Boas Praticas Para Psicultura

May 21, 2019 | Author: BokJr | Category: Aquaculture, Erosion, Natural Environment, Soil, Quality (Business)
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Manual de Boas Práticas de Produção na Piscicultura do Arranjo Produtivo Local da Região de Dourados, MS

É importante sempre verificar a real necessidade da aplicação de qualquer produto e a quantidade recomendada, assim como calcular corretamente o volume da unidade de cultivo onde o produto será aplicado. Não seguir esta BPP pode levar inclusive a um gasto excessivo de produtos e um custo operacional maior da piscicultura. D. Não renovar ou drenar água de viveiros no mínimo 72 h após aplicação de produtos. Isto evita que os produtos recém-aplicados sejam lavados do viveiro sem ter tido tempo de serem totalmente assimilados, influenciando negativamente a qualidade do efluente e levando a perdas do produto com conseqüências econômicas negativas. E. Registrar todos os usos de produtos e observações pertinentes. O registro de uso de qualquer produto aplicado no viveiro é muito importante para o controle geral da piscicultura e avaliação da rentabilidade da operação, além de permitir aos piscicultores medir os resultados da aplicação dos produtos. Estes registros também são fundamentais para o estabelecimento da rastreabilidade da produção, um ponto vital para a comercialização nos mercados mais exigentes.

7.3.4. Manejo da qualidade de água - aeração A aeração dos viveiros de piscicultura é uma prática pouco difundida no sistema de piscicultura atualmente utilizado em Mato Grosso do Sul. Mas, com o aumento do número de produtores e intensificação da produção, o uso de aeradores tende a crescer. A aeração visa principalmente evitar a queda da concentração de oxigênio dissolvido na água a níveis críticos, mas também acaba movimentando a água do viveiro, levando água rica em oxigênio para o fundo, contribuindo para uma maior degradação da matéria orgânica. O uso de aeradores traz a necessidade de acompanhar a qualidade da água dos viveiros, especialmente o nível de oxigênio dissolvido, para evitar aerar a água

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quando o nível de oxigênio estiver bom, o que apenas aumenta o custo da piscicultura. A. Posicionar aeradores de modo a evitar erosão no fundo e nos taludes. Aeradores devem ser instalados em locais com profundidade superior a 1,5 m e o mais distante possível das laterais, para evitar que as correntes por eles geradas acabem erodindo o fundo ou laterais dos viveiros, aumentando a quantidade de sólidos em suspensão. B. O monitoramento de oxigênio deverá ser realizado regularmente. As densidades de estocagem e taxas de alimentação praticadas devem ser compatíveis com a capacidade de aeração disponível. Um viveiro com uma boa qualidade de água, o que significa também um bom teor de oxigênio dissolvido, irá gerar um efluente de melhor qualidade, menos impactante no meio ambiente. C. A aeração também deve ser utilizada para promover a circulação de água rica em oxigênio para o fundo dos viveiros, o que se recomenda fazer em períodos com alto oxigênio na superfície. Esta prática auxilia na mineralização da matéria orgânica presente no fundo do viveiro, que passa a ter seu potencial poluente reduzido. Também contribui para melhorar a qualidade de água média do viveiro em caso de ambientes com estratificação.

7.4. Nutrição e alimentação de peixes O objetivo das BPP relacionadas com a nutrição e alimentação de peixes é otimizar o crescimento dos peixes através de maior eficiência alimentar, e minimizar o seu potencial poluente ao reduzir o impacto causado pelas fezes e resíduos não aproveitados de ração na água de cultivo e, conseqüentemente, no efluente da piscicultura. Como a

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ração pode representar de 50% a 80% dos custos de produção da piscicultura, o uso de rações de alta qualidade e de estratégias eficazes de alimentação possibilita maximizar o lucro por unidade de produção. A obrigação de fornecer uma ração de qualidade, adequada à espécie cultivada, é do fabricante de rações, que deve conhecer o melhor possível os requerimentos nutricionais e exigências das diferentes espécies de peixe criadas. Também é obrigação do fabricante produzir uma ração com quantidades e fontes adequadas de nitrogênio e fósforo, que quando utilizadas resultem no menor potencial poluidor. A ração também deve ser fornecida pelo fabricante livre de contaminações e toxinas de qualquer espécie e conforme as especificações do rótulo. A realização de análises de ração freqüentes para verificar a sua conformidade está fora da realidade da grande maioria dos piscicultores da região, mas existe uma série de BPP relacionadas com a ração que estão ao alcance dos produtores. Para medir a qualidade e eficiência da ração utilizada na piscicultura o produtor precisa avaliar a conversão alimentar conseguida com a ração. A conversão alimentar é calculada pela divisão do total de quilos de ração fornecida aos peixes pelo total de quilos de peixes produzidos com esta ração. Além da qualidade da ração, a conversão alimentar obtida em cada viveiro também é fortemente impactada pela qualidade da água do viveiro e pelo manejo alimentar adotado pelo piscicultor. A conversão alimentar de peixes tropicais na fase de engorda normalmente se situa em torno de 2:1, isto é, usam-se dois quilos de ração para produzir um quilo de peixe. Produtores que adotam as BPP e utilizam rações de boa qualidade conseguem conversões ao redor de 1,5:1, o que representa uma economia de 25% na ração utilizada na engorda. Isto possibilita aumentar o lucro da piscicultura ao mesmo tempo que reduz o impacto ambiental da atividade com um menor aporte de nutrientes na água de cultivo e, conseqüentemente, no meio ambiente.

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A. Sempre avaliar qualidade da ração que chega à propriedade. A avaliação dos aspectos físicos da ração pode e deve ser feita por todo piscicultor no momento da descarga. Lotes com defeitos não devem ser tolerados, cabendo ao fabricante enviar novo lote dentro das especificações. Os principais pontos que devem ser avaliados pelos produtores são:

a.  Flutuabilidade dos pellets extrusados. No mínimo 90% dos pellets extrusados devem permanecer flutuando por algumas horas em um teste de flutuação realizado com um balde. Uma grande percentagem de pellets afundando dificulta a avaliação da eficiência da alimentação, podendo indicar erroneamente que os peixes comeram todo o alimento fornecido. b. Estabilidade na água. Os pellets devem se manter íntegros por algumas horas na água, não se desmanchando rapidamente. Os nutrientes contidos na ração se solubilizam mais rapidamente quando os pellets se desmancham na água sem que os peixes tenham tido chance de comê-los. Isto tem um impacto negativo na qualidade de água, além de representar uma perda direta para o produtor. c. Uniformidade de tamanho. Os pellets devem apresentar tamanho uniforme, pois uma grande variação pode dificultar a alimentação dos peixes, especialmente se os pellets forem de tamanho maior. d. Grau de moagem dos ingredientes. Os ingredientes da ração devem ser finamente moídos pelo fabricante, pois isto melhora a digestibilidade da ração, levando a uma melhor conversão alimentar e menor perda de nutrientes na água. A ração deve ter um aspecto uniforme, sem pedaços de ingredientes facilmente identificáveis ao olho nu. e. Data de fabricação. A ração é composta de vários ingredientes sensíveis, especialmente as vitaminas, que vão se degradando com o tempo. O piscicultor deve sempre observar a data de fabricação do lote de ração comprado, exigindo sempre que a ração tenha sido fabricada recentemente. Não se deve adquirir rações com mais de três meses da data de fabricação, sendo que

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idealmente a ração deveria ser consumida em 30 dias após sua fabricação.

f. Umidade. Os produtores não devem aceitar ração com sinais de umidade (pelotes, rações moles, presença de fungos, etc.). B. Checagem dos níveis de garantia, ausência de contaminantes e toxinas e exigência do uso de ingredientes de alta qualidade na ração. A pronta aceitação da ração pelos peixes, demonstrando uma alta palatabilidade, é um indicador da sua qualidade. Mas sem a realização de análises específicas (bromatológicas), que permitem avaliar a qualidade nutricional da ração, mas que são relativamente caras, o piscicultor só tem condições de saber se a ração é realmente boa ou não ao final do cultivo, quando vê o resultado obtido. Quando a ração não é boa, já é tarde demais. O custo dessas análises pode ser repartido entre vários piscicultores, através de associações, cooperativas ou mesmo de maneira informal, o que possibilitaria pelo menos a checagem da qualidade de alguns lotes de ração. Um técnico qualificado deve ser chamado para interpretar os resultados da análise. A exigência sobre a qualidade da ração deve ser feita continuamente sobre o fabricante. C. Sempre utilizar rações de alta qualidade formuladas para peixes. Desconfiar de rações excessivamente baratas. Uma vez que a ração é o maior custo dentro da produção de peixes, podendo representar de 50% a 80% do custo operacional da piscicultura, os piscicultores são freqüentemente tentados a comprar rações mais baratas oferecidas por diversos fabricantes. Não existe uma grande margem na fabricação de rações extrusadas para peixe, de modo que se um fabricante apresenta um preço muito abaixo do praticado pelos outros, o produtor deve se perguntar qual é a razão disto. Nestes casos, freqüentemente a ração ofertada tem níveis de garantias mais baixos que os

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concorrentes, especialmente vitaminas e minerais, ou é feita com ingredientes de pior qualidade. De qualquer maneira, o uso de rações de baixa qualidade leva a uma pior conversão alimentar resultando não só em baixo crescimento, mas numa pior qualidade da água do viveiro e do efluente. Produtores devem usar exclusivamente rações formuladas para peixes, se abstendo de usar resíduos agrícolas ou similares, por mais abundantes que sejam na propriedade. A Tabela 4 demonstra o resultado esperado do uso de alimentos com níveis de qualidade diferentes. Embora os números sejam para a tilápia, para outros peixes os resultados seriam similares ou a diferença encontrada entre o melhor e pior alimento seria maior ainda. Tabela 4. Expectativa da performance produtiva e econômica no cultivo de tilápia do Nilo utilizando diferentes tipos de alimento. Alimento (kg de MS/ha)

Kg alimento/ 1.000 kg peixe

Carga poluente kg MS/ha 2

R$/kg peixe1,3

Receita líquida R$/ha 4

16.686

1,51

1.842

4.200

11.900

1,86

2.468

9.522

2.300

8.234

1,57

4.511

7.956

1.300

6.052

1,26

8.591

Alimento utilizado

Produção (kg/ha)

Cama de Frango

1.800

17.190

10.610

Farelada

3.400

12.852

Peletizada

4.600

Extrusada

6.800

Fonte: adaptado de Kubitza (1999). 1 Custo (R$/kg): Cama de frango: 0,10; ração farelada: 0,31; ração peletizada: 0,48; ração extrusada: 0,68. 2  Diferença entre a quantidade de matéria seca (MS) aplicada e a MS removida no peixe (1.000 kg de peixe contém 280 kg de MS). 3  Considerando o alimento como responsável por 70% do custo de produção. 4  Preço de venda de R$ 2,40/kg.

Na Tabela 4 demonstra-se que à medida que se melhora a qualidade do alimento fornecido, saindo da cama de frango, para a ração farelada, peletizada e finalmente para a ração extrusada, a produção de peixes esperada aumenta de 1.800 para 6.800 kg/ha. Ao mesmo tempo a quantidade de alimento que precisa ser

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fornecida para se produzir 1.000 kg de peixe cai de 10.610 kg com a cama de frango para 1.300 kg com a ração extrusada devido à melhor digestibilidade da ração extrusada. O resultado final que pode ser esperado pelo piscicultor é que o menor custo de produção por quilo de peixe e a maior receita líquida (lucro) por hectare sejam obtidos com a ração mais cara, devido a sua maior eficiência. Isto demonstra claramente que o uso de alimentos baratos não leva diretamente ao menor custo de produção. Pelo contrário, ao se utilizar alimentos não formulados para peixes ou rações de baixa qualidade a conversão alimentar piora, o que faz com que o excesso de alimento fornecido e não digerido pelos peixes seja excretado na forma de fezes e amônia na água, piorando sua qualidade. Por isso se produz menos peixe por hectare de lâmina d'água e o tempo que leva para o peixe atingir tamanho de mercado também é significativamente maior. Além de levar a uma pior qualidade do efluente da piscicultura, a soma dos fatores causados pelo uso de alimentos de baixa qualidade: pior conversão alimentar, pior qualidade de água, menor produção por hectare e crescimento mais lento resultam em um lucro menor para o produtor na sua piscicultura. Alimentos de baixa qualidade também podem prejudicar a saúde dos peixes e aumentar a mortalidade durante o cultivo ou após o transporte. Também podem prejudicar a qualidade e o rendimento de carne, como por exemplo no caso de alimentos que promovem grande acúmulo de gordura visceral. D. Usar rações extrusadas flutuantes na alimentação de peixes. Rações extrusadas flutuantes permitem ao piscicultor avaliar visualmente a alimentação, verificando o apetite dos animais e a quantidade consumida, evitando desperdícios. Isto torna o uso da ração extrusada uma poderosa ferramenta para o piscicultor, pois durante a alimentação também se pode avaliar o estado geral dos animais. Este fator apenas praticamente paga o custo mais elevado da ração extrusada. Alem disso, a alta temperatura e umidade no processo de fabricação da ração extrusada aumenta a

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digestibilidade dos ingredientes, fazendo com que uma mesma fórmula de ração, quando extrusada, resulte em melhor conversão alimentar e crescimento dos peixes do que se fosse submetida apenas à peletização. E. Armazenar corretamente as rações na propriedade. Rações devem ser armazenadas em um local seco, ventilado e protegido da luz, insetos e outros animais. As rações devem ser armazenadas sobre pallets e distante pelo menos 20 cm das paredes. Armazenar rações separadas de combustíveis, óleos, pesticidas, fertilizantes, medicamentos, etc. Atentar para o prazo de validade das rações e usar a estratégia PEPS - Primeiro que Entra, Primeiro que Sai. Não fornecer aos peixes rações mofadas, úmidas, ou com sinais de terem se umedecido (pelotes), pois podem ser altamente prejudiciais aos peixes. F. Usar taxas de alimentação condizentes com a espécie e tamanho dos animais e qualidade da água do viveiro. Não fornecer mais ração do que os peixes comem em 30 minutos. As Tabelas 5 e 6 apresentam uma recomendação geral para o número de refeições e taxas de alimentação que devem ser praticados sob diferentes condições de temperatura de água para peixes tropicais. Estas tabelas são apenas um indicador, devendo o produtor sempre avaliar a resposta alimentar dos peixes, evitando desperdícios. A quantidade de ração a ser fornecida aos peixes deve ser reajustada para acompanhar o crescimento dos peixes. Recomenda-se fazer amostragens (biometrias) mensais para avaliar o crescimento dos peixes, mas a quantidade de ração fornecida deve ser reajustada mais frequentemente, de preferência semanalmente.

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Tabela 5.  Recomendações gerais para o número de refeições e taxa de alimentação diária (em % do peso vivo dos peixes) durante as fases de alevinagem de peixes tropicais sob diferentes condições de temperatura de água. Temperatura da água (oC)

Peso dos alevinos

Taxa de alimentação

< 20 1

20 - 24

24 - 28

28 - 32

> 32

1 a 10 g

(% PV/dia) Refeições/dia

2a3 1

3a4 2

4a6 2a3

6a8 3a4

4a6 2a3

10 a 20 g

(% PV/dia) Refeições/dia

1a2 1

2a3 1a2

3a5 2

4a6 3

3a5 2

20 a 30 g

(% PV/dia) Refeições/dia

1 1

1a2 1

2a4 1a2

3a5 2a3

2a4 2

Fonte: Kubitza (1999). 1 Fazer uma refeição/dia não maior que 1% da biomassa em dias alternados sob temperaturas < 20 oC.

Tabela 6.  Recomendações gerais para o número de refeições e taxa de alimentação diária (em % do peso vivo dos peixes) durante as fases de crescimento de peixes tropicais sob diferentes condições de temperatura de água. Peso dos peixes

Temperatura da água ( oC)

Taxa de alimentação

< 20 1

20 - 24

24 - 28

28 - 32

> 32

(% PV/dia) Refeições/dia

1 1

2a3 2

2a4 2a3

4a5 2a4

2a4 2a3

100 a 500 g

(% PV/dia) Refeições/dia

1 1

1a2 1a2

2a3 1a2

3a4 2a3

2a3 1a2

500 a 1000 g

(% PV/dia) Refeições/dia

1 1

1a2 1

1a2 1a2

2a3 2a3

1a2 1a2

30 a 100 g

Fonte: Kubitza (1999). 1 Fazer uma refeição/dia não maior que 1% da biomassa em dias alternados sob temperaturas < 20 oC.

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Ração não consumida pelos peixes em 15-30 minutos após o fornecimento tende a se ensopar e ter baixa atratividade. Esta sobra de ração é normalmente consumida pelos peixes invasores (lambaris, etc.), o que gera uma competição pelo espaço e qualidade da água com os peixes cultivados. A pessoa responsável pela alimentação deve ser muito bem treinada e ter sensibilidade para avaliar a resposta alimentar dos peixes (apetite) e julgar se eles irão consumir todo o alimento fornecido. Caso o alimentador sinta que os peixes não vão comer toda a ração programada para ser fornecida, a quantidade jogada para os peixes deve ser reduzida naquela alimentação. G. Observar parâmetros de qualidade de água antes de alimentar. Evitar alimentar com qualidade de água ruim. Uma má qualidade de água reduz não só o apetite como pode até prejudicar a digestibilidade do alimento fornecido, resultando em perdas e piora da qualidade de água. Os produtores devem sempre avaliar a qualidade de água, especialmente o oxigênio dissolvido no período da manhã (cedo - 6h) antes de alimentar os peixes. Caso os produtores não tenham equipamento para medir o oxigênio dissolvido na propriedade os viveiros devem ser manejados de modo a reduzir o risco de problemas de oxigênio. Isto é feito estocando os peixes em densidades moderadas (vide BPP abaixo) e mantendo a transparência da água, medida com o Disco de Secchi (Foto 1) superior a 35 cm.

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Foto 1. Medição da transparência da água com o Disco de Secchi.

H. Evitar fornecer mais alimento do que a capacidade de assimilação do viveiro. Inúmeras pesquisas comprovam que quando se fornece mais do que 35 kg de ração por hectare/dia em viveiros sem aeração há o risco de ocorrer baixos níveis de oxigênio dissolvido na água (Auburn University e USDA/Natural Resources Conservation Service. 2004 - BMP No 7). Com a renovação de água, prática recomendada somente em casos específicos, mas ainda muito praticada pelos piscicultores, este limite pode subir ligeiramente, mas a um custo potencialmente significativo para o meio ambiente. A Tabela 7 traz uma indicação da produção recomendada, em kg/ha, conforme a capacidade de renovação de água e presença ou não de aeração e o máximo de ração a ser fornecido por ha/dia. A maior parte dos piscicultores da região de Dourados opera com taxas de renovação diária de no máximo 5% ao dia e não dispõe de aeração nos viveiros. Deste modo os produtores que se encaixam nesta categoria não devem fornecer mais do que 50 a

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60 kg de ração/ha/dia para evitar que problemas de qualidade de água atrapalhem a eficiência da ração. Com este limite de arraçoamento diário os produtores devem estocar seus viveiros de modo a atingir uma biomassa de 5.000 a 6.000 kg/ha no final do cultivo. Por exemplo, se o objetivo for produzir um pacu de 2,0 kg para o mercado, deve-se estocar de 2.500 a 3.000 peixes por hectare, com um pequeno adicional para a mortalidade. Tabela 7.  Valores de produção de peixes recomendados (kg/ha) e taxas máximas de alimentação (kg/ha/dia) recomendadas para assegurar adequada qualidade de água em viveiros com para diferentes condições de renovação de água e presença de aeração (5 a 10 hp/ha) nas fases de recria e engorda. Fase 1 Capacidade renovação de água diária

Até 2% Até 2% 2 a 5% 2 a 5% 5 a 10% 5 a 10%

Recria

Aeração

Max. Ração kg/ha/dia

Produção recomendada kg/ha

Não Sim Não Sim Não Sim

35 a 50 70 a 110 50 a 60 80 a 130 65 a 90 120 a 160

2.000 a 2.500 3.500 a 5.500 2.500 a 3.000 4.500 a 7.000 3.000 a 4.500 7.000 a 9.000

Fase 2 – Engorda Capacidade Renovação de água diária

Até 2% Até 2% 2 a 5% 2 a 5% 5 a 10% 5 a 10%

Aeração

Max. Ração kg/ha/dia

Produção recomendada Kg/ha

Não Sim Não Sim Não Sim

35 a 50 70 a 110 50 a 60 80 a 130 65 a 90 120 a 160

4.000 a 5.500 7.000 a 10.000 5.000 a 6.000 8.000 a 13.000 6.000 a 9.000 12.000 a 16.000

Fonte: adaptado de Kubitza (1999).

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I. O tamanho do pellet de ração deve ser adequado ao tamanho dos peixes. Grãos de ração maiores que a boca dos peixes não são comidos rapidamente, perdendo nutrientes para a água. Grãos excessivamente pequenos exigem maior dispêndio de energia para serem consumidos e são menos atrativos, resultando em perdas do alimento fornecido. Estas duas situações são indesejáveis, pois além de desperdiçar um insumo caro, a ração não aproveitada acaba impactando negativamente a qualidade da água do viveiro e, conseqüentemente, a do efluente. J. Alimentar os peixes em 90% da quantidade necessária para atingir a saciedade. A quantidade total de ração capaz de ser consumida pelos peixes em um viveiro apresenta uma variação de dia para dia, devido à variação diária dos parâmetros de qualidade de água e outros fatores que afetam o apetite dos peixes. Desse modo, ao se fornecer a ração “ad libitum”, isto é, à vontade, há o risco de fornecer ração em excesso. Fornecer 90% do total de ração que os peixes comeriam por dia favorece uma resposta alimentar estável, gerando menor desperdício de ração. Outras vantagens desta prática são o menor tempo gasto na alimentação, melhor conversão alimentar e menor acúmulo de gordura visceral. K. Condicionamento de freqüência e local de alimentação. Os peixes se acostumam com facilidade com o local e horário de alimentação. Esta rotina deve ser seguida sempre que possível, evitando variações aleatórias. Algumas espécies, como o pintado, possuem restrição quanto à luminosidade, devendo ser alimentadas fora do horário de sol a pino. L. A alimentação deve ser feita espalhando-se o alimento em uma área significativa do viveiro. Evitar que a ração seja jogada de volta à margem - usar o vento.

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Espalhar a ração ao longo de uma grande área no viveiro é uma prática recomendada porque dá a todos os peixes uma oportunidade de se alimentarem, evitando que peixes dominantes impeçam o acesso de mais fracos ao alimento. A ração deve ser fornecida ao longo de no mínimo 30% a 50% do perímetro do viveiro. Quando se fornece ração extrusada (flutuante) deve-se prestar atenção ao sentido do vento, que pode trazer de volta a ração para a margem, impedindo o acesso dos peixes ao alimento.

7.5. Manejo da piscicultura 7.5.1. Manejo e transporte As BPP em piscicultura relacionadas ao manejo, especialmente a estocagem dos alevinos, as despescas (retirada de peixes para venda), as transferências de peixes entre viveiros e o transporte de peixes visam reduzir o estresse dos animais e promover maior eficiência da atividade do manejo, reduzindo a mortalidade e melhorando a qualidade do pescado produzido na piscicultura. A. Trabalhar somente com espécies permitidas conforme a legislação. O Estado de Mato Grosso do Sul possui uma legislação específica sobre as espécies de peixe que podem ser criadas. De maneira geral, na bacia do Rio Paraguai só podem ser criados peixes nativos. Na bacia do Paraná está permitida a criação de espécies exóticas, mas a introdução de qualquer nova espécie deve ser aprovada pela Secretaria do Meio Ambiente. B. Estocar alevinos em densidades adequadas à capacidade da unidade de cultivo. Conforme já detalhado nas seções de qualidade de água e nutrição e alimentação, o piscicultor deve sempre estocar os peixes em quantidades moderadas para manter uma boa qualidade de água

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para permitir seu ótimo crescimento e obter o melhor resultado econômico. C. Planejar e organizar as atividades, verificando a condição dos equipamentos, função de cada trabalhador e horários mais adequados. Evitar manuseio desnecessário e perdas de tempo. O planejamento e organização das atividades de manejo aumentam a eficiência da operação. Em atividades onde se maneja diretamente os peixes isto é fundamental, pois não se pode perder tempo em situações como despescas e transferências, sob o risco de ocorrer estresse excessivo, causar sofrimento desnecessário ou até a mortalidade dos peixes. D. Dar jejum de pelo menos 24 horas antes do manuseio. Fazer um manuseio gentil dos peixes nas colheitas e transferências. Usar sal no transporte e nas transferências (0,4% a 0,8%). Manter uma observação atenta nos níveis de oxigênio nas águas de transporte e viveiros manejados. Estas práticas são relacionadas diretamente com o estresse causado aos animais e seu bem-estar durante o manejo (despesca, transferência, etc.). Sua observação reduz as doenças e a mortalidade decorrente destas operações. E. Não permitir o escape de peixes do viveiro durante a operação de drenagem. Não se deve permitir que peixes do viveiro, mesmo animais indesejados pelo mercado como peixes invasores (traíra, lambari, etc.) e alevinos nascidos nos viveiros (tilápia, etc.) sejam liberados no meio ambiente junto com a água de drenagem. Se não houver um melhor destino, como doação a pessoas necessitadas, estes peixes devem ser dispostos de maneira adequada, conforme recomendado na seção sobre doenças e mortalidades de peixe.

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7.5.2. Controle de predadores Animais predadores, especialmente os pássaros como o biguá e as garças, podem-se tornar um problema significativo para os piscicultores, causando não só prejuízo econômico por consumirem peixes, mas também porque acabam eventualmente causando estresse nos animais, interferindo com a alimentação e atuando como agentes transmissores de doenças e parasitos. Outros animais como lontras e jacarés também são potenciais predadores, devendo ser monitorados. A. Respeitar a legislação federal e estadual. Ao contrário da maioria dos países onde a piscicultura é praticada, a legislação brasileira não permite o controle de animais predadores através de seu abate na propriedade. Mas, mesmo nos países onde se permite eliminar os predadores, as BPP determinam que todas as outras alternativas (espantar, impedir o acesso, etc.) devem ser totalmente exploradas antes de se partir para o abate, considerado apenas como um último recurso. B. Adotar estratégias para evitar o acesso de predadores como telas e redes, localização de unidades de cultivo mais suscetíveis perto da sede, uso de linhas de monofilamento, cercas elétricas, etc. Evitar que os predadores tenham acesso à unidade de criação é sem dúvida a alternativa mais eficiente do ponto de vista ambiental, mas o alto custo pode inviabilizar sua adoção. C. O uso de barulho a partir de canhões de gás, fogos, etc. é uma boa prática de manejo, mas seu uso deve ser restrito ao mínimo necessário, especialmente em locais perto de residências.

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7.5.3. Manutenção da piscicultura e da propriedade A manutenção da piscicultura e de toda a propriedade também é um aspecto importante que deve ser coberto por BPP como maneira de reduzir problemas ambientais, assim como problemas de segurança no trabalho. A manutenção de uma propriedade limpa e organizada é um excelente indicador da responsabilidade do proprietário. A. Armazenar combustíveis e outros derivados de petróleo de maneira que não possam atingir a piscicultura e o meio ambiente em caso de acidentes. Tanques de combustível devem possuir uma estrutura de contenção com capacidade superior ao tanque para evitar que combustível derramado em um acidente atinja a piscicultura ou o meio ambiente. Óleo usado deve ser guardado adequadamente e enviado para aproveitamento. B. Use e armazene produtos químicos de maneira a evitar impacto ambiental na piscicultura. Os locais de armazenamento de produtos químicos devem ser bem ventilados e mantidos fechados. O piso deve ter inclinação para o centro, evitando que produtos acidentalmente derramados não cheguem a sair. Placas sinalizando o perigo de cada produto devem ser afixadas em locais visíveis. C. Trabalhadores devem receber treinamento nas operações da piscicultura e de segurança no trabalho. Equipamentos de proteção individual (EPI) devem ser fornecidos sempre que necessário. D. A propriedade deve possuir sanitários equipados com fossa séptica ou sistema de tratamento. E. Coletar e remover lixo regularmente. A piscicultura deve adotar um programa de controle de pragas (insetos e roedores).

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Insetos e roedores são vetores de doenças e devem ser controlados, pois também podem representar prejuízo para o piscicultor ao consumirem e estragarem ração e equipamentos, como redes. F. Manter a propriedade limpa e organizada.

7.5.4. Aspectos sociais O respeito aos aspectos sociais é tão importante quanto o cuidado com o meio ambiente. Assim como as BPP em piscicultura que protegem o meio ambiente na maioria das vezes também acabam por melhorar a lucratividade da operação, a adoção das BPP relacionadas aos aspectos sociais gera maior satisfação dos trabalhadores, também impactando de maneira positiva a operação. A. Trabalhadores devem ser registrados e pagos conforme a legislação trabalhista. B. A piscicultura não deverá empregar crianças ou menores de idade conforme exigência da legislação trabalhista.

7.6. Controles e rastreabilidade na piscicultura Registrar em fichas de controle todas as atividades da piscicultura, especialmente os pontos relacionados à alimentação, manejo, qualidade de água e tratamentos realizados. Isso é fundamental para o piscicultor obter uma máxima eficiência e ter realmente controle da sua operação. Sem registros não é possível avaliar a eficiência das diferentes estratégias de manejo utilizadas e nem apurar a lucratividade da piscicultura. Não é difícil implementar controles, mas isto exige pessoal minimamente qualificado para o preenchimento da

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fichas e análises, gerando ainda algum custo. Entretanto, sem os resultados obtidos com a análise dos controles é praticamente impossível saber se a piscicultura é viável ou não. Os controles devem ser mantidos preferencialmente na piscicultura para facilitar sua análise. Idealmente, os dados coletados deveriam ser passados para o computador, o que possibilitaria análises mais elaboradas e facilitaria o armazenamento das informações. A rastreabilidade é a capacidade de traçar o histórico, a aplicação ou a localização de um item por meio de informações previamente registradas. A capacidade de verificar todo o histórico de um lote de peixes, incluindo alimentos fornecidos, tratamentos realizados e as unidades de cultivo onde o peixe foi criado é fundamental para garantir para os mercados mais exigentes a segurança do pescado produzido. É uma BPP em piscicultura realizar no mínimo o controle dos pontos a seguir relacionados. A. Ração/alimentação. Estabelecer uma ficha de controle que possibilite verificar a quantidade de ração fornecida por tanque por dia. O tipo de ração fornecido, data e o nome do alimentador devem constar na ficha. Mensalmente as fichas devem ser totalizadas. Este controle irá permitir o controle de estoque de ração e a estimativa da conversão alimentar para cada tanque, permitindo avaliar a qualidade da ração fornecida e o sistema de alimentação, além de ajudar a avaliar o manejo e a qualidade dos alevinos criados. B. Qualidade de água. Um controle da qualidade de água dos viveiros e represas é muito importante, especialmente na fase final do cultivo quando a quantidade de ração fornecida é maior. Problemas de qualidade de água podem ser responsáveis por má conversão alimentar, doenças e até a morte dos peixes.

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C. Estocagem, transferências e despescas. É fundamental ter todos os dados de estocagem, transferências e despescas muito bem controlados, pois são estes que permitem avaliar a eficiência da produção como um todo. Todas estas operações devem ser registradas em fichas com as datas, números e pesos de peixe manejados, além da origem e destino dos mesmos. Estes registros também garantem a rastreabilidade dos peixes dentro da piscicultura. D. Tratamentos/manejos diferenciados. Qualquer tratamento (medicamentos, insumos aplicados, etc.) deverá ser registrado para que sua eficiência possa ser avaliada. A data, o produto e a dosagem utilizada, assim como o motivo do tratamento, devem ser registrados. E. Controles financeiros. O controle dos pontos técnicos da produção é apenas uma parte necessária para avaliar a piscicultura. Sem controle dos custos de produção (insumos, mão-de-obra, etc.), investimentos e das receitas obtidas é praticamente impossível tomar decisões gerenciais fundamentadas e avaliar o sucesso da operação. F. Rastreabilidade. Os piscicultores devem fazer o controle da rastreabilidade através do “Lote”: conjunto de unidades (peixes) que possuem as mesmas características, sendo indiferenciáveis entre si. Por exemplo, peixes que vieram de um mesmo fornecedor de alevinos, foram estocados no mesmo viveiro, comeram a mesma ração e foram submetidos aos mesmos tratamentos. Lotes podem ser agrupados, divididos ou transferidos e estas operações devem ser registradas para manter a rastreabilidade. Todas essas informações precisam estar amarradas com o viveiro em que foram estocados, rações que foram fornecidas, tratamentos realizados,

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etc. Todas as unidades de cultivo devem ser identificadas com placas no campo. A eficiência do sistema de rastreabilidade implantado deve ser regularmente avaliada, verificando se, com as fichas de controle existentes, é possível realmente rastrear todo o histórico de cada lote de peixes na fazenda.

7.7. Princípios de Ictiopatologia e sanidade na piscicultura 7.7.1. Prevenção de doenças e parasitoses e biosseguridade na piscicultura No meio aquático os peixes vivem em equilíbrio com parasitos e patógenos que normalmente já se encontram nos viveiros. Entretanto, os sistemas de produção aqüicolas são normalmente instáveis, de modo que inúmeros fatores causadores de estresse nos peixes podem romper este equilíbrio, predispondo os peixes a doenças e parasitoses. Estes problemas são normalmente associados com má qualidade de água, má nutrição ou manejo inadequado dos peixes, entre outros fatores. Evitar o estresse causado por estes fatores é a ação mais importante na prevenção de doenças e parasitoses na piscicultura. As BPP em piscicultura listadas a seguir repetem várias práticas já mencionadas neste manual anteriormente, mas cuja importância é reforçada nesta seção. A. Assegurar nutrição, qualidade de água e manejo adequados. Estes são os principais pontos relacionados com o estresse dos peixes nos viveiros de piscicultura. Se estes pontos estiverem adequados a chance dos peixes desenvolverem doenças ou problemas com parasitos é muito pequena.

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B. Avaliar a atividade alimentar diariamente. É através da observação diária da atividade alimentar que o piscicultor tem condições de verificar a condição de um lote de peixes. Em geral, o primeiro indicativo de que algo não vai bem no viveiro de criação é a redução do apetite dos peixes, com menor atividade no momento da alimentação. Como em viveiros o modo mais prático de tratar os peixes em caso de problemas de doenças é através do fornecimento de rações medicadas e esta redução no apetite dificulta esta prática, é fundamental identificar um eventual problema antes que os peixes parem de comer completamente. C. Trabalhar buscando a biomassa econômica, abaixo da capacidade suporte do viveiro que é o máximo de biomassa que o viveiro pode suportar. Isto é feito através da estocagem de peixes em densidades moderadas. D. Planejar todas as operações de manejo, checando as condições dos equipamentos, materiais e pessoal. O objetivo é evitar perdas desnecessárias de tempo durante as operações de manejo com peixe, o que pode causar estresse desnecessário. E. Controlar a entrada e o estabelecimento de peixes e outros animais indesejáveis. Os viveiros devem possuir telas na entrada de água para evitar ou ao menos reduzir a infestação de peixes selvagens nos viveiros. Estes animais podem ser vetores de parasitos e doenças.

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F. Garantir a higiene e limpeza dos tanques e outras unidades de cultivo. Viveiros devem ter sua grama regularmente aparada para facilitar a visualização de eventuais problemas com doenças, como o aparecimento de peixes moribundos ou mortos. G. Evitar uso de alimentos embolorados ou contaminados, especialmente resíduos de abatedouros. Alimentos embolorados estão totalmente contaminados com fungos e o seu uso como alimento pode predispor os peixes a várias doenças. Resíduos de abatedouros podem vir contaminados com alta carga de bactérias, muitas delas potencialmente prejudiciais à saúde dos peixes. H. Evitar o uso desordenado e excessivo de produtos químicos e medicamentos. A maior parte dos produtos utilizados no controle de doenças e parasitos de peixes é bastante tóxica aos peixes e seu uso deve ser realizado conforme a dosagem feita por profissional qualificado para evitar problemas adicionais com toxidade dos produtos químicos. I. Controlar introdução de novos peixes para evitar a introdução de novos patógenos/parasitas. Usar fornecedores idôneos de alevinos e matrizes. Evitar trazer peixes de pisciculturas sem controle. Adquirir os alevinos e reprodutores de fornecedores com um bom histórico e que façam controle de doenças e parasitas nos peixes vendidos.

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J. Peixes suspeitos: isolamento/observação (quarentena) e remoção do viveiro. Peixes com sinais de doença ou comportamento estranho devem ser removidos dos viveiros e analisados. Isto pode permitir identificar um problema e agir antes que o mesmo tenha tempo de se tornar mais sério. K. Desinfecção de equipamentos usados em outras propriedades. Qualquer equipamento que tenha sido usado em uma outra propriedade deve ser muito bem lavado com água limpa e depois desinfetado com uma solução desinfetante. Produtos como o cloro, formol ou compostos de amônia quaternária podem ser usados como desinfetantes. Os equipamentos desinfetados devem ser completamente lavados com água em abundância antes de serem usados com peixes para evitar contaminações. L. Monitoramento das fontes de água de abastecimento. A água de abastecimento da piscicultura deve ser constantemente monitorada para assegurar que a mesma não esteja sujeita a contaminações de qualquer espécie. Uma das maneiras de se visualizar isto é através da observação do comportamento das espécies nativas, como o lambari, normalmente presentes nos canais de abastecimento. M. Manter controle sobre pessoas e veículos que entram na piscicultura. Dentro do possível, as pisciculturas devem ser cercadas para evitar o acesso de estranhos e a entrada e saída da piscicultura deve ser controlada. Estas medidas servem para reduzir a chance de introdução de doenças vindas de outras propriedades.

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N. Isolar unidades de cultivo com problemas de doenças, evitando compartilhamento de equipamentos utilizados, inclusive roupas de funcionários. São medidas que tentam evitar que eventuais problemas se espalhem dentro da propriedade, tornando-se um problema maior que o existente.

7.7.2. Tratamento de doenças A. Identificar a causa da doença e eliminar o eventual fator estressante, como os problemas de qualidade de água, nutrição, manejo, etc., antes de realizar o tratamento. Como mencionado anteriormente, a ocorrência de problemas de doenças e parasitoses é geralmente desencadeada pela influência de um fator estressante que acaba reduzindo a capacidade imunológica dos animais. É fundamental corrigir o fator em questão, pois se isto não for feito qualquer tratamento realizado será pouco eficaz. B. Usar apenas produtos aprovados e recomendados por profissional qualificado. Não utilizar produtos de uso proibido, tanto no Brasil quanto em outros países. Antes de utilizar qualquer produto no tratamento de doenças ou parasitoses de peixes o produtor deve buscar auxílio técnico para identificar corretamente o agente causador, verificando também se existe algum fator de estresse prejudicando a saúde dos animais. Todo produto utilizado na piscicultura deve ter sido recomendado por profissional qualificado e os piscicultores devem obedecer às dosagens recomendadas. Produtos de uso proibido no Brasil e em mercados como os Estados Unidos e Europa não devem ser usados em hipótese alguma no tratamento de peixes destinados ao consumo humano. Na Tabela 8 são relacionados os principais produtos de uso proibido na piscicultura.

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Tabela 8.  Produtos de uso proibido para animais aquáticos nos Estados Unidos e na União Européia. Antibióticos Cloranfenicol Dimetrazole Ipronidazole Metronidazole Outros Nitroimidazoles Furazolidone Nitrofurzone Outros Nitrofuranos Fluoroquinolonas Glucopeptídeos

EUA

UE

X X X X X X X X X X

X X X X X X X X

X

X

Outros produtos Verde de Malaquita

A. No caso de doenças bacterianas, escolher o antibiótico conforme teste de resistência (antibiograma). É sabido que bactérias e suas diferentes linhagens podem apresentar resistência diferente aos diversos tipos de antibióticos. Para evitar que o piscicultor contribua para a seleção de uma linhagem ainda mais resistente, deve-se enviar um peixe com sinais de doença, o mais cedo possível, para a realização de um teste de resistência (antibiograma) que irá identificar o antibiótico mais eficiente para combater a doença bacteriana em questão. B. Se o medicamento for fornecido através do alimento, assegurar-se que os peixes estão comendo. Se não estiverem, suspender o fornecimento. O fornecimento de ração medicada para peixes que não estão se alimentando contribui somente para o desperdício de ração e medicamento, causando ainda um impacto ambiental indesejado.

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C. Observar o período de carência dos produtos. O período de carência, que é o prazo mínimo entre a última aplicação/fornecimento do produto e o abate do peixe, deve ser estritamente observado pelos produtores para evitar a presença de resíduos dos produtos utilizados na carne do pescado. Especial cuidado deve ser tomado com os antibióticos, alvo de intensa regulamentação no exterior. D. Manter registros de todos os tratamentos realizados, inclusive os da recomendação do profissional. Todos os tratamentos realizados devem ser registrados em fichas apropriadas contendo a data, produto utilizado, dosagem e motivo do uso. Os tratamentos só devem ser realizados a partir da recomendação de um profissional qualificado e esta recomendação deverá ser arquivada junto com a ficha de tratamento. E. Manter os produtos utilizados no tratamento, armazenados em local adequado. Não utilizar produtos com prazo de validade vencido. Produtos utilizados no tratamento de enfermidades como os antibióticos e outros produtos químicos são potencialmente perigosos à saúde humana e não devem ser armazenados em locais de fácil acesso. O local de armazenamento deve ser seco, arejado e livre de contaminações. Os produtos devem ser manipulados por pessoal treinado e usando equipamento de proteção individual - luvas e máscaras. Produtos vencidos podem ser ineficazes, devendo ser adequadamente descartados.

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7.7.3. Ocorrência de doenças e mortalidade de peixes A ocorrência de casos de doenças e mortalidade de peixes não é incomum na piscicultura. Os piscicultores devem sempre observar as BPP relacionadas diretamente com estes episódios para reduzir seu impacto no resultado da piscicultura e evitar impactos ambientais. A. Remover peixes mortos imediatamente. Peixes mortos devem ser imediatamente removidos dos viveiros, pois representam um grande inoculo de bactérias e parasitos, aumentando a chance de contaminação de outros peixes do viveiro. B. Dispor dos peixes mortos adequadamente, evitando jogar na natureza ou enterrar. A compostagem destes animais, assim como se faz na avicultura e suinocultura, é uma opção viável. Peixes mortos devem ser dispostos adequadamente. Deixar os peixes na piscicultura ao alcance de aves e outros animais só contribui para espalhar o problema. Enterrar os peixes pode vir a causar contaminações no lençol freático; portanto, os animais mortos devem ser colocados em um local onde a possibilidade de contaminação seja reduzida. O sistema de compostagem, largamente utilizado na criação de aves e suínos, é perfeitamente utilizável na piscicultura. Além de evitar o impacto ambiental, o produtor passa a contar com a produção do composto, um produto rico em nutrientes e que pode ser usado como fertilizante na agricultura. C. Evitar liberação de efluentes (renovação ou drenagem) durante mortalidades. Em episódios de enfermidades no viveiro a quantidade de patógenos e parasitas (agentes causadores de doença) na água é normalmente grande. Deve-se evitar a liberação de água dos

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viveiros no meio ambiente para evitar que estes patógenos causem um possível impacto nas populações naturais ou em outras pisciculturas situadas à jusante. A qualidade da água, em caso de baixos níveis de oxigênio dissolvido, deve ser mantida com aeração uma vez que a renovação de água, como já foi mencionado anteriormente, é pouco eficiente neste sentido.

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AS BPP NA PISCICULTURA COMO INSTRUMENTO LEGAL NO PROCESSO DE PROTEÇÃO AMBIENTAL

O uso das BPP como uma ferramenta de proteção ambiental foi identificado há muito tempo, por vários órgãos de proteção ambiental no Exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, vários Estados usam as BPP na piscicultura de maneira obrigatória, exigindo a sua adoção como uma maneira de proteger o meio ambiente em substituição a uma série de regulamentos e legislação `de que o piscicultor tem pouco conhecimento. Espera-se que também, no Brasil, e especificamente em Mato Grosso do Sul, a Secretaria de Meio Ambiente avalie e verifique a utilidade das BPP em assegurar a proteção ao meio ambiente. Isto daria ao piscicultor que adota as BPP na piscicultura a tranqüilidade de saber que está produzindo conforme a lei e de maneira sustentável. Obviamente que antes o processo de uso das BPP na piscicultura como um instrumento legal deve ser precedido por uma série de passos, como a avaliação ambiental das BPP e sua revisão contínua em conjunto com todos os envolvidos no setor, especialmente os piscicultores.

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REFERÊNCIAS

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