Vasettha, o vilarejo de Manasakata é próximo ou distante daqui?” Vasettha respondeu que não era muito distante. “Vasettha, uma pessoa que nasceu em Manasakata e que lá cresceu terá dificuldades em responder quando indagada sobre o caminho para a vila? Vasettha, mesmo que ela tenha dificuldades, eu nunca ficarei perplexo se indagado sobre o reino dos deuses ou sobre o caminho que leva até ele. Isto porque eu estou tão consciente deles como os próprios deuses.” Vasettha perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, ouvi dizer que você está completamente ciente disto. Por favor, ensine-me o caminho para que eu, um brâmane, possa ser salvo.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Vasettha, você faria bem em ouvir CEBB

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cuidadosamente o que eu vou dizer. Com o surgimento do Buda neste mundo, o Darma foi anunciado. Os seguidores leigos, ao ouvirem os ensinamentos, despertam para a fé e levam suas vidas diárias de acordo com os preceitos. Eles buscam profissões honradas, sempre cuidadosos para não cometerem a menor transgressão, atentos às portas dos cinco sentidos. Eles são libertados de todos os obscurecimentos. Seus corpos ficam relaxados, e suas mentes são serenas e calmas, com os pensamentos concentrados em um único ponto. Eles também compartilham pensamentos de profunda compreensão, de compaixão, de felicidade e de verdadeira equanimidade. Assim como um corneteiro alcança facilmente os ouvidos das pessoas nas quatro direções, com mentes ilimitadas eles assim o fazem sem pensamentos de ódio ou raiva. Vasettha, este é o caminho para alcançar o renascimento no reino dos deuses. Os discípulos do Buda, cujos corações transbordam com estas quatro mentes ilimitadas, não possuem laços familiares e posses materiais, e suas mentes estão livres da raiva, do ódio e das impurezas. Estes seguidores são iguais aos deuses; podemos dizer que eles estão no mesmo nível que os deuses.” Vasettha e Bharadvaja se regozijaram profundamente por terem ouvido este ensinamento do Buda e fizeram o voto de se tornar discípulos do Buda.

(9) Então, o Honrado pelo Mundo ensinou pelas vilas de Kosala. Depois retornou para Savatthi e entrou no Monastério do Bosque Jeta. Um dia, tendo reunido seus discípulos, o Honrado pelo Mundo deu as seguintes instruções: “Meus discípulos, irei ensinar-lhes agora o caminho para superar todos os obscurecimentos. Eu confio que vocês prestarão atenção às minhas palavras com o maior cuidado. Meus discípulos, eu dirijo minhas palavras àqueles que sabem o que deve ser sabido e que veem o que deve ser visto. Quando digo ‘o CEBB

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que deve ser sabido e visto’ refiro-me ao pensamento correto e ao pensamento errôneo. No pensamento correto os obscurecimentos que ainda não surgiram não surgirão, enquanto que os obscurecimentos que já surgiram não mais existirão. No pensamento errôneo os obscurecimentos que ainda não surgiram surgirão, enquanto que os obscurecimentos que já surgiram se ampliarão. Discípulos, os obscurecimentos podem ser pacificados através da visão correta, restrições, uso correto, tolerância, afastamento, rejeição e disciplina. “O que quero dizer quando afirmo que os obscurecimentos podem ser pacificados através da visão correta? Meus discípulos, suponham que haja alguém que nunca viu um sábio, nunca conheceu o caminho dos sábios, nunca aprendeu o caminho dos sábios, nunca viu uma pessoa boa, nunca conheceu os modos de uma pessoa boa e nunca aprendeu os modos de uma pessoa boa. Esta pessoa não tem consciência de que coisas deveria se afastar; ela pensa sobre as coisas que não deveria pensar e negligencia os pensamentos sobre as coisas que deveria pensar. Ela sustenta pensamentos como ‘Eu existi ou não no passado? Se eu existi, quem fui eu e o que eu fazia? Por que eu me tornei este ser? Eu existirei no futuro ou não? Se eu existir no futuro, no que me transformarei? O que farei? Por que me tornarei tal ser? Eu existo no presente ou não? Se eu existo agora, quem sou eu e o que estou fazendo? De onde vim e para onde vou? O que será de mim?” “Esses pensamentos, por sua vez, levam a outros pensamentos como ‘a identidade é minha’, ‘a identidade não é minha’, ‘eu vejo a minha identidade através dela mesma’, ‘eu vejo a ausência de identidade através da minha identidade’, ‘eu vejo a identidade através da ausência de identidade’. Eles levam ao pensamento: ‘A identidade que eu conheço e sinto experimenta o efeito de ações positivas e negativas nesta vida ou na próxima. Esta CEBB

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identidade é duradoura e permanecerá imutável para sempre.’ Meus discípulos, estes pensamentos são visões pervertidas. As visões pervertidas são uma espécie de apego e de escravidão. Devido a esta escravidão as pessoas não podem ser liberadas do nascimento, da velhice, da morte, da ansiedade, do pesar, do sofrimento, da preocupação e da agonia.

(10) “Meus discípulos, por outro lado, a pessoa que encontrou um sábio, que conhece os modos dos sábios, que aprendeu o caminho dos sábios, que encontrou uma pessoa boa, que conheceu os modos de uma pessoa boa, e que tem a disposição para aprender os modos de uma pessoa boa poderá discernir sobre o que deveria pensar e sobre o que não deveria pensar. Ela pensa sobre as coisas que deveria pensar; ela não pensa sobre as coisas que não deveria pensar. Ela pensa corretamente: ‘Isto é o sofrimento. Esta é a causa do sofrimento. Isto é a extinção do sofrimento. Este é o caminho para a extinção do sofrimento.’ Em virtude deste pensamento correto, ela poderá se libertar das visões enganosas relativas ao seu corpo, ideias e ações. Isto explica como os obscurecimentos podem ser purificados através da visão correta. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados através da restrição’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos poderá controlar os seis órgãos sensoriais, os olhos, os ouvidos, o nariz, a língua, o corpo e a mente. Assim, os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir através deles. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados através do uso correto’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos saberá que não deverá utilizar suas roupas e alimento para o prazer, mas sim para protegerse do calor e do frio, para esconder seu corpo e para nutrir o corpo, de forma CEBB

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que possa realizar as práticas puras. Por virtude deste pensamento, os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir quando ela utilizar qualquer espécie de coisas. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados através da tolerância’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos suportará o frio, o calor, a fome, a sede, a difamação, o ridículo e o sofrimento que ameaçam sua vida. Por virtude desta tolerância os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados através do afastamento’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos evitará elefantes ferozes, cavalos, gado, cachorros, lugares inadequados para sentar, lugares proibidos e amigos que são más influências. Devido a este afastamento os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados pela rejeição’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos rejeita, esmaga e aniquila a cobiça, a raiva, o ódio e qualquer outra ideia maléfica em sua mente. Devido a esta rejeição os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir. “’Os obscurecimentos podem ser pacificados pela disciplina’ significa que alguém que sustente pensamentos corretos vive sozinho, está livre do desejo, fortalece sua ideia de eliminar as impurezas da mente e cultiva o caminho para a iluminação. Devido a esta disciplina os obscurecimentos que são a base de sua delusão e sofrimento não poderão surgir. “Discípulos, se vocês colocarem um fim para os obscurecimentos através da visão correta, restrição, uso correto, tolerância, afastamento, rejeição e disciplina, todos os obscurecimentos serão pacificados, a sede do CEBB

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desejo intenso será anulada, as amarras serão rompidas e a eliminação do sofrimento será alcançada.”

2. Quatro Perigos (1) O Honrado pelo Mundo partiu da cidade de Savatthi e, chegando ao país do clã Sakya, permaneceu no bosque Amalaki, que pertencia à vila de Catuma. Naquele momento, Sariputta e Moggallana acabavam de chegar à vila acompanhados de quinhentos discípulos para prestar homenagem ao Buda. Houve uma certa agitação na medida em que os discípulos em visita e os discípulos residentes trocavam cumprimentos, enquanto alguns estavam arrumando seus tapetes e outros estavam guardando seus mantos e tigelas de mendicância. O Honrado pelo Mundo chamou Ananda e perguntou pela razão de tal troca exaltada de palavras, que soava como o clamor de pescadores lutando pela mesma pesca. Ao ouvir de Ananda a razão para a agitação, o Buda convocou seus discípulos e lhes disse: “Meus discípulos, peço que vocês partam imediatamente. Não permitirei que vocês permaneçam perto de mim.” Os discípulos responderam que entendiam as instruções do Buda, levantando-se de seus assentos eles se curvaram diante do Buda; então, voltando-se para a direita eles pegaram seus mantos e tigelas e abandonaram o local. Naquele momento, o povo do clã Sakya da vila de Catuma estava reunido no salão da vila para uma reunião. Eles viram os discípulos do Buda vindo à distância e questionaram a razão. Eles pediram aos discípulos para

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esperarem um pouco e, aproximando-se do Honrado pelo Mundo, pediram perdão por eles, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, por favor, perdoe a agitação causada pelos discípulos. Por favor, proteja a Sanga assim como você já fez no passado. Nesta Sanga existem alguns que recentemente buscaram refúgio nos ensinamentos. Se alguns deles não forem capazes de ver o Buda agora poderão mudar suas mentes e regredir para níveis inferiores. Assim como uma muda seca se a água faltar, e assim como o bezerro tende a enfraquecer se não encontrar sua mãe, também eles poderão regredir para níveis inferiores. Por esta razão, ó Honrado pelo Mundo, por favor, perdoe os discípulos e ofereça à Sanga a sua proteção.”

(2) Devido a este pedido sincero, os discípulos foram perdoados. Então, Moggallana encorajou as pessoas novamente a se sentarem perto do Buda. Depois de se curvarem diante do Buda, eles se sentaram próximos a ele. Então, o Honrado pelo Mundo perguntou a Sariputta: “Ó Sariputta, o que você pensou quando eu repreendi os discípulos?” Sariputta respondeu que naquele momento ele chegou à conclusão de que o Honrado pelo Mundo preferia deixar o assunto como estava e entrar na bem-aventurança da meditação ao invés de dar sequência ao assunto; e que eles, também, não deveriam dar sequência ao assunto, mas deveriam se engajar na meditação da concentração mental. Diante destas palavras de Sariputta, o Buda disse: “Espere, Sariputta. Sugiro que você não sustente tais pensamentos novamente.” O Honrado pelo Mundo voltou-se para Moggallana e perguntou: “Ó Moggallana, o que você pensou sobre a questão?” Moggallana respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, eis o que eu pensei e senti. O Honrado pelo Mundo, tendo repreendido os discípulos barulhentos, preferiu não dar sequência à CEBB

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questão, mas sim entrar na bem-aventurança da meditação; portanto, eu e Sariputta devemos, em nome do Honrado pelo Mundo, guiar os discípulos.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Bem dito, Mogallana. Aqueles que guiam os discípulos são o Buda, Sariputta e Moggallana.”

(3) O Buda se dirigiu aos discípulos: “Meus discípulos, aqueles que se aventuram no mar deveriam esperar quatro tipos de perigos. Estes são os perigos das ondas, dos crocodilos, redemoinhos e os peixes susuka. Aqueles que renunciaram à vida de chefe de família e que buscaram refúgio nos ensinamentos também deveriam estar preparados para quatro perigos. “Meus discípulos, qual vocês acham que é o perigo das ondas? Digamos, por exemplo, que um filho de uma nobre família possui fé no Darma e faz o voto de renúncia com estes pensamentos: ‘Estou profundamente afundado em nascimento, velhice, doença, morte, ansiedade, pesar, dor, preocupação e agonia, e estou perdido devido à dor. Eu deveria encontrar um caminho para me liberar destes sofrimentos.’ “Diante de tais pensamentos seus colegas lhe dizem, tentando ajudá-lo: ‘Você deveria proceder da seguinte forma. Você deveria retribuir desta forma. Você deveria ser capaz de vigiar desta maneira. Você deveria observar desta forma. Você deveria esticar e dobrar seu braço desta maneira. Você deveria vestir seu manto desta forma.’ “Nesse momento, ele tem o seguinte pensamento em sua mente: ‘Eu, também, quando era um chefe de família, orientava os outros. Entretanto, agora eu tenho que receber instruções de jovens que são como meus filhos e netos. Realmente é algo vergonhoso!’ Ele se enraivece e, deixando de lado os ensinamentos, retorna ao estado de leigo. Meus discípulos, o perigo das ondas significa tal raiva e desespero. CEBB

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“Meus discípulos, por perigo dos crocodilos eu me refiro a uma situação na qual uma pessoa faz o voto de renúncia e se torna um monge. Seus companheiros monges lhe dizem: ‘Você deveria comer isto. Você não deveria comer aquilo. Você deveria beber isto. Você não deveria beber aquilo.’ Tendo recebido tais instruções, esta pessoa pode pensar da seguinte forma: ‘Quando eu ainda era um leigo eu comia o que queria e bebia o que queria. Nunca houve problemas a respeito das comidas apropriadas para mim ou o momento de comer estar correto. Vamos supor que alguns devotos leigos oferecessem uma comida deliciosa agora. Se não fosse o momento adequado para partilhar do alimento, minha boca permaneceria fechada devido a este frustrante preceito.’ Abandonando, assim, o ensinamento, ele pode retornar ao estado de leigo. Meus discípulos, este é o perigo dos crocodilos, que é o incômodo com a comida e as regras relativas a ela. “Meus discípulos, qual vocês acham que é o perigo dos redemoinhos? Assumam que uma pessoa se torna monge. No início do dia ele veste seu manto, mas não controla suas ações de corpo, fala ou pensamentos, nem ele sustenta pensamentos corretos ou controla os cinco sentidos. Ele inicia sua jornada às vilas e cidades para receber oferendas de alimento. Ao longo do caminho, ele observa homens leigos divertindo-se na indulgência dos cinco sentidos e pensa: ‘Quando também era um leigo, eu me entregava a tais prazeres. Como possuía riquezas, eu era capaz de acumular virtudes com alegria.’ Com estes pensamentos, e agora desgostoso com os ensinamentos, ele retorna ao estado de leigo. Este é o perigo dos redemoinhos, que é a indulgência com os prazeres dos cinco sentidos. “Meus discípulos, qual vocês acham que é o perigo dos peixes susuka? Suponham que uma pessoa se torna um mendicante. Então, tendo renunciado e colocando-se em seu caminho para receber oferendas de CEBB

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alimento, ele cruza com uma mulher que veste sua saia de uma maneira extremamente licenciosa. Experimentando um sentimento de luxúria por ela, e deixando os ensinamentos, ele retorna à vida de leigo. Meus discípulos, este é o perigo dos peixes susuka, que é a tentação das mulheres. Meus discípulos, aqueles que renunciaram para seguir o Darma deveriam estar preparados para encontrar estes quatro perigos.”

(4) O Honrado pelo Mundo viajou, então, na direção leste. Após um tempo considerável ele rumou para o sul e, ao chegar a Vesali, permaneceu novamente em uma grande floresta. Naquela época, Saccaka, um seguidor de Nigantha, também se encontrava em Vesali. Devido à sua oratória superior o povo louvava Saccaka. Ele era orgulhoso por isto e se gabava diante dos outros: “Não há mendicante que possa debater comigo sem acabar suando frio. Se uma coluna de madeira pudesse entrar em debate comigo, mesmo ela certamente tremeria de medo.” Certo dia, quando Assaji, um discípulo do Buda, caminhava pela cidade de Vesali para receber oferendas de alimento, Saccaka estava saindo para um passeio na floresta. Ao ver Assaji ele se aproximou e perguntou: “Ó Venerável Senhor, diga-me como Gotama ensina seus discípulos e quais ensinamentos são praticados amplamente por seus discípulos.” Assaji respondeu: “Saccaka, o Honrado pelo Mundo ensina que o corpo é temporário; a mente também é temporária; tudo aquilo que é reunido é temporário e é destituído de identidade. Este é o ensinamento que está sendo praticado pelos discípulos.” Diante desta resposta, Saccaka respondeu: “Venerável Senhor, proferir tais ensinamentos é poluir nossos ouvidos. A qualquer momento ou em qualquer lugar eu gostaria de encontrar Gotama para aliviá-lo de tais visões.” CEBB

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Dizendo isto, Saccaka imediatamente partiu para o salão da cidade. Havia cerca de quinhentos nobres do clã Licchavi reunidos lá para um encontro. Ali ele anunciou: “Nobres senhores, eu desejo entrar em debate com Gotama hoje. Se os ensinamentos de Gotama são o que um de seus discípulos, Assaji, afirmou que são, tomarei as palavras de Gotama e as chacoalharei assim como um forte homem agarraria o tosão de uma ovelha e o giraria repetidamente!” Ao ouvir estas palavras, alguns acharam que Saccaka venceria o debate e outros pensaram que o Honrado pelo Mundo sairia como vencedor.

(5) Quando Saccaka, circundado por muitas pessoas, dirigiu-se para o salão daquele pagode de muitos andares, muitos dos discípulos do Buda estavam lentamente se aproximando. Todos se dirigiram para o Buda e tomaram seus assentos. Naquele momento, Saccaka perguntou: “Se o venerável Gotama me permitir, há uma coisa que eu gostaria de perguntarlhe.” O Buda afirmou: “Saccaka, não hesite em me perguntar qualquer coisa que vier à sua mente.” Então, Saccaka perguntou: “Ó Gotama, como o Honrado pelo Mundo ensina aos discípulos o Darma e quais são os ensinamentos que estão sendo amplamente praticados por eles?” O Buda respondeu: “Saccaka, esta é a forma como eu lhes ensino: ‘Meus discípulos, nada, seja no corpo ou na mente, permanece constante; não há entidades permanentes. Tudo que vem à existência não é permanente e não é uma entidade permanente.’ Este é o ensinamento que está sendo praticado por meus discípulos.” Saccaka falou sobre suas impressões: “Ó Honrado pelo Mundo, esta é uma analogia que me ocorre. Não importa o que seja a planta, ou o que seja a CEBB

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semente, ela depende da boa terra e encontra suas raízes na terra, que a sustém. Aqueles que trabalham também dependem da terra. Eles também são sustentados pela terra. Ó venerável, da mesma forma eu acredito que o corpo é o atman; com base neste corpo ele realiza ações puras e impuras; a mente é o atman, e com base nesta mente ele se engaja em ações puras e impuras.” Então o Buda disse: “Ó Saccaka, é verdade que você está realmente dizendo que o seu corpo é o atman e que sua mente é o atman?” Saccaka respondeu que esta era sua opinião e que muitas pessoas ali também eram da mesma opinião. Diante da resposta, o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Saccaka, qual a necessidade de falar sobre estas muitas pessoas? Você não deveria expressar apenas os pensamentos que ocorrem em sua própria mente?” Saccaka respondeu que ele seguia acreditando em sua afirmação de que o corpo era o atman e de que a mente também era o atman.

(6) Então, o Honrado pelo Mundo perguntou a Saccaka: “Ó Saccaka, eu gostaria de fazer-lhe uma pergunta, cuja resposta eu espero que venha diretamente de sua mente. Você acredita que reis como Pasenadi de Kosala, Bimbisara de Magadha, ou qualquer outro rei, são capazes de matar aqueles que devem ser mortos, tomar o que deve ser tomado, exilar aqueles que devem ser exilados, e fazer como eles desejarem nas terras que por eles foram conquistadas?” Saccaka respondeu que tais coisas podem ser feitas porque o governante da terra possui a autoridade e o poder para assim fazer. O Buda respondeu: “Ó Saccaka, você afirmou que seu corpo é o atman. Você consegue fazer realmente tudo que deseja com seu corpo, ordenandolhe para ser de uma determinada forma?” Diante da questão colocada pelo Honrado pelo Mundo, Saccaka permaneceu em silêncio. Ele não tentou respondeu a pergunta do Buda mesmo quando perguntado uma segunda CEBB

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vez. Quando o Buda pressionou Saccaka para responder a questão, Saccaka finalmente respondeu que seu corpo não podia ser livremente controlado.

(7) O Honrado pelo Mundo disse a Saccaka: “Você deveria responder minhas perguntas depois de pensar bem. Você não deveria ser inconsistente. Fazendo a mesma pergunta sobre a mente, que você também afirma ser o atman, é possível controlá-la livremente, ordenando que ela seja assim ou assado?” Saccaka respondeu: “Não, não é possível.” Então o Buda perguntou: “Saccaka, seria bom que você considerasse cuidadosamente o assunto para que não haja inconsistência em sua resposta à seguinte questão. O corpo humano é eterno ou temporário?” Saccaka respondeu: “Não é eterno.” O Buda continuou com suas perguntas: “Então, Saccaka, aquilo que não é eterno é sofrimento ou bem-aventurança?” Saccaka respondeu: “É sofrimento.” O Buda continuou: “Então, Saccaka, é correto dizer que aquilo que é impermanente, sofrimento e transitório é meu, eu ou meu atman?” Saccaka respondeu: “Não, não é correto.” O Buda disse: “Ó Saccaka, o mesmo pode ser dito sobre a mente, pois é o apego indevido à mente que causa o sofrimento, que torna alguém preso ao sofrimento, e que faz a pessoa pensar que o sofrimento é seu, que o sofrimento é ela mesma, que o sofrimento é seu atman. Podemos dizer que tal pessoa realizou a natureza do sofrimento e que encontrou a liberação do sofrimento?” Diante disto, Saccaka respondeu: “Não, não podemos.” “Ó Saccaka, suponha que alguém entre em uma floresta com um machado, buscando pelo núcleo de uma árvore. Ele encontra um coqueiro e derruba a árvore. Por mais que ele tente, encontrará apenas camada após camada da casca e nunca encontrará qualquer parte dura da árvore. O que você tem feito é similar a isto, pois em resposta às minhas questões você CEBB

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apenas trouxe luz ao fato de que suas visões são desprovidas de sentido, errôneas e impuras. Diga-me, Saccaka, por que você se vangloriou com o povo de Vesali que se alguém debatesse com você acabaria caindo em um suor frio? Não está você agora transpirando e sua roupa não está ensopada pelo suor?”

(8) Enquanto Saccaka permanecia imóvel, alguém chamado Dummuka do clã Licchavi exclamou: “Ó Honrado pelo Mundo, veio agora mesmo esta parábola à minha mente: Certa vez, em um lago, morava um enorme caranguejo que tentava cortar os membros das crianças pequenas. Um dia o caranguejo foi apanhado pelas crianças, que o jogaram ao chão e bateram nele com pedras e seixos. Ferido, ele não conseguia nem mesmo fugir para a água. Saccaka é como esse caranguejo.” Saccaka disse: “Dummuka, não estávamos falando com você, assim, por favor, fique quieto. Ó Gotama, eu verdadeiramente reconheço a inutilidade de entrar em discussões. Senhor, como os seus discípulos praticam os ensinamentos, superam as dúvidas, não voltam suas mentes para outras coisas e confiam inteiramente em seus ensinamentos?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Saccaka, meus discípulos compreendem verdadeiramente que seus corpos e mentes não são seus, nem suas identidades, nem seus atmans. Assim, seguindo os ensinamentos, libertando-se das dúvidas e não voltando suas mentes para os outros, eles confiam apenas nos ensinamentos do mestre.”

(9) Outro dia, o Honrado pelo Mundo estava prestes a deixar o salão daquele pagode quando Saccaka vinha passeando em direção à grande floresta. Ananda o viu e informou o Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo CEBB

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Mundo, aí vem Saccaka, que ainda fala negativamente sobre os Três Tesouros. Por favor, tenha piedade dele. Por favor, permaneça sentado aqui por mais um instante.” Então, Saccaka se aproximou do local onde o Honrado pelo Mundo estava sentado e disse: “Ó Venerável, suponha um mendicante que disciplinou seu corpo, mas não sua mente. Ele sofre dores corporais, suas coxas estão adormecidas, seu coração está rasgado e ele sangra pela boca. Sua mente está perturbada e ele se torna insano. Então, neste caso, sua mente está completamente influenciada por seu corpo pelo fato da mente não ter sido disciplinada. Existem outros que disciplinaram suas mentes, mas não seus corpos. Quando eles experimentam dor mental, suas coxas ficam adormecidas, seus corações são rasgados e eles sangram por suas bocas. Eles se tornam mentalmente perturbados e insanos. Neste caso, o corpo está completamente sob o controle da mente. Tudo isto se deve ao fato de o corpo não ter sido disciplinado. Quando eu penso sobre seus discípulos, sinto que eles disciplinaram suas mentes, mas não disciplinaram seus corpos.” Diante destas palavras, o Buda respondeu: “Saccaka, o que você quer dizer com disciplinar o corpo?” Saccaka respondeu que havia naquela época pessoas como Nanda Vaccha, Kisa Sankicca e Makkhali Gosala que estavam passando por difíceis práticas em relação à comida, às vestimentas, tapetes e que suportavam a disciplina do corpo. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Saccaka, essas pessoas estão sustentando seus corpos passando por práticas difíceis que envolvem a comida?” Saccaka respondeu que não, e que às vezes elas comiam comida nutritiva e alimentavam seus corpos. O Buda perguntou: “Saccaka, pelo que pude entender, parece que se está apenas recuperando aquilo que já tinha sido descartado, adquirindo peso e depois perdendo. Agora, o que você quer CEBB

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dizer por disciplinar a mente?”

(10) Como Saccaka permanecia paralisado, incapaz de responder a questão do Buda, o Buda continuou e disse: “Saccaka, a forma de disciplina da mente que você indicou não é a forma correta. Realmente, uma vez que você não conhece o método para disciplinar seu corpo, não há como saber o método para disciplinar sua mente. Saccaka, imagine que uma pessoa experimenta uma sensação prazerosa. Neste caso, ela se torna apegada à sensação. Assim, quando a sensação se vai permanece a sensação desagradável de tê-la perdido, e então há o lamento e o choro devido a ela. Isto é assim porque não havia disciplina de corpo e mente. Por outro lado, se tanto a mente quanto o corpo forem disciplinados, mesmo que haja a sensação de prazer, não haverá apego. Assim, mesmo que a sensação de prazer se vá e a sensação de desprazer seja ativada, não haverá tristeza ou lamentação.” Então, Saccaka disse ao Honrado pelo Mundo que se o Buda fosse alguém que tivesse disciplinado seu corpo e sua mente ele acreditaria firmemente que o Buda é aquele que possui controle total de sua mente e de seu corpo. Com isto, o Honrado pelo Mundo observou: “Saccaka, você está dizendo isto para me ridicularizar? Se é isso, eu lhe digo que desde minha renúncia, diante de sensações agradáveis ou desagradáveis nunca houve um momento em que minha mente tenha desenvolvido apego.” Saccaka questionou: “Ó Honrado pelo Mundo, não seria o caso de que entre as muitas sensações que você experimentou, felizmente nunca ocorreu uma sensação realmente intensa?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Saccaka, você deveria saber que eu realizei todos os tipos de práticas ascéticas. De fato, não hesito em dizer CEBB

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que no passado e no futuro nunca houve ou haverá alguém que tenha suportado o que eu suportei. No que me diz respeito, tais caminhos foram vislumbrados como não sendo o verdadeiro caminho, e assim foram descartados. Eu nunca me apeguei a qualquer uma das sensações dolorosas que as práticas trouxeram. Uma vez colocado no caminho correto para a iluminação, o corpo foi nutrido e a mente foi direcionada para a meditação. Mesmo quando a sensação prazerosa da meditação profunda foi despertada, minha mente não se apegou a ela. Mesmo quando o prazer da libertação da agonia humana foi experimentado, minha mente não se apegou de qualquer forma a ele.” Saccaka perguntou ao Honrado pelo Mundo se o Buda, também, tirava uma soneca às vezes durante o dia. O Buda admitiu: “Saccaka, perto do final do verão, logo após uma refeição, eu dobrei meu manto em quatro partes e, repousando sobre a lateral de meu corpo, tirei uma soneca.” Diante desta resposta do Buda, Saccaka observou que outra asceta havia chamado este comportamento de habitar em um estado de indulgência. “Saccaka, tirar uma soneca durante o dia não pode ser chamado nem de indulgência nem de não-indulgência. Isto é assim porque aquele que ainda não se libertou da sede da luxúria e de outras impurezas, que são as causas de renascimentos futuros para todos os indulgentes, não está livre da indulgência. Apenas aqueles que se afastaram completamente da escravidão da sede da luxúria e de outras impurezas estão livres da indulgência, assim como uma árvore só é morta quando o núcleo de seu tronco é cortado.” Com estas palavras do Buda, Saccaka respondeu: “Ó venerável, suas instruções são realmente maravilhosas. Enquanto resolve problemas imediatos de uma forma ordenada, você mantém a cor pura de sua pele todo o tempo, e todo o seu ser permanece calmo. Outros mestres fogem dos pontos questionados; CEBB

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eles se irritam e ficam confusos. Ó venerável, por favor, desculpe-me, pois tenho muitas coisas ainda a fazer.” Saccaka, satisfeito com as instruções do Buda, deixou a floresta.

3. O Caminho de um Soberano (1) No tempo devido, Saccaka, apesar de ser um seguidor do jainismo, começou a apreciar mais e mais os ensinamentos do Honrado pelo Mundo e, finalmente, buscou refúgio no Buda, mais tarde atraindo muitos discípulos. Certa vez, Saccaka se dirigia para a cidade de Ujjeni com muitos discípulos e o rei Pajjota o recebeu como um famoso professor. O rei pediu a Saccaka instruções sobre o caminho de um rei. Saccaka disse: “Ó grande rei, o primeiro dever de um rei é proteger seus súditos. A razão pela qual o governante é chamado de rei é que ele é o pai e a mãe do povo. Ele é chamado de rei por proteger seu povo de acordo com a lei e por trazer paz aos seus corações. Ó grande rei, o governante deveria criar seus súditos assim como os pais criam suas próprias crianças. Não é necessário dizer aos pais quando é o momento de trocar as fraldas. Desta maneira, um rei deveria sempre levar felicidade aos seus súditos removendo o seu sofrimento e demonstrando um cuidado delicado e amor em sua educação. O governante sempre considera seus súditos tesouros nacionais. Se as pessoas não tiverem paz mental, então o reinado do soberano não é bem sucedido. “Ó grande rei, por esta razão um rei deveria se preocupar com seus súditos todo o tempo. Ele deveria se ocupar da felicidade e do sofrimento de seus súditos e aumentar sua prosperidade. Para fazer isto, o rei deveria ter

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conhecimento completo das águas, secas, ventos, chuvas, boas ou más colheitas, e as preocupações e felicidades de seus súditos. Em relação aos crimes das pessoas, ele deveria observar cuidadosamente se há crimes sendo cometidos ou não, e se eles são pequenos ou graves. O rei deveria estar ciente das ações positivas e negativas de seu povo, e recompensá-los ou puni-los. Desta forma, o rei deveria conhecer a mente de seu povo, protegendo-o com sua autoridade e poder. Aquilo que deve ser oferecido a eles deve ser dado no momento certo. Aquilo que deve ser coletado deveria ser coletado com a devida consideração. O rei deve evitar afetar a felicidade de seus súditos impondo-lhes impostos impiedosos. Bons reis como esses estão sempre preocupados com seus súditos, oferecem-lhes proteção e, assim, são dignos de serem chamados reis. “Ó grande rei, o rei dos reis é chamado de cakkavatti, ou monarca universal. A linhagem desse rei é imaculada. Sua pessoa é honorável. Ele governa as quatro direções e emerge como o rei do Darma que protege o ensinamento virtuoso. Aonde quer que ele vá, não há espadas ou ódio. Baseando-se no Darma ele propaga as virtudes. Ele traz paz ao povo e subjuga o mal e as ações errôneas. “Ó grande rei, um monarca universal pratica as dez virtudes: ele se abstém de matar, de roubar, de cometer adultério, de mentir, das fofocas maliciosas, de falar separativamente, da bajulação, da cobiça, da raiva e da ignorância. Ao fazer isto, ele ajuda o povo a se afastar das dez ações maléficas. Ele governa com os ensinamentos; portanto, em todo o mundo ele é capaz de reinar livremente. Não há casos de pessoas atacando umas às outras. Os povos são harmoniosos e os países estão em paz. Ele é capaz de trazer prazer a todos. Por estas razões ele é chamado de rei do Darma. “Ó grande rei, um monarca universal é o rei dos reis. Todos os reis se CEBB

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regozijam com as suas virtudes. Seguindo seu exemplo, eles governam seus países permanecendo fiéis aos seus ensinamentos. Um monarca universal permite que todos os reis permaneçam em paz em seus respectivos países, e lhes permite realizar seus deveres como reis, confiando no Darma verdadeiro.” Nesse momento, o rei Pajjota perguntou: “Eu consigo compreender completamente que um rei deveria proteger seu povo governando o país com compaixão de acordo com os ensinamentos do Darma. Mas como deveria esse rei executar seus deveres quando há aqueles que violam as leis da terra?” Saccaka respondeu: “Ó grande rei, mesmo em tais casos, um rei deveria governar com compaixão. Com os olhos claros da sabedoria o rei deveria observar cada situação e tomar as medidas necessárias de acordo com os cinco padrões. Por cinco padrões eu quero dizer o seguinte: Primeiro, permanecer na verdade e descartar aquilo que não é confiável; após estudar os fatos, tomar medidas baseadas nos fatos. Segundo, agir no momento certo, evitando momentos inapropriados. Quando o rei possui poder, este é o momento certo. Quando ele não possui poder, este é um momento inapropriado. Quando um rei possui poder, seus esforços para punir se mostrarão efetivos, ao passo que se ele não possuir poder, suas tentativas de punir levarão apenas ao caos. O rei deveria esperar pelo momento adequado. Terceiro, aplicar a razão ao promulgar julgamentos e evitar aquilo que não é racional. Sempre avalie a mente do criminoso, discernindo se ele pretendia cometer o crime ou não. Se não havia intenção negativa por trás da ação, essa ação deveria ser perdoada. Quarto, fale gentilmente evitando palavras agressivas. Avalie o crime à luz das disposições da lei, contenha os efeitos do crime, esclareça a natureza da ofensa com palavras gentis, e faça com que o CEBB

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criminoso tenha ciência do crime que cometeu. Quinto, sempre seja compassivo e nunca se deixe levar pela raiva. O crime deveria ser abominado, não o criminoso. Seja compreensivo e faça todos os esforços para que o criminoso se arrependa do mal que cometeu.” Diante destas palavras de Saccaka o rei disse: “Ó professor, se houver ministros de estado que não estejam focados nas políticas do estado, mas que estejam apenas preocupados com ganhos pessoais, que aceitem subornos, que distorçam as políticas do estado e que despertem a corrupção nas mentes das pessoas, o povo começará a desconfiar uns dos outros. Além do mais, os fortes pressionarão os fracos, os de status elevado menosprezarão os de status inferior, e os ricos enganarão os pobres. Visto que os desonestos derrotarão os honestos, os infortúnios passarão despercebidos. Como resultado, aqueles que são sinceros e leais deixarão seus postos, os maquinadores e aqueles de duas faces assumirão as rédeas do governo. Aqueles que estão preocupados não mais expressarão suas opiniões, temendo represálias, enquanto que os corruptos abusarão de sua autoridade para ganhos pessoais e desconsiderarão completamente as necessidades dos pobres. O governo não será capaz de funcionar com efetividade e a corrupção na política se estabelecerá porque os funcionários públicos não têm mentes sinceras. Como deveriam ser julgados tais funcionários?” Saccaka respondeu: “Ó rei, tais funcionários são ladrões que roubam a felicidade do povo e deveriam ser considerados os piores inimigos do estado. Isto porque eles enganam os governantes assim como o povo, e causam desordem e caos no país. Um governante deveria punir tais pessoas severamente. “Ó rei, em um reino onde os assuntos do estado são conduzidos de acordo com o Darma, uma das ofensas mais sérias ocorre quando as pessoas CEBB

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não recordam com gratidão o que elas devem aos seus pais por sua criação; elas roubam seus pais ou não seguem os ensinamentos dos pais. O que uma criança deve aos seus pais é muito grande. Mesmo que devotasse toda sua vida cuidando deles, não seria capaz de retribuir completamente. De fato, aqueles que não são leais ao governante e que não se devotam aos seus pais devem ser considerados os piores criminosos e deveriam ser punidos adequadamente. “Além do mais, ó rei, em um reino governado de acordo com o Darma, aqueles que não acreditam nos Três Tesouros, mas que destroem templos e que queimam sutras, aqueles que capturam monges e que os empregam para seus próprios propósitos, e aqueles que abusam do Darma são culpados das mais atrozes ofensas. Eles enfraquecem a confiança e a crença das pessoas, que é a base para ações positivas. Tais pessoas transformaram em cinzas as raízes das ações positivas e estão cavando suas próprias covas. “Ó rei, esses três crimes são os mais sérios e deveriam ser julgados e punidos adequadamente. O resto, mesmo que pesado, deveria ser considerado leve em comparação.” Então, o rei disse a Saccaka: “Ó professor, se surgir uma rebelião contra um rei que segue o Darma, ou se houver qualquer ataque de outro país, é comum mobilizar o exército e se preparar para isto. Em tais casos, como um rei deveria entender a situação?” Assim questionado, Saccaka respondeu: “Ó rei, neste caso, um rei que segue o Darma deveria manter três pensamentos em sua mente, primeiro: ‘Visto que os rebeldes ou invasores estrangeiros pensam apenas em matar e em torturar meu povo, eu, como governante, devo impedir o sofrimento de meu povo usando a força militar’; segundo: ‘Se eu puder encontrar quaisquer outros meios além de recorrer à força, devo empregá-los para dominar os CEBB

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rebeldes ou os invasores estrangeiros’; terceiro: ‘Farei qualquer esforço para capturar meus inimigos vivos sem matá-los, eliminando desta forma suas forças de ataque.’ Ó rei, um governante deveria manter esses pensamentos em sua mente em primeiro lugar; então, designando líderes para seus postos com ordens específicas, ele deveria liderá-los na batalha. Quando esses procedimentos forem seguidos, os soldados na frente de batalha estarão livres da covardia em resposta à autoridade e dignidade do governante. Eles compreenderão a autoridade do governante, apreciarão a benevolência do governo do rei, e entenderão a natureza da batalha. Então, oferecendo apoio total aos desejos do rei, eles se regozijarão com o pensamento de que a benevolência de seu rei afastará as aflições dos próximos anos, e eles responderão ao débito de gratidão que sentem pelo rei esforçando-se na batalha. Com estes pensamentos, guerras são vencidas. Neste sentido, mesmo batalhas podem se transformar em virtudes.”

4. A Transferência de Méritos (1) O Honrado pelo Mundo continuou suas viagens a diversos lugares no país de Magadha e retornou mais uma vez a Rajagriha, permanecendo no topo do Pico dos Abutres. Uma noite, muitos deuses e bodisatvas se reuniram ao redor do Buda. O Buda parecia estar brilhando intensamente, assim como a lua ofusca as estrelas ao seu redor. Naquele exato momento, o bodisatva Vajraketu se levantou e, tendo sido inspirado pelo Buda, instruiu os bodisatvas: “Amigos discípulos do Buda, eu gostaria de enfatizar para vocês que um bodisatva compartilha as raízes virtuosas de mérito com todos,

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independente de eles estarem próximos ou não. Isto é assim porque um bodisatva encara tudo o que existe como igual, não sustentando pensamentos discriminativos e olhando para as pessoas com olhos de grande compaixão. Mesmo que as pessoas sustentem o ódio contra um bodisatva com base em pensamentos impuros, ele se torna um bom professor para todas elas e ensina o Darma profundo. Ele é como o grande oceano, impossível de poluir com qualquer veneno que se use. Igualmente, apesar das pessoas não retribuírem o bem que recebem devido à sua ignorância, e apesar de elas não conhecerem os verdadeiros ensinamentos devido à sua raiva e arrogância, elas não são capazes de perturbar as mentes daqueles que seguem os modos de um bodisatva. “Além disso, um bodisatva mantém este pensamento: ‘O despertar da aspiração pela iluminação é completamente uma ação do poder do Buda. Aquele que possui esta aspiração é magnânimo, sereno e incansável em seu aprendizado. Não importa quanto tempo leve, ele está determinado a realizála. Esta aspiração é idêntica à essência de todos os budas.’

(2) “Como já vimos, um bodisatva está sempre consciente das raízes de virtude. Ele cultiva sua mente compassiva com convicções puras e compartilha raízes de virtude com os outros. Isto é feito não apenas através de sua fala, mas também através de sua mente que é jubilosa, flexível, compassiva, amorosa, todo-abrangente, nutridora, pacífica e superior. Um bodisatva sustenta estes pensamentos: ‘Todas as pessoas cometem ações negativas. Devido a estas ações negativas elas sofrem infinitamente e são incapazes de ver o Buda. Elas são incapazes de ouvir o verdadeiro Darma e de encontrar um bom professor que possa guiá-las no caminho. Como elas cometeram incontáveis transgressões, elas terão sofrimentos sem fim. CEBB

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Portanto, em meio aos infernos eu assumirei no lugar delas todo o sofrimento para mim mesmo. Assim, com meu corpo salvarei todas as pessoas dos caminhos negativos e liberá-las-ei do sofrimento. “Pelo poder das raízes virtuosas que eu compartilho com elas, farei com que vejam o Buda. Farei com que despertem em si mesmas uma confiança indestrutível no Buda. Capacitá-las-ei a ouvirem o Darma e a não guardarem dúvidas. Farei com que pratiquem de acordo com os ensinamentos, que conquistem mentes bondosas e flexíveis, e que realizem ações puras de fala e corpo. “Tornar-me-ei uma grande tocha para as pessoas, e mostrando-lhes a terra da paz capacitá-las-ei a se libertarem dos impedimentos e a compreenderem todos os ensinamentos. Também me tornarei um navio da onisciência que transportará as pessoas através do mar da transmigração e que lhes mostrará a margem da iluminação. “Neste nosso mundo há apenas um sol que brilha sobre todos os seres vivos. As pessoas não fazem seus trabalhos diários pensando que o dia e a noite existem devido à sua própria luz. Elas conseguem se engajar em seus trabalhos devido ao sol. Igualmente, as pessoas não possuem a luz da sabedoria que brilha sobre elas. Elas não são capazes de oferecer a luz aos outros. Assim, tentarei conhecer todas as pessoas, levando-as para o Darma profundo, removendo todas as suas dúvidas e guiando-as para a alegria.’

(3) “Ó discípulos do Buda, um bodisatva faz todos os esforços para que todas as pessoas possam ver o Buda. Ele ouve o Darma e se aproxima de boas pessoas com respeito sincero e profundo. Ele também orienta as pessoas a pensarem de coração nos Três Tesouros e a respeitá-los. “Mesmo que um bodisatva permaneça em casa com sua esposa e filhos, CEBB

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sua mente nunca se afasta do Darma. Ele sempre está focado na sabedoria. Ele trabalha pela própria salvação, guia os outros para a salvação e com uma mente sincera e clara oferece meios hábeis à sua família e aos parentes. Apesar de levar uma vida de chefe de família, sua vida não está em conflito com o caminho de um bodisatva devido à sua compaixão. Em suas atividades diárias, vestindo suas roupas, comendo e bebendo, sentado ou deitado, ele sustenta a pureza de sua mente, corpo e fala. Ele mantém os sentidos sob controle e não demonstra qualquer perda de dignidade. “Ó discípulos do Buda, aqueles que se esquecem de suas próprias identidades acabarão possuindo tudo. Como eles não buscam recompensas, todas as suas raízes de virtude permanecem com eles. Como eles se oferecem completamente, conquistam a iluminação básica de todos os budas. Como eles cortam os impedimentos, ganham acesso a todas as coisas. Como eles realizam a raiz pura da igualdade, possuem em si mesmos as virtudes de todos os bodisatvas. Como eles realizaram seus votos, conquistam as virtudes das práticas dos bodisatvas. Como eles purificam todas os obscurecimentos humanos, abraçam a todos. E como eles protegem e seguem a doutrina do Buda, herdam a natureza espantosa de todos os budas. “Ó discípulos do Buda, saibam que os bodisatvas, por terem transferido estas raízes de pureza, purificam todas as terras búdicas, purificam todas as pessoas e permitem que todos os budas permeiem todos os mundos do Darma.

(4) “Ó discípulos do Buda, se um bodisatva se tornar um rei ele governará um grande país e dominará todos os seus inimigos. Ele governa seu país de acordo com as leis corretas; o reino floresce e desfruta a paz; a moralidade prevalece na terra; e todos os outros países preferem se CEBB

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aproximar a se voltarem uns contra os outros. Como a força não é empregada, a paz e a harmonia prevalecem. “As características de um bodisatva são a própria beleza. Livre de todos os males e obstruções, um bodisatva pratica a ação de generosidade desinteressada com prazer. Sempre que vir alguém sofrendo aprisionado, um bodisatva entrará naquela prisão para pacificar o sofrimento. Por aquele destinado a morrer um bodisatva oferecerá sua vida para salvar o condenado. Ao ver seres sencientes transformados em vítimas, um bodisatva tentará salvá-los devido à sua grande compaixão e tornará possível às pessoas ouvirem o nome do Buda. “E também, um bodisatva construirá templos e residências para monges, e se devotará a servir o Buda, tentando purificar as mentes das pessoas. Suas ações de generosidade desinteressada são totalmente sinceras, sem apegos e sem nenhuma expectativa de recompensa.

(5) “Ó discípulos do Buda, quando um bodisatva oferece uma lamparina, surge este pensamento em sua mente: ‘Através deste mérito possa eu beneficiar todas as pessoas, ajudando-as a conquistar a luz que eliminará sua ignorância. Possa eu capacitá-las a realizarem a natureza vazia deste mundo e a iluminarem um número incontável de terras búdicas.’ “Quando um bodisatva oferece remédios aos outros, estes são os pensamentos em sua mente: ‘Possam estas raízes de pureza possibilitar às pessoas o abandono de seus corpos doentes e a aquisição do corpo puro do Darma do Buda; possam estas raízes remover a doença da maldade e retirar os espinhos dos obscurecimentos. Possam elas fazer com que as pessoas se aproximem dos seres santos e atinjam a luz da sabedoria, conheçam o método de tratamento e curem as muitas doenças que afligem as pessoas.’ CEBB

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“Um bodisatva, ao transmitir os ensinamentos a outros bodisatvas e bons professores, realiza a transferência de méritos desta maneira: ‘Através deste mérito, possam todos compreender a bondade dos bons professores e responder com gratidão a esta bondade; possam todos se aproximar de todos os bons professores, respeitá-los e fazer oferendas a eles com corações honestos; para o benefício dos bons professores possam todos não refletir apenas sobre o seu próprio bem-estar, mas sim possam eles seguir os ensinamentos; e tendo ouvido o verdadeiro Darma, possam encorajar todos a segui-lo.’ “Um bodisatva possibilita a todas as pessoas ouvirem a doutrina do Buda. Ele se certifica de que os méritos de ouvir o Darma não sejam perdidos. Ele as faz alcançarem a iluminação. Ele as leva a exporem o Darma que ouviram. Essas pessoas sempre buscarão o verdadeiro Darma do Buda e trabalharão para remover as visões negativas dos não-budistas. “Ó discípulos do Buda, um bodisatva oferece uma variedade de bandeiras e estandartes e pensa consigo mesmo: ‘Através destas raízes de virtude, possa eu capacitar todas as pessoas a fazerem bandeiras e estandartes de raízes virtuosas e virtudes que as levarão a alcançar a liberdade em todas as coisas. Possa eu capacitá-las a proteger o verdadeiro Darma, a acender a tocha da sabedoria, a iluminar todas as pessoas e a superar todas as maldades.’

(6) “Ó discípulos do Buda, suponham que um bodisatva, ao seguir o Darma, ouça alguém dizer: ‘Se você se lançar em um poço de fogo de sete braças de largura, eu revelarei o Darma para você.’ Neste caso, um bodisatva deveria dizer: ‘Se é para o benefício do Darma, alegremente suportarei os sofrimentos do inferno. Seria algo insignificante, então, lançar meu corpo em CEBB

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um poço em chamas se assim eu pudesse ouvir o Darma. Por favor, mostre o caminho para mim. Eu irei para o poço em chamas.’ “E também, se um bodisatva for capaz de experimentar o surgimento de um buda, ele fará com que os outros saibam que um buda surgiu no mundo. Essas pessoas, por sua vez, ouvirão a voz do Buda e, ao se libertarem da arrogância e da indolência, permanecerão pacificamente na meditação da recordação do Buda, e incansavelmente perseguirão o objetivo de alcançar o reino búdico. Incontáveis pessoas serão purificadas e serão levadas a permanecer em paz pelo poder do Buda. “Além disso, quando um bodisatva se oferece para servir o Buda, ele se liberta do orgulho e serve com uma mente humilde. Ele sustenta uma mente reverente, uma mente tão abrangente quanto a grande terra, uma mente que suporta toda a dor, uma mente que serve a todos incansavelmente, uma mente que nunca se enfraquece, uma mente que oferece raízes de virtude aos pobres e miseráveis, uma mente que respeita os nobres, os ricos, as crianças, os obtusos, uma mente que cultiva raízes de virtude por ter encontrado paz nos maravilhosos ensinamentos. Esta é a atitude mental de um bodisatva. “Além disso, um bodisatva serve a todos os budas, desperta em sua mente um sentimento de gratidão por todos os budas, desperta em todos um sentimento de gratidão por seus pais, cultiva pensamentos puros e profundos, segue as regras do caminho, aceita a doutrina do Buda e descarta as coisas mundanas, nasce na casa do Buda, segue todos os budas e protege o verdadeiro Darma, evita os reinos demoníacos, aprende a esfera do Buda e se aperfeiçoa como um vaso para a doutrina do Buda.

(7) “Um bodisatva também capacita as pessoas a atingirem o nível de um rei do Darma. Ele supera o inimigo dos obscurecimentos; ele coloca em CEBB

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movimento a mais elevada roda do Darma à vontade; e, gerando meios hábeis, ele protege a doutrina do Buda e a sustenta permanentemente. “Além disso, um bodisatva tem este pensamento em sua mente: ‘Eu aspiro levar felicidade ilimitada para todas as pessoas. Eu aspiro abrir os portões do puro Darma e possibilitar a todos transcenderem o mundo das delusões. Irei guiá-los para preencherem todas as suas aspirações, oferecendo-lhes a iluminação. Eu me tornarei o pai de todos os seres sencientes e observarei todos os mundos com olhos de sabedoria. Também me tornarei uma mãe compassiva, produzindo raízes de virtude e preenchendo suas aspirações.’ “Um bodisatva considera cada pessoa como se ela fosse seu único filho. Quando alguém busca sua orientação, um bodisatva se regozija com o pensamento de que ela o considera seu verdadeiro professor no Darma. Desta forma, um bodisatva cultiva uma mente enormemente compassiva, um coração que se alegra, uma mente que nunca falha e o espírito da generosidade. “Quando um bodisatva transfere suas raízes de virtude, ele não possui apego ao seu corpo ou a coisas; ele não possui nenhum apego a qualquer coisa existente. Por esta razão, ele não se agarra a qualquer visão fixa sobre as coisas. E isto porque, na verdade, as coisas nem nascem nem perecem e não possuem uma natureza própria fixa. Ó discípulos do Buda, um bodisatva transfere todas as raízes de virtude para a sabedoria onisciente e, movendo-se nas dez direções, ele oferece orientação às pessoas.

(8) “Ó discípulos do Buda, no ato de transferência de méritos um bodisatva purifica todos os mundos; portanto, ele faz com que todas as terras búdicas sejam iguais. Por expor o Darma que é indestrutível, ele faz com que CEBB

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todos os mundos sejam iguais. Por despertar aspirações que se originam na sabedoria universal, ele faz com que todos os bodisatvas sejam iguais. Além do mais, ele se abstém de destruir a natureza individual das coisas e enxerga todas elas como iguais. Sem apego pelo mundo, ele realiza ações positivas que estão livres do apego mundano; portanto, todas as recompensas cármicas são iguais. Ele manifesta as ações do Buda de acordo com as necessidades mundanas; portanto, sua liberdade de ação é igual à de todos os budas.” E ele disse em versos:

(i) Um bodisatva permanece em paz, possui uma mente correta, E está livre da ignorância. Por praticar a tolerância, Não possui ansiedades e acumula virtudes ilimitadas. Não há ódio em sua mente; Ela é imaculada e pura. Suas ações adornam o mundo, E sua sabedoria brilha em todas as atividades. Seus pensamentos são inconcebíveis, E ele constantemente nutre todas as pessoas. Ele vive e age de acordo com as leis do mundo E leva alegria às pessoas. Ele exercita a discrição, Está completamente consciente do Darma e de sua importância, Habita no reino da restrição harmoniosa, E leva bênçãos a todos.

(ii) Assim como todas as coisas surgem como talidade,

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Nascer e perecer também são talidade. Assim como a natureza da talidade é verdadeira, Todas as ações de um bodisatva também são verdadeiras. Assim como a talidade não pode ser medida, Suas ações também são inconcebíveis. Se não há prisão, não há libertação; Todas as suas ações estão livres de obscurecimentos. Os verdadeiros discípulos do Buda Encontram-se em paz e nunca se perturbam. Então, com todo o poder da sabedoria Eles acessam o tesouro dos meios hábeis. O rei do Darma, ao enxergar o Darma, Não está mais amarrado ou condicionado. Sem obstruções, a mente é clara; Não há elemento de desarmonia.

(iii) Aquilo que é inconcebível pode ser ponderado, Mas nunca exaurido. Quando alguém entra no estado inconcebível, Tanto o pensamento quanto o não-pensamento perecem. Pensando sobre o Darma, Discernindo todas as ações, Aquele que aniquila a impureza É o rei das virtudes. A mente não está dentro ou fora do eu. Portanto, ela não existe. Quando alguém está apegado, as coisas existem.

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Se há o desapego, elas são extintas e estão em equilíbrio. Todas as coisas são vazias, destituídas de natureza própria. Saibam que as coisas não possuem natureza própria. Os discípulos do Buda, assim como ele, despertaram Para a verdade da ausência de identidades.

(9) “Um bodisatva respeita todas as raízes de virtude. Ele compreende que é importante desapegar-se do mundo, acumular raízes de virtude, arrepender-se de seus próprios erros e esforçar-se para gerar raízes de virtude. Ele nunca pensa levianamente sobre prestar homenagem ao Buda juntando as palmas das mãos em reverência ou venerando templos e relicários. Ele sempre cuida das raízes de virtude, nutrindo-as, encontra paz mental nelas, pondera sobre elas e, seguindo as raízes de virtude no reino do Buda, enxerga o poder de liberdade do Buda. “Um bodisatva não solicita a ninguém para realizar uma prática que ele mesmo não tenha praticado. É totalmente inconcebível que outros desfrutem as práticas e encontrem paz nelas se ele também não as realizou. Um bodisatva age de acordo com as próprias palavras, fala a verdade e coloca a verdade em prática. Ele é tolerante e pacifica sua mente. Ele encoraja os outros a pacificarem suas mentes e os guia à tolerância. Libertando-se das dúvidas, ele possui uma mente jubilosa. Ele possibilita aos outros libertaremse das dúvidas, levando-os a uma fé inabalável no Darma. “Um bodisatva transfere seus méritos desta maneira: ‘É meu desejo sincero que, devido a estas raízes de virtude, todas as pessoas sejam capazes de ver o Buda em todos os momentos, sejam capazes de se devotar ao Buda e com mentes puras possam desfrutar a verdadeira felicidade. Além do mais, possam elas sempre ver o Buda, manifestar os poderes ilimitados de um CEBB

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bodisatva e nunca esquecer o Darma.’ “E também, ao transferir méritos, um bodisatva se esforça para iluminar as pessoas para que elas vejam que não há nada que seja uma entidade permanente ou que possua natureza própria, que tudo é talidade, que não há uma base fixa, que não há falsidade em tudo o que existe, que a verdadeira realidade está livre de todas as formas, que a verdade é a própria tranquilidade, e que no reino do Darma não há afastamentos ou aproximações. “Além disso, um bodisatva tenta transferir raízes de virtude da seguinte maneira, ele deseja transformar todas as pessoas em grandes mestres do Darma e possibilita a elas permanecerem no abraço dos budas. Transformando-as em mestres do Darma que apoiam o Darma, ele deseja que elas ensinem o Darma fluentemente, não deixando nem mesmo um pequeno pedaço de seu sabor ser perdido. E também, transformando todas as pessoas em mestres do Darma adornados pela luz, assim como o sol, cuja luz é nãoobstruída, ele deseja que elas irradiem a luz da sabedoria do Buda a todos os seres sencientes. Ele também deseja que elas se transformem em mestres do Darma que estão conscientes das atividades de Mara e que destruam as forças dele.”

5. As Cinco Virtudes do Buda (1) Mais uma vez o Honrado pelo Mundo deixou o Pico dos Abutres e, no monastério do bosque de Bambus, entrou no décimo sexto retiro de verão. Certo dia, um dos discípulos do Buda, Gulissani, que tinha alguns negócios

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para atender, estava presente na reunião de monges. Ele era sempre ganancioso e nunca mantinha a disciplina. Como ele não era capaz de controlar sua mente, parecia bastante inconveniente. O discípulo Sariputta instruiu os outros discípulos sobre Gulissani: “Amigos discípulos, eu gostaria de lembrá-los que aqueles que vivem na floresta e que renunciaram às amarras mundanas devem mostrar respeito por seus colegas e deveriam encontrar um discípulo mais antigo que possam verdadeiramente respeitar. Se isto não for assim, alguém poderia dizer: ‘Qual é o propósito para essas pessoas viverem sozinhas na floresta?’ “Além disso, aqueles que residem na floresta e que desejam sentar-se no local onde os monges estão reunidos devem fazer todos os esforços para não ficarem no caminho dos mais antigos e para não atrapalhar os noviços. Eles não devem entrar nas vilas em horários inesperados ou perder a hora de partir nos horários usuais. Eles não devem encontrar chefes de família imediatamente antes ou depois das refeições. Eles não devem ter mentes confusas e não devem agir descuidadamente. “Eles não devem falar em um tom agitado, mas sim deveriam usar uma boa linguagem. Eles deveriam estar acompanhados por bons amigos, controlar seus desejos, e estar cientes da quantidade adequada de alimento a ser ingerido. Eles também deveriam praticar à noite. Eles devem tranquilizar suas mentes em todos os momentos. Com sua sabedoria eles deveriam estar claramente conscientes do Darma e dos preceitos. Eles deveriam se dedicar ao caminho que leva à cessação do sofrimento e seguir o caminho que ultrapassa todas as coisas humanas e mundanas. Se estas orientações não forem seguidas, alguém pode dizer que essas pessoas não estão conscientes do propósito de se tornarem mendicantes.” Naquele CEBB

exato

momento,

o

discípulo

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Moggallana

perguntou:

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“Sariputta, estas instruções devem ser seguidas apenas por aqueles que residem na floresta ou elas também deveriam ser seguidas por aqueles que residem próximos à floresta?” Sariputta respondeu: “Meu amigo, visto que aqueles que residem na floresta deveriam observá-las, muito maior é a razão para aqueles que residem próximos à floresta observá-las!”

(2) Nessa época, muitos ascetas famosos, tais como Anugara, Varadhara e Sakuludayin se encontravam no Parque do Pavão. Um dia, o Honrado pelo Mundo deixou o monastério do Bosque de Bambus e se dirigiu ao Parque do Pavão, porque ainda era cedo demais para fazer sua ronda de mendicância por comida. Naquele momento, Sakuludayin e muitos outros praticantes do caminho estavam envolvidos em uma conversa em voz alta. Ao ver o Honrado pelo Mundo se aproximando, ele fez sinal para os outros ficarem quietos e, então, silenciosamente cumprimentou o Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo, aceitando o assento oferecido, deu instruções: “Udayin, o que você estava discutindo com os outros aqui reunidos?” “Ó Honrado pelo Mundo, eu espero poder explicar este assunto mais tarde. Na verdade, outro dia, quando os monges de várias escolas se reuniram no salão de debates, alguém disse: ‘O povo de Anga e Magadha é realmente afortunado, pois mestres famosos como Purana Kassapa, Ajita Kesakambalin, Nigantha Nataputta e Gotama, bem como seus seguidores, estão aqui em Rajagaha. Qual dos mestres é o mais respeitado pelo povo e por seus seguidores?’ Nesse momento alguém disse que Purana Kassapa não era respeitado por seus discípulos, e outro disse que Ajita Kesakambalin também não era respeitado, oferecendo exemplos reais. Então, uma pessoa disse: ‘Gotama é respeitado por todas as pessoas, assim como por seus CEBB

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seguidores. Certa vez, quando Gotama estava discursando para centenas de seguidores, houve um entre os silenciosos ouvintes que tossiu. O seguidor que estava sentado ao seu lado sinalizou cutucando o seu joelho para lembrálo que o Honrado pelo Mundo estava expondo os ensinamentos. Dali em diante ninguém mais fez ruídos ou tossiu. Assim como as pessoas se reúnem em uma esquina para assistirem à extração do mel de uma maravilhosa colméia sem respirarem, as pessoas ouvindo o Buda são extremamente atentas, não querendo perder nenhuma palavra. Mesmo se um seguidor de Gotama abandona a Sanga e retorna para o status de leigo, ele louva as virtudes do mestre, o Darma e a Sanga; ele lamenta por não ser capaz de praticar as puras práticas dos ensinamentos devido às suas falhas. Outros se tornam seguidores leigos, ao passo que outros se tornam guardiões de templos e observam os cinco preceitos. Essas são as formas pelas quais os seguidores de Gotama respeitam o Honrado pelo Mundo.’”

(3) O Buda perguntou a Udayin: “Udayin, por quantas razões você acha que meus discípulos me respeitam?” Udayin respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, eu creio que há cinco razões pelas quais eles o reverenciam. Primeiro, o Honrado pelo Mundo necessita de pouca comida e também louva esta prática. Segundo, o Honrado pelo Mundo aprecia qualquer manto que é oferecido, independente de sua qualidade e louva esta prática. Terceiro, o Honrado pelo Mundo fica satisfeito com qualquer alimento que lhe é oferecido e louva esta prática. Quarto, o Honrado pelo Mundo se satisfaz com qualquer leito que seja oferecido e louva esta prática. Quinto, o Honrado pelo Mundo abandona o mundo secular e louva aqueles que buscam o isolamento.” Diante destas palavras, o Honrado pelo Mundo instruiu: “Ó Udayin, se CEBB

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comer pouco e louvar esta prática é uma de minhas virtudes, então considere que entre meus discípulos há um que come tão pouco quanto a metade de uma castanha de marmeleiro. Considere que eu recebo uma tigela de alimento e, ocasionalmente, como mais do que uma tigela. E também, se estar satisfeito com qualquer manto que eu receba e louvar esta prática é uma de minhas virtudes, então, há um seguidor da Sanga que recupera trapos de montes de lixo e de sepulturas, costura-os, e os veste. Às vezes eu visto as roupas imponentes e belas que me foram dadas por meus seguidores leigos. E também, se estar satisfeito com a comida que me é oferecida e louvar esta prática é uma de minhas virtudes, então, na Sanga do Buda há aqueles que mendigam porta a porta recebendo esmolas, aqueles que juntam os grãos caídos nos campos e que os comem, e aqueles que não partilham a comida mesmo quando são convidados nas casas. Às vezes eu sou convidado para alguma casa e partilho do arroz branco cuidadosamente selecionado que é oferecido. E também, se estar satisfeito com qualquer leito oferecido e louvar esta prática é uma de minhas virtudes, então, considere que há aqueles na Sanga do Buda que dormem sob as árvores ou diretamente sobre o chão e que não buscam proteção sob um teto por meses a fio. Eu, entretanto, ocasionalmente durmo em mansões de muitos andares, em casas que protegem o Honrado pelo Mundo do vento, e onde as janelas e portas são fechadas com segurança. E também, se buscar o isolamento e louvar esta prática é uma virtude do Buda, então, há aqueles na Sanga do Buda que entram na floresta, moram longe das vilas, e apenas se reúnem para recitar os preceitos uma vez a cada duas semanas. Frequentemente eu resido com meus discípulos, meus seguidores, reis, ministros de reis e os mestres que são seguidores de outras religiões. “Não é apenas pelas cinco razões indicadas por você que meus CEBB

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discípulos me respeitam. Na verdade, existem cinco outras razões. Estas cinco são o fato de que o Buda estabeleceu cinco maravilhosos preceitos morais básicos, que o Buda possui poder excelente para perceber a verdade, que o Buda possui sabedoria insuperável, que as Quatro Nobres Verdades foram claramente explicadas por ele e deram ao povo a inspiração para segui-las, e que os vários caminhos que levam à iluminação foram estabelecidos, inspirando os discípulos a seguirem-nos de acordo com as instruções e, assim, alcançando a iluminação. Na verdade, é devido a estes cinco maravilhosos caminhos que sou respeitado e reverenciado por meus seguidores.”

(4) Certo tempo antes disso, vivia em Rajagaha um instrutor leigo e líder de nome Visakha. Sua casa prosperava, e tomando Dhammadinna por esposa, ele desfrutava uma família feliz. Muitos anos antes ele tinha recebido os ensinamentos do Buda, e no status de um leigo ele havia alcançado a iluminação. Dhammadinna pôde receber os ensinamentos do Buda com a orientação de seu marido. Seu desejo de abandonar a vida secular era grande e, finalmente, ele concordou em deixá-la cortar seu cabelo e se tornar uma monja. Daquele dia em diante, ela se devotou à prática do caminho. Ocorreu que a Sanga das monjas, acompanhando o Honrado pelo Mundo, encontrava-se no bosque de Bambus em Rajagaha. Visakha chamou Dhammadinna e teve o seguinte diálogo: “Ó Dhammadinna, é comum as pessoas dizerem ‘eu’. Como o Honrado pelo Mundo explica esse ‘eu’?” A monja respondeu: “Ó Visakha, o Honrado pelo Mundo nos ensinou que esse ‘eu’ é um agregado de elementos corporais e mentais.” Então, Visakha perguntou: “Por favor, diga-me, qual é a base para esse ‘eu’?” Ela respondeu: “O Honrado pelo Mundo ensinou que a base para o CEBB

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‘eu’ é a sede do desejo intenso humano.” “Então, venerável monja, o que é que desintegra o ‘eu’?” “O Honrado pelo Mundo nos ensinou que quando a sede do desejo intenso é completamente superada, é então que o ‘eu’ é aniquilado.” “Então, venerável monja, por favor, diga-me qual é o caminho que leva à aniquilação do ‘eu’.” “É o Nobre Caminho Óctuplo: visão correta, pensamento correto, fala correta, conduta correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta. Este Caminho Óctuplo é o caminho que leva à aniquilação do ‘eu’.”

(5) “Então, venerável monja, como é que esse ‘eu’ ilusório surge na mente, e como é possível se libertar de tal consciência ilusória?” “Aqueles que não veem os sábios, aqueles que não conhecem os caminhos dos sábios, e aqueles que não praticam o caminho dos sábios consideram que o corpo e a mente são o ‘eu’, e que o ‘eu’ possui o corpo e a mente; que a mente e o corpo existem no ‘eu’; e que o ‘eu’ existe no corpo e na mente. Assim, eles sustentam noções errôneas sobre o ‘eu’. Aqueles que veem os sábios, aqueles que conhecem o Darma dos sábios, e aqueles que praticam o caminho dos sábios podem ser aliviados de tais visões errôneas.”

(6) Visakha apreciou enormemente este discurso e procurou o Honrado pelo Mundo, ao qual ele relatou todo o diálogo. O Honrado pelo Mundo disse: “Visakha, saiba que Dhammadinna é uma pessoa de sabedoria. Se você me perguntasse a razão para a existência do ‘eu’, não haveria nada que eu pudesse dizer além do que ela disse. Isto porque ela falou a verdade.” Mais tarde, o Honrado pelo Mundo louvou a monja Dhammadinna como sendo a CEBB

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primeira daqueles que foram proficientes na exposição do Darma.

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LIVRO IV Capítulo IV - OS ESTÁGIOS DA ILUMINAÇÃO

1. Rahula

(1) O Honrado pelo Mundo se encontrava no Bosque de Bambus e Rahula estava na vizinha Ambalatthika. Certa noite, o Buda foi visitar Rahula. Rahula saudou o Buda, preparou o tapete para sentar e um pouco de água para lavar seus pés. Depois de lavar seus pés, o Buda deixou um pouco de água na jarra e disse a Rahula: “Rahula, você vê a pequena quantidade de água remanescente?” “Sim, Honrado pelo Mundo, eu vejo uma pequena quantidade de água.” O Buda disse: “Rahula, o mérito de um mendicante é igualmente pequeno quando ele conscientemente conta mentiras e não possui vergonha.” Então, o Buda jogou fora a água restante na jarra e disse: “Rahula, você viu o resto de água sendo jogado fora?” “Eu vi”, disse Rahula. O Buda disse: “Rahula, o respeito pelo mendicante que conscientemente conta mentiras e que não possui vergonha será jogado fora da mesma maneira.” Então, o Buda emborcou a jarra e disse: “Rahula, você viu a jarra ser emborcada?” Rahula respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu vi a jarra ser emborcada.” O Buda

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disse: “Rahula, o valor de um mendicante será emborcado da mesma maneira se ele conscientemente contar mentiras e não possuir vergonha.” Então, o Buda virou a jarra novamente para cima, e disse: “Rahula, você viu que a jarra está sem água alguma?” Rahula disse: “Sim, eu vi.” Então, o Buda disse: “Rahula, o valor de um mendicante que conscientemente mente e que não possui vergonha é nulo. Enquanto o elefante furioso de longas presas proteger seu tronco no campo de batalha, usando suas pernas dianteiras e traseiras, suas orelhas, suas presas, sua cauda e cada parte de seu corpo, o condutor do elefante não terá dúvidas de que o elefante está seguro; mas, quando o elefante começar a usar seu tronco, o condutor entende que ele irá morrer na batalha. Igualmente, alguém que conscientemente mente e que não possui vergonha, eu afirmo, cometerá todos os atos negativos. Rahula, portanto, mesmo em brincadeiras, você não deveria mentir.”

(2) “Para qual propósito você usa um espelho?”, perguntou o Buda. Rahula respondeu: “Para ver meu próprio reflexo.” O Buda disse: “Rahula, quando você observar seu reflexo no espelho, apenas após repetidas deliberações que você deveria agir. As ações cometidas com sua mente, boca e corpo deveriam ser realizadas da mesma forma. Rahula, quando você estiver a ponto de realizar uma ação de corpo, de fala ou de mente, deveria parar para pensar se o ato prejudicará você mesmo, os outros, tanto você quanto os outros; se é um ato negativo; e se ele pode se tornar causa de sofrimento. Se sim, então você não deveria realizar tal ação. Se, após as devidas considerações você chegar à conclusão que ele não é negativo, então você deveria realizá-lo. “E também, mesmo durante uma ação ou após ela ter sido finalizada, CEBB

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você deveria refletir desta maneira. Se ela for prejudicial para você e para os outros, você deveria evitar realizá-la e se arrepender diante de seu professor e amigos. Se, após as devidas considerações, você decidir que ela não é prejudicial para você mesmo e para os outros, mas que é uma ação positiva que trará felicidade para os outros, você deveria realizá-la. Além disso, você deveria continuar agindo assim e estar satisfeito por ser capaz de fazer essas ações positivas. “Rahula, os monges do passado se purificaram desta forma, os monges do futuro se purificarão desta forma e os monges do presente se purificam desta forma. Você, também, deveria pensar profundamente e aprender a purificar as três ações de corpo, fala e mente.”

2. Os Dez Estágios (1) Certo dia, o Buda estava acompanhado por muitos mahasatvas. Naquele momento, o bodisatva Vajragharba, graças à orientação do Buda, acessou a Meditação da Luz da Grande Sabedoria, alcançou a sabedoria imaculada e o poder desimpedido da eloquência, e disse à multidão reunida: “Filhos dos budas, a aspiração daquele que segue o Darma é inabalável, é indestrutível, e é igual ao Dharmadhatu em sua grandeza. Ela é protegida por todos os budas. Isto é assim porque esses bodisatvas atingem o estado da sabedoria búdica, avançando através de dez estágios progressivos. Esses são os estágios da alegria, da pureza, da luz da sabedoria, da sabedoria radiante, da superação das dificuldades extremas, do surgimento da grande sabedoria, de estar muito avançado, o inabalável, da boa sabedoria e das nuvens do

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Darma. “No primeiro estágio, o estágio da alegria, um bodisatva atinge a alegria e a fé. Ele é puro e bondoso e consegue perseverar. Ele não entra em brigas com os outros e não lhes traz sofrimentos. Seu pensamento está constantemente com o Buda, o Darma e a Sanga, que produzem alegria. Ele está livre de todos os medos – medos relativos à sua subsistência, má reputação, morte, queda nos infernos e de estar diante de uma multidão. E isto porque um bodisatva nesse estágio está livre da noção de identidades; assim, ele não é ganancioso. Visto que ele não é ávido por posses, ele está livre do medo de não conseguir se sustentar. Visto que ele não deseja ser respeitado pelos outros, ele não tem medo de má reputação. Visto que ele está livre da noção de identidades, a morte não lhe traz temor. Visto que ele sustenta o pensamento de encontrar o Buda na próxima vida, ele não tem medo de cair nos infernos. Visto que ele possui a confiança de que não há nada igual ou superior àquilo que deseja, ele não tem medo de se apresentar diante de uma multidão. “E também, um bodisatva possui grande compaixão e nenhum desgosto com os outros; com uma mente sincera e pura ele pratica de boa vontade aquilo que é bom. Ele possui fé; ele se envergonha tanto por suas ações de mente quanto de corpo; ele é gentil e paciente. Ele possui respeito pelos ensinamentos e pelos bons professores. Ele nunca se cansa de ouvir o Darma e memoriza corretamente o Darma que ouviu. Ele não busca honrarias ou lucros. Ele age de acordo com sua palavra e nunca usa de bajulação. Sua mente é tão estável quanto uma montanha devido à sua sabedoria em relação a todas as coisas. Incansavelmente, ele reúne os ensinamentos que serão úteis para realizar o Darma e sempre procura o caminho supremo entre os caminhos superiores. Ele reverencia todos os CEBB

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budas e faz o voto de praticar todos os seus Darmas. Seu voto é tão grande quanto o Dharmadhatu e se estende por todos os lugares como o céu. Assim, ele pratica o Darma com entusiasmo ininterrupto. “Ele também faz os seguintes votos: ‘Possam todos aqueles que trilham o mesmo caminho, com a mesma intenção e as mesmas práticas acumular ações positivas, libertando-se do ódio e do ciúme. Com mentes nãodiscriminatórias, possam eles viver em harmonia na mesma esfera espiritual; e quando as condições amadurecerem, que eles possam revelar os corpos do Buda. Percebendo os reinos búdicos e seus poderes divinos, possam eles viajar para todos os países, aparecer em todas as reuniões e praticar o caminho dos bodisatvas.’ “Ele também pensa desta maneira: ‘O ensinamento do Buda é profundo e vasto, mas as pessoas caíram na armadilha das visões errôneas. Seus olhos de sabedoria estão cobertos pela ignorância; suas mentes estão imbuídas de arrogância e da sede do desejo intenso; elas sustentam pensamentos de bajulação, avareza, ciúme, cobiça e raiva, abanando as chamas do ódio. Mesmo que, por acaso, aconteça de elas oferecerem algo em caridade, elas anulam os méritos com as visões pervertidas. Assim, elas se deludem ainda mais. Irei agora salvar estas pessoas em sofrimento e guiá-las à alegria de seguir o caminho do Buda.’

(i) Aquele que ouve o tesouro do Darma receberá a proteção do Buda, e ao atingir a iluminação, ele finalmente realizará o caminho do Buda. Aquele que não é negligente ao ouvir escutará os ensinamentos mesmo no fundo dos oceanos ou em um fogo flamejante. Mas, aquele que é tolo e que duvida dos ensinamentos acabará não os ouvindo mais. CEBB

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Aquele que, ao semear as sementes das ações positivas, se aproxima do Buda e que fielmente se submete ao seu coração compassivo alcançará uma sabedoria incomensurável. O coração compassivo possui a sabedoria como mestra e está acompanhado por meios hábeis. Sua mente honesta é pura e sua força é incomensurável.

(ii) Se o filho do Buda despertar esta nobre mente, ele deixará o estágio de uma pessoa comum e entrará na vida do Buda e renascerá na casa do Buda.

Sua mente alcançará o estágio da alegria. Ela será imóvel como uma montanha. Grande alegria surgirá. Sua mente será pura E ele alcançará a sabedoria absoluta. Afastando-se dos conflitos, não guardando ódio algum, Tendo noção de vergonha e de respeito, Ele nutrirá a mente sincera. Todas as terras búdicas estão ocupadas pelos filhos dos budas. Eles possuem a mesma mente. O que quer que eles façam não é em vão.

(2) “No segundo estágio, o estágio da pureza, um bodisatva se abstém de matar, deixa de lado espadas e chicotes, afasta-se do adultério e não

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sustenta pensamentos de desejo por outras mulheres além de sua esposa. Um bodisatva pensa: ‘As pessoas, devido às suas visões errôneas, discriminam entre o eu e os outros; elas lutam, sempre ambicionam riquezas, estão continuamente encobertas pela ignorância, e passam por sofrimentos sem fim. Que lastimável! Irei guiá-las para o caminho correto em primeiro lugar; então, elas extinguirão o fogo das impurezas e conquistarão os olhos da sabedoria. Todos os terríveis sofrimentos, e o corpo que está sendo queimado nos infernos, resultam de uma mente negativa. Irei agora me libertar do mal e prosseguirei pelo caminho genuíno. Todas as alegrias deste mundo e dos vindouros nascem das dez ações virtuosas.’ “Muitos dos filhos do Buda que se manifestam no estágio da pureza se tornarão Reis do Giro da Roda, guiando todas as pessoas às dez ações virtuosas.

(3) “Vivendo no terceiro estágio, o estágio da luz da sabedoria, um bodisatva vê todos os darmas como eles são; ou seja, eles veem todas as coisas como impermanentes, plenas de dor, impuras, e não possuidoras de uma identidade permanente. O verdadeiro aspecto das coisas é que elas não surgem devido às suas próprias causas e condições.”

Todas as coisas neste mundo são como doenças ou edemas. As pessoas estão tomadas pela luxúria e sofrem devido ao pesar e às ansiedades. As chamas flamejantes dos três venenos não cessaram desde um passado sem fim. Apenas a sabedoria dos budas é pura e livre da dor, profunda e ilimitada.

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“Um bodisatva pensa: ‘As pessoas são pobres e não possuem boa fortuna. Afundadas no mar das impurezas e cegas, elas perderam a visão do Darma. Elas sentem medo quando não há nada a temer. Farei tudo o que estiver em meu poder para salvá-las.”

Apenas a sabedoria pode livrar as pessoas do sofrimento. Ouçam e aprendam, não há outro caminho. Ouvir o Darma é a base da doutrina do Buda.

(4) “No quarto estágio, o estágio da sabedoria radiante, um bodisatva se aproxima de todos os budas. Ele faz oferendas com reverência. Seu coração é puro; sua fé nos Três Tesouros está ainda mais firme; suas raízes de virtude estão bem nutridas.

(5) “No quinto estágio, o estágio da superação de dificuldades extremas, um bodisatva de grande compaixão faz o voto: ‘O bem que eu realizo é para remover o sofrimento dos outros, para guiá-los à iluminação e para satisfazer suas aspirações.’

(6) “No sexto estágio, o estágio do surgimento da grande sabedoria, um bodisatva discerne claramente a verdade dos doze elos da cadeia causal.

(i) Aquele que alcança o conhecimento da verdadeira natureza do Darma não será perturbado pelas duas visões de existência e inexistência. Com um coração compassivo, ele salvará os outros. Ele é conhecido como filho do Buda. Apesar de sua mente ser pura, ele mantém os preceitos. Não possuindo mais pensamentos CEBB

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prejudiciais, ele também impede que outras pessoas sejam perseguidas. Apesar de já ter despertado para a natureza do Darma, ele se esforça no aprendizado. Apesar de já ter destruído os obscurecimentos, ele pratica meditação. Apesar de conhecer a vacuidade de todas as coisas, ele claramente as distingue. Apesar de residir na sabedoria do nirvana, ele beneficia o mundo destruindo o obscurecimento. Ele é conhecido como um Mahasatva.

(ii) Os três mundos surgem da mente da cobiça; os doze elos da cadeia causal também existem na mente. Assim, o samsara surge apenas da mente; quando a mente mundana é superada, o samsara se exaure.

Da ignorância surgem as ações; das ações surge o sofrimento. Se a ignorância existe, o mundo ordinário surge. Se a ignorância for eliminada, o mundo ordinário desaparece. Conhecendo esta relação causal, os sábios enxergam a vacuidade. Visto que as coisas perecem e não possuem existência contínua, Ele ingressa na prática da ausência de formas. Conhecendo a falsidade da visão dualista, sua mente alcança a ausência de desejos. Ele apenas se ocupa da salvação de todos.

(iii) Fazendo oferendas a todos os budas, ele é louvado pelo Buda. Entrando no repositório da doutrina do Buda, suas raízes de virtude aumentam.

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Elas são como ouro puro polido com lápis lazúli, que se torna ainda mais brilhante, Ou como a lua viajando pelos céus, lançando seu frescor reconfortante sobre todos; Tempestades de todas as direções não podem obstruir sua passagem. A luz da sabedoria de um bodisatva extingue o fogo da negatividade; Mesmo os quatro seres maléficos não podem destruí-lo.

(7) “No sétimo estágio, o estágio muito avançado, um bodisatva guia as pessoas através de seus inúmeros meios hábeis a praticarem as Seis Perfeições. E também, apesar de um bodisatva apreciar profundamente o nirvana, ele não abandona o mundo. Apesar de aparentemente viver no mundo da delusão, ele não é contaminado pelo mundo. Apesar de sua mente estar em equilíbrio, ela queima fervorosamente por compaixão devido ao poder de seus meios hábeis. Apesar de externamente manifestar as atividades de Mara, ele não se afasta da sabedoria do Buda. Apesar de manifestar ações falsas, ele não se desvia da doutrina do Buda. “Apesar de um bodisatva enxergar a vacuidade com sua sabedoria, ele incansavelmente cultiva as virtudes. Apesar de residir nos três mundos, ele se delicia por estar livre deles. Apesar de sua mente estar calma, ele se movimenta para destruir a negatividade. Apesar de viver a vida do vazio, ele não perde o coração da compaixão. Apesar de saber que os budas não possuem forma, ele enxerga as trinta e duas marcas de um buda. Apesar de saber que a voz não pode transmitir a verdade, ele louva a voz do Buda e, assim, alegra os corações de todos. Apesar de estar consciente de que todos CEBB

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os budas alcançam a iluminação em um momento de pensamento, ele guia as pessoas em momentos e lugares específicos de acordo com suas capacidades.

(8) “Quando um bodisatva entra no oitavo estágio, o estágio inabalável, ele é descrito como um bodisatva que pratica profundamente. Neste estágio, um bodisatva se liberta de todos os pensamentos, toda a cobiça, todos os meios de esforço, e de todas as ações de corpo, fala e mente. Ele é como alguém em um sonho que pensa sobre a forma de cruzar um rio profundo. Quando desperta do sonho antes de ter cruzado o rio, o que ele pensava ser a forma de cruzar o rio é descartado agora como desnecessário. “Então, o Buda afirma: ‘Meu bom homem, você atingiu um profundo equilíbrio meditativo e está vivendo de acordo com a doutrina do Buda; mas você ainda não atingiu todas as virtudes do Buda. As pessoas comuns do mundo estão afastadas do equilíbrio meditativo que você alcançou e estão sendo prejudicadas por suas próprias negatividades. Você deveria ter piedade de todas essas pessoas. Meu bom homem, lembre-se, portanto, de seu voto de ser bondoso com elas e aspire a atingir essa sabedoria inconcebível. A natureza e a forma de todas as coisas não mudam quer um buda apareça ou não. Todos os budas são chamados de budas por conhecerem esta verdade. Meu bom homem, pense sobre o corpo indescritivelmente puro, a sabedoria infinita, a terra ilimitada, os meios hábeis incomensuráveis e a luz e a voz de um buda. Agora você atingiu a sabedoria do Silêncio do Darma. Mas os budas possuem darmas de sabedoria infinita. Você deveria alcançar esses darmas de qualquer forma.’ “Meus discípulos, se o Buda não oferecesse esta exortação, um bodisatva abandonaria as aspirações de atingir o nirvana e de salvar os outros. CEBB

Ao

receber

este

conselho

ele

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conquista

uma

sabedoria

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incomparavelmente superior à que até o momento possuía. É como alguém que caminhou com grande esforço até uma margem e que embarcou em um bote para cruzar o oceano. Uma vez no bote a distância coberta em um dia é muito maior que a coberta por terra. Meus discípulos, uma vez que atinjam o oitavo estágio, surgirá da sabedoria dos grandes meios hábeis uma mente que funcionará naturalmente, que permitirá a visualização do poder da sabedoria de um buda enquanto ainda no nível de um bodisatva, e ela será capaz de discernir claramente as relações causais de vida e morte. Além disso, assim como o sol ou a lua lançando seus reflexos sobre todas as águas, você será capaz de se manifestar de infinitas formas de acordo com a capacidade das pessoas. Você alcançará o poder que pode ser utilizado à vontade em qualquer ocasião.

(9) “No nono estágio, o estágio da boa sabedoria, um bodisatva será capaz de ingressar no repositório secreto do Darma. Ele será capaz de conhecer as diferenças entre todas as coisas e entre todas as mentes. Ele conhecerá as vidas de todos os seres. A ação é como se fosse o solo; o desejo é a água; a ignorância é como a cobertura; a consciência é a semente; o corpo é o broto. Corpo e mente crescem juntos e se tornam inseparáveis. Tolice e luxúria surgem uma após a outra seguidas por pensamentos de viver, fazer e desejar, mas nunca pela aspiração pelo nirvana. Assim, um bodisatva verá como os Três Reinos, o Reino do Desejo, o Reino da Forma e o Reino da Nãoforma surgem em sucessão.

(10) “Quando atinge o décimo e último estágio, o estágio das nuvens do Darma, e se aproxima do estado búdico com sua sabedoria infinita, ele será capaz de alcançar todas as meditações superiores. Com essas meditações CEBB

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emerge um grande lótus precioso. A circunferência da flor é de cem mil vezes a do mundo, ela está coberta por todos os tipos de gemas. Quando um bodisatva sobe no lótus todos os mundos tremem, uma luz brilha em todas as direções, e todos os reinos negativos se pacificam imediatamente. Um bodisatva, devido ao seu poder de iluminação, vai até todos os budas em um instante e recebe o Darma ilimitado. Ele é como um grande oceano aceitando a chuva sem se importar se ela é torrencial ou não. “Meus discípulos, o oceano possui estas dez características: primeiro, ele se torna mais profundo gradualmente; segundo, ele devolve para a praia os corpos mortos, não os aceitando; terceiro, todos os rios fluindo para ele perdem seus nomes originais; quarto, a água se torna de um único sabor; quinto, ele contém muitos tesouros; sexto, ele é profundo e difícil de mensurar; sétimo, ele é ilimitado; oitavo, ele permite que um grande número de seres vivos habitem em seu interior; nono, ele nunca falha em manter o momento certo para as marés; e décimo, ele nunca transborda, não importa o quão pesada seja a chuva. Nada pode destruir estas características. Para alguém que busca o caminho, existem as relações causais dos dez estágios, que ninguém pode destruir. “No estágio da alegria um bodisatva decide firmemente seguir sua aspiração; no estágio da pureza ele se afasta daqueles que violam os preceitos; no estágio da luz da sabedoria ele descarta os nomes sem substância; no estágio da sabedoria radiante, ao reverenciar o Buda ele atinge uma mente unificada que é indestrutível e pura; no estágio de superar as dificuldades extremas, ele trabalha pelo mundo gerando diversos meios hábeis e poderes sobre-humanos; no estágio do surgimento da grande sabedoria, ele discerne a lei das relações causais; no estágio muito avançado, com um coração magnânimo ele vê todas as coisas; no estágio inabalável ele CEBB

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realiza o grande ornamento; no estágio da boa sabedoria ele atinge liberdade superior e está claramente consciente de todas as coisas seculares; e no estágio das nuvens do Darma um bodisatva recebe a chuva dos grandes ensinamentos de todos os budas.”

3. Vimalakirti (1) O Honrado pelo Mundo partiu de Rajagriha e cruzou o Ganges, entrando

em

Vaisali.

Ele

permaneceu

nas

florestas

de

Amrapali

acompanhado por muitos bodisatvas e discípulos. Ratnakara, um homem muito rico, acompanhado por seus quinhentos filhos, veio até o parque para oferecer um dossel feito de joias. Ratnakara se aproximou do Buda e o louvou em versos:

(i) Seus olhos límpidos são como lótus; sua mente permanece silenciosamente em concentração. Por um longo tempo você vem mantendo uma vida pura; você guia as pessoas para a paz. Oferecendo o tesouro do Darma, você esclarece o que é o Darma. Você nos ensinou claramente Que todas as coisas surgem de relações causais. Não há ‘eu’ ou Deus, E não há nada que tenha sido criado por Deus. Os carmas positivos e negativos se manifestam continuamente.

(ii) Ó grande rei da medicina, que nos salva da velhice, doença e CEBB

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morte, Suas virtudes são tão vastas quanto o oceano. Como uma montanha, você não se abala com elogios ou críticas. Para os bons e para os maus, com uma mente livre de preferências como o espaço vazio Você oferece sua graça igualmente. Pelo seu poder piedoso, nós pudemos ver todos os mundos. Conscientes do grande poder desimpedido do rei do Darma, Nós demos nascimento à fé pura.

(iii) Apesar de o Buda usar as mesmas palavras para todos, Cada um entende de sua própria forma: Todos pensam que entendem o mesmo. Com as mesmas palavras do Honrado pelo Mundo Alguns se alegram e alguns sentem medo, Alguns se cansam da vida mundana, Alguns encontram o fim de suas dúvidas. Ó mestre de poder incomparável, Ó maior dos professores deste mundo, Cortando as paixões você atingiu a iluminação, Salve todos, sem abandonar ninguém. Prostramo-nos diante de você em profunda reverência.

(2) Ratnakara disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, todos estes jovens aspiram se tornar budas. Eu lhe imploro para explicar sobre as terras imaculadas dos budas e sobre a forma de estabelecimento dessas terras.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, Ratnakara. Agora

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eu esclarecerei este tema para vocês. Ouçam bem e ponderem perfeitamente. Ratnakara, para alguém que segue o caminho, cada lugar em que se encontre é uma terra búdica. “Por natureza, um buda estabelece sua terra para ajudar as pessoas. Para fazer isto, uma terra búdica será construída com base nas mentes das pessoas assim como as casas são construídas sobre o solo. Ratnakara, o que constrói uma terra búdica é uma mente sincera. Essa mente é ao mesmo tempo uma mente profunda, uma mente que busca o caminho, uma mente que guarda os preceitos, uma mente generosa, uma mente paciente, uma mente esforçada, uma mente controlada, uma mente que gera sabedoria e compaixão. Tal mente permite às pessoas alcançarem o Darma através de todos os meios hábeis. Portanto, Ratnakara, se você deseja estar em uma terra pura búdica, deveria primeiramente purificar sua mente. Quando a mente é pura, o mundo também é.” Então, Sariputra pensou consigo mesmo: “Se o mundo é puro apenas quando a mente é pura, possuía o Honrado pelo Mundo uma mente impura quando buscava o caminho? Por que este mundo é tão contaminado?” O Buda percebeu imediatamente o pensamento de Sariputra e disse: “Pessoas cegas não são capazes de ver o sol ou a lua. Mas elas não podem dizer que não existe sol ou lua. O fato de elas não poderem vê-los não é culpa do sol ou da lua; é devido à sua delusão que as pessoas não conseguem ver a pureza das terras búdicas. Este mundo é puro, mas sua pureza não é visível para você.” Um brâmane que estava na assembleia naquele momento disse: “Venerável Sariputra, este mundo não é contaminado. Ele é tão límpido quanto os palácios celestiais.” Sariputra respondeu: “Eu não vejo desta forma. Este mundo está repleto de colinas, montanhas, cascalho, buracos e coisas CEBB

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feias e sujas.” O brâmane disse: “Isto é assim porque você está olhando com sua mente discriminativa ao invés de olhar com a sabedoria do Buda. Como um bodisatva possui uma mente pura de igualdade, o mundo se manifesta puro para ele.” Naquele momento, o Honrado pelo Mundo levantou seu pé e apontou para o chão. Em um instante o mundo passou por uma completa mudança. Ele emitia luz amplamente; todas as pessoas, espantadas, encontraram-se sobre tronos de lótus incrustados por joias. O Honrado pelo Mundo perguntou: “Sariputra, como você vê este mundo?” Sariputra respondeu: “Honrado

pelo

Mundo,

eu

nunca

tinha

visto

um

mundo

tão

maravilhosamente belo.” Então, o Buda disse: “O meu mundo é sempre belo como este. Entretanto, para a mente inferior ele parecerá apenas um mundo pleno de maldade e poluição. Portanto, Sariputra, se você olhar para este mundo com uma mente pura, como todas essas pessoas fizeram, com uma mente purificada por meus ensinamentos, você será capaz de ver um mundo brilhante e resplandecente todo o tempo.” Quando o Honrado pelo Mundo suspendeu seu poder sobre-humano, o mundo retornou à sua aparência anterior. Ratnakara e muitos jovens se regozijaram por terem conquistado os olhos de ver o verdadeiro aspecto das coisas.

(3) Naquela época, vivia em Vaisali um rico homem de nome Vimalakirti. Ele havia realizado muitas ações positivas em vidas anteriores, e conhecia a verdade de que as coisas nem nascem nem morrem. Dominando todos os ensinamentos, ele era capaz de refutar as visões errôneas. Ele honrava o voto de salvar os outros, conhecia suas mentes e guiava-os para o verdadeiramente nobre ensinamento. Ele havia satisfeito completamente a CEBB

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mente do Buda e era altamente considerado por todos. Ele oferecia generosamente para os pobres de sua grande riqueza, observava os preceitos, era perseverante, sempre suprimia sua raiva; esforçava-se constantemente e disciplinava sua mente para desenvolver concentração; sua brilhante sabedoria iluminava as mentes obscurecidas dos ignorantes. Mesmo vivendo uma vida secular ele não estava apegado às coisas mundanas; apesar de ter esposa e filhos ele nunca era arrastado pelas paixões humanas; apesar de ser servido por muitas pessoas ele não se afastava do estado de tranquilidade em isolamento; apesar de vestir roupas finas de acordo com seu status ele nunca perdia sua personalidade natural; mesmo consumindo quaisquer tipos de comida sua mente apreciava profundamente o sabor do Darma. Em suas relações com os outros, ele visitava os lugares de prazer, mas guiava as pessoas desses lugares para os ensinamentos corretos; ele ouvia os ensinamentos não-budistas, porém nunca perdia sua fé verdadeira; ele lia livros mundanos, mas desfrutava o verdadeiro Darma. Às vezes ele se envolvia na administração do estado para oferecer paz ao povo. Ao entrar em escolas ele ensinava aos jovens o verdadeiro Darma. Quando visitava locais de prazer ou entrava em tavernas, ele utilizava tal oportunidade para ensinar os males da luxúria e a importância de possuir uma firme determinação. Ao se misturar com pessoas ricas e mercadores ele ensinava que o Darma e as ações positivas eram mais preciosos que as riquezas. Ele enfatizava a importância da perseverança para os reis que confiavam em seu poder, e a importância de descartar a arrogância para os sacerdotes e monges que tendiam a ser orgulhosos; para as pessoas em geral ele enfatizava a importância da verdadeira felicidade ao invés de buscarem o caminho dos lucros imediatos. Vimalakirti, altamente respeitado como o professor de sua era, encontrava-se doente em sua cama. Pessoas de todas as direções vieram CEBB

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visitá-lo. Vimalakirti aproveitava suas visitas para ensinar-lhes o Darma. Ele disse: “Vocês que estão ouvindo, compreendam que seus corpos estão constantemente mudando. Eles perderão o vigor, não importa o quão saudáveis possam ser. De fato, o corpo é afligido por uma miríade de doenças e um homem de sabedoria não confia nele. Ele é tão elusivo quanto o vapor d’água, rapidamente desaparecendo como bolhas; nascido da sede do desejo como o calor ondulante, o corpo é fraco como uma bananeira e surge de várias causas e condições, como fantasmas ou sombras ou sons. Ele é tão mutável quanto as nuvens flutuantes, desaparecendo instantaneamente como o relâmpago. “E também, este corpo não possui uma identidade ou entidade permanente. Assim como a terra que não possui dono, como o fogo que não possui corpo, como os ventos que passam instantaneamente, não há vida permanente. Assim como a água cuja forma se altera de acordo com o recipiente, não há uma personalidade imutável. Apesar de vários elementos se reunirem para formar o corpo, não há um núcleo. “Além disso, este corpo é impuro. Apesar de se banhar e de consumir alimentos, mais cedo ou mais tarde ele será apanhado pela velhice e conduzido à morte. Assim, aqueles que sabem disto não deveriam se apegar ao corpo físico, mas deveriam aspirar alcançar o corpo do Buda. O corpo do Buda é o corpo do Darma. Ele nasce de toda bondade, sabedoria e verdade. Vocês, portanto, deveriam aspirar realizar o caminho para a verdadeira iluminação.” Assim, Vimalakirti guiava muitas pessoas para o caminho verdadeiro enquanto se encontrava doente em seu leito.

(4) Em certo momento, ocorreu o seguinte pensamento em sua mente: CEBB

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“Agora estou doente em minha cama. Se o Honrado pelo Mundo tivesse piedade, provavelmente ele enviaria alguém para me visitar.” O Honrado pelo Mundo soube do desejo de Vimalakirti e disse a Sariputra: “Vá visitar Vimalakirti e veja como ele está.” Sariputra respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu não sou digno de visitar o chefe de família Vimalakirti. Algum tempo atrás, enquanto eu permanecia sentado em meditação, Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Sariputra, sentar-se não é necessariamente a verdadeira meditação. Quando alguém está totalmente livre da noção de corpo e mente, esta é a verdadeira meditação. A verdadeira meditação é o estado em que a mente está silenciosa e imóvel, mesmo em meio a várias atividades. A verdadeira meditação é seguir o caminho dos sábios, mesmo vivendo uma vida comum e ordinária. Ouvir diversas doutrinas não-budistas sem se deixar confundir e praticar o caminho para a iluminação é a verdadeira meditação. Atingir o nirvana sem cortar as impurezas é a verdadeira meditação. Este é o tipo de meditação que o Honrado pelo Mundo reconhece.’ Honrado pelo Mundo, eu não tive qualquer resposta a oferecer diante disto, e assim permaneci em silêncio. Devido a isto não sou qualificado para visitá-lo.” Assim, o Honrado pelo Mundo pediu para Maudgalyayana ir, mas Maudgalyayana disse: “Honrado pelo Mundo, eu, também, não sou digno de visitar Vimalakirti. Certa vez, quando eu estava expondo o Darma para um grande número de seguidores em Vaisali, Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Quando você falar sobre o Darma, você deveria explicar o Darma tal como ele é. A verdade da talidade é não-discriminatória. Portanto, não deveria haver pensamentos discriminatórios como: ‘Eu ensinei’, por parte do professor, ou pensamentos discriminatórios como: ‘Eu ouvi’, por parte do aluno. Deveria ser como um apresentador de teatro de bonecos conversando CEBB

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com seus fantoches. Ao ensinar, você deveria saber que há alguns cujas capacidades são superiores e alguns cujas capacidades são inferiores. Sabendo disto, com um grande coração compassivo você deveria ensinar o Darma da ausência de impedimentos, sempre mantendo em mente a ideia de retribuir a misericórdia do Buda e a ideia do crescimento contínuo dos Três Tesouros.’ Honrado pelo Mundo, quando Vimalakirti disse isto, as oitocentas pessoas que lá se reuniam decidiram seguir o caminho. Visto que não possuo tal habilidade, não posso visitá-lo.”

(5) O Honrado pelo Mundo, então, chamou Mahakasyapa, que respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu também não sou qualificado para visitar Vimalakirti. Algum tempo atrás, quando eu estava mendigando em um pobre vilarejo, ele veio até mim e disse: ‘Mahakasyapa, apesar de você possuir um coração compassivo, você é incapaz de estendê-lo a todos igualmente. Assim você abandonou os ricos e está esmolando comida em uma vila empobrecida. Você deveria esmolar comida imparcialmente de casa em casa. Ao entrar em uma vila, pense na vila como Vacuidade; não se deixe possuir pelas coisas; pense nas vozes que ouve como simples sons; pense nas fragrâncias que sente como ventos; não pense nos sabores quando comer; qualquer pessoa que você entre em contato, pense nela como alguém que está contribuindo para a sua realização da sabedoria da iluminação. Desta forma, sempre que receber comida ofereça ao doador a mente para que ele siga o caminho; e a comida deveria ser oferecida a todos os budas e sábios antes de você comer. Ao fazer isto, você não deveria manter nenhum apego à vida mundana nem qualquer pensamento de evitar o mundo delusório ao entrar no nirvana. Kasyapa, não procure por qualquer diferença nos méritos de donativos recebidos e não pense sobre ganhos ou perdas. Esmolar com esta CEBB

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mente não permitirá que a oferenda seja inútil.’ Honrado pelo Mundo, quando ouvi estas palavras, eu fiquei exultante e comecei a ter maior respeito por todos os seguidores do caminho. Não estou em posição de visitar e confortar este grande homem leigo.” Então, o Honrado pelo Mundo escolheu Subhuti, mas ele também se desculpou. “Certa vez, eu fui até a casa de Vimalakirti para mendigar por comida; ele tomou minha tigela, encheu-a de arroz e me disse: ‘Subhuti, se você sabe que todas as coisas são iguais, então você pode aceitar esta comida. Você pode aceitar esta comida se não estiver perturbado por obscurecimentos e se não precisar eliminá-los; se alcançar a sabedoria de estar livre do amor e da luxúria, mesmo estando preso ao amor e a luxúria; e se você não se apegar à discriminação, mesmo vivendo nela. Subhuti, se eu fizer esta oferenda enquanto você ainda sustenta uma mente discriminatória, você não receberá benefícios, mas cairá nos três destinos maléficos.’ Honrado pelo Mundo, quando eu ouvi estas palavras fiquei perdido, e não soube o que responder. Quando eu estava prestes a partir, Vimalakirti disse: ‘Subhuti, pegue esta comida. Não tenha medo. Caso o Buda fizesse alguém aparecer magicamente criticando-o desta forma, você teria medo?’ Eu disse que não teria. Ele disse: ‘Todas as coisas são ilusórias. Não há nada a temer. Pessoas sábias não se apegam a palavras. Você não deve temer. Isto porque as palavras não são a verdadeira natureza das coisas. A liberação espiritual existe onde não há palavras.’ Honrado pelo Mundo, eu não sou capaz de visitá-lo e confortá-lo em sua doença.”

(6) Então, o Honrado pelo Mundo apontou para Purna. Mas Purna respondeu: “Eu não posso visitar Vimalakirti em seu leito de doença. Uma vez eu estava expondo o Darma a novos discípulos que haviam deixado CEBB

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recentemente seus lares. Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Purna, primeiramente você deveria estar em meditação, percebendo as mentes das pessoas, e só então deveria ensinar o Darma. Alimento envenenado não deveria ser colocado em uma tigela feita de joias. Tentar ensinar o Darma a partir de uma compreensão superficial prejudicará aqueles que estão bem. Seria como colocar o grande oceano na pegada de uma vaca ou identificar a luz de um vaga-lume como a do sol. Purna, estes discípulos decidiram uma vez praticar o Darma Mahayana, mas mais tarde o perderam de vista. Como é possível guiar estas pessoas com uma sabedoria superficial como a visão de uma pessoa cega?’ Então, ele entrou em meditação e fez com que aqueles discípulos recuperassem suas mentes originais de seguidores do Darma Mahayana. Os discípulos prestaram reverência aos seus pés, ouviram seu ensinamento e alcançaram o estágio de não-retorno da iluminação. Eu me convenci, então, que sem conhecer as capacidades dos alunos é impossível ensinar o Darma. É por esta razão que sou incapaz de visitar Vimalakirti.” O Honrado pelo Mundo indicou, então, Maha-Katyayana, que também declinou, dizendo: “Honrado pelo Mundo, eu, também, não posso visitar Vimalakirti. Certa vez, quando o Honrado pelo Mundo expôs a essência do Darma, eu dei sequência aos ensinamentos sobre impermanência, sofrimento, Vacuidade, ausência de identidade e nirvana. Então, Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Katyayana, você não deveria falar sobre o Darma da realidade com uma mente transitória. Todas as coisas não vêm a existir nem cessam sua existência. É isto que a impermanência significa. Diversas sensações surgem. Elas não são realmente existentes; portanto, não há nem sofrimento nem alegria. Isto é a essência do que é o sofrimento. Saber que todas as coisas são, em última análise, propriedades nossas é conhecer a Vacuidade; saber que a identidade e a ausência de identidade não são duas coisas diferentes é CEBB

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conhecer a ausência de identidade. Saber que todas as coisas não vêm à existência e não cessam de existir é o significado do nirvana.’ Quando Vimalakirti explicou as coisas desta maneira os discípulos se libertaram da escravidão da mente. Esta é a razão que me impede de visitá-lo.” Então, o Honrado pelo Mundo apontou Aniruddha, mas ele respondeu: “Honrado pelo Mundo, não posso assumir tal responsabilidade. Algum tempo atrás, quando eu estava caminhando, um deus veio até mim e me perguntou sobre o poder sobre-humano do olho divino. Eu apontei para a manga que tinha em minha mão e disse: ‘Eu posso ver os três mil grandes mundos tão claramente quanto vejo esta fruta.’ Vimalakirti apareceu e disse: ‘Aniruddha, o olho divino possui a função da visão ou não? Se ele possui, então não é diferente do assim chamado poder divino dos não-budistas; se não possui, então não há tal coisa como visão para ele.’ Eu não pude dizer nada sobre estas palavras e permaneci em silêncio. Os deuses estavam maravilhados, prestaram homenagem a ele e perguntaram: ‘Quem possui o verdadeiro olho divino?’ Vimalakirti respondeu: ‘Apenas o Honrado pelo Mundo. Ele está continuamente no estado de concentração e percebe todos as terras búdicas, mas nunca mantém qualquer pensamento de discriminação entre o eu e os outros, ou entre existência e inexistência.’ Ouvindo isto, os deuses decidiram seguir o caminho do Buda, prestaram homenagem a Vimalakirti aos seus pés e partiram. Esta é razão que me impede de visitar Vimalakirti.’

(7) Então, o Honrado pelo Mundo disse a Upali para fazer a visita. Upali disse: “Honrado pelo Mundo, não estou apto a seguir esta ordem. Certa vez, havia dois discípulos que estavam com vergonha de se apresentar ao Honrado pelo Mundo devido a uma quebra de disciplina. Eles vieram até CEBB

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mim e perguntaram como poderiam eliminar suas dúvidas e remorso e serem perdoados por suas transgressões das regras disciplinares. Eu os instruí a confessarem diante de vinte discípulos de acordo com as regras da Sanga. Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Upali, não agrave as transgressões deles dizendo essas coisas. Você deveria aliviá-los imediatamente de suas ofensas e não perturbar suas mentes. Upali, quando a mente é liberada os obscurecimentos ainda permanecem?’ Quando eu disse: ‘Não, não haverá obscurecimentos remanescentes’, Vimalakirti disse: ‘Upali, delusão, visões pervertidas e apego às identidades são obscurecimentos, mas quando você se liberta deles você é puro. Todas as coisas vêm à existência e cessam de existir. Elas estão constantemente mudando e não param de seguir esse processo; elas são como ilusões e relâmpagos. É errado vê-las como realmente existentes. Como sonhos, chamas ou a lua na superfície da água e as formas em um espelho, todas as coisas são imagens refletidas na mente enganada. Saber isto é seguir as regras disciplinares.’ Os dois discípulos se libertaram dos pensamentos de dúvida e remorso; eles desejaram obter o poder de eloquência e persuasão que Vimalakirti apresentava. Esta é a razão pela qual não posso fazer a visita.” O Honrado pelo Mundo apontou para Rahula, que disse: “Eu sou como os outros, não sou capaz de ir vê-lo. Certa vez, os filhos das pessoas abastadas de Vaisali vieram até mim e perguntaram: ‘Por que você, que estava destinado a ser um rei, renunciou ao trono e abandonou o lar para seguir o caminho? Quais benefícios você vê em ser um mendicante?’ Eu lhes expliquei quais são os méritos e benefícios de ser um mendicante conforme fui ensinado pelo Honrado pelo Mundo. Então, Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Rahula, você não deveria explicar sobre os méritos e benefícios de um mendicante. A razão para isto é que méritos e benefícios só podem ser citados CEBB

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em relação a coisas relativas e não podem ser discutidos em relação às coisas absolutas. Os mendicantes possuem um valor incomensurável e, portanto, não possuem méritos ou benefícios.’ Além do mais, Vimalakirti disse aos filhos dos ricos: ‘Eu lhes aconselho a abandonarem o lar e seguirem o caminho do Darma correto. É raro nascer em um época em que um buda existe.’ Então, os filhos dos ricos disseram: ‘Ouvimos dizer que o Honrado pelo Mundo não nos permite abandonar o lar a não ser que tenhamos a permissão de nossos pais.’ Vimalakirti respondeu: ‘Vocês precisam apenas seguir o verdadeiro caminho, porque isto é abandonar o lar.’ Os filhos dos ricos resolveram seguir o caminho verdadeiro. Esta é minha razão para não poder fazer esta visita.” Então, o Honrado pelo Mundo ordenou a Ananda para realizar a tarefa. Ananda respondeu: “Não sou capaz de assumir esta responsabilidade. Algum tempo atrás, quando o Honrado pelo Mundo sofria de uma pequena doença eu quis lhe oferecer um pouco de leite. Enquanto eu permanecia parado diante do enorme portão da casa de um brâmane com uma tigela de mendicância em minhas mãos, Vimalakirti veio até mim e perguntou pela razão do meu ato. Quando eu lhe disse a razão, ele respondeu: ‘Pare, Ananda, o Honrado pelo Mundo possui um corpo de diamante. Em alguém que cortou todos os males e reuniu todas as virtudes, qual doença ou tormento poderia haver? Se os seguidores de outros ensinamentos ouvirem isto eles irão, certamente, dizer: ‘Como poderia alguém incapaz de curar suas próprias doenças tratar dos outros? Tal pessoa não é digna de ser nosso professor.’ Você deveria partir imediatamente daqui para que ninguém ouça isto.’

Honrado

pelo

Mundo, ao

ouvir

isto,

fiquei

profundamente

envergonhado e pensei: ‘Eu sempre estive próximo ao Honrado pelo Mundo, mas talvez eu tenha entendido mal os ensinamentos.’ Então, uma voz veio do CEBB

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alto, dizendo: ‘É realmente como Vimalakirti disse. Entretanto, o Honrado pelo Mundo, manifestando-se neste mundo que está contaminado pelos cinco venenos, apareceu como doente para salvar as pessoas. Você não deve considerar uma vergonha oferecer-lhe leite.’ Honrado pelo Mundo, tal era a sabedoria e o poder de persuasão de Vimalakirti. Não sou digno de fazer-lhe uma visita ou de confortá-lo.” E cada um dos quinhentos grandes discípulos expressou suas próprias razões para declinar deste papel.

(8) Então, o Honrado pelo Mundo ordenou ao bodisatva Maitreya para fazer a visita e perguntar sobre a sua doença. Mas o bodisatva, também, declinou, dizendo: “Honrado pelo Mundo, eu, assim como os outros, não posso ir até lá. Aqui está a razão. Certa vez eu estava com os deuses do céu de Tusita, discursando sobre a prática que leva ao estágio onde não há retrocesso para os reinos inferiores. Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Maitreya, ouvi dizer que o Honrado pelo Mundo predisse que você alcançará a verdadeira sabedoria em sua próxima vida. Mas, o que significa a palavra vida? Se é a vida passada, já se foi; se é a vida futura, ainda não está aqui; se é a vida atual, está constantemente mudando e nunca é a mesma nem por um instante. Além do mais, se é a vida da iluminação onde não há surgimento ou cessação, ela já é o estado da iluminação que não necessita de predições para ser realizado. Visto que todos os seres não podem existir fora da talidade, se Maitreya pode receber a predição da realização, todos os outros também deveriam recebê-la. Se Maitreya é capaz de extinguir os obscurecimentos, todos também deveriam ser capazes de fazê-lo. Maitreya, portanto, você não deveria guiar os deuses com seu ensinamento.’ Honrado pelo Mundo, quando Vimalakirti discursou desta forma, todos os deuses conquistaram o olho do Darma. Não me é possível visitá-lo.” CEBB

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O Honrado pelo Mundo ordenou um jovem de nome Prabhavyuha para ir, mas ele também recusou, dizendo: “Honrado pelo Mundo, certa vez, quando eu estava prestes a deixar a cidade de Vaisali, ele estava por lá. Eu lhe perguntei de onde ele vinha, ele respondeu que vinha do local do aprendizado do Darma. Quando perguntei onde ficava o local do aprendizado do Darma, ele disse: ‘A mente correta é o local para o aprendizado do Darma, porque não há falsidade nela. A determinação de praticar é o local para o aprendizado do Darma, porque ela realiza os esforços aplicados. A mente profunda é o local para o aprendizado do Darma, porque ela aumenta as virtudes. A mente que segue o caminho é o local para o aprendizado do Darma, porque nela não há erro. As Seis Perfeições da generosidade sem esperar recompensas, observando os preceitos com aspiração, a paciência sem impedimentos para com todos, esforçar-se sem qualquer preguiça, a concentração que controla a mente, e a sabedoria que torna possível enxergar todas as coisas, todas são o local para o aprendizado do Darma. As quatro mentes incomensuráveis da bondade amorosa que ama a todos igualmente, a compaixão que alivia os sofrimentos dos outros, a alegria com o Darma e com a felicidade dos outros, e a não-discriminação entre amor e ódio, são o local para aprendizado do Darma. Ouvir sobre os meios hábeis que podem guiar os outros à iluminação é o local para o aprendizado do Darma. Os obscurecimentos são o local para o aprendizado do Darma, pois através delas a verdadeira realidade pode ser conhecida. As pessoas são o local para o aprendizado do Darma, pois através delas a ausência de identidades pode ser conhecida. Todas as coisas são o local para o aprendizado do Darma, pois através delas a vacuidade de todas as coisas pode ser entendida. Os três mundos são o local para o aprendizado do Darma, pois não há outro lugar para ir. O rugido do leão destemido é o local CEBB

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para o aprendizado do Darma. Conhecer todas as coisas em um pensamento através da onisciência é o local para o aprendizado do Darma. Se um bodisatva cultivar o caminho desta forma e guiar os outros, então todas as suas ações, mesmo uma ação como levantar ou abaixar sua perna, serão o local para o aprendizado do Darma.’ Quando Vimalakirti terminou seu discurso, quinhentos deuses decidiram seguir o caminho. É por isto que não sou capaz de visitá-lo.”

(9) Quando o Honrado pelo Mundo apontou o bodisatva Jagatimdhara, ele também declinou, dizendo: “Certa vez, enquanto eu estava sentado em um quarto silencioso, um demônio personificando o deus guardião Indra, acompanhado por doze mil deusas, cantando harmoniosamente com harpas e tambores, desceram até lá. Depois de prestar homenagem aos meus pés, ele ficou parado ao lado. Naquele momento, eu pensei que ele era Indra e lhe disse: ‘Indra, não importa o tamanho do prazer que esteja ao seu alcance, não se entregue a ele. Perceba como o desejo é passageiro. Procure a fonte do bem. Ao invés de se fixar ao seu corpo, vida e tesouros, pratique o Darma, que é inexaurível.’ “Ele respondeu: ‘Bodisatva, por favor, aceite estas donzelas celestiais e use-as como suas servas para limpar sua residência.’ Eu disse: ‘Elas não têm uso para um mendicante.’ Naquele momento, Vimalakirti veio até mim e disse: ‘Este não é Indra. É um demônio que está tentando seduzi-lo.’ Então ele disse ao demônio: ‘Você deveria dar estas mulheres para mim.’ Quando o demônio desapareceu apavorado, Vimalakirti disse às donzelas celestiais: ‘Agora que o demônio deu todas vocês para mim, vocês devem tomar a resolução de seguir o caminho.’ Ele as guiou até a aspiração, cada uma de acordo com sua capacidade, e disse: ‘Agora que vocês decidiram seguir o CEBB

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caminho, alegrem-se com o Darma. Vocês não deveriam desfrutar os prazeres dos desejos.’ Uma das donzelas perguntou: ‘O que é a alegria do Darma?’ Vimalakirti disse: ‘A alegria do Darma é ter fé no Buda, desejar ouvir o Darma e ter respeito e ser caridosa com os outros. Além disso, significa libertar-se do desejo e encarar seus corpos como inimigos. Viver de acordo com o Darma, cortando os obscurecimentos, não tendo medo de ouvir o Darma, protegendo-se dos amigos maldosos, mantendo relações próximas com bons amigos, mantendo a mente pura e praticando o Darma ilimitado. Estas são as formas de encontrar alegria no Darma.’ “As donzelas celestiais ficaram exultantes com o ensinamento de Vimalakirti e abandonaram o desejo pelos prazeres e puderam retornar ao palácio do demônio. Mas uma das donzelas perguntou: ‘Como deveríamos nos comportar no palácio do demônio?’ Vimalakirti disse: ‘Irmãs, aprendam a forma da lâmpada infinita. Cem mil lâmpadas podem ser acesas a partir de uma única lâmpada. Assim, o que antes era escuro se ilumina. Da mesma forma, um bodisatva ensina cem mil pessoas e as guia à determinação de seguir o caminho do Buda. As mentes determinadas a seguir o caminho não mudarão. Se vocês viverem no palácio do demônio deveriam guiar inúmeros demônios à determinação de seguir o caminho de acordo com o ensinamento da lâmpada infinita, desta forma retribuindo a compaixão do Buda.’ “As donzelas prestaram homenagem reverentemente a Vimalakirti e retornaram ao palácio do demônio. Honrado pelo Mundo, Vimalakirti possui um poder sobre-humano, sabedoria e poder de persuasão tão grandes que eu não posso, de forma alguma, visitá-lo.” O Honrado pelo Mundo, então, indicou o bodisatva Sudatta, filho de um homem abastado. Sudatta também declinou, dizendo: “Honrado pelo Mundo, não sou qualificado para ser o mensageiro. Alguns anos atrás eu CEBB

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organizei um encontro do Darma para praticar a generosidade caridosa, e por dias eu ofertei presentes aos monges e aos pobres. Vimalakirti chegou, e disse: ‘Filho de ricos, ao invés de realizar um encontro para oferecer tesouros, você deveria patrocinar um encontro para oferecer o Darma.’ Eu lhe perguntei o que queria dizer por generosidade do Darma, e ele respondeu: ‘Um presente do Darma é oferecido de uma única vez para todos. Ou seja, seguindo o caminho do Buda, tenha grande compaixão para salvar os outros; mantenha a mente alegre para que o Darma prevaleça; mantenha uma mente não-discriminatória para alcançar a verdadeira sabedoria; ofereça com caridade para suprimir a ganância; observe a disciplina para guiar aqueles que violam os preceitos; seja paciente e esforce-se; alcance a sabedoria pela concentração; saiba da verdade da vacuidade ao ensinar os outros; saiba que todas as coisas são um agrupamento temporário de elementos, e que não há uma natureza própria permanente; determine-se a restringir as paixões maldosas aproximando-se dos sábios; evite o apego ao mundo com a mente focada no Buda; ouça atentamente e viva de acordo com o ensinamento; permaneça em silêncio e viva o Darma livre de tensões; pratique meditação para se aproximar da sabedoria do Buda; liberte os outros de seus grilhões e leve-os a vidas virtuosas; corte os obscurecimentos, purifique a terra e conquiste todos os tipos de sabedoria. Isto se chama a reunião para oferecer o Darma. Um bodisatva nesta reunião é chamado de mestre doador e solo da felicidade.’ “Honrado pelo Mundo, quando Vimalakirti ensinou este Darma, duzentos brâmanes resolveram seguir o caminho do Buda. Minha mente foi purificada. Eu prestei homenagem aos seus pés e ofereci meu colar para ele. Ele o aceitou e o partiu em dois. Ele deu uma das metades para o mais pobre mendigo da reunião e a outra metade para o Buda Sudurjana. Vimalakirti CEBB

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disse: ‘Se o doador mantiver uma mente de igualdade que não discrimina ao oferecer para os mais humildes ou ao fazer oferendas ao Buda, e ao mesmo tempo não espera quaisquer resultados favoráveis do ato, este é chamado de presente perfeito do Darma.’ Daquele momento em diante, o mendigo humilde decidiu seguir o Darma. Por esta razão, eu sou incapaz de ir até ele.” Assim, todos estes bodisatvas se recusaram a aceitar a missão de visitar o enfermo Vimalakirti.

(10) Então, o Honrado pelo Mundo apontou o bodisatva Manjushri. Manjushri respondeu: “Honrado pelo Mundo, Vimalakirti aperfeiçoou o Darma completamente. Ele possui sabedoria desobstruída e sabe como expor e praticar o Darma. Ele conquistou todos os demônios e usa poderes sobrehumanos à vontade. Eu não sou qualificado para competir com ele, mas visto que este é o desejo do Honrado pelo Mundo, eu irei até lá para visitá-lo.” Muitas pessoas, incluindo bodisatvas e discípulos, acompanharam Manjushri até Vaisali. Vimalakirti previu sua vinda. Com seu poder sobrehumano ele removeu todas as suas posses e servidores e deixou o quarto vazio, exceto pela cama na qual ele estava deitado aguardando Manjushri. “Você é muito gentil em vir. Manjushri, você veio sem vir e de uma forma invisível.” Manjushri disse: “É como você diz. Uma vez aqui, não virei novamente; e uma vez ido, não irei novamente; pois para aquele que vem não há lugar para vir, e para aquele que vai não há lugar para ir. Seja como for, como anda sua doença, Vimalakirti? Qual é a causa de sua doença e quanto tempo ela irá durar?” Vimalakirti respondeu: “Da ignorância surge o apego. Minha doença começou aí. Estou doente porque todos estão doentes. Se eles não estiverem mais doentes, minha doença também não mais existirá. Pois um bodisatva CEBB

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vem para este mundo de delusão pelo bem das pessoas. Os pais ficam doentes quando suas crianças estão doentes; eles ficam bem quando seus filhos estão bem.” Manjushri perguntou: “Qual é a causa de sua doença?” Vimalakirti respondeu: “A doença de um bodisatva é causada pela grande compaixão.” Manjushri: “Por que este quarto está vazio e onde estão seus servidores?” Vimalakirti respondeu: “Este quarto está vazio porque todos os mundos são vazios. Você diz que não há servidores, mas todos os demônios e proponentes de ensinamentos errôneos são meus servidores. A razão é que os demônios desejam que as pessoas permaneçam na delusão, enquanto que um bodisatva as salva da delusão. E também, os proponentes de ensinamentos errôneos desejam as visões errôneas, mas os bodisatvas não são influenciados por essas visões.” Manjushri perguntou: “É a sua mente ou o seu corpo que está doente?” Vimalakirti respondeu: “Eu não faço parte do corpo, portanto, meu corpo não está doente. Eu sei que a mente é como uma ilusão, portanto, a mente não está doente. Apenas porque as pessoas estão doentes eu também estou doente.” Manjushri perguntou: “Como deveria um bodisatva confortar aqueles que estão doentes?” Vimalakirti respondeu: “Faça-os entenderem que o corpo é impermanente, mas não lhes diga para terem aversão pelo corpo. Diga-lhes que o corpo é sofrimento, mas não lhes diga para permanecerem no nirvana. Diga-lhes que o corpo não possui essência, mas isto não significa abandonar as pessoas. Um bodisatva não deveria se esquecer de ensinar-lhes. É importante que eles se arrependam de seus erros passados, mas não os deixe sofrerem devido a esses erros. Através de sua própria experiência um bodisatva deveria ter compaixão pela pessoa doente. Faça-os saberem das dores sofridas desde o passado sem fim, mas procure encorajá-los CEBB

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orientando-os a se tornarem budas, os grandes reis da medicina, que podem curar as doenças de todas as pessoas.” Então, Manjushri perguntou: “Como as pessoas doentes deveriam controlar suas mentes?” Vimalakirti respondeu: “As pessoas doentes deveriam pensar desta forma: ‘Esta doença foi causada pelo veneno do obscurecimento, e ela não possui qualquer entidade substancial. Além do mais, este corpo é apenas um agregado temporário, e não um mestre ou uma essência. Onde, então, podem se dar as doenças?’ “E também, uma pessoa doente deveria pensar que não há doença real nela ou nos outros. Um bodisatva deveria eliminar a compaixão que surge do apego. Pelo contrário, ele deveria despertar a compaixão após eliminar incontáveis delusões; pois a compaixão que surge do apego, às vezes, irá se cansar. Quando o apego for descartado não haverá mais escravidão. Alguém que esteja escravizado não pode liberar os outros da escravidão. O que é, então, estar escravizado e o que é a liberação? A indulgência no êxtase da meditação é estar escravizado, e o ato de renascer como meio hábil é a liberação. A sabedoria sem meios hábeis é escravidão; a sabedoria acompanhada de meios hábeis é a liberação. Meios hábeis sem sabedoria são escravidão; meios hábeis com sabedoria são a liberação. Enxergar que o corpo é impermanente, pleno de dor e que não há substância permanente é sabedoria. Apesar de o corpo estar no mundo da delusão e doente, ser generoso abundantemente e incansavelmente é o que se chama de meios hábeis. O corpo não pode ser separado da doença e a doença não pode ser separada do corpo; se a doença e o corpo forem vistos nem como novos ou velhos, isto se chama sabedoria. Apesar de o corpo estar doente, não abandonar este mundo e não desejar entrar no nirvana é chamado de meios hábeis. CEBB

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“Além disso, uma pessoa doente não deveria se apegar demais à ideia de controlar sua mente. Mas isto não significa que o controle da mente não é necessário. Esforço demasiado no controle é dar importância exagerada às virtudes, mas negligenciar o controle é ser um tolo. O caminho do bodisatva está livre dos dois extremos, é o Caminho do Meio. A prática dos bodisatvas não é o caminho das pessoas comuns tolas nem é o caminho dos sábios. Não é nem o caminho maculado nem o caminho puro. Andar pelo caminho do demônio, mas mesmo assim destruir o caminho do demônio é a prática do bodisatva. E também, apesar de alguém desejar abandonar o mundo da delusão, mas se não possuir a intenção de extinguir seu corpo e mente: esta é a prática do bodisatva. Apesar de um bodisatva saber que todas as coisas nem nascem nem deixam de existir, ainda assim ele se esforça para embelezar este mundo: esta é a prática do bodisatva. Um bodisatva sabe que uma terra búdica é eternamente silenciosa e vazia, porém ele enxerga diversas terras búdicas puras; ao realizar o caminho do Buda, ao ensinar o Darma do Buda, ou mesmo ao entrar no nirvana, ele não negligencia o caminho do bodisatva de oferecer abundantemente aos outros: esta é a prática do bodisatva.”

(11) Naquele momento, Sariputra percebeu que não havia assentos no quarto. Ele pensou consigo: “Onde poderão sentar estes bodisatvas e discípulos?” Vimalakirti soube imediatamente o que se passava pela mente de Sariputra, e perguntou: “Você veio até aqui buscando o Darma ou para se sentar?” Sariputra respondeu: “Em busca do Darma.” Vimalakirti disse: “Sariputra, alguém que verdadeiramente busca o Darma não tem cobiça em relação ao seu corpo ou à sua mente. Para alguém que verdadeiramente busca o Darma, não há nada a ser buscado em todos os três mundos, nem mesmo os Três Tesouros, o Buda, o Darma e a Sanga. Portanto, mesmo que CEBB

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ele veja um sofrimento ele não pensa em cortar os obscurecimentos, que são sua causa. Nem mesmo ele pensa em praticar o caminho para sua iluminação. Estas seriam construções mentais desnecessárias surgindo da ideia de que os obscurecimentos e o nirvana são diferentes. “Sariputra, todas as coisas estão em equilíbrio. Agarrar-se aos pensamentos de nascimento e extinção é não seguir o Darma. Todas as coisas são livres da mente de fixação e discriminativa. Estar apegado a isto não é o caminho para seguir o Darma. O Darma existe em todos os lugares. Ele não tem um local fixo ou forma. Portanto, se alguém enxergar o Darma em um local ou perceber sua forma, não estará seguindo o Darma. O Darma não permanece em um local nem é objeto da visão, da audição ou do conhecimento. Assim, é impossível realizar o Darma através da percepção ou do pensamento. E também, visto que o Darma não pode ser criado, ele é dito não-criado. Quando alguém se fixa àquilo que é criado não está seguindo o Darma. Portanto, Sariputra, alguém que siga o Darma não deveria estar apegado a qualquer coisa.” Então, Vimalakirti voltou-se para Manjushri e disse: “Você viajou para muitos reinos. Em qual reino você encontrou o supremo Trono de Leão?” Manjushri respondeu: “Andando incontáveis reinos para o leste, encontra-se um reino chamado Sumerudhvaja. Nesse reino há um buda com o nome Sumerupradiparaja. Ele se encontra agora mesmo no elevado e amplo Trono de Leão. Esse trono é o trono supremo.” Ao ouvir isto, Vimalakirti, com o consentimento do Buda Sumerupradiparaja, trouxe trinta mil Tronos de Leão para seu quarto através de seu poder sobrehumano. Mas o quarto era grande o bastante para acomodar todos eles. A cidade e o país não ficaram obstruídos pelo grande número de tronos enormes. Vimalakirti convidou todos que estavam no quarto para assumirem os CEBB

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tronos ornamentados. Os bodisatvas que possuíam poderes sobre-humanos transformaram suas formas e assumiram os assentos, mas os bodisatvas dos estágios iniciais e os discípulos que estavam satisfeitos com ensinamentos inferiores não foram capazes de alcançar os grandes assentos. Vimalakirti lhes disse que se meditassem no Buda Sumerupradiparaja eles seriam capazes de alcançar os tronos. Quando todos já estavam sentados, Vimalakirti disse a Sariputra, que ainda estava confuso: “Sariputra, todos os budas e bodisatvas alcançaram uma liberação inconcebível. Todos que alcançaram tal estado são capazes de inserir o enorme Monte Sumeru em uma pequena semente de papoula ou de colocar os quatro grandes mares em um poro de sua pele; porém, a montanha mantém seu tamanho e forma originais e os peixes, nagas e asuras nem mesmo percebem o que ocorreu. E também, dependendo do desejo de cada um, sete dias de vida podem ser percebidos como sendo tão longos quanto um kalpa, ou o período de um kalpa pode ser sentido como sendo tão curto quanto sete dias. Ou, pode-se inalar todos os ventos dos mundos nas dez direções e ainda assim não prejudicar a própria saúde ou as árvores. E também, Sariputra, é possível surgir em um corpo búdico, ou no corpo de um sábio ou deus, transformar todas as vozes do mundo para vozes de budas, e permitir que todas as pessoas ouçam o Darma, por exemplo, da impermanência, sofrimento, Vacuidade e ausência de identidades. Sariputra, eu ofereci apenas uma breve descrição da inconcebível liberação. Se eu fosse descrevê-la em detalhes, não seria capaz de o fazer mesmo no período de um kalpa.”

(12) Manjushri perguntou: “Como um bodisatva vê as pessoas?” Vimalakirti respondeu: “Ele vê as pessoas como ilusões criadas por um mágico, ou como a lua refletida na superfície da água, ou como uma imagem CEBB

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em um espelho, ou como ondas de calor tremulantes, ou como nuvens flutuando no céu, ou como bolhas na água, ou como a luz de um relâmpago, ou como traços da trajetória das aves voadoras, ou como filhos de uma mulher estéril, ou sonhos após o despertar.” Manjushri perguntou: “Se um bodisatva vê as pessoas com tal sabedoria, como é possível ter compaixão por elas?” Vimalakirti respondeu: “Um bodisatva, ao entender que as pessoas são assim, desenvolve verdadeira compaixão. Com serenidade, livre de obscurecimentos, e uma compaixão tão ilimitada como a vastidão dos céus, puro e calmo, ele guia as pessoas para alcançarem paz mental.” Manjushri seguiu perguntando: “O que são a bondade e o júbilo?” Vimalakirti respondeu: “Compartilhar os méritos alcançados com todos os seres é a bondade, e encontrar alegria na generosidade é o júbilo.” Então, Manjushri perguntou: “Onde deveriam se apoiar aqueles bodisatvas que são temerosos de nascimento e morte?” A resposta de Vimalakirti foi: “Ele deveriam se apoiar no poder meritório do Buda.” Manjushri perguntou: “O que deve ser feito para se apoiar no poder meritório do Buda?” Vimalakirti respondeu: “Devem-se ajudar todos os seres a alcançar a liberação.” Manjushri perguntou: “Para salvar os outros, o que deve ser eliminado?” Vimalakirti respondeu: “Faça-os se livrarem de seus obscurecimentos.” Manjushri perguntou: “O que eles deveriam fazer para se livrar

de

seus

obscurecimentos?”

Vimalakirti

respondeu:

“Faça-os

repousarem na atenção mental correta.” Manjushri perguntou: “Como guiá-los à atenção mental correta?” Vimalakirti respondeu: “Faça-os compreenderem que todas as coisas não nascem e não morrem.” Manjushri perguntou: “O que é que não nasce e não morre?” Vimalakirti respondeu: “A maldade não nasce e a bondade não morre.” Manjushri perguntou: “Qual é a raiz do bem e do mal?” Vimalakirti CEBB

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respondeu: “O corpo.” Manjushri perguntou: “Qual é a raiz do corpo?” Vimalakirti respondeu: “A cobiça.” Manjushri perguntou: “Qual é a raiz da cobiça?” Vimalakirti respondeu: “A discriminação.” Manjushri perguntou: “Qual é a raiz da discriminação?” Vimalakirti respondeu: “A visão pervertida.” Manjushri perguntou: “Qual é a raiz da visão pervertida?” Vimalakirti respondeu: “Ela surge daquilo que não possui uma natureza fixa.” Manjushri perguntou: “De onde vem aquilo que não possui uma natureza fixa?” Vimalakirti respondeu: “Visto que aquilo que não possui uma natureza fixa não permanece em lugar algum, é chamado de ausência de base. A ausência de base não possui uma raiz. Todas as coisas surgem desta ausência de base.”

(13) Naquele momento, uma donzela celestial surgiu e lançou flores celestiais sobre as pessoas. Todas as flores que caíram sobre os bodisatvas chegaram ao chão, mas aquelas que caíram sobre os discípulos ficaram grudadas nos seus corpos e não saíam. Os discípulos tentaram afastá-las, mas sem êxito. A donzela celestial perguntou a Sariputra: “Por que você está tentando afastar as flores?” Sariputra disse: “Flores não são adequadas a mendicantes.” A donzela celestial disse: “E por que seriam flores inadequadas para monges? As flores não guardam quaisquer pensamentos discriminatórios. Os pensamentos discriminatórios são seus, ó Venerável. Não é adequado que alguém que deixou o lar para praticar o caminho do Buda sustente uma mente discriminatória. Quando não há discriminação, as coisas estão de acordo com o Darma, de forma natural. As flores não grudam nos bodisatvas porque eles se libertaram de todos os pensamentos discriminatórios. Quando alguém tem medo, está sujeito a ser possuído por um espírito maligno. Igualmente, vocês veneráveis ainda têm alguns medos CEBB

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sobre nascimento e morte; é por isso que o apego invade seus seres. Visto que algumas forças negativas permanecem em vocês, elas os fazem se apegar ao pensamento sobre as flores.” Sariputra perguntou: “Você está neste quarto há muito tempo?” A donzela celestial respondeu: “A minha estadia neste quarto é como a liberação dos veneráveis das delusões.” Sariputra perguntou novamente: “Você está aqui há muito tempo?” A donzela celestial respondeu: “Desde quando os veneráveis alcançaram a liberação?” Sariputra permaneceu em silêncio e não respondeu. A donzela celestial disse: “Ó venerável de grande sabedoria, por que você mantém seus lábios selados?” “A liberação é uma experiência que não pode ser expressa em palavras”, respondeu Sariputra. A donzela celestial disse: “Palavras e letras são ambas manifestações da liberação. A liberação não pode estar fora dos limites das palavras e letras pois todas as coisas são manifestações da liberação.” Sariputra replicou: “Mas estar livre da cobiça, da raiva e da ignorância não é a liberação?” A donzela celestial disse: “O Honrado pelo Mundo assim ensinou como um meio hábil para aqueles que são arrogantes. Para aqueles livres da arrogância ele ensinou que a cobiça, a raiva e a ignorância são, assim como são, a liberação.” Sariputra disse: “Donzela celestial, o que você diz é muito elevado. Com base em que realização você discursa desta maneira?” A donzela celestial respondeu: “Por não ter nada a atingir ou a realizar eu posso falar desta maneira. Se eu tivesse algo para atingir e algo para realizar isto faria com que eu me tornasse arrogante a respeito do Darma.” Então, Sariputra disse: “Donzela celestial, há mais de uma forma para seguir o caminho. Qual forma você seguiu?” A donzela celestial disse: “Eu não busco necessariamente um caminho fixo. É como entrar em uma floresta campaka; sente-se apenas a fragrância das flores campaka e não se sente o CEBB

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cheiro de outras coisas. Quando se entra neste quarto não se deseja sentir a fragrância de qualquer santo além da suprema fragrância do Buda. De fato, a luz dourada brilha dia e noite neste quarto, de modo que a luz solar ou lunar não são necessárias. Nenhuma impureza que possa nos assolar é encontrada neste quarto. Na verdade, deuses e bodisatvas se reúnem aqui e sempre ensinam o caminho que beneficiará a si mesmos e aos outros. A bela música celestial soa infinitamente as cordas do Darma. Abundantes tesouros do Darma salvam os pobres. O Buda Sakiamuni e o Buda Amitaba assim como outros budas surgem aqui em resposta aos desejos dos que aqui se encontram e ensinam a essência do Darma. Neste quarto também são vistos os belos palácios dos deuses e as puras e imaculadas terras búdicas. Ó Venerável, como este quarto está preenchido pelas virtudes supremas, não há ninguém que origine pensamentos discriminatórios.” Então, Sariputra perguntou: “Por que você não troca sua forma feminina?” A donzela celestial respondeu: “Eu pensei sobre isto por um longo tempo, mas ainda não consigo achar que sou uma mulher. Por que, então, haveria a necessidade de uma mudança? Suponha que um mágico conjure uma mulher ilusória, e alguém venha e pergunte: ‘Por que você não transforma aquela mulher?’ Seria esta uma questão apropriada?” Sariputra respondeu: “Na mágica não há uma forma definida a ser seguida; portanto, não é necessário mudar.” A donzela celestial disse: “Todas as coisas são assim. Não há formas definidas e imutáveis. Não é necessário perguntar sobre a transformação do corpo de uma mulher.” Naquele momento, a donzela celestial utilizou seu poder sobre-humano e transformou Sariputra em uma donzela celestial, e a si mesma em Sariputra, dizendo: “Por que você não troca sua forma feminina?” Sariputra que havia se transformado em uma mulher disse a si mesmo: “Que estranho! Eu me CEBB

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transformei em mulher sem desejar isto.” Então, a donzela celestial disse: “Se o Venerável puder mudar sua forma feminina, provavelmente todas as mulheres também mudarão. Assim como o Venerável, apesar de não ser uma mulher estar aparecendo em forma feminina, todas as mulheres não são o que se chama de mulheres. Portanto, o Honrado pelo Mundo disse: “Não há seres como homens ou mulheres.” Quando a donzela celestial retirou seu poder sobre-humano, tanto Sariputra quanto ela retornaram às suas formas originais. A donzela celestial perguntou: “Para onde foi a forma feminina?” “Ela existe e ao mesmo tempo não existe”, respondeu Sariputra. A donzela celestial disse: “Todas as coisas fenomênicas parecem existir e ao mesmo tempo são não-existentes. É isto que o Honrado pelo Mundo nos ensina.” Sariputra perguntou: “Após sua morte onde você renascerá?” A donzela celestial disse: “Meu nascimento será como o nascimento temporário dos seres vivos que são criados pelo Buda.” Sariputra perguntou: “O que o Buda cria é vida fenomênica, não é vida real.” A donzela celestial disse: “As pessoas, também, são exatamente assim. Não há nascimento real ou morte.” Sariputra perguntou: “Quando você alcançará a iluminação do Buda?” A donzela celestial respondeu: “Quando você, Venerável, voltar a ser um mortal comum novamente eu alcançarei a iluminação do Buda.” Sariputra disse: “Eu nunca voltarei a ser um mortal comum.” A donzela celestial disse: “Eu, também, nunca alcançarei a iluminação do Buda. Isto porque não há um local fixo na iluminação; portanto, não há ninguém que a alcance.” Sariputra disse: “Apesar disto, todos os budas alcançaram a suprema verdade. Diz-se que aqueles que já a alcançaram e aqueles que ainda a alcançarão são tão numerosos quanto os grãos de areia das margens do Ganges.” A donzela celestial respondeu: “Foi apenas no sentido mundano CEBB

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convencional que os três tempos do passado, presente e futuro foram mencionados. Na verdadeira iluminação não há distinções tais como passado, presente e futuro. Venerável, você atingiu o estágio dos sábios?” Sariputra respondeu: “Eu compreendi que não há um estado a ser atingido.” A donzela celestial disse: “Todos os budas e bodisatvas atingiram a compreensão de que não há um estágio a ser alcançado.” Então, Vimalakirti relatou a Sariputra que a donzela celestial havia praticado o caminho por um longo tempo e tinha alcançado o estágio no qual é alcançada a realização de que não há nascimento ou extinção, e estava ensinando os outros livremente.

(14) Então, Manjushri perguntou a Vimalakirti: “Como um bodisatva alcança o caminho do Buda?” Vimalakirti respondeu: “É fazendo coisas que o desviam do caminho que ele o alcança. Mesmo caindo nos infernos por ter cometido atos atrozes ele não apresenta qualquer agonia. Ao entrar no reino dos animais ele não tem ignorância alguma. Ao cair no reino dos demônios famintos méritos são acumulados. Mesmo quando parece ser ganancioso ele está livre do apego. Mesmo demonstrando raiva ele controla sua mente. Mesmo demonstrando parcimônia ele abre mão de tudo, inclusive de sua própria vida. Aparentemente violando os preceitos ele é cuidadoso para não cometer mesmo a menor negatividade. Mesmo parecendo bajulador ele utiliza meios hábeis de acordo com o Darma. Apesar de parecer arrogante ele é realmente humilde. Apesar de aparentemente seguir caminhos maléficos ele vive em harmonia com a sabedoria do Buda. Apesar de viver na abundância ele reconhece a impermanência, não caindo na indulgência. Mesmo possuindo uma esposa ele está livre da luxúria. Mesmo levando uma vida negativa ele está guiando os outros para uma vida positiva. Mesmo ao CEBB

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apresentar a entrada no nirvana ele não está se excluindo do estado de nascimento e morte. Manjushri, ao fazer estas coisas que vão contra o caminho, ele realizará o caminho do Buda.” Manjushri lançou a questão: “Qual é a semente que permite que alguém se torne um buda?” Vimalakirti respondeu assim: “Todas as visões errôneas dos outros ensinamentos e todas os obscurecimentos são sementes para um buda; aqueles que acreditam que o nirvana é independente dos obscurecimentos não podem alcançar o caminho do Buda. O lótus não cresce em planícies elevadas, mas floresce na água lodosa. Igualmente, o Darma do Buda é gerado ao viver em meio aos obscurecimentos. Além do mais, sementes não crescerão quando plantadas no céu; plantadas na sujeira e no esterco elas brotam vigorosamente. Da mesma forma, aqueles que imergem completamente no nirvana não-criado não podem produzir o Darma. Ao contrário, aqueles que chegam com egos grandes como montanhas são exatamente os que despertam a mente que aspira ao caminho e que são capazes de produzir o Darma. Isto é, todos os obscurecimentos são sementes para alcançar o estado búdico. A não ser que se mergulhe profundamente até o fundo do mar, não será possível obter as gemas inestimáveis. Igualmente, sem navegar pelo oceano dos obscurecimentos não será possível obter a gema da onisciência.” Naquele momento, o bodisatva Sarvarupasam-darsana perguntou a Vimalakirti: “Chefe de família, quem são seus pais, esposa e filhos, parentes, professores e amigos? Onde estão seus servos, animais domésticos e carruagens?” A esta pergunta, Vimalakirti respondeu em versos:

(i) A sabedoria é a minha mãe e os meios hábeis são meu pai; Os bodisatvas que guiam as multidões nascem destes genitores. CEBB

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A alegria do Darma é minha esposa, E a compaixão é a minha filha. A sinceridade é o meu filho, E a tranquila Vacuidade é a minha casa. Os obscurecimentos são os meus discípulos, Que seguem os ditames de minha mente. As virtudes são meus bons amigos: Minha iluminação depende de todos eles.

(ii) As ações caridosas são minhas cortesãs Que cantam as canções do Darma. No jardim do Darma desabrocham as flores da iluminação; E as árvores carregam os frutos da sabedoria. Os elefantes e cavalos de poder divino, Puxando carruagens carregadas com o ensinamento supremo, E guiados pela mente única, Correm pelas estradas do Caminho Óctuplo. A penitência é a minha vestimenta E uma mente profunda é minha guirlanda; Oferecendo fé e disciplina, Elas praticam a grande bondade.

(iii) Ouvindo extensamente e aprofundando sua sabedoria, Saboreando o néctar do Darma, Conquistando corajosamente os demônios dos obscurecimentos, O bodisatva levanta alto a bandeira vitoriosa no local do aprendizado.

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Viajando para todos os países, Fazendo do sofrimento e das guerras oportunidades para o ensinamento, Usando meios adequados para ensinar o Darma, Ele salva as pessoas de seus sofrimentos. Como lótus emergindo de um fogo, Ele pratica meditação em meio aos desejos. Ou, assumindo a forma de uma cortesã, Ele guia as pessoas licenciosas para a sabedoria do Buda Utilizando o gancho da luxúria. Com sabedoria insondável e praticando incontáveis caminhos, Ele salva inúmeros seres, E seu mérito vai além de qualquer louvor.

(15) Então, Vimalakirti perguntou a todos os bodisatvas: “Como alguém pode acessar a porta para o Darma da não-dualidade? Que cada um de vocês me diga seus pensamentos sobre isto.” O bodisatva Dharmavikurvana foi o primeiro a responder: “Eu obtive acesso à porta para a não-dualidade compreendendo que não há diferença entre o nascimento e a morte de todas as coisas. Uma vez que não há nascimento, não há morte.” O bodisatva Srigandha disse: “Existe a noção de ‘meu’ devido à noção de ‘eu’; quando não há a noção de ‘eu’ não haverá ‘meu’. Eu acessei a porta para a não-dualidade compreendendo que não há diferença entre ‘eu’ e ‘meu’.” O bodisatva Srikuta disse: “No que se refere a pureza ou impureza, originalmente não há nem pureza nem impureza no Darma. Os pensamentos CEBB

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de pureza e impureza surgem do pensamento discriminatório. Ao realizar isto, eu acessei a porta para a não-dualidade.” O bodisatva Sunetra disse: “Eu acessei a porta para a não-dualidade contemplando a forma e a não-forma. Todas as coisas no universo são originalmente uma só e não deveria haver diferenças. Portanto, não há forma definida. Portanto, não há nada a que possamos nos agarrar. Ao ver a nãodiferenciação de todas as coisas eu acessei a porta para a não-dualidade.” Em seguida, o bodisatva Tisya disse: “Eu acessei esta porta observando o bem e o mal. Quando não há fixação ao pensamento de bem e mal e é alcançado o estado de não-apego, será possível alcançar a não-dualidade.” Então, o bodisatva Simha disse: “Eu alcancei a não-dualidade pensando sobre transgressão e felicidade. Quando olho para as duas com verdadeira sabedoria, eu vejo que transgressão, como verdadeiramente é, é felicidade. Assim, não há mais escravidão ou liberação. Assim se deu meu ingresso através da porta para a não-dualidade.” O bodisatva Suddhadhimukti disse: “Eu acessei a porta para a nãodualidade compreendendo aquilo que é criado e o não-criado. Quando se está livre de todos os pensamentos de discriminação, a mente será como o céu vazio, e não haverá nada que obstaculize a pura sabedoria. Assim, é possível saber que aquilo que é criado, como verdadeiramente é, é não-criado. Esta é a porta para a não-dualidade.” Na sequência, o bodisatva Dantamati disse: “Eu acessei esta porta observando a natureza do samsara e do nirvana. Quando a verdadeira natureza do samsara é conhecida, não há nascimento ou morte. Não há escravidão ou liberação e nem queimaduras ou extinção. Esta é a entrada da porta para a não-dualidade.” O bodisatva Vidyuddeva disse: “Eu a acessei contemplando a sabedoria CEBB

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e a ignorância. A verdadeira natureza da ignorância é a sabedoria. Mas não deveria haver fixação à própria sabedoria. Ao discernir que todas as coisas são iguais e que não há dualidade, eu acessei a porta para a não-dualidade.” Então, o bodisatva Santendriya disse: “Foi a identidade dos Três Tesouros, o Buda, o Darma e a Sanga que me guiaram à porta para a nãodualidade. O Buda nada mais é do que o Darma, e o Darma nada é além da Sanga. Estes três são não-criados e são como o espaço.” O bodisatva Manikutaraja disse: “Eu acessei esta porta contemplando o caminho correto e o caminho errôneo. Aqueles que estão no caminho correto não discriminam entre os caminhos correto ou errôneo. O caminho que está livre dos dois é a porta para a não-dualidade.” O bodisatva Satyarata disse: “Eu a acessei pensando sobre a verdade e a inverdade. Alguém que realmente vê a verdade nem mesmo tem o pensamento de ver a verdade. Isto é assim porque não manter qualquer discriminação entre verdade e inverdade é o estado de realmente enxergar a verdade. Não é o olho físico, mas sim o olho da sabedoria que é capaz de ver. Além disso, o olho da sabedoria não discrimina entre ver e não ver. Ao compreender isto, eu acessei a porta para a não-dualidade.” Quando todos os bodisatvas tinham se expressado, Manjushri foi inquirido a respeito de seus pensamentos sobre o assunto. Manjushri disse: “Na minha visão, em relação a todas as coisas, não pode haver palavra, conceito ou conhecimento. Ou seja, a porta para o Darma da não-dualidade está além de todas as palavras e pensamentos.” Finalmente, Manjushri perguntou a Vimalakirti sobre seu entendimento da não-dualidade, mas Vimalakirti ficou em silêncio e não pronunciou uma única palavra. Manjushri o louvou, dizendo: “Ótimo. Quando letras e palavras não mais existem, esta é a entrada para a porta do Darma da não-dualidade.” Assim, todos os CEBB

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bodisatvas acessaram esta porta e chegaram à firme convicção de que não há nascimento ou morte.

(16) Então, Vimalakirti disse a Manjushri: “Vamos, agora, juntos encontrar o Honrado pelo Mundo e ouvir o seu Darma maravilhoso.” Manjushri ficou muito satisfeito, e ele e toda a assembleia foram até o local onde o Honrado pelo Mundo estava. Todos eles juntaram suas mãos, prestaram homenagem aos seus pés reverentemente, e sentaram-se ao seu lado. O Honrado pelo Mundo disse a Vimalakirti: “Sinto que você deseja ver o Buda. Mas o que significa ver o Buda?” Vimalakirti respondeu: “Ver o Buda significa ver a si mesmo como realmente se é. O corpo do Buda não veio do passado nem irá embora no futuro. Nem ele se encontra no presente. Ele não é um corpo físico, nem ele possui as características de um corpo físico. Portanto, ele está além da visão dos olhos, do toque do corpo, e do pensamento da mente. Ele está livre da cobiça, raiva e ignorância; ele não é um nem muitos; ele não diferencia entre sua identidade e a dos outros, ser e não-ser. O Buda não está nesta margem da delusão nem na outra margem da iluminação; nem está em qualquer lugar entre as duas. Porém, ele ensina as pessoas. Ele aparenta estar em equilíbrio, mas não repousa na extinção final. Ele está livre de todas as discriminações, e apesar de não possuir uma morada permanente, ele não abandona sua morada. Ele não é nem caridoso nem parcimonioso; ele não observa os preceitos, mas ao mesmo tempo não viola os preceitos. Ele não é nem paciente nem irritável; ele não é diligente, mas também não é indolente; ele não é calmo nem perturbado. Ele não é sábio nem ignorante; ele não é verdadeiro, mas também não é enganoso. Ele não vem nem vai; ele não sai, e também não entra. Completamente além das palavras e pensamentos está o Buda. Honrado pelo Mundo, assim, esse corpo CEBB

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do buda não pode ser demonstrado de forma alguma. Acredito que vê-lo desta forma está correto, e vê-lo de outras formas está errado.” Então, Indra disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, no passado eu ouvi muitos ensinamentos, mas eu nunca ouvi um ensinamento tão unicamente verdadeiro como este. Se alguém acreditar e confiar neste ensinamento, certamente realizará o Darma. Além disso, fechará a porta para os caminhos maléficos e abrirá a porta de todas as virtudes; será protegido pelos budas e convencerá os seguidores de outros ensinamentos. Alcançará a iluminação correta e seguirá os passos do Buda. Honrado pelo Mundo, eu, juntamente com meus seguidores, faremos oferendas para servir aqueles que praticam este Darma.” O Honrado pelo Mundo disse: “Excelente, Indra, é exatamente como você disse. Irei ajudá-lo a ampliar sua felicidade.”

FIM DO LIVRO IV

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LIVRO V

Introdução

O Buda continua suas viagens de Rajagaha (Sct. Rajagriha) ao leste para o monastério Ghosita em Kosambi ao oeste. Durante a jornada ele pára próximo a Baranasi (Benares) no país de Kasi e aconselha seus discípulos a fazerem apenas uma refeição por dia. Quando dois discípulos se recusaram a seguir esta regra, o Buda pacientemente explicou que ele não determinava regras sem antes testá-las em si mesmo. Ele os relembra que um discípulo deve seguir com devoção seu professor, refletindo cuidadosamente sobre os ensinamentos e praticando o Darma. Mais adiante, o Buda viajou pelo país de Kosala onde ensinou que o cultivo da sabedoria e a manutenção dos preceitos não têm relação com a linhagem familiar. Estas passagens no capítulo 1, seção 3, revelam a crença do Buda na igualdade social. Ele observa que independentemente de um discípulo pertencer a uma casta superior ou inferior, todos deveriam descartar a noção de distinções de casta; e, concentrando-se no controle adequado da mente, deveriam cultivar a sabedoria e manter as regras da sanga. O capítulo 2, seção 1, contém os dez preceitos maiores e os 48 menores colocados para os bodisatvas que fizeram o voto de alcançar a mais elevada

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iluminação pelo benefício de todos os seres. Regras específicas para cada aspecto de suas vidas como monges são delineadas, incluindo as condições que constituem transgressões do código moral. Na sequência, a seção 2 relata a discórdia deplorável na sanga budista que se tornou amplamente conhecida não apenas entre os seguidores contemporâneos do Buda, mas também para a posteridade como um exemplo de desarmonia que deve ser evitado. Quando o Buda se encontrava no monastério Ghosita em Kosambi, um discípulo erudito cometeu uma ofensa menor. Os outros discípulos discutiram acirradamente se era uma violação ou não. Finalmente, eles decidiram expulsar o discípulo da sanga. Mesmo após o Buda conversar repetidamente com os monges enraivecidos em disputa numa tentativa para restaurar a harmonia, eles se dividiram em duas facções e continuaram suas discussões agressivas. Alguns monges pediram

ao

Buda

para

esperar,

pois

eles

desejavam

assumir

a

responsabilidade pela solução do conflito. Então, o Buda percebeu que esses monges estavam presos na formalidade, tendo esquecido o verdadeiro espírito da compaixão; assim, ele partiu para ficar longe desta situação perturbadora e para ficar em paz em um local silencioso. Até mesmo o povo de Kosambi se incomodou com os discípulos conflituosos e parou de lhes oferecer alimento. Os discípulos fisicamente enfraquecidos finalmente reconheceram o erro de suas escolhas e foram juntos procurar pelo Buda, que já havia partido para o Bosque Jeta em Savatthi (Scr. Sravasti). Como o Buda já os havia aconselhado diversas vezes antes, ele calmamente os animou a terem compaixão em seus corações e a seguirem os preceitos pelo único propósito de descartar a delusão que mantém a mente cativa. O discípulo que havia cometido a ofensa também se pacificou e a harmonia foi restaurada na sanga. CEBB

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O capítulo 3, seção 3, apresenta a terrível história de Angulimala, que significa Colar de Dedos. Seu verdadeiro nome era Ahimsaka, o principal discípulo de um sacerdote brâmane que descobriu que sua mulher havia tentado seduzir seu discípulo. Assim, o mestre procurou vingar-se, instruindo Ahimsaka a matar 100 pessoas e cortar um dedo de cada uma, fazendo um colar. O discípulo acreditava que deveria obedecer ao seu mestre não importando o quão detestável fosse a instrução. Quando ele já havia matado 99 pessoas, o Buda foi informado pelos seus discípulos sobre estas ações cruéis. O Buda se aproximou de Ahimsaka, que descobriu que não era possível matar o Buda. No Bosque Jeta, depois de o Buda explicar o Darma a Ahimsaka, foi como se ele despertasse de um horrível pesadelo e imediatamente alcançou a iluminação. Estas passagens relatando o conselho do Buda de fazer apenas uma refeição por dia, a desarmonia na sanga e a história de Angulimala, apontam não apenas para a importância de seguir com devoção o próprio professor, mas também para a necessidade de compreender que uma observância fiel das regras deve ser temperada pelo respeito e compaixão adequados, e que as ações devem ser ajustadas corretamente e sabiamente de acordo com a situação. O capítulo 3, seção 6, relata como Ananda, o primo do Buda, se tornou seu atendente. Ananda seguiu e serviu o Buda fielmente por muitos anos até a separação final com a morte do Buda em Kusinara, quando o Buda consolou Ananda que estava em prantos, e agradeceu por ele ter sido um amigo e assistente devotado. O Livro Cinco termina com as instruções do Buda relativas a como um bodisatva com compaixão e sabedoria deve se esforçar diligentemente para aperfeiçoar a meditação profunda, e para atingir a compreensão verdadeira e CEBB

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imutável do ensinamento do Buda para o benefício de salvar todos os seres e guiá-los até a iluminação. Essas passagens procuram explicar novamente o conceito de ‘vacuidade’, de que o “mundo já é vazio, o Buda e o Darma também são vazios. A natureza destes três é destituída de substância.” O Buda ensina que, enquanto nos fixarmos às coisas como se elas possuíssem uma natureza substancial e imutável, não despertaremos para a realidade da vida.

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LIVRO V Capítulo I - EDUCAÇÃO

1. O Professor Correto e o Falso Professor

(1) O Buda deixou o monastério do Bosque de Bambus e se dirigiu para o oeste, entrando no Parque dos Cervos. Dali, em seu caminho para Kosambi, ele passou pelo país de Kasi. Na estrada ele disse aos seus discípulos: “Meus discípulos, eu parei de comer após o meio-dia. Como resultado, eu não sofro nenhuma doença, possuo boa saúde e me sinto em paz. Eu os aconselho a fazerem o mesmo, comendo apenas uma vez por dia.” Em seguida, o Buda entrou na vila de Kitagiri em Kasi e permaneceu ali por algum tempo.

(2) Naquela época, dois discípulos do Buda, Assaji e Punabbasuka, moravam em Kitagiri. Ao ouvirem o que o Buda havia dito, eles observaram: “Nós fazemos três refeições, pela manhã, ao meio-dia e à tarde, e mesmo assim não ficamos doentes, pelo contrário, estamos com boa saúde. Não há razão para abandonarmos esta boa prática e seguirmos outra forma que não é comprovadamente melhor.” Eles não quiseram ouvir o conselho do Buda oferecido aos discípulos, e mostraram grande relutância em segui-lo. Quando os discípulos relataram isto ao Buda, ele convocou os dois

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monges para verificar os fatos, e perguntou-lhes: “Vocês acham que os ensinamentos negativos diminuirão e os bons ensinamentos se fortalecerão independente de como vocês se sintam a respeito de sofrimento, prazer, ausência de sofrimento e desprazer?” “Honrado pelo Mundo, nós não pensamos assim.” “Meus discípulos, então vocês acham que alguns sentimentos agradáveis fortalecerão os ensinamentos negativos e diminuirão os bons ensinamentos, e que outros sentimentos agradáveis fortalecerão os bons ensinamentos e diminuirão os ensinamentos negativos? E vocês acham que o mesmo se aplica aos sentimentos de sofrimento e ausência de sofrimento ou desprazer?” “Honrado pelo Mundo, é exatamente nisto que acreditamos.” “Meus discípulos, se eu ensinasse este código de conduta sem testá-lo e experimentá-lo em mim mesmo, isto não seria adequado. Entretanto, eu o experimentei e testei, de fato, em minha vida. Meus discípulos, eu não alerto os discípulos para não negligenciarem os ensinamentos, porque aqueles que já atingiram a liberação nunca negligenciarão os ensinamentos. Mas, se aqueles que avançam em direção à paz insuperável disciplinarem suas mentes de acordo com os ensinamentos, eles realizarão suas metas imediatamente. Portanto, é desnecessário alertar esses monges para não negligenciarem os ensinamentos. “Meus

discípulos,

vocês

não

podem

alcançar

a

iluminação

imediatamente. Vocês poderão alcançar a verdadeira e insuperável iluminação apenas depois de despertarem a fé e servirem um mestre, ouvindo o Darma e aceitando-o em suas mentes, pensando sobre seu significado e compreendendo-o, e praticando o Darma com a mente unifocada. Vocês estão afastados do verdadeiro caminho e entram no CEBB

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caminho errôneo, e assim se desviam dos ensinamentos.

(3) “Meus discípulos, mesmo na relação mestre-discípulo do mundo secular vocês não encontrarão pessoas que a tratam como uma transação de negócios, na qual alguém recebe algo em troca por algum serviço ou artigo. Especialmente em nossa relação, o Honrado pelo Mundo é o mestre e vocês são seus discípulos. O discípulo que possui fé recebe os ensinamentos e faz o voto de não deixar seu assento até alcançar suas metas. Apenas os discípulos que possuem uma fé forte como esta poderão atingir a iluminação.”

(4) O Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos discípulos, passou pelo país de Kasi e entrou em Kosambi, permanecendo no Monastério Ghosita. Naquela época, o mendicante itinerante Sandaka se encontrava na Caverna da Figueira com quinhentos discípulos. Certa tarde, Ananda terminou sua meditação e, acompanhado por muitos monges, foi ver um grande buraco criado durante uma tempestade recente. Sandaka viu Ananda se aproximando à distância. Ele disse aos seus discípulos para pararem com sua fala inútil e esperarem silenciosamente pela aproximação de Ananda. Depois de se cumprimentarem, Ananda perguntou a Sandaka a razão do encontro de tal multidão e sobre o que eles estavam conversando. Sandaka não respondeu a pergunta, e disse que eles gostariam que Ananda desse um discurso sobre o ensinamento de seu mestre. Então, Ananda se dirigiu ao grupo: “O Honrado pelo Mundo conhece e vê a verdade. Ele aconselha todos sobre a existência de quatro tipos de práticas errôneas vergonhosas e quatro tipos de práticas religiosas ineficazes; ele ensina as pessoas a não caírem nestas práticas improdutivas e prejudiciais. “Sandaka, existem pessoas que insistem que não há mérito em ser CEBB

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generoso e fazer oferendas, que não há resultado para as ações boas ou más, nada após esta vida, nem mãe nem pai, e nenhum professor para guiar as pessoas; que todos os seres humanos retornam para seus elementos originais e que os cinco sentidos desaparecem no nada; que a morte é apenas quatro pessoas cantando canções enquanto carregam o caixão para os terrenos de funeral, onde o corpo é cremado e se transforma em ossos esbranquiçados, e que as oferendas fúnebres se reduzem a cinzas. Elas dizem que alguém que ensina a generosidade desinteressada é uma pessoa ignorante, e além disso, elas dizem que é tolo e não faz sentido dizer que a generosidade traz méritos. Elas dizem que tanto os sábios quanto os tolos simplesmente desaparecem quando morrem. “E também há alguns que dizem: ‘Não é negativo matar pessoas, fazêlas sofrer, roubar, explorar, cometer adultério e mentir. Também não é errado arrastar uma carroça com espadas afiadas fixadas às rodas e, amontoando todas as coisas vivas, picá-las de uma única vez. Mesmo que alguém mate na margem sul do Ganges e pratique generosidade na margem norte, não há mérito ou maldade. Mesmo que alguém pratique generosidade, siga as restrições e ensine a verdade, não há mérito algum.’ “E há alguns que dizem: ‘Quer uma pessoa se eleve ou caia isto não é dependente de causas e condições; ela cai ou se eleva por nenhuma razão; não há algo como o próprio poder pessoal ou devoção ou esforço correto, porque todas as alegrias e tristezas são determinadas pelo destino.’ “E também há alguns que afirmam: ‘Terra, água, fogo, ar, sofrimento, alegria e vida, os sete elementos, não são nem criados nem não-criados; eles não dão nascimento a nada; eles são firmes como uma montanha ou uma coluna, não se movendo e imutáveis. Nem eles se prejudicam uns aos outros nem eles influenciam as alegrias e sofrimentos uns dos outros. Portanto, não CEBB

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há nem alguém que mata nem alguém que é morto, nem alguém que ouve nem alguém que é ouvido; nem alguém que conhece nem alguém que é conhecido. Mesmo que alguém corte a cabeça de outra pessoa com uma espada afiada, ninguém tirou a vida de ninguém. A espada apenas atuou como um agente e penetrou os sete elementos.’

(5) “Sandaka, as pessoas ponderadas pensarão sobre esses quatro tipos de afirmações, dizendo: ‘Se o que essas pessoas dizem é verdade, então eu tenho feito coisas que eu não fiz, e tenho praticado disciplinas que não pratiquei. Não haverá diferenças entre os mestres que atravessaram todos os tipos de disciplinas duras e mim, que tenho uma esposa e filhos e que sigo uma vida de buscas materiais; eu serei capaz de alcançar a mesma iluminação que esses mestres e irei para o mesmo mundo na próxima vida. Então, qual é a razão para realizar as práticas puras?’ Mas as pessoas ponderadas compreenderão que este não é um ensinamento puro e irão descartá-lo. Sandaka, esses são os quatro tipos de práticas vergonhosas que meu mestre aconselha todas as pessoas ponderadas a evitarem. “E também, Sandaka, alguns mestres afirmam ter atingido a onisciência e o poder de ver tudo, e que estes poderes são aparentes em suas vidas diárias. Apesar disto, eles entram em casas vazias e não recebem comida; eles são mordidos por cachorros; eles são afastados por cães e vacas; eles perguntam os nomes de mulheres, homens e vilas, e pedem por orientação. Assim, sua alegação de tudo conhecerem e tudo verem é contraditória. Porém, quando suas afirmações são questionadas, eles fogem da pergunta e dizem que aquilo era o que eles tinham que fazer nas citadas circunstâncias. Alguns mestres ensinam coisas transmitidas a eles através de eras, algumas das quais são incorretamente transmitidas, de forma que o que eles ensinam CEBB

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está às vezes correto, e às vezes incorreto. Alguns mestres ensinam conceitos e ideias que eles mesmos desenvolveram; portanto, algumas são boas e outras não. Alguns mestres não são apenas tolos, mas também suas mentes estão fora de controle, de forma que suas respostas às perguntas que lhes são feitas estão cheias de confusões. As pessoas sensíveis perceberão tudo isto e abandonarão esses mestres, compreendendo que praticar sob sua tutoria é inútil. Esses, Sandaka, são os quatro tipos de professores nos quais o Honrado pelo Mundo nos aconselha a não confiar, visto que não obteremos benefícios deles.” “Venerável Ananda, é como você afirma. Ó Venerável, qual é o verdadeiro ensinamento, então, que todas as pessoas ponderadas deveriam seguir para obter benefícios reais?”

(6) “Sandaka, aqueles que ouvem que o Buda surgiu neste mundo despertarão a fé, tornar-se-ão monges e seguirão a disciplina. Eles temerão mesmo a menor maldade, e deixando todas as paixões cegas para trás, entrarão em meditação. Eles cultivarão suas mentes e alcançarão a mais elevada sabedoria. Assim, eles saberão que não mais renascerão, que dominaram a disciplina pura e que fizeram aquilo que precisavam fazer. Nunca mais eles retornarão para a vida de delusão. Os discípulos que estudam com sinceridade junto a este mestre alcançarão este estado supremo, e todas as pessoas ponderadas receberão os verdadeiros benefícios.” “Venerável Ananda, os discípulos deste mestre que destruíram suas paixões cegas e que alcançaram a liberação a partir da verdadeira sabedoria ainda se entregarão a desejos mundanos?” “Sandaka, os discípulos que se tornaram homens santos não matarão voluntariamente seres sencientes, nem tomarão coisas que não lhes foram CEBB

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dadas, nem manterão relações sexuais com mulheres, nem contarão mentiras intencionalmente. Ao contrário das pessoas leigas, eles não se deixarão absorver na busca de sua cobiça e na acumulação de coisas.” “Venerável Ananda, esses homens santos estarão sempre conscientes de sua realização de que todos os desejos mundanos desapareceram?” “Sandaka, oferecerei uma analogia. Imagine um homem cujo braço foi amputado. Assim, ele não possui um braço, mas apenas quando se torna consciente disto que ele percebe que não mais o possui. É o mesmo com esses homens santos. Eles não sustentam paixões negativas em momento algum, mas apenas quando se tornam conscientes disto que percebem que estão livres de tais paixões.” Sandaka se dirigiu aos seus discípulos desta forma: “Eu os aconselho a praticarem sob a orientação de Gotama, o Honrado pelo Mundo. Se vocês se tornarem como eu, será difícil abandonar a noção de lucro e perda. Portanto, eu os aconselho a seguirem o caminho sob a orientação do Honrado pelo Mundo.”

2. Os Demônios nas Planícies Selvagens (1) O Honrado pelo Mundo refez seu trajeto de uma certa forma e entrou em Alavi. Nessa época um demônio devorador de homens conhecido como Alavaka estava infligindo sofrimento às pessoas que ali moravam. Uma vez, quando o rei de Alavi saiu para caçar sozinho e se perdeu em uma floresta intransitável, ele ficou cansado, e enquanto descansava sob a sombra de uma árvore nigroddha gigante, foi capturado pelo demônio.

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Apenas depois de prometer sacrificar um ser humano a cada dia que ele foi libertado e sua vida poupada. No início, ladrões que haviam sido condenados à morte foram usados como sacrifícios humanos. Quando a quantidade de ladrões se exauriu, crianças foram sacrificadas, mas logo não havia mais crianças. Finalmente, o demônio exigiu que o rei sacrificasse seu próprio filho. O povo da cidade tremia em constante medo. O Honrado pelo Mundo viu o que estava acontecendo e, para salvar os habitantes do castelo, entrou no lugar onde morava o demônio. Nesse momento Alavaka estava ausente, participando de uma reunião de demônios nos Himalaias. O Honrado pelo Mundo pediu a Garava, um dos demônios que guardavam o portão, alojamento para uma noite. Garava lhe falou sobre o caráter terrível de seu mestre e recusou. Mas, devido à insistência do Honrado pelo Mundo, Garava disse que iria procurar seu mestre e partiu para os Himalaias. O Honrado pelo Mundo entrou no palácio do demônio e, enquanto esperava pelo retorno de Garava, ensinou o Darma para as damas de companhia. Satagira, um outro demônio, seguia o Buda. Ele estava no caminho para os Himalaias, voando sobre o palácio, quando repentinamente caiu sob a influência do Buda e não conseguiu mais voar. Ele se perguntou sobre o que estava acontecendo, mas quando viu o Buda, compreendeu e ouviu seu sermão. Então ele continuou sua viagem pelos céus e chegou à reunião nos Himalaias. Ele se sentou perto de Alavaka e o congratulou. “Este é o seu dia de sorte. O Honrado pelo Mundo se encontra em seu palácio.”

(2) O demônio Alavaka possuía um temperamento violento e não tinha respeito por ninguém. Ele ficou com muita raiva ao saber que o Buda tinha entrado em sua casa sem sua permissão e estava dando ensinamentos às CEBB

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mulheres. Ao ouvir Satagira louvando as virtudes do Buda ele se enfureceu. Ele gritou: “Eu sou Alavaka. Hoje irei mostrar verdadeiramente meu poder.” Ele voltou rapidamente para casa e fez com que o vento soprasse e que a chuva caísse. Ele brandiu sua espada, atirou suas flechas, arremessou suas lanças e atacou o Buda com uma tempestade de fogo. Mas, assim que estas armas se aproximavam do corpo do Buda, todas elas se transformaram em pétalas de flores e caíram silenciosamente ao redor do lugar em que o Buda estava sentado. Ao ver o que estava acontecendo, Alavaka ficou surpreso, mas não se deu por vencido tão facilmente. Ele recorreu à sua última arma, um pano mágico gigante, e tentou jogá-lo sobre o Buda. Dizia-se que quando este pano fosse lançado a chuva pararia, a terra secaria, as águas dos oceanos diminuiriam e as montanhas estremeceriam. Mas seu tecido era impotente diante do Buda, e ele caiu ao seu lado como um trapo para limpar seus pés. O demônio ficou frustrado por sua impotência. Sua arma mais temível era ineficaz porque ele não conseguia conquistar a compaixão do Buda. Ele pensou que se conseguisse irritar o Buda talvez pudesse derrotá-lo. Ele mudou sua tática e disse ao Buda: “Deixe este lugar imediatamente.” O Buda desejava pacificar a mente de Alavaka para poder ensiná-lo, e assim ele fez conforme ordenado. O Buda recuou tão facilmente que o coração do demônio se amoleceu um pouco. Mas ele queria continuar testando o Buda, e então ele disse: “Agora você deve entrar.” Quando o Buda retornou ao seu assento o demônio disse: “Você deve partir.” Novamente o Buda obedeceu. Mas, quando o demônio ordenou pela quarta vez, o Buda disse: “Eu obedeci às suas ordens por três vezes, mas desta vez eu não farei o que você quer. Você pode fazer o que quiser.” O demônio disse: “Então eu lhe farei uma pergunta. Se você não puder CEBB

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responder a minha questão, arrancarei seu coração e pegarei suas pernas jogando-os para o outro lado do rio Ganges.” O Buda respondeu: “Neste mundo eu nunca encontrei alguém que pudesse arrancar meu coração ou minhas pernas e jogá-los fora. Mas você pode fazer a pergunta que desejar.”

(3) Alavaka havia recebido um conjunto de perguntas de seus pais. Na esperança de que algum dia alguém daria as respostas para estas questões, ele as tinha gravado em tinta vermelha indelével sobre uma placa de bronze e a guardou com cuidado. Agora ele se lembrou destas perguntas e as apresentou ao Buda. As questões eram:

Qual é a maior riqueza deste mundo? O que pode trazer a paz absoluta? Qual é o sabor que supera todos os sabores? Como devo viver para alcançar a vida superior?

O Buda respondeu:

A fé é a maior riqueza. A prática correta é o caminho para a paz. O sabor da verdade supera todos os sabores. A vida com sabedoria é a vida superior.

Então o demônio perguntou:

Como posso cruzar a corrente da vida e da morte? Como posso transcender o mal? CEBB

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Como posso deixar para trás o sofrimento? Como posso alcançar o reino da pureza?

O Buda respondeu:

Pela fé se cruza a corrente da vida e da morte. Pela diligência o mal é transcendido. Pelo esforço correto o sofrimento é deixado para trás. Pela sabedoria atinge-se o reino da pureza.

O demônio perguntou:

Qual é o caminho para alcançar a sabedoria? Qual é o caminho para acumular riquezas? Qual é o caminho para conquistar honras? O que se deve fazer para não se afastar dos amigos? O que se deve fazer para alcançar o estado livre do pesar Após deixar este mundo partindo para o próximo?

O Buda respondeu: “Alguém que possui fé nos homens santos, que ouve os ensinamentos da iluminação, que não é autocomplacente, mas que possui entendimento, atingirá a sabedoria. Alguém que segue a ação correta, que suporta os pesados fardos desta vida, e que deliberadamente cultiva a paciência, conquistará riquezas. Alguém que é verdadeiro na fala receberá honrarias. Alguém que não é avarento, mas que pratica generosidade abertamente não será abandonado por seus amigos. Alguém que possui fé e que abraça as quatro virtudes da sinceridade, verdade, diligência e um CEBB

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espírito generoso, mesmo que seja leigo estará livre do sofrimento após esta vida.”

(4) Quando Alavaka ouviu as claras respostas às suas questões, seu coração se encheu de felicidade. Ele ficou envergonhado por seu temperamento violento e fez o voto diante do Buda de que se tornaria um seguidor de seus ensinamentos. Isto aconteceu exatamente quando o dia raiou. Enquanto isso, o povo do palácio, em lágrimas, trouxe o jovem príncipe como sacrifício para o demônio. Quando viram o temível demônio ajoelhado diante do Buda, suas mãos com as palmas em prece e sua cabeça baixa numa atitude de reverência, eles ficaram tanto estupefatos quanto radiantes diante da milagrosa transformação que havia acontecido. Como eles haviam prometido, ofereceram o jovem príncipe ao demônio. O demônio aceitou o príncipe com os braços abertos e o presenteou ao Buda que, por sua vez, o devolveu ao povo. O Buda disse: “Por favor, criemno de forma saudável e quando ele se tornar adulto tragam-no para mim.” Como o príncipe havia passado de mão em mão ele foi chamado de Hatthaka, literalmente ‘da mão’. Quando Hatthaka cresceu, ele descobriu que sua vida havia sido salva pelo Buda e se tornou um discípulo fiel do Buda.

3. Linhagem Familiar (1) O Buda entrou em Saketa e, então, prosseguiu para o norte passando pelo país de Kosala. Ali ele chegou à vila brâmane de Icchanankala e entrou

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na floresta. Nessa época vivia ali um famoso brâmane, Pokkharasati, que havia recebido um feudo do rei Pasenadi e vivia em uma próspera vila conhecida como Ukkattha. Pokkharasati havia ouvido anteriormente rumores sobre um príncipe Sakya que renunciara ao lar e que se tornou um buda. Agora que o Buda estava por perto, o brâmane chamou seu discípulo Ambattha e lhe disse: “Ambattha, Gotama se encontra na floresta de Icchanankala. Como você já ouviu, o nome Gotama é mais amplamente conhecido que os nomes dos deuses. Portanto, vá até Gotama e verifique se ele é realmente um Buda.” “Mestre, como eu poderia verificar tal coisa?” “Ambattha, nossas escrituras classificam trinta e duas características físicas de uma grande pessoa. Qualquer pessoa que possua tais características, se permanecer no mundo, se tornará um rei governando os quatro mares, mas se renunciar ao mundo se tornará um buda e dissipará a escuridão do mundo. Você já me ouviu falar sobre isto.” Ambattha disse: “Eu compreendo.” Ele tomou uma carruagem com cavalos e se dirigiu para a Floresta Icchanankala. Ele viu um grande número de monges passeando pela floresta e lhes perguntou: “Onde está Gotama? Eu desejo encontrá-lo.” Como Ambattha havia nascido em uma família famosa e era agora um discípulo do eminente brâmane Pokkharasati, os discípulos acharam que seria bom que o Buda o encontrasse. Eles disseram a Ambattha: “Além daquela porta fechada estão os aposentos de Gotama. Vá silenciosamente até a entrada, limpe sua garganta e bata na barra que protege a porta.” Ambattha fez como instruído e bateu na barra da porta. O Buda abriu a porta e recebeu Ambattha em seu quarto. Ambattha entrou e, enquanto ainda estava de pé e caminhava, estendeu uma ampla saudação ao Buda, que CEBB

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estava sentado.

(2) O Buda lhe perguntou: “Ambattha, estou sentado, mas você permanece em pé e caminha enquanto me cumprimenta. É desta forma que um discípulo saúda um brâmane mais velho?” Ambattha respondeu: “Não, não é desta forma. É apropriado caminhar quando se saúda um brâmane que esteja caminhando, permanecer em pé ao saudar um brâmane que esteja em pé, e sentar ao saudar um brâmane sentado. Mas, ao saudar um monge inferior sem lar de cabeça raspada, eu acredito que esta forma é suficiente.” “Ambattha, você veio até aqui por alguma razão. Pense neste propósito. Parece que você se orgulha muito de seu treinamento, mas, a não ser que tenha recebido um péssimo treinamento, como você pode fazer o que está fazendo agora?” Ambattha ficou com raiva diante das palavras do Buda e usou uma linguagem abusiva. “Gotama, o povo do clã Sakya é realmente cruel, facilmente irritável e violento, e eles não sabem que deveriam respeitar os brâmanes e fazer oferendas a eles. Isto não é adequado. Eles também são vulgares. Certa vez eu fui ao castelo de Kapilavatthu em uma missão para meu mestre. Os Sakyas estavam reunidos em um salão público e se empurravam e jogavam, e não prestaram atenção em mim. Ninguém me ofereceu um assento e estou certo de que estavam me ridicularizando. Eles não sabiam que devem respeitar um brâmane e fazer oferendas a ele. Isto mostra sua vulgaridade.” “Ambattha, pequenas codornas podem cantar em seus ninhos à vontade de seus corações. Assim como elas os Sakyas estavam apenas se divertindo livremente em seu castelo. Você não deveria ficar irritado com tal CEBB

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situação trivial.” “Gotama, no sistema de castas existem quatro classes distintas: brâmanes, kshatriyas, vaisyas e sudras. Neste sistema aqueles que pertencem às três classes inferiores devem servir os brâmanes. Apesar de os Sakyas pertencerem a uma casta inferior, eles não demonstram respeito pelos brâmanes nem os têm em alta estima, nem mesmo fazem oferendas a eles. Isto não é bom.”

(3) Naquele momento o Buda pensou consigo: “Este jovem relega maldosamente o clã Sakya a um status inferior. Imagino como ele se sentiria se eu lhe contasse sobre sua linhagem familiar?” “Ambattha, qual é a sua linhagem familiar?” “Eu pertenço à linha familiar Kanhayana.” “Ambattha, se você pesquisasse a sua árvore familiar descobriria que é descendente de uma família que servia os Sakyas como seus mestres. De acordo com a tradição, na linha ancestral do clã Sakya havia um rei, Okkaka, que desejava entregar o trono a um filho nascido de uma de suas rainhas favoritas. Portanto, ele expulsou quatro dos príncipe mais velhos do país. Os príncipes expulsos estabeleceram seus reinos perto do lago de lótus nas colinas aos pés dos Himalaias. Os Sakyas são descendentes deste povo. O rei Okkaka também tinha uma serva que deu à luz uma criança chamada Kanha. Logo após seu nascimento, o garoto pediu à mãe: ‘Por favor, me lave. Mãe, por favor, limpe minhas impurezas, trará benefícios a você.’ Esta é uma história bem conhecida. O povo dizia que um Kanha, uma pessoa da escuridão, um demônio maligno, havia nascido. Ele é seu ancestral, o início da linhagem familiar Kanhayana.” Os jovens que lá se encontravam disseram ao Buda: “Por favor, não fale CEBB

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tão duramente com Ambattha. Ele pertence a uma boa linhagem familiar e descende de ancestrais dignos. Ele possui uma boa educação e é um grande orador. Por favor, não o diminua por descender de uma serva inferior.” “Jovens”, respondeu o Buda, “se vocês pensam que Ambattha não é educado o bastante para debater comigo, então vocês devem colocá-lo de lado e deveriam vocês mesmos me fazer as perguntas. Se vocês acham que ele tem boa educação, deixem-no debater livremente.” O Buda continuou: “Eu gostaria de lhe fazer uma pergunta lógica, Ambattha, e você deveria responder sem considerar se será bom ou mal para você. Se você tentar fugir da questão com uma resposta confusa sua cabeça se partirá em sete pedaços. Ambattha, você já ouviu dos brâmanes anciões como eles explicariam a origem da linhagem familiar de Kanhayana?”

(4) Ambattha permaneceu em silêncio. O Honrado pelo Mundo disse: “Ambattha, este não é um momento para silêncio. Quando o Buda faz uma pergunta pela terceira vez e você permanece em silêncio, sua cabeça se partirá em sete pedaços.” Naquele momento, Ambattha viu no céu o demônio Vajrapani, pronto para atacá-lo com uma enorme e incandescente alabarda. Ambattha tremia de medo e se aproximou do Buda para buscar proteção desta figura temível. Ele perguntou: “Você poderia repetir o que disse?” Quando ele ouviu novamente as palavras do Buda, respondeu: “Senhor, é como você disse.” Quando os jovens ouviram a confissão de Ambattha, eles o escarniaram e o insultaram, dizendo que ele descendia de uma serva inferior. Mas o Honrado pelo Mundo veio em sua ajuda e disse que Kanha era um grande homem. O Buda continuou: “Jovens, aquele Kanha alcançou maestria sobre as práticas difíceis e se tornou um grande homem santo, que estudou dharanis CEBB

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avançados na região de Deccan. Um dia ele foi até o rei Okkaka e pediu a mãe da princesa Khuddarupi em casamento. Por ser um rei muito orgulhoso de sua linhagem familiar, Okkaka ficou muito bravo com tal pedido. Imediatamente ele pegou seu arco e flecha e estava pronto para atirar nele. Mas, por algum poder misterioso, a mão do rei estava colada ao arco e a flecha não saía da corda. O rei estava impotente. Os ministros do rei estavam estupefatos e imploraram a Kanha para perdoar o rei. Kanha disse: ‘Sua Alteza, se você atirar suas flechas no chão a terra partirá em pedaços por todo o país; e se você atirar suas flechas para o céu não cairá chuva em seu país por sete anos. Mas você pode atirar suas flechas no príncipe sem prejudicar um único fio de seu cabelo.’ Assim, o rei fez como Kanha lhe disse e nada aconteceu com o príncipe. O rei Okkaka, admirado com os grandes poderes de Kanha, ofereceu-lhe a princesa em casamento.” O Honrado pelo Mundo explicou para Ambattha as diferenças no status das classes brâmanes e kshatriyas e ensinou-lhe a tolice de se orgulhar devido à linhagem familiar e aos direitos de nascimento. Ele lhe disse que cultivar sabedoria e sustentar os preceitos são consideradas as formas mais elevadas de vida entre os seres humanos e deuses. Ambattha perguntou: “Gotama, o que você quer dizer por cultivar sabedoria e sustentar os preceitos?” “Ambattha, o cultivo da sabedoria e a sustentação dos preceitos não têm nada a ver com a linhagem familiar ou os direitos de nascimento. Dizer que alguém é um parceiro adequado ou inadequado é importante apenas nas relações conjugais. No treinamento espiritual não é possível cultivar sabedoria ou sustentar os preceitos se há apego aos direitos de nascimento, linhagem familiar ou distinções de classe.”

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(5) Assim, o Honrado pelo Mundo explicou o significado da sabedoria e da disciplina religiosa e prosseguiu explicando o controle da mente através da meditação. Então ele disse: “Ambattha, mesmo que alguém procure realizar o caminho da sabedoria e da disciplina, existem quatro condições que sempre impedirão a realização do objetivo. “Primeiro, suponhamos um monge que diz alimentar-se apenas de castanhas caídas das árvores e que entra na floresta com vários sacos para coletar as castanhas. Um segundo monge acredita que não poderá sobreviver apenas alimentando-se de castanhas caídas, assim ele pega uma pá para cavar por raízes para alimento e uma cesta para coletá-las. Um terceiro monge acredita que não poderá sobreviver apenas de castanhas e raízes, assim ele constrói um templo dedicado ao fogo próximo a uma cidade ou uma vila e venera o fogo. As pessoas lhe oferecem presentes que lhe permitem sobreviver. Ele tenta acumular méritos cuidando do fogo. Um quarto monge acredita que deve construir uma cabana com portas nas quatro direções em um cruzamento movimentado da cidade. Ele viverá lá e oferecerá ajuda e presentes o quanto lhe for possível aos monges peregrinos. “Ambattha, todos estes monges estão apegados apenas às formalidades da vida religiosa e nunca conquistarão a sabedoria nem serão capazes de viver uma vida religiosa disciplinada. O mais próximo que qualquer um deles pode chegar da vida religiosa é se tornar um servo de um homem santo. Ambattha, uma vez você recebeu instruções de um mestre sobre o caminho da sabedoria e da disciplina. Alguma vez você seguiu estas instruções?” “Gotama, eu não o fiz. Eu me desviei do caminho da sabedoria e da disciplina.” “Ambattha, apesar de você ser um discípulo seguidor do caminho, você CEBB

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não foi capaz de realizar o caminho da sabedoria e da disciplina, nem você tentou alcançar o resultado do caminho. Além disso, seu mestre Pokkharasati está pronunciando palavras caluniosas ao dizer que os mendicantes de cabeças raspadas são homens da escuridão de uma classe inferior, nascidos dos calcanhares dos deuses e que audaciosamente esperam conversar com os brâmanes. Este é um dos pecados de seu mestre. Além disso, você afirma que o rei Pasenadi apoia Pokkharasati, tendo lhe oferecido um feudo, mas o rei não pede seus conselhos. Sempre que há uma conversa entre os dois eles estão separados por uma cortina. Ambattha, o que você acha? Suponha que um servo ouça a conversa entre o rei e um ministro e que ele se lembre que o rei disse isto e que o ministro disse aquilo. Você acha que este servo se tornou o rei ou o ministro apenas por repetir a conversa? Da mesma forma, apenas porque você recita os dharanis que foram escritos pelos homens santos do passado você pode dizer que é um homem santo ou que atingiu o status de um homem santo? Ambattha, o que você acha? Os homens santos do passado que são louvados por nossos anciões se comportavam como você, cuidando com esmero de seus cabelos e barbas, passando perfume em seus corpos, carregando guirlandas de flores, usando braceletes e vestes brancas, e desfrutando os prazeres dos cinco sentidos?” “Gotama, eu acredito que não.” “E aqueles homens santos cozinhavam seu arroz separando todas as impurezas escuras e comendo apenas arroz branco temperado com todos os tipos de ervas e especiarias? Eles eram servidos por mulheres usando ornamentos? Eles andavam por aí em carruagens puxadas por cavalos de rabos trançados? Eles viviam em castelos circundados por fossos e protegidos por guardas com longas espadas?” “Gotama, eu acredito que não.” CEBB

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“Ambattha, se é assim, então você nem é um homem santo nem é uma pessoa que alcançou o status de um homem santo. Se você tem quaisquer dúvidas sobre mim, sinta-se à vontade para fazer perguntas.”

(6) O Honrado pelo Mundo deixou seu assento e saiu de seu quarto para uma caminhada. Ambattha seguiu o Buda e examinou suas trinta e duas marcas de um grande ser. Pelo poder do Buda ele foi capaz de ver todas as trinta e duas marcas. Então, ele partiu e foi para casa. Naquele momento, Pokkharasati havia deixado a vila de Ukkattha e, liderando um grande número de brâmanes, entrou na floresta para esperar por Ambattha. Ambattha veio até seu mestre e se curvou em reverência, contando-lhe que o Buda possuía as trinta e duas marcas de um grande ser. Ao relatar em detalhes a conversa que havia tido, Pokkharasati ficou muito bravo, dizendo: “Que pessoa impertinente que você é! Você acha que sabe tudo. Você cometeu uma ação negativa que o levará ao inferno. Você criticou alguém tão santo como o Buda. Estou envergonhado e embaraçado!” Ele quis encontrar o Buda, mas como já era muito tarde naquele dia, foi impedido pelos discípulos. Portanto, ele foi para casa e mandou preparar uma oferenda de comida. Cedo na manhã seguinte, com seus discípulos carregando tochas para iluminar a escuridão que antecede a aurora, ele chamou pelo Buda. Primeiro se desculpou pelo mal que Ambattha havia cometido. Então ele viu as trinta e duas marcas de um grande ser. Ele convidou o Buda para uma refeição e alegremente recebeu seu ensinamento. O Honrado pelo Mundo lhe ensinou sobre a generosidade desinteressada, os preceitos e o nascimento nos reinos celestiais. Ele apontou o perigo e os obscurecimentos dos desejos, assim como os benefícios que são recebidos quanto alguém se liberta dos desejos. Gradualmente, a mensagem do Darma CEBB

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amoleceu o coração do brâmane e o Buda lhe ensinou as Quatro Nobres Verdades. Como um pano branco puro que pode ser tingido por qualquer cor, o coração de Pokkharasati foi tingido pela cor do Darma e ele se tornou um seguidor do Buda pelo resto da vida.

4. A Questão do Eu (1) O Honrado pelo Mundo entrou no monastério do Bosque Jeta em Savatthi. Naquela época, o mendicante itinerante Potthapada vivia com muitos mendicantes no grande salão construído pela rainha Mallika. Em uma de suas rondas de mendicância, cedo pela manhã, o Buda visitou Potthapada. Potthapada disse aos mendicantes para cessarem sua fala inútil e saudarem o Buda. Depois de trocarem cumprimentos, Potthapada perguntou ao Buda: “Ó Venerável, frequentemente nós nos reunimos no grande salão e discutimos com muitas pessoas de diversas escolas o tema da destruição dos conceitos. Há alguns que dizem que a destruição dos conceitos não depende de condições; tais pensamentos surgem quando é o momento para eles surgirem e desaparecem quando é o momento de desaparecerem. Outros dizem que os pensamentos representam o ego da pessoa e que quando ela está consciente de seu ego os pensamentos surgem, e que quando a consciência deste ego desaparece, então os pensamentos também desaparecem. Ainda outros sustentam que aqueles que cultivaram poderes milagrosos podem inserir ou extrair pensamentos em ou de uma outra pessoa. Em tais momentos eu gostaria que o Honrado pelo Mundo estivesse aqui. Pois você é tão

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esclarecido a respeito deste assunto. Ó Honrado pelo Mundo, como são destruídos os conceitos?”

(2) “Potthapada, é um erro dizer que não há causa ou condição para a destruição de conceitos. Os pensamentos surgem ou desaparecem na dependência da disciplina religiosa da pessoa. Potthapada, o que é disciplina religiosa? Suponha que haja uma pessoa que acredita no Buda, torna-se um monge seguindo seus ensinamentos, controla seus cinco sentidos, teme cometer até mesmo a menor maldade, removeu a casca das paixões cegas e ingressa na primeira meditação. Tal pessoa, tendo destruído seus pensamentos de cobiça, alcança a alegria e a felicidade por estar livre da cobiça. Esta liberdade produz pensamentos que são verdadeiros e esplêndidos, trazendo-lhe felicidade e alegria. É isto o que significa disciplina religiosa produzindo ou destruindo certos pensamentos. O monge progride da segunda para a terceira e a quarta meditações, e quando alcança a quarta meditação, ele destrói todos os pensamentos grosseiros. Ele está livre da dor e do prazer e seus pensamentos são nobres e verdadeiros. É isto o que significa produzir ou destruir certos pensamentos pela disciplina religiosa. “Potthapada, quando é alcançada a meditação chamada de Espaço Ilimitado são destruídos toda a matéria, os impedimentos, as discriminações e os pensamentos. Então surge o pensamento que apenas o espaço é ilimitado. Na meditação chamada de Consciência Ilimitada o pensamento de que apenas o espaço é ilimitado desaparece e surge o pensamento de que apenas a consciência é ilimitada. Na meditação chamada de Inexistência o pensamento de que a consciência apenas é ilimitada desaparece, e o pensamento de que nada existe surge. É isto o que significa produzir ou destruir os pensamentos através da disciplina religiosa. CEBB

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“Potthapada, o meu discípulo, desta forma, progride de uma forma de meditação para outra e alcança o pensamento mais elevado. Ao alcançar esse ponto, ele ainda vai adiante da seguinte forma: ‘Pensar é uma ação inferior e não pensar é melhor. Quando eu continuo pensando ou ponderando, alguns pensamentos criados no processo perecerão, mas outros pensamentos grosseiros surgirão. Portanto, cessarei os pensamentos e ponderações.’ Assim, o discípulo cessa seus pensamentos e ponderações e destrói os pensamentos. Não surgem outros pensamentos, e o surgimento dos pensamentos cessa completamente.”

(3) “Honrado pelo Mundo, o que surge antes, o pensamento ou o conhecimento?” “Potthapada, o pensamento surge antes e o conhecimento se segue.” “Honrado pelo Mundo, o processo dos pensamentos é o eu, ou ele é algo completamente diferente?” “Potthapada, você acredita no eu?” “Honrado pelo Mundo, eu acredito no eu físico que é criado por coisas materiais e sustentado pelo alimento.” “Potthapada, mesmo que o eu fosse algo como o que você diz, devido ao surgimento e desaparecimento dos pensamentos sabemos que os pensamentos e o eu são diferentes.” “Honrado pelo Mundo, eu acredito que o eu não é feito de coisas materiais, mas sim de pensamentos.” “Potthapada, como eu afirmei antes, os pensamentos e o eu são completamente diferentes. Potthapada, para uma pessoa como você que tem opiniões diferentes, que segue um outro ensinamento e que busca um objetivo diferente é extremamente difícil compreender meu ensinamento.” CEBB

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“Honrado pelo Mundo, então o mundo é eterno?” “Potthapada, eu não ensino isto.” “Então, o mundo está sempre em mutação?” “Eu também não ensino isto.” “Então, o mundo possui limites ou não?” “Potthapada, isto, também, eu não ensino.” “A vida é igual ao corpo ou é diferente?” “Isto, também, eu não ensino.” “Uma pessoa existe após a morte, ou ela não existe após a morte? Ou, será que após a morte ela tanto existe quanto inexiste; ou será que ela nem existe nem inexiste?” “Potthapada, isto também é algo que eu não ensino.” “Honrado pelo Mundo, por que você não ensina estas coisas?” “Potthapada, estas coisas não possuem significado algum, elas não estão de acordo com o Darma e elas não têm relação com a prática do Darma. Estas coisas não nos libertam do apego e dos desejos, nem nos fazer alcançar a verdadeira sabedoria. E também elas não conduzem ao nirvana.” “Então, o que é que o Honrado pelo Mundo ensina?” “Potthapada, eu explico o sofrimento, a causa do sofrimento, a destruição do sofrimento e o caminho para a destruição do sofrimento.” “Por que o Honrado pelo Mundo ensina isto?” “Potthapada, eu ensino isto porque é algo significativo e está de acordo com o Darma e a prática do Darma. Isto nos liberta do apego e dos desejos. Isto nos faz realizar a verdadeira sabedoria e nos conduz ao nirvana.”

(4) O Honrado pelo Mundo se levantou e partiu. Tão logo ele desapareceu da vista os mendicantes itinerantes ridicularizaram Potthapada CEBB

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por todos os lados: “Potthapada, você concordou com tudo que Gotama disse. Entretanto, Gotama não disse nada com certeza, se o mundo é eterno ou mutável, ou se o mundo é limitado ou ilimitado.” Potthapada disse: “É verdade que Gotama não explicou se o mundo é eterno ou não. Entretanto, ele nos mostrou a verdade que está baseada no Darma e que está de acordo com o Darma. Como eu poderia voltar minhas costas a um ensinamento tão excelente?” Dois ou três dias mais tarde, Potthapada visitou o Buda com Citta, o filho de um condutor de elefantes, e disse ao Buda que estava sendo ridicularizado pelos mendicantes. O Buda disse que eles eram como homens cegos rindo de alguém capaz de ver. Então, o Buda dissipou a noção de que o eu abandona o corpo após a morte e que atinge um estado de completa felicidade onde não há doenças. Alguém que acreditasse em tal coisa seria como aquele que fala de amor sem nunca ter encontrado o ser amado, ou como alguém que constrói uma escada sem saber aonde quer chegar com a escada. “Potthapada, existem três classes de seres que acreditam na existência do eu: primeiro, aqueles que acreditam que o eu é constituído por coisas materiais; segundo, aqueles que acreditam que o eu é composto por uma mente que está equipada com os quatro membros; e terceiro, aqueles que acreditam em um eu composto por uma consciência que não possui substância física. Eu ensino um Darma que não reconhece qualquer uma das três visões. Se você seguir o Darma e praticar o caminho, você será liberado dos obscurecimentos e, assim, será purificado. Você alcançará a satisfação e o progresso espiritual na sabedoria na vida atual. “Potthapada, nesse estado você poderia pensar que ainda haveria sofrimento, mas na verdade haveria apenas alegria, felicidade e paz. Assim, CEBB

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você viverá com a mente em perfeita paz. “Potthapada, se alguém me perguntasse o que é o eu que deve ser descartado, eu responderia que é o próprio eu que você vê diante de você mesmo. Potthapada, você acha que meu ensinamento não tem fundamento?” “Honrado pelo Mundo, seu ensinamento realmente tem fundamento. É como construir uma escada e ser capaz de mostrar aonde se está querendo chegar.” Potthapada ficou profundamente comovido pelo ensinamento do Buda e se tornou um seguidor dos Três Tesouros pelo resto da vida. Citta, o filho do condutor de elefantes, foi ordenado pelo Buda e se tornou seu discípulo.

(5) Certo dia, enquanto fazia sua ronda de mendicância, o Buda visitou o Jardim do Pavão onde alguns mendicantes itinerantes se entretinham numa fala inútil. Ao verem o Honrado pelo Mundo eles pararam de conversar e o saudaram. Sakuludayin disse: “Antes de eu chegar estas pessoas estavam conversando inutilmente, mas quando cheguei, elas quiseram fazer perguntas. Agora que você está aqui, elas querem lhe fazer perguntas.” “Udayin, elas podem fazer qualquer pergunta que esteja em suas mentes.” “Honrado pelo Mundo, muito tempo atrás, quando encontrei uma pessoa que alegava possuir onisciência e poderes de clarividência, eu lhe perguntei sobre minhas vidas passadas. Essa pessoa mudou de assunto e, sem razão aparente, acabou se enraivecendo. Naquele momento eu me lembrei de você e o quanto é conhecedor deste assunto.” “Udayin, quem era essa pessoa?” “Era Nigantha.” “Udayin, como eu tenho a habilidade de ver o passado estou CEBB

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familiarizado com as vidas passadas. E por possuir o olho de clarividência sobre-humano também posso ver o futuro. Entretanto, não vamos falar de vidas passadas e futuras. Eu ensino o Darma. Porque isto existe, aquilo existe. Porque isto surge, aquilo surge. Porque isto não existe, aquilo não existe. Porque isto perece, aquilo perece. Este é o Darma da originação dependente.” “Honrado pelo Mundo, eu não consigo lembrar nem mesmo daquilo que experimentei nesta vida. Como eu poderia lembrar o que aconteceu em uma vida passada? Além do mais, eu não consigo ver um espírito nesta vida. Como poderia ver o mundo do após-morte? Você diz que porque isto existe, aquilo existe; e porque isto não existe, aquilo também não existe. Eu realmente não consigo entender o seu ensinamento. Portanto, respondendo suas questões, eu gostaria de explicar o ensinamento que eu ouvi de meu mestre.”

(6) “Udayin, o que o seu mestre ensina?” “Meu mestre ensina que existe uma luz com as cores mais maravilhosas.” “O que é esta luz com as cores mais maravilhosas?” “É a luz mais incomparavelmente maravilhosa.” “O que é esta luz mais incomparavelmente maravilhosa?” “É uma luz superior com as cores mais incomparavelmente maravilhosas.” “Udayin, você está repetindo a mesma coisa o tempo todo. É como uma pessoa que diz que ama a mulher mais bela do mundo, mas quando perguntado sobre ela, é incapaz de dizer onde ela nasceu, onde ela mora, se ela é loura ou morena, ou se ela é alta ou baixa. Você me diz que há uma luz com as cores mais maravilhosas, mas você não consegue me dizer o que ela CEBB

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é.” “Honrado pelo Mundo, quando o eu morre, ele brilha como esta luz das cores mais maravilhosas. O eu não terá doenças ou sofrimento. Ele brilhará como uma pura esmeralda da melhor qualidade, cortada num formato octogonal e delicadamente polida e colocada sobre um leve tecido de lã amarela.” “Udayin, o que é mais brilhante, a esmeralda cintilante ou a luz de um vaga-lume numa noite escura?” “A luz do vaga-lume numa noite escura.” “Agora, compare a luz do vaga-lume com a de uma lamparina, a lamparina com uma enorme tocha, a tocha com a luz das estrelas no céu sem nuvens, a luz das estrelas com o luar no meio da noite, e o luar com a luz do sol no céu de verão. Qual luz é mais brilhante?” “Sem dúvidas a lamparina é mais brilhante que a luz do vaga-lume, e a luz do sol é mais brilhante que a luz da lua.” “Udayin, existem incontáveis deuses cuja luz supera a luz do sol e da lua. Como eu tenho certeza disto não digo que não há uma luz que supere esta luz. Porém, você diz que uma luz que é mais fraca que a luz de um vagalume é superior e plena de cores maravilhosas.” “Honrado pelo Mundo, não darei sequência a este assunto. Não tenho mais como afirmar que há uma luz superior com as cores mais maravilhosas.”

(7) “Udayin, há um mundo onde só exista o prazer? Ou há alguma forma de alcançar tal mundo?” “O caminho para realizar tal mundo é abster-se de matar, roubar, cometer adultério, mentir e intoxicar-se e praticar o ascetismo.” CEBB

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“E Udayin, quando você se abstém de matar, de roubar, de cometer adultério, de mentir e de se intoxicar, e quando você pratica o ascetismo, você alcançará apenas o prazer, ou prazer misturado a sofrimento?” “Prazer misturado a sofrimento.” “Udayin, no processo para realizar o mundo do prazer pleno o prazer está misturado com o sofrimento?” “Honrado pelo Mundo, não vamos dar sequência a este assunto. Quando falo com você minhas palavras se tornam insignificantes. Há de fato um mundo de prazer pleno e há como alcançar tal mundo?” “Udayin, renuncie à cobiça e à maldade e acesse a primeira meditação; então prossiga para a segunda e a terceira meditações; este é o caminho.” “Honrado pelo Mundo, então este não é apenas o caminho para o mundo do prazer; o mundo do prazer já foi alcançado.” “Udayin, não é assim. O mundo do prazer ainda não foi realizado. É apenas o caminho para o mundo do prazer.” Naquele momento os mendicantes itinerantes ouviram a conversa e gritaram em alta voz: “Ó, então nosso mestre não tem nada mais elevado para nos ensinar. Não nos foi ensinado nada além disso.” Eles haviam aprendido que a terceira meditação era o mundo do prazer pleno, e eles tentavam disciplinar-se nos cinco preceitos. Por isso eles estavam grandemente perturbados. Sakuludayin acalmou os homens e fez outras perguntas ao Buda.

(8) “Honrado pelo Mundo, o que mais devemos fazer para alcançar o mundo do prazer pleno?” “Udayin, você deve renunciar completamente aos estados de sofrimento, prazer, alegria e tristeza e entrar no estado mental correto que CEBB

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não se apega a estado algum. Apenas quando se entra na pura quarta meditação que será possível encontrar os deuses e realizar o estado em que há apenas prazer.” “Honrado pelo Mundo, os seus discípulos estão praticando com você as disciplinas puras para alcançar esse estado do prazer pleno?” “Udayin, eles não estão. Há um objetivo mais elevado. Para realizar este objetivo mais elevado os discípulos praticam a disciplina pura. O Buda surgiu neste mundo para ensinar os leigos a desenvolverem fé no Darma, então para se tornarem monges ordenados, a renunciarem todos os desejos mundanos, a entrarem na primeira meditação, e a prosseguirem dali gradualmente até a quarta meditação. Nesta meditação a mente do discípulo se torna pacífica e treinada, e ele conquistará a sabedoria de conhecer vidas passadas, de conhecer a mente de outras pessoas e de eliminar obscurecimentos. Então ele entenderá que sua vida de ilusão cessou, que ele finalmente completou a disciplina pura e que ele nunca mais retornará para a vida de ilusão. Este é o ensinamento mais elevado da liberação que os discípulos devem estudar, praticando a disciplina pura sob minha orientação.” “Honrado pelo Mundo, o que você disse é realmente maravilhoso. É como se você trouxesse luz para a escuridão ou desse orientações corretas para alguém que estava perdido. Tomarei refúgio nos Três Tesouros e me tornarei seu discípulo.” Quando Udayin disse que queria se tornar um discípulo, os mendicantes itinerantes ficaram perplexos e protestaram contra ele. “Venerável Udayin, não se torne simplesmente um discípulo do Buda. Você pode ser tanto um pote de água quanto uma concha ao mesmo tempo, realizando duas funções, agindo tanto como reservatório quanto como um CEBB

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meio de transporte para a água. Em outras palavras, você pode ser tanto um mestre quanto um discípulo ao mesmo tempo.” Sakuludayin ouviu suas palavras e não se tornou um discípulo do Buda formalmente. Mas, no fundo de seu coração, ele tomou refúgio no Buda.

(9) Um dia, o brâmane Janussoni veio ao bosque Jeta e perguntou ao Buda: “Honrado pelo Mundo, existem pessoas leigas que depositam sua fé em você, que se tornam mendicantes, que o aceitam como mestre e que seguem seu ensinamento?” “Sim, existem.” “Honrado pelo Mundo, deve ser difícil viver na floresta distante das habitações humanas; deve ser difícil levar uma vida de isolamento. Especialmente para uma pessoa que não alcançou o estado meditativo a floresta é um local solitário.” “Brâmane, você está certo. Antes de alcançar a iluminação eu pensava que a floresta era um local solitário para uma pessoa que não tivesse alcançado o estado meditativo, mas então, brâmane, eu pensei melhor. Mesmo para um monge a floresta é um local temível se suas três ações de corpo, fala e mente, bem como sua vida, não forem puras. Mas para mim, como todas minhas três ações e minha vida são puras eu não tenho medo da floresta. Portanto, minha vida na floresta me trouxe a alegria da tranquilidade. “Brâmane, eu também penso o seguinte. Se um monge guarda desejos carnais, cobiça incontrolável, raiva e pensamentos maldosos, tende à negligência e à sonolência, é superficial em suas visões e tem uma mente duvidosa, louva a si mesmo criticando os outros, está apegado a lucros e fama, é sempre vazio e nunca pratica diligentemente, não possui uma mente CEBB

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e pensamentos corretos, cuja mente é uma confusão e que não possui sabedoria; este monge, que vive na floresta distante das habitações humanas sentirá que ela é um lugar aterrorizante. Mas para mim não é assim. Brâmane, portanto, eu encontro a alegria da paz na floresta. “Brâmane, certa vez eu pensei comigo: ‘Entrarei num cemitério na floresta na noite da lua nova ou cheia, ou em noites especiais como seis dias antes ou oito dias depois da lua cheia; então eu poderei experimentar um medo tal que colocará meus pêlos em pé.’ “Brâmane, eu entrei no cemitério numa noite dessas. Animais se aproximaram de mim no meio da noite. Pássaros derrubaram ramos sobre mim e o vento espalhou folhas sobre mim. Aos poucos eu comecei a ficar com medo. Mas, então, pensei: ‘É tolice esperar que o medo venha até mim. Se ele vier irei conquistá-lo.’ “Brâmane, portanto, se o medo me espreita quando estou caminhando, eu o conquisto enquanto caminho. Se vem até mim quando estou sentado, eu o conquisto enquanto estou sentado. Quando chega até mim se estou em pé imóvel, eu o conquisto como estiver. Eu não mudo minha posição para conquistar o medo. “Brâmane, no passado havia um monge que imaginava o dia como igual à noite e a noite como igual ao dia para superar seu medo. Para mim, tal pensamento é ilusório. Eu penso no dia como dia e na noite como noite. “Brâmane, se é possível verdadeiramente afirmar que alguém surgiu neste mundo com o objetivo de oferecer benefícios e felicidade aos seres, então isto pode ser dito sobre mim. Com grande esforço eu me tornei corajoso e desenvolvi o pensamento correto, de forma que nada pudesse me aborrecer. Eu tenho sustentando um sentido de compostura através da concentração mental. Eu renunciei ao amor próprio e aos caminhos negativos e entrei em CEBB

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meditação com pensamentos gentis, pacíficos, atentos e organizados. Eu sei que extingui as paixões negativas. Assim, a ignorância foi dissipada e o conhecimento nasceu. A escuridão partiu e a luz surgiu. “Brâmane, você pode pensar assim: ‘Mesmo agora Gotama não escapou da cobiça, da raiva e da ignorância. Portanto, de modo a escapar dessas paixões cegas, ele vive na floresta distante das habitações humanas.’ Entretanto, você não deveria pensar assim. Eu tenho duas razões para viver na floresta. Primeiro, eu encontro a paz no meu modo de vida atual; segundo, por amor às gerações futuras estou dando um exemplo.” O brâmane Janussoni ficou exultante com o ensinamento do Buda e grato por sua compaixão direcionada até mesmo às pessoas de gerações futuras, e assim ele partiu daquele lugar.

(10) Certa vez, quando o Buda ensinou seus discípulos a fazerem uma única refeição por dia, Bhaddali desobedeceu e disse: “Honrado pelo Mundo, eu não posso fazer apenas uma refeição por dia. Com tão pouca comida eu duvido ser capaz de suportar uma vida inteira de prática.” “Então, Bhaddali, quando for convidado para a casa de alguém, coma apenas uma parte da comida e traga o resto com você para comer depois. Assim você manterá seu corpo nutrido.” “Honrado pelo Mundo, não, também não posso fazer apenas isso.” Apesar de todos os outros discípulos seguirem as regras apresentadas pelo Buda, Bhaddali seguiu desobedecendo. Ele insistia que não era capaz de segui-las. Ele ficou envergonhado e não apareceu diante do Buda durante o retiro de três meses. Quando a estação chuvosa de três meses terminou e os mantos haviam sido consertados, o Buda estava pronto para partir para dar ensinamentos. CEBB

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Instigado por seus companheiros monges, Bhaddali apareceu diante do Buda e disse: “Tolamente eu perdi a cabeça e cometi ações não-virtuosas ao não seguir suas regras. Por favor, perdoe-me.” O Honrado pelo Mundo disse: “Bhaddali, é como você disse. Você sabia que durante os três meses que se passaram meus discípulos e os seguidores, e mesmo aqueles que seguem outros ensinamentos o ignoraram? Bhaddali, você acha que se eu dissesse a meus discípulos para rolarem na lama eles desobedeceriam?” “Honrado pelo Mundo, eu acho que não.” “Bhaddali, ninguém deveria ordenar outras pessoas a rolarem na lama. Além disso, não é correto para ninguém responder ‘não’ de forma rude. Porém, você, não possuindo virtude alguma, desobedece a ordens válidas respondendo rudemente ‘não’. Bhaddali, como pode uma pessoa que não segue a disciplina de seu mestre, mesmo que entre na floresta para alcançar a iluminação e para viver em uma cabana, que despreza não apenas seu mestre e irmãos discípulos, mas também a si mesmo, como seria possível para ela atingir a iluminação? Obviamente ela não pode, apenas aquele que segue a disciplina e que, ao entrar na floresta e ao viver em uma cabana vazia, não despreza seu mestre nem seus irmãos discípulos nem a si mesmo, apenas este poderá atingir a iluminação.”

(11) “Honrado pelo Mundo, por que os membros da Sanga reprovam apenas alguns monges por sua conduta negativa, aconselhando-os a corrigirem seus modos, enquanto nada é feito a respeito da negatividade de outros monges?” “Bhaddali, os membros da Sanga não irão se associar àqueles que, ao serem reprovados, oferecem desculpas contraditórias, demonstram raiva CEBB

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indescritível e intenção maliciosa, e que não fazem nada para contribuir para a felicidade da Sanga. Também é melhor não reprovar aqueles cuja fé e devoção são superficiais; é melhor deixá-los sozinhos para que não percam a pouca fé e devoção que possuem. Os amigos cuidam e ajudam aquele que é cego de um olho. Os membros da Sanga reprovam apenas aqueles que são gentis e que não ficam facilmente irritados, e que não mostram malícia, mas que podem ser guiados para transformar seus modos negativos.” “Honrado pelo Mundo, por que mais monges atingiram a iluminação quando havia menos regras de disciplina do que agora, e menos monges atingem a iluminação agora que há mais regras a seguir?” “Bhaddali, quando as pessoas não seguem fielmente o verdadeiro ensinamento suas vidas morais declinam. Como resultado, as regras de disciplina precisam ser ampliadas. Este é um momento em que há uma clara diminuição no número de pessoas que atingem a iluminação. Eu não precisaria criar regras se os membros da Sanga não fossem desviados por suas paixões cegas. Entretanto, quando a Sanga se torna grande e suas posses aumentam com o tempo, há uma probabilidade maior de que as pessoas sejam arrastadas pelas paixões cegas. Para evitar esta possibilidade eu tenho que criar mais regras. “Bhaddali, você lembra que quando havia apenas um pequeno número de monges eu lhe contei a história do bom cavalo?” “Honrado pelo Mundo, eu não lembro. Por um longo tempo eu não segui as regras de disciplina.” “Bhaddali, há um longo tempo eu compreendi o seu estado mental. Eu sabia que você não era sincero em meu ensinamento e que não ouvia com anseio o Darma. Agora contarei a história do bom cavalo. Bhaddali, imagine um cavaleiro experiente que coloca rédeas em um bom cavalo. Como o CEBB

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cavalo nunca recebeu rédeas anteriormente, ele salta e causa uma confusão. Mas, gradualmente, ele se acostuma com as rédeas e se pacifica. Em seguida o cavaleiro coloca um elmo e um protetor para as patas do cavalo. Depois de treinar, com um estalo do chicote o cavalo levanta suas patas e sai num galope. O cavaleiro pode fazer o animal correr em círculos para que quem o esteja montando possa pegar um arma no chão. Pode fazer o cavalo trotar ou galopar e não ter medo de nenhum ruído. O cavalo se acostuma com a bondade de seu mestre e se torna um cavalo adequado para montaria. Com o uso do chicote pode-se fazer o cavalo obedecer às ordens de seu mestre. Assim, com o treinamento adequado o cavalo indomado se torna um excelente cavalo adequado para ser montado por um rei. “Bhaddali, quando os discípulos tiverem aperfeiçoado o caminho de dez passos eles serão respeitados por todos os homens e serão dignos de seus presentes, tornando-se fontes de felicidade. O caminho de dez passos de um sábio é visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, concentração correta, meditação correta, sabedoria correta e emancipação correta.”

5. O Príncipe de Cinco Armas (1) O Honrado pelo Mundo deixou Alavi com um grande número de seguidores e, depois de passar por Saketa, entrou em Savatthi onde permaneceu no bosque Jeta no monastério de Anathapindika. Um dos discípulos no monastério disse ao Buda que, apesar de praticar assiduamente o caminho, ele não era capaz de ver a luz. Portanto, ele se tornou preguiçoso

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e retrocedeu na prática. O Buda aconselhou este discípulo e lhe contou a seguinte história. No passado distante havia um rei em Baranasi cujo nome era Brahmadatta. Seu filho, chamado de Cinco Armas, estudava em Takkasila. Quando completou seus estudos e estava pronto para voltar para casa, o mestre do príncipe lhe deu cinco armas e o aconselhou com grande bondade a ser especialmente cuidadoso com sua mente e as atividades dela. O príncipe se apressou para voltar para casa. Ele estava prestes a entrar em uma floresta em seu caminho para Baranasi quando algumas pessoas o pararam e alertaram: “Nesta floresta há um demônio chamado Pelos Oleosos. Ninguém nunca atravessou esta floresta com segurança. Não entre.” Mas o príncipe, que era autoconfiante, penetrou profundamente na floresta sem dar atenção aos avisos das pessoas. Ao alcançar o centro da floresta o demônio apareceu. Ele era alto como uma palmeira e seus olhos, que eram grandes e redondos como pratos, queimavam como o fogo. Ele tinha presas afiadas e um bico semelhante ao de uma águia selvagem. Sua barriga protuberante era da cor púrpura; as palmas de suas mãos e os calcanhares de seus pés brilhavam com uma luz negra azulada. Era um horrível monstro com todo o corpo coberto por pelos oleosos. Ele gritou com uma voz tonitruante: “Para onde você vai? Pare! Você será minha presa.” O príncipe respondeu tranquilamente: “Quando entrei na floresta eu sabia que deveria encontrá-lo. Foi falta de sorte sua ter me encontrado, pois tenho flechas envenenadas em minhas mãos.” O príncipe lançou uma flecha, mas ela grudou nos pelos do demônio e não feriu seu corpo. O príncipe lançou repetidamente suas flechas, mas elas apenas grudaram nos pelos do monstro. O demônio arrancou as flechas e as esmigalhou com seus pés, aproximando-se do príncipe. Então, o príncipe atacou o demônio com sua CEBB

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espada, mas a espada também grudou nos pelos do demônio. Quando o príncipe lutou com sua alabarda, também ela imediatamente ficou presa nos pelos. Outra arma, uma maça, também não teve efeito sobre o demônio; ela, também, foi sugada pelos pelos oleosos dele. Então, o príncipe disse: “Demônio, você não sabia que meu nome é Cinco Armas? Ao entrar na floresta eu não confio apenas em minhas flechas, espada, alabarda e maça, mas também em minha própria habilidade. Agora você experimentará meu punho de ferro.” Quando ele atingiu o monstro com seu punho direito ele ficou colado nos pelos. Seu punho esquerdo e mesmo seus pés ficaram presos nos pelos, tornando-se, assim, completamente inúteis. Então, o príncipe cabeceou o peito do demônio, mas sua cabeça ficou presa e o corpo do príncipe ficou suspenso no ar. Mas o príncipe não apresentou sinais de medo e não admitiu a derrota. Era a primeira vez que o demônio encontrava alguém tão bravo nesta floresta. Ele se perguntou por que aquele pequeno ser humano nunca tinha medo da morte, e perguntou: “Agora você está completamente à minha mercê. Por que você não tem medo?” O príncipe respondeu: “Demônio, por que eu deveria ter medo? Todos os homens terão que morrer um dia. Além disso, eu tenho mais uma arma, uma arma que é durável como o diamante e que está nas profundezas de meu ser. Mesmo que você me devore, não será capaz de digerir esta arma. Se esta arma entrar em seu estômago, ela o cortará em pequenos pedaços por dentro, e sua morte será inevitável. É por isto que não estou com medo.” O demônio ficou perplexo e pensou: “Este jovem está dizendo a verdade. De fato, eu nunca serei capaz de digerir nem mesmo um pedaço de sua carne. Vou deixá-lo partir.” O demônio disse ao príncipe: “Assim como a lua se separa das mãos de Rahu, rei dos eclipses lunares, você também deve CEBB

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se separar de mim. Corra para casa e faça seus pais felizes.” O príncipe disse: “Então eu irei para casa. Você se tornou um demônio devorador de homens devido ao seu carma passado negativo. Se você continuar em seus caminhos negativos, você apenas afundará mais profundamente na escuridão. Nosso encontro foi afortunado. Deste dia em diante não cometa nenhuma maldade.” Aproveitando o momento oportuno, o príncipe lhe ensinou as cinco ações negativas e as cinco ações positivas. Depois disto o demônio aceitou alegremente os cinco preceitos. Então, o príncipe carregou suas cinco armas e alegremente retornou para Baranasi, onde ele sucedeu seu pai e governou seu país estabelecendo um bom reinado. O

Buda

disse:

“Meus

discípulos,

eu

gostaria

que

vocês

compreendessem o significado profundo desta história. Se vocês nunca relaxarem em seus esforços em tudo o que fizerem, e não forem derrotados pelas dificuldades, com certeza vocês atingirão seus objetivos.”

(2) Agora os ensinamentos do Buda se espalharam até mesmo na corte interna do rei, e a rainha e as cortesãs também aceitaram os ensinamentos com grande alegria. Elas compreenderam como era difícil nascer como seres humanos e ter a oportunidade de encontrar o Buda em pessoa. Elas sabiam que era uma oportunidade rara poder visitar seu monastério tão frequentemente e poder ouvir o ensinamento de seus próprios lábios. Assim, elas foram até o rei para pedir permissão para convidar a sanga dos monges ao castelo para ouvir o Darma. O rei ficou exultante e imediatamente concedeu a permissão. Um dia o rei estava se preparando para visitar seus jardins quando o jardineiro veio e disse que o Buda estava sentado sob uma árvore no jardim. CEBB

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“Eu entendo”, disse o rei. Levantando-se de seu sofá ele ordenou que viesse uma carruagem puxada por cavalos para levá-lo visitar o Buda. O rei viu que o Buda estava sentado sob uma árvore, aparentemente ensinando alguém ajoelhado a sua frente. O rei hesitou porque não queria atrapalhá-los. Ele pensou que o homem que estava ouvindo tão atentamente o Buda deveria ser virtuoso. O rei se sentiu à vontade. Ele prestou seus respeitos ao Buda e sentou-se ao seu lado. O homem recebendo instruções era Chattapani, que possuía profunda fé no Buda. Chattapani sentiu que levantar-se e prestar seus respeitos a um monarca mundano naquele momento seria desrespeitoso com o Honrado pelo Mundo, e assim ele não se moveu. O rei não ficou feliz com isto e se enraiveceu. O Honrado pelo Mundo compreendeu como o rei se sentia, e para pacificar sua raiva ele lhe disse que aquele homem era uma pessoa virtuosa que havia conquistado sabedoria e alcançado a iluminação. O rei pensou que se aquele homem era visto de forma tão elevada pelo Buda, então ele não era uma pessoa comum. Portanto, o rei lhe disse: “Se você desejar qualquer coisa, por favor, me diga.” Chattapani apenas respondeu: “Obrigado”. Naquele dia o rei também se alegrou com o ensinamento do Buda e se esqueceu daquilo que as mulheres da corte haviam pedido, e foi para casa. Alguns dias depois, quando o rei estava em seu caminho para o monastério Anathapindika no bosque Jeta, ele encontrou Chattapani. Ele o convocou para ficar ao seu lado e disse: “Eu ouvi do Buda que você é uma pessoa de grande conhecimento. As mulheres de minha corte estão ansiosas para ouvir o Darma. Você poderia ensinar-lhes o Darma?” Chattapani respondeu: “Eu acredito que não é adequado que um leigo ensine o Darma, e muito menos que ele entre na corte interna para fazer isto. Ensinar o Darma é o trabalho dos monges.” Como Chattapani recusou, o Buda assentiu ao pedido do rei Pasenadi e enviou CEBB

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Ananda para ensinar o Darma às cortesãs. Um dia Ananda foi ao castelo e sentiu uma nuvem escura, pesada sobre toda a assembleia, a qual ele não conseguiu dissipar mesmo com sua fala sobre a alegria do Darma. O que aconteceu é que alguém havia roubado uma joia valiosa da coroa do rei, e todos os cortesãos estavam sob uma dura investigação. Todos temiam a ira do rei que ameaçava suas vidas. Ananda lhes disse para não se preocuparem e foi ver o rei. Ele aconselhou o rei: “Eu tenho um plano para recuperar sua joia perdida sem infligir sofrimento a muitas pessoas. Faça algumas bolas de lama e as dê às pessoas das quais você suspeita. Diga-lhes para deixarem as bolas em um local designado até amanhã de manhã. Então vá e examine-as pela manhã. Se não obtiver resultados no primeiro dia, tente seguir com este plano por alguns dias. Se você seguir este plano a joia será devolvida sem causar muito sofrimento às pessoas.” O rei seguiu o plano, mas ele não funcionou. Quando Ananda ouviu que o plano não tivera sucesso ele teve outra ideia. Ele disse ao rei para encher uma grande banheira com água e deixá-la em um quarto secreto, e então ordenar para que cada um tirasse suas roupas e lavasse suas mãos na banheira, e depois deixasse o quarto. O rei seguiu suas orientações. O ladrão pensou consigo: “Ananda está se esforçando muito, e eu sei que ele persistirá até a joia ser encontrada. Eu acho que é melhor devolver a joia.” O ladrão levou a joia consigo para a banheira e deixou-a no fundo dela. Depois que todos tinham seguido as ordens do rei, a água foi esvaziada. Assim, a joia foi encontrada no fundo da banheira e ninguém precisou sofrer mais. A joia foi devolvida ao rei e o assunto foi resolvido.

(3) A história deste incidente gradualmente se espalhou entre os CEBB

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monges do monastério Anathapindika. Certa noite, quando os monges estavam louvando a sabedoria de Ananda, aconteceu de o Buda visitá-los. Os monges fizeram um relato detalhado do incidente para o Buda. Então, o Buda contou a seguinte história: “Discípulos, no passado distante houve um incidente parecido. O rei de Baranasi e suas numerosas consortes estavam brincando no jardim das flores. Depois de se divertirem, as mulheres tiraram suas roupas e seus colares e foram nadar nas águas puras do lago. A rainha, também, tirou seu colar de pérolas, embrulhou-o em suas roupas e o colocou em uma caixa. Depois de ordenar sua serva a cuidar da caixa, ela entrou na água. Então, ali perto estava uma macaca que havia observado a cena por algum tempo. Tão logo a serva relaxou em sua vigília e começou a cochilar, a macaca correu de seu esconderijo, veloz como um coelho em fuga, e tirou o colar da caixa. Imediatamente ela subiu numa árvore próxima e escondeu o colar em um buraco no tronco, de modo que os outros macacos não o encontrassem. Fingindo inocência, ela se sentou em um galho para vigiar seu objeto. Quando a serva acordou, ela encontrou o conteúdo da caixa espalhado e viu que o colar estava faltando. Ela gritou perplexa e os guardas imediatamente apareceram ao seu lado. Ela não quis admitir que estava dormindo, e assim disse que um homem apareceu e fugiu com o colar. Os guardas correram em todas as direções para localizar o ladrão. Um fazendeiro que estava trabalhando nos campos por perto ouviu o tumulto, ficou com medo, e começou a correr. Logo ele foi capturado e interrogado pelos guardas. “Com medo de ser torturado, o homem confessou um crime que não cometeu. Ele foi levado até o rei e inquirido sobre onde havia escondido o colar. O fazendeiro respondeu: ‘Sua Majestade, eu sou um pobre fazendeiro e não possuo nada de valor. Eu não teria serventia para tal colar valioso. Um CEBB

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homem rico me mandou roubá-lo. Eu já o entreguei a ele.’ Quando o homem rico foi convocado diante do rei, ele disse: ‘Eu o dei para meu assistente.’ Quando o assistente foi questionado, ele disse: ‘Eu o dei a um músico.’ Quando o músico foi questionado, ele disse: ‘Eu o dei a uma prostituta.’ E a prostituta disse: ‘Eu não sei nada a respeito disso.’ “A noite se aproximava e todos os suspeitos foram presos em uma cela. Naquela noite um dos ministros do rei foi para casa e pensou: ‘Este é um caso muito estranho. O colar desapareceu dentro do jardim das flores onde os portões são fortemente guardados. Portanto, alguém de fora não poderia tê-lo roubado, e alguém de dentro não poderia ter escapado do jardim. Este pobre fazendeiro que disse tê-lo dado ao homem rico está mentindo. O homem rico apontou para seu assistente para se salvar. O assistente envolveu o músico para que, caso ele fosse preso por algum tempo, pelo menos poderia ouvir um pouco de música. E o músico acusou a prostituta para que houvesse um rosto bonito entre os prisioneiros. O ladrão não está neste grupo. Existem alguns macacos no jardim, portanto, eles devem tê-lo roubado.’ Então, o ministro ordenou um servo a ir ver os prisioneiros. O servo encontrou os cinco suspeitos em uma acalorada discussão, acusando-se entre si. Quando o ministro viu a inocência dos cinco suspeitos, ele ordenou a captura de alguns macacos. Em cada macaco ele colocou um colar feito de joias falsas, e então soltou todos no jardim. Felizes com seus ornamentos, os macacos pularam ao redor do jardim com seus colares chacoalhando em seus pescoços. A macaca que era a ladra, pensou: ‘Qual o valor de um colar feito de joias falsas?’ Para mostrar aos outros macacos que tinha joias verdadeiras ela tirou o colar de seu esconderijo e, colocando-o ao redor do pescoço, orgulhosamente mostrou-o aos outros. Os guardas que estavam observando cuidadosamente os macacos imediatamente tiraram o colar dela e o trouxeram ao ministro. O CEBB

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ministro devolveu o colar ao rei e lhe falou sobre a inocência dos cinco suspeitos. O rei ficou muito feliz e compôs o seguinte poema:

Quando há uma batalha, um bravo soldado, Quando há uma conferência, uma pessoa inteligente Quando há alguém amado, doces, Quando surge um problema, um sábio – É disto que precisamos.

“Meus discípulos, isto aconteceu há muito tempo atrás. Ananda é, de fato, a pessoa sábia necessária quando surge um problema.”

(4) Certa vez havia um jovem de grande fé em Savatthi. Depois que seu pai morreu, ele cuidou de sua mãe com muita dedicação. Por saber que os dias de sua idosa mãe estavam contados, ele tentou fazer a vida de sua mãe tão pacífica quanto possível e certificou-se de que nada lhe faltaria. Apesar de a mãe ser muito grata ao seu filho, ela se preocupava porque, apesar de ter urgência em encontrar uma esposa ele permanecia solteiro. Portanto, ela mesma escolheu uma jovem mulher para ser sua esposa. O jovem homem apreciava profundamente a bondade de sua mãe, e paz e felicidade preencheram o lar. Ocasionalmente ele ia até o monastério para ouvir a mensagem do Buda. Mas, repentinamente, a mente da noiva mudou e ela começou a odiar sua sogra. Ela insistiu com seu marido para mudar a sogra para outra casa. Agora não havia mais paz na casa. Gritos e brigas surgiam constantemente e um ar corrupto de autointeresse se espalhava pela casa. Entretanto, o jovem homem possuía muita paciência, e com a ajuda do poder do Buda ele suportou as dificuldades. A esposa CEBB

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finalmente percebeu seu egoísmo; e paz e alegria mais uma vez retornaram ao lar. Um dia, quando o jovem pediu para falar com o Buda, o Honrado pelo Mundo perguntou se ele estava tratando sua mãe com cuidado e gentileza. O jovem contou o que havia acontecido. Então o Buda o encorajou com a história do filho atencioso que possuía piedade filial.

(5) “Jovem, certa vez havia um filho como você que perdeu seu pai e que cuidou de sua mãe com profunda devoção. A mãe escolheu para ele uma noiva que vinha de uma família de origem semelhante à dele. No início a relação entre a mãe e a nora foi harmônica, mas com o tempo elas começaram a exercer suas manias egoístas. A noiva logo perdeu a consideração pela sogra e planejou tirá-la da casa. Mesmo o filho dedicado foi influenciado por sua mulher e decidiu mandar sua mãe embora. A mãe em lágrimas deixou a casa e buscou refúgio na casa de um parente. Ela mal conseguia se sustentar fazendo trabalhos servis. Logo a noiva ficou grávida e depois deu a luz a uma criança. A jovem mãe disse ao seu marido e vizinhos: ‘Enquanto minha sogra vivia aqui eu não conseguia engravidar e me sentia sozinha. Agora que ela não está aqui esta bela criança nasceu. Vocês podem ver como ela era má para nós.’ Quando a sogra ouviu os rumores sobre o que estava sendo dito, ela disse com tristeza: ‘O modo de vida correto está morto no mundo. Se uma nora pode afirmar que depois de expulsar sua sogra o lar ficou mais feliz e ela pôde ter uma criança, então o modo de vida correto está morto. Eu devo fazer um funeral para o modo de vida correto.’ A enraivecida sogra pegou uma concha, uma panela e arroz, e foi para o cemitério. Ela foi até um rio vestindo uma roupa branca, com os cabelos desarrumados, e começou a lavar o arroz. Naquele momento, Indra estava observando o mundo dos seres humanos e sentiu pesar pela mulher. Tomando a forma de Brahma ele CEBB

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apareceu diante da sogra. ‘Antes de continuar este ritual seria melhor você pensar sobre o que está fazendo. Quem lhe disse que o modo de vida correta morreu? Eu, que possuo poderosos mil olhos da verdade, não estou morto.’ “A mulher respondeu: ‘Não, é um fato, o modo de vida correto está morto. Eu tenho provas. Eu vi com meus próprios olhos. Alguém que comete ações negativas obtém sucesso. Uma nora que não conseguia conceber dá a luz a uma criança depois de me expulsar de minha própria casa. Ela manipula seu marido e vive alegremente.’ “Indra,

na

forma

de

Brahma,

respondeu:

‘Mulher,

eu

vivo

verdadeiramente no Darma. Como eu vim para este mundo para beneficiá-la, com meu fogo irei queimar sua nora maldosa e seu neto.’ “A mulher ficou chocada. Ela não podia pensar em ver seu neto queimado. Ela suplicou: ‘Ó, por favor, me ajude a viver harmoniosamente com minha nora e meu neto.’ “Brahma disse: ‘Mulher, mesmo se lhe for infligido sofrimento, se você não abandonar o caminho correto poderá viver pacificamente com sua nora e seu amado neto. Não tema. Seu filho e sua nora perceberam que fizeram algo errado e estão vindo para recebê-la em sua casa. Você deve colocar todo o seu esforço na realização de ações virtuosas.’ Depois de pronunciar estas palavras, Brahma desapareceu e voltou para o céu. “O filho e a nora vieram ao cemitério com seu filho e se arrependeram de suas ações negativas. Todos eles receberam com alegria a mãe de volta ao lar. A família viveu em paz depois disso. Jovem, para aquele que nunca abandona o Darma, ele nunca morre. Você deve cuidar de sua mãe e viver em paz.”

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6. Ratthapala (1) O Buda ensinou o Darma ao povo de Kuru e prosseguiu para o bosque Simsapa localizado ao norte da vila de Thullakotthita. Quando as pessoas ouviram sobre o Buda elas vieram de todas as direções para ouvirem o Darma com a mais profunda alegria. Entre as pessoas desta vila havia um jovem chamado Ratthapala, o filho de um rico homem. O Buda falou com um grupo e depois que todos tinham partido, Ratthapala veio até o Buda, prestou seus respeitos e disse: “Honrado pelo Mundo, se eu permanecer em uma casa de leigos serei perturbado por coisas mundanas e não serei capaz de praticar o caminho. Por favor, conceda-me a permissão para me tornar um monge.” O Honrado pelo Mundo disse: “Você pode entrar em minha sanga apenas se receber a permissão de seus pais.” Portanto, Ratthapala não tinha alternativa a não ser voltar para sua casa e pedir pela permissão de seus pais. Seus pais ficaram surpresos com o desejo de seu filho e disseram: “Você é nosso único filho. Dia e noite nós derramamos afeto sobre você. Mesmo se você morresse não poderíamos abandoná-lo. Como poderíamos suportar a perda de um filho vivo?” Apesar de seus pais continuarem suplicando, Ratthapala estava determinado a se tornar um monge. Ele deitou no chão e jejuou por sete dias. Seus pais vieram até ele e imploraram: “Filho, você possui uma saúde delicada. Sentado ou dormindo, você sempre teve um colchão macio por cama. Não é uma vida fácil para um monge seguir o Darma. Por que você não permanece um chefe de família leigo e encontra felicidade oferecendo desinteressadamente e apoiando a sanga?” Ratthapala fechou seus lábios e não respondeu. Muitos parentes e

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amigos, convidados por seus pais, tentaram desencorajá-lo de ingressar na vida dura de um monge. Mas, como o solo que se torna mais firme a cada chuva, o quanto mais as pessoas insistiam para mudar sua mente, mais resoluto ele ficava. Os parentes viram suas palavras cair em ouvidos surdos, e finalmente eles disseram para os pais de Ratthapala: “Concedam o desejo de seu filho. Se ele encontrar felicidade na vida monástica vocês poderão encontrá-lo novamente nesta vida. Se ele não encontrar satisfação, voltará para sua casa de qualquer forma. Se seu desejo não for concedido ele, certamente, morrerá.” Seus pais ouviram estes argumentos e disseram a si mesmos: “Se ele seguir os ensinamentos do Buda, com certeza cuidará de nós.” E assim eles concordaram com o desejo do filho de se tornar um monge. O coração de Ratthapala pulou de alegria. Imediatamente ele foi para o bosque Simsapa onde o Buda estava e recebeu a permissão para se tornar um monge e discípulo. Ratthapala foi para o monastério Anathapindika no bosque Jeta. Ele se acomodou em um local silencioso, esforçou-se na prática do caminho e atingiu a iluminação. Quando dez anos haviam se passado, Ratthapala quis visitar seus pais em sua vila natal, e assim ele pediu a permissão do Buda. O Buda disse: “Mesmo que você retorne para sua vila natal não há o perigo de abandonar os preceitos e de cair novamente em uma vida de desejos. Vá, portanto, e salve aqueles que não estão salvos e ilumine aqueles que não estão iluminados.”

(2) Respeitosamente ele recebeu as instruções do Buda e retornou ao seu quarto para colocar suas coisas em ordem. Então ele dobrou seus mantos, CEBB

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tomou sua tigela de mendicância, e retomou sua jornada como um mendicante peregrino. Finalmente alcançou o bosque Simsapa, situado ao norte da vila de Thullakotthita, e lá passou a noite. Na manhã seguinte ele entrou na vila e começou a mendigar por comida de casa em casa. Ao chegar à casa dos pais, seu pai estava penteando os cabelos no jardim. Ao ver a figura de um jovem monge, ele disse de forma repreensiva: “Foi por causa de um monge de cabeça raspada maldoso como você que eu perdi meu único filho, sobre o qual eu havia derramado tanto amor. Agora eu não tenho ninguém para me suceder e esta casa perecerá. Eu não oferecerei comida alguma

a

tal

pessoa.”

Ratthapala

ouviu

estas

palavras

e

partiu

imediatamente. No portão ele encontrou uma serva que tinha vindo jogar fora um pouco de comida estragada mal cheirosa no lixo. Ele a parou e implorou para colocar a comida em sua tigela. A serva reconheceu Ratthapala, e rapidamente foi até o mestre para dizer-lhe que seu filho estava ali. O pai ficou surpreso e ao mesmo tempo exultante. Tomando suas roupas com a mão esquerda e alisando seu cabelo com a mão direita, ele perguntou à serva onde seu filho estava. Ele encontrou seu filho olhando para a parede e comendo a comida mal cheirosa. Ele ficou atônito e disse: “Ó Ratthapala, por que você desceu ao ponto tão baixo de não vir diretamente para casa ao entrar nesta vila?” Ele respondeu tranquilamente: “Ó chefe de família, eu entrei na casa de meu pai, mas não recebi nenhuma oferenda. Na verdade eu só fui repreendido, e assim parti imediatamente.” O pai ouviu a razão para a rápida partida de seu filho e pediu seu perdão. Com profundo respeito e compaixão ele convidou seu filho para ficar na sua casa e explicou tudo à sua esposa. A mãe do monge ficou exultante com a chegada de seu filho e imediatamente mandou preparar-lhe comida; ela ordenou às servas para empilharem dinheiro e tesouros tão altos quanto CEBB

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as montanhas, e então foi até Ratthapala. Ela disse: “Meu filho, estes são meus tesouros, mas a riqueza de seu pai é ilimitada. Nós te daremos todos estes tesouros. Por favor, abandone a vida monástica e retorne para sua casa. Você pode oferecer estes tesouros e com isso conquistar méritos.” O filho disse suavemente para a mãe: “Querida mãe, se é por minha causa, por favor, coloque todos estes tesouros em uma grande mala, leve-os com uma carroça até o rio Ganges e os afunde na parte mais profunda do rio. Eu te peço isso porque as pessoas experimentam pesar e sofrimento devido às riquezas mundanas e nunca são capazes de experimentar verdadeira felicidade.” Assim, a mãe descobriu que coisas mundanas não mudariam a mente de seu filho. Então ela trouxe belas jovens vestidas de forma fina para esperarem por ele. Elas gentilmente se aproximaram dele e perguntaram: “Por que você nos rejeita, jovens garotas, e segue o gelado caminho do Darma?” Ele respondeu: “Minhas jovens irmãs, eu não me tornei um monge com a ideia de correr atrás de mulheres. Agora eu aperfeiçoei os caminhos do Darma e minha mente não busca nada. Eu não tenho utilidade para vocês, belas irmãs.” As jovens garotas perceberam que estavam sendo tratadas como “jovens irmãs” e que não poderiam fazer nada. Elas se deprimiram e choraram. Ratthapala disse aos seus pais: “Por que vocês me perturbam desta forma? Se vocês desejam me oferecer comida, por favor, façam-no agora.” Com isso, seus pais se levantaram e pessoalmente lhe serviram água e muitos tipos de alimentos deliciosos para satisfazê-lo. Então, eles prepararam um lugar para ele se sentar e se aproximaram dele. Ele começou a ensinar-lhes o Darma, e seus pais o receberam com grande alegria. Depois de terminar, ele ficou em pé e recitou o seguinte poema: CEBB

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Belos ornamentos para os cabelos, preciosos colares, tinta azul escura para as sobrancelhas, E sobrancelhas pintadas em forma de lua não têm sentido para os iluminados. Cobrir o mau cheiro do corpo com a bela seda trabalhada E esfregá-lo com incenso fragrante são apenas falsidade e ilusão. Como o cervo que escapou do cativeiro cortando a rede que o cobria, Eu agora me livrei da isca e partirei. Quem deverá realmente desfrutar as amarras da confusão mundana?

(3) Assim que recitou este verso, ele partiu de Thullakotthita e sentou-se sob uma árvore. Naquele momento, o rei Koravya havia saído do castelo para se divertir na floresta. Ao ouvir de seu servo que Ratthapala estava por perto, ele desceu de sua carruagem, aproximou-se do monge e sentou-se ao seu lado. Então, o rei perguntou: “Se você se tornou um monge porque sua família decaiu, eu lhe darei tesouros. Por que você não abandona esta vida e retorna para casa para fazer oferendas?” Ratthapala respondeu: “Ó rei, ao falar assim você não está me oferecendo verdadeira hospitalidade. Se você me dissesse: ‘Esta nação está sendo bem governada; as pessoas estão desfrutando a paz e abundantes colheitas de arroz, trigo, nozes, mileto e feijões; não há medo ou conflito; e a comida é facilmente obtida. Se você viver em meu país eu seguirei o Darma’, então você estaria realmente me mostrando sua hospitalidade.” O rei respondeu dizendo tudo aquilo sinceramente, e então perguntou: CEBB

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“Eu ouvi que há quatro tipos de pessoas que se tornam monges: primeiro, uma pessoa que ficou doente por um longo tempo e que é incapaz de satisfazer seus desejos; segundo, uma pessoa que é velha e incapaz de se mover livremente e que não tem aonde ir para se alegrar; terceiro, uma pessoa que perdeu sua fortuna e é incapaz de adquirir sua própria comida e alojamento; quarto, uma pessoa que perdeu sua família para a morte e está cansada do mundo. Mas, no seu caso, você é jovem e saudável e sua família é rica e não encontra dificuldades. Por que você abandonou todos os prazeres mundanos e se tornou um monge?” Ratthapala respondeu: “Ó rei, eu me tornei um monge seguindo as quatro coisas importantes que o Buda ensina. Estas tratam do sofrimento inescapável que todos os seres humanos encontram. Quando você compara sua força e artes marciais agora e na sua juventude, você acha que sua energia não declinou? E quando você está doente e sofrendo dolorosamente, você acha que pode trocar de lugar com seus servos? Além disso, você pode desfrutar grande fortuna e prosperidade, mas pode escapar da morte? Quando a morte vier, você partirá deixando todas as coisas materiais para trás. Não há nada neste mundo em que você possa se apoiar completamente. Além do mais, todos os seres humanos possuem desejos insaciáveis. Seu país é rico, mas suponha que alguém lhe diga que ao leste há um país ainda mais rico que o seu; você não atacaria aquele país com seus exércitos para capturar suas riquezas? Se houvesse tais países ao sul, ao oeste ou ao norte, você os atacaria incansavelmente e os conquistaria. De fato, nesta vida não há fim para a satisfação das buscas egoístas. Este desejo não é motivado pelas coisas materiais, mas pelo apego às próprias identidades. Sua Majestade, eu compreendi estes quatro pontos do ensinamento do Buda e escolhi o caminho do monge. CEBB

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“Devido à sua ignorância, as pessoas ricas não praticam a generosidade. Ao obterem riquezas, elas desejam mais e se tornam avarentas e adquirem mais coisas. Mesmo se alguém governa um país, desejará um país após o outro, e antes que sua cobiça seja saciada, sua vida chegará ao fim. Sua esposa e filhos choram enquanto seu corpo queima na pira funeral. Sua esposa e filhos não o seguem na morte. Ele pode ser rico, mas na morte não há diferenças entre os ricos e os pobres. As pessoas tolas cometem maldades e assim se deixam prender, assim como o fruto maduro que cai, elas sempre caem na escuridão da delusão. A mente deseja um veneno que parece bonito, e devido a este desejo ela comete um grave erro. Sua Majestade, eu me iluminei para o sofrimento da vida e entrei no caminho do Buda.” O rei aceitou este ensinamento com fé e alegria, e disse: “Respeitado professor, você realmente abandonou a delusão. Eu tomo refúgio em você.” Ratthapala disse: “Você não deveria tomar refúgio em mim. Será melhor para você tomar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga.” O rei seguiu seu conselho e se tornou um fiel seguidor.

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LIVRO V Capítulo II - ORGANIZAÇÃO DA ORDEM

1. Os Dez Preceitos Principais e os Quarenta e Oito Preceitos Menores de um Bodisatva

(1) Certa vez, o Honrado pelo Mundo se encontrava com uma assembleia de incontáveis deuses e bodisatvas. Ele expôs a canção de Vairocana sobre a aspiração do bodisatva pela iluminação.

Eu, Vairocana, sentado sobre um lótus e sobre as mil pétalas das flores ao meu redor, dei surgimento a mil Sakyamunis.

Dentro de cada flor havia um bilhão de mundos; em cada mundo havia um Sakyamuni sentado sob uma árvore Bodhi,

E todos alcançaram a verdadeira iluminação ao mesmo tempo.

Esta miríade de Sakyamunis, acompanhados por incontáveis pessoas, vieram até minha morada e me ouviram recitar os preceitos dos budas.

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O portal da imortalidade verdadeiramente se abriu. Cada um retornou ao seu mundo e recitou os preceitos que recebeu de mim. Esses são os dez preceitos principais e os quarenta e oito menores. Os preceitos brilharam fortemente como o sol e a lua, assemelhando-se a joias em um colar; inúmeros bodisatvas, com base neles, atingiram a verdadeira iluminação.

Vocês, bodisatvas iniciantes, deveriam tomar estes preceitos e transmiti-los aos outros.

Ouçam cuidadosamente e guardem-nos em seus corações. Certamente vocês se tornarão budas. Eu já me tornei um buda.

Se vocês acreditarem continuamente neles terão incorporado os preceitos. Alguém que aceitou os preceitos já entrou no estágio de um buda. Como este estágio é sinônimo da grande iluminação, esta pessoa é verdadeiramente filha do Buda.

(2) O Honrado pelo Mundo terminou, assim, sua explicação, e então disse à enorme assembleia: “Alguém que não aceite os dez preceitos principais e os quarenta e oito menores não pode ser chamado de bodisatva e não poderá se tornar um filho do Buda. Para seu benefício eu explicarei agora os preceitos de um bodisatva.

1. Preceito contra tirar a vida. Se um filho do Buda matar pela própria mão, causar a morte de alguém, ajudar a matar, louvar o ato de matar,

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obtiver alegria com o ato de matar ou matar amaldiçoando, estas são as causas, condições, formas e atos de matar. Em caso algum deveria ser tirada a vida de um ser senciente. Os bodisatvas deveriam sempre ter corações compassivos e salvar e proteger todos os seres sencientes. Se alguém matar intencionalmente cometerá uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 2. Preceito contra o ato de roubar. Se um filho do Buda roubar, fizer com que outro roube, ajudar a roubar ou louvar o ato de roubar, estas são as causas para e o ato do roubo. Um bodisatva não deve tomar uma única agulha ou uma única lâmina de grama que pertença a outra pessoa. Ele deve continuamente despertar seu desejo para estar de acordo com o coração do Buda, despertar um coração compassivo e ajudar todas as pessoas a alcançarem alegria e felicidade. Se um bodisatva roubar as posses de outra pessoa esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 3. Preceito contra a licenciosidade. Se um filho do Buda se comportar licenciosamente ou fizer com que outro assim se comporte, esta é uma causa para e o ato da licenciosidade. Ele não deve violar nenhuma mulher. Ele não deveria se engajar em quaisquer atos imorais. Um bodisatva deveria continuamente despertar uma mente de serviço e ajudar as pessoas oferecendo a elas um caminho de pureza. Se um bodisatva se engajar em ações sexuais imorais, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 4. Preceito contra a mentira. Se um filho do Buda contar mentiras, ou fizer com que outro assim aja ou minta como um meio, estas são causas para e o ato de mentir. Um bodisatva deveria sempre usar palavras corretas, despertar visões corretas e exortar todos os outros a usarem palavras corretas e a verem corretamente. Se um bodisatva fizer com que outros usem palavras CEBB

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maldosas ou mantenham visões errôneas, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 5. Preceito contra o envolvimento com tóxicos. Se um filho do Buda se envolver com substâncias intoxicantes ou fizer com que outro se envolva, estas são causas para e o ato de se envolver com tóxicos. Tóxicos são causas e condições para um comportamento maldoso. Um bodisatva deveria fazer com que os outros gerassem uma sabedoria brilhante. Se um bodisatva fizer com que as mentes dos outros se tornem deludidas, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 6. Preceito contra falar sobre as falhas das outras pessoas. Se um filho do Buda fala sobre os erros de uma pessoa que, como monge ou chefe de família, pratica o caminho do Buda, ou faz com que outros assim ajam, esta é uma causa e um ato errôneos. Um bodisatva, mesmo quando pessoas maldosas de outros caminhos disserem que o caminho do Buda não é o caminho correto, deve sempre sentir compaixão e ensiná-las, levando-as a despertarem sua fé no Mahayana. Falar sobre os erros dos praticantes do caminho do Buda é, para um bodisatva, uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 7. Preceito contra louvar a si mesmo e desaprovar os outros. Se um filho do Buda louva a si mesmo e desaprova os outros ou faz com que outros assim ajam, esta é uma causa para e o ato de desaprovar outra pessoa. Um bodisatva deveria tomar para si mesmo a desaprovação e a vergonha de todos os outros, voltando o mal para si mesmo e oferecendo o bem para os outros. Se alguém exibe suas próprias virtudes e esconde as qualidades positivas de outra pessoa ou faz com que o outro seja desaprovado, esta é, para um bodisatva, uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. CEBB

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8. Preceito contra a avareza. Se um filho do Buda é avarento ou faz com que outra pessoa seja, esta é uma causa para e um ato de mesquinharia. Se um bodisatva for requisitado por uma pessoa pobre, ele deve oferecer o que quer que tenha sido pedido. Se um bodisatva, com intenção maldosa, não oferecer nem um donativo material nem um ensinamento e repreender a pessoa, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 9. Preceito contra a raiva. Se um filho do Buda ficar com raiva ou fizer com que outro fique, esta é uma causa para e um ato de raiva. Um bodisatva, enquanto em meio às pessoas, deve criar raízes do bem e continuamente despertar um coração compassivo. Se um bodisatva repreende os seres ou os pune com espadas ou varas, ou é incapaz de dissipar sua raiva mesmo que os outros se arrependam por seus erros e se desculpem por suas condutas errôneas, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga. 10. Preceito contra a difamação dos Três Tesouros. Se um filho do Buda difamar os Três Tesouros ou fizer com que outro assim aja, esta é uma causa para e o ato de difamar. Se um bodisatva ouvir um não-budista ou uma pessoa maldosa difamarem o Buda, ele não deveria sentir seu peito como se estivesse sendo perfurado por trezentas alabardas ao mesmo tempo. Se ele mesmo difama os Três Tesouros e perde sua fé neles ou faz com que outro assim aja, esta é uma transgressão que será punida com a expulsão da Sanga.

(3) “Ó filhos do Buda, estes são os dez preceitos principais de um bodisatva. Vocês não devem infringir estes preceitos nem mesmo levemente. Se vocês os infringirem perderão o ânimo para seguirem o caminho e destruirão qualquer mérito que tenham acumulado. Agora explicarei os quarenta e oito preceitos menores. 1. Preceito contra o menosprezo de seus professores e amigos. Se um CEBB

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filho do Buda alcançar o status de um rei ou de um oficial do governo, ele deve seguir os preceitos de um bodisatva. Se ele assim o fizer, todos os deuses o protegerão e os budas se regozijarão. Se tiver aceitado os preceitos ele deve respeitar os monges mais velhos, seu mestre, aqueles do mesmo nível que ele e aqueles que praticam o mesmo caminho. Se ele não o fizer estará cometendo uma ofensa menor. 2. Preceito contra beber substâncias intoxicantes. Se um filho do Buda deliberadamente beber algo tóxico ou pessoalmente oferecer um copo de algo tóxico para outra pessoa e fizer com que ela o beba, ele perderá sua mão por quinhentas gerações, pois não há limites para os erros causados pelos tóxicos. Portanto, entregar-se deliberadamente é cometer uma ofensa menor. 3. Preceito contra comer carne. Se um filho do Buda comer carne deliberadamente destruirá a semente do grande estado búdico compassivo. Portanto, um bodisatva não deve comer a carne de qualquer ser vivo. Se alguém comer carne deliberadamente estará cometendo uma ofensa menor. 4. Preceito contra comer as cinco ervas picantes. Um filho do Buda não deve comer as cinco ervas picantes. Se ele deliberadamente comer alguma das cinco ervas picantes, ou seja, alho espanhol, alho ou os três tipos de cebolas, ele cometerá uma ofensa menor. 5. Preceito contra a omissão de ensinar ou aconselhar. Se um filho do Buda notar pessoas quebrando as regras intencionalmente, ele deve ensinálas e argumentar com elas para que se arrependam. Se ele tomar parte em seus lucros e habitar em meio a elas estará cometendo uma ofensa menor. 6. Preceito contra não solicitar ensinamentos. Quando um mestre Mahayana ou alguém de compreensão similar vier de longe, um filho do Buda deve respeitosamente fazer oferendas a ele e pedir explicações sobre os ensinamentos para remover a dor de seu coração, sem ser negligente nem CEBB

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mesmo por um momento. Se ele não o fizer cometerá uma ofensa menor. 7. Preceito contra a negligência ao ouvir ensinamentos. Onde quer que a doutrina ou os preceitos estejam sendo explicados, um bodisatva noviço deve ouvir e fazer perguntas. Se ele não o fizer cometerá uma ofensa menor. 8. Preceito contra a violação dos preceitos Mahayana. Se um filho do Buda agir contra os sutras Mahayana e o Vinaya, disser que eles não foram ensinados pelo Buda e seguir preceitos inferiores, ele cometerá uma ofensa menor. 9. Preceito contra a omissão de cuidados aos doentes. Se um filho do Buda encontrar uma pessoa doente ele deve agir em relação a ela como se estivesse fazendo uma oferenda para o Buda. Entre todas as ações benéficas cuidar dos doentes é a suprema. Se ele não o fizer estará cometendo uma ofensa menor. 10. Preceito contra guardar armas. Um filho do Buda não deve guardar armas, arcos ou outras armas. Um bodisatva não buscará vingança mesmo de alguém que matou seu pai ou sua mãe. Alguém que deliberadamente guarde armas cometerá uma ofensa menor. 11. Preceito contra tornar-se um oficial do governo. Um filho do Buda não deve se tornar um oficial do governo devido a um desejo negativo por ganhos pessoais, ou se tornar um enviado a um campo de batalha ou travar guerras. E muito menos deveria ele se tornar um rebelde. Se ele o fizer cometerá uma ofensa menor. 12. Preceito contra vender e negociar. Um filho do Buda não deve deliberadamente vender ou negociar servos, animais domésticos ou materiais para caixões, ou fazer com que outro assim aja. Se ele o fizer estará cometendo uma ofensa menor. 13. Preceito contra a difamação. Se um filho do Buda, com intenção CEBB

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maldosa, deliberadamente difamar uma boa pessoa, um professor do Darma, um rei, uma pessoa nobre, ou algum de seus seis parentes próximos: pai, mãe, irmão mais novo ou mais velho, irmã mais nova ou mais velha, e forçar algum deles a uma situação na qual eles não poderão seguir seus desejos estará cometendo uma ofensa menor. 14. Preceito contra incêndios culposos. Se um filho do Buda, com intenção maldosa, deliberadamente incendiar uma floresta, uma casa, um templo ou outros, ele cometerá uma ofensa menor. 15. Preceito contra ensinamentos perversos. Um filho do Buda deve fazer com que os não-budistas e mesmo as pessoas maldosas sigam os sutras Mahayana e o Vinaya e compreendam os seus significados. Se ele, com intenção maldosa, expuser os ensinamentos perversos dos não-budistas, estará cometendo uma ofensa menor. 16. Preceito contra a exposição dos Sutras e do Vinaya de forma incorreta. Um filho do Buda deve primeiro estudar os sutras Mahayana e o Vinaya e entender amplamente seu significado. Quando bodisatvas noviços vierem de longe, mesmo se ele tiver que se sacrificar deverá fazer oferendas a eles. Então, ele deve gradualmente ensiná-los o Darma correto e fazer com que abram seus corações e mentes e despertem para ele. Se um filho do Buda, para seu proveito pessoal, ensinar incorretamente os Sutras e o Vinaya e difamar os Três Tesouros, estará cometendo uma ofensa menor. 17. Preceito contra se apoiar em poderosos para adquirir riquezas. Se um filho do Buda, por motivos de fama e fortuna, tornar-se amigo de um rei ou de seus ministros e confiar em seu poder para buscar riquezas, ele cometerá uma ofensa menor. 18. Preceito contra tornar-se um professor quando o Darma não é compreendido. Um filho do Buda deve sustentar durante os seis períodos do CEBB

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dia e da noite os preceitos de um bodisatva e despertar para seu significado e para a natureza do estado búdico. Entretanto, aquele que sem entender os porquês e as razões de sustentar o Vinaya age como se entendesse, cometerá uma ofensa menor. 19. Preceito contra falar com segundas intenções. Um filho do Buda que se encontra em meio a pessoas que seguem as práticas dos bodisatvas e que, deliberadamente, os incita a discussões apontando seus erros e difamando pessoas corretas, cometerá uma ofensa menor. 20. Preceito contra não praticar o salvamento de animais. Um filho do Buda deve praticar com um coração compassivo o salvamento de seres vivos. Todos os seres vivos já foram nossos pais em nossas vidas passadas. Portanto, nos dias memoriais de membros da família ele deve convidar um professor do Darma e ouvir os ensinamentos, salvar vidas de animais, aliviar seu sofrimento e oferecer-lhes as condições para no final se tornarem budas. Se ele não o fizer cometerá uma ofensa menor. 21. Preceito contra buscar vingança. Um filho do Buda não deve responder à raiva com raiva. Mesmo se alguém matasse um de seus seis parentes próximos ou seu rei ele não deve buscar vingança. Tirar uma vida em vingança pela perda de uma vida não está de acordo com o caminho da piedade. Aquele que busca vingar-se deliberadamente cometerá uma ofensa menor. 22. Preceito contra ser orgulhoso. Se um filho do Buda que ingressou recentemente na Sanga, e que ainda não alcançou qualquer insight sobre o ensinamento se apoiar em sua própria inteligência ou classe social, idade avançada ou riquezas, ou não perguntar a um mestre do Darma sobre os Sutras e o Vinaya, ele estará cometendo uma ofensa menor. 23. Preceito sobre o recebimento de preceitos. Quando um filho do CEBB

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Buda, após a morte do Buda, desejar receber os preceitos de um bodisatva, se não houver um mestre a mil milhas que seja capaz de administrá-los, ele deveria administrá-los por si mesmo fazendo o voto diante de símbolos do Buda e dos bodisatvas para seguir os preceitos. Então, por sete dias ele deveria se penitenciar. Se ele não vir sinais maravilhosos durante este período não se pode dizer que ele recebeu os preceitos. Se ele os receber diante de um professor do Darma que já recebeu os preceitos dos bodisatvas, então ele não precisa ver quaisquer sinais maravilhosos. Além disso, se um professor do Darma que possui algum insight dos sutras Mahayana e do Vinaya deseja misturar-se com reis e oficiais do governo, e, portanto, devido à arrogância não explica para os bodisatvas noviços o significado dos Sutras e do Vinaya, estará cometendo uma ofensa menor. 24. Preceito contra não estudar os Sutras e o Vinaya do Buda. Se um filho do Buda não estudar os Sutras verdadeiros do Buda e o Vinaya, e em vez disso estudar os textos não-budistas ou mundanos, ele cria causas e condições que impedirão o caminho e destruirão seu estado búdico. Assim ele comete uma ofensa menor. 25. Preceito contra não estar em harmonia com as massas. Após a morte do Buda, se um filho do Buda se tornar um professor e mestre do Darma, um mestre de meditação ou um mestre itinerante de conversão, ele deve manter um coração compassivo e deve reconciliar as discussões e proteger as propriedades dos Três Tesouros. Se ele causar dissensão entre as massas e usar as propriedades dos Três Tesouros da forma que desejar, ele cometerá uma ofensa menor. 26. Preceito contra receber alimentos apenas para si. Um filho do Buda que mora em um monastério deveria, quando um monge viajante chegar para o retiro de verão, com cortesia encontrá-lo e oferecer-lhe comida, bebida, CEBB

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um quarto e o que for necessário. Se um doador convidar todos os monges, deve ser oferecido ao monge viajante uma parte. Se o monge residente aceitar o convite apenas para si mesmo seu pecado não tem limites e ele não é diferente de um animal. Assim ele comete uma ofensa menor. 27. Preceito contra receber um convite individual. Um filho do Buda não deve receber convites individuais. Como o benefício pertence aos monges das dez direções, aceitar um convite individual significa fazer daquilo que pertence aos monges das dez direções propriedades privada. Ele estaria usando para si aquilo que pertence a todos os budas, aos santos, a cada professor dos monges em todos os campos da virtude e aos pais e aos doentes. Portanto, ele cometerá uma ofensa menor. 28. Preceito contra convidar um monge separadamente. Se um filho do Buda deseja convidar um monge ele deveria falar com o diretor do monastério e convidá-lo de acordo com as regras. Desta forma ele atrairia os sábios, monges santos das dez direções. Mesmo se ele convidasse separadamente quinhentos santos, o mérito que ele conquistaria assim não igualaria aquele que ele obteria ao convidar mesmo um único monge de acordo com as regras. Convidar separadamente é a forma de agir dos nãobudistas. É uma violação, uma ofensa menor. 29. Preceito contra manter um modo de vida negativo. Se, por lucros, um filho do Buda se envolver com homens ou mulheres prostituídos, sortistas, mágicos, fabricantes de venenos ou atividades parecidas, e não devido a uma mente compassiva e dedicada, ele estará cometendo uma ofensa menor. 30. Preceito contra não respeitar os dias de jejum. Se um filho do Buda, com intenção maldosa, mentir e falsamente se aproximar dos Três Tesouros, falando sobre vacuidade enquanto suas ações estão enraizadas na existência, CEBB

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agindo como intermediário para o comportamento sexual de homens e mulheres para o benefício de chefes de família, desta forma despertando seus apegos, ou que, durante os seis dias de jejum, matar, roubar ou quebrar os preceitos, estará cometendo uma ofensa menor. 31. Preceito contra não salvar aquilo que deve ser salvo. Se um filho do Buda, após a morte do Buda, vir não-budistas ou diversas pessoas maldosas vendendo símbolos de budas ou bodisatvas, ou vendendo Sutras, ou escravizando monges e monjas ou bodisatvas noviços, ele deve se utilizar de meios hábeis e salvá-los com um coração compassivo, salvando a todos. Se ele não o fizer estará cometendo uma ofensa menor. 32. Preceito contra prejudicar seres sencientes. Se um filho do Buda se envolver com a venda de armas, tais como espadas, arcos ou similares, ou de balanças ou escalas; ou tomar os pertences das pessoas através do uso de poderes oficiais; ou negar os méritos de outras pessoas; ou criar gatos ou cachorros que matam outros seres sencientes, estará cometendo uma ofensa menor. 33. Preceito contra assistir a atos perversos. Se um filho do Buda, com intenção maldosa, assistir a uma batalha ou a um bando de ladrões saqueando; ou se ele se entregar a banalidades como a harpa, a flauta, o canto, a dança ou os dramas com máscaras; ou a partidas de jogos como cartas, go, xadrez ou futebol; ou fizer adivinhações manipulando coisas como as pontas dos dedos, palhas de grama, ramos de salgueiro, tigelas ou crânios como meios; ou se ele se tornar um mensageiro para ladrões, estará cometendo uma ofensa menor. 34. Preceito contra pensar sobre preceitos inferiores. Um filho do Buda deve seguir firmemente os preceitos do Mahayana sem esquecê-los dia e noite, pensando sobre eles como se fossem uma boia conduzindo-o através de CEBB

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um enorme oceano. Ele deve despertar continuamente em si mesmo a fé Mahayana. Sabendo que ainda não se tornou um buda, ao passo que os budas já se tornaram budas, se dirigir mesmo um pensamento para os caminhos não-budistas ele estará cometendo uma ofensa menor. 35. Preceito contra não despertar a determinação. Um filho do Buda deveria despertar todas as determinações, cuidando de seus pais e de seu monge mestre, aprendendo os sutras Mahayana e o Vinaya de seus companheiros monges, e determinando-se a até mesmo abrir mão de sua vida para não se afastar dos preceitos do Buda. Se ele não despertar estas determinações estará cometendo uma ofensa menor. 36. Preceito contra não fazer votos. Um filho do Buda deve fazer os seguintes votos: ‘Mesmo se meu corpo for lançado em um buraco ardendo em chamas eu não farei nada impuro com uma mulher. E também, mesmo que meu corpo seja enrolado em uma rede de metal incandescente, se eu tiver violado fisicamente os preceitos não aceitarei mantos de um doador fiel. E também, mesmo que eu seja forçado a beber metal derretido, se eu tiver violado oralmente os preceitos não comerei ou beberei alimentos e bebidas de cem sabores oferecidos por um doador fiel. Além disso, mesmo que eu seja forçado a deitar em uma cama de metal ardente não aceitarei uma cama de fina grama; mesmo que eu seja perfurado por trezentas lanças não aceitarei remédios; se eu tiver violado fisicamente os preceitos não dormirei em um quarto agradável, ou aceitarei as reverências de um doador, ou aceitarei cores agradáveis, ou ouvirei vozes agradáveis, ou buscarei odores agradáveis.’ Se ele não fizer estes votos estará cometendo uma ofensa menor. 37. Preceitos para a disciplina dhutaguna e retiros. Um filho do Buda deveria observar os doze dhutagunas durante dois períodos em um ano [15 de janeiro a 15 de março e 15 de agosto a 15 de outubro] e deveria entrar em CEBB

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retiro no verão e no inverno. Ele deveria carregar consigo os dezoito itens: ramos de salgueiro para limpeza dos dentes, sabão, os três mantos, uma garrafa de água, uma tigela de mendicância, um tapete, um cajado, um incensário, um filtro, uma tolha de banho, uma faca, uma pedra para fazer fogo, uma tesoura, uma rede, os Sutras, o Vinaya, uma imagem do Buda e uma imagem de um bodisatva, e deveria perambular pelo país. Os bodisatvas noviços deveriam jejuar a cada meio mês e entoar os dez preceitos maiores e os quarenta e oito menores diante de imagens do Buda e dos bodisatvas. Uma pessoa deveria se sentar em um assento mais elevado e entoar, enquanto os outros deveriam se sentar em posições mais baixas e ouvir. Todos deveriam vestir mantos monásticos de nove, sete ou cinco pedaços. Ao observar os dhutagunas ele não deveria entrar em um local de labuta, ou um país com um rei maldoso, ou uma floresta com animais selvagens ou cobras venenosas. Se ele o fizer cometerá uma ofensa menor. 38. Preceito contra sentar-se em uma ordem incorreta. A ordem para os discípulos se sentarem deveria ser determinada de acordo com o tempo de recebimento dos preceitos; isto é, não deveria ser determinada de acordo com sua idade, ou sexo, ou grau de nobreza ou se são servos. Se isto não for assim praticado, uma ofensa menor será cometida. 39. Preceito contra não praticar virtudes que trazem felicidade. Um filho do Buda deveria ensinar, guiar pessoas e construir monastérios e estupas do Buda. Para o benefício daqueles que sofrem por doenças ou uma calamidade nacional, das pessoas que observam o luto por parentes ou professores, das pessoas que sofrem as consequências das inundações ou do fogo, ou a retribuição por todas as suas ofensas, e especialmente pelo benefício daqueles pesadamente afligidos por cobiça, raiva ou ignorância, um bodisatva deveria explicar os sutras Mahayana e o Vinaya. Se um bodisatva CEBB

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noviço não agir assim estará cometendo uma ofensa menor. 40. Preceito contra discriminações para o recebimento dos preceitos. Quando um filho do Buda transmite os preceitos a alguém, ele não deveria discriminar de forma alguma se alguém é um rei, um oficial do governo, um monge, uma monja, um homem ou mulher de fé, um homem ou mulher licenciosos, ou uma pessoa desprovida dos cinco sentidos. Entretanto, aqueles que cometeram alguma das sete transgressões de rebeldia – derramar o sangue de um buda, matar o pai ou a mãe, matar um transmissor de preceitos ou um professor, destruir a harmonia da Sanga, ou matar um arhat – estão excluídos. Alguém que abandonou o lar e se tornou um monge não presta homenagens a um rei ou seus pais, não demonstra respeito por seus seis tipos de parentes e não se curva aos deuses. Mas, se por uma intenção maldosa ele não oferece os preceitos a uma pessoa que veio de longe buscando o Darma, ele cometerá uma ofensa menor. 41. Preceito contra tornar-se um professor para ganhos pessoais. Se um filho do Buda encontrar uma pessoa que receberá os preceitos, ele deveria fazê-la seguir dois professores – um para transmitir os preceitos e um mestre. Os dois mestres a questionarão, perguntando se ela já cometeu alguma das sete transgressões rebeldes. Se ela não tiver cometido qualquer uma destas transgressões poderá receber os preceitos. Se alguém violou um dos dez preceitos principais poderá remover a transgressão pedindo por perdão diante de uma imagem de um buda ou de um bodisatva por um período de uma semana até um ano. E também, alguém que violou algum dos quarenta e oito preceitos menores poderá remover as transgressões pedindo por perdão ao cometer a violação. Um professor dos ensinamentos deve discernir essas diversas CEBB

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características e também conhecer as diversas disposições naturais das pessoas que praticam o caminho. Se um filho do Buda tratar os discípulos com cobiça e com a motivação de alcançar fama ou fortuna, e mentir e disser que compreende todos os Sutras e o Vinaya, ele cometerá uma ofensa menor. 42. Preceito contra expor os preceitos a pessoas maldosas. Um filho do Buda não deve expor estes preceitos superiores àqueles que não aceitam os preceitos dos bodisatvas, aos não-budistas ou a pessoas maldosas. Com a exceção de um rei ele não deve expô-los diante de qualquer pessoa com visões pervertidas. Como essas pessoas não seguirão os preceitos do Buda elas são iguais aos animais. Além do mais, assim como as árvores e rochas não possuem mentes, elas também não possuem. Portanto, se ele expuser intencionalmente estes preceitos superiores diante delas, ele cometerá uma ofensa menor. 43. Preceito contra o recebimento de oferendas sem o sentimento de vergonha. Se um filho do Buda com a mente cheia de fé deixar o lar e receber os preceitos corretos do Buda, e intencionalmente os violar, ele não pode aceitar oferendas de qualquer doador. Nem ele deve cruzar pelas terras de um rei ou beber de sua água. As pessoas do mundo o repreenderão como um ladrão em meio à doutrina do Buda. Portanto, se ele violar os preceitos corretos intencionalmente cometerá uma ofensa menor. 44. Preceito contra desrespeitar os Sutras. Um filho do Buda deve receber com a mente concentrada e memorizar os sutras Mahayana e o Vinaya. Ele deve copiar os preceitos do Buda mesmo que tenha que usar sua pele como papel, seu próprio sangue como tinta, sua própria medula como água e seus próprios ossos como canetas, e ainda mais se estiver usando casca de árvores, papel de arroz ou papel de bambu. Ele deveria sempre empilhar os Sutras e o Vinaya em bolsas e caixas incrustadas com os sete tesouros CEBB

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contendo incenso e flores das sete substâncias preciosas. Se ele não o fizer cometerá uma ofensa menor. 45. Preceito contra não ensinar os seres sencientes. Um filho do Buda deve sempre manter uma mente de grande compaixão; onde quer que veja seres sencientes ele deve dizer: ‘Todos vocês deveriam tomar refúgio nos Três Tesouros e receber os dez preceitos.’ Ao encontrar animais como vacas, cavalos e ovelhas ele deveria pensar com sua mente e pronunciar com sua boca: ‘Todos vocês deveriam despertar a motivação de realizar a iluminação.’ Um bodisatva que não despertar tais pensamentos cometerá uma ofensa menor. 46. Preceito contra expor os ensinamentos em desacordo com a norma. Um filho do Buda deve sempre ensinar com uma mente de grande compaixão. Não importando o nível elevado social da pessoa em cuja casa ele esteja, ao expor os ensinamentos ele deve se sentar em uma posição mais elevada. Sempre que os ensinamentos do Darma forem expostos, o professor do Darma deve estar na posição mais elevada e os ouvintes devem respeitosamente ocupar as posições inferiores. Se ele não fizer desta forma estará cometendo uma ofensa menor. 47. Preceito contra criar restrições com normas incorretas. Pode haver reis ou oficiais do governo que se aproveitem de seu status nobre e violem as regras da doutrina do Buda, criando regras com o claro propósito de restringir tanto leigos quanto discípulos, não permitindo que as pessoas abandonem o lar para se tornarem monges, não permitindo a construção de imagens do Buda, ou de estupas do Buda, ou dos Sutras e do Vinaya, colocando oficiais do governo para restringir os monges, ou ousando fazer com que os monges fiquem no chão enquanto leigos ocupam as posições elevadas. Os bodisatvas merecem as oferendas de todos, como podem ser CEBB

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forçados a serem manipulados por governantes? Sejam reis ou oficiais de governo, aqueles que aceitaram os preceitos budistas não devem cometer o ato negativo de destruir os Três Tesouros. Se eles intencionalmente violarem o Darma estarão cometendo uma ofensa menor. 48. Preceito contra violar os ensinamentos. Se um filho do Buda, com motivação positiva, tornar-se um monge e, devido à busca de fama e fortuna, expuser os preceitos budistas diante de reis ou oficiais do governo, ele estará na verdade violando os ensinamentos do Buda. Aquele que recebeu os preceitos budistas deve proteger os preceitos como se fossem seu único filho ou como um filho dedicado aos pais. Se ele intencionalmente cair neste erro estará cometendo uma ofensa menor.”

2. Desarmonia na Ordem (1) Em seguida, o Honrado pelo Mundo se dirigiu para o sul, cruzou o rio Ganges e peregrinou pelo país de Vamsa. Então, ele entrou em Kosambi e ficou por algum tempo no Monastério Ghositta. Naquela época um discípulo cometeu uma ofensa insignificante. De início ele achava que havia cometido uma ofensa, mas os outros discípulos não concordavam. Depois de algum tempo, ele começou a pensar que não havia de fato cometido uma violação, mas os outros discípulos começaram a pensar que sim. Os discípulos disseram: “Amigo, você cometeu uma ofensa. Você deveria admitir.” “Eu não cometi uma ofensa.” Como ele não quis admitir, os discípulos, de acordo com as regras da Sanga, expulsaram-no da ordem.

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Como ele possuía conhecimento, tinha clareza dos ensinamentos, dominava as regras, era inteligente e possuía o desejo de seguir o caminho, não seguiu as regras desta Sanga. Ele disse aos seus companheiros: “Amigos, isto não é uma violação. Não é correto que eu seja expulso. Eu gostaria que vocês, com base nos ensinamentos e nas regras, tornassem-se meus defensores.” Além disso, ele enviou mensageiros aos seus amigos que tinham se mudado para outros lugares e lhes pediu, também, para serem seus defensores conquistando sua concordância. Desta forma os discípulos que o expulsaram e aqueles que o defenderam começaram a brigar. A ruptura entre eles foi se tornando cada vez mais profunda. Um discípulo relatou ao Honrado pelo Mundo sobre a expulsão. O Honrado pelo Mundo disse: “A harmonia entre os discípulos foi destruída.” Ele foi até os discípulos que haviam expulsado seu companheiro, e disse: “Ó discípulos, vocês estão errados em dizer que é seu dever, em qualquer caso, decidir a expulsão de um discípulo. Ó discípulos, suponhamos um discípulo que cometeu uma ofensa. Esse discípulo não acha que cometeu uma ofensa, mas os outros discípulos acreditam que sim. Suponham que o discípulo estudou profundamente, possui clareza dos ensinamentos, domina as regras e possui o desejo de praticar o caminho. Se vocês expulsarem esse discípulo e se afastarem dele surgirá desarmonia na Sanga e disputas. Portanto, vocês devem dar maior importância à harmonia na Sanga e não devem expulsar esse monge.” O Honrado pelo Mundo se dirigiu, então, aos discípulos que defenderam o discípulo expulso, e disse: “Ó discípulos, ao cometerem uma ofensa vocês não devem pensar que nada fizeram e que, portanto, não precisam corrigir a transgressão. Suponham que um discípulo cometeu uma ofensa, mas acha que não cometeu. Outros discípulos acham que ele cometeu. CEBB

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Suponham que aquele discípulo reconhece que os seus opositores estudaram profundamente, possuem clareza dos ensinamentos, dominam as regras, são inteligentes, determinados a praticar o caminho, e livres da cobiça, da raiva, da estupidez e do medo. Aquele discípulo compreenderá, então, que se ele não admitir sua ofensa os discípulos opositores serão colocados na posição de expulsá-lo, desta forma causando desarmonia e conflitos na Sanga. Ele deveria admitir sua transgressão pelo bem da harmonia e da fé de seus companheiros discípulos.” Desta forma, o Honrado pelo Mundo ensinou e esclareceu os discípulos de ambos os lados e retornou aos seus aposentos.

(2) Entretanto, mesmo após os avisos do Honrado pelo Mundo os discípulos que haviam se dividido em duas facções praticavam o jejum separadamente e realizavam as cerimônias da Sanga separadamente. Aumentou a veemência de suas discussões, e gradualmente suas ações físicas, verbais e mentais se tornaram inadequadas a discípulos do Buda. O Honrado pelo Mundo os reuniu novamente e disse: “Ó discípulos, quando a Sanga não se encontra em harmonia as ações de cada membro deveriam ser ainda mais respeitosas. Quando as ações não estão de acordo com as regras ou são indelicadas, vocês devem estar determinados a não fazer qualquer coisa inadequada e devem permanecer em seus lugares. Quando as ações estiverem de acordo com as regras e forem gentis vocês devem sentar-se juntos no mesmo lugar. Ó discípulos, parem de disputar. Vocês não devem continuar em desarmonia.” Um discípulo disse: “Honrado pelo Mundo, por favor, espere um pouco mais. Por favor, saboreie a profunda meditação de um Honrado pelo Mundo. Nós assumiremos a responsabilidade por esta disputa e desarmonia e iremos resolvê-la.” O Honrado pelo Mundo repetiu suas palavras: “Ó discípulos, parem de CEBB

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disputar. Vocês não devem continuar em desarmonia.” O discípulo novamente fitou o Honrado pelo Mundo e repetiu a mesma coisa, rejeitando o aviso do Honrado pelo Mundo. Naquele momento, o Honrado pelo Mundo disse aos discípulos: “Ó discípulos, muito tempo atrás na cidade de Baranasi havia um rei, Brahmadatta, do reino de Kasi. Próspero e bem-sucedido, ele possuía um forte exército e muitos veículos, e era seguido por muitos reinos. Naquela época havia no reino de Kosala um rei chamado Dighiti. Ele era pobre, possuindo apenas um pequeno exército e um pequeno reino. Na verdade, ele não representava ameaça para o rei Brahmadatta. Ele ouviu dizer que Brahmadatta havia preparado quatro exércitos e estava vindo para desafiá-lo em uma batalha. Ele pensou: ‘Meu reino é pequeno e indefeso. Como seria difícil enfrentar Brahmadatta e entrar em uma batalha contra ele, talvez seja melhor abandonar o castelo e fugir.’ Com isso, sem lutar ele deixou seu reino para Brahmadatta. Tomando sua rainha ele escapou em segredo para uma cidade nas vizinhanças de Baranasi, disfarçou-se como um peregrino e se escondeu na casa de um oleiro. Depois de algum tempo a rainha ficou grávida e, como é costume acontecer durante a gravidez, começou a ter um estranho desejo: ela queria beber a água usada para lavar as espadas dos soldados que se alinhavam em um campo de treinamento quando o sol se levantava. ‘Ó rainha, nós somos um povo derrotado. Como eu posso conseguir tal coisa?’ ‘Ó grande rei, se este desejo não for realizado eu morrerei.’ “Mas o rei Dighitti tinha um amigo, um brâmane, que era conselheiro na casa do rei Brahmadatta. O rei Dighitti, sem outra escolha além de ter de realizar o desejo da rainha, foi até a casa do brâmane para pedir seu conselho. O brâmane disse que gostaria de ver a rainha, e assim o rei Dighitti a trouxe para encontrá-lo. Ao ver a rainha, o brâmane se levantou de seu assento, CEBB

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dobrou seu manto sobre um ombro e a fitou. Ele juntou as palmas das mãos numa saudação respeitosa e entoou três vezes uma canção de alegria: ‘Ó, de fato o rei de Kosala veio para permanecer em seu útero.’ Então ele disse: ‘Ó rainha, não perca as esperanças. O seu desejo será, com certeza, realizado.’ “O brâmane, como conselheiro do rei, imediatamente foi até Brahmadatta, e disse: ‘Grande rei, um sinal auspicioso se manifestou. Amanhã, ao nascer do sol, reúna seus quatro exércitos em linha no campo de treinamento. Eles devem lavar suas espadas.’ O rei imediatamente deu a ordem para que aquilo que o brâmane disse fosse feito. “Desta forma o desejo da rainha foi realizado e sua gravidez chegou ao final, ela deu a luz a um príncipe que recebeu o nome de Dighavu. Quando o príncipe atingiu a idade da responsabilidade, o rei Dighitti pensou: ‘Brahmadatta deseja nossa desgraça. Se nós três formos encontrados juntos seremos, certamente, executados. Seria melhor se Dighavu fosse criado em outro lugar.’ Assim, ele e sua mulher continuaram suas vidas na mesma cidade e Dighavu foi levado para fora da cidade para ser criado.

(3) “Naquela época, um barbeiro que havia morado anteriormente no palácio de Kosala estava vivendo agora no palácio de Brahmadatta. Um dia, ele viu seu antigo senhor, o rei Dighitti, e sua rainha vestidos como peregrinos e descobriu que eles viviam em uma cidade próxima de Baranasi. Ele relatou isto ao rei. O rei Dighitti e sua esposa foram imediatamente capturados, suas mãos foram amarradas nas costas e eles foram arrastados pelas encruzilhadas para o pátio de execução. “Bem naquele momento o príncipe Dighavu entrou na cidade e, por acaso e pela primeira vez em um longo tempo, ele viu seu pobre pai e mãe. Surpreso, ele estava prestes a correr para junto deles, mas a voz do rei CEBB

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Dighitti o fez parar: ‘Dighavu, você não deve olhar longe demais. Você não deve ter uma visão curta. A razão para isto é que o ódio não é afastado pelo ódio. O ódio é afastado pela ausência de ódio.’ Como as pessoas não sabiam quem era Dighavu, elas não puderam entender o significado destas palavras. Elas pensaram que o rei Dighitti estava louco e apenas balbuciava palavras sem sentido. O rei Dighitti continuou: ‘Não estou louco. O que eu digo não é bobagem. Aqueles que possuem um coração compreenderão o significado. Dighavu, não olhe para longe demais. Não tenha uma visão curta. A razão para isto é que o ódio não é afastado pelo ódio. O ódio é afastado pela ausência de ódio.’ Ele repetiu estas palavras três vezes. “Antes que Dighavu pudesse fazer qualquer coisa, seu pai e mãe foram puxados e esquartejados, e seus restos foram jogados fora. Um grupo de soldados foi deixado para vigiar. Dighavu foi até a cidade e comprou vinho. Ele o ofereceu aos guardas e deixou-os completamente bêbados. Então, ele juntou madeira para uma fogueira e cremou os restos de seus pais. Ele juntou suas mãos e se curvou em reverência. Era a única coisa que podia fazer naquelas circunstâncias para se consolar. O rei de Kasi, Brahmadatta, viu a fogueira do andar superior de seu palácio e pensou que aquilo era, provavelmente, obra de alguém relacionado à família real de Kosala. Por que ninguém viera informá-lo? Ele se sentiu desagradado e temeroso. “O príncipe Dighavu foi para a floresta e jejuou, passando muitos dias em lágrimas, esperando que seu coração encontrasse alguma paz. Finalmente chegou o dia em que ele se decidiu a deixar a floresta. Ele foi até o pátio do palácio e pediu ao treinador de elefantes para tomá-lo como seu aprendiz. O treinador o aceitou alegremente. “Dighavu passou a noite no estábulo dos elefantes, e ao acordar ao amanhecer ele saiu e começou a tocar sua flauta e a cantar. Por acaso o rei CEBB

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também estava desfrutando a brisa refrescante da aurora. Ele ficou comovido com o belo canto e o som da flauta. Quando soube que aquela voz era do treinador de elefantes aprendiz, ele lhe ofereceu uma posição como seu servo. Dighavu obedecia às ordens do rei e fez tudo que podia para conquistar seu favor. O rei se deleitava, confiou nele e o elevou a um status superior.

(4) “Um dia o rei levou Dighavu em uma caçada. Dighavu guiou a carruagem do rei e intencionalmente se afastou dos soldados embrenhandose nos campos. O rei disse: ‘Jovem, pare a carruagem. Estou cansado e quero tirar uma soneca.’ Dighavu parou a carruagem e se sentou no chão. O rei usou seu colo como travesseiro e logo caiu em um sono leve. “Então Dighavu pensou: ‘Este rei de Kasi é o inimigo de meu pai e de minha mãe mortos. Devido a ele eles perderam seu reino e suas vidas. Agora é a hora da vingança.’ Com alegria e bravura ele tirou sua espada da bainha e a apontou. Então, inesperadamente, as últimas palavras de seu pai surgiram em seu coração. Ao relembrar aquelas palavras ele guardou a espada na bainha. Duas ou três vezes Dighavu pensou: ‘Agora é uma boa oportunidade. Eu devo me vingar.’ Ele apontava sua espada, mas a cada vez as palavras de seu pai o dissuadiram e ele a embainhava. “Depois de algum tempo o rei Brahmadatta abriu seus olhos repentinamente, despertando com medo e olhando ao redor. Dighavu perguntou: ‘Grande rei, do que você tem medo para acordar tão repentinamente?’ ‘Jovem, eu acabei de sonhar que Dighavu, o príncipe do reino de Kosala, estava sobre mim empunhando uma espada. É por isto que acordei tão assustado.’ Com isto, Dighavu forçou a cabeça do rei para baixo com sua mão esquerda e desembainhou sua espada com a mão direita, dizendo: ‘Grande rei, eu sou Dighavu, filho de Dighitti de Kosala. Você CEBB

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trouxe a desgraça para meu reino. Você matou meu pai e minha mãe. Eu nunca terei uma chance melhor para me livrar do ódio.’ O rei colocou sua cabeça sobre os pés de Dighavu, e disse: ‘Caro Dighavu, por favor poupe minha vida.’ Com isto Dighavu lembrou das últimas palavras de seu pai e, então, implorou pelo perdão do rei. O rei ficou tanto surpreso quanto feliz, e disse: ‘Muito bom, você poupou minha vida e eu pouparei a sua!’ Os dois pouparam as vidas um do outro e, apertando suas mãos prometeram ajuda mútua dali em diante, fazendo o voto de nunca prejudicarem um ao outro.

(5) “Os dois homens abandonaram a caçada e retornaram ao castelo. O rei reuniu seus conselheiros e lhes disse: ‘Se vocês encontrassem aqui Dighavu, príncipe de Kosala, o que fariam com ele?’ ‘Eu mandaria cortar suas mãos.’ ‘Eu cortaria seus pés.’ ‘Eu cortaria tanto os pés quanto as mãos.’ ‘Eu cortaria suas orelhas.’ Houve várias respostas. O rei disse: ‘Esse tipo de ação não é mais necessário. Minha vida foi poupada pelo príncipe Dighavu, e eu, também, poupei sua vida.’ “Então, o rei fitou Dighavu, e disse: ‘Caro Dighavu, qual é o significado das últimas palavras de seu pai?’ ‘Grande rei, o significado das últimas palavras de meu pai “Não olhe longe demais” é de não guardar uma esperança raivosa. “Não tenha uma visão curta” significa não quebrar amizades rapidamente. “O ódio não é afastado pelo ódio; o ódio é afastado pela ausência do ódio” significa que, se pelo fato de o grande rei ter tirado a vida de meus pais eu tirasse a vida do grande rei, aqueles que apoiam o grande rei tirariam a minha vida. Se isto acontecesse, então meus seguidores os matariam. Desta forma, o ódio nunca seria afastado pelo ódio. Se o rei agora poupa a minha vida, então eu também pouparei a sua vida. Desta forma, o ódio é afastado pelo ausência do ódio. É por isto que meu pai me CEBB

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ensinou essas coisas logo antes de morrer.’ “Ó discípulos, naquele momento Brahmadatta, o rei de Kasi, louvou o príncipe Dighavu por sua sabedoria e devolveu seu reino a ele. Ele também lhe ofereceu sua filha como noiva e fez o voto de paz eterna. “Ó discípulos, esta é a tolerância e o amor bondoso de um rei que carrega armas e espadas em suas mãos. Vocês são monges que deixaram seus lares para ingressarem neste ensinamento corretamente transmitido e na disciplina, não são? Vocês, também, deveriam brilhar com tolerância e amor bondoso. Ó discípulos, vocês não devem brigar. Vocês não devem continuar em desarmonia.”

(6) A despeito deste amoroso conselho ofertado pelo Honrado pelo Mundo, os discípulos no seu erro não aceitaram suas palavras, e disseram: “Honrado pelo Mundo, por favor espere um pouco mais. O Honrado pelo Mundo deveria entrar na profunda meditação de um Honrado pelo Mundo. Nós assumiremos a responsabilidade e resolveremos esta disputa.” Com isto, o Honrado pelo Mundo pensou: “Estes ignorantes estão presos pela formalidade e perderam a visão da essência, assim, não é fácil argumentar com eles.” Ele se levantou de seu assento e partiu. Assim, o Honrado pelo Mundo foi até a vila de Balaka, para o bosque de bambus de Parileyyaka, e finalmente se instalou no Parque Rakkhita, longe daqueles que discutiam e do tumulto. Ele desfrutou o prazer do silêncio daqueles que permanecem sós. Assim como um rei elefante deixará seu bando de fêmeas, machos e filhotes de vez em quando para desfrutar a paz e o silêncio, também ele permaneceu em paz e no silêncio. Logo depois o Honrado pelo Mundo entrou em Savatthi e permaneceu no bosque Jeta. Depois que o Honrado pelo Mundo partiu, o povo de Kosambi se CEBB

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irritou com os discípulos desarmônicos: “Estes discípulos são a causa para a partida do Honrado pelo Mundo. Estes discípulos nos trazem desvantagens. Vamos parar de reverenciá-los e de lhes fazer oferendas. Então estes discípulos deixarão a Sanga e voltarão ao status de chefes de família. Isto trará paz para o coração do Honrado pelo Mundo.” Eles agiram como pensaram e pararam de oferecer comida aos monges. Estes discípulos não receberam mais comida e ficaram fracos de fome; então eles decidiram parar com sua disputa na presença do Honrado pelo Mundo. Eles deixaram suas almofadas, pegaram seus mantos e tigelas de oferenda e partiram de Kosambi para Savatthi. Em Savatthi, Sariputta e uma hoste de discípulos perguntaram ao Honrado pelo Mundo como eles deveriam tratar esses discípulos de Kosambi, e receberam a resposta de que deveriam diferenciar os corretos dos incorretos, tratando os corretos tão bem quanto possível. Muitos seguidores fiéis, incluindo o ancião Anathapindika, perguntaram como deveriam tratálos e foram instruídos a oferecerem comida com equanimidade. Quando os discípulos de Kosambi entraram no bosque Jeta, aqueles que haviam cometido as violações começaram a entender suas violações. Desta forma, os corações dos discípulos gradualmente amoleceram, e eles se reuniram e foram capazes de retomar um convívio pacífico e harmonioso da Sanga na presença do Honrado pelo Mundo.

(7) O Honrado pelo Mundo reuniu os discípulos e ensinou: “Ó discípulos, há seis leis que vocês deveriam guardar, amar e honrar em seus corações. Ao segui-las vocês conquistarão harmonia, proximidade e ausência de disputas. “Ó discípulos, um discípulo deveria praticar em relação aos seus CEBB

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companheiros de Sanga atos compassivos internos e externos. Esta é a primeira lei. Em seguida, ele deveria falar palavras compassivas internas e externas para seus companheiros discípulos. Esta é a segunda lei. Em seguida, ele deveria manter pensamentos compassivos internos e externos em relação aos seus companheiros. Esta é a terceira lei. Em seguida, quando o discípulo sai para receber oferendas e alimento de acordo com as regras, ele deveria compartilhá-lo igualmente com seus companheiros que mantêm os preceitos. Esta é a quarta lei. Em seguida, o discípulo, acompanhado por aqueles de ideias semelhantes, deveria seguir os preceitos que são louvados pelas pessoas de conhecimento que são puras e livres de falhas. Esta é a quinta lei. Depois, o discípulo, acompanhado por aqueles de ideias semelhantes, deveria permanecer na visão sagrada que elimina o sofrimento. Esta é a sexta lei. “Ó discípulos, entre estas seis leis a principal é a visão sagrada e que elimina o sofrimento. Esta visão inclui as outras cinco. Ó discípulos, este é o significado disto tudo. Suponham que um discípulo entra na floresta, ou senta sob uma árvore, ou entra em uma casa vazia e pensa: ‘Há ainda em minha mente algo que a mantém cativa, alguma delusão que não me permite ver as coisas corretamente, como elas são?” “Ó discípulos, se esse discípulo está sujeito a desejo, raiva, descuido, sonolência, lamentação, maus hábitos ou dúvida, então sua mente está cativa. Se ele pensa apenas sobre assuntos deste mundo ou do mundo após a morte, então sua mente está cativa. E também, se ele continuamente causa desarmonia e disputas ou ataca os outros, sua mente está cativa. Se o discípulo observa sua própria mente e descobre: ‘Não há mais delusão alguma em minha mente; minha mente está bem preparada para enxergar o verdadeiro princípio’, então ele alcançou a primeira sabedoria que é sagrada CEBB

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e que ultrapassa o mundo. “Ó discípulos, se o discípulo segue observando internamente, e pergunta: ‘Eu pratiquei adequadamente esta visão correta e alcancei a tranquilidade?’ e sabe que alcançou a tranquilidade, então ele alcançou a segunda sabedoria que é sagrada e que ultrapassa o mundo. “Ó discípulos, se o discípulo pondera se há monges que atingiram esta visão correta por outros meios além destes ensinamentos e vê que isto não é possível, então ele alcançou a terceira sabedoria.

(8) “Ó discípulos, se o discípulo também pondera se ele já atingiu a prática alcançada por alguém que possui a visão correta e se ele sabe que conseguiu, então ele alcançou a quarta sabedoria. Qual é esta prática? Uma pessoa de visão correta, assim como uma criança que tocou o carvão quente com sua mão ou pé imediatamente se afasta dele, se ela cometeu uma violação que deveria ser confessada, confessará imediatamente e se absterá de cometer aquela violação novamente. “Ó discípulos, se o discípulo também considera se ele atingiu outras práticas realizadas pelas pessoas de visão correta e se ele sabe que sim, então ele alcançou a quinta sabedoria. Qual é esta prática? Assim como uma mãe camelo com sua cria não a deixará se afastar mesmo se ela tiver que quebrar o poste onde está amarrada, a

pessoa

de visão correta

trabalhará

diligentemente nos assuntos que se referem aos seus companheiros monges, e diligentemente se esforçará nos três aprendizados: preceitos, meditação e sabedoria. “Ó discípulos, além disso, se o discípulo souber que possui o tipo de poder que pertence a alguém de visão correta, então ele atingiu a sexta sabedoria. Esse poder é o poder de ouvir com concentração mental total CEBB

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quando o Buda explica os ensinamentos ou os preceitos. “Ó discípulos, além disso, se o discípulo souber que possui o poder que pertence a alguém de visão correta, então ele alcançou a sétima sabedoria. Esse poder é o poder de compreender o Darma e de alcançar alegria quando o Buda explica os ensinamentos ou os preceitos.” “Ó discípulos, o discípulo que possui estas sete sabedorias é alguém que entrou na corrente do caminho sagrado.” Todos os discípulos se regozijaram com o ensinamento do Honrado pelo Mundo e a harmonia foi restaurada.

(9) O Honrado pelo Mundo seguiu peregrinando por vários lugares e chegou a Kapilavatthu. Ele permaneceu fora da cidade em um bosque de figueiras. No início de uma manhã ele entrou na cidade fortificada para receber oferendas. Após a refeição, para se abrigar do calor da tarde, ele foi à casa de Kala-khemaka. Havia muitas almofadas preparadas na casa. Naquele momento, Ananda e muitos discípulos estavam costurando mantos na casa de Gataya do clã Sakya. Naquela noite, o Honrado pelo Mundo foi à casa de Gataya, sentou-se na almofada preparada, e disse a Ananda: “Ananda, havia muitas almofadas preparadas na casa de Kalakhemaka. Há muitos discípulos morando lá?” “Honrado pelo Mundo, é como você disse, há muitos discípulos morando lá. E o motivo é que agora é a época de fazer nossos mantos.” “Ananda, um discípulo que se alegra e sente prazer em se reunir com muitos outros não é sábio. Não é o caminho que ele deve seguir para conquistar facilmente as alegrias de abandonar o mundo do sofrimento, de retirar-se dele, de experimentar o silêncio ou de atingir a verdadeira iluminação. Nem é este o caminho para alcançar a liberação. Ananda, não há CEBB

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nada que não decline ou pereça entre aquelas coisas que amamos e gostamos, ou que não gere luto, tristeza e confusão. “Ananda, não pense nas formas externas; o lugar de permanência dos budas é o pensamento da vacuidade da identidade interna. Um buda acessa e permanece nesta vacuidade interna. Mesmo que as pessoas se aproximem, ele se alegra ao partir e se distanciar; ele expõe os ensinamentos para incentiválos a libertarem suas mentes de todas as paixões. Ananda, se um discípulo deseja acessar e permanecer na vacuidade interior ele deveria dirigir sua mente para dentro, focar toda a sua atenção em um ponto único e acalmar sua mente. “Ananda, dizer que o discípulo deveria direcionar sua mente para dentro, focar toda a sua atenção em um único ponto e acalmar sua mente significa que ele deveria libertar-se do desejo e daquilo que não é bom, e deveria acessar e permanecer em profunda meditação. “Se um discípulo observar a vacuidade interior e sua mente não se acalmar, ele deve estar consciente de que ela não está calma e deve observar a vacuidade de todas as coisas fora de si mesmo, ou a vacuidade de todas as coisas internas e externas. Se a observação da vacuidade interna e externa não acalmar a sua mente ele deve observar a mente inabalável. Se a observação da mente inabalável não acalmar a sua mente, ele deve focar a sua mente na forma da meditação profunda anteriormente praticada e deve acalmá-la. Desta forma ele observa a vacuidade interior e se alegra com isto, liberta-se e está consciente disto. Observando a vacuidade externa, observando a vacuidade externa e interna, e observando a mente inabalável ele encontrará alegria e se libertará, e terá consciência de ter se emancipado.

(10) “Ananda, desta forma um discípulo deveria permanecer na CEBB

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profunda meditação da vacuidade. Se em sua mente ele tiver o pensamento de praticar meditação caminhando, assim deveria fazer. Se em sua mente ele pensar em permanecer imóvel, assim deveria fazer; se pensar em sentar-se ou deitar-se, assim deveria fazer. Caminhando, em pé, sentado ou deitado ele deveria estar consciente de que os males da cobiça e da lamentação não surgem. Mesmo ao falar ele não deveria falar sobre assuntos triviais ou vulgares; em vez disso ele deveria falar sobre assuntos que serão benéficos para a destruição das paixões, para a liberação da mente ou para conduzir ao nirvana. E também, ao pensar sobre as coisas ele não deveria ter pensamentos triviais e vulgares que surgem dos três estados mentais negativos: cobiça, raiva e má-vontade. Em vez disso ele deveria pensar sobre a renúncia ao mundo, compaixão e amor. Finalmente, ele deveria estar claramente consciente deles. “Ananda, ele deveria refletir muitas vezes sobre os cinco desejos despertados pelos cinco sentidos. Se ele perceber sua mente arrastada por qualquer um dos cinco desejos saberá que seus fortes desejos ainda não cessaram. Se sua mente não for arrastada por qualquer um deles ele saberá com uma consciência clara que está livre dos fortes desejos. “Ananda, o que deve ser avaliado antes de podermos dizer que um discípulo é adequado para seguir e servir o seu professor? Não é a memorização das palavras dos Sutras. Devem-se ouvir as palavras que trazem o conhecimento de que um mínimo de desejo leva à liberdade e ao nirvana, deve-se ouvir sobre o conhecimento que traz a consciência da liberdade, e deve-se alcançar a realização disto; assim, o discípulo torna-se adequado para servir seu professor. “Ananda, este é o tormento de um professor e de um discípulo. Seja professor ou discípulo, sua tarefa é deixar o mundo do sofrimento, habitando CEBB

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sob uma árvore em um bosque, em uma caverna nas montanhas ou em um cemitério. Apesar de habitar numa região em que outras pessoas não chegarão, sua mente se enfraquece e seu desejo pelo lar surgirá. Mesmo seguindo o Buda e mantendo seu local de prática distante das pessoas, sua determinação enfraquece e seu desejo pelo lar aumenta. Este é o tormento do monge praticante. Disto surgem as coisas negativas que resultam em sofrimento e nascimento no futuro. Ananda, desta forma, pelo bem de seu eterno benefício e felicidade, você deveria me seguir como um amigo, não como um inimigo. O que quero dizer com comportar-se como um inimigo é que, mesmo que seu professor explique o Darma compassivamente, você não volta seus ouvidos para ele e nem ouve cuidadosamente. Em vez disso, você volta sua mente para outro professor e abandona os ensinamentos de seu professor. Dirigir seus ouvidos e ouvir cuidadosamente, e não voltar sua mente para outro professor nem abandonar os ensinamentos de seu mestre é seguir comportando-se como um amigo. Ananda, eu não trato os discípulos com delicadeza assim como um ceramista trata a argila. Eu os ataco e os ensino. Apenas aqueles que possuem um pavio em seus espíritos permanecerão.”

3. Lições da Jornada (1) O Honrado pelo Mundo seguiu viajando para o sudeste e, ao longo do caminho, ensinou os discípulos dizendo: “Discípulos, livrem-se de uma coisa. Se vocês se livrarem desta coisa nunca retornarão novamente ao mundo da ilusão. Esta única coisa é a mente permeada por cobiça, raiva e

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ignorância; é a mente que encobre e esconde; é a mente da arrogância. “Discípulos, não estando consciente da arrogância a mente não a despreza e descarta e, assim, sofre infinitamente. É o mesmo com a cobiça, a raiva e a ignorância. Apenas quando a mente conhecê-las e compreendê-las completamente, desprezando-as e descartando-as, que o sofrimento chegará ao fim. “Discípulos, eu não vejo ninguém girando por tanto tempo no ciclo de nascimento e morte como as pessoas cegadas pela ausência da luz. E também não vejo ninguém girando tanto tempo no ciclo de nascimento e morte como aqueles presos pelas amarras do apego. Atadas por estes dois, as pessoas continuam por um longo tempo no ciclo de nascimento e morte. “Discípulos, para aqueles que aspiram à paz insuperável e se esforçam para alcançá-la, podemos dizer, falando em termos de fatores internos, que não há nada que ajude mais do que o pensamento correto. O pensamento correto naturalmente fará com que as não-virtudes sejam descartadas e as virtudes sejam praticadas. Falando em termos de fatores externos, não há nada que ajude mais que um bom amigo. Se você estiver próximo de um bom amigo, naturalmente descartará as não-virtudes e praticará as virtudes.

(2) “Discípulos, há um problema que, ao surgir, não será benéfico e trará infelicidade e sofrimento a muitas pessoas. Este problema é a destruição da harmonia da Sanga. Se a harmonia da Sanga for destruída haverá disputas e difamações; barreiras serão construídas e a Sanga será dividida. Devido a isto aqueles que não possuem fé permanecerão sem fé, e alguns que a possuem perderão. “Discípulos, há algo que quando surge beneficiará muitas pessoas e as fará felizes. Este algo é a harmonia da Sanga. Se a Sanga estiver em harmonia CEBB

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as pessoas não disputarão, não construirão barreiras entre elas e não se dividirão. Com isto, aqueles que não possuem fé irão conquistá-la e aqueles que possuem fé irão aprofundá-la ainda mais. “Discípulos, através de minha mente eu sei o que se passa com algumas pessoas cujas mentes são maculadas. Quando suas vidas acabarem estas pessoas cairão, certamente, no inferno. A razão para isto é que suas mentes estão maculadas. Como suas mentes estão maculadas elas cairão no inferno do sofrimento quando suas vidas acabarem. “Discípulos, através de minha mente eu conheço completamente as pessoas de mentes sinceras, que possuem uma fé jubilosa no Darma. Eu sei que estas pessoas, quando suas vidas acabarem e seus fardos forem abaixados, certamente renascerão no reino dos deuses. A razão para isto é que suas mentes possuem fé e estão plenas de alegria. Devido a suas mentes apresentarem desejos sinceros estas pessoas renascerão nos céus quando suas vidas terminarem.

(3)

“Discípulos,

pratiquem

da

seguinte

forma

e

a

repitam

frequentemente e vocês conquistarão algo tanto para o presente quanto para o futuro. Esta forma significa que vocês não deveriam ser autoindulgentes com relação àquilo que é bom. “Discípulos, se vocês empilhassem os ossos que deixaram para trás durante seus ciclos de nascimentos e mortes desde o passado infinito, a pilha seria tão grande quando o monte Vepula. Não seria fácil de livrar-se dela. Discípulos, eu digo sem dúvidas que as pessoas que cometeram um certo tipo de transgressão não estão imunes a cometerem ações negativas. Esta transgressão é mentir conscientemente. “Discípulos, se alguém soubesse tão bem quanto eu quais são os frutos CEBB

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da generosidade, sua mente não seria maculada pela cobiça. Ele não comeria nem mesmo o menor resto de comida sem compartilhá-lo. Discípulos, quaisquer méritos que haja no mundo, comparados com a mente compassiva eles não valem nem mesmo uma décima sexta parte. O brilho da luz do coração da compaixão os supera assim como o brilho da lua ofusca a luz de todas as estrelas, que não alcança nem mesmo uma décima sexta parte do brilho da lua.” E ele disse em versos:

Com o pensamento correto, aqueles que praticam a compaixão incomensurável Desatarão as amarras das paixões E transcenderão o mundo das delusões. É uma boa coisa olhar para outro ser vivo Com compaixão em vez de raiva. Ser compassivo com todas as coisas vivas Gera um mérito ilimitado. Mesmo o mérito dos santos peregrinos, Que conquistaram a terra onde vivem multidões de pessoas E que ofereceram os cinco presentes dos unguentos, rosários, Incenso, alimento e lâmpadas ou velas, Corresponde a apenas uma décima sexta parte do valor da mente compassiva adequadamente praticada. Não matar, não fazer com que os outros matem, Não prejudicar, não fazer com que os outros prejudiquem, Se você possuir compaixão por todos os seres vivos Você não guardará ressentimento algum.

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(4) “Discípulos, se possuírem dois hábitos vocês podem esperar sofrimento, preocupações e ansiedade neste mundo, e no futuro poderão esperar um caminho negativo. Estes hábitos são negligenciar a vigilância dos cinco sentidos e comer sem limites. Por outro lado, se possuírem dois hábitos vocês podem esperar a ausência de sofrimento, preocupações e ansiedade, seus dias serão felizes, e no futuro vocês poderão esperar um bom caminho. Estes são a vigilância das portas dos cinco sentidos e ter limites ao comer.

Olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente: Não vigiar estas portas, Comendo sem estabelecer limites E sendo descontrolado, Você sofrerá tanto em corpo quanto em mente.

Queimando interna e externamente, Você sofrerá durante a noite e o dia. Vigie bem estas portas, Estabeleça limites e controle suas refeições, E seu corpo e mente ficarão em paz, E noite e dia você se sentirá feliz.

“Discípulos, eu sofro em duas situações: quando as pessoas não realizam ações virtuosas e não protegem aqueles que estão com medo, e quando as pessoas cometem ações negativas e atos cruéis. Por outro lado, eu me alegro em duas situações: quando as pessoas realizam ações positivas e protegem aqueles que têm medo, e quando ninguém comete ações cruéis. “Discípulos, caso vocês sustentem duas coisas serão levados para o CEBB

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inferno, isto é tão certo quanto um pesado fardo é colocado no chão: preceitos maldosos e visões negativas. Por outro lado, caso vocês sustentem duas coisas renascerão em um reino celestial, isto é tão certo quanto um pesado fardo é colocado no chão: bons preceitos e visões positivas.

(5) “Discípulos, se vocês não forem completamente sinceros e não possuírem um sentido de vergonha, não serão capazes de realizar a verdadeira iluminação, alcançar o nirvana ou atingir a tranquilidade insuperável. “Discípulos, repousar nas ações positivas não tem por objetivo enganar as pessoas, ou dizer coisas inúteis, ou conquistar respeito, fama ou ganhos pessoais. Na verdade é com o objetivo de controlar-se, descartar todo o mal e conhecer completamente. “Discípulos, ao possuírem duas coisas vocês conquistarão neste mundo muita felicidade e alegria, e começarão a destruir as paixões imediatamente. Estas são sentir-se alarmado quando se deve estar alarmado e, ao sentir-se alarmado, praticar corretamente.

Aqueles que são inteligentes praticam diligentemente e pensam profundamente, Confiam em sua sabedoria, comparam e se alarmam. Calmamente, sem se deixarem excitar, Diligentemente

dedicando-se

às

práticas

da

concentração

e

da

contemplação, Estes alcançarão o fim do sofrimento.

(6) “Discípulos, dois pensamentos surgem frequentemente em um CEBB

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buda. Estes são o pensamento da tranquilidade e o pensamento do distanciamento. Um buda fica feliz e contente quando não há prejuízos, mas em um buda surge frequentemente este pensamento: ‘Caminhando, em pé, sentando ou deitando, eu não causarei prejuízos aos animais ou plantas.’ E também, um buda fica feliz e contente com o silêncio, longe das perturbações; em um buda surge frequentemente este pensamento: ‘Eu abandonei todas as coisas não-positivas.’ Vocês, também, deveriam permanecer na felicidade e alegria de não prejudicar ninguém. Além disso, vocês deveriam permanecer na felicidade e alegria da tranquilidade, longe das perturbações. “Discípulos, aqueles a quem falta a pura sabedoria são lamentáveis. Eles sofrerão, ficarão aflitos e perturbados neste mundo, e devem esperar por um caminho negativo na próxima vida. Aqueles que possuem a pura sabedoria são afortunados. Eles permanecerão tranquilos neste mundo e podem esperar um bom caminho na próxima vida.

(7) “Discípulos, existem dois tipos de nirvana: nirvana com resíduos e nirvana sem resíduos. O nirvana com resíduos é experimentado pelo sábio que destruiu as paixões e realizou as práticas puras, que fez o que devia ser feito e que deitou seu pesado fardo, que alcançou seu objetivo e que destruiu completamente as paixões que convidam à próxima vida e que, através da verdadeira sabedoria, tornou-se livre. Entretanto, ele ainda possui os cinco sentidos e saboreia os sofrimentos e alegrias que surgem das coisas que devem ser amadas e das que não devem ser amadas. Isto é o nirvana com resíduos. O nirvana sem resíduos é experimentado pelo sábio que não saboreia as sensações e que não sente o calor das paixões, permanecendo tranquilo. “Discípulos, sintam o prazer e a alegria do retiro isolado, esforcem-se CEBB

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para aquietar suas mentes interiores, não impeçam a contemplação silenciosa, examinem claramente as coisas e esforcem-se para viver em uma morada vazia. Discípulos, agarrem-se aos benefícios dos três aprendizados: preceitos, meditação e sabedoria; adotem a sabedoria superior e vivam sob a governança de uma mente positiva. “Discípulos, não sejam descuidados, mantenham a mente com foco único; com uma mente tranquila, feliz e alegre vivam sempre buscando a bondade. Se vocês praticarem desta forma alcançarão a iluminação dos sábios nesta vida atual ou a iluminação que torna possível não retornar para o reino da delusão. Podem esperar um destes dois resultados. Discípulos, há dois tipos de pessoas que não descartarão a maldade e que cairão nos infernos: aqueles que fazem o voto de seguir as práticas puras, mas que acabam seguindo as práticas maculadas; e aqueles que impedem as pessoas de seguirem a prática perfeitamente pura. “Discípulos, as pessoas que estão presas por visões tendenciosas ou se fixam à existência ou odeiam a existência. Entretanto, aqueles que possuem olhos simplesmente veem as coisas como elas são. Discípulos, como alguém se fixa à existência? Algumas pessoas se alegram com a existência e gostam da existência. Mesmo que elas ouçam que as coisas existentes estão sujeitas à destruição, suas mentes não se voltam para este fato e não gostam de ouvir sobre isto. E como alguém odeia a existência? Algumas pessoas odeiam a existência e se lamentam, elas se desagradam com a existência e encontram alegria na inexistência. Elas ficam felizes por desaparecerem completamente após a morte. E como uma pessoa que possui olhos vê? Ela vê a existência como existência e, não gostando dela, liberta-se da existência; ela se liberta desta fixação e se esforça para a sua cessação.

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(8) “Discípulos, existem três percepções no mundo: a percepção do sofrimento, a percepção do prazer e a percepção nem do sofrimento nem do prazer. A percepção do prazer deve ser vista como sofrimento. A percepção do sofrimento deve ser vista como uma flecha envenenada. A percepção nem do sofrimento nem do prazer deve ser vista como impermanência. Ao enxergá-las desta forma, vendo-as corretamente, vocês destruirão a fixação insaciável, desatarão as amarras e, confiando na compreensão correta da mente, tornar-se-ão sábios que acabaram com o sofrimento. “Discípulos, existem três tipos de paixões insaciáveis: a paixão sexual, a paixão pela existência e a paixão pela inexistência.

Amarrados pelo jugo das paixões Aqueles que se regozijam com existência ou inexistência São prisioneiros de espíritos malignos e não encontram a paz. Lastimáveis, de fato, são os caminhos do envelhecimento, morte e retorno ao ciclo. Apenas quando livres do desejo E tendo exaurido os obscurecimentos mentais Vocês poderão alcançar a outra margem nesta vida.

“Discípulos, quando estiverem acompanhados por três coisas vocês abandonarão a terra dos espíritos malignos e brilharão como o sol. As três coisas são os preceitos do sábio, meditação e sabedoria. “Discípulos, existem três coisas em um sábio: o silêncio do corpo, pensamento e palavra. Discípulos, sejam vocês quem forem, se não eliminarem a cobiça, a raiva e a ignorância, serão apanhados na armadilha do Demônio e terão que se mover seguindo as ordens dele. Apenas quando CEBB

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eliminarem a cobiça, a raiva e a ignorância vocês serão capazes de abandonar os reinos dos espíritos malignos. Discípulos, se vocês não se libertarem das três estarão à deriva no oceano. Assim, as ondas grandes e pequenas os engolirão, redemoinhos os arrastarão para baixo e haverá o temor dos tubarões e dos demônios comedores de carne humana. Apenas quando vocês eliminarem as três pode-se dizer que abandonaram este oceano, cruzaram para a margem ideal e permanecem no terreno da pureza. “Discípulos, há três coisas que fazem com que as pessoas voltem atrás durante seus esforços: desejar que coisas aconteçam, entregar-se à fala inútil e ao sono. Discípulos, esperar por fama, pelo aumento das riquezas e desejar renascer em um bom lugar no futuro são desejos humanos comuns. Se vocês esperam por estes três prazeres devem aderir aos bons preceitos.

(9) “Discípulos, as pessoas são arruinadas pela fama e pela desgraça e, após suas mortes, caem nos caminhos negativos. Vocês devem se manter afastados das críticas e elogios. Discípulos, examinem se há impurezas em vocês mesmos. Não percam a atenção mental correta entre a exalação e a inalação. Examinem a impermanência de todas as coisas. Se vocês examinarem as impurezas deste corpo, o desejo intenso que surge do pensamento errôneo de que este corpo é puro desaparecerá. Se vocês preservarem a atenção mental correta entre a exalação e a inalação, o obstáculo de ser um prisioneiro das coisas externas desaparecerá. Se enxergarem a impermanência de todas as coisas a ignorância cessará e se transformará em sabedoria. “Discípulos, existem três tipos de fogo: o fogo da cobiça, o fogo da raiva e o fogo da ignorância. O fogo da cobiça queima aqueles cujas mentes se enfraqueceram com o desejo. O fogo da raiva queima aqueles que se CEBB

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enraivecem e que ferem os seres vivos. O fogo da ignorância queima aqueles cujas mentes estão deludidas e não conhecem os ensinamentos sagrados. Aqueles completamente destituídos do brilho da sabedoria e que só conhecem o amor por si mesmos são queimados por estes três tipos de fogo. Discípulos, pratiquem o exame das impurezas para extinguir o fogo do desejo. Extingam o fogo da raiva com uma mente compassiva. Extingam o fogo da ignorância com a sabedoria que leva ao nirvana. Aqueles que com profunda atenção mental se esforçam de coração dia e noite extinguirão estes três fogos e alcançarão o fim do sofrimento. “Discípulos, existem três coisas que constituem os obscurecimentos internos, o adversário interno e o inimigo interno. Estas são a cobiça, a raiva e a ignorância.

(10) “Discípulos, o modo de vida mais humilde é aquele do mendigo que, com a tigela na mão, pede por comida em cada porta. Suponham que o filho de um chefe de família ingresse neste modo de vida simples por sua própria vontade. Ele não chega até este caminho trazido por um rei; ele não chega por temor dos ladrões; ele não chega por possuir débitos ou por medo; e ele não chega por não possuir meios para se sustentar. Ele chega simplesmente porque, tendo nascido neste mundo e estando oprimido por nascimento, velhice, morte, pesar, tristeza, sofrimento, aflições e agonia, ele pensa: ‘Aqui, de fato, eu aprenderei a colocar um fim ao sofrimento e às aflições.’ Discípulos, a mente deste filho de um chefe de família que deixou o lar se não estiver livre da cobiça estará constantemente com raiva; sua atenção mental é maculada, ele não possui controle sobre os sentidos e sua mente é distraída; esta pessoa, apesar de estar livre dos prazeres dos chefes de família, não pode alcançar seu objetivo como aqueles que deixaram o lar. CEBB

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“Discípulos, estas são quatro coisas triviais, fáceis de conseguir e que não é incorreto conseguir. As quatro coisas são o manto monástico de trapos jogados fora, comida que foi mendigada, uma morada sob uma árvore e remédio feito de urina fermentada. Se um discípulo do Buda estiver satisfeito com estas coisas sem valor, facilmente obtidas, eu o chamo de discípulo do Buda. “Discípulos, eu afirmo que pelo conhecimento e pela visão as paixões cessam; mas pelo conhecimento e pela visão o que cessa devido às paixões? Discípulos, é o sofrimento. Conhecendo e vendo o sofrimento as paixões cessam. Conhecendo e vendo a cessação do sofrimento as paixões cessam. Conhecendo e vendo o caminho para a cessação do sofrimento as paixões cessam. “Discípulos, um mendicante, não importa quem seja, não poderá ser chamado de verdadeiro mendicante a não ser que realmente saiba o que é o sofrimento, qual é a causa do sofrimento, o que é a cessação do sofrimento e qual é o caminho para a cessação do sofrimento. Alguém pode ser chamado de verdadeiro monge apenas quando reconhece que estas são realmente as Quatro Nobres Verdades.

(11) “Discípulos, os chefes de família que lhes oferecem mantos, alimento, lugares para moradia e remédios são seus grandes ajudantes. Vocês, também, são ajudantes para aqueles a quem expõem o ensinamento puro que é belo no início e no fim. Os mendicantes e os chefes de família que se apoiam desta forma e que se ajudam a cruzar o rio selvagem das paixões colocam um fim ao sofrimento. “Discípulos, observem os preceitos e, confiando nestes preceitos, vivam no controle de seus corpos. Comportem-se corretamente e cuidem-se mesmo CEBB

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diante da menor violação; estudem e pratiquem diligentemente. Mesmo quando estiverem parados se afastem da cobiça, afastem-se da raiva, afastemse da ociosidade e do

torpor, afastem-se da

inquietação e dos

arrependimentos do coração, afastem-se da dúvida e se esforcem sem se curvarem ou relaxarem; pensando corretamente, concentrem silenciosamente suas mentes em um único ponto. Quando estiverem sentados, em pé ou deitados, ajam assim. Discípulos, se fizerem desta forma, seja caminhando, parados em pé, sentados ou deitados, com mente unifocada, vocês conhecerão o sentido da vergonha e merecerão ser chamados de alguém que se esforça sem cessar e sinceramente.”

4. O Cabelo Branco (1) Então, O Honrado pelo Mundo entrou no país de Mithila e pernoitou em um bosque de mangueiras chamado Mahadeva. Um dia, num local daquele bosque, ao ver o Honrado pelo Mundo sorrir Ananda pensou: “O Honrado pelo Mundo não sorri sem uma razão. Deve existir uma razão.” Ele perguntou ao Honrado pelo Mundo qual era a razão. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ananda, muito, muito tempo atrás, havia um bom rei chamado Mahadeva aqui em Mithila. Ele confiava no Darma para governar o país e seis vezes por mês praticava o jejum. Ananda, depois que o rei havia desfrutado seu status real por milhares de anos, um dia ele chamou seu barbeiro e disse: ‘Quando você encontrar um cabelo branco em minha cabeça me diga.’ Depois de alguns milhares de anos o

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barbeiro encontrou um único cabelo branco na cabeça do rei e disse: ‘Grande rei, um mensageiro dos deuses surgiu, um cabelo branco nasceu.’ Ele o arrancou e colocou na mão do rei. Ao vê-lo, o rei ofereceu ao barbeiro uma recompensa. Ele mandou chamar o príncipe e lhe deu seu conselho final. ‘Príncipe, um mensageiro dos deuses apareceu para mim. Como eu experimentei os prazeres do mundo humano agora é a hora de buscar os prazeres do mundo divino. Estou pronto para deixar o lar. Príncipe, quando você também encontrar um cabelo branco em sua cabeça você deve passar adiante o status real para o seu filho mais velho e deve abandonar o lar. Como estou iniciando esta boa tradição você deveria recebê-la como herança sem deixá-la morrer. Não seja o último a herdar esta tradição.’ “Ananda, desta maneira o rei Mahadeva deixou tudo para trás e morou neste bosque de mangueiras chamado Mahadeva. Ele praticou as quatro mentes incomensuráveis – compaixão, piedade, alegria e equanimidade – e quando sua vida neste mundo terminou, ele renasceu no reino de Brahmadeva. Mais tarde, seus descendentes, um após o outro, deixaram o lar, praticaram as quatro mentes incomensuráveis e renasceram no mundo dos deuses. O último rei, chamado Nimi, governou o país de acordo com o costume, praticando o jejum seis vezes por mês, ele foi um bom rei.

(2) “Ananda, um dia no céu de Tavatimsa, no Salão do Bom Darma dos trinta e três deuses houve uma assembleia dos deuses. Ali aconteceu o seguinte. ‘O povo de Mahadeva está verdadeiramente feliz, pois o rei Nimi é um bom rei.’ Indra, senhor dos céus, disse: ‘Deuses, vocês querem ver o rei Nimi?’ Naquele momento o rei Nimi estava no meio do jejum da lua cheia, seu cabelo estava lavado e ele estava sentado no topo de uma torre elevada. Indra imediatamente apareceu diante do rei Nimi e disse: ‘Grande rei, você é CEBB

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realmente afortunado. Os deuses dos céus dos trinta e três estão reunidos e o estão louvando, e desejam vê-lo. Grande rei, eu enviarei uma carruagem puxada por mil cavalos, suba nela e cavalgue até o mundo dos deuses.’ O rei Nimi aceitou o convite de Indra, o qual imediatamente retornou aos céus. “Nos céus, Indra chamou o cocheiro Matali e o mandou imediatamente para o rei Nimi. Matali obedeceu e foi até o rei Nimi. Atendendo ao pedido do rei, Matali seguiu em sua jornada para os céus tanto o caminho daqueles que recebiam os efeitos negativos de suas ações maldosas quanto o caminho daqueles que recebiam os efeitos positivos de suas boas ações, e então o levou até o Salão do Bom Darma dos trinta e três deuses. Ao ver o rei Nimi chegar os deuses o saudaram, louvaram suas virtudes e o convidaram a saborear os prazeres do mundo celestial. Entretanto, o rei declinou de seus favores, retornou a Mithila, preservou a prática do jejum e governou o país de acordo com os costumes. Ao encontrar um cabelo branco ele entregou o governo do país ao seu filho mais velho. Ele deu ao seu filho o último conselho e deixou o lar. Ele praticou as quatro mentes incomensuráveis e renasceu no mundo de Brahmadeva. O filho mais velho do rei chamava-se Kalarajanaka. Ele quebrou a tradição seguida por seus ancestrais e não deixou o lar. Ele foi o último da linhagem. “Ananda, não ache que o rei Mahadeva era outra pessoa. Eu era aquele rei. Entretanto, a boa tradição que eu iniciei naquela época não tornava as paixões negativas inexistentes, não levava à tranquilidade ou possibilitava o acesso ao nirvana. Ela simplesmente levava ao nascimento no mundo Brahmadeva. Ananda, a boa tradição que eu inicio agora é tal que as paixões negativas se tornam inexistentes, a tranquilidade é alcançada e o nirvana é acessado. Qual é esta boa tradição? É o Nobre Caminho Óctuplo – visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, CEBB

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esforço correto, atenção mental correta e concentração correta. Ananda, você deve continuar esta boa tradição e não deve deixá-la cessar. Você não deve ser o último da linhagem.”

(3) O Honrado pelo Mundo, acompanhado por muitos discípulos, peregrinaram novamente através do país de Kosala e, finalmente, chegaram a uma vila brâmane denominada Sala. O povo da vila ouviu sobre a chegada do Honrado pelo Mundo e foi visitá-lo. Eles perguntaram: “Ó Honrado pelo Mundo, por que alguns morrem e caem nos infernos enquanto outros nascem no mundo celestial?” “Ó povo, como algumas pessoas fazem coisas que não estão de acordo com o Caminho, devido a suas ações incorretas elas caem nos infernos. E também, como as ações de outras pessoas se baseiam no Caminho e são corretas, elas nascem no mundo celestial.” “Ó Honrado pelo Mundo, não conseguimos entender estas palavras sucintas. Por favor, explique em detalhes.” “Ó povo, ouçam bem, então. Existem três ações que vão contra o Caminho através do corpo. Existem quatro ações que vão contra o Caminho através da fala. Existem três ações que vão contra o Caminho através do pensamento. Estas ações do corpo são: tirar vidas, com a mente brutalizada, desejando sangue, sem compaixão pelos seres vivos; roubar, tomar aquilo que não foi dado; e entregar-se à licenciosidade. Estas são as três ações de corpo que vão contra o Caminho. “As quatro ações verbais são as seguintes: devido ao medo ou para o próprio proveito alguém conta mentiras; emitir palavras para destruir as relações das pessoas; indiscriminadamente e asperamente difamar outras pessoas; e divertir-se com conversa vazia desnecessária. Estas são as quatro CEBB

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ações verbais que vão contra o Caminho. “As três ações mentais são as seguintes: despertar o pensamento da avareza para obter os ganhos dos outros; tornar-se raivoso e aceitar o pensamento perverso de sentir prazer ao ver o sofrimento dos outros; aceitar as visões perversas e afirmar que a caridade e as oferendas de alimento são inúteis, que não há recompensas pelas ações virtuosas, que não há virtude na piedade e na fidelidade, ou que não há a iluminação. Estas são as três ações mentais que vão contra o Caminho. A partir das causas destas ações de corpo, fala e mente, que vão contra o Caminho, algumas pessoas entram nos infernos depois de morrerem. “Por outro lado, aqueles que não cometem as três ações de corpo que vão contra o Caminho, nem as quatro ações verbais que vão contra o Caminho, nem as três ações mentais que vão contra o Caminho, estes nascem no mundo celestial. Aqueles que evitam as dez ações de corpo, verbais e mentais que vão contra o Caminho podem nascer à vontade em qualquer mundo dos deuses. Além disso, se desejarem, eles podem extinguir todas as paixões e despertar para a iluminação no momento atual.” Os aldeões de Sala se regozijaram com as palavras do Honrado pelo Mundo e cada um pediu para ser contado por toda a vida como um discípulo de seus ensinamentos.

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LIVRO V Capítulo III - SABEDORIA E IGNORÂNCIA

1. Nanda e Rahula

(1) Já havia passado algum tempo desde que Nanda recebera os ensinamentos do Honrado pelo Mundo que lhe permitiram se libertar da vida de desejos. Certo dia, Nanda estava sozinho na floresta e pensou: “Encontrar um buda não é algo fácil. Tão raro quanto o florescimento de uma flor udumbara é o surgimento de um buda neste mundo. Agora que tive a alegria de encontrar um buda, eu me esforcei nas práticas e alcancei a bemaventurança do nirvana.” Entretanto, mesmo no coração de tal sábio espíritos malévolos continuaram tentando entrar. Conhecendo o coração de Nanda, eles apareceram no palácio interno do castelo de Kapilavatthu e seduziram a princesa Sundarinanda.

Alegre-se, princesa. Adorne seu corpo, Toque música e deleite-se. O seu amado está voltando para casa E correrá para seus braços.

A princesa Sundarinanda ouviu estas palavras e ficou radiante. Ela CEBB

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enfeitou seu corpo e o quarto, tocou música e esperou pelo retorno de seu marido ao castelo. O rei Pasenadi de Savatthi também ouviu este rumor e ficou bastante surpreso. Ele se apressou até a floresta onde Nanda vivia. Nanda perguntou: “Grande rei, por que você veio até aqui com tanta pressa? Você não me parece bem.” “Eu ouvi o rumor de que você havia deixado a vida de monge, tendo retornado ao lar ou que estava retornando ao lar. Isto me preocupou, e por isso eu vim vê-lo.” Ao ouvir isto, Nanda sorriu e disse: “Grande rei, quando você estava com o Honrado pelo Mundo, não ouviu falar sobre mim? As amarras de minha delusão foram cortadas e eu nunca renascerei novamente na delusão.” “Eu não soube disto. Hoje corre o rumor que você está voltando para o status de leigo, para o castelo e para sua antiga princesa. Dizem que a princesa enfeitou-se voltando à sua beleza de outrora, decorou seu quarto com flores e está esperando pelo seu retorno ao castelo.” “Grande rei, para aquele que deixou o lar para se tornar um monge existem as alegrias da tranquilidade, do nirvana. O desejo deve ser temido, como um poço de fogo ou uma faca coberta pelo mel. Por que alguém que repousa nesta tranquila floresta e que sorve a água que é como néctar do Darma entraria novamente em um emaranhado de espadas ou usaria uma droga prejudicial? Eu aprendi qual é a fonte do fogo do desejo e cruzei os rios do desejo, das vidas recorrentes e da não-iluminação. Eu realizei aquilo que tinha que fazer.” “Ouvindo isto não tenho a menor dúvida. Voltarei com minha mente descansada.” Mas os espíritos malévolos tentaram Nanda ainda mais obstinadamente.

Sua forma tem o odor agradável de uma flor, Sua face é pura como a lua. CEBB

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Nesta noite de primavera adornada por vozes e alaúdes, Por que você não retorna para a companhia de sua esposa?

Nanda rejeitou estas vozes e cantou:

Muito tempo atrás minha mente era assim, Cercada pelo desejo inexaurível, Eu caminhava para a velhice e a morte. Porém, agora eu cruzei o abismo do desejo sexual. Livre de impurezas e impermeável aos obscurecimentos Eu não sinto falta alguma do status de rei. O verdadeiro Darma é digno de confiança. Espíritos malévolos, vão embora! Desapareçam!

Os discípulos ouviram falar sobre isto e relataram ao Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo o louvou, dizendo: “Nanda possui grande força. Ele é muito atraente. Seu desejo é grande, mas ele o controla bem e protege os cinco sentidos. Ele é moderado ao comer. À noite ele não se deita, mas procura se esforçar na prática. Ele aperfeiçoou tanto a sabedoria quanto a prática.”

(2) Certa manhã o Honrado pelo Mundo vestiu seu manto e pegou sua tigela, dirigindo-se a Savatthi para sua ronda de mendicância. Rahula vestiu, também, seu manto e pegou sua tigela, acompanhando-o. O Honrado pelo Mundo se voltou para ele e disse: “Rahula, nada nos três tempos, passado, presente ou futuro é ‘meu’; nem tampouco há algo como ‘eu’, ou algo como ‘minha essência’. Confiando na verdadeira sabedoria você deveria conhecer CEBB

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as coisas como elas são.” “O Honrado pelo Mundo diz isso apenas com relação às coisas?” “Rahula, assim como é em relação às coisas, da mesma forma é em relação à mente.” Naquele momento, Rahula pensou: “Hoje o Honrado pelo Mundo me deu pessoalmente um ensinamento. Não vou fazer a ronda de mendicância.” Voltando atrás e dirigindo-se para o pé de uma árvore ele se sentou com o corpo ereto e com a mente correta. Ao vê-lo, Sariputta se aproximou e disse: “Rahula, controle sua respiração. Se você praticar a respiração atenta com frequência receberá grandes benefícios.” À noite, Rahula terminou sua prática de meditação, foi até o Honrado pelo Mundo e perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, como é possível aperfeiçoar a respiração atenta e quais benefícios advêm disto?” O Honrado pelo Mundo respondeu da seguinte forma.

(3) “Rahula, vá para um bosque sob uma árvore ou para uma casa onde ninguém more e sente-se com o corpo ereto e a mente correta. Ao exalar ou inalar mantenha a mente unifocada; ao respirar longamente, esteja consciente de que você está respirando longamente. Ao respirar de forma curta, esteja consciente de que você está respirando de forma curta. Ao exalar longamente, esteja consciente de que você está assim fazendo. Ao exalar de forma curta, esteja consciente de o fazer. Você estará consciente de todo o seu corpo à medida que inala e exala. Você acalmará seu corpo à medida que inala e exala. Você sentirá alegria à medida que inala e exala. Sua mente estará livre de apegos à medida que inala e exala. Você contemplará a impermanência e a liberdade à medida que inala e exala. Se você estiver atento desta forma à sua respiração, e se praticar assim repetidamente, haverá grande benefício; sua respiração final se dissolverá não no meio da inconsciência, mas sim em meio CEBB

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à consciência. Rahula, é assim que você deveria aperfeiçoar a respiração atenta.”

(4) “Rahula, além disso, você deveria aperfeiçoar a prática conhecida como Equanimidade da Terra. Se você aperfeiçoar esta prática sua mente não se fixará às emoções da atração ou aversão pelo que surge. Quer você coloque algo puro ou impuro sobre a grande terra, ela não gosta ou desgosta daquilo. E também, você deveria aperfeiçoar a prática conhecida como Equanimidade da Água. Se você aperfeiçoar esta prática sua mente não se fixará às emoções de atração ou aversão pelo que surge. Quer você coloque algo puro ou impuro na água, ela não gosta ou desgosta daquilo, permita que sua mente também seja assim. “Rahula, também aperfeiçoe as práticas de compaixão, bondade, alegria e equanimidade. Se você aperfeiçoar a prática da compaixão poderá evitar a raiva. Se aperfeiçoar a prática da bondade poderá evitar a angústia. Se aperfeiçoar a prática da alegria poderá evitar a frustração. Se aperfeiçoar a prática da equanimidade poderá evitar o desejo de prejudicar os outros. “Rahula, também aperfeiçoe a meditação sobre os objetos impuros e a meditação sobre a impermanência. Se você aperfeiçoar a meditação sobre a impureza, a cobiça desaparecerá. Se você aperfeiçoar a meditação sobre a impermanência, o orgulho próprio desaparecerá. Rahula, estes são os grandes benefícios que você receberá ao aperfeiçoar a respiração atenta.” Rahula ficou exultante com os ensinamentos do Honrado pelo Mundo.

2. Os Ignorantes e os Sábios

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(1) Uma noite o Honrado pelo Mundo falou para os seus discípulos no jardim frontal do bosque Jeta: “Ó discípulos, os lares onde os filhos honram e respeitam seus pais são lares nos quais vivem deuses e budas. Deuses e budas são os nomes desses pais. Discípulos, os pais são os deuses que dão vida aos filhos e os nutrem. Os pais são os budas que ensinam aos filhos o que é bom e ruim neste mundo.

(2) “Discípulos, no oitavo dia de cada meio mês, os mensageiros dos deuses correm o mundo observando quantas pessoas neste mundo humano estão acumulando méritos ao servir seus pais e monges, seguindo os mais velhos e respeitando os oito preceitos nos dias de jejum, e vendo quem mantém reverência nos dias anteriores e posteriores. Discípulos, e também, no décimo quarto dia de cada meio mês, os príncipes dos deuses também correm o mundo desta maneira. Além disso, no décimo quinto dia de cada meio mês os próprios deuses correm o mundo desta forma. “Discípulos, desta forma os deuses olham para o mundo humano. Quando há apenas poucas pessoas acumulando mérito, os deuses se reúnem no Salão de Palestras do Bom Darma e se lamentam: ‘Há poucos no reino humano acumulando méritos por cuidarem de seus pais e dos monges, por respeitarem os mais velhos, por observarem os oito preceitos nos dias de jejum, ou por manterem a reverência nos dias anteriores e posteriores. Que tristeza, o número de deuses diminui enquanto o número de demônios aumenta.’ Quando há muitas pessoas acumulando méritos, eles se regozijam, dizendo: ‘Ó, os deuses se multiplicam e os demônios diminuem.’

(3) “Discípulos, há muito, muito tempo atrás, o senhor dos deuses, CEBB

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Indra, reuniu os deuses dos trinta e três céus e cantou para eles:

Se vocês desejam ser iguais a mim, A cada meio mês, No oitavo, décimo quarto e décimo quinto dias, E nos dias anteriores e posteriores, Observem os oito preceitos.

“Discípulos, não se pode dizer que é correto que Indra cante esta canção. A razão é que ele está dizendo: ‘Se vocês desejam ser iguais a mim’, mesmo ele não estando livre da cobiça, raiva e ignorância, e nem de nascimento, pesar, tristeza, sofrimento, angústia ou agonia. “Discípulos, apenas quando alguém exauriu as paixões, aperfeiçoou as práticas puras, completou o que havia para ser feito, abaixou o pesado fardo das ofensas e se tornou um sábio verdadeiramente liberado que estará qualificado para cantar esta canção. A razão é que tal sábio está de fato liberado da cobiça, raiva, ignorância; e do nascimento, velhice, pesar, tristeza, sofrimento, angústia e agonia.

(4) “Discípulos, aqueles que possuem uma mente confiante darão nascimento a muitas virtudes se possuírem três coisas: a primeira é uma mente de fé, a segunda é a capacidade de oferecer e a terceira é alguém merecedor para quem eles possam fazer a oferenda. “Discípulos, um chefe de família que possui uma mente confiante pode ser reconhecido por estas três qualidades: primeira, ele possui o desejo de encontrar pessoas que mantêm corretamente os preceitos; segunda, ele tem o desejo de ouvir o verdadeiro Darma; terceira, ele está livre do CEBB

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obscurecimento da cobiça e com mãos puras oferece abundantemente para muitos, e encontra alegria ao oferecer para aqueles que constantemente o seguem e lhe pedem. Se estas três qualidades se manifestarem em uma pessoa, ela é alguém que possui uma mente confiante.”

(5) Outra noite ele disse: “Ó discípulos, existem três situações que as pessoas chamam de abandono dos pais e abandono dos filhos. A primeira é quando um grande fogo é desencadeado e a força do fogo é tal que a mãe não pode salvar seu filho nem o filho pode salvar a mãe. A segunda é quando há uma tremenda tempestade com vento e chuva e se dá uma grande enchente; quando as pessoas são arrastadas pela força das águas a mãe não pode salvar o filho nem o filho pode salvar a mãe. A terceira é quando um bando de ladrões das florestas começam um assalto e os aldeões fogem, e a mãe não consegue salvar seu filho nem o filho consegue salvar a mãe. Apesar disto, discípulos, nestas três situações pode ocorrer de a mãe ou o filho salvarem um ao outro. Mas há outras três situações nas quais a mãe e o filho se separam de fato e devem abandonar um ao outro. Isto se dá quando velhice, doença e morte caem sobre eles. “Ao ver seu filho envelhecer uma mãe não pode dizer: ‘Envelhecerei no lugar de meu filho.’ Ao ver a mãe envelhecer o filho não pode dizer: ‘Envelhecerei no lugar de minha mãe.’ E também, ao ver o filho doente uma mãe não pode dizer: ‘Ficarei doente no lugar de meu filho.’ Ao ver a mãe adoecer o filho não pode dizer: ‘Ficarei doente no lugar de minha mãe.’ Além disso, quando uma mãe olha para seu filho morto, não poderá ressuscitá-lo, dizendo: ‘Morrerei no lugar de meu filho se ele voltar à vida.’ Um filho não pode salvar sua mãe morta dizendo: ‘Assumirei seu lugar se ela se salvar.’ Estes são os verdadeiros abandonos de um pai e de um filho. Entretanto, há CEBB

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um caminho para transcender e libertar-se destas seis situações – as anteriores e as últimas três. Este caminho é o Nobre Caminho Óctuplo.

(6) “Discípulos, todos os medos surgem da ignorância. Todos os sofrimentos também surgem da ignorância. Toda a infelicidade que existe também surge da ignorância. Quer uma casa possua um teto de bambus ou de capim, ou quer ela seja uma cabana que impede o vento com paredes rebocadas ou uma mansão majestosa com as portas e janelas firmemente fechadas, ambas serão queimadas. Da mesma maneira, todos os medos, sofrimentos ou infelicidade que existem surgem da ignorância. “Discípulos, estas são as posses das pessoas ignorantes, não são posses de pessoas sábias. É por isso que vocês devem se libertar dos três caminhos dos ignorantes e devem trabalhar para alcançar os três caminhos dos sábios. Discípulos, os ignorantes e os sábios são reconhecidos por suas ações. A sabedoria resplandece com base nas ações. Os três caminhos dos ignorantes são as ações negativas de corpo, fala e mente. Os três caminhos dos sábios são as ações positivas de corpo, fala e mente. As três ações negativas de corpo, fala e mente são o caminho de uma pessoa ignorante. As três ações positivas são o caminho de uma pessoa sábia. “Ó discípulos, há outros três caminhos das pessoas ignorantes e das sábias. Os três caminhos de uma pessoa ignorante são os seguintes: não reconhecer um ato imoral como imoral; mesmo reconhecendo um ato imoral como tal, não tentar modificá-lo de acordo com o Caminho; e, ao ser apontado um ato imoral por outra pessoa, não aceitá-lo como tal de acordo com o Caminho. Os três caminhos de uma pessoa sábia são conhecer um ato imoral como imoral; modificar-se de acordo com o Caminho; ao ser apontado um erro por outra pessoa, aceitá-lo como tal e corrigi-lo de acordo com o CEBB

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Caminho. Discípulos, as pessoas ignorantes e malévolas arrancam destas três formas seus próprios méritos. Elas são censuradas e ridicularizadas pelas pessoas sensíveis e acumulam muitos deméritos. Os homens bons e sábios que seguem os três caminhos positivos não arrancam seus próprios méritos, não são censurados ou ridicularizados por pessoas sensíveis e reúnem muitos méritos.”

3. Angulimala, o Transgressor (1) No país de Anga, na cidade de Bhaddiya, vivia Visakha, neta do ancião Mendaka. Quando o Honrado pelo Mundo viajava por Bhaddiya ela acompanhou seu avô para ouvir o Darma do Honrado pelo Mundo e se tornou uma discípula do Buda. Mais tarde ela se mudou com seu pai Dhananjaya para Saketa em Kosala. Ela se tornou a esposa de Punnavaddhana, filho do rico homem Migara de Savatthi. A família de Migara seguia originalmente os ensinamentos de Nigantha, mas depois que Visakha entrou para a família ela gradualmente os levou a ouvirem os ensinamentos do Honrado pelo Mundo. Migara demonstrou sua alegria denominando Visakha sua mãe, e não sua filha. Ela se tornou conhecida como Mãe Visakha. Desta forma Visakha levou todos os membros do clã de seu marido a se tornarem fiéis seguidores do Honrado pelo Mundo. Ela mesma ia diariamente para o bosque Jeta para ouvir os ensinamentos e fazer oferendas. Com o tempo ela teve o desejo de construir um templo. Ela pediu pelo conselho da rainha Mallika, consorte do rei Pasenadi de

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Kosala, para escolher a terra. Então, ela comprou do rei uma floresta situada fora do castelo, a sudoeste da cidade e a nordeste do bosque Jeta. Na recém adquirida floresta, Visakha ordenou imediatamente a construção de um prédio de dois andares com quatrocentos quartos em cada andar. Moggallana ficou responsável pela construção. Ela foi completada com uma grande quantidade de dinheiro e após um período de nove meses. O Honrado pelo Mundo imediatamente se mudou para lá e a utilizou para um retiro de quatro meses. Ele foi denominado Monastério Oriental da Mãe de Migara.

(2) Certo dia o Honrado pelo Mundo foi à casa do ancião Anathapindika. Por alguma razão havia muito barulho na casa e vozes altas podiam ser ouvidas. O Honrado pelo Mundo se sentou e perguntou ao ancião qual era a razão da comoção. O ancião respondeu: “A esposa de meu filho mais velho, Sujata, orgulhosa pela riqueza e poder de sua própria família, não respeita seus sogros e nem atende às ordens de seu marido. E nem reverencia o Honrado pelo Mundo. É por isto que, às vezes, temos este tipo de comoção.” O Honrado pelo Mundo mandou chamar Sujata e lhe disse: “Sujata, existem sete tipos de esposas neste mundo: primeiro, uma esposa que é como um assassino; segundo, uma esposa que é como um ladrão; terceiro, uma esposa que é como um senhor; quarto, uma esposa que é como uma mãe; quinto, uma esposa que é como uma irmã mais nova; sexto, uma esposa que é como uma amiga; e sétimo, uma esposa que é como uma serva. Sujata, que tipo de esposa você é?” “Honrado pelo Mundo, eu não consigo entender a intenção de suas breves palavras. Eu ficaria mais feliz se você me falasse com maiores detalhes.” “Tudo bem, Sujata, ouça atentamente. Uma esposa que possui um CEBB

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coração maculado, não tem amor por seu marido, oferece seu coração para outro homem, trata seu marido levianamente e contrata alguém para matar seu marido é uma esposa assassina. Uma mulher que não entende o trabalho de seu marido e que rouba sua fortuna é uma esposa que se assemelha a um ladrão. Uma esposa que não quer trabalhar, é preguiçosa, corre apenas atrás dos desejos de sua boca e estômago, usa linguagem grosseira e é uma tirana para seu marido é como um senhor. Uma esposa que sempre ama seu marido, que protege seu marido como uma mãe protege o filho, e que protege a fortuna conquistada pelo marido é uma esposa como uma mãe. Uma esposa que serve seu marido com completa sinceridade, que possui um coração fraterno e a afinidade de uma relação de sangue, e que serve seu marido com uma mente tímida é uma esposa como uma irmã mais nova. Uma esposa que saúda seu marido alegremente como se estivesse encontrando um amigo que não via há muito tempo, e que modestamente corrige seu comportamento e respeita seu marido é uma esposa como uma amiga. Finalmente, uma esposa que, apesar de ser repreendida e apanhar de seu marido, suporta tudo com uma mente imaculada, não sente raiva e serve seu marido, é uma esposa como uma serva. A esposa que é como um assassino, um ladrão ou um senhor age com maldade, usa linguagem grosseira e não respeita ninguém; como ela pode esperar uma boa recompensa após morrer? A esposa como uma mãe, uma irmã mais nova, uma amiga ou como uma serva, devido aos seus atos bondosos e seu controle corporal receberá uma boa recompensa depois que morrer. Sujata, que tipo de esposa você é?” Devido a este ensinamento os sentimentos orgulhosos de Sujata se romperam e ela se arrependeu. Depois disto, até o final de sua vida ela sustentou o voto diante do Buda de que seria uma esposa como uma serva. CEBB

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(3) A seguinte história aconteceu naquela época. Na cidade fortaleza de Savatthi havia um brâmane erudito que era respeitado por muitos e que possuía quinhentos discípulos. Seu discípulo principal se chamava Ahimsaka. Ahimsaka era forte fisicamente, muito inteligente e possuía uma disposição gentil. Além do mais, ele era especialmente bonito e amado por todos. Certo dia, a esposa do brâmane, enquanto seu marido estava fora, viu a chance de visitar Ahimsaka, que ela amava em segredo. Ela confessou seu desejo há muito escondido e tentou seduzi-lo. Ahimsaka se alarmou e caiu de joelhos, dizendo: “O mestre é como um pai e você é como uma mãe. Tais impropriedades seriam extremamente dolorosas para mim.” A esposa disse: “Por que é imoral oferecer comida para uma pessoa faminta ou água para alguém sedento?” Ahimsaka respondeu: “Ter intimidades com a esposa amada de meu mestre não seria diferente de enrolar uma cobra venenosa ao redor de meu corpo e beber seu veneno.” A esposa não tinha nada a dizer diante daquilo e, assim, retornou para seu quarto. Para dissipar o amargor da vergonha ela rasgou seu vestido, se fez parecer pálida, jogou-se na cama e esperou pelo retorno de seu marido. Quando ele voltou, ela mentiu: “Devido ao seu discípulo admirado e sagaz eu fui sujeita a uma vergonha terrível.” Ao ouvir isto o ciúme queimou o coração do mestre. Mas seu discípulo era forte demais para ser punido corporalmente, assim, ele planejou como oferecer-lhe uma instrução pervertida para fazê-lo cometer assassinato. Então, Ahimsaka seria executado nesta vida e cairia no inferno na próxima. O mestre chamou Ahimsaka até ele, e disse: “Sua sabedoria penetra de forma muito profunda. Mas há uma última coisa que você deve fazer.” Solenemente, ele lhe ofereceu uma espada CEBB

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e ordenou: “Pegue-a e permaneça na encruzilhada. Em um dia mate cem pessoas. Corte um dedo de cada pessoa e faça um colar amarrando os cem dedos. Com isto você realizará o verdadeiro caminho.”

(4) Ahimsaka pegou a espada. Ele estava tomado pelo medo e profundamente perturbado. Se seguisse as ordens de seu mestre ele abandonaria seus princípios. Se desobedecesse às ordens não poderia ser considerado um bom discípulo. Ele fora ensinado que o esforço nas ações puras – ser piedoso com seu pai e sua mãe, fazer o bem para os outros, eliminar o que é perverso e buscar o que é correto, e ser gentil e compassivo – este era o caminho de um brâmane. Ele não conseguia entender por que seu mestre lhe daria tal instrução desumana. Longe da presença do mestre, apanhado em uma contradição sem saída, ele lutou com sua agonia como se fosse a própria morte. Ele chegou à encruzilhada sem saber como, e então, perdeu toda sua compostura usual. Sua agonia se transformou em raiva ardente: seus olhos se injetaram com sangue e seus cabelos ficaram em pé. Respirando furiosamente e brandindo sua espada como se fosse um demônio maligno e malicioso, ele começou a matar os que passavam pela estrada até que uma nuvem de sangue se formou. A movimentada encruzilhada logo se tornou uma montanha de cadáveres. Gritos de terror foram ouvidos por toda a cidade. Vozes de repreensão e amargor se espalhavam de rua em rua. Logo alguém correu para contar às autoridades do palácio. Sem prestar atenção, o discípulo juntou os dedos das pessoas que havia matado e fez um colar com eles. Ele ficou conhecido como Angulimala, Colar de Dedos. Os discípulos do Honrado pelo Mundo ouviram sobre o caso durante suas rondas de mendicância matinais, e quando retornaram ao bosque Jeta CEBB

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relataram ao Buda. O Buda disse: “Discípulos, vou até lá e irei salvá-lo”, e imediatamente partiu. Na estrada, alguns homens com uma carroça carregada de capim viram o Honrado pelo Mundo e disseram: “Honrado pelo Mundo, você não deve seguir esta estrada. Um terrível assassino está bloqueando a passagem.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Não há o que temer mesmo que todo o mundo venha até mim, muito menos um único assassino.” Enquanto isso, a mãe de Ahimsaka se cansou de esperar pelo seu retorno. Ela preparou comida e foi encontrá-lo. Ahimsaka já havia matado noventa e nove pessoas e colocara noventa e nove dedos em seu colar. Ele estava procurando pela vizinhança deserta sua última vítima quando viu sua mãe. Ele estava prestes a atacá-la quando o Honrado pelo Mundo silenciosamente se moveu e o impediu. Ahimsaka pensou que esta era uma grande sorte e assentiu. Brandindo sua espada ele tentou se mover em direção ao Buda; mas, estranhamente, ele não conseguia se mover nem mesmo pela distância de um pé. Sem pensar, ele gritou: “Monge, pare.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Eu estou aqui. Você é que está se movendo por aí.” “O que está acontecendo?” Ahimsaka gritou. O Honrado pelo Mundo disse: “Devido à ignorância você está tirando a vida de outras pessoas. Como eu possuo sabedoria ilimitada minha mente está em paz mesmo aqui. Por pena de você eu vim até aqui.” A voz do Honrado pelo Mundo era como água sendo derramada sobre o coração inflamado de Ahimsaka. Como se despertasse de um pesadelo ele voltou a si. Ele jogou fora a espada e se prostrou: “Honrado pelo Mundo, por favor, tenha piedade de mim por minhas delusões! Eu tentei alcançar o caminho juntando dedos. Por favor, salve-me e me aceite como seu discípulo!” Assim, ele acompanhou o Honrado pelo Mundo até o bosque Jeta, CEBB

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onde recebeu os ensinamentos e imediatamente alcançou a iluminação. Ele conseguiu cortar as amarras do nascimento e da morte para sempre.

(5) Nesse momento, o rei Pasenadi e seus soldados estavam procurando pelo assassino. Ele foi até o bosque Jeta e encontrou o Honrado pelo Mundo, que disse: “Angulimala, que vocês procuram, raspou sua cabeça e barba e se tornou um bom monge. Ele se corrigiu de suas maldades anteriores e seu coração agora está pleno de compaixão.” O rei ficou momentaneamente atônito, mas finalmente foi até Angulimala e prestou seus respeitos a ele como monge, dizendo: “Farei oferendas a você, Honorável, até o dia em que morrer.” Então, ele disse ao Honrado pelo Mundo: “Você sempre tem compaixão pelos malfeitores, e você os supera e faz com que ingressem na irmandade do Darma. Por favor, faça o mesmo por meu povo e nos guie.” Dizendo isto, o rei deixou o bosque e retornou ao seu palácio. No dia seguinte Angulimala tomou sua tigela de mendicância e caminhou pelas ruas pedindo por comida. Mas a notícia de sua vinda novamente despertou o medo nas pessoas da cidade. Em uma casa, uma mulher grávida ficou tão assustada que, repentinamente, sentiu o bebê vindo e ficou agoniada. Ouvindo as vozes repreensivas, Angulimala sentiu compaixão. Ele voltou ao bosque, contou ao Honrado pelo Mundo o que tinha acontecido e perguntou sobre algum meio para ajudá-la. O Honrado pelo Mundo disse: “Angulimala, vá agora e diga à mulher: ‘Desde meu nascimento eu nunca matei ninguém. Se isto é verdade, você terá o bebê em segurança.’ Angulimala ficou atônito, e disse: “Honrado pelo Mundo, eu matei noventa e nove pessoas. Agir assim não seria hipocrisia de minha parte?” “O momento em que você ingressou no caminho era a sua vida anterior. ‘Desde o nascimento’ significa o tempo após a sua iluminação. CEBB

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Portanto, isto não é de forma alguma uma mentira.” Angulimala foi imediatamente até a mulher e falou com ela, e ela conseguiu ter o bebê em segurança. Entretanto, no seu retorno para o bosque Jeta as pessoas que sentiam raiva dele jogaram pedras e cacos nele, e o machucaram cruelmente com varas e espadas. Todo seu corpo estava vermelho de sangue e ele mal conseguiu retornar para o bosque. Ele se prostrou aos pés do Honrado pelo Mundo e, com alegria no coração, disse: “Ó Honrado pelo Mundo, quando meu nome era Ahimsaka, devido à minha ignorância eu tirei muitas vidas. Eu juntei dedos cujo sangue não pode ser lavado, e ganhei o nome de Angulimala. Agora eu tomei refúgio nos Três Tesouros e atingi a iluminação. Para treinar cavalos e vacas se usa um cajado; para treinar elefantes um gancho de ferro é usado. Mas o Honrado pelo Mundo não usou nem espada nem cajado para treinar o meu coração desumano. É como se a lua estivesse obscurecida pelas nuvens, e depois que as nuvens se dissiparam a luz brilhou. Agora eu recebi uma recompensa justa. Ouvindo o Darma correto eu conquistei o olho do puro Darma. Estou aperfeiçoando a mente da tolerância e nunca mais lutarei. Honrado pelo Mundo, eu não desejo viver e também não espero morrer. Estou apenas esperando pelo momento de entrar no nirvana.” O Honrado pelo Mundo ouviu isto e louvou Angulimala. “Discípulos, entre meus discípulos aquele que possui a sabedoria que o permite ouvir sobre o caminho e rapidamente entender é Angulimala.”

(6) Muitos dos discípulos estavam espantados pela mudança extremamente rápida de Angulimala e perguntaram sobre sua vida anterior. O Honrado pelo Mundo lhes contou o seguinte: “Num passado muito distante, depois da passagem do Buda Kassapa, este mundo era governado CEBB

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por um rei chamado Mahaphala. Ele teve um príncipe depois que envelheceu, o qual ele nomeou Mahabala. Mesmo quando chegou à idade de trinta anos Mahabala não aceitava uma princesa, assim, as pessoas o chamavam de Príncipe Puro. O rei se preocupou que o príncipe permanecesse solteiro e não produzisse um sucessor-herdeiro. Finalmente, ele mandou tocar um sino e fazer o seguinte anúncio por todo o país. ‘Darei mil peças de ouro para aquele que for capaz de motivar o príncipe a saborear a alegria do desejo sexual.’ Neste momento, uma mulher com a habilidade dos sessenta e quatro meios de satisfazer um homem respondeu o chamado. “Uma noite, quando já era tarde, ela parou diante do portão do palácio e como as gotas de uma fonte ela chorou com tristes soluços amargos. O príncipe se alarmou e mandou um servo perguntar a causa de suas lágrimas. Ela disse: ‘Eu fui abandonada por meu marido sem coração, e não possuo ninguém para me ajudar.’ O príncipe sentiu piedade por ela e a deixou permanecer no estábulo dos elefantes. Mas ela não parou de chorar. Novamente ele mandou alguém perguntar a razão para aquilo e ela respondeu: ‘A razão é a solidão de uma pessoa abandonada.’ Finalmente o príncipe mandou trazerem a mulher para sua cama. Em silêncio, face a face, sua figura irresistivelmente encantadora facilmente tentou seu coração masculino. Embevecido, o príncipe tomou a sua mão. “Depois disto o príncipe se entregou aos prazeres carnais. Finalmente, ele deu a ordem em todo o reino de que todas as noivas deveriam servir em seus aposentos na sua primeira noite. Um dia, Suban, filha de um ancião, caminhou nua em meio a uma multidão. As pessoas a repreenderam, chamando-a de mulher sem vergonha. Suban respondeu: ‘Todos neste reino são mulheres. O que há de errado quando uma mulher caminha nua entre outras mulheres? Apenas o príncipe é homem, por isso vestirei roupas CEBB

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apenas na sua presença.’ Envergonhadas por esta crítica ferina, as pessoas tomaram suas armas e avançaram sobre o palácio. Contando ao rei as ações ultrajantes do príncipe, elas declararam: ‘Nós queremos ou a sua vida ou a vida do príncipe.’ O rei ouviu tudo e disse:

Pelo bem da família uma pessoa é sacrificada; Pelo bem de uma vila uma família é sacrificada; Pelo bem de um reino uma vila é sacrificada; Pelo bem de minha verdadeira identidade eu abandonarei o mundo.

“Então, ele entregou o príncipe à multidão. Seus braços foram amarrados e ele foi levado para fora do castelo. Todos pegaram cacos e pedras e bateram nele até a morte. Enquanto morria, o príncipe desprezou o rei e amaldiçoou o povo, dizendo: ‘Um dia eu terei minha vingança.’ Ele também disse: ‘Eu encontrarei uma pessoa verdadeira e alcançarei a iluminação.’” Assim falou o Honrado pelo Mundo, e ele disse: “Ó discípulos, aquele rei Mahaphala é o professor anterior de Angulimala; a mulher que seduziu o príncipe é a esposa do mestre; o príncipe é Angulimala; e o povo que o matou são as pessoas que foram mortas por Angulimala. Com isto, a promessa feita pelo príncipe logo antes de morrer chegou à fruição agora. Ele se vingou e, então, alcançou a iluminação.”

4. A Origem da Sociedade

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(1) Naquela época, dois homens, Vasettha e Bharadvaja, que queriam se tornar discípulos do Buda, viviam há quatro meses no monastério Oriental da Mãe de Migara em Savatthi. Uma noite, o Honrado pelo Mundo se levantou de sua meditação, deixou o Salão de Palestras e caminhava na área aberta posterior, quando Vasettha com seus olhos aguçados o viu e chamou a atenção de Bharadvaja: “Amigo, vamos rapidamente até o Honrado pelo Mundo para receber os ensinamentos diretamente de sua boca.” Os dois foram até o Honrado pelo Mundo, prestaram seus respeitos e caminharam junto com ele. O Honrado pelo Mundo os observou e disse: “Vasettha e Bharadvaja, vocês são de famílias brâmanes. Os brâmanes os censuram por se tornarem monges?” “Ó Honrado pelo Mundo, eles nos censuram de forma extrema.” “Como eles os censuram?” “Honrado pelo Mundo, eles dizem que os brâmanes são de uma casta excelente e que os outros são inferiores; que os brâmanes são nascidos das bocas dos deuses e que eles são seus herdeiros. Eles dizem que nós nascemos nesta casta excelente, mas que corremos para o lugar dos monges carecas que nasceram em castas inferiores que se originam dos pés dos deuses. Isto que eles dizem não é uma boa coisa. É assim que eles nos censuram.” “Vasettha, os brâmanes dizem tais coisas porque não recordam o passado. As mulheres brâmanes, assim como as mulheres de outras castas, não menstruam todos os meses, engravidam e dão de mamar a seus bebês? Eles, também, nascem do útero de suas mães e não das bocas dos deuses. Eles se denominam herdeiros dos deuses e superiores aos outros, mas isto é simplesmente um desprezo vazio. Suas palavras são inverdades que dão origem a negatividades.

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(2) “Vasettha, no que se refere às quatro castas dos kshatriyas, brâmanes, vaisyas e sudras, se é imoral para um kshatriya matar, roubar, estuprar, mentir, difamar, entregar-se a conversas vazias ou fabricações, tornar-se vítima da cobiça ou raiva, ou adotar visões perversas, então deve ser imoral também para um brâmane, vaisya ou sudra agir desta forma. “Além disso, se é uma boa coisa para um kshatriya não cometer tais ações imorais, deve ser igualmente bom para brâmanes, vaisyas e sudras. Além disso, mesmo que um brâmane seja orgulhoso de sua casta excelente não há a menor razão para isso. As pessoas de conhecimento não reconhecem tais razões. Se uma pessoa de qualquer casta deixa o lar para se tornar um monge e leva o caminho à perfeição, destruindo os obscurecimentos e aperfeiçoando as práticas piedosas, alcançando a iluminação, as pessoas o chamam de mais elevado entre as pessoas. O Darma é superior ao nascimento tanto neste mundo atual quanto nos mundos futuros. “Vasettha, o rei Pasenadi de Kosala sabe que eu sou alguém que deixou o lar do clã Sakya, que se encontra dentro de suas fronteiras. O povo do clã Sakya são verdadeiros súditos do rei Pasenadi e o respeitam como seu líder. Mas o próprio rei Pasenadi segue o Buda, serve o Buda e se prostra com reverência diante do Buda. Ele afirma que Gotama vem de uma boa linhagem e é poderoso e justo, enquanto que ele mesmo vem de uma linhagem maligna e não possui poderes e é desprezível. Ele honra e serve o Darma. O Darma realmente supera o nascimento, tanto no presente quanto no futuro. “Vasettha e os outros, vocês que são discípulos que deixaram seus lares de diversas castas, se forem perguntados: ‘Quem é você?’ vocês deveriam responder: ‘Eu sou um dos filhos dos Sakyas que se tornaram monges.’ Aqueles que têm fé e seguem o Buda, cujas mentes são seguras e não vacilam, sejam eles mendicantes, brâmanes, deuses, demônios ou o que quer que seja, CEBB

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estão qualificados para dizerem: ‘Eu sou um filho do Honrado pelo Mundo. Eu nasci de sua boca. Nutrido pelo Darma eu sou um herdeiro do Darma.’ O Buda é a corporificação do Darma, a corporificação dos deuses, a vida dentro do Darma, e a vida no caminho dos deuses.

(3) “Vasettha, há um tempo incalculável este mundo vem surgindo e cessando. Quando este mundo cessou, muitas pessoas renasceram no céu da luz e som, lá seus corpos eram feitos de mente e seu alimento era a alegria; eles brilhavam internamente e voavam pelo ar. Quando este mundo surgiu, essas pessoas desceram do céu da luz e som para cá. Mas elas ainda possuíam corpos mentais e se alimentavam de alegria, brilhando internamente e voando pelo ar. Naquele momento este mundo era apenas água e escuridão. A lua não brilhava, nem o sol nem as estrelas; não havia noite nem dia; não havia dias, meses e anos; e não havia distinções entre homens e mulheres. Entretanto, com o passar do tempo uma terra de ambrosia surgiu na superfície da água. Era como a nata formada ao ferver o leite da vaca; com um odor agradável ela era da cor do leite condensado ou manteiga e tinha o sabor doce do mel. “Entre as pessoas desse mundo aquelas que eram muito gananciosas por natureza experimentaram esta terra de ambrosia com seus dedos e despertaram o apego. Seguindo-as, outras pessoas também saborearam o gosto da terra. Finalmente, elas começaram a cavar com suas mãos, empilhando-a e a comendo. Então, a luz de seus corpos desapareceu; a lua, o sol e as estrelas apareceram; noites e dias, meses e anos foram fixados. Desta forma surgiu este mundo. Aquelas pessoas viveram desta maneira por um longo tempo, mas como continuaram comendo a terra seus corpos ficaram pesados e suas aparências se modificaram. A distinção entre beleza e feiura CEBB

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surgiu: os belos se tornaram arrogantes diante dos feios. Quando o orgulho surgiu neste mundo, a terra de ambrosia desapareceu. O povo se reuniu e lamentou seu desaparecimento. “Vasettha, quando a terra de ambrosia desapareceu surgiu uma crosta como uma pele de cobra; mas ela desapareceu e juncos surgiram. Os juncos desapareceram e o arroz solto apareceu. “Gradualmente, o desejo começou a controlar as mentes das pessoas. Se o arroz fosse colhido à noite, pela manhã já havia mais; se fosse colhido durante a manhã, à noite já teria crescido. As pessoas o comeram e gradualmente seus corpos ficaram mais pesados. A distinção entre a beleza e a feiura se tornou óbvia. À medida que as diferenças entre homens e mulheres se tornaram claras, o desejo sexual surgiu. No início, quando um homem e uma mulher se tocavam, eles não gostavam do sentimento impuro. Mas gradualmente, tais imoralidades se tornaram os costumes de hoje, e a relação entre marido e esposa surgiu; assim, a relação chamada de família se tornou existente.

(4) “Algumas pessoas se tornaram preguiçosas demais para colherem o arroz pela manhã e à noite. Elas colhiam os cereais da noite e da manhã ao mesmo tempo pela manhã; e, finalmente, elas começaram a colher os cereais de dois ou três dias de uma vez. Devido a isto os campos ficaram abandonados e restou apenas um pouco de arroz. As pessoas lamentaram esta situação, fixaram fronteiras, dividiram o arroz e finalmente definiram a posse. Além do mais, as pessoas que eram preguiçosas e gananciosas começaram a roubar as colheitas de outras pessoas. Assim surgiram os roubos, represálias e mentiras, e as surras com varas começaram. As pessoas lamentaram tudo isto e escolheram uma pessoa forte e justa, dando-lhe o CEBB

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poder de punir as pessoas que roubavam ou mentiam. Essa pessoa escolhida punia quem devia ser punido, repreendia aqueles que deviam ser repreendidos e bania aqueles que deviam ser banidos. As pessoas lhe pagavam com arroz. Como as pessoas ficaram felizes, elas o escolheram, chamando-o de Mahasammata, ou Grande Justiça; como ele protegia os seus campos foi chamado de kshatriya; como ele governava de acordo com os costumes era chamado de regente ou rei. Esta foi a origem dos kshatriyas. “Vasettha, algumas pessoas lamentaram o surgimento gradual da maldade e desejaram removê-la. Elas construíam cabanas de folhas nas florestas, desprezavam o fogo, não estocavam comida e passavam seu tempo silenciosamente em meditação profunda. Outros não viviam em cabanas de folhas nas florestas, mas viviam perto das cidades e vilas e escreviam. Foi assim que aqueles que procuram remover o mal se originaram, ou seja, sacerdotes, meditantes e poetas. Esta foi a origem dos brâmanes. E também, alguns homens e mulheres construíam casas e trabalhavam em diversos negócios. Esta foi a origem dos vaisyas, os comerciantes. Finalmente, algumas pessoas trabalhavam nas tarefas cruéis, grosseiras, que a maioria abominava. Esta foi a origem dos sudras ou escravos. Desta maneira as quatro castas se originaram naturalmente. Vasettha, entre esses kshatriyas, brâmanes, vaisyas e sudras havia aqueles que abominavam estas formas de vida e que abandonavam o lar para se tornarem monges. Essas eram as pessoas conhecidas como mendicantes. Elas surgiram a partir das quatro castas.

(5) “Vasettha, quer você seja um kshatriya, um brâmane, um vaisya ou um sudra, se você fizer maldades com seu corpo, fala ou mente, ou abraçar visões perversas, quando morrer você cairá nos infernos como qualquer outra pessoa. Qualquer que seja sua casta, se você fizer o bem com seu corpo, fala e CEBB

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mente e abraçar visões positivas, você renascerá em um reino celestial após sua morte. Quer você seja um kshatriya, um brâmane, um vaisya ou um sudra, se você domar a maldade em seu corpo, fala e mente e aperfeiçoar os ensinamentos que levam à iluminação, certamente alcançará a iluminação. É por isto, Vasettha, que se você abandonou o lar saindo de uma das quatro castas para se tornar um discípulo do Buda, destruiu os obscurecimentos, realizou as práticas puras, largou o pesado fardo das ofensas e despertou a iluminação, tornando-se um santo, que você será denominado o mais elevado entre todas as pessoas. Isto está de acordo com o Darma e não é contrário ao Darma. A razão para isto é que o Darma é superior ao nascimento tanto neste mundo atual quanto nos mundos futuros.” Vasettha e Bharadvaja se regozijaram com o ensinamento do Honrado pelo Mundo.

5. As Duas Rodas de Uma Carruagem (1) O Honrado pelo Mundo retornou novamente a Kapilavatthu e deu um sermão no bosque das Figueiras, fora dos domínios do castelo. “Ó discípulos, os discípulos renomados do Buda não trazem infelicidade para as pessoas de três formas. As três formas são: encorajá-las a fazerem ações de corpo, fala e mente que não estejam de acordo com o Darma. Discípulos, os discípulos renomados do Buda beneficiam as pessoas e as fazem felizes de três formas: eles encorajam os outros a se comportarem em corpo, fala e mente de acordo com o Darma. “Discípulos, um kshatriya que foi consagrado rei através da aspersão de água sobre sua cabeça, durante sua subida ao trono deveria se lembrar de

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três lugares durante sua vida: o local onde nasceu, o local onde foi consagrado rei, e o lugar onde esteve à frente de seu exército e venceu uma batalha. Da mesma forma um buda ou seu discípulo deveriam, também, lembrar-se de três lugares: o lugar onde ele raspou sua cabeça e barba e vestiu o manto açafrão, deixando o lar e se tornando um monge; o lugar onde ele aprendeu como realidade as Quatro Nobres Verdades; e o lugar onde ele destruiu todos os obscurecimentos e onde se iluminou neste mundo para o reino de liberdade onde não há obscurecimentos. Estes são os lugares que um discípulo do Buda deveria lembrar durante toda sua vida. “Discípulos, há três tipos de pessoas neste mundo: aquelas sem esperança, aquelas com esperança e aquelas que transcenderam a esperança. As pessoas sem esperança são aquelas nascidas em famílias inferiores, tais como escravos, caçadores, fabricantes de cestos, fabricantes de carroças e varredores de rua. Elas são pobres e não possuem comida ou habitação, vivendo em condições miseráveis. Além disso, elas são feias e doentias. Elas são aleijadas e não podem caminhar. Ao ouvirem que alguém foi consagrado rei, elas nem mesmo pensam na possibilidade de um dia serem consagradas como reis. Essas são as pessoas sem esperança. Aquelas com esperança são os príncipes dos kshatriyas que ao atingirem a idade de dezesseis anos, a idade da consagração, pensam: ‘Quando eu também serei consagrado?’, ao ouvirem que alguém dos kshatriyas foi consagrado e se tornou um rei. Essas são as pessoas com esperança. E aquelas que transcenderam a esperança são os reis dos kshatriyas que já foram consagrados. Ao ouvirem sobre a consagração de outro rei elas não despertam novamente a esperança. Essas são as pessoas que transcenderam a esperança. “Ó discípulos, da mesma forma existem três tipos de discípulos do Buda: aqueles sem esperança, aqueles com esperança e aqueles que CEBB

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transcenderam a esperança. Aqueles discípulos do Buda que não possuem esperança são os que não mantêm os preceitos e possuem mau caráter, que não são puros, em cujo comportamento não se pode confiar, que escondem o que fizeram e cujas mentes apodreceram e se tornaram luxuriosas. Mesmo ao ouvirem que um discípulo do Buda destruiu os obscurecimentos e despertou para

a

iluminação

eles

não

pensam:

‘Quando

eu

destruirei

os

obscurecimentos e alcançarei a iluminação?’ Esses são os discípulos do Buda sem esperança. Os discípulos do Buda com esperança são aqueles que sustentam os preceitos, possuem bom caráter, e que, ao ouvirem que um discípulo do Buda destruiu os obscurecimentos e despertou para a iluminação, pensam: ‘Quando eu serei como ele?’ Esses são os discípulos do Buda com esperança. Os discípulos do Buda que transcenderam a esperança são aqueles que destruíram os obscurecimentos e despertaram para a iluminação. Mesmo ao ouvirem que alguém atingiu a iluminação eles não pensam: ‘Quando eu alcançarei a iluminação?’ A razão para isto é que eles já alcançaram o que esperavam. Discípulos, esses são os três tipos de discípulos do Buda.

(2) “Ó discípulos, mesmo um imperador justo que siga o caminho não poderá governar a não ser que se apoie no caminho. O imperador justo que segue o caminho se apoia no caminho, respeita o caminho, estima e honra o caminho, e considera o caminho seu senhor. Ele oferece proteção, defesa e apoio de acordo com o caminho para toda sua família, seu povo e mesmo para os pássaros e animais. Como ele governa de acordo com o caminho a direção de seu governo não pode ser derrubada. “Discípulos, da mesma forma o Buda, que segue o Darma e que é o rei do Darma verdadeiro, se apoia no Darma, respeita-o, estimando e honrandoCEBB

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o, e o considera seu senhor. Ele oferece proteção, defesa e apoio com base no Darma, dizendo: ‘Vocês não devem cometer estas ações através de corpo, fala ou mente. Vocês devem realizar estas ações com o corpo, a fala e a mente.’ Como ele gira a suprema Roda do Darma com base no Darma, ninguém é capaz de derrubar a Roda do Darma. “Discípulos, isto aconteceu muito tempo atrás: havia um rei cujo nome era Pacetana. Um dia ele chamou um construtor de carruagens e disse: ‘Ó construtor, daqui a seis meses entraremos numa batalha. Você pode construir uma carruagem de duas rodas até lá?’ O construtor disse que poderia e começou a construir as rodas. Seis dias antes de se completarem os seis meses ele, finalmente, terminou uma roda. O rei chamou o construtor de carruagens e disse: ‘Só temos mais seis dias para completar os seis meses. Você terminou a carruagem?’ ‘Eu terminei apenas uma roda.’ ‘Você consegue terminar a outra roda nos seis dias restantes?’ ‘É claro que sim.’ “O construtor de carruagens terminou a outra roda em seis dias e a trouxe para o rei. O rei comparou as duas rodas, mas não conseguia discernir qual delas havia levado meses para ser completada e qual havia levado apenas seis dias. O construtor disse que mostraria ao rei a diferença, e começou a rolar a roda que havia sido feita em seis dias. A roda continuou a rodar enquanto havia impulso, mas quando o impulso se extinguiu ela caiu. A segunda roda rolou enquanto possuía impulso e, quando o impulso terminou, ela parou em pé como se tivesse um eixo através dela. “O grande construtor de carruagens disse: ‘Grande rei, na roda que eu terminei em seis dias o aro, os raios e o cubo têm distorções; essa roda possui nós, torções e falhas. É por isso que ela cai quando acaba o impulso. Na outra roda o aro, os raios e o cubo não apresentam distorções, ela não possui nós, torções ou falhas. É por isto que permanece em pé mesmo quando já perdeu CEBB

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seu impulso.’ “Discípulos, assim como o construtor de carruagens é hábil em corrigir distorções, nós, torções e falhas na madeira, um buda é hábil em corrigir as distorções, nós, torções e falhas das ações físicas, orais ou mentais. Aqueles cujas ações físicas, orais ou mentais são distorcidas, assim como a roda feita em seis dias, cairão devido ao seu descuido com os ensinamentos e regras. Aqueles sem distorções, assim como a outra roda, permanecerão com os ensinamentos e as regras. Portanto, vocês devem se esforçar para se livrar de quaisquer distorções, nós, torções ou falhas em suas ações físicas, orais ou mentais.

(3) “Discípulos, se vocês forem questionados por um seguidor de outros ensinamentos se vocês seguem Gotama e fazem as práticas puras para renascerem nos céus, vocês desprezariam esta pergunta?” “Honrado pelo Mundo, sim, nós a desprezaríamos.” “Discípulos, se vocês desprezariam tal questão sobre seguir e praticar o caminho para obter a vida de um deus, o rosto de um deus, a felicidade de um deus, ou a prosperidade de um deus, vocês deveriam desprezar com maior razão suas ações negativas de corpo, fala ou mente. Discípulos, os mercadores que possuem três características não podem conquistar as riquezas que ainda não possuem nem aumentar a riqueza que já possuem. As três características são não ter entusiasmo para trabalhar pela manhã, à tarde e à noite. Da mesma maneira, se um discípulo do Buda não praticar de coração durante a manhã, a tarde e a noite, ele não conseguirá conquistar méritos nem aumentar os méritos que já possui.

(4) “Discípulos, se um mercador possui olhos para ver, trabalha com entusiasmo e encontra um investidor, ele conquistará grande riqueza num CEBB

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piscar de olhos. Por ‘olhos para ver’ eu quero dizer que o mercador deve conhecer sua mercadoria e saber como comprá-la e como vendê-la. ‘Trabalhar com entusiasmo’ significa ter habilidade na venda: comprar produtos onde há bastante e vendê-los onde são raros. ‘Encontrar um investidor’ significa encontrar uma pessoa rica que seja capaz de ver que este mercador possui olhos, trabalha com entusiasmo, é capaz de cuidar de sua esposa e filhos, e possui a capacidade de retribuir lucros; e que poderá emprestar dinheiro ao mercador. “Discípulos, da mesma maneira, se um discípulo do Buda possuir olhos para ver, tiver entusiasmo em seu trabalho e encontrar um investidor, ele alcançará um grande avanço em seu caminho. ‘Possuir olhos’ significa reconhecer como realidade o que é o sofrimento, qual é a origem do sofrimento, o que é a cessação do sofrimento e qual é o caminho para a cessação do sofrimento. ‘Trabalhar com entusiasmo’ significa descartar os caminhos negativos e se esforçar com entusiasmo para gerar o bem. ‘Encontrar um investidor’ significa pedir a um monge mais experiente que estudou bastante, que conhece os Sutras, e que é claro nos preceitos para revelar o que está escondido, para iluminar a escuridão, e para remover a dúvida. Se um discípulo do Buda conquistar estas três coisas, em pouco tempo ele alcançará um grande avanço no caminho.”

6. O Emaranhado da Natureza Humana

(1) O Honrado pelo Mundo retornou a Rajagaha e realizou o retiro daquele ano no Bosque de Bambus. Naquela época o Honrado pelo Mundo

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estava com cinquenta e cinco anos de idade, vinte anos passados desde que ele consumara o caminho. Neste retiro o Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos e disse: “Discípulos, estou ficando velho. De agora em diante eu gostaria de ter um atendente o tempo todo. Eu gostaria que sugerissem o nome de algum de vocês.” Com estas palavras do Honrado pelo Mundo, Sariputta, Moggallana, Anuruddha e Kaccayana todos se voluntariaram e pediram para servir como seus atendentes, mas o Honrado pelo Mundo os recusou. Moggallana sabia que o Honrado pelo Mundo tinha boa disposição em relação a Ananda, assim, ele consultou os outros discípulos e foi até Ananda para encorajá-lo a se candidatar. Entretanto, Ananda recusou, dizendo que era uma responsabilidade grande demais. Moggallana o pressionou diversas vezes até que, finalmente, ele disse que seria o atendente sob três condições: que ele poderia recusar oferendas de roupas e alimento direcionadas ao Honrado pelo Mundo mesmo se fossem dadas a ele; que ele não acompanharia necessariamente o Honrado pelo Mundo à casa de uma pessoa leiga; e que ele poderia ter uma audiência com o Honrado pelo Mundo a qualquer momento. O Honrado pelo Mundo concedeu os três pedidos. Dali em diante Ananda seguiu o Honrado pelo Mundo como seu atendente, seguindo-o como uma sombra segue a forma.

(2) O Honrado pelo Mundo se dirigiu a Vesali e, então, para o leste até Campa, onde permaneceu com muitos discípulos às margens do lago Gaggara, na periferia da cidade. Certo dia, o jovem treinador de elefantes Pessa e o asceta peregrino Kandaraka visitaram o Honrado pelo Mundo às margens do lago. Kandaraka ficou surpreso ao ver os discípulos numa postura silenciosa ao redor do Honrado pelo Mundo. Maravilhado, ele disse: CEBB

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“É maravilhoso que o Honrado pelo Mundo tenha treinado tão adequadamente seus muitos discípulos! Os budas do passado também treinaram seus discípulos como você? E os budas do futuro também farão como você fez?” “Kandaraka, é exatamente como você disse. Entre estes discípulos há muitos que já destruíram os obscurecimentos, realizaram o que deve ser realizado, e alcançaram a iluminação dos santos liberados pela verdadeira sabedoria. Além disso, existem muitos que estão seguindo as práticas, cujo domínio dos preceitos é belo de se ver, cuja sabedoria é rápida, e cujas mentes se encontram sempre nos quatro estágios da atenção mental plena. Os quatro estágios da atenção mental plena se referem ao exame intenso com a mente unifocada das impurezas do corpo, da percepção do sofrimento, da impermanência da mente e da insubstancialidade das coisas. Fazendo isto, a cobiça é vencida e também o desespero do mundo.” Pessa, o jovem treinador de elefantes, ao ouvir isso disse: “Ó Honrado pelo Mundo, é realmente um ensinamento excelente! Estes quatro estágios da atenção mental plena têm por objetivo purificar as pessoas, transcender o sofrimento, a tristeza e as aflições, e despertar a sabedoria e alcançar o nirvana. Ó Honrado pelo Mundo, apesar de ser um chefe de família praticarei sempre os quatro estágios da atenção mental plena e subjugarei a cobiça e o desespero mundanos. É realmente louvável que o Honrado pelo Mundo saiba o que é benéfico e o que não é em meio a este emaranhado da natureza humana, em meio à maldade e aos enganos dos homens. A natureza do homem, como um emaranhado, é muito difícil de desembaraçar. Em comparação, a natureza dos animais é facilmente entendida. A razão para eu dizer isto é que sou famoso por lidar com elefantes. Entre os estábulos e os portões do castelo de Campa os elefantes mostram todas as suas CEBB

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características: as perversas, as maldosas, as enganosas e as astuciosas. Por outro lado, os criados, servos e ajudantes que empregamos, todos diferem em pensamento, fala e ação, e são realmente difíceis de conhecer. Neste emaranhado das características humanas, em meio à maldade e aos enganos dos homens, saber o que é benéfico para eles e o que não é, é realmente louvável.”

(3) “Pessa, é exatamente como você disse. As características dos homens são como um emaranhado, enquanto que as características dos animais são facilmente conhecidas. Neste mundo existem quatro tipos de pessoas: aquelas que trazem sofrimentos para si mesmas, aquelas que fazem com que outras sofram, aquelas que trazem sofrimentos para si mesmas e para as outras, e aquelas que não causam sofrimentos a si mesmas ou às outras, e que se libertam neste mundo do desejo e experimentam a tranquilidade, o frescor da paz e a alegria. Pessa, entre estes quatro tipos de pessoas qual deles lhe traria alegria?” “Honrado pelo Mundo, aquelas que causam sofrimentos a si mesmas, aos outros, ou tanto a si mesmas quanto às outras não trariam alegria para meu coração. Aquelas que se libertam neste mundo do desejo e que experimentam a tranquilidade, o frescor da paz e a alegria, trariam alegria para meu coração.” Pessa se regozijou com o ensinamento do Honrado pelo Mundo. Ele ficou em pé e prestou reverência, circumambulouo pela direita e retornou ao seu lar.

(4) Depois que Pessa partiu, o Honrado pelo Mundo olhou para seus discípulos e disse: “Discípulos, o jovem treinador de elefantes Pessa é uma pessoa inteligente. Se ele tivesse permanecido um pouco mais enquanto eu explicava os quatro tipos de pessoas em maiores detalhes, teria obtido grande CEBB

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benefício. Entretanto, mesmo com isto que acabei de dizer, ele foi para casa com grandes benefícios. “Discípulos, os que causam seu próprio sofrimento são aqueles que ao receberem um ensinamento errôneo causam dor aos próprios corpos, jejuam e vestem roupas grosseiras, e que seguem práticas austeras. Aqueles que causam sofrimento aos outros são os matadores de ovelhas e porcos, pescadores, caçadores, ladrões, carcereiros e todos os outros que fazem ações cruéis. Aqueles que causam sofrimento a si mesmos e aos outros são aqueles que possuem poder, como os reis que seguem ensinamentos errôneos e que copiam os monges que abandonam o lar, cobrindo-se com peles de cervos, besuntando seus corpos com manteiga e óleo, fazendo cicatrizes em seus corpos com chifres de veados, mudando-se para um novo palácio com suas rainhas e atendentes, dormindo sobre o chão nu, bebendo o leite dos bezerros e o oferecendo para suas rainhas e atendentes, sacrificando vacas, bodes e ovelhas aos deuses, mandando cortar árvores e o capim; e todos os seus servos, escravos e administradores fazem o trabalho com medo de serem executados. Estas são as pessoas que causam sofrimento a si mesmas e às outras. “Discípulos, aqueles que não causam sofrimento nem a si mesmos nem aos outros, e que neste mundo se libertam do desejo e experimentam a tranquilidade, o frescor da paz e a alegria, são aqueles que ouvem o ensinamento correto do Buda, abandonam seus lares e se tornam discípulos do Buda, não matam, possuem compaixão, não roubam, realizam práticas puras, não contam mentiras, não acabam com as vidas de árvores e do capim, enfraquecem seus desejos e se dão por satisfeitos, e se preparam da forma adequada obtendo o prazer de saber que não incorrem em transgressões. Mesmo que vejam coisas com seus olhos, ouçam sons com seus ouvidos, CEBB

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sintam fragrâncias com seus narizes, experimentem sabores com suas línguas e sintam e toquem coisas com seus corpos, suas mentes não se fixam e eles encontram alegria ao controlarem seus cinco sentidos. Quer estejam em movimento,

parados,

sentados

ou

deitados,

eles

assim

o

fazem

conscientemente. Eles acessam o silêncio, e com mentes puras se alegram com assentos distantes do desejo. Eles atingem a sabedoria do conhecimento de terem transcendido este nascimento e que não haverá mais nascimentos na delusão para eles. Desta maneira eles experimentam tranquilidade, o frescor da paz e a alegria, e vivem uma vida excelente.”

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LIVRO V Capítulo IV - AS QUATRO NOBRES VERDADES

1. Libertando-se dos Obscurecimentos

(1) O Honrado pelo Mundo retornou novamente a Savatthi e permaneceu no Bosque Jeta. Um dia, ao anoitecer, Cunda saiu de uma profunda meditação, foi até o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, existem muitas visões no que se refere à identidade pessoal e ao mundo. Qual deveria ser o pensamento de um discípulo do Buda de modo a descartar estas visões?” “Cunda, existem muitas visões no que se refere à identidade pessoal e ao mundo. Os partidários de cada uma tentam influenciar os outros. Mas se alguém enxergar corretamente as coisas como elas são – isto não é ‘meu’, isto não sou ‘eu’, isto não é a ‘minha identidade’ – poderá descartar estas visões. “Cunda, alguém pode entrar em todos os tipos de meditações e pensar que está repousando em uma condição livre de obscurecimentos. Entretanto, de acordo com este ensinamento não se diria que esta é uma condição livre de obscurecimentos. Ela é chamada de permanência na alegria do presente ou, às vezes, permanência na tranquilidade. CEBB

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“Cunda, para se libertar dos obscurecimentos é necessário pensar: ‘As pessoas prejudicam as outras. Elas matam, roubam, cometem atos sexuais pervertidos, contam mentiras, são hipócritas, falam grosseiramente, entregam-se a conversas inúteis, são gananciosas, sustentam mentes raivosas, possuem visões pervertidas, cometem várias maldades e sustentam mentes maldosas. Eu nunca farei tais coisas.’ Cunda, para libertar-se dos obscurecimentos é assim que você deveria pensar. “Cunda, simplesmente despertar uma mente positiva traz grandes benefícios. Manifestar essa mente nas ações verbais ou físicas traz benefícios ainda maiores. Metaforicamente, assim como pode haver uma estrada plana próxima a outra que possui pontos elevados e depressões, ou uma margem plana próxima a uma acidentada, se nas proximidades de uma pessoa que prejudica ou mata outras houver um caminho que ensine que não se deveria matar, há uma chance de entrar no caminho através deste bom ensinamento. “Além disso, todas as ações maldosas nos arrastam para estados progressivamente inferiores, as boas ações nos elevam para estados superiores. Para aqueles que prejudicam ou matam outros, a pessoa que não prejudica ou mata é o meio para ela se elevar. Cunda, se você mesmo estiver preso na lama não poderá tirar outra pessoa dali. Se você não conquistou o controle sobre os cinco sentidos e não destruiu seus obscurecimentos, você não poderá ensinar os outros como controlar seus cinco sentidos e destruir seus obscurecimentos. Da mesma forma, para alguém que prejudica e mata outras pessoas, aquele que não prejudica ou mata se torna a causa que o leva a entrar no estado livre de obscurecimentos. “Cunda, eu lhe ensinei como destruir os obscurecimentos, como despertar uma mente positiva, como trocar um caminho negativo por um positivo, como se elevar, e como entrar no estado livre de obscurecimentos. CEBB

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Cunda, com isto eu fiz o que um professor amoroso e compassivo deve fazer.”

(2) Um dia, um velho brâmane curvado pela idade veio até o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, eu sou velho e logo morrerei. Entretanto, eu não fiz tudo aquilo que deveria ser feito. Eu não me libertei do medo. Por favor, dê-me um ensinamento que me beneficie por

toda a

eternidade.” “Ó brâmane, é realmente como você diz. Neste mundo onde somos arrastados por velhice, doença e morte, controlar o corpo, a fala e a mente é a sua proteção para o momento da morte; é a sua fundação, sua luz e seu apoio.

A vida é curta e o tempo nunca para. Não há abrigo para alguém arrastado pela velhice. Se você enxerga o medo da morte adiante, Pratique aquilo que traz mérito E você encontrará sua proteção.

(3) Outro dia, um brâmane veio até o Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, dizem que seu ensinamento dá frutos ainda nesta vida. De que forma ele gera frutos no presente? O que significa dizer que ele possui um efeito direto de forma que alguém pode dizer: ‘Venha e veja’, e que é um ensinamento que vale guardar na própria mente?” “Brâmane, se a sua mente queima com a ganância, você prejudica a si mesmo e os outros. Sabendo que está prejudicando a si mesmo e os outros sua mente estará em sofrimento e tormento. Se você se livrar da ganância não experimentará mais estes sofrimentos. Brâmane, é o mesmo para a mente CEBB

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enlouquecida pela raiva ou deludida pela ignorância. Se você se libertar da raiva e da ignorância os pensamentos prejudiciais desaparecerão. Estes são os frutos do presente. Este é o efeito direto. É por isto que se pode dizer: ‘Venha e veja.’ É por isto que é um ensinamento que merece ser guardado em sua mente.”

(4) E ainda em outra ocasião um brâmane chamado Sangarava visitou o Honrado pelo Mundo e disse: “Ó Venerável, Gotama, como eu sou um brâmane ofereço sacrifícios e digo aos outros para oferecerem sacrifícios. Ao oferecer sacrifícios e ao dizer para fazerem sacrifícios, como estes sacrifícios foram preparados, somos capazes de entrar no caminho das virtudes que emanam dos corpos dos animais sacrificados. É realmente uma grande virtude que se recebe para si mesmo e para os outros. Por outro lado, aqueles que abandonam suas famílias e se tornam mendicantes controlam apenas seus próprios corpos, tranquilizam apenas a si mesmos e destroem apenas seus próprios desejos. Portanto, eles ingressam num caminho de virtudes apenas para si mesmos.” “Se este é o caso, brâmane, responda minhas questões como puder. O que você acha? Um Buda surge neste mundo e ensina o seguinte: ‘Venham. Este é o caminho. Irei mostrar-lhes o supremo nirvana para o qual eu mesmo despertei. Se você aperfeiçoarem o caminho também despertarão para esse supremo nirvana.’ Se muitas pessoas seguirem este ensinamento do Buda, e centenas, milhares, centenas de milhares praticarem este caminho, brâmane, você ainda diria que a virtude de um monge é apenas para ele mesmo?” “Honrado pelo Mundo, Gotama, se é este o caso, então a virtude de um monge se estende a muitas pessoas.” Naquele momento, Ananda, que estava lá parado, disse: “Brâmane, CEBB

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qual destes dois caminhos você acha que é melhor? Qual você acha menos difícil, de maior efeito e que é mais benéfico?” O brâmane fugiu desta questão, dizendo: “Pessoas como o venerável Gotama e o venerável Ananda são dignas de minhas oferendas e louvor.” Ananda disse: “Brâmane, não estou perguntando para quem você deveria fazer oferendas ou louvores. Estou perguntando qual destes dois caminhos é o melhor.” Ele repetiu a pergunta duas, três vezes, mas o brâmane deu a mesma resposta e tentou fugir da questão.

(5) O Honrado pelo Mundo assistia a esta disputa e decidiu salvar o brâmane daquele embaraço. Ele perguntou: “Brâmane, sobre o que as pessoas falavam hoje quando se reuniram no palácio?” “Gotama, hoje as pessoas falavam que no passado havia menos monges do que agora, enquanto que as pessoas com poderes divinos eram mais numerosas do que hoje.” “Brâmane, existem três tipos de poderes divinos sobre os quais você fala: os poderes divinos sobre-humanos, o poder divino de ler as mentes dos outros e o poder divino de ensinar. Os poderes divinos sobre-humanos se referem às ações humanas tais como se tornar muitos, apesar de ser apenas um, e vice-versa, aparecer e desaparecer, ser capaz de passar por cercas e paredes, ser capaz de atravessar montanhas como se fossem ar, ser capaz de entrar e sair do chão como se ele fosse água, ser capaz de caminhar sobre a água como se ela fosse terra, ser capaz de tocar com as mãos o sol e a lua que possuem grande magnificência e poder, e ser capaz com este corpo físico de ir até o mundo dos deuses. Estes são os poderes divinos sobre-humanos. “O poder divino de ler as mentes é o poder de saber o que outra pessoa está pensando ao observar os sinais. E também, sem depender de qualquer sinal, existe a capacidade de saber o que está sendo pensado por uma pessoa, CEBB

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um deus ou um animal apenas ouvindo os sons que eles fazem. Pode-se dizer o que está sendo pensado sem qualquer outro apoio. Isto é o que se chama de poder de ler as mentes. “O poder divino de ensinar permite fazer com que outra pessoa pense de uma forma ou de outra, descartando isto e se concentrando naquilo. Este é o poder divino de ensinar. Brâmane, qual destes três poderes divinos você acha que é o melhor?” “Gotama, os poderes divinos sobre-humanos e o poder divino de ler as mentes afetam apenas a pessoa que os usa. Apenas ela os possui, portanto eles são como ilusões. Por outro lado, o poder divino de ensinar afeta tanto a si mesmo quanto os outros, e ambos o possuem. Portanto, entre os três poderes divinos o último é supremo. Gotama, eu recebi um ensinamento realmente excelente. Eu acredito que você possui estes três tipos de poderes divinos. Existem outros que possuem os mesmos poderes?” “Brâmane, é claro que existem. Os discípulos que possuem estes três tipos de poderes divinos ultrapassam a contagem de cem, duzentos, mesmo quinhentos. Existem muitos mais.” “Gotama, onde estão estes seus discípulos agora?” “Brâmane, eles estão exatamente aqui nesta reunião.” Sangarava se regozijou com este ensinamento e fez o voto de ser um devoto fiel pelo resto de sua vida.

2. Maha-Kaccayana (1) Naquele tempo, Maha-Kaccayana residia às margens do lago Kaddama, próximo à cidade de Varana. Um dia o brâmane Alamandanda

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veio até Maha-Kaccayana e, após cumprimentá-lo, perguntou: “Venerável, por que um guerreiro disputa com um guerreiro, um brâmane com um brâmane, e um mercador com um mercador?” “Brâmane, é por estarem atados pela ganância que eles se afogam nela, e são apunhalados e batidos por ela.” “Venerável, existe alguém neste mundo que esteja livre da ganância?” “Brâmane, neste momento, à leste de Savatthi, vive o Honrado pelo Mundo, que é o Buda. Ele está livre da ganância.” Ao ouvir isto, o brâmane se levantou de seu assento, colocou seu manto sobre um ombro, o joelho direito sobre o chão, juntou as palmas das mãos, olhou para a direção do Honrado pelo Mundo e prestou homenagem três vezes, dizendo: “Eu tomo refúgio no Buda, o Honrado pelo Mundo.” Ele o louvou, dizendo: “Ó, o Honrado pelo Mundo se libertou da ganância.” Ele se regozijou com o ensinamento de Maha-Kaccayana e fez o voto de ser um devoto fiel pelo resto de sua vida.

(2) Em outra ocasião Maha-Kaccayana estava morando no bosque Gunda, próximo a Madhura. Um dia o brâmane Kandarayana o visitou e disse: “Venerável, eu ouvi dizer que você não se curva diante dos anciãos brâmanes, que você não se levanta de seu assento para cumprimentá-los, e que você nem mesmo lhes oferece um assento. Se isto é verdade, está é uma conduta adequada?” “Brâmane, o Buda, o Honrado pelo Mundo, ensinou uma interpretação relativa aos velhos e aos jovens. De acordo com ela, mesmo que um brâmane tenha oitenta ou noventa anos, se ele está viciado nos desejos, queimando em suas chamas, buscando-os insaciavelmente, ele é imaturo. E também, mesmo se o brâmane for jovem, se ele não se entregar ao desejo e não buscá-lo, ele CEBB

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poderá ser chamado de maduro e sábio.” Ao ouvir isto, Kandarayana se levantou de seu assento, colocou seu manto sobre um ombro, tocou o chão com sua testa aos pés dos jovens discípulos do Buda que estavam ali, e disse: “Você são os verdadeiros anciãos. Eu nada sou além de um principiante.” Ele fez o voto de se tornar um devoto fiel pelo resto de sua vida.

(3) O Honrado pelo Mundo estava no bosque Jeta. Um dia Savittha e Maha-Kotthita foram até Sariputta para discutir o Darma. Sariputta disse: “Existem três tipos de pessoas neste mundo: aquelas que experimentam a iluminação com seus corpos; aquelas que realizam a iluminação pela sabedoria; e aquelas que realizam a liberação através da fé. Qual vocês acham que é a suprema?” Savittha respondeu: “Eu acho que entre as três a pessoa que possui fé é a suprema, pois a fé é suprema.” Maha-Kotthita respondeu: “Eu acho que aquela que experimenta a iluminação com o corpo é suprema, pois sua meditação profunda é suprema. Entretanto, Sariputta, quem você acha que é o tipo supremo entre estes três tipos de pessoas?” Sariputta disse: “Eu acho que aquela que enxerga é suprema, pois a sabedoria é suprema. Mas, amigos, cada um de nós deu sua opinião; vamos até o Honrado pelo Mundo para perguntar-lhe. Deveríamos guardar a resposta do Honrado pelo Mundo.” Juntos eles foram até o Honrado pelo Mundo e relataram sua discussão. “Sariputta, é difícil de dizer definitivamente qual destes três tipos de pessoas é supremo, devido às seguintes colocações. A pessoa de fé pode se tornar santa, enquanto que aquela que se iluminou com seu corpo e a que possui visão não podem. Por outro lado, a pessoa que se iluminou com seu CEBB

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corpo pode se tornar santa, enquanto que a pessoa de visão e a de fé não podem. Ou a pessoa de visão pode se tornar santa, enquanto que as outras não podem. Portanto, é difícil de comparar as três e dizer definitivamente qual é a suprema.”

(4) Um dia o Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos: “Discípulos, é possível distinguir três tipos de pessoas doentes: a pessoa doente que não consegue ficar bem mesmo se obtiver alimento nutritivo, remédio adequado e cuidados apropriados; a pessoa doente que ficará bem mesmo se não obtiver alimento nutritivo, remédio adequado ou cuidados apropriados; e a pessoa doente que ficará bem se obtiver alimento nutritivo, remédio adequado e cuidados apropriados, mas se não obtiver não ficará bem. Discípulos, como existe este terceiro tipo de pessoa doente, o primeiro e o segundo tipos também devem seguir a dieta, tomar os remédios e receber os cuidados de uma pessoa doente. “Da mesma maneira, existem três tipos de pessoas no que se refere aos ensinamentos: aquelas que, mesmo se encontrarem um buda e receberem seus ensinamentos não avançarão por um caminho positivo; aquelas que avançarão por um caminho positivo mesmo se não encontrarem um buda ou receberem seus ensinamentos; e aquelas que avançarão por um caminho positivo se encontrarem um buda e receberem seus ensinamentos, mas que não avançarão se não encontrarem um buda e receberem seus ensinamentos. Discípulos, como existe este terceiro tipo de pessoa o Darma é ensinado também ao primeiro e segundo tipos.

(5) “Discípulos, existem pessoas com três tipos de mentes: aquelas cujas mentes são como feridas, aquelas cujas mentes são como relâmpagos, e CEBB

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aquelas cujas mentes são inflexíveis. “Aquelas cujas mentes se assemelham a feridas são as que rapidamente se enraivecem e se desesperam, que são impacientes e que são como feridas que ao serem tocadas por um bastão ou um caco de louça expelem pus. Aquelas cujas mentes se assemelham a relâmpagos são as que sabem verdadeiramente o que é o sofrimento, quais são suas causas, o que é sua cessação e qual é o caminho para a cessação do sofrimento. Quando o relâmpago brilha, sua luz permite que seja vista claramente a forma das coisas. Aquelas cujas mentes são inflexíveis são as que destruíram os obscurecimentos e alcançaram a iluminação. Elas são duras como o diamante, que é capaz de cortar pedras preciosas, rochas ou qualquer outra coisa. Neste mundo existem estes três tipos de pessoas.”

(6) Uma vez, quando Ananda foi até o Honrado pelo Mundo, o Honrado pelo Mundo disse: “Ananda, eu sou alguém que condena rigorosamente todas as ações negativas de corpo, fala e mente.” Ananda perguntou: “Honrado pelo Mundo, se alguém violar as proibições e cometer uma ação negativa nos três níveis qual retribuição acontecerá?” “Ananda, se alguém cometer uma ação negativa nos três níveis estará torturando a si mesmo, será censurado pelas pessoas conscienciosas, terá má reputação, sua mente ficará agitada quando morrer e irá para os infernos após a morte. Esta é a sua retribuição. Ananda, eu sou alguém que incentiva as três ações positivas de corpo, fala e mente.” “Honrado pelo Mundo, se alguém realizar as três ações positivas de corpo, fala e mente qual será sua recompensa?” “Ananda, ele não se sentirá torturado, será louvado pelas pessoas conscienciosas, obterá honras, não terá uma mente agitada ao morrer e renascerá nos céus após a morte. Esta é a boa recompensa.” CEBB

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(7) O Honrado pelo Mundo continuou: “Discípulos, estes são dois caminhos excelentes: parar e examinar. Se vocês aperfeiçoarem o estado de parar suas mentes, estarão preparados para se libertar dos obscurecimentos. Se vocês aperfeiçoarem o exame, sua sabedoria aumentará e vocês serão capazes de se libertarem da ignorância. Se suas mentes estiverem maculadas pelo desejo elas não poderão ser acalmadas; se estiverem maculadas pela ignorância a sabedoria não crescerá. Libertar-se da ignorância depende do crescimento da sabedoria.

(8) “Discípulos, vou explicar-lhes qual é a base para as pessoas maldosas e para as pessoas positivas. Sobre qual base se apoiam as pessoas maldosas? As pessoas maldosas não conhecem o sentimento de débito e a gratidão. Não conhecer o sentimento de débito ou a gratidão é ruim. Sobre qual base se apoiam as pessoas positivas? As boas pessoas conhecem o sentimento de débito e a gratidão. Conhecer o sentimento de débito e a gratidão é algo bom. “Discípulos, não importa o quanto vocês tentem, há duas pessoas às quais vocês nunca conseguirão retribuir seus débitos. Essas duas pessoas são seus pais e suas mães. Mesmo se vocês vivessem por cem anos, e durante estes cem anos vocês carregassem suas mães sobre o ombro direito e os pais sobre o ombro esquerdo, e esfregassem seus corpos com perfume, banhandoos, massageando-os, e cuidando de suas impurezas, mesmo assim não seriam capazes de retribuir sua dívida com eles. Mesmo se vocês fossem capazes de elevá-los ao status de realeza, isto não seria suficiente. A razão para isto é que seus pais e mães os trouxeram para este mundo, alimentando-os e educandoos, e lhes ofereceram muito apoio. Entretanto, se vocês os tornarem CEBB

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conscientes de sua descrença, guiando-os para a fé, fazendo-os se livrarem dos caminhos negativos para permanecer nos caminhos positivos, e ajudando-os a se libertarem da ganância para seguirem o caminho da generosidade, vocês serão capazes de retribuir suas dívidas para com seus pais e mães. Além do mais, vocês irão além da mera retribuição.

(9) “Discípulos, neste mundo há dois tipos de pessoas esforçadas que são superiores e honradas: um chefe de família que oferece aos monges mantos, alimento, almofadas e remédios; e um monge que destrói seus obscurecimentos. Vocês devem se esforçar para destruir os obscurecimentos.

(10) “Discípulos, vocês devem ser firmes na determinação de não se tornarem menos diligentes na busca de seus objetivos. Mesmo se o sangue e o corpo secarem, enquanto tiverem pele, músculos e ossos, vocês devem usar toda a sua virilidade e esforço. Através desta determinação vocês alcançarão, num futuro não muito distante, os objetivos que os levaram a abandonar o lar e a se tornar monges. Vocês realizarão as ações puras neste mundo.

(11) “Discípulos, estas são duas visões: a visão do apego em relação ao caminho das amarras; a visão da repulsa em relação ao caminho das amarras. Através da visão do apego não é possível libertar-se da cobiça, raiva e ignorância; portanto não é possível libertar-se de nascimento, velhice, morte, pesar, tristeza, sofrimento, aflição e tormentos. Haverá um choro contínuo devido ao sofrimento. Através da visão da repulsa será alcançada a liberação da cobiça, raiva e ignorância; assim há a libertação de nascimento, velhice, morte, pesar, tristeza, sofrimento, vícios e tormentos. É possível elevar uma voz jubilosa de verdadeiro prazer. CEBB

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“Discípulos, estes são dois tipos de caminhos: um caminho negro e um caminho branco. O caminho branco protege o mundo e o caminho negro o destrói. Os dois tipos de caminhos negros são a ausência de vergonha em relação a si mesmo e a ausência de vergonha diante dos outros. Os dois tipos de caminhos brancos são o conhecimento da vergonha diante de si mesmo e dos outros. “Discípulos, estes são dois tipos de poder: o poder da atenção plena e o poder da prática. O poder da atenção plena se refere a ter em mente que as ações negativas de corpo, fala e mente têm efeitos negativos no presente e no futuro, e tornar-se livre das três ações negativas. O poder da prática se refere a aperfeiçoar as práticas que os libertam da cobiça, da raiva e da ignorância; aperfeiçoar o caminho para a iluminação e a meditação profunda; e libertarse da maldade guiando-se pelo bem.

3. O Assento das Quatro Nobres Verdades (1) O Honrado pelo Mundo deixou Savatthi indo para o sul e permaneceu em um bosque simsapa, no país de Alavi, usando grama como leito. De tempos em tempos ele ensinava os seus discípulos, dizendo: “Discípulos, se vocês deitarem os ramos de arroz ou trigo e colocarem a mão ou o pé sobre eles vocês não se machucarão mesmo se tentarem. É assim porque os ramos não estão em pé. Da mesma maneira, se vocês tentarem destruir a ignorância e realizar a sabedoria sem corrigirem suas mentes, não serão capazes de fazê-lo. A razão para isto é que a mente não está adequadamente estabelecida. Discípulos, por outro lado, se colocarem os

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ramos de arroz ou trigo em pé e tentarem se machucar vocês conseguirão. Da mesma maneira, se suas mentes forem corrigidas, vocês poderão destruir a ignorância e realizarão a sabedoria.

(2) “Discípulos, se vocês pararem às margens de um lago lamacento não serão capazes de enxergar as ostras de pérolas ou pequenas rochas no fundo, ou os cardumes de peixes, ou qualquer coisa na água túrbida; igualmente não é possível saber o que é benéfico para si mesmo, para os outros ou para ambos, e não será possível manifestar um conhecimento puro se a mente estiver encoberta.

(3) “Discípulos, entre as árvores nenhuma é tão flexível e útil para fazer coisas como a teca. Da mesma maneira, não há nada tão organizado como a mente flexível que foi cultivada e treinada. “Discípulos, não há nada tão facilmente transformável quanto a mente. A mente é originalmente pura. Ela é maculada por obscurecimentos externos. Portanto é possível para a mente libertar-se dos obscurecimentos. As pessoas sem sabedoria não sabem que a mente é originalmente pura e que é maculada por obscurecimentos externos. É por isto que as pessoas sem sabedoria não treinam suas mentes. Os discípulos deste ensinamento realmente reconhecem isto como verdade, e assim eles treinam e preparam suas mentes.

(4) “Discípulos, aqueles que mesmo por um curto tempo praticam compaixão, fortalecendo-a, e que estão conscientes dela repousam em uma profunda meditação que não é inútil, seguem os ensinamentos do mestre e são dignos de todas as oferendas. E muito mais ainda são aqueles que a praticam frequentemente. CEBB

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“Discípulos, quer o caminho seja bom ou ruim, a mente é o guia. A mente é o guia para estes caminhos e os caminhos a seguem.

(5)

“Discípulos,

negligência,

indolência,

desejo,

insaciabilidade,

pensamento incorreto, maus amigos, todos eles geram situações ruins que ainda não surgiram. Eles destroem as coisas boas que já nasceram. Esforço, aplicação, possuir poucos desejos, saber o que é bastante, pensamento correto, e bons amigos, todos eles geram coisas boas que ainda não nasceram, e eles destroem coisas ruins que já nasceram. “Discípulos, não vale a pena falar sobre o aumento de membros de um clã, dos tesouros ou da fama. Mas o despertar do conhecimento é excelente. Vocês devem se esforçar para aumentá-lo. “Discípulos, aquele que possui visões pervertidas cairá nos infernos após a morte; se possuir visões corretas irá para os reinos celestiais. Como uma pessoa de visões pervertidas age de acordo com estas visões, tudo – suas ações físicas, verbais ou mentais, suas esperanças e desejos, e todo o funcionamento de sua mente – atrai os tristes efeitos do sofrimento. Se alguém semear sementes nimba no solo, seja qual for o sabor do solo e da água, todas terão sabor amargo porque as sementes são ruins. Mas para a pessoa com visões corretas, tudo – suas ações físicas, verbais ou mentais, suas esperanças e aspirações, e todo o funcionamento de sua mente – atrai efeitos belos e felizes. Se alguém semear sementes de cana de açúcar no solo, seja qual for o sabor do solo ou da água, todas terão o sabor e o cheiro doces, porque as sementes são boas.

(6) “Discípulos, neste mundo os jardins de flores agradáveis, belas florestas e claros lagos são pouco numerosos; enquanto que colinas, picos, CEBB

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lugares de precipícios, troncos de árvores e cercas de arbustos são muitos. Da mesma forma, os seres sencientes nascidos na terra são poucos, enquanto que aqueles nascidos na água são muitos. Aqueles nascidos no reino humano são poucos, enquanto que aqueles nascidos nos quatro reinos negativos são muitos. E também, aqueles nascidos em terras centrais são poucos, enquanto que aqueles nascidos nas terras interiores e nas bárbaras são muitos. “Discípulos, da mesma forma, aqueles que são inteligentes e que possuem sabedoria e o poder de discriminar entre o bem e o mal são poucos. Aqueles que pouco sabem e que são ignorantes, os nascidos surdos ou mudos, e aqueles que não possuem o poder de discriminar entre o bem e o mal são muitos. Aqueles que possuem o olho da sabedoria sagrada são poucos, enquanto que aqueles que estão envolvidos pela escuridão e que ingressam na delusão são muitos. Discípulos, da mesma forma, aqueles que veem um buda são poucos, enquanto que aqueles que não veem um buda são muitos. Entre aqueles que veem um buda, apenas alguns poucos são capazes de ouvi-lo explicar o Darma; muitos são incapazes de ouvir. Além do mais, entre aqueles que ouvem o Darma apenas poucos o recebem; muitos não o recebem. “Discípulos, mesmo ao receberem o Darma, aqueles que são capazes de entender o significado são poucos; muitos não conseguem entender. Mesmo se receberem o Darma e forem capazes de entender o seu significado, poucos praticam de acordo com o Darma; muitos não praticam. Da mesma forma, aqueles que se alarmam quando deveriam estar alarmados são poucos; muitos são aqueles que não se alarmam. Poucos são aqueles que se esforçam corretamente de modo a aliviar a tristeza; muitos não o fazem. Poucos são aqueles que, de modo a ingressarem no nirvana, concentram suas mentes com foco único e alcançam uma mente pacífica; muitos não o fazem. E CEBB

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também, poucos são aqueles que chegam a apreciar o princípio do Darma e da liberdade; muitos não conseguem. Discípulos, vocês devem se esforçar para conhecer e apreciar estas coisas.

(7) “Discípulos, há virtude em tomar refúgio nos Três Tesouros, no Buda, no Darma e na Sanga. O Buda é supremo entre todos os seres; não há ninguém que se compare a ele. Ele é como o ghee, refinado do leite da vaca, o melhor entre todos os produtos do leite. Por tomar refúgio no Buda supremo, a virtude suprema é alcançada e ocorre o renascimento no reino humano, alcançando sua felicidade. O Darma é revelado e manifestado pelo Buda e supera todos os outros ensinamentos. Ele, também, é como o ghee, o melhor dos produtos do leite. Por tomar refúgio no melhor Darma é alcançada a virtude suprema e ocorre o renascimento no reino humano, alcançando sua felicidade. A Sanga é a irmandade harmoniosa dos discípulos do Buda. Ela é superior a todos os outros grupos. Ela, também, é como o ghee, que supera todos os outros produtos do leite. Por tomar refúgio na suprema Sanga é alcançada a virtude suprema e ocorre o renascimento no reino humano, alcançando sua felicidade.”

4. O Débito com os Pais (1) Um homem de Vesali, Sabbakama, cansado da vida no mundo flutuante, deixou sua esposa e foi até o Honrado pelo Mundo, tornando-se monge. Ele recebeu um problema que o forçaria a praticar a concentração profunda e o insight, e se dirigiu a um local silencioso, corrigiu suas ações,

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disciplinou sua mente e refinou sua sabedoria. Vivendo como peregrino ele foi de lugar em lugar. Depois de algum tempo, ele retornou a seu local de nascimento e visitou o antigo lar. Sua esposa havia perdido sua antiga aparência, tornando-se magra e cansada, e sua aparência de longo sofrimento era digna de pena. Ela o saudou com os olhos cheios de lágrimas e sentou-se ao seu lado. Profundamente afetado com sua condição, ele foi tomado por um sentimento de pena. Ele quase perdeu o controle de sua mente, retornando à vida leiga; mas, assim como um bom cavalo começará a correr diante da mera sombra de um chicote, ele se alarmou e partiu. Usando isto como oportunidade ele se esforçou na prática e finalmente atingiu a iluminação. Seus sogros, regozijando-se por Sabbakama ter vindo até as vizinhanças, queriam que ele voltasse para casa para verem novamente sua filha com um rosto alegre. Eles levaram sua filha vestida com beleza para o templo e imploraram a Sabbakama para retornar à vida leiga. Sabbakama recusou seu pedido em versos:

Este corpo de duas pernas abraçado pelos homens é impuro e tem um cheiro abominável; várias máculas nele são encontradas e vazam por lugares variados.

Assim como um cervo é apanhado por uma armadilha, um peixe por um anzol, ou um macaco por uma lima, um ser mundano é dominado por sua forma.

Uma compleição agradável, voz, gosto, odor e toque, excitando os cinco desejos, são todos inerentes à forma feminina. CEBB

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Com a mente capturada pela forma, um ser mundano se torna íntimo com ela e amplia seu próprio temível túmulo, acumulando assim as sementes da delusão.

Assim como alguém pode chutar a cabeça de uma cobra com o pé, as pessoas justas que sentem repulsa por estas coisas evitam os venenos do mundo com atenção plena correta.

Vendo a miséria do desejo e a tranquilidade da liberdade, eu descarto o desejo e me liberto dos obscurecimentos de minha mente.

Ananda encontrou os sogros de Sabbakama e sua filha. Preocupado com Sabbakama, Ananda perguntou se eles tinham se encontrado. Eles responderam: “Nós o encontramos, mas seria melhor não tê-lo feito.” Ananda perguntou se eles tinham falado com ele. Eles responderam: “Nós falamos com ele, mas seria melhor não tê-lo feito.” Ananda cantou a seguinte canção e retornou ao templo. “Assim como alguém que busca água no fogo, fogo na água, ou coisas no espaço, é um tolo, também é um tolo aquele que pede a uma pessoa livre dos desejos para ter desejos.” Sabbakama encontrou Ananda e lhe contou sobre sua iluminação. Ananda cantou em louvor à iluminação de Sabbakama: “Aquele que protege corretamente as práticas puras, aperfeiçoa o caminho e destrói a delusão é um verdadeiro discípulo do Buda.”

(2) O Honrado pelo Mundo cruzou o rio Ganges em direção à margem CEBB

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meridional, seguindo o rio até Baranasi e permaneceu no Parque dos Cervos. Um dia o Honrado pelo Mundo ensinou aos seus discípulos o seguinte. “Discípulos, existem três tipos de pessoas no mundo: aquelas que são como palavras gravadas na rocha, aquelas que são como palavras escritas na areia, e aquelas que são como palavras escritas na água. Aquelas que são como palavras gravadas na rocha são as pessoas que se enraivecem frequentemente e que guardam rancor por um longo tempo. Sua raiva é como palavras gravadas na rocha que não desaparecem, mesmo que caia a chuva e que sopre o vento, e dura um longo tempo. Aquelas que são como palavras escritas na areia são pessoas que se enraivecem frequentemente, mas sua raiva é como palavras escritas sobre a areia – elas desparecem rapidamente. Aquelas que são como palavras escritas sobre a água são as pessoas que se enraivecem, mas sua raiva é como palavras escritas sobre a água que desaparecem imediatamente sem deixar rastros; elas não guardam marcas em suas mentes e estão plenas de sentimentos de harmonia.

(3) “Discípulos, o tecido feito de fibras de Makaci quer seja novo, usado ou velho, é feio, grosseiro ao toque e barato. Trapos velhos deste tecido são bons apenas para secar jarros ou para jogar fora no lixo. Da mesma forma, um discípulo do Buda quer seja noviço, alguém que está avançado em sua busca ou um irmão mais experiente, que não segue os preceitos e que possui um mau caráter, eu chamo de repulsivo. Se vocês se associarem a ele e assumirem suas visões estarão para sempre em desvantagem e serão infelizes, porque ele é o que eu chamo de grosseiro ao toque. Se receber mantos, alimento, almofadas ou remédio de uma pessoa leiga fiel, a oferenda desta pessoa não gerará uma grande recompensa, porque ele é o que eu chamo de barato. Além disso, se este tipo de discípulo mais experiente CEBB

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desprezar alguém da Sanga ou desviá-lo do caminho, outros discípulos dirão: ‘Qual é a razão para desprezar outra pessoa? Você não acha que é você que deveria ser desprezado?’ Ao ouvir isto, ele se enraivecerá e pronunciará palavras ásperas, finalmente sendo expulso da Sanga. É isto que eu chamo de ser jogado no lixo. “Discípulos, o tecido de seda de Kasi quer seja novo, usado ou velho, é belo, macio ao toque e caro. Um tecido velho de seda é usado para embrulhar joias ou para colocar dentro de uma caixa de incenso. Da mesma forma, mesmo que seja um noviço, alguém que segue seu caminho adequadamente, ou um discípulo mais experiente, se o discípulo guardar os preceitos e tiver bom caráter, eu o chamo de belo. Se vocês se associarem a ele e assumirem suas visões, serão beneficiados e felizes para sempre, porque ele é o que eu chamo de macio ao toque. Além disso, ao receber mantos, alimento, almofadas ou remédio de um seguidor fiel, o doador receberá uma grande recompensa com isto, porque ele é alguém que eu chamo de valioso. Discípulos, se este discípulo mais experiente disser algo na Sanga, os discípulos dirão: ‘Fiquem em silêncio, ele irá nos oferecer ensinamentos e preceitos.’ Discípulos, portanto, vocês devem aprender a não ser como o tecido de Makaci, mas sim como a seda de Kasi.

(4) “Discípulos, alguns dizem: ‘As pessoas recebem recompensas estritamente de acordo com suas ações,’ mas se isso fosse verdade não haveria necessidade de ações puras, nem haveria uma oportunidade para destruir o sofrimento. Discípulos, algumas pessoas cometem uma ação imoral aparentemente insignificante e caem nos infernos. E também há aquelas que cometem o mesmo ato imoral e que recebem a retribuição completa nesta mesma vida. Na próxima vida elas não recebem nem mesmo o menor CEBB

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sofrimento, muito menos sofrimentos extremos. A situação anterior ocorre quando a pessoa não domina seu corpo, os preceitos, sua mente ou a sabedoria; quando ela possui pequena virtude e mente estreita ela se contorce em agonia diante da menor coisa. Este tipo de pessoa cairá nos infernos mesmo por um pequeno ato imoral. Em contraste a isso, a pessoa que domina seu corpo, preceitos, sua mente e sabedoria, a pessoa que possui muita virtude e mente ampla e que está plena de bondade incomensurável, mesmo se cometer uma transgressão menor receberá a retribuição completa nesta vida. Na próxima vida ela não passará por qualquer sofrimento extremo ou mesmo os menores sofrimentos. “Discípulos, se vocês colocarem uma pequena quantidade de sal em uma tigela pequena de água, a água terá o sabor salgado; se colocarem o sal nas águas do Ganges elas não terão o gosto salgado. Da mesma forma, alguns terão que ser presos por uma quantidade muito pequena de dinheiro, enquanto outros não terão que ir para a prisão pela mesma quantia de dinheiro. “Discípulos, portanto, uma pessoa pode cair nos infernos mesmo por uma pequena transgressão, enquanto outra pode receber a retribuição completa nesta vida e não receberá um efeito doloroso na próxima vida. Portanto, não se recebe a recompensa de acordo com as ações, mas uma ação é realizada e se recebe a recompensa que deve ser recebida. Apenas desta forma há a necessidade de realizar ações puras; e apenas desta forma a oportunidade para acabar com o sofrimento se manifesta.

(5) “Discípulos, o ouro é belo, mas sua pepita misturada com terra, areia e cascalho é impura. A pepita impura é colocada em uma bacia e é lavada muitas vezes. A pepita ainda impura é lavada muitas vezes mais até se tornar CEBB

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limpa. Desta forma, as impurezas gradualmente são liberadas até restar apenas o pó de ouro. O ourives coloca o pó de ouro em um crisol aquecido e o derrete com um fole. No início ele é difícil de derreter; as impurezas não se afastam e não amolecem. Ele não brilha; ele é quebradiço e não pode ser trabalhado. Aplicações repetidas do fole finalmente o derreterão e eliminarão as impurezas. Surge o brilho e ele se tornará flexível o bastante para ser trabalhado. O ourives agora o utiliza à vontade para gerar fios de ouro ou para fazer brincos, braceletes ou colares de ouro. “Da mesma forma, discípulos, alguém que pretende dominar a meditação profunda é, no início, muito impuro devido às negatividades de seu corpo, fala e mente. O discípulo inteligente gradualmente se livra das impurezas, destruindo-as e tornando-as inexistentes. Entretanto, ele ainda possui as impurezas mentais do desejo, raiva e más intenções. Ele também se livra delas. Mesmo assim, ele ainda tem o pensamento de não ser tratado levianamente por seus pais, por seu país ou pelos outros. Ele se liberta desta impureza, mas ainda está consciente das coisas. Devido a isto sua meditação não se torna pura, e sua mente não se concentra em um único ponto. Sua meditação ainda não é adequada. Discípulos, aquele que é atento e inteligente gradualmente destrói estas impurezas e alcança a meditação correta, poderes divinos e sabedoria; ele destrói as paixões e atinge a iluminação. Ele é capaz de realizar seus objetivos como desejar. “Discípulos, aquele que deseja aperfeiçoar a meditação profunda deveria alcançar a absorção, deveria se esforçar e deveria descartar o pensamento discriminativo. Se ele desenvolver atenção sobre sua absorção, por medo de se tornar preguiçoso, ele deve estar atento ao esforço. Se ele desenvolver atenção sobre o esforço, pelo medo de se tornar agitado, ele deveria estar atento ao descarte do pensamento discriminativo. Além disso, CEBB

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se ele tentar descartar o pensamento discriminativo há o medo de não avançar em direção à destruição das paixões. Portanto, se ele sempre tiver em mente estas três características, sua mente se tornará flexível e útil para seu trabalho e manifestará brilho, tornando-se saudável. Isto é o mesmo que o ourives colocar a pepita de ouro no crisol, aquecendo-a com o fogo, umedecendo-a com água, e testando-a de tempos em tempos. Se ele apenas esquentá-la com o fogo, o ouro se tornará cinzas. Se ele apenas o umedecer, o ouro permanecerá frio. Se ele apenas continuar testando-o, ele não será útil. Apenas quando o aquece com o fogo, umedecendo-o com água, e testando-o de tempos em tempos o ouro, finalmente, brilhará e se tornará flexível e útil para ser trabalhado. Apenas então o ourives será capaz de trabalhá-lo como desejar. Discípulos, alguém que deseja aperfeiçoar a meditação profunda deve ter em mente estas três características. Se ele mantiver as três características em mente desta forma e praticar, será capaz de alcançar diversos poderes divinos e sabedoria.”

5. A Mente e o Mundo (1) Certa vez, muitos bodisatvas se reuniram como nuvens, vindo das dez direções, e louvaram as virtudes do Buda:

(i) Por um tempo ilimitado temos visto o Buda, mas não conquistamos a verdade do Darma correto. À medida que nossa rede de dúvidas se amplia, ficamos atados à prisão da morte e do nascimento. Estamos cegos e não vemos o Buda.

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(ii) A sabedoria do Buda é profunda e difícil de compreender. Se não conhecermos o verdadeiro Darma todo o mundo parecerá deludido. Aqueles que não possuem sabedoria, uma vez que veem todas as coisas de modo falso, não veem o Buda. Assim como não é possível ver tesouros no escuro sem a luz, mesmo os sábios não podem entender os ensinamentos sem alguém que os explique. Se a visão não for clara, não será possível ver mesmo as cores intensas; uma mente impura não pode compreender os ensinamentos do Buda.

(iii) Apesar de todas as coisas serem vazias, os ignorantes pensam que elas possuem substância. Eles revolvem no ciclo de mortes e renascimento. Se eles pensam que algo negativo é superior ao Darma e não conhecem o caminho correto, como eles poderiam conhecer suas próprias mentes? A partir de pensamentos perversos se acumulam maldades crescentes. Não sustentar visão alguma é a verdadeira visão. Olhem atentamente para o verdadeiro Darma. Para aquele que enxerga a verdade no Darma, não há visão.

(iv) Para aquele que ouve os ensinamentos excelentes, nasce a luz da pura sabedoria. Como esta luz brilha por todo o mundo, é possível ver todos os budas. Ao acreditar que existe uma pessoa, sua mente trilha um caminho perigoso. Não há um verdadeiro mestre das coisas, é apenas uma palavra provisória. Aquele que está deludido não conhece a si mesmo, ele age como se realmente existisse. Como o Buda está livre de ser ou não ser, os deludidos

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não podem ver o Buda. Os obscurecimentos da mente obstruem o olho da sabedoria, e eles são incapazes de ver pessoas de iluminação.

Por um tempo incomensuravelmente longo, as pessoas estão revolvendo

no

oceano

de

mortes

e

renascimentos.

A

transmigração é a morte e o nascimento. Não transmigrar é o nirvana. Morte e nascimento e o nirvana não são duas coisas. Aquele que busca nomes temporários vê os dois como diferentes; confuso no caminho dos sábios, ele não consegue entender o caminho insuperável.

(v) Mesmo se alguém disser: ‘Buda’, se tiver pensamentos perversos não verá o Buda. Se uma pessoa chegar a ver essa forma tranquila como o verdadeiro Darma, ela verá uma pessoa iluminada e transcenderá o caminho das palavras. Mesmo que palavras sejam usadas para explicar o Darma, a forma real não é manifesta. Apenas o pensamento de unidade permite ver o Buda e o Darma.

Passado, futuro e presente sempre estiveram pacificados. Alguém que compreende isto é um buda.

(vi) Mesmo que você experimente um sofrimento ilimitado, ouça bem a voz do Buda. Se não ouvir o nome dele você não experimentará qualquer alegria.

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De fato, a razão pela qual alguém revolve no oceano de sofrimento desde um tempo imemorial é que este alguém não ouve o nome do Buda. Não vendo as coisas de uma perspectiva deludida, despertando para as coisas como elas realmente são, aquele que se torna livre de características nascidas de condições é denominado um ser iluminado.

No passado, no presente e no futuro todas as coisas são livres de características. Ser livre de características é, de fato, a substância do Buda. Se alguém enxergar desta forma o princípio profundo de todas as coisas, verá as verdadeiras características inconcebíveis do Buda.

Quando alguém se ilumina, se não há nada para o que se iluminar, então este é realmente o verdadeiro Darma do Buda. Não podemos encontrar nada nas coisas em que possamos nos apoiar; todas surgem da reunião de causas e condições. Não há criador, nada criado; as coisas nascem simplesmente do pensamento do carma. Portanto, não há nada que possa ser apreendido; esta é verdadeiramente a base do Buda. Não podemos encontrar nada nas coisas em que possamos nos apoiar. Os seres iluminados não possuem apegos.

(vii) Grande é a luz do Buda; bravo é o insuperável herói; para beneficiar pessoas deludidas ele surgiu no mundo.

O Buda, olhando compassivamente para este mundo, vê as

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pessoas sofrendo em caminhos negativos; sem o Buda não há ninguém para salvá-las. Se o Buda não estivesse neste mundo as pessoas não encontrariam verdadeira alegria. O Buda veio para este mundo e nos abençoou com alegria.

Aqueles que veem o Buda conquistam grandes méritos. Aqueles que se regozijam com o nome do Buda se elevam como estupas neste mundo.

(2) Então, um bodisatva se levantou de seu assento e explanou o Darma: “Todos vocês, filhos do Buda, aquele que busca o caminho deve primeiro encontrar o Buda, que é difícil de encontrar, e ouvir o Darma. Depois, ao ver as pessoas em sofrimento ele deve despertar a mente que busca o caminho, aproximar-se de bons amigos e trabalhar duramente para ouvir o quanto for possível. Ele não deveria procurar no outro o Darma que ouve, mas deveria compreendê-lo com relação a si mesmo. Ele deveria se libertar do desejo e aperfeiçoar a meditação profunda, atingindo o profundo princípio do Darma correto, e vendo que todas as coisas são impermanentes, sofrimento, vazias e desprovidas de identidades, e que elas não possuem alegria. “Além disso, ele deveria confiar no Buda, penetrar o Darma e, com sua mente em tranquila e profunda meditação, deveria contemplar as pessoas, a terra do Buda, este mundo, as recompensas cármicas, ou a transmigração e o nirvana. Ele deveria estar atento ao praticar que as raízes positivas que são conquistadas têm por objetivo salvar todas as pessoas e guiá-las para o nirvana. “Ó filhos do Buda, um bodisatva repousa com uma mente correta no CEBB

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pensamento da determinação. Quer ele ouça alguém louvar ou repreender o Buda, ele não se abala, pois sua mente está fixa na doutrina do Buda. Mesmo que alguém louve ou difame aquele que busca o caminho ou suas práticas, ele não se abala, pois sua mente está fixa na doutrina do Buda. E também, no que se refere às pessoas, se ouvir que elas são capazes ou não, ou que elas possuem ou não obscurecimentos, ele não se abala, pois sua mente está fixa na doutrina do Buda. Além disso, com relação ao Dharmadhatu, ao ouvir que ele é mensurável ou não, ou que ele é completo ou destruído, ou se ele ouve uma forma positiva ou negativa de ensinamento, ele não se abala, pois sua mente está fixa na doutrina do Buda. Ele conhecerá as circunstâncias nas quais as pessoas encontram nascimentos, as muitas paixões e os muitos hábitos. Ele conquistará a sabedoria dos meios para distinguir as coisas incomensuráveis, e ele saberá como ensinar tanto a verdade relativa quanto a Verdade Absoluta. “Filhos do Buda, ele conquistará assim o grande poder da sabedoria. Ele abalará e moverá o mundo, iluminará o mundo, sustentando-o e adornando-o completamente; ele conhecerá as mentes e as ações das pessoas, e através de vários meios hábeis irá discipliná-las adequadamente, liberandoas.

(3) “Filhos do Buda, ao ver todas as coisas, um bodisatva não vê características discriminadas; ele as vê como sendo iguais ao espaço, porque ele sabe que todas as coisas não possuem natureza própria. Além disso, um bodisatva contempla o poder ilimitado do Buda e desta forma recebe a grande mente compassiva do Buda e a nutre. Ele pensa sobre as pessoas e não as rejeita; ele pratica boas ações e não busca recompensas. “Filhos do Buda, se um bodisatva enxergar as coisas desta forma, com CEBB

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apenas alguns meios hábeis, ele conquistará todo o mérito do Buda. Ele conhecerá a verdadeira natureza de todas as coisas e será dotado de sabedoria. Ele se iluminará para todas essas coisas, confiando em si mesmo como uma lâmpada e não dependendo dos outros.

(i) Através do poder absoluto do Buda ele conquistará o estágio de não mais retroceder, iluminará o mundo com a luz da compaixão e se tornará um refúgio para as pessoas. Como o Buda o protege seu mérito é incomensurável. Como ele sempre contempla o reino do Buda, o Buda o asperge com o néctar da sabedoria. Sua fé é inflexível e ele conhece seu débito para com o Buda. Dotado de todos os meios hábeis ele se move por todos os mundos; ele é de fato um verdadeiro filho do Buda.

Com uma mente desapaixonada ele remove a sede do desejo; com grande compaixão ele pensa nas pessoas desimpedidamente. Ele guia as pessoas para alcançarem o destemor. Como ele age de acordo com a verdade ele é igual ao Buda.

(ii) Como ele está tomado pela sabedoria e pela força da fé, e visto que sua mente é justa e pura, é certo que ele compreenderá a verdade. Para que todos os mundos futuros prosperem, ele sofrerá até mesmo as torturas do inferno muitas vezes. Devido a sua compaixão ele se harmonizará com o mundo e explicará o ensinamento do Darma inconcebível.

(iii) Seu corpo preencherá o Dharmadhatu, e apesar de estar de

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acordo com uma mente pessoal ele estará livre da discriminação entre sujeito e objeto; ele não manterá discriminações entre o maculado e o puro. Ele esquecerá a distinção entre estar amarrado e estar livre. Ele simplesmente aspirará a alegria de estar junto com outras pessoas. Todas as pessoas do mundo pensam em poder. Ele não tem medo, pois entra com sabedoria. Apesar de o espaço poder ser medido, a grandiosidade da mente da iluminação é difícil de ser conhecida. Isto é assim porque a grande compaixão é incomensurável e preenche as dez direções.

(iv) Os budas de todas as terras louvam o despertar das mentes dos bodisatvas, que consideram o mérito incomensurável como seu adorno e cuja natureza, ao alcançarem a margem pura, não é diferente daquela dos budas.

Todas as alegrias experimentadas pelos budas de todos os mundos e pelas pessoas nascem do pensamento da iluminação.

Este pensamento adorna a terra de um buda; este pensamento dá às pessoas a sabedoria suprema.

(4) “Filhos do Buda, um bodisatva que conquistou o mérito de despertar a mente para buscar a iluminação deve se libertar da mente ignorante e se esforçar para destruir a mente negligente. Ou seja, ele deve praticar de acordo com os ensinamentos, descartar ações banais e negligentes, buscar o Darma incansavelmente, e possuir uma visão verdadeira e real do Darma que escuta. Ele deve dar nascimento à suprema sabedoria, entrar no

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reino de liberdade do Buda, e tornar sua mente tranquila e sem distrações ou agitações. Mesmo que ouça algo bom ou ruim, assim como a grande terra ele não terá um pensamento de alegria ou pesar. Seja qual for o tipo de pessoa que encontrar, ele não será um obstáculo. Além disso, ele reverenciará e fará oferendas aos seus professores, bons amigos e mestres do Darma. “Filhos do Buda, um bodisatva também aperfeiçoará os seguintes tipos de prática, trazendo alegria para o Buda. Ele se esforçará com todo seu poder e não retrocederá. Ele não se arrependerá de sua vida nem buscará ganhos materiais. Conhecendo todas as coisas ele estará desimpedido, como o céu. Utilizando meios hábeis sua visão penetrará todas as coisas e ele entrará em todos os Dharmadhatus em todos os lugares. Ele não será tendencioso no conhecimento das coisas e sempre sustentará um grande voto. Ele alcançará a grande sabedoria de ser tolerante e conhecerá os ganhos e perdas associados a todas as coisas. “Filhos do Buda, se os bodisatvas aperfeiçoarem o caminho desta forma os Três Tesouros florescerão por muito tempo. A razão para isto é que quando os bodisatvas ensinam as pessoas a despertarem suas mentes para buscar o caminho, o tesouro do Buda não se exaurirá. Além disso, ao apresentarem variados e maravilhosos Darmas, o Tesouro do Darma não se exaurirá. Ao manterem a dignidade e os ensinamentos o Tesouro da Sanga não se exaurirá. Além disso, como eles louvam todos os grandes votos o Tesouro do Buda não se exaurirá. Como eles ensinam o princípio das causas e condições o Tesouro do Darma não se exaurirá. Como eles amam uns aos outros com respeito mútuo e preservam todos os preceitos o Tesouro da Sanga não se exaurirá. E como eles semeiam as sementes da iluminação nos campos das mentes das pessoas e fazem com que o broto da iluminação surja, o Tesouro do Buda não se exaurirá. Como eles protegem o verdadeiro Darma CEBB

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sem consideração pelas próprias vidas, o Tesouro do Darma não se exaurirá. Como eles governam as massas incansavelmente o Tesouro da Sanga não se exaurirá. Desta forma, como os bodisatvas dominam o caminho sem se desviar dos ensinamentos dos budas dos três tempos, eles fazem com que os Três Tesouros floresçam.”

(5) Então, mais bodisatvas se reuniram como nuvens das dez direções, e cada um ofereceu estes versos.

(i) Como a luz pura ilumina as dez direções todas as pessoas são capazes de ver o Buda.

O Buda está agora no palácio de Yama. Tal evento ocorre raramente neste mundo. Neste mundo e no palácio de Yama as pessoas veem o Buda. Seu mérito é profundo e inconcebível. Um corpo é inúmeros corpos, os inúmeros corpos são um. Dependendo das necessidades das pessoas ele se move desimpedido por todas as dez direções.

(ii) Apesar de um tempo incomensurável se passar é difícil encontrar um professor de pessoas e de deuses. A luz da sabedoria remove a escuridão do mundo. O Darma maravilhoso beneficia as pessoas. Incansavelmente através de um tempo inconcebível ele aperfeiçoou as práticas e atingiu a iluminação e salva as pessoas em todas as direções. As pessoas que veem o professor de humanos e deuses escapam do sofrimento dos caminhos negativos.

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(iii) A luz da lua no verão em um céu sem nuvens ilumina intensamente. Mesmo as pessoas com olhos não sabem o grau de alcance, e muito menos aqueles que não enxergam. A luz do Buda é igual. Vindo de lugar algum e indo para nenhum lugar, ela não nasceu e não morre. Ela é vazia e silenciosa e não possui substância. Assim como a luz, todas as coisas são similares. As coisas desde o princípio nunca tiveram uma natureza própria. Se alguém realizar esta natureza verdadeira sua mente finalmente estará livre da delusão.

(iv) O corpo do Buda preenche o reino do Darma. Sem deixar seu assento ele alcança todos os lugares. Aquele que confia neste ensinamento estará livre para sempre do sofrimento dos três caminhos negativos. A pessoa que ouve sobre o poder desimpedido do Buda e que confia nele com mente unifocada alcança a iluminação e expõe o Darma. Mesmo ao longo de um tempo incomensurável é difícil encontrar este Darma. Se alguém o ouve, isto se deve ao voto do Buda.

(v) Não há distinções entre todas as coisas; apenas o Buda conhece. Assim como não há distinções entre a natureza do ouro e sua cor, não há diferença entre o Darma e o não-Darma, nem entre seres sencientes e não-sencientes. Assim como formas passadas não existem no futuro, não há distinções entre todas as coisas. Metaforicamente, apesar de os números se estenderem do um até o infinito, eles são todos números e não há discriminações.

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Com base apenas na consciência da discriminação é como se houvesse uma distinção entre os números. E também, apesar de não haver diferenças no espaço das dez direções, as pessoas criam distinções. Quando alguém se fixa desta maneira nunca verá o Buda.

(vi) Os três tempos dos seres sencientes – passado, presente e futuro – estão compreendidos nos cinco agregados. Os cinco agregados se originam devido ao carma. Esse carma se origina devido à mente. Visto que a mente é como uma ilusão, os seres sencientes não são diferentes de ilusões. O mundo não cria a si mesmo e nem é criado por outro. Enquanto alguém não conhece a natureza da verdadeira realidade será apanhado pelo hábito de nascimento e morte. O giro do mundo é o giro do sofrimento. Enquanto as pessoas não reconhecerem isto a roda de nascimento e morte girará para sempre. Tanto o mundo quanto o não-mundo não são reais. As pessoas não possuem sabedoria e são ignorantes, elas se fixam às formas de todas as coisas indiscriminadamente. Os cinco agregados dos três tempos são chamados de mundo, mas ele existe apenas devido à delusão. Quando alguém destrói o mundo, deixa-o para trás. Não reconhece mais os cinco agregados em deterioração, acreditando que eles são permanentes sem razão, pois os cinco agregados são vazios e temporários e não são verdadeiramente reais. A realidade das coisas é pacífica e não muda. É livre de discriminações no final.

O mundo já é vazio; o Buda e o Darma também são vazios. A

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natureza dos três não possui substância. Aqueles que estão livres de visões perversas e que veem a verdadeira realidade claramente veem o Buda sempre surgindo diante deles.

(vii) A natureza de todas as formas e ações, mesmo que alguém pense e procure com ardor, não pode ser conhecida. É o mesmo com a natureza da consciência e com o corpo do Buda. Apesar de o maravilhoso corpo incomensurável surgir em todos os países, o corpo não é o Buda. O Buda não é o corpo. Apenas o Darma é o corpo. Ele permeia todas as coisas. Se alguém enxergar o puro corpo do Buda não terá dúvidas sobre a doutrina do Buda. Quando alguém vê que a natureza da verdadeira realidade é igual ao nirvana, enxergará o Buda e estará sempre em paz. É chamado de filho do rei do Darma.

(viii) Um pintor habilidoso usa cores para fazer qualquer forma, e a forma não é diferente da cor. Mas a forma não é o mesmo que as cores, e as cores não são o mesmo que a forma. Pode-se saber isto porque a forma, de fora de seu contorno, está sem cores. A mente não é a cor da figura; a cor da figura não é a mente. Entretanto, fora da mente não há figura; fora da figura não há mente. Essa mente não é permanente. Como é ilimitada não pode ser medida. Ela manifesta todas as cores, mas as cores são ignorantes umas das outras.

Exatamente como um pintor habilidoso não conhece a mente de uma pintura, assim é com a natureza do Darma. A mente é como

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um pintor habilidoso; ela desenha os cinco agregados de formas variadas. Dentro de todos os mundos não há nada que ela não crie. Assim como a mente, assim é o Buda; assim como o Buda, assim são os seres sencientes. Estes três – mente, o Buda e os seres sencientes – não possuem distinções. Todos os budas sabem que todas as coisas se desenvolvem a partir da mente. As pessoas que compreendem isto veem o verdadeiro Buda.

A mente não é o corpo; o corpo não é a mente. Entretanto, eles praticam todas as ações do Buda e sua liberdade das obstruções é incomparável. Se vocês quiserem conhecer o Buda dos três tempos vejam que a mente cria todos os budas.

(ix) Aquilo que é apreendido, visto, ouvido ou pensado – é inatingível. Mensurável ou não, os limites são difíceis de verificar. Estes dois não possuem nada a que se agarrar. Aquele que ensina o que não pode ser ensinado engana a si mesmo. O que não pertence a alguém não pode agradar as pessoas. Apesar de o céu ser puro e incolor, ele manifesta todas as cores; porém, sua natureza não é vista. Da mesma forma, a pessoa de grande sabedoria apresenta formas ilimitadas, porém ela não é conhecida pela consciência. Não há nada a ser visto. Ao ouvir o som da voz do Buda, apesar de o som da voz não ser o Buda, ele não pode ser conhecido separado da voz. Este princípio é muito profundo. Se alguém é capaz de discerni-lo corretamente, o caminho com certeza será seu.

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FIM DO LIVRO V

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LIVRO VI

Introdução

O Buda continua o seu esforço para disseminar o Darma por toda a Índia, viajando mais de 300 milhas para o sudeste de Savatthi em Kosala até Rajagaha em Magadha. Ele também viaja mais de 200 milhas de Savatthi para Kosambi no sudoeste. Como era o método usual de viagem naqueles dias, ele caminhou por estas longas distâncias, descansando nas pequenas vilas ao longo do caminho ou na floresta, ensinando o Darma para qualquer um que quisesse ouvir. Savatthi também era o local onde se encontrava Rajakarama, um convento para monjas construído pelo rei Pasenadi de Kosala (Sct. Prasenajit) dentro da cidade como proteção para as discípulas do Buda. Também se localizava em Savatthi o Pubbarama, o Jardim Oriental, estabelecido por Visakha para a Sanga fora da cidade, próximo ao portão leste da cidade. O monastério Anathapindika no bosque Jeta também ficava fora da cidade, mas perto do portão sul. O capítulo 1, seção 5, contém os 423 versos do Dhammapada em páli. É uma antologia de versos sobre pensamentos éticos budistas e preceitos. Existem três versões desta coleção amplamente conhecida: em páli, sânscrito e prakrit (um dialeto popular). A versão em páli foi traduzida para muitas línguas. Devido à simplicidade das expressões e da beleza poética dos versos,

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o Dhammapada é tido em alta estima. Em termos comuns, ‘dhamma’ significa disciplina, ou viver virtuosamente, e ‘pada’ significa caminho; assim, o Dhammapada é o Caminho da Vida Virtuosa. No capítulo 2 o leitor encontrará passagens do Sutra Sukhavati-vyuha, um ensinamento Mahayana (grande veículo) de fé simples no poder salvador do Voto Primordial do Buda Amitayus. Este sutra apresenta o ideal do bodisatva de atingir a suprema iluminação não apenas para o próprio bem, mas para o benefício e bem-estar de todos os seres sencientes. Em contraste, o estado de arhat é a meta espiritual mais elevada dos monges e monjas, e é a liberação individual do apego à existência condicionada. Neste sutra Mahayana, Ananda pergunta ao Buda qual é a razão para seu semblante brilhante. Em resposta, o Buda relata a história de Dharmakara, um rei que havia vivido muitos éons antes e que se tornou um monge, fazendo o voto diante do Buda Lokesvararaja de que ele se tornaria um buda e estabeleceria uma terra búdica na qual todos os seres que aspiram a alcançar a iluminação pudessem renascer e também se tornar budas. Dharmakara fez 48 votos, dos quais apenas 15 estão incluídos no capítulo 2, seção 4 (abreviados no texto japonês), mas estes 15 votos representam as mais significativas das declarações de Dharmakara. O 8º dos votos listados corresponde ao 18º voto, chamado de voto primário (fundamental), porque os 48 votos podem ser destilados neste único voto essencial, que promete que qualquer um que confie nele com mente unifocada como o Buda Amitayus (Vida Eterna) renasceria na Terra da Paz e Felicidade (Sukhavati), onde as condições conduziriam à prática adequada que leva à iluminação. Como não podem existir impurezas em uma terra búdica, ela é também chamada de Terra Pura. Os leitores que encontram a doutrina Terra Pura pela primeira vez, CEBB

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podem sem sombra de dúvidas ficar surpresos com a ideia de confiar no poder de um buda, o que parece contradizer a doutrina de seguir o caminho do modo de vida correto e concentração mental que leva à iluminação, conforme exortado pelo Buda histórico. Por mais difícil que seja compreender este conceito, a verdade é que ele está fundamentado nos ensinamentos e princípios originais do Buda Gotama, cujo propósito era, de fato, resgatar todos os seres sencientes da vida de sofrimento. A doutrina Terra Pura é geralmente considerada um “caminho fácil” para os seres comuns, que são incapazes de seguir o difícil “caminho dos sábios”, seguido pelos primeiros discípulos durante o tempo do Buda. As Quatro Nobres Verdades incluem, de fato, o Caminho Óctuplo como o caminho que leva à cessação do sofrimento. Entretanto, os seguidores da doutrina Mahayana compreenderam que precisavam apreender o espírito essencial,

e

não

simplesmente

se

conformar

literalmente

com

os

ensinamentos do Buda. Essa essência espiritual, eles acreditam, é a compaixão universal e a sabedoria subjacentes ao Darma. Assim, eles corporificaram este espírito compassivo na história de Dharmakara, que simboliza a busca do Buda e o esforço que o levaram ao completo despertar para a verdadeira natureza da realidade, e que se tornou o Buda Amitayus, um símbolo de compaixão ilimitada e sabedoria. Depois de éons de grande disciplina ele havia acumulado méritos incalculáveis que podiam ser transferidos para todos os seres para sua salvação. Esta história mitológica pode ser entendida no contexto da unidade interdependente da vida, através da qual a vitalidade suprema do Buda e seu insight podem fluir para todos os outros seres, os quais deixando seus desejos autocentrados podem gerar mentes receptivas para receber os benefícios da iluminação do Buda. Olhando de uma perspectiva moderna, é claro que se não estivermos CEBB

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em harmonia com o fluxo e ritmo do universo sentiremos uma disfunção perturbadora. Quer reconheçamos isto ou não, os ritmos em nossos cérebros são causados primariamente por movimentos planetários, tais como a rotação da terra ao redor de seu eixo, sua revolução ao redor do sol e o movimento da lua em relação à terra. Organismos vivos, incluindo os seres humanos, adaptaram-se a estes ritmos desenvolvendo seus próprios ritmos biológicos. Se houver uma interrupção nestes ritmos, por exemplo, quando mudamos nosso horário de trabalho do dia para a noite, experimentamos efeitos físicos e psicológicos. O jet lag é uma forma moderna de interrupção biológica. Nós somos uma combinação de ciclos empilhados uns sobre os outros; assim, a restauração do funcionamento do sistema nervoso leva à saúde emocional. Nós precisamos manter a harmonia com os ritmos universais da vida, bem como manter o equilíbrio ecológico na vida para a saúde da própria terra. Os antigos pareciam estar conscientes, a partir de sua própria perspectiva primitiva, mas sábia, em relação à interdependência da vida, de que era imperativo para todos os seres unirem-se ao fluxo dinâmico e aos ritmos do universo. Podemos fazer isto apenas abrindo mão de nosso apego às necessidades egoístas e desejos que causam estresse e infelicidade não apenas para nós mesmos, mas também dor e mesmo violência para todos os outros seres que existem no mundo. A alegoria bastante famosa da flecha é encontrada no capítulo 4, seção 4. Frequentemente o Buda era questionado sobre o mundo ser eterno ou não, se o corpo e o espírito eram um ou não, se a pessoa existe após a morte ou não, e assim por diante. O Buda se recusou a responder estas questões, pois ele sentia que a discussão de tais assuntos não conduziam à prática que leva à iluminação. Ele dá o exemplo de um homem penetrado por uma flecha envenenada. Se esta pessoa insistir que o médico não deve retirar a flecha e CEBB

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tratá-lo antes de saber tudo sobre o arqueiro e o tipo de flecha que foi usada, e assim por diante, o homem com certeza morreria. Uma pessoa deve primeiramente dar o passo essencial e evitar especulações sem sentido. O Buda explica no capítulo 4, seção 6, que para remover as próprias paixões e despertar a sabedoria suprema que leva à iluminação, é necessário compreender as Quatro Nobres Verdades: 1) Há sofrimentos na vida, tais como velhice, doença, morte, afastar-se dos seres amados, estar com alguém de quem não gostamos, não conseguir obter o que desejamos etc; 2) Há causas para o sofrimento, que são as paixões pelos prazeres e pela existência continuada dos objetos de nossos desejos; 3) A cessação do sofrimento pode ser alcançada pela total eliminação das paixões e pela liberação do apego às coisas que são impermanentes; 4) Há o Caminho Óctuplo que leva à verdadeira consciência da vida: visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta. Este Caminho do Meio que evita os dois extremos do esforço religioso é encontrado pela primeira vez no Livro 1, capítulo 3, seção 1:4.

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LIVRO VI Capítulo I - CONHECENDO O DARMA

1. Carma

(1) Após viajar pelo país de Kosala, o Honrado pelo Mundo retornou a Savatthi. Um dia ele disse aos seus discípulos: “Discípulos, todas as pessoas desejam que não aconteçam coisas desagradáveis e esperam que as coisas agradáveis se ampliem, mas na verdade acontece o contrário. Por que é assim?” Eles responderam: “Honrado pelo Mundo, você está completamente iluminado para a essência do Darma; podemos pedir-lhe para explicar para nós? Possuímos fé total em seus ensinamentos.” “Meus discípulos, então, vocês fariam bem em ouvir com atenção. Suponham que há um homem que não encontrou um sábio ou uma boa pessoa, ou que não conhece os ensinamentos sagrados e o caminho que deveria ser praticado. Como ele não sabe o que deveria e o que não deveria fazer, ele não fará o que deveria e fará o que não deveria fazer. Devido a isto, as situações desagradáveis se ampliarão para ele e as situações agradáveis não acontecerão. Mas, uma vez que meus discípulos encontram os sábios e aprendem o caminho, as situações desagradáveis diminuirão para eles e as situações agradáveis se ampliarão.

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(2) “Meus discípulos, existem quatro caminhos: o caminho que conduz ao sofrimento tanto nesta vida atual quanto nas vidas futuras; o caminho que conduz ao sofrimento nesta vida, mas que traz felicidade nas vidas futuras; o caminho que conduz à felicidade nesta vida atual, mas que traz sofrimento nas vidas futuras; e o caminho que conduz à felicidade tanto nesta vida atual quanto nas vidas futuras. Aqueles cujas mentes estão encobertas pela ignorância são incapazes de ver de forma correta o caminho que leva ao sofrimento tanto na vida atual quanto nas vidas futuras, ou o caminho que leva ao prazer nesta vida, mas que conduz ao sofrimento nas vidas futuras. Assim, eles não se esforçam para evitá-los, e como resultado situações não desejadas se ampliam e as situações desejadas diminuem. Estes são os estados naturais daqueles que não são sábios. Além disso, visto que eles não conhecem de forma correta nem o caminho que leva ao sofrimento nesta vida atual, mas que leva à felicidade nas vidas futuras, nem o caminho que leva à felicidade tanto nesta vida atual quanto nas vidas futuras, eles não se esforçam para seguir o caminho, uma falha que leva à ampliação das situações não desejadas e à diminuição das situações desejadas. Estes, também, são os estados naturais dos que não são sábios. “Meus discípulos, por outro lado, os homens de sabedoria veem estes quatro caminhos como eles são. Eles não fazem o que não deveriam fazer e fazem o que deveriam fazer. Como resultado, as situações desejadas se ampliam para eles e as situações indesejadas diminuem. Estes são os estados naturais para aqueles que possuem sabedoria. “Meus discípulos, qual é o caminho que leva à infelicidade tanto nesta quanto nas vidas futuras? Aqui temos um homem que mata, rouba e comete adultério e outras ações negativas; estas ações conduzirão ao seu próprio CEBB

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sofrimento. Devido a estas ações ele sofre na vida atual e cairá em reinos negativos nas vidas futuras. O caminho que leva ao prazer nesta vida, mas ao sofrimento no futuro é o caminho no qual, cometendo ações negativas como matar, roubar, adultério etc, acredita-se que elas não causarão sofrimento, mas sim trarão prazer e alegria. Na verdade, mesmo trazendo prazer no presente elas causarão renascimento certo em reinos negativos nas próximas vidas. O caminho que leva ao sofrimento na vida atual, mas que conduz à felicidade nas vidas futuras é o caminho em que as ações negativas citadas anteriormente são descartadas, ganância e raiva são abandonadas e as visões corretas são cultivadas. A vida assim conduzida pode causar sofrimentos no presente, mas trará bons resultados nas vidas futuras. O caminho que leva ao prazer e à felicidade tanto nesta vida atual quanto nas vidas futuras é o caminho através do qual, ao ser vivenciado, experimenta-se alegria nesta vida e bons resultados nas vidas futuras.

(3) “Meus discípulos, como analogia, uma pessoa oferece um recipiente contendo veneno para outra pessoa que tem amor por sua vida, dizendo: ‘Aqui está um recipiente que contém veneno. Você pode beber se quiser, mas o gosto é ruim e o cheiro é nojento. E você morrerá se beber dele.’ Aquele que pratica o caminho que leva ao sofrimento tanto nesta vida atual quanto nas vidas futuras é como o homem que bebe deste recipiente. “E também, há veneno na comida que parece bela e é deliciosa. Uma pessoa que tem amor por sua vida e que não gosta de sofrer chega e come mesmo sabendo que aquela comida contém veneno. Ela é como alguém que pratica o caminho que leva ao prazer na vida atual, mas que conduz ao sofrimento nas vidas futuras. “Suponham que há uma água suja na qual foram misturados vários CEBB

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remédios. Ao ser estimulada, uma pessoa com icterícia a bebe. Tanto o sabor quanto o cheiro são insuportavelmente desagradáveis, mas as dores de sua doença são grandemente aliviadas. Ela é como alguém que pratica o caminho que leva ao sofrimento nesta vida atual, mas que conduz à alegria nas vidas futuras. “Finalmente, uma pessoa sofrendo de disenteria, ao ser estimulada, toma um remédio feito de manteiga, melado, açúcar e ghee. O remédio é excelente tanto no sabor quanto no cheiro, e ao ser tomado cura a doença. Ela é como alguém que pratica o caminho que leva ao prazer e à alegria tanto nesta vida quanto nas futuras. “Meus discípulos, assim como o sol brilhando intensamente no céu sem nuvens de outono e que ilumina o universo, o Darma que traz alegria na vida atual e nas vidas futuras dissipará os argumentos dos falsos mendicantes.”

(4) Novamente o Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos e disse: “Ó discípulos, mesmo que um tintureiro tome um pedaço de tecido manchado e o tinja de amarelo, vermelho ou azul, o tecido tingido não será bonito. A razão para isto é que o tecido já estava originalmente manchado. De maneira similar, o resultado de uma mente maculada também será falso, infalivelmente. Ó discípulos, se vocês lavarem o tecido tirando as manchas e, então, tingirem-no de amarelo, vermelho ou azul, o tecido será tingido e ficará bonito. A razão para isto é que o tecido original foi lavado. De maneira similar, o resultado de uma mente limpa também será bom, infalivelmente. “Meus discípulos, ganância, raiva, uma mente obscura, auto-engano, ciúmes, bajulação, trapaça, teimosia, intenção vingativa, arrogância, preguiça, vangloriar-se e negligência são a sujeira e o pó da mente. Aquele que identifica esta sujeira e pó mental e os limpa, alcançará uma firme convicção CEBB

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no Buda, no Darma e na Sanga. Ele destruirá a mente egoísta, abrirá e alegrará sua mente, e sentirá seu corpo relaxar, e sua mente atingirá a concentração e a tranquilidade. Ele não será prejudicado mesmo se comer uma refeição exagerada e deliciosa feita de vegetais verdes, curry e arroz refinado. Para ele, toda a sujeira e poeira serão purificadas. Ele é como um tecido sujo que se torna limpo ao ser enxaguado com água clara, ou ouro que se torna gradualmente puro ao ser processado em um forno. Ele praticará as quatro

virtudes

incomensuráveis,

compaixão,

piedade,

alegria

e

equanimidade, alcançará a sabedoria de que há uma liberação além do pensamento, extinguirá os obscurecimentos e atingirá a iluminação.”

(5) O brâmane Sundarika Bharadvaja, que estava por perto ouvindo, perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, você vai até o rio Bahuka?” “Brâmane, o que há no rio Bahuka?” “Honrado pelo Mundo, o rio Bahuka é famoso por purificar ações grosseiras, por trazer méritos e por lavar o carma negativo.” O Honrado pelo Mundo disse: “Existem lendas sem sentido que surgiram a respeito dos rios Bahuka, Sundarika e Gaya; mas que relação causal eles possuem com as ações negativas dos homens? Ao banharem-se em meus ensinamentos todos atingem a paz mental, não matam seres vivos, não contam mentiras, não tomam coisas que não foram dadas, não possuem ganância e têm fé, este é o verdadeiro ato de banhar-se. Isto não tem nada a ver com os rios.” O brâmane se regozijou ao ouvir este ensinamento e pediu a permissão para se tornar um discípulo. Ele alcançou a iluminação algum tempo depois.

(6) Um dia o Buda contou aos seus discípulos: “Meus discípulos, não é CEBB

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possível progredir ao longo de meu caminho enquanto não forem descartadas as cinco correntes mentais e não forem desatadas as cinco amarras mentais. As cinco correntes mentais são: primeiro, ter dúvidas sobre o seu professor e não possuir fé nele; segundo, estar inseguro em relação ao ensinamento e não possuir fé nele; terceiro, ter dúvidas sobre a Sanga e não possuir fé nela; quarto, ter dúvidas sobre o aprendizado e não possuir fé nele; e quinto, sentir-se irritado pelos amigos e tornar-se deprimido. A não ser que as cinco sejam descartadas não haverá zelo, faltará paciência e não haverá esforço. “As cinco amarras mentais são: primeiro, não estar livre da ganância que dá origem à sede de coisas mundanas; segundo, não estar livre da ganância em relação ao próprio corpo; terceiro, estar preso à ganância por bens materiais; quarto, entregar-se a sonecas depois de encher o estômago com comida; e quinto, estar preso ao desejo de renascer em um reino celestial por realizar ações positivas. A não ser que as cinco sejam desatadas não haverá zelo, paciência ou motivação para o esforço. “Meus discípulos, quando alguém corta as cinco correntes mentais e desata as cinco amarras mentais e, em vez delas, cultiva incessantemente os cinco poderes da aspiração, esforço, atenção plena, concentração e sabedoria, no final alcançará a paz da iluminação, como um pinto que quebra a casca de dentro no exato momento em que a galinha está aquecendo o ovo na esperança de que isto aconteça. Com o apoio do esforço, quando alguém completa estes quinze caminhos será capaz de destruir os obscurecimentos, alcançar a iluminação e atingir a paz insuperável.”

(7) Um dia, o brâmane Janussoni veio até o bosque Jeta para ver o Buda e disse: “Honrado pelo Mundo, meu destino é morrer e não há ninguém que CEBB

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não tema a morte.” O Buda disse: “Brâmane, entre aqueles que devem morrer há aqueles que temem e aqueles que não temem a morte. Aqueles que temem a morte são os que não descartaram a cobiça em relação aos cinco desejos e que não podem se libertar do apego. Quando ficam seriamente doentes eles sofrem, agonizam, entristecem-se e choram, batendo em seus peitos, pensando que devem abandonar todas aquelas coisas que lhes são caras. E também, aqueles que não conseguem descartar a cobiça e o apego aos seus corpos físicos, quando estão caídos devido a uma doença séria, sofrem, pensando que terão que abandonar seus corpos. E também, aqueles que apenas cometeram ações negativas, não realizando quaisquer boas ações e não tomando refúgio no Darma temerão a morte. Entretanto, brâmane, aqueles que estão livres da cobiça dos cinco sentidos e dos apegos, que não cometem ações negativas, buscando refúgio nas ações virtuosas, e que não têm dúvidas sobre o verdadeiro Darma não terão medo ao caírem seriamente doentes.”

(8) Certa vez um discípulo perguntou: “Honrado pelo Mundo, o que guia, arrasta ou controla este mundo?” O Buda disse: “Sua questão é muito boa. Este mundo é guiado, arrastado e controlado pela mente.” O discípulo seguiu perguntando: “Honrado pelo Mundo, frequentemente somos ensinados a ouvir atentamente e a praticar o Darma. O que significa esta frase?” O Buda novamente louvou o discípulo: “Sua questão é muito boa. Eu tenho oferecido a vocês muitos ensinamentos na forma de sutras, versos, canções, predições de realização da iluminação, odes de alegria, contos das vidas passadas, Jatakas, contos raros e elaborações. Entretanto, pode-se dizer que alguém ouviu bem e praticou o Darma a partir do conhecimento do significado e ao seguir o ensinamento de acordo com um verso de quatro CEBB

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linhas.” “Honrado pelo Mundo, eu também sou frequentemente exortado a aprender os ensinamentos e a adquirir sabedoria para penetrar o seu significado. O que significa isto?” O Buda disse: “Sua questão é muito boa. Se um discípulo ouvir: ‘Isto é sofrimento, isto é a causa do sofrimento, isto é a aniquilação do sofrimento e este é o caminho para a aniquilação do sofrimento’, e penetrar o verdadeiro significado destas verdades com sua própria sabedoria, então se diz que ele possui a sabedoria de aprender e penetrar a essência dos ensinamentos.” O discípulo perguntou: “Honrado pelo Mundo, o que significa ser uma pessoa sagaz e de grande sabedoria?” O Honrado pelo Mundo novamente louvou o discípulo, dizendo: “Sua questão é muito boa. Alguém que não prejudica a si mesmo, não prejudica os outros, não prejudica nem a si mesmo nem os outros, mas que gera benefícios tanto para si mesmo quanto para os outros e que pensa no bem-estar da comunidade é uma pessoa sagaz e de grande sabedoria.”

(9) Enquanto permanecia no monastério do Bosque Jeta, o Honrado pelo Mundo frequentemente ia até o salão de palestras na casa da mãe de Migara em Savatthi. Durante um uposatha ele estava sentado no salão circundado por seus discípulos. Ele olhou para a silenciosa assembleia e disse: “Meus discípulos, ninguém está falando nesta assembleia. Isto é nobre e bom. Esta é uma assembleia que não se vê em reuniões comuns. Esta assembleia é digna de receber oferendas e homenagens; ela é um campo de boa fortuna inigualável por qualquer outra no mundo. Esta é uma assembleia digna de ser seguida, mesmo tendo que viajar por milhas com provisões em suas costas. Nesta assembleia há aqueles que alcançaram o estado de deuses, de Brahma, do estado inabalável e dos sábios. “Aqueles que alcançaram o estado de deuses são os que se libertaram CEBB

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dos caminhos negativos e acessaram o primeiro, segundo, terceiro ou quarto estágios de meditação. Aqueles que alcançaram o estado de Brahma são os que desenvolveram as quatro mentes incomensuráveis de compaixão, piedade, alegria e imparcialidade. Aqueles que alcançaram o estágio inabalável são os que atingiram as quatro contemplações sem forma da percepção infinita, espaço infinito, nulidade e nem pensamento nem nãopensamento. Os que acessaram o estado de sábios são aqueles que já compreenderam as verdades do sofrimento, da causa do sofrimento, da aniquilação do sofrimento e do caminho para a aniquilação do sofrimento.”

(10) Certa vez, Ananda recebeu a permissão do Buda, permanecendo sozinho na cidade da tribo de Koliya chamada Saputha, onde ele transmitiu os ensinamentos para aqueles que estavam reunidos. Ele lhes disse: “Caro povo de Koliya, quatro disciplinas puras foram ensinadas pelo Buda para purificar o corpo, eliminar as tristezas, nos libertar do sofrimento e alcançar a iluminação. A disciplina dos preceitos é aderir fielmente aos preceitos. A disciplina da mente é libertar-se do desejo e das não-virtudes e acessar os vários estados meditativos. A disciplina da percepção é ver as coisas como elas são, isto é, a causa do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho que leva à cessação do sofrimento. A disciplina da emancipação é corporificar estas disciplinas puras dos preceitos, mente e percepção e libertar a mente do obscurecimento. Estas quatro disciplinas puras purificam as pessoas, eliminam as tristezas, afastam do sofrimento e levam à realização da iluminação. Por esta razão elas são ensinadas pelo Buda.”

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2. O Brâmane Cabeça de Cervo (1) Depois de viajar pelo país, o Honrado pelo Mundo retornou a Rajagaha e entrou no Bosque de Bambus. Naquela época, havia um brâmane chamado de Cabeça de Cervo no país de Kosala. Ele era versado na arte de adivinhação pelo exame de crânios. Ele recitava um encantamento, batia no crânio e adivinhava onde a pessoa renasceria. Mesmo depois de três anos da morte da pessoa ele era capaz de dizer o reino de seu renascimento. Ele não gostava de se sentir incomodado com a vida familiar e se juntou a um grupo de mendicantes. Ele tinha muitos seguidores devido à sua habilidade de adivinhações e viajava de país em país. Ao ouvir que o Honrado pelo Mundo se encontrava no Pico dos Abutres em Rajagaha ele foi prestar uma visita e se preparou para testar suas habilidades contra o Buda. Então, o Honrado pelo Mundo desceu do pico acompanhado pelo Cabeça de Cervo, e eles foram até um terreno de antigos túmulos. Ele pegou um crânio e disse ao Cabeça de Cervo: “Ouvi dizer que você é um adepto da arte de adivinhação pelo exame de crânios. Você é capaz de dizer se este crânio pertenceu a uma mulher ou a um homem?” O Cabeça de Cervo, depois de recitar um mantra e bater no crânio, disse: “É de um homem.” “De qual doença ele morreu?” “Ele morreu com várias doenças, mas poderia ter sido salvo se tivesse tomado o fruto do myrobalan misturado com mel.” “Em qual reino ele renasceu?” “Ele afundou nos três reinos negativos.” O Honrado pelo Mundo pegou outro crânio e perguntou: “Este era um homem ou uma mulher?” “Era uma mulher.” “De qual doença ela morreu?” “Ela morreu devido a um parto difícil.” “Onde ela habita agora?” “No reino dos animais.” Diversos crânios foram apresentados a ele, e o Cabeça de Cervo

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foi capaz de dizer se eles eram masculinos ou femininos, as causas de suas mortes e onde eles haviam renascido. Então, o Honrado pelo Mundo pegou outro crânio e mostrou para ele. Era o crânio de um discípulo dele que havia atingido o nirvana. O Cabeça de Cervo, com a mente concentrada, recitou o mantra, deu um tapa na cabeça com seus dedos, e lutou para discernir a quem o crânio pertencia, mas em vão. Finalmente ele perguntou ao Buda. O Honrado pelo Mundo disse: “Ele pertenceu a um discípulo meu que atingiu o nirvana.” O brâmane Cabeça de Cervo pensou que o Buda possuía algum poder místico e quis aprendê-lo com ele. O Honrado pelo Mundo concordou em ensiná-lo sob a condição de ele se tornar um monge; e assim o Cabeça de Cervo se tornou um discípulo de manto amarelo. Ele seguiu as instruções do Buda fielmente e finalmente atingiu a iluminação. Então, ele não precisava mais saber a quem os crânios haviam pertencido. Ele expressou seu estado de iluminação em versos:

Seguindo o caminho ensinado pelo Buda Eu me libertei dos obscurecimentos. Agora eu transcendi o mundo do desejo. Protegida pelo Buda Minha mente se libertou. Com todas as correntes cortadas Minha iluminação não oscilará.

(2) Durante o tempo em que o Honrado pelo Mundo permanecia no Pico dos Abutres havia numerosos monges peregrinos que se reuniam em um bosque às margens do Lago Sapphia. Um dia o Honrado pelo Mundo visitou o local. Naquele momento, esses monges estavam discutindo a CEBB

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questão: “O que é a verdade neste mundo?” Eles mencionaram a situação ao Honrado pelo Mundo que deu o seguinte discurso: “Caros monges peregrinos, eu atingi por mim mesmo quatro verdades e agora as exponho. Elas dizem que todos os seres vivos nascem da ignorância; que todos os objetos dos cinco desejos são impermanentes, geradores de dor e mutáveis; que todas as existências são impermanentes, geradoras de dor e mutáveis; e que não existe ‘eu’ ou ‘meu’. As quatro são verdadeiras, não são falsas. Eu despertei para estas verdades bramânicas e as exponho aos outros.”

(3) Outro dia, o Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos: “Meus discípulos, existem duas pessoas que surgem neste mundo para o benefício e felicidade de todos: elas são o Buda e o monarca universal. Estes dois descem ao mundo como professores da humanidade. Suas mortes são lamentadas por muitos. Eles são dignos de estupas construídas em sua honra.

(4) “Meus discípulos, existem dois tipos de pessoas que difamam o Buda. Um tipo guarda secretamente má vontade e o outro sustenta crenças errôneas. Há, também, dois tipos de pessoas. Um tipo sustenta que o Buda ensinou algo que, na verdade, ele não ensinou. O outro sustenta que o Buda não ensinou algo que, na verdade, ele ensinou.

(5) “Neste mundo há duas pessoas que não têm medo de trovões. Uma delas é um discípulo do Buda que extinguiu os obscurecimentos, e a outra é o leão que reina entre os animais. Também há dois tipos de pessoas excepcionais. Um tipo é a pessoa que concede bênçãos aos outros, e o outro é a pessoa que conhece e responde às bênçãos.

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(6) “Meus discípulos, existem outros dois tipos de pessoas que são raros: alguém que se regozija e alguém que faz com que os outros também se regozijem.

(7) “Meus discípulos, existem dois tipos que nunca se satisfazem: um que guarda tudo o que obtém, e um que joga fora todas as coisas. Neste mundo existem dois tipos que são fáceis de satisfazer: alguém que não acumula, usando as coisas de forma vantajosa; e alguém que não joga as coisas fora, utilizando-as bem.

(8) “Ó discípulos, existem duas causas que levam ao surgimento da ganância. Uma delas são as coisas que satisfazem o desejo, e a outra é o pensamento errôneo. Existem duas causas que levam ao surgimento da raiva. Uma delas é algo que não satisfaz o desejo, e a outra é o pensamento errôneo. Existem duas causas que levam ao surgimento das visões errôneas. Uma delas é ouvir professores de ensinamentos desviados, e a outra é o pensamento errôneo. Existem duas causas que levam ao surgimento de visões corretas. Uma delas é ouvir professores do caminho correto, e a outra é o pensamento correto.”

(9) Um dia a princesa Cudi veio até a presença do Honrado pelo Mundo acompanhada por quinhentas donzelas, e disse: “Honrado pelo Mundo, meu irmão Cunda me disse que se alguém, homem ou mulher, tomar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga, e não matar, não tirar coisas que não foram dadas, não cometer adultério, não mentir e não beber substâncias tóxicas, não cairá nos reinos negativos. Agora eu gostaria de fazer a seguinte pergunta ao Honrado pelo Mundo: como eu devo tomar refúgio no Buda, no Darma e na CEBB

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Sanga; e como eu deveria seguir os preceitos para renascer em um bom reino na próxima vida?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Cudi, o Buda é o mestre de todos os seres vivos; portanto, a fé no Buda é a fé suprema e seu fruto é supremo. “Entre todos os ensinamentos, o ensinamento do nirvana, que é livre de apegos, destrói a arrogância, mata a sede, extingue os obscurecimentos, cessa o ciclo do samsara, e destrói a sede da luxúria, é supremo. A fé no nirvana livre de apegos, portanto, é a fé suprema, e o fruto desta fé é supremo. “Entre os muitos preceitos, estes preceitos são indestrutíveis e puros, e todos os santos e pessoas sábias os louvam como supremos. Assim, seguir estes preceitos é satisfazer e preservar o ensinamento supremo, e seu fruto também é supremo.”

(10) O Honrado pelo Mundo iniciou outra jornada e chegou ao Bosque Jatiya de Bhaddiya. Ugga, neto de Mendaka, convidou o Buda para sua casa, e após oferecer uma refeição, ele disse: “Todas as nossas filhas estão prestes a casar. Honrado pelo Mundo, eu lhe imploro para transmitir alguns ensinamentos para elas.” O Buda disse: “Jovens, vocês deveriam pensar da seguinte forma: ‘Eu serei grata aos pais de meu marido, que se preocupam com nosso bem-estar e que nos amam com compaixão. Eu me levantarei cedo pela manhã e me recolherei tarde, e estarei sempre pronta para servi-los. Irei confortá-los com palavras gentis. Respeitarei e farei oferendas para nossos pais e para os mendicantes que meu marido tiver em alta consideração. Compreenderei o trabalho de meu marido e me adaptarei a ele, e trabalharei duramente para ajudá-lo. Em relação aos servos e outros que trabalham para a família, descobrirei suas naturezas e habilidades e mesmo suas preferências e aversões, e cuidarei deles. Cuidarei bem das posses de meu marido e não as CEBB

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desperdiçarei.’ Jovens, guardem estas ideias em suas mentes.”

(11) O Honrado pelo Mundo foi para Vesali e permaneceu no salão de dois andares. O general Simha de Vesali veio até o Buda e perguntou: “Honrado pelo Mundo, diz-se que a generosidade é uma boa ação. Por favor, conte-me quais são os efeitos da generosidade neste mundo atual.” O Honrado pelo Mundo disse: “General, aquele que oferece será amado pelas pessoas. Este é um dos efeitos nesta vida atual. Pessoas boas seguirão e servirão aquele que oferece; este é o segundo efeito nesta vida atual. Aquele que oferece será estimado enormemente; este é o terceiro efeito nesta vida. Aquele que oferece não tem medo, mas se sente confiante ao participar de reuniões de reis, eruditos, pessoas ricas e mendicantes; este é o quarto efeito da generosidade nesta vida atual. E aquele que oferece renascerá em um mundo celestial devido aos seus méritos; este é o fruto recebido na próxima vida.” O general disse: “Honrado pelo Mundo, entre os cinco efeitos da generosidade que você explicou eu conheço os quatro primeiros. Mas em relação ao fruto na próxima vida, isto está além do meu conhecimento. Terei uma fé inabalável em suas palavras.”

(12) Ugga, um homem bastante rico, vivia em Vesali. Um dia o Buda foi até sua casa ao ser convidado. Ugga disse: “Honrado pelo Mundo, eu ouvi você dizer que aquele que oferece coisas boas receberá coisas boas. Estes bolinhos são saborosos. Por favor, tenha a bondade de aceitar esta oferenda.” O Honrado pelo Mundo assentiu e aceitou. Então, Ugga ofereceu carne de porco

com

tâmaras

e

arroz

livre

de

grãos

escuros,

e

sopa

e

acompanhamentos. Observando que o Honrado pelo Mundo os aceitou, ele disse: “Honrado pelo Mundo, oferecer cortinas com longas franjas, tapetes de CEBB

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ovelha recobertos, e cadeiras com almofadas vermelhas em ambos os lados talvez seja bom, mas não acredito que sejam adequados ao Honrado pelo Mundo. Portanto, eu gostaria de oferecer esta cadeira de madeira de sândalo. Por favor, tenha compaixão por mim e aceite.” O Honrado pelo Mundo assentiu e aceitou. Então, ele recitou versos de agradecimento:

Para aqueles que agem corretamente há amor. Aqueles que concedem méritos recebem méritos. Aqueles que compreendem que os iluminados são campos de méritos e que oferecem a eles aquilo que é difícil de oferecer – mantos, alimento, leito, remédios e assim por diante – receberão boas recompensas.

Pouco tempo depois, Ugga ficou doente e partiu deste mundo, renascendo como um deus no mundo celestial. Uma noite, iluminando o Bosque Jeta, Ugga veio até o Honrado pelo Mundo e sentou-se com ele. O Honrado pelo Mundo perguntou: “Seus desejos se realizaram?” Ugga agradeceu ao Honrado pelo Mundo e cantou:

Concedendo méritos eu recebi méritos. Concedendo aquilo que era excelente Eu recebi coisas excelentes. Então, concedendo méritos e aquilo que é excelente Minha vida será longa e minha honra elevada.

3. Descartando a Cobiça, a Raiva e a Ignorância CEBB

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(1) Ananda acompanhou o Honrado pelo Mundo até Kosambi e permaneceu no Monastério Ghosita. Um dia, um chefe de família que era seguidor de um professor não-budista que praticava uma forma de ascetismo nu veio até Ananda, e disse: “Venerável, quem pode nos dar o melhor ensinamento? E quem está vivendo a melhor vida e é mais feliz?” Ananda respondeu: “Senhor, aquele que nos anima a descartar a cobiça, a raiva e a ignorância transmite o melhor ensinamento; e aqueles que descartaram a cobiça, a raiva e a ignorância são os que estão vivendo as melhores vidas e são os mais afortunados.” “Venerável, isto é realmente excelente, faço o voto de que de hoje em diante até o final de minha vida eu possa tomar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga e seja um seguidor fiel.”

(2) O Honrado pelo Mundo expôs o Darma, e disse: “Meus discípulos, existem os cinco poderes da fé, vergonha externa, vergonha interna, esforço e sabedoria, com os quais os discípulos praticam o caminho. Vocês devem se lembrar de se esforçar para alcançar estes cinco poderes.

(3) “Meus discípulos, existem cinco características que trazem sofrimento neste mundo e que levam a um reino negativo na próxima vida. As cinco são: ausência de fé, falta de vergonha interna, falta de vergonha externa, preguiça e ignorância.

(4) “Meus discípulos, quando um mendicante entrega seus mantos e retorna para a vida leiga, ele encontrará cinco reprovações: ‘Você não teve fé no Darma precioso, você não teve vergonha interna, você não teve vergonha externa, você não se esforçou e você não teve sabedoria.’ Meus discípulos, CEBB

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mesmo que haja sofrimento, agonia e lágrimas, se as ações são corretas e as práticas completas, haverá cinco elogios: ‘Você teve fé no Darma precioso, você teve vergonha interna, você teve vergonha externa, você se esforçou e você teve sabedoria.’

(5) “Meus discípulos, eu me tornei um buda ao despertar para as Quatro

Nobres Verdades, que não

haviam sido até o

momento

compreendidas. Fé, vergonha interna, vergonha externa, esforço e sabedoria são os cinco poderes do Buda. Pela virtude de possuir estas qualidades, um buda se torna o rei dos touros; e ele expõe o Darma rugindo como um leão.

(6) “Meus discípulos, entre estes cinco poderes, fé, vergonha interna e externa, esforço e sabedoria, o poder da sabedoria é o mais importante. Os quatro outros poderes são inerentes a este. É como a espiral, que é a parte mais importante de uma torre, todas as outras partes estão centralizadas ao redor desta espiral.

(7) “Meus discípulos, existem cinco poderes além dos que foram mencionados. Eles são fé, esforço, pensamento correto, concentração e sabedoria. Entre estes cinco poderes, também a sabedoria é o principal, e todos os outros estão concentrados nela e conectados a ela.

(8) “Meus discípulos, aquele que observa os preceitos e que conduz os outros a observá-los, que vive em concentração e que conduz os outros a viverem em concentração, que alcança sabedoria e que leva os outros a alcançarem sabedoria, que atinge a liberação e que conduz os outros a alcançarem a liberação, e que possui insight e leva os outros a possuírem CEBB

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insight, é alguém que possui a capacidade de beneficiar a si mesmo e aos outros.”

(9) Então, o Honrado pelo Mundo foi até Kapilavatthu e permaneceu em uma floresta nigrodha não muito distante da cidade. Ali ele teve uma pequena doença da qual se recuperou logo. Um dia, um certo Mahanama do clã Sakya veio até o Buda e, após prestar homenagem a ele, sentou-se ao seu lado e disse: “Honrado pelo Mundo, eu lembro que muito tempo atrás você disse que aquele cuja mente é calma possui sabedoria, e que aquele cuja mente não é calma não possui sabedoria. Então, a meditação vem antes da sabedoria ou a sabedoria vem antes da meditação?” Ananda ouviu isto e pensou: “O Honrado pelo Mundo acabou de se recuperar de uma doença. Mahanama está colocando uma questão profunda agora e isto incomodará o Honrado pelo Mundo. Irei leválo a um outro lugar e darei as explicações a ele.” Ananda tomou Mahanama pela mão e levou-o a outro lugar, e disse: “Mahanama, em relação aos preceitos, meditação e sabedoria, o Honrado pelo Mundo falou sobre eles para aqueles que ainda estão no meio de suas práticas, e falou sobre eles de uma outra forma para aqueles que completaram suas práticas. Os preceitos para aquele que ainda está no meio de sua prática são controlar o corpo realizando ações positivas, restringir os cinco sentidos, temer mesmo uma pequena violação, e manter-se de forma correta e aprender com diligência. A concentração para ele é entrar e repousar na tranquilidade de sua mente. A sabedoria para ele é conhecer o significado das Quatro Nobres Verdades como elas são. Os três aprendizados dos preceitos, concentração e sabedoria para aquele que já despertou são aqueles que apenas os Iluminados praticam. Mahanama, é assim que o Honrado pelo Mundo explicou estes assuntos.” CEBB

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(10) Depois de se recuperar completamente, o Honrado pelo Mundo foi para o Salão de Palestras da Grande Floresta de Vesali através de Kusinara e Ananda o acompanhou. Um dia ele perguntou: “Honrado pelo Mundo, até que ponto você pode falar sobre a existência?” O Honrado pelo Mundo respondeu a questão: “Ananda, se não houvesse ações que criam o mundo da escuridão, haveria a existência do mundo delusório?” Ananda respondeu: “Não, não haveria a existência do mundo delusório.” O Buda disse: “Assim, o carma é a causa, a mente é a semente, e a sede do desejo é a água. Encoberta pela delusão e atada pela sede da luxúria, a mente permanece nos reinos inferiores, gerando o ciclo de renascimentos.”

(11) Num outro dia, o Honrado pelo Mundo disse para Ananda: “Toda a prática e fé trarão bons frutos?” Ananda respondeu: “Honrado pelo Mundo, isto não pode ser afirmado categoricamente. Se a prática e a fé causarem mais negatividades e menos benefícios, então elas não trarão bons frutos. Se a prática e a fé causarem menos negatividades e maiores benefícios, então elas trarão bons frutos.” O Honrado pelo Mundo ficou satisfeito com a resposta de Ananda. Depois que Ananda partiu, o Honrado pelo Mundo disse aos outros discípulos: “Ananda ainda está no caminho para a realização, mas não é fácil encontrar alguém que se iguale a ele em sabedoria.”

4. O Esforço e Seu Estímulo

CEBB

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(1) Logo o Honrado pelo Mundo se mudou para Rajagaha e permaneceu no Bosque de Bambus, onde continuou a ensinar seus discípulos: “Meus discípulos, o discípulo que habita na floresta pode ter cinco medos. Ele pode falar sobre eles da seguinte forma: ‘Agora estou vivendo sozinho. Eu posso ser picado por uma cobra ou um escorpião e morrer; eu posso ficar doente e até mesmo morrer devido ao frio, alimentos envenenados ou tuberculose; eu posso ser morto por um leão, um tigre, um leopardo ou um urso; percebendo que estou sozinho, agressores podem se aproximar, podem me acusar de coisas que eu fiz ou não fiz, e podem me matar em um momento de fúria; ou eu posso ser morto por algum demônio que tem esta floresta como residência. Estes cinco medos são os obstáculos que sempre se colocam diante de mim.’ Meus discípulos, quando estiverem morando sozinhos na floresta e pensarem sobre estes cinco medos, tenham em mente: ‘Eu devo alcançar aquilo que ainda não alcancei, e devo despertar para aquilo que ainda não despertei, e devo estar determinado a exercer zelo e esforço maiores.

(2) “Meus discípulos, assim como no caso dos cinco medos já citados, ao serem confrontados pelos cinco medos seguintes, vocês deveriam tomar a mesma atitude. ‘Primeiro, agora estou cheio de vigor, mas este corpo envelhecerá em pouco tempo, então eu não serei capaz de pensar sobre o ensinamento do Buda, de praticar sozinho na floresta, ou de apreciar a vida de acordo com o Darma. Devo exercer maior zelo e esforços para alcançar o que ainda não alcancei e para despertar para aquilo que ainda não despertei antes que a velhice chegue. Com uma compreensão correta do Darma serei capaz de viver com paz mental mesmo na velhice. “Segundo, apesar de desfrutar de boa saúde e de não apresentar sinais CEBB

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de enfermidades, estou fadado a adoecer mais cedo ou mais tarde. Então não serei capaz de pensar sobre o Darma, de praticar sozinho na floresta, ou de apreciar a vida de acordo com o Darma. Portanto, antes de ser atacado pela doença devo exercer maior zelo e esforço para alcançar aquilo que ainda não alcancei, e para despertar para aquilo que ainda não despertei. Com um entendimento correto do Darma serei capaz de viver em paz mental mesmo em meu leito de enfermo. “Terceiro, agora há uma abundância de grãos e não encontro dificuldades na mendicância. É fácil de sobreviver mesmo recolhendo restos de colheitas. Mas pode chegar o tempo em que a fome se alastre e a comida não esteja disponível. Nesse momento, as pessoas migrarão para onde houver abundância de alimento. Nós, também, teremos que nos juntar ao grupo e viver com a multidão. Mas na multidão alvoroçada será difícil contemplar os ensinamentos do Buda, meditar em isolamento e viver a vida de acordo com o Darma. Antes que isto aconteça devo exercer maior zelo e esforços para alcançar aquilo que ainda não alcancei, e para despertar para aquilo que ainda não despertei. Com uma compreensão correta do Darma serei capaz de viver em paz mental mesmo nas épocas de fome. “Quarto, hoje as pessoas estão vivendo em harmonia e são gentis umas com as outras. Mas quando forem atacadas por bandidos das montanhas, ou forem encontradas por um terremoto, todas escaparão para algum lugar mais seguro. Nós, também, teremos que viver em meio à multidão. No atropelo e confusão será difícil de contemplar os ensinamentos do Buda, meditar em isolamento e viver a vida de acordo com o Darma. Antes que isto aconteça devo exercer maior esforço para alcançar aquilo que ainda não alcancei, e para despertar para aquilo que ainda não despertei. Com uma compreensão correta do Darma serei capaz de viver em paz mental mesmo em tais CEBB

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situações. “Quinto, apesar de a Sanga a qual pertenço estar em harmonia, e todos estarem vivendo em paz com um único ensinamento, pode chegar um tempo no qual a Sanga estará em desarmonia e se desorganizará. Em um grupo em discórdia será difícil contemplar os ensinamentos do Buda, meditar em isolamento e viver a vida de acordo com o Darma. Antes que isto aconteça devo exercer maior esforço para alcançar aquilo que ainda não alcancei, e para despertar para aquilo que ainda não despertei. Com uma compreensão correta do Darma serei capaz de viver em paz mental mesmo quando a Sanga tiver perdido sua harmonia. “Meus discípulos, pensando nestas cinco situações possíveis, vocês devem exercer constantemente zelo e esforço para alcançarem aquilo que ainda não alcançaram, e para despertarem para aquilo que ainda não despertaram.”

(3) Um dia um discípulo foi até seu tutor e disse: “Meu corpo está tão enfraquecido hoje que me sinto completamente confuso, e não consigo mais pensar com razão; nem sou capaz de ver o Darma. Estou deprimido, sem vontade para praticar o puro Darma, e até mesmo comecei a ter dúvidas sobre o Darma.” O tutor levou o discípulo com ele para encontrar o Honrado pelo Mundo, e explicou a situação. O Buda disse: “Você não foi cuidadoso com os cinco sentidos; você comeu sem conhecer os limites adequados, se entregou ao descanso inútil, e não procurou o verdadeiro Darma. A não ser que se esforce arduamente na prática do caminho do Buda dia e noite, você com certeza ficará em apuros como este. Sempre tenha em mente, portanto: ‘Protegerei meus cinco sentidos, restringirei a entrega ao sono, procurarei o Darma benéfico, e praticarei dia e noite com esforço para seguir o caminho do CEBB

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Buda.’” Após receber este sermão, o discípulo foi para a floresta sozinho e se dedicou com vigor à prática. Mais tarde, ele alcançou a iluminação, retornou ao seu tutor e disse: “Grande Ser Virtuoso, hoje eu me sinto como se estivesse completamente sóbrio. Minha mente está clara e sou capaz de ver o Darma distintamente. Não me entrego à indolência e as dúvidas sobre o Darma desapareceram.” O tutor levou mais uma vez seu discípulo ao Buda e explicou o que havia acontecido. O Honrado pelo Mundo disse: “É assim mesmo. Se você seguir completamente minhas instruções, bons resultados surgirão necessariamente. Sempre esteja atento a isto.”

(4) O Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos e disse: “Meus discípulos, sejam homens ou mulheres, chefes de família ou mendicantes, existem cinco coisas que deveriam sempre ser mantidas na mente: ‘Estou envelhecendo e não é possível evitar a velhice; estou fadado a adoecer e não posso evitar a doença; estou destinado a morrer e não posso evitar a morte; as pessoas de quem gosto e as coisas que possuo são todas impermanentes; sou o herdeiro de minhas ações e devo herdar o carma que acumulei.’ “Meus discípulos, na juventude as pessoas sempre apresentam orgulho por serem jovens, e intoxicadas pelo orgulho elas cometem ações negativas de corpo, fala e mente. Quando percebem que não podem transcender a velhice elas compreendem que devem destruir o orgulho ou enfraquecê-lo. Igualmente, quando saudáveis as pessoas demonstram orgulho por sua saúde, e intoxicadas pelo orgulho elas cometem ações negativas de corpo, fala e mente. Mas ao perceberem que não podem superar as doenças, então poderão destruir ou enfraquecer o orgulho. Finalmente, as pessoas enquanto estão vivas acham que sua vida será eterna e demonstram orgulho por suas CEBB

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vidas. Intoxicadas por este orgulho elas cometem ações negativas de corpo, fala e mente. Mas ao refletirem e enxergarem que todos deverão morrer, então elas poderão destruir este orgulho ou diminuí-lo. Por objetos de amor e prazer todos despertam o desejo e cometem ações errôneas de corpo, fala e mente. Mas ao compreenderem que todas as coisas são impermanentes e estão constantemente mudando poderão destruir ou enfraquecer a cobiça. Todos cometem negatividades com corpo, fala e mente; apenas ao perceberem que são os herdeiros de suas próprias ações negativas que poderão destruí-las ou diminuí-las. “Meus discípulos, enquanto houver o samsara as pessoas não conseguirão transcender velhice, doença e morte. Todas são herdeiras de suas ações. Ao refletirem constantemente sobre isto serão capazes de descobrir o caminho, e se praticarem repetidamente o caminho poderão se libertar das correntes e aniquilarão os obscurecimentos.”

(5) Quando o Honrado pelo Mundo se encontrava no Pico dos Abutres fora da cidade, um discípulo chamado Vakkali estava na casa de um oleiro e sofria uma doença grave. Um dia ele chamou o monge que o atendia e disse: “Amigo, por favor, vá até o Honrado pelo Mundo e preste homenagem aos seus pés em meu nome, e diga: ‘Honrado pelo Mundo, Vakkali está sofrendo uma doença grave, eu me prostro aos seus pés e imploro-lhe para ter piedade e visitá-lo.’” O monge concordou, foi até o Honrado pelo Mundo, prestou homenagem aos seus pés, sentou-se ao lado e transmitiu o pedido de Vakkali. O Honrado pelo Mundo assentiu e concedeu seu desejo. Colocando seus mantos e tomando sua tigela ele foi ver Vakkali. Ao avistar o Honrado pelo Mundo se aproximando, Vakkali se levantou de sua cama. O Honrado pelo Mundo disse: “Você não precisar se levantar de sua cama. Eu vejo um assento CEBB

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preparado para mim, portanto irei me sentar aqui.” Após sentar-se, o Honrado pelo Mundo perguntou: “Como você se sente? Você pode me ouvir? Você está comendo bem? Está sendo bem suprido? Você sente que as dores diminuíram um pouco e que você está no caminho para a recuperação?” Vakkli respondeu: “Não, Honrado pelo Mundo, eu não tenho desejo de comer. As dores estão ficando mais severas e minha condição está se tornando mais séria.” Então, o Buda disse: “Vakkali, você tem algum arrependimento ou descontentamento?” “Honrado pelo Mundo, eu tenho mais do que alguns arrependimentos.” “Você está se reprovando em relação aos preceitos?” “Não, Honrado pelo Mundo.” “Então, de que você se arrepende, e o que passa por sua cabeça?” “Honrado pelo Mundo, por um longo tempo eu desejei fazer uma visita a você, mas eu não tive forças para fazê-lo.” “Vakkali, qual é o benefício de ver este corpo decadente? Aquele que vê o Darma me vê. Aquele que realmente me vê, vê o Darma. Ao ver o Darma ele me vê; e ao me ver, ele vê o Darma. Vakkali, o seu corpo é permanentemente existente ou ele é impermanente?” “Honrado pelo Mundo, o corpo é impermanente.” “Vakkali, a sua mente é permanente ou impermanente?” “Honrado pelo Mundo, a mente é impermanente.” “Vakkali, a impermanência dá origem às dores. As coisas dolorosas não possuem uma essência substancial. Em relação às coisas impermanentes, não é possível dizer: ‘Isto é meu’ ou ‘Este sou eu’. Assim, você deveria conhecer as coisas como elas realmente são. Ao verem desta forma, os discípulos deste ensinamento se libertam do corpo e da mente; ao se libertarem do desejo eles se conscientizam de sua liberação. Com esta consciência eles sabem que suas vidas de escravidão terminaram, que tudo o que havia para fazer foi feito, e que não haverá mais vida na delusão.”

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(6) Depois de instruir Vakkali desta forma, o Honrado pelo Mundo se levantou de seu assento e retornou ao Pico dos Abutres. Logo depois que o Honrado pelo Mundo partiu, Vakkali disse para seu atendente: “Meu amigo, por favor, coloque-me em uma cama e me leve para a Rocha Negra ao lado do Monte Isigiri. Uma pessoa como eu não deveria morrer em uma casa.” O monge atendente, em deferência ao seu desejo, carregou-o até a Rocha Negra próxima ao Monte Isigiri. O Honrado pelo Mundo passou a tarde e a noite no Pico dos Abutres. Naquela noite o Honrado pelo Mundo pensou em Vakkali e teve a certeza de que ele alcançaria a liberação. Na manhã seguinte o Honrado pelo Mundo chamou seus discípulos e disse: “Ó discípulos, vão visitar Vakkali e digamlhe que o Buda pensou sobre ele; digam-lhe que ele certamente alcançará a liberação, e digam: ‘Vakkali, não tema. Sua morte não será um infortúnio.’” Os discípulos seguiram a ordem e foram até Vakkali, dizendo: “Amigo Vakkali, ouça as palavras do Honrado pelo Mundo.” Só de ouvir isto, Vakkali disse ao seu atendente: “Meu amigo, tire-me desta cama. Como pode alguém como eu, sentando em uma cama alta, ouvir a instrução do Buda?” Quando o atendente fez o que ele pediu, os discípulos transmitiram a mensagem do Buda. Vakkali disse: “Por favor, digam isto como resposta ao Honrado pelo Mundo, depois de prestarem homenagem aos seus pés: ‘Honrado pelo Mundo, eu, Vakkali, sinto dores devido a uma doença grave. Depois de prestar homenagem aos seus pés, eu tenho isto a dizer. Eu não tenho absolutamente nenhuma dúvida que corpo e mente são impermanentes ou que o que é impermanente é doloroso. E também é certo que eu não desperto desejo, cobiça ou luxúria em relação àquilo que é impermanente, doloroso e que muda constantemente.’” Os discípulos concordaram em fazer isto e voltaram ao Honrado pelo CEBB

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Mundo. Um pouco depois que os discípulos partiram, Vakkali tomou uma espada para se matar.

(7) Naquele momento o Honrado pelo Mundo disse: “Meus discípulos, vamos até lá. Vakkali acabou de tomar uma espada.” Assim, o Honrado pelo Mundo acompanhado pelos seus discípulos se colocou a caminho, mas logo ele viu à distância Vakkali rolando na cama com seu corpo e ombros se movendo. O Honrado pelo Mundo olhou para seus discípulos e disse: “Meus discípulos, não se preocupem sobre para onde se foi a vida de Vakkali. Ele acabou de atingir o nirvana.”

5. O Dhammapada Versos Gêmeos

1. Tudo é conduzido pela mente; a mente é o líder; tudo é construído pela mente. Quando alguém fala ou age com uma mente negativa, o sofrimento o seguirá assim como a roda que segue a pata do boi que a puxa. 2. Tudo é conduzido pela mente; a mente é o líder; tudo é construído pela mente. Quando alguém fala ou age com uma mente pura, a felicidade o segue assim como a sombra que nunca o abandona. 3. “Ele abusou de mim, ele me bateu, ele me derrotou, ele me roubou.” A mente daquele que sustenta tais pensamentos nunca estará em paz.

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4. “Ele abusou de mim, ele me bateu, ele me derrotou, ele me roubou.” A mente daquele que não sustenta tais pensamentos sempre se encontra em paz. 5. Na verdade, o ódio nunca é pacificado pelo ódio; ele é pacificado pela ausência do ódio. Esta é a lei desde a antiguidade. 6. Os ignorantes não reconhecem que eles, também, encontrarão seu fim. Aquele que compreende isto acaba com suas lutas. 7. Aquele que pensa que seu corpo não possui máculas, que não controla seus sentidos, que não tem moderação ao comer, que é indolente, e que não se esforça será vencido por demônios como uma árvore fraca derrubada pelo vento. 8. Aquele que pensa que seu corpo está cheio de máculas, que restringe seus sentidos, que tem moderação ao comer, que possui fé e que se esforça nunca será vencido pelos demônios. Ele será como uma montanha rochosa que nunca é movida pelo vento. 9. Aquele que é maculado e que não possui autocontrole não é digno de vestir um manto amarelo. 10. Aquele que descartou todas os obscurecimentos, que é bem disciplinado e possui autocontrole é digno de vestir um manto amarelo. 11. Aquele que vê o irreal como real e o real como irreal nunca alcançará o real, mas simplesmente se fixará a visões errôneas. 12. Aquele que vê a verdade como verdade e o engano como engano alcançará a verdade e repousará no pensamento correto. 13. Assim como a chuva se infiltra em uma casa mal coberta, a cobiça se infiltra em uma mente indisciplinada. 14. Assim como a chuva não se infiltra em uma casa bem coberta, a cobiça não penetra uma mente disciplinada. CEBB

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15. O malfeitor se aflige tanto neste mundo quanto no próximo. Ao ver seus próprios atos maldosos, ele se aflige. 16. Aquele que acumula méritos se regozija tanto neste mundo quanto no próximo. Ao ver a pureza de suas ações ele se regozija. 17. Sofrimento aqui e sofrimento no próximo mundo, em ambos sofre o malfeitor. Pensando: “Eu cometi maldades” ele sofre ainda mais em um reino negativo. 18. Felicidade tanto neste mundo quanto no próximo, aquele que acumulou méritos é feliz. Pensando: “Eu realizei ações positivas”, ele se regozija ainda mais em um reino positivo. 19. Mesmo que seja capaz de guardar em sua memória grande quantidade de ensinamentos, ao negligenciar a prática dos ensinamentos ele será como um vaqueiro que coloca argolas nas vacas que pertencem a outra pessoa. Ele não é digno de ser um mendicante. 20. Mesmo que seja capaz de guardar apenas uma pequena porção do ensinamento em sua memória, ao praticar de acordo com o Darma, afastar-se da cobiça, raiva e ignorância, ao alcançar a sabedoria e a emancipação, e ao ser desapegado deste mundo e do próximo, ele é digno de ser um mendicante.

Diligência

21. A diligência é o caminho para a imortalidade; a negligência é o caminho para a morte. Aquele que é negligente é como uma pessoa morta. Aquele que não é negligente não morre. 22. Compreendendo isto claramente, os sábios não são negligentes e eles se deleitam com a diligência e se regozijam no caminho dos sábios. CEBB

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23. Os corajosos que praticam concentração, perseverando firmemente e se esforçando todo o tempo alcançarão a paz do nirvana. 24. A honra daquele que é pleno de energia, que possui atenção correta, que é puro nas ações, que é atencioso com os outros, que possui autocontrole, que vive a vida do Darma, e que é diligente se elevará cada vez mais alto. 25. Ao se proteger através da diligência, da disciplina e do autocontrole, o sábio criará para si mesmo uma ilha que não é tomada pela maré das negatividades. 26. A pessoa ignorante é indolente; a pessoa sábia tem a diligência como o tesouro mais precioso. 27. Não se abra para a indolência ou para o prazer da luxúria; aquele que é diligente e meditativo alcançará grande paz. 28. A pessoa sábia destrói a negligência com a diligência e ascende à torre da sabedoria. Livre de todas as preocupações, ela olha para o ignorante como alguém que subiu ao topo de uma montanha e que observa lá em baixo aquele que se encontram no nível da terra. 29. Uma pessoa de sabedoria que é diligente em meio aos negligentes e desperta em meio àqueles que dormem ultrapassará os ignorantes como um veloz corcel que supera os cavalos comuns. 30. Indra se elevou para ser rei dos deuses pela diligência; os diligentes são louvados, enquanto que os negligentes são menosprezados. 31. Aquele que se regozija na diligência e se afasta da auto-indulgência queima como o fogo as amarras das negatividades, grandes ou pequenas. 32. Aquele que se regozija na diligência e que teme a negligência não voltará atrás; ele está próximo do nirvana.

A Mente CEBB

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33. Assim como um artesão que endireita uma flecha, a pessoa sábia endireita esta mente flutuante, que é difícil de proteger e difícil de restringir. 34. Assim como um peixe tirado de sua morada nas águas e jogado ao solo, esta mente se debate para escapar do domínio de Mara. 35. É bom controlar esta mente, que é difícil de controlar, é frívola e corre em todas as direções conforme seus desejos. Apenas a mente controlada traz a paz. 36. A pessoa sábia restringe esta mente, que é tão sutil que é difícil de perceber, e que corre em todas as direções à vontade. Apenas a mente protegida traz a paz. 37. A mente viaja muito longe, sozinha, sem forma e se esconde na caverna do coração. Aquele que controla esta mente se libertará da escravidão a Mara. 38. Aquele cuja mente é fraca, que não conhece o verdadeiro Darma e cuja fé oscila não atingirá a realização da sabedoria. 39. Não há medo na mente daquele que está desperto, que não foi amortecido pela cobiça, que não está obstaculizado pela raiva, e que está afastado do pensamento de bem e mal. 40. Sabendo que o corpo é como um jarro, fortifique a mente como se ela fosse um castelo. Com a sabedoria como arma batalhe contra os Maras. Se você vigiar os Maras derrotados será liberado da casa das negatividades. 41. Este corpo, em pouco tempo, cairá ao chão; sua consciência partirá e ele se transformará em um tronco inútil. 42. Uma mente desviada causará males ainda maiores que um inimigo ao outro, ou aquele que odeia ao odiado. 43. Mais que um pai, ou mãe, ou parentes, uma mente bem direcionada causará o bem para os outros. CEBB

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Flores

44. Quem são aqueles que conquistam o mundo de Yama e dos seres humanos e celestiais? Quem são aqueles que colhem as palavras do Darma assim como um hábil artesão que produz guirlandas colhe as flores? 45. Apenas aqueles que praticam o Darma conquistarão o mundo de Yama e os mundos dos seres humanos e celestiais. Somente aqueles que praticam apenas o Darma, assim como um hábil artesão que produz guirlandas colhe as flores, colherão as palavras do Darma corretamente ensinadas. 46. Apenas aqueles que reconhecem este corpo como uma bolha e compreendem sua natureza ilusória quebrarão as flechas de pontas floridas do demônio e ultrapassarão o reino do rei Mara. 47. Assim como a enchente que carrega a vila tomada pelo sono preguiçoso, a morte carregará aqueles que colhem as flores da luxúria e que estão tomados pela cobiça. 48. A morte capturará aqueles que colhem as flores da luxúria e que estão tomados pela cobiça antes mesmo de eles se saciarem. 49. Assim como uma abelha que colhe apenas o mel sem prejudicar a flor, sua cor ou seu perfume, o sábio peregrina de vila em vila. 50. Ao invés de observar as maldades dos outros, ou o que eles fizeram ou deixaram de fazer, reflita sobre o que você mesmo fez ou deixou de fazer. 51. Assim como uma flor de bela coloração, mas que não possui perfume, estéreis são as belas palavras de alguém que não as pratica. 52. Assim como uma flor bela e fragrante, férteis são as belas palavras daquele que as pratica. 53. De um monte de flores são feitas muitas guirlandas; da mesma forma CEBB

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muitas boas ações devem ser realizadas quando se nasce como um ser humano. 54. A fragrância das flores não se espalha contra o vento, nem mesmo a da madeira de sândalo, tagara ou jasmim; mas a bela fragrância de uma boa pessoa se espalha mesmo contra o vento. 55. Entre as fragrâncias da madeira de sândalo e tagara, lótus e vassiki, a mais excelente é a fragrância dos preceitos. 56. As fragrâncias da tagara e da madeira de sândalo são fracas, mas a fragrância daquele que pratica os preceitos é incomparável e alcança mesmo os deuses. 57. O caminho daquele que observa os preceitos, é diligente e que é liberado pela sabedoria correta nunca é detectado por Mara. 58-59. Assim como o fragrante lótus que cresce de um monge de lixo jogado à margem de uma estrada, os discípulos do Buda brilham com a sabedoria entre aqueles que vagueiam na escuridão.

Os Ignorantes

60. Longa é a noite para aquele que está acordado e longo é o caminho para alguém que está cansado. Longo é o samsara para os ignorantes que não conhecem o verdadeiro Darma. 61. Ao trilhar o caminho, se você não é capaz de acompanhar alguém que é superior ou igual a você, prossiga sozinho. Não há mérito em ter alguém ignorante como amigo. 62. “Eu tenho filhos”, “eu possuo riquezas”. Com estes pensamentos a pessoa ignorante é atormentada. Até mesmo ela não pertence a si mesma, então como poderia possuir filhos e riquezas? CEBB

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63. A pessoa ignorante que sabe que é ignorante ainda é sábia; o ignorante que pensa ser sábio é, na verdade, um tolo. 64. Mesmo associando-se a uma pessoa sábia por toda sua vida, o ignorante não conhece o Darma, assim como uma colher não conhece os sabores. 65. Mesmo servindo os sábios apenas por um instante, os sábios logo compreenderão o Darma, assim como a língua conhece os sabores. 66. A pessoa ignorante trata a si mesma como um inimigo, pois comete maldades que geram frutos negativos. 67. Negativa é a ação que, após realizada, gera sofrimento e cujos frutos são recebidos com lágrimas nos olhos. 68. Positiva é a ação que, após realizada, não gera sofrimento e cujos frutos são recebidos com satisfação. 69. O ignorante pensa que uma ação negativa é como o mel, até que ela amadurece e gera sofrimento quando os frutos negativos se manifestam. 70. O mérito da pessoa ignorante que, mês após mês, come tão pouca comida quanto pode ser colocada na ponta de uma folha de grama e que se submete a práticas ascéticas não é comparável à décima sexta parte do mérito daquela que pratica o Darma correto. 71. Assim como o leite fresco não coalha imediatamente, a ação negativa não gera frutos imediatamente. Ela segue os ignorantes assim como um fogo coberto pelas cinzas, mas que arde lentamente apesar de não ser visto. 72. A pessoa ignorante busca riqueza e fama, que acabam se tornando sua desgraça; elas destroem sua virtude e até mesmo esmagam sua cabeça. 73. A pessoa ignorante busca a fama vazia; entre os monges, ela busca um assento eminente. No monastério ela busca posições de autoridade. Em outras casas ela busca oferendas (dos leigos). 74. “Que os monges e chefes de família saibam o que eu fiz; que aquilo que CEBB

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deve ser feito e o que não deve ser feito sejam decididos pela minha vontade.” Pensando assim, a pessoa ignorante aumenta sua ganância e arrogância. 75. “Este caminho leva aos ganhos mundanos e aquele para o nirvana.” Sabendo disto, os discípulos do Buda não deveriam se alegrar com a fama mundana, mas deveriam levar uma vida de isolamento. 76. Ao encontrar uma pessoa que aponta nossas falhas e que nos repreende, deveríamos nos associar com tal pessoa sábia como se ela fosse a reveladora de um grande tesouro; haverá muita prosperidade e nenhum pesar ao servir tal pessoa.

Os Sábios

77. Guiem os outros. Ensinem os outros. Evitem o mal. Aqueles que assim fazem são amados pelos virtuosos, apesar de não serem amados pelos maus. 78. Não se associem com amigos negativos; não se tornem amigos de uma pessoa inferior; associem-se aos bons amigos, e associem-se às pessoas nobres. 79. Aquele que se regozija com o Darma vive feliz com uma mente pura e dorme bem; os sábios sempre se alegram com o Darma ensinado pelo Sábio. 80. Aquele que irriga faz a água fluir; aquele que faz flechas as afia; o carpinteiro endireita a madeira; a pessoa sábia controla a si mesma. 81. A rocha dura não é abalada pelo vento; da mesma forma, os sábios não são perturbados por elogios ou culpas. 82. Como um poço profundo e claro, a mente do sábio é clara após ouvir o Darma. 83. A pessoa virtuosa abandona a ganância e não reclama devido à cobiça; a CEBB

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pessoa sábia não muda sua atitude mesmo que encontre a felicidade ou a desgraça. 84. Seja para seu próprio bem ou dos outros, ela não deseja descendentes. Ela não espera conquistar terras ou riquezas. Ela não busca o sucesso por meios injustos. Assim é a pessoa que observa os preceitos, que possui sabedoria e que é justa. 85. Existem muito poucos que alcançam a outra margem; a maior parte permanece nesta margem e vagueia por aí. 86. Aqueles que praticam o ensinamento do Darma cruzarão o mundo intransitável da maldade e alcançarão a margem da iluminação. 87-88. Os sábios deveriam abandonar o caminho errôneo e praticar o caminho correto, abandonar o lar e se tornar mendicantes, buscar deleite no isolamento e desapego, e livrar-se das impurezas mentais. 89. Aquele que ao seguir o caminho para a iluminação purifica sua mente, livra-se dos apegos, deleita-se com o desapego, elimina as paixões negativas e emana luz atingirá o nirvana neste mundo.

O Arhat

90. Para aquele que completou a jornada, para aquele que está livre da tristeza, para aquele que está livre de todas as prisões, não há ansiedades. 91. Aqueles que possuem atenção mental correta se esforçam. Eles não sustentam o desejo de permanecer em suas casas, e abandonam seus lares como cisnes que deixam seus lagos. 92. O caminho daqueles que não acumulam posses, que possuem moderação ao comerem, que enxergam de forma completa o vazio e que estão liberados não pode ser traçado, assim como o caminho dos pássaros no céu também CEBB

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não pode. 93. O caminho daqueles que superaram as negatividades, que não estão apegados à comida, e que enxergam de forma completa o vazio e a ausência de formas, e que se emanciparam espiritualmente, não pode ser traçado, assim como o caminho dos pássaros no céu também não pode. 94. Aqueles que subjugaram seus sentidos como cavalos bem treinados, que eliminaram a arrogância e que se libertaram das negatividades são invejados mesmo pelos deuses. 95. Aqueles que observam bem a disciplina estão livres das irritações, como a grande terra ou o grande pilar; eles são como lagos claros livres do lodo; não haverá mais transmigração para eles. 96. A mente, a fala e as ações daqueles que foram libertados pela sabedoria correta e que alcançaram a paz são tranquilas. 97. Aquele que abandonou a fé errônea, que compreende aquilo que é nãocriado, que cortou as correntes do samsara, que eliminou os resquícios de bem e mal, e que rejeitou todos os desejos é de fato o mais nobre de todos. 98. Seja uma vila, uma floresta, um vale ou uma colina, onde os sábios habitam é um lugar prazeroso. 99. Na floresta que deveria trazer prazer uma pessoa comum não se alegra; mas aquele que descartou a ganância e que não busca a luxúria encontrará a felicidade nela.

Milhares

100. Melhor que uma fala de mil palavras é uma única palavra significativa que acalma a mente do ouvinte. 101. Melhor que mil versos sem significado é um único verso que, ao ser CEBB

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ouvido, tranquiliza a mente. 102. Melhor que cem versos é uma única frase do Darma que tranquiliza a mente do ouvinte. 103. Melhor que conquistar mil pessoas em batalha é conquistar a si mesmo, que é a maior de todas as vitórias. 104-105. A conquista de si mesmo é, de fato, muito superior à conquista de todos os outros; nem mesmo um deus, ou um ser celestial, nem um gandhabba, nem o rei dos maras, nem um brâmane podem derrubá-lo. 106. Superior a oferendas mensais de mil peças de ouro por cem anos é a oferenda mesmo de um único momento para aquele que controla a si mesmo. 107. Superior à vida na floresta e aos sacrifícios a Agni por cem anos é a oferenda mesmo de um único momento para aquele que venceu a si mesmo. 108. É melhor prestar homenagem a um seguidor genuíno do caminho do que fazer sacrifícios e oferendas por um ano com o pensamento de obter méritos; isto não vale nem mesmo um quarto da ação anterior. 109. Para uma pessoa que sempre honra e respeita os mais velhos quatro coisas aumentam: a longevidade, a beleza, a felicidade e a força. 110. É realmente melhor viver um único dia bem disciplinado e pacífico que viver cem anos fazendo o mal e com uma mente descontrolada. 111. Melhor que viver cem anos sem sabedoria e tranquilidade mental é viver um único dia com sabedoria e a mente equilibrada. 112. É realmente melhor viver um único dia fazendo intensos esforços que viver cem anos na indolência. 113. Melhor que viver cem anos sem entender o surgimento e o desaparecimento das coisas é viver um único dia conhecendo o surgimento e o desaparecimento das coisas. 114. É melhor viver um único dia conhecendo o caminho da imortalidade que CEBB

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viver cem anos sem conhecer o caminho imortal. 115. Melhor que viver cem anos sem conhecer o Darma supremo é viver um único dia entendendo o Darma supremo.

Conduta Negativa

116. Apresse-se a fazer o bem; proteja sua mente do mal; se alguém é lento para realizar ações virtuosas é porque sua mente se regozija com o mal. 117. Se uma pessoa fizer o mal, ela não deveria repetir; ela não deveria pensar em fazer o mal; a acumulação de maldades é realmente dolorosa. 118. Se uma pessoa fizer o bem, ela deveria repetir; ela deveria encontrar alegria ao fazer o bem; a acumulação da bondade é realmente uma grande alegria. 119. Um malfeitor encontra a felicidade enquanto seus feitos negativos não derem frutos; mas quando eles derem frutos ele encontrará a infelicidade. 120. Um benfeitor pode encontrar o mal enquanto o bem não der frutos; mas quando o bem der frutos ele encontrará a felicidade. 121. Não menospreze o mal, dizendo: ‘Ele não chegará para mim’. Uma goteira pode encher um tonel; da mesma forma um tolo é tomado pelo mal, acumulando-o aos poucos. 122. Não menospreze o bem, dizendo: ‘Ele não chegará para mim’. Uma goteira pode encher um tonel; da mesma forma uma pessoa sábia é preenchida pelo bem, acumulando-o aos poucos. 123. Assim como um mercador que possui um pequeno número de atendentes e grande fortuna evita um caminho arriscado, e como alguém que valoriza a vida e evita o veneno, deve-se evitar o mal. 124. Se não houver uma ferida na mão pode-se tocar o veneno com ela; o CEBB

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veneno não afeta aquele que não está ferido; não há maldade para uma pessoa que não comete ações maldosas. 125. Para um tolo que desonra uma pessoa pura, livre de falhas e limpa o mal retorna, assim como a poeira jogada contra o vento retorna para aquele que a lançou. 126. Alguns nascem como seres humanos; malfeitores nascem no inferno; boas pessoas nascem no mundo celestial; os imaculados vão para o nirvana. 127. Em lugar algum uma pessoa pode escapar de suas ações negativas, seja no céu, no oceano ou em uma caverna nas montanhas. 128. Céu, oceano ou uma caverna nas montanhas, não há lugar que a morte não ocupe.

Punição

129. Todos os seres temem a morte, todos temem a espada e o bastão. Coloque-se na posição do outro e não mate ou prejudique. 130. Todos os seres temem a espada e o bastão, todos os seres amam suas vidas. Coloque-se na posição do outro e não mate ou prejudique. 131. Todos os seres vivos buscam a felicidade. Na busca pela felicidade se prejudicarmos os outros com espadas ou bastões não conquistaremos a felicidade após a morte. 132. Todos os seres buscam a felicidade; aquele que a busca conquistará a felicidade após a morte se não prejudicar os outros com espada ou bastão. 133. Não fale asperamente, aqueles com quem assim falamos retaliarão. Palavras ditas com raiva trazem dor, elas voltarão para você em retaliação. 134. Como um gongo partido, se você permanecer em silêncio alcançará o nirvana, não haverá raiva em você. CEBB

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135. Como um vaqueiro conduzindo vacas para o pasto com um bastão, a velhice e a morte esgotam as vidas dos seres. 136. Um tolo comete ações errôneas sem experimentar a iluminação; como se estivesse sendo queimado pelo fogo o tolo é queimado pelo fogo de suas ações. 137-140. Se uma pessoa com um bastão prejudicar aqueles que não têm culpa, logo ela receberá um dos dez resultados: dor aguda, morte, ferimentos, doenças graves, perda do juízo, punição pelo rei, acusação falsa grave, perda de parentes, perda de riquezas, ou um fogo causado por relâmpagos que queima sua casa. Após a morte, esta pessoa ignorante nascerá no inferno. 141. Praticando o ascetismo nu, venerando o fogo, usando tranças, jejuando, deitando no chão, deitando na poeira, agachando-se sobre os calcanhares, o praticante nunca se purificará se não estiver livre das dúvidas. 142. Mesmo que se adorne, se viver em paz, agir corretamente, for equilibrado, for puro, não utilizar o bastão com qualquer ser vivo, ele é de fato um brâmane, um renunciante, um discípulo do Buda. 143. Quão rara é a pessoa que conhece a vergonha sem precisar ser censurada, como um puro sangue que não precisa ser esporeado! Com determinação intensa, pratique o caminho como um bom cavalo que foi açoitado. 144. Através da fé, dos preceitos, do esforço, da concentração, do julgamento, do conhecimento, da conduta e da completa atenção mental, livre-se do sofrimento doloroso. 145. Cavadores de diques direcionam a água, construtores de flechas as moldam, carpinteiros aprumam a madeira, pessoas prudentes moldam suas próprias personalidades.

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Velhice

146. Como você pode rir, como pode desfrutar quando o mundo está constantemente queimando? Encoberto pela escuridão, por que você não procura a luz? 147. Olhe para este pedaço de carne pintado e ornamentado, que mal se mantém inteiro, uma massa de sofrimentos com uma mente que calcula. Não há nada firme e constante sobre isto. 148. Este corpo irá envelhecer e apodrecer; ele é, de fato, um recipiente de doenças. O corpo decadente está se despedaçando; a vida no final termina com a morte. 149. Como gamelas descartadas no outono são estes ossos esbranquiçados. Qual é o prazer em olhar para eles? 150. Neste castelo do corpo composto de ossos e revestido por carne e sangue estão guardados a velhice, a morte, a arrogância e o orgulho. 151. Uma carruagem real decorada com beleza também entrará em decadência; da mesma forma este corpo envelhecerá. Mas o bom Darma nunca envelhecerá; assim, ensinem o que é bom uns para os outros. 152. Aquele que aprende pouco envelhece como uma vaca; sua carne engorda, mas sua sabedoria não cresce. 153. Eu vagueei por muitas vidas transmigrando, buscando em vão o construtor desta casa. 154. Agora, entretanto, você, construtor da casa, foi encontrado. Você não construirá a casa novamente. Todas as suas vigas foram quebradas; suas vigas-mestras foram destruídas. Minha mente foi libertada da sede das paixões e entrou no nirvana. 155. Aqueles que, enquanto jovens, não levaram uma vida de pureza e não CEBB

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conquistaram riquezas desaparecerão como velhas garças em um lago sem peixes. 156. Aqueles que não levaram uma vida de pureza enquanto eram jovens e que falharam em adquirir riquezas lamentarão seu passado e, como flechas usadas deitarão para apodrecer.

O Eu

157. Aquele que se tem em alta estima deveria se conduzir corretamente; durante qualquer um dos três estágios da vida, adolescência, meia idade e velhice, os sábios deveriam despertar pelo menos uma vez. 158. Primeiro você deveria viver adequadamente, e depois guiar os outros. Assim você nunca ficará incomodado ou cansado. 159. Ao ensinar os outros, você mesmo deve praticar; domando completamente a si mesmo, dome os outros, pois domar a si mesmo é o mais difícil. 160. De fato, cada um é o próprio mestre. Qual outro mestre poderia haver? Apenas após controlar a si mesmo é possível encontrar um mestre valoroso. 161. O mal é cometido pela própria pessoa; ele é nascido de si mesmo; ele é causado por si mesmo; o mal esmaga os ignorantes como o diamante que esmaga as outras gemas. 162. Aquele que é corrupto, como uma trepadeira que estrangula uma árvore sala, faz a si mesmo o que um inimigo gostaria de fazer com ele. 163. Coisas más e que não são benéficas para si mesmo são fáceis de fazer; mas as coisas que são benéficas e boas são realmente difíceis de fazer. 164. Aquele que, devido a suas visões pervertidas, difama o nobre ensinamento dos Arhats que vivem de acordo com o nobre Darma, destruirá CEBB

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a si mesmo, assim como as sementes kastakha. 165. O mal é feito pela própria pessoa; a própria pessoa é quem se macula; o mal é afastado pela própria pessoa; a própria pessoa purifica a si mesma. Pureza ou impureza dependem da própria pessoa. Ninguém purifica outra pessoa. 166. Não esqueça seu próprio bem-estar por causa do bem-estar dos outros; você deve se concentrar no seu próprio bem-estar.

O Mundo

167. Não siga uma visão inferior, não viva em indulgência, não guarde visões pervertidas, não intensifique os assuntos mundanos. 168. Não viva em indulgência. Pratique o caminho correto. Aquele que observa o caminho do Darma pode dormir com prazer tanto neste mundo quanto no próximo. 169. Pratique o caminho correto, não siga o caminho errôneo. Aquele que segue o caminho do Darma dormirá com prazer tanto neste mundo quanto no próximo. 170. Você deveria olhar para este mundo como uma bolha ou miragem. Assim, Yama, o senhor dos mortos, não o verá. 171. Olhe para este mundo, ele é como uma carruagem real decorada com beleza. Os ignorantes agonizam nela, mas os sábios não têm apego a ela. 172. Aquele que era indulgente, mas que depois se transformou, brilhará neste mundo como a lua que surge de trás das nuvens. 173. Aquele que desfaz os males do passado realizando ações positivas ilumina este mundo como a lua que surge de trás das nuvens. 174. Este mundo é escuro, há poucos que veem claramente, aqueles que vão CEBB

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para os reinos celestiais são poucos, como pássaros que escapam da rede. 175. Os cisnes voam pelo caminho do sol, aqueles que possuem poderes sobre-humanos voam pelo ar. Tendo conquistado o rei da maldade e seu exército, os sábios deixam este mundo para sempre. 176. Aquele que transgride o Darma, mente e que não se preocupa com o próximo mundo fará qualquer tipo de maldade. 177. O avarento não irá para um reino celestial, os ignorantes não se alegram com a generosidade, os sábios se regozijam ao serem generosos e serão felizes e pacíficos nos próximos mundos. 178. Melhor que reinar sobre todo o mundo, melhor que ir para um reino celestial, melhor que reinar sobre todos os deuses é ingressar na tradição do Darma.

O Buda

179. Não há ninguém que possa derrotar o Buda. Não há ninguém neste mundo que tenha alcançado o reino vitorioso que ele alcançou. A sabedoria do Buda é ilimitada. De que forma é possível manipular o Buda, que não possui traços de cobiça, raiva ou ignorância? 181. Mesmo os deuses invejam os sábios absortos na silenciosa contemplação do nirvana e os iluminados que possuem atenção mental correta. 182. É difícil nascer como um ser humano, é difícil viver a vida de um ser humano, é difícil ouvir o ensinamento do verdadeiro Darma, e raro é o surgimento do Buda. 183. Não cometa maldades, faça o bem, purifique sua mente – este é o ensinamento de todos os budas. 184. A paciência é a mais elevada prática de austeridade e o nirvana é CEBB

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supremo, assim disseram todos os budas. O Honrado pelo Mundo nunca aflige ou prejudica os outros. 185. Não difame e não prejudique, proteja-se com os preceitos. Tenha moderação ao comer, viva em isolamento e pratique meditação – este é o ensinamento de todos os budas. 186. A cobiça nunca é saciada mesmo por uma chuva de peças de ouro. Na cobiça há pouca felicidade e muita dor. Aquele que entende isto é chamado de sábio. 187. Não vendo felicidade mesmo nos prazeres celestiais, os discípulos do Buda se regozijam na eliminação das negatividades. 188. Muitos que são tomados pelo medo se refugiam nos deuses das colinas, florestas, jardins, árvores e túmulos; 189. Mas não há paz mental nestes refúgios, nenhum destes refúgios é supremo; ninguém pode se libertar do sofrimento tomando refúgio neles. 190. Apenas aquele que toma refúgio no Buda, no Darma e na Sanga com verdadeira sabedoria enxergará as Quatro Nobres Verdades. 191. As Quatro Nobres Verdades são o sofrimento, a causa do sofrimento, a cessação das causas do sofrimento, e o Nobre Caminho Óctuplo que leva à cessação do sofrimento. 192. Este é realmente o refúgio seguro, este é realmente o refúgio supremo. Tomando este refúgio é alcançada a libertação de todos os sofrimentos. 193. É difícil encontrar uma pessoa superior como esta; ela não nasce em qualquer lugar; a família na qual nasce tal pessoa prospera em paz e felicidade. 194. Felicidade é o surgimento do Buda; felicidade é ouvir o Darma correto; felicidade é a harmonia na Sanga; felicidade é a prática e o cultivo na Sanga. 195. Aquele que está livre de ilusões, tristezas e lamentações reverencia os CEBB

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que são dignos de reverência, sejam budas ou discípulos. 196. A virtude das pessoas que reverenciam tais seres pacíficos e destemidos é incomensurável.

Felicidade

197. Ó, vamos viver alegremente sem ódio mesmo em meio aos que odeiam; na companhia de pessoas que odeiam vamos viver sem ódio. 198. Ó, vamos viver sem ansiedade mesmo em meio aos ansiosos; na companhia dos ansiosos vamos viver sem ansiedades. 199. Ó, vamos viver sem paixões mesmo em meio àqueles que as cultivam; na companhia de pessoas que cultivam paixões vamos viver sem paixões. 200. Ó, vamos viver alegremente sem apego a coisa alguma; vamos viver como os deuses do Reino Radiante que se alimentam de alegria. 201. A vitória dá nascimento ao ódio; os derrotados vivem na dor. Abandonando a vitória e a derrota é possível viver na paz da serenidade. 202. Não há fogo igual à cobiça, não há mal como a raiva, não há dor maior que ter este corpo, não há bem-aventurança maior que a serenidade. 203. A fome é a maior doença, possuir um corpo é a mais intensa dor, sabendo disto desta forma alcança-se o nirvana, a mais elevada felicidade. 204. A saúde é a maior conquista, o contentamento é a maior riqueza, a confiança é o melhor parente, e o nirvana é a maior bem-aventurança. 205. Tendo experimentado o sabor da renúncia, da serenidade e a alegria do Darma, não há medo ou maldade. 206. Ver os sábios é bom, viver com eles é alegria, não encontrar os tolos é a alegria duradoura. 207. Ao viajar na companhia de um tolo sofremos porque o caminho é longo; CEBB

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viver com um tolo é o mesmo que viver com um inimigo. Viver com um sábio é como encontrar seus parentes. 208. Como a lua que segue o curso das estrelas, acompanhe e sirva, portanto, os sábios e os bons que são inteligentes, sagazes, estudiosos e pacientes, e que seguem seus princípios.

Prazer

209. Aquele que age de forma imprópria e que não age de forma apropriada, que descarta o que possui real valor, e que está apegado àquilo de que gosta, acabará invejando aquele que faz o que é apropriado. 210. Não se apegue às coisas agradáveis ou desagradáveis. Pois não encontrar o que é agradável é doloroso, e encontrar o que é desagradável também é doloroso. 211. Assim, esvazie sua mente daquilo de que gosta e do que não gosta, pois é triste ter de se separar daquilo de que se gosta. Quando desapegada, a mente é livre. 212. Do gostar nasce o sofrimento, do gostar surge o medo. Quando se está livre do gostar, não há sofrimento. Como poderia surgir o medo? 213. Do prazer nascem a tristeza e o medo. Quando se está livre do prazer não há mais tristeza. Como poderia haver medo? 214. A tristeza nasce da diversão, assim como o medo. Pois para aquele que está livre da diversão não há tristeza, e muito menos medo. 215. A tristeza surge das paixões, assim como o medo. Pois para aquele que está livre das paixões não há tristeza, e muito menos medo. 216. A tristeza surge do amor, assim como o medo. Não há tristeza para aquele que está livre do amor, e muito menos medo. CEBB

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217. Quando alguém pratica os preceitos puros, possui visão correta, está bem estabelecido no Darma, fala a verdade, e faz o que deve ser feito, é querido por todos. 218. Aquele que aspira ao nirvana, aquilo que não pode ser descrito, com uma mente livre de cobiça e plena, é visto como alguém que está avançando. 219. Ao retornar de uma longa viagem depois de um longo tempo a pessoa será recebida calorosamente por seus parentes e amigos; 220. Da mesma forma alguém que acumulou méritos será recebido por seus méritos no próximo mundo.

Raiva

221. Descarte a raiva, abandone o orgulho e se livre das correntes. O sofrimento não segue aquele que não está apegado ao seu corpo ou posses. 222. Aquele que controla seu mau temperamento assim como uma carruagem em movimento é controlada eu chamo de verdadeiro condutor. Os outros são condutores apenas nominalmente, simplesmente segurando as rédeas. 223. Supere a raiva não guardando a raiva; supere o mal com o bem; supere a avareza com a generosidade; supere as mentiras com a verdade. 224. Fale a verdade; não seja raivoso; quando solicitado, ofereça mesmo que possua pouco. Destas três formas você renascerá nos reinos celestiais. 225. O sábio que não prejudica outras vidas e restringe seu corpo irá para os reinos imortais, onde não há sofrimento. 226. Aquele que está sempre focado no nirvana, que se mantém desperto e que segue o treinamento dia e noite alcançará a destruição das negatividades. 227. Este, Atula, é um velho ditado, e não há nada de novo nele: “Eles culpam aqueles que se sentam em silêncio, eles culpam aqueles que falam demais, e CEBB

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eles culpam mesmo aqueles que falam moderadamente. Neste mundo não há ninguém que não seja visto como culpado.” 228. Não há ninguém que seja sempre culpado ou sempre elogiado. Isto já era verdade no passado, é verdade agora e será verdade no futuro. 229. Uma pessoa que é louvada pelos seres inteligentes, depois de ser observada dia após dia desta forma: “Ela é perfeita no comportamento, inteligente e sábia, bem disciplinada e calma”, 230. É como o ouro refinado do Rio Jambu. Poderia haver alguém para culpála? Mesmo os deuses e brâmanes irão louvá-la. 231. Proteja-se da raiva causada pelo corpo e restrinja o corpo; afaste-se das ações negativas de corpo e realize ações positivas de corpo. 232. Proteja-se da raiva causada pela fala e restrinja a fala; abandonando a fala negativa, pronuncie palavras positivas. 233. Proteja-se da raiva causada pela mente e restrinja a mente; abandone os pensamentos negativos e sustente bons pensamentos. 234. O sábio restringe suas ações; ele restringe sua fala assim como sua mente; ele é, de fato, bem controlado.

Impureza

235. Agora você é uma folha seca; o mensageiro da morte o espera. Você está prestes a iniciar sua jornada para a morte, mas está sem provisões para a jornada. 236. Faça uma ilha de refúgio para si mesmo; sem demora esforce-se para se tornar sábio; livre das negatividades você nascerá em um reino celestial. 237. Agora você está à beira da morte, no final de sua vida; e não há lugar para se proteger durante a jornada, pois você não fez provisões para ela. CEBB

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238. Faça uma ilha para você mesmo; sem demora esforce-se para se tornar sábio; livre das negatividades você não passará por nascimento e velhice novamente. 239. Como um artesão refinando a prata, a pessoa sábia remove gradualmente suas impurezas, momento a momento. 240. Assim como a ferrugem que se forma no ferro o destrói, as ações que violam os preceitos conduzem a um reino inferior. 241. Não ser recitado é uma mácula para um sutra; não ser reparada é uma mácula para uma casa; a indolência é uma mácula para o corpo; ser descuidado é uma mácula para os atentos. 242. A má conduta é uma mácula para uma mulher; a mesquinharia é uma mácula para um doador; um darma negativo é realmente uma mácula neste e no próximo mundo. 243. Mas uma mácula ainda maior é aquela da ignorância. Discípulos, descartem esta mácula e se tornem imaculados. 244. Fácil é a vida dos corruptos que não conhecem a vergonha, que impudentemente difamam as pessoas como corvos, e cuja conduta é rude e arrogante. 245. Difícil é a vida da pessoa de sabedoria que conhece a vergonha, sempre busca a pureza, está livre de apegos, e vive uma vida correta e serena. 246. Aquele que destrói a vida, conta mentiras, toma o que não lhe é dado, procura as esposas dos outros, 247. E está viciado em bebidas tóxicas, arranca suas próprias raízes mesmo nesta vida. 248. Saiba que o descontrole é um caminho negativo; não se arraste para um longo sofrimento devido à sua cobiça e ações negativas. 249. As pessoas fazem doações com fé e alegria; aquele que está insatisfeito CEBB

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com a comida e a bebida oferecidas nunca entrará em meditação silenciosa, seja de dia ou de noite. 250. Aquele que cortou e desenraizou completamente tais pensamentos entrará em meditação silenciosa. 251. Não há fogo como a cobiça, não há crocodilo como a raiva, não há armadilha como a ignorância, e não há rio como a luxúria. 252. As falhas dos outros são facilmente vistas, mas as próprias falhas são difíceis de ver; as falhas dos outros são lançadas ao vento como palha, mas as próprias falhas são escondidas como um jogador desonesto que esconde seus dados. 253. Para aquele que se irrita ao ver as falhas dos outros os obscurecimentos aumentam e nunca diminuem. 254. Não há rastros no céu, não há verdadeiros mendicantes nos ensinamentos errôneos. As pessoas se deliciam com a maldade, nos budas não há mais maldade. 255. Não há rastros no céu, não há verdadeiros mendicantes nos ensinamentos errôneos. Todas as coisas mundanas mudam; não há instabilidade nos budas.

A Pessoa do Darma

256. Uma pessoa do Darma não age violentamente; uma pessoa do Darma sabe distinguir o que é apropriado do que não é apropriado. 257. Alguém que não é violento, que confia no Darma, e que guia os outros com honestidade honra o Darma e é sábio. 258. Ninguém é sábio por falar bastante; aquele que é sereno, não guarda rancor e é destemido é chamado de sábio. CEBB

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259. Aquele que fala demais não é uma pessoa do Darma; aquele que pratica o Darma e não o negligencia é uma pessoa do Darma mesmo se ouvir pouco. 260. Ninguém é um ancião por ter o cabelo grisalho; aquele que apenas tem idade avançada é chamado de caduco. 261. Aquele que é sincero, justo, não prejudica os seres vivos, tem moderação, é controlado, e descartou as impurezas da mente é, de fato, chamado de ancião. 262. Aquele que está possuído por ciúmes, mesquinhez e arrogância não pode ser chamado de uma pessoa bonita por meio de bajulação e lisonjas. 263. Aquele que se libertou completamente delas e as desenraizou, eliminando o ódio de sua mente, é chamado de uma pessoa bonita. 264. Ninguém é um mendicante apenas por ter a cabeça raspada; como poderia alguém ser chamado de mendicante se não seguir os preceitos, se contar mentiras e for ganancioso? 265. Alguém que subjuga o mal, pequeno ou grande, é chamado de mendicante, por ter renunciado à maldade. 266. Alguém que recebe alimento dos outros não pode ser chamado de mendicante. Aquele que segue os caminhos impuros ainda não é um mendicante. 267. Aquele que descarta tanto as virtudes quanto os vícios e pratica as ações puras, vivendo com sabedoria, de fato, é chamado de mendicante. 268. Mesmo que alguém mantenha o silêncio, se for tolo e não possuir sabedoria, não é um sábio. 269. Alguém é sábio se escolher o bem e descartar o mal depois de pesá-los. Um sábio possui a habilidade de pesar o bem e o mal do mundo. 270. Alguém que prejudica os seres vivos não é uma pessoa santa; por não prejudicar nenhum ser vivo ele é chamado de sábio. CEBB

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271. Não apenas por observar os preceitos, aprender bastante, realizar a meditação e viver em isolamento 272. eu alcancei a bem-aventurança que nenhuma pessoa comum experimenta. Discípulos, não se deem por contentes enquanto não tiverem alcançado a extinção dos obscurecimentos.

O Caminho

273. Supremo é o Nobre Caminho Óctuplo entre todos os caminhos, as Quatro Nobres Verdades entre as verdades, o ensinamento para a libertação da cobiça entre todos os ensinamentos, e o Buda entre as pessoas. 274. Este é o único caminho, não há outro caminho para purificar a própria visão. Siga este caminho. Este é o caminho para derrotar os demônios. 275. Praticando este caminho você alcançará o fim do sofrimento; este é o caminho que eu ensinei quando removi a flecha envenenada com a sabedoria. 276. Você mesmo deve fazer o esforço; o Buda é apenas o professor. Aquele que ingressa no caminho e pratica concentração será libertado com certeza das amarras dos demônios. 277. “Todas as coisas são transitórias.” Quando alguém enxerga isto com sabedoria, cansa-se do sofrimento. Este é o caminho para a pureza. 278. “Todas as coisas são sofrimento.” Quando alguém enxerga isto com sabedoria, cansa-se do sofrimento. Este é o caminho para a pureza. 279. “Todas as coisas não possuem essência.” Quando alguém enxerga isto com sabedoria, cansa-se do sofrimento. Este é o caminho para a pureza. 280. Alguém que não se apressa quando deveria, quando jovem é indolente e de vontade fraca, nunca conhecerá o caminho da sabedoria. 281. Controle suas palavras, controle sua mente e não cometa maldades com CEBB

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seu corpo. Purificando estas três ações você ingressará no caminho dos sábios. 282. A meditação dá nascimento à sabedoria; sem meditação não há sabedoria. Conhecendo este caminho duplo de ganhos e perdas, que cada um se conduza de forma que a sabedoria cresça intensamente. 283. Corte toda a floresta dos obscurecimentos, não apenas uma árvore. Perigos crescem na floresta. Cortando toda a floresta e os arbustos, liberte-se dos obscurecimentos. 284. Enquanto a luxúria de um homem por uma mulher, por menor que seja, não for cortada, a mente não será libertada da escravidão, assim como um bezerro que se agarra à sua mãe. 285. Corte a afeição por si mesmo assim como você colhe um lótus no outono com sua mão; cultive apenas o caminho da serenidade, o nirvana ensinado pelo Buda. 286. “Viverei aqui na estação chuvosa, no outono e no verão.” Pensando desta forma, o tolo não reconhece a aproximação da morte iminente. 287. Assim como uma grande enchente que varre uma vila adormecida, a morte apanha as pessoas que têm suas mentes direcionadas para seus filhos e rebanhos. 288. Aqueles que são apanhados pela morte não podem confiar em filhos ou filhas. Não podem contar com pai ou mãe e nem tomar refúgio em seus parentes. 289. Sabendo disto, os virtuosos e sábios rapidamente purificam o caminho para o nirvana.

Versos Variados

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290. Aquele que descarta um pequeno prazer conquista uma felicidade maior. O sábio, vendo esta felicidade maior, deveria descartar o prazer menor. 291. Aquele que deseja atingir a própria felicidade fazendo com que outros sofram será tomado pelo ódio, e nunca se libertará do ódio. 292. Para aquele que deixa por fazer o que deveria ser feito, que faz o que não deveria ser feito, e que é arrogante e negligente, os obscurecimentos sempre aumentam. 293. Para aquele que está sempre consciente das negatividades do corpo, que não faz o que não deve ser feito, que faz o que deve ser feito, e que é atento e ponderado, as negatividades chegarão a um fim. 294. Tendo eliminado o pai da arrogância, a mãe das paixões, e os dois reis das visões errôneas de existência e inexistência, e tendo destruído o país e o povo da cobiça, o verdadeiro brâmane não conhece o pesar. 295. Ao matar o pai da arrogância, a mãe das paixões, e os dois reis das visões errôneas da existência e da inexistência, e tendo exterminado o inimigo da dúvida, o verdadeiro brâmane não conhece a ansiedade. 296. Sempre despertos, os discípulos do Buda contemplam dia e noite o Buda. 297. Sempre despertos, os discípulos do Buda contemplam dia e noite o Darma. 298. Sempre despertos, os discípulos do Buda contemplam dia e noite a Sanga. 299. Sempre despertos, os discípulos do Buda contemplam dia e noite o corpo. 300. Sempre despertos, os discípulos do Buda se deleitam dia e noite por serem inofensivos. 301. Sempre despertos, os discípulos do Buda se deleitam dia e noite na CEBB

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prática do caminho. 302. Abandonar o lar é difícil, deleitar-se com a prática de mendicância é difícil, viver nas dependências de um monge é difícil, e ser um chefe de família é sofrimento. Para um nobre viver com os inferiores é difícil. Viajar longamente no ciclo de vida e morte é sofrimento. Portanto, não viaje longamente e o sofrimento não o seguirá. 303. Aquele que possui fé, observa a disciplina e possui honra e riqueza é altamente respeitado onde quer que esteja. 304. Uma boa pessoa é reconhecida de longe, como os Himalayas, mas a pessoa maldosa não é vista, como uma flecha atirada no escuro. 305. Aquele que se senta em um lugar, que dorme em um lugar, que caminha sozinho persistentemente, e que se restringe e controla a si mesmo se deliciará com a extinção dos desejos.

O Caminho para Baixo

306. Aquele que mente irá para o inferno; e também aquele que, ao fazer o mal, diz que não o fez. Os dois serão seres humanos vulgares na próxima vida. 307. Mesmo vestindo um manto amarelo, uma pessoa má que tem muitos pensamentos negativos e que não se restringe nem se controla, devido à sua maldade irá para o inferno. 308. Quando alguém não observa os preceitos e não controla seu corpo, esta pessoa poderá tanto engolir uma bola de ferro incandescente em chamas como poderá receber uma oferenda de alimento. 309. Aquele que é negligente e que comete adultério com a esposa de outro obterá quatro resultados: será não-virtuoso, não dormirá em paz, será CEBB

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censurado pelos outros e cairá no inferno. 310. O prazer de um homem assustado com uma mulher assustada é breve. O rei impõe uma punição severa, e eles mesmos cairão no inferno. Portanto, nunca procure a esposa de outro homem. 311. Lâminas de grama apanhadas descuidadamente cortam a mão. Da mesma forma, as práticas de um mendicante podem arrastar alguém para o inferno, se realizadas incorretamente. 312. Não há um grande mérito nas ações puras realizadas com dúvida e hesitação, ou nas práticas puras realizadas com indolência. 313. Faça o que deve ser feito com vigor; um mendicante indolente espalha ainda mais a poeira. 314. Não cometa ações negativas, pois irá lamentá-las mais tarde; realize ações positivas e não haverá arrependimento mais tarde. 315. Assim como um castelo bem defendido por dentro e por fora, proteja-se adequadamente. Não passe o tempo em vão; se permitir que mesmo um momento seja passado de uma forma vã, você cairá no inferno e sofrerá. 316. Alguém que se envergonha por algo que não é vergonhoso e que não se envergonha por algo que é vergonhoso sustenta uma visão negativa e cairá no inferno. 317. Alguém que tem medo daquilo que não deveria ser temido e que não tem medo daquilo que deveria ser temido sustenta uma visão negativa e cairá no inferno. 318. Alguém que vê erro onde não há erro e que não vê erros onde eles se encontram sustenta uma visão negativa e cairá no inferno. 319. Alguém que distingue o mal como mal e a ausência do mal como positiva sustenta uma visão correta e renascerá em um reino positivo.

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O Elefante

320. Assim como um elefante no campo de batalha suporta as flechas atiradas nele, eu, também, suportarei as calúnias direcionadas a mim, visto que a maioria das pessoas são não-virtuosas. 321. As pessoas guiam elefantes bem treinados para o campo de batalha. O rei monta um elefante bem treinado. Alguém que se controla e que suporta as calúnias é supremo entre as pessoas. 322. As mulas são boas se forem bem treinadas, assim como os cavalos do Indo e os elefantes de grandes presas; mas alguém que controla a si mesmo é muito superior. 323. A razão para isto é que com essas montarias não é possível ir a lugares nunca pisados, mas aquele que restringe a si mesmo, devido ao seu autocontrole poderá ir a qualquer lugar. 324. O elefante chamado Guardião do Tesouro é difícil de controlar enquanto está no cio; ele não come, sentindo saudades da floresta onde um dia viveu. 325. Os tolos, letárgicos, glutões e que cochilam dia e noite como um grande porco de engorda satisfeito, passarão pelo ciclo de renascimentos vez após vez. 326. Anteriormente minha mente vagueava para onde desejasse, conforme sua vontade e inclinação; agora eu sou capaz de restringi-la corretamente como um treinador de elefantes que controla um elefante raivoso. 327. Aprenda a deleitar-se com a diligência; proteja sua mente e afaste-se do mal como um elefante que se levanta do lodo no qual caiu. 328. Alguém que é afortunado o bastante para ter um amigo sábio, o qual vive uma vida correta e é previdente, deveria acompanhá-lo, com atenção mental correta, encontrando alegria na superação dos perigos. CEBB

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329. Alguém que não encontrou um amigo sábio, o qual vive uma vida correta e que é previdente, deveria andar sozinho, como um rei que abandona um país que conquistou ou como um rei elefante na floresta. 330. Uma pessoa maldosa não é digna de receber amizade; é melhor andar sozinho, como um rei elefante solitário na floresta, e não cometer maldades. 331. Quando as necessidades aparecem, ter amigos é uma alegria; encontrar contentamento em qualquer coisa é uma alegria; méritos virtuosos são uma alegria quando a vida chega ao fim; afastar-se de todos os sofrimentos é agradável. 332. É uma alegria que existam pais neste mundo; é uma alegria que existam mães; é uma alegria que existam mendicantes, e é uma alegria que existam sábios neste mundo. 333. Seguir os preceitos até a velhice é uma alegria; possuir uma fé firmemente enraizada é uma alegria; alcançar a sabedoria é uma alegria; não cometer ações negativas é uma alegria.

Paixões

334. Para os auto-indulgentes as paixões crescem como uma trepadeira; eles vagueiam vida após vida, como macacos que buscam frutos. 335. Os sofrimentos de alguém que é tomado por esta luxúria inferior e venenosa crescerão como a grama birana. 336. Os sofrimentos de alguém que supera as paixões inferiores e difíceis de eliminar o abandonarão como uma gota d´água que escorre por uma folha. 337. Portanto, eu digo estas boas palavras a todos vocês que estão aqui reunidos: “Arranquem suas paixões assim como alguém que busca uma raiz aromática arranca as ervas daninhas birana. Não deixem o rei Mara CEBB

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conquistá-los repetidamente como um riacho que quebra os juncos e os carrega consigo.” 338. Mesmo que uma árvore seja cortada ela crescerá novamente se suas raízes forem fortes e firmes. Da mesma forma, a não ser que a negatividade da luxúria seja removida o sofrimento surgirá novamente. 339. Assim como trinta e seis riachos poluídos fluem através da planície da luxúria, a corrente das paixões varrerá aqueles homens que guardam visões errôneas. 340. Os riachos das paixões fluem por todos os lugares; as trepadeiras da cobiça brotam constantemente. Quando enxergar a trepadeira dando brotos desenraize-a com a sua sabedoria. 341. O prazer vagueia constantemente e se agarra a objetos sensoriais. Aqueles que se apegam ao prazer passarão pelo samsara da vida e da morte. 342. Alguém cuja mente foi apanhada pelas paixões, assim como uma lebre apanhada em uma armadilha, ficará agitado. Aprisionado nas correntes das negatividades sofrerá por um longo tempo, repetidamente. 343. Alguém cuja mente foi apanhada pelas paixões se agita como uma lebre aprisionada em uma armadilha. Deve-se, portanto, descartar a cobiça e livrarse da sede da luxúria. 344. Alguém que se liberta das negatividades entra novamente em outra floresta de negatividades; ao livrar-se desta outra ele corre para uma outra floresta. Olhem para essa pessoa que busca a prisão mesmo depois de se libertar, vez após vez. 345. Os sábios dizem que os grilhões feitos de ferro, madeira ou grama não são fortes; o apego aos anéis feitos de pedras preciosas e à esposa e aos filhos são fortes. 346. “Esses grilhões são grosseiros e frouxos, mas é difícil escapar deles”, diz CEBB

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o sábio. Ele cortou estas amarras; sem ter ninguém por quem se afeiçoar ele descarta a cobiça e o prazer e se torna um mendicante. 347. Aquele que se entrega à cobiça segue o fluxo do riacho que ele mesmo criou, assim como uma aranha segue a sua própria teia. O sábio elimina essa cobiça e, libertando-se dos apegos e de todos os sofrimentos, abandona o lar. 348. Deixe o passado, deixe o futuro, deixe o presente; isto é alcançar a outra margem. Com uma mente livre de todas as coisas não há retorno para nascimento e velhice. 349. Aquele que se desvia pelos pensamentos discriminativos possui fortes paixões e vê apenas o que é prazeroso; como as paixões crescem constantemente a prisão se fortalece. 350. Alguém que se deleita ao dominar os pensamentos discriminativos, medita sobre as impurezas e sempre possui atenção mental correta se libertará da prisão de Mara. 351. Alguém que alcançou sua meta é destemido, não possui paixões ou negatividades, e extraiu a flecha da existência; esta é a sua última existência física. 352. Alguém que não possui paixões e apegos, que tem conhecimento das palavras sagradas e que conhece o significado das palavras em seus contextos é conhecido como uma pessoa de profunda sabedoria, manifestando seu último corpo. 353. Eu superei tudo; eu conheço tudo; eu me desapeguei de tudo; eu renunciei a tudo; eu extirpei as paixões; e eu me libertei através de minha sabedoria. A quem eu deveria chamar de professor? 354. O presente do Darma supera todos os presentes; o sabor do Darma supera todos os sabores; a felicidade do Darma supera toda a felicidade; alguém que eliminou as paixões supera todo o sofrimento. CEBB

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355. Se alguém não busca a outra margem as riquezas arruinarão este tolo; ao desejar as riquezas o tolo arruína a si mesmo. 356. As ervas daninhas destroem o campo; as paixões destroem as pessoas; portanto, oferendas à pessoa que não possui paixões trazem grandes resultados. 357. As ervas daninhas destroem o campo; a raiva destrói as pessoas; portanto, oferendas à pessoa que não possui raiva trazem grandes resultados. 358. As ervas daninhas destroem o campo; a ignorância destrói as pessoas; portanto, oferendas à pessoa que não possui ignorância trazem grandes resultados. 359. As ervas daninhas destroem o campo; o desejo destrói as pessoas; portanto, oferendas à pessoa que não possui cobiça trazem grandes resultados.

Os Discípulos do Buda

360. Restringir o olho é bom, restringir o ouvido é bom, restringir o nariz é bom, e restringir a língua é bom. 361. Restringir a ação física é bom, restringir a fala é bom, restringir a mente é bom, restringir tudo é bom. Os discípulos do Buda restringem tudo e estão livres de todos os sofrimentos. 362. Alguém cujas mãos, pés e boca estão controlados em grau máximo possui alegria interior. Alguém que se deleita com a meditação e está isolado e satisfeito é chamado de um discípulo do Buda. 363. O discípulo que controla sua língua, que fala sabiamente e que não se perturba apresenta o Darma adequadamente. Sua fala é realmente positiva. 364. O discípulo que vive no Darma, que lembra bem o Darma, que medita CEBB

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no Darma e que se deleita com o Darma não se afasta do Darma. 365. Não menospreze o que você recebeu e não inveje o que os outros receberam. O discípulo que inveja o que os outros obtiveram não alcançará a paz mental. 366. Mesmo que aquilo que o discípulo tenha recebido seja pequeno, se ele não diminuir o que recebeu e for puro no seu modo de vida, e não for preguiçoso, mesmo os deuses o louvarão. 367. Alguém que não sustenta o pensamento de “meu” em relação a qualquer coisa, que não se entristece por algo que não possui é realmente chamado de um discípulo. 368. O discípulo que vive com bondade amorosa e que se deleita com o ensinamento do Buda alcança o estado de paz e felicidade. 369. Discípulos, retirem a água do barco e ele se movimentará rapidamente. Eliminando a cobiça e a raiva você alcançará o nirvana. 370. Eliminem os cinco obscurecimentos, abandonem as cinco ilusões e cultivem as cinco virtudes. O discípulo que foi além dos cinco obscurecimentos é alguém que cruzou o riacho. 371. Discípulos, meditem em silêncio. Não sejam negligentes. Não dirijam suas mentes para os prazeres dos cinco sentidos. Não sejam negligentes e não engulam no inferno bolas de ferro quente. Não se deixem queimar pelo fogo para gritarem: “Isto dói!” 372. Não há concentração mental em alguém que não possui sabedoria; e não há sabedoria em alguém que não possui concentração mental. Alguém que possui ambas está, de fato, perto da iluminação. 373. O discípulo que se isola e que acalma sua mente claramente percebe o Darma e experimenta uma alegria que transcende este mundo. 374. O conhecimento correto do nascimento e morte do corpo e da mente se CEBB

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torna um néctar para aqueles que o possuem. Eles conquistarão alegria e felicidade. 375. Isto é o que os mendicantes deveriam fazer: controlar os cinco sentidos, alcançar o contentamento, restringir-se com disciplina, viver uma vida pura, associar-se com bons amigos que fazem um esforço constante, 376. E cultivar amizades calorosas. Se eles desenvolverem o hábito de se comportarem bem, encontrarão muita alegria e levarão o sofrimento ao fim. 377. Assim como o jasmim que deixa suas flores secas caírem, discípulos, vocês deveriam afastar a cobiça e a raiva. 378. O discípulo que é calmo no corpo, calmo na fala e calmo na mente, e que está livre dos prazeres mundanos é visto como uma pessoa silenciosa. 379. Censurando a si mesmo, examinando a si mesmo o discípulo sustenta a atenção mental correta e vive alegremente. 380. Você mesmo é o seu próprio mestre, você mesmo é seu próprio refúgio; portanto, controle sua identidade como um mercador viajante controla seu cavalo. 381. O discípulo que se regozija completamente e que acredita no ensinamento do Buda alcançará o estado silencioso e pacífico onde os sofrimentos do mundo cessam. 382. O discípulo que se devota ao ensinamento do Buda mesmo quando jovem ilumina este mundo como a luz que surge de trás das nuvens.

O Brâmane

383. Corajosamente elimine o fluxo dos obscurecimentos e elimine todos os desejos. Caro brâmane, se você souber que todas as coisas são pacíficas, então conhecerá o nirvana. CEBB

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384. Caro brâmane, se você conhecer o autocontrole e a meditação silenciosa, então todas as suas amarras serão cortadas. 385. Aquele para quem não há nem esta margem nem a outra, alguém que é destemido e livre da escravidão, este eu chamo de brâmane. 386. Alguém que se encontra em meditação, que é imaculado, que se senta inabalável, que fez o que tinha para fazer, que está livre dos obscurecimentos, e que atingiu o objetivo mais elevado, este eu chamado de brâmane. 387. O sol aquece o dia, a lua ilumina a noite; o guerreiro resplandece quando veste a armadura; o brâmane é brilhante ao meditar pacificamente; mas o Buda brilha com sua espantosa majestade dia e noite. 388. Alguém que está livre das ações negativas é chamado de brâmane; como ele descarta as máculas é chamado de mendicante. 389. Não batam em um brâmane; um brâmane ao ser agredido não deveria se enraivecer. Alguém que bate em um brâmane será execrado; um brâmane que ao ser agredido se enraivece será ainda mais execrável. 390. É bom para um brâmane permanecer indiferente ao que lhe traz prazer; quando a intenção de prejudicar é contida, o sofrimento termina. 391. Alguém que, livre de maldade no corpo, na fala e na mente, controla os três, eu chamo de brâmane. 392. Seja quem for que transmita a você o ensinamento do Buda, reverencie-o como um brâmane venera o fogo. 393. Não é devido às tranças no cabelo, não é devido à linhagem familiar ou nascimento que alguém é um brâmane; sendo verdadeiro e justo alguém é um verdadeiro brâmane. 394. Ó, tolo, o que significa possuir tranças no cabelo e vestir peles de animais? Você apenas finge ser puro, mas na verdade está cheio de obscurecimentos por dentro. CEBB

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395. Vestindo um manto de trapos descartados, magro com as veias aparecendo, quando alguém senta em meditação isolado na floresta, eu o chamo de brâmane. 396. Nem devido ao seu nascimento, nem devido a sua mãe eu chamo um homem de brâmane. Alguém que é arrogante e que possui coisas não é um brâmane. Alguém que está livre de posses e apegos é chamado de brâmane. 397. Alguém que cortou todas as amarras, é destemido, libertou-se dos apegos e não está preso, eu chamo de brâmane. 398. Alguém que cortou as cordas, amarras, correntes, e outros artigos que os acompanham, todos os quais são carregados pelos brâmanes, que abandonou a barra das correntes e está desperto, este eu chamo de brâmane. 399. Alguém que não possui maldade, suporta reprovações, chicotes e correntes, e que possui um grande poder de paciência, este eu chamo de brâmane. 400. Alguém que está livre de raiva e cobiça, possui autocontrole, observa os preceitos, conduz-se adequadamente, e está livre do nascimento delusório é chamado de brâmane. 401. Alguém que, assim como uma gota de água sobre uma folha do lótus, como um grão de semente de papoula sobre a ponta de uma agulha, não se apega à luxúria dos sentidos, este eu chamo de brâmane. 402. Alguém que, mesmo enquanto neste mundo, alcança a aniquilação do sofrimento, coloca o pesado fardo de lado e está livre das amarras, este eu chamo de brâmane. 403. Alguém que possui profunda sabedoria, é inteligente, discerne o correto do errado, e alcançou o objetivo mais elevado, este eu chamo de brâmane. 404. Alguém que se mantém distante dos chefes de família e dos mendicantes, que caminha sem morada, e que está livre do desejo, eu chamo CEBB

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de brâmane. 405. Alguém que não prejudica os seres vivos e que não causa mal a eles, este eu chamo de brâmane. 406. Alguém que não entra em conflito com os hostis, que é pacífico em meio aos violentos, e que não possui apego apesar de estar entre pessoas apegadas, este eu chamo de brâmane. 407. Alguém que se livrou da cobiça, raiva, orgulho e difamação, assim como uma semente de papoula caindo da ponta de uma agulha, este eu chamo de brâmane. 408. Alguém que não fala palavras ásperas, mas sim palavras verdadeiras que contêm o ensinamento, e que não ofende ninguém, este eu chamo de brâmane. 409. Alguém que, enquanto neste mundo, não toma nada que não seja oferecido, pequeno ou grande, puro ou impuro, este eu chamo de brâmane. 410. Alguém que não possui paixões, seja neste mundo ou no próximo, e que está livre das amarras, este eu chamo de brâmane. 411. Alguém que não possui mais apego, que está livre das dúvidas pela sabedoria, e que alcançou o estado completamente livre da morte, este eu chamo de brâmane. 412. Alguém que está livre do apego tanto aos méritos quanto aos deméritos, que está livre de angústia ou negatividade, e que é puro, este eu chamo de brâmane. 413. Alguém que está livre do desejo pela vida, como a lua clara serena no céu limpo, este eu chamo de brâmane. 414. Alguém que ultrapassou o caminho do lodo, da maldade, do ciclo de vida e morte, e da ignorância, que alcançou a outra margem e que está agora calmamente meditando, sem cobiça, dúvida ou apego, e que repousa em paz, CEBB

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este eu chamo de brâmane. 415. Alguém que, enquanto neste mundo, libertou-se da cobiça, abandonou o lar, leva uma vida de peregrino, e que abandonou a luxúria, este eu chamo de brâmane. 416. Alguém que, enquanto neste mundo, libertou-se das paixões, abandonou o lar, leva uma vida de peregrino, e que abandonou a luxúria, este eu chamo de brâmane. 417. Alguém que transcendeu as amarras dos reinos humano e celestiais, e que cortou todas as correntes, este eu chamo de brâmane. 418. Alguém que se afastou da discriminação entre agradável ou desagradável, é pacífico e livre da fonte da delusão, e que é o mais corajoso em todos os mundos, este eu chamo de brâmane. 419. Alguém que conhece os nascimentos e mortes de todos os seres, que possui a alegria de estar livre do apego, e que está desperto, este eu chamo de brâmane. 420. Alguém cujo caminho não é conhecido mesmo pelos deuses, que eliminou os obscurecimentos e que atingiu a iluminação, este eu chamo de brâmane. 421. Alguém que, no passado, no presente ou no futuro, não tem nada ao que se agarrar, que não possui coisa alguma e que está livre do apego, este eu chamo de brâmane. 422. Alguém que é destemido, nobre, heróico, profundamente sagaz, vitorioso, livre do desejo, e de grande conhecimento, este eu chamo de brâmane. 423. O sábio que conhece suas vidas anteriores, que conhece o céu e o inferno, que alcançou o último dos nascimentos, que possui sabedoria perfeita, e que atingiu a perfeição em todas as coisas, este eu chamo de brâmane. CEBB

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LIVRO VI Capítulo II - O VOTO PRIMORDIAL DO BUDA AMITAYUS E SUA SALVAÇÃO

1. O Bodisatva Dharmakara

(1) O Buda se encontrava na montanha denominada Pico dos Abutres. Um dia, quando muitos discípulos se sentavam ao redor do Buda, Ananda se levantou de seu assento, arrumou seu manto superior sobre um ombro e colocou seu joelho direito no chão. Então, juntando suas mãos em prece, ele se dirigiu ao Buda: “Honrado pelo Mundo, hoje sua aparência é pura e seu semblante é límpido. Eu nunca vi sua aparência tão sublime quanto hoje. A seguinte questão me ocorreu: hoje não se encontra o Honrado pelo Mundo em paz, repousando no estado da iluminação de um buda, na prática de um Grande Líder, e na contemplação de todos os budas dos três tempos, e eles por sua vez não estão contemplando o Honrado pelo Mundo?” O Buda disse a Ananda: “Excelente, Ananda! Os deuses sugeriram que você colocasse esta questão ou isto se deu por seu próprio pensamento?” Ananda disse ao Buda: “Os deuses não sugeriram esta pergunta. Foi através de meu próprio pensamento que ela ocorreu.” O Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Muito bem dito, Ananda, sua CEBB

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questão é muito boa. Ao realizar esta pergunta você manifestou compreensão profunda e mostrou compaixão pelos seres sencientes. A razão que levou o Buda com sua infinita compaixão por todos a aparecer neste mundo foi a de divulgar o Darma, salvar todos os seres sencientes e oferecer o verdadeiro benefício a eles. Mesmo em todos os inúmeros kalpas é difícil de encontrar o surgimento de um Buda; a manifestação de um Buda é uma ocorrência tão rara quando o florescer da árvore udumbara. Sua questão beneficiará todos os seres, Ananda, a sabedoria da iluminação do Buda está além da compreensão e nada pode impedir a sabedoria da iluminação. O Buda pode viver por centenas de milhares de milhões de kalpas com uma única refeição; sua manifestação com luzes brilhantes nunca mudará. E por que é assim? Porque a sabedoria do Buda não tem limites e ele é capaz de usar sua onipotência à vontade. Na verdade, Ananda, sua questão sobre o surgimento do Buda neste mundo se tornou possível pelo poder do Buda. Ouçam bem com o coração aberto, pois falarei agora para o seu benefício.

(2) “No passado infinitamente remoto, o Buda Dipankara surgiu neste mundo. Ele ensinou o Darma a um número incontável de seres, guiando-os para a iluminação. Então, cinquenta e três budas apareceram sucessivamente neste mundo, e no final o Buda Lokesvararaja surgiu no mundo. Naquela época havia um rei que ouviu o ensinamento deste Buda, sentiu grande alegria e teve a aspiração de seguir o caminho verdadeiro. Ele abandonou seu país e trono, tornou-se um mendicante e se denominou Dharmakara. Seu brilho e sabedoria, assim como sua diligência, eram incomparáveis em todo o mundo. Ele invocou o Buda Lokesvararaja e louvou a virtude do Buda em versos.

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(i) Seu semblante gracioso, dignidade ilimitada e luz tão brilhante são únicos neste mundo. Nenhuma outra luz brilha na sua presença. Mesmo o sol e a lua e as gemas parecem com um monte de sujeira perto de você. Sua voz grandiosa ecoa e alcança as dez direções. A virtude de sua disciplina, atenção, esforços, meditação e sabedoria é incomparável. Sua sabedoria profunda medita no oceano do Darma do Buda, cuja profundidade e amplidão você entende completamente.

(ii) Ignorância, cobiça e raiva deixaram há muito tempo o Honrado pelo Mundo. Os méritos do corajoso Buda deste mundo são incomensuráveis. Sua sabedoria é profunda; sua luz virtuosa ilumina os mundos. Ao atingir a iluminação e me tornar igual aos mestres do Darma libertarei todas as pessoas do sofrimento do nascimento e da morte. Ao praticar generosidade, os preceitos, o controle mental, tolerância, esforço, meditação e sabedoria, eu aspiro me tornar um salvador para as pessoas que estão cheias de medos.

(iii) Existem muitos budas; seu número é tão grande quanto as areias do Ganges. Mas ao invés de prestar homenagens a estes budas eu escolho buscar o caminho e não voltar atrás. Eu iluminarei os incontáveis mundos dos budas que são tão numerosos quanto as areias do Ganges. Não haverá limites para meus esforços e poderes. Ao me tornar um Buda, minha terra será suprema; aqueles que lá habitarem serão maravilhosos; o local de ensinamentos será o mais excelente. Minha terra será tão

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alegre quanto o nirvana e incomparável. Com compaixão permanente eu salvarei todas as pessoas.

(iv) Todas as pessoas vindas das dez direções terão corações puros e alegres; elas conhecerão a felicidade e a paz insuperáveis. Eu lhe imploro, ó Buda, ensine-me a verdade e eu me esforçarei de acordo com meus votos. Os budas das dez direções possuem sabedoria desimpedida; faça com que eles conheçam minha mente todo o tempo. Qualquer sofrimento pelo qual eu venha a passar, farei o esforço supremo e nunca oscilarei em meus votos.

(3) “O monge Dharmakara, tendo louvado desta forma o Buda Lokesvararaja, disse a ele: ‘Honrado pelo Mundo, eu faço o voto de atingir a verdadeira iluminação. Por favor, instrua-me em todos os caminhos da verdade. Irei praticá-los para criar uma terra pura búdica. Eu desejo salvar todas as pessoas que estão sofrendo no mundo do nascimento e da morte.’ Então, o Buda Lokesvararaja disse: ‘Você já deve saber como estabelecer uma terra búdica.’ O monge Dharmakara disse: ‘Este é um assunto tão amplo e profundo que está além de minha compreensão. Por favor, ensine-me as práticas que todos os budas seguiram para criar suas terras.’ “Então, ao ver a aspiração profunda, ampla e nobre do monge Dharmakara, o Buda Lokesvararaja lhe disse: ‘É como se uma pessoa tentasse secar um grande oceano. Se ela continuar cavando incansavelmente por kalpas incontáveis alcançará o fundo e será capaz de encontrar os tesouros. Da mesma forma, aquele que continua sua busca no caminho com mente unifocada certamente realizará suas aspirações.’ “O Buda revelou diante do bodisatva vinte e um bilhões de terras CEBB

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búdicas e lhe explicou as características únicas de cada uma. Depois de observar estas terras puras, o bodisatva Dharmakara fez um voto insuperável neste mundo. Por cinco longos kalpas o bodisatva contemplou as formas de estabelecimento e de adornar a terra ideal com virtudes. O bodisatva se apresentou novamente ao Buda Lokesvararaja e disse:

(4) “Honrado pelo Mundo, revelarei agora meus votos especiais. Ao atingir a iluminação, minha terra búdica será adornada por estas virtudes, que são muito difíceis de conceber:

(i) Quando eu alcançar o estado búdico, se houver um inferno, um mundo de fantasmas famintos, ou um mundo de animais, então que eu não atinja a iluminação.

(ii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, as pessoas da minha terra caírem novamente nos três reinos negativos, então que eu não atinja a iluminação.

(iii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, as pessoas nascidas na minha terra cultivarem o pensamento de um ‘eu’ ou daquilo que é possuído pelo ‘eu’, então que eu não atinja a iluminação.

(iv) Se, quando eu alcançar o estado búdico, as pessoas na minha terra não puderem alcançar o estado da certeza e do nirvana infalível, então que eu não atinja a iluminação.

(v) Se, quando eu alcançar o estado búdico, minha luz for

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limitada e não iluminar dez bilhões de nayutas de terras búdicas, então que eu não atinja a iluminação.

(vi) Se, quando eu alcançar o estado búdico, a duração de minha vida for limitada e não ultrapassar pelo menos dez bilhões de nayutas de kalpas, então que eu não atinja a iluminação.

(vii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, todos os incontáveis budas das dez direções não louvarem meu nome, então que eu não atinja a iluminação.

(viii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, todos os seres das dez direções com coração sincero possuírem fé e alegria, e aspirando a renascer em minha terra repetirem meu nome dez vezes, e mesmo assim não renascerem lá, então que eu não atinja a iluminação. Aqueles que cometeram as cinco ofensas graves e aqueles que difamaram o verdadeiro Darma, entretanto, estão excluídos.

(ix) Se, quando eu alcançar o estado búdico, os seres nas dez direções despertarem a intenção de buscar o caminho, de praticarem ações virtuosas, e com mente unifocada aspirarem a renascer em minha terra, e eu não surgir diante deles circundado por uma grande assembleia no momento de suas mortes, então que eu não atinja a iluminação.

(x) Se, quando eu alcançar o estado búdico, os seres nas dez

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direções que ouvirem meu nome, que sustentarem seus pensamentos sobre a minha terra, que promoverem boas raízes de méritos, e que unifocadamente aspirarem a renascer na minha terra não puderem alcançá-la, então que eu não atinja a iluminação.

(xi) Quando eu alcançar o estado búdico, os bodisatvas de outras terras búdicas nascidos em minha terra deveriam atingir o estado da certeza de se tornarem budas na próxima vida. Além do mais, aqueles bodisatvas que desejam salvar os outros livremente deveriam vestir a armadura dos votos, peregrinar por todas as terras, conduzir tantas pessoas quanto o número de grãos de areia do Ganges para o caminho correto da iluminação, e acumular os méritos da grande compaixão. Se isto não puder ser alcançado, então que eu não atinja a iluminação.

(xii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, minha terra não for pura e límpida e não refletir como um espelho claro um número incontável de terras búdicas das dez direções, então que eu não atinja a iluminação.

(xiii) Se, quando eu alcançar o estado búdico, na minha terra do chão até o céu vazio todos os palácios, torres, lagos, riachos e jardins floridos não estiverem adornados por incontáveis gemas e fragrâncias, então que eu não atinja a iluminação.

(xiv) Se, quando eu alcançar o estado búdico, todos os seres nas

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incontáveis terras das dez direções, ao serem tocados por minha luz não se tornarem pacíficos tanto em corpo quanto em mente, e não desenvolverem alegria superior àquela dos seres e deuses, então que eu não atinja a iluminação.

(xv) Se, quando eu alcançar o estado búdico, todos os seres de minha terra não possuírem a mesma alegria dos sábios que se libertaram dos obscurecimentos, então que eu não atinja a iluminação.

(5) “Assim, tendo feito estes votos, o bodisatva Dharmakara disse em versos:

(i) Eu estabeleço votos insuperáveis para alcançar a iluminação. Se estes votos não forem cumpridos, então que eu nunca atinja a iluminação. Eu serei o grande provedor ao longo de incontáveis kalpas. Se eu falhar em salvar todos aqueles que são pobres e que sofrem, então que eu nunca atinja a iluminação. Quando eu alcançar o estado búdico, se meu nome não for ouvido nas dez direções, então que eu nunca atinja a iluminação.

(ii) Livre da cobiça e tomado pelo pensamento positivo, com pura sabedoria, praticarei o nobre caminho. Buscando o caminho mais elevado, serei o professor de todos os seres e deuses.

Tornando-me o mestre da grande luz, iluminando as incontáveis terras e removendo a escuridão da cobiça, da raiva e da

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ignorância, libertarei todos do sofrimento da escuridão.

Abrindo os olhos da sabedoria, acabarei com a escuridão da ignorância. Fechando todos os caminhos para os reinos negativos, eu abrirei os portões para os reinos positivos.

Tendo completado as virtudes, minha luz espantosa iluminará as dez direções. Ofuscando o sol e a lua, a luz dos deuses permanecerá escondida.

(iii) Abrindo os depósitos do Darma, eu concederei os tesouros de minhas virtudes a todos. Constantemente andando entre as massas, eu ensinarei o Darma com o rugido do leão. Prestando homenagem a todos os budas, estarei dotado com todas as virtudes. Votos e sabedoria completamente realizados, serei o mestre dos três mundos.

A sabedoria desimpedida do Buda chega a todas as coisas; assim meus poderes de virtudes e sabedoria serão iguais àqueles do Buda. Se meus votos serão cumpridos, que todo este universo trema e que os deuses no céu derramem lá de cima belos botões de flores.

(6) O Buda disse a Ananda: “Quando o bodisatva Dharmakara recitou estes versos a terra tremeu nas seis direções. Belas flores foram lançadas e música celestial foi ouvida, louvando o bodisatva com sabedoria: ‘Ele certamente alcançará a iluminação.’ O bodisatva Dharmakara proclamou

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estes votos em cada assembleia e iniciou o esforço para estabelecer uma terra búdica que nunca declinasse. Por incontáveis longos kalpas ele acumulou virtudes incomensuráveis; ele nunca gerou pensamentos de cobiça, de raiva ou de prejudicar os outros seres; ele nunca sentiu apego em quaisquer circunstâncias; ele se contentava facilmente com poucas necessidades; ele sempre se mantinha sereno em meditação; ele não tinha obstáculos em sua sabedoria; ele cultivou a paciência; ele não tinha pensamentos falsos ou de adulação; ele falava gentilmente e com um semblante agradável; ele se esforçou incansavelmente, sempre buscando o puro Darma; ele levou todos os outros a acumularem virtudes. Como vivia na verdade da vacuidade, da ausência de formas e da ausência de desejos, ele se abstinha de usar palavras ásperas que pudessem prejudicar tanto ele mesmo quanto os outros; ele aprendeu a usar palavras positivas. Certa vez ele renasceu como um rei, abandonou o trono, evitou riquezas e luxúria, e praticou as Seis Perfeições, ensinando os outros a também praticá-las. Ananda, o bodisatva Dharmakara acumulou virtudes e méritos e conduziu um número incontável de pessoas à iluminação. É impossível mencionar todas as suas grandes virtudes.”

2. O Buda da Vida Infinita (1) Ananda perguntou ao Buda: “O bodisatva Dharmakara já alcançou a iluminação e entrou no nirvana? Ou ele ainda não alcançou a iluminação?” O Buda disse a Ananda: “O bodisatva Dharmakara já se tornou o Buda Amitayus (Vida Infinita) dez kalpas atrás e agora vive e ensina o Darma no espaço ocidental dez bilhões de terras distante daqui. Sua terra búdica é

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chamada de Terra da Paz e da Felicidade. O chão dessa terra búdica é feito de ouro, prata, lápis lazúli e outras joias. A terra é ampla e extensa, ela não possui fronteiras. As luzes brilham intensamente. Nessa terra não há montanhas, mares ou vales, mas devido ao grande poder do Buda é possível vê-los no momento em que se deseja vê-los. Não existem os três reinos negativos e não há estações como primavera ou outono. Não faz frio ou calor intensos, mas sempre um calor moderado. A luz que emana do Buda é majestosa, e nenhuma luz de outros budas se compara a ela. Devido a isto, o Buda da Vida Infinita também é chamado de Buda da Luz Infinita, Buda da Luz Ilimitada, Buda da Luz Desimpedida, Buda da Luz Incomparável, Buda Rei da Chama, Buda da Luz Pura, Buda da Luz da Alegria, Buda da Luz da Sabedoria, Buda da Luz Incessante, Buda da Luz Inconcebível, Buda da Luz Inexprimível, e Buda da Luz Que Supera o Sol e a Lua. “Aquele que vê esta luz se libertará dos obscurecimentos da cobiça, da raiva e da ignorância. Seu corpo e sua mente se tornarão pacíficos. Seu coração se regozijará e a bondade brotará em sua mente. Aquele que encontrar esta luz nos reinos dolorosos e sofridos dos infernos, fantasmas famintos e animais será aliviado do sofrimento; e quando esta vida terminar ele alcançará a liberação. A luz do Buda Amitayus é brilhante e alcança as terras das dez direções, não há terra que ela não alcance. Não sou apenas eu que louvo sua luz, todos os budas e bodisatvas a louvam.

(2) “E na terra da suprema bem-aventurança há várias fragrâncias de diferentes tipos de árvores aromáticas onde belos pássaros cantam. Quando a brisa agradável sopra, os ramos das árvores se tocam, lançando a voz do excelente Darma para todas as terras; aqueles que ouvem o som do Darma despertam profunda fé em suas mentes e alcançam o estado onde não há CEBB

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retorno para os caminhos negativos. Na verdade o som único das árvores valiosas supera bilhões de vezes a música do mundo dos deuses. E os salões de palestras, acomodações dos monges, palácios e torres são todos adornados com gemas; e aqui e ali se encontram grandes lagos cheios de água clara. Cada lago, com areias douradas, margens com joias e areias de ágata e coral, é feito de gemas onde lótus vermelhos e azuis florescem com agradáveis odores. “Bodisatvas

que

entram

nos

lagos

podem

alcançar

qualquer

profundidade de água que desejarem; a água banhará seus corpos como eles desejarem. A temperatura da água é agradavelmente adequada aos seus corpos; ela abre seus corações e lava suas impurezas. “Pura, clara e limpa é a água, parecendo inexistente; ela reflete as areias douradas

e

produz

pequenas

ondas

que

fluem,

criando

sons

maravilhosamente belos. Os sons se transformam nas vozes do Buda, do Darma e da Sanga, ou naquelas da vacuidade, ausência de identidades e grande compaixão. A terra do Buda é pura e pacífica; a alegria desta terra é a alegria do êxtase da iluminação livre de sofrimentos. Aqueles que habitam nesta terra adquirem grande sabedoria e poderes insuperáveis. Todos são dotados com belas características, com corpos do mundo do nirvana e com vidas de duração infinita. E as roupas, as refeições, as flores, o incenso, os colares de joias, as mansões, os palácios e as torres surgem conforme desejado e conforme imaginados. Os quatro cantos das torres são decorados com telas de joias com pérolas incrustadas e sinos de joias. Quando a brisa agradável começa a soprar levemente sobre as telas adornadas e passa através das árvores de joias, sons maravilhosamente belos do Darma fluem nas quatro direções junto com várias fragrâncias. Quando estes sons são ouvidos, a ilusão e o sofrimento desaparecem, e é alcançada a alegria dos sábios livres CEBB

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de obscurecimentos.

(3) “As brisas espalham as flores amplamente pelo solo. As flores estão arranjadas de forma que não há mistura ou confusão de cores. Os odores se espalham fortemente e as flores são levemente brilhantes e levemente fragrantes. Ao serem pisadas, elas afundam quatro polegadas, mas quando o pé é levantado elas retornam ao nível anterior. Quando as flores começam a murchar a terra se abre, e elas desaparecem uma após a outra. Mas os ventos espalham novas flores seis vezes ao longo de um dia e uma noite. Variedades de lótus florescem por toda a terra. Cada flor de joias possui centenas de milhares de milhões de pétalas, e as luzes incontáveis das pétalas possuem variadas cores. “Os lótus azuis emitem luz azul e os brancos emitem luz branca. Da mesma forma, lótus vermelho-escuros, amarelos, escarlates e púrpuras emitem suas próprias cores. Seu brilho ofusca as luzes do sol e da lua. Cada flor emite trinta e seis centenas de milhares de milhões de raios, e de cada raio surgem trinta e seis centenas de milhares de milhões de budas. A cor dos seus corpos é dourada púrpura e suas marcas e características são maravilhosas. Cada Buda emite novamente centenas e milhares de raios e oferece aos seres das dez direções o Darma maravilhoso e espantoso. Cada Buda ilumina incontáveis seres, permitindo a cada um encontrar a paz no caminho correto.”

3. O Despertar da Fé

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(1) O Buda disse a Ananda: “Todos os seres nascidos na terra do Buda Amitayus estão destinados a alcançar o estado de perfeição, pois nessa terra búdica não podem nascer seres destinados a nascimentos negativos, ou cujos destinos ainda não estão determinados. Todos os budas das dez direções louvam as virtudes inconcebivelmente maravilhosas e insuperáveis do Buda Amitayus. Todos aqueles que ouvem o nome deste Buda, que alegremente confiam nele e que, nesse momento de pensamento transferem seu mérito para renascer naquela terra búdica, lá renascerão imediatamente e alcançarão infalivelmente o estágio de não-retrocesso em seu progresso para a iluminação final. Estão excluídos, entretanto, aqueles que cometeram as cinco ofensas graves e aqueles que difamaram o Verdadeiro Ensinamento.” O Buda disse a Ananda: “Existem três tipos de pessoas no mundo que desejam sinceramente renascer nessa terra búdica. O primeiro tipo são aqueles que abandonam seus lares aspirando alcançar a iluminação, dirigindo seus pensamentos exclusivamente para o Buda Amitayus, e desejando renascer em sua terra búdica através da prática de todas as virtudes. Quando eles estão prestes a partir desta vida, o Buda Amitayus com uma grande assembleia aparecerá diante deles. Apoiados pelo Buda, eles renascerão em flores feitas de sete gemas em sua terra, atingirão o estado de grande sabedoria e conquistarão a capacidade de exercer livremente poderes sobre-humanos. Portanto, Ananda, aquele que deseja ver o Buda Amitayus neste mundo deveria aspirar a seguir o caminho, deveria praticar virtudes e desejar renascer em sua terra búdica. “O segundo tipo são aqueles que não renunciaram ao lar e que são incapazes de praticar virtudes exclusivamente, mas que aspiram a alcançar a iluminação e dirigem seus pensamentos apenas para o Buda Amitayus. Eles desejam renascer nessa terra através da prática de virtudes limitadas, CEBB

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seguindo preceitos, construindo estupas, fazendo oferendas aos mendicantes, e oferecendo luz, flores e incenso para o Buda. Quando eles estão prestes a partir desta vida, eles serão encontrados pelo Buda Amitayus manifestandose em um corpo transformado; assim eles renascerão na terra búdica. Sua virtude e sabedoria serão iguais às do primeiro tipo de seres. “O terceiro tipo são aqueles que aspiram a alcançar a iluminação mesmo não sendo capazes de praticar as virtudes; eles dirigem seus pensamentos com todo o coração e exclusivamente, de uma a dez vezes em suas vidas, para o Buda Amitayus, e eles aspiram renascer em sua terra búdica. Eles ouvem o profundo Darma, acreditam alegremente nele sem possuir dúvidas, produzem um único pensamento e o dirigem para aquele Buda, e com o coração totalmente sincero desejam renascer em sua terra búdica. Quando estão prestes a partir desta vida, eles verão o Buda em um sonho e renascerão em sua terra. Sua virtude e sabedoria serão iguais às do segundo tipo de seres.”

(2) O Buda disse a Ananda: “Não há limites para a majestade do Buda Amitayus. Todos os incontáveis bodisatvas das terras búdicas ao leste, que são tão inumeráveis quanto os grãos de areia do rio Ganges, prestam homenagem ao Buda Amitayus, ouvem os seus ensinamentos e, por sua vez, ensinam outras pessoas. Também aqueles do sul, do oeste, do norte, das quatro direções intermediárias, do zênite e do nadir agem da mesma forma.” Então o Buda disse em versos:

(i) Todos os filhos do Buda trazem consigo flores maravilhosas, incensos e mantos e os oferecem ao Buda Amitayus.

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Todos eles tocam melodias de bem-aventurança, cantando e louvando as virtudes do Buda, e eles fazem oferendas ao Buda Amitayus, dizendo:

‘Tendo alcançado poderes sobrenaturais e sabedoria de modo completo, o Buda atingiu o conhecimento profundo do Darma e adquiriu um tesouro de virtudes. Sua sabedoria espantosa é inigualável.

Sua sabedoria brilha sobre o mundo assim como o sol e dispersa todas as nuvens das delusões.’

(ii) Os bodisatvas circumambulam o Buda Amitayus três vezes, prestando homenagem a ele com um louvor: A solene e excelente terra do Buda é, de fato, ilimitada; despertando nossos corações e mentes para a iluminação, nós também aspiramos alcançar esta terra de tal excelente e majestosa santidade. Com isto, o Buda sorri, e luzes infinitas saem de sua boca, elas iluminam as terras das dez direções. Então, as luzes giram ao redor dele três vezes e retornam para a sua cabeça, e aqueles que observam esta visão se regozijam.

(iii) Então, o bodisatva Avalokitesvara se ajoelha com seu manto adequadamente arrumado e, prostrando-se no solo, pergunta: ‘Por que você está sorrindo? Por favor, diga-me o que passou por sua mente.’

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E o Buda diz com uma voz clara como o trovão, nos oito tons reverberantes: ‘Irei predizer para aqueles que aqui estão reunidos o dia em que alcançarão a iluminação. Ouçam bem e com cuidado.

Bodisatvas que vieram das dez direções, eu conheço bem seus votos de buscar a terra da pureza. Vocês se tornarão budas.

Apesar de todos os fenômenos serem como sonhos, como fantasmas e como ecos, se vocês aperfeiçoarem seus votos, então, com certeza alcançarão estas terras. Apesar de todas as coisas serem como meros relâmpagos ou sombras, se vocês praticarem o caminho de um bodisatva e cultivarem todas as virtudes, então se tornarão, com certeza, budas. Apesar de todas as coisas serem impermanentes e impessoais, se vocês buscarem de coração a terra da pureza, conquistarão esta terra infalivelmente.’

(iv) E todos os budas falaram com os bodisatvas e os fizeram enxergar o Buda Amitayus, e disseram: ‘Ouçam os ensinamentos e pratiquem o caminho com alegria, e renasçam imediatamente na terra da pureza.

Ao chegar à terra búdica vocês alcançarão poder insuperável e ouvirão a profecia do dia de sua iluminação; vocês atingirão o estágio de não-retrocesso em seu progresso para a iluminação completa.

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Devido ao voto feito pelo Buda, todos aqueles que ouviram seu nome e que aspiraram renascer em sua terra lá renascerão com certeza, e atingirão o estágio de não-retrocesso em seu progresso para a iluminação completa.

Ó bodisatvas, façam votos de que suas terras sejam como a terra do Buda Amitayus; aspirem salvar todos os seres sencientes e façam com que seu nome seja ouvido em todas as terras.

Sirvam os incontáveis budas e visitem todas as suas terras. Sirvam-nos humildemente, regozijem-se com eles, e despeçam-se deles retornando para a terra búdica.’

(v) Aqueles que não plantam as sementes das virtudes não podem ouvir este sutra. Aqueles que observam as disciplinas puras podem ouvir este ensinamento.

Aqueles que nas suas vidas anteriores viram o Buda conseguem acreditar neste ensinamento. Se eles ouvirem o Darma com um coração humilde ficarão exultantes e imersos em grande alegria.

É difícil para as mentes arrogantes, dissimuladas e preguiçosas acreditarem no ensinamento. Elas não conseguem enxergar o coração do Buda. O grande oceano da sabedoria do Buda é profundo, amplo e inconcebível. Aqueles que ainda se encontram no estado causal não podem concebê-lo, apenas o Buda é capaz de conhecê-lo.

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(vi) É difícil ser abençoado com a vida humana, é difícil estar em uma terra búdica, e é difícil ser abençoado com fé. Ouçam os ensinamentos com o maior esforço possível. Se vocês ouvirem o ensinamento e não o esquecerem, e se regozijarem intensamente com ele, então vocês serão meus melhores amigos. Portanto, despertem e busquem o caminho. Mesmo que todo o mundo esteja em chamas, movam-se a qualquer custo para ouvir o ensinamento. Então, vocês alcançarão certamente a iluminação, tornar-se-ão budas, e salvarão os seres sencientes que estão sofrendo em suas transmigrações.

(3) O Buda disse a Ananda: “Aqueles que renascem na terra búdica estão destinados a se tornarem budas. Aspirando salvar todos os seres com a armadura de seu voto principal, eles trabalham diligentemente pela sua salvação. Eles sempre ensinam o ensinamento correto e são guiados pela sabedoria. Em relação a todas as coisas da terra, eles não possuem apego, e nenhum pensamento de posse ou fixação os prende. Eles não pensam em termos de ‘meu’. Eles vêm e vão, movimentam-se ou param, e nada os prende. Eles exercem a liberdade à vontade. Eles não apresentam distinções, sem preferências ou aversões. Para eles não há a discriminação entre ‘ele’ e ‘eu’, não há competições, nem há reclamações. Eles possuem corações compassivos para beneficiar todos os seres. Suas mentes são flexíveis e harmoniosas, e raiva ou inimizade não os prendem. A ilusão e a indolência se foram e suas mentes são completamente puras. “Com mentes não-discriminativas, mentes superiores, profundas e estabilizadas, mentes que amam e que sentem alegria com o ensinamento, CEBB

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estes bodisatvas descartam todos os obscurecimentos. Cultivando todas as práticas dos bodisatvas eles acumulam virtudes incalculáveis. Realizados na profunda meditação, eles conquistam sabedoria. Seus olhos físicos são aguçados e não há nada que eles não vejam no mundo. Seus olhos divinos veem qualquer coisa em todos os mundos das dez direções. Seus olhos do Darma observam os fenômenos ocultos do mundo. Seus olhos de sabedoria enxergam a verdade e os guiam para o nirvana. Assim, eles possuem os olhos do Buda e despertam para a natureza de todas as coisas. Com sabedoria desobstruída eles ensinam todos os seres que o mundo é vazio e impermanente, e eles lhes ensinam o caminho para destruir as paixões. Vindos do reino da verdade, eles compreendem a Talidade de todas as coisas. Eles não gostam de participar de conversas inúteis e preferem as discussões positivas. Eles praticam, buscam e reverenciam o caminho do Buda. Ouvindo os ensinamentos profundos dos budas, eles não possuem dúvidas ou medos. Eles sempre demonstram ampla compaixão, alcançando todos os seres como o céu e sustentando a todos como a terra. Eles dominam completamente o ensinamento do Veículo Único e alcançam a Outra Margem. Suas mentes estão saturadas pela sabedoria que corta a rede de dúvidas.

(4) “Eles possuem conhecimento completo de todos os ensinamentos dos budas; sua sabedoria é como um grande oceano e sua meditação é como uma montanha elevada. Eles são como os Himalayas, pois brilham com todas as virtudes igualmente e são puros. “Eles são como a grande terra, pois suas mentes não discriminam entre pureza e impureza, amor e ódio. Eles são como a água pura, pois lavam todas as paixões e impurezas. Eles são como um incêndio, pois queimam todas as ilusões. Eles são como violentas tempestades, pois podem passar por todos os CEBB

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mundos sem impedimentos. Eles são como o ar, pois não se agarram a nada. Eles são como o lótus, pois não são contaminados pelas impurezas do mundo. Eles são como grandes veículos, pois carregam todos os seres para fora do mundo de ilusões. Eles são como grandes nuvens, pois carregam o grande trovão do ensinamento e despertam aqueles que não estão despertos. Eles são como as fortes chuvas, pois derramam a doce chuva do Darma, saciando a sede de todos os seres. Eles são como montanhas de diamante, pois nenhum outro ensinamento pode abalá-los. Eles são como garudas, pois subjugam todas as visões errôneas. Eles são como reis elefantes, pois sabem se restringir tão bem. Eles são como reis leões, pois nada temem. Eles são como o céu, pois sua compaixão é igual para todos. Eles estão livres do ciúme, pois não guardam rancor por aqueles que se destacam. Eles buscam o Darma incansavelmente e com foco único. Eles sempre ensinam longamente e não se cansam. Eles tocam o tambor do Darma, içam a bandeira do Darma, fazem com que o sol da sabedoria brilhe, e dissipam a escuridão da ignorância. Eles são vigorosos ao disseminarem o Darma, tornando-se assim fontes de luz e felicidade no mundo. Eles são líderes que não guardam ódio nem amores parciais; eles caminham alegremente pelo caminho correto e concedem a todas as pessoas paz mental. Eles possuem todos os poderes sobre-humanos e são louvados por todos os budas. Eu ofereci apenas um breve relato de suas virtudes; se fosse passar uma descrição completa, ela não teria fim mesmo se eu passasse centenas de milhares de milhões de kalpas relatando-a.”

4. A Realidade da Vida e do Ensinamento

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(1) Na sequência, o Buda disse ao bodisatva Maitreya: “Não é possível entrar nos detalhes completos das virtudes e sabedoria das pessoas da terra do Buda Amitayus. Esta terra é maravilhosamente agradável e pura conforme descrito. Por que as pessoas deste mundo inferior não fazem esforços para realizar o bem, pensando no caminho natural, e atingindo o estado ilimitado no qual não há distinções entre os elevados ou os humildes? Elas deveriam se esforçar neste sentido, cada uma por si mesma. Então, sem dúvidas elas renascerão na terra da paz e da felicidade, e lá evitarão um destino negativo devido ao poder do Buda, alcançando a iluminação. “O portal para esta terra está sempre aberto, e não há nada que obstrua a entrada. É fácil ir até lá, porém quase ninguém alcança essa entrada. Se abandonarem a vida mundana e fizerem esforços para buscar o caminho, elas conquistarão a vida eterna e manifestarão felicidade infinita.

(2) “Entretanto, as pessoas são descuidadas e lutam por assuntos imediatos sem importância. Vivendo em meio à grande maldade e ao sofrimento deste mundo, elas se preocupam com assuntos mundanos, mal se mantendo vivas. Importantes ou simples, ricas ou pobres, jovens ou velhas, homens ou mulheres, todas se preocupam com o dinheiro. Aquilo que possuem e o que não possuem as preocupam igualmente. Elas estão afundadas em tristezas, dores e preocupações crescentes. Arrastadas desta forma, não encontram paz em suas mentes. Se possuem campos, elas se preocupam com os campos. Se possuem casas, elas se preocupam com as casas. Da mesma forma, elas se preocupam com vacas, cavalos, servos, dinheiro e riquezas, alimento, roupas e objetos do lar. Além do mais, quando estas posses são varridas pelas enchentes, queimadas por incêndios, roubadas CEBB

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por ladrões, destruídas por inimigos ou confiscadas por credores, preocupações as envenenam e não há como purgá-las. A raiva se forma a partir destas preocupações, e a mente enrijece e não funciona bem. Quando a desgraça e a morte chegam é preciso partir sozinho, sem nenhuma companhia. Os importantes e os abastados também não conseguem escapar disto. Não há fim para as preocupações e os medos e nunca há uma pausa. Vivendo entre o frio e o calor, elas estão imersas na dor.

(3) “Os pobres e humildes vivem vidas de privação. Não possuindo campos ou casas, eles se preocupam e anseiam por possuí-los. Não possuindo vacas, cavalos, dinheiro ou riquezas, alimento ou roupas, ou objetos domésticos, eles estão ansiosos para possuí-los. Se, por acaso, conseguem obter algo, sempre há outra coisa que está faltando. Se são capazes de obter uma coisa, há outras que ainda faltam. Na esperança de possuir tudo, eles deixam as coisas escaparem. Assim, são atormentados, sentem dor, e buscam as posses, mas não são capazes de obtê-las; enquanto são derrubados por ansiedades, tanto o corpo quanto a mente se cansam. Cada dia é um dia de desconforto. As preocupações se seguem umas após as outras. Eles vivem passando pelo frio e pelo calor e estão imersos em dor. Vivendo assim, às vezes a morte chega prematuramente. Não tendo realizado ações positivas ou praticado o caminho e acumulado virtudes, no final da vida eles têm de viajar para longe sozinhos. Além disso, nenhum deles sabe o destino que será alcançado como resultado de suas ações. “Vocês que são pais, filhos, irmãos, irmãs, maridos, esposas, outros membros da família e parentes, deveriam se respeitar e amar uns aos outros. Não tenham raiva uns dos outros nem sejam invejosos. Aqueles que possuem algo deveriam oferecer àqueles que não têm nada. Evitem a cobiça. Não se CEBB

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ressintam ao serem generosos. Sempre sejam gentis em sua fala e maneiras, e não se ofendam. Mesmo a raiva mais insignificante experimentada nesta vida atual crescerá em intensidade nas próximas vidas. Ao prejudicarem uns aos outros os resultados podem não se dar imediatamente, mas o ódio venenoso se acumulará e permanecerá na mente. Este ódio gradualmente se fortalecerá na mente. Ele se tornará a causa de um ódio contínuo nas muitas vidas futuras. Neste mundo do desejo as pessoas nascem sozinhas e morrem sozinhas. Se alguém viver uma vida dolorosa ou de facilidades, ela terá a experiência apenas para si mesma, e ninguém pode assumir o lugar do outro. O bem e o mal têm resultados diferentes. É certo que as ações positivas e negativas serão seguidas por felicidade ou infelicidade de acordo com a lei estrita da causalidade. Cada um segue seu próprio destino e renasce em reinos diferentes; como os destinos são diferentes não haverá encontros com os outros.

(4) “Portanto, vocês devem abandonar todas as coisas mundanas; enquanto ainda forem jovens e saudáveis, procurem cultivar o bem e busquem alcançar a vida eterna. Se vocês não seguirem o caminho, em que poderão confiar para alcançar a felicidade? As pessoas deste mundo não acreditam que o bem nasce do bem, ou que o caminho nasce da aspiração pelo caminho. Elas não acreditam que morrer é renascer, ou que a alegria vem da generosidade. Elas não acreditam na relação causal entre os fenômenos, e dizem que as coisas não ocorrem dessa forma; assim algumas pessoas argumentam. Antepassados ensinam aos seus descendentes da mesma forma. Os antepassados não praticaram o bem; ignorantes e cegos, suas mentes estavam fechadas, e eles não conseguiam ver aonde os nascimentos e a morte levam, e não conheciam os caminhos do bem e do mal. CEBB

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Alegrias e desgraças ocorrem alternadamente, mas ninguém levanta a questão sobre por que é assim. O ciclo de nascimento e morte continua indefinidamente. Às vezes os pais estão em luto por seus filhos, e às vezes os filhos estão em luto por seus pais. Irmão, irmã, marido, esposa, cada um chora pelo outro. Frequentemente as coisas acontecem na ordem reversa. Isto se deve à impermanência de todas as coisas. O fluxo de nascimento e morte nunca para e nada permanece. Poucos acreditam nos ensinamentos; portanto, não há fim para o fluxo de nascimentos e mortes. Como estas pessoas são ignorantes e suas mentes estão confusas, elas nunca acreditam no ensinamento do Buda. “Suas mentes não pensam no futuro à frente, todas buscam o prazer instantâneo. Suas mentes estão perdidas em uma vida de luxúria. Elas não chegam ao caminho correto. Elas são absorvidas pela raiva. Como lobos, elas anseiam por riquezas e prazer sexual. Elas permanecem em um mundo doloroso com um destino infeliz, e não há fim para as transmigrações. Realmente, isto é extremamente doloroso.

(5) “Às vezes, entre os membros da família, pais e filhos, irmãos e irmãs, maridos e esposas, alguém morre e alguém nasce. Atados pela afeição humana, preocupação e pena, eles pensam uns nos outros. Os dias e os anos passam e nenhum alívio é encontrado. Mesmo que o ensinamento seja oferecido a mente não o aceitará. Fixados às afeições e à luxúria, suas mentes estão envoltas por escuridão; eles não conseguem contemplar as coisas profundamente; e também não conseguem praticar o caminho correto e tomar decisões corretas mesmo sobre assuntos mundanos. Eles vivem ansiosos e o fim se aproxima. O fim da vida próximo, eles ainda buscam o caminho. Enquanto procuram avidamente o prazer, a maioria se afasta do CEBB

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caminho e apenas alguns poucos o encontram. Todas as coisas mundanas passam rapidamente; não há nada em que possamos confiar. Nobres ou humildes, ricos ou pobres, todos estão dolorosamente engajados em assuntos mundanos e sustentam pensamentos maldosos em suas mentes. Intenções maldosas surgem como a fumaça e trazem o caos. Eles agem contrariamente ao caminho da natureza e em desacordo com a natureza humana, inventando ações negativas que os levarão ao fim inevitável. Devido a isto eles têm mortes extemporâneas e afundam em destinos negativos. Por muitas vidas ao longo de milhões de kalpas eles sofrem continuamente sem esperança de alívio. Isto é extremamente lamentável e digno de piedade.”

(6) O Buda disse ao bodisatva Maitreya: “Assim eu descrevi para você como são as vidas dos seres. Devido a suas condições eles não conseguem alcançar o caminho. Pense bem e mantenha-se afastado das maldades, procure a bondade e a pratique. Prazer e prosperidade nunca duram muito tempo. No momento devido você deverá se afastar deles. Não há nada a ser desfrutado. Se você for afortunado o bastante para estar no mundo quando um Buda aparecer, então deve aspirar com uma mente sincera renascer na terra do Buda Amitayus. Você alcançará um estado de clara sabedoria e virtude suprema. Não aja contra os ensinamentos seguindo seus desejos. Se você tiver dúvidas, pergunte-me sobre elas.”

(7) O bodisatva Maitreya se ajoelhou e disse: “Suas virtudes são nobres e suas palavras são completamente agradáveis. Enquanto ouço suas palavras e penso sobre elas, compreendo que este mundo é, realmente, como você o descreveu. Agora o Honrado pelo Mundo nos mostrou compassivamente o grande caminho. Com isto que ouvimos e vimos fomos libertados CEBB

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eternamente das delusões. Nós não somos os únicos que se alegram com os ensinamentos do Honrado pelo Mundo. Desde os deuses nos céus até os menores vermes, todos vivem em sua compaixão e são, desta forma, liberados do sofrimento. Profundo e excelente é o ensinamento do Buda. A luz da sabedoria alcança as dez direções e ilumina os três mundos do passado, futuro e do presente, e não há um lugar que não seja alcançado por ela. Devido à disciplina austera a que você se sujeitou enquanto buscava o caminho, agora estamos livres da delusão. Sua compaixão se estende a todos os cantos e suas virtudes são tão elevadas quanto montanhas. Sua luz alcança lugares profundos, apresenta-nos a vacuidade e abre o portal para a iluminação. Utilizando todos os meios hábeis, você nos ensina e nos corrige e nos inspira. O Buda é o rei da verdade, o mais sagrado, que se encontra muito além de todos os sábios santos. Se as pessoas desejarem, o Buda apresentará o caminho a todos que o procurarem. Nós agora o encontramos e ouvimos o nome do Buda Amitayus. Nossas mentes estão plenas de alegria e nossos olhos mentais estão abertos e brilham.”

(8) O Buda disse ao bodisatva Maitreya: “Você fala corretamente. Não há nada mais meritório que prestar reverência a um buda. O surgimento de um buda neste mundo é realmente raro. Eu atingi a iluminação ainda neste mundo; eu exponho o ensinamento, corto todas as teias das dúvidas, extraio as raízes do desejo, e impeço todas as fontes do mal. Eu viajo pelos três mundos e nada obstrui o meu caminho. A sabedoria é o mais importante nas práticas religiosas. Ela ilumina claramente a realidade do mundo das delusões mais claramente que o fogo, e ela guia aqueles que não estão salvos ao caminho da iluminação. Maitreya, você vem cultivando há vidas infinitamente distantes a prática dos bodisatvas, aspirando a salvar todos os CEBB

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seres. Incontáveis pessoas alcançaram a margem da iluminação seguindo seus ensinamentos. Entretanto, você e todos os seres sencientes também passaram pelos mundos de delusão por incontáveis vidas e se debateram em sofrimentos; isto é, na verdade, indescritível. E mesmo no presente não houve a cessação da delusão. Mas agora vocês encontraram o Buda, ouviram o nome do Buda Amitayus e acreditam sinceramente no Buda. Isto é excelente! “Agora eu o ajudei e lhe trouxe felicidade. Você, também, deveria evitar as dores do nascimento, morte, velhice e doença. Este mundo está cheio de maldade e impurezas; não há nada nele que possa nos fazer felizes. Você deveria estar determinado a seguir corretamente em sua conduta, em disciplinar seu corpo e ações, e a fazer o bem. Purifique as máculas da mente. Seja correto e sincero em sua fala e ação, de forma que elas sejam consistentes, e não permita que elas sejam enganosas. Primeiro busque sua própria salvação, e então ajude os outros a se salvarem, e construa a fundação da bondade com uma aspiração clara. Não importa o quão intensamente você tenha que trabalhar nesta vida, será apenas por um breve momento. O nascimento na terra do Buda Amitayus se seguirá, onde você encontrará felicidade infinita. Então você se tornará um com a lei da natureza e desenraizará a fonte da delusão. Não haverá mais sofrimentos advindos da cobiça, da raiva e da ignorância. Você poderá expandir ou reduzir a duração de sua vida à vontade. Todas as coisas estarão de acordo com a lei da natureza. É um estado quase igual à própria iluminação. Vocês deveriam fazer esforços e realizar suas aspirações. Não tenham dúvidas!” Maitreya disse ao Buda: “Após ouvir seu bondoso conselho me esforçarei firmemente para praticar o que me ensinou. Nunca guardarei qualquer desconfiança.” O Buda disse a Maitreya: “Nunca haverá qualquer ser em todos os CEBB

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mundos nas dez direções que possua virtudes iguais às de quem consegue se abster das ações negativas mantendo sua mente correta neste mundo. Isto é assim porque as pessoas de tais terras farão o bem espontaneamente e se absterão de cometer ações negativas. Portanto, elas podem ser ensinadas facilmente a realizar ações positivas. Agora, eu alcancei a iluminação neste mundo, onde as pessoas vivem em meio aos sofrimentos das cinco maldades, que são cinco dores e cinco fogos. Ensinarei essas pessoas a se afastarem destes sofrimentos e a subjugarem suas vontades, possibilitando-lhes, assim, a alcançarem a felicidade, a vida eterna e a salvação.

(9) “A primeira maldade é cometida por todos os seres sencientes dos seres humanos até os gêneros de vermes. Os fortes suprimem os fracos. Eles matam, prejudicam e engolem uns aos outros. Fazer o bem é algo estranho para eles. Eles vão contra o caminho correto com mentes perversas; eles encontrarão infortúnios como resultado da lei natural de causa e efeito. Assim existem no mundo os pobres, os humildes, os mendigos, os surdos, os cegos, os estúpidos, aqueles de intelecto inferior, os loucos. E existem aqueles nascidos em famílias nobres, os ricos, os talentosos e os inteligentes. Todos eles nasceram assim por terem sido nas vidas passadas misericordiosos e por terem praticado o bem e cultivado virtudes. Neste mundo há prisões estabelecidas pela lei do estado nas quais aqueles que deliberadamente cometeram crimes são confinados. Eles não conseguem fugir das prisões como gostariam. Este é um fato que podemos ver com nossos próprios olhos. Exatamente da mesma forma, na vida após a morte, o efeito das ações das pessoas é profundo e violento; elas afundam em mundos de escuridão, recebendo diferentes formas de vida. Assim como se estivessem recebendo punição de acordo com as leis do estado, elas nascem no inferno, como CEBB

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fantasmas famintos, ou se tornam animais e afundam em profundidades inimagináveis de sofrimento. Suas vidas podem ser longas ou curtas. Seguindo um curso natural, elas seguirão para seus respectivos destinos. Lá, aqueles que costumavam se odiar se encontram, e cada um devolve o ódio para o outro. Debatendo-se em sofrimento, não há esperança delas se liberarem deste estado. Sua dor está além das palavras. Existe a lei natural da causalidade no universo: os resultados das ações positivas e negativas podem, às vezes, não ocorrer imediatamente, mas certamente eles virão. Tudo isto é chamado de primeira maldade, primeira dor e primeiro fogo. Esta dor é como queimar em um grande fogo. Se, ao viver neste estado, a pessoa controla a própria mente, corrige-se, age corretamente, realiza apenas ações positivas e se abstém de todas as ações maldosas, alcançará a liberação e encontrará a felicidade, a vida eterna e a salvação. Esta é a primeira grande bondade.”

(10) “A segunda maldade se dá quando as pessoas, sejam pais ou filhos, irmãos ou irmãs, maridos ou mulheres, ou parentes entre parentes, não possuem senso de dever ou decência. Elas são arrogantes, lascivas e indulgentes na luxúria. Todas buscam o prazer de acordo com a vontade de seus corações enquanto enganam umas as outras. O que elas dizem e o que pensam é diferente, falta-lhes sinceridade. Com línguas melífluas bajulam umas as outras de forma submissa. Com mentes destituídas de fé elas cultivam a inveja dos sábios, falam mal das pessoas bondosas e falsamente as incriminam. Falta ao rei sabedoria e ele mantém como vassalos aqueles que apenas desejam criar intrigas. Se houver vassalos sábios, que agem corretamente, que estão familiarizados com os negócios mundanos, e que tomam medidas apropriadas às situações, o rei que não é sábio nem correto CEBB

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se achará enganado e será cruel com os vassalos leais; assim, ele vai contra o caminho correto. Os vassalos enganam seu rei. Irmãos e irmãs, maridos e esposas, amigos íntimos ou não, todos enganam uns aos outros. Todos guardam cobiça, raiva e ignorância. Eles só se ocupam de seus próprios interesses

e desejam mais posses. De nascimentos nobres ou simples,

elevados ou humildes, todos pensam igual. Eles causam discórdia em seus lares e arruínam a si mesmos. Eles não pensam nas consequências. Parentes e outras pessoas são envolvidos e levados à ruína. “Às vezes, pessoas que se encontram em circunstâncias diferentes se envolvem umas com as outras. Elas brigam devido a seus ganhos e se tornam raivosas e ressentidas. Os ricos se tornam avarentos e não partilham suas riquezas. Eles atormentam tanto a mente quanto o corpo devido a sua cobiça por riquezas. Assim, o fim chega, mas não há nada em que possam se apoiar. Todos chegam sozinhos e vão sozinhos, e ninguém os segue. Ações positivas e negativas, após o fim da vida, conduzem-nos à felicidade e à desgraça respectivamente. Uma vida feliz ou dolorosa se segue de acordo. De que adiantará se arrepender depois? As pessoas do mundo são ignorantes e possuem pequena sabedoria. Ao verem outros fazendo o bem, ao invés de terem respeito e desejarem ser amigos deles, elas os odeiam e os caluniam. Tudo que lhes interessa é fazer maldades. Elas agem sem prudência. Uma mente ladra sempre as acompanha; elas têm inveja do que os outros conquistam.

Ocasionalmente,

desperdiçando-as.

Tentando

ao

adquirirem

recuperá-las

elas

riquezas,

cultivam

acabam

pensamentos

maldosos e temem o desconhecido, e ansiosamente examinam as expressões faciais dos outros. Nada é feito de forma previamente planejada, e quando as situações acabam em fracassos, elas sentem remorso. Neste mundo elas recebem punições nas prisões de acordo com os crimes que cometeram. CEBB

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Como estas pessoas não acreditaram no caminho correto e cometeram ações negativas

em

suas

vidas

anteriores,

agora

elas

novamente

agem

erroneamente. Elas encontrarão um destino negativo e afundarão em dores infindáveis. Não há possibilidade de liberação desta confusão por muitas vidas e nos kalpas que se seguirão. Esta é a vida mais digna de pena. Esta é a segunda maldade, a segunda dor e o segundo fogo. É como se o próprio corpo fosse queimado pelo fogo. Se, mesmo vivendo nesse estado, a pessoa restringe a própria mente e age corretamente, então alcançará a felicidade, a vida eterna e a salvação. Esta é a segunda grande bondade.”

(11) O Buda disse: “A terceira maldade é a seguinte: as pessoas do mundo dependem umas das outras e mantêm, juntas, a vida neste mundo. Sua duração de vida não é longa. Em relação à classe dominante, há os sábios, os líderes, aqueles de famílias nobres e os ricos; em relação aos inferiores, há os pobres, os humildes, os de mente fraca e os ignorantes. Entre eles todos há os não-virtuosos. Eles sempre sustentam pensamentos odiosos e prejudicam suas mentes com o desejo. Pensamentos de amor e desejo perturbam suas mentes. Não há tranquilidade em seu comportamento. Eles não oferecem aos outros o que possuem, eles buscam novas posses. Eles colocam os olhos sobre as belas mulheres e despertam o desejo maldoso. Eles se desagradam com suas próprias esposas; eles fazem visitas frequentes secretamente a outras mulheres, gastando a riqueza da família. O que quer que façam é sempre ilegal. Alguns, unindo-se em facções, cometem atrocidades como levantar armas, prejudicar, atacar, matar e saquear uns aos outros. Alguns dirigem seus pensamentos negativos para os outros. Eles não são diligentes em seus negócios. Eles podem roubar e ganhar pouco, mas sua cobiça os leva a continuar roubando. Eles executam crimes, no início com medo e apreensão, CEBB

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mas com o tempo eles ameaçam os outros e, assim, sustentam suas esposas e filhos. Eles se entregam aos prazeres do corpo. Entre seus parentes, eles falham em distinguir entre aqueles que merecem respeito e aqueles que não merecem. A família e os amigos se preocupam e sofrem por isto. E as pessoas deste tipo não hesitam em quebrar as leis do estado. Tais ações negativas se tornarão conhecidas por todos. O sol e a lua os verão. De acordo com a lei da natureza eles cairão em destinos negativos e sofrerão dores intermináveis. Não há esperança de liberação de tais destinos ao longo de vidas e nos kalpas futuros. Esta é a terceira maldade, a terceira dor e o terceiro fogo. As dores são tão severas quanto ser queimado pelo fogo. Se, mesmo vivendo neste estado, a pessoa restringe a própria mente e age corretamente, será capaz de alcançar a felicidade, a vida eterna e a salvação. Esta é a terceira grande bondade.”

(12) O Buda disse: “A quarta maldade é o fato de as pessoas do mundo não terem a intenção de realizar ações positivas. Elas seduzem umas às outras e cometem ações negativas. Com falsidades, palavras abusivas, mentiras e bajulação, elas disputam e prejudicam umas às outras. Elas odeiam as boas pessoas; elas têm prazer secretamente ao difamarem os sábios. Elas não respeitam seus pais. Elas têm seus professores em baixa estima. Elas não são sinceras com seus amigos. É difícil esperar veracidade de sua parte. Elas são arrogantes, elas se veem como grandiosas. Elas dizem que o que fazem está bem de acordo com o caminho. Sem razão, elas oprimem os outros com seu poder e não refletem sobre si mesmas. Elas cometem maldades, mas não sentem vergonha. Devido ao poder que possuem, esperam respeito dos outros. Como não sentem reverência pelo caminho da natureza, nem pelo sol ou pela lua, elas não procuram fazer o bem. De fato, é CEBB

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difícil estimulá-las. Elas são lentas para realizar ações positivas. Elas não apresentam vergonha alguma. Elas não têm temor e são sempre arrogantes. Os deuses se lembrarão de tais ações maldosas. As poucas dez ações positivas que realizaram em outras vidas irão sustentá-las por algum tempo. Mas, devido às ações negativas cometidas na vida atual seus méritos logo se exaurirão, à medida que cometem ações negativas agora. Elas andam sós e não têm nada em que se apoiar. No final da vida, todas as suas grandes maldades trarão seus resultados de acordo com o caminho da natureza e as conduzirão a destinos apropriados. O mal as arrasta e elas não conseguem resistir. Os efeitos negativos de suas transgressões estarão fixados nelas e não as deixarão. O caldeirão borbulhante espera por elas e seus corpos e mentes serão rasgados e quebrados e sofrerão dores. De que serve o arrependimento em tal hora? Sem falhas opera o caminho da natureza e elas afundarão em dores intermináveis nos reinos negativos. Não há possibilidade de libertação desta confusão por vidas e pelos kalpas vindouros. Esta é a quarta maldade, a quarta dor e o quarto fogo. As dores são tão intensas quanto ser queimado pelo fogo. Se, mesmo vivendo neste estado, a pessoa restringe a própria mente e age corretamente, alcançará a felicidade, a vida eterna e a salvação. Esta é a quarta grande bondade.”

(13) O Buda disse: “A quinta maldade é o fato de que as pessoas do mundo são indolentes e não procuram fazer o bem, não se disciplinam ou trabalham pela própria subsistência. Suas famílias e parentes sofrem por fome e frio. Quando seus pais as advertem, elas os contradizem com olhos raivosos e palavras ásperas. A casa se torna um lugar onde inimigos amargos convivem. Quando as coisas chegam a este ponto, teria sido melhor não ter tido um filho. As pessoas são desleixadas nos assuntos referentes ao dinheiro, CEBB

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o que todas as outras ressentem. Elas são ingratas àqueles que demonstraram bondade. Elas não possuem senso de dever. Elas não pensam em retribuir os favores. Pressionadas pela pobreza, elas não encontram meios para obter qualquer coisa. Finalmente, tornam-se egoístas e cometem assaltos, e então desperdiçam seus ganhos de forma pródiga. Elas se entregam ao vinho e a roupas luxuosas e não têm limites na comida. Elas vivem vidas obstinadas. Com isto elas ofendem os outros. Por terem os corações frios elas desejam superar os outros pela força. “Quando os outros fazem o bem, elas sentem inveja e se ressentem. Elas não conhecem a justiça ou a cortesia. Como não possuem capacidade de autorreflexão não há como adverti-las. Elas não se importam se suas famílias têm o bastante para se sustentarem. Elas não pensam naquilo que devem aos seus pais. E também não pensam sobre suas obrigações com seus professores e amigos. Suas mentes sempre guardam pensamentos maldosos, suas bocas sempre usam palavras maldosas e seus corpos sempre cometem ações maldosas. Nem uma vez elas realizaram ações positivas. Elas não acreditam nos ensinamentos dos sábios e nos ensinamentos do Buda. Elas não acreditam que praticando o caminho podem se libertar das delusões. Elas não acreditam que ações positivas trazem bons resultados e que ações negativas trazem maus resultados. Assim, elas até mesmo matam arhats e causam desarmonia entre os monges. Elas tentarão prejudicar os pais, irmãos, irmãs e parentes. Mesmo suas famílias as odiarão e desejarão vê-las mortas. As mentes de tais pessoas são tolas e estão na escuridão. Elas não sabem de onde a vida vem e para onde vai. Elas não possuem corações bondosos e agem contra o caminho do céu e da terra. Elas apenas buscam golpes de sorte e esperam ter longas vidas. Mas elas encontrarão suas mortes inevitavelmente. É inútil que as pessoas compassivas e empáticas lhes ofereçam conselhos para CEBB

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conduzi-las ao caminho das ações positivas e para fazê-las entender que o final de nascimento e morte e do bem e do mal chegarão, com certeza, algum dia. Suas mentes estão fechadas e elas não ouvem conselhos. “À medida que o fim da vida se aproxima, arrependimentos e medos ocorrem uns após os outros em suas mentes. Mas nessa hora tardia, de que adianta arrependimento? Os cinco destinos são todos claros e bem regulados entre céu e terra, e são bastante claros e profundos. Ações positivas e negativas causam os resultados de boa sorte ou infortúnios. Cada um deve aceitar os resultados como vierem, e ninguém pode tomar o lugar do outro. Este é o caminho da natureza. Dependendo do que a pessoa fez, a maldade se segue à própria vida e nunca a abandona. Pessoas boas realizam ações positivas e vão de alegria em alegria e de um estado brilhante para outro. As pessoas más cometem ações negativas e vão de dor em dor e da escuridão para a escuridão. Ninguém está consciente desta verdade. Apenas o Buda sabe e ele ensina a verdade, mas poucos acreditam. Não há fim para as ações negativas. Assim se sucedem, de forma sistemática, os sofrimentos infinitos do caminho da maldade. Chafurdando nesses reinos, não há esperança de sair do ciclo de transmigrações nos kalpas vindouros. Esta é a quinta maldade, a quinta dor e o quinto fogo. É como um grande fogo queimando o próprio corpo. Se, mesmo vivendo neste estado, a pessoa controla sua mente, é sincera em suas palavras e ações e age corretamente, tal pessoa alcançará a felicidade, a vida eterna e a salvação. Esta é a quinta grande bondade.”

(14) O Buda continuou: “Agora eu tornei claro para vocês como este mundo realmente é. As pessoas nascem no sofrimento, cometendo ações negativas sem praticar as raízes positivas. Devido a isto, de acordo com a lei da natureza, elas afundarão nos vários destinos negativos. Às vezes, ainda na CEBB

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vida atual, alguém sofre devido a doenças. Mesmo que procure a morte, ela não virá. Mesmo que deseje a vida, ela não virá. Tudo isto é causado pela própria conduta errônea, isto servirá como lição para os outros. À medida que a vida termina a pessoa irá para um destino negativo de acordo com seus atos, onde o sofrimento será infindável e onde o próprio fogo a queimará. Depois de muito sofrimento ela nascerá no mundo humano, mas então será amarga em relação aos outros. Algumas pequenas ações negativas gradualmente se tornarão maldades maiores. Tudo isto deriva da cobiça por riquezas e prazeres e por não conhecer o mérito de compartilhar o próprio bem-estar. Instigada por avareza e cobiça, atada por todos os tipos de paixões, não encontrará a liberação. Ela pensa apenas sobre o próprio bemestar e argumenta apenas para o próprio benefício. Ela não sabe que deveria refletir sobre si mesma. Alcançando um status elevado ela poderá desfrutar a honra mundana por um tempo. Mas, visto que não consegue restringir seu desejo sempre crescente de se elevar ainda mais, ela não realiza ações positivas. Seu poder logo se enfraquecerá, mas o sofrimento se agravará. A lei da natureza permeia todas as coisas e não deixará nenhuma maldade sem punição, seja grande ou pequena. Sozinha e cheia de medo ela se sente aprisionada. Não há diferença entre o passado e o presente e isto é motivo de grande compaixão.”

(15) O Buda disse a Maitreya: “O mundo é assim. O Buda tem compaixão por tudo isto. Com seu poder divino, o Buda esmaga todas as maldades e faz com que todas as pessoas se voltem para o bem. Se alguém aprender os ensinamentos e viver de acordo com eles, alcançará finalmente a iluminação e será libertada do mundo de transmigrações. “Se você estiver no mundo atual ou em um próximo mundo e ouvir as CEBB

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palavras do Buda, então pense bem, restrinja sua mente e corrija seus atos. Aqueles que estão em posições elevadas deveriam fazer o bem e guiar os inferiores. As instruções deveriam ser passadas entre todos. Cada um deveria reverenciar e respeitar os sábios e as pessoas boas. Sejam compassivos e amem a todos. Não ajam de forma contrária aos ensinamentos do Buda. Assim, abandonem o mundo da delusão e cortem a raiz do mal. Desta forma vocês se afastarão de todo o medo e as dores dos destinos negativos. Louvem o nome do Buda que é a fonte de toda a virtude. Sejam amorosos e compassivos. Não transgridam o Darma. Restrinjam-se adequadamente, façam esforços dedicadamente, e com uma única mente e sabedoria ensinem uns aos outros. Se você corrigir sua mente esforçadamente, controlar seus pensamentos e mantiver sua conduta correta e pura por um dia e uma noite completos, isto será superior a realizar o bem por cem anos na terra do Buda Amitayus. Isto é assim porque as pessoas dessa terra búdica podem realizar ações positivas espontaneamente e sem esforços, e não há mal algum a ser encontrado lá. Boas ações realizadas neste mundo por dez dias e dez noites serão superiores a fazer o bem em outras terras búdicas por mil anos. Isto é assim porque nas terras desses budas existem muitos que fazem o bem e poucos

que

cometem

ações

negativas.



ações

virtuosas

são

espontaneamente realizadas e ações negativas nunca são cometidas. Apenas este mundo está cheio de ações negativas e é desprovido de uma bondade natural. Devido à avareza as pessoas sofrem dores e enganam umas às outras. Suas mentes estão cansadas, seus corpos sentem dor, elas bebem dor e comem veneno. Elas se inquietam e não apresentam equanimidade.

(16) “Eu sinto compaixão por todos vocês, e irei lhes apresentar o caminho para realizar o bem. Utilizarei todos os meios para guiá-los à CEBB

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salvação de acordo com suas capacidades. Permitirei que atinjam a iluminação conforme desejarem. Onde quer que o Buda esteja, cidades, vilas ou vilarejos, ninguém ficará sem receber seus ensinamentos. Os diversos países se tornarão pacíficos. O sol e a lua brilharão de forma clara e pura. O vento e a chuva virão de acordo com as estações. Nenhum infortúnio cairá sobre a terra. O país será rico e as pessoas serão pacíficas. Não haverá necessidade de guerreiros ou de armas. A virtude será tida em alta estima e a benevolência prevalecerá. A dignidade será observada por todos os seres. “Minha compaixão por vocês é mais profunda que o amor dos pais por seus filhos. Agora eu me tornei o Buda neste mundo. Aniquilarei as cinco maldades, as cinco dores e os cinco fogos. Com o bem eu atacarei o mal, cortarei a raiz da causa do sofrimento, e farei com que as pessoas alcancem a cidadela do nirvana. Quando eu partir deste mundo a luz do ensinamento gradualmente enfraquecerá. As pessoas cometerão ações negativas e gradualmente afundarão. Vocês deveriam pensar sobre isto, aconselhar e alertar uns aos outros, e nunca desconsiderar os ensinamentos do Buda.” O bodisatva Maitreya, juntando suas mãos em prece, disse: “Como o Buda nos disse, este mundo é extremamente doloroso. Apenas o Buda tem compaixão por todas as pessoas do mundo de sofrimento e salva a todos. Eu preservarei os ensinamentos do Buda e nunca me desviarei deles.”

5. Vendo o Buda Amitayus (1) O Buda disse a Ananda: “Arrume seus mantos, junte suas mãos em prece e humildemente preste reverência ao Buda Amitayus. Todos os budas

CEBB

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sempre louvam esse Buda.” Ao ouvir isto, Ananda fitou a direção oeste e reverentemente juntou suas mãos, prostrou-se no solo e venerou o Buda Amitayus, dizendo: “Honrado pelo Mundo, eu desejo sinceramente ver a terra desse Buda e também todos os sábios dessa terra.” Tão pronto ele disse isto, o Buda Amitayus emitiu uma grande luz, brilhando sobre todas as terras de todos os budas. Tudo ficou resplandecente e colorido; era como uma grande enchente cobrindo todas as terras, submergindo todas as coisas sob as águas do oceano. As luzes cintilantes dos sábios estavam escondidas, e apenas a luz do Buda se espalhava. Quando Ananda olhou para o Buda Amitayus, ele era digno de assombro assim como o Monte Sumeru está acima de todas as outras montanhas. Todas as pessoas na assembleia viram imediatamente a terra do Buda, e as pessoas daquela terra também viram a assembleia no Pico dos Abutres.

(2) Então o bodisatva Maitreya disse ao Honrado pelo Mundo: “Eu observo que nessa Terra Pura aqueles que tiveram um nascimento vivíparo desfrutam vidas agradáveis no palácio, enquanto que aqueles que tiveram um nascimento metamórfico parecem ter diferentes estilos de vida. Quais são as razões para tal diferença?” O Buda disse a Maitreya: “As pessoas que não despertaram para a sabedoria maravilhosa do Buda por ainda terem dúvidas em suas mentes, mas que desejam nascer nessa terra, se evitarem o mal e praticarem ações virtuosas que tragam felicidade, renascerão em um palácio celestial onde não verão o Buda por quinhentos anos, não ouvirão seus sermões ou verão os sábios da terra. Este é o nascimento vivíparo. É como se o príncipe de um monarca universal fosse punido pelo rei e acorrentado com algemas de ouro CEBB

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em seu palácio. Aqueles que guardam dúvidas sobre a sabedoria do Buda enfrentarão um castigo similar ao desse príncipe. Entretanto, se as pessoas acreditarem sinceramente na sabedoria do Buda nascerão em flores de sete gemas, e serão adornadas pela luz da sabedoria e virtudes iguais às de todos os bodisatvas. Este é o nascimento metamórfico.” O Buda disse a Maitreya: “Se aqueles que tiveram nascimentos vivíparos reconhecerem a causa da maldade, arrependendo-se profundamente e desejando se libertar dali, eles poderão encontrar e venerar o Buda Amitayus. Maitreya, ao duvidarem da sabedoria do Buda as pessoas podem perder grande benefício. Você deveria acreditar na sabedoria suprema do Buda. Qualquer um que ouça o nome do Buda Amitayus e sinta alegria, mesmo por um instante, alcançará um grande benefício. Ele alcançará as virtudes mais elevadas. Portanto, Maitreya, mesmo que tenha que passar pelo grande fogo que toma os três mil grandes milhares de mundos, ele deve ouvir este ensinamento, acreditar nele e se regozijar com ele. Assim, ele nunca retrocederá no caminho para a iluminação.”

(3) O Buda disse a Maitreya: “Em eras posteriores, mesmo depois do dia em que os ensinamentos declinarem, permitirei que este sutra permaneça por mais cem anos, de modo que qualquer um que seja afortunado o bastante para encontrar este sutra possa alcançar a iluminação conforme aspirado. É difícil encontrar um Buda; é difícil encontrar bons amigos professores e ouvir os ensinamentos e praticar o caminho; o mais difícil de tudo é acreditar neles. Assim, eu compus meu ensinamento, preguei este ensinamento e o ensinei. Você deveria acreditar nele e praticar o que eu ensinei.” Então, quando o Honrado pelo Mundo ofereceu este discurso, incontáveis seres aspiraram seguir o caminho, destruíram as paixões e alcançaram o estado de não-retrocesso. Os três mil grandes milhares de CEBB

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mundos tremeram de alegria e uma grande luz brilhou sobre todos os mundos. Música celestial preencheu o ar espontaneamente, do céu caíram belas flores, e todos aqueles que ali estavam reunidos sentiram grande alegria.

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LIVRO VI Capítulo III - O SIGNIFICADO DO TATHAGATA

1. Uma Vida de Reverência

(1) Certa vez o Honrado pelo Mundo cruzou o rio Ganges e entrou em Vesali. Parando na grande floresta, ele iniciou um discurso para os seus discípulos: “Ó discípulos, imediatamente após ter atingido a iluminação, enquanto eu permanecia às margens do rio Neranjara na floresta perto de Uruvela, este pensamento veio até mim a partir do silêncio de meu coração: ‘Uma vida sem reverência e obediência é uma vida dolorosa. Quem eu posso reverenciar e honrar?’ Em seguida, pensei: ‘Se eu não tivesse sustentado algum preceito, então, de modo a segui-lo eu deveria passar o dia ouvindo o professor. Além disso, se houvesse algum aspecto da meditação, da sabedoria ou da emancipação que eu não tivesse completado, então, de modo a seguilos eu deveria passar o dia ouvindo o professor. Entretanto, em relação à sustentação dos preceitos, da meditação, da sabedoria e da emancipação não há ninguém maior do que eu. Por esta razão eu honro e reverencio o Darma para o qual despertei.’ “Ó discípulos, o deus Brahma surgiu quando pensei isto. Com seu manto dobrado sobre um ombro, ele juntou suas mãos e se curvou, dizendo: CEBB

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‘Honrado pelo Mundo, é realmente algo maravilhoso. Os budas do passado reverenciaram o Darma e os budas do futuro também farão o mesmo. Por favor, Honrado pelo Mundo, Buda do presente, passe seus dias reverenciando o Darma.’ Então, o deus Brahma assim relatou: ‘Os budas do passado, aqueles que se tornarão budas no futuro e os budas do presente que estão ajudando todos os seres sencientes a ultrapassarem seu sofrimento vivem suas vidas honrando o verdadeiro Darma. Este é o costume imutável de todos os budas. Se você deseja alcançar bem-estar e grandeza, pense no Darma do Buda e honre o Darma verdadeiro.’ “Ó discípulos, o deus Brahma, ao recitar este verso, curvou-se diante de mim. Então ele se voltou para a direita e desapareceu. Tendo compreendido o pensamento de Brahma eu decidi passar o dia reverenciando o Darma para o qual eu havia despertado.

(2) “Ó discípulos, o Tathagata, ao despertar para o sofrimento, libertouse das máculas deste mundo; despertando para a causa do sofrimento deste mundo ele se afastou desta causa; despertando para a cessação deste sofrimento ele compreendeu a cessação do sofrimento; despertando para o caminho que leva à cessação do sofrimento ele praticou este caminho que leva à cessação do sofrimento. Ó discípulos, todas as coisas deste mundo que deveriam

ser

vistas,

ouvidas,

lembradas

e

conhecidas

são

todas

compreendidas pelo Tathagata. É por isto que ele é chamado de Tathagata. O Tathagata, da aurora de sua iluminação até o entardecer de sua completa emancipação nunca disse falsidades. É por isto que ele é chamado de Tathagata. “Ó discípulos, o Tathagata age de acordo com seu ensinamento e ele ensina exatamente da forma como age. É por isto que ele é chamado de CEBB

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Tathagata. Ó discípulos, o Tathagata é supremamente vitorioso e ninguém pode vencê-lo. Ele é alguém que vê as coisas corretamente. É por isto que ele é chamado de Tathagata.”

(3) O Honrado pelo Mundo continuou sua viagem e novamente entrou no Bosque Jeta fora da cidade de Savatthi. Um dia, Ananda estava acompanhado de Vangisa ao entrarem na cidade para mendigar. Em certa rua eles encontraram uma bela donzela e a mente de Vangisa se distraiu, e ele não foi capaz de restringir a mente. Ele pediu a ajuda de Ananda. “Estou queimando com pensamentos de desejo, meu coração está em chamas. Por compaixão, ensine-me a verdade que extinguirá este fogo.” Ananda respondeu com um verso: “Devido a visões errôneas da realidade você dá origem ao desejo que queima seu coração. Destrua o apego aos objetos impuros. Compreenda que todas as coisas são impermanentes, são sofrimento e sem substância. Se você não deseja se inflamar vez após vez, elimine o desejo. Medite e concentre-se silenciosamente na impureza dos objetos.

Tenha

pensamentos

verdadeiros,

concentre-se

no

corpo

e

compreenda como ele é desagradável. Compreenda que as aparências não são verdadeiras e remova a paixão do orgulho. Controlando o coração orgulhoso, aja com um coração silencioso.”

(4) Vangisa foi, então, capaz de extinguir a chama de seu coração como se fosse com água pura. A donzela sorriu convidativa, mas o coração de Vangisa não se moveu. Concentrando-se na impureza ele escapou do perigo. Finalmente ele encontrara a fonte do desejo e compreendera que o pensamento era sua fonte. Ao retornar para o Buda, Vangisa relatou sua experiência daquele dia CEBB

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com o seguinte verso: “Desejo, sua fonte é o pensamento. Sem pensamentos você não mais existe. A forma é como espuma, a sensação é como uma bolha flutuante, a percepção é como os insetos efêmeros, a volição é como uma folha de bananeira, a consciência é como um sonho. Analisando os fenômenos de acordo com os ensinamentos do Buda, eu compreendi que todos eles são vazios, silenciosos e transitórios, e que não há nada real. Aquilo que é percebido como belo é, na verdade, impuro; aquilo que é percebido como duradouro é fraco. Meu próprio corpo se desmanchará, não há nada real.” O Honrado pelo Mundo regozijou-se com as palavras de Vangisa, e ensinou que realmente o corpo não é permanente e que ele facilmente se desestrutura, encorajando todos a pensarem sobre isto.

2. Indra (1) Certa vez o Honrado pelo Mundo estava residindo no Monastério Oriental na casa da mãe de Migara. O deus Indra o procurou e disse o seguinte: “Honrado pelo Mundo, por favor, diga-me apenas como seus discípulos, ao extinguirem a sede do desejo, atingem a liberação, alcançam o silêncio e se engajam em práticas devotadas, tornando-se assim os maiores neste mundo.” “Indra, meus discípulos aprenderam que suas diversas visões não eram válidas. Ao ouvirem meus ensinamentos eles chegam ao conhecimento completo dos fenômenos, vendo todos os fenômenos como impermanentes independente de quaisquer ideias que surjam. Simplesmente renunciando às

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visões errôneas sobre o mundo, meus discípulos superam o sofrimento. Eles ingressam no silêncio do nirvana por si mesmos e sabem que o ciclo de nascimentos e mortes acabou para eles; sabem que suas práticas religiosas foram alcançadas; sabem que aquilo que deveria ter sido completado foi completado; e sabem que para eles não há outra vida após esta. Ó Indra, de forma simples é assim que meus discípulos, extinguindo a sede do desejo, atingem a emancipação, tornam-se perfeitos e se tornam os maiores neste mundo.” Indra se regozijou com o ensinamento do Honrado pelo Mundo, e curvando-se diante dele, virou para a direita e retornou aos céus.

(2) Naquele momento, Moggallana, que estava próximo do Honrado pelo Mundo e que ouviu esta conversa, pensou o seguinte: “Eu me pergunto se Indra realmente entendeu e se regozijou com os ensinamentos do Buda. Vou testá-lo.” Imediatamente ele desapareceu do jardim do templo e se manifestou nos céus. Naquele momento, Indra estava sendo entretido por quinhentos músicos, sentado em um jardim onde lótus desabrochavam. Ao ver Moggallana se aproximar à distância, ele se levantou. “Ó Ser Honrado, bem-vindo, por favor, sente-se.” Moggallana disse: “Indra, eu ficaria realmente grato em ouvir o ensinamento que você ouviu do Honrado pelo Mundo relativo à extinção da sede do desejo e à realização da emancipação.” “Ó Honrado, estamos muito ocupados, com muitas coisas para fazer para nós mesmos e para os céus. Entretanto, eu ouvi atentamente, compreendi, memorizei bem os ensinamentos do Honrado pelo Mundo que me foram expostos e nunca os esquecerei. “Ó Honrado, muito tempo atrás os deuses e os titãs lutaram. Naquele CEBB

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tempo os deuses derrotaram os titãs, e ao retornar eu construí como lembrança da vitória um palácio chamado de Castelo da Vitória. Este palácio possui dez mil colunas, cada uma com cem torres de sete andares. Em cada uma das torres há quarenta e nove princesas celestiais, cada uma com quarenta e nove atendentes. Ó Honrado, você deseja ver este Castelo da Vitória?” Assentindo em concordância, Moggallana seguiu o desejo de Indra. Acompanhado por Vissavana, Indra guiou Moggallana e foi na direção do palácio. As princesas e donzelas, ao verem Moggallana, um ser santo que havia abandonado o lar e se afastado do desejo, enrubesceram como noivas e fugiram para seus quartos.

(3) Indra, acompanhado por Vissavana, apontou coisas aqui e ali no palácio para Moggallana e disse o seguinte: “Honrado, olhe para isto. Os ornamentos neste céu de Tavatimsa são tão esplêndidos devido ao mérito que eu conquistei em minhas vidas passadas. É por isto que quando as pessoas na terra veem alguma coisa bela elas usam a expressão ‘tão belo quanto o céu de Tavatimsa.’ Isto, de fato, depende completamente do mérito de minhas vidas anteriores.” Moggallana pensou: “Exatamente como supus, este deus está embriagado por sua própria glória e é arrastado pelo excesso de prazeres. Vou assustá-lo.” Pensando assim, ele colocou um dedo do pé em um canto do edifício do palácio; o palácio tremeu e parecia prestes a cair. Todos os deuses, até mesmo Indra, foram surpreendidos e se aterrorizaram. “Que poder divino assombroso! Com apenas um toque de um dedo este tremor foi causado, que aterrorizante!” Dizendo isto, todos menos Indra fugiram completamente atônitos. CEBB

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Moggallana olhou para o amedrontado Indra que estava com os cabelos em pé, e perguntou tranquilamente a mesma questão novamente: “Indra, eu realmente ficaria grato em ouvir o ensinamento que você ouviu do Honrado pelo Mundo relativo à extinção da sede do desejo e à realização da emancipação.” Com relutância, Indra contou a Moggallana o que havia perguntado ao Buda e qual havia sido a resposta. Ao ouvir estas palavras, Moggallana retornou à terra. As princesas celestiais circundaram Indra e se levantaram com vozes assustadas, dizendo: “Ó Senhor, a pessoa que estava com você era o Honrado pelo Mundo?” ”Não, não era o mestre. Ele é meu companheiro de aprendizado chamado Moggallana.” “Ó Senhor, você é muito afortunado por ter um companheiro de aprendizado dotado de tão grande poder divino. Se um discípulo possui tal poder, imagine a grandeza de seu mestre, o Honrado pelo Mundo.” Mogallana retornou ao Monastério Oriental, narrou este episódio e ouviu o ensinamento do Honrado pelo Mundo deliciado.

3. A Isca do Caçador (1) O Honrado pelo Mundo ensinou seus discípulos e disse: “Ó discípulos, quando um caçador lança sua isca, não é para que os cervos possam desfrutar de vidas longas e saudáveis. Ele o faz para atraí-los, fazendo com que se tornem descuidados e caiam em suas mãos. Existem quatro tipos de cervos em relação à reação diante da isca. “O primeiro tipo são aqueles que, imediatamente enganados pela isca,

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tornam-se descuidados e assim caem nas mãos do caçador. O segundo tipo são aqueles que, ao verem o primeiro grupo, afastam-se da isca assustadora e se escondem nas profundezas da floresta. Entretanto, no calor do verão sua comida desaparece; devido à fraca determinação, eles voltam para a isca, tornam-se descuidados e são apanhados pelo caçador. O terceiro tipo são aqueles que, tendo observado os outros cervos, são cautelosos. Eles retornam para a isca, mas evitam tornar-se descuidados. Construindo abrigos próximos à isca, eles a comem, evitando os descuidos, e não caem na armadilha do caçador. Mas o caçador constrói uma armadilha perto da área da isca, e finalmente eles caem nela e nas mãos do caçador. O quarto tipo são aqueles que, tendo observado os outros cervos, constroem refúgios além do alcance do caçador. Estes evitam confiar em outros, evitam cair em descuido ou em armadilhas, comem a isca do caçador e retornam para seus refúgios. O caçador não pode fazer nada além de desistir e deixar esses cervos em sua liberdade. Esses cervos, em resumo, estão além do poder do caçador. “Ó discípulos, a isca são os cinco desejos, o caçador é Mara, o tentador, e os cervos são os alunos do caminho. Os alunos do caminho que se embriagam com os cinco desejos são os prisioneiros de Mara. Aqueles que se escondem nas profundezas da floresta são os ermitões que se separam das pessoas e que vivem com comida muito simples. Entretanto, no verão a comida desaparece e sua determinação enfraquece; assim, eles abandonam o caminho e caem nos cinco desejos, caindo nas mãos de Mara. Construir um abrigo próximo à isca é não cair nos cinco desejos e evitar tornar-se descuidado. Entretanto, mesmo assim, aqueles que fazem isto podem cair em discursos inúteis e no apego a se o mundo é eterno ou não, se ele tem um limite ou não, assim caindo nas mãos de Mara. Construir um refúgio fora do alcance do caçador é afastar-se do desejo e da impureza e entrar no silêncio CEBB

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da meditação, controlando o próprio coração e fortalecendo a determinação. Isto é deixar para trás as confusões de Mara, cegando-o ao destruir seus olhos.

(2) “Ó discípulos, sigam os preceitos e evitem as transgressões. Ajam adequadamente, vejam o perigo mesmo da menor transgressão, e incansavelmente pratiquem o caminho. Todos vocês, se desejam ser amados e respeitados por seus companheiros discípulos, sustentem completamente os preceitos, dediquem-se à meditação e vivam em lugares silenciosos. Se vocês desejam grandes benefícios para aqueles que lhes oferecem roupas, alimento, alojamento e remédios, então sustentem os preceitos perfeitamente, dediquem-se à meditação e vivam em lugares silenciosos. Se vocês amam parentes que já morreram, então observem os preceitos perfeitamente, dediquem-se à meditação e vivam em lugares silenciosos. Além disso, se vocês estão se aborrecendo com pensamentos de insatisfação e medo que são indesejados, observem os preceitos perfeitamente, dediquem-se à meditação e vivam em lugares silenciosos. Se vocês desejam ser como os budas que gradualmente destruíram as paixões do desejo, da raiva e da ignorância em seus corações e que fizeram o que havia para ser feito, então sustentem os preceitos perfeitamente, dediquem-se à meditação e vivam em lugares silenciosos.”

4. A Rainha Srimala (1) O Rei Pasenadi e a Rainha Mallika gradualmente se aproximaram

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dos ensinamentos do Honrado pelo Mundo. Pensando em sua filha, a Rainha Srimala de Ayodhya, eles disseram o seguinte: “Nossa filha é sábia e possui a qualidade de rapidamente despertar para a verdade; portanto, se ela encontrasse o Buda despertaria certamente para o Darma. Vamos enviar um mensageiro de forma que a aspiração de seguir o caminho possa despertar nela.” Uma breve carta louvando o mérito do Buda foi enviada por um oficial do palácio e entregue à Rainha Srimala. A rainha recebeu a carta alegremente, e ao lê-la se regozijou e disse ao mensageiro: “Anteriormente eu ouvi que as palavras do Buda são supremas. Se o que está escrito nesta carta é verdade, eu receberei suas instruções.” Olhando para o céu sobre Sravasti ela clamou: “Honrado pelo Mundo, você veio para este mundo para o benefício de todas as pessoas. Por favor, tenha piedade de mim e permita-me curvar-me diante de você.” Guiando seus discípulos, o Honrado pelo Mundo logo apareceu em Ayodhya. A rainha saudou o Honrado pelo Mundo e o louvou em versos:

Ó Buda, sua forma assombrosa e sabedoria são incomparáveis; você atingiu o estado búdico, que nunca perecerá. É por isto que tomo refúgio em você.

Você superou todas as falhas de corpo, fala e mente, e assim entrou no estado de Buda. É por isto que me curvo diante de você, ó rei do Darma.

Você conhece todas as coisas que podem ser conhecidas, e sua sabedoria está livre da delusão. É por isto que respeitosamente eu CEBB

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me curvo diante de você que é incomparável e cujo mérito é insondável.

Com compaixão me proteja e faça com que minha fé se aprofunde ainda mais. Possa o Buda me aceitar como seguidora nesta e em todas as vidas futuras.

O Honrado pelo Mundo disse: “Muito tempo atrás eu pacifiquei sua mente e naquela vida anterior eu a iluminei. Agora, novamente eu a recebo e no futuro farei o mesmo mais uma vez.” A rainha disse: “Se é assim, eu conquistei méritos em minhas vidas passadas e, portanto, nesta e nas vidas futuras eu devo novamente acumular virtudes. Por favor, permita-me tornarme sua seguidora.” O Honrado pelo Mundo disse: “Agora você está preenchida pela virtude real e pelo mérito do Buda, e com este mérito você terá liberdade perfeita em sua vida futura. Você será capaz de me ver em qualquer lugar a qualquer tempo. Mais adiante você mesma se tornará buda, e sua terra estará livre até mesmo dos nomes da maldade. Nem haverá velhice, doença, decrepitude ou sofrimento. As vidas e corpos dos seres de lá estarão plenos de alegria, e pessoas que despertaram para o caminho e que praticaram o bem se reunirão ali.”

(2) A Rainha Srimala, ao ouvir sobre o dia futuro da sua iluminação, respeitosamente se levantou e fez dez votos: “Honrado pelo Mundo, de agora até eu alcançar a iluminação eu faço o voto de agir da seguinte forma: 1. Eu nunca quebrarei nenhum preceito. 2. Eu nunca desrespeitarei meus professores. CEBB

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3. Eu nunca me enraivecerei com ninguém. 4. Eu nunca terei inveja da aparência ou das posses de outras pessoas. 5. Eu nunca serei avarenta em qualquer assunto espiritual ou material. 6. Eu nunca acumularei riquezas para mim mesma; oferecerei tudo que receber para os pobres, tornando-os felizes. 7. Através da generosidade, fala agradável e ações benéficas, converterei as pessoas para seu próprio benefício, nunca para o meu próprio. Converterei todas as pessoas incansavelmente, com um coração livre de impureza e impedimentos. 8. Ao ver pessoas perturbadas, aprisionadas ou sofrendo doenças ou outras dores, ensinarei o Darma imediatamente com o propósito de confortálas, salvando-as de seu sofrimento. 9. Ao ver caçadores capturando e ferindo animais ou aqueles que violam os preceitos, enquanto minha força durar eu punirei aqueles que devem ser punidos e aconselharei aqueles que devem ser aconselhados, colocando um fim em suas ações negativas. Com tais punições e conselhos o Darma durará para sempre. Fazendo com que a alegria transborde e que a dor diminua, farei com que o ensinamento do Buda se dissemine ainda mais. 10. Eu nunca esquecerei o verdadeiro Darma. Aqueles que esquecem o verdadeiro Darma não poderão cruzar para a margem da iluminação. Quando as pessoas se esquecem do verdadeiro Darma elas deixam tudo a cargo de seus impulsos e são incapazes de ir além deste mundo de sofrimento. Vendo tais desgraças e vendo também os benefícios ilimitados que advêm para aqueles que seguem o verdadeiro Darma neste mundo, eu faço estes votos. “Ó Honrado pelo Mundo, rei do Darma, por favor, seja minha testemunha. Mesmo estes votos sendo feitos em sua presença, algumas CEBB

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pessoas, devido à falta de raízes de bondade, não serão capazes de sustentar estes dez votos. Ou, dando nascimento a dúvidas, elas cairão nos prazeres dos destinos negativos e poderão nunca alcançar a verdadeira bemaventurança. Para proteger estas pessoas eu faço estes votos, e pretendo sustentá-los. Se não há nada falso nestes votos, então que os deuses façam chover flores dos céus e que uma música maravilhosa possa ser ouvida.” Naquele momento flores caíram dos céus e uma voz maravilhosa se elevou: “Tudo o que você disse é verdade.” Para todos aqueles que viram e que ouviram isto, as dúvidas mentais desapareceram e foram preenchidas por alegria ilimitada. Todas elas fizeram o voto: “Nós sempre estaremos junto da Rainha Srimala.” O Honrado pelo Mundo confirmou que os votos de todas as pessoas na assembleia eram idênticos aos dela.

5. Os Três Grandes Votos (1) A rainha também fez outros três grandes votos diante do Honrado pelo Mundo:

(i) Pela virtude deste voto verdadeiro e real e pelas raízes de bondade que acumulei, possa eu conquistar a sabedoria do verdadeiro Darma independente do tipo de nascimento que obtenha.

(ii) Após atingir a sabedoria do verdadeiro Darma possa eu incansavelmente ensinar outras pessoas.

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(iii) Deixando de lado toda preocupação com minha vida ou ganhos materiais, possa eu aperfeiçoar o verdadeiro Darma.

Naquele momento, o Honrado pelo Mundo serviu de testemunha para os três grandes votos da rainha. “Como todas as coisas materiais são envolvidas pelo espaço, os incontáveis votos dos bodisatvas estão incluídos nestes três grandes votos. Esses votos são verdadeiros, reais e grandiosos.” A rainha disse ao Honrado pelo Mundo novamente: “Eu desejo receber o poder da eloquência do Honrado pelo Mundo agora, de forma que possa ensinar a verdade do grande voto. Todos os votos dos bodisatvas estão contidos em um único grande voto, o voto de aperfeiçoar o verdadeiro Darma.” O Honrado pelo Mundo louvou a rainha, dizendo: “Muito bom, realmente, ó rainha! Sua profunda sabedoria e meios hábeis são muito superiores. Até agora você tem cultivado uma variedade de raízes de bondade. As pessoas do futuro que, como você, praticarem a bondade por um longo tempo, falarão como você. De fato, os budas dos três tempos, passado, presente e futuro, todos ensinam como você ensinou agora sobre o aperfeiçoamento do verdadeiro Darma. Eu também, ao atingir a iluminação tenho sempre ensinado esse Darma. O mérito e benefícios de aperfeiçoar o verdadeiro Darma não possuem limites; e aquele que o aperfeiçoa, o Buda, não tem limites em sua sabedoria ou seu método de ensinamento.”

(2) Então, a rainha disse: “Tendo recebido a força do Honrado pelo Mundo, o pensamento de ensinar a verdade do aperfeiçoamento do verdadeiro Darma surge em mim novamente. A grandiosidade do poder do aperfeiçoamento do verdadeiro Darma não pode ser medida. Acima de tudo, CEBB

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é a aquisição de todo o Darma do Buda, que abrange oitenta e quatro mil ensinamentos. Diz-se que quando um mundo é criado pela primeira vez, uma grande nuvem surge e dela caem chuvas de uma variedade de cores e de joias. Da mesma forma, quando o verdadeiro Darma é aperfeiçoado, chuvas de felicidade ilimitada e de bondade são derramadas. “Honrado pelo Mundo, porém, quando o mundo foi inicialmente criado, em meio às águas foram criados os continentes e ilhas do mundo. Da mesma forma, aperfeiçoar o verdadeiro Darma significa que a variedade de ensinamentos nos quais todos os seres vivos acreditam, o poder espiritual de todos os sábios, a felicidade e a paz deste mundo, e a verdadeira alegria do mundo além deste foram criados. Quando este mundo foi criado essas coisas difíceis de conseguir mesmo para os deuses e humanos emergiram a partir do Darma. E também, assim como a grande terra dá suporte a quatro coisas: oceanos, montanhas, árvores e grama, e animais, aqueles que aperfeiçoam o verdadeiro Darma se tornam como a própria terra e suportam quatro tipos de grandes fardos. O primeiro é ensinar aos bons como instruir aqueles que, sem ter bons professores, não ouvem o Darma e, assim, não o aperfeiçoando. O segundo é oferecer um ensinamento apropriado para aqueles que, ouvindo seriamente os ensinamentos, buscam alcançar a iluminação por si próprios. O terceiro é oferecer o ensinamento apropriado para aqueles que, ao contemplarem a realidade do cosmos, tentam atingir a iluminação por si próprios. O quarto é oferecer o ensinamento apropriado para aqueles que, seguindo o caminho para si mesmos e para os outros, tentam alcançar a grande iluminação. Honrado pelo Mundo, a pessoa que aperfeiçoa o Darma desta maneira suporta quatro grandes fardos. Para o bem de todas as pessoas ela se torna a mãe do Darma que, mesmo sem ser solicitada, torna-se uma amiga que ensina e conforta e ama. CEBB

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(3) “Honrado pelo Mundo, o verdadeiro Darma aperfeiçoado e o aperfeiçoamento do verdadeiro Darma não são coisas separadas. O verdadeiro Darma é aperfeiçoar o verdadeiro Darma. “Honrado pelo Mundo, além do mais, alcançar a margem da iluminação e aperfeiçoar o verdadeiro Darma não são coisas separadas. Em outras palavras, aperfeiçoar o verdadeiro Darma é alcançar a margem da iluminação. A razão para isto é que, seja a pessoa que tenta aperfeiçoar o Darma homem ou mulher, essa pessoa em primeiro lugar se baseia na generosidade. Isto é, mesmo que o corpo fosse mutilado, ela sustenta a aspiração e realiza a ação da generosidade. Essas pessoas aperfeiçoam o verdadeiro Darma e agem de acordo. Este é o significado de ‘Através da generosidade a iluminação é alcançada.’ Segundo, através da disciplina os cinco sentidos são restringidos e as ações de corpo, fala e mente são purificadas. Terceiro, através da paciência não importa o quanto for abusada ou envergonhada, ela não tem medo ou raiva, o poder da paciência se fortalece, e o coração de beneficiar os outros se torna mais forte. Mesmo a cor do rosto não se altera. Quarto, através da prática zelosa ela evita qualquer enfraquecimento do esforço e preguiça mental e a conduta correta sempre é mantida. Quinto, através da meditação uma mente perturbada e uma mente distraída são estabilizadas e o pensamento correto é realizado. Sexto, a sabedoria é aperfeiçoada e assim toda a verdade, aprendizado e métodos são aperfeiçoados. Desta forma, através de cada atividade o verdadeiro Darma é aperfeiçoado. Desta forma a margem da iluminação é alcançada.”

(4) Recebendo a permissão do Honrado pelo Mundo mais uma vez e pelo poder da eloquência do Buda ela expôs sobre o grande significado do CEBB

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aperfeiçoamento do Darma. “Honrado pelo Mundo, dizer que o verdadeiro Darma que é corretamente aperfeiçoado e o aperfeiçoamento do Darma não são diferentes é dizer que as pessoas que aperfeiçoam o verdadeiro Darma são elas mesmas a realização do verdadeiro Darma. A razão para isto é que a pessoa que aperfeiçoa o verdadeiro Darma abandona três coisas para este propósito. Estas três coisas são o corpo, a vida e a riqueza material. Primeiro, se o corpo é abandonado há liberdade neste mundo e no próximo da velhice, doença e morte, e é alcançado o corpo do Darma indestrutível. Segundo, se a vida é abandonada a virtude atemporal é conquistada e são alcançadas as profundezas do Darma do Buda. Terceiro, se a riqueza material é abandonada uma virtude inexaurível inatingível pelos ignorantes é alcançada, e o respeito de todas as pessoas é conquistado. Honrado pelo Mundo, desta forma as pessoas que abandonam estas três coisas, tendo captado a essência do verdadeiro Darma, recebem a avaliação e a aprovação do Buda e o respeito de todas as pessoas. “Honrado pelo Mundo, além disso, quando o Darma estiver prestes a perecer, e os homens e mulheres da Sanga formarem facções para difamar uns aos outros, arruinando o ensinamento e destruindo a harmonia do grupo, aquelas pessoas que aperfeiçoaram o verdadeiro Darma, amando o Darma com corações livres de bajulação, engano ou mentiras, e apoiando-se no verdadeiro Darma, conduzirão essas pessoas à Sanga que se atém ao verdadeiro Darma. “Honrado pelo Mundo, desta forma eu enxerguei no aperfeiçoamento do verdadeiro Darma um grande poder. Desde o início o Buda repousa no estado do verdadeiro olho espiritual, na verdadeira sabedoria e na verdadeira natureza do Darma. Tendo realizado o Darma ele é a fundação do verdadeiro Darma. Eu acredito, portanto, que ele tem conhecimento de todas CEBB

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as coisas.”

(5) O Honrado pelo Mundo ficou satisfeito com o ensinamento da rainha sobre a grandeza do poder do aperfeiçoamento do verdadeiro Darma. “Ó Rainha, é como você disse. O poder do aperfeiçoamento do verdadeiro Darma é realmente grandioso. Como um homem forte ao apenas tocar o corpo de outra pessoa causa dor, também o aperfeiçoamento mesmo parcial do verdadeiro Darma é doloroso para Mara. Qualquer bem que cause dor a Mara é incomparável mesmo ao menor poder do aperfeiçoamento do verdadeiro Darma. Assim como a forma do poderoso rei dos touros é superior a de todo o gado, o aperfeiçoamento do verdadeiro Darma é superior a tanto seguir firmemente o ensinamento de seu professor quanto a cultivar os próprios pensamentos. O Monte Sumeru paira majestosamente acima dos picos das outras montanhas. Assim como o Monte Sumeru, sustentar o verdadeiro Darma ao abandonar o próprio corpo, vida e riquezas para o benefício do Darma é um sacrifício enorme que se eleva acima de todas as outras ações positivas. Portanto, ó Rainha, guie os outros ensinando o aperfeiçoamento do verdadeiro Darma. Mostre a eles que viver de acordo com o verdadeiro Darma é bom. Mesmo que eu tentasse ensinar infinitamente sobre seus méritos e benefícios, nunca seria capaz de exaurir este ensinamento.”

(6) A rainha disse: “Honrado pelo Mundo, aperfeiçoar o verdadeiro Darma é apontar para o coração do Mahayana. E por que é assim? Assim como todas as sementes nascem e crescem a partir do solo, todos os darmas positivos do mundo nascem e crescem a partir do coração do Mahayana. Portanto, Honrado pelo Mundo, basear-se no coração do Mahayana e ater-se CEBB

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a ele é equivalente a corporificar todos os outros bons ensinamentos. Honrado pelo Mundo, existem dois tipos de paixões. Uma é a paixão fundamental na qual se dá a distorção das visões como resultado de estar confuso sobre a verdade. A segunda é a distorção do pensamento como resultado de estar confuso entre as coisas fenomênicas. As duas são paixões fundamentais, mas o que surge de tempos em tempos de acordo com tal mente que as possui é chamado de paixão emergente. As distorções da visão e do pensamento são bases para todas as outras paixões; se sua base é investigada, ela é a ignorância. A ignorância é mais poderosa que os obscurecimentos das visões e pensamentos distorcidos, como o poderoso Rei Mara, que tem influência e que faz como deseja no reino mais elevado do desejo. A ignorância dá nascimento aos obscurecimentos das visões e dos pensamentos distorcidos e trabalha para manter sua continuidade. “Honrado pelo Mundo, a pessoa que sinceramente e ardentemente segue os ensinamentos de seu mestre, deseja alcançar o despertar, e que deseja por si mesma alcançar a iluminação, rapidamente e por seu próprio poder corta as duas paixões da visão e do pensamento. Entretanto, enquanto não for capaz de cortar a ignorância, as paixões que surgem desta paixão da ignorância a impedem, e ela é incapaz de conhecer o Darma completamente. Visto que é incapaz de conhecer o Darma, ela é incapaz de cortar aquilo que deve ser cortado. Portanto, sua iluminação não poder ser chamada de real iluminação. Ela apenas conquistou um simulacro do nirvana, nada mais. Entretanto, se ela se conscientizar de todo o sofrimento e cortar essa causa fundamental que é a base de todas as paixões, se ela despertar para todos os fatos que precisam ser destruídos, e se ela praticar o caminho correto, então neste mundo transitório e doloroso ela alcançará a iluminação atemporal. Neste mundo não-confiável ela se tornará a fonte da confiança absoluta. Em CEBB

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um mundo sem garantias ela se tornará seu protetor. E por que é assim? A base de todas as paixões, a ignorância, foi completamente cortada; portanto, o mundo que se descortina é completamente livre de diferenciações. Não há darmas superiores ou inferiores, há a sabedoria indiferenciada, a emancipação e a pureza; e o nirvana que apresenta um único sabor. Assim, a pessoa que realiza todo o Darma do Buda não encontra impedimentos e conquista a sabedoria onisciente e a virtude. Tornando-se um rei do Darma, que se tornará um buda, ela possuirá o poder de agir livremente; será capaz de expor o Darma com o poder de um leão que aterroriza todos os outros animais com seu rugido.

(7) “Honrado pelo Mundo, vamos considerar aqueles que desejam alcançar a emancipação rapidamente cortando as paixões das visões e pensamentos distorcidos, assim alcançando um certo grau de silêncio na crença de que não retrocederão para o estado doloroso da delusão. Esta é apenas uma iluminação inferior. Mas no final, mesmo eles alcançarão a iluminação indiferenciada, absoluta e verdadeira, se ao refletirem sobre o Darma que realizaram até o momento, perceberem que devem seguir trilhando o caminho. E por que é assim? Aqueles que ainda não realizaram os ensinamentos completos se esforçam para atingi-los. O ensinamento completo é o Mahayana, e este é o veículo através do qual alguém se torna um buda. Neste sentido todos os ensinamentos são, de sua própria forma, o Veículo Único do Buda ou Ekayana. Aqueles que conquistam este veículo recebem o caminho da iluminação suprema e real, o nirvana, o Darmakaya do Buda. Em outras palavras, o Veículo Único do Buda é a profundidade de todos os ensinamentos, o estado para o qual todas as coisas finalmente prosseguem, o lar de todas as coisas, o lar dos ensinamentos. Além disso, é o CEBB

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Darmakaya, o corpo fundamental de todas as coisas. Em outras palavras, é o Buda atemporal. Assim, Honrado pelo Mundo, o Buda é atemporal e ilimitado, e com compaixão ilimitada ele cuida e conforta todas as pessoas. O Buda é realmente assim. Além disso, o Darma inexaurível, atemporal é aquilo no que todas as pessoas se apoiam. “Honrado pelo Mundo, o Buda é aquele no qual todos os seres tomam refúgio para sempre, e seu Darma é o caminho do Veículo Único do Buda. Se a Sanga que pratica o caminho não encontrar o caminho real, então aquele caminho não pode ser chamado de local atemporal no qual se toma refúgio. Portanto, se houver uma pessoa que seja disciplinada pelo Buda, que confie no Buda, que desperte uma mente de fé de acordo com os ensinamentos, e que confie no Darma e na Sanga, então essa é uma pessoa que toma refúgio no Buda. E por que é assim? Aquela pessoa é alguém que confia na realidade absoluta, ou seja, no Buda. Confiar no Buda é confiar no Darma e na Sanga. “Assim, Honrado pelo Mundo, o ponto central daquilo que o Buda ensina é o Veículo Único do Buda. Aqueles ensinamentos que estão de acordo com tempo e localização, aqueles ensinamentos que são adequados, todos entram no Mahayana e são o Mahayana, assim como são ensinamentos do Veículo Único, o veículo absoluto.”

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LIVRO VI Capítulo IV - REALIZANDO O CAMINHO PARA A EMANCIPAÇÃO

1. Moggallana e Punna

(1) Certa vez, Moggallana estava sozinho no Bosque Bhesakala no Parque dos Cervos, perto de Sumsumaragiri no país de Bhagga. Enquanto Moggallana caminhava silenciosamente pelos campos, um Mara entrou em seu estômago e se escondeu ali. Moggallana sentiu um peso como se houvesse um caroço em seu estômago, interrompeu sua caminhada, entrou em um quarto, refletiu sobre isto, percebeu que era Mara, e disse: “Mara, saia. Você não deveria perturbar o Buda ou um discípulo do Buda, porque isto trará tristezas infinitas para você.” O Mara pensou: “Este monge mesmo sem me ver me diz para sair. Mesmo seu mestre não seria capaz de me perceber tão rapidamente; como pode um simples discípulo possuir tal habilidade?” Moggallana disse: “Mara, eu o percebi e sei sobre o que está pensando.” O Mara, surpreso, pulou para fora pela boca de Moggallana e ficou em cima da moldura da porta. “Mara”, disse Mogallana, “você não deve achar que eu não o vejo. Você está sobre o topo da moldura da porta. Muito tempo atrás eu era um Mara chamado de Dusin, e você era o filho de minha irmã Kali. Naquele tempo o Buda Kakusandha surgiu neste mundo, ele possuía dois CEBB

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grandes discípulos, Vidhura e Sanjiva. A sabedoria de Vidhura era superior e ele era o mais habilidoso nos ensinamentos. Sanjiva era mais habilidoso na meditação. Uma vez, quando ele entrou em meditação e extinguiu todos os pensamentos e percepções, as pessoas do vilarejo acharam que ele estava morto, e conduziram um funeral para ele. No nascer do dia, saindo de sua meditação, ele extinguiu as chamas da pira funeral e tomou sua tigela, saindo para mendigar. Foi apenas assim que eles perceberam que ele ainda estava vivo. “Um dia, o Mara Dusin pensou: ‘Eu não sei de onde vêm estes discípulos que sustentam os preceitos corretamente, nem sei para onde eles vão. Vou aproveitar esta oportunidade para entrar nos corações e mentes das pessoas do vilarejo; difamando e causando problemas para estes discípulos, desestabilizarei seus corações e mentes.’ As pessoas, então, abusaram dos discípulos. Entretanto, aqueles que falavam mal dos discípulos – ‘Ó monges sujos e carecas, homens parasitas desocupados, vocês são como corujas no galho de uma árvore apenas esperando por um rato lá embaixo, homens desocupados sempre procurando por algo lá embaixo para agarrar’ – caíram nos infernos após suas mortes. “O Buda ensinou seus discípulos: ‘Toda a difamação e os abusos se devem ao Mara Dusin. Discípulos, cultivem corações e mentes de compaixão, caridade, alegria e equanimidade.’ Ao receberem este ensinamento, os corações e as mentes dos discípulos não se abalaram com as difamações, e eles entraram na floresta e praticaram as quatro mentes incomensuráveis.

(2) “Assim, o Mara Dusin não conseguiu aproveitar esta oportunidade para desestabilizar suas mentes através de abusos e difamação. Dali em diante ele permitiu que as pessoas honrassem e apoiassem os discípulos. CEBB

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Aqueles que honravam e apoiavam os discípulos renasciam em reinos celestiais após suas mortes. O Buda ensinou os discípulos: “Esta honra e apoio também são obra do Mara Dusin. Cuidem-se e não permitam que seus corações e mentes se abalem, oferecendo a ele uma chance. Compreendam que seus corpos são impuros e que a vida é sofrimento e impermanente, e vivam de acordo.’ Os discípulos não se comoveram com as honras e apoio, e praticaram o caminho que leva à realização dos ensinamentos sobre sofrimento, vacuidade, impermanência e ausência de identidades. “Como estes dois esquemas não deram resultados, um dia quando o Buda e Vidhura estavam mendigando na vila, o Mara Dusin entrou no coração de uma criança e, tomando um caco de cerâmica, lançou-o contra a cabeça de Vidhura. Vidhura, sem nem olhar para trás, seguiu o Buda, deixando o sangue escorrer da ferida em sua cabeça. Ao olhar para a sua cabeça, o Buda disse: ‘Mara Dusin não conhece nenhum limite em seu comportamento errôneo.’ Dusin, sendo engolido pela grande terra, caiu nos infernos. Daquele momento em diante, Dusin experimentou infinitamente as crescentes dores do inferno. “Ó Mara, você não deveria incomodar os discípulos do Buda. Isto será a causa de um destino infinitamente negativo para você. Pensar que o mal gerado não voltará para você é um engano. Você acumulou a maldade de muitas e longas noites. Você não deveria chegar perto do Buda, e faria melhor em não confundir seus discípulos.” O Mara, percebido por Moggallana, ficou desconsolado e desapareceu.

(3) Certa noite Punna saiu de sua meditação, aproximou-se do Honrado pelo Mundo e disse: “Honrado pelo Mundo, eu gostaria de ouvir um ensinamento sucinto. Tendo ouvido esse ensinamento, eu gostaria de viver CEBB

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em silêncio e só. Eu gostaria de me concentrar na superação da negligência e de me esforçar com diligência.” “Punna, se é assim, ouça cuidadosamente. A forma que os olhos veem, o som que os ouvidos ouvem, o odor que o nariz cheira, o sabor que a língua prova e a sensação que o corpo sente são coisas encantadoras e prazerosas para os sentidos, fazendo com que o desejo surja. Se você se deliciar com elas, desejá-las e se apegar a elas, então o prazer surgirá. Punna, como eu disse, a causa do prazer é a causa do sofrimento. Além do mais, eu também tenho dito que se você não se encantar com elas, não desejá-las e não se apegar a elas, então o prazer não surgirá. Punna, se o prazer não surgir o sofrimento não surgirá. Punna, tendo recebido este ensinamento sucinto, diga-me onde você planeja viver.” “Honrado pelo Mundo, tendo recebido os ensinamentos, eu planejo viver em Sunaparanta.” “Punna, as pessoas de Sunaparanta são ferozes e violentas. Se elas o ridicularizarem e o envergonharem, o que você fará?” “Honrado pelo Mundo, nessa situação, eu pensarei que uma vez que as pessoas de Sunaparanta são boas por natureza, elas não me acertarão com seus punhos.” “Punna, se as pessoas o acertarem com seus punhos, o que você fará?” “Honrado pelo Mundo, nessa situação eu pensarei que uma vez que as pessoas de Sunaparanta são boas por natureza, elas não jogarão torrões de sujeira em mim, ou me baterão com varas.” “Punna, se essas pessoas lançarem torrões de sujeira em você e o surrarem com varas, o que você fará?” “Honrado pelo Mundo, nessa situação eu pensarei que uma vez que as pessoas de Sunaparanta são boas por natureza, elas não me cortarão com espadas.” “Punna, se essas pessoas o cortarem com espadas, o que você fará?” “Honrado pelo Mundo, nessa situação eu pensarei que uma vez que as pessoas de Sunaparanta são boas por natureza, elas não tomarão minha CEBB

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vida.” “Punna, se essas pessoas tentarem tomar sua vida, o que você fará?” “Honrado pelo Mundo, nessa situação eu pensarei que os discípulos do Buda, tendo aversão por este corpo impuro e esta vida, anseiam pela morte; e pensarei que fui capaz de encontrar a morte que é difícil de realizar.” “Muito bem, realmente, Punna, você alcançou a autodisciplina e o silêncio, e assim pode viver em Sunaparanta. Punna, vá conforme seu desejo.” Punna se regozijou com o ensinamento do Honrado pelo Mundo e jogou fora seu tapete. Tomando seu manto e tigela de mendicância, ele viajou para

Sunaparanta.

Imediatamente

ao

chegar



ele

transmitiu

os

ensinamentos do Buda. Naquele ano ele reuniu quinhentos seguidores homens e mulheres, e ele mesmo foi capaz de atingir a iluminação. Pouco depois, Punna passou para as nuvens do nirvana. Muitos discípulos foram juntos até o Honrado pelo Mundo e perguntaram sobre a morte de Punna. O Honrado pelo Mundo disse: “Discípulos, Punna era realmente um homem santo. Ele seguiu o ensinamento e não era difícil transmitir-lhe os ensinamentos. Punna entrou realmente no nirvana.”

2. Potaliya (1) O Honrado pelo Mundo partiu de Savatthi, seguiu viajando e entrou em um bosque nigrodha fora de Kapilavatthu. O povo de Kapilavatthu havia construído um novo salão para reuniões e pediu ao Honrado pelo Mundo para participar das cerimônias de dedicação. O Honrado pelo Mundo aceitou e se dirigiu para o salão de reuniões; tendo lavado seus pés, ele entrou no

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salão. Apoiando-se na coluna central, ele voltou-se para o leste e tomou seu assento. Os discípulos fizeram fila perto da parede a oeste, voltaram-se para o leste e se sentaram; e o povo de Kapilavatthu, em fila perto da parede a leste, voltou-se para o oeste e se sentou. Enquanto a lâmpada de óleo tremeluzia, o Honrado pelo Mundo discursou noite adentro. Mais tarde, olhando para Ananda ele disse: “Ananda, ensine a essas pessoas do clã Sakya o caminho daquele que segue. Como estou com dor nas costas irei me deitar um pouco.” O Honrado pelo Mundo, dobrando seu manto em quatro partes, colocou-o sobre o chão e deitou-se sobre o lado direito, descansando por um tempo. Ananda iniciou seu discurso.

(2) “Ó Mahanama, os discípulos do Buda mantêm os preceitos, protegem os cinco sentidos, sabem a quantidade correta a ser comida, procuram não dormir durante as vigílias noturnas, possuem as sete atitudes mentais, e vivem agraciados com a alegria da meditação neste mundo. “Manter os preceitos significa que eles sustentam os preceitos que o Buda estabeleceu, observam as regras, agem corretamente, percebem o perigo mesmo de pequenas ofensas e perseveram no estudo sincero. Proteger os cinco sentidos significa conduzir e direcionar a mente para controlar os cinco sentidos de forma que não haja apego aos objetos vistos pelos olhos, percebidos pelos ouvidos, sentidos pelo nariz, provados pela língua, tocados pela pele ou pensados pela mente. “Saber a quantidade correta a ser comida significa ingerir a comida com pensamentos corretos, não prestando atenção à sua aparência ou sabor, e ingerir comida com o único objetivo de manter o corpo preparado para as práticas do caminho sem gerar sofrimento desnecessário. Procurar não dormir durante as vigílias noturnas significa que devemos permanecer CEBB

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acordados durante a tarde ao sentar ou caminhar, impedindo que a mente deseje coisas proibidas. Durante a parte intermediária da noite deveríamos juntar nossos pés e dormir sobre o lado direito com uma mente correta, pensando no momento de acordar. Durante a última parte da noite deveríamos despertar e permanecer acordados ao nos sentarmos ou caminharmos, impedindo que a mente deseje coisas proibidas. “Possuir as sete atitudes mentais significa possuir fé, humildade, modéstia, diligência, esforço, inteligência e a sabedoria que claramente enxerga as causas e efeitos dos fenômenos. Viver com a alegria da meditação neste mundo significa separar-se do desejo e das ações negativas e acessar uma variedade de meditações. “Mahanama, como os discípulos do Buda agem desta forma, assim como uma galinha aquece os ovos e espera até que os pintos apareçam, eles se livram das paixões, atingem a iluminação e alcançam uma paz insuperável. Mahanama, discípulos como esses são vistos como detentores completos da sabedoria e das práticas, e eles são capazes de alcançar neste mundo a emancipação da mente.” Naquele momento, o Honrado pelo Mundo se levantou e se regozijou com o discurso de Ananda. Então, o povo do clã Sakya se regozijou e partiu.

(3) O Honrado pelo Mundo cruzou o rio Ganges, entrou em Anguttarapa e permaneceu perto da cidade de Apana. Um dia ele entrou na cidade e, depois de mendigar, entrou em um bosque para passar as horas da tarde. Naquele momento, o chefe-de-família Potaliya, segurando um guardachuva e usando sapatos, passeava pelo bosque e se aproximou do lugar onde o Honrado pelo Mundo descansava. Saudando o Honrado pelo Mundo, ele permaneceu por perto. CEBB

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O Honrado pelo Mundo se voltou para olhar para Potaliya e disse: “Chefe-de-família, há lugar para sentar, então sente-se.” Tendo sido chamado de chefe-de-família Potaliya se irritou e permaneceu em silêncio. O Honrado pelo Mundo repetiu o convite duas ou três vezes, então Potaliya falou. “Gotama, não é adequado me chamar de chefe-de-família.” “Chefe-defamília, a sua aparência não é a de um chefe-de-família?” “Gotama, eu parei de trabalhar e me retirei da vida mundana.” “Chefe-de-família, como você parou de trabalhar e se retirou do mundo?” “Gotama, eu dei toda a minha fortuna para meus filhos, cessei toda conversa desnecessária e intromissões, e gradualmente reduzi minha necessidade de comida e roupas, tornando-me uma pessoa retirada. Foi assim que parei de trabalhar e que me afastei do mundo.” “O seu afastamento do mundo e o afastamento do mundo no Darma são diferentes.” “Gotama, por favor, diga-me como se afastar do mundo no Darma.” “Chefe-de-família, no que concerne a esse ensinamento, há oito formas para se libertar da vida mundana. A primeira é não matar. A segunda é não roubar. A terceira é não mentir. A quarta é não falar palavras que causem desarmonia. A quinta é livrar-se do desejo. A sexta é livrar-se da raiva. A sétima é livrar-se da inveja. A oitava é livrar-se do orgulho. É através destes oito abandonos que alguém abandona o mundo. Porém, esta não é a forma mais definitiva para se libertar da vida mundana. Há outro caminho que permite a libertação completa deste mundo.” “Honrado pelo Mundo, por favor, ensine-me.”

(4) “Chefe-de-família, oferecer a um cão faminto um osso sem carne, manchado de sangue, satisfaria sua fome ou deixaria o cão ainda mais frustrado e triste? Chefe-de-família, com sua sabedoria meus discípulos CEBB

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discriminam as coisas e os prazeres dos sentidos como eles realmente são, e concluem que os prazeres dos sentidos causam mais dores e infortúnios. Assim, eles praticam destruindo o apego aos cinco desejos. “E também, uma águia, um falcão ou algum outro pássaro pega um pedaço de carne. Imediatamente outro pássaro feroz mergulha e tenta roubar aquele pedaço de carne. Se o primeiro pássaro não soltar o pedaço de carne desejado ele receberá uma ferida fatal ou quase fatal. Além disso, se alguém tomar uma tocha de grama acesa e for de encontro ao vento, a não ser que a tocha seja largada, as mãos e os pés dessa pessoa serão queimados, e é possível até mesmo que ela morra. E também, se carvões em brasa forem lançados em um buraco profundo como a altura de um homem e se dois homens fortes tentarem jogar um homem naquele buraco, esse homem sem dúvidas lutará desesperadamente e tentará se afastar dele. Entretanto, no final ele provavelmente cairá nele e morrerá. Se alguém encontrar uma cobra terrivelmente venenosa, não a deixará picá-lo. Se alguém emprestar dinheiro de outra pessoa, no final suas posses serão levadas embora por aquele que emprestou. Se alguém vê frutos maduros e sobe na árvore para comê-los, e ao mesmo tempo outra pessoa chega com um machado e corta a árvore, a não ser que a pessoa na árvore imediatamente desça, seu braço ou perna com certeza quebrarão e ela poderá até mesmo morrer. “Chefe-de-família, essas são analogias para os prazeres dos sentidos. Os discípulos deste ensinamento meditam sobre os prazeres dos sentidos, e com a sabedoria que verdadeiramente vê as coisas como elas são, eles sabem que os prazeres sensoriais causam dor e tornam as aflições ainda maiores. Eles cultivam o pensamento do desapego, através do qual eles deixam de lado e destroem o apego aos desejos mundanos. Chefe-de-família, pelo poder puro da equanimidade meus discípulos atingem a mais elevada sabedoria e a CEBB

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mente da emancipação. Através deste ensinamento eles se libertam completamente da vida mundana. Chefe-de-família, você abandonou o mundo desta forma?” “Honrado pelo Mundo, como eu poderia ser capaz de realizar tal feito? Anteriormente, confuso por diferentes ensinamentos, eu pensava que sabia daquilo que não sei, e eu não sabia daquilo que sei. Agora eu sei que não sei o que não sei, e que eu sei o que sei. Honrado pelo Mundo, você realmente me ensinou a amar, ter fé e respeitar o mendicante. Deste dia em diante, enquanto eu viver, faço o voto de permanecer como um seguidor do ensinamento do Honrado pelo Mundo.”

(5) Keniya, o asceta Jatila, também ouviu que o Honrado pelo Mundo estava em Anguttarapa, visitou o Buda e se regozijou com seus ensinamentos. Ele convidou o Honrado pelo Mundo e os discípulos para sua casa. O Buda disse: “Keniya, meus discípulos totalizam mil duzentos e cinquenta, e além disso, você não é um seguidor do ensinamento dos brâmanes?” “Honrado pelo Mundo, mesmo seguindo o ensinamento dos brâmanes e mesmo que seus discípulos totalizem mil duzentos e cinquenta, por favor, venha e aceite minha oferenda amanhã.” O Honrado pelo Mundo consentiu, acenando com a cabeça. Keniya foi rapidamente para casa, reuniu seus parentes, amigos e servos e preparou a comida para o dia seguinte. Uma pessoa cavou um buraco para o fogo, outra cortou a lenha, outra lavou os utensílios, outra cuidou das jarras de água, outra preparou os assentos, e o próprio Keniya preparou uma pequena cabana redonda. Naquele momento, o profundamente fiel brâmane Sela, acompanhado por quinhentos discípulos, passava por ali e perguntou a CEBB

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Keniya se toda aquela agitação era devida a um casamento espetacular, um grande sacrifício ou uma visita do Rei Bimbisara de Magadha. “Sela”, disse Keniya, “não é por nenhuma destas razões. É para uma grande oferenda. Gotama do clã Sakya, que abandonou o lar e se tornou um buda, e seus discípulos foram convidados para amanhã.” “Keniya, você disse um buda?” “Sela, está correto. Eu disse um buda.” Sela ficou surpreso com a palavra buda. “É difícil até mesmo de ouvir a palavra buda. Em nossos livros está escrito que alguém que possua os trinta e dois sinais de uma grande pessoa se tornará ou um monarca universal se permanecer no lar, ou um buda se abandonar o lar. Ele trará paz para o mundo sem uma espada por todos os quatro oceanos ou se libertará dos obstáculos do mundo. Keniya, onde está este buda agora?” Keniya apontou para o bosque verde à distância com sua mão direita. Sela e seus quinhentos discípulos partiram e foram até o Honrado pelo Mundo. Regozijando-se com a forma espantosa e perfeita do Honrado pelo Mundo, ele logo tomou refúgio no ensinamento e se tornou um discípulo do Honrado pelo Mundo. No dia seguinte, ele e os outros receberam a oferenda de Keniya. Praticando sinceramente, ele alcançou a iluminação em sete dias.

3. Realizando o Caminho para a Emancipação (1) O Honrado pelo Mundo retornou para Rajagaha e permaneceu em um bosque de bambus fora da cidade. Um dia, ele chamou seus discípulos e disse: “Discípulos, aquele que se afastou de seus parentes e de seu lar, e que conhece sua mente e realiza o caminho é chamado de mendicante. O

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mendicante se afasta da riqueza mundana e através da mendicância descobre o que é suficiente, come uma vez por dia, descansa ao pé de uma árvore, e é cuidadoso para nunca mais cometer uma violação. Discípulos, o que torna alguém ignorante é o desejo.

(2) “Discípulos, mesmo quando há pessoas que nos difamam nós as protegemos com compaixão. Mesmo quando elas nos prejudicam, ainda assim as tratamos com gentileza. O elemento do benefício está conosco, o elemento do prejuízo está com os outros. Uma pessoa má que prejudica uma pessoa santa é como alguém que cospe para cima. O cuspe não macula o céu, mas retorna e suja a própria pessoa. Além disso, é como voltar-se contra o vento e jogar lixo fora tentando sujar outra pessoa. O lixo não sujará o outro, mas voltará para a própria pessoa. Não é possível vencer uma pessoa sábia. Desgraças cairão com certeza sobre aqueles que tentarem prejudicar uma pessoa santa. Se você fizer amplas oferendas para o bem do caminho, esta generosidade não se tornará automaticamente um grande ato. Mas se você sustentar a intenção original e respeitar o caminho, então a bondade será grande.

(3) “Pratique com os outros a virtude da generosidade. Apoiar os seus esforços e se regozijar com eles resulta na recompensa da felicidade. Por exemplo, centenas de milhares de pessoas acendem suas tochas de uma única tocha, e mesmo assim essa tocha permanece a mesma. Como esta tocha, a felicidade da generosidade nunca se extingue. “No mundo há vinte coisas difíceis. Sendo pobre, é difícil de oferecer. Sendo rico, é difícil de estudar o caminho. É difícil abandonar a própria vida e seguir o caminho. É difícil ter a oportunidade de ouvir os ensinamentos de CEBB

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um buda. É ainda mais difícil ter a oportunidade de encontrar um buda. É difícil suprimir o desejo e se libertar dele. Ao ver algo de que gostamos, é difícil não correr atrás daquilo. Ao possuir poder, é difícil não confrontar os outros com poder. Ao ser envergonhado, é difícil manter o controle. Quando algo desagradável acontece, é difícil não ser perturbado por aquilo. É difícil estudar o caminho ampla e profundamente. É difícil não tratar um iniciante de forma superficial. É difícil livrar-se do orgulho. É difícil encontrar um amigo verdadeiro. É difícil enxergar a própria natureza e estudar o caminho. É difícil não ser perturbado pelo ambiente ao redor. É difícil salvar as pessoas de acordo com suas capacidades. É difícil manter a própria mente estável. É difícil não criticar. É difícil aplicar os meios hábeis.

(4) “Alguém que pratica o caminho é como aquele que entra em um quarto escuro com uma tocha. A escuridão desaparece imediatamente e o quarto é preenchido por luz. Depois de estudar o caminho, quando você o enxergar com clareza, então a escuridão da ignorância desaparecerá e a luz da sabedoria será alcançada. “Eu lhes pergunto, o que eu tenho em mente quando reflito sobre o caminho? O que pratico quando cultivo o caminho? O que ensino quando exponho o caminho? Eu simplesmente reflito, pratico e ensino as Quatro Nobres Verdades. Ao olhar para o céu e para a terra estou consciente de sua impermanência. Ao olhar para as montanhas e rios estou consciente de sua impermanência. Ao olhar para tudo que floresce estou consciente de sua impermanência. Se vocês

sustentarem suas

mentes

desta

maneira,

rapidamente alcançarão a iluminação. Durante um dia pratique o caminho sem interrupções. Se você alcançar as raízes da fé ao praticar o caminho, a bem-aventurança que resultará será infinita. CEBB

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(5) “As pessoas perseguem a fama destemidamente enquanto a chama do desejo queima dentro delas. Esta chama é como queimar um bastão de incenso: à medida que o incenso libera sua fragrância, ele é queimado e se extingue. Os ignorantes anseiam por elogios vãos e não preservam a verdade do caminho, alcançando, assim, fama gloriosa, mas colocando-se em perigo. O arrependimento, sem dúvidas, apertará o coração mais tarde. “Buscar riquezas e os prazeres sensoriais é como lamber uma lâmina com mel. Por um pouco de sabor doce, menos que uma lambida, a língua se cortará e um ferimento resultará. Preocupações com o lar, esposa e filhos são maiores que estar amarrado em uma prisão com as mãos e os pés algemados. Na prisão, há momentos em que as algemas são abertas, mas a afeição à esposa e aos filhos é tão dolorosa como ser mantido na boca de um tigre, não há momento em que os grilhões sejam soltos. “As pessoas que buscam os prazeres sensoriais são como aqueles que tomam uma tocha e a seguram contra o vento. Suas mãos serão queimadas e elas sofrerão a dor de ter a carne queimada; os venenos da cobiça, da raiva e da ignorância estão no corpo. Se não nos apressarmos e nos libertarmos desses venenos através do caminho, então a dor e a lamentação certamente virão. Este saco de couro, o corpo, com todas as suas impurezas internas pode enganar os seres deste mundo, mas a pessoa que alcançou a iluminação é indiferente a ele. ‘Eu não preciso dela’ foi minha resposta a um mal que tentou me testar oferecendo uma mulher coberta de joias para mim. Nunca confie em sua mente, pois sua mente não é confiável. Em condição alguma se entregue ao prazer sexual. Se o fizer, desgraças resultarão.

(6) “Aqueles que têm a esperança de realizar o caminho deveriam CEBB

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extinguir o fogo do desejo. Aqueles que vestem roupas de grama seca, ao verem o fogo em uma savana chegando, deveriam sair da frente dele; de modo similar, aqueles que praticam o caminho deveriam se afastar o máximo possível ao verem o fogo do desejo. “Havia uma pessoa que, atormentada por ser incapaz de controlar suas paixões sexuais, tentou castrar-se com uma lâmina. Eu lhe disse: ‘Ao invés de cortar fora seus órgãos, seria melhor cortar sua mente. A mente é o mestre. Se o mestre para, então todos os seguidores também pararão. Se você não puder parar a mente vagueante, de que adianta castrar-se?’ “De fato, é doloroso seguir o caminho até a realização, mas é ainda mais doloroso não o seguir. Tendo nascido no mundo, haverá velhice, doença e morte. O sofrimento e a dor não têm limites. Quando alguém está sofrendo e cometendo ofensas, então o nascimento e a morte não cessarão. O sofrimento e a dor experienciados pelos seres não podem ser completamente descritos pelas palavras. “Para realizar o caminho deve-se arrancar a raiz das paixões. Quando alguém remove as contas de uma cortina uma por uma, chegará o momento em que todas as contas foram eliminadas. Da mesma forma, quando todas as paixões forem extintas, o caminho será realizado. “Deve-se praticar o caminho como um boi com uma carga pesada que caminha por uma estrada bastante lamacenta, não olhando nem para a direita nem para a esquerda, mesmo quando cansado; depois de passar pela lama ele descansará. A lama da paixão é mais profunda e mais feroz, mas ao aperfeiçoar a mente e focar o caminho será possível superar todo o sofrimento.”

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4. A Alegoria da Flecha (1) Naquele tempo, Sariputta, Maha-Cunda e Channa estavam em lugares próximos no Pico dos Abutres. Channa estava extremamente doente. Uma noite, depois de sair da meditação, Sariputta disse a Maha-Cunda que eles deveriam visitar Channa, e assim eles foram. Eles lhe perguntaram: “Channa, como está a sua doença? A dor diminuiu?” “Amigos, minha doença é bastante grave e a dor apenas aumenta. Eu quero morrer imediatamente. Tenho pensando em me matar com uma faca.” “Channa, isso não adiantaria. Nós esperamos que você supere esta doença e viva uma longa vida. Se há alguma coisa que você deseje comer ou algum remédio que não possua, iremos procurá-los. Cuidaremos de você, por favor, melhore e siga vivendo.” “Amigos, não me faltam alimento ou remédios, e não me faltam pessoas cuidando de mim. Além disso, eu servi com alegria o Honrado pelo Mundo por um longo tempo, e como discípulo eu fiz o que se esperava de mim. Por favor, saibam que eu, Channa, não mais renascerei no reino da delusão, e que eu me matei por minha própria vontade.” “Channa, nós temos algumas questões e desejamos que você as responda. Se estiver bem para você, por favor, responda-as.” “Responderei qualquer questão. Por favor, sintam-se livres para perguntar.” “Channa, podem o olho, o ato de ver e o objeto visual serem encarados como sendo meus, ou como ‘eu’, ou possuídos pelo ‘eu’? Da mesma forma, o ouvido, o ato de ouvir e aquilo que é ouvido; o nariz, o ato de cheirar e aquilo que é cheirado; a língua, o ato de provar e aquilo que é provado; o corpo, o

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ato de tocar e aquilo que é tocado; e a mente, o pensamento e aquilo que é pensado, são meus, ‘eu’ ou possuídos pelo ‘eu’?” “Amigos, eu entendo que todos os órgãos sensoriais, as consciências e os objetos das consciências não são meus, nem o ‘eu’, nem uma essência.” “Channa, o que você observa e compreende?” “Amigos, eu observo a cessação dos seis órgãos sensoriais, das consciências e dos objetos das consciências, e eu compreendo a cessação dos mesmos.” Então, Maha-Cunda disse: “Channa, é por isto que sempre devemos pensar neste ensinamento do Honrado pelo Mundo. Se há apego, então há confusão. Se não há apego, então não há confusão. Se não há confusão, então há paz mental. Se há paz mental, então não há desejo, e como não há desejo não há renascimento. Se não há renascimento, então não há vida e morte. Se não há vida e morte, não há este mundo ou um próximo. Este é o fim do sofrimento.” Falando desta forma, Sariputta e Maha-Cunda partiram. Logo depois, Channa pegou uma faca e se matou. Sariputta falou com o Honrado pelo Mundo sobre isto. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Channa não disse com seus próprios lábios que ele não renasceria novamente neste reino de delusão? Channa, tendo se tornado alguém que nunca mais terá um corpo, livrou-se deste corpo físico e morreu. Channa alcançou o nirvana.”

(2) Então, o Honrado pelo Mundo continuou sua jornada. Ele foi para o norte, cruzou o Rio Ganges e retornou para o Bosque Jeta e o Monastério Anathapindika. Um dia, o discípulo Malunkyaputta se retirou para um local silencioso, pensando: “O mundo é eterno ou não? O mundo é finito ou não? CEBB

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O corpo é o mesmo ou é separado do espírito? As pessoas existem após a morte ou não? O Honrado pelo Mundo ignora estas questões e não as discute. Eu simplesmente não posso suportar isto. Vou até o Honrado pelo Mundo para colocar estas questões. Se o Honrado pelo Mundo responder estas questões seguirei praticando com ele. Se não houver discussão, então cessarei a minha prática.” Imediatamente ele foi até o Honrado pelo Mundo e fez estas perguntas. “Honrado pelo Mundo, por favor, discuta sobre isto, pois você conhece as coisas. Se você não quiser discutir sobre isto, irei abandonálo e retornarei para minha casa.” O Honrado pelo Mundo disse: “Malunkyaputta, quando você chegou para praticar comigo, eu prometi que discutiria estas questões, se o mundo é eterno, se ele é finito, se o corpo e o espírito são o mesmo, ou se as pessoas existem após a morte?” “Honrado pelo Mundo, você não prometeu.” “Além disso, você me prometeu que praticaria apenas se eu respondesse essas questões?” “Honrado pelo Mundo, eu não prometi.” “Malunkyaputta, se é assim, eu não prometi e você não prometeu. Qual promessa eu estou, supostamente, quebrando?” “Malunkyaputta, se uma pessoa disser que se absterá de praticar até que eu discuta estas questões, então essa pessoa morrerá neste ínterim. Considere uma pessoa perfurada por uma flecha envenenada. Parentes e amigos se reúnem e trazem um médico para extrair a flecha. Então essa pessoa diz que não permitirá que a flecha seja removida até que saiba o sexo do arqueiro, sua casta, sua aparência e de onde ele vem. Além disso, até que ele saiba se o arco era grande ou pequeno; se a corda do arco era de uma trepadeira, um cordão, um tendão; se o eixo é feito de cana ou papiro; se as penas eram de uma águia, uma garça, um gavião ou um pavão; se o eixo estava amarrado com tendão de vaca, músculo de búfalo d´água, tendão de CEBB

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cervo ou grama; e se a ponta da flecha era na forma de ferradura, de lança, um dente de bezerro ou a pena de um pássaro; até então, ele não permitirá que a flecha seja extraída. Malunkyaputta, se ele continuar dizendo tais coisas, morrerá nesse ínterim.

(3) “Malunkyaputta, não é adequado que você pense que sustentar a visão de que o mundo é eterno necessariamente conduz a uma vida santa. Além do mais, não é adequado pensar que sustentar a visão de que o mundo não é eterno necessariamente conduz a uma vida santa. Mesmo sustentando a visão de que o mundo é tanto eterno quando não eterno, não será possível superar o renascimento, a velhice, a morte, a ansiedade, a dor e o sofrimento. Meu ensinamento tem por objetivo remover todos eles agora. “É incorreto assumir que será possível alcançar a vida santa sustentando qualquer visão relativa ao mundo ser finito ou se uma pessoa existe após a morte. Mesmo que alguém sustente a visão de que o mundo é finito e, da mesma forma, que a pessoa existe após a morte, não conseguirá superar renascimento, velhice, morte, ansiedade, dor e sofrimento. Meu ensinamento tem por objetivo remover todos eles agora. “Malunkyaputta, é melhor pensar que eu ensino o que precisa ser ensinado e não ensino o que não precisa ser ensinado. Tais questões não precisam ser respondidas. E por quê? Porque discussões sobre estas questões nem conduzem ao objetivo nem são fundamentais para uma vida santa. Nem elas ajudam as pessoas a destruírem as paixões, despertarem para a sabedoria suprema, ou atingirem a iluminação e entrarem no nirvana. Aquilo que deve ser ensinado são as Quatro Nobres Verdades. Por quê? Porque conhecê-las conduz ao objetivo, é fundamental para uma vida santa, e ajuda as pessoas a destruírem as paixões, despertarem para a sabedoria suprema, atingirem a CEBB

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iluminação e entrarem no nirvana.” Malunkyaputta se regozijou do fundo de seu coração com este ensinamento do Honrado pelo Mundo.

5. Rajakarama – O Templo do Rei (1) Em Savatthi havia um convento chamado Rajakarama que o Rei Pasenadi construiu especialmente para as monjas budistas. Teria sido apropriado que as monjas, por serem ascetas, vivessem fora da cidade; mas poderia haver muitos perigos para monjas que vivessem fora da cidade. Portanto, o rei construiu o convento dentro da cidade, com a permissão do Honrado pelo Mundo. Havia muitas monjas vivendo ali, e durante a tarde era o costume de muitas delas irem até a floresta escura fora da cidade para meditar. Os Maras frequentemente atacavam as monjas e tentavam seduzilas. Sem fugir, as monjas se defendiam e repeliam todos os ataques. Sela, a princesa de Alavi, era conhecida como a monja Alavi. Um dia ela foi sozinha até a floresta escura e meditou em silêncio. Um Mara, pensando em assustá-la, apareceu e disse o seguinte:

Neste mundo flutuante onde não existe a iluminação É inútil renunciar a ele; Entregue-se aos prazeres dos cinco desejos. É melhor viver uma vida livre de arrependimentos.

Conhecendo a intenção do Mara, a monja respondeu:

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Por este mundo ser um mundo flutuante, existe a iluminação. Com sabedoria eu atingi tal estado. Mara, companheiro negligente, Você não conhece o caminho. Os cinco desejos são como uma espada e uma lança, Eles cortam o corpo. O que você chama de bem-aventurança eu chamo de miséria.

(2) Uma outra monja chamada Soma, depois de mendigar em Savatthi, foi até a floresta escura e sentou-se em meditação. Um Mara disse: “É realmente difícil ingressar no nível dos seres santos. Com uma agulha de sabedoria você acredita que uma mulher alcançará isto?” Soma respondeu: “Para alguém que silencia a mente, desperta a sabedoria e enxerga o verdadeiro Darma, não há diferença entre um homem e uma mulher. Alguém que sustenta pensamentos sobre masculino e feminino e que vê tal distinção não tem o direito de falar.”

(3) Kisa Gotami era uma das monjas que viviam naquele convento. Ela era de uma família pobre de Savatthi, e por ser tão magra as pessoas a chamavam de Kisa Gotami, Gotami pele e ossos. Mas devido às ações positivas de vidas passadas ela era uma mulher abençoada com méritos e virtudes. Uma vez, antes de se tornar uma monja, havia um homem rico e famoso que morava em Savatthi e que era conhecido por ser avarento. Em certa ocasião ele descobriu Kisa Gotami e pediu a ela para se tornar a esposa de seu filho. Aconteceu desta forma. O homem rico, cuidando das barras de ouro que mantinha em seu cofre, descobriu que elas haviam se transformado repentinamente em carvão. Surpreso, ele pensou: “Este é um sinal claro de CEBB

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que a minha sorte é nula. Se alguém com muita sorte olhar para este carvão ele se transformará novamente no ouro original.” Assim, mesmo enquanto tentava se resignar por seu infortúnio ele não conseguia se libertar do apego ao ouro. Então ele carregou o carvão em caixas e as levou para uma cidade comercial próxima, deixando-as expostas para os passantes verem. Um dia Kisa Gotami passou pelas caixas e as viu transbordando com ouro em uma loja aberta; ela ficou surpresa e gritou sem pensar: “Puxa, quanto ouro há aqui!” Ao ouvir isto, o homem rico que estava escondido ficou feliz; olhando para as caixas ele viu que o carvão tinha se transformado no ouro original e estava brilhando ali. Ele se sentiu atraído pela boa sorte dela. Assim, ele a procurou com ardor e, finalmente, conquistou-a como noiva para seu filho mais velho. Assim,

devido

a

tais

estranhas

circunstâncias,

esta

mulher

repentinamente estava na casa do homem rico. Ela era verdadeiramente amada por seu marido, e um lar verdadeiramente feliz e amoroso foi construído por eles. Logo nasceu uma criança e isto aumentou ainda mais a felicidade do lar. Porém, mesmo neste lar de felicidade o vento da boa fortuna nem sempre soprava. O precioso e único filho, na época em que engatinhava e estava começando a andar, foi repentinamente assolado por uma doença e partiu para a jornada em que não há retorno. A dor dela foi muito grande. Segurando o corpo frio ela chorava e se lamentava. Finalmente, sem ser vista pelas pessoas da casa, ela pegou o corpo do bebê e fugiu do local; em cada porta e a cada passante, ela perguntava por uma forma de ajudar sua criança. Ela havia perdido sua sanidade. Todos demonstravam piedade, mas como não havia forma de trazer de volta alguém que deu sua última respiração, ninguém podia fazer nada, a não ser oferecer lágrimas de solidariedade. Por muitos dias a imagem desta mulher CEBB

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enlouquecida pela dor, vagueando de uma vila para outra, levou lágrimas aos olhos do povo. Um dia, uma seguidora fervorosa do Buda, incapaz de continuar vendo esta cena, chamou-a e falou com ela: “Irmã, a doença de seu filho é realmente grave. É algo que está além da habilidade dos médicos mundanos. Há apenas uma pessoa que pode curar esta doença e, felizmente, ele está agora no Bosque Jeta no Monastério de Anathapindika. Ele é o Buda.” Ao ouvir isto, seu coração bateu de alegria como se ela já tivesse sido ajudada. Imediatamente ela correu para o Bosque Jeta até o Monastério de Anathapindika e pediu para ver o Honrado pelo Mundo. Ela implorou para ele salvar seu filho da doença. O Honrado pelo Mundo ouviu em silêncio o que ela tinha para dizer e amorosamente respondeu: “Será fácil curar a doença da criança, mas serão necessárias cinco ou seis sementes de papoula. Corra até a cidade e as obtenha.” Era um pedido tão simples que Gotami rapidamente ficou em pé e estava prestes a partir para a cidade. Mas o Honrado pelo Mundo a parou e disse: “Essas sementes, entretanto, devem vir de um lar que nunca teve um funeral, que nunca viu a morte.” Ao ouvir isto, como estava preocupada apenas com sua amada criança, ela não pensou profundamente sobre o seu significado. Tendo ouvido estas palavras do Buda, ela rapidamente foi para a cidade e pediu por sementes de papoula em cada porta. Porém, apesar de não haver uma única casa que não lhe oferecesse as sementes de papoula, ela não conseguiu encontrar uma casa em toda a cidade do início ao fim que não tivesse experimentado a morte de alguém. De início ela achou isto estranho, mas à medida que continuava a perguntar, começou a entender. Entre os seres humanos não há nenhum que, tendo nascido, não morra. Uma casa que não tenha sido visitada pela dor da separação pela morte não existe. Seja a perda de uma esposa amada, um filho CEBB

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adorável, pais insubstituíveis, ou um marido confiável, a dor das pessoas neste mundo é infinita, pois a impermanência é inerente ao corpo. Ela sentiu um arrepio. Ela perdeu a energia e a ignorância para continuar pedindo por sementes de papoula. Sem esperar pelas palavras do Buda, o olho do Darma já se havia aberto em seu coração. Assim, depois de alguns dias agarrada com amor ao corpo de sua criança, ela a enterrou e rapidamente retornou ao Bosque Jeta, procurando pelo Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo olhou em silêncio para ela e perguntou: “Como está seu filho? Você encontrou as sementes de papoula?” Ela falou sobre a alegria de ter despertado de sua existência onírica através dos meios hábeis da compaixão que o Honrado pelo Mundo havia empregado, e pediu para ser uma de suas discípulas. Juntando-se à ordem ela praticou e, gradualmente, se aproximou o dia de sua iluminação. Entretanto, um dia um Mara apareceu diante dela para tentá-la, e disse:

Você que foi separada de um filho amado, Sentada sozinha aqui chorando, Deveria entrar na floresta Para procurar um bom companheiro.

A monja respondeu:

Separada de um filho amado, Idos são os dias em que eu fui uma mãe. Um bom parceiro não existe. Eu não estou triste. Eu não estou chorando. E nem tenho medo de você. CEBB

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As alegrias vazias de todos os mundos foram extintas. A escuridão foi dissipada, a batalha com Mara foi vencida, A dor se foi, eu medito tranquilamente.

(4) Um Mara se aproximou para tentar a jovem e bela monja Vijaya:

Os dias de juventude não durarão para sempre; venha, princesa, Vamos fazer música juntos e nos encher de alegria.

Respondendo à tentativa de aliciá-la, ela disse:

Os cinco desejos inferiores, apesar de prazerosos e agradáveis, São desnecessários e inúteis. Eu os deixo para você, Mara. Este corpo decadente e impuro é apenas uma fonte de vergonha. Eu abandonei o desejo por prazeres Deste mundo, do outro mundo e do mundo celestial. Eu abandonei a escuridão de tais pensamentos de desejo.

(5) Cala, Upacala e Sisupacala eram todas irmãs de Sariputta. Juntas, elas colocavam toda a sua fé nos ensinamentos do Buda e praticavam a vida santa. Um Mara apareceu no local de meditação de Cala e perguntou: “Por que você não aproveita coisa alguma e se senta aqui sozinha?” Cala respondeu:

Não consigo encontrar alegria na vida. A vida traz a morte, Pelo nascimento conhecemos a dor. CEBB

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Amarras, tormentos e outras dores São aliviados pelo ensinamento do Buda. Ele nos ensina o caminho para nos libertarmos destas dores. Os prazeres do reino divino são realmente grandes, Mas para aquele que não conhece o Darma O prazer se transformará em miséria.

(6) O Mara tentou voltar Upacala para os prazeres dos reinos celestiais, ao que Upacala respondeu:

Os prazeres dos reinos celestiais estão maculados pela impureza, Eles farão com que se caia nas mãos de Mara. Mesmo os céus são mundos de escravidão. Todo o mundo está queimando, em meio à fumaça, crepitando com as chamas e tremendo. Meu coração e minha mente repousam em um local imutável e inabalável, Em um lugar aonde a ignorância não pode ir, Em um lugar que está além do alcance de Mara.

(7) Aparecendo diante de Sisupacala, Mara perguntou de que forma ela encontrava prazer. Ela respondeu que não encontrava prazer de forma alguma.

Fora do caminho ensinado pelo Buda Eu não encontro prazer nos caminhos das diferentes visões. Ele que encontrou a verdadeira e insuperável iluminação, Que varreu para longe Mara e conquistou todas as coisas,

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Ele que é o Buda, que tudo vê, O Honrado pelo Mundo é meu mestre, e com seus ensinamentos eu me regozijo.

(8) Um dia, Maha-Prajapati acompanhada por quinhentas monjas foi até o Honrado pelo Mundo e pediu que alguém lhes desse ensinamentos no dia seguinte. Naquele tempo era comum que os discípulos do Honrado pelo Mundo se revezassem expondo os ensinamentos para as monjas. Era a vez de Nandaka no dia seguinte; porém, ele não desejava falar. O Honrado pelo Mundo, perguntando a Ananda de quem era a vez, descobriu que Nandaka não queria falar. O Honrado pelo Mundo chamou Nandaka e deu a ordem para ele ensinar as monjas. Na manhã seguinte, Nandaka obedeceu à ordem e foi até Savatthi com outro discípulo. Depois de mendigar e comer, Nandaka foi para Rajakarama. Ao verem Nandaka chegando, as monjas prepararam um assento e água para lavar seus pés. Nandaka lavou seus pés e se sentou no lugar preparado, falando para as monjas: “Irmãs, vamos iniciar com perguntas e respostas. Ao serem perguntadas, digam o que sabem e digam o que não sabem. Além do mais, se tiverem uma questão ou dúvida, perguntem: ‘O que é isto?’ ou ‘Por que é assim?’” Ao ouvirem isto, as monjas se alegraram com a oportunidade de uma troca livre de perguntas e respostas com Nandaka. Ele lhes perguntou: “Irmãs, o olho é duradouro ou impermanente?” “É impermanente.” “Algo que é impermanente é doloroso ou prazeroso?” “É doloroso.” “É possível ver se esta coisa frágil que é impermanente e dolorosa é minha, eu mesmo ou alguma essência?” “Grande sábio, isto não é possível. Não é possível mesmo com o ouvido, a língua, o corpo ou a mente. E por quê? Porque com a verdadeira sabedoria nós já enxergamos como as coisas CEBB

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realmente são; nós entendemos como os seis órgãos dos sentidos são impermanentes.”

(9) Nandaka prosseguiu e fez a mesma pergunta sobre os seis objetos dos sentidos: forma, sons, cheiros, sabores, objetos tangíveis e pensamentos; e sobre as seis consciências: do olho, do ouvido, do nariz, da língua, do corpo e da mente; e ele recebeu as mesmas respostas. Então, ele disse às monjas: “Muito bem, realmente, irmãs. Esta é a verdadeira sabedoria pela qual os discípulos dos ensinamentos enxergam as coisas como elas realmente são. Irmãs, é como uma lâmpada de óleo acesa; o óleo é impermanente e mutável, assim como o pavio, a chama e a luz. Porém, se houvesse alguém que dissesse que óleo, pavio e chama são impermanentes, mas que a luz é permanente e imutável, estaria isto correto?” “Estaria incorreto. Se óleo, pavio e chama são impermanentes, é certo que a luz também é impermanente.” “Irmãs, se é assim, então seria correto dizer que as sensações de dor, prazer, e nem dor nem prazer provenientes dos seis órgãos sensoriais impermanentes são permanentes?” “Grande sábio, seria incorreto. E por quê? Porque uma coisa é condicionada por outra, de modo que se a causa é inexistente, então o resultado, também, naturalmente se torna inexistente.” “Muito bem, realmente, irmãs, é verdadeiramente como vocês dizem. Outro exemplo, seria correto dizer que enquanto os galhos e folhas de uma árvore são impermanentes, a sombra da árvore é permanente?” “Grande sábio, seria incorreto. Visto que as raízes, o tronco, os galhos e folhas são impermanentes, a sombra também seria certamente impermanente.” “Muito bem, realmente, irmãs, é verdadeiramente como vocês dizem. Outro exemplo, quando um habilidoso açougueiro mata uma vaca e, então, CEBB

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com uma faca afiada separa o couro da carne interna sem qualquer dano, e faz o mesmo com as membranas, músculos e tendões internos, e então usa o couro tão cuidadosamente separado para cobrir a carne interna, seria correto dizer que a vaca é a mesma de antes e que o couro não foi separado?” “Grande sábio, seria incorreto. O couro e a vaca estão separados.” “Irmãs, eu lhes ofereci esta metáfora para ensinar-lhes o significado dos ensinamentos. A carne interna são os seis órgãos sensoriais. O couro externo são os seis objetos dos sentidos. As membranas, músculos e tendões internos são as paixões. A faca afiada do açougueiro é a sabedoria que corta as paixões internas da mente. Irmãs, se vocês praticarem os sete ramos da iluminação: memória, verdade, esforço, alegria, quietude, meditação e indiferença, as paixões serão extintas e vocês alcançarão a emancipação das paixões e da ignorância nesta mesma vida.” Depois de instruir as monjas desta forma, Nandaka as exortou, dizendo: “Irmãs, vão e pratiquem o caminho agora.”

(10) Regozijando-se com os ensinamentos de Nandaka, elas se levantaram de seus assentos e foram até o Buda, respeitosamente se curvando diante dele. Depois que as monjas partiram, o Buda instruiu seus discípulos, dizendo: “Discípulos, no décimo quarto dia, a véspera da Uposatha, não há ninguém que se confunda se a lua está cheia ou não quando ela, de fato, não está. Da mesma forma, apesar de as monjas terem recebido com regozijo os ensinamentos de Nandaka, seu pensamento ainda não é perfeito.” O Honrado pelo Mundo mandou Nandaka falar novamente com as monjas no dia seguinte. Novamente, no dia seguinte, Nandaka mendigou em Savatthi e depois foi até Rajakarama, e como no dia anterior falou através de perguntas. As monjas, como no dia anterior, foram até o Honrado pelo Mundo e prestaram CEBB

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seus respeitos. Depois que as monjas partiram, o Honrado pelo Mundo falou para seus discípulos, dizendo: “Discípulos, no décimo quinto dia, a noite da Uposatha, não há ninguém que se confunda se a lua está cheia ou não quando ela, de fato, está cheia. Da mesma forma, tendo recebido os ensinamentos de Nandaka as monjas se regozijaram, e seu pensamento se tornou perfeito. Até mesmo a última destas quinhentas monjas ingressará no estágio de não-retorno, caracterizado por uma fé estável que leva com certeza à realização da iluminação.”

6. As Folhas na Mão (1) O Honrado pelo Mundo se dirigiu para o sul e entrou em um bosque simsapa em Kosambi. Tomando algumas folhas de uma árvore em sua mão, ele disse: “Discípulos, quais são mais numerosas, as folhas deste bosque ou as folhas em minha mão?” “Honrado pelo Mundo, as folhas do bosque são muito mais numerosas.” “Discípulos, da mesma forma, as coisas que eu conheço, mas não ensino, são tão numerosas quanto as folhas deste bosque. As coisas que eu ensino são tão poucas quanto as folhas em minha mão. A razão pela qual eu não ensino certas coisas é que elas não trazem benefício, e não têm nada a ver com a vida santa, com a remoção das paixões, o despertar da sabedoria suprema, a realização da iluminação ou alcançar o nirvana. Eu ensino as Quatro Nobres Verdades: o sofrimento, a causa do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho para a cessação do sofrimento; elas são benéficas e conduzem a uma vida santa e ajudam a destruir as paixões, alcançar a sabedoria suprema, realizar a iluminação e

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entrar no nirvana. É por isso, discípulos, que ao conhecerem estas Quatro Nobres Verdades, vocês deveriam praticar com diligência.”

(2) “Discípulos, o prazer parece agradável, mas em verdade ele é algo que matará o corpo. É parecido com o fruto de uma vinha que no outono caiu sobre as raízes de uma árvore sala ao redor da qual estava enrolada. O espírito que vivia naquela árvore sala tremeu dentro da árvore, tornando-se amedrontado e assustado. Seus companheiros espíritos se reuniram ali para confortar o espírito da árvore. ‘Amigo, não é necessário ter medo. Aquela semente da vinha será engolida por um pássaro, comida por uma ovelha, queimada pelo fogo, mastigada por um lenhador, ou carregada por uma formiga. É muito difícil que aquela semente brote.’ “Entretanto, a semente não foi engolida por um pássaro, ou comida por uma ovelha, ou queimada pelo fogo, mastigada por um lenhador ou carregada por uma formiga. Com a primavera ela brotou, e com a estação chuvosa a vinha rapidamente cresceu e ficou exuberante. Com gavinhas jovens e tenras a vinha se enrolou ao redor da árvore sala. O espírito da árvore sentiu prazer com o toque macio, e pensou: ‘Anteriormente meus amigos vieram me confortar devido ao medo das vinhas. Mas veja, como é agradável a sensação afável destas gavinhas da vinha, foi tolo de minha parte tremer de medo na expectativa de um perigo que não veio.’ “A vinha gradualmente se enrolou mais e mais ao redor da árvore sala, parecendo engordar a árvore, e cobriu até mesmo a copa da árvore. As vinhas se estenderam sobre os galhos e floresceram, fazendo uma sombra escura e, finalmente, secando os galhos. O espírito da árvore pela primeira vez sentiu grande dor e se lembrou das palavras de conforto de seus amigos. ‘Discípulos, o prazer é agradável e os faz sentirem-se bem; entretanto, ele os CEBB

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destrói.’”

(3) O Honrado pelo Mundo mais uma vez andou para o norte e, retornando a Savatthi, entrou no Bosque Jeta. Um dia, o Rei Pasenadi estava fora da cidade em negócios oficiais, guiando uma carruagem. A avó do rei ainda estava viva, apesar de sua mãe já ter morrido. Ela estava bastante velha, com cento e vinte anos de idade. Mesmo fraca e senil, o rei lhe era muito devotado e gostava de servir-lhe. Entretanto, nesse dia a velha avó, mesmo com os cuidados de um atendente, repentinamente morreu como uma árvore velha e seca tombando. O ministro de estado do rei pensou: “Se ouvir sobre a morte repentina de sua amada avó o rei sofrerá uma grande dor. Deve haver alguma forma de diminuir a dor para ele.” Pensando desta forma, ele preparou numerosos elefantes, cavalos e carruagens, reuniu incontáveis joias e dançarinas, organizou faixas e fez com que música soasse, e cobriu o caixão; ele levou todos eles para fora da cidade, para o local onde o rei os veria ao retornar. O rei, ao ver isto, questionou o ministro de estado que se aproximava. “De quem é esta oferenda?” “Senhor, é para a mãe de um dos anciãos da cidade que morreu.” “Para que são estes elefantes, cavalos e carruagens?” “Existem quinhentos de cada elefante, cavalo e carruagem. Eles serão enviados a Yama para que a vida da mãe possa ser comprada.” “Que estupidez!” o rei disse. “A vida não pode ser nem preservada nem comprada. Se você caísse na boca de um crocodilo certamente perderia sua vida. Da mesma forma, caso caísse nas garras de Yama não haveria como escapar.” “Há quinhentas dançarinas que serão negociadas para comprar sua vida.” “As garotas e as joias são inúteis.” “Então ele gostaria de comprar sua vida com a mágica de um brâmane ou o poder de um monge de mérito incomparável.” CEBB

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Ao ouvir isto, Pasenadi riu e disse: “Este é o pensamento de um tolo. Uma vez entre as mandíbulas de um crocodilo, não há como escapar. Não é verdadeiro o ensinamento do Buda, segundo o qual cada ser vivo deve morrer com certeza?” Naquele momento, o ministro de estado se ajoelhou diante do rei e disse: “Senhor, é como você disse. Todos os seres vivos morrerão. Por favor, não sofra demais. Senhor, sua avó faleceu hoje.” Ao ouvir isto, o Rei Pasenadi chorou e se lamentou, e apesar de soluçar, disse: “Muito bom, realmente, meu ministro, com meios hábeis você impediu que minha mente e meu coração se despedaçassem. Você é realmente sábio em relação à aplicação de meios hábeis.” Retornando à cidade ele pegou incenso, flores e velas e os ofereceu à sua avó. Apesar de ser o meio-dia, ele foi imediatamente até o Honrado pelo Mundo em sua cabana para questioná-lo.

(4) O Honrado pelo Mundo disse ao Rei Pasenadi: “Senhor, de onde você vem a esta hora meridiana?” “Honrado pelo Mundo, minha avó morreu hoje. Ela era anciã e fraca, e tinha cento e vinte anos de idade. Eu amava minha avó e abriria mão alegremente de minha família real se pudesse comprar sua vida de volta. Eu alegremente entregaria coisas inestimáveis, cavalos, carruagens, joias, o castelo e mesmo o país de Kasi se pudesse comprar sua vida de volta. Entretanto, é verdade, como você sempre ensinou todas as coisas vivas morrem e certamente perecerão. Não há nada que possa ser feito.” “Grande rei, como você diz, todas as coisas vivas morrem e certamente perecerão. Elas são como potes, vitrificados ou não, certamente se quebrarão algum dia.” Dizendo isto, o Honrado pelo Mundo recitou o seguinte verso:

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Todos os seres vivos morrem. Isto é, todas as coisas se acabam com a morte. De acordo com as próprias ações será recebido o fruto da virtude ou do mal. Tendo cometido o mal, o inferno será o destino; tendo acumulado méritos, o céu será alcançado. Assim, ao fazer o bem nos preparamos para o próximo mundo. Realmente, o mérito é o barco para as pessoas cruzarem para o próximo mundo.

FIM DO LIVRO VI

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

LIVRO VII Introdução

No início do Livro VII, o Buda está viajando para o sudeste em direção a Rajagaha (Sct. Rajagriha), passando por Vesali (Sct. Vaisali) para permanecer no Pico dos Abutres. Um dia, quando o Buda estava meditando no Pico, algo maravilhoso aconteceu. Flores caíram do céu sobre o Buda e os discípulos reunidos; a terra tremeu; uma luz brilhante foi emitida dos pelos brancos entre as sobrancelhas do Buda e iluminou todo o universo. Representando todos, que estavam bastante surpresos, o Bodisatva Maitreia pede a Manjushri uma explicação, e recebe a resposta de que talvez o momento para o Buda expor a verdade absoluta tivesse chegado. Esta é a abertura dramática do famoso Sutra do Lótus. O Capítulo 1 do Livro

VII

apresenta

passagens

selecionadas

deste

sutra,

bastante

reverenciado por todos os seguidores do Mahayana. O Sutra do Lótus foi escrito por etapas. As versões mais antigas eram em versos, usando um dialeto comum para alcançar uma audiência maior; as versões posteriores eram tanto em versos quanto em prosa, usando o sânscrito para transmitir dignidade a esta preciosa obra. As palavras do Buda foram elaboradas com toques sobrenaturais para impressionar os leitores sobre a importância deste ensinamento sagrado. CEBB

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A doutrina profunda pode ser explicada em termos bastante simples. Existem três tipos de seguidores do Darma: 1) sravakas, que ouvem os ensinamentos do Buda e se esforçam para praticá-los de boa fé; 2) pratyekabudas, que procuram se liberar por seus próprios esforços sem professores; 3) bodisatvas, que procuram não só a própria liberação, mas também salvar todos os outros seres sencientes. O Sutra do Lótus ensina através de várias parábolas que o objetivo final deve ser a iluminação, e que não há três formas de atingi-la, mas apenas um único caminho ou um veículo (ekayana), que se aplica a todos que buscam o verdadeiro despertar. O conceito de veículo único foi encontrado pela primeira vez no Livro VI, Capítulo 3, na história da Rainha Srimala. Sariputra pede ao Buda três vezes por uma explicação deste ensinamento e o Buda recusa três vezes. Antes de ele começar seu discurso, 5.000 discípulos partem, assumindo que já haviam alcançado a iluminação e que não precisavam ouvi-lo. O Buda observa que tais discípulos eram arrogantes por acreditarem em suas realizações limitadas, mas que agora que os “ramos e folhas inúteis” haviam partido, ele estava pronto para expor o ensinamento maravilhoso. O Buda explica a doutrina do Veículo Único contando a parábola da casa em chamas. Um homem velho e rico possui uma casa grande que está terrivelmente arruinada e que tem uma única porta estreita. Um dia, o fogo se espalha pela casa, mas as crianças não percebem o perigo. Para atrair as crianças para deixarem a casa, o velho oferece três tipos de brinquedos: uma carruagem puxada por um bode, uma carruagem puxada por um cervo e uma carruagem puxada por um boi. As crianças finalmente fogem, mas quando perguntam pelas carruagens o velho dá a cada uma delas uma magnífica carruagem puxada por um grande boi branco. CEBB

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A carruagem puxada pelo bode representa os sravakas; a carruagem puxada pelo cervo representa os pratyekabudas; e a carruagem puxada pelo boi representa o bodisatva. A carruagem puxada pelo grande boi branco representa o Veículo Único que está disponível para todos os seres. O Buda explica que ele havia empregado os meios hábeis de vários veículos para acomodar as várias necessidades, capacidades e naturezas dos seguidores. Outras parábolas revelam outros aspectos que o Buda desejava transmitir, como a parábola das ervas, na qual se mostra que a chuva cai igualmente sobre todas as plantas e ervas, assim como a compaixão do Buda brilha sobre todos os seres; e a parábola do médico que deixa um remédio para seus filhos quando precisa viajar. Ele envia um mensageiro para os filhos dizendo que seu pai morreu. Ficando doentes de tristeza, as crianças se lembram das palavras de seu pai e tomam o remédio para ficarem bem. O Buda explica que ele também usa meios hábeis para anunciar sua morte iminente, de forma que as pessoas ouçam com sinceridade seu ensinamento antes de sua morte. Entretanto, o Buda declara que ele existe além do tempo e do espaço, e que pode ensinar a doutrina a qualquer tempo e em qualquer lugar se alguém desejar ouvi-la. A implicação aqui é que o Darma está eternamente disponível para todos os seres em qualquer lugar do universo. O Capítulo 2 relata a triste história do Príncipe Ajatasatru, filho do Rei Bimbisara. O primo do Buda, Devadatta, queria começar uma nova ordem em oposição ao Buda, estabelecendo regras mais estritas. Quando o Buda explicou que tais regras de restrição não eram necessárias, Devadatta decidiu conquistar o apoio de Ajatasatru para estabelecer seu novo grupo de seguidores. Primeiro o Príncipe tenta usurpar o trono matando seu pai, conforme sugerido por Devadatta, mas como ele não foi capaz de fazer isto, o Rei foi aprisionado. Apesar das tentativas secretas da Rainha Vaidehi para CEBB

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manter sua saúde, o Rei acaba morrendo. A Rainha também é confinada em um quarto isolado por desobedecer às ordens. A seu pedido, o Buda aparece em sua presença para ensiná-la sobre o Buda Amitayus e sobre como contemplar sua compaixão; simplesmente recitando “namo Amitayus Buda” ela renasceria na Terra da Felicidade (Sukhavati). Depois de várias tentativas frustradas de matar o Buda, Devadatta foi engolido pela terra e queimou até a morte. Ajatasatru, por sua vez, ficou gravemente doente devido ao profundo remorso causado por seus esforços cruéis para matar o próprio pai. Jivaka, o médico, incapaz de curá-lo, aconselha-o a buscar a ajuda espiritual do Buda, que acaba curando-o com seu ensinamento compassivo. Estas passagens (Capítulo 2, Seção 3) são do Amitayur-dhyana-sutra (Sutra da Contemplação), uma das três escrituras principais das seitas Terra Pura, das quais a Seita Jodo Shin (Verdadeira Seita Terra Pura) é o maior grupo budista no Japão. As outras duas escrituras são o Sukhavati-vyuhasutra Maior, cujas passagens são encontradas no Livro VI, Capítulo 2, e o Sukhavati-vyuha-sutra Menor, com algumas passagens selecionadas no Capítulo 4, Seção 6 do Livro VII. Este último descreve a Terra da Felicidade, ou Terra Pura, onde as condições são favoráveis para alcançar a iluminação. Entretanto, o fundador da Seita Jodo Shin, Shinran, apresentou uma interpretação do ‘nascimento na Terra Pura’ como significando o abandono de nossos próprios esforços e com atenção mental unifocada deixar-se abraçar pela Compaixão Infinita do Buda Amitayus-Amitaba, que pode transferir seus méritos e nos despertar para a iluminação completa. Esta visão está relacionada ao Veículo Único no Sutra do Lótus, na qual o Buda alerta seus discípulos para não se tornarem tão arrogantes ao ponto de acreditarem que, em uma era de degenerescência, eles seriam capazes de se libertar por seus próprios esforços. CEBB

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No Capítulo 4, Seção 4, o Rei de Kosala, Pasenadi, está em seus últimos anos de vida, e assim ele presta seus últimos respeitos ao Buda, observando que ambos agora já estão com oitenta anos de idade. Logo depois, o sentimento

de

vingança

do

Príncipe

Vidudabha

causado

pelo

comportamento enganoso e ardiloso do clã Sakya em relação a uma solicitação do Rei Pasenadi antes de ele ter nascido, faz com que o exército de Kosala ataque e conquiste Kapilavatthu, o local de origem do Buda.

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LIVRO VII Capítulo I - O DARMA MARAVILHOSO É REVELADO

1. O Ensinamento do Veículo Único (1) Assim, o Honrado pelo Mundo se dirigiu para o sul, passou por Vaisali e retornou a Rajagriha, onde ele permaneceu no Pico dos Abutres. Um dia, quando muitos discípulos e bodisatvas estavam presentes, o Honrado pelo Mundo ensinou a doutrina chamada de Grandes Princípios. Quando o Honrado pelo Mundo entrou na meditação Morada do Princípio Ilimitado, os deuses espalharam flores e a terra tremeu de seis formas diferentes. Todos aqueles que estavam presentes se encantaram ao testemunharem tais acontecimentos incomuns e, com as mãos em prece, fitaram atentamente o Buda. Naquele exato momento um raio de luz brilhou do pelo branco entre as sobrancelhas do Buda e iluminou os dezoito mil mundos na região oriental; desde o pior inferno de Avici até o céu mais elevado de Akanishta, todos os seres sencientes foram iluminados intensamente, assim como os budas que expunham o Darma, os budas que entravam no nirvana, as pessoas que praticavam o caminho, e as estruturas que guardavam as relíquias dos budas. O Bodisatva Maitreya, percebendo os pensamentos das pessoas, colocou ao

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Bodisatva Manjushri uma questão em um conjunto de versos:

(i) Por que o Buda emite este grandioso raio? Flores caem do céu e A fragrância da madeira de sândalo está em todos os lugares. A terra treme de forma pura E as pessoas se regozijam em gratidão. Onde quer que este raio brilhe, Os dezoito mil mundos a leste, Os nascimentos e as mortes dos seres vivos, Assim como suas ações positivas e negativas são claramente iluminados.

(ii) Em cada terra habitam incontáveis budas Que empregam meios hábeis Para expor o profundo Darma e Para oferecer orientação a incontáveis seres. Neste mundo de sofrimento, Para aqueles que buscam a liberação, Eles ensinam o caminho para o nirvana Para ajudar a superar a raiz do sofrimento. Para aqueles abençoados por ações positivas do passado E que buscam o Darma, O caminho do Pratyekabuda é ensinado, assim como outros caminhos. Buscando a mais elevada verdade, Eles encorajam os outros a seguirem a doutrina do Buda.

(iii) Também há incontáveis bodisatvas,

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Todos seguindo o caminho. Eles fazem jubilosas oferendas de Tesouros e alimentos. Que eles possam herdar os verdadeiros ensinamentos Ao se devotarem à verdade! Existem aqueles que oferecem Suas esposas e filhos, e mesmo os próprios membros para os necessitados. Que eles possam herdar a sabedoria do Buda! Alguns deixam as famílias e seus países e, De cabeças e barbas completamente raspadas, Aproximam-se do mestre e Buscam a verdade para alcançar a paz espiritual. Alguns residem nas florestas ou nos campos, e Afastam os demônios seguindo o caminho E tocando o tambor do Darma. Ao serem reverenciados pelos deuses, Humildemente eles aceitam sua boa vontade, Evitando demonstrar prazer.

(iv) De fato, houve momentos em que os arrogantes Insultaram os bodisatvas, mas mesmo então Eles seguiram seus caminhos para a pureza. Tendo deixado aqueles que buscam os prazeres vãos, E buscando a orientação de professores do caminho, Preferindo o isolamento e a meditação, Eles encontraram o caminho para a paz eterna. Todos eles são iluminados pela luz do Buda.

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Nós lhe pedimos, Manjushri, Dê orientações para que os seres possam se Libertar das dúvidas e da ignorância.

(2) Naquele momento, o Bodisatva Manjushri disse a Maitreya e aos outros bodisatvas presentes na assembleia: “O Honrado pelo Mundo deseja revelar a nós o grandioso Darma, lançar sobre nós a chuva do Darma, e ensinar o significado do Darma. Logo antes de os budas do passado promulgarem o Darma, eles emitiram os raios da sabedoria de um buda. O Honrado pelo Mundo, também, manifestou um acontecimento incomum para ensinar às pessoas o Darma que é verdadeiramente inconcebível para elas. “Num passado incomensurável havia o Buda Candrasuryapradipa – Luz da Lua e do Sol – que ensinava o verdadeiro Darma. Esta instrução era de profundo significado; sua linguagem era a mais adequada e ele tornava possível para cada um encontrar o caminho de sua própria forma. Em sequência a este Buda surgiram mais de vinte mil budas com o mesmo nome. O último destes budas, antes de se tornar um monge, era um rei que tinha oito príncipes, todos de caráter nobre e que governavam a terra nas quatro direções. Quando o rei atingiu a iluminação e seus filhos souberam disto, todos renunciaram às suas coroas e se tornaram monges. Servindo muitos budas eles estabeleceram a fundação dos méritos. “Naquele tempo, o último Buda desta linhagem, Candrasuryapradipa, expôs os ensinamentos do Darma assim como o Honrado pelo Mundo está prestes a nos ensinar, e entrando na meditação do Princípio Ilimitado, emitiu luz de suas sobrancelhas que brilhou sobre todos os países, exatamente como agora. CEBB

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“Os bodisatvas que se reuniram, dois bilhões no total, quiseram saber o significado desta luz maravilhosa. Emergindo de sua meditação, o Buda direcionou suas instruções ao Bodisatva Varaprabha – Luz Maravilhosa – e expôs o ensinamento do Saddharmapundarika – O Lótus do Darma Maravilhoso. O Buda continuou o sermão por um longo tempo e a audiência ouviu atentamente, seus corpos e mentes imutáveis. Apesar de o discurso ter sido quase infinitamente longo, ele parecia ter durado apenas o tempo de uma refeição, e ninguém apresentava quaisquer sinais de fadiga. “O Buda entrou no nirvana depois de predizer que o Bodisatva Srigarbha (Acumulação de Virtudes) alcançaria a iluminação, e que o Bodisatva Varaprabha sustentaria o Saddharmapundarika e exporia seus ensinamentos indefinidamente. “Os oito príncipes do Buda Candrasuryapradipa todos realizaram o caminho através da orientação do Buda. O último príncipe a atingir o estado búdico foi o Buda Dipamkara (Buda da Tocha Flamejante). Um discípulo deste Buda, cujo nome era Yasaskama – Perseguidor da Fama – era fortemente apegado a ganhos mundanos e, apesar de ler os sutras, não conseguia compreendê-los e rapidamente esquecia as palavras. Apesar disto, por ter acumulado raízes de bondade, ele era capaz de se encontrar com muitos budas aos quais fazia oferendas e os quais ele reverenciava e louvava. Ó Maitreya, aquele Bodisatva Varaprabha daquele tempo ninguém mais era do que eu, e o Bodisatva Yasaskama daquele tempo era, na verdade, você. Assim, observando estes acontecimentos incomuns, o que aconteceu naquela época e o que está acontecendo agora são a mesma coisa. Agora é o momento do Buda revelar a todos o ensinamento do Saddharmapundarika, o Lótus do Darma Maravilhoso.”

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(3) Pouco depois, o Buda silenciosamente retornou de sua meditação e disse a Sariputra: “A sabedoria de um buda é profunda e incomensurável; é difícil compreender o ensinamento e é difícil praticar. Os ensinamentos do Darma Maravilhoso nunca serão entendidos por aqueles que preferem aderir apenas às instruções de seus mestres ou daqueles que buscam sua própria iluminação, esquecendo os outros. Isto é assim porque o Buda buscou orientação e se associou a incontáveis budas, realizou todas as práticas, se esforçou para viver os ensinamentos com coragem, seu nome é ouvido em todos os lugares, ele realizou a profundidade do Darma antes desconhecido e agora o ensina de acordo com as necessidades de cada um, o que o torna extremamente difícil de compreender. “Ó Sariputra, desde a sua realização da iluminação, o Buda tem empregado diversas parábolas, metáforas e histórias das vidas passadas do Buda para transmitir os ensinamentos; ele tem usado meios hábeis para guiar os seres sencientes e, assim, foi capaz de guiá-los para longe dos apegos. E isto é assim porque os budas possuem tanto os meios hábeis quando a sabedoria para conduzir os outros à iluminação do Buda. Ó Sariputra, visto que o Darma é difícil de compreender e de explicar, de fato apenas os budas são completamente capazes de conhecer a verdadeira natureza de tudo que existe. A verdade pertence aos aspectos do Darma, à natureza do Darma, à essência do Darma, ao potencial do Darma, às funções do Darma, às causas do Darma, às condições do Darma, ao resultado do Darma, aos efeitos do Darma e à unidade essencial do Darma.” Os numerosos discípulos e seguidores presentes pensaram: “Tendo ouvido o ensinamento do Honrado pelo Mundo sobre a emancipação fomos capazes de chegar às margens da liberação. Mas agora, o que é que o Honrado pelo Mundo está tentando nos ensinar?” CEBB

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Então, em nome daqueles presentes, Sariputra pediu ao Buda para elaborar sobre o Darma Maravilhoso. O Honrado pelo Mundo observou: “Sariputra, você deveria abandonar tal idéia, porque se o Buda revelasse esse ensinamento maravilhoso as pessoas ficariam não só surpresas, mas também teriam dúvidas.” Mas Sariputra implorou novamente: “Há muitos aqui presentes que possuem a sabedoria clara e que acreditarão com reverência no Darma se o Honrado pelo Mundo o expuser. Por favor, ensine-nos o Darma Maravilhoso.” O Honrado pelo Mundo mais uma vez desencorajou Sariputra, e disse: “Sariputra, você não deveria manter tal pensamento, porque o Darma Maravilhoso é difícil de perceber. Especialmente aqueles que são arrogantes podem não ser capazes de aceitá-lo.” Então, Sariputra pediu pela terceira vez com sinceridade que o Buda explicasse os ensinamentos. Assim, finalmente o Buda disse: “Muito bem, o Buda agora revelará este ensinamento.” E com isto, o Buda começou o discurso sobre o ensinamento.

(4) Naquele exato momento, um grupo de discípulos do Buda e fiéis, cinco mil no total, levantaram-se de seus assentos, curvaram-se diante do Buda com reverência e partiram. Eles partiram porque as raízes do engano estavam profundamente arraigadas neles. Eles eram arrogantes e pensavam que já haviam atingido aquilo que não haviam atingido. Por isto eles não eram capazes de suportar a presença do Buda. O Buda permaneceu em silêncio e não fez nenhuma tentativa de parar aqueles que desejavam sair. Então ele disse a Sariputra: “A minha assembleia agora está livre dos galhos e folhas inúteis, apenas a pura essência permanece. Ó Sariputra, é bom que os arrogantes tenham partido. Agora o Buda ensinará o Darma.” O Buda disse: “Ó Sariputra, uma doutrina como esta é raramente CEBB

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ensinada mesmo pelos budas. Isto é, de fato, tão raro quanto o florescer da árvore udumbara. Sariputra, você e os outros deveriam aceitar e acreditar nas palavras do Buda. O significado das instruções dadas pelo Buda em ocasiões específicas é difícil de compreender. Isto é assim porque o Buda tem empregado meios hábeis ilimitados e exemplos ao transmitir o Darma, o que é, de fato, difícil para as pessoas compreenderem e pode ser completamente entendido apenas pelos budas. Além disso, o surgimento do Buda neste mundo tem apenas um propósito. Ó Sariputra, o Buda surge neste mundo para mostrar a todos os seres a sabedoria do Buda e para guiá-los à realização da sabedoria e ao insight do Buda. “Ó Sariputra, o que o Buda realiza é sempre a mesma coisa. É possibilitar aos seres a realização da sabedoria do Buda e fazer com que eles a alcancem. Para este propósito o Buda transmite um ensinamento, o Ensinamento do Veículo Único. Não há um segundo ou terceiro ensinamento. Ó Sariputra, todos os budas das dez direções do universo também transmitem este ensinamento. “Sariputra, você deveria saber que o Buda surge neste mundo quando se apresentam os cinco sinais de degenerescência. A duração da vida diminui, os seres vivos são degenerados, suas ofensas e paixões aumentam, eles sustentam visões errôneas e a grande era cósmica se aproxima do fim. Sariputra, quando há o sinal de degenerescência da grande era cósmica, a degenerescência dos seres vivos se torna maior, e as paixões da avareza, cobiça e ciúme se intensificam e se tornam causas para todas as ações negativas. É por esta razão que o Buda manifestou um meio hábil ao ensinar o único Veículo do Buda como Três Veículos. Portanto, Sariputra, se entre meus discípulos alguns pensam que atingiram a iluminação e não têm a intenção de buscar a realização correta mais elevada, eles guardam uma CEBB

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arrogância crescente em seus corações. Assim, Sariputra, o Buda encoraja todos a acreditarem e a aceitarem este ensinamento com mente unifocada, sustentando-o em todos os momentos. O Buda fala a verdade; portanto, esteja certo que além do ensinamento do Veículo Único não há, em verdade, outro ensinamento.”

(5) O Buda continuou em versos:

(i) Agora o Buda empregará meios hábeis Para permitir-lhes entrar no reino da sabedoria de um buda. Estes ensinamentos não foram apresentados até agora Porque o momento de o fazer não havia chegado. Os discípulos do Buda agora, Sob a orientação de incontáveis budas, Seguiram caminhos profundos e maravilhosos. Suas mentes estão puras e abertas, E agora o Buda ensinará o Darma Maravilhoso. Meus discípulos, mesmo que seja um único verso do Darma, Não há razão para duvidar dele, Pois ele possibilitará a todos alcançar a iluminação.

(ii) Em todas as terras búdicas Há apenas o ensinamento do Veículo Único. Há o Veículo Único, não dois ou três Veículos, Pois estes são apenas meios hábeis. O Buda surgiu sob o nome de Sakyamuni Apenas para guiar os seres sencientes e para revelar a verdade.

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O Veículo Único é a verdade, os outros dois não são. O Buda não empregará Veículos inferiores Para guiar os seres sencientes. Supremo, de fato, é o ensinamento mais elevado. O Buda, também, se esforçou no caminho correto E chegou à verdade da não-discriminação. Se o Buda guiasse os outros por um Veículo inferior, O Buda cairia no nível dos avarentos, E o Buda está longe de ser avarento. O Buda guia a todos para superar o mal, O Buda não teme nada nas dez direções. Aqueles que buscam refúgio no Buda nunca são abandonados.

(iii) De forma majestosa e solene O Buda emite luz nas dez direções. Reverenciado e querido por todos, O Buda expõe a verdade da realidade absoluta, Permitindo a todos se unirem a ele. Esta foi a aspiração do Buda E agora esta aspiração foi completada, E o Buda guia a todos no caminho para a iluminação. Qualquer um que entre em contato com o Buda Será admitido nos ensinamentos. Os obcecados, com suas mentes distraídas, Nunca verão a verdade. Existem aqueles que não se esforçam, E devido à sua ignorância e cegueira

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Eles entram na floresta das visões errôneas e aderem a caminhos mentirosos Com uma arrogância que só cresce. Suas mentes estão distorcidas e carecem de sinceridade. Mesmo se dispusessem de um tempo infinito Eles poderiam nunca ouvir a verdade. É realmente difícil salvá-los.

(iv) Ó Sariputra, o Buda ensinou o caminho Empregando meios hábeis, O caminho que conduz ao perfeito nirvana. O nirvana não entrará em colapso, Pois todos os caminhos do Darma Guiam todos os seres à paz serena. Aqueles que seguem o caminho do Buda Alcançarão a iluminação em nascimentos futuros. Os ensinamentos dos Três Veículos são, de fato, Meios hábeis do Buda. Mas, na verdade, todos os budas ensinam o Veículo Único.

(v) Todos vocês que seguem o caminho, Libertem-se das delusões, Pois o Buda ensina apenas o ensinamento do Veículo Único E não ensina de nenhuma outra forma. Os budas do passado utilizaram muitos meios hábeis, Eles ensinaram apenas o Veículo Único, Guiando todos os seres ao caminho correto. Os seguidores do Buda

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Alcançaram concentração mental e sabedoria. Alguns ouvem o Darma, fazendo oferendas a ele; Alguns observam os preceitos. Há aqueles que constroem estupas de ouro e joias Nas quais as relíquias dos budas são guardadas. Alguns erigem montes de terra como mausoléus de budas, Enquanto as crianças, também, brincam alegremente Construindo montes de areia e fazendo suas oferendas; E os pintores pintam figuras ou esculpem imagens do Buda. As pessoas em pura alegria tocam instrumentos musicais E com sinceridade louvam as virtudes do Buda, Enquanto outros, perturbados por assuntos mundanos, Entram nas estupas e buscam refúgio no Buda. Todas essas pessoas devotas, por virtude destas condições positivas, Já alcançaram seus objetivos.

(vi) Os budas do universo, Ao empregarem meios hábeis ilimitados em sua variedade, Conduziram muitos seres à realização da sabedoria do Buda. Aqueles que recebem o ensinamento do Darma Atingem todos o reino do estado búdico. Por que todos os budas fazem seus votos? É devido ao seu desejo de ver Todos os seres sencientes seguirem o caminho Até alcançarem a margem da realização. Todos os incontáveis budas do universo Que ensinam o caminho da emancipação,

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Oferecerão apenas este ensinamento, O ensinamento do Veículo Único do Buda. Todos os budas do universo ensinam Que todas as coisas são, na verdade, desprovidas de uma essência. A realização da sabedoria de um buda É a interconexão de condições. Isto se baseia no ensinamento do Veículo Único. O ensinamento de que, No nível do Darma, Tudo que existe é eterno É o ensinamento dos mestres como meio hábil. O Buda emprega o poder da sabedoria Conhecendo a natureza e os desejos humanos. O Darma ensinado através de meios hábeis Fará com que todos se regozijem com a realização da iluminação.

(vii) Aos olhos do Buda Os seres sencientes se debatem nos seis destinos. Faltam-lhes benevolência e sabedoria. Eles estão profundamente afundados na cobiça Como um boi que corre atrás do próprio rabo. Eles estão cegos pelas paixões E falham na busca do Budadarma, Transmigrando de um destino infeliz para outro. Para estas pessoas o Buda Desperta grande compaixão. No momento da realização da iluminação o Buda ponderou:

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“Se o Veículo do Buda for enfatizado, Os seres sencientes não o aceitarão. Eles podem até mesmo difamar o Darma E atrair sofrimento por um tempo desconhecido. Mas, deveria o Buda ingressar no nirvana final Sem transmitir este ensinamento?” Então, os budas do passado Que empregaram meios hábeis vieram à sua mente: “Não deveria este ensinamento dos Três Veículos Também ser revelado à humanidade?”

(viii) Assim, com determinação o Darma foi ensinado. Agora que os seguidores do caminho Crescem continuamente em número É o momento correto de ensinar o Darma. Para os brilhantes e os arrogantes Este ensinamento pode não ter apelo; Mas agora que não há impedimentos para Os bodisatvas na exposição dos ensinamentos, Todos os meios hábeis serão descartados. O Darma absoluto será transmitido. Este Darma maravilhoso, não importa quantas eras passem, É difícil de ser encontrado. Regozijem-se por ouvir este ensinamento, Pois se houver mesmo uma só palavra de louvor, Ela se tornará uma oferenda a todos os budas. Realmente raras são tais pessoas,

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Tão raras quanto uma flor de udumbara. Não tenham dúvidas, meus discípulos, Pois o Buda é o rei do Darma.

(ix) A todos o Buda proclama: “Aqueles que seguirem o ensinamento do Veículo Único Serão os receptores da orientação do Buda. Aqueles que buscam Veículos inferiores Não são os discípulos do Buda. Ouçam, ó Sariputra e discípulos, Este Saddharmapundarika é verdadeiramente A essência do ensinamento do Buda. Aqueles que buscam os prazeres da carne Nunca estarão conscientes do Darma. Os incontáveis malfeitores que virão mais adiante, Perplexos em suas mentes, não o aceitarão e, difamando E abusando do Darma, cairão em sofrimento eterno. Aqueles com mentes puras e arrependimento, Aqueles que escolhem seguir o Darma, Aqueles

que

estão

completamente

conscientes

maravilhosos do Buda Estão agora alegremente livres de todas as dúvidas. O Buda assegura sua futura iluminação.”

2. A Parábola da Casa em Chamas

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dos

meios

hábeis

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(1) Tendo ouvido o discurso do Buda, Sariputra se encheu de alegria; juntando as mãos em prece e olhando reverentemente para o semblante majestoso do Buda, ele disse: “Honrado pelo Mundo, agora que ouvi um sermão como este, minha mente está incomparavelmente feliz. A razão para isto é que anteriormente, quando eu ouvia o Darma, testemunhei os bodisatvas recebendo profecias sobre o dia em que se tornariam budas; entretanto, eu nunca era parte daquelas profecias. Eu me sentia aflito por ser destituído da sabedoria e do insight de um buda. Honrado pelo Mundo, eu sempre morei sozinho nas montanhas e florestas e ao pé das árvores. Enquanto sentado ou caminhando, eu pensava comigo desta forma: ‘Nós todos realizamos a verdadeira natureza do Darma igualmente. Por que, então, o Honrado pelo Mundo tenta nos salvar com o ensinamento de um Veículo inferior?’ Entretanto, esta falha é nossa, e não do Honrado pelo Mundo. Se tivéssemos levado à fruição as sementes que conduzem ao estado búdico e tivéssemos esperado até que o Buda expusesse a iluminação suprema, sem dúvidas ele nos teria salvado com o ensinamento do Grande Veículo. Entretanto, sem compreender que este ensinamento era um meio hábil que se moldava ao que era possível, quando ouvimos pela primeira vez o Darma, imediatamente acreditamos nele, refletimos sobre ele e alcançamos a iluminação. Honrado pelo Mundo, até hoje, dia e noite eu me penitenciava; mas agora que ouvi o Darma incomparável do Honrado pelo Mundo eu cortei as minhas dúvidas, e tanto minha mente quanto meu corpo estão em paz. Agora pela primeira vez eu sei que sou verdadeiramente um filho do buda, nascido da boca do Buda, encarnado pelo Darma, e que eu herdei parcialmente o Budadarma.”

(i) Anteriormente nós, como filhos do Buda, CEBB

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Possuíamos todos o Darma imaculado; Entretanto, achávamos difícil seguir O supremo caminho para os mundos futuros. Agora o Honrado pelo Mundo prediz, em uma grande assembleia, Que eu me tornarei um buda. Eu ouço suas palavras e minhas dúvidas são dissipadas. Quando ouvi pela primeira vez as palavras do Honrado pelo Mundo Minha mente ficou alarmada e desconfiada. “Certamente um Mara tomou A forma de um buda e está confundindo minha mente.” O Honrado pelo Mundo manifesta Miríades de raciocínios, parábolas e histórias de suas vidas passadas. Sua mente é como um oceano pacífico. Quando o ouço, a teia da dúvida é cortada.

(ii) De fato, como o Honrado pelo Mundo ensina, Incontáveis budas do passado, presente e futuro, À vontade em relação aos meios hábeis, todos expõem este Darma. O Honrado pelo Mundo também, como todos os outros, Expõe o Darma, recorrendo a meios hábeis. O Honrado pelo Mundo conhece o verdadeiro caminho, nenhum Mara possui nada disto. Tendo caído na teia da dúvida, Eu suspeitei que isto era obra de Mara. A voz maravilhosa do Honrado pelo Mundo Alegra as profundezas de meu coração. Ela dissipa minhas dúvidas e me coloca à vontade diante da verdadeira

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sabedoria. Sem dúvidas eu me tornarei um buda. Reverenciado por deuses e pessoas Colocarei em movimento a suprema Roda do Darma e guiarei bodisatvas.

(2) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo disse a Sariputra: “Sariputra, há muito, muito tempo eu venho lhe ensinando e guiando de forma que você possa realizar o caminho do Buda. Você também, há um longo tempo está me seguindo e estudando o caminho. Devido aos meus meios hábeis você agora renasceu para o meu Darma. Você havia esquecido isto completamente e achava que havia alcançado o nirvana por si mesmo. De forma a acionar a memória de seu voto original e do caminho que você praticou, eu expus este Darma excelente. Sariputra, em uma era futura, depois de ter passado por um número infinito de kalpas e de ter sustentado o Darma, e depois de ser dotado com o caminho do bodisatva você se tornará um buda denominado Padmaprabha – Luz de Lótus. Sua terra búdica será imaculada e pacífica, e o solo será plano. O seu povo prosperará. Por um longo tempo os bodisatvas que plantaram sementes de mérito se reunirão lá como nuvens e praticarão o caminho.” Aqueles que lá estavam reunidos ouviram a profecia do Buda sobre o dia em que Sariputra se tornaria um buda, e com os corações alegres eles recitaram este verso:

Muito tempo atrás, em Varanasi, você girou A Roda do Darma das Quatro Nobres Verdades. Agora, para nosso benefício, você expõe o supremamente grandioso Darma. Este Darma é realmente profundo e excelente, CEBB

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E poucos são aqueles que nele acreditam. Nós ouvimos frequentemente o ensinamento, Porém, ainda não tínhamos ouvido tal Darma excelente. Como Sariputra, que é detentor de grande sabedoria, Um dia realizaremos o caminho do Buda. Ó, o caminho do Buda é difícil de apreender. Apenas o Buda, recorrendo A meios hábeis, expõe este Darma. Todas as ações meritórias que acumulamos E os méritos que conquistamos encontrando O Buda nesta era e em eras futuras, Nós oferecemos para o caminho do Buda.

(3) Então, Sariputra disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, nós agora não temos mais dúvidas. Entretanto, estes mil e duzentos discípulos, ao ouvirem o Honrado pelo Mundo dizer: ‘Nosso Darma liberta do nascimento, velhice, doença e morte e conduz ao nirvana’, acreditaram que estavam livres de visões errôneas sobre a essência, existência e inexistência e declararam que haviam atingido o nirvana. Agora, na presença do Honrado pelo Mundo, ouvindo um ensinamento que não tinham ouvido antes, eles caíram todos em dúvida. Nós lhe suplicamos, Honrado pelo Mundo, para o benefício dos homens e mulheres que são monges ou monjas ou praticantes leigos, explique as causas e condições e liberte-os da dúvida.” O Honrado pelo Mundo disse a Sariputra: “Eu não disse anteriormente que quando miríades de budas expõem o Darma recorrendo a diversas histórias das vidas passadas do Buda, e através de raciocínios, parábolas e meios hábeis, tudo isto era para o bem da iluminação de um buda? Todos CEBB

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eles têm o propósito de ensinar e guiar os bodisatvas. “Sariputra, irei esclarecer agora o significado do Darma recorrendo a uma parábola. Em uma cidade havia um homem rico, de idade bastante avançada. Ele possuía riquezas infinitas e numerosos campos e servos. Sua casa era grande e muitas pessoas viviam ali; entretanto, havia apenas uma porta de entrada. O salão e a mansão estavam em decadência e apodreciam. Pedaços das paredes haviam se desfeito e caído no chão; a própria parede estava inclinada e parecia precária. Um dia, repentinamente irrompeu um incêndio ao redor da casa. O homem próspero ficou alarmado, saiu pela porta de entrada e pensou consigo: ‘Eu fui capaz de deixar a casa em segurança através desta porta; entretanto, as crianças estão perdidas brincando nesta casa em chamas. Elas não estão cientes dos perigos das chamas que queimam e se aproximam delas. Suas mentes não estão amedrontadas e elas não pensam em fugir. Eu sou forte e posso tirá-las da casa. Entretanto, há apenas uma entrada e ela é estreita. E o pior de tudo, as crianças são pequenas e estão imersas em seus jogos. Elas podem cair e ser queimadas pelo fogo. Em primeiro lugar, devo alertá-las do perigo que se aproxima delas.’ “Assim, o homem próspero chamou suas crianças, gritando: ‘Venham para fora, rápido!’ Entretanto, as crianças estavam brincando, esquecidas de tudo, e não ouviram as palavras de seu pai. Brincando animadamente, elas apenas olharam rapidamente para seu pai e não tinham intenção alguma de sair. Então, ele pensou que seria possível empregar meios hábeis para ajudálas a escapar do desastroso incêndio. Ele lhes disse: ‘Eu tenho alguns brinquedos incríveis do lado de fora; se vocês não os pegarem agora, irão se arrepender. Do lado de fora da casa estão algumas carruagens puxadas por bodes, carruagens puxadas por cervos e carruagens puxadas por bois. CEBB

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Crianças, saiam desta casa em chamas! Eu lhes darei todas essas coisas de acordo com o desejo de seus corações, para que vocês possam brincar com elas.’ “Ouvindo sobre estes brinquedos raros elas correram para fora com alegria, pois estas coisas eram exatamente o que elas queriam. Empurrando umas às outras, elas se lançaram numa corrida louca e deixaram a casa em chamas. O próspero homem, ao ver suas crianças em segurança do lado de fora, ficou aliviado e contente. Então, as crianças clamaram ao pai: ‘Por favor, dê-nos as carruagens puxadas por bodes, as carruagens puxadas por cervos e as carruagens puxadas por bois que você nos prometeu!’ “Sariputra, naquele momento, o homem próspero deu a cada criança uma carruagem grande. Cada carruagem era alta, larga e decorada com muitos tipos de joias. Um trilho circundava a carruagem, e dos quatro lados, pequenos sinos balançavam. No topo havia uma cortina que cobria a carruagem. Além disso, ela estava adornada por joias; havia tapetes espalhados e travesseiros avermelhados. Cada uma era guiada por um grande boi branco, que era cuidado por numerosos servos. O homem pensou consigo mesmo: ‘Eu possuo riquezas abundantes. Não devo lhes oferecer carruagens inferiores. Estas são minhas crianças. Eu amo a todas, sem qualquer predileção. Eu possuo incontáveis carruagens como estas , adornadas com as sete joias; devo oferecê-las igualmente a todas as crianças.’

(4) “Naquele momento, cada uma das crianças subiu em uma das grandes carruagens e experimentou uma alegria que excedia suas mais elevadas esperanças e que nunca se repetiria novamente. Sariputra, quando esse homem próspero prometeu para as crianças três tipos de carruagens preciosas, ele as enganou?” CEBB

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Sariputra disse: “Não, Honrado pelo Mundo, ele não as enganou. Aquele homem apenas tinha se decidido a trazer as crianças para fora da casa em chamas empregando meios hábeis.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem dito, Sariputra, é exatamente como você diz. O Buda é o pai de todas as pessoas do mundo. Éons atrás ele exauriu a escuridão de incontáveis medos, sofrimentos, angústias e ignorância; dotado de sabedoria e poder ilimitados, ele beneficia todos com sua grande compaixão. Ele renasceu nestes mundos decadentes e podres devido a seu desejo de salvar as pessoas do sofrimento do nascimento, velhice, doença e morte, e dos fogos dos três venenos; ele renasceu aqui devido ao seu desejo de levar todas as pessoas a atingirem a iluminação dos budas. As pessoas deste mundo estão marcadas por pesar e sofrimento. Elas se desesperam em sua pobreza; elas se lamentam ao se separarem dos seres amados, ou, às vezes, elas sofrem devido ao seu próprio ódio. Entretanto, imersas em sofrimento, elas dançam por aí alegremente. Incapazes de perceber o sofrimento de seu mundo, elas não conseguem sentir repulsa por ele e não buscam a libertação. Portanto, assim como o homem próspero que salvou suas crianças através do uso de meios hábeis, o Buda falou para as pessoas, dizendo: ‘Todos vocês, vocês não deveriam morar na casa em chamas dos três mundos. Se vocês estiverem apegados luxuriosamente a esta casa, vocês certamente se queimarão. Rapidamente fujam e sigam os Três Veículos.’ “Sariputra, existem pessoas que seguem o Buda, ouvem seus ensinamentos, depositam sua fé nos ensinamentos, esforçam-se com diligência e buscam o nirvana para si mesmas. Essas são aquelas que percorrem o Veículo Sravaka; isto é, elas são as pessoas que seguem o caminho de ouvir o Darma para alcançar a iluminação. Elas são como as CEBB

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crianças daquele homem rico que deixaram a casa em chamas em busca da carruagem puxada por bodes. E também, existem aquelas pessoas que seguem o Buda, que ouvem seus ensinamentos, que depositam sua confiança neles, que se esforçam com diligência, que buscam sabedoria para si mesmas, que desejam a estabilidade do isolamento, e que percebem as causas e condições de todos os fenômenos. Essas são aquelas que percorrem o Veículo Pratyekabuda; isto é, elas são as pessoas que seguem os ensinamentos que conduzem à realização da iluminação para si mesmas. Elas são como as crianças do homem rico que deixam a casa em chamas em busca das carruagens puxadas por cervos. Além disso, existem aquelas que seguem o Buda, ouvem seus ensinamentos, depositam sua confiança neles, esforçam-se com diligência, buscam a onisciência e o poder dos budas, e sentem compaixão por seres incontáveis. Essas são aquelas que percorrem o Veículo do Bodisatva; isto é, elas são as pessoas que seguem os ensinamentos dos bodisatvas. Elas são como as crianças do homem rico que deixaram a casa em chamas em busca de carruagens puxadas por bois.

(5) “Sariputra, quando aquele homem rico viu as crianças que saíram da casa em chamas, ele pensou na riqueza ilimitada que possuía e presenteou a todos igualmente com grandes carruagens. Como ele, o Buda ao ver incontáveis pessoas libertando-se do sofrimento dos três mundos e atingindo a bem-aventurança do nirvana, pensou no tesouro que possuía, dotado com o Darma da sabedoria ilimitada e poder. Então ele lhes transmitiu a meditação e a emancipação dos budas. Ele fez isso com o seguinte pensamento: ‘Todas essas pessoas são meus filhos, transmitirei a cada uma delas um veículo excelente. Eu não devo permitir que elas caiam em uma forma degradada de extinção que se preocupa apenas com o próprio bem-estar; irei guiá-las ao CEBB

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nirvana expansivo dos budas. Elas são todas iguais para mim; este nirvana, louvado pelas arhats, dá origem a uma bem-aventurança que é pura, maravilhosa e superior.’ “Sariputra, aquele homem rico inicialmente atraiu suas crianças com palavras sobre os Três Veículos, mas depois ele lhes deu apenas carruagens excelentes. Porém, ele não pode ser culpado por falsidade. Da mesma forma, o Buda expõe os Três Veículos e guia as pessoas, e mais adiante ele as salva com um único Veículo excelente. Entretanto, ele não é culpado por falsidade. O Buda possui um tesouro dotado com o Darma da sabedoria ilimitada e poder, e ele inicialmente transmite um único Veículo excelente às pessoas. Entretanto, as pessoas ainda não possuem a capacidade de entendê-lo. Portanto, o Buda utiliza meios hábeis e divide o Veículo Único do Buda em Três Veículos, e assim expõe o Darma de três formas.”

(6) (i) Sariputra, eu também sou assim. Eu sou o mais venerado de todos os arhats. Eu sou o pai do mundo, todas as pessoas são meus filhos. Elas não possuem qualquer traço de sabedoria. Os três mundos são inseguros, eles são como uma casa em chamas. Seu mundo é pleno de sofrimento. É assustador. O fogo da velhice, doença e morte queima furiosamente e infindavelmente. O Buda abandona a casa em chamas dos três mundos E mora em uma floresta tranquila. Assim, esses três mundos me pertencem E todas as pessoas que neles habitam são meus filhos. Apenas eu sou capaz de salvá-las das misérias sem fim desses mundos. CEBB

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(ii) Apesar de ensiná-las e exortá-las Elas falham na sua fé em mim, Pois elas foram maculadas repetidamente pela cobiça. Portanto, eu exponho os Veículos a elas; Eu revelo os sofrimentos desses mundos A todas as pessoas e exponho o caminho Que conduz para além desses mundos. Assim as mentes das pessoas deveriam se aquietar; Com este exemplo irei expor o Veículo Único do Buda. Se elas acreditarem em minhas palavras, Alcançarão o caminho dos budas. Este Veículo é maravilhoso, os budas se regozijam com ele, Todas as pessoas o veneram. Ele é dotado de poder ilimitado, sabedoria e meditação. Transmitindo este Veículo a elas, Eu permito que as crianças desfrutem sua brincadeira por éons. Todos aqueles que seguem o caminho embarcam neste Veículo precioso E imediatamente chegarão ao ponto de praticar o caminho. Apesar de alguém procurar em todas as dez direções, Nenhum outro veículo pode ser encontrado além deste Veículo.

(iii) Eu falei anteriormente sobre o nirvana; Entretanto, foi apenas sobre a cessação de nascimento e morte. Por ser a verdadeira extinção, o que deve ser alcançado agora é Nada menos que a sabedoria do Buda. Se houver aqueles que despertam uma mente ampla,

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Eles deveriam, infalivelmente, ouvir unifocadamente o Darma. Apesar de os budas empregarem meios hábeis Aqueles que recebem os ensinamentos são todos bodisatvas. Para aqueles de pouca sabedoria que se afundam nos desejos luxuriosos O Buda expõe a natureza do sofrimento. Para aqueles que não conhecem a causa do sofrimento O Buda expõe que o desejo é sua verdadeira causa. Com a extinção da cobiça Não há lugar onde o sofrimento possa se instalar, E então o sofrimento é destruído. De modo a alcançar este estado o caminho é praticado.

(iv) Livrar-se das correntes do sofrimento é chamado de liberação. Entretanto, tal pessoa apenas se liberta das falsidades. Ela ainda tem que alcançar a liberação completa. Portanto, o Buda não expõe isto como sendo o verdadeiro nirvana. Eu sou verdadeiramente o rei do Darma. Com relação ao Darma, eu sou livre. Para deixar as pessoas tranquilas eu surgi neste mundo. Sariputra, este Darma foi exposto para o benefício do mundo. Você não deveria expô-lo nem propagá-lo sem uma boa razão. Se houver alguém que ouça o Darma e se regozije Essa pessoa repousa no estágio do qual não há retrocesso. Aqueles que acreditam neste Darma já viram um buda no passado distante.

(v) Aqueles que acreditam no que você expõe me veem; Eles são aqueles que veem miríades de bodisatvas.

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Entra-se neste ensinamento em virtude da fé. Alguém acredita nas palavras do Buda e segue este ensinamento. Não tem nada a ver com a própria sabedoria. Portanto, não exponha este ensinamento àqueles que são ignorantes. Ensine-o àqueles que são lúcidos em sua sabedoria, Que ouviram amplamente os ensinamentos do Buda, Que diligentemente praticaram a mente da compaixão, E que não se apegam nem a seus corpos nem a suas vidas.

3. A Mente da Fé (1) Naquele momento, Subhuti, Maha-Kasyapa e Maudgalyayana, ao ouvirem que o Buda havia feito uma profecia predizendo a realização da iluminação de Sariputra, foram tomados por alegria e se levantaram de seus assentos. Curvando-se diante do Honrado pelo Mundo, eles disseram: “Por um longo tempo estivemos à frente da Sanga; nós, velhos homens, acreditamos que já havíamos alcançado o nirvana e não tentamos ativamente alcançar a iluminação dos budas. Não encontramos alegria alguma em estabelecer uma terra búdica ou em aperfeiçoar as mentes das pessoas. Entretanto, agora que ouvimos este ensinamento incomparável, alcançamos um grande benefício. É como se tivéssemos encontrado tesouros ilimitados, espontaneamente e sem nem mesmo procurá-los. Honrado pelo Mundo, utilizando uma parábola tentaremos explicar o que queremos dizer.

(2) “Durante a infância um homem abandonou seu pai e foi para outro país. Ao chegar aos cinquenta anos ele sofria cada vez mais pela pobreza. Ele CEBB

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perambulava nas quatro direções em busca de alimento e roupas e, por acaso, continuou sua viagem na direção do país em que havia nascido. O pai deste homem buscava seu filho e acabou morando numa certa cidade. A casa do pai era realmente próspera e rica; tesouros ilimitados como ouro, prata, lápis lazúli, coral e outros preenchiam seus depósitos de riquezas. Ele também possuía um grande número de servos e seres vivos como elefantes, cavalos, vacas e bodes. Ele fazia negócios com outros países e uma hoste de mercadores e compradores sempre se reunia em sua casa. O filho empobrecido vagava por aqui e por ali, e finalmente chegou à cidade onde seu pai morava. Durante os cinquenta anos em que tinham estado separados não houve um momento em que o pai não tivesse se lembrado de seu filho. Apesar de não mencionar o assunto abertamente para os outros, em seu coração não havia um momento em que estivesse livre da dor da separação. Ele pensou consigo: ‘Eu sou um homem muito rico; entretanto, fiquei velho e não tenho um filho para me suceder nos negócios. Se minha vida chegar ao fim toda esta riqueza se dispersará e se perderá. Se eu tivesse um filho com quem pudesse deixar minhas riquezas não estaria tão aflito. Como seria maravilhoso!’ Com tais pensamentos, ele sempre se lembrava do filho. “Por outro lado, seu filho vagava pela cidade, sendo contratado aqui e ali para serviços domésticos. Pouco tempo depois, um dia ele acidentalmente chegou à casa de seu pai sem saber quem era o proprietário. Ele permaneceu em pé ao lado do portão. Ao entrar na casa, seu pai estava sentado em um trono de leão, mas o filho não o reconheceu. Ele estava enfeitado com colares inestimáveis; do lado esquerdo e direito ele estava circundado por servos que seguravam abanadores em suas mãos. O teto estava coberto por um dossel precioso; as paredes estavam adornadas com fitas de flores. “O filho empobrecido, ao ver tudo isto, diante da visão daquele homem CEBB

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majestoso e imponente, repentinamente ficou com medo e se arrependeu de ter ido até aquele lugar. Ele pensou: ‘Este homem é um rei ou alguém que é igual a um rei. Este não é um lugar para eu procurar trabalho. Seria muito mais fácil encontrar comida e roupas em uma vila pobre. Se eu permanecer em um lugar como este não sei que tipo de tristezas posso encontrar.’ E ele fugiu. O venerável pai viu tudo isto à distância e, percebendo que era seu filho, seu coração pulou de alegria. Ele pensou: ‘Meu filho amado, de quem eu não me esqueci mesmo por um instante, retornou; minhas preces foram atendidas. Agora a vida voltou a valer a pena mesmo para este homem velho.’ Imediatamente ele enviou um atendente para trazer o filho de volta. Entretanto, seu filho estava amedrontado. Ele disse: ‘Eu não fiz nada errado para você, por que você me agride?’ O mensageiro prendeu o filho em um forte aperto e o levou de volta para a casa do pai. O filho pobre pensou: ‘Não tendo culpa alguma e sendo arrastado desta forma deve significar que eu certamente serei morto.’ Tomado pelo medo, ele desmaiou e caiu no chão. O pai testemunhou isto à distância e disse ao servo: ‘Você não deve restringi-lo com tanta força. Jogue um pouco de água fria em seu rosto e reanime-o. Além disso, você não deve dizer coisa alguma para ele.’ O pai percebeu que as aspirações de seu filho eram pequenas e que ele, ao perceber a nobreza do pai, se encheu de medo. O pai empregou propositalmente meios hábeis e não mencionou que ele era seu filho. Libertado pelo servo, o filho ficou tão aliviado que pensou se tratar de um sonho. Ele se levantou e foi buscar comida e roupas andando na direção de uma vila pobre.

(3) “Mais tarde, o pai rico enviou dois servos vestidos com farrapos para falar com seu filho, de modo a atraí-lo. Ele lhe instruiu a dizer: ‘Nós temos um trabalho para você. A tarefa é varrer poeira. Eles pagarão o dobro CEBB

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do que está recebendo agora. Por que você não aceita este trabalho conosco?’ Ao ouvir isto, o filho se encheu de alegria; ele aceitou o trabalho e varreu a poeira junto com eles pelo preço combinado. O pai sentiu piedade por seu filho e o observou à distância. Seu filho estava macilento e exausto; coberto por poeira ele realizava seu trabalho. O homem rico vestiu roupas esfarrapadas e, cobrindo-se com poeira, pegou uma pá de lixo em sua mão direita e falou com as pessoas contratadas à distância. ‘Ei, vocês. Trabalhem duro! Não sejam preguiçosos!’ Através deste meio hábil o pai se aproximou de seu filho. Ele lhe disse: ‘Você deveria trabalhar sempre aqui, você não deveria ir para outro lugar. Vou aumentar seu pagamento. Se quiser tigelas, arroz, sal e outras coisas, eu as darei a você. Existem servos mais velhos que você pode utilizar. Tranquilize sua mente e pense em mim como seu pai. Não há razão para se sentir mal. Na verdade, eu já deixei muitos anos para trás, enquanto você está na sua juventude. Em seu trabalho me parece que não há trapaças, como é o caso com outros trabalhadores. De agora em diante pensarei em você como meu filho natural.’

(4) “Dali em diante o homem rico o chamou de ‘meu filho’, mas o filho, apesar de estar feliz pela mudança de sua situação, ainda estava tomado pelo pensamento de que era apenas um estranho pobre e inferior naquela cidade; e por vinte anos ele continuou varrendo poeira. Agora lhe era permitido entrar e sair da casa do homem rico à vontade, mas sua própria casa ainda era uma pequena cabana. O pai ficou doente neste tempo e, percebendo que não viveria muito mais, disse ao filho: ‘Meus depósitos estão cheios de ouro, prata e outros valores. Você deveria saber quanto há e o que quer escolher para si mesmo. Compreenda o que eu tenho em mente. Eu lhe peço para fazer isto porque não somos pessoas sem relação. Esteja atento e não as CEBB

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perca.’ Ao ouvir isto, o filho soube da grande acumulação de tesouros nos depósitos, mas ainda não tinha ideia de que eram seus. Ele permaneceu na cabana arruinada e não conseguia se livrar do pensamento de que era um homem pobre e humilde. “Depois de um tempo, o pai rico percebeu que o filho estava se tornando mais seguro de si mesmo. Então ele reuniu seus parentes, o rei e os ministros de estado, e disse: ‘A todos vocês que aqui estão reunidos eu gostaria de anunciar que este homem é meu filho. Ele me deixou quando ainda era muito jovem, e por cinquenta anos sofreu uma vida empobrecida e humilde. Eu sei o seu nome, eu sou seu pai. Eu procurei por ele na cidade em que eu morava, mas foi aqui nesta cidade que consegui encontrá-lo. Todos os tesouros que possuo agora são seus. Ele é responsável por eles.’

(5) “Honrado pelo Mundo, o filho ficou exultante ao ouvir estas palavras, e disse: ‘Todos estes depósitos cheios de tesouros se tornaram meus sem eu nem mesmo precisar pedir por eles.’ “Honrado pelo Mundo, o pai rico nesta história é você, o Honrado pelo Mundo. E o filho pobre é cada um de nós. Sofremos nossas vidas no samsara, e devido a nossa estupidez fomos desviados e nos apegamos a um ensinamento inferior. Honrado pelo Mundo, devido aos seus meios hábeis estamos finalmente discernindo o pensamento correto e estamos descartando a poeira dos argumentos inúteis das visões invertidas. Sentindo-nos gratificados por nosso pequeno progresso em termos de quietude, nós não nos dedicamos ao caminho superior. O Honrado pelo Mundo, conhecendo nossa resolução fraca e usando meios hábeis, nos ajudou a compreender que estivemos buscando um Darma inferior e a direcionar nossas mentes para a grande sabedoria. Isto é parecido com a forma com que o homem rico, CEBB

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sabendo do desejo inferior de seu filho, primeiramente preparou sua mente e, apenas então, deu-lhe todos os tesouros acumulados. Nossa conquista da sabedoria superior é similar ao exemplo do filho empobrecido que herda uma grande quantidade de tesouros. Honrado pelo Mundo, nós temos observado os preceitos por um longo tempo e agora recebemos o Darma supremo e nos tornamos verdadeiros discípulos seus. Agora nos tornamos dignos de receber oferendas de esmolas. E isto aconteceu porque o Honrado pelo Mundo, com uma compaixão raramente encontrada neste mundo, nos ensinou e nos guiou para o caminho superior. Mesmo ao longo de um tempo infinito, como poderia alguém esperar retribuir tal presente grandioso?”

(6) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a MahaKasyapa e aos outros discípulos: “Muito bem, Kasyapa! Você expôs os verdadeiros méritos do Tathagata. Mas mesmo que você os expusesse por kalpas incontáveis, não seria capaz de descrevê-los completamente. Kasyapa, o Tathagata é o rei de todos os Darmas. As palavras que ele pronuncia estão livres de falsidade. Com sua sabedoria e seus meios hábeis ele expõe e ensina todos os Darmas; e todos esses Darmas conduzem à realização do estado da onisciência. O Buda percebe desimpedidamente todas as disposições mentais subjacentes de todos os seres sencientes. Ele possui a maestria de todos os Darmas e manifesta sabedoria para o benefício de todos os seres sencientes. “Kasyapa, suponha que uma forte chuva caia sobre os gramados, arbustos, ervas medicinais e árvores que crescem nas montanhas, córregos e vales. As raízes, caules, galhos e folhas destes gramados e árvores crescem mantendo a natureza de suas respectivas espécies. Cada uma delas carrega um tipo diferente de flor ou fruto. Elas crescem da mesma terra e a mesma chuva as umedece; e mesmo assim os gramados e árvores retêm seus traços CEBB

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distintivos. Kasyapa, o Tathagata é assim, seu surgimento neste mundo é como a grande nuvem que recobre todo o mundo. Sua voz grandiosa é ouvida em todo o mundo. Essa voz proclama: ‘Eu sou o Tathagata que salvará o mundo. Iluminarei aqueles que não alcançaram a iluminação. Trarei tranquilidade àqueles que ainda não se sentem tranquilos. Tornarei possível atingir o nirvana para aqueles que ainda não o atingiram. Eu me iluminei para o caminho da onisciência, eu sou aquele que expõe e abre o caminho. Todos vocês deveriam vir até aqui para ouvir o Darma.’ Nesse momento, incontáveis pessoas vieram até o Buda para ouvir seu ensinamento; o Tathagata percebe as diferenças de suas capacidades, quer sejam perspicazes ou embotadas. Ele expõe o Darma de acordo com as aptidões de cada pessoa; ele possibilita que cada uma delas alcance alegria e muitos benefícios. Enquanto permanecem neste mundo elas vivem tranquilas, no futuro renascerão em bons destinos. Por virtude do caminho elas atingem a paz mental e são capazes de ouvir o Darma, livrando-se das obstruções. Repousando em meio a miríades de Darmas elas confiam em suas habilidades e, gradualmente, ingressam no caminho. Elas são como os gramados e as árvores que são molhados pela chuva e que crescem mantendo as naturezas de suas respectivas espécies. O Darma exposto pelo Tathagata possui uma marca e um sabor, isto é, a marca da libertação, da liberação das paixões, da extinção que, no final, leva ao sabor único da onisciência. Mesmo que uma pessoa ouça o Darma do Tathagata e o pratique, ela não será capaz de perceber os méritos que foram alcançados. Ela é como os gramados, as árvores e as ervas medicinais, que são ignorantes das diferentes gradações que existem em suas naturezas. Apenas o Tathagata é capaz de perceber o caráter, as disposições e as capacidades dos seres sencientes. Ele está completamente consciente de quais Darmas eles deveriam contemplar e CEBB

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praticar, e quais Darmas eles, no final, realizarão. O Tathagata possui, de fato, uma marca e um sabor; ele se iluminou para o Darma que conduz os seres sencientes à eterna tranquilidade que leva à vacuidade. Entretanto, considerando cuidadosamente a compreensão das pessoas, o Buda se abstém de expor a própria onisciência, que poderia desencorajar, confundir ou atemorizar as pessoas por sua profundidade. Kasyapa, todos vocês ouviram o Darma do Tathagata que foi apresentado para que se mantenha aquilo que é apropriado; vocês acreditam nele e o aceitaram bem. Isto é algo extremamente raro.”

O Darma exposto pelo Tathagata Rega as flores com a chuva do único sabor, E, livremente, ele faz com que cada um, de sua própria forma, dê frutos. Fazendo uso de várias explicações e ilustrações Eu abro o caminho; estes são meus meios hábeis. Agora, a todos vocês eu ofereço a verdade. Não há um Sravaka que atinja o nirvana. O caminho que vocês vêm praticando é o caminho de um bodisatva. Se vocês cultivarem o caminho passo a passo, Alcançarão todos o estado de Buda.

(7) O Honrado pelo Mundo se dirigiu aos seus discípulos: “Em um passado infinitamente distante, um Buda chamado Mahabhijnajnanabhibhu (Vitorioso pelo Grande Conhecimento Penetrante) Tathagata surgiu neste mundo. Para o benefício de um número infinitamente grande de seres sencientes, ele expôs o Darma e tornou possível que eles atingissem a liberação. Entretanto, antes de sua renúncia à vida de chefe de família, ele CEBB

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teve dezesseis filhos, todos os quais acabaram se tornando discípulos do Buda. “Todos esses dezesseis príncipes alcançaram a iluminação dos budas, e ensinaram e orientaram um número extremamente elevado de seres sencientes. Eu, também, como um desses dezesseis príncipes, tornei-me um buda neste mundo e apresentei o caminho para um número incrivelmente elevado de seres sencientes. Todos os discípulos, começando por vocês e os discípulos de gerações posteriores, receberam ensinamentos naquela época. Por buscar o caminho desde um passado distante é possível, finalmente, entrar no caminho dos budas. A razão para tamanha demora é que a sabedoria do Buda é difícil tanto de acreditar quando de ser realizada. Depois de eu passar para o nirvana haverá aqueles que, não tendo conseguido ouvir o Darma do Veículo Único, terminarão suas vidas neste mundo na crença de que o que eles alcançaram por si mesmos é o nirvana. Mas, devido ao que ouviram de mim em vidas anteriores, eles novamente buscarão a sabedoria dos budas. O ingresso no nirvana só é conquistado através do Veículo dos Budas, e não através de outros Veículos. Discípulos, o Buda enxerga profundamente a natureza dos seres sencientes. Sabendo que os seres sencientes buscam Darmas inferiores e estão profundamente apegados aos cinco desejos, ele apresentou o ensinamento sobre o nirvana. “Suponham que a quinhentas yojanas de distância haja um tesouro. A estrada que leva até lá é precária e repleta de todas as formas de perigo. Porém, há um guia que conhece sua condição e que conduz incontáveis pessoas ao longo dessa estrada precária. No meio da jornada, as pessoas lamentam: ‘Estamos exaustos e não podemos seguir adiante. Nosso destino ainda está muito distante. Vamos voltar.’ O guia, recorrendo a meios hábeis, cria magicamente uma grande cidade alguns yojanas adiante. Ele diz: ‘Não CEBB

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há necessidade para voltar com medo. Vocês deveriam ir até aquela cidade e descansar conforme seu desejo. Então vocês se sentirão mais tranquilos. Se vocês continuarem e alcançarem o local do tesouro, serão capazes de tomá-lo para si e voltar para casa.’ Desta forma o guia dá esperança às suas mentes cansadas. Elas entram na cidade e descansam por um tempo. Então, o guia mostra a elas que o tesouro está próximo. Ele diz: ‘O depósito de tesouros agora está perto. Quando eu criei esta cidade, foi para tranquilizá-los. Esta cidade não é real. Eu a criei como um meio hábil.’ “Discípulos, o Buda é exatamente como este guia. Ele se torna o seu guia e lhes possibilita passar pela longa e pesarosa estrada do nascimento e da morte. O Buda percebeu que as mentes das pessoas eram fracas e inferiores, e que se ele expusesse o Grande Veículo que conduz à iluminação as pessoas não seriam capazes de ouvir imediatamente o Buda, nem elas se aproximariam do Buda. Por esta razão, o Buda expôs os ensinamentos dos Sravakas e dos Pratyekabudas. Tão logo esses discípulos acessaram esses estados o Buda ensinou: ‘Vocês ainda não realizaram aquilo que devem realizar. Vocês repousam em um estado que está próximo à sabedoria do Buda, mas devem seguir contemplando. O que vocês atingiram não é o nirvana, o que atingiram são os Três Veículos, os quais, como meios hábeis, são reconhecidos pelo Veículo Único do Buda.’”

(8) O Honrado pelo Mundo se dirigiu a Purna e à hoste de discípulos que ali se reunia e previu o dia em que eles se tornariam budas. Os corações dos discípulos se alegraram, levantando-se de seus assentos eles se curvaram diante do Honrado pelo Mundo e disseram: ‘Nós pensávamos que já tínhamos alcançado o nirvana; pela primeira vez entendemos que isto foi uma completa tolice. Apesar de nossa capacidade de atingir a sabedoria do CEBB

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Buda, nós nos demos por satisfeitos com nossa realização de uma sabedoria inferior. Honrado pelo Mundo, nós éramos como um homem que vai até a casa de um amigo. Embriagado pelo álcool, ele se deita. Seu amigo está prestes a deixar a casa em um trabalho oficial, mas antes de sair ele costura uma gema inestimável no forro da roupa do homem embriagado. Sem saber disso, esse homem desperta de seu torpor e viaja para outro país. Ele trabalha e luta por comida e roupas; mesmo quando recebe um pagamento inferior ele se satisfaz. Mais tarde, ao mencionar suas viagens para seu amigo ao encontrá-lo novamente, o amigo diz: ‘Por que você está lutando por comida e roupas? Na expectativa de lhe dar segurança eu costurei uma joia no forro de sua roupa. Porém, sem saber que a gema está aqui, você está lutando para ganhar a vida. Uma verdadeira tolice! Você deveria trocar essa gema por ouro, assim poderá se satisfazer de acordo com os desejos de seu coração.’ “Nós éramos exatamente como esse homem ignorante. Éons atrás quando o Honrado pelo Mundo era um bodisatva, ele nos ensinou e guiou e tornou possível para nós o despertar da aspiração pela onisciência. Então, tendo nos esquecido disto, permanecemos satisfeitos por termos atingido uma iluminação superficial. Nós éramos como o homem da parábola que trabalhou pela subsistência e estava satisfeito com o pouco que obtinha. Entretanto, isto não significa que havíamos abandonado de fato nossa aspiração pela onisciência. Agora o Honrado pelo Mundo nos desperta, dizendo: ‘Discípulos, o que vocês alcançaram não é a iluminação final. Por éons eu os fiz cultivar as raízes de mérito. Entretanto, eu estava apenas lhes mostrando um aspecto do nirvana através do uso de meios hábeis, e vocês tomaram isto erroneamente como a verdadeira iluminação.’ Honrado pelo Mundo, finalmente agora compreendemos que somos bodisatvas que seguem o caminho do Buda. Neste momento você apresentou esta profecia sobre o CEBB

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dia em que alcançaremos a iluminação do Buda, e estamos exultantes de alegria.”

(9) Sob o pretexto de falar com o Bodisatva Bhaisajyaraja (Rei da Medicina), o Honrado pelo Mundo se dirigiu a oitenta mil bodisatvas: “Bhaisajyaraja, depois de eu entrar no nirvana definitivo, se uma pessoa repetir apenas uma frase do Saddharmapundarika para o benefício de outra pessoa, essa pessoa é portadora da mensagem do Buda; ela é enviada pelo Buda e realiza o trabalho do Buda. Caso ela exponha o ensinamento em meio a uma grande massa de seres sencientes, ela se torna ainda mais uma mensageira do Buda. Bhaisajyaraja, se uma pessoa má com uma mente maligna difamar o Buda por um longo kalpa, a ofensa não é grave. Porém, se uma pessoa difamar aqueles que expõem este ensinamento, então esta ofensa é grave. Aqueles que expõem este ensinamento estão adornados com os ornamentos do Buda e carregarão o Tathagata sobre seus ombros. “Bhaisajyaraja, eu tenho exposto inúmeros ensinamentos; entretanto, este ensinamento é o mais difícil de acreditar e despertar para ele também é muito difícil. Este é o tesouro da essência secreta do Budadarma. Você não deve passá-lo adiante aleatoriamente para as pessoas. Até agora ele vem sendo protegido pelos budas e nunca foi exposto abertamente. Mesmo enquanto o Buda ainda está presente neste mundo este ensinamento possui incontáveis inimigos; depois que o Tathagata entrar no nirvana final haverá um número ainda maior de inimigos. Portanto, depois que o Tathagata ingressar no nirvana final aqueles que sustentarem este ensinamento e o expuserem para o benefício dos seres sencientes estarão vestidos com os mantos do Buda e muitos budas irão abençoá-los. Eles serão dotados do poder da grande fé, da aspiração e de miríades de raízes de méritos e estarão CEBB

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próximos do Buda. Além disso, aqueles que ouvem este ensinamento são pessoas que trilham o caminho dos bodisatvas. Aqueles que ouvem este ensinamento, que acreditam nele e que o sustentam estarão mais próximos da iluminação suprema. Um homem sedento procura água em uma planície elevada. Ele cava e encontra apenas terra seca. Sabendo que a água ainda está muito abaixo ele cava sem parar até encontrar terra úmida. Logo ele começa a ver o barro e sabe que a água não está muito longe. Este ensinamento realmente abre os portões dos meios hábeis e revela a marca da verdade e da realidade. Ele é tão profundo e distante que é difícil alcançá-lo. Portanto, o Buda agora ensina e guia os bodisatvas, aperfeiçoa suas mentes e revela este ensinamento a eles. Bhaisajyaraja, caso um bodisatva sinta-se alarmado ou temeroso ao ouvir este ensinamento, ele é um bodisatva noviço que entrou no caminho pela primeira vez. Caso haja um discípulo que ao ouvir a voz do Buda transmitindo este ensinamento se sinta alarmado, duvidoso ou temeroso, ele é alguém que está cheio de orgulho arrogante. “Bhaisajyaraja, depois que o Tathagata ingressar no nirvana final, caso um homem contemple a possibilidade de expor este ensinamento para o benefício dos seres sencientes, ele deveria vestir os mantos de um buda, sentar-se no trono de um buda, entrar no salão de um buda e, então, expor extensamente o ensinamento. Os mantos do Buda simbolizam gentileza e tolerância. O trono do Buda simboliza a realização de que toda a existência é vacuidade. O salão do Buda denota grande compaixão com todos os seres sencientes. Repousando tranquilamente neste ensinamento, com uma mente diligente, vocês fariam bem em expor este ensinamento para o benefício dos seres sencientes.”

(10) Naquele momento, uma estupa de sete gemas surgiu da terra e CEBB

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pairou no ar. Sua altura era de quinhentos yojanas; seu comprimento e largura eram de duzentos e cinquenta yojanas. Ela estava adornada com cinco mil parapeitos, dez mil quartos, incontáveis fitas, incontáveis correntes de joias e um trilhão de sinos preciosos. Das quatro direções a fragrância da madeira de sândalo pairava por todos os lugares e se espalhava até o fim do mundo. Além disso, o dossel adornado por sete gemas plainava alto no espaço e os deuses lançavam uma chuva de flores. Um número infinito de pessoas trouxe oferendas de flores, incenso, colares e música para a estupa e, reverentemente, cantaram seus louvores. Então, de dentro da estupa, uma poderosa voz ecoou, dizendo: “Realmente excelente! Sakyamuni, o Honrado pelo Mundo, transmitiu o ensinamento da sabedoria que pode ser alcançada por cada ser senciente. É o ensinamento

do

bodisatva.

Ele

expôs

o

ensinamento

do

Saddharmapundarika que tem sido guardado por todos os budas. Aquilo que é exposto pelo Honrado pelo Mundo é a verdadeira realidade.” Aqueles que ali se reuniam testemunharam este sinal auspicioso e ficaram espantados. Eles se levantaram de seus assentos, com as mãos em prece,

louvaram

o

Honrado

pelo

Mundo

e,

então,

sentaram-se

silenciosamente. O Bodisatva Mahapratibhana, para o bem dos seres sencientes, perguntou ao Honrado pelo Mundo sobre as causas e condições que produziram aquele sinal auspicioso. O Honrado pelo Mundo disse: “Dentro desta estupa os restos de um buda estão preservados. A voz que vocês ouviram foi emitida por esse Buda. Na direção leste, incontáveis terras distante, existe um país chamado de Ratnavisuddha (Purificado pelas Joias). Morando lá se encontra um buda chamado de Prabhutaratna (Joias Abundantes). Quando este Buda seguiu o caminho do bodisatva ele fez um grande voto, dizendo: ‘Depois de meu nirvana final uma enorme estupa CEBB

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contendo os meus restos será construída. E onde quer que o ensinamento do Saddharmapundarika for exposto, seja em qual terra for, esta estupa se manifestará e servirá como luz.’ Mahapratibhana, esta estupa surgiu da terra por esta razão.” Mahapratibhana disse: “Eu lhe suplico, por favor, manifeste para nós com o poder do Honrado pelo Mundo, o corpo deste Buda.” O Honrado pelo Mundo disse: “Este Buda fez o voto de que caso alguém desejasse que ele revelasse seu corpo aos seres sencientes, essas pessoas deveriam reunir em um lugar todos os corpos manifestados pelo Buda que expõe o Darma Maravilhoso; então ele manifestará o seu corpo. Portanto, eu trarei todos os corpos que manifestei e deixei para trás em mundos passados nas terras das dez direções.” Naquele instante o Honrado pelo Mundo emitiu luz do pelo branco no centro de suas sobrancelhas. Na direção leste, em um número infinito de terras maravilhosas, uma cena na qual uma infinitude de budas expunham o Darma a uma infinitude de bodisatvas se manifestou. O mesmo ocorreu nas terras ao sul, ao oeste, ao norte, nas quatro direções intermediárias, e nas regiões superiores e inferiores onde esta luz penetrava. Esses budas das dez direções se dirigiam a cada um dos bodisatvas: “Meu bom filho, agora iremos ao local do Buda Sakyamuni que habita em Saha, o mundo no qual é preciso passar por sofrimento, e nos prostraremos à estupa do Buda Prabhutaratna.” Naquele momento, este mundo Saha repentinamente se transformou em algo puro. A terra se tornou tão brilhante quanto o lápis lazúli. Árvores cintilavam com joias. Montanhas, rios, grandes oceanos, florestas, cidades e vilas todos desapareceram da visão. Flores cobriam a terra, cada lugar exalava fragrâncias. Todos os budas, acompanhados por seus bodisatvas, infinitos em número, ali se reuniam. Isto se repetiu duas vezes, e logo todos os corpos CEBB

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manifestados pelo Buda tinham se reunido e se sentavam sobre Tronos de Leão. Logo depois, o Honrado pelo Mundo Sakyamuni se levantou de seu assento e subiu ao espaço. Os seres sencientes juntaram suas mãos em prece e olharam atentamente para o Buda. Com seu dedo direito, o Buda abriu as portas da estupa; o som intenso era como o de uma barra sendo arrastada para o lado para abrir os portões de uma cidade com muralhas. Aqueles que ali se reuniam cultuaram os restos do Buda Prabhutaratna e ouviram uma voz dizendo: “Realmente excelente! O Honrado pelo Mundo Sakyamuni revela o ensinamento do Saddharmapundarika. Eu vim até aqui para ouvir tal ensinamento.” Assim, o Buda Prabhutaratna ofereceu metade de seu assento ao Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo, através de seus poderes divinos, elevou todos os seres sencientes ao espaço. Então, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a todos na assembleia: “Entre todos aqueles reunidos aqui nesta terra, quem fará a exposição do ensinamento do Saddharmapundarika? Agora é, realmente, o momento de expor esse Darma. Em pouco tempo eu entrarei no nirvana. Eu desejo confiar este Darma a vocês para que ele permaneça por éons neste mundo.”

4. A Realização da Iluminação pela Filha do Rei Naga (1) O Honrado pelo Mundo novamente se dirigiu aos bodisatvas e aos discípulos, tanto monges quanto leigos, e ele disse: “No passado, ao longo de incontáveis kalpas, eu busquei o Saddharmapundarika com diligência incansável. Por inúmeros kalpas nos quais sempre renasci como um rei eu fiz

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votos, busquei a iluminação suprema e completei as Seis Perfeições. Para realizar isto, eu ofereci terras, tesouros, minha família e meu corpo sem me apegar a eles. Finalmente, pelo bem do Darma, eu abandonei meu título e confiei o governo ao meu herdeiro. Tocando um tambor eu me dirigi aos quatro cantos: ‘Há alguém que, para meu benefício, possa expor o ensinamento do Grande Veículo conhecido como Saddharmapundarika?’ Naquele momento, um sábio apareceu e disse: ‘Eu possuo o ensinamento do Grande Veículo conhecido como Saddharmapundarika; se você concordar em ser meu servo eu transmitirei esse Darma a você.’ Ao ouvir isto eu me enchi de alegria, e daquele momento em diante eu atendi aquele sábio como seu servo. Eu colhi frutos, carreguei água, juntei lenha, preparei a comida e, às vezes, usei até mesmo meu corpo como cama para o sábio. Eu fiz tudo isso com diligência incansável. Desta forma, com diligência inabalável eu servi aquele sábio para o bem do Darma por uma duração de dez mil anos. Discípulos, o rei daquela época não é ninguém mais que eu mesmo, e o sábio não é ninguém mais que aquele que hoje é conhecido como Devadatta. Realmente, eu atingi a iluminação através de meu bom amigo Devadatta; devido a ele me tornei capaz de salvar as pessoas de todos os lugares. Portanto, agora eu digo a vocês que Devadatta, após passarem-se incontáveis kalpas, tornar-se-á um buda chamado Devaraja.”

(2) Naquele momento, o Bodisatva Prajnakuta que acompanhava o Buda Prabhutaratna disse a ele: “Permita que eu retorne à minha terra.” O Honrado pelo Mundo disse ao Bodisatva Prajnakuta: “Ó filho de família virtuosa, espere um pouco. Você deveria retornar à sua terra apenas depois de encontrar Manjushri e discutir o Darma com ele.” Enquanto isso, Manjushri estava sentado sobre um lótus de mil pétalas; CEBB

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ele estava acompanhado por um grande número de bodisatvas. Movendo-se espontaneamente do palácio do rei Naga Sagara no fundo do oceano, ele subiu ao espaço. Chegando ao Pico dos Abutres ele desceu do lótus. Depois de reverenciar o Honrado pelo Mundo, ele foi até o Bodisatva Prajnakuta, trocou cumprimentos com ele e se sentou. O Bodisatva Prajnakuta perguntou: “No palácio dos Nagas quantas pessoas você ensinou e guiou?” Manjushri respondeu: “Um número incontável de pessoas, em um momento irei oferecer-lhe provas de minhas realizações.” Antes de ele terminar de falar, um número infinito de bodisatvas, cada um sentado sobre um lótus precioso, brotou do fundo do oceano. Eles foram até o Pico dos Abutres e, em meio ao espaço, expuseram o ensinamento do Grande Veículo. O Bodisatva Prajnakuta cantou um louvor a Manjushri com este verso:

Sua vasta sabedoria é plena de vigor. Ele salva um número infinito de seres sencientes. Ele apresenta o significado da verdadeira existência. Ele revela o ensinamento do Veículo Único E guia todos os seres sencientes em todos os lugares. Ele possibilita que todos atinjam a iluminação instantaneamente.

Manjushri disse: “No oceano eu expus constantemente o ensinamento do Saddharmapundarika.” O Bodisatva Prajnakuta disse: “Este ensinamento é maravilhoso e profundo, é uma joia entre todos os ensinamentos. Há alguém que se esforçará com diligência, praticará este ensinamento e instantaneamente atingirá o estado búdico?” Manjushri disse: “A filha de oito anos do rei Naga Sagara possui CEBB

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sabedoria sutil e, em um instante, ela gerou o pensamento da iluminação. Ela acessou o estágio de não-retrocesso. Dotada com méritos incomensuráveis ela sente compaixão por todos os seres sencientes como se eles fossem seus próprios filhos. Ela é capaz de alcançar a iluminação suprema.” O Bodisatva Prajnakuta disse: “Quando contemplo o trajeto do Honrado pelo Mundo Sakyamuni, vejo que ao longo de um número infinito de kalpas ele praticou difíceis disciplinas, acumulando méritos e virtudes. Ele buscou a iluminação sem descansar por um único momento. Para o bem dos seres sencientes ele entregou seu corpo e vida em existências anteriores. Não houve um lugar neste mundo, mesmo do tamanho de uma semente de mostarda, onde ele não tenha feito isto. Depois de tudo isso ele foi capaz de alcançar a iluminação. É inacreditável que esta jovem garota, em um breve instante, possa alcançar a iluminação.”

(3) Antes de ele terminar de falar, a filha do rei Naga repentinamente manifestou seu corpo, ela se curvou diante do Honrado pelo Mundo e cantou este louvor em versos:

Tendo percebido profundamente as formas de transgressão e mérito, Ele brilha universalmente nas quatro direções. Não há ninguém neste mundo Que não venere sua imagem maravilhosa e pura.

“Eu ouvi dizer que apenas budas sabem quem ouve e atinge a iluminação. Eu ouço o Darma soberbo e salvo aqueles que estão em sofrimento.” Sariputra disse à filha do rei Naga: “Você acredita que alcançará a CEBB

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suprema iluminação num breve espaço de tempo. É difícil de acreditar nisto. A razão é que o corpo de uma mulher é impuro e não é um vaso para o Darma. Como você poderia atingir a iluminação suprema?” Naquele momento, a filha do rei Naga fez a oferenda de uma joia inestimável ao Honrado pelo Mundo, e ele a aceitou. A filha do rei Naga disse ao Bodisatva Prajnakuta e a Sariputra: “Mais rapidamente que o tempo necessário para o Honrado pelo Mundo aceitar esta joia que eu ofereci eu me tornarei uma buda.” Então, todos reunidos ali viram a filha do rei Naga instantaneamente se transformar em um homem, aperfeiçoar a prática de um bodisatva e viajar para o sul em direção ao mundo Vimala. Sentado sobre um lótus precioso, ele atingiu a iluminação. Ele expôs o Darma para miríades de pessoas; os seres sencientes testemunharam isto e se regozijaram, e cada um despertou a mente que segue o caminho.

(4) Naquele momento, diante do Honrado pelo Mundo, um grande número de bodisatvas fizeram o voto de que aceitariam e disseminariam este ensinamento. Elevando suas vozes em uníssono, eles cantaram este verso:

(i) Nós suplicamos ao Honrado pelo Mundo para não se afligir Depois de entrar no nirvana final, Pois em todos os lugares deste mundo temível e maldoso Nós iremos expor e disseminar este ensinamento. Mesmo que pessoas tolas possam nos caluniar com maldade E nos acertar com facas ou varas, Suportaremos tudo com tolerância. Existem aqueles que egoisticamente buscam sua própria prática; CEBB

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Eles menosprezam os outros e expõem o Darma devido a sua cobiça por lucros. Eles são reverenciados por seres sencientes que foram enganados, E eles sentem prazer em expor nossas falhas. Eles nos caluniam com palavras como estas: “Devido à cobiça por fama e lucro Esses discípulos expõem os ensinamentos que pertencem a caminhos falsos, E eles desvirtuam os seres sencientes.”

(ii) Para nos caluniar entre os seres sencientes Eles se voltam para eles e nos acusam de sustentar visões errôneas. Entretanto, como reverenciamos o Buda, Suportaremos tais maldades. Aqueles que foram enlameados pelas paixões são possuídos pelos Maras; Eles nos caluniam e nos humilham. Entretanto, colocaremos nossa confiança no Buda e vestiremos a armadura da tolerância. De modo a expor este ensinamento suportaremos estas atribulações. Não estamos apegados nem a nossos corpos nem a nossas vidas; Apenas reverenciamos o caminho supremo.

(iii) Por éons nas eras vindouras Protegeremos aquilo que nos foi confiado pelo Buda. Os discípulos que habitam este mundo enlameado são ignorantes do Darma Dos meios hábeis; Eles nos caluniam maldosamente, eles nos afastam repetidamente E finalmente nos expulsam dos monastérios.

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Apesar de cometerem tais ofensas contra nós, Suportaremos pacientemente todas elas, Seguindo firmemente as palavras do Buda. Onde quer que alguém busque o Darma Iremos até lá e exporemos o Darma confiado a nós pelo Buda. Somos os mensageiros do Honrado pelo Mundo e não tememos ninguém. Exporemos o Darma com habilidade e o disseminaremos. Diante do Honrado pelo Mundo E dos budas das quatro direções fazemos este voto. Oramos para que isto se torne conhecido por todos.

(5) O Bodisatva Manjushri disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, por devoção a você estes bodisatvas expõem este ensinamento. No confuso mundo vindouro, de qual maneira deveriam estes bodisatvas expor o Saddharmapundarika?” O Honrado pelo Mundo disse: “No confuso mundo vindouro aqueles que aspiram a expor este ensinamento devem seguir quatro tipos de prática. Primeiro, eles devem suportar tudo com tolerância, ser gentis e livres da violência e agir destemidamente. Eles não devem se apegar a coisas e devem perceber

todos

os

fenômenos

como

eles

são,

sem

pensamentos

discriminativos. “O segundo tipo se refere àqueles dos quais eles se aproximam. Isto é, eles não devem se aproximar daqueles que seguem caminhos diferentes, daqueles que estão envolvidos com fina literatura, daqueles que se entregam a diversas formas de entretenimento e daqueles que ganham suas vidas tirando a vida de seres vivos. Caso tais pessoas se aproximem deles, eles devem se limitar a apenas expor o Darma e não devem guardar expectativas CEBB

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em relação a elas. Além disso, eles não devem manter contato próximo com aqueles que buscam os ensinamentos inferiores. Com relação às mulheres, eles não devem expor o Darma com qualquer pensamento de desejo de encontrar uma mulher. E também eles não devem, em seu desejo de olhar mulheres, entrar na casa de uma donzela ou viúva, ou iniciar uma conversa íntima com elas. Se entrarem em tais casas sozinhos, eles devem, em suas mentes, manter foco único no Buda. Caso eles exponham o Darma para mulheres, não devem sorrir e mostrar seus dentes. Eles não devem descobrir seus peitos. Mesmo para o bem do Darma eles não devem se tornar íntimos de mulheres; portanto, isto é ainda mais verdadeiro em outros casos. E também não devem manter o desejo de nutrir um jovem discípulo. Sempre habitando em lugares silenciosos, eles devem controlar suas mentes. Este é o primeiro lugar com o qual eles devem se familiarizar. “Bodisatvas deveriam praticar o caminho da não-discriminação. Mas eles deveriam reconhecer a distinção entre homens e mulheres. Eles deveriam ver toda a existência como sendo vazia. Eles devem manter a aspiração de compreender que todas as coisas existem apenas de forma dependente, como se surgissem de inversões. Este é o segundo lugar com o qual eles devem se familiarizar.

(6) “Além disso, Manjushri, em terceiro lugar, depois que o Buda tiver entrado no nirvana final, aqueles que aspiram a expor este ensinamento devem estar em paz em suas mentes. Ao exporem o Darma, eles não deveriam menosprezar os mestres de outras escolas. Eles não deveriam apontar as falhas dos outros, suas características ou limitações. Mesmo por aqueles que praticam o caminho Sravaka eles deveriam sentir compaixão por tal limitação. Eles não deveriam elogiar ou odiá-los. Desta forma eles CEBB

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deveriam sustentar a mente em paz; aqueles que ouvem tais bodisatvas também se refrearão para não se tornarem rebeldes. Portanto, não haverá ninguém que difame os outros, que os desvie ou que os assalte com facas ou varas. A razão para isto é que suas mentes estão dotadas com tolerância. Quando alguém coloca uma questão eles não deveriam responder com os ensinamentos Sravaka, mas sim deveriam expor e esclarecer o Darma superior, e ao fazerem isto deveriam possibilitar ao outro alcançar a onisciência. “Além disso, Manjushri, aqueles que sustentam este ensinamento não deveriam guardar pensamentos de inveja ou bajulação. E também eles não deveriam diminuir aqueles que estudam uma variedade de caminhos do Buda. Eles não deveriam causar desconforto nem gerar dúvidas, dizendolhes: ‘Todos vocês se afastaram bastante do caminho. A razão para isto é que você foram negligentes em sua prática do caminho.’ E eles não deveriam discutir uns com os outros recorrendo a disputas. Isto é, eles deveriam despertar o pensamento de grande compaixão por todas as pessoas. Eles devem olhar para a miríade de budas como se fossem seus pais compassivos. Eles deveriam ver a miríade de bodisatvas como sendo seus professores. Desta forma eles devem destruir suas mentes orgulhosas; e eles devem expor o Darma da mesma maneira para todos os seres sencientes. Mesmo para aqueles que seguem e amam o Darma eles não deveriam expô-lo de uma forma tendenciosa. Manjushri, não há ninguém que seja capaz de trazer desconforto e desequilíbrio para aqueles que expõem o Darma, uma vez que tenham completado a terceira forma de prática pacífica. “E também, Manjushri, em quarto lugar, aqueles que sustentam este ensinamento deveriam gerar uma mente de grande compaixão por aqueles que são incapazes de buscar o caminho de um bodisatva. Eles devem pensar: CEBB

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‘Estas pessoas não ouvem, conhecem, realizam, perguntam, ou acreditam nos meios hábeis do Budadarma, que está de acordo com aquilo que é apropriado. Elas perderam esse Darma completamente; entretanto, quando eu atingir a iluminação de um buda, onde quer que seja, com sabedoria e poder irei atraí-las para o Darma.’ Manjushri, aqueles que aperfeiçoam este quarto ponto são venerados e louvados por todas as pessoas. E eles estão sempre protegidos por uma hoste de deuses e budas. Um monarca universal concede aos guerreiros que se destacaram nas batalhas recompensas como elefantes, cavalos, carruagens, vestimentas, propriedades e assim por diante, e assim alegram seus corações. Entretanto, para o mais bravo de seus guerreiros, que realiza aquilo que é mais difícil de realizar, ele desata a pérola escondida em seu cabelo e a concede a ele. O Buda também é assim. O Buda é realmente o rei do Darma. Ele é dotado com grande tolerância, ele é um tesouro de sabedoria. O Buda vê as pessoas buscando a liberação do sofrimento e batalhando com uma hoste de Maras. Para o bem delas, ele expõe incontáveis Darmas, e quando percebe que essas pessoas atingiram um poder maior, finalmente ele expõe este Saddharmapundarika. Ele é como o monarca universal que desata a pérola de seu cabelo e a concede ao seu guerreiro mais bravo. De fato, este ensinamento é o ensinamento supremo e mais profundo do Buda. Agora é realmente o tempo de expor este ensinamento; portanto, eu o exponho para o seu benefício. Se vocês desejam expor este ensinamento tranquilamente, não se afastem destas quatro práticas.”

(7) Naquele momento, os incontáveis bodisatvas que ali haviam chegado vindo das terras de todas as diferentes direções se levantaram de seus assentos e se dirigiram ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo CEBB

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Mundo, se você nos permite, depois que ingressar no nirvana final, neste mundo Saha nós nos dedicaremos com diligência a propagar este sutra, e em todos os lugares o exporemos.” O Honrado pelo Mundo disse: “Bons discípulos, vocês não precisam propagar este ensinamento. Em nosso mundo Saha existem incontáveis bodisatvas; depois que eu ingressar no nirvana final eles exporão este ensinamento.” Quando o Honrado pelo Mundo falou desta forma, a terra tremeu e se abriu. De suas entranhas brotou um número infinito de bodisatvas que foram até o Buda Prabhutaratna e o Buda Sakyamuni, curvando-se diante deles e lhes prestando homenagem. Entre estes bodisatvas havia quatro líderes. O primeiro

se

chamava

Visistacaritra

(Prática

Superior);

o

segundo

Anantacaritra (Prática Ilimitada); o terceiro Visuddhacaritra (Prática Pura); e o quarto Supratisthicaritra (Prática da Firme Permanência). Estes quatro bodisatvas vieram até o Honrado pelo Mundo e com sinceridade perguntaram: “Você está em paz?”

(8) O Bodisatva Maitreya, sabendo o que incontáveis bodisatvas estavam pensando, perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, eu nunca encontrei nenhum destes inúmeros bodisatvas que repentinamente brotaram da terra. De onde eles vieram, e através de quais causas e condições eles se reuniram aqui? Eu lhe suplico para explicar o processo causal deste evento.” E o Honrado pelo Mundo, para o bem de Maitreya, recitou este verso:

(i) Vocês deveriam se esforçar com diligência e foco único. Agora eu explicarei este tema. Não guardem dúvidas; a sabedoria do Buda é ilimitada. CEBB

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Assim, usem o poder de sua fé e permaneçam com tolerância. Vocês serão capazes de ouvir o Darma que não ouviram antes. Assim, eu os consolo; não guardem quaisquer dúvidas. O Buda não pronuncia falsidades. Sua sabedoria é difícil de conceber. O ensinamento primário que eu alcancei é profundo e de difícil compreensão. Agora estou expondo este ensinamento. Ouçam minhas palavras com mente unifocada.

(ii) Maitreya, entenda claramente que todos estes grandes bodisatvas, Desde um passado imemorável, vêm praticando a sabedoria do Buda. Com minha orientação eles despertaram a mente do grande caminho. Eles são todos meus filhos. Habitando o mundo Saha, eles sempre permanecem em lugares tranquilos. Ali eles praticam o caminho; noite e dia eles se esforçam. Sob a Árvore Bodhi na floresta de Gaya Eu atingi a iluminação. Eu coloquei em movimento a roda do Darma supremo E tornei possível a eles despertarem a mente do caminho. Agora, todos estes bodisatvas repousam em um estágio Do qual não há retrocesso; Eles alcançarão o estado búdico. Eu não exponho nada além de palavras verdadeiras; Com mente unifocada acreditem nelas. Desde um passado infinitamente distante eu tenho ensinado estas pessoas.

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O Bodisatva Maitreya disse ao Honrado pelo Mundo: “Desde que o Honrado pelo Mundo atingiu a iluminação apenas quarenta anos se passaram. Durante tão pouco tempo como você foi capaz de guiar tal número extremamente elevado de bodisatvas, permitindo-lhes alcançarem a iluminação? Além do mais, desde um passado infinito estes bodisatvas vêm cultivando as raízes de mérito na presença de incontáveis budas. Eles sempre praticaram os caminhos de beneficiar a si mesmos e de beneficiar os outros. Portanto, esta afirmação de ter guiado estes bodisatvas à iluminação é difícil de acreditar. É como se uma pessoa de vinte e cinco anos de idade, de bela compleição e cabelos negros, apontasse para uma pessoa que tem cem anos e dissesse que ela é sua filha. Nós suplicamos que você explique isto para nós e, para nosso bem e para o bem dos seres de eras futuras, remova todas as nossas dúvidas.”

5. A Duração da Vida do Buda (1) O Honrado pelo Mundo disse aos bodisatvas e a todos presentes: “Vocês deveriam acreditar naquilo que o Buda diz.” Ele repetiu estas palavras por três vezes. A assembleia disse: “Honrado pelo Mundo, nós suplicamos que você nos ensine. Nós certamente possuímos fé em seu ensinamento.” Eles fizeram este pedido três vezes. Vendo que eles desejavam sinceramente ouvir, o Honrado pelo Mundo disse: “Meus discípulos, ouçam bem e compreendam o poder extraordinário que o Buda possui. As pessoas acreditam que o Buda Sakyamuni deixou Kapilavastu e atingiu a iluminação suprema em Gaya. A verdade é que se passaram incontáveis kalpas desde

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que eu me tornei um buda. Ao longo desses kalpas eu sempre estive neste mundo de sofrimento para guiar e ensinar as pessoas neste e em incontáveis outros mundos. O que eu disse sobre a minha resolução na presença do Buda Dipamkara, ou sobre minha morte iminente, são apenas meios hábeis. Meus discípulos, eu venho trazendo alegria às multidões olhando para suas capacidades individualmente e usando meios variados como nomes diferentes e epítetos, demonstrando diferentes durações de vida, ou mesmo entrando no nirvana. Para aqueles com poucas virtudes e muitos obscurecimentos, que aspiram pelo ensinamento Sravaka eu disse: ‘Eu deixei o lar quando jovem e atingi o estado búdico.’ Mas na verdade foi no passado remoto que meu despertar aconteceu. Foi apenas como um artifício que eu ensinei desta maneira. O propósito de oferecer um sutra é o de guiar as pessoas para longe da delusão. Apesar de vários métodos terem sido empregados para ensinar o Darma, todos eles são verdadeiros, e não há qualquer falsidade neles. “O Buda vê o mundo como ele é. Portanto, para o Buda não há delusão da transmigração; nem há o existir neste mundo ou num mundo além; nada pode ser dito verdadeiro ou falso; e não se pode dizer que nada é como é ou o contrário. A visão do Buda sobre este mundo é completamente diferente da visão dos deludidos. O Buda vê todas as coisas com a visão correta e nunca com visões errôneas. As pessoas possuem naturezas diferentes, cada uma apresenta desejos peculiares, pensamentos e razões. O Buda emprega meios variados, tais como as histórias das vidas anteriores do Buda e parábolas para ensinar o Darma. Minha vida é infinita, mas para que as pessoas cheias de cobiça despertem reverência e afeição pelo Buda, eu lhes digo como meio hábil que como o Buda aparece neste mundo apenas em raras ocasiões é difícil para elas encontrarem o Buda. CEBB

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“Suponham que haja um médico com muitos filhos. Ele sai em viagem. Em sua ausência os filhos sem saber bebem veneno e agonizam devido a isto. O médico retorna para casa e oferece o antídoto. Entre os filhos, aqueles que não enlouqueceram tomam o remédio e ficam bem. Mas aqueles que enlouqueceram não tomam o remédio. Assim, o médico usa meios hábeis e diz para os filhos: ‘Agora estou velho e minha morte está próxima. Eu deixarei remédios aqui para vocês tomarem.’ Ele parte para outra viagem. Longe de casa ele envia um mensageiro que conta para as crianças que seu pai morreu. Ao ouvirem isto as crianças ficam profundamente entristecidas e se lamentam: ‘Se ele estivesse vivo ainda nos amaria com carinho. Agora que morreu em um país distante nos tornamos órfãos sem ninguém em quem nos apoiar.’ Então eles se lembram das últimas palavras de seu pai e tomam o remédio, ficando bem novamente. E depois o pai retorna para casa. O Buda aplica meios hábeis desta forma. “Meus discípulos, alguém culparia o médico pelo que fez? Faz muito tempo que eu atingi o estado búdico. Agora eu utilizo meios hábeis para salvar as pessoas, dizendo-lhes que partirei deste mundo.”

(2)

(i) Bilhões de kalpas se passaram desde que eu alcancei o estado búdico; Por todo esse tempo eu ensinei o Darma, guiando incontáveis pessoas Ao longo do caminho. Por um número incontável de kalpas, para salvar os seres sencientes, Eu fingi morrer, mas não entrei no nirvana. Sempre aqui, no Pico dos Abutres, eu ensinei o Darma. Apesar de permanecer aqui revelando o poder divino, os cegos, CEBB

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Não sabendo disto, Pensaram que eu realmente morri. Venerando minhas Relíquias eles sentiram saudades de mim.

(ii) Para aqueles que, com mentes focadas e corações sinceros, mesmo Arriscando suas vidas, desejam me ver, Eu e uma hoste de meus discípulos surgiremos no Pico dos Abutres e falaremos. Estando aqui eternamente, eu nunca deixarei de ser; apenas como Meios hábeis eu mostro a extinção e não-extinção. Mesmo para aqueles em muitos outros mundos, Se eles apenas tiverem fé e reverência Eu aparecerei diante deles e ensinarei o supremo Darma. Vocês que não sabem disto acreditam que eu realmente morri. Mas estando no mundo do sofrimento vocês não Veem meu corpo do Darma. Se vocês, com adoração, sinceramente desejarem me ver, Eu imediatamente surgirei diante de vocês e ensinarei.

(iii) No tempo além do tempo, eu sempre estarei no Pico dos Abutres e em outras moradas; Ao final de muitas eras, mesmo quando todas as pessoas serão queimadas, Minha terra estará para sempre em paz.

Lá os deuses se reúnem, jardins e palácios São adornados por gemas

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E árvores de gemas, cheias de botões e frutos, onde as pessoas Brincam com alegria;

Os deuses tocam tambores de mão e derramam flores Sobre o Buda e as pessoas.

(iv) O meu reino puro nunca cessa; As pessoas com seus desejos ardentes pensam que ele é cheio de sofrimentos. Os seres em sofrimento, devido às suas próprias ações negativas, Não ouvirão os nomes dos Três Tesouros mesmo em Kalpas incontáveis. Mas aqueles que realizam ações virtuosas e que possuem Naturezas gentis e mentes sinceras Verão que eu sempre estive aqui, sempre ensinando o Darma.

(v) Para eles, às vezes, eu digo que minha vida é eterna, Mas para aqueles que raramente me veem Eu digo que é difícil ver o Buda. Meu poder de sabedoria é tal que não há lugar Que a luz de minha sabedoria não alcance, E não há fim para o meu poder de sabedoria. Todos esses poderes se devem a méritos adquiridos através de eras. Vocês que são homens de sabedoria Não tenham quaisquer dúvidas sobre isto, Pois não há falsidade nas palavras do Buda.

(3) Então, o Bodisatva Maitreya se levantou, e prestando homenagem

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ao Honrado pelo Mundo, ele disse em versos:

(i) O Buda agora expõe um Darma raro nunca ouvido antes. O Honrado pelo Mundo possui um grande poder e vida eterna. Incontáveis pessoas em todos os mundos, que também são incontáveis, Ao ouvirem sobre a vida infinita do Buda despertaram suas mentes Para a aspiração de se tornarem budas também. O Buda ensinou este Darma supremo; A vastidão de sua compaixão é como o céu que não possui limites.

(ii) Derramando flores descem os deuses; como os pássaros eles chegam voando, Espalhando o perfume de madeira de sândalo, eles prestam homenagem ao Buda. Tambores celestiais são ouvidos no céu; os mantos dos seres celestiais caem E canções são cantadas em louvor ao Buda.

(iii) Isto, desde os primeiros tempos, nunca aconteceu antes. Ouvindo que o Buda possui uma vida infinita, Contentes, todos eles estão cheios de alegria. Seu nome ressoa nas dez direções e ele derrama sua compaixão Muito longe e amplamente. Ele lhes permite serem tomados pelas raízes de bondade E produzirem a aspiração da iluminação.

(4) O Honrado pelo Mundo disse ao Bodisatva Maitreya: “Se alguém, ao ouvir o ensinamento sobre a vida infinita do Buda, gerar um pensamento

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de fé, esta pessoa alcançará méritos incomensuráveis. Pois o mérito contido em um único pensamento de fé é milhares de vezes maior que aquele obtido através da prática da generosidade, disciplina, paciência, zelo e meditação. “Portanto, Maitreya, aquele que é dotado com tal mérito elevado nunca retrocederá do estado de iluminação de um buda. Maitreya, aquele que ouve o ensinamento sobre minha vida eterna e que o compreende conquista méritos incomensuráveis e atingirá a suprema sabedoria de um buda. Além do mais, Maitreya, aquele que ouve o ensinamento sobre minha vida eterna e que possui profunda fé em sua mente verá o Buda circundado por multidões no Pico dos Abutres expondo o Darma. E ele também verá que este mundo, na verdade, é uma terra pura brilhando com gemas e ouro. E verá incontáveis seres sencientes buscando a iluminação do Buda. “Depois que o Buda ingressar no nirvana final, se ao ouvir o ensinamento as pessoas não o difamarem, mas despertarem uma mente de alegria, esta é uma crença profunda no ensinamento. Aquele que preserva este sutra é alguém que honra o Buda. Maitreya, não é necessário acumular méritos construindo estupas, monastérios ou quartos para os monges. Pois aquele que preservar e recitar este sutra já alcançou tais méritos.”

(5)

Então,

o

Honrado

pelo

Mundo

disse

ao

Bodisatva

Satatasamitabhiyukta: “Os filhos e filhas de boas famílias que preservarem este sutra e que o compartilharem com os outros alcançarão méritos superiores; e eles conquistarão o poder virtuoso pelo qual seus olhos serão capazes de ver todos os seres sencientes do mundo; e seus ouvidos, dotados com méritos virtuosos, serão capazes de ouvir todas as vozes do mundo. Seus narizes, línguas, corpos e mentes também serão dotados com méritos similares. O que eles disserem estará de acordo com a razão, e o que eles CEBB

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fizerem estará de acordo com o Darma.”

(6) O Honrado pelo Mundo disse ao Bodisatva Mahasthamaprapta: “No passado distante surgiu o Buda Bhismagarjitasvararaja, que guiou multidões à iluminação. Mas depois de ele entrar no nirvana final, seguindo-se a um período de Darma verdadeiro veio um período de Darma falso, no qual monges excessivamente orgulhosos e autoritários ganharam o poder. Naquele tempo havia um bodisatva chamado Sadaparibhuta, que sempre que via um discípulo, um chefe de família ou um mendicante, dizia: ‘Eu o reverencio muito. Eu nunca pensarei de forma leviana sobre você. A razão para isto é que, no momento certo, você se tornará, infalivelmente, um buda.’ Assim, ele foi chamado de Sadaparibhuta (Sempre Não Desprezando). Este bodisatva não lia os sutras, mas dedicava sua vida apenas à prática da reverência. Havia alguns que se sentiam desconfortáveis e perturbados por isto, e falavam mal dele, dizendo: ‘De onde veio este monge para, falsamente, prever nossa iluminação?’ Ele nunca se irritou com tais observações e seguia dizendo: ‘Você acabará alcançando a iluminação.’ Quando as pessoas, irritadas pelo que ele estava dizendo, tentavam bater nele com varas e pedras, ele as evitava correndo delas e ainda seguia repetindo as mesmas palavras. No final de sua vida ele ouviu incontáveis versos do Saddharmapundarika ressoando no céu, guardou todos em sua mente e expôs o Darma para as multidões. Mahasthamaprapta, aquele Bodisatva Sadaparibhuta daquele tempo era, na verdade, eu mesmo. Foi por virtude da prática e da exposição deste ensinamento que eu fui capaz de alcançar a suprema iluminação rapidamente.”

(7) Naquele momento, uma multidão de bodisatvas brotou da grande CEBB

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terra. Com suas mentes unifocadas eles juntaram as palmas das mãos e prometeram ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, nós surgiremos naqueles reinos em que o Honrado pelo Mundo já esteve e ensinaremos amplamente este sutra. Faremos isto porque aspiramos preservar, recitar, explicar, copiar e fazer oferendas ao grande Darma depois que você ingressar no nirvana final.” Ao ouvir estas palavras, o Honrado pelo Mundo, para o benefício da assembleia, revelou seus poderes transcendentais. Cada Buda que estava presente também revelou seus poderes milagrosos. Exultantes, aqueles ali reunidos juntaram as mãos em prece e louvaram este espetáculo magnífico em humilde reverência. O Honrado pelo Mundo disse à multidão de bodisatvas: “Filhos de família virtuosa, os poderes do Buda são ilimitados, universais, vastos e indescritíveis. Apesar de o poder do Buda ter sido louvado ao longo de incontáveis kalpas, esses louvores são insuficientes. Entretanto, este sutra profundo contém todos esses ensinamentos e relata os poderes e mistérios essenciais possuídos por todos os budas. Todas essas virtudes são esclarecidas ali. É por esta razão que todos vocês deveriam, após meu nirvana, com mente unifocada sustentar, recitar, explicar, copiar, transmitir e continuar a praticar o Darma de acordo com meu ensinamento. Ó filhos de família virtuosa, uma estupa diante da qual deveriam ser feitas oferendas deveria ser erigida onde quer que este sutra esteja, seja em um jardim, em uma floresta, na morada de um monge, na casa de um leigo ou onde seja apropriado. Por qual razão? Porque todo lugar onde este sutra estiver guardado deveria ser visto como um lugar majestoso para a prática do Darma. Vocês deveriam olhar para o local da estupa como o lugar onde todos os budas atingem a iluminação, ensinam o Darma e alcançam o nirvana final.” CEBB

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(8) Naquele momento, através de seus poderes transcendentais, o Honrado pelo Mundo tocou com sua mão direita o topo da cabeça de cada um dos incontáveis bodisatvas presentes e proclamou: “De fato, eu acessei o Darma que é difícil de acessar. Agora eu confio este Darma a todos vocês. Guardem bem este Darma e recitem-no amplamente para que todos ouçam. Eu ofereço a todos os seres sencientes a sabedoria do Buda, que é a onisciência. O Buda é o grande benfeitor de todos os seres sencientes. Da mesma forma, vocês não deveriam despertar uma mente de cobiça. No futuro, se as pessoas acreditarem na sabedoria do Buda, elas poderão realmente receber as bênçãos do Buda.” Todos os bodisatvas compreenderam e seus corpos e mentes tremeram de alegria.

(9)

Em

resposta

à

questão

do

Bodisatva

Naksatraraja-

samkusumitabhijna, o Honrado pelo Mundo falou sobre o passado do Bodisatva Bhaisajyaraja. “Numa antiguidade indistinta havia um bodisatva chamado Sarvasattvapriyadarsana, que buscava sinceramente a iluminação sob a orientação do Buda conhecido como Candrasurya-vimalapratibhasri. Depois de doze mil longos kalpas de prática, o Bodisatva alcançou a meditação que o permitia manifestar todos os tipos de formas. Este Bodisatva era capaz de realizar este objetivo glorioso porque ouvia sinceramente o Saddharmapundarika. Depois de atingir este objetivo, imediatamente pensou em honrar o Buda e entrou em profunda meditação. Imediatamente foi derramado perfume de madeira de sândalo dos céus. Pelos próximos doze mil anos o Bodisatva comeu substâncias fragrantes e bebeu óleos fragrantes e esfregou vários aromas sobre seu corpo. Ao final desse período ele se vestiu com roupas aspergidas com doces perfumes e se apresentou ao Buda Candrasurya-vimalapratibhasri. Então ele queimou seu próprio corpo como CEBB

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uma oferenda para o Buda e para o Saddharmapundarika sutra, e as chamas iluminaram incontáveis mundos, e incontáveis budas exclamaram: ‘Muito bem, filho de família virtuosa! Esta é a verdadeira homenagem ao Tathagata!’ E o corpo queimou por doze mil anos, depois dos quais o Bodisatva renasceu no mesmo mundo. Imediatamente após seu nascimento ele se aproximou do Buda e louvou suas virtudes com o seguinte verso:

Seu semblante é maravilhoso; Sua luz ilumina as dez direções. Eu prestei obediência aos seus pés no passado distante. Estou novamente em sua presença.

“Naquele momento, o Buda Candrasurya-vimalapratibhasri confiou o Darma completo a este Bodisatva, e naquela noite ele ingressou pacificamente no nirvana final. O Bodisatva ficou comovido com profunda tristeza, e erigiu oitenta e quatro mil estupas para honrar o Buda. Ainda insatisfeito, o Bodisatva queimou seu antebraço dotado de virtudes diante de cada estupa. Ele continuou esta oferenda por setenta e dois mil kalpas. “Ó

Naksatraraja-samkusumitabhijna,

o

Bodisatva

Sarvasattvapriyadarsana não é ninguém mais que o Bodisatva Bhaisajyaraja que ofereceu seu corpo por incontáveis kalpas. Portanto, aqueles que buscam a sabedoria do Buda deveriam honrar a estupa do Buda oferecendo seus dedos das mãos e dos pés, porque esta oferenda supera toda generosidade. E também, mesmo que eu honre os budas e sábios recobrindo três bilhões de mundos com os sete tipos de joias, este presente não excederia a virtude de alguém que possua quatro linhas do Saddharmapundarika. Ó Naksatrarajasamkusumitabhijna, assim como o oceano é maior que todos os córregos e CEBB

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rios, também este ensinamento é o mais profundo e universal. Assim como a água pura do lago satisfaz a sede dos sedentos e o fogo aquece o frio, este ensinamento liberta todos com sucesso de todo sofrimento e delusão. E também, assim como os despidos buscam vestimentas e a escuridão busca a luz, este ensinamento permite aos seres se distanciarem de seus sofrimentos e delusão. “Além disso, ó Naksatraraja-samkusumitabhijna, se houver alguém que ouça sobre os feitos do Bodisatva Bhaisajyaraja e se ele se conduzir de acordo com este ensinamento, depois de sua morte ele alcançará a morada do Buda Amitayus no mundo de Sukhavati, e renascerá ali sobre um assento de lótus precioso. E ele nunca mais será atormentado por cobiça, raiva, ignorância, orgulho ou inveja. Ele conquistará os poderes e o olho de sabedoria de um bodisatva.”

(10) Naquele momento, o Bodisatva Aksayamati levantou-se de seu assento, prestou homenagem ao Honrado pelo Mundo, e perguntou: “Por que o Bodisatva Avalokitesvara é assim chamado?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Quando incontáveis seres sencientes, passando por grande dor e sofrimento, ouvem o nome deste Bodisatva e sinceramente recitam seu nome, o Bodisatva Avalokitesvara imediatamente percebe suas vozes e os liberta de seu sofrimento. Aquele que pensa em seu nome, graças ao poder divino do Bodisatva, não será queimado pelo fogo ou afogado pela água. “Além disso, o Bodisatva Avalokitesvara surgirá neste mundo Saha na forma de um buda para aqueles que se tornarão budas. Para os reis, homens ricos, mestres de ensinamentos não budistas, discípulos de monges, seguidores leigos ou mesmo Nagas e demônios, ele assumirá suas próprias formas para salvá-los e ensinar o Darma a eles.” CEBB

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(11) O Bodisatva Aksayamati perguntou ao Honrado pelo Mundo em versos:

(i) Ó Honrado pelo Mundo, você que é pleno de sinais auspiciosos, Mais uma vez eu pergunto: por que este Bodisatva é chamado de Avalokitesvara?

O Honrado pelo Mundo respondeu:

Ouçam agora, irei relatar os feitos do Bodisatva Avalokitesvara. Seus votos estão sempre presentes em todos os lugares E eles são como o profundo oceano, sem forma e atemporais. Ele serviu incontáveis budas e seus votos são grandiosos e puros. Agora falarei brevemente sobre suas proezas.

(ii) Ao ouvir o nome de Avalokitesvara E ao ver seu corpo e estar consciente de sua presença, Se não for uma ação em vão, todos os nossos sofrimentos podem ser extintos. Se alguém com intenção maldosa lançá-lo em uma grande cova em fogo, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Transformará a cova em um lago. Ou, se você estiver flutuando no vasto oceano e se encontrar Com os Nagas, peixes e Maras,

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Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Não permitirá que as ondas o afoguem. Ou se você for empurrado no precipício de uma montanha, Através de sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Você será suspenso no espaço e não cairá.

(iii) Ou caso você seja empurrado por uma pessoa maldosa do pico elevado de uma montanha, Devido à sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Nem mesmo um fio de cabelo será perdido. Ou caso você esteja cercado por inimigos Que lhe causam sofrimento com suas espadas, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Despertará uma mente de compaixão em todos os seus adversários. Ou caso você seja condenado por decretos imperiais e encare a pena de morte, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Imediatamente quebrará a espada do carrasco. Ou caso você esteja algemado ou acorrentado, ou com grilhões nas mãos e pés, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Instantaneamente o libertará.

(iv) Quando ameaçado por feitiços, maldições e venenos,

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Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Devolverá estas maldades para aqueles que as fizeram. Ao encontrar demônios, Nagas venenosos e animais, Através

da

atenção

mental

contínua

das

virtudes

de

Avalokitesvara Essas criaturas fugirão imediatamente. Apesar de os relâmpagos e trovões poderem derramar granizo e fortes chuvas, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Rapidamente dissipará e secará o granizo e a chuva. Quando infortúnios acontecem e geram sofrimento, Sua atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara Rapidamente os enfraquecerá.

(v) Avalokitesvara possui poderes incomuns; Abençoado com a sabedoria dos meios hábeis, Não há lugar nas dez direções do universo onde ele não se revele. Seu surgimento extingue todos os traços dos três destinos infelizes, Infernos e os reinos dos fantasmas famintos e animais, Assim como os sofrimentos do nascimento, velhice, doença e morte. O olhar de Avalokitesvara é verdadeiro e puro; é o olhar da sabedoria e da compaixão. Por todo o sempre desejaremos e louvaremos a luz da sabedoria imaculada de Avalokitesvara, que dissipa toda a escuridão, que pacifica o fogo e os ventos da desgraça

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E abençoa o mundo com sua radiância.

(vi) O corpo compassivo de Avalokitesvara expressa nossas regras de conduta. Sua compaixão é como uma grande nuvem que derrama o doce néctar do Darma Para extinguir as chamas das paixões. Quando estivermos aterrorizados por uma corte de justiça ou uma arena de batalha, Nossa atenção mental contínua das virtudes de Avalokitesvara dissipará todos os nossos medos. A voz de Avalokitesvara supera todas as vozes sutis deste mundo; Sua voz é a voz de alguém que observa o mundo, Uma voz como a maré ou as vozes dos deuses. Portanto, deveríamos sempre estar conscientes de Avalokitesvara.

(vii) Sempre esteja consciente e em momento algum guarde dúvidas Sobre as virtudes de Avalokitesvara. Ele é nossa força no sofrimento, no perigo e na morte. Avalokitesvara é pleno de todas as virtudes; Ele percebe a humanidade com o olho da compaixão; Ele é o oceano ilimitado da felicidade. Por esta razão vamos reverenciá-lo.

Então todos os bodisatvas e discípulos se regozijaram com as instruções do Honrado pelo Mundo.

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6. Pensamentos (1) O Honrado pelo Mundo entrou mais uma vez na cidade de Savatthi e descansou no Monastério do Bosque Jeta. Um dia, durante esse período, Sariputra disse aos seus companheiros discípulos: “Nobres amigos, ao sermos ridicularizados e difamados dizemos para nós mesmos: ‘Meu ouvidos ouvem. Mas a sensação de ouvir é impermanente; e também os sentimentos de dor e prazer; e também a percepção, a volição e a consciência que surgem disto. Todos os elementos que compõem minha mente e corpo são impermanentes.’ Pensando desta forma, suas mentes não se deprimirão, mas sim permanecerão calmas e estáveis. “Filhos de boa família, se formos tiranizados por aqueles que nos batem com seus punhos, incomodados pela lama que nos é lançada, e surrados por suas varas e espadas, deveríamos conduzir nossos pensamentos assim: ‘Este corpo é feito para experimentar o abuso.’ Uma vez o Honrado pelo Mundo relatou a parábola da serra. Ele disse: ‘Mesmo que um ladrão cortasse seu corpo com uma serra dupla, aqueles que se sentem desgraçados ainda não incorporaram meu ensinamento.’ Deveríamos dizer: ‘Estou determinado e inabalável; não deixarei minha verdadeira vontade ser despedaçada. Meu corpo permanecerá relaxado e minha mente focada. Apesar de meu corpo estar sujeito a surras por uma chuva de punhos, varas e espadas, esses abusos são para o bem da realização do ensinamento do Buda.’ Nesses momentos, ao se manterem atentos ao Buda, ao Darma e à Sanga, e mesmo assim falharem em encontrar uma mente equânime, esta mente, como o coração de uma

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noiva que encontra seu sogro pela primeira vez, se desestabilizará. Quando alguém está atento ao Buda, ao Darma e à Sanga e alcança a mente equânime conquistará grande alegria e méritos. “Ó amigos, assim como dizemos que uma cabana é feita de madeira, cordas, grama e barro, também dizemos que nosso corpo consiste de ossos, músculos, carne e pele. Dentro do corpo, os órgãos sensoriais, objetos sensoriais e consciências dão origem às atividades de ver e ouvir. Ó amigos, o Honrado pelo Mundo afirmou: ‘Aquele que vê a originação dependente (paticca-samuppada) vê o Darma. Aquele que vê o Darma vê a originação dependente.’ De fato, este corpo e mente são estabelecidos através da originação dependente. Os desejos que surgem através da mutualidade entre corpo e mente são as causas do sofrimento. Remover os desejos e vontades destrói o sofrimento. A extinção do sofrimento, ó amigos, é o seu objetivo final.”

(2) Em outra ocasião, Sariputra estava alegremente retornando para casa depois de servir o Honrado pelo Mundo e de ouvir seu ensinamento quando encontrou Purutika, um asceta nômade e descrente, que perguntou: “De onde você vem?” “Estou voltando para casa agora, depois de ouvir o ensinamento do Honrado pelo Mundo.” Purutika perguntou a Sariputra: “Ainda sugando o leite? Eu deixei meu professor eras atrás e agora busco a verdade por mim mesmo. Você ainda ouve os ensinamentos de seu mestre?” Sariputra respondeu: “Ainda não me desliguei do leite de meu mestre. Ainda me regozijo ao ouvir o ensinamento de meu mestre. Eu sou da opinião que o seu mestre ainda terá que alcançar a verdadeira realização e que seu ensinamento não é o verdadeiro Darma. Assim como um bezerro rapidamente abandona o leite de sua mãe se ele é ruim ou insuficiente, você CEBB

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cortou a ligação com seu mestre. Meu mestre possui a verdadeira iluminação e seu ensinamento é o ensinamento verdadeiro. Consequentemente, assim como um bezerro não se separa do leite de sua mãe se ele é bom e nutritivo, eu não abandonei meu mestre. Eu me regozijo com seu ensinamento.”

(3) Enquanto o Honrado pelo Mundo ainda estava em Savatthi ele se dirigiu aos discípulos: “Ó meus discípulos, antes de alcançar a iluminação quando ainda era um bodisatva, eu mantive dois tipos de pensamentos. Por um lado eu possuía pensamentos de cobiça, raiva e maldade. Por outro lado possuía pensamentos livres de cobiça, da raiva e da maldade. “Consciente de que possuía estes pensamentos duais, nas ocasiões em que dava origem a pensamentos de cobiça, eu pensava: ‘Eu dei origem a pensamentos de cobiça; este tipo de pensamento é prejudicial para mim, para os outros e para mim e os outros. Além disso, este tipo de pensamento impede a sabedoria e leva ao desastre.’ Consciente do perigo, eu erradiquei os pensamentos de cobiça. Eu eliminei os pensamentos de raiva e maldade da mesma forma. Quando esses três tipos de pensamento surgiam, eu imediatamente os destruía e removia de minha mente. “Ó discípulos, as mentes das pessoas têm a tendência a flutuar e a se enrijecer. Se vocês derem nascimento a pensamentos de cobiça, então sua cobiça se tornará cada vez mais forte. Se vocês derem nascimento a pensamentos raivosos, então sua raiva se inflamará. Se vocês derem nascimento a pensamentos maldosos, suas mentes serão arrastadas para o mal. Depois da estação chuvosa, durante a colheita do outono, o pastor leva seu rebanho para o curral. Então, o gado é preso e sacrificado porque ele teme que o rebanho possa estragar a colheita. Ó meus discípulos, da mesma maneira, quando eu observava o mal, eu fixava minha mente, destruía o mal CEBB

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e o expulsava. O pensamento de eliminar a cobiça, a raiva e a maldade nasceu em mim. Eu sabia que estes pensamentos eram prejudiciais para mim, para os outros e para mim e os outros. Eu percebi que esses pensamentos eram elaborados, e portanto, apesar de eles serem fortes, eles continham um perigo que eu não percebia. Mas eu sabia que se continuasse sustentando os mesmos pensamentos por uma certa duração de tempo, meu corpo se cansaria, minha mente ficaria nublada e eu perderia minha concentração. Consequentemente, eu silenciei minha mente e mantive o foco. “Ó meus discípulos, a mente possui a tendência de vaguear e de se enrijecer em relação àquilo que é pensado; portanto, quando vocês pensam em expulsar a cobiça, a raiva e a maldade, a mente é trancada em seus objetos, e pensamentos de cobiça, raiva e maldade são anulados. Durante o último mês do verão, quando o trigo se espalha na borda da vila, o pastor observa o movimento do rebanho. Eles estão sob a árvore ou no pasto? Ele sabe exatamente onde o rebanho está. Eu também sou assim. Eu observo cuidadosamente as flutuações de minha mente. Eu sei que tipo de pensamentos eu desperto. Ó meus discípulos, com coragem, vigor e destemor, eu sempre possuí o pensamento correto, meu corpo estava relaxado e minha mente estava focada. “Ó meus discípulos, desta forma eu acessei as muitas meditações. Minha mente estava silenciosa, pura e penetrante; estava livre de cobiça e de paixões; estava gentil e sempre vigorosa. Eu prossegui no caminho com uma determinação firme que não era influenciada por outras pessoas. Finalmente eu consegui destruir as paixões e dei nascimento à sabedoria.

(4) “Ó meus discípulos, um bando de cervos vive em uma grande floresta nos planaltos. Perto dali se encontra um pântano numa região baixa. CEBB

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Planejando atrapalhar a vida pacífica e idílica da floresta, um homem bloqueia a trilha que leva à floresta e força os cervos a permanecerem no pântano. Vivendo nessa terra úmida e nebulosa, os cervos encontram durezas e desgraças, e seu número é grandemente reduzido. Em contraste, um homem que está atento ao bem-estar dos cervos bloqueia o caminho que conduz ao pântano e limpa o caminho que leva à floresta elevada. Em consequência, o número de cervos se amplia bastante. “Ó meus discípulos, eu ofereço esta parábola para que vocês possam compreender meu ensinamento. O grande pântano na região baixa representa o pasto do prazer e do desejo; o bando de cervos representa os seres sencientes; a trilha que conduz às terras baixas simboliza os oito caminhos errôneos; pastar na terra úmida representa a busca por alívio; o pântano é a ignorância. Aquele que está consciente do bem-estar do bando é o Buda, e o caminho que ele limpa conduzindo às terras elevadas é o Nobre Caminho Óctuplo. Ó meus discípulos, desta maneira é através de meus ensinamentos que o caminho para a paz e a felicidade se torna acessível, e o caminho para o pântano baixo é bloqueado. “Ó meus discípulos, devido a minha compaixão e empatia eu fiz o que era necessário para o seu benefício. Aqui sob esta árvore nós temos sombra e uma cabana vazia. Pensem sobre isto. Não negligenciem nada ou vocês podem se encher de remorso mais tarde. Este é o meu conselho.”

(5) Ainda em outra ocasião o Honrado pelo Mundo disse: “Ó meus discípulos, para dominarem a meditação vocês devem considerar os seguintes cinco métodos. Ao perceberem os objetos e darem origem às paixões da cobiça, da raiva e da ignorância, imediatamente afastem suas paixões destes objetos. Você devem, então, pensar sobre outro objeto que dê CEBB

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nascimento a pensamentos positivos. Se vocês focarem suas mentes em outro objeto, então a cobiça, a raiva e a ignorância diminuirão. Suas mentes se estabilizarão, silenciosas e focadas. Isto é similar a um carpinteiro habilidoso que solta um prego grande batendo nele com um menor. “Ó meus discípulos, quando suas mentes estão desfocadas e a paixão negativa que acompanha a cobiça, a raiva e a ignorância não foi extinta, vocês devem dizer: ‘Esta mente está contaminada e é negativa, e dará origem ao sofrimento.’ Vocês devem examinar o perigo de sustentar tais pensamentos. Se vocês investigarem desta maneira, essas paixões negativas desaparecerão e a mente se estabilizará, silenciará e estará focada. As paixões negativas deveriam ser desprezadas como uma bela jovem ou um belo jovem desprezariam a carne podre que fosse enrolada em suas cabeças. “Ó meus discípulos, se as paixões negativas não puderem ser extintas da maneira que eu sugeri, então vocês não devem dar nascimento a tais pensamentos. Essas paixões negativas não surgirão e a mente se estabilizará e permanecerá silenciosa e focada, assim como alguém não pode perceber o que está diante de si ao fechar os olhos ou ao olhar em outra direção. “Ó meus discípulos, se mesmo fazendo o que eu instruí as paixões negativas ainda persistirem, vocês devem examinar as causas e a base para tais paixões. Então as paixões negativas não surgirão e a mente se estabilizará, silenciosa e focada. Este método de exame é como um homem que está correndo e que diz para si mesmo: ‘Por que estou com tanta pressa? Como seria se eu apenas caminhasse?’ Ao caminhar passeando, ele se pergunta: ‘Por que estou caminhando? Como seria se eu apenas ficasse parado?’ Ao permanecer parado ele se pergunta: ‘Por que estou em pé? Como seria se eu apenas me sentasse?’ Ao sentar-se ele prossegue com sua investigação. CEBB

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“Ó meus discípulos, se vocês buscam as causas e bases e ainda são incapazes de superar as paixões negativas, vocês deveriam cerrar os dentes, pressionar a língua contra o palato superior e determinadamente decidir suprimir e silenciar essas paixões. Este método é similar a um homem forte que agarra e aperta o pescoço de um homem frágil. Desta forma as paixões deveriam recuar, e a mente se estabilizará, tornando-se silenciosa e focada. “Ó meus discípulos, estes cinco métodos de suprimir as paixões negativas – cinco formas de direcionar a própria mente ao lidar com as paixões – foram bem testados. Através destes métodos vocês podem se distanciar das paixões negativas, destruir as raízes das ações não-virtuosas e erradicar completamente a causa do sofrimento.”

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LIVRO VII Capítulo II - A TRAGÉDIA EM RAJAGRIHA

1. A Deserção de Devadatta (1) Mais uma vez o Honrado pelo Mundo retornou a Rajagriha. Lá ele permaneceu no Monastério do Bosque de Bambus, que se localizava fora da cidade. Naquele tempo, por um longo período não choveu. As plantações de arroz secaram e os discípulos do Buda sofreram em suas rondas de mendicância por alimento. Devadatta, especialmente, se amargurava por sua incapacidade de controlar o clima por não possuir poderes divinos. Um dia ele apareceu diante do Honrado pelo Mundo e implorou para ser instruído em como adquirir poderes divinos. O Honrado pelo Mundo disse: “Devadatta, ao invés de buscar a conquista de poderes divinos, reflita sobre as verdades da impermanência, do sofrimento, da vacuidade e da ausência de identidades.” Com estas palavras, o Buda rejeitou o pedido de Devadatta. A mente de Devadatta foi profundamente marcada pelo descontentamento. Naquele verão o Honrado pelo Mundo, acompanhado por seus discípulos, viajou para Kausambi onde conduziu um retiro. Era comum os discípulos como Sariputra, Maudgalyayana, Aniruddha, Ananda e outros engajarem-se de forma amigável em discussões sobre o Budadarma. Na mente de Devadatta, entretanto, essas discussões pareciam ser uma forma de

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tratá-lo como inferior; assim, ele abandonou a ordem e se dirigiu a Rajagriha. Em Rajagriha, Devadatta tramou para conquistar a devoção do Príncipe Ajatasatru, de dezesseis anos de idade, que era o filho amado do Rei Bimbisara. Um dia ele procurou pelo príncipe e, recorrendo a todo tipo de artimanhas, conseguiu controlar os seguidores fiéis do príncipe. No subúrbio de Rajagriha ele construiu um templo. Aos poucos começou a receber oferendas de mantos e comida, trazidas para ele em numerosas carroças.

(2) Desta forma Devadatta atraiu numerosos jovens seguidores, e diariamente seu poder crescia. Mesmo entre os discípulos do Honrado pelo Mundo houve alguns que se voltaram para Devadatta. O Honrado pelo Mundo, ao saber que Devadatta estava recebendo oferendas do Príncipe Ajatasatru para obter lucros, falou com seus discípulos: “Os tolos olham para os lucros como a coisa mais importante, e eles cometem repetidas ações negativas. Entretanto, assim como uma espada afiada que num piscar de olhos corta braços e pernas, seus pensamentos cortam a vida dos méritos puros. Existem aqueles que tentam atrair seguidores e procuram se posicionar como seu líder, clamando ser mestres do Darma. Fazendo isto com o objetivo de obter lucros, eles procuram alcançar o nirvana. Em tais pessoas, devido aos seus pensamentos sobre lucro, a mente que busca o nirvana se transforma em uma mente negativa. Além disso, eles prejudicam a si mesmos, eles prejudicam os outros, e por éons eles devem sofrer em destinos infelizes. Vocês não devem sentir nunca ciúmes de Devadatta.” E ele disse em versos:

Ao dar frutos, a bananeira seca. O junco que está carregado de flores também seca. CEBB

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A jovem égua engravida e morre. Os seres humanos são destruídos como resultado do desejo.

(3) Um dia o Honrado pelo Mundo fazia sua ronda de mendicância em Rajagriha; Devadatta também estava fazendo sua ronda na mesma cidade. O Honrado pelo Mundo viu Devadatta à distância e procurou abandonar o local. Nesse momento, Ananda perguntou: “Por que você abandona este lugar?” O Honrado pelo Mundo disse: “Devadatta está na cidade e eu devo evitá-lo.” Ananda disse: “Você teme Devadatta?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Não, eu não o temo. Eu parto porque homens maus devem ser evitados.” Ananda disse: “Por que você não faz Devadatta abandonar a cidade?” O Honrado pelo Mundo disse: “Não há necessidade de fazê-lo partir, deixe-o se conduzir como ele desejar. Ananda, você deve evitar as pessoas tolas; você não deve arriscar a sorte com pessoas tolas. Você não deve se engajar em discussões inúteis. As pessoas tolas, por sua própria vontade, realizam ações negativas, elas violam os preceitos, e a cada dia que passa elas cultivam outras visões errôneas. Devadatta conquistou algum lucro e sua mente está inflada pela arrogância. Confrontar Devadatta é como usar um chicote com um cachorro raivoso. O quanto mais você bate no cachorro, mais violento ele se torna.” Tendo dito estas palavras, o Honrado pelo Mundo viajou para outra cidade para esmolar alimento, levando Ananda consigo. Por outro lado, Devadatta planejava agressivamente sobre como tomar controle da ordem no lugar do Honrado pelo Mundo. Nesse momento, Maudgalyayana se encontrava no país de Cedi; entretanto, ao ouvir sobre as ideias traiçoeiras de Devadatta, ele se alarmou e se dirigiu ao Monastério do Bosque de Bambus. Ao informar o Honrado pelo Mundo sobre a motivação de Devadatta, o Honrado pelo Mundo respondeu: “Eu já sei disto há algum CEBB

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tempo.” Sem saber disto, Devadatta se apressou para o Monastério do Bosque de Bambus, acompanhado por seus discípulos próximos como Kokalika, Khandadeviyaputra,

Katamodrakatisyaka,

Samudradatta

e

outros.

O

Honrado pelo Mundo observou sua chegada e disse: “Esses homens ignorantes sem dúvida se dirigirão a mim derramando palavras de louvor sobre si mesmos e revelando seu plano para usurpar minha autoridade.” Maudgalyayana retornou novamente para o país de Cedi. O grupo de Devadatta chegou ao Honrado pelo Mundo; ele se curvou e disse: “O Honrado pelo Mundo agora já está avançado em anos. Sua força diminuiu. O treinamento de seus discípulos deve ser insuportavelmente desgastante. De hoje em diante, em seu lugar, eu irei expor o Darma para o bem dos discípulos. O Honrado pelo Mundo deveria apenas desfrutar sua meditação.” O Honrado pelo Mundo disse: “Devadatta, eu me abstive de confiar o treinamento desta grande assembleia de discípulos mesmo a tais arhats como Sariputra e Maudgalyayana, cuja sabedoria é clara e cuja prática é perfeita. Como, então, poderia eu confiar esta grande assembleia a alguém como você, que engole o cuspe de outros homens para obter lucros?” Devadatta foi incapaz de pronunciar uma palavra sequer em resposta a estas palavras ásperas do Honrado pelo Mundo. Deprimido, ele se afastou do Buda e partiu. Em seu coração, porém, ele guardou uma grande raiva, pensando consigo: “Diante da grande assembleia de discípulos o Honrado pelo Mundo louvou Sariputra e Maudgalyayana e me humilhou. Um dia me vingarei deste insulto.”

(4) Certo dia, sob o pretexto de que a observância dos preceitos da ordem havia afrouxado, Devadatta expressou o desejo de formular cinco CEBB

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novos preceitos; ele expressou seu desejo diante do Honrado pelo Mundo. Devadatta propôs os seguintes cinco novos preceitos:

1. Os discípulos deveriam morar na floresta e não deveriam morar nos arredores das vilas. 2. Os discípulos deveriam esmolar de porta em porta e não deveriam aceitar convites. 3. Os discípulos deveriam vestir mantos feitos de remendos de mantos descartados por toda a vida. 4. Os discípulos deveriam morar sob árvores e não deveriam dormir em casas. 5. Os discípulos não deveriam comer carne.

O Honrado pelo Mundo, porém, sempre enfatizou a eliminação dos obscurecimentos

da

mente;

ele

evitava

criar

preceitos

severos

desnecessariamente que poderiam constringir as ações dos discípulos. Portanto, ele rejeitou a proposta trazida por Devadatta. Imediatamente o Buda chamou Sariputra e disse: “Vá até onde estão os seguidores de Devadatta e diga a eles que se eles aceitarem os cinco preceitos de Devadatta eles terão se afastado do verdadeiro ensinamento.” Sariputra disse: “Honrado pelo Mundo, em dias passados houve ocasiões em que eu elogiei Devadatta. Eu não suportaria censurá-lo agora.” O Honrado pelo Mundo disse: “Elogiar alguém é um ato sincero; censurar alguém também é um ato sincero. Devemos corrigir aqueles que se encontram em erro.” Sariputra concordou com as instruções do Buda. Ele viajou para o lugar onde o grupo de seguidores de Devadatta estava reunido e lhes transmitiu a essência das palavras do Buda. Como eram todos seguidores de Devadatta, eles disseram CEBB

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uns para os outros: “Ó, os discípulos do Honrado pelo Mundo viram as oferendas generosas recebidas pelo honrado Devadatta e estão incomodados com pensamentos invejosos.” Sariputra retornou a Rajagriha e transmitiu a mesma mensagem aos discípulos fiéis ao Buda. Porém, Devadatta estava firmemente determinado a prosseguir com o estabelecimento dos novos preceitos. Ele fez planos com Samudradatta, que era o mais inteligente de seus discípulos, e no dia do uposatha ele proclamou seus novos preceitos e buscou o apoio dos seres sencientes. Naquele momento, quinhentos homens de Vaisali que haviam acabado de se tornar monges estavam presentes na reunião. Por não estarem cientes dos preceitos do Buda eles aceitaram os novos preceitos. Grandes discípulos como Sariputra e Maudgalyayana não estavam presentes; porém, Ananda estava lá, vestindo a parte superior de seu manto ele se levantou de seu assento. Ele disse: “Estes preceitos recém-formulados não foram estabelecidos pelo Honrado pelo Mundo. Irmãos, se vocês concordarem com o que eu digo, vistam seus mantos superiores e se levantem dos assentos.” Sessenta monges experientes responderam às palavras ditas por Ananda. Porém, Devadatta havia recebido quinhentos novos discípulos, e ele ordenou que os monges experientes abandonassem a ordem. Acompanhado por seus discípulos, Devadatta viajou para o Monte Gayasirsa, que se localizava a cerca de vinte e cinco milhas a sudoeste de Rajagriha. Seu plano era realizar o treinamento dos discípulos naquele lugar. A partida dos quinhentos discípulos que foram levados por Devadatta abalou a mente dos discípulos que permaneceram na ordem do Buda. Sariputra e Maudgalyayana, com a permissão do Buda, foram até o Monte Gayasirsa com o propósito de libertar aqueles discípulos levados por Devadatta. Entre os discípulos do Buda, alguns se lamentavam: “Ó, CEBB

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provavelmente esses dois também se tornarão discípulos de Devadatta.” O Honrado pelo Mundo disse aos discípulos: “Vocês não precisam se preocupar; sem dúvida esses dois manifestarão naquele lugar os poderes majestosos do Darma.”

(5) Quando Sariputra e Maudgalyayana finalmente chegaram ao Monte Gayasirsa, Devadatta estava ocupado explicando o Darma. Porém, ele percebeu sua chegada e os saudou alegremente: “Anteriormente vocês não aceitaram meus novos preceitos; mas agora vocês compreenderam claramente minhas intenções e vieram se juntar a nós.” Momentos depois, ele disse a Sariputra: “Estou começando a me cansar, você explicaria os ensinamentos em meu lugar?” Imitando a prática do Buda, ele dobrou seu manto em quatro partes e se deitou sobre o lado direito. Naquele momento, Maudgalyayana manifestou poderes divinos e Sariputra seguiu explicando o Darma. Como se tivessem despertado de um sonho, os quinhentos discípulos se arrependeram de seus erros. Imediatamente eles foram levados por Sariputra e Maudgalyayana e partiram da montanha. Samudradatta despertou o sonolento Devadatta, gritando que Sariputra e Maudgalyayana haviam partido com os quinhentos discípulos. Alarmado, Devadatta se levantou e gritou: “Vocês, homens malignos, roubaram meus discípulos!” Ele sapateou sobre a grande terra e entrou num frenesi de raiva, e sangue quente saiu de seu nariz. O fato de Sariputra e Maudgalyayana terem retornado com os quinhentos discípulos espantou os discípulos da ordem do Buda. Seu choque foi tão grande que, para seu benefício, o Buda contou uma história de suas vidas passadas. Ele disse: “Discípulos, em tempos passados havia um mestre arqueiro chamado Kovali. Ele possuía um discípulo chamado Sanna, que por CEBB

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um período de seis anos praticou a arte de sustentar o arco e de colocar a flecha na corda do arco. Porém, ele nunca disparou uma flecha. Um dia, para testar sua proeza, ele atirou em uma grande árvore; a flecha surpreendeu a todos perfurando a árvore e penetrando fundo no chão. O mestre ficou satisfeito e disse: ‘Você dominou a arte do arqueiro. Agora vá e subjugue os bandidos que aterrorizam os viajantes de nossas estradas.’ Então, o mestre ofereceu ao discípulo um arco, quinhentas flechas de ouro, uma bonita donzela e uma carruagem. Obedecendo às ordens do mestre, o discípulo levou a donzela, carregou a carruagem e saiu em busca dos bandidos. “Acompanhado por quinhentos de seus comparsas, o líder dos bandidos esperava por viajantes que passassem em seu caminho. Nesse momento, chegou a carruagem de Sanna. O bandido controlou seus comparsas e os impediu de atacarem Sanna. Logo a bonita donzela desceu da carruagem e segurando uma tigela de ouro em suas mãos ela pediu comida aos bandidos. Vendo a bela donzela e a tigela de ouro, os bandidos não puderam controlar suas mentes luxuriosas. Mas ainda assim o bandido conseguiu restringir seus comparsas de sangue quente, e ele colocou na tigela de ouro da donzela muitos pedaços saborosos. A donzela pediu repetidamente que sua parcela de comida fosse dada a ela. Incapazes de continuar controlados, os bandidos correram para Sanna que estava na carruagem. Ziguezagueando para a direita e para a esquerda, ele dirigiu a carruagem enquanto derrubava um bandido com uma flecha. Tendo derrubado quatrocentos e noventa e nove bandidos, ele ficou com uma flecha no final. Porém, o chefe dos bandidos não estava visível em qualquer direção. Então, Sanna disse para a donzela tirar suas roupas e caminhar sob as árvores, exibindo seu corpo nu. Assim, o chefe dos bandidos caiu na tentação e saiu de seu esconderijo. Enfim, abatido pela flecha de Sanna, ele morreu. CEBB

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Discípulos, este Sanna daquele tempo não é ninguém mais que Sariputra, a bela donzela é Maudgalyayana, os quinhentos bandidos são os quinhentos novos discípulos. O líder dos bandidos é Devadatta e o mestre arqueiro sou eu mesmo.”

(6) Pouco tempo depois que Devadatta deixou a ordem, o Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos: “Discípulos, uma vez eu usei o exemplo de uma árvore e de sua essência. Nós entramos no caminho do mendicante para extinguir nossos sofrimentos do nascimento, velhice, morte, ansiedade, dor e misérias. Há alguns que ao adquirirem oferendas e renome, ao serem venerados, enchem-se de orgulho e buscam elogios para si mesmos e abusam dos outros. Eles estão seguindo as práticas santas de forma errônea, assim como alguém agarra um galho de uma árvore e acredita que encontrou a essência da árvore. Devido à negligência, eles afundam no sofrimento. “Nós observamos os preceitos. Porém, há aqueles que buscam elogios para si mesmos e que abusam dos outros. Eles estão seguindo erroneamente as práticas santas, assim como alguém que agarra a casca de uma árvore e acredita que alcançou a essência da árvore. Devido à negligência, eles afundam no sofrimento. “Nós entramos em meditações estáveis. Porém, há aqueles que buscam elogios para si mesmos e que abusam dos outros. Eles estão seguindo erroneamente as práticas santas, assim como alguém que agarra a parte interna da casca de uma árvore e acredita que alcançou a essência da árvore. Devido à negligência, eles afundam no sofrimento. “Nós desenvolvemos a sabedoria. Porém, alguns são ignorantes e suas mentes estão cheias de orgulho. Eles buscam elogios para si mesmos e abusam dos outros. Eles estão seguindo erroneamente as práticas santas, CEBB

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assim como alguém que corta um pedaço do cerne de uma árvore e acredita que alcançou a essência da árvore. Devido à negligência, eles afundam no sofrimento. “Não perder a compostura diante de oferendas, veneração e fama que possam vir; não se intoxicar com os preceitos observados; não se deludir com a meditação estável; não sentir orgulho pela sabedoria; não se tornar negligente; atingir a emancipação seguindo as práticas santas; isto é o que significa procurar pela essência da árvore. Não há retorno após a emancipação. Discípulos, oferendas, veneração e renome não são os objetivos das práticas puras. Observar os preceitos também não é o objetivo das práticas puras; a meditação estável também não é o objetivo das práticas puras; a sabedoria não é o objetivo das práticas puras. A emancipação é o objetivo das práticas puras. Esta é a essência e o fim das práticas puras.”

(7) Aproximadamente nessa época, o filho do Rei Bimbisara, o Príncipe Abhayarajakumara, visitou Nigantha, que o provocou: “Príncipe, derrote Gotama em debate, seu renome se espalhará e reverberará por toda a terra.” O príncipe disse: “Venerável, como poderia alguém como eu derrotar Gotama em debate? Ele possui poderes espantosos.” Nigantha disse: “Príncipe, vá até o local onde Gotama mora e pergunte: ‘O Buda se dirige aos outros com palavras desagradáveis?’ Caso ele reconheça que sim você faria bem em atacá-lo com o argumento: ‘Nesse caso qual a diferença entre o Buda e um homem ordinário?’ Por outro lado, se o Buda sustentar que não usa palavras desagradáveis, então ataque-o com estas perguntas: ‘Por que o Buda pronunciou palavras que enraiveceram Devadatta? Por que o Buda disse que Devadatta cairia nos infernos por éons e que ele está além da salvação?’ Príncipe, Gotama será pego desta forma e CEBB

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não poderá se mover.” O príncipe ouviu Nigantha e foi até o local onde estava o Honrado pelo Mundo. Esperando pelo momento mais favorável, o príncipe percebeu que seria melhor postergar o encontro por um dia. Assim, ele convidou o Honrado pelo Mundo e três de seus discípulos para uma refeição em sua casa no dia seguinte. O Honrado pelo Mundo foi até a casa do príncipe. Depois do fim da refeição, tomando um lugar mais baixo para si, o príncipe olhou para o Honrado pelo Mundo. Ele perguntou: “O Honrado pelo Mundo se dirige aos outros com palavras desagradáveis?” O Buda respondeu: “Príncipe, eu não posso dar uma resposta absoluta.” O príncipe disse: “Honrado pelo Mundo, com esta resposta Nigantha foi derrotado.” O Buda disse: “Príncipe, por quê?” O príncipe disse: “Honrado pelo Mundo, na verdade minha pergunta foi sugerida por Nigantha Nataputta. A questão foi colocada com o objetivo de vencer o Honrado pelo Mundo em debate.” Então o príncipe confessou que o plano havia sido tramado no dia anterior.

(8) Enquanto falava, o príncipe Abhayarajakumara carregava seu filho no colo. O Honrado pelo Mundo disse: “Príncipe, se devido ao seu descuido ou à desatenção da ama esta criança pusesse um pedaço de madeira ou um caco de cerâmica em sua boca, o que você faria?” O príncipe respondeu: “Naturalmente eu iria tirá-lo. Se não tivesse sucesso na primeira tentativa eu a seguraria de cabeça para baixo com a mão esquerda, e colocaria um dedo da mão direita em sua boca. Mesmo que a boca sangrasse eu o removeria. Eu faria isto porque a criança me é cara.” O Buda disse: “Príncipe, é assim mesmo. Eu não me dirijo aos outros com palavras desagradáveis, mentirosas e não benéficas. Mesmo que o que eu diga seja verdade, se não for benéfico aos outros eu não falarei com CEBB

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palavras desagradáveis. Se algo for verdadeiro e benéfico, um buda observa o momento propício e pode se dirigir a alguém com palavras desagradáveis. Eu faço assim por prezar todas as pessoas e por ter compaixão por elas.” O príncipe disse: “Honrado pelo Mundo, homens sábios de todas as classes – kshatriyas, brâmanes, leigos, monges e outros – preparam questões e as trazem até você. O Honrado pelo Mundo antecipa as perguntas e prepara suas

respostas

com

antecedência,

ou

ele

responde

as

questões

espontaneamente, de acordo com o momento?” O Buda disse: “Príncipe, eu creio que você possui conhecimento completo dos detalhes relativos a carruagens. Quando lhe fazem alguma pergunta sobre carruagens, você tem uma resposta preparada com antecedência?” O príncipe respondeu: “Honrado pelo Mundo, eu possuo conhecimento completo sobre os assuntos relativos a carruagens; portanto, não importa a questão, sou capaz de respondê-la imediatamente, sem qualquer preparação.” O Buda disse: “Príncipe, é assim mesmo. O Buda possui conhecimento completo do mundo do Darma, e portanto não importa a questão, eu sou capaz de respondê-la imediatamente, sem preparação.” O Príncipe Abhayarajakumara se alegrou com o ensinamento do Honrado pelo Mundo e fez o voto de se tornar um seguidor do Buda pelo resto de sua vida.

2. Ajatasatru Usurpa o Trono (1) A ordem de Devadatta sofreu com a perda dos quinhentos discípulos; foi um golpe do qual eles dificilmente conseguiriam se recuperar.

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Sua única esperança se encontrava no Príncipe Ajatasatru. Um dia Devadatta visitou o príncipe e disse: “Príncipe, parece que seu pai, o rei, permanecerá no trono para sempre. Enquanto ele estiver vivo você não poderá subir ao trono. Mesmo que você herde o trono depois que o rei morrer, será breve o tempo para desfrutá-lo. Portanto, o mais rápido possível você deveria substituir seu pai e sucedê-lo no trono. Eu de minha parte destruirei Gotama e assumirei o papel de Rei do Darma. Não seria maravilhoso se o novo rei coroado e o novo Buda estivessem lado a lado reinando sobre o país de Magadha?” O príncipe respondeu: “O débito de gratidão que tenho com meu pai e minha mãe é maior que a lua e o sol. Eu nunca serei capaz de retribuir os longos anos em que eles me conduziram até a idade adulta. Por que, então, você me provoca para cometer tal ação traiçoeira?” Porém, Devadatta habilidosamente torceu suas palavras e seduziu a mente do príncipe. No final, Ajatasatru concordou com a proposta de Devadatta. O nascimento de Ajatasatru aconteceu da seguinte forma. Quando o Rei Bimbisara já havia ultrapassado a meia idade, sua consorte Vaidehi engravidou. Ela foi assolada por uma estranha vontade que a fazia sentir sede do sangue dos ombros do rei, apesar de ela não responder ao seu desejo no início. Mas a cada dia ela ficava cada vez mais enfraquecida. O rei lhe perguntou por que isto acontecia, e ao saber da causa ele tirou sangue de seu ombro e lhe deu para beber. Um vidente profetizou: “A criança que nascerá verá seu pai, o rei, como inimigo.” Devido a esta profecia terrível, ela tentou abortar o feto muitas vezes. Mas o rei conseguiu impedi-la e, finalmente, ela deu a luz a um filho. Como o sábio previu mesmo antes do nascimento da criança que ela se tornaria inimiga de seu pai, ele foi chamado de Ajatasatru, que significa Inimigo Antes de Nascer. Devadatta contou isto em detalhes e CEBB

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conseguiu desviar Ajatasatru. Um dia, com muito cuidado, o príncipe carregou uma espada afiada amarrada no seu flanco e se dirigiu ao portão do palácio real. Porém, a intenção traiçoeira que ele sustentava fez com que todo o seu corpo tremesse, e inesperadamente ele colapsou e foi ao chão. As sentinelas que guardavam os portões notaram a aparência incomum e desalinhada do príncipe e lhe perguntaram por que ele se encontrava em tamanha agonia. O príncipe confessou: “Provocado por Devadatta eu planejei matar meu pai, o rei.” Os oficiais ficaram alarmados e reportaram a situação ao grande rei, esperando por suas instruções. O rei não podia suportar a ideia de executar seu único herdeiro. Cedendo aos desejos do príncipe, o rei abdicou do trono em seu favor. Porém, o príncipe foi provocado mais uma vez por Devadatta e prendeu seu pai, o rei, aprisionando-o no palácio real e negando-lhe comida.

(2) A consorte do rei, Vaidehi se banhou e purificou seu corpo. Ela misturou mel com farinha de cevada tostada e passou em seu corpo. Ao entrar no quarto onde o grande rei havia sido aprisionado, ela percebeu que seu rosto estava emaciado e sua carne havia desaparecido. Ele estava enfraquecido de uma forma digna de pena. Sua consorte derramou lágrimas e disse: “De fato, como explicou o Honrado pelo Mundo, a prosperidade é uma coisa efêmera; os frutos de nossas ações maldosas nos assaltam agora.” O grande rei disse: “Comida me vem sendo negada e a longa fome é uma dor excruciante, como se centenas de insetos se movessem em meu estômago. A maior parte de meu sangue e carne desapareceram, e eu estou prestes a morrer.” O rei quase perdeu a consciência e chorou descontroladamente. Quando sua consorte lhe ofereceu a mistura de mel e farinha de cevada tostada que ela havia passado em seu corpo, o rei comeu tudo. CEBB

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Depois de terminar, com lágrimas nos olhos, ele se voltou para o lugar onde o Buda morava e prostrou-se, dizendo: “Como o Honrado pelo Mundo proclamou, as glórias deste mundo são efêmeras e difíceis de preservar; elas são como sonhos e fantasmas.” Então ele se voltou para sua consorte e disse: “Quando eu me sentava no trono o país era vasto, roupas e alimento eram abundantes e não havia nada que me faltasse. Agora, confinado em uma prisão, estou prestes a morrer de fome. Meu filho foi desviado por um professor maligno e ele volta suas costas ao ensinamento do Honrado pelo Mundo. Eu não temo a morte, apenas me lamento por não poder receber o ensinamento do Buda e por não ser capaz de discutir o caminho com discípulos como Sariputra, Maudgalyayana, Maha-Kasyapa e outros. De fato, como o Honrado pelo Mundo ensina, o amor dos seres humanos é tão caprichoso como um bando de pássaros que se aninha por uma noite no topo das árvores e que, então, seguem seus caminhos separados para receber sua boa sorte ou infortúnios determinados pelo carma. “O honrado Maudgalyayana destruiu os obscurecimentos de sua mente e alcançou poderes sobrenaturais, e mesmo assim certa vez ele foi atacado por um brâmane que o invejava. Faz muito mais sentido, assim, que alguém como eu que possui uma mente cheia de obscurecimentos sofra tais tristezas. Os infortúnios caçam as pessoas tão de perto quanto uma sombra caça o próprio corpo, como um eco que responde à voz. É difícil encontrar o Buda e é difícil ouvir seu ensinamento. Além disso, é difícil disseminar a compaixão e governar os seres sencientes de acordo com o ensinamento. Agora minha vida está acabando e eu viajarei para algum lugar distante. Entre aqueles que acreditam no ensinamento do Honrado pelo Mundo não há ninguém que falhe em servi-lo. Você, também, minha consorte, deve guardar o ensinamento com reverência. Você, também, deve levantar uma barreira CEBB

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contra os infortúnios que definitivamente virão.” A consorte ouviu a exortação do rei e explodiu em lágrimas.

(3) O rei juntou suas mãos em prece e, com reverência, voltou-se para o Pico dos Abutres curvando-se para o Buda. Então ele disse: “Honrado Maudgalyayana, meu bom amigo, por compaixão, por favor me mostre o caminho que deve ser seguido por um homem leigo.” Então Maudgalyayana voou até o rei como um falcão, e a cada dia ele expôs o caminho de um leigo. Além disso, o Honrado pelo Mundo enviou Purna para expor o Darma para o benefício do rei. Desta forma, por um período de vinte e um dias o rei comeu a mistura de mel e farinha e pôde ouvir o Darma. Seu semblante ficou sereno e sua compleição estava tomada pela alegria.

3. Vaidehi (1) Ajatasatru perguntou às sentinelas que guardavam os portões: “Meu pai, o rei, ainda está vivo?” Eles disseram: “A consorte do rei passa mel misturado com cevada tostada em seu corpo. Então ela enche sua coroa de joias com o sumo e oferece ao rei. Os discípulos do Buda como Maudgalyayana, Purna e outros chegam voando pelos céus para expor o Darma e para o benefício do rei. Não temos conseguido impedir estas situações.” Ajatasatru ouviu o relato e ficou com raiva. Ele disse: “Mesmo sendo minha mãe, se ela se associa com aqueles que violam as leis do estado, ela

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também deve ser considerada uma inimiga do estado. Além disso, como ousam esses monges malignos com seus poderes mágicos manter este rei maligno vivo!” Então ele sacou sua espada e ameaçou matar Vaidehi, a consorte do rei. Naquele momento o ministro Candraprabha e o médico Jivaka se curvaram diante do rei e disseram: “Nos Vedas aprendemos que desde a criação do céu e da terra houve dezoito mil reis maldosos que mataram seus pais para usurpar o trono. Mas não houve nenhum tão maligno que tenha matado a própria mãe. Se você cometer esta ação desprezível estará trazendo desgraça sobre a casta kshatriya. Não podemos tolerar tal ação, pois qualquer um que realize tal ato é um renegado. Não podemos mais permanecer aqui.” Os dois homens, com suas mãos segurando o punho de suas espadas, disseram estas palavras enquanto lentamente se afastavam. Ajatasatru ficou chocado e aterrorizado. Ele disse a Jivaka: “Você não vai me ajudar?” Jivaka disse: “Não mate sua mãe.” O rei se arrependeu de suas ações errôneas e pediu sua ajuda. Ele jogou fora a espada e mandou os oficiais do palácio confinarem sua mãe no palácio privado.

(2) A consorte do rei, Vaidehi, aprisionada por seu próprio filho e arrasada pela tristeza, curvou-se na direção do Honrado pelo Mundo, que estava longe, no Pico dos Abutres. Ela disse: “Uma vez o Honrado pelo Mundo enviou o Venerável Maudgalyayana e o Venerável Sariputra para me consolarem. Neste momento estou afundando em pesar. O Honrado pelo Mundo é muito elevado e não sou digna de encontrá-lo. Por favor, deixe-me encontrar os dois veneráveis Maudgalyayana e Ananda.” Suas lágrimas caíam como chuva, e Vaidehi se prostrou para o Honrado pelo Mundo, que estava muito longe. Mas o Honrado pelo Mundo percebeu o estado mental de Vaidehi; andando rapidamente pelo céu, ele desceu ao CEBB

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palácio real. Quando a consorte do rei levantou sua mão e o viu, o corpo do Honrado pelo Mundo brilhou com uma luz dourada. À sua esquerda Maudgalyayana servia como atendente, e à direita Ananda fazia a mesma função. Os deuses flutuavam no céu e derramavam flores celestiais. A consorte do rei, por sua própria vontade, arrebentou seu colar e jogou-se sobre a grande terra. Explodindo em lágrimas, ela disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, quais ações negativas eu cometi para ter que suportar o fruto de dar nascimento a um filho tão maldoso como este, e devido a quais condições o Honrado pelo Mundo se tornou um parente de Devadatta? Honrado pelo Mundo, para minha salvação, por favor me mostre o caminho que é livre do sofrimento; estou cansada deste mundo terrível e maldoso. Este mundo é uma assembleia de seres infelizes como os seres infernais, os fantasmas famintos e os animais. De agora em diante eu não desejo ouvir vozes infelizes ou ver seres infelizes. Agora eu olho para o Honrado pelo Mundo e me prostro sobre a grande terra. Eu imploro por sua piedade, pois estou me afogando em lágrimas de contrição. Eu lhe imploro, Honrado pelo Mundo, que está sempre imerso na luz do mundo, por favor me permita olhar para uma terra pura.”

(3) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo emitiu luz do centro de sua testa. Essa luz era dourada e brilhou sobre as incontáveis terras das dez direções. Então a luz retornou para o topo de sua cabeça e lá ela brilhou como uma torre dourada. Miríades de terras búdicas se manifestaram naquela torre. Uma delas era constituída por sete diferentes gemas. Outra resplandecia com muitos lótus. Outra faiscava brilhantemente como um espelho feito de cristal. Depois de ter tido esta visão, a consorte do rei disse ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, todos esses mundos estão CEBB

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envolvidos pela pura luz; porém, eu aspiro renascer no local do Buda Amitayus que habita na terra de Sukhavati. Eu lhe suplico para me mostrar como meditar. Eu lhe suplico que me mostre como receber o ensinamento adequadamente.” Então, o Honrado pelo Mundo sorriu e uma luz de cinco diferentes matizes foi emanada; essa luz brilhou sobre a cabeça do Rei Bimbisara. Apesar do rei estar aprisionado, seu olho mental viu o Honrado pelo Mundo à distância e nada bloqueou sua visão. Ele se curvou reverentemente; as amarras da delusão se soltaram por si sós e o rei atingiu a iluminação. O Honrado pelo Mundo disse a Vaidehi, a consorte do rei: “Você não sabe que o Buda Amitayus não mora longe daqui? Você deve pensar sobre a terra de Sukhavati do Buda Amitayus, que foi criada por ações virtuosas. Se você deseja renascer nesta terra deve realizar três tipos de ações virtuosas. Primeiro, você deve cuidar devotadamente de seus pais, servir seu professor fielmente e ser compassiva abstendo-se de cometer as dez ofensas graves do assassinato, roubo, ação sexual errônea, fala mentirosa, difamação, fala agressiva, fala inútil, cobiça, má vontade e visões errôneas. Segundo, você deve tomar refúgio no Buda, no Darma e na Sanga, observar todos os preceitos e manter sua dignidade. Terceiro, você deve aspirar à busca da iluminação, acreditar profundamente no princípio de causa e efeito, ler os sutras e expor seus ensinamentos para os outros. Vaidehi, estes três pontos são ações virtuosas que levam ao renascimento na Terra Pura. Os budas do passado, do presente e do futuro todos atingiram a iluminação como resultado dessas três ações que atuaram como a verdadeira causa para a realização.”

(4) O Honrado pelo Mundo disse a Ananda e a Vaidehi: “Vocês fariam CEBB

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bem em ouvir cuidadosamente e contemplar profundamente. Para o bem daqueles que foram prejudicados pelas paixões, tanto neste mundo quanto nos próximos, irei explicar as práticas santas. É realmente maravilhoso que a consorte do rei tenha levantado questões sobre este tema. Ananda, você deve guardar as palavras do Buda em sua memória e expô-las para o benefício de todos os seres sencientes de todos os lugares. Para a consorte do rei e para todos os seres sencientes dos mundos futuros irei revelar o mundo de Sukhavati da direção oeste. Com o poder de um buda mostrarei essa Terra Pura tão claramente quanto um rosto aparece em um espelho brilhante. Ao olharem para a bem-aventurança espantosa dessa terra eles se regozijarão e imediatamente adquirirão o insight sobre a não-originação de toda a existência.” O Honrado pelo Mundo disse a Vaidehi: “Sua mente é tanto fraca quanto falha. Por não ter desenvolvido a visão divina você é incapaz de enxergar longe. Entretanto, o Buda possui meios hábeis maravilhosos; assim, eu lhe permitirei enxergar muito longe.” Vaidehi disse: “Honrado pelo Mundo, através do poder do Buda eu pude ver a terra de Amitayus chamada Sukhavati. Porém, nos mundos futuros nos quais a luz do Buda terá se perdido, nos quais todos estarão maculados pela maldade, nos quais as pessoas sofrerão por velhice e doença, temerão a morte e sofrerão pela separação dos seres amados, como os seres sencientes serão capazes de ver as terras búdicas?” O Honrado pelo Mundo disse: “Ouça cuidadosamente e contemple bem. Para seu benefício irei agora expor o Darma que coloca um fim ao sofrimento. Você deveria sustentar este Darma e ensiná-lo a todos os seres sencientes.” Naquele momento, o Buda Amitayus surgiu no céu; os dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta estavam à sua direita e CEBB

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esquerda. O brilho de sua luz superava em muito o brilho do ouro. A consorte do rei disse: “Honrado pelo Mundo, pelo poder do Buda sou agora capaz de contemplar o Buda Amitayus e seus atendentes Bodisatvas. Como os seres sencientes dos mundos futuros poderão fazer o mesmo?”

(5) O Honrado pelo Mundo disse: “Em primeiro lugar, contemple a forma física do Buda Amitayus. Seu corpo brilha com a intensidade de uma quantidade incomensurável de ouro. A altura de seu corpo é de tantos yojanas quantas são as areias do rio Ganges. Seus olhos são claros, mesmo as águas do grande oceano não se comparam a eles. Seu corpo possui oitenta e quatro mil características maravilhosas. Cada característica maravilhosa possui oitenta e quatro mil luzes. Cada luz brilha em todos os lugares em todas as terras das dez direções. O Buda vê aqueles que o contemplam, e ele os acolhe e nunca os abandona. “Ao ver o corpo deste Buda é possível ver a mente do Buda. A mente deste Buda nada mais é que grande compaixão. Por virtude de miríades de condições ele salva todos os seres sencientes. Portanto, contemple o Buda; a luz do Buda preenche todo o universo e, portanto, também preenche as mentes de todos os seres sencientes. Assim, quando alguém contempla o Buda, sua mente é um buda dotado das características maravilhosas da perfeição. Sua mente se torna um buda; sua mente é, por si própria, o Buda. O oceano da verdadeira sabedoria que se espalha por todos os cantos nasce da mente. Portanto, seres humanos, tornem suas mentes unas com o Buda, e com clareza contemplem o Buda Amitayus. “Além disso, o Buda Amitayus possui incontáveis corpos manifestos. Junto com os dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta ele aparece diante daqueles que contemplam o Buda. A essência do corpo do CEBB

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Buda Amitayus preenche o universo e é ilimitada. A pessoa comum é incapaz de conceber tal corpo. Entretanto, há aqueles que, devido ao voto original do Bodisatva, são capazes de contemplar seu corpo; infalivelmente eles são capazes de se curvar diante de seu corpo. Mesmo a contemplação de seus corpos manifestos resulta em bênçãos incontáveis; isto é ainda mais verdadeiro quanto se contempla a essência do Buda na posse completa de todas as suas características maravilhosas. Além disso, usando seu poder divino o Buda de uma vez preenche os vastos céus com seu corpo expansivo; em outros momentos ele se manifesta na forma de um corpo menor, com vinte pés de altura. Nas terras das dez direções ele manifesta à vontade um poder incompreensível.”

(6) O Honrado pelo Mundo disse a Ananda e a Vaidehi: “Entre aqueles que nascem na terra do Buda Amitayus existem nove tipos de pessoas. Se aqueles que pertencem ao estágio mais elevado do nível mais elevado despertarem as três mentes, eles renascerão imediatamente na terra do Buda. As três mentes são: primeiro, uma mente sincera; segundo, uma mente de profunda fé; terceiro, uma mente que aspira a renascer na terra do Buda. Aqueles que são dotados com estas três mentes renascerão, infalivelmente, naquela terra. E também aqueles que possuírem as seguintes três características renascerão lá: primeiro, com profunda compaixão não tirar as vidas de outros seres e observar os preceitos; segundo, ler os sutras expostos pelo Buda; terceiro, contemplar o Buda, o Darma e a Sanga. Eles contemplam os preceitos, a generosidade desinteressada e a recompensa suprema. Possuindo tais méritos, se alguém seguir tais práticas será capaz de renascer na terra de Amitayus, infalivelmente. Tal pessoa se esforça com grande energia, e por isso o Buda Amitayus, acompanhado por Avalokitesvara e CEBB

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Mahasthamaprapta e numerosos atendentes, envia uma grande luz, brilhando sobre o corpo da pessoa. O Buda estende sua mão e lhe dá as boasvindas. Incontáveis bodisatvas cantam-lhe louvores e sustentam sua mente. Este homem é elevado com alegria e imediatamente renasce naquela terra e contempla o Buda. Ele ouve o Darma que espontaneamente brota de uma floresta de gemas brilhantes e se ilumina para a realidade das coisas. Por um tempo ele viaja até os budas das dez direções para servi-los. Ele ouve sobre como alguém se ilumina e, ao retornar para casa, ele se torna o mestre de uma variedade infinita de ensinamentos. “Aqueles que estão no estágio intermediário do nível mais elevado não conquistaram, necessariamente, maestria sobre os sutras; porém, eles captaram sua essência. Mesmo ao encontrarem os princípios profundos da verdade absoluta suas mentes não se confundem. Eles acreditam profundamente no princípio de causa e efeito e nunca difamam os ensinamentos do Buda. Caso eles transfiram esses méritos e aspirem a renascer em Sukhavati do Buda Amitayus, quando suas vidas se aproximarem do fim, o Buda Amitayus, acompanhado pelos dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta e numerosos outros atendentes, aparecerá para eles. O Buda fará com que os atendentes se sentem em uma plataforma de ouro e ligas de cobre e, em um instante de pensamento, ele fará com que as pessoas alcancem renascimento em sua terra. Aqueles que lá renascerem ouvirão as vozes de todas as coisas como sendo o som do princípio da verdade absoluta. Depois de sete dias eles alcançarão o estado daqueles que nunca retrocedem da iluminação de um buda. Imediatamente irão a cada buda para servi-los. Eles concentram seus pensamentos nos lugares onde os budas habitam, e despertando para a verdade recebem a predição do dia em que alcançarão a iluminação. CEBB

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“Aqueles que pertencem ao estágio inferior do nível mais elevado compreendem o princípio de causa e efeito. Eles não difamam os ensinamentos do Buda e aspiram sinceramente a atingir a iluminação. Caso desejem aplicar seus méritos e aspirem a renascer naquela terra, quando suas vidas se aproximarem do fim, o Buda Amitayus, acompanhado pelos dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta e numerosos outros atendentes, virá para saudá-los. O Buda fará com que se sentem sobre lótus dourados e lhes permitirá renascerem em sua terra. Depois de sete dias eles verão o Buda vagamente. Depois de três períodos de sete dias verão o Buda com clareza. Eles poderão ouvir as explicações sobre todos os ensinamentos por todas as vozes concebíveis. Além disso, eles irão até os budas das dez direções para servi-los e para ouvir todos os ensinamentos. Eles se regozijarão com os ensinamentos inexauríveis.

(7) “Em seguida, aqueles no estágio mais elevado do nível intermediário observam os cinco preceitos que proíbem assassinato, roubo, má conduta sexual, fala mentirosa e o uso de bebidas intoxicantes. Caso eles não cometam as cinco ofensas graves ou outras ofensas variadas, e caso direcionem seus méritos e aspirem a renascer nesta terra, quando suas vidas chegarem ao fim, o Buda Amitayus, acompanhado por uma hoste de atendentes, emitirá luz da cor dourada e virá saudá-los. Quando o Buda Amitayus ensinar que o mundo é sofrimento e vazio, que é transitório e sem essência, suas mentes se encherão de alegria e, envoltos por lótus brilhantes, renascerão em sua terra. Quando as flores brotarem, todas as vozes proclamarão o Darma das Quatro Nobres Verdades. Imediatamente eles acessarão a iluminação dos auto-iluminados e se transformarão em seres que manifestam livremente poderes divinos. CEBB

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“Aqueles que estão no estágio intermediário do nível intermediário observam uma variedade de preceitos, mas apenas pela duração de um dia e uma noite. Porém, eles mantêm sua dignidade. Caso aspirem a renascer em sua terra por virtude de seus méritos, seus corpos emanarão a fragrância dos preceitos. Quando suas vidas se aproximarem do fim, o Buda Amitayus, acompanhando por uma hoste de atendentes, emitirá uma luz de cor dourada e virá saudá-los. Envoltos em lótus preciosos, eles imediatamente renascerão em sua terra. Quando estas flores desabrocharem após um período de sete dias, eles juntarão suas mãos em prece e louvarão o Buda. Eles ouvirão o Darma e estarão plenos de alegria. No final atingirão a iluminação. “Aqueles que estão no estágio inferior do nível intermediário se devotam a atos de cuidado com os pais; eles oferecem compaixão a todos os seres sencientes. Quando suas vidas se aproximam do fim, com a ajuda de bons amigos, eles ouvem sobre a bem-aventurança da terra do Buda Amitayus e sobre a essência do voto original do Buda. Imediatamente renascerão em sua terra; depois de sete dias encontrarão os dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta; eles ouvirão o Darma e se regozijarão; no final, atingirão a iluminação.

(8) “Aqueles que estão no estágio mais elevado do nível inferior não difamam os ensinamentos do Buda; mas, por serem ignorantes, cometem muitas ações negativas, e nunca sentem arrependimento. Quando suas vidas se aproximarem do fim, com a ajuda de bons amigos, eles pronunciam os nomes dos sutras do Grande Veículo e assim destroem as ofensas graves. Além disso, devido ao ensinamento que lhes foi transmitido pelos bons amigos, eles juntam suas mãos em prece e pronunciam ‘Namo Amitayus CEBB

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Buda’. Ao pronunciarem o nome do Buda eles destroem as ações negativas que os prendem à transmigração. Eles são recebidos pelos budas e bodisatvas em corpos manifestos que são emanados pelo Buda Amitayus. Eles veem a luz brilhante que toma o quarto e suas mentes se regozijam. Depois que suas vidas acabam, eles nascem em sua terra. Depois de sete períodos de sete dias, ouvem

os

ensinamentos

dos

dois

Bodisatvas

Avalokitesvara

e

Mahasthamaprapta, e despertam a mente da fé. No final, tornam-se mestres do Darma e entram no estágio da alegria abundante. “Aqueles que estão no estágio intermediário do nível inferior, por serem ignorantes, violam muitos preceitos. Eles roubam objetos como artigos e oferendas que pertencem à Sanga. Eles expõem o Darma para o próprio lucro e fama e nunca se arrependem. Quando suas vidas se aproximam do fim, eles tremem diante dos fogos selvagens do inferno que se aproximam deles por oito diferentes direções. Nesse momento, se devido à compaixão de seus bons amigos eles ouvirem os louvores ao grande poder, mérito e luz do Buda Amitayus, e se acreditarem neles, as grandes maldades que os prendem à transmigração sem fim serão destruídas. Os fogos selvagens serão transformados em brisa fresca; saudados por budas e bodisatvas em corpos manifestos, em um momento de pensamento eles nascem em sua terra, e depois de um longo período ouvem o Darma e despertam uma mente que conduz à iluminação. “Aqueles que estão no estágio inferior do nível inferior, por serem ignorantes, cometem uma enormidade de maldades como as cinco ofensas graves e as dez ações negativas. Arrastados por suas ações negativas, eles estão fadados a suportar sofrimentos inexauríveis em destinos infelizes. Quando suas vidas se aproximam do fim, bons amigos aparecem e com bondade lhes dizem: ‘Se você está tomado pelo sofrimento e é incapaz de CEBB

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contemplar o Buda, simplesmente pronuncie Namo Amitayus Buda’. Essas pessoas os encorajam a recitar o nome; em cada repetição os obscurecimentos que os conduziram à transmigração sem fim são destruídas. Em um momento de pensamento eles nascem na terra de Sukhavati; depois de vários éons eles ouvem o ensinamento e despertam a mente que conduz à iluminação.” Quando o Honrado pelo Mundo terminou de expor este ensinamento, a consorte Vaidehi e uma hoste de atendentes viram o mundo de Sukhavati, o Buda

Amitayus

e

seus

dois

atendentes

Bodisatvas.

Suas

mentes

transbordavam de alegria; a grande iluminação se revelou espontaneamente; e eles foram capazes de ver o mundo como ele é. O Honrado pelo Mundo predisse o dia em que eles atingiriam a iluminação.

(9) O Honrado pelo Mundo disse: “Se uma pessoa ouve o nome do Buda Amitayus os obscurecimentos que conduziriam à transmigração sem fim serão destruídos. Caso ela contemple o seu nome, isso será ainda mais verdadeiro. De fato, aqueles que contemplam o Buda são lótus entre as pessoas maldosas. Os dois Bodisatvas Avalokitesvara e Mahasthamaprapta se tornam seus amigos; eles nunca se desviam do caminho e no final renascerão em Sukhavati.” Então ele disse a Ananda: “Preserve estas palavras. Preservar estas palavras significa preservar o nome do Buda Amitayus.” Depois de expor o Darma, o Honrado pelo Mundo retornou ao Pico dos Abutres. Para o benefício dos seres sencientes Ananda viajou por todos os lugares, expondo o ensinamento. Devido aos seus esforços aqueles que ouviram este ensinamento depositaram confiança no Darma e se alegraram.

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4. A Agonia de Ajatasatru (1) Enquanto isso, Devadatta pediu ao Rei Ajatasatru alguns soldados. Primeiro Devadatta enviou dois soldados; ele lhes deu a ordem para matarem o Honrado pelo Mundo e retornarem usando uma rota alternativa. Então ele enviou quatro homens para armarem uma emboscada na rota de retorno usada pelos dois homens para assassiná-los. Depois ele enviou oito homens para matar os quatro homens que foram enviados antes deles. Ele continuou dobrando o número de homens até sessenta e quatro para matar os trinta e dois que foram enviados antes deles. Desta forma Devadatta tramou para esconder do mundo o número de homens envolvidos no assassinato do Honrado pelo Mundo devido ao seu ódio. Nesse momento, o Honrado pelo Mundo saiu de uma caverna no Pico dos Abutres e estava caminhando pelas trilhas da montanha. Os dois soldados colocaram a armadura, desembainharam suas espadas e tentaram se aproximar do Honrado pelo Mundo. Porém, eles se espantaram com seu poder espiritual e foram incapazes de prosseguir. Surpresos, eles olharam para o semblante do Honrado pelo Mundo e a serenidade de seu rosto parecia com a de um grande elefante domado; e sua mente parecia com água límpida. Inesperadamente, os dois homens foram tomados por sentimentos de veneração. Deixando de lado suas espadas eles foram até o Buda, e ao ouvirem ele expor diversos ensinamentos, se abriu para eles o olho do Darma. Ao contrário de suas identidades anteriores eles buscaram refúgio nos Três Tesouros. Logo depois, tomando uma trilha alternativa viajaram até onde Devadatta se encontrava. Eles lhe comunicaram o poder espiritual do

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Honrado pelo Mundo e disseram que não tinham sido capazes de fazer mal ao Buda. Desta forma o plano de Devadatta deu em nada. Furioso, Devadatta subiu ao Pico dos Abutres, pegou uma grande pedra e a lançou do topo da montanha em direção ao Honrado pelo Mundo, que caminhava perto da caverna. Um pedaço de pedra esfolou os pés do Honrado pelo Mundo, cortou sua pele e carne e seu sangue se derramou sobre o chão. Entretanto, o Honrado pelo Mundo lentamente voltou para a caverna, dobrou seu manto em quatro partes, deitou de lado sobre seu manto e suportou a dor com paciência unifocada. Para o bem da multidão de discípulos que estava em grande tumulto, o Buda saiu da caverna e disse: “Monges não devem gritar como pescadores. Vocês devem retornar cada um ao seu lugar e, concentrando suas mentes, devem praticar o caminho. Os incontáveis budas foram todos vitoriosos sobre todos os tipos de ódio. Não importa o inimigo, um monarca universal nunca é ferido; da mesma forma, não importa o inimigo, o Buda nunca é ferido.” À medida que o tempo passava, a ferida do Buda não melhorava facilmente. Por isso, o médico Jivaka lancetou a ferida e tirou o sangue infeccionado.

(2) Então Devadatta pediu ao Rei Ajatasatru um elefante. Ele planejou soltar o enorme elefante sobre o Honrado pelo Mundo para matá-lo. Ele disse ao condutor do elefante: “Amanhã, na estrada que Gautama usa para chegar até aqui, envenene o elefante e solte-o. Gautama possui uma mente orgulhosa, por isso é provável que ele não se afaste. Neste caso ele será pisoteado, com certeza, até a morte.” Na manhã seguinte o Honrado pelo Mundo colocou seus mantos, tomando sua tigela de mendicante ele entrou na cidade e fez sua ronda, mendigando por comida. O condutor do elefante viu isto à distância e soltou o elefante embebedado. As pessoas imploraram ao CEBB

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Honrado pelo Mundo para ele caminhar por uma rota alternativa, mas ele continuou lentamente pela mesma estrada. O elefante embebedado viu o Honrado pelo Mundo à distância, e agitando as orelhas e emitindo sons muito altos ele investiu. Porém, o Honrado pelo Mundo encheu sua mente de compaixão e cantou este verso:

Não machuque o grande Naga. É raro o grande Naga aparecer neste mundo. Se você machucar o grande Naga, nos mundos vindouros Você se afundará em destinos infelizes.

Espantado pelo poder da Grande Compaixão do Buda, o elefante caiu de joelhos, tocou as pernas do Honrado pelo Mundo, recuou e partiu. Todos aqueles que testemunharam isto, cantaram louvores ao Honrado pelo Mundo.

(3) Desde a prisão de sua consorte o Rei Bimbisara não recebera comida alguma. Olhando pela janela ele viu o verdejante Pico dos Abutres, isto trouxe algum consolo para sua mente. Porém, quando Ajatasatru ouviu sobre isto, mandou bloquearem a janela e cortou as solas dos pés do rei para que ele não pudesse ficar em pé. Nessa época, o filho de Ajatasatru, Udaya, estava sofrendo por uma bolha na ponta de seu dedo. Ajatasatru, enquanto segurava seu filho no colo, chupou e cuspiu o pus. Vaidehi, a consorte do rei, estava sentada por perto, observou a cena e disse: “Rei, quando você era pequeno você sofreu por uma bolha igual a esta. Seu pai, o grande rei, fez como você fez, chupando o pus.” Quando Ajatasatru ouviu isto, sua raiva pelo pai repentinamente mudou para pensamentos de amor. Ele disse aos CEBB

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ministros: “Se houver alguém que reporte que meu pai, o rei, está vivo, eu lhe concederei metade do país.” As pessoas correram para o lugar onde seu pai estava sendo mantido. Mas o rei, ao ouvir os passos agitados, ficou aterrorizado e pensou: “Eles irão me infligir uma terrível punição.” Em agonia, ele colapsou sobre a cama e deu seu último suspiro.

(4) Cego pelos prazeres mundanos, por ter causado a morte seu pai inocente, Ajatasatru estava tomado por arrependimento. Seu corpo sofria com a febre, todo o corpo estava coberto por bolhas. As bolhas gotejavam pus e cheiravam tão mal que era difícil se aproximar dele. Ele pensou: “Agora, neste mundo, eu recebo algo como os frutos do inferno. Em pouco tempo receberei os frutos do verdadeiro inferno.” Sua mãe Vaidehi estava tomada por tristeza e passava vários remédios sobre seu corpo, mas as bolhas não curavam. O Rei Ajatasatru disse à sua mãe: “Estas bolhas nascem da mente, não do corpo. Elas não podem ser curadas pelo poder humano.” Ouvindo sobre a doença de Ajatasatru, seus ministros foram um após o outro visitar seu leito de enfermo. O ministro Candraprabha disse: “Por que o grande rei parece tão deprimido? Você está tomado pela tristeza? Você está sentindo dores físicas? Ou você está sofrendo angústias mentais?” O rei respondeu: “Como podem meu corpo e mente, que causaram de forma abominável a morte de meu pai inocente, o rei, escapar sem sofrimento?” Eu ouvi certa vez de um homem sábio que aqueles que cometem neste mundo as cinco ofensas graves de matar seus pais e assim por diante não poderão escapar do inferno. Eu carrego o peso de maldades infinitas. Neste mundo, não há médicos que possuam a habilidade de curar meu corpo e minha mente.” O ministro disse: “Existe um verso que diz:

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Se você sofre pela tristeza, a tristeza se torna ainda mais intensa. Quando o sono é profundo, quando há desejo por coisas, quando se aprecia o álcool, É o mesmo: a ansiedade só aumenta a própria ansiedade e é inútil.

“Grande rei, você diz que se cometer as cinco ofensas graves afundará no inferno. Entretanto, quem realmente viu o inferno para fazer tal afirmação? Em geral, inferno significa este mundo. Você diz que neste mundo não há médicos habilidosos. Porém, há um homem chamado Purnakasyapa. Esse homem é conhecido por sua sabedoria e meditação superiores; ele se disciplina em uma vida santa e expõe o caminho para a iluminação para incontáveis pessoas. Ele ensina que neste mundo não há tal coisa como uma ação negativa ou o fruto de uma ação negativa, e que não há tal coisa como uma ação positiva ou o fruto de uma ação positiva. Ele também afirma que não existem boas ou más ações. Grande rei, este professor vive agora em Rajagriha. Eu lhe imploro, sob o cuidado deste professor, cure a dor de seu corpo e de sua mente.” O rei disse: “Se ele for capaz de curar meu sofrimento como você diz, eu depositarei minha confiança nesse homem.”

(5) Depois o ministro Gunagarbha o visitou e disse: “Grande rei, por que suas bochechas se tornaram tão fundas e vazias, seus lábios tão ressecados e sua voz tão rouca? Por que sua compleição está tão miserável, como a de um homem que tem medo do mundo ou que foi atacado por seus inimigos?” O rei disse: “Como eu não estaria em sofrimento de corpo e mente? Por ignorância eu causei a morte do rei legítimo. Certa vez eu ouvi: ‘Se alguém de mente não virtuosa cometer ações negativas contra seu pai ou mãe, ou o Buda ou seus discípulos, ele não será capaz de escapar do inferno CEBB

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de Avici.’ Minha mente treme de medo do inferno.” O ministro disse: “Grande rei, o seu temor é desnecessário. Neste mundo há dois darmas: o darma dos monges e o darma dos reis. Falando do ponto de vista do darma de um rei, matar o próprio pai e se tornar um rei não é uma ação negativa. Um embrião rasga o estômago de sua mãe e nasce; porém, este é o darma da natureza e não é uma ação negativa. O darma de governar países é assim também; matar seu pai ou irmão mais velho não pode ser visto como uma ação negativa. Quando falamos do darma de um mendicante, mesmo tirar a vida de um mosquito ou uma formiga se torna uma ação negativa. Mas para você não é necessário tanto pesar. Existe um professor chamado Maskarin Gosaliputra; ele possui onisciência e tem piedade por todas as pessoas como se fossem seus próprios filhos. Habilidosamente ele elimina as causas do sofrimento das mentes das pessoas. De acordo com os ensinamentos deste professor o corpo de um homem é dividido nos sete elementos terra, água, fogo, ar, sofrimento, prazer e vida. Estes sete não mudam ou evoluem. Não há criação no mundo. Como juncos, eles não podem ser destruídos, e como o Monte Sumeru eles são imóveis. Como o leite, eles não podem ser eliminados. Os sete elementos nunca estão em guerra uns com os outros. Nem a dor ou o prazer, nem o bem ou o mal, nem o poder da espada podem prejudicar estes sete elementos. A razão para isto é que estes sete, como o céu, estão livres de todas as obstruções. A própria vida também não pode ser prejudicada. A razão para isto é que tanto aquele que prejudica quando aquele que é prejudicado, tanto o criador quanto a criação, tanto aquele que expõe quanto aquele que ouve, tanto aquele que medita quanto aquele que sustenta o ensinamento são nãoexistentes. Grande rei, esse professor expõe seu darma consistentemente desta maneira e destrói uma hoste de ofensas graves geradas pelos seres CEBB

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sencientes. Se o grande rei for até este professor, todos os males se dissiparão e desaparecerão por si mesmos.” O rei respondeu: “Se ele for capaz de curar meu sofrimento como você diz, eu depositarei minha confiança nesse professor.”

(6) Outro ministro, Satyaguna, disse: “Grande rei, por que você tira sua coroa e balança seus cachos, como uma árvore em flor chacoalhada pelos ventos, tremendo de ansiedade e medo?” O rei respondeu como antes. O ministro disse: “Grande rei, se o seu pai, o rei, fosse um mendicante, então prejudicá-lo teria sido uma ofensa grave. Entretanto, como você causou sua morte pelo objetivo de governar o país, não é uma ação negativa. Grande rei, eu lhe imploro para aquietar sua mente e ouvir. As pessoas recebem os frutos do nascimento e da morte devido ao excesso de ações. O rei anterior foi morto devido ao seu excesso de ações; portanto, nenhum infortúnio recairá sobre o grande rei. Neste momento, um professor chamado Sanjaya Vairattiputra, que possui sabedoria ampla como o oceano, elimina as dúvidas das pessoas. De acordo com o que ele expõe, entre a miríade de seres sencientes, um rei do povo pode fazer o que desejar. Não importa qual erro ele cometa, isto não se torna uma ofensa grave. Assim como o fogo que consome tanto as coisas puras quanto as desprezíveis sem discriminação, ou como a grande terra que não guarda alegria ou raiva pelas coisas puras ou desprezíveis, assim também são as ações de um rei do povo. Além do mais, se uma árvore que foi cortada no outono gera novos brotos quando a primavera chega, o corte da árvore não pode ser visto como uma ofensa grave. A vida de um ser humano é como a da árvore. Nascemos aqui e ali. Como pode ser uma maldade matar algo que renasce? A boa fortuna ou infortúnio de um homem não dependem de suas ações neste mundo. Ele CEBB

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apenas recebe no presente os frutos de ações passadas. No presente não há causa e no futuro não há fruto que seja o efeito. Grande rei, é meu desejo fervoroso que você vá até este professor e seja curado de sua doença tanto em corpo quanto em mente.” O rei respondeu ao ministro: “Se ele for capaz de curar meu sofrimento como você diz, eu depositarei minha confiança nesse professor.”

(7) Outro ministro, Sarvasthanu, veio e disse: “Grande rei, por que você se transformou em tal figura miserável? É devido ao sofrimento do corpo ou da mente?” Quando o rei respondeu como antes, o ministro disse: “Grande rei, abandone sua tristeza. Muito tempo atrás o Rei Rama matou seu pai e usurpou o trono; e também o grande Rei Bhadrika, o Rei Virudhaka, e uma multidão de outros reis mataram seus pais e os sucederam no trono. Porém, nenhum deles caiu no inferno. O Rei Virudhaka, o Rei Udaya e outros também mataram seus pais e subiram ao trono, mas nenhum agonizou devido à sua ação. Apesar de as pessoas falarem sobre inferno, mundos celestiais e assim por diante, ninguém realmente viu esses lugares. Existem apenas dois destinos, o destino dos seres humanos e o destino dos animais. Esses dois não foram criados a partir de causas e condições. Se não houve causas e condições, então não é necessário sustentar tais noções como bem e mal. Há um professor chamado Ajita Kesakambala. Dotado com a mais elevada sabedoria, ele vê ouro e poeira como sendo iguais; ele mantém a mesma mente amigável com alguém que corta seu cotovelo direito ou com alguém que esfrega madeira de sândalo em seu cotovelo esquerdo. Na verdade, este professor é o médico mais habilidoso deste mundo. Quer esteja em pé ou deitado, ele está em profunda meditação. Ele diz aos seus discípulos que se você agir de acordo com sua vontade ou fizer com que CEBB

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outros ajam, não há maldade em tais ações. Não importa se você realiza grandes ações de generosidade desinteressada ao sul do Ganges ou tira as vidas das pessoas ao norte do Ganges. Você não será recompensado com boa fortuna nem atrairá frutos negativos. Esse professor agora reside em Rajagriha. Eu lhe imploro para ir até ele e receber seu ensinamento.” O rei respondeu ao ministro: “Se este professor for capaz de curar meu sofrimento como você diz, eu depositarei minha confiança nele.”

(8) O ministro Sriguna disse: “Grande rei, por que sua face perdeu o brilho e você se parece com um rei que perdeu seu país? Neste momento em todas as quatro fronteiras deste país não há ameaça de inimigos. Por que você está imerso na tristeza? A maior parte dos príncipes pondera quando poderão subir ao trono e usufruir seus poderes livremente. Porém, tal aspiração já se realizou para você. Você reina sobre este grande país de Magadha, e além disso os tesouros deixados pelo rei anterior preenchem os depósitos. Você deveria se entregar livremente aos prazeres. Por que escolhe sofrer internamente?” Depois de ouvir a resposta do rei, ele continuou: “Quem falou sobre inferno, enganando o grande rei? A água é úmida, a rocha é dura. O ar se move, o fogo é quente. Todas as coisas nascem por si mesmas e perecem por si mesmas. Não é a ação de ninguém. ‘Inferno’ é uma palavra criada por homens sábios. Ela conota tanto terra quanto destruição; isto é, se você destruísse o inferno, não haveria tal coisa como os frutos da ofensa. E também, inferno conota tanto homem quando deus. Significa que alguém prejudica os seres vivos e alcança o mundo celestial. Assim, o eremita Vasu matou ovelhas e conquistou os prazeres dos deuses. Inferno conota tanto vida quanto longevidade. Significa que se alguém tira as vidas de seres vivos, conquista longevidade. Portanto, na verdade não há tal coisa como o inferno. CEBB

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Grande rei, da semente do trigo obtemos trigo. Da semente do arroz obtemos arroz. Se você matar o inferno, obterá o inferno; se matar seres humanos, obterá seres humanos. Grande rei, irei agora validar a ação de matar. Se um ser humano possui uma essência, visto que a essência nunca muda, não é possível matá-la. A essência é indestrutível e não pode ser aprisionada. Ela não sente raiva ou alegria, como o céu. Como pode, então, haver tal coisa como matar? Se a essência não existisse, isto significaria que todas as coisas seriam impermanentes e que a cada momento de pensamento elas se extinguiriam. Portanto, tanto o assassino quanto o assassinado estão livres do sofrimento da ofensa de matar. Nem o machado que corta a árvore, nem a foice que corta a grama, nem a espada que mata os seres humanos cometem qualquer ofensa. Como é possível, então, que apenas o homem cometa ofensas? Grande rei, agora em Rajagriha há um professor chamado Kakuda Katyayana. Vendo os três mundos com onisciência, ele purifica os pecados de todas as pessoas com as águas do Ganges. De acordo com o ensinamento deste mestre, mesmo se uma pessoa matar alguém, se não houver arrependimento pelo ato, ela não cairá no inferno, assim como o céu não aceita água lamacenta. Porém, se houver arrependimento, ela mergulhará no inferno, como a água penetra a grande terra. Todas as criaturas vivas são criação de Isvara. Quando Isvara está furioso, todas elas sofrem. Tanto ofensas quanto méritos são criados por Isvara; como podem, então, as próprias pessoas ser julgadas com ofensas e méritos? Por exemplo, um artista cria um boneco; mesmo que o boneco caminhe ou permaneça imóvel, sentado ou deitado, ele é incapaz de falar uma só palavra. As criaturas vivas são como esses bonecos. Qual dessas criaturas irá julgar a si mesma com ofensas? Grande rei, eu lhe imploro para receber o ensinamento deste professor.” O rei respondeu ao ministro: “Se este professor for capaz de curar meu sofrimento CEBB

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como você diz, eu depositarei minha confiança nele.”

(9) O ministro Visarada disse: “Grande rei, uma vez havia um homem ignorante; ao longo de um dia ele se regozijava e se entristecia cem vezes; dormia e acordava, alarmava-se e chorava. Um homem sábio não age desta forma. Grande rei, por que você está tão aflito, como um viajante que perdeu seus companheiros, ou como uma alma perdida que não tem ninguém para guiá-la? Grande rei, eu lhe imploro para não produzir o veneno da tristeza. Em primeiro lugar, como rei, se você tirar a vida de alguém para o bem do país e para os seres sencientes, de forma alguma isto é uma ofensa. O rei anterior venerava os monges, mas nunca serviu os brâmanes. Tal mente carece de equidade, e alguém que perdeu o sentido da equanimidade não pode ser chamado de rei. Assim, grande rei, mesmo que você tenha matado o rei anterior, está é uma oferenda aos brâmanes, portanto, como pode haver qualquer ofensa em relação a isto? E também, grande rei, neste mundo não há tal coisa como matar. O significado original de matar é de prejudicar a vida. A vida é como o vento, não é possível prejudicar o vento. Portanto, não é possível matar a vida. Como pode, então, matar ser uma ofensa? Agora em Rajagriha há um professor chamado Nirgrantha Jnatiputra. Habilidosamente ele percebe a natureza fundamental das pessoas e possui maestria em uma variedade de meios hábeis; ele nunca se perturba com as flutuações mundanas. Dedicando-se às práticas puras, ele ensina seus discípulos da seguinte forma: neste mundo não há nem generosidade desinteressada nem virtude, nem neste mundo nem no próximo; nem pais nem sábios; nem caminhos nem a prática dos caminhos. Depois que oitenta mil kalpas tiverem se passado, nascimento e morte por si mesmos cessarão, e as pessoas, tanto as que cometem ofensas quanto aquelas que estão livres de ofensas, por si CEBB

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mesmas e de forma igual serão capazes de atingir a emancipação. Os quatro grandes rios por si mesmos caem no grande oceano e se tornam a mesma água oceânica. Quando as pessoas ingressam no estado de emancipação elas perdem todas as distinções. Grande rei, eu lhe imploro para receber o ensinamento deste professor.” O rei respondeu ao ministro: “Se esse professor for capaz de curar meu sofrimento como você diz, então eu depositarei minha confiança nele.”

(10) Naquela época havia um grande médico chamado Jivaka. Esse homem também visitou o leito de enfermo do rei e disse: “Grande rei, você consegue dormir bem?” O rei disse: “Jivaka, eu estou sofrendo uma doença grave. Eu infligi maldades terríveis e graves a meu pai, o rei, que seguia o verdadeiro Darma. A grave doença que resultou dessa ação não pode ser curada, não importa a grandeza do médico, o encantamento ou o cuidado. A razão para isto é que o rei anterior governava bem o país, de acordo com o Darma. Apesar de ele não ser culpado por ofensa alguma, eu lhe infligi um terrível e grave sofrimento. Foi como se eu tivesse tirado um peixe da água e jogado no chão. Uma vez eu ouvi de um sábio que aqueles cujas três ações de corpo, fala e mente não forem puras, infalivelmente mergulharão nos infernos. Eu sou um exemplo disto, como posso dormir em paz? Não há médicos que, ao exporem o remédio do Darma, possam me curar desta doença e deste sofrimento.” Jivaka respondeu ao rei: “Bem, bem. Apesar de você ter cometido ofensas, agora está experimentando profundo remorso e arrependimento. Grande rei, o Buda sempre ensina que existem duas mentes que salvam uma. A primeira é a mente que se esforça para não cometer ofensas. A segunda é a mente que se esforça para que os outros não cometam ofensas. Ou, a primeira CEBB

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é a mente que olha para dentro e que se arrepende, e a segunda é a mente que se arrepende pelos outros. Ou, a primeira é sentir remorso diante das pessoas, a segunda é sentir diante dos deuses. Esses são os significados do arrependimento. Aquele que não possui esta mente arrependida não é um humano, mas sim um animal. Como possuímos esta mente que se arrepende, a mente que venera os pais e os professores também surge, e a harmonia entre irmãos e irmãs se estabelece. Eu fico realmente alegre por você ter experimentado este arrependimento. Grande rei, você acabou de dizer que não há médico que seja capaz de curar sua grave doença, é exatamente assim. Entretanto, grande rei, considere isto com cuidado. O grande Arhat, o Honrado pelo Mundo, é a pessoa mais digna de veneração no mundo. Ele possui uma sabedoria que é como o diamante que destrói todas as obstruções com facilidade, ele destrói todas as ofensas. O Buda, o Honrado pelo Mundo, irá curá-lo de sua doença grave.”

(11) Naquele momento, uma voz falou do céu: “Grande rei, se você cometer uma ofensa grave receberá a retribuição correspondente. Se cometer três ofensas graves, o resultado aumenta três vezes. Se cometer cinco ofensas graves, o resultado aumenta cinco vezes. Devido às ofensas que você cometeu até agora, não escapará da queda nos infernos. Portanto, vá imediatamente até onde se encontra o Honrado pelo Mundo; além dele não há ninguém que possa salvá-lo.” Ao ouvir esta voz do céu, Ajatasatru ficou agitado por grande medo. Como a folha de uma bananeira, ele tremeu de medo. Olhando para o céu, ele disse: “Quem é você?” Do céu, sem revelar uma forma, como antes, apenas a voz foi ouvida: “Eu sou seu pai, Bimbisara. Aceitando o conselho de Jivaka, vá rapidamente até onde está o Honrado pelo Mundo; em circunstância CEBB

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alguma você deve ser desviado pelas palavras dos seis ministros que ensinam visões errôneas.” Ao ouvir a voz de seu pai, Ajatasatru colapsou e caiu sobre a grande terra. As bolhas que recobriam seu corpo todo espontaneamente se espalharam; seu odor nojento era pior do que antes. Seus atendentes passaram pomadas sobre elas e tentaram tratá-las, mas elas se abriram como botões florescendo e dispararam uma febre tóxica. Isto continuou sem melhoras.

(12) O Honrado pelo Mundo assistia a tudo à distância, e disse para Kasyapa, que estava ao seu lado: “Filho de boa família, para o bem de Ajatasatru prolongarei minha vida e não entrarei no nirvana final. Kasyapa, é muito provável que você não compreenda o significado oculto de minhas palavras. Por exemplo, quando digo ‘para o bem de Ajatasatru’ eu quero dizer ‘para o bem de todos os seres sencientes’. Eu apenas tomei Ajatasatru como um exemplo que representa todos aqueles que cometeram as cinco ofensas graves. Eu não permaneço neste mundo para o bem daqueles que já alcançaram a iluminação. Ajatasatru representa os seres ignorantes que possuem obscurecimentos numerosos e variados. Além do mais, ‘para o bem de Ajatasatru’ significa ‘para o bem daqueles que ainda não perceberam sua natureza de Buda.’ Eu não permaneço neste mundo para o bem daqueles que já perceberam sua natureza de Buda. A razão para isto é que aqueles que já perceberam sua natureza de Buda não são mais pessoas deludidas. Ajatasatru representa todos aqueles que ainda não despertaram a mente da suprema iluminação. Além disso, ‘ajata’ significa a natureza de Buda que ainda não se manifestou. ‘Ajatasatru’ significa inimigo da natureza de Buda. Como ele não fez com que florescesse o botão da natureza de Buda, ao longo do dia ele CEBB

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desenvolve obscurecimentos que são inimigos da natureza de Buda. Como o obscurecimento surge, ele é incapaz de ver sua natureza de Buda. Se não gerasse tais obscurecimentos, ele seria capaz de ver sua natureza de Buda original e habitaria na iluminação do grande nirvana. Como Ajatasatru não atingiu tal estado até agora, ele possui obscurecimentos que são inimigos da natureza de Buda; esta é a razão para ele ser chamado de Ajatasatru. Filho de boa família, ‘Ajata’ significa ‘ainda não nascido’. ‘Ainda não nascido’ se refere ao nirvana, que nem nasce nem se extingue. ‘Satru’ se refere às oito características deste mundo: lucro, declínio, difamação, fama e assim por diante. Além disso, ‘Ajatasatru’ significa nirvana neste mundo, isto é, algo livre de obscurecimentos. Sem se deixar arrastar pelas oito características do mundo como elogios e difamação, evita-se entrar no nirvana por uma eternidade infinita. Portanto, para o bem de Ajatasatru, eu permaneço neste mundo por um tempo infinitamente longo. Filho de boa família, não é possível apreender o significado oculto das palavras do Buda. Os três tesouros, o Buda, o Darma e a Sanga, também são inconcebíveis.”

(13) Assim, para o bem de Ajatasatru, o Honrado pelo Mundo entrou na Meditação da Lua Amorosa e emitiu uma grande luz; essa luz era pura e curativa. Ela brilhou sobre o corpo de Ajatasatru à distância. As bolhas que recobriam seu corpo todo espontaneamente se curaram sem deixar qualquer marca. O Rei Ajatasatru disse: “Jivaka, o Honrado pelo Mundo é o maior deus entre os deuses. Por que ele enviou esta luz?” Jivaka respondeu: “Grande rei, este sinal auspicioso em forma de luz foi enviado para o seu bem. Como você disse antes, não havia médico que pudesse curar sua doença, e portanto o Honrado pelo Mundo emitiu esta luz e curou a doença de seu corpo. Em CEBB

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seguida ele curará a doença de sua mente.” O rei disse: “Jivaka, o Honrado pelo Mundo deseja me ver novamente?” Jivaka disse: “Sim. Suponha que alguém possua sete filhos, todos eles são igualmente preciosos. Porém, se um entre eles ficar doente, a mente do pai se direcionará especialmente para a criança doente. Da mesma forma, apesar de o Buda amar igualmente todos os seus filhos, assim como uma mãe ama seu único filho, ele é especialmente compassivo com aqueles que cometeram ofensas graves. O Buda é especialmente compassivo com aqueles que negligenciaram o caminho. Em relação àqueles que são capazes de praticar o caminho diligentemente, o Buda, pelo contrário, relaxa sua mente. ‘Aqueles diligentes’ se refere aos bodisatvas nos estágios superiores. Grande rei, nenhum buda se preocupa com a linhagem dos seres sencientes ou os nomes de suas famílias; eles não ponderam sobre distinções de pobreza ou riqueza, o mês ou o dia do nascimento de alguém, seu signo astrológico, ou sua habilidade nas artes. Eles buscam apenas aqueles com mentes virtuosas e lhes direcionam pensamentos compassivos. Grande rei, o Honrado pelo Mundo emite tais sinais auspiciosos depois de entrar na Meditação da Lua Amorosa.” O rei perguntou: “O que é a Meditação da Lua Amorosa?” Jivaka respondeu: “A luz da lua tem o poder de levar todos os lótus azuis a florescerem com beleza. Da mesma forma, esta meditação possui o poder de despertar a mente virtuosa nas pessoas; é por isso que é chamada de Meditação da Lua Amorosa. Além disso, assim como a luz da lua alegra todos os viajantes, a Meditação da Lua Amorosa também alegra aqueles que caminham com dificuldade em direção ao nirvana. Por isso ela é chamada de Meditação da Lua Amorosa. Entre as virtudes, esta meditação é soberana, ela possui o sabor do néctar. Todas as pessoas alegremente desejam esta meditação; é por isso que é chamada de Meditação da Lua Amorosa.” CEBB

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(14) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a uma grande assembleia: “Quando as pessoas buscam a iluminação, o fator mais importante é um bom amigo. Por exemplo, se o Rei Ajatasatru não tivesse seguido o conselho de Jivaka, ele nunca teria sido salvo. Portanto, eu digo que para atingir a iluminação um bom amigo é o fator mais importante.” Em seu caminho até o Honrado pelo Mundo, Jivaka contou a Ajatasatru sobre o monge Kokalika, o qual, depois de a grande terra se abrir, afundou no inferno de Avici enquanto ainda estava vivo. Ele também lhe contou sobre Sunaksatra, que acumulou uma miríade de ações negativas, mas mesmo assim correu para o Honrado pelo Mundo; com isso todas as suas ofensas se extinguiram. Ao ouvir estas histórias, Ajatasatru disse a Jivaka: “Agora eu ouvi estas duas histórias; porém, eu ainda estou perdido, Jivaka. Planejo andar com você no mesmo elefante. Assim, mesmo se eu estiver prestes a cair no inferno de Avici, você poderá me segurar e não me deixará cair. A razão para isto é que ouvi que um arhat que atingiu o nirvana nunca cairá no inferno.” Em uma noite de lua cheia, centenas de carruagens de elefantes com tochas à sua frente silenciosamente seguiram seu caminho para a floresta. Quando finalmente entraram na floresta, o Rei Ajatasatru foi repentinamente tomado pelo medo; tremendo, ele disse a Jivaka: “Jivaka, você não está planejando me trair e me entregar para o inimigo, está? Que silêncio tétrico! Dizem que há mais de mil discípulos, mas não se ouve ninguém espirrar ou tossir. Não posso deixar de pensar que há alguma espécie de tramoia em andamento.” Jivaka disse: “Grande rei, avance sem medo. Há uma luz queimando naquele eremitério na floresta. O Honrado pelo Mundo reside ali.” CEBB

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O rei se encorajou com as palavras de Jivaka e, descendo do elefante, entrou na floresta. Aproximando-se do Honrado pelo Mundo, ele se curvou e implorou por ensinamentos do Buda.

5. O Honrado pelo Mundo Expõe o Darma (1) O Honrado pelo Mundo concedeu uma variedade de ensinamentos a Ajatasatru. Ele disse: “Grande rei, para aqueles que possuem uma mente arrependida as ofensas não são mais ofensas. Aqueles que não possuem uma mente arrependida serão castigados para sempre por suas ofensas. Você é um homem arrependido, suas ofensas serão purificadas, não há por que ter medo.”

(2) Após receber o ensinamento, Ajatasatru disse ao Honrado pelo Mundo: “Observando o mundo, percebo que de uma semente da árvore tóxica chamada de árvore de óleo de castor, uma árvore de óleo de castor nasce. Eu nunca vi uma árvore de sândalo nascer a partir de uma semente de árvore de óleo de castor. Agora, pela primeira vez eu testemunhei uma árvore de sândalo crescer a partir do fruto de uma árvore de óleo de castor. Estou falando sobre mim. A árvore de sândalo se refere à fé sem raízes que brotou em minha mente. Neste momento eu ainda tenho que servir o Buda com reverência ou buscar refúgio no Darma ou na Sanga. Apesar disso, a fé brotou repentinamente em mim; portanto, eu a chamo de fé sem raízes. Honrado pelo Mundo, se eu não tivesse encontrado o Buda, eu teria caído no inferno por um número infinito de kalpas e teria me habituado ao sofrimento

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sem fim. Agora eu me curvo diante do Buda, com todos os méritos que posso acumular meu desejo intenso para o futuro é de destruir os obscurecimentos das outras pessoas.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bom, muito bom, grande rei! Eu previ que você destruirá os obscurecimentos das pessoas com seus méritos, eliminando os obscurecimentos de suas mentes.” Ajatasatru disse: “Honrado pelo Mundo, se eu for capaz de destruir as intenções negativas das pessoas, mesmo que tenha que experimentar um sofrimento enorme por um número infinito de kalpas no inferno de Avici, eu não olharei para isto como sofrimento.” Ouvindo estas palavras de Ajatasatru, um grande número de habitantes de Magadha espontaneamente despertou a aspiração pela iluminação. Com isto, Ajatasatru conseguiu mitigar suas graves ofensas.

(3) Naquele momento, Ajatasatru disse a Jivaka: “Eu fui confrontado pela morte iminente, e ainda assim escapei deste destino e me tornei um rei. Tendo escapado de uma morte prematura, eu obtive uma longa vida. Além disso, eu ajudei um grande número de pessoas a despertarem a aspiração pela iluminação. Esta pessoa é um ser divino, um ser de longa vida, ela é um discípulo de todos os budas.” Assim, com uma variedade de bandeiras preciosas ele fez uma oferenda ao Buda; e com os seguintes versos cantou um louvor ao Honrado pelo Mundo:

Para o benefício de todas as pessoas, o Buda se torna um pai compassivo e uma mãe misericordiosa.

Assim, todos são filhos do Buda. CEBB

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O Buda, com grande compaixão, para o benefício de todos os seres sencientes Deste mundo, dedica-se a disciplinas espirituais. Ele o faz como se Estivesse em um frenesi, como um homem possuído por algum espírito das montanhas.

Agora eu percebo o Buda e ofereço os méritos virtuosos Que acumulei à sua mais elevada iluminação.

Faço oferendas aos Três Tesouros. Pela virtude das raízes de mérito Que acumulei, rezo para que os Três Tesouros possam existir Para sempre neste mundo.

Pela virtude dos méritos que acumulei para o benefício Dos seres sencientes, possam todos os Maras ser destruídos.

(4) Naquele momento o Honrado pelo Mundo louvou Ajatasatru e disse: “Quando uma única pessoa desperta a aspiração pela iluminação, esta pessoa embeleza a grande assembleia que se reuniu ao redor do Buda. Grande rei, deste dia em diante você deve sempre se esforçar para não perder esta aspiração pela iluminação. A razão para isto é que através desta aspiração pela iluminação você será capaz de extinguir incontáveis ações negativas.” Ao ouvirem isto, Ajatasatru e o povo de Magadha se levantaram de seus assentos e circumambularam o Honrado pelo Mundo três vezes,

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depois se curvaram reverentemente diante do Buda e deixaram a assembleia.

(5) Ajatasatru disse, então, aos seus ministros: “Deste dia em diante eu busco refúgio no Honrado pelo Mundo e seus discípulos. De agora em diante devemos convidar o Honrado pelo Mundo e seus discípulos ao meu palácio, mas não devemos permitir que Devadatta e seus companheiros entrem no palácio.” Sem saber disto, um dia Devadatta chegou aos portões do palácio. As sentinelas que guardavam os portões repetiram o que o rei havia dito e bloquearam o caminho de Devadatta. Fervendo por dentro pela raiva, ele ficou em pé do lado de fora dos portões. Naquele instante a monja Utpalavarna, que havia terminado sua ronda de mendicância, saiu caminhando pelo portão. Ao ver a monja ele instantaneamente explodiu com raiva. “Que raiva você guarda por mim que a impele a barrar minha passagem por este portão?” Usando linguagem abusiva ele cerrou o punho e bateu na cabeça da monja. A monja suportou a dor e lhe disse que isto não fazia sentido, mas no final Devadatta quebrou sua cabeça. A monja suportou a dor e retornou ao seu convento. Ela disse às monjas que estavam horrorizadas e se entristeceram: “Irmãs, a duração de nossas vidas não pode ser calculada, todas as coisas são impermanentes. Um lugar de estabilidade livre dos obscurecimentos é o nirvana. Todas vocês, esforcem-se com diligência e cultivem o caminho virtuoso.” Ao pronunciar estas palavras, ela ingressou no nirvana.

(6) No final, Devadatta passou veneno nas unhas de seus dez dedos e planejou se aproximar do Honrado pelo Mundo, que estava no Monastério do Bosque Jeta. Os discípulos perceberam a figura de Devadatta, e CEBB

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preocupados com a segurança do Honrado pelo Mundo, eles sentiram grande temor. Entretanto, o Honrado pelo Mundo disse: “Não há por que sentir medo. Hoje Devadatta não conseguirá me ver.” Enquanto isso, Devadatta se aproximou do monastério e foi até a margem do lago onde os discípulos lavavam seus pés. Lá ele permaneceu por algum tempo sob a sombra de uma árvore. Repetindo o que havia dito antes, o Honrado pelo Mundo pacificou seus discípulos temerosos. Naquele momento, a grande terra sobre a qual Devadatta estava afundou e explodiu em chamas. Logo ela enterrou seus joelhos, então chegou ao seu umbigo e, finalmente, aos seus ombros. Queimado pelo fogo, Devadatta se arrependeu de suas graves ofensas e afundou. Duas alavancas de ouro espremeram Devadatta pela frente e por trás, puxando-o para baixo para dentro da grande terra, que era consumida pelas chamas, arrastando-o para o fundo até o inferno de Avici.

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LIVRO VII Capítulo III - DEVOÇÃO AO CAMINHO

1. A Entrega ao Caminho (1) Viajando de lugar em lugar, o Honrado pelo Mundo retornou a Sravasti

e

entrou

no

Monastério

Anathapindada

no

Bosque

Jeta.

Anathapindada de Sravasti era um homem famoso e rico. Ele possuía incontáveis tesouros repletos de ouro, prata e outros valores, e numerosos servos homens e mulheres. Naquele tempo havia em Ugga um homem rico chamado Ugrasresthin, cuja fortuna se comparava ao tamanho de uma montanha. Desde a juventude ele era amigo de Anathapindada. Os dois eram próximos e a sua relação não era esquecida por ambos. Era uma prática comum Anathapindada vender mercadorias em Ugga e Ugrasresthin fazer negócios em Sravasti; assim, os dois sempre passavam pela casa um do outro. Um dia, Ugrasresthin veio a Sravasti para fazer negócios e permaneceu na casa de Anathapindada. A filha de Anthapindada, Sumati, possuía um charme natural como uma flor de pessegueiro e uma beleza muito rara. Ao saber que estavam com um hóspede, ela silenciosamente entrou na sala e, curvando-se respeitosamente diante de seus pais, saudou o hóspede e então retornou para o seu quarto. Sabendo que ela era a filha de seu anfitrião, Ugrasresthin disse: “Eu tenho um filho que ainda não escolheu uma esposa. Desta forma eu gostaria de acolhê-la como sua noiva.” “Desculpe-me, mas CEBB

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devo recusar”, disse Anathapindada. “E por quê? A família dele ou a casta são diferentes ou é porque a fortuna dele não se compara à sua?” “Não há nada sobre família, casta ou riqueza que seja um problema; porém, no que se refere ao aspecto essencial da religião há uma diferença. Minha filha é discípula do Honrado pelo Mundo e o seu filho é fiel a outro ensinamento.” “Só isso?”, disse Ugrasresthin. “Não há nada drástico em uma diferença religiosa. Não há problema se cada um praticar de sua forma. Por favor, seja flexível e nos honre concedendo sua filha ao meu filho.” Anathapindada se debateu buscando palavras para recusar, e pensou em recusar mencionando assuntos de dinheiro. Ele pediu uma enorme quantia como dote, mas Ugrasresthin prontamente concordou com os termos. Agora Anathapindada não podia fazer mais nada; assim, ele pediu por algum tempo para consultar o Honrado pelo Mundo. Imediatamente ele foi até o Honrado pelo Mundo e lhe relatou a situação. O Honrado pelo Mundo respondeu, dizendo: “Meu caro, se a sua filha Sumati for para Ugga, ela salvará numerosas pessoas. Não há nada mais elevado que isto.” Ao ouvir estas palavras, Anathapindada se decidiu e voltou para casa. Ele convidou Ugrasresthin novamente para uma grande refeição. Ele concordou com a proposta e o noivado foi anunciado.

(2) Antecipando o feliz acontecimento, eles se apressaram e imediatamente começaram os preparativos para a cerimônia de casamento. No dia combinado, Ugrasresthin enviou seu filho em uma carruagem adornada para dar as boas-vindas à noiva. Naquele dia Anathapindada também vestiu Sumati com brilho, colocou-a em uma carruagem incrustada com sete tipos de gemas de grande beleza, e organizou para que ela os encontrasse em certo ponto do caminho. Assim, eles tiveram um maravilhoso CEBB

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encontro na estrada e todos retornaram até Ugga para um casamento glorioso. Naqueles dias havia em Ugga uma lei que proibia o casamento com pessoas de outros reinos. Se aquela lei fosse quebrada, a punição seria convidar mil ascetas brâmanes para um banquete luxuoso. Porém, para o abastado Ugrasresthin isto não era um problema, e ele logo convidou numerosos ascetas para um banquete. Quando chegou o dia, os ascetas se reuniram um após o outro na casa de Ugrasresthin. Eles estavam todos nus. O rico Ugrasresthin os saudou e os convidou para sentarem-se. Depois de oferecer-lhes o festim, ele chamou Sumati e disse: “Vista-se, prepare-se e venha até o salão de banquetes para prestar homenagem aos nossos mestres.” Tentando evitar isto, Sumati disse: “Eu não posso venerar uma pessoa nua. Eu simplesmente não posso venerar como mestres pessoas que não possuem vergonha.” Ugrasresthin disse: “Não é por falta de vergonha que estas pessoas estão nuas, pois elas vestem as roupas do Darma sobre seus corpos.” “Estar nu não pode ser estar vestido com as roupas do Darma. Meu professor, o Honrado pelo Mundo, ensinou que há duas coisas que são as mais sagradas neste mundo. Elas são a vergonha e a modéstia, e se estiverem faltando, a distinção entre mãe e pai, irmão mais velho e mais novo, irmã mais velha e mais nova, e entre parentes também faltará. Não haveria diferença entre a própria pessoa e uma galinha ou cão. Estas pessoas não têm vergonha e modéstia e estão nuas; portanto, não há como ver a diferença entre elas e as galinhas e cães. Como posso ir até lá e prestar respeito a elas?” Seu marido tentou várias vezes persuadi-la a sair e saudá-los, mas ela disse que não cairia em tal doutrina falsa mesmo se lhe arrancassem membro por membro. Assim, ela se recusou. Ao saberem da situação, os ascetas se enraiveceram e gritaram com CEBB

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Ugrasresthin: “Pare com isso, pare com isso agora. Qual é o significado desta mulher desprezível espalhar tais palavras abusivas? Nós viemos a seu convite, não seria apropriado trazer as oferendas agora?” Ugrasresthin não podia fazer mais nada e parou de tentar persuadir Sumati. Uma comida deliciosa foi trazida e oferecida aos ascetas. Eles aproveitaram as oferendas e ao acabarem de comer deixaram a casa.

(3) Ugrasresthin não estava feliz e subiu ao topo da torre para ficar só. “Ó, que noiva trouxemos para casa! Com certeza não haverá harmonia nesta casa, mas sim ela será destruída. Esta casa nunca experimentou tal humilhação como nesta ocasião”, ele se lamentava. Naquela época havia um praticante chamado Boa Sabedoria em Ugga. Ele havia atingido os cinco poderes divinos e numerosas formas de meditação. Ele pediu para visitar o ancião, uma vez que não o via há algum tempo; mas ao ouvir que ele estava sozinho no topo da torre com algo pesando em sua mente, rapidamente foi até Ugrasresthin e lhe perguntou sobre a razão de sua preocupação. “Por que está tão preocupado? As autoridades lhe pediram para fazer algo sem sentido? Ou alguma calamidade na forma de um ladrão ou fogo ou inundação o visitou? Ou algo triste aconteceu em sua casa? Por favor, alivie seu fardo e me conte a razão de sua preocupação.” “Muito obrigado por sua gentileza. Mas eu não incorri em prejuízos devido às autoridades ou aos ladrões, não recebi a visita de calamidades na forma de fogo ou inundação. Apenas algo bastante triste aconteceu em minha casa. Meu filho noivou recentemente, e por uma lei do reino ter sido violada, como punição para o crime eu tive que convidar alguns mestres brâmanes para um banquete. A noiva se recusou a obedecer às minhas ordens e não prestou respeito aos mestres.” “Esta garota é filha de quem?” “Ela é a filha de CEBB

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Anathapindada de Sravasti.” Ao ouvir isto, Boa Sabedoria ficou bastante surpreso e, cobrindo seus ouvidos com as mãos, disse: “Ao ouvir suas ordens ela não subiu à torre e tentou se jogar de lá para morrer? O professor desta noiva é realmente uma pessoa que observa a prática mais elevada e santa. Ele é verdadeiramente uma pessoa grandiosa e espiritualmente poderosa.” “Não é estranho você louvar Gautama que segue outra fé?” “Longe disto! O poder espiritual de Gautama está muito além de nossa imaginação. Deixe-me contar-lhe o que vi. Foi pouco tempo atrás. Eu estava ao norte das Montanhas do Himalaya, depois de mendigar eu fui até às proximidades do Lago Anuttara quando muitas deidades surgiram. Apontando facas para mim, elas disseram: ‘Boa Sabedoria, você não pode parar perto deste lago e sujar as águas. Se você não nos ouvir iremos matá-lo.’ Assustado com estas palavras eu parti dali. Então apareceu Cunda, o discípulo mais jovem do Honrado pelo Mundo, carregando um manto adicional encontrado em um monte de lixo. Então, as mesmas deidades que me ameaçaram saíram para encontrá-lo respeitosamente e ofereceram toda a cortesia e sinais de estima a ele. Havia uma plataforma dourada no lago. Cunda colocou o manto sujo na água, deixou até ele encharcar, e depois de comer e lavar sua tigela ele entrou em meditação sobre a plataforma. Depois de um tempo, ele saiu de sua meditação e tirou o manto para lavar. Naquele momento, algumas das deidades lavaram o manto, algumas o enxaguaram e, finalmente, depois de terminarem de lavá-lo, elas pegaram o manto e voaram com ele para suas casas. Ugrasresthin, mesmo o discípulo mais jovem do professor de sua filha possui tal poder extraordinário. O poder divino do iluminado Honrado pelo Mundo deve realmente estar além de nossa compreensão. Visto que sua filha foi forçada a prestar respeito aos monges de uma fé diferente, você deveria se alegrar que ela não se jogou da torre e morreu.” CEBB

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“Será que posso prestar respeito ao professor de minha filha?” perguntou Ugrasresthin. “Ao invés de me perguntar, você deveria perguntar a ela.”

(4) Assim, Ugrasresthin chamou Sumati e perguntou se ele poderia convidar o professor dela para prestar respeito a ele. Sumati ficou exultante e transmitiu o pedido do ancião, cantando, com o incensário na mão, no topo da torre, juntando as mãos em prece: “Honrado pelo Mundo, você sabe de tudo e deve saber que me encontro agora em uma situação difícil. Por favor, apareça diante mim, por compaixão. Cuidando de todo o mundo você conquistou Maras, aconselhou Hariti, salvou o matricida Angulimala e acalmou um elefante enlouquecido em Rajagriha. Eu me encontro agora em profundo sofrimento; eu lhe imploro, seja bom e venha até aqui para me salvar.” Quando ela cantou este verso, repentinamente uma fragrância se espalhou como uma nuvem e preencheu o Bosque Jeta. As deidades se regozijaram e derramaram flores enquanto louvavam o desejo de Sumati. Ao ver isto, o Buda deixou escapar um sorriso. Ananda viu a nuvem de fragrância elegante preencher o bosque e, pensando que aquilo era algo especial, foi até o Honrado pelo Mundo e lhe perguntou a razão para aquilo. Então ele ficou sabendo do convite de Sumati para o dia seguinte. O Honrado pelo Mundo disse: “Entre os sábios que destruíram as paixões e atingiram a iluminação, faremos um sorteio amanhã para decidir quem irá até Ugga.” Ao receber esta instrução Ananda reuniu os discípulos e lhes transmitiu as palavras do Honrado pelo Mundo. Entre os discípulos reunidos havia um chamado Kutadanta que pensou consigo: “Já faz um longo tempo desde que deixei o lar e me tornei um CEBB

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monge; porém, fui incapaz de destruir minhas paixões e de atingir a iluminação. Cunda, apesar de ser o mais jovem na assembleia, destruiu suas paixões e atingiu a iluminação. Para ser capaz de ir com o Honrado pelo Mundo amanhã até Ugga, eu devo praticar sinceramente hoje e atingir o nirvana.” E assim foi, ele alcançou seu desejo pela iluminação. Naquele dia, quando houve o sorteio, ele foi o primeiro a ser escolhido. O Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos que o primeiro escolhido no sorteio era Kutadanta.

(5) No dia seguinte, seguindo as instruções do Honrado pelo Mundo, Maudgalyayana,

Mahakasyapa,

Aniruddha,

Revata,

Subhuti,

Uruvilvakasyapa, Rahula, Ksullapanthaka, Cunda e os outros que possuíam o poder divino de ir a qualquer lugar de acordo com sua vontade, dirigiramse para Ugga através de seu poder divino. Um garoto do templo chamado Gandha carregava um grande caldeirão e seguia na frente em direção à cidade. Ugrasresthin estava na torre e, ao ver muitas pessoas se aproximando à distância, inclinou-se, pensando que o Honrado pelo Mundo se aproximava. Ao ver Gandha ele perguntou a Sumati: “Aquela pessoa vestindo um manto branco, com cabelos longos, e que carrega um grande caldeirão, chegando como um tornado, é o seu professor?” “Não, não é. Aquele é Gandha, um garoto do templo; porém, ele alcançou a iluminação.” Cunda vinha circundado por quinhentas flores de várias cores feitas por ele. “Nossa, quantas flores!” disse Ugrasresthin. “O céu está tomado por elas. Ele é o seu professor?” “Não, não é. Ele é Cunda, de quem o sábio Boa Sabedoria falou. Ele é discípulo de Sariputra.” Ksullapanthaka vinha com quinhentos bois azuis, sentado em meditação sobre um deles. “Essa pessoa que está chegando com os bois azuis, CEBB

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sentado em meditação, é o seu professor?” “Não, não é. Ele é Ksullapanthaka.”

Rahula

chegou

à

frente

de

quinhentos

pavões;

Mahakalpina chegou à frente de quinhentos kimnaras; Uruvilvakasyapa chegou à frente de quinhentos grandes Nagas; Mahakalyayana chegou à frente de quinhentos gansos; Revata chegou à frente de quinhentos tigres; Aniruddha chegou à frente de quinhentos leões; Mahakasyapa chegou à frente de quinhentos cavalos; e Maudgalyayana chegou à frente de quinhentos elefantes brancos. Cada um dos elefantes brancos tinha seis presas adornadas com ouro e prata que produziam uma luz brilhante. Havia música no ar e uma enorme quantidade de flores no chão. Era realmente uma bela visão. Em resposta às questões de Ugrasresthin, Sumati lhe relatou os nomes e os méritos de cada um dos discípulos.

(6) Logo chegou voando o Honrado pelo Mundo, com Ajnatakaundinya à sua direita e Sariputra à sua esquerda, Ananda seguia atrás segurando uma vassoura com um grupo de deidades que o circundavam. Pancasikha vinha tocando sua harpa preciosa e louvando o Buda. Flores caíam sobre o Buda; o Rei Prasenajit de Sravasti, Anathapindada e outros com grande alegria ofereciam incensos maravilhosos. Anathapindada cantou o seguinte hino:

O poder do Buda é incomensurável E ele ama todos os seres sencientes como se fossem seus próprios filhos. É uma alegria imensa que minha filha Sumati Tenha recebido os ensinamentos do Buda. Dedilhando as cordas de uma harpa preciosa, Pancasikha cantou nos céus. As paixões da ignorância foram extintas há muito tempo, CEBB

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A mente não está confusa E os obstáculos impuros foram removidos Do Buda que agora se aproxima de nós. Seu coração é puro E ele abandonou os pensamentos errôneos. Ele é um oceano de mérito Com características maravilhosas e divinas; As paixões não surgem há muito tempo nele. Por compaixão ele não se isola. O Buda agora se aproxima, O Buda agora se aproxima. Cruzando o rio do desejo Livre de nascimento e morte, Cortando a raiz da ilusão, O Buda agora se aproxima.

Ugrasresthin foi ofuscado como se tivesse sido atingido por uma luz ampla como o Monte Sumeru e estava estupefato. “Esse raios vêm do sol? Eu nunca vi algo como eles em toda minha vida. Incontáveis raios de luz estão brilhando, eu nem mesmo posso olhar para eles.” “Eles não são raios do sol. Porém, tirando o sol, como podemos descrever a luz? Os raios incontáveis de luz são todos para cada um de nós. Ele é realmente o professor. O Buda está aqui e o que você ouve são as vozes louvando os méritos do Buda. Por favor, faça oferendas a ele e receba uma grande recompensa.”

(7) Ugrasresthin se apoiou sobre seu joelho direito e juntando as mãos em prece tomou refúgio no Honrado pelo Mundo.

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Deposito minha fé no Buda. No brilho sereno dourado A quem os deuses louvam Eu agora deposito minha fé. O Buda, como a luz do sol E como a luz da lua entre as estrelas Concede a salvação a todos. Agora eu deposito minha fé nele. Sua forma é como a de Indra, rei dos deuses, Sua compaixão é como a de Brahma, Iluminando a si mesmo e aos outros. Agora eu deposito minha fé nele. Neste homem entre os homens E deus entre os deuses, Que destrói as doutrinas errôneas, Eu agora deposito minha fé.

Sumati também se ajoelhou, juntando suas mãos ela cantou:

Corrigindo sua vida e corrigindo as vidas dos outros, Agindo corretamente e fazendo com os que os outros ajam corretamente, Despertando para a iluminação e fazendo com que os outros despertem para a iluminação, Livrando-se das impurezas da mente E fazendo com que os outros se livrem das impurezas da mente, Brilhando e fazendo com que os outros brilhem,

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Ele salva todos, não abandonando ninguém. Cessando as guerras, Livrando o mundo das batalhas, Pacificando o pensamento e purificando-o, O grande Buda, com um coração inabalável, Tem interesse genuíno e ama este mundo. Novamente eu deposito minha fé nele.

Tanto Ugrasresthin quanto Sumati, oferecendo seus corações e corpos, depositaram sua fé no Buda, o ser mais honrado de todo o mundo. Então, os monges das outras crenças, tendo seus poderes e habilidades anulados e tendo perdido a confiança dos seres sencientes, deixaram a cidade. Na verdade foi como se um leão, o rei dos animais, chegasse a um vale, olhasse nas quatro direções e rugisse três vezes, fazendo com que os pássaros e animais e mesmo os poderosos elefantes corressem e se escondessem. Nesse momento, o Honrado pelo Mundo desceu do céu e entrou em Ugga no caminho eterno do Darma. Quando ele ultrapassou o limite do portão da cidade, a terra tremeu e belas flores caíram como chuva e cobriram o chão. Ao verem a postura nobre, brilhante e clara do Honrado pelo Mundo, as pessoas cantaram:

O Buda é o mais honrado dos seres, Os mestres de outras crenças não se comparam a ele. Nossos olhos estavam escurecidos E estávamos enganados sobre quem servir.

(8) O Honrado pelo Mundo entrou na casa de Ugrasresthin; desejando CEBB

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ver aquele que havia superado a própria identidade, o povo também entrou, tantas pessoas que parecia que a casa seria derrubada. Conhecendo os pensamentos dos seres sencientes, o Honrado pelo Mundo imediatamente transformou a casa em um salão de cristal onde cada canto podia ser visto. Incapaz de se conter devido a alegria e tristeza, Sumati disse:

Eu deposito minha fé no Buda, Detentor de toda a sabedoria, livre da ilusão e de todas as paixões. Pobre de mim, separada de um lar onde estava o verdadeiro Darma, Vim como noiva a uma casa de outros ensinamentos E tive que me misturar com pessoas de visões incorretas. Minha esperança é a compaixão do Buda. Que casamento! Vindo para uma casa de outra fé como noiva, Eu sou como um pássaro na névoa. Meu único desejo é a compaixão do Buda.

Com um verso o Honrado pelo Mundo a confortou:

Ilumine os seus pensamentos E alivie o seu coração. Não é devido a ações negativas do passado que você veio como noiva para esta casa. Tudo isso é para realizar seu desejo primordial. Muito tempo atrás você era parente destas pessoas. Agora sua esperança será respondida.

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Ao ouvir este hino, Sumati se alegrou enormemente. Ugrasresthin e sua família e servos fizeram oferendas primeiro ao Honrado pelo Mundo e depois aos discípulos. Depois da refeição ele se sentou diante do Honrado pelo Mundo em um assento mais baixo. Então o Honrado pelo Mundo ofereceu uma palestra como agradecimento. Ele ensinou sobre o mérito da generosidade e a impureza dos desejos deste mundo, domou uma a uma as mentes daqueles que estavam ouvindo e, no final, ensinou as maravilhosas Quatro Nobres Verdades. Ugrasresthin e Sumati em primeiro lugar, e muitos outros daqueles que ouviam foram libertados das impurezas mentais e conquistaram o olho do Darma; cortando a dor aguda da dúvida, eles depositaram sua fé nos Três Tesouros. E Sumati cantou este verso de alegria:

A audição do Buda É pura e clara. Ouvindo nossos desejos Ele amorosamente nos visitou, Desviando sua carruagem. Ele disseminou os ensinamentos E fez com que muitas pessoas Conquistassem o olho do Darma.

(9) Nesse momento, os discípulos disseram ao Honrado pelo Mundo: “Quais foram as condições cármicas para Sumati renascer na casa de um homem rico como Anathapindada, por que ela foi entregue em casamento a uma casa de visões errôneas de uma doutrina diferente, e como ela foi capaz de depois alcançar a iluminação para si mesma e para tantas outras pessoas?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Discípulos, no tempo do Buda Kasyapa CEBB

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havia um rei em Varanasi chamado Karunayamana. A rainha se chamava Sumana. Ela tinha fé no Buda Kasyapa e sempre sustentava a prática santa; ela

praticava

os

quatro

meios

de

conversão:

oferecendo,

falando

amorosamente, beneficiando os outros e participando das alegrias e tristezas dos outros; e ela se sentava na torre para ler os sutras. Ela sempre fez este voto: ‘Mesmo minha prática dos quatro meios de conversão e a leitura dos sutras sendo fracas, se houver méritos, através deles que eu não encontre um nascimento infeliz no futuro. Ao encontrar o Buda e sem transformar meu corpo feminino, possa eu alcançar o olho puro do Darma.’ “O povo da cidade, ao saber sobre o voto da rainha, reuniu-se ao redor da torre e gerou a esperança de ter a mesma virtude da rainha se o seu voto se cumprisse. Sabendo disso, a rainha fez o voto de que eles alcançassem a mesma iluminação, distribuindo o mérito igualmente para todos. Discípulos, aquele Karunayamana é agora Anathapindada e Sumana é Sumati. Pelo seu voto de uma vida passada Sumati me encontrou, e hoje ela e aquelas pessoas que estavam ao redor da torre naquele tempo conquistaram o olho do Darma. Discípulos, os quatro meios de conversão são as fontes mais elevadas de virtude. Como discípulos do Buda, se vocês se familiarizarem com estes quatro meios de conversão vocês despertarão para a autenticidade das Quatro Nobres Verdades. Portanto, discípulos, não se esqueçam de aperfeiçoar os quatro meios de conversão.” O Honrado pelo Mundo se levantou de seu assento, e guiando seus discípulos retornou ao Bosque Jeta.

2. O Príncipe Bodhi

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(1) O Honrado pelo Mundo entrou em Bhagga com seus discípulos. Naquele tempo a nova residência do Príncipe Bodhi, Kokanada, acabara de ser terminada, apesar de ainda não ter acontecido a cerimônia de dedicação. Ao ouvir que o Honrado pelo Mundo havia chegado a Bhagga, o Príncipe Bodhi se alegrou enormemente, e enviou Sanjikaputta como mensageiro até o Honrado pelo Mundo. “Honrado pelo Mundo, o Príncipe Bodhi se curva aos seus pés e pergunta sobre a sua saúde. Ele também pergunta se você e seus discípulos aceitariam uma oferenda amanhã.” O Honrado pelo Mundo assentiu, significando que concordara. O Príncipe Bodhi passou a noite preparando a refeição. Ao ser informado que tudo estava pronto, o Honrado pelo Mundo segurou a tigela em suas mãos e, acompanhado por seus discípulos, foi até Kokanada. Sobre as escadas da mansão fragrante com as madeiras novas, um pano de algodão branco fora estendido. O Honrado pelo Mundo parou diante dele. O Príncipe Bodhi disse: “Honrado pelo Mundo, por favor caminhe sobre este pano branco para meu benefício atemporal e felicidade.” O Honrado pelo Mundo olhou para Ananda. Olhando para o príncipe, Ananda disse: “Príncipe, por favor remova o pano branco. O Honrado pelo Mundo possui compaixão pelos seres do futuro, dando o exemplo ele não caminha sobre um pano.” Então o príncipe removeu o pano branco. O Honrado pelo Mundo subiu as escadas e foi até seu assento na mansão. O príncipe preparou muitos pratos raros e os serviu ao Honrado pelo Mundo. Ao terminar sua refeição, o príncipe foi para um assento mais baixo e se sentou perto do Honrado pelo Mundo. Ele disse ao Buda: “Honrado pelo Mundo, eu não posso atingir a bem-aventurança pelo prazer. Eu acredito que através da dor eu serei capaz de alcançar a bem-aventurança.” O Honrado pelo Mundo lhe contou as histórias de sua longa vida de busca pelo caminho antes e depois de CEBB

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abandonar o lar. Quando era um príncipe, ele também acreditava que a bemaventurança não poderia ser comprada pelo prazer, e que ela só seria alcançada através da dor. Porém, na verdade a bem-aventurança real pode ser conquistada através de um caminho de felicidade, ele disse ao príncipe.

(2) O Príncipe Bodhi disse: “Honrado pelo Mundo, com você, o Buda, como meu professor, em quantos anos depois de abandonar o lar eu seria capaz de alcançar minha meta?” “Príncipe, responda livremente as minhas questões. Você é capaz de conduzir com habilidade um elefante?” “Sei conduzi-los muito bem.” “Príncipe, suponha que uma pessoa estivesse aprendendo com você a arte de conduzir um elefante, e essa pessoa não fosse confiável, fosse fraca no corpo, contasse mentiras, fosse preguiçosa e não possuísse sabedoria alguma. Essa pessoa seria capaz de aprender a arte de conduzir elefantes com você?” “Mesmo com apenas uma das características citadas ela já não seria capaz de aprender, e muito menos com as cinco. Desde o início ela não seria adequada.” “Príncipe, suponha outra pessoa que desejasse aprender a arte de conduzir elefantes com você e que fosse confiável, livre de doenças, não contasse mentiras, trabalhasse duramente e fosse sábia, essa pessoa seria capaz de aprender a arte de conduzir elefantes com você?” “Honrado pelo Mundo, com apenas uma dessas características ela já seria capaz de aprender, o que dizer com as cinco. Desde o início ela seria certamente capaz de aprender.” “Príncipe, é exatamente assim. Se um discípulo do Buda possuir as cinco qualidade de ser confiável, estar livre de doenças, não contar mentiras, trabalhar duramente e ser sábio, tendo o Buda como professor, então em sete anos, ou em um ano, ou mesmo em um mês ou um dia, ele atingirá a iluminação. Não, nem mesmo um dia, ouvindo pela manhã, ao anoitecer; ou CEBB

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ouvindo ao anoitecer, pela manhã a iluminação será atingida.” Depois de ouvir isto, o príncipe disse em louvor: “Ah, Buda, ah, Darma, ouvindo pela manhã, então ao anoitecer; ouvindo ao anoitecer, então pela manhã

a

iluminação

será

despertada:

que

Darma

adequadamente

expressado!”

(3) Sanjikaputta disse: “Príncipe, em seu louvor você diz: ‘Ah, ah’, mas não seria melhor dizer que você deposita sua fé no Buda, no Darma e na Sanga?” “Sanjikaputta, não diga isso, não diga isso. Eu já disse essas palavras com a minha mãe. Muito tempo atrás, o Honrado pelo Mundo veio até Kosambi e enquanto estava no Monastério Ghosita, minha mãe, enquanto eu estava em seu útero, visitou o Buda e disse: ‘Honrado pelo Mundo, quer a criança em meu ventre seja uma garota ou um garoto, eu o farei tomar refúgio nos Três Tesouros. Honrado pelo Mundo, por favor aceite-a como um seguidor que terá fé por toda a vida.’ Além disso, Sanjikaputta, anteriormente quando o Honrado pelo Mundo veio até Bhagga, minha ama de leite me levou até o Honrado pelo Mundo e me disse as mesmas palavras de tomada de refúgio nos Três Tesouros. Portanto, Sanjikaputta, esta é a terceira vez em que tomo refúgio nos Três Tesouros. Honrado pelo Mundo, eu tomo refúgio nos Três Tesouros. Por favor, aceite-me como seu seguidor por toda minha vida.”

3. Citta, o Homem Rico (1) Citta de Macchikasanda frequentemente convidava para a sua casa

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os discípulos que se encontravam no Bosque das Mangueiras. Tendo convidado os discípulos certo dia, ele propôs aos anciãos a seguinte questão: “Anciãos, existem muitas visões errôneas no mundo. Por exemplo, existem as diversas visões sobre o mundo ser permanente ou impermanente, limitado ou ilimitado, se as pessoas existem após a morte ou não, ou tanto existem quanto não existem, ou nem existem nem deixam de existir, se o espírito é uno com o corpo ou separado. O Honrado pelo Mundo indicou todos os sessenta e dois tipos de visões errôneas no Brahmajalasutta. Minha questão é: por que essas visões errôneas surgem? Qual é a base para essas visões?” Diante dessas questões, os discípulos anciãos permaneceram em silêncio. Perguntados pela segunda e terceira vez, ainda assim permaneceram em silêncio. Então, o mais jovem entre aqueles discípulos, Isidatta, veio adiante e pediu permissão aos anciãos para responder. “Citta, elas surgem devido à crença na individualidade. Se não houvesse tal visão errônea, então elas não surgiriam.” “Venerável, o que é essa crença na individualidade?” “Citta, é considerar a mente e o corpo como consistindo em um ‘eu’ ou ‘identidade’. É o pensamento que surge nas mentes das pessoas comuns que são ignorantes do Darma. Aqueles que aprenderam os ensinamentos do Buda e que refinaram suas mentes através deles não veem uma identidade na mente ou no corpo.” “Venerável, de onde você vem?” “Eu venho de Avanti.” “Venerável, há um amigo chamado Isidatta, que eu ainda não conheci, e que deixou o mundo. Você o conhece?” “Citta, eu o conheço.” “Onde se encontra esse Venerável agora?” Perguntado assim, Isidatta permaneceu em silêncio e não respondeu. “Venerável, você é aquele chamado Isidatta?” “Sim.” “Venerável, por CEBB

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favor permaneça aqui em Macchikasanda por um longo tempo. Apesar de não conseguir cumprir isto completamente, oferecerei a você mantos, alimento, assento, cama, confortos e remédios.” “Citta, sou grato por suas palavras.” Citta se alegrou profundamente com as palavras de Isidatta, e fez oferendas aos discípulos. Ao retornarem para o bosque os discípulos lhe agradeceram por seus esforços. Arrumando suas coisas e tomando sua tigela, ele partiu para um destino desconhecido, para nunca mais retornar a Macchikasanda.

(2) Antes disso, Citta ouvira dizer que Kassapa, um asceta nu Ajivaka e amigo antigo da família tinha chegado a Macchikasanda. Citta o visitou e, depois de cumprimentá-lo, perguntou-lhe há quanto tempo ele havia se afastado do mundo. “Já faz trinta anos.” “Venerável, nesses trinta anos qual Darma superior você alcançou? Qual sabedoria superior você atingiu? Qual quietude mental você alcançou?” “Citta, apesar de trinta anos terem se passado, eu estou apenas nu, careca e hábil no debate. Além disso, absolutamente nada mudou.” “Venerável, se após trinta anos você está apenas nu, careca e hábil no debate, isso significa que o Darma que você alcançou é realmente raro.” “Chefe de família, quantos anos faz desde que você se tornou um seguidor do Buda?” “Faz trinta anos.” “Nesses trinta anos você alcançou algum Darma sobre-humano, acessou uma sabedoria superior e atingiu a quietude da mente?” “Venerável, se eu não tivesse alcançado, o que poderia fazer? Eu posso entrar livremente em meditação; além disso, se eu morrer antes do Honrado pelo Mundo ele dirá com certeza que eu me livrei das paixões que me fariam retornar novamente para este mundo.” “Chefe de família, se um CEBB

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chefe de família é capaz de atingir tal estado superior, isto significa que esse é o mais elevado Darma. Seria possível para mim me tornar um discípulo desse ensinamento?” Assim, Citta levou Kassapa até os discípulos do Buda e possibilitou que ele ouvisse os ensinamentos.

(3) Nessa época, o Honrado pelo Mundo se encontrava em Ujunna, permanecendo no Parque dos Cervos de Kannakathala. Kassapa, o asceta nu, questionou o Honrado pelo Mundo: “Venerável, eu ouvi dizer que você despreza todas as práticas ascéticas e difama os ascetas. Isto é verdade?” “Kassapa, não é verdade, este é um relato incorreto de meus pensamentos. Kassapa, eu possuo olhos divinos e vejo que entre os ascetas alguns caem nos infernos após a morte e alguns renascem no céu. E eu vejo que entre aqueles que se engajam em práticas ascéticas alguns caem no inferno e alguns entram no céu. Eu vejo o efeito das práticas ascéticas desta forma, assim, como poderia desprezar as práticas ascéticas e difamar os ascetas?” Kassapa disse: “Venerável, acredita-se que as práticas ascéticas como permanecer nu, não aceitar oferendas de comida, jejuar a cada meio mês, comer as fezes das vacas, vestir cascas de árvores ou peles de animais, observar a prática de ficar em pé constantemente, ou tomar banho de água fria três vezes por noite são apropriadas para o samana, para o brâmane.” “Kassapa, mesmo que alguém faça essas práticas ascéticas, sem a compreensão dos preceitos, meditação e sabedoria, estará muito distante de ser um verdadeiro mendicante e um brâmane. Alguém que está livre de raiva e maldade, que pratica compaixão, destrói as paixões e atinge a iluminação, esse deveria ser chamado de verdadeiro samana ou brâmane.” “Venerável, como é difícil ser um verdadeiro samana e um brâmane.” “Kassapa, essa dificuldade não está na prática do ascetismo. Em relação às CEBB

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práticas ascéticas, como até mesmo uma jovem serva é capaz de mover um jarro de água com o poder de seus quadris, elas também não são impossíveis de realizar. É realmente difícil livrar-se da raiva e da maldade, praticar compaixão, destruir as paixões e atingir a iluminação.” “Venerável, então é difícil saber se alguém é um verdadeiro samana ou um brâmane.” “Kassapa, não seria tão difícil dizer se alguém é um verdadeiro samana ou brâmane se fosse uma questão de práticas ascéticas. Em relação às práticas ascéticas, assim como uma jovem serva é capaz de mover um jarro de água com o poder de seus quadris, elas não são impossíveis de alcançar. É difícil reconhecer um samana ou brâmane, visto que é uma questão de estar livre da raiva ou da maldade, praticar compaixão, destruir as paixões e atingir a iluminação no momento presente.”

(4) “Venerável, o que é, então, a compreensão dos preceitos, meditação e sabedoria?” “Kassapa, compreender os preceitos significa o seguinte: o Buda surge neste mundo e atinge a iluminação para si mesmo e ensina os outros. Uma pessoa abandona o lar ao ouvir os ensinamentos com uma fé recém-despertada e segue os preceitos; assim, ela observa o corpo, agindo corretamente; assim ela se torna bem-aventurada, vendo o perigo da menor transgressão e controlando os cinco órgãos dos sentidos; assim ela possui a verdadeira sabedoria e para de roubar; assim ela purifica a mente, evitando confusão e as mentiras, não dizendo palavras grosseiras e conduzindo uma vida de bondade. “Compreender a meditação tem o seguinte significado. Mesmo ao ver objetos com o olho, os cinco órgãos dos sentidos estão controlados e não há apego à forma externa de um objeto. Indo ou vindo, em pé ou deitado, o olho da mente está claramente aberto e a mente e o pensamento são corrigidos. CEBB

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Como um pássaro que voa apenas com as asas atreladas ao seu corpo, encontra-se regozijo em possuir apenas as roupas do corpo e comida para encher o estômago. Escolhendo o isolamento ao pé de uma árvore ou em uma caverna, uma floresta, uma planície ou cemitério, senta-se em silêncio. Assim alcance-se a liberação de desejo, raiva, preguiça, arrependimento e dúvida, tornando-se uma pessoa vigorosa, livre e pacífica. Conquistando desta forma alegria e bem-aventurança, a meditação é acessada. “Compreender a sabedoria é tornar-se simplesmente transparente através desta meditação; a mente não está apegada a objetos; sabe-se que o corpo é impermanente e desprovido de substância própria; os cinco poderes sobrenaturais

são

conquistados;

as

Quatro

Nobres

Verdades

são

completamente entendidas; as paixões são destruídas, a iluminação é alcançada e surge a consciência de ter alcançado a emancipação. “Kassapa, não há outra forma superior de prática. Existem samanas e brâmanes que são orgulhosos de seus preceitos, práticas ascéticas, desgosto pelo mundo, sabedoria e emancipação. Entretanto, não há ninguém que possua preceitos melhores e mais puros, práticas ascéticas, desgosto pelo mundo, sabedoria ou emancipação do que eu. Sou eu quem alcançou a realização mais perfeita dessas práticas. “Kassapa, alguém pode criticar o que digo da seguinte forma: ‘Gotama pode rugir que não há ninguém, mas ele não possui convicção no que diz. Mesmo se tivesse, as pessoas não o questionariam. Se questionado, ele seria incapaz de responder. Mesmo se respondesse, ele não seria capaz de fazer as pessoas se alegrarem ou acreditarem.’ Kassapa, você não deveria pensar desta forma. Eu enfatizo o verdadeiro Darma diante de multidões de pessoas e proclamo o caminho com convicção. Eu respondo as questões das pessoas e faço-as se regozijarem e desenvolverem fé. Kassapa, uma vez no Pico dos CEBB

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Abutres em Rajagriha, um asceta como você chamado Nigrodha me perguntou sobre a melhor forma de abandonar a vida impura. Ao ouvir minha explicação, ele experimentou a mais elevada alegria.”

(5) “Honrado pelo Mundo, há alguém que não se regozije ao ouvir o seu ensinamento? Agora eu experimentei uma alegria incomparável. Eu desejo agora colocar minha fé nos Três Tesouros e me tornar um discípulo seu. Por favor, permita-me fazer isso.” “Kassapa, qualquer pessoa que anteriormente pertencia a outro ensinamento e que deseja se juntar à Sanga, tornando-se um discípulo de meu ensinamento, deve viver separadamente por quatro meses antes de receber a permissão de se juntar à Sanga. É claro que há casos especiais, mas esta se tornou a regra.” “Honrado pelo Mundo, se viver quatro meses separadamente é a regra, então eu viverei os quatro meses separado. Permita-me ingressar na Sanga.” Assim, Kassapa se tornou um discípulo e foi bem recebido na Sanga. Em um curto tempo, através de grande e atento esforço, ele despertou para a iluminação.

(6) Certo dia um discípulo do Buda, Kamabhu, convidado por Citta foi até a sua casa e conversou com o rico homem: “Citta, você compreende o significado deste verso?

Pura, coberta por um dossel branco, com um único raio, a carruagem se move. Olhe para esse movimento, cortando o riacho, sem amarras, e sem paixões.

“Venerável, este é um verso do Honrado pelo Mundo?” “Sim.” “Então, CEBB

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por favor, espere e me deixe pensar.” Citta pensou por um tempo e disse: “Venerável, ‘pura’ se refere aos preceitos. ‘Coberta por um dossel branco’ significa a emancipação. ‘Com um único raio’ é este corpo. ‘Cortando o riacho’ é superar o desejo e estar livre das paixões. ‘Sem amarras’ se refere à liberação das amarras da luxúria, raiva e ignorância. ‘Sem paixões’ é estar livre das paixões. ‘Movendo-se’ significa realizando a própria meta que é a iluminação.” “Muito bom, realmente, Citta, seus olhos da sabedoria despertaram completamente para as palavras do Buda.” Quando Citta estava em seu leito de morte, o espírito das árvores da floresta apareceu. “Citta, reze para que você se torne um monarca universal na próxima vida.” “Este, também, seria um estado impermanente e transitório. Eu devo evitá-lo.” Os parentes e amigos próximos ao ouvirem isto disseram: “Rico homem, por favor, controle a si mesmo.” “Vocês todos, não me tratem como se eu fosse louco. O espírito das árvores da floresta apareceu e me encorajou para me tornar um monarca universal na próxima vida. Eu lhe disse que isto também é um estado impermanente e transitório e que devo evitá-lo. Vocês todos, mantenham fé inabalável no Buda, no Darma e na Sanga. Observem os preceitos e ofereçam de forma caridosa com uma mente livre de discriminações.” Desta forma, Citta deu àquelas pessoas um ensinamento sobre como cultivar o coração e a mente da fé nos Três Tesouros, e depois ele morreu.

4. Parábolas (1) Enquanto estava em Rajagriha, às vezes o Honrado pelo Mundo

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contava diversas histórias aos seus discípulos. “Discípulos, há muito tempo atrás havia um país que expulsou as pessoas mais velhas. Quando as pessoas do país vissem uma pessoa mais velha elas deveriam enxotar aquela pessoa até um lugar distante. Havia um ministro do governo que, de acordo com a lei do país, deveria enxotar seu pai. Entretanto, sua consideração pelo pai era profunda, e ele não podia suportar a ideia de abandoná-lo. Assim, ele cavou fundo na terra e construiu uma casa onde escondeu seu pai e tomou conta dele. “Naquele tempo surgiu uma deidade que pegou duas cobras e, segurando-as sobre o rei daquele país, disse a ele: ‘Se você não for capaz de distinguir entre o macho e a fêmea destas cobras, então depois de sete dias todo o país e você, rei, por primeiro, serão destruídos.’ Perturbado com isso, ele reuniu seus ministros e lhes relatou os detalhes. Nenhum tinha uma solução para o problema. Foi proclamado por todo o país que a pessoa que soubesse como resolver o problema receberia uma grande recompensa. “Voltando para casa, o ministro discutiu o problema com seu pai. O pai disse: “Isto é fácil de resolver. Coloque as cobras em uma superfície macia, aquela que ficar agitada é o macho e aquela que não se mover é a fêmea.’ Ao fazerem isto, o rei e o ministro foram capazes de distinguir as duas cobras. “A deidade propôs outro enigma. ‘Quem é que está desperto em relação a uma pessoa que dorme e está dormindo em relação a alguém que está desperto?’ Novamente os ministros não sabiam como solucionar o enigma. O pai disse ao seu filho ministro: ‘A pessoa que pratica o caminho é a indicada. Em comparação a pessoas comuns ela está desperta, porém em comparação ao Ser Venerável que atingiu a iluminação ela está dormindo.’ “A deidade mais uma vez propôs um problema. ‘Como você pode saber o peso de um grande elefante?’ O pai do ministro disse: ‘Coloque o CEBB

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elefante em um barco e marque o barco na altura da água. Depois, coloque pedras no barco e quando o barco estiver na mesma linha de água pese as pedras.’ “A deidade propôs ainda outro problema. ‘O que se está descrevendo quando se diz que um punhado de água é maior que o grande oceano?’ O pai do ministro disse: ‘Se alguém oferece um punhado de água com fé piedosa nos Três Tesouros, ao próprio pai e à própria mãe, ou a uma pessoa doente, o mérito daquela ação trará a felicidade atemporal. Apesar de as águas do oceano serem muito volumosas, elas não durariam mais que um kalpa.’ “Em seguida a deidade fez surgir uma pessoa faminta com os ossos aparecendo e a fez dizer: ‘Há alguém mais faminto e que sofra mais do que eu neste mundo?’ O pai do ministro disse: ‘Se uma pessoa é avarenta e ciumenta, não acredita nos Três Tesouros e não presta respeito através de oferendas a seus pais e professores, então na próxima vida ela cairá no reino dos fantasmas famintos. Ao longo de centenas de milhares de anos mesmo os nomes água e comida não serão ouvidos. O corpo será como montanhas, o estômago será como vales, a garganta será mais fina que uma agulha, e o cabelo como arame se enrolará ao redor das pernas e do corpo. Ao mover o corpo as juntas pegarão fogo. Não se sabe quantas vezes maior é o sofrimento dessa pessoa em comparação a esta pessoa faminta.’ “Então a deidade fez surgir uma pessoa cujas mãos e pés estavam acorrentados, o pescoço e o estômago estavam presos por correntes e de seu corpo saía fogo, que o queimava e inflamava. Ele disse: ‘Há alguém que sofra mais do que eu neste mundo?’ O pai do ministro disse: ‘Se houver alguém que não honre seus pais, que prejudique seu professor, que se rebele contra o rei e que difame os Três Tesouros, então no próximo mundo ela cairá no inferno. Ela experimentará dor ilimitada a partir de coisas como uma CEBB

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montanha de lâminas, uma floresta de espadas, uma carruagem de fogo, um forno em chamas e um rio de urina fervente. Ela sofrerá centenas de milhares de vezes mais do que esta pessoa.’ “A deidade também fez surgir uma garota incomparavelmente bela que disse: ‘Há alguém mais bela do que eu neste mundo?’ O pai do ministro disse: ‘Se uma pessoa honrar seus pais, acreditar e respeitar os Três Tesouros, tiver alegria em ser generosa, observar os preceitos, tiver perseverança e trabalhar com grande esforço, então no próximo mundo ela nascerá no reino celestial. Essa pessoa seria centenas de milhares de vezes mais bela do que esta garota.’ “Então a deidade criou um poste de cedro perfeitamente quadrado e disse: ‘Qual é o topo e qual é a raiz?’ O pai do ministro disse: ‘Ponha a madeira na água e o lado da raiz afundará.’ “Como um último problema a deidade fez com que dois cavalos brancos idênticos surgissem e perguntou qual era a égua e qual era a filhote. O pai do ministro novamente ensinou como distinguir um do outro. ‘Dê aos cavalos alguma ração e a égua sem dúvida empurrará a ração para a filhote.’ “Desta forma os ensinamentos do pai do ministro solucionaram completamente os problemas, e a deidade se regozijou enormemente, oferecendo ao rei muitos tesouros. Ela disse: ‘De agora em diante eu protegerei este país e nunca deixarei inimigos estrangeiros invadi-lo.’ O rei se encheu de alegria e louvou a inteligência do ministro. O ministro disse em resposta: ‘Vossa Majestade, essa sabedoria não é minha. Se Vossa Majestade me permitir, eu relatarei completamente as circunstâncias.’ O rei disse: ‘Mesmo se houver uma ofensa capital eu não farei perguntas.’ O ministro disse: ‘De acordo com a lei deste país eu não poderia tomar conta de meu velho pai; porém, não pude suportar a ideia de exilar meu pai e assim, CEBB

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secretamente, quebrei a lei e cuidei dele num porão. As respostas para esses problemas vieram todas da sabedoria de meu pai. Vossa Majestade, por favor, deste dia em diante permita que possamos cuidar de nossos anciãos.’ “O rei se alegrou do fundo do coração e honrou aquele pai, olhando para ele como um professor do país. Em toda a terra foi proibido exilar os anciãos, todos deviam fazer o máximo para honrá-los e cuidar deles. Foi proclamado que haveria uma dura pena para quem menosprezasse os seus pais e não honrasse o seu professor.

(2) “Muito tempo atrás em Varanasi havia um chefe de família chamado Maitreya. Seu pai morreu ainda jovem e não deixou dinheiro, assim, a cada dia Maitreya vendia madeira e obtinha duas moedas, apoiando sua mãe desta forma. Dia após dia seu rendimento aumentava, quatro moedas, oito moedas, dezesseis moedas, e assim ele pôde cuidar generosamente de sua mãe. Ao verem seu caráter elevado e sua boa fortuna, as pessoas o encorajaram dizendo: ‘Seu pai costumava navegar para coletar pérolas, por que você não segue seus passos?’ Ao ouvir isto, Maitreya voltou para casa e pediu a permissão de sua mãe para ir. Sua mãe o achava cuidadoso demais para ser capaz de deixá-la para trás sozinha e sair pelos mares, e de brincadeira lhe deu a permissão, dizendo: ‘Você pode ir para os mares.’ “Tendo recebido a permissão de sua mãe, ele reuniu amigos e fez os preparativos. Então ele veio para dizer adeus à sua mãe. Desta vez a mãe estava com medo e lamentou: ‘Como posso me separar de meu filho? Por favor, espere até eu morrer.’ ‘Mãe, você concedeu meu desejo anteriormente. Não posso mudar minha decisão agora.’ Vendo que seria difícil mudar sua mente, ela agarrou suas pernas dizendo: ‘Pare!’ Porém, Maitreya estava decidido e colocou sua mãe de lado, seguindo para os mares. Naquele CEBB

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momento, ele cortou dez fios de cabelo dela. Ele e seus amigos foram até a costa e juntaram muitas pérolas. Decididos a retornar pela terra, eles rapidamente voltaram. “Naquele tempo havia uma lei daquele país que dizia que em um roubo, se a vítima não fosse capturada pelo ladrão, então o ladrão deveria devolver o tesouro à vítima. Porém, se a vítima fosse presa pelo ladrão, então o tesouro seria considerado propriedade dele. Devido a isto, a cada noite Maitreya se separava de seus amigos e ficava sozinho em diferentes lugares. Ao nascer do dia eles viriam apressadamente procurar por ele e continuavam sua jornada. Uma noite houve uma tempestade e seus amigos acordaram repentinamente e se esqueceram de procurá-lo. “Separado de seus amigos, ele não sabia qual caminho seguir. Sem outra opção, subiu uma montanha e viu um castelo de esmeralda azul. Ele estava faminto e sedento e entrou no castelo, e quatro belas donzelas o receberam com alegria, cada uma carregando uma joia mágica. Ele passou quarenta mil anos ali desfrutando os prazeres da música celestial. Porém, ele acabou se aborrecendo com o prazer, mas ao se despedir, elas o pararam e fizeram com que ficasse mais quarenta mil anos. Finalmente ele partiu e entrou em um castelo de cristal onde passou oitenta mil anos de prazer com oito belas donzelas. Mais uma vez, ele partiu dali e foi até um castelo de prata onde passou cento e sessenta mil anos de prazer com dezesseis belas garotas. Depois foi até um castelo de ouro e ficou ali durante trezentos e vinte mil anos de prazer com trinta e duas donzelas celestiais. Finalmente se cansou daquele lugar e estava prestes a partir quando as donzelas o pararam, dizendo: ‘Até agora você passou o seu tempo em bons lugares, mas de agora em diante eles não serão bons. Você pode permanecer aqui pelo tempo que desejar.’ Entretanto, ele pensou: ‘Estas garotas me amam e por isso dizem tais CEBB

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coisas.’ Assim, ele partiu apressadamente mais uma vez. “À distância havia um austero castelo de ferro que se elevava aos céus. Ao entrar nele ele viu um homem com uma guirlanda de fogo em sua cabeça. Ao ver Maitreya ele colocou a guirlanda na cabeça dele e partiu. Maitreya se assustou e perguntou ao guarda diabólico: ‘Quando eu posso tirar esta guirlanda terrível?’ Ele respondeu: ‘Até que alguém faça a mesma coisa que você fez e chegue aqui.’ Ele perguntou a razão para isto. Ele respondeu: ‘Quando estava no mundo você cuidava de sua mãe com duas moedas por dia, e assim no castelo de esmeralda azul você recebeu o prazer de quatro joias que realizam desejos e quatro belas donzelas por quarenta mil anos. As quatro moedas a cada dia se transformaram em oitenta mil anos de prazer no castelo de cristal, as oito moedas se transformaram em cento e sessenta mil anos de prazer no castelo de prata, e as dezesseis moedas se transformaram em trezentos e vinte mil anos de prazer no castelo de ouro. Mas agora o resultado das ações negativas o alcançou, e por você ter cortado fios de cabelo de sua mãe, você deve carregar a guirlanda de fogo no castelo de ferro.’ “Ele perguntou se havia outros que sofriam o mesmo tormento e o guarda respondeu: ‘Eles são infinitos.’ Neste ponto, Maitreya pensou no fundo de seu coração: ‘Bem, eu não tenho como sair disto. Tudo bem, assumirei para mim os tormentos de todos os outros.’ Então a terrível guirlanda de fogo caiu no chão. Olhando para o guarda ele perguntou: ‘Por que esta guirlanda de fogo caiu, se isso não deveria ter acontecido?’ O guarda se enraiveceu e com um cajado nas mãos matou Maitreya com um golpe. Mas Maitreya imediatamente renasceu no céu. “Discípulos, eu era esse Maitreya. O bem e o mal que resultam de servir os nossos pais são como estes”, disse o Honrado pelo Mundo.

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(3) Uma garota havia nascido na casa de um rico homem de Sravasti. Logo após o nascimento ela disse: “Evitem o mal e atos vergonhosos e ingratos para obterem méritos.” Com tal virtude ela foi chamada de Sabedoria. Mais velha, ela mantinha o Darma em alta consideração, e tendo isto como incentivo renunciou ao mundo e se tornou uma monja. Praticando diligentemente ela alcançou a iluminação. Ao perceber que não se encontrava com o Honrado pelo Mundo há um certo tempo, ela imediatamente foi até ele. “Por favor, receba minha confissão de arrependimento.” O Honrado pelo Mundo disse que anteriormente ele havia recebido sua confissão de arrependimento e contou a seguinte história. “Muito tempo atrás havia um elefante branco de seis presas que tinha duas esposas chamadas Sabedoria e Boa Sabedoria. Ao liderar um bando de elefantes na floresta ele encontrou uma flor de lótus. Ele pensou em oferecê-la a Sabedoria. Porém, Boa Sabedoria a tomou no lugar da outra. Ao ter a flor tirada de si, Sabedoria ficou com ciúme e começou a pensar que, na verdade, seu marido amava mais Boa Sabedoria do que ela. Indo até a estupa do Buda nas montanhas onde ela sempre fazia oferendas de flores, ela teve o desejo: ‘Nascendo como uma mulher, que eu possa conhecer o passado e arrancar as presas do elefante branco.’ Pulando do topo da montanha ela morreu e nasceu como a filha do Rei Videha, e ao crescer ela se tornou a rainha do Rei Brahmadatta. Então se lembrou de sua vida anterior e disse ao rei: ‘Ó grande rei, por favor, mande construir para mim uma cama de presas de elefante. Se você não o fizer, minha vida não terá sentido.’ “Ao ouvir seu desejo fervoroso, o rei anunciou aos caçadores que aquele que trouxesse a maior quantidade de presas de elefante receberia cem peças de ouro. Um caçador que sabia de um elefante branco de seis presas colocou os mantos de um monge, tomou uma flecha envenenada e partiu CEBB

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para a floresta onde ele morava. O elefante branco ouviu sua esposa Boa Sabedoria alertar que um caçador se aproximava, mas quando viu o homem com o manto monástico ele relaxou o cuidado, dizendo: ‘Como ele está vestindo um manto, não cometerá ações negativas.’ Assim, o caçador se aproximou sem dificuldades e atirou uma flecha envenenada profundamente no elefante. Boa Sabedoria gritou: ‘Nada de mal deveria ter acontecido, pois ele vestia um manto. O que é isto?’ Tentando confortá-la, o elefante disse: ‘Não foi uma falha do manto, mas sim uma falha das paixões do coração.’ O elefante branco a impediu de matar o caçador, e quando quinhentos elefantes vieram contra o caçador, ele temeu que eles o matariam e o escondeu entre suas pernas. Depois que eles partiram, ele perguntou: ‘Por que você atirou em mim a sua flecha?’ ‘Porque o rei está pedindo presas de elefante.’ Ao ouvir a razão, ele disse: ‘Rápido, então, arranque as presas.’ O caçador ficou abalado com a compaixão do elefante. Vendo que ele não tinha como levantar seus braços tão alto, o elefante arrancou suas próprias presas e as ofereceu ao caçador. Então, fez o voto: ‘No próximo mundo eu arrancarei as presas dos três venenos de todas as pessoas.’ “Assim, a rainha obteve suas presas, mas ao ouvir sobre as circunstâncias começou a sentir remorso. ‘Como eu pude tirar as presas de alguém que mantinha tais preceitos superiores?’ Dali em diante ela praticou para alcançar a virtude e fez o voto: ‘No próximo mundo, possa eu aprender o caminho com ele e atingir a iluminação.’ “Sabedoria, aquele elefante branco era eu, o caçador era Devadatta, a elefante Sabedoria era você, e Boa Sabedoria era Yasodara.’

(4) “Discípulos, em uma vida anterior havia muitos pássaros e animais brincando juntos em um bosque de bambus aos pés das Montanhas do CEBB

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Himalaya. Entre os pássaros havia um papagaio. Naquele momento, repentinamente surgiu uma tempestade e os bambus se atritaram uns com os outros causando um incêndio que colocou o bosque de bambus em chamas. Os pássaros e animais se amedrontaram e tentaram fugir. Eles correram para lá e para cá em meio às chamas crescentes. O papagaio, movido por profunda compaixão, sentiu a dor de seus companheiros animais. Ele ensopou suas asas na água e voou até o céu derramando água sobre as chamas violentas. Com uma dedicação sem limites, ele fazia isso incessantemente. Isto abalou a morada celestial de Indra, e o deus saiu e disse ao papagaio: ‘Este grande incêndio no bosque de bambus se estende por muitas milhas; como você espera extingui-lo pingando água de suas asas?’ O papagaio respondeu: ‘Eu tenho um grande coração, e se eu trabalhar duramente e não for preguiçoso em meus esforços, então com certeza serei capaz de extinguir o grande incêndio. Se eu não for capaz de terminar isto nesta vida, terminarei na próxima.’ Indra se comoveu com a aspiração do papagaio e fez com que caísse uma forte chuva que extinguiu o fogo. “Discípulos, esse papagaio era eu. Assim como agora tento extinguir as chamas dos três venenos de todas as pessoas, da mesma forma em minhas vidas anteriores eu tive a mesma preocupação com todos os seres.

(5) “Muito tempo atrás havia dois irmãos que se regozijavam com os ensinamentos do Buda. Eles deixaram o lar e praticaram o caminho. O irmão mais velho praticava a bondade diligentemente, concentrava sua mente na floresta e atingiu a iluminação. O irmão mais jovem, sendo naturalmente sábio, lia muitos sutras. Ao receber um pedido de um ministro do governo, ele construiu um templo. Logo ele também construiu acomodações para os monges, um salão de leitura e um pagode. A habilidade do projeto CEBB

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impressionou o ministro. “O irmão mais jovem relatou ao ministro sobre seu irmão mais velho e disse que gostaria de convidá-lo para o novo templo. O ministro concordou e enviou algumas pessoas para oferecerem boas-vindas a este homem santo, que então veio até o novo templo; o ministro o apoiou generosamente. Certa vez o ministro deu ao irmão mais velho um tapete de lã no valor de mil peças de ouro. Ele não teve escolha além de aceitar, e achando que algo de tal valor poderia ser útil ao seu irmão mais jovem, imediatamente o ofereceu a ele. Ao mesmo tempo, o ministro deu um tapete de lã barata ao irmão mais jovem, e isto o irritou profundamente. Mais adiante, o ministro deu novamente ao irmão mais velho um tapete valioso de lã, e este novamente o ofereceu ao irmão mais novo. O irmão mais jovem não pôde mais conter seu ciúme e falou com a filha do ministro, que era sua noiva: ‘Seu pai era muito acolhedor comigo, mas desde a chegada de meu irmão seu coração está enganado e acolhe apenas o meu irmão, permanecendo frio diante de mim. Com este tapete faça um vestido e diga ao seu pai que meu irmão o enviou a você.’ “A filha disse que não poderia falar mal de alguém em quem seu pai acreditava e que tinha em alta estima; mas o irmão mais novo disse: ‘Se você não fizer como estou pedindo, nosso noivado estará dissolvido para sempre.’ Assim, ela fez o que o irmão mais jovem lhe pediu. O ministro ouviu a filha e perguntou com raiva: ‘Que tipo de monge é este que tenta seduzir a minha filha com um presente precioso que eu lhe ofereci?’ Dali em diante, quando o irmão mais velho vinha visitá-lo, ele não mais se levantava como era seu costume e demonstrava sinais de raiva. O irmão mais velho concluiu que alguém o havia difamado, e assim voou diretamente até o céu e manifestou seus poderes sobrenaturais. Ao ver isto, o ministro se arrependeu profundamente de suas ações e imediatamente baniu o irmão mais jovem e CEBB

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sua filha. “Discípulos, aquele irmão mais jovem era eu. Por ter difamado outra pessoa, sofri muitas dores por kalpas sem fim. É por isto que agora eu fui difamado por Sundari.”

(6) Os discípulos disseram ao Honrado pelo Mundo: “Honrado pelo Mundo, Devadatta é seu primo, então por que ele guarda ódio por você e quer prejudicá-lo?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Muito tempo atrás, havia um pássaro jivamjivaka nas Montanhas do Himalaya. Esse pássaro possuía um corpo e duas cabeças. Uma delas sempre comia frutos doces e procurava confortar o corpo. A outra cabeça, sentindo inveja, disse que nunca havia provado tais frutos doces, e por isso comeu um fruto venenoso e ambas as cabeças perderam suas vidas. “Discípulos, aquela que comia os frutos doces era eu e aquela que comeu o fruto venenoso era Devadatta. Muito tempo atrás tivemos o mesmo corpo e agora temos ambos o mesmo sangue. Desta forma ele tentou me prejudicar.”

(7) Em Rajagriha havia um homem rico que ia até o Honrado pelo Mundo e ouvia seus ensinamentos todo dia. Sua esposa achou que ele tinha uma amante, ficou desconfiada e perguntou ao marido: “Já que você vai até o Honrado pelo Mundo dia após dia, pode me contar de que forma ele é tão grandioso?” O marido descreveu as várias virtudes do Honrado pelo Mundo e a mulher ficou muito feliz. Imediatamente ela foi até o Honrado pelo Mundo com uma carruagem; mas, como o lugar estava lotado com reis e oficiais e muitas outras pessoas, ela não conseguiu se aproximar dele. Ela apenas se curvou diante dele e voltou para casa. Tempos depois ela morreu e CEBB

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nasceu em um reino celestial. Lembrando as bênçãos de sua vida passada, ela desceu e se apresentou diante do Buda, ouviu o Darma e atingiu a iluminação.

(8) “Muito tempo atrás havia um artista chamado Kenika no país de Gandhara. Por três anos ele se hospedou numa casa distante de seu lar. Ao juntar trinta peças de ouro ele decidiu voltar para casa, nesse momento viu outra pessoa anunciando um encontro do Darma para monges. Ele pensou: ‘Eu ainda tenho que plantar as sementes do mérito. Agora tenho a oportunidade de trabalhar no campo do mérito, como poderia deixá-la passar?’ Ele se informou com a pessoa responsável pelo encontro do Darma sobre os custos de tal reunião e pediu: ‘Por favor, toque o tambor e reúna os monges. Eu gostaria de ter um encontro para fazer oferendas.’ Ele ofereceu as trinta peças de ouro. “O encontro aconteceu e o artista foi para casa tomado pela alegria. Sua esposa lhe perguntou: ‘Nestes três anos quanto você juntou?’ ‘O dinheiro que consegui está guardado em um cofre.’ ‘Onde está este cofre?’ ‘Ele está no meio dos honrados monges.’ Sua esposa se desgostou com isso e chamou seus parentes para amarrá-lo. Então ela fez uma reclamação às autoridades. ‘Meus filhos e eu sofremos pela pobreza; não temos roupas nem alimento. E meu marido gastou impulsivamente o dinheiro que ganhou.’ Ao ouvirem a reclamação as pessoas perguntaram ao marido a razão para ter gastado o dinheiro. ‘Minha vida é como o clarão de um relâmpago, ela não será longa. Além disso, é como o orvalho da manhã, irá evaporar em pouco tempo. Em minha vida anterior eu não plantei as sementes do mérito e é por isso que sou pobre agora. Pensando profundamente sobre a dor de não ter roupas ou alimento e ao ver o encontro sagrado do Darma na cidade de Pukala eu me CEBB

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regozijei. Fui tomado pela fé e dei as trinta peças de ouro que ganhei ao longo dos três anos, proporcionando alimento para a comunidade de monges.’ “Ao ouvirem isto, as pessoas que estavam presentes na reclamação se alegraram profundamente e lhe deram muitas joias que estavam usando, e além disso lhe ofereceram uma vila. Assim, sua recompensa foi realmente grande.

(9) “Há muito tempo atrás havia um homem pobre chamado Kelayi. Um dia ele viu um grupo de pessoas ricas indo para um templo para patrocinar uma grande reunião do Darma. Ele foi para casa e pensou cuidadosamente: ‘Essas pessoas ricas plantaram sementes de mérito em suas vidas passadas, e assim se tornaram ricas, mas o meu mérito é pequeno, e assim tenho que lutar agora em meio à dura pobreza.’ Não conseguindo manter o controle, ele derramou lágrimas. Tentando entender o que acontecera, sua esposa lhe perguntou e ele falou sobre seus pensamentos. Sua esposa disse: ‘Chorar não adianta nada. Venda-me como empregada e com esse dinheiro plante alguns méritos.’ ‘Se eu a vender, como posso continuar vivendo?’ ‘Nesse caso, vamos vender nós dois.’ Os dois foram até a casa de um homem rico. ‘Por favor, empreste-nos dez peças de ouro. Se não formos capazes de devolvê-las em sete dias nos tornaremos seus servos.’ Com esta promessa eles emprestaram dez peças de ouro e foram imediatamente ao templo e organizaram um encontro do Darma em sete dias. Trabalhando juntos, eles moeram arroz dia e noite. Se fossem incapazes de devolver o dinheiro no prazo estipulado, eles teriam de se entregar ao homem rico. Assim, eles trabalharam com toda sua capacidade. “No sexto dia, o rei veio ao templo e disse que gostaria de ter um encontro do Darma no dia seguinte. Os monges lhe disseram que haviam CEBB

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prometido aceitar a hospitalidade do pobre casal naquele dia e, assim, recusaram o rei. O rei imediatamente convocou Kelayi e lhe pediu para mudar seu encontro do Darma para outro dia. Ele disse ao rei: ‘Se perdermos este dia não teremos outra chance, pois é certo que passaremos o resto de nossas vidas como servos’, e ele explicou as circunstâncias. Ao ouvir isto o rei ficou profundamente tocado. ‘Isto é realmente algo muito raro. Vocês são pessoas que verdadeiramente entenderam a pobreza. Vocês trocaram um corpo preguiçoso por um ativo, nenhum tesouro por um tesouro real e uma vida preguiçosa por uma vida ativa.’ Primeiro o rei e depois a rainha tiraram suas vestimentas e joias e deram aos dois. Além disso, eles também lhes deram dez vilas.”

(10) Kaniska, o rei de Kusana, tinha amizade com três homens sábios. Um deles era o Bodisatva Asvaghosa. Ele disse ao rei: “Senhor, se você der atenção às minhas palavras sua mente sempre estará em quietude, e na próxima vida você será inseparável da bondade e não renascerá em destinos infelizes por um longo tempo.” Em seguida o ministro Mathala falou com o rei: “Senhor, se der atenção aos meus ensinamentos místicos e não os divulgar, Vossa Alteza será capaz de governar todo o mundo.” O terceiro foi o médico Caraka, que disse ao rei: “Senhor, se você der atenção ao que eu digo não sofrerá doença alguma durante toda sua vida, e poderá desfrutar uma miríade de pratos de sabores finos.” O rei seguiu as palavras de Caraka e não teve a menor doença. O rei também seguiu as palavras de Mathala e enviou exércitos pelos quatro mares; e assim conquistou países em três direções. Quando restava apenas o leste para ser conquistado ele preparou suas forças para a conquista. Com uma procissão tendo à frente os povos derrotados e elefantes brancos, o CEBB

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rei acompanhava seguindo atrás. Eles chegaram aos Pamirs asiáticos e estavam a ponto de subir um pico muito íngreme quando seu cavalo repentinamente parou. O rei ficou surpreso e disse ao cavalo: “Até agora você me carregou nas conquistas muitas vezes, agora que as três direções foram tomadas e falta apenas o leste por que você não prossegue?” Naquele momento, o ministro Mathala disse: “Eu lhe fiz prometer que não revelaria o que eu disse, mas agora você revelou. Acredito que não viverá muito tempo mais.” O rei também sentiu que, como disse o ministro, sua morte estava chegando. Pensando sobre as muitas pessoas que tinha matado em suas muitas conquistas, ele se arrependeu profundamente de seus pecados graves, e ao retornar para o seu país ele construiu um templo e fez oferendas aos monges. Ele mergulhou em pensamentos de arrependimento e sustentou os preceitos. Os ministros do rei conversavam entre si: “O rei matou tantas pessoas que agora é tarde, mesmo praticando tantas bondades, como ele poderia se livrar das ofensas?” O rei ouviu isto e para responder suas dúvidas ele os convocou e encheu um grande caldeirão com água e deixou ferver por sete dias e noites. Então o rei jogou um anel no caldeirão e ordenou que eles o pegassem. Mas ninguém foi capaz de atender à ordem. Então o rei disse: “Então pensem em algum método para pegá-lo.” Um deles disse: “Apague o fogo e coloque água gelada no caldeirão. Então você poderá colocar sua mão sem queimá-la.” O rei disse a eles: “As ações negativas que eu cometi antes são como o caldeirão fervente. Agora, o bem que eu realizo a partir do surgimento do pensamento de arrependimento é como apagar o fogo e misturar água gelada. É assim que posso evitar a dor dos destinos infelizes e alcançar os destinos felizes.” Ao ouvirem isto eles se regozijaram e louvaram a virtude do rei que agora seguia as palavras do mais sábio, o Bodisatva CEBB

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Asvaghosa.

(11) Havia um brâmane na terra de Kausambi que atuava como primeiro ministro. Ele era bastante violento por natureza, e era capaz de agir da forma mais inapropriada. Sua esposa também era violenta e agia da mesma forma que seu marido. Certa vez, o marido ordenou à esposa: “Gotama chegou agora a este país. Se ele vier até aqui feche os portões e não o deixe entrar.” Porém, um dia o Honrado pelo Mundo veio por acaso visitar aquela casa. A esposa não o cumprimentou e permaneceu em silêncio. O Honrado pelo Mundo disse: “Vocês são ignorantes e sustentam visões errôneas. Vocês não acreditam nos Três Tesouros.” Ao ouvir isto ela se enraiveceu e arrancou suas joias, colocou roupas sujas e se sentou no chão. Quando seu marido chegou, ele a viu assim e perguntou pela razão; ela disse que tinha sido insultada por Gotama. Quando o portão foi aberto no dia seguinte, o Honrado pelo Mundo entrou na casa. Ao vê-lo, o brâmane agarrou uma espada e estava pronto para usá-la quando o Honrado pelo Mundo repentinamente subiu ao céu. Ao ver este ato de grande poder sobrenatural, o homem foi tomado pelo remorso e se jogou ao chão, gritando: “Honrado pelo Mundo, por favor retorne para a terra e aceite minha penitência.” Ao ouvir seu pedido, o Honrado pelo Mundo ensinou o Darma ao marido e à esposa e lhes permitiu ingressarem no caminho. Os discípulos acharam estranho que o Honrado pelo Mundo descesse à terra por tais pessoas maldosas, e assim ele lhes contou as circunstâncias passadas que geraram aquele evento. Ele relatou: “Muito tempo atrás havia um rei chamado Receptor do Mal no país de Kasi. Ele cometia todos os tipos de ações impróprias e trazia sofrimento aos seres sencientes. Ele confiscava como taxas todas as coisas CEBB

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raras que os mercadores reuniam dos quatro cantos da terra, ele pegava tudo para si. Assim, todos os tesouros do país estavam nas mãos do rei. A história da infâmia deste rei se espalhava de pessoa a pessoa. “Naquele tempo, havia um papagaio que ao ouvir viajantes na floresta falando sobre as maldades do rei pensou em repreendê-lo e voou até lá, entrando no jardim real e pousando sobre o galho de uma árvore. Ao ver a rainha entrar no jardim ele bateu suas asas e disse: ‘O rei está fazendo as coisas mais impróprias e oprimindo os seres sencientes, o veneno destas ações é sentido até mesmo entre os pássaros e os animais. De fato, esta terra está tomada pelos choros de ressentimento e de raiva. Você, também, é tão culpada quanto o rei em sua crueldade. É isto que a mãe e o pai dos seres sencientes deveriam fazer?’ “A rainha ficou bastante irritada e mandou as pessoas apanharem o pássaro. O pássaro não estava com medo algum e destemidamente se deixou apanhar. Ele foi levado imediatamente até o rei. O rei perguntou por que ele o estava difamando, e o papagaio enumerou as sete transgressões do rei. ‘Enlameando-se com a permissividade sexual, entregando-se à bebida, apostando em jogos de azar, tendo prazer em matar seres vivos, permitindose falar maldosamente, taxando o povo agressivamente, e tomando as posses do povo de formas tortuosas: estas sete transgressões colocam um rei em perigo. Além do mais, há três coisas que arruinarão um país: um rei que se torna íntimo com bajuladores insinceros e que não dá atenção às palavras reparadoras de um sábio; invadir outro país porque ele assim deseja; e esquecer-se de cuidar dos seres sencientes. Se o rei não parar de cometer estas ações, então, em pouco tempo o país estará arruinado. O verdadeiro rei é, em primeiro lugar, alguém em quem todo o país se espelha; ele é a ponte pela qual as pessoas cruzam; com todas as pessoas próximas a ele e as distantes CEBB

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ele é como uma balança, honesto. Ele não viola o caminho trilhado por homens santos do passado; como o sol ele brilha por todo o mundo; como a lua ele oferece frescor a todos; e como os pais ele é generoso com todos. Ele é como os céus que cobrem tudo, como a terra que suporta tudo, e como a água que apaga os fogos da maldade. Os grandes reis do passado todos guardavam estas dez virtudes e ensinavam e guiavam os seres sencientes.’ “Ao ouvir isto, o rei ficou profundamente envergonhado por suas ações, e tendo recebido os ensinamentos do papagaio, ele os disseminou por toda a terra; e as boas pessoas se aproximaram dele. Os seres sencientes ficaram realmente exultantes. Discípulos, aquele papagaio era eu, o rei era o primeiro ministro brâmane e a rainha era sua esposa.”

(12) Utilizando meios variados ao buscar algo que deve ser buscado aquilo será conquistado. Entretanto, ao tentar obter forçosamente algo que não deveria ser buscado aquilo não será obtido. É como espremer areia procurando óleo ou esfregar pedaços de gelo procurando por leite. Muito tempo atrás havia um rei chamado Brahmadatta em Varanasi. Certa noite ele ouviu uma voz de um túmulo distante chamando: “Senhor, senhor.” Isto se repetiu três vezes em uma noite. O rei ficou bastante amedrontado e reuniu brâmanes e adivinhos, perguntando: “O que eu devo fazer?” Eles responderam: “Isto é sem dúvida uma ação do espírito do cemitério. Você deveria escolher alguém corajoso e mandá-lo investigar a voz.” O rei proclamou por toda a terra: “Aquele que investigar a voz do cemitério receberá quinhentas peças de ouro.” Naquele tempo, havia um único pobre homem de coragem que respondeu ao chamado. Ele colocou armadura e elmo e tomou uma espada, e foi para o cemitério à noite, perguntando àquela voz: “Quem é você?” A voz respondeu: “Eu sou um CEBB

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tesouro escondido na terra. A cada noite eu chamo o rei, mas ele tem medo e não responde. Se o rei tivesse vindo até aqui eu o conduziria ao local do tesouro. Você, entretanto, é bastante bravo. Darei o tesouro a você. Eu tenho sete ajudantes e amanhã de manhã me tornarei um monge junto com eles e irei até sua casa.” O homem perguntou: “Como eu devo cumprimentá-lo?” Ele respondeu: “Apenas purifique a sala, enfeite-a e encha oito tigelas com suco de uva ou leite coalhado e nos permita partilhar deles. Depois da refeição, traga um travesseiro e bata na cabeça do monge que estiver no assento principal. Leve-o até o quarto do canto e assim conquistará o tesouro.” O homem foi para casa, no dia seguinte seguiu para o palácio e disse: “Era a voz de um espírito.” Ele recebeu as quinhentas peças de ouro. Voltando para casa ele chamou um barbeiro e se fez apresentável, purificou a sala e preparou a comida. Depois ele cumprimentou os oito monges e, depois de comerem, puxou o monge no assento principal e entrou no quarto do canto. O monge se transformou em uma tartaruga de ouro. Ele repetiu o mesmo com os outros sete monges e todos se transformaram em tartarugas de ouro. Ao ver isto, o barbeiro pensou que ele também poderia obter tesouros da mesma forma. Ele seguiu os mesmos preparativos e, tendo convidado oito monges, ofereceu-lhes comida. Ele fechou o portão e bateu no monge no assento principal, mas sua cabeça se abriu e o sangue escorreu. Ele o arrastou até o quarto do canto e em sua agitação se sujou. Os outros sete monges, um após o outro, foram atingidos pelo barbeiro e se contorciam no chão. Finalmente um deles quebrou a porta e escapou, gritando: “Assassino, assassino!” Logo o barbeiro foi preso pelas autoridades e contou tudo ao rei. O rei imediatamente enviou homens para tirar as tartarugas de ouro do outro homem e trazê-las de volta para o palácio. Entretanto, as tartarugas se CEBB

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transformaram em cobras venenosas diante dos olhos dos oficiais. Ao ouvir isto, o rei disse ao homem: “Todo aquele tesouro foi dado a você. Ninguém pode tomar tesouros que não lhe foram dados. Da mesma forma uma pessoa que observa os preceitos e que pratica o caminho sinceramente receberá uma boa recompensa, mas alguém ignorante olhando apenas para as recompensas e sustentando os preceitos externamente, mas internamente sem fé, buscando paz e bem-aventurança de forma falsa, não será capaz de conquistá-las.”

(13) A pessoa dissimulada parece correta externamente, mas em seu coração ela guarda pensamentos negativos. Muito tempo atrás havia um brâmane ancião que tomou por segunda esposa uma jovem. Ela não gostava de seu marido, e na expectativa de obter prazer com outros homens ela sugeriu que eles organizassem uma reunião para jovens brâmanes. O marido suspeitou dela e, desculpando-se, postergou o encontro. Em certa ocasião, o seu filho de uma esposa anterior acidentalmente caiu no fogo; a esposa atual não fez nada para salvá-lo. Quando questionada, ela disse: “Eu não seguro o filho de outra mulher.” O brâmane ancião se comoveu com isto e realizou a reunião de jovens brâmanes. A jovem esposa aproveitou a ocasião para encontrar o prazer que desejava. O marido ficou sabendo disto e se magoou. Finalmente ele juntou seus pertences e partiu sozinho. Na estrada ele encontrou outro brâmane, e os dois viajaram juntos e buscaram alojamento. No dia seguinte eles partiram, e depois de uma boa distância o outro brâmane pensou em algo e disse: “Até agora eu nunca tirei a menor coisa de outra pessoa; entretanto, na noite passada um pedaço de grama ficou preso em minha roupa. Eu devo devolvê-lo ao estalajadeiro. Por favor, espere, eu voltarei logo.” Ele tomou o caminho pelo qual eles tinham vindo. Ao ouvir CEBB

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isto o brâmane ancião ficou fortemente impressionado. Ele pensou que esta pessoa deveria ser respeitada e honrada acima de todas as outras. Entretanto, o brâmane entrou em uma vala perto da estrada e deitou de bruços para descansar; depois de algum tempo voltou até o brâmane ancião. Naquele momento, para lavar algo que estava sujo o brâmane ancião entregou seus pertences ao outro brâmane sem medo ou dúvida. Desta forma, ele perdeu seus pertences. O brâmane ancião ficou doente de tristeza e vagou sem destino como um homem sem espírito. Ele chegou até uma árvore e descansou. Ali, uma cegonha segurando grama em seu bico falava a outros numerosos pássaros: “Vamos ajudar uns aos outros e viver juntos.” Todos aqueles pássaros acreditavam nela e se reuniram ali. Assim que via os pássaros voarem ela olhava nos ninhos e bicava os ovos, comendo muitos filhotes. Quando os pássaros retornavam ela fazia uma cara de inocente como antes, arrancando grama. Mais tarde chegou silenciosamente um asceta ermitão que vestia roupas rasgadas e dizia: “Vermes, cuidado.” O brâmane ancião ficou pensando no que ele estava fazendo e perguntou. O outro respondeu: “Eu tenho pena dos seres vivos. Sabendo que posso matar vermes pisando sobre eles, eu caminho desta forma.” O brâmane ancião sentiu profundo respeito por esta pessoa humilde e, seguindo-o, ficou na casa do asceta quando a noite caiu. Enquanto estava deitado na cabana, ele se alegrava por ter encontrado uma pessoa realmente religiosa. No meio da noite os sonhos do viajante foram repentinamente interrompidos por sons de música e cantoria. Ele saiu para ver o que estava acontecendo. O praticante austero da tarde estava se divertindo com uma jovem garota. Enquanto ela dançava ele tocava harpa. Enquanto ele dançava ela cantava. O coração do brâmane ancião congelou CEBB

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como gelo. “Não posso acreditar em nada neste mundo.” Havia um homem rico naquele país que, certa noite, teve seus pertences roubados e reportou ao rei. “Não havia ninguém suspeito por perto. Apenas um brâmane entrou e saiu. Ele vestia folhas e levava uma vida santa.” Ao ouvir isto, o rei imediatamente prendeu o brâmane e o interrogou, no final ele confessou.

(14) Quando o Honrado pelo Mundo se encontrava em Sravasti no Bosque Jeta havia um homem chamado À Vontade. Ele era um ladrão, assassino e pervertido. Finalmente as autoridades o prenderam, e depois de arrastá-lo ao redor da cidade, ele foi levado ao local da execução. Este homem que esperava a morte, inesperadamente encontrou o Honrado pelo Mundo e lhe contou todos os seus pecados. “Honrado pelo Mundo, minha vida está acabando, por favor deixe que sua compaixão me alcance e peça ao rei se eu posso tornar-me seu discípulo. Se isto acontecer, então mesmo que eu morra imediatamente não haverá nada sobre o que me amargurar.” O Honrado pelo Mundo consentiu e pediu a Ananda para falar com o Rei Prasenajit e lhe perguntar se aquele criminoso teria a permissão para se tornar um discípulo. A permissão foi imediatamente concedida e ele se tornou um discípulo do Honrado pelo Mundo. Praticando firmemente ele atingiu a iluminação.

(15) Um mercador de Rajagriha chamado Mar Flutuante foi para o mar com muitas pessoas para buscar tesouros. Ele tinha uma esposa jovem e bela que pensava nele dia e noite. Um dia, ela foi até um pequeno altar de uma deidade e expressou um desejo: “Senhor, se você satisfizer meu desejo e permitir que meu marido retorne em segurança eu lhe darei joias de ouro e prata. Se você não ouvir o meu pedido, irei emporcalhar este altar com CEBB

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alguma coisa nojenta.” Depois de algum tempo o marido retornou para casa em segurança. A esposa se regozijou e juntou suas joias de ouro e prata e saiu com uma criada. Antes de chegar ao altar ela encontrou o Honrado pelo Mundo, que havia entrado na cidade com muitos discípulos. Sua postura nobre ofuscava mesmo o sol. Ela prestou respeito a este nobre espírito e sem pensar ofereceu as joias em suas mãos a ele. As joias se transformaram em um dossel precioso que se elevou no ar e se movia seguindo os passos do Honrado pelo Mundo. Ao ver este acontecimento fantástico, a mulher ficou profundamente impressionada e, jogando-se no chão, ela perguntou: “Por favor, devido ao que aconteceu, por favor faça-me tão nobre quanto você, Honrado pelo Mundo.” Ao ver isto, o Honrado pelo Mundo sorriu, pois ele sabia que ela um dia atingiria a iluminação.

(16) Certa vez, o Honrado pelo Mundo e alguns discípulos estavam viajando por Magadha. Chegando a um dique no rio Ganges, ele falou com um capitão que estava amarrando uma balsa na margem do rio. “Por favor, leve-nos para o outro lado com sua balsa.” O capitão disse: “Sem problemas, se vocês pagarem a taxa da balsa.” “Capitão, eu também sou capitão de uma balsa. Eu levo muitas pessoas através deste oceano do mundo da ilusão. Não é agradável que nós dois estejamos conduzindo as pessoas para a outra margem? Sem pedir qualquer taxa, eu atravessei pessoas como Angulimala que havia prejudicado tantas pessoas, e como Mantoda que orgulhosamente olhava com desdém para as pessoas devido a sua altivez. Por favor, leve-nos até o outro lado sem cobrar qualquer taxa.” Porém, o capitão não respondeu. Um outro capitão de balsa mais abaixo no rio ouviu as palavras do Honrado pelo Mundo e deu as boas-vindas ao seu grupo. Entre os discípulos alguns CEBB

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mostraram seus poderes sobrenaturais atravessando para a outra margem caminhando sobre a água. Ao ver isto, o primeiro capitão se arrependeu de suas ações e se jogou ao chão, colocando sua fé no Honrado pelo Mundo e seus discípulos. Recebendo a permissão, ele convidou o Honrado pelo Mundo e seu grupo até sua casa e lhes ofereceu comida e recebeu ensinamentos. Ele se regozijou com o Darma.

(17) Em Rajagriha havia uma criada de um homem rico que era por natureza sincera e acreditava nos ensinamentos do Buda. De tempos em tempos, a pedido de seu mestre, a garota moía incenso de madeira de sândalo. Certa vez, depois de moer o incenso, ela saiu da casa e viu o Honrado pelo Mundo na cidade mendigando por alimento. Seu coração se encheu de alegria, e sem pensar ela voltou para dentro para pegar um pouco de incenso de madeira de sândalo para esfregar nos pés do Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo aprovou o coração fiel da garota e com seus poderes sobrenaturais transformou o incenso em nuvens de incenso que se espalharam e cobriram Rajagriha. Ao testemunhar tal ato maravilhoso, ela desenvolveu uma fé ainda mais profunda e fez o voto: “Eu desejo a mesma iluminação que o Honrado pelo Mundo possui.” O Honrado pelo Mundo sorriu, pois já sabia que ela acabaria alcançando a iluminação.

(18) O povo rico de Sravasti um dia vestiu suas roupas finas, e carregando incenso e flores em suas mãos e tocando música para sua satisfação eles saíram para uma excursão pelos arredores da cidade. No portão encontraram o Honrado pelo Mundo com muitos discípulos chegando na cidade para mendigar por alimento. Prestando seus respeitos à figura brilhante do Honrado pelo Mundo eles ficaram exultantes e, sem hesitar, CEBB

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curvaram-se aos seus pés. Tocando música, eles confortaram o grupo e lançaram as muitas flores em suas mãos para o ar sobre o Honrado pelo Mundo. Com seus poderes sobrenaturais o Honrado pelo Mundo fez um belo dossel de flores que ele aumentou até cobrir toda Sravasti. Ao verem este sinal auspicioso, todos fizeram o mesmo voto: “Eu desejo alcançar a mesma iluminação do Honrado pelo Mundo.” O Honrado pelo Mundo sorriu, pois ele soube que todos iriam, em algum momento, atingir a iluminação.

(19) Muito tempo atrás, um rei chamado Surupa governava Varanasi e o povo prosperava. A sabedoria do rei era pura e ele seguia o caminho sinceramente. Ele deixou os tesouros na cidade e anunciou que ofereceria objetos valiosos a quem expusesse um ensinamento excelente. Este coração e mente sinceros do rei foram sentidos mesmo no reino celestial dos deuses e abalaram as suas fundações. Indra quis testar a sinceridade do rei, e assim surgiu na forma de um demônio chegando aos portões do palácio. Ele disse: “Eu possuo um ensinamento extremamente maravilhoso.” O rei o cumprimentou alegremente, e o demônio, enquanto afiava suas presas que eram como espadas, disse: “Estou faminto agora e não posso ensinar o Darma.” Quando o rei lhe ofereceu diversos tipos de alimento o demônio disse: “Minha fome não será satisfeita enquanto eu não obtiver sangue quente humano e carne humana fresca.” Naquele momento, o príncipe Sundara se apresentou e falou com seu pai. “Eu compreendo que realizar o Darma é muito difícil. Eu desejo oferecer a mim mesmo a este demônio.” Conhecendo a grande vontade do príncipe que não tinha apego a sua vida, o rei pensou consigo: ‘Desde um passado longínquo eu tenho sido aprisionado por me apegar ao amor e não pude cessar o ciclo de renascimentos. Agora é a hora de abrir mão de meu filho CEBB

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amado para o bem do Darma.’ Ele decidiu concordar com o desejo do filho. O príncipe foi corajosamente até o demônio. O demônio cortou o príncipe em pedaços no chão diante do rei, bebeu seu sangue e comeu sua carne. Mas sua fome ainda não estava satisfeita. A rainha, encorajada pela bravura do príncipe ao oferecer sua vida para o Darma, recebeu a permissão do rei para se oferecer como alimento para o demônio. O demônio, ainda não satisfeito, procurou o próprio rei. O rei tranquilamente disse: “Eu não tenho apego à minha vida; porém, se este corpo morrer eu não poderei ouvir o Darma. Se você me ensinar o Darma antes, darei meu corpo a você.” Percebendo a sinceridade do rei, o demônio recitou este verso do Darma para ele:

Tristeza e medo surgem do apego. Aqueles que se libertam do amor apegado Cortam para sempre a raiz do medo.

Recitando este verso o demônio imediatamente se transformou em Indra, e o príncipe e a rainha também recobraram suas formas originais. O rei foi tomado pela alegria. Depois de contar esta história, o Honrado pelo Mundo esclareceu: “Eu era o rei, Ananda era o príncipe e Yasodhara era a rainha. Eu, também, há muito tempo deixei de lado o amor apegado e segui o caminho.”

(20) Certa manhã, o Honrado pelo Mundo e muitos discípulos entraram em Sravasti e estavam mendigando por comida quando cruzaram com um brâmane na rua. O brâmane apontou para a terra com um dedo e lhes disse: “Vocês devem me pagar quinhentas peças de ouro. Se não pagarem, não CEBB

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deixarei

vocês

passarem.”

O

Honrado

pelo

Mundo

simplesmente

permaneceu ali parado em silêncio. Isto surpreendeu muitas pessoas e o Rei Prasenajit ficou sabendo e rapidamente enviou alguém com o dinheiro. Porém, o brâmane não aceitou. Então Sudatta, o homem rico, chegou carregando quinhentas moedas e as ofereceu ao brâmane, que assim deixou o Honrado pelo Mundo passar. Sabendo que os discípulos acharam tudo isto estranho, o Honrado pelo Mundo esclareceu a situação. “Muito tempo atrás havia um príncipe chamado Sujati em Varanasi. Certo dia ele estava se divertindo com um amigo próximo quando viu o filho do primeiro ministro perder quinhentas peças de ouro apostando com um jogador nas ruas. Ele disse ao jogador: ‘Se o filho do primeiro ministro não puder pagar, eu pagarei.’ Mas, confiando no poder de seu pai, o príncipe não pagou o débito. Assim, aquele débito se propagou por incontáveis vidas até hoje. Aquele príncipe era eu, o filho do primeiro ministro era Sudatta e o jogador era este brâmane. Assim, discípulos, vocês devem pagar todos os débitos. Se não o fizerem, então mesmo se alcançarem a iluminação não serão capazes de escapar dessa dificuldade.”

(21) Enquanto o Honrado pelo Mundo se encontrava no Bosque Jeta havia um ladrão chamado Rudra em Sravasti. Com uma espada afiada e arco e flecha, ele se escondia à beira da estrada e roubava os passantes. Um dia, quase morrendo de fome, ao ver à distância um monge sob uma árvore segurando uma tigela de mendicante, ele pensou: “Com certeza há comida naquela tigela de mendicante. Irei tomá-la e comerei. Se ele já tiver comido, então irei matá-lo e abrirei seu estômago e comerei.” Silenciosamente ele se aproximou do monge e parou perto dele. O monge havia lido sua mente e pensou: “Se eu não lhe oferecer comida ele certamente me matará. Se isto CEBB

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acontecer ele terá cometido um crime dos mais graves.” Desta forma, falou imediatamente com o outro e lhe deu comida. Quando sua fome foi satisfeita e ele se alegrou, o monge ensinou o Darma de diversas maneiras. Imediatamente brotou fé em seu coração e ele se tornou um monge e despertou para a iluminação.

(22) Quando o Honrado pelo Mundo estava em um bosque de bambus perto de Rajagriha o homem rico da cidade ofereceu um festival e se divertiu com música e cantos. Entre as mulheres havia uma professora de dança do sul que trouxera consigo sua amável filha Utpala. Ela não apenas era bela, mas não lhe faltava nenhuma das sessenta e quatro artes de uma mulher. A graça de sua dança era incomparável. Ela disse para si mesma: “Há alguém nesta cidade que se iguale à minha dança ou ao meu conhecimento das escrituras?” As pessoas lhe disseram que o Honrado pelo Mundo estava no bosque de bambus, e assim ela foi dançando e cantando pelo bosque com muitas pessoas. Rindo sem modéstia, ela nem mesmo se curvou diante do Honrado pelo Mundo. Ao ver isto, o Honrado pelo Mundo usou seus poderes sobrenaturais e a transformou em uma mulher de cem anos. Com os cabelos brancos, a face enrugada, os dentes faltando, as costas curvadas, ela tinha que caminhar encurvada. Ela ficou surpresa e triste com o declínio de seu corpo, e pensando sobre o poder do Honrado pelo Mundo se arrependeu profundamente por suas ações. Ela se prostrou diante dele e, arrependendose de seu orgulho e erros anteriores, sinceramente pediu por seu perdão. Vendo seus sentimentos, o Honrado pelo Mundo com seus poderes sobrenaturais novamente lhe devolveu sua forma original. A multidão de pessoas viu claramente a incerteza da velhice e juventude, e houve muitos que alcançaram o olho da sabedoria. A garota e seus pais, ao receberem a CEBB

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permissão, tornaram-se discípulos e atingiram a iluminação.

5. O Formigueiro (1) O Honrado pelo Mundo retornou a Savatthi e entrou no Bosque Jeta. Naquele tempo Kumara-Kassapa morava no Bosque Escuro. Uma noite, um deus com um brilho que iluminou todo o bosque veio até ele e disse: “Kassapa, uma pessoa disse a um brâmane: ‘Este formigueiro solta fumaça à noite e queima durante o dia.’ O brâmane lhe disse: ‘Se é este o caso, pegue uma espada e cave profundamente.’ A pessoa cavou e encontrou uma barra. O brâmane disse: ‘Tire a barra para fora e cave mais fundo.’ Desta vez ela encontrou algumas bolhas de água. ‘Tire as bolhas e cave mais fundo.’ Desta vez encontrou um forcado. ‘Tire o forcado e cave mais fundo.’ Desta vez ela viu uma caixa. ‘Tire a caixa e cave mais fundo.’ Desta vez viu uma tartaruga. ‘Tire a tartaruga e cave mais fundo.’ Desta vez viu uma faca de açougueiro. ‘Tire a faca e cave mais fundo.’ Desta vez viu um pedaço de carne. ‘Tire a carne e cave ainda mais.’ Desta vez ela viu um Naga. Neste ponto o brâmane disse: ‘Ó sábio, deixe o Naga como está, não o perturbe. Preste respeitos ao Naga. Vá até o Honrado pelo Mundo e relate este enigma a ele. Seria melhor lembrar suas explicações. Não há ninguém neste mundo exceto o Honrado pelo Mundo, seus discípulos e aqueles que ouviram seus ensinamentos que possam explicar este enigma.”Dizendo isto, o deus desapareceu.

(2) Kumara-Kassapa passou o resto da noite e foi até o Honrado pelo Mundo, contou-lhe o que havia acontecido e lhe pediu uma explicação para

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cada item da história. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Kassapa, o formigueiro é o corpo físico. Pensar à noite sobre as coisas que foram feitas durante o dia é o que se quer dizer com ‘solta fumaça à noite’. Agindo com o corpo e falando com a boca durante o dia sobre as coisas que foram pensadas à noite é o significado de ‘queimar durante o dia’. O brâmane é o Buda. A pessoa é o samana que está buscando o caminho. A espada é a sabedoria, e cavar profundamente é o esforço. A barra é a ignorância, tirar a barra é livrarse da ignorância. Kassapa, cavar profundamente com a faca significa que com a sabedoria sagrada faz-se um esforço supremo e a ignorância é afastada. “Em seguida, as bolhas de água são a raiva e a dor, o forcado significa a dúvida e a intranquilidade, a caixa são os cinco impedimentos da mente – desejo, raiva, preguiça, inquietude e dúvida – a tartaruga é o corpo e a mente, a faca do açougueiro que mata o gado são os cinco desejos, e o pedaço de carne é a sede pelo prazer. Em resumo, a história descreve o processo de livrar-se destas coisas. “Kassapa, o Naga é a exaustão das paixões. Deixar o Naga em paz significa não perturbá-lo; e prestar reverência a ele significa que se as paixões foram extintas, então apenas deixe as coisas como são e preste respeito àquele que extinguiu todas as paixões.” Ouvindo esta explicação, Kumara-Kassapa se alegrou intensamente.

(3) O Honrado pelo Mundo retornou a Rajagaha e entrou no Monastério da Fonte Quente no sudoeste. Perto do nascer do dia, quando ainda estava escuro, Samiddhi se banhou na fonte quente. Enquanto secava seu corpo chegou uma deidade, iluminando todo o bosque com sua luz. “Discípulo do Buda, você conhece o verso da Única Boa Noite?” “Amigo, não conheço. E você?” “Eu também não conheço. Conhecer esse verso e seu CEBB

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significado é de grande benefício, por isso seria bom conhecê-lo.” Depois que a deidade partiu e a noite estava quase acabando, Samiddhi foi até o Honrado pelo Mundo e lhe contou o que acontecera. Ele pediu ao Buda para ensiná-lo sobre o verso da Única Boa Noite. O Honrado pelo Mundo lhe ensinou este verso:

Não siga o passado nem espere pelo futuro. O passado já se foi e o futuro ainda está por vir. Olhe tão apenas para o presente. Sabendo sempre que ele não pode ser exaurido ou movido, Esforce-se fortemente hoje. Amanhã, quem sabe o curso da vida? O exército da morte não espera. Assim, trabalhar duramente sem alívio dia e noite é a Única Boa Noite. Isto foi proclamado por um santo sábio.

Samiddhi e outros discípulos ouviram este verso. Antes que qualquer pessoa pudesse perguntar o seu significado, o Honrado pelo Mundo se levantou de seu assento e entrou em seu quarto. Assim, eles foram até MahaKaccana e lhe pediram para explicar o verso. Kaccana disse: “Amigos, peçam ao Honrado pelo Mundo para explicar. Vir até mim é como entrar em um bosque para buscar o núcleo de uma árvore, deixando de lado a raiz e o tronco e acreditando que o núcleo está nos galhos e nas folhas. Seria ótimo se lembrarem aquilo que ele disser.” “Kaccana”, eles responderam, “é como você diz. Mas ele entrou em seu quarto e você é louvado pelo Buda e honrado por seus companheiros monges. Você possui a habilidade de explicar o significado do verso, por CEBB

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favor, faça isso.” “Tudo bem”, ele disse, “irei explicá-lo. Ouçam cuidadosamente. ‘Não seguir o passado’ significa não buscar e se apegar às coisas que já se foram. ‘Não esperar pelo futuro’ significa não ter esperanças por algo que ainda está por vir. ‘Olhar para o presente’ significa direcionar sua mente para o que é visto diante de você e absorver bem os ensinamentos do Buda. Amigos, esta é a minha explicação deste verso.” Todos os discípulos se regozijaram enormemente ao ouvirem a explicação de Kaccana.

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LIVRO VII Capítulo IV - A ESTUPA

1. A Morte de Nigantha Nataputta (1) Um dia, quando já estava com uma idade avançada, o Rei Pasenadi foi ao Bosque Jeta para ouvir os ensinamentos do Buda, e subitamente recebeu a notícia de que a Rainha Mallika havia morrido. Recordando o passado, ele caiu em desespero pela sua partida, e sentou-se em silêncio com os ombros curvados e a cabeça baixa. O Honrado pelo Mundo reconfortou o rei desesperado: “Senhor, no mundo há cinco coisas que não podem ser evitadas. Elas são a velhice, a doença, a morte, a exaustão e a extinção. Não há como escapar destas cinco. “Senhor, as pessoas ignorantes de pequena sabedoria inutilmente choram e se lamentam, caindo em confusão quando os seres que devem envelhecer envelhecem, quando os seres que devem adoecer adoecem, quando os seres que devem morrer morrem, quando os seres que devem se exaurir se exaurem, e quando os seres que devem ser extintos se extinguem. Os discípulos do Buda, ricos em sabedoria, em tais ocasiões pensam da seguinte forma: ‘Velhice, doença, morte e assim por diante, não acontecem apenas comigo. Se eu me entregasse ao choro e à lamentação, caísse em confusão, não comesse, deixasse meu corpo declinar e fosse incapaz de CEBB

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trabalhar, então o inimigo Mara se alegraria e meus aliados se entristeceriam.’ Pensando desta forma eles não lamentam ou choram. Assim, os ignorantes se ferem com uma flecha envenenada e sofrem, enquanto os discípulos do Buda, evitando a flecha envenenada, não lamentam, mas sim entram em um reino de quietude imaculada.”

(2) Dali, o Honrado pelo Mundo viajou para a terra dos Sakyas e permaneceu em uma cidade chamada Vedhanna. Naquele tempo, Cunda estava no retiro da estação chuvosa em Pava. Cunda viu os discípulos de Nigantha se dividirem em duas facções e lutarem uns com os outros após a morte de Nigantha. Ao terminar seu retiro, ele foi até Ananda em Samagama e lhe contou o que tinha testemunhado. Imediatamente Ananda foi até o Honrado pelo Mundo, levando Cunda consigo. “Honrado pelo Mundo, Cunda acabou de passar seu retiro em Pava, e ele me contou que Nigantha recentemente morreu lá. Depois disto, os discípulos se dividiram em duas facções e se acusaram mutuamente de não compreenderem os ensinamentos e preceitos, e proclamaram a outra facção como sustentadores de uma doutrina enganosa. Devido a isto, tanto monges quando chefes de família que eram seguidores começaram a odiar os ensinamentos e seu moral declinou abruptamente.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Cunda, os ensinamentos daqueles que não conquistaram a verdadeira iluminação não levam ao nirvana e sempre acabam desta forma. Cunda, se o professor não possui a verdadeira iluminação e se, portanto, seus ensinamentos são falsos, é uma boa coisa que os discípulos não pratiquem o caminho de acordo com esses ensinamentos e que eles descartem tais ensinamentos. Você deveria criticar tal professor e tais ensinamentos e louvar tais discípulos. Entretanto, aqueles que dizem aos CEBB

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discípulos para manterem os ensinamentos do professor e aqueles discípulos que aderem aos ensinamentos errôneos caíram em falhas. “Cunda, se o professor não é possuidor da verdadeira iluminação e se, portanto, os ensinamentos são falsos, quando os discípulos praticam o caminho de acordo com os ensinamentos e se fixam a eles e os seguem, então devem-se

fazer

esforços

para

que

os

discípulos

descartem

esses

ensinamentos. Se alguém louvar a adesão a tais ensinamentos, então aquele que louva e aqueles que são louvados estão ambos em erro. Cunda, se o professor é possuidor da verdadeira iluminação e, portanto, o Darma é verdadeiro, então os discípulos devem se fixar ao ensinamento e praticar o caminho de acordo com ele. “Cunda, suponha que um professor que possui a verdadeira iluminação surge e ensina; se o professor morrer antes de seus discípulos aperfeiçoarem seus ensinamentos e antes de seus ensinamentos se estabelecerem, isto é extremamente desafortunado para os discípulos. Se o professor morrer depois de os discípulos aperfeiçoarem os ensinamentos e praticarem de acordo com eles, e se seus ensinamentos se estabelecerem, isto é muito afortunado para os discípulos. “Cunda, se o ensinamento possuir todos os seguintes pontos ele deve ser visto como perfeito: o professor é monge há um longo tempo e é um ancião no mundo das crenças. Os discípulos, tanto monges quando chefes de família, são sábios e diligentes no treinamento de suas mentes para alcançar um estado de paz e quietude. Os discípulos transmitem os ensinamentos corretamente e possuem a força para resolver todas as disputas doutrinárias entre os seguidores. Os ensinamentos se disseminam e se tornam conhecidos em todo o mundo. O ensinamento é benéfico e renomado neste mundo. Se um ensinamento não possuir alguma destas qualidades, ele não é perfeito. CEBB

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(3) “Cunda, eu surgi como alguém que despertou para a iluminação e como um professor do mundo. Eu proclamo o Darma que conduz à paz e à quietude do nirvana. Meus discípulos compreendem o verdadeiro Darma e se engajam perfeitamente nas práticas santas. Além disso, há muito tempo atrás eu deixei de lado o mundo e me tornei um ancião no mundo das crenças. Meus discípulos, tanto chefes de família quanto monges, são sábios e diligentes no treinamento de suas mentes para alcançar paz e quietude. O Darma é proclamado corretamente, e assim as disputas doutrinárias entre os seguidores podem ser solucionadas. Meus ensinamentos se disseminaram e são bastante conhecidos por todo o mundo. Além disso, não há no mundo professor ou assembleia de discípulos que tenham recebido mais oferendas ou honras. Se alguém quiser apontar corretamente um ensinamento perfeito, terá que indicar os meus ensinamentos. “Cunda, Uddaka Ramaputta frequentemente utilizava a frase ‘ver, mas não ver’. Ele a usava em referência ao ato de ver a parte plana de uma lâmina afiada sem ver a parte cortante. Isto é insignificante. Porém, se a frase for corretamente aplicada, ela se refere a ouvir o ensinamento e procurar torná-lo mais claro e próximo da perfeição, mas sem encontrar nada a acrescentar. “É devido a isto, Cunda, que quando vocês se reúnem para recitar uns para os outros o Darma proclamado por mim vocês não deveriam discutir. Para benefício e felicidade da humanidade, transmita este Darma para sempre e esclareça as passagens e o significado das passagens. “Cunda, ao se reunirem, se você pensar que aquele que proclama o Darma cometeu algum erro recitando uma passagem ou um erro na explicação, não o critique imediatamente. Tranquilamente olhe para ele e pergunte: ‘A passagem corresponde à explicação e a explicação está de CEBB

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acordo com a passagem?’ Mesmo que ele diga que uma está de acordo com a outra, não o critique imediatamente. Ao invés disso, tente com consideração ensiná-lo sobre essa passagem e a sua explicação. “O verdadeiro significado deveria ser ensinado àquele que proclama uma passagem correta com uma explicação errônea, e àquele que proclama uma explicação correta a partir de uma passagem incorreta. Se a pessoa proclamar tanto a passagem quanto a explicação corretamente, então apenas diga: ‘Realmente muito bom, realmente muito bom’, e siga-a.”

(4) “Cunda, eu não proclamo o Darma apenas para extinguir as paixões atuais ou para extinguir as paixões futuras. Eu proclamo o Darma para extinguir tanto as paixões futuras quanto as atuais. Cunda, é por isto que as suas vestimentas, autorizadas por mim, servem para protegê-los do calor, frio, mosquitos e moscas e cobrem o corpo o suficiente para garantir a decência. Sua comida é suficiente para suportar este receptáculo do Darma e para ajudá-los a se engajarem nas práticas religiosas. Sua morada também é apenas suficiente para protegê-los do calor, frio, mosquitos e moscas, e lhes permite desfrutarem um isolamento silencioso. Remédios também são utilizados apenas para livrá-los das dores das doenças e para lhes permitirem reconquistar a saúde. Cunda, os seguidores de outras crenças podem dizer que os discípulos do Honrado pelo Mundo são viciados em prazeres. Neste caso, é bom perguntar a essas pessoas de outras crenças: ‘Quando vocês dizem que somos viciados em prazeres, que tipo de prazer vocês estão indicando, visto que há tantas formas diferentes?’ “Cunda, há quatro tipos de prazeres errôneos. O primeiro é o prazer de tirar as vidas de seres vivos. O segundo é o prazer de roubar as posses de outras pessoas. O terceiro é o prazer de mentir. O quarto é o prazer de se CEBB

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afundar nos cinco desejos. Estes quatro são evitados por nós. Se houver alguém que nos critique com base nestes quatro, é uma crítica infundada e falsa. “Cunda, além destes, também há o prazer que leva as pessoas ao nirvana. É simplesmente o prazer da meditação ao libertar-se dos desejos e ações negativas. Aqueles que se absorverem nestes prazeres desfrutarão o benefício de alcançar a iluminação.

(5) “Cunda, aqueles de outras crenças podem dizer que com sua sabedoria vocês falam muito sobre o passado e muito pouco sobre o futuro. Cunda, o Buda fala sobre o passado para o contentamento do coração com a sabedoria da atenção mental correta. Em relação ao futuro, ele apenas diz, com a sabedoria nascida de sua iluminação, que esta será sua última vida de delusão. “Cunda, quando o Buda fala sobre o passado, seu ensinamento é verdadeiro e é para o seu benefício. Ele fala no momento apropriado e não conta mentiras. Além disso, mesmo que um ensinamento seja verdadeiro, a não ser que seja benéfico ele não o exporá. Com relação ao futuro, o mesmo é verdade, e também com relação ao presente o mesmo é verdade. “Cunda, o Buda é alguém que despertou para a realidade. Além do mais, desde a aurora da iluminação até o ocaso no nirvana final, tudo o que ele diz é verdadeiro e real. Ele age conforme seu discurso e discursa conforme suas ações. Em todo o mundo não há nada que possa derrotá-lo, ele é o vitorioso, o onisciente, o governante. Cunda, o Buda não diz nada que não conduza à realização da iluminação. Ele apenas ensina as Quatro Verdades: o sofrimento, a causa do sofrimento, a extinção do sofrimento e o caminho para a extinção do sofrimento. Por quê? Porque apenas elas conduzem à CEBB

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iluminação. Cunda, o Buda não discute se o mundo é permanente ou impermanente, limitado ou ilimitado, ou outros assuntos que não conduzam à realização da iluminação. Ele propõe o afastamento de todas as visões errôneas em relação ao passado e ao futuro; ele propõe as meditações sobre o corpo, as sensações, sobre o coração e a mente, e sobre todas as coisas; e ele proclama a vitória sobre os desejos mundanos e o sofrimento.” Então, Upavana, que estava em pé atrás do Honrado pelo Mundo abanando-o, disse: “Honrado pelo Mundo, este é o ensinamento que produz a maior alegria. Como ele deveria ser chamado?” “Upavana, ele deveria ser chamado o Ensinamento do Regozijo.”

2. Vassakara (1) O Honrado pelo Mundo novamente retornou a Rajagaha e permaneceu no Monastério do Bosque de Bambus. Um dia, o ministro de Magadha, Vassakara, visitou-o e conversou com o Honrado pelo Mundo. “Honrado pelo Mundo, nós dizemos que os sábios possuem quatro qualidades e os chamamos de grandes pessoas. A primeira é o vasto conhecimento, que permite compreender o significado daquilo que se ouve; eles sabem que o significado das palavras é este e que o significado das palavras é aquele. A segunda é uma memória boa e precisa, através da qual são lembrados eventos que aconteceram eras atrás e são guardadas na mente as coisas que foram ditas hoje. A terceira é a habilidade de conduzir os próprios negócios e fazer o que deve ser feito sem qualquer preguiça. A quarta é a inteligência para pensar sobre vários métodos e meios para realizar

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as coisas. Eu digo que a pessoa que possui estas quatro qualidades é uma pessoa de grande sabedoria e a denomino uma grande pessoa. O que você pensa sobre isto?” “Vassakara, não irei nem concordar com o que você disse nem discordar. Eu também digo que aquele que possui quatro qualidades é uma pessoa de grande sabedoria, e eu também o denomino uma grande pessoa. As quatro qualidades de que falo são estas: primeira, interesse pelo benefício e felicidade das outras pessoas, a partir do qual a busca do caminho sagrado por outras pessoas é viabilizada; segunda, pensar naquilo que deve ser pensado e não pensar sobre aquilo que não deve ser pensado; terceira, em relação à forma de pensar, controlar a própria mente e o coração; quarta, entrar em meditação sem dificuldades, extinguindo as paixões e alcançando a emancipação. A pessoa que possui estas quatro qualidades é uma pessoa de grande sabedoria e eu a denomino uma grande pessoa.” “Honrado pelo Mundo, essa foi uma colocação maravilhosa. Eu o vejo como aquele que possui as quatro qualidades citadas.” “Vassakara, parece que você está zombando de mim. De qualquer forma, eu posso dizer que tenho interesse pelo benefício e felicidade de muitas pessoas, e eu torno possível a elas seguirem o caminho sagrado. Eu penso naquilo que deveria ser pensado e não penso naquilo que não deveria ser pensado. Em relação à forma de pensar eu sou alguém que controla a mente e o coração. Entrando em meditação sem dificuldades e extinguindo as paixões, eu alcanço a emancipação.”

(2) Outro dia, Vassakara veio visitar o Honrado pelo Mundo no Bosque de Bambus. “Honrado pelo Mundo, não há transgressão em dizer, em relação a qualquer assunto, que eu vi o que vi, que eu ouvi o que ouvi, que eu pensei CEBB

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no que pensei ou que eu conheci o que conheci.” “Vassakara, eu não digo que alguém deve relatar tudo o que vê, nem eu digo que não deve relatar tudo o que vê. O mesmo é válido para aquele que ouve, pensa e conhece. Vassakara, eu afirmo que não se deve falar sobre algo que encoraje a maldade e que desencoraje as ações positivas mesmo se a pessoa tiver visto isto. Pelo contrário, deve-se falar sobre aquilo que desencoraja a maldade e que encoraja a bondade. O mesmo é válido para as coisas ouvidas, pensadas e conhecidas. Não se deve falar sobre as coisas que encorajam a maldade e que desencorajam a bondade, mas sim sobre aquilo que desencoraja a maldade e que encoraja a bondade.” Vassakara se regozijou com o ensinamento que ouviu do Honrado pelo Mundo e foi para casa.

(3) Mais uma vez Vassakara visitou o Honrado pelo Mundo e lhe perguntou: “Honrado pelo Mundo, uma pessoa maldosa reconhece outra pessoa maldosa?” “Vassakara, não há como uma pessoa maldosa reconhecer outra pessoa maldosa.” “Honrado pelo Mundo, uma pessoa maldosa reconhece uma pessoa boa?” “Vassakara, não há como uma pessoa maldosa reconhecer uma pessoa boa.” “Honrado pelo Mundo, uma pessoa boa reconhece uma pessoa maldosa?” “Vassakara, uma pessoa boa pode reconhecer uma pessoa maldosa.” “Honrado pelo Mundo, uma pessoa boa reconhece outra pessoa boa?” “Vassakara, uma pessoa boa pode reconhecer uma pessoa boa.” “Honrado pelo Mundo, isto é realmente bom. Como você diz, as pessoas maldosas não reconhecem outras pessoas maldosas ou boas, mas as pessoas boas reconhecem as pessoas maldosas e as boas. Certa vez, os discípulos do brâmane Todeyya falavam mal de outras pessoas. Eles diziam como era estúpido o Rei Eleyya honrar e se curvar diante do monge CEBB

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Ramaputta e que aqueles que estavam próximos ao rei, Yamaka, Moggallana, Ugga e outros no total de seis também tivessem fé, honrassem e se curvassem diante de Ramaputta. “Naquele momento o brâmane Todeyya disse a essas pessoas: ‘O que vocês acham? As ações e palavras do Rei Eleyya o marcam como uma pessoa sábia?’ ‘É isso mesmo, o rei é uma pessoa sábia.’ ‘As ações e palavras do monge Ramaputta o marcam como alguém ainda mais sábio e detentor da sabedoria que reconhece a natureza das coisas; assim, o rei o honra e presta respeito a ele e se curva diante dele. Além disso, aqueles próximos a ele, Yamaka, Moggallana e outros, num total de seis, todos possuem fé nele.’ Honrado pelo Mundo, a partir da própria bondade Todeyya louvou o Rei Eleyya, aqueles próximos ao rei e o monge Ramaputta. É como você diz, as pessoas maldosas não sabem reconhecer outras pessoas maldosas ou boas, mas as pessoas boas podem reconhecer aquelas que são boas e aquelas que são maldosas.” Vassakara se regozijou com os ensinamentos do Honrado pelo Mundo naquele dia e, devido a assuntos do governo, pediu para se retirar e retornou para casa.

3. Bhaddiya (1) Naquele tempo havia em Rajagaha um homem rico cujo nome era Bhaddiya. Ele possuía grande riqueza, quantidades ilimitadas de ouro, prata e joias, e tesouros e depósitos de tesouros preenchidos com grãos. Apesar disto, ele era uma pessoa muito avarenta que não sabia nada sobre caridade ou como acumular virtudes e estava envolvido com visões errôneas: “Não há

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caridade no mundo, nem virtudes, nem carma ou seu resultado, não há por que respeitar os pais e nenhuma iluminação para a qual despertar.” Ele construiu sete níveis de portões para manter os mendigos fora de sua casa e instalou uma tela de arame para impedir os pássaros de bicar as frutas no jardim. Ele tinha uma irmã mais velha chamada Nanda que também mantinha as mesmas visões. Um dia, Moggallana, Maha-Kassapa, Anuruddha e Pindola-Bharadvaja se reuniram e conversaram entre si sobre conduzir e guiar para a fé alguém que não tivesse devoção pelos Três Tesouros. Eles escolheram Bhaddiya. O rico homem estava em seu quarto comendo bolos de arroz para que ninguém soubesse, quando Anuruddha apareceu com uma tigela como se tivesse caído do céu, ou surgido da terra e pediu por comida. Surpreso por esta aparição inesperada, ele foi incapaz de recusar o pedido. Sem pensar, ele ofereceu uma porção do bolo de arroz. Ao recebê-lo, Anuruddha foi para casa. O homem rico chamou seus guardas e exigiu uma explicação para a intrusão do monge, mas os guardas disseram que o portão estava sendo vigiado e um monge não poderia ter entrado.

(2) Em seguida, quando ele estava se deliciando com um prato de peixe cozido, Maha-Kassapa apareceu repentinamente diante dele. Sem outra opção, o homem rico lhe deu uma porção do peixe. Depois que MahaKassapa partiu, ele chamou os guardas e exigiu uma explicação, mas como antes não foi possível descobrir como ele havia entrado. Ele ficou com mais raiva ainda e gritou que os monges usavam poderes mágicos para enganar as pessoas. A esposa dele era a irmã mais jovem de Citta, um discípulo do Buda, e vinha da vila de Macchikasanda. Ao ouvir seu marido falando mal dos monges, ela o parou e disse: “É inapropriado falar mal dos outros. Você sabe CEBB

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quem eram essas duas pessoas? O primeiro era o filho do Rei Dona de Kapilavatthu, Anuruddha. Quando ele nasceu a terra tremeu e grandes riquezas brotaram e abençoaram sua casa.” “Entendo, agora me lembro do nome Anuruddha.” “Essa pessoa se tornou um monge e despertou para a iluminação e é aquele que possui a mais avançada visão divina. A segunda pessoa era Maha-Kassapa, filho único da rica família de Kapila. Ele se casou com uma bela noiva de boa família, mas ambos renunciaram ao mundo e atingiram a iluminação. Ele se libertou do desejo, e foi louvado pelo Honrado pelo Mundo como o melhor praticante da observância estrita. Agora, esses dois seres honrados utilizaram seus poderes sobrenaturais para vir até esta casa. É realmente um evento dos mais felizes. Não os deprecie chamando isto de poderes mágicos.”

(3) Naquele momento, Moggallana desceu do céu e rompeu a rede de arame. Dobrando suas pernas, ele permaneceu sentado no ar não muito longe do chão. O homem rico ficou espantado e se amedrontou. Ele perguntou se era uma deidade, um demônio ou um ser que comia pessoas. Ele se identificou, dizendo: “Não sou uma deidade, demônio, ou um ser que come pessoas. Eu sou Moggallana, um discípulo do Buda.” Ele disse que tinha aparecido com o objetivo de expor o Darma. Ao ouvir que ele era um monge, o homem rico imediatamente pensou em um mendigo que buscava caridade. Ele pensou em recusá-lo, dizendo que apesar de o monge estar buscando caridade, ele não tinha nada para dar. “O Buda fala sobre dois tipos de caridade, oferecer o Darma e oferecer coisas materiais. Agora, desperte a intenção do desejo de ouvir a exposição da caridade do Darma, e ouça.” Em primeiro lugar, o homem se alegrou sobre a caridade do Darma e CEBB

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despertou a aspiração de ouvir o Darma pela primeira vez. Moggallana disse: “Ó homem de riquezas, irei ensiná-lo agora a caridade do Darma, uma das duas caridades, oferecer o Darma e oferecer coisas materiais. O Buda ensina que há cinco grandes atos de caridade no Darma. O primeiro é não matar. Esta grande caridade deve ser sustentada por toda a vida. O segundo é não roubar. O terceiro é não viver em meio à perversão. O quarto é não mentir. O quinto é não beber álcool. Homem rico, você deve sustentar estes grandes atos de caridade por toda sua vida.” O homem rico se alegrou imediatamente pelo fato de que sustentar os cinco atos de caridade do Darma não requeria qualquer gasto. Não matar era algo muito fácil para ele. Não roubar, para alguém rico como ele, não era problema; e além disso, imaginar que os outros não roubariam suas riquezas era algo que o deixava agradecido. Não viver em meio a perversões e não mentir eram ambos importantes, e não beber álcool era uma chave para não gastar sua fortuna. Ele se regozijou com os ensinamentos do Buda e fez o voto de sustentar estes cinco preceitos. Ele convidou Moggallana e, pela primeira vez, ofereceu comida por sua própria vontade. Depois de comer, ele pensou em oferecer algumas roupas e entrou no depósito de tesouros procurando por algum material de lã. Ele pensou em escolher algo de que particularmente não gostasse, mas sua mão escolheu um pedaço de boa lã branca, e ele ficou perplexo se devia tirá-lo ou não. Naquele momento, a voz de Moggallana ressoou:

Um homem sábio não luta contra a mente que foca a generosidade. Não lute contra o ato da generosidade, apenas aja como sua mente e coração lhe dizem.

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Ao ouvir este verso o homem soube que seu coração tinha sido lido e ele pegou o pano de lã branca e o deu a Moggallana. Moggallana o aceitou e ensinou o Darma novamente. Ele falou sobre a caridade, a sustentação dos preceitos, em renascer no reino celestial e a natureza deste mundo e o caminho para se libertar dele. Sem cessar, ele guiou o coração e a mente daquele homem. Ele abriu o olho da mente daquele homem de várias formas. O homem se regozijou enormemente, fez o voto de sustentar os cinco preceitos por toda sua vida e se tornou um seguidor do Buda.

(4) Pindola-Bharadvaja recebeu a tarefa de ensinar e orientar a irmã do homem rico, Nanda. Ela também foi guiada por Pindola-Bharadvaja até o Honrado pelo Mundo. Através do ensinamento ela abriu o olho do coração como um pano de lã branca é facilmente tingido. Ela extinguiu sua cobiça interna e despertou para o Darma. Ela colocou sua fé nos Três Tesouros e se tornou uma seguidora leiga. O irmão mais novo do homem rico, Upakani, assim como seu irmão mais velho e irmã, se regozijou em seu coração e mente e depositou sua fé nos ensinamentos do Buda. Ele foi até o Rei Ajatasattu e lhe contou tudo isto e sobre a felicidade em sua casa. Ajatasattu também se alegrou grandemente e louvou a virtude do Buda, dizendo que a irmandade do Darma havia crescido.

4. Os Últimos Anos do Rei Pasenadi (1) Certo dia, o Honrado pelo Mundo estava passando as horas quentes

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da tarde meditando no Monastério Oriental no palácio da mãe de Migara. Perto do anoitecer ele saiu de sua meditação, tomou um banho e se sentou para se secar. Ananda esfregou seu corpo com suas mãos e disse: “Honrado pelo Mundo, o brilho de sua bela pele diminuiu e há rugas em seu corpo, suas costas estão curvadas e seus olhos e orelhas mudaram.” “Ananda, é como você diz. A juventude é superada pela velhice, a saúde é substituída pela doença e a vida é substituída pela morte. Eu já tenho oitenta anos de idade. O brilho de minha pele diminuiu, rugas surgiram e meus olhos e orelhas mudaram.”

A velhice fere, a velhice prejudica a beleza. Ela atropela aquilo que parece bonito. Mesmo que a vida dure cem anos a morte não pode ser evitada. Ela não exclui nada e atropela todas as coisas.

(2) O Rei Pasenadi chegou ao local do ensinamento em sua bela carruagem, vestido com beleza e se aproximou do Buda dizendo: “Honrado pelo Mundo, há alguém entre os vivos que escape da velhice e da morte?” “Senhor, não há ser vivo que escape da velhice e da morte. Senhor, mesmo para um brâmane ou kshatriya que possuam riquezas e poder, não há vida separada da velhice e da morte. Mesmo o corpo de um Venerável que extinguiu as paixões, que se livrou do fardo das ofensas e que realizou o objetivo puro não pode escapar da degenerescência e acabará sendo eliminado.” Olhando para a bela carruagem na qual o rei chegou, ele assim falou:

Esta bela carruagem se quebrará, CEBB

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E da mesma forma o corpo envelhecerá. Apenas o verdadeiro Darma não envelhece. Isto é o que os budas sempre ensinaram.

O Rei Pasenadi se regozijou com as palavras do Honrado pelo Mundo e, prestando respeitos a ele, foi para casa. Convocando os discípulos, o Honrado pelo Mundo ensinou: “Discípulos, as pessoas deste mundo se alegram com quatro coisas e odeiam quatro outras coisas. As quatro coisas que as alegram são juventude, saúde, a vida e viver com pessoas que amam. As quatro coisas que elas odeiam são a passagem da juventude para a velhice, a mudança da saúde para a doença, a mudança da vida para a morte e a separação de seres amados. Além disso, discípulos, existem outras quatro coisas que quando compreendidas permitirão se libertar dos quatro pares anteriores. Sem essas quatro, nunca será possível se libertar das outras. Essas quatro são os preceitos sagrados, a meditação sagrada, a sabedoria sagrada e a emancipação sagrada. Discípulos, ao buscarem atingir o reino do nirvana, que está livre de nascimento, velhice, doença e morte, é melhor pensar sobre a impermanência do mundo ao se separar dos seres amados.”

(3) Anteriormente o Rei Pasenadi tivera um general chamado Bandhula. Ele era forte e honesto e possuía o respeito das pessoas. Porém, quando o rei ficou velho e perdeu a única pessoa que o confortava e aconselhava, sua esposa Mallika, ele maltratou o general, acreditando em mentiras que o difamavam; e ele matou o general e seus filhos. Mais tarde, o rei sentiu grande remorso e fez do sobrinho do general, Digha-Karayana, também um general; com isso ele procurou confortar a si mesmo. Isto aconteceu quando o Honrado pelo Mundo estava na vila do clã CEBB

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Sakya Medalumpa. O Rei Pasenadi tinha negócios a resolver e foi até Nagaraka. Ele chamou Digha-Karayana e ordenou: “Apronte uma carruagem. Eu quero ir até um jardim para observar algum belo cenário.” Ele saiu da cidade e em uma grande procissão entrou no jardim acompanhado por muitos servos. Enquanto o rei passeava pelo bosque do jardim, ele viu um local isolado silencioso que era ideal para viver em solidão sob uma bela árvore. Ele pensou no Honrado pelo Mundo e imaginou que esse seria um bom local para afirmar sua devoção pelo Honrado pelo Mundo. “Digha-Karayana, estive pensando em afirmar minha devoção pelo Honrado pelo Mundo aqui sob esta bela árvore. Onde está o Honrado pelo Mundo agora?” “Senhor, o Honrado pelo Mundo está agora na vila de Medalumpa na terra dos Sakyas.” “Qual é a distância até este lugar?” “Senhor, não é muito longe. Como a distância é de apenas sete milhas ela pode ser alcançada até o por do sol.” “Se é assim, prepare uma carruagem e vamos visitar o Honrado pelo Mundo.” Assim, o rei deixou a cidade em uma bela carruagem e chegou a Medalumpa antes do por do sol. Eles seguiram até o monastério. Descendo da carruagem, ele seguiu a pé. Naquele momento havia muitos discípulos caminhando pela estrada. Aproximando-se deles ele disse que gostaria de encontrar o Honrado pelo Mundo e perguntou sobre seu paradeiro. “Senhor, o Honrado pelo Mundo está no quarto com a porta fechada. Aproxime-se em silêncio, limpe sua garganta levemente e acione o pino da porta. O Honrado pelo Mundo abrirá a porta.” O rei tirou sua espada, sua coroa e os outros cinco símbolos de sua realeza e seguiu adiante, deixando-os com Digha-Karayana, até onde os monges haviam informado. Ele bateu no pino da porta do quarto no qual o Honrado pelo Mundo se encontrava, e o Honrado pelo Mundo abriu a porta. CEBB

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(4) O rei entrou no quarto e levantou os pés do Honrado pelo Mundo até sua cabeça e os beijou e os esfregou com suas mãos. E assim ele se identificou: “Honrado pelo Mundo, eu sou Pasenadi, o rei de Kosala.” “Senhor, por que me cumprimenta tão cerimoniosamente?” “Honrado pelo Mundo, eu tenho verdadeira fé em você. O Honrado pelo Mundo é o verdadeiro Iluminado; o Darma é exposto corretamente por você; e a Sanga é o encontro das pessoas de boa prática. Honrado pelo Mundo, tendo me engajado nas práticas santas neste mundo por dez, vinte, trinta e quarenta anos, eu vi ascetas e brâmanes que esfregam óleos em seus corpos após tomarem banho e que se barbeiam e cortam seu cabelo e que chafurdam nos cinco desejos. Eu também vi os discípulos do Buda que, até o final de suas vidas, engajam-se nas práticas perfeitamente puras. Honrado pelo Mundo, eu não vi ninguém fora desta assembleia que se engajasse em tais práticas puras e perfeitas. Honrado pelo Mundo, esta é uma das razões pelas quais eu tenho fé em você, o Buda, o Darma e a Sanga. “Honrado pelo Mundo, eu vejo que neste mundo em que rei luta contra rei, kshatriya contra kshatriya, brâmane contra brâmane, chefe de família contra chefe de família, mãe contra filho, filho contra pai, irmãos e irmãs entre si e amigos entre si, apenas os discípulos desta assembleia possuem harmonia mútua. Assim como a água e o leite que se misturam, não há lutas entre eles, com olhos de compaixão eles olham para as coisas. Eu não pude encontrar um grupo com tamanha paz e harmonia como há nesta assembleia. Esta também é uma razão para minha fé verdadeira em você. “Honrado pelo Mundo, além disso, enquanto eu passeava pelo bosque do jardim, vi monges de outras crenças que estão emaciados, cuja cor do rosto era acinzentada, cujas veias saltavam para fora e que olhavam para os CEBB

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outros com olhos inquietos. Então eu pensei que ou essas pessoas não se alegravam ao engajarem-se nas práticas santas, ou que devido a alguma ação negativa elas se tornaram emaciadas para esconder essa ação e assim olham para as pessoas com olhos inquietos. Assim, eu fui até a morada dessas pessoas e lhes perguntei a razão. Elas disseram que estavam doentes. Mas aqui, Honrado pelo Mundo, eu vejo todos se alegrando com suas práticas e vivendo em humildade e respeito como cervos, com corações bondosos. Ao ver isto, pensei que estes seres verdadeiramente espirituais devem enxergar algo superior nos ensinamentos do Honrado pelo Mundo para viver desta forma. Esta também é outra razão para minha fé verdadeira em você.

(5) “Honrado pelo Mundo, eu sou um rei ungido da casta kshatriya e, assim, sou capaz de, se assim desejar, matar, deixar viver ou banir. Entretanto, eu não consigo que as pessoas deixem de me interromper durante um concílio. Mesmo se eu disser: ‘Esperem até eu terminar’, há aqueles que falam enquanto eu falo. Aqui, porém, em suas assembleias que contam centenas de pessoas, quando o Honrado pelo Mundo está expondo o Darma não há ninguém que se permita um espirro ou mesmo tosse. “Além disso, certa vez você estava discursando sobre o Darma a uma assembleia de centenas; um discípulo tossiu e outro o cutucou com seu joelho e lhe disse para ficar quieto, uma vez que o mestre estava ensinando. Eu acho que é maravilhoso que sem espada ou repressão possa ser conseguido decoro na assembleia. Honrado pelo Mundo, eu nunca pude encontrar outra assembleia além desta que consiga manter a ordem tão bem. Esta também é uma razão para minha fé verdadeira em você. “Honrado pelo Mundo, além disso, eu já vi alguns kshatriyas, inteligentes e habilidosos ao partir cabelos, que perambulam por aí CEBB

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destruindo os argumentos dos outros com sucesso. Ao ouvirem que o Honrado pelo Mundo havia parado em certo lugar, eles decidiram confrontálo e ir até onde você estava para debater. Eles fizeram seus planos para lhe propor questões e atacar suas respostas. Porém, à medida que se aproximaram do lugar onde você estava, o Honrado pelo Mundo proclamou o Darma e eles ficaram inspirados e se regozijaram. Devido ao poder do Darma eles não fizeram perguntas ou debateram, mas afirmaram que certamente se tornariam discípulos do Honrado pelo Mundo. Esta também é uma razão para minha fé verdadeira em você.

(6) “Honrado pelo Mundo, da mesma forma outras pessoas muito inteligentes vão até o Honrado pelo Mundo, recebem seus ensinamentos, alegram-se enormemente e pedem permissão para se tornar discípulos. Elas se retiram deste mundo e se engajam sinceramente nas práticas, e despertando para uma iluminação incomparável elas afirmam que não perderam nada por serem seres santos. Esta também é uma razão para minha fé verdadeira em você. “Honrado pelo Mundo, os dois comandantes Isidatta e Purana possuem minha confiança e conquistaram meu reconhecimento, mas eles não me honram da mesma forma que honram você. Eu verifiquei com os dois, eles estavam morando em uma casa cheia. Eles se engajaram em uma discussão sobre o Darma até o anoitecer, e então perguntaram onde estava o Honrado pelo Mundo e se deitaram com suas cabeças naquela direção e com os pés na minha direção. Eu achei isto bastante notável. Estes dois vivem de minha confiança e não me honram como honram o Honrado pelo Mundo. Eles viram algo nos ensinamentos do Honrado pelo Mundo que é especialmente superior. Esta também é uma razão para minha fé verdadeira em você. CEBB

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“Honrado pelo Mundo, tanto você quanto eu somos kshatriyas de Kosala, e ambos temos oitenta anos. Honrado pelo Mundo, portanto, eu presto a você os mais elevados respeitos do fundo do meu coração. Honrado pelo Mundo, agora irei me retirar.” Virando-se para a direita, ele partiu. Imediatamente depois que o rei partiu, o Honrado pelo Mundo chamou seus discípulos: “Discípulos, o Rei de Kosala, Pasenadi, construiu uma estupa do Darma. Discípulos, protejam esta estupa do Darma e estudem o ensinamento repetidamente e o transmitam. Discípulos, há muitos benefícios nesta estupa do Darma. É o verdadeiro início da prática.” Enquanto o Rei Pasenadi expressava sua verdadeira fé no Honrado pelo Mundo, Digha-Karayana tomou os cinco símbolos da realeza, voltou para Savatthi e estabeleceu o Príncipe Vidudabha como rei. Depois de deixar o Honrado pelo Mundo, o Rei Pasenadi soube do que acontecera e imediatamente compreendeu que seria perigoso retornar a Savatthi. Com uns poucos soldados para protegê-lo, ele foi para o sul, pensando em buscar refúgio com seu genro, o Rei Ajatasattu. Mas o velho rei não conseguiu realizar sua aspiração, pois ficou doente no caminho e partiu deste mundo.

5. A Queda de Kapilavatthu (1) Antes disto tudo, logo depois de o Honrado pelo Mundo viajar para Savatthi, o Rei Pasenadi, enquanto não estava próximo dos discípulos do Honrado pelo Mundo, pensou que poderia conquistar sua confiança casando com uma princesa do clã Sakya. Assim, ele enviou um mensageiro até Kapilavatthu para encontrar uma noiva. Ele também pensou que seria bom

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estabelecer parentesco com uma família que gozasse de prestígio. Seu mensageiro transmitiu este desejo ao povo de Kapilavatthu e os Sakyas se reuniram para discutir a proposta. Porém, mesmo ele sendo rei de um grande país, eles não poderiam permitir que uma mulher de seu clã casasse com alguém de status tão baixo. Por outro lado, se eles não atendessem o seu desejo, o rei poderia tentar realizar sua vontade pela força com um grande exército. Assim, eles lhe enviaram, ao invés de uma princesa autêntica, uma garota de sangue misto, uma filha do rico Mahanama e uma serva. Sob ordens do Rei Pasenadi, o mensageiro certificou-se de que a mulher e seu pai Mahanama desfrutavam o jantar juntos e ele foi para casa tranquilizado. Pouco depois, a rainha deu a luz a um príncipe que recebeu o nome Vidudabha. O rei o criou com amor; quando ele tinha oito anos foi enviado até Kapilavatthu para aprender a arte do arqueiro. Ele permaneceu na casa de seu avô, Mahanama. Naquele tempo, um novo salão do clã Sakya tinha sido construído, e o local estava decorado com faixas e ornamentos e foi arrumado com beleza para a oferenda de dedicação ao Honrado pelo Mundo que eles aguardavam. O príncipe e alguns amigos entraram no salão e começaram a brincar. Pessoas do clã Sakya se enraiveceram e o arrastaram pelo braço. Elas o repreenderam, dizendo: “Como ousa o filho de uma serva entrar em tal lugar sagrado.” Envergonhado de forma insuportável, seu jovem corpo queimava com raiva, e ele fez o voto de que quando se tornasse rei voltaria a Kapilavatthu e mataria todas as pessoas. O príncipe retornou a Savatthi e fez com que um brâmane recitasse este voto para ele três vezes por dia. Com sua raiva sempre renovada, ele aguardou o momento. Sabendo disso, o general Digha-Karayana esperava pelo dia da vingança.

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(2) Ao usurpar o trono, Vidudabha soube que o momento havia chegado. Ele reuniu seus seguidores e lhes perguntou: “Quem é agora o seu líder?” “É claro que é o grande rei.” “Se é assim, então reúnam quatro divisões das tropas. Estamos marchando para Kapilavatthu agora.” Conforme ordenado, quatro divisões foram reunidas e, seguidas pelo rei, avançaram para Kapilavatthu. Ao saberem disto, os discípulos ficaram chocados e foram contar ao Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo se levantou de seu assento e foi até uma árvore morta sem galhos ou folhas na estrada que levava a Kapilavatthu onde se sentou e esperou pelo Rei Vidudabha. Ao ver o Honrado pelo Mundo de trás de suas tropas mais avançadas, o rei desceu de sua carruagem e se aproximou dele. “Honrado pelo Mundo, as árvores do bosque nigrodha estão verdejantes com galhos e folhas e são muito numerosas, por que você se senta sob tal árvore morta?” “Senhor, a sombra de nossos parentes é a mais fresca.” Vidudabha entendeu a intenção do Honrado pelo Mundo, deu meia volta com seu exército e voltou para a cidade. Mas o brâmane que tinha a ordem de cantar o hino de vingança retomou sua missão três vezes por dia, o que renovou a raiva no coração do rei. Novamente o rei reuniu suas tropas e avançou em direção a Kapilavatthu. O Honrado pelo Mundo se sentou mais uma vez sob a mesma árvore. O rei, ao ver isto, retornou novamente com suas tropas. A mesma coisa aconteceu uma terceira vez. Mas no quarto avanço das tropas, o Honrado pelo Mundo, sabendo da impossibilidade de desfazer o carma passado do clã Sakya, permaneceu no templo e silenciosamente contemplou o Darma. O rei avançou com suas tropas e atacou Kapilavatthu.

(3) O povo de Kapilavatthu era hábil com o arco, e eles reagiram ao CEBB

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exército de Vidudabha com os arcos armados. Mas eles direcionaram as flechas para arranhar as orelhas dos inimigos ou acertarem seus coques, arcos ou cordas dos arcos. Isto frustrava as tropas que avançavam e diminuía seu poder militar, mas nenhuma vida foi tirada. Mesmo o corajoso e jovem Rei Vidudabha se atemorizou com a habilidade dos arqueiros e recuou com suas tropas. Mas mais tarde o hino do brâmane despertou sua intenção novamente, e ele também lhe deu encorajamento, dizendo: “O clã Sakya mantém os preceitos, e como eles não matarão mesmo um verme, você vencerá certamente. Se perder esta oportunidade, o clã Sakya nunca será destruído.” Ao ouvir isto ele ordenou o ataque. As forças Sakya recuaram para trás das muralhas da cidade e bloquearam com segurança os portões. O rei gritou de fora das muralhas, ameaçando matar todos se os portões não fossem abertos. Havia um jovem chamado Sama dos Sakyas que, ao ouvir que Vidudabha estava do lado de fora das muralhas, colocou sua armadura e tomou uma espada e foi para fora sozinho e desafiou o rei para lutar. Como um rei demônio raivoso, ele avançou e matou alguns soldados e se aproximou do rei. Encontrando a oposição de tal jovem feroz, o rei se voltou e correu. Um homem rico do clã Sakya ao ouvir sobre isto gritou: “Como ousa um simples jovem envergonhar o clã. Os Sakyas todos agem com bondade e não tiram a vida mesmo de um verme. Seria muito fácil repelir as forças de Vidudabha, mas isto significaria a morte de muitas pessoas. Nosso Buda nos ensinou a não matar. Ele não ensinou que o resultado de matar será a queda no inferno, ou mesmo se houver o renascimento como humano, a vida será de curta duração? Você quebrou a lei do clã, agora vá, suma daqui!” Incapaz de voltar para casa, Sama partiu.

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(4) Vidudabha veio mais uma vez até o portão da cidade e ordenou que o abrissem. Ele assegurou que se eles abrissem o portão não haveria luta. Porém, se não abrissem, ele derrubaria as muralhas, abriria o portão e mataria todo o clã. Os Sakyas não tinham a intenção de abrir o portão; porém, um Mara aparecendo como alguém do clã fez pressão para que o abrissem e finalmente foi permitido que Vidudabha entrasse. Ao entrar, Vidudabha reuniu os membros do clã Sakya e matou e torturou um grande número deles. Ele enterrou alguns vivos em um buraco e fez com que um grande elefante pisasse sobre eles. Ele pegou quinhentas belas donzelas e as tornou escravas. Então ele planejou matar o resto sem discriminar entre homens e mulheres ou jovens e velhos. O avô do Rei Vidudabha, Mahanama, era um seguidor do Honrado pelo Mundo. Ele foi até o rei e disse: “Por favor, ouça meu único pedido.” “Qual é o pedido?” “Por favor, permita que as pessoas da cidade escapem durante o curto tempo que levará para eu voltar à superfície do rio depois de ter entrado nele. Quando eu voltar à tona você pode continuar a matá-los.” Achando que permitir-lhes escapar por este curto tempo estava correto, ele deu a permissão. Mahanama se alegrou enormemente e nadou para o fundo do rio. Amarrando seu cabelo à raiz de uma árvore, ele teve uma morte nobre. Durante este tempo os Sakyas escaparam pelos portões nas quatro direções. Entretanto, já estando preparados para a morte, eles escaparam apenas por um curto tempo e logo retornaram para a cidade. Aqueles que saíram pelo portão norte retornaram pelo sul. Aqueles que saíram pelo portão leste retornaram pelo oeste. Mahanama já estava sob a água por um tempo tão longo que o rei investigou e descobriu a morte de seu avô. Ele se arrependeu de suas ações e permitiu que as pessoas restantes vivessem. Então planejou retornar com as CEBB

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quinhentas donzelas. Forçadas a se separar de seus pais e maridos, as mulheres Sakya decidiram que iriam se proteger deste tirano, e assim se recusaram a seguir suas ordens. Enraivecido, o rei lançou as mulheres em uma ravina, e com uma divisão entrou em sua cidade. Ao se aproximar do castelo ele ouviu uma música maravilhosa. O irmão do rei, Jeta, separado de seu pai e sabendo que seu irmão estava em uma batalha caíra em desespero. Ele pensou em se consolar com a música. Ele foi para os recessos do castelo e ali permaneceu. O rei se aproximou do quarto de seu irmão, matou o guarda que estava protegendo a entrada e entrou. “Por que você ficou aqui com esta garota desfrutando a música e não ajudou em nossa batalha?” “Eu não gosto de tirar a vida dos outros.” O rei se enraiveceu e bateu em seu irmão, o príncipe, e o matou. O povo cantou louvores sobre as virtudes do gentil Príncipe Jeta e entrou em luto pela sua morte.

Na terra filho de um rei, No céu filho de um deus, Tudo isto é resultado de boas ações. Nós honramos a virtude do Príncipe Jeta. A tristeza deste mundo e a tristeza de outro mundo: Quando o mal é cometido seguem-se resultados negativos. A felicidade deste mundo e a felicidade de outro mundo: Quando a bondade é realizada seguem-se bons resultados. Na terra filho de um rei, No céu filho de um deus, Tudo isto é resultado de boas ações. Nós honramos a virtude do Príncipe Jeta.

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(5) Quinhentas mulheres do clã Sakya tiveram as mãos e pés amarrados e foram jogadas em um buraco; com mente unifocada elas pensaram no Buda: “Desde que o Honrado pelo Mundo deixou nosso clã ele tem derramado sobre todos abaixo do céu a chuva do Darma. Estamos sofrendo agora. Por favor, estenda sua compaixão e nos salve.” O Honrado pelo Mundo, acompanhado por seus discípulos, apareceu naquela cena de tortura. As quinhentas mulheres viram o Honrado pelo Mundo e se encheram de alegria e de vergonha por estarem nuas. O deus Indra, seguidor do Honrado pelo Mundo, deu roupas a todas; o deus Vessavana lhes deu comida e aliviou sua fome. O Honrado pelo Mundo silenciosamente expôs o princípio de que aquilo que tem sucesso certamente enfraquecerá, e de que os vivos certamente morrerão. Por termos estes corpos, geramos os cinco desejos; como temos os cinco desejos, surge o apego. Sabendo disto, ele ensinou, devemos transcender o medo do nascimento, velhice, doença e morte. Devido a este ensinamento as mulheres foram capazes de se libertar da impureza e conquistaram o olho do Darma; elas receberam a morte alegremente, e todas renasceram no reino divino. O Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos, olhou para o portão leste, olhou para a grande fogueira crepitando no interior do castelo e disse:

Não há permanência em coisa alguma: As coisas estão destinadas a surgir e desaparecer. Quando se está livre de nascimento e morte Há a alegria da permanência.

Novamente o Honrado pelo Mundo entrou no bosque nigrodha, que uma vez foi o local de moradia para ele e para a Sanga, olhou para as CEBB

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mudanças que haviam acontecido com o tempo, ensinou seus discípulos e retornou para Savatthi. Naquela época, subitamente circulou o rumor de que o rei e seu exército morreriam em sete dias e cairiam no inferno. O rei foi até seus sacerdotes buscando conselho; por seis dias ele foi cuidadoso e nada aconteceu. Entretanto, no sétimo dia ele foi até o rio Aciravati para se divertir. Naquela noite ele dormiu às margens do rio. No meio da noite uma violenta tempestade caiu, e a vida do rei e de seus exércitos foram levadas. Seu palácio também foi atingido por relâmpagos e queimou até o chão.

(6) O Honrado pelo Mundo mais uma vez ensinou os discípulos sobre isto.

Quando alguém faz o mal com o corpo, a boca e a mente, Terá uma vida curta e sofrerá neste mundo E sofrerá naquele mundo. Em casa será queimado pelo fogo; Na água será afogado. Quando sua vida terminar será queimado pelos fogos do inferno.

O Honrado pelo Mundo também contou a seguinte história: “Discípulos, muito tempo atrás houve uma grande fome em Rajagaha. As pessoas pescavam os peixes do grande lago fora do castelo para sustentar suas vidas. Entre os peixes daquele lago havia dois chamados Corrente da Captura e Língua Dupla, que disseram: ‘Nós não cometemos ofensas e não fizemos nenhum mal às pessoas desta cidade, porém elas tomam nossas vidas e nos devoram. Vamos juntar nossas mentes e dissipar este amargor.’ Naquele tempo havia uma criança de cerca de oito anos na cidade. Ela CEBB

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mesma não tirava as vidas de qualquer peixe, mas quando as pessoas pegavam os peixes e os jogavam na margem, ela achava divertido vê-los se debatendo e pulando até a morte. Discípulos, a lei da originação dependente opera com uma certeza quase assustadora. O Rei Vidudabha era Corrente da Captura e foi seduzido pelo brâmane de língua dupla para dissipar seu amargor através do povo de Kapilavatthu. Desta maneira, amargor segue amargor e cava os sulcos da roda de nascimentos e mortes ainda mais fundo. Neste momento minha cabeça dói como se estivesse sendo esmagada por uma pesada pedra. Este também, é um amargor que não pode ser apagado.”

6. A Terra de Sukhavati (1) O Honrado pelo Mundo estava no Bosque Jeta no Monastério de Anathapindada. Um dia ele disse para Sariputra: “Sariputra, no oeste longínquo há uma terra chamada Sukhavati (Bem-Aventurada). Um Buda chamado Amitayus se encontra lá e está expondo agora o Darma. Os seres sencientes dessa terra não conhecem o sofrimento e passam todos os dias em bem-aventurança e assim, essa terra é chamada de Sukhavati (BemAventurada). “Sariputra, nessa terra há um lago feito de sete joias e ele está preenchido por água pura. O seu fundo está coberto com areia de ouro e dentro dele desabrocham lótus grandes como carruagens. As flores azuis apresentam um brilho azulado; as amarelas, um brilho amarelado; as vermelhas, um brilho avermelhado; e as brancas, um brilho branco. Uma fragrância maravilhosa permeia todo o ar do ambiente. Além disso, nas

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quatro direções daquele lago há escadas feitas de ouro, prata, lápis lazúli e cristal. Há mansões imponentes decoradas com muitos tipos de gemas. Instrumentos musicais celestiais são constantemente tocados. O chão é da cor dourada. Seis vezes durante a noite e o dia flores divinas brilhando com luz caem do céu. Cedo pela manhã os seres sencientes dessa terra enchem tigelas feitas de flores com outras flores, oferecem-nas a todos os budas de outras terras búdicas e retornam antes do café da manhã. E também, pássaros como gansos, pavões, papagaios, mynas, kalavinkas e jivamjivakas estão sempre cantando canções elegantes de virtude, força e ensinamento. As pessoas ouvem essas canções e se lembram do Buda, do Darma e da Sanga. Sariputra, esses pássaros não renasceram como resultado de ações prejudiciais. Nessa terra, mesmo as palavras ‘três destinos infelizes’ não existem. Todos aqueles pássaros transmitem o som do Darma; eles são criados magicamente pelo Buda como meios hábeis. “Uma brisa agradável sopra pelas árvores preciosas e os sons maravilhosos que ela cria quando toca as redes de contas brilhantes são como a sinfonia de cem mil instrumentos simultâneos. Aqueles que ouvem os sons novamente se lembram de forma natural do Buda, do Darma e da Sanga. Sariputra, essa terra búdica é decorada com disposições de qualidades excelentes como estas.

(2) “Sariputra, a duração da vida daquele Tathagata e das pessoas daquela terra é incomensurável; e por isso o Tathagata é denominado Amitayus (Vida Incomensurável). Desde que ele se tornou um Buda dez kalpas já se passaram. “Sariputra, a luz do Buda não encontra obstáculos para brilhar sobre todas as terras búdicas; e por isso o Tathagata é denominado Amitabha (Luz CEBB

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Incomensurável). Além disso, Sariputra, o número de discípulos e bodisatvas é extremamente elevado; não pode ser registrado pela contagem mundana. “Além do mais, os seres sencientes nascidos nessa terra estão todos em um estágio de não-retrocesso em seu progresso em direção à iluminação completa. Eles estão fadados a apenas um nascimento antes da iluminação. O seu número também é difícil de avaliar. Sariputra, as pessoas que ouvirem isto deveriam desejar renascer nessa terra, pois lá elas poderão se reunir a todos esses seres santos. Porém, Sariputra, não é possível nascer nessa terra a partir de virtudes mundanas menores. Se alguém focar o nome do Buda Amitayus por um, dois ou mesmo sete dias, com mente unidirecionada e sem se distrair ou se confundir, então, quando sua vida terminar, o Buda Amitayus, acompanhado por muitos seres santos, aparecerá diante dele. Sua mente não se afastará e ele será capaz de renascer nessa terra imediatamente. Sariputra, por ver este benefício, eu declaro que todos que ouvirem isto deveriam despertar a aspiração de renascer nessa terra.

(3)

“Sariputra,

assim

como

eu

estou

louvando

as

virtudes

incompreensíveis do Buda Amitayus, budas tão numerosos quanto as areias do rio Ganges nas dez direções, cada um em sua terra, louvam suas virtudes com vozes verdadeiras e dizem: ‘Vocês deveriam confiar neste Darma chamado Favor de Todos os Budas, que todos os budas protegem.’ “Sariputra, se uma pessoa confiar no nome e no ensinamento exposto pelo Buda Amitayus, ela receberá a proteção de todos os budas, e não retrocederá no caminho para a mais elevada iluminação. Portanto, Sariputra, você deveria confiar em minhas palavras e naquelas dos outros budas. Se alguém aspirar renascer naquela terra, seja no passado, no presente ou no futuro, ingressará no estágio de não-retrocesso em seu progresso em direção CEBB

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à mais elevada iluminação. “Sariputra, assim como eu estou louvando as virtudes inconcebíveis do Buda Amitayus, esses budas também louvam minhas virtudes. ‘Em um mundo sombrio tomado por visões pervertidas, com paixões desenfreadas, pessoas maculadas e de vidas curtas, o Buda Sakyamuni alcançou adequadamente a iluminação perfeita e expõe o Darma, tão difícil de acreditar, para todas as pessoas do mundo. Realmente ele faz o que é difícil de ser feito!’ Sariputra, de fato eu realizei o que é difícil de realizar neste mundo sombrio e alcancei a iluminação. Eu venho expondo o Darma que todas as pessoas acham difícil de acreditar. Eu venho expondo um Darma extremamente difícil.” Quando o Honrado pelo Mundo terminou a exposição deste ensinamento, todos os discípulos, começando por Sariputra, e todos os seres sencientes ali reunidos, regozijaram-se e confiaram no ensinamento que ouviram, e todos agradeceram.

(4) Ainda em outra ocasião, o Honrado pelo Mundo reuniu seus discípulos e lhes ensinou sobre as características dominantes dos discípulos que o haviam seguido até aquele momento. “Discípulos, entre meus discípulos Anna Kondanna é o mais antigo; Sariputra sobressai-se em sabedoria; Moggallana nos poderes sobrenaturais; Maha-Kassapa na observação dos preceitos estritos; e Anuruddha na visão divina. “O mais elevado em nobreza é Bhaddiya, filho de Kaligodha; possuidor da mais bela voz é Lakuntaka-Bhaddiya; o melhor no debate é PindolaBharadvaja; o melhor na exposição do Darma é Punna, filho de Matani; o melhor na elucidação de algo que foi apenas brevemente tratado é MahaKaccana. O melhor em se disfarçar com habilidade é Culla-Panthaka; o CEBB

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melhor em liberar sua mente com habilidade também é Culla-Panthaka. O melhor em liberar seu pensamento é Maha-Panthaka; o melhor em viver sem conflitos é Subhuti; o mais digno de oferendas também é Subhuti. O mais capaz de viver em uma floresta é Revata Khadiravaniya; o melhor em meditação é Kankha-Revata; o melhor no esforço é Sona Kolivisa; o melhor com belas palavras é Sona Kutikanna; com os melhores ganhos é Sivali; e com a fé mais forte é Vakkali. “Discípulos, aquele com o maior desejo de estudar é Rahula; o primeiro a se tornar um mendicante devido a sua fé foi Ratthapala; o mais afortunado para vencer sorteios é Kundadhana; o primeiro na poesia é Vangisa; o mais bem recebido pelas pessoas é Upasena, filho de Vanganta; o mais habilidoso no cuidado dos tapetes é Dabba Malla-putta; o mais amado e reverenciado pelos deuses é Pilindavaccha; o mais rápido em absorver a essência de qualquer assunto é Bahiya-Daruciriya; a exposição do Darma mais bela é a de Kumara-Kassapa; e o mais inteligente é Mahakotthita. “Discípulos, aquele que ouviu mais do que todos é Ananda; aquele com a melhor memória também é Ananda; aquele com a melhor sabedoria de compreensão também é Ananda; o mais esforçado também é Ananda; e o que melhor serve também é Ananda. O melhor em controlar grandes multidões é Uruvela-Kassapa; o melhor em deixar as famílias felizes é Kal-Udayin; o que menos tem doenças é Bakkula; a melhor memória de vidas passadas é de Sobhita; o mais firme na observação dos preceitos é Upali; o melhor no aconselhamento das monjas é Nandaka; o melhor no controle dos cinco sentidos é Nanda; o melhor no aconselhamento dos discípulos é MahaKappina; o mais hábil em entrar na meditação do fogo é Sagata; o melhor em pedir ao Buda para expor o Darma é Radha; e o que fica mais completamente satisfeito com mantos grosseiros é Mogharaja. CEBB

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(5) “Discípulos, entre as monjas, a mais antiga no Darma é MahaPajapati Gotami; a de sabedoria mais elevada é Khema; a de poderes sobrenaturais mais elevados é Uppalavanna; a melhor em recordar e observar os preceitos é Patacara; a melhor na exposição do Darma é Dhammadinna; a melhor na meditação é Nanda; a que mais se esforça é Sona; a mais avançada na visão divina é Sakula; a mais avançada entre aqueles que possuem a sabedoria mais instantânea é Bhadda Kundalakesa; a melhor memória de vidas passadas é a de Bhadda-Kapilani; a que se satisfaz mais completamente com mantos grosseiros é Kisa Gotami; e possuidora da maior fé é Singalakamata. “Discípulos, entre meus seguidores leigos, os primeiros a tomarem refúgio foram Tapussa e Bhallika; aquele que mais ofereceu foi Sudatta, o ancião Anathapindika; o mais habilidoso na exposição do Darma é Citta, o ancião de Macchikasanda; sobressaindo-se nos quatro tipos de conduta benevolente está Hatthaka, o ancião de Alavi; o melhor na oferenda de comidas deliciosas é Mahanama do clã Sakya; o melhor na oferenda de alimentos que são desejados é Ugga, o ancião de Vesali; o melhor em servir a Sanga é Uggata; o mais feliz com uma mente fortemente fiel é SuraAmbattha; o mais bem recebido pelas pessoas é o médico Jivaka; e o mais sincero é o pai de Nakula. “Discípulos, entre minhas seguidoras leigas, a primeira a tomar refúgio foi Sujata, a filha de Senani; aquela que é mais generosa é Visakha, a mãe de Migara; aquela que mais ouviu é Uttara, a corcunda; aquela que oferece a comida mais deliciosa é Suppavasa, a filha de Koliyan; a melhor na enfermagem é Suppiya; a fé mais forte é a de Katiyani; a mais sincera é a mãe de Nakula; a primeira em despertar a fé ao ouvir as virtudes dos Três CEBB

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Tesouros é Kali de Kurara-ghara.”

FIM DO LIVRO VII

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LIVRO VIII Introdução

Agora o Buda está com oitenta anos e faz sua última viagem a Rajagriha. As passagens selecionadas do Capítulo I apresentam uma visão final de como o Buda tratava uma variedade de pessoas que vinham até ele buscando orientação. Em primeiro lugar, Ajatasatru envia Varsakara, seu primeiro-ministro, para pedir conselhos em relação ao ataque planejado aos Vrjis (P: Vajjis). Ao invés de condenar imediatamente a intenção do rei, o Buda pacientemente explica como os Vrjis estavam bem preparados para qualquer emergência, como eles respeitavam suas leis e como eles procuravam manter a harmonia entre o seu povo. Assim, ao instruir Varsakara não apenas sobre os sete princípios da prosperidade para um país, mas também sobre os sete princípios para o bem-estar de todos os povos, o Buda convenceu o primeiro-ministro que seria inútil se o rei entrasse em guerra com os Vrjis. Em seguida o Buda visita Pataliputra (Patna) com seus discípulos e, descansando em um bosque de bambus, ele relembra os discípulos das Quatro Nobres Verdades. Então, depois de se dirigir ao povo de Pataliputra explicando o Darma, ele deu instruções a diversas pessoas nas vilas onde descansou ao longo do caminho para a cidade de Vaisali, onde uma cortesã CEBB

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chamada Amrapali solicitou um discurso sobre os ensinamentos do Buda. Naquela ocasião, ele também instruiu os Licchavis, que tinham seu quartelgeneral em Vaisali e eram uma facção poderosa da Confederação de Vrji. Ao norte de uma vila próxima a Vaisali, o Buda expôs o Darma a um brâmane que veio vê-lo. Naquele período a vila estava sofrendo por uma colheita mal sucedida, e assim o Buda aconselhou os discípulos a retornarem a Vaisali de forma que pudessem encontrar alimento e proteção durante a estação chuvosa. Isto proporciona um vislumbre das dificuldades que o Buda e seus discípulos devem ter experimentado como mendicantes, assim como o cuidado compassivo e a compreensão que o Buda demonstrava para todos com igualdade, mesmo sob várias condições e circunstâncias. O Capítulo 1, Seção 4, descreve o encontro final entre Sariputra, um líder dos discípulos, e o Buda. Sariputra retorna ao seu local de nascimento em Nalanda (que mais tarde se tornou o local do famoso centro mundial de estudos budistas) e morre na casa de sua mãe. O Buda construiu uma estupa em sua honra. Pouco tempo depois, Maudgalyayana (P: Moggallana), outro grande discípulo do Buda, foi atacado por oponentes invejosos do Buda e morreu devido aos ferimentos. O Buda também construiu uma estupa e declarou aos seus discípulos que a morte dos dois nobres líderes era uma grande perda para a sanga. O Capítulo 2 introduz o conceito Mahayana sobre os três corpos do Buda: o Corpo da Transformação (Nirmanakaya), o Corpo do Deleite (Sambhogakaya) e o Corpo do Darma (Darmakaya). Nos estágios iniciais do budismo, Gotama Buda era simplesmente considerado um ser humano superior que atingiu a sabedoria perfeita durante sua vida, mas mais adiante a ideia de um Buda sobre-humano e transcendente foi desenvolvida. Assim, o Buda é visto como um Corpo de Transformação, que permite sua CEBB

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manifestação como ser humano, como Sakyamuni, que morreu aos oitenta anos depois de disseminar sua doutrina. O Corpo do Deleite também é chamado de Corpo da Recompensa, ou Corpo da Retribuição, porque ele é uma recompensa por sustentar seus votos e práticas que levaram ao estabelecimento de uma terra búdica, tal como a Terra Pura do Buda Amitayus-Amitabha (Amitayus significa vida incomensurável e Amitabha significa luz ilimitada, ou sabedoria). O Corpo do Darma é o mais elevado, ou fundamental, que compreende todos os outros. Ele é a essência da sabedoria e da compaixão, a realidade absoluta, a natureza de Buda que está além do tempo e do espaço. O Mahayana também está permeado pelas várias crenças e práticas tradicionais que se desenvolveram em várias partes do mundo religioso. Assim, Amitayus e Amitabha, por exemplo, não são considerados uma entidade única no Tibete e no Nepal, mas como budas separados ou bodisatvas com diferentes funções ou atributos. Na China e no Japão a crença em Amitayus e Amitabha se baseia no Sutra Sukhavativyuha, do qual podemos encontrar algumas passagens no Livro VI, descrevendo a história do Bodisatva Dharmakara, que estabeleceu uma terra búdica para todos os seres que aspiram à iluminação completa. Quando os leitores ficarem confusos ou perplexos com esses conceitos metafísicos do Mahayana, eles deveriam manter firmemente em suas mentes as Quatro Nobres Verdades e a doutrina do Caminho do Meio expressada pela primeira vez pelo Buda no Parque dos Cervos para seus cinco primeiros discípulos. Esse ensinamento foi reiterado muitas vezes neste livro de passagens selecionadas, mas ele aparece pela primeira vez no Livro I, Capítulo 3, Seção 1. O Buda ensina a impermanência de todas as coisas da vida, incluindo a identidade pessoal; nós sofremos porque desejamos e nos CEBB

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apegamos às coisas e condições que se alteram. O Nobre Caminho Óctuplo da conduta moral nos mantém focados nessa verdade. Independente de como as diferentes escolas e seitas do budismo expressam sua visão sobre o Budadarma, todas se baseiam nas Quatro Nobres Verdades. No Livro VIII, Capítulo 3, Kasyapa pergunta ao Buda por que ele retorna às Quatro Nobres Verdades (na Seção 4) depois de ter discursado ao longo dos anos sobre uma variedade de virtudes e práticas. O Buda explica que o caminho é único, mas que ele expôs o Darma de formas diferentes de acordo com a capacidade dos ouvintes, ou com as circunstâncias ou condições no momento de seu discurso. O Capítulo 4 mergulha no profundo conceito da natureza búdica. Ela é expressa de muitas formas: como a grande bondade amorosa e a grande compaixão inerente a todos os seres; como a mente da grande fé, como o estado de grande alegria e emancipação, como o próprio Buda. Visto que todos os seres possuem a natureza búdica, todos alcançarão a iluminação eliminando os obscurecimentos que ocultam suas naturezas. Significa simplesmente conquistar o insight da verdadeira natureza da realidade. Ananda serviu o Buda por mais de 20 anos, e sente profundo pesar com a notícia de que o maior dos professores está prestes a ingressar no parinirvana estando deitado entre duas árvores sala em um bosque perto de Kusinara. O Buda louva Ananda e pacientemente o consola dizendo que o Darma que ele ensinou a Ananda e aos outros irá guiá-lo depois que ele se for, e que ele deve praticar diligentemente os preceitos para ajudar os outros a cultivarem os ensinamentos da mesma forma. Antes de o Buda morrer aos oitenta anos, um mendicante muito velho chamado Subhadra (P: Subhadda) se torna o último discípulo do Buda, pois ele acredita que o surgimento de um buda é tão raro quanto o desabrochar da CEBB

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árvore udumbara. Na Índia antiga se acreditava que a flor da udumbara (ficus racemosa) desabrocha apenas uma vez a cada 3000 anos, mas na verdade o fruto desta planta, como o figo, contém a flor internamente, de forma que ela não é visível. Assim, não é de se espantar que ninguém afirme ter visto sua flor desabrochar. Nos últimos milhares de anos nunca houve outro professor espiritual tão completamente desperto, com tal magnetismo carismático, que levasse pessoas de todos os níveis sociais e intelectuais a buscarem orientação com ele. Entre todos os grandes líderes religiosos do mundo, apenas o Buda baseou sistematicamente seu ensinamento em uma análise racional do problema

da

vida

e

conduziu

outros

pensadores

e

seguidores

contemporâneos a se afastarem de noções e práticas supersticiosas, ou da crença singular em um poder divino que é capaz de intervir na vida e nos assuntos do mundo. Ele não era apenas um gênio intelectual dos mais elevados, mas também era supremamente compassivo e acolhedor. Os contos Jataka, que têm o propósito de relatar as vidas passadas do Buda, mostram a elevada estima que seus seguidores tinham pelo Buda, pois suas histórias descrevem invariavelmente seu interesse completo por todos que sofrem e seus sacrifícios extremos para aliviá-los de situações dolorosas ou desprotegidas. Podemos nunca encontrar tal brilhante professor espiritual, mas possuímos os ensinamentos que foram transmitidos oralmente por seus discípulos diretos e, finalmente, registrados por escrito muito tempo depois de sua morte.

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LIVRO VIII Capítulo I - A PROFECIA DA GRANDE PASSAGEM DO BUDA

1. Os Sete Princípios do Bem-Estar (1) Tendo chegado aos oitenta anos, o Buda retornou a Rajagriha e permaneceu no Pico dos Abutres. Naquele tempo, o rei de Magadha, Ajatasatru, desejava conquistar a República Vrji, e por isso disse ao seu ministro Varsakara: “Ó Varsakara, o Honrado pelo Mundo não está muito longe daqui. Faça uma visita a ele e solicite sua instrução em meu nome. Ouça atentamente tudo o que o Honrado pelo Mundo lhe ensinar e repita para mim. O Buda não diz nada que seja falso.” Seguindo as palavras do rei, Varsakara entrou em uma carruagem e foi até o Pico dos Abutres para ver o Buda. Ao chegar, ele disse: “Em nome do rei de Magadha, Ajatasatru, eu me curvo em adoração aos seus pés e pergunto como o Honrado pelo Mundo está passando e se ele está livre de doenças e está satisfeito com a comida e a bebida diárias.” O Buda respondeu: “Eu estou muito bem, ó Varsakara.” E lhe perguntou em retorno: “O seu rei e o seu povo estão em paz? Os preços das coisas são justos?” Varsakara respondeu: “Devido à compaixão do Honrado pelo Mundo, tanto o rei quanto seu povo são afortunados, de forma que a vida é harmoniosa,

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vento e chuva são adequados e todo o país prospera e floresce.” Depois desta troca de cumprimentos, Varsakara disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, Ajatasatru, o rei de Magadha, sempre esteve ansioso por atacar a República Vrji. O que você pensa de tal campanha? Posso solicitar, em nome de meu rei, o seu conselho?” Então o Buda se dirigiu a Varsakara e disse: “Ó Varsakara, certa vez, quando eu estava no Santuário Capala em Vaisali, os anciãos daquele país me visitaram e me disseram que, uma vez que o rei de Magadha desejava invadir seu país, eles estavam vigilantes e atentos para uma invasão. Eu ensinei aos anciãos de Vrji, eu me lembro, que enquanto eles mantivessem sete princípios firmemente no governo de sua república, eles não precisariam temer. Seu país nunca seria destruído por Ajatasatru. E como eles são firmes nestes princípios hoje, não seria possível para ninguém destruir seu país.” “Honrado pelo Mundo, por favor, seja bondoso e descreva esses sete princípios”, implorou Varsakara.

(2) Naquele momento, Ananda estava em pé atrás do Buda, abanandoo. O Buda olhou para trás e lhe disse: “Ó Ananda, você ouviu dizer que os Vrjis estão organizando assembleias públicas frequentes para discutir os assuntos do estado e que sempre estão preparados para qualquer emergência?” “Assim eu ouvi, ó Honrado pelo Mundo”, respondeu Ananda. Então o Buda, da mesma maneira, continuou perguntando a Ananda: “Então você ouviu, Ananda, que os Vrjis, elevados ou humildes, encontram-se em harmonia e discutem em harmonia assuntos do estado; que eles respeitam as leis antigas, sem anular qualquer coisa indevidamente, e sustentam a propriedade e o respeito; que eles reconhecem as distinções naturais entre homem e mulher e a clara ordem entre os jovens e os velhos; que eles honram CEBB

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e servem seus pais e são obedientes aos seus professores; que eles reverenciam seus antigos santuários e não permitem o abandono dos ritos; que eles estimam e respeitam princípios morais e virtudes, e proporcionam aos arhats que entram em seu país vindos de longe roupas, alimento e bebida, tapetes, remédios e diversas coisas, e os servem bem? Assim, você ouviu, ó Ananda, que eles mantêm completamente todos esses princípios sem negligenciar nada?” “Honrado pelo Mundo, assim eu ouvi”, respondeu Ananda da mesma forma. Então o Honrado pelo Mundo se dirigiu a Varsakara e disse: “Como os Vrjis mantêm completamente todos esses princípios e não negligenciam coisa alguma, não podemos esperar seu declínio. Se o governante de um país estima e mantém esses princípios firmemente, mesmo todos os exércitos do mundo, atacando de uma vez, serão incapazes de destruir esse país.” Ao ouvir isto, Varsakara disse: “Ó Honrado pelo Mundo, os Vrjis não podem ser vencidos pelo rei de Magadha ao praticarem qualquer um desses princípios de prosperidade, e o que dizer quando praticam todos os sete!” Com a devida reverência e deleite em seu coração, Varsakara partiu para reportar ao seu rei o que havia aprendido, e conseguiu persuadi-lo a abandonar a ideia de guerra.

(3) Logo depois da partida de Varsakara, o Honrado pelo Mundo chamou Ananda para reunir no salão de palestras todos os discípulos que estavam morando nas cercanias de Rajagriha. Sentando-se diante de todos os discípulos que se reuniam no salão, o Honrado pelo Mundo disse: “Meus discípulos, irei ensinar-lhes os sete princípios do bem-estar. Ouçam atentamente e mantenham-nos firmemente em suas mentes. Ó discípulos, reúnam-se em assembleias frequentemente para discutir o Darma, e assim o CEBB

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Darma não declinará, mas sim prosperará por um longo tempo. Discípulos, permaneçam, jovens e velhos, em harmonia, respeitem uns aos outros e se afastem das disputas, reverenciem o Darma e obedeçam aos preceitos, sem eliminar nada indevidamente. Ó discípulos, quer jovens ou velhos, anciãos ou noviços, sejam corteses uns com os outros adequadamente e com respeito em seus corações; purifiquem sua conduta; habitem em isolamento, deixem os outros serem os primeiros e venham depois em disputas de sequências; sejam compassivos e tenham grande generosidade por aqueles que buscam ajuda, atendam com cuidado os doentes, e o Darma não declinará, mas prosperará por um longo tempo. “Ó discípulos, também há outros sete princípios de bem-estar que garantem que o Darma não declinará, mas sim florescerá. Mantenham pureza de coração e não se envolvam com assuntos mundanos; mantenham-se livres da avareza e não se tornem gananciosos; pratiquem a virtude da paciência e não se envolvam em disputas; sustentem o silêncio e não se entreguem à conversa vazia; sigam as regras e não sejam arrogantes; concentrem-se em uma coisa e não dividam sua atenção com outras coisas; sejam frugais e afastem-se da falta de moderação com relação a comida e roupas; assim o Darma não declinará.

(4) “Ó discípulos, sejam compassivos com todos os seres vivos. Ao encontrarem um homem morrendo, tenham piedade dele, pois nem aquele que encara a morte nem os outros que estão em luto sabem coisa alguma sobre o destino para o qual a morte conduz. Apenas aquele que compreende o ensinamento do Buda sabe, e é para este fim que o Buda ensina o Darma. Ó discípulos, vocês têm que aprender o Darma e praticar o caminho. Existem muitos caminhos neste mundo, e o caminho do rei é grandioso, porém o CEBB

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caminho do Buda é ainda maior. “Ó discípulos, na prática do caminho do Buda, quando encontrarem companheiros que o realizaram, vocês não deveriam se entristecer com a sua situação, por não terem consumado o caminho. Quando muitas pessoas aprendem a arte do arco, algumas delas aprendem a acertar o alvo rapidamente, enquanto outras só conseguem mais tarde. Mesmo que o tempo necessário para o aprendizado de sucesso possa ser mais longo, se a pessoa continuar a praticar ela será capaz de acertar o alvo mais cedo ou mais tarde. E também, assim como a água que flui através de uma ravina estreita logo encontrará um vale mais amplo, e depois um grande rio, e finalmente o grande oceano, qualquer um que continuar a praticar com diligência será capaz, no final, de atingir a iluminação.” Ao ouvirem o Buda, os discípulos se regozijaram enormemente com seu ensinamento.

2. O Espelho da Verdade (1) Agora o Honrado pelo Mundo estava consciente da aproximação do momento de sua morte; ele chamou Ananda e disse: “Venha, Ananda, vamos até Pataliputra.” Juntando seus mantos e tigela de mendicância, Ananda o seguiu com os outros discípulos e partiu de Rajagriha para Pataliputra na direção norte. Ao passarem pela vila de Venuyastika, o Buda descansou em um bosque de bambus e disse aos seus discípulos: “Ó discípulos, qualquer um que deseje praticar o caminho deve conhecer as Quatro Nobres Verdades. Como as pessoas não compreendem esta doutrina, elas se desviam para os

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reinos da delusão e vagueiam infinitamente pelo caminho que as esgota. Ó discípulos, as Quatro Nobres Verdades são a verdade do sofrimento, a causa do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho para a cessação do sofrimento. Sofrimento é o nascimento, a velhice, a doença e a morte, e também a separação daqueles que amamos, o contato com quem odiamos, e não

conseguir

o

que

desejamos.

O

sofrimento

é

causado

pelos

obscurecimentos mentais, eles são a causa. A aniquilação deste composto causal é a cessação, e aquilo que leva à cessação é o caminho. Ó discípulos, se vocês compreenderem o sofrimento e aniquilarem sua base causal serão pessoas que desenvolveram o insight. Vocês estarão livres da delusão e não mais serão suscetíveis a caírem num estado de sofrimento. Ó discípulos, portanto, direcionem suas mentes para compreender esta doutrina. Afastemse da avareza, não disputem com o mundo e se comprometam a não matar, não roubar, e não cometer adultério. Também não mintam nem caluniem, e afastem-se de bajulação e elogios superficiais, do ódio e do abuso, do ciúme e da raiva, da tolice e da dúvida. Sempre tenham em mente que o corpo é impermanente e impuro, e está fadado a terminar retornando ao pó. Todos os budas do passado encontraram e expuseram esta verdade; todos os budas do futuro também encontrarão e transmitirão esta verdade. “Ó discípulos, aqueles que desfrutam da vida em família, que buscam amor e emoções, e que anseiam pela fama mundana não serão capazes de realizar o caminho para a iluminação. Ninguém encontra alegria neste caminho com uma mente que se delicia com os assuntos do mundo. O caminho para a iluminação surge da mente, e quando a mente se torna pura, é certo que o caminho será realizado. Agora o Tathagata se libertou da delusão e abriu o caminho correto para o benefício do mundo. Se vocês desejam evitar os destinos negativos, devem se concentrar em sustentar o CEBB

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Darma e os preceitos firmemente. Ao praticarem os preceitos morais vocês serão capazes de avançar para a concentração meditativa; ao praticarem concentração meditativa vocês serão capazes de avançar até o insight. Ao aprofundarem o insight suas mentes realizarão a pureza absoluta. Ó discípulos, estejam firmemente atentos a este ensinamento.”

(2) O Honrado pelo Mundo pernoitou nessa vila, e Sariputra veio até o local onde ele se encontrava. Ele saudou-o respeitosamente e depois disse: “Ó Honrado pelo Mundo, eu acredito firmemente que nunca houve, nem haverá uma pessoa mais elevada e que possua insight mais profundo da verdade que você.” O Honrado pelo Mundo disse: “Como você sabe que isto é verdade?” “Ó Honrado pelo Mundo”, respondeu Sariputra, “apesar de não conhecer em detalhes os três mundos do passado, do futuro e do presente, com a sua orientação eu pude conhecer o Darma. Ó Honrado pelo Mundo, com o seu insight ilimitado você conhece os mundos do presente, do passado e do futuro. O Honrado pelo Mundo é o mais elevado, totalmente livre de todas as paixões e dotado de todas as virtudes excelentes.” Então o Buda prosseguiu em seu caminho da vila de Venuyastika até Nalanda, e seguiu em direção a Pataliputra. Ao chegar, o Buda se sentou sob uma árvore do lado de fora dos portões de Pataliputra. A cidade se localizava às margens do rio Ganges na fronteira do território de Magadha, de frente para o país vizinho do outro lado do rio. O povo de Pataliputra ouviu sobre sua chegada e veio até o lugar onde ele descansava sob a árvore. Reconhecendo a figura augusta do Buda à distância, eles rapidamente se aproximaram dele com alegria, e depois de cumprimentá-lo curvando-se aos seus pés, sentaram-se ao seu lado. Então, o Buda expôs o Darma para eles. Depois de ouvirem o Darma, os homens da CEBB

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cidade lhe disseram: “Tomaremos humildemente refúgio nos Três Tesouros, no Buda, no Darma e na Sanga. Por favor, por compaixão, aceite-nos como seus seguidores. De agora em diante nos absteremos de matar, roubar, cair em prazeres sensoriais, mentir e de nos intoxicar.” O Buda expressou seu consentimento através do silêncio. O povo da cidade desejava fazer oferendas ao Buda e aos seus discípulos. Com seu consentimento eles esvaziaram o salão público, lavaram-no com água, perfumaram-no com incenso e colocaram tapetes sobre o chão. O Buda e seus discípulos chegaram no dia seguinte e, depois de lavar suas mãos e pés, entraram no salão. O Buda se sentou perto do pilar central de frente para o leste, os discípulos se sentaram atrás dele, enquanto que os homens da cidade tomaram seus assentos de frente para o Buda. O Buda se dirigiu aos homens da cidade, dizendo: “Cinco aspectos possui a perda que resulta da busca da ganância e de uma mente sem restrições. Em primeiro lugar, um homem ganancioso perde sua fortuna todos os dias; segundo, ele não é respeitado; terceiro, ele se arrepende no momento da morte; quarto, sua má reputação se espalha por todos os lugares; por último, mesmo depois da morte ele renascerá em algum reino infeliz de sofrimento. Porém, se a mente for restringida de forma que não perca o controle seu benefício terá cinco aspectos. Em primeiro lugar, sua riqueza aumentará a cada dia; segundo, ele será respeitado em todos os lugares; terceiro, ele não terá arrependimento no momento da morte; quarto, sua boa reputação se espalhará por todos os lugares; e por último, após sua morte ele renascerá em um reino de felicidade.” Quando o Buda completou seu ensinamento a noite já estava avançada. “Agora vocês devem fazer o que acharem mais adequado”, ele disse, dispensando os homens da cidade. Então o Buda retornou ao bosque com os seus discípulos. CEBB

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O Buda perguntou a Ananda: “Ananda, quem construiu a fortaleza de Pataliputra?” “Ó Honrado pelo Mundo, foi o ministro de Magadha, Varsakara, junto com outro ministro, Sunidha, que construíram a fortaleza sob ordens de Ajatasatru para impedir uma invasão de Vrji”, respondeu Ananda. Então o Buda disse: “Realmente, Varsakara é sábio. Esta cidade se tornará o mais florescente centro para pessoas de sabedoria, assim como para aqueles envolvidos com comércio e negócios de todos os tipos em dias futuros. Mas três perigos ameaçarão Pataliputra no futuro remoto: o perigo do fogo, das inundações e de rebelião dentro das muralhas da cidade, resultando em sua destruição.”

(4) Varsakara ouviu sobre a chegada do Buda e de seus discípulos e veio até o Buda com seus servos. Depois de cumprimentá-lo, ele se sentou respeitosamente ao seu lado. Então, o Buda lhe deu ensinamentos e, ao final, enlevado pelo ensinamento, Varsakara disse: “Possa o Honrado pelo Mundo nos dar a honra de fazer sua refeição na companhia de seus discípulos em minha casa amanhã.” O Buda expressou seu consentimento. Varsakara voltou para casa e a limpou durante a noite, preparou as refeições e, depois de esperar pela manhã, comunicou ao Buda: “A hora para a refeição chegou, ó Honrado pelo Mundo, tudo está pronto.” Então o Buda entrou na casa na companhia de seus discípulos. Depois da refeição o Buda ensinou: “Que o homem prudente possa reverenciar aqueles que são dignos de reverência; que ele apoie aqueles que são dignos de apoio; que ele ofereça esmolas amplamente e ame os outros; que ele sempre deseje ouvir o Darma. Ó Varsakara, que aqueles que estão na posição de governantes não sejam gananciosos ou raivosos. Eles não deveriam ser opressores ou indulgentes. Se você agir evitando essas ações negativas, você não se arrependerá, e após a CEBB

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morte estará livre do sofrimento. Ó Varsakara, pratique desta forma.” Assim, Varsakara respeitosamente seguiu sua instrução. O Buda partiu da casa de Varsakara e seguiu até o rio Ganges através do portão oriental das muralhas da cidade. Mas o rio estava cheio e transbordando. Os viajantes lutavam entre si para subir na balsa. Então, tão rapidamente quanto um homem forte estica seu braço que estava dobrado, o Buda desapareceu daquele lado do rio e apareceu em pé na outra margem acompanhado por seus discípulos. O Buda, então, disse: “Os budas são marinheiros que cruzam o oceano do sofrimento a bordo do Darma, e agora ajudam as pessoas a cruzarem para a outra margem da iluminação.” Varsakara assistiu à partida do Buda e nomeou o portão pelo qual ele saiu de Portão de Gautama, e o local na margem do rio onde ele atravessou como Balsa de Gautama.

(5) O Buda prosseguiu para Kutigramaka. Ao entrar na vila, ele parou em um bosque e disse aos seus discípulos: “Ó discípulos, observem estritamente os nobres preceitos, a concentração mental e o insight, e através deles alcancem a emancipação. Este Darma é extremamente sutil e difícil de compreender. Como as pessoas não sabem disto, elas seguem vivendo em um ciclo infinito de delusão e sofrimento. Ó discípulos, esforcem-se nas práticas dos nobres preceitos e purifiquem a mente descobrindo sua natureza. Sem disputar com o mundo, concentrem-se em seu bem-estar espiritual e reflitam sobre sua natureza interior. Ao fazerem isso, suas mentes se tornarão claras e serão eliminados os três obscurecimentos da cobiça, do ódio e da ignorância, e como consequência o caminho será realizado; a mente não mais estará descontrolada, nem precisará de qualquer restrição. Ó discípulos, assim como o rei é o senhor de seu povo, a mente é o senhor de todas as coisas, vocês CEBB

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deveriam sempre estar atentos a isso.”

(6) O Buda partiu de Kutigramaka, entrou na vila de Nadakantha e descansou sob uma árvore à beira do rio. Naquele tempo houve uma epidemia que se espalhou naquela área e muitas pessoas morreram. O discípulo Salhri, a monja Nanda, o leigo Kalinga, Bhadra, Subhadra e outros, e a leiga Sujata estavam entre os mortos, e seus parentes vieram perguntar a Ananda quais eram os destinos dos mortos. Ananda transmitiu essas questões ao Buda. O Buda respondeu: “Ó Ananda, Salhri se tornou um Arhat ainda neste mundo. Os cinquenta seguidores leigos, Nanda, Kalinga, Bhadra, Subhadra e outros renasceram no céu e atingiram a iluminação. Sudatta e outros noventa seguidores renascerão mais uma vez neste mundo para exaurir as causas cármicas do sofrimento. Sujata, além de outros quinhentos, destruirá completamente os obscurecimentos em sete renascimentos e se libertará de todas as paixões, alcançando a iluminação. Ó Ananda, é natural que quando houver nascimento a morte se seguirá. Entretanto, é cansativo para o Buda sempre que uma morte acontece que as pessoas lhe perguntem sobre o destino da pessoa morta. Portanto, vou lhe mostrar através do Espelho da Verdade os reinos em que meus discípulos renascerão. Ó Ananda, se qualquer um de meus discípulos possuir uma fé firme no Buda, no Darma e na Sanga, será capaz de se libertar das paixões maldosas. Mesmo que ele alterne entre reinos celestiais ou humanos, antes de sete renascimentos superará o estado de sofrimento. Assim, as pessoas estão em delusão devido à sua ignorância, enquanto que os sábios, por estarem firmes no caminho, não retornarão à delusão. Ó discípulos, tenham em mente o Buda, o Darma e a Sanga, e também os preceitos, de forma a se libertarem da tristeza e do pesar CEBB

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para sempre.”

3. Amrapali, a Cortesã (1) O Buda prosseguiu com Ananda até Vaisali e permaneceu em um bosque fora das muralhas da cidade. O bosque pertencia a Amrapali, uma cortesã de Vaisali. Amrapali ficou sabendo que o Buda tinha chegado a Vaisali e que se encontrava em seu bosque. Ela mandou aprontar alguns veículos, vestiu-se com cuidado e entrou em um dos veículos acompanhada por quinhentas cortesãs, dirigindo-se para o bosque. Tendo percebido a aproximação do grupo à distância, o Buda disse aos seus discípulos: “Ó discípulos, firmem suas mentes no caminho correto. Mesmo que sejam colocados na boca de um tigre, ou estiverem sob o fio da espada de homem insano, ou se seus dois olhos forem arrancados por uma lança quente, não se deixem deludir pelos desejos, e impeçam os desejos que ainda não surgiram de surgir; promovam os bons pensamentos que já surgiram e encorajem aqueles bons pensamentos que ainda estão latentes a surgirem. Conduzam suas mentes desta maneira e as restrinjam desde o princípio, pois será difícil restringi-las mais tarde. Portanto, sejam firmes no controle da mente e nunca relaxem. Tomem o arco do esforço correto e a lança do insight correto, vistam a armadura da atenção mental correta, e estejam prontos para lutar contra os cinco tipos de desejos. Desde que eu comecei minha busca no caminho, experimentei incontáveis ocasiões em que tive que lutar com meus desejos. Ao longo de minha vida, eu não segui o curso maligno da mente, mas me esforcei firmemente e, finalmente, alcancei minha iluminação. Ó meus discípulos, posicionem a mente corretamente, pois a mente tem estado em

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meio aos obscurecimentos por um longo tempo. Agora é o momento para vocês se libertarem e escaparem do sofrimento. Para aqueles que permanecem entre nascimentos e mortes, todas as coisas parecem ser sofrimento, quer eles olhem para dentro ou para fora.”

(2) Ao enxergar o Buda, Amrapali desceu de sua carruagem e prosseguiu a pé respeitosamente na sua direção, e depois de prestar a devida reverência ela se sentou ao seu lado. Então o Buda se dirigiu a Amrapali, dizendo:

“Por

que

você

veio

até

aqui?”

Amrapali

respondeu:

“Frequentemente eu ouço que o Honrado pelo Mundo é muito superior aos deuses, e assim desejo ouvir o seu ensinamento e tentar seguir sua instrução, dia e noite, de forma que eu possa evitar a queda nos destinos negativos.” Então o Buda perguntou: “Você está satisfeita por ter nascido como uma mulher?” Amrapali respondeu: “Os deuses me fizeram nascer como mulher, mas não tenho nenhuma satisfação especial por isso.” O Buda perguntou: “Se você não sente satisfação especial por ter nascido como mulher, quem a obrigou a ter quinhentas cortesãs?” “É minha própria ação tola”, ela respondeu. “Muito bem, ó Amrapali, cinco aspectos descrevem os impedimentos para aqueles cujas ações são desordenadas: eles são difamados, odiados, temidos e suspeitados, e no final caem no inferno após a morte, ou encontram formas de animais; tudo isto deriva da luxúria. E também, cinco aspectos descrevem o benefício daqueles cuja ação é pura: seus nomes são louvados, eles não têm medo dos governantes, eles se sentem bem, depois da morte renascerão no céu e acabarão atingindo o caminho da iluminação. Portanto, cuide de você mesma e pratique o ensinamento e os preceitos de forma que possa realizar o caminho da pureza.” Enquanto o Buda ensinava o Darma a Amrapali, sua mente se encheu CEBB

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de satisfação. O Buda lhe disse: “Sua mente já foi purificada, mas é extremamente

difícil

para

uma

mulher

seguir

meu

ensinamento,

especialmente para alguém como você, que é jovem, rica e bonita. Ó Amrapali, riqueza e beleza física não são tesouros duradouros, apenas o caminho é precioso. Um corpo forte é derrotado pela doença e a juventude se transforma na velhice; a vida é atormentada pela sombra da morte, pela separação dos seres amados, pela proximidade dos seres odiados e por não obter os objetos desejados. Apenas o Darma traz a liberdade. Se você o seguir, não há nada que possa obstruir a liberdade.” Depois de expressar sua gratidão pelo ensinamento, Amrapali se ajoelhou respeitosamente e disse ao Buda: “Que o Honrado pelo Mundo me dê a honra de partilhar da refeição com seus discípulos em minha casa amanhã.” Tendo recebido o consentimento do Buda, ela ficou satisfeita e se levantou de seu assento, curvou-se diante dele, e partiu.

(3) Os Licchavis, que moravam em Vaisali, ouviram que o Buda tinha chegado a Vaisali e se encontrava no bosque de Amrapali. Com a intenção de prestar seus respeitos ao Buda, cerca de quinhentos Licchavis montaram em suas carruagens e prosseguiram para fora das muralhas da cidade. Eles acabaram encontrando Amrapali e seu séquito no caminho. As carruagens passaram muito perto umas das outras, com as rodas e eixos se atritando, e isto acabou danificando os dosséis das carruagens dos Licchavis. “O que é isto, Amrapali, você se dirigiu contra nós e causou este estrago?”, questionaram os Licchavis. Ela respondeu: “Meus senhores, eu acabei de convidar o Honrado pelo Mundo e seus discípulos para a refeição de amanhã, devido a isto estou com pressa para chegar a minha casa.” Surpresos com a resposta, os Licchavis disseram: “O Honrado pelo Mundo já consentiu? CEBB

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Ó Amrapali, abra mão desta refeição para nós por cem mil peças de ouro.” “Meus senhores, o encontro já foi fixado. Eu não posso aceitar seu pedido”, respondeu Amrapali. “Então nós aumentamos a oferta dezesseis vezes. Desista desta refeição para nós.” Apesar disto, Amrapali recusou. Os Licchavis levantaram as mãos para os céus e exclamaram: “Fomos superados por esta mulher”, e recompondo-se, eles seguiram até o bosque de Amrapali.

(4) Quando o Buda viu os Licchavis se aproximando à distância, ele disse aos discípulos: “Ó discípulos, aqueles de vocês que desejam ver a glória dos deuses do céu de Trayastrimsa contemplem agora essa companhia de Licchavis, sua dignidade é como a dos deuses. Meus discípulos, mantenham suas mentes em restrição e a expressão adequada. Sejam diligentes na meditação sobre o corpo como impuro, a percepção que resulta em sofrimento, a mente que é impermanente e todas as coisas que não possuem essências. Andem quando for adequado andar, parem quando for adequado parar; mesmo ao segurarem seus mantos ou tigelas e usarem remédios, sigam de forma adequada. Controlem a mente ao sentarem, deitarem, falarem ou silenciarem.” Então, os Licchavis desceram das carruagens e se aproximaram do Buda, sentando-se na ordem devida. Aqueles que estavam à frente se ajoelharam, aqueles que estavam no meio curvaram suas cabeças, e aqueles que estavam atrás juntaram as mãos em prece. O Buda se dirigiu a eles e disse: “Ó Licchavis, por que vieram até aqui?” “Ao ouvirmos sobre sua chegada, viemos para homenagear o Honrado pelo Mundo”, responderam os Licchavis. Então o Buda lhes disse: “Ó filhos de boa família, se forem negligentes não alcançarão riquezas ou fama. E também não desfrutarão da oferenda de esmolas, nem desejarão encontrar outros que praticam o CEBB

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caminho; vocês apenas se satisfarão com assuntos mundanos e conversas, sonolência e discussões inúteis; vocês apenas se associarão com pessoas maldosas que desejam uma vida vazia. Assim, vocês serão menosprezados pelos outros, esquecerão o que ouviram, preferirão viver em locais inadequados, serão incapazes de controlar a mente, nunca estarão satisfeitos com a comida e evitarão o silêncio. Desta forma, qualquer visão que mantiverem será incorreta. Ó filhos de boa família, se não forem negligentes vocês prosseguirão bem tanto no caminho mundano quanto no caminho para a emancipação. Se vocês desejam prosseguir no caminho, devem praticar a não negligência. Qualquer um que seja negligente, mesmo que esteja fisicamente próximo ao Buda e aos seus discípulos, está longe de atingir a iluminação.” Os Licchavis responderam: “Nós sabemos que somos negligentes. Nós achamos que o Honrado pelo Mundo também é negligente. De outra forma, o Honrado pelo Mundo teria vindo antes para nosso país.”

(5) Naquele momento, havia entre os ouvintes um homem chamado Pingiya, e ele disse aos Licchavis: “O Rei Bimbisara conquistou grandes méritos, e a presença do Honrado pelo Mundo em seu país era comparável a um lótus maravilhoso florescendo em um lago. Vocês são vistos como negligentes por terem se entregado aos cinco desejos e, assim, ficaram sem saber como se aproximar do Buda. É errado dizer que o Buda é negligente por não ter vindo antes ao seu país, apesar de ele ter aparecido em Magadha muitas vezes. Pois, o aparecimento do Buda em Magadha não foi apenas para o bem de um ou dois, como o sol e a lua, mas para o bem de muitos, de todos.” Então Pingiya se levantou e se aproximou do Buda, olhando diretamente para seu rosto. O Buda disse: “O que você está olhando?” Pingiya respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, sua virtude é comparável a CEBB

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uma imponente e enorme montanha; não há nada igual a você neste mundo. Agora, venerando o Honrado pelo Mundo, estou determinado a seguir seu ensinamento e minha mente não está mais perturbada.” O Buda lhe disse: “Olhe para mim o quanto quiser, com isso você adquirirá bons méritos.” “Ó Honrado pelo Mundo, conceda meu desejo e permita-me expressar meus pensamentos”, disse Pingiya. Com o consentimento do Buda, Pingiya cantou:

O rei de Anga vestia uma armadura feita de pedras preciosas. O rei de Magadha se tornou extremamente rico. Agora o Honrado pelo Mundo surgiu neste mundo E sua virtude excelente abalou o mundo. O nome do Honrado pelo Mundo é célebre Como o nome do Himalaya, e a excelência De sua virtude é como o aroma da flor de lótus. O brilho de sua presença é como O brilho do sol nascente e da lua caminhando pelo céu. O Honrado pelo Mundo ilumina este mundo com seu brilho E concede a todos os olhos do insight, Dissipando todas as dúvidas das mentes das pessoas. Seu insight supremo é elevado e sutil, E também é claro e livre de dúvidas, como uma tocha em um jardim Percebida na escuridão da noite. Posso assumir a observância dos preceitos da pureza, E tomar refúgio nos Três Tesouros?

Os quinhentos Licchavis se comoveram profundamente com a canção de Pingiya, e disseram: “Ó Pingiya, grande é sua virtude. Cante novamente

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esta canção para nós, por favor.” Assim, Pingiya cantou uma segunda vez e uma terceira. Os Licchavis tiraram suas belas vestes e fizeram oferendas a ele. Então, Pingiya ofereceu todas elas ao Buda.

(6) O Buda as aceitou, por entender a motivação de Pingiya, e se dirigiu aos presentes: “Ó Licchavis, eliminem seu orgulho e aceitem a luz do Darma. Tesouros, beleza, aromas, flores, nada disto é comparável aos preceitos como ornamentos. O caminho para a grande prosperidade na vida e para maior segurança para seu povo repousa simplesmente em como vocês controlam suas mentes. Se vocês puderem acrescentar ainda o deleite com a prática do caminho, então sua virtude aumentará ainda mais. Se vocês tiverem sucesso em atrair muitas pessoas sábias para seu país, regenerarem sua virtude, aumentarem o bem-estar do povo, e o guiarem para um padrão moral mais elevado, não haverá fim para tal virtude por muitas gerações. “As gemas preciosas vêm do solo, os preceitos são a fonte para todas as ações positivas. Aqueles que detêm o insight abrem seus caminhos pelas planícies da delusão praticando os nobres preceitos. Afastem-se da visão das identidades. O orgulho destrói o senso de vergonha, destrói muitas ações positivas e aniquila os méritos. Aparência externa e status social são todos impermanentes. Como alguém se orgulharia deles? “Além disso, a ganância causa grandes desgraças. Como um inimigo, ela corteja e secretamente ataca por trás. Como o fogo, a ganância surge internamente e queima todo o corpo. Por mais intenso que seja, o fogo pode ser extinto pela água, mas não o fogo da ganância. O fogo queima agressivamente o campo, mas não impede a rápida recuperação da grama a partir das raízes. Porém, é difícil para a mente que foi queimada uma vez pelo fogo da ganância reconstruir a mente da aspiração pelo Darma. A CEBB

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ganância conduz aos prazeres mundanos, que por sua vez aumentam os obscurecimentos internos, e esses obscurecimentos nos arrastam ainda mais para destinos malignos. É uma verdade, não há inimigo mais poderoso que a ganância. Além do mais, a ganância gera apego, que por sua vez gera ganância. Visto que a ganância dá nascimento a muitos sofrimentos, não há mal mais poderoso que a ganância. “Ó povo Licchavi, não cedam à raiva. Ela destrói a boa aparência e obstrui a visão correta, prejudica as amizades e causa o desprezo pela sociedade. Portanto, descartem a raiva. Se vocês não puderem controlar a raiva, o fogo do arrependimento e da ansiedade se seguirá para consumir vocês mesmos e os outros. Vocês sentem ganância quando algo é agradável a suas mentes e experimentam raiva quando aquilo não é. Se vocês controlarem ambos os sentimentos, prazer e desprazer, serão capazes de remover tanto a ganância quanto a raiva. “Ó Licchavis, o Buda que surgiu neste mundo é extraordinário. Aqueles que expõem o Darma que o Buda ensinou são extraordinários. Aqueles que ouvem e acreditam no Darma são extraordinários. Aqueles que realizam o objetivo do Darma são extraordinários. Aqueles que sabem ser gratos ao serem salvos são extraordinários. Ó Licchavis, sejam obedientes aos seus professores, ajam respeitosamente com eles, louvem-nos em sua ausência, e depois que eles morrerem, sempre os relembrem.” Tendo ouvido as instruções do Buda, os Licchavis se levantaram de seus assentos e lhe agradeceram. “Ó Honrado pelo Mundo, você nos faria a honra de partilhar de sua refeição junto com seus discípulos em nossa casa amanhã?” “Ó Licchavis, eu aceitei o convite da cortesã Amrapali para amanhã”, o Buda respondeu. Então os Licchavis levantaram suas mãos, exclamando: “Fomos superados por uma mulher.” Porém, eles entenderam CEBB

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que o Buda se preocupava igualmente com todos os seres, e depois de prestar homenagem aos seus pés e de circumambulá-lo três vezes, eles partiram.

(7) Amrapali preparou a comida durante a noite e arrumou sua mansão com ornamentos e novos tapetes. Na aurora ela foi até o Buda para anunciar a hora. O Buda tomou sua tigela e caminhou com seus discípulos, entrando na cidade. Os homens da cidade deram boas-vindas à procissão e comentaram sobre tudo, comparando o Buda com a lua brilhante e seus discípulos com a estrela brilhante matutina. Então, o Buda entrou na mansão de Amrapali e sentou-se no lugar preparado para ele. A própria Amrapali o serviu até ele terminar a refeição. Após o término da refeição, ela trouxe um jarro de ouro, e ao derramar água para o Buda lavar suas mãos, ela lhe disse: “Ó Honrado pelo Mundo, de todos os bosques que as pessoas desta cidade possuem, o meu é o mais belo. Eu posso oferecer esse bosque ao Honrado pelo Mundo? Que você seja compassivo o bastante para aceitar minha oferenda!” O Buda o aceitou, e disse: “Ó Amrapali, construa uma estupa e alojamentos para os monges, faça um jardim fresco, construa pontes e balsas para as pessoas, irrigue os campos, plante grama e organize casas para os viajantes. Ó Amrapali, não haverá inimigo ou medo para alguém que leva uma vida santa. O nome dessa pessoa será louvado e sua casa estará segura. Os nobres preceitos são honrados e estimados altamente neste mundo. Para onde quer que ela vá, uma pessoa de preceitos será respeitada e favorecida. Os desejos são perturbadores e desprezíveis, e devemos nos esforçar para descartá-los tão rapidamente quanto for possível.” Observando que a mente de Amrapali estava se tornando receptiva ao ensinamento, o Buda lhe ensinou a essência das Quatro Nobres Verdades. À medida que sua mente se tornava pura, como um tapete branco que está pronto para ser tingido, ela CEBB

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imediatamente entendeu o Darma e entrou no estado de destemor. Então, Amrapali se dirigiu ao Buda, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, buscarei o Buda, o Darma e a Sanga como refúgios. Por favor, inclua-me entre seus seguidores. De agora em diante me absterei de assassinato, roubo, má conduta sexual, fala falsa e do uso de bebidas intoxicantes.” O Buda concedeu seu desejo, e assim Amrapali abandonou seus maus hábitos e purificou seus obscurecimentos passados.

(8) Uma vila chamada Venuvagrama se localizava ao pé de uma colina não muito distante de Vaisali. Chegando à vila, o Buda permaneceu em uma floresta ao norte. Havia um brâmane, cujo nome era Vaisadya, que ao ouvir sobre a chegada do Buda pensou: “A fama de Gautama se espalha por todo o mundo; ele é conhecido por possuir nobres virtudes e se diz que tudo que ele ensina é verdade, seja no começo, no meio ou no fim. Eu deveria visitar o Honrado pelo Mundo agora e dar-lhe as boas-vindas.” Então, Vaisadya foi até o local onde o Buda estava, e o Buda expôs o ensinamento para ele. Encantado, Vaisadya convidou o Buda e seus discípulos para uma refeição em sua casa no dia seguinte. Na manhã seguinte o Buda visitou-o e depois da refeição ensinou a Vaisadya o seguinte: “Se você apoiar aqueles que observam os preceitos oferecendo-lhes roupas, comida ou tapetes, você receberá uma grande recompensa. A virtude de sua caridade o seguirá a qualquer lugar que você vá como uma verdadeira companheira, como sua sombra. Portanto, plante boas sementes para garantir as colheitas futuras. Qualquer um que adquirir tais virtudes estará em paz.” Então o Buda deixou a casa com seus discípulos. Aquele ano havia sido um ano ruim para as colheitas na vila e os grãos estavam caros; enquanto permanecessem na pequena vila seria difícil para CEBB

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todo o grupo do Buda receber comida. Portanto, o Buda reuniu seus discípulos e disse: “Vão, discípulos, para Vaisali em Vrji procurar amigos e conhecidos onde vocês possam encontrar moradia durante a estação chuvosa e esmolas suficientes. Eu permanecerei aqui com Ananda.” Quando os discípulos estavam todos prontos para partir, o Buda os instruiu: “Ó discípulos, vocês devem se controlar. Não se entreguem às boas comidas nem se desagradem com comida de qualidade inferior. Não sejam gananciosos em relação à comida, que deve apenas manter o corpo. Se vocês se tornarem gananciosos em relação à comida, vocês nunca se libertarão da delusão. Apenas aqueles que aprendem a se restringir e alcançam a vitória sobre si mesmos serão capazes de realizar a meta da quiescência.” Satisfeitos em seus corações, os discípulos partiram para as cidades vizinhas.

(9) Assim o Buda entrou no quadragésimo quinto retiro da estação chuvosa em Venuvagrama com Ananda. Durante esse período o Buda foi assolado por uma terrível doença e dores severas o atingiram. O Buda pensou consigo: “Os discípulos não estão aqui, todos estão preocupados com minha saúde; não seria correto entrar no nirvana final sem falar com eles. Além disso, este não é um local adequado para eu entrar no nirvana. Que eu possa agora, por um extremo esforço de vontade, manter minha vida.” Assim, o Buda conseguiu pacificar um pouco sua doença, ele saiu do quarto e se sentou sob a sombra refrescante de uma árvore. Naquele momento, Ananda também estava sob a sombra da árvore. Ele se aproximou apressadamente do Buda e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, como você se sente? Ao ver seu sofrimento fiquei tão preocupado que mal pude respirar, pensando que o Honrado pelo Mundo poderia morrer. Agora encontro um pouco de conforto. Ó Honrado pelo Mundo, por que você não nos deixa algumas CEBB

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instruções agora?” Então o Buda disse: “Ó Ananda, o que os discípulos esperam de mim? Se alguém pensar: ‘Sou eu que guio os discípulos’, ou ‘Eles dependem de mim’, então deveria oferecer instruções a eles. Mas eu nunca disse isso, e portanto não estou comprometido a dar instruções finais de tal forma. Eu não escondi nada. Eu não mantenho algo como o punho fechado de um professor que guarda algumas coisas para si. Eu ensinei tudo o que deveria ser ensinado. Os meus discípulos deveriam guardar meus ensinamentos em suas mentes e colocá-los em prática. Eu deveria estar em suas mentes o tempo todo. “Ó Ananda, meu corpo está velho e decadente, minha jornada se aproxima do final. Cheguei aos oitenta anos de idade. Assim como uma carroça desgastada, meu corpo não tem vigor ou força. Eu não lhes ensinei antes que há um momento para o nascimento e para a morte, e que não há ninguém que tendo nascido não esteja fadado a morrer? Nascido neste mundo eu descobri o caminho para o nirvana e cortei a raiz da delusão. Portanto, depois que eu me for não seja negligente em relação a este Darma. “Ó Ananda, faça de você mesmo sua luz e seu refúgio; não busque outro refúgio. Deixe o Darma ser sua luz e seu refúgio, não busque outro refúgio. Ó Ananda, esteja consciente da natureza impura do corpo e não se deixe apanhar pela ganância. Esteja consciente da natureza dolorosa dos sentimentos e não se entregue a eles. Esteja consciente da natureza transitória da mente e não se apegue a ela. Esteja consciente da natureza insubstancial de todos os fenômenos e não se deixe deludir por eles. Através destas práticas, o sofrimento de todos os tipos desaparecerá. Depois que eu partir, aquele que praticar o caminho desta maneira, ó Ananda, é meu verdadeiro discípulo e meu descendente. Ele alcançará as alturas da iluminação. Eu CEBB

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deixei meu status de rei para me tornar um mendicante por estar preocupado com o estado dos seres sencientes em todos os mundos. Eu me tornei um Tathagata e os tenho ajudado a superarem seus destinos. Cuidem de suas próprias identidades e rapidamente cortem as raízes de todos os males.” E assim, enquanto passava a estação chuvosa em Venuvagrama, o Buda consertou seus mantos.

4. A Morte de Sariputra e Maudgalyayana (1) Um dia, ao sair de sua meditação, Sariputra pensou: “Os budas dos dias passados tiveram grandes discípulos que, como regra, entraram no nirvana antes de seus mestres. Eu também, nos próximos sete dias deixarei este mundo antes do Honrado pelo Mundo. Mas, como minha velha mãe não tomou refúgio no Buda ou no Darma, irei visitá-la para encorajá-la a seguir o caminho. Então passarei para o nirvana no quarto em que nasci. Primeiro devo obter a permissão do Honrado pelo Mundo.” Depois de limpar o seu quarto, Sariputra se levantou e solenemente olhou para o quarto, dizendo a si mesmo: “Esta é a última vez que verei este quarto, ao qual não mais retornarei.” Então, indo até o Buda, Sariputra disse: “Ó Honrado pelo Mundo, eu me despeço de você, visto que logo entrarei no nirvana.” O Buda permaneceu em silêncio e não respondeu. Depois disto ter sido repetido por três vezes, o Buda disse: “Por que, ó Sariputra, você não permanece aqui?” Sariputra respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, alguns deuses me contaram que apesar do Buda Shakyamuni ter vivido neste mundo por algum tempo, agora ele alcançou seu octogésimo ano e entrará no nirvana em pouco tempo.

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Ó Honrado pelo Mundo, eu não suportaria ver a sua morte. Além do mais, como você uma vez nos contou, antes dos Tathagatas entrarem no nirvana, seus melhores discípulos como regra abrem o caminho, precedendo seus mestres. Assim, eu me despeço do Honrado pelo Mundo.” O Buda perguntou: “Onde, então, você morrerá?” “Eu morrerei na vila de Nalanda em Magadha onde nasci”, respondeu Sariputra. “Ó Sariputra, você percebe o tempo muito bem. É muito difícil encontrar um homem capaz como você como meu discípulo. Você exporá o Darma mais uma vez para os discípulos?” Diante deste pedido, Sariputra respeitosamente saudou o Buda, tomou seu assento diante dos discípulos e ensinou o Darma. Depois de terminar o ensinamento, Sariputra disse ao Buda: “Por um longo tempo eu desejei sinceramente encontrar os budas, e agora nesta vida eu satisfiz meu desejo tornando-me seu discípulo e venerando-o. Ó Honrado pelo Mundo, minha vida se aproxima do fim. Eu me libertarei em sete dias como alguém que completou sua tarefa. Esta é a última ocasião para oferecer minha reverência ao Honrado pelo Mundo.” Dito isto, Sariputra juntou as mãos em prece, respeitosamente se ajoelhou e recolheu-se do aposento.

(2) Muitos discípulos seguiram Sariputra com flores e incenso nas mãos. Sariputra perguntou: “Para onde vocês pretendem ir?” “Ó Sariputra, nós vamos fazer oferendas durante sua passagem”, eles responderam. Sariputra lhes disse: “Deixem-me. Vocês já fizeram oferendas para mim. Eu tenho um monge noviço que poderá me ajudar de agora em diante. Voltem, portanto, para o Honrado pelo Mundo e se ocupem de seus caminhos. É difícil encontrar um Buda, cujo surgimento neste mundo é muito raro; nem é fácil para as pessoas alcançarem uma crença firme no caminho e renunciarem à vida familiar para aperfeiçoar o Darma. Todas as coisas são impermanentes, CEBB

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geram sofrimento e são desprovidas de essências; apenas o nirvana é quiescente para sempre. Estejam atentos a este Darma.” Todos os discípulos ficaram em lágrimas. Foi no por do sol que Sariputra chegou à fronteira da vila de Nalanda. Enquanto se sentava sob uma árvore para descansar, um jovem homem veio e parou, cumprimentando-o. Esse homem era seu sobrinho Upalivata. Sariputra perguntou: “A sua avó está em casa?” “Sim, ela está em casa, senhor”, ele respondeu. “Você poderia ir até ela e dizer que Sariputra estará em casa em breve?” Upalivata rapidamente retornou para casa para transmitir a mensagem à sua avó Sari. Sari pensou secretamente: “Meu filho se tornou um mendicante peregrino durante sua juventude. Pergunto-me se, ao envelhecer, ele está abandonando sua vida de mendicância.” Ela limpou o quarto e esperou por seu retorno. Ao anoitecer Sariputra chegou a casa. Assim que entrou na casa, sua condição se tornou repentinamente aguda, e ele vomitou uma grande quantidade de sangue. Assustada, sua mãe correu para seu quarto. Deuses desceram para cuidar respeitosamente de Sariputra. A mãe achou tudo estranho e perguntou ao noviço Cunda, que era o irmão mais jovem de Sariputra. “O que está acontecendo?” Cunda respondeu: “Isto está acontecendo porque o venerável Sariputra possui virtudes supremas.” Espantada com a observação de Cunda, a mãe de Sariputra disse para si mesma: “Mesmo o meu próprio filho é tão respeitado, o quanto mais deve ser o Honrado pelo Mundo!”

(3) Sabendo que a hora havia chegado, Sariputra disse para sua mãe: “Ó minha querida mãe, dizem que a grande terra tremeu de seis diferentes maneiras quando meu venerável mestre nasceu, quando ele se iluminou e CEBB

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quando ele deu seu primeiro discurso. Não há ninguém superior ao meu mestre em virtude ou insight.” Então Sariputra prosseguiu ensinando o Darma e sua mãe respondeu deleitada: “Meu filho querido, por que você não me ensinou esse nobre Darma antes?” “Querida mãe, pela primeira vez eu pude retribuir meu débito com você. Por favor, deixe o quarto e me permita ficar sozinho.” Sariputra chamou Cunda, perguntando pela hora do dia. “A aurora está próxima, senhor”, respondeu Cunda. Então Sariputra se sentou, e olhando para seus discípulos que se reuniam ao seu redor, ele disse: “Ó discípulos, por quarenta e quatro anos vocês estiveram comigo. Durante todos esses anos, se mesmo sem a intenção eu magoei seus sentimentos ou os atrapalhei em sua busca pelo Darma, eu peço o seu perdão.” Unanimemente eles responderam: “Mestre, nós o acompanhamos como uma sombra que segue um objeto. Nunca houve algum momento em que tenhamos nos sentido prejudicados ou não à vontade. Somos nós que imploramos por seu generoso perdão.” Então Sariputra lhes ensinou este verso:

Não caiam na lassidão, esforcem-se até a iluminação. Este é o meu ensinamento. Eu estou prestes a entrar no nirvana. Eu me emancipei de todas as coisas.

(4) Foi numa bela noite de lua cheia que Sariputra entrou no quarto em que nascera. Durante aquela noite ele sofreu dores agudas, mas perto da aurora ele estendeu o tapete, deitou sobre seu lado direito, e silenciosamente entrou no nirvana. Sua mãe, Sari, chorou ao seu lado: “Ó meu filho, você não pode mais falar. Foi tarde demais que eu me tornei capaz de entender sua virtude suprema. Se eu tivesse sabido antes, teria convidado muitos sábios CEBB

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até minha casa para refeições e teria lhes oferecido conjuntos de três mantos.” Quando a manhã chegou, Sari pegou seu baú e abriu seu tesouro para preparar o funeral. Muitos vizinhos vieram ajudá-la, e a ama de leite de Sariputra, Revati, ofereceu três flores feitas de ouro; mas, passando mal em meio à multidão, ela morreu. Diz-se que ela renasceu no céu devido à sua ação virtuosa. Por sete dias muitas oferendas foram realizadas em honra ao venerável Sariputra, e depois se seguiram os ritos de cremação. Anuruddha extinguiu o fogo com água perfumada e Cunda respeitosamente reuniu as cinzas e o manto de Sariputra e tigela.

(5) Cunda foi até Ananda para contar que Sariputra havia morrido, e então apresentou a ele as cinzas, mantos e tigela de Sariputra. Ananda chorou e se entristeceu, dizendo: “Este é um dia escuro em todos os lugares em todas as direções”, e foi até o Buda para lhe contar, dizendo: “Tendo perdido o venerável Sariputra, perdemos nossa compostura.” O Buda disse a Ananda: “Ó Ananda, não se entristeça com a morte dele. Não está de acordo com a natureza desejar que um ser mortal viva para sempre. Ó Ananda, desta forma mesmo todos os budas do passado morreram. Tudo é impermanente, todo ser vivo necessariamente morrerá. Não devemos nos entristecer por isso, mas sim aspirar pelo reino do nirvana, onde não se nasce e não se morre, e cuja realização é do valor mais elevado. Ó Ananda, dê-me os restos de Sariputra.” Ao receber as cinzas em sua mão direita, o Buda chamou os discípulos e lhes disse: “Ó discípulos, estas são as cinzas que pertenciam à pessoa que discursou para vocês sobre o Darma alguns dias atrás. Ele se devotou por muitos anos à prática das virtudes e atingiu a perfeição. Ele ensinou o Darma como os budas e muitas pessoas o seguiram para aprender seus CEBB

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ensinamentos. Seu insight era amplo e pleno de satisfação; sua mente era clara e alerta; ele tinha poucos desejos e desfrutava a quietude, evitava o mal, evitava discussões, não gostava de conversas sem sentido, e sustentava uma determinação tão firme quanto a terra para disseminar o ensinamento. Ó discípulos, prestem respeitos às cinzas deste sábio homem do Darma.” Então o Buda erigiu uma estupa em honra a Sariputra perto do portão de Vaisali, e mais uma vez continuou, voltando para Rajagriha.

(6) Ao entrar em Rajagriha, o Buda permaneceu no Monastério do Bosque de Bambus. Pouco tempo depois, o venerável Maudgalyayana também morreu. Sua morte ocorreu da seguinte forma: um grupo de ascetas nus que residia na fronteira de Rajagriha tinha ciúmes do Buda, e eles estavam convencidos que uma das razões para o Buda e seus discípulos serem honrados pelo povo eram os poderes mágicos superiores de Maudgalyayana. Maudgalyayana tinha sido atacado duas vezes quando residia na caverna da Colina Rsigiri, mas por sorte ele escapou do ataque em ambas as ocasiões. Porém, um dia quando ele entrou na cidade de Rajagriha para receber esmolas, esses falsos ascetas correram para cercá-lo pela terceira vez, prenderam-no, e acabaram batendo nele com telhas e pedras. Deixandoo como morto, jogaram-no nos arbustos à beira da estrada e foram embora. Os ossos de Maudgalyayana estavam quebrados e sua pele fora dilacerada; em dor insuportável ele acabou morrendo. Quando o Rei Ajatasatru ficou sabendo disto, ele juntou os membros do grupo dos ascetas nus e os executou. Novamente o Buda mandou construir uma estupa na entrada do Monastério do Bosque de Bambus, desta vez em honra a Maudgalyayana. Ele juntou seus discípulos e lhes disse: “Ó discípulos, quando Sariputra e CEBB

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Maudgalyayana ainda estavam vivos neste mundo, onde quer que eles fossem para ensinar o Darma as pessoas sempre se beneficiavam e se alegravam, pois eles possuíam a capacidade de superar as visões falsas. Eles não mais estão entre vocês. Esta Sanga sofreu uma grande perda.”

5. O Sermão do Buda Antes de Sua Morte

(1) O Buda partiu de Rajagriha em direção a Vaisali mais uma vez, acompanhado por Ananda, e às margens do Ganges ele pensou sobre as mortes de Sariputra e de Maudgalyayana e prestou homenagem a eles. Cruzando o Ganges e chegando a Vaisali, o Buda saiu para mendigar durante a manhã. No caminho de volta ele passou pelo Santuário Capala, onde decidiu descansar. “Ó Ananda, como Vaisali é agradável; como Vrji é agradável; os dezesseis países e suas várias cidades são todos agradáveis. O rio Hiranyavati produz muito ouro, a terra de Jambudvipa é tão bela quanto uma pintura. Ó Ananda, aqueles que adquirem poderes sobre-humanos podem

permanecer

neste

mundo

se

assim

desejarem.”

O

Buda

cuidadosamente repetiu estas palavras três vezes. Mas Ananda não captou o significado pretendido e permaneceu em silêncio. O Buda lhe disse para pensar sobre eles em isolamento, e ele mesmo se sentou sozinho sob a sombra de uma árvore às margens de um córrego.

(2) Naquele momento, Mara, o maldoso, apareceu diante do Buda e lhe disse: “Ó Honrado pelo Mundo, morra sem hesitação. Sua missão de ensinar foi completada. Agora é a hora de o Honrado pelo Mundo morrer neste

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mundo!” O Buda respondeu: “Vá, Mara! Para mim o momento é claramente sabido. Ainda não é o momento. Eu não morrerei até que todos os meus monges e discípulos leigos estejam prontos e sejam capazes de receber o caminho.” Mara disse: “Ó Honrado pelo Mundo, quando você permaneceu próximo ao rio Nairanjana imediatamente após sua iluminação, eu fui até você no local onde estava em meditação e o estimulei a entrar no nirvana imediatamente. Naquela vez, também, você disse: ‘Vá, Mara! Eu sei muito bem o momento, ainda não é o momento. Eu não morrerei até que, cercado por meus discípulos, os deuses celestiais e as pessoas igualmente tenham testemunhado os poderes sobrenaturais do Tathagata.’ Ó Honrado pelo Mundo, os seus discípulos já não se reuniram e os deuses e pessoas igualmente já não testemunharam seus poderes sobrenaturais? Agora, ó Honrado pelo Mundo, é o momento adequado para você morrer. Por que você não morre sem hesitação?” Então o Buda respondeu: “Vá embora, Mara! O Tathagata sabe o momento adequado. Três meses a partir de agora, na vila de Kusinagara com a qual uma de minhas vidas anteriores está associada, sob as árvores sala, eu morrerei.” Ao ouvir isto, Mara pulou de alegria, porque o Buda, que nunca mente, certamente morreria em breve. E assim, ele rapidamente desapareceu.

(3) O Buda arrumou seu tapete e novamente entrou em meditação. Refletindo silenciosamente sobre seu ingresso no nirvana final, o Buda disse para si mesmo: “Escapar dos três tipos de delusão é tão fácil quanto é para um pintinho sair do ovo. Agora minha mente está em paz, como um general que retorna do campo de batalha após uma vitória sobre o inimigo.” Naquele momento, a terra tremeu fortemente. Ananda acordou surpreso e foi até o Buda, perguntando: “Ó Honrado CEBB

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pelo Mundo, por que a terra tremeu? Eu acabei de sonhar que enquanto estava na floresta uma grande árvore de folhagem verdejante foi repentinamente esmagada por uma tempestade sem deixar traços. Poderia ser que o Honrado pelo Mundo irá morrer?” Então o Buda disse: “Ó Ananda, em três meses eu ingressarei no nirvana.” Ananda ficou chocado e entristecido. “Ó Honrado pelo Mundo, eu lhe imploro, devido a sua compaixão por nós permaneça vivo por um kalpa, ou mesmo pela metade de um kalpa para o benefício dos deuses e pessoas.” Ele disse isto três vezes, mas o Buda respondeu: “Ó Ananda, já não é mais o tempo de dizer isto. Eu já disse a Mara que morrerei em três meses. Durante todos os anos em que me serviu, você me viu alguma vez dizer algo mentiroso?” Ananda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, eu nunca o ouvi mentindo. Mas de sua própria boca eu ouvi o seguinte: ‘Alguém que alcançou poderes sobre-humanos pode estender a duração de sua vida o quanto desejar.’” O Buda respondeu: “É verdade que eu disse isto a você. Naquele momento, porém, você não respondeu minhas palavras, nem você pediu ao Tathagata para prolongar sua vida. As palavras do Tathagata que saíram de sua boca não podem ser mudadas. Os ignorantes dizem uma coisa com a intenção de dizer outra, mas eu não faço isto.” Ananda ficou angustiado, perturbado, não conseguia suportar isto, e disse ao Buda, chorando: “Como é rápida a passagem do Tathagata! Por que o Olho do Mundo deve perecer em breve?” O Buda sentiu piedade por Ananda e disse: “Ó Ananda, não se entristeça. Tudo que está sujeito à causalidade é assim. Quando uma pessoa encontra outra elas nunca poderão permanecer juntas, mas sem exceção serão separadas.” “Entretanto, ó Honrado pelo Mundo”, disse Ananda, “As pessoas perderão seu pai benevolente, pois isto é comparável ao bezerro recém-nascido que é CEBB

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abandonado por sua mãe.” “Ó Ananda, não se entristeça; mesmo se eu pudesse permanecer pela duração de mais um kalpa, os seres que se reúnem irão mais cedo ou mais tarde se separar. É assim que todas as coisas são. Não se perturbe com a minha passagem. Mesmo que este corpo físico pereça, o corpo do Darma que eu ensinei permanece para sempre. Ó Ananda, traga-me meu tapete. Vamos voltar para a casa de repouso.” Ananda pegou o tapete de chão, seguiu o Buda e entrou na casa de repouso no bosque sala.

(4) Ao anoitecer, o Buda disse a Ananda: “Ó Ananda, vá e reúna os discípulos que estão por perto nas vizinhanças deste bosque no salão de palestras.” Ananda transmitiu a mensagem a eles e todos os discípulos das vizinhanças se reuniram no salão. O Buda saiu de seu quarto e entrou no salão, e todos os discípulos se levantaram e o cumprimentaram. O Buda se sentou e lhes disse: “Ó discípulos, vocês deveriam manter em suas mentes todos os ensinamentos que eu lhes passei até o momento, guardem-nos na memória e sempre os pratiquem, não os descartem. Se todas as pessoas do mundo corrigirem suas mentes por si mesmas os deuses ficarão satisfeitos e o mundo humano será beneficiado. Ó discípulos, vocês devem restringir seus desejos e ganhar controle sobre vocês mesmos. Vocês devem corrigir suas ações físicas, mentais e verbais. Descartem a raiva, evitem a maldade, joguem fora a avareza e mantenham seus pensamentos na morte; mesmo quando a mente se inclina para a maldade, vocês não deveriam nunca segui-la. Quando a mente pensar sobre coisas sensuais, nunca a deixem sair do controle. Quando ela desejar uma vida luxuosa, não permitam. A mente deve seguir a pessoa, e não a pessoa a mente. A mente se torna um deus, um humano, um animal ou outro ser, criando os seis mundos; e também ela se torna CEBB

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iluminada como um Buda sublime.

(5) “Ó discípulos, portanto, vocês devem corrigir suas mentes e praticar o caminho. Apenas aqueles que praticam o caminho são capazes de alcançar o estado de paz nesta vida. Desta forma o nobre caminho que eu ensinei se perpetuará no mundo, salvará este mundo, guiará os deuses e permitirá que todas as pessoas descansem em paz. “Ó discípulos, estejam atentos à natureza impura do corpo e não deixem a ganância surgir devido a ele. Estejam atentos aos sentimentos agradáveis. Eles conduzem ao sofrimento, portanto não se entreguem a eles. Estejam atentos à natureza transitória da mente e não se deixem prender por ela. E também, estejam atentos à natureza insubstancial de todas as coisas e não se apeguem a elas. Estes são os quatro campos da atenção mental plena. Ó discípulos, impeçam que os obscurecimentos surjam. Se eles já tiverem surgido, eliminem suas causas-raiz. Se bons elementos já surgiram, procurem fortalecê-los. Se bons elementos ainda não surgiram, encorajem-nos a surgirem. Estes são os quatro esforços corretos. Ó discípulos, aspirem alcançar a bondade e sempre mantenham a mente concentrada e atenta ao Darma; sempre se esforcem sem preguiça e sempre estejam atentos e controlem a mente. Estes são os quatro passos para os poderes sobrenaturais. “Ó discípulos, mantenham a fé no caminho, prossigam nele para praticá-lo, estejam atentos ao caminho, mantenham sua concentração no caminho e cultivem a sabedoria das Quatro Nobres Verdades. Destas formas vocês nutrirão e fortalecerão as raízes do mérito. Estas são as cinco faculdades espirituais. Ó discípulos, tenham confiança firme no caminho e descartem a dúvida e a aflição, esforcem-se para prosseguir no caminho de modo a remover a negligência, estejam atentos ao caminho, corrijam a mente CEBB

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e afastem os pensamentos confusos, compreendam as Quatro Nobres Verdades e estejam livres das visões errôneas. Destas formas vocês conquistarão o poder de cultivar as raízes do mérito. Estes são os cinco poderes espirituais. “Ó discípulos, estejam atentos ao Darma, diferenciem entre verdadeiro e falso ao escolherem os ensinamentos, sempre se esforcem, sempre estejam satisfeitos, deixem a mente ter fé, mantenham as recordações, mantenham a mente em concentração para evitar o surgimento de visões falsas, e coloquem a mente em um estado de equanimidade para evitar as visões extremas do eternalismo e do niilismo. Estes são os sete ramos da iluminação, o caminho para realizar o verdadeiro insight. Ó discípulos, visão correta, pensamento correto, fala correta, conduta correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta e meditação correta são o Nobre Caminho Óctuplo.

(6) “Ó discípulos, este é o nobre caminho que realmente salva o mundo. Para a felicidade e benefício de todas as pessoas, vocês devem praticar este caminho e disseminá-lo por todo o mundo. Ó discípulos, estas trinta e sete asas para a iluminação são a base para toda a bondade. Através destes caminhos disciplinem suas mentes e se libertem da ganância, das disputas, das mentiras, da busca de diversões, do ciúme e do orgulho. Através dos olhos do insight, compaixão e reverência, vocês verão o Corpo do Darma que é muito superior ao meu. Apenas aqueles que percebem corretamente o Corpo do Darma entenderão que eu permanecerei neste mundo como antes e nunca sairei do lado deles. “Agora eu desejo a vocês que as árvores do sofrimento possam se transformar, de modo que deem frutos que produzam néctar. Mantenham reverência mútua no Darma e se abstenham de disputas, pois todos vocês CEBB

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foram convertidos ao Darma pelo mesmo e único professor; portanto, sejam harmoniosos e mutuamente respeitosos como a água e o leite; não caiam em disputas como a água e o óleo. Sustentem o Darma que eu ensinei a todos vocês e compartilhem do fruto da prosperidade e da felicidade. Não desperdicem suas vidas preocupando suas mentes com coisas insignificantes, mas alimentem-se com o néctar da flor da iluminação, de forma que possam produzir muitos frutos do caminho, e esforcem-se para nutrir o mundo com eles. Ó discípulos, eu realizei este Darma por mim mesmo e o ensinei aos outros. O Darma permitirá que vocês atinjam o objetivo final da emancipação. Guardem o Darma constantemente e o apliquem a suas vidas em todos os contextos. Eu passarei para o nirvana em três meses.”

(7) Ao ouvirem isto, os discípulos ficaram desanimados e tristes, jogaram-se no chão e exclamaram: “Por que o Tathagata irá morrer tão em breve? Por que o Olho do Mundo está tão rapidamente perecendo? Ó Honrado pelo Mundo, nós lhe imploramos para permanecer neste mundo por mais tempo e para não morrer tão logo. Todos os seres ainda estão no estado de delusão e tateiam na escuridão da ignorância. Nós lhe imploramos para permanecer neste mundo e para iluminar o mundo como uma lâmpada. As pessoas ainda são jogadas no mar violento da ignorância. Nós lhe suplicamos para permanecer como um remo para elas. De outra forma todas essas pessoas se desviarão para sempre do caminho que deveriam seguir.” O Buda exortou os discípulos, dizendo: “Ó discípulos, parem com seu choro e tristeza. O mundo é impermanente e não há nada que seja forte e imutável para sempre; o corpo físico é tão evanescente quando um raio. Mesmo os deuses no céu morrerão e nenhum rei na terra pode evitar a morte. Pobres ou ricos, elevados ou humildes, não importam as diferenças, ninguém CEBB

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que nasceu poderá escapar da morte. E também não é possível impedir as mudanças naquilo que está sujeito a mudanças. Mantenham a pureza, esforcem-se pela emancipação e nunca se tornem negligentes. Agora minha vida já se completou. O fim da minha vida chegou. Vocês permanecerão no mundo e eu, conforme meu desejo, irei para a morada da paz e do descanso. Protejam suas mentes com restrição e cuidado. “O Darma que eu ensinei a vocês ao longo dos anos é o professor que vocês devem seguir. Sustentem-no com firmeza como vocês me seguiram com devoção. Se vocês avançarem neste caminho sem duvidar, isto significa que terão sustentado o verdadeiro Darma. Portanto, guardem o Darma constantemente, mesmo depois que eu me for, assim como vocês estão fazendo enquanto ainda estou aqui. Apenas desta forma, eu lhes asseguro, serão capazes de alcançar a emancipação e, desta forma, beneficiar todas as pessoas.” Nesse momento já estava escuro e o Buda retornou para seu quarto acompanhado por Ananda.

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LIVRO VIII Capítulo II - A LUZ DOURADA

1. Os Três Corpos do Buda (1) Ao ouvir o Buda profetizar que morreria em três meses, o Bodisatva Ruciraketu, nascido em Rajagriha, ficou perplexo e apressadamente foi até o Buda e lhe perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, por que você encurtará a duração de sua vida para oitenta anos? Uma vez você nos ensinou que há duas formas para alguém desfrutar a longevidade: uma é não matar os seres vivos e a outra é sustentar a vida dos outros pela caridade. Ó Honrado pelo Mundo, você não prejudica qualquer ser vivo desde um passado infinitamente distante e sempre fez o bem para os outros, tal como alimentar os famintos. Algumas vezes você até mesmo ofereceu a eles sua própria carne e seu sangue. Por que, então, sua vida será tão curta?” Aproveitando a oportunidade para ensinar, o Buda ofereceu o discurso sobre os corpos do Buda, uma verdade secreta que não é conhecida pelas pessoas comuns. “Ó filhos de boa família, ouçam cuidadosamente e ponderem. Todos os budas são dotados de três tipos de corpos. Apenas quando eles são completamente realizados que se pode dizer que alguém alcançou a suprema iluminação. Aquele que for capaz de compreender por que isto é assim será capaz de transcender a delusão.

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“Ó filhos de boa família, os três corpos do Tathagata são o Corpo da Transformação, o Corpo do Deleite e o Corpo do Darma. O Corpo da Transformação é o corpo terreno, manifesto do Buda, nascido neste mundo para o bem da salvação da humanidade, engajado na busca de vários caminhos e na realização da iluminação. O Buda no Corpo da Transformação se dedicou à carreira de ensinar, de adquirir o poder de conhecer as capacidades individuais das pessoas, assim como o tempo e o ambiente corretos, e de revelar seu corpo físico para elas. O Tathagata que vocês conheceram com seus olhos é o Corpo da Transformação, que pode variar de acordo com as percepções de cada indivíduo. “Em seguida, o Corpo do Deleite é o corpo de meios hábeis, que tem por objetivo evitar um ensinamento direto sobre a verdade absoluta; também tem o objetivo de eliminar a sensação de prazer ou aversão da mente gerada pelos seres devido ao seu apego a um corpo de carne. Este corpo surgiu como resultado do voto original e do insight do Buda. “Por último, o Corpo do Darma é o próprio Darma, o corpo em sua natureza essencial e, portanto, a base absoluta dos Corpos do Buda, no qual a verdade absoluta e o insight da verdade ainda não são diferenciados em dois. Os dois primeiros corpos, Transformação e Deleite, são manifestações temporárias derivadas do Darmakaya (Corpo do Darma). Portanto, a doutrina budista completa está inclusa e é atribuída ao Corpo do Darma.

(2) “Além disso, ó filhos de boa família, o Buda conhece a verdade através do poder do voto original. Portanto, seu conhecimento transcendental não implica em pensamento propositalmente empírico como tal, mas mesmo assim conduz múltiplas atividades espontaneamente. O sol e a lua não têm objetivo específico e seus raios e um espelho são igualmente destituídos de CEBB

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propósito, porém, os três juntos espontaneamente produzem as imagens das coisas como elas realmente são, como refletidas em um espelho. Aqui a verdade da imagem das coisas é comparada ao sol e à lua, o insight que intui a verdade é sua luz e o poder do voto é o espelho. Apesar de o Darmakaya não ter pensamentos intencionais, ele espontaneamente gera como imagens os Corpos do Deleite e da Transformação para o benefício das pessoas. “Ó filhos de boa família, assim como o espelho cria várias imagens ao refletir a luz, apesar de não haver nada nele, os discípulos são guiados pela imagem do Buda produzida dentro do Darmakaya, o qual não possui forma alguma, ao receberem os ensinamentos. Enquanto os Corpos do Deleite e da Transformação se manifestam de várias formas devido ao poder do voto, o Darma transcende totalmente essas mudanças; não há mudanças no estado transcendental. Apesar disso, diz-se que o Tathagata é impermanente e que ele não permanece no nirvana. Por quê? Os dois primeiros corpos são provisórios e surgem frequentemente neste mundo, mas eles não permanecem com qualquer forma permanente, e assim eles naturalmente entram no estado de nirvana. Por outro lado, não se pode dizer que o Darmakaya permanece no nirvana para sempre, porque não se pode dizer que este terceiro corpo compreende as duas características, ou seja, os dois corpos que surgem ao longo da história e aquele que o transcende. Em resumo, o Darmakaya é tríplice e ao mesmo tempo um só; ele é uno, porém tríplice; ele se manifesta através da mudança, porém é imutável; não se transformando e, porém, manifestando-se na mudança. “Ó filhos de boa família, as pessoas comuns que não conhecem as três formas de existência não podem ver os três Corpos do Buda. Os três são as formas da existência imaginária, da existência dependente e da existência perfeita. A natureza imaginária das coisas se refere à realidade na qual a CEBB

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consciência da pessoa comum está sempre presa devido a suas próprias inclinações, assim como um homem imagina uma cobra ao olhar para uma corda e se amedronta. A natureza dependente das coisas se refere à realidade ensinada pelo Buda de que todas as coisas surgem devido a múltiplas causas e condições e, portanto, é uma configuração temporária, apenas útil para compreender que a corda é uma forma temporária da substância do cipó. A natureza perfeita das coisas aponta para a verdade de que apesar de as coisas serem de uma natureza transitória e imaginária, sua verdadeira base formativa e causal deve ser entendida como inseparável de sua forma empírica de manifestação, e assim a verdade absoluta é intuída no mundo transitório. O Corpo da Transformação é um meio hábil para instruir as pessoas comuns que estão presas nas formas imaginárias. O Corpo do Deleite é o Buda visto por aqueles que intuem a natureza dependente das coisas. O Darmakaya é o Buda conhecido apenas pela pessoa iluminada que mergulha completamente na natureza do Darma e que intui o absoluto dentro das formas temporárias do mundo. Assim, os dois corpos dependentes do Deleite e da Transformação estão necessariamente ligados às pessoas transitórias e comuns incapazes de compreender os três aspectos do Corpo do Buda, e que por isso se amedrontam e se entristecem quando o Buda parece ter desaparecido para sempre nas nuvens para o nirvana. “Ó filhos de boa família, existem três tipos de consciência humana, devido às quais é difícil para uma pessoa comum enxergar os três Corpos do Buda. A primeira é a consciência que responde aos eventos externos e consiste de seis formas de consciência, que são a visual, a auditiva, a olfativa, a gustativa, a tátil e a mental; este tipo percebe coisas externas e é atraído por elas, o que resulta em delusão. A segunda é a consciência do ‘eu’ que depende da terceira consciência e que subjaz a todas as paixões. A terceira é a CEBB

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consciência que constitui a base última subjacente à operação conceitual anterior. Em correspondência a elas, quando alguém vê a realidade como ela é e, portanto, aniquila todas as delusões, será capaz de ver o Corpo da Transformação. Além disso, quando aniquilar as fontes das paixões, deverá ser capaz de ver o Corpo do Deleite. E por último, ao praticar o caminho mais elevado, aniquilando o agente fundamental da consciência, deverá ser capaz de ver o Darmakaya.

(3) “Ó filhos de boa família, todos os budas compartilham as mesmas atividades no Corpo da Transformação, compartilham a mesma intenção no Corpo do Deleite e compartilham a mesma essência no Darmakaya. O Corpo da Transformação é manifestado de formas variadas de acordo com as várias inclinações das pessoas e é, portanto, definido como múltiplo; o Corpo do Deleite se manifesta em uma única forma em resposta à intenção única dos discípulos e é, portanto, definido como único; e o Darmakaya corporifica o estado que transcende todas as formas e não pode ser entendido através de formas, portanto, ele é definido como não sendo um ou dois. “Ó filhos de boa família, o Corpo da Transformação surge com base no Corpo do Deleite, e este surge com base no Darmakaya, e este Darmakaya é a existência absoluta, que não requer qualquer base e não depende de nada. “Ó filhos de boa família, esses três Corpos do Buda são vistos, de acordo com seus significados pretendidos, como sendo tanto permanentes quanto impermanentes. O Corpo da Transformação sempre transmite os ensinamentos da verdade e nunca exaure seus meios hábeis apropriados a várias condições; portanto, ele é definido como permanente. Entretanto, este não é o corpo fundamental, e nem ele manifesta uma função superior; assim, ele é definido como impermanente. Em seguida, o Corpo do Deleite desde CEBB

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um passado imemorial nunca deixou de ensinar o Darma que é acessível apenas aos budas, e nem sua função se exaurirá enquanto a humanidade continuar existindo; portanto, ele é definido como permanente. Porém, este corpo não é o corpo absoluto e não se manifesta em todas as coisas; portanto, ele é definido como impermanente. O Darmakaya é obviamente não transitório, nem possui forma, na verdade ele é o corpo absoluto, fundamental, comparável ao espaço; portanto, ele é definido como sendo apenas permanente. “Ó filhos de boa família, não há insight perfeito separado do insight de um objeto particular. Não há um objeto universal separado de objetos particulares. Os fenômenos, suas naturezas e o insight que os revela não são o mesmo nem diferentes. O Darmakaya consiste do insight puro livre das paixões e da pura quiescência; portanto, ele é puro e livre das paixões.

(4) “Além disso, ó filhos de boa família, o Darmakaya não pode ser descrito como sendo existente ou inexistente, como sendo único ou não, como sendo mensurável ou incomensurável, ou como sendo luz ou escuridão. Ele está completamente além da compreensão das pessoas comuns; e o insight da talidade, ou a verdade como ela é, está completamente além do conhecimento comum deduzido a partir da experiência humana. Portanto, o Darmakaya está além da cognição humana; sua base causal, esfera objetiva, faculdade cognitiva e função estão além do conhecimento humano. Se vocês compreenderem o significado disto tudo, deveriam ser capazes de alcançar o estado de não-retrocesso no caminho para a iluminação, prosseguindo, então, para o nível de uma pessoa destinada a se tornar um buda e atingir a mente do diamante, a mente dos budas, o verdadeiro Darma. “Além do mais, o Darmakaya é denominado permanente, ou detentor CEBB

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de uma essência, a partir do ponto de vista absoluto; ele é denominado bemaventurança com relação aos estados meditativos; e é denominado puro com relação ao insight. Assim, o Darmakaya é imutável, independente, pacífico e puro. A partir da meditação no Darmakaya surgem variedades de meditações, poderes sobrenaturais e compaixão. A partir do insight do Darmakaya brotam todos os poderes, tais como os poderes de persuasão e doutrinas ilimitadas e maravilhosas, assim como todos os tipos de pedras preciosas são produzidas pela mágica cintamani, a joia que concede desejos. Ó filhos de boa família, desta forma a meditação e o insight atribuídos ao Darmakaya transcendem todas as formas e não são aprisionados por qualquer forma, e assim não carregam qualquer pensamento intencional em particular sobre o que deve ser feito. Visto que não pode ser determinado quer como permanente ou impermanente, ele é chamado de Caminho do Meio e transcende o ciclo de nascimentos e mortes. Ele é a morada que não pode ser alcançada por pessoas comuns; ele é, de fato, a morada dos budas e bodisatvas.

(5) “Ó filhos de boa família, a morada dos budas é a esfera na qual obscurecimentos, sofrimento e forma foram todos purificados e é chamada de absoluto. Ela é como o ouro bastante refinado que não possui manchas; e isto se deve ao fato de a natureza do ouro não possuir manchas. O ouro já é puro mesmo enquanto está na pepita. Ele não é criado de outra forma pelos processos de refinamento, nem sua pureza é perdida quando está na pepita. O Darmakaya também é assim, pois ele é essencialmente puro. Mesmo quando surge em meio aos obscurecimentos e se manifesta nos Corpos do Deleite e da Transformação, não se pode dizer que o Darmakaya perca sua pureza essencial. É por isto que se diz que o estado de todos os budas é puro. CEBB

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Tomando outra analogia: alguém sonha que está nadando em um grande rio, cruzando-o através do movimento de seus braços e pernas, e finalmente alcança a outra margem; mas quando ele acorda do sonho, não encontra nem o rio nem sua margem. Da mesma forma, quando alguém destrói as paixões não encontra mais o fluxo de nascimentos e mortes nem as margens da iluminação e da delusão. Apesar disto, o despertar do sonho não esvazia a presença da mente, nem a exaustão das delusões significa o esvaziamento da iluminação. A pureza da mente, como a do espaço vazio, permanece depois de tudo ter sido esvaziado e é, ela própria, a iluminação. É por isto que se diz que a morada dos budas é pura. “Ó filhos de boa família, o Darmakaya supera os obstáculos criados pelas paixões, manifestando-se desta forma no Corpo do Deleite, e ele também supera os obstáculos criados pelas ações, manifestando-se desta forma no Corpo da Transformação. Além disso, ele supera os obstáculos que impedem o insight, manifestando-se desta forma como o próprio Darmakaya. Isto é comparável ao céu que mostra o relâmpago e ao relâmpago que gera a luz. Além do mais, o Darmakaya se manifesta em sua forma essencialmente pura; o Corpo do Deleite se manifesta quando o insight é purificado; e o Corpo da Transformação se manifesta quando a concentração é purificada. Os três Corpos do Buda são igualmente puros devido à realidade tal como ela é. A realidade dos fenômenos é encontrada em um único sabor universal; ela está livre do apego causado por todas as paixões e é a fundação absoluta de todos os fenômenos. Da mesma forma, os três Corpos do Buda, que são idênticos a esta fundação absoluta, são vistos como um e não são diferentes.

(6) “Ó filhos de boa família, se um leigo ou uma leiga mantiver a firme crença de que o Buda é o seu grande professor, ele ou ela compreenderá CEBB

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completamente que não há diferenças essenciais entre os três Corpos do Buda. Assim, quaisquer pensamentos errôneos que possam surgir em relação aos fenômenos serão totalmente eliminados. Ele ou ela compreenderá que não há dualidade nas formas nem qualquer diferenciação na realidade, e como resultado ele ou ela não será afetado(a) pelas paixões e será capaz de praticar o caminho genuinamente. Assim, a verdade das coisas como realmente elas são e o insight desta verdade são igualmente puros, resultando na remoção dos obstáculos assim como na percepção espontânea de toda a realidade como ela é. Isto é chamado de o insight supremo da talidade, ou a forma da realidade suprema; isto também é chamado de a forma correta de ver as coisas ou a forma verdadeira de enxergar o Buda.” Ao ouvir estes ensinamentos, a audiência se maravilhou com os corpos espantosos do Buda, e surgiu em suas mentes o pensamento de buscar o Darmakaya que é eterno; com isto sua tristeza e dúvidas em relação à passagem do Buda foram dissipadas.

2. A Terra do Verdadeiro Darma (1) Naquele momento, todos os deuses presentes disseram em união: “Ó Honrado pelo Mundo, esta é uma doutrina maravilhosamente superior que nunca ouvimos antes. Damos nossa palavra, iremos proteger e fazer prosperar os reis que firmemente guardarem este ensinamento e o disseminarem.” Então o Honrado pelo Mundo disse aos Reis das Quatro Regiões: “Ó Reis das Quatro Regiões, é verdadeiramente excelente que vocês tenham

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prometido proteger este ensinamento. Ao longo de um período de muitos milhares de kalpas eu executei muitas práticas difíceis e finalmente alcancei a iluminação, e agora estou ensinando o Darma. Se qualquer governante de um povo firmemente guardar esta doutrina, honrá-la e fizer oferendas a ela, todos os seus inimigos recuarão e fugirão; e como resultado, todas as cidades e vilas de seu país serão pacíficas e prósperas. Ó Reis das Quatro Regiões, se qualquer governante guardar firmemente esta doutrina ele desfrutará a vida como desejar, possuirá cada vez menos desejos, seus tesouros crescerão em abundância e acabarão descartando os arcos e as flechas, pois não terão cobiça por outros países. O povo de tal país certamente desfrutará o bemestar e todos se tratarão bem, mantendo a harmonia entre os elevados e os humildes, assim como há entre a água e o leite. Eles também se deleitarão com amor e respeito mútuos, serão compassivos e humildes e assim promoverão todas as coisas boas. Com isso o povo prosperará, a terra será fértil, o frio e o calor serão moderados e as estações mudarão na ordem devida; o sol, a lua e as estrelas manterão seus cursos regulares, o vento e a chuva seguirão a ordem da estação e todos os desastres desaparecerão.” Então, os Reis das Quatro Regiões juntaram suas mãos em saudação e disseram ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, se o governante de um povo não quiser ouvir este ensinamento ou não honrá-lo e não fizer oferendas a ele, nós Reis das Quatro Regiões e todos nossos seguidores não protegeremos o seu país. Nesse país, então, o verdadeiro Darma perderá seu brilho, o mal prevalecerá, o povo se desviará para caminhos errôneos e agirá contra o caminho da iluminação, e múltiplos desastres se abaterão sobre o país. O povo perderá sua natureza de bondade, será raivoso e se engajará em disputas; vingando-se uns dos outros e fazendo falsas acusações eles verão as epidemias se espalharem, estrelas cadentes, o tremor da terra, as fontes CEBB

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secando, tempestades e furacões se abaterão frequentemente, o sofrimento da fome aumentará e todos os tipos de inimigos detestáveis atacarão de todas as direções. Ó Honrado pelo Mundo, portanto, se qualquer governante de um povo deseja que seu país prospere, que seus súditos desfrutem a paz e que o verdadeiro Darma se dissemine pela terra, ele deve guardar este ensinamento e honrá-lo. Então nós, assim como incontáveis deuses, cresceremos com o néctar deste ensinamento e protegeremos o rei com nossos poderes sobrenaturais, eliminaremos os desastres e assim faremos com que o reino esteja em paz.”

(2) Naquele momento, Drdha, a deusa da terra, levantou-se de seu assento e se curvou respeitosamente diante do Buda, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, se o governante de um povo não mantiver o verdadeiro Darma, ele não será capaz de governar seu país nem de manter a paz para seu povo, e por isso ele não conseguirá permanecer no trono por muito tempo. Ó Honrado pelo Mundo, por favor, instrua-me no verdadeiro Darma e nos aspectos essenciais para governar um país, de forma que eu possa fazer com que cada governante humano ouça o Darma, aja de acordo com o Darma, governe seu país com justiça e mantenha seu trono por um longo tempo; desta forma, eu poderei ajudar seu povo por todo o país a desfrutar os benefícios assim obtidos.” Então o Buda se dirigiu a Drdha e lhe disse: “Houve um rei que enquanto ainda era o príncipe herdeiro foi instruído por seu pai, o rei, sobre o tema do verdadeiro Darma de um governante. Tempos depois, por ocasião da cerimônia na qual ele mesmo determinou seu filho como príncipe herdeiro, ele o instruiu com versos sobre o tema que havia aprendido:

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(i) Como resultado de ações positivas nascemos como deuses ou nos tornamos um líder dos deuses, ou nascemos como humanos e nos tornamos um governante do povo. Apesar de alguém nascer no reino humano, se possuir uma natureza elevada e nobre e for protegido pelos deuses, essa pessoa é chamada de Filho do Céu. Quando o governante proíbe o povo de cometer erros, este comando deve estar de acordo com o bom senso. Aplique isto de acordo com o Darma. Na verdade, alguém é chamado de rei apenas quando se devotar ao Darma. Se negligenciar a sua prática, o rei prejudicará seus súditos como um elefante que pisoteia um lago de lótus.

(ii) Furacões e dilúvios de chuva se abatem, estranhas estrelas e espíritos malignos aparecem, o sol e a lua igualmente perdem seu brilho, as colheitas falham e o povo sofre pela fome; tudo isto é resultado da negligência de um governante em relação ao verdadeiro Darma. Se ele disseminar um Darma maligno pelo país, a terra será tomada por disputas e enganos, e perderá a proteção dos deuses; seu ministro, o pilar do país, morrerá violentamente; o rei, também, terá seu corpo ferido e inimigos externos cairão sobre o país. Assim, as batalhas se espalharão em todas as direções, muitas pessoas morrerão injustamente, ministros e conselheiros serão corrompidos, honrando os malfeitores e punindo os justos, e finalmente, o verdadeiro Darma será eclipsado, resultando na eventual destruição do país.

(iii) Portanto, mesmo ao deparar com o perigo de perder seu trono

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ou sua vida, o rei nunca deveria praticar a injustiça. O maior perigo que um rei pode experimentar é perder seu país, e isto pode ocorrer devido a bajuladores. Se o rei se associar a amigos bajuladores ele perderá seu trono e seu estado corrupto, como um elefante que corre para um jardim de flores. Portanto, ele deveria tratar seus parentes e os outros igualmente, e deveria se afastar de facções; então o nome do rei do Darma se disseminará por todo o mundo. Assim, cada governante do povo deve esquecer seus interesses pessoais e deve disseminar o verdadeiro Darma e fazer o povo praticar os dez méritos em honra do tesouro do Darma; desta forma ele trará prosperidade e paz ao seu país.

3. Oferecendo Sua Carne à Tigresa Que Morria de Fome (1) Imediatamente após o discurso anterior, o Buda respondeu às questões levantadas por Kuladevata, a deusa da Árvore Bodhi. Ele explicou as vidas passadas daqueles deuses, que chegavam a dez mil, reunidos naquela assembleia do Darma. “Ó deusa Kuladevata, certa vez havia um rico homem chamado Jatindhara no passado imemorial que era versado em medicina e curava muitas variedades de doenças. O filho desse homem, cujo nome era Jalavahana, possuía características nobres e era dotado de uma mente inteligente, apresentando maestria em vários ramos do conhecimento. Certa vez, uma epidemia se alastrou pelo país e inúmeras pessoas estavam sofrendo em seus leitos. Devido à sua compaixão, Jalavahana pensou: ‘Apesar de meu pai dominar a medicina, agora ele está velho e mal consegue CEBB

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andar sem a ajuda de uma bengala. Vou aprender os segredos da medicina com ele para poder salvar aqueles que estão sofrendo.’ Com esta ideia em mente, Jalavahana veio até seu pai e lhe relatou sua ideia. O pai ficou muito satisfeito e lhe ensinou todos os detalhes da medicina, cada um de acordo com a natureza da doença e sua causa. “Ó Jalavahana, quando você conhecer as causas das doenças desta forma, poderá prescrever remédios de acordo com as necessidades de cada doença. Mesmo se a condição parecer muito severa, a primeira coisa a fazer é tratar a causa raiz e eliminá-la. Se não houver sinais de morte em um determinado paciente ele poderá sobreviver à doença. A sombra da morte pode ser reconhecida pelo fato de o olho esquerdo ficar branco, a língua se torna escura, a ponta do nariz se torna excepcionalmente elevada, o lóbulo da orelha parece diferente ou o lábio inferior fica caído. A sombra da morte também pode ser observada em condições anormais dos olhos, nariz e orelhas, em uma atitude arrogante diante de uma pessoa ou médico que deveria ser respeitado, ou no tipo de fala que gera indignação nos amigos próximos.’ Então seu pai relatou a Jalavahana os tipos de remédios em detalhes, e finalmente completou seu ensinamento com as seguintes instruções: ‘Um médico deve possuir um sentimento de compaixão pelos pacientes e nunca pensar em acumular riquezas. Esses são os aspectos essenciais da arte da medicina e você poderá ajudar aqueles que estão sofrendo por doenças. Ao fazer isto você poderá receber recompensas inestimáveis.’ “Assim, Jalavahana, filho de um homem rico, compreendeu que ao aplicar habilidosamente o que havia aprendido com seu pai seria capaz de tratar e curar doenças; e ele viajou longamente pelas cidades e vilas, cuidando dos doentes e os consolando: ‘Eu sou um médico e irei curar sua CEBB

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doença.’ Aqueles que sofriam pelas doenças ficavam profundamente felizes e muitas pessoas se curaram.

(2) “Assim, Jalavahana foi louvado pelo povo daquele país como um bodisatva compassivo. Certa vez, quando viajava pelo país com seus dois filhos, ao passar por uma área pantanosa em uma região isolada, ele viu lobos, raposas, falcões, águias e outros pássaros e animais comedores de carne, todos correndo na mesma direção como um rio. Achando aquilo estranho, ele os seguiu e chegou a um grande lago quase seco e viu ali uma quantidade enorme de peixes lutando para sobreviver. Naquele momento, um deus das árvores manifestou metade de seu corpo e disse a Jalavahana: ‘Ó filho de boa família, de acordo com o significado de seu nome seja compassivo com esses peixes. Como o seu nome possui dois significados, fluxo da água e esforço na generosidade, por favor, pratique de acordo com o seu nome.’ “Percebendo que o número de peixes chegava a muitos milhares e vendo-os diretamente expostos aos raios do sol, debatendo-se na água rasa, Jalavahana sentiu profunda comiseração por eles, e os peixes, também, como se estivessem mostrando suas mentes, pareciam olhar para ele. Esquecendose de qualquer outra coisa, ele agora desejava resgatá-los. Correndo por toda a área em busca de água, ele não conseguiu encontrar, e assim quebrou galhos das árvores e folhas para fazer sombra para os peixes. Em seguida ele procurou a fonte da água do lago. Havia um grande rio, mas ele estava todo seco porque pescadores haviam desviado o fluxo da água represando o fluxo superior para pegar os peixes; como resultado, a água do lago não estava sendo reabastecida e secava continuamente. Para poder consertar a parte destruída do fluxo superior levaria mais de três meses com uma força de CEBB

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trabalho de centenas de pessoas. Assim, ele retornou à cidade e emprestou do rei vinte grandes elefantes e muitas sacolas grandes de couro de uma cervejaria para transportar água do rio. Em pouco tempo ele encheu o lago com água como era antes. Além disso, ele disse para as pessoas transportarem comida de sua casa e alimentarem os peixes até eles estarem saciados. “Jalavahana pensou: ‘Agora que já salvei estes peixes alimentando-os, oferecerei a eles a comida do Darma, de forma que eles sejam salvos em suas próximas vidas sem exceção.’ Ele entrou no lago e fez com que os peixes ouvissem o nome do Buda, e lhes ensinou os dois diferentes caminhos que levam à delusão ou à iluminação. “Tempos depois, esses peixes alcançaram um renascimento no céu pelo mérito de terem ouvido o ensinamento de Jalavahana sobre o Darma. Desejando retribuir-lhe o presente que haviam recebido em suas vidas anteriores, os peixes o visitaram enquanto dormia em um quarto do palácio e lhe ofereceram muitos ornamentos feitos de pérolas; eles encheram seu quarto com flores coloridas brilhantes que chegavam até seus joelhos.”

(3) Tendo completado a história, o Buda disse a Kuladevata: “Jalavahana nesta história era eu mesmo e os dez mil peixes eram os deuses que se congregaram aqui. Desta forma, eu continuei por um longo período de nascimentos e mortes repetidos para beneficiar um número incalculável de seres, e os ajudei a gradualmente alcançarem a iluminação. Vocês também devem buscar a emancipação do estado de delusão, esforçando-se sempre sem recair na negligência.” A audiência compreendeu o significado do ensinamento e todos ficaram encantados com a resolução de também se esforçarem para ajudar CEBB

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todos os outros com grande compaixão, diligentemente praticando o caminho e alcançando a suprema iluminação.

(4) Então o Buda conduziu a assembleia e chegou a um bosque no país de Pancala. Ali o chão era plano e coberto não com arbustos espinhentos, mas sim com belas flores e grama macia por toda a área. Pedindo a Ananda para preparar um assento, o Buda se sentou na posição de lótus. Endireitando seu corpo e sua mente, ele perguntou à audiência: “Vocês gostariam de ver as cinzas de um Buda que certa vez praticou o difícil caminho de um bodisatva?” Unanimemente eles responderam que sim. Então o Buda apontou para o chão. Repentinamente, a terra tremeu de seis formas diferentes e sua superfície se abriu, e dali surgiu uma estupa decorada com os sete tipos de pedras preciosas. O Buda se levantou, curvou-se diante dela, andou ao seu redor uma vez pela direita e retornou ao seu assento. Ele disse a Ananda para abrir a porta da estupa. Então surgiu um baú de tesouros decorado com as sete pedras preciosas, no qual havia um monte de cinzas como a neve branca e fragrante como um lótus branco. O Buda gentilmente levantou as cinzas e disse à assembleia: “Estas são verdadeiramente as cinzas de um bodisatva que completou seu treinamento”, e ele recitou o seguinte verso:

Um bodisatva possui excelentes virtudes e sabedoria. Seus esforços corajosos para aperfeiçoar as Seis Práticas São apenas para a realização da iluminação. Com equanimidade inabalável, ele pratica o caminho.

“Ó meus discípulos, prestem tributo a estes restos do Bodisatva, que CEBB

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carregam uma prática incalculavelmente grande de disciplina moral, concentração mental e insight perfeito. Ele é a fonte da bênção suprema, a qual é extremamente difícil de encontrar.” Seguindo a sugestão do Buda, todos os ouvintes prestaram reverência às cinzas. Então o Buda lhes contou a seguinte história sobre os restos.

(5) “Ó Ananda, certa vez havia um rei Maharatha, cujo país era rico e florescia e seu exército era valoroso. O rei governava seus súditos de acordo com o verdadeiro Darma. Ele teve três filhos com sua rainha: Mahabala, o mais velho; Mahadeva, o segundo; e Mahasattva, o mais jovem. Um dia esses príncipes fizeram uma excursão à floresta e por acaso encontraram uma tigresa. A tigresa tinha acabado de dar a luz a sete filhotes e estava extremamente magra com os ossos aparecendo, quase morta de fome, prestes a devorar os próprios filhotes. Os príncipes mais velhos ficaram profundamente comovidos e disseram ao mais jovem: ‘Assim como os leopardos e leões, os tigres se alimentam apenas do sangue e carne de animais, portanto, ninguém poderá salvar esta tigresa da morte pela fome.’ Enquanto eles deixavam o local, o terceiro príncipe pensou consigo: ‘Cada um ama o próprio corpo, mas não sabe como beneficiar os outros; apenas o homem superior se esquece de si mesmo para resgatar os outros devido à sua grande compaixão. As centenas, ou mesmo milhares de vidas pelas quais tenho passado vêm sendo apenas repetições sem sentido, vidas terminando com corpos apodrecendo e cheios de pus. Agora entregarei meu corpo para que esta tigresa possa ser salva. De fato, este corpo é transitório. Não importa o quanto eu deseje manter meu corpo, não posso preservá-lo. Entregarei agora este corpo para o bem da iluminação.’ Sem hesitar ele tirou suas roupas e pendurou-as em uma estaca de bambu próxima, e ele cantou: CEBB

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Agora eu desejo realizar a iluminação Para o benefício de todos os seres no mundo do Darma. Com uma mente inabalável de grande compaixão, Estou determinado a entregar o corpo, ao qual as pessoas se agarram. Não há sofrimento para aqueles que atingem a iluminação; É o estado que todas as pessoas de sabedoria desejam alcançar. Que eu possa resgatar aqueles que estão afundados no mar do sofrimento E, desta forma, possa conduzi-los ao estado da paz definitiva.

“Assim o príncipe deitou seu corpo diante da tigresa faminta. Abalada pelo poder da compaixão do Bodisatva, a tigresa não tentou devorá-lo. Percebendo isto, o príncipe lançou seu corpo de uma rocha, perfurou seu pescoço com um pedaço de bambu seco e se aproximou da tigresa com o sangue jorrando. Naquele momento, a terra e as montanhas se abalaram e tremeram, enquanto o oceano se agitou estupefato. A tigresa olhou para o sangue jorrando, imediatamente pulou sobre o príncipe e o devorou, deixando apenas lascas de osso para trás.

(6) “Os dois príncipes mais velhos, percebendo a súbita mudança dos céus e da terra, preocupados com seu irmão mais jovem, retornaram ao local onde haviam o deixado. Ao encontrarem apenas suas roupas penduradas em uma estaca de bambu e lascas de osso manchadas de sangue espalhadas pelo chão, eles ficaram chocados com o pesar, ao ponto de desmaiarem. “Naquele momento, a rainha estava deitada no palácio real e sonhou que seus dois seios se abriram, dois de seus dentes caíram e um de seus três filhotes de pomba foi agarrado por um falcão. Ela imediatamente acordou e CEBB

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encontrou os céus e a terra escurecidos. Seus seios ainda tremiam e seu coração doía como se tivesse sido perfurado por uma flecha. Então sua criada chegou para reportar que os três príncipes haviam desaparecido. Amedrontada, ela saiu com o rei e muitas pessoas e entrou na vila para procurar pelos príncipes. Apesar de encontrarem os dois príncipes mais velhos, eles não puderam encontrar o mais jovem em lugar algum. Em sofrimento, o rei exclamou:

No início, quando meu filho nasceu, minha alegria não era extremamente grande; Mas agora que eu o perdi, minha tristeza é extremamente grande. Não haverá arrependimento mesmo se eu perder este corpo para o benefício da vida dele.

“Aos poucos o rei e a rainha ficaram sabendo como tudo havia acontecido; eles correram para o lugar onde o príncipe sacrificou seu corpo, jogaram seus corpos no chão como árvores derrubadas pelo vento e lamentaram das profundezas de seus corações. “Assim, os restos do Bodisatva foram colocados em uma torre adornada com os sete tipos de pedras preciosas e colocados num relicário com a devida cerimônia em meio a lágrimas. Agora, esta torre que esteve afundada no chão ao longo de eras incontáveis, mais uma vez se elevou para o benefício das pessoas. Ó Ananda, o terceiro príncipe desta história era, na verdade, eu mesmo, e o pai era Suddhodana e a mãe era Maya.” Ao ouvirem esta história, as pessoas tomaram a resolução de seguir o caminho. Então, quando o Buda suspendeu seu poder sobre-humano, a torre do tesouro afundou no chão por si mesma. CEBB

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Quando o Buda completou este ensinamento, um número incontável de bodisatvas chegaram à assembleia do Darma vindos das dez direções, prestaram homenagem a ele com as mãos em prece e louvaram sua virtude suprema com suas vozes em uníssono:

Com suas características sublimes e luz brilhante como a de uma montanha dourada, O Buda ilumina todos os mundos nas dez direções; Empregando todos os meios possíveis, Ele salva as pessoas onde quer que elas se encontrem. Livre dos obscurecimentos e do apego E queimando a lâmpada do Darma incessantemente, O Buda estende sua compaixão a todas as pessoas, Oferecendo-lhes uma vida de felicidade neste mundo e nos próximos. Com sua grande virtude, com seu insight profundo E com seus meios hábeis de compaixão, O Buda está ativamente engajado na tarefa de salvar as pessoas. Nós louvamos até mesmo uma única gota de seu mérito vasto como o oceano. Possa esse mérito ser transferido aos outros de modo que todos possam rapidamente alcançar a iluminação.

4. A Mente da Iluminação, da Grande Compaixão e dos Meios Hábeis

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(1) Um dia o Honrado pelo Mundo se manifestou como o Buda Mahavairocana, adornado por ornamentos ilimitados, sentado entre muitos bodisatvas liderados por Samantabhadra e muitos Vajrapanis liderados por Guhyakadhipati. Guhyakadhipati perguntou ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, os budas alcançaram a onisciência e agora estão propagando este insight a todos os seres sencientes de acordo com suas capacidades individuais. Eles se manifestam de diversas formas humanas, utilizando várias línguas dos mundos respectivos. E mesmo assim, o caminho que todos os budas ensinam é o mesmo e possui um único sabor universal. Ele é totalmente livre de todas as diferenciações como o espaço vazio, e é a base para todas as coisas como a grande terra. Como o fogo ele queima a madeira da ignorância; como o vento ele elimina os obscurecimentos das paixões. Mas no que está baseada esta onisciência? Qual é a raiz desta onisciência? E qual é o objetivo final desta onisciência?”

(2) Mahavairocana Buda disse a Guhyakadhipati: “Muito bem dito, Guhyakadhipati. Agora responderei as suas questões. Ó Guhyakadhipati, esta onisciência tem sua base na mente que busca a iluminação, tem sua raiz na Grande Compaixão, e tem seu objetivo final nos meios hábeis. A iluminação, como o espaço vazio, não possui uma forma determinada. Ela não pode ser reconhecida pelos sentidos ou explicada. Ó Guhyakadhipati, não há tal forma definida em qualquer uma de todas as coisas, todas são como o espaço vazio.” Guhyakadhipati perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, então, quem é aquele que busca a onisciência e que realiza a iluminação suprema?” O Buda disse: “Ó Guhyakadhipati, a própria mente é o buscador, e ela mesma é a CEBB

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iluminação. E também, ela é a onisciência. Por quê? Porque a essência da mente é pura e totalmente livre de obscurecimentos. A mente não está dentro, nem fora, nem na interface; ela transcende completamente todas as formas e cores; portanto, não pode ser reconhecida pelos seis sentidos. Por quê? Porque a mente está livre das discriminações conceituais e é idêntica ao espaço vazio. A natureza da iluminação também é idêntica ao espaço vazio porque este é idêntico à mente. Da mesma forma, a mente, o espaço vazio e a iluminação, apesar de serem três, são a mesma coisa. Os três têm a Grande Compaixão como sua raiz e são perfeitamente dotados de meios hábeis. Ó Guhyakadhipati, a razão pela qual eu ensino é a de permitir às pessoas reconhecerem que suas próprias mentes são mentes puras da iluminação. Alguém que deseje atingir esta iluminação deveria compreender da forma como eu expliquei. Então, como alguém pode reconhecer a própria mente? Esta mente não pode ser buscada em qualquer esfera objetiva, nem pode ser buscada no corpo ou na mente, ou mesmo na própria identidade ou nas coisas vistas como propriedades, e assim por diante. Guhyakadhipati, aquele que vê as coisas desta forma, este bodisatva, pode alcançar o primeiro caminho da compreensão do Darma. Se ele praticar assim o caminho, será capaz de eliminar todos os obstáculos da mente em pouco tempo, e desta forma ele compreenderá inúmeras palavras assim como os budas. Com isso ele será capaz de conhecer as mentes e as ações das pessoas, e sob a proteção do Buda ele não será maculado enquanto se encontra no estado de delusão. Ele nunca se cansará de servir os outros; sustentando as visões corretas, ele será capaz de adquirir inúmeras virtudes.”

(3) Guhyakadhipati perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, como a iluminação nasce desta mente? E como se sabe que a mente da iluminação CEBB

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surgiu? E também, quais são os passos que a mente seguirá em direção ao caminho?” O Buda respondeu: “Ó Guhyakadhipati, o homem comum que está afundado no estado de delusão desde o passado imemorial está preso pelas paixões, apegado à sua identidade e às coisas que considera suas. Isto se dá porque ele ainda não vê qual é sua própria natureza essencial. Como resultado, ele mantém visões errôneas sobre a existência humana e se considera transcendente, além do espaço e tempo, ou ele acredita em um deus e seus poderes de criação, ou ainda ele sustenta a realidade objetiva do mundo externo, ou ele clama que há uma alma interna e que ela é na verdade o agente do conhecimento, visão e existência. “Ó Guhyakadhipati, o tolo homem comum é como uma ovelha ao se entregar à cobiça. Inicialmente ele observa um único dia de abstinência e repete esta virtude simples frequentemente com alegria. Este passo é comparável ao crescimento inicial de uma boa semente. Em seguida, nos seis dias mensais de abstinência, ele pratica caridade com seus parentes. Este é o segundo passo, comparável à eclosão de um broto. Quando ele estende esta prática de caridade para os outros além de seus parentes, este é o terceiro passo, comparável à semente túrgida que está se enraizando. Agora ele pratica a caridade com os mendicantes, e este é o quarto passo, comparável ao crescimento das folhas; além disso, ele pratica a caridade pelos músicos e cantores, assim como pelas pessoas mais velhas, e este é o quinto passo, comparável ao desabrochar das flores. E se ele praticar a caridade com um senso de afeição, este é o sexto passo, comparável ao surgimento de frutos. Em seguida, o renascimento no mundo celestial é o sétimo passo, comparável à semente que será usada no plantio do próximo ano. Então ele renasce neste mundo, e apesar de sua mente estar deludida, ele venera sinceramente os deuses, sob a influência de seus bons amigos. Esta mente ingênua e infantil CEBB

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que não tem medos neste mundo é o oitavo passo. Finalmente, há a prática superior de acordo com os princípios da impermanência, sofrimento e vacuidade, que traz o insight a partir do qual ele busca sua emancipação. Esta prática tem por objetivo fazê-lo entender o significado da vacuidade de todas as coisas, porque de outra forma ele não poderá entender o significado do nirvana. Assim, compreendendo a vacuidade, ele deve se libertar de ambas as visões errôneas extremistas, o eternalismo e o niilismo.”

(4) Guhyakadhipati perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, você pode explicar a mente para nós?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Os modos da mente são muitos, ou seja, a mente da cobiça, da ausência de cobiça, da raiva, do afeto, da ignorância, do insight, da confiança, da dúvida, da escuridão, da claridade, da disputa, da reflexão, de um deus, de um Mara, de um Naga, de um homem, de uma mulher, de um mercador, de um fazendeiro, de um rio, de um lago, de um poço, da proteção, da avareza, de um cão, de um texugo, de um rato, de cantar, de dançar, de tocar tambores, de um leão, de uma coruja, de um corvo, do vento, da água, do fogo, da delusão, da prisão, das correntes, das nuvens, de campos de arroz, do sal, de uma lâmina, e também a mente equivalente ao Monte Sumeru, ao oceano, a um buraco no chão e também a mente que recebe um renascimento e assim por diante. “Ó Guhyakadhipati, a mente da cobiça é a mente que se entrega à paixão, ao passo que a mente da ausência de cobiça é aquela que não se entrega à paixão. A mente da raiva é a mente que segue o caminho da raiva, ao passo que a mente da compaixão é a mente que segue o caminho da compaixão. De forma parecida a mente da ignorância não pensa em praticar o caminho, enquanto que a mente do insight prossegue na prática do Darma CEBB

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superior. A mente da confiança é aquela que pratica o nobre ensinamento exatamente conforme ensinado, enquanto que a mente da dúvida é aquela que tem pensamentos de indeterminação. A mente da escuridão é aquela que hesita diante de coisas que não precisam de hesitação, enquanto que a mente da claridade é aquela que pratica o caminho sem hesitação. A mente da disputa é aquela que discute com os outros sobre o certo e o errado, enquanto que a mente da reflexão é aquela que julga a si mesma sobre o certo e o errado. A mente de um deus é aquela que consegue o que quer que deseje, a mente de um Mara é aquela que se delicia com a delusão. A mente de um Naga é aquela que pensa numa variedade de tesouros; a mente de um homem é aquela que pensa no benefício dos outros; a mente de uma mulher é fiel aos seus sentimentos; a mente de um mercador é aquela que junta no início e divide mais tarde; a mente de um fazendeiro é aquela que ouve amplamente no início e que mais tarde segue o Darma ao qual se aspira. A mente de um rio é seguir os Darmas que se inclinam para os dois extremos; a mente de um lago é aquela que segue uma sede insaciável; a mente de um poço é aquela que pensa profundamente; a mente da proteção é aquela que acredita que a própria mente é verdadeira e que todas as outras são falsas; a mente da avareza é aquela que pensa apenas sobre si mesma e não pratica a caridade; a mente de um cão é aquela que se deleita com uma pequena porção recebida; a mente de um texugo é aquela que prossegue sem pressa; a mente de um rato é aquela que tenta cortar amarras; as mentes de cantar, dançar e tocar tambores são aquelas que manifestam vários poderes sobrehumanos avançando na prática do Darma e tocando o tambor do Darma. A mente de um leão é destemida; a mente de uma coruja é aquela que pensa sobre a escuridão; a mente de um corvo é aquela que tem medo de todas as coisas; a mente do vento é aquela que muda sempre; a mente da água é CEBB

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aquela que lava todas as coisas más; a mente do fogo é aquela que aspira por algo com paixão. A mente da delusão cria discrepâncias entre as intenções e a realidade. A mente da prisão é ficar preso em qualquer lugar; a mente das correntes é aquela que tem ambos os pés acorrentados. A mente das nuvens é aquela que sempre tem o pensamento de gerar chuva; a mente do campo de arroz é aquela que sempre está a serviço próprio; a mente do sal é aquela que incrementa os pensamentos; a mente de uma lâmina é aquela que corta todas as coisas. A mente igual ao Monte Sumeru é aquela que é sempre arrogante; a mente igual ao oceano é aquela que se satisfaz com qualquer coisa que tenha feito; a mente igual a um buraco no chão é aquela que decide uma coisa e depois muda; a mente que recebe um renascimento é aquela que renasce em vários estados devido aos vários carmas.

(5) “Ó Guhyakadhipati, em seguida, descartando os três tipos de apego, atinge-se a mente transcendental. A mente compreende que não há entidade que habite o corpo ou a mente; ela se engaja na prática do caminho ao renunciar aos sentimentos de sofrimento e prazer; e ela escapa da cadeia de doze elos da originação dependente que surge do carma, da sede e da ignorância. Ó Guhyakadhipati, essa quiescência da mente não pode ser alcançada através de doutrinas falsas. Ó Guhyakadhipati, se houver a mente que aspira à renúncia deste mundo, então surgirá o insight. Isto significa que, ao descartar o apego ao corpo e à mente, será possível ver que eles são como bolhas na água, folhas de bananeira, ilusões ou miragens, e então se dará a emancipação. Esta emancipação significa estar livre de todo apego às identidades e aos outros, e desta forma se experimenta o estado de quiescência absoluta. Esta mente é chamada de mente transcendental completamente livre de todas as paixões. De modo a alcançar esta libertação CEBB

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da prisão da sede, da continuidade da consciência, do carma, deve-se praticar por um longo período de tempo que excede um kalpa. “E também, ó Guhyakadhipati, em seguida há a prática do Mahayana, de acordo com a qual todas as coisas são reconhecidas como não possuindo uma realidade que dure para sempre; portanto, elas são como ilusões, miragens, sombras e ecos. Assim, quando se está livre da mente das identidades, esta mente se torna o agente da liberdade e realizará a verdade de que a própria mente em essência não nasce e não morre e, portanto, não tem originação. A razão para isto é que não há mente no passado, nem haverá no futuro, onde nada ainda aconteceu. Nem ela pode ser apreendida no momento imediato do presente, porque está instantaneamente ficando para trás. Conhecer a natureza da própria mente requer prática por um longo período de tempo que excede dois kalpas. Em seguida, ó Guhyakadhipati, aquele que pratica o caminho do bodisatva de acordo com a doutrina esotérica será dotado de mérito incalculável, insight e meios hábeis, e se tornará o refúgio para deuses e seres humanos. Explicando de outra forma, todo o Darma do Buda é como o espaço vazio, que é completamente livre das faculdades e objetos sensoriais, nasce sucessivamente devido a sua natureza vazia e gera a mente que é totalmente livre de qualquer determinação, ou seja, a mente que não possui uma natureza própria. Ó Guhyakadhipati, tal mente inicialmente resoluta é vista como a causa para se tornar um buda. Além do mais, apesar de estar livre de carma, paixões e apego, ela se torna a base do carma e das paixões.

(6) “Ó Guhyakadhipati, deve-se observar as três mentes, ou seja, a mente da iluminação, a mente da grande compaixão e a mente dos meios hábeis nos estágios das aspirações. Esses princípios possibilitam ao bodisatva CEBB

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prosseguir do estágio inicial até o décimo; e através do insight que leva à iluminação suprema, ele é dotado com os Quatro Meios de Conversão. Realmente, esse estado é incomparável e inconcebível. Tudo que eu ensino pode ser alcançado neste estado. Portanto, os sábios devem estar conscientes da onisciência e do estágio de aspiração. Este estado será alcançado depois de outro período de um kalpa e é atingido através do último meio hábil, ou seja, o estado resultante da iluminação.” Guhyakadhipati disse ao Buda: “Ó Honrado pelo Mundo, quantos estados de autoconfiança um bodisatva atinge?” O Buda respondeu: “Ó Guhyakadhipati, se um homem comum praticar a boa conduta e eliminar as ações negativas, ele alcançará a autoconfiança ao fazer o bem. Quando alguém conhece a si mesmo como realmente é, essa pessoa alcançará a autoconfiança. E também, se alguém olhar para o corpo renunciando à ideia de seu próprio corpo, essa pessoa alcançará a convicção da ausência de identidades; se ela repousar na interdependência dos fenômenos, enquanto se esquece de seu corpo e mente, então ela atingirá a convicção do Darma. Além disso, ao esquecer esta lei, se ela repousar na ausência de dependência, atingirá a convicção da não-substancialidade. Finalmente, se ela pensar sobre a vacuidade dos fenômenos e compreender que eles não possuem essência, atingirá a convicção do princípio de que as essências dos fenômenos são totalmente idênticas.

(7) “Ó Guhyakadhipati, aqueles que praticam as regras de um bodisatva através do mantra alcançarão a iluminação ao observarem as dez condições indicativas. Elas são os fenômenos de aparição, o vapor de ar quente, um sonho, uma figura refletida em um espelho, uma miragem, um eco, a lua refletida na água, bolhas, uma flor do céu e um círculo de fogo. CEBB

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“Objetos ilusórios são criados em visões por mágicas ou drogas e suas formas aparecem e se movem, mas na verdade elas não estão nem vindo nem indo. É o mesmo em relação à visão esotérica de que através da ilusão visual é possível criar qualquer coisa. Na sequência, a natureza das imagens criadas pelo vapor do calor é vazia, porque elas surgem apenas dos pensamentos delusórios das pessoas. É o mesmo em relação à visão esotérica de que elas são temporárias e simplesmente nomes. Em um sonho a luz do sol é percebida, diversas formas, ou sofrimento e prazer, mas quando se desperta, não resta nada. É o mesmo com a visão esotérica dos eventos. Assim como a face de alguém pode ser mostrada em um espelho, também é possível entender o objetivo da doutrina através de uma metáfora de tais imagens refletidas. Da mesma maneira, é possível usar a metáfora da miragem da cidade dos Gandharvas para compreender a verdadeira natureza de qualquer objeto que apareça. E também, através da analogia de que ecos são criados pela voz humana, é possível compreender a doutrina em relação à sua verdadeira origem. E assim como a lua refletida na água clara, é possível indicar o estado da iluminação, a verdadeira fonte da iluminação. Além disso, assim como a chuva que cai do céu cria bolhas na superfície da água, é possível conhecer o objetivo alcançado pela doutrina em diversas manifestações. Apesar de nada poder ser criado no espaço vazio, as pessoas veem flores no céu devido à delusão de suas mentes. Da mesma forma, as pessoas criam todos os tipos de visões errôneas. E também, assim como um círculo de fogo pode ser criado no ar girando uma tocha, é possível compreender as afirmações escriturais do ensinamento Mahayana em relação às visões ilusórias. Aquele que compreender a doutrina esotérica nestes termos, será capaz de adquirir o tesouro do Darma, produzirá em si mesmo o grande insight capaz de todos os meios hábeis e conhecerá amplamente todas CEBB

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as características da mente.”

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LIVRO VIII Capítulo III - TATHAGATA-GARBHA

1. A Despedida (1) Na manhã seguinte, o Honrado pelo Mundo entrou na cidade de Vesali acompanhado por Ananda para mendigar, e depois prosseguiu para a vila de Bhanda acompanhado por alguns discípulos. Ao deixar Vesali, o Honrado pelo Mundo olhou para trás com um sorriso tímido: “Esta é a última ocasião em que verei esta cidade”, ele disse. “Eu não voltarei para cá novamente.” Choveu naquele instante, apesar de não haver nuvens no céu. Ao ouvirem estas palavras, os discípulos se entristeceram novamente, caindo no chão e se lamentando. Quando a notícia se espalhou entre os homens do clã Licchavi, eles ficaram consternados e, batendo em seus peitos, exclamaram: “É realmente triste. No ensinamento de quem deveremos confiar de agora em diante? Vamos até o Honrado pelo Mundo pedir para ele permanecer neste mundo por mais tempo.” Eles saíram correndo da cidade em carruagens. Ao encontrarem o grupo do Honrado pelo Mundo já distante, e ao verem Ananda e os outros discípulos igualmente perturbados, ficando ainda mais tristes, eles saudaram o Honrado pelo Mundo aos seus pés e disseram: “Ó Honrado pelo Mundo, se o Honrado pelo Mundo morrer agora, todos nós perderemos o olho da sabedoria e certamente nos desviaremos mais uma vez para a escuridão da ignorância. Quando isto acontecer, como CEBB

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poderemos reconhecer o caminho correto que o Honrado pelo Mundo nos ensinou? Nós suplicamos para que você permaneça neste mundo pela duração de um único kalpa.” Desta forma, os Licchavis suplicaram por três vezes.

(2) Em resposta, o Honrado pelo Mundo lhes disse: “Ó Licchavis, tudo o que é criado é impermanente, sem exceção. Mesmo se eu permanecer aqui por mais um kalpa, ainda assim estou fadado a morrer. Ó Licchavis, não importa o quão elevado seja o Monte Sumeru, ele acabará desmoronando; e não importa o quão profundo seja o oceano, haverá um momento em que ele secará. O sol e a lua, apesar de brilharem intensamente, desaparecerão no oeste em pouco tempo. Apesar de o solo parecer firme e suportar todas as coisas hoje, ele está fadado a desaparecer quando o fogo do dia final se alastrar ao final deste kalpa. Ao encontro se segue necessariamente a separação; ninguém pode escapar do destino da separação. Então, como apenas eu poderia sobreviver à morte indo contra a lei de que todos que nascem morrem? Ó Licchavis, não fiquem tão tristes e transtornados com a minha morte. Agora oferecerei minhas instruções finais.” Superando seu pesar, os Licchavis disseram: “Que o Honrado pelo Mundo nos ensine, e nós certamente seguiremos de acordo com seu ensinamento em nossa conduta.” Então, o Honrado pelo Mundo lhes disse: “Ó Licchavis, sejam felizes e permaneçam em harmonia, não criem discórdia entre vocês, aconselhem uns aos outros, pensem em boas coisas, sustentem os preceitos morais, mantenham a dignidade, respeitem os pais e os anciãos, mantenham a harmonia entre os seus parentes e cedam uns diante dos outros. Conduzam rituais nos altares ancestrais e nas estupas dos sábios. Tenham uma fé firme no Darma e profunda reverência pelos discípulos do Buda, louvem aqueles CEBB

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que sustentam a nobre fé e os protejam. Governem o país de acordo com o Darma e se abstenham da injustiça de oprimir seus cidadãos. Aprendam sobre os princípios da causalidade, acreditem no caminho que o Buda ensinou, e saibam que mesmo depois da morte física o Buda continua a viver no Darma e, assim, nunca perece. Aquele que possui estas qualidades é realmente um homem consciente, o qual o Buda sempre protegerá. Tal homem certamente realizará o caminho em pouco tempo. Assim, seu país prosperará e o povo viverá em abundância. Vocês devem seguir estes ensinamentos enquanto estiverem vivos, até a morte.” Os Licchavis responderam: “Ó Honrado pelo Mundo, enquanto vivermos, seguiremos estas instruções.”

(3) Imediatamente depois deste discurso, o Honrado pelo Mundo se voltou para seus discípulos e disse: “Ó discípulos, vocês também deveriam viver em alegria e manter a harmonia entre vocês, como o leite e a água, não gerando discórdia; reúnam-se frequentemente para compartilhar com os outros o estudo do caminho; sejam firmes na observação dos preceitos morais e não permitam que pensamentos que os violem surjam. Respeitem seus professores e anciãos e escolham companheiros que sejam diligentes na prática do caminho em isolamento. E também, convençam os outros a participar das assembleias do Darma e a seguir o Darma dos budas. Ó discípulos, não se engajem em qualquer trabalho para se sustentar como os chefes de família comuns. Não se entreguem à conversa vazia, nem à letargia, nem a disputas inúteis. Afastem-se de pessoas de mau caráter, mas juntem-se aos bons amigos, protegendo-se desta forma dos pensamentos negativos. Se notarem progresso na prática do Darma, esforcem-se para um progresso maior buscando um nível mais elevado de realização.” CEBB

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(4) Então, as esposas dos homens do clã Licchavi, que também ficaram sabendo sobre a morte próxima do Honrado pelo Mundo, correram para o lugar onde ele estava; depois de fazerem diversas oferendas, em lágrimas elas disseram: “Ó Honrado pelo Mundo, podemos pedir sinceramente que o Honrado pelo Mundo permaneça neste mundo e nos guie? Se o Honrado pelo Mundo morrer, cegas como somos sem o olho da sabedoria, nunca seremos capazes de encontrar o verdadeiro caminho. Nós nascemos como mulheres, impedidas por diversas tarefas rotineiras, não pudemos encontrar o Honrado pelo Mundo com a frequência que desejávamos. Se o Honrado pelo Mundo morrer, tudo que pensamos ser bom terá sua influência diminuída a cada dia.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó mulheres Licchavis, não se entristeçam sem razão, mas enquanto estiverem vivas se esforcem na sustentação dos preceitos, mantenham suas mentes gentis, evitem bajulação e ciúmes, e assim serão capazes de me ver o tempo todo.” Tomadas pelo pesar, as mulheres Licchavis se afastaram para o lado e se sentaram. Então o Honrado pelo Mundo se dirigiu a todos os presentes e disse: “De agora em diante mantenham os preceitos e evitem quebrá-los. Pois aquele que quebrar os preceitos será desprezado pelos deuses e os outros também não se agradarão ao vê-lo. Tal pessoa será tomada pelo medo no momento da morte e sofrerá em destinos infelizes por um longo tempo. Por outro lado, aquele que sustentar os preceitos será respeitado não apenas pelos deuses, mas também por outras pessoas, que se encantarão ao encontrálo. Ele manterá em sua posse firmemente o pensamento correto no momento da morte e renascerá no mundo da pureza.” Ao ouvirem este ensinamento, sessenta discípulos realizaram o caminho e incontáveis pessoas e deuses CEBB

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superaram seus obscurecimentos.

(5) O Honrado pelo Mundo chegou à vila de Bhanda, e depois de entrar em um bosque ao norte da vila ele descansou sob uma árvore. Então, o Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos: “Ó discípulos, vocês devem ser firmes nos preceitos, na prática de meditação e devem buscar a sabedoria; desta forma alcancem a emancipação. Aquele que sustenta os preceitos não seguirá a maldade; aquele que pratica meditação possuirá uma mente livre de perturbações; aquele que buscar a sabedoria será libertado dos desejos e será capaz de agir conforme sua vontade. Desta forma suas virtudes e sua honra serão mais elevadas e ele acabará entrando no caminho da pureza. Comigo foi assim, como eu não aprendi este ensinamento por um longo tempo não pude alcançar a iluminação antes. Que vocês possam ser diligentes na prática destes três ensinamentos.” O Honrado pelo Mundo seguiu até uma vila chamada Ambagama, e ao entrar na vila sentou-se em um bosque. Mais uma vez ele disse aos discípulos: “Ó discípulos, aquele que praticar os preceitos, a meditação e a sabedoria será capaz de cruzar o oceano da delusão. Quando tiver completado a prática dos preceitos será capaz de completar a prática da meditação. Quando tiver completado a prática da meditação será capaz de alcançar a sabedoria. Um pano quando está limpo pode ser tingido com beleza; alguém que dominar estas três disciplinas não terá dificuldades em realizar o caminho. Esforcem-se, portanto, na prática destas disciplinas. Assim como alguém pode ver as cores da areia no fundo de um riacho da montanha quando a água é clara, da mesma forma alguém que realizou o caminho será capaz de ver todas as coisas como elas são por virtude da pureza de sua mente. Portanto, aquele que busca o caminho deve purificar CEBB

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sua mente. Quando tiver realizado isto, será capaz de realizar o caminho espontaneamente.” O Honrado pelo Mundo partiu de Ambagama para uma vila chamada Jambugama e estendeu sua visita às vilas vizinhas. O Honrado pelo Mundo ensinou durante sua estadia sobre as paixões. “Existem três paixões da mente. Elas são a cobiça, a raiva e a ignorância. Os preceitos destroem a paixão da cobiça. A meditação remove a paixão da raiva. A sabedoria aniquila a paixão da ignorância. Realmente, estas disciplinas constituem o caminho para salvar as pessoas; através delas os discípulos, também, poderão cortar as raízes do sofrimento.”

(6) O Honrado pelo Mundo pediu a Ananda para juntar os mantos e as tigelas e lhe disse: “Vamos para a cidade chamada Bhoganagara.” Acompanhando o Honrado pelo Mundo, Ananda e outros discípulos entraram em Bhoganagara e permaneceram na floresta de árvores simsapa localizada ao norte da muralha da cidade. O crepúsculo de aproximava. Ananda se sentou sob uma árvore, questionando-se por que a terra estava tremendo. Depois de um tempo ele foi até o Honrado pelo Mundo e lhe perguntou: “Por que a terra está tremendo?” “Ó Ananda”, respondeu o Honrado pelo Mundo, “a terra é sustentada por uma camada de água, e a água por sua vez é sustentada por uma camada de ar. Assim, quando o ar se move ele causa o movimento da água, e esta por sua vez causa o tremor da terra. Esta é uma das razões para o tremor da terra. Além disso, quando alguém realiza o caminho, ele causa o tremor da terra para expressar sua experiência de alegria. Esta é a segunda razão. E também, o Buda pode fazer com que a terra trema através de seu poder sobrenatural, que é a terceira razão. Ó Ananda, o grande poder do Buda não está limitado a CEBB

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fazer apenas com que a terra trema, ele também pode fazer com que os céus tremam. Todo este poder se origina na mente correta. Ó Ananda, desde um passado imemorial, eu continuamente acumulei méritos e virtudes, através dos quais adquiri este poder sobrenatural espantoso. Eu vejo todas as coisas, eu conheço todas as coisas, e não há ninguém que eu não consiga ensinar. Na antiguidade remota, motivado por compaixão, eu viajei longamente por muito países. Seguindo seus costumes e falando suas línguas, eu ensinei os ascetas, os eruditos, os reis e o povo vez após vez. Eu os deixei em paz e confortáveis; eu os confortei e os fiz caminharem firmemente em direção aos seus objetivos; então eu parti de seus países. Porém, nenhum deles realmente sabia quem eu era. Desta forma, eu também visitei os céus e ensinei os deuses, ensinando o Darma sagrado para aqueles que o desejavam, encorajando aqueles que haviam alcançado a pureza a ensinarem os outros diligentemente, e guiando todos através de vários meios hábeis; então eu parti daqueles lugares. Porém, nenhum deles sabia quem eu realmente era. Ó Ananda, meu poder é amplo e grandioso, e não há nada que eu não possa fazer. Ó Ananda, não há lugar que eu não tenha visto. Porém, eu vejo o nirvana como o lugar mais encantador de todos.

(7) “Agora você também deve realizar este caminho e se esforçar para ensinar os outros. Ver o surgimento de um buda neste mundo é extremamente raro, como o florescer da árvore udumbara. É igualmente difícil ouvir os discursos de um buda sobre o Darma. Portanto, uma vez que você os aprender, deve preservá-los e revelá-los, nunca os escondendo ou ocultando. “Ó discípulos, depois de minha morte, se alguém afirmar que ouviu diretamente tais e tais ensinamentos do Buda ou dos discípulos anciãos, CEBB

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vocês devem julgá-lo em conformidade com os Sutras e com o Vinaya para saber se seu ensinamento é verdadeiro ou falso, e assim devem decidir se ele é consistente ou inconsistente. Se o que ele ensinar não estiver de acordo com os Sutras ou o Vinaya, então é uma doutrina de Mara. Vocês devem reprimilo com a autoridade das palavras do Buda; façam com que ele aprenda os Sutras e o Vinaya. Se ele não seguir os Sutras ou o Vinaya vocês devem rejeitá-lo, porque se as ervas daninhas não forem arrancadas as boas sementes serão impedidas de crescer. Se houver alguém que claramente compreenda o ensinamento, seja um ancião ou um noviço, vocês deveriam visitá-lo e pedir instruções. Os devotos leigos também deveriam visitá-lo, oferecendo-lhe mantos, alimento, tapetes e remédios. Como todos vocês compartilham o mesmo caminho, não há razão para que não estejam em harmonia uns com os outros. Se algum de vocês cair em destinos negativos, será por não ter sido harmonioso com os outros. Vocês devem evitar afirmações de que conhecem o caminho melhor que os outros, ou que os outros não conhecem o caminho. Pois, não importa a amplidão do conhecimento, se vocês não o colocarem em prática por si mesmos, ele será inútil. Se o que é dito com as palavras estiver de acordo com os ensinamentos, então vocês deveriam praticá-las, do contrário, descartem-nas. Ó discípulos, vocês devem se apoiar no Darma. De fato, o Darma é a mais nobre e elevada autoridade na qual devemos confiar. Se esquecerem o Darma, suas mentes serão facilmente perturbadas. Vocês não devem esquecer que ao pegarem uma espada, a não ser que sigam o caminho da espada poderão machucar a própria mão.” Enquanto permaneceu em Bhoganagara o Honrado pelo Mundo também ensinou as Quatro Nobres Verdades e muitos discípulos alcançaram a iluminação.

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(8) Agora o Honrado pelo Mundo se mudou de Bhoganagara para a vila de Kumba. Havia naquela vila um brâmane chamado Bavan, que ao ficar sabendo da chegada do Honrado pelo Mundo correu para o local onde ele estava, acompanhado por muitos outros brâmanes e pessoas ricas. Ele perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, por que você estendeu sua visita até esta vila?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Eu morrerei em três meses. Assim, depois de partir de Vesali eu tenho feito longas visitas às cidades e vilas vizinhas, e agora cheguei a esta vila.” Ao ouvirem isto, surpresos e tristes, eles se jogaram no chão e lamentaram. O Honrado pelo Mundo lhes disse: “Não há necessidade para tanto sofrimento. Pois esta é a natureza exata de qualquer coisa que surja. Descartem a tristeza e ouçam silenciosamente o que eu lhes direi como últimas instruções. Vocês devem respeitar seus pais e mães, honrá-los, orientar suas esposas e filhos com bons ensinamentos, ser agradáveis com os servos e conhecer seus desejos, juntar-se a pessoas de bom caráter e se afastar daquelas de mau caráter. Desta forma, vocês serão respeitados neste mundo e nas vidas após a morte sempre renascerão em destinos felizes. Ó Bavan, é agradável estar em casa e não depender de mais ninguém, e não tomar conhecimento de qualquer desgraça. Também é um prazer não gastar dinheiro consigo mesmo ou com os outros, e assim acumular riquezas. E também é um prazer tornar-se muito próspero, gastando dinheiro consigo mesmo e com os pais e parentes, e fazer oferendas aos sábios e estudiosos. Além disso, também é um prazer abster-se das ações negativas de corpo, fala e pensamento, e encantar-se ao ouvir e compreender muitos ensinamentos com um bom insight. Entre estes quatro, porém, os dois primeiros são tipos inferiores de prazer, enquanto que o terceiro é mediano e o último é um tipo superior de prazer. Portanto, de hoje em diante, jovens ou velhos, vocês deveriam orientar uns aos outros a praticar o terceiro e o mais CEBB

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elevado tipo de bondade.”

(9) Então, Bavan respondeu ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, seguiremos suas instruções orientando uns aos outros.” Assim, todos juntos se aproximaram para expressar suas motivações sinceras, e tomaram refúgio nele e assumiram os cinco preceitos. Bhavan solicitou: “Que o Honrado pelo Mundo e seus discípulos possam aceitar minhas humildes oferendas pela manhã.” E seu desejo foi concedido. Na refeição da manhã seguinte, um dos discípulos se comportou mal e as pessoas manifestaram descontentamento ao observá-lo. Ao perceber isto, o Honrado pelo Mundo lhes disse: “O Budadarma é profundo e vasto como o oceano. Assim como vários tipos de criaturas vivem no oceano, no oceano do Budadarma alguns discípulos já realizaram o caminho, enquanto outros ainda não. Não deixem que isto seja um impedimento em seus esforços para seguir o Darma. Quer um discípulo tenha boas maneiras ou não, o mérito de oferecer ao Buda e à Sanga será recompensado ao doador como mérito para ele e felicidade, assim como todos os diferentes rios igualmente retornam para o mesmo oceano.” Depois desta instrução inicial, o Honrado pelo Mundo expôs o Darma em detalhes, e todas as pessoas se engajaram no caminho. Então, o Honrado pelo Mundo partiu para a cidade de Pava, enquanto as pessoas, em lágrimas, ficaram um longo tempo vendo-o partir.

(10) Ao chegar à cidade de Pava, o Honrado pelo Mundo permaneceu no bosque externo às muralhas da cidade. Era o décimo quarto dia do segundo mês. O bosque pertencia a Cunda, que era filho do ferreiro da cidade. Ele havia recebido ensinamentos do Buda e se tornou um seguidor. CEBB

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Era um lugar verdadeiramente tranquilo. Os homens da cidade saíram para cumprimentar o Honrado pelo Mundo, e ele lhes disse: “O homem sábio reduz suas despesas em casa, mas guarda uma porção para seus pais, para sua esposa e filhos, uma segunda porção para hóspedes e servos, uma terceira porção para parentes e amigos, e uma quarta porção para o governante e os mendicantes, e desta forma ele alcança a felicidade. Assim, pode-se desfrutar uma vida longa, garantir o bem-estar da família e adquirir poder, saúde, riqueza, honra e felicidade após a morte.” Todos se alegraram com esta instrução e foram para casa. Cunda também estava muito feliz em saber que o Honrado pelo Mundo havia se estabelecido em seu bosque na companhia de seus discípulos. Depois de se vestir adequadamente, ele correu para o lugar onde o Honrado pelo Mundo se encontrava. Aos seus pés ele o cumprimentou, e perguntou: “Por qual razão o Honrado pelo Mundo veio até aqui? Há algum propósito especial para estar aqui?” “Ó Cunda”, respondeu o Honrado pelo Mundo, “eu morrerei em pouco tempo, e quis vê-lo por uma última vez.” Cunda ficou atônito e angustiado, caindo ao chão ele exclamou: “Ó Honrado pelo Mundo, você não tem mais compaixão por nós? Por que você pensaria em morrer? Eu rogo para que permaneça neste mundo pela duração de um kalpa. Pois, quando o Olho do Mundo se for, como poderemos nos livrar do estado de delusão?” “Ó Cunda”, disse o Honrado pelo Mundo, “não se entristeça. Todas as coisas estão sujeitas à mudança. Uma vez que as pessoas se encontram, elas não podem escapar da separação final.” Cunda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, eu também sei disso. Apesar disso, agora que o ser supremo e mais nobre está prestes a partir, como eu poderia evitar a angústia? Ó Honrado pelo Mundo, é muito difícil nascer como um ser humano neste mundo, e é ainda mais difícil ter a oportunidade de ouvir o CEBB

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ensinamento de um buda; é tão difícil quanto lançar uma agulha em uma semente de papoula, ou como uma tartaruga cega encontrar um pedaço de madeira que flutua pelo oceano. Eu lhe suplico, ó Honrado pelo Mundo, com sua compaixão por nós, não morra!” Então o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Cunda, você não deve dizer isso. O mundo é impermanente e nele sempre há pesar. O corpo é onde todos os tipos de sofrimento se encontram. É transcendendo o corpo que eu alcancei a verdade e superei os diversos sofrimentos. Para mim não há velhice, nem doença, nem morte, nem há um fim para a vida. Ó Cunda, é devido à minha compaixão por você e todas as pessoas que morrerei em breve. Pois o Darma de todos os budas é sempre como este. Ó Cunda, assim como os gansos se juntam no Lago Anavatapta quando chega a primavera, igualmente todos os budas entram no nirvana.” Ao ouvir o discurso do Honrado pelo Mundo, Cunda ficou feliz, e levantando-se de seu assento, ele pediu ao Honrado pelo Mundo para aceitar sua oferenda no dia seguinte. Quando obteve o consentimento, ele partiu para casa imediatamente e preparou a refeição para o dia seguinte durante toda a noite zelosamente.

2. A Natureza de Buda (1) Depois que Cunda partiu, o Honrado pelo Mundo disse aos seus discípulos: “Ó discípulos, se tiverem dúvidas vocês deveriam me perguntar enquanto ainda estou aqui. Atendendo aos seus desejos dissiparei suas dúvidas, e depois disso morrerei. Ó discípulos, o surgimento de um buda neste mundo é realmente muito raro; também é raro nascer como um ser

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humano. É ainda mais difícil seguir o Buda, cultivar a fé, suportar o que é difícil de suportar, manter os preceitos firmemente sem quebrá-los e atingir o estado de um sábio. É comparável a procurar um grão de areia de ouro em um deserto, ou uma flor udumbara. Ó discípulos, agora que vocês me encontraram nesta vida, não devem passar seu tempo em vão. Pois eu alcancei o poder supremo através de diversas práticas. Por um tempo incomensurável eu continuei a praticar para seu benefício, oferecendo mesmo meus membros e até a medula de meus ossos. Vocês não devem ser negligentes. Ó discípulos, no castelo do Darma estão armazenados os tesouros das virtudes; eles estão protegidos pelas paredes e fossos dos preceitos, da meditação e da sabedoria. Visto que agora vocês entraram neste castelo de tesouros, não devem se desviar colhendo ensinamentos falsos como mercadores que, ao entrarem em um castelo de tesouros, reúnem cacos e cascalho ao invés das verdadeiras pedras preciosas. “Vocês não deveriam se satisfazer facilmente com um ensinamento inferior. Vocês renunciaram às suas vidas e deixaram seus lares, mas ainda não tomaram a decisão de seguir o Mahayana. Apesar de vestirem os mantos, suas mentes ainda não estão completamente tingidas pela cor pura do Darma. Apesar de estarem engajados na mendicância aqui e ali, vocês ainda não estão praticando a mendicância do Mahayana. Apesar de terem raspado suas cabeças e barbas, ainda não eliminaram diversos obscurecimentos para o bem do verdadeiro Darma. Eu lhes digo que o Darma ensinado pelo Buda é verdadeiro, não é falso. Vocês deveriam se esforçar para controlar suas mentes e zelosamente destruir os diversos obscurecimentos. Se o sol da sabedoria se puser no oeste, vocês serão encobertos pela escuridão da ignorância. “Ó discípulos, assim como diversas ervas beneficiam as pessoas, meu CEBB

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Darma trará o néctar que salvará as pessoas da doença dos obscurecimentos. Agora eu também permitirei que todos os meus discípulos, monges e leigos, que são meus filhos, descansem em paz no tesouro secreto. Eu também descansarei neste tesouro ao ingressar no nirvana. O que é este tesouro secreto então? De fato, é o Darmakaya, a sabedoria e a emancipação do Buda. Ó discípulos, o Darmakaya do Buda é eterno; nirvana é felicidade; o Buda é a essência. O verdadeiro Darma do Buda é puro, enquanto que o que é criado é impuro. A essência se refere ao Buda, a eternidade ao Darma, a felicidade ao nirvana e a pureza ao verdadeiro Darma. “As pessoas consideram aquilo que é sofrimento como sendo felicidade, e aquilo que é verdadeira felicidade como sofrimento; elas consideram o que é impermanente como permanente, e o que é realmente permanente como impermanente; elas também consideram o que não possui essência como possuindo essência, e o que é uma essência real como não sendo; e também elas consideram o que é impuro como sendo puro, e o que é puro como impuro. Todas são visões distorcidas, das quais todos vocês devem se libertar.”

(2) Então, os discípulos disseram ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, como você já está livre destes quatro tipos de visões distorcidas há um longo tempo, por que não pode estender sua vida neste mundo por mais um kalpa para seguir nos guiando? Se o Buda se for para sempre, como poderemos praticar as disciplinas com nossos corpos maculados?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó discípulos, vocês não deveriam falar assim. O Darma que eu ensinei continuará para sempre. Assim como o Buda traz paz para vocês, o Darma que permanecerá após sua passagem também os deixará à vontade. Onde quer que estejam, portanto, devem se esforçar e CEBB

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estar atentos ao ensinamento sobre permanência, felicidade, essência e pureza como a natureza do Darma.” Os discípulos então perguntaram: “Ó Honrado pelo Mundo, anteriormente vocês nos ensinou que não há essência em todas as coisas, e que devemos descartar a ideia de essência aprendendo a verdade da ausência de essências. Quando fôssemos capazes de nos livrar dela, seríamos capazes de ingressar no nirvana. Assim, como devemos entender o significado do ensinamento que você acabou de nos passar?”

(3) O Honrado pelo Mundo disse aos discípulos: “Vocês perguntaram o ponto essencial da doutrina. Explicarei através de uma história. Era uma vez um rei de pequena inteligência. Ele tinha um médico oficial que também era teimoso e ignorante. Esse médico conhecia apenas um remédio, feito de leite de vaca, mas mesmo seu conhecimento sobre isto era incerto, porque quando alguém adoecia, ele o aplicava indiscriminadamente sem considerar a natureza da doença. O rei não suspeitava de nada sobre isso. Então um médico itinerante, que possuía conhecimento completo sobre doenças e remédios, por acaso chegou àquela cidade. O médico oficial, olhando com desprezo para o médico itinerante, não tentou aprender com ele. Assim, o médico itinerante perguntou ao médico oficial: ‘Você me permite servi-lo?’ O outro disse: ‘Se você prometer me servir por quarenta e oito anos, é certo que eu lhe ensinarei medicina.’ O médico itinerante concordou. Um dia, o médico oficial, acompanhado pelo médico itinerante, encontrou o rei. O médico itinerante explicou vários remédios para o rei, que começou a perceber que seu médico oficial era um tolo. Ele dispensou o velho médico e respeitava profundamente o novo. Pensando que era o momento certo, o novo médico explicou ao rei: ‘Ó meu rei, por favor, promulgue um decreto para proibir o CEBB

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uso do leite como remédio, pois frequentemente ele é mais prejudicial que benéfico para as pessoas.’ Assim, o rei proibiu o uso de leite e puniu todos que violassem sua ordem. Enquanto isso, o novo médico oficial preparou diversos remédios e curou muitas pessoas que sofriam de diversas doenças. Depois de algum tempo, porém, o rei adoeceu e convocou o médico, dizendo: ‘Estou seriamente doente e sinto dores como se estivesse morrendo. Como isto pode ser curado?’ O médico respondeu que não havia outra forma além de tomar leite como remédio. Ao ouvir isto, o rei se enraiveceu e disse: ‘Você é louco ou está me enganando? Antes você disse que o leite como remédio era um veneno, e agora você diz que ele é o único remédio para curar minha doença. Isto é ridículo!’ O médico disse: ‘Ó meu rei, um verme pode comer uma folha no formato de uma letra, mas ele não sabe se aquilo é uma palavra ou não, nem nós dizemos que ele conhece letras. Ó meu rei, o médico anterior receitava leite como remédio para todos os casos sem discriminar entre os diferentes tipos de doença e nem mesmo sabia se aquilo funcionava ou não.’ ‘O que você quer dizer’, perguntou o rei, ‘ao afirmar que ele não sabia se o remédio funcionava ou não?’ o médico respondeu: ‘Ó meu rei, o leite como remédio pode ser um veneno assim como um néctar. Se uma vaca for alimentada adequadamente, receber água limpa, e não malte da cerveja, e se o pasto não estiver em um terreno elevado ou em uma área úmida e baixa, e também se as vacas forem mantidas longe dos touros e se seus bezerros forem gentis, então o leite produzido por elas será efetivo para uma variedade de doenças. Isto é o que eu chamo de néctar, todos os outros produtos são especialmente prejudiciais.’ Então o rei exclamou: ‘Ai de mim, finalmente hoje fiquei sabendo qual tipo de remédio de leite é bom e qual não é bom.’ Depois de tomar o remédio de leite prescrito, o rei se recuperou de sua doença e promulgou um decreto por todo o país permitindo o uso CEBB

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daquele remédio. Seu povo se enraiveceu e muitos se aproximaram do rei, dizendo: ‘Ó rei, você foi enganado por um Mara?’ O rei lhes explicou em detalhes o que havia aprendido e todos respeitaram ainda mais o médico.

(4) “Ó discípulos, é o mesmo com o Buda. Surgindo neste mundo como um grande rei da medicina, ele ensinou a doutrina de que não há essências com o propósito de retificar as doutrinas falsas e libertar as pessoas delas. Pois a ideia de uma essência nas doutrinas falsas não tem significado real, assim como a letra que um verme faz em uma folha por acaso. Eu sei o momento adequado para ensinar as coisas; anteriormente eu ensinei que não há essências, e agora, por uma boa razão, eu introduzi a visão oposta de que há uma essência. Isto é comparável à prescrição oferecida pelo médico que sabe quando leite é um bom remédio e quando não é. Alguns tolos clamam que a essência se assemelha com o polegar; outros dizem que ela é como uma semente de papoula ou uma partícula de poeira. O Buda, entretanto, não fala de essência como uma entidade. Portanto, ele afirma que não há essência de tal forma. Mas isto não significa necessariamente a inexistência total de algo que possa ser chamado de uma essência. “Então, o que é que pode ser chamado de essência? Eu chamo de essência aquilo que é verdadeiro, eterno, não condicionado e, portanto, imutável. Assim como aquele bom médico que conhecia bem a medicina, o Buda ensina que há uma essência em todas as coisas. Vocês devem compreender esta doutrina de forma completa.”

(5) Havia um jovem homem chamado Kasyapa na assembleia. Ele era membro de uma família brâmane na vila de Uttara. Juntando as mãos em prece reverentemente, ele disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo CEBB

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Mundo, de que forma eu posso alcançar uma fé firme como um diamante que nunca quebra, e também de que forma eu posso adquirir um poder constante?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Você pode adquiri-los da seguinte forma: se um príncipe for aprisionado por um crime, seu pai, o rei, poderá visitá-lo por amor na prisão dirigindo sua carruagem até lá. É o mesmo com o sramana; como ele estende a todas as pessoas o amor que sente por seus próprios filhos, ele as ajudará a alcançarem o nirvana e a se libertarem de todos os medos. Assim, vocês atingirão a vida da eternidade e alcançarão o mais elevado insight.” Kasyapa perguntou: “Mas como pode alguém estender pensamentos gentis, como os que se têm pelos próprios filhos, mesmo para aqueles que quebram os preceitos e que falam contra o Darma?” “Não há diferença”, respondeu o Honrado pelo Mundo, “entre meus sentimentos por meu filho Rahula e meus sentimentos por todas as outras pessoas.” Então Kasyapa disse: “Certa vez, na noite do encontro da posadha, havia uma criança cuja conduta era inadequada. Então Vajrapani recebeu poder sobrenatural do Buda, esmagou o garoto até virar poeira com um pilão de diamante. Como você pode dizer que o Buda vê todas as pessoas da mesma forma que vê seu filho Rahula?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Você não pode trazer este exemplo, porque aquela criança e Vajrapani eram igualmente seres ilusórios manifestados pelos hábeis poderes do Buda. Ambos não eram seres reais. Ó Kasyapa, mesmo que alguém difame o verdadeiro Darma, destrua as raízes de mérito, assassine as pessoas, caia em visões errôneas e deliberadamente quebre os preceitos, eu tenho igual compaixão por ele, e não há diferença entre meu sentimento por ele e o sentimento que tenho por Rahula. De forma a demonstrar que há uma retribuição moral definida para todos os malfeitores, eu engendrei uma CEBB

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forma agressiva de subjugar o mal. Se algum de meus discípulos testemunhar alguém transgredindo os preceitos e não o censurar, nem o excomungar e nem o trouxer para punição, esse discípulo se tornará um violador contra o Buda, apesar de estar de acordo com o Darma. Entretanto, se o discípulo censurar o violador, excomungá-lo ou o trouxer para punição, ele deve ser visto como um discípulo verdadeiro meu. Ó Kasyapa, isto é comparável ao ato de um rei de enviar seu filho para servir um professor exigente de forma a fortalecer seu caráter. Não há falha por parte do rei, porque a ação é realizada por amor ao seu filho. É o mesmo com o Buda, pois não há diferença entre a forma como vejo um violador do Darma e a forma como vejo uma ofensa de meu próprio filho. Agora entregarei este Darma verdadeiro aos reis, ministros, primeiros ministros, ascetas e discípulos leigos. Todos vocês devem encorajar os praticantes a aumentarem seus méritos em relação aos preceitos, à meditação e à sabedoria. Se eles se tornarem negligentes, transgredirem os preceitos ou difamarem o Darma, vocês devem censurá-los e corrigir suas ações.”

(6) Kasyapa perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, se os budas podem ter longas vidas, por que o Honrado pelo Mundo terá uma duração de vida tão curta, menos que cem anos?” “Ó Kasyapa”, respondeu o Honrado pelo Mundo, “por que você faz tal afirmação impensada? A longevidade do Buda é superior a de todos os outros seres, e a verdade que ele realiza é superior à realização de todos os outros. Ó Kasyapa, existem oito grandes rios neste país e também há inúmeros rios menores, mas cada um dos rios se dirige ao mesmo oceano. É o mesmo com os rios das vidas de todas as pessoas, porque todas elas retornam para a grande vida do Buda. Portanto, a vida do Buda é incomensurável. E também, ó Kasyapa, assim como o Lago Anavatapta é a CEBB

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fonte de quatro grandes rios, o Buda também é a fonte da qual todas as vidas se originam. E também, assim como o ghee é o melhor dos remédios, o Buda é o melhor de todos os seres humanos. Deve-se saber que o Buda é eterno. Para o bem da salvação da humanidade, entretanto, ele se manifesta em um corpo humano maculado e assim demonstra seu ingresso no nirvana. Ó Kasyapa, esforce-se para aprender este princípio mais importante e faça com que ele seja conhecido amplamente para o benefício das pessoas. Se assim o fizer, você me seguirá para onde vou e será capaz de alcançar o lugar que alcancei. Ó Kasyapa, você deve estar consciente que o Buda, o Darma e a Sanga perduram para sempre. Assim como há sombra quando há uma árvore, como o Darma é eterno você pode confiar nele como seu refúgio. Se o corpo físico do Buda fosse eterno ele não teria sido o refúgio para a salvação das pessoas.”

(7) Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, de agora em diante ajudarei meus pais a compreenderem este ensinamento e também ajudarei todos os pais de sete gerações a acreditarem neste Darma. Isto é maravilhoso! Ó Honrado pelo Mundo, estudarei os ensinamentos e os ensinarei às outras pessoas.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Kasyapa, o Darmakaya dos budas permanece para sempre e nunca perece. Ele é o corpo de diamante, não o corpo sustentado pelo alimento. Não é o corpo de um ser humano pressionado pelo medo, mas é o Darmakaya. O sofrimento da doença é demonstrado agora apenas para ajudar as pessoas a compreender a verdade do Darmakaya.” Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, como podemos alcançar esse Darmakaya?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kasyapa, eu atingi o CEBB

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Darmakaya por ter me dedicado a sustentar este Darma verdadeiro. Da mesma forma, seja um mendicante ou um chefe de família, ele deve sustentar este Darma. Se houver alguém que ensine o Darma, proteja-o mesmo tomando espada ou bastão. Agora eu confiei este supremo tesouro secreto a vocês. Ó Kasyapa, quando os seres acreditam que o Buda permanece para sempre e é imutável, então o Buda se encontra dentro de seus corpos. Ó Kasyapa, é o Darma que os budas têm como seu professor. Visto que o Darma é eterno, os budas são eternos. Ó Kasyapa, assim como as cinzas permanecem quando a madeira é queimada, quando os obscurecimentos são destruídos o nirvana se manifesta. O ferro é fresco, mas ele também pode ser aquecido, mas não o Buda. Como todos os seus obscurecimentos foram destruídos ele permanece no frescor para sempre e não haverá mais chamas ou obscurecimentos. Vocês devem saber que as pessoas são como o ferro, e que eu queimarei o ferro dos obscurecimentos de todas as pessoas através do fogo da sabedoria. Ó Kasyapa, quando um rei desfruta uma festa no jardim do bosque de seu palácio, mesmo que ele não possa ser encontrado entre as damas da corte, não se pode dizer que ele está morto. É o mesmo com o Buda, pois mesmo quando ele não é encontrado ou não é visível neste mundo, não se pode dizer que ele pereceu. O Buda destruiu incontáveis obscurecimentos e entrou no nirvana eterno e sublime, e ele desfruta sua festa de jardim em meio à florescência da iluminação.

(8) “Ó Kasyapa, eu já me encontro no nirvana há algum tempo e revelei diversos poderes sobre-humanos neste mundo. Em Lumbini eu demonstrei meu nascimento de minha mãe Maya, o qual maravilhou as pessoas e as encantou, vendo-me como uma criança. Entretanto, desde tempos muitos antigos até agora, ao longo de todas as vidas eu transcendi o confinamento da CEBB

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existência humana. Apesar disso, demonstrei meu nascimento de acordo com os caminhos do mundo. O corpo do Buda é o Darma, e portanto não é constituído de carne, sangue, tendões, veias ou ossos. Sete dias após meu nascimento as pessoas rasparam minha cabeça e me levaram até o altar ancestral de yaksas. Além disso, ao chegar à juventude eu foi educado e me casei. Porém, desde tempos antigos eu já transcendi estes caminhos humanos. Após renunciar à vida em família e começar a praticar o caminho, as pessoas disseram que o Príncipe Siddhartha havia abandonado sua família pela primeira vez, e quando meditei sob a Árvore Bodhi e derrotei os Maras, disseram que eu bati as tentações pela primeira vez. Porém, a verdade é que muito antes eu já havia deixado o estado de um regente do mundo e me tornei um regente do Darma, e muito antes eu derrotei os Maras. Tudo isto foi repetido recentemente apenas para permitir que as pessoas se conscientizem de seus próprios obscurecimentos intensos; assim, eu segui os caminhos das pessoas. E até agora eu demonstrei de tempos em tempos a minha morte, e as pessoas novamente pensaram que o Buda realmente havia partido para sempre. Entretanto, o Buda nunca perece. Vocês deveriam saber que este é o Darma eterno. Ó Kasyapa, o nirvana é o reino absoluto do Buda. “Ó Kasyapa, algumas vezes eu surgi neste mundo assumindo a forma de um homem de pouca fé ou de um Mara, ou com um corpo feminino, ou assumindo a figura de um deus, e às vezes eu entrei em casas de cortesãs, visitei locais de apostas, ou surgi como o rei de um país ou como um erudito. Sempre que as epidemias se espalharam eu surgi como médico receitando remédios e ensinando o Darma. Quando aconteceram guerras eu ensinei o Darma para ajudar as pessoas a escapar dos desastres. Para aqueles apegados ao eternalismo eu ensinei que tudo é impermanente; para aqueles apegados a este mundo devido aos prazeres eu ensinei o sofrimento; para aqueles CEBB

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aprisionados pela ideia de uma essência eu ensinei que não há essências; para aqueles fixados à ideia de que este mundo é puro eu ensinei que ele não é puro; para aqueles que apresentam cobiça pelo mundo eu ensinei que apenas o supremo Darma é a felicidade; para ajudar as pessoas a aniquilarem os obscurecimentos eu ensinei o Darma mais sutil; para salvar muitos nãobudistas eu ensinei o verdadeiro Darma. Desta forma, eu surgi neste mundo e me tornei o professor das pessoas, mas não guardo pensamento algum comigo de que sou o professor. Mesmo quando vivi entre as classes inferiores para ensinar o Darma, isto foi apenas com o objetivo de ajudá-los e não foi causado por qualquer força cármica. Como estou explicando, a iluminação do Buda repousa no pacífico e ilimitado nirvana. Portanto, ela é eterna e imutável. Isto é chamado de grande nirvana. Se um sramana repousar no nirvana, ele estará pronto para demonstrar seu poder sobre-humano sem medos. “Ó Kasyapa, você não deve considerar a morte do Buda como uma queda na inexistência, como quando uma lâmpada apaga. Pois a luz queima enquanto há óleo no prato, mas assim que o óleo for consumido a lâmpada também se extinguirá. Apesar de a chama apagar, o prato de óleo permanece; é o mesmo com o Buda, pois quando os obscurecimentos são destruídos permanece o imutável Darmakaya.”

(9) Kasyapa perguntou: “O Darmakaya também é impermanente da mesma forma que um prato de óleo?” “Você não deve pensar assim”, disse o Honrado pelo Mundo. “O Buda é o veículo do mais elevado Darma. De todas as coisas, apenas o nirvana é eterno; e como o Buda torna o nirvana seu corpo, ele é eterno.” Kasyapa disse: “O Honrado pelo Mundo disse que o Buda possui um CEBB

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tesouro secreto, mas isto não pode ser verdade. E por quê? Eu suponho que é pelo fato de o Buda tornar possível para todos ver e conhecer todas as coisas como elas são.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem, é exatamente como você disse. Não há tesouros secretos para o Buda. A palavra do Buda é tão pura e livre de falhas como a lua de outono no céu claro. Como os tolos não compreendem isto, eles dizem que existe um tesouro secreto. Ó Kasyapa, se um homem rico tiver um único filho e o amar muito, certamente ele mostrará para este filho todos os tesouros que possuir. É o mesmo com o Buda, pois ele considera todas as pessoas da mesma forma que considera um filho seu e, portanto, não guarda segredos para ninguém.”

(10) Kasyapa perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, o que é então o nirvana?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kasyapa, o nirvana significa a emancipação.” “Você poderia explicar o significado de emancipação?”, solicitou Kasyapa. Assim, o Honrado pelo Mundo apresentou um longo discurso sobre o tema. “Muito bem, ó Kasyapa, a verdadeira emancipação é chamada de transcendente porque ela significa a remoção absoluta das amarras do amor e do desejo. Também é chamada de não-nascida porque a emancipação não nasce dos pais; também é chamada de não-doença porque ela não é prejudicada por qualquer doença; também é chamada de não-luta porque não apresenta pensamentos de competição gananciosa; também é chamada de repouso pacífico porque não é acompanhada por medo ou preocupação; também é chamada de imaculada porque não há poeira ou névoa que obstrua a luz do insight; também é chamada de livre de débitos por não apresentar qualquer dívida, como um homem rico que não deve nada a ninguém; também é chamada de livre de restrições porque é controlada adequadamente como o néctar; também é CEBB

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chamada de não-movimento porque não pode ser movida; também é chamada de incomum porque é tão rara quanto o nascimento de um lótus no fogo; também é chamada de incomensurável porque está além das medições, como o oceano; também é chamada de insuperável porque como o céu vazio não há nada que se revele nela. A emancipação não decai por ser estável; ela é completamente preenchida internamente, não é vazia como um bambu ou um junco. Ela possui um sabor singular como o leite e é universalmente equânime com todos, como os pais com seus filhos. Ela traz a experiência de contentamento, não deixando ninguém se apressar em direção a qualquer coisa como uma corrida faminta pela ambrosia. Ao contrário de uma enchente que se espalha ela é serena. Ela é um estado no qual todas as pessoas podem permanecer juntas e à vontade, ao contrário de uma passagem estreita onde duas pessoas não podem passar ao mesmo tempo. Ela corporifica o amor transcendental do Darma, por ter compaixão pelas pessoas, mas está livre para sempre da luxúria gananciosa de um fantasma faminto. Ao confiar nela não é mais necessário buscar por outra coisa em que confiar, assim como os servos que ao confiarem em seu rei não necessitam de mais ninguém em quem confiar. Como um campo aberto que oferece segurança para voltar para casa, ela não apresenta perigos. Ó Kasyapa, destas formas a emancipação salva todos os seres dos medos, remove várias causas e condições, controla o orgulho de si mesmo, corrige a negligência e afasta a delusão através da aniquilação da ignorância. Tudo isto pode ser comparado à água, que pode irrigar todas as árvores e gramados e umedece todos os seres vivos. Ó Kasyapa, a verdadeira emancipação é o Buda, o Buda é o nirvana. O nirvana é o inexaurível, o inexaurível é a natureza do Buda, a natureza do Buda é incondicionalmente determinada, e esta determinação é o supremo caminho correto.” CEBB

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(11) Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, agora compreendi pela primeira vez que o Buda alcançou o estado inexaurível, e visto que este estado é inexaurível, a idade do Buda também é inexaurível.” O Honrado pelo Mundo disse: “Muito bem dito, ó Kasyapa! Você agora alcançou o verdadeiro Darma. Se alguém deseja destruir os obscurecimentos deve sustentar o verdadeiro Darma desta forma. Ó Kasyapa, onde quer que este ensinamento alcance, ele será valioso como diamantes, e através dele as pessoas também se tornarão exaltadas como pedras preciosas. Se alguém aprender este Darma não trombará com obstáculos e será capaz de alcançar o que quer que deseje realizar.” Então Kasyapa perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, um discípulo que se atém com firmeza aos preceitos irá transgredi-los?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Suponha que o Darma declinasse, que os sábios não mais surgissem neste mundo, e que os discípulos não pudessem mais distinguir entre as verdadeiras disciplinas e as falsas. De modo a corrigi-los, um homem de sabedoria pode se associar a eles, e pode se entregar às mesmas negatividades que eles, mas não será maculado pela poeira destas negatividades; ele simplesmente reduz o brilho da luz de seu insight. Apesar de tal homem estar aparentemente transgredindo junto com os outros, não se pode dizer que ele quebrou os preceitos. Por outro lado, se alguém tenta esconder sua transgressão por orgulho próprio e sem remorso, tal pessoa deve ser chamada de transgressora.” Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, existem pessoas verdadeiras entre o povo, mas também existem as que não são. É muito difícil diferenciar entre os dois tipos de pessoas; é quase tão difícil quanto distinguir a manga madura da verde. Como poderemos distingui-las?” O Honrado pelo Mundo CEBB

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respondeu: “Você deve confiar nos Sutras. Confiando nos Sutras você será capaz de aguçar o olho da mente, através do qual você deverá ser capaz de distingui-las.”

(12) Kasyapa disse: “O que o Buda disse é verdade e eu acredito nisto. Como o Honrado pelo Mundo nos explicou, nós, discípulos, devemos confiar no Darma e não no homem, no significado e não nas palavras, na intuição e não na inferência, nos Sutras perfeitamente explicados e não nos Sutras imperfeitamente explicados.” O Honrado pelo Mundo disse: “O Darma significa a essência do ensinamento. O homem significa o homem que expõe os ensinamentos. O Buda expõe o ensinamento e passa por vida e morte. O Darma é eterno, enquanto o mundo da vida e da morte é transitório. Às vezes você pode ouvir que o Buda também é impermanente, mas não deveria acreditar nisto nunca. “O significado se refere à verdade das coisas na qual o Buda repousa para sempre, enquanto as palavras se referem a diversos sofismas e palavras afetadas. Como o Buda é eterno, o verdadeiro Darma é eterno. Palavras variadas admitem a ganância e a falsidade, até o ponto de o Buda permitir aos discípulos acumular coisas. Deve-se, portanto, confiar no significado e não nas palavras. “A intuição significa a sabedoria pertencente ao Buda. As pessoas de ensinamentos inferiores não podem conhecer completamente a virtude do Buda. Portanto, não se deve confiar em tal conhecimento inferior. Por outro lado, saber que o Buda é o Darmakaya é o verdadeiro insight no qual se deve confiar. “Ó Kasyapa, como eu venho lhe explicando, você deve conquistar a quietude; diversos falsos professores gradualmente aparecerão na forma de CEBB

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monges e leigos para obstruir o verdadeiro Darma. Ó Kasyapa, se alguém ensinar que cada pessoa possui a natureza búdica, mas que ela está escondida pelos obscurecimentos, de modo que a pessoa nem a conhece nem a vê, e que, portanto, ela deve se esforçar para eliminar os obscurecimentos, então este professor não comete transgressões. Por outro lado, se ele afirmar ter realizado o caminho devido à sua natureza búdica, a não ser que pratique o caminho ela não se manifestará, e se ela não se manifestar a pessoa não a terá alcançado. Ó Kasyapa, as pessoas afirmam possuir essências próprias, mas não sabem que possuem a natureza búdica. Elas imputam a ideia de essência onde não há nada deste tipo e, portanto, esta é uma visão errônea. Por outro lado, quando eu digo que há a essência no Budadarma, isto se refere à existência da natureza búdica. As pessoas insistem que não há a ideia de essência no ensinamento do Buda, mas desta forma elas estão negando a realidade da natureza búdica igualmente. Esta é outra forma de visão errônea.

(13) “Ó Kasyapa, suponha que houvesse uma pobre mulher que não soubesse da existência de uma caixa de ouro em sua própria casa. Então chega alguém pedindo-lhe ajuda para limpar seu campo. A mulher concorda em fazer isso, mas apenas se ele puder lhe mostrar onde a caixa de ouro está. Quando o homem concorda com isto, ela se questiona e lhe pergunta: ‘Nenhum dos membros de minha família sabe sobre isto, como você pode saber?’ Respondendo simplesmente que ele sabia muito bem, o homem cava e acha a caixa dentro da casa. A mulher se maravilha e se encanta, respeitando-o profundamente. Ó Kasyapa, é o mesmo em relação a mim, pois estou tentando fazer com que cada um enxergue por si mesmo sua natureza búdica. CEBB

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“E também, Kasyapa, suponha que houvesse uma mulher que tivesse um bebê doente e pedisse a um médico para ver a criança. O médico a examina e prescreve remédios, mas instrui a mãe a não alimentá-la com seu leite por um tempo até que o remédio seja completamente digerido. Assim, a mulher coloca algo amargo sobre seus seios e diz à criança que como seu leite está envenenado, ela não poderá bebê-lo. A criança quer o leite por estar com fome, mas não tenta bebê-lo. Então, depois de um tempo, quando o remédio já foi completamente digerido pela criança, a mãe lava seus seios e a chama para mamar. Porém, devido ao seu medo do sabor amargo, ela não se aproxima. Assim, a mãe lhe conta que havia antes colocado uma substância amarga em seus seios para que ela pudesse digerir o remédio que havia tomado, e que agora, visto que já tinha sido digerido, ela tinha lavado seus seios para que a criança pudesse beber seu leite em segurança. Ó Kasyapa, é o mesmo com o Buda, pois ele tenta remover todas as visões errôneas do mundo primeiramente ensinando que não há essência. Tendo ensinado isto, ele agora ensina a doutrina de Tathagatagarbha. Portanto, não há por que ter medo. Assim como a criança que ouviu o chamado de sua mãe e bebeu seu leite, deve-se entender o tesouro secreto do Buda.”

(14) Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, se há uma essência, quando um bebê nasce por que ele não possui este insight? Por que ele está fadado a morrer uma vez que tenha nascido? Se há a natureza búdica eterna, por que existem diferentes tipos, tais como nobres e humildes, pobres e ricos e assim por diante? Por que há maldades, tais como assassinato, velhice, alcoolismo, falha da memória e assim por diante? Além disso, onde pode ser encontrada a natureza búdica, a verdadeira essência?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kasyapa, suponha que haja um CEBB

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lutador no palácio de um rei e que tenha um diamante em sua testa. Então ele luta com outro lutador e sua testa bate fortemente na cabeça do oponente. O diamante afunda em sua pele e uma cicatriz se forma em sua testa. O lutador chama um médico para tratá-lo. O médico percebe que a cicatriz foi criada porque o diamante afundou sob a pele e pergunta ao lutador se ele sabe onde o diamante está. O lutador fica surpreso e lamenta como se a gema preciosa estivesse perdida. O médico diz para ele não se preocupar porque o diamante está sob a pele. O lutador se enraivece e lhe pergunta: ‘Você está mentindo para mim? Pois se ele está sob a pele, por que não há pus ou sangue? Ou se está por trás de um tendão, como você pode vê-lo?’ Então o médico trata o ferimento e depois segura um espelho diante do rosto do lutador, e o diamante claramente se reflete nele. O lutador se maravilha com aquilo. Ó Kasyapa, é o mesmo com todas as pessoas; como elas não se associam a pessoas que possuem insight, são incapazes de perceber a existência da natureza búdica. Também entre meus discípulos, como eles não se aproximam de pessoas que possuem insight, aprendem apenas que não há essências, mas não sabem por que isto é assim. Quando eles não compreendem esta verdade, como podem entender a verdadeira natureza das coisas, de que há uma essência? Ó Kasyapa, assim como o lutador pôde ver o diamante no espelho brilhante, as pessoas deveriam ser capazes de experimentar a natureza búdica claramente. “Além disso, ó Kasyapa, nos Himalayas havia um mineral medicinal que tinha um sabor especial doce. Como a área circundante estava toda coberta por arbustos, as pessoas não podiam vê-lo diretamente, e apenas seguindo seu cheiro elas podiam adivinhar a área de sua presença. Havia um rei devoto que construiu canais de madeira e finalmente encontrou o mineral, que fluiu e caiu no fundo dos canais. Após a morte deste rei, porém, o CEBB

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mineral medicinal se tornou azedo, salgado, pungente ou amargo dependendo do local onde fluía. O sabor original permaneceu na montanha. As pessoas trabalharam duramente para construir minas para extraí-lo, mas em vão. Em uma era posterior, outro rei devoto surgiu e finalmente encontrou o remédio com o sabor original. Ó Kasyapa, é o mesmo com o tesouro secreto do Buda, pois a natureza búdica foi escondida pelos arbustos dos obscurecimentos, e devido à sua ignorância as pessoas não podem vê-la. O sabor original pode ser comparado à natureza búdica. Apesar de a natureza búdica possuir um sabor único, devido aos obscurecimentos as pessoas nascem em diferentes mundos. “Ó Kasyapa, ninguém pode destruir a natureza búdica, pois ela é forte, e ninguém pode obscurecê-la. Porém, ninguém pode vê-la diretamente. Apenas quando alcançar a iluminação você será capaz de experimentá-la.”

(15) Kasyapa perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, se alguém não mata, isto significa que não há ação negativa nele?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kasyapa, realmente há ocasiões em que a natureza búdica de uma pessoa específica é destruída. A natureza búdica reside nos corpos e mentes das pessoas. Assim, se alguém prejudica o corpo e a mente de uma pessoa, a natureza búdica desta pessoa poderá ser poupada, mas aquele que mata outra pessoa está destinado a cair em destinos infelizes. As pessoas tentam conceber arbitrariamente a forma de uma essência, mas todos os seus pensamentos se baseiam na imaginação ilusória. Como tudo o que é imaginado não é algo real, a natureza búdica é completamente diferente de qualquer forma concebida pela imaginação mundana. Esta é a forma mais elevada de pensamento humano. Ó Kasyapa, o cascalho pode ser esmagado, mas não os diamantes. Os Maras e as pessoas podem destruir o corpo e a CEBB

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mente, mas nunca a natureza búdica. Ó Kasyapa, a natureza búdica é inconcebível. “Ó Kasyapa, o Mahayana é o néctar do Darma, através do qual qualquer pessoa pode alcançar o nirvana. Quando as pessoas conhecem esta doutrina, são capazes de transcender a vida assim como a morte. Ó Kasyapa, você deveria compreender que deve se manter firme, com fé nos Três Tesouros. A natureza das pessoas que se apoiam nestes tesouros é a natureza da essência. Aquele que vê claramente a natureza da essência como idêntica à natureza búdica será capaz de ver o Buda não-manifesto. Ó Kasyapa, aquele que se apoia no Buda não se apoia nos deuses. Tal homem é realmente um homem de fé. Aquele que toma refúgio no Darma não procura caminhos falsos, e desta forma alcança o destemor.

(16) “Ó Kasyapa, para seu benefício explicarei o Tathagatagarbha. Se alguém permanecer totalmente apegado à essência, não será capaz de se afastar do sofrimento de forma alguma. Se tiver cortado completamente a crença na existência da essência, para ele não fará sentido praticar o caminho. Se alguém sustenta que não há absolutamente essência alguma, esta é uma visão errônea. Se alguém sustenta que a essência é permanente, esta também é uma visão errônea. Ao sustentar tendenciosamente que todas as coisas mudam, esta é uma visão errônea, enquanto que o oposto, de que nada muda, também é uma visão errônea. Se alguém falar apenas sobre o sofrimento da vida, esta é mais uma vez uma visão errônea, e se falar apenas sobre o prazer, esta é outra visão errônea. Portanto, o Caminho do Meio do Buda se afasta de ambos os extremos de modo a expressar a verdade absoluta. O Buda é como um bom médico que conhece a causa da doença e que cura a doença tratando da sua causa. Da mesma forma, o Buda aniquila CEBB

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os obscurecimentos humanos conhecendo suas naturezas, características e diferenças, e assim ele revela a pura natureza búdica que está escondida nas pessoas. As pessoas comuns, entretanto, não compreendem isto. Assim, ao ouvirem sobre o sofrimento da vida, elas não pensam sobre a presença da felicidade. Ao ouvirem que tudo muda, elas não pensam na natureza búdica que é imutável. Ao ouvirem sobre a não-existência da essência, elas pensam que todo o Darma do Buda também não possui essência. Ao ouvirem que apesar de a natureza búdica estar escondida pelos obscurecimentos ela é totalmente livre deles e é quiescente, elas cultivam a ideia do niilismo. Entretanto, os sábios entendem que o Buda é eterno e imutável. Se é dito que a emancipação é como uma ilusão, as pessoas comuns pensam que ela perecerá, mas os sábios entendem que apesar de o Buda surgir em um corpo humano e passar por nascimento e morte, seu corpo do Darma é eterno e imutável. Quando é dito que a ignorância é a causa de toda a escravidão dos fenômenos, as pessoas comuns pensam que a iluminação e a ignorância são duas coisas diferentes, ao passo que os sábios entendem que elas na verdade não são duas coisas. Pois esta natureza não-dual é a verdadeira natureza. Quando se diz que não há essência em todas as coisas, as pessoas comuns pensam que há duas posições, que há uma essência e que não há essência. Mas os sábios entendem que não há duas posições. Quando não há diferenciação entre as duas, essa é a natureza real. Ó Kasyapa, quando as vacas comem capim doce seu leite se torna doce, quando comem capim amargo seu leite se torna amargo. As pessoas concebem duas formas, iluminação e ignorância, devido à sua ignorância. Entretanto, assim como a ignorância se torna iluminação quando é transformada, o mesmo se dá com todos os darmas bons ou maus. Ó Kasyapa, há diversos tipos de capim no Himalaya, alguns são venenosos e alguns são medicinais. Quando as vacas se CEBB

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alimentam dos últimos, seu leite se transforma em ghee. É o mesmo com o corpo de uma pessoa comum, que apesar de ser visto como impermanente e venenoso, também é o vaso excelente da natureza búdica. Apenas devido à obstrução de seus obscurecimentos as pessoas comuns não veem. Aquele que assim enxergar alcançará a iluminação suprema. Esta pessoa responderá bem à compaixão do Buda. Ela é o verdadeiro filho do Buda.”

(17) Kasyapa perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, como alguém pode ver essa natureza búdica?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Acredite nos Sutras e você saberá como. Ó Kasyapa, nos dias do alto verão, quando a superfície da água se eleva, os patos mandarim escolhem uma colina mais elevada para colocar seus filhotes, e então voam ao redor à vontade sem preocupações. Da mesma forma, o Buda surge neste mundo, ensina incontáveis pessoas, ajuda suas mentes a se concentrarem no verdadeiro Darma, e então ingressa no nirvana. Ó Kasyapa, toda mudança é sofrimento, mas o nirvana é a felicidade. Ele é o mais elevado e o mais sutil, e transcende todas as mudanças. Ele é o estado de néctar completamente prudente e sem qualquer tipo de negligência. Ser negligente e imprudente leva à morte. A negligência é a delusão e a delusão é o sofrimento, ao passo que a ausência de negligência é o nirvana, a mais elevada felicidade. Quando alguém escolhe a direção das mudanças, encontrará a morte e enfrentará sofrimentos insuportáveis. Portanto, há morte para as pessoas comuns, mas não há envelhecimento ou morte para os sábios. Pois eles ingressam no nirvana, que é a felicidade mais elevada e eterna. “Ó Kasyapa, quando a lua se põe as pessoas pensam que ela afundou. Quando surge na direção oposta elas pensam que a lua se levantou. Entretanto, não há mudança por parte da lua, que não possui nem CEBB

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surgimento nem desaparecimento em sua natureza. É o mesmo com o Buda, pois a natureza búdica nem surge nem desaparece por si mesma; é apenas com o objetivo de ensinar as pessoas que o Buda passa por nascimento e morte. Ó Kasyapa, as pessoas dizem que no início de cada mês a lua cresce e que perto do final ela míngua; mas não há mudança em sua própria natureza; não há crescimento nem decréscimo. É o mesmo com o Buda, pois apesar de as pessoas o verem diferentemente, ele é o mesmo sempre.

(18) “Ó Kasyapa, a lua aparece sobre todas as coisas, sobre as cidades, vilas, montanhas, pântanos, mesmo sobre poços e poças, e mesmo em barris e caldeirões em todas as partes. Quer alguém caminhe uma distância de cem milhas ou mil milhas, a lua sempre o acompanhará. As pessoas dizem que a lua é como a boca de um caldeirão ou como uma roda, mas a natureza da lua é a mesma, da qual não há forma variante. É o mesmo com o Buda, pois ele se manifesta de múltiplas formas de acordo com as diferentes causas e condições, enquanto sua natureza é eternamente imutável. “Ó Kasyapa, o Buda lança fora seu corpo físico como uma cobra troca sua pele velha. Ele é comparável a um metalúrgico que obtém metal bem refinado e que cria diversos tipos de recipientes à vontade. É o mesmo com o Buda, pois ele se manifesta de diversas formas neste mundo. E tudo isto com o objetivo de resgatar as pessoas da delusão. “Ó Kasyapa, existe a forma masculina que é a natureza do Buda. Se alguém não conhece a natureza búdica, então tal homem não possui forma masculina. Mesmo que biologicamente seja homem, ele pode ser chamado de mulher. Por outro lado, mesmo que alguém seja biologicamente mulher, se ela souber que há uma natureza búdica em si mesma é dotada de uma forma masculina e é chamada de homem.” CEBB

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Kasyapa disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, agora eu possuo uma forma masculina, pois me tornei capaz de compreender o ensinamento sobre o caminho para enxergar a natureza búdica.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Muito bem dito, Kasyapa! É difícil conhecer o supremo Darma, pois ele é profundo, mas você o alcançou assim como as abelhas acumulam o mel.”

(19) Kasyapa disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, você nos ensinou que em relação à natureza búdica não há diferença entre budas e aqueles que recebem seus ensinamentos. Que você possa explicar melhor este ponto para o benefício de todos nós!” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Kasyapa, suponha que o filho de um rico homem estivesse cuidando de muitas vacas leiteiras com variadas cores de couro. Um dia, ele ordenhou as vacas preparando-se para um certo festival, mas todas as vacas produziram o mesmo leite branco. Ele pensou: ‘As vacas têm cores variadas, então por que o leite que é produzido por todas elas é igual, branco?’ Depois de pensar nisso por um tempo, ele entendeu que a razão era a retribuição comum do carma passado das vacas. “Ó Kasyapa, é o mesmo em relação à verdade de que a natureza búdica é a mesma em todas as pessoas, pois elas são igualmente livres do vazamento dos obscurecimentos. Ó Kasyapa, quando a pepita de ouro é derretida, refinada e transformada em uma pelota de ouro, seu valor se torna muito maior. É o mesmo com a natureza búdica única, que qualquer um pode realizar. Pois assim como a remoção das impurezas da pepita purifica os metais ao eliminar as impurezas, as pessoas podem permitir que a natureza búdica, que todas as pessoas igualmente possuem, manifeste-se. “Ó Kasyapa, se um ser não conhece a natureza eterna do Buda ele CEBB

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nasceu cego, mas quando ele a percebe, então se torna um homem de visão extraordinária. Pois, mesmo que alguém possua tal faculdade em potencial, a não ser que esteja ciente, isto não é diferente de possuir um olho mundano de carne, pois é como se alguém não conhecesse as próprias mãos e pés, e nem pudesse fazer com que os outros conhecessem os seus. “Ó Kasyapa, o Buda é sempre o pai de todas as pessoas. Quando ele ensina em uma língua, cada pessoa pode compreendê-la. Assim, todas elas louvam sua capacidade notável, cada uma pensando que o Honrado pelo Mundo falou apenas para ela. Ó Kasyapa, quando um bebê nasce, por dezesseis meses os pais falam uma língua infantil e, então, gradualmente o ensinam como falar adequadamente. É o mesmo com o Buda, pois ele ensina as pessoas de acordo com sua língua e se manifesta de formas variadas de acordo com seu poder de visão. Tudo isto tem por objetivo ajudá-las a repousar no verdadeiro Darma facilmente.”

3. A Oferenda de Cunda (1) Na manhã seguinte, o Honrado pelo Mundo acompanhado por seus discípulos, entrou na casa de Cunda e recebeu uma oferenda de alimento. Cunda serviu pessoalmente a refeição para o Honrado pelo Mundo e seus discípulos, e serviu separadamente cogumelos cozidos para o Honrado pelo Mundo. Durante a refeição um dos discípulos pegou uma jarra para beber água e acidentalmente a quebrou. Depois da refeição, Cunda colocou uma pequena mesa diante do Honrado pelo Mundo e perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, quantos

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grupos de mendicantes existem neste mundo?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Há um grupo de mendicantes que consiste daqueles que cruzaram o oceano do sofrimento através da prática diligente do caminho e que alcançaram o nirvana, transcendendo os mundos humanos e celestiais. O próximo grupo de mendicantes consiste daqueles que ensinam corretamente o significado do Darma, sem adulterá-lo, e compassiva e claramente dissipam quaisquer dúvidas que os ouvintes possam ter. O terceiro grupo de mendicantes consiste daqueles que anseiam pelo estado de pureza e incansavelmente se esforçam e se nutrem com o Darma que receberam. O último grupo de mendicantes consiste daqueles que externamente parecem santos, mas que não são santos internamente; por serem insinceros sua ação é degradante. Ó Cunda, apenas devido a um único discípulo não valoroso você não deve acusar os outros. Visto que há coisas boas assim como coisas ruins neste mundo, puro e impuro misturados, você não deve fazer um julgamento categoricamente. Portanto, você não deve se aproximar de ninguém afobadamente

devido

à

sua

aparência,

pois

boas

aparências

não

necessariamente significam bondade; aquele cujo pensamento é puro é bom.” Cunda perguntou: “Uma vez o Honrado pelo Mundo nos ensinou que é louvável oferecer tudo o que possuímos aos outros. Posso perguntar o que isso significa?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Você pode excluir um grupo de pessoas dos receptores de sua caridade.” “Quem são essas pessoas?”, perguntou Cunda. “Elas são aquelas que quebram os preceitos. Aquelas que violam os preceitos destroem as raízes de méritos.” “Que tipo de pessoas elas são?”, Cunda perguntou. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Elas são aquelas que difamam o verdadeiro Darma com linguagem vulgar e que não mudam essa atitude por um longo tempo e nem se arrependem de forma CEBB

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alguma. Aquelas que infringem as quatro proibições graves e que cometem as cinco ofensas graves, não tendo medo, nem vergonha, nem o pensamento de defender o verdadeiro Darma, mas pelo contrário o desprezam e difamam com linguagem ofensiva, todas igualmente cortam as raízes de mérito. E também, aquelas que não acreditam no Buda, no Darma e na Sanga também cortam as raízes de mérito. Toda a caridade que for praticada, excluindo essas pessoas como receptores, é louvável.”

(2) Cunda perguntou: “Aqueles que cometem essas graves ofensas podem ser salvos?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Eles podem ser salvos se as condições causais adequadas forem encontradas. Se eles se arrependerem, sentirem-se envergonhados e se voltarem para o Darma, mesmo que seja por medo, pensando sobre as razões que os levaram a cometer essas ofensas graves, e sabendo que não há nada além do verdadeiro Darma para ajudá-los a se afastarem de suas ofensas, e que eles devem manter os preceitos, então eles não estarão mais cometendo as cinco ofensas graves; portanto, o ato de caridade por esses discípulos seria uma bênção incomensurável. Ó Cunda, havia uma mulher que engravidou; devido à deflagração de uma guerra, quando se aproximou o momento do nascimento ela escapou para outro país. No caminho ela deu a luz a um bebê em um santuário onde estava descansando. Depois de algum tempo, ouvindo que a situação estava mais calma em seu país natal, ela iniciou a viagem de volta, levando a criança consigo. Porém, no caminho ela deparou com um rio alagado e não tinha como atravessá-lo com a criança nas costas. Assim, pensou que seria melhor morrer com a criança, pois não podia abandoná-la, e assim se afogou junto com o filho. Apesar de a natureza desta mulher não ser bondosa, devido ao amor pelo filho ela renasceu no céu após sua morte. Ó CEBB

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Cunda, é o mesmo com a mente determinada a sustentar o verdadeiro Darma, pois não importa se alguém cometeu ações negativas no passado, pela sua determinação em seguir o verdadeiro Darma ela poderá se tornar uma das pessoas mais qualificadas para receber bênçãos. “Ó Cunda, ao ter fé no caminho não se deve ter ciúmes dos outros, nem se deve deixar desviar pelas palavras dos outros. E também, não se deve interessar por avaliações sobre a conduta dos outros em relação às regras. É essencial prestar atenção aos próprios assuntos avaliando o que é bom e o que não é. Desta forma pode-se fazer progresso na prática. Você deve disciplinar sua mente; não importa quão trivial um assunto possa ser, não seja negligente sobre ele.” Ao ouvir isto, Cunda se sentiu encantado.

(3) O Honrado pelo Mundo deixou a casa de Cunda acompanhado por seus discípulos e prosseguiu para a cidade de Kusinara. Cunda e sua família também seguiram o Buda e seu séquito. No meio do caminho para Kusinara, o Honrado pelo Mundo teve uma recaída em sua doença. Descansando silenciosamente sob uma árvore à beira da estrada, o Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Estou com uma dor aguda nas minhas costas. Você pode estender meu tapete?” Imediatamente Ananda preparou o tapete conforme solicitado. Depois de descansar sobre o tapete, o Honrado pelo Mundo chamou Ananda e disse: “Ó Ananda, eu sinto sede. Você pode pegar para mim um pouco de água do rio ao lado?” Ananda respondeu: “Ó Honrado pelo Mundo, há pouco mercadores com uma caravana de quinhentas carroças atravessaram rio acima, e a água ainda deve estar turva e imprópria para beber. Mas, Honrado pelo Mundo, há outro rio, o Kakuttha, não muito longe daqui, onde a água é clara e fresca. Podemos prosseguir para lá, onde o CEBB

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Honrado pelo Mundo poderá beber a água e refrescar seus membros?” Entretanto, o Honrado pelo Mundo repetiu o pedido três vezes. Ananda concordou e, tomando uma tigela, foi até a margem do rio. Ao chegar à margem ele descobriu que a água já estava clara, e ele disse: “Como é maravilhoso o grande poder do Buda.” Ele retornou até o Honrado pelo Mundo com a água na tigela e a entregou. Naquele momento, um jovem homem chamado Pukkusa, um membro do clã Malla e discípulo de Alara Kalama, estava passando pela estrada de Kusinara para a cidade de Pava. Ele viu a figura sagrada do Honrado pelo Mundo sentado ao pé de uma árvore e foi até ele. Depois de saudá-lo reverentemente, ele disse: “Ó Gotama, no caminho sagrado a meditação é a prática primária, através da qual controlamos nossas emoções, disciplinamos nossas mentes e cortamos a sensação de alarme e medo. Certa vez, meu professor Alara Kalama estava descansando sob uma árvore à beira da estrada e uma caravana de cinquenta carroças passou diante dele, mas ele nunca saiu de sua concentração silenciosa e nem fez o menor movimento físico. Eu fiquei impressionado com a nobreza da prática da meditação.” Então o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Pukkusa, certa vez na vila de Atuma eu estava sentado sob uma árvore à beira da estrada, focado no caminho. Naquele momento, passou uma caravana de quinhentas carroças diante de mim. E também, quando eu estava contemplando a vida e morte do mundo humano na cabana de um fazendeiro em uma vila, houve uma terrível tempestade que fez tremer toda a área, causando a morte de dois irmãos e de quatro vacas na vila. Em ambas as ocasiões, apesar de eu não estar dormindo, não vi coisa alguma nem ouvi nada; e os habitantes da vila todos se espantaram.”

Ao

ouvir

o

Honrado

pelo

Mundo,

Pukkusa

ficou

profundamente impressionado, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, a CEBB

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profundidade da meditação do Buda está além de minha compreensão, e muito além da capacidade de meu professor.” O Honrado pelo Mundo deu instruções adicionais e detalhadas a Pukkusa, que estava em lágrimas, e lhe disse: “Aqueles que se devotam ao Darma são pacíficos e se deliciam mesmo enquanto descansam na cama. As pessoas sábias cujo objetivo é puro se deliciam com a prática do Darma ensinado pelo Tathagata, e elas se apoiam em sua virtude, assim como os seres se apoiam nas chuvas que a todos umedecem.”

(4) Quando o Honrado pelo Mundo disse isto, Pukkusa ordenou ao seu atendente: “Vá e traga dois mantos da cor dourada, eu quero oferecê-los ao Honrado pelo Mundo.” Com os mantos em suas mãos, Pukkusa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, por compaixão, você aceita esta oferenda?” O Honrado pelo Mundo disse: “Receberei um deles para seu benefício, e você pode oferecer o outro a Ananda. Ele tem me servido dia e noite, e hoje tomou conta de mim que estou doente. Um ato de caridade tanto para a pessoa doente e para seu atendente é a perfeição de um grande presente.” Encantado, Pukkusa presenteou um dos mantos ao Honrado pelo Mundo e o outro a Ananda. Ananda disse: “Ó Pukkusa, este é um belo ato de caridade. Você seguiu bem as palavras do grande professor do mundo das pessoas. Com alegria eu aceito.” Tendo feito a oferenda, Pukkusa sentou-se ao lado; o Honrado pelo Mundo continuou seu ensinamento sobre o caminho. Ao final, Pukkusa disse novamente: “Ó Honrado pelo Mundo, agora eu tomo refúgio no Buda, no Darma e na Sanga. Por favor, permita que eu me torne um fiel seguidor do verdadeiro Darma. Enquanto eu viver, estou determinado a me abster de matar, roubar, de me entregar aos sentidos, mentir e beber.” O Honrado pelo CEBB

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Mundo consentiu. Pukkusa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, eu sou um homem ocupado, posso partir agora? E quando o Honrado pelo Mundo passar pela cidade de Pava em outra ocasião, por favor, estenda sua visita até nossa vila e nos dê instruções. Eu estarei pronto para fazer oferendas com quaisquer alimentos, mantos, remédios e outras coisas que tiver em minha casa.” Ao dizer isto, Pukkusa partiu satisfeito.

(5) Logo depois, Ananda presenteou o manto dourado ao Honrado pelo Mundo. Entendendo sua mente, o Honrado pelo Mundo o vestiu imediatamente. Naquele momento, sua figura sublime brilhou especialmente, como chamas flamejantes. Maravilhando-se com isto, Ananda disse: “Ó Honrado pelo Mundo, já faz vinte e cinco anos que comecei a acompanhá-lo, mas nunca houve uma ocasião em que sua figura parecesse tão sublime quanto agora. Isto é maravilhoso e estranho. Você pode explicar a razão para nós?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Há duas ocasiões em que a figura de um Buda parece especialmente diferente da maioria dos outros dias. A primeira ocasião é quando um buda alcança a iluminação, e a segunda é o momento em que um buda está prestes a ingressar no nirvana final. Vocês devem saber que eu morrerei hoje à meia-noite, sem dúvidas.” Todos que estavam presentes choraram. O Honrado pelo Mundo prosseguiu para o rio Kakuttha, onde lavou seu corpo na água e caminhou até a sombra de uma árvore à margem do rio. A luz brilhante se mostrou novamente na cor dourada em direção a ambas as margens do rio. Naquele momento, Ananda estava secando o manto do Honrado pelo Mundo que tinha sido usado para o banho, e o Honrado pelo Mundo pediu a Cunda para estender seu tapete e nele descansou.

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4. Três Tipos de Pessoas Incuráveis (1) Kasyapa de Uttara questionou o Honrado pelo Mundo, dizendo: “As pessoas comuns têm quatro tipos de flechas venenosas como causas de doenças. Elas são a cobiça, a raiva, a ignorância e a arrogância. Devido a essas quatro existem muitas doenças. O Honrado pelo Mundo não tem essas quatro, então por qual razão suas costas doem?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kasyapa, na verdade eu estou livre de todas as doenças. Desde um passado imemorial o Buda já está totalmente livre de todas as doenças. Ó Kasyapa, apesar de o Buda ser conhecido como um leão entre os homens, na verdade o Buda não é um leão. A palavra leão se refere a um ensinamento secreto do Buda. O fato de eu agora estar supostamente doente, da mesma forma não é nada mais que um ensinamento secreto do Buda. “Ó Kasyapa, existem três tipos de pessoas incuráveis no mundo: primeiro, aquelas que difamam o Mahayana, segundo, aquelas que cometem as cinco ofensas graves, e terceiro, aquelas que cortam as raízes de mérito. Essas três doenças são extremamente graves e apenas um buda pode curá-las. “Ó Kasyapa, um bodisatva ao renunciar ao mundo recebe os preceitos e mantém sua aparência adequadamente, pacífico nos movimentos, temeroso e mantendo distância mesmo diante das transgressões mais triviais; e ele mantém os preceitos com a dureza de um diamante. Ó Kasyapa, um homem tentou cruzar um oceano segurando um saco flutuante, mas os Maras do oceano exigiram que ele o entregasse a eles. O homem sabia que se o entregasse certamente se afogaria, e assim respondeu: ‘Mesmo se me matarem eu não o entregarei a vocês.’ Os Maras disseram: ‘Se você não pode

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nos dar todo ele, então nos dê apenas a metade.’ Mas mesmo assim o homem não concordou. Então eles disseram: ‘Se você não pode dar nem mesmo a metade, então que tal um terço? Se ainda assim você rejeitar a ideia, então que tal um pedacinho dele, ou mesmo uma parte do tamanho de uma partícula de poeira?’ Porém, o homem recusou categoricamente e disse: ‘O que vocês pediram é muito pouco. Mas eu não sei se meu objetivo está próximo ou distante neste oceano. Se eu ceder a vocês e oferecer um pedaço do saco é óbvio que todo o ar sairá de dentro dele. Então eu não conseguirei terminar minha viagem; provavelmente a morte estará esperando por mim.’ Ó Kasyapa, deve acontecer o mesmo na manutenção dos preceitos por um sramana. Quando um sramana sustenta os preceitos, muitas tentações dos obscurecimentos humanos falarão sedutoramente com ele, dizendo: ‘Você pode confiar em mim, eu não te enganarei. Se você quebrar os quatro preceitos, ou seja, os preceitos contra matar, roubar, a entrega à sensualidade, e a mentira, ainda assim você será capaz de ingressar no nirvana pacificamente.’ Cada sramana deve sustentar esses preceitos firmemente, manter sua mente estável como um diamante e dar o mesmo valor a ofensas pequenas ou grandes. Desta forma, cada sramana pode aperfeiçoar os preceitos puros fundamentais. Esta é a prática da pureza, e desta forma cada sramana pode adquirir os sete tesouros sagrados, ou seja, fé, preceitos, consciência, conhecimento, sabedoria, liberação das paixões, e finalmente, sapiência.

(2) “Em seguida, ó Kasyapa, cada sramana deve compreender as Quatro Nobres Verdades. A primeira é a verdade do sofrimento, que corporifica o aspecto iminente dos múltiplos sofrimentos no mundo, e dos quais o nascimento, a velhice, a doença e a morte são aqueles de quem CEBB

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ninguém pode escapar. Ó Kasyapa, suponha que uma mulher bela e bem vestida chegue a uma casa. O mestre pergunta quem ela é, ao que a mulher responde: ‘Eu sou Srimahadevi, a deusa da boa fortuna.’ Então ele pergunta o que ela faz, e ela responde que traz boa fortuna ao lugar em que se encontra. Encantado, o mestre a convida até seu quarto de hóspedes e a entretém queimando incenso e aspergindo flores. Logo depois chega outra mulher à entrada da casa. Ela tem a aparência e roupas muito feias; sua pele está rachada e sua roupa está toda imunda e suja. Ao ser perguntada sobre sua identidade, a mulher responde que ela é Kalaratridevi, a deusa do infortúnio, e ela destrói cada boa fortuna onde quer que permaneça. O mestre ordena que ela parta. Com a espada na mão, ele ameaça a vida dela caso a mesma se recuse a partir. Então a mulher diz: ‘Como você é tolo! A mulher que se encontra em sua casa é minha irmã. Como eu sempre fico com ela, se você me forçar a partir estará forçando minha irmã também.’ O homem se surpreende e corre para dentro da casa para questionar Srimahadevi. Ela responde que a mulher feia está certa, e que se ele a ama deve amar sua irmã da mesma forma. Assim, o chefe de família força ambas a saírem da casa. As duas mulheres prosseguem até um lar empobrecido onde ambas são recebidas com alegria. Ó Kasyapa, uma vez nascidas, as pessoas estão fadadas a passar por velhice, doença e morte. Os tolos amam tanto a boa fortuna quanto o infortúnio, ao passo que o sramana não deveria amar nenhum dos dois.

(3) “Ó Kasyapa, se a chuva consistisse de pedaços de diamantes, certamente ela destruiria as árvores, a grama e qualquer outra coisa com exceção dos próprios diamantes. Da mesma forma, a chuva que consiste da morte destrói todas as pessoas, mas ela não destrói aqueles bodisatvas que repousam no estado do nirvana. Ó Kasyapa, quando as pessoas morrem elas CEBB

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passam pelo terrível lugar onde não há alimento para comer; a estrada é longa e distante e nela não há companhia; dia e noite elas prosseguem sem descanso ou objetivo algum, na névoa e na escuridão, sem qualquer luz; de fato, a morte é o maior sofrimento. “Ó Kasyapa, a Nobre Verdade seguinte é a verdade da causa do sofrimento, que consiste da sede do amor. Essencialmente existem dois tipos de amor, um bom e um mau. O bom amor é o que os bodisatvas procuram, enquanto que o mau amor é aquele pelo qual as pessoas comuns anseiam. O amor das pessoas comuns é a causa do sofrimento, mas o dos bodisatvas não. Quando um rei sai, seus súditos o acompanham; para onde quer que a sede do amor prosseguir, todos os obscurecimentos a acompanharão. Assim como as mudas crescem bem na terra úmida, as mudas da negatividade crescem bem nos locais umedecidos pela sede do amor. Além disso, a sede do amor é como a filha de um demônio, pois ela engole seu bebê e até mesmo seu marido. Da mesma forma, a sede do amor engole o que é bom imediatamente após seu nascimento, e consome até mesmo todas as pessoas. Ainda mais, a sede do amor é como uma cobra escondida em uma cama de flores. As pessoas amam as flores, mas não veem as cobras venenosas sob elas. Tão logo alguém pega uma flor será picado mortalmente. As pessoas gananciosamente desfrutam os cinco tipos de flores, ou seja, os cinco tipos de desejos, e afetadas pela sede do amor elas caem em destinos infelizes. Portanto, um bodisatva se esforça para extinguir a chama maculada e acessa o estado de quiescência e tranquilidade. Quando todos os obscurecimentos tiverem sido extinguidos, haverá alegria e nenhuma aflição causada pela delusão surgirá. Esta é a terceira Verdade, ou seja, a cessação. Finalmente, a quarta Verdade, a do nobre caminho, é o Nobre Caminho Óctuplo. Ó Kasyapa, assim como nós podemos enxergar as coisas à noite com a ajuda de uma lâmpada, também CEBB

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um bodisatva repousa no Mahayana e se apoia no Nobre Caminho Óctuplo, através do qual ele vê todas as coisas no mundo.”

(4) Kasyapa disse: “Honrado pelo Mundo, você nos ensinou anteriormente que a mente da fé é o caminho, e em outro momento que a ausência de negligência é o caminho; da mesma maneira, você nos disse que o esforço, a concentração, a contemplação da impureza da carne, a reflexão sobre a impermanência universal, a sustentação dos preceitos, a associação com pessoas de bom caráter, a prática da compaixão, a destruição dos obscurecimentos pelo poder do insight, e assim por diante - cada um destes itens é o caminho. Agora o Honrado pelo Mundo introduziu o Nobre Caminho Óctuplo como o conteúdo do caminho. Isto significa então que todos os ensinamentos que o Honrado pelo Mundo transmitiu anteriormente são falsos?” O Honrado pelo Mundo louvou Kasyapa, dizendo: “Boa pergunta, ó Kasyapa! Todos esses ensinamentos definidos como caminhos estão igualmente incluídos na verdade do caminho. Ó filhos de boa família, apesar de o caminho ser único, o Buda o explicou de diferentes formas de acordo com as capacidades das diversas pessoas. Mesmo que a natureza do fogo seja única, quando ele queima a madeira nós o chamamos de fogo de madeira; quando ele queima o capim, nós o chamamos de fogo de capim. E também, em relação à mesma coisa, nós chamamos de cor o aspecto que vemos, ou chamamos de som o aspecto que ouvimos. Igualmente, quando cheiramos algo, chamamos de cheiro, e o que quer que saboreemos chamamos de gosto. É o mesmo em relação ao caminho único do Buda. Apenas com o objetivo de educar os diversos tipos de pessoas ele é explicado de múltiplas formas, e é apenas através desses meios hábeis que incontáveis pessoas podem com o CEBB

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tempo ser guiadas a superar a causa da delusão.”

(5) Naquele momento, o Bodisatva Manjusri disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, eu lhe suplico para que nos explique o significado da verdade mundana que apenas os budas experimentam.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “A verdade mundana é idêntica à verdade absoluta.” Manjusri perguntou: “Não há duas verdades diferenciadas?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Eu ensinei duas verdade para acomodar a faculdade ordinária da diferenciação. Ó Manjusri, a verdade mundana se refere a coisas para as quais há apenas nomes, mas não há realidades correspondentes. Por outro lado, a verdade absoluta se refere a coisas para as quais há os correspondentes nomes objetivos e realidades. Quando a mente não está mais deludida, e quando a realidade é visto tal como ela é, então o conteúdo de tal insight se chama verdade absoluta.” “Então, o que é a verdade da realidade tal como ela é?” perguntou Manjusri. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Manjusri, a verdade das coisas como elas são se refere ao que quer que possua uma existência objetiva. Se as coisas não possuem uma existência objetiva, esse estado de ser não se chama verdade absoluta; a verdade absoluta não é um estado deludido; ela não apresenta falsidade; e ela é denominada Mahayana. Sobre esse estado apenas os Budas podem falar, e não aqueles que nos tentam. Ó Manjusri, a verdade é o caminho único, é pura, não é duas coisas, e é dotada com existência eterna, felicidade eterna, essência eterna e pureza eterna.” Manjusri perguntou: “Alguns não-budistas afirmam o mesmo. São as afirmações deles também verdadeiras?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “No pensamento falso aquilo que é impermanente e que muda incessantemente é chamado de eterno, mas isto está errado e deve ser corrigido como impermanente, porque todas as coisas CEBB

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surgem na dependência de causas e condições e não podem existir por si mesmas ou como únicas. Como todos os fenômenos incessantemente mudam e são impermanentes, esta situação é uma forma de sofrimento, não possuindo essência, liberdade ou pureza. Portanto, apenas a natureza búdica pode ser descrita como não sendo originada ou perecível, nem vindo nem indo, nem dotada de forma nem desprovida de forma, e nem ela é como os fenômenos, tais como o corpo físico, as sensações, os objetos das sensações, que mudam incessantemente. A natureza búdica, de fato, permanece para sempre, e portanto deve ser considerada a felicidade eterna, a essência eterna, detentora da liberdade e também da verdadeira pureza. Muitos não-budistas afirmam uma doutrina similar, mas como eles não compreendem a realidade tal como ela é, na verdade eles não estão ensinando a verdadeira doutrina da existência eterna, da felicidade eterna, da liberdade eterna e da pureza eterna; e da mesma forma suas doutrinas não podem ser identificadas de modo algum com a verdade da realidade tal como ela é.”

(6) Naquela ocasião estava o discípulo leigo Vimalagarbha na assembleia, o qual se levantou de seu assento e com reverência juntou as mãos em prece, dizendo ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, a sabedoria dos budas é ilimitada, e mesmo assim sua sabedoria é ainda inferior ao seu ensinamento, a doutrina da natureza búdica. Pois é apenas através deste ensinamento que alguém poderá realizar o caminho genuíno.” O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Vimalagarbha, nós temos o leite das vacas, um leite azedo espesso a partir do leite, um leite coalhado a partir do leite azedo espesso, manteiga a partir do leite coalhado, e finalmente ghee a partir da manteiga. O produto final é, realmente, o melhor de todos, no qual todos os remédios são inerentes. Se alguém beber esse ghee todas as doenças serão CEBB

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curadas. É o mesmo com o Buda. Pois surgirão diversos ensinamentos a partir do Buda, e finalmente virá a realização do nirvana, o produto final, como o ghee. Isto também é comparável à natureza búdica; portanto, a natureza búdica significa, na verdade, o Buda.” Então Kasyapa disse: “Ó Honrado pelo Mundo, esta doutrina é realmente a mais elevada; de agora em diante estou determinado a registrar esta doutrina como uma escritura, mesmo se tiver que fazer papel de minha pele, tinta de meu sangue e medula e uma caneta com meus ossos, e desta forma propagarei o significado desta doutrina por todo o mundo para sempre. Ó Honrado pelo Mundo, ao encontrar uma pessoa gananciosa, primeiro eu lhe darei tesouros, e então esta doutrina a ela. Quando um homem tiver uma elevada posição social, primeiro eu utilizarei uma linguagem que apele ao seu sentimento, e então lhe ensinarei esta doutrina. E também, no caso de uma comunidade de pessoas, primeiro demonstrarei meu poder de influência e os levarei a aceitar esta doutrina, ou se alguém for arrogante, primeiro eu o atenderei como um servo e então recomendarei esta doutrina a ele. Se alguém difamar a doutrina do Buda, irei persuadi-lo em um debate e então permitirei que ele aprenda esta doutrina. Quando alguém já estiver encantado com o Mahayana, eu o visitarei para prestar tributo e para lhe fazer oferendas com muitos louvores.” Ao ouvir isto, o Honrado pelo Mundo louvou Kasyapa: “Isto é muito bonito, você já está devotado ao Mahayana. Devido a esta condição causal você realizará o caminho antes mesmo de incontáveis bodisatvas o realizarem.” Assim, o Honrado pelo Mundo completou seu discurso e, então, relatou a seguinte história.

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5. O Preço de Meio Verso (1) “Ó Kasyapa, no passado imemorial, quando nenhum buda havia surgido neste mundo, eu estava morando nos Himalayas, engajado na prática do bodisatva. Sobre o solo crescia o capim, variedades de pássaros se reuniam, os riachos eram cristalinos, os frutos eram doces e variedades de flores de odores delicados se abriam. Eu estava procurando em todos os lugares pelo ensinamento Mahayana, mas ainda não tinha conseguido encontrá-lo. Então, muitos deuses me acharam estranho, e conversavam entre eles: “Este homem se afastou completamente da mente perturbada gerada pelo desejo e possui a mente da tranquilidade, totalmente livre de todos os desejos. Ele pode estar pensando em se tornar o deus Indra na próxima vida.’ Então um deus disse: ‘Existe um bodisatva no mundo que pratica muitas coisas para beneficiar os outros, mas que não faz nada para si mesmo. Esse homem compreende que os erros humanos derivam da delusão, e mesmo se a terra estiver preenchida por tesouros ele os vê apenas como são, sem valor como o cuspe; e portanto, ele não tem sentimento algum de ganância. Ele pode entregar até mesmo sua própria esposa e filhos, seus servos e sua própria casa. Tampouco ele deseja a glória do mundo dos deuses, pois está focado apenas em como realizar o caminho mais elevado e em como alcançálo rapidamente para poder beneficiar todas as pessoas. Talvez ele seja esse Bodisatva.’ Então o deus Indra disse: ‘Se ele é tal Bodisatva, então está destinado a salvar todas as pessoas. Ó deuses, se houver uma sombra criada pelo Buda neste mundo, na qual qualquer pessoa possa descansar, os problemas das pessoas serão mais facilmente solucionados. Se ele está destinado a se tornar um buda, devemos protegê-lo de todas as formas.

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Apesar disto, não se pode acreditar em tais coisas facilmente. Até hoje, muitas centenas de milhares de pessoas desejaram realizar o caminho, mas todas acabaram abandonando o objetivo devido a condições desfavoráveis. Elas são como a imagem da lua refletida na água, que é facilmente movida ou quebrada mesmo por pequenas ondulações passando pela superfície da água. Portanto, irei visitá-lo agora e testarei o quanto a sua determinação é firme.’ Assim dizendo, Indra desapareceu de seu assento e repentinamente apareceu nos Himalayas, assumindo a terrível forma de um demônio. Alegremente ele cantou esta canção:

Todas as formações são transitórias, É de sua natureza crescer e decair.

(2) “Ó Kasyapa, ao ouvir este meio verso eu fiquei extasiado como se tivesse recebido água para saciar minha sede, ou como se tivesse repentinamente sido libertado da prisão. Esta foi uma canção preciosa, transmitindo precisamente a verdade do mundo; ela não deveria ser nada além da doutrina Mahayana. Eu me levantei de meu assento, controlando meu coração palpitante, e olhei ao redor: ‘Quem cantou esta canção maravilhosa? Onde está o mestre de tal orientação excelente, que eu procurei por tanto tempo?’ Mas não pude encontrar ninguém à vista. O único ser que vi era um demônio com a mais terrível aparência. Eu pensei: ‘Foi este demônio que cantou esse meio verso? Não, não pode ser; como poderia a nobre voz de um buda sair deste ser com aparência tão feia? Pois seria como um lótus nascendo do fogo, ou como a água brotando de um raio de sol. Entretanto, além dele não há ninguém à vista. Será que algum dia esse demônio encontrou um buda e aprendeu esse verso com ele?’ Pensando CEBB

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assim, eu decidi perguntar-lhe.

(3) “Eu me aproximei do demônio e perguntei: ‘Onde você aprendeu este nobre meio verso?’ Ele respondeu: ‘Não me pergunte sobre esse verso. Eu não como há alguns dias. Procurando por comida em todos os lugares, ainda não consegui encontrar nenhuma. Devido ao meu desconforto saiu de minha mente aquele meio verso. Eu não tive pensamento especial algum ao dizê-lo.’ Eu perguntei: ‘Não negue. Eu lhe imploro para me ensinar a metade restante do verso, de forma que possa me tornar seu discípulo pelo resto de minha vida. O meio verso que você ofereceu é, realmente, um verso verdadeiramente nobre, mas por ser a metade, as palavras assim como seus significados estão incompletos. Quando alguém oferece um tesouro, pode haver um momento em que seja destruído, mas não o oferecimento do Darma, como se diz. Por favor, ensine-me a metade restante.’ Então o demônio respondeu: ‘Você pensa apenas em si mesmo, mas não pensa em mim. Estou completamente faminto agora, como posso pensar em dar instruções a alguém?’ ‘Então, qual é o seu tipo de comida?’, eu perguntei. ‘É melhor você não me perguntar isso. Qualquer um ficaria chocado com minha resposta’, disse o demônio. Eu disse: ‘Ninguém está aqui, exceto eu. Não há o que temer. Conte-me qual o seu tipo de comida.’ ‘Tudo bem, vou lhe contar. Minha comida é carne humana quente e minha bebida é sangue humano quente, é dessas coisas que eu dependo’, foi sua resposta. ‘Se é assim, por favor, diga-me a metade restante do verso. Meu corpo morrerá mais cedo ou mais tarde e não é de grande utilidade para mim. Seria melhor para meu desejo guardado há tanto tempo se meu corpo pudesse ser usado como oferenda a você para o bem do nobre Darma, ao invés de ser devorado por animais selvagens como tigres, lobos e corujas. Estou pronto a abrir mão CEBB

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deste corpo que decairá, e desejo ao invés disso obter o Darmakaya, estável e imutável para sempre.’ O demônio disse: ‘Apesar de você falar assim, como alguém pode acreditar em você?’ ‘Essa é uma dúvida tola. Assim como se joga fora cacos e cascalho e se pega um vaso feito das sete pedras preciosas, da mesma forma jogando fora este corpo decadente de carne, eu posso adquirir um corpo de diamante. Se você não consegue acreditar nisto, eu juro para todos os deuses e todos os budas para testemunharem estas palavras.’ Diante desta minha súplica o demônio finalmente concordou.’ ‘Como você é tão sincero sobre o que disse, darei a metade restante.’ Eu estendi minhas roupas no chão para ele se sentar e reverentemente me ajoelhei para ouvir a metade restante do verso. O demônio cantou:

Tendo surgido, elas cessam; Sua cessação é a felicidade.

“Agora, ó Bodisatva’, disse o demônio, ‘eu lhe dei o verso completo. O seu desejo deve ter se cumprido. Se você realmente tem a intenção de beneficiar todos os seres, por que não oferece seu corpo para eu comer?’

(4) “Ó Kasyapa, naquele momento eu apreciei completamente o significado daquele verso, e então o escrevi nas rochas e paredes, na casca das árvores e em todos os lugares na estrada. Depois de fazer isto, eu subi no topo de uma árvore. O deus da árvore me perguntou o que eu pretendia fazer. Eu respondi: ‘Vou oferecer este corpo, pois sou grato pelo verso que me foi ensinado.’ ‘Que tipo de mérito há nesse verso?’, perguntou o deus da árvore. ‘Esse verso transmite o caminho correto de todos os budas do passado, do presente e do futuro’, eu disse, acrescentando: ‘Eu quero que CEBB

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aqueles que são avarentos ou aqueles que facilmente se tornam arrogantes ao fazer oferendas irrelevantes, testemunhem como eu abro mão de meu corpo precioso para receber a metade de um verso como se estivesse jogando fora um feixe de capim.’ Tão logo eu disse isto, pulei do topo da árvore. Mas antes de meu corpo tocar o chão, o demônio se transformou voltando para sua aparência original de deus, segurou meu corpo no ar, e gentilmente o deitou no chão. E junto com muitos deuses ele se curvou no chão aos meus pés e me louvou, dizendo: ‘Esta é a intenção mais nobre, você é um verdadeiro bodisatva. Você já beneficiou incontáveis pessoas. Que você possa perdoar minha ofensa e depois de alcançar o objetivo mais elevado que deseja, possa você estender seu ensinamento até mim para o bem de minha salvação!’ Ao dizer isto com um gesto de reverência aos meus pés, ele desapareceu. “Ó Kasyapa, desta forma eu sacrifiquei meu corpo pelo preço de meio verso. Desde então, através de muitos éons, eu continuei a praticar a caridade e finalmente realizei o caminho. Ó Kasyapa, o mérito incomensurável que eu possuo é a recompensa pela minha prática continuada da caridade para o verdadeiro Darma dos budas. Ó Kasyapa, você agora aspira pelo caminho supremo. Com isto você já superou inúmeros bodisatvas, tantos quanto as areias do rio Ganges.”

6. As Quatro Mentes Ilimitadas (1) O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Kasyapa, conheça o Darma e seu significado, tempo e contentamento, e também conheça você mesmo e os outros, a nobreza e a falta de caráter; pratique as quatro mentes ilimitadas, ou

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seja, a cordialidade, a compaixão, a alegria e a equanimidade. “Ó Kasyapa, eu disciplinarei muitos que sustentam visões errôneas através de inúmeros meios hábeis. Se eles forem gananciosos por tesouros, irei me transformar em um rei sagrado e lhes darei o que quer que desejem, e então lhes ensinarei o caminho supremo para a iluminação para o seu benefício e bem-estar. Se eles se entregarem aos cinco desejos, eu lhes darei os objetos mais satisfatórios de seus desejos e, então, guiá-los-ei para o caminho supremo da iluminação para seu benefício e bem-estar. Se eles forem prósperos e arrogantes, tornar-me-ei seu servo e trabalharei duramente para eles por um longo tempo, e conquistarei seus corações; assim eu os levarei ao caminho supremo para a iluminação para seu benefício e bem-estar. Se eles forem teimosos e convencidos de suas posições, irei reprimi-los, aconselhálos, disciplinarei suas mentes e os farei alcançar a paz através do supremo caminho para a iluminação. Ó Kasyapa, todos esses métodos não são falsos. O Buda é como a flor de lótus, porque ele não é contaminado mesmo estando no mundo impuro. “Ó Kasyapa, ao praticar a cordialidade, você conseguirá destruir a mente da cobiça; ao praticar a compaixão, você conseguirá cortar a mente da raiva; ao praticar a alegria de ver os outros felizes, você conseguirá cortar a mente do sofrimento; e ao praticar a equanimidade, conseguirá aniquilar as mentes da cobiça, da raiva e a discriminação em relação a todas as pessoas.

(2) “Ó Kasyapa, um bodisatva vê inúmeras pessoas com uma mente de igualdade e não demonstra a menor discriminação. Esta é a realização da prática da compaixão. Porém, esta não é de forma alguma a Grande Compaixão, porque tal compaixão é difícil de praticar. Assim como é difícil escavar um buraco em uma vagem muito seca, é extremamente difícil CEBB

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destruir os obscurecimentos humanos quando eles estão completamente endurecidos, mesmo disciplinando a mente contra as perturbações por um dia e uma noite inteiros. E também é difícil afastar a raiva, como um deus observando uma casa; mas é fácil perder a bondade, como um cervo correndo pela floresta. A raiva é como uma figura escavada na rocha, e a compaixão é como uma imagem desenhada na superfície da água. Além disso, a raiva é como uma massa de fogo, e a compaixão é como um relâmpago. Ó Kasyapa, se um bodisatva não discrimina mesmo um vilão terrível e não censura suas faltas nem desperta sua raiva, diz-se que ele possui Grande Compaixão. “Ó Kasyapa, eliminar as coisas que não são benéficas para as pessoas é Grande Compaixão. Oferecer inúmeros benefícios é a prática da compaixão. Desenvolver satisfação pelos outros é a prática da alegria. Ver todos os darmas de forma igual e sem discriminações, ou abrir mão do próprio prazer e oferecê-lo aos outros é a prática da transcendência ou equanimidade. Estas quatro práticas de atitudes mentais infinitas são as fundações de tudo o que é bom.

(3) “Ó Kasyapa, a razão para um bodisatva praticar a caridade não é o medo, ou fama, ou lucro, e nem é para enganar os outros. Portanto, o bodisatva não deve ter arrogância nem esperar um retorno por suas ações. Quando um bodisatva pratica caridade, ele não pensa em si mesmo; tampouco ele escolhe o receptor. Diante de todas as pessoas ele demonstra sua compaixão como se cada uma delas fosse seu filho único. Ao olhar para o sofrimento das pessoas ele sente piedade, assim como os pais sentem piedade por seus filhos doentes. Ao ver sua felicidade ele sente alegria, assim como os pais sentem alegria ao verem a recuperação de seus filhos. Quando um bodisatva pratica caridade, assim como os pais que deixam o filho crescido CEBB

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viver livremente sua própria vida, ele não acalenta o pensamento de sua generosidade anterior.

(4) “Ó Kasyapa, quando um bodisatva pratica compaixão, ele pode gerar um bem incomensurável. Portanto, sua compaixão é verdadeira, não é falsa. Se alguém perguntar qual é a raiz da bondade, ele deve responder que é a compaixão. Ó Kasyapa, como praticar a bondade é um pensamento correto, o próprio pensamento correto já é compaixão. E também, Kasyapa, a compaixão é o Buda e o caminho para a iluminação. A compaixão é o pai que nutre todas as pessoas, e tal pai é o Buda. Ó Kasyapa, a compaixão é a natureza búdica inerente a todas as pessoas. Como ela foi ocultada pelos obscurecimentos, as pessoas não a veem, mas como todos possuem esta natureza e a manifestam em seus atos de compaixão, a natureza búdica é idêntica ao Buda. Portanto, a compaixão também é caracterizada como existência eterna, felicidade eterna, essência eterna e pureza eterna. Esta natureza búdica, ou seja, o Darma, não está separada da Sanga. Assim, a Sanga é o Darma, o Darma é o Buda, e o Buda é a compaixão. Ó Kasyapa, enquanto a compaixão não é eternamente existente, nem eternamente feliz, nem eternamente independente, nem eternamente pura, tal compaixão é apenas uma brincadeira que beneficia apenas a própria pessoa. Ó Kasyapa, a verdadeira compaixão está além da compreensão das pessoas comuns. Portanto, o Darma, o Buda e a natureza búdica, todos eles estão além do pensamento comum. Como os bodisatvas residem no nirvana do Mahayana, onde vivem felizes e praticam esta compaixão juntos, eles não caem no sono; e como não dormem, não precisam acordar. Há apenas o esforço incessante. Como não cometem erros, não são perturbados por pesadelos quando dormem. Mesmo se nascessem nos céus dos deuses, não cairiam na CEBB

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armadilha dos tipos de prazer que os deuses experimentam. Ó Kasyapa, a prática da compaixão é plena de tais méritos incomensuráveis.

(5) “Ó Kasyapa, quando um bodisatva pratica compaixão, cordialidade e alegria, ele é capaz de viver no estágio do amor por uma única criança. Ó Kasyapa, por que isto é chamado assim? Ó Kasyapa, isto se deve ao fato de que o estágio que um bodisatva alcança através da prática das quatro mentes ilimitadas pode ser comparado aos sentimentos dos pais por sua única criança. Os pais sentem alegria ao verem o bem-estar de seus filhos, e eles se perturbam ao vê-los doentes. Da mesma forma, um bodisatva vê as pessoas como filhos únicos, e desta forma fica satisfeito ao ver sua prática diligente da bondade, e desconforto ao vê-las aflitas pelos seus obscurecimentos, de forma tal que o sangue sai por seus poros. Ó Kasyapa, quando um bebê põe em sua boca fezes, lama ou um caco, seu pais se preocupam com ele. E segurando sua cabeça com a mão esquerda, eles tentam tirar o objeto com a mão direita. Da mesma maneira, quando um bodisatva alcança esse estado, ele se aflige quando o Darmakaya de alguém não amadurece, e observando suas ações negativas de corpo, fala e pensamento, ele tenta eliminar tais ações maldosas com a mão de sua sabedoria e deseja que elas não sigam vagueando pelo mundo da delusão. “Além disso, Kasyapa, quando uma criança morre, os pais ficam tão tristes que até mesmo desejam morrer com ela. Um bodisatva, ao ver alguém que cortou as boas raízes de mérito cair no inferno, tem a esperança que a pessoa maldosa, enquanto estiver no estado de sofrimento, desperte pelo menos um pensamento de arrependimento. Então o bodisatva poderá ensinar-lhe o Darma para despertar em sua mente pelos menos um pensamento bom. Para fazer isto, ele se dispõe a nascer no inferno com o CEBB

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outro. Além disso, ó Kasyapa, os pais estão constantemente preocupados com a conduta de seus filhos, e se eles os descobrem fazendo algo errado, amorosamente os ensinam de forma que suas maldades não se agravem. Um bodisatva, também, está constantemente preocupado com as pessoas, quer elas estejam nos três reinos maléficos ou nos mundos celestiais, e ele nunca se esquece delas. Mesmo se elas continuarem cometendo maldades, ele não guardará raiva por elas ou permitirá que elas aumentem suas maldades.”

(6) Kasyapa então perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, quando o néctar é fervido podemos obter alguns elementos de sabores variados, e quando uma pepita de ouro é refinada algumas vezes, a beleza do brilho do metal aumenta. Da mesma forma, eu agora entendi o significado profundo da doutrina dos repetidos discursos do Honrado pelo Mundo. Ó Honrado pelo Mundo, depois que um bodisatva praticar cordialidade, amorosidade, compaixão e alegria e atingir o estado de amor por uma única criança, qual estágio ele virá a atingir?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Um bodisatva alcançará o estado de equanimidade ou equilíbrio mental como o céu vazio. Ó Kasyapa, um bodisatva que repousa neste estado não mais terá o tipo de amor dirigido a alguém especial como um pai, um parente, e assim por diante; e assim ele não verá diferenças e não fará discriminações em relação aos objetos dos sentidos ou concepções. Sua mente será tão imparcial quanto o espaço vazio. “Ó Kasyapa, um bodisatva conhece todos os aspectos do Darma e seus significados, de modo que mesmo que haja muitos diferentes ensinamentos, ele sabe que todos recaem na verdade única. Além disso, ele conhece todas as línguas; ele é capaz de ensinar as pessoas à vontade. Entretanto, ele não se deixa aprisionar por suas virtudes, pois se isto ocorresse, ele não mais seria CEBB

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um bodisatva. Se ele se agarrar aos seus méritos não mais será capaz de se libertar dos diversos sofrimentos. Este estado de um bodisatva é chamado de quatro não-impedimentos, ou seja, a liberdade. Os quatro tipos de nãoimpedimentos significam não ter objetivo algum. Quando alguém vê algo a ser obtido, ocorrerão obstáculos. Tais obstáculos dão nascimento a visões errôneas, mas um bodisatva não tem pensamentos errôneos; assim, ele não terá impedimentos. Visto que o bodisatva não se fixa a coisa alguma, desta maneira ele realizará o Mahayana. Ó Kasyapa, não há um objeto específico ao qual se apegar naquilo que você perguntou, nem há coisa alguma naquilo que estou explicando. Se você viu algo ao que se apegar naquilo que perguntou, seria um dos Maras e não meu discípulo.

(7) “Ó Kasyapa, toda verdade mundana é verdade absoluta do ponto de vista do Buda. Pois todos os budas ensinam a verdade mundana pelo bem da verdade absoluta, e através dela eles fazem com que todas as pessoas compreendam o significado da verdade absoluta. Se eles não puderem fazêlas compreender, por que os budas deveriam ensinar a verdade mundana? Ó Kasyapa, quando um buda ensina a verdade mundana as pessoas pensam que ele ensina a verdade absoluta, e quando ele ensina a verdade absoluta elas pensam que ele ensina a verdade mundana. Este é o estado do insight profundo dos budas, que não pode ser visto pelos outros seres. “Ó Kasyapa, a natureza ou característica do caminho nem surgiu nem pereceu e, portanto, não pode ser fixada. Além disso, ela não possui cor nem forma e, assim, não pode ser mensurada. Porém, a verdade suprema tem sua função. Isto pode ser comparado à própria mente. Não se pode perceber a própria mente, mas não se pode duvidar de sua função. Um bodisatva pode vê-la direta e claramente. CEBB

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“Ó Kasyapa, existem duas formas de perceber, indireta e direta. Na primeira inferimos a existência do fogo a partir da presença da fumaça. Na segunda vemos a cor com o olho. Ó Kasyapa, assim como um homem com olhos claros e perfeitos vê uma manga em sua mão, o bodisatva vê claramente o caminho, a iluminação e o nirvana. Portanto, certa vez eu disse a Sariputra: ‘Ó Sariputra, o que quer que as pessoas neste mundo conheçam, o Buda conhece, e o que quer que elas não conheçam, ele também conhece. Portanto, o Buda é aquele que conhece todas as coisas sem exceção.”

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LIVRO VIII Capítulo IV - A GRANDE PASSAGEM

1. O Caminho do Bodisatva (1) Num dado momento havia alguém chamado Punyaraja na assembleia, que reverentemente disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, ao eliminar os obscurecimentos o nirvana é alcançado, mas isto significa que quem não tiver eliminado os obscurecimentos não poderá alcançá-lo? Se for assim, a natureza do nirvana é tal que ele não existia antes da eliminação dos obscurecimentos, mas apenas vem a existir depois. Conclui-se que o nirvana possui um início e é, portanto, finito. Como se pode dizer que ele é eterno?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Não podemos dizer que a essência do nirvana não existia antes e que agora existe. Quer um buda se manifeste ou não, a essência do nirvana é eterna. As pessoas não a podem enxergar porque ela foi ocultada pelos seus obscurecimentos, e por isso afirmam que a essência não estava lá antes. Portanto, o Buda se manifestou neste mundo para ensinar as pessoas a enxergarem essa essência. Não é que algo originalmente inexistente venha a existir. Ao invés disso, as pessoas são como cegos que ao serem curados pelo tratamento médico começam a ver o sol e a lua. “Ó Punyaraja, quando um bodisatva oferece algo que alguém pediu, CEBB

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isto é caridade, mas não é a forma mais elevada. Quando não há pedido algum, se ele pratica caridade com sua mente magnânima, isto se chama caridade do tipo mais elevado. Além do mais, se ele praticar caridade ocasionalmente, de tempos em tempos, este não é o mais elevado tipo de caridade. Quando ele a pratica em todas as ocasiões, então tal caridade é conhecida como o tipo mais elevado. E também, após realizar um ato de caridade, se ele se arrepender, este não é o mais elevado tipo de caridade; fazer a caridade sem arrependimento é o tipo mais elevado. Quando um rei realiza caridade por medo dos bandidos ou de algum desastre com água e fogo, esta não é a caridade do tipo mais elevado; ao fazer isto com prazer, este é o tipo mais elevado. Praticar caridade com alguma expectativa de recompensa não é o tipo mais elevado; a prática de caridade sem expectativas de recompensa é o tipo mais elevado. Se a caridade for praticada com o objetivo

de

alcançar

fama,

por

tradição

familiar

ou

para

o

autoengrandecimento, não se pode dizer que é do tipo mais elevado. Quando o bodisatva a pratica sem discriminar o agente da ação caridosa, seu receptor ou o conteúdo, sem determinar a ocasião, sem diferenciar se o receptor seria uma fonte de bênçãos ou não, sem considerar as causas e condições, sem considerar o resultado, pequeno ou grande, puro ou impuro, sem planejar para si mesmo ou para os outros, e, além disso, sem menosprezar o agente, o receptor ou o presente, e se ele oferece apenas e exclusivamente para a realização do nirvana e do bem-estar de todas as pessoas, então este é o tipo mais elevado de caridade. O mesmo pode ser dito em relação às cinco outras práticas do bodisatva.

(2) “Ó Punyaraja, o destino de um homem que corta a raiz da bondade não está completamente determinado. Se estivesse predeterminado, ele nunca CEBB

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seria capaz de completar o caminho mais elevado, mas como não está predeterminado, ele tem uma boa chance de completá-lo. É o mesmo com aqueles que cometem as cinco ofensas graves e que também difamam o verdadeiro Darma. O bodisatva não vê qualquer forma determinada em coisa alguma, nem há qualquer forma determinada no Buda. Apesar de não haver uma forma física no Buda, também não há uma ausência de forma física nele. Ele nasceu na Índia Central e permaneceu algumas vezes em Sravasti, outras vezes em Rajagriha, e portanto não se pode dizer que ele residiu permanentemente em algum lugar. Porém, não se pode dizer que ele esteve em um lugar e não em outro. Assim como não há um lugar quando não há o céu, o Buda permanece em todos os lugares universalmente. Portanto, também não se pode dizer que ele é impermanente. Agora o Buda manifesta sua entrada no nirvana e, assim, não tem uma forma determinada. Apesar disto, visto que ele existe eternamente, é eternamente feliz, eternamente independente e eternamente puro, não se pode dizer que ele não possui uma forma determinada. “Ó Punyaraja, visto que o Buda está sempre engajado em práticas puras, não há um fluxo de obscurecimentos nele. Um bodisatva também deveria realizar práticas puras de modo a cortar todo o fluxo de obscurecimentos, sempre controlando a mente e, com isto, protegendo-se da cobiça, da raiva, da ignorância, da arrogância, do ciúme e de outros obscurecimentos. “Ó Punyaraja, era uma vez em um país uma multidão de pessoas apinhadas ao longo de uma longa estrada. O rei ordenou que um súdito carregasse uma tigela contendo óleo através da multidão de pessoas e mandou outro homem segui-lo com uma espada, pronto para acertá-lo se apenas uma gota de óleo caísse do recipiente. Devido ao seu medo, o súdito CEBB

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carregou o óleo até o fim com sucesso, sem derramar uma gota. É o mesmo com o bodisatva, pois ao permanecer no mundo da delusão, ele não perde o insight e se abstém da ganância em relação aos cinco tipos de desejos; ele sustentará a pureza da mente e a prática dos preceitos de forma a realizar a eliminação total, de uma vez por todas, do vazamento dos obscurecimentos.

(3) “Ó Punyaraja, como alguém pode se libertar do vazamento dos obscurecimentos? Se alguém praticar esta doutrina e mantiver atenção mental ao seu significado, poderá se libertar dos obscurecimentos. Esta pessoa é realmente discípula minha, tendo recebido completamente meu ensinamento, e é alguém que eu espero ver e com quem eu me preocupo. Ela claramente saberá que eu não perecerei. Onde quer que viva, eu também lá estarei e nunca me afastarei. Aquele que se deleita com sua fé em mim e que, ao me ver e prestar respeito a mim, decide praticar o caminho, irá até a pessoa que sustenta esta doutrina e que está atenta ao seu significado e a respeitará, servindo-a e não deixando lhe faltar coisa alguma. Quando tal homem de insight estiver fazendo uma visita vindo de longe, saia por pelo menos dez milhas para saudá-lo, porque é muito difícil encontrar este ensinamento, mais difícil do que ver o florescimento da árvore udumbara. No passado imemorial, eu vendi uma parte de minha carne a cada dia por dinheiro para o bem do ensinamento, depois eu o ofereci ao Buda e ouvi seu ensinamento, e acabei conquistando um mérito incomensurável. Portanto, estou certo que quem

praticar

esta

doutrina

cortará

a

raiz

dos

obscurecimentos

infalivelmente. “Ó Punyaraja, um bodisatva deve considerar seu corpo como uma doença, como um inimigo ou como uma flecha envenenada. O corpo é o local onde todos seus sofrimentos se concentram e do qual todas as maldades CEBB

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brotam. Apesar disso, ele deve nutrir o corpo com cuidado, não agindo com cobiça em relação a ele, mas para o bem do Darma, não para o bem do samsara e sim para o bem do nirvana. “Ó Punyaraja, um bodisatva deve sempre proteger seu corpo, pois a não ser que faça isto não poderá completar a vida que recebeu. Se sua vida não for vivida completamente, ele não poderá sustentar a doutrina e propagar amplamente seu significado. Ó Punyaraja, alguém que deseja atravessar um rio deve cuidar bem da balsa e aqueles que viajam por terra devem cuidar bem do cavalo. É o mesmo com um bodisatva, pois mesmo que ele veja seu corpo como impuro, de modo a sustentar o caminho ele deve protegê-lo de modo a não o esgotar. “Apesar de um bodisatva não precisar se preocupar com elefantes selvagens, ele deve se atemorizar diante de pessoas maldosas que se associam a ele como amigas. Os elefantes podem machucar seu corpo, mas as pessoas maldosas podem machucar sua mente também. Além disso, apesar de os elefantes poderem machucar o corpo de carne, os amigos maldosos prejudicarão o corpo do Darma inerente a ele. E também, mesmo se for morto por elefantes ele não cairá em destinos infelizes, mas se for prejudicado por amigos maldosos certamente cairá em destinos infelizes. “Ó Punyaraja, quando um bodisatva veste suas roupas não deveria ser para seu corpo, mas para o bem do Darma. Não deve ser para seu engrandecimento, mas sempre para o bem da humildade e da modéstia. As roupas são adequadas se protegerem do calor e do frio, da chuva e do vento e dos insetos venenosos. Além disso, um bodisatva deve estar livre da ganância ao receber alimento e bebida, pois eles não são para seu corpo, mas sempre para o verdadeiro Darma. Não deveria ser para o embelezamento de sua pele, mas para o bem das outras pessoas, e não para sua arrogância, mas para CEBB

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o bem de manter sua força física. Além disso, quando o bodisatva recebe um lugar para descanso, ele deve estar plenamente consciente que isto não é para sua ganância ou engrandecimento próprio, mas para fazer de sua mente a casa

da

iluminação

e

para

se proteger

contra

os

inimigos

dos

obscurecimentos, chuva e vento. Além disso, ao buscar remédios, um bodisatva não deve ser ganancioso ou arrogante, mas deve fazer isto para o bem do verdadeiro Darma, não para a vida do corpo, mas para o bem da vida eterna. Seja onde ou quando um bodisatva receber esses quatro tipos de oferendas, não é para sua vida física, mas para o bem do caminho, pois se ele não receber essas caridades não poderá manter seu corpo; se não puder manter sua saúde, ele não poderá suportar os sofrimentos; se não puder suportar os sofrimentos, não poderá exercitar as raízes de mérito.

(4) “Ó Punyaraja, certa vez havia um rei maldoso que colocou quatro cobras venenosas em uma caixa e ordenou que um homem tomasse conta delas. Ele disse ao homem que se ele falhasse em manter mesmo uma delas sob controle seria executado. Por medo, o homem fugiu e o rei enviou cinco servos atrás dele. Esses cinco tentaram enganá-lo enviando um dos servos para fazer amizade com ele, mas o homem não confiou em ninguém e fugiu deles para se esconder em uma vila. Então, ele ouviu uma voz dizendo-lhe que ninguém vivia naquela vila e que seis bandidos viriam até ali naquela noite, e se ele fosse encontrado certamente seria morto. Assim, o homem fugiu da vila e chegou a um rio onde a correnteza era muito forte, e não havia nenhuma balsa. Então ele construiu uma jangada com pedaços de galhos de árvores e capim, e pensou consigo: ‘Se permanecer aqui serei morto por cobras venenosas, pelos servos do rei, pelo amigo falso ou pelos seis bandidos. Se seguir adiante e tentar cruzar o rio posso me afogar, mas se me CEBB

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afogar, pelo menos não serei morto por aquelas cobras ou bandidos ou quem quer que seja.’ Assim, pulando no rio com a jangada, ele acabou fazendo a travessia para a outra margem onde encontrou segurança. “Ó Punyaraja, o corpo é análogo à caixa, os quatro tipos de elementos físicos são como as quatro cobras venenosas. Devido ao medo destas coisas, o bodisatva inicialmente foge para o caminho dos santos, mas ele ainda enfrenta o perigo dos cinco servos, ou seja, os cinco agregados condicionados pelos obscurecimentos, assumindo várias formas, como a sua própria identidade, tentando capturá-lo. Entretanto, o corpo de um bodisatva é firme como o diamante e sua mente é ampla como o céu; portanto, ele não é destruído por eles. Pois mesmo se a força negativa da cobiça e da luxúria tentar seduzi-lo de forma enganosa, o bodisatva não será enganado. Observando que a vila dos seis sentidos não é um lugar seguro, ele não se aterrorizará com a presença dos seis tipos de objetos cognitivos. Ele prossegue firmemente na prática do caminho. Além do mais, ao encontrar o terrível rio dos obscurecimentos, sua profundidade desconhecida, sua outra margem invisível, no qual muitos tipos de peixe destroem as pessoas, o bodisatva desenvolve uma série de meios hábeis, assim como a jangada consistindo de vários caminhos hábeis, e com isso ele finalmente alcança a outra margem da felicidade eterna. “Quando um bodisatva pratica o caminho para o nirvana, ele experimenta dor tanto em seu corpo quanto em sua mente. Apesar disto, sabe que a não ser que ele mesmo o suporte, não poderá ajudar os outros a cruzarem o rio dos obscurecimentos, e assim ele suporta todos os sofrimentos em silêncio. Como ele os suporta, não haverá o surgimento de obscurecimentos. Visto que mesmo um bodisatva não apresenta vazamento de obscurecimentos, como poderia o Buda estar obscurecido?” CEBB

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2. O Grande Nirvana (1) Então, Punyaraja perguntou ao Honrado pelo Mundo: “O que é o grande nirvana?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Com grande compaixão a piedade é estendida a todos, tratando todos como seus pais, ajudando-os a cruzar o rio da vida e da morte, e apresentando amplamente o caminho único; este é o grande nirvana. E também, ele é assim chamado devido à grande essência, pois a grande essência significa a verdade de que o nirvana não possui essência e é a liberdade absoluta. Visto que no nirvana não há nada ao que se fixar, ele pode conter cada um e todos os darmas como eles são. Visto que ele está em todos os lugares como o céu, apesar de não poder ser visto diretamente, pode ser apresentado para as pessoas à vontade. Além disso, visto que é a felicidade absoluta, ele é chamado de grande nirvana. Grande felicidade significa nem sofrimento nem prazer, é totalmente livre de todas as distrações e dotada do insight perfeito, seu corpo existindo eternamente em quiescência. E também, é chamado de grande nirvana porque é puro, claro e totalmente desprovido da impureza do mundo da delusão, e porque sua ação, corpo e mente são todos puros. “Ó Punyaraja, um bodisatva sabe que cada pessoa possui a natureza búdica. Devido a essa natureza búdica, mesmo aqueles que mataram a muda da natureza búdica serão capazes de completar o caminho para a iluminação, se forem capazes de superar a mente maldosa. Isto é, realmente, muito difícil de saber e apenas um buda tem esse conhecimento.

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(2) “Ó Punyaraja, existem quatro causas que nos aproximam do grande nirvana: primeira, associar-se com bons amigos; segunda, ouvir o Darma com concentração; terceira, estar atento ao Darma; e quarta, praticar o Darma. Ó Punyaraja, quando um homem doente segue as instruções de seu médico e bebe o remédio prescrito, ele reconquistará sua saúde. Bons amigos são como bons médicos, e se um bodisatva seguir seus ensinamentos ele será capaz de eliminar sua doença e de alcançar a paz do nirvana.

(3) “Ó Punyaraja, o estado no qual os obscurecimentos não surgem é chamado de nirvana. Ele é o Buda, cujo insight está livre de impedimentos independente do objeto ao qual é direcionado. O Buda não é um homem comum. Seu corpo, sua mente e seu insight permeiam universalmente todos os reinos do mundo, transcendendo fronteiras e obstáculos eternamente e sem transformações. “Ó Punyaraja, um bodisatva retém firmemente uma única coisa e segue a verdade única. Esta única coisa é a mente da iluminação. O bodisatva a preserva assim como um homem protege seu único filho, ou assim como um homem caolho protege seu olho restante. Pois é através desta mente da iluminação que um bodisatva completa o caminho e ingressa no nirvana. E por que, então, ele segue a verdade única? Ele sabe que todos se apoiam igualmente no Veículo Único. O Veículo Único significa o caminho Mahayana. “Ó Punyaraja, o bodisatva pratica esta doutrina e adquire fé e sinceridade mental; ele não censura as falhas dos outros, tomando cuidado para que suas palavras não incitem seus obscurecimentos e os conduzam a destinos infelizes. Além disso, ele louva as pessoas sempre que encontra mesmo uma pequena bondade nelas, pois a ação bondosa é a natureza CEBB

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búdica, e ao louvar sua natureza búdica ele tenta ajudá-las a entrar no caminho mais elevado para a iluminação. “Ó Punyaraja, existem cinco tipos de pessoas que são tão raras quanto a flor da árvore udumbara. O primeiro consiste das pessoas que nunca fazem qualquer coisa errada, e daqueles que se arrependem se fizerem algo errado. O segundo tipo consiste das pessoas que beneficiam os outros através da caridade e daqueles que pensam no benefício recebido. O terceiro tipo consiste das pessoas que recebem o Darma repetidamente e daquelas que não se esquecem daquilo que receberam um longo tempo atrás. O quarto tipo consiste das pessoas que se alegram ao ouvir o Darma e daquelas que se alegram ao ensinar o Darma. O quinto tipo consiste das pessoas que fazem boas perguntas e daquelas que dão boas respostas. Você pertence ao tipo de pessoas que faz boas perguntas, enquanto eu pertenço ao tipo que dá boas respostas. Em resposta a boas perguntas eu posso girar, através de meu ensinamento, a mais elevada Roda do Darma.

(4) “Ó Punyaraja, aqueles que cortam as raízes de mérito não podem se livrar de suas mentes maldosas, encontrando ou não o Buda. Entretanto, se eles começarem a busca pela iluminação, acabarão realizando o caminho. Ó Punyaraja, certa vez um rei ouviu o som de uma harpa e não conseguiu esquecer seu som claro e belo. Ele perguntou aos seus atendentes de onde vinha aquele som e disse para trazerem até ele o instrumento. O rei ordenou que o instrumento fizesse um som, mas não houve resposta, assim ele cortou as cordas e quebrou o instrumento em pedaços para descobrir de onde vinha o som, tudo isto em vão. Enraivecido, o rei exigiu que seus atendentes lhe trouxessem o som, mas eles responderam que som algum poderia ser produzido por este método e que o som dependia de uma variedade de CEBB

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causas. Ó Punyaraja, é o mesmo com a natureza búdica, porque ela também não pode ser vista em uma localização específica, mas apenas a partir de múltiplas causas e condições. Visto que aqueles que cortam as raízes de mérito não veem esta natureza búdica, como eles podem cessar suas transgressões nos destinos infelizes? Entretanto, se eles começarem a acreditar na natureza búdica não recairão nos destinos infelizes anteriores. Quando isto acontecer eles não serão mais caracterizados como desprovidos de raízes positivas. Um bodisatva sempre louva o que é bom nas pessoas e não fala de suas falhas. Ele mesmo evita com esforço todas as maldades. Ao cometer um erro, imediatamente ele se arrepende e o relata ao seu mestre e colegas sem ocultá-lo; a partir da autorreflexão ele não cairá no mesmo erro novamente. Mesmo se for um erro irrelevante ele o considerará como uma falha grave. Se os outros o censurarem, ele claramente admitirá sua culpa e manterá sua mente correta, acreditando na existência da natureza búdica. Portanto, ele não é um homem que cortou as raízes de mérito, ele é um discípulo do Buda.

(5) “Com o objetivo de atingir o grande nirvana, um bodisatva que corporifique todas essas práticas realizará o que é difícil de realizar, suportará o que é difícil de suportar, e dará o que é difícil de dar. Se lhe disserem que ao comer apenas um grão de juta a cada dia ele completará o caminho, um bodisatva comerá apenas um grão de juta a cada dia. Se lhe disserem que ao pular no fogo ele completará o caminho, um bodisatva habitará para sempre no fogo. E também, se alguém disser que ao oferecer sua cabeça, seu olho ou outra parte ele atingirá o fim do caminho, um bodisatva oferecerá todos eles. Os pais dão roupas bonitas para seus filhos, mesmo se o filho se comportar maliciosamente com eles, devido ao seu amor CEBB

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eles toleram isto. Além do mais, eles não estão conscientes de que lhe deram aquelas roupas. É o mesmo com um bodisatva, pois ele não está consciente de seus atos benevolentes ou de que realiza atos difíceis de caridade. Um bodisatva considera os outros como se fossem seu único filho. Quando uma criança fica doente, os pais também se sentem aflitos. É o mesmo com um bodisatva, pois ele sente empatia pelas doenças das pessoas causadas por seus obscurecimentos; portanto, ele tenta ensinar o Darma para eles, de forma que possam acabar extinguindo seus obscurecimentos. Apesar disto, ele não está especialmente consciente de que os ajudou a realizarem isto. Se ele se tornar consciente de tal pensamento, não será capaz de completar o caminho. “Ó Punyaraja, eu som um bom amigo para todas as pessoas. Mesmo aqueles que são mantidos presos devido a ações graves, ao encontrá-los eu os ajudarei destruindo seus obscurecimentos com meu poder.”

3. A Doença do Honrado pelo Mundo (1) Naquele momento, Cunda estava ao lado do Honrado pelo Mundo e se reprovava pensando que a doença do Honrado pelo Mundo poderia ter sido causada pela comida que ele lhe ofereceu. Quando Ananda retornou para o lado do Honrado pelo Mundo, Cunda se afastou. Entretanto, o Honrado pelo Mundo percebeu que Cunda estava aflito e perguntou a Ananda: “Cunda parece estar se culpando por algo, não é mesmo?” “Ó Honrado pelo Mundo, Cunda pode estar se culpando pela comida que ofereceu ao Honrado pelo Mundo”, respondeu Ananda. Então, o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, você e os outros não

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o devem culpar. No momento em que alcancei a iluminação, uma donzela chamada Sujata me ofereceu comida, e agora, quando estou perto de deixar esta vida, Cunda me ofereceu comida, e o mérito de sua oferenda é tão grande quanto o de Sujata. Vá até Cunda e diga para ele não se sentir aflito, que sua ação criou grande mérito e que ele alcançará a felicidade duradoura.” Conforme instruído, Ananda transmitiu a mensagem a Cunda. Cunda ficou tão satisfeito que veio até o Honrado pelo Mundo, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, fico muito grato ao pensar que minha oferenda criou tal mérito.” O Honrado pelo Mundo instruiu Cunda com um verso:

Aquele que pratica caridade adquirirá méritos. Tal homem benevolente impedirá o ódio maldoso, Será pleno de virtudes, cortará as raízes da cobiça, da raiva E da ignorância, e no final ingressará no nirvana.

“Ó Cunda, ensine e promova a prática da caridade, ajude aqueles que o ouvirem a alcançar a paz definitiva.”

(2) Então, o Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Ó Ananda, sinto mais uma vez uma dor aguda em minhas costas, eu quero me deitar, estenda meu tapete.” Atendendo seu desejo, Ananda preparou o tapete. Deitando-se sobre o lado direito, o Honrado pelo Mundo entrou em profunda meditação. Um pouco depois ele chamou Ananda, dizendo: “Ó Ananda, recite para mim os sete ramos da iluminação.” Ananda os recitou devidamente, e o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, você recitou o ramo do esforço?” Ananda disse: “Sim”, e o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, realize a prática CEBB

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desta disciplina e complete o caminho tão logo for possível.” Instruindo-o assim, o Honrado pelo Mundo novamente entrou em meditação profunda. Um dos discípulos, profundamente comovido, disse o seguinte: “Apesar de o Honrado pelo Mundo ser o mestre supremo do verdadeiro Darma, ele ouviu a recitação sobre o caminho mesmo enquanto suporta o desconforto de sua doença. O quão mais atentamente deveria o resto de nós ouvir o ensinamento do Darma!”

(3) Assim, Kalpina foi até Ananda e disse: “Ó Ananda, eu tenho algumas perguntas para o Honrado pelo Mundo.” Ananda respondeu: “Eu temo que não seja possível agora, pois isto pode perturbar o Honrado pelo Mundo enquanto ele sofre em desconforto.” Ao perceber isto, porém, o Honrado pelo Mundo chamou Ananda, dizendo: “Ó Ananda, eu tenho algo para dizer a Kalpina. Chame-o até aqui.” Ao receber a permissão, Kalpina foi até o Honrado pelo Mundo, prestando seus respeitos com as mãos em prece, e o Honrado pelo Mundo permitiu que ele fizesse a pergunta que tinha em mente. Kalpina disse: “Ó Honrado pelo Mundo, o Buda é o ser mais honrado no céu e na terra. Por que você não ordena que os deuses busquem remédios e curem sua doença?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Kalpina, um longo tempo após sua construção, uma moradia desaba. A terra, porém, é indestrutível. Meu corpo é como uma casa velha, mas minha mente é como a terra. Meu corpo se rende à doença, mas a mente está sempre em paz.” “Ó Honrado pelo Mundo”, disse Kalpina, “os filhotes de andorinha são educados por seus pais e continuam a crescer sob sua proteção. Se o Honrado pelo Mundo morrer agora, com quem contaremos após sua morte?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Em diferentes ocasiões eu lhes ensinei constantemente que ninguém pode escapar da morte. Ó Kalpina, mantenha a CEBB

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atenção plena ao Buda sem falhas e pratique seriamente os preceitos.” Assim instruído, Kalpina reverentemente se afastou da presença do Honrado pelo Mundo.

(4) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a Ananda e disse: “Ó Ananda, vamos para um bosque sala às margens do rio Hiranyavati, fora de Kusinagara.” O semblante do Honrado pelo Mundo parecia tão calmo quanto os Himalayas. O Honrado pelo Mundo e seus discípulos deixaram as margens do rio Krakustha, cruzaram o rio Hiranyavati, e finalmente chegaram ao bosque sala. Então, Cunda se aproximou e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, estou pronto para morrer e alcançar o oceano de méritos ilimitados onde não há amor ou ódio.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Agora é o momento adequado, visto que você fez tudo que havia para ser feito.” Assim, Cunda chegou ao fim de sua vida na presença do Honrado pelo Mundo, como uma vela que se apaga. Naquele instante, um brâmane de Kusinagara estava passando por ali em seu caminho para a cidade de Pava, e por acaso viu o Honrado pelo Mundo à distância. Sentindo um impulso irresistível de adoração, ele se aproximou do Honrado pelo Mundo e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, minha vila não é distante daqui. Que o Honrado pelo Mundo, por compaixão por mim, possa visitar minha casa por uma noite. Será igualmente fácil para o Honrado pelo Mundo prosseguir até a cidade de Kusinagara depois de receber minha oferenda amanhã de manhã.” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Não, brâmane, mas sua sugestão é o mesmo que uma oferenda real.” Três vezes o brâmane repetiu seu pedido, e da mesma forma o Honrado pelo Mundo não o concedeu, e ele disse para o brâmane transmitir CEBB

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seu desejo a Ananda, que estava sentado atrás do Honrado pelo Mundo. Então o brâmane falou com Ananda, mas sua resposta também foi a mesma: “Não, ó brâmane, você já fez uma oferenda ao Honrado pelo Mundo, não fez? Está quente agora e sua vila é distante. O Honrado pelo Mundo agora está cansado e não pode mais ser perturbado.”

(5) O bosque sala ficava às margens do rio Hiranyavati, fora de Kusinagara, e era circundado por três lados pelo rio. Olhando para o bosque, o Honrado pelo Mundo se dirigiu a Ananda, e disse: “Ó Ananda, você vê aquelas árvores sala gêmeas, lado a lado no limite do bosque? Vá até lá e estenda meu tapete para que eu possa deitar-me com minha cabeça para o norte entre as duas árvores. Estou extremamente cansado, Ananda, e morrerei nesse local esta noite à meia-noite.” Apesar de serem apenas algumas milhas de Pava até o bosque, o Honrado pelo Mundo teve que descansar vinte e cinco vezes antes de finalmente alcançá-lo. Em lágrimas, Ananda alcançou o ponto abaixo das árvores, varreu o local, purificou-o aspergindo água, preparou o tapete conforme instruído e retornou para o Honrado pelo Mundo, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, tudo está pronto como você ordenou.” O Honrado pelo Mundo entrou no bosque acompanhado por seus discípulos. Ao alcançar o local que tinha sido preparado, o Honrado pelo Mundo deitou-se em silêncio, com sua cabeça para o norte, olhando para o oeste, sobre seu lado direito, e com uma perna descansando sobre a outra. Naquele instante, uma música celestial soou e um coro se elevou. As árvores sala gêmeas floresceram mesmo fora da estação, sua cor parecia com o branco das penas de um grou. Suas pétalas caíram sobre o Honrado pelo Mundo como chuva. O Honrado pelo Mundo perguntou a Ananda: “Você testemunhou CEBB

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como os deuses fazem oferendas a mim?” Com a resposta afirmativa de Ananda, o Honrado pelo Mundo continuou: “Apesar de tudo, essas oferendas não são realmente a forma de prestar reverência a mim, nem a forma de responder verdadeiramente aos meus desejos.” “Qual é a verdadeira forma de prestar reverência ao Buda e de responder aos seus desejos?” perguntou Ananda. O Honrado pelo Mundo respondeu: “Homem ou mulher, quem for meu discípulo deve repousar no Darma, caminhar com o Darma e conduzir sua vida de acordo com o Darma; esta é a verdadeira forma de me servir e de prestar reverência. Da mesma forma, Ananda, quem quiser me seguir e responder meus desejos não precisa necessariamente seguir a convenção de oferecer incenso, flores e música. Mantenham a atenção plena e se esforcem, esta será a melhor oferenda para mim.”

4. A Metáfora da Montanha do Tesouro (1) Naquele momento, o Honrado pelo Mundo se dirigiu às pessoas que se reuniam ao seu redor: “Se houver qualquer dúvida remanescente na mente de qualquer um de vocês, podem me questionar livremente e dissiparei as dúvidas que possam ter.” Havia um bodisatva chamado Simhanada na assembleia que se levantou de seu assento e, com as mãos em prece, disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, eu suplico que o Honrado pelo Mundo possa explicar um pouco mais sobre o tema da natureza búdica.” O Honrado pelo Mundo respondeu com o seguinte discurso: “Ó Simhanada, depois de renascerem repetidamente por muitas eras, todos acabarão alcançando a

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iluminação suprema, sua meta predestinada. Ó Simhanada, suponha que haja leite coalhado em casa. Se alguém perguntar se aquilo é queijo cru, pode-se responder que sim; pois, apesar de o leite coalhado não ser queijo cru, o segundo pode ser produzido com certeza a partir do primeiro. É o mesmo com as pessoas. Todos possuem uma mente, e devido a esta mente estão destinados com certeza a alcançar a iluminação suprema. Portanto, eu sempre digo a todos que todas as pessoas possuem a natureza búdica. Este é, de fato, o Veículo Único que todos podem seguir; é a mãe de todos os budas. Mesmo quando não podemos ver a lua nova não podemos dizer que ela não está no céu. Da mesma forma, não podemos dizer que as pessoas não possuem a natureza búdica mesmo que as pessoas comuns não consigam enxergar a presença da natureza búdica em si mesmas. Além do mais, suponha que haja um capim chamado ksanti nos Himalayas; quando as vacas se alimentam deste capim elas produzem ghee, mas quando se alimentam de outros capins elas não produzem ghee. Entretanto, apenas por não haver ghee ali não se pode afirmar de modo algum que não há um capim chamado ksanti nos Himalayas. Da mesma forma, não se pode afirmar que não há a natureza búdica pelo fato de a doutrina da natureza búdica ainda não ter sido ensinada. E também, um pedaço de ferro preto fica vermelho ao ser colocado no fogo, mas quando é removido do fogo ele logo esfria e fica preto novamente. Do mesmo modo todos serão capazes de perceber a natureza búdica quando o fogo dos obscurecimentos for extinto.

(2) “Ó Simhanada, o nirvana é o estado no qual o fogo dos obscurecimentos foi extinto. Também é comparável a um aposento que protege com segurança da chuva e do vento dos obscurecimentos. O nirvana é o refúgio que oferece proteção de todos os tipos de medo. Também é CEBB

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comparado com uma praia, porque as águas descontroladas do desejo, existência, visões errôneas e ignorância são incapazes de arrastá-lo para o mar. Também é chamado de refúgio absoluto, pois permite que as pessoas alcancem a felicidade absoluta. “Ó Simhanada, você está olhando com os olhos da sabedoria humana e, portanto, isto não está claro para você. Se pudesse perceber com os olhos de um buda, isto se tornaria claro. Além disso, há duas formas diferentes no ato de perceber: percepção através do olho e percepção através da audição. Os budas percebem a natureza búdica através do olho, assim como veem uma manga na palma da mão. As pessoas que percebem apenas através da audição, por outro lado, não são capazes de vê-la claramente. Entretanto, se despertarem a fé interior, sua percepção não se dará mais apenas através da audição. Existem dois fatores causais para o surgimento da fé, ou seja, ouvir o Darma e contemplar o Darma. A fé depende de ouvir o Darma e ouvir o Darma depende da fé. “Ó Simhanada, tudo que existe surge devido a causas e condições e perece devido a causas e condições. A natureza búdica de uma pessoa, entretanto, não é destruída e nem decai, não pode ser arrastada nem atada a coisa alguma; ela é como o espaço vazio. Todos possuem esse espaço vazio, e devido à natureza vazia desse espaço as pessoas comuns são incapazes de vêlo, apenas os bodisatvas o vislumbram. Ó Simhanada, isto é sabido apenas pelos budas, as pessoas comuns não sabem disto; essas, portanto, são mantidas na escravidão pelos obscurecimentos e pelo sofrimento no mundo do nascimento e da morte. Se elas enxergarem a natureza búdica, serão capazes de transcender nascimento e morte e alcançarão o nirvana.”

(3) Simhanada perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, se todas as CEBB

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pessoas possuem a natureza búdica, então por que suas mentes sofrem retrocessos?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Simhanada, não existe algo como o retrocesso da mente. Pois se a mente realmente retrocedesse, ninguém seria capaz de completar o caminho. Apenas porque alguns são lentos em completá-lo nós falamos de retrocesso, que ocorre quando as causas e condições adequadas não são reunidas. Portanto, eu exponho dois fatores causais, causas diretas e causas indiretas. A causa direta é a natureza búdica, enquanto que a causa indireta é o surgimento da mente da iluminação. Com estes dois fatores pode-se alcançar a iluminação, assim como é possível extrair ouro da pepita. “Além do mais, ó Simhanada, você não pode dizer que não há natureza búdica porque experimenta um retrocesso da mente. Suponha que dois homens ouçam por acaso que há uma montanha de sete pedras preciosas muito distante. Nessa montanha há uma fonte da longevidade, que tem a água clara e doce; ao chegar a esse lugar não haveria mais o sofrimento da pobreza e a longevidade seria alcançada bebendo a água. Entretanto, há o problema de que a montanha está localizada em um local remoto e a passagem que leva até ela é extremamente perigosa. Apesar disto, os dois homens decidem ir juntos. Um deles estava bem preparado para a viagem, enquanto o outro não levou coisa alguma consigo. No caminho, eles encontraram um homem que carregava muitos tesouros e ao qual perguntaram: ‘Há realmente uma montanha lá adiante onde existem sete tipos de pedras preciosas?’ O homem respondeu: ‘Eu já estive lá e obtive muitos tesouros e bebi a água da fonte, mas a estrada para o local é precária e há muitos ladrões. Apenas alguns poucos conseguiram chegar lá, apesar de milhões terem tentado.’ Ao ouvir isto, um dos dois pensou melhor: ‘Como eu CEBB

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poderia chegar lá? Eu já tenho algumas riquezas. Se fosse morto no caminho eu acabaria sem a fortuna nem a vida.’ Entretanto, o outro pensou: ‘Como há alguém que já conseguiu chegar lá, não será impossível para mim fazer o mesmo. Se conseguir chegar obterei tesouros e beberei a água da fonte da longevidade de acordo com o desejo de meu coração. E se não conseguir, simplesmente morrerei. Se realizar o objetivo de chegar lá e retornar em segurança poderei servir meus pais corretamente e ajudarei meus familiares a prosperarem também.’ Assim, este homem partiu sozinho. Ó Simhanada, esta montanha dos sete tesouros representa o grande nirvana, a fonte doce representa a natureza búdica. Aquele que segue adiante é o bodisatva que não retrocede, enquanto que aquele que hesita é o bodisatva que retrocede. Ó Simhanada, a natureza búdica dos homens, assim como o caminho, é eternamente imutável. Não se pode dizer que ela é mutável apenas porque alguém pensou melhor e voltou atrás. Ó Simhanada, no caminho da iluminação não há ninguém que realmente retroceda. Assim, todos sem exceção são capazes de completar o caminho. Da mesma forma, eu ensino que mesmo aqueles que cortam as raízes de mérito ao cometerem as cinco ofensas graves possuem a natureza búdica. “Ó Simhanada, quando uma vela é acesa a escuridão desaparece; quando a vela é apagada a escuridão retorna. Além do mais, quando um carimbo é pressionado contra uma superfície lodosa, o carimbo é afastado e apenas a impressão permanece. É o mesmo com os efeitos cármicos que as pessoas criam, pois mesmo quando a mente e o corpo de alguém desaparecem, eles reaparecem em outro corpo e mente. Apesar disto, todas as pessoas possuem a natureza búdica. Se um veneno for misturado ao leite ele continua sendo venenoso. E o leite não pode ser chamado de coalhada, nem a coalhada pode ser chamada de leite, e desta forma nomes diferentes são CEBB

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dados a suas respectivas transformações até se tornarem ghee, mas a natureza do veneno permanece a mesma para todos os cinco produtos do leite. Apesar de o veneno não estar misturado com o produto final, se alguém bebê-lo morrerá. É o mesmo com a natureza búdica, pois mesmo que as pessoas vivam nos cinco diferentes tipos de existência e sejam dotadas de diferentes corpos, sua natureza búdica permanece a mesma sem se modificar de forma alguma.

(4) “Ó Simhanada, não há forma no nirvana. A forma se refere às características de cor, som, cheiro, sabor e textura, as características de originação e cessação, as características de masculino e feminino. Não há nenhuma destas formas no nirvana. Ó Simhanada, aquele que se apega a essas formas se sujeita ao estado de ignorância. Quando se sujeita a esse estado, ele cria em si mesmo um desejo intenso; ao experimentar esse desejo intenso, ele está preso à cadeia causal; quando se prende à cadeia causal, está sujeito ao nascimento; e uma vez sujeito ao nascimento está fadado à morte. Entretanto, se meus discípulos praticarem diligentemente as três disciplinas da meditação, do insight e da renúncia aos dois extremos, eles serão capazes de eliminar essas formas fenomênicas. De modo a desenraizar uma planta é melhor primeiro puxá-la para o lado e, então, puxá-la para cima; para lavar roupas é melhor primeiro lavá-las com água misturada com cinzas e depois enxaguá-la com água da fonte. E também, um soldado luta melhor com seus inimigos se estiver bem protegido por uma armadura. É o mesmo com um bodisatva, pois ele deve praticar essas três disciplinas. Ó Simhanada, sempre que surgir a arrogância, seja depois de ele ter experimentado prazer, ou depois de ter ensinado o Darma, ou depois de ter recebido esmolas, ele deve praticar a disciplina da meditação, mas não a do insight. Ao lamentar-se de CEBB

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que seus esforços mais intensos não o levam à iluminação, ou de que é incapaz de se controlar como gostaria devido à sua vontade fraca, ou de que está preocupado se transgredir os preceitos devido aos seus intensos obscurecimentos, ele deve praticar a disciplina do insight, mas não a da meditação. Se essas duas disciplinas estiverem bem equilibradas, ele pode prosseguir para praticar a disciplina da renúncia aos dois extremos. Mas se os obscurecimentos continuarem a surgir enquanto está engajado na prática da meditação e do insight, ele não deveria prosseguir para a prática da renúncia, mas deveria entoar os Sutras, assim como manter a atenção plena aos budas.

(5) “Ó Simhanada, não há uma morada para o Darmakaya do Buda, e nem há uma morada para a natureza búdica. Como todas as pessoas se esforçam na busca deste objetivo sem retrocederem, elas certamente serão capazes de atingi-lo e certamente serão capazes de percebê-lo. Eu digo que todas as pessoas universalmente possuem a natureza búdica. Certa vez um rei ordenou ao seu ministro para trazer um elefante para sua corte e permitiu que pessoas cegas tocassem o animal. Então, o rei chamou essas pessoas cegas e lhes perguntou com o que o animal se parecia. Aquele que havia tocado as presas respondeu que o animal era como a ponta de um rabanete; aquele que havia tocado a orelha respondeu que ele era como uma cesta de peneirar; aquele que havia tocado sua face respondeu que ele era como uma rocha; aquele que havia tocado sua perna respondeu que ele era como um pilão de madeira; aquele que havia tocado suas costas respondeu que ele era como uma cama; aquele que havia tocado sua barriga respondeu que ele era como um grande barril; aquele que havia tocado sua cauda respondeu que ele era como uma corda. Ó Simhanada, as descrições oferecidas pelas pessoas cegas não são perfeitas; por outro lado, também não são completamente CEBB

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incorretas. É o mesmo com as pessoas; algumas afirmam que a natureza búdica é o corpo e a mente, enquanto outras dizem que ela é uma essência separada do corpo e da mente. Apesar disto, a natureza búdica não é nenhum dos dois e nem é diferente deles. Ó Simhanada, o Buda é eterno e seu Darmakaya é livre de limitações ou obstruções; ele nem nasce nem perece; é isto que chamo de essência. Na verdade, as pessoas comuns não estão na posse de tal essência, mas elas a atingirão com certeza; e, portanto, pode-se dizer que elas possuem a natureza búdica.

(6) “Ó Simhanada, grande bondade amorosa e grande compaixão são chamadas de natureza búdica. Pois ambas sempre acompanham um bodisatva como uma sombra que segue a forma. Como todas as pessoas necessariamente realizarão ambas, eu digo que todas possuem a natureza búdica. Grande bondade amorosa e grande compaixão são a natureza búdica e a natureza búdica é o Buda. Grande alegria e grande renúncia também são chamadas de natureza búdica. Pois, sem renunciar ao mundo da delusão, um bodisatva não poderá realizar a iluminação suprema. Como todas as pessoas alcançarão ambas com certeza, eu ensino que todas elas possuem a natureza búdica. Grande alegria e grande renúncia são a natureza búdica e a natureza búdica é o Buda. Além disso, a natureza búdica é chamada de mente da grande fé, pois através de tal fé pode-se completar o caminho do bodisatva. Como todas as pessoas realizarão isto com certeza eu digo que todas elas possuem a natureza búdica. A natureza búdica é o Buda. E também, a natureza búdica é chamada de estágio do filho único, pois é nesse estado que o bodisatva é capaz de manter uma mente de imparcialidade por todos os seres. E como todos sem exceção realizarão tal estado, eu digo que todos possuem a natureza búdica. Este estado do filho único é a natureza búdica e a CEBB

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natureza búdica é o Buda.

(7) “Ó Simhanada, esta doutrina é como um oceano e ninguém pode compreender sua profundidade. Além do mais, ela possui um sabor universal e é uniforme. Como todos possuem igualmente a natureza búdica, o veículo pelo qual eles se esforçam para a emancipação é único e o mesmo. A natureza da emancipação também é, assim, única e a mesma; o início e o fim são igualmente os mesmos; e também é o mérito do estado de emancipação. Assim, tudo sem exceção se tornará eterno, maravilhosamente prazeroso, livre e puro. E também, aqueles que sustentam firmemente esta doutrina nunca quebrarão os preceitos mesmo sob o risco das próprias vidas, assim como a maré alta nunca sobe acima de um nível de água fixo. Esse oceano contém tesouros incontáveis e méritos búdicos; portanto, cadáveres maléficos não são encontrados ali. Como todos repousam na igualdade e na natureza dos darmas, não há nem crescimento nem diminuição, conforme descrito na escritura referente ao estado de emancipação.”

(8) Nesse momento, um discípulo chamado Upavana, que havia servido fielmente o Honrado pelo Mundo antes de Ananda assumir aquele papel, ficou profundamente entristecido ao ouvir que o Honrado pelo Mundo estava doente e próximo da morte. Ele se aproximou e ficou em pé diante do Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo disse a Upavana que ele não deveria ficar em pé diante dele, e Upavana recuou para o lado. Ananda achou isso estranho e perguntou ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, eu o servi por um longo tempo, mas nunca ouvi tais palavras. Além do mais, agora que o Honrado pelo Mundo está prestes a ingressar no nirvana por que ele impede Upavana de ficar em pé diante CEBB

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dele?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Ananda, não é que eu não goste dele. Os deuses agora estão competindo e correndo para me ver aqui, mas como Upavana estava diante deles, obstruídos por sua dignidade e virtude, eles não conseguiam se aproximar de mim.” Então, Ananda perguntou: “Ó Honrado pelo Mundo, a que tipo de disciplinas Upavana se submeteu para alcançar tal dignidade e virtude?” Diante de tal questão, o Honrado pelo Mundo respondeu: “Muito tempo atrás, quando o Buda Vipasyin ainda estava neste mundo, Upavana segurou alegremente uma tocha para iluminar o caminho do Buda. Devido a este mérito, agora ele adquiriu o grande poder que não pode ser igualado mesmo pelo brilho dos deuses.”

5. Os Quatro Lugares Sagrados (1) Ananda perguntou: “Se o Honrado pelo Mundo permanecer neste mundo as pessoas virtuosas e aquelas de prática diligente se reunirão para venerar o Honrado pelo Mundo; elas poderão ouvir o Darma e cultivar méritos. Entretanto, se o Honrado pelo Mundo morrer agora, essas pessoas não virão. O que, então, devemos fazer?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Ananda, você não deve se preocupar. Pense no Jardim de Lumbini em Kapilavatthu onde eu nasci. E também pense na base da Árvore Bodhi, perto do rio Neranjara, onde atingi a iluminação suprema. E também pense no Parque dos Cervos, próximo a Baranasi, onde dei meu primeiro ensinamento. Além do mais, pense neste bosque de árvores sala externo a Kusinara, onde estou prestes a ingressar no nirvana. Ao recordar todos esses locais, vocês

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poderão acumular mérito. “Ó Ananda, se você sustentar a mente da fé, relembrar as ações do Buda e oferecer ao Buda mesmo um talo de uma flor, será capaz de alcançar o nirvana devido a esse mérito. Ó Ananda, mesmo se alguém pensar sobre o Buda em sua mente uma única vez, e mesmo se prestar reverência uma vez, está destinado a alcançar o nirvana. Ó Ananda, e também, se alguém ouvir o nome do Buda será capaz de alcançar o nirvana devido a esse mérito. Ó Ananda, o Buda é o mais elevado entre todos aqueles cujo mérito é grande. Eu me tornarei um refúgio para todos aqueles que não possuem um refúgio, serei uma casa para aqueles que não possuem casas, serei luz para aqueles que permanecem na escuridão, e serei um olho para aqueles que são cegos.”

(2) Ananda perguntou: “Nós temos um discípulo cujo nome é Channa. Ele é por natureza descontente e tende a usar palavras abusivas, e frequentemente se engaja em disputas com os outros. Como devemos tratar com ele depois de o Honrado pelo Mundo morrer?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Vocês deveriam evitar falar com ele. Ele sentirá por si mesmo uma sensação de vergonha e corrigirá seu comportamento.” Ananda perguntou: “Se um grande número de mulheres se reunir ao redor dos discípulos e tentar se encontrar conosco, como deveremos nos conduzir?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Vocês devem evitar o encontro com elas.” Ananda perguntou: “Mas, e no caso de não conseguirmos evitá-las, como devemos nos conduzir?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Abstenham-se de falar com elas.” Ananda perguntou: “Mas se elas pedirem para ouvir o Darma, como devemos nos conduzir?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “É claro, vocês deveriam lhes ensinar o Darma. Mas vocês devem pensar nas mulheres mais velhas como suas próprias mães, nas mulheres um pouco CEBB

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mais velhas como suas irmãs mais velhas, e nas mulheres mais jovens como suas irmãs mais jovens, e estejam atentos a suas ações, palavras e pensamentos.” Ananda perguntou: “Há alguma diferença em relação ao mérito adquirido ao fazer oferendas ao Honrado pelo Mundo enquanto ele está vivo e ao fazê-las depois de ele morrer?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Não há diferença. Pois o Darmakaya do Buda permanece para sempre. Ó Ananda, aquele que vê o Buda, vê o Darma; e aquele que vê o Darma, vê a Sanga; aquele que vê a Sanga, vê o nirvana. Portanto, deve-se saber que os Três Tesouros permanecem para sempre, são imutáveis e se tornam o refúgio para todas as pessoas.”

(3) Ananda perguntou: “Depois de o Honrado pelo Mundo ingressar no nirvana, como devemos realizar os ritos funerais?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Vocês não devem se preocupar com isso, mas devem seguir apenas o caminho e devem fazer esforços por si mesmos. Devotem-se completamente às suas próprias raízes de mérito. E também transmitam para os outros com alegria o que ouviram de meus ensinamentos. Haverá muitas pessoas que prestarão homenagens às minhas relíquias.” Ananda perguntou: “De que forma elas deitarão o Honrado pelo Mundo em seu descanso?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Como são tratados os restos de um rei dos reis, elas limparão o corpo com água quente, o envolverão com algodão, colocarão o corpo em um caixão adornado com ouro, derramarão óleo perfumado, o preencherão com bons incensos, cremarão tudo isto, coletarão as cinzas e construirão uma estupa sobre as cinzas. Quem passar por essa estupa irá venerá-la, oferecerá flores e incensos e adquirirá méritos. É desta forma que um rei dos reis deve ser deitado para seu descanso.” CEBB

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Ao ouvir isto, Ananda se sentiu aflito e se escondeu em um quarto nos fundos; encostando-se na porta, ele lamentou: “Ai de mim, eu ainda permaneço no estágio de aprendiz, alguém que não atingiu o estado de um arhat. E o Honrado pelo Mundo está prestes a me abandonar e ingressará no nirvana. Quando conseguirei alcançar a emancipação? Depois de sua morte, para quem buscarei água toda manhã, prepararei o leito toda tarde, o rosto e os pés de quem eu lavarei?” Pensando assim consigo, Ananda levantou seus braços, segurou o galho de uma árvore e chorou do fundo de seu coração.

(4) Enquanto os discípulos ouviam o Honrado pelo Mundo, ele perguntou sobre o paradeiro de Ananda. Eles responderam que Ananda estava chorando sob uma árvore. Então, o Honrado pelo Mundo enviou um discípulo para chamar Ananda. Ananda retornou e com um gesto de reverência permaneceu em pé ao lado o Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo disse: “Ó Ananda, eu já não disse a você em ocasiões anteriores que todas as coisas são impermanentes? É da própria natureza das coisas que aqueles que se encontram estão fadados a se separar. Com o que você se entristece? Ó Ananda, por um longo tempo você esteve a meu serviço e me serviu bem. Suas ações, fala e pensamentos sempre foram puros e livres de obscurecimentos. Seja

diligente

e

os

méritos

que

acumular

serão

incomensuráveis. “Ó discípulos, a razão pela qual eu digo a Ananda que ele não deveria se lamentar assim é que ele alcançará a emancipação muito em breve. Ó discípulos, cada buda do passado teve um atendente como Ananda. Os budas do futuro também terão tais atendentes. Ó discípulos, Ananda tem uma fé firme, sua mente é correta, seu corpo está livre da doença e ele é sempre diligente e livre da arrogância. Seu insight é profundo e espantoso, e CEBB

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ele recorda qualquer ensinamento que eu já transmiti. Além disso, meus discípulos, Ananda sabe o momento correto para fazer algo. Quando um visitante chega e deseja me ver, ele primeiro julga se o momento para tal encontro é adequado para mim ou não. Ele sempre considera primeiro quando é o momento correto para eu encontrar meus discípulos, ou para receber devotos leigos, ou para encontrar pessoas de outras religiões. Devido a esses arranjos sábios, todos que vieram me ver ou que ouviram meus ensinamentos adquiriram benefícios incomensuráveis. Tudo isto se deve a Ananda por ter organizado os momentos corretos e por guiar as pessoas até mim. Ó discípulos, quando as pessoas encontram um nobre rei elas se deleitam invariavelmente, independente de ouvirem o rei falando ou de o observarem em silêncio. Quando ele parte, elas não podem deixar de sentir a falta de seu rei, assim como um homem faminto sente uma fome insaciável. É o mesmo com Ananda, pois sua personalidade é plena de virtude graciosa. Quando outros discípulos vêm até ele, ele não deixa de perguntar sobre a saúde deles, quando monjas vêm até ele, ele não deixa de aconselhá-las a receber os preceitos sagrados como se estivesse falando com suas próprias irmãs. Além disso, quando os chefes de família fazem visitas, ele não deixa de encorajá-los a tomar refúgio nos Três Tesouros, a manter os preceitos sagrados, a respeitar seus pais e a fazer oferendas aos arhats. Todos se satisfazem ao ouvir suas palavras. Quando as pessoas o encontram em silêncio, elas lhe perguntam a razão. Ao partirem, elas se sentem atraídas por sua virtude e refletem sobre sua boa vontade. Ó discípulos, Ananda é dotado com todas essas virtudes excelentes. “Portanto, ó Ananda, você não deve ficar aflito em relação a se terá a oportunidade de alcançar a emancipação depois de minha passagem. Desde que completei o caminho eu continuei a ensinar, e todo o Darma e os CEBB

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preceitos que eu expus serão seus professores, seus guardiões e seu refúgio. Eu sou o pai e amigo do mundo. Eu alcancei o que deve ser alcançado por um pai ou um amigo. De agora em diante, depois de minha passagem, vocês devem manter a atenção mental a tudo que foi ensinado e diligentemente praticar o que foi exposto como preceitos. Junto com Maha-Kassapa vocês devem guiar o mundo e cultivar os ensinamentos em todos os lugares. Ó Ananda, você não deve deixar sua mente se perturbar sem razão, pois está destinado a alcançar a emancipação, e meu Darma verdadeiro se disseminará em todas as direções, beneficiando o mundo.”

(5) Depois de ouvir o Honrado pelo Mundo, Ananda ficou um pouco aliviado de sua aflição e disse: “Ó Honrado pelo Mundo, minha mente despertou, mas ainda há uma questão que eu gostaria de colocar. Eu lhe suplico para responder minha questão.” Ao receber a permissão para perguntar, Ananda disse: “Ó Honrado pelo Mundo, há outras grandes cidades não tão distantes daqui, tais como Vesali, Rajagaha, Savatthi, Baranasi e Campa, e todas são prósperas, com pessoas bem sucedidas, em todas essas cidades o ensinamento do Honrado pelo Mundo está sendo praticado. Por que o Honrado pelo Mundo não segue até uma dessas cidades e passa para o nirvana ali? Por que ele deseja fazer a passagem nesta cidade remota de Kusinara?” O Honrado pelo Mundo respondeu: “Ó Ananda, não fale mais sobre isto. Quando um rei visita uma família, mesmo que ela seja humilde e simples, o mundo olhará para aquela família. Quando um remédio, mesmo que seja grosseiro, cura as doenças, ou quando um cadáver, mesmo que apodrecendo, pode ser usado como boia no momento do naufrágio de um navio para alcançar a praia, inevitavelmente as pessoas se alegrarão em utilizá-los. Ó Ananda, muitos méritos maravilhosos CEBB

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embelezam esta cidade, pois nesta cidade muitos budas e bodisatvas de eras passadas praticaram seus caminhos. Em uma de minhas vidas anteriores eu estive aqui como um rei. Naquele tempo, a cidade era próspera e possuía muitas construções majestosas. A autoridade do rei era influente e as pessoas obedeciam às leis voluntariamente. Apesar disto, eu não podia deixar de pensar que a glória do mundo não duraria para sempre, que o corpo humano era um receptáculo que logo decairia, que apenas o caminho era a verdade e que apenas aquele que enxergasse esta verdade conseguiria saber como se contentar com o que estivesse disponível. Pensando assim, eu renunciei ao trono e me devotei unifocadamente à prática do caminho. Eu recordo que isto se repetiu por sete vidas. Assim, eu já deitei meu corpo nesta terra sete vezes. Portanto, esta terra tem uma relação especial com minhas vidas passadas. A razão que me trouxe até aqui para passar para o nirvana é meu desejo de retribuir os benefícios que recebi em eras passadas.” Depois de ouvir o Honrado pelo Mundo, Ananda disse: “Isto é maravilhoso, ó Honrado pelo Mundo. Ó Honrado pelo Mundo, eu não sabia desta nobre relação, não mais considerarei esta região como inferior.”

(6) Então, o Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Vá agora, ó Ananda, e entre em Kusinara, informando as pessoas que esta noite à meianoite o Honrado pelo Mundo morrerá, e que se elas tiverem quaisquer dúvidas, devem vir imediatamente para esclarecê-las. Diga-lhes que não deveriam se lamentar por terem deixado de aproveitar esta oportunidade.” Em resposta ao pedido do Honrado pelo Mundo, Ananda seguiu até a cidade de Kusinara, acompanhado por outro discípulo. Naquele momento, os Mallas, o povo de Kusinara, estavam reunidos no salão de reuniões discutindo um assunto público. Ananda foi até o salão de CEBB

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reuniões e transmitiu as palavras do Honrado pelo Mundo. O povo ficou chocado e se entristeceu, e seus lamentos se espalharam pelas ruas. Seus soluços foram ouvidos no palácio do rei. O governante também ficou chocado com o relato trazido por seus atendentes e enviou seu filho Asin para visitar o Honrado pelo Mundo, ordenando-lhe para suplicar ao Honrado pelo Mundo que fizesse sua passagem no palácio. Asin se apressou até o local onde o Honrado pelo Mundo estava e através de Ananda transmitiu a mensagem de seu pai. O Honrado pelo Mundo convocou Asin para se apresentar diante dele. Asin se apresentou, curvou-se, e disse: “As pessoas estão todas afundadas nas profundezas da delusão e apenas o Buda pode resgatá-las. A sua passagem é muito prematura. Ó Honrado pelo Mundo, eu suplico, que o Honrado pelo Mundo possa se deslocar para o palácio de meu pai e fazer a passagem lá, e não nesta floresta remota. Este é o desejo de meu pai.” Então o Honrado pelo Mundo disse: “Ó Asin, como este mundo não é real, não há nada com o que possamos verdadeiramente nos alegrar. Portanto, os sábios desejam, invariavelmente, encontrar o Buda e ouvir o Darma. Baseando-se em sua prática de fé, preceitos e caridade, eles ouvem e estudam extensamente. Com isto, eles se libertam dos obscurecimentos e desfrutam a prosperidade através de eras sucessivas. O seu renome se espalhará à distância, e eles acabarão realizando o nirvana. Ó Asin, retorne para o seu pai e diga-lhe em meu lugar que este local possui uma afinidade especial com minhas vidas passadas, e que eu, portanto, desejo descansar meu corpo nesta parte do país.” Asin retornou imediatamente ao palácio e transmitiu ao seu pai o que fora dito pelo Honrado pelo Mundo. Em lágrimas, o rei promulgou um decreto e junto com seu povo correu para o bosque de árvores sala. Era quase a hora do crepúsculo do décimo quinto dia do segundo mês. CEBB

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(7) Ananda pensou que se todas essas pessoas pudessem prestar seus respeitos uma por uma, mesmo se fizessem isto por toda a noite não seria possível terminar. Acreditando que seria melhor se elas prestassem a homenagem juntas, ele reuniu o povo em um grupo e disse ao Honrado pelo Mundo que todos os Mallas de Kusinara estavam esperando para ver o Honrado pelo Mundo. Então o Honrado pelo Mundo se dirigiu a eles calorosamente, expressando sua apreciação. O rei deu um passo à frente e se prostrou no chão, dizendo: “Ó Honrado pelo Mundo, por compaixão, ensine-nos o Darma para que possamos viver de acordo com ele com segurança.” Então o Honrado pelo Mundo disse: “As pessoas, assim como os deuses, estão todas fadadas a morrer. Não há ninguém que nasça e não morra. Vocês não devem se entristecer com minha morte. Agora eu partirei para uma morada eterna de pureza. Esta morada é sempre quiescente e está livre para sempre de aflições. Não há por que se entristecer por mim; estejam atentos à bondade, abstenham-se do mal, corrijam as transgressões passadas, pratiquem o bem para o futuro, sejam diligentes com as virtudes, associem-se aos sábios, e quando chegar o momento, ponderem cuidadosamente e se abstenham de comportamentos grosseiros. É difícil obter a vida humana. Sejam amistosos com todas as pessoas. Honrem aqueles que são sagazes e perdoem aqueles que são tolos; pratiquem a caridade com aqueles que são pobres, ajudem aqueles que não possuem o bastante, tratem as pessoas como se fossem seus filhos, governem-nas com justiça, e compartilhem suas riquezas e alegria com as massas. Este é o único caminho para a felicidade duradoura. Há muitos males neste mundo. Vocês devem se ocupar com seu próprio bem-estar. Desta forma não apenas serão capazes de me ver, mas também serão capazes CEBB

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de se libertar da teia do sofrimento. A prática do caminho se baseia na própria mente, não é imprescindível me encontrar. Um homem doente tem sua dor aliviada mesmo sem ver o médico, desde que tome o remédio prescrito da maneira correta. Entretanto, para aquele que não segue meu ensinamento, mesmo se me encontrasse isto seria em vão, pois mesmo se ele se sentasse ao meu lado estaria distante de mim. Entretanto, se alguém praticar o caminho, mesmo se estiver distante, na verdade estará muito próximo a mim. Todos vocês, controlem suas mentes, não sejam negligentes. Há muitos males neste mundo e estamos cercados pelo sofrimento. Todos são agitados e ninguém está em paz. As pessoas são como chamas tremulando ao vento. Que todos vocês possam desfrutar uma longa vida e estar livres da doença e dos sofrimentos.”

(8) Naquele instante, Rahula pensou consigo: “Que alegria há em ver o Honrado pelo Mundo morrer?” Ele caminhou para fora da floresta e foi para o norte, ao pensar em seu pai ele se afogou em lágrimas. Então, ele mudou seu pensamento: “Quando chegar a aurora, não mais poderei ver meu pai, o Honrado pelo Mundo, aquele que ensina o Darma circundado por seus discípulos, assim como a lua é circundada pelas estrelas.” Assim, Rahula retornou ao bosque e se sentou ao lado do Honrado pelo Mundo. O Honrado pelo Mundo disse a Rahula: “Ó Rahula, não se entristeça. Você fez tudo que tinha que ser feito por seu pai. E eu fiz tudo que devia ser feito por você. Ó Rahula, não perturbe sua mente. Junto com todos vocês e para o bem de todas as pessoas, eu diligentemente e destemidamente me esforcei para não gerar inimizades e para não prejudicar ninguém. Ó Rahula, assim que eu ingressar no nirvana, não serei mais o pai de ninguém. É o mesmo com você. Assim que ingressar no nirvana você não será mais o filho CEBB

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de ninguém. Você e eu juntos não geraremos confusão nem ficaremos com raiva. Ó Rahula, o Buda é eterno. Você deve renunciar àquilo que é impermanente e sinceramente buscar a emancipação. Esta é a minha instrução para você.” Rahula e todos aqueles que estavam presentes ficaram encantados e enalteceram a natureza maravilhosa do Buda.

(9) Naquele tempo, na cidade de Kusinara havia um mendicante idoso chamado Subhada, que pertencia a uma escola de pensamento diferente; ele havia atingido a idade de cento e vinte anos; sendo um erudito, ele era bastante respeitado pelo povo. Naquela noite, quando acordou de seu sono, luz preenchia toda a cidade, mas na casa estava uma escuridão e ele não podia ver ninguém. Ao saber que o Honrado pelo Mundo ingressaria no nirvana naquela noite, Subhada pensou: “É dito nos textos de minha religião que o surgimento de um buda é tão raro quanto o florescer da árvore udumbara. Eu tenho uma dúvida guardada em minha mente, que ninguém além de Gotama pode resolver. Devo ir imediatamente até ele e pedir seu ensinamento. E não devo chegar tarde demais.” Assim, ele se apressou até o local onde estava o Honrado pelo Mundo. Subhada encontrou Ananda fora da floresta e disse: “Eu ouvi dizer que Gotama está prestes a passar para o nirvana; eu lhe imploro para que me leve até ele para que eu possa pedir seus ensinamentos.” Ananda respondeu: “Ó Subhada, abandone seu desejo, pois o Honrado pelo Mundo está próximo do fim de sua vida. Ele não deve ser perturbado.” Subhada insistiu: “Ó Venerável Ananda, o surgimento de um buda é visto como algo tão raro quanto o florescer da árvore udumbara. Eu lhe imploro, permita-me apenas uma vez me prostrar diante de Gotama.” Desta maneira, ele repetiu seu desejo por três vezes, mas Ananda não concordou. Naquele instante, CEBB

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entretanto, o Honrado pelo Mundo ouviu o diálogo e chamou Ananda: “Ó Ananda, você não deve bloquear o caminho de meu último discípulo. Mande Subhada até mim. A mente de Subhada é correta e sua sabedoria é clara. Ele procura solucionar sua dúvida. Ele não veio para debater comigo.” Seguindo as palavras do Buda, Ananda conduziu Subhadda à presença do Honrado pelo Mundo. Transbordando de alegria, Subhada se prostrou e disse: “Ó Gotama, eu tenho uma questão, por favor, permita-me fazê-la.” Com a permissão do Buda, ele continuou: “Ó Gotama, há muitos eruditos e todos clamam igualmente ser o verdadeiro professor; por exemplo, há Purana Kassapa, Makkali Gosala, Sanjaya Belatthiputta, Ajita Kesakambala, Pakudha Kaccayana, Nigantha Nataputta e outros. Cada um destes eruditos clama que sua doutrina é a visão correta e que os outros mantêm visões errôneas; cada um afirma que suas práticas são as causas da emancipação e que as práticas das outras escolas são causas para a delusão. Desta forma, eles atacam uns aos outros e estão constantemente envolvidos em disputas. Ó Gotama, na verdade qual doutrina entre elas leva à emancipação e qual conduz à delusão? Esses professores estão cientes de todos os darmas, ou há algum darma do qual eles não estejam cientes? Por favor, me ilumine sobre este tema.”

(10) O Honrado pelo Mundo instruiu Subhada da seguinte forma: “Você não deve questionar alguém de tal forma inconveniente, pois isto é inútil; mas ouça cuidadosamente. Para o seu bem irei expor, agora, o caminho. Ó Subhada, o Nobre Caminho Óctuplo é o único caminho para a emancipação, e ensinar de outra forma é uma causa para a delusão. Ó Subhada, esses professores sustentam visões errôneas. Em relação às ações CEBB

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realizadas neste mundo e seus efeitos nas próximas vidas, alguns não acreditam que se está fadado a receber os efeitos das próprias ações. Ao invés disso, eles buscam a felicidade cultuando demônios ou praticando adivinhações. Alguns deles mantêm pensamentos maldosos enraizados no desejo e na raiva. Eles são culpados de ofensas por utilizar palavras maldosas; isto é, eles mentem, bajulam e difamam. Eles cometem ações negativas, não buscam refúgio no caminho e anseiam por roupas e comida. Eles são culpados de esforços maldosos, pois não evitam diligentemente as maldades nem realizam ações virtuosas. Eles entretêm pensamentos maldosos, pois sempre anseiam pelo prazer e abominam os sábios. Sua disciplina de meditação é inadequada, pois estão presos pela ganância e não percebem o valor da emancipação. Ó Subhada, certa vez quando eu ainda estava no palácio real, todo o mundo foi desviado para essas doutrinas maldosas. Eu renunciei à minha família, pratiquei o Caminho sob a Árvore Bodhi. Depois disto, por quarenta e cinco anos eu avaliei e considerei o caminho da maneira correta. Da maneira correta eu falei, agi, vivi minha vida, me esforcei, pensei e meditei. “Ó Subhada, os seguidores de algumas dessas escolas pensam que quando o carma é destruído, o sofrimento da vida também acaba, mas isto é incorreto. Quando os obscurecimentos forem destruídos, então o sofrimento causado pelo carma terminará. Ó Subhada, se a emancipação pudesse ser encontrada apenas aniquilando as condições causais do carma, então nenhum homem santo seria capaz de realizar a emancipação. Pois o carma original do passado imemorial não possui começo nem fim. Apesar disto, o Nobre Caminho é capaz de cessar o carma amedrontador que não possui começo nem fim. Se alguém pudesse realizar o caminho através de práticas ascéticas, cada animal seria capaz de realizar o caminho. Portanto, em primeiro lugar e CEBB

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mais importante, você deve saber que a mente deve ser superada, não o corpo físico. Aqui está a verdadeira causa da emancipação. Ó Subhada, até agora tenho continuado a falar e sozinho abro meu caminho nos três mundos. O Buda é, realmente, um ser de sabedoria universal. Se você ainda tem quaisquer dúvidas, não hesite em seguir questionando, eu não considerarei isto um peso.” Ao ouvir isto, Subhada disse: “Ó Honrado pelo Mundo, eu entendi muito bem, e agora abandonarei caminhos inferiores e adotarei o Nobre Caminho. Eu suplico, que o Honrado pelo Mundo me permita juntar-me à Sanga de seus discípulos.” Assim o Honrado pelo Mundo concedeu o seu desejo.

(11) Imediatamente Subhada raspou sua cabeça, vestiu os mantos de um discípulo, e com intensa determinação contemplou o ensinamento. Sua mente se tornou tão pura quanto a imagem da lua cheia. Para o benefício de Subhada, o Honrado pelo Mundo mais uma vez ensinou o caminho das Quatro Nobres Verdades. Assim, Subhada atingiu a iluminação. Naquele momento, o Honrado pelo Mundo disse a Ananda: “Uma vez, anos atrás, bem no início, eu converti Anna Kondanna, e hoje, no final, converti Subhada. Assim, eu completei minha tarefa de salvar aqueles que devem ser salvos. De hoje em diante, todos vocês, transmitam os ensinamentos mutuamente e instruam uns aos outros. Ó Ananda, Subhada foi uma vez seguidor de uma escola diferente, mas por eu ter percebido que as raízes de mérito amadureceram nele, eu lhe permiti juntar-se à Sanga. Depois de eu partir, quando seguidores de outras escolas vierem expressar seu desejo de ingressarem na ordem, vocês devem fazê-los passar por um período de testes de quatro meses, concedam seus desejos apenas depois de CEBB

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julgar a firmeza de sua vontade e de observar a qualidade de sua conduta.” Então Subhada disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, mesmo que fosse forçado a estudar o ensinamento por um período de quarenta anos antes de me permitirem ingressar na ordem, eu aceitaria com entusiasmo essa condição. Meros quatro meses são realmente insignificantes para mim!” O Honrado pelo Mundo disse: “Bem dito, ó Subhada, mas eu sei como a sua determinação é firme, e que sua fala não tem falsidade.” Então Subhada disse: “Ó Honrado pelo Mundo, sou incapaz de suportar o pensamento de assistir à sua passagem. O Honrado pelo Mundo me permite morrer antes?” O Honrado pelo Mundo lhe deu a permissão, e então Subhada terminou sua vida ali.

6. A Última Instrução (1) Agora a noite gradualmente se aprofundava. A luz brilhava intensamente, as estrelas cintilavam, o vento cessou e o córrego próximo fluía silenciosamente. A floresta estava em silêncio e não se ouvia uma única voz. Para o benefício de seus discípulos, o Honrado pelo Mundo ensinou mais uma vez os pontos essenciais do ensinamento. “Ó discípulos, vocês não devem pensar que depois de minha morte o verdadeiro Darma, também, chegará ao fim. Até agora eu tenho determinado as regras de conduta e ensinado a doutrina. De agora em diante, depois que eu me for, vocês devem honrar ambas, e como um homem que descobre a luz na escuridão ou um homem pobre que encontra tesouros, vocês devem reverenciá-las. Entendam que os preceitos e a doutrina são seus professores, e protejam-nos como se eu

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ainda estivesse neste mundo. Ó discípulos, não acumulem riquezas, não cultivem a terra ou pratiquem adivinhações. Controlem seus movimentos físicos, comam nos momentos adequados e, assim, conduzam uma vida pura. Vocês não devem se envolver com os assuntos deste mundo transitório. Vocês não devem executar ordens expressas por reis. Vocês não devem realizar encantamentos, ou se deliciar com elixires maravilhosos, ou se tornar íntimos daqueles em posições elevadas. Vocês devem corrigir suas mentes e buscar a emancipação. Evitem enganar o público escondendo suas falhas ou realizando ações extraordinárias. Em relação a mantos, alimento e bebida, leito e remédios, vocês devem saber o quanto é suficiente e evitar adquirir mais do que precisam. Esses são os pontos essenciais para a manutenção dos preceitos. Os preceitos são a base causal que corretamente leva à emancipação, da qual nascem a concentração e o insight. Portanto, mantenham os preceitos corretamente e não sejam frouxos em seus esforços. Quando os preceitos são diligentemente observados vocês geram a bondade, mas quando eles estão faltando, nem bondade nem mérito são produzidos. Portanto, saibam que os preceitos são a morada da paz e do mérito supremos.

(2) “Quando seguirem os preceitos, vocês devem controlar os cinco sentidos e não devem cair nos cinco desejos. Vocês devem se restringir assim como um vaqueiro guia suas vacas com uma vara para evitar que elas arruínem as mudas das plantações dos outros. Se vocês derem rédea solta aos cinco sentidos, não apenas os cinco desejos, mas tudo se tornará incontrolável. Tudo se tornará como um cavalo selvagem descontrolado, indomado, que arrasta seu dono e o faz cair numa armadilha. O sofrimento dos infortúnios encontrados em algum momento chega ao fim depois de um tempo, mas os infortúnios devidos ao inimigo conhecido como cinco sentidos CEBB

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são extremamente graves, pois ao longo das eras eles atacam aquele indivíduo. Portanto, os sábios restringem seus sentidos e não cedem a eles. Eles se aproximam dos sentidos como se fossem o inimigo e não lhes dão rédeas soltas. Mesmo se às vezes lhes permitirem uma certa medida de liberdade, logo os sábios os destruirão. “Esses cinco sentidos dependem da mente como seu mestre. Portanto, vocês devem de todas as formas manter suas mentes bem controladas. A mente é, por natureza, muito mais perigosa que uma cobra venenosa, um animal feroz ou um bandido impiedoso. Mesmo um incêndio terrível não se compara a ela. Uma mente sem restrições é como um homem que corre e cai ao segurar um vaso cheio até a boca com mel; ele faz isso prestando atenção apenas ao mel, sem cuidar dos buracos fundos no chão. A mente também é como um elefante enlouquecido sem correntes, ou como um macaco em disparada pelo topo das árvores, além do controle. Ao contrário deles, vocês devem se restringir e não ser negligentes. Se vocês permitirem que suas mentes corram desenfreadas, a bondade desaparecerá. Por outro lado, se vocês focarem suas mentes em um objeto não haverá nada que não possam alcançar. Portanto, restrinjam ativamente suas mentes.

(3) “Ó discípulos, vocês devem aceitar a comida como se estivessem tomando um remédio. Não importa se ela é de boa ou má qualidade, vocês não devem pensar sobre ela como se estivesse aumentando ou diminuindo méritos. Pois se ela simplesmente sustentar seus corpos e satisfizer a sensação de fome e sede, isto é tudo que é necessário. Assim como as abelhas coletam apenas o néctar das flores, mas deixam sua cor e perfume intocados, ao receberem esmolas é o suficiente se elas simplesmente satisfizerem seu sofrimento. Evitem macular a bondade do doador desejando ainda mais ou CEBB

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exaurir a capacidade de doação dele, assim como um homem sábio guia seu gado julgando os limites de sua força. “Não percam uma oportunidade de praticar a bondade durante o dia, e também não relaxem este pensamento seja no início ou no final da noite. À meia-noite leiam os Sutras e depois descansem; mas não desperdicem suas vidas com o sono preguiçoso. O fogo da impermanência queima constantemente todos os mundos. Atentos a isso, busquem sua própria salvação.

Cuidado,

ó

discípulos,

com

os

inimigos

tais

como

os

obscurecimentos que constantemente procuram por ocasiões para atacá-los. Como alguém pode se entregar ao sono, não se mantendo em guarda? A cobra venenosa dos obscurecimentos dorme em suas mentes, como uma víbora dormindo nas suas camas. A todo custo eliminem esta cobra venenosa recorrendo ao gancho dos preceitos. Quando ela estiver fora de seu quarto vocês poderão dormir em paz, mas aquele que dorme onde a cobra venenosa ainda não foi eliminada é, realmente, um homem desprovido de vergonha. A vestimenta da vergonha, interna e externa, é insuperável entre todos os ornamentos. O senso de vergonha é como um gancho de ferro, ele restringe as ações que desviam do caminho ético. Portanto, mantenham a vergonha e não permitam que suas mentes se desviem nem mesmo por um instante. Quando alguém se distancia do senso de vergonha está fadado a perder todos os seus méritos. O bem é acumulado por aqueles que possuem vergonha, enquanto que aqueles que se esquecem da vergonha são o mesmo que pássaros e animais.

(4) “Mesmo que as pessoas retalhem os corpos de vocês em pedaços, vocês devem restringir suas mentes e nunca despertar um sentido de raiva ou ódio contra elas. Sempre observem suas palavras e não falem mal delas. Pois CEBB

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os pensamentos e a fala maldosos prejudicam vocês e não os outros. Se deixarem a raiva seguir seu curso encontrarão obstruções na prática do caminho e perderão o benefício de seus méritos anteriores. O mérito da tolerância excede o mérito derivado da prática dos preceitos ou da disciplina ascética. Um homem que pratica a tolerância nós chamamos de grande e forte homem. A não ser que seja capaz de suportar o veneno dos abusos verbais voluntariamente, a pessoa não pode ser descrita como alguém que ingressou no caminho ou alguém que possui insight. As pessoas não encontram alegria em se associar com pessoas raivosas. De fato, uma mente aflita pela raiva é mais amedrontadora que um fogo violento. Portanto, venerem as virtudes, não guardem a raiva, estejam sempre em guarda e evitem criar espaços pelos quais a raiva possa entrar. Entre os inimigos que roubam as virtudes, nenhum é mais temível que a raiva. Não é bom para aqueles que praticam o caminho guardar raiva. Isto não deve ser permitido, como o trovão e o relâmpago em um dia claro, ela não deve ser encontrada na bondade. “Ó discípulos, passem a mão em suas cabeças e se lembrarão de que rasparam seus cabelos e descartaram seus ornamentos; vocês vestem roupas simples e vivem de esmolas recebidas em suas tigelas. Se sentirem novamente arrogância, devem imediatamente eliminá-la. Mesmo para os chefes de família não é bom que a arrogância seja cultivada, e muito mais grave é para vocês que renunciaram ao mundo para praticar o caminho, tornaram-se humildes para o bem da emancipação e receberam esmolas.

(5) “Ó discípulos, a mente bajuladora se desvia do caminho. Vocês devem corrigir tal mente. Realmente, a bajulação é uma forma de engano que não deve estar presente em alguém que ingressa no caminho. Portanto, vocês deveriam manter suas mentes diretas e honestas, com atenção mental apenas CEBB

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ao Darma, e não deveriam enganar os outros. “Ó discípulos, aqueles que são atribulados por muitos desejos provavelmente buscarão muitas coisas, e assim experimentarão mais sofrimento. Aqueles que têm poucos desejos não buscam coisa alguma e, portanto, experimentam um sofrimento menor. Aquele que tem poucos desejos não precisa conquistar as mentes dos outros através de bajulação e também não é atraído pelos desejos dos olhos e dos ouvidos. Sua mente é pacífica e livre de preocupações; e mesmo quando algo sério acontece, ele mantém sua compostura e está sempre satisfeito. O nirvana existe neste estado de mente. “Ó discípulos, se vocês desejam se libertar do sofrimento devem conhecer o contentamento. O Darma no qual o contentamento é conhecido é a morada da riqueza, da prosperidade e da segurança. Aquele que conhece o contentamento desfruta a paz mesmo quando dorme no chão, enquanto que aquele que não conhece o contentamento não se satisfaz mesmo com uma morada celestial. Aquele que conhece o contentamento é rico mesmo quando é pobre, enquanto que aquele que não conhece o contentamento é pobre mesmo se for próspero, pois está constantemente amarrado pelos cinco desejos. “Se

vocês

buscam

a

bem-aventurança

da

quiescência

devem

necessariamente se afastar de lugares barulhentos e devem permanecer em locais tranquilos. Aquele que permanece em um lugar tranquilo é alguém que os deuses reverenciam. Portanto, afastem-se das multidões e permaneçam em um local solitário e silencioso, e meditem sobre como aniquilar a raiz do sofrimento. Por outro lado, aquele que deseja ficar em meio a um grande número de pessoas, sem dúvidas experimentará todos os tipos de sofrimento. Quando um grande bando de pássaros se congrega em uma árvore, não CEBB

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importa se ela é muito grande, ela ficará doente e secará. As correntes do mundo farão com que vocês afundem em uma multiplicidade de sofrimentos. As correntes do mundo irão afundá-los em situações difíceis da qual não serão capazes de se livrar por si mesmos, como um elefante velho que se afunda na lama e é incapaz de sair sozinho.

(6) “Não haverá dificuldades em qualquer empreendimento se vocês se esforçarem diligentemente. Mesmo um filete de água pode fazer um canal na rocha com seu fluxo incessante. Portanto, sejam diligentes o tempo todo. Ao começarem um fogo com varetas, se pararem de atritar as varetas antes de o fogo pegar, não conseguirão fazer fogo algum. Acontece o mesmo com o homem que segue o caminho se sua mente sempre for negligente. “Vocês devem buscar a atenção mental correta. A atenção mental correta é uma boa amiga, uma protetora excelente, pois enquanto estiverem corretamente engajados na atenção mental, nenhum inimigo tal como os obscurecimentos poderá se infiltrar em sua mente. Portanto, vocês devem manter a atenção mental correta. Se a perderem, perderão uma diversidade de méritos. Se sua atenção mental for firme, vocês serão como alguém que entra em um campo de batalha bem protegido por uma armadura; vocês não terão medo mesmo ao se lançarem sobre o inimigo consistindo dos cinco desejos, e nem serão prejudicados por eles de qualquer forma. “Ó discípulos, quando a mente é controlada, ela se encontra no estado de concentração. Quando ela está no estado de concentração vocês verão a natureza da originação e da cessação do mundo dos fenômenos. Portanto, vocês devem praticar meditação em todos os momentos. Se alcançarem a concentração a mente não se dispersará. Assim como alguém que precisa de água para a irrigação cuida bem das represas, todos vocês devem cuidar bem CEBB

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da disciplina da meditação, não permitindo que a água do insight vaze. “Ó discípulos, aquele que possui o insight está livre da ganância. Sempre reflitam sobre isto e fiquem atentos para não perder este insight. Desta forma, vocês serão capazes de alcançar a emancipação de acordo com o Darma. Entretanto, se não sustentarem este insight, não serão nem homens do caminho nem homens leigos, estarão além de qualquer descrição. O verdadeiro insight é um navio forte que cruza o oceano do nascimento, velhice, doença e morte; é a grande luz que brilha intensamente na escuridão da ignorância; é o remédio supremo que cura todas as doenças; é o machado que corta a árvore dos obscurecimentos. Portanto, vocês devem se alimentar do insight alcançado ao ouvir, pensar e praticar. Na medida da clareza de seu insight, mesmo se seus olhos forem de carne, vocês serão considerados homens de insight penetrante. “Ó discípulos, ao se engajarem em discussões sem sentido suas mentes se agitarão. Se isto acontecer, então mesmo tendo deixado o lar para alcançar a emancipação, vocês não terão sucesso. Portanto, devem imediatamente abandonar as discussões sem sentido e realizar o estado de bem-aventurança no qual todos os obscurecimentos são conduzidos à quiescência.

(7) “Vocês devem sempre se esforçar com mente unifocada e abandonar a negligência como se estivessem tentando escapar de um inimigo. Eu alcancei a iluminação por não ser negligente. Vocês devem sustentar diligentemente a prática de evitar a negligência. Quer estejam nas colinas, em um pântano, sob a sombra das árvores, ou em um quarto silencioso, vocês devem sempre manter a atenção mental ao Darma que receberam; não devem cair no esquecimento e devem praticar o Darma diligentemente. Se morrerem em vão, estarão fadados a se arrepender. Eu expus o ensinamento como um CEBB

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médico hábil que diagnostica uma doença e prescreve um remédio. Quando o paciente está ciente disto e mesmo assim não toma o remédio, não é uma falha do médico. Eu também fui como um guia habilidoso que mostra às pessoas o bom caminho. Se os viajantes ouvirem o guia, mas não o seguirem, não é falha do guia. “Se ainda tiverem dúvidas em relação às Quatro Nobres Verdades, perguntem imediatamente para que eu possa solucioná-las. Não deixem suas dúvidas sem solução.”

(8) O Honrado pelo Mundo repetiu isto três vezes. Não houve uma única pessoa em toda a assembleia dos discípulos que levantasse uma única pergunta. Anuruddha compreendeu a mente dos discípulos e disse ao Honrado pelo Mundo: “Ó Honrado pelo Mundo, mesmo se alguém fosse capaz de aquecer a lua ou esfriar o sol, não mudaria o caminho do Buda. O sofrimento exposto pelo Buda é realmente sofrimento e não pode ser considerado felicidade. A causa do sofrimento é realmente a causa e não pode haver outra causa para o sofrimento. Se o sofrimento cessa, isto se deve à cessação de sua causa. Assim, se a causa cessar, os efeitos também cessarão. O caminho que leva à cessação do sofrimento é realmente o verdadeiro caminho e não há outro caminho. Ó Honrado pelo Mundo, todos nós aqui reunidos não temos quaisquer dúvidas em relação às Quatro Nobres Verdades. Entretanto, aqueles de nós que ainda não alcançaram a iluminação, sem dúvidas se entristecerão com a passagem do Honrado pelo Mundo. Eu acredito que aqueles que ingressaram no caminho pelo primeira vez ouvirão o ensinamento e serão salvos; será como quando homens enxergam um caminho a partir do brilho de um relâmpago. Aqueles que já atingiram a iluminação e ultrapassaram o sofrimento se perguntarão por que o Honrado CEBB

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pelo Mundo está morrendo tão rapidamente.” Depois que Anuruddha assim falou com o Honrado pelo Mundo, devido à grande compaixão por seus discípulos, o Honrado pelo Mundo disse: “Não se entristeçam, todos vocês. Mesmo se eu permanecer neste mundo pela duração de um kalpa, é a natureza das coisas que aqueles que se encontram sejam necessariamente separados, não há exceções. “O Darma através do qual vocês geram benefícios para si mesmos assim como para os outros está prontamente disponível para vocês. Mesmo se eu permanecesse nesta vida por mais tempo, não haveria diferenças. Eu resgatei aqueles que tinham que ser resgatados, quer fossem seres celestiais ou humanos; e para aqueles que ainda não foram resgatados eu apresentei as condições para sua salvação. “De agora em diante, se vocês, discípulos, debaterem isto e praticarem de acordo, isto significará a existência contínua e imperecível do Darmakaya do Buda. “Deve-se compreender sem erros a impermanência do mundo. Faz parte da natureza das coisas que aqueles que se encontram necessariamente se separem. Não há necessidade para tristeza, pois esta é a natureza deste mundo. Sempre busquem a emancipação com diligência, destruam a escuridão da ignorância com a luz do insight, e prontamente alcancem a morada onde não há separação. “Este mundo é realmente perigoso e frágil e não há nada indestrutível nele. Minha passagem é como a eliminação de uma doença asquerosa. Este mal deve ser descartado. Nós o chamamos de corpo humano. Ele está imerso no oceano do nascimento, velhice, doença e morte. Como poderia o homem de insight não se deleitar ao remover seu corpo, quando isto é como massacrar um inimigo? CEBB

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“Todos vocês, esforcem-se com a mente unifocada e rapidamente escapem do buraco em chamas da delusão. Tudo que há neste mundo decairá, sem exceção. “Silêncio, todos vocês. Não falem mais. Chegou o momento, agora eu entrarei no nirvana. Esta é minha última palavra.”

(9) Assim, ao completar seu ensinamento, o Honrado pelo Mundo silenciosamente entrou em meditação e seu corpo não mais se moveu. Então Ananda perguntou a Anuruddha: “Ó Venerável Anuruddha, o Honrado pelo Mundo já entrou no nirvana?” “Não, Ananda, ainda não”, respondeu Anuruddha. Naquele instante, o Honrado pelo Mundo havia passado por vários estados meditativos e havia saudado sua mãe Maya que, em silêncio, havia descido do céu. Finalmente, ele ingressou no nirvana. Anuruddha informou que o Honrado pelo Mundo partira para o nirvana, e Ananda transmitiu isto a toda a assembleia dos discípulos. Naquele momento, a terra tremeu, trovões ribombaram no céu e os botões de flores das árvores sala caíram como uma chuva.

7. A Fumaça se Eleva (1) Os discípulos não podiam conter seu pesar; alguns batiam no peito e choravam, alguns caíam no chão lamentando angustiados. Todos estavam entristecidos com o pensamento: “Por que o Olho do Mundo se fechou tão brevemente? De hoje em diante, quem guiará todos nós, discípulos? Em quem nós, discípulos, devemos confiar? Há três destinos infelizes que estão

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sempre abertos para nós, mas o portal da emancipação se fechou totalmente para nós.” Então, Anuruddha os exortou: “Chega, meus irmãos, não se entristeçam ou lamentem. O Honrado pelo Mundo não nos ensinou há alguns momentos que todas as coisas são igualmente impermanentes tanto em sua natureza quanto em sua forma?”

(2) Os deuses nos céus cantaram: “Pelo voto feito muitas eras atrás, o Honrado pelo Mundo nasceu neste mundo para nosso benefício, para guiar as pessoas e deuses em direção ao nirvana. A compaixão do Buda, como a de uma mãe, ofereceu leite a todos e os nutriu. Agora ele partiu para o nirvana, deixando-os com a sensação de que perderam seu refúgio. É uma pena que o néctar do Darma não se derrame, e que as pessoas que são como boas mudas estejam prestes a decair. Que o tesouro do Darma e a luz das relíquias do Buda iluminem nosso caminho e nos ajudem a escapar da delusão.” Anuruddha se ajoelhou diante do Honrado pelo Mundo e dedicou os seguintes versos a ele:

O mais elevado dentre os budas nos ofereceu o leite do Darma E nutriu o corpo do Darma que nos é inerente. Agora ele passou para o nirvana antes que nossos corpos do Darma tenham sido completados. Por quem seremos nós, imersos em sofrimento e angústia, guiados? O Honrado pelo Mundo, tendo passado por muitos sofrimentos para nosso Benefício ao longo de inúmeros kalpas, finalmente alcançou a iluminação suprema; Breve foi sua permanência neste mundo e agora ele partiu para o nirvana para sempre. CEBB

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Enquanto nos encontramos na escuridão, os Maras tiram suas armaduras, deleitados. Que a luz da grande compaixão que emana das relíquias sagradas abrace todos nós, E que o Tesouro do Darma continue sempre a fluir e nunca deixe de existir.

Em lágrimas, Ananda dedicou este verso:

Afortunado sou eu por ter nascido no mesmo clã Sakya do Honrado pelo Mundo; Afortunado fui eu por ter acompanhado o Honrado pelo Mundo por mais de duas décadas. Agora o Honrado pelo Mundo se foi para o grande nirvana, deixando-nos para trás. Triste me sinto, tateando meu caminho na longa noite da ignorância. Ainda não me desembaracei da rede da delusão, E nem abandonei a concha da ignorância. Mesmo antes de quebrar essa concha com o bico de seu insight, O Honrado pelo Mundo agora se foi, deixando-a intocada. Eu realmente sou como um bebê recém-nascido que perdeu sua mãe e que logo morrerá. Agora eu peço perdão ao Honrado pelo Mundo por ter sido negligente E por não ter cuidado completamente dele conforme seus desejos por mais de vinte anos. Que o Honrado pelo Mundo, com sua grande compaixão,

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derrame o néctar Do Darma sobre mim e me ajude a alcançar a paz absoluta. Que eu possa, até o final de todos os mundos que virão, enxergar o Honrado pelo Mundo. Que sua grande compaixão abrace todo o mundo. Ai de mim, meu coração apertado, como eu posso expressar completamente o grande benefício que o Honrado pelo Mundo nos concedeu?

(3) Todos que estavam ali reunidos, igualmente pesarosos em sua tristeza, perguntaram a Ananda: “Ó Ananda, permita que nos aproximemos e vejamos o Honrado pelo Mundo, pois não será mais possível receber a bênção do aparecimento do Buda novamente neste mundo.” Ananda pensou: “Quando o Honrado pelo Mundo estava neste mundo, o número de mulheres que podiam se aproximar dele era limitado. Portanto, é apropriado que elas agora possam prestar seus respeitos ao Honrado pelo Mundo.” Assim, ele permitiu que não apenas muitas monjas, mas também mulheres leigas prestassem homenagem ao Honrado pelo Mundo. Elas se prostraram, em lágrimas, e ofereceram vários incensos e flores. Entre elas estava uma mulher que se aproximava dos cem anos e era pobre. Triste por não ter nada para oferecer, ela chorou aos pés do Honrado pelo Mundo, desejando: “Que em minha próxima vida, onde quer que eu renasça, eu possa sempre venerar o Buda.” E suas lágrimas caíram por acaso sobre os pés do Honrado pelo Mundo e os umedeceram. Quando as mulheres recuaram, Ananda também permitiu que outras pessoas prestassem seus respeitos. Elas fizeram suas oferendas e se afastaram pesarosas. Anuruddha e outros discípulos velaram o Honrado pelo Mundo de ambos os lados, e CEBB

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passaram o resto da noite debatendo o Darma até o amanhecer.

(4) Então Anuruddha disse a Ananda: “Vá agora, ó Ananda, até Kusinara e informe os Mallas de Kusinara que o Honrado pelo Mundo morreu.” Ananda assentiu e foi até a cidade de Kusinara, onde informou os Mallas que o Honrado pelo Mundo estava morto. Em luto, todos eles correram para o bosque sala, construíram um palanquim, colocaram seus restos nele, perfumaram-no com incenso, cobriram-no com flores, e tocaram músicas que exaltavam as virtudes do Honrado pelo Mundo. Ao final do primeiro dia, os Mallas disseram a Ananda: “Agora o Buda ingressou no nirvana. Nunca mais teremos a oportunidade de fazer uma oferenda. Portanto, por favor, permita-nos guardar em um relicário os restos do Honrado pelo Mundo por sete dias e sete noites, de forma que o maior número possível de pessoas possa honrar, para a alegria de seus corações, o Honrado pelo Mundo com suas oferendas, e para que assim sua paz esteja assegurada durante a longe noite que virá.” Ananda consultou Anuruddha sobre o pedido, Anuruddha respondeu que seu desejo deveria ser atendido. Assim, Ananda deu a resposta aos Mallas, que com grande satisfação honraram o Honrado pelo Mundo pelos sete dias seguintes com abundantes oferendas. Ao final dos sete dias, de acordo com a instrução que Ananda recebera do Honrado pelo Mundo, os jovens Malla enrolaram os restos com algodão fresco, colocaram o corpo em um caixão decorado com ouro, derramaram vários tipos de bonitas flores e o perfumaram, guardando-o em um relicário sobre o palanquim, e novamente o homenagearam com música e canções. Os Mallas disseram uns aos outros: “O limite de sete dias chegou e agora os restos devem ser queimados.” Eles limparam as ruas, aspergiram CEBB

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água sobre elas e, então, levantaram o palanquim e o carregaram para a cidade. Não apenas os discípulos, mas também o rei e o povo seguiram a procissão com bandeiras e dosséis. Os deuses exaltavam as virtudes do Honrado pelo Mundo dos céus e, em harmonia com isto, as pessoas na terra cantavam canções de luto. Havia uma filha dos Mallas chamada Roja, que sempre mantinha sua fé no caminho. Quando o palanquim sagrado parou por um momento na cidade, ela levantou uma guirlanda de flores do tamanho de uma roda de carruagem e a ofereceu diante do palanquim. Também havia uma mulher chamada Mallika. Ela segurava um belo pedaço de tecido e elevou sua voz, dizendo: “Afortunado é o povo dos Mallas, que conquistou grande mérito. Como o Honrado pelo Mundo entrou no nirvana neste local, os Mallas puderam lhe fazer oferendas.”

(5) Então, os Mallas carregaram o palanquim, saíram da cidade, silenciosamente cruzaram o rio Hirannavati e chegaram ao seu santuário, Makutabandhana, colocando

o

palanquim no salão

principal. Eles

empilharam no pátio madeira de sândalo e outras madeiras perfumadas, sobre as quais colocaram o palanquim e derramaram óleo aromático sobre ele. Muitos discípulos e seguidores leigos choravam alto, e o ministro de estado dos Mallas, cujo nome era Roja, segurava uma grande tocha e tentou colocar fogo na pira, mas não conseguiu. Três vezes ele tentou, mas falhou em todas. O povo se perguntou sobre a razão para aquilo e questionou Anuruddha, que respondeu: “Este evento espantoso deve significar que o Honrado pelo Mundo está esperando pela chegada de Maha-Kassapa, que está a caminho para prestar seu tributo final ao Honrado pelo Mundo. Devido a isto, eu suponho, o Honrado pelo Mundo está impedindo o fogo.” CEBB

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(6) Antes de o Honrado pelo Mundo morrer, Maha-Kassapa estava ensinando o Darma no país de Takhagiri; mas, ao saber da passagem do Honrado pelo Mundo, ele se apressou até lá na companhia de quinhentos irmãos. Depois de passar pela cidade de Pava, ele se aproximou de Kusinara. Por volta do meio-dia ele estava muito cansado devido ao forte calor, e descansou sob a sombra de uma árvore à beira da estrada, enquanto o grupo de irmãos também descansava com ele e se dedicava a conversas sobre o Darma. Naquele momento, por acaso um Ajivaka estava passando com uma vara em uma mão e uma flor de lótus sobre a cabeça. Kassapa lhe perguntou de onde estava vindo. O Ajivaka respondeu que vinha de Kusinara. Kassapa perguntou se ele sabia algo sobre seu mestre. O Ajivaka disse: “Eu sei que Gotama morreu sete dias atrás sob as árvores sala gêmeas no bosque sala fora da cidade de Kusinara, e que os moradores o estão homenageando com oferendas. Eu recebi esta flor naquele lugar.” Ao ouvirem isto, os discípulos caíram no chão e choraram em luto. Kassapa lhes disse: “Não se lamentem. Tudo é impermanente. Mesmo o Buda deve morrer, não há como escapar. Não há paz no mundo da delusão; apenas o nirvana é a felicidade absoluta. Vocês devem se esforçar diligentemente, libertando-se do sofrimento do mundo.” Havia um discípulo chamado Subhadda que entrou no caminho já em idade avançada e cuja mente não era muito brilhante. Certa vez, quando o Honrado pelo Mundo visitou Atuma, o povo de lá o honrou com oferendas. Subhadda

tentou

se

gabar

fazendo

uma

oferenda

especialmente

esplendorosa. Vendo sua intenção, o Honrado pelo Mundo não aceitou sua oferenda. Devido a isto, Subhada secretamente guardou uma inimizade pelo CEBB

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Honrado pelo Mundo. Nesse momento, observando os outros discípulos em luto, ele disse: “Ó irmãos, quando o Honrado pelo Mundo estava vivo ele sempre nos reprimia, dizendo: ‘Isto vocês podem fazer, isto não’, de modo que não podíamos fazer o que desejávamos. Como agora ele se foi, nós podemos fazer o que quer que desejemos. Assim é muito melhor.” Ao ouvir isto, Maha-Kassapa se entristeceu. “Apenas sete dias se passaram desde a morte do Honrado pelo Mundo e este homem fala tais palavras. A flor do Darma logo se dissipará devido a este tipo de homens, como flores fracas que são facilmente varridas pelo vento. Ao acompanhar o Honrado pelo Mundo na última ocasião, ele trocou de mantos comigo e me permitiu vestir o dele, e então disse para mim: ‘Ó Kassapa, depois que eu me for, transmita o verdadeiro Darma que eu ensinei e preserve sua pureza.’ Como ele confiou isto a mim, devo convocar uma reunião com os verdadeiros discípulos e decidir com eles o verdadeiro significado do Darma. Esta é a minha tarefa suprema.” Com isto, ele expulsou imediatamente Subhadda da ordem (mais adiante Subhadda se arrependeu de seu comportamento e foi readmitido na ordem).

(7) Então, Maha-Kassapa apressou seus companheiros, dizendo: “Arrumem seus mantos e tigelas, devemos andar rapidamente para o santuário de Makutabandhana e venerar o Honrado pelo Mundo.” Todos os discípulos seguiram suas palavras, e rapidamente, chorando, eles chegaram a Makutabandhana, o santuário de Kusinara. Ao chegar, Maha-Kassapa viu o caixão já colocado sobre a pira e mal pôde conter seu pesar; mesmo assim, ele circumambulou reverentemente a pira três vezes em homenagem ao Honrado pelo Mundo. Naquele momento, o fogo repentinamente se acendeu e queimou o caixão, deixando apenas as CEBB

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relíquias. Logo depois veio a chuva, que lavou o chão. Assim, as pessoas se entristeceram ainda mais que no momento da morte do Honrado pelo Mundo. Os Mallas reuniram as relíquias e as colocaram em uma urna de ouro, retornando para a cidade. Então colocaram a urna em um relicário recémconstruído e homenagearam as relíquias queimando incenso e oferecendo flores. Depois de tudo isto, os Mallas voltaram para suas casas.

(8) A notícia de que o Honrado pelo Mundo havia morrido se espalhou por todos os países vizinhos. Ajatasattu, o rei de Magadha, enviou um mensageiro para Kusinara, que falou em seu nome: “O Honrado pelo Mundo era meu professor. Posso receber uma parte de suas relíquias?” Os Sakyas de Kapilavattu também enviaram um mensageiro atrás de uma porção das relíquias, dizendo: “O Honrado pelo Mundo era o orgulho de nosso clã. Podemos receber uma porção de suas relíquias?” Os Bullis de Allakappa, os Koliyas de Ramagama, os brâmanes de Vethadipa, os Licchavis de Vesali e os Mallas de Pava também requisitaram porções das relíquias. Os Mallas de Kusinara responderam: “O Honrado pelo Mundo morreu em nossa cidade, e nós pretendemos honrá-lo com nossas oferendas. Não daremos nenhuma porção das relíquias do Honrado pelo Mundo.” Os mensageiros dos sete países se irritaram e disseram: “Nós fizemos nossos pedidos respeitosamente. Se recusarem nossos pedidos, então obteremos as relíquias mesmo que seja pelo uso da força.” Mas os Mallas responderam: “Se tentarem fazer isso, responderemos através da força. Não temos medo de vocês.” Naquele momento, havia um brâmane chamado Dona que era muito sábio e que possuía fé no Honrado pelo Mundo e em seu caminho. Observando a situação, ele disse aos Mallas: “Se entrarem em batalha, tanto CEBB

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vocês quando eles sairão feridos. Quando o Buda ainda estava neste mundo ele nos ensinou a estimar os outros, e vocês receberam diretamente dele o ensinamento para memorizar a doutrina e sustentar a prática. Como vocês podem lutar pelos restos do Honrado pelo Mundo e ferir outras pessoas? Se vocês realmente pretendem honrar o Buda com oferendas, devem seguir seu ensinamento e praticar a virtude da tolerância, ainda mais que vocês, assim como eles, são igualmente seguidores do mesmo Darma. Todos os seus seguidores devem fazer oferendas ao Honrado pelo Mundo com um propósito comum. Não é simplesmente uma transgressão grave estar apegado aos tesouros, não é uma transgressão ainda mais grave ter avareza em relação ao Darma? Além do mais, entre as muitas práticas de caridade, a oferenda do Darma é a mais elevada. Vocês não devem ser avarentos para compartilhar os restos, separem os restos de uma forma agradável. É apenas desta forma que suas ações estarão de acordo com o ensinamento do Honrado pelo Mundo, e assim que vocês poderão alcançar o bem-estar.” Os Mallas compreenderam este conselho, abaixaram suas armas e recuaram. Então, Dona se encontrou com os mensageiros dos outros países e perguntou: “Por qual razão vocês estão se preparando para a guerra?” Eles responderam: “Nós viemos até aqui para receber uma porção das relíquias do Honrado pelo Mundo.” Dona disse: “O povo desta cidade já está em paz com vocês. Tragam suas jarras de tesouros e eu dividirei as relíquias.” Todos ficaram satisfeitos com esta oferta.

(9) Assim, Dona dividiu as relíquias em oito porções para o povo de Kusinara e os sete outros países, e para si mesmo ele pediu a urna de ouro que havia guardado as relíquias do Honrado pelo Mundo. O povo de Pipphalivana pediu o âmbar. Os Mallas de Kusinara alegremente CEBB

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concordaram com estes pedidos. Os povos dos diferentes países retornaram aos seus reinos satisfeitos e honraram os restos construindo estupas. Assim, dez relicários foram construídos, que são: aquele de Kusinara, que guardou a primeira porção; um em Pava, que guardou a segunda porção; um em Allakappa, que guardou a terceira porção; um em Ramagama, que guardou a quarta porção; um em Vethadipa, que guardou a quinta porção; um em Kapilavatthu, que guardou a sexta porção; um em Vesali, que guardou a sétima porção; um em Magadha, que guardou a oitava porção; aquele de Dona, que guardou o vaso de ouro; e aquele em Pipphalivana, que guardou o âmbar.

8. Fatos Posteriores à Morte do Buda (1) Logo após a passagem do Honrado pelo Mundo, Ananda retornou a Rajagaha e permaneceu no Monastério do Bosque de Bambus, do qual ele tinha memórias agradáveis. Naquele tempo, o rei de Magadha, Ajatasattu, estava reconstruindo as fortalezas da cidade em preparação para a guerra com o Rei Pajjota. Certa manhã, antes de sair para esmolar, Ananda se aproximou da oficina de Gopaka Moggallana, um brâmane. Gopaka preparou um assento para Ananda e disse: “Ó Venerável Ananda, há alguém que seja igual ao Honrado pelo Mundo na manutenção constante do Darma através do qual o Honrado pelo Mundo, Gotama, tornou-se o Buda?” “Ó brâmane, não há ninguém assim. Pois o Honrado pelo Mundo foi aquele que trouxe à existência o caminho que não existia antes, que revelou o caminho que não havia sido revelado, que foi o professor do caminho, o

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conhecedor do caminho, e o mais habilidoso no caminho; enquanto que os discípulos são simplesmente aqueles que devem ser guiados no caminho e que o seguem.” Enquanto conversavam, Vassakara, o primeiro ministro de Magadha, chegou e ouviu a conversa, dirigindo-se a Ananda: “Ó Venerável Ananda, há alguém designado pelo Honrado pelo Mundo como a pessoa na qual os membros da Sanga devem se apoiar?” “Não, não há ninguém”, respondeu Ananda. “Então, há alguém em quem os membros da Sanga decidiram se apoiar após a passagem do Honrado pelo Mundo?” perguntou Vassakara. “Não, não há ninguém”, respondeu Ananda. “Ó Venerável Ananda, então, como poderão os membros da Sanga se reunir em harmonia sem terem ninguém em quem se apoiar?” “Ó brâmane, eu não disse que não há nada em que possamos nos apoiar, pois temos o Darma como apoio. Ó brâmane, o Honrado pelo Mundo era o sábio, o vidente, o arhat, e aquele que alcançou a iluminação perfeita; portanto, ele definiu o caminho para os membros da Sanga. Na reunião da uposatha todos nós que estamos em uma área nos reunimos para arrependimento e confissão, e se há quaisquer transgressões, a devida punição é aplicada de acordo com as regras.”

(2) “Então não são os membros que impõem a punição, mas sim as leis que sancionam a punição. Ó Venerável Ananda, há alguém na Sanga que todos vocês respeitem?” perguntou Vassakara. “Há alguns, ó brâmane”, respondeu Ananda, “por exemplo, nós respeitamos aqueles que são dotados com as realizações satisfatórias: que sustentam os preceitos corretamente; que ouvem extensamente e que memorizam corretamente o que foi aprendido; que possuem contentamento; que acessam e saem dos vários estados meditativos à vontade; que possuem poderes sobrenaturais; que possuem a CEBB

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faculdade divina da audição; que possuem a faculdade de conhecer as mentes dos outros; que possuem a faculdade de conhecer os destinos futuros; que possuem o olho divino; e que conhecem o estado em que todos os obscurecimentos são destruídos.” Naquele momento, o primeiro ministro Vassakara disse ao general Upananda: “Esses membros da Sanga reverenciam aqueles que realmente são dignos de reverência.” Então, ele perguntou a Ananda: “Ó Venerável Ananda, onde você está morando?” Ao ouvir que ele estava morando no Monastério do Bosque de Bambus, Vassakara disse: “Como o monastério é bem isolado das vilas e está livre dos ruídos perturbadores, ele é um local ideal para uma vida silenciosa.” “Ó brâmane”, respondeu Ananda, “é exatamente como você diz. Devido à sua proteção e a de Gopaka, ele se tornou ainda mais uma morada adequada abençoada pela tranquilidade.” Vassakara disse: “Ó Ananda, o Bosque de Bambus é realmente um lugar de tranquilidade, e todos vocês, veneráveis, desfrutam a prática da meditação. Uma vez quando visitei o Honrado pelo Mundo, Gotama, no salão do Monastério da Grande Floresta em Vesali, ele falou para mim sobre diferentes tipos de meditação. O Honrado pelo Mundo era alguém que louvava os diferentes tipos de meditação.” “Ó brâmane”, disse Ananda, “o Honrado pelo Mundo não louvava qualquer tipo de meditação; ele não louvava as modalidades que são acompanhadas por ganância, raiva, sonolência, arrependimento ou dúvida, mas apenas os quatro tipos de meditação acessadas quando se está livre do desejo e dos pensamentos maldosos.” Vassakara respondeu: “Ó Venerável Ananda, você está certo. O Honrado pelo Mundo criticou os tipos de meditação que devem ser criticados e louvou aqueles que devem ser louvados. Ó Venerável Ananda, agora devemos deixá-lo.” CEBB

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Vassakara, o primeiro ministro de Magadha, despediu-se e partiu. Então Gopaka disse a Ananda: “Ó Venerável Ananda, você ainda não respondeu a minha pergunta.” Ananda respondeu: “Ó brâmane, eu já respondi que não há ninguém comparável ao Honrado pelo Mundo, não respondi? Pois nós, seus discípulos, somos os seguidores de seu caminho e somos guiados por seu caminho.”

(3) Certa vez, quando Maha-Kaccana estava viajando pela floresta Gundavana no país de Madhura, o rei de Madhura, que era filho do rei de Avanti, ouviu falar da elevada reputação de Kaccana e foi até a floresta, conduzindo sua bela e bem decorada carruagem. Ao encontrar Kaccana, ele disse: “Ó Venerável Kaccana, as pessoas da casta brâmane clamam que sua casta é a mais elevada e que todo o resto é inferior. Eles clamam que a classe dos brâmanes é pura, pois seus ancestrais nasceram da boca do deus Brahma, e portanto, eles são seus descendentes. O que você pensa sobre essa afirmação?” “Ó grande rei, essas palavras não são nada mais do que sons; elas são apenas vibrações sem qualquer substância. Ó grande rei, o que você acha, se um kshatriya que possui ouro, prata e outros tesouros desejar empregar membros de outras classes, tais como brâmanes, vaisyas e sudras, e desejar que eles acordem cedo pela manhã e que deitem tarde da noite, e que trabalhem com todos os tipos de coisas, ele poderá fazer isto?” “Ó Venerável, é claro que sim.” Kaccana continuou: “Ó grande rei, além disso, se um brâmane possuir ouro, prata e outros tesouros, e da mesma maneira desejar fazer o mesmo empregando membros das outras três classes, ele poderá fazêlo?” O rei respondeu: “É claro que pode, e o mesmo se dá com os vaisyas e sudras.” CEBB

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“Ó grande rei, a partir disto se torna evidente que as quatro classes são iguais e que não há diferenças entre elas. Portanto, a afirmação de que a classe brâmane é superior é apenas palavras vazias. E também, suponha que um homem da classe kshatriya cometesse os atos de matar, roubar, adultério, fraudes, difamação, fala enganosa, bajulação, ou guardasse ganância, raiva, ou visões maldosas. Ó grande rei, tal homem cairia no inferno após sua morte?” “É claro, eu ouvi de vários ascetas que este é o caso, e eu mesmo acredito nisto também”, respondeu o rei. Kaccana perguntou: “Então, o que você pensa, ó grande rei, é o mesmo para um brâmane, um vaisya ou um sudra?” O rei respondeu: “Desnecessário dizer, é o mesmo para qualquer um.”

(4) “Ó grande rei”, perguntou Kaccana novamente, “da mesma forma, se qualquer pessoa das quatro classes se abstiver de matar, de roubar, de cometer adultério, do engano, da difamação, da fala enganosa, da bajulação e também se afastar da cobiça, da raiva e das visões errôneas, renascerá no mundo celestial? E também, se qualquer pessoa das quatro classes se tornar um ladrão, um salteador ou um bandido, ó grande rei, independente da classe a que pertença, certamente você punirá tal homem de acordo com a lei. Ó grande rei, da mesma forma, se uma pessoa de qualquer uma das quatro classes renunciar à vida leiga, praticar a pureza, mantiver preceitos morais, e assim se tornar um bom homem, ó grande rei, você respeitará tal homem?” O rei disse: “Ó Venerável, você está certo, eu o respeitarei, honrarei, prepararei um assento para ele e lhe farei oferendas.” Kaccana disse: “Ó grande rei, por estas razões é evidente que as quatro classes são iguais e que não há diferença alguma entre elas.” Instruído desta forma, o rei de Madhura ficou grandemente CEBB

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impressionado e disse a Kaccana: “Ó Venerável, é realmente excelente. Você explicou com beleza o Darma, revelando o que estava encoberto, mostrando o caminho para alguém que havia perdido o caminho, e trazendo luz para a escuridão para que aqueles que possuem olhos possam ver as coisas como elas são. Faço o voto de tomar refúgio no Venerável, no Darma e na Sanga, e de me tornar um seguidor leigo por toda a minha vida.” “Ó grande rei, você não deve tomar refúgio em mim, mas no Honrado pelo Mundo no qual eu mesmo tomo refúgio”, respondeu Kaccana. Então o rei perguntou: “Ó Venerável, onde está o Honrado pelo Mundo agora?” “Ó grande rei”, respondeu Kaccana, “o Honrado pelo Mundo está envolto pela nuvem do nirvana.” O rei disse: “Ó Venerável, se o Honrado pelo Mundo estivesse vivo eu o visitaria independente da distância para poder venerá-lo. Ó Venerável, eu tomarei refúgio no Honrado pelo Mundo que ingressou no nirvana, no Darma e na Sanga. Ó Venerável, que você me permita tornar-me um seguidor.”

(5) Kumara-Kassapa, acompanhado por quinhentos discípulos, chegou à cidade de Setavya em Kosala e permaneceu no bosque de árvores simsapa localizado no limite ao norte da cidade. Esta cidade era regida pelo governante Payasi, um vassalo do rei de Kosala. Payasi seguia a visão errônea de que não há vida após a morte, não há renascimento e nenhum efeito das ações positivas ou negativas. Como os cidadãos de Setavya ouviram sobre a boa reputação deste samana, renomado como um sábio erudito e um orador excelente, eles seguiram para o norte como um rebanho e se aproximaram do bosque de árvores simsapa. Naquele momento, Payasi estava descansando no andar superior de sua casa. Ao ver todos os moradores se movendo para o norte, ele CEBB

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chamou seus guardas e os questionou. Depois de seu relato, Payasi disse: “Ó guardas, eu também irei para esse bosque com os moradores, pois KumaraKassapa com certeza tentará convencer essas pessoas ignorantes que há um outro mundo, renascimento e retribuição para as ações positivas e negativas.” Assim, Payasi e o povo de Setavya visitaram Kumara-Kassapa, e depois de cumprimentá-lo, ele disse: “Ó Venerável Kassapa, eu sustento a visão de que não há outro mundo, nem renascimento, nem o fruto das ações positivas ou negativas.” “Ó governante, eu nunca ouvi falar de alguém que sustente tal visão. Então, por que, eu lhe pergunto, você afirma tal visão? Seja qual for a razão, eu lhe farei algumas perguntas, por favor, responda como achar adequado. Ó governante, o sol e a lua estão neste mundo ou em outro mundo, ou eles são pessoas ou deuses?” Payasi respondeu: “Ó Venerável, ambos pertencem a outro mundo e ambos são deuses.”

(6) “Ó governante”, perguntou Kumara-Kassapa, “então, devido a isto não posso eu dizer que existe outro mundo, que existe o renascimento e que há recompensas para as ações positivas e negativas?” Payasi respondeu: “Não, Venerável, eu não posso concordar com o que você acabou de dizer.” “Ó governante”, continuou Kumara-Kassapa, “então, qual razão você apresenta para sustentar sua visão?” Payasi respondeu: “Ó Venerável, entre meus parentes e amigos há muitos que cometeram atos de matar, roubar, transgressões sexuais, enganos, bajulação, difamação, fala enganosa, e que possuíam ganância, raiva e visões errôneas. Quando estavam prestes a morrer eu lhes perguntei em seus leitos de morte: ‘De acordo com aqueles que renunciaram à vida leiga, qualquer um que tenha cometido tais ações negativas após a morte cairá no inferno. Se você cair no inferno, por favor, me CEBB

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avise se há outro mundo, se há renascimento e se há retribuição para ações negativas e positivas. Como confio em você, acreditarei naquilo que me contar.’ Desta forma eu falei com muitas pessoas, mas nenhuma delas, apesar de terem concordado em o fazer, voltou para relatar algo ou enviou um mensageiro. E também, eu conversei com pessoas que não cometeram as dez ações negativas, pedindo para elas relatarem se renascessem no mundo celestial. Elas também, ainda não me enviaram qualquer resposta. Portanto, eu acredito que esta visão é incorreta.” “Ó governante”, disse Kumara-Kassapa, “suponha que um ladrão, ao ser apanhado e prestes a ser decapitado no pátio de execução ao sul da cidade, pergunte: ‘Por favor, esperem, pois eu tenho algo a relatar aos meus parentes. Por favor, esperem até eu voltar.’ Seu pedido será concedido?” Payasi disse: “Não, não será.” Kassapa continuou: “Ó governante, da mesma maneira, quando alguém cai no inferno não importa o quanto implore aos guardas do inferno, dizendo: ‘Esperem, por favor, eu tenho algo a reportar aos meus parentes no mundo humano, esperem até eu voltar de uma visita àquele mundo’, nunca lhe será permitido fazer isso. Em relação a alguém que renasce no mundo celestial, suponha que um homem esteja preso em um barril de excrementos asquerosos. Você retira esse homem dali, esfrega-o com uma escova de bambu, esfrega talco nele para retirar a imundície, besunta-o com óleo, e o esfrega com talco perfumado, você o faz banhar-se algumas vezes, arruma seu cabelo, veste-o com roupas elegantes, adorna-o com uma grinalda de flores, borrifa perfume sobre ele, leva-o aos andares superiores e o entretém com música. Ó governante, esse homem desejaria voltar para o barril de excremento?” Payasi respondeu: “Ó Venerável, ele não gostaria. Não há razão para ele querer voltar para um lugar odioso, impuro que exala um odor fétido.” CEBB

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(7) “Ó governante”, disse Kumara-Kassapa, “é o mesmo com alguém que renasce no reino celestial. O mundo humano é impuro, tomado por um cheiro que afasta os deuses por uma distância de mais de duzentas milhas. O mundo humano é um lugar detestável, desagradável, assim, não há razão para alguém que partiu do mundo humano e que entrou no céu desejar retornar mais uma vez ao reino humano. Ó governante, o cego não vê cores como preto ou branco ou azul ou amarelo, e nem o sol ou a lua, mas não é correto dizer que preto, branco, azul ou amarelo não existem, e nem as estrelas, a lua ou o sol. Apenas porque os olhos humanos não podem ver o mundo celestial não é correto negar a existência de tal mundo.” “Ó Venerável”, insistiu Payasi, “fiquei sabendo que mesmo alguns ascetas, com sua prática excelente dos preceitos, desejam viver e não se sentem atraídos pela morte, anseiam pelo prazer e odeiam o sofrimento. Se alguém tiver a certeza de que sua vida após a morte será afortunada e feliz, por que ele não tenta tirar a própria vida bebendo veneno ou colocando uma espada em seu corpo?” “Ó governante, suponha que um brâmane tenha duas esposas, uma delas tem um filho de treze ou quatorze anos de idade, a outra está grávida. Quando o brâmane morreu, o jovem filho foi até a outra esposa e lhe disse que tudo que se encontrava na casa pertencia a ele. A mulher insistiu que se a criança em seu corpo fosse um garoto, uma parte da riqueza pertenceria a ele, e se a criança fosse uma garota, ela estaria a serviço dele. Como a mulher foi pressionada repetidamente sobre a posse das riquezas, ela finalmente cortou e abriu seu abdômen para examinar se a criança era um garoto ou uma garota. Se você tentar descobrir sem recorrer aos métodos corretos, sofrerá infortúnios e se arruinará. Tudo requer tempo para maturação. Os ascetas CEBB

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dotados de virtudes excelentes vivem e esperam pelo momento da maturação; enquanto isso, eles se esforçam na acumulação de méritos, contribuindo para a felicidade e o benefício do mundo humano.” “Ó Venerável”, disse Payasi, “muitas vezes eu matei criminosos e tentei ver como suas almas deixam seus corpos, mas não pude ver coisa alguma. Cortando seus corpos em pedaços eu tentei ver onde suas almas residiam, mas também não encontrei nada. Esta é outra razão pela qual eu insisto em minha visão.” “Ó governante”, continuou Kumara-Kassapa, “não importa o quanto você esmague uma concha, você não encontrará a fonte de seu som, nem encontrará a fonte do fogo na pedra que dá a faísca e no aço não importa o quanto os disseque em pedaços. Entretanto, se procurar pelo som da concha da forma correta ela fará sons maravilhosos, e as ferramentas para produzir fogo terão sucesso. Ó governante, você está utilizando métodos errôneos para buscar o outro mundo e desenvolveu visões errôneas. Você deve abandonar suas visões errôneas para não atrair a longa noite do infortúnio e da aflição.” Assim, recebendo as instruções bondosas de Kumara-Kassapa, Payasi começou a entender o significado do ensinamento, mas ainda estava um pouco apegado a suas visões errôneas. Portanto, Kassapa continuou a expor as visões corretas recorrendo a numerosas metáforas, e finalmente conduziu Payasi para as visões corretas. Depois de receber sua orientação, Payasi se tornou um homem virtuoso que gostava de fazer oferendas.

(8) Naquele tempo, Vakkali estava morando no Monastério do Bosque de Bambus em Rajagaha. Um de seus amigos de seu tempo de leigo, o Kassapa nu, visitou-o e depois de cumprimentá-lo sentou-se ao lado. Ele perguntou: “Ó Vakkali, quanto tempo se passou desde que você abandonou a CEBB

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vida de leigo?” Vakkali respondeu: “Já se passaram oitenta anos.” Kassapa perguntou: “Durante esses oitenta anos, quantas vezes você teve relações com mulheres?” Vakkali disse: “Ó Kassapa, você não deve fazer tal pergunta a mim. Ó Kassapa, você faria melhor em me questionar desta forma: ‘Durante esses anos, quantas vezes você teve um pensamento luxurioso?’ Ó Kassapa, ao longo desses anos eu não me lembro de ter tido um pensamento luxurioso. E nem eu me lembro, meu amigo, de ter tido nem mesmo um pensamento de prejudicar alguém. Ó amigo, por todos esses anos, eu não me lembro de ter cultivado um pensamento de raiva. E nem eu me lembro de ter recebido roupas vestidas por leigos, de recortar roupas, de costurar com uma agulha, ou de tingir com cores, e nem ajudei qualquer colega a costurar roupas. Também não me lembro de ter sido convidado ou mesmo de ter desejado que alguém me convidasse, nem me lembro de ter me sentido alguma vez atraído por mulheres bonitas ao me sentar na casa de um chefe de família ou ao receber esmolas. Nem ensinei a mulheres mesmo um verso de quatro linhas. Nem visitei uma morada de monjas nem ensinei a elas ou a noviças. E também, ao longo desses oitenta anos eu não me lembro de ter ordenado ninguém ou de ter feito alguém um discípulo do Buda ou de ter ajudado alguém, ou de ter permitido que alguém me servisse durante as refeições ou de ter tomado um banho, ou de ter me lavado com sabão ou de ter massageado alguém. Também não me lembro de ter ficado doente durante esses anos ou de ter usado remédios, nem me lembro de ter dormido me encostando em algo ou de deitar de lado. Não me lembro de ter passado os três meses da estação chuvosa em uma vila ou vilarejo. Ó meu amigo, depois de me tornar um discípulo do Buda eu comi as esmolas até o sétimo dia com o corpo dos obscurecimentos, mas no oitavo dia eu alcancei a iluminação.” “Ó Vakkali’, disse Kassapa, “eu me lembrarei destas coisas como as CEBB

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ações espantosas de Vakkali. Ó Vakkali, serei eu capaz também de me tornar um discípulo através da doutrina e da disciplina como as suas?” Assim, o Kassapa nu logo se tornou um discípulo pela sua própria vontade e rapidamente se libertou dos obscurecimentos, atingiu a iluminação e alcançou o estado de um arhat. Mais adiante, Vakkali tirou seu manto superior, visitou cada quarto do monastério, saudando os monges com: “Ó Venerável, adiante, adiante. Hoje eu morrerei.” Então ele morreu para o mundo da delusão. Esta, também, tornou-se uma das ações espantosas de Vakkali que foi amplamente comentada pelas pessoas.

(9) Acompanhando Ananda, Bhadda permaneceu em Kukkutarama de Pataliputta.

Enquanto

praticava

meditação

e

ensinava

a

doutrina,

frequentemente ele perguntava a Ananda sobre o caminho. “Ó amigo, o que são as práticas maculadas?” perguntou Bhadda. “Ó Bhadda”, respondeu Ananda, “elas são visão incorreta, pensamento incorreto, fala incorreta, ação incorreta, modo de vida incorreto, atenção mental incorreta e esforço incorreto.” Bhadda perguntou: “Então, quais são as práticas puras?” Ananda respondeu: “Elas são o oposto das anteriores, ou seja, visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, atenção mental correta e esforço correto.” “Ó amigo”, perguntou Bhadda, “qual é o propósito dessas práticas puras?” Ananda respondeu: “É aniquilar a cobiça, a raiva e a ignorância, e desta forma alcançar o nirvana.” “Ó amigo”, perguntou Bhadda, “qual foi o propósito de o Honrado pelo Mundo definir os preceitos e fazer com que seus discípulos os seguissem?” Ananda respondeu: “Foi com o objetivo de que seus discípulos se controlassem ao se concentrarem em objetos de atenção mental, tais como CEBB

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corpo, sensações, mente e os darmas. Pela observância dos preceitos podemos restringir corretamente corpo e mente; ao ver o corpo como impuro, as sensações como sofrimento, a mente como destituída de essência, e os darmas como impermanentes, podemos aniquilar a cobiça e a raiva.” Bhadda perguntou novamente: “Ó amigo, uma vez que o Honrado pelo Mundo passou para o nirvana, de que forma podemos fazer com que o Darma permaneça neste mundo por um longo tempo e como podemos impedir que ele pereça?” “Muito bem dito, amigo.” Ananda disse: “Essa questão é realmente excelente. Se compreendermos diretamente a natureza do corpo, das sensações, da mente e dos darmas, e aniquilarmos a cobiça e a raiva, o verdadeiro Darma continuará neste mundo por um longo tempo e seu brilho crescerá. Entretanto, se nos tornarmos negligentes na prática da restrição através da concentração nos objetos da atenção plena: corpo, sensações, mente e darmas, o verdadeiro Darma declinará.”

(10) Tendo recebido a punição chamada brahmadanda, pela qual alguém que comete uma infração menor é proibido de manter qualquer conversa com os membros da Sanga, Channa se arrependeu de sua ofensa e estava profundamente aflito; com seu arrependimento, ele foi perdoado pela Sanga. Ele praticou seriamente o caminho e buscou a mente da quiescência, e perguntou a um dos discípulos mais experientes: “Ó Venerável, que você possa me ensinar para que eu possa ver o Darma.” O outro discípulo respondeu: “Ó Channa, veja que o corpo é impermanente, e igualmente a mente, e que tanto o corpo quanto a mente são igualmente desprovidos de essência.” Ao ouvir esta instrução, Channa pensou consigo: “Eu sei que o corpo e a mente não possuem essências, porém minha mente não se afasta da sede do CEBB

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amor, nem se torna livre do desejo, nem se inclina para a quiescência dos obscurecimentos ou para a iluminação. Se não há uma essência, então quem é esse ‘eu’ que vê as coisas? Ai de mim, quem será capaz de me salvar, eu que sou tão teimoso e relutante em acreditar?” Naquele momento, Channa se lembrou de Ananda, pensando: “O Venerável serviu o Honrado pelo Mundo por um longo tempo e era louvado pelo Honrado pelo Mundo. Ouvi dizer que ele se encontra no Monastério Ghosita em Kosambi, devo visitá-lo e pedir instruções.” Com seu manto e a tigela na mão, Channa imediatamente iniciou sua jornada até Kosambi, e ao chegar, confessou-se com Ananda. Ananda disse: “Ó Channa, estou realmente encantado em saber que você destruiu sua mente teimosa. Ouça cuidadosamente, pois você realmente chegou ao ponto de desejar conhecer o Darma.” Satisfeito com o pedido direto de Channa, Ananda lhe disse: “Ó Channa, isto é o que eu ouvi diretamente do Honrado pelo Mundo quando ele ensinou Kaccana. Neste mundo há duas visões extremistas, as visões da existência e da inexistência. Quando vemos algo surgindo, a visão da inexistência é refutada; quando vemos que algo perece, a visão da existência é refutada. Quando nos apegamos a qualquer uma delas, estamos deludidos. Nós possuímos a visão correta quando nos libertamos do apego às coisas e a nós mesmos; quando o sofrimento surge, nós o vemos surgindo, e quando ele passa, nós o vemos como tendo passado; não temos dúvida ou delusão, nem dependemos de outros, pois o conhecemos por nós mesmos. Ver as coisas como existentes é um extremo, e vê-las como inexistentes é outro extremo. O Buda ensinou o Darma mantendo-se afastado das duas visões extremas. Condicionados pela ignorância, surgem os processos mentais; condicionada pelos processos mentais, surge a consciência; e assim por diante, até que CEBB

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condicionadas pelo nascimento, surgem a velhice e a morte. Este é o processo completo através do qual a causa do sofrimento opera. Por outro lado, quando a ignorância é aniquilada completamente os processos mentais cessam; quando os processos mentais cessam, então a consciência cessa; e assim por diante até quando nascimento e velhice e morte são aniquilados e então a causa de todo sofrimento também cessará.” Channa viu a natureza do Darma através desse ensinamento e ficou grato pela compaixão de Ananda.

(11) Quando Narada estava morando em Kukkutarama de Pataliputta, Bhadda morreu, a amada rainha do Rei Munda. Tomado pelo pesar, o rei não se banhou, nem penteou seus cabelos, nem aceitou comida, nem conduziu os assuntos do estado e se agarrava ao corpo da rainha dia e noite. O rei convocou o ministro da fazenda Piyaka e lhe ordenou que preparasse uma banheira de ferro com uma tampa de ferro, cheia de óleo para preservar o corpo da rainha, de forma que ele pudesse ver seu corpo para sempre. Preocupado com o estado mental do rei, Piyaka pensou que não havia outra saída além de pedir a alguém com poderes espirituais mais elevados para dissipar o sofrimento do rei. Ele recordou que o renomado Narada estava naquela época morando em Kukkutarama. Ele se dirigiu ao rei, dizendo: “Ó grande rei, atualmente o famoso e Venerável Narada se encontra em Kukkutarama de Pataliputta. Ele é dotado com o supremo insight e sabedoria. Ele é um arhat experiente com habilidades excelentes para ensinar a doutrina. Se o grande rei for até ele e pedir suas instruções, ele será capaz de arrancar a flecha do pesar da mente do rei.” “Então, avise o Venerável Narada do plano de minha visita, pois não posso visitar ascetas e brâmanes que vivem em meu país sem avisá-los que estou indo”, disse o rei. “Sim, senhor, como desejar”, respondeu Piyaka, e CEBB

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imediatamente ele foi até o Venerável no local em que estava residindo e explicou a situação, pedindo para que resgatasse o rei de seu luto. Como Narada prontamente aceitou o pedido, o rei, ajudado por Piyaka, visitou o Venerável e recebeu o seguinte ensinamento.

(12) “Ó grande rei, há cinco impossibilidades em todos os mundos. Elas são: parar o envelhecimento quando alguém está sujeito à velhice, evitar a doença quando se está sujeito à doença, desejar escapar da morte apesar de se estar sujeito à morte, resistir contra a cessação apesar de se estar sujeito à cessação, e resistir à extinção apesar de se estar sujeito à extinção. Estas cinco impossibilidades não podem ser alteradas por ninguém. Ó grande rei, quando as pessoas comuns, de pouca sabedoria, deparam com os fatos inevitáveis, ou seja, que aqueles que estão sujeitos à velhice envelhecem, que aqueles que estão sujeitos à doença adoecem, que aqueles que estão sujeitos à morte morrem, que aquilo que está sujeito à cessação cessa, e que aquilo que está sujeito à extinção se extingue, elas inutilmente choram, sentem pesar e se perdem. Entretanto, os discípulos do Buda, profundos em sabedoria, pensam que esses eventos, ou seja, velhice, doença e morte não são exclusividade deles, mas se estendem a todas as pessoas enquanto os nascimentos e mortes repetidos continuarem. Se eu me abater pelo luto, for tomado pelas lágrimas e me sentir perdido, perderei meu apetite, meu corpo enfraquecerá e serei incapaz de trabalhar, isto agradará meus inimigos e entristecerá meu próprio povo. Pensando desta maneira, superarei meu pesar. As pessoas comuns, ao serem atingidas por flechas envenenadas sofrem, enquanto os discípulos do Buda, que evitam as flechas envenenadas, estão livres das preocupações e repousam em um estado de quietude.” Ao ouvir isto, o Rei Munda disse: “Ó Venerável, qual é a denominação CEBB

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deste ensinamento?” Narada respondeu: “Ó grande rei, isto se chama o Ensinamento Que Extrai a Flecha do Pesar.” O rei disse: “Ó Venerável, este é certamente um ensinamento que extrai a flecha do pesar. Com este ensinamento minhas tristezas foram extraídas completamente.” E, voltandose para Piyaka, o rei disse: “Então, cremem o corpo da rainha e erijam uma estupa em sua honra. Recomeçando hoje, eu me banharei, pentearei meus cabelos, comerei e conduzirei os negócios do estado.” Assim, o Rei Munda começou a ter uma profunda fé no Darma do Buda, tornou-se um rei santo que governou com compaixão e prosperou por um longo tempo de acordo com o Darma.

FIM DO LIVRO VIII

CEBB

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Glossário Abhidharma - O ensinamento do Buda se reflete nos Três Cestos (ver) ou três coleções de obras. Ele inclui os Sutras (ver) e o Vinaya (ver) - que podem ser denominados Darma (ver) de forma extensa e o Abhidharma apenas em linhas gerais. Assim, diversas escolas elaboraram diversos Abhidharmas. Os Abhidharmas são sistematizações do Darma e consistem na classificação, análise e explicações dos darmas (ver). Todas as coisas são vistas como pertencendo a cinco categorias maiores que englobam um total de setenta e cinco a mais de cem darmas (dependendo da escola). As cinco categorias principais são forma física, sensação, percepção, formações mentais e consciência. Os elementos físicos foram classificados de acordo com sua posição em uma hierarquia de valores éticos e religiosos.

Ação (saṃskāra) - O segundo dos doze elos (nidāna) da Originação Dependente (ver). Denota todas as atividades volitivas iniciadas pelo corpo (ações físicas), boca (fala) e mente (pensamentos). Quer esses atos sejam morais, imorais ou neutros, eles perpetuam o ciclo de renascimentos e sofrimentos.

Aceitação (parigraha) - Receber e não abandonar; aceitar e não abandonar todos os seres representando o Buda Amitābha/Amitāyus.

Ações volitivas (saṃskāra) - O segundo dos doze elos da Originação Dependente (ver). Denota todas as ações volitivas causadas pela cegueira e iniciadas pelo corpo, pela fala e pela mente. Cegueira ou ignorância e ações CEBB

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volitivas são consideradas as causas geradas na vida passada imediatamente anterior que geram o nascimento nesta vida.

Adoração do Fogo, adoração de Agni - O deus védico Agni (Fogo) era adorado por não budistas como purificador das negatividades.

Adornamento (alaṃkāra) - Glória, honra, ornamento. Uma forma de adornamento consiste em moralidade, meditação e sabedoria (os Três aprendizados, (ver)) e o controle das forças positivas e negativas. Vinte e nove formas de adornamento são descritas nos sutras sobre a Terra Pura de Amitābha/Amitāyus.

Agni - Deus hindu do fogo e da purificação.

Agregados, cinco - Ver Cinco agregados.

Ālaya-vijñāna - A consciência fundamental que subjaz às outras sete consciências: do olho, do ouvido, do nariz, da língua, do corpo (tátil), manovijñāna e manas (que se apega a ālaya-vijñāna como a consciência do ego). Sementes (potencialidades) são depositadas neste armazém (ālaya) a partir das experiências de todas as outras consciências através de um processo chamado perfumaria (como defumar ou fumigar). Essas sementes por sua vez influenciam todas as cognições subsequentes.

Amitābha/Amitāyus, Buda - O Buda da luz infinita (amitābha) ou vida infinita (amitāyus). A luz simboliza a sabedoria e a vida simboliza a compaixão. Este Buda é um Buda recompensador que cumpre o voto de CEBB

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salvar todos os seres, o que pode fazer em virtude da acumulação de méritos infinitos por um tempo infinito. Ele estabelece uma Terra Pura para acomodar os seres assim salvos. A única condição para a sua salvação é aceitar sem desconfianças o presente de seus méritos e responder ao presente recitando seu nome em gratidão por estar prestes a se tornar igual a ele na próxima vida na Terra Pura.

Anātman - Ausência ou falta de ātman (ver). Nem dentro nem fora dos fenômenos

da

existência

é

encontrada

uma

entidade

pessoal

ou

personalidade autoexistente; doutrina budista básica.

Añjali (Jap. gasshō) - Juntar as palmas das mãos, um gesto de reverência.

Anuttara-samyak-sambodhi - O despertar perfeito mais elevado. A iluminação suprema alcançada pelo Buda em meditação sob a Árvore Bodhi.

Apego (upādāna) - O nono dos doze elos da Originação Dependente (ver). O desejo intenso resulta no apego ou fixação ao objeto de desejo. Os quatro tipos de apego são: apego aos desejos sensoriais, visões falsas, ritos e cerimônias errôneos, crença delusória na existência de uma essência permanente substancial.

Argumentos sem sentido (prapañca) - Sofismas inúteis que surgem das visões errôneas causadas pelo apego emocional e intelectual.

Arhat - um epíteto para o Buda e seus discípulos iluminados. Um Arhat (“valoroso”) destruiu os obscurecimentos e não renascerá no mundo da CEBB

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delusão. No Mahayana é feita uma distinção entre a realização de um Buda e a dos outros Arhats.

Arrependimento e confissão (kṣama) - Quando um monge se conscientiza de suas transgressões, ele se confessa diante da Sanga a cada duas semanas nos dias de uposatha ou diante do Buda.

Asura - Uma classe de divindades guerreiras como os antigos Titãs gregos. Rivais dos deuses. O mundo dos asuras é um dos ‘seis, ou cinco, destinos’ (ver) (ou mundos, ou reinos).

Ātman - Essência, ego, ou alma; núcleo permanente e imutável do indivíduo. A maioria das escolas budistas rejeita sua realidade.

Ausência de essência (non-self) (pudgala-nairātmya, anātman) - A doutrina de que não há uma essência ou entidade permanente e imutável chamada ‘eu’ em qualquer fenômeno, incluindo a identidade pessoal. Este é um corolário da doutrina da impermanência. Visto que todas as coisas estão em constante fluxo não pode haver qualquer identidade. Além do mais, visto que todas as coisas são compostas por elementos físicos e mentais, pela reunião de causas e condições, quando essas condições e causas mudam, aquilo que era uma identidade momentaneamente existente se dissolve. Este é um dos ensinamentos básicos do budismo. Existem diferenças de interpretação sobre a ausência de essência entre as diversas escolas.

Ausência de identidade, não ego (anātman) - Ausência de essência (não-eu). Baseia-se CEBB

em

duas

características

dos

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fenômenos:

eles

mudam

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

constantemente, tudo que é transitório está sujeito ao sofrimento. O ātman supremo e a identidade empírica são igualmente rejeitados, mas nas escolas Hinayana geralmente se acredita que os darmas mesmo assim possuem uma natureza própria. No Mahayana e em uma ou duas escolas Hinayana esta noção foi rejeitada e todos os darmas foram considerados vazios (śūnya), ou seja, desprovidos de natureza própria.

Ausência de identidade das pessoas (pudgala-nairātmya) - A vacuidade ou ausência de uma essência permanente. Isto resulta do fato de que as pessoas são produtos da Originação Dependente (ver).

Ausência de identidade das coisas (dharma-nairātmya) - A vacuidade ou ausência de uma natureza própria ou essência das coisas (darmas). Isto resulta do fato que as coisas são produtos da Originação Dependente (ver).

Ausência de substancialidade dos darmas (dharma-nairātmya) - Apesar de algumas escolas negarem a existência absoluta de uma identidade pessoal substancial, elas ainda admitem a existência de coisas materiais (Ver Inexistência da identidade permanente e existência dos darmas). No Mahayana é negada qualquer substancialidade mesmo dos darmas, como conclusão lógica da doutrina da Originação Dependente (ver). Na medida em que todas as coisas são composições de elementos temporariamente reunidos, elas não possuem qualquer natureza própria.

Autorizando a transmissão do Darma (nikṣepa, parindanā) - Um mestre oferece o Darma a um discípulo para que seja transmitido a seus próprios discípulos. O Buda transmitiu o Darma aos seus alunos, que então o CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

preservaram e disseminaram no mundo para a emancipação de todos os seres sencientes.

Avalokiteśvara, Bodisatva - O Bodisatva da compaixão que vê os seres em agonia e estende seu poder de salvação a eles, possui a capacidade de salvar todos os seres em sofrimento à vontade e sem impedimentos. Avalokiteśvara acompanha o Buda Amitābha, assim como seu companheiro o Bodisatva Mahāsthāmaprāpta, que simboliza a sabedoria.

Avīci, Inferno de - O mais inferior e pior inferno, onde os pecadores morrem de dor e renascem constantemente no mesmo inferno até expiarem suas transgressões. Também chamado de Ininterrupto (ānantarya), pois a dor é constante.

Bhikṣu (Sct.); Bhikkhu (P) - Monge budista que recebeu os preceitos (śīla, código moral) do Vinaya (regras disciplinares da ordem, a Sangha).

Bhikṣuṇī (Sct.); Bhikkhuni (P) - Monja budista.

Bodhi - Iluminação (ver).

Bodhi, mente (bodhicitta) - O pensamento do despertar ou da iluminação. A mente que aspira alcançar a iluminação, tanto para o próprio benefício quanto para o bem-estar de todos os seres sencientes.

Bodhimaṇḍa, bodhimaṇḍala - O local onde um bodisatva alcança a iluminação e assim se torna um Buda, sob a Árvore Bodhi. Também chamado CEBB

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de Trono de Leão ou Trono de Diamante. Por extensão, um local de ensinamento, prática religiosa, veneração; um centro do mundo budista.

Bodisatva - Um ser que possui a mente Bodhi (ver). Um ser (sattva) que aspira à iluminação (bodhi). De certa forma, todos os seguidores do Buda são bodisatvas. As escolas Mahayana desenvolveram a ideia de atingir a iluminação não apenas por si mesmo, mas junto com todos os outros seres, e não apenas para si mesmo, mas para ajudar os outros. O bodisatva pratica as Seis Perfeições (ver) vida após vida. As histórias das vidas anteriores do Buda (chamadas de jātakas) mostram-no repetidamente oferecendo sua vida para o bem dos outros. O Bodisatva específico destinado a ser o próximo Buda em nosso mundo é denominado Maitreya.

Bodisatva, os cinquenta e dois estágios para a iluminação na escola T´ient´ai - Dez estágios da fé; dez estágios de repouso na verdade da Vacuidade (ver); dez estágios da prática das ações altruístas; dez estágios de transferência de méritos para todos os seres sencientes; os dez estágios do Bodisatva para a iluminação (ver), até e incluindo o estágio na Nuvem do Darma (quinquagésimo estágio), no qual o bodisatva conquista sabedoria imaculada, é capaz de ver a natureza búdica e guia outros seres até a realização; samyak-sambodhi (quinquagésimo-primeiro); e iluminação, na qual todos os obscurecimentos, morais e intelectuais, são completamente extintos (quinquagésimo-segundo).

Bodisatva, as quatro atividades - (1) Atividades baseadas na natureza essencial de um bodisatva, ou seja, atividades que são caracterizadas pela veracidade, honestidade, obediência respeitosa aos pais, professores e aos CEBB

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mais velhos, e uma variedade de outras ações virtuosas; (2) atividades originadas do voto de bodisatva de se tornar um buda; (3) atividades que contribuem para o desenvolvimento espiritual, ou seja, as Seis Perfeições (ver); e (4) uma variedade de atividades que contribuem para o progresso no caminho para a iluminação, tais como entoar os Sutras (ver Três Cestos).

Bodisatva, os dez estágios para a Iluminação - Os estágios: (1) Alegria, (2) Imaculado, (3) Luminoso, (4) Irradiando Sabedoria, (5) Vitorioso sobre as Adversidades Extremas, (6) Visão Direta (na qual a ação da Originação Dependente (ver) surge diante dos próprios olhos), (7) Transcendendo o Mundo, (8) Imobilidade (no qual todas as práticas do bodisatva foram perfeitamente realizadas e no qual todas as práticas subsequentes são realizadas naturalmente e sem esforços), (9) Boa Sabedoria (no qual o Darma é exposto a todos os seres sencientes), (10) Nuvens do Darma (no qual o néctar do Darma é derramado por todo o mundo).

Bom amigo, amigo na bondade (kalyāṇa-mitra) - Aquele que conduz outra pessoa na prática espiritual, um guru.

Brâmane (brāhman) - Um membro da mais elevada das quatro classes sociais, a casta religiosa da Índia. Seus deveres incluem estudar e ensinar os textos védicos e servir como oficiante nos rituais védicos.

Buda - Aquele que despertou ou se iluminou. Aquele que tem conhecimento da verdade absoluta. Também se refere ao Buda histórico, Sakyamuni (Gautama Siddhārtha). Um buda é um ser humano que possui onisciência, virtude perfeita, Grande Compaixão e acredita-se que ele possui trinta e duas CEBB

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características físicas distintivas, tais como um corpo dourado (às vezes luz é emanada de cada poro). Dessas formas, numerosos budas se tornaram objetos de veneração, rituais, fé e acima de tudo, meditação. Ver também Três Corpos do Buda.

Budas e bodisatvas transformados (nirmāṇakāya-buddha-bodhisattva) - O corpo verdadeiro original ou essência de um buda é a própria verdade. Para ajudar os seres, um buda se manifesta em uma forma perceptível, na forma de um ser humano ou em outras formas. O mesmo pode ser dito sobre os grandes bodisatvas. Ver também Três Corpos do Buda.

Buddhānusrti (Jap. nembutsu) - Visualização da imagem do Buda. Na tradição Terra Pura posterior é a recitação do nome do Buda.

Cakravartin (Sct.); Cakkavatti (P) - Rei Que Gira a Roda, um rei que governa toda a terra pelo poder que obtém ao girar a roda mágica que lhe foi dada pelo céu quando da sua ascensão ao trono.

Caminhada entre as meditações (caṅkramaṇa) - Caminhadas entre as sessões de meditação sentada são feitas para evitar o torpor e para a saúde do meditador.

Caminho do Meio (madhyamā-pratipad) - No primeiro sermão do Buda, o Caminho do Meio era o afastamento dos extremos do ascetismo por um lado e da indulgência sensual pelo outro, através do Caminho Óctuplo (ver). Filosoficamente o Caminho do Meio é o afastamento dos extremos da extinção por um lado e da continuidade pelo outro, ou os extremos da CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

realidade absoluta dos fenômenos ou de sua absoluta irrealidade.

Caminho do não aprendizado (aśaikṣa-patha) - O estágio mais elevado de Arhat. Alguém que não tem mais nada para aprender e que pratica corretamente sem esforço e espontaneamente.

Caminhos negativos (durgati) - Os mundos negativos para os quais os seres sencientes têm que transmigrar como resultado das ações negativas que cometeram; inferno, mundo dos fantasmas e o mundo dos animais.

Caminho Óctuplo (aṣṭāṅga-mārga) - Visão correta, pensamento correto, fala correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção mental correta, concentração correta. Este caminho é considerado o caminho mediano ou Caminho do Meio entre os extremos do hedonismo e do ascetismo.

Caminho da visão correta (darśana-mārga) - O primeiro dos estágios dos bodisatvas. Estágio no qual é descartada a visão obscurecida e são vistas as Quatro Nobres Verdades (ver). Neste estágio o praticante é denominado sábio.

Campo de méritos, campo de bênçãos (puṇya-kṣetra) - Um campo de méritos é uma pessoa reverenciada como o Buda, a Sanga ou os pais. Ser generoso com eles produz méritos para quem o faz assim como semear um campo produz colheitas.

Características do budismo, três ou quatro (dharma-uddāna) - Os selos do CEBB

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ensinamento budista que o distinguem dos outros. As visões de que: (1) todas as coisas mundanas são impermanentes (anitya), (2) todas as coisas são desprovidas de natureza própria (anātman), (3) depois que todas as contradições são superadas, o nirvana é a paz absoluta; às vezes o (4) é acrescentado: todas as experiências mundanas são sofrimento (devido a sua natureza impermanente).

Características distintivas de um grande homem (mahāpuruṣa-lakṣaṇa) Um grande homem aqui é um buda ou um Cakravartin, um monarca universal. Um buda possui trinta e duas de tais marcas, tais como a pele de cor dourada, uma espiral de pelos no ponto entre as sobrancelhas, uma mandíbula forte como a de um leão, dedos muito longos.

Causas e condições (hetu-pratyaya) - Todas as coisas surgem (fruição) em virtude da agregação das causas e condições necessárias. Ver também Originação Dependente, Seis causas diretas e quatro causas indiretas.

Causa direta (hetu) - Ver Seis causas diretas e quatro causas indiretas.

Causa tripla da pureza (tri-śuddhi-hetu) - As três disciplinas pelas quais um praticante pode manter seus estados mentais e físicos puros e livres de falhas para a prática do Darma: permanecer afastado de amigos e conhecidos maldosos; disciplinar-se para ter poucos desejos e se contentar com o que possuir de roupas, alimento e cama; buscar a liberação dos obscurecimentos.

Cerimônia confessional (pravāraṇā) - Confissão e arrependimento pedindo o perdão dos membros da Sanga (ver), por transgredir as regras da ordem. CEBB

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Acontece ao final do retiro da estação chuvosa.

Céus, mundos celestiais (deva-loka) - De acordo com a cosmologia budista, os mundos celestiais são nivelados de acordo com as qualidades dos deuses que os habitam.

Cinco agregados (pañca-skandha) - Forma (corpo físico), sensação, percepção, volição e consciência. Forma (rūpa) inclui todos os objetos materiais internos e externos. Ela engloba os quatro grandes elementos terra, ar, fogo e água e seus derivados, os órgãos dos sentidos e os objetos sensoriais, as formas (cor e formato), sons, odores, sabores e qualidades tangíveis. Sensação (vedanā) surge quando os órgãos físicos e mentais entram em contato com os objetos do mundo externo; as sensações são agradáveis, desagradáveis ou neutras. Percepção (saṃjñā), assim como a sensação, surge quando os órgãos físicos e mentais entram em contato com os objetos do mundo externo; as percepções são agradáveis, desagradáveis ou neutras. Mas a percepção julga as características do objeto, determinando sua cor, capacidade de satisfação, etc. Volição (saṃskāra), formações mentais, é o que produz os efeitos cármicos, o que os dois anteriores não fazem. Efeitos cármicos são produzidos por volições como cobiça, ódio e ignorância. Consciência (vijñāna) coordena o funcionamento de sensação, percepção e volição, percebendo e discriminando os fenômenos. Os cinco estão sempre em mutação. Eles se reúnem para formar um determinado indivíduo, mas por surgirem a partir da Originação Dependente (ver) não possuem natureza própria e não constituem uma essência. A identidade fenomênica existe apenas momentaneamente, carece de permanência e, portanto, não é uma entidade permanente. CEBB

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Cinco corrupções, cinco impurezas (pañca-kaṣāya) - Cinco impurezas do mundo na última era (escura): corrupção da diminuição da vida humana, corrupção das visões errôneas prevalecentes, corrupção dos obscurecimentos, corrupção dos seres sencientes (deterioração das qualidades humanas) e corrupção da era.

Cinco darmas (pañca-dharma) - De acordo com a escola Yogācāra ou Vijñaptimātra todos os darmas são agrupados em cinco categorias: (1) forma (todos os fenômenos são produzidos por causas e condições), (2) nome (a mente deludida percebe as aparências que são apenas criações da mente como reais e dá nomes a elas como se existissem realmente), (3) mente (ao perceber as formas e nomeá-las a mente imagina que elas existem objetivamente e faz discriminações), (4) sabedoria correta (corrigindo o conhecimento que vê a verdadeira natureza dos fenômenos), e (5) verdade (tathatā, dharmatā). Os primeiros três são divisões entre sujeito e objeto, enquanto que os últimos dois são darmas não obscurecidos (anāsrava-dharma).

Cinco faculdades que possibilitam a iluminação - Fé, esforço espiritual, atenção mental, meditação e sabedoria.

Cinco meditações para eliminar os cinco enganos (pañca-smrty-upasthāna) - Meditação sobre a impureza do corpo humano para acabar com o desejo e o desejo intenso; meditação sobre a compaixão por todos os seres para acabar com a raiva; meditação sobre as relações causais para acabar com a ignorância; meditação sobre os dezoito reinos (ver) como não mais que combinações temporárias dos cinco agregados (ver) para acabar com a ideia CEBB

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de identidade; meditação da contagem das respirações para aprofundar a concentração.

Cinco naturezas - Uma classificação das pessoas de acordo com a escola Yogācāra. Os śrāvakas, aquele destinados a se tornarem arhats; aqueles destinados a se tornarem pratyekabudas; bodisatvas, destinados a se tornarem budas; aqueles cujo destino ainda não está determinado, mas que podem entrar em qualquer uma das primeiras três categorias; aqueles que não possuem o potencial para ingressar em uma das três primeiras categorias e que permanecerão para sempre não iluminados. Essas pessoas poderão, se observarem os preceitos e se esforçarem em realizar ações positivas, renascer como deuses (que não são iluminados). (A maioria das escolas Mahayana rejeita a doutrina de que certas pessoas estão destinadas a nunca alcançarem a iluminação e sustentam que todos acabarão alcançando a iluminação).

Cinco ocultamentos (pañca-varaṇa) - Cinco impedimentos que obstruem o progresso moral e mental: desejos sensuais e apegos, má vontade e raiva, preguiça e torpor, agitação e arrependimento, dúvida e hesitação.

Cinco poderes supramundanos (pañca-abhijñāna) - Ver Poder divino.

Cinco preceitos (pañca-śīla) - Tanto para os monges quanto para os budistas leigos: não matar, não roubar, não mentir, não ter conduta sexual imprópria, não beber (não ingerir substâncias tóxicas).

Cinco sinais de deterioração dos devas (ver) - Cinco sinais da morte iminente dos devas ou deuses. A coroa de flores murcha, suor nas axilas, sujeira nas CEBB

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roupas, perda do esplendor físico (ou piscar os olhos frequentemente), sentirse desconfortável no próprio assento.

Cinco transgressões principais, ou ofensas graves (pañca-avīci-karma, pañca-ānantarya) - Patricídio, matricídio, matar um Arhat, ferir um buda fazendo seu sangue escorrer, causar dissensões na Sanga. Na visão Hinayana, aquele que comete um desses atos irá para o inferno.

Cinco visões falsas (pañca-mithyā-drṣṭi) - Crença em uma essência substancial, crença de que a vida é contínua após a morte ou de que a vida não é contínua após a morte, crença na inexistência de retribuições morais, crença de que as próprias opiniões pessoais são absolutas e crença de que os preceitos não budistas são eficazes para a emancipação.

Cintāmani - Ver joia Maṇi.

Circumambulação pela direita (pradakṣiṇa) - circumambular pela direita um pessoa ou um objeto, especialmente um buda ou uma estupa (ver), como uma expressão de reverência.

Coisas condicionadas e não condicionadas (saṃskṛta, asaṃskṛta) - Uma

coisa condicionada é algo que é criado. Todos os fenômenos que são produzidos a partir de causas são condicionados. Eles estão sujeitos à reunião ou dispersão de suas causas e condições e estão, portanto, em um estado de constante mudança. Eles passam por quatro fases, nascimento, permanência, mudança e extinção. Uma coisa não CEBB

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condicionada é a antítese disto e é a única meta que vale a pena buscar: nirvana, talidade, natureza do darma, mundo do darma, etc. Compaixão (maitrī, karuṇā) - O amor de um buda ou um bodisatva que oferece alegria e paz aos seres e os resgata do sofrimento.

Concentração e insight (śamatha-vipaśyanā) - Envolve duas ações integradas. A primeira envolve recolhimento, tranquilização, concentração e a mente unifocada em um objeto de meditação. A segunda envolve análise, observação e insight sobre a natureza e características do objeto de meditação.

Condição (pratyaya) - Causa indireta. Causas diretas se reúnem a condições ou causas indiretas e produzem seus resultados correspondentes. A semente como causa direta se combina com sol, solo, água, etc, como as condições para produzir uma planta. Por extensão, todo o universo participa da produção mesmo do menor resultado. Ver também Seis causas diretas e quatro causas indiretas.

Conhecimento direto e conhecimento inferido (pratyakṣa, anumāna) Conhecimento direto é uma forma de conhecimento anterior à emergência da divisão sujeito-objeto. É anterior tanto à linguagem quanto aos conceitos. É instantâneo e momentâneo. O conhecimento inferido é o oposto, ele procede da divisão sujeito-objeto, da linguagem ou dos conceitos. Faz uso de condicionantes (sentenças se/então), comparações, analogias e classificações.

CEBB

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Consciência (vijñāna) - O terceiro dos doze elos da Originação Dependente (ver). Surge no momento em que o ser senciente aparece pela primeira vez no útero da mãe. É composta por seis diferentes consciências, resultando dos seis órgãos dos sentidos e seus respectivos objetos, ou seja, olho, ouvido, nariz, língua, corpo e mente, sendo que a consciência visual resulta da percepção da forma pelo olho, etc.

Consciência-Ādāna (ādāna-vijñāna) - Outro nome para ālaya-vijñāna (ver).

Contato (sparśa) - O sexto dos doze elos da Originação Dependente (ver). Os órgãos dos sentidos entram em contato com os objetos neste estágio.

Correntes (bandhana) - Amarra, restrição. Outro nome para Obscurecimento (ver).

Corretamente desperto (saṃyak-saṃbuddha) - Alguém que obteve a iluminação perfeita. Um dos epítetos do Buda.

Darma - Os ensinamentos do Buda como um todo; a Doutrina do Buda. Portanto, é a verdade transcendente absoluta. Às vezes traduzido como ‘lei’, não no sentido de uma regulamentação, mas no sentido de ‘lei natural’ ou ‘lei da natureza’. No sentido de que essa ‘lei’ representa o modo como as coisas realmente são, ela também é chamada de ‘verdade’.

Darmas - Os darmas são os elementos que compõem as coisas. Existem várias listas dos darmas da realidade absoluta. CEBB

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Delusão, ilusão (māyā, moha, avidyā) - Desconhecimento do verdadeiro aspecto da natureza das coisas, ser enganado pela ignorância da verdadeira natureza do mundo.

Delusões secundárias, delusões subordinadas (upakleśa) - Disfunções negativas menores da mente, tais como ciúme, avareza, arrogância, que afetam a mente de forma adversa.

Desejo intenso, sede (tṛṣṇā) - O oitavo dos doze elos da Originação Dependente (ver). Desejo intenso, comparado à sede, surgindo das impressões sensoriais ou sensações em relação às coisas prazerosas.

Deva - Um ser celestial, literalmente ‘Radiante’, invisível aos seres humanos. Eles não são exatamente ‘deuses’ no sentido absoluto, pois não são eternos e estão sujeitos, assim como todos os seres sencientes, à lei do renascimento, velhice e morte. Existem muitos níveis de seres celestiais; o universo é dividido em três esferas, ou dhātus: kāma-dhātu (esfera sensorial), rūpa-dhātu (esfera apenas da forma), e arūpa-dhātu (esfera da ausência de forma). Os devas habitam o reino mais elevado do kāma-dhātu, que vai do reino mais inferior dos diversos infernos, subindo para os fantasmas (pretas), animais, humanos, e vários níveis de deuses. Os devas alcançam renascimentos nos níveis superiores dessas três esferas de acordo com seus méritos.

Dez epítetos do Buda - Arhat, Perfeitamente Desperto, Dotado com Conhecimento e Conduta, Perfeitamente Transcendente, Conhecedor do Mundo, Mais Elevado, Líder Daqueles a Serem Treinados, Professor de CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Deuses e Homens, Buda e Honrado pelo Mundo (arhat, samyaksaṃbuddha, vidyācaraṇasaṃpanna,

sugata,

lokavid,

anuttara,

puruṣadamya-sārathi,

śāstrdevamanuṣyānām, buddha, bhagavān).

Dez estágios - Ver Bodisatva, dez estágios para o estado búdico.

Dez Perfeições - Ver Seis Perfeições.

Dez preceitos com proibições graves - (1) Não matar, (2) não roubar, (3) não cometer adultério, (4) não mentir, (5) não ingerir substâncias tóxicas, (6) não falar sobre as transgressões dos outros, (7) não elogiar a si mesmo e difamar os outros, (8) não ser avarento, (9) não se enraivecer, (10) não difamar os Três Tesouros.

Dez preceitos virtuosos (daśa-kuśala-karma-patha) - Não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir, não difamar, não usar palavras agressivas, não falar frivolamente, não cobiçar, não guardar pensamentos maldosos, manter visões corretas.

Dezoito esferas - Olho, formas e consciência visual; ouvido, sons e consciência auditiva; nariz, cheiros e consciência olfativa; língua, sabores e consciência gustativa; corpo, sensações táteis e consciência tátil; mente, darmas e consciência mental.

Dhāraṇī

-

Encantamento,

magia, fórmula

mística

ou

mágica

que

supostamente tem efeitos benéficos para os seres sencientes. Elas corporificam a essência do budismo e possuem poder para ajudar o CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

praticante na sua caminhada. A recitação de um dhāraṇī é uma forma de se concentrar na prática da meditação e de impedir a influência da maldade.

Dharmakāya - Ver Três Corpos do Buda.

Dhūtaguṇa, dhūtāṅga - Um conjunto de doze práticas para se libertar dos obscurecimentos e dos desejos por comida, roupas e proteção. Eles são: (1) vestir mantos feitos de trapos descartados, (2) possuir apenas três mantos, (3) comer apenas nos momentos prescritos, (4) sobreviver de esmolas coletadas porta a porta, (5) comer apenas uma vez por dia, (6) comer uma quantidade adequada de comida, (7) morar em um lugar silencioso, (8) meditar em um monastério, (9) meditar sob uma árvore, (10) meditar em um lugar sem teto, (11) meditar no momento correto, e (12) manter a posição de lótus ao descansar ou dormir.

Dhyāna (Sct.), Jhāna (P) - Meditar firmemente em um determinado objeto. Denota tanto um sistema de treinamento mental quando um processo de progressão dos mais inferiores aos mais elevados estados de consciência, do reino do desejo sensorial para um estado supramundano.

Disciplina (caryā) - Conduta, observar e fazer, corrigir os hábitos, cultivar a prática correta, ser religioso e devoto.

Discriminação (vikalpa, vibhāga, parikalpana) - Uma faculdade da mente; sua função básica é julgar, interpretar, diferenciar, dividir, dualizar. Ela assume três formas: (1) discriminação direta ou natural, na qual as cinco primeiras CEBB

das

seis

consciências

percebem 1438 / 1534

seus

objetos

sensoriais

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

correspondentes; (2) discriminação avaliadora, na qual a sexta consciência discrimina e avalia os objetos dos sentidos; (3) discriminação retrospectiva, na qual eventos e experiências passados são recordados de modo a auxiliar a discriminação avaliadora. Afirma-se que a vikalpa da pessoa comum surge da ignorância cega e não está de acordo com a forma como as coisas são; portanto, ela é inferior ao insight intuitivo correto e transcendental, prajñā.

Dois corpos do Buda - Ver Três Corpos do Buda.

Doze campos sensoriais (dvādaśāyatana) - Os seis órgãos dos sentidos e seus objetos correspondentes: olho, ouvido, nariz, língua, corpo, mente, forma, som, cheiros, sabores, objetos tangíveis e darmas.

Doze categorias de escrituras budistas (dvādaśāṅga-buddhavacana) - (1) Sutras (sūtra), são os discursos do Buda, ou suas porções em prosa; (2) versos que recontam o conteúdo dos discursos em prosa em um estilo literário diferente; (3) profecias relativas à futura iluminação dos discípulos do Buda; (4) gāthā ou hinos que também registram os discursos do Buda em versos; (5) coleção de pronunciamentos iniciados pelo Buda e não em resposta a questões dos discípulos; (6) registros do contexto histórico para os Sutras e o Vinaya; (7) alegorias e parábolas; (8) relatos das vidas passadas de budas e discípulos não contidos nos Jātakas; (9) Jātakas, que contam as vidas passadas do Buda e suas práticas espirituais; (10) sutras que tratam de temas amplos e extensos; (11) registros dos poderes e virtudes maravilhosos do Buda; (12) exposições da doutrina.

Emancipação, liberação (vimukti, vimokṣa) - Liberação do ciclo samsárico de CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

nascimento, miséria e morte. Liberação da prisão cármica e realização do nirvana. A prisão é primariamente interna e mental. Existem três tipos de liberação: (1) emancipação do vazio, que é alcançada pelo conhecimento da Vacuidade (ver), (2) emancipação da sabedoria, que é alcançada pelo insight, (3) emancipação mental, que é alcançada quando a mente é libertada da prisão dos obscurecimentos.

Equanimidade, desapego, indiferença (upekṣā) - Uma das quatro mentes ilimitadas (ver). Ser indiferente a prazer ou desprazer, não discriminando entre gostar e não gostar.

Escravidão (bandhana) - Apego, correntes ou obstáculos no caminho para a emancipação. Ver também Obscurecimentos.

Espiral branca (ūrṇā-bhrū) - Ver Espiral de pelos brancos.

Espiral de pelos brancos (ūrṇā-bhrū) - Uma espiral de pelos brancos no centro da fronte. Uma das trinta e duas marcas distintivas de um buda.

Estado de não retrocesso (avaivartikā, avinivartanīya) - O estágio a partir do qual um praticante progredindo para a iluminação não mais retrocede para um estado anterior. Aqueles que residem neste estado estão absolutamente seguros de que a sabedoria que acumularam sempre permanecerá com eles. No sistema de cinquenta e dois estágios da realização do bodisatva, este estágio é idêntico ao décimo sétimo; no sistema dos bhūmis dos bodisatvas, ele é o sétimo.

CEBB

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Estágio do amor pelo filho único - Ver Estágio do filho único.

Estágio do filho único - O estágio de um bodisatva ou um buda no qual ele ama todos os seres como se cada um deles fosse seu único filho.

Estupa (stūpa) - Um monte ritual para as relíquias do Buda. O pagode, três ou cinco torres divididas em andares, desenvolvidas a partir da estupa.

Estupidez, ignorância, necedade (moha) - Um dos obscurecimentos principais; ser ignorante dos doze elos da Originação Dependente (ver) ou das Quatro Nobres Verdades (ver). A falta de insight ou de visão correta imparcial. Este obscurecimento mental obstrui a passagem para a visão correta e o insight, e portanto, torna-se a causa básica de todo o obscurecimento.

Existência imaginada e ilusória - Ver Três naturezas.

Fé (śraddhā) - No budismo, fé é um estado mental e não apenas uma simples aceitação de uma proposição não comprovada. É uma das cinco faculdades que permitem a realização da iluminação (ver). A fé é cultivada através da meditação e de ações para superar o torpor mental; ela purifica a mente e a torna transparente, firme e quiescente. Na interpretação Jōdo Shinshū a fé é uma dádiva do Buda Amitābha/Amitāyus aos fiéis, e é apenas necessário aceitar sem dúvidas a Verdadeira Mente do Buda. Tal aceitação assegura o nascimento na Terra Pura onde será alcançado o estado búdico. A recitação do nome de Amitābha não é uma oração, mas uma expressão de gratidão que é sentida ao se tornar uno com o Buda. CEBB

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Forma - Ver Cinco agregados.

Fruto (phala) - Ações (karma) de qualidades morais positivas, negativas ou neutras levam inevitavelmente ao resultado ou fruto de experiências positivas, negativas ou neutras. A ação é como uma semente ou um broto e o resultado é como o fruto.

Gāthā - Versos encontrados nas escrituras budistas.

Generosidade (dāna) - De três tipos: oferecer coisas materiais, oferecer o Darma, oferecer liberdade do medo ou da ansiedade aos seres vivos. Na generosidade pura três fatores são esquecidos: o doador, o receptor e aquilo que é dado.

Girar a Roda do Darma (dharma-cakra-pravartana) - Uma metáfora para a atividade de ensino do Buda.

Hinayana - Visto pelo Mahayana (ver) como um sub-ramo dos ensinamentos do Buda por não seguir o ideal do bodisatva que tem por objetivo a salvação universal de todos os seres sencientes e não apenas a própria liberação. Como ‘hinayana’ significa ‘veículo inferior’, o termo preferido para esta divisão do budismo é Theravada, o nome de sua maior seita. A doutrina Theravada é menos mística e seus membros seguem os ensinamentos mais empíricos e pragmáticos do Buda histórico conforme registrado nos textos canônicos em Páli. O caminho Theravada para a iluminação foi introduzido pela primeira vez no Ceilão (Sri Lanka) durante o terceiro século A.C. e agora também é CEBB

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praticado em Burma, Tailândia, Cambodja e Laos.

Homem comum, pessoa comum (prthag-jana) - A vida comum na ignorância e na ilusão dentro do ciclo de nascimentos e mortes.

Honrado pelo Mundo (bhagavat) - Um epíteto do Buda.

Icchantika (icchāntika) - Interpretado diversamente como destruição das raízes de virtude, não corporificação da fé, ou (comumente) ganância ou desejo extremos. Descreve aqueles que supostamente nunca alcançarão a iluminação. Ver também Cinco naturezas.

Ignorância, estupidez (moha, mūḍha) - Tolice, falta de conhecimento. Delusão e suas consequências. Ignorância das Quatro Nobres Verdades, dos doze elos da Originação Dependente, ou da visão correta, devido à influência do autocentramento. A ignorância impede a realização da visão correta e da iluminação e constitui a fonte básica de todos os outros obscurecimentos.

Igualdade (sāmānya, samatā) - De forma objetiva, o mundo é destituído de todas as diferenciações, distinções e discriminações. Igualdade se refere à verdade absoluta que permeia o mundo dos fenômenos. De forma subjetiva, é o estado mental que é livre de todos os pensamentos ou sentimentos diferenciadores e discriminatórios, tais como aqueles relativos a bem e mal, gostar e não gostar. De forma absoluta, é o insight da identidade absoluta de todos os fenômenos aparentemente diferenciados, tais como sujeito e objeto, iluminação e obscurecimentos, samsara e nirvana.

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Iluminação (bodhi) - A iluminação suprema ou despertar é o que foi alcançado pelo Buda e por todos os budas. É o insight e o conhecimento da verdadeira natureza das coisas. É a emancipação da ignorância básica, ou o estado do nirvana no qual todos os obscurecimentos foram extintos.

Imaginação e discriminação falsas (abhūta-parikalpa) - Imaginação irreal. Tomar fenômenos irreais por reais e fazer discriminações e julgamentos sobre eles.

Impermanência (anityatā) - A impermanência define a verdadeira natureza de todos os seres fenomênicos, que devem sua existência à reunião temporária dos Cinco agregados (ver) e à Originação Dependente (ver). Todos os seres fenomênicos estão em um estado de constante mudança instante a instante, seguindo quatro fases a cada instante: surgimento, permanência, mutação e extinção ou separação.

Incompreensível, inconcebível (acintya) - Aquilo que não pode ser absorvido pelo pensamento conceitual; aquilo que transcende o pensamento conceitual. Nirvana, a sabedoria e poder divinos do Buda.

Inexistência da identidade permanente e existência dos darmas (pudgalanairātmya, dharma-svabhāva) - Doutrina da escola Sarvāstivāda. A assim chamada identidade surge com base na reunião de partes componentes e, assim, não possui existência permanente ou substancial. Por outro lado, os darmas existem realmente, possuindo essência e existência.

Inexistência de essência própria (niḥsvabhāvatā) - Denota a inexistência de CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

uma essência própria que seja permanente, substancial e imutável. Não significa a mera nulidade, que não é sustentável diante das experiências; é afirmada a existência provisória das coisas pela interdependência, mas elas não possuem essência própria. Sinônimo de vacuidade (ver).

Insight, discernimento - Uma visão detalhada do objeto de meditação com relação às suas características e especialmente à sua natureza, que é essencialmente impermanente, negativa e desprovida de essência. O insight tem por objetivo a extinção da ignorância e, através da meditação analítica, do objeto sensorial. Insight também denota um estado de paz, liberação e liberdade dos obscurecimentos, transcendência sobre todas as formas relativas e vacuidade (ver).

Insight da natureza das coisas como elas são (yathābhūta-darśana) - Insight da talidade (ver). Percepção de que todos os fenômenos são na realidade nada mais que agregações de elementos mentais e físicos, desprovidos de qualquer identidade substancial que possa servir como um objeto de apego.

Insight direto - É o insight sem qualquer processo gradual de samādhi (ver). É uma das formas de meditação cultivadas pela escola T´ien T´ai.

Iśvara - De acordo com a religião hindu ele é o criador e sustentador do mundo. Também é um intermediário que revela o Absoluto (Brahman) para os seres na esfera dos fenômenos. O conceito filosófico do impessoal Brahman (Espírito do Mundo e Essência Cósmica) se tornou personificado como o deus Iśvara adorado pelos devotos hindus.

CEBB

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Jante - o aro de uma roda.

Jātaka - Uma classe de escrituras budistas. Os contos Jātaka relatam as encarnações anteriores do Buda Śākyamuni (ver também Buda). O tema central desses contos é a compaixão se manifestando em autossacrifício para o benefício dos outros.

Jīvaṃjīvaka, pássaro - Uma espécie de pássaro com duas cabeças.

Joia Maṇi - Uma gema lendária que supostamente possui o poder de dissipar as desgraças e de purificar a água turva. A pedra filosofal, a pérola talismã capaz de atender cada desejo, diz-se que pode ser obtida do rei dos dragões, ou da cabeça do grande peixe Makara, ou das relíquias de um buda.

Kalaviṅka - Um pássaro com bela voz encontrado supostamente nos Himalayas.

Kalpa - Um ciclo cósmico que dura um longo período de tempo. De acordo com a cosmologia hindu, o ciclo básico é de 4,32 bilhões de anos terrestres. O cosmo passa por ciclos (kalpas) após ciclos por toda a eternidade.

Karma, carma - Ação, ato. Pode ser corporal, verbal ou mental, dos quais o último é o mais importante, tendo as maiores consequências. As ações podem ser positivas, negativas ou neutras. Cada ação gera sua correspondente retribuição ou recompensa, nesta vida ou numa próxima vida. Assim, há uma lei de causação moral, pela qual ações negativas conduzem ao sofrimento e ações positivas conduzem à felicidade. As ações podem ser instantâneas ou CEBB

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ter a duração de uma vida. Sua força se estende do passado para o presente e para o futuro. Assim, ela pesa diretamente no processo de renascimento. Mas essa doutrina não é fatalista porque sempre podemos melhorar através de esforços na bondade, mesmo se estivermos sofrendo os resultados do mau karma passado. A palavra karma também é usada de forma livre no sentido de “resultado da ação”, ou seja, a retribuição ou recompensa da ação (karmavipāka, o amadurecimento da ação).

Kaṣāya - Cor vermelha desbotada dos mantos de monges budistas.

Kiṃnara - Um tipo de divindade menor.

Kleśa - Ver Obscurecimento.

Lokanātha - Um epíteto do Buda, significando Senhor do Mundo.

Mahāsattva - Um bodisatva (ver).

Mahayana (mahāyāna) - Grande Veículo, uma das duas divisões principais do budismo. Contrasta com o Pequeno Veículo, Hinayana (hīnayāna). No Mahayana é enfatizado o ideal do bodisatva que, ao contrário do Arhat, renuncia ao nirvana, mesmo podendo alcançá-lo à vontade, de forma a permanecer no samsara para guiar todos os seres até a iluminação. Ele é dotado com compaixão infinita e utiliza uma variedade de métodos, chamados meios hábeis, para ensinar e ajudar as pessoas. Em termos de doutrina, o Mahayana sustenta a doutrina da ausência de identidades não apenas para as pessoas (como o Hinayana), mas também para as coisas CEBB

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(darmas), que são vistas como não possuindo natureza própria. O Mahayana também apresenta uma pluralidade de budas em vários lugares e épocas do universo. O Buda Śākyamuni histórico (Ver também Buda) é visto como uma manifestação terrestre do Buda Amitābha/Amitāyus que habita no Paraíso Ocidental. Um buda é um ser absoluto e absolutamente transcendente, idêntico ao próprio Darma (Ver também Três Corpos do Buda). Também é colocada ênfase nas ideias de salvação através da fé, Vacuidade (ver), talidade, natureza búdica, e a identidade absoluta dos opostos, tais como samsara e nirvana. O Grande Veículo também é chamado de Veículo Único do Buda. Ver também Três Veículos.

Manas - A sétima das Oito consciências (ver) ou vijñānas. A consciência do eu surge das seis consciências combinando-se para levar um indivíduo a acreditar na existência de uma identidade separada.

Mano-vijñāna - A sexta das Oito consciências (ver) ou vijñānas. A mente que processa o que é sentido pelos outros cinco sentidos em pensamentos, sentimentos e imaginação.

Mantos feitos de panos descartados (pāṃsu-kūla) - Mantos costurados com pedaços de panos descartados. Alguns monges budistas tradicionalmente se cobrem com mantos costurados a partir de pedaços de pano recuperados de montes de lixo.

Māra - O demônio, o maligno, o destruidor. Tentou persuadir Śākyamuni (Ver também Buda) a não buscar a iluminação. Apego às identidades. Às vezes é mencionada toda uma classe de māras. CEBB

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Mārga - Caminho, método. Denota hábitos, práticas, como distintos da teoria; normas morais, razoabilidade, naturalidade. O caminho budista para a iluminação; às vezes, o próprio objetivo. A quarta das Quatro Nobres Verdades (ver).

Meditação da cessação (nirodha-samāpatti) - Meditação na qual todas as atividades mentais cessaram. As faculdades dos sentidos permanecem intactas, mas estão em um estado de quiescência. Fala, sensações e percepções não se movimentam.

Meditação do espaço ilimitado (ākāśānantyāyatana-dhyāna) - Uma forma de meditação na qual a concentração é dirigida para a infinitude do espaço, livre de todos os objetos físicos.

Meditação do nem pensamento nem não pensamento (naivasaṃjñānāsaṃjñāyatana-dhyāna) - Uma meditação imune às perturbações do mundo externo; porém, traços de obscurecimentos, tais como o desejo latente pela existência, permanecem de forma que purificações adicionais são necessárias.

Meditação do vazio (śūnyatā-samādhi) - Nesta meditação percebe-se que tanto a identidade pessoal quanto todos os fenômenos são destituídos de uma natureza própria permanente e substancial. Em conjunto com as meditações da percepção da ausência de forma essencial dos fenômenos e de que na realidade nada existe que possa ser encontrado, a meditação do vazio é parte do que é conhecido como as três meditações ou Três portas da liberação (ver). CEBB

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Meios hábeis (upāya) - O bodisatva sabe como intervir em situações através de ações cujo significado pode não ser completamente compreendido no momento para salvar e ajudar os seres até a liberação. Um exemplo clássico é o de convencer crianças a saírem de uma casa em chamas prometendo-lhes três tipos de carroças de qualidades diferentes, dizendo que elas estão fora da casa. Depois, ele dá a todas as crianças uma carroça magnífica, mas não dos três tipos inferiores, que representam os três diferentes caminhos para a iluminação. A carroça magnífica representa o Veículo Único (ver) disponível para todos os seres.

Mente (citta, manas, vijñāna) - Em textos budistas de várias tradições ‘mente’ é denominada de forma intercambiável ‘citta’ (pensamento), ‘manas’ (ego) ou ‘vijñāna’ (consciência). Entretanto, o Buda nunca considerou esses termos como sinônimos. Ele explicou a mente como sendo outra faculdade sensorial assim como a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato. Ele desejava que os alunos pensassem sobre a mente apenas como uma função da atividade mental. De outra forma, eles poderiam desenvolver uma obsessão indesejável com uma ideia de uma identidade separada (ego) existente no interior do corpo. Através da doutrina dos Cinco Agregados (ver), que estão em constante fluxo, ele explicou a inexistência de uma essência espiritual permanente. Assim, não é necessário permanecer aprisionado ao karma passado (ações), mas há liberdade para mudar e alcançar a felicidade espiritual.

Mente apenas (citta-mātra) - A visão de que a Mente (ver) é a realidade última de todas as coisas fenomênicas existentes no universo. Um tipo de CEBB

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idealismo às vezes comparado ao de Berkeley. Ver também Mente naturalmente pura.

Mente naturalmente pura (prakrti-pariśuddha-citta) - A doutrina de que a mente em seu estado prístino é originalmente pura e imaculada. Obscurecimentos adventícios encobrem a mente temporariamente e são, portanto, conhecidos como visitantes ou hóspedes. Eles não são parte da natureza essencial da mente.

Mente superior (Jap. shishin) - Um dos Três aspectos da fé (ver).

Mérito, virtude (puṇya) - Realizar ações meritórias resulta na acumulação de mérito, e então esses méritos resultam em boas coisas para o agente. Ver também Transferência de mérito.

Momento, instante (kṣaṇa) - A menor medida de tempo (diferente de acordo com a escola). Diz-se que durante este tempo ocorre um ciclo de mudanças nas coisas fenomênicas do nascimento para a existência para a dissolução e para o vazio.

Muni - Um ser inspirado, um sábio, um solitário, um meditador silencioso. O muni supremo é, é claro, Śākyamuni. Ver também Buda.

Nāga - Uma serpente, frequentemente personificada. Associados às águas, nuvens ou regiões subterrâneas.

Não nascimento (ajātika, anutpanna) - Característica da verdade dos CEBB

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darmas. Como todas as coisas são desprovidas de essência, não há nascimento, e por extensão, não há extinção. É sinônimo de vacuidade, nirvana e assim por diante.

Nascimento e morte (saṃsāra) - Ver Transmigração.

Natureza búdica, estado búdico - Diz-se que a natureza de buda existe em todos os seres sencientes, apesar de ainda não ter sido manifestada. Esta natureza é o potencial completo para o estado búdico (iluminação), alcançado quando tanto os obscurecimentos morais quanto os intelectuais são superados.

Natureza do Darma (dharmatā) - A propriedade eterna e universal ou essência que é intrínseca a todos os fenômenos em oposição aos aspectos particulares e transitórios, que são adventícios a eles. Sinônimo de talidade, Vacuidade (ver), verdadeira forma, corpo do Darma (dharma-kāya) e mundo do Darma (dharma-dhātu). Ser iluminado é despertar completamente para a natureza do Darma.

Natureza própria (svabhāva) - A natureza fundamental, essência, identidade, caráter ou princípio de algo que o torna permanente e imutável. O Darma nega a existência de natureza própria neste sentido.

Natureza relativa e dependente - Ver Três Naturezas.

Nirvana (nirvāṇa) - O estágio no qual as chamas dos obscurecimentos foram apagadas. É descrito de forma eliminatória, de forma positiva ou pelo CEBB

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silêncio. Como eliminação ele é descrito como a extinção da ignorância, do desejo, da ilusão ou do ódio. De forma positiva ele é chamado de refúgio, suporte, pureza, liberdade e assim por diante. Existe o nirvana com resquícios, isto é, com um corpo físico, e sem resquícios. Os budas e arhats alcançaram o nirvana, mas os budas não residem no nirvana, pois sua Grande Compaixão os leva a renascer no mundo para ensinar e ajudar os outros. O nirvana deles é completamente desapegado, de forma que não se apegam nem ao próprio nirvana.

Nirvana da pura natureza própria (citta-prakrti-pariśuddha-nirvāna) Nirvana como a mente pura original, idêntico à natureza búdica. É caracterizado por permanência, êxtase, essência iluminada (que é ausência de essência), e pureza.

Nirvana sem fixações (apratiṣṭhita-nirvāṇa) - É o estado dos budas. Eles nem repousam permanentemente no nirvana, nem estão presos no samsara (ver Transmigração). Devido à sabedoria e à compaixão eles trabalham livremente para salvar os seres sencientes que permanecem cegos pelas delusões e que estão sofrendo.

Nome e forma - Mente e corpo. Ver Originação Dependente.

Nome provisório, nome irreal (prajñapti) - Todos os fenômenos existem nominalmente apenas por existirem interdependentemente e serem vazios (sem qualquer identidade própria substancial).

Nove estágios - Uma classificação das pessoas segundo a escola Terra Pura CEBB

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de acordo com suas naturezas e capacidades. Seus renascimentos na Terra Pura diferem de acordo com seus méritos e sabedoria. A escola Jōdo Shin considera esta doutrina provisória e acredita que a compaixão do Buda Amitābha/Amitāyus abraça a todos igualmente.

Nyagrodha (Sct.) ou nigrodha (P), árvore - Uma figueira, Ficus benghalensis ou Ficus indica.

Obscurecimento (kleśa) - Impureza, corrupção. Funções mentais que perturbam a mente e o corpo e que causam sofrimento. Existindo em um estado oculto ou latente, os obscurecimentos existem como potencialidades e são concretizados na esfera da consciência em resposta a determinadas situações, ou seja, diante de uma agregação específica de causas e condições. Os três obscurecimentos primários são cobiça, raiva e ignorância. Às vezes, orgulho, dúvida e visões falsas são acrescentados formando um grupo de seis obscurecimentos primários. Além desses obscurecimentos primários há uma variedade de obscurecimentos menores ou derivados, tais como inveja, preguiça, negligência, engano, distração. Esses agrupamentos se expandem até 108 e finalmente até 84.000 obscurecimentos.

Obscurecimentos fundamentais (básicos) (mūla-kleśa) - Paixão (rāga), ódio (pratigha), estupidez (mūḍha), arrogância (māna), dúvida (vicikitsā) e visões falsas (drṣṭi) (de acordo com a escola Yogācāra).

Oito atenções cultivadas pelas pessoas de grande capacidade - Os bodisatvas e os budas cultivam: (1) ausência de desejos, (2) satisfação, (3) afastamento das maldades, (4) pensamento correto, (5) meditação correta, (6) CEBB

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dedicação espiritual, (7) sabedoria correta, (8) afastamento dos ganhos e da conversa sem sentido.

Oito consciências (vijñāna) - Consciência do olho, consciência do ouvido, consciência do nariz, consciência da língua, consciência corporal, manovijñāna (ver), manas (ver) e ālaya-vijñāna (ver).

Originação Dependente (pratītya-samutpāda) - Um conceito central no pensamento budista. Todos os fenômenos surgem através de um processo causativo conhecido como Originação Dependente. Por exemplo, uma carroça surge (origina-se) dependendo de uma quantidade de componentes, tais como rodas, eixos, laterais, todos se reunindo em um momento específico. Assim, todas as coisas fenomênicas surgem e manifestam suas existências temporárias em virtude da reunião de várias condições. Assim, quando as condições se alteram o próprio resultado se altera, e quando as condições se dissolvem, o próprio resultado se dissolve. Como todos os fenômenos devem sua existência à Originação Dependente, todas as coisas são desprovidas de uma natureza essencial permanente e substancial. Neste sentido, elas são vazias e desprovidas de essência. Os doze elos na cadeia da Originação Dependente (dvādaśāṅga-pratītya-samutpāda) procuram explicar as relações causais de todos os fenômenos físicos e mentais. Eles são: (1) ignorância ou desconhecimento, a cegueira inconsciente que é a raiz de todo o sofrimento e que dá origem a (2) atividade cega, ação volitiva (ver) que dá origem a (3) consciência, o momento da concepção no útero materno, que dá origem a (4) nome e forma, a mente e o corpo, que dão origem a (5) os seis órgãos sensoriais, logo antes do nascimento, que dão origem a (6) contato, que dá origem a (7) percepção, que dá origem a (8) desejo intenso, que dá CEBB

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origem a (9) apego, que dá origem a (10) vir a ser, ou processo de nascimento, que dá origem a (11) nascimento, que dá origem a (12) velhice e morte. Os dois primeiros vêm da vida anterior, os próximos oito são a vida atual, enquanto que os últimos dois pertencem à vida futura. Esse processo vem se repetindo indefinidamente, como o girar de uma roda. Este é um dos ensinamentos mais fundamentais do Buda.

Originação Interdependente - Ver Originação Dependente.

Parinirvana (parinirvāṇa) - A morte de um buda. O nirvana que ele desfruta após sua passagem, distinto do nirvana que atingiu e que desfruta durante sua vida.

Pensamento

delusório

(kalpana,

pratikalpana,

parikalpana)

-

Discriminações delusórias entre o sujeito e o objeto de concepção. Devido aos apegos da mente, não é possível perceber as verdadeiras formas das coisas, resultando na afirmação errônea do ego. Pensamento errôneo, imaginação sem base, concepção falsa, ilusão.

Perfeito no conhecimento e na conduta (vidyā-caraṇa-sampanna) - Um dos dez epítetos do Buda.

Poder divino, poder sobre-humano (abhijñā) - Poder adquirido através da profunda meditação (samādhi). Diversas listas são mencionadas, mas os mais importantes são os cinco: ver aquilo que o olho comum não vê, ouvir aquilo que o ouvido comum não ouve, perceber a mente dos outros, relembrar as vidas passadas, o poder de ir para qualquer lugar à vontade. CEBB

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Poderes sobre-humanos, poderes sobrenaturais, poderes supramundanos (abhijñā) - Obtidos por aqueles que alcançaram a iluminação ou por aqueles que alcançaram quiescência e sabedoria. Inclui o poder de ver através das obstruções, ouvir o que não é normalmente ouvido, conhecer as mentes dos outros, conhecer os destinos dos outros.

Poṣadha - Ver Uposatha.

Prática pura (brahma-caryā) - Prática espiritual do puro celibato. Observância fiel dos preceitos que foram tomados. Falando amplamente, observância do Caminho Óctuplo, que leva à extinção do desejo. De acordo com o Nirvāṇa Sūtra a remoção do sofrimento dos outros, concedendo-lhes o prazer, realizada com uma mente pura, é outra forma de prática pura.

Pratyekabuda - Alguém que alcança o estado búdico sem a orientação de um buda. O Mahayana considera esta realização inferior à perfeição por lhe faltar a compaixão universal e o altruísmo por todos os seres sencientes.

Preceito (śīla) - Norma moral budista ou sistema de disciplina cuja observância permite atingir a concentração mental e, até mesmo, a verdadeira sabedoria. Os preceitos principais seguidos por todos os budistas são cinco: não matar, não roubar, não cometer adultério, não mentir, não ingerir tóxicos. Existem outras listas mais longas de preceitos, até duzentos ou trezentos para monges e monjas.

Preceitos completos (upasaṃpadā) - As regras de conduta para monges e CEBB

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monjas. Estas regras são aceitas na ordenação. O número de regras difere de escola para escola, cerca de 250 para monges e 350 para monjas.

Punição (daṇḍai) - De acordo com a doutrina Jaina as ações físicas errôneas são as que mais merecem punição, acima das ações verbais ou mentais. No budismo, as ações mentais são consideradas as mais terríveis. As punições na Sanga incluem brahma-daṇḍa, que é não falar com o transgressor, e encorajar a autocrítica do transgressor.

Quatorze questões metafísicas (catur-daśa-avyākrta-vastu) - Assuntos sobre os quais o Buda não se pronunciou por serem irrelevantes para a realização da iluminação; questões tais como se o mundo é finito e se o Buda continuaria a existir após a morte.

Quatro atenções mentais para a conduta moral (catur-smrty-upasthāna) Atenção mental ao corpo como impuro, atenção mental a que todas as sensações resultam em sofrimento, atenção mental de que a mente é impermanente, atenção mental de que todos os fenômenos são desprovidos de natureza própria.

Quatro caminhos e quatro recompensas (catur-pramukha, catur-phala) Quatro caminhos espirituais e suas respectivas recompensas: o estágio daquele que entrou na corrente (srota-āpanna), no qual o praticante entra na corrente do cultivo de forma a atingir a iluminação, tendo exaurido os obscurecimentos intelectuais que afetam sua forma de ver as coisas e o mundo como eles são, ele atinge o estado de um sábio; o estágio de mais um retorno (sakrd-āgamin), no qual o praticante retorna apenas mais uma vez CEBB

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para o ciclo do samsara antes de atingir a iluminação (ele está no caminho de extinção dos obscurecimentos emocionais e volitivos do mundo do desejo, tais como raiva e cobiça); o estágio de não retorno (anāgamin), no qual todos os obscurecimentos do mundo do desejo foram extintos e haverá um renascimento em um reino superior, nunca retornando para este mundo; o estágio de um Arhat, no qual foram extintos completamente os obscurecimentos dos três mundos (ver).

Quatro caminhos meditativos para o poder sobre-humano - Aspiração, esforço, atenção mental e memória.

Quatro desimpedimentos (catur-pratisaṃvid) - possuídos pelos budas e alguns bodisatvas: a sabedoria de conhecer o Darma, a capacidade de compreender o significado do Darma, o conhecimento de línguas e dialetos, a habilidade de apresentar o Darma de forma lógica e inteligível.

Quatro destemores (catur-nirbhayatā) - Característicos dos budas e budistas iluminados ao exporem o Darma. A convicção de que atingiram a iluminação suprema, a convicção de que eliminaram todos os obscurecimentos, a convicção de que revelaram a natureza dos darmas que obstruem o caminho para a iluminação, e a convicção de que expuseram o caminho para a iluminação, permitindo-lhes proclamar sem hesitação o caminho que leva à extinção dos obscurecimentos.

Quatro (ou seis) grandes elementos (catur-mahābhūta, ṣaḍ-bhūta) - Terra (matéria sólida), água (umidade), fogo (calor), vento (movimento) e, às vezes, ar (espaço) e consciência. CEBB

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Quatro Grandes Reis (catur-mahārāja) - São os quatro reis que moram nas laterais do Monte Meru, um em cada uma das direções cardinais, protegendo o budismo e a Sanga dos ataques maliciosos de espíritos ou Asuras (ver). Ao leste, Dhrtarāṣṭra; ao sul, Virūḍhaka, ao oeste, Virūpākṣa; e ao norte, Vaiśravaṇa.

Quatro meditações (catur-dhyāna) - Quatro estágios meditativos que progressivamente conduzem à extinção das delusões, ao abandono do mundo do desejo e à realização da bem-aventurança no mundo das formas puras. (1) Um estado de ausência de paixões, êxtase, felicidade e pensamento discursivo. (2) Um estado de ausência de paixões, tranquilidade, foco único, êxtase, felicidade e sem pensamentos discursivos. (3) Um estado de ausência de paixões, tranquilidade, foco único, felicidade, sem pensamentos discursivos ou êxtase. (4) Um estado de ausência de paixões, tranquilidade, foco único e sem pensamentos discursivos ou êxtase ou felicidade - apenas pura equanimidade e consciência.

Quatro meditações da ausência da forma (catur-arūpa-dhyāna) - Meditação do espaço ilimitado, meditação da consciência ilimitada, meditação da vacuidade (ver), e meditação de nem pensamento nem não pensamento. Através da prática dessas meditações progressivamente é atingido o estado livre de todas as prisões físicas.

Quatro mentes incomensuráveis (catur-apramāṇa) - Benevolência, através da qual levamos o bem-estar aos seres sencientes; compaixão, através da qual removemos o sofrimento dos seres sencientes; alegria interessada, na qual CEBB

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nos regozijamos com a felicidade dos seres sencientes sem qualquer traço de inveja; e imparcialidade, através da qual levamos benefícios a todos os seres sencientes sem os apegos de gostar ou não gostar deles.

Quatro métodos para conquistar os seres sencientes (catur-saṃgraha-vastu) - Generosidade desinteressada, palavras amáveis (dirigir-se aos outros com afeição e gentileza), levar benefícios aos outros através de ações virtuosas, e identificar-se com os outros aproximando-se deles, trabalhando junto, etc.

Quatro Nobres Verdades (catur-ārya-satya) - O coração do primeiro sermão do Buda dirigido aos cinco ascetas com os quais ele havia treinado antes de seguir por si só. Em resumo, as quatro são as verdades “do sofrimento, da origem, da cessação, do caminho” (duḥkha, samudaya, nirodha, mārga). O sofrimento significa que toda a vida é suscetível ao sofrimento, que é resumido como os sofrimentos do nascimento, velhice, doença, morte, encontrar o que é desagradável, separar-se daquilo que é agradável. Todos os cinco agregados (ver) estão atados ao sofrimento. A origem significa que a origem do sofrimento é o desejo, que é de três tipos: desejo pelo que é agradável, desejo pela continuidade e desejo pela inexistência. A cessação significa que a extinção do sofrimento é possível através da extinção de suas causas, a doença do sofrimento é curável. O caminho significa o Caminho Óctuplo (ver). Em resumo, há sofrimento na vida, a causa do sofrimento é o desejo, o sofrimento pode ser superado, o caminho para o fim do sofrimento é o Caminho Óctuplo.

Quatro ofensas graves de um monge (catur-pārājika) - As quatro ofensas principais para um monge são: conduta sexual errônea, roubar, matar e CEBB

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mentir. Essas ações são motivo para expulsão da ordem.

Quatro raízes de bondade (catur-kuśala-mūla) - Aqui bondade (kuśala) se refere ao insight livre de obscurecimentos que é alcançado no darśana-mārga ou Estágio do Insight da natureza dos darmas; as quatro raízes são essenciais e fundamentais para adquirir tal insight. As quatro raízes são: o estado no qual o praticante exercita o insight das dezesseis características das Quatro Nobres Verdades; o estágio crítico no qual o praticante pode progredir ou retroceder; o estado no qual o praticante reconhece e está à vontade com a verdade de que os darmas nem surgem nem perecem; e o estado no qual o praticante alcança o mais elevado conhecimento possível no domínio dos fenômenos e após o qual ele entrará no estado do darśana-mārga.

Quatro tipos de nascimento (catur-yoni) - Os seres sencientes são classificados de acordo com o tipo de nascimento como vivíparos (nascidos de um útero), ovíparos (nascidos de um ovo), nascidos da umidade (considera-se que os vermes são nascidos da umidade) e nascimento por metamorfose (nascimentos nos céus, infernos, etc).

Quatro tipos de tropas (catur-aṅga-bala-kāya) - Os quatro tipos de tropas do exército do Rei do Giro da Roda: elefantes, cavalos, carruagens e infantaria.

Recordação, atenção mental repetida (anusmaraṇa, smrti) - Manter em mente o Buda, o Darma, a Sanga, os preceitos, a caridade, os deuses, a morte, o corpo, a respiração, a quiescência, entre outros, purificando a mente e fortalecendo as virtudes morais. CEBB

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Regras da ordem (vinaya) - O Vinaya é o corpo de regras da Ordem (Sanga) que regula a conduta de monges e monjas. Elas incluem proibições de ações errôneas, prescrições de conduta adequada nas ordenações, durante os retiros da estação das chuvas, e na conduta diária. Cerca de 250 regras para os monges e 350 para as monjas.

Reino da Paz e da Bem-Aventurança, Terra Pura (sukhāvatī-kṣhetra) - Uma terra de bem-aventurança suprema. Frequentemente se refere à Terra Pura estabelecida por Amitābha/Amitāyus a Oeste, mas há outras terras como essa criadas por outros budas e bodisatvas.

Remédio de urina de vaca - Os monges costumavam utilizá-los para as doenças. Uma das poucas posses permitidas aos monges, assim como alimento, mantos e tapete para sentar.

Retiro da estação chuvosa (vārṣikā) - O retiro mantido pela Sanga de monges e monjas durante a estação chuvosa, começando ou na metade de abril ou no meio de maio e durando três meses. Era uma prática da Sanga abrigar-se em cavernas ou em alojamentos monásticos durante esses meses de verão para se engajar nas práticas concentradas de introspecção, meditação e estudo.

Reverência (vandana) - Também chamada de Tocar as Cinco Partes do Corpo no Chão. É um ato de respeito no qual se tocam os joelhos, os cotovelos e a testa no chão aos pés de alguém homenageado, tal como o Buda.

Sabedoria (prajñā) - Insight. Conhecimento que é livre de todas as CEBB

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diferenciações; aquilo que ilumina as verdadeiras formas das coisas fenomênicas, destrói as delusões e obscurecimentos e realiza a iluminação. A sabedoria se manifesta de duas formas. Primeiro, ela serve como força que conduz à iluminação. Segundo, ela se manifesta no mundo fenomênico da relatividade, diferenciação e separação entre sujeito e objeto. Em outras palavras, a sabedoria abrange tanto o conhecimento transcendental quanto o mundano.

Sabedoria diferenciada (savikalpa-jñāna) - Sabedoria, conhecimento ou cognição que se baseia na separação entre sujeito e objeto. Esta forma de conhecimento não é direta e imediata, visto que o objeto assim conhecido é influenciado pelas interpretações por parte do sujeito. Esta forma de conhecimento

pode

ser

expressada

em

linguagem

e

apreendida

conceitualmente; é analítica, empírica e relativa.

Sabedoria

livre

de

diferenciações

(nirvikalpa-jñāna)

-

Sabedoria,

conhecimento, insight e intuição que são absolutos e livres da divisão entre sujeito e objeto. Esta forma de sabedoria é direta e imaculada pela diferenciação que surge da consciência, julgamento, raciocínio ou memória. Ela transcende a linguagem, o pensamento conceitual e todas as interpretações. É idêntica ao insight da Vacuidade (ver).

Samādhi, concentração - Foco único mental sobre um objeto escolhido. O samādhi também é o método para gerar tranquilidade e equilíbrio mental inabalável ou equanimidade. É um dos passos do Caminho Óctuplo (ver) e um dos Três aprendizados (ver). Entretanto, não é o objetivo, mas sim um estado preparatório para o objetivo final do verdadeiro insight e da CEBB

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compaixão.

Samana (P), Śramaṇa (Sct.) - Um asceta nômade, frequentemente budista.

Samantabhadra - Um bodisatva que às vezes acompanha o Buda de um lado, enquanto Mañjuśri o acompanha pelo outro lado. Mañjuśri simboliza a suprema sabedoria do Buda, enquanto Samantabhadra (Bondade Universal) simboliza o Darma, a meditação e a prática do Buda.

Samsara - Ver Transmigração.

Saṃyak-saṃbuddha - Ver Corretamente desperto.

Sanga (saṃgha) - A ordem budista de monges e monjas; em um sentido mais amplo todos os budistas, monásticos e leigos. Um grupo de praticantes do Darma em harmonia. Um dos Três Tesouros (ver).

Saudação com o corpo (saudação dos cinco pontos, pañca-maṇḍalanamaska) - prostração (por exemplo, diante do Buda) na qual a cabeça, os joelhos e os cotovelos tocam o chão.

Seis causas diretas e quatro causas indiretas (hetu, pratyaya) - As causas diretas são: (1) a causa efetiva geral que apoia e não impede o surgimento dos darmas, (2) causas mútuas ou coexistentes como os quatro elementos, (3) causas mutuamente apoiadoras ou correlacionadas como sujeito e objeto, (4) causas homogêneas cujo resultado é do mesmo tipo, como por exemplo gentileza e gratidão, (5) a causa universal, que é similar à homogênea, exceto CEBB

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pelo fato de se referir apenas aos obscurecimentos, (6) a causa heterogênea que produz um efeito de tipo diferente, como por exemplo comer demais gerando doenças. As quatro causas indiretas, ou condições, são: (1) a condição dominante, que produz a fruição da causa principal, (2) a condição para a continuidade, que é o momento precedente que não corta a continuidade de causa e efeito, (3) a causa objetiva, como uma forma que é objeto do olho, e (4) todas as outras condições que dão origem aos efeitos.

Seis objetos de cognição - Formas (cor e forma), sons, cheiros, sabores, objetos tangíveis e darmas.

Seis ou cinco destinos (gati) - Infernos, mundo dos fantasmas famintos, mundo dos animais, mundos dos humanos, mundo dos asuras (ver) ou titãs, e céus, o mundo dos deuses. Às vezes os últimos dois são considerados um só, portanto, cinco destinos.

Seis Perfeições, Dez Perfeições (pāramitās) - As práticas dos bodisatvas. Elas são: (1) generosidade desinteressada, (2) observância dos preceitos, (3) paciência ou tolerância, (4) esforço ou energia, (5) concentração ou meditação, e (6) insight ou sabedoria. As dez incluem as seis e acrescentam: (7) meios hábeis, (8) votos, (9) poder e (10) cognição transcendente.

Seis professores não budistas e seus ensinamentos - Viveram na mesma época que o Buda. (1) Pūraṇa Kāśyapa, ou Purana Kassapa (P), sustentava uma forma de niilismo com relação à ética, na medida em que negava qualquer ideia de uma relação causal entre ações positivas e negativas e seus efeitos (recompensas ou retribuições). (2) Maskarin Gośāla, ou Makkhali CEBB

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Gosāla (P), pode ser considerado um fatalista, visto que acreditava que as pessoas não tinham controle sobre sua felicidade ou sofrimento; o destino e o ambiente seriam as causas deles. (3) Sañjaya era um agnóstico ou cético que negava que as causas do sofrimento pudessem ser descobertas nesta vida. (4) Ajita Keśakambala era um materialista e hedonista. (5) Kātyāyana, ou Pakudha Kaccāyana (P) sustentava que não havia razão lógica para o sofrimento humano e que o universo era composto por vento, vazio, prazer, dor e alma. (6) Nirgrantha Jñātiputra, ou Nighanta Natputta (P), fundador do Jainismo, enfatizava o ascetismo extremo. Sua visão de mundo era pluralista e relativista. Como o Buda, ele ensinou ahiṃsa, a doutrina de não prejudicar as pessoas e os animais. As cinco primeiras dessas doutrinas são vistas como favorecedoras do conforto em demasia, a sexta erra pelo ascetismo excessivo.

Sensação, percepção (vedanā) - O sétimo dos doze elos da Originação Dependente (ver). Surge do contato com o mundo externo.

Sete ramos para o despertar (sapta-bodhy-aṅga) - Sete passos que conduzem à realização da sabedoria: (1) atenção mental plena, (2) consciência da verdade e da falsidade, (3) esforço no Darma Correto, (4) alegria por possuir o Darma Correto, (5) paz e calma alcançadas por descartar os obstáculos, (6) concentração mental, e (7) uma mente imparcial e indiferente.

Sīla - Ver Preceitos.

Silenciando a mente e enxergando claramente (śamatha, vipaśyanā) - Duas práticas integradas. A primeira envolve recolhimento, tranquilização, concentração e a mente unifocada sobre o objeto de meditação. A segunda CEBB

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envolve a análise com atenção plena, observação e o insight da natureza e características do objeto de meditação.

Skandhas, cinco - Ver Cinco agregados.

Śravaka - Aquele que ouve os ensinamentos do Buda. Um seguidor que se distingue dos pratyekabudas (ver) e dos bodisatvas (ver).

Śūnyatā - Ver Vacuidade.

Sutras - Discursos do Buda sobre a doutrina.

Svabhāva - Ver Natureza própria.

Talidade (tathatā) - A verdadeira realidade das coisas. A base absoluta de todos os fenômenos. Sinônimo de Vacuidade (ver).

Tathāgata - Um ser iluminado que ‘se foi (gata) para a talidade (tathā)’ ou que ‘veio (āgata) da talidade (tathā)’ ou que ‘assim (tathā) veio (āgata)’. Um dos epítetos de um buda.

Tathāgata, semente do, embrião do (tathāgata-garbha) - Todos os seres possuem a semente do Tathāgata, que é a consciência depósito (ālaya-vijñāna) que armazena todas as sementes que influenciam e modelam nossas experiências posteriores; também é o receptáculo da semente potencial do estado búdico. Cada ser é um embrião do Tathāgata devido à possibilidade latente para o estado búdico. Quando os obscurecimentos que recobrem e CEBB

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ocultam a verdadeira natureza do embrião do Tathāgata são removidos através do poder da sabedoria, então o Tathāgata pode se manifestar por si mesmo.

Tathāgatagarbha - Ver Tathāgata, semente do.

Terra da mente - A mente é figurativamente descrita como a terra. O poder todo-criador da mente é comparado ao caráter da terra. No Zen esta é uma mente transmitida por Bodhidharma.

Terra Pura (sukhāvatī) - A Terra da Paz e da Felicidade, ou Terra da BemAventurança Suprema. É um reino livre de obscurecimentos, estabelecido pelo Buda Amitābha/Amitāyus no Oeste. Aqueles que possuem fé inabalável neste Buda renascem ali e se tornam iguais a um buda.

Tigela (pātra) - Tigela utilizada pelos monges e monjas para receber esmolas dos leigos. Um dos cinco itens, além dos três mantos, sobre os quais monges e monjas podem ter posse.

Tomar refúgio (śaraṇa) - Confiar nos Três Tesouros (ver), tornar-se um budista.

Transferência de méritos (puṇya-pariṇāmana) - Transferir os próprios méritos, acumulados através de ações positivas, para os outros de forma que eles possam colher o benefício deles. Os praticantes Mahayana geralmente praticam desta forma. As escolas Terra Pura distinguem dois tipos de transferência de méritos: aquele realizado pelo Buda Amitābha/Amitāyus CEBB

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para nosso benefício e aquele realizado mais tarde por nós mesmos na Terra Pura. Isto é, a transferência de méritos com o propósito de nascimento na Terra Pura é feita apenas pelo poder absoluto do Buda Amitābha/Amitāyus, visto que somos incapazes de fazer algum bem substancial; ao alcançarmos o nascimento na Terra Pura e nos tornarmos igual ao Buda, podemos retornar para a terra para ajudar os outros a alcançarem nascimento na Terra Pura, compartilhando nossos méritos com eles.

Transformando a delusão em iluminação - A destruição total da delusão e dos obscurecimentos é equivalente à manifestação da mente da pureza original. A extinção das delusões e dos obscurecimentos que encobrem a natureza búdica inerente leva simultaneamente à sua manifestação.

Transmigração (saṃsāra) - O ciclo de nascimento, miséria e morte que revolve como a roda de uma carroça. Esse processo transmigratório ocorre nos Três mundos (ver) e nos Seis ou cinco destinos (ver).

Três aprendizados (trī-śikṣa) - Moralidade, meditação e sabedoria (śīla, samādhi, prajñā). O primeiro é a prática dos preceitos, que prepara para o segundo, que é a prática de concentração. Esta envolve afastar todos os pensamentos delusórios e cultivar a sabedoria. Isto serve como preparação para a terceira e última prática, a prática da sabedoria, na qual todos os fenômenos são apreendidos em sua talidade.

Três aspectos da fé - Mente superior (Jap. shishin), bem-aventurança jubilosa e aspiração para o renascimento na Terra Pura. A fé de acordo com esses três aspectos é dada aos seres sencientes pelo Buda Amitābha/Amitāyus, de CEBB

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acordo com a Jōdo Shinshū (Verdadeira Seita Terra Pura).

Três Cestos (tripiṭaka) - Três coleções das escrituras budistas, os Sutras (ensinamentos do Buda), o Vinaya (regras de conduta para monges e monjas ensinadas pelo Buda), e o Abhidharma (ver).

Três Corpos (trikāya) do Buda - Um buda possui dois corpos (inicialmente), o Corpo da Forma (rūpa-kāya) que pode ser visto por todos (enquanto ele está vivo), e o Corpo do Darma (dharma-kāya) que só pode ser conhecido em meditações profundas e livres das formas pelos grandes meditadores. O Buda histórico declarou que sua natureza real era o Darma, e não sua forma física. “Aquele que vê o Darma vê o Buda.” O Corpo da Forma é (mais adiante) dividido em dois (gerando três corpos no total): o Corpo do Desfrutar (saṃbogha-kāya), percebido apenas em certos tipos de meditação, e o Corpo de Transformação (nirmāṇa-kāya), que é percebido por todos. Esses corpos são obtidos como resultado da prática virtuosa e da meditação pelos budas.

Três estados meditativos - Meditação sobre a Vacuidade (ver), na qual se percebe que tanto a identidade quanto aquilo que lhe pertence (‘eu’ e ‘meu’) são vazios; meditação sobre a ausência de formas, na qual se perceber que todas as formas são vazios e, portanto, não existem formas diferenciadas; meditação sobre a ausência de desejos, na qual se percebe que como as formas não possuem existência real, não há nada a ser desejado. Ver também Três portas para a liberação.

Três mantos (cīvara) - Três vestimentas permitidas para os monges budistas. Um manto saṃghāti: manto grande vestido para a ronda de mendicância CEBB

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diária e nas ocasiões de visitas a palácios reais; um manto uttarāsaṅga: vestimenta superior utilizada em cerimônias; um manto antarvāsa: utilizado para as atividades diárias ou para dormir.

Três marcas da existência condicionada - (1) Impermanência, (2) sofrimento, (3) ausência de essências (anitya, duḥkha, anātman). Todos os fenômenos possuem estas três características (exceto o nirvana, por não ser um fenômeno).

Três mundos (dhātu) - O mundo do desejo, o mundo da forma pura e o mundo da não forma.

Três naturezas (trisvabhāva) - Imaginária (parikalpita), dependente de outras coisas (paratantra) e absoluta (pariniṣpanna). Esta é uma classificação tripla de todos os fenômenos de acordo com a escola Yogācāra. Elas são: (1) a existência imaginária e ilusória: aquilo que parece ser um objeto existente nada mais é do que o reflexo da mente deludida que acredita que o irreal é real; (2) existência relativa ou dependente: visto que a existência é possível apenas através da agregação de certas condições, não há entidades ou realidade permanentes, visto que aquilo que parece ser objetivamente real é criação da mente, e essa própria mente não existe independentemente, mas é uma agregação temporária de causas e condições; (3) realidade completa e verdadeira: a realidade absoluta e mais elevada ou númeno é tathatā (talidade), da qual a paratantra é dependente. Isto pode ser compreendido apenas pelo insight livre de obscurecimentos.

Três períodos após a morte do Buda - O período do verdadeiro Darma, CEBB

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quando os ensinamentos, a prática e a realização existem intactos; o período do Darma falso, quando apenas os ensinamentos e a prática existem intactas, mas não a realização; o período de declínio do Darma, quando apenas os ensinamentos existem, mas não a prática ou a realização. De acordo com alguns estudiosos, o primeiro período durou quinhentos anos, o segundo durou mil anos e o terceiro durará dez mil anos.

Três portas para a liberação (vimokṣa-mukha) - A porta da liberação que é a Vacuidade (ver), a porta da liberação que é destituída de sinais, e a porta da liberação que não possui desejos (śūnyatā-vimokṣa-mukha, animitta-vimokṣamukha, apraṇihita-vimokṣa-mukha).

Três Tesouros (triratna) - Buda, Darma e Sanga.

Três Veículos (triyāna) - Veículo do Śrāvaka (ver), Veículo do Pratyekabuda (ver), Veículo do Bodisatva (ver). Três caminhos para a iluminação. Ver também Veículo Único.

Trinta e sete condições que conduzem à iluminação (sapta-triṃsad-bodhipākṣikā dharmāḥ) - Também conhecidas como trinta e sete asas para a iluminação. Elas são: quatro tipos de bodhi, quatro tipos de esforço, quatro concentrações elevadas, cinco capacidades, cinco poderes superiores, sete práticas para a sabedoria elevada, e o Nobre Caminho Óctuplo.

Trono de Diamante, Assento Bodhi (vajrāsana, bodhi-maṇḍa) - O assento no qual o Buda Sakyamuni (ver também Buda) alcançou a iluminação aos pés da Árvore Bodhi em Buddhagayā. Mais tarde o termo se tornou referência CEBB

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para qualquer assento sobre o qual um bodisatva atingiu o estado búdico. O diamante é um símbolo de indestrutibilidade e firmeza, especialmente em relação aos obscurecimentos. Ver também Buda.

Trono de Leão - Ver Bodhimaṇḍa.

Uḍumbara - Árvore que supostamente floresce apenas uma vez a cada três mil anos (Ficus racemosa Linn). Uma metáfora para a raridade do ensinamento do Buda. De fato, no tempo do Buda os discípulos se reuniam sob as árvores para o treinamento, devido à sombra proporcionada pelas largas folhas e também devido aos frutos que eliminavam a necessidade de mendigar. Os frutos similares ao figo contêm dentro as ‘flores’ que não podem ser vistas de fora; assim, acreditava-se que esta árvore não florescia a cada ano, apesar de na verdade ela o fazer como parte do fruto.

Upāya - Ver Meios hábeis.

Uposatha, upavasatha - Uma reunião da Sanga conduzida duas vezes por mês, no dia da lua nova (décimo quinto dia do calendário lunar) e no dia da lua cheia (trigésimo dia), quando os monges e as monjas leem as regras (prātimokṣa) da Ordem e então confessam quaisquer transgressões que tenham cometido. Seguidores leigos observam os oito preceitos, ouvem os sermões e oferecem comida e bebida para os monges e monjas.

Vacuidade, vazio (śūnyatā) - Não é uma mera nulidade, nem a visão a que está associada é uma forma de niilismo. É a ausência de qualquer substância como uma entidade permanente, as coisas possuem uma existência CEBB

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provisória como parte da cadeia da Originação Dependente (ver). Elas são vazias de uma natureza própria; elas não são inexistentes. Nem existência nem inexistência são absolutas. Este é o Caminho do Meio na filosofia budista.

Vazamento e ausência de vazamento (sāsrava, anāsrava) - Uma metáfora para os obscurecimentos, que são vistos como uma descarga dos cinco órgãos sensoriais e da mente, ou das seis aberturas do corpo, olho, ouvido, nariz, boca, uretra e cólon. Anāsrava é a ausência disso, pura e imaculada.

Vazio - Ver Vacuidade.

Veículo Único (ekayāna) - Caminho unificador. Anteriormente ao surgimento do ‘caminho unificador’ os autores da literatura Prajñāparamitā inicial descreveram seu sistema religioso como o Grande Veículo (Mahayana), clamando que ele era superior às tradições budistas anteriores. De acordo com os temperamentos dos indivíduos, deve-se escolher o caminho Mahayana ou o dos śrāvakas (sacerdotes) ou o dos pratyekabudas (eremitas). Esse enfoque individualista foi atacado pelos autores do Sutra do Lótus (Saddharma-puṇḍarīka) que tentaram atrair uma audiência maior afirmando que todos os caminhos do budismo estavam incorporados no Veículo Único. Esta mensagem foi especialmente bem-vinda na China e no Japão, onde o governo central preferia um princípio religioso unificado para controlar o país de forma única.

Velhice e morte (jarā-maraṇa) - O décimo segundo dos doze elos da Originação Dependente (ver). A consequência inevitável do nascimento é a CEBB

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morte. Mas isto não significa o fim da experiência, todos os doze elos são colocados em movimento novamente. Sem o benefício da iluminação, este processo continua repetidamente.

Verdade Absoluta (paramārtha-satya) - A verdade das coisas como elas realmente são, uma verdade aberta apenas ao insight do Vazio ou Vacuidade (ver) (śūnyatā), uma verdade que transcende a dualidade de todos os tipos, especialmente a dualidade entre o si mesmo e o outro; uma verdade que transcende a conceituação. Sinônimo de Nirvana (ver), natureza do Darma (ver) e Talidade (ver). Contrasta com a verdade convencional.

Vinaya - Regras de conduta para os monges e monjas.

Visão errônea (drṣṭi) - (1) A crença na existência de uma essência permanente; (2) apego a pontos de vista extremos, ou seja, de que não há nada após a morte ou de que a identidade continua após a morte; (3) negação da lei de causa e efeito; (4) apego às visões dos professores não budistas.

Voto (praṇidhāna) - Algumas pessoas fazem o voto de alcançar o nirvana; grandes bodisatvas fazem o voto de aperfeiçoar suas práticas e de salvar todos os seres sencientes; os budas também fazem votos, por exemplo, o Buda Amitābha/Amitāyus fez o voto de levar todos aqueles que têm fé nele à Terra Pura, e o Buda Bhaṣajyaguru de curar todos os doentes.

Yama-rāja - O rei do mundo dos mortos. O juiz que preside sobre aquele mundo. Ele examina a conduta dos mortos e determina punições para as ações negativas. CEBB

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Yojana - Uma unidade de distância, a distância coberta por uma carroça de bois em um dia, aproximadamente 9 milhas. Uma légua.

CEBB

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Budadarma

Fontes Escriturais Páli, Sânscrito, Chinês

Budadarma é uma tradução do texto japonês Shinyaku Bukkyo Seiten, que consiste em versões simplificadas ou resumidas (não são traduções exatas) de escrituras budistas selecionadas do Taishō Shinshū Daizōkyō, a edição em língua chinesa do Tripitaka. Portanto, o leitor não encontrará em todos os casos uma correspondência palavra a palavra entre o texto deste livro e as fontes aqui citadas. De toda forma, esta lista pode ser útil para alguns leitores que desejarem informações adicionais ou os textos exatos das escrituras. Jātakas, Nikāyas, Vinaya, Dhammapada e seu comentário, Theragāthā, Therīgāthā, Itivuttaka e obras de Burma se originam do Páli, a não ser que haja notas contrárias. As obras em Sânscrito ou Chinês são identificadas por sua ortografia.

Abreviaturas A. L. Cap. Chn. Com. D. Dhp. Itiv. CEBB

Aṅguttara-nikāya (P) Livro Capítulo Versão em Chinês Comentário ou Aṭṭhakathā Dīgha-nikāya (P) Dhammapada (P) Itivuttaka (P)

s. Sc. Sct. Ssc. Snip. Thera G. Theri G. v.

sutta (P), sūtra (Sct.) ou discurso do Buda Seção Versão em Sânscrito Sub-seção Suttanipāta (P) Thera-gāthā (P) Therī-gāthā (P) Versão

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M. P. p. S. Sāratha

Majjhima-nikāya (P) Versão em Páli Parivarta ou capítulo (Sct.) Saṃyutta-nikāya (P) Sārathappakāsiṇi (P)

Vin. CV. Vin. MV. v.v.

Vinaya-piṭakam Cūḷa-vagga (P) Vinaya-piṭakam Mahā-vagga (P) Versos

Gatha introdutório... Ta fang kuang hua yen ching (Chn.) (Mahāvaipulyā-avataṃsaka-sūtra) L. I

Cap. I

Sc. 1 2 3 4

5 6 I

II

1

2

Ssc. 1

1 2 3 4 1-2 3-4 1-3 4 5 6 7 1 2 3

I

III

3 1 2 3

4 5 6 I

IV

1 2 3 4 5 6

CEBB

1-2 3 4 1-4 5 1-6 7 1-2 3-4 1 2-4 1 2 1-3 4-5

Fonte Jātaka-nidāna (P) Fang-kuang-ta-chuang-yen-ching, v. Chn. de Lalita-vistara (Sct.) “ “ M. 26 Ariyapariyesana-s. (P) A. III. 38 Sukhumāla (P) Fang-kuang-ta-chuang-yen-ching, v. Chn. de Lalita-vistara (Sct.) “ M. 85 Bodhirāja-kumāra-s. (P) M. 12 Mahāsīhanāda-s. (P) Fang-kuang-ta-chuang-yen-ching, v. Chn. de Lalita-vistara (Sct.) Snip. III, 2 Padhāna-s. (P) Jātaka-nidāna (P) Vin. MV. I, 1 (P) Hua-yen-ching, Shih-ti-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Daśabhūmika-p. (Sct.) Hua-yen-ching, Shih-chien-ching-yen-p´in; Hsien-shou-p´in (Chn) Hua-hen-ching, Lu-shê-na-fo-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Vairocanabuddha-p. (Sct.) Hua-yen-ching, Ju-lai-ming-hao-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Tathāgata-nāmadheya-p. (Sct.) Vin. MV. I, 2-5 (P) Vin. MV. I, 6 (P) Vin. MV. I, 7-14 (P) Vin. MV. I, 15-21 (P) M. 26 Ariya-paraiyesana-s. (P) A. III, 101-102 Pubbe (P) Vin. MV. I, 22 (P) Vin. MV. I, 23-4 (P) M. 74 Dīghanakha-suttānta (P) Itiv. 82,83,92,100,109 (P) A. III, 134 Uppāda (P) Fo-pên-hsing-chi-ching, v. Chn. de Abhiniṣkramaṇa-s. (Sct.) Wu-fên-lü, v. Chn. de Mahīśāsaka-vinaya (Sct.) S. I, 1, 3-4; 7-9; 1.2.2,9 (P) Jātaka-nidāna (P) Jātaka, 547 (P) Jātaka-nidāna (P) Jātaka, 485 (P) Jātaka-nidāna (P) Vin. CV. VII, 1 (P) Vin. CV. VI, 4-5 (P)

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L. II

Cap. I

Sc. 1

2

3

II

II

4

2 1-3 4

1

5 1 2

2 3 4 5

6 7

II

III

Ssc. 1-2 3-5 6 7 1 2 3 4 1

1 2 3 4 1 2-3 1-2 2-3 4

1 2

1-3

2

4

3 4 5

1 2-5 6

II

IV

1 2 3 4 5

6

CEBB

1 2 1 2

1-5 6 7 1-3

Fonte M. 3 Dhammadāyāda-s. (P) M. 27 Mahā-hatthipadopama-s. (P) S. 16, 3 Candupamaṃ (P) A. VII, 68 Aggi (P) S. 3.3.1 Puggala (P) S. 3.3.5 Pabbatūpama (P) S. 3.1.1 Daharo (P) M. 87 Piyajātika-s. (P) S. 21, 8 Nanda (P) Dhp. Com. (P) Thera-G. vv. 157-8 (P) Thera-G. Com. vv. (P) Thera-G. 159-60 (P) Hua-yen-ching, P´u-sa-ming-nan p´in (Chn) Hua-yen-ching, Ching-hsing-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s. Viśuddhacarita-p. (Sct.) Hua-yen-ching, Hsien-shou-p´u-sa-p´in (Chn) A Vida do Buda, versão de Burma, Ch. IX (P) Thera-G. Com. vv. 1091-1145 (P) D. 21 Sakka-pañha-suttānta (P) Dhp. Com. III (P) M. 141 Sacca-vibhaṅga-s. (P) Jātaka 412-8 (P) Jātaka 475 (P) Jātaka 322 (P) M. 142 Dakkhiṇā-vibhaṅga-s. (P) A Vida do Buda, versão de Burma, Ch. IX (P) Vin. CV. X. I (P) A. III, 105, 33 Nidāna (P) Itiv. 39, 42, 40 (P) A. III, 35 Devadūtā-s. (P) Theri-G. Com. vv. 139-144 (P) Lêng-ch´ieh-ching, Lo-p´o-na-chüan-ch´ing-p´in, v. Chn. de Laṅkāvatāras., Rāvaṇa-rāja-adhyeṣaṇa-p. (Sct.) Chi-i-ch´ieh-fa-p´in, v. Chn. de Laṅkāvatāra-s., Samudaya-sarva-dharmap. (Sct.) “ “ “ Lêng-ch´ieh-ching, Wu-ch´ang-p´in, v. Chn. de Laṅkāvatāra-s., Anitya-p. (Sct.) Lêng-ch´ieh-ching, Ch´a-na-p´in, v. Chn. de Laṅkāvatāra-s., Kṣaṅika-p. (Sct.) Vin. MV. I, 25 (P) Vin. MV. I, 28-30 (P) Vin. MV. II, 1-2 (P) Vin. MV. III, 1-2 (P) Vin. MV. I, 5,1 (P) Vin. C.V.V. 8 (P) M. 12 Mahāsīhanāda-s. (P) D. 24 Pāṭika-suttānta (P) A Vida do Buda, versão de Burma, Ch. IX (P) Fo-shêng-tao-li-tien-wei-mu-shuo-fa-ching (Chn)

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L.

Cap.

Sc.

Ssc. 4-5 6-7 8

7

1-2 3 4 5 1-2 3-7 8 9 1 2-3 4 1-6 7-8 9

8

9

10

III

I

1 2

1 1 2 3-8

3 4

III

II

5 1

2 2 3 3

4 III

III

1 2 3 4 5 6

7 8 9 CEBB

1 2 3-6 1 2-3 4 1-2 3-5 6-9 10-12 1-6 7-10

1 2

1 2 3-4 5

Fonte Ma-kê-ma-yeh-ching (Chn) Fo-shêng-tao-li-tien-wei-mu-shuo-fa-ching (Chn) Fo-shêng-tao-li-tien-wei-mu-shuo-fa-ching (Chn); Tao-shên-tsu-wu-chipien-hua-ching, II (Chn) S. 12, 60 Nidāna, etc. (P) Dhp. Com. I, 199-203 (P) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama 28-p. (Sct.) Dhp. Com. III, 224 (P) Hsing-ch´i-hsing-ching (Chn) A. III, 61 Titthaṃ (P) A. III, 63 Venāga (P) A. III, 79 Gandha (P) A Vida do Buda, versão de Burma, Ch. IX (P) A. III, 127-8 Anuruddhā (P) A. VIII, 30 Anuruddhā (P) Jātaka, IV (P) Tsa-a-han-ching, v. Chn. de Saṃyuktāgama, 43 (Sct.) Tsa-a-han-ching, v. Chn. de Saṃyuktāgama, 43 (Sct.) M. 81 Ghaṭīkāra (P) A. III, 163 Samādhi (P) A. III, 53 Brāhmaṇā (P) M. 22 Alagaddūpama-s. (P) Mo-têng-ch´ieh-ching, v. Chn. de Mātaṅgī-s. (Sct.) Ta-fo-ting-shou-lêng-yen-ching, v. Chn. de Mahā-tathāgata-uṣṇīṣaśūraṅgama-s. (Sct.) “ A. III, 68 Aññatitthiya (P) A. III, 71 Channa (P) A. III, 65 Kesaputtiyā (P) A. III, 90 Paṅkadhā (P) A. III, 81-2 Samaṇā, etc. (P) A.III, 88 Sikkhā (P) M. 34 Cūḷa-gopālaka-s. (P) M. 31 Cūḷa-gosiṅga-s. (P) A. III, 74-78 Nigaṇṭha, etc. (P) M. 32 Mahā-gosiṅga-s. (P) M. 14 Cūḷa-dukkha-khandha-s. (P) M. 18 Madhupiṇḍika-s. (P) M. 5 Anaṅgaṇa-s. (P) M. 21 Kakacūpama-s. (P) A. III, 34 Ālavaka (P) A. III, 72 Ājivaka (P) D. 31 Siṅgālovāda-suttānta (P) M. 24 Ratthavinīta-s. (P) S. 1,4,6 (10,12,10) (P) S. 2,1,6 Kāmada (P) S. 2,2,7-8 Subrahmā, etc. (P) S. 2,3,6 Rohita (P) Ta-fang-kuang-fo-hua-yen-ching, ju-fa-chieh-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Gaṇḍavyūha-p. (Sct.) “ “ 1481 / 1534

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L.

IV

Cap.

I

Sc. 10

Ssc.

1

1 2 3 4 5 6 7 8 9

2

1-3 4-9 1-6 7 1 2 3

3 4

4

4 5-9 10-13

5

IV

II

1

1-3 4-7 8 9 1 2 3 4

2 3 4

IV

III

1

2

3 4

CEBB

Fonte “

1-4 5-8 9-10 1-3 4-8 9

A. III, 124 Bharaṇḍu (P) S. 55, 21-2 Mahānāma (P) S. 55, 37 Mahānāma (P) S. 55, 54 Gilāyanaṃ (P) A. III, 121 Kusināra (P) A. III, 112-3, 117-8 (P) A. III, 94 Ājāniya (P) A. III, 131 Yodhājiva (P) A. III, 163 Samādhi (P) A. III, 135 Kesakambala (P) D. 6 Mahāli-s. D. 25 Udumbarika-sīhanāda-suttānta (P) D. 26 Cakkavatti-sīhanāda-suttānta (P) A. III, 126 Kaṭuviya (P) Hua-yen, Shih-ming-p´in; Shih-jên-p´in (Chn) Hua-yen, Shin-jên-p´in (Chn) Hua-yen, Fo-pu-kê-ssǔ-i-p´in (Chn) Hua-yen, Fo-hsiao-hsiang-kuang-ming-kung-tê-p´in (Chn) Hua-yen, P´u-hsien-p´u-sa-hsing-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Samantabhadra-bodhisattva-caryā-p. (Sct.) Hua-yen, Pao-wang-ju-lai-hsing-ch´i-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Ratnarāja-tathāgata-gotra-saṃbhava-artha-p. (Sct.) Hua-yen, Li-shih-chien-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Loka-niḥsaraṇa-p. (Sct.) M. 56 Upāli-suttānta (P) D. 4 Soṇadaṇḍa-s. (P) M. 39 Mahāssapura-s. (P) M. 40 Cūḷassapura-s. (P) S. 43, 2-4 Samatho, etc. (P) S. 35, 85 Suñña (P) M. 161 Piṇḍapāta-pārisuddhi-s. (P) M. 121 Cūḷa-suññatā-s. (P) Chin-kang-pan-jê-po-lo-mi-to-ching, v. Chn. de Vajracchedikāprajñāpāramitā-s. (Sct.) Pan-jê-po-lo-mi-to-hsin-ching, v. Chn. de Prajñā-pāramitā-hṛdaya-s. (Sct.) Ta-p´in-pan-jê-po-lo-mi-to-ching, Sa-t´o-po-lun-p ´in, v. Chn. de Mahāprajñā-pāramitā-s., Sadāprarudita-p. (Sct.) Ta-p´in-pan-jê-po-lo-mi-to-ching, T´an-wu-kê-p´in, v. Chn. de Mahāprajñā-pāramitā-s., Dharmodgata-p. (Sct.) Ta-p´in-pan-jê-po-lo-mi-to-ching, Shu-lei-p´in, v. Chn. de Mahā-prajñāpāramitā-s., Parīndanā-p. (Sct.) D. 12 Lohicca-s. (P) D. 13 Tevijja-s. (P) M. 2 Sabbāsava-s. (P) M. 67 Cātumā-s. M. 35 Cūḷa-saccaka-s. (P) M. 36 Mahā-saccaka-s. (P) Ta-sa-chê-ni-chien-tzü-so-shuo-ching, v. Chn. de MahāsātyaNirgaṇṭhaputra-vyākaraṇā-s. (Sct.) Hua-yen-ching, Ching-kang-t´ung-p´u-sa-hui-hsiang-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Vajraketu-bodhisattva-pariṇāmanā-p. (Sct.)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

L.

Cap.

Sc. 5

IV

IV

1 2 3

Ssc. 1 2-3 4-6

1-2 3 4-7 8-9 10 11 12-13 14 15 16

V

I

1 2 3 4

5

1-2 4-6

1-4 5-8 9 10 1 2-3 4-5

V

II

6 1 2 3 4

V

III

1 2

CEBB

1-8 9-10 1 1-2 3 1 2-4 1 2 3

Fonte M. 69 Gulissāni-suttānta (P) M. 77 Mahā-sakulūdāyi-s. (P) M. 44 Cūḷa-vedalla-s. (P) M. 61 Ambalaṭṭhikā-Rāhulovāda-p. (P) Hua-yen-ching, Shih-ti-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Daśabhūmīśvarap. (Sct.) Wei-mo-ching, Fo-kuo-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Buddhakṣetra-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Fang-pien-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Abhyupāya-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Ti-tzu-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Śiṣya-p. (Sct.) Wei-mo-ching, P´u-sa-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Bodhisattvap. (Sct.) Wei-mo-ching, Wên-shu-shih-li-wên-chi-p´in, v. Chn. de Vimalakīrtinirdeśa-s., Mañjuśrī-saṃstava-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Pu-ssu-i-p´in, v. Chn de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Acintya-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Kuan-chung-shêng-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Sattva-parīkṣā-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Fa-tao-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Buddhamārga-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Ju-pu-êrh-fa-mên-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Advaya-dharma-mukha-p. (Sct.) Wei-mo-ching, P´u-sa-hsing-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Bodhisattva-caryā-p. (Sct.) Wei-mo-ching, Chien-A-shu-fo-p´in, v. Chn. de Vimalakīrti-nirdeśa-s., Akshobya-buddhadarśana-p. (Sct.) M. 70 Kiṭāgiri-suttānta (P) M. 76 Sandaka- suttānta (P) S. 10, 12 Āḷava-sālatha (P) S. 3 Ambaṭṭha-s. (P) M. 9 Sammādiṭṭhi-s. (P) M. 77 Mahā-sākulūdayi-s. (P) M. 4 Bhayabherava-s. (P) M. 65 Bhaddāli-s. (P) Jātaka 55 (P) Jātaka 92 (P) Dhp. Com. I (P) Jātaka 417 (P) Lai-to-hê-lo-ching, v. Chn. de Rāṣṭrapāla-s. (Sct.) Fang-wang-ching, v. Chn. de Brāhmajālā-s. (Sct.) Vin. MV. X, 1-2 (P) M. 122 Mahā-suññata-s. (P) Itiv. (P) M. 83 Makhādeva (P) M. 41 Sāleyyaka-s. (P) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgaṃa 16-p. (P) M. 62 Rāhulovāda-s. (P) A. III, 31 (P) A. III, 36 (P) A. III, 37 (P)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

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Cap.

Sc.

3

4 5

6 V

IV

1

2

3 4

5

Ssc. 4 5 6 1 2 3-6 1 2 3 1 2-4 1 2 3 4-5 1-2 3-4 5 6 7 8 9 10 11 1 2 3-5 1 2 3

5

4 5

VI

I

1

2

CEBB

1-3 4-5 6 7 8 9 10 11 1 2 3 4 5-8 9-11

Fonte A. III, 41-42 (P) A. III, 62 (P) A. III, 1,2,4 (P) Dhp. Com. I (P) Yü-yeh-nü-ching (Chn.) Yang-chüeh-mo-ching, v. Chn. de Aṅgulimāla-s. (Sct.) D. 27 Aggañña-suttānta (P) A. III, 11-13 (P) A. III, 14-15 (P) A. III, 18-20 (P) Chung-a-han-ching, v. Chn. de Madhyāgama-s. 33 (Sct.) M. 51 Kandaraka-s. (P) M. 8 Sallekha-s. (P) A. III, 51 Janā (P) A. III, 51 Brāhmaṇā (P) A. III, 60 Saṅgārava (P) A. II, 4,6-7 (P) A. III, 21-22 (P) A. III, 25 (P) A. II, 2,8 (P) A. II, 3,10 (P) A. II, 4,1-2 (P) A. II, 1,2 (P) A. II, 1,5 (P) A. II, 1,6-8; 2,1 (P) A. I (P) Thera-G. vv. 453-458 (P) A. III, 130 (P) A. III, 98-100 (P) Hua-yen-ching, P´u-sa-yün-chi-shuo-chieh-p´in (Chn) Hua-yen-ching, Shih-chu-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Daśa-sthiti. (Sct.) Hua-yen-ching, Fan-hsing-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Brāhma-cariyap. (Sct.) Hua-yen-ching, Ming-fa-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Dharmanirandhakāra-p. (Sct.) Hua-yen-ching, Yeh-mo-tien-kung-p´in, v. Chn. de Avataṃsaka-s., Yamarāja-pura-p. (Sct.) M. 46 Mahādhamma-samādāna-s. (P) M. 7 Vatthūpama-s. (P) M. 16 Cetokhila-s. (P) A. IV, 184 (P) A. IV, 186 (P) A. IV, 190 (P) A. IV, 194 (P) A. IV, 197 (P) Thera-G. vv. 181-2 Com. (P) A. IV, 185 (P) A. II, 6,1-4 (P) A. II, 3,2-3 (P) A. II, 6,8,11,2-9 (P) A. V, 32-4 (P) 1484 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

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Cap.

Sc. 3

4

VI

II

5 1

Ssc. 12 1 2-3 4-6 7 8 9 10-11 1-2 3-4 5-7 1-2 3-5

VI

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1

2 3

VI

IV

4 5 1 2

3 4 5 6

VII

I

1

1 2 3 4 1 2

1-2 3 1-2 3-4 5 1 2-3 1-7 8-10 1 2-4 1-2 3-5

2 3

1-5 6 7-8 9 10

CEBB

Fonte A. V, 44 (P) A. III, 72 (P) A. V, 4 (P) A. V, 10-12 (P) A. V, 16 (P) A. V, 107 (P) A. III, 73 (P) A. III, 77-8 (P) A. V. (P) A.V, 56-7 (P) S. 22,87 Vakkali (P) Dhp. (P) Wu-liang-shou-ching, v. Chn. de Sukhāvatī-vyūha-s. ou Aparimitāyus-s. I (Sct.) Wu-liang-shou-ching, v. Chn. de Sukhāvatī-vyūha-s. ou Aparimitāyus-s. II (Sct.) S. 6,1,2 Garavo (P) Itiv. 112 (P) S. 8,4 Ānanda (P) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama 35-p. (Sct.) S. II (P) M. 25 Nivāpa-s. (P) M. 6 Ākaṅkheyya-s. (P) Shêng-man-ching, v. Chn. de Śrīmālā-devī-siṃhanāda-s. (Sct.) “ M. 50 Māratajjaniya-s. (P) S. 35,88 Puṇṇa (P) M. 53 Sekha-s. (P) M. 54 Potaliya-s. (P) Snip. Selasutta (P) Ssǔ-shih-êrh-chang-ching (Chn) M. 144 Channovāda-s. (P) M. 63 Cūḷa-māluṅkya-s. (P) S. 5, 1-8 Bhikkuṇī-samyutta; Theri-G. Com. (P) M. 146 Nandako-vāda-s. (P) S. 56,31 Siṃsapā (P) S. 3.3.2 Ayyakā (P) Miao-fa-lien-hua-ching, Hsü-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s. Cap. Introd. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Fang-pien-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīkas., Upāya-kauśalya-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Pi-yü-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Aupamya-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Hsin-chieh-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīkas., Adhimukti-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Yao-ts´ao-yü-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Oṣadhī-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Hua-ch´eng-yü-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Pūrvayoga-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Fa-shih-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Dharmabhāṇaka-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Chien-fa-ta-p´in, v. Chn. de

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L.

Cap.

Sc.

Ssc.

4

1-3 4 5-6 7-8

5

1-2 3-4 5 6 7 8 9 10-11

6

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1

1 2 3-4 5 1 2 3

2

3 4

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4-5 6 7-8 1 2 3 1 2 3 1-4 4-14 5 6

VII

CEBB

III

1 2 3

1

Fonte Saddharmapuṇḍarīka-s., Stūpasaṃdarśana-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, T´i-p´o-ta-to-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Devadatta-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Ch´üan-ch´ih-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Utsāha-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, An-lou-hsing-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Sukhavihāra-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, P´u-sa-tsung-ti-yu-ch´u-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Boddhisattva-pṛthivī-vivara-samudgama-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Ju-lai-shou-liang-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Tathāgatāyuṣpramāna-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Fên-pieh-kung-tê-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Punya-parayāya-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Fa-shih-kung-tê-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Dharmabhāṇakānuśaṃsā-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Ch´ang-pu-ch´ing-p´u-sa-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Sadāparibhūta-bodhisattva-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Ju-lai-she-li-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka -s., Tathāgataṛddhyabhisaṃskāra-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Shu-lei-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka -s., Anuparīndanā-p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Yao-wang-p´u-sa-pên-ti-p´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Bhaiṣajyarāja-pūrvayoga -p. (Sct.) Miao-fa-lien-hua-ching, Kuan-shi-yin-p´u-sa-p´u-mêp´in, v. Chn. de Saddharmapuṇḍarīka-s., Avalokiteśvara-bodhisattva-samanthamukha -p. (Sct.) M. 28 Mahā-hatthi-padopama-s. (P) Saṃyuktāgama-s. 35 (Sct.) M. 19 Dvedhāvitakka-s. (P) M. 20 Vitakka-santhāna-s. (P) Yu-pu-pi-nai-yeh-po-sêng-shih, v. Chn. de Sarvāstivādin-vinaya-saṃghabhedakavastu XIII (Sct.) Wu-fên-lü, v. Chn. de Mahīśāsaka-vinaya III (Sct.) Yu-pu-pi-nai-yeh-po-sêng-shih, v. Chn. de Sarvāstivādin-vinaya-saṃghabhedakavastu XIII (Sct.) Wu-fên-lü, v. Chn. de Mahīśāsaka-vinaya III (Sct.) M. 29 Mahā-sāropama-s. (P) M. 58 Abhayarāja-kumāra-s. (P) Wu-fên-lü, v. Chn. de Mahīśāsaka-vinaya (Sct.) Wei-shêng-yüan-ching, v. Chn. de Ajātaśatru-kaukṛyavinodana-s. (Sct.) Kuan-wu-liang-shou-ching, v. Chn. de Amitāyurdhyāna-s. (Sct.) “ Ssǔ-fên-lü, v. Chn. de Dharmaguptaka-vinaya IV (Sct.) Wu-fên-lü, v. Chn. de Mahīśāsaka-vinaya III (Sct.) Wei-shêng-yüan-ching, v. Chn. de Ajātaśatru-kaukṛyavinodana-s. (Sct.) Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinirvāṇa-s. (Sct.) “ Yu-pu-pi-nai-yeh-po-sêng-shih, I, v. Chn. de Sarvastivādin-vinayasaṃgha-bhedakavastu I (Sct.) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama-s. (Sct.) Shou-mo-ti-nü-ching, v. Chn. de Sumatidārika-paripṛcchā-s. (Sct.) Vin. CV. V. 21 (P) S. 41, 3 Isidatta (P)

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Cap.

Sc.

4 5 VII

IV

1

Ssc. 2 3-5 6 1-12 13-22 1-2 3 1 2-5

2 3 4 5 6

1-3 4-5 1 2 3 4 5

VIII

I

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1 2

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4

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4 5 6 1 2 3 4

5

CEBB

1-2 3-5

1-7 8 1-7

Fonte S. 41, 9 Acela (P) D. 8 Kassapa-sīhanāda-suttānta (P) S. 41, 5 Kāmabhū (P) Tsa-pao-ts´ang-ching (Chn) de Saṃyuktaratna-piṭaka-s. (Sct.) Ch´uan-chi-pai-yüan-ching, v. Chn. de Purṇamukhāvadāna-śatika-s. (Sct.) M. 23 Vammīka-s. (P) M. 133 Mahākaccāna-bhaddekaratta-s. (P) A. V. 49 Kosala (P) M. 104 Sāmagāma-s. (P) A. IV. 35, 183, 187 (P) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama 28-p. (Sct.) M. 89 Dhammacetiya-s. (P) Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama 34-p. (Sct.) “ Dhp. Com. I (P) A-mi-t´o-ching, v. Chn. de Sukhāvatī-vyūha-s. (Sct.) A. I, 14 Etadaggavagga (P) Pan-ni-yüan-ching, v. Chn. de Parinirvāna-s. I. (Sct.) “ “ Tsêng-i-a-han-ching, v. Chn. de Ekottarāgama 26[ (Sct.) Pan-ni-yüan-ching, v. Chn. de Parinirvāna-s. (Sct.) Chin-kuang-ming-tsui-shêng-wang-ching, Fên-pieh-san-shên-p´in, v. Chn. de Suvarṇa-prabhā-sottamarāja-s., Trikāya-p. (Sct.) Ssü-tien-wang-hu-kuo-p´in (do sutra acima), v. Chn. de Cātur-mahārājakāyika-devaḥ-p. (Sct.) Chin-kuang-ming-ching, Wang-chéng-fa-lun-p´in, v. Chn. de Suvarṇaprabhāsa-s., Devendra-samaya-p. (Sct.) Chin-kuang-ming-ching, Ch´u-ping-p´in, v. Chn. de Suvarṇa-prabhāsa-s., Vyādhipraśamaṇa-p. (Sct.) Chin-kuang-ming-ching, Chang-chê-liu-shui-p´in, v. Chn. de Suvarṇaprabhāsa-s., Jalavāhanasya Mātsya-vaineya-p. (Sct.) Shê-shên-p., v. Chn. de Vyāghrī-p. (Sct.) Ta-p´i-lu-chê-ne-ch´êng-fo-shên-pien-ch´ih-ching, Ju-chên-mên-chu-hsinp´in, v. Chn. de Mahāvairocanābhisambodhi-vikurvitādhiṣṭhanavaipulyasūtrendrarāja-nāma-dharmaparyāya (Sct.) (Hsiao-ch´eng) Ta-pan-nieh-p´an-ching, I, II, v. Chn. de Mahāparinibbāṇas. I, II (P) Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinirvāṇa-s. II-X (Sct.) Ch´ang-a-han-ching, III, v. Chn. de Dīrghāgama-s. III (Sct.) (Hsiao-ch´eng) Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinibbāṇa-s. (P) Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinirvāṇa-s. 11-18 (Sct.) “ “ Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinirvāṇa-s. 21-26 (Sct.) “ Pan-ni-yüan-ching, v. Chn. de Parinirvāṇa-s. II (Sct.) Ta-pan-nieh-p´an-ching, v. Chn. de Mahāparinirvāṇa-s. 27-33 (Sct.) (Hsiao-ch´eng) Ta-pan-nieh-p´an-ching, II, v. Chn. de Mahāparinibbāṇa-s. II (P) “

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

L.

Cap.

Sc.

Ssc. 8 9-11

6

1-6 7-8 9

7 8

CEBB

1-2 3-4 5-8 9 10 11-12

Fonte Ta-pei-ching, v. Chn. de Mahākaruṇā-puṇḍarika-s. II (Sct.) (Hsiao-ch´eng) Ta-pan-nieh-p´an-ching, II, v. Chn. de Mahāparinibbāṇa-s. (P) Fo-i-chiao-ching (Chn) Ch´ang-a-han-ching, v. Chn. de Dīrghāgama-s. IV (Sct.) (Hsiao-ch´eng) Ta-pan-nieh-p´an-ching, II, v. Chn. de Mahāparinibbāṇa-s. II (P) ??? (não consta, provavelmente continua item 6.9 anterior) M. 108 Gopaka-moggalāna-s. (P) M. 84 Madhuriya-s. (P) D. 23 Pāyāsi-s. (P) S. 47, 21-23 Sīla, etc. (P) S. 22, 90 Channa (P) A. V, 50 Nārada (P)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

PALAVRAS EM PÁLI E SÂNSCRITO Pronúncia No início os leitores podem estar mais preocupados em compreender a doutrina do que saber como deveriam pronunciar as palavras estrangeiras. Os termos em páli e sânscrito que aparecem no texto estão listados aqui com os sinais diacríticos conforme transliteração da escrita original nagari da Índia. As seguintes regras simples são apresentadas para ajudar os leitores a fazerem sons aproximados de algumas, não de todas, as letras envolvidas, de forma que se possam fazer inteligíveis em sua tentativa de pronunciar estas palavras complexas.

Vogais (mantidos os exemplos da língua inglesa) (a) como (a) em about; (e) como (e) em prey; (i) como (i) em fill; (o) como (o) em go; (u) como (u) em full. O mácron (ā, ī, ū) indica um som longo, ou seja, (ā) como (a) em father; (ī) como (i) em police; (ū) como (u) em rumor, mas (o) e (e) são sempre longas. E também (ai) e (au) são sempre longas, ou seja, (ai) como (ai) em aisle; (au) como (au) em Haus (alemão), ou como (ow) em how.

Consoantes (mantidos os exemplos da língua inglesa) (c) como (ch) em exchange; (s), (j), (y) e outras letras como no inglês; (ñ) como (n) em singe, ou (ny); (ññ) como (n-ny); (h) após (b), (c), (d), (g), (k), (p), (t) é pronunciado, ou seja, (bh) como em abhor; (ch) como em church hill; (dh) como em adhere; (gh) como em foghorn; (kh) como em sinkhole; (ph) como em uphill; (th) como em anthill. Assim, Tathāgata é pronunciado Tat-hāgata,

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não Ta-thāgata. A diferença entre letras pontuadas e não pontuadas é difícil de distinguir, mas (d) é como (th) em this, e (ḍ) é como (d) em drum; (t) é como (t) em water, e (ṭ) é como (t) em true; (n) é como (n) em nut, e (ṇ) é como (n) em none, (ṅ) é como (n) em sing, king, sink. (s) pontuado (ṣ) é como (sh) em ash, e (ś) é como (s) em sure. (r) pontuado (ṛ) é como (ri) em merrily.

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Lista de Palavras em Páli e Sânscrito Abhaya-rajakumara, P e S: Abhayarājakumāra Abhiguna, S: Abhiguṇa Acala, P e S: Acalā

Aniruddha (S); P: Anuruddha

Aciravati, P: Aciravāti; S: Ajiravatī

Anjana, P e S: Añjana

Ahimsaka, S: Ahiṃsaka

Anna Kondanna, P: Añña Koṇḍañña; S: Ājñāta Kauṇḍinya

Ajata, S: Ajāta Ajatasatru, P: Ajātasattu; S: Ajātaśatru Ajita Kesakambala, S: Ajita Keśakambala Ajivaka, P: Ājivaka; S: Ājīvika Akanistha, S: Akaniṣṭha Aksayamati, S: Akṣayamati Alamandanda, S: Ālamandanda Alara Kalama, P: Āḷara Kāḷāma; S: Ārāḍa Kālāma Alavaka, P: Ālavaka; S: Āṭāvaka Alavi, P e S: Ālavi, ou S: Āṭavī alaya-vijnana, S: ālayavijñāna Alokamukha, S: Ālokamukha Amalaki, P e S: Āmalakī Ambagama, P: Ambagāma; S: Āmragrāma Ambalatthika, P: Ambalaṭṭhikā; S: Āmrayaṣṭika Ambasanda, P: Ambasaṇḍā; S: Āmbaṣaṇḍa Ambattha, P: Ambaṭṭha; S: Āmraṣṭha Amitabha, S: Amitābha Amitayus, S: Amitāyus Amragrama, P: Ambagāma; S: Āmragrāma Amrapali, P: Ambapāli; S: Āmrapālī Ananda, P e S: Ānanda Anantnacaritra, S: Anantnacāritra Anathapindika, P: Anāthapiṇḍika; S: Anāthapiṇḍada

Anoma, P: Anomā; S: Anavamā Anugara, P e S: Anugāra Anupiya, P: Anūpiya; S: Anupriyā Anuruddha (P); S: Aniruddha Apana, P e S: Āpana Arittha, P: Ariṭṭha; S: Ariṣṭa Asa, S: Āśā asoka (P); S: aśoka Asokasridevata, S: Aśokaśrīdevata Assaji (P); S: Aśvajit Assapura (P); S: Aśvapura Asvaghosa, P: Ashvaghosha; S: Aśvaghoṣa atman, P: atta; S: ātman Atuma, P and S: Ātumā Avalokitesvara, S: Avalokiteśvara Avici, P e S: Avīci Ayodha, P: Ayojjhā; S: Ayodhā Bahiya-Daruciriya, P e S: Bāhiyadārucīriya Bahuka, P e S: Bāhukā Bakkula (P); S: Dvākula Balaka, P: Bālaka; S: Pālaka Baliharana, S: Baliharaṇa Baranasi, P: Bārānasi; S: Vārāṇasī Belatthiputta, P: Belaṭṭhiputta; S: Vairaṭṭīputra

anatman, P: anatta; S: anātman

Bhadda (P); S: Bhadrā

Anga, P: Aṇga, S: Aṅga

Bhadda-Kapilani, P: Bhaddā-kapilāni; S: Bhadrakapilanī

Angaka (P); S: Aṅgaka Angulimala, P: Aṇgulimāla; S: Aṅgulimāla Anguttarapa, P: Aṇguttarāpa; S: Aṅguttarāpa

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Bhadda-Kundalakesa, P: Bhaddā- Kuṇḍalakesā; S: Bhadrakuṇḍalakeśā Bhaddali, P: Bhaddāli; S: Bhadravālin

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Bhaddiya (P); S: Bhadrika

Dandapani, P e S: Daṇḍapani

Bhagga (P); S: Bhārgā

Dantamati, P e S: Dāntamati

Bhaggava, (P); S: Bhārgava

Darupattika (P); S: Dārupatraka

Bhagu, (P); S: Bhṛgu

Devaraja, S: Devarāja

Bhaisajyaraja, S: Bhaiṣajyarāja

Dhammadinna, P: Dhammadinnā; S: Dharmadinnā

Bhanda, P e S: Bhaṇḍa Bharadvaja, P e S: Bhāradvāja Bharandu, S: Bharaṇḍu Bhesakala, P: Bhesakalā: S: Bhīsakalā Bhesika (P); S: Bheśika Bhismagarjitasvararaja, S: Bhīṣmagarjitasvararāja Bhismottaranirghosa, S: Bhīṣmottaranirghoṣa Bhumu (P); S: Mudū Bimbisara, P e S: Bimbisāra birana (P); S: vīriṇa Brahma, P e S: Brahmā brahmadanda, S: brahmadaṇḍa Brahmajala-sutta, P: Brahmajāla-sutta; S: Brahmajālasūtra cakkavatti (P); S: cakravartin Cala, P e S: Cālā Campa, P e S: Campā Canda (P); S: Candra candala, P: candāla; S: caṇḍāla Candrasurya-vimalapratibhasri, S: Candrasūryavimala-pratibhāśrī Candrasuryapradipa, S: Candrasūryapradīpa Capala, P e S: Cāpāla Catuma, P e S: Catumā Ceti (P); S: Ceḍi Channa (P); S: Chanda Chattapani P: Chattapāni; S: Chatrapāni Cinca, S: Ciñcā cintamani, S: cintāmaṇi Citta (P); S: Citra Dabba Malla-putta (P); S: Daramallaputra Dalhanemi (P); S: Dṛḍhanemi CEBB

Dhananjaya, S: Dhanañjaya dharani, P e S: dhāraṇī Dharanidhara, S: Dhāraṇīdhara Dharma-gahanabhyudgata, S: Dharmagahanābhy-udgata-rāja Dharma-padma-srikusala-devata, S: Dharmapadma-śrī-kuśala-devata Dharmadhatu, S: Dharmadhātu Dharmakara, S: Dharmākara Dharmakaya, S: Dharmakāya Dharmavikurvana, S: Dharmavikurvaṇa dhutaguna, S: dhūtaguṇa Digha (P); S: Dīrgha Digha-Karayana, P: Dīgha-Kārayāna Dighatapassi, P: Dīgha-tapassi; S: Dīrghatapasvin Dighanakha (P); S: Dīrghanakha Dighavu, P: Dīghāvu; S: Dīrghāyus Dighiti, P: Dīghīti; S: Dīrghīti Dipamkara, S: Dīpaṃkara Dipankara, P: Dīpaṇkara; S: Dīpaṅkara Dona, P: Doṇa; S: Droṇa Drdha, S: Dṛdhā Dummuka (P); S: Durmukha Dunnivittha, P: Dunniviṭṭha; S: Durniviṣṭha Dusin (P); S: Dūṣī Ekayana, S: Ekayāna Eleyya, S: Eḷeyya Gaggara, P: Gaggarā; S: Gargarā Gandavyuha, S: Gaṇḍavyūha gandhabba (P); S: gandharva Gandhara, P e S: Gandhāra garuda, P e S: garuḍa

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Gaya, P: e S: Gayā

Jambunada, P e S: Jāmbūnada

Gayasisa, P: Gayāsīsa; S: Gayāśīrṣa

Janussoni, P: Jāṇussoṇi; S: Jānukṣīnin

Ghataya, P: Ghatāya; S: Ghṛta

Jataka, P e S: Jātaka

Ghatikara, P e S: Ghaṭīkāra

Jatila, P e S: Jaṭilā

Ghosita (P); S: Ghosiṭa, ou Ghoṣita

Jatindhara, S: Jaṭindhara

Gopa, P e S: Gopā

Jatiya, P: Jātiyā; S: Jaca

Gosala, P: Gosāla; S: Gośāla

Jayosmayatana, S: Jayoṣmāyatana

Gosaliputra, S: Gośālīputra

Jivaka, P e S: Jīvaka

Gosinga-sala (P); S: Gauśṛṅgaśala

Jivamjivaka, S: Jīvaṃjīvaka

Gotama (P); S: Gautama

Jotika (P); S: Jyotika

Gotami, P: Gotamī; S: Gautamī

Jotipala, P: Jotipāla; S: Jyotipāla

Guhyakadhipati, S: Guhyakādhipati

Jujaka, P e S: Jūjaka

Gulissani (P); S: Guṇisarni

Kaccana, P Kaccāna; S: Kātyāyana

Gunagarbha, S: Guṇagarbha

Kakusandha (P); S: Krakucchanda

Gunamukha, S: Guṇamukha

Kakuttha, P: Kakuṭṭhā; S: Krakuṣṭha

Gunda, P: Gundā; S: Gundrā

Kalakhemaka, P: Kālākhemaka; S: Kālakṣemaka

Gundavana, P: Gundāvana; S: Gundrāvaṇa

Kalama, P e S: Kālāma

Hariti, S: Hārītī

Kalarajanaka, S: Kalārajanaka

Hatthaka (P); S: Hastaka

Kalaratridevi, S: Kālarātrīdevī

Hiranyavati, P: Hiraññavatī; S: Hiraṇyavatī

Kalavinkas, S: Kalaviṅkas

Icchanankala, P: Icchānankalā; S: Icchanāṅgela

Kali, P e S: Kālī

Indasala, P: Indasāla; S: Indraśāla

Kaligodha, P e S: Kāligodhā

Indriyesvara, S: Indriyeśvara

Kalinga, P: Kālinga; S: Kaliṅga

Isana, P: Isāna; S: Īṣāṇa

Kaludayin, P: Kāludāyin (ou, Kal-Udāyin); S: Kālodāyin

Isanajarapad, S: Īśānajarapad Isidatta (P); S: Ṛṣidatta Isigiri (P); S: Ṛṣigiri Isipatana (P); S: Ṛṣpatana Isvara, P: Īssara; S: Īśvara Jagatimdhara, S: Jagatīṃdhara Jalavahana, P e S: Jalavāhana Jali, P e S: Jāli ou Jālin Jaliya, P Jāliya; S: Jālika Jambu, P e S: Jāmbū Jambudvipa, P e S: Jambudvīpa Jambudvipasirsa, S: Jāmbudvīpaśīrṣa

Kamabhu, P e S: Kāmabhū Kamada, P e S: Kāmada Kammassadhamma (P); S: Kalmāṣadamya Kandarayana (P); S: Kaṇḍalāyana Kanha (P); S: Kṛṣṇā Kanhajali (P); S: Kṛṣṇājinā Kanhayana (P); S: Kṛṣṇāyana Kaniska, S: Kaniṣka Kankha-Revata, P: Kankhā-Revata; S: Kāṅkṣārevata Kannakathala, P: Kaṇṇakathala; S: Kṛṇṇakāṣṭhā Kanthaka, P e S: Kaṇṭhaka

Jambugama, P: Jambugāma; S: Jambugrāma CEBB

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Kapilavatthu (P); S: Kapilavastu

Kukkutarama, S: Kukkuṭārāma

Kappasiya (P); S: Kalpāsiya

Kuladevata, S: Kuladevatā

Karunayamana, S: Karuṇāyamāna

Kumara-Kassapa, P: Kumāra-Kassapa; S: Kumārakāśyapa

Kasi, P: Kāsī; S: Kāśī Kassapa (P); S: Kāśyapa Kassapa-gotta (P); S: Kāśyapagotra Kaṭamodrakatisyaka, P: Katamoraka-Tissaka; S: Katamodrakatiṣyaka Katiyani, P e S: Kātiyānī Kattakha (P); S: Kāṣṭtka Katyayana, P: Kaccāyana; S:Kātyāyana Kausiya, S: Kauśiya Kenika, S: Keṇika Keniya (P); S: Keṇiya Kesakambala (P); S: Keśakambala Kesaputta (P); S: Keśaputra

Kundadhana, P e S: Kuṇḍadhāna kusa (P); S: kuśa Kusana, P: Kusāna; S: Kuṣāṇa Kusinara: P: Kusinārā, S: Kuśinagara Kutadanta, P: Kūṭadanta, S: Kuṭadanta Kutagara, P e S: Kūtāgāra Kutigramaka, P: Koṭigāma; S: Kuṭigrāmaka Lakuntaka-Bhaddiya, P: LakuṅṭakaBhaddiya; S: Lakuṇṭakabhadrika Lohicca (P); S: Lohitya Lokayata, S: Lokāyata Lokesvararaja, S: Lokeśvararāja Lumbini, P e S: Lumbinī

Khandadeviyaputra, S: Khaṇḍadeviyāputra

Macchikasanda, P: Macchikāsaṇḍa, S: Mātsikaṣaṇḍa

Khema (P); S: Kṣema, ou Kṣemakā

Madda (P); S: Madra

Khuddarupi, P: Khuddarūpi; S: Kṣudrarūpī

Maddi (P); S: Madrī

Kiki, P: Kīki; S: Kṛki

Madhura, P e S: Madhurā

kimnaras, S: Kiṃnaras

Magandiya, P e S: Māgandiya

Kisa Gotami, P: Kisā Gotamī; S: Kṛśa Gautamī

Maha-Cunda, P e S: Mahācunda

Kisa Sankicca (P); S: Kṛśa Saṅkṛtya

Maha-Kaccana, P: Mahā-Kaccāna, S: Mahākatyāyana

Kitagiri, P: Kīṭagiri; S: Kṛtāgiri Kokalika, P e S: Kokālika Kondanna, P: Koṇḍañña; S: Kauṇḍinya Kora-Khattiya (P); S: Korakṣata Koravya (P); S: Kauravya

Maha-Kaccayana, P: Mahākaccāyana, ou Mahākaccāna; S: Mahākatyāyana Maha-Panthaka, P e S: Mahā-Panthaka Mahabala, S: Mahābala

Kosala, P: Kosalā; S: Kauśalā

Mahabhijna-jnanabhibhu, S: Mahābhijñājñānābhibhū

Kosambi (P); S: Kauśāmbī

Mahadeva, P e S: Mahādeva

Krakustha, P: Kakuṭṭhā; S: Krakuṣṭha

Mahakalpina, P: Mahā-Kappina; S: Mahākalpina

ksanti, S: kṣānti kshatriya (P); S: kṣatriya

Mahakassapa, P: Mahākassapa; S: Mahākaśyapa

Ksullapanthaka, P: Culla-Panthaka; S: Kṣullapanthaka

Mahakasyapa, ver acima

Kukkuta (P); S: Kurkuṭa

Mahakatayana, P: Mahākaccāyana, S: Mahākatyāyana

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Mahakotthita, P: Mahākoṭṭhita, S: Mahākauṣṭila Mahali, P e S: Mahāli

Matangi, P e S: Mātaṅgī Mathala, S: Māṭhala

Mahamati, P e S: Mahāmati

Maudgalyayana, P: Moggallāna; S: Maudgalyāyana

Mahanama, P e S: Mahānāma

Maya, P e S: Māyā

Mahapajapati, P: Mahāpajāpatī; S: Mahāprajāpatī

Meghasri, S: Meghaśrī

Mahaphala, S: Mahāphala Mahaprabha, S: Mahāprabha Mahapranada, S: Mahāpraṇāda

Mendaka, P e S: Meṇḍaka Migara, P: Migāra; S: Mṛgāra Mithila, P e S: Mithilā

Mahapratibhana, S: Mahāpratibhāna

Moggallana, P: Moggallāna; S: Maudgalyāyana

Maharatha, S: Mahāratha

Mogharaja, P: Mogharāja; S: Amogharāja

Mahasambhava, S: Mahāsaṃbhava

Moliyaphagguna (P); S: Mauliyaphalguna

Mahasammata, S: Mahāsammata Mahasattvas, S: Mahāsattvas Mahasthamaprapta, S: Mahāsthāmaprāpta Mahatistha, S: Mahātiṣṭha Mahavairocana, S: Mahāvairocana Mahavira, P e S: Mahāvīra Mahavyuha, S: Mahāvyūha Mahayana, S: Mahāyāna Mahissara (P); S: Maheśvara Maitrayani, S: Maitrāyaṇī Makkhali Gosala, P: Makkhali Gosāla; S: Maskarin Gośālīputra Makutabhandhana, S: Makuṭabandhana Mallika, P e S: Mallikā Malunkyaputta, P: Māluṇkyāputta; S: Maluṅkyāputra

mudra, S: mudrā Munda, S: Muṇḍa Nadi, P e S: Nadī Nadika, P: Nādika; S: Nāḍakantha Naga, P e S: Nāga Nagita, P e S: Nāgita Nairanjama, P: Nerañjarā; S: Nairañjanā Naksatraraja-samkusumitabhijna, S: Nakṣatrarāja-saṃkusumitābhijña Nakula, P e S: Nakulā Nalanda, P e S: Nālandā Nalayus, P e S: Nālayus Nalijangha, S: Naḷijangha Nanda, P e S: Nandā Nandihara, P e S: Nandihāra

Manasakata, P: Manasākata; S: Manasākṛta

Nandiya (P); S: Nandika

mandarava, P: mandārava; S: māndārava

Nangaraka, P: Naṇgaraka; S: Naṅgaraka

Mandissa (P); S: Maṇḍisya

Narada: P e S: Nārada

Manikutaraja, S: Manikūṭarāja

Nataputta, P: Nātaputta; S: Jñātiputra

Manjusri, S: Mañjuśri

Neranjara, P: Nerañjarā; S: Nairañjanā

Mantani, P: Mantāni; S: Maitrāyaṇi

nibbuta (P); S: nirvṛta

Mantrausadhi, S: Mantrauṣadhi

Nigantha Nataputta, P: Nigaṇṭha Nātaputta; S: Nigrantha Jñātiputra

Mara, P e S: Māra Matali, P e S: Mātali

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nigrodha (P); S: nyagrodha

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Nigrodha (P); S: Nyagrodha

Potthapada, P: Poṭṭhapada; S: Puṣṭapāda

Okkaka, P: Okkāka; S: Ikṣvāku

Prabhavyuha, S: Prabhāvyūha

Otthaddha, P: Oṭṭhaddha; S: Oṣṭhardha

Prabhuta, S: Prabhūtā

Paccaya (P); S: Pratyaya

Prabhutaratna, S: Prabhūtaratna

Pacetana (P); S: Pracetana

Prajna-paramitra Sutra, S: Prajñāpāramitā Sūtra

Pacinavamsa, P: Pacīnavaṃsa; S: Prācīnavaṃsa

Prajnakuta, S: Prajñākūta

Pajjota (P); S: Pradyota

pratityasamutpada, S: pratītyasamutpāda

Pakudha Kaccayana, P: Pakudha Kaccāyana; S: Kakuda Kātyayāna

Prthurastra, S: Pṛthurāṣṭra

Pancala, P e S: Pañcāla Pancasikha, S: Pañcaśikha Pandaputta, P: Paṇḍaputta; S: Paṇḍaputra Pandava, P: Paṇḍava; S: Pāṇḍava

Pukkusa (P); S: Pulkasa Punabbasuka (P); S: Purnavasu Punna, P: Puṇṇa; S: Pūrṇa Punnaji, P: Puṇṇaji; S: Pūrṇajit

Pandita-kumaraka, P e S: Paṇḍitākumāraka

Punnavaddhana, P: Puṇṇavaḍḍhana; S: Pūrṇavardhana

Pankadha, P e S: Paṇkadhā

Punyaraja, S: Puṇyarāja

parasamgate, S: parasaṃgate

Purana Kassapa, P: Pūrana Kassapa; S: Pūraṇa Kaśyāpa

Parileyyaka, P: Pārileyyaka; S: Pārileśyaka Pasenadi (P); S: Prasenajit Pataliputra, P: Pātaliputta; S: Pāṭaliputra Patikaputta, P: Pāṭikaputta, S: Pāthikaputra Pava, P e S: Pāvā Pavarana, P: Pavārana; S: Pravārana Pavarika, P: Pāvārika; S: Prāvārika Payasi, P e S: Pāyāsi Pessa (P); S: Preṣya Phagguna (P); S: Phalguna Phusati (P); S: Puṣyatī Pilindavaccha, P: Piliṇḍavaccha; S: Pilindavatsa Pindola-Bharadvaja, P e S: Piṇḍola-Bhāradvāja Pingiya, P: Piṇgiyāni; S: Piṅgiya Pippalayana, P e S: Pippalāyana Pipphalivana (P); S: Pippalavana Piyaka (P); S: Priyaka Pokkharasati, P: Pokkharasāti (ou, Pokkharasādi); S: Puṣkarasāri

Purna, S: Pūrṇa Radha, P e S: Rādha Rahu, P e S: Rāhu Rahula, P e S: Rāhula Rajagaha, P: Rājagaha; S: Rājagṛha Rajakarama, S: Rājakārāma Rajayatana, P e S: Rājāyatana Rakkhita (P); S: Rakṣita Rama, P e S: Rāma Ramagama, P: Rāmagāma; S: Rāmagrāma Ramaputta, P: Rāmaputta; S: Rāmaputra Ramavaranta, S: Rāmāvarānta Rammaka (P); S: Rāmyaka Ratiprabhasasri, S: Ratiprabhāsaśrī Ratnacuda, S: Ratnacūḍa Ratnakara, S: Ratnākara Ratnavisuddha, S: Ratnaviśuddha Ratnavyuha, S: Ratnavyūha

posadha, P: upoṣatha; S: poṣadha

Ratridevata, S: Rātrīdevata

Potaliya (P); S: Potāliya

Ratthapala, P: Raṭṭhapāla; S: Rāṣṭrapāla

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Ravana, P e S: Rāvaṇa

Samkassa (P); S: Sāṃkāśya

Revati, S: Revatī

Samudrapratisthana, S: Samudrapratiṣṭhana

Rgveda, S: Ṛgveda

Samudravetadin, Samudravetādin

Rohini, P e S: Rohiṇī

Sandhana, P e S: Samdhāna

Rohitasva, S: Rohitāśva

Sangarava, P: Sangārava; S: Saṅgārava

Roja, S: Rojā

Sanjaya Belatthiputta, P: Sañjaya Belaṭṭhiputta; S: Sañjaya (ou Sañjayin) Vairaṭṭīputra

Rsigiri, P: Isigiri; S: Ṛṣigiri Sabbakama, P: Sabbakāma; S: Sarvakāma Saccaka (P); S: Satyaka Sadaparibhuta, S: Sadāparibhḷta Sadaprarudita, S: Sadāprarudita Saddharma-pundarika, S: Saddharmapuṇḍarika Sagara, P e S: Sāgara Sagaramegha, S: Sāgaramegha Sagaramukha, S: Sāgaramukha Sagaratira, S: Sāgaratīra Sagata, P: Sāgata; S: Svāgata Saha, S: Sahā Saketa, P e S: Sāketa Sakula, P: Sakulā; S: Śakulā Sakuludayin, P: Sakuludāyin, S: Śakula Udāyin

Sanjaya, P e S: Sañjaya Sanjayin Vairattiputra, ver acima Sanjikaputta, P: Sañjikāputta; S: Sañjikaputra Sanjiva, S: Sañjiva Sankha (P); S: Śaṅkha Santendriya, S: Śāntendriya Saradhvaja, S : Sāradhvaja Sari, P: Sāri, S: Śāri Sariputta, P: Sāriputta; S: Śāriputra Sarvagamin, S: Sarvagāmin Sarvarupasam-darsana, S: Sarvarūpasaṃdarśana Sarvasattva-priya-darsana, S: Sarvasattvapriya-darśana Sarvasthanu, S: Sarvaṣṭhānu

Sakya, P: Sākya; S: Śākya

Satagira, S: Śātāgira

Sakyamuni, P: Sākyamunī; S: Śākyamuni

Satatasamitabhiyukta, S: Satatasamitābhiyukta

Sala, P: Sālā; S : Śālā sala, P: sālā; S: śālā Salavatika, P: Sālavatikā; S: Śālavatikā Salhri, P: Sālha, S: Sāḷhṛ Sama (P); S: Śyāma Samagama, P: Sāmagāma; S: Śyāmāgrāma samana, P: samaṇa, S: śramaṇa Samanamukha, S: Sāmanāmukha Samantavyuha, S: Samantavyūha Samavati, P: Sāmāvatī: S: Śyāmāvatī Samaveda, S: Sāmaveda Samiddhi (P); S: Samṛddhi

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Satyaguna, S: Satyaguṇa Savatthi, P: Sāvatthi, S: Śrāvastī Savittha, P: Saviṭṭha; S: Saviṣṭha Sela (P); S: Śailā Setavya, P e S: Setavyā Siddhattha (P); S: Śiddhārtha Sigalakamata, P: Sigālakāmātā; S: Singālakamatā Siha, P: Sīha; S: Siṃha Sikhandhi, P: Sikhaṇḍhi; S: Śikhaṇḍhin Simhaketu, S: Siṃhaketu Simhanada, S: Siṃhanāda

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Simhapota, S: Siṃhapota

Sujati, S: Sujāti

Simhavijrmbhita, S: Siṃhavijṛmbhitā

Sukhavati, S: Sukhāvatī

simsapa, P: simsapā; S: śiṃśapā

Sumagadha, S: Sumāgadhā

Singala, P: Siṇgāla; S: Śiṅgāla

Sumana, S: Sumanā

Siribadda (P); S: Śrīvardha

Sumati, S: Sumatā

Sirima (P); S: Śrīmān

Sumeru-pradiparaja, S: Sumerupradīparāja

Sisupacala, P: Siṣupacālā; S: Śirṣupacālā

Sumerudhvaja, S: Sumerudhvajā

Sivali (P); S: Sīvali

Sumsumara, P: Sumsumāra; S: Śiśumāra

Sivi (P); S: Śibi

Sunakkhatta (P); S: Sunakṣatra

Sobhita (P); S: Śobhita

Sunaksatra, S: Sunakṣatra

Soma, P e S: Somā

Sunaparantaka, S: Sunāparantaka

Sona, P: Sonā; S: Śroṅa

Sundari, P e S: Sundarī

Sona-Kutikanna, P: Soṇa-Kuṭikaṇṇa; S: Śronaviṃśatikoti

Sundarika, P e S: Sundarikā

Sonadanda (P); S: Śroṇadaṇḍa sramana, P: samaṇa; S: śramaṇa Sramanamandala, S: Śramaṇamaṇḍala Sravaka, S: Śrāvaka Sravasti, P: Sāvatthi; S: Śrāvastī Srigandha, S: Śrīgandha Srigarbha, S: Śrīgarbha Sriguna, S: Śrīguṇa Srikuta, S: Śrīkūṭa Srimahadevi, S: Śrīmahādevī Srimala, S: Śrīmālā Srimati, S: Śrīmati Srisambhava, S: Śrīsambhava Sthila, S: Sthilā Subhadda (P); S: Subhadra Subhaparangama, S: Śubhapāraṅgama Subhuti, P e S: Subhūti Subrahma, S: Subrahmā Sudarsana, S: Sudarśana Suddhadhimukti, S: Śuddhādhimukti Suddhodana (P); S: Śuddhodana

Sundarinanda, S: Sundarīnandā Suppabuddha (P); S: Suprabuddha Suppatittha, P: Supatiṭṭha; S: Supratiṣṭha Suppavasa, P: Suppavāsā; S: Supravāsā Suppiya, P: Suppiyā; S: Supriyā Suprabha, S: Suprabhā Supratisthita, P: Suppatiṭṭha; S: Supratiṣṭhita Supratisthitacaritra, S: Supratiṣṭhitacāritra Sura-Ambattha, P: Sūra-Ambaṭṭha Surupa, P e S: Surūpa Suryagatraprabha, S: Sūryagātraprabha svaha, S: svāhā Takkasila, P: Takkasilā; S: Takṣaśilā Tala, P e S: Tāla Taladhvaja, S: Tāladvaja Talaputa, P e S: Talapuṭa Tapussa (P); S: Trapuṣa Tarukkha, P: Tārukkha; S: Tārukṣya Tathagata, P e S: Tathāgata Tathagata-garbha, S: Tathāgatagarbha Tavatimsa, P: Tāvatiṃsa; S: Trāyastriṃśa

Sugriva, S: Sugrīva

Thullakotthita, P: Thullakoṭṭhita; S: Sthūlakaṣṭhaka

Sujata, P e S: Sujātā

Tindukkhanu (P); S: Tinduṣṭānu

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Tisya, S: Tiṣya

Vaiduryaprabha, S: Vaiḍūryaprabha

Trayastrimsa, P: Tāvatiṃsa; S: Trāyastriṃśa

Vairattiputra, S: Vairaṭṭīiputra

Tusita (P); S: Tuṣita

Vaisadya, S: Vaiśadya

Ucchusma, S: Ucchuṣma

Vaisali, P: Vesālī; S: Vaiśālī

Udayin, P e S: Udāyin

Vajji (P); S: Vṛji

Uddaka (P); S: Udraka

Vajra, S: Vajrā

Uddaka Ramaputta, P: Uddaka Rāmaputta; S: Udraka Rāmaputra

Vajrapani, S: Vajrapāni

Udena (P); S: Udyana udumbara, P e S: uḍumbara Udumbarika, S: Uḍumbarikā Ugga (P); S: Ugra; Ulka Uggasena (P); S: Ugrasena Uggata (P); S: Udgata Ugrasresthin, S: Ugraśreṣṭhin Ujjeni (P); S: Ujjayanī Ujunna, P: Ujuññā; S: Ṛjunyā Ukkala (P); S: Utkala Ukkattha, P: Ukaṭṭhā; S: Ulkaṣṭha Upacala, P e S: Upacālā Upali, P e S: Upāli Upalivata, S: Upālivata Upatissa (P); S: Upatiṣya Upavana, P e: Upavāṇa uposatha: P: upoṣatha; S: poṣadha Uppalavanna, P: Uppalavaṇṇā; S: Utpalavarṇā Uruvela, P: Urevelā; S: Uruvilvā Uruvilvakasyapa, P: Uruvela-Kassapa; S: Uruvilvākāśyapa Utpala, S: Utpalā Utpalabhuti, S: Utpaiabhūti Utpalavarna, P: Uppalavaṇṇa; S: Utpalavarṇā Uttara, P e S: Uttarā Uttaraka, P e S: Uttarakā Vaccha (P); S: Vatsa Vacchagotta (P); S: Vatsagotra Vaidehi, S: Vaidehī

CEBB

Vakkali (P); S: Valkalin Vamsa (P); S: Vatsa Vanavasin, S: Vanavāsin Vanganta, S: Vaṅgantā Vangisa, P: Vaṇgīsa; S: Vāṅgīśa Vanka, S: Vaṅka Vappa (P); S: Vāṣpa Varana, P: Varanā (or Viranā), S: Varaṇa Varanasi, P: Bārāṇasi; S: Vārāṇasī Varsakara, P: Vassakara; S: Varsakāra Vasettha, P: Vāseṭṭha; S: Vāsiṣṭha Vassakara, P: Vassakāra; S: Varṣakāra Vasumitra, S: Vasumitrā Vedehika (P); S: Vaidehikā Vedhanna, P: Vedhañña; S: Vaidhnya Vediyaka (P); S: Vaidya Vehalinga (P); S: Veruḍiṇga Venagapura, P: Venāgapura; S: Venāgrapura Venuvagrama, S: Veṅuvagrāma Venuyastika, S: Veṇuyaṣṭikā Vepula (P); S: Vipula Vesali, P: Vesālī; S: Vaiśālī Vessantara (P); S: Viśvantara Vessavana (ou Vissavana), S: Vaiśravana Vestila, S: Veṣṭhila Vethadipa, P: Vethadīpa; S: Vaiṭhadvīpaka Vetramulaka, S: Vetramūlaka Vicitra-saladhvaja-vyuha,S: Vicitraśāladhvajavyūha Vidudabha, P: Vidūdabha; S: Virūḍhaka

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Vijaya, S: Vijayā vijnana, S: vijñāna Vikramasurya-candra-prabha, S: Vikrama-sūryacandra-prabha Vimala, S: Vimalā Vimalakirti, S: Vimalakīrti Vipasyin, P: Vipassin; S: Vipaśyin Visakha, P: Visākhā; S: Viśākhā Visarada, S: Viśārada Visistacaritra, S: Viśiṣṭacāritra Vissakamma, P: Vissakammā; S: Viśvakarmā Visuddhacaritra, S: Viśuddhacārita Visvabhu, S: Viśvabhū Vrji, P: Vajji; S: Vṛji Vrjian, P: Vajjian; S: Vṛjian Yajnadatta, S: Yajñadatta yaksas, S: yakṣas Yasa (P); S: Yaśas Yasaskama, S: Yaśaskama Yasodhara, P: Yasodharā; S: Yaśodharā

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

LEITURAS SUGERIDAS

Muitos livros sobre budismo em inglês, tanto para leitores iniciantes quanto para os estudantes avançados, têm sido publicados, especialmente nos últimos 50 anos durante os quais o interesse pelas religiões e culturas orientais cresceu significativamente. Deparando-se com tal disponibilidade intimidante, os leitores podem achar difícil escolher livros que proporcionem explicações confiáveis, porém não eruditas demais, do Budadarma ou uma biografia histórica do Buda. As melhores escolhas seriam os livros escritos em inglês simples por autoridades reconhecidas neste campo. Seguem alguns poucos títulos de livros escritos por eruditos amplamente conhecidos para o público leitor em geral. Eles proporcionarão um excelente ponto inicial a partir do qual os horizontes dos leitores poderão se expandir para as várias tradições que se desenvolveram a partir do ensinamento simples, mas profundo, do Buda; isto é, as escolas Theravada do sul da Ásia, ou as escolas Zen, Terra Pura e outras do Mahayana do norte da Ásia, incluindo o misterioso e fascinante Vajrayana do Tibete. Nesse processo, talvez o leitor possa acabar encontrando um caminho espiritual adequado que o conduza a uma vida pacífica e significativa em um mundo cada vez mais complexo e estressante.

Caritas, Michael. The Buddha. Londres: Oxford University Press, 1983. Um relato factual da vida do Buda, relacionando-o às condições sociais da época e examinando os

elementos de seu ensinamento que tiveram apelo

aos povos de muitas culturas diversas em tempos modernos e antigos. CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Harvey, Peter. An Introduction to Buddhism: Teaching, History & Practices. Cambridge University Press, 1990. Neste livro o Sr. Harvey não apenas faz um relato factual da religião budista a partir de sua

filosofia,

desenvolvimento

e

história,

mas

também apresenta como esses ensinamentos funcionam como um conjunto de práticas para a vida das pessoas modernas também.

Harvey, Peter. An Introduction to Buddhist Ethics: Foundations, Values and Issues. Cambridge University Press, 2000. Um livro provocante sobre ética budista para aqueles que já estudaram teorias éticas ocidentais. Este

livro poderá inspirar o leitor ocidental a

ver as coisas de uma perspectiva diferente e oferece

perspectivas

sobre

temas contemporâneos.

Lopez, Donald. Buddhism in Practice. Princeton University Press, 1995. Uma antologia de quarenta e oito textos traduzidos, sendo que a maioria ainda não existia em língua

inglesa, que descrevem o

escopo da prática budista na Ásia. Parte dos Princeton Readings na

vasto

série de

religiões, este livro também proporciona introduções significativas a cada seção por seu

respectivo tradutor.

Mizuno, Kōgen. The Beginnings of Buddhism. Traduzido por Richard L. Gage. Tóquio: Kōsei Publishing Co., 1980. Brevemente e em linguagem simples, o Professor Mizuno primeiro descreve o cenário político e cultural do período no qual o Buda viveu. Em seguida, com o público comum em mente, ele

apresenta uma explicação

clara e compreensível do ensinamento do Buda. Este livro atraente inclui CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

fotografias dos lugares significativas na vida do Buda como hoje se encontram na Índia moderna.

Mizuno, Kōgen. Buddhist Sutras: Origin, Development, Transmission. Edição inglesa. Tóquio: Kōsei Publishing Co., 1982. Apresenta de forma fácil o contexto histórico de como as escrituras budistas se originaram e se desenvolveram; e como foram traduzidas e introduzidas nos vários países além da Índia. O

Professor Mizuno começa

com uma explicação simples sobre o significado de ‘sutra’, e como a forma e estilo já utilizados pelo antigo bramanismo indiano foram adotados pelos budistas para registrar

os discursos do Buda. A partir de uma

perspectiva equilibrada, o autor também discute problemas

relativos

à

autenticidade de sutras e as controvérsias que surgiram devido a esses problemas.

Nakamura,

Hajime.

Gotama

Buddha.

Los

Angeles:

Buddhist

Books

International, 1977. A partir de uma vida de estudos budistas, o Dr. Nakamura, eminente Professor Emérito da Universidade de Tóquio, procura oferecer ao leitor comum uma biografia do Buda despida das histórias

lendárias

e

mitológicas atribuídas a ele por escritores exagerados no início da história budista. Ele conseguiu apresentar neste pequeno volume uma biografia altamente confiável

baseando-se nas primeiras escrituras budistas e em

relatos contemporâneos à vida do Buda.

Nyanaponika, Thera. The Heart of Buddhist Meditation. Nova Iorque: Samuel Weiser, Inc., 1969. Uma descrição detalhada e clara da meditação da “atenção mental” CEBB

1503 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

(sati) ensinada pelos budistas Theravada do sudeste da Ásia. O livro também inclui o texto sobre meditação que dá origem a esta

forma de meditação,

o Grande Discurso das Fundações da Atenção Mental (Mahā-Satipatthāna Sutta), assim como a descrição de Thera desta prática.

Queen, Christopher S. Engaged Buddhism in the West. Somerville: Wisdom Publications, 1999. Editado por Christopher S. Queen, esta antologia apresenta o budismo a partir de um contexto socialmente engajado. Este livro aborda o trabalho ativista de organizações budistas, templos e membros de todo o mundo tratando de temas como saúde, comércio, educação, meio ambiente, reforma dos presídios, igualdade de gêneros e respeito.

Rahula, Walpola. What the Buddha Taught. 2ª edição estendida. Nova Iorque: Grove Press, 1974. O autor, um distinto erudito da divisão Theravada (do sul) do budismo, oferece ao leitor comum uma exposição sistemática, respeitável do ensinamento essencial e fundamental do Buda, incluindo as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo. Ele também procura esclarecer os significados de muitos termos que aparecem nas escrituras em páli.

Robinson, Richard H. e Johnson, Willard L. The Buddhist Religion. Belmont, Califórnia: Wadsworth Publishing Company, 1982. Uma descrição clara e precisa do budismo conforme é encontrado por toda a Ásia, da Índia à Coreia e ao Japão, e até os Estados Unidos. Os autores examinam todos os ensinamentos importantes, bem como o papel do budismo nessas sociedades.

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Sangharakshita. The Eternal Legacy: an Introduction to the Canonical Literature of Buddhism. Londres: Tharpa Publications, 1985. Nascido na Inglaterra e ordenado monge budista, este autor amplamente respeitado apresenta

“basicamente para o estudante do

budismo que não está numa posição de explorar por si mesmo a literatura canônica” que abrange um número formidável de volumes, uma discussão sobre o conteúdo de muitos dos sutras principais de várias tradições do budismo. Este livro é uma fonte valiosa de informação para as passagens dos sutras que aparecem em Budadarma.

Śāntideva. Entering the Path to Enlightenment. O Bodhicaryāvatāra do poeta budista Śāntideva. Tradução com guia por Marion L. Matics. Nova Iorque: The Macmillan Company, 1970. Śāntideva, um monge poeta do oitavo século D.C. da Índia, descreve em versos com imagens

maravilhosas os passos a serem seguidos para se

tornar um bodisatva, que faz o voto de conduzir

todos os seres vivos à

iluminação. A Dra. Matics oferece não apenas a tradução deste belo poema, mas uma útil introdução ao nascimento do budismo Mahayana e da prática do bodisatva que leva à

iluminação.

Streng, Frederik J. Emptiness: A Study in Religious Meaning. Nashville: Abingdon Press, 1967. O autor aborda a questão do significado religioso do ensinamento fundamental do budismo

Mahayana, a “vacuidade” (śunyatā). A doutrina

da vacuidade parece superficialmente apenas uma ideia filosófica, altamente abstrata e intangível para o leitor comum, mas o autor habilmente abre o caminho para uma compreensão mais clara de como o conceito da “vacuidade” pode ser aplicado à vida espiritual de cada um. Ele começa CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

explicando como o termo se originou com Nagarjuna, o filósofo budista na Índia durante o segundo século D.C., e como ele se relaciona com os conceitos budistas básicos.

Thurman, Robert A. F. Essential Tibetan Buddhism. São Francisco: Harper, 1996. Como um dos principais eruditos budistas na América e pessoa de confiança de Sua Santidade, o

Dalai Lama, o Dr. Thurman reuniu os

elementos essenciais do budismo tibetano e traça seu

desenvolvimento

desde a Índia. Ele explica por que o budismo tibetano é único, e mesmo assim,

como ele é capaz de lidar com o mundo em que vivemos hoje.

Williams, Paul. Mahayana Buddhism: The Doctrinal Foundations. Londres, Nova Iorque: Routledge, 1989. Um texto bem escrito com muitas referências que proporcionam uma introdução

completa

ao

budismo

Mahayana,

incorporando

o

desenvolvimento do budismo dentro de um contexto histórico à medida que se espalhou por toda a Ásia oriental.

Wright, A.F. Buddhism in Chinese History. Stanford University Press, 1983. Uma excelente apresentação da história do budismo desde o tempo de sua introdução na China até os tempos modernos. Apresenta alguns fatos e informações não encontrados em qualquer outro

CEBB

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lugar.

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

A SOCIEDADE PARA A PROMOÇÃO DO BUDISMO

Para descrever a Sociedade para a Promoção do Budismo, a organização patrocinadora deste projeto, é necessário nos referirmos ao industrial internacional, o falecido Reverendo Dr. Yehan Numata. O Reverendo Dr. Numata nasceu na família de um sacerdote budista em Hiroshima, Japão. Ainda jovem, ele estudou economia na Universidade da Califórnia, Berkeley, passando pelos programas de graduação e pósgraduação. Retornando ao Japão, ele trabalhou como estatístico no Escritório de Recursos do governo japonês. O Reverendo Numata teve uma profunda experiência religiosa ao contrair uma doença de natureza grave durante sua estadia nos Estados Unidos, o que inspirou sua decisão de compartilhar com os outros as mensagens maravilhosas do Buda. Para realizar isto, ele percebeu que deveria ser independente financeiramente para não precisar contar com o suporte dos outros. Então, ele renunciou ao seu posto no Escritório de Recursos, e em 1934 iniciou um empreendimento próprio, que se desenvolveu naquilo que é hoje a Corporação Mitutoyo, líder mundial em instrumentos de medida de precisão. O Reverendo Numata fez todos os esforços possíveis para introduzir as pessoas ao grande ensinamento do Buda como meio de conduzi-las à perfeição da mente humana. Tendo gerenciado as operações de sua companhia por mais de cinquenta anos, então ele criou com seus próprios CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

fundos a Sociedade para Promoção do Budismo (Bukkyo Dendo Kyokai), como um órgão para expandir a causa do budismo como forma de contribuir para a paz mundial. Um dos objetivos da Sociedade é compartilhar com os outros os ensinamentos do Buda de todas as formas possíveis. Uma dessas formas foi gerar uma antologia de escrituras budistas que apresentariam o todo do ensinamento, abrangendo todas as faces do Darma, e não apenas um aspecto do budismo japonês representado de forma sectarista. Isto levou ao surgimento do livro “Ensinamento do Buda”. Até o momento, mais de seis milhões de cópias, em mais de 30 idiomas foram distribuídos em hotéis, bibliotecas, escolas e para indivíduos por todo o mundo. Outras ações significativas incluem o estabelecimento de Cadeiras Numata em Estudos Budistas em diversas grandes universidades no hemisfério ocidental e na Europa. De modo a estabelecer bases firmes para compartilhar o ensinamento do Buda, o Sr. Numata também construiu templos budistas em diversos locais do mundo onde anteriormente eles não existiam. Ao fim de uma longa e significativa vida, o Reverendo Dr. Numata faleceu aos 97 anos em 1994. Hoje, o trabalho da Sociedade continua sob a direção do primeiro filho do Reverendo Numata, o Reverendo Toshihide Numata como Presidente. A Sociedade gostaria aqui de manifestar sua profunda apreciação e agradecimentos ao Reverendo Muan Kizu e outros que compilaram a versão original japonesa de forma concisa a partir do imensamente maior Taisho Daizokyo.

CEBB

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

ÍNDICE Os tópicos são citados pelo número do Livro, número do capítulo, número da seção e subseção, por exemplo: III, cap.2, 3(6); ou, VI, cap.1, 5, #206. * = locais onde o Buda permaneceu ou pelos quais ele passou (conforme indicado no texto) para ensinar discípulos, outros mendicantes ou quaisquer outras pessoas. Entretanto, registros para lugares como Rajagaha, Savatthi e Vesali são numerosos demais para citar cada exemplo.

A Abandono do lar, ver Mendicantes Abhaya, instrução de Ananda a, sobre os 3 Aprendizados, III, cap.2, 3(6)

Alamandanda (brâmane), instruído por MahaKaccayana, V, cap.4, 2(1)

Abhayarajakumara (príncipe), enviado por Nigantha para debater com o Buda, VII, cap.2, 1(7)-(8)

Alara Kalama (professor asceta), I, cap.1, 5(3); sua morte, I, cap.3, 1(1)

Abhiguna (príncipe), [um Jataka], III, cap.3, 9(3) Acala (devoto), professor Sudhana, III, cap.3, 8(11)

e

orientador

de

Aciravati, Rio*, IV, cap.3, 1(5) Ações negativas (5), VI, cap.2, 4(9)-(13) Ações, positivas e negativas, VI, cap.1, 5, #116-127 Acrobata, ver Uggasena (acrobata) Afirmação e negação, os princípios extremos de, I, cap.3, 5(5) Água, porção maior que o oceano [parábola], VII, cap.3, 4(1) Água de irrigação, disputa por, II, cap.2, 5(1) Ahimsaka, ver Angulimala Ajatasatru [P: Ajatasattu], nascimento, VII, cap.2, 2(1); usurpa o trono e aprisiona o pai, VII, cap.2, 2(1); preocupação com o filho Udaya, VII, cap.2, 4(3); tenta matar a mãe, mas é dissuadido por Jivaka, VII, cap.2, 3(1); doença causada pelas ações negativas, VII, cap.2, 4(4); ministros servindo aos próprios interesses lhe dão conselhos, VII, cap.2, 4(4)-(9); ouve a voz do pai morto, VII, cap.2, 4(11); o Buda prolonga a própria vida para o bem dele, VII, cap.2, 4(12); abandona o plano de atacar Vrji, VIII, cap.1,1(2); reivindica parte das relíquias do Buda, VIII, cap.4, 7(8) Ajita Kesakambala [ou Ajita Kesakambalin] (professor), II, cap.1, 2(3); IV, cap.3, 5(2); VII, cap.2, 4(7)

Alavaka (demônio canibal), captura o Rei de Alavi, V, cap.l , 2(1) Alavi (reino)*, III, cap.3, 3(1); onde demônios infligem sofrimentos, V, cap.1, 2(1) Alaya-vijnana (consciência depósito ou semente), II, cap.3, 3(2)-(3) Alimento, instrução do Buda sobre o, VIII, cap.1, 3(8) Alma e corpo, se são iguais ou diferentes, IV, cap.1, 2(3) Alokamukha, Bodisatva, ver Bodisatvas, diálogos com Manjusri Amalaki, bosque (em Catuma), IV, cap.3, 2(1) Ambagama (vila)*, VIII, cap.3, 1(5) Ambalatthika (vila)*, IV, cap.4, 1( 1) Ambasanda (vila brâmane)*, próxima à Caverna Indasala onde o Buda morou, II, cap.2, 2(1) Ambattha (discípulo de Pokkharasati), visita o Buda, V, cap. 1, 3(2) Amida, Buda, ver Amitayus, Buda Amigos, falsos e verdadeiros, III, cap.3, 4(4) Amitabha, Buda, ver Amitayus, Buda Amitayus, Buda, seus Votos Primordiais (Originais), VI, cap.2, 1(4); seus outros nomes, VI, cap.2, 2(1); com os Bodisatvas Avalokitesvara e Maha-sthamaprapta, VII, cap.2, 3(4)-(9) Amor, 2 tipos de, VIII, cap.3, 4(3)

Akanistha, Céu de, VII, cap.1, 1(1)

Amragrama (vila), ver Ambagama

Aksayamati, Bodisatva, VII, cap.1, 5(10)-(11)

Amrapali (cortesã) [P: Ambapali], convida o Buda para uma refeição, VIII, cap.1, 3(2)-(3); toma refúgio nos 3 Tesouros, VIII, cap.1, 3(7)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Amrapali, Bosque de (ou Floresta de)*, IV, cap.4, 3(1); VIII, cap.1, 3(1); VIII, cap.1, 3(4)-(6) Anala (Rei), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(9) Ananda, torna-se um mendicante, I, cap.4, 5(4); escolhido como atendente do Buda, V, cap.3, 6; discurso do Buda para ele sobre o Bodisatva Dharmakara, VI, cap.2, 1-3; dá um discurso, VI, cap.4, 2(2); discurso para Sandaka e seus discípulos, V, cap.1, 1(4)-(6); instruções do Buda para ele na casa de Gataya em Kapilavatthu, V, cap.2, 2(9); tristeza com a predição da morte do Buda, VIII, cap.1, 5(3); aflição com a morte do Buda, VIII, cap.4, 5(1); louvado pelo Buda, VIII, cap.4, 5(4) Anantacaritra, Bodisatva, VII, cap.1, 4(7) Anathapindika (o rico) [Sct: Anathapindada], aceito como seguidor, I, cap.4, 6(2); oferece o Bosque Jeta para a Sanga (Jetavana), I, cap.4, 6(7); casamento da filha, VII, cap.3, 1(1)-(2); hino de louvor ao Buda, VII, cap.3, 1(6)

Árvore e sua essência [metáfora], VII, cap.2, 1(6) Árvore do óleo de castor, ver Erranda Asa (devoto), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(8)-(9) Asin (filho do Rei dos Mallas), sua súplica ao Buda, VIII, cap.4, 5(6) Asita (sábio), prediz que Siddhattha se tornará um monarca universal, I, cap.1, 2 (3); sua morte, I, cap.4, 1(3) Assaji (discípulo), encontra Upatissa, I, cap.3, 5(2); repreendido com Punabbasuka, V, cap.1, 1(2) Assapura (cidade)*, IV, cap.1, 5(8) Asvaghosa, Bodisatva, VII, cap.3, 4(10) Atenção mental plena, VIII, cap.4, 6(6); 4 campos da, VIII, cap.1, 5(5) Atenção plena à respiração, V, cap.3, 1(2) Atman e anatman, II, cap.3, 4(2)

Anatman, 2 tipos, II, cap.3, 3(6); III, cap.1, 2(5)-(7)

Atuma (vila)*, onde o Buda em meditação não se perturbou com caravana, VIII, cap.3, 3(3)

Anciões, Discípulos, V, cap.4, 4(3)

Autoconfiança, 4 estados de, VIII, cap.2, 4(6)

Anga (reino)*, IV, cap.1, 5(4)

Avalokitesvara, Bodisatva, professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(19); seus grandes feitos e virtudes, VII, cap.1, 5(11)

Angaka (sobrinho de Sonadanda), IV, cap.1, 5(6) Angulimala, V, cap.3, 3(3)-(6) Anguttarapa (local)*, VI, cap.4, 2(3) Animais, 6 espécies unidas [analogia], II, cap.4, 10(9) Aniruddha, ver Anuruddha Anoma, Rio*, onde Siddhartha chega após deixar o palácio, I, cap.1, 5(2) Anugara (asceta), no Parque do Pavão, IV, cap.3, 5(2) Anupiya (vila)*, I, cap.4, 5(4) Anuruddha (discípulo) [Sct: Aniruddha], deixa o lar, I, cap.4. 5(4); instruções do Buda para, II, cap.4, 9(2)-(4); com outros discípulos escolheu Bhaddiya para converter, VII, cap.4, 3(1); nos ritos de cremação de Sariputra, VIII, cap.1, 4, (4); passa a noite num discurso com os discípulos, VIII, cap.4, 7(1)-(3) Aparência, Julgando pela, VII, cap.3, 4(13); e realidade da, VIII, cap.2, 4(7) Após a morte, VIII, cap.4, 8(7) Arittha (discípulo com visões errôneas), instruído pelo Buda, III, cap.l, 2(3) CEBB

Avici, inferno, VII, cap.1, 1(1); VII, cap.2, 4(5) À Vontade (assassino arrependido), torna-se discípulo do Buda [parábola], VII, cap.3, 4(14) Ayodhya (cidade)*, regida pela Rainha Srimala, VI, cap.3, 4(1)

B Bahuka, Rio, Lendas sem sentido sobre, VI, cap.1, 1(5) Baliharana (floresta)*, IV, cap.1, 1(5) Balsa [parábola], III, cap.1, 2(4) Bandhula (General), Pasenadi o mata e também seus filhos, VII, cap.4, 4(3) Baranasi [Sct: Varanasi]*, ver Parque dos Cervos Bavan (brâmane), instruído pelo Buda, VIII, cap.3, 1(8)-(9) Benefício quíntuplo para pessoas de ações puras, VIII, cap.1, 3(2) Bhadda (filha de Tumburu, Rei dos Gandhabbas), chamada de Luz do Sol, II, cap.2, 2(2)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Bhadda (discípulo), instruído por Ananda, VIII, cap.4, 8(9)

Bhismottaranirghosa (sábio), professor orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(9)-(10)

Bhadda (Rainha), o Rei Munda se entristece com sua morte, VIII, cap.4, 8(11)

Bhoganagara (cidade)*, VIII, cap.3, 1(6)-(7)

Bhaddakapilani (monja), quando jovem casa com Pippalayana, I, cap.4, 1(1) Bhaddali (discípulo), desobedece às regras do Buda, V, cap.1, 4(10) Bhaddiya (Rei), torna-se discípulo do Buda, I, cap.4, 5(4)-(5) Bhaddiya (cidade em Anga)*, cidade natal de Visakha, V, cap.3, 3(1); o Buda é convidado para a casa de Ugga, VI, cap.1, 2(10) Bhaddiya (rico e avarento), Moggallana, VII, cap.4, 3(1)-(3)

orientado

por

Sagara),

ver

Bhadrakapilani (da cidade Bhaddakapilani (monja)

de

Bhadramukha, Bodisatva, diálogos com Manjusri

ver

e

Bhoja (pai do deus Rohitassa), III, cap.3, 6(5) Bimbisara (Rei de Magadha), encontra Siddhartha, I, cap.1, 5(4); toma refúgio nos 3 Tesouros, I, cap.3, 4(3); oferece o Bosque de Bambus, I, cap.3, 4(4); sugere uma assembleia regular dos discípulos, II, cap.4, 2(1); pede por instruções do Buda durante a fome em Vesali, II, cap.2, 3; na prisão, VII, cap.2, 2(1); sua morte, VII, cap.2, 4(3); persuade o filho (como uma voz do céu) a buscar a instrução do Buda, VII, cap.2, 4(11) Boa pessoa, pode reconhecer uma pessoa boa ou má, VII, cap.4, 2(3) Bodhi (Príncipe), discurso do Buda para o, VII, cap.3, 2(1)-(2); toma refúgio pela 3ª vez, VII, cap.3, 2(3)

Bodisatvas,

Bodhimukha, Bodisatva, ver Bodisatvas, diálogos com Manjusri

Bhadrika (Rei), matou o pai, usurpou o trono, VII, cap.2, 4(7)

Bodisatva, prática em 4 caminhos, II, cap.3, 4(3); 10 estágios progressivos do, IV, cap.4, 2(1)-(10); sua conduta, V, cap.4, 5(2); suas práticas, VIII, cap.4, 1(1)-(4)

Bhagga (cidade)*, VII, cap.3, 2(1) Bhaggava (professor), Siddhartha observa sua prática ascética, I, cap.1, 5(3) Bhaggava-gotta (professor nômade), o Buda o visita em Anupiya, II, cap.4, 5(5) Bhagu (discípulo), junto com outros jovens Sakya se torna um mendicante, I, cap.4, 5(4) Bhaisajyaraja, Bodisatva, instruído pelo Buda, VII, cap.1, 3(9); sua vida passada, VII, cap.1, 5(9) Bhallika e Tapussa (mercadores), encontram o Buda após a iluminação, I, cap.2, 3(3) Bhanda (vila)*, VIII, cap.3, 1(5) Bharadvaja (brâmane), sobre a verdadeira natureza do Caminho, IV, cap.3, 1(5)-(8); permanece no Monastério Oriental em Savatthi, V, cap.3, 4(1) Bharandu Kalama (discípulo), o Buda passa a noite em sua casa, IV, cap.1, 1(1) Bhesakala, Bosque*, em Sumsumara, II, cap.4, 9(1), (4) Bhesika (cabeleireiro), convida o Buda para a casa de seu mestre, IV, cap.3, 1(1) Bhismagarjitasvararaja, Buda, conduziu muitos à iluminação, VII, cap.1, 5(6)

CEBB

Bodisatvas, diálogos com Manjusri, II, cap.1, 4(1)(5); como cada um atingiu a iluminação, III, cap.1, 5(1)-(6); como cada um acessou o Portal do Darma da não dualidade, IV, cap.4, 3(15) Bosque de Bambus, Monastério do, construído perto de Rajagaha, I, cap.3, 4(4); onde o Buda ensina, I, cap.3, 6(1); onde o Buda passa a 3ª estação chuvosa, II, cap.2, 1(1); de onde o Buda dissemina o Darma em Rajagaha, II, cap.2, 2(1) Brahma (deus), sua súplica ao Buda, I, cap.2, 3(4)(5) Brahmadanda (punição por ofensas menores), VIII, cap.4, 8(10) Brahmadatta (Rei de Varanasi), V, cap.2, 2(2)-(5); ouve uma voz do cemitério, VII, cap.3, 4(12) Brâmane (verdadeiro), VI, cap.1, 5, #385-423 Brâmanes, 5 qualificações dos, IV, cap.1, 5(5); um ancião perde o que tem de valor para outro [parábola], VII, cap.3, 4(13) Buda, 10 epítetos, II, cap.4, 5(2); 10 poderes, II, cap.4, 5(2); poderes milagrosos, II, cap.4, 5(7); adverte os discípulos por comoção, IV, cap.3, 2(1); suas 5 virtudes, IV, cap.3, 5(3); leve doença em Kapilavatthu, VI, cap.1, 3(9); seu corpo envelhece, VII, cap.4, 4(1); duração da vida, VII, cap.1, 4(8), 1511 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

5(1); palavras desagradáveis dele, VII, cap.2, 1(7); tenta impedir a destruição de Kapilavatthu, VII, cap.4, 5(2); doença em Venuvagrama, VIII, cap.1, 3(9); descansa no santuário Capala em Vesali, VIII,cap.1, 5(1); Mara provoca o Buda que prediz o momento de sua morte, VIII, cap.1, 5(2); fala a Ananda de sua morte próxima, VIII, cap.1, 5(3); 3 corpos do, VIII, cap.2, 1(1); sua vida incomensurável, VIII, cap.3, 2(6); não possui ensinamentos secretos, VIII, cap.3, 2(9); deita entre 2 árvores sala, VIII, cap.4, 3(5); sua instrução final, VIII, cap.4, 6(1)-(8); sua morte, VIII, cap.4, 6(9); ritos funerais, VIII, cap.4, 5(3); velório e cremação, VIII, cap.4, 7(4)-(5); reivindicações por suas relíquias, VIII, cap.4, 7(8)-(9)

Caridade, do homem comum, VIII, cap.2, 4(3)

Buda, manto, assento e quarto do [metáforas], VII, cap.1, 3(9)

Catuma (vila)*, o Buda adverte os discípulos pela comoção, IV, cap.3, 2(1)

Buda, ensinamento do (verso breve), VI, cap.1, 5, #183-185; ver também I, cap.3, 5(3)

Cavalos brancos, dois [enigma], VII, cap.3, 4(1)

Burro [alegoria], III, cap.2, 2(2)

Cavando atrás de água [comparação], VII, cap.1, 3(9)

C

Caverna da Figueira, onde o mendicante Sandaka morava com discípulos, V, cap.1, 1(4)

Cabeça de Cervo (brâmane), adivinhações, VI, cap.1, 2(1)

hábil

em

Caridade, instrução de Moggallana sobre, VII, cap.4, 3(3) Carroceiro, faz 2 rodas para o Rei [analogia], V, cap.3, 5(2) Casa em chamas [parábola], VII, cap.1, 2(3)-(5) Casamento, instrução do Buda sobre, VI, cap.1, 2(10) Castas, Sistema de, V, cap.1, 3(2) Castas, Origem das, V, cap.3, 4(4); igualdade das, VIII, cap.4 Castelo Fragrante, IV, cap.2, 4(3)

Cervo, bloquear a trilha para o pântano ou floresta de um [parábola], VII, cap.1, 6(4)

Caçador de cobras [alegoria], III, cap.1, 2(3)

Chamas violentas, II, cap.1, 1(7)

Cakkavatti (Sct: Chakravartin), ver Monarca Universal

Chandrasuryavimalaprathibasri, Buda, VII, cap.1, 5(9)

Cala (monja), irmã de Sariputra, VI, cap.4, 5(5)

Channa (asceta), discute os 3 venenos com Ananda, III, cap.2, 1(2)

Caminhar sobre a água, poder sobrenatural dos discípulos de, VII, cap.3, 4(16) Caminho do Meio, I, cap.3, 1(4); VIII, cap.3, 2(16) Caminho Único, explicações diferentes dadas de acordo com a capacidade de cada um, VIII, cap.3, 4(4) Campa (capital de Anga)*, às margens do Lago Gaggara*, IV, cap.1, 5(4); V, cap.3, 6(2) Canda (kinnara, músico celestial) e sua esposa Donzela da Lua [um Jataka], I, cap.4, 4(2) Candala (casta intocável), donzela, III, cap.1, 4(1)

Channa (condutor de carruagem), I, cap.1, 5(1)-(2) Channa (discípulo), recebe punição que proíbe os discípulos de falarem com ele, VIII, cap.4, 5(2); perdoado pela Sanga ao se arrepender, VIII, cap.4, 8(10) Charma (discípulo), sua doença e suicídio, VI, cap.4, 4(1) Chattapani (seguidor leigo), enquanto ouve o Buda não se levanta diante do Rei, V, cap.1, 5(2) Cinca, tenta difamar o Buda, II, cap.4, 8(1)

Candradeva (deus), II, cap. 4, 6(6)

Cinco Armas (príncipe), e Demônio dos Pelos Oleosos [parábola], V, cap.1, 5(1)

Candraprabha (ministro de Magadha), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(4)

Cinco correntes da mente, VI, cap.1, 1(6)

Candrasuryapradipa, Buda, VII, cap.1, 1(2)

Cinco desejos, relacionados aos 5 sentidos; I, cap.3, 3(3), prazeres dos, III, cap.2, 4(2)

Capala, Santuário (em Vaisali)*, VIII, cap.1, 5(1)

Cinco faculdades espirituais, VIII, cap.1, 5(5)

Capitão de balsa se recusa a levar o Buda sem receber a taxa, VII, cap.3, 4(16)

Cinco maldades, ver Ações negativas (5)

CEBB

1512 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Cinco poderes da fé, VI, cap.1, 3(2)

Dalhanemi (Monarca Universal), IV, cap.1, 3(2)

Cinco práticas, III, cap.3, 4(5)

Dananjaya (pai de Visakha), muda-se para Saketa, V, cap.3, 3(1)

Citta (homem rico de Macchikasanda), convida discípulos frequentemente para sua casa, VII, cap.3, 3(1)-(2); sua morte, VII, cap.3, 3(6) Cobiça, Mente da, VIII, cap.2, 4(4)

Dantamati, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma

Cobiça, raiva, ignorância, ver Três Venenos Cobras (2), distinguindo [enigma], VII, cap.3, 4(1)

macho

Cobras venenosas, medo [parábola], VIII, cap.4, 1(4)

do

e

Dandapani (do clã Sakya), discurso do Buda para, III, cap.2, 4(7)

fêmea,

homem

de

Coelho e castanheira de cavalo [parábola], II, cap.2, 5(3) Colar, roubado por macaco, [parábola], V, cap.1, 5(3) Compaixão, VIII, cap.3, 6(2)-(4) Concentração mental, VIII, cap.4, 6(6) Conduta, várias metáforas sobre, VI, cap.4, 3(5)(6) Conduta em relação às mulheres, VIII, cap.4, 5(2) Conduta errônea (10), e suas raízes, III, cap.3, 1(4)

Darmas, 5 categorias de, II, cap.3, 3(2)-(3); 3 darmas (vacuidade, ausência de formas e ausência de desejos), IV, cap.1, 1(9) Darma Maravilhoso, ver Sutra do Lótus Darma da Origem do Tathagata, IV, cap.1, 4(5) Darupattika (professor), IV, cap.1, 2(3) Débitos, pagar os [parábola], VII, cap.3, 4(20) Dedo apontando para a lua [metáfora], III, cap.1, 4(4) Depósito ou semente, consciência, ver Alayavijnana Desarmonia na Sanga, V, cap.2, advertência do Buda, V, cap.2, 2(7)-(8)

2(1)-(8);

Desejo e contentamento, VIII, cap.4, 6(5)

Consciência, II, cap.3, 3(2)-(3); 3 tipos de, VIII, cap.2, 1(2)

Desejo intenso, dores do, III, cap.2, 4(1); eliminando o desejo intenso e a luxúria, VI, cap.1, 5, #334-359.

Controlando cobiça, raiva e maldade, VII, cap.1, 6(3)

Desejos, ausência de, IV, cap.1, 1(9)

Coração, mente e consciência, II, cap.3, 3(2) Coração, Sutra do (Sct: Prajna-paramita-hrdaya sutra), IV, cap.2, 3 Corpo, natureza frágil do, VI, cap.1, 5, #147-150 Corrente da captura (peixe), ver Peixes [um Jataka], 8(3)-(4) Cudi (princesa), instruções do Buda para, VI, cap.1, 2(9) Cunda (filho do ferreiro), última visita do Buda, VIII, cap.3, 1(10); Buda passa mal com sua oferenda, VIII, cap.3, 3(3); Buda o louva, VIII, cap.4, 3(1); sua morte, VIII, cap.4, 3(4) Cunda (discípulo noviço), instruído pelo Buda no Bosque Jeta, V, cap.4, 1(1); Buda o instrui em Pava, VII, cap.4, 1(2)-(5); como atendente de Sariputra reúne suas cinzas e se apresenta a Ananda, VIII, cap.1, 4 (4)-(5)

Despertar da fé, VI, cap.2, 3(1) Desperto e dormindo [enigma], VII, cap.3, 4(1) Destemor, ver Autoconfiança Destinos (vidas futuras), determinados pelo grau de realização, VIII, cap.1, 2(6); dos seguidores do Buda, VIII, cap.1, 2(6) Determinismo, crítica ao, II, cap.4, 8(4) Devadatta, descontente com o Buda conquista o favor de Ajatasatru, VII, cap.2, 1(1); organiza Sanga própria, VII, cap.2, 1(1)-(2); conspira para controlar a Sanga do Buda, VII, cap.2, 1(3); propõe novo conjunto de preceitos, VII, cap.2, 1(4); envia 64 soldados para matar o Buda, VII, cap.2, 4(1); solta um elefante contra o Buda, VII, cap.2, 4(2); mata a monja Utpalavarna, VII, cap.2, 5(5); sua morte, VII, cap.2, 5(6) Deus e seu poder de criação, VIII, cap.2, 4(3) Dez açõs de corpo, fala e mente, V, cap.2, 4(3)

D CEBB

Dez epítetos do Buda, ver Dez preceitos do Buda para jovens discípulos, I, cap.4, 5(3) 1513 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Dez virtudes dos grandes reis [um Jataka], VII, cap.3, 4(11)

características dominantes de cada um, VII, cap.4, 6(4)

Dhammadinna (monja), anteriormente esposa de Visakha, IV, cap.3, 5(4)

Disseminando o Darma, I, cap.3, 2(3)

Dhammapada, VI, cap.1, 5

Dona (brâmane), distribuiu as relíquias do Buda, VIII, cap.4, 7(8)

Dharanidhara, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um atingiu a iluminação

Donzela que ofereceu incenso de madeira de sândalo, VII, cap.3, 4(17)

Dharmadhatus, III, cap.3, 9(1)

Donzela da Lua, ver Canda (Kinnara)

Dharmakara, Bodisatva, louva o Buda Lokesvararaja, VI, cap.2, 1(2:i); seus votos, VI, cap.2, 1(4); estabelece a Terra Pura da Paz e da Felicidade, VI, cap.2, 1(3)-(6); torna-se o Buda Amitayus (Vida Infinita), VI, cap.2, 2(1)

Dores da fome, VII, cap.3, 4(1)

Dharmakaya, corpo não mundano, II, cap.3, 5(6); corpo fundamental de todas as coisas, VI, cap.3, 5(7); VIII, cap.2, 1(2)-(6); VIII, cap.3, 2(7)

Dormindo em bem-aventurança, I, cap.4, 6(2); Hatthaka fica sabendo que o Buda dorme bem, III, cap.3, 3(1) Drdha (deusa da terra), instruída pelo Buda, VIII, cap.2, 2(2) Duas rodas [parábola], V, cap.3, 5(2)

Dharmavikurvana, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma

Dummuka (do clã Licchavi), conta a parábola do Buda do caranguejo, IV, cap.3, 2(8)

Dharmodgata, Bodisatva (professor Sadaprarudita), IV, cap.2, 4(5)-(13)

de

Dunnivittha (vila brâmane), onde Jujaka toma vantagem de Vessantara, I, cap.4, 3(4)

Diamante do lutador na testa [parábola], VIII, cap.3, 2(14)

Durgajanapada (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(17)

Diamante, Sutra do (Sct: Vajracchedika-prajnaparamita-sutra), IV, cap.2, 2

E

Digha, declara Vajjis afortunados por 3 discípulos do Buda morarem ali, III, cap.2, 3(5)

Ego, 4 visões sobre o, II, cap.4, 7(2)

Digha-Karayana (General), visita o Buda com o Rei Pasenadi, VII, cap.4, 4(3)

Ekayana (Veículo Único), Buda instrui Mahamati sobre, II, cap.3, 5(1); VI, cap.3, 5(7); VII, cap.1, 1(4)(5); e a natureza búdica, VIII, cap.4, 4(1)

Digha-tapassi (discípulo de Nigantha), IV, cap.1, 5(1) Dighanakha (brâmane), tio de Sariputra, clama não afirmar nada, I, cap.3, 5(5) Dighavu (príncipe), buscou vingança contra o Rei Brahmadatta, V, cap.2, 2(2)-(5) Dighiti (Rei de Kosala), Brahmadatta, V, cap.2, 2(2)-(5)

executado

por

Diligência, VIII, cap.4, 6(6)

Elefante, e pessoas cegas [parábola], VIII, cap.4, 4(5); adestramento, VII, cap.3, 2(2); 6 presas e 2 esposas [um Jataka], VII, cap.3, 4(3); peso de um grande [enigma], VII, cap.3, 4(1); bem treinado, VI, cap.1, 5, #321; branco, com 6 presas, entra no ventre da Rainha Maya, I, cap.1, 2(3); treinador, Pessa, V, cap.3, 6(2)-(4) Elefante branco, ver Elefante, branco, com 6 presas Elefante, pegadas de um [metáfora], II, cap.1, 1(3)

Dipankara, Buda, I, cap.1, 1; I, cap.1, 2(1); VI, cap.2, 1(2); decisão de Sakyamuni diante dele, VII, cap.1, 5(1)

Eleyya (Rei), homenageia Ramaputta, VII, cap.4, 2(3)

Disciplina, VI, cap.1, 5, #10-14

Elogio e culpa, VI, cap.1, 5, #227-230

Disciplina religiosa, V, cap.1, 5(1)

Emancipação, significado da, VIII, cap.3, 2(10); da mente, VIII, cap.2, 4(5)

Discípulos do Buda, sua atitude ao mendigarem, II, cap.1, 1(6); 3 tipos de, V, cap.3, 5(1); verdadeiros discípulos, VI, cap.1, 5, #360-382;

Embelezamento com Esplendor Perfumado, prática para recordar os budas, III, cap.1, 5(6)

CEBB

1514 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Ensinamento de Todos os Budas (em breves versos), ver Preceitos dos Sete Budas

Filho único, estado de amor do filho único, VIII, cap.3, 6(5); VIII, cap.4, 2(5); VIII, cap.4,4(6)

Ensinamento, 3 pilares do, VIII, cap.3, 1(5)

Flecha envenenada [parábola], VI, ch.4, 4-(2)

Erranda (árvore de óleo de castor) e candana (madeira de sândalo) [comparação], VII, cap.2, 5(2)

Flutuando rio abaixo [parábola], I, cap.3, 6(5)

Esforços, ver Quatro esforços corretos Esmolas, disposição de alimento não comido, II, cap.1, 1(1); como aceitar, VIII, cap.4, 6(3) Espada, Montanha da, de onde Sudhana se joga em um inferno flamejante, III, cap.3, 8(1) Esposa de homem rico alcança a iluminação após a morte [parábola], VII, cap.3, 4(7) Esposas. 7 tipos de, V, cap.3, 3(2) Esposa suspeita do homem rico [parábola], VII, cap.3, 4(7) Essência, I, cap.3, 1(6); sua existência, VIII, cap.3, 2(4); explicação do Buda sobre essências e ausência de essências, VIII, cap.3, 2(14) Estado corretamente estabelecido, VI, cap.2, 3(1)(4) Estupa de sete joias, VII, cap.1, 3(10) Eu ou ‘meu’, desapego, III, cap.1, 2(5)-(7) Existência, 3 níveis, II, cap.3, 3(6); visões pervertidas da, II, cap.3, 4(1)-(9); significado da, III, cap.2, 3(8); 3 formas de, VIII, cap.2, 1(2) Existência e vir a ser, II, cap.3, 3(5) Experiências agradáveis e desagradáveis, VI, cap.1, 1(1)-(3)

F Fé, II, cap.1, 4(5); 3 tipos de, III, cap.2, 3(7); VI, cap.1, 3(2)-(7); e dúvida, VI, cap.2, 5(2); no Buda da Vida Infinita, VII, cap.1, 5(4); fé sem raízes, VII, cap.2, 5(2); 2 fatores causais, VIII, cap.4, 4(2) Fé sem raízes, VII, cap.2, 5(2) Felicidade, VI, cap.1, 5, #206, #290-291; e sofrimento, VIII, cap.3, 2(1) Festival do Arado, ver Siddhartha Figueira, Bosque da (próximo a Kapilavatthu), ver Nigrodha, Parque da Árvore Filho desobediente [parábola], VII, cap.1, 3(2)-(5)

Fogo causado por uma lente entre o sol e o capim [metáfora], III, cap.1, 4(5) Folhas na mão [analogia], VI, cap.4, 6(1) Fome em Vesali, II, cap.2, 3 Fonte Quente, Monastério da (sudoeste de Rajagaha)*, VII, cap.3, 5(3) Formigueiro [enigma do], VII, cap.3, 5(1)-(2) Fragrâncias, VI, cap.1, 5, #52, #54-55, #56, #58-59 Fragrâncias, a favor e contra os ventos, II, cap.4, 8(9); VI, cap.1, 5, #54 Fragrância Exótica (montanha), onde o Buda mostra a Nanda seres celestiais, II, cap.1, 3(1)

G Gaggara, Lago (em Anga)*, IV, cap.1, 5(4); V, cap.3, 6(2) Gandavyuha, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um alcançou a iluminação Gandhabba (músico celestial), I, cap.3, 5(1) Ganho quíntuplo e perda quíntupla, VIII, cap.1, 2(3) Garava (demônio), guarda demônio, V, cap.1, 2(1)

palácio

do

Garota dragão, alcança o despertar aos 8 anos, VII, cap.1, 4(2) Gataya (do clã Sakya), discípulos costuravam mantos em sua casa, V, cap.2, 2(9) Gautama, Balsa e Portão de, VIII, cap.1, 2(4) Gaya, Rio, lendas sem sentido sobre ele, VI, cap.1, 1(5) Gayasisa (colina) [Sct: Gayasirsa]*, de onde o Buda olha para o fogo abaixo, I, cap.3, 3(2); Devadatta planeja treinar discípulos ali, VII, cap.2, 1(4) Gema escondida na roupa do homem bêbado [parábola], VII, cap.1, 3(8) Generosidade (altruísmo), I, cap.4, 2(1:v); VI, cap.1, 2(11)-(12)

Filho que abandonou o pai, ver filho desobediente

CEBB

no

1515 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Ghatikara (oleiro generoso), visita o Buda Kassapa com o amigo Jotipala, III, cap.1, 1(1)-(4) [um Jataka] Ghosita, ver Kosambi (cidade) Ghosita, Monastério*, onde o Buda conduz um retiro, II, cap.4, 10(4); o Buda instrui os discípulos sobre as restrições, II, cap.4, 10(9); discurso do Buda no, VI, cap.1, 3(1)-(8)

H Hatthaka (discípulo), anteriormente príncipe, salvo de um demônio pelo Buda, V, cap.1, 2(4) Hatthaka (o Rico), sobre dormir bem, III, cap.3, 3(1) Hirannavati, Rio, ver Hiranyavati, Rio

Girando a Roda do Darma, I, cap.3, 1(4)-(5)

Hiranyavati, Rio (próximo a Kusinagara) [P: Hirannavati]*, produz ouro, VIII, cap.1, 5(1); VIII, cap.4, 3(4)-(5)

Gopa (do clã Sakya), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 9(2)-(3)

Homem corajoso [parábola], VII, cap.3, 4(12)

Gopaka (brâmane), Ananda lhe diz que não há ninguém igual ao Buda, depois da morte dele, VIII, cap.4, 8(1) Gosingasala (floresta)*, onde o Buda instrui Anuruddha, Kimbila, Nandiya, III, cap.2, 3(3)-(4) Gotama [Sct: Gautama] Buda, ver Buda; ou Siddhartha

Homens cegos e elefante [parábola], VIII, cap.4, 4(5) Homens Cegos, Bosque dos, onde Punna passa um dia, III, cap.3, 5(1) Homem, mulher e natureza búdica, VIII, cap.3, 2( 18) Homem rico e filho [parábola], VII, cap.1, 3(2)

Gotama Buda, pegadas, [metáfora], II, cap.1, 1(3) Grande Floresta (fora de Vesali)*, onde Ananda instrui Abhaya no Salão Pagoda, III, cap.2, 3(6); o Buda instrui Ananda, III, cap.2, 3(7); o Buda descansou no Salão de Palestras Pagoda, IV, cap.1, 2(1); onde o Buda permanece por um tempo em seu 14º ano de viagens, IV, cap.2, 1(1); discurso para os discípulos, VI, cap.3, 1(1)-(2); onde o Buda explicou a Vassakara sobre os diferentes tipos de meditação, VIII, cap.4, 8(2)

I

Grande pessoa, 4 qualidades de uma, VII, cap.4, 2(1)

Impedimento quíntuplo para indisciplinadas, VIII, cap.1, 3(2)

Grupo do Prazer (de 30 jovens), tornam-se discípulos do Buda, I, cap.3, 2(4)

Impermanência dos órgãos dos sentidos, dos objetos e das sensações, VI, cap.4, 5(8)-(9)

Guhyakadhipati (Vajrapani), instruído pelo Buda, VIII, cap.2, 4(1)-(7)

Indasala, Caverna (no Monte Vediyaka)*, II, cap.2, 2(1)

Gulissani e companheiros discípulos, instrução de Sariputta para, IV, cap.3, 5(1)

Indra (deus guardião), junta o cabelo de Siddhartha, I , cap.1, 5(2); faz com que Phusati dê a luz a Vessantara, I, cap.4, 3(3); visita o Buda no Monte Vediyaka, II, cap.2, 2(1); como guardião de Sadaprarudita, IV, cap.2, 4(6), (12); sua arrogância, VI, cap.3, 2(3)

Gunagarbha (ministro), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(5) Gunamukha, Bodisatva, ver Bodisatvas, diálogos com Manjusri Gunda, Bosque (de Madhura), onde MahaKaccayana pergunta sobre o respeito aos brâmanes, V, cap.4, 2(2); onde o Rei pergunta a Maha-Kaccayana sofre a afirmação da superioridade dos brâmanes, VIII, cap.4, 8(3) Gundavana, ver Gunda, Bosque

CEBB

Icchanankala (vila brâmane)*, V, cap.1, 3(1) Ignorância, I, cap.2, 1(6) Igualdade da Terra e da Água, Buda instrui Rahula a praticar, V, cap.3, 1(4) Iluminação dos Bodisatvas, circunstâncias que levam à, III, cap.1. 5(1)-(6) pessoas

Indriyesvara (criança), professora e orientadora de Sudhana, III, cap.3, 8(3)-(4) Inferno, Causas para cair no, II, cap.1, 1(7) Insight, VIII, cap.4, 6(6) Irmão ciumento [um Jataka], VII, cap.3, 4(5) Irmãos, mais jovem difama o mais velho, [Jataka], VII, cap.3, 4(5)

1516 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Isana (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(1) Isanajarapad (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(6) Isidatta (jovem discípulo do Buda), explica por que visões errôneas surgem, VII, cap.3, 3(1) Isidatta (comandante), não honra o Rei da mesma forma que honra o Buda, VII, cap.4, 4(6) Isigiri (colina)*, onde os jainistas praticam, III, cap.2, 4(5) Isvara (deus criador),VII, cap.2, 4(8)

J Jainistas, questões do Buda para eles sobre práticas ascéticas, III, cap.2, 4(5)-(6) Jalavahana, viajou extensamente para tratar dos doentes, VIII, cap.2, 3(1)-(2) Jali, ver Vessantara [um Jataka] Jaliya (discípulo de Darupattika), pergunta ao Buda sobre a alma, IV, cap.1, 2(3) Jambudvipa (Índia), observação do Buda sobre a beleza de, VIII, cap.1, 5(1) Jambudvipasirsa (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(7) Jambugama (vila)*, VIII, cap.3, 1(5) Jambunada, ouro de, rosto do Buda brilha como, II, cap.4, 8(8) Janussoni (brâmane), instruído pelo Buda, II, cap.1, 1(3)-(5); satisfeito com as respostas do Buda no Bosque Jeta, V, cap.1, 4(9); pergunta ao Buda sobre a morte, VI, cap.1, 1(7) Jardim Posterior (no Bosque Jeta)*, II, cap.2, 7(2) Jatakas (contos das vidas passadas), e outras formas usadas pelo Buda em seus discursos, VI, cap.1, 1(8) Jatindhara (homem rico), ensina arte da medicina ao filho, VIII, cap.2, 3(1) Jatiya, Bosque de (de Bhaddiya)*, VI, cap.1, 2(10) Javali, Caverna do (no Pico dos Abutres)*, I, cap.3, 5(5) Jayosmayatana (brâmane), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(1) Jeta (Príncipe), morto pelo irmão Vidudabha, VII, cap.4, 5(4)

CEBB

Jeta, Monastério do Bosque*, Buda instrui os discípulos, II, cap.1, 1(1); instrui Anathapindika, II, cap.2, 7(1); onde o Buda louva a monja Khema, II, cap.3, 1(2); vários discípulos decidem manter o silêncio, II, cap.4, 3(1); Buda expõe sobre 3 visões errôneas, II, cap.4, 8(3); os Bodisatvas Samantabhadra e Manjusri presidem a assembleia, III, cap.3, 7(1); discurso do Buda sobre os obscurecimentos, IV, cap.3, 1(9)-(10); discurso do Buda com Potthapada, V, cap.1, 4(1)-(4); discurso do Buda, V, cap.3, 2(1)-(6); discurso do Buda, VII, cap.1, 6(3)-(5) Jivaka (grande médico), implora a Ajatasatru para não matar a mãe, VII, cap.2, 3(1); aconselha Ajatasatru a buscar a ajuda do Buda, VII, cap.2, 4(10) Jivamjivaka, pássaro de duas cabeças com uma vida [parábola], VII, cap.3, 4(6) Joia, roubada da coroa do Rei, solução de Ananda, V, cap.1, 5(2) Jotika, tem uma tigela feita de madeira de sândalo, II, cap.4, 4(1) Jotipala [um Jataka], III, cap.1, 1(2)-(4) Jujaka, ver Vessantara [um Jataka]

K Kaccana, ou Kaccayana, ver Maha-Kaccayana Kaddama, Lago, onde Maha-Kaccayana instrui um brâmane, V, cap.4, 2(1) Kakuda Katyayana (professor em Rajagriha) [P: Pakudha Kaccayana], VII, cap.2, 4(8) Kakudha (deus), ilumina a floresta de Anjana, III, cap.3, 6(4) Kakusandha, Buda, VI, cap.4, 1(1) Kakuttha, Rio*, VIII, cap.3, 3(3) Kalakhemaka (de Kapilavatthu), Buda vai até a casa de, V, cap.2, 2(9) Kalamas (clã de Kesaputta), discurso do Buda para os, III, cap.2, 1(3)-(6) Kalarajanaka (filho do Rei Nimi), V, cap.2, 4(2) Kali (serva de Vedehika), irrita sua patroa, III, cap.3, 2(3) Kali (irmã do Mara Dusin), VI, cap.4, 1(1) Kalinga (reino), fome, I, cap.4, 3(3); jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(16)

1517 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Kalpina (discípulo), instruído pelo Buda, VIII, cap.4, 3(3)

Kassapa-gotta (discípulo), seu arrependimento, III, cap.2, 2(1)

Kaludayin, convence o Buda a retornar para casa, I, cap.4, 3( 1)

Kassapas (de Gaya, Nadi, e Uruvela), tornam-se discípulos do Buda, I, cap.3, 3(1)

Kamabhu (discípulo), discute o Darma com Citta, VII, cap.3, 3(6)

Kasyapa (de Uttara), instruído pelo Buda, VIII, cap.3, 2(5)-(18); VIII, cap.3, 4(1)-(4), (6); VIII, cap.3, 5(1)-(4); VIII, cap.3, 6(1)-(7)

Kamada (ser celestial), lamenta sobre a dificuldade de alcançar a iluminação, III, cap.3, 6(2) Kammassadhamma (cidade)*, onde o Buda instrui Ananda, II, cap.4, 7(1) Kandaraka (asceta nômade), visita o Buda no Lado Gaggarara, V, cap.3, 6(2) Kandaramasuka (asceta nu), práticas ascéticas, II, cap.4, 5(6)

abandonou

as

Kandarayana (brâmane), pergunta a MahaKaccayana sobre o respeito aos brâmanes, V, cap.4, 2(2) Kanha (príncipe), ver Vessantara [um Jataka] Kanha (filho da serva do Rei Okkaka), V, cap.1, 3(3) Kanhajali (princesa), ver Vessantara [um Jataka] Kanhayana, família, V, cap.1, 3(3) Kaniska (rei de Kusana), arrepende-se de matar muitos, VII, cap.3, 4(10) Kanthaka (cavalo de Siddhartha), I, cap.1, 5(1)-(2)

Katamodrakatisyaka (discípulo de Devadatta), VII, cap.2, 1(3) Kaundinya, ver Kondanna Kelayi e sua mulher vendem a si mesmos para pagar pelo Darma [parábola], VII, cap.3, 4(9) Kenika (artista pobre de Gandhara), faz oferenda [parábola], VII, cap.3, 4(8) Keniya (asceta Jatila), adorador do fogo, VI, cap.4, 2(5) Kesaputta (cidade)*, onde o clã Kalama reside, III, cap.2, 1(3) Ketumati (cidade), Buda prediz que Baranasi se tornaria esta metrópole, IV, cap.1, 3(5) Khandadeviyaputra (discípulo de Devadatta), VII, cap.2, 1(3) Khema (Rainha, consorte de Bimbisara), torna-se discípula do Buda, II, cap.3, 1(1) Khuddarupi (princesa), casamento, V, cap.1, 3(4)

Kanha

a

pede

em

Kapila (pai de Pippalayana), I, cap.4, 1(1)

Kiki (Rei de Kasi), instruído pelo Buda Kassapa, III, cap.1, 1(3)-(4)

Kapilavatthu (Sct: Kapilavastu)*, retorno do Buda a, I, cap.4, 3(2); disputas com Koliya, II, cap.2, 5(1); Buda tenta impedir o ataque de Koliya,VII, cap.4, 5(2); queda de, VII, cap.4, 5(4)

Kimbila, torna-se discípulo do Buda com Ananda, Bhagu e Devadatta, I, cap.4, 5(4); em Gosingasala, III, cap.2, 3(3)

Kappasiya, Bosque (em Uruvela)*, onde o Buda encontra 30 jovens homens se divertindo, I, cap.3, 2(4) Karayana (General), ver Digha-Karayana Karma (carma), II, cap.1, 4(1) Karunayamana (Rei) [um Jataka], VII, cap.3, 1(9) Kasi (reino)*, V, cap.1, 1(1) Kasi, rei maldoso de e um papagaio [um Jataka], VII, cap.3, 4(11) Kasi, seda de, ver fibras de Makaci [analogia] Kassapa (asceta nu), torna-se discípulo do Buda, VII, cap.3, 3(5) Kassapa, Buda [um Jataka], III, cap.1,1(1)-(4)

CEBB

Kisa Gotami (donzela), vê Siddhartha; recita verso, I, cap.1, 4(4) Kisa Gotami (monja), e barra de ouro, VI, cap.4, 5(3); morte de seu filho, VI, cap.4, 5(3) Kisa Sankicca (asceta), que suporta práticas difíceis, IV, cap.3, 2(9) Kitagiri (vila em Kasi)*, V, cap.1, 1(1) Kokalika (discípulo de Devadatta), VII, cap.2, 1(3); afunda no inferno de Avici, VII, cap.2, 4(14) Kokanada (residência do Príncipe Bodhi), em Bhagga, VII, cap.3, 2(1) Kolita, ver Moggallana Koliya (reino)*, disputas com Kapilavatthu, II, cap.2, 5(1)

1518 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Kondanna, escolhido pelo Rei Suddhodana para seguir Siddhartha, I, cap.1, 5(4); Buda explica por que ele é chamado de ‘Armata’ Kondarma [Sct: ‘Ajnata’ Kaundinya], I, cap.3, 1(5) Kora-khattiya (asceta nu), pratica os preceitos dos cães; morre de distúrbios estomacais, II, cap.4, 5(6) Koravya (Rei), pede a Ratthapala para se tornar um monge, V, cap.1, 6(3) Kosambi (capital de Vamsa) [Sct: Kausambi]*, onde 3 homens ricos (Kukkuta, Ghosita e Pavarika) constroem seus moastérios, II, cap.4, 9(1) Kovali (mestre arqueiro) [um Jataka], VII, cap.2, 1(5) Krakustha, Rio, ver Kakkutha, Rio Ksullapanthaka, chega à casa de Ugrasresthin, VII, cap.3, 1(5) Kukkuta, Monastério*, ver Kosambi Kuladevata (deusa da árvore Bodhi), instruída pelo Buda, VIII, cap.2, 3(1) Kumara-Kassapa, e o formigueiro que solta fumaça à noite, VII, cap.3, 5(1)-(2); debate com Payasi sobre a retribuição das ações negativas, VIII, cap.4, 8(5) Kumba (vila)*, VIII, cap.3, 1(8)

Lei natural da causalidade, VI, cap.2, 4(8)-(9) Liberação, ver Emancipação Licchavis (de Vesali), ensinamento final do Buda para, VIII, cap.3, 1(2) Língua Dupla (peixe), ver Peixes [um Jataka] Linhagem famliliar, Orgulho tolo pela, V, cap.1, 3(4) Local da Refeição dos Esquilos (no Monastério do Bosque de Bambus), III, cap.3, 5(1) Lohicca (brâmane), instruído pelo Buda, IV, cap.3, 1(1)-(4) Lokesvararaja, Buda, VI, cap.2, 1(2) Longa noite, VI, cap.1, 5, #60 Longevidade, a fonte da [parábola], VIII, cap.4, 4(3) Lótus, Sutra do, VII, cap.1, 1-5; Buda apresenta, VII, cap.1, 4(2)-(8) Lua Prateada, Monte da, morada da Donzela da Lua [um Jataka], I, cap. 4, 4(2) Lugares sagrados da vida do Buda Sakyamuni, VIII, cap.4, 5(1) Lumbini, ver Siddhartha, nascimento Luz do Buda, II, cap.1, 4(5:v) Luz do Sol, ver Bhadda (filha de Tumburu)

Kuru (país a oeste)*, II, cap.4, 7(1) Kusinagara (cidade)*, lugar escolhido pelo Buda para morrer, VIII, cap.4, 3(5)

M

Kusinara*, ver Kusinagara

Macchikasanda (vila), ver Citta (homem rico de Macchikasanda)

Kutadanta (discípulo), escolhido para ir à casa de Ugrasresthin por primeiro, VII, cap.3, 1(4)

Mácula (obscurecimento), VI, cap.1, 5, #241-243

Kutagara (porto), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(14) Kutagara, Salão de (próximo a Vesali)*, onde um asceta nu abandona sua prática, II, cap.4, 5(6) Kutigramaka (vila)*, VIII, cap.1, 2(5)

L Lâmpada para si mesmo, IV, cap.1, 3(1); IV, cap.1, 3(6); VIII, cap.1, 3(9) Lanka, Ilha de*, II, cap.3, 2(1) Leão de pelo negro, sob a árvore pandana, [parábola], II, cap.2, 5(2)

Madda (Rei), Sanjaya toma sua filha como consorte, I, cap.4, 3(3) Maddi (mãe de Jali e Kanha), ver Vessantara [um Jataka] Madhura, Rei de, ensinado por Maha-Kaccayana, VIII, cap.4, 8(3) Magandiya (orgulhosa filha de brâmane), rejeitada pelo Buda, II, cap.4, 7(3); vingança sobre o Buda, II, cap.4, 10(3); põe fogo na casa de Samavati; Rei ordena sua morte pelo fogo, II, cap.4, 10(6) Mahabhijnajnanabhibhu, Buda, expôs o Darma no passado distante, VII, cap.1, 3(7) Mahadeva (Rei), [um Jataka], V, cap.2, 4(1)-(2)

Lei da natureza, ver lei natural da causalidade CEBB

1519 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Mahadeva (bosque de mangueiras em Mithila)*, V, cap.2, 4(1)

Mahatistha (vila brâmane), lar de Pippalayana, I, cap.4, 1(1)

Maha-Kaccayana (discípulo), expõe sobre o ‘Tablete de Mel,’ III, cap.2, 4(8)-(9); explica sobre o respeito pelos verdadeiros anciões, V, cap.4, 2(1)-(2); explica sobre o verso ‘Uma Boa Noite,’ VII, cap.3, 5(3); explica a igualdade das quatro classes, VIII, cap.4, 8(3)

Mahavairocana, Buda, discurso para bodisatvas, VIII, cap.2, 4(1)-(7)

Mahavyuha, Floresta (morada de jornada de Sudhana, III, cap.3, 10(1)

Mahakalpina (discípulo), VII, cap.3, 1(5)

Mahayana, VI, cap.3, 5(6)-(7)

Maha-Kasyapa (discípulo), [P: Maha-Kassapa], quando jovem chamado Pippalayana, I, cap.4, 1(1); seu sermão puro, II, cap.1, 1(6); conta a parábola do filho rebelde, VII, cap.1, 3(1)-(5); apressa-se até Kusinagara ao ouvir sobre a morte do Buda, VIII, cap.4, 7(6)

Mahissara (o Criador), II, cap.4, 8(5)

Maha-Kotthita e Savittha, discutem o Darma com Sariputta, V, cap.4, 2(3) Mahali, instruído pelo Buda, IV, cap.1, 2(2)-(3) Mahamati, Bodisatva, discurso com o Buda sobre consciência, II, cap.3, 2(4); 3(1)-(6) Mahanama (Rei dos Sakyas), I, cap.4, 5(4); Buda o instrui na Floresta Nigrodha, III, cap.2, 4(1); Buda está doente; Ananda instrui seu povo, VI, cap.4, 2(2); Ananda o instrui sobre os 3 Aprendizados, VI, cap.1, 3(9); filha casa com Rei Pasenadi, VII, cap.4, 5(1); afoga-se para salvar o clã Sakya, VII, cap.4, 5(4) Mahapajapati (madrasta de Siddhartha), I, cap.1, 2(3); doa mantos para monges, II, cap.2, 5(4); ingressa na Sanga ao concordar em seguir 8 preceitos, II, cap.2, 6(2)-(3) Mahapanada (Rei), constrói plataforma para celebração, IV, cap.1, 3(6) Mahaprabha (Rei), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(10)-(11) Mahapratibhana, Bodisatva, estupa de 7 gemas, VII, cap.1, 3(10)

Mahavira (fundador do jainismo), II, cap.1, 2(3) Maitreya,

Maitrayani (virgem), professora e orientadora de Sudhana, III, cap.3, 8(2) Maitreya (chefe de família), viaja pelos mares e cai em caminhos negativos [um Jataka], VII, cap.3, 4(2) Maitreya, Bodisatva, I, cap.2, 2(3); professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 10(1)-(5); surgirá durante o reino do Rei Sankha, IV, cap.1,3(6); pergunta a Manjusri por que o Buda emite raios, VII, cap.1, 1(1); causa do surgimento do bodisatva da terra, VII, cap.1, 4(8); homenagem ao Buda, VII, cap.1, 5(3) Makaci, fibras, em contraste com seda [analogia], V, cap.4, 4(3) Makkhali Gosala (professor) [Sct: Maskarin Gosaliputra], Buda critica suas visões, IV, cap.1, 1(9); VII, cap.2, 4(5) Makuta-bandhana, Santuário de, em Kusinagara*, onde o corpo do Buda é colocado sobre uma pira, VIII, cap.4, 7(5),(7) Mallas, de Kusinagara, informados sobre a morte iminente do Buda, VIII, cap.4, 5(6); discurso do Buda para, VIII, cap.4, 5(7); honram os restos do Buda por 7 dias, VIII, cap.4, 7(4)-(5) Mallika (consorte de Pasenadi), II, cap.1, 2(4); sua morte e o desespero de Pasenadi, VII, cap.4, 1(1)

Maharatha (Rei), e seus 3 filhos, VIII, cap.2, 3(5)(6)

Mallika (dos Mallas), regozijou-se por o Buda ter passado para o nirvana em seu reino, VIII, cap.4, 7(4)

Mahasambhava (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(5)

Malunkyaputta (discípulo), Buda se recusa a responder suas questões, VI, cap.4, 4(2)-(3)

Mahasammata (ou Grande Justiça), pessoa forte e justa para proteger a terra, V, cap.3, 4(4)

Manasakata (vila)*, IV, cap.3, 1(5)

Mahasattvas (grandes bodisatvas), na companhia do Buda, IV, cap.4, 2(1) Mahasthamaprapta, Bodisatva, discurso do Buda para, VII, cap.1, 5(6)

CEBB

Mandissa (asceta nômade) e Jaliya perguntam ao Buda sobre a alma, IV, cap.1, 2(3) Mangueiras, Bosque das (em Mithila)*, V, cap.2, 4(1)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Mangueira, Bosque da (de Pavarika)*, onde os discípulos de Nigantha foram questionados pelo Buda, IV, cap.1, 5(1)

Meditação da lua amorosa, através da qual o Buda cura as bolhas de Ajatasatru, VII, cap.2, 4(13)

Manjusri, Bodisatva, II, cap.1, 4(1)-(5); exorta Sudhana a buscar bons professores, III, cap.3, 7(2); professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 10(6); introduz o Sutra do Lótus, VII, cap.1, 1(2); ensinou incontáveis seres, VII, cap.1, 4(2); pergunta ao Buda sobre a verdade mundana, VIII, cap.3, 4(5)

Meditação da Luz da Grande Sabedoria, Bodisatva Vajragarbha entra na, IV, cap.4, 2(1)

Mantrausadhi (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(5)

Meios corretos, resultados corretos [parábola], VII, cap.3, 4(12)

Mar Flutuante (mercador), desejo da mulher para seu retorno seguro [parabola], VII, cap.3, 4(15)

Meios expedientes, ver Meios hábeis

Mara (deidade maléfica), tenta seduzir Khema, II, cap.3, 1(2); exultante de ouvir a predição da morte do Buda, VIII, cap.1, 5(2) Maskarin Gosaliputra, ver Makkhali Gosala Matali (condutor de carruagem), pai de Sikhandhi, II, cap.2, 2(2); conduz o Rei Nimi até o céu, V, cap.2, 4(2) Matangi e Ananda, III, cap.1, 3(1)-(3) Mathala (ministro), aconselha o Rei Kaniska, VII, cap.3, 4(10) Matula (vila)*, IV, cap.1, 3(1) Maudgalyayana, ver Moggallana Maya (filha do Rei de Koliya), I, cap.1, 2(1) Maya (mãe do Buda), sua morte, I, cap.1, 2(3); Buda a encontra no céu de Tavatimsa, II, cap.4, 5(7); professora e orientadora de Sudhana, III, cap.3, 9(4); desce do céu no último momento do Buda, VIII, cap.4, 6(9) Medalumpa (vila Sakya)*, VII, cap.4, 4(3) Minerais medicinais nos Himalayas [parábola], VIII, cap.3, 2(14)

Megha, professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(6) Meghasri, professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(3)

Meios hábeis utilizados pelo Buda, VII, cap.1, 5(1) Mel, tablete de [analogia], III, cap.2, 4(10) Mendaka (ancião), avô de Visakha, V, cap.3, 3(1) Mendicante, permissão dos pais necessária para se tornar mendicante, I, cap. 4, 5(3); instrução do Buda sobre se tornar mendicante, IV, cap.1, 5(9); verdadeiro mendicante, VI, cap.1, 5, #265, #267; 4 tipos de, VIII, cap.3, 3(1) Mendicantes (discípulos do Buda), suas práticas, IV, cap.1, 5(8) Mensageiros celestiais, II, cap.2, 7(4) Mente, original e verdadeira, III, cap.1, 4(1)-(2), (4)-(5); controle da, VI, cap.1, 5, #33-43; VIII, cap.4, 6(6); três tipos, VIII, cap.2, 4(6); muitos modos, VIII, cap.2, 4(4); quatro mentes ilimitadas, VIII, cap.3, 6(1) Mente original, ver Mente original e verdadeira Mente e corpo, I, cap.3, 1(6); III, cap.1, 4(1)-(8) Méritos, transferência de, do Buda Amitayus, VI, cap.2, 3(1) Metafísicas, questões, V, cap.1, 4(1)-(5) Migara, mãe, ver Visakha (ou mãe de Migara)

Medicina, Bodisatva Rei da, ver Bhaisajyaraja, Bodisatva

Milagres, Buda proíbe, II, cap.4, 4(2)

Médico, usa meios expedientes com seus filhos [parábola], VII, cap.1, 5(1)

Mithila (cidade e país)*, discurso do Buda no caminho para, V, cap.2, 3(1)-(11); permaneceu num bosque de mangueiras, V, cap.2, 4(1)

Médicos, um oficial e um viajante [parábola], VIII, cap.3, 2(3) Meditação do Espaço Infinito e da Consciência Infinita, V, cap.1, 4(2) Meditação, 3 tipos, III, cap.1, 2(1); V, cap.4, 4(5); disciplina, VIII, cap.4, 4(4) Meditação da vacuidade, V, cap.2, 2(10)

CEBB

Moggallana [Sct: Maudgalyayana], torna-se discípulo do Buda, I, cap.3, 5(1)-(3); poderes sobre-humanos, II, cap.2, 1(1); Buda pergunta a ele e a Sariputra sobre os discípulos que advertiu, IV, cap.3, 2(2); testa a compreensão de Indra, VI, cap.3, 2(2); seu Jataka (encarnação anterior), VI, cap.4, 1(1); Mara entra em seu estômago, VI, cap.4, 1(1)-(2); visita Bimbisara na prisão, VII,

1521 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

cap.2, 2(3); sobre a caridade, VII, cap.4, 3(3); com Sariputra recupera os seguidores de Devadatta, VII, cap.2, 1(5); morte causada por oponentes, VIII, cap.1, 4(6); Buda levanta uma estupa em sua homenagem, VIII, cap.1, 4(6) Moliyaphagguna (discípulo), monjas, III, cap.3, 2(1)

associação

com

Monastério Oriental*, Visakha o construiu a nordeste do Bosque Jeta, V, cap.3, 3(1); onde o deus Indra procura o Buda, VI, cap.3, 2(1); onde o Buda medita, VII, cap.4, 4(1) Monge, verdadeiramente gentil, III, cap.3, 2(4) Monges, comportamento adequado a seguir, IV, cap.3, 5(1) Monjas, regras, II, cap.2, 6(2) Montanha das Sete Gemas [parábola], VIII, cap.4, 4(3) Morte, VI, cap.1, 5, #286-288; medo da, VI, cap.1, 1(7)

Nanda (vaqueiro), torna-se discípulo do Buda, II, cap.4, 10(8) Nanda (irmã do rico Bhaddiya), coloca sua fé nos 3 Tesouros, VII, cap.4, 3(4) Nanda Vaccha (asceta), passa por práticas difíceis, IV, cap.3, 2(9) Nandaka (discípulo), instrui Rajakarama, VI, cap.4, 5(8)-(10)

monjas

Nandihara (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(15) Nandiya (discípulo), em Gosingasala, III, cap.2, 3(3) Nangaraka (vila Sakya)*, onde Ananda pergunta sobre a meditação da vacuidade, IV, cap.2, 1(4) Não budistas, nômades religiosos, diálogo do Buda com, IV, cap.1, 2(5)-(8) Não dualidade, II, cap.3, 4(1) Não eu, ver Anatman

Munda (Rei de Pataliputra), VIII, cap.4, 8(11)

Não impedimento, 4 tipos de, VIII, cap.3, 6(6)

Mundana, vida, VI, cap.2, 4(2)-(15)

Não retrocesso, estado corretamente estabelecido

Mundo delusório, sua causa, VI, cap.1, 3(10) Mundo negativo, com 5 degenerescência, VII, cap.1, 1(4)

sinais

de

N

em

de,

ver

Estado

Narada (arhat), suas instruções para o Rei Munda sobre o luto devido à morte de sua esposa, VIII, cap.4, 8(11)-(12) Narada (sobrinho de Asita), torna-se discípulo do Buda, I, cap.4, 1(3)

Nadakantha (vila)*, Buda foi questionado sobre o destino de muitos que morreram em uma epidemia em, VIII, cap.l, 2(6)

Narada (vila, próxima a Rajagaha), lar de Upatissa, I, cap.3, 5(1)

Nadika (vila)*, III, cap.2, 3(3)

Nataputta (professor), ver Nigantha Nataputta

Naga, Rei, libertado do corpo de dragão, I, cap.4, 1(3)-(4)

Natureza búdica, ocultada pelos obscurecimentos, VIII, cap.3, 2(14); é a natureza inerente, VIII, cap.4, 4(3); é a grande fé, VIII, cap.4, 4(6), é o estado do filho único, cap.4, 4(6); é a compaixão, VIII, cap.4, 4(6)

Naga, filha do Rei, ver Garota Dragão Nagita (atendente do Buda), IV, cap.1, 2(1) Naksatraraja-samkusumitabhijna, Bodisatva, discurso do Buda para, VII, cap.1, 5(9) Nakula, pais de, II, cap.4, 9(1)

Nascimento, 4 tipos de, II, cap.4, 5(3)

Negação, princípio da, I, cap.3, 5(5) Negligência, VI, cap.1, 5, #21-#32, #309

Nalanda (vila)*, VIII, cap.1, 2(2)

Nem causas nem condições, uma visão rejeitada pelo Buda, II, cap.4, 8(6); V, cap.1, 1(4)-(5)

Nalayus (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(9)-(10)

Nem nascimento nem extinção, II, cap.3, 4(1)

Nanda (irmão de criação do Buddha), torna-se mendicante, I, cap.4, 5(1); donzelas celestiais, II, cap.1, 3(1); rejeita as tentações, V, cap.3, 1(1)

CEBB

Nehuma palavra pronunciada, na iluminação, II, cap.3, 5(2) Neranjara [Sct: Nairanjana], Rio*, I, cap.1, 5(4)

1522 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Nigantha Nataputta (professor jainista) [Sct: Nirgrantha Jnatiputra], III, cap.2, 4(5)-(6); no Parque da Mangueira com seus discípulos, IV, cap.1, 5(1); incita Abhayarajakumara a debater com o Buda, VII, cap.2, 1(7); sua morte causa desarmonia entre seus discípulos, VII, cap.4, 1(2) Nigrodha (professor nômade), diálogo com o Buda, IV, cap.1, 2(5)-(8) Nigrodha, Parque da Árvore (próximo a Kapilavatthu)*, I, cap.4, 5(1); V, cap.3, 5(1); onde o Buda se recupera de uma doença, VI, cap.1, 3(9) Nimi (Rei de Mithila), V, cap.2, 4(1)-(2) Nirvana, natureza do, II, cap.3, 4(1); II, cap.3, 4(4); II, cap.3, 5(2)-(5); VIII, cap.1, 5(6); Buda ingressa no, VIII, cap.4, 6(9); significa emancipação, VIII, cap.3, 2(10); natureza eterna, VIII, cap.4, 1(1); obscurecimentos não surgem, VIII, cap.4, 2(3); obscurecimentos extintos, VIII, cap.4, 4(2); não tem forma, VIII, cap.4, 4(4)

Orgulho, raiva, cobiça, discurso do Buda sobre, VIII, cap.1, 3(6) Originação Dependente, I, cap.2, 1(6)-(7); II, cap.4, 7(1) Outra margem, 5 tipos de pessoas a alcançam, III, cap.2, 3(2) Otthaddha (do clã Licchavi), visita o Buda, IV, cap.1, 2(1)

P Paccaya (elefante de Vessantara), Rei pede para usá-lo para trazer chuva [um Jataka], I, cap.4, 3(3) Pacetana (Rei), solicita [parábola], V, cap.3, 5(2)

carro

de

2

rodas,

Pacinavamsa, Bosque (em Ceti)*, onde Anuruddha fez retiros e estudou sozinho, II, cap.4, 9(4)

Nobre Caminho Óctuplo, I, cap.3, 1(4); II, cap.2, 4(2); III, cap.2, 1(2); III, cap.3, 1(5); VIII, cap.1, 5(5)

Padmaprabha, Buda, Sariputra se tornará, VII, cap.1, 2(2)

Nome temporário, V, cap.4, 5(1:iv)

Pais e filhos, V, cap.3, 2(5)

Nove estágios dos seres nascidos na terra do Buda Amitayus, VII, cap.2, 3(6)-(8)

Pais, débito e gratidão pelos, V, cap.4, 2(8)

Nunca Desprezando, Sadaparibhuta, Bodhisattva

Bodisatva,

ver

Pajjota (Rei), instruído por Saccaka (um jainista), IV, cap.3, 3(1); Ajatasatru se prepara para a guerra com, VIII, cap.4, 8(1)

O Obscurecimentos, causados externamente, III, cap.1, 4(2); podem ser pacificados, IV, cap.3, 1(10); 5 causas do sofrimento, VI, cap.1, 3(3) Ódio, Instruções do Rei Dighiti para o filho sobre o, V, cap.2, 2(3); VI, cap.1, 5, #3-5 Ofensas graves (pessoas más), podem ser salvas, VIII, cap.3, 3(2) Oferenda de flores [parábola], VII, cap.3, 4(18) Oferendas, do Rei Surupa de Varanasi [parábola], VII, cap.3, 4(19); de pessoas pobres [parábola], VII, cap.3, 4(8)-(9); de incenso de madeira de sândalo por uma donzela [parábola], VII, cap.3, 4(17) Oferendas aos mendicantes, atitude discípulos em relação a, IV, cap.1, 1(5)

dos

Oito preceitos para monjas, ver Mahapajapati Okkaka (Rei), ofereceu a princesa a Kanha como noiva, V, cap.1, 3(3)-(4)

CEBB

Pais, mente dos pais sobre um filho doente, VII, cap.2, 4(13)

Pakudha Kaccayana, ver Kakuda Katyayana Palavra e seu significado, II, cap.3, 5(3) Pancala (reino)*, onde o Buda eleva uma estupa subterrânea, VIII, cap.2, 3(4) Pancasikha (filho de um Gandhabba), II, cap.2, 2(1)-(2) Pandaputta (asceta nu) e construtor de rodas, III, cap.3, 1(3) Panditakumaraka, com Abhaya é instruído por Ananda, III, cap.2, 3(6) Pankadha (vila)*, III, cap.2, 2(1) Papagaio, enumera 7 transgressões maldoso, VII, cap.3, 4(11)

do

rei

Papagaio, extingue fogo na floresta [um Jataka], VII, cap.3, 4(4) Parque dos Cervos (de Isipatana, próximo a Baranasi)*, primeiro sermão do Buda aos 5 mendicantes, I, cap.3, 1(4); Buda instrui os discípulos, V, cap.4, 4(2) 1523 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Pasenadi (Rei de Kosala) [Sct: Prasenajit], instruído pelo Buda, II, cap.1, 2(1)-(3); pergunta ao Buda sobre o corpo após a morte, III, cap.1, 4(3); jornada até Saketa [numa alegoria], III, cap.3, 5(3); morte de sua avó, VI, cap.4, 6(3)-(4); velhice, VII, cap.4, 4(2); procura princesa Sakya para esposa de seu filho, VII, cap.4, 5(1); últimos dias, VII, cap.4, 4(2)-(6)

Pessoas, 4 tipos de, II, cap.1, 2(1); tipos de, IV, cap.1, 1(6); 5 tipos de, VIII, cap.4, 2(3) Pessoas, despertas ou dormentes [enigma], VII, cap.3, 4(1) Pessoas doentes, três tipos de, V, cap.4, 2(4); VIII, cap.3, 4(1)

Pássaro de 2 cabeças [um Jataka], VII, cap.3, 4(6)

Pessoa má (ladrão, assassino, devasso), torna-se iluminada [parábola], VII, cap.3, 4(14)

Pastor e seu rebanho, VII, cap.1, 6(4)

Pessoa mais bela [enigma], VII, cap.3, 4(1)

Pataliputra (cidade)*, VIII, cap.1, 2(1), (3); Buda prediz sua destruição, VIII, cap.1, 2(3)

Phusati (Rainha), seu altruísmo, I, cap.4, 3(3)

Patikaputta (asceta), disputa de sobrenaturais com o Buda, II, cap.4, 5(6)

poderes

Pava (cidade)*, onde Cunda ouve sobre brigas entre os discípulos de Nigantha, VII, cap.4, 1(2); discruso do Buda em, VIII, cap.3, 1(10) Pavão, Parque do (ou Jardim)*, onde Nigrodha pergunta ao Buda sobre o Darma, IV, cap.1, 2(5); ascetas famosos saúdam o Buda, IV, cap.3, 5(2) Pavarana, corrigindo as ações errôneas durante os retiros dos monges companheiros, II, cap.4, 3(2) Pavarika, Monastério*, ver Kosambi Payasi (Governante de Setavya em Kosala), debate com Kumara-Kassapa, VIII, cap.4, 8(5)-(7) Pedra Negra (na encosta do Monte Isigiri), onde os jainistas praticam ascetismo, III, cap.2, 4(5); local até o qual o atendente carrega Vakkali para morrer, VI, cap.1, 4(6) Peixes, conto dos dois [parábola], VII, cap.4, 5(6) Peixes debatendo-se em uma poça rasa [um Jataka], VIII, cap.2, 3(2) Pelo branco, V, cap.2, 4(1)-(2) Pelos Oleosos, Demônio dos, ataca Cinco Armas [parábola], V, cap.1, 5(1) Pensamento, Destruição do, V, cap.1, 4(1)-(3) Pensamentos negativos, controle dos, VII, cap.1, 6(3) Percepção direta e indireta, VIII, cap.3, 6(7) Perdiz, macaco e elefante [parábola], I, cap.4, 6(6) Perfeição da Sabedoria, IV, cap.2, 4(1)-(15) Pessa (treinador de elefantes), instruído pelo Budano Lago Gaggara, V, cap.3, 6(2)-(3) Pessoa faminta, [enigma], VII, cap.3, 4(1)

Pico dos Abutres (em Rajagaha)*, III, cap.2, 2(1); discurso do Buda sobre Dharmakara, VI, cap.2, 1(1)-(6); discurso do Buda sobre o Darma Maravilhoso no, VII, cap.1, 1-2 Pilindavatsa, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um atingiu a iluminação Pilotika (asceta), II, cap.1, 1(3) Pindola, seu poder sobre-humano II, cap.4, 4(1); discurso para o Rei Udena, II, cap.4, 10(1)-(2) Pindola Bharadvaja (discípulo), instrui Nanda, VII, cap.4, 3(4) Pingiya, canta para o Buda, VIII, cap.1, 3(5) Pippala (Bodhi) árvore, I, cap. 2, 1(1) Pippalayana, ver Maha-Kasyapa Piyaka (Ministro da Fazenda de Pataliputra), VIII, cap.4, 8(11) Poderes divinos, 3 tipos, V, cap.4, 1(5) Pokkharasati (brâmane), toma refúgio nos 3 Tesouros, IV, cap.1, 5(4); torna-se discípulo do Buda, V, cap.1, 3(1)-(6) Portal para o Darma da não dualidade, Vimalakirti pergunta aos bodisatvas como cada um o acessou, IV, cap.4, 3(15) Potalaka, Monte, jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(19) Potaliya (chefe de família aposentado), VI, cap.4, 2(3)-(4) Potthapada (mendicante itinerante), discurso com o Buda sobre tópicos que não devem ser ensinados, V, cap.1, 4(1)-(4) Prabhuta (devoto), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(5) Prabhutaratna, estupa do Buda, VII, cap.1, 3(10) Prajnakuta, Bodisatva, VII, cap.1, 4(2)

CEBB

1524 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Prajna-paramita, ver Perfeição da Sabedoria Prajna-paramita-hrdaya-sutra, Coração

ver

Sutra

do

Práticas ascéticas, críticas às, IV, ch.1, 2(6)-(7): VII, ch.3, 3(3) Práticas devotadas, essência e objetivo das, VII, cap.2, 1(6) Pratitya-samutpada, ver Originação Dependente Pratyekabuddha, Veículo do, VII, cap.1, 2(4) Prazer, VI, cap.4, 2(4); e sofrimento, uma lição para Udayin, V, cap.1, 4(7); 4 tipos de apego ao, VII, cap.4, 1(4)

Purutika (asceta nômade), provoca Sariputra por não cortar laços, VII, cap.1, 6(2)

Q Quatro agentes. Ver Consciência Quatro caminhos do bodisatva, ver Bodisatva, 4 caminhos de prática Quatro campos de atenção mental, VIII, cap.1, 5(5) Quatro cobras venenosas [parábola], VIII, cap.4, 1(4) Quatro coisas pelas quais as pessoas se regozijam ou que odeiam, VII, cap.4, 4(2)

Preceitos, 10 principais, V, cap.2, 1(1)-(2); 48 menores, V, cap.2, 1(3); importância dos, VIII, cap.3, 4(1)

Quatro disciplinas puras, VI, cap.1, 1(10)

Preceitos dos Sete Budas, I, cap.3, 5(3)

Quatro estágios de atenção mental, V, cap.3, 6(2)

Preceitos dos cães, ver Kora-khattiya (asceta nu)

Quatro lugares sagrados, ver Lugares sagrados da vida do Buda Sakyamuni

Presa Perfumada, Montanha da, pela qual o Príncipe Abhigima cavalga, III, cap.3, 9(3)

Quatro esforços corretos, VIII, cap.1, 5(5)

Quatro meditações progressivas, I, cap.2, 1(5)

Primeiro Giro da Roda do Darma, I, cap.3, 1(3)

Quatro meios de conversão, VII, cap.3, 1(9)

Problemas domésticos, entre parentes, V, cap.1, 5(4)-(5)

Quatro mentes ilimitadas, VIII, cap.3, 6(1)

Professor, punho fechado do, VIII cap.1, 3(9) Professores e ensinamento, verdadeiros e falsos, VII, cap.4, 1(2) Professores, 3 tipos de, IV, cap.3, 1(1)-(4)

Quatro não obstáculos, VIII, cap.3, 6(6) Quatro nascimentos, ver Nascimento, 4 tipos de Quatro Nobres Verdades, I, cap.3, 1(4); II, cap.2, 4(2); II, cap.4, 8(7); VIII, cap.1, 2(1) Quatro Portões, I, cap.1, 4(4)

Prthurastra (local), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(13)

Quatro qualidades, 2 tipos de, VII, cap.4, 2(1)

Pukkusa (discípulo de Alara Kalama), instruído pelo Buda, VIII, cap.3, 3(3)

Quatro sistemas básicos e quatro proibições graves, II, cap.4, 1(2)

Punna (discípulo) [Sct: Purna], pergunta por que o mundo das diferenciações surge, III, cap.1, 4(7); Sariputta discute prática do Nirvana, III, cap.3, 5(2)-(3); alcança a iluminação, VI, cap.4, 1(3); instrução do Buda para ele sobre como lidar com a violência, VI, cap.4, 1(3)

Quatro tipos de paz mental, III, cap.2, 1(6)

Punyaraja, instruído pelo Buda sobre o nirvana, VIII, cap.4, 1(1)-(4); VIII, cap.4, 2(1)-(5)

Radha (brâmane), sua entrada na Sanga foi recusada por um discípulo, II, cap.4, 1(2)

Purana (comandante), não honra o Rei da mesma forma que honra o Buda, VII, cap.4, 4(6) Purana Kassapa (professor) [Sct: Purana Kasyapa], não desperto, II, cap.1, 2(3); um dos professores principais residindo em Rajagaha, IV, cap.3, 5(2); suas visões, VII, cap.2, 4(4)

Rahula (filho de Siddhartha), nascimento, I, cap.1, 4(4); pede sua herança, I, cap.4, 5(2); instruído pelo Buda, IV, cap.4, 1(1)-(2); declina visita a Vimalakirti, IV, cap.4, 3(7); V, cap.3, 1(2)-(4); sentimento do Buda por ele, VIII, cap.3, 2(5); seu luto com a morte do Buda, VIII, cap.4, 5(8)

Purna, ver Punna

Raiva, VI, cap.1, 5, #221-234

CEBB

Quatro tipos de prática para aqueles que ensinam, VII, cap.1, 4(5)

R

1525 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Raiva, cobiça, ignorância, ver Três venenos Rajagaha (capital de Magadha) [Sct: Rajagriha]*, acrobatas fazem performance em, II, cap.2, 1(1); tragédia em, VII, cap.2, 1-5; onde o Buda relata diversos contos, VII, cap.3, 4(1); ver também, Monastério do Bosque de Bambus Rajakarama, construído pelo Rei Pasenadi para as monjas, VI, cap.4, 5(1) Ramaputta (discípulo), ver Uddaka Ramaputta Ramavaranta (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(3) Ramos (7) da iluminação, recitados por Ananda, VIII, cap.4, 3(2); 7 citados, VIII, cap.1, 5(5) Ratiprabhasasri (Princesa) e Príncipe Abhiguna, III, cap.3, 9(3) Ratna Sutra, entoado por Ananda para afastar os demônios, II, cap.2, 3 Ratnacuda (ancião), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(7) Ratnakara (o rico), IV, cap.4, 3(1)-(2) Ratnamukha, Bodisatva, ver Bodisatvas, diálogos com Manjusri Ratnanetra (deus guardião de Kapilavastu), III, cap.3, 9(4)

Resultados cármicos da vida passada, II, cap.4, 8(4); V, cap.4, 4(4)-(5) Retiro da estação chuvosa, instituição, II, cap.4, 2(2) Retribuições, pós vida, VIII, cap.4, 8(6) Retrocesso e não retrocesso, VI, cap.2, 3(1), VIII, cap.4, 4(3) Revata (discípulo), III, cap.2, 3(10) Revati (ama-seca de Sariputra), adoece e morre, VIII, cap.1, 4(4) Ritos de ordenação para novos discípulos, II, cap.4, 1(2) Roda do Darma, Giro da, no Parque dos Cervos, I, cap. 3, 1(5) Rohitassa (deus), pergunta ao Buda como alcançar o fim do mundo, III, cap.3, 6(5) Roja (filha dos Mallas), oferece guirlanda para o palanquim do Buda, VIII, cap.4, 7(4) Rsigiri, ver Isigiri (colina) Ruciraketu, Bodisatva, Buda lhe ensina sobre os 3 corpos dos budas, VIII, cap.2, 1(1)-(3) Rudra (ladrão), seu despertar [parábola], VII, cap.3, 4(21)

Ratnavisuddha (terra búdica), VII, cap.1, 3(10) Ratnavyuha (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(17) Ratridevata (deus), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 9(1)-(2)

S Sabbakama (de Vesali), Ananda o louva por sua determinação, V, cap.4, 4(1) Sabedoria e ignorância, V, cap.3, 2(6)

Ratthapala (discípulo), V, cap.1, 6(1)-(3)

Sabedorias (7), V, cap.2, 2(7)-(8)

Ravana (Rei de Lanka), II, cap.3, 2(1)

Sábio e ignorante, VI, cap.1, 5, #60-90

Realidade da vida mundana, 3 venenos, e 5 maldades, VI, cap.2, 4(1)-(15)

Sábio, o verdadeiro, VI, cap.1, 5, #269-270

Realização do Caminho, VIII, cap.1, 2(1) Refúgio para si mesmo, VIII, cap.1, 3(9) Rei do Giro da Roda, ver monarca Universal

Sábios, estágios dos, VI, cap.1, 1(9) Saccaka (seguidor de Nigantha), debate com o Buda, IV, cap.3, 2(4)-(10)

Reis Guardiões das 4 direções, VIII, cap.2, 2(1)

Saco flutuante, o homem com um [parábola], VIII, cap.3, 4(1)

Rei ignorante e médico ignorante [parábola], VIII, cap.3, 2(3)

Sadaparibhuta, Bodisatva [um Jataka], VII, cap.1, 5(6)

Relação professor-discípulo, II, cap.4, 1(1)

Sadaprarudita, Bodisatva, IV, cap.2, 4(1)-(14)

Relíquias (do Buda), disputa na distribuição das, VIII, cap.4, 7(8); divididas em 8 porções por Dona, VIII, cap.4, 7(8)-(9)

Saddharmapundarika-sutra, ver Sutra do Lótus Sagaramegha (monge), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(3)-(4)

Respiração, ver Atenção plena à respiração CEBB

1526 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Sagaramukha (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(3)-(4)

Samkassa (cidade)*, onde o Buda desce do céu, II, cap.4, 7(5)

Sagaratira (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(4)-(5)

Samsara (ciclo de nascimento e morte), II, cap.3, 4(1)

Saketa (cidade)*, onde o Buda instrui o deus Kakudha, III, cap.3, 6(4); de onde o Buda viaja por Kosala, V, cap.1, 3(1)

Samudrakaccha (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 10(1)-(2)

Sakuludayin (professor), no Parque dos Pavões, IV, cap.3, 5(2); discurso com o Buda no Jardim dos Pavões, V, cap.1, 4(5)-(8) Sakya, clã, I, cap. 1, 2(1); engana Pasenadi oferecendo uma donzela de casta humilde como esposa para seu filho, VII, cap.4, 5(1); respeito pela vida, VII, cap.4, 5(3); destruição do clã, VII, cap.4, 5(4)-(5) Sakyamuni, Buda, ver Buda Sala (vila brâmane)*, V, cap.2, 4(3) Sala, Bosque (em Kusinagara), local do descanso final do Buda, VIII, cap.4, 3(5) Sala, árvore e vinhas [parábola], VI, cap.4, 6(2) Salão do Bom Darma (no céu de Tavatimsa), V, cap.2, 4(2)

Samudrapratisthana (cidade), Sudhana, III, cap.3, 8(5)

jornada

de

Samudratta (discípulo de Devadatta), VII, cap.2, 1(3)-(4) Samudravetadin (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(8) Sandaka (mendicante itinerante), instruído por Ananda na Caverna da Figueira, V, cap.1, 1(4) Sandhana (discípulo leigo), visita Nigrodha, IV, cap.1, 2(4) Sanga, vida diária, III, cap.2, 3(3)-(4); rotina diária, III, cap.2, 3(4); regras, V, cap.1, 4(10)-(11); após a morte do Buda, VIII, cap.4, 8(1) Sangarava (brâmane), instruído pelo Buda, V, cap. 4, 1(3)

Salavatika (vila)*, IV, cap.3, 1(1)-(4)

Sanjaya (asceta), professor de Upatissa e Kolita, I, cap.3, 5(1)

Salhri (discípulo), morre em epidemia, VIII, cap.1, 2(6)

Sanjaya (Rei), casa com Phusati [um Jataka], I, cap.4, 3(3)

Samadhi (meditação), primeiro ao quarto, V, cap.1, 4(7)-(8)

Sanjaya Belatthiputta (professor) [Sct: Sanjaya Vairattiputra], não desperto, II, cap.1, 2(3); VII, cap.2, 4(6)

Samagama (cidade)*, onde Cunda fala com Ananda sobre os discípulos de Nigantha, VII, cap.4, 1(2)

Sanjikaputta (mensageiro para o Príncipe Bodhi), VII, cap.3, 2(1)-(3)

Samana [Sct: sramana], pessoa que segue o caminho, VII, cap.3, 5(2)

Sanjiva (discípulo do Buda Kakusandha), hábil na meditação, VI, cap.4, 1(1)

Samanamukha (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3,10(1)

Sankha (Rei de Baranasi), se tornará um Monarca Universal, IV, cap.1, 3(5)

Samantabhadra, Bodisatva, Hino de, 1, cap. 2, 2(2); professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 10(6)-(7); verso em louvor ao Buda, III, cap.3, 10(7); sua prática, IV, cap.1, 4(1)-(13)

Sanna (arqueiro), mata 500 bandidos [um Jataka], VII, cap.2, 1(5)

Samantanetra (ancião), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(8) Samantavyuha, Jardins de, jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(8)-(9) Samavati (consorte do Rei Udena), difamada por Magandiya, II, cap.4, 10(3)-(6) Samiddhi (discípulo), Buda lhe ensina o verso Uma Boa Noite, VII, cap.3, 5(3)

CEBB

Santendriya, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma Sapphia, Lago*, onde monges se reuniam nas proximidades, VI, cap.1, 2(2) Saputha (cidade de Koliya)*, onde Ananda dá instruções, VI, cap.1, 1(10) Saradhvaja (monge), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(7)-(8) Sari (mãe de Sariputra), VIII, cap.1, 4(2)

1527 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Sariputra (discípulo) [P: Sariputta], I, cap.3, 5(1)(3); sobre o estado de tranquilidade, I, cap.1, 1(2); como professor, II, cap.2, 4(1)-(2); discurso em Gosingasala, III, cap.2, 3(10)-(11); entrou na meditação da vacuidade, IV, cap.2, 1(3); suas irmãs, VI, cap.4, 5(5)-(7); visita Channa com Maha-Cunda, VI, cap.4, 4(1); instruído pelo Buda no Sutra do Lótus, VII, cap.1, 1-2; seu discurso no Bosque Jeta, VII, cap.1, 6(1); e Purutika, asceta nômade, VII, cap.1, 6(2); recupera discípulos de Devadatta, VII, cap.2, 1(4)-(5); Buda o instrui sobre a Terra Pura, VII, cap.4, 6(1); relata ao Buda sua morte iminente, VIII, cap.1, 4(1); morre na casa da mãe em Nalanda, VIII, cap.1, 4(4); Buda levanta uma estupa em sua homenagem, VIII, cap.1, 4(5) Sarvagamin (mestre não budista), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(12) Sarvarupasamdarsana, Bodisatva, pergunta Vimalakirti sobre sua família, IV, cap.4, 3(14)

a

Sarvasattvapriyadarsana, Bodisatva, VII, cap.1, 5(9) Sarvasthanu (ministro), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(7) Satagira (demônio), seguidor do Buda, V, cap.1, 2(1) Satatasamitabhiyukta, Bodisatva, VII, cap.1, 5(5) Satyaguna (ministro), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(6) Satyarata, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma da não dualidade Savatthi (capital de Kosala) [Sct: Sravasti]*, local do Monastério do Bosque Jeta de Anathapindika, I, cap.4, 6(1); onde o Buda instrui o Rei Pasenadi, II, cap.1, 2( 1); ver também Monastério Oriental Savittha (discípulo), com Maha-Kotthita discute o Darma com Sariputta, V, cap.4, 2(3) Sede de amor e obscurecimentos, VIII, cap.3, 4(3) Seio do Buda, ver Tathagata-garbha Seis bocas malignas que drenam as riquezas, III, cap.3, 4(3) Seis espécies de animais unidos, ver Animais, 6 espécies unidas Seis leis, V, cap.2, 2(7) Sela (brâmane), torna-se discípulo do Buda, VI, cap.4, 2(5) Sela (monja), ameaçada por Mara, VI, cap.4, 5(1)

CEBB

Seleção do Noivo, Competição para, I, cap.1, 3 Sentidos controlados, VIII, cap.4, 6(2) Serra [analogia], III, cap.3, 2(6) Sete carruagens [alegoria], III, cap.3, 5(3) Sete ramos para iluminação, ver Ramos (7) para a iluminação Sete atitudes mentais, VI, cap.4, 2(2) Sete pedras preciosas [metáfora], VIII, cap.4, 4(3) Sete princípios do bem-estar, VIII, cap.1, 1(3) Sete tesouros, Monarca Universal dotado com, IV, cap.1, 3(2) Siddhartha (prícipe) [P: Siddhattha], nascimento, I, cap.1, 2(3); realizações acadêmicas e físicas, I, cap.1, 3; observa o Festival do Arado, I, cap.1, 3; noivado, I, cap.1, 3; contempla o sofrimento, I, cap.1, 4(2)-(3); excursões dos 4 portões, 1, cap.1, 4(4); abandona o palácio, I, cap.1, 5(1)-(2); alcança o Rio Anoma, I cap.1, 5(2); estuda com Alara Kalama, I, cap.1, 5(3); prática ascética, I, cap.1, 6(1)-(4); senta sob a árvore pippala (Bodhi), I, cap.2, 1(1); tentações de Mara, I, cap.1, 5(1); I, cap.2, 1(2); prática dos dez preceitos o protege de Mara, I, cap.2, 1(3); tentativas de Mara para dissuadir o Buda de ensinar o Darma, I, cap.3, 2(3); seus estágios meditativos até a iluminação, I, cap.2, 1(5); após a iluminação, I, cap.2, 1(6); súplica de Brahma para ensinar o Darma, I, cap.2, 3(4); determinação em ensinar o Darma, I, cap.2, 3(5); ver também Buda Sikhandhi (filho de Matali), amante da Princesa Bhadda, II, cap.2, 2(2) Simha, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma Simhaketu, Castelo, jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(2) Simhanada, Bodisatva, sua questão sobre a natureza búdica, VIII, cap.4, 4(1)-(7) Simhapota (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(6) Simhavijrmbhita (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(1) Simhavijrmbhita (meditação), Buda entra na, III, cap.3, 7(1) Simhavijrmbhita (monja), professora orientadora de Sudhana, III, cap.3, 8(16) Simsapa, bosque (de Alavi)*, V, cap.4, 3(1)-(7)

1528 / 1534

e

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Simsapa, bosque (de Kosambi)*, onde o Buda pega três folhas [analogia], VI, cap.4, 6(1) Singala (filho de família rica), prestava homenagem às 6 direções, III, cap.3, 4(1)-(6) Sirima e seu irmão Sirivadda tornam-se discípulos do Buda, II, cap.1, 3(2) Sisupacala (monja), irmã de Sariputra, VI, cap.4, 5(5) Sivi (Rei), pai de Sanjaya, I, cap.4, 3(3) Sobre-humanos, poderes, o Buda permite que Moggallana os use, II, cap.2, 1(1); com os quais Vimalakirti esvaziou o quarto, IV, cap.4, 3(10); Vimalakirti preencheu o quarto com 32,000 assentos de leão, bodisatvas se transformaram e tomaram seus assentos, IV, cap.4, 3(11); revelados pelo Buda, V, cap.4, 1(5) Sociedade, origem da, V, cap.3, 4(1)-(4)

Subhadda (pouco brilhante, antigo discípulo), expulso da Sanga por observar depois da morte do Buda que agora ele poderia fazer o que quisesse, VIII, cap.4, 7(6) Subhadra (Sct.), ver Subhadda (P) Subhaparangama (local), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(18) Subhuti (discípulo), costurando mantos no Pico dos Abutres, II, cap.4, 7(4); instruído pelo Buda, IV, cap.2, 2(1)-(3) Subrahma (deus), no Céu de Tavatimsa, III, cap.3, 6(3) Sudarsana, professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(3) Sudatta (homem Anathapindika

rico

de

Savatthi),

ver

Sofrimento, Verdade do, I, cap.3, 1(4); causa do, II, cap.2, 7(2); VIII, cap.3, 4(2)-(3)

Suddhadhimukti, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma da não dualidade

Soma (monja), Mara lhe pergunta se um mulher pode atingir a Sabedoria, VI, cap.4, 5(2)

Suddhodana (Rei do clã Sakya, I, cap.1, 2(1); sua morte, II, cap.2, 6(1)

Sonadanda (brâmane), debate com o Buda, IV, cap.1, 5(4)-(7)

Sudhana (monge), decide buscar o caminho correto, III, cap.3, 7(2)-10(7)

Sramana-mandala (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(3)-(4)

Sugriva, Monte, jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(3)

Sravaka, Veículo do, VII, cap.1, 2(4)

Sujata (filha de um dono de terras em Uruvilva), oferece comida para Siddhartha depois que ele abandona as práticas ascéticas, I, cap.2, 1(1)

Sravasti (cidade), ver Savatthi Srigandha, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma

Sujata (nora de Anathapindika), V, cap.3, 3(2) 7

Srigarbha, Bodisatva, VII, cap.1, 1(2)

Sujata (mulher leiga), morreu em epidemia em Nadakantha, VIII, cap.1, 2(6)

Sriguna (ministro), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(8) Srimahadevi (deusa da fortuna) e Kalaratridevi (deusa do infortúnio), VIII, cap.3, 4(2) Srimala (Rainha de Ayodha), instruída pelo Buda, VI, cap.3, 4(1) Srimati (criança), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 10(1) Srisambhava (criança), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 10(1) Sthila (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(11) Subhadda (mendicante), último discípulo do Buda (aos 120 anos), VIII, cap.4, 5(9)-(11)

Sujati (Príncipe de Varanasi), sobre o pagamento de débitos [um Jataka], VII, cap.3, 4(20) Sukhavati, ver Terra Pura da Bem-Aventurança Suprema Sukhavati-vyuha, Sutra, VI, cap.2 Sukuta, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma Sumagadha, Lago (próximo ao Jardim do Pavão), IV, cap.1, 2(5) Sumana (Rainha), pratica conversão, VII, cap.3, 1(9)

os

4

meios

de

Sumati, conduz o sogro a um ensinamento do Buda, VII, cap.3, 1(4)-(8) Sumedha (asceta), vida anterior do Buda, I, cap.1, 1

CEBB

1529 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Sumeru (montanha), morada de Alara Kalama, I, cap.1, 5(3); os budas podem colocá-lo dentro de uma semente de papoula, IV, cap.4, 3(11) Sumsumara (colina)*, II, cap.4, 9(1)

Talidade, II, cap.3, 3(6) Tapussa e Bhallika, I, cap.2, 3(3)

Sunakkhatta (dos Licchavis) [Sct: Sunaksatra], insulta o Buda, II, cap.4, 5(1)-( 2); incapaz de ouvir a voz dos deuses, IV, cap.1, 2(2); cometeu maldades mas se tornou discípulo do Buda, VII, cap.2, 4(14) Sunaparanta (vila), onde Punna se retirou, VI, cap.4, 1(3) Sundara (príncipe), se oferece para um demônio para salvar o Rei Surupa [um Jataka], VII, cap.3, 4(19) Sundari (asceta), II, cap.4, 8(2) Sundari (bela donzela), noiva de Nanda, I, cap.4, 5(1) Sundari (princesa), II, cap.1, 3(1) Sundarika Bharadvaja (brâmane), discípulo do Buda, VI, cap.1, 1(5)

Talaputa (artista), torna-se discípulo do Buda, II, cap.2, 1(2)

torna-se

Sundarika, Rio, lendas sem sentido surgem sobre ele, VI, cap.1, 1(5) Sundarinanda (princesa), atraída por espíritos maléficos, V, cap.3, 1(1) Sunetra, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma Sunyata, ver Vacuidade Suprabha (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(10) Supratistacarita, Bodisatva, VII, cap.1, 4(7) Supratisthita (monge), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(5) Surupa (Rei de Varanasi), testado por Indra [um Jataka], VII, cap.3, 4(19) Suryagatraprabha (Tathagata), [um Jataka], III, cap.3, 9(3)

Tarukkha (brâmane), seu discípulo e o de Pokkharasati discutem a natureza verdadeira e a falsa do caminho, IV, cap.3, 1(5) Tathagata, por que o Buda é chamado de, VI, cap.3, 1(2) Tathagatagarbha, II, cap.3, 2(3); II, cap.3, 4(2); III, cap.1, 4(5); repositório do verdadeiro Darma, VIII, cap.3, 2(1); VIII, cap.3, 2(16); universalidade de, VIII, cap.4, 4(6) Tavatimsa [Sct: Trayastrimsa], Céu de, os deuses louvam sua própria glória, I, cap.4, 2(1:iv); até onde o Buda sobe para encontrar a Rainha Maya, II, cap.4, 5(7); Buda passa ali 3 meses em retiro, II, cap.4, 7(4) Terra Pura do Êxtase Absoluto (ou, Terra da Paz e da Felicidade), estabelecida por Dharmakara, VI, cap.2, 1(2)-(6); descrição, VI, cap.2, 2(1)-(3); VII, cap.2, 3(3); VII, cap.4, 6(1) Tesouro, Montanha do, guia emprega meios hábeis para conduzir as pessoas [parábola], VII, cap.1, 3(7); contém fonte da longevidade [parábola], VIII, cap.4, 4(3) Tesouro, Montanha do, ver também Sete pedras preciosas Tigela de bronze [metáfora], III, cap.3, 1(1)-(2) Tigelas de madeira (madeira de sândalo), Buda as proíbe para esmolar, II, cap.4, 4(1) Tigresa (faminta) salva por um príncipe [um Jataka], VIII, cap.2, 3(5)-(6) Tindukkhanu (jardim dos ascetas nômades)*, II, cap.4, 5(6) Tisya, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um acessou o Portal do Darma Todeyya (brâmane), fala com sabedoria para seus discípulos, VII, cap.4, 2(3)

T Takhagiri (reino), onde Maha-Kassapa ensinava o Darma, VIII, cap.4, 7(6)

Tosala (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(12) Tranquilidade, Lugar da, VIII, cap.4, 6(5)

Takkasila (cidade), onde Cinco Armas estudou, V, cap.1, 5(1)

Três Aprendizados (preceitos [sila], meditação [samadhi], Sabedoria [prajna]), III, cap.2, 2(4)

Taladhvaja (cidade), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(9)

Três assentos do Buda, II, cap.4, 8(8)

CEBB

1530 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Três conhecimentos dos brâmanes e do Buda, II, cap.1, 1(5)

Udumbarika (Rainha), oferece um parque para a Sanga, IV, cap.1, 2(4)

Três corpos do Buda, VIII, cap.2, 1(1)

Udumbarika, Parque*, onde Nigrodha e 3000 discípulos permaneceram, IV, cap.1, 2(4)

Três karmas, Rito dos, II, cap.4, 1(2) Três mentes para o nascimento na Terra búdica, VII, cap.2, 3(6); VIII, cap.2, 4(6) Três Refúgios, repetidos pelo monge, I, cap.4, 5(2) Três tipos de pureza, III, cap.2, 3(6)

Ugga (de Bhaddiya), instruído pelo Buda, VI, cap.1, 2(10) Ugga (homem rico em Vesali), oferece cadeira de madeira de sândalo ao Buda, VI, cap.1, 2(12) Uggasena (acrobata), II, cap. 2, 1(1)

Três Veículos como meios expedientes, VII, cap.1, 2(5); VII, cap.1, 3(7) Três venenos (raiva, cobiça, ignorância), VI, cap.2, 4(10); como remover da mente, VII, cap.1, 6(3); obstruem a visão correta, VIII, cap.1, 3(6); absterse dos, VIII, cap.4, 6(4) Três visões errôneas, II, cap.4, 8(3) Trinayana (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(2) Trinta e duas marcas físicas das grandes pessoas possuídas pelo Buda, V, cap.1, 3(6)

Ugra (cidade)*, ver Ugrasresthin (homem rico de Ugra) Ugrasresthin (homem rico de Ugra), levado para o Darma pela nora, VII, cap.3, 1(1)-(8); Buda e muitos discípulos se encontram em sua casa, VII, cap.3, 1(5)-(6) Ujjeni (cidade), onde Saccaka instrui o Rei Pajjota, IV, cap.3, 3(1) Ukkala (ao longo do Ganges)*, onde o Buda relata a parábola do vaqueiro, III, cap.2, 3(1)

Trinta e sete caminhos, VIII, cap.1, 5(6)

Ukkattha (vila próspera de Pokkharasati vive, V, cap.1, 3( 1)

Tristeza, VI, cap.1, 5, #213-216

Um pensamento de fé, VII, cap.1, 5(4)

Tumburu (Rei dos Gandhabbas), II, cap.2, 2(2)

Uma Boa Noite [verso], VII, cap.3, 5(3)

Tusita, Céu de, onde Sumedha nasceu, I, cap.1, 2(1)

Uma exclamação, rito de ordenação de, II, cap.4, 1(2)

U

Uma refeição por dia, não há necessidade real para esta regra, III, cap. 3, 2(2); Buda recomenda a regra de, V, cap.1, 1(1); Bhaddali desobedece à regra, V, cap.1, 4(10)

Ucchusma, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um alcançou a iluminação

Kosala),

onde

Udaka (bosque), arredores de Kosambi, onde Pindola medita, II, cap.4, 10(1)

Universal, Monarca, I, cap.1, 2(3); II, cap.1, 4(2); verdadeiro Darma do, IV, cap.1, 3(2); IV, cap.3, 3(1)

Udaya (filho de Ajatasatru), VII, cap.2, 4(3)

Upacala (monja), irmã de Sariputra, VI, cap.4, 5(5)

Udaya (Rei), mata o pai, usurpa o trono, VII, cap.2, 4(7)

Upakani (irmão de Bhaddiya), torna-se discípulo do Buda, VII, cap.4, 3(4)

Udayin, IV, cap.3, 5(2)-(3)

Upali (barbeiro), torna-se discípulo do Buda, I, cap.4, 5(4)

Udayin (ou Sakuludayin

Sakula

Udayin),

ver

também

Uddaka Ramaputta (professor) [Sct: Udraka Ramaputra], I, cap.1, 5(3); 1, cap.3, 1(1)

Upali (leigo), debate com o Buda, IV, cap.1, 5(1)(3) Upalivata (sobrinho de Sariputra), VIII, cap.1, 4(2)

Udena, Rei, II, cap.4, 10(3)-(5)

Upatissa, ver Sariputra

Udumbara, árvore, encontrar o Buda é tão difícil quanto ver o florescer da, II, cap.3, 5(6); III, cap.3, 10(7); V, cap..3, 1(1); VI, cap.2, 1(1); VIII, cap.3, 1(7); a doutrina é tão rara quando o florescer da, VII, cap.1, 1(4)

Upavana (discípulo), atendente do Buda antes de Ananda, VIII, cap.4, 4(8)

CEBB

Uposadha, ver Uposatha

1531 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Uposatha (assembleia dos discípulos), II, cap.4, 2(1); Buda conversa com os discípulos na, VI, cap.1, 1(9); Devadatta apresenta novos preceitos na, VII, cap.2, 1(4) Uppalavanna (monja) [Sct:Utpala-varna], primeira a saber que o Buda desceu de Tavatimsa, II, cap.4, 7(4); morreu com o golpe de Devadatta, VII, cap.2, 5(5) Uruvela [Sct: Uruvilva], local da prática ascética de Siddhartha, I, cap.1, 5(4) Utpala, bela dançarina transformada em mulher velha [parábola], VII, cap.3, 4( 22) Utpalabhuti (ancião), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(13) Uttara (corcunda), seu dever, II, cap.4, 10(3); sua morte, II, cap.4, 10(6) Uttara (vila), cidade natal do jovem Kasyapa, VIII, cap.3, 2(5) Uttaraka (vila)*, II, cap.4, 5(6)

Vajrapani (demônio), Ambattha busca a ajuda do Buda para protegê-lo, V, cap.1, 3(4) Vakkali (discípulo), sua morte, VI, cap.1, 4(5)-(7); influência sobre o Kassapa nu, VIII, cap.4, 8(8) Vanavasin (reino), jornada de Sudhana, III, cap.3, 7(6) Vangisa, tentação de, VI, cap.3, 1(3)-(4) Vanka, Monte, ver Vessantara [um Jataka] Vaqueiro, estúpido e sábio [parábola], III, cap.2, 3(1) Varadhara (asceta), sua estadia no Parque do Pavão, IV, cap.3, 5(2) Varana (cidade)*, onde Maha-Kaccayana permaneceu perto do Lago Kaddama, V, cap.4, 2(1) Varanasi [P: Baranasi], ver Parque dos Cervos Varaprabha, Bodisatva, [um Jataka], VII, cap.1, 1(2) Varsakara, ver Vassakara

V Vacuidade, II, cap.3, 4(1); II, cap.3, 5(3); meditação sobre a, IV, cap.2, 1 (1)-(4); passos para a compreensão, VIII, cap.2, 4(3) Vaidehi (Rainha de Magadha), dá a luz a Ajatasatru, VII, cap.2, 2(1); presa por Ajatasatru, VII, cap.2, 3(1); discurso do Buda para ela sobre o Buda Amitayus, VII, cap.2, 3(3); oferece comida para Bimbisara na prisão, VII, cap.2, 2(2) Vaiduryaprabha, Bodisatva, ver Bodisatvas, como cada um alcançou a iluminação Vaira (capitão de navio), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(14) Vaisadya (brâmane), instruído pelo Buda sobre a caridade, VIII, cap.1, 3(8) Vajji (reino) [Sct: Vrji]*, III, cap.2, 3(1); bem preparado para emergências, VIII, cap.1, 1(1)-(2) Vajjians, vigilantes contra ataques, VIII, cap.1, 1(1)-(2)

Vasettha (brâmane) e Bharadvaja, incapazes de concluir o debate, recebem instrução do Buda, IV, cap.3, 1(5)-(8); buscam ensinamento do Buda no Monastério Oriental, V, cap.3, 4(1) Vassakara (primeiro ministro de Magadha) [Sct: Varsakara], VII, cap.4, 2(1)-(3); consulta o Buda, VIII, cap.1, 1(1); Ananda lhe diz que o Buda não designou ninguém para guiar a Sanga, VIII, cap.4, 8(1) Vasumitra, professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8(17) Vazio, ver Sunyata Vedehika (viúva), sua reputação, III, cap.3, 2(3) Vedharma (cidade)*, VII, cap.4, 1(2) Vediyaka, Monte*, onde o Buda permaneceu na Caverna Indasala, II, cap.2, 2(1) Vehalinga (vila), onde Ghatikara mora, III, cap.1, 1(3)-(4) Veículo Único, ver Ekayana

Vajra (princesa), filha de Pasenadi, II, cap.1, 2(4)

Velhice, as dores da, VII, cap.4, 4(1)-(2)

Vajracchedika-prajna-paramita-sutra, ver Sutra do Diamante

Velhos, respeito pelos mais, I, cap.4, 6(6); exílio, por ordem do Rei [parábola], VII, cap.3, 4(1)

Vajragarbha, Bodisatva, IV, cap.4, 2(1)

Venagapura (vila)*, II, cap.4, 8(8)

Vajraketu, Bodisatva, instruiu bodisatvas no Pico dos Abutres, IV, cap.3, 4(1)

Venenos, três (raiva, cobiça e ignorância), III, cap.2, 1(1)-(2)

CEBB

1532 / 1534

Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Venuvagrama*, num período de fome, o Buda aconselha os discípulos a irem para Vaisali onde há comida suficiente, VIII, cap.1, 3(8); onde o Buda instrui Vaisadya, VIII, cap.1, 3(8) Venuyastika (vila)*, VIII, cap.1, 2(1) Verdade, Reino mais elevado da, II, cap.3, 3(5); espelho da, VIII, cap.1, 2(6); absoluta e mundana, VIII, cap.3, 4(5); VIII, cap.3, 6(7) Verdade absoluta, VIII, cap.3, 4(5); VIII, cap.3, 6(7) Verdade mundana e verdade absoluta, ver Verdade absoluta e mundana Verdadeiro Darma, Critérios para o, depois da morte do Buda, VIII, cap.3, 1(7) Vergonha, interna e externa, II, cap.2, 7(3); VI, cap.1, 5, #316 Verso, Preço de Meio [um Jataka], VIII, cap.3, 5(1)(4) Vesali (capital dos Licchavis) [Sct: Vaisali]*, fome e epidemia em, II, cap.2, 3; ver também Salão de Kutagara Vessantara [um Jataka], I, cap.4, 3(3)-(4) Vessavana (deus) VII, cap.4, 5(5) Vesthila (ancião leigo), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 8( 18) Vestimentas, reciclagem de itens rasgados, II, cap.4, 10(5) Vetramulaka (país), jornada de Sudhana, III, cap.3, 8(8) Vicitrasaladhvajavyuha, Floresta (a leste de Gaya), onde Manjusri nota Sudhana, III, cap.3, 7(2) Vida diária na Sanga, ver Sanga Vidhura (discípulo do Buda Kakusandha), VI, cap.4, 1(1) Vidudabha (filho do Rei Pasenadi), destrói Kapilavatthu por vingança, VII, cap. 4, 5(4); mata o irmão, VII, cap.4, 5(4); sua morte, VII, cap.4, 5(5) Vidvat (ancião), professor Sudhana, III, cap.3, 8(6)

e

orientador

de

Vikramasuryacandraprabha, Buda, surgiu depois do Buda Amithaba, III, cap.1, 5(6) Vimalagarbha (discípulo leigo), aprende sobre a natureza búdica, VIII, cap.3, 4(6) Vimalakirti, Diálogos com, IV, cap.4, 3(3)-(16): com Ananda, 3(7); com Anuruddha, 3(6); com Jagatimdhara, 3(9); com Mahakasyapa, 3(5); com CEBB

Maha-Katyayana, 3(6); com Maitreya, 3(8); com Manjusri, 3( 10); com Maudgalyayana, 3(4); com Prabhavyuha, 3(8); com Purna, 3(6); com Rahula, 3(7); com Sariputra, 3(4); com Subhuti, 3(5); com Sudatta, 3(9); com Upali, 3(7); pergunta a 10 bodisatvas como eles acessaram o Portal do Darma, ele mesmo permaneceu em silêncio, IV, cap.4, 3(15) Vimalakirti, discurso de, IV, cap.4, 3(12)-(14) Vimuktika (banqueiro), professor e orientador de Sudhana, III, cap.3, 7(6)-(7) Vipasyin, Buda, seu caminho foi iluminado pelo monge Upavana, VIII, cap.4, 4(8) Virtudes (5), do Buda, IV, cap.3, 5(3) Virtuosos, atos (3), necessários para o nascimento na Terra Pura, VII, cap.2, 3(3) Virudhaka (Rei), matou o pai, usurpou o trono, VII, cap.2, 4(7) Visakha (ou mãe de Migara), muda-se para Saketa, casa com o filho de Migara, que a chama de ‘mãe’ por conduzir sua família para o Buda, V, cap.3, 3(1) Visakha (instrutor leigo de Rajagaha), deixa a mulher se tornar uma monja, IV, cap.3, 5(4) Visarada (ministro), aconselha Ajatasatru, VII, cap.2, 4(9) Visistacarita, Bodisatva, VII, cap.1, 4(7) Visões corretas, II, cap.3, 2(3) Visões distorcidas, VIII, cap.3, 2 (1)-(2) Visões errôneas, três, ver Três visões errôneas Visões pervertidas da existência, ver Existência Vissavana, acompanha Indra, que oferece a Moggallana uma visita ao palácio, VI, cap.3, 2(2)(3) Visuddhacarita, Bodisatva, VII, cap.1, 4(7) Visvabhu, Buda, ver Bodisatvas, como cada um alcançou a iluminação Votos, ver Dharmakara, Bodisatva Voto original, ver Buda Amitayus Voto Primordial, ver Buda Amitayus Vida futura, VI, cap.1, 5, #16-18 Vrji*, ver Vajji (reino)

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Budadarma – O Caminho para a Iluminação

Yajnadatta (de Sravasti), sua face não refletia no espelho, II, cap.1, 4(8) Yama (rei dos mortos), pergunta se alguém viu 3 mensageiros celestiais, II, cap.2, 7(4) Yasa (filho de rico mercador), torna-se discípulo do Buda, I, cap.3, 2(1)-(2) Yasaskama (Buscador de Fama), Bodisatva, [um Jataka], VII, cap.1, 1(2) Yasodhara (princesa), noiva de Siddhartha, I, cap.1, 3; encontra Siddhartha após sua iluminação, I, cap.4, 4(1)

CEBB

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